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ARGHIVO DOS AÇORES
VIII
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PUBLICAÇÃO PERIÓDICA DESTINADA Á VULGARISAÇÃO DOS ELEMENTOS INDISPENSÁVEIS
PARA TODOS OS RAMOS DA
VOLUME OITAVO
519575
/^. 3. SI
1886-'^
PONTA DELGADA -ILHA DE S MIULEI,
Typ. do Arciiivo dos Açores.
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in 2010 with funding from
University of Toronto
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íiOTÁS AÇORIANAS
XVIII
giljjuns riíjitanteíí lllmím da ilha
àa (^apl
JOSÉ ESTE-VÂO COELHO IDE
3^d:.A.a-.^^iuX3:ÂEs
(1831)
{Continuado de pag. 552, Vol. VII.)
A amisade de João Machado Alvares para com o destemido Ber-
nardo de Sá Nogueira foi, effectivamente, muito duradoura, sendo um
facto sabido por muita gente que este picoense decorridos alguns an-
nos mimoseara o nobre viiíconde de Sá da Bandeira com um presen-
te, acautelado numa caixa de madeira.
O bravo titular, lembrando-se da sua estada nos Açores e da lo-
calidade em que conhecera o remettente, imaginou que o contheúdoda
caixa, seriam excellentes queijos do Pico, tendo curiosidade na aber-
tura da mesma.
Enganou-se, o que alli estavam eram algumas fundas e mais de
trezentos emplastos.
Terminaremos este incidente dizendo que as lanchas em que iam
os nossos conhecidos, n'aquella noite de 24 para 25 de Junho de 1831,
fizeram perfeitamente, debaixo d'um luar esplendido, a travessia do
Pico para o Faval, aonde chegaram quasi de madrugada, ao som dos
hymnos liberaes cantados pelos soldados da expedição.
Era a primeira vez que os prisioneiros ouviam aquellas notas.
(•) Por Ernesto Rehdlo.
6 AKCHIVU DOS AÇOHES
Do caps da Huila der;im niilrada no castello de St.^ Cruz. indo
engrossar o numero dos iirisioneiros que n\'sla illia se elevou a 3()i
indivíduos, isto é, a tropa que preleiídera >eguir no brigue ainericaut»
e que d( pois se entregara, bem cuuio diversos destacamentos estacio-
nados em vários pontos da ilha, os quaes na precipitação da saliida
das anteriores authoridades não haviam sido mandados recolher.
Toda a gente prisioneiía saiiio em breves dias da Horta, para
Angra, nas embarcações constitucionaes, passando a maior parte a fa-
zer serviço nas fileirjis liberaes. especi.ilmente para caçadores n.° á.
Chamavam a e.sle corpo, por antonomásia, o batalhão de Nossa
Senhora da Rocha, porquanto numa revista ás caixas dos soldados
aprisionados, de que em grande parte se C(jmpunha. haviam sido en-
contradas grande numero de imagens da St." Mãe de Deus, sob aquel-
la invocação.
Egualmente eram denominados os piscados aquelles soldados mi-
guelistas, depois espalhados pelos diversos corpos e que tinham toma-
do parte na batalha de H d'Agosto, na Terceu^a, isto em allusão aos
liberaes haverem salvado muitos de ser airebatados pelas vagas, na
péssima posição do desembarque, em aprimiadas barrocas do mar.
Affastados temos de ha nmito andado e mais, com certesa, do que
tencionávamos do principal assumpto que motivou esta refeiencia,n'ts-
ta comesinha conversação com o benévolo leitor, estraviàmo nos, por
vezes do caminho direito e divagamos livreniente, como um estudante
em feiias, p(jr esses campos fora, repousando aonde mais ik-s agr.ida,
já para admirar uma paisagem, ou [lara colher uma agreste llíjr, úni-
cas de que nos é da(Jo fazer modesta collecção.
A estrada Coimbrã não é, porem, dilficil de encontrai' e irrom-
pendo do seio d'estes rnassiços de mal cultivados arbustos, em que
nos temos embrenhado, prosigamos agora em linha recta, para chegar
a casa com dia.
Deixámos, se nos recordamos bem, a expedição liberal, que ha-
via sabido da Villa da Magdalena, a atravessai', já perto da noite o
canal ()ue separa o Pico da ilha do Fayal, para aonde se dirigia.
O desembarque da força principal eff.-ituou-se no vasto ;treal da
freguezia da Praya do Almoxarife, approximaiJiimente uma legoa ao nor-
te da Horta, da qual é separada pela grande lomba da Espalamaca.
(agulfia em estranho idioma) ao tempo que outras embarcações, ain-
da que em menor numero, atravessavam a baliia da principal povoa-
ção da ilha, até ao único cães, então existente.
Aos bellicos sons das cornetas militares, (pie só recentemente os
fayalenses ouviam á frente de tropas, |)ori|uanto, até então, o uso era
tambores, seguia da Praya do Almoxarife a divisão em cohimna cer-
rada, pela Íngreme ladeira (pie sobe a lomba, batendo já a lua de cha-
pa nas reluzentes baionetas das armas, (pie apreseutav.un o fulgor de
ARCHIVO DOS AÇORES 7
!im;i ce.ir.i ile prata Oiidul.indo no fundo escuro dos arvoredos circiim-
VÍ>Íllll()S.
O nobfc conde de Vilía Flor, que cominandava a expedição, devia
estar satisfeito do houi exilo da sua empresa, aqnelle passeio militar
ia se gradualmente tornando n'uma ruidosa ovação, o povo apinhava-
sc em lodo o seu trajecto, para ver passar a tropa, os vivas aos li-
herladores irrompiam amiudados e com a approximação da Horta mais
veliementes e expansivos se tornaram, havendo grande entlmsiasmo, a-
cliando se a maioria das casas illuminadas, os sinos atroando os ares
com festivos repiques, bem como innumeros foguetes e outras demon-
strações de publico rngosijo, esmerando-se cada qual em obzequiar o
mais possível os recém -chegados.
Da lisímgeira impressão que ao Conde de Vilía Flor e a toda a
tropa liberal causou esta fraternal e vivida recepção, ha sobejas pro-
vas nos documentos da epocha que se referem a estes acontecimentos.
No numero dos soldados, pertencentes ao batalhão académico, que
acomp;m!)avam a expedição e cujo fardamento era calça branca, ou
preta, conforme a estação, farda preta, com canhões e gola de velludo
da mesma côr, avivados de vermelho e gorro preto, com pequena pal-
ia, avivado também semelhantemente, p )der-se-hia notar um rapaz,
então de 2á anu is de edade, muito emmagrecido, apenas com um pe-
(pieno bigode, de apparencia doente, mas ainda assim, diíferençando-
se da generalidade dos seus companheiros, por esse mysterioso não
m qm\ imprimido invariavelmente pelo génio na fronte dos seus ra-
ros eleitos, bastando fital-o por alguns instantes para se reconhecer
que estava alli um homem de talento, embora em bem péssimas con-
dições physicas e aspecto de um tysico.
A titt|)a que acabava de entrar na Horta aquartelou se nos redu-
ctos militares aqui existentes e a officialidade e cadetes nos conventos
de São Francisco e Carmo, bem como por casas particulares, que ju-
bilos;uTiente os recebiam.
O solicito conde de Villa Flor presidia, incançavelmente, á instal-
lação de todo o pessoal debaixo das suas ordens e se a mais rigida e
Hxenqilar disciplina era mantida por todos os militares, tornava-se
também impossivel mais delicadas maneiras para com elles da parte
rio seu distinctissimo capitão general.
(lomo um dos principaes da localidade acercara-se do conde de
Villa Flor o sargento mór de ordenanças António d'01iveira Pereira,
de cujas excellencias e bondade de caracter e educação já tinha as me-
lhores informaçõt^s o commandante da e>pedição.
Mandou este, por uma ordenança, chamar á sua presença o mi-
litar enfermo, a (pie já nos referimos, e quando o seu subalterno se lhe
apresentou, perfilado como uma fita e fazendo a continência militar, o
conde disse lhe:
— O Sr. vae ser aboletado em casa, aqui, do Sr. Oliveira, o cirur-
8 AKCHIVO DOS AÇOKES
gião do batalhão lá mesmo o irá visitar diariamente,^ e depois, cha-
mando de parle o sargento mór, acrescentou em voz haixa: — Recom-
niHndo-lhe muito especialmente, Sr. Oliveira, aquelle rapaz, é um ex-
cellente e distincto moço, pertencente á familia de um honrado medi-
co de Aveiro. Chama se José Estevão Coelho de Magalhães.
— As ordens de V. Ex.** serão fielmente cumpridas.
— Ordens não, isto é um obzequio que lhe peço e que, desde já,
agradeço.
O conde aíTastou-se dalli, para ir prover a varias requisições, ao
tempo que o honrado Oliveira dirigia-se ao seu aboletado, dizendo-lhe
com a sua uzual bonhomia :
—Venha d'ahi, Sr. José Estevão, o Sr. deve carecer de descan-
ço e d'aqui de São Francisco, até a minha casa, é um bom bocado,
para quem já deu uma caminhada.
— EíTectivamente aquella ladeira da Praya do . . .
— Almoxarife.
—Sim, do Almoxarife é custosa de subir e eu ando fraco ... de
mais a mais com este arsenal béllico ás costas . . .
—Não pode ser agradável, isso com certesa.
Foram seguindo.
— Eu sinto, Sr. Oliveira, ler de o incommodar, isto deve ser,
porem, por poucos dias . . . — e o rapaz cambaleava visivelmente de
cançaço — vamos de vagar se faz obzequio.
— Dè me o seu braço, anda tanta gente n estas ruas, que melhor
será irmos pelo lado do mar, o Sr. sente-se incommodado ?
— la-me dando uma vertig.^m... ha tempos que soffro muito e se
não fosse a Liberdade, esta idèa sagraiia que deffendemos, já talvez fos-
se um cadáver, é ella que me anima, que me dá vida e que atravez
d'estes dias de incertezas e cruéis privações nos deixa antever um
sonho talvez, mas um sonho esplendido, a redempção da minha pá-
tria, áqual amo tanto, tão entranhadamente, como amava a minha que-
rida mãe, aquella santa que lhe repousa no seio.
Apesar da fraquesa do aboletado e do esforço que fizera [)ara pro-
ferir estas palavras, havia, ainda assim, tanto fogo, tanta energia e
Ião suaves modulações na sua voz, que o seu companheiro parou pa-
ra ouvil-o e quando elle finalisou, não sabemos como, linha duas la-
grimas a lhe rolar pelas faces.
— Venha dahi, homem de Deus, o Sr. tem uuia maneira de di-
zer as coisas . . . ora esta! pois não estou a chorar.
— E' o seu bom coração . . .
— Eu seu lá o que é,— e olhando para a figura franzina de José
Estevão, acrescentava a meia voz— Pobre rapaz !
Chegaram afinal a casa, a mesma propriedade de vasta frente e
dois andares, sita á es(juina da travessa da Misericórdia, que ainda
hoje pertence á respeitável familia Oliveira, entrando [)ara a sala, a-
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dornada d'uina meia duzia de espelhos redondos, com largas moldu-
ras (kiiradas, um piano e varias jarras da índia, bem co no mobília es-
tofaila de vermellio. no gosto daquelle lempu.
O dono (Ja casa foi dentro m;mdar pre[)arar um quarto para o seu
hospede e pouco depois voltava á sala, dizendo-lhe ainda :
— O Sin\ José Estevão o que mais carece agora é de rei)ouso e
portanto amanhã é que o apresentarei á minha faaiilia, indo agora so-
mente indicar-llie o seu quarto, já lá deve estar uma gota de chá, se
precisar de alguma coisa chame com toda a franq;ieza, como se esti-
vesse em sua casa.
— Agradeço tão bòa recepção, trata me como a um filho.
— O que desejo é que esteja á vontade e que durma bem.
— Bòa noite.
Ao futuro grande tribuno portiiguez offeiecia eííectivamente a sua
bòa eslrella uma hospitaleira e distincta moradia, como se respeitas-
se, desde então, os altos méritos d aquelle mancebo fadado para tor-
nar se uma brilhantíssima gloria pátria, um dos mais notáveis vultos
do paiz.
Em 1831, a família do sargento mór de Ordenanças António de
Oliveira Pereira era numerosa, compondo se alem d^t-ste cavalheiro
(jiie então contava 41 annos, da sua virtuosa esposa D. Francisca Eleo-
(tora Pacheco d'Oliveira, oriímda da ilha Terceira, da mesma edade e
das suas filhas D. Maria, D. Francisca, D. Carlota e D. Marianna, a
primeiía apenas de oito annos, a segunda de cinco e as duas ultimas,
gémeas, de um anuo.
Tinha também quatro filhos, o mais velho João. com treze annos,
Joaquim que contava onze, AnhJiiio com oito e José, o mais novo, a-
penas com três.
Havia ainda a creada Águeda, septuagenária e que envelhecera
na casa, Beatriz de cincoenta e nove ann^s, Barbara de quarenta e mn
e Vicencia, nmi rapariga de vinte e três primaveras.
Contava se ainda alli o creado Francisco e vários quinteiros e ho-
mens de serviç ). que diariamente frequentavam aquella habitação.
E não se admire o leitor de o determos nestas minnciosidades,
pois alem do desejo de aqui mencionar toda e qualquer indicação
dos factos a que nos referimos, é também certo que em muitas casas
antigas, da tal educação que hoje faz sorrir desdenhosamente algumas
nullidades endinheiradas, não se sabe como, e que julgam que um sac-
co de patacas pode su|)prir tudo, n'essas casas, repito, os servo.s e pa-
trões formavam uma espécie de c7a», adoptando até aquelles, não ra-
ras Vezes, o nome da família a que pertenciam.
(Chegaram até nós alguns espécimens d'essa raça que está a ex-
tinguir se e que, pela transformação que experimentou, talvez ninguém,
de futuro, acredite que chegou a existir.
N.° 43 — Vol. VIU — 1880. 2
10 ARCHIVO DOS AÇORES
Tinha, assim, para njais de vinte pessoas a casn em que se al-
bei'guu José Eslevãu.
K não era este o único hospede (jue, n essa otcasião, tivesse o
sargento niór Oliveira, porquanto já na sua abastada moradia st- a-
chavam diversos otlJciaes da expedição.
O aposento destinado para José Estevão foi no primeiro andar, á
esquerda da porta que abre para a escada da rua, uma bella sahn de
duas janeUas rasgadas, chamada o qu;irto do Orat(trio, sullíciente,
pelas suas dimensões, para alh ouvir missa toda a família de casa.
O motivo do quarto do Oratório ser dtjstinado para o rerem-che-
gado, foi por já, no segundo andar, estarem todos os quartos que ha
via disponíveis, occupados pelos aboletados e só para alli pass(ju Ji)sé
Estevão quando estes sahiram e elle ficou, sosinho, em casa do seu
patrão.
Se naquelles dias o Oratório teve um intruso, no sagrado mister
para que fora destinado, esta justificada a apparente iiTeverencia, [)e-
la pratica d'uma das obras de caridade, velar pelos enfermos.
A criada, especialmente destinada para tr^itar do joven académi-
co, foi a Barbara, mulher ja quarentona, feia, de aspecto vart^nii, voz
cheia, secca e sacudida, uma verdadeira virugo emquanto ao aspe-
cto.
Como, porem, tanto a miúdo dizem os inglezes <iAll i; not gold
that gliUtrs,^ nmguem se fie nas apparencias, ou nem tudo que luz é
oiio.
Debaixo daquella pouco atrahente figura, debaixo daquella in-
cntestavel fealdade, de modos bruscos, a naturesa dotara aquella po-
bre mulher com um coração bondoso e compassivo.
Conheoia a bem o sargento mór quando a mandou tratar d"um
doente.
Eífectivamente, para José Estevão a Barbara foi o mais dedicada
possível, velando-o como a um filho, não tendo um descuido nem um
esquecimento, parecendo um camarada, cumprindo com exactidão mi-
litar e solit ila bôa vontade tudo o que o joven militar lhe ordenava.
Jamais se esqueceu o grande tribuno do levantado procedimento
d'esta açoriana e ainda, mais de trinta annos depi i^, qu;ind(t escrevia
á familia Oliveira, perguntava sempre: — Como ia a bôa velhota Bar-
bara ?
Esta collccção de cartas de tão notável vulto do nosso paiz e que
seriam uma gloria conservar, perderam-se, ou extraviaram-se, não con-
seguindo nós obter uma única que fosse, para figurar n'estes ai)onta-
mentos, apesar da bôa vontade e diligencias dos sobreviventes mem-
bros da familia em casa de quem elle esteve.
Estabelecido o governo constitucional e nomeadas novas anthori-
dades, houveram diversas demon>traçõi'S de publico regosijo, augmen-
tadas ainda em breve tempo quando, tomada também a ilha de São
ÂRCHIVO DOS AÇORES 11
Miguel, dalli ipgressarani alguns fayalenses que estavam presos fDUio
liberíies, islo em Agoslu de \S'M.
No Fayal tiavia ficado alguma tropa de infanteria e de artillieria,
até á chegada, a 8 de Jullto, do batalhão de caçadores 12, (jiie vei»
guarnecer a ilha.
J(jsé Estevão ficou também na Horta, sem que fosse rendido, con-
tinuando a residir, como lodo o tempo que na ilha esteve, com a fa-
mília Oliveira.
No hvro ftJosé Esteva»), esboço histórico, por .lacinlho Augusto de
Freitas Oliveira, bacharel formado em matliematica»^, diz alli o seu il-
lustre autlior, a paginas 70, que a conquista das ilhas do Fayal, de
São Jorge e de São Miguel já se fez debaixo das ordens de D. Pedro.
Ha n"isto um engano manifesto, a chegada do Sr. D. Pedro aos
Açores foi no dia 22 de Fevereiro de 1832, desembarcando na cidade
de Ponta Delgada, quando todo o archipelago já eslava liberto do an-
terior governo e apenas, antecedentemente, havia passado pela bahia
da Horta, quando vinha do Brazil, na fragata ingleza crLa Volage»,
com destino à Inglaterra, como já tivemos occasião de ver n"outro to-
gar d'estes apontam» ntos, mas isto antes da conquista das njencioua-
das ilhas, que foi effeituada, exclusivamente, sob as ordens do gene-
lal donde de Villa Flor.
Mais uma vez, como geralmente, no que temos visto escripto a
resf)eilo dos Açores, tanto na epocha a que nos referimos, como em
outras, não é raro encontrar palpáveis erros.
Admira, porem, isto mais quando a historia ê contemporânea e
não são estrangeiros que de nós tratam.
As primeiras seman ts da estada de José Estevão, na Horta, fo-
ram verdadeiramente desanimadtjras, enfraqueceu de dia a dia e a
moléstia que o minava parecia arrastal-o, sem compaixão, para um
termo fatal e breve.
A sua extrema fraquesa não llie permittia sahir do quarto, nem
aos serões ir até á sala do sargento mór, compartilhar da alegre con-
vivência d'aquella familia, que o tratava como a um filho.
A criada Barbara não aljandonava o enfermo uma hora i]ue fos-
se, velando lhe as mal dormidas noites, coutando-lhe historias açoria-
nas e casos da sua vida, destrahindo-o emfim, como melhor lhe dita-
va o seu bom coração e sendo exactis>ima em cumprir, quer de dia,
ou alta noite, todas as prescripções do medico, nas quaes, ainda as-
sim, não tmha grande confiança, pois dizia muitas vezes aos amos,
com as lagrimas nos olhos.
— A barbara bem faz a diligencia de ver se salva aquella crean
ça, mas, coitado, a morte está a empurral-o para a cova, isto em pas-
sando o bom tempo e vindo o começo do inverno, vai-se com toda a
certesa. Só se o Senhor Espirito Santo fizer um milagre, eu bem lhe
tenho pedido . . .
VÁ ARCHIVO DOS AÇORES
Assim diienlc, n cuiliido no seu qriarto, entre estranhos, embora
bondosos, sentindo decorrer lentamente o tempo e (•om a imaginação
angustiada e apprehensiv.i s<)bre o destino da sua t"amiiia,com a qual,
devido ás cominnções politicas da epocha, raras vezes tivera comnui-
nicação por esiTipto, a permanência de José Estevão no Fayal, devia
ser um;i triste provação se, ainda assim, as auras da mocidade, ape-
sar d'estes azares da sorte, não fizessem uma vez por outra, soriir uma
lenne flor no descampado que ia trilhando, se não visse no firmamento
algumas d'essas abençoadas nesgas de ceu azul. que apezar de todos
os contratempos a Providencia, não raro. oflerece á g'nte nova.
A's vezes depois de um dia de tristezas e soíTrimento, *um dito
ou um disparate da velhota Barbara, fazia-u rir a bom rir, esquecido
de tudo o mais.
O sargento-mór desejava patrocinar ao seu lios|>ede quaesquer
distracções, mas estas, pelo estado do enfermo limit;ivam-se a minis-
trar-lhe, qnasi a medo, a leitura de alguns livros, com o que a solici-
ta enfermeira embirrava solemnemente, dizendo que er;i mal permit-
tido ftuxar assim pela memoria e que melhor empregaria elle o seu
tempo, acumpanhando-a com um rosário, á noite, nas suas rezas.
N"esta parte, porem, é (]ue José Estevão, apesar de naturalmen-
te religioso, desobedecia à sua mentora e como fossem em resumido
numero os livros que n'aquella casa se encontravam, valia-se o dono
da mesma de um amigo que possuia uma livraria, rasoavelmente for-
necida, obtendo d"alli,por empréstimo, muitas obras que o académico
lia com avidez.
Tenho, junto da mesa em que escrevo estas linhas, os primeiros
d"esses livros que foram para casa do Sr. Oliveira, sendo, em vinte
volumes o ^'Dictionaire Univerml, historique, critique et bibliographique,
par une snciété de sai^:nts [rançais e etranrjers — Paris— 1810.» que José
Estevão leu, no decurso de mezes, do principio ao fim, como lia sem-
pre com maior agrado as obras que versavam sobre historia, ou ati-
nentes á vida de homens illustres.
Aijuelles livros, independente do seu valor litterario, são-nos ex-
tremamente caros, como recordação duma gloria pátria.
Puerilidades! -dirá muita gente.
Embora.
Findou afinal o verão d"aquelle anno, aos grandes calores de uma
prolongada estiagem, snccedeu, com a entrada de Outubro mais sup-
portaveisdias, brisas mitigantes que fartavam os pulmões d'um ar fres-
co e mais salutar do que essa temperatura, (jue por vezes aqui rei-
na de 8'i. grãos de Fahrenheit, em Agosto e Setembro.
Se nestt^ clima, por assim dizer, não sabemos o que seja a Pri-
mavera, passando rapidamente dos frios do inverno ao calor do estio,
ao contrario d'isto os nossos oulomnos são. geralmente, formosíssimos
lornando-se até a mais aprasivel quadra do anuo e dando tanto na ci-
ARCHIVO DOS AÇORES 13
dade, roíno nos campos, dias esplendidos e doremente temperados.
O eahir das folhas é, puis, aqui (jnasi sempre benigno, salvo [)ara
algumas vidas ejne se apagam myrradas pela tísica, como nos vallados
pendem no haslil, exliaiislas, as flores tocadas pelos primeiros so[)ros
do nordeste.
Qnando, n"est;)s circmnstancias, maiores receios inspirava a com-
promeltida sande do académico e qnando a devotada Barbara fazia,
sem que elle ouvisse, tristes predicções, convicta de que o rapaz não
chegava ao anno novo, a natureza, por my.^t^rioso esforço, começou a
reagir tenazmente contra a tori'ente (|ue o impellia para a stpuKura.
Aquella existência era preciosa.
As noites começaram a oíferecer aigum descanço ao enfermo, suc-
cedendo ás terríveis inSi)mnias benelico sonino. a alimentação começou
a ser saboreada com um certo prazer, quando, até então, era tomada
com pronunciado tédio e o enfermo que raras vezes sahia do seu apo-
sento, fez algimias agradáveis surpresas, apparecendo inespeiaiJamen-
te na sala, aonde á no'te se reunia a família e a brincar, com prasen-
leiro aspecto com as creanças que o cercavam de meigos e innocea-
tes sorrisos.
A Barbara c que continuava renitente nos S"us máos agxiros, di-
zendo amiudadas vezes: Coitado, aquillo é a visita de saúde e está al-
li, está na cova . . . — e redobrava de carinhos e cuidados.
O primeiro dia que o enfermo conseguio sahir á rua, Un imia ver-
dadeira festa de família. Acompanhou-o o sargento mór, a cujo braço
se encostava e ia precedido por duas meninas da casa, pelas quaes
demonstrava mais predilecção.
Que disvelo e exemplar comportamento d'aquella honrada gente!
D^alli a mezes já as melhoras eram tão accentuadas que, até a
Barbara cedia á sua incontestável evidencia, atribuindo, porem, tudo
ás suas rezas e multas promessas qué havia feito.
A questão politii'.a começou então, de novo, a alvoroçar José Es-
tevão e nas suas incertezas, ou ridentes crenças, es(iuecia-se dos pa-
decimentos physicos.
A Barbara durante a doença e nas longas conversações com o en-
fermo sabia-Ihe a vida palmo a palmo e andava sempre a dizer em ca-
sa, que o seu protegido fazia annos a 26 de Dezembro, pela festa do
Natal e que se elle alé lá chegasse, tencionava fazer-lhe uma bonita
oíTerta, mas que isso era segredo . . .
Vaidades, quasi maternaes !
Efl^ectivamente, passada a noite do Natal, na qual José Estevão foi
ouvir missa, para uma tribuna da egreja Matriz, conjunctamente com
a família de casa, chegou aquella desejada d.ita.
E cabe-me aqui dizer (jue o futuro grande orador portuguez, ape-
sar da sua edade e profissão militar, demonstrava sempre bem enten-
didos sentimentos religiosos, concorrendo aos templos e nunca, antece-
li ARCHIVO DOS AÇORES
íJenlcnienle, empecendo com ironias, ou ditos men.js respeitosos, as
re/as que de rosário cm [niiilio, a >ua enfermeira repetia, durante as
liuras que o velava.
De.-les sentimentos religiosos deu este notável cidadão exuberan-
tes provas em todd o decurso da sua vida e chamando os Sacramen-
tos numa eníV ruiidade que teve em ll^oá.
A este respeito diz nmito sensatamente um seu biograplio.
"Que ronscicMicia mais limpa, que alma mais pura se apresiMitou ainda ao
julgamcnlo de um padre ? !
Amei a Deus, amando a minlia pátria, como aimla ninguém melhor a sou-
be amar; amei os homens com todo o amor e todo o alTeclo que esta alma e este
cora^:ão poderiam sentir, se todos elles fossem lilhos do meu velho pae; — dis-
cípulo lie Christo, combali contra os déspotas e preguei por toda a parte onde
(•liegou a minha voz — a liberdade, a egualdade e a fraternidade. Como Elie sof-
fri clmf.iá e apedrejos, como EUe padeceria o martyrioe a cruciticação. se dez-
enove séculos de luz não tivessem já esclarecido os corações dos homens; como
Eile morro sem ódio aos meus perseguidores, antes offereço a minha agonia a
Deus para os salvar ! »
Não antecipemos, porem.
Ninguém, na caza Oliveira, dera o miuimo indicio de que sabia a
data dos annos do académico, e este, sem fazer também essa decla-
raçãt), veio na manhã d'aquelle dia, 26 de Dezembro, sentar-se como
habitualmente à meza do almoço.
Nolim. é veixlade, certo ar mysterioso nas creanças, uns sorrisos
mal escondidos e uns segredinhos de que eslava bem longe de adivi-
nhar a causa.
A Barbara appareceu a trazer uns pratos, mas de corrida, como
quem ii) interior da casa estivesse muito atarefada e com uma domin-
gueií^a louca branca na cabeça, á vista da qual entraram todos a rir
francamente, ao tempo que a serva, por detraz da cadeira do acadé-
mico, com o indicador nos lábios, fazia o signal de silencio.
Acabado o almoço, todos se levantaram e José Estevão foi para
o seu (jiiarlo.
Abrindo, |)oi"em, a porta, estacou de surpresa, a sua cama esta-
va ricamente preparada com imia colcha de setim branco, bi>rdada a
matiz, ent imada por um grande travesseiro de luxo e almofada com
rendas e bordados, sobre as bancas jarras da índia nplectas de jun-
quilhos, cameliris e rosas d'inverno e, nas janellas, as modestas corti-
nas de cassa, da generalidade dos dias, substituídas por cortinas bor-
dadas de dilliceis lavores, sanefas de cores vistosas e fartas prisões de
cordão de seda com grossas borlas de retroz.
Aíjuillo parecia um quarto para noivos.
As crranças com a sua iíiipaciente curiosidade haviam seguido Jo-
ARCHIVO DOS AÇORES 15
sé Estevão e cada uma, a Sini turno lhe vinha offerecer pei|Menos ra-
malhetes de flores e beijos ainda mais frescos do (jue as mesnias.
O académico sentio->e sensibilisado, aquelle meigo chilrear da in-
fância, aqiiella alegria IViinca e saudável enlornava-llic, na alma, como
um suave bálsamo, subindo ainda de ponto a sua citmmoção (juando
a Barbara, entrando também alli, lhe apresentou, muito enveigonlia-
da, umas varas de bom panno fmu, preto, para um r.udamento novo,
pedindo-lhe desculpa daijuelle . . . atrevimento.
O coração sensível de José Estevão bateu-lhe f')rlemente no pei-
to sempre aberto aos mais nobres sentimentos, coino uiua harpi eóli-
ca que, nas alturas da serra vibra ao menor sopro da brisa; — devia,
talvez, áquella mídher estar ainda vivo e era ainda ella, uma pobre,
que com o saciilicio das suas pequenas economias queria vestir um
desconhecido, um forasteii'o, tendo, queiu sabe?, {)or prespectiva um
futuro de miséria e cruéis privações.
Quiz fallar, mas aquelle grande e inspirado orador que mais tar-
de teria suspensas ao ouvir o seu verbo eloquente as multidões assom-
bradas pelas scinlillações do génio, aquelle homem que seria a gloria
do parlamento porluguez, não ponde articular enlão iiiais do que esta
simples palavra: — Obrigado! — e as lagrimas de lia muitít c imprimi-
das, rebentaram lhe irresistivelmente a flux, innundando-lhe as honra-
das faces.
N essa noite o sargento-mór, reunio em casa, as famílias das suas
mais próximas relações, havendo alli uma animada soirée, em honra
de José Estevão, com excellente seiviço e delicadíssimo tratamento,
como todas as frequentes reuniões que se davam n'aquella moradia e
das quaes ainda hoje subsiste a fama.
Não foram, felizmente, fictícias as melhoras do académico, avigo-
rou e restabeleceu-se, ainda que vagorosamente e só d'esta ilha sahio
em meiados de Jimho (ie I83á, indo reimir-se, em São Miguel, ás tro-
pas que a á3 do mesmo mez dalli partiram para ir combater em Por-
tugal.
A permanência de José Estevão, na Horta foi, assim, de uin anno,
menos poucos dias.
Ateou-se, então, a guerra em toda a sua força e nas diversas ba-
talhas que foram feridas o importantíssimo papel que elle representou,
arriscando milhares de vezes a vida. especialmente no Porto, na he-
róica defeza da Flecha dos Mortos, são factos que pertencem á histo-
ria hodierna e ao alcance de todos, ganhando nessas pugnas a conde-
coração da Torre e Espada, como um dos mais estrénuos deíTensores
da Liberdade.
Como tribuno parlamentar aguardava-o, porem, uma não menos
honrosa missão, sendo aquelle o campo aonde elevou a sua gloria e fa-
ma ao seu maior apogeu, ponjuanto a sua insinuante, inspirada e do-
minadora linguagem, representou, invaríavelmenie, não os interesses
16 ARCHIVO DOS AÇORES
dum ou oulro partido, nem as mudáveis cambiantes duma ou outra
facçii»» politica, mas >\m a voz do povo, cujo bem estar velava, des-
jireiídiíio com[ilelameute, de quaesquei' interesses, ou conveniências
pesso;ies.
l>to é tão raro !
Deirolados íiíiiial os miguelistas em Almoster, pelo conde de Sal-
danha e a IG de .Main de I8:j't na Asseiceira, pelo duque da Terceira,
ficou decidida a virtoria das tropas constitucionaes e a convenção de
Kvtjra Miinle, pondo um termo a essa lucta fratricida, indicavH o cami-
nljii do desterro a D. Miguel.
Ueabriram-í>e, com a paz, as aulas da Universidade e José Este-
vão, então primeiro tenente de artilheria, para alli voIUju a concluir o
inlerroni[»ido curso de leis.
Em 18)J7 formava-se na faculdade do direito, sendo nVsse mesmo
anno eleito, p ir Aveiro, deputado ao Congresso (Constituinte.
E não podemos, aqui. furtar-nos a apresentar ao leitor os e\-
cellentes períodos a este respeito traç;idos por Bulhão P.ito, no livro
que tem por titulo «Sob os Ciprestes», quando u'essa epocha, a que
se refere o notável poeta, a fama do grande orador lhe chegou aos ou-
vidos e que Bulhão Pato, na "sua infuntina curiosidade, desejou conhe-
cer aqnelle liomem de quem tanto se fallava.
Heconhecerá, acaso, o leitor, no esplendido retrato que se segue,
o académico que estivera no Fayal e ao qual seis annos de luctas mar-
ciaes, haviam mudado, completamente, de aspecto.
Eis o boiU oiro de lei, que nos apresentou o autor da Paquita:
—"Instei com meu pae para que me levasse ás cortes. Tinha já visto o ti)oa-
tro e queria ver aijuclle outro theatro mais real e não menos cortado de paixões
nobres e miseráveis, de lances, de situagões^ de scenas, de peripécias e princi-
palmente de enredos!
Cedeu, ás minhas instancias, a íenidade paterna.
Fui um dia a S. Bento.
José Estevão liiiiia a palavra.
Aquella figura elegante, gentilissima, arrebatadora, ficou-me gravada no es-
pirito, tão lundamenle, que me parece estal-a vendo agora diante de mim.
O cabelio liiio, basto, aniielado, cas'anlio escuro, povoava-liie a cabega de
vinte e sete aunos, bella e correcta como uma obra de arte nos (has áureos da
Grécia ou nos prodigiosos dias da Renascença. A barba longa, não demasiado
espessa, de uma tinta mais clara que a dos c.ibellos, apartava-se na ponta do
queixo, similliante á barba de Cbrislo nos quadros do Van-l)yck.
O rosto pallido; nos transportes da palavra, ora enfiava como se o sangue
parasse na circulação, ora se lhe tingia de purpura. O nariz, levemente aquilino
conq)lelava a graça e correcção do períil.
As azas do nariz vincavam-se e pareciam palpiíar quando a paixão o infla-
mava. Medinlo o adversário, antes de lhe disparar a aposlroplie fulminante, a
ARCHIVO DOS AÇOKES 17
cabeça crguia-sc e coii.sji"vava-si' na imíiichiliilailc ameaçadora do nebri paira-
do, subitameiílf nos ares, antes de saltar subre a presa.
Os olhos pequenos, vivíssimos, faiscavam como dois relâmpagos. A boca
era cortada com rraii'|U(-'za para accudir ripida á transmissão do verbo fluentís-
simo. A estaturii cleviída: delgado, mas o peilo bondjeado e amplo; o pescoço
forte, destacado dos liombros largos e próprio para auxiliar os movimentos leo-
ninos da cabeça enérgica.
Proporcionadissimas todas as partes da sua estatura. As mãos finas; o ges-
to inspirado: a voz com inflexões meigas, temíveis patheticas, suavíssimas, apai-
xonadas, arrebatadoras !
José Estevão iraquella idade, com o fjaptismo do exilio e o baptismo do
campo da batalha, accèso no amor da liberdade o ferido com o amor da mulher,
illuminado pelo génio, encarando um horisoíJle sem termo, advogando a causa
da huniiiiiidade com a boca livre e os pulsos desapertados das algemas da tir.i-
nia; coberto de palmas, nadando cm gloria, como um dia de abril nada em sol,
era a realisação na terra da máxima felicidade a que pode aspirar o homem!
Eu não sabia o que eram «camarás» nem «deputados», nem o qu' signifi-
cavam as palavras «discursos» e «eloquência», — não comprehendia o que José
Estevão dizia, mas não podia tirar os olhos d'aquelle homem singular, e na mi-
nha alma infantil ficou gravada por muito tempo a sua imagem como uma coi-
sa exli"aordinaria !
Tal é o poder do génio.»
Durante o longo perioflo de vinte e cinco annos, isto é, desde 1837
a \S(S^, (jue na tribuna parlamentar, como lente da cadeira de econo-
mia politica na Escola Polylechnica, on como publicista nos jornaes «O
Tempo», «A Liberdade» e a «Revolução de Setembro», do qual foi
fundador em J8il, conjunctamente com Manuel José Mendes Leite,
prestou os mais relevantes serviços ao paiz, advogando constantemen-
te, na sua accidentada vida politica, as idéas da mais ampla liberda-
de e do engrandecimento nacional.
Kra immenso o prestigio de que gosava e a multidão corria, ávi-
da, a escutal-o, aonde sabia que elle ia levantar a sua autliorisada voz,
nos comícios, nos clubs ou em São Bento.
Os seus pmprios inimigos políticos, nas diversas ramiticações do
partido constitucional e que eram, pi»r vezes, homens da tempera de
Passos (Manuel) ou Rodrigo da Fonseca Magalhães, declaravam publi-
camente o respeito que lhes merecia a izempção de caracter do seu
antagonista, bem como o seu privilegiado talento, o que mais exalçava
a justa influencia que havia conquistado nos destinos da sua pátria.
Teve José Estevão occasião, no ultimo período da sua vida de de-
monstrar á família Oliveira, do Fayal, a sua gratidão e os longos an-
nos que já haviam decorrido não esfriaram a bôa vontade de lhe ser
utíl, como efifectívamente foi. ..
DecoiTeram ainda alguns dias e o inverno com os seus gélidos
mantos amortalhava as campinas, espalhando por toda a parte uma in-
disivel tristeza.
N.° 43— Vol. VIU - 1886. 3
18 ARCHIVO DOS AÇOKES
Como o valeroso cedro que, em alterosa serra, dMiiitia pelas suas
gigantescas dimen>ões os circnmvisinlios arvoredos, cae, por vezes.
re[)entinamente fulminado por desapiedado raio que o fere no C(tração.
assim também José Estevão na opnlencia du seu grande mérito e no
vigor ainda da sua existência, contando apenas cincoenta e três annos
de edade, sentio-se de súbito tcjcado pela mão descarnada da morte,
resvallando rápida, inesperadamente para a sepultura, para esse gran-
de e mysterios) oceano aonde se affundam todas as glorias e todas as
misérias d'esta transitória vida.
Deixava uma nação em luto, uma família idolatrada, e todos os
grandes commellimentos que, na véspera ainda lhe referviam na mente.
Estranha quietação a dos mortos, estranha serenidade a que se di-
visa nos seus pallidos rostos I
N'esse dia, a 4 de Novembro de 1862, a noticia do seu falleci-
mento echoou rapidamente na capital e em breve em todo o reino e a
consternação do povo n'essa luctuosa conjunctura foi expontânea, gran-
de, imponente.
No seu sahimento á mingoa de pomposos programmas a multi-
dão apoderou-se do féretro, conduzindo nos seus braços aqnelle ho-
mem notável e excepcional, em quem depositava a maior confiança pa-
ra velar pelas suas garantias.
A tribima parlamentar portugueza, desde então, aguarda ainda
quem o possa substituir, apesar de ter sido honrado com talentos da
primeira plana.
Com relação á ilha do Fayal faremos apenas uma observação, pa
ra terminar estas linhas.
Com marmórea lapide está commemorada na cidade da Horta a
caza que sérvio de residência ao Senhor D. Pedro IV, e, embora bem
modesto seja semelhante padrão, demonstra, ainda assim, aos visitan-
tes d'esta terra que pi estamos veneração á heroicidade e que sabemos
respeitar um sceptro e uma coroa.
Mas a realeza não pertence, exclusivamente aos Ihronos, existe
lambem uma outra, não menos respeitável realesa, a do génio, embo-
ra nasça ii"um humilde tugúrio, ou na desnudada moradia dos prole-
tários. E foi n'este sentido que Béranger disse :
Des fienrs, enfants, vous dont les mains sonl purés:
Entants, des tleurs. des palmes, des flambeaux !
De nos Trois-Jours ornez les sépidtures;
Cumme les róis le peuple a ses tombeaux.
EfTectivan;ente, o povo tem também direito a honrar os seus mortos.
A casa, em que, na Horta, residio José Estevão aguarda ainda
uma singela lapide que indique á moderna geração a passagem por
esta terra de uma tão levantada gloria nacional.
Aqui fica con>jgnado este alvitre, cuja realisação honraria a Ca-
ARCHIVO DOS AÇORES 19
marn \lniiiii[)al que, represenliinte do povo, p.ignsse essa divida de
gratidão á iiiemoria de quem peio povo lidou constantemente.
(1832)
Decorria o mez de Maio de 1831.
A* 30 desse niez, depois de quarenta e sete dias de viagem, de-
mandando a Europa, a fragata inglesa «La-Volage», proveniente do
Hio de Janeiro, passava ao sul da baliia da Horta, coniniunicarido ape-
nas Com uma embarcação de terra, que lhe fora levai- alguns refres-
cos.
Em breve espalhou se na Horta uma inesperada, (juão importan-
tissinia noticia, tanto mais nas circumstancias politicas de então, com a
expedição cijustitucional já dominando na ilha do Pico.
Esta boa nova era que Sua Magestade Imperial, D. Pedro IV, es-
tava a bord(j d'aquelle vaso de guerra e que ao mestre da lancha faya-
lense entregara um bilhete, firmado do seu próprio punho, confirma-
tivo da sua i)assagem por estes mares, acompanhado da dadiva de
quatro moedas doiro e d"uma carta para o marechal de campo, con-
de de Vdia Flor, commandaiite das forças que lhe eram alfectas e à
(íaiisa da Sua Augusta filha, (jue na fragata franceza «La Seine» se
dirigia para Brest.
O cônsul inglez M."" Walker, incumbio-se de, com a maior brevi-
dade, fazer chegar aquella missiva ás mãos do commandante das for-
ças militares, como eftectivaniente fez, alentando summamente este
facto o partido liberal ifestas ilhas, ás quaes em pouco tempo chegou
tão grata revelação
A «Volage», com mais onze dias de viagem chegou a Falmouth,
a 1 1 de Junho seguinte.
Nos Açores continuavam, bafejadas pela fortuna, as operações mi-
litares e no decurso de Agosto, e n'estes penhascos do oceano atlân-
tico, aonde a foragida Liberdade viera acoitar-se e juntar forças, para
depois, qual águia, arrojar-se com indómita coragem a titânicas pugnas,
já tremulava por toda a parte a bandeira azul e branca e a Junta Pro-
visória do Governo da capitania dos Açores, que havia sido eleita a 5
de Outubro de 1828, acendia de prompto a um complicado e difficil
expediente.
Esta Junta Provisória que no seu inicio era apenas composta dé
Ires membros, o Brigadeiro Uioclecianno Leão Cabreira, general d ar-
mas d.i Prv)viucia, o Reverendo João José da Cunha Ferraz, thesourei-
20 ARCHIVO DOS AÇORES
ro niór e do coronfl de cavalhria José António da Silva Torres, os
(jii-ies declararam em 28 dontiibro d esse nipsmo anno. ser a ilha Ter-
ceira o nnico poiíío aonde se snslentava os direitos dEI-Rei D. Pedro
IV, teve depois as suas actas também assignadas por três illustres a-
ç trian(ts Tlieotonio dOrnellas Hriiges Ávila, Pedro Homem da (losta
Noronha e Alexandre Martins Pamplona.
A Junta, acabou, porem, com a chegada do Conde de Villa Flor,
22 de Jnnho de 1829, começando a Regência do Reino em nome da
Rainha e nomeando í^sta, com a noticia da chegada á Europa de El-
Rei D. Pedro IV e da Senhora D. Maria II uma deputação para em
seu nome ir cumprimentar os régios viajantes.
A deputação sahiod"Angra na escuna «Ilha Terceira» e era com-
posta dos Srs. Theotonio dOrnellas Bruges e Avilla, Maimel de Sou-
za Raivoso e D. Carlos de Mascarenhas, tendo por coiupanheiro de
viagem o Marquez de Palmella e realisando me 'Utrar Suas Mageslades
não na Inglateria, para aonde se haviam dirigido, mas sim em Paris.
No respectivo discurso de felicitação, dirigia o seu Presidente a
seguinte supplica ao Senhor D. Pedro, depois de a Suas Mageslades
haver assegurado os sentimentos de respeito, amor e. kaldude que por
Elles professavam os membros da Regência, os bravos defensores e os
leaes habitantes dos Açores.
— «Sirva-se, pois, Vossa Magostadeimpei-ial de por-Se ostensivamente á tes-
ta dos negócios de Sua Magestade Fidelissinia e do desembaiarar e de seguir
por todos os modos o lio delicado, e imporlante, que deve conduzir a um fim
glorioso 03 nobres esforços da Nação Portugueza: n'isto, Senhor, preencherá
Vossa Mageslade Jmpei'ial os deveres de Pai, tão caros a Seu coração; pagará o
tributo á Pátria, que o vio nascer e que é sempre tão sagrado para o homem de
bem; recompensará lodos os sacrifícios que tem feito á causa da Legitimidade e
da razão a íiel Nação Portugueza, que tão digna se tetu tornado de tão illustre
recompensa; n'isto finalmente, achará Vossa Magcslade Imperial com que com-
pletar os nobres sentinientos de Seu magnânimo Coi'ação».—
A res[)osta do Senhr D. Pedro, foi o agradecimento de tantos sacri-
fícios e que fnia tudo o ijue houver por mais conveniente dos inte-
resses da causa da sua Augusta filha: e da Carta Constitucional.
Effectivamente no dia ii5 de Janeiro de 1832 sahia o Duque de
Bragança de Paris, por Orleans, Tours, Aiigers, Nantes e Belle-Isle,
aonde o aguardavam as fragatas «D. Maria II» e «Rainha de Portu-
gal», a corveta «Juno», a escuna «Terceira» e vários navios de trans-
porte e d"onde devia seguir para a ilha Terceira.
Depois dos indispetisaveis arranjos e preparativos para luua tão
importante empreza, o Duque de Bragança, no dia IO de Fevereiro,
embarcava n'a(|uelle porto na fragata «Rainha de Portugal», preceden-
do o resto da e.xpedição e levantando ancora com destino a Angra, pa-
ra reunir se e pôr-se á fivnte dos seus bravos deffensores.
ARCHIVO DOS AÇORES 21
Foi Irnb.illiosa esta viagem, a fragata «Rainha de Portugal» era
uni pesado navio e as inclenieneias pruprias da estação e as ^olJerbas
vagas do oceano atlântico, ti/erain com que em vez de poder tomar a
ilha Terceira, estivesse no tha 2á seguinte em fiente d;i cidade de Pon-
ta DelgMíhi. aonde içado nos mastros da fragata o pavillião reid, foi
logo salvado festivamente pelas fortalezas michaelen>es.
A estada, pela primeira vez, do Sr. D. Pedro IV na mnilo formosa
ilha de S. Miguel, prolongou-se até ao dia 2 de Março seguinte e fo-
ram estPS dias de enthusiasuio e de verdadeiro rego>ijo [lublico. sen-
do por toda a parte o régio lio.-pede acolhido com o maior respeito e
veneração.
Houve, na egreja Matriz, um solemne Te-Deum por tão fausto a-
contecimenlo, ao qual concorreu Sua Magestade, bem como a Camará
Municipal de Ponta Delgada, Clero, Olficialidade militar, os principa-
es fia ilha e muito povo, assim como imia revista da tropa da guarni-
ção, exercícios do batalhão de caçadores 5 e intV.nteria 18, visitas aos
quartéis, bailes na residência do cônsul inglez e (amara Municipal,
bem como uma sumptuosa festa nocturna, em retribuição d'estes ob-
zequios, offerecid.i por Sua Magestade a quiulieut.s convidados e rea-
lisada com a máxima sumptuosidade susceptivrl nimia illin.
As freiras do mosteiro de Santo André, de Villa Franca do Cam-
po, que eram coustitucionaes enrogés, o que já haviam demonstrado
n"uma fallada q sui g^neris felicitação ao Conde de Villa Flor os seus pa-
tri(jticos sentimentos, oífereceram, então, ao Seuhi>r l). Pedro, para
fornecimento da tropa expedicionária, uma avultada porção de moios
de trigo, já que, talvez bem a seu pesar, não podia dar bailes e func-
ções.
A par, porem, de tudo isto, não constava só de pi'azeres a esta-
da do iJnque de Bragança n aquella localidade e bem ao contrario d"is-
to o trabalho abundava, havendo sérios negócios a que prover de prom-
pto e sendo Sua Magestade muito solicito em obter a maior copia pos-
sível de informações a respeito das necessidades da ilha, do seu com-
niercio, industria e aspirações.
A's á Va horas da tarde do dia dois de Março, com a assistência
de todas as corporações da ilha, nobreza, tropa e inmienso povo, Sua
Magestade descia o cães de Ponta Delgada, seguindo n"iun escaler em
direcção à fragata Rainha de Portugal.
(Corria, porem, grosso mar no ancoradouro, a ponto do Senhor
D, Pedro ter de acolher-se a um navio mercante, estrangeiro, que es-
tava fundeado, até ás í>eis horas da tarde, occasião esta em que a fra-
gata, que já andava de vella, approximando-se (Taquella embarcação
consegiiio receber o régio passageiro, troando em seguida da altero-
sa bateria uma salva de vinte e um tiros.
O vento na subsequente noite levantou-se rijo, mas favorável e
22 ARCHIVO DOS AÇORES
na manliã seguinte achava-se a fragata Rainha de Portugal na baliia
ila fíunigernda citlade cP Angra.
A chegada de S. M. 1. ao foco do liberalismo portuguez, áqnella
terra aonde já em outras epochas, como na actual, tamanhos prodí-
gios d<^ valor se haviam realisado na defensa da autonomia e direi-
tos imprescriptiveis da pátria, era um facto assaz jubiloso na realida-
de, tanto mais (|uando todas as dilficeis Vircumslancias em que se a-
chava o partido ctmstitucional o aconselhavam, pois que, indubitavel-
mente, a presença do Duque de Bragança, avigorando ainda mais os
ânimos, daria maior unidade a quaesquer operações ou destruiria a-
iritos ou divergências, sempre inevitáveis aonde todos se julgam com
approximadas prerogativas.
A vinda d(j Senhor f). Pedro para a Terceira, pondo-se á frente
das suas leaes tropas, significava a consolidação da pedra angular do
novo ediflcio social que se tentava alevantar em Portugal e que im[tjr-
tava na regeneração de um povo escravisado.
E tanto as>im o comprehendeu S. M. I. que ao desembarcar na
ilha, quiz já ir investido das insígnias do poder.
Havendo, pois, pelas 9 Va horas da manhã içado o pavilhão real,
ao som de uma salva a fragata recem-ch^-gada e concorrendo em se-
guida a bordo da mesma os membros e secretários da Regência, que
alli foram recebidos com as devidas honras, logo depois de um discur-
so de congratulação, proferido pelo Marquez de Palmella, S. M. I. man-
dando ler um Decreto, traçado abordo da fragata, n'aquelle mesmo
dia, assumia, na qualidade de Hegente, a authoridade suprema da pu-
blica governação, até que fosse definitivamente, estabelecido em Por-
tugal o Governo da Senhora D. Maria II.
Desembarcou pouco depois, acompanhado do ministério novamen-
te nomeado, do conde de Villa Flor, do marquez de Loulé e d'oulras
personagens do seu séquito.
As manifestações de regosijo dos Terceirenses foram imponentes
como era natural, salvas nas fortalezas e nos navios de guerra, sur-
tos na bahia d'Angra, arcos triumphaes, cmbandeiramentos, repiques
de sinos, girandolas de foguetes, ruidosos, enthusiasticos vivas e ta-
manha aftluencia de povo, que era quasi impossivel transitar-se, es-
pt'cialmente nas ruas mais [iroximas do cães.
A Camará Miuiicipal da cidade aguardava, solemnemente, S. M. I.
e depois do discurso do estyllo, precedeu o régio cortejo, pela prin-
cipal rua que conduz à sé cathedral, cuja extensão eslava ladeada de
tropa, juncada de ramos e flores, com as janellas festivamente arma-
das de sedas e damasco e nas quaes grande numero de damas pre-
seuceavam aquelle notável acto, acenando com os lenços, ou expar-
gindo flores.
O enlhusiastno era indisivel e os vivas constantes.
Na cathedral houve então um solemne Te-Deum e findo este, a-
ARCHIVO DOS AÇORES ?3
cliando-se já S. ^\. I. no pal.icio do governo, que fora destinado |).ira
sua residência, segnio-se a recepção da (lamara e de diversos milita-
res de elevada patente.
A' nitite, antes do jantar, apre>entou a S. \I. I., o Comle de Vil-
la Flor, todos os oíficiaes de terra e mar, pertencentes aos diversos
corpos e a armada, os qiiaes tiveram a honra d'} ser convid.idos [i.ira
aqnelle banquete.
No dia immediato houve uma revista a todos os corpos da guar-
nição, que desfilaram perante S. M. 1. com irre[)reheiisivel firmeza e
acceio, assistindo o Sr. D. Pedro, n'essa noite, a uma brillianlissima
recita, n'um theatro que os olficiaes da guarnição liaviam estabelecido
em Angra, bem como na noite de cinco de Março a utn luzido e sum-
ptuoso baile que lhe oífereceu o respeitável cidadão Theotonio d'Or-
nellas Bruges e Ávila, cujos serviços á causa constitucional foram dos
mais importantes, se não por muito tempo o seu mais valioso esteio.
A estas seguiram-se outras publicas e amiudadas demonstrações
de regosijo e de veneração, tanto da parle de diversas corporações,
como dos militares e particulares, podendo assegurar-se (jue a pri-
meira semana da e4ada d i Sr. D. Pedro, na ilha Terceii-a, r)ram (li-
as de e.Npansivo contentamento e das mais animadas e brilhiiites fes-
tas.
Acalmada, porem, essa efTervescencia, o governo da Regência de
D. Pedro, que era composto de ministros da tempera do Marquez de
Palmella, José Xavier Mousinho da Silveira e Agostinho José Freire,
começou a trabalhar activamente nos múltiplos negócios concernentes
aos preparativos da expedição, isto sem tregoas, nem descanço.
As secretarias funccionavam de dia e de noite.
Com a chegada de S. M. I. á ilha Terceira é também indubitável
que serenaram muito mais os ódios políticos, sempre tão siigeitos a in-
cend(T-se nas dissenções intestinas e que idéas de tolerância politicas
começaram a accentuar-se de dia a dia, sendo uma das mais atrahen-
tes feições da Regência.
A este respeito diz muito sensatamente o erudicto historiador a-
çoriano o Sr. António Lourenço da Silveira Macedo, que «estas medi-
das de clemência e generosidade e a afabilidade de S. M. I. o Duque
de Bragança valeram mais á causa liberal do que muitos mil homens
recrutados á força ou por dinheiro.»
A alta competência (Jo Ministério demonstrava-se assim a cada
passo, nem d'outra maneira é possivel explicar, a não ser pela con-
vicção, as adhesões que por toda a parte encontrava o governo do Re-
gente, tanto nos Açores, como depois nos grandes feitos darmas da
campanha da liberdade.
Só onze dias depois foram recebidas, oflicialmente, no Fayal, as
gratas noticias de quanto se havia passado na ilha Terceira, e em vir-
tude das mesmas no dia 16 de Março foi celebrado um muito concor-
24^ AHCHIVO DOS AÇOKES
rido Te-DriDn ii;i egieja Míilriz pregando com a sua usual proficiência
o Kevereiído Ouvidor Francisco Xavier da Silva, sacerdote illustradis-
simo e íiíiectu á uo\i\ ordem de idéas e o qurA a 2i- de Dei-euibro an-
terior fizera uma nolavel circular a lodos os vigários desta ilha. indu-
zindo-os a auxiliar, nas respectivas parochias o recrutamento jiara a
tropa de primeira liulia, pois que, — «assim como todo o cidadão é sol-
dado e obrigado por direito natural a defender a sua vida e a sua sub-
sistência, assim lambem é obrigado a defender o Estado, em cujos do-
mínios nasceu e aonde está vivendo e se conserva.»
A Camará Municipal da Horta, então composta dos Snrs. António
José (lAvila (futuro Duque d'Avila), José dAlmeida e Silva, José Cur-
ry da Camará Cabral. Thomaz José de Bettencourt, Nicolau Tolentino
de Moura e António Garcia da Rosa (que morreu Barão dWréa-larga)
dirigio a S. M. I. uma felicitação, datada de 18 de Março doesse anno
de 1832, depondo reverente aos pés do Regente a sua homenagem de
amor, respeito e devida adbesão, tralando-se em seguida da conslriic-
ção de um arsenal de marinha para reparo ou armação dos navios des-
tinados á expedição, sendo, na freguezia das Angustias para este fim
oíTerecido pelo cidadão José Sebastião Corrêa o uso-fructo de um ter-
reno que possuia, próximo do mar, no sitio de Santa Cruz.
Na parede deste prédio existe, actualmente, uma lapide comme-
moraliva, com os seguintes dizeres:
ff #
11 ^'esle sitio de Santa Cruz ^■
II em Í8Õ2 H
H se improvisou á custa dos haiiitanles H
H da M
II Cidade da Horta H
íí um arsenal marilimo que foi oíTerecido a g
II S. M. I. O Duque de Bragança. #
1^ Aqui se aprestou uma parle (ia armada ||
II que levou á Arenosa de Pampelido g
H os l.m liberaes. H
II -í*-€^ H
H Esta memoria mandou pôr a Camará Municipal: era 1877 *|
W:^5::^:í.5 335 35^ í3£:^í3í5::S8tfeíS:íEt 335:3^:^335: 3^:^5:3^ 3^3^
N'esla inscripção notaremos apenas, o que não ignorava, lambem,
ARCHIVO DOS AÇOKES 25
de certo, h illiislre vereação <Ju siipracilado aiiuu que a então Villa da
Horta só passou á catliegoria de Cidade, em virtude do Decreto de 13
de Jullio tle 1833, por conseguinte em epocha posteriijr aos foros que
n"aquellas linlins já lhe são concedidos.
Este repan^ significa apenas a rectificação de um lapso talvez.
A (gamara Miuiicipal, gerente em 1832, conseguio, também rea-
lisar na Horta, voluntários donativos para o provimento do arsenal,
sendo estes mais ou menos valiosos, conforme as posses de cada pro-
prietario, ou commerciante bem como que os homens validos de to-
das as freguezias ruraes, prestassem, alternadamente, um dia de tra-
balho, ou a sua importância em dinheiro, medida esta (jue foi accei-
ta gostosamente, como acceito foi o recrutamento a que se procedeu,
o (jual, sem a miiiima relutância, excedeu toda a expectativa.
Estauilo nestas circiun.-;tancias os negócios públicos no Fayal, ha-
via toda a i)rob:ibilidade de uma visita a esta ilha de S. M. I. e pensa-
va-se na maneira mais digna de, n'esse caso, hospedar tão illustre per-
sonagem, indicando-se d'esde logo a casa d'um distincto fayalense, do
(jual passamos a dar algumas noticias, como a mais própria para tão
elevado recebimento.
O Sr. José Francisco da Terra Brum, primeiro Barão da Lagoa,
por Decreto de 22 de Dezembro de 1841, do Conselho de S;a Mages-
lade (I83V), Ficalgo da Casa Beal, cavalleiro da Ordem .Mihlar de
Nosso Senh(ji' Jesus Christo, ca()iirio mór de Ordenanças e Coronel de
Voluntários, nasceu na, então, Villa da Horta, aos 9 dias do mez de
Março de 1777, sendo seus pães o morgado Francisco Ignacio da Ter-
ra Brum e Silveira e D. Joaquina Clara de Noronha.
Na edade de vinte e seis annos, isto é, a 14 d' Agosto de 1803,
casou com a Sr.^ D. Francisca Paula da Terra Briim, que nascera a
9 de Julho de 1787, filha do muito abastado e distincto morgado faya-
lense, o Sr. João José Paim Brmn da Silveira Terra Leite, doutor for-
mado em direito pela Universidade de Coimbra, fidalgo da Casa Real,
e de sua consorte D. Marianna Victoria de Noronha.
Assim, o Morgado Terra, como mais vulgarmente era conhecido
n'esta ilha o futuro Barão da Lagoa, alem de ser um cavalheiro da
primeira nobreza dos Açores, possuio também a maior casa vincular,
fayalense, pois ao morgado que herdou de seus pães, reunio uma mui-
to maior casa, pertencente á sua virtuosa e muito respeitável consorte.
Foi egualmente o mais importante proprietário de vinhas na ilha
do Pico, as quaes lhe chegaram a render, como no anno de 1841, mil
pipas de excellente vinh », tornando-se notável o bum methodo e cui-
dado com que mandava trabalhar esses grandes tractos de terrenos.
Era o morgado Terra de elevada estatura, typo peninsular e ape-
sar de uma certa franquesa que lhe era natural, dizendo sem rebuçv)
o que sentia, temperava esta espécie de rudeza de caracter-, por atra-
hente bonhomia, ujaxima integridade em todos os negócios e despren-
N." 43 — Vol. Vlll - 1886. 4
26 AHCHIVO DOS AÇOHES
dimento de etiijuctas, faIllilia^isandu-^e cuin as classes proletárias, pe-
lu que gosava muita popularidade.
Esta familiaridade uão descaída, pf)rem. em desrespeito e uin-
guem gosava na Horta de maior consideração em todas as classes.
Foi, também, este cavallieiro um óptimo e exemplar administra-
dor dos seus largos haveres, e, apesar de bastante económico, vivia
com grandeza, estando a sua moradia sempre franca para os seus a-
migos, como a sua bolsa constantemente aberta para os necessitados,
ou para qualquer commetimeiito de pid)lica utilidade.
N'estes excellenles predicados ninguém lhe levava a primasia.
Apesar, porem, da sua família viver coin o fausto cirresp^nden-
te á sua elevada posição, o murgaíjij IVrra era um cavalheiro assaz
modesto, gostando (jue ficassem na sombra muitas das suas melhores
acções e até, tendo sido nomeado cavalleiro da Ordem Militar de Nos-
so Senhor Jesus Christo, o (jue n'a(iuelle tempo era distiiicção assaz
apetecida, guardou de tal sorte o diploma e venera, que só per ( c-
casião do seu fallecimento é que se soube da concessão de semelhante
graça, sendo no seu enterro a única vez que lhe brilhou no peito a
cruz vermelha aberta em branco.
Apesar do morgado Terra uão ter estudos superiores, possuia
comtudo, ba>tante illustração e bom senso, lendo desenvolvido gosto
artistico, aponto de na sua vasta residência, como já vimos no capitu-
lo terceiro desta (,bra, estabelecer o primeiro Thealro da Horta, aon-
de durante alguns annos se representou perante a melhor .sociedade
d'aqui, contribuindo, assim, j)oderosamenle para a civilisação d'esta
localidade.
Todas as quartas-feiras dava em sua casa uma muito concorrida
p;^rtida e a espaços luzidos bailes e jantares, recebendo elle e a sua
familia. com a mais selecta delicadesa, a bôa sociedade Hortense.
As duas maiores festas, ainda assim, no decurso de cada anno.
eram os bailes de 19 de Março, dia de São José, anniversario do ba-
ptisado deste illustre fayalense e a 22 de Maio, anniversario natalicio
da sua filha mais velha D. Joaquina, da qual o baptisado havia sido
uma das mais falladas festas de que n'esla ilha ha memoria, [uinjuan-
to achando-se, então, de visita no Fayal, o Bispo da diocese, D. José
Pegado dAzevedo. foi este Prelado quem se dignou de baptisar a re-
cenmascida, de tarde, na egreja de São Francisco, aonde concorreram
com brandões accesos, todas as ordens religiosas da Horta, acoFupa-
nhando. d(q)0is. processiunalmente o Bispo até á morada do uiorgado
Terra, aonde nCssa noite houve um grande baníjiiete e sumptuosís-
simo baile.
Como fosse immenso o povo que se ajuntou na rua, em frente
da casa, os criados faziam descer das janellas bandejas suspensas em
cordéis, atuljiadas de bolos, viandas e manjares finos, para (jue todos
partilhassem da festa (|i;e reinava no interior d aquella moradia.
ARCHIVO DOS AÇORES 27
P.iia os tlois bailes a que nos referimos de 19 ile Margo e !2á
de, Maio, estava estabelecido não haver ronvites, sendo indetermina-
do o numero de convivas, pois qne n"essas noites o Sr Teira illumi-
nava profusamente a casa e abria as suas salas, comparecendo ou
fazendo se alli representar, expontaneamente, todas as famílias da sua
amisade, em numero sempre avultadíssimo.
Uma (trcliestra de amadores de musica, patrocinada pelo morga-
do, concdiría amiudadas vezes ás diversas reuniões, dando assim im-
pulso na sua pátria a esse poderoso meio de progresso, a sublime
arte de Mozarl, da qual era apaixonadissimo.
E em todos os actos públicos representava, lambem, com distinc-
(;ão a classe a que pertencia.
I)"isto temos um exemplo bem frisante, occorrido no anuo de 1804.
Sendo Regente em Portugal, o príncipe D. João, em consequên-
cia da enfermidade mental de que, sem probabilidade de melhoras,
estava soffrendo a Senhora D. Maria I.*^, entendeu o governo otliciar
a todas as tiamaras xMunicipaes, pedindo um donativo geral e voliui-
tario para accudir ás urgências do Estado e poder conservar a neu-
tralidade, no meio dos embales políticos que então agitavam a Europa.
Nos Açores, semelhante pedido, foi acceito sem reluctancia e o
Hispo I). José Pegado dAzevedo [)ublícou, então, aquella sua ncjtavel
Pastoral, dirigida a todo o clenj secular e regular da diocese a res-
peito do donativo voluntário |)ara as urgências do Estado, docun}ento
este considerado um dos seus ujelhores escríptos e cuja doutrina foi
muito commentada,avanç; ndo no mesmo o seu illustre signatário idéas
modernas e, a dizer a virdade, pouco triviaes n'aquella epinha, como
se vè nos seguintes períodos.
"Pagamos iristo a César, o que é de César, o tributo é do Soberano, por
tanto não se llie nega. Accrescentarenios alem d'islo, por sabermos do que nos
toca de mais perto, isto é, da historia da nossa monarclii;i, que os senhores reis
d'este riMtio, e os mais reis catholicos, eiUre os soberanos da ciiristandade, as-
sim como foram zelosos protectores d i santa eyreja, nos seus domínios, proíno-
vendo ;i pro|)agação da le. em todo o mundo, onde a dispêndios de sangue por-
tuguez se arvorou a cruz de Nosso Senhor Jesus Christo, e concedendo magnifi-
camente grandes honras e immunidades ao estado ecciesiastico; comtudo não
(leix;n"ain em lodos os tempos, quando a necessidade publica assim o exigio de
;icceit;n' e até de pedir ao clero certas contribuições que concorressem ao mes-
mo tempo para a causa publica e para os seus vassallos sujeitos a muitos ou-
tros penosos encargos, conseguissem algum refrigério na diminuição dos impos-
tos, e dos tributos de outra sorte inevitáveis.
Isto é o que sempre se praticou em Portugal, as nossas leis, as cortes an-
tigas, as historias portuguezas, assim couio o provam evidentemente, são tam-
bém outros tanlos monumenlos puhhcos e authenticos da íideUdade e do ardor,
com (|ue II i'l(ro portuguez acudio ao reino em semelhantes circumstancias: que
28 ARCHIVO DOS AÇORES
assim soube cm todas as edados a religião, e piedade intiegavel do tlirono por-
tuí^uez combinar as immunidades e(*i;lesiasUf;as por elle generosamente conce-
didas, com aquella obrigação primitiva, natural, e inherente tjue lem lodos os
indivíduos de concorrer, quanto é da sua parte, para o bem commum do estado,
e do império em que vivem feliz e pacitlcamente."
Os liabitfintes da Horta, tanto civis, como ecciesiasticos, a pedido
da Camará Municipal e do Bispo, concorreram todos, conforme as su-
as posses, para o bem commum da pátria e d'a:jui, numa escuua cha-
mada «Nymplia», foiçam para Lisboa, alem doutros d.»uativos em di-
nheiro e géneros, um valioso carregamento de vinhos.
N'esla subscripção figurou o morgado Terra com vinte pipas do
mais escolhido e precioso liquido da sua lavra.
Ainda assim, como de todos é sabido, apesar do sacrifício pecu-
niário que fez, então Píjrlugal, para assegurar a paz, as exigências
de Napoleão I.°, em 1807, que não puderam ser em tudo satisfeitas,
deram causa a entrar no paiz, invadindo-o, um exercito de 40:000
homens, comtiiandado pelo general Junot, auseulaudo-se o Regente pa-
ra as terras de Santa Cruz !
Aos açorianos, comtudo, não lhes poude restar escrúpulos de
consciência de não haver contribuído, largamente, para evitar este tris-
te desenlace.
Excerceu o morgado Terra, com a máxima dignidade e honradez
iis primeiros cargos da governação d"esta ilha, entre os quaes, desi-
gnadamente, o logar de membro da Junta Governativa, a qual em vir-
tude da glorio.^a revolução militar de 2i d' Agosto de I8á0, que li-
bertou o paiz do jugo britânico, foi aqui estabelecida, no meii» de grati-
diosos festejos, como singulares foram as provas de adhesão ao Sobe-
rano Congresso, em breve reunido na Capital, em 1(3 de Janeiro de I8á I.
Ksta Junta Governativa, fayalense, foi composta dos seguintes ca-
valheiros.
Uoberto Pires Alves de Miranda— Governador militar — Presidente.
Estacio Machado d'L'tra Telles— coronel de milícias— vice-presi-
dente.
José Francisco da Terra Brum— capitão mór dOrdeiianças.
Francisco Xavier da Silva— Ouvidor Ecclesiaslico.
Sérgio Peieira Ribeiro— proprietário e cônsul francez.
I)r. José Francisco de Medeiros— proprietário e commerciante.
Doutra commissão, não menos importante, fez também parte o
Sr. Terra, no anno de 1833, quando o governo liberal quiz contrahir
o avultado empn^stimo de 400:0006000 rs., nos Açores, applicando ao
pagamento do mr.smo diversos rendimentos.
O morgado Terra f(}i, então, á ilha de São Miguel, aonde se reu-
Ar.CHlVO DOS AÇORES 29
niram (js oiilnis inembnts da (^ommissão nomeada para tratar d'este
as.^nin[)lo, que ficou assiui CDiisliliiida:
Theutoniu de Ornellas Bruges Ávila Paim da Caiuara NY)rouha —
Presidente (Visconde de BiMiges por Decreto de 8 de Dezem-
bro de 183-i).
Pedro Homem da Costa Noronha Ponce de Leão — Vice-presiden-
te (Barão de Noronha por Decreto de 8 de Dezembro de \H'Ò±).
António Marianno de Lacerda (Carta do Conselho de S. M. em Ja-
neiro de 1834).
Manuel de Medeiros Costa (]anto e Albuquerque, (1." Barão das
Larangeiras por Carta de "21 de M.iio de 1836.)
Jacintho ígnacio Bodrigues da Silveira (1.* Barão de Fonte Bella
por Decreto de lá de Março de 1836.)
José Francisco da Terra Brum (Barãij da Lagoa, por Decreto de
áá de Dezembro de 1841).
Duarte Borges da Camará Medeiros, (I.° Visct)nde da Praia [)or
Decreto de 7 de Maio de 184oj.
Em seguida a isto e como recompensa dos seus bons serviços re-
cebeu o illuslre fayalense a carta de Conselheiro de S. M. 1. em Ja-
neiro de 1834.
E devemos observar que, ainda que educado nos princípios do
antigo governo e da supremacia da nobresa, sympatliisou sempre, por
índole, com as idéas liberaes e aquelle homem a quem nada faltava,
em cjnsideração e riquesa, para viver na sua [)alria vida desassombra-
da e feliz, expoz-se. a bem da liberdade a soffrer perseguições, sen-
do aqui preso, como constitucional incorrigível e enviado para Lisboa
e dalli, mais tarde, transferido para as prisões da ilha de São Miguel,
aonde o foram encontrar, e libertar, as tropas constitucionaes, só en-
tão consegumdo regressar aos seus lares.
Compare-se esta integridade e firmeza de caracter com o libera-
lismo de alguns aventureiros . . .
N'estas vi"agens que fez sob prisão a experiência fel-o conhecer
bem os homens e (ts acontecimentos, como os occultos meios que de-
termitiam por vezes o seu procedimt^nto, e, assim, quando se espera-
va que o morgado Terra regressando ao seio da sua extremecida fa-
mília, que dias tão amargurados acabava de passar, viria, exacerbado
de soffrimento exercer aqui vinganças, retaliações ou represálias, ao
contrario d'isto apresentou-se como havendo esqueci(Jo completamente
a infausta epocha que decorrera e os graves prejuízos que tivera, tra-
tando a todos os seus conterrâneos ctmio amigos e sem que, jamais,
alguém tivesse occasião de queíxar-se de uma recriminação da sua
parte, ou de um dito allusívo ao mau procedimento dos que haviam
sido os seus perseguidores.
30 ARCHIVO DOS AÇORES
Homens desla tempera são raríssimos, tanto mais quando a sua
fiiruina os colloca em desassombrada independência, á sombra do par-
tido a quL' pertencem, então victorioso.
Se jamais deixou de ser de uma generosidade a toda a prova,
para os seus inimigos politicos (que jamais conheceu outros) e se mui-
tas vezes, em diíTiceis crises lhes accudio com o seu valimenlo, ou
com o seu dinheiro, j.imais também o espirito de partido díjniinou as
suas acções e se alguns desgostos a este respeito teve, foi [)or não
se prestar a vinganças ou resenlimentos.
A sua consciência, a de um verdadeiro homem de bem e a es-
tima geral de que gosou, invariavelmente, até á sua morte compeu-
savauj lhe esses leves atritos, dos quaes era o primeiro a rir-se, na
habitual honhomia e des|)reoccupado animo que o caracterisava.
As intrigas, os ódios e as malquerenças não tinham entrada n"a-
(|uelle levantado eoração e se trabalhou umito, tomando parte activa
na governação d'esta ilha, a sua missão foi, invariavelmente, concilia-
dora, antepondo sempre os interesses da pátria a toda e (pialquer ou-
tra consid^ ração.
Que exemplo a seguir !
Por occasião da entrada no Fayal, a á3 de Junho de 1832, da
expedição constitucional, como já acontecera com o tenente coronel
Guido José Serrão, coinmandante da tropa de infauteria u.° 1 e n.° 7,
f)i hospedado na resilen. i i do morgadj Terra o nobre e heróico con-
de de Villa Flor, e isto com tal sumptuosidade e fino trato, que mui-
to penhorou áquelle fidalgo, habituado, apesar de guerreiro, a todos
os requintes da corte, com os quaes muito se com[)rasia e tanto assim
que, como governador que havia sido da província do Gran Pará, uo
Brazil, a sua est.ida íicára, alli, memorável pelo brilhantismo dos sa-
raus e festas que no seu palácio oíTerecia, amiudadas vezes, á mais
selecta sociedade da muito importante e rica cidade de Santa Maria
de Bethiem, capital da Provinda.
(Jra, desde a chegada á ilha Terceira, do Seulior D. Pedro, as
jirovidencias adoptadas pelo Hegente, com relação a ampliar e desen-
volver a iiistrucção publica e acabar com os dízimos sobre algims gé-
neros, a que chamavam rniunças, causou uma bòa impressão nos po-
vos fayalenses, concorrendo isto poderosamente para haver a melhor
harmonia entre governantes e governados.
N'esse anno, o dia 4 d Abril, anníversarío natalíci(j de S. M. D.
Maria 2.*, foi brilhantemente festejado na Horta, com um Te-lJeiím,
salvas, [tarada, illuminação, fogos de artificio, musicas e uma luzida
cavalhada, com bando e figuras allegoricas que recitavam pelas ruas
e em frente das residências dos pi'incipaes da povoação, odes e outras
• composíçõi s poéticas d.)S poetas da localidade, entre os quaes, nesta
especialidade, occu[)avam proeminente logar os Srs. António Silveira
Bidcão e Joiío Pereira de la Cerda.
Af.CHlVO UOS AÇOKES 31
No (Jia immedicilo a esles festejos chegou á bahia da llorla a coi-
véla «JiHio» e logf) depois, a 6 de Abril, a fcagala «R;ííiiI);i de h>rtii-
^M» e dois transportes fraiicezes, todas estas eiiibarcações proceden-
tes da Tei'ceira, sabendo se, então, ollicialmente, (]ue o !Ju lue de Bra-
gança, acompanhado de diversos personagens da sua côite, em breve
visitaria esta ilha, sali.sfazendo assim aos desejos dos fayaleiíses e pa-
ra inspeccionar. [)essoalmente, os aposentos para a ex[iedição, que se
estavam fazendo na Horta.
Tão alegre nova foi aqui recebida com verdadeiro alvoroço, reu-
nlndo-se, immediatamente, a Camarci Municipal para tratar da manei-
ra comhgna de receber um tão illustre personagem e, muito natural-
mente, a casa de José Francisco da Terra Brum foi logo lembrada \);\-
ra gozar da elevadíssima hi)ma de hospedar S. M. I.
Olliciou, pois, a Camará Municipal n'este sentido ao morgado Ter-
ra, ao (jue elle annuio gostosamente, não só com relação ao L)n(|ue de
Bragança, mas a todo o séquito que o acompanhasse.
A familia do morgad(j Terra compunha-se, então (ISlJij das se-
guintes pessoas:
José Francisco da Terra Brum, de 55 aunos.
I). Francisca Paula da Terra Brum, sua consorte, de
D. Joaíjuina, filha, solteira ....
D. Francisca « « ....
D. Maria « « ....
José Francisco, da Terra Brum, filho, solteiro
Francisco « «
Tliouiaz « «
Manuel « «
João « «
f de seis criados e cinco criadas, dirigidos [)or Manuel José, então de
40 annos, oriundo da ilha Graciíjsa e que pela sua imi)olluta honradez
e extrema dedicação á familia do morgado, foi iraijuella casa, para
aonde viera ainda muito novo, a chamado de um tio, mais considera-
do como um amigo, um homem de toda a confiança, do que um sim-
ples domestico.
Ao todo vinte e duas pessoas de portas a dentro.
Não se fez esperar a visita de S. M. 1., porquanto logo no dia se-
guinte, 7 d'Abril, com tempo assaz sereno e mar dmu seria uma ho
ra, ap[)roximadamenle, da tarde, divisou-se ao longe, dobrando a ex-
tremidade do norte da fronteira ilha do Pico, uma embarcação a va-
por que se dirigia no rumo da bahia da Horta.
A curiosidade dos fayalenses foi então grande, tanto pela espe-
ctativa cm que estavam da visita do Regente, como pela circumstancia
da chegada d'um navio a vapor, novidade esta que a maioria dos ha-
bitantes da ilha jamais haviam visto, sendo aquella embarcação ipie
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32 ARCHIVO DOS AÇORES
gradualiiiente se approxiinava, vomitando espessas nuvens de fumo, o
primeiro navio de semelhante systema que ao Fayal aportava, apesar
de essencialmente marítimo o porto da Horta.
Admira-n')s algum tanto este facto, quando attendemos á nossa
posição geograpliica e ao crescido numero de embarcações que pas-
sam por estas paragens, acrescendo ainda que a navi^gação a vapor
devia, necessariamente, ser então muit() mais morosa do que hoje e
sujeita a maior numero de desarranjos no machinismo do que nos ex-
plendidos steamers dos n )ss )S dias e que, por conseguinte, cresciam
as occasiões de qualquer arribada, ou cai'encia de mantim.^ntos, alem
da necessidade de refazer-se de carvão, emb )ra estejamos pei'suadi-
d.is não haver ain la aqui abundosos depósitos. Verdade é que a tra-
vessia transatlântica devia offerecer, com cei-tesa, sérias dilficuldades e
que só, talvez, a tentasse um diminuto numero de embarcações do no-
vo systema de navegação.
Ainda assim, desde 1807. como diz P. Tavernier, na sua Histo-
ria anedoctica do vapor «a invenção de Fultou começara a de>envol-
ver-se, ao principio adslricta somente a rios e canaes e em seguida
abalançando-se a rasgar o seio do oceano e dirigida quasi exclusiva-
mente |iela raça saxonia
A águia (la França ferida no coração e ainda conturbada da sua
grande derrota de 1815 não i)restava altenção, nem tomou a minima
parte n'essa grande conquista do progresso que, de anuo para anno,
ia logrando assombroso desenvolvimento e só em 181(5, uma vez ac-
cidentalLiente, é que a primeira embarcação, inglf^za, movida a vapor,
foi vista nas agoas do Sena, mas sem que lhe dessem importância.
E esta indifferença prolongou-se até ao anno di 1825, n) qual a
marinha franceza começ lu a aproveitar-se das michinas de W,it, quan-
do em britíve ia já ser estabelecido um caminho de ferro, na rival In-
glaterra, desde Liverpool a Manchester.
Esse navio que se approximava da Horta, como iamos dizendo, e-
ra o «Snpeib», um barco de limitadas proporções, dois mastros e
grandes caixas de rodas, o mesmo que no dia 30 de Janeiro anterior,
em França, fazendo parte da esquadra constitncional, recentemenie e
com grandes sacrifícios adquirida, havia ido a Nantes buscar 8. -M. l.
mas (jue só dois dias depois conseguiu poder navegar nas aguas do
Loire, conduzindo o Senhor D. Pedro a Belle-hie, aonde foi recebido
com salvas dos navios de guerra porluguczes, formando a esquadra
cujo '-onunaudo fora entregue ao vice-almirante Kose Jorge Sarturius
o qual, innncdiatamente veio cumprimentar S. M. 1. conduzindo-o em
seguida para bordo da fragata «Rainha de Portugal», acnde ao som
de uma salva de vinte e um tiros, ficou içado o pavilhão Real.
O '(Supeib» fundeou, lodo embandeirado, na bahia da Horta, pe-
las ires horas da tarde. d'esse dia 7 d Abril de 1832, ao troar da ar-
ARCHIVO DOS AÇORES 33
lillipíin dtis iwivios de giicrTíi, que o haviam precedidij, \n;in coiiio de
iiina s;»lv;i do Castello de Santa Onz.
Como desde a vesper.i se sabia, publicamente, que era aquella
embarcação a vapoi' em (|iie S. M. l. viria dAngra, apenas esta ap-
pai-eceu em distancia, muita gente de todas as classes da sociedade
começou a afíluii' para o cães e suas irmnediações, taut(j por curiosida-
de natural, como por enthusiasmo politico, de maneira que em breve
tempo foi Ião compacta a multidão n'aquelles arredores que muito dif-
liciliueule por alli se podia transitar, e como já era publico que S.
M. I. seiia hospedado na residência do coronel de voliuitarios José Fran-
cisco da Terra Brum, todas as janellas das uumer isas moradias das
ruas da Misericórdia, Collegio, São Francisco e Cães, pelas quaes ti-
nha de passar a regia comitiva, começaram a enfeitar se com immen-
sa profissão de bandeiras, colclias de damasco, ou de seda, ramagens
e ílores, venlose nas mesmas grande numero de damas, com os seus
melhores trajos.
As residências consulares estavam também, todas, embandeira-
das e na egreja principal da povoação, preparava-se festivamente o
altar mór, para um Te-Deum que na mesma tinha de ser celebrado
n"aqu(Mla tarde, por tão fausto acontecimento.
O batalhão de Caçadores lá, (|ue guarnecia a ilha, veio então,
em grande uniforme, ao som das Cíjrnetas e commandado [)elo major
Menezes, poslar-se em frente do portão do castello de Santa Cruz, a
lemj)o (|ue a Camará Municipal, em trajo de ceremonia, próprio d'a-
(pjella corporação e com a bandeira do município na frente, bem co-
mo todas as authoridades civis, militares e ecclesiasticas, também con-
corriam ao cães, para receber S. M. I.
A multidão tornara-se enorme e com tal rapidez se espalhou a
noticia da chegada do régio visitante, qiie, até das m^is próximas fre-
guezias campesinas, milhares de individmjs chegavam apressadamen-
te da Feteira, Castello Branco. Flamengos e Praya do Almoxarife.
Junto do cães balouçava-se, docemente, no mar, um grande e
possante escaler, branco como um cy>ne e tendo a cinta doirada, bem
como no painel da popa o nome «Amphytrite» e sobreposto a este as
armas dos Terras Brnns, timbradas por duas cabeças d'aguia. Na po-
pa do escaler tremidava a bandeira bicolor, toda de seda e com as
armas uacionaes primorosamente bordadas.
O interior (Testa embarcação, pertencente ao morgado Terra, a-
chava-se luxuosamente preparada, lendo custosos coxins na bancada
da ré e seis marujos por banda, uniformisados e robustos, não contan-
do o respectivo patrão.
Para O « Amphytrite» saltou então o seu proprietário, uma impo-
nente e respeitável figura, com o fardamento de capitã(j mór, azul, a-
vivado de vermelho, leluzentes dragonas. espada e chapéu armado.
O escaler dirigio se, immediatamenle, á torça de remos para o
N.'' i3— Vol. VIU - 1886. 5
Si AMCHIVO DOS AÇOKES
vapur «Siipeib», ítkIc, :)s>in), ;iqiie]le dislinctu ^(oriaiin nboido, [i.ii:!
;u'(iinpaiilir'if p;ir;i tei i;i c ninduzii' alé á sua r»>i('.eiicia, o Hegeiílf do
reino.
Perli) (ias (jiiatm lioi^as da lardc, deitois de liavrr vi>iladu os iia-
viiis de gnetra surlos na baliia. S. M. I . seguido do seu sfijiiilo, isl.)
é, de algiiiis dos mais notáveis \nlt(Ks da expedição liLetai, desembar-
cava do «Anii)li}lrite)s no cães da Horta-, ao som das salvas no mar
t' em leria e de enthusiasticos vivas do povo, de repi(Hies (Vslivoj em
todas as egr»-jas e de ontras d( nionslrarões de legosijo pnblieo.
No trajecto até terra, S. M. I. dera a honra ao capitão n;6r d<' o
mandar sentar á sua direita.
O pre-sidente da (^lunarn .>hjnicipal, o Dr. A[itonio José dAvila
unais larde o nobre DníjLie dAvila e de Bolama) diiigio então ao \)n
(\ue de Bragança i;ma breve allornçâo, pa>san(!o enj segnida a real co-
mitiva pela freide do Castello de Santa (rnz, aonde eslava postado,
como já dissemits. Caçisdores 1:2, que fez a S. M. 1. as respectivas hon-
ras militares, seguindo logo o préstito ua direcção da casa do m<irg;i-
do T»rra. sendo o Hegente cotitinnamente saudado [)e!os vivas do po-
vo e no meio de um chuveiro de llcjies, lançadas das janellas pelas nu-
merosas damas gue nas mesmas se achavam.
A enoíine multidão estava tão ávida tle conteuíplar o r» gio visi-
tante que, atravez das suas ondas, jamais conseguio (» Presidente da
C.amaia e o Revd.'' Ouvidor Eci h-siastico a|)roximart'Ui-.«-e de S. M. 1..
jiara o convidai- a assistir a mu Te-Dctun na Matiiz.
Chegados á casa da rua da Miseric()rdia (hoje de D. IVdro IV) c
.■■pre>entada. pelo (^onde de Villa Flor, a S. M. 1. a familia do capitão
mór. dignou se taudjem o Regente receber todas as antlioridadfs ci-
vis, militares e ecclesiasticas ipie concorreram a comprimental o e, a«i
cahir da noite, depois de lauto banquete no Paço, illuminoií-se. expoií-
taneamenle toda a povoação, repicando os sinos das egrejas r subin-
do ao ar grande numero de giiandolas de foguetes.
A multidão, nas ruas, eia ainda immen,-:), ma.\ime em bcntc d i
residência real.
A casa do morgado Terra, com a bontaria resplendeiile de in/,e>.
rec»'bia dentro em breve tem|)o grande numero de f.imilias desta lo-
calidade e as elegantes fayalen>es, com a sua formosiira, ricas tnilcí-
fes e piuverbiaí bôa maneira de apresentação, (igiiiavam num anima-
dissimo baile (jue se prolongou, até muito tarde, pela noite adiante.
Koi inexcedivel a animação das danças, o enlbiísiasmo que em lo-
dos se divisava e a profusão dos símvíços. devendo notar-se (pie |)ara
a condigna recepção de S. M I. e da sua comitiva, o morgado Ter-
ra não havia pedido a alguém o miniino objecto que fosse, lendo a sua
casa montada de principesca maneira.
D'esde a chegada dn Imperador a guarda de honra fora feita por
um c jitingenle de c.-içadorcs 1-2. mas como se llie apresentasse uma
ARCHIVO DOS AÇORES 3o
r.)i'(;.i (Ic Vtliiiitarios, Toi esta arceita, [xn- atu-uçãu aos fayaiciis.s, iijiiu-
(latido ifcoliíer a primeira aos seus quartéis.
No dia imniediato, 8 d Abril, douiiiigo da Paixão, recebeu, so
li'uiueuienle S. .M. I , eercado da sua côrlc. as autlioridades, diversas
lorjiorações »' os |nincipaes da terra (^ de tarde, das jan^^llas do Paço,
vio a procissão deiioiiiiiiada (jo Triuiiiplio, (jiie n'esse dia percorre as
I ii.is da Horta aonde desceram das tregiiezias nnaes a uiaioria dos
li;il)itaiilf's da ilha. (jiie irroinpiaiii em .mimados vivis ao Hegenle, sem-
pre que do caminho o divisavam.
A' noite outro grandioso baile geral sandava. ainda, na resideii-
ci.i (Jo capitão mór, o praser da recepção de tão illnslrt^ [lersonagem.
No (lia 9, vestido de geneial, e acompanhado de to(io o seu se-
(|utto, saliio S. VI. 1., a cavidio, indo visitar (» arsenal de Santa Cruz.
(^ alii mesmo se dignou de acceitar um almoço que lhe fcíi olíerecidi»
pelo corpo commercial, passando em seguida uma rev!sta ao batalhão
de Voluntários, indo também ver manobrar a artilheria do (^astello de
Santa (iniz e assistindo ao exercício do batalhão de caçadores lá. vi-
sitando depois a alfandega e o hospital mditar, estabelecido no con-
vento de Siinto António.
Nessa noite olTereceu a S. M. I. um gí-andioso baile o benemérito
cônsul americano (>harles William Uabney.
No dia 10, segunda visita ao arsenal, digressões pelo< mais apra-
siveis sitius da Horta, indo em segiiida o Regente jantar cO!U o cônsul
inglez Mr. Walker e honrando, á noite, com a sua presença, um bai-
le ipie lhe oír.íreceu .VI.'' L ine, cônsul hollandez.
No iJia II, muito cedo, passou revista eui ordem de marcha ao
batalhão de caçadores 12, que seguia para a ilha de S. Miguel e ás
sete horas da manhã, no meio de enonue multidão, ao som das sal-
vas e de inúmeros vivas ao Regt-nte e á (>arta Constitucional, eud)ar-
cou S. M. I. luais o seu séquito, no mesmo escaler « Ampliytrite», se-
guindo para bordo do «Siiperb», que em breve levantava ancoras, com
d('Sliiio á ilha de São J ir,ue.
Durante a >na [)ern)aneiuMa de (juatio dias, na Morta, colheu o
Duipie de Bragança grande copia de informações sobre o estado d.<
ilha, sua prodncção e commercio, providenciando a respeito dt^ divei-
sos assumptos attinentes á publica governação.
Os aposentos do Duque de Bragança, iia casa do capitão \m\\ fo-
ram na parte do sul do interior da caza, deitando sobre o jardim, os
qnaes se achavam luxuosamente mobilados e ornamentidos.
No quarto de dormir de S. M. I. ficava também o seu camarista
Almeida, e numa saleta contigna o dedic ido servo do morgado Terra,
Manoel Jos<l'. que acompanhara o seu amo em todo o tempo (pie este
estivera preso em Lisboa e na ilha de São Vliguel.
.\ impres>ão recebida pelo Regente da sua visila á ilha do Kayal.
foi lhe MgiHil.ivel e leve, em gei-il, [)ilavras assa/ b^'nevolas [)ara as
36 ARCHIVO DOS AÇORES
petisoas que o rodeavam, apri-ci.iiido muilo a uíTerta de urna handtMr.i
bi^rdada [)ur damas fayalensi-s, a (jiial, mais tarde, fui devorada pel;K>
cliammas num incêndio, na cidade du Puit(».
A figura do Duque de Bragança, quando e.-^teve n'esla ilha, era
imponente e de aspecto marcial, algum tanto trigueiro, estatin-a regu-
lar, barba cerrada e parecendo muito despiendido de preconceitos de
gerarcliia, pelo modo lhano e afável com que a todos tratava. Fuma-
va muito e até pela rua, o que no Fayal só começou a usai'-se desde
a chegada da tr(jpa conslitticional, não sendo raro ver S. M. 1. (lelo
braço do seu camarista Almeida (depois visconde do mesmo nome) ou
do seu medico, o Dr. Tavares, brazileiro. grão dignatario da maçona-
ria e subse(iuentemente physico mór do reino, logar, porem, que pou-
co tempo durou, vindo a ser extincto por lei.
Ja durante a sua estada no Fayal, apesar de inculcar ainda ro-
bustez, a saúde do Duque de Bragança não era prospera, [)ois qne
soíTria bastante do estômago, limitando-se o seu alimeut*» a uma c;ui-
ja de arroz e ligeira porção de carne assada, muito sim|)les.
Era muito amigo de musica e até compositor, assin) como nas fes-
tas religiosas acompanhava por vezes, em voz alta, na capella mói-, o>
padres, nos seus cantos sacros.
Contava, n e>ta epocha 34 annos de edade.
Devemos aíjui mencionar (jue na véspera do regresso de S. M. 1.
as freiras do Mosteiro da Gloria, fizer-am-lhe um avultado presente de
doces para a viagem, incluindo no mesmo outnjs tantos corações de
alfenim, como o numero de religiosas, de tamanho natural e tendo ca-
da um em leiras doiradas as iniciaes do nome da oíleiente.
(>om a saliida de S. M. 1. e do batalhão de caçadores 12, íican-
do a ilha guarnecida pelo corpo de Voluntários, retomou a Horta o seu
socegado aspecto, de que ha tanto tempo andava aíTaslada, [)ur ellei-
lo das connnoções politicas ultimamente occoriidas.
As obras do arsenal de Santa Cruz continuavam cora toda a acti-
vidade, j>ara auxiliar a próxima expedição e os novos governantes es-
forçavam-se, n'aquelle tempo, ainda de vividas crenças, para se tornar
úteis á communidade.
Estamos a 22 de Maio seguinte, quarenta e mn dias de[)0is da
[)artida do Duque de Bragança.
O morgado Terra, não cansado das sumptuosas festas que ulti-
mamente, com a estada do Regente em sua casa, tinha dado, oíTei'e-
cia ainda, nessa roite, um luzido baile á elite da s(»ciedade fayalen-
se, festejando o anniversario natalício da sua filha mais velha D. Joa-
quina.
A noite apresenlara-se sertiia, mas escuríssima, dessa escuridão
peculiar ás noites fayalenses, da ipial não sabemos a causa, mas qne
ó reconhecid.i, especialmente, [)or lodos os nossos marilimos e pesca-
dores.
AP.CHIVO DOS AÇORES 37
N;i rua da Misei'iconJia a vasta fn miaria da casa du capilão iiiúr,
com as suas treze janellas, rasgadns de frente, de>tacava se aiegre-
menle illumiiiada lu» lueiu d'essas li'evas e os acrordes d uuia orclies-
tra animavíim o sai-áo, ha pouco começado.
Na sala principal uma exuberância extraordinária de flores, dis-
postas em custosas jarras da índia, embalsamavam o ar, rivaes, mas
não excedendo, na rre>ciH'a e bellesa, essa porção de bonitas ra()ari-
gas da aristocracia fayalense, que alli volteavam, no redemoitilio das
valsas e guadrillias. em substituição da gavota, solo inglez e minuetes
ainda ha pouco em voga e cabidos agora em desuzo, como [terteiicen-
les ao antigo regimen.
Como geralmente acontece, reunira se muita gente do povo em
frente da casa do capitão mór, para vt^r entrar os convidados, mas
desde que o baile havia começado e rjue só tinham a contemplar o
guarda portã<j de libré azul, caníiões e gola encarnada e botões de pra-
ta, furam-se gradualmente rrcolheudo ás suas habitações, pelas desei-
tas ruas da Horta, completamente desitrovidas ainda de illuminação
publica e escuia? como um sepidchro.
Dessa hora em diante, como ainda hoje. não apparncia rira. alma
na phraseologia po[iular, a não ser algum grande estravag.iute reco-
Ihendo-se de alguma nocturna aventura.
Este isolamento das ruas fayalenses, durante a noite, deu que fal-
lar ao filho de M.""" George Sand, quando por a(|ui passou, ha annos,
para a America, com o princi[»e Jerónimo Napoleão, jogando-nos a es-
se re>peito alguns chascos niunas impressões de viagem que depois
publicou, sem se lembr.ir que cada um, em sua casa, pode viver co-
mo mellioi' lhe aprouver.
Já é teimar !
Próximo das II da noite, de 2i de Mai ) de I83i, o vapor «Su-
perb», já muito conhecido nesta Ilha, entrava na bahia da ílorta, fun-
deando alem do ancoradouro, dcnunciando-se a[)enas, em terra, a es-
tada de uma nova embarcação n'este porto, pelo acréscimo de mais mn
pharol nos já alli existentes.
Não sahio ao mar (jualquer lancha ou bote de serviço.
Pouco tempo, porem, depois, atracava ao cães da Hoita um es-
calei- de navio de guerra, conduzindo no leito de popa dois passagei-
ros, que immediatainente saltaram em terra.
O cães estava deserto, á excepção d'um rapaz, de dezoito annos
de edade (jue, accidentalmente, alli se achava e o qual ouvindo o ba-
ter dos remos nagoa, se ap[)roximara das escaleiras do desembarca-
douro.
Este rapaz, chamado Ayres, era um sobrinho do Escrivão d;i Ca-
mará Anhjuio Silveira d'Avila, e quando os dois recem-chegados pas-
^^avam junto d"elle, com as suas capas do marinha, um d'estes desço-
',\S ARCHIVO I>OS AÇORES
iilieci(Jos.(jii(' estava v«\»t.i'l() á paisana, a.iíairoii-o siiWilaineiitf' iiiim hra-
(••). tlizeiíflo-llie (Min iiilim.itiva.
— Voi*è t*>tá preso e tetii <K' n.is acompauliar. Dão ijiierí» ipif \'a
adiante demiiiciai' a minha pres^nç,;), vamos, para a fit-nle . . .
— Oh! senhor! . . . deixe-me, en . . .
— Silencio, nem n)ais palavia, ningnem lhe ipiei- lazer mal. ••
não largiin o liraçt» do atermrisado Ayres. i\\\e. bnn (jré. nwl gréfConn".-
çon a ;iii(tar ao lado do lai sujeito, sem saber o (pje tudo aquillo siííni-
lii-ava. nem 'piem era aipielle homem, ajíora lodo embne.jdo e rum a
i^ola do eapole levantada.
Até adiante da t^greja de São Franci.sco não encontraram pes.<òa
alguma c só próximo do canto de I). Joanna é ipie viram, a distancia
urna luz caíninhando [>ara elles.
O individuo vestido á paisana, o rpial já o moço tayalense descon-
liava ser |)essòa de Cdiisideiação, por (inanto o ollicial de niarinha qne
o acompaiiliava jauiais ein[iarelhava com elle. indo por lòra do ladri-
lho e nm [HXico nlraz, vendo approximar-se aquella luz, chegou (i cha
pHii mais para os olhos, dizendo em voz baixa ao Ayres:
— Você não solte ahi meia palavra, tome cantfila.
— Kn não digd nada. Snr.. mas é que ...
— 1'shiii ! . .^
(Iriisaram, enlã(», com .jiiHai os encontrava, (pje era nm cavalliei-
!o já entrailo em aimos, vestido de casaca e gravata branca, empu-
nhando na dextra nm pefpieno tiirta-fogo, traste ainda não ha muitos
annos trivialissimo n"e>la cidade. Vinha, evidentemente, do t»aile do
capitão mór e ivcoJhia-se cedo, depois de haver dado nm aperto de
mã(» ao SHii amigo Terra Briim.
(>(»nhecen-o o recetií-chegadd (jue aprisionara <i Ayres, porquanto
dt'j)ois delie passar, parou um motnento, voltando-se para traz e di
zendo com desfigurada vóz:
^0' velho, ó velho, vae para casa deilar-te.
O tayalense a quem eram dirigidas estas palavras, julgando tal-
vez ser alv(t dos motejos dalguns estróinas, volt(Mi-se também, dando
alguns passos para a tVente e assestando o lerrivel dl/io dr boi do seu
lurla logo, sobre o grupo (pie inticava com ejle, (jiiando seguia xtcc
gadanjente o seu cantinho.
O conviva do morgado Tei'ia, exclamou então. adiniiadi>siino:
— O qne é isto, Senhor, Vossa Magestade aipii ? ! . .
- Não grites, homem, conjo esta o capitão mór ".'
— Perleitamenle, venho agora mesmo do sen baile.
- K eu para lá V(»u, desejo lazer lhe uma surpresa.
— I*ermitla-me, Vossa Magestade, que eu tenha a h mra de o a-
companhar.
Isso não, vne la ter, se quizeres. que estimarei bastante m-
coiiliar-fe, mas deixa-nie agtUM ir sozinho, levo aqui agariado este i'a-
ArCHlVO DOá ACOhKS
ao
j»;i/, ;i unira ^)e^^^o.l ijuc ciiciuitiri, |);ira (jiie iíTio fiOM* .nli.mii' ;!vi>,jc
.iliiueiii <Ia iiiinli;i |)rf'^('iii;;i.
Ota eslr cavaltieifo com i|nem o Sciiiioi 1). I'e'ilrn ilt'|i;MMra ii,i
Mia t\v São Ftaiicisco. itcollitíii(lo->e a sua moradia, eia o digno cimi
>\ú liancez, Seriiio IVffiia Ribeiro, que [lelo seu honrado caiacttM
muila syinpatliia mcrecHia. antecedentementH, a S. .M. 1., (]ne lhe drii
inequivoca.s provas da ronsidfiação em (jiic tinha as .snas óptimas ipia
(idades.
—Até logo, Uilieiro, - e o lieíiente coiitmuoii no s^ u (Jesliiio, sc-
í>nidu do ollicial de marinha e ladeado [lelo atomto Avre.N. de Itoné na
uíãu e a tremer de cummoção. desde que sitnhera a alta personagem
de (|ne se achava junto.
(liíeyarani atinai a enliada daeasa do morgado Tcm a. ipieiendo o
Imperador dar algum dinheiro ao sen prisioneiro, olíerla, porem, qnr
e.^te não se prestou a acceitar, pedindo .somente perini>são paia lici-
jar a mão de Sua Magestade.
O guarda portão, admiiadissiniu, recebeu o^ ag.i>altios do> doi>
recem-cliegado> e (pieiia ('oricr eseada acima, a avisar o morgado do
itliistre per>o:iagem (jue ia, di' n )vo, honrar aijiit'!! i casa.
O Hegrnte o[>p()Z se tormalmenle a isto e coni'ertaud > o íaío su-
;)i.i a larga escadaria ipie coiidii/ia ao interior da liabilacã >.
Esta occorrencia tinha uma simples explicação.
S. M. I. tencionava, eíTectivamrnte, vir ontia vez á iliia do TavaJ.
aiite> da e.\[»edigãn partir para o continente, alim de in.^peccionar a>
<t!)ias (pie se estavam preparando no arsenal de Santa V.in/.. mas sem
«pie |)aia isso, achando se na Terceii'a, houvesse ainda de.>igiiadi) um
dia certo.
Fallandu a este re>peito com o seu camarista e amigo Almeida,
lembrou lhe este que o morgado Terra davn um baile na noite de :2i
daipieile mez, por si^!' o anniversario natalício da sua íillia !). .lo;i(|ui-
na e que seria de subido [)razer par.i o di.>.tiiicto lavídense. a compa-
rência de S. M. I. áqiiella lesta.
— l'uis bem — respondeu o Regente — se o tempo lier l(»gir. vou
caliir-lhe em casa e sem ipie elle espere >emelliaute visita. Ao Terra.
i\o Kayal, tie^ejo o mais possível ser agradável.
l'oi [)alavra de rei. como vimo.>.
VI tanto o lm[)erador escolheu, então, de projtosito aqiielle dia,
alliando a sua já piojeclada viagem ao veidadeiro pia/ei de ob/eipii
ar um cavalheiíi» que lhe era sinceramente aíT- elo. ijue de.Nembarcoii
de casaca, collele e luvas bi'ancas, sapatos de pohmenli, meias de .*^è-
da e chapéu de pa.sta, e com a grau cruz da Ordem de (Ihnsto ao peito.
Ve.^timenta completa de baile.
Knlrou no salão principal, procurando com a vista a Sr."* l). í''rau-
ci>ca l*anla da Terra Brum. a quem dirigio ^^^ logo. a cumprimentar
40 AHCHIVO DOS AÇOHES _
e depois liinndo para daiisar a sua filha D. Ji)aquiiia, bateu as palmas
[)ara se organisar urna quadrilha frauceza.
Um viva expoutaneo e prolongado saudou o régio recem-ehegado,
ao tempo que o capitão mór, sem saber explicar com) aquillo fosse,
estava radiante de alegria, assim couio todos os seus convidados.
Apesar (h) baile estar muito concorrido haviam, ainda assim, al-
gumas familias das quaes não estavam todas as pessoas, indo desde
logo os homens dar parte a casa da chegada do Duque rle Bragança,
de surte que dentro em menos de uma hora, achavam-se as salas do
morgado TiriM com o dobro dos convivas, d.) que antecedentemente
á chegada do Imperador, pois que todos desejavam gosar tão augus-
ta companhia.
Este inesperado acontecimento deu maior encanto áquella festa e
este baile ficou marcado nas chronicas fayalenses como um d"a(piel-
les em que o enthusiasmo, a alegria e a bôa união tocam as raias do
delírio.
O Regente fiooii de novo hospedad(j em casa do capitão mór e na
madrugada seguinte os fe>tivos repiques em todas as egrejas, a gran-
de aggiomeração de povo pelas ruas e os vivas prolongados e innnen-
sos, bem como um grande numero de casas embandeiradas demons-
travam exuberantemente os patrióticos sentiment!)s da povoação.
Foi breve, d'esta vez, a permanência de S, M. I. no Fayal, pois
que na manhã do dia i2i depois de haver sido cumprimentado pelas
authoridades e de ter tratado, no arsenal, de vários negócios relativos
aos preparativos para a próxima partida da expedição, embarcou cer-
cado de immenso povo, para o vapor que o conduzira e que seguio
em direitura a Angra.
O Duque de Bragança conservou sempie do Fayal as mais lison-
geiras recordaçijes e d'esta ilha fallava em levantados termos. Algu-
mas concessi^es lhe fez, mas a implacável morte que em breve o fe-
rio a 24 de Setembro de 183 i, veio obstar a que esta terra tivesse
em S. M. I. o mais desvelado protector.
O respeitável morgado José Francisco da Terra Brum, falleceu
na sua pátria, com 6o annos de ed;ide, no dia 2á de Janeiro de \S'r2
e a sua virtuosa consorte a Sr.^ D. Francisca Paula da Terra Brum,
a 21 de Junhíj de 18o7, cercados ambos da consideração e estima ge-
ral dos seus conterrâneos, como as suas apreciáveis qualidades tinham
sido devidamente consideradas pelo primeiro cidadão do paiz.
Foram sepultados no cemitério de São Francisco.
Pelo prematuro fallecimenlo do fillio primogénito do Barão da La-
goa, que foi Commendador de Chrislo e deputado da nação, usando
o mesmo nome e titulo do seu illiistre pae, devia ter succedido no ti-
tulo sua lillia D. Maria da Gloria Terra Bruu), que nasceu a 4 d'A-
gosto de 1838, 1) que, porem, não se lealisou.
Actualmente o representante d'esta casa, no Fayal, é o Sr. Ma-
ARCHIVO DOS AÇORES 41
injL'1 .Mariii (hl Terni Briim, c.ivallieiro muito disliiicto e i]iie susl«iila
coiii dignidade o respeitável nome dos seus antepassados e dos res-
tantes membros da Siia familia, (jne ainda existem.
Na casa do morgado Terra, hoje dividida em duas propriedades,
uma pertencendo ainda á sua farnilia e a outra a estranhos, foi, ha
poucos annos, coilocada a seguinte lapide commemoraliva:
I S. M. I. O Duque de Bragança f|
(4 Dom Pedro |f
fl cm 1852 H
^ hahiloii esla casa que então comprelieiidia as duas ^
II propriedades até á esquina ||
H e pertencia a ||
II José Francisco da Terra Brum ||
H Barão da Lagoa ||
H do Conselho de S. ]l I. e Fidalgo da Casa Real. H
li -^-^ H
H Esta memoria mandou pôr a Camará Municipal: era de 1877 H
ff ff
Consignamos n"estas breves hnhas todas as informações ijiie po-
demos obter, concernentes á estada no Fayal do magnânimo Duque de
Bragança, bem como algumas indicações que diZi^mVespeito a uma fa-
milia que lhe foi dedicada e da qual o chefe, com o maior desinteres-
se solTreii bastante pela causa da liberdade.
Se por ventura todos aquelles (|ue cercam os monarchas tives-
sem sentimentos eguaes ao honrado fidalgo insulano de que tratamos,
as insígnias do poder não seriam tão amiudadas vezes volvidas em la-
cerante coroa de espinhos, como aconteceu ao Senhor D. Pedro IV,. a-
pesar dos seus gloriosos feitos d'armas.
N." í:í - Vol. VIII —1886.
42 ARCHIVO DOS AÇOBES
O FiR-iisrciFE j-oi:isr"v^iiL.i-.E
(1834)
o governo de Luiz Pliilippe, inaugurado em França, desde 9 dA-
gostij de 1830, apesar de se e^forçar por todos os modos, paia o res-
labelecimeiílo da ordem publica no inlei'ior datpiell.i impoilanle na-
ção, adofdando também uma politica conciliadora e moderada nas suas
relações com as diversas cortes estrangeiras, não era, ainda assim, bem
vislu aos olhos do governo do Sr. D. Miguel, que considerava uma ex-
torsão a Carlos 10.* o evento ao tlirono do príncipe d"()rleans. cuja
elevação ao [)oder não passava de um acto da revolução, que neces-
sariamente leria, em breve, de desapparecer, com o restabelecimen-
to do antigo i-egimen.
E não se guardavam attenções ou disfarces n'esla animadversão
dos ministros miguelistas, tornando se constantes as queixas do côn-
sul francez, em Lisboa, feitas ao seu governo, sobre a maneira insóli-
ta, como não era laro em Poitiigal serem tratados os lYancezes.
Esse errado systema de qun'er governai- pela violência e pelo ter-
ror era a descida fat.d pela qual se precipitava o governo de O. Mi-
guel, aiigmeiítando diariamente o descontentamento publico, tanto no
interior do paiz, como nas nações da Europa, que, á excepção da Hes-
panlia, não haviam reconhecido o sen governo.
O ódio, porem, aos francezes, era mais visivel do que af)s súbdi-
tos de (jOilipier outra nacionalidade, (loiquanlo ^e ccusidirava qne de
Paris irradiavam |)ara todo o numdo os princípios <la grande revolu-
ção de 1789 e qne não seriam perdidos todos os meios de snflocar as
ideas que d'alii cliegn^am até njs, e que se alastravam diariamente,
apesar da perseguição e do cárcere, quando não era o p;itibulo, para
os sectários das ideas liberaes.
Fatal cegueira, tanto mais para deplorar, qnando ella levaria a
nobre pátria de Camões a soffrer um grande desaire e uma verdadei-
ra humilhação.
Accendeu, n'e>t.is circumstancias, ainda mais, o resentimento ao
governo francez, a que presidia Casimir Herier, as violências prati-
cadas com o estudante Bonhomme e o negociante Sauvinet, por deli-
ctos conmietlidos n'este reino, o primeiro por se haver conqmrtado
com menos derôro num tem[)lo e o segundo, condeiunado a dez annos
de degredo pai;i Africa por. num dia de revolta, ler subido ao ar,
dum seu jardim, aberto ao publico, uma girandola de foguetes !
E não eram estas as únicas violências.
Conhecedor a'este estado de coisas o governo francez, maiiiJou a
Portugal uma esquadra sob o cominando do capitão Rabaudy. [iara
appoiar os protestos do cônsul francez. concernentes ás desfeitas (pie.
ARCHIVO DOS AÇOHES 43
nos nltimos dois annos, soffriam os seus patrícios.
A[)en;is a es(|iia(lra fui avistada do Tejo, sabendo-se posteriormen-
W, em terra (|iial a sua missão, o governo de D. Miguel qiiiz mostrar
(|iie não tinlia medo, e n'esstí mes;iio dia mandou tirar da prisão o
Irancez Bonliomme, e organizar- imia espécie de préstito. O (jocienle
foi des|)ido até á cintura e ladeado de olficiaes da jiist (;a. esbirros
e do carrasco, parando a comitiva nos logares mais públicos da capi-
tal era lida em alia voz a sentença e em seguida chibatado desliuma-
namenle o pobre rapaz, isto com grande gauijio e no mei(t das chufas
da reles populaça que acom[)anhava aqueile cruel e>|»ect;iculo, próprio
de uma nação de selvagens, (pie a tanto havia clirg;ido ;i sua degra-
dação.
Esta repellenle scena durou algumas horas, como diz Victor de
Nouviou na sua monumenlaí historia do reinado de Luiz Philippe, pa-
retendo que todo o sentimento de decoro e de brio nacional, Imlia a-
{)andonado os governantes na vertigem em que [lendiam para a sua
irremediável perdição.
Nesse ennoduado dia, nos annaes da nossa historia pátria, for-
çando a barra, fundeava no Tejo, e:n frente do cães das Columnas, o
brigue francez «Endymion», com a Nota das satisfaçijes que o cônsul
fciucez tinha de exigir do gítverno de Portugal.
O Visconde dt- Santarém então ministro dos Negócios E>trangei-
ros, despresoii completamente semelhantes exigências, valendo-se do
subterfúgio (pie nm cônsul não era individualidade assa/, aiilliorisada
para tr;itar com nm governo, do que resultou retirarem se para bor-
do do «Endymion», alem do cônsul, muitos súbditos francezes resi-
dentes em Lisboa.
O capitão Habaiidy, seguindo as instrncções do seu governo, blo
(jueoii, immediatamente as co>tas de Portugal e destacou alguns na-
vios da esquadra ás suas ordens para o mar dos Açores, a fim de a-
prisionar os navios de guerra portiiguezes que criisavam nestas para-
gens e especialmente nas proximidades da ilha Terceira, para dar ca-
ça aos constitucionaes que naquelle reducto da liberdade se iam re-
fugiando.
E não perderam o seu tempo os navios destacados para estes ma-
res, os qiiaes foram o brigue «Endymion», de que ha pouco falíamos,
e a fragata «Melpomene», navio que montava 00 valentes canhões de
calibre 30.
A bandeira tricolor, ipie tremulava na mezéua destas embarca-
ções, fora considerada [)elo governo de U. Miguel como um lábaro re-
volucionário e como tal merecedor da senha destruidora da sua mari-
nha de guerra, tanto assim que o general Henrique da Eonseca de
Sousa IM-ego, em I'2 de Setembro de 1830. ofliciava a um seu subal-
terno, o governador da ilha de São Jorge, dizendo-lhe (pie tni ília 2ò
de Julho lia cia arrebentado uma revolução em Paris, em cnnse(jurncia
44 ABCHIVO DOS AÇORES
(ia (jucú sahio da capital El-Rei Carlos X, ficavdo a nação dividida nn
partidos, que a punição de tão atroz delicfo se Signiria de perto e que
não d- viam ser recebidas qnaesquer embarcações com bandeira que não
estivesse reconhecida .
Verdade seja que a 4 d"Outnbr() seguinte o general Prego torna
va a otliciar ao mesmo governador, em Circular com o N.° 29, pois
que em vista das reaes ordens que recebera, devia ser tolerada a ban-
deira tricolor de que actualmente usavam os navios francezes.
O motivo d"esta contra-ordem é o (jue veremos em breve.
Crusava a esse tempo nos mares dos Açores, fazendo parte do
blo(jueio a corveta «Urania» navio de 600 toneladas e que montava
vinte e duas boccas de fogo, commandada pelo oíTicímI de marinha An-
drade.
Foi com este navio que romperam as hostilidades.
A 'lUrania», na madrugada de 3 de Julho de 1831, achava-se
nas proxiuíidades e ao norte da ilha de São Miguel, ainda ipie não se
avistava terra, e o ofFicial do quarto foi annunciar ao commandanle
que estavam á vista e dirigindo-se na sua direcção, dois navios de
guerra, dos quaes ainda ignt rava a nacionalidade.
Haviam já, como era sabido, complicaçíjes com os inglezes por
cansa do aprisionamento fora dos limites do bloqueio de embarcaçíjes
d'aquella nacionalidade e na duvida das intenções d'aquelles vazos de
guerra o commandante da «Urania» mandou tocar a postos, desenvol-
vendo-se a bordo grande actividade bellica
A bimdeira branca, com as (]uinas portuguezas, desfraldou-se en- '
tão na popa da «Urania «, começando immediatamente o brigue a lhe
dar caça e tomando afinal a corveta sem que esta apresentasse a mi-
nima resistência !
A fragata «Melpomene» conservara-se sempre a distancia, atra-
vessada, como simples espectadora d"essa ()ouco edificante scena.
Se é diiTicil de explicar como três notabilidades mythologicas, pf^r-
dendo a sua habitual serenidade vinham gladiar se nos mares açoria-
nos, de bem má fama e como Endymion, rapaz de notável formosura
e atreito a estudos de astronomia, depois de haver attentado contra a
honra de Juno. e de haver sido raptado por Diana que o transportou
para o monte Latmus, aonde uma vez por outra o ia, occultamente.
visitar, se achava agora de [jarceria com Melpomene, a severa Musa
da tragedia, que empunha um punhal na dextra e na outra mão um
sceptro e não se contentando já com duas amantes, ainda vae coikjuís-
tar «Uiania*, uma simples rapariga, também dada á mania do estudo
dos astros, tanto que não se retratava se não toda vestiiia de azul e
com uma corôa de estrellas na fronte, se isto não é fácil de explicar,
como dizíamos, e se ningueu) pode atinar com o fio (Kesta grande eui-
brulhada da corte celestn. também. ('gu:dinenle, não é menos dillicil
de decifrar o papel que n'esle lamentável incidente representaram to-
Al.CHIVO UOS AÇORES 45
dus os porliiguezes do navio aprisidiiMcio.
Lá (jiití era geiíle acommudada, isso é indubitável . . .
A guarnição da C(»rvéla «Urania» passou, immediatauienle, não íli-
go pelas forcas candinas, mas sitn [);u\t bordo do brigue e fragata fran-
eeza e aijiielle navio recebendo uni troço da uiariídiageni estrangeira,
dirigio-se, aprisionado e incólume |)ara Brest, aonde depois foi ven-
dido aos portuguezes constitucionaes para fazer paite da armada de
D. Pedro !
, E somos nós ipie dizemos roupa de francezes . . . com certeza que
a dos portuguezes também, não é raro, ter sido bem desl)aratada.
Seis dias depois da captura da «Urania», o «Endymion» e a «Mel-
pomene» surgiram no porto de Ponta Delgada, em S. Miguei, (|uaiido
esta ilha já se achava entregue ao dominio liberal. Desembarcou o Im-
mediato do brigue, dando muitos vivas, de chapéu na mão. á Senhora
D, Maria ÍL.^ aos quaes respondiam os indígenas com eguaes brados
ao Rei (Cidadão e seguio depoi.'; este official, escoltado de muito povo
até ao palácio do governo, aonde se demorou algjun tempo, não fal-
tando eiu tndo isto a [)arte espectaculosa de que tanto gostam os da
sua nacionalidade.
Tão péssimas são, invariavelmente, as consequências das dissen-
sões intestinas de qualijuer povo, que um dos militares (jue acabava
de a[)risionar mii iujportante vazo de guerra portngnez, era por [)or-
luguezes considerado como nm heroc !
A esse tempo, no continente, a questão com a França tinha to-
mado o mais carregado aspecto, os verdadeiros pronmicios d'nma gran-
de tormenta.
E vinlia a ser o caso (jue o governo do Palais Royal continuando
'A julgar-se desconsiderado pelas authoridades miguelistas e não satis-
feitas as suas reclamações, mandara reforçar o numero de endjarca-
ções que já tinha nas costas de Portugal, com navios de grande lota-
ção e que constituíam assim uma imponente armada de dezesete na-
vios, sendo seis naus, quatro fragatas, três corvetas e quatro brigues.
O commando desta es(|uadra foi confiado ao almirante Barão Rous-
sin, o (piai hasteou o seu pavilhão a bordo da nau «Suffren», emipian-
to que o almirante Barão Hugon, sob as suas ordens estava a bordo da
nau «Trident».
Chegados ás costas de Portugal, o sommandante em chefe da es-
quadra destacou o brigue «Dragou» para, como parlamentario, ir a
Lisboa intimar o govt-rno portuguez ijue. se no praso de vinte e qua-
tro horas não fossem acceitas todas as requisições anteriormente a-
presentadas pelo commandande do «Endymion», bem como unia indem-
tiisação pecuniária para as despezas da guerra, que n"esta occasião
lhe apresentava, a esquadra h'anceza forçaria o Tejo. decidindo as ar-
mas esta (piestãi».
46 ARCHIVO DOS AÇORES
Islo foi a oilo de Junho.
O brigue parlnmeutario entron, eífectivamente, em Lisljoa e ao
oflicio (lo Barão Koussin respondeu o governo porluguez com mal dis-
íaiç^das evasivas, regeitando as condições d.i almirante e opinando, |»a-
ra a resolução d'esle confliclo, que essas exgencias seriam tratadas em
Paris, pelo encarregado d is negócios da llespanha.
O Si'. Joaipiim Lopes Carreira de Mvllu, na sua Historia de Por-
tugal, eudxjra partidário e defensor do governo de D. Miguel, ainda
assim ipiando trata d esle incidenie, confessa o completo desleixo e
imprevidência do governo, procurando (Talguma sorte jiistifical-o |)ij-
las probabilidades, então eAistentes, da Gran-Brelnuiia vir soccorrer
Portugal, alfirmando este insuspeito autlior que a incúria do governo
foi tal, que no dia em que a esquadra fi'ancrza entrava no Tejo é
que um major d'artilheria, José da Roza Curado linha ido á torre de
São Julião, conliect-r do estado d^aquella forlalesa, para a defeza da
baira. ;ichau(lo-se também desguarnecidas liiuitas fortificações que pro-
legeriíim Lisboa contra (jiinli^uer invasão.
No Tejo achavam-se fundeados diversos navios de guerra porlu-
guezes.
Decidido o ataque pelo ahnirante Houssin, em consequência da
res|)osta ás suas r.'.clamações, (pie lhe trouxei^a o «Dragou», es[)era-
vam siuqiiesmente os francezes ensejo favorável de poder Iranspor a
bari'a, porquanto o vento, até então, lhes fora contrario.
Na madrugaila, porem, do dia li de Jidho, uma brisa esperta do
quadrante do norte começou a enfunar as vellas da armada inimiga,
estando o lenq)o, t nnublado e de mau cariz e o mar assaz cavado.
Apesar d isto. pelas 10 horas da uiiuihã a aSutíren» içou o si-
gnal de appirelliar e em breve seis naus, três fragatas e três corvetas,
destinadas para a investida, collocavam se em linha de batalha, fican-
do os restantes navios a b<trdejar fora da barra.
A' 72 P- "í- enh^ava, imponentemente no Tejo aquella divisão na-
val.
As fortalezas portuguezas e alguns dos nossos navios de gueri"a,
por honra da firma, sempre se resolveram a disparar alguns incertos
tiros, os quaes não iuconunodarau], nem retiveram, os francezes, que
proseguiram no seu laimo, até ipie defrontando, bem em cheio a cida-
de, atroaram os ares com repetidas bandas de artillieria, que foram
em leira causar sérios prejuízos e destroços, islo ao leiupo (|ue a fra-
gata «Palias» ia aprisionando sete navios de guerra [xirtuguezes, in-
depeuilenle dos Ires n.ivios ipie para semelhante fim de>lacara o al-
mirante Konssiri.
Pelas í horas da tarde, apenas com a perda de três homens, (|ua-
renla feridos e idgumas avarias no apparelho, estava victoriosa a es-
(jiiadra franceza, e dictava leis ao governo porluguez, (jue foram logo
acceilas, bem como uma imleumisação a pagai- d uns 1 'iU:000;>000 rs.
AHCHIVO DOS AÇORES 47
(limnlia que devi^i ser dividiíla pelos subditos ÍV;iiicezes que liavi.uii
.sido oITeudiddS e pelas dt^sju^sas da expedição.
Kxigio uiais o aluiiraute Koussiu (]ue as humilliantes condições
que apresentava losseu) a.ssignadas. não em terra mas a bordo da «Sid-
íien» e em seguida publicadas na «Gazela olíicial».
A Inglaterra n esta ipiestão, apesar de nossa alliada lia (jualro
centos annos, crusou t'om|)letamente os braços, tão errado é o cami-
nlio de confiarmos em estranho auxilio, (|uando vm nós mesmos lemos
os recursos necessários de vingar uma aííronla nacional.
Ora o aprisionamento, pelos francezes, tanto no mar dos Açores,
como no Tejo, da esquadra de D. Miguel, foi de grande e inesperado
auxilio para o partido constitucional, porquanto, á mingoa de adqua-
das embarcações» desfeito o bloipieio estabelecido, ficaram livi'es as
communicações dos emigrados com a Terceira, para aonde podiam se-
guir dos diversos depósitos dos [)aizes estrangeiros, acompanhados de
tudo quanto quizessem.
E. ainda assim, devemos confessar que nunca fora tão apertado
o bloqueio açoriano que, desde Junho de 1829 alé Fevereiro de 1830,
não deixassem entrar na bahia de Angra, com armas, mantimentos,
fazendas e emigrados, trinta e quatro embarcações, das quaes trinta
e uma inglezas, escunas na maior parte, bem como três navios fran-
cezes, incluindo uma barca,
Distrahio em breve a attenção dos porluguezes destes importan-
tes fados, a momentosa questão politica, a lucta fratricida em que se
ia debater o paiz, desde o desembarque nas praias do Mindello a 8
de Julho de 183á das tropas de D. Pedro, havendo de sobejo em que
pensar em casa, alem do insulto que nos fizera uma estranha nação.
Era. porem, indubitável e reconhecido que as sympathias da Fran-
ça, estavam todas voltadas para o exercito liberal, para o partido C(m-
stitucional portuguez.
Decorreu em seguida todo o período da campanha da liberdade,
até que a 20 de Maio do 1834 assignou-se em Évora, mediante os ge-
neraes dos exércitos belligerantes, a convenção que indicava a D, Mi-
guel o caminho do desterro e no dia seguinte proclamava o deposto
monarcha ás suas tropas, annunciando-lhe que em breve se retirava
do reino, deixando, assim, as insígnias d(t poder que usofruira desde
o auno de 1828.
A 23 de Setembro d'esse mesmo anno de 1834, inn membro da
família de Luiz Philíppe, desembarcava, de passagem, em território
portuguez.
Era o Príncipe de Joinville (Francisco Fernando dOrleans)G,° fi-
lho do monarcha francez, contando apenas dezeseis annos de edade,
pois nascera em 1818, o qual, como aspirante de marinha, vinha a
bordo da corveta «Belle Poule», em sua i)rimeira viagem de inslruc-
ção.
48 ARCHIVO DOS AÇORES
O Piiiicipe de Joinville (Jemuroii-se somente dois dias no Fayal,
sendo a>saz obsequiado pelo digno vice-consni francez o Snr. Sérgio
Pereira Ribeiro, que falleceu nu anno seguinte, bem C(jmo pelo bene-
mérito eousul americano Charles William Dabney, estando na sua bei-
ja residência da «Bagatella» e com este cavalheiro e com um respei-
tável Preceptor que acompanhava S. A. deu um j)asseio, a cavallo,
pelos caujpos da ilha.
Ao Príncipe foram oíferecidas algumas curiosidades da localida-
de que S. A. muito mostrou presar e na segunda noite da sua esta-
da na Hoi'ta, o Sr. Dabney oíTereceu-lhe um baile, ao qual, porem, S.
A. não poude assistir, por ter de se recolher cedo para bordo, mas
ao qual concorreu a oíTicialidade da «Belle Poule».
Nas paginas de um livro pertencente á família Dabney e ainda
hoje na mesma devidamente conservado, traçou o príncipe de Joinvil-
le uma referencia á sua estada no Fayal e antes da sua partida man-
dou de bordo offerecer a duas creanças d'aquella família D. Rosa e
Samuel um accordion e um relógio de oiro que lhe fora dado pela sua
regia e virtuosa mãe.
Apesar d'um rigoroso lucto que então pesava sobre a família Ri-
beiro, ainda assim o vlce-consul francez obzequiou em tudo que este-
ve ao seu alcance tão llluslre viajante, que levou do Fayal as melho-
res impressões.
Foi, como vamos ver, reconhecido o Rei dos francezes ã expon-
tânea e bôa acolhida, llberalisada na pequena ilha do Fayal, ao seu
sympathico filho.
Algtms mezes depois da estada na bahia da Horta da «Belle-Poule»,
uma corveta frauceza que se dirigia para o mar Pacifico, recebeu or-
dem de fazer escala por esta localidade, expressamente para entregar
aos respeitáveis vlce-consul francez e cônsul americano um presente
de Luiz Philippe, sendo ao primeiro uma boceta d'oiro, com as ini-
ciaes do nome d'a(juelle monarcha e ao Sr. Dabney um serviço para
duas pessoas (tète-à-tète) de finíssima porcelana de Sèvres, verde,
branca e oiro, ainda hoje existente e, egualmente, com o anagrama de
Luiz Philippe, em cada peça.
Se a modéstia aprendida em tempos de adversidade foi sempre
a característica feição da exemplar família de Luiz Philippe, é também
indubitável que o reconhecimento nunca (Jeixou na sombra os favores
dispensados ao Rei Cidadão, ou aos numerosos membros da sua casa
real
Ainda asíim as óptimas qualidades do Napoleão da paz, como en-
tão era denominado, não obstaram, de )83á a I8i6, a que houvessem
sete attentados contra a sua existência !
ARGHIVO DOS AÇORES 49
O COISTIDE IDE "V^.A.i^C3-^^S
(1836)
Em Maio d.j :iiino que indicámos chegou, á ilha do Fayal, o no-
l.ivel sahio dinamarquez i^onde de Vargas, contando então oitenta an-
nos (h; edade e vindo n nma missão scientifi-a sohre estudos concer-
nentes á geoliigia d"este archipelagi).
Acon)[)anhava este titular inna reconiniendação especial do go-
verno portuguez, o ipie deu higar á (>amara Municipal da Horta em
data de, 11 de Março dirigir-lhe uma felicitaçrio peia sua chegada a
esta ilha.
Este venerando ancião f(ji obzequiosamen'e hospedado na explen-
dida residência do cônsul americano Charles William L);ibney. sendo a
sua demora iTesta locahdade approximadamente de O mezes, pois que
n'nm livro existente em poder da i'espeitavel familia Dabney, vimos
traçadas pelo (^onde de Vargas algumas linhas de agradecimento, em
inglez, a valiosos ohzequios recebidos alli euj Setembro do mesmo an-
uo.
Apesar da sua edade e da diíticiddaíJe da subida, o sábio natu-
ralista tez uma excursão á alterosa [ioiita do Pico, i.4h2 metros acima
do uivei do mar e b^m assim visitiu os mais remotos togares daipiel-
la ilha, fazendo importantes collecções de plantas e productos vulcâni-
cos.
Do Fayal correspondia-se, em todas as opportunidades com o gran-
de Alexandre Humb(jldt, esse Aristoties dos modernos tempos, co-
mo lhe chama o Barão de Marajó, no excelienle livro «A Aniazonia»
e cuja fama era já então universal, desde as suas viagens d'explora-
ção ao continente Americano.
Esta correspondência versava sobre averiguações (pie cumpria ao
(^onde de Vargas fazer, concernentes á mencionada existência, por al-
guns escriptores, de uma estatua na ilha do Corvo, firmada, sobran-
ceira ao mar, em elevado promontório, e com a dextra indicando o
occidente, talvez para annunciar aos navegantes europeus a existên-
cia, n^aquella direcção, d'um continente, noção esta que a ser exacta
e anterior ao anuo de 1492 viria roubar a Christovão Colombo a glo-
ria da descoberta da America.
A par d'isto havia também a investigação relativamente ao acha-
do n'ai|uella mesma ilha, no anuo de 1740, de uma porção de moedas
Carthaginezas e Cyrenaicas, as qiiaes d'aquella ilha haviam sido re-
mettidas para Madrid, a um Padre Flores, que as oííerecei^a a M. Po-
dolyn.
Apesar do pouco fundamento d"estas asserções e de se acreditar
geralmente que a existência da tão fallada estatua da ilha do Murco,
N." 43 — Vul. VIII - 1886. 7
50 ARCHIVO DOS AÇORES
de Saiilo Aiitãít, oii do Corvo, não passou de uma ficgão, oii talvez (h
app;irenci;i (jiie, a flist.incia, algum rochedo a|)resentava com serne-
Ihante obra darie, é, ainda assim, evidente (|iie iim grande sábio, díts
()ropurçõrs de Hnmboldl não as despresava complelanv^nte, porque se
o houvesse feito, no meio dijs seus importantissimos e numerosos Ira-
balhus. não desperdiçaria seguramente o seu precioso tempo a in(|ui-
rir sobre uma futilidade, sem o menor vizo de verdade.
Assim, e>ta questão, que por algum tempo se ventilou no miui-
d(» scientifico não leve ain<la uma solução, parece-nos, ('«tmpletamentc
satisfatória, pouco ou nada provando, como allirmou o Sr. António flo-
mem da (losla Noronha, por louváveis pesquisas fritas n"a(iuella pró-
pria localidade, que os actuaes habitantes do Corvo não tenham a mí-
nima noção da existência da antiga estatua, no cazo d'ella haver exis-
tido.
O mesmo acontece em diver>as e mais populosas povoações com
factos importantes da sua historia local e que mais direclanieide to-
cava o povo, cuja ignorância é por vezes verdadeiramente desanima-
dora nas ilhas occidcntaes do archipel.igo.
E' o mesmo que se pergimtanios hoje a ujuitos dos (/ahichos que
velam pela manutenção das nossas instituições politicas quem foi o
vulto gigantesco do Saldanha ?- Nimca ouvirnui fallar de tal, e, com-
tudo. isto é apenas de hontem e por assim dizer o cadavei' do nobre
Duípie aind;) e>lá niôrno.
Como na provinda de Yucatan, na America central, grandes mi-
nas recentemente descobertas, tem nvrlado a e.xisl ncia (\f uma re-
m. ta civilisação n'aquellas paragens, de povos cujos nomes Inje se
desconhece, assim também nos Açores as indicações, não de uma a-
diantada civilisação, m;is seguramente de um povoamento (piahpjei-
d"e>tas ilhas, também não é raro descortinar-se, i'eferindo-se a (un pe-
liodo muito anterior, com certesa, ao século XV.
E" um íacl(», geralmente sabido na ilha das Flores, que ha alguns
annos dand(;-se ;tlli um grande desmoionnmento de terrenos sobran-
ceiros MO mar, tão grande que a porção de terra e pedras cabidas no
seio do ftceano intluio nas agoas de maneira (pie as arremeçou em
grandes vagas até á distante ilha do Corvo, no corte, quasi vertical
que ficou na parte do promontório ligado á ilha, e muitas dúzias de
metros inferior á sua superficie, foi avistada uma abertura, ou furna,
que chamou a curiosidade dos indígenas.
Subindo, .) muito custo, alguns homens, desde a beira do mara-
lé áqiiella elevMção, veiiíicaram ser mu grande forno de coser louça,
perfeitamente construído e que estava, não se sabe ha quatdos sécu-
los alli soterradí».
Lembramo nos, também, não ha nmiío tem[)o, que numa digres-
são que fizemos, no Faval, á freguezia campesina de Pedro Miguel, o,
actualmente fallecido, Revd." Vigário daquella povoação. I*.'' Amaral.
AKCHIVO DOS AÇORES 51
homeiíj illiistrado e muito investigador de curiosidades naturaes, nos
haver oíTerecido um pedaço de madeira, muito leve, odorífera e per-
feitamente con>eivada, fragíneiito de um grande cedro encontrado na
laiz de uma pe(Jreira, q\ut aili andou em exploração e (jiie [)ara che-
gar á parle superior da mesma fora necessário urna excavaçãp de dois
metnts de bòa terra.
Ha (piantos séculos a(|iielle maileiro alli se conservava tão bem
acondicionado ?
E devia ainda notar se, disse-me o Vigário, (pie senielhanle ar-
vore não parece ser indígena dVsta ilha, como a faya e outras plan-
tas, mas smi importada de fora, pois que não é ahuiid )sa em todos
os sitiits da ilha e (pie se umi [jovoaçã;) importante da mesma tem o
nome da freguezia dos (Cedros, podia ser por n aquella localidade cul-
tivarem maior numero d"essas plantas do que nas outras povoações,
s(;ndo, porem, em t(jda a ilha, actualmente, pouco trivial.
O madeiro a qiie nos referimos foi, pelo Vigaii.) Âmai^al, oíTere-
cido ao Director das Obras Publicas tresle Districto .Xntonio Joaquim
Pereira, o qual. conjunctamenle com uma collecção de madeiras aqui
obtidas, as reuK tleu para a i-espectiva Direcção Gei-al d"esse .Minis-
tério.
Será acazo pelo cedro não ser indígena d'esta ilha (pje não o a-
cliamos mencionado na «Historia das quatro ilhas que formam o Dis-
tricto da Horta», na relação das arvores aqui produzidas, declarando
o respeitável authoi' d'aquella obra que seguio n'esta parte os traba-
lhos sobre o archipelago açoriano, confeccionados pelo Snr. Accureio
(i areia Ha mos ?
Alguns escriptores que trataram do descobrimento, n ) século 15.°,
(Teste ai'chipel;igo, beui como o Sr. Arruda Furtado, no seu muito a-
|)reciavel livro «Materiaes para o estudo anthropologico dos povos a-
çorianos», alliidem ao facto de no mesmo haverem os descobridores
encontrado morcegos, sendo e>les os únicos mammif.Tos a(jui exis-
tentes.
E, comtud(j, os cheinjpleros parece nos não poderem ser indíge-
nas destas paragens, mas sim importados, como a generalidade dos
outros animaes, consoante as necessidades do homem, ou accitlental-
mente com o decorrer dos tempos.
E" sabido que o morcego, essencialmente insectiverw e noctívago
é um grande auxiliar |)ara o desenvolvimento da agricultuia,por pres-
tar relevantíssimos serviços, de>truindo com incrível avi(Jez grande nu-
uíero de parasitas, insectos e bi)rbolétas, que infestam as searas, em
detrimento do producto (pie o lavrador aguarda das suas semeaduras.
A aversão estúpida que os nossos actuaes campone/.es demons-
tram pel(3s morcegos, pode com um povo mais illustrado não ter sido
sempre a mesma e bem pelo contrario avaliar este devidamente a be-
iieíica missão e valioso préstimo daquelles trabalhadores crepuscula-
52 ARCHIVO DOS AÇORES
rt^s, delig('ii('i;ii)d() i\ siia prusimidíide, nos béirae^ dos telhados ou iiíks
f(]rn;is e c.mcivid.ides dus pt-nhascos que ilie cercavMiii os c;hii[)Os pro-
ductivos.
Não seria, pois, para estranhar (jiie apesar de não serem daipii
naturaes e de até este clima não parecer muito proticiio para a sua
propagação, visto giie a assim ser, deveria acliar-se, como nos paizes
orientaes muito niais desenvolvida a espécie dos cheirópleros, os im-
portassem do estrangeiro, isto é. das zonas quentes, aonde são trivia-
lissimos diversas castas de morcegos, tanto iumís quaiido aqui apenas
temos a espécie pequena, exactamente aqiiella qiie devora sem Iregoas
os insectos, não havemJo noticia dos parós. ou vampiros, que atacam
os animaes e até o homem, na sua sofreguidão peio sangue morno.
Segundo uma phrase de Figuier. quando diz que os ujorcègos já
começam a apparecrr na He>panha e em Portugal, deprehende-se que
em remotas eras não existiam n aipselles [)aizes e talV(V. ainda menos
no nf)rte da Europa.
Ora se considerarnios os hábitos e a maneii'a de viver dos chei-
rópleros, não iremos talvez muitn longe da V(M'dade, dizendo que ne-
cessariamente foram importados para estas ill.as e qiu' os descobri-
dores das mesmas em li32, aqui os acharam, por que já outros po-
vnad(tr<'S. anlecedeiitemente a elles, talvez ha muitos séculos, os Iia-
viaui Irazido.
Heuglin affirma raras vezes haver visto morcegos fora dos seus
sitios antes do crepusciilo e qiu' iniujigos da chuva e do Irio, as suas
caçadas .são sempre breves e quasi de fugida, sendo alem dMs.so sii-
geitos, com o resfriamento da atmosphera, á lelhargia ou somno hiber-
nal, permanecendo então, duranli^ mezes. insensíveis e como morto>,
dependmadtis dos tectos, no inlerior das habitações e >ustentandi)-se da
própria gordura, adquirida durante o estio.
Como podemos, pois admitlir que um animal essencialmente ca-
seiro e Jamais emigrante, se abalançasse a criisar o oceano, como as
andorinhas, sem um único ponto aonde repousar do seu fatigante vo-
ar em zig-'/.ag e temeroso senq>re das chuvas e das ventanias tão fre-
quentes nas ásperas travessias do atlântico, especialmente na latitude
aonde demoram os .Açores ?
A mesma guerra que lhe fazem os nosM)s campone/.es e o pra-
zer com que-pregam o corpo palpitante do morcego na porta das suas
moradias, se acaso conseguein a[)anh.ir um individuo (Taiiuella es-
pécie, parece provar que pela sua raridade era aipii pouco vulgai\
um objecto de curiosidade, e que lhe desconhecem ainda o préstimo,
irmanando o com a praga e com todas as aves e animaes damniiHios.
Não acontece o mesmo nos paizes orientaes d'onde são oriundos
ou na zona tórrida, aonde tão profusamente se desenvolvem.
Alli as espécies pe(|uenas d(ts cheiíópteros, com a única que te-
ni()s nVste archqielago, vivem muito socegadamente e em bòa hainio-
ARCHIVO DOS AÇOBES S3
nia com o lioineni, (Jependtiradus, sem pânico, dos tectos (\íí<. \,Mú\;\-
ções e ( orno o morcego é ddtado de bastante intelligencia. não é raro
domeslicar-se, livrando também (»s rebanhos de onía iniinidade de in-
sectos tjiie os perseguia.
Todas estas razões levam-nos a crer que os cheiró[tteros foram
para aqui importados, numa epocba remota, e porventura como uma
tiecessidade e que a sua [)ri)pagação, devido ás inclemências dos in-
vernos insulanos, tem sido muito lenta e pouco abundosa, ao invez de
ceri,as qualidades de ratos ao Fayal trazidos pelos navios que se des-
mancham em l\)rto Vm e das ràns que ha somente alguns .mnos ap-
pareceram nos mattos, impftrtadas da ilha de São Miguel e que hoje
já se vão encontrando em quasi todas as nossas ribeiras, até mesmo
dentro dos povoados.
O Conde de Vargas foi eflectivamente ás ilhas das Flores e Cor-
vo sem que, não obstante, pode>se obter quaesqiier e.^clarecimentos á
cerca da Estatua e das moedas antigas, pois que os acluaes povoado-
res, é certo, que nada souberam responder a semelhante respeito.
De regresso á sua pátria publicou o sábio naturalista um peque-
no livro, em latim, concernente a estas ilhas, do qual enviou um e.\em-
pl'-ir á família Dabney, mas que hoje não se encontra.
Foi quanh) podemos colligir a respeito da sua e>tada n■e^tas ilhas
occidentaes do archipelago açoriano.
IDE GXaJ^lElJ^
(1857)
Fuzillava-se, então valentemente, na Hespanlia.
Na manhã de IO de Maio de 1857 entrava na bahia da Horta,
procedente de Cuba o vapor de guerra, hespanhol apisarro», salvan-
do immediatamente a terra.
No decurso d'esta salva notou se, no final, algiuua irregularidade
dos tiros.
Regressado a terra o escaler da visita da saúde soube-se que o
«Pisai'ro» conduzia a seu bordo o Rev."'" D. António Maria Clarette de
Clara, arcebispo de Cuba e vulto muito importante na politica que
então dominava na Hespanlia, o qual ia transferido para o arcebispa-
do de Toledo, bem como que na occasião do recem-chegado vapor
salvar á bandeira portugueza, houvera um lamentável sinistro, occa-
54 ARCHiVO DOS AÇORES
sionando, iim descnido, rebentar iiin tiro intempestivamente, o (jual ma-
tou flois pobres artilheiros.
Mal íui sabido achar-se neste porto nm ecciesiastic.o de tão ele-
vada calhegoria. logo as princi|)aes anthoridades Fayalenses, bem ot-
nio diversos cavallieiros dos principaes se dirigiram a bordo a enm-
j)rimentar S. Kx.''.
O clero da Horta e muito povo, na espectativa do arcebispo des-
rmbarcar atíloio l(»go ao cães e os adros da egreja de São Fiancisco
e Matriz, a<'liaran»-se em breve apinhados de mulheres de capote de
capuz.
Eflectivamente o Padre ('larette, seguido do seu confessor e se-
crrtario, bem mal encarisados por signal, e das anthoridades portu-
guezas que tinham ido abordo, em breve desembarcou no cães da
Horta, ao troar duma salva do (^astello de Santa Cruz. encorporando-
se no seu seipiito muitos padres e escoltado por immeuso povo.
O arcebispo c;:minliava pelo meio da rua, ladeado dos dois padres
seus compatriotas e no centro do cortejo das nossas anthoridades, ex-
alçadas já com a sua veneranda benção, no que S. Ex.* era muito pró-
digo.
Dirigio-s»^ a comitiva [)ara a egreja de São Francisco, a primeira
que lhe lícava em caminho e no Largo de Neptuno, apesar de vasto
a agdoiueraçãíj de povo era immensa, e o mulherio qua>i h.do de joe-
lhos recebendo um chuveiro de baiçãosque o arcebispo lhe ia atiran-
do de passagem e cpie cahiani poi' toda a parte, como o: trora chu-
veu o maná no deserto.
Fm dia cheio !
O Padre Clarelte, para sermos justos e dizer a verdade, não pri-
mava muito pela belleza physica, que da moral essa então não men-
cionamos aqui, por desnecessária, estando sobejame:ite demonstrada
na historia do reinado de Isabel 2.*.
Era i:m homem baixo, d'uns cincoeuta ânuos de edade. assaz nu-
trido, de còr trigueira esverdeada e com uma bem saliente cicatriz que
das proximidades duma sobrancelha lhe (Jescia. um pono transversal-
mente até ao lábio superior, dando-lhe uma estranha expressão á phy-
sionomia, na (pjal reluziam dois olhos |)equenos, negros e muito vivos.
S. Ex /^ visitou neste dia os templos d<! São Francisco, Matriz e
(^^nceição, orando no primeiro demoradamente, visitando algumas das
moradias das anthoridades loi'aes e indo atinai descançar, antes de se
recolher para bordo, na caza do vice-consul de He-spanha D. Marian-
no HanserdtMi, ipie exercia aquelle cargo desde o anuo de I8i2.
Havendo tambeuj estado este Prelado no hospital e annexo .\zylo
de mendicidade, esmolou generosament(í os individuos alli lecolhidos,
dando I>:2l)0rs. a cada liomeu) e 000 rs. a cada mídher. O pessoal,
porem, do mesmi, Azylo é assaz diminuto.
O goverirador militar mandou uma guarda de houra e>perar o
ARCmVO DOS AÇOHES 55
arcebi^lK), por occnsião ilu sen desembarque, íicando á sn;i (lis|»i)>i(;ã(>.
(\c\ (jual, poiétn, S. Ex.^ presciíidio.
Pouco tempo depois do P:idre Cl.netle t r ido [vaíw huidd. reiímu
até ;io «Pisarro» um escaler da terra, |)ara apreseiitar-llie um olílcio
congralulatorio da sua chegada a esta ilha, (pie lhe dirigia a Camará
Municipal da Horta.
Confessa esta illustre corporação naipielle documento (pie está
possuída río maior jubilo e iu(m viva satisfarão por ver entre si um
príncipe da egreja catholíca, adornado, como S. Ex.% dr todas as rir-
fades evangélicas, agradecendo também a tionra de haver visitado a
cidade e os respectivos templ(»s.
Acju.elle adorno de todas as virtudes evangélicas, se é verdadei-
ra a historia, é (^ue foi talvez para mostrar que tínhamos sangue [)e-
nínsular e que também por aqui sabíamos manejar uma ^espanholada.
(piando era necessário.
Apesar, porem, do papel essencialmente reaccionário do Padre
Clarette, na politica do seu paiz, é possível que anda.s.^e em tudo a-
quillo de boa fé e (jue também assim o acreditasse a Camará Munici-
pal da Horta, pois que as ídeas são conforme o meio pelo (piai iKJs as
ivcebemos
Isto justifica até os Torquemadas.
K, eífectivamente, como disse um dístincto padre protestante n"u-
ma das suas notáveis predicas num dos principaes templos de Boston
— The purest rat/ of stin light may be tingi d and rolond by t/te médium
tkrough which it passes, so the idea of God may be stained and disco-
lore.d by the character of the mind, throngh ivhich ií passes, o que nós
ousaremos traduzir, em conie.^inha phrase nas seguintes palavras:
«O mai^ puro raio do sol {((.de ser tingido e colorido conforme o
prisma que atravessar, assim também a idea de Deus pode ser macu-
lada 011 alterada, em consequência do caracter do indivíduo (jue a re
cebe.»
O arcebispo de Cuba declarou, em casa do vice-consul Hanserden,
que viria no dia seguinte a terra olíicíar nos funeraes dos dois solda
dos victímas do sinistro que occorréra e que desejava que essa solem-
nidade religiosa se eíTeituasse com toda a p(jmpa possível.
Envidaram se em terra, para este fim, toijos os esforços, armaii-
do-se adequadamente o templo de São Francisco.
Pelas 10 horas da manhã do dia ímniediato um escaler do «Pi-
sarro>' conduzia dois caixões com os rest(js mortai s dos artilheiros,
cobertos com a gloriosa bandeira hespanhola e acompauhad(ts pelo ca-
pellão de bordo, seguindo-se noutras emt)arcações o arcebispo, alguns
otliciaes de maiinha e umas cíncoenla [iraças bespanholas, em grande
uniforme e debaixo de forma.
O arcebispo foi recebido com as mesmas honras da véspera e pe-
lo mesmo cortejo já seu conhecido.
56 ARCHIVO DOS AÇORES
As e\e<|iii.is. iia egreja de São Francisco foram sumptuosas, oííi-
(•ÍMii(l(j S. Ex."^ e concorrendo ás mesmas a cleresia da cidade, beni
como diversos sacerdotes das fregaezias rnraes.
Pieslar.im as lionras fúnebres ás duas vidimas, tanto a tropa (jiie
viera de b.»rdo, como um destacamento de infanleria da guarnição da
Ilha.
O arcebispo depois de tiMininado o oiíicio. dirigio-se á moradia
do vice cônsul liespanliol, aonde lhe f )i servido um lauto almoço.
S. Ex.^ mostrou-se muito reconhecido aos obzequios que na Hor-
ta havia recebiilo e apenas chegou á sua pátria escreveu para o Fava!
demonstrando o seu reconhecimento pela maneira afável como tora a-
()ui tratado.
Pouco tempo depois da passagem por esta ilha do arcebispo de
Cuba, aijui esteve lambem, n'oulro navio de guerra, hespanhol, da
mesma procedência e preso, o tenente (pie riscara^ é este o termo lí-
dimo, as feições daquella dignidade ecciesiastica.
Pertencia ao exercito e foi-lhe concedida licença de vir passear a
terra, na companhia de diversos olliciaes de marinha.
Era um rapaz ainda novo e de sympathico aspecto, não parecen-
do desanimado com a sua sorte, a que dera causa divergências d"opi-
niões politicas.
A"quelle rapaz podia se applicar o que escreveu o nosso bondoso
Nicijlau Totenlino dAlmeida, n'um caso parecido:
Feriu sacrílega espada,
Movida por mão traidora,
Cabeça que sempre fora
Até aos barbeiros vedada.
Do que não houve, depois, aipii noticia, foi do castigo ou indul-
to, que encontrou na Hespanha o perpetrador de semelhante desaca-
to.
Cruzes!
Em todo o caso, como dissemos no começo d'esta referencia, n'a-
(]uella ep )cha fuzillava-se, valentemente, na Hespanha.
ARCHIVO DOS AÇORES 57
(1857)
(i(
Kstevtí lia fliirt.1 este respeita vt;! Hispo da diocese de (>abo Ver-
desde () dia l)i a !(> d' Agosto do supra citado anno, ciiegando a
este porlo, com á2 dias de viagem, no brigue portngiiez «Maria Eiiii-
iia», o (jiial com 18 p.issageiros e um carregameiílo de iirzella e piir-
giicira aqui veio refrescar, em viageui para Lisboa.
Achava-se assaz (hdjilitado e í':»íTrendo d;i s iiide o Rev.'"" Bispo
H apenas o brigie ancorou, efTeitnou, inesperad.imenie, o seu deseiii-
b.iriiue, recolhendo-se ao botei iiigh3z, aonde o foram cumprimentar
as aulboridades locaes e cleresia, que S. Ex.^ pessoabneiile recebeu,
a todos captivanilo ()elo seu trato Ibano e amena conversação.
Na l;ii'de desse mesmo dia, bem como na manbã seguinte visi-
tou os templos d "esta cidade, convento da Gloria, Misericórdia, caza
do ouvidor eccli'si;).stico, o Dr. António (l;i Terra Piulieiro e bem as-
sim a familia do Governador Civil, Luiz Teixeira de Sampaio Júnior,
o (piai SH adiava, então, ausente do Dislri'to.
A Lj oiivio o digno Prelado missa na egreja M.ilriz. aonde foi im-
meiísa a concorrência de |)ovo e de tarde visitou a residência e bellos
jardins da respeitável familia do coiisul americano. Cíiarles William
Dabiiey.
No dia 16, festejava se, neste anno, com extraordinário brillian
lismo Santa Filomena, na egieja do Carmo, soiemnidade religiosa a
(pie S. E\.'^ Rev.'"'^ desej(ju assistir, apresentando se no templo com os
^ens trajos prelaticios e dando, quando tirminada a festa, o anel a
beijar a uma multidão immensa de povo que alli concorrera, tanto da
cidade, (;omo das fi'eguezias niraes.
O disiincto secretario geral d'este Dislricti, dr. Miguel Street
dArriaga, que então fazia as vezes de Governador Civil, foi incansá-
vel em obzeípiiar o Ex."^° Bispo, em tudo quanto estava ao seu alcan-
ce, acompanhando-o nas visitas aos tenqtlos, auttioridades e particula-
res.
Na tarde d"este mesmo dia o dr. Street dArriaga oííereceu ao il-
liistre visitante nm lauto banquete na sua residência da rua de Sã(j
Fianci>co, ao (piai assistiram alem de divers;is autlioridades, algmis a-
migos mais Íntimos d(» (iovernador (jvil iuteiino.
Foram algumas horas bem [lassadas, d.is (juaes se demonstiMU
muito reconhecido o venerando Prelado, sendo inexcedivel a muito dis-
tiucta familia Street d'Arriaga nas suas demonstrações de respeito e
affecto p;iia o nobre hospede que honrava aijiiella casa.
A hauipiesa de iiiatieiras e iirbanidade de D. Patricio Xavier de
Moura, atrahiam todas as .sympalluas, ;is>íiíí chio os pobres beiíMbs-
N. ' 'iM - Vol. VIII - 1886. 8
58 ARCHIVO D.tS AÇORES
ser.tin y mim estada n esta ilha, j>('las iiinitas esmolas ijiie fez tanto nos
sens passeií s, como aos infelizes (jne o procnravain no hotel em (pie
se albergara, lecebendo-os sempre coiri evangélica caridade.
De caza do dr. Street d"Arri.iga. acompanliad(j de numeroso sé-
quito, embarcou o liispo D Patiicio para o brigue «Maria Em lia», (jne
já andava de vella, agradecendo antes de partir, publicamente e no
cães da Horta, aonde era enorme a aggiomeração de povo, a bôa aco-
lhida que tivera dos fayalensr-s, deixando alem d"isto, para ser publi-
cada nos jornaes da locilidade, uma sentida e delicada despedida.
No mesmo navio seguiam também alguns distinctos cavalheiros,
entre os qnaes o Physico mór, dr. Agostinho de (-arvallio e iíodiigii
de Sá Nogueira, empregados públicos de elevada graduação no arclii-
|>elago de (labo Verde.
TuTJXZ
(185S)
Af» catiir da tarde de á de Novembro, com tempo assaz nublado,
annuiiciou o facl.o da Espalamaca ipie dois navios de guerra, a vapor.
di matidavam a baliia da H« rta.
Ktfectivamente, pjuco depois, duas corvetas porliiguezas na mes-
ma davam entrada, fundeando ainda antes de ser noite com[»leta, (pie
ii'a(piella e^lação e nVslas paragens desce rapidamente.
Visitadas pela repartição de saúde e alfainJega. soube se, no re-
gresso dos escaleres, que eram as corvetas «Bartholomeii Dias» e «Sa-
gre>)). a priíneiía dasquaes sob o commando de S. A. R. D. Luiz, Duque
do Porto, primeiro irmão do egrégio monarcha o Senhor D. Pedro o.",
que governava então Portugal, cercado (Ui:< bênçãos e do amor de to-
dos os seus súbditos. Ião levantadas eram as virtudes com (pje, sábia
6 admiravalmente, dirigia os destinos da nação.
Esta plausível noticia, (pie rapidamente se divulgou, veio encher
de jubilo a população florlense, embora essa epoclia fosse eivada de
calamidades para esta ilha, pelas excipcionaes circumstancias (pie oc-
corriam ha lem[)OS e muito especialmente desde o memorável furacão
de á4 d Agosto dt; 1857, havendo fome e grande miséria nas ilhas do
Faval e Pico. bem como escacez de géneros alimentícios em todo o ar-
chipí lago a(;oiiano.
No Districli^ da Morta, inai> provado na advt rsidade. .se alguns
generosos cavalheiros fizeram os mais louváveis sacrificios pecuniariíts
ARCHIVO DUS AÇORES 59
(> (Mivi(l,u;im os maiores esforços para conjurar d alguma sorte a ler-
livel crise aliinenticia porgne estavam |uis>aiií].) t'>tt\s ()i)V(»s, ainda as-
>m, em face da grandesa da necessidade era necessário um braço
mais potente para sustei', ou au menos minorar, o llagollo (jiie nos as-
soberbava.
Valeu nos então, por intermédio do benemérito cônsul amei'ica-
iio ('liailes William Dabnej, ins[)irado pelos santos sentimentos de ca-
ridade da \í\."'^ Sr.^ I). Francisca Dabiiey, sua exemplar consorte, os
Estados Unidos da America, |)ara aonde escreveu aos seus amigos e
sociedades humanitaiias a este respeito, sendo as suas s-ipplicas, por
uKTce de Deus, atleudidas de iuaueira tal, (pie ex :edeii ttd.i a espe-
ctativa.
Em breve tempo chegavam. |)õis, ao Fayal, soccorros em géne-
ros (pie permittiram durante 13o dias, ser dislribuidas a I o80 iiidi-
vidiios (U) Fay;d e Pico, rações de milho ou trigo, em taiinha ou em
grão, evitando >e assim a extrema [)em)ria e desvalimento e as repel-
leules sceiías que sempre accarreta com^igo a miséria, (juando estrei-
ta. apei'ta(lamente, nos seus desapiedados braços uma numerosa po-
])iilação, sem recursos alguns.
F devemos notar (pie no anuo de 18o7 1858, alem das importa-
ções j,'i ai]tece(Jenlemente íeit.is. sahio desta pe(piena ilha para compra
de cereaes, (piantia superior a 2U():U0Uí>000 is., esgotandose, [lor
■issim dizer, o nmnerario exi>tente.
Não se vivia, pois, aipii, desassombradamtMite.
Nessa mesma noite de 2 de Novembro, pelas nove horas, dirigi-
rain-se a bordo da «Bartholomeii Uias,» num e>caler d alfandega, a
cumprimentar o Principe, os Srs. Conselheiro Governador Civil do Uis-
tricto, Antoiíio José Vieira Santa Kita, o Ciimmandante da sub divisão
militar, tenente coronel lUxpie Francisco Furtado de .Mello, dr. Juiz de
Direito Joaiiuim Maria de .Miranda e Oliveira e director d'alfaiidega
Nuno António Porto.
3 de ^'o%'eniSiro
Na madrugada d'esle dia chitveu copiosamente, o vento rondou
paia um outro (pia<lrante, desanuviou se o firmamento e os primeiros
raios do sol nascente espelharam-se livremente por sobre as ondas
bonançosas da bdiia.
S. A. K. [)oude então cont(;mplar [)e!leitameiite a esplendida vis-
ta do Pico, (piadro arrebatador, tanto pela grande j.ltiira do cume da
montanha, como pelas variadíssimas cambiantes (]ue esta apresenta nos
S(Mis Íngremes e alterosos descampados a semelhante liora.
Do lado do oeste, no Fayal a cidade da Horta, com a sua alva (Ca-
saria, tod.i entreineadi de arvoredos e co.n sorridente aspecto, real-
çava, p<d,) coutra.sle, o severo cariz do gigante d )s .\çòres. seido o
60 AHCHIVO DOS AÇOKES
iiiellior [loiílo |)nia admirai- todo este tiiagnifico panorama da amara-
da de iim iiavjo liindeailo, como a «Bartholomeii r)ia>» nas agoas do
canal, (jue separa as duas illias.
As 6 \/2 horas da manhã, o Castello de Santa Crnz, o único a-
qui exi.-tenle com ariiliíeria, iç.indo a bandi ira narjonal, havia dado
uma salva de vinte e um tiros, salvando também depois, [)elas oitolK»-
ras. a corveta «Batlholomeii Dias.»
Alguns menibros do corpo consrdar, de diversas nacionalidades,
foram, desde logo, abordo. cnm[)rimenlar o Sr. Inlante. e pelas 1 1 ho
ras do dia t( das as anllioridades, Camará Municipal, elides de repai-
tição e principaes cavalheiros da localidade, lambem com idenlicn in-
tuito, alli se dirigiram.
O acolhimento que receberam do Sereníssimo Infanle ("oi o mais
delicado [lossivel, captivando a todos a aíHabilidade com que foram (ra-
tados.
Havendo S. A. R. annimciado aos visitantes (pie eíf^iliiaria o sen
desembanpie pela uma hora da tarde, regressaram estes a terra aí
gum tempo antes da hora designada, a lim de aguardar o Princi[>e so-
bre o cães e providenciar a sen condigno recebimentix
Como é bem de suppor unia extraordinária nmltidão. composln
de todas as classes da sociedade fav;dense. concorreu áqnelle silit» e
suas immediações, estando todas as janellas replectas de damas pri-
morosauienle trajadas e achando se formado um destacamento de in-
fanteria 18.° no cimo da ranifta que conduz ao desembarcadouro.
O I'iin( Ipe \fU) n'um escaler de bordo, acompanhado do seu ca-
marisla o Conde de Linhares, !>. Rodrigo, e ajudanle de ordens, o ca-
[>ilão de fragata António Sérgio de Sousa, segnindo-se em outros es-
caleres a olíicialidade dos navios de guerra.
A Ci.inara .Vhinicipal com o seu trajo de gala e ceremonia, aguar-
dava S. A. R. nas escadas do cães, bem como sobre o mesmo as au-
thoridades, secr» lario geral dr. Miguel Slreet dArriaga. delegado do
Procurador Régio dr. João Vascí» Ferreira l^eão, administrador do con-
celho .l(»sé dAlmeida e Silva, todos os chefes de re[)artições. com os
respectivos empregados, clero, diversas corporações, grande mimeic»
de cavalheiros de consideração, alem de muito povo.
O Castelh.' de Santa Cruz salv(;U por esta occasião, subindo aos
ares. de diversos pontos da cidade, innunn ros foguetes, o ipie se |)ro-
loiígou durante a estada nu terra do augusto IMincipe, rt picainio tam-
bém as loires de todas as egrejas.
S. A. R. segiiio em direitura á egreja Matriz, collocada (piasi ao
eeiilro da cidade e das janellas das luas (pie ia percorrendo, imiitas
d.nnas d(;itavam flores sobre o nobre visitante.
A" porta da egreja principal, os vereadores da Camará Municipal,
que se haviam adiantado ao |)restito, aguardavam S. A. R. com o pal-
lio armadí». sob o (piai. aconij)anlia(lo lambriii da collegiada d.KpielIa
AhCHIVO DOS AGOHES 61
egrej.i, foi o Sr. Infante coníliizido pnni (» IíhIo dircitu do ;ill;.r mòr,
onde lhe eslava i'eseivado ntn vistoso docel e cadeira dCspaldar.
Seguiu se inii Ic-Dcuni e lindo este religioso a( to. S. A. li. diri-
gio-se para o contigno eddicio do Governo (livil, no (piai se adiava
convenienlemenle [)repaiada nina sala, para o receber, sendo-llie al-
li apresentadas (Jivi rsas corporações, fiincciunarios piihlicos. e cava-
lheiros, dando a lodos beija mão.
Perlo das Ires horas da tarde, sahindn do Governo C-ivil dirigií»-
se O Sr. Infante pelas mas da Misericórdia e Matriz velha até ao lar-
go da Torre do Relógio (hoje largo do Infante I). Lui/,j d'onde gtisoii
fi bella vista que apresenta atjuelle sitio; e descendo depois pela rua
da Koda. tornou a segnir pelas ruas da .Misericórdia e de São Fran-
cisco até ao cães.
Houve no seu embaripie para bordo a terceira salva, n"este dia,
do castello de Si.* ('rnz.
O Senhor D. Luiz era, enlão, uni formoso rapaz de 20 annos. in-
completos de edade, pois que nasceu no Paço das Necessidades a ){ I
d'Outnbro de I8IJ8, trajava uniforme de oííicial de marinha e a toilos
penhorava pilas suas delicadíssimas maneiras.
Na noite deste dia houve illuminacão em lodos os edifícios [)ii-
blicos e nuin-erosas casas de particulares.
•1 de ;\ovesnl>ro
N'esle dia, anniversario nalalicio de S. A. H. o infante D. Augus-
t ), embandeiraram as corvetas "Barlliolomeu Dias» e «Sagres».
No decurso da manhã foram abordo apresentar os seus respeitos
ao Príncipe, diversas authoridades, indo lambem cumprimentar S. A.
o coronel Oay, do exercilo inglez, que se achava então residindo n"es-
ta ilha, em casa de seu sogro o cônsul britânico .M.*^ Micheii, visita
que o Sr. Infante presoii sobreniodo, porque sendo o coronel iim gran-
de caçador. paí\ã(» lambem favorita de S. A., ;^lli planearam algumas
digressões d este género de divertimento.
O vice €onsul da Bélgica, Sr. Manoel Alves Guerra, hoje Viscon-
<le de SanlAnna, lambem esteve a bordo, para olferecer ao Sr. Infan-
te um baile, na sua residência, e ao meio dia, a Gamara Municipal, foi
em corporação felicitar S. A pelo anniversario nalalicio do sen augus-
to irmão.
G Sr Infante desembarcou, n"esle dia, pelas duas horas da tar-
de, dirigindo-se imniediatamenle á Santa Gaza da Misericórdia, de que
era enlão Provedoí' o Sr. João José Paini da Terra Hrum. íillio do fa-
lecido Barão da Lagoa.
S. A. R. foi recebido á [)orla da egreja de São Francisco, per-
tencente áipielle pio estabelecimento, pela respectiva .Mèza. com ba-
62 ARCHIVO DOS AÇOKES
laiidiaiis e varas, pelo Reverendo Ca()elirio Padre José Daniel da Sil-
veira, medico do banco dr. Thoinaz d(í BeHencoiirt e da enfermaria de
cirurgia U/ António Maria dOliveira, hoje Con>ellieiro de S. M.. bem
como [)õr lodos os empregado-; d'aijnelia cisa, e depois de haver fei-
to oração na capella mór. foi visitar o H i>i)ilal e adjuncto Asylo de
mendicidade.
Na enfermaria tie cirmgia, a carg(j do benemérito dr. António
Maria dOliveira, [jresloii este facnilalivo diversas iníoiinações a S. A.
1{. concernentes ao importante serviço que llie eslava conliado.
Dnranle a visita do Sr. Infante, mostron-lhe o Provedor, na en-
fermaria dos estrangeiros, imi súbdito norte americano, <iue ^lli se
achava em tratamento e (pie bastante interessou S. A., pelas extraor-
(hnarias ciicnmslancias qne o conduziram aj Ho>pilal da Horta.
Vinha a ser o caso:
No decurso do mez de Setembro, anterior, havia sabido de New-
Vork, carregada de carvão e coin destino a São Francisco da Califór-
nia, a galera americana «Mu^garet Tiron», de 1:030 toneladas.
Kra um possante navio e com numerosa tripulação.
N'aqiieMa estação, p irem, são mal afamadas as costas da Ame-
rica, a mãe lins icmporaes, como lhe chamam os nossos marítimos.
Desde os primeiros dias de viagem o mar deuDnstroLi-se iracun
do, o navio aífastava se do seu rumo e uma sob-rbi ventania, vinda
de oeste, não lhe peiuiittia mais do (jue alguns b.)lsos de panno na
a lein>a mastreação.
Os dias 2:2, i23 e :2i de Setembro foiMui de um verdadeiro cy-
clone e medonhas vagas, de descommunal altura, varriam o navio, que
ia fugindo, desde a popa á proa.
Afinal como impulso gr.mdioso do mar a galera começ )u a fazer
agoa e em quantidade lai, (pie desde |.)go foi julgada irremeíJiavelmen-
t(! perdida.
A ceiração era inmiensa, no limitado horisonle não se divisava
(|ual(|uer endjarcação, o que, ainda a>sim, |)ouca es[)e rança de salva-
mento p.)deria olTerecer, naquelle de>vairado embate das vagas.
Pas>adas algumas h(jras a «Margaret Tirou)), como um moribun-
do no e>tado com;itoso. estava quasi insensível ao que em seu redor
se pas>ava, enterrada no mar até perto da cinta e arfando apenas num
laid de agonia, em ve/. de tentar levantar-se na crista espnmusa ilas
ondas.
() convez era já um lago em todo o seu com[)rímenlo, no (piai
borbotões de escuma, batendo contra as amuradas, levavam na sua
ingente biria (juantíj enconlravauí na [).i>sagem. ou lhe oppunha a mí-
nima resistência.
(Chegou o mnmeiílo fatal. '
l nia giganlexa vagi, negra e ti emenda, ergueu-se a alguma dis
laijcia, pela popa da galera, sendo as suas proporções espantosas e do-
AlíGHIVO OOS AÇORKS Cí{
bando ameaçadora na (lirecrãít do navio, então (piasi ininiovel. [);ire-
cendti pelo n íluxo da agua, descahir a ré, para mais em rlirio poder
leceber o golpe, como mu condcmnadn ijiie no p.itihido se agcitasse
melhor para tornar mais rápido o momento (pie ia decidir da sua exi>-
tencia.
Sobranceira á galera a grande vaga formon nma aba immciisa,
debruada de escuma, e depois aquelle grande volmne de agua caliiu
de pancada sobre a mi>era embarcação que unio um lugidire rangido
aos gritos da aterrurisada companha. desapparecendo da face do mar.
afundada no seio do atlântico.
Algum tempo depois, da infeliz «Margaret» apenas boiavam so-
bre o cavado oceano, alguns fragamenlos de madeira, bem coun» cin-
co marinheiros, agarraclos. nem elles sabiam como, á caza do fogão.
que se havia despegado dtt convez.
Fora um desesperado struggie fur life, que os fizera lançar mão
do primeiro objecto que encontraram no redemoinho da voragem.
A muito custo, no embate furioso das vagas, ccmseguiram subir
para o tecto da caza do fogão, que semelhante a mna jangada lhes of-
ferecia, ainda que bem rasteiro con) o mar, i\in leiuie refugio, emquan-
to alguma vaga dalli os não arrebatasse.
Ainda as>im, estendidos sobre aquelle paradouro e agarradi»s a(j
resbordo do mesmo, conseguirauj não ser varridos pelo mar.
A tormenta, sacciada de victimas. quebrou, afiu. d. de impetuosi-
dade e chuvas torrenciaes fizeram acalmar o tempo e tornar o mar
relativamente chão.
Toda a sub>e(piente noite IVti de cruéis incertezas para os cinco
pobres náufragos, na duvida de estar, ou não, á vista algum navio.
A madrugada seguinte, já com tempo claro, veio <lesfazer-lhes de
lodo essa ridente esperança, não se avistava na vastidão das agoas
uma única vela, era completa a solidão!
Tiidiam fome e não liavia alli uma imica migalha de alimento.
Em redor das taboas que os aguentavam viauj, a espaços. [)assar
alguns peJNes e, como fazem os Índios adestrados tfeste exercicii»,
foi com a mão que conseguiram apanhar um daqnelles habitantes do
alto mar.
Dovuraram-no immediatamente, sorvendo a agoa da chuva de que
estavam encharcados, o (pie dalguma sorte lhes mitigou a sede.
O tempo contimiava agora assaz bonançoso, mas os olhares avi
dos dos náufragos jamais descortinavam, em (jualqner direcção um na-
vio, e a fome ia-os enfraquecendo gradualmente, preferivel, ainda as-
sim á sede, porquanto mata por desfaliecimento, em(|uatito ipie a fal-
ta d'agoa é pela febre, com(» é sabido.
William Kenedy, um rapaz de fraca apparencia e franzina con-
stituição vio successivamente fallecer ao seu lado os seus quatro com-
panheiros, alguns d'elles assaz robustos, e (piando os deitava afinal
64 ARCHIVO DOS AÇOIÍES
ao mar, [iivsenciava com terror, as fauces ávidas de enorm«^s liiha-
rões, como se (bssem corvos irum campo de batalha, dispntnr, raivo-
sos, as suas prezas,
Sosiiilio afmal na jangada, aguardava d um momento para o ou-
tro a sua lioia suprema.
NessM dia, porem, inesperadamente, um pei.xe veio, tanto á ílor
daiiua e tãu próximo da beira das taboas que tdle. repentinamente,
conseguio apanli;d-u.
A agua potável era a )]ue de noite cbovèra e (|ue conservava cui-
dadosamente, dentro do chapeo, ao seu lado.
Passaram assim longos, intermináveis dias e noites, nem elle sa-
bia b'"m (piaatos, conseguindo, por mais três vezes, apanliar com a
n»ão alguns peixes, dos qnaes comia absolidamente o necessário para
aguentai' a vida. acautelando o resto.
O oceano continuava sempre calmo, mas em completa soledade.
Atinai Deus amerciou-se da soile d'aquelle infeliz.
Numa madrugada, vanidas as sombi'as da noite, um liiate ame-
ricano, baleidro, [)airava a breve distancia do naufrago e avistado es-
te pelos homens de vigia, eiu breve uma canoa escorregava ao longo
do costado do navio, vindo vejozuiente em seu soccorro.
Esta embarcação era o hiate, também americano «Oread».
Averiguada a d.ita do naufrágio da galera «Margarel Tirou», ha-
via dezesete dias (puí o marinheiro William Kenedy, pairava sobre as
ond;i.s !
O naufrago foi encontrado a 33 " de latitude e 40.° de longitu-
de, approximadMmenle.
A ^i d Outubro o hiate «Oreail« dava fundo ni bahia da Horta,
para rebescar. tendo de soffrer alguns dias de quarentena.
Quando fin lou este praso. William Kenedy deu entrada no Hos-
pital da Horta, aonde se restabeleceu e ainda permanecia na occasião
da vi>ila do Sr. Infante D. Luiz, que com o mesmo ctjuversou, dando
lhe uma esmola.
(lom aíjuelle marinheiro provon-se mais uma vez o facto ditlícil
de explicar, mas ipie geralmente se tem registado nos grandes sinis-
tros marítimos, isto é, que os individuos de mais débil appareucia e
mais bíica coustituigão, resistem muito m;iis do ipie os seus couq)a-
nlieii"os robustos e sadios.
Oiiaudo no banco dArguin. nas proximidades da (^osta d Ab'ica,
em Jidho de 1810, occorreu aquella tremenda catastro[)lie da perda da
fragata bauceza «La Mednse», que conduzia para São Luiz do Sene-
gal, diversos ea)[)regados do Lslailo, com sua> famílias bem couio
creschio numero de colonos e (pie em 181!) innnoilalisou o notável
pintor (íericauld. collocando o a pai' dos grandes mestres da arte, pe-
lo seu maguíliio (piadro «O Naubagio da Medusa», conservado ainda
hoje cuidiídosamente no museu do Louvi'e, o goverut) fraucez, (|uando
ARCHIVO DOS AÇORES 65
veio a saber da chegada a São Luiz dos únicos quinze sobreviventes
das cenlo e cincoenta e duas possoas (]ne numa jangada liaviam pro-
curado salvar se das ondas, mandou abrir um inijuerilo olíicial sobre
aqnella terrível hecalombe e bem assim com relação aos restantes náu-
fragos.
Esse interessantíssimo docimiento, consigna nas suas paginas, fir-
madas por verdadeiros homens de sciencia, que os indivíduos que ha-
viam resistido á grande violência do mar e aos adustos e immensos
areaes (|ue tiveram depois de atravessar, debaixo de ardentissiiníj sul,
extenuados de fadiga, de fome e de sede, eram exactamente os (jue
menos probabilidades pareciam olíerecer de conservar a vida atra vez
de tamanhas privações e trabalhos.
No oceano, ou nos areaes, havia ficado um largo rasto de cadá-
veres, mas da gente forte!
Continuemos, porem, a narrativa, principal objecto desta refe-
rencia e da qual nos affastáinos por algmu tempo, devido a um inci-
dente marítimo qne impressionou o Príncipe portnguez, n"aquella epo-
clia todo dedicado á navegação.
Sahindo do hospital da Horta deixou alli S. A. R. uma esmola de
W-SOOO rs., quantia egual á íjue ofíereceu ao Azylo d'lnfancia desva-
lida.
Em seguida visitou a alfandega, situada então, n'esta cidade, nas
mais péssimas condições e dalli dirigio-se á casa da Gamara Municipal
vindo esta respeitável corporação esperar S. A. á rampa adjuncta ao
lado do norte do edifício em que fnncciona e que ultimamente, em
1883, llie foi doado pelo Governo, devido a diligencias de dois bene-
méritos fayalenses, o Conselheiro António Maria Barbosa e major do
estado-maior António José d'Aviia.
A vereação municipal compunha-se então dos seguintes cavalhei-
ros: Francisco Pacheco de Mello de Mariz Sarmento, presidente —Jo-
sé Pamplona Moniz Corte Real, vice-presidente —Gaspar Pereira de
Lacerda, fiscal — José Francisco da Camará Terra Rerquó— José Maria
d'01íveira Pereira — Manuel de Brum Labat Athayde e António José
Ferreira Rocha, em substituição de Manuel Carvalho de Medeiros.
Era então Secretario da Gamara Municipal o hábil e prestante ci-
dadão Manuel Victor de Sequeira.
Na janella central dos Paços do Concelho tremulava a bandeíi'a
(kl Gamara, e a sala principal, aposentos adjunctos e escadaria estava
convenientemente adornada, se não com sumptuosidade, ao menos
com toda a decência e com notável profusão de flores, apesar da qua-
dra do anuo que então reinava.
S. A. R. acomi)anhado á esquerda pelo Presidente da (>amara e
seguido dos mais vereadores e respectivo Escrivão entrou no edificio,
aos festivos sons dos sinos da Matriz e da Gamara e de immensas gi-
ra ndolas de foguetes.
N.' i3 — Vol. Vlll - 1886. 9
66 ARCHIVO DOS AÇORES
Acompaiiliaviim lambem o Príncipe o seu camarista, conde de Li-
nhares, ajudante dordens António Sérgio de Sousa, as authoridades
locaes, alguns chefes de repartições e muitos cavalheiros de distincção.
Depuis de alguma demora na sala principal dirigio-se o augusto
visitante á respectiva secretaria, examinando os livros das actas das
sessões e contas de receita e despeza do municipio, dignando-se irum
dos primeiros, a pedido do Presidente da Camará, alli assignar o se\i
nome.
A" sahida dos Paços no Concelho houve as mesmas demonstrações
de regosijo do que no recebimento do Príncipe, acompanhando-o a ve-
reação até á porta externa do edifício.
A quarta visita, neste dia, do Senhor Infante, foi ao Lyceu Na-
cional da Horta, que também estava convenientemente ornamentado.
O corpo docente d"esta casa de ensino compunha-se entã(j dos
Srs. João de Bettencourt Yasconcellos Corrêa e Ávila, reitor, Manuel
Augusto da Pureza, secretario, Cyi)riano Joaquim da Silveira, Antó-
nio Lourenço da Silveira Macedo, dr. José Joaijuinj d Azevedo e Car-
los Vieira Goulart, que vieram receber o Infante fora da poria do edi-
fício, dirigindo-lhe pouco depois, numa das principaes salas do Lyceu,
uma allocução o Reitor Corrêa e Ávila, á qual em termos benévolos
respondeu S. A. R., promellendo a sua coadjuvação na creação de al-
gumas aulas de que ainda havia carência, como de Theologia e Náu-
tica.
Do Lyceu seguío S. A. para a residência do governador militar,
tenente coronel Roque Francisco P'uitado de Mello, hoje general, aon-
de a dístincta família deste bravo do Mindello recebeu S. A. esmera-
damente, sendo-lhe alli apresentadas dilferentes damas da elite da
sociedade fayalense e gosando o príncipe a magnifica vista que apre-
senta aquelle sitio do Livramento, bem como entrando na pequena er-
mida edificada no jardim d'aquelle prédio.
S. A., uma hora depois, embarcava para a sua corveta, salvando
novamente o castello de Santa (]ruz.
5 cie ^'ovembro
O tempo neste dia apresentou-se péssimo, havendo muito vento
do quadrante do sul, chuva e o mar assaz agitado na baliia.
Apesar disto as authoridades foram, como na véspera, abordo
cumprimentar o Príncipe, que nesse dia não desembarcou.
o de .>'o«eiiubro
Melhor tempo.
Foram abordo as authoridades. Camará .Municipal, cônsul ameri-
cano Dabney e diversos cavalheiros. S. A. dignou-se de acceilar nm
ARCHIVO DOS AÇORES 67
\yM\e que n'essa noile lhe offerecia o consnl americano, promeltendo
famljem a sua comparência ao baile i]ue na noite de 7 seria dado pe-
lo Conselheiro (iovernador Civil, bem como a pedido da Camará, de-
signando a noite para um terceiro baile qne esta corporação lhe fora
DÍTerecer.
EíTeclivamente, S. A. R. deu entrada no consulado americano p )u-
('o depois das oito horas da noite.
A resiilencia da respeitável familia IJabney estava decorada com
esmero e simplicidade, tendo na sala principal e n.) logar de honra o
retrato do Senhor D. Pedro 5.° circumdado de ílores e em diversos
sitios bandeiras poituguezas e americanas, entrelaçadas.
A' entrada da sala aguardava o Sr. Infante a familia do cônsul a-
mericano, que lhe foi apresentada pelo seu chefe.
O augusto Principe distinguio a casa em que se achava dançan-
do a primeira quadrilha com a Ex.'"^ Sr.* D. Clara Dabney, filha mais
velha do cônsul americano, tendo por eis à-vis o commandante da sub-
divisão militar.
S. A. dançou animadamente durante o decurso da noite, retiran-
do-se para bordo pelas três horas da madrugada.
V de iVovombro
Na noite d"este dia effeituon-se o baile dedicado ao Sr. Infante pe-
li) (Conselheiro Governador Civil.
A caza escolhida para este fim, a qual então estava deshabitada,
foi a mesma em que noutro tempo, [)ertencendo ao distinctissimo mor-
gado Terra, se hospedara, por duas vezes, o Senhor I). Pedro 4.°.
No quarto em que dormira o Imperador e sob um docel condi-
gno, estava o retrato de S. M. I., bem como haviam alli damascos, se-
das e alfaias que haviam sido do seu uzo.
As salas do baile achavam-.>e vistosamente ornamentadas, a exten-
sa frontaria da caza toda illuminada, comparecendo no baile uma ban-
(Ja de musica.
Vieram receber, á porta da rua, o illustre Principe, o Governa-
dor Civil, commandante da sub divisão militar, dr. juiz de direito, func-
cionarios públicos e diversos cavalheiros, tocando então a banda de
musica o hymuo do St-nhor D. Pedro 5.".
Conduzido o Snr. Infante, pelo (>onselheiro Governador Civil ao
quarto em que residira o Imperador, alli lhe foram apresentados to-
dos os descendentes do morgado Terra, Barão da Lagoa, dedicado a-
migo do magnânimo Duque de Bragança.
Depois d esta apresentação, S. A. R. deu entrada nas salas do
baile, dançando a primeira contradança com a Ex."'* Sr.* D. Maria .lu-
lia Terra (>arvallial, nora do fallecido Barão da Lagoa e lendo por vis-
à-cis o Sr. Manuel Maria da Terra Bruni, filho do mesmo.
(B8 ARCHIVO DOS AÇOBES
O baile esteve anima(Jissimo, retiriíndo-se o Sr. Infante pelas seis
horas da manhã.
A f.imiha Terra Brinn e mais algumas ômuns e cavalheiros, fora
convidada para fazer as honras da casa.
Aiíida existia naqnella familia imi velho e honrado servo tjue fo-
ra o criado do Imperador, quando alli mesmo estivera hospedado e
f]ue teve a honra de trazer um copo d'agoa ao neto de S. M. I., já
(leccorridos vinte e seis annos.
N'este dia 7 de Novembro a corveta 'Sagres» que, anteriormen-
te, de passagem pela ilha Terceira, ali havia desembarcado alguma
tropa, para reforçar a guarnição da ilha em consequência do povo estar
alvoroçado por causa de exportação de cereaes, deixou a bahia da Hor-
ta, com destino a Angra do Heroísmo, a fim de recolher aijuella força,
e em quanto na Horta se descançava alegremente, no baile a que nos
reft-i'imos, um violento tufão, pelas onze horas da noite, devastava par-
le do Concelho da IVIagdalena, na ilha do Pico, desde a villa alé á fre-
guezia das Bandeiras, derrubando muios, algumas casas, e arrancan-
do antigos e valentes arvoredos.
S «le i%'ovonil>i-o
Este dia foi escolhido pelo Sr. Infante para uma caçada, na (jual
aconipaniiaram S. A. o coronel (^ray, Samuel Dabney e alguns olli-
ciaes de boido, indo todos a cavallo até á Ponta Furada e dalli diri-
gindo-se a pé para a Feteira alta.
No meio do campo foi servido ao Príncipe lun refresco.
o íle IVoveiubro
Houve um jantar a bordo <la «Bai-tholomeu Dias», {)ara o qual
f(tram convidados os Srs. Governador Civil, commandanle da sub-di-
visão militai-, presidente da Camará Municipal, juiz de direito, delega-
do do conselho de saúde, guarda mór de saúde, director dalfaudega.
cônsul americano e vice-consul da Bélgica.
S. A. R. na t;u(le d'esse dia veio a terra, visitando algumas pro-
priedades e arsenal do Sr. Dabney e á noite compareceu no baile da-
do em sua honra pelo mesmo vice-consul belga, Sr. Manuel Alves
Guerra, hoje Visconde de SanfAnna.
Os aposentos em que teve logar esta luzida festa estavam esme-
radamente decorados, havendo na sala [)rincipal um estrado, com c.i-
deira de espaldar, reservada para o Sr. Infante. Dum e outro lado do
estrado pendiam da parede, circunulados de dores, os retratos do Se-
nhor D. Pedro o." e Bainha D. Kstephania.
S. A. R. foi recebido á porta da rua pelo Sr. (Iiierra. aullioi'ida-
ARCHIVO DOS AÇORES 69
(ies e diversos cavalheiros, aguanlniido-o no topo da escada a fainilia
íliíerra, que lhe foi a[)resentada pelo dono da casa.
O Sr. Infante dangon a primeira quadrilha com a \\\.'"^ Sr." I).
Maria Guerra, sobrinha do sen hospede, tendo este por ris-à-ris.
O haile, como os antecedentes, esteve animadissimo, concorrendo
também alli nma banda de musica.
S. A. R. retirou-se para bordo as 3 ^'2 horas da manhã.
10 ele .Novembro
O tempo desencandeou-se péssimo, o mar bastante cavado, chu-
va e grande ventania do quadrante do norte, dando apenas logar e is-
to mesmo com difficnldade, a que as authoridades fossem a bordo cum-
primentar S. A.
I I <le ?Vo%oi»9)ro
Iloilve, n"este dia, nova caçada, sendo o sitio escolhido os matlos
do Chão-frio. aonde foi S. A. R. acompanhado dos niesmos cavalhei-
ros que o haviam seguido em idêntica digressão no dia 8.
Alem da magnifica paisagem que apresenta aquella parte desta
ilha, mas que n'essa epocha do anuo estava muito despida da maioria
dos seus encantos e desprovida das flores agrestes que, durante o ve-
rão, alii pollulam por toda a parte, pouca distracção, seguramente,
lhe poderia oíferecer semelhante jornada.
Nós aqui. por assim dizer não temos caça, maxime no decurso
ílo inverno, alguns coelhos que batidos da neve e frio não sahem das
suas tocas e nos mattos do Chão-frio algumas gallinholas, que é raro
apparecerem, a não ser no verão ao descahir da tarde, ipiando vão
beber agoa a alguma poça do descampado.
No i'egresso para a cidade a chuva cahia torrencialmente, abri-
gando-se o Sr. Infante e a sua comitiva na pobre morada de uma viu-
va da rua nova da freguezia dos Flamengos, cá qual, no dia seguinte
mandou entregar a esmola de 40áí000 rs.
S. A. embarcou, n'esse dia, ás 5 horas da tarde, voltando, po-
rem, a terra, ás 8 V^ da noite, para assistir ao baile que em sua hon-
ra dava a Camará Municipal.
Por mais commoda a casa, do que os Paços do Concelho, pedi-
ram os vereadores para se realisar este baile a bella residência do abas-
tado proprietário, Commendador Sérgio Augusto Ribeiro, sendo enfei-
tada a extensa entrada que a precede, mna rua povoada de arvore-
d(»s, com arcos de verdura e uma illuminação á veneziana, destacan-
do-se no fundo, em grande transparente as armas do Príncipe.
O interior d"aquella moradia estava excellentemente decorado, ten-
70 ARCHIVO DOS AÇORES
(lo S. A., duiá qiiaitus reservados [);ira descançar, ou tomar qualquer
refresco.
(lompareceu ao baile uma banda de musica.
Faziam as honras da caza as esposas e filhas dos vereadores, a
consorte do proprietário d'aquelle prédio, bem como alguns cavalhei-
ros para este lim convidados.
A' chegada do Sr. Infante, veio esperal-o, em corporação a (Gama-
ra Municipal, dirigindo-lhe então o seu Presidente uma allocução con-
gratulaluria da honra que era concedida á mesma curporação com o
recebimento de S. A. R.
O Sr. Infante dançou a primeira quadrilha com a Ex.'"^ Sr."" D.
Maria da Gloria Terra Berqiió, esposa dum dos vereadores, tendo por
vis-à-vis o major José Pamplona Corte Heal, vice-presidente da Ca-
mará.
O baile correu muito animado e realmente, durante a estida do
Sr. Infante na pacifica cidade da Horta, apresentava esta povoação um
anormal movimento, sendo sempre grande a multidão de povo, nos
sitios por onde sabia que tinha de passar S. A. R.
O baile da Gamara Municipal terminou de madrugada
13 fic i^^ovonibro
Neste dia o illustre hospede não veio a terra, indo como usual-
mente, a bordo as authoridades e bem assim o Reitor do Lyceu, apre-
sentar a S. A. um livro para se dignar de assignar o seu nome, com-
memorando, assim, a sua visita á nossa primeira caza de ensino.
13 <le :Vovenil»ro
Pelas 8 horas da manhã, a corveta «Bartholomeu Dias,» dando
uma ^alva, que foi correspondida pelo castello de Santa Cruz, sahia
da bailia da Horta, na direcção do norte.
Kra o seu destino a ilha Terceira, porquanto eslava dando cuida-
do ainda não ter regressado, á bahia da Horta, a coivèta «Sagres»,
que alli linha ido buscar alguma tropa, como mencionámos nas occor-
rencias do dia sele.
Da estada do Sereníssimo Infante D. Luiz na ilha Terceira e da
honrosa maneira como foi recebido n'aquella heróica terra, publicou,
em folheto, uma minuciosa descripção, o Sr. Félix José da (^osta, a
quem as leiras açorianas deveram sempre curiosas informações.
F(>ram o Faval e a Terceira as duas únicas ilhas, d'esle archi-
pelago, (pie visitou S. A. R., a quem o fulm*o destinava que cingisse
a cor(*)a ()ortugneza, estandíj, não obslanles, feitos grandes preparati-
vos na ilha de S. Miguel, para o seu condigno recebimento.
Obstou, porem, a isto a inclemência da estação, sendo muito tor-
ARCHIVO DOS AÇORES 7 I
monlosa a tiavessia da «Bartholomeii Dias» e da «Sagres» desde An-
gia do Heroísmo até á barra de Lisboa.
(1860)
A bordo da magnifica fragata ingleza «Eiiryalus» esteve na l)a-
liia da Horta, a '28 de Outubro, este filho da Rainha Viotoria, na qua-
lidade de guarda-marinha.
Houve as usuaes salvas entre as fragatas e a terra, indo abordo
diversas authoridades cumprimentar o illustre príncipe.
S. A. R, não ponde, porem, desembarcar, por estar doente e a
«Euryalus», depois de haver recebido alguns refrescos partio, sem de
mora, para a Gran-Bretanha.
Este mesmo Príncipe tornou a estar na bahia da Horta no dia 3
de Maio de 1871, commandando a fragata «Galatèa», mas como esta
ficasse de quarentena, em breve sahio d'este porto.
(1860)
Ainda quando a fortuna da familia do grande Napoleão l.'' reto-
mara em França todo o seu antecedente esplendor, tocou na bahia da
Horta, a 12 de julho deste anuo, vindo da America do norte, num
esplendido hiale a vapor, o primo germano de Napoleão Hl, então Im-
perador dos francezes, acompanhado da sua virtuosa esposa a Prince-
za Clotilde, que muito melhor do que o marido conseguio, á imitação
da egrégia Rainha dos portuguezes a Sr.* D. iMaria Pia, sua irmã. u-
ma virente coroa de bênçãos dos desvalidos da fortuna e da qual ain-
da ha ponco o notável escriptor francez Edmond Abont escrevia nos
seguintes termos:
« Tnus les saints ont qmtlé la terre; cest gráce a celte incomtance
qw le ciei est si bien peitpU. Mais iious comptons encore parmis nom.
72 ARCHIVO DOS AÇOKÈS
deiix ou troís suiníes. Je pourrais citer detix: la princesse Clotilde et sa
íicetir la Reine de Portugal."^
O príncipe Jerónimo, vestido ã paisana, e sua esposa, acompa-
nhados de algniis oíficiaes de marinha desembarcaram immediatamen-
le depois da chegada do hiate a vapor, dirigindo-se ao passeio publico
acompanhados de uma senhora, filha do vice-consnl francez, que enlãi)
.>e achava na ilha do Pico, bem como dum filho d'este cavalheiro.
O aspecto e traços physionomicos do Principe Jerónimo é bem
sabido que retratam muito approximadanjente as feições de seu tio Na-
poleão l.**.
Na Horta o Príncipe apresentou-se um verdadeiro ratão, de cha-
péu do Chili muito deneg^fido, sobrecasaca em mais de meio uzo e u-
mas calças brancas que estavam a pedir uma boa libra de sabão, ou
melhor talvez uma valente barella e pelas ruas, ao lado da esposa, ca-
minhava de cigarro ao canto da boca.
E' esta a verdade.
Concedemos de barato que o Príncipe Jerónimo não prestasse a
mínima importância á humilde cidade açoriana que, occasionalmente,
visitava, é iss(j, até certo ponto, natural, mas que apparecesse com
umas calças naquelle estado . . . Sacrè nom de Dieu I . . .
xVpenas constou pela Horta o desembarque de tão elevada perso-
nagem, sem o minimo aviso prévio, as nossas bonacheironas authori-
dddes, lançaram-se em busca do mesmo, como os alchimislas do sécu-
lo 16.° em busca da pedra philosophal.
Afinal sempre encontraram S. A. 1., que estava muito descança-
damenle lumando talvez o seu decimo cigarrinho, sentado n"um incom-
modo banco di3 nosso jardim publico e pensando na sua vida, ou na
do seu primo, com quem nunca fora nmito bem casado.
E não o largaram mais até embarcar, já perto da noite.
No cães da Horta, por essa occasião, entre umas rumas de ta-
boado que eslava desembarcando uma barca americana, achava-se já
postada uma força militar para fazer ao Príncipe as honras de caza,
salvando também o castello de Santa Cruz em seu obzetjuio.
Em quanto, no dia seguinte o hiate recebia algum carvão que ne-
cessitava, o P;'inci[)e Jeronymo foi, n'um escalar movido a vapor, ca-
çar ás pombas na costa da Feteira, sahindo d"e.>te porto na subsequen-
te manhã de 14 de Julho.
Acompanhava o Príncipe JeronyuiO, nesta viagem de recreio,
Maurício Saud, filho da notabilissima e>criplora francesa George Sand.
Depois da sua chegada a França publicou aquelle viajante um li-
vro descri[)tivo de semelhante excursão marilima, iio qual melleu,
(jiianto ponde, a ridi(:ulo esta pobi'e, (x^iuena, mas pittoresca cidade,
mentindo, poiem, nalgims pontos, multo rasoavHlment<\
Ainda assim, e valha-nos isso, o seu nou)e, (juasi ignorado na lit-
ARCHIVO DOS AÇORES 73
leratnrn franceza foi sempre de somenos imporlnnci^ e não passava
(Vmu reflexo pallido, mas muit) pallido, do génio biilhuile da sua pro-
genitora, nma grande gloria d'a(piella grande nação.
(1861)
Este notabilissimo e valente militar liespanhol, que tanto figurou
na politica contemporânea, aportou ao Fayal, procedente de Cuba, no
dia 27 de Junho d'esse anno.
Visitou os mais amenos sitios da cidade da Horta, bem como a
egreja Matriz, examinando detidamente e elogiando muito, coujo pe-
ritt) conhecedof, duas grandes telas que alli existem, na capella da
Senhora da Bòa Morte, uma representando o passamento de Nossa Se-
nhora e a outra o apostolíj querido de Jesus expargindo flores no tu-
mulo da Virgem, das quaes ignoramos a proveniência, ou o autlior,
indubitavelmente um artista de mérito.
O general Prim foi cui)q:>riii]entado pelas authoridades locaes,
mi)slrai]do-se muito penhorado pelas altenções que lhe dispensaram
e captivando a todos, pelo seu mod(j franco, alegre e enérgica conver-
sação.
Ouviu, com interesse, ter estado na baliia da Horta, em Abril an-
tecedente, o Duque de la Torre, general Serrano, sentindo que o seu
illustre compatriota não houvesse desembarcado, para gozar dos ma-
gnificos pontos de vista que apresentava a encanUidora ilha do F.iyal.
O general Prim parecia mais um artista enthusiasmado dos pano-
ramas esplendidos da natureza, do que o fogoso soldado que, em re-
nhidas refregas, com o mais completo desdém [)ela uK^rte, soube sem-
pre affrontar os maiores perigos e cujo nome conquistara grande po-
pidaiidade no brioso exercit(j do seu paiz natal. •
O vapor em (jue recolhia á Hespanha sahio na manhã de 29 de
Julho.
E' de todos conhecida a parte activíssima que o celebre general
tomou em todos os acontecimentos que agitaram a Hespanha, na epo-
cha subsequente á data que encima esta referencia.
Em 1870, já nomeado marechal, achava-se investido no elevado
cargo de ministro da guerra.
Tratava-se, então, no parlamento hespanhol de uma importanlis-
sima questão, da qual Prim era o mais acérrimo instigador e advoí^ar
do e na qual envidava o prestigio (\ú seu nome, ou (juando fosse ne-
N/' 43 — Vol. VIU - 1886. 10
74 ARCHIVO DOS AÇOKES
cessario o pezo da >ua espada e essa questão era nada menos do que
collocar no tluoDO da H. spanlia um príncipe estrangeiro, o Duípie
dWosta, idéa que por muito leujpo não tivera o assentimento dn. Vi-
ctor Manuel, nias que afmal, devido ás diligencias de Prim, e á im-
possibilidade da candidatura Holien/ullern e de D. Fernando, fora ar-
ceita pelo monarclia da Itália.
Embora o príncipe Amadeu fosse dotado das mais egrégias vir-
tudes e de lodos os predicados necessários para bem adíuinislrar uma
nação, é f.icil de adnnttirque o advento ao throno de Hcspanha de un»
estraugeiíít, acarretou uuiito descontentamento nopaiz, tanto mais que
destruía, por e^la forma, as esperanças de todos os partidos alli e.xis
tentes, desde os absoluti^tas alé aos mais avançados republicanos.
Era quasi tentar o impos.-^ivel.
No [)ail;imento lies[tanliol Irovejaram, então, os mais renhidos de-
bates a st ujellianlL- respeito e feriram se alli verdadeiras batalhas, a-
chando se as paixões politicas tão exactrbadas, como um revolto e in-
domável oceano.
Prim. sempre firme no seu propósito d • remover as ditíiculdades
poUtícas que assoberbavam a sua pátria, com a adopção d"um reinan-
te estrangeiío, conserva va-se denodadamente na brecha, alvo de gran-
des vituperiu> e ódios, sentindo em seu redor rugir as mais terríveis
ameaças.
Ó ministio da guerra, no emtanto, era um homem de pulso de
ferro. d"eítes de antes quebrar que torcer.
O Duipie dAosla já estava em viagem para a Hespanha.
A sessão parlamentar de ^7 de Dezembro de 1870. precedendo
três dias o desembarque do Duque em terreno hespanhol e menos de
dois mezes a sua eleição, (Ití de Novembro de !870j tocuu o cumulo
da vehemencia e da agitação.
As cortes tornaram se uma jaida de furibundos tigres e o mes-
mo Prim, apesar do seu íum>en>o sangue frio, indómita coragem e no-
táveis aptidões de consumado estadista, começou a trocar insulto por
insulto, apostrophe por aposirophe e a esmagar sem piedade os qne,
também, desapiedadamente o queriam ferir.
(Juandò terminou a sessão estava, completamente, fora de si.
Não t-ra desconhecido aos amigos do ministro da guerra o umito
(jue em Madrid se andava traujando contra a vida daquelle valente
militar e grande numero de policias tinham expressa ordem de o se-
guir disfarçada, mas tenazmente, por toda a parte, vigiando pela sua
><'gurança a todas as horas do dia e da noite.
Havia até signaes combinados para o chefe da policia, perdido
entre a turba e ve.^tido á paizana, conhecer o destino e as ruas que
ia seguir o miní>íro da guerra e lançai no seu encalço uma porção
de agentes vigilantíssimos.
Estes signaes eram segundo a maneira (pie o marechal abotoa>-
AHCHIVO DOS AÇORES 75
se o f;il», livesse .ollocadas as mãos, aguentasse a bengala á-.
No <li:i. porem, a que nos re(Vpinio> era tal a excitação de Prim,
ao saliir do pirlauieiito, lallando aniniadamenle cotn vários indivíduos,
(|ne esqiiecerido-se das precauções (pie <levia loniar, e (jue o chefe da
policia em vão aguardou aiiciosameute, não pareceu consciente dos pe-
rigos fjue o ameaçavam.
(Casualmente sustinha a bengala na mão direita, mas não da ma-
neu\i que secretamente estava combinado e ainda assim, embora du-
vidoso, (I chefe da policia mandou post.ir a sua gente n'ai|uella (Jirec-
ção e tt'r olhos de lynce para o menor incidente (|ne occorrèsse.
Piim subio para a carroagem e mandou tocar a toda a brida, pa-
ra o ministério da guerra, mas exactamente pelo lado contrario áquel-
le em ipie a policia o esperava!
A carroagem parlio como um raio e (juando costeava os muros
d'iuu extenso jardim, ouvio-se uma descarga de fuzilaria e uma por-
ção de balas atravessam a caixa do vehicnio em diversos sentidos.
O corpo do infeliz Piim ficou crivado de ferimentos, recebendo
sete balas no hombro esquerdo.
Eram feridas mortaes.
.\ sua agonia foi longa e replecla de soffrimentos dolorosos, pois
([ue o marechal dotado de robusta constituição só Vfio a fallecer Ires
ílias depois, a liO de Novembro, no m^smo dia em (}ue, por fatal coin-
cidência, dt^sembarcava na Hespanha o UKjnarcha que lhe devia a co
rôa e cujo reinado, embora breve, foi replecto de cruéis dis>abíjres e
de amarguradas horas.
Do pi'Ocesso concernente ao assassinato de Prim jamais se pon-
de colher alguma coisa, ou talvez, para melhor dizer, coliu'u-se tanto
e estava no mesmo compromettida gente de Ião graúda importância,
(jiie esse saldo de contas está ainda por liquidar, nem, provavelmen-
te, jamais se li(]uidará.
No entanto, a espaços, a iuiprensa hespanhola, em duas ou três
linhas cheias de termos emphaticos, estampa a semelhante respeito u-
mas noticias, que temos lido em diversos jornaes e que terminam qua-
si sempre, pouco mais ou menos, nos seguintes termos: «Uevive e d es-
ta vez até á sua conclusão o affamado processo concernente á estupen-
da morte, do valerosissimo marechal Prim».
Já não é sem tempo.
Caramba !
76 ABCHIVO DOS AÇOHES
TlJ^^nsySlU-lsrJDG .A.3SrT03SriO IDE BXJ-
(1868)
A primeira vez que o fislejado auUiur da Paquila esteve dos A-
çures foi, por inotivus de doeni;a, no inverno de 1860, chegando ã illia
de São Miguel no vapor «Açoriano», no dia 26 de Novembro.
Quatro dias apenas dip.)is de desembarcar na populosa cidade de
Ponta Delgada, parlio para Villa Franca do Campo, na companhia do
seu amigo o Snr. Sebastião do Canto, a pedir, apesar da rigorosa es-
tação, aos [)ávidos valles e planicies d aquella esplendida terra, leniti-
vo aos padecimentos que, então, comprometliam seriamente a sua
saúde.
O descanço, a quietação d aquella campesina moradia, a hospita-
lidade franca, sinci-ra e carinhosa em que tanto se destiuguem os uii-
chaeienses. dessa hospitalidade que não se limita a bauaes cumpri-
mentos, mais ou menos adubados de phrases convencionaes, mas sim
da que fnz os velhos amigos e as duradouras saudades, concorreram
poderosamente para em breve tempo tornar o notável poeta um (jutro
homem, vigoroso de saúde, retomando interesse em litterarios conj-
metimentos e colhendo grande copia de apontamentos para o delicio-
so livro (pie, sob o titulo de «Flores Agrestes», publicou em 1870.
Effectivamente a Musa loura e ingénua de Bulhão Pato, coii^p dos
seus escriptos dizia nas Memorias da Litleralura (À)ntemporant.'a o ma-
logrado Lopes de Mendonça, devia exuberar de prazer naquelles tão
ubérrimos campos, nos quaes, apesar das geadas e cortante noiie min-
ca lhe faltavam flores para formar uma vistosa capella, nas suas diva-
gações num ou outro sitio, quer fosse n:i quebrada de um monte, nas
orlas d"uma terra lavradia, ou nas margens dum lago azul. de limpi-
das aguas e frondosas margens, d'aqu('llL'S que tanto amava o suave
author do Jocelin e da Chute d un Ange.
E depois, de Dezembro em diante, a natureza começa, ainda (jue
lentamente, a prepar.u-se para a sua pro.xima e esplendida festa da
primavera e como aijuellas pombas que esvoaçam adiante do carro de
Vénus, mensageiras de boas novas, assim também aipii e alem se di-
visam algumas singelas e rasteiras ílorinhas.azues ou vermelhas, que
apoz muitos dias de fechado nevoeiro e pesadas chuvas, nos vem fat-
iar dos dias límpidos em que lixia aquell-a ilha se tornará n"um vasto
e sorridente jardim.
O clima açoriano foi benigno para com o recém chegado, parecen-
do poupal-o, conl:ecer-lhe a valia.
Em Janeiro seguinte tratava-se, em Ponta Delgada. d'uma le>ta
AKCHIVO DOS AÇOHKS 77
de caridade, em beneficio do Azylo diníaucia det^valida, e na qual Hu-
lliã(» Pato ia tomar activa parle, deliciando, no Iheatro, a illiislrada so-
ciedade michaelense, com a recitação de algumas das suas mimosissi-
rnas composições poéticas.
Foi na noite de 22 d'esse mez que se eífeituou o beneficio a fa-
vor dos desprovidos da fortuna, a concorrência ao theatro era enor-
me, selecta, e Bulhão Pato. com a mestria que sempre encanta aos
seus ouvintes, recitou primorosamente as poesias José Enlevam, A Vol-
ta, da «Paquita»,o Adeus do mesmo poema e as suas magnificas traduc-
ções de Trueba <íAs Flores para a Viryemy e «^5 Mães».
A ovação ao illustre vate foi sincera, enthusiastica e vchemente,
impressionando-o bastante e levando os seus hospedes a delicadesa,
a ponto de o acompanhar, bem como a banda de muzica de Caçado-
res 1 1. que também concorrera ao theatro, até á residência do Sr. An-
tónio Borges da Camará Medeiros, aonde residia.
No sarau musico-litterario alguns exímios tocadores , como os
Srs Joaquim Barbosa, Francisco Barbosa e João Bernardo Rodrigues
Júnior, haviam também concorrido para o brilhantismo dessa noite
executando magnificas peças de musica.
Foi uma noite cheia.
Algum tempo depois, muito melhorado dos seus padecimentos
physicos, Bulhão Pato vio-se apesar seu, obrigado a deixar a ilha de
São xMiguel, para regressar ao continente.
Partio, pois, saudoso e reconhecido áquella formosa terra, aonde
só favores recebera, no I." de Março de 1807, consignando n'uma car-
ta que então fez publicar na imprensa da localidade, os vividos senti-
mentos de gratidão que lhe iam na alma.
A sua demora nos Açores, nesta primeira visita, foi de pouco
mais de Ires mezes.
A par da maneira cavalheirosa pela qual Bulhão Pato foi recebi-
do na ilha de São Miguel, existe uma deplorável nota discordante e
e.Ntremamente cómica, ter sido excommungado, em consequência de
umas «Cartas dos Açores» que correram impressas.
Deus perdoe aos authores de semelhante sacrilégio!
Em 19 de Fevereiro de 1868 voltou pela segimda vez o distincto
poeta aos Açores: em Junho seguinte visitava a cidade de Angra do
Heroismo,
Fez-lhe alli as honras da caza o Grémio Litterario, benemérita as-
sociação (^ue n'a(iuella epocha se empenhava em desenvolver n'estas
paragens ainda bem pouco propicias para tentames litterarios, o amor
ao estudo e a qual, alem de outros civilisadores conniiettimentos, ha-
via criado um periódico quinzenal, cora o mesmo titulo da associação,
que publicou vinte e quatro números, desde o 1." de Fevereiro de
1808 a egual datado anuo subsequente e habilmente redigido por João
78 AKCHIVO DOS AÇORES
Carlos Rodrigues <Ia Cosln, Anloiiin Gil, Santos Peixoto, Moniz de Bet-
lenfidiirt e alguns outros esciiplores açorianos,
N"esta oaasião deniijroii-se Bulhão Pato na ilha Terceira apenas
Ires (lias.
Na noite de 21 de Ftvereiro o Greuiio Litterario dWngra do He-
roísmo oíTerecia ao exímio poeta um saiau litterario, estando a caza
primorusamenle ornamentada e C(jncorren lo ao mesmo crescido nume-
10 de damas e cavalheiíos.
João (Carlos Rodrigues da Gosta, amigo desde a infância do poe-
ta, dirigio lhe uma allocução em nome do Grémio Litteraiio e dos Ter-
ceirenses, pelo sincero prazer (jue experimentavam com a sua visita
á(|uella ilha.
Bulhão Pato, erguendo em seguida a voz, proferio então um ma-
gnifico discurso de agradecimento, sendo Ireneticamente applaudido.
Na manhã de :2o houve tamhem nas salas do palácio do Governo
(]ivil. prestado da uiclhor vontade, mna palestra litleraria em benefi-
cio do cofre do mesmo Grémio Litterario, em que Bulhão Pato deli
ciou os seus numerosos ouvintes com a recitação de diversas das suas
composições poéticas.
A mocidade Terceirense personificada n'aquella associação, tratou
de, por todos os meios ao seu alcance, tornar agradável o breve tem-
po da permanência do poeta n\iquella heróica ilha.
Na sua peregrinação pelos Açores, chegou Bulhão Paio á bahia
da Horta, na corveta "Eslephauia)> na tarde de sabbado 17 de Julho
(Je 1809, conjunctameiíle com outros passageiros distinclos, taes como
o general Mahlonado, cummandante da divisão militar dos Açores, o
Reverendo Padre Horta, muito apreciado e distinclo cantor, algumas
damas terceirenses e o Sr. João de Bettencourt V. Corrêa e Ávila.
Foi, então, que tivemos o prazer de conhncer Bulhão Pato, n"um
esplendido baile ijue em obzetjuio ao Sr. Otrréa e Ávila deu n essa
occasião, na sua híjspitaleira residência o Sr. Thoniaz da Silva Ribei-
10, já actualmente fallecido, e ao qual concorreiam todos os illustres
l)assageiros da «Estephania» e bem assim parle da olFicialidade da
quelle vaso de guerra, ipie a este porto, com escala por São Miguel e
Terceira viera trazei' iXi praças de caçadores á, com receios, segun
do se dizia, diun levante do povo, por causa de contribuições.
Quittc fjour la pear, como dizem os fiaiicezes, havia conipleto so-
cègo no Kayal.
Ao baile a que nos referimos, como geralmente acontece na Hor-
ta, concorreu nu) solTrivel numero de damas estrangeiras, a par de
muitas fayalenscs e tanto alli se fallava inglez, como a linguagem na-
cional, denunciando-se assim a ium^sh proximidade da grande repu-
blica americana.
Das damas estrangeiras e das portuguezas recordou-se depois
Bulhão Pato nos mais lisongcirus lermos, elogiando a sua form(K>ura
ARCHIVO DOS AÇORES 79
(' íinolrato. no livro «Paisagens», composição ligeira, pscii[il.i iini pou-
ro sii|)erri('ialinenle.
[I;i n'aqnelle pe(]iieno livro, traçado no correr da [)enna, embora
esta fosse doiro, algumas inexactidões, que revelam evidente preciju-
tação e qne para os contfcedores da localidade e das pessoas não dei-
xaram de ter nma certa pilhéria, o Conselheiro St.^ Hita. por exemplo,
antigo fiovernadítr Civil dVste Districto, foi chrismado em Conselheiro
Santa Clara, Thoma/. da Silva Uibeiro leve a honra de se tornar ho-
ínonymo do notável [)0Pta o estadista Thomaz Ribeiro e a casa qne Bn-
Ihão Pato indica como o berço do nobre Dnipie dAvila e Bolama, no
cimo do Monte Qneimado, embora pertencente á família Ávila, jamais
teve a disíincçã(» de escntar os primeiros choros oii risos infantis d"a-
qnelle distinctissimo fayalense.
No baile a qne assistio Bilhão Pato delicion este a numerosa e
selecta companhia com a recitação de algnmas esplendidas poesias,
sendo a (pie maior sensação prodnzio as «Flores para a Virgem», tra-
dncção esmeradíssima de Trneba, como já mencionámos.
A brevidade da sua estada R"esta ilha não den ensejo a que o
poeta visitasse algnmas das pittorescas aldeias fayalenses e especial-
mente o Capello, qne lhe offereceria, com certesa assumpto para deli-
( iosas paginas descriptivas, devido ás admiráveis prespectivas que a-
presenta aquelle solo essencialmente vulcânico, as qiiaes encantam to-
dos os visitantes qiie alli concorrem, tanto nacionaes como estrangei
rv)s.
Cumpre vir reparar esta omi.^ísão.
Mais pobre a semelhante respeito do que actualmente, não tinha
n'essa epocha a Cidade da Horta qualquer sociedade litteraria. falta
esta que devia notar aijnelle esmerado cultor das leiras palrias e qne
depois a mocidade fayalense soiibe remediar, com louvável zelo, esta-
belecendo o Grémio Litlerario Fayalense, o Grémio Litterario Arlisla
e a Sociedade Humanitária. Uma segunda visita a esta ilha não S( ria
lí-mpo perdido. Voltará accaso ?
(18691
Jane Grilfin. a respeitável e veneranda viuva do malogrado aimi
rante Sir John Franklin, a heróica destruidora das scrpcntcòt negroa,
na terra de Van-Diemen, de 1820 a I83G, tpiando alli estivera com
seu marido, então governador da Dieménia e que do seu bolsinho par-
80 ARCHIVO nos AÇOBES
ticiilar despendeu uma grossa somm.i, conseguindo extinguir .iquelle
reptil, terror de semelhantes paragens, essa mulher distincta, que, ma-
is tarde, desde o mysterioso desapparecimento du almirante Franklin
na expedição aos ujares árcticos, composta dos navios «Erebus» e
«Terror», em Maio de 1845, apresentou ao mimdo o mais sublime
exemplo de dedicação e amor conjugal, esteve na cidade da Horta,
chegada no vapor «Insulano, na primavera de 1809,
^ Já em avançada edade, pois nascera do começo do actual século
e abatida por continuos soffrimenlos e dissabores, esta virtuosa senho-
ra hospedou-sc HM hotel inglez e só dalli >ahiu a visitar algumas e-
grejas.
O seu as[)eclo infundia o maior respeito e cercava-a a publica ve-
neração.
Elíectivamente a tenacidade com que Lady Franklin soube procu-
rar o cadáver, ou quaesquer vestígios do seu infeliz marido e dos
seus heróicos companheiros nas eternas regiões do gelo, nas grandes
solidões das mais inhospitas paragens do mundo, não descançando um
momentij, não perdendo a fé, não desanimando nunca, apesar da qua-
si evidencia da sua morte, caplou-lhe as sympathias de todas as na-
ções cultas e deu-lhe um logar distinclissimo entre as mais celebres
mulheres contemporâneas.
E esta lucla, sem tregoas, durou o largo periodo de quatorze ân-
uos, até que o vapor «Fox», mantido por sua custa, voltava á Ingla-
terra, em I8o0, do paiz dos Esquimáus, confirmando a dolorosa reali-
dade das sinistras aprehenções que havia sobre o destino dos tripu-
lantes do «Erebus» e «Terror».
l>to, porem, só se conseguio, segundo o Diccionario dos Contem-
porâneos de Valpareau, depois de dezenove expedições, oito navios
[)erdidos e dez niilliões gastus !
Se é hfjnru^issimo para a Inglaten^a e Estados Unidos da Ameri-
ca, quanlo os seus illusirados governos e muitos particjilares tizerauí
para o descobrimento, vivo ou uiorto, de Sir John Franklin, a historia
também sempre je curvará respeitosa [jerante essa dedicada esposa
que, só deu por terminada a suo piedosa missão, quando já não havia
o mininio vislumbre de esperança com relação ao lamentável destino
d'aquelh\ que lanlo amáia,
Neste empenho consumio a vida e enormes capitães.
Durma cm paz no seu sumptuoso mausoléu quem tão virtuosa
soube ser duiante a sua | ermanencia na sociedade.
ARCHIVO DOS AÇORES 81
(1872)
Os iiliimos diíis do mez dAbril d'<í<te anno e o decurso de Maio
subsequente íbr.iíu assaz animados na (Cidade da Horta, p^las civilisa-
(loras diversões que nessa epocha houveram, muito a aprasimento da
melhor sociedade (festa terra.
Na noite de 27 dWbril effeituava se. nas salas d.i antiga casa da
sociedade, «Amor da Pátria», com a concorrência de numero superior
a oitenta damas e muito maior concurso de cavalheiros o [)rimeiro
sarau lilterario, iniciado aíjui [)or Zepherino Brandão, Domingos Men-
des de Karia e o author destas linhas, no qual lambem tomaram pai-
te, [troft^rindo mimosas poesias ou bem elaborados discursos, a K.\.'"*
Sr.^ D. Hermenegilda de Lacerda e os Srs. Miguel Street dArriaga e
I).' Henrique Heiz.
A casa estava vistosamente ornamentada, luzes e llores por toda
a parte, e nos intcrvallos que medeiavam entre as lecilações algu-
mas senhoras da nossa primeira sociedade, preenchiam esses momen-
tos cantando ou tocando ao piano escolhidas peças de musica.
A phylarmonica «Artistas» conq)arecera também, generosamen-
te, a esta testa, executando um variad'? reportório, o (|ual continhi
duas composições originaes, expressamente escriptas para aíjuella noite
e devidas ao apreciável talento do seu hábil mestre, o fayalense Gui-
llierme Pereira dOliveira. hoje infelizmente privado da rasão e cujas
numerosas producções musicaes, embora ligeiras, aguardau) ainda um
colleccionador competente e dedicado de coração á sublime arte de
Verdi.
A piimeira d'eslas composições, a que me refiro, era mii biilhan-
le hymno denominado «Sarau Lilterario» e a segunda uma esplendida
valsa «A (Caridade».
A' meia noite, n'um dos interv.dios e conforme eslava annuncia-
do, duas creanças, do sexo femmino e pertencentes ao Azylo de Santo
Antonii), acíjmpanhadas pelas Ex."^**^ Snr.^^ D. Clara Dabney e D. Fran-
cisca Guerra, correram um tronco de beneficência pelas pessoas pre-
sentes, o (jual logo prodnzio a quantia de 9oíí290 reis, sendo depois
elevada a I06>290 reis, <jue um acto rontinno foram repartidos,
irmãmente, pelos representantes do Azyl • d Infância Desvalida e A/y-
l>) de Mendicidade, (jue se achavam |)resentes.
Alhada assim a idéa lilteraria a um acto caritativo, esta festa dei-
xou a todos bem impressionados, dando em resultado uma alluvião de
saraus lilterarios nesta cidade, os quaes. afinal, por muito re[)etidos
l)erderam todo o interesse, tanto mais quando n'uma pequena localida
N.' W — Vol. VIII— 1886. ' 11
82 AHCHIVO nos AÇOHES
de são, qiia.<i invariavelmente, as mesmas pessoas ijiie a{)[»art'cem a o-
rar, nVssas reuniões.
Não acoíitecia, porem, isto, no primeiro, havendo o [soderoso in-
centivo da novidade.
Punco antes de começar o sarau litterario soube-se, na sociedade
«Amónia Palria» que acabava de entrar na bahia o «Atlântico», um dos
paquetes da carreira entre Lisboa e os Açores e que se achava abor-
do do mesmo, vindo da Terceira, o maestro portngnez Sá Noronha,
privando-o. desagradavelment»', a tempestuosa noite -pie eslava, de [lo-
(Irr desembarcar, e alli comparecer.
Precedia grande nomeada o notável violinista e as caila>' e ji^r-
naes anlt^riormente vindos d'Angra do Heroísmo não cessavam de elo-
giar os seus grandes méritos de artista, como as suas não menos apre-
ciáveis qualidades de perfeito cavalheiro.
Tinliam rasão
DiíTicil seria encontrar nm mais sympathico homem do (pje o bon-
doso Sá Noronha, com a sua imponente figura, barba c cabello todo
grisalho, maneiras delicadíssimas e distinctas e com um sorriso ref)assa-
do de melancolia a lhe voltear por vezes nos lábios e cou) exticnia
modéstia a tran.>»luzir-lhe nas menores acções.
Já antes de escularmos o arrebatador violinista, o estimávamos
sinceramente, como a inn velho amigo.
Alem d'isto, com(|uanlo Sá Noronha não fosse um lillerato, nem
possuisse profundos conhecimentos, alem da sua sublime arte. em que
era eximio, havia, não obstante viajado muito, percoiiera detidauken
te o interior da America do sul, vivera mezes entre (ts iudios, por lá
aitrendera muitas canções e das suas recordações de remotos climas
a|)resenlava-nõs uma variada collecção de incidentes e anedoctas de
uma aventurosa vida, que formavam o assumpto de mu delicioso fi-
re-side, em noites desabridas, entre o café, de que era apaixonadíssi-
mo e o fumo d'um bello charuto havano, dos quaes trazia sempre com-
sigo abundoso fornecimento.
Que saudades (jue não temos d'alguns sei'ões assim passados, na
("Uipanhia d"aquelle excellente homem", a quem devemos bastante a-
misade e que tão cedo devia cahir exangue, tocado pelas azas da mor-
te, bem longe da sua pátria.
Não antecipemos, porem.
Oepois da espectativa da noite do sarau litterario. realisado afinal
icgularmente, toda a attenção da gente fina da Horta, vultou-se para
o recem-chegado maestro, tanto mais. e diga se isto sem menoscabo
dtis brios indígenas, (pie nalgumas n'estas terras Liliputianas raríssi-
mas vezes temos occasião de ouvir um bocado de musica rasoavel, que
falle ao coração, que nos transporte ás doces regiões do ideal.
O maestro, ()orem, demorou por algum tempo deixar-se ouvir, um
ligeiro incotnmodo de saúde e o cançaço de uma viagem, embora bre
ABCHIVO nos AÇORI.S 83
vo, mas Mssaz tirmenlosa, r.-tiveram-no quasi sempre na casa em que
-e lin.s|M'dara, pioxima fia cgivj;) das Ang!!>li;is.
Paia o primeiro coiicèrlo de Sá Noroí.lia. a 9 de Maio. no lliealro
Inião Fayalense, não havia um uni/o legar devoluto. dispula:ido-se os
hillietes e isto sem programmas de feira, nem solicitações ou pedidos,
coisas com (|ue embirrava muito o dislinclo artista.
No theatro era tamanha a cuncorivncia de senhoras gue foi ne-
cessário, alem dos caíuarotcs reseiv.ir-lhe logar na plateia superior,
aonde lambem se achavam algumas damas e cavalheiros da ilha dt; S.
.lorge, ijue no «Atlântico» haviam viinJo ao Taval, para ouvir a(juella no-
tabilidade portngneza.
O aspecto do no-so Ihealro, elegantemente ornamentado, destaca-
va-se nessa noite da pobre>a hanciscana ci)m que, então, g.ralmente
se apresentava nos seus amiudados, mas nem sempre muito ocolhi-
dos espectáculos.
Na plateia do principal theatro da Horta achava-se lambem um
cavalheiro ijue era extremamente sympathico a toda esta povoação e o
(jual com os recursos da sua grande fortuna havia poderosamente va-
lido a esta terra nos afílictivos transes dumi nefasta epocha de fo-
me, no anuo de l8o7.
Kra o importante proprietário americano Mi'. Torbes que a esle
porto viera, em viagem de recreio, no seu esplendido hiale «Hambler»
e ao qual uma banda de musica fora expontaneamenle, comprimenlar
a bordo, que recebera uma alienei t>a felicitaçã > da (Jaujara Municipal
deste (>oncellio, bem cOmo uma delegação da benemérita sociedade
Amor da Pátria, a lhe dar os parabéns pela sua feliz chegada a esta
localidade, que não esquecia o assignalado serviço que o philanlropico
americano lhe prestara, como um dos principaes snbscriptorcs para a
livrar das torturas cruéis e re[)ellentes sceuas da miséria.
Havia, pois, n'aquella sala d'espectaculos, litteralmenle cheia de
espectadores uma atmo>p!iera bja e f'Stva e uma certa expansibili-
dade que uão é mulo Irivi il nos insulanos, seja em que classe fôr da
nossa sociedade.
Subio aíiual a cortina e a figiira imp.jnente de Sá Noronha, alto,
a[)rmnado, com o cabeljo e barba já grisalho, com o dislinclo porte
(|Ue lhe era peculiar e com o peito iodo cou.>lellado de condecorações,
apresenlou-se ante o publico, sendo recebid » com estrondosa salva de
palmas e com férvidas demon.sirações de enlhusiasmo, da parle da mo-
cidade alli presente.
O |)rimeiro liecho de musica que Sá Noronha nos deixou ouvij-,
fii uma phantazia sobre motivos da opera a Tiaviala, o mais religio-
M) silencio reinava em ioda a caza e aquellas fu.las sentidas, vibran-
|i'S e re[)leclas d"uma suave melancolia, passivam pelos nossos ouvi-
dos como uma coisa nova e extraordinária, c-miío a revelação dum no-
vo m'Mrlo da arte, [lara nós coinplelauiente dest:onh*'CÍdo, pobres des-
84 ARGHIVO DOS AÇOHES
graçudui». (|ih* nn miisici pouco mais (•(HilieciauKis tJi» (jiu' inrici diizia
tJe l);ui;u's (jii.idi illia> ou qiiMtio e^tro|len(h^s valsas, vibradas rudeíneii-
le in) piano por alguma dislinvta ra/Voàrt, gloria dos nossos paclioircii-
los e lympliaticos professores de IJOO rs. por lição, (indo ás casas uma
vez pur semana)
Para a generalidade dos fayalenses, para a gente sedentária, pa-
ra os (jue nunca d"estes rochedos haviam sahido, aquillo. como ja di>-
se, era uma verdadeira revelação! . .
A' Traviala seguio. no encantado violino uma Murcha Militar, dt -
pois o Ikirnaval de Linboa, terminando o concerto, isto é o acoiupaidia-
menlo da r;ibeca por um piano, com mwdi valsas btirlcsias, ^cintillan-
tes de graça e desenvoltura.
A ovação ao exímio n);!e^tl■o íoi sincera e velienjenle, o tlieatr»»
parecia vir abaixo com ap[)la!iso>, todos desejavam a repetição (ie tão
btMTi pa>sada noit •.
O segundo concerto, a 14 de Maio, constou de uma Fantasia so-
bre motivos da opera Trocador, de mimo>issimo capiicho, com v;iiia-
ç(jes Ai ! JíSHs e do Carnacal de Lisboa.
O terceiro concerto, a 17 do mesmo mez, de uma fantasia .>obre
motivfjs da opera Traviata e da eucaiitadtua elegia Os Tristes d'fl P<'
ru, que causou profunda sensação e o mais viv(j enthiisiasmo em to-
dos os numerosos ouvintes, sendo este o tiecho de musica executado
pelo dislinclo mae>tro (|ue mais nos ariebatasse.
rinalmente a iá de Maio ainda houve um quaito concerto, de dc^-
pedida, composto do Ai! Jesus, de uma njazuika e também da repeti-
ção dos Tristes d'el Peru.
No dia Í4 Francisco de Sá Noronha deixava a cidade da Horta,
no vapor "Atlântico», dirigindo-se para Angra do Heroismo e indo pe-
nhoradissimo da bella recepção que tivera no Fayal, tanto da parte do
publico, como de diversos particulares, que o obzequiaram (juanto ao
seu alcance.
Aconjpanhou-o até a bordo do paquete uma banda de nuisica.
A idea do notável maestro era voUar aos Açores, no anno seguin-
te, coui uma companhia de canto, paia o que, de regresso ao conti-
nente, envidou mmtas diligencias em Lisboa e no Porto, sem que, não
obstante, p(jdesse realizar o seu intento.
A este artista, uma verdadeira gloria nacional, jamais sorrio be-
nevolamente a fortuna e de decepção em decepção, apesar do seu bri-
llianle mérito, como instrumentista e compositor vio-se alinal obrigado
a ir procurar a subsistência em terra estianha.
Em Janeiro de 1881 achava-se. havia já algum lem[)0. na capibd
do grande inipei io brazileiro; e a i23 desse mesmo mez, viclima da fe-
bre amarella e (juando a fortuna parecia emfim prolegel-o. andando
em scena o seu derradeiro trabalho, a opera cómica «\ Princesa dos
Cajueiros», fallecia, a[ioz de mniln rápido soíTrimento.
ARCHIVO DOS AÇORES 85
ConlHva então 58 annos de edade, pois iiascfTii em (Jiiiiiiarães
no anno de 18íá3.
Fouces homens, em Portugal, tiveratn maior jus ás grandes re-
<ompensas que n'outr(>s paizes se concedem aos previligiados talen-
tos, sendo lhe, porem, constantemente ingrata a pátria, tratando o co-
mo descaridosa maíhasta.
O miuioso author das operas «Arco de SantWnna);, «Rcatiiz de
Portugal^. 6 «Tagir», jamais logrou n'este paiz ver condignamente re-
munerado o seu trabalho, e, bem ao contrario d isto. foram essas e\-
cellentes composições nacionaes preteridas por algmnas frívolas ope-
retas france/.as, não raro somente notáveis pela desenvoltura de cos-
Imnes ([ue apresentavam em scena.
Assim, no que dizia respeito a proventos pecuniários, teve a mais
restricta mediania, quasi a pobreza.
Nola-se como um felicíssimo pensamento da sua sublime arte e
que por si só formaria a reputação de ipialquer compositor, a plirase
plangente e delicada dos «Tristes d el Peru».
O i'e[tortono de Sá Noronha era limitado, mas correctíssimo, re-
veland(t profundos conhecimentos musicaes, os mais valiosos segredíts
da nobre arte á qual, desde creança, se devotara com estremoso af-
fecto.
Olvidado e quasi desapercebido em Portugal, pobre, com a cabe-
ça prematuramente coberta de cans, cançado dum constante e mal re-
tribuído trabalho, tentara mais uma vez o dístíncto maestro voltar ao
Brazil, a terras americanas, na esperança de allí ganhar a subsistên-
cia.
O desenlace d isto foi o tpie já vimos e emquanto no thealro Phe-
nix Dramático era posta em scena, com grandes applausos, a sua re-
cente composição, lro|»eçava o author e cahia na cova aberta de uma
sepultura.
Km seguida á sua morte, a única pessoa de família que contava,
uma irmã edosa e pobre que residia no Porto, immersa na mais pro
funda dor quiz, apesar de fraca e abatida, ir em piedosa romagem
visitar a canqia do seu irmão, nas longínquas terras de Santa Cruz.
Conseguio o seu desígnio e ainda ponde, de joelhos sobre aquel-
les humildes palmos de terra, rogar ao Altíssimo pelo irmão que fôia
o seu imíco amparo e que sempre lhe havia dedicado a mais extrema
aflfeição.
De regresso, porem, á caza aonde estava hospedada, sentío-se
muito aíllícta e inconnnodada de saúde, constando em breve o seu
passamento, que foi sinceramente lamentado por (juantos a conhece-
ram.
AU is over I
A colónia portugueza existente no Rio de Janeiro, com a sua pro-
86 ARCHIVO DOS AÇORES
verbial gt-ncrosidade eíTeitiiou os fiineraos desl.i desventurada senlio-
rn. re[)t'tinili) ilesla furina o (jiie já havia leilu ao inspirado aiilhoi- da
"PrinCHsa dos Cajueiros», que continuava ainda em scena.
Em h»rtngal só em Ihi8o é (jne foi oiividu o canto do cysne do
|)ol)re Sá Nornnha.
A (tl)ra, porém, mais valiosa do maestro portugiiez. na opinião
de enlendedoies competentes, é a formosa partituia do -Arco de Sant'
Anna», musica d'iim Criracler heni portnguez e na qual o ntavioso vio-
linista nnio a sna individualidade ao interessante entrecho d"um nola-
vel trabalho lilterario do Visconde d"Almeida Garrett.
Acaljavamos de escrever esta rt^ferencia qnando, casu.dmente, de-
parámos ifuma correspondência do Rio de Janeiro, para um dos pri-
meiros jornacs do continente, com a seguinte Fioticia, que nos foi as-
saz grata:
«Os redactores do «Diário de Noticias», do Rio de Janeiro, inicia-
ram uma suhscripção [)ara o Hm d^' se perpetuar, de modo condigno,
a memoria do maestro portnguez Francisco de Sá Noronha. Adherin-
do a essa generosa iniciativa, a 'Gazeta Suburbana» organisou unj
concerto, cujo producto será applicado a tão nobre fim. O concerto se-
rá eflectuado no dia i3 de Novembro (188o) no salão do theatro do
São Pedro d" Alcântara B
Possam os autliores de tão formosa idéa realisar, n"a(}uelle ubér-
rimo paiz, este sen levintado propósito, é o que bem do curagão de-
sejamos, porquanto honrarão assim a nossa palri;i, bem como as cin-
zas d"um .seu di.slincti>simo filho.
l^^J^TiJ^X^ E FIIvdlElSrTEX.
(187i)
.Mais de meio .Necuio havia decorridit sem que o |)ovo fay.dense hou-
vi^sse sido visitado pelo respi'Ctivo Prelado diocesano, quando nos fins
do anno de 187 i, o ■ácluM Ris[)o annunciou com alguma antecipação a
sua visita a v<l;\ parle occidental dns ilha.-, sujeila á sua espiritual
a(]niinistrHrão.
Foi u[u:\ boa nov.i pai'a todos, rt cebiila a(|iii com alegria.
O Sr. I). João Maria, ^8 " Rispo d Angra, na.scido em Portugal,
na Villa de Oleiros, ;i ál de Junho de l8lo, bacli;irel joruiado em di-
nilo em I8'»í), chantre da Sé (^alhedral de Rragaiiíja em ISoO, sócio
provincial da Academia Real das Sciencias (]8ri7i, conmiendador da
AHCHIVO Dua AÇOHES 87
Ordem tiiililar dt; Nos.>(» Senhor Jesus í>liii>U», par do reino Ã-, L.ivia
sitio apresentada Bispo de Macau em I8()5, diocese, porém, aonde não
chegou a ir, sendo Uansferido para o Bispado dAngia dn Heroísmo a
28 dWbril de I87i e desembarcando na Terceira a ^1 dWgosto se-
guinte.
Na illia do Fayal esperava se a chegada de S. Ex.^ Rev.'"* no dia
23 d'Outubro e em consei^uencia d'isto, desde a véspera, uiu.i grande
parte da popuhi(;ão de toda a ilha havia alllnido á cidade da Horla,
bem como nniitos liabitanies da ilha do Bico, para presenciar o de^en)-
barcjue do seu Bispo.
O «Atlântico», porem, um dos vapores da carreira entre Lisboa
e Açores, demorou-se n'essa viagem mais do que liabilu-diuente e só
appareceu neste porto depois da meia noite de 2i para 2y dOulubro.
Um íegundo tiro de peça, alem do usual á chegada do paquete
era o signal antecedentemente combinado, se accaso viesse naquella
viageui o Reverendo Bispo e apenas foi ouvido em terra, apesar da ho-
ra adiantada da noite comegaram os sinos de todas as egrejas a repi-
car, milhares de foguetes a subirão ar. illuminaramse os ediliciíts pú-
blicos e muitas casas particulares e toda a coitina de mui"al!ias cpie
piotege esta povoação contra as inclemências do oceano. de>de o mon
te da Guia até ao forte da Lagoa, illuminou se vistosamente, forman-
do uma cinta de fogo de mais de dois kilonietros de extensão, a qual
reflectindo-se nas tranquillas aguas da baliia. porquanto a noite eslava
muito serena, apresentava uu) deslumbrante espectáculo.
As ruas da cidade encheram se immediatamente de povo, era um
alvoroço geral.
O vapor foi visitado a essa mesma hora. indo a authoridade ('ecle-
siástica. Reverendo Ouvidor José Leal Furtado e diversos sacerdotes
comprimenlar S. Ex.^ Reverendissima, que a todos recebeu benevola-
mente, subindo alguns instantes ao convez, para gozar d»» magnifico
eííeilo das illuminações.
O Reverendo Bispo designou as \ú horas do dia seguinte para o
seu solemne desend)an|ue e a noticia da sua chegada n'esía mesma
noite, correndo com iucrivel rapidez, chegou a todas as povoações ru-
raes da ilha, afíluindo em seguida Uiilhaivs de camponezes á cidade,
desde que raiou a madrugada, bem como muitas embarcações com pas
sageiros vindas da ilha do Pico.
Nas ruas mais próximas do cães era quasi impossivel o transito.
Pouco depois das 9 lioras da manhã, o Conselheiro Governador
Civil do Districto, Commandante da Sub divisão militar. Secretario ge-
ral. Director dalfandega. Chefe fiscal e Capitando poih». Guarda mór
da saúde. Ouvidor ecciesiastico, collegiada da Matriz e muitos sacer-
dotes, tanto da Horta, como das freguezias riiraes. dirigiram se abor-
do para cumprimentar o Reverendo Bispo e aionq)anhal o [tara lerra.
A philartnonica «Artistas», foi n (mi escaler até junto do vapor,
88 ARCHIVO DOS AÇOKES
locando alli diversos treclios de musica, os numerosos navios que es-
tavam fundeados na baliia embaudeiraram-se todo,'' e grande nnmero
de lanchas, tanto desta cidade, como da Prava do Almoxarife, enra-
madas e tand>em com bandeiras foram collocar-se, em alas, nas pro-
ximidades do «Atlântico», apresentando niiia esplendida prespectiva,
tanto m;iis (pie o dia estava sereno, magnifico.
As 1 1 horas, approximadamente, S. Ex.^ Heverendissima deixou
o vapor, e os escaleres remaram na direcção do cães, aconjpanhados
pela musica, locando festivos hymnos.
(juando o Si'. Bispo punha pé em terra, o castello de Santa Cruz
içou a bandeira nacional, dando uma salva de vinte e um tiros, e a
phylarmonica «Nova Lyra» i^ue no cães o aguardava, rompeu também
com e>tridulos toques.
Aguai dava, egualmente o Reverendo Bispo, toda a força militar,
disponivi^l, bem como, em alas, as ordens terceiras e diversas irman-
dades, desde o cães até a um pavilhão levantado em frente da esqui-
na supeiior do castello.
O Sr. bispo dirigio se para alli, precedido dos sacerdotes e segui-
do das autlioridades e funccionarios públicos da localidade, serviudo-
Ihe de caudatário o commandante da sub divisão militar.
Perto do pavilhão sahio-lhe ao encontn» a Camará Municipal da
llortH, em traje de gala e com a bandeira do nmnicipio, dirigindo o seu
presidente ao illu>tre recem-chegado uma breve allocução, á (piai S.
K\^ Kevereudissima respondeu reconhecido.
Entrado no pavilhão beijou o Crucifixo (pie lhe apresentou o Ou-
vidor Ecclesiastico e alli aguard(ju, sentado, durante algum tempo,
até que o préstito se organisasse.
Isto é que, então, se lornou (jiiasi impossível, por(juanlo o po-
vo na sua anciã de se approximar do Reverendo Prelado, invadia tudo,
n'uma couípacta onda, respeitoso, mas não cedendo um palmo de ter-
reno a quem (luer que fosse.
Ainda assim os Procuradores á Junta Geral do Dislricto sempre
eonsegniiam abrir o pallio, sob o (jual devia caminhar o Prelado, as
authoridades furaram, como poderam alé junto de S. Ex.* Reveren-
dissima, os padres, funccionarios públicos e outras pessoas convida-
das paia a recepção marinharam até jundo do pavilhão, olTeganles e
apertados e aCmal a comitiva poz-se em andamento, mas em muita
confusão, até á egreja de São Erancisco, a primeira (pie ficava no ca-
minho e na tpial o Sr. Bispo devia entrar a fazer oração.
Haviam acompanhado S. Ex." Rev."'" vindos de Angra do Herois-
1110, os Srs. pregador régio, Reverendo João d Aguiar Valladão, o Re-
verendo vigário João Laureano da Rocha, o Reverendo vice vigari*)
Erancisco de Salles de Souza e bem assim o Snr. Manuel Bazilio Coe
lho Rocha.
ARCIllVO DOS AÇORES 89
O secretario do Sr. Bispo, nesta visita, era o Reverendo Padre
M.uiiiel Maria da Costa, da ilha Teireira.
(Chegados ao templo de S. Francisco, depois dos cânticos do es-
lillo e do illll^lre Prelado haver feito oração no altar nnór, S. Ex.^
Rev.'"^ revestio-se com as suas vestes episcopaes,organisando se então,
convenientemente, o préstito, pela seguinte ordem: —irmandades, sa-
cerdotes, o Prelado, debaixo do pallio, tendo por caudatário a autho-
lidade militar, Conselheiro (loveinador Civil e seu secretario, admi-
nistrador d(j Conceilio, Camará Municipal, funccioiiarios públicos e con-
vidados, as duas phylarmonicas «Artistas» e «Nova Lyra».
O transito tornou-se dilficilimo nas ruas, tal era a aggiomeração
de povo, as janellas estavam apinhadas de espectadores e na entrada
da Matriz, o nosso principal templo e para aonde o préstito se dirigia
deu se de novo a confusão e borborinho dum grande e irrequieto a-
jnntauíento popular.
Na egreja Matriz repetiram-se então as orações próprias de tão
solemne occasião, celebrando S. Ex.'' Rev.'"*a missa conventual e dan-
do em seguida a beijar o anel aos sacerdotes, aulhoridades e ordens
terceiras.
Dalli, S. Ex.* Rev.™^ não quiz ir de Irem, mas sim a pé, até á mora-
dia que lhe estava destinada na rua de S. João e pertencente ao abasta-
do padre, o Revd." Manuel José das Neves< sendo ainda acompanha-
do pelas aulhoridades, sacerdotes e varias pessoas de distincção.
Em frente dessa casa, quando o Revd." Bispo alli chngou, com
este acompanhamento e seguido também da phylarmonica «Nova Ly-
ra», já estava postada uma força militar de caçadores, que fez as hon-
ras devidas á sua elevada cathegoria.
Estabelecido o Prelado n"e>ta cidade começou em breve a sua vi-
sita pastoral ás diversas parochias da ilha, escolas e estabelecimentos
de caridade, sendo, invariavelmente, por toda a parte recebido com vi-
vidas demonstrações de respeito, com embandeiramentos, illuminações
e vários testemunhos de publico regosijo.
De 25 dOutubro de 1874 a i de Fevereiro de 187o, S. Ex.^ Rev.'"'*
visitou todas as freguezias do Fayal, com excepção da parochia de Nos-
sa Senhora das Angustias, na Horta, passando naquella ultima data á
ilha do Pico, a começar pela freguezia de São Matheus, aonde no mes-
mo trabalho e com luzidas recepções se domorou até 18 dAbril .se-
guinte, faltando-lhe apenas visitar, por incommodo de saúde, a Villa de
São Roque e as freguezias de Santo António e Santa Luzia.
Regressando á ilha do Fayal, effeituou, então, a sua visita á paro
chia das Angustias nos dias 17, li), 20 e 21 de Março e preparava-se
para seguir viagem para as ilhas das Flores e Corvo, nas quaes já ha
via mandado annunciar a sua visita, quando peiorou a sua já muito
vacillante saúde, ficando n'mn estado de grande abatimento e proslia-
ção.
N." 43— Vol. VIU— 1886. 12
90 ARCHIVO DOS AÇORES
N'eslíJbi circumstancias deliberou a iminediata partida para a sede
da diocese, o que ainda assim poude ter logar no vapor, «Atlântico»,
a 26 de Maio seguinte.
O embaíque do Sr. Bispo foi concorridissimo, comparecendo no
cães da Horta, para receber a derradeira benção do seu Pastor, qua-
si todo o clero da ilha, autlioridades, vários cavalheiros de distincção
e immenso povo.
Acompanharan» S. Ex.-' Rev.""^ até Angra do Heioismo, os Reve-
rendos Srs. Padres José Leal Fuitado, Ouvidor Ecciesiastico o Vigário
da egreja Matriz, o Pregador Régio Felisberto Augusto Vieira do Bem
e José liloniz Barreto, cura da freguezia de São Matíieus do Pico.
O Reverendo Bispo d'esta diocese teve opportunidade, estancos
persuadidos, de apreciar no Districto da Horta, uma população res-
peitosa e crente e bem assim, diga-se em abono da verdade, um cle-
ro illustrado que gosa, merecidamente, da publica consideração.
No anuo seguinte, no dia Í4 de Maio de 1876, com destino ás
ilhas das Flores e Corvo esteve S. Ex.** Reverendíssima de passagem
nesta ilha, hospedado na sua anterior residência e seguindo o seu des-
tino no dia immediato, pelas Ires horas da tarde.
No dia 24 chegou á Villa de Santa Cruz, das Flores, e na visita
a toda a ilha se demorou até ao dia 8 de Jidho, no qual da freguezia
da Fajã Grande embarcou para a remota ilha do Ci>rvo, expondo-se
aos perigos que, em pequenas embarcações, sempre offerece aquelle
arriscado canal.
Regressou á ilha das Flores, freguezia de Ponta Delgada, no dia
13 do mesmo mez e d'alli para Santa Cruz, no dia 19, aonde perma-
neceu até ao dia 25, em que seguio, no paquete, com escala pelo Fav-
al, para a sede da diocese. No regresso desta viagem, foi hospedad(»
ua Cidade da Horta, pelo Commendador Manuel José de Seqiuira.
Uma das atlenções que na Ilha das Flores, em Santa Ouz, mais
penhorou S. Ex.^ Rev."*^ foi ao terminar o dia 21 de Julho, seu au-
niversario nalalicio, ir procural-o, inesperadamente, em corporação, a
Camará Municipal, de que era Presidente o Sr. Domingos Ribeiro de
Carvalho, rogando ao Prelado a sua comparência a um Te-Deum que
na egreja Matriz ia ser celebrado por tão fausta occorrencia.
Annuindo S. Ex.^ a semelhante desejo, aguardava-o na rua im-
menso povo e bem assim a phviarmonica da Villa.
A frontaria do templo para aonde se dirigiram estava vistosamen-
te illuminada e o seu interior ornamentado com pompa, tendo diver-
sos dislicos allusivos às principaes epochas da vida de tão elevado vi-
sitante.
S. Ex.* Rev."'*' subio por essa occasião ao altar e quando findou
aquelle solemne acto religioso, a phylaimonica florentina percorreu as
ruas de Santa Cruz, havendo muitas demonstrações de [jublico rego-
sijo n'aquella terra essencialmente hospitaleira.
ARCHIVO DOS AÇOKES 01
O ^v^ISCOnSTIDE IDE C.A.STIIL.IÍO
(1877)
A 24 (Jl' Novembro d'esle anno. no vapor «Neptuno», chegava
inesperadamente, á ilha do Fayal, nomeado Governador (>ivil doIJis-
Iricto da Hjrta o Snr. Visconde de Castilho (Jnlio), vindo snbstitnir
o Sr Conselheiro António José Vieira de Santa Rita, exonerado por De-
creto de 1 1 dOiitubro antecedente do cargo qne exercia desde IG de
Dezembro de 1857.
A demissão do Conselheiro Santa Rita, qne no longo período de
vinte annos viamos á frente d este Districto, causou aqui pr.ifunda sen-
sação, aonde S. E.x.^ contava numerosos amigos, aonde havia encane-
cido no serviço pubhco, revelando sempre os dotes dum funccionario
honrado e de não trivial illustração na gerência dos negócios que lhe e-
ram confiados.
Não foram, pois, auspiciosas as condições espi ciaes em que o go-
verno de Sua Magestade, presidido pelo nobre Duque d'Avila, e que
ha pouco acabava de subir ao poder, nomeara o Visconde de Castilho,
para semelhante commissão nos Açores, tant ) mais que era este o pri-
meiri) cargo administrativo que elle ia servir e quando tinha por ante-
cessor um cavalheiro a quem os seus próprios inimigos políticos não
negavam incontestável competência para tão elevado cargo.
No dia immedialo á sua chegada (25 de Novembro) tomava pos-
se o novo Governador Civil, tratando com a máxima consideração e
deflerencia o seu edoso collega e demonstrando, des(ie logo, os mais
sinceros desejos de administrar com acerto este Districto.
E, eftectivamente, desde essa occasião mn incessante lidar a bem
dos interesses das quatro ilhas que lhe haviam sido confiadas, assi-
gnalou a estada nestas paragens do illustrado Governador Civil Cas-
tilho. Se a sua nimia delicadesa a todos caplivava. não menos o cerca-
va de respeito a publica consideiagão, quando os seus administrados
viam a primeira authoridade desta ilha promover, por todos os meios
ao seu alcance, o seu desenvolvimento tanto material, como intelle-
ctual,
O Conselheiro Santa Rita encontrava no recem-chegado. ao qual
entregara o poder, um amigo dedicado e aíTectuoso, e as nomeações
que havia feito, da confiança exclusiva da authoridade, foram respei-
tadas, dando assim o Visconde de Castilho um publico testemunho de
tolerância e sensatez politica.
A momentosa questão do atrazo da instrucção primaria n'este dis-
tricto chamou, immediatamente, todo u cuidado do novo Governador
Civil e n'uma substanciosa circular aos administradores de Concelho,
e publicada, tauíbein. n.i imprensa periódica, expunha bem claramen-
92 ARCHIVO DOS AÇORES
te qaaes as suas idéas a semelhante respeito e os ardentes desejos de
que se aclinva animado de melhorar as precárias condições em que
n'aqnella epocha, como actualmente, ainda nos achávamos em Uidu (»
que dizia respeito á inslrucçãu popular.
E seja nos permittida aqui a transcripção de alguns hreves excer-
ptos d'esse honrosissimo documento, que é leitura para todos aprovei-
tável:
«III.'"" Snr.— Venho pedir a V. S.^ que chame com urgência a at-
tenção dos Reverendos Parochos para o importantíssimo assumpto da
instrucçãn popular. Elles podem muito nas povoações. A iníluencia de
que dispõe pela palavra e pelo sagrado caracter do seu ujinisterio, a
sua sciencia e as suas virtudes, é indispensável aproveital-as em la
vor do povo, convidando-os a evangelisarem quanto possam o amor ás
letras, e a propagarem, pelos modos directos e indirectos, a genera-
lisação da instrucção primaria.
«E' banalidade apresentar as vantagens da instrucção dos felizes
que a possuem: mas é nrgentissimo preconisal as sob todas as formas
da persuasão opportuna e importuna aos desherdados da sorte, as po-
pulações analphabetas. Cumpramos todos esse dever.
«Os pães lem uma responsabilidade tremenda no futuro bom ou
mau dos seus filhos. Preparar-lh'o tão bom quanto poderem é o seu
dever principal, e dar-lhes a instrucção é o primeiro passo no cumpri-
mento desse dever.
«Que significa aproveitarem-se de qualqner pretexto para deixa-
rem de mandar á escola os filhos? significa, em ultima analyse. negli-
gencia pela felicidade d'aqnelles innocentes, que a Piovidencia Divina
lhes concedeu como companheiros, pupillos e representantes: e essa
negligencia é crime diante de Deus e crime diante dos homens.
«Lembremo-nos de que nas populações ruraes d'este Districto ha
uma tendência reconhecida para a emigração; tendência que é impos-
sível (e talvez inconveniente) reprimir de todo. Ora se o nivel da in-
strucção subir, já os meios de grangear a vida não hãode escassear
tanto, porque ha de dar-se uma de duas coisas: ou os pobres não e-
migram e a instrucção elementar que possuírem os habilitará para ob-
terem nas nossas ilhas os meios com que melhorem de fortuna: ou e-
migram, e a mesma instrucção os habilitará para muito rnais favorá-
veis collocações commerciaes ou agrícolas nas terras forasteiras.»
Não será esta doutrina applicavel a todas as ilhas d'este archipe
lago?
Não se limitava, porem a isto somente o afàn do Visconde de Cas-
tilho pelo ensino publico, visitava amiudadas vezes, tanto as escolas pu-
ARCHIVO DOS AÇORES 93
blicas, como as [larticulares e nas ()rimeiras estabelecia prémios jids
aliimnos que mais se distinguissem.
No palácio da sua residência creou lambem uma escola de adul-
tos, poi- elle próprio leccionada, retribuindo generosamente, do ^en
bolsinlK», os homens cjne á mesma concorriam, pela maior |»arte tra-
balhadores da doca, alguns d'aqui mesmo, outros da ilha de São Mi-
guel.
E' indubitável que a sabia administração do Visconde de Castilho
insuflava uma nova vida no Districto a i^en cargo, a contento de todos
<■ tendo por orientação elevados e nobres sentimentos.
Todas as classes da nossa pequena sociedade fazian» a devida jus-
tiça ás salutares intenções que animavam a sua primeira aulhoridade
administrativa.
Alem d'isto a maneira respeitosa e a magoa profunda (jiie de-
monstrou por occasião do fallecimento, 21 de Dezembro de 1877, do
Sr. Conselheiro Santa Rita, fazendo, em termos sentidissimos, á bei-
ra da sepidtura do mesmo o elogio daquelle respeitável ancião, ca
ptou-lhe numerosas sympalhias dos amigos políticos ou particulares
de um cavalheiro que nesta localidade residira por laigfts aniios e que
deixava honrada memoria.
Por estes tempos, porém, occorriam no continente novas mudan-
ças ministeriaes, sahira do poder o nobre Duque d Ávila, imperava
uma politica ditferente e por infeliz Decr^itõ era exonerado da comniis-
são que tão dignamente exercia no Districto da Horta, o Visconde de
Castilt)0.
Semelhante noticia foi aqui, geralmente, mal recebida.
O Visconde de Castilho seguio immediatamenle para Lisboa, no
mesmo paquete em que lhe viera a demissão, deixando na im[»rensa
periódica uma saudosa despedida aos habitantes deste Districto, que
todos lhe eram sinceramente aíTeiçoados.
A sua permanência na Horta foi desde 24 dOutubro de 1877 a
9 de Fevereiro de 1878.
Alem da aptidão e notáveis qualidades do caracter olficial do de-
missionado, o nome litterario de .Júlio de Castilho já era vantajosamente
conhecido pelos estudiosos e amantes d'uma leitura sã e amena como a
que se encontra nas paginas do seu livro O Eremitério e n'outras diver-
sas e apreciáveis composições do mesmo author, aureolado pelo talen-
to que circumda a distinctissima familia que teve a ventura de pos
suir por chefe esse cego venerando, que será sempre uma das nossas
glorias nacionaes— António Feliciano de Castilho.
O povo ainda hoje diz que o Governador Civil de que tratâiHos
veio a esta ilha por engano.
04 ARCHIVO DOS AÇOBES
(1883)
Já vae longo o segundo volume «1 eslas pobres Notas Açorianas,
t' o paciente leilor está desejando, assim como nós, mais variado as-
sumpto.
Temos, porem, estado em bôa cíunpanhia e vallia-nos, ao menos
isso.
Terminaremos, pois, não com chave de oiro, mas sim com uma
liindade principesca.
Assim, temos ainda a registar o seguinte:
A bordo da corveta americana «Trenton», procedente de Nevv-
York cliegi)u á bahia da Horta a 17 de De/.embro de 1883, o Príncipe
Miiiyou J-k, o qual estmíra em Washington, na qualidade de ministro
da (^)réa, e que recolhia então para o seu longínquo paíz, ao norte da
(]|]ina.
Acompanhavam o Príncipe mn secretario e interprete, sendo Miuyou
.I-k o primeiro embaixador que a Coréa mandara ás nações estrangei-'
ras havendo celebrado esta personagem um ti-atado de commercio com
os Estados Unidos da America.
O Príncipe, vestido com os trajos do seu paíz, desembarcou na
cidade da Horta, indo jantar a caza do cônsul americano, o Sr. Samuel
W. Dabney, visitando a egreja do (]armo e dando um pequeno pas-
seio pela cidade.
Era homem ilhistrado e muito amigo (Jos comínettímentos do pro-
gresso, que encarecia amiudadas vezes.
Decorriílo algum tempo depois da sua e^lada na Horta, lemos nos
jornaes estrangeiros que em conseqiiencia de uma revolta do partido
retrogrado do seu paíz, o Príncipe Mmyou J-k havia sido barbaramen-
te assassinado, conjunclan}ente com a numerosa facção politica que ii»-
tentava implantar na Coréa alguns modernos tentames civilísadores.
Pa/, á sua memoria.
AKCHIVO DOS AÇOKES 95
(1884)
A 8 de Fevereiro de 1884 fundeava tamhem net^te porlo a cor-
veta allemã «Olga», procedente das Bermudas, fazendo parte da sua
guarnição o Príncipe Henrifjue, da Allenianha, filho segundo do Prin-
cipe herdeiro daquella nação e neto do Imperador Guilherme e da
({ainha Victoria.
Trocadas as salvas do esiyilo, S. A. R. foi cumprimentado pelas
íiuthoridades fayalenses e por diversos cônsules, que todos embandei-
raram as suas residências.
O Piincipe Henrique veio a terra amiudadas vezes e no dia 10 a-
companhado do cônsul allemão, o Sr. Herbert Dabnry e de alguns of-
ficiaes de marinha, da «Olga», visitou a encantadora Caldeira d'esta
ilha, admirando muito a esplendida prespectiva que das cumieiras da
mesma se gosa.
A «Olga», depois de refrescar e tomar carvão, sahio deste porto
no dia 15 de Fevereiro.
(1885)
O Príncipe de Mónaco esteve, egualmente, no Fayal, no dia \o de
Fevereiro de 1885, abordo da escuna monagestica «Hirondelle», de
que é proprietário. A sua [irocedencía era de Lorient, em 1 1 dias de
viagem.
Já era aqui conhecido este personagem, porquanto em 1879, em
viagem de recreio, aportara à bahia da Horta, naquella mesma ele-
gante embarcação, mas então com apparelho de hiate.
O motivo da segunda viagem do Príncipe de Mónaco a estas pa-
ragens, tinha d'esta vez, um desígnio utilitário e scientifico. qual o de
indagar as direcções, das correntes do gtilf atream, tarefa esta a que
se entregava com verdadeira dedicação, lançando n'estes mares mui-
tos fluctuadores, que mais tarde tem sido encontrados e remeltidos ao
governo francez, segundo as indicações nos mesmos consignad<»s, in-
dicando os remettentes a latitude em que foram encontrados.
96 ABCHIVO DOS AÇORES
Islo, melhor ih <\ue o seu pequeno Estado, notável principalmeu-
le, por ser um poulo de reunião paia jogadores, rivalisandoo Casino
C(tm Spa ou Baden-Baden, fará seguramente á(|uelle Príncipe uma b()a
reputação nas nações da Europa.
E" possivel qu*í. pela malha, deixássemos passar desapercebida a
visita de algum homem notável à ilha do Fayal, registamos, porém, o
nome de lodos aquelles de que tivemos noticia, e isto até, por vezes,
com ceita prolyx idade.
Ainda assim, mesmo que se dè semelhante facto, ficaremos sa-
tisfeitos, pois é conveniente deixar sempre algum trabalho para quem
nos succeder, acrescendo ainda que Napoleão I.** recommendava aos
seus subordinados: Pas trop de zele, Mr. le Perfect.
Na ilha do Pico, para nos servirmos d'uma comparação açoriana,
ha rabiscos de vinha que dão quasi uma segunda colheita, quando ff-
feituados por gente esperta, d olho vivo.
E' o que desejamos também que nos aconteça neste campo, aon-
de, (jual (jbscuro trabalhador, temos apenas cultivado algumas infesa-
das plantas, creadas entre informes calháos e valentes silvados.
COLLECÇAO ])E DOCUMENTOS
RELATIVOS
As ILHAS DOS AÇORES
(Continuado do Vol. Vil, pag 326.)
Alvará para dar 131^073 rs. a João Serrão, dos Açores,
importância de certa fazenda que lhe fora tomada na
índia; Abril de 1516.
l)i»m iMaiiiiell, por graça de De.os rey de Porlugall e dos Algarves
il;i(|iiem e úãlem mar em Africa senhor de Guiné e etc. a vos Gnomça-
U) Lopes ú'ds iWrds ão& d cores (deste presente aiUíO) úe
h e xb (lõlô), des a Joatn Serão cemto e trimta e
liiini inill e setemta e três reaes que lhe são devidos em parte dos b^xxxbij
\\\iij {537078) rs que lhe o vissorrey na Inidia to-
iiiiiH depois foy julgada per ssenímça
ii;i (|iial iiiomtou os ditos WxxxMj locxiij ÕS7S073) rs. . . porque
os mais que falecem leva áesemhargados em outras partes, e hum no-
so alvará que tinha dello per que lhe foram despachados foi roto ao a-
synar deste e vos fazelhe delles bom pagamento sen-
do primeiro Ctírtificado por certidam do escrivam do feito domde a di-
ta semtemça sa/o de qao^fica posta verba nele que ouve pagnamento
deles em vosa mão, e com e seu conhecimento vos se-
rão levados em comta. Feito em . . aos . . . dias dabrill. El
rey o mandou per Dom Pedro de Castro do seu conselho e veedor de
sua fazemda. Manuell de Moura o fez, ano de y h ibj {lõl6) annos.
Dom Pedro de Castro.
Cxxxj Ixxiij ílSlé>073) reaes a Joham Sserrão na Ilha dos açores
isic) em parte dos b'^xx\bij Ixxiij [Õ37S073) reaes que lhe sam devi-
dos e ouve per semtemça de certa fazemda que lhe na Imdia foi t(j-
mada por ipie os mais leva em outras partes.
N." íi — Vol. VIII - 1886. I
98 ARCHIVO DOS AÇORES
Recebeu Joam Saram de Gomealo Lopez os cemlo e Irimta e Iíiih!
mill selemta e três rreaes cunllieiídos neste desembargo dos quaes lhe
deii este eonliecimento per mim escrivam e asinado per ambos a xx
{20} dias de março de b^xbij (Í5i7). =NunoMascarenhas=Joliam Ser
ram.
No verso
Lançado, Perv da Fonseca.
Rodericus.
Fyqiia posta verba no fnyto do:nde sayo esta semtemça de (pie
faz mençam este desembargo de como passou este pêra Gonçalo Lo-
pez ele. e en Tomé da Mota se[)rivam a pus ojV dez de dezembro
de y b xb iíõlò) anos. Tomé da Mola; de cento tiimta e hum mill
e setenta e três reaes. Tomé da Mota.
Registado — Afonso Figueira.
(Arch. nac. da T. do T.. Fragmentos.)
As datas d 'estes dociimeiítos não parecem exactas.
Despesa da cevada da Rainha nossa snra comprada nos
Açores; 1 d outubro de 154:5.
II. Comprou Jerónimo Pachequo feytor deli Rey noso snor em es-
tas ylhas dos açores a Amtonio Nunez mercador morador em vila Nti
\a de Portimão coremla moios de cevada a [)reço de mill e quinhem-
los e sesemla reaes bo moyo em que momtou sesemta e dous mill e
quatro cemtos reaes hos quaes coremta movos vyeram da vil ia r.i;i-
ciosa e ífnrão no navyo de Dominguos donçalvez morador na yllia Ter-
ceyra bí\i luf {62^400).
It. Paguo o dito feytor ao dito mercador de carretos da dita ce-
vada e custos que com ela tinha fpylos. a saber: esteiras, tramqua.
e ystiba e avallyas do navio em (jue ha tinha caregunda por lha asy to-
mar caregada três mill e oyto cemtos reaes— íí] biij'. iJJòSOih
It. Comprou mais ho dito feitor sesemta e cimquo moyos e cint-
quoenía alijueires de cevada a (íracia Gonçalvez e Doniz Alvarez mo-
radores na yllia Terceira a preço de mill e (piinhentos reaes o moyo
em que montãn novemta e oyto mil e sele cemios reaes' os (piaes se
semta e cynupKt moyos e cymipioemla alipieires forão n<t navyo S.im-
ta Cruz de que era mestre Rastião Fernamdpz Matozo, morador em
Aveiro— ÍFEíi] bi.j^ {98^700)
It. Pagou o dito feytor ao dilo mestre de seu meo frete damte-
mão dez mil e sele cemios e rymte e cimquo reaes ipu' se lhe mom-
ARCHIVO DOS AÇORES 99
lon aver a rpzão de seis ceiíitos e ciinqiioeiUa reaes |)or tonelada — x
hij xxb. [10fi>72ò)
Jt. 1'agijoii mais o dilu feylor a(j dilo ruestie de suas avalias seis
fcmtos e sesenila reaes a rezão de vyinte reaes por tonelada— jjj' In.
( WO)
It. Pa»n(jii mais o dilo fi.-itor de duas caradas de tramqna e esti-
ba e asy de cíjremla e cimqiio esteiras que comprou a vymte reaes
por esteira e liuu alqueire com que se médio a dita cevada que o di-
to mestre com syguo leva pêra a entreguar por ele que custou sesem-
ta reaes em que se momtou ao todo mill e ceuilo e sesemta reaes
7 c"^ Ix. {U160)
II. Pagiiou mais de careto da dita cevada dos graneis ao porto e
dailugueres de sacos a trimta reaes por moyo em que montou ao to-
do mil e novecemtos e oitemla reaes — J ix*- Ixxx. (i)!5í^8C>)
It. Couíprou João de Bellas e Gonçalo Diaz n"esta ylha de Sami-
giiel a diversas pesoas oytemta e oylo moyos e vimte e três alqueires
de cevada com lios quaes fizeram de custos, a saber: compra, care-
tos, tramqua, estyba e esteiras e avallias do navio cemto e trimta e
sete mill e oyto cemtos reaes e tamtos Uie levou em comta o dito fei-
tor dos dinheiros que lhe mamdou da Ilha Tenreira omde estava fa-
zemdo seu negocio e íorão hos ditos oytemta e oyto moyos e vimte e
três all(|ueires de cevada no navio Comseyção de que he mestre Joam
dos Samtos morador em Aveiro — c'°xxxbij biij^ il37Í!>800)
It. comprou mais o dito feitor em esta Ilha de Samiguel a Afomso
de Matos e a Francisco Perez moradores na Pomta Dellgada vymte e
três moyos e coremta e sete allqueires de cevada a preço de mill e
seis cemtos reaes o moyo em que momtão trimta e oyto mill reaes os
(juoais vymte e três moyos e rbij {47) alqueires que leva Gomçalo
Diax no navio em que ora vay o qual veo fretado da casa de Ceuta pê-
ra el Rey noso senhor e ho mestre dele se chama Jorge Afomso mo-
rador n'Atouguia xxxbiij rs. (38^000)
It. Paguou o dito feitor de careto dos ditos vymte e três moyos
de cevada e coremta e sete allqueyres a rezão de coremta reaes por
moyo com allugueres de sacos em que momtou ao todo nove cemtos
e sesemta reaes — ix'lx. (960)
It. Paguou mais o dito feitor de tramqua, estiba e esteiras, a sa-
ber: de vimte esteiras a vimte reaes cada hua e de duas caradas de
trauKjua e estiba duzentos reaes, que são ao lodo seis cemtos reaes,
e o frete e avallias deste navio se amde paguar a Johão Roiz de Se-
queyra tesoureiro mór da casa de Ceuta a rezão de sele cemtos e vym-
te reaes por tonelada por que elle o fretou pello dito preço pêra ell
Rey nosso senhor— bj*^. (600)
As quoais despesos o dito feitor fez per amte mim Ballt«^zar de Zu-
rara scripvão de seu carego asy e pella maneira que atras estam decla-
radas (' per amte o dito Gomçalo Diaz e por todo pasar na verdade a-
100 ABCHIVO DOS AÇORES
siiiamos esle r»)l delas na Pomta Dellgada da yllia de Sainiguel ao pri
líieiro dia dmitnbro de 1545 aiios em o qiiuall se muiiitdU ao tudo com
tjiioatro alkjLieires cjue custarão duzentos e corenta reaes de que ficãn
por pôr nas despezas atraz, Ires que custarão cemlo e oylenta reaes
que com tndo soma ao todo esta conta trezentos e cimíjuoenta e seis
mill e novecentos e sesemta ecimijuo Cf»M] estes cemto e nyteinta reaes
acima — ijj^Jbj ix*" Ixb. {3õ6'ii>9ò'ô)
Jerónimo Pacheco — Balltesar d'Azurara=Joam Dia: dr Carral/m.
Sam ij' xbiij (218) moyos o qne se compraram.
Está emtregue na cevadaria 19 i moios 48 alqoçires ••
•à>y fica felecendo da que se compruu !:23 moyos e xij (12
alqueires.
Hegistado, Amtonio de Sampayo.
íArch. imc. da T. do T., Corp. Chroii. Pari. 1^ moç. !j9—74.
Carta do Corregedor o Dr. Luiz da Guarda a el-rei; 6 de
Julho de 1551. (Conflicto com o Ouvidor)
Seniior=0 amio pasado escrevi a V. A. como o ouvidor doca[)itã(i
de São Miguel mandara aos Juizes da dita Ilha que me não obedeces-
sem nem compri>sem meus mandados e diso mandei ;iMtos a V. A.
que foraii) enlicgnes ao doctor Joam de liairros escrivão da Camaia
e que eu não iria a dita lllia pêra niso prover (lorque não podia lá em-
trar .-^e não em Janeiro, Fevereiro, Man;o e Abril conforme a do.ição dn
capitão e pci' se escusarem deferenças (Om o dito ouvidor de que se
podia seguir puuqiio serviço de Deos e de V.A. e inquietação do po-
vo pedia a V. A. mandasse ver os ditos autos e me mandasse o (|ue
niso fizesse e até aguora nuraqua vi despaclio delles eu não pude liii'
a dita Ilha este anno no tempo que la [)odia entrar por soceder este
inverno passado hir as lllias de baixo fazer correição e andar la alé
Páscoa; e V. A. me escreveo (jue soubesse se se diziam em todas es-
tas Ilhas as nossas do Infante Dom Anriíjue conforme a seu te>tamen-
to e se se pagava aos capellães e que as Ilhas a (pi»> eu não podessc
hir pasase caitas pêra os ouvidores e Juizes pêra fazerem a dita deli-
gencia e (jue ma mandassem pêra a eu mandar ao doctor Joam Mon-
teiro coin a (jue fizesse: eu mandei pasar cartas pêra o ouvidor e Juize'>
da dita Ilha de São Miguel pêra fazerem a dita deligencia mandando
lhe que a fizessem com o treslado da carta de V. A. e por me não
mandarem reposta tornei a pasar outra carta pêra os dilos Juizes qur
ARCHIVO DOS AÇORKS 101
me mítndassem a dita deligeiícia sse a tinhão Icila c s.-c não (|iit' ,■■ li
zesspiii ou notefic-assem ao ouvidor (|iie se a tiulia feita (juc uia man-
dasse i'es[)onderauime c|ue o ouvidor a fizera e (jiie a tinha mandada
ao Reino e indo o lahallião que fez a dita notifÍ!|ua(;ão aos Jiiizi^s note-
fiijunt ao ouvidor a dita uiinlia carta respondeo ijiie me não obilecia e
fliandou aos Juizes que me não obedecessem como V. A. pode ver por
o treslado do seu despacho que com esta invio a Y. A. crea (pie eu
não posso hir a dita Ilha se não uo leuq)o que dito tenho quiz fazer
sabei' a V. A. o que pasava pêra que mande o que for seu serviço
porijue não vindo recado de V. A. e indo eu a São Migel eide proce-
der contra o ouvidor e Juizes como me parecer justiça [tello (|ue V. A.
pode mandar ver os autos que e^í^tão em [)oder de Joam de líairros i*
ujandarme o que faça.
Ó derradeiro dia do uicz de juidio chegou a(j [)(ti1(t desta cidade o
g;deam da aimada euiqne vem por ca{)dão l^rancisco do (^anto hllio de
í^edreaues do Cauto e a caravella dos recados loguo Pedreanes tomou
bua nao e huu navio que estavam no porto e os mandou com muita
deligencia concertar pêra hu'em com o dito galeam a [laragem do Cor-
vo aguardar as nãos da índia couio foiem a|)arelha(i(is ijue será nuii-
to prestes segumdo a pressa e deligencia (pie Pedr* anes niso põem
ioguo se fará á vella com a ajuda de nosso Senhor e [)razera a Ueos
que traia as nãos da Indea a salvamento e hiram todas ao Reino. Nos-
so Senhor acrecente a V. A. seu Real estado com muitos annos de vi-
da e muita saúde: oje seis de JulJio de 1351 anuíjs.
O doctor Luiz da Guarda.
(Sobrescripto) A el \W\ nosso senhor -^ do C()rregedor das Ilhas
dos açores.
[AtrJi. nar. da T. do T.. Corp. Chrouol. P.' 1.^ mar. Stí—it." b'J.\
Auto a que se refere a Carta supra; (6 de julho de 1551 1
Aos que esla certydam virem digo eu João Gonçalves escrivão da
coreição destas Ilhas dos haçores e dou ííe que o treslado (pie habai-
xo vai da decllaraçam de na certidam he da letra ho propio de Jotiain
Martins publico taballiam em a cidade de Ponta Dellgada da Ilha de
Sam Mygell que he ha seguinte:
Certidam = dygo mais que iuido esla certidãí» feita e asinada c
dada a Herlholameu Nunes que em ho primeiro dia <!o nicz de julho
do ano de myll e b'' e I'" hu [lô^lj annos llogo pella menhã eu taba-
liam llevei a carta com ho auto daprescntação do Juiz ao ouvidor e
102 ARCHIVO DOS AÇORES
lhe amostrei lodo e elie ouvidor pôs per sua mão lio despaclio de que
li(t ireslado é o seguinte por elle asinado:
Não obedeço ao que me manda o C(nreí>edor por que elle !iam
lie meu sopriur nem pí)de mandar em esta Ilha nem nssar nella de
nhuu acto de jnrdiçam passados os três mezes que p )r bem da jurdição
pode nella estar e fazer ysto mais com tençam de me agravar por to-
mar a jurdição que não he ssua que por requerer justiça que bem sa-
be elle que no casso he feito e os papes qu(í já corerão pello (jue se
allgua cousa quer rogue e requeira como costumam os jullgadores e
não mande puis lie doutra jurdição poi' o que mando aos juizes que
lhe não obedeção nem cumprão seos mandados no tempo que ho co-
regedor na Ilha não residir porque hos não pode mandar senão per
rogo por não serem seos inferiores mais que ho temp.) que pessoalmen-
te na Ilha reside e asi lhe mando que ho cumpram so pena de priva-
são do hoficio e vinte cruzados pêra os cativos e quem hos acusar e
com a mesma pena mando aos tabaliães que lhe notefiquem e me dem
rellação do caso. E com ho dito despacho me torney ao dito Juiz Es-
tevão Allvez e lho amostrei e n(jtefiquei e visto por elle Juiz me man-
dou (pie com ho dito theor delle mandasse esta certidão au sõr Core-
gedor com ha que ja eslava feita atras a quall lhe pasei mais esta de-
dlaração oje dito primeiro de Julho de myll e b e 1'* e hu [lõõi) ân-
uos e asinei Johão Martims tabaliam o escprevi por verdade.
O quall treslado consertei com ha própria certidão que íiqua em
poder do (loregedor e consertei com elle oje seis dias d) mez de julho
anno de mill e b e I** hu (lõôl) anos.
Comcertada, Juam Gonçalves (1551). = Comcertada, comigo o do-
ctor Luiz da Guarda.
{Arch. nac. da T. do T., Corp. Chronol. P.' 2^ maç. 242 -n.'' 87.)
Nomeação de Francisco Dias. para o cargo de Condesta-
vel dos Bombardeiros de Ponta Delgada; 9 de julho
de 1556.
Eu Eli Rey (*) faço saber a ijuantos este meu allvara virem que
confiando eu de Francisco Diaz, Bombardeiro, natural da Ilha de Sam
Migel que no cargo de condestabre da cydade de Ponta Dellgada da
dita Ilha me servirá bem e fielmente como a meu serviço cumpre e
por lhe fazer mercê ey por bem e me praz «pie elle sirva o dito car-
go em quanto o ouver por bem e não mandar o ("ontrario e avera com
(•) D. Jofio :}.".
AKCHIVO DOS AÇOhES 103
elle em cady Imm aiinu o maiiliiiieiitu ao dilo ollicio oídeiiHilo e t<)(In>
os [jrois e precal(,-os que lhe (lireilaineiile perteiiicerem. E [xir taiiUi
o nolefu'»» asi ao contador de minlia fazenda na dila Ilha e mandollit'
que niela ao dito Franci>co Diaz em posse do dito carguo e lho leixe
pella dita maneira servir e aver o dito mantimento proes e peri;all(;os
como dito he dandollie [tiimeiro juramento (pie bem e verdadeiramen-
te o sirva guardando em todo o que eumpre a meu serviço o qual car-
go crio ora novamente: e (juero e me praz que e^te valha, tenha (orça
e vigor como se fosse caita feita em meu nome e asellada do meu sel-
lo pemdemle sem embargo da ordenação do segundo livro tit.'' 20 que
dispõe o contrario. Adriam Lúcio o fez em Lisboa a nove de julho de
mil b e Ibj (1556) André Soarez o fez escrever, {resalva dos vimiiloí!)
— Comcertado, João da Costa=Comcerlado. António dWguiar.
{Airh. nac. da T. do T., Lie." IV de f). S>^b., /. 104. i
Ordem da Rainha para Jeronymo Pacheco ser pagro;
13 d'agosto de 1556.
Alvaio Lopez.mandovos que pagueys a Jeronymo 1'acheco feitor
que foy dei Key meu senhor nas Ilhas dos açores o anno de qninhenr-
los coremla e cimco; cemto novemta e hum mdl e s^semla e ties reaes
pêra comprimento dos trezemtos e timcoemta e seys md nove cemtos
sesemta e cimco reaes que desjtemdeo em compra de dozemtos e de-
zoyto uKtyos de cevada, fretes e despezas que com ella fez, que per
meu mandado com[)rou nas ditas Ilhas segimdo [)arpce per esta cer-
tidão atraz escri|)ta de Baltezar de Zurara escryvão de seu cargiK»:
porque os cemto sesemta e cimco mil uovecemtos e dous reaes que
ialectm pêra com[)rimento dos ditos trezemtos cimcoemta e seys mil
nove cemtos sesemta e cinco reaes foy paguo delles [)er hua provysão
dei Rey meu senhor jtera lhe serem levados em despesa na comta (pie
do dito carguo da, os quaes a fazemda de sua A. devya a minha fa-
zenda de cemto trynUa e sete arobas e vimte e sete arates daçuqar
(jue me ficarão poi- paguai- do anno de (piinhentos e cimcoenla, e dos
ditos d(»zemtos e dezoito moyos de cevada forão emtregues em minha
cevadaria cemto novemta e quatro moyos, e coremta e oyto alqueires
que estão careguaíJos em receita sobre Fernão Carvalho com o nome
em bramquo da pessoa de que se receberão; I)eclarar-se-a na dita Re-
ceita como >e receberão de Jerónimo Pachequo pella maneira acima
declarada e catorze moyos e dez alipieires de cevada ipie recebeo (iom-
çalo Vaz que foy meu reposteiro de que deu comta, e coreiuta e seys
alqueires porque se descontaram uovecemtos oitemta e ties reaes a
104 ARCHIVO DOS AÇORES
Bustiãõ Feni.imlt^z nieslie dd (pie ;ivia ilaver tJe frete de certa cevada
que ln)(i\e a (|iie lalecerão na inedyda aleiíi da (juebra ijue lhe foy
liada, os (lil)s coremta e seys alqueires sc^jiiiiido se declaia na areca-
daçãt) da onwU de I)i(»giio Celema a folhas xxbij {27) iJelIa; e dos oi-
to inoyos e dezaseys alqueires que falecem peia comprimento dos di-
tos dozemtos e dezoyto moyos de cevada que comprou faço mercê de
dar de quebras ao dito Jerónimo Paclieqiio avemdo respeito a comprar
a dita cevada per meu uiandado. e não querer que por me servir elle
perdese nada: os quaes cemto novemta e hum mil ses'^mta e três reaes
lhe paguareys pomdose primeiro verba na receita de rernão Cai valho
e asy na conta que deu o dito Gonçalo Vaz como foy paguo de todos
os ditos trezemtos cimcoemta e seis mil novecemtos sesemta e cimco
reaes pt lia maneira acima e atraz declarada; e per este com seu co-
nhecimento feito |)ello escryvão de voso carguo e as ditas verbas vos
serão levadas em comta os ditos cemto novemta e hum mil e sesem-
ta e três reaes e este se coinprirá posto que não passe pella chancel-
larya. Bastião da Fonseqiia o fez em Lixboa a treze dias do mez da-
goslo de mil quinlientos cimcoemta e seys. Amtonyo de Sampayo o
fez esprever^ Bayiilia. Dp Noronlia.
Pêra Álvaro Lopez pagiiar a Jerónimo Pacheqinj feitor (jue foy
lias Ilhas dos açores c'° Irj Ixiij {191é06S\ rs. para cumprimento dos
iij<-lbj i.V^ Ixb {3õô'é065) reis que valeram ij*^ xbiij (218) moyos de ce-
vada que lai comprou pêra a cevadarya de V. A. por que os c'° ixb
ix*^ ij i lò'ôÍ!>.902jVí>. lhe são pagos por Ima provisão dei Bey nosso se-
nhor— pella maneira atras declarada pêra V. A. ver e que não pase
pella chancelarya.
Fiipiam postas as verbas que requere este mandado acima na con-
ta de Fernam {^larvalho per mym em xxiij (28) dagosto de b Ibj (5õ6i.
Per o Fragoso.
Fi(iua posta verba na conta di; Gonçalo Vaaz em Ima adição dos
xxiij (2.>) moios XX (20 1 ahpieires de cevada (pie dyserão ser de Jero-
iiyino Pacheipio feytor que foy nas Ilhas (juando a recebeo como este
mandado de sua A. requere. Fm Ij>b.ta aos xxxj (.7i) dias dagosto de
b e Ibj iõõO). Felipe Fialho Borges.
Btícebeo Jeronymo Pachequo ijue foy feitor nas yllias dos açores
do thezour(,'iro Álvaro Lopez os cento noventa e huu inill setenta e
três reaes conteúdos neste alvará. Fm Lisboa a xix {Ift) de oitiibro
de ir>o(), .leronirni) Pac/iequo^=Dioguu Martins.
'Arcfi. ridc. da T. dn T.. O////. Chran. Part. 7.\ maç. 09— 7 i)
ARCHIVO DOS AÇORES lOo
Carta de António Pires do Canto ã Rainha; 5 de Agosto
de 1557.
Senhora. — Noso 8õr sabe que me falece os esprilos e que já nã
tciilio ser iiê poder pêra servir como servya a el Uey iioso sõr que
i)eos tê è groria por(|iie somente a mercê (]ue de sua A. tinha em ter
ê mi rmiito coníiança ainda que outras mercês me nã(j fizera ; tendo-
me feitas muitas abastava [)era eu gastar a vida ê seu serviço; e já
que por nosos pecados permitio noso sõr fiquar este Heyno orfam de
tão santo Key e sõr lembrouse elle ê leyxar a V. A. que tem conhe-
cimento (los que a sua A. bem servirão: a mi senõra a võlade de ser-
vir nuniípia me falecera, os espritos me falecem que de todo sam que-
biados; e por tanto muita mercê me fará V, A. este careguo mandar
servir a quê o milhor poderá e saberá íazer que eu; que se até qui
tynha forças pêra o fazer davamas lio favor de sua A.; a el Rey no-
so sõr esprevo o que se fez de seu serviço e porque V. A. he hò pro-
pio Rey e sõr noso nã diguo nesta o que na outra escrevo o que me
V. A. espreveo acenpja das procelanas ao capitão mor Lopo de Sousa
as entreguey; noso sõr a vida estado de V. A. e dei Key noso sõr a-
crescenle pêra êparo deste Reyno. Da Ilha S."" a b [õ) de agosto de
1557.
Amtonio Pirez do Camto.
{Sohresciipto) A' Raynha nosa srã.
DWmtonio Pirez do Canto.
[Oíigifml toda)
[Are. nac. da T. do T., Corp. Chron. PS IS maç. 101—94.)
Nomeação de Pêro Fernandes para pesador do pastel na
ilha Terceira; 2 de Novembro de 1557.
Eu El Rey faço saber aos que este alvará virem que eu ey por
beu) e me praz por confiar de Pêro Fernandes escudeiro de minha ca-
sa que me servirá bem e fielmente como a meu serviço compre que
elle sirva o oíFicio de pesador do pastell da Ilha Terceira por tempo de
(juatro annos que se começaram da feitura deste em deante aalem do
mais tempo que ja sérvio o dito oíTicio per provisões dei Rey meu Se-
nhor e avo que santa gloria aja com o quall avera de mantimento or-
denado em cada hum anno hUp {8^000) rs. que são ordenados ao di-
to ollicio e he outro Iniilo como ouve o tempo que o sérvio pelas di-
N.'^ U — Vol. Vlll - 1886. 2
106 ARCHIVO DOS AÇORES
las provisões os qiiaes blíp {8:$000)rÁ. lhe sei-ão paguos aa (Misla dos
contratadores das rendas das Ilhas dos açores semdo aremdadas e nã(»
o send ) aa cnsla de minha fazenda e [jortanto mando ao contador del-
ia na contadoria da Ilha Terceira que dè a pose da serventia do dito
olíicio ao dito Pêro Fernaiidez e lho deyxe servir pelo tempo de qna-
tro annos soomente e aver o dito mantimento da maneira que dito lie
e amtes de começar a servir lhe dará juramento dos samtos evamge-
Ihos que b. m e verdadeirainenle sirva guardando em todo meu ser-
viço e as partes seu direito de que se fará asemto nas costas deste
que ey por bem qne valha e tenha força e vigor como se fosse carta
feyta em meu nome per mim hasynada e [tasada ()er minha chaiicel-
laria sem embarguo da ordenação do segundo livro til.° nx [20) (pie
diz que as cousas cujo efeyto ouver de diu'ar mais de liu ano [lasem
per cartas e por alvarás não valham. Dyoguo Lopes o IVz em Lisbo.i
a dons dias de novembro de Jb e Ibij {I5õ7). E eu Dijaite Dias o fiz
escrever=:i;omcrrtado, Joam da ('osta=^Comcertado, Pêro dOliveira.
{Arch. nac. da T. do 7'., Ur. Jí de í). Seb.. f. 209 r.'\i
Nomeação de Vicente Vaz para Tabelião na ilha de San-
ta Maria, donde constam os erros dofficio de Ferna,m
Vaz; 23 de fevereiro de 155S.
Dom Sebastião ele A quamtos esta miiiha carta virem façí> saber
(jue Vicemte Vaaz morador na Ilha de Santa Maria me enviou dizer
per sua petição (jue na dita Iliia he morador Fernão Vaaz tabaliiun i>
qual he tabeliam do [)nblico e judicial e sendo tabelião como dito he e
sendo obriguado per seu legymnnto citmo per leis di^ Reino a usar de
seu oficio bem e verdadeiramente o faz pelo contrairo como fez que
sendo escprivam de liu feyh) crime pela Justiça contra hua Mecia Diaz
por hua querella de adultério e e.-lanido presa e lyvrandose não ros-
tou o auto da prisão de modo ipie mandou o feyto e trel.ido dapelação
a esta corte com o dito auto da [)risão per onde oje em dia esta a a-
pelação nesta corte sem ser des()acliada pur não ter nella o auto da
prisão. Outro sy sendo escprivam de hua remataçam [)er hua senten-
ça de Fernão Lourenço contra Fernão Gomez barbeiro arematuu hua
terra de hu moyo e por continuar os preguões em dias aferia(J(»s e en-
trepellar {hnerpo'ar) os lermos dos preguões e não pôr em allguni dei
les dya nem hera em (|ue fora feyto pelo (piai fty aremilação nulla:
outrosy trazendo demanda huu Kuy Fernandes dWllpoem contra hmi
Gonçalo Fernandez e aveindo sentença no feylo estando apellado pêra
esta corte tirou a sentença do processo e a deu á parle e rtfpu-rendo
ARCHIVO DOS AÇORES 107
,1 p.Hlc (jiie de s(Mi níirio lhe lirase e dese i:m eslormento pêra eslacor-
ft' liio iiHí» (|iiiz iImi' (! Ilio (ieiieiíou: |iell()s qiiaes herros e cada Imm del-
les u dilu lei liam Vaaz perdia us diiu> ollicios e eu os pedia cuni direito
(lar a quem minha mercê fose e pedindome o dito Vicemt3 Vaaz que lhe
íizese deles mercê pur quanto hera ;qjto pêra o servir: E visto per
mim seu dizer e pydir confiando delle ditt» Vicente Vaaz que he tall
(pie 110 (pie o encarregar me servirá bem e tielmenle C(jmo a meu ser-
viço e a bem das partes compre e [)or lhe fazer mercê lenho por bem
e lha faço dos ditos oficios se asi he que o dito Fernão Vaaz fez os di-
los erros e por elles se perdem pêra mim e i!ios eu com direito dar
p(jsso e esta mercê lhe faço per virtude de huu meu alvará per mim
hasinado e pasado per minha chancellaria do qual lio trellado he o se-
guinte:
Desembargadores do paço. amigiios, eu ey por bem de fazer mer-
cê a Vicente Vaaz morador na Ilha de Santa Maria dos oficios de ta-
beliam do publico e judiciall da dita Ilha se asy he que Fernão Vaaz
cujos diz que os ditos otficios são, os perde pelos herr<)s conteúdos na
pytição atiaz escprita e esto não sendo elle já acusado por cada hu dos
(fitos erros ou culpado nelljs em allgus autos ou devassas ou inquirições
jiidiciaes e o dito Vicente ^ól Íá examinado e ávido por auto [apto) pêra
servir os ditos ofici(JS pelo licenciado Braz dAlvide do meu conselho
e meu desembargador do paço: mandovos que lhe paseis carta em for-
ma dos ditos oficios paguando primeiro os ditos ordenados e porem
não havendo hi outra prova dos ditos herros pêra o dito Fernão Vaaz
aver de perder os ditos oficios senão sua confição e posto que os elle pe-
la tall conlição perqua e sejam per sentença jullguados por perdidos
não avera o dito Vicenlo Vaaz per virtude da dita carta os ditos ofici-
os e eu poderei provei' delles qualquer outra pesoa que oiiver por bem.
Baltesar da Costa o fez em Lisboa a xij {12} de fevereiro de J b e
Ibiij {1ÕÕ8).
E porem mando aos juizes da dita Ilha de Sanla Maria e a todo-
lo5 outros oficiaes e pesoas a que esta carta for mostrada e o conhe-
cimento delia com direito pertencer que sendo perante elles citado o
(fito Fernão Vaaz o oução judiciall.nente com ho dito Vicente Vaaz tiran-
do sobre o dito caso inquiiição judiciall e indo peio feito em deanteco-
mh he ordenado e achando o que he asy <"-omo o dito o dito{sic)\'icen[e
Vaaz perde os ditos erros ou cada hu delles o dito Fernão Vaaz per-
de os ditos (jficios o jullguem asy per sua sentença defenetiva dando
apelação e agravo ás partes nos casos em que com direito couber e
sendo o dito Fernam Vaaz condenado que perqua o>^ ditos oficios e não
(juereuido apellar nem agravar da dita sentença vos apelay por parte
de minha justiça e não metereis em posse delles ao dito Vic(M)te Vaaz
até [)rimeiro mostrar provisão do caso dapelaçam e mostraudoa emtam
será metido em pose dos ditos oficios e lhos lleyxareis servir e dt lies
iizar e aver as remdas e direitos, proes e precalços a elle direitamen-
108 AHCHIVO DOS AÇORES
te ordenados sem duvida nem embarga algnm (jue llie a iso seja pos-
to. E não avendo lii outra prova dos ditos erros pêra o ditu Fernam
Vaaz aver de perder os ditos oflcios senão sua confisãi) posto que os
elle pella tal cíjnfisão perqua e sejam julgados per sentenea per per-
didos não averá o dito Vicente Va^z i)er virtude desta carta os ditos
officios e eu provei ei delles quallquer outra pesea que ouver por bem
e esto me praz asy não sendo o dito Fernam Vaaz ja acusad;.- por ca-
da hum dos ditos erros ou culpado nelles em alguns aulos, devasas ou
Inquirições judiciaes e sendo o dito Fernam Vaaz condenado em per-
dimento dos ditos ofícios seilo ha mais em mil e quinhentos reis os
quaaes fareis emtregar ao dito Vicente Vaaz pejos paguar dordenado
delles os quaaes emtreguon ao Recebedor de minha chancellaria pe-
ramle o escprivão delia que os sibre elles caregou em rece[)la como
pareceo per seu conhecimento em forma asynado por ambos na qual
chancelaria o dito Vicente Vaaz jurara aos samtos evamgellios que bem
e verdadeiramente e como deve sirva e use dos ditos ofícios e cumpra
e guarde os regimentos que delia levar guardando em todo a inim meu
serviço e às parles seu dereito.
Dada na cidade de Lisboa aos xxiij (23} dias do n)ez de feve-
reiro, el Rey noso Senhor o mandou pelo lecenciado Braz d"Alvide e
per dom Gonçalo Pinheiro, bispo de Viseu ambos do seu conselho e seus
desembargadores do paço e petições. Hoipie Vieira a fez, ano do na-
cimenlo de noso Senhor Jhu ^^\)h (Jesus Cliristo) de J b e Ibiij (Jõõ8>
annos e eu António Vieira que tenho cargo descrivão da chancellaria
do dito senhor a fi/ escrever, (com as resolvas dos riscados e entrelinhas i
Eu Vicente Vaaz nesta carta contendo asynd aqui de meu publico sy-
nall que tall lie (siijnah Comcertadri Roque V ieira=Conicertada l*ero
d Oliveira.
(Arc/t. nac. da T. do T., Lir. 2.^ de I). Seb.. f. 83.)
Mercê do offioio de Tabelião a Joane Annes de Góes. da
ilha do Fayal; 1 de março de 1558.
D. Sebastião ele. A quantos esta mynha carta virem faço saber que
Joane Anes de Góes, morador na Ilha do Fayall me enviou dizer por
sua petição (jue servindo ele de vereador da dita Ilha do ano de "]" U
e Ib (lôõõ) hi!U Symão Mnzcarenhas quiz caregar camtidade de trigun
pêra fora contra legymento da teia e ([ue elh' suplicante lho empedio
como justiça e por o empedimento o dito Mazcarenhas regislio com ar-
mas e palavras em xxbj (26) dagosto do dito ano de (pie fez autos com
him Lazaro Diaz tabaliam e o prendeo e pêra se lyvrar da dita culpa
ele Mazcarenhas. Iiiiu Marqnos Diaz taliaili;im do publico e judicial ou-
ARCHIVO DOS AÇORES 109
trosy ii;i dila IIIim lhe [kisou liim estormentu falso e den nele fés fal-
sas o (|iial llie passou em viiiite e oyto dias de ji:lli(i de b e ll»j (lijõG)
o que lodo foy em prejuízo dele sii|)li(-ante [mv lhe dcneíicar sua jus-
tiça dizendo que era suspeyção emtemtada ao esprivani com que fez
os autos e ímquerições e no ano de J Ij e Ibj {15õG) fez hna procu-
ração a Rosa rlAndrade moradora na Ilha pêra seu marido l'Yancisco
d'Utra sem esprever dia nem mez por que lhe deu de i^erda bem
cem mill rs. Item mais iio ano de b Ij {lõõl} sendo ele Manpios l)i;iz
esprivam de Imu feyto danlre Pêro Gaspar e Gonçalo Anes na Ilha mo-
radores tirou folhas do dito feyto e meteo outras em contrario do que
tinha escripto e no ano de b e ris {1549) deu íTe que citara André
r-irez Gularte pêra huu feyto amtre elle e huu Amtonio d'Utra não es
laudo ele ao tal tempo na Ilha como se provara [)or o feyto que deu
ífee em comtrario dos autos de que estava escripto. Item no ano de b
e Ibij (1507) em huu feyto amtre Gaspar Homem e o dito Amtonio
d Utra e.vtamdo pubricada o juiz dele (pie não recebera bua apelação
a Ima das partes, rospançou o não e ficava apelação rccebiiia e tiran-
do a parte estormento agravando-se delle tabaliam lhe pagou as custas
poi-que se calase pelos quaes erros e cada hu deles o dito \lar(|uos Diaz
perdia os ditos oíicios e eu os podia com diíeito dar a quem myuha mer-
cê fose pedimdome o dito Joane Anes de Góes que lhe fizese deles mer-
ece por (juamto era apto pêra os servir e visto pt)r mim seu dizer e
pedir confiando dele dito Joane Anes que he lall que no que bo eu
carregar me servira bem e fielmente como a m.u serviço e a bem d.is
partes comprn e por lhe fazer mercee eu tenho por bem e lha faç.»
dos ditos ofii-ios se asy he que o dit-) M irquos Diaz fez os ditos ero>
e por elo se perdem pêra mym e lhos eu com direito dar poso e esta
mercee lhe faço per virtude de huu meu alvará per mym asynado e
pasado per minha chancelaria do qual o tnllado d*' veríx) a verbo he
o seguinte:
Desend)argadores do paço amyguos eu ey por bem de fazer mer-
cee a Joane Anes de Góes m.)rador na Ilha do Payall dos ofícios de
tabaliam do Publico e judiciall da dita Ilha se asy he que Marquos Dias
cujos diz que os (htos ofícios são os perde pelos eros contheudos na di-
ta petição e qual Joane Anes foy examinado e ávido por auto (apfo) pêra
os servir pelo Licenciado Braz d Alvide do meu conselho e meu desem-
bargador do paço e esto me praz asy não semdo o dito Maríjuos Diaz
já acusado por cada hiiu dos ditos eros ou culpado neles em algims
autos ou devasas ou Impiirições judiciaes mauilovos que ao dito Ji»ane
Anes paseis carta em f<M'ma dos ditos ofícios pagamdo primeiro os de-
feitos ordenados e porem não avemdo hy outi'a prova dos ditos eros
pêra o dito Marquos Diaz aver de perder os ditos oíicios senão sua con-
íisão posto que os ele pela tall coiifisão perqua e sejão per sentença
julgados por perdidos não averá o dito Joane Anes [jor virtude da di-
ta carta os ditos ofícios e eu [)oderei prover deles a ipiallipte/' outra
no ARCHIVO DOS AÇORES
pesoa queouver por bera. Balltazar da Costa o fez em Lisboa a quim-
zc de k-vereiru de J b e Ibiij" [Iõõ8).
E porem mando aos juizes da dila Ilha do Kayall e a todolos ou-
lids ftíiciaes e pesoas a (jiip, esta carta for mostrada e o conhecimento
dela [lerlemcer (jiie sendo perante eles citado lio dito Marqnos Diaz o
unção jndiciallmente com o dito Joane Anes tirando sobre o <lito caso
lnqnirii;ã(» Judiciall e hindo pelo feyto em deante como lie orrienado e
achando qne he asy como o dito Joane Anes di/ e que pelos ditos e-
ins ou cada hnu dcdes o dito Marípios Diaz perde os ditos oíicios o jul-
guem asy por sua sentemça definitiva dando apellação e agravo ás par-
les nos casos que com direito couber e sendo o diio Manpios Diaz con-
demnado que perijua os ditos olicios e não queremdo apelar nem a-
gravar da dita sentença vós apelay por parte de minha justiça e não
metereis em pose deles ao dito Joane Anes até primeiro mostrar pro-
visão do caso da|)elação e mostrandoa então será metida em pose dos
ditos uticios e lhes deyxareis servir e deles usar e aver as remdas, di-
leytos, proes e percalços a eles dereytamente ordenados sem duvida
nem embargo alguu que lhe a isto sejn posto e não avemdo hy outra
prova dos ditos eros pêra os ditos Marquos Diaz aver ele perder os di-
tos otricios senão sua confisão posto que os de pela tall confisão per-
([ua e sejão jiilguados por sentença por perdidos não averá o dito Joa-
ne AiiHS por virtude desta carta os ditos ofícios e eu proverei delles
a (|iiall ipier outra pesoa que ouver por bem e esto me praz asy não
seiid(j o dito Marquos Diaz já acusado por cada huu dos ditos eros ou
culpado neles em alguns autos, devasas ou Inquirições judiciaes e sen-
do o dito Marquos Diaz condenado em perdimento dos ditos ofícios
sél-o-ha mais em dous mill reis os quaes fareis entregar ao dito Joa-
ne Anes pelos [lagar dordenado deles os quaes emtregou ao recebe-
dor de minha chancelaria pnraiite o escripvam dela que os sobre elle ca-
regoii em receyta como pareceo per seu conhecimento em forma asy-
nado [ler ambos na qiiall chancellaria o dito Joane Anes jurara aos
samtos evangelhos que bem e verdadeyramente e como deve syrva e
use dos ditos oficios e cumpra e guarde os regimentos que dela levar
goardamdo em todo a mim njeu serviço e às partes seu dereyto.Dada
em a c.ydade de Lisb(ja ao primeiro dia de março. El Rei noso Senhor
lio mandou pelo Licenciado Braz d Alvide e por dom Gonçalo Pinheiro
liis[)o de Viseu ambos do seu conselho e seus desembargadores do pa-
ço e pytições. Roque Vieira a fez: ano do nacymento de noso senhor
Jliuu x[K) (Jesus Christo) de mill b e Ibiij (/õõSiauos: e eu Amtonio
Vieira (pie tenho cargo de scripvam da chancelaria do dito senhor a
liz scr"epver. U'oin as resalvas dm riscados e emendas, e o sitjnal de João
Anes de Góes).
[Airh. nar. da T. do t., Ur. I de f). Seh..fl. ò3 r.".)
ÀHCHIVO DOS ACOHEb \ 1 I
Nomeação de Bartholomeu de Magalhães para Lealdador
dos pasteis na illia Terceira e Ilhas de baixo, por re-
nuncia de André de Negreiros; 9 de março de 1558.
IJum Sebastião ele. A tjnaiiitus esla minha carta virem faço >alier
qiie por parle de Bertolameu de Magalliães morador na eidade dAm-
gra da ilha Terceira me foy apresentado hnii alvaia asynadn pi>r ri
Rey meu senhor e avô que sanla gloria aja e pasailo pela (■hanielaria
de qne o trellado he o seguinte:
Barão amigno en ey por bem dar licemça a André de iNegreyr(L>
meu moço da Camará pêra renimciar em Ima pesoa apta o sen oíicio
de alealldador dos pasteis da Ilha Terceira e liignares de sua conla-
doria (jne tem per minha carta. Noleficovoio asy e mando (pie apn -
semlaiidoV(»s a lall pesoa a carta que o dito .André de Negreiros tem
do dito oficio e sua renunciação lhe laçaes ía/er outra em forma a-
sy e da maneira cpie ao dilo AmJré de Negreií^os tem sendn asy apto
e pagiiando primeiro os ditos liordenados. Uioguo Lupez o fez em Li\-
boa a xiiij [14) dias de março de "J I e Ibj {lõ5ò'). E en Duarte Diaz
o fiz eM'prever. E a pesoa em quem asy renunciar o dito oficio o le-
raa e serviraa em quamlo o eu ouver por bem e não mandar (» con-
trario e com esla declaração lhe será passada a carta delia.
Ppdindome o dilo Bertolameu de Magalliães que lhe mandase dar
carta em forma do dito oficio por quamlo o dito André de Negreiros
o renunciáia nelle seguuíJo se vio per hum pidíliv o eslormenlo de i't'-
nunciação que dizia ser feylo e asynado per António Gonçalves publi-
co tabalião na dita Ilha aos xxiiij (24) dias do mes doiitidtro do ano
de b e Ibj {lõõò'i com te.Ntemunhas em elle nomeadas. E visto sen iv-
querimento (luerendo-lhe fazer mercee lenho pnr bem e o dou ora da-
qui em deante por alealldador di>s pasteis da dita Ilha Terceira e das
outras Ilhas debayxo asy e da maneyra (]ne o elle deve ser e o hera
o dito André de Negreiíos com ho qual oficio avei"á de mantimento em
cada hun anuo quatro mill reaes e seis moyos de trigno que lie outro
lantii C(<(no tinha n dit(t André de Negreiros [)er Mia carta que lhe se-
rão paguos per ordinárias no allmoxarifado da cidade dAngra á custa
dos rendeiros das ditas Ilhas .sí"* foram arrendadas e quando não ha
custa de minha fazenda. E por tanto mando ao contador da contadoria da
dita Ilha Terceira que meta em pose do dilo oficio ao dilo Bertolameu de
Magalhães e lho deixe servir e dele usar e averodito mantimento, proes
e precalços a elle direitamente ordenados e lhe dará juramento aos
samtos evamgelhos que bem e verdadeiramente sirva o dilo oficio guar
dando em lodo meu seiviço e ás parle seu direito o qual foi examinadi)
e avydo por apto pei'a o servir. E jinando a tpiaesipier justiças e ofi-
{•) Falia esta |>ala\ra.
I 12 ARCHIVO DOS AÇORES
riaes oiilros a que esta carta for niostriída que o leixem servir e llie não
vHão a isso á mão e em todo cum[)rão e guardem esta carta comon"el-
la he conllieudo sem duvida nem embargfj algum que a ello seja pos-
to poi\jiie asy o ey por beio e pagncu de srdenado do dito oficio em
ujiídia (liaucellai-ia ao recebedor delia oyto mill rs. couio se vio per
seu conhecimento e ceitidam do escprivam do seu cargo que os so-
bre elle caregou em receyta e o ali vara' acima trelladado e a carta do
dito André de Negreiros com sua renunciação foy tudo rolo ao asynar
desta o qual oficio o dito Bertolameu de .Magalhães teraa e serviraa
eui quanto o eu ouver por bem e não mandar o contrario. Belchior
Alvarez a tVz aos ix (9) dias do mez de março, ano do nacimento de
nosso senhor Jhu xpõ [Jems Clirislo) de "]" b Ibiij iJõõS) annos. Ruy
de Figueiredo Coréa a fez esci)rever, [com resalra dos riscados). Con-
certada, João da Costa=Concertada, Pêro de Oliveira.
{Arch. rmc. da T. do T., Liv." Jl de D. Seb., f. 214 v.\)
Alvará de 17 d'agosto de 1558. em que se manda pagar o
ordenado dos 12 Bombardeiros de Ponta Delgada, es-
colMdos para fazerem serviço nas armadas.
Eu El Rey faço saber aos que este alvará virem que el Rey meu *
Senhor e avo que santa gloria aja ouve por bem por hua sua provisão
feyta a treze dias doutubro do anuo de b e lij {1ÒÕ2) que Manoel da
(Gamara do meu conselho capitão da Ilha de S. Migel com Lourenço de
Baldruque que a ella hya pêra estar por condestabre dos bombardei-
ros e o escrivão dos contos ou do allmoxarifado da dita Ilha buscasse
e escolhesse trimta omês moradores na cidade de Ponte Delgada de ida-
des e disposições convenientes pêra poderem servir de bombardeiros
quando fossem necessários que serião examinados pella maneira decla-
rada na dita provisão e residirião e vivirião sempre na dita Ilha e não
salrião fora delia e que dus ditos trinta bombardeiros escolhessem <!o
ze os (jue lhe parecesem mais suficientes pêra me servirem em minhas
armadas e cada liuu dos ditos doze bombardeiros ouvese de mantimen-
to em cada hu anno hu moyo de trigo quer servisem nas ditas arma-
das quer \\l\ú, estando porem na dita cidade prestes pêra me servir
apontando se hua vez cada mes e que fallecendo allgum dos ditos do-
ze metese outro dos ditos examinados em seu lugar e averião mais,
quando servissem, o soldo na dita provisão declarado e que do dito
moyo de trigo que cada hu delles avia davei lhe seria dada outra pêra
lhe per ella ser pago, per virtude da qual provisão forão feitos na di-
ta cidade de Ponte' Dellgada da Ilha de São Migell os ditos trinta bom-
ARCHIVO DOS AÇORES H3
hai'(leiros e delitos for.un escolhidos e ap.irladus pêra me servirem nas
ditas mnihas armadas iloze a saber: Domiiiguos Fernandez, Jullião Viei-
ra, Dit^f» l*irez, Francisco Firez, Allvaro da Seiíra, Feriiain Guiiçalvez,
Fernão de Aimes, Gonçalo Anes, Gil Jacome.João Fernandez, Francisco
Fernandez e Gonçalo Pirez os (juaes Ci>m^^çárão a servir o dito cargo
aos Ireze dias do mes de março de J b 1'^ e seys(iõy6') segundo con-
stou |)' r hiia carta leslemimhavel do Licenciado Jorge (Corrêa Fafez ou-
vidor na dita Ilha e porque até ora lhes não foy dada provisão pêra a-
verem o dito moyo de trigo lhe mandei dar este meu alvará pelo qual
ey por bem e me praz que cada hum dos ditos doze bombardeiros a-
cima nomeados e os que pello tenjpo forem tenhão e ajão de manti-
mento ordenado em cada Inim anno com o dito cargo hum moyo de
trigo o qual lhe será pago no almoxarifado da dita cidade de Ponte
Delgada á custa de minha fazenda per este soo alvará gerall sem mais
outra provisão aliem do soldo que mais ão daver servind(j nas ditas
minhas armadas no modo conteúdo !)a outra provisão e por tanto man-
do ao meu almoxarife ou recebedor do dito almoxarifado que ora he
e ao deante for que dos ditos treze dias de março do dito anno de b*^
Ibj {1ÕÒ6) em deante em que os ditos doze bombardeiros começarão a
servir dee e pague a cada huu delles o dito moyo de trigo cadanno
per este soo alvará gerall como dito he e pello trellado delle que se-
rá registado no Livro do dito almoxarifado pello escrivão delle e com
o trellado da provisão de que neste faz menção e as certidões nella
declaradas de como os ditos doze bombardeiros vivem na dita cidade
e estão prestes pêra me servirem nas ditas armadas mando que lhe
seja levado em conta todo o trigo que lhe pela dita maneira pagar e
este alvará se registará nos Livros de minlia fazenda do negoceo da
índia e do allmazem da índia pêra se saber o mantimento que os di-
tos bombardeiros tem e quero que valha tenha força e vigor como se
fosse carta feyta em meu nome per mym asinada e pasada pela chan-
cellaria sem embargo da ordenação do segundo livro titulo vinte que
diz que as cousas cujo efteilo ouver de durar mais de hum anno pa-
sem per cartas e passando per alvarás não valhão. Symão Borralho o
fez em Lisboa a xbij {17) dias dagosto de J b e Ibiij iJõõS) e asy se
registará este alvará no Livro do ponto dos ditos bombardeiros que es-
tão na dita Ilha. E eu Duarte Diaz o fiz escprever {resalvas dos risca-
dos e entrelinhas) Comcertado, Rotpie Vieira=Comcertado, Joam da
Cost
d.
[Ardi. nac. da T. do T., Lir." III de D. Seb., f. 146.)
N." Vi — Vol. VIII - 1886.
114 AHGHIVO DOS ACOhES
Mercê a João Gonçalves, cavaleiro e escrivão da correi-
ção e chancellaria das ilhas de S. Miguel e Santa
Maria, de uma pensão de 12^720 rs. em compen-
sação de certos prejuizos; 25 de novembro
de 1558.
Eu El Rei faço saber aos qne este alvará virem que Joam Goii
çalves cavaleiro de minha casa e escripvam da coreiçaiu e chancelaria
das Ilhas dos açores fez Ima petição a el rey meu senhor o avo qne
samta Cltjria aja de qne o treladi» he o seguinte:
Diz Joam Gonçalvez cavaleiro de vosa casa (|ue elle couiprou os
ofícios descripvão da coreição e chamcelaria da Ilha de São Migel e
Santa Maria sendo liua só coreição da Ilha Terceira e Ilha de São Jorge
e Fayall e mais Jlhas debaixo em outra coreição e vosa alteza a\eia
dez anos qne ajuntou estas coreições em hua ^ó e mandou qne os es-
cripvães servisem todos juntamente em a dita coieição e elle siipplican-
te pêra comprar os ditos oíiicii)S vem<leo toda sua fazenda que lhe de-
rão em casamento e lhe custarão trezentos mill reis e os ditos ofícios
forão somente na Ilha de São Migel e Stjmta Maria e por vosa alteza
mandar ajuntar as coreições a hua so elle supplicante perde em cada
liu ano mais cyniipioenta mill rs por elle ter duas estrebuições na Ilha
de São Migel omde o coiegedoí' não emtra agora se não três mi'ze>
de dons em dons anos per hua provisão que vosa alteza comcedeo a
Manoel da Camará capilão da dita Ilha e bem asy he esprivão da rlian-
celaria umde leva niuito trabalho sem proveito somente n.ill e nove
cemlos rs. qne são p. ia livros, papel e timta: pede a vosa altesa etn
satisfação de>ta perda a vendo respeyto a ser seu creado e pitbre coni
molher e filhos e aver muylos anos que o serve e em seu serviço sei'
ferido no ro>to e em hua mão pi r prender um homem omiziado e o
servir em as naus da hidia e Mina (juando vem ter á cidade d'Amgra
na Ilha Terceira, aja por bem que posa la vencer sua moradia omde lhe
faz mais serviço (|ue ne.-t.t corte (ju.de a ora vemce e e>ta mercê lhe
faça em qnamto a coreição amda jumta e laudo que >e dividir em du-
as como damtes erão. ele su[)()licante não (jner saíisfação de vosa al-
teza senão servilo como sempre f^z e da perda qne recebe em cada
hun ano vosa alteza se pode, emformar dos coregedores que ãs Ilhas
forão o doutor Andonio de Macedo. Aires Pires Cabral, o doutor Ma-
noel Alvares; no (jiie recetierá justiça e mercec.
E amles de lhe sua alleza dar despacho a rt'r(|ua do (pie na dita
p( tição pedia mandou [)er sua |)iovisão ao dontiu Luiz. da Coarda sem-
do coregedor das ditas Ilhas ípie se en.foiuiase do contli( udo na dita
petição perguntando sobre yso testemunlia> sem sos[>eita ipie livessem
resão de sat>er >e o dilo Joam Goiíçalves recebe(» perda na mudança
ajnntameiitõ das ctreições das ditas Illia> e (piania perda podia rece-
ABCHIVO DOS AÇORES I |5
her e de que acerqna diso acliase e da emformação que lomase e as
ditas pesuas diseseni íizesc Tizer aiili ben» declaiado o (|ual enviase a
sua alteza sei"ado e aseladu coui seu parecer acerqua do que o dito
.loaiu (ioMçalvtís requeria e o dito eoregedor fez a dita delygencia da
uiaueira tjue lhe pei' el Rey meu senhor e avo foy ma ida. lo; a qual vis-
ta por uiyui com ho parecer do dito coregedor que nela vinha e por
se por ella mostrar receber o dito Joam Gonçalves nmila perda no dito
olicio em se ajimtarem as duas correições que havia nas ditas Ilhas
dos Açores em liuua s(jo correição que ora mias ha como na dita
petição declara ey por bem e me praz que ele lenha e aja de my-
uha fazenda doze mill setecemtos e vymte reis em cada huu ano
em satisfação da dita perda que he outro tanto como se monta na
moradia e cevada que de mym II. em a rtzão de setecemtos reis
por mes de moradia e de huu alqueire de cevada por dia que se lhe
paga a doze reis o alqueire segundo ordenamça de minha casa com
quaes xí] bij*^ xx {12^720) reis asy terá e avera em quanto as ditas
correições andarem juntas em hua correição e se não apartarem em
duas (la maneira que dantes andavão e lhe serão paguos no almoxari-
fado da cidade de Ponte Delgada da Ilha de São Migel e por tanto
mando ao meu almoxarife ou recebedor do dito almoxarifado que hora
he ao deante for que (Jo primeiro dia de janeiro do ano que vem de
h e I e nove {lõô9) em deante dé e pague em cada huu ano ao dito João
Gonçalves os ditos doze mill setecemtos e vimte rs. e lhe faça delles
bom pagamento aos quartéis per imteiro e sem quebra posto que a hi
aja com certidão do coregedor das ditas Ilhas de como as ditas corei-
ções andão jumtas per este allvara geral sem mais outra provisão e
polo trelado dele que sara registado no Livro de su.i despesa peio es-
privão de seu cargo com conhecimento do dito João Gonçalvez mando
que lhe sejão os ditos xi] bij'' xx {I2ij>720} cad.mo levados em comta
sem embargo de não irem em caderno dasent^mento e do regymento
em contrario e porseha verba no Livro da matricula em seu titulo de
como lhe fiz mercee em cada huu ano pelo dito respeihMla dita com
tia que se monta na dita moradia e cevada em qiiamto as ditas corei-
ções andarem jumtas e que o não hade vemcer posto que syrva na
corte de que o escripvão da matricola pasara sua certidão nas costas
deste alvará e porque ao dito Joam Gonçalvez pertemcya aver a dita
satisfação dos ditos doze mill sete cemtos e vimte rs. do primeiro dia
de janeiro do anuo de b*^ liiij (lõõé) em deante por no dito tempo
lhe ser despachada e não tirar até agora provisão dela ey por bem
(|ue demtão lhe seja pagua e mando ao dito almoxarife ou recebedor
(lo dito almoxarifaíJo da Pomta Delgada que do rendimento das rem-
das deli do dito ano (pie vem de cymquoemta e nove lhe dè e pague
junlauiente os ditos si] bii'' xx [12fj>720) reis cada ano do tempo de
cymquo anos cymquíjemla e (juatro Ib, Ibj, Ibij e Ibiij [1554, lôôõ,
lõõb', 1ÕÕ7 0. 1ÕÕ8) que lhe são devidos nos quaes lhe monta aver se-
i 16 ARGHIVO DOS AÇOHES
semt.i e Ires rnill e seis cemios rs., pelo trellado deste alvará com spji
conhecimento lhe serão outrosy levados em comta, o qual ey por ben)
qne valha e tenha força e vygor como se fose carta feita em men no-
me per mym asynada e pasada [)er mynlia chancellaria sem embargo
da ordenaçãí» do á.° livro lilnio xx ('JO) que diz «pie as cousas cuj(»
efeylo onver de durar mais de hiiu ano p^sem per cartas e pasando
per alvaraes não valhão. Jorge da Costa o fez em Lisboa a xxb (25 >
dias do mes de novembro de J b e Ibiij (lòõ8\. Manoel da Costa o
fez escrever. K primeiro que se lhe faça pagamento algum porá o di-
to coregedor das ditas Ilhas verba na carta que o dito João Gonçalvez
them do dito oficio de como lhe fiz esta men ee em satisfação da dita
perda na maneira sobredita e pasará diso sua ceitidão nas costas (\<^)>-
te=^(líz per ow/rí'//w//fl=(///í/.v= (Nomeei tada, João da Costa =^ Comcer-
tada, Pêro d Oliveira.
[Al c/l. iHic. (la T. do 7'., Lir. 1 de D. Scb., fl. 284.)
Mercê a T^anoel Fernandes Cabral do officio de Mempos-
teiro Mor dos captivcs da ilha Terceira e ilhas de
baixo &; 10 dabril de 1559.
Eu VÁ Key faço saber a vo.^ deleitados do de.<pacho da Meza da
Conscit meia qne por meu mandado tendes cargo de pr(»ver e despa-
char as Cousas d;i rendição (ios cativos e seus oHiciaes que por ron-
fiar de Manuel Ftrnandez (Cabral cavaleiro de minha casa ujorador n;i
cidade dAmgia da Ilha Terceira que no (|ue o encarregar .servira bem
e fielmente como couqjre a serviço de Deos e descargo de mynha cttns-
cyemcia e avemdo respeylo aos serviços que fez a el rey meu senhoi
e avo que iJeos tln-m, nas parl^-s dAfriqua em Azamoi- e em .Maza-
gão oujde sérvio ey por bem de lhe Inzer uiercee dos oliiios de mam
posteiro mor da renidição dos cativos da dita llíia Terceiia e Ilhas de
baixo e thysourein» das fazendas dos defuintns que falecem nas ditas
Ilhas asy dos que vem das partes de Giné como doutras (piaes(^uer
partes que nas ditas Ilhas fnlcerem e esto p.^r tempo de Ires ani»s so-
mente com os (juaes ofícios averá o mantimento e ordenados, proes e
precalços a elles perfemcemtes asy como os ouve outros três anos que
já sérvio os ditos ofícios por provisão do dito senhor e como os avi;t
e linha Haltesar (iomes Sodré por cujo falecimiMito os ditos ofícios v;t-
garão os quaes ele servirá seguindo iorma tie seiís regimentos e a fa-
zenda que o dito Manuel Feru;uidez receber dos defumlos que nas di-
tas Ilhas falecerem que ahy vierem das partes de Giné será obrigado
a ujandar em cada liuii ano a entregai a Dingo Soares thezoureiro
mor das fazendas dos defuntos de Guiné ()or leira por >• nân arisqiinr
AKCHIVO DOh AÇORES 117
conruniie aus regyiiifiUos do iJilo lliezoureiro Diogo Soiíres o dos (lie-
zoureiros d(L> ditos deriiiilos (|iie estão iihs Ilhas de São Tlioiné e de
Ciibo Verde e eom a dita letra enviara ao dito tliey.onrciro caderiius
em que virão esepritos os nonie.N das |tessoas cuja a dita fazenda lie
pêra que o dito Diogo Soares fazei' entregna dela a seus erdeiros coii-
ionne a seu regyuíenlo e o dito Manuel Fernandez dará fiamça abas-
tante de contia de trezeintos mill rs. ao recebimento d(»s ditos ofícios
aos juizes da cidade dWmgra da dita lllia Terreiía em que seus fiadn-
les se obrigarão como |»riiicipaes pagadores e fieis depositários a pa-
gar o dito dinheiro a quem pertemcem semdo ca>o que ele dito Ma-
noel Fernandez lio fique devendo do dito recebymenlo dos ditos três
anos a dita remdição ou aos erdeiros dos ditos definitos e será a dita
fiança desaforada e abonada pelos ditos jui/.es a (jual dará antes que
comece a servir e será obrigado o dito Manuel Fernandez a mandara
dita fiança a esta corte a entregar a João da tiosta escprivam da [»ro-
vedoria nuiv dos cativos pêra a ter em goarda no cartório do dito ofi-
cio no primeiro navio que vier pêra esta cidade da dita Ilha e do dia
que lhe for tomada a dita fiança a oyto meses não mostrando certidão
d(t dito João da Co>ta como recebeo a dita fiança o não conseiitirãd
servir (»s dilos ofícios e no fim dos ditos três anos virá á corte oii
mandará por seu procurador dar conta com entregna de seu receby-
mento c(tnforme a seus regyment<»s: noteficovolo asy a ipiaesquer ou
tros coregedores, ouvidores, juizes e justiças oficiaes e pesoas das di-
tas Ilhas a que este meu alvará for apresentaiio e o conhecimento de-
lo [lertencer que durando o dito tempo de três anos e dando a dita
fiança leyxem >eivir os ditos oficios de mamposteiro mor dos cativos
e tesoureiro das fazendas dos ditos defuntos ao dito Manoel Feriian
dez e aver o dito mamtimento, proes e precalços a eles dereytamenle.
ordenados pela maneira que dito he sem duvida nem embargo algiin
(jue a elo seja posto e jurará na chancelaria aos santos avangellios
que bem e verdadeiramente e como deve sirva e use dos dití»s uticios
goardando em todo o serviço de Deos e á remdição e ás [lartes seu
direito e este alvará ey [lor fjem que valha e tenha força e vigor co-
mo se fose carta feyta em meu nome por inym asynada e jiasada por
minha chancelaria sem embargo da ordenação di> segundo livro tit.°
x\ Ç^Oi que o contrario dispõe. João da (^osta o fez em Lisboa a dez
dabril de ~f' I» e lix [Jõõ9) anos. icom as resulvas de eulrdmhas p e-
wondas) Concerladi», João da Costa=Comcertado, António d' Aguiar.
(Arch. nac. da T. do T.. Ur. I do I). Seh.. /. ."iO-J.)
H8 ARCHIVO DOS AÇORES
Licença para Mestre Pedro, cirurgião, usar da sua arte
na Villa da Praia; 27 de Maio de 1559.
1)0111 Sebastião etc. A quamlos esta minha caria virein faço saber
(|iie a niiin enviou dizer Mestrt? Pedro njoradíjr em a Villa da Praya
(jiie elle era auto (apto) e suficiente pêra usar da arte e ofirio de so-
lorgia como í'uy certo per buu estormento e dyto de testemuiilias o
(jue não podia fa/.er sem primeiri) ser examinado ou ter carta e licen-
ça e vemdo eu seu dzer e pedir mandey ao licenciado Lyonardo Nu
nez meu fisiquo mór que ora por meu especiall mandado serve de
solorgiam mooi' (|ue vise o dito estormento e (Jytos de testemunhas o
quall o vy(» e achou ser auto iapto) e soficiemte pêra iizar da dita ar-
te e oficio de solorgia e confiando delle dito Mestre Pedro e no dito
est(Jrln^^nto que usando da dita arte e oficio de solorgia o fará bem e
como compie a sei'viço de Deos e meu e saúde do povo e querendo-
Ihe fazer graça e mercê ey por bem e me |)raz por elle ser velho e
a dystancia do caminho grande, que elle posa usar da dita arte de so-
lorgia em a villa da Praya soomente e em seu termo e mando aas mi-
nhas justiças oficiaes da dita villa a que o conhecimento pertencer que
lyvremente o leyxem curar e usar da dita arte e oficio da maneira
que dito lie com aver os proes e percalços, houiras e lyberdades
que por rezão da dyta arte e oficio ouver daver e efie jurará em a
(>amara da dita villa aos samtos evamgelhos que bem e verdadeira-
mente e com sãa consciência use da dita aite e oficio de solorgia co-
mo cumpre a serviço de Deos e meu e bem do povo e mando que
curando algiiu outro solorgião na dita villa e termo ou em quallquer
outra parte de meus reinos e senhorios sem mostrar minha carta pas-
sada pei' meu soNjrgião moor emcorre em pena de trinta dobras de
banida conforme a seu regimento e sendolhe requerido [)or elle dito
meslie Pedro ás minhas justiças lhe mando que o constranguam que
pareça em minha corte peramte (j meu solorgião moor pêra sobriso
ser ouvido. Feyta em esta cidade de Lixboa a xxbij [27} dias do mes'
de mayo, el Rey noso senhor ho mandou pelo licenciado Leonardo
Nunez seu fisyquo moor que ora por seu especiall mandado serve de
solorgião moor em seus reinos e senhorios. Jorge (íuaspar a fez, ano
do nacimento de noso Senhor Jhu xpõ {Je.sns Cliris(o) de J b e l''' e
nove [IÕÒ9) ânuos. (^re.salva de entrelinhas) Comcerlada, fio()ue Vieira
=(^omcertada, Pêro d Oliveira.
{Anh. nac. da T. do T., Lii:." II de D. Seb., /. 40õ.)
ARUHIVO DOS AÇORES 1 19
Mercê á Misericórdia d'AngTa, para que o corregedor se-
ja juiz das suas causas: 1 de junho de 1559.
Kii el Key l.iço saher .t vns corregedor da coreição das Ilhas dos
açores qne ora soes e ao deaníe for que aveiido respeito ao que dizem
i»a petição atraz escprita o provedor e Irmaõs da caza da misericórdia
(la cidade d Amgra e por lhes fazer esmola ey pttr bem e me praz (jiie
vos conlieçaes daijui em deaiite de lodalas cansas que toqiiarem a di-
la casa da misericórdia aiilre quaesquer [lartes que demandar e esto
(jiiando per via de coreição residirdes nos lugares omde as taes par-
les que forem reos morarHím e por tamto vos mando que conlieçaes
das ditas causas na maneira ipie dito he e ouvidas as partes detremi-
nares o que for justiça dando apelação e agravo nos casos em (|iie
couber e este ey por bem qne valha como se fose carta per mym asy-
uada e pasada pela chancellaria semeuibargo da ordenação do segun-
do livro til." x\ (|ue diz qne as cousas cnjo efeyto ouver de durar mais
de liuu ano ()asem per cartas e pasaudo per alvaraes não valhão. Fer
não Barbosa o fez em Lisboa a primeiro de junho de J b e lix {lòò9).
Halltesar da Costa u fez escrrver=^Comcertada, .loam da (^osta=Coni-
cerlada, António d'Aguiar.
(Anh. nac. da T. do 7'., Ur. l di' í). Sd>., f. Sòl r.")
Nomeação de Ruy Dias Evangelho, para Ouvidor das ilhas
do Fayal e do Pico; 11 de junho de 1559.
Kn el Uey faço saber a vos Juizes, vereail ires, fidallgiios, caval-
leiros, escudeiros e povo da; villa.> e lugares das Ilhas do Fayal e do
Pyquo, qne por confiar de Kuy Diaz Avamgelho moradoí" na dita ilha
do Fayal que nisto me servirá bem e administraiá jnsliça ás parles
como a ella e a meu serviço compre ey por bem que elle sirva de ou-
vidor dessas Ilhas em quamto o eu asy ouver por bem e não mandar
o contrario o (|ual oficio elle servirá conforme a minhas ordenações e
segundo forma das doações (jue tinha»» os capitães ipie forão das di-
las ilhas C(Mitii-madas por el Rey meu senhor e avo (pie santa gloria
aja. Notificovolo asy e V(ts mando que lhe deis a pose do dito oficio e
lho deyxeis servir e delle usar dandolhe primeiro juramentít na Cama
ra principal da dita ilha do Fayal que siiva (» dito oticio bem e verda-
deiramente guardando a mim meu serviço e ao povo seu direito do
qual juramento e pose se fará termo nas C(»stas deste alvará (jue ey
por bt'in (pie valha como se fose carta feyta eus meu nome pei' mim
120 ARCHIVO DOS AÇORES
li;isinada e pasada per minha chancelaria sem embargo da ordenação
do Lívio segniidit i. ' 2 ^ que despocm que hs CMK^as cujo elffito oii-
ver de durar mais de hiiu {nnnn) pasem p» r carias e não per alvarás^
O doutor João de Barros o fez em Lisboa aos xj '//) de junho de j
l> e r^ e nove ilòòO) annos e servirá o dilo oficio três aniios soomen-
le.=Comcertada, Uoque Vieira=Comcertada, Pêro d"Ohveira.
[Arã. imc. da T. do T., Lir. ÍI de I). Seb., f. 410 c.".)
Mereê do officio de escrivão do almoxarifado da alfande-
ga da ilha de S. Jorge, á pessoa que casar com uma
das filhas de Galas Lopes, proprietário; 13 de ju-
nho de 1559.
Vai el Rey faço saber aos que este alvará virem que av^mdo res-
peito ao muit() tempo que lia que Galaz Lopes escprivam do almoxa-
rifado da alfandega da ilha de S. Jorge serve o dito oficio e » ter sete
filhas ey por bem e me praz de per sen falecimento fazer mercê do
iJito oficio descprivam do almoxarifado da dita Ilha de São Jorge a hua
das ditas suas filhas qual ele nomear pêra a pesoa que com ela casar
sendo auta {apta) pêra o servir a qual pesoa amtes de casar se virá
apresentar ao vedor de minha fazenda do negocio do reyno pêra ver
se he auto {apto} e achando que ho he lhe pasarà diso sua certidão
com a qual e esionnento ou certidão aiitemtica de como he casado e
recebido per palavras de presente lhe será pasada carta em forma do
dilo oficio com declaração que o terá e servirá em qnanto o eu ouver
por bem e não mandar o contrario pagand(j primeiro os direitos or-
denados e por sua guarda e minha lembrança lhe mandei dar_ esle
alvará. Diogo Lopez o fez em Lisboa a xiij (IS) de Junho de j b e
I e nove (./5õ5).=Comcertada, Joam da Costa ^= Comcertada, António
d'Aguiar.
[Are. nac. da T. do T., Lir." í." de D. S>'b. f. 384 v.")
ARCHIVO DOS AÇORES 121
Nomeação de Balthazar Dias para servir de Tabellião e
escrivão da Camará da Villa das Lages da ilha do
Pico, em quanto o proprietário não sahir livre da
prizão da Inquizição de Lisboa; 27 de junho de
1559.
Eu el Rey faço saber aos que este meu alvará virem gue eu ey
por bem de fazer mercê a Balllesar Diaz morador na villa das Layas
{sic) da Ilha do Pico da serventia dos oílicios de taballião do i)ublico e
do judiciall escrivão da C.amara e dallmotaçaria da dita villa que sam
de Adriain de Bairros que ora está preso pella santa Inquisição nesta
cidade de Lisboa e isto em quanto o dito Adriam de Bairros não for
livre ou eu não mandar o contrario o qual foy examinado por Symão
de Miranda Anrriquez do meu conselho e meu desembargador do pa-
ço e havido por auto (aplo) pêra os servir; notefico-o assy aos juizes
da dita villa das Layas (s?c) da Ilha do Pico; e a todos e quaesquer ou-
tros meus ofliciaes e pessoas a que o conhecimento desto pertencer e
lhes mando que o deixem servir e usar da serventia dos ditos olHcios
e aver os proes e percallços a elles direitamente ordenados em quan-
to o dito Adriam de Bairros não for livre ou eu não mandar o con-
trario como dito é, sem a ysso lhe ser posta duvida nem emb:irgo al-
guu porque asy é minha mercê e elle jurara na chancellaria aos san-
tos evangelhos que bem e verdadeiramente os sirva guardando em to-
do a mym meu serviço e ás partes seu direito e o regimento d"elles
que da dita chancellaria tirará e nella fará o synall publico de que ou-
ver de usar.E isto me praz que valha e tenha vigor como se fosse car-
ta feyta em meu nome asynada per my e asellada do meu sello pen-
dente sem embargo da ordenação do 2.° livro lit.*' xx que diz que as
cousas cujo efeito ouver de durar mais de huu anno pasem per cartas
e passando per allvarás não valham. António d'Aguiar o fez em Lis-
boa a xxbij (27) dias de junho de J b e lix (lõô9). Pêro Feruandez o
fez escrever {resalras dos tiscados)^=\iea Balltazar Dias contheudo nes-
ta carta acima escprita haqui meu publico synal (;6/^wrt/jtywò//co) fiz que
lall é = signal. = Comcertado, João da Costa = Concertado, António
d Aguiar.
[Arch. nac. da T. do T., Lir. 4.'' de D. Seb., f. 79 c")
K" 44 — Vol. Vlll - 1886.
Í22 ARCHIVO DOS AÇORES
Nomeação de António Fernandes para Tabelião do judi-
cial na Villa da Praia; 11 de Setembro de 1559.
Dom Sebastifiu etc. Aos que esta minha carta virem faço saber
que confiando eu de António Fernandez criado de Álvaro Martins Ho-
mem, filho de Amtão Martins capytão da. villa da Praya da Ilha Tercei-
ra que no que o encaregnar me servirá bem e fielmente como a meu
serviço e a bem das parles cumpre e por lhe fazer mercê tenho poi'
bem e o dou ora daquy em diante [)or tabellião do judicial da dita vil-
la da Praya da Ilha Terceira asy e pela maneira que ho elle deve ser
e ho hera Dy^guo Borgt-s que oditi» (>ficio tynha e o perdeo pf^r senten-
ça de minha relação per cnllpas que no dito oficio com^teo, segundt»
fuy certo pela dita sentença que perante mim foy hapresentada pasa-
da per minha chancelaria que parecia ser assinada pelo doutor Si-
mão Gonçaivez Preto do meu desembargo, corregedor dos feytos cri-
mes de minha corte. Juiz dos feytos da dita chancellaria e sobscri-
pta per Amtonio da (]osta escprivam dos feitos das Ilhas aos xx b
{20} dias do mes d" Agosto de J b e lix {1559) annos: e esta n ercet-
lhe faço per virtude de huu allvará per mim asinado e de bua apos-
tilla ao pee do dito alvará iso mesmo por mim asinado e pasado per
minha chancehiria de que o trellado huu depôs outro he o seguinte:
Desembarguadores do paço amigiios, eu ey por bem por mo pe-
dir a lííante d< na Isabel minha nuiito amada e |)rezada tia de fazer
ujerce a Amtonio Keiti.indez, criado de Allvaro Martins Homem, filho
de Amtão Martins capitão da Villa da Praya da Ilha Terceira dos o-
fícios de tabalião do publico e judicial da dita Villa (jue diz que estão
vaguos por ser condenado em perdimenio delles [>or .-eiitença de mi-
nha Relação hu byoguo Borges cujos diz que herão per culpas qne
comeleo nos ditos uficios o qual Amtonio Fernandez foi examinado e
ávido por apto pêra o servir pelo doutor Symão de Miranda Amriquez
do meu conselho e meu desembarguador do paço, mandovos que mos-
Irandovos elle co.no os ditos ofícios estão vaguos na maneira sobredita
lhe pases delles carta em forma com declarnção (|ue os lerá e servirá
em quanto eu ouver por bem e não mandar o contrario pagiiando pri-
meiro os direitos ordenados Feiíião Barbosa o fez em Lisboa a xij 'J2i
dias de julho de Jb e lix {If^õO). Baltasar da Costa o fez escprever.
E posto que diga que lhe pa>seis carta dos ofícios de tabaliam publico
e judiciall da Villa da Praya da Ilha Terceira pasarlheeis somenle o do
judiciall porquíiuto delle >o fby piivado por sentença. Dioguo de Pro-
efiça o fez em Li>boa a xx biij .,28 dias d' Agosto de J b e lix {ir)õ9.s
E por tanto mando aos juizes da dita Villa da Praya e a todolos
outros ofíciaes e pesoas a que esta caria for mostrada e o conhecimen-
to delia pertemcer (pie ajão ao dito Amtonio Fernandez por taballião do
judiciall como dito he e lhe dem logo a [)ose do dito oticio e lho dey-
ARCHIVO DOS AÇORES 123
xem servir e delle usir em quanto o eu oiiver por bem e não man-
dar o contrario e aver os proes e percalços a elle direitamente orde-
nados sem dovida nem eoíbarguo algiiu que Hie a ello seja pijsto por
que asy he minlia inercee e elle pagou dordenado do dito oficio dous
niill rs. os quaes emtreg(ju ao recebedor de minha chancellaria peran-
te o esc[)rivam delia que os sobre elle caregou em recepta como pa-
receo per seu coiiliecimenlo em forma na qual chancellaria elle dito
Amtonio Fernandez jurará aos samtos evangelhos que sirva o dito o-
ficio bem e verdadeiramente e cumpra e guarde o regimento que del-
ia levar guardando em todo a mim meu serviço e ás partes seu di-
reito. Dada em a cidade de Lisboa a xj (iijdias do mes de setembro;
el Rey noso senhor o mandou per Symão de Miranda Anriquez e pe-
lo licenciado Francisco Dias do Amarall chanceller do mestrado de xpõ
[Christo] ambos do seu conselho e seus desembargadores do paço e
petições. Roque Vieira a fez, ano do nacimento de Noso Senhor jhu xpõ
íJesKS Christo) de J b e lix (1559) annos; e eu Amtonio Vieira a fiz
escprever {com as resalvas dos riscados). Fu Amtonio Fernandez nesta
carta conteúdo asyney aquy de meu pubryco synall que tall he {signal
publico) Comcertada, Roque Vieira^=Comcertada, l*edro d'Oliveira.
{Arch. nac. da T. do T., Liv.° 2.° de D. Seb. f. 448.)
Nomeação de João Serrão para Alcaide pequeno da cida-
de de Ponta Delgada; 13 de setembro de 1559.
Eu El Rey faço saber a quamtos este allvará virem que eu ey por
bem e me praz que João Serrão, alcaide pequeno da cidade de Pomta
Delguada posa servir o dito careguo três annos aalem de outros três
que já tem servido e esto semdo elle apresemtado pello allcaide moor
a que pertemce apresemtaçam do dito oficio e recebido pelos verea-
dores em Camará o que asy ey por bem sem embarguo da ordenação
em contrario visto como se mostra servir bem o dito oficio e não ser
culpado nas devasas judiciaes que se tirarão no tempo que sérvio, co-
mo se mostra per certidam do juiz de fora da dita cidade. O doutor
Joam de Barros o fez em Lisboa aos xiij (13) dias de setembro de"
b e lix {1ÕÕ9) annos.
{Arch. nac. da T. do T., Lie. II de D. Seb., /l 474.)
124 ARCHIVO DOS AÇORES
Nomeação de António Fernandes, para servir de Condes-
tavel dos Bombardeiros em Ponta Delg-ada; 9 d'outu-
bro de 1559.
Eu El hey faço saber a vós ouvidor da Ilha de São Migel que ey
por bem e me praz que o condeestabré dos bonbardeyros que ora
está na dita Ilha se venha pêra este reyuo e que em seu lugar sirva
de condeestabré dos ditos bonbardeiros António Fernãodez bonbar-
deiro, morador na dita Ilha com o qual carrego averá xij {12è000)
rs. de mantimento cadanno á custa da inposição dos dous por cento
que el Rev nu-u senhor e avô que santa gloria aja mandou pôr nas
mercadoria*s da cidade de Ponte Delgada da dita Ilha o qual cargo
servirá em quanto eu ouver por bem e não mandar o contrario e por
tanto vos mando que tanto que vos e^te for apresentado no primeiro
navio que pêra está Reino vier deys embarcação ao dito condestabre
que ora esta pêra que se venha e metereys de pose do dito carguo
ao dito António Fernãodez ao qual dareys juramento dos santos avan-
gellios que bem e verdadeyramente sirva o dito carguo da qual pose
e juramento se fará asento nas costas deste, asynado por vós e per ele
pêra se saber como lhe asy foy dado e asy mando ao recebedor da
dita enposição dos dous por cento que do dia que o dito António Fer-
nãodez começar servir em deante lhe dee e pague os ditos xij {120OOO)
IS. em cada anuo aos quartéis do anuo per inteiro e sem quebra al-
gua per este soo alvará geral sem mais ser necesario outra provisão
minha e pello trellado delle que será registado no livro de sua despe-
sa pelo escrivão de ^^w cargo e conhecimentos do dito António Fer-
nãodez mando aos contadores que llevem em comta ao dito recebedor
da dita enposição o que lhe asy pagar e este me praz que valha e te-
nha foiça e vigor como se fose carta feyta em meu nome per mym a-
sinada e pasada per minha chancellaria sem embargiio da ordenação
do segundo livro titulo >x {20) que o contmio dispõem. João Alvarez
o fez em Lisboa a nove diaz doutubro de j b e T" e nove [lô59),oi
quaes xij [12i»()00) rs. lhe o dito recebedor pagará com vo^a cerlydãi»
de como serve o dito carguo e nas costas deste vos mostrará certidão
do contador de minha fazenda de cumo no registo da piovisão do di-
to conde estabie puz verba que não adaver mais ordenado que por
etla tinha. E eu Álvaro Pirez o fiz escprever. = Concertado, Hoque
Vieirar^Concertado, Pêro dOliveira.
{Anh. nac. da T. ('0 7'., hr. lU tir D. í^eh.. f. 378.)
ARCHIVO DOS AÇORES 123
Alvará de lembrança, para servir de tabellião quem
casar com uma das filhas de Lazaro Dias, da ilha do
Fayal; 20 d'outubro de 1559.
Eu ell Rey faço saber aos que este ali vara virem que eu ey por
bem e me praz por mo pedir Dum Aleixo de Menezes meu ayo, de
per fallecimento de Lazaro Diaz taballiam do publlico e do judicial e
escrivão da Camará da villa d Orla da Ilha do Fayall e dante o capi-
tão da dita Ilha, fazer mercê dos ditos ulTicios a hua de suas filhas
qual elle nomear pêra a pessoa que com ella casar a qual pesoa será
obrigada de antes que case se vir apresentar aos desembargadores
(lo paço pêra a examinarem e achando que he apta pêra servir os di-
tos oflicios lhe passarão disso sua certidão pêra com ella e este allva-
rá depois de casar lhe ser delles passada carta em forma mostrando
a carta do dito Lazaro Diaz e sua renuuciação e pagando o primeiro os
direitos ordenados e a dita pessoa terá e servirá os ditos ollicios pela
dita carta em quanto eu o ouver por bem e não mandar o contrario.
Fernão Barbosa o fez em Lisboa a xx (20) doutubro de mil b e lix
(1559}. Balltesar da Costa o fez escrever. =Comcertado, João da Cos-
ta=Concertado, António dAguiar.
[Arch. mic da T. do T., Liv." ÍV de D. Seb. f. 103 r.")
Licença para Manuel Alvares pôr botica em Ponta Del-
gada; 30 doutubro de 1559.
Dom Sebastião etc. A quantos esta minha carta vyrem faço saber
que a mym enviou diyzer por sua petição Manuel Alvares morador
em a cidade de Ponto Delgada que por se achar apto e suficiemte pê-
ra usai' do oficio de boticário como consta do estormento (jue oferece
queria asemtar boliqua o que nam podia fazer sem primeiro ser exa-
minado e vemdo eu seu dizer e pedir mandey ao licenciado Lionardo
Nunez meu fisyquo mor que vise o dito estormento o qual o vio e con
fiando do dito estonnento e nu dito Manuel Alvarez que usando o di-
to oficio e cargo o fará bem e como cumpre a serviço de Deus e meu
e querendolhe fazer graça e mercê ey por bem e me apraz que elle
posa asentar botiqua e usar da arte e oficio de boticairo em a dita ci-
dade somente e seu termo e averá as liberdades e omras que por re-
zão do dito oficio ouver daver e os proes e piecalços <jue de suas me-
decinas lhe pertencerem por suas valias não os vendendo por mais
preçíts nem valia do que as vende o meu boticário sob pena de as pa-
gar anoveadas amelade [)era quem u acusar e a outia metade pêra o
126 AHCHIVO DOS AÇORES
meirinho de rainha corte e o dito Manuel Alvarez jurará eni a Cama-
rá (ia dita cidade a.is samlos avamgellios que bem e verdadeyramen-
te com sã comcyemcia use da dita arte e oficio de biticairo como cum-
pre a serviço de Deos e meu e bem do povo e mando a tndolas justi-
ças e oficiaes e pe^oas a que fio conliecimento pertemcer e esta mi-
idia carta for mostrada que o deixem asemtar botiqua e usar dela da
maneira que dito he e a outra alguma pesoa não, se nãu íor examina-
do e mostrar minha carta pasada por o meu íisiquo mor sob [)ena de
trinta dobras de bamda conforme a seu regymento e sendo requerido
por ele dito Manuel Alvarez as minhas justiças lhe mando que o cos-
tranjão (|ue pareça em mynha corte perante o meu íisiquo mor pêra
sobryso ser ouvido e mando que sob a dita prna das ditas trimta do-
bras tenha regymento asynado por o meu fysyqno mor por omde vem-
da suas medicinas. Feyto em esta cidade de Lisboa a x\x {30) dias do
mes doutubro; el Rey noso senhor ho mandou por o Licenciado Lio-
nardo Nimez seu fysiquo mor em seus reynos e senhorios. Gregório
Nunez a fez, ano do nacyíuento de Jhu xpõ (Jesus Chrislo) de J b e
lix {1ÕÔ9) anos.=Comcertada, Joam da Cosla=Comcertada, Pêro d'0-
liveira.
{Arcf>. me. da T. do T., Liv. 1 de D. Seb., f. 462.)
Nomeação de Gonçalo Vieira para escrivão da Gamara
da Villa das Vellas da ilha de S. Jorge; 12 de janei-
ro de 1560.
Dom Sebastião etc. Aos que esta minha carta virem faço saber
que comfiando eu de Gonçalo Vieira morador na villa das Veias da
Ilha de São Jorge que no que ho encarregar me servirá bem e fiel-
mente como a meu serviço e a bem das partes compre e por lhe fa-
zer mercê tenho por bem e o dou ora daqui em deante por escprivam
da camará da dita vila das Velas da dita Ilha de São Jorge asy e pe-
la maneira (jue o elle deve ser e o era Afonso d'Almada. seu sogro,
que o dito oficio tinha e se finou, por cujo falecimento el Rey meu se-
nhor e avô que samta gloria aja pasou hu alvará por sua alteza asy-
nado e pasado pela chancelaria por que ouve por bem fazer mercê do
dito ofíicio descripvam da camará e asy do otficio de Juiz dos órfãos
da dita Ilha a Pêro d'Ahnada, seu filho, o ipial Perod'Almada per my-
nha lycemça renunciou ora o dito oficio descprivam da camará da di-
ta villa das Velas no dito Gonçalo Vieira seu cunhado segundo fui cer-
to per huu publico estromenlo da renunciação que perante mym foy
apresemtado «jue dizia '>ev sobescprito e asynado por Jacome Carva-
lho tabelliam das notas desta cidade de Lisboa aos quatro dias do mes
ARCHIVO DOS AÇORES 127
de novembro du anu pasado de 7 b e lix (lõõO) com lesleniunliMs nel-
le nomeadas e esta mercê lhe faço por virtude do dito alvará dei Hey
meu senhor de que acima se faz menção e de outro alvará per mym
asynado e pasado [tor minha chancellaria de que o trelado hu depôs
outro de verbo a verbo he o seguinte:
Eu el Hei (*) faço saber a quantos este meu alvará virem que eu
ey por bem e me praz de fazer mercê a Pêro d 'Almada tillio mais
velho d'Afon)so d'Almada já falecido dos oficios de juiz dos órfãos e
escprivam da Camará da Illia de São Jorge nas Ilhas Terceiras que va-
garam por falecimento do dito seu pay e isto semdo elle a[)to pêra os
servir e tanto que for em idade e apto cttnio dito he lhe mandarei fa-
zer carta em forma delas pagamdo primeiro os dereytos ordenados e
pêra sua guai'da lhe mandey pasar este alvará que quero que valha
como carta sem embargo da ordenação do segundo Livro titulo xx que
ho contrario despoem. Joam de Castilho o fez em Lisboa a xj (11) diaz
de mayo de y b e lij {lõ52).
Desembargadores do paço, Amyguos, ey por bem e me apraz de
dar lugar e lycença a Pêro d'Almada Juiz dos órfãos e escprivão ida
Camará da Villa das Velas da Ilha de São Jorge que pusa remmciar
os ditos ofícios em Gonçalo Vieira seu cunhado morador na dita Villa
sendo auto [apto) e suficiente pêra o servir vista a provú^ão que tem
dei Key meu senhor e avô que samta gloria aja por ipie ouve por bem
de lhe fazer men'ê deles p(!r vagarem por falecimento de Afouiso d"AI-
mada seu pay mandovos que examineis o dito Gonçalo Vieira e semdo
auto {apto} líie pases carta em forma dos ditos ofícios apresentandovos
a renunciação do dito Pêro d'Almada e a dita provisão perque lhe sua
alteza fez dtles mercê pagando primeiro os direitos ordenados na qual
carta se faiá decoração que os terá e servirá em (pianto eu o ouver
pi»r bem e não mandar o contrario e a renunciação que o dito Pêro
d'Almada fizer dos ditos ofícios ey por bem que valha e tenha vigor
posto que seja menor de vymte e cymquo anos vista a delygencia que
o Corregedor Manoel Alvarez do meu desembargo sobre este caso fez
por meu mandado. Amtonio d'Aguiar <; ívi em Lisboa a seis de nu-
vembro de y b e lix [lõòfJ). Pêro Fernandez o fez escprever. E pos-
to que diga Juiz dos órfãos na Villa das Vellas somente, he Juiz dos
órfãos de toda a Ilha de Sam Jorge e ua villa do Topo e Calheta asy
e da maneira que o sservio Afonso d Almada seu sogro. Pêro Fernati
dez o fez em Lisboa a xiij (JS) dias de dezembro de y b e lix {15õ9).
E por tanto mand.» aos juizes da dita Villa das Vellas e a todolos
outros oficiaes e pesoas a (jue esta carta for mostrada e o conheci-
mento delia pertemcer que ajão ao dito Gonçalo Vieira por escprivão
da Camará (.oino dito he e lhe dem logo a pose do dito oficio e lho
leixem servir delle usar em quanto o eu ouver por bem e não mandar
(•) D. .luão ;{."
128 ARCHIVO DOS AÇORES
O contrario e aver os proes e percalços a elie dereytamente ordenados
sein duvida nem embargo algum que lhe a ello seja posto por quanto
fui examinado e ávido por auto pêra o servir por Symão de .Miranda
Amriqiiez do meu conselho e meu desembargador do paço e elie pagou
de ordenado do dito oficio e doutro que leva per outra carta de Juiz
dos órfãos dous mill e qualrocemtos rs. os quaes emtregou ao rece-
bedor de minha chancellaria peramte o. escprivam delia e os sobre el-
ie carregou em recepta como pareceo per seu conhecimento em forma
na qual chancellaria elie dito Gonçalo Vieira jurara aos Samtos avam-
gelhos que sirva o dito oficio bem e verdadeiramente e cumpra e guar-
de o regimento que dele levar guardando em todo a mim meu servi-
ço e as partes seu direito. Dada em a cidade de Lisboa ao .\ij (12) dias
de janeiro; el Rey nosso senhor ho mandou por Simão de Miranda .\m-
riquez e pelo Licenciado Francisco Diaz do .\marall chanceller do mes-
trado de Christo, ambos do seu conselho e seus desembargadores do
paço e petições, Roque Vieira a fez, ano do nacimenlo de noso senhor
Jhu xpõ {.ksHs Christo) de J b e Ix {lõ60). Martim Freire o sobescpre-
vy, Este huficio descprivam da Camará he da villa das Velas somente
(resalva dos riscados e entrelinhas) Comcertada, Joam da Costa=^Con-
certada, António dAguiar.
{Arch. nac. da T. do T., Liv. V de D. Seb., f. 7.)
Carta ao mesmo, de Juiz dos órfãos da Ilha de S. Jorge e nas
Villas das Vellas, do Topo e da Calheta, pelos mesmos fundam.enlos da'
antecedente e incluindo as mesmas provisões, e com prescripções idên-
ticas, mandada passar pelos mesmos desembargadores= 12 de janei-
ro 1560=Luiz Felgueiras a fez.
{Idem, f. 7 v.")
Mercê ao Bacharel Gabriel Mendes, para por 3 annos cu-
rar os enfermos do hospital da Misericórdia de Ponta
Delgada; 16 de fevereiro de 1560.
Eu El Rey faço saber a vós juiz vereadores e procurador da cida-
de de Ponta Delgada da Ilha de Sam Miguel que pela boa enfoimação
(|ue me foi dada do Bacharel Graviel Mendez morador na dita cidade
ipie nela cura de medicina e sulurgia ey por bem e me praz que por
tempo de Irez anos que se começarão da feitura deste em diante ele
cure os enfermos da confraria da .Misericórdia e espritall da dita cida-
ÂBGHIVO DOS AÇORES 129
(!e (Tazendolio ele bem no dito tempo e pelo trabtjllio (jiie niso ade le-
var ey por bem que aja doze mill rs. em cada liun dos ditos trez anos
(lUtílhe SHiTio pagos á custa da empo.>i(;ão í|ue eí Rey meu^senlior e avô
(|tie samta gloria aja coincedeo á dita cidade, pelo que vos mando que lhe
façaes pagar os ditos doze mil! rs. aos quartéis d.j ano asy como for
servindo e por o trelado deste (\iie será registado no Livro da despe-
sa do recebedor da dita emposyção e certidão do provedor da (lita
confraria de como o dito Graviel Mendez serve e cura os ditos enfer-
mos asy de niedecina como de sulurgia mando que seja levado em con-
ta ao dito recebedor o que lhe asy pagar em cada huu dos ditos três
anos até a dita quantia dos ditos doze mill rs. com conhecimento do
dito Graviel Mendez de como os dele recebeo e esto ey asy por bem
alem de outros três anos que o dito Senhor ouve per bem que servise
e curase os ditos enfermos e este me praz que valha e tenha força e
vigor como se fose carta feyta em meu nome per mym asynada e pa-
sada pela minha chancellaria sem embargo da ordenação do segundo
Livro titulo xx que ho comtrario dispõem. João Alvarez o fez em Lis-
boa a xbj (16) de fevereiro de X b e Ix {lõ60); e eu Álvaro Pirez o fiz
escprever. Comcertada, João da Costa^=(]oncertada, António d"Aguiar.
{Are. nac. da T. do T., Liv.'' K.° de D. Seb. f. 17)
Nomeação de António Pirez do Canto para Provedor das
Armadas nos Açores; 26 de março de 1560.
Eu el Rey faço saber a quantos este meu allvará virem que com-
fiamdo eu dAmtonio Pirez do Camto fidalgo de minha casa que no de
que o encarregar me servirá com haquelle cuidado, vygilancia e reca-
do que a meu serviço cumpre e como até ora o tem feyto nos negó-
cios de que o encareguey tenho por bem e praz que elle tenha e syr-
va o carguo de prover em todas as minhas armadas que vem da ín-
dia e Mina, Brazill e Guiné e de quaesquer outras parles que ao porto
da cidade dAmgra da Ilha Terceira e a quaesquer outros portos das
Ilhas dos Açores vierem ou forem ter asy das ditas partes acima de-
claradas como deste reino asy e da maneira que tudo o fazia Pedro
Anes do Camto seu pay per cujo fallecimento o dito carguo vaguou o
qual asy servirá em quanto o ouver por bem e não mandar o con-
trario e com elle averá o ordenado que per outra minha provisão ey
por bem que aja com o dito carguo. E por tanto o notefico asy ao com-
tador da dita Ilha e mandolhe que meta ao dito Amtonio Pirez em po-
se do dito oficio dandolhe primeiro juramento que bem e verdadeira-
mente o syrva guardando em tudo o que cumpre a meu serviço do
N.'^ 4i — Vol. VIII - 1886. 3
130 AhCHlVO DOS AÇORES
qiiall juramenlu se fará asemto nas costas deste allvará que quero e
me praz que v;ilh;',leiilia furça e vygur como se fose carta feita em meu
nome e asellad.i do meu sello pemilemte sem euibargo da hordenaçam
do segundo Livro titulo iO que diz que as ctjusas cujo efeito ouver de
durar mais de hu ano pasem i)er cartas e pasando per allvaiás não
valhão. Adrião Lúcio o fez em Lisboa a \xbj [26) de março de mill b
e Ix {1Ô6U). André Soares o fez escprever=C(íncertado, Pêro d"Olivei-
ia=Comcerttldo. Roque Vieira.
{An-h. mic. da T. do T., Lir.'' 6'.° de /). Seb., f. 161 v.°)
Confirmação de Francisco Dias no cargo de Oondestavel
dos Bombardeiros de Ponta Delgada e annulando a no-
meação de António Fernandes; 25 dabril de 1560.
Eu El Rey faço saber aos que este meu alvará virem que el Hey
meu senlior e avô (pie santa gloria aja ouve por bem per liuu seu al-
vará feittt a nove dias do mes de julho do anuo de b Ibj {ln56) fazer
mercê novamente do cargo de (^ondeestabre dos bomdardeiros da ci-
dade de Pomla Delgada da lllia de São xMigel a Frauci>co Diaz mora-
dor na dita cidade em quanto bo ouvese por bem e não mandase o
contrairo e por lio dito Francisco Diaz não apresentara dilii i)rovisão
e se não saber que ele tinha o dito cargo fiz dele mercê a Amtonio
Fernandez mui'adur na dita Ilha com doze mil rs. de ordenado cad.ino
pagos á cu>ta do dinheiro da Inposyção dos dons por cento da dit.i ci
dade e ora avendo respeito a el Rey meu senhor e avô ter feyto a di-
ta mercê pela dita provisão ao dito Francisco Diaz e asy a enformíi-
ção que dele me foy dada e por confiar dele que no dito cargo de con-
destabre dos bombardeiros da dita cidade (h* Pomta Delgada me ser-
virá bem e fielmente como a meu serviço cumpre e por lhe fazer mer-
cê ey por bem e me apraz que elle syrva daípii em deaule o dito car-
go em quanto ho eu ouver por bem e não manriar (» contniÍ!-o como
qual cargo ele averá de mantimento em cada liuu anno \b {lôéOOO)
rs. do dia que começar a servir em deante os quaes lhe serão pagos
á custa do dinheint da enposição dos dous por cemto da dita cidade
com certidão ilo ouvidor da dita Ilha de como serve e por tanto man-
do ao recebedor da dita Imposição (pie ora he e ao deaule for que em
cada luui anno dee e pague ao dito Fram-isco Diaz os ditos quimze
mill rs. aos quartéis do anno per inteiro e sem quebra e por o trela-
do deste que será regi>tado no li\ru de sua despesa pelo escprivão
de seu cargo e conhecimentos d(» dito Francisco Diaz e a dita certi-
dão do dito ouvidor de connt serve o dito cargo mando aos contado-
ARCHIVO DOS AÇORES 131
res que lhe levem em comln o que lhe asy pagar e asy mando ao di-
to oiivydor (|ne lhe dé a |tosse do dito cargo e dahi em deaiit(! lho lei-
xe servir e dcln usar e aver u dito manliuienlo, proes e percalços que
lhe dereylameute pertencerem sem duvida nem emhargo algim por
que asy he minha mercê da (jiial pose se fará asento nas costas deste
asynado pelo dito ouvidor e a dita provisão do dito Amtonio Fernan-
dez se não compriíá nem haverá eíleilo e s(.omente se cumpra esta
como se nela conthem e o dito Francisco Diaz jurará na minha chan-
celaria aos samtos avangelhos que bem e verdadeiramente syrva e use
do dito cargo goardamJo em todo meu serviço e ás partes seu derey-
to e este me praz que valha e tenha força e vygor conio se fose car-
ta feyta em meu nome por mym asynada e pasada pela minha chan-
cellaria sem embargo da ordenação do segundo Livro titulo xx (20)
ipie lio contrario dispõem. João Alvarez o fez em Lisboa a xxb (20)
dabril de J b e Ix {lõ60) e a provisão que el Rey meu senhor e avô
pasou do dito cargo ao dito Francisco Diaz como atraz faz menção se
não ronqieo ao asynar deste por dizer que era perdida e por tamto
mando ao ouvidor da dita Ilha e a quallquer outro meu oíFicial que
imdolhe a dita provisão ou souberem em que parte está a enviem a
Álvaro Pirez íidalgo de minha casa e escprivão de minha fazenda e da
provedoria mór de meus reynos pêra se romper e eu Álvaro Pirez a
fiz escprever.=Comcertada, Joam da Costa=Concertada, António d'A-
guiar.
{Arch. nac. da T. do T., Liv. V de D. Seb., f. 49.)
Merca de 50^000 reis a António Pires do Canto; 26 de
junho de 1560.
Eu El Rey faço saber a quantos este meu alvará virem que eu
tenho emcareguado per outra minha provisão a Amtonio Pirez do Cam-
ti) ííidalguo de minha casa, do carguo de prover nas Ilhas Terceiras
todas as minhas armadas que vyerern ter a quaesquer portos dos lu-
gares das ditas Ilhas em coamto o eu ouver por bem e não mandar o
comtrario com o qual carguo ey por bem e me praz por lhe fazer mer-
cê que elle tenlia e aja de mym em cada huu anno em quanto o ser-
vir cimcoenta mill reis os quaes começará a vemcer do primeiro dia
de janeiro de quinhentos e sesemta em deante e serlheão pagiios ca-
da ano com certidão do comtador das ditas Ilhas de como o dito Am-
tonio Pirez serve o dito carguo. E por tanto o notefico asy e mando ao
Barão dAlvito vedor de minha fazenda que lhe faça asemlar este al-
vará nos Livros delia e lhe faça paguar nas ditas Ilhas os ditos F
i32 ARCHIVO DOS AÇORES
(60'5>000) reis oadamj em parte oinde lhe sejão bem paguos e quero e
me praz que este valha como se iase carta começada em meu nome e
asellada de meu sello pemdemte sem embarguo da ordenação do 2."
livro titulo 2.° que despoem o conlrarii». Allvaro Fernnndez o fez em
Lisboa a xxbj (26) de junho de b e Ix {1560). Amdré Soares o fez es-
cprever.
{Arch. me. da T. do T., Liv. VI de D. Seb.. f. 161 v.\)
Alvará de lembrança a favor da pessoa que casar com
uma das filhas de Galas Lopes, Tabellião na Villa
das Velas da illia de S. Jorge; 12 de novembro
de 1560,
Eu el Rey faço saber aos que este meu alvará virem que en ey
por t)em e me praz de fazer mercê a Galas Lopes taballiam do publi-
co e judicial da villa das Vellas da Ilha de São Jorge dos ditos ofícios
per seu falecimento pêra a pesoa que casar com uma de suas filhas
quall ele mais quiser e nomear casando com pesoa auta e suficiente pêra
os servir esto se ao tempo de seu falecimento'! não tiver feito neles eros
perque os tenha perdidos e a pessoa com que a dita sua filha se concer-
tar de casar amtes de ser feyto o casamento se virá apresentar a huu
dos meus desembargadores do paço pêra ver se he auto pêra os ser-
vir e semdoo lhe dará diso sua certidam pela qual de|)ois de ft^yto o
dito casamento lhe será feyta carta em forma dos ditos oficios mos-
trando a carta que o dito Galaz Lopez deles them e sua nomeação <■
certidão de como be casado e recebido per palavras de presente com
a dita sua filha segundo mandamento da santa madre Igreja de Roma
pagamdo primeiro os direylos ordenados na quall carta se fará decla
ração que os terá e servirá em quanto eu ouver por bem e nam man
dar o conlrairo e outrosy mostrará certidão do Juiz de fora da dita
villa de com o dito Galas Lopez não cometeo neles erros por que os
perdese. Amtonio dWguiar o fez em Lisboa a xij (12) de novembro
de y b e Ix (lô60) Pêro Fernandez o fiz escprever=Comcertada, Joãi»
da Costa=Concertada, António d"Aguiar.
{Are. me. da T. do T., Ur. V. de D. Seb. f. 14Ò r."i
ARCHIVO DOS AÇORES 133
Nomeação de Mig-uel de Figueiredo para procurador de
numero na ilha de Santa Maria; 3 de março de 1561.
Eu El Rey f^ço Síiber a vós João Soares de Sousa fidalgo de mi-
nha casa capitão da Ilha de Santa Maria (jiie aveindo eu respeito ao
que na petição alraz esrprita diz Migel de Figueredo morador iia di-
ta Ilha ey por bem e vos mando que vos enformes do contheudo ne-
la e achando que he necessai"io proverse de [)rocuraiJor do mnnero
em lugar de Pêro Vaz ausente de que na pt^lição faz menção e que
ho Migel de Figueredo he auto (apto) e suíicietite para servir o di-
to oficio de procurador do numero da dita Ilha o encaregares da ser-
ventia dela e ysto em quanto durar a ausência do dito Pêro Vaz ou eu
iião mandar o contrairo e amtes de o começar a servir lhe dares ju-
ramento dos samtos avamgelhos que bem e verdadeiratnente o sirva
guardando em todo meu serviço e ás partes seu direito de que se fa-
rá asento no Livro da Camará per elle asynado e dhy em deante lho
deixares servir e dele usar e aver os i)roes e petcalços que lhe direy-
tamente pertemcerem sem niso lhe ser posta duvida nem embargo al-
guu porque asy he minha mei'ce. Amtonio d'Aguiar o fez em Lisboa a
iij (5) dias de março de y b e Ixj [1561). Pêro Fernandez o fez es-
cprever=Comcertado, Joam da Costa=Concertado, Amtonio dAguiar.
{Arclt. MIC. da T. do T., Liv. V de D. Seb., fl. 212 r.°j
Carta do Provedor das Armadas, António Pires do Canto
a Elrei; de 25 de julho de 1561.
Senhor.— Ontem xxiiij (24; deste mez de julho trouxe nosso Se-
nhor a este porto a náo São Martinho de que lie capitão António Mo-
niz com muita presteza foy loguo provida he partira oje e com ella
Lisnarte Pirez d'Andrade, com toda su armada por se não esperar já
este ano por mais nãos. Arma(ia da Mina tenho nova que partio ao
derradeiro dia do mes dAbrill, não deve tardar, como a noso Senhor
trouxer nam terá nem hua detença porque loguo será [)rovyda he avya-
da.
Todo o que me V. A. este ano tem mandado por suas cartas lenho
feito muy emteiramente e canto Senhor ao porto que V. A. me mandou
que com Lisnarte Pirez he pillotos fosemos sondar tudo se fez asy co-
mo V. A. mandava, e os pylolos e pessoas antygas se tirarão por tes-
temunhas por o Corregedor de V. A. que a todo foy presente, estam
sse tresladando os autos pêra com esta os envyar a V. A. se sse aca-
barem antes desta náo dar á vella o> levará Lisnarte Pirez he senam
134 ARCHIVO DOS AÇORES
emvyallus em{sic) por armada da Mina: por elles verá V. A. o que cum-
pre a seu serviço he pois me V. A. manda que também digna meu
parecer; digu(j senlior que as nãos da Índia que sse podese .^er nun-
(|ua ancorarem em nemliua parle que isto lie o que mais cumpre a
voso serviço e á vella sserem providos; e pêra ist(j estar ssempre tu-
do prestes e como entrase abril V. A. mandar a esta ilha liua cara-
vela darmada ou duas pêra que vynd(j allgua não cedo, logiio se par-
tysse com hua caravela, e outras em que sse aqui meteiia arlelheiia
ssem custar fazerse despeza como este ano fiz; e que pêra isto venlia
artelliaria miúda he pollvora pois V. A. aquy tem doze bombardeiros
lie hum condestabre (pie leva cada hum hum moyo de trigo e o condes-
tabre dezasete myll reaes, isto de tença que nem porisso lhe leyxam de
pagar ca.ndo servem e nam avemdo artelliaria meuda he pollvora nem
se podem armar navyos nem V. A. ser bem servydo e perdese o que
se dá aos ditos bombardeiros; tenho envyada toda a dita artelliaria nam
a tornaram a mandar, V. A. mande que a tomem a mandar se asy o
á por seu serviço e sse não não se faça conta de sse qua poder armar
nem liu navyo.
E camdo. senhor, as nãos não poderem escusar dancorarem deve
V. A. mandar que ancorem donde ancoraram des o tempo que se
a índia descobrio até que el Rey voso avô que está em Groria man-
dou (pie ancorassem em trimta braças porque cando ancoravam dentro
no porto nunipia ouve desastre nem perigou nãos.
Canto, Senhor, ao porto que V. A. mandou ver he porto de três
legoas desta cidade em costa brava ssem porto nem calheta mansa
onde se posam varar botes, terra ssem p(jvoaçam pêra acudir gente
cando for necesario sem auguoa que he o principal como tudo mais
largamente vay justifiquado! porto onde ornem desta terra sse allenbra
dormyr navyo de nuyte e sse allgnem vay a ell caregar trigo não está
senam pouquo e de dia, e por tomar nt- II trigo leva mais ij^ (200) rea-
es por tonellada e creo que ainda que V. A. mande aos pillotos das
nãos da índia que so pena de nell ancorem o nam poderam conprir
ponpie crarainenle veram sua perdiçam: de irem a V. A. com estas
novydades não me espanto por^que as desta Ilha sam muitas, as nãos
e nos toilos somos de V. A. o que mandar «jue se faça teremos por
bem, com acupação de fazer esta náo ha vella e armada não dou de
tudo mais miudamente conta a V. A. fallo ey por armada da Mina. No-
so Senhor acrecente a vida e estado de V. A. he da Raynha iiosa se-
nhora: da Ilha 3 ^ a xxb (2ò) de julho de 1561.
Ao provedor dos alhnazês envio certidam do mamtymento que este
ano dey.
Aintotiio Pires do Canto.
[Sobreicripto) A el Key noso Senhor, d'Antonio Pirez do Camto.
[Ori(jinal)
' iArcL uac. da T. do T., Corp. Chr. PS 1.^ mar. lOÕ—n.'' 12.)
ARCHIVO DOS AÇORES 13o
Auto mandado levantar pelo Provedor das Armadas, em
Angra, aos 14 de maio de 1563, a respeito das culpas
de Pêro Carrilho.
Saibam (|ii;unlus este estroiiie^iiti) com lio trellido de liuu auto fTi'i-
ti» per mamdaiJu de Joain (Ja Silva do Camlo fíldallgiio da casa dp||
Hei ni)so senhor e provedor de suas armadas e nãos da Imdia e trel-
lado de hnna carta deli Rei n(tso senhor virem que no anno do naci-
mento de noso seidior Jlinii xpõ {Jesus C/iristo) de mil e qiiinheinlos h
^esemla e três {lõ6H) arnios aos catorze dias do mez de mayo do di
lo anno em esta cidade d Amgra da Ilha Terceira nas casas da mora-
da de Joam da Silva do Camto llidallguo da casa deli Key noso senhor
e proved(»r de suas armadí^s e nãos da Imdia que a est^s Ilhas vem
liT sendo liy presemte ho dito provador [)er elle ífoy mamdado a mym
l.dialliam da parte do dito senhor que llizese anto de como hera ver-
ilade qne oje chegara ao porto da dita cidade dAmgra a nao per no-
me «Sam Christovão» de (jne era mestre e senhorio Gaspar Jorge mo-
rador em Sevilha da hamda de Triana, a qual náo vinha das InuJias de
Castella, de Sam Joam de Porto Rico e por elle ter emcaregnado a Fran-
cisco Pedrozo moço da camará do dito senhor he allcaide na dita ci-
dade depois da partida de Kfelipe (lerveira desta Ilha [)era ho Reino
qne tivese muyta vegia em todas as nãos e navios que ao dito porto
vieseín asi de iionte como de dia sem comsemtir que p<\s()a ailgua a
elles cheguase sem primeiro íTallarem com elle dito Joam da Silva pêra
se poderem heíTetuar certas delligencias qne lio dito senhor ínandava
ÍTazer, o dito Ffrancisco Pedrozo fíora á dita ná(t e lhe viera loguo com
recado ao caminho domde elle dito Joam da Silva do Camttj estava e
l)0r vei' domde a dita não vinha lhe ínamdára (pie peramte elle trou-
xese ho mestre e escripvam da dita náo e asy os mercadores delia o
quoall lloguo íTez com hos quoaes elle dito Juam da Silva tfizera as
dylligemcias que sua allleza lhe mamda ífazer per suas provisões he
por achar amtre outras cousas de que se emfoimara que nesta dita
cidade dAmgra andava G(»nçMlo Arrais de Memdoça que hera sobri:
uho de Pêro Garrilho ííilho de sua Irmãa e achar poi' emformações de
pesoas da dita náo ser aqny ho dito Guomçallo Arrais de Mend(»ça so
brinlio do dito Pêro Carrilho com certos avisos pêra o dito seu tio com
parecer do Licenciado Balltesar Allvarez Uamiiez comtador «lell Rey
noso senhor de sua fTazemda em esta Ilha por nam estar aijni ho cor
regedor com quem sua allteza manda que llizese he commiicas(; lios di-
tos neguocios por ser Iletrado e muy zelloso do serviço de sua allleza
lhe pareceo damdolhe diso comta (jue devia no dito neguocio ÍTazer ali
gua delligencia. K Ih guo no mesmo istante mamdaia ao dito Ffrancis-
co Pedrozo allcaide ipie na mesma ora biiscase ao dito Guomçalo Aiais
de Memdoça damdolhe os sinais que por emfíormaçam tinha per omde
136 ARCHIVO DOS AÇOKES
O devia conhecer e o tron\ese per;jmte sy, o que lloguo ho dito allcai-
de com muyla dyllygemcia ífizera, e o trouxe semdo presemte ao tra-
zer Balllezar Guoínçallvez e eu taballiam setndo liy ho dito provedor
Joam da Silva do Camto ffez as pregumtas seguimtes ao dito Guom-
ç.dlo Âraiz de Meiwloça, damdolhe juramento dos sanitos avamgelhos
(jue respomdese ao que lhe pregiuntase bem e verdadeyramemle he
elle respomdeo que asi ho ffaria he tomou ho dito juramemto — pri-
meiramemte lhe pregumlou a que hera vimdo a esta terá e que ne-
goceos vinlia a ella íTazer. E o dito Guomçallo Âraiz de Memdoi^a se
sopesou a dita pregumta, e ho dito Joam da Silva lhe dise que ho que
lhe pregumtava hera da parte áo dito senhor e per cumprir muyto a-
si a seu serviço por ser emfformado que elle vynha aquy pêra dar cer-
tos avisos comtra ho serviço de sua allteza (jue soubesn certo que nam
dizemdo e decllaramdo a verdade seria preso e ho mamdaria preso
em íTeros ao dito senhor e que soubese certo que primeiro que saise
de casa, e de presemça delle provedor lhe avia de mandar tomar a ca-
sa domde pousava he lhe buscar hos papeis que trazia e achamdo per
elles o comtrairo do que disese emxecutaria nelle o que lhe jà tinha
dito he per o dito Guomçallo Araiz de Memdoça que pois que elle nam
era vimdo a esta Ilha a cousas de serviço do dito senhor e que pois
elle provedor lho asi mamdava de sua parte e com juramemto e gra-
ves penas (jue dezia a rezam e causa a que viera a esta Ilha.
E pêra mais certeza da verdade que ho deixase liir ahomde pou-
sava e que elle lhe traria provisões que trazia do dito senhor que era
a causa per que viera a esta Ilha e ho dito provedor ho manidou hir
com ho dito allcaide e Balllezar (1) Guomçallvez taballiam ha dita sua
casa hos quais íToram e vieram e trouxe ho dito Guomçallo Arais [)a-
peis que diseram elle ter em sua caixa, amtre as quais mostrou duas
cartas de sua allteza pasadas per sua chamçalaria ambas de huu te-
hor em que se comtyuha de que o tiesllado da dita provisam hirà ao
diamte deste auto, as quais provisões lloguo fforani vistas per elle di-
to provedor he comtador, e por a dita provisam ser de callidade que
parecia suallteza se aver po servido de sobjstarem he se nam emxe-
cutarem nem se aver de proceder mais per outras muitas provi.^ões
he cartas que sobre o mesmo caso ho dito seidior tynha escripto e
mamdado a elle provedor acerqua do neguocio tocamte a ellas e a di-
ta provisão elle dito provedor dise he mamdou ao dito Guomçallo A-
raiz de Memdoça da parte do dito senhor que lhe emtreguase huas das
ditas provisões pêra com elle escrepver a sua allteza e ho certeiíicar
de como pello que na dita provisão via avia de sobestar e nam pro-
ceder avamte nas mais dyllygnmcias que lhe sua allteza tinha mam-
dado he emcareguado per suas provisões toocamtes a este neguocio
(1) Aqui houve sdlto do escreveiile, devendo dizer: tíaltezar Allvarez com-
tdditr romntitjo António Gonrallves taballium.
ARCHIVO DOS AÇORES 137
por (luoanto n.im estav;i iipsla cidade residemle ÍTura de sna casa he
ITazenda. este negocio he delligenicias pêra bem se poder lieíTi-Uiar ho
serviço do diio senhor que per bem das ditas suas provisões e carias
lhe linha mamdado ho qual Gnomçallo Araiz de Memdoça dyse que
a elle lhe era necesaryo as ditas provisões pêra também por ellas se
heíTetnar o que sua allteza nellas mamdava he se segurar a justiça e
direito do dito Pêro Carilho.
E porem pois que elle provedor lhe mandava dar por asy sei' ser-
viço de sua allteza he lambem porque niso íTazia o que compria a bem
da justiça do dito Pêro Carilho pois era que elle provedor tinha hos
dylos recados de sua allteza [terá com elles aver de ífazer as dylli-
gemcias de seu serviço que ora com as provisões do dito senhor que
elle tinha e trazia, elle dava a elle provedor e apre^emtava hua das
ditas provisões se necesario era per cima do que sua allteza nellas
mandava requeria a elle provedor que cumprise e guoardase a dita
l)rovisam asy e da maneira que sua allteza nella mamdava do que to-
do lio dito provedor mamdou ffazer este auto e todo mamdou escre-
pver dizemdo que faria niso aquillo (]ue mais parecese serviço de sua
allteza e mamdou que eu laballiam Iresladasse adyamle deste auto a
dita provisam porque a propia lhe avia de IFicar em sua mão pêra sua
guoarda e houtrosy lhe Ireslladase a mais emformaçam que sobre o
caso tinha tomado com declaraçam das pesoas per que estain asyna-
das e dello ffiz ho dito auto que Mdos asinaram. K eu Amtonio Gom-
çallvez taballiam o escrepvy = Joam da Silva do Camto = Guomçallo
Araiz de Memdoça=Balltesar Allvarez=Francisco Pedroso.
Trellado da carta dei Rey noso senhor.
Dom Sebastião per Graça de Deos Rey de Portugal e dos Allgar-
ves daquem e dallem maar em Affriqua senhor de Guine e da Com-
quista Navegaçam Cvimercio d'Ethiopia, Arábia, Pérsia e da Imdia etc.
a todos corregedores, houvidores, juizes e justiças hoffyciaes e pesoas
de meus heinos e senhorios a que esta minha carta ííor apresemtada e
ho conhecimento delia com direito pertemcer ffaçovos saber que por par-
te de Pêro Carilho morador nesta cidade de Llixboa mo ffoi apresemtada
hua petição dizemdo que elle ffora cullpado em hua davassa que tirara
ho dr. Joam de Valladares por meu mandado por se dizer que elle fo-
ra a Sam Tomé em navios castelhanos e que resistyra aos oíliciaes e
justiças do Cabo Verde e de outras cullpas por vertude das quoais eu
lynha mamdado pasar provisões pêra as Ilhas e outros portos pêra o
premderem vindo elle das Imdias de Castella e lhe embargarem a ffa-
zemda e ora semdo eu iinformado do caso lhe pasara huu allvará de
ííiamça de dous mill cruzados entregue a ffiadores cacereiros a qual
tiança tynha dada e registada como parecia do allvará e certidam que
N." 4i — Vol. Vlll— 1886. 6
i38 ARCHIVO DOS AÇORES
apresemtava e porque temia ser nas lllias embaraçado e presoo vin-
do das Imdias de Casteila domde vmlia pur caminho, me pedia qiw
vi^tu lio dito allvará e íliamça llie inatidase pasar três nu quDalro cai-
tas fom u trellado da sua petiçam e allvara e registo da lliamça pê-
ra mandar [tur vias ds lllia» pernumciamdo que nnm fose [treso nem
embarguada sua Dazemda pois tinlia dada ha dita tfiamça etc. seguin-
do que lodo esto miilior e mais coinpridamente na dyta petiçam he-
ra cumleudd com ha quoali íiby lioulrosy por sua pai'le apresemtado
huu meu allvara de que nella tíazia memgão pasado per minha cham-
celaria e nas cobtas delle hua petiçam per que íioy comeedido e com
duas portaiias hua do doutor Manoell d Almeida corregedor de minha
corte e outra do dito doutor Joani de Valladares. E asi huma certidauí
de Amtonyo Iternamdes escri[)vam das íliamças de minha corte da
quoali petvçam, portaiias e aJvará e certidam o trellado he o seguim-
te:
Diz Pêro Carrilho morador nesta cidade de Li>boa que elle IToy
a Sevilha em hua náo pêra liir as Amlyihas de (^a>tella e nella llevou
allguas peças de artelharya que foram de V. A. que Joam (^ayado de-
zia Comprar ha Lluquas Giralldez e chegamdo a sevilha ffez compa-
nhia com huns mercadores da dita cidade pêra liir comprai- escrapvos
ao Cabo Verde liou a Sam Tomé e hos llevar ás Inulias de Castella e
por cau>a da dita neguociaçam se mudou elle siipricante a hua náo
Castelhana per nome Santo Estevã(j e por hir por caiútão delia peia
seguramça de sua pessoa e líazeuda que llevava meteo nella allgua da
dita arteilharia que llevava como cousa de Joam Cayado ijiie lha dera *
ue>ta cidade peia meter na náo em que hia e imdo elle xipricainte
ter ao (^abo Verde ao porto da Praia por nam se comcertar sobre o
preço dos escrapvos com lios ITeiloies dos lratadore> e se hyr á Ilha
de Sam Tome comprar os ditos escrapvos huu meslre Manoell que es-
tava por Heitor dos tratadores no t^abo Verde houve diso de.>guosto e
anidou biisquamdo todas as maneiras e modos ([iie pode peia (» des-
troyr e llamçar a [lerder e ífez com o juiz da villa da Praia e com ho
ca[)itain e allmoxarile no Cabo Verde ijue ^lizes^em delle autos e de-
vasas dizendo que elle sopricamte imdo ha dila villa da Praia na dila
nao castelhana llevava artelharia de bronze de vosa allesa e que elle
fíora mandado pelo juiz e hoíiciaes da dita villa com pt na de dous mill
cruzados e cimquo anos ile degredo que se nam saise da dita villa até
se fazerem as dellygencias sobre a dita artelharia e meiquadnrias que
llevava na flita nao de que devia direilo> e que elle sopricamle ([uebra-
ra ha menag» in [hnnunugníDQ mandara vir lia dita nái> miiyta gemle ar-
mada com aiqnabiizes. e bestas e armas ;.omeyo dya e fogira ptra a nao
llevando a gemte de resguoardo e que sai iam e>[)os elle hos allcaides
da terá e mar e ca[itam e juiz e almoxarife e ijiie elle supricamte vyra-
ra comtra o allcaide da ti-ra com hos arqiiabii/.eyros e se embarcara lla-
zemdo tudo ctunn Inimem allevamtado e desiialurall «• ipie e.^tava na
A RCHIVO DOS AÇORES 139
não ;ilyramdo tyros de arqaabu/.ari;) e ffogiio ffazemdo represaria nos
baleis e gemte ijiie lia riao liia e os tinha releiídos e presos c uno ho-
mem poderoso e allev.imlado por omde não poderam hir a nau ITazer
(hílhgemcia sobre hos ihtos liros de artelharia nem ao (pie eom[)ria aos
(hreilos e bein de vosa ffazemda e despois diso nesla cidade hos ditos
tratadores do (]abo Wrde deram emfoi-aiagam a vosa alteza por sy e poi-
outras pessoas com capitólios de todo ho sobiedito di>,emdo mais (pie
elle sopricamte ffora a Ilha de Sam Tomé com navio e não castelhana
e de. estramgeiros que partiram de Castella semdo deffeso hirem ha
Sam Tomé e(jiie vemdera e deixara em Seviliia a náo em (jne ffora des-
te reino pêra se meter na dita nao castelhana e hir a Sam Tomé com-
ira (forma das provisões, hordenações e regimento de vosa allteza so-
bre as ipiaes cunsas sam jaa tyradas dnas devasas e inquirições Ima
pello Licenciado Ffrancisco Huiz jniz da {Imdia) e Mina e outra pello
llicemceado Joam de Valladares juiz dos ffeitos de vosa allteza e por
voso inamdado e porque elle sopricamte he inocemte e sem cnllpa nos
ditos casos e lhe (foy tudo llevamtado manhosamente pollo dito mestre
.Manoel e tratadores do Cabo Verde e olliciaes da dita Ilha por sua com-
tempraçam e llevun ha artelharia desta cidade [tor de Joam Cayado
qne dezia comprara a Lluqiias Giralldez e he muil(j Uiitorio e elle su-
pricamte ffoi ha Sam Tomé pubriquamente ha ffeyt »ria de vosa allteza
homde comtratou himdo desta cidade com os tratadores de Sam Tomé,
a qne pertemcia hos direitos diso e comcertado com hos remdeiros da
sisa d(js escpravos tudo á boa ffee sem dollo nem mallycia e teme ser
preso e avexado e enidevidamente mollestado semdo sem cnllpa e com-
iia que polias ditas devasas conste de sua justiça digno de sua inocem-
cia e tem molher e filhos nesta cidade e se quer vir llivrar e lia mais
de três aunos que amda fora de sua casa e vimdo hora das Amtilhas
na dita náo caregnada de mercadorias deu a nao através e se perdeo
com quoamlo trazia e íliqua perdido e de.>baratado e sem remédio de
vida e sobre iso amorado por causa de que he inocemte e sem cullpa
pede a vosa allteza que avemdo respeito ao sobredito e serem jaa ti-
radas has ditas devasas e os desembargadores do paço lhe terem jaa
comcedido allvará de Ifiamça sobre ffiamça de mill cruzados i)or verem
ser asy justiça, ho quoal allvará vosa allteza nam quis asinar ajaa por
bem de lhe comceder allvará de ffiamça pêra qne sullto se llivre sobre
Uiamça que vosa allteza houver por setr serviço e receberá mercê.
Portaria do corregedor Manoel d'Almeida.
Em outra petiçam pus já esta portaria e por mo affirmarem que
se perdeo e ma tornarem ha pedir a dou e digno que eu falley ho an-
* no pasado nesta petiçam á Hainlia nosa senhora semdo presemte dom
Gill Eanes he sua allteza ouve por bem por justos respeitos que a iso
m(»veram que ho supricamte Pêro Carilho se llivrase das cnllpas com-
teudas nesla petiçam entregue a lliadores cacereiros que se liobryguem
140 AHCHIVO DOS AÇORES
ao eiiilregiiar cada vez que lhe ffor rnandaclo como cacereyros e sob
pena de pagnarem dons mil cruzados. Enj Llixbo.i a dezasete de fivc-
reiru de [uill e ijninl.emtos e sesemta e seis {1506). Manuell dWlmfida.
Outra purlari;i=Sua alteza lia por bem que lio supricamte Pêro
Carillio se llivre das eullpas cumteudas nesta [jetiçain e seja emtregue
a fiadores cacereiros que se hobriguem ao emtreguar cada vez que
llie for mamdado como cacereyros sob peua de paguarem dous mil
cruzados vista a tíiamça que lhe íToi dada pello llicemceadu ^Joam de
Valladares que tyrou devasaa do dito Pêro Ciarilho per mamd;)do de
sua allteza. Em Lixboa a vimte dous dyas de ffevereiro de mill e qni-
nhemtos e sesemta e três {1563).
Trellado do allvará=Eu El Rey ííayo saber aos que este meu all-
vará virem que avemdo respeito ao que diz Pêro Carillio na petyçam
atras escripla ey por [bem) que elle se posaa llivrar solho das cnll[)as
de que na dita petiçam tfaz ujemçam e seja emtregue a líiadures ca-
cereiros e que se hobriguem ao emtreguarem presoo á justiça ciida
vez que lhe ftor mamdado sob pena se ho asy nam compryrem paga-
rem dous mil cruzados pêra ho esprital de todos hos samtos desta ci-
dade de Lixboa e isto ey asy por bem avemdo respeito á emfoimaçam
que me do ca(iso deu ho Licemceado Joam de Valladares do meu des-
embargo e juiz dos ffeitos de minha fíazemda do neguocio da Imdia e
hos ditos Ihadores cacereiros seram hobriguados a ITazer registar es-
te meu allvará. E o ijue ha dita fiamça no Livro das fiamças da corte
e mostraram certidam do escripvam d:is ditas íiamças de como e^le
allvará e a dita riiamçaMIiquam registadas no dito llivro. Joam fiallvam
ho ffez em Lixboa aos vimte e dous de ffevereiro de mil e qiiiidiem-
tos e sesemta e três {1563} e os ditos lliadores furam registar o livra-
mento do dyto Pêro Cariiho do dya que ho ouver a (juoremla dias sob
perdimento da dita íliamça pêra ho dito esprital. Joau) de Castilho ho
fez escrepver.=0 Cardeal Ifamte.
Sub^cripçam = Ha vosa allteza por bem (jue Pêro Carilho mora-
dor' nesta cid-ule se pos.-a llivrar sollto das cidlpas de ijiie na petiçam
alraz escripta ffaz memçam e emtregue a Ihadores cacereii'os em (|ue
se hobriguem ao emtreguai' preso ha justiça, cada vez (pie lhe ffor
mamdado e i^to sobre fhamça de dous mil cruzados vista ha emfor-
maçam que do caso deu a vosa allteza ho Liceuiciado Joam de Valla-
dares juiz dos ffeitos da Imdia ele.
Trellado da certidam da fiamça. Ei(pia registado a peliçaiu e all-
vará deli Kei ni>so senhor atraz escripto no Livro das lliamças da cor-
te que serve este anuo presemte de (juiuliemtos e seseml.i e trez as
flolhas sesemta e oito e nove e bem asy huii pubrico estromento de
Íliamça de dous mil cruzados jusliíicaindD de Hiaíiores cacereiros coii-
ARCHIVO DOS AÇORES 14!
ffoime ao dito allvaiá; certetíiqiio asy em Llixbua a trez de março do
dito anní) — pagou oilemta reaeis— Amloiiio Fernamdez.
E semdo asy a[)re.st'mtada a dita [)etiçam com hodilo allvará e cer-
tidam da dyta lliamça e mais despachos de que nesla carta atraz ffaz
memçam mandey de tudo tíazer auto e jmnlar a elle lios ditos |)a(i<'i>
e com elles mandey que nie fose llevadn comcruso e visto jier mim
com lios desembargad((rt's de minha ITazemda, acordey que se pasem
cartas confforme ao allvará de tíiamça apresemlado como ho so[)ri-
camte pede vista a forma do dito allvará etc. per virtude do qual se
pasou a presemte [h^v que mando aos correged(»i'es, houvidores e jui-
zes e justiças das dylas Ilhas e de outros quaesquer portos lie lluga-
res, cidades e villas de meus Reinos e senhorios a (pie hapresemtada
for que iiam [irendae> nem comsintaes premder ao dito Pêro (laiillio
nem lhe tomaram nem socrestaram sua ffazemda nem cousa allgua
pt-r resam dos casos e cull[)as nesta carta decllaradas sem embarguo de
quoaesquer outras cartas e provisões minhas e de minhas justiças qup
em contrario e amles desta s<'jam (»asadas pêra ser preso e sua fa-
zemda pello dito caso soct estada por (juoamto despois de se pasarem
lhe ffoi pasado ho dito allvará atraz comteudo e tem satisffeito com a
lliamça comforme a elle e por tamto llivremente e sem nlium empedi-
mento deixareis desembarqnai' em quoalquer porto huu portos que che-
gar peia dahi se vyr direitamente a esta corte homde se hade llivrar
sollto per virtude do dito allvará peramte ho dito juiz dos ffeitos de
minha íTazemda liou peramte quem ho conhecimento do caso com di-
reito perteui! er ho que hiins e outros asy c »mpry sem nliiima duvida
nem embarguo que a ellu ponhaes e ali nam façais. Dada em esta mi-
nha cidade de Li>boa aos seis dias do mes de março. El Hey noso se-
iilior ho mandou pello Licemciado Joam de Valladares do seu desem-
bargiio e Juiz de seus ífeitos do negiiocio da Imdia e Mina etc. Kfrau-
cisco d'Alvareigua ha ffez por Manoel Vaaz, anno do nacymento de Nos-
so Senhor Jhuu xpõ {Je-sns C/nisto) de mil e quinhemtos e sesemta e
três {15b'S) annos. E eu Manoel Vaaz escripvam a tíiz escrepver e sob-
escrepvy, pagou desta carta ceinlo e dez reaes e dasiguatura delia
vimle re.ies a quall carta y.iy per duas vias e fazemdose obra per
hua a outra nom averá effeito-='pg. xxx {30} reaes = Amtonio Vieira
=Doni Symão=Joam de Valladares.
Jt. Gaspar Jorge mestre e senhorio da não Sã(» Xpovão [Christo-
râo) vezynho de Sevilha morador em Triana, dyxe vir Pêro Carilln»
preso na náo gallega elle lie outro ffeitor dos Jorgês chomado Joam
Guterres, partiram de Sainto Domingo em qiiimze dias de março pa-
sado, diz ter a metade da náo de (>arilho, e que vinham com temção
de tomar estas Ilhas, diz este mestre que partyo qatorze dias depois
e asynou com jiiramemto que lhe dey e afirma se nam llevã mantymeuí
to pêra poderem pasar sem tomare-m allgua destas ilhas, decllarou
mais ho dyto mestre ipie vem na náo espynosa asy chomada miiyta
142 ARCHIVO DOS ÂÇOKES
tíazemda do dylo Pêro Carilho, e sabe pousar em sua casa Pêro Ca-
rilho e que vem muita ffazemda sua nesta niu) que lie dEspiuosa e dos
senhores delia Allinona, vem por mestre e pillotu Ffrancisco Feruandez
Moreno natural! de Sevilha morador em Tryana=Gaspar Jorgt^.
Ho quall tresllado em estromemto eu Amt )nio Guomç.dlvpz tabal-
liam publico e do judycyall por ell Key noso senhor em toda e>ta Ilha
Terceira fiz ireslladar e treslladey do propio |»er provisam que pêra
ello do dyto senhor lenho e ho sobescrepvy e com ho propio couícer-
tey com ho taballiam abaixo asynado e asyney de meu pubrico syuall
lie vay com esta em homze ffolhas sem viço alígiim ele. = pg. nada.
=^signal publico do taballiam. = Comceilado, Amtouio Gonçallves ^
(^omcertado, Álvaro Vieira f?),
íAic/;. mtc. da T. do T., Corp. Chr. P.' 2.^ mac. 247—??." 23.)
Alvará de 10 d'abril de 1566 izentando a Misericórdia
d' Angra de prestar contas ao Provedor
Eu el! Rey faço saber a vos provedor das Ilhas dos Açores que
lio provedor e irmãos da confradia da Misericórdia da cidade dAngra
me emviaião dizer que vos lhe quereis tomar c tnta das esmolas e ren-
dimentos da dita confraria e asy do esprilall da dida cidade, que era
aneyxo a ela e que des que a dita comfraria se ordenara se lhe não *
tomara tal! comta per nlium provedor alegamdo outras resões per que
se lhe não dt-via tomar e visto o que asy dizem ey por bem e vos man-
do que lhe não tomes comta das esmolas e remdimemtos da dita confra-
ria da misericórdia ssomente e quando vos parecer que he necessário
tomarlhe a dita comta por algus justos respeitos vós mo espreveres e
as cousas porque se deve tomar pêra eu niso mandar o que ouver por
meu serviço e mando aos provedtires que ao deamte forem que asym
o cumprão em qiiamto o eu asy oiiver,por bem e não mandar o cum-
trario e quero que este alvará valha como carta sem embargo da or-
denação do Liv." segundo til.° \.\ {20) que diz que as cousas cujo efei-
to ouver de durar mais de hum anuo pasem per c;irtas e (lasando per
alvarás não valhão e quanto as rendas do dito esprital aneyxo a dita
confraria vós lhe tomares a dita comia e coinprires acerqiia diso vo-
so regimento. Joam de Baros o fez em Lisboa a x (10) dabril de J b
e Ixbj (1Õ66). Comcertado, Joam da Cosla=Comcertado, António d"A-
guiar.
{Aich. ntic. da T. do T., Lir. VJ de D. Scb., f. 21.)
ARCHIVO DOS AÇORES 143
Quitação a Lucas de Sequeira, almoxarife da ilha de S.
Mig-uel, do anno de 1537-1538; 18 d'abril de I56fcj.
Dom Sebastião etc. A quainlos esta carta de quytação virem faço
saber que eu maindey tomar conta nos meus conitos do reynu e casa
a Luquas de Sequeira cavaleiío fidalgo de minha casa almoxarife que
toy da lllia de Sam Miguei lio ano que comesou por Sam Joam de mill
qnynliemtos Iriuita e sete e acabou por outro tall dia de b e xxxbiij
{1Õ38) e pela recaiJação de sua comta se mostra receber nove cemlus
nove mill qiiinliemt(js novemta e hu rs. por esta maneira, a saber :
xFuj iij' biij {ô2Hft>S08) rs. que recebeo dos rt-nideiros rameiros pêra
pagamento das ordinárias dos clérigos beneficiados e raçoeiros da di-
ta Ilha, e c.'^ J iiij*^ xxxiij {lOlH-^S) rs. da remda da saboaria e das
pensões dos tabalyães dos rendeiros da chamcelaria; e ~J h\\f (1-5800)
rs. que recebeo dos rendeiros dos ramos das meuças, e xxxiuj bij*^
Irij {S4{j>792) rs. d'Esievão Alv.irez almoxarife que foy da dita Ilha que
os ficou levando na comta do ano de b*^ xxxbj (lõ-'JU) e c." Tn] ix*^
{192fj>900) rs. (jue recebeo por venda de cento e vymte e dons moyos
de triguo dos próprios que tenho na dita Ilha ; e os ib lij'^ Ibiij
(õôéSõSi rs. tjue o dito Luquas de Sequeira ficou devemdo na comta do
ano de b e xxxbiij (lõ38) que acabou por Sam Joam de b e xxxix
{1539) e lhe Ibião carregados em receita nesta comia e asy se mos-
tra receber c.'" Irbij {197) moyos Ij {òl) alqueires de trigo, a saber:
rix {49} moyos que recadoii dos remdeiros que ^ram obriguados pa-
gar i)era pagamento das ordinárias e os c.*" Irbiij {198) nioyos Ij(.õi)
alqueires recadou das remdas dos propiosede biscouto liij {58) quym-
laes Ilua aroba xbj {W) arates e lij {ò2) arobas b (õ) arates de carne
de vaqiia e (juatro botas cymijuu alumdes de vynho e seys arobas da-
zeyte e outras cousas ineudas declaradas no enceramento os (juaes
ixMx b'^ e [v\)\{909':>õ96) r>. trigo e cousas acyma (Jeclaradas o dito Lu-
quas de Sequeira despemdeo e eniti'eg(»u por meus mandados e do.>
veedores de minha fazunda sem fiquar devemdo cousa algua como se
vyo pela dita comia que foy tomada por Afomso de Miranda comlarlor
dos ditos comtos e vista por Jorge Perão provedor das Imentas e por
tanto o dou [»or quyte e livre e a todos seus erdeiros que nunqua em
tempo aigiiu [lor elo sejão requeridos, citados nem demandados em
meus comtos nem fora delles por ssy ter dado comta com eulregua
como dito he e mindo aos ditos veedores de minha fazenda comladnr
mor dos ditos comtos e a todos os coregedores, juizes e justiças ofi-
ciaes e pesoas a que o conhecimento pertemcer que asy o cumprão e
goardem sem lhe sei' posto duvida nem emb.ugo algum e por firmeza
delo lhe mandei dar est.t minha caila de quytação pnr \\\\m asynada e
aselada do meu selo pemdemte. O dito Atbmso de Miiaiida comtador,
1 44 ARCHIVO DOS AÇORES
que a dita conUa tomou a fez em Lisboa a xbiij (18) dias do mes da-
brill, ano do nncymenlo de riusso Senhor Jhu \{iõ deyb e Ixbj ilõft')
annos.
(^^■(7^ nac. (hl T. do T., Lii\ VI de f). Seb., /'. 20.)
Quitação ao dito Lucas de Sequeira, almoxarife em S.
Sliguel, do anno de 1538-1539; 28 d' abril de 1566.
Dom Sebastião etc A quamtos esta minha carta de quitação vy-
rem faço saber que eu mandey tomar comta em meus couit(js do rei-
no e casa a Lucas de Sequeira cavaleiro fidalgo de minha casa, ahno-
xarife que foi na Ilha de Sam Migell huu anno que comesou por Sam
Joam Bautista de mil quynhemtos trymla e oylo e acabou por outro
tal! dia de b e xxxix ^lõS9) epela arecadação de sua comta se mostra
receber quatrocemtos novemta e seis mil! e quynhemtos e cymquo rs.
per esta maneira, a saber: c.'" rbj xxx {146^030) rs. da renda da chamce-
iaria e meuças da dita Ilha e osUpT iiij'^ \\\h{SòOS47í>)Vi. recebeo por
vemda de cemto coremla e seys moyos nove alqueires */4 de trigo e
vimte e cymquo moyos de cevada e trinta e nove alqueires de cemteo
e asy se mostra receber quynhemtos vymte e hum moyos cymqnoenta
e três alqueires de triguo e V^ da remda dos meus propios da dita Illia
e vimte cinquo moyos C(jremta e três alqueires ^/i de cevada e trimta
e nove alqneiíes e quaremta de cemteo e sete cemtos oytemta hnu
qnyntaes duas arobas nove arates de pastel granado que se fizerão
dois mil quaremta e dois quymtaes vimte e sete arates de pastel em
bolos que recebeo da dizyma da dita Ilha os quaes quatrocemtos no-
vemta e seis mill quynhemtos e cymquo rs. e o dito pastel trigo e ce-
vada e cemteo o dito Luquas de Sequeira despemdeo e emtregou per
meus mandados e dos veedores de minha fazemda sem ficar devemdo
cousa algua como se vyo pela recadação de sua comia que foy toma-
da por Afomso de Miranda comtador e vista per Duarte dAbreu pro-
vedor (pie foy das comias e por tanto o dou por quyte e lyvre e a to-
dos seus erdeiros que nunqua em tempo alguu pelo dito dinheiro, pas-
tel,triguo, cevada e centeo sejão requeridos, citados nem demandados
em meus comtos nem fora delles por asy ler dado comta com entrega
como dito he e mando aos ditos veedores de minha fazenda comtador
mor dos ditos comtos e a todos os coregedores, juizes e justiças, ofi-
ciaes e pesoas a que o conhecimento pertemcer que asy o cumprão
e guardem e facão imleiramenle comprir e goardar sem lhe ser posto
duvida nem embargo alguu e por firmeza delle lhe mandey dar esta
minha carta de quitação por mym ;isynada e aselada do meu selo pem-
ARCHIVO DOS AÇORES I V3
demte. Afomso de MiranKla comtadir a fez em Lisboa, ano dn iiacy-
munUi de Nosso Senhor Jliu x[)õ {Jesus C/iristo) de myll quynlieintos
saseiiita e sois ;iiios aos dezoito dias dahrill do dito ano, iriscoiise o
i|ne dizia sete e diz per antre linha dons) (]oincertada, Joam da Cos-
tH=(>oin('ert;tda, Aintoiíio d'Agniar.
{Anh. mic. da T. do T., Liv. Vi de D. Seb.. f. 20 v.')
Alvará de 28 d' abril de 1566 para o Licenciado João Usa-
domar poder ser acompanhado por um seu escravo
com o ordenado respectivo.
Kn EU Hey faço saber aos qne este alvará vyrem (|ne havendo
re>peitu ao que diz na petição atra/, escripta o Licenciado João Lsado-
niar Juiz de fora da cidade de Ponta Delgada da Ilha de Sani Migel
ey por bem e me praz que semdo o seu escravo de que na dita [)e-
tição fez njenção anto (apto) e sofecyeuite pêra o acompanhar e andar
rom eJe posa o dito espravo servir em lugar de linu dos dois homes
(jue o dito licenciado diz que lhe lenho concedido que ajão ordenado
e vença o dito espravo ho dito ordenado e mando ao coregedor (ka
coreição das Ilhas dos Açores (jue trazendo o dito licenciado o dito
espravo comsiguo em lugar de hums dos ditos homens e semdo pêra
yso suficienjte como dito he llie faça pagar o dito ordenado e lhe cnm-
pra este alvará como se nele conthem o qual ey por bem que valha
posto que ho efeyto dele aja de durar mais de hu ano sem embargo
da ordenação do seguíído L.° tit.° xx {20) que ho contrario despoem.
IJioguo Fernandes o fez em Lisboa a xxbiij {28} dabril de J b e Ixbj
{1Õ60']. Baltasar da Costa o fez escprever^^Comcertado, Joam da Cos-
ta::^(^omcertado, António dWgiiiar.
{Anh. mie. da T. do T., Liv. Vnh D. Scb., fl. 21 r.")
Licença para Francisco Affonso, tabelião na Cidade de
Ponta Delgada, ter um ajudante; 18 de julho de 1566.
IJom Seb;islião ele. Faço saber aos que esta carta virem qne Fran-
cisco Afonso tabelião do pnblico e judicial da cidade de l*on(a Delga-
da da lllia de Sam Migell me fez a pptiçam seguinte:
Diz Franci.^co Afomso tabellião do publico e judicial da cidade de
N." ii — Vol. VIU - I8S(Í. 7
146 AHCHIVO DOS AÇORES
P. l)elga'ia da Ilha de Sam Migel que ele pêra bom despacho das par-
tes tem necessidade de ter hiia pesoa que lhe ajude a escrever sob-
esprevendo ele por quanto na dita cidade ha mais de dois mil! vysi-
nhos (*) pede a vosa alteza lhe dè licença pêra poder ter a dita pes-
soa e recebera meiíee: E visto sen requerimento ey por bem e me praz
de lhe dar lugar e lycença pêra que posa ter hua pesoa que o ajude
a esprever nos ditos ofícios na maneira seguinte, a saber: n.) oficio das
notas tirará soomente as esprituras das notas concertandoas e sobespre-
vendo as elle Trancisco Afonso e asynandoas de sen synall publico, e
no do judicial o ajudará quanto aos treliados dos feytos, apelações e
tirar semtemças e cartas dos processos e nos treliados de quaesqner
papeis, esprituras e Inquirições que forem abertas, [)i)briradas nãoaven-
do nas ditas causas e treslados segredo de justiça concertandoas e s(jbes-
prevendoas elle Francisco Afomso per sy a lall pesoa não fará nem es-
preverá nhnm propio somente os ditos treliados das sobreditas cansas
que ho dito Francisco Afonso lhe der a treladar e ele Francisco Afon-
so terá em ImII guarda o seu cartório que ha dita pesoa não veja os
segredos delle nem seja causa de as cousas da justiça se descobrirem
a qual pesoa será mayor de idade de dezaseis annos apta e pertem-
cemte i>era nis(t servir e mando ao juiz de fctra da dita cidade que
a[tresentando-lhe o (Jit(j Francisco Afonso pesoa que seja da dita ida-
de e parecendoli.e que he anta como dito he lhe dè juramento dos
santos evangelhos que bem e verdadeiramente espreva e faça o que
per esta carta lhe dou lycemça que posa fazer e de como asy ouver a
dita peM)a por anta lhe der o dito juramento se fará asemto nas cos-
ta desta carta por huu tabalião a>yna(lo pelo dito juiz e dhy em de-
anle deixarão ajudar a esprever a rlita pesoa ao dito Francisco Afonso
como se nesta carta conlhem e se a tal pesoa falecer ou lyver (»u!ro
quahjuer in)pedimento por onde não p(jsa e.^prever nos ditos (,ficios e
o dito Francisco Afonso quiser nomear outra peson em seu lugar o po
dera fazer e lhe será recebida como a cyma he declarado de maneira
que em todo temp(j posa ter hua pesoa que ho ajude a esprever e
mais não. Kl Hei nosso senhor ho mandou pólos doutores Expovam
{Clirisfovão} Mendes de Carvalho e Gaspar de Figueredo ambos do seii
eonsellio e seus desembargadores do paço. Diogo Fernandes a fez em
Lisboa a xbiij ilSi de julho, ano do nacymento de N(».>so Senhor Jliu
xpõ de y b e l\bj ilõ66). Baltasar da Costa a fez esprevei=^i Kiscou-
se o que diz=seivir — ) Comeertada, Joam da Costa.- (lomcertada,
António dAí^uiar.
{Arch. nac. da T. do 7'.. Ur. VI de />. S>'h.. f. 29.)
(•) O que equivale a 9:000 habitantes iipproxiiniiilaiiiente.
ARCHIVO DOS AÇORES 147
Quitação a favor de Henrique Esteves da Veiga, feitor na
Terceira e Graciosa, de 1538 a 151:2;
27 d'agosto de 1566.
Dttiii Sebastião ele. Aos que est;i iniiilia carta de (jiiitação virem
faço saiíer (|ue eu mandey tomar comta em meus C(jntos do reyno e
cassa a AuH-i(|ue Estevez da Veiga teytor que foy na Ilha Terceira ho
anuo de T b e xxxbiij {lõ38) e na lllia Graciosa hu auno de xxxix
[lõ-^íB) e r {1Õ40) e na capytanya dWmgra e Praya ho ano de rj (lõ41)
lê Sau Joam de rij {lõ42) e pela recadação de sua cuinta se mostra
receber de dinheiío dous coutos nove ceiutos deznyto mill duzentos e
doze reis em que eutrão itHJ iij" \\b{44^82õ) rei.s em (jue forão ava-
lyadas as cousas que ficou devendo por enceramento da dita conta e
de Iriguo mill sesemta e oyto moyos coremta alqueires ^jU e de ceni-
leo qiiymze moyos vimte e seis alqueires V* e de biscoulo seis cem-
tos sasemta quymtaes quatorze arates e meio e de pastel em bolos
mill trezemtos dezoyto quymtaes três arobas vymte e trez arates e de
pastel granado c-ym^jiio mill trezemtos coremta e huu quymtaes três
arobas oyto arates e de pescado sasemta e seis dúzias e de carne de
vaqua cemto coremta e cymijno arobas e meia e huu boy e de falcões
de melall omze e de cameras de fero darf.dharia cemto coremta e
cymquo e de chaves dartelharia cymquoemta e quatro e de pelouros
de fero dartelharia mill oytíjcemtos coremta e três e de berços de me-
lall Irimla e sele e desperas de melall hua, e de camelos gramdes
quatro e de pedreiros de melall cymquo, de meãs esperas de melall
duas e de meos b.'n;os de melall huu e de berços de fero huu e de
pólvora vymle e cymquo quymtaes e de peytos espalldeiras e cervi-
Iheiras e ca()aceles quatro pipas e duas bolas cheas e de mantas de
chamalole com sauaslro vermelho Ijuu e de iillmaticas duas do dito
chamalole e corea e de fionlaes do dito chamabte dous e de capas de
chamalole vermelho e pardo hua e de vestimentas qualro, duas de
chamalole e as duas de fiislão e outras muytas cousas contheudas na
dita comia o qual diidieiro e cousas acyma e no enceramento de sua
couita declaradas o dilo Anu'ique Estevez da Veyga emlregou e des-
pemdeo per meus mamdados e dos veedores de minha fazemda sem
ticar devemdo cousa algua, na qual despesa emirão du/emlos oylemta
e (pjalro mill seis cemlos novcmla e cymquo reaes de que lhe fiz
mercee avemdo resi)eylo ao ordenado com ijue sérvio e a boa vou
lade que deu e a não aver moradi i nem ordenado do tempo que sér-
vio o dilo car^go e ihni a dita comta e aos mais serviços e despe-
zas que fez á sua custa como se pela dita comia vyo que foy toma-
da pelo [)rovedor (Custodio d"Abreu servymdo de comlador e vysla per
Duarte dAbreu que servyo de provedor de mynh.is comias e por tam-
to deu [)or quyle e livre ao dito Amrique Estevez da Veyga do dito
i48 ARCHIVO DOS AÇORES
dinheiro e cousas que nunqua em tempo alguu por ij.o ^ejão re(iiieri-
dos nem demandados nem a seus erdeiros em meus comlos iiein Co-
ra delles por a.^y ler dado comta com emtrega como dito lie: e mando
aos veedores de minlia fazemda, comlador mór de meus comtos e a
todos os coregedores juizes e justiças e oficiaes a que o conhecymen-
lo pertemcer que asy o cumprão e goardem sem lhe ser posto duvy-
da nem embaigo alguu e por firmeza diso lho mandey dar esta my-
nha carta de (juytação per mym asynada e aselada do meu selo peti-
demte. Mateus da Maya escripvão dos contos a fez a xxbij (27) do mez
dagosto, ano do nacymento de nosso senhor Jhuu xpõ (Jf'^7/.s'C/?/?^7í))
de y b Ixbj {15b'b'): diz o mali escripto=arobas=Comcertada, Joam
da Costa=Comcerlada, António d'Aguiar.
(Arch. nac. da T. do T., Ur. VI de H. Sib.. /. 43 í.^j
Tença de SO^OCO rs., concedida por D. António a Diogo
Vaz Rodovalho; 2 de julho de 1580.
Eu El Rey faço saber aos que este alvará viieni que avendo res-
peito aos serviços que Diogo Vaz Rodovalho fidalgo de minha casa tem
feitos a estes reinos e aos que espero que adeante me faça mormente
nas ilhas Terceiras onde ora o envio ey por berii e me praz de lhe fa-
zer mercê de Yxx (30c>000i rs. de tença cada anno em quanto o não
jUdver enj hna das (»rden^ de hua comenda que valha mais de cem
mil reis de lenda, porque provendoo delht os largnará e não haverá
mais, os quaes xxx [SOWOO) rs. começará vencer do primeiro dia des-
te mez de julho do anjiO presente de b e Ixxx ( /.õ80,i em deante e lhe
serão paguos com certidão de Bastião Diaz ou ipiem seu cargo servil-
de como não he providí» e poi' tanh» mando aos veedores de minha fa-
zenda que lhos façam aseintar no livro delia e do dito tempo em dean-
te despachar cada anno |tera a parte omde lhe sejão bem paguos e
este alvará ey por l)en( (pie valha como se fosse carta {etc. cm forma).
Amtão da Rocha o fez em Setnvel a dous de junli*» de f b e Inxx
{lò80\ Fernão dAlvare.s dOliveira (j fez esc[»rever.=(loncertado, An-
tónio d"Aguiar=«(;onceitado. Pêro Castanho. (I)
{Arch. nac. da T. do T . Lrr.^ XLVI de í) Sib. /. 140 v.\)
(l) A' in.ii-geni Icm ;i iiiosnia vt-rlta que o (Inruiiicnlo seguinte tem; e está
Itiincado.
{Nutti (h Svr. J. l. de Brito Rebelh.)
I
ARCiilVO DOS AÇOHES i49
Nomeação de Belchior de Sousa para Feitor da ilha de S.
Miguel: 3 de julho de 1580.
Kii El Hey (I) faço saber -ãos que este alvarj virem que aveiuli»
respeito aos serviços de Belcliiur de Sousa nien moço da catuara ey
por bem e me apraz de Ibe fazer mercê do carguo de feitor da ilba
(te Sam Migel por tempo de lies aniios e com o ordenado cada amio
coíitlieudo no regimento o qual o servirá assi e da maneira que o sér-
vio Diogo Lopez. Noteficoo asi ao provedor de minba fazenda na dita
ilba e mandolbe qne Ibe dè a posse do dito carguo e Ibojdeixe servir
(jiiando Ibe couber entrar e aver o dito ordenado, pioes e [)ercalços
que Ibe direitamente pertemcer sem duviíla nem embargo algum e na
cbancellaria Ibe será dado juramento dos santos evangelbos que bem
e verdadeiramente o sirva guardando em todo meu serviço e ás pai-
(1) Este (Jocumoiito como os mais, passados por D. António, Prior tio Cra-
to, acha-se trancatio, tendo ao lado a seguinte declaragrio:=líiscou-se este alva-
rá per mandado de S. M. por ser passado por dom AnUonio que tiraincamenle
osurpou o nome de Rei, e por esse respeito ser nullo, como secontliem em Ima
provisain de S. Magestade por que o mandou riscar e pôr esta verlja, feita em
List)oa a xij {í'J) de Março de j t) Ixxxij (/58á)=Gaspar Maldonado.
A provisão a que se refere esta e as mais verbas análogas, é a seguinte:
«Eu El Rey faço saber a vós Gaspar Maldonado fidalgo de minha casa es-
crivão da cliancèllaria de minha corte que eu passei hum meu alvará per mym
asinado per que ouve por bem e Mandei que entregaseis ao doctor Jorge de Ca-
bedo do meu desembargo desembargador da casa da suplicação todos os livros
dos registos da chancelaria que servirão até o tempo do falecimento do Senhor
Rey Dom Hemique meu tio, que santa gloria aja e no tempo dos governadores
(lo qual o treslado he o seguinte.
«Eu El Rey faço saber a vós Gaspar Maldonado lidalgo de minha casa, es-
crivão da chancèllari;i de minha corte (^ue eu hei por bem e me praz que entre-
gueis ao doctor Jorge de Cabedo do meu desembarguo desembargador da casa
da supplicação que (tra serve de guarda morda Torre do Tombo todos os livros
(los registos da cbancellaria que servirão até o tempo do falecimento do Seidior
Rey dom Henrique meu tio que santa gloria aja, em tempo dos governadores que
foram destes reinos pêra se guardarem na dita Torre, como he costume e estillo
delle, os quaes livros se carregarão em receita sobre o dito Guarda mór pelo es-
crivão de seu carguo, e delia vos passará conhecimento em forma feito pelo dito
escrivão e asinado poi' ambos para vosso descarguo; pelo que vos mando lhe
ecntregueis loguo os ditos livros e em todo cumpraes e guardeis este meu alvará
como nelle se contem. Amtonio Roiz o fez, em Lisboa a xxj (2í) de janeiro de
7" b Ixxxij {Í58'J} e eu Siínão Borralho o \h escrever.»
"E por que sou informado que nos mesmos livros estão rregistadas algua>í
provisões de Dom Amtonio. Prior do Crato, filho não legitimo do ífante dom Lois
meu tio que d(>os tem, as quaes indo nos ditos livros pêra a Torre do Totnbo sem
nellas se fazerem algumas declarações, se poderia peio tempo em deante seguir
<liso atgus inconvenientes avendo eu a isso respeito e como as ditas provisões
são nullas e de nenhu vigor por- serem passadas pelo dito doíu Amtonio que ti-
ranicamenlec coín foiça osurpou o nome de Rey destes Reinos pelo que não con-
vém estarem nos livros dos registos da cliancèllaria entre as provisões do dito
senhor Rei dom líiirifiue meu tioe dos governadores e entre alguas minhas nem
150 ARCHIVO DOS AÇORES
tes seu direito o quai pagou de ordenado delle três mil e oylocetitos o
C()renta rs. que se careg iram em recepta sobre Manjei Nogueira que
serve de recebedor da diancellari) como se vio pei cerliJão de Gas-
par Maldonado fidalgo de minha casa escprivão da dila chancellaria a-
syiiada per ambos que foy rolo ao asynar deste (jne «juero que vallia,
lenha força e vigor como se fose carta feita em meu nome seiíi em-
bargi) das ordenações em contrario. Baltesar Feraz o fez em Lixboa a
Ires de julho de b e Ixxx {lò80). Francis(;o d'Almeida o fez escrever.
{Arch. nac. da T. do T., Liv. XLVI de D. Seb., fl. 137.)
Mercê a Gaspar Alvares, das honras e regalias de cida-
dão da cidade d" Angra, por D. António; 9 de julho de
1580.
Ku El Rey faço saber aos que este meu alvará virem que avendo
respeito ao que na petição atraz escripla diz Gaspar Alvarez natural
da Ilha Terceira, cidade dAngra,e vistas as causas que nella allega que
justificou per estromento e por mo pr^dir o capitam Gaspar Luiz (>a-
mello de Mello ey |>or bem e me apraz que o dil » Gaspar Alvarez go-
ze e use daqui em deante de tórios os privillegios,o.nras e liberdades
que tem e de que gozam e usam e podem gosar e usar os cidadãos
da dila cidade (lAmgra assy e tam inteiramente como elle de tudo go
zara e usara se fora cidadão da dita cidade e servirá autualmenle nos
carguos e oíficios da Governança delia e mando a toilos meus desem-
bargadores.corregedores, ouvidores, juizes, justiças, oíTiciaes e pessoas
a que o conliecimento deslo pertencer que cumpram e guardem e ffa-
lançarcnise na dita Torre do Tombo sem as declaragões necessárias porque u lo-
do o tempo conste de sua nullidade vos mando (jue risqueis toilas as cartas, pro-
visões e outros alvarás que nos ditos hvros estiverem que fossem passados pelo
dito dom António de qualquer rahdade que sejam, e na margem década Ima del-
ias poreis verba per vos asinada de como pelo dito i^espeitò riscastes per meu
mandado. E este meu alvai'á trasladaieis em todos os dUos livros pêra que em
todo tempo conste de como o asy ouve por bem eo próprio entregueis na Torre
do Tombo com os ditos livros dos registos da cliancellaria como tenlio mauda-
lio pelo alvará neste tresladado, depois de terdes satisfeito ao contendo neste e
liuu e outro comprireis inteiramente assi e da maneira í|ue nelle se contem sem
duvida nem embargo algum que a isso se ponlia porque assj o ey por meu ser-
vigo. António lluiz o fez em Lisboa a xij (12) de maryo de J b l.vxxij ^1582). E
eu Simão Iioi-i'alliu o liz escrever. — Concertada com a própria. Gaspar Maldo-
nado^ Concertada, l*ero Castanho.
Aelia-se laiit-ado no íim dos livros 4.{, 4o e 4tt da cliancellaria de U. S.b.
e \). Henrique.
{Nola do Snv. J. í. de HriUi Rebellú.)
ARGHIVO DOS AÇORES 151
cão iiileiraiiienle comprir e guardar estf allvará como se nelle contem
(I (jiial se registará no Livro da Gamara da dita cidade d"Amgra pi^a
se saber comi» (» asi tenho concedido e ey por bem que valha como se
fose carta (etc. em forma). Simão Pinheiro o fez em Lisboa a ix (9)
de julho de T b e Ixxx {1580} Fernão d" Alvarez d'Oliveira o fez es-
crever. (1)
(Are. me. da T. d<> T . Liv. XIlí dos Prir. dv D. Srb. f. 2S2,)
Alvará por que sua Mag:estade lia por bem que nas Ilhas
dos Açores valháo os Reales de prata; 25 de janeiro
de 1583.
En El Rey faço saber aos que este alvará virem que por ser in-
formado que nas Ilhas dos Açores não correm os reales de prata, nem
vse tomam pela valia que correm nestes Keinos o que he em grande
prejuízo do comercio e trato das ditas Ilhas e das pessoas que nellas
negoceajn. E (pierendo nisso prover ey por bem e mando que daqui
em deante valhão nas ditas llíias dos Açores os reales de prata sin-
gellos a dons vinténs cada hum e as moedas de dons reales a quatro
vinténs, e as de quatro reales a oito vinténs e as uioedas de oito rea-
les valham cada huma dezeseis vinténs e meo real de i)rala hum vin-
tém. E isto em quanto eu o houver por bem e não mandar o contra-
rio pelo que mando a todos os moradores das ditas Ilhas, e pesoas
que nellas negoceam e tem seu trato e commercio que daqui em de-
ante tomem as ditas moedas nas valias declaradas e nas mesmas va-
lias corram em todas as ditas Ilhas sem nisso haver duvida alguma.
E aquelles que assy o não cumprirem e não (juizerem tomar as ditas
moedas nas ditas valias e as engeitarem ey por bem que encorram
nas penas em que per minhas ordenações encorrem aquelles que en-
geitam e não querem tomar as moedas destes Heinos. As quaes pe-
nas se darão á execução nas taes pessoas cada vez (jue nellas encor-
rerem, pelo que mando ao licenciado Christovam Soares dAlbergaria
(p:e ora serve de corregedor nas ditas Ilhas, ipie tanto que lhe este
meu alvará for apresentado o faça logo publicar e apregoar em Iodas
as cidades, villas e lugares das ditas Ilhas, pelos lugaies públicos del-
ias e fixar o treslado por elle assignado e sellado com o sello da cor-
reição nas [)ortas das casas das Camarás dos taes lugares pêra vir
á noticia de todos, e se saber como assy o tenho mandado. E assi ujan-
do ao dito corregedor e aos ouvidores e mais justiças das ditas Ilhas
que em todo o cumpram e façam inteiramente com{u^ir e guardar co
(1) Está trancado, e tem á margem verba análoga ás dos antecedentes.
152 ARCHIVO DOS AÇORES
mu iielle se contem e procedam contra as pessoas que contra elle fo-
rem e o não quizerem coni[)rir na forma das ditas ordenações e C(tn-
forme a ellas. E este alvará qnero (jne valha, tenha força e vigor como
se fose carta feita em meu nome por myin assinada e passada por mi-
nha chancellaria, sem embargo da ordenação do 2.° I.ivro titulo xtv
que diz que as cousas cujo elfeito ouver de durar n>ais de huin anno
passem per cartas e passando por alvarás não valham. António Hodri-
gues o fez em Lisboa a >ij [12] de dezembro de ~ b e Ixxxij [lõ82)
Simão Borralho o fez escrever.
Foy publicado o alvarã dei Rey noso senhor atraz escripto na
chancellaria |)or mim Gaspar Maldonado scrivão d rlla perante os ofti-
ciaes da dita chanct-llaria e outra muita gente que vinha requerer seu
despacho. Km Lisboa a xxb {2ò) de janeiro de J" b e Ixxxiij (lô83).
Gaspar Maldonado.
[Are. nac. da T. do T., Li».'' 1." de Leis e fír/-'*'^ /"• SO v."}
Poder e alçada que leva o doutor Gil Eanes da Silveira
que vai por juiz de fora da cidade de Ponta Delgada;
10 de novembro de 1583.
Dom Philippe per graça de Deos Rey de Portugal e dos Algarves,
da^iuem e dalém mar em Africa, senhor dr* Guiné e ú\ (^jnquisla Na-
vegação e Comercio de Ethiopia, Arábia, Pérsia e da índia á-. Faço sa-
ber a vós doutor Gil Eanes da Silveira que ora envio por juiz de fo-
ra da cidade da Ponta Delgada que eu ey i)or bem, pella confiança
(pie de vós tenho qne alem dos poderes que per minhas ordenações
sam dados aos .luizes ordinários, vós tenhaes mais os poderes e alça-
da adeante declarada.
Ey por bem e me praz que nos cas(ts crimes vós posães mandar
açoutar piães de soldadas qne estiverem asoldadadose outros piães que
ganharem dinheiro por sua braçagem e eí^cravos. e posaes degradar
os ditos piães para os lugares dalém até dous atmos e para os coutos
do Reino até três annos.
E asy ey por bem que |)0s&is degradar escudeiros e vasalos que
não forem de linhagens e olliciaes macanicos pêra os lugares dalém
por dous annos epera os coutos do reino por três.
O (jual poder e alçada se entenderá naquelles casos em que per
minhas orden^^ções sam postas expressamente as dilas penas porque
naquelles em que assynão forem postas expressamente as determina-
reis Cl imo f ir justiça dando apellação e agravo.
Nos casos eiveis tereis alçada até contia (Je cinco mil reis, sendo
ARCHIVO DOS AÇORES Io3
(le bens inoveis e sendo de raiz ulè quatro mil rs. e p.)dt'r('is pôr pe-
nas alé mil rs. nos casi)s em (jue vos parecer necessário p!)r bem de
JMsliça se pôreni.
E nestes casos acima declarados assy crimes como eiveis e penas
dareis vossas sentenças á devida execnção sem delias receberdes a-
pellação nem agravo porque para isso vos dou per este lodo o poder
e alçada.
E quando qner qne algnms fidalgos, cavaleirijs, e escudeiros que
forem de linhagem e vasalos fkerem tais cousas per onde vos pareça
que devem ser emprazados para minha corte vós fareis fazer os autos
(le suas culpas, que vos parecer necessário: e feitos os emprazareis
para a corte e lhes asinareis termo conveniente a (jue nella pareçam
e Com elles enviareis os ditos autos [)era serem vistos e elles ouviílos,
e se fazer o que for justiça.
E assy ey por bem que acerca das suspeições que vos forem pos-
tas nos feitos e causas de (pie por rezão do dito oílicio poderdes conhe-
(;er tenhais maneira seguinte. Tanto que vos for intentada suspeição
per alguma parte não vos lançando vós por suspeito, procedereis sem-
pre na cau>a em que vos for posta até se determinar a -suspeição fi-
nalmente tomando comvosco por adjunto o vereador mais antigo, não
sendo suspeito, e sendo-o. tomareis outro e sendo o segundo vereador
lambem suspeito tomareis o terceiro pêra amb »s procederdes junta-
mente no tal caso: e se todos os Ires vereadores forem suspeil(js ho
fareis com hum dos do anno passado ao qual se não poderá pôr sos-
peição, e os autos que assy amb)S fizerdes ey por bem que sejam va-
liosos, como se a sospeição vos não fora intentada : e seindo julgada
(|ue nã<) sois suspeito procedereis só na causa como avieis de fazer se
a suspeição vos não fora posta; e send j julgado que o sois em tal ca-
so não procedereis mais, e as parles se huivarão em juiz sem suspei-
ta (jue em noso lugar o determine.
E por quanto algumas pessoas vos poderão pôr suspeições (mais
a fim de dilatar seus feitos e demandas, que por lhe serdes suspeito)
ey por bem que qualquer pesoa que vos poser suspeição, tanto que
vos op.izerdes a ella, e em voso depoimento vos não derdes por sus-
peito, logo deposite dous cruzados os quaes perderá pêra os presos
pobres da dita villa (não provando a dita suspeição) e será juiz das
ditas suspeições, depois que vos assy forem postas, ho Corregedor
dessa Comarca se estiver nessa villa, ou o Juiz de fora do lugai mais
perto- delia: e isto processand(»lhe primeiro na terra e no final lhe se-
rão levadas, ao qual mando que as veja e as determine como for jus-
tiça.
E assy me praz que quando fordes fora de vosa jurisdição por
meu mandado ou de cada hua de minhas relações a fazer alguma di-
ligencia por bem de justiça a rt'(]uerimenlo de partt's possaes levar
duzentos rs. por dia loilos os dias <jue andardes ocultado nas ditas di-
N.° li^-Vol. Vlll-1886. 8
154 AhCHlVO DOS AÇUhES
ligeiícias, á ciisl.i díis partes que o requererem, ilus quaes vus f.ireis
Noleíicuvolu íis^y, e vos maiido que deste poder e alçada c d^t
iDais contliendo nesta provisão vós inteiramente (?<2e/s;, por qnanlo [)uv
confiar de vós que tudo o que a bem da justiça e meu serviço com-
pi'ir fareis assy bem e como se de vós espera o ey assy pnr bem e
mando aos desembargadores e corregedores e ofiiciaes e [)essoas a
que o conhtcimento dislo pertencer que nisto vos não ponham duvida
nem embargo algum El rrey nosso senhor o mandou pelos doutores
Jerónimo Pereira de Sá e Melchior do Amaral, ambos do seu conselho
e seus desembargadores do paço. Pêro de Seixas a fez escrever em
Lixboa a úvy. de novendjio de Jb e Ixxxiij {lõ8S).
{Arch. nac. ila T. do T., Ur. 1 dv Leis e Hegini.'"', j. Uò r.°)
Alvará de 2 de novembro de 1591, sobre a taxa do trig-o
das Ilhas dos Açores.
Eu el Rei faço saber aos que este alvará virem que avendo res-
peito a f-^te anno presente de mil e b e l.w.wj \lõ9J) awi pouco tri-
go nas Ilhas, a saber: A Terceira. S. Miguel, Tavai, Piquo, Sam Joi-
ge, Santa Maria. Graciosa e Corvo e por se ter entendido que aveiido-
se de tomar a copia de trigo que hão mister os soldados que cm meu
serviço lesidem nas dilas Ilhas, ficará tão pouco nas terras que as
pessoas que o tiverem o venderão por preços tão excessivos (|ue os
pobies em nt nhua m.meira poderãi» a isso suprir e pereceião de todo,
e os ricos com grande trabalho e des|»eza de suas fn/endas, alem de
os lavradores por este respeito ficarem impossibdilados para poderem
semear as terras, e por se ter visto por experiência que se não hou-
ver nas ditas Ilhas té á novidade do anno que vem de mil e b e Ixxxx
e dous t JÔ.92) certo pr» ço no dito (rig<i por alipieire se acabarão os
ditos moradores de perder e os pobi-es ficarãíj destruídos, (juerendo
nisso prover pêra que uns e outros teuliam remédio: ey por bem que
nas ditas ilhas e seus termos não passe o trigo que se colher das no-
vidades delias, somente lé dia de Nossa Senhora de Setemtiro do dito
anno que vem de J b e Ixxxxij {lõ92) de cento e setenta rs. o ahpiei-
re nem se venda a maiores [)reços e toda a pesoa de (pialquer callida-
de e condição (pie seja que algum trigo vender per mai(»r preço do a-
cima declarado >erá preso e degradado per Im anno pêra toia das di-
tas Ilhas, e da prisão pagará por cada vez que nisso for C(»m[)rehen-
dido vinte cruzados e perderá a valia do dito trigo que assi vendeo a
maior preço, auu'tade pêra quem o acusai-, e a outra ametade pêra o>
captivos. e mando ao corregedor das Ilhas dos Açoivs (|ue leu ha es-
ARCHIVO DOS AÇORES lo5
pcciiil cnid.nl!) fie lir.ir tlfv.issa deste <mso no fitn do nnno sohre, ns
pessoMs (|iii' •■i>sY o iirii» romprirão e prenda os (jne achar nisMu-nlpn
dos, e |»ro(*(,'da contra elles como Cor justiça, dando a[)pellação e ajjra-
V.) nos casos em (pie Cídiber e o modo por(pie se liade repartir o dito
trigo e em qne lugares e tempos se fará tudo por ordem dos olíiciaes
das camarás, e não em outra alguma maneira, e o dit(j corregedor ten-
do informado que os ofliciaes que repartirem o trigo fazem na tal re-
partição o qne nani (Jevem tirai^/ri) soljre isso té oito testemunhas e
procederá contra os culpados como for justiça e os olliciaes e pessoas
(jue fizerem o (pie não he rezão na dita repartição contra forma des-
te alvará enori-erão alem das ditas penas em lium anno de degredo
mais pêra hum dos lugares de Africa, e em todas as ditas penas en-
correrão também os rendeiros e quaesipier outras pessoas que tirarem
pão dos celleiros ou de quaes(pier outras partes sem autoridade de
jiisliça, e a reparti(;ão que se fizer do trigo a [)essoas que o pedirem
se fará conforme a necessidade de (!ada hnu, tendo sempre respeito
aos mais pobres.
K mando aos ditos corregedor e olliciaes das camara.s que assy
o cumpiam e façam logo pregoar este alvará na cidade de Angra da
lllia Terceira na cidade de Ponta delgad.i, e nas mais Ilhis acima de-
claradas pelos lugare> públicos e custumados pnra (jie a todos S(.\ja no-
tório o que por elle mando, e senão possa alegar ignorância E este
íilvará se registará nos Livros das camarás das ditas Ilhas, o qual se
comprirá inteiramente como nelle se contem do dia em que asy for
pregoado nas ditas cidades e Ilhas em deante, té o dito dia de IVossa
Senhora de Septembro do anno que vem de noventa e dons sem con-
tradição alguma, e o trigo que se levar de Imas das ditas Ilhas pêra
outras, os ofliciaes das camarás parecendolhes que se deve de dar
algum ganho ás pessoas que o levarem lho arbitrarão e taxarão o pre-
Çi) que mais devem de aver, alem dos ditos cento e setenta reis por
alqueire. Pêro de Seixas o fez em Lixboa a doiis de novembro de mil
e b e Ixxxxj {lõ9í). E d(j teor deste alvará foi pasado mais outro pe-
i-a irem por duas vias de que esta he a primeira, Cumprirseha hnu
somente. {Riscou-se piihlicado).
(Are/', me. da T. do T., Liv. I de Leis e Re(jim.^''\ f. 219.)
Alvará de 3 de Dezembro de 1592, concedendo certos pri-
vilégios aos procuradores e thezoureiros da Gamara
de Villa Franca do Campo.
Eu el Rei faço saber aos que este alvará virem que per alguns
respeitos (|ue me a isso movem ey por bem (jue os procuradores e te-
loG AHGHIVO DOS AÇORES
zonreiros que andarem nos pelouros da (Clamara da villa de Vilhi Fran-
ca do Canipíj da ilha de Sani Miguel com os juizes e vereadores delia
gozem dos mesmos privilégios de que gozam os ditos juizes e verea-
dores notetricoo assi a todos meus desembargadores, corregedores, ou-
vidores, juizes, justiças, olíiciaes e pessoas a que este alvará ou o tras-
lado delle em publica foima for mostrado e o conhecimento pertencer
e lhes mando que aos ditos procuradores e tescmreiros que assi anda-
lem nos pellfturos da dita camará não impidão gozar dos ditos privi-
légios pela maneira sobredita antes livremente os deixem gozar delles
sem nisso lhes ser posta duvida, embargo nem contradição alguma, e
cumprão, guardem e facão inteiramente comprir e guardar este alvará
como nelle se ci nlem o qual se registará no Livro da Camará da di-
ta villa de Villa Fi-anca do Campo pello escrivão delia (juh passará nas
costas deste sua certidão de como fica registado no dito livro e a quan-
tas folhas e o próprio se poerá no cai tório da dita camará em toda
boa guarda para sempre se ver e saber que o ouve assi por bem e
(}uero que valha á-. Fero de Seixas o fez em Lixhoa aos três de de-
zembro de mil [f Irij {1592).
[Arch. ?i(ic. du T. do T., Ur. 2.^' dos Priril. de Filipp. l.'\ foi.
185 i\\)
Provisão de 15 de fevereiro de 1593, a favor de Melchior
Estacio do Amaral, Provedor dos defuntos e auzentes.
Dom Fellipe A. Faço saber que avendo respeito ao (jiie íia peti-
ção atraz escrita diz Melchior Estacio do Amaral cavaleii'o lidalgo de
minha casa. ey por bem que elle não possa ser preso salvo sendo a
chado em fraganle dellito nem se possa dar delle ([ueivila ou denun-
ciação allgua senão perante hum dos corregedores de minha corte e
isto per tempo de quatro dimos mais alem do tempo que lhe já pêra
este efleito foi dado, os quaes (piatro annos começarão do dia que
esta provisão chegar aas ilhas dos açores [terá omde o dito Melchior
Kstacio diz (jue está provido na .serventia dit otíici(» de provedor dos
defuntos e ausentes delias da maneira que na dita petiçãit declara e
do tempo em que assi chegar constará per certidão autentica de all-
giim escrivão ou tabelião publico na outra meia desta folha. E mando
ao corregedor das ditas illias ou a quem o dito cargi» servir e a qnaes
quer outras justiças, olíiciaes e pessoas a que esta |trovisão ou o tres-
lado delia em [Hiblica forma foi' mostrado e o conhecimento pertencer
que lhe não ponhão a isso duvida nem contradição allgua e cumpram
inteiramente esta provi.são como nella se contem: el Hei uos.-^o senhor
o mandou [tehis doutores Jerónimo Pereira de Sá e Melchior do Ama-
ARCHIVO DOS AÇORES Í57
r;il A. Pen» de Seixas o fez em Lisboa aos xb {lõ) de fevereiro de tnil
b'' Iriij {I50S . E esta pnjvisão (jiiero que valha d. Concertadas— 3 —
António d'A2;tiiar.
[Arch. nat\ (ia T. do T., Liv. 2." de Prinl. de FHipp. l.\ foi. Km.)
Por idêntica Provisão cie 19 de novembro de 1597 lhe foi prorogado o pra-
so por mais quatro aiinos.
Melchior Estacio, tinha ja servido o mesmo logar por Alv. de 2â de Margo
de 1588, aonde se diz: «em attetigão aos servigos que tinha feito em S. Miguel
»/fls alternrões passadas." (Drumíiiond, Annaes da Ilha Terceira, T. í, p. 362 nota.;
Alvará de 4 de junho de 1593, para a Gamara da ilha de
Santa Maria, sobre a oaça dos coelhos.
Eu el Rei façf) saber aos que este alvará vitem que avendo res-
peito ao que os olliciaes da Camará da ilha de Santa Maria dizem no
apontamento que entre outros me enviaram de que o treslado vai es-
rripto att^az e visto a informação que acerca do contendo no dito apon-
tamento se ouve de Francisco Simões (ia Cunha juiz de fora na cidade
de Ponta Delgada da ilha de São .Miguel ei por bem que na dita ilha
de Santa Maria se possa livremente caçar aos coelhos em todo (li
com fios e quaesquer outras armadilhas com que os poderem caçar e
isto se entendei á da parte fia Almagreira para a serra somente sem em-
bargo da ordenação em contrario e com declaração que para a parte
da dita ilha de Santa Maria e contra o niar se não armem em tempo
algum tios nem nenhumas outras armadilhas aos coelhos, o que todo
assim me praz, por espaço de dous annos (pie começarão do dia em
que este alvará for presentado na ilha de Santa Maria em diante de
que nas costas delle constará por certidão do escrivão da Camará da
dita ilha visto como pela dita informação constou f;»zerem os coelhos
na dita parte da Almageira pêra a serra muitas perdas e damnos nas
searas e vinhas. E mando a todas as justiças, olliciaes e pessoas a que
o conhecimento disto pertencer que cum[)ram inteiramente este alvará
couKj nelle se contem sem duvida neiu contradição alguma e quero
que valha d. E do teor deste alvará foi passado mais outro para irem
por duas vias de que este he a primeira ciun[trirseha hum somente.
Pêro de Seixas o fez em Lisboa a iiij {4< de jimho de mil 1/ Ixxxxiij
{1Ò9S). Miscouse — pasar.
{Arch. nac. da T. do T., Liv. 2.° de Priril. de Fiiippe 2.\. f. 246. \
(1) Parece que faltam aqui as palavras— o a«íío -sem o que não faz mmtn
sentido, nem era muito precisa a concessão, porque ainda que a ordenação fal-
tava geralmente, comtudo especializava as priíicipaes terras onde o rei costuma-
va ir folgar, e as posturas de muitas camarás marcavam o tempo em que apenas
era prohit)ida a cacja. {ISnta do Svr. J. I. de Brit» íleheUo.)
158 ARCHIVO DOS AÇORES
Alvará de 4 de julho de 1593, para a Camará da ilha de
Santa Maria.
Eu El Hei faço saber aos (jiie estn alvará virem que aveudo res-
peito ao (]ije os olliciaes da camará da ilha de Santa Maria dizem no
apontamento que entre outros me enviaram de que o traslado vai a-
iraz (1) escriplo e vista a informação que acerca do conteúdo no dito
apontamento se ouve por rrancisco Simões da Oinlia juiz de fora na
cidade de Ponta Delgada da ilha de São Miguel ei por bem que por
espaço de seis aimos que começarão do dia que este alvará for apre-
sentado na ilha de Santa Maria em diante de (]ue nas cosias delle con-
stará por certidão do escrivão da camará da dita ilha se arrendem aos
moios per arrendamentos as terras do concelho delia a pessoas que as
tratem bem e paguem aquillo em que lhes forem arrendadas dando-se
nos arrendamentos das ditas terras parle aos pobres visto como pella
dita informação constou sendo o povo ouvido importar á boa arreca-
dação do rendimnnto das ditas terras do concelho arrendarem-se aos
moios per arrendamentos pela muita deminuição que nelles avia das
estremas que cada anuo fazia os lavradores que as pessohiam com o
(pie as ditas terras se hião ao mar com as aguas que pelas taes es-
tremas corriam o que todo assi me praz com declaração que as pes-
soas a que se arrendarem pela dita maneira façam nas estremas ba-
lisas de paao para divisão delias. E mando aos olFiciaes da camará da
dita ilha de Santa Maria que ora são e pelo tempo forem e a quaes-
qiier justiças, pessoas e ofíiciaes outi'()s a que o conhecimento desto
pertencer que cumprão inteiramente este alvará como wAW se contem
sem duvida nem embargo algum e quero tjue valha á-. E do teor des-
te alvará foi passado mais outro para ir por duas vias de que esta he
a primeira, cumprirseha um somente — Pêro de Seixas o fez em Lis
boa aos iiij [4) de junho de mil b*' Iriij {1693).
{Ai-c. nac. da T. <lo T., Ur. 2° dos hiv. de FIlipp. l.\ f. 246.)
(1) Est:i palavra não oálá no registo, mas segundo o teor ilo outi'os alvuras
^iiiiilliaiitts |)art'ct' ilovia cslar iio original.
[NoUi do Sr. .1. I. ,lf Br>Ui HrbeUo).
ARCHIVO DOS AÇORES 150
Reg-imento de Fernão Faleiro, provedor dos órfãos e re-
síduos da ilha Terceira; 7 de dezembro de 1593.
Dom Philipe á-. Fíiço saber a vós Feinãd Kalleiro que <»ra envio
por Provedor dos órfãos, tesidos, liospitaes. capellas. confrarias e al-
hergaiias da comniarea da Ilha Terceira que eu cy por bem e me praz
(|ne alem do (]:ie p )r minha-; ordenações e pelo R-^gimento do dito of-
íicio vos he mandado acerca delle. useis e cumpraes o ipie nos capi-
(ulos abaixo declarados se contem.
E por quanto os Provedores dos oifãos por bem de seu Regimen-
to nas cousas dos ditos órfãos não podem conhecer senão de certas
causas per aiição nova, nem tem mais alçada ipie até conlia de dois
mil reis, ey por bem que (pierendf» algua das partes perante nós de-
mandar algua cousa que vos [»osars conhecer per aução nova de todos
os casos que os Juizes dos órfãos per seu Regimento e ordenações po-
dem conhecer, e sendo os ditos casos nos logares em que o correge-
dor pode entrar per via de coireição, tenhaes a alçada que tem o di-
lo corregedor, e nos outros lugares em que assi o dito corregedor não
poder entrar per via de C(trreição tereis somente a alçada que tem os
provedores pelo regimento de seu ofíicio, a qual alçada assi mesmo
tereis n(»s feitos e causas dos ditos órfãos que a vós forem per agra-
vo dos ditos lugares, em que entrar o dito corregedor, de que atégo-
ra os Provedores passados [)odiam conhecer pelo dito Regimento.
It. os feitos que não poderdes acabar de despachar nos lugares
onde os começardes não levareis comvosco e os dei.xareis aos Juizes
dos ortãos os quaes procederão nelles e os despacharão como for jus-
tiça segundo forma de seu Regimento e ordenações.
K por quanto no Rtgimento dos provedores no tituk» cincoenta e
hum (pie falia como liam de prover sobre os órfãos no principio dfi
dito titulo he mandadi» a(»s ditos Provedores (jue quando acharem que
(ts Juizes dos órfãos não servem como devem seus olíicios e os acha-
rem em alguas culpas mo facão a saber etc. ey por bem pella contian-
ça que de vós tenho que quando quer que achardes os ditos Juizes e
ntliciaes culpados em tais culpas que contra elles per direito se deva
prt)ceder, que vós procedaes contra elles como for justiça sem mais
mo fazerdes a saber dando apellação e agravo nos casos que não cou-
berem em vossa alçada.
It. tanto que fordes na dita comarca fareis fazer hun livro bem
ejicadernado. no qual fareis escrever em titollos apartados de per sy
os nomes das villas e lugares que ouver na dita comarca e provedo-
ria, e quandít começardes a correr a dita comarca, e chegardes a ca-
<la huii dos ditos lugares pei"a pruver as capellas que nelles ouvei' se-
gimdo forma do Regimento, como acabardes de prover cada bua dei-
160 ARCHJVO DOS AÇORES
las mandareis treslladar a Insliluição ou lestamento da provestes (I)
abaixo do titulo da villa ou lugar eui que estiver, e allfui disso fareis
HSt^rever o nome da dita capella, e da igreja em que eslaa, e quem a
inslituliio, e qunm he o administrador delia e se lie de liuhagt^m, ou
lhe vem p^r sobcessão, ou per mercê que lhe eu delia fizesse e se a
dita mercê he somente em sua vida, se pêra seu filho, ou geração, e
se os oíTiciaes da camará são administradores, e assi a obrigação (jue
tem e a renda que lhe foi deixada pêra se comprir a dita obrigação,
e em que heranças, ho que ora rende ao presente, e o selario que o
administrador leva j)er seu trabalho, e a maneira de que por elle he
servida, e o que nella provestes e mandastes que se fizesse, e polia
dita maneira fareis escrever no dito Livro todas as capellas que na di-
ta comarca ouver como as acabardes de prover cada hua no lugar on-
de estiver, e com todas as declariíções qne acima se contem, o qual
Livro estará na arca onde estiverem os Livros e cousas que locarem
ao dito oíFicio de Provedor que sempre andará convosco pêra quando
tornardes a prover as ditas capellas verdes pello dito livro as que a-
veis de prover, e se se comprio o que as Instituições, ou testamentos
mandão, e assi se se comprio o que mandastes que em algiia se fizes-
se pêra quando vierdes a minha corte e vos for j3ergimtado dardes re-
zão do que acerca disso se vos perguntar, e assim para que o Prove-
vedor que depois de vós for saiba tomar larga enformação de quantas
as ditas capellas são, e de suas obrigações, e do mais neste capitólio
declarado.
E por quanto se já mandou fazer o dito Livro pella dita maneira
aos provedores que antes de vós foram da dita comarca, enformar-
voseis dos officiaes da provedoria delia se fizeram os ditos provedo-
res o dito livro e adiando que o fizerão o vereis, e sabereis por elle
se está feito o que conforme ao qne no capitólio acima he declarado e
estando alguma cousa por fazer a acabarias, e não sendo o livro feito
o fareis logo pida dita maneira, e entodo comprireis este Regimento
como se nelle contem. LI Rei nosso senhor o mandou pelos doutores
.leronimo Pereira de Sá e Melchior do Amaral ambos do seu conselho
e seus desembargadores do Paço. E eu .loão da Costa o sobescrevy a
sete de dezembro de mil e b e Ixxxxiij {lõ93) annos.
{Arch. tine. da T. do T., Liv. 1." das Leis e Rig.y f. 223.)
(1) A [iiilavi-a Ini cmciitkul;!, pareccodo liavcr-so cscriplo \M'\fm-\vo—f>roven}es.
^Nuta lio Sr. ./. /. de Brito Rebello.)
ARCHIVO DOS AÇORES 161
Alvará de l d'dgosto de 1593, concedendo privilégios aos
thezoiíreiros da Gamara de Ponta Delgada.
) Eli el Rei faço saber aus ijiie esle alvará virem que por alguns
respeitos que me a isso inuveui ey [)or bem e uie praz que (J'aqui em
ilianle os ihesoureiros que andarem nos pelouros da governança da
Camará da Cidade da Ponta Delgada da ilha de São Miguel gozem dos
mesmos privilégios de que gozam os juizes e vereadores da dita cida-
de como foi por mim concedido á villa dn Villa Franca «Ja dita illia:
uoteíico o assim a todos meus desembargadores, C(»rregedores, ouvido-
res,juizes e justiças, oíliciaes e pessoas a que este alvará ou o Irelado
delle em publica forma for mostrado e o conhecimento perlenct-r e
lhes mando (jue aos ditos thesoureiros que assim andarem nos pelou-
ros da dila commarca não impiíJam gozar dos ditos privilégios pela
maneira sobre dita antes livremente os deixem gnznr delles e sem
nisso lhe ser posta duvida, embargo nem contradição alguuja e cum-
pram e guardem e façam inteiramente cumprir e guardar este alvará
<*omo se ntdle contem o qual se registará no Livro da Camará da ci-
dade de Ponta Delgada pelo escrivão d"ella (pie pa>sará nas costas
deste hiia certidão de como fica registado no dito Livro e a quantas
folhas (i o próprio se porá no cartório da dita Camará em toda boa
guarda pêra sempre se ver e saber que o ouve eu assy por bem e este
quero que valha como cana sem embargo da ordenaçam do "2." livro
tt.° XX (20) que diz que as cousas cujo elTeito ouvercm isic) de durar
mais de hum anuo pa>sem per cartas e passando pei- alvarás não va-
Hião — Francisco Ferreira o fez em Lixboa ao primeiro de agosto de
i b e Irbiij ilõOS) Pêro da Costa o fez escrever=concertadas 2, Peio
Castanho.
(Anh. me. da T. do T., Lk. 4.° dos Prinl. de Ftlippe 1." f. 177.)
Privilegio para Pêro Uchalles coser cal com carvão de
pedra na ilha de S. Miguel; 17 de novembro de 1598.
Eu el Rey faço sab.r aos que este alvará virem que avendo res-
peito ao que na petição aqui junta diz Peio Uchalles, ingrez de nação,,
morador na ilha de Sam Migel e vista a informação que do contheudo
nelli se ouve por Francisco BHelho. provedor de minha fazenda nas
ilhas dos açores e mais deligencias que sobre isso se fizerão ey por
bem e me praz dar licença ao dito Pêro Uchalles pcra que por tempo
de cinco ânuos po>sa fazer na dita ilha cal com carvão de pedra, deu
N. 'il— Vol. VIII — 1886. !j
162 ARCHIVO DOS AÇORES
tro dos quaes nenhurníi outra pesscia poderá fazer a dita cal c<jm o
dito carvão de pedra, o qual carvão file poderá mandar trazer de Fraii-
dez ou Escócia e quaesquer outras partes, nãu sendo de Inglaterra,
com declaração que toda a outra pessoa poderá trazer cal a vendei'
ás ditas ilhas de todas as partes que quizer, pelo que mando a todas
minhas ju>tiças, oíFiciaes e pessoas das ditas illias a que este alvará
for mostrado e o conhecimento delle pertencer, que pelo dito tempo
de cinco annos deixem ao dito Pêro Uch;dles fazer cal nellas cou) o
dito carvam de pedra que elle mandará trazer de Fraudes ou Escócia
e quaesquer outras partes não sendo Inglaterra como dito he, e não
consintão que nenliua outr;i pessoa possa fazer cal com o dito carvão
de pedra se não elle, a qual fará assim na dita ilha de S. Migel como
nas mais ilhas dos açores e cumpram e guardem este alvará como se
nelle contf.m, o qual se pubhcará nas camarás das ditas ilhas, villas
e lugares delias, e se registará nos livros das ditas camarás pêra se
saber como assi o tenho mandado e quero (jue valha d-. Manoel Fran-
co o fez em Lixhoa a xbij (17) de novembro de J b e Irbiij (10.98):
Eu Ruy Diaz de Menezes o fiz escrepver. Concertado, Pêro Castanho.
(Arch. nac. da T. do T., Lk.° VI dos Privil. de Fdip. l.\ f. ÍOS.)
Nomeação de Escrivão da Camará de Villa Franca;
18 de julho de 16C5.
Carta de nomeação de escrivão da Camará de Villa Franca do
Campo na ilha de S. Miguel a Pêro Mendes cavalleiío fidalgo, e isto
por virtude de um alvará de 18 de junho de 1605 feito por Luiz Ro-
drigues e mandado escrever por Pêro Sanches Farinha, no qual diz
que: «avendo respeito á boa informação que me enviou o corregedor
das ilhas dos Açores de Pêro ^Mendes, cavalleiro fidalgo de minha ca-
sa e haver sido de meu serviço nas alterações passadas e ter servido
o officio de escrivão da Camará de Villa Franca do Campo mais de
doze annos, ey por bem e me praz de lhe fazer mercê do dito officio
o qual está vago por simples reniuiciação (jue delle fez em minhas
mãos o propiatairo Amtonio dAmdrade por ser muito velho e estar
entrevado» éc. Dada a carta na cidade de Lisboa aos dezoito dias do
mes de julho, el Rey nosso senhor o mandou pelos doutores Damiam
d Aguiar e Pêro Nunez da Costa d-. Pêro Lopes a fez, anno de Nosso
Senhfir Jesus (^liristo de 160o. E eu Gaspar Maldonado a fiz escrever.
{Arch. mic. da T. do T., Liv. XV í do Fdip. 2.\ fl. 60)
k
ARCHIVO DOS AÇORES 1G3
Alvará de mercê a Manoel de Lemos do officio de condes-
tavel dos bombardeiros das nãos da índia e armadas,
na Ilha Terceira; 12 de setembro de 1605
E(i El Rey faço saber aos qne este alvjirà virem que avendo res-
peito ao qne na petição a este junta diz Manoel de Lemos morador na
cidade de Amgra da ilha Terceira e á informação qne delle se ouve
na mesa do conselho de minha fazenda por Manoel d(j Canto de Cas-
tro fulalgo de mirihíi casa e provedor de minhas armadas na dita ilha
de como he apto e suficiente pêra servir o (jfficio de condestavel dos
bombardeiros das nãos da índia e armadas qne vem ha dita ilha (pie
vagou per falecimento de Micer de Torres seu sogro que delle hera
proprietário, e o dito Manoel de Lemos sérvio o dito officio o tempo
que delle foi encarregado, bem e com cuidado: ey por bem e me praz
de lhe fazer mercê do dito oiricio de condestavel dos bombardeiros
das nãos da Índia e armadas que vem ter ha dita ilha Terceira e isto
com declaração que o terá e servirá em quanto o eu ouver por bem
e não mandar o contrario e que tirandose ou extinguindosse o ditouf-
ticio em tempo algum llie não ficará minha fazi nda por isso obrigada
a satisfação algua e averá com elle de or<ienado cada anno (juinze mil
reaes que he o mesmo orden.ido que tinha e avia o dito Micer de Tor-
res per cujo falecimento o dito officio vagou; os quaes xb (lõWOO)
reaes lhe serão pagos no almoxarifado de minhas rendas da dita ilha
Terceira |)resentando o dito Manoel de Lemos cada anno certidão do
provedor de minhas armadas de como serve: pelo que mando ao meu
feitor ou almoxarife das rendas da dita ilha qne ora he e ao diante for
que constando lhe per certidão do dito provedor de como o dito Ma-
noel de Lemos serve lhe dee e pague os ditos xí) {lòBOOO) reaes e
pelo treslado de.^te alvará que será registado no livro da despesa do
dito almoxarifado pelo escrivão de seu cargo e conhecimentos do dito
Manoel de Lemos e a dita certidão mando aos contadores de minha
casa lhe levem em conta o que lhe pela dita maneira pagar e ao pro-
vedor de minhas armadas lhe dee posse e juramento do dito officio
que bem e verdadeiramente o sirva guardando em tudo meu serviço,
e o direito das partes, de qne se fará asento nas citstas deste, que ey
por bem qne valha como carta etc. Pêro dOliveira o fez em Lisboa a
xij {12) de setembro de mil bj' e b {1605). Eu Ruy Dias de Menezes
o Í\L escrever.
[Ánh. nac. da T. do T., Lir. XV f d^ Filip. 2.^ f. 126 v.")
164 AftCHIVO DOS AÇORES
Alvará sobre a eleição dos officiaes da Camará de Ponta
Delg-ada; 19 de novembro de 16C5.
Eu El Rey (aro síiber mus que este <\\\i\ii\ viíeui que vistas as
causas que os vereatloies e prucmadoí da camará da cidade de Ponta
Delgada da ilha de São iMigel allegão na petição atrás escrita, com a
informação que acerca do que uella requerem se ouve do juiz de fora
da dita cidade ponjue constou do consentimeulo dos ditos vereadores
e procurador e d<is procuradores dos misteres da dita cidade sendo
sobre isso ouvid(»s e que ()elas ditas causas e suas respostas e mais
diligencias que fizera e pelo que do que requerião tinha alcançado do
tempo que avia que assy servia de juiz de tnra. se lhes devia conce-
der o (|ue pedião por ser justo pêra bom governo do [>ovo: ey por
bem que a elleição dos oíliciaes da dita camará que cada anuo se faz
na dita cidaile poi' dia de janeiro se faça da(jui em diante por dia de
São João Bautista de cada hum anuo, e que as pessoas que na dita
elleição ft>rem elleitas |>ara os olíiciaes e caigos do concelho os sirvão
do dito dia de São João té outro lai dia do anno seguinte asy e da
maneira que até (»ra os servirão de janeiro a janeiro, o que tudo asy
me ptaz por tempo de cinquo ânuos avendo respeito aos oíliciaes da
camará da Yilla de Villa Franca da dita ilha terem perpetua (Hitra
semelhante provisão a esta de que na dita petição tratão e de que se
offereceo (» trtsiado autentico: e mauí^o a todas as justiças, olíiciaes e *
pesoas a (pie o conheciniento disto pertencer (jue cumprão inleira-
niente este alvará como nelle se coutem, e quero que valha ele. IVn»
de Seixas o tVz em EiNboa a xix ( J9) de novembro de mil seiscentas
e cinco e do theor deste alvará que he a primeira via se passou mais
outro para ir por duas vias: comprir se á hum somente.
(Arch. nac. da T. do T., Lir.'> XVI dv Fdip. 2.\ f. 1H2 r.".
Nomeação de João Dias da Bica para juiz dos orphãos,
nas Vellas (S Jorge): 6 de setembro de 1606.
Dom Felipe ele. Faço saber aos que esta minha carta vuem que
p( r parte de João Dias da Bica morador na Villa das Vellas da ilha de
São J(nge me foi a[iresentado hum alvará por mym asynado e passa
do pela chancellaria de que o treslado he o sefiuinte:
Deseuíbargadoies do paço amigos: avendo respeitt» a João Dias
d Almada já falpcid(» que foi juiz dos orlTios da ilha de Sã(t Jorge e es-
crivão da camará da Villa das Vellas da dita ilha sei vir os ditos ofli-
AHCHIVO DOS AÇOBES 105
cios o It tupo que (lelles foi [)i()|)ií<tario bem e ^em iielles cometer er-
nts e M ficar sua molher pohre e com ciiicu filhos e Mll!;^s como con
stou [)er iiifoiíiiaçíio do coiregcdor das illias dos jçores: ey por bem e
me [»raz fazer mercê á fillia mais velha que fic(»ii solteira por faleci-
mento do dito João Dias d(»s ditos olíicios de jiiiz dos órfãos e es(TÍ
vão da camará pêra a pe.Hia que com ella casai- [>elo (pie vos mando
examineis a dita pesoa e sendo apta e não tendo impednnenlo algum
pêra as a ver de servir lhe deis nisso despacho pêra depois que fizer
cei to ser casado e recebido per pallavras de presente conforme ao sa-
grado Concilio Tridenlino com a filha mais velha do dito João Uias
m(»strando este alvará lhe ser passado carta em f(»rma dos ditos olíi
cios mostrando a que tinha (Jeiles o dito seu sogro e pagando primei-
ro os diíeitos ordenados com declaração que a vendo eu por bem de
Uns tirar em aigmn tem[t(» it poderei fazer sem por isso minha f.izen-
da lhe ficar obiigada a salisfação alguma. Francisco Ferreira (t fez em
Lisb(»a a xxij [22) de dezembro de mil seis centos e três [1603). Pe
to da Costa o fez escrever=Hev.
Pedind(»me o dito hm\ Dias da Bica que conforme ao dito alvará
Itie fizesse mercê de lhe mandar passar carta em forma do olficio de
juiz dos órfãos da dita ilha de São Jorge e vi.>to i^kiw retpierimento e (»
dito alvará acnna treslad.ído e como elle dito João Dias da Bica foi exa-
minado e ávido por apto pêra servir o dito ofiicio na mesa do despa-
cho dos meus (Jesembarga(h>res do paço e pela confiança c^ne delle le-
nho que no de que o encarregar me servuá bem e fiehnente como
cumpre a meu seiviço e a bem das partes e por lhe fazer meicé e\
por bem e me praz de lha fazer do dito ollicio de juiz dos oifãos da
ilha de São Jorge assy e da maneira que o elle deve ser e como o
foi o dito João Dias d'Almada e as outras pesoas que antes delle sei-
virão o dito (dlicio o ipial terá e servirá, segundo foiína do Kegimen
t(» delle e minhas ordenações com declaração que avendo eu por bem
de lho tirar em algum tempo o poderei fazer sem p(»i i<so minha fa-
zenda ficar obrigada a salisfação alguma e averá o sellaiio. proes e
percalços (pie lhe direitamente i)ertenceiem e mando ao provedor da
comarca das ilhas dos Açores lhe dè a posse do dito oílicio e aos jui-
zes e olíiciaes da camará, pesoas da g(»vernança e povo a que o co
nhecimento pert» ncer (pie ajão o dito João Dias da Bica poi- juiz dos
órfãos da dita ilha de São Jorge e seu termo e lhe deixem servir e
delle usar e aver o dito salário, proes e precalços sem nisso lhe ser
posta duvida nem embargo algum por que asy he minha mercê e o
dilo João Dias da Bica jurará na chancelaria aos santos evangelhos
que sirva bem e verdadeiramente, guardando em tudo meu serviço e
o regimento do dito otricio, e ás partes e órfãos seu diíeito na qual
chancellaria pagou de ordenado delle ao thezoureir(» delia dons mil e
quinhentos reaes. como se vio por hum conhecimento em forma, feito
pelo escrivão delia e asynado poi ambíts e |)or firmeza disto lhe man
166 ARCHIVO DOS AÇORES
deis dar esla carta. Dada na cidade de Lisboa aos 6 dias do mes de
setembro, el Rcy nosso senhor o mandou pelos doutores Damião d'A-
guiar e Pêro Nunez da Costa etc. Domingos do Couto a iez, anno do
nacimenlo de Nosso Senhor Jezu \[)õ [C/uistO) de mil bj*^ e seis {1606).
Lucas Vieira a fez escrever.
{Arch. nac. da T. do T., Liv. XVI de Filipp. 2.\ foi. 148 v°)
Finta para a igreja nova do logar das Capellas, ilha de
S. Miguel, por carta regia de 2 de setembro de 1606.
Eu El Rey faço saber a vos juiz de fora da cidade de Ponta Del-
gada da ilha de São Miguel que avendo respeyto ao cjue na petição
junta a esta folha dizem os fregue/.es da igreja de Nossa Senhora da
Apresentação do lugar das Capellas termo dessa dita cidade e vista a
inforujação e parecer que sobre o conteúdo na dita petição me envias-
tes per que constou da necessidade que avia de se fazer de novo a di-
la igreja por se dizer missa aos fregnezes em hum oratório de palha
ey por bem e vos mando façaes lançar finta de contia de trezentos e
noventa mil reaes pelos freguezes e pesoas que na dita freguezia ti-
verem fazendas de raiz que pagarão dos rendimentos delias pêra a di-
ta finta a rezão de cinco por cento e ao dito respeito de cinco por cen-
to pagarão as pesoas que viverem em casas, quintas, ortas, olivaes e
outras fazendas e propiadades, suas propias que não tiverem alugadas
nem arrendadas e isso sendolhe os ditos alugeres e rendas avaliadas
por pesoas que bem o entendão assi como se esliverão alugadas e ar-
rendadas por seus donos e senhorios e as pesoas que não tiverem pro-
piadades suas na dita fregnezia e vivei'em nella dalnger se avaliarão
pelos ditos avaliadores suas fazendas, e os que tiverem cem mil reaes
de fazenda para sima pagarão no dito lançamento quatrocentos reaes
e dahy para baixo atee cincoenta mil reaes pagarão trezentos reaes e
dos ditos cincoenta mil reaes pêra baixo i)agarã(j a cem reaes e a se-
senta e trinta e vinte, a soldo a livra, ou conio milhor parecer segun-
do a po^se e a vivenda de cada hum de que não seja escusa pesoa al-
guma de qualquer calidade e condiçãij que seja sem embargo de (juaes-
quer privilégios, liberdades, isenções e preheminencias que tenhão pos-
to que d(js laes lançamentos os escuse e faça expresa e pailicular men-
ção, por quanto no dito lançamento e para o dito effeit.) ey por bem
que todos paguem, e do dinheiro da dita fiula averá recebedor e es-
crivão com livros em (jue por adições se asenle o que se arrecadar e
despender, os quaes livros serão numerados e assignados por vós 6 no
fim delles se fará hum asento em (|ne declare (juaulas folhas tem e co-
mo sãa todas numeradas e asinadas por vós e os ditos recebedor e
escrivão não levará cousa alguma por rezãt) dos ditos cargos somente
ARCHIVO DOS AÇOBES 167
serão escusos de pagarem para a dita finta, as qiiaes serão nomeadas
por vos o assim todas as mais pesoas qne oiiverem de servir neste
negocio a que dareis juramento dos santus evangelhos (]ue sirvão nis-
so bem e verdadeiramente, guardando em tudo a mim meu serviço e
as partes seu direito de que se fará asento nas costas deste alvará a-
sinado por vos e por elles, o qual dinheiro da finta assim couio se for
arrecadando se meterá em liua arca que pêra isso averá com três cha-
ves, das quaes hua teres vos e outra o dito recebedor, e outra o es-
crivão e por vosa ordem que asistireis a tudo fareis o que por este
está ordenado e não em outro modo, e fareis paguar a todos na for-
ma sobredita, e o dinheiro da dita finta se não gastará nem despen-
derá em outra cousa algua senão nas obras da dita igreja de que to-
mareis conta como a obra for acabada, on nos tempos que vos milhor
parecer vendo os ditos livros e sabereis se se despendeo o dito dinhei-
ro em outras cousas mais que nas ditas obras para qne somente con-
cedo esta licença, e achando que se fez a dita finta e aplicou o dinhei-
ro delia conforme a este alvará o levareis em conta, e pelo contra rií»
procedereis nisso na forma delle e de minhas ordenações, o qual com-
prireis inteiramente e fareis comprir e guardar como se nelle contem
o qual me praz que valha posto que o efleito delle aja de durar mais
de hum anuo, sem embargo da ordenação que o contrario dispõem,
com declaração que a obra da capella mór da dita igreja que se ade
fazer á custa de minha fazenda, se não começar até não aver dinheiro
da dita finta, para se começar a obra toda junta. João Roiz o fez em
Lisboa a dous de setembro de mil seis centos e seis, Vicente Vaz Ra-
mos o fez escrever.
[Arch. mic. da T. do T., Lh\ XVI de Fiiipp. 2.\ foi. 166.)
Foi muito demorada a obra, pois em 1617 ainda servia a ermida coberta de [lalha, como se disse
110 Vol. I, pag. íítS.
Soccorro á ilha de Santa Maria; 21 de julho de 1616.
Senhor— O Arcebispo Visorrey remeteo a este conselho hua car
ta de V. Magestade em que diz que havendo considerado o muito que
convém acudirse á Ilha de Santa Maria que foy entrada e saqueada
dos cossarios, com armas, pólvora, e monições e mais cousas e petre-
chos de guerra que necessárias furem para que os moradores delia
se possão deffender e reprimir os imigos que a quizerem cometer: pel-
lo que emcomendava V. Magestade muito ao dito Visorrey ordenasse
logo que se enviassem estas armas á mesma Ilha e que com toda a
brevidade se embarcasse com este socorro que seria em quantidade
o mayor que pudesse ser o filho do capitão da dita Ilha tpie anda nes-
ta cidade, de maneira que não houvesse dilação alguma na sua parti-
168 AHCHIVO DOS AÇOREà
tia, mas antes se procurasse fosse apressada quanto for possível pnis
a necessidade q?ie a Ilha tem de delTensão e está pedindo.
E porque ao tempo (jiie se r^cebeo iie.ste funselho a carta refe-
rida se linha delle feito consulta a V. Mageslade em 10 deste sobre
a matéria (jue iinila se trata do ipie se dá conta a V. Magestade que
mandará o que for servido. Km Lixboa a ál de julho de 1CI6 = 0
lloiide Monteiro Mór = Luis da Silva = Luis Pereira = Simão Soares.
Resolução
A outra consulta se enviará a S. Mageslade e pellas resões que
ha para se fazer o que S. Mageslade manda serem muy convenientes
a seu credito convirá que se execute sem dilação a sua ordem. Em
Lisboa a 21 de julho de 1616 = Arcebispo de Lisboa.
(Arch. do Minist.^ do Marinha - Cons.° Ulram..^ — Consultas de 1616).
Girta de Agostiaho Borges de Sousa, Angra 30 d'agosto
de 1(330.
Desculpão sse minha demazia e confiansa com o intento de vosa
S/' mais aprovado: ser encaminhado a dar de mim rezão nas couzas
do serviçi) de S. Magestade e mais quando por V. S.'* ordenadas. (!he-
gei a esle porto de Angra na mesma hora que chegado havia a escoa-'
dra de Cádis e como trazia as ordens de S. Mageslade asim para a
Navelta como carrega de fazenda que a(|ui estava as entregei logo ao
provedor que o encomprimento delias em seis dias se ex[)edio a Na-
velta .se carregou a fazenda e o que mais aseito será a V. S.'' se deu
com iguoal pressa e cuidado tudo o que o general da escoadra pedio
e apontou serlhe necessário de lastro aguoada e mais cousas para os
seus navios e estando meia fazenda embarcada nesta nau que a leva
a toniou por de contrabando o mestre de campo castelhano que com
i'ezÕes lauto do serviço de S. Mageslade se convensfu [)ara a largai-
e eu como quem trabalhou a matéria pos.so e devo dizer a V. S.* que
hua das maiores com que o obrigei foi ropresentarlbe que em tempo
•MU <jue V. S.* por mercê do Ceo governava esle Reino deviamos com
mais cuidado não desviar nelle bons sucessos que Noso Senhor permit-
ia seuipre a V. S.^. IJO de agosto I6.S0=^ A gostinho Borges de Sousa.
=(Não tem sol)reescriplo)=cola na meia folha immediata— De Agos-
tinho Borges. M) d Agosto— Recebida a 23 de .setembro— diz que em
chegando a Ilha deu Ittgo os despachos ao provedor da fazenda. K (|ue
conforme a ellcs se aviou a Navelta e deu aos navios da csipiadra o
que pedião.
[Arclt. iKiv. (Iti T. dit T., (iareid 2<K iwir. lõ—n." Hl.)
ARCHIVO DOS AÇORES i69
Carta cio Bispo d'Ang-ra D. João Pimenta; do Correg-edor
Francis3J d8 Oaravicle; e do Provedor da Fazenda
António Ferreira: de 30 d'Agosto de 1630.
Spiilior = Ein i3 deste mes de Agosto amanlu^seião a Ima vista
desta terra nove navios e por noite se soube ser hua escuadra da ar-
mada Heal (jue vinha a dar Guoarda a navetta de Cocliim, e ao dia
seguinte 2i á véspera entrarão neste porto dois navios que vinlião de
Lisboa e Agostinho Borges de Souza entregou a ord^n de Vossa Ma-
gestade para se haverem de carregar eu navios poiínguezes se os
ouvesse e en falta en navios estrangeu^os as fazendas da índia do Gal-
leão Bat;dha para cujo effeito se fretou hun dos ditos navios por nome
a Koza Unirada. Mestre Arnao Vautresen por ser grande, posto que
não pode carregar todas as fazendas e tição no Almazen alguns qiioar-
los e burris e mtis de noveiíta fardos de canella que dizen ser do
Conde Almirante.
As fazendas vão entreges a Niculâo Cardozo pessoa conhesida e
do serviço do Marques de Caslello Kodrigo por se entender que o fa-
rá com cuidado e coiitiansa, leva para sua ajuda dois duoardas das
nãos da índia nesta ilha. A Roque Centeno cabo da dita escoadra pe-
dimos soldados para a guoarda e defensão da dita nau deu trinta C()n
liun Alferes p)r cabo e 20 marinheiros para os quoaes metem )S 20
mosquettes com pólvora bailas e marrão e hum Pilloto da terra para
vigiar a guia; o dito (Centeno deu os mantimentos ()ara os trinta sol-
dados e vinte marinheiros em recompensa do que e porque de me-
lhor vontade a guoar(Jase lhe fizemos alastrar a Capitana e Almiranta
e se lhe deu a aguoa la e conserto de pipas; o invenlairo das fazendas
a rellação dos gastos vai ao conselho da fazenda. Já poderia ser que
a muita brevidade com que descarregou a ii.iu e se lhe deu a carga
cauzasse algua confuzão posto (jue segundo o cudado deve ser pouca.
(iu(jarde Noso Senhor a pessoa de V. Magestade por muitos annos.
Angra 30 de agosto 16:jO. = D. João Pimenta dAbreu. Bispo dAngra.
^Francisco de Cavide = António Ferreira ^=(.çewi snhrecsciiptn tendo
porem no verso da "i^ meia follia a seguinte cota ) = Do Bispo áXn
gra=Corregedor das Ilhas — E Provedor da fazenda — Recebida ;'j
23 de setembro — dão conta de como vem a navetta e das fazendas
do Galeão Batalha e como aly não ficão senão alguns barris, quartas e
idgua canela do Conde da Vidigueira que se não pode carregar.
{Arch. nac. da T. do T., Gav. 20, mac. lõ — n.° 110).
.N." ii— Vol. Vííl— 1886. 10
170 ARCHIVO DOS AÇORES
Informação pelo procurador e juiz dasCapellas da Coroa,
Thomé Pinheiro da Veiga, sobre as queixas da Gama-
ra e juiz de fora de Ponta Delgada, contra o gover-
nador Sancho de Tovar da Silva.
(1631-1636?)
Deslas queixas qiie a Tâmara e juiz de f(»ra, e sargento mór de
Ponta Delgada da Ilha de São Migel, fazem a V. Magestade do Gover-
nador e capitão mór Sancho de Tovar e Sylva justeíicadas pellas cer-
tidões juntas e de outros que per agravos vem a Relação de que tive
vista se deixa entender que uu por falta de experiência ou conselho
está enganado nus limites do seu cargo e poderes que exercita. E lia
necessidade de se prover no excesso destes procedimentos: principal-
meflte servindct na absencia do C(jnde Donatário e com o exemplo se
lhe ficaria acipiirindo jmíW/fão (I) e abusos do que não tem per di-
reito Sancho de Tovar.
Porque conforme a carta cuja copia juntei, V. Magestade o u(»-
mea por Gcveriiador em absencia do Conde de Villa Franca e ainda
nestas relações se refere que com salário e stipendio do Conde. E sen-
do assi parece que não tem outro regimento senão as doações do
donatário e dentro de seus limites ainda que seja posto por V. Ma-
gestade. E a este respeito me cabe fazer estas lenbranças por se
não introdusirem excessos de jurisdição e costume pêra o donatário
e deve ir (2) a Juizo da coroa por excessos de Jurisdição. E os da
militin (II) cometcrem-se pello governo.
E em particular os primeiros cap.°* da Camará e .luiz eui quanto
dizem que estando per Governador por V. .Magestade em liiiiar do
Conde e levando-lhe seu salário lhe arroga a jurisdição cum poder
absoluto toniandoa ao Juiz e Justiças dando sentenças conhecendo de
dividas e crimes mandando soltar e prender e que se não cnmprão
as sentenças do Juiz de fora. E passando oídens ipie se não exequu-
tem os condenados. E dando perdoens e couuilações por dinheiro e
condenando em degredos sem appellação nem as deixando ir ao ou-
vidor na forma da ord. e doação. E tudo bastantemenie c(in>ta tios pa-
peis juntos e folhas apontadas na carta do Jiiis.
E em quanto aveiido provisão e sentença da Relação que os In
greses e mais estrangeiros que vem com mercadorias se vão em as
vendendo e o facão por peças e não aos covados e não liqueiii na ter-
ra nem com logea por não tirar o ganho da maioria aos naturaes com
(1) Está muito rabiscadíi a palavra, mas não pode ?er oulra roísa.
^2) Ou talvez uii\ lendo-se como u um pequeno borrão.
(3) Assim está escripto.
{Nota (lo $nr. J. l. de brito Rdiello.)
ARCHIVO DOS AÇOKES 171
tii(l(3 O dito (1) Goveriiad.ir deu Ima sentença mui desordenanda (sic)
i^iie visla [SIC) as [jazes em que se C'»nlem que sejão b^m tratados co-
mo nalnraes, ijiie lia por revogadas as provisões e premalicas senten-
ças da Relação e por nenhum caso inda qne seja de morte os pren-
da (« margem f. 7.^) neidiam outro julgador. K os deixe, entrar, sair
residir, vender como quizerem por estarem de.-feitas e abrogadas to-
das as sentenças e provi^ois. E imda que seja cobrança de fazenda
real ou sua segur.inça ou grave crime nenhuma outra pessoa possa fa-
zel o, e mandou lançar bandos e noteficar o Juis com penas e empra-
zanjento foi. lo o que tudo he excesso e proceder desordenado e pre-
judicial e .superioridade absoluta que não tem.
Pella mesma maneira tendo o alcaide denunciado de hum Ingres
per grande copia de moeda de ouro de Berbéria que trouxe em moe-
da e barra com denunciação de mi)eda falsa se averiguou per ourives
ser o (juro de baixa lei e neste não se entendia ser moeda falsa não
sendo dos cunhos do Reino mas entravão algumas peças de latão que
deu por ouro. E inda que o Juis os absolveu, o alcaide appellou e em-
bargou. E sabendo o Governador sem embargo da appellação mandou
entregar o deposito ao Ingres e que se fosse como fez, e mandou pren-
der o alcaide e o condenou em degredo e oOO cruzad )s perque seguia
o requerimento por dizer que nem por moeda falsa avião de entender
com Ingres nem por cas(j outro de moile sob as penas que tinha pos-
tas em que lambem ouve por condenado ao Juis por entender no ca-
>u e sem embargo da appelação não deixar ir o Ingres a que levantou
o embargo do dito (i) ouro acrecentando que avia per traidor á catho-
hca e real coroa de V. Magestade quem entendesse com elle e com os
mais com (tulros deslumbramentos que delia consta de que se quei-
xão.
E aggravasse ese excesso com se queixarem que faz o sobredito
por tratar em pastel e outras mercadorias e retornos ("?) com eses In-
greses e que tem as tulhas no Paço onde o manda granar e por o ieal-
dadoí' e otiiciaes não darem licença sem a forma do Regimento os tem
presos e vexados (foi 25) e (|ue pelo seu trato faz isto.
Tão bem se queixão de novo tributo ou vexação que impôs e dei-
xa levar de entrada e visita de quada navio que manda fazer com 320
rs. de vizita e oito vinténs d(j barco e oito dos soldados que trazem
o mestre ou piloto a sua casa e que he nova vexação que ordenou e
j)ermite. (fui. 35)
E que pellas ordenanças de milícia nas culpas e condenações le-
ves dos soldados conhecem as justiças ordinárias e nas graves se dá
conta a V. Magestade. E elle condena em culpas grandes e piquenas
e comuta por dinheiro e avendose de aplicar á fortificação o recolhe.
(i) Em todas estas palavras lia só um d.
{Nuta do Sr. J. l de Brito Rebello.)
17á ARCHIVO DOS AÇORES
E se queixa a camará delle não guardar seus privilégios (Je iii-
faiiçOes e os prender rigiirosaniente no castello e com as vexações que
relatã(j e mandando ir a camará a siia casa e tomando lhe a jurisdi-
ção das licenças da saca e carregação do trigo e mantimentos, (f. 2o)
Também se advirte que tem posto luun filho de lo annos por al-
caide mór e tenente da fortaleza sem idade nt-m capacidade nem me-
najem em (Gamara. — E outras semelhantes.
O que se me oíTerece requerer nestes termos supposlo que das cer-
tidões e despachos do dito Sancho de Tovar e Sylva se mostra baj^lan-
temente que se não aconselha nos poderes ipie cuida que tem e des-
ordeu) com que os exercita. Que V. Magestade seja servido mandar
ao Governador a sustaucia destas queixas pêra que dé satisfação a ci-
las e se lhe eNtranheni estes excessos notórios do seu regimento e («t-
der ordenandolhe que não exequute os ditos seus despachos dos es-
trangeiros e editais e deixe as justiças exercitar seus officios goardan-
do as provi.^ões e sentenças sem as alterar per sua authoridade nem
se intrometer na jurisdição do Juis de fora e mais julgadores e dê sa
tisfação com copia de seu regimento de (jue usa e deixe vir as appel-
íações e aggravos interpostos.
E pêra se remeterem os pontos de jurisdição ao Juizo da í^orôa
com estes papeis no que lhe toca peço (pie pello desembargo do Pa-
ço a meu requerimento se responda ao juis de fora e ofíiciaes da ca-
mará que das matérias de jurisdição de que avisão em que se preju-
dica aa de V. .Magestade e ordinária por ser em terra de donatário fa-
cão ex|iedir agravo pello procurador da camará em nome tand)en) da
coroa com os documentos necessários e copia das doações (pie vinhão
como se costuma |)rover e res[)onder nos casos semelliantes pello di-
lo (I) tribunal do Paço nas matérias de justiça e V. Magestade prove
rá como for sei vido.
Na queixa do sargento mór he vindo aggravo em forma ordiná-
ria a que se deve (2) . . . e proverse ou cometerse pello gonrno (-2)
=Thctmé Pinheiro úa Veiga (2).
(Are. nac. da T. do T.. Cart. vii.ssir. luaç. 2." y/." 70.)
Este documento é uma minuta muito emmcnduda, rabiscada, com parufira-
pjios cujos acrcscenlamentos ou cmnitntlas se tMitremetU-m pelas linhas de ou-
tros parugrapiíos ix..^ e todo oscriplo pelo punlio do celebre Tliomé l^inlieiro da
Veii!a. (]ue por longos annos serviu de Procurador e Juiz das Capellas da ('o-
roa &.'\
João Pedro liibeiro paii. 2158 da 2." parte do tom. IV das "Disserf. Chron.»
nota a escassez de manusrripios existentes na Torre do Tondio dos que a faíni-
i\) N'esta palavra lia só um d.
(2) Falta um bocadinho de papel na mai-iicm interna da folha onde parece
devia estar aijiuma palavra (jue completasse esta oragão, assim como o rosto da
jialavra íioveriin e da assignatura de Tliomé Pinheiro (jue vão sublinhadas.
(Ao/í/ í/o $r. .1. I ih' Brito Rebeljo).
ABCHIVO DOS AÇORES 173
lin de Tlionir Pinheiro alli eiiln-fiou, por ordem sup(M-ior, depois do seu laleci-
(iieiito, dando por causa o haverem sido rotdiados em 1671 a M A. Portuí^al. o
<|ue já se havia feito a Gabriel Pereira de Castro: da 1/ conressão não temos du-
vida; a secunda pareee-nos impossível, lendo Gabriel Pereira laleeido em 1(332,
isto é. 24 annos antes de Tlionié Pinheiro, e havendo publicado o traiailo De Ma-
nu Hegia (para cuja roniposição Uibeiro diz ter-se-llie feito o empréstimo) dt!
1622 a 25, Isto é, 31 a 34 annos antes que os ditos manuscriptos entrassem no
archivo nacional.
Ainda assim alem do documento que acabo de transcrever, tenho encontra-
do alll mais alguns e um até muito interessante por ser uma representação de
Tlumié Pinlielro com reiagão ao mesmo tratado De Maim Hegia^ que elle celebra
e avalia vantajosamente.
Se os manuscriptos não se perderam ou extraviaram do poder de Portugal,
devem ter sofiido prejuízo pelo terremoto de 1755, que causou algumas perdas
ao archivo da Torre do Tombo, não obstante a dedicação e nobre isenção do seu
guarda tnòr o brigatleiro Manoel da Maia, que deixou a sua casa a arder, para w
acudir ao archivo. e salval-o da ruina que o ameaçava, quando aquelle abalo o
dfsmoronou.
{Nota do Sr. J. I. de Brito Bebellu)
Empréstimo de 10:000 cruzados para as despezas da res-
tauração de Pernambuco; 28 de Junho de 1633.
DesembafgHdor Anibrozio de Sequeira: (1) En El Rey vos envio
milito saudar. Mandando eu tratar dos meyos coni qne se poderia for-
mar liua Armada de cincoenta galeijes (jiie tenho rezointo que va por
esta coroa, e pela de (^astella á restauração de Pernamliuco, Cdusi-
derando-se o estado em que se acha minha fazenda, e como delia se
não pode acudir por. ora a esta facção, com lhe aplicar tudo o que me
fica livre, e sendo como he tão importante ao beiri commiim deste
Reytio ai udir-se ao Brasil |)elas dependências que tem daquelle estado
que totalmente se extinguirá não se acudindo com forças bastantes
a dezalojar brevemente o enemigo reljelde de Pernambuco, ficando
expostas as mais conquistas a podereiTi ser invailidas do mesmo ine-
migo: tendo se tratado a matéria se assentou entre outros meios
(|ue nella se me propuzeram que se pedisse hum empréstimo neste
Heyno. e Ilhas adjacentes, o qual depois se hade hir pagand(t cada
anno, o que se execuinii já neste Reyno (á) e falta [>or executar S(»-
(1) Este rascunho era redli^ido para o bispo do Funchal com relação á ilha
da Madeira e porisso as primeiras palavras que aqui tinha íTíuu^^^ Reverendo bis-
po goi-ernador= (\nc foram i-iscadas e substituídas pelo nome de desembargador
que foi (ou estava?) nos Açores.
(2) Aqui onde diz = neste tUnno=tambem tem umas palavi'as riscadas =
nas ilhas dos Açores = que parece' haverem sido escriptas por engano: as pala-
vras=illia e nas dos açores=estão á margem com uma chamada.
(Notas do Sr. .1. í. de Brito HebeHo).
174 ARCH1\0 DOS AÇORES
inente nessa lllia e nas cios Açores, h para que se faça com a igual-
fhkie e suavidade que eu quero, me pareceu encairegarvus da maté-
ria, lendo por cerlo de \os que com vo>so z^llo e prudência a sabe-
reis dispor muito como convém a meu serviço, e nella se procederá
na forma seguinte.
It. O que se ha-de lepartir hão de ser dez mil cruzados porque
inda que esta quantia he limitada a respeito da povoação dessa ilha e
do cabedal de seus moradoies comtudo respeytei nisto o estado em
(pie está o tempo e a falta que ha de comercio.
It. Para se poder tratar desta matéria ordenareis que se faça Ima
Junta em que entraiá o Provedor da fazenda dessa Ilha, o ouvidor
delia, e duas pessoas mai^j, que com elles elegereis, que serão nobres,
e terão conhecimento das pessoas, para com esta noticia se ajustar a
i'eparlição.
It. firmada nesta maneira a dita .Junta, se começará logo a en-
tender no negocio sem perder hora de tempo vendosse que pessoas
são as que tem fazenda, e cabedal bastante para poderem contribuir
neste empréstimo.
It. (>onferido ^í ajustado este ponto se fará a repaitição adver-
tindo que inda que eu tinha mandado que se pedisse a cada pessoa
(lumhentos cruzados, sou servido que se imponha mais ou menos,
lendo-^e con>ideração ao estado e condição das pessoas e á fazenda
e cabedal de cada hum, e isto sem differença, nem excepção de pes-
soa, e sem embargo de qualquer previlegio guarilandosse no modo
da execução o estillo que se teve em outras occasiões de emprésti-
mos pedidos pelos senhores Reys deste Reyno meus antecessores con-
forme a qualidade, e respeito das pessoas com advertência que se não
tratará dos que tiverem o foro de fidalgos de minha casa, ou os hábi-
tos das ordens militares, por que de estes se ha-de tratar por outra
via, para o que me avizareis dos que são, fazendo delles hua relação
em que declare o cabedal e fazenda que tem e a quantidade que se
lhes poderá pedir.
It. feita a ditta repailiçã(j se dirá a cada hum que acuda com o
que lhe foi lançado, declarandosse a lodos que se lhes hade dar con-
signação em que hajam de ser pagos do que as^y empreitarem.
It. Signilicar-se ha aos (jiie assy se pedir a necessidade que ha
de soccorrer o Hrazil com forças bastantes e o que isto importa, e quão
inleiessados todos estão na recuperação daquelle estado com o mais
(pie parecer, para que se venha no serviço que se pretende com a
vontade e aplaiizo que eu devo esperar de tambons vassallos pelo que
(IS amo e cuidado roín que traio do que lhes toca e |)elo que neste cazo
os aperta a sua obrigação, advertmdo que havend(j alguns que se es-
cuzem (o (pie não espero) nem creo, ande ser consti'angidos pelos
meios que á Junta parecerem precisos, e necessários poiípie em oc-
casião Ião íipeilada, em ijiie principalmente olha a nossa santa fee e
ARCHÍVO DOS AÇORES HS
Religião í.íilolica, e a conservação e defensão desta coroí». e em que
iis leys. iitítural, divina, e as deste Reino tãoto obrigação a todos,
mayorineiile tendo eu rezoluto de ajudai' roui as forças da (^oroa de
Cástella em tem|)() (|ue st^ acha Ião necessitada e apeitada com ciutros
gastos, não poderey deixar de iizar de meu Real oUícIo.
It. Ter-se-ha consideração con» os que gozão mais bens e fazen-
da da ('oroa Real. porque a estes corre mayor obrigação, que aos que
souiente tem fazenda patrimonial.
It. A Junta se fará na casn da Gamara, e haverá hum livro nu-
merado por vós, em que depois de f< ita a repartição se declarará no
assento de cada bum, o que conforme a ella lhe cabe, no qual assen-
to ficará lugar para se acrecentar como cada hum satisfez, que assi-
gnará a pessoa que servir de escrivão da Junta.
It. O numero das pessoas a que se ha-de pedir seiá o que pare-
cer á Junta, em (jue se deixa o tocante a isto e aos meyos com que
se deve tratar este negocio, nos quais se haverá de maneiía que se
escuse chegarsse aos da execução podendo ser.
It. Contra os que não vierem em emprestar o qíie se lhes pedir
depois de feitas todas as diligencias necessárias se procederá como
fica ordenado.
It. (1/ Todo o diidieiro deste empréstimo se carregará sobre o
Almoxarife dessa Ilha em livro á parte o qual se mandará aquy por
letra a eidregar ao Conde de Miranda do meu conselho de estado e
Prezidente de minha fazenda.
It. Posto que por im[>edimentõ. ou outro respeito não possão vir á
Junta alguns dos adjuntos, nem porisso se parará e o negocio se con-
tinuará sem intermissão de tempo.
Para a execução de tudo vos dou [ler e>ta a commissão necessa-
i'ia e mando a todas as justiças dessa Ilha que [)or sua parte concor-
rão com as (irdens e mais assistência que cumpri i. e a vós vos en-
carrego muito procui-ardes que a repartição se faça com toda a igual-
dade, e que se cobre quanto mais brevemente for possivel, entenden-
do (jue terev em serviço o que nisto me fizerdes. Èscripta em Lixboa
a 28 de Junho de 1633
(Arch. nac. da T. do T., Corp. Chron. Part. 1.' mar. 119 ~n.'> 23)
(1) Neste poiíln ha uma risca eiilre os dois || ''^ ou it<'i)s, e diz a noUi ao
(ado = até aqui, c dahy adianto— o cap." que .se segue na ouira carta que se fez
para o mesmo pelo quê toca ás Ilhas dos Açores.
(A'o/rt do Sr. ./. /. (íe Brtto Hfbelhy
176 ARCHIVO DOS AÇORES
Remessas de géneros por conta da Fazenda Real, feitas
pelo Provedor Agostinho Borges de Sousa Cimbron,
em 1680.
Entregiieiii se as carregações induzas viiulas da Ilha :j.^ na iiaii
Hyeriisaleiíi ao Thezuiireiro Anlonio Florim pêra pôr em arrecadação
<j trigo, >evada e tramosos contlieiido iiella, como lambem o njl inclu
so das letras pêra as aceitar e fazer pagamento ás partes a seu tem-
po. Lixboa i de Novembro de 1680. Rubricas.
Angra 25 de setembro de 1080.
(>airegação com o fav(jr divino mandada fazer por mim Aiignsli-
nlio Borges de Sonsa Cimbrom Provedor da fazenda real nestas lliias
dos Açores pêra a cidade de Lixboa em a Nau nomeada Hyerusalem
de que lie (Capitam Manoel da Fonseca Lima vezinho de Lixboa de IO
moios de Iramoço a granel por conta e risco da fazenda de S. A. que
Deos Gnaide p^hi .Junta da administração do tabaco a entregar á or
dem da dita Junta.
Por IO moios de Iramoço comprados a I^oOO
rs. o moio Ioí>000 rs.
Por medida, alcofa, carretos, frete de barco, alu
gueis de sacos a 250 rs. o moio áíSoOO rs.
Total 17^500 rs.
Angra 2õ de aetenibro de 16S0.
Carregação com o favor divino mandada fazer por mim Augusti-
nlio Borges de Sousa Ciuibrom Provedor da fazenda real nestas Illias
dos Açores pêra a Cidade de Lixboa em a- Nao nomeada Hyerusalem
de que lie Capitam Manoel da Ftjnseca Lima vezinlio da dita cidade de
;jOO moios de trigo a granel por conta e risco da fa/.euda de S. A.
que Deos Guarde a entregar á ordem do dito Senhor pella .lunta da
administração do tabaco.
Por 3()0 moios de trigo comprad()s a ÍJoOOO rs.
o moio ^M"^) O 6000 rs.
Por. gastos meudos de medida, homens, carros
e barcos, alugueis de sacos, perda delles. esteira,
j-azoula poripie se médio o trigo, e assistência de
peçoas que correrão com e^ta carregação, importou
tudo a ^{80 rs. por moio <pie vaÍPin I30í>800 rs.
I;d ;{::)!)á:>800 rs.
ARCHIVO DOS AÇORES 177
Também .•^e pedem destes 360 moios de trigo 69)51120 rs. por par-
le das pessoas que lejiatarão na camera os direitos dos 2 p. 100 (2 7o)
(Ja cidade a rezão de 192 rs. por cada moio mas eii os não mandey
pagar athe o prezente nem o farey sem ordem de S. A. atendendo a
ir esta carregação por conta e risco da fazenda do dito senhor mas pa-
rece deve vir provisão pello dezembargo do Paço para que no preço do
seu arrendamento se lhe abatão estes 69áH2Ò rs. quando S. A. que
Deos guarde lhos não mande pagar.
Senhor = Diogo Soares escrivão das Provedorias da fazenda e
Armadas por Sua Alteza que Deos Guarde, nestas ilhas dos Assores:
(Certifico que hoje que se contão treze do mez de Agosto de mil seis
cent;.'S e outenta, notefiquei a Kemigio Noiete Administrador do Es-
tanco do tabaco nestas Ilhas huma ordem do Senhor Duque do Cada-
val do conselho destado de S. A. e Prezidente da Junta da administras-
são do tabaco, de data de trinta de Janeiro de mil seiscentos setenta
e nove, para effeito de entregar ao Provedor da fazenda Agostinho
Borges de Sousa Cimbrom, o dinheiro do Rendimento do contrato do
tabaco que estivesse vencido ou se fosse vencendo para a compra das
cevadas que S. A. lhe manda comprar para provimento do assento da
cavallaria da corte, de que lhe daria ressibo para em virtude delle se
passar conhecimento em forma para o bem da conta dos contratado-
res do dito estanco Sebastião Garcia e António Ribeiro a respeito de
siníjuo mil cruzados por anuo que he o presso do dito contrato: e por
elle foi dito que os contratadores erão moradores na cidade de Lix-
boa os quaes devião dar carta para elle Remigio Noiete fazer a entre-
ga do dito dinheiro, como o fizerão quando foi passada a dita ordem
pois estava administrando o contrato nestas Illias por procurassão sua;
e ao prezente não tinha dinheiro algum pertencente aos ditos contra-
tos, pello aver remetido aos ditos contratadores, em fé do que passei
a prezente por mandado do dito Provedor da fazenda — no dito dia as-
sima, Diogo Soares o escrevi =; Diogo Soares.
Senhor=Jà V. A. terá avizo como o Provedor da Fazenda nestas
Ilhas Agostinho Borges Cimbron me ordenou comprasse seis centos
moyos de trigo nesta Ilha de São Miguel para carregar em hua nau
que avia veer dessa cidade de Lisboa por conta da Fazenda de V. A.
adujinistrada pela Junta do Tabaquo e que logo com efeito preparey
paf-a os ter promptos a cada hora que chegasse a não.
Etn i I deste mez anchorou neste Porto a náo São Jozeph Cappi-
tam António Dias Reguo que V. A. mandou frettar para os ditos seis
centos moyos do trigo que no mesmo dia principiey a meltyr (sic) e
oje espero ficará com pierto de 500 moyos carregados e em breve se
despachará por quanto o governador desta Ilha Jozeph Pereira Sodré
ofeciays da Camará e ministros da Fazenda de V. A. com grande zel-
N." i't— Vol. \Ill-1886. II
i78
ARCHIVO DOS AÇORES
Io no seu servisso me dão todo o ajudo e favor que he o que de pre-
zente offresse para avizar a V. A. cuja Real Pessoa Conserve Dios
Largos Annos. Punia Delgada 18 de selleinbru de 1G80.
Rícharfe Hiicfienson.
Angra 20 de setembro de 1680,
Carregação cum o favor divino mandada fazer por mim Augusli-
nho Borges de Sousa Cimbrom Provedor da fazenda real nestas Ilhas
dos Açores pêra a cidade de Lixboa em a Nao nomeada Hyerusalem
de que lie Capitão Manoel da Fonseca Lima vezinlio de Lixboa de á5
moios de sevada a granel por cunia e riscu da fazenda de S. A. que
Deos Guarde pella Junta da administração do tabaco a entregar á or-
dem da dita Junta.
Pur áo moios de sevada comprados na Ilha Gra-
ciosa a 4)^200 rs. o muiu 105;5000 rs.
Pur fretes das caravellas que trouxeram da Gra-
cio.^a pêra esta Ilha a 600 rs. o moio . . . . . ISjjíOOO rs.
Por gastos de medida, estiva de caravelões, as-
sistência de peçoa, alugueis de sacos a 200 rs. por
moio 5^^000 rs.
Total 125toO rs.
Ponta Delgada 21 de setembro de 1680.
Carregação ((jue Deos salve) feita por mim Richarte Huchenson
por ordem do Provedor da fazenda de S. A. nestas Ilhas Ago>tinho
Borges de Sousa Cimbrão de quinhentos e O} tenta e oyto moios do tri-
go carregados a granel na Náo São Joseph mestre Mathias Correzma
por conta e risco da fazenda de S. A. administrado pella Junta do Ta-
baquo e consignados á ordem do dito senhor, pella ditta Junta o cus-
to e os gastos siguem:
100 moios do Capitam João Royz Falleiro da Ilha
T. rceira a 9?5>600 rs. o moyo 960^1000
40 moios de Manoel Cobbs a 9?$»C00 rs. o moio . 384?^000
100 moios de João Daniel a 9?^600 rs. o moio . 960í>000
130 moios de Bennitto Marão e outras pessoas a
9^000 rs. o moio 1:248^000
i)Vi moios do Cappittam Guaspar de Medeiros de
Sousa a 9?$Í500 rs. o ujoyo 522j$k500
163 moios de diversas pessoas a 9;^000 o moio . I:467)$>000
Por donativo e 2 por cento a 280 rs. o moio. que
Somma S:5'rl..5500
ARCHIVO DOS AÇORES 179
Transporte 5:541 -5500
os remaltadores pedem jiidicialmenle e synão pngo tor-
narey a bonarlhy 10i?>640
Por gastos de carregar, escrivão e guarda a 220
rs. o moio 129?>3C0
Por 50 moios do trigo comprado a 9;$Í600 rs. que
me obrigarão os ofíiciays da Camará depozitar em mãos
de granheyros por elles nomeadus para vender ao po-
vo a 140 rs. o alqueire que como menor preço, quebras
i! tudo granelaje e vendaja ficara vendido a liplOO rs.
não avendo maior pierda ou dano alem de dezembolsar
o dinheiro importa a falta a l!5í900 rs., a falta he . 95?íi000
Por commição a 4 por cento .... 237^*220
Somma he G:167j$í720
Richarte Hucheson.
Senhor=Em 7 do corrente chegou a este porto a Nao São Jozeph
de que he cappitão António Diaz Kego, em que recebi a ordem de
V. A. de 17 de Agosto e logo aos 9 se partiu pêra a Ilha de São Mi-
guel levando as ordens e papeis convenientes pêra Richarte Huchen-
som (ppçoa a quem encomendei este negosio) lhe carregar os seis
centos moios de trigo que alli estavão prevenidos por conta da fazen-
da de V. A. na forma do primeiro aviso.
Depois de chegada a dita Nao São Joseph, tive cartas do Cappi-
tão António Diaz Rego, e de Richarte líuchensom, em que me dizem
a toda a pressa ficava carregando (supposto que com dilficuldade na
Licensa dos 600 moi(js inteiramente) e na ultima de 18 do corrente
me diz o dito Richarte Huchensom que naquella noite teria a dita Nao
a bordo quatro centos e cincoenta moios, com que espero que já terá
partido para esse Reino, aonde Deos a condusa.
Não faço aviso a V. A. do custo que fez esta carregação, porque
não se pode saber ao certo, se não depois de todo o trigo estar a bor-
do, porem fio da verdade de Richarte Hucliensom experimentada já
em muitas occasiões, a fará com todo o accerto e pontualidade, e a
seu tempo me valerei do custo que elle importar, abatida a letra de
l:800?5ÍOOO rs. que já passei sobre o Thezoureiro geral António Flo-
rim a pagar a Manoel Preto Valdez. E o credito de 1:C00;$000 rs. que
remeti ao dito Richarte Huchensom para se poder valer por letras so-
bre o dito Thezoureiro, e ambas estas partidas importão: 3:400/$ÍOOO
rs. que ficão abonadas nesta carregação da Ilha de São Miguel. A Real
Peçoa de V. A. guarde nosso Senh(jr muitos annos como seus vassal-
los havemos mister. Angra 23 de setembro de 1080.
Agostinho Borges de Sousa Cimbrom.
1.^ wà={original toda da letra deste)
180 ARCHIVO DOS AÇORES
Senhor=Na forma da ordem de W. A. de 19 de Agosto Recebi-
da em 5 do corrente fiz carregar na Nao chamada Jeruzalem trezetitus
e secenta moios de trigo de conhecida bondade, e que custarão postos
a bordo trez contos quinhentos nuventa e dous mil outo centos reis
como paresse da c:irregação que com esta remeto, e se alterou o pre-
ço de 9?$>600 rs. o moio por me não chegar antecipadamente avizo ai
gum de V. A. para esta compra, antes muitos Navios dessa corte com
as noticias de valer nelia hum alqueire de trigo de 450 a 500 rs. o
(jue cauzou grande alteração nesta cidade.
Mandei carregar mais vinte sinco moios de sevada por conta da
fazenda de V. A. cujo custo importa cento vinte sinco mil rs. como
milhor constará da caregaçam junta. Também vão por não pagar frete
de vazio dez moios de tiamoço que custarão dezacete mil e quinhen-
tos rs., e me rezolvi a mandallos por me chegarem noticias de que
teria aíii bom gasto, e como esta carregação he tão limitada, nunqua
poderá dar perda á fazenda de V. A.
Importão as três carregações de trigo, sevada e tramosso trez
contos sete centos trinta e sinco mil e trezentos rs. salvo erro dos
coaes me detremino valer por letras sobre o Ihezoureiro geral Auto
nie Florim pelo discurso do tempo, e agora o faço somente em quan-
tia de 56I-5386 '/s por que como ouve muitas compras de trigos, sen-
do necessário, alem de outras dificuldades, supprir com o meu credi-
to e cabedal esta falta por aventejar o serviço de V. A. e se expedir
com mais brevidade esta Nau que Deos leve em pax e guarde a Re^!
Pessoa de V. A. como seos leaes Vassallos havemos mister. Angra da
Ilha 3.* 25 de setembro de IfíSO.
1.* via. Agostinho Borges de Sotisa Ciiubrom.
Senhor = Em 24 do passado parlio deste Porto a Nao São Jozeph
Cappitam António Dias Reguo que espero tenha I)i(»s recolhvda em
paz; com esta será a carregação dos (juinhentos e outenta e O} to moyo.s
do trigo carregados nella por conta da Fazenda de V. A. administra-
da pella Junta do Tabaco na qual se achará hua addição de cento e
sessenta quatro mil seis centos e quarenta rs. de dous por cento e do-
nativo que judicialmente me pedem os remattadores mas pretendo de
oppor o pagamento por quanto a carregação foy feyla [íor conta da Fa-
zenda de V. A. sobreditta e otra partida de noventa sinco mil rs. da
pierda que ade aver nos sinquenta moyos do trigo que os otliciaes da
Camará contra toda rezão me obrigarão a dar do exame [Kir concede-
rem licença para carregar, de hua cousa e outra tenho dado conta ao
Piovedor da Fazenda de V. A. Agostinho Borges de Sousa Ciml)rom
para em tudo dispoer o que milhor lhe parecer convém ao servisso de
V. A. cuja Real Pessoa Largos e felices Annos [sio. Poida Delgada 5
de outubro de 1680. Richarle Hucftensnn.
{Arch. nac. da T. do T., Junt. da Administuiçãn do Tabaco, pa-
peis findos maç. 115 A.)
ARCHIVO DOS ACOBES 181
Noticia do castello de S. João Baptista, pelo capitão mór
d Angra, em 1766.
Tem o Castello de S. João Baptista da cidade de Angi-a liiini Pre-
sidio militar que se compõe da guarnição seguinte :
Hum governador que tem de soldo seis centos mil reis, pagos pe-
los direitos da Alfandega, alem de quatrocentos pouco mais ou menos
de proes e precalços dos despachos dos navios, barcos e terras dentro
do mesmo Castello no Palácio, onde esleve o Snr. Rey D. Affonso Seis-
to: e para a guarda do governador tem seis archeiros, que vão pagos
no pé de lista da primeira Plana, com o mesmo soldo a dinheiro e tri-
go dos soldados.
Hum sargento mór que tem de soldo trezentos dozeílj mil reis.
como os mais sargentos mores da corte aregimentados. Deste soldo
recebe na folha da alfandega cento e cinquenta mil reií>, e o mais no
pé de lista da primeira Plana.
Tem cazas nobres de rezidencia pertencentes ao mesmo Castello,
vinhas e terras deste, da sua repartiçam.
Três companhias de Infantaria de cem homens cada uma, com três
tenentes, três alferes, seis sargentos (2) e três tambores. Os capitães
lem cada um de soldo cento e vinte mil rs. em dinheiro. O trigo nam es-
tá na minha lembrança. Os tenentes tem de soldo sele mil e duzentos
cada um e nam tem trigo para o pam de muniçam. Os alferes tem de
soldo três mil e seis centos. (3) O trigo nam está na minha lembran-
ça. Os soldados tem sete mil e duzentos de soldo, e quatro alqueires
(ie trigo por mes, pagos a dinheiro a razão de cento e oitenta o alquei-
i'e. O trigo se satisfaz pela consignaçam imposta no Contrato do Taba-
co daquella Ilha: e aos soldados pela consignaçam imposta nas sobras
da alfandega da Ilha da Madeira, por uaia Resoluçam de S. Magestade
do anno de I75I, por não ter a feitoria de Angra rendimento para es-
ta despeza, por onde eram antecedentemente pagos.
Dous ajudantes, que tem só o soldo a dinheiro, pagos no pé de
lista da 1." Plana, também pelo rendimento da Ilha da Madeira, e ex-
cede cada um a quantia de sessenta mil reis de soldo e um destes a-
judantes serve também no mar ao despacho dos navios.
Tem um medico com cincoenta mil reis de ordenado e um cirur-
gião com trinta e seis mil reis de ordenado, pagos no pé de lista da
primeira Plana, pela consignação da Madeira: e um barbeiro pago na
(1) Tinlia-se escripto: trezentos mil reis, mas emmenclou-sp para 312^000,
e o niesmo se fez 1 marf^em.
(2) A 1333 por mes e 16^000 rs. por anno e 48 alqueires.
(3) Em entrelinha diz-se: a 2500 e 10 alqueires,
{Notas do Sr. J. I, de Brito Rebello).
182 AHCHIVO DOS AÇORES
mesma forma cora trinta mil reis de ordenado, para sangrar e fazer
a barba aos soldados.
Tem dons capellães, maior e menor. Este C(jm trinta e seis mil
reis, e aijnelie com sessenta de soldo, pagos na forma referida.
Tem cincoenta soldados da artelharia, em forma de companhia
com o soldo de dezoito mil reis cada amjo, e nam tem trigo ou pam
de muniçam. O seo capitam da artelharia na mesma conformidade, tem
de soldo cento e vinte mil reis.
O condestavel da nipsma artelharia tem trinta e seis mil reis em
dinheiro na mesma conformidade sem trigo e o sola condestavel na
meí>ma fornia com dezoito mil reis de S(jldo.
Tem n!n amieiro ou serralheiro com soldo de cincoenta e sete mil
e seis centos reis a razão de moeda por mes, pagos no pé de lista, pe-
la mesma consignação da Madeira e nm varredor com trinta mil reis,
pagos na mesma conformidade.
Como este Prezidio não é sudiciente para a gnarniçam do caslel-
lo, pela sua grandeza, foi S. Magestade servido que o capitão mòr da
cidade lhe (iesse nas occasiões de rebate quatro centos homens esco-
lhidos, pelo que se confirma a necessidade que ha de maior regula-
mento de tropas.
Dentro do mesmo castello estão muitos (piarteis armados, e alo-
jamentos em que moram (|uasi todos os oliiciaes e soldados com mu-
lher e fillios, que com elteito ha commodidade para se alojar muito
maior numero.
A sua egreja é sumptuosa e o seu Orago é o do mesmo Castello
de S. João Baptista, a qual precisa nniito constituir se Parochia, como
se acham muitas no Reino, ainda de menor lotaçam e menos vizinhos
Para o curativo dos oííiciaes e soldados deste castello ha um hos-
pital magnifico com uma ermida de Nossa Senhora da Boa Nova, cujo
rendimento sahe todo da Fazenda Beal.
Para assistência dos remédios tem boticário certo, a quem se pa-
gam os remédios pela importância das receitas que se incluem na con-
signaçam da Madeira.
Toda a despeza precisa para o provimento e reparo do Castello e
assistência necessária para a Igreja, é feita por ordem dos Provedores
da Fazenda, í)a conformidade dos Decretos de S. Magestade.
Para os reparos dos alojamentos do dito (Castello se consignou o
jendimento de uma imposição a (pie chamam Pequena, de vinhos e
carnes, na jurisdiçam da cidade, cpie rende actualmente para cima de
seis centos mil reis.
Do presidio do castello de S. .João Baptista se guarnece também
o castello de S. Sebastião, ()ue fica fronteiro ao dito, em o ipial está
um capitão (pie serve de commandante, e tem i) mesmo soldo (pn3 os
capitães de infaiileria.
Estas memorias sã<t as (pie julgo serem con.^rnt-nles ao (pie V.
ARGHIVO DOS AGOHES
183
S.^ me iiKsiiiuou e a serem preciíias mais algumas respectivas ao meu
cargo, ou outra couza de que leuha cabal nota estou para em tudo o-
bedecer ás determinações de V. S.^. Lisboa 10 de agosto de 17G0.
De V. S.*
O mais reverente creado
O capitam mór de Angra
Manoel Homem da Costa Noronha.
(Arch. nac. da T. do T., Pap. do Min." do Mm, maç. 611.)
Original mas só o encerramento e assignatura por leira do capitão mór.
A conta geral não está certa porque tendo recebido emendas nas parcellas
não occorreu emendar a somma.
Rectilicada devia ser:
1 governador
eooáooo
6 archeiros j f*^''^^ "
43â000
\ trigo .
5U840
1 sargento mór .
312^^0
3 capitães a 8^000 .
288^^000
3 tenentes .
2o9â200
3 alferes
t37â6(X>
300 soldados ! f^'^"-
. 2:160^000
1 trigo .
. 2:o92á000
6 sargentos .
209^520
3 tambores .
43â200
2 ajudantes .
120â000
1 medico .
50^000
1 cirurgião .
36;^000
1 barbeiro .
30^000
1 capellão mor .
eoíàooo
{ capellão ....
36;^000
1 capitão .
120^000
Artilheiros.
SO artilheiros
900^000
1 condestavel
36^000
1 sota condestavel
18^000
Armeiro ....
57^600
Varredor
SOíàOOO
1 capitão do forte de S. Sebastião
120.§000
Total
. 8:3tOâl60
{mta do Sr. J. I. de Brito Bebello)
184 ARCHIVO DOS AÇORES
Representação dos habitantes da ilha do Corvo em 1768 *
Dizem pelo seu parodio António Coeiho de Mendonça os morado-
res da lllia do Corvo, comarcam desta das flores, povo que contem
cento e trinta fdgos e setecentas e vinte. pessoas, que pela necessida-
de em que se acham e estreiteza da terra que não passa de três lé-
guas em circuito, sendo muita da mesma estéril, leuj varias vezes
representado a esta camará a impossibilidade de existirem na dita
Ilha, continuando se-lhe o gravamen intolerável de pagarem a avença
de quarenta moios de trigo e outocentas varas de panuo de lan, hoje
á coroa, e antigamente ao infame donatário que foy destas Ilhas, o
Conde de Santa Cruz e Duque de Aveiro, que principiando em quan-
tia bem módica cresceo a sobredita pela ambição dos Procuradores e
rendeiros do dito donatário, e porque crescendo cada vez mais a gen-
te enfraquecendo as terras que não admittem por poucas ficarem an-
uo algum em descanço, chegando se ainda a deminuir pai^te das mes-
mas terras, pela quebrada maior do que em outras occasiões, que fez
ha dous ânuos a locha. daquella Ilha, que caindo ao mar, foi formar
neste hum Ilheo, de que ainda se conservam vestígios, levando então
comsigo muitas das mesmas terras, e bastante gado, como tudo he
bem constante; agora que os supplicantes se vem na ultima conster-
nação, porcjue alhé depois de perseguidos de fome, chegam a ser mo-
lestados da justiça, para pagarem a sobredita pensão, quando nunca
do trigo que colhem lhes fica o necessário para somente, nem do pan-
nu que fabricam tiram o preciso para se vestirem e conhecem serem
todas estas Ilhas hum dos principaes objectos das providencias de
Sua Magestade e que pela que o dito Senhor deu já de Ministro letra-
do pur presidente a esta Camará, pode a mesma com facilidade repre-
sentar a Sua Magestade a consternação dos supplicantes e rezolução
em que estão de passarem todos a algum dos seus dominios da Ame-
rica, aonde com o seu trabalho melhor possam viver e utilizar a Sua
Magestade, quando o mesmo Senhor não haja antes por bem remit-
tir-lhes, da sobredita pensão em que se adiam gravados, o necessa-
lio para viverem por mais tempo na sua Ilha ou Ilheo, como vulgar-
mente e melhor merece se lhe chame:
Portanto
Peílcm a Vossa Mercê, Senhor Doutor Juiz de fora e mais oíii-
ciaes da Camará, que assim como a V. Mercês são bem manifestas as
misérias e consternação com que os supplicantes vivem, as represen-
tem, pelo amor ile Deus, a Sua Magestade, iudividuando-lhe as cir-
(•) Esta roprtiseiitação nconipanhava a da ('amara da Villa de Santa Cruz
da Ulia das Flores, improssa no Vol- VI. p. 19 d'<'Ste Aicliivo.
ARCHIVO DOS AÇORES I8o
ciimstancias <jiie V. Merrès não igiior.im, acredilHin a Illia do Corvo
pela mais miserável lí^ra do mundo, ;» ciij') fim assignam esla loiJos
(is que dos ditos suppiic.iiiles sabem escrever. ( I)
E. R. M/"
O Vigário — António Coelho de Mendonça.
O Cura — Caetano Coelho de Avellar.
O Padre — António Lourenço.
O Juiz — Francisco Coelho.
Manoel 6W/io— escrivão.
{Arch. nac. da T. do T., Pap. do Mm.'' do Reino nmç. n."" 611.)
Representação dos Governadores interinos, á Rainha, so-
bre a crise monetária em Angra; 22 de março de 1794.
Senhora. — Por occasião desle novo emprego em que nos adiamos
(jne não deixa de transcender muito alem das nossas forças, nos foi
necessário averiguar com toda a exacção o estado das cousas, e em
particular os movimentos que no tempo do governador e capitão gene-
ral defunto houveram a respeito da Ínfima moeda, cada vez mais cer-
ceada, adulterada e viciada, que unicamente girando nestas Ilhas, exi
ge uma promta e efficaz providencia, a que só pode abranger o Real
braço de Vossa Magestade; e porque a demora delia a fará tanto mais
diííicultoza e prejudicial ao ponto de ser executada, quanto é entretan-
to a incessante continuação e augmento do sobredito mal, insta n(js o
beneficio commum destes povos a que roguemos a V^ossa Magestade,
para que queira, sem dilação de uma a^z cortar este mal na sua raiz.
O mesmo governador defunto, depois de varias contas que deu a
este respeito, pela respectiva secretaria de estado, para serem presen-
tes a Vossa Vlagestade, movido da consternação e confuzão a que os^
povos chegaram por este mesmo principio, tomou ultimamente a reso-
lução de convocar no dia 20 de fevereiro de 1793, nas casas da sua
residência uma junta, composta dos ministros letrados, assim civis, co-
mo ecciesiasticos desta cidade, do Deão e capitulares da Sé da mesma,
dos Prelados das Religiões, da Gamara, nobreza, negociantes e povo e
ahi fez ver a todos que tendo-se passado um Edital, por concordância
(1) Sejiuiido esta declaração, liaveria só os 5 signatários, entre os 720 habi-
tantes da Ilha do Corvo, que soubessem escrever? É documento muito importan-
te para abonar não só a solicitude do donatário, mas também a do Vigário e do
Cura !
{Nota do Sr. ./. /. de Brito Rebello).
N." 11— Vol. VIU— I88C. 12
186 ARCHIVO DOS AÇORES
de Oiitia similliante Junta de 28 de Janeiro do mesmo auno. para que
Os moradores desta Illia, dentro no termo de quinze dias delatassem as
quantias de dinheiro que possuíssem, do que novamente se dizia in-
Iraduzido, se não podéra completamente conseguir e^íe fim, certamen-
te porque a confuzão da moeda, já ha annos geralmente Ct^rrente, não
deixava bem distinguir, pela mnltqjlicidade dos seus d iílerentes cunhos,
a moeda novamente introduzida da antiga, de cuja bondade e auctori-
dade, sempre nestas Ilhas se duvidou.
Concordando todos, que isto mesmo era o que tinha |)osto o povu
em desordem e vexação que foi notória, a esta se devia atlender, com
a interina providencia que parecesse mais opportuna a socegar o po
vo, que pela falta do giro da moeda eia victima de um sem numero
de necessidades e incommodos. Não votaram porem sobre selecção ou
escolha de nioeda, por ser nas circumstancias expostas um impossivel
identificar-se o cimho da que havia de girar.
Daqui rtzultou loniar o (Jito governador a deliberação de fazer
espedir e publicar um edital para que corresse toda a moeda de pra-
ta, do mesmo modo em que sempre girou, de qualquer marca e cfi-
nho que fosse, dando, em taes lermos, f)or signal infalível da b(»ndade
ou maldade do dinheiro em questão, ser ou não ser de prata, persiia
dido de que ptir esta forma se adquiriria a quietação e socego do mes-
mo povo. como com elíeiti» assim succedeo, e todo este seu procedi-
mento fez presente a Vos>a Magestade, pela respectiva Secretaria de
Estado, nas contas que lhe enviou em 30 de janeiro e 2G de março
do anno pretérito de 1793.
Esta providencia, porem, que fdi inteiina, como não podia extir
par o mal na sua raiz, tem esta pioduzido novas conseípiencias. (]ue
íontinuam a inficcionar estes jiovoj., mai(»rmenle pelo abuso, que se
fez pela determinação daquelle dito Edital.
É certo qne ao tempo da publicação deste girava nestas Ilhas, já
de muitos annos, bastante uKteda, introduzida (ielo> estrangeiros, pe-
las Ilhas do Eyial e São Miguel, cuidiada á imitMÇão da hespanhola.
Ufllas coríente: linha porem esta nioeda figura de dinheiro e seu tal
ou qual valiir inlrinseco, e sendo isto prejudicial não residtou d'ahi a
presente perturbação. Cerceou-se sempre esta e a antiga e primitiva
moeda, e pelo decuiso do tempo se foi diminuindo a sua forma e va-
lor, e foi lambem aparecendo e girando uma nova moeda, de differen-
tes cunhos, que de muitos annos a esta pai te se pensou sen)pre fabri-
cada nestas mesmas Ilhas. Ultimamente aparece de lepente uma cas-
ta de dinheiro menos conhecido e de Ínfima qualidade que por ser de
algum modo similhante ao chamado velho, cori'eo por algum tempo
sem maior reparo: cornludo como a quanlidnde insensivelmente cres-
cesse e igualmente o seu vício e diminuição, princiaram a duvidar
delle, sem comtudo poder-se vir no conhecimento da fonte ou fontes
donde elle sabia, apesar de se rosnai- de que em li>das estas ilhas.
ARCHIVO DOS AÇOKES 187
maiurmente nas das Flores, Faial, Pico, esta (!) e S. Miguel se fabri-
cava uma tal mí)e(la, mas (jiie aiiiiJa então se espalhava entre os po-
vos com comedimento, e girava com algum pejo. Depois, porem do
dito Edital se tt-m esta augmrntado e propagado com muit(j maior
excesso, abusando se totalmente da sua justa providencii, e tão escan-
dalosamente, que se está conhecendo ser a moeda Cundida de pouco
tempo, areada, e em maior numero viciada na sua matéria, tendo ape-
nas aigmna tintura de prata, e quasi toda ella reduzida a tostões tão
Ínfimos, e tão diminutos, (jue cada um não [toderá ter valor intrinseco
(|ue exceda a 20 rs., muito particularmente attendida a mistura com
(jiie ella aparece fabiicada; o que se nos verificoii, fazendo nós pezar
na nossa presença uma pouca que fizesse o peso de um marco de 6i
oitavas, que sendo prata boa, poderia segurar OjííIOO rs. sendo conta-
dos os tostões que fi/.eram o dito peso se achou, em um, pelo nume-
ro de tostões: 31;í>300 rs. e em outro, que igualmente fizemos pesar,
se acharam 32'JOOO rs.
Daqui se vè o excessivo damno com que estes povos se estão
prejudicando mutuamente, sendo, os que deste geral prejuízo tiram
lucro, aquelles que fabricam ou introduzem semelhante moeda, que
até, para a sua Ínfima e diminuta construcção, é de presumir vão
consumindo toda a moeda de sarrilha e toda a outra que se chama-
va de barra, que apanharam, e apanham ás mãos. Com esta infima
moeda, de cujo uso se não pode dispensar a necessidade publica, pela
sua generalidade e falta de outr-a, que se não descobre, se compram
por excessivos preços todos os géneros que tratam de exportar-se pa-
ra onde os possam reduzir a dinheiro hespanhol, ou melhor moeda,
ainda nestas mesmas ilhas se diz venderem-se aquelles por menos
preço do que se compram, se se pagam em sarrillia; negocio este,
tjue talvez fazendo o os seus agentes [)ara melhorarem de sorte, com-
tudo a má fé com que talvez se olham sobre semelhante assumpto de
moeda, faz, sem outro indicio algum, suspeitar que aquelles o fazem,
para continuarem a augmentar o umnero de uma moeda tão prejudi-
('ial e escandalosa. Fm taes circumstancias os que vivem innocentes
padecem dois vexames, nada pequenos, primeiro é comprarem por
dez o que vai Irez ou quatro, custando ao seu suor e trabalho os pre-
ços porque o compram, e o segundo, e o maior, é o não acharem o
que lhe é necessário; porque os viveres cada v.z mais vão desapare-
cendo, as lojas dos commerceantes vão-se fechando, por não terem
estes já quasi nada de fazendas para o necessário uso destes habitan-
tes, a quem certificam, de que mais não mandarão vir cousa de con-
sideração necessidade ou utilidade á terra para a venderem por nmâ
tal moeda, (jue demais de não poder nutrir-lhes o seu commercio, os
desanima pelo certo empate que lhes devem recear mais hoje, mais
;i) A lll)a Tfrceirii.
188 ARCHIVO DOS AÇOHES
íuiKuiliã. O azeite de baleia ha mais de seis mezes que o não lia, falta
igiialnunte o de «liiveira, pelo que tem chegado a aliimiar-se o Saii-
tis;;imo .Sacramento com cera. e (jiiando pur (im raro acaso aparecem
estes géneros se vendenj por triplicado prego du qne se vendiam.
Os trigos e milhos dpsta ilha no principio du verão, e ainda pen-
dentes foram atravessados por preços excessivos, poripit^ o trigo a 400
rs. e o milho se acha já a 300 rs. o alqueire, e ainda por taes preços
se não podiam descobrir, não só porque aquelles, em cujas mãos por
suas negociações havia parado abundância desta moeda e delia se qui-
zeram livrar, compraram e sobarcaram os sobreditos géneros para os
exportarem, mas tanibem porque alguém que tem destes géneros de
sobra o não (jiier vender por semelhante moeda, servindo se aliás del-
ia para todos os seus gastos, e despesas, e não achando outra o com-
mum das gentes de maior e menor graduação. Chegou este dito mo-
nopólio a tal excesso que não achando os povos de>ta cidade um só
l»ão para comprem, nos lugares públicos onde este se costuma vender,
nem em outros mais particulares, nos obrigou a mandarmos pelo Juí-
zo da Correição examinar o trigo e milho í|ue havia pelos graneis des-
ta cidade, e mandai' se tirar, da pouca porção que deste se achou, al-
gum para o Terreiro publico, a fim de accudir-se, não só ao povo, qne
genua de fome, mas a infinitas casas particidares que sofriam a mes-
ma sorte; e. attenta a carestia, determinarmos aos que pretendiam
exportar os géneros de trigo e milho, quaesquei' que elles fossem, que
só o poderiam fazer deste ultimo género, deixando no dito Terreiro a
terça parte, respectiva á porção que quizcssom embarcar, piohibindo
a exportação daquelle primeiro, por se haver já embaicado [lara essa
corte e Ilha da Madeira a porção que neste anuo pod<'ria,— segiíhdo
as orças que da [troducção de.-^te género fizemos, e do que ao consu-
mo da terra é necessário,— extrahir-se sem prejuízo da couseivação
destes povos: bem persuadidos de que a mente de Vossa Magestade,
nas suas respeitáveis ordens para se franquear a exportação de seme-
lhantes géneros para essa corte ou dita ilha da Madeira, é nos termos
de não perigar aquella. e de não haver a necessidade (pie é íiotoria,
e se experimenta, que até tem custado e dado cuidado a descobrir-se
o preciso paia se municiarem os terços auxiliares, na conformidade
das ordens de Vossa Magestade: já por causa dos atravessadores que
os tem occultado. para os exportarem em algum tempo, já por qne na
lealidade, ptic que se tem exportado, não restaria iia ilha o necessá-
rio, se não houvesse a sobredita restricção: providencia (oní (pie fica
o povo nesta [)arte soctgado.
E" esta a consternação, a que os povos destas Ilhas se vem re-
duzidos, pela necessidade de sofrerem o giro de uma tão indigna moe-
da, no meio porem da qual, apesar dos males de que incessantemen-
te se sentem rodeados, padecem com uma admirável conformidade,
esperançados em que Vossa Magestade se dignará um dia com as sau-
ABCHIVO DOS AÇORES 189
flcíveis [)i(tvidem'ias, próprias da sua maternal piedade, nltirnar-llies (K-
lima ve/. tanta riiina. Desta só se nos apresenta de alguma forma in-
demnisada a Illia de Sã<» MigueL que ahunda na dita .carrilha liespa-
nhola, e em cobre deste Heir)o. porque as suas maiores producções
que lui mesma fazem girar uma maior negociação, llie tem facilitado
os meios a este fim, e aijuelles que nem nesta ilha nem nas mais se
pi»dem descubrir pelas suas meiiores producções e tenuidades dos seus
negócios.
Tem-se procedido a devassas que continuam contra os fabrican-
tes da moeda falsa, e viciada, tem-se pronunciado e pieso alguns, cu-
jos processos tem sido remettidos ao Juizo da casa da moeda: mas co-
mo são devassas ex-officio, em que não íia parte queixosa, que apon-
te as fontes principaes deste mal, e a ellas encaminhe os Ministros,
não se tem até agora descoberto as suas origens principaes: e posto
que nas vozes populares se formem alguns indicios contra diversas
pessoas, não se conhece comludo nestas a necessária e relevante qua-
lidade que autorise os mesmos Ministros para procederem simples-
mente por ellas contra estas mesmas pessoas e casas particulares, que
aliás na consideração dos mesmos povos se fazem das mais principaes
e qualificada.> destas Ilhas.
Finalmente, senhora, este mal é gravissimo e por que elle se au-
gmenta com os dias parece vae a precipitar estas Ilhas, cei tameute no
ultimo grau da sua decadência, se sobre elle não houver uma prezen
lanea providencia: sendo que ellas merecem a altenção de Vossa Ma-
gestade, pois são os seus moradores descendentes de progenitores que
como elles não duvidarão sacrificar vidas e fazendas pelo serviço da
Real coroa de Vossa Magestade.
O que tudo pomos na Heal presença de Vossa Magestade, a quem
suplicamos, com toda a submissão, queira tomar na sua Hegia consi-
deração um oljjecto de tanto melindre e ponderação, e dai' a respei-
to delle as providencias que na situação presente das cousas, só pode
dar o Real braço de Vossa Magestade, do qual as es()eramos, revés
tidas dai^iiplla equidade e comiseração que lhe é inherente.
A Muito Alta e Muito Poderosa pessoa de Vossa Magestade, guar-
de Ueos os annos que estes Reinos e seus fieis vassalos desejamos e
havemos mister para nossa felicidade. Angra 22 de Março de i794.
Fr. José, Bispo lÍ Angra, (D. Fr. José d" Ave Maria da Costa e Sil-
va) Gorernador.=^0 Corregedor d Angru, Governador Manoel José d' Ar
riaga Briim da Silveira.
(Arch. nac. da T. do 7'., Pap. do Min. do Reino, nKtat, 613.)
CONSULTAS OA MESA OA CONSCIÊNCIA E OROEMS
Consulta de Simoa Soeira, viuva, da ilha Terceira, sobre
o officio de escrivão dos Residos nas ilhas de baixo;
20 d ag-osto de 1598.
Simòa S()HÍr;i, Viuva ile Fernão M;)rtii)S de Soush, tnoiador na ilha
Terceii'« fez pelição a V. M. nesta mez^ dizendo qiíe o dilo sen mari-
do fora proprietário do officio d^escrivão dos residos das ilhas do Fayal,
Fitjno, Gracioza e Sani Jorge, o (jiial serviía muitos annos fazendo sem-
pre o <jne devia sem cometer erro, nem culpa algnma. Pelo que pedia
a V. \iag<\stade lhe fizesse mercê do ditto olficio pêra a pessoa que
cazar com uma íillia que lhe ficou do dito Fernão Martins, a qual não
tem nenluHiia couza por ser nuiito pobre. Pediosse informação ao cor-
regeilor das Ilhas e informou que Fernão Martins de Sonsa servira de
propriedade o officio descrivão dos residos das ilhas de baixo, onlo
ou nove anos comprindo em todo este tempo com sua obrigação, e sem
cometer erro, e (jue passa de hum anuo que he falecido e que está va
go este ofíicio, e que lhe ficara hum filho e huma filha, e que o filho
íião [)relende pêra si o officio, e que a filha por nome Maria Pereira he
de itiade de mais de vinte amios, muito pobre, e que não tem outro re-
médio, salvo o que lhe pode vir por meo deste officio fazendolhe V.
Magestade mercê delle pêra a pessoa que com ella cazar.
Pareceo que visto o (jue a supplicante allega e a informação (jue
deve V. MagestaíJe ser servido de lhe fazer mercê do officio que pe-
de pêra a pessoa que cazar com sua filha, sendo apta, e sufficiente e
por tal aprovada no despacho da Meza da Consciência e Ordens em
IJxboa a XX (20) d'agosto de M. D. Ixxxxbiij (lõ98)={colas ao lado)
—Officio de escrivão dos residos da. Ilha do Faial. Wo?/í/y/) por carta
de ál de setembro, f. 38 = [outra) faz he S. Magestade mercê como
pareceo na meza.=Veo a ál de seten)bro de 08.
íT. do '/'.. Lk. 1." do fírr/.'"' de Comullas da Mesa da Omsc. e
(hd., f. 1.)
AHCHIVO DOS ACOKES 191
Consulta para se dar uns offlcios a Doming-os Carvalho
da Ilha de San Mig-uel; 20 de junho de 1601.
Uomingos Carvíilho, morador na Ilha de Sam Migiit^l fez petição
a V. Magestade nesta mesa (Jizeiuk» que seu s.tgio Francisco da Moía
Osório, toi proprietário dos ollicios de Procurador, (>ontador e Incjue-
redor da provedoria dos Residos e que por impedimento da muita ida-
de do dito (troprietario lhe fizera V. Magestade mercê da serventia do
dito olíicio o (jual sérvio até falecer o dito Francisco da Motta com sa-
tisfação de lodos com diligencia e verdade e asi o servira o dito sen
sogro dezoito ou vinte annos sem nunca ser comprendido de erros,
antes com muita verdade e satisfação. Cede a Vossa Magestade que
havendo respeito a ser casado con) a filha mais velha do dito Francis-
cisco da Motta proprietário que foi dos ditos ollicios, e a ter em sua
casa sua sogra entrevada, com hua menina sua filha e não terem ou-
tra cousa de que se sustentar [lor serem muito pobres e os ditos ofli-
cios de pouco rendimento e a elle snpplicante ser christão velho e a
ler servido a V. Magestade nove ou dez atmos em trtdas as cousas que
se otYt-recerão de guerra na dita ilha e no mar delia que forãu niuitas
e muito importantes, lhe faça mercê da propriedade do> ditos ollicios.
Todo o sobredito justifica por instrumentos e carta do juiz de fora e
certidões do juiz dos órfãos e dos capitães da dita Ilha. Pareceo que
visto o que o siq)plicante allega e a boa informação que ha de suas
partes e calidades deve V. Magestade ser servido de lhe fazer mercê
dos ollicios que pedtí. Km IJsboa a 20 de junho de 1001 annos.
(T. do T.. Ur. 1." de Coftsull . dd M^^s, d/i Cnnsc. c Ord.. f. 108 r.")
180.^ Consulta sobre Pedro Aôbnso d'Ornellas da ilha
Terceira; 14 de novembro de 1602.
Pedrafonsf» {Pedro Affhnsn) Dornellas, morador na Ilha Terceyra
fez petição a V. Magestade nesta mesa dizendo que V. Magestade
fez mercê a seu sogro Fernão Martins de Sousa do olíicio de escrivãit
ante o juiz dos Residos das ilhas de São Jorge, Faial, Graciosa e Pico
depois de servir muitos annos. e faleceo sem ter outro herdeiro nem
descendente mais que sua filha Maria Pereira de Sousa, que é casada
com elle supplicante, o qual olficio está elle servindo [xtr commissão
do contador dos Residos. Pede a V. Magestade que havendo respeitt»
a(» sobredito e ter as partes e qualidades que se requerem para <•
192 ARCHIVO DOS AÇORES
bem poder servir e o dito seu sogro ficar muito pobre e assim o ficou
a dita sua filha, com a qual elle dito supplicaute casi>u com as espe-
ranças soaieiíttí do dito oíficiu, lhe faça uiercé delle assim como o ti-
nha o dito seu sogro, enformou o corregedor das ilhas dos Açores
(jue V. Magestade fizera mercê a Fernão Martins de Soiisa definito
sogro do Supplicaute Pêro Aílonso d'Ornellas do otlicio de escrivão
dante o juiz dos hesidos das Ilhas Graciosa, São Jorge, Faial e Pico,
o qual serviu em quanto vivo, e por falecimenttj proveu o Juiz dos
HesifJos da serventia deste otFicio a elle supplicaute, e que justificou
tel-o servido com verdade e ser honrado e ter as partes e qualidades
que se requerem para o poder bem ^ervir e que poderá render em
cada um anuo até trinta mil reis andando por correição por todas as
ilhas, e que o supplicaute, está casado com Maria Pereira filha do pro-
prietário que foi com quem casou sendo té por elle ser pobre e não
ter que lhe dar, e i\ne lhe ficara outro filho mais velho por nome An-
tónio Pereira de Sousa que está casado na Ilha de São Miguel, o qual
tem renuncia lo no supplicaute toda a aução que podia ter na prelen-
ção do dito officio e Pede a V. Magestade seja servido fazer mercê
delle a seu cunhado por ser pobre e não haver mais filhos do dito
seu páe, que foi proprietário, e que esta era a informação que achara.
Pareceu que vista a informação e o que o supplicaute allega de-
ve V. Magestade haver por bem de lhe fazer mercê da propriedade
deste otficio. Em Lisboa a 14 de novembro de I60á.
{T. do T., Ltv.° 1°, de Consulta da Mes. da Canse, e Ord., foi.
177 L\%
IW1]EPJ0 IVEN8
CONSAGRAÇÕES CÍVICAS
iriítf (Jjaplb t jl0krí0 ^Imm
A missão tresle Archivo é registar em suas paginas todos os factos
(jue possam interessar á historia açoriana.
À que, para nós, é antiga, tem este jornal consagrado quasi ex-
clusivamente os sete volumes publicados.
Os successos notáveis da actualidade serão considerados em adi-
antado futuro com interesse egual ao que nos merecem os de remo-
tas eras.
A historia d'um povo nasce com elle mas sobrevive lhe. Sem a
historia de todo desconheceriamos hoje o que numerosos esta<Jos, não
existentes ou decaidos.contribuiram para o caminhar da civilisação.
Cumpre-nos, por isso, ser cuidadosos no registo de successos,
que ás interrogações do futuro possam revelar os nossos adiantamen-
tos d'agora.
O dia 6 de dezembro de 1885 marcou para S. Miguel uma data
memorável.
Celebrou se a mais apparatosa festa que em Ponta Delgada se tem
visto, festa de consagraçãíj da gloria de dois eminentes portuguezes,
um dos quaes nascido nesta cidade, os srs. Hermenegildo de Brito
Capello e Roberto Ivens.
Para completar a noticia do acontecimento, quizémos acompanhal-a
d'um bom retrato do nosso illuslre conterrâneo, o sr. Roberto Ivens.
Mandámos graval-o em Lisboa em vista d'uma recente e nitida
phothographia, e como só ha pouco recebemos este bello trabalho ar-
tístico, só agora se pôde destinar o espaço d este jornal á commemo-
ração do facto.
A demora cousa alguma prejudica. São para vindouros as pagi-
nas que vão seguir se.
N.° i5— Yoi. VI1I--I886.
194 ARCHiVO DOS AÇOKES
Em setembro do anuo passado desembarcavam em Lisboa Herme-
negildo do Brito Capello e Roberto Ivens, vindos d'Africa.
Precedera-os o applauso e a admiração miiversal pelo arrojado
feito que tinham praticado, realisando uma travessia n^aquelle continen-
te, a descobrir caminlio commercial para ligar pontos extremos do nos-
so domínio, em que lia duas cidades consideráveis, Loanda e Moçam-
bique, naturalmente indicadas para capitães d'um vasto império.
Se em viagem triumphal chegaram a Lisboa, ah esperava os au-
daciosos portuguezes a mais delirante das ovações.
O paiz inteiro oíferecia jubiloso os lauréis de vencedores aos dois
heroes, que o não foram dum só dia, pois que chegou a parecer in-
terminável o periodo para homenagens que ninguém queria deixar de
tributar-lhes.
Os michaelenses são pouco dados a expansibilidades ruidosas.
Porem, sendo seu irmão, pelo sangue e pela pátria, o sr. Rober-
to Ivens, saudado e victoriado por todo o mundo culto, a scentelha
das grandes commoções enthusiasticas inflammou os nossos espíritos
para a justa e devida sagração da gloria.
Os sócios correspondentes da Sociedade de Geogropliia de Lisboa,
residentes em Ponta Delgada, logo que souberam da chegada dos Ex-
ploradores a Lisboa, enviaram-lhe uma Mensagem de congratulação,
no paquete que a 17 de setembro daqui saiu para o Tejo.
A li d'outubro, lendo-se feito prévio e geral convite, a Socieda-
de Promotora do Progresso, tinha uma numerosa reunião, em que se
inaugurou o retrato de Roberto Ivens, e se insta liou uma tiula de de-
zenho que tomou o nome do eminente michaelense.
Cavalheiros esclarecidos discursaram brilhantemente dando a ní-
tida comprehensão do successo tão celebrado.
Bellissimas peças de musica correctamente executadas intermeia-
ram os discursos e completaram o sarau.
Na abertura e encerramento executou-se o Hymno de Robehto
IvENs, expressamente composto para este fim, de que adiante se pu-
blicará a lettra, sendo também publicada a musica no numero 286 da
Bandeira Porlugiieza, jornal de Lisboa, de 14 de março de 1886.
ARCHIVO DOS AÇORES 195
Nus jurnaes fia segunda semana do mez dVjuliibro, os mesmos só-
cios fizeram publicar o seguinte:
Convite
«Os sócios correspondentes da Sociedade de Geographia, de Lis-
boa, abaixo assignados, residentes em Ponta Delgada, compenetrados
da insistência com que a opinião publica exige uma solemne manifes-
tação dos sentimentos de admiração e enthusiasmo a favor do illustre
e corajoso explorador d"Africa, o michaelense — Roberto Ivens; côns-
cios egualmente da necessidade de se constituir uma commissão que
realise os melhores alvitres, teem a honra de convidar os seus conci-
dadãos a concorrer pela I hora da tarde do dia 11 do corrente, na sa-
la das sessões da Gamara Municipal desta cidade, a fim de ali se re-
solver o que melhor convier.
Ponta Delgada 7 d'outubro de 1885.
Ernesto do Canto.
Caetano d' Andrade Albuquerque.
Francisco Maria Supico.
Conde da Silva.
Augusto César Stipico.
Carlos Maria Gomes Machado.
Barão de Fonte Bella (Jacintho).
Vicente Machado de Faria e Maia.
João Bernardino de Sena.
Henrique José das Neves.
Esta reunião foi amplamente concorrida. Presidio o sr. dr. Ernes-
to do Canto.
Paliaram diíferentes cavalheiros despontando vários alvitres sobre
o modo de se realisar o fim para que fora convocada.
Votou-se uma proposta do sr. dr. Francisco Pereira Lopes de Bet-
tencourt Athaide para que 78 cavalheiros, que indicou, constituíssem
uma grande commissão para apreciar os differentes alvitres e prefe-
rir os melhores.
Tendo antes declarado o sr. presidente da camará dr. Aristides
Moreira da Motta, que a corporação da digna presidência de s. ex.*
celebraria uma sessão solemne em homenagem aos gloriosos explora-
dores, isto se considerou desde logo como artigo e base do program-
ma a redigir.
196 ARCHIVO DOS AÇORES
Uma sub-commissão foi eleila para, inspirada nas ideias expostas
na reunião do dia 11, elaborar iin) parecer para ser discutido em ses-
são da grande conimissão.
Teve logar esta sessão a 25 doulubro, e em desempenho do man-
dato que recebera apresentou o seguinte:
Parecer
A sub commissão nomeada para dar parecer sobre as propostas
apresentadas na sessão de 18 do corrente, tendentes a festejar e com-
memorar a gloriosa travessia de Roberto Ivens e Brito Capello, reali-
sada em Africa, colhendo e apreciando quaesquer outros alvitres, vem
desempenhar-se do honrozo encargo, apresentando a seguinte propos-
ta que submette á vossa apreciação:
[.° effectuar um cortejo civico por occasião da sessão solemne
que a Camará Municipal intenta, fazendo-se n'esse dia as manifesta-
ções festivas mais adquadas ao fim e aos meios e adherindo â mensa-
gem que a Municipalidade vae apresentar;
2.° que se abram duas subscripções, uma como succursal da
s.ubscripção nacional iniciada pelo professor José Júlio Rodrigues; ou-
tra, destinada ás despezas de festejos e commemoração locaes, apu-
rando-se na cobrança da parte já subscripta a vontade dos subscripto-
res sobre a quantia com que concorrem para cada uma.
Entre os alvitres propostos, relativos a esta segunda parte, jul-
gamos mais pratico e realisavel o que tem por fim collocar um monu-
mento commemorativo da travessia d'Africa encimado pelo busto de
Roberto Ivens, na avenida lateral direita que se acha traçada no plano
da projectada alameda commemorativa da expedição liberal, oíTerecen-
do á municipalidade para a construcção da alameda e do monumento
o que produzir a segunda subscripção deduzida a despeza com o fes-
tival.
Arthur HinlZi' Ribeiro.
Caetano d' Andrade Albuquerque (vencido quanto á es
colha do local).
Carlos Augusto Carneiro ZagaUo e Mello.
Francisco Pereira Lopes de Bettencourt Athaide (ven-
cido em parte).
Caetano Moniz de Vasconcellos.
ARCHIVO DOS AÇOhES 197
Tendo liavido ampla discussão appr(»vou-se parle do precedente
parecer, regeitada a primeira snbscripçãíj propost;* e elaborado o .se-
guinte e inicial
Programiiia approvado na sessão de 2o douluhro de i88o, da gran-
de coraniissão encarregada de festejar e commemorar em Ponta
Delgada a gloriosa travessia dAfrica por Roberto Ivens e
Brito Capello.
I.'' Effecluar um cortejo civico por occa^ião da sessão solemne,
que a Camará Municipal de Ponta Delgada deliberou celebrar: promo-
vendo no mesmo dia manifestações festivas adequadas ao fim e aos
meios; e adherir ã mensagem que a Municipalidade apresentar.
2.° Collocar um monumento commemorativo da travessia dAfri-
ca encimado pelo busto de tioherto Ivens, na avenida lateral direita,
que se acha traçada no plano da projectada Alameda da Expedição Li-
beral, offerecendo-se á Municipalidade o producto das subscripções, de-
duzidas as despezas do monumento e do festival.
Três sub-commissões foram encarregadas de realisar este program-
ma, desenvolvendo o de modo compatível com as circumstancias.
Eis os nomes dos cavalheiros que constituíram estas sub-com-
missões:
Sub-commissão da subscripção:
Aristides Brandão de Castro.
Dr. José Pereira Botelho Riley.
Victoriano Sequeira.
Francisco Peixoto da Silveira.
Filomeno Bicudo.
Sub-commissão para dirigir a parte comniemoraliva:
Dr. Francisco Pereira Lopes de Bettencourt Athaide.
David Xavier Cohen.
Sub-commissão da parte festival:
Henrique José das Neves.
Carlos Augusto Carneiro Zagallo e Mello.
198 ARCHIVO DOS AÇORES
Aggregaram-se differeníes cavalheiros a estas sub-commissôes
conforme a deliberação da grande commissão e a Iodas presidio o sr.
dr.
Ernesto do Canto.
As duas ultimas sub-commissões trabalharam de harmonia com
o Presidente da Camará sr. dr. Aristides Moreira da Mutta.
Para se desempenharem do lionroso encargo que lhes fura com-
inettido, tiveram differentes reuniões as sub-commissões acima indica-
das, deliberando, a 5 de novembro, a sub-commissão do festival con-
vidar as differentes associações, classes e corporações desta cidade a
fazerem-se representar cada qual por um delegado na sala da camará
municipal, devendo os delegados communicar o modo como as colle-
ctividades que representavam se associariam ás publicas manifestações.
Compareceram muitos delegados e apuz as declarações feitas por
cada um, foi approvado o seguinte:
Piogiumina do festival que o povo miciíaeleiíse lealísa na cidade de
Poiíla Delirada no dia 29 de novembro de I88S em iionra dos ex-
ploradores Porluguezes Brito Capello e Roberto Ivens.
I. — o cortejo civico organisar-se-lia nas ruas que circumdam o Largo
de S. Francisco a começar pela do sul e com frente para leste,
desfilando ao meio dia, e ao signal d'uma girandola de foguetes.
II. — As pessoas e carros que tiverem de compor o cortejo entrarão
no Largo de São Francisco somente pelas ruas da Esperança e
do Cerco.
IH.— ORDEM DO CORTEJO:
l.° — Banda da Sociedade Rival das Musas, sua Direcção e Só-
cios,
i.*^ — Classe marítima,
3.° —Professorado olíicial e particular d'instrucção primaria e
alumnos.
i." — Professorado dinstrucção secundaria, e alumnos,
o.° — Redacções de jornaes e typographos.
6.*' — Lavradores e camponezes.
7." — Club Gvmnasio .Michaelense.
8." — Esc(.la dos Marlvn-s da Palria.
ARCHIVO DOS AÇORES 199
9/' — Banda da Sociedade Promotora do Progresso, Direcção,
Sócios, e escolas «Victor Hugo» e «Roberto lvens«.
10." — Associação, Corpo e empregados comnierciaes.
i\.° — Classes laboriosas.
12." — Associação dos Bombeiros Voluntários.
13.° — Sociedade Recreativa.
14.° — Direcção do Azyio de Mendicidade. ,
■15.° — Banda União Fraternal.
16." — Empregados e operários do Porto Artificial de Ponta
Delgada.
17.°- Clas^se Militar.
18.° — Governador Civil, Relação dos Açores, e mais fimcciona-
rios públicos.
19.° — Corpo Consular.
20."— Junta Geral do Districto.
21.° - Camarás Municipaes ou seus delegados.
22.° — Camará Municipal de Ponta Delgada.
23.° — Parentes de Roberto Ivens. Grande Commissão Promo-
tora das manifestações do povo michaelense em honra
dos Exploradores
24.° — Banda de musica de Caçadores n.° 11.
Os grupos 2, 4, 5, 6, 7, 10, 11, i2 e 16 são os que se prepa-
ram para apresentar carros triumphaes.
IV. —Para boa ordem e disposição do cortejo convém observar o se-
guinte:
1.° — As pessoas que composerem o cortejo devem ir dispostas
em fileiras regulares convenientemente distanciadas.
2.° — As associações que apresentarem pendão devem leval-o
adiante da sua primeira fileira.
3.° — Aquellas que somente apresentarem carro devem collo-
cal-o na sua frente.
4." — As que tiverem pendão e carro levarão em 1.° logar o
pendão, seguindo-se a certa distancia o carro.
5.° — Os diííerentes grupos conservar-se hão convenientemente
distanciados para melhor se distinguirem.
V. — O cortejo percorrerá o seguinte itenerario: ruas de S. Francisco
e da Trindade, Praça do Município, onde receberá as vereações
dos municípios michaelenses, lado sul da Matriz, rua dos Merca-
dores, largo de Camões, rua da Graça até á Calheta, rua do Pe-
ru, rua do Mercado, e prolongamento destas até ao largo de S.
Francisco.
200 ARCHIVO DOS AÇORES
VI. — Nu regresso ao Largo de S. Francisco o cortejo voltando sobre
n esquerda spguirá ein volta e fará alto em frente da egreja da
Esperança.
VII. — Lida pelo presidente da Cainara Municipal a mensagem dirigi-
da aos exploradores, proceder-se-ha á sua assignatura, e uma
girandola de foguetes annunciará o fim do cortejo.
VIII. — Ficará exposto no mesmo Largo o carro triumphal da grande
commissão na tarde e noite de 29 e no dia 30, bem como os dos
differentes grupos que assim o entendam.
IX. — UMA MARCHA ALIX FLAMBEAUX partirá ás 7 horas da noite
do dia 29. da Praça do Municipio, acompanhada de bandas mar-
ciaes, percorrendo as principaes ruas da cidade e terminará no
Largo de S. Francisco, onde haverá iHuminação, fogo do ar e
musica.
X.— SARAU THEATRAL. No Theatro Michaelense haverá na noite do
dia 30 do corrente uma festa artistica, offerecida por amadores
em homenagem a Brito Capello e Roberto Ivons.
Na lorre do Paço Municipal apparecorá içada uma bandeira vprmcllia ás
10 horas da manhã de 29 se por motivo de máo tempo o festival fôi- addiado
para o domingo immediato.
Para melhor comprehensão d'esta solemnidade, o nosso distincto
orador sr. dr. Pereira Athaide, illustre Presidente da Associação dos
Rombciros Voluntários, fez uma conferencia historico-geographica, em
ires sessões, concluindo no dia 26 de novembro. As salas da Socieda-
de Promotora do Progresso, em (]ue o C(jnferente teve occasião de ma-
nifestar mais uma vez a facilidade que tem para expor altos conheci-
mentos ao Tilcance de todas as intelligencias, estiveram sempre reple-
tas de ouvintes, na sua grande maioria artistas.
Este brilhante trabalho do sr. dr. Athaide muitissimo contribuio
para excitar (j enthusiasmo nas classes que eram convidadas ait acto cí-
vico.
Em rasão do mau tempo não toi possível realisar o festival no
domingo, 29 de novembro.
Addíou-se para O de dezembro, o (jue se lez publico pela impren-
sa nos termos (jue se seguem:
A commissão do festival em honra de Brito (^•^pello e Roberto
ARCHIVO DOS AÇORES 201
Ivens, tendo em altenção (jiie é possivel haver mau tempo nas primei-
ras horas de domingo 6 de dezembro, e melhorar de modo <jiie seja
possivel desfilai' o cortejo até ás 2 horas, faz publico o seguinte:
í.° Uma bandeira portiigneza içada na torre dos Paços do Con-
celho pelas 10 horas da manhã, indicará qne o cortejo se realisa pe-
lo meio dia.
2.° Uma bandeira amarella içada a qualquer hora indicará que se
hesita na realisação do mesmo cortejo n'aquelle dia.
3." Se a bandeira amarella for substituída pela porlugueza e su-
bir ao ar uma girandola de foguetes, o cortejo desfilará uma hora de-
pois.
4.° Uma bandeira vermelha içada á I hora da tarde, significa a-
diamento para outro dia.
Se não fôr possivel realisar o cortejo no domingo próximo eífe-
ctuar-se-ha na segunda feira, 7 do corrente, ou no domJngo 13, repe-
tindo-se os signaes acima indicados, segundo as circumstancias do tem-
po.
.\ marcha aux flamheaux, a illuminação e musica no largo de S.
Francisco terá logar na noite do dia do cortejo.
Se n'essa noite o tempo não permittir a realisação d'estas mani-
festações, ficarão addiadas para a noite immediata, aliás não se effe-
ctuarão.
Não foi necessário o addiamento. O dia esteve magnifico e todo o
programma foi desempenhado.
Os jornaes só no dia 10 começaram a publicar deseripções da
festa.
Nos três dias anteriores não trabalharam as otficinas typographi-
cas. Feriaram-se os seus empregados solemnisando a installação d'uma
associação de classe, eíTeito d'esta consagração civica.
As deseripções mais circumstanciadas encontram-se nos jornaes
Diário de Anmmcios, Novo Diário dos Açores e Persuasão.
E' a desta folha, numero 1:247 de 16 de dezembro, illustrado com
um bello retrato de Roberto Ivens pelo nosso distincto artista titular
Ex.™" Sr. Barão das Larangeiras, a descripção que registamos por nos
parecer a mais completa.
E' como se segue:
NO THEATRO:
A nossa brilhante e ampla casa de espectáculos achava-se na noite
N.*^ 45 — Vol. VIII - 1886. 2
202 ARCHIVO DOS AÇORES
(lu din ri lindamente ornament.ida de galas. Á frente do proscénio os
letratos d'a(jnelles que eram assumpto da festa em artística disposi-
ção. Nas linhas dos camarotes escndos com os nome^ dos mais conhe-
cidos exploradores africanos e navegadores. No centro da I.* ordem
— explendido trophéo de ricas bandeiras c armas nacionaes.
Nos camarotes correspondentes a familia deste ilhistre conterrâ-
neo.
Abnndancia de flores e luz ;t farta a fazer resaltar todas as cores
das decorações.
(>amarotes e plateias repletas de cavalheiros e damas em trajos
de gala. Nas plateias mais de 40 senhoras da mellior sociedade dando
relevo ao numeroso concurso de pessoas do outro sexo.
A orehestra rompeo com o hymno nacional, por todos ouvido de
pé, e da mesma forma e em seguida um hymno consagrado a Rober-
to Ivens.
Seguio-se a execução do programma.
I. parte. Capello e Ivens, poesia de M. A.d'AmaraI, recitada por
Francisco Serpa,— Dio comcertante, de violino e piano da opera Nio-
be pelos srs. Francisco e Joaquim Barbosa. — A Gran duqueza de Ge-
ROLSTEiN E O Barba Azul NO MEIO DA RUA. Opereta cómica em um acto.
executada por Lopes d"Azeve"do, Ferreira Cordeiro e Moniz da Ponte.
II. parte. I." o Belk, 2.° Double trapézio. 3.° Grupos — exercí-
cios por oito sócios do Club Gymnasio Michaelense.
III. parte. Do outro lado, cançoneta por Moraes Pinto, executada
por Ferreira Cordeiro. — Trio concertante, de violino, violoncello e
pianno, da opera D. Carlos, executado pelos srs. Francisco e Joaíjuim
Barbosas e Francisco Peixoto — Uma poesia composta e recitada pelo
sr. dr. José Botelho Bylei.
IV. parte. As Mães, poesia de Eduardo Vidal, recitada pelo snr.
F. Serpa.— Pará as eleições, entre acto por Júlio Cezar Machado, de-
sempenhado por Lopes d'Azevedo, Maximino Hego e Moniz da Ponte.
—Será reviviscencia? poesia recitada pelo seu aulhor, sr. Arão Co-
lien.
Execução de todo este programma a mais correcta e perfeita (pie
seria para desejar.
Depois da 2.' parte o sr. di-. Júlio Pereira proferiu imi belh» e
conceituosissimo discurso, dinua das tribunas: e do mesmo logar, a
terminar (» espectáculo, dando a nota da alta significação da festa e
como que prei)arando os espíritos para a ovação do dia seguinte, um
enthusiaslico discurso do sr. dr. Pereira Athayde.
Aud)os estes oradores, l)em como o sr. dr. Bylei, e todos os ra-
v.dheiros (pie executaram as diíTerentes [)artes da soiréi\ foram sauda-
dos com estrepitosas e repetidas salvas de palmas.
Se houve defeito no espectáculo, mas louvável defeito, foi o du-
rar seis horas sendo perlo das duas da madrugada quando concluiu.
ARCHIVO DOS AÇORES 203
Esquecia-nos iiina circiiiiisUmcia: Por todos os camarotes fijtain ilislri-
buiíJas belias lylograpliias <le ROBERTO IVENS, trabalho du sr. Barão
(las Larangeiriís, o nosso titdiar artista, a quem se ficou devendo es-
ta offerta galante.
NA KUA:
O cortejo civico organison se no campo de S. Francisco. Ainda a
sua parte final se não linha movido, e jã a frente se achava a mais de
meio da rua dos Mercadores. Comprimenti» muito superior a um kilo-
melro. em columna larga e compacta.
Gastava mais de t2i minutos na passagem em andamento não va-
garoso.
Precedido, seguido e acompanhado sempre por immensa multi-
dão, alegre, satisfeita, radiosa.
O percurso foi desde o Campo até á Calheta seguindo as ruas pe-
rallelas ao mar; e regressou ao mesmo sitio pelas ruas centraes da ci-
dade. Seguio as principaes artérias d'esta grande população. Todas as
casas d'este trajecto bellamente decoradas muitas, ricamente adorna-
das com bandeiras e coixas preciosas, e regurgitando de espectadores
de ambos os sexos.
O todo uma animação phantasiosa, imponente, indiscriptivel.
O préstito tinha a seguinte coordenação:
I. Banda da Sociedade Bival das Mv6x> em grande gala, levan-
do todos os músicos largas fachas em que se lia em douradas letras
(>APELLO E lVEN>.
Acompanhavam na numerosos membros da sociedade.
II. Classe maritima. Um grande troço de homens do mar com um
formoso grupo de olBciaes marítimos vistosamente uniformisados, fa-
zendo honra a um carro triumphal figurando o mar com um elegan-
tíssimo e grande navio, armado a brigue-escuna, flamejando-lhe ricas
bandeiras, galhardetes e signaes; arreando se lhe ou içando-se lhe os
mastareos, onde os fios telegraphicos lhe podiam impedir a passagem.
Era tirado por duas magnificas parelhas, formosamente ajaezadas. Tu-
do a expensas do sr. Barão da Fonte Bella, Jacintho.
III. Professorado official e particular de instrucção primaria e a-
lumnos.
IV. Professorado de instrucção secundaria e alumnos.
Estes dois grupos, numerosos, c onslituiam uma secção fazendo
honra ao gakí\o das sciencias, allegorico e artisticamente decorado.
Os estudantes do lyceo apresentaram-se com um uniforme de que vão
fazer uso permanente, vistoso, modesto e económico.
V. Redacções de jornaes e typographos Estas duas classes eram
representadas por mais de (50 indivivjuos. Faziam hijura ao carro da
204 AKCHIVO DOS AÇORES
IMPRENSA, furmosa Cdncepção em (jiie liavia um prelu e muitos ulensi-
lios da arte ty[)Ograpliica em disposição triumphal, ladeado de escudos
cm que figuravam os joniaes em publicação e alguns dos mais impor-
tantes que já não existem. Na frente o rico pendão da Associação Ty-
pographica, de selim e ouro expressamente feito para apparecer n'a-
quelle dia. Todos os jornalistas e typographos sobraçando números do
jornal Ivens e Capello, collaborado exclusivamente pelos jornalistas
em actividade, e ainda outras publicações apropriadas á festa, que iam
distribuindo.
VI. Lavradores e camponezes— grupo de aldeões acompanhando
nm CARRO DE LAVOURA dccorado com todos os utensílios de lavoura e
fructos da terra, encimado por Ci»rnncópia espalhando flores e fructos.
O carro era circumdado de palmas e tirado por uma bella junta
de bois apropriadamente enfeitada.
VII. Club Gymnasio Michaeleuse. Muitos sócios acompanhando um
bello e artístico carro, consagrado á educação phisica, feito de todos
os aprestes da arte e tirado por cavallos bem ajaesados.
VIII. Escola Martvres da Pátria, com excellente pendãf», levan-
do o professor, muitos alumnos e grande numero de sócios.
IX. Banda da Sociedade Promotora do Progresso, sócios e esco-
las ViLTo» Hugo e Roberto Ivens, com artísticos e formosos pendões
da sociedade e de cada uma d'aquellas suas escolas.
X. Associação, corpo e empregados comnierciaes. Estas classes
foram perfeitamente repiesentadas, levando á frenta o seo carro sym-
bolico e vistoso.
XI. Classes laboriosas. Aqui ia um regimento de operários. Mais
de 400. A' frenta um amplo e rico pendão da classe. Depois um car-
ro do trabalho, magnifico e vistoso, representando uma immensa co-
roa glorificando os instrumentos e productos das artes manuaes e me-
chanicas, ladeando o carro amplas almofadas com as estrophes do
Hymno do trabalho. Era tirado a duas bellas parelhas.
XII. Associação dos Bombeiros Voluntários. Um gruj)o numero-
so de sócios uniformisados fazendo honra a um carro consagrado á
Fraternidai»e humana, que era conjuncto de riqueza, de arte e de
bom gosto.
Tiravam-uo duas formosas parelhas sumptuosamente ajaesadas,
guiadas [)or quatro cocheiros expressa e ricamente fardados para es-
te fim.
XIII. Sociedade Recreativa.
XIV. Direcção e Asylados, do Asylo dk Mendicidade.
XV. Banda União Fraternal, com o seo novo e rico iiiiilorme.
acompanhada de muitos sócios formando extenso grupo.
XVI. Empregados e operaiios do Porto Artificial de Ponla Delga-
da— Uma secção das mais numerosas com dois carros puxados por 8
juntas de bois magníficos, um dos Mergulhadores, com lodos os a-
AKCHIVO DOS AÇORES 205
prestos próprios para Irabalfios submarinos, e oulro conduzindo uniM
LocoMovKL. a machina potente que tem mudado a faie ao mundo plii-
sico.
XVII. Classe militar.
XVIII. Alto funccionalismo admini.strativo. judicial e de fazenda e
mais empregados públicos.
XIX. Corpo Consular.
XX. Junta Geral do distrito.
XXI. e XXII. Delegados das Camarás dos differentes municípios
do districo —Camará municipal de Ponta Delgada, com o seo estan-
darte, indo também os das demais camarás.
XXIU. Parentes de Roberto Ivens, Grande Commissão Promotora
das manifestações do povo micliaelense em honra dos exploradores.
Estes últimos e numerosos grupos eram precedidos pelo opulento,
vistoso e apropriado cabko da explohação áfkicana, todo decorado
de instrumentos náuticos e de observação marítima e terrestre, de es-
tatuas alegóricas dos continentes, espheras e mappa geographico afri-
cano, legendas com os nomes de navegadores e exploradores portu-
guezes, tropheos de armas verdadeiras d^Africa, ornamentado de plan-
tas e flores todas oriundas d"aquelle continente.
Mais cinco bandas de musica (ao lodo oito) se dislribuiam por
differentes pontos do cortejo.
O percurso fez-se sem o menor accidente. O tempo a principio
duvidoso prestou se magnificamente para isso.
Depois de voltar ao Campo o cortejo, os grupos das camarás,
junta geral e grande commissão, entraram no kioske, onde o sr. pre-
sidente da camará de Ponta Delgada leo na mais alta voz a Mensagem
que vae ser enviada aos heroes que se festejavam, escrevendo muitis-
simas pessoas os seus nomes em folhas de papel sobre mezas aos la-
dos do campo e que hão de unir-se á da manifestação, para serem
offerecidas em nco Álbum aos eminentes exploradores.
Tendo se posto em movimento ao meio dia. eram 3 '/a da tarde
quando o cortejo se desfez, constituindo outros menos numerosos o
regresso dos carros triumphaes com as suas respectivas corporações
e musicas para os pontos de onde tinham saido.
Á noite illuminaram-se numerosos edifícios da cidade, houve illu-
minação e musica no campo, e percorreo alguns pontos uma marcha
aux flnmhemix de mais de 500 archotes, musica e muito povo.
O effeito era surprehendente.
Ao entrar no Campo foi verdadeiramente pliantastico, o quadro
d"aquella enorme quantidade de fogachos por sobre as cabeças da mul-
tidão que alli se apitihava a ouvir musica. Eram 9 horas quando ter-
206 ARCHIVO DOS AÇOHES
minou. O tempo que se tiuha conservado ameno e bom, toldou-se dan-
do chuva. Foi providencial isto, pai a applacar a febre do enthusiasmo.
NA FA.MILIA:
Depois <le concluido o cortejo o illiistre presidente da commissão
sr. dr. Ernesto do Cíinto, acompanhado por alguns seus collegas, foram
cimiprimentar a família Ivens.
Em toda era grande a comihoção jubilosa, produzindo extrema
sensação o quadro duma senhora de 8o annos, tia avó de Roberto
Ivens,* muito sensibilisada abraçada ao sr. dr. Ernesto do Canto, a a-
gradecer por tal forma as honras tributadas águelle a quem a prendem
lã(j Íntimos laços de sangue.
Em casa do venerável cavalheiro sr. dr. .José Pereira Botelho,
casado com uma santa senhora apparentada na familia Ivens, não foi
menos c(jmmovedor o ijuadro.
Pôde ter-se uma ideia delle figurando o homem que todos res-
peitamos rodeiado de familia numerosa, que quasi se constitue de
creanças seos netos que lhe são formoso sol damor a dourar os dias
de sua decrepitude, proferindo naquella accentnação que lhe é pecu-
liar as phrases da ailocução que se segue:
Meus Senhores.
Agradeço as vo.ssas delicadas attenções, as vossas muito beut-vo
las palavras, agradeço-vos por mim e como representante desta fami-
lia. Acham-se aqui reunidas as pessoas que mais ile perto nos per-
tencem, em cujo numero conto doze netos e mais do que eu apparen-
tados com um dos homens distinctos qne fizeram a i'ecenle travessia
da Africa
Fiz já sentir aos meus netos a lição contida no esplendido festival
deste dia: sabem, portanto, que tantas e tão grandes honras re()resen-
tim um ponderoso incentivo para cada (jual se esforçar em encarnar
em si o amor do trabalho, applicando-o em adquirir boa educação e
préstimo, e mais tarde em alguns dos variados serviços úteis, honro-
sos todos sempre que o interesse individual se associa com o interes-
se do bem geral, como fizeram Capello e Ivens, os uuiito illustres he-
roes da ultima ex|)ioração no interior da Africa.
Eu quero coadjuvar-vos, ó meus netos, em quanto viver, com o
meu pobre exemplo, e coui a minha [xinco aulhorisada palavra, e a-
praz UR' allirujar isto na presença destes cavalheir iS, te^lem^mhas dis-
tinctissimas. Sereis felizes se alcançardes — préstimo, assiduidade no
ARCHIVO DOS AÇORES 207
Iraballh». foitalesa de animo, Imíos. amor da humanidade, da verdade,
da justiça e da liberdade, egualdade e fraternidade.
Acompanliae-me, mens netos, na expressão do n:)sso bem senti-
do agradecimento a estes cavalheiros.
Viva a Grande Commissão do festival e o seu Digníssimo Presi-
dente, que muito bem se tem sabido desempenhar!
Viva! Viva! Viva!
]N0 LEITO DO SOFRIMENTO: ^
O nosso bom e infeliz amigo sr. dr. José Affonso Botelho Andra-
de, hicta ha seis mezes com uma das enfermidades das que mais fla-
gelam a humanidade. Poz-lhe Deus ao lado uma esposa benjdita, mo-
delo das e.xtremas dedicações da mulher no seio da família. De cer-
to, por isto. o seu grande e lucidissimo espirito, nem ao menos empal-
idece nos contítuiados e atrozes tormentos phisicos.
Trouxe também á fe>ta a sua offerenda. O valor aquilata-se-lhe
tanto mais, quanto é desolador o seu estado.
Com lagrimas pelos seus soíTrimentos atrozes, e sinceros votos de
alma pelas suas melhoras, lhe agradecemos a carta e poesia que se se-
fi[ue:
Mm caro Supico
Se a Época ainda tivesse uma redacção enviaria aoji>niai da im-
prensa os versos que abaixo lhe oíTereço.
São a synthese de um artigo seu no mesmo jornal: Ha nas nos-
sas almas uma nota unisona e creia que não é esse um dos meus me-
nores desvanecimentos.
Como é provável ipie descreva na sua Persuasão as festas explen-
didas aos exploradores, pôde approveilar os versos e esta carta.
la-me passando pela malha o estabelecer a dííTerença entre elles
e o seu artigf»: é simples: o meu amigo escreveu em |)rosa poética e
eu poetisei em versos prosaicos.
Seu do coração
S. C. 7/12/85.
J. A. Boti'1/io Andrade.
208 ARCHIVO DOS AÇORES
A m TE^DEfl AS EXPLORAÇÕES
(A Francisco Maria Supico)
Tigres e onças e leões, panlheras
E' tal a raça humana — us reis e povois:
Rasgueni-se ao mundo os horisonles novos
Lave-se a terra das sangrentas feras;
E reis e povos em fraterno abraço,
Sellando a paz universal, constante.
Darão o nó que não desdà o laço
Que une a Deus a humanidade ovante.
*
« *
A festa michaelense de glorificação aos beneméritos Capello e Ivens,
foi, na opinião de muitos estrangeiros illustrados que a presencearam,
digna de qualquer cidade de primeira ordem das outras nações.
Influio para isso a circumstancia de ser nosso patrício Roberto
Itens.
Uma das notas mais significativas d'ella é não se ter dado o me-
nor accidente desagradável, na completa ausência de toda a policia ci-
vil ou militar.
E ainda não terminaram as homenagens desta ilha ao seu com
patriota. Falta a parte commemorativa, a que ha de ficar, a inaugura-
ção da Alameda Liberal. Será mais tarde. Talvez fosse bom escolher-
se para isso o dia 12 de junho, anniversario do nascimento de Rober-
to Ivens.
*
CARROS TRlliMPHAES
Damos descripção d'alguns dos carros triumphaes que se apresen-
taram no cortejo, conforme as notas que pudemos obter de cada um.
D'aquelles de que as não obtivemos damos indicações no artigo discri-
plivo do Festival.
Carro da marinha
{Dedicado d navegação)
Tinha este carro 8'", 20 de comprimento e egual altura da base ao
tope dos mastros e r',70 de bocca.
ARCHIVO DOS AÇORES 209
Armava a brigue escuna, e enbandeirava em arco com um com-
pleto maryato.
Tinha tudo o que pertence a uma embarcação bem provida. Pan
no enrolado nas vergas, instrumentos de observação, bitacula, pharoes,
bóias de salvação, bole, prumo de sondar, aguada, camará de capitão,
cosinlia de rancho de marinheiros, baldes, sino, pipas, ferros, corren-
tes etc. etc. A base figurava o mar.
Tudo finamente acabado, um verdadeiro modelo de embarcação
luxuosa.
Era tirado por daas parelhas de magníficos cavallos ricamente a-
dornados.
O offerente, snr. Barão de Fonte Bella, Jacintho, não desmancha
este formoso navio, o que era pena. Foi photographado no sabbado e
muita gente o foi ver ao paço da Conceição até domingo, em que es-
teve patente.
Carro dos estudantes
{Consagrado d scimcia)
Era o de menores proporções, mas lindamente armado, observan-
do-se o estylo manuelino na sua architectura.
Ornamenlavam-no um globo, uma esphera armilar, um mocho,
um craneo humano, o prisma, machina hydraulica, instrumentos de phy-
sica e vários livros.
Conduzia-o uma parelha de bonitos cavallos garranos, em harmo-
nia com o tamanho do carro, e ladeados por dois cocheiros.
Carro da imprensa
{A' civilisação miiversal)
Tinha o carro da imprensa 3 met. de comprimento e [""jSO de lar-
gura. Em cada canto erguia-se uma columna dourada encimada por
coroa de carvalho e louro, natural. Era rodeado por uma balaustrada
composta de lyras azues e brancas, tendo prezas nas suas cordas os
titulos de todos os jornaes michaelenses em publicação, e dalguns que
já não existem.
Nos cantos da balaustrada viam-se quatro escudos com as armas
da cidade de Ponta Delgada; havendo no meio delles mais quatro, dois
com emblemas typographicos e dois com as estrophes seguintes:
N.° 45 — Yol. Vlll— 1886. 3
210 ARCHIVO DOS AÇORES
A Imprensa
Gullemberg foi branda hiz
Surgindo radiante á flux
De negro abysnjo profundo :
Mais brilliante do que o sol
Fez da imprensa um pbarol
Que illumina a todo o mundo !
A Ivens e Capello
Salve! salve! vencedores!
Expostos a mil rigores
Vós podestes trinmpliar !
Tremula o pendão das quinas.
E Portugal— das ruinas
Surge pra vos abraçar!
Estas sextilhas foram feitas pelo typograplio sr. Manoel Pereiía
de Lacerda.
Todos os escudos eram ladeados por bandeiras portuguezas.
No centro do carro erguia-se uma columna dourada de oO centi-
metros de circumferencia e S^^^GO dallura, encimada por um escudo
representando as armas da imprensa.
Do alto desta columna partiam umas fitas azues e branca.'*, que
vinham prender-se nas columnas dos cantos, com estas legendas em
letras douradas:
Homenagem da imprensa
Gloria aos exploradores
Roberto Ivens
Brito Capello
A meio da columna central via-se um escudo, também cnm as ar-
mas da cidade, ladeado por bandeiras portuguezas.
Sobre o estiado do carro iam em bonita disposição um |»relo ly
pographico, caixas de typo, e diversos utensílios typograpbicos
Na frente do carro desfraldava-se o lindo pendão da Assucnirãn
Ti/pographka, levado por um membro da classe e ladeado por outros.
O pendão é de setini branco de mais de dois metros dalli» sobre
ARCHIVO DOS AÇORES 2H
iiin de l.ngo. lendo no centro em alto relevo sobre fundo nznl e ver-
melho bordadas a ouro as armas da imprensa, e por sobre ellas a le-
genda da Associação lambem em grandes letras douro.
Fazendo honra ao carro os restantes membros da classe lypogra-
phica e os redactores dos jornaes. Sobraçavam todos exemplares do
numero único do jornal Imns e CapeUo, homenagem da imprensa mi-
chaelense em honra daquelles beneméritos, e outras pequenas folhas
avulsas, em prosa e verso, ailusivas ao acto, <jne foram distribuindo
durante todo o trajecto do cortejo.
( .,- -' - - - - j
*
*
Carru do Club Gymnasío }lichaelensc
íA' educação physica)
Este carro era dum bonito efteito, symbolisando perfeitamente a
educação physica.
Ao centro erguiam-se em caprichosa'combinação os principaes ap-
parelhos gymnasticos, taes como: parallelas. escadas, trapézios, punhos
liictantes, cordas d ascenção de. à-c, tendo por remate quatro escudos,
nos ijuaes se lia:
O Club Gymnasio Michaelense
A
Roberto Ivens
E
B. Capello
e a diviza —
«Me>'S sana IN CORPORE SANO->
elevando-se ao centro um pequeno mastro com uma flâmula azul e bran-
ca.
O leito era forrado d'um rico tapete rodeado de fazenda azul e
branca.— Na face dianteira levava um grande escudo e coroa represen-
tando as armas de Ponta Delgada, e nas outras, três tropheus com os
emblemas da gymnastica, musica e comedia, com as bandeiras nacio-
naes, — pendendo do mesmo leito uma rica sanefa de setineta azul,
branca e encarnada, dum desenho de bello gosto.
As parelhas que tiraram este carro iam ricamente enfeitadas, com
chaireis de velludo azul com tarja e emblema da gymnastica a bran-
co.
O estandarte desta associação era todo de seda, sendo o fundo
azul e na [inrte superior uma sanefa branca, vendo-se no centro ura
212 AhCHlVO DOS AÇORES
escudo com as armas da cidade encimado por duas altas, — lendo-se
na parte superior: Mens sana in corpore sano, e na inferior: — Club
Gymnasio Michaelense.
A frente du edeficio do Gymnasio esteve toda embandeirada, ten-
do no centro as armas da cidade com as bandeiras nacionaes e á direi-
ta e esquerda dois grande medalhões com os bustos dos arrojados ex-
ploradores.
Cano e pendão das Classes Laboriosas
{Dedicado ao trabalho)
O aspecto do carro representava uma grande coroa em cima d'um
pedestal fingindo mármore. O pedestal era rectangular medindo S"" de
comprido, I'"80 de largo e 0,'"80 de alto, guarnecido pela borda supe-
rior por uma grade fundida de O"", 35 de altura, composta de colum-
nas, os cantos e centros com suas pyramides, tudo de ferro bronzea-
do. Os ornamentos que enchiam os vãos entre as columnas, também
fundidos e d'um desenho de bom gosto, eram pintados a branco e a-
zid entrelaçados sendo os varões dourados.
Três lados do pedestal eram divididos em oito almofadas, nas quaes
se viam escriptos em fundo branco e letras pretas e polidas as estro-
phes e coro do hynmo do trabalho, de Castilho, ideia do artista snr.
Ignacio Ribeiro Alves.
Nos intervalos das almofadas e no centro das grades estavam col-
locados os escudos das diíTerentes classes, representadas por algumas
peças de feri-amenta dispostas com elegância e pintadas pelo artista
encadernador sr. Sequeira. As classes representadas nos escudos, e-
ram sapateiros, alfaiates, carpinteiros, serralheiros, barbeiros, enca-
dernadores, pintores, fundidores e a musica. O lado fronteiro era guar-
necido de ornamentos fundidos, pintados a branco e azul e dourados,
caindo em pingente até ao jogo do carro.
Dos ângulos do pedestal elevavam-se^quatro grandes hastes de fer-
ro bronzeado de uma pollegada de grosso, que formavam as curvatu-
ras da grande coroa, saindo do meio de florões collocados a espaços
nas grandes hastes ; petpienas ramificações encaracoladas figurando
quatro grandes ramos d arvore, sustentando nas pontas mais elevadas
uma coroa de louros de O"", 90 de diâmetro, matisada de lindas cauíe-
lias de differentes cores e laços de fita de seda azul, sendo encimada
á altura de O"™, 50 por uma esphera de vidro branco de O'", 40 de diâ-
metro.
Abaixo da grande coroa de louro O^^joO estava uma galeria qua-
drada de 1"',30 poi' lado guarnecida por ornamento de zinco fundido,
ARCHIVO DOS AÇOKES 213
de goslo muito delicado, pintado de branco e azul, douradas as folhas
mais elevadas, florões e pingentes, tendo os centros figuras e pyranii-
des douradas das quaes pendiam quatro coroas de louro, camélias e la-
ços de fita azul. Esta galeria siistentava-se nas ramificações das grandes
hastes de ferro bronzeado. Debaixo dos pingentes da galeria caiam dos
quatro lados cortinados com apanhados de festões pintados em trans-
parentes pelo sr. Cândido José Xavier, onde se viam no centro as ini-
ciaes de Capello e Ivens com duas palmas encrusadas, curvando-se ca-
da uma das palmas sobre cada inicial. Nas curvas dos apanhados das
cortinas lateraes lia se em grandes letras:
Homenagem
e nas de traz e frente lia-se:
As artes reunidas
Mais abaixo preso nas ramificações que se seguiam, lateraes,
viam-se dois quadros saindo do meio da coroa de louro com laços de
fita azul, onde se lia, no da esquerda Exploradores; e no da direita
Capello Ive/is.
Entre os dois quadr(js e de pé sobre uma columna bronzeada
estava uma figura de zinco fundida e dourada e empunhando uma
bandeira em que se lia:
Aos intrépidos
Sobre um pedestal e a.> centro estava collocado um motor a va-
por da força de dois cavallos circundado por grupos de rodas de en-
grenagem, columnas de diíTerentes feitios, utensílios de fundição de.
d-c, nos ângulos viam se um brocador, uma serra, um serrote de cor-
tar esquadrias, calandra de puchar solla, tudo mechanico, um pequeno
alambique de cobre e outros grupos de ferramenta, como serras. Ira-
dos, plainas, rebotes, enxós, marte lios d., d., d.
Trabalharam na construcção do carro:
Fundição AUiança, de (>ruz d Moura.
Fabrica de Pregos Mkhaelense. dirigida pelo sr. Ignacio Ribeiro
Alves.
Srs. Manoel de Souza Simões e José Rebello da Silva, Serralhei-
ros.
Srs. Lopes, pintores: e diíferentes carpinteiros e outros artistas.
O snr. António da Ponte Maia dirigio a construcção e enfeite da
coroa. O plano geral é do snr. Gomes da Cruz, fundidor.
O pendão da classe mede l^.SS por 0"\80 de largo em forma de
escudo. Metade de veludo azul e metade de veludo branco. No centro.
214 ARCHIVO DOS AÇOHES
inelatle das armas desta cidade, preenchendo o resto, em grupo, uma
serra, nm esquadro e uni compasso; tendo a metade das armas do mu-
iiicipio em veludo vermelho e as setas com um fundo de setim bran-
co. 1)0 lado do grupo a cinta é azul e o fundo branco. E' forrado de
>etim còr de canário. As armas são encimadas por uma coroa de ve-
ludo verde com mn malho entrelaçado. Por sobre as armas, em leiras
(Touro, lé-se:
O trabalho é a divisa do operário
e por hai.xo
As classes laboriosas
DE
Ponta Delgada
lambem em leiras de ouro.
Nos cantos superiores, onde prendem t)S cordões e borlas, uma
azul e outra branca, tudo de seda, são rematados por dois cuvos dou-
rados. A haste encimada por uma palheta de pintor, dourada. O dese-
nho e tudo o trabalho do pendão é devido ao sr. Sequeira e sua es-
posa.
O grupo dos artistas levava para cima de iOO pessoas.
(lano (los Bombeiros >oiuiilaríos
(i' cor/ fraternidade humana)
Base. — Festões de azul celeste e ultramarino, ornados de arren-
dados de canolilhu dourad»», presos a uma f:ixa dourada formando um
açafate repleto de camélias naluraes. Deslacavam-se nos quatro ângu-
los as quinas porluguezas abraçadas por tropheos de seda das cores
nacionaes.
Peanha. — Forrada de amarello còr de canário sobre o que des-
tacavam uns grandes festões de veludo celeste ornado de rendilhados
e franjas douradas. Na frente e lados sobrepunham li medalhões em
estofo de veludo azul ultramarino, lendo-se no da frente as datas da
lravessia== 188 V — 1883; e nas laleraes as seguintes legendas.
Travessia d'Africa
De Mossamedes a Quilimane
A peanha encimada com seus medalhões em setim com as cores
nacionaes, cororido> de louro e carvalho enj folluigem artificial, em que
se liam o.s nomes d .dguns logares e rios onde estiveram os explora-
ARCHIVO DOS AÇORKS 2 15
dores, senúo— inalava, lacca, Cuangc, Cuangn. Luapaln, Gaianyanja.
Sobre a peanh;i adiavam -se dispostas diíTe rentes {)eças df» mate-
rial da associação, taes como, a bomba, maiigiieicMs. agtilhelas, ma-
chadas, escadas, escudos, picaretas, bóia de salvação, croijiiete. p(»rla-
voz, destacando-se nos braços da b(»mba (juatro galhardetes de setim
com as cores nacionaes, e sendo esta encimada com nm trophéo de
machados, fechado poi nm capacete e pendão de setim azul bordado
a ouro e contado com louros e carvalho com franjas douradas, tendo
a seguinte inscripção:
A
Roberto Ivens
E
Brito Capello
os
Bombeiros Voluntários
O carro, um bijou em que a arte e a riqueza se alliavaui. foi ti-
rado por duas magnificas parelhas di^ cavallos baios, com arreios de
polimento e ferragem de nikel, guias de cordão azul com borlas da
mesma côr. chaireis de paimo azul orlados com rendilhamentos dou
rados e penachos de fitas de seda das cores nacionaes. As [>a relhas
eram conduzidas por quatro cocheiros vestidos de libré e bouet azul
agaloado de branco.
Guardavam a trazeira do carro dois bast(»neiros com bastões pre-
tos e dourados e cordões e borlas azues, e fardamentos de egual côr.
Fazia lhe a guarda de honra mu piquete de Bombeiros Voluiita
rios.
Seguia-se lhe a Direcção e mais membros da Associação.
(laiTO da Cirande Coniiiiissão promoItMa do restívai
(Consagrado d t-xploroção)
(^arro de forma quadrilonga, de três melros de comprido e I"M}.')
de laigo, imitando bronze, com ornamentoí; dourados. Nos ângulos
inferiores bandeiras de diversas nações com dois escudos com as le-
gendas, lendo-se no direito os seguintes nomes: D. Henrique. Vellm
Cabral. Diogo Cão, Gonçalves Zarco, Silva Porto, Lourenço .Marques.
F. de Magalhães, Lacerda: e no da esquerda: Corte Heal, Vasco da
Gama. Serpa Pinto, Alvares Cabral, Bento de Góes, Barthoiomeii Dia^.
Gomes de Sequeira, Anchieta.
Nos angjilos [tosteriores dois tr(»pheus de esudos e armas africa-
nas.
216 ARCHIVO DOS AÇORES
Sobre o carro: na frente o globo terrestre ladeado d'um pantome-
tro e um theodolito e por baixo um sextante. De cada lado figuras al-
legoricas da Africa e da Ásia. Ao centro figura allegorica da Africa ten-
do por delraz uma columna encimada pur um tropheo de bandeiras
purluguezas, mustrandu pela frente um Açor douradc rodeado de no-
ve eslrellas symbolisando as nove ilhas d'este arcliipelago, e pelo ou-
tro lado o escudo das Armas de Ponta Delgada. Das garras do Açor
pendiam duas curôas de louro sobre dois escudos suspensos a meio da
columna, em que se liam os nomes de Roberto Ivens e Brito Capello; e
ainda a par d'estes um outro escudo com a legenda:
Travessia d' Africa, 1884-1885.
De Beng-uella a laca, 1877-1880.
No ultimo plano dois arautos, levando solto ás auras o mappa da
travessia desenhado em setim branco de I™,10 de altura e egual lar-
gura.
Entre os ornamentos do carro e na parte posterior tinha a legen-
da:
A Grande Commissão
Promotora dos festejos
e por baixo estes versos dos Luziadas —
Vereis amor da pátria não movido
De premio vil, mas alto e quasi eterno;
Que não é premio vil ser conhecido
Por um pregão do ninho meu paterno.
O chão do carro era atapetado por varias plantas naturaes. oriun-
das todas das regiões africanas.
Era tirado por três bellas parelhas vistosamente ajaezadas, e co-
cheiros correspondentemente vestidos.
As estatuas valiosas, os arautos de muito valor e elegância, as
armas africanas muitas, variadas e verdadeiras, e tudo o mais corres-
pondendo em grandeza.
Os carros Iriumphaes acima descriptos foram photographados pe-
los artistas srs. António José Raposo e José Pacheco Toste.
ARCHIVO DOS AÇORES ál7
lidn p«'^lo mv. pr4'')«Mlente tia Camará apóHi o re^resMo do
c'ort<>Jo ao Campo «te H. Francisco* c allí mefimo asHí-
l^nada por grande namero de pctisoas.
///.""" (' E./".'""^ Sr.s. Hermonegildo dp Brito Cnppth p Rohpvto Ivevs:
As CamaiMS Vlunicipaes da Ilha de S. Miguel, reunidas extraur-
diiiariameiíte, e perante um grande concurso de cidadãos, vem con-
graUilar-se cumvosco, e saudar vos, por lerdes realisado com a tena
(•idade, e a (jusadia |)ropria do caracter portugnez, uma das mais bri-
lhantes e gloriosas travessias do Continente Africano.
Nós, os habitantes de uma dessas ilhas que foram desvendadas
do myslerio que as envolvia pelos audazes Navegadores do XV sécu-
lo, nós, Portuguezes, que ao deixarmos a Metrópole, trouxemos com-
nosco, e conservamos piedosamente no culto dos grandes aconteci-
mentos, a Epopéa maravilhosa das nossas descobertas e conquistas;
nós que sentimos a seducção das cousas longitjuas e as tentações do
perigo, na contemplação do Oceano immenso, (jue nos rodeia e amea-
ça; nós os conterrâneos de Boberlo ivens, rejubilamos de enlhusias-
mo e alegria, ao vermos que a nossa geração alíirma o vigor da nos-
sa raça em dous homens, (jue sã(j os continuadores das nossas tradi-
ções de gloria, que iniciam imia nova epocha de engrandecimento pá-
trio, que ao trophéo das bandeiras com que temos atravessado lodos
os mares e todos os continentes, juntam mais uma -pura de todo o
egoismo, iunnaculada de todo o sangue.
Quando no XV século a alma porlugueza, cheia de desejos e de
• renças, de aspirações e de sonhos, se endjarcou n'essa longa viagem
do desconhecido, desde esse momento, traçámos um novo rumo á ci-
vilisação; revolucionámos todos os elementos do progresso, conquistá-
mos para elle n tvas forças; e a sciencia e a politica, «j commercio e
a industria, a religião e a arte, transformaram-se e desenvolveram-se
illuminadas pela luz de novos horisonles.
A nós Porluguezes, temeraiios e aventureiros, coube-nos, por
singular destino, airancar ao mar o segredo das suas ilhas; descobrir
e percorrer as costas dos continentes; entrar pelos sertões; devassar
as florestas; marcar o curso dos rios; pôr em communicação povos
ignorados: e, tornando o mundo maior, dar á humanidade a conscien
cia de si mesma.
(iom a giandeza épica dos nossos feitos adormecemos nas alluci
nações da gloria, e por longos se-culos só tivemos [)ara atteslar o nos-
so podeiio, o nome porluguez indelevelmente gravado por toda a su-
perfície da terra, e na memoria de todos os povos. Mas hoje recobrai!-
N." V.j-Vol. VIII— 1886. 'ir
248 AfiCHIVO DOS AÇOhES
do as antigas virtudeb', mostramos ás Nações civilisadas que o traba-
lho e as aspirações da vida moderna também nos inflammam. que ain-
da vamos — ....
ledos .... por varias vias
Dando os corpos a fomes e vigias,
A ferro, a fogo, a seitas e pelouros,
A quentes regiões, e plagas frias,
A golpes de Idolatras e de Mouros,
6 aos peiigos incógnitos do mundo ;
e que boje como outr'ora ousados, e generosos, soubemos servir a Pá-
tria e a Sciencia, com a coragem e abnegação que fulgem nas pagi-
nas da historia.
Sala das sessões da Camará Municipal de Ponta Delgada 29 lU
Novembro de 1885.
Este documento foi escripto em primorosíssima caligrapbia pelo
sr. José Tavares Carreiro.
As suas primeiras assignaturas foram as dos dignos vereadores
do município de Ponta Delgada e as dos representantes dos dernais dn
ilha.
Depois muitissimas mais e entre ellas as do«; mais iiualificados ca
valheiros e altos funccionarios.
AHCHIVO DOS AÇORES 2 19
AGRADECIMENTO
Eii) ciu t;i particular ao si . <lr. Ernesto fio Canlo, escreveu Hober-
to Ivens:
35 —Rua íla Quintinha — Lisboa o de Fevereiro de 1885.
Ea-.""" Sr. Ernesto do Conto
As linhas (jue tomo a liberdade de enviar a V. Ex.^ servirão sim-
plesmente para accusar a recepção do delicado oíTicio que V. Ex.* se
dignou remelter n'os com as photographias dos carros triumphaes que
entraram no coitejo civico, realisado n'essa cidade em commemoração
da nossa tiavessia, e nunca para exprimir o meu profundo reconheci-
mento pela prova de alta consideração que acabo de receber d'aquel-
les, de quem tanto me honro de ser patrício.
A funda impressão que me domina, Ex.'"°Sr., nem pode traduzir-
se nos estreitos limites de uma carta, nem deve, attenta a grandeza
do facto que a inspirou, ficar escondida euti'e as duas laudas de uma
fiiissiva singella.
(>arece ir a descuberto e no conhecimento de todos por sobre o
Atlântico até essa tão attrahente terra, e em documento oííicial de per-
manente caracter, ahi evidenciar-se como tributo aos nobres sentimen-
tos que a inspiraram.
A Sociedade de Geographia de quem solicitámos este espinhoso
encargo, Ex.""" Sr., vae breve delle desempenhar-se, enviando, firma-
da por seu presidente e secretários, a expressão do nosso sentir . .
tenho a honra de me assignar de V. Ex.* respeitador e creado
Roberto Ivens.
220 ARCHIVO DOS AÇORES
Sociedade de (jieo,<>rapliia de Lisboa
.^gradeeimonlo aoM micliaelensies V'tn nome «lo8 e.iLpIora-
radores Capello e l%enA
... Sr.
ProíunílHnienlf comiiiovidos pelas hoiirusissimas manifestações
que receberam (l(t> habitantes dessa nobre cidade e do resto do Ar-
chipelago Açoriano, os nosS(»s beneméritos consócios srs. Hermenegil-
do de Brito (lapello e Roberto Ivens. de>ejani na sna muita niode>fia,
(|ue a Sociedade de Geographia de Lisboa seja a interprete da grati-
dão de (|ue se acham possuidos e que jidgam não poder dignamente
exprimir, para com os noí.sos exm."* consócios, a Imprensa, as Cor-
porações e os niais cidadãos d'essa parle tão distincta e sempre tão
patriótica e generosa da nação portngueza.
(>um[irindo gosto>amente este desejo, dos illnstres exploradoies,
e sentindo como elles que a palavra não possa e.xpiimir toda a inten-
sidade e elevação dos sentimentos que aquellas manifestações sjigge-
riram não só no animo commovido dos que tiveram a fortuna de as
merecer, n»as no de títdos os membros d"esla Sociedade. — solicitamos
a dedicação de V . . . para que na qualidade de nosso consócio e accei-
tando a de representante da Sociedade de Geogra[ihia de List)oa se
sirva em nome d'ella e dos srs. Capello e Ivens, tiaii>mittir [tela for-
ma que tenha por melhor os agiadecinientos dVlles e as nossas c(.ii-
gratiilações á briosa população açoriana e ás corpítraçõe.-» e cavalheiros
que nessa cidade e no resto do Archipelago se associaram áqjiella>
manifestações.
Queira V.. .receber os protestos de alta consideração v estima
desta Direcção.
Deos Guarde a V . . .
Sociedade, 4 de feverein) de 188C.
. . . Sr. Ernesto do Canto, digníssimo sócio CundMdnr tia .'^ocie-
dade de Geogra[)hia de Lisboa.
o l"r«'«iíl«'nl«*
António Augnsht <t Aguiar.
Ou derreta rioi»
Ln(iaf40 donh-iro.
J. P. DiiHfd Vatroin' .Inuior.
ARCHIVO DOS AÇORES 2íá |
distribuídos pelos jornalistas durante o cortejo civico
IVENS E CAPELLO'
Homenagem da Imprensa M ichaelense no festival de
Ponta Delgada em honra d'estes Beneméritos
RoLerto Ivens
Nítsceu pste illn>.tre niicli;»elení>e .« 12 (ie jimlio de 1850. ri;i ci-
dadt' (lp Ponta Delgada, na nia d(» Mpíh da fregiiezia de S. Pedio.
K>las circnmstancias. (|ne são conliecidas, rorroborain-se c'(tin as
informações dadas por sen pae o si'. Roberto Brekespere Ivens, ao
sr. dr. Henriqne Ferrenha de Paula Medeiros, de qnem é primo e c«tm-
padre, em carta de líi dOutubro de 188o, pelas seguintes palavras:
«Noto que desejam saber na ilha qual a casa em (jue o Roberto
nasceu. A rua cliama-se — Bua do Meio e a casa de (lymbron faz es-
quina {)ara ella, mas o numero e nome do dono ignoro.»
O registo civil do seu nascimento é o do termo n." 1:228 exarailo
a folhas 1:^7 do livro 4." do registo de nascimentos da fn*gue/ia de
S. Pedro d e.>ta cidade de Ponta Delgada.
No livrít n.*' íi a fctlhas 114 dos termos de baptismo ilo Arcliivo
da egreja de Nossa Senhoi-a da Oliveira da freguezia da Fajã de í'ima.
está o terruí» do baptismo religioso de Roberto Ivens, ipie teve logar
a 7 d'agoslo de 1850. Foi lavrado pelo revd.° José Miguel Borges, sen
do padrinho o sr. José Bebello Cítrdeiro.
A familia Ivens começou em San Miguel em fins d(» século passa-
ílo na pessoa do sr. William Ivens, natural de Swinbrooke, Oxfordsliire.
Inglaterra, o qual. alliando-se a duas irmãs, Izabel e Maria Anna Hi-
ikling, foi Ironco de todos os Ivens michaelenses. aclualmenle disf>er-
sos pela Europa e pela America.
Roberto Ivens euibarcftu d"esta ilha para Lisboa com >^u irmão
Kduardo em agosto de 1858. Para elles tirou passaporte na adminis-
tração deste concelho seu tio Thomaz Ivens, aos 12 d'agosto d aipiel-
(•I Numero único dum jornal, de quati'o papinas ^liiiidcs e (|u;itn) {'oluni-
iia» |)oi' pagina, tendo a primeira lies columnas, liiula cerrndura e tbrniosas vi-
nlicla? aos cantos, e todo nitidamente impresso.
222 ARCHIVO DOS AÇOBES
Ití Hiiuo. Deo se a Roberta no registo a edaile de 7 annos mas tinha
ciilão 8 e dois tiiezes.
Sen pae linha tirado passaporte para sair da ilha em 20 de ju-
nho de 1857. Neste docnmento designa-se lhe o estado de casado, a
edade de 35 annos e a ijnaiidade de negociante britannico. Era sua
esposa a sr.* D. Luiza Borralho, de 23 annos, natural do Fayal, filha
d um medico dislincto d'aquella ilha, desde njuito estabelecido em S.
Miguel onde falleceu.
A sr.^ D. Luiza liion o passaporte numero 13:285 na adniinistra-
ção do concelho desta cidade, em 22 de setembro de 1857, para se
eujliarcar com seu filho Arthnr de dois annos de idsde..
Roberto Ivens, pois, nasceu e creou-se na cidade de Ponta Delga-
da até depois dos oito annos.
Kònios tão n)inuciosos nestas circnmstancias para que de futuro
não possa haver duvidas sobre a naturalidade deste benemérito da pá-
tria.
Ha aqui diííerentes pessoas que foram seus condiscípulos no es-
tiiíid de primeiras lettras. Denominavam-no na escola — Roberto do
Diabo — em rasão da sua travessa vivacidade. Eram as juvenis re-
velações da sua individualidade ousada e intrépida, da sua compre-
liensão fácil e da presteza e correcção com que lhe acode a phrase.
Para ullimo toque da sua biographia em S. Miguel, aproveitamos
amda da caita já referida, dirigida ao .sr. dr. Paula Medeiros, o que
se segue:
«A maneira lisongeira pela qual elle tem sido recebido, tem-me
dado a mim e aos meus muito prazer e alegria; e o primo também
deve partilhar isso ponjue também tem parle ahi, pelos conselhos que
me deu quando o Roberto nasceu, pelos quaes consegui o fim que
desejava e a que eu estava completamente alheio.»
O homem, o já agora inunorlal explorador africano, tem sido nos
últimos tempos biographado por quasi todos os jornaes do paiz.
Daremos aipii as notas principaes.
Assentou praça como aspirante de guarda marinha em 22 dou-
tubro de 1807.
(Concluiu o curso da arma em 1870 e a 4 doutidjro do mesmo,
anuo foi protnovido a guarda marinha.
Passou a segimdo tenente em 7 de julho de 1875 e a primeiro
leiíente, sem prejuiso dos officiaes mais antigos da sua classe, em 20
de junho de 1877, por estar nomeado para a sua primeira exploração
africana.
Não tem tido ócios desil^" que concluiu o cinso.
ARCHIVO DOS AÇORES 223
Eli) 1870 eiiibarcon como as(»iranle para a Itidia na corvi ta Ks
tephania.
Quando voltou, já guarda marinha, apenas esteve em I..i>boa >eis
dias, partindo logo para Angola na corveta Duque da Terceira. Alli
andou no criiseiro, na estação, [)ercorrendo na canhoneira Hio Minhn
e na escuna Napier todos os pontos importantes da costa, desde .Mo>-
samedes até San Thomé, onde estava em 1871 quando o tianspotte
Martinho de Mello, pas^sando alli. o trouxe a Portugal.
N'este espaço de tem[)o prestou importantes >erviços no Congo
e em Cabinda.
No mesmo anno de 1874, já como segundo tenente, embarcou na
corveta Duque dn Terceira e foi a S. Thomé. d"alH ao Pará. Pernam-
buco, Rio de Janeiro e Montevideo.
Em março de 1876 regressou a Lisboa, partindo logo em abril
seguinte para os Estados-Unidos a bordo do transporte Índia, que alli
foi em com missão.
Em 1876 desempenhou também uma commissão de serviço ik»
mar da America do Sul. Quando dalli V(»ltou delineava-se o plano
duma exploração scientifica no interior da Africa. Hoberlo Ivens, in-
ílammado por esta ideia foi logo oflferecer-se para tomar i)arte na ex-
pedição.
Como se demorasse a execução deste plano e não sendo [taia a
ociosidade o seu temperamento, pedio para ir para a Africa servir na
estação de Angola.
Estava lá em 1877 quando a expedição coujeçou a organisar-se
com rapidez. Roberto Ivens, sabendo-o, pedio logo passagem para Li>
boa para se reunir a Capello e Serpa Pinto e seguirem juntos a pro-
jectada exploração.
Quando chegou não encontrou já os companheiros, que tinham par-
tido a 5 de junho d'aquelle anno de 1877. Ivens a[»ortou a Lisboa a 1 1
de julho e tão rapidamente se apromptou que a 8 dagosto partia a
juntar-se aos companheiros em Loanda.
Em 1880 estava de volta em Portugal com Brito Capello.
Os estudos que fizeram na vasta provincia d'Angola, os subsídios
que trouxeram á sciencia, congregaram-lhe universalmente as symi>a-
Ihias dos homens illustres e deram grande nome a Portugal.
Serpa Pinto aíTastou-se dos companheiros e fez uma das mais ar
rojadas travessias africanas. Capello e Ivens procuraram ser úteis noií-
tra ordem de explorações.
O livro que escreveram dando conta d*e^ta viagem merecetj (»>
lauréis das mais celebres sociedades de geographia do estrangeiro, co-
mo já por ellas tinham sido calorosamente saudados os seus authores.
nas exposições verbaes em que fizeram a narração de sua viagem pu
ramente scientiflca.
Em setembro d este anno regressaram os dois. Capello e Ivens.
224 ARCHIVO DOS AÇORES
íla travessia que fizeram alravez de mil perigos, traçando um cimiiniio
commercial de Ln;uida a Aloçambiíjue, ua extensão de i:oOO milhas, a
terça parle da qual atravessando regiões totalmente desconhecidas.
Liga->e tão alta significação a este facto, (pie o mundn inteiro ap-
plandio ariienlemente os valentes que o realisaram e tem dispensado
as mais subidas honras á pátria destes heroes.
A' ex[>ressão scientifica do facto associa Portugal uma alta signi-
ficação politica. Respondeu nobremente aos desdéns com (]ue foi trata-
d() o fíosso paiz na conferencia de Berlim o anuo passado.
Por isso a nUnA nacional se exaltou em amoraveis expansões re-
cebendo triuuiphalmente os dois que com tanianho arrojo e brio a le-
vantaram nos escudos da admiração universal.
«Beijemos lhe as mãos eu) nome da pátria»
escreviau) os mais distinctos jornalistas continentaes na véspera de sua
chegada a Lisb>a, e acrescentavam:
«Ensinemos os seus nomes illustres aos mais obscuios sertaiie-
jos».
Roberto Ivens, o michaelense immoital, e Brito Capello, seu glo-
I itiso companheiro, são o assumpto da festa mais apparatosa e mai^
significativa que se tem visto em Ponta Delgada. E de consagração da
gloria dos dois beneméritos!
Roberto ivens neste momento histórico e uma das celebridades
em que mais se fixam as attenções do Uiundo.
Mais do que o mundo o devemos fixar nós. seus irmãos pelo san-
gue, pelas crenças, pela pátria e [)elo amor.
Demonstramo-nos dignos deste estreito parentesco.
A ilha de S. Miguel, ufana e reconhecida, abraça o seu lieroe, af-
firma-lhe a gloria e saúda
Roberto Ivens
Fnnuisfo Maria Sufrico.
ARCHIVO DOS AÇORES 225
Briío Capello
Ao nome de Roberto Iven> anda intimamente ligado o de Brito Ca-
|)ello. Os dois cumo que constituem uma só individualidade.
Nã<i nos permittindo o espaço falar de Capello com a devida lar-
gueza, daremos da sua biographia os mais concisos traços.
Nasceu Hermenegildo de Brit(j Capello em 1839 em Almada.
Assentou praça de aspirante a guarda marinha em 28 de setem-
bro de 1853.
Estudou distirictamente as cadeiras da Escola Polytechnica n'aguel-
le tempo incluídas no curso geral da arma de marinha.
Concluindo o curso da Escola Naval foi promovido a guarda ma-
rinha em 20 de junho de 1861. Passou a segundo tenente graduado
em janeiro de 1802, e a effectivo em dezembro de 1863. Em março
de 1874 foi promovido a primeiro tenente; e a capitão-tenente em 1877,
sem prejuiso dos oíTiciaes mais antigos da sua classe, por ser nomeado
para a sua primeira exploração africana.
Teve mais quatro irmãos todos muito distiuctos.
Félix Capello, já fallecido, foi naturalista qualificado. São muito
íjotaveis os seus trabalhos sobre a fauna portugueza, publicados pela
Academia Real das Sciencias.
João Capello, é director do observatório do Infante D. Luiz. Tem
nome muito respeitado fora do paiz. Nos congressos e conferencias
meteorológicas tem representado um papel extremamente honroso pa-
ra elle e para a nação.
Guilherme Capello. é um de nossos primeiros ofíiciaes de mari-
nha, e no desempenho de importantes commissões tem sobremodo il-
lustrado o seu nome.
Augusto Capello, o mais novo, também meteorologista eminente,
por amor da sciencia, condemnou-se a viver na solidão dos píncaros
da Serra da Estrella, em modesto observatório para estudar o clima
d'aquella região.
Hermenegildo Capello, é um espirito por egual temperado para
as grandes luctas dos tempos modernos e para os árduos trabalhos de
investigação scientiflca.
Como oííicial de marinha valente e hábil, conhecedor de toda a
sciencia da sua profissão, ninguém o vè trepidar perante o inimigo ou
perante a furla do mar. Sempre o mesmo, qualquer que seja a situa-
ção a que o chame o dever.
Homem de aturado estudo no gabinete, possue vasta erudição nas
sciencias phisico-naluraes, nas mathematicas, nas geographicas e noií-
tros ramos do saber humano.
Tem passado na Africa o melhor do seu tempo, preferindo os
N." 4o— Vol. YIIl— 1886. .>
226 ARCHIVO DOS AÇORES
itiCíimiiiodus díiís yrílnas conrimissues alli, ao viver tianquillo da Eu-
ropa.
É um dos qiie mais serviços lem prestado no Coiíliiienle Negro.
No artigo em que se trata de Robeito Ivens se f;izem referencias
a factos commim> aos dois. e ipie completam o r;i[)i(lo quadro biogra-
phico de Brito Capello.
Francisco Maria Sifpico.
Bento de Góes
Hoje que na cidade de Ponta Delgada se expandem os vivos s» n-
timentos de admiração e enthusiasmo dos micliaelenses pelos arroja-
dos e brilhantes feitos de \,m seu illustre filho, não será lóra de pro
posito rememorar em brtvissimos traços os notáveis feitos doutro mi
chaeit use benemérito.
pode a pequena ilha de S. Migu» I ufanar-se de ter sido mãe de
dois notáveis e mui distinclos exploradores. Bento de Góes no século
XVU, Roberto Ivens, no actual!
É tão restiicto o numero das celebridades desta espécie, que S.
Miguel, eui i elação á sua população, pôde consideiar se como a mai.s
bem favorecida na partilha.
Ríberto lven> atravessou a Africa, Bento de Góes a Ásia! Ambos
porém lev.mtaram o espesso véo (jue envolvia aijuclles contiuente>,
resolvendo problemas de grande alcance scientifico! Um. armauo de
modernos instiumentos e de a|>ropriada instriicção, o outro de zelo e
fé, caminharam denodados atravez de mil perigos, percorrendo amb«is
a n)esma distancia. 4:00í) kilometros!
*
*
Bento de Góes, tendo nsscidn em Villa Franca do Campo. j)rin-
cipal povoação de S. Miguel, por \l)ia:í, passou em veides ânuos á
Índia em cata de aventuras, (jue o seu animo irrequieto lhe impunha.
No serviç(» miitar passou t( rmentosa mocidade, até que. coFitri
cto e arrependido, se fez coadjuhir lem[)oral da companhia de Jesus.
e n'esta qualidade prestou um relevante SfMviço a Portugal, dissuadiu
do o Gran-Mogol de proseguir no intento de expfllir os porluguezes
das possessões da índia. Não foi porém est»' o feito principal da sua
vida. Outro mais im[)ortante lhe f*>i confiado— o de atravessara índia
até ás fronteiras da Gliina. Escolhido por seus superiores, atteuta a sua
inteiíeza de caracter, provado talento e ]»erfeito couhecimentn da lin
ARCHIVO DOS AÇORES 227
goa persa, .ilern do rlole especial do captar a benevolência d'a(|uelles
com quem (lacl.iva, parliu Bento de Gocs disfarçado em neg(íciaiile ar-
ménio. Salil » »le Agra em oaliibru de 1602 e de Lahore, capital do
(iran Mogol, em Ij de fevereiro do atmo de 1603, incorporado n'ii-
ma grande caravana de mercadores. Longa foi a viagem.
Só seis mezes depois cliegon a (>abon[. ten lo padecido muito a-
travez das frias montanhas do Himalaya, sendo de imminente perigo
de sua vida, se os fanáticos companheiros descobrissem a sua religião!
Prosegnindo na viagem por paizes inhospitos, experimentando toda a
espécie de contrariedades, ora abrindo passagem por meio das armas,
ora despojado de todos os haveres, só em 1605 chegou á grande mu-
ralha da (Ihina e ptuico depois á cidade de Sou-tcheou, aonde contava
receber licença para ir a Pekin, que debalde esperou quasi em capti-
veiro, até que, exhausto de forças, perdeu a vida aos 11 d'abril de
1607. Poucos momentos antes é que recebeu a visita de um seu con-
frade, enviado de Pekin pelo p.^ Ricci para o conduzir áquella capital.
A importância desta viagem só se pôde bem avaliar, transcreven-
d() as palavras do sábio geographo alemão Karl Ritler, o qual diz de
Bento de G(ies: n encarregado heroím da difficH missão de abrir o ca-
minho continental, eotão de todo desconhecido, da índia ao Calhayo por
Caboiíl, Kachgar, Yeiken, Aksu e Khamil (Hami) . . . caminho notável
i/ite explorou, mas que até ha pouco não fora ainda devidamente com-
prehendido e explica lo».
Para mais amplas noticias d esta notável expli>ração, remetlemos
os leitores para o — volmne II do Archivo dos Açores, paginas 196
e seguintes.
Ernesto do Canto.
(Pelo Archivo dos Açores).
Poema novíssimo
llysses sulcando os mares de Ithaca a Tróia, de Tróia á ilha de
Circe, d esta á de Calypso, e naufragando por junto da dos Cyclopes,
inspirou a Homero o primeiro e o mais assombroso dos poemas.
Eneas. lavrando as ondas de Tróia ao Lacio, evitando as syrtes
para ir fundar o reino que dominou o mundo siiggeriu a Virgilio o li-
vro de encantos chamado Eneida.
Vasco da Gama, abalançando-se a mares desconhecidos, dobran
do o Cabo das Tormentas, dando á pátria novos empórios, persuadiu
a (^lamões o poema dos Lusíadas arca santa do amor da [latria do mais
leal [iorluguez.
228 ARCHIVO DOS AÇORES
D'anles con ia-se o risco de encantamentos e magias dos descan
tes das sereias, dos gigantes devoradores, de Scylla e Carybedes, do-
naires lie Calypsos e ferocidades de Adamastores: tudo quanto creou a
imaginação humana aclia-se hoje apontado nos mappas da navegação,
porque o homem havia poetisado os perigos reaes dos oceanos.
As quilhas dos lavradores dos campos liquidos abriram sulcos por
entre as vagas, que os instrumentos náuticos tornaram indefCveis.
Restava navegar pelos oceanos das terras ainda desconhecidas :
isso fazem os modernos exploradores, deixando as pegadas a marcar
caminhos por sobre brenhas e florestas e pântanos.
Começa a escrever-se o poema definitivo da humanidade, livn» su-
blime em que cada verso assignala uma vicloria do homem sobre a
natureza. Ditosos os que como Ivens e Capello podem assignar uma
estancia d'esse poema cujos cantos se hão de intitular — as sciendas,
as industrias, o commercio. a agricultura, o trabalho, a fraternisação
dos povos, a paz tinirersal: poema em que as rimas poderão reduzir-
se a duas — Humanidade, Fraternidade.
(Do Açoriano Orientai).
As guerras da paz
Cale-se d'Alexandro e de Tra.iano
A fama da? victorias que tiveran)
Camões.
A fama das victorias marciaes já não é o que mais engrandece os
povos.
Os grandes feitos d'armas deixam de ser cantados como eslrophes
mais brilhantes dos poemas celebres.
As guerras são ainda um cruel argumento para decidir capricho-
sas pendências de ambiciosos potentados, mas estão condemnadas pe
la infallivel jusliça da humanidade.
E' sympathico o paiz fraco sacriíicando-se até ao esphacelamento
para manter os seus brios e zelar os foros de independência e integri-
dade do território.
A Hespanha. por exemplo, esteve agora próxima d uma dessas
phases. Ferida no seu timbre cavalheiroso pela bellicosa cubica alle-
mã, preparou-se para todos os eífeitos duma lucla cruelissima sem
cogitar no numero dos enormes exércitos do chanceller de feiro.
As nações, com(» <»s individu.>s, ou morrem ou se desaggravam
quando ultrajados nos seus foros e regalias.
ARCHIVO DOS AÇOHES 229
A causa dos fraros cougroga sempre nniversaps adfieivnpias. O
sobi^ecenho dos arrogantes nos seus abusos do puder e da força sò
provocam a execração.
Estas são as guerras ccMidemnMdas. as que são provocadas pelos
potentados para humilharem os que o não são.
Nós, os portuguezes, não luctámos com a França quando nti> j(»-
gou o atroz insulto da Charles e George. Éramos pequenos e demasia-
do fracos então. Em taes condições, a lucta seria o termo do noss(>
aniquilamento. Appellámos para a justiça providencial, e não se tVz
ella esperar. Assim, pudemos, reanimar forças, levantar-nos do le-
tliargo e reviver para continuarmos a nossa missão civilisadora.
A França enterrou as águias napoleónicas nos lagos sanguíneos
de Sedan; e a Inglaterra, que por nós tinha obrigação de erguer a
luva afTronlosa que nos fora arremessada, pagou caro a sua cynica
iiidiflferença, pois com isso coincide o empallidecimento do fulgor da
sua estrella de felicidade.
Nós mesmos fomos causa de que em Berlim se manchasse de
lama o Leopardo da sua bandeira, que era dantes o assombro das na-
ções.
*
* «
A guerra ha de ser morta pela guerra.
O que era no século passado sonhadora utopia dum pouco mais
do que obscuro padre francez — a solução diplomática de todas as con-
tendas internacionaes, ha de realisar-se pelo caminhar das sciencias,
das artes e das industrias.
Essas machinas monsliuosas de destruição-- os inuuensos coura-
çados—em que se tem esterilisado o melhor das forças activas das
grandes potencias, ameaçam-nas de lhe tirar todo o valor bellico umas
embarcações pequeninas conduzindo alguns torpedos destruidores.
As espingardas tem já laes alcances, que a mira aos alvos é im-
possível. Assim, acaba a sciencía dos Turennes, dos Frederícos. dos
Bonapartes e Wellingtons.
A'manhã será realidade o (|ue é hoje apenas tímida aspiração.
Então a fama das victorias aclamadas ao tn^ar dos baluartes, dei-
xará de ser registada nos annaes das nações.
Mas ha de n elles assignalar-se para todo o sempre e esplendida-
mente, a fama das c(»nquislas em que aproveita a sciencía e em que
utilísa a humanidade.
As guerras á ignorância é cpie hão de ter a sua eterna apottieose.
Os feitos praticados á sombra da paz. aquelles em que os inarty-
230 ARCHIVO DOS AÇORES
res se cuiòam de myrtiios offerecidos pela gratidão universal, com es-
ses é qiie se hão de escrever as radiosas e immoredouras paginas de
gloria.
Pertence aos d'esta classe o feito praticado por Ivens e por Capello.
São triles da tempera dos lieroes a quem o nosso poeta gigante
consagrou os versos:
Cessem do sábio grego e do Troyano
As navegações grandes que fizeram
Não descobriram mares porque por todos elles ensinámos cami-
nhos á navegação.
Foram-se a descobertas não menos diííiceis. nem menos tormen-
tosas^ _as de terras ainda ignotas, abi indo caminho extensissimo atra-
vez do Continente Negro, que leva direito á conquista de thesouros
Ião valiosos como se não pôde prever desde já.
Com elles. com os nossos heroes, caminhou a sciencia; ha de se-
guil-os a lé; irão depois o commercio e a industria; irão todas as for-
ças vivas dos povos; e teremos um mundo novo formado para a com-
prehensão de tudo o que é grande.
Htirrah, pelo nosso paiz que se enaltece por tal feito !
Hiinah, pelos intrépidos que puzeram as vidas a preço d'esla
gloria !
Hurrah, pela confraternidade universal!
Novembro, de 1885.
(Pela Persuasão). F. M. Sttpico.
Exploradores africanos
(Extracto dum relatório ã Junta Geral do Districto)
A alma nat-ioml revive e exp.nule-se, iiiflam:nando os corações
p(»ittigue/.es pa!-a ousados em|)reliendimenlos de civilisação.
As antigas p honradas gjoiías da nossa nacionaliilade tiveram por
p('(lesl;il ;ís i|ni!h;ís de nossos gali^õcs. a intrepidez de nossos navega-
dores (' os it^merarios ;irrojos com qne diívassavam caminlios alravez
(los coiilineiites ignotos, como dos mares iniiica díoites navegados.
Se lionve nin largo parenlhesis em nossa heioica epopeia, que se-
iiii'lliava o etfiiio adormecer d iini povo aniorlalliado nos restos da ban-
(iena, (|ne lóra syn)liolo augusto dos ni.iis altos IViíos, esse parenthe-
sis t't'chon-se e novos crmlos cgiialnieiite suhlitncs se estão acre.scen-
tando ao imsx» imniortal poema.
ARCHIVO DOS AÇORES 231
Aimlíi liii |>unco lios tMictiiíUii de síircasinns ?is pnteiiciíis niniores,
cofilieceMirlo-tios apenas g^-ogiapliicainente «omit fava pe(|uenis>inia ims
extremos dccideiilaes da Europa.
Mas em Anliíeipia surprrhcndcmos a Kiirit[)a em univtjsal cei ia-
ine do trabalho eom a nossa exposição colonial; c regressaram dAfii-
ca dttis peregrinos da santa romagem das desciibirtas, tendo dt svni-
dado ao mnnd(t 1:500 milhas do (^ontint-nte N>gro tolalmenle desco-
nhecido, e ensinado nm caminho conimercial de 'i:500 milhas. de>de
Angola até Moçamhiiine. os limites exteriores d um grande im[>erio,
(jue ousou conceber e poderá fundar a alma nacional!
DesaíTrontamo nos a>sim e é assim que nsam desaggravar se o-; ge-
iieroKts e os grandes. Admiiam-iios agitra aijnelles mesmos ipie ainda
ha pouco apenas sabiam deprimir-nos.
Exalta-se radiosa a nobre alma da nação!
O (laiz inteiro, entoando os mais calorosos hymiios de enlhnsias-
mo, saudou aquelles intrépidos romeiros Hermenegildí» ile Brito (a
l»ello e Hoberto Ivens, [lor elfeclnarem a mais notável travessia ahica
na que se regista nos archivos da sciencia.
Keconlieceu e aííirmou assim, que é por esh's feitos e não pelos
ardis da di[)lomacia, ou [jelas audácias da espada, que uos C(»nliniia
remos a engrandecei'.
E o entliusiasmo nacional não podia deisar de conununiiar-se á
Ilha de San .Miguel, (jue em todos os tempos t^m tido larga participa-
ção nos successos de glorificação nacional.
Fadada lambem para continuar as suas antigas e uobies liadi
cções, nas qiiaes se assignála o nome do illustre villa franquense Ben-
to de Góes. como ex})lorad(»r asiático, succede que é seu ciinterraneo.
nascido n"esla cidade em junho de I80O, Robeito Ivens. um d aipiel
les que pelos titnios n>ais ligilimos acabam de inscul[»ir os nomes no
eterno bronze da historia.
Prepaiando se esta terra para lambem prestar aos dois as homena-
gens de grande admiração e alto reconhecimento, parece-nos interpretai
bem os patrióticos sentimentos desta Junta, propondo ijue ella. como
a mais legitima corporação representativa do Ôistrich), se associe á pu
blica ex[iausibilidade tomando parte nas projectadas manifestacõfs.
0 modo como, resolvei o ha vossa sabedoria.
1 de novembro de 1883.
F. M. Sn/hio.
(I*ela Gazela da Relação).
A Junta Geral resolveo fazer-se representar no coilejo civico do
dia 29 pelo se(t presidente e pela commissão executiva: e votou a ver-
ba de 3005000 reis para auxiliar a parte commemorativa do festiva!.
232 ABCHIVO DOS AÇORES
O festival de hoje
Portugal, liús lodos, empenhamo-nos n uma das mais justas apo-
llieostís do trab.illio, do S(»ffrimento, da lieroifidade pela benemerenria
civica.
Brito (>apello e Roberto Ivens, d>)ns eméritos exploradores afri-
ca iios. representam no actual momento uma gloria egual à que nos
alcançaram os nossos lieroes da epopéa antiga, (pie dilataram peias
liescobertas e conquistas os dominios d esta iilu^tre nacionalidade.
Obedeçamos, pois, ao nobre exeniplo que resalta da sloica abne-
gação com ipie os mais generosos filhos de tão nobre pátria alFirma-
ram e allirmam que sabemos ter a compreensão das differenles civi-
lisaçõtjs, nos antigos como nos hodiernos periodos históricos.
Lição edilicaiite é fsta, que agnra se nos offerece, em que frater-
ni>am pobrns e licos, sábios e ignorantes, acciamando com todo o seu
etithusiasmo os lieroes de>te festival. O seu exemplo, pois, ficará per-
durável, alentando nos, estimulando-nos, e incitando nos a fundirem-se
os esforços communs para não mentirmos aos fastos e Iradicções glo-
i-iosas da pátria, e á grandeza dos serviços prestados pelos seus maio-
les filhos.
Assim, e»tas festas civicas em que empenhamos todo o valor. dos
ni^^^sos júbilos espontâneos, todo o brio das nossas gratidões impere-
cedouras, ao mesmo tempo que nos divertem, obedecem ao systema
H ao metliodo de uma escola pratica e utilíssima para o desenvolvi-
iiíi-nto da mentalidade social.
(Correspondem, sem duvida, ao desafogo de um sentimento de al-
truísmo (pie ha de ser n um próximo futuro, esperamos, aproveitado
como turca impulsionadora do verdadeiro progresso intellectual e ma-
terial pela associação de todas as actividades, satisfazendo assim aos
mais elevados ideaes civilisadores.
Ao mesniíj tempo predispõem os cidadãos para o bem da pátria
pelo consciente e proficuo exercício das liberdades publicas.
C-onvenj, por tanto, á mutuidade de interesses não perder um sò
dos muitos ensinamentos que nos dá o coitejo civico d este dia, que
tem a alta significação de re>peito de individuo para individuo, de col-
lectivade para collectividade pela forma porque congraça a todos, tra-
zendo os espiritos das diíTerentes classes e corporações presos a um
mesuio objectivo, obedecendo a uma expansão egual e a um dever im-
posto |H'las necessidades do transformi>mo, que se opera pela evolu-
ção que a siMencia e o trabalho estão produzindo, aíim de atlingirmos
a um estado mais perfeito.
O trabalho da intelligencia. consociando-se ao trabalho rude do o-
perario obscuro, 1'nrmam. entre si, esse conjnncto de symijolos que
mo>ir.i a allianca harmónica da ubra humana.
ABCHIVO DOS AÇOHES 233
E\ por isso, que o concurso cominuiii dos enlhusiasmos equiva-
le nestes festivaes a largos passos andados na senda do progresso,
pelas noções t\\w lirnia em muitos espíritos, pelas irradi.ições de luz
(jne faz sobre.Nair e fecundar as vantagens das grandes associações de
trabalhadores.
Compenetrem se, pois, os operários de todas as classes d'esta
verdatle apurada na bella lição a (jue hoje assistem e para a qual já
muitos prestaram um tão valioso concurso de energias, de vontades e
de sacrifícios.
Formem-se, por tanto, as associações de classe; e pela força que
delias derivará ha de necessariamente chegar-se a resultados mui prá-
ticos e seguros, que ensinarão aos que trabalham a melhor compreen-
derem o exercicio dos seus labores e a serem mais previdentes para
se acautelarem das contingências da miséria, procurando tirar todo o
proveito possível dos productos da sua actividade.
Esta solemnisação deve sobretudo carecterisar-se n"este sentido.
Tavares de Resende.
(?eh redacção do Novo Diário dos Açores).
Um voto sincero
Também vimos em nome do povo que representamos na impren-
so prestar a nossa humilde homenagem n'este faustoso dia ao michae-
lense Roberto Ivens e ao seu companheiro da exploração africana Her-
menegildo Capello.
No concelho da Povoação predomina a vida agrícola.
Ora aos agricultores cabe-lhes uma parte importante n'este fes-
tival.
E elles representam uma das mais distinctas (^lasses em que a so-
ciedade se divide, porque a agricultura constitue sem duvida uma das
mais solidas bases de todo o progresso.
Basta considerar se que a. agricultura é a mãe do commercio, pa-
ra logo se compreender quanto ella vale. e quanto deve orgulhar-se da
representação que lhe cabe ter nos regosijos que hoje animam todos os
trabalhadores.
Desejamos sinceramente que estes regosijos realisem para ella e
para todos verdadeira importância pratica, para que as condições de
existência dos operários dos campos tenham alguma melhoria, como
incentivo e estimulo a continuarem a prestar á pátria os valiosos ser-
viços que tanto devem estimar-se-lhes, e por modo a pouparmo-nos a
N." í5~Vol. VIII -^ 1886. 6
234 ARCHIVO DOS AÇORES
vel-o:r abandonarem o nosso ubérrimo solo, a troco de mellutres van-
t.igens offerecidas entre estranhos, em li)ngin:|uas terras; e emfini qnè~
da ultima travessia da Africa resulte abrirem se novos mercados con-
sumidores dos nossos productos agrícolas.
No interesse commum façam se reciprocas concessões entre o u-
perario e o agricultor, porque assim convém e é necessário.
Animem se uns e outros de um espirito de reciproca e equilati
va vantagem na prestação e troca de serviços.
Protejam se, pois. E a onda da emigração hade cessar necessa-
riamente, em essa generosa associação de civismos chegando a produ-
zir a conciliação d(»s interesses da classe — una e amiga — dos agricul
tores e simples operários do campo.
Tal é o voto qne fazemos neste dia solemne em que todos os em-
blemas (io trabalho se offerecem em culto social, como demonstração
de vida nova e rejuvenescimento da pátria.
Assim entendemos prestar a nossa homenagem de gratidão aos
dons intrépidos exploradores scientificos, qne nesta hora estão rece-
bendo das academias mais doutas da Europa, os applausos que mere-
cem pelos serviços íjue vêem de prestar á civilisação e á humanidade.
(A redacção da — Auroro Poroacense.)
O cortei o e a commeinoraçao
Pode parecer ao povo qne o remate do trabalho dos nossos arro-
jad(js exploradores Ivens e Capello, é a glorificação dos seus nomes
por festas e commemorações; nós continuaremos a clamar-lhe que isto
é apenas o inicio do que nos compele a nós fazer, para corresponder-
mos á sua dedicação patriótica, para utilisarmos os sacrifícios que fi-
zeram pela pátria e pela humanidade.
Somos, talvez, importunos e inopportMiios, mas a nossa desculpa
está nos bons desejos que alimentamos, porque as travessias d"Africa
não sejam apenas um luxo e os festejos uma vaidade nacionaes. Não
é fiara isso que se sacrifica dinheiro e vidas preciosas; não é só aos
governos (|ue compete a iniciativa da cítlonisação e exploração com-
mercial ou agrícola d.Xfrica: CA)mpete, [irinci|)almenlt'. ao paíz. e ás
associações [)articulares.
Os festejos e as commemorações estinuilam a novos emprehendi-
inentos, levantado o espírito publico nesse sentido, e recompensando,
moialmefiie ao menos, os que se dedicam a taes conmieltimentos: mas
não basta que se rasguem os falos dos exploradores nos espinhos de
ARCHIVO DOS AÇORES 23S
tutlas MS naturezas que erriçam aquelles sertões, não basta que se des-
cubraiii as origens dos cursos dagua, os lagos, os montes, as bacias
hydrographicas, que se devasse em fim para a sciencia, os seios ubér-
rimos deste vcllio, mas escuro mundo: é preciso, é esse o fim a que
visam es^es trabalhos, que o conjmercio, a agricultura, a exploração
mineira, a civilisação, em fim, abra ao mundo os tliesoiíros que elle
encerra.
Permutar os productos que os povos dWfrica extraliem da terra
ou utilisam dos despojos dos animaes, pelos que a industria europeia
cria para desenvolvimento e commodidade humana, é o primeiro pas-
so; explorar as minas que as circmnstancias de jazigo e de transporte
permiltam, (i segundo; aproveitar a fecundidade daquelles teiienos
(|ue o arado e a enxada ainda não rasgaram, o termo da nossa em-
preza de colonisação.
É pelo commercio que havemos de trazer a Africa ao convívio
humano, trocando-lhe por objectos de valor í)bjectos <le alimentação:
agazalho e commodidade, tornando-os d'est"arte de[)endentes e tribu-
tários da civilisaÇão, e estimulando-os ao trabalho pelo desejo de pos-
suírem os productos europeus, pela exploração do sub-solo e do solo,
pela industria extractiva e agrícola, podemos, depitis, utilisar o traba-
lho daquelles povos e educal-os para a vida industrial e agrícola.
Ivens e Capello fizeram da sua parte o que a pátria exigia da sua
aptidão e dedicação, elles offerecerarn o socego. a saúde e a vida,
que tudo arriscaram, à salvação da pátria, quer a encaremos pelo la-
do moral — a honra nacional; quer visemos á regeneração económica
e financeira — indicando thesouros á industria particular e fontes de
leceita á fazenda nacional: quer olhemos á questão politica — dando-
nos destino, razão e força de manter a nossa autonomia.
O paiz parece enti'ar na comprehensão deste grande serviço pelo
modo por que se levanta para glorificar os que o levaram a cabo; mas,
se o paiz não corresponder a esse serviço — utilisando-o, nem a honra
nos ficai'á deste facto; porque mostramos ao mundo que somos um
povo gasto e degenerado, mais digno de viver em Marrocos do que
n'este pequeno extremo da Europa d'onde os nossos maiores desço
briram e avassalaram os mundos.
(A redacção da Republica Federal).
A travessia de Africa por Capello e Ivens, veio affirmar á Europa
o fervoroso amor da nossa independência, e a integridade da pátria.
236 ARCHIVO DOS AÇORES
Na vasta galeria das nossas glorias nacionaes estão, a par dos
de.-cobridores do século IO, os vultos sympatliicos de Capello e Ivens.
Os tributos de iespeit(j e as homenagens de admiração que hoje
se prestam aos dois heroes Capello e Ivens, são um incentivo para
nijvas e arrojadas empresas, que engrandecerão a pátria, e lhe resti-
tuirão o passadit nome,
(A redacção do Nolmarista.)
Kil)eira (irande.
Uma licao
A bandeira portugueza tremulara victoriosa em t(jda a costa d A-
frica, sustentada pelo valor guerreiro dos grandes lidadores. Aqui le-
vantara-se imi presidio; alem assentara-se uma colónia; mais adeante
conquistara se um reino: e o que o valor das arnias alcançara, conser-
vou-o a mansidão dos costumes portuguezes.
Fomos o primeiro povo colonisador, porque ao arrojo de guerrei-
ros S(jubémos aliar a prudência destadistas.
Em quanto nós conservávamos sem esforço as nossas colónias, as
outras nações da Europa, insultando nos com o apparalo da sua força,
arruinavam-se com o abuso d'ella.
Quizeram dar-nos lições de colonisaçãíí, e despovoaram as metró-
poles creando poderosos exércitos coloniaes.
E nós que fizemos? Chamámos Capello e Ivens, e dissemos-lhes:
Ide ! mostrai aos orgulhosos que a raça dos heroes não niori-e ein
Portugal !
Pagai-lhes a lição indo inermes, sós, sem exercito, desfraldar en-
tie os povos mais aguerridos d"Africa a bandeira das quinas! ide con-
quistar, não as terras que são propriedade singular, mas a verdade
scientifica, e as relações de commercio!
São assim os heroes dhoje. Ás luctas da fort-a bruta síiccederam
as luctas incruentas do trabalho: aos combates das armas, os da in-
telligencia; ás ávidas vistas do concjuistador as benéficas ambições sci-
entificas.
Poiam: e aqiuMles homens venceram sem matar, e voltaram cii-
bertos de gloria.
A pátria, olhando para o ceu que encerra os arcanos do seu fu-
liuo e vendo brilhar alli — estrellas de {)rimeira grandeza -os génios
ARCHIVO DOS AÇORES 237
heróicos de (iíipello e Ivens, abre-llies os braços em plirenetico en-
thusiasmo e regista-llies os nomes no livro donro dos seus filhos be-
neméritos.
Estava dada a ligão.
([)a redacção (h Diário de Anmwdos.)
Capello e Ivens
Entre as condições necessárias para a existência e manutenção da
soberania d'uma nação, é uma das principaes o conhecimento do es-
pirito da epocha que atravessa.
Como individuo ante a communidade, tem uma nação o dever de,
conhecendo as phases de civilisação por que vae passando a Humani-
de, satisfazer aos preceitos que lhe impõe, perante esta, a solidarie-
<lade humana. Do contrario torna-se desnecessária a sua existência e
como tndo o que é inútil no universo, c(>rre fatalmente a abysmar-se
no nada.
E hoje principalmente em que toda a Europa é o theatro de si-
gnificativos acontecimentos que são o pronuncio de grandes tran-foi'-
mações sociaes, é mais do que nunca indispensável a energia nacio
nal manifestada na concurrencia para o desenvolvimento dos progres-
sos humanos.
E' aqui especialmente que se avalia o alto alcance da travessia do
continente negro, levada a efTeito pelos dois eminentes porluguezes
Brito Capello e Roberto Ivens.
Levantando-se estes airojados exploradores a prestar, antes do
que á Pátria em particular, um serviço relevantissimo e immoi redoiro
á civilisação univei'sal, concorrendo para os progressos da sciencia e
elevação do nivel moral dum povo que vive sem luz e na desgraça,
deram um formal desmentido ás aílirmativas desses que dizem ter
sido o povo porluguez \m\ bom elemento de civilisação nos tempos do
direito da força, mas incompativel para sustentar os progressos actiiaes
e inapto para solidarianiente concorrer para a direcção d'aqnelles, ,se
gundo o ideal moderno.
Mostrando estes dois heroes á Europa que somos digíios do pre-
sente como o fomos do passado, mais um documento ajuntaiam aos
que estão destinados a fazer valer perante o futuro o direito da nação
portugueza á sua soberania.
E de tanta valia como este são bem poucas as nações enropeas
que o apresentam.
Fazendo os dois beneméritos porluguezes. cotno se vè. com que
238 ARCHIVO DOS AÇORES
lios tornássemos dignos de toda a Europa, tornaram se dignos do nos-
so respeito e liomenagem. Conservando aquelle e rendendo-llies esta.
não fazemos mais do (jue praticar um dever de gratidão. Portanto —
avante! e
Vivam Capello e Ivens !
Francisco Cardeiro.
{Tio Braz.)
EIA AVANTE!
No cortejo cívico a Capello e Irem
Despertai, Portugnezes! que a Sciencia
Desprezou para sempre a indolência
E condemna a apathia f
Despertai ao c'rôar-se o Heroismo
No Templo Sacrosanto do Civisnio,
Despertai n'este dia I
Levantai-vos do torpe abatimento
E caminhai a ver o incitamento
— Estimulo ao Futuro!
— Apotheose brilhante dos Heroes
Que fulguram no céo quaes outros Soe
Em dia claro e puro !
s
Uni-vos aos cultos do Progresso
Que saúda os Heroes no seu regresso
Da lucta audaz, ingente I
Uni-vos à funcção que immorlalisa
Aqnelles que a Sciencia preconisa
No Futuro e no Presente!
Novos Leviathans da Humanidade
('onseguiram romper a escuridade
Dignotas regiões!
E por isso que Ivens e Capello
Recebem do Universo inteiro, nm bello
Concurso d'ovações !
ARCHIVO DOS AÇORES 239
Procurai imitar os Immortaes
— Os Alhleías dos feitos nacionaes
Coroados de gloria!
Tiaballiai para mais acrescentar
Os nomes que ninguém pode olvidar
Da vussa Lusa-Historia !
Purlugiiezes! eia avante! caminhemos!
E nesta apotheose estimulemos
Os homens d'ãmanliã !
E. desfraldando o Lábaro das Quinas,
Convertamos a Pátria das rninas
Em nova (]anaan! . . .
Dezembro — 1885.
Manoel Duarte.
VENS E CAPELLO
DOIS SYMBOLOS
Desfraldn-se ovante a bandeira da pátria.
Glorificamos hoje aquelle symbolo augusto de nossas crenças mais
intimas, de nossos affectos mais santos, no immenso e festival concur-
;;o de todas as forças activas da intelligencia e do trabalho.
Acrescentaram-lhe irradições explendorosas dois beneméritos por-
tuguezes, Brito Capello e Hoberlo Ivens, coroados de louros pela sua
travessia dWfrica, que os eleva ao fastígio das honras conferidas pela
;.dma universal da humanidade reconhecida.
Levanta-os também nos escudos da immortalidade a ilha de S.
Miguel.
ROBERTO IVENS, é nosso irmão fielo sangue, pelo coração e pe-
los altos estimulos do amor da pátria.
Nasceu em Ponta Delgada em 1850. O nosso formosissimo sol il-
luminou-lhe os dias da primeira idade e fecundou-lhe no peil(» os ger-
mens das grandes aspirações.
O seo nome será lambem inn symbolo dos lemerarii»s arrojos e
das e.\tremas dedicações civicas.
240 ARCHIVO DOS AÇOBES
Saii(lamol-o nos nillos fia nussa admiração e nas bênçãos do nos-
so amor.
Pelas solidões dos desertos, pelas espessuras das brenhas urdi-
das dos mais agudos espinhos, nas ardências do sol africano, nas lu-
ctas com os tigres, com as pantheras e com os leões, só leve a alen-
tar lhe as forças e a inflammar-lhe a coragem, o symbolo venerando
de nossas glorias antigas, o palladio augusto de nossas novas conquis-
tas de civilisação e de liberdade I
Hnrrah, pela immacniada bandeira d'Ourique e d'Aljubarrotal
Hurrah, pelo grande michaelense ROBERTO IVEiNS!!
Ponta Delgada, Dezembro, 1885.
Francisco Maria Siipico.
SIGNIFICAÇÃO E FINS DO FESTIVAL
Esquecimento das dissenções de escolas, formação dos Iropheus
pelas bandeiras politicas em. homenagem aos pendões symbolicos do
trabalho.
Tréguas ás discórdias pessoaes e de classes, ás pugnas partidá-
rias e ás contenções religiosas.
Tal é a significação d'esta apotheose.
Resultado pratico: firmar-se o principio da solidariedade huma-
na, iniciando-se escolas e associações de trabalhadores.
E' esta a maior glorificação ao michaelense Roberto Ivens.
Tarares de Rezende.
AS FESTAS cívicas
As manifestações collectivas da actividade humana são sempre
affectivas da evolução mental das modernas sociedades.
O centenário de Camões, a festa da nossa reviviscencia, imprimio
um enorme adiantamento à nossa industria, ao nosso commercio e em
especial ao nosso movimento litterario.
S. Miguel não ficou inactivo, ante esse progresso e demonstra
hoje que está possuído da compreensão da força moral dos jubileus
civicos, uniudo-se em significativo cortejo, para ir prestar uma home-
nagem aos dois heroes do dia - IVENS E CAPELLO.
As festas niichaelenses em honra dos dois arrojados exploradores,
deixam atraz de si um gérmen de luz e de progresso — o inicio da
Associação operaria.
A classe artística, levada por um sentimento illuslre, por um im
ARCinVO DOS AÇORES 241
pulso n()i>re, ergue o seu pendão e une-se, à sombra d'elle, i)ara se
eiiiMrporar na prorissão civica.
O (jiie é preciso é (|iu' esle senlimenlo fique.
Armando da Silva.
A IVENS E CAPELLO
Salve! salve vencedores 1
Affroniando mil rigores
Vós podesteis triumpliar!
— Tremula o pendão das Quinas
E Portugal — das ruinas
Surge pra vos abraçar!
Pereira de Lacerda.
HOMENAGEM DE UM ARTISTA
A
Roberto Ivens e Brito Capello
o amor pelo Trabalho, e o Trabalho pela Idéa. Taes são as cau-
sas da gloria dos beneméritos Exploradores.
Quem deixará de lhes prestar homenagem !
Ninguém, de certo, porque até as mais sabias Academias [)reco-
nisão o seu ousado íeito.
A esses beneméritos da sciencia, que â custa de tantas privações
conseguiram fazer a gloriosa travessia d'Afric.i, de costa a contra cos-
ta, (|ue tanto honra a pátria, é justo preito e dever dos michaelenses
presta r-llie homen agem .
E eu como o mais obscuro filho desta terra dirijo-lhes este sin-
gelo tributo da minha admiração!
Bom será que no explendor das festas aos intrépidos Explorado-
res, não fiijue em esquecimento um outro michaelense, BENTO DE
GÓES, que iio século XVII também fez uma gloriosa travessia na Azia
('.entrai, começando pela Índia, percorrendo Caboul, Kacligar, Yerken,
Aksu e Khamil (Hami), até Calayo.
Bento de Góes, nasceo em Villa Franca do Campo (S. Miguel) em
I5G2 e falleceo na Ghina n II de abril de 1607.
Manoel J. da Cawara, typograplio.
N" io—Vol. VIU— 1886. 7
242 ARCHIVO DOS AÇORES
e IDE lDEZElVrBIR,0 IDE 1885
A EXPEDIÇÃO AFRICANA
Por occasião do cortejo civico em honra dos arrojados
exploradores Capello e Ivens
«Cesse tudo o que a antiga Musa canta
Que outro valor mais alio se alevanta.-
Camões.
Em quanto junto ao seio o filho aquece
Com desvelado aííecto a terna Mãe.
Heróicos, n'essas plagas sem abrigo
Descobrem ao Commercio um novo Bem.
A' tarde, o sol tombando no horisonte
Alegra o camponez, mostra-lhe o ninho,
E a elles, aos Heroes, mostra o horror
Da tétrica floresta no caminho!
A' noite, na choupana, em quentes palhas,
Daffagos rodeado, tu descanças
E elles— Ashaveros do sertão,
Da paíria só conservam as lembranças.
Por cama no sertão tem o paul.
Por guia na floresta — a escuridade!
Galgando precipícios por amor
Da SciENciA — esse Pharol da Humanidade.
Sorrisos, só recebem da panthera,
Do tigre, do leão e do elephante.
Os nobres peregrinos da Sciencia
Luctando pela Pátria— sempre avante!
Buscar para o Commercio Universal.
No Continento Negro, a extracção
Dos seus vastos productos— é o Lemma
Dos dois exploradores -seu Brazão.
E hoje, Michaelenses, que o tribulo
Prestaes a uns Heroes de fama tal.
ARCHIVO DOS AÇORES 243
Levantae mais um viva enlliusiasla
Ao velho marinheiro— PORTUGAL!
Ao nobre Portugal que a lodo o mundo
Lições de gran valor em tempo deu,
E que hoje Laminares inda inílamma
Pra rasgarem da treva o denso ven.
A IVENS e CAPELLO alevantae
Um VIVA assaz grandioso, a que teem jus!
São elles os pharoes que no ignoto
Desfazem negra treva dando a LUZ.
E aos Bravos que sem nome na conquista
Venceram grandes p'rigos — denodados,
Direito lambem tem de ser por vós,
Que justos sois ainda— SAUDADOS !
Soares Pereira, lypographo.
#
♦ *
SAUDAÇÃO
Michaelenses ! Saúda! na vossa Consciência
Os dois Heroes do dia— os Filhos da Sciencia!
Saudai o seu arrojo — impávida coragem —
Que n'essa saudação prestaes-lhes homenagem!
Se Historia — Lição d Hoje — em paginas doiradas
Hegista dos Heroes das épochas passadas
Os feitos, o valor: então a hodierna Historia
— A nossa Consciência — o Templo da Memoria —
Gravar deve lambem os nomes dos Heroes
Com sua própria luz — o brilho de dois Soes! . . .
O mundo acompanhai nos bravos e nas palmas
Que elevam mais e mais aquellas duas Almas!
Á vossa saudação aos Astros peregrinos
Juntai a admiração, lecendo-lhes dois Hymnos ! . . .
Novembro — 1885.
Manuel Duarte.
244 ARCHIVO DOS AÇORES
de que se tirou limitado numero de exemplares
Ao Excellentíssímo Barão de Fonte Bella, Jacint/to
Por todo e largo mar e pola lerra
Que inila lias de sojugar (com dura guerra?)"
Camões.— Lus. C V. Est. XLII.
Quando Iveus e Capello em pura chamnia absortos
Deixavam seu paiz, num dos últimos portos.
Encontraram um velho athletico e sympatliico,
No alto d'uma montanha, esquálido e scismalico.
Bradando n'um tremor!: —«Não tenho já confortos!
Não tenho já valor! Meus filhos qnasi mortos!
Eu ! . . . tão altivo outrOra, embriagado, extático
Na gloria do meu ser, soldado tão fanatici».
Decahi: mas vivia alegre e satisfeito!
Ser i)0bre não avilta ! A honra do meu peito
Estava immaculada. Havia, num segundo.
Surgido do meu nada e conquistado o mundo!
Mas" fui adormecendo á sombra do meu feito
E foram-me usurpando a Força e o Direito!
Um dia . . ao despertar . . soltei um ai profundo :
Mas vivia na esperança— a luz do moribundo —
Que me alentava muito. Eu tenho muitos tilhos :
Se agora já não posso andar por esses trilhos
Que pisei com denodo outr'ora, algum dia
Êlles me vingarão. Assim é que eu dizia.
Porem ! . . .Creste momento, offuscam-se-me os brilhos
E já não tenho fé! Insullam-me uns peralvilhos
Covarde e impunemente! . . oh ! . . qiiem. quem tal diria?!
Agora o que me resta?: — a túrbida agonia
(•) Recitado pelo autlior no sarau tlicalral na noite de 5 de dezembro.
ARCHIVO DOS AÇORES
Ihj suiciíJio infernal?! pois bem: cumpra-sc o fado!
A morte, e não a nódoa!» E nisto, o velho honrado
Lança-se como iim raio á escarpa da montanha
E vai de catadnpa em convulsão tamanha,
Que a terra no sen eixo eslremcren nnm brado
l3'horror, ao ver tombar o i^en melhor soldado!
O mar, rugindo em baixo, engole-o na sna entranha !
Ouve-se um grande baque! extincta era a façanha!
*
Seguiram sua derrota. Em cada passo dado.
Uma alta descoberta: em cada descoberta.
Um novo poema alado; em cada poema alado.
Um mundo a palpitar: em cada mund(j. alerta.
Um sol a scintillar, o brilho d'nm punhado
D"estrellas matisando a auréola, que se acerta
Na fronte dos Titans, dum céo aljofarado
De luz que nos revive e luz que nos liberta !
<^on)pleta a travessia, ao regressar á amada
Pátria, oh! deslumbramento! ao romper d"alvorada,
N'aquelle mesmo sitio, áquella mesma altura.
Descobrem na montanha a athletica figura
Do velho colossal. A fronte illuminada
D"um vívido clarão, a barba alvi-nevada,
E um semblante de paz em jorros de luz pura.
Recordava Moyses no alto da planura!
De pé na cnmiada. erguia-se o gigante
Em toda a estatura esbelta e culminante!
N uma altitude nobre, alevantado o braço
Direito, sustentava em seus músculos d 'aço.
N'um globo d"alva luz. um oásis verdejante !
O esquerdo, em posição egual, alça iier.inle
O ceo, um outro glubo! Havia em seu regaço
Um geographico mappa assignalando o espaço
De Quillimane até Mossamedes! Então,
Não se podem conter em viva commoção
Os nossos dois Heroes, e ro!iipem a uma voz:
— «Venerável ancião! Dizei-nos: quem sois vós?
Um Homem? um Mysterio? um Génio? uma Visão?"
E o velho respondeu: —«Sinto hoje o coração
246 ARCHIVO DOS AÇORES
Pullular de prazer! Bem visles quão feroz
Fedi a morte ao mar, e o mar não foi algoz f
Arremessou-me, exangue, ao seio das areias!
Uma musica suave, um canto de Napeias,
Annunciava a bonança; o rhytlimo, a cadencia
De M/AtiS de sereia, infiltrava-me a essência
Perdida, e eu recobrava o sangue em minhas veias!
Sem Revivescência? É a voz das epopeias
Dos fastos nacionaes que se ergue para o Bem? Se a
Nação reviverá p'ra a Industria, pra a Sciencia?
Não sei ! . . . Mas vós, que alçais a pátria dos escombros
Em que dormia inerte, aiçando-a em vossos hombros
Á altura das nações cultas; vós, que a bandeira
Portugueza em sertões d'Africa, sobranceira,
Fizestes venerar, erguendo-a em desassombros
Entre cafres e leões, p'los matagaes e combros,
Gloriosa e esbandalhada e rota e altaneira
Qual valente soldado impávido, em guerreira
Acção, que vai medindo a gloria, pelas balas
Oavadas em seu peito; a vós, todas as galas,
Homenagens, brazões, cortejos triumphaes,
Honrarias, troplieus, e ainda mais e mais,
É pouco e muito pouco! Em todas as escalas
Do mundo social, nas praças e nas salas.
Vereis » «oh ! suspendei ! . . . porque é que vos não dais
A conhecer? Quem sois? O que é que demandais?»
Aqui empallidece o velho! AIjofarada,
Da pálpebra deslisa a lagrima acendrada
No crisol do heroismo! É trémulo, elle diz:
— «Eu sou . . sou Portugal! . . e sinto-me feliz
Ao vér dois filhos meus, co'a face e.^brazeada
De glorias immortaes, co'a fronte coroada
De chammas tropicaes, descobrindo a raiz
Do empório — salvação futura do Paiz!
Este globo de luz que trago com desvelo
Na minha mão esquerda, é o fúlgido Castello
De Palmella! Na outra, o oásis de mil carinhos,
A Ilha de S. Miguel!» São os ditosos ninhos
ABCHIVO DOS AÇORES 247
D"essas águias de paz, d'esses condures bellos
De flamma damur pátrio, e d'esses bons modelos
De pura abnegaçãu, que exploram nos arminhos
Das nuvens do ignoto a flor de rosmaninhos!
«O meu destino aqui no topo da montanha,
É escutar dos Titans a altíssima façanha,
Cantada em melopeia, ao som de rouxinoes!
É impor a todo o mundo a luz d'estes pharoes!
É responder aos Bright e a quem nos abocanha,
Que inda ha um portuguez que faz esta campanha!
E inculir-vos na fronte o brilho de mil soes!
É dizer ás nações: — Passagem aos HEROES!!»
E assim terminou o novo Adamastor,
Que já não prevê Guerra, e sim a Paz, o Amor.
i. Ponta Delgada — Novembro, 1885.
P
IVENS E CAPELLO
NO GOKTKJO
Ao Ex."'" Sr. Dr. J. A. Bolclho A?Hlrade
«E se mais mundo houvera, lá chegara.»
Camões— Lus. C. Vil. Est. XIV.
Povo !
Comprehendeis a signiíicação
De todo este delirio?: — O nosso coração
Inflamma-se de febre e d'enthusiasmo ardente,
Por ver <jue um michaelense, alem no Continente,
Na Europa, em todo o mundo scientiíico,
De pasmo e admiração é o alvo beatifico!
becuir.
■) Recitada pelo aiitlioi' iia praga Municipal linda a marcha aux fiam-
248 - ARCHIVO DOS AÇORES
StílJlimos iim «irgiillio itllivo e (Joiuitiíitite
Por (\w à nossa leria — a concha mais brilhante
Que o oceano arremessou das phigas do mysterio,
Á sua superfície, á face do hemispherio, —
Hrodiizio esse heroe, a pérola mais rútila
Dos fash)S actuaes, o cidadão mais iitii, a
Jóia de mais valor da c'ròa portugneza,
No critico monjenlo em que a nação — princeza
Outrora, escravisada íjoje — definlia, estorce-se
Nas vascas da agonia, em gélido suor! Se se
Att^nder a que o empório o mais grandioso e bello,
— Futura salvação do nosso paiz — o élo
Que ha de prender um mundo a outro mundo, está
Em semeiar tormenta e recolher maná
Da colonisação, industria, agricultura,
{lommt-nio e instrucção dos povos da futura
Albion portugiieza — a Africa Central;
Se se attender ainda a que esse manancial
D epopeias, occidto aos ollios da sciencia
Geographica, foi agora na sua essência
Descoberto e estudado em ramos diíTerentes,
À custa de baldões, em lucta com serpentes,
Abutres e leões e homens mais pantheras
Que os pro[)rios animaes e moscas peior que feras:
Se se attender emfim, a que Ivens juntamente
Com seu irmão (^apello, abrem no Continente
Negro, sulcos de vida á pátria agonizante,
Scintillações de luz na treva dominante
Neste leão que dorme, ao qual se chama —o Povo, —
Despertando-o para o Bem, acordando-o de novo
Para a grande conquista — a Civilisação; ,
Se se attender a tudo; a vossa agremiação
Aqui p>a festejar dois nomes tão brilhantes.
Não deve hcar so em vivas flammejantes,
Em meras saudações, girandolas de lumes.
Incensos e tropheus. palavras e [terfumes;
Deve esteiider-se alem das vossas expansões,
Do profundo sentir dos vossos ctjrações;
Deve íicar gravada em vossas consciências
E nas vossas acçõrs, segundo as advertências
Que vou fazer-vos. Sim?: — Ligai-vos meus amigos
Que a união faz a força e vence mil peiigos !
Ligai-vos: que a união na vida (e até [)'i"a a morte)
Transforma o pobre em rico e muda o Iraco em forte!
ARGHIVO DOS AÇOBES 249
Formai associações do artista, do operário,
(^aniponeo, agricultor, do rude proletário.
De ti)do o pobre eiufim: creai C.aixa Económica
Dos [>omos do trj bailio, e tendes, autonómica,
A arvore da existência! E seja este dia
O ponto de partida a uma tal porfiai
Ajudai vos um ao outro, amai-vos mutuamente,
E assim tereis mais tarde o fructo da semente!
É este o resplendor o mais brilhante e bello
Que vós podeis tecer ao Ivens e Capellof
Ponta Delgada — Dezembro 1885.
IMITAÇÃO--
Ao Excellenlissimo Senhor Doutor Ernesto do Canto
Ora imagina agora, quão coitados
Andariamos todos, quão perdidos,
De fomes, de tormentas quebrantados,
Por climas e por mares não sabidos;
E do esperar comprido tão cansados,
Quanto a desesperar já compellidos,
Por céus não naturaes, de qualidade
Inimiga da nossa humanidade;
Camões. — Lus. C. V. Est. LXX.
Senhoras ! Cherubins ! sorrisos do poeta !
Essência da Creação, perfume da violeta !
Mysterio divinal ! encanto da existência !
(•) Recitada pelo sr. Filomeno Bicudo no sarau theatral de 5 de dezembro.
(-•) Apenas alguns pensamentos d'esta poesia, é que imitam os de um ar-
tigo em prosa publicado n'um jornal do Continente nas vésperas da chegada dos
exploradores.
N.° 45— Vol. VIII -1886. 8
2Õ0 ARCHIVO DOS AÇORES
P'ry celebrar o h» roe du dia, ergue a consciência
D'nm povo, sen irmão, as festas populares :
—Cortejos triumpliaes. girandítlas aos ares,
Hymijos e madrigaes, pendões, tropheus, escudos.
Bordados a matiz, em sedas, em velludos !
O operário, o agricultor, o artista, o pobre, o pária,
Em júbilo e prazer, tudo canta uma ária.
Tudo u^tenta o seu symb"io !
A própria Natureza
Reveste-se de gala e faz uma surpreza!
Nas teclas do arvoredo aíina-se a harpa Eólia
E diz canções d"anK»r . . segredos . . á magnólia!
As donzellas ao piano, as aves na floresta.
Tudo diz num acórde:~//o/> é dia de festa!
A rocha lá no mar, a arvore na campina,
O arbusto, a planta, a ílor. tudo, tudo se inclina.
Para saudar o heroe que a esta pátria sua,
Dá f.iuia e nome e gloria e luz que a perpetua.
As pedras da calçada o brilho das saphiras.
E ao todo encantador o bojo das espiras!
.Mas vós. Senhoras, vós que peilenceis ao sexo
Das Laiiras. Maintenons, Nathercias. nm amplexo
Vosso, não se dispensa em festas populares
D'esla monta, e por isso, haveis dos vossos lares
Concorrer amanhã pra que o cortejo reúna
Todos os materiaes precisos p'ra a cohimna
D^amor e gratidão que vamos levantar
Em nossos corações: pra o esplendido altar
Que vamos erigir no templo e nos anoaes
Da memoria dum povo, em honras immortaes
Do ínclito explorador, do bravo marinheiro,
Que a nação talvez salve á fúria do nevoeiro !
Que assim qual Levialhan, rasgando foi os mares
De campos virginaes, ílorestas secidares.
Por montes e pinhaes nunca dantes sulcados.
Por bosíjues deparando espinhos e silvados.
Em lucta com chacaes e régulos ferinos.
In.<iectos, tremedaes, e cafres assassinos ! . . .
Entie pântanos mil, transpondo rios. pontes.
Percorre costa a costa, abrindo horisontes
ARCHIVO DOS AÇORES 25Í
Novos, entre a floreslíi africma d Angola
A Moçambique ! (A (jiianto o am )i' da Scieiícia imaiola ! ! . . )
As>im é ijiie eu já vejo, a parte abrilhantada
Oiie vos cabe tomar, mui bem desempenhada.
Sabeis como? dum modo altisono e singelo:
— (]om vossas mãos darminho e com todo o desvelo,
Em troca dum braçado aurifero de glorias
Que d" Africa nos trouxe, em troca das victorias,
Espalhando com graça, encanto e galhardia.
No carro Iriumphal da grande travessia,
Sorrisos de carmim, braçados de camélias,
O mesmo que se fosse um grupo de Cornelias !
*
* *
A flor é um sorriso angélico do chão,
Assim como o sorriso é a flor do coração.
O SOIL. E O OPlIElSrTE
A Filomeno Bicudo
Os Génios, os Heroes, são como a luz do sol
Que inunda o Universo, e cujo arrebol
É muito mais brilhante, é mais encantador,
Mais poético, tem mais feitiço, mais alvor.
Deslumbra mais, tem mais encanto, no sitio onde
Nasce; assim é Roberto Ivens: — corresponde
Em S. Miguel — sen berço— ao brilho e à belleza
Que o sol lá donde nasce espalha na (leveza.
No prado e na campina; assim pois S. Miguel
É o Oriente d"esse sol que doira o capitel
Do grande monumento alevantado em gloria
De Portugal, do mundo inteiro, e cuja historia,
232 ARCHIVO DOS ACOBES
Se muita luz derrama em todos os seus filhos,
É certo que esta Ilha é o foco dos seus brilhos !
Se elle fez da sua terra um puro ceo radiante.
Façamos também nós um sol d'esse gigante!
Ponta Delgada — Dezembro, 1885.
CAPELLO E IVENS
Festejou Portugal com ufania
Dois cidadãos distinctos, sublimados
Que, pelo amor da Pátria arrebatados,
Lá da Africa fizeram a travessia.
Para os michaelenses um tal dia
Deverá ser dos mais commemorados.
Porque um dos cidadãos assignalados
INesta ilha veio á luz e aqui vivia:
Portuguezes de lei, em nós o amor
Da Pátria é, foi, será o dominante
E sempre cultivado qual primor.
Por isso nós sentimos neste instante.
Em elevado grau, consolador
Suave enthusiasmo edificante.
*
*
ARCHFVO DOS AÇORES 253
Jvens homem prestante e corajoso,
Nasceu em S. Miguel e é meio inglez,
A boa educação e intrepidez
Deve elle, sim, já hoje um tifio honroso,
É homem sobre tudo virtuoso:
Idolatra, acatou sempre a honradez,
Sem que nunca, jamais, uma só vez
Desprezasse o caminho glorioso!
Um cidadão assim, um exemplar,
Um homem íypo, é um modelo
<}ue a todos nós nos cumpre hoje exaltar.
E' assim. E assim será. Ohf quanto é bello3
Sim. quiz-nos a fortuna deparar.
Em Ivens um heroe! a par Capellof . . .
*
* *
E" louvável, bonito festejar
Capello e Ivens, dois homenzarrões,
<)ue da Africa correram os sertões
E souberam (quiz Deust) de iá voltar.
€omo um tão grande feito aquilatar ?
Qual a expansão e quaes demonstrações?
Fogos? Folias? Festas, mil funcções?
Eil-o aqui, ora exposto, o meu pensar:
Procurar promover publico bem,
E pYa tanto tirar de nós os meios ;
Pôr escola nocturna aqui e alem;
Publicar mensalmente, e sem rodeios,
Quanto distingue, exalta e ennobrece o homem:
Nomes— Capello e Ivens— serão feios ?
New. o
Ponta Delgada 17 d'outubro de 1885.
254 ARCHIVO DOS AÇORES
HYMNO
Em liomeiíageni ao arrojado e intrépido explorador
Offerecido pela philarmonica da «Sociedade Promotora do Progresso»
Musica de Quintiliano A. Furtado —Letra de M. J. Duarte
Voz
A Sciencia é uma luz que illumin»
Qual um astro dMntenso fulgor,
É na terra quem tudo germina,
É no mundo outro sol creador.
Coro
— Roberto Ivens — um filho illuslrado
Desta terra — seu berço natal,
Da Sciencia ao amor dedicado
É no mundo um brilhante phanal.
VOK
O apostio que induz ao Progresso,
O asceta da Deusa da Luz,
É aquelle que dá mais ingresso
Na Sciencia — pharol que seduz.
CôfO
— Roberto Ivens — um filho illustrado etc.
(•) LeUra do liymiio musical publicado na Bandeira Portugueza a que se
lez iprorenoia n'outro lopar.
AhCHIVO DOS AÇOKES Í^OO
Quem ei^parge o clarão no escuro
E no cliáos víie a luz projectar,
Tal acção, no presente e futuro,
Ha-de lodo o Universo lembrar.
Coro
— Roberto Ivens — um filho illustrado etc.
VOK
SÓ o amor da Sciencia embutido
No trabalho e vontade e prazer,
Pôde o homem levar foragido
Píira as plagas onde acha <> soíTrer.
Coro
— Roberto Ivens — um filho illustrado etc
Voz
O arrojo entre pYigos e feras
Um caminho ao commercio traçou;
Tremedaes e abutres, crateras,
Não temeu, nem jamais vacillou !
Coro
— Roberto Ivens — um filho illustrado etc.
Voz
As incultas regiões africanas
Onde o cafre domina o sertão,
Lapidadas por forças humanas
Bellas jóias mais tarde serão.
Coro
— Roberto Ivens — um filho illustrado etc.
256 ARCHIVO DOS AÇORE 9
Voz
Um enorme edifício selecto
Já construe a Sciencia ao porvir:
É o amor ao saber predilecto
— Perfeição — quando a meta atlingir..
Coro
— Roberto Ivens — um filho illustrado etc,
Voz
Portugal teve heroes, na conquista
Que a attenção do Universo prendeu,
E ainda hoje accrescenta na lista
Mais um nome que essa honra mer'ceu.
Coro
— Roberto Ivens — um fílho illustrado
D'esta terra — seu berço natal,
Da Sciencia ao amor dedicado
É no mundo um brilhante phanal.
Ponta Delgada 1 ! dOutubro de 1885.
AKCHIVO DOS ACOBES
257
MEIOS m SE OBTIVERAM POR SUBSCRIPgÃO
FA^^RA. OS r^ESTE.TOS A^
CíJ^T>:E,XuJ^(D E I■VE1^TS
Dr Praiicisco P. Lopes de Beltenromi Athaidt
6;5iOOO
l)r. José Pereira Botelho Riley
6-^000
i^onde da Silva
50^000
Victoriano Sequeira
6:^000
José Pedi'o de Jesus (^ardozo .
M200
JaciíUho VicloriíKt \I miz
Ii5^200
Artliur Machado Gama (barreiro
2^400
Antoni(j Teixeira d"Oliveira
2íiiOO
Benjamin Feriu
^200
Paiva Lemos . . . .
Iíi200
António Joat|iiim Nunes da Silva
o;5Í600
José Duarte da Horta
1^200
Joaquim Diogo de Mello
l?>200
Luiz Tavares
m'to
António Tavares Netto .
3áilJ00
António José Machado .
6^0*000
Luiz José Bibein» .
3dOOO
Manoel 1. Corrêa .
1:^200
Abreu Vascoucellos, lru)ãos .
3^600
Manoel Kebello Muniz A- C/ .
\moo
Bicliard Semann .
C^OOO
Manoel Bettencourt Neves
Ií^200
José 1. Bebello Júnior .
2^400
Dr. (juillierme Machado de Paria e
Maia
2?$íiOO
Dr. Agostinho Machado de Faria e
Maia
"imo
João (Corrêa de Mello
2r>400
José de Medeiros (logombreiro
:moo
Clemente Joa(|uini da (j)sta
7?5200
José ravares Carreiro
1^200
António Leite da Gama .
3áí600
José Jaciutho Pacheco d(^ Medeiros
1^200
José M;iria Pitnentel
láí200
Thom.iz Augusto de Borba
1 -5800
Somma I4i-56i0
" io — Vol. VIII - 1886.
9
258
ARCHIVO DOS AÇORES
Transporte
Virgílio Sonres d Albergaria .
Dr. Eugénio do Cantti .
Dr. Ant(»tiio AiigiisU» Paclieco
CHpilão David Xavier Cohen .
António Amnrini da Cnnlia
Dr. Franciscit .Jerónimo (loellio e Souza
Dr. Henri(|ne Ferreiía de Paula Medeiros
Annibal Gomes Cabido .
Dr. Francisco da Silva Cabral
FilippH d Andiade Albuqnt njur
Anti mio de Souza Arrnda
Joaqnim Harbosa .
Lni/- do (vanto da Camará Falcão
José Borges de Vasconcellos .
Dr. Artbni' Hintze Ribeiro
António Mactiado Alvares Cabral
Henriíjne da Camará Frazão .
\lajor Alfredo Leopoldo da Silveira Orlandi
Álvaro Amorim Borges .
Visconde das Larangeiras (JManorli
António dos Santos Bibeiro
Con»nel Lniz Maria Pires da Cama
Gcoige William Hayes .
João Lniz de Moraes. Pereira .
António da Ponte Maia .
Francisco Xnvitr Pinto .
José Maria Barbosa ( oulinho .
Dr Manoel Lopes Gnimarães.
João Leite Paclieco de Bi'ttenc(nirl
HeruMíjue Bensande
Manoel Jacintlio Pacheco
António José Raposo
Dr. Aristides Moreira da Motla
José Horta ....
José d' Arrnda Leite
Bernardo Machado de Faria e Maia
Dr. José Pereira Botelho
Padre Francisco H»»rta .
Padre João António Botelho
Padre João Félix d Oliveira Pijilio
Syniplicio (iago da Camará
Anitnymo ....
João de Mello Abreu
Soinma ...
144^040
2^400
12^5.000
1:5200
2^4(M)
2^400
3^000
3^000
3^600
0720
15200
1^200
2^400
I?$íi00
0^000
4,5(800
US800
1-5200
2^400
10-5000
^600
Ií$l200
2^400
1^200
L>200
5^600
15200
l'>200
1->200
206000
U20(»
lí)200
1^200
l$200
^240
7-52(K)
4-5800
id200
Ií5200
l?>200
2<>400
48.)00O
15200
3225400
ARCHIVO nos ACORKS
ii59
Transporle
João HíTiianles dAbreii e Lim.i
Dr. C.)e'l.iii() (I Aiidt.Hle Alljii(|iiHrqne
Jacinllin dAmiiadi' AlbiKjiierqiip
Francisco Bt^nlo KfHiico .
Dr. Carlos .Viária domes \l.iclia(Jo .
José de Medeiros Betlencoml Hego.
\)v. Aiilouio Moreira da Camará Coutinho
Eduardo Augusto Kopke
Dr. José Júlio Teixeira .
Tenente (^(tr'onel Joaijuim Firmiu(j Borges
Augusto Atliaide C(jrte Beal da Silveira [
José Maria Alvares Cabral
Dr. Paulo Cuedes da S. e Almeida
Alberto de Freitas da Silva .
João Bernardino de Sena
Dr. Álvaro Kopke de Barbosa Ayala
Alferes Hermano de Medeiros Camará
Dr. Manoel Maria da Bosa
Dr. José Machadi» de Faria e Maia .
Dr. A. Alberto Piuluin» de Barros .
Dr. Tlieotonio Claudino <la Silveira Moniz
Francisco de Salles Resendes .
Luiz Maria de Moraes .
Manoel Aiigust<» Hintze Ribeiro
António Jacintho de Amaral Aragão
António Joai|uim Domingues .
Agostinho Cymbron Borges de Sousa
José Maria Cabral Ramalho .
João Sieuve de Seguiei' .
Dr. Maiianiio Aiigusti» Machado de Faria
António José de Vascoiicellos .
(tÍI Gago da (Gamara
Victoniio Ignacio dArruda
João Joaquim da Costa A Filho
General António de Medeiros de Beltencí
António Alfredo Barbosa
André Alvares (Cabral .
João Ignacio Pacheco Leal
Padre Jacintho da Ponte.
Francisco Barbosa Furtado Júnior ,
Christiano de Medeiros Frazão
Jíisé de Bettencourt Athaide .
de (jusmão
Bicu
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do
e Mai
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<5i600
lá»2U0
OéiOOO
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1^5800
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I f$i200
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I r>800
OSOIK)
?>600
2^.100
Iái200
2?^ UM.)
Sonima
'amno
260
ARCHIVO DOS ACOHES
Transporte
JaciíJlliu Píicliecu dAliiieida .
Dr. Miguel fie Souza Pinheiro
[)r. Vicente Machado de Faria e Maia
Aunibal de Betti-nconrt Barbosa
Francisco de Bettencdurt
Lniz (jnintino d'Agniar .
Dr. Luiz Poças Falcão .
Aristides Biandão de Castro .
Dr. Marianno Kebello Alvares Cabral
(íuilherme Frazão ....
Angelo José Dias ....
João Bento Botelho de Gusmão
Capitão Álvaro Rodrigues dAzevedo
Francisco Borges Bicudo
José Bensaude ....
Jacinlho Soares dAlbergaria .
Jacintho Leite de Betlenconrt .
Francisco Maria Supicí» .
Jerónimo Corrêa da Silva
Dr. Giialdino Alfredo Lobo de Goiívèa V
Dr. Guilherme Poças Falcão .
Francisco Hebello de Chaves .
Abram Ben Slimam
Capitão Sarmento ....
Arão Bensaude ....
Alferes Francisco António da Silva .
Manoel Corrêa e Silva .
Licinio Jnlio Botelho Tavares .
João José de Sousa
Thomaz Augusto Ser|)a. ça[)itão ahno\ar
Amâncio Júlio Cabral
José da Silva (Cabral
D. Joaquim de Mello Manoel da Caiiijua
Dr. Veríssimo dAgiiiar Cabral
Salvador Azul.iy ....
.losé Tavares Cordeiro .
Pedro Bicudo Corrêa
Amâncio Gago da (Gamara
Luiz Alhanie Corte Heal
Carlos Augusto Carneiro Zagallo .
Auonymo .....
ViscfMide de Santa Catharina .
Iladar
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2,5880
2?5Í400
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577Ò980
AHCHIVO DOS ACOKKS
201
Tíaiis{)õríe ....
577.-S98U
Manoel .líicinllio I.opes (Villa KiaiiCH)
Gr>()ÍX)
Pranciscu <l Amlradc Alliiii|nci(|iie BpltPiicoiirt
USáOO
Filomeno Bicudo .....
Or5.60()
Francisco Peixoto da Silveir.i
5r>60í)
William Read
2^400
Ballliazar .Foaiiiiiiii da Ijiz
16200
AnonyíMo . .
l?)200
José Jaconie (Corrêa
mmoi)
Anonynio ......
200Í.000
Producto liquido da lecila de 5 de dtzenihn»
I02f>27o
Diário dos Açores (siibscripção que abri(M
!0j>97(>
Diaro d"Anniincios ( « « « )
1 3-5375
Republica Federal ( « « « )
19^^07
^0
51-S1I5
Benjamin Ferin (Lista dei
lí>2l
José B. Âmbar ( « « ) .
7-5650
Frederico A. da Silva ( « a ) .
\S1W
Gil Miranda ( « « ) .
Idl20
Tabac.de Cogiimbreiro ( « a ) .
h>080
Adrebis i « « ) .
tí.548Ó
22'>270
Somma
l:377S140
hfspczas (lo (lortejó e Festival
Pago as sr. António Joaipiim d'Ai'rnda por despezas
com os escddíts do Campo de S. Francisc
Despeza do Carro da Agricnltnra
« « « das classes Laboriosas .
« « « dos Estudantes
« « « da Commissão
Á Banda de Musica das Capellas
A Banda de Musica da Ribeira Giande
Cobrador e avisos .....
2't |iliotograliias dos Carros triumphae> para nlTeiecei
aos dois Exploradores
A rebotes para a March-au.r-fhimbcmar
Bandeiras, mastros, vasos de ílores, palanques, et(
Ciirandolas. foguetes e salva ....
Somma
18^713
49;>.37o
70?5.830
43í5>o55
!83,>II0
20.'>000
20:5000
I3í>200
5f>7CO
43:5220
2056335
3269 'i O
70660 'i O
262 ARCHIVO DOS AC0BE8
Resumo
Receita . 1:377^^140
Despeza . 70(5^040
Saldi) com applicação a Alameda e Monumento O/MIOO
O FXISJJ^X^
o iionje de Kobert'» hens não esquecerá jamais na sna terra.
Kica designan lo a l)elli>ima Aveniila que se está abrindo para li-
gar á Bua Formosa o Campo de San Francisco, de Ponta Delgada: e
ficará niim mommiento de mármore que se erigirá na Alameda do
Duque de Bragança, ha muitos annos projectada e que aliual vae
tornar-se realidade, no Helvão. o sitio onde em 1832 lurujou a divisão
dos 7:500 bravos do exercito libertador e d'alli desfilou para os cães
d'esta cidade a embarcar-se para surgir no Mindello a couipiislar lie-
roecamente a liberdade nacional.
A Alanj^^da será comuíemorativa deste fado notável da nossa his-
toria modeiua.
E na sua avenida hiteial .lireita. uma columua de ordem coryu-
thia, de 4 melros d'Hltura, encimada por uma esphera,ttrá legendas,
nas faces de sua base, allusivas ao feito (pie determinou esla home-
nagem de admiração ao compatriot;i dluslre.
-^ >'ê>Cê^^^-J3--
ARCHIVO DOS AÇORES 263
APPENSO
Em con)|jl<Miieiilo deste íiaballio vamos i'epruduzir Unh a corres
pendência impressa, e algiim;t que o não loi, por motivo dos feslejtts.
A PRIMEIRA MENSAGEM
N"e.-la circnm>lanciada noticia cjnizéuKts inserir também a }Jetisu-
fjfm enviada em setenjbro aos exploradores pelos sócios da Sociedade
de Geographia residentes em Ponta Delgada.
Recorremos ao nosso esclarecido amigo Henrique das Neves, que
<i redigio e |)rom'>veo a sua assignatura, para nos proporcio.iar a res-
pectiva copia.
Hesporjdeo nos com as seguintes linhas:
Am/*
Procuro eutre os meus papeis alguns vestígios da redacção da
Mensagem e nada encontro. Signal de (pie inutilisei o borrão.
Pelos m^èu^ apontamentos posso dizer apenas que foi datada de
IH de setembro de 1885 e subscripta por nove sócios, os srs.:
Dr. Ernesto do (>anto.
Dr. (Caetano d Andrade Albuquerque.
Francisco Maria Supico.
Augusto ('esar Supico.
donde da Silva.
Dr. (lailos Maria Gomes Machado.
Barão de Fonte Bella (Jacintho).
João Bernardino de Sena.
Henrique das Neves.
Faltando a[)enas dois ausentes, os srs.:
José do tlaido.
Dr. Vicente Machado de Faria e Maia.
Sempre am."
Henriqne das Neves.
264 ARCHIVO DOS AÇOfíES
III.""' e Es.™'' Siir.
Cabe 11)6 ;i hunra de partici|jar a V. E\/, que na reunião publii-a
de lioiUein. iia ^ala ilas sessões da Camará Mnnicifial desla cidade, toi
V. E\.* eleito membro da grande (lommissão iiiciniibida de promov-'-
e realisar (juaesquer maiiite>ta(;ões publicas em Imiiia do? illu>lres
ex[tloradores dAfrica, Capello e Ivens. bem como de qualquer comme-
moragão devida ao Beiiomerilo Micbaelense ipje lanto honrou a terra
em que nascei ►.
No próximo Doujingo, 18 do corrente, pela i li. da tarde na su-
pradita sala, liaveiá a primeira reunião da commissãu, á qual digiian-
do-se V. Ex.^ coiicoirer prestará uma primeira e devida honienagem
de elevada significaçãn.
Deus guarde a V. Ex.'* Ponta Delgada 12 de outubio de 1885.
111.'"^' e E\."'^ Sr
lassignado)
Entesto (Io Canto.
111.'"*' e Ex."**' Snr.
Os abaixo assigiiados. ((tnslituidos em uma sub-commissão afim
de, na freguezia de S. .losé, angariarem jiarte dos recursos indispen-
sáveis para a realisação das manifestações publicas, (]ue se pretendem
levar a eífeito nesta ciila-le de Ponta lJelga(Ja, em homenagem aos
nossos beneméritos concidadãos e valentes exploradores da Africa, Ro-
berto Ivens e Brito Capello, tiveram a honra de procurar V Ex.** em
sua casa, no intento de lhe exporem a sua missão e solicitar de V.
Ex.** o seu concurso para >e levar a cabo tão alevantado pensamento;
e como não houvessem conseguido dar, pessoalmente, cordiecimenlo a
V. E\.^ do fim especial a que se propu/.eram, tomam, os signatários,
a liberdade de o fazer por es(e meio, condados em (pie V. Ex.'\ não
só ac(tllierá favoravelmente o apello que ousão fazei' á provada eleva-
ção dos seiítimenlos patrioticus de V. Ex.'', mas também, que se di-
gnará subscrever com qualquer (piantia. destinada a festejar e perpe-
tuar os gloriosos leitos d aquelles heróicos ()oiliiguezes.
As.^im. e para poupar mais incoiiiuioilo a V. Ex.'\ rogamos-lhe a
liueza de, quereiid(t. imlicar em seguida ao seu nome, a quantia ipie
lhe aprouver dispensar-nos, devolvendo esta circular a qualipier dos
membro^ da siib-commissão, até ao dia 17 de corrente.
ARCHÍVO DOS AÇORES 265
Deus Guarde a V. En.^ — Ponta Delgada, \2 doulubro de 1885.
111."'° e Ex."'° Sur
A Niib-ComniiNHilo
Francisco Peixolo da Silveira.
Mariaimo R. A. Cabral.
Aristides Brandão de Castro.
Filomeno Bicudo.
AVISO
No DoiDÍngo 25 d'outul3ro, pela 1 hora da tarde, na sala da Ca-
mará Municipal de Ponta Delgada haverá reunião da Commissão Pro-
motora dos Festejos a Capello e Iveus.
o Presidente
Ernesto do Canto.
111.'"° e E.\.'"° Snr.
A sub rommissão encarregada de promover donativos para execu-
ção do programma junto. (*lcom o fim de festejar e commemorar con-
dignameute a heróica travessia dAfrica effectiiada pelos beneméritos
Koberto Ivens e Brito Capello. confiada nos sentimentos patrióticos de
V. Ex.*, vem por este meio solicitar o seu concurso para levar a ca-
bo tão elevado pensamento.
Qjierendo V. Ex.^ subscrever com qualquer quantia, roga-lhe a
sub-cummissão a fineza de a indicar abaixo do seu nome, n"esta cir-
cular.
Para poupar mais iucommodo a V. Ex.* mandará a sub-commis-
são nos proximits dias procurar a resposta.
Deus Guarde a V. Ex.^ -Ponta Delgada, i8 dOutubro de 1885.
lil.'"" e Ex."'° Snr.
Hs. ^
A sub-comniisjião
Ernesto do Canto.
Aristides Brandão de Castro.
Filomeno Bicudo.
Francisco Peixoto da Silveira.
Victoriano Sequeira.
José Pereira Botelho Riley.
(•) Já o reproduzimos n'outra parlo.
N/* i5— Vol. VIU -1886. 10
266 ARCHIVO DOS AÇORES
Ex.'^" Sr.
Os abaixo assignadus, membros da sub-commissão do Festival,
presentes á sua sessão de 5 do corrente mez, deliberaram, para dar
cumprimento au arl.° 1.° do Pmgramma junto, (*) uuvir as varias As-
sociações desta cidade, para com mais segurança e acerto a sub cum-
missão poder formular o Programma de festejos, que melhor resp(»n-
da ao sentimento civico da população da cidade para com os illustres
exploradores.
Neste intuito rogamos a V. Ex.^, se digne convidar a Associaçãi»
da sna digna presidência, a enviar um socio. — seu delegado que a
represente — ^á sessão desta sub commi^são. que se hade realisar no
domingo 15 do corrente, pelo meio dia, na sala da camará municipal.
Ponta delgada 6 de novembro de 1885.
Ex.'"" Sr. Presidente de
António Augmlo Pacheco.
Carlos A. Carneiro Zagallo.
David Xavitr Coliert.
Ernesto do Canto.
Francisco P. L. de B. Athayd»
Francisco Maria Supico.
João Bernardino de Sena.
Henrii]ue da Camará Frazão
Henrique das Neves
José Botelho Âmbar
José Lopes d' Azevedo
E\.'"°* Collegas
Os jornalislas desta cidade, em reunião no dia 1 1 do corrent{\
para manifestarem a sua adhesão ás publicas manifestações em honra
dos illnsíres exploradores Brito Capello e Roberto Ivens. resolveram:
apresentar-se em corporação no cortejo civico (|ue terá logar no
dia 'á9 do corrente: e
publicar o numero único de um jornal. (|ue se intitulará Irens e
(•) O quo se reproduzio n'outríi parle.
ARCIUVO DOS AÇORES 267
Capciln, redigido por lorJos os collegas, de que se fará larga e gratui-
ta dislrihiiição durante o cortejo.
Na qualidade de decíimi da classe tenho a honra de lhes fazer
esta coniniuuicíição, convidando-os ao mesmo tenipo a nccupar os seus
logares junto dos collegas e a enviarem alguma collaboração para o
jornal. Esta deve ficar em meu poder até á quarta feira immediata-
mente anterior ao dia 29.
Tenho a honra de me subscrever C(»m a maior consideração
De V. Ex.^=*
Ponta Delgada 14 de
novembro de 1885.
III.'"''* e Ex."^°^ Redaclores do jornal —
Colleaa muito reconhecido
o
Francisco Maria Supicò.
CIRCULAR
Tornando se necessário harmonizar e regular a acção das Ires
sub-commissões da grande Commissão Promotora dus festejos a Capei-
lo e Ivens e da Camará Mimicipal, tenho a honra de convidar os Ex."'*'*
Snr.* abaixo designados, para se reunirem, no Club Michaelense, no
dia 18 (quarta-feira) do corrente mez pelas 7 horas da noite a fim de
se resolver o que melhor se deva fazer.
Ponta Delgada 18 de Novembro de 1885.
Presidente da Cornara Dr. Aristides Moreira da Motta
Aristides Brandão de (lastro
^Dr. .iose Pereira Botelho Kiley
Sub-commissão da subscripção 'Victoriano Sequeira
/Francisco Peixoto da Silveira
l Filomeno Bicudo
n . j . ,• *Dr. Francisco P. L. B. Athavde
Daa da parte commemorativa j ^^^^.^ ^^^.^^ ^^^^^ ^
f. , , . , , i Henrique das Neves
^^'" ^' f'''''"^ i Carlos Augusto Carneiro Zagallo
Ernesto do Canto.
268 ABCHIVO DOS AÇORES
111."'° e En.°'° Snr.
Em nome da Commissão encarregada de feslejar a travessia dA-
frica pelos illustres Exploradores Capello e Ivens, n"esta cidade de
Ponta Delgada, tenhu a honra de convidar a V. Ex.^ para tomar parte
no Cortejo Civico, que se deve eíTectuar no Domingo ^9 do coriente
mez, (ou no immediato se o tempo não fôr favorável [)artindo du Lar-
go de S. Francisco ao meio dia em ponto.
Dignando-se V. Ex.^ acceder au nosso convite concorrerá para
que seja mais brilhante e significativa a homenagem aos bentuieritiis
Exploradores.
Deus Guarde a V. Ex.* — Ponta Delgada. Íá3 de Novembro de ISSo.
lli.'"9 e Ex."'" Sr
o Presidente
ErneMo do Cahto.
CONVITES ÁS CAMARÁS
Ás camarás municipaes dos concelhos de Lagoa, Viila Franca, Po-
voação, Nordeste e Bibeira Grande, foram dirigidos convites paia se
incorporarem no cortejo. As que não poderam comparecer em rasão
da distancia da sede do districto, nomearam representantes, a quem di-
rigiram officios pelo theor. mais ou menos, do que se segue:
III."'" e Ex.'"° Snr.
Rogo a V. Ex.^ em nome da Camará Municipal deste Concelho
de a representar nos festejos que deverão ter logar no próximo do-
mingo 29, em honra dos exploradores Capello e Ivens. pelo que lhe
ficará altamente reconhecida.
Deus Guarde a V. Ex.^
Secretaria da Camará Municipal do Concelho do Nordeste, 27 de
Novembro de 1885.
111.'"^' e Ex.""* Sr. Francisco Maria Supico.
o Pre8i«lenle da Camará.
Rodrigo Soares de Medeiros Gamboa,
AHCHIVO DOS ACOhES 269
AVISO
Como não teve logar o cortejo civico e mais festejos ;io ar livre,
que se projectava realisar hoje. em homenagem a Brito Capello e ho-
berto Ivens, fica transferido o saiau tiíealral para sabbado 5 de de-
zembro p. f.
A's pessoas que tomaram bilhetes para este sarau, roga-se a es-
pecial fineza de os mandarem buscar ao camaroleiro do theatio.
Ponla-delgada, 29 de novembro de 1885.
PELO immm
Seria necessário explanarmo-nos tiemasiadamente se qiiizessemos
aqui registar todas as manifestações de que foram objecto no estrangei-
ro os nossos eminentes compatriotas.
Se o não fizemos com relação ao nosso paiz, pois só para isso se-
ria necessário occupar volmnes. isso nos absolve de nos poupaimos
ao trabalho de colleccionar o que se passou pelas outras nações.
A França, a Allemanlia a Inglaterra e outros paizes, convidaram
os explorad(jres. por intermédio das suas sociedades geographicas, (ta-
ra os ouvir e os honrarem, pelo altissimo serviço que prestaram á ci-
vil isação.
Só puderam ii' a Hespanha e França.
Em Paris, foi o mais arrojado homem d'esle século, o immortal
Fernando de Lesseps, quem os apresentou á Sociedade de Geographia,
fazendo-lhes o mais levantado elogio. A sociedade na sessão annual em
que confere distincções aits mais intrépidos e aos que maiores subsí-
dios trazem á sciencia, conferiu aos nossos gloriosos compatriotas a
grande medalha de honra.
Ha. todavia, um documento que não podemos deixar de registar
na sua integra nestas paginas.
Multiplicaram-lhe as edicções os jornaes de todos os matizes, mas
raras pessoas guardam collecções das folhas (jue mais circulam. Poi-
isso nos parfceo, que honrando com elle estas paginas contribuiria-
270 ARCHIVO DOS AÇOBES
mos p.ira que mais se prolongue a sua duração i]'esles f.istos coevos
(Je successos tão glorificados.
O dociimenl;) referido, é o convite feito de Madrid, em nome do
cavallieiroso povo hespanhol, para que visitassem aquella capital Brito
(^apello e Roberto Ivens.
São paginas escriptas calorosamente celebrando as glorias portii-
gnezas, e tragando a missão altíssima, qíie nos cumpre ainda desem-
penhar para correspondermos dignamente ás nossas brilhantes tradi-
cções.
(>omo portiiguezes,não podemos deixar de orgnlhar-nos por ver-
mos de tal modo alTirmado nm passado glorioso, inteira justiça fei-
ta ao muito que nos esforçamos para nos mantermos no posto que nos
compete como das primeiras nações colonisadoras, e estimulados os
brios nacionaes [lara as obrigações (]ue temos contraído perante a ci-
vilisação.
A levantada forma e profunda verdade de semelhante documen-
to nos decidio a assignalar-lhe espaço n"este Archivo.
Como complemento, as noticias, ainda que succintas, do modoco
mo na capital da nação visinha e irmã foram recebidos os dois heroes
das pacificas e incruentas luctas.
Tudo isto é com[)leta justificação dos enthusiasmos excepcionaes
desenvolvidos em Ponta Delgada glorificando aquelles homens, um dos
quaes nascido nesta formosa cidade açoriana, onde lhe sorriram as bel-
las auroras da existência, onde seu espirito começou a illustrar-se e
o seu coração a formar-se para os intrépidos arrojos e para os feitos
immortaes.
Pareceo-nos que seria o melhor remate d'este trabalho o docu-
mento de que temos faltado e começa na pagina seguinte.
ARCHIVO DOS ACOKES Jíl \
CAPELLO E lYENS
EM
HESPANHA
É extremamente livSongeira (escreveo (» Jornal do Commercio de
Lishoa) para os exploradores e para Portugal a altitude que a Ijerie-
merita Sociedade Hespanhola de Geographia Commereial de Madrid a-
caba de tomai- em presença do facto memorável da travessia realisa-
da no continente africano por Capello e Ivens.
No Circulo da União Mercantil, e a pedido de vuiios sócios, cele-
brou na noite de 14, eu) Madrid, uma sessãn extraordinária a Socie-
dade Hespanhola de Africanistas, hoje de Geographia Gommercial, a
fim de discutir a seguinte proposta :
«Tendo regressado a Portugal, da sua importantíssima expedição
da Africa Austral, os exploradores Hermenegildo l>apello e Hnjtprlo
Ivens, o vogal que assigna tem a honra de propor á junta dirniiiva
que lhes seja dirigida uma carta de felicitação: que sejam ní»meados
sócios honorários, e convidados a visitar Madrid, com o fim de que em
uma ou varias sessões publicas façauí o relatório dos Sfus resultados
scientificos e cimmerciaes obtidos nas viagens, e que adhira a socie-
dade, por sua deliberação, á recepção que sp organise em honra dus
i Ilustres geographos porluguezes.w
Como consequência d'esta sessão, aquella sociedade dirigiu aos
srs. Capello e Ivens a seguinte mensagem:
Ex.""'* srs. Hermenegildo Capello e [U»beitr> Ivens.
A junta directora desta sociedade soube com extraordinário jubi-
lo do termo feliz da vossa expedição, atravez a Africa Austral, de tão
immensa transcendência para a geographia. para o comnieicio univer-
sal e para o futuro da vossa pátria: e cumprimos gostosamente o en-
cargo que em sessão extraonlinaria de hoje nos foi incuuihido de vos
saudar e dar-vos as boas vindas mais cordeaes e enlhusi;isticas em
seu [)roprio nome, e em nome de Hespauha.
272 AKCHIVO DOS AGOKES
Os [iroincMiiies íjne chegaram até nós da vossa viagem, dos im-
meiísos [)erigos (jue vos cercaram, das insuperáveis dilíiculdades que
eiicoulroii a vossa perseverança e dos problemas que resolveu a vossa
compelHficia: da muita audácia, do heroiMuo, da abnegação, do enge-
nho e da prudência, empregadas por vós para cotiseguir o exilo da
empreza que será uma das mais arrojadas do nosso tempo: do enthu-
siasmo dehianle com que vos recebeu a vossa pátria, tornando-vos al-
vos de fe.vtas nacionaes como nunca se fizeram mais solemnes e gran-
diosas, nem mais merecidas, a imperador ou a general victorioso, nos
commoveram profundamente encheudo-nos de orgulho e admiração e
fazendo reviver na uíjssa memoria tantas gloriosas paginas na historia
das duas nações da Península, que são paginas da Historia Universal.
Gama, subjugando, novo Neptuno, as tormentas formidáveis do
{^abo H roubanlo-lhe os seus segredos: a triumphal entrada de Colom-
bo em Barcelona: a travessia legendaria de Orellana pela America cen'-
tral; a Odissea de Mendes Pinto no mar das índias; as temerárias aven-
turas de Braz Huiz em Toukim e Siam, que oíiuscaram os doze pares;
Halboa em Panamá, cruzando as espumosas ondas do Pacifico e após-
sniido-se das suas ilhas nm nome de Hes[);mha; Las-Cisas, esse cavai
leiro defensor da egualdade e do direito que atravessou qualorze ve-
zes o Allanlico nas a/.as da razão e da fé; Magalhães e Elcauo circum-
daudo o plau(,'ta e pondo a humanidade em posse d'elle, que o habita-
va sem coiihecel-o; Cortez no México, como um filho do Sol, annuncia-
do nas prophecias sagradas dos ascetas: Albuquerque na índia, fazen-
do de Lisboa a rainha do Oriente, e aos olhos do Oriente a capital da
Europa, um século de génesis prodigiosas: três gerações de homens
como não foram cantadas pela umsa de Homero, reveladores de mun-
dos e creadores de nações, a um tempo guerreiros, navegadores, geo-
graphos, naturalistas, médicos, legisladores, diplomatas, poetas, cliro-
nistas, sacerdotes, martyres, carrascos, mercadores e colonos; raça de
Quichotes sublimes, entliusiastas e doidos pela paixão do desconheci-
do e do impossível, fi/.eram do século XVI um poema em acção atra-
vessando climas, cambiando constellações, duplicando o mappa do mun-
do, identificando regiões longínquas e ignoradas, demonstrando expe-
rimentalmente a redondeza da leria, que linha sido até então um pre-
senlimenlo da humanidade, esgotando o sauloral e o diccionario das
duas nações cm dar nomes aos rios, lagos, portos, cabos, ilhas, mon-
tes, estreitos, e penínsulas em todas as latitudes, (Itq)osilando por to-
da a parte o gérmen de novos estados e conquistando a immortalida-
de para a raça porliigueza e para a raça hespanhola.
Accreditae: não nos teríamos lisongeado mais, não nos teriam com-
movido mais as vossas descobertas e friumphos se fôramos portugue-
ses. Havíamos julgado exgotada a antiga vitalidade da terra peninsu-
lai' para produzir homens daipiella tenqjera e a vo>sa travessia vem
provar-nos que apenas e.^tava adormecida. Com ella evocastes a me-
AHCHIVO DOS AÇORES 273
iiiuri.i (]";ii|tit'lla gloii)s;( c.-.v.íllijrin ot^^ariira que encheu o mundo de
Hssdinlm». sidcando mares nunca d'antcs navegados, e retocastes as fi-
guras (l"a.|ue|les seres exlr.iordinarios e sobrehumanos (jue eclipsaram
ijiianlo de gr;Mide liaviu conhecido a historia da antiguidade e fatiga-
ram com as suas façaniias os anuaes da Renascença.
Coiilinnaes a creação immorlal de Dias e de Guna: íi^<>e, hemis-
|)herio austral, cuja existência revehíram á chrislandade os vossos an-
ticessores no heroísmo e na fauia : vós os seguis agora revelando á
sciencia e á industria, estas deusas dos modernos tempos. A vossa via-
gem é (»utro canto ira<|ue[la epijpeia maravilhosa, (jue parecerá aos
vindouros sonhada pela phantasia, e mais imi re'splendor accrescenta-
do a tantos infinitos resplendores projectados sobre o mundo pela in-
telligencia luminosa e pelo coração esforçado da nossa raça.
Precursores da civilisação n'a(]uellf^s remotos climas do continen-
te africano, a causa da humanidade vos deve serviços eminentes, e por
tanto a nossa pátria se associa á vossa para vos acciamar os beneme-
rit(js, enviando vos por nosso intermédio a mais sincera felicitação, di-
clada pelo aífecto, pela gratidão e pelo enthusiasmo.
A Hespanha, que períieu tatitas outras virtudes, conserva ainda a
virtude de admirar e a de agradecer, e a Hespanha agradece á vossa
pátria o grande exemplo que lhe dá e vos admira como filhos dilectos
do seu génio expan>ivo e civilisador.
OlTereceis novos dias de gloria á vossa [latria. A ella Ih»^ cum{)re
agora levantar sobre um pedestal solido e inabalável a vossa prtjpria
gloria.
O meio elficaz que possuem as nações de immortalisar e engran-
decer seus filhos consiste em engrandecerem-se ellas a si próprias.
Todo um povo se levantou a abraçar vos e glorificar-vos: espectáculo
commovedor! Mas somente com isto não vos paga o paiz o que vos de-
ve. Tem valor a sumptuosa manifestação só como prefacio: ahi onde
a vossa tarefa acabou deve começar a de Portugal. Os povos não vi-
vem só de pão, mas também não vivem só de gloria. Devem reunir o
sentimento ideal de Salomé e as mãos trabalhadoras de Marlha.
Portugal, entre outras qualidades eminentes, possue uma propen-
são ingenita para enamorar-se irresistivelmente de tudo (juanto é gran-
de só por devotamenlo á própria grande/a. Por isso, talvez, descuida
mais que nenhum outro paiz, se exceptuarmos o nosso, o lado pratico
das cíjisas: por isso tanto tem trat)alhado na historia, como as abelhas
de Oviího. vindo outros aproveitar lhe o mel. Já é tempo de Portugal
trabalhar para si. Humanidade e pátria não .^ão incompaliveis.
Assim, [tois, não devem as vossas explorações envolver se somen-
te nas condições de uma obi a universal e humanitária: não devem con-
tar-se para Portugal no rjumero das obras inúteis. Portugal não deve
adormeutai-se em deliiiuio extático para c>ntem[)lar em espirito o ca-
minho que lhe abrist-^s atravez das florestas e dos pântanos austraes:
N" io— Vol. VIU— 1886. il
274 ARGHIVO DOS AÇOHES
deve pôr-se em acção e caminhar por onde vós caminhastes. Que se
não contente com o património colonial herdado de outras ép(jcas, mas
reproduza no Zambeze o exemplo da Associação Internacional, no Zai-
re, creando uma linha de estações ao Idngo d"aquelle rio e apossan-
do se da sua dilatada bacia e de parte das adjacentes. O vasto qua-
drilátero comprehendido entre as desembticaduras do Congo, Cunene.
Lirapopo, e Rovuma, deve-o a Europa a Portugal e Portugal á civili-
sação. Alli vos aguardam centenares de Iribus, que balbuciam a lingiia
portugueza, única da Europa que ha chegado aos seus ouvidos. De-
senvolver-llies a intelligencia, accender lhes. nos espíritos a luz da ra-
zão, redimil os da barbárie, trazel-os ao grémio da himianidade: eis
ahi o vosso destino, são para isso as vossas aptidões e as vossas ten-
dências, é essa a missão que vos legaram os fundadores da vossa na-
cionalidade.
Não se esqueça que, assim como a Hespanha é mais uma nação
americana do que uma nação européa, Portugal é mais do que uma
nação européa, é uma nação africana. Portugal tem o coração na Eu-
ropa, aqui onde continua a historia viva da humanidade, para escu-
tar todos os seus gemidos: mas tem os pés e as mãos além-mar, em
Africa, onde assenta o seu património.
Por isso, iniciou as explorações no interior, com Lacerda, ainda
antes de ter nascido Levingstone.
Por isso. tem feito pela Africa sacrifícios relativamente tão enor-
mes, que só de 1860 para cá representam quantia superior a vinte e
dois mil contos, ao passo que os parlamentos das grandes potencias
regateavam sommas insignificantes para desenvolver os seus interes-
ses commerciaes e |»oliticos na costa occidental ou no Mar Vermelho.
Por isso, continuamente tem exercido unja salutar auctoridade
sobre os negros, fundando escolas, creando consulados e embaixadas,
estabelecendo estações civilisadoras. feitorias, destacamentos, obras
publicas, sem esquecer que a Portugal teem devido os europeus a
única policia de segurança nas costas.
Por isso, é a liugua portugueza a lingua commercial da Africa.
Por isso, o rei do (,ongo protestou contra o facto de (íuererem as
potencias reunidas em Berlim subtrail-o á vassalagem do rei de Por
tugal.
São estes os titidos do vosso paiz. Vós ambos e o arrojado Serpa
Pinto accresceutastel-os com outro não menos elevado, que os amplia,
corrobora e fortifica: as expedições scientificas e commerciaes no in-
terior.
E Portugal não é simplesmente uma potencia africana por excel-
lencia, é já quasi, e está destinado a ser, a primeira de todas.
A estatura das nações não se mede como a dos indivíduos, pelas
dimensões materiaes do corpo, mas pela grandeza de animo, e, n"es-
te ponto, a estatura de Portugal é de gigante.
AHCHiVO DOS AÇOKES 27o
Que a expanda inteiramenle e, projectando-a de mar a mar, u
corpo será proporcional ao seu immenso espirito. E quanto aiitrs, me-
lhor.
Ha horas criticas na vida dos povos, que soam uma vez só no re-
lógio da Eternidade.
Se Portugal não tivesse abandonado aos inglezes e hollandezes as
vastas regiões do Cabo, para estabelecer-se na zona lorrida. ha mui-
to que possuiria na Afrrca um segundo Brazil. Mas deixou a realidade
e preferiu a sombra. Reconliece e expia n'este moujento o seu erro.
Que admirável lição! Um minuto de desalento agora seria origem de
lagrimas e desgostos para as gerações vindouras.
Assim, ao passo que alargáveis os horisontes da geograpliia, tra-
çáveis rumo á politica externa da vossa pátria. E mars fazíeis ainda:
ao preparar a annexação e occupação do interior edificáveis o único ba-
luarte solido para a defeza das costas que tendes occupadas ha tantos
séculos. Encarados sob e^te ponto de vista o passado e o porvir, pa-
rece que se colligam. D. Luiz I figura ao mesmo tempo como discípu-
lo e secretario de D. Henrique, o Navegador. Abençoae esta solidarie-
dade entre duas edades, que se vos impõe. Não está, não, na vonta-
de de Portugal o deter se; não está ua sua vontade o dar-se por sa-
tisfeito com a lieK^mça que lhe foi legada, porque isso valeria tanto co-
mo repudial-a.
Possuis 3.000 kilometros de costa na Afiica Austral, e as costas
são a chave dos continentes, por certo, com a condição de abrir com
ellas o interior e tomar posse deile, primeiro que outros penetrem pe-
lo telhado, ou arrombem as portas e ponham fora us seus guardiões...
D"isto nos deram proveitosas lições na península romanus e carthagi-
nezes. Tendes de vela á roda (fesse collossal património que se vos
iiílerece, os boers do TranswaI, os belgas do Congo, os inglezes do Ca-
bo e do Nyansa: os allemães de Zanzibar e Angra Pequena, e aquel-
le que menos desenha já com as cores da sua bandeira as vossas co-
lónias, no mappa ideai dWfrlca, (|ue cada qual põe como objectivo da
sua politica colonial e mercantil.
Assiu), para Portugal não ha te.i'mo médio entre avançar ou re-
cuar, entre alargar as suas colónias africanas immediatamente, ou per-
del-as n'um espaço de tempo mais ou menos breve.
Optando por conserval-as, necessita de fazer das duas uma, ag-
gregando-as ao interior n uma extensão sextupla á da Península.
Tal é o formoso condão da vossa nação: haud Ceaar, /tawi nihil.
Não podeis ser, senão sendo grandes.
Em relação com. a historia, tem este programma outra qualidade:
a de ser uma immensa desforra subre o passado, uma reivindicação
de sublimes iniciativas vossas, que infelizmente se mallograram. Per-
destes o Indiistão, ganhaes a Afru:a: vantajosa compensação. As augus-
276 ARGHIVO DOS AÇORES
Uis sombras rJe Aibuqnenjiie e Alliayde poderão desarrugar as s.)bran-
celhas e i'ecoiKÍIiar-se com a siíh palria.
Isto não são coii.>elhos de mestre, mas sim avisos,— ai! — se des-
enganados, e mais do que a vós são dirigidos ao vosso povo ainda
desorientado e sem ideaes fixos na sua vida externa, e que, mais do
que nenhum outro necessita de tocar a ^iia complicação i(]Ha!ista e so-
nhadora nascida a impulso de causas históricas, já felizmente na sua
maior parte removidas
Quizemos tir;ir á nossa felicitação todo o caracter de forma cere-
moniosa, antes de vos pedir a seguinte mercê:
«Madrid deseja ouvir da vossa bocca a narração da expedição com
que tanto enaltecestes o nume de Portugal, e offerecer-vos pessoííl-
menle, interpretando os SHilimentos de toda a Hespanlia. os testemu
nhos sinceros da sua admiração e estima.
Quanto a nós, ser nos-ha mui grato associar-mo-nos materialmen-
te, Como já em espirito o fizemos, ao vosso triumpho e collier os pre-
ciosos ensinamentos, que encerra a vossa expedição.
Se vos dignardes honrar-nos com a vossa visita, supplicamos que
fixeis os dias que vos será possivel dedicar nos.
Ao mesmo tempo, vos participamos que esta sociedade vos no-
meou seus sócios honorários, e esperamos que tereis a botidade de ac-
ceitar o titulo que soujos encairegados de vos remetter.
Madrid, 14 de outubro de 188.").»
(Seguem-se as assignaluras'.
Madrid 26 de outubro, á I hora e 15 m. da tarde. — Cajxllo e
Ivens assistiram no sabbado a uma sessão le.ilisada [)ela Sociedade,
Geogra[)hica. Presidiu o ministro do fomento, o qual se congratulou
com a Hespanlia pur ser a primeiía estação da viagem gloriosa dos
dous exploradores purtuguezes pela Europa.
Hontem. domingo, tiveram uma ovação ff^ita por um auditório
immeroso no theatio de Alhambra, explicando Roberto Ivens os deta-
lhes da excur^ão africana realisada poi' elle e pelo seu companheirí».
Brito Capello agradeceu as phrases de Sympathia que a Portugal eram
dirigidas [jcIos representantes da Sociedade de Geographia (lommer-
cial, os srs. Morei e Coello. O snr. (-osta exprimiu o seu mais fervo-
roso enlhusiasmo pelos Iriumphos dos dous exiiloradores, que abriram
uma nova éra na prosperidade do commercio e da industria dos do«is
povos peninsulares.
Á noite h( uve espectáculo de gala, liuia festa briH'anfe. no (hea-
tro Real, assistindo os mini.-lros. Os exploradores estiveram j)rescnles
ARCHIVO DOS AÇORES 277
no começo do sarau, e m;iis tarde foram fraternalmenle recebidos iio
Centro Militar do Exercito e da Armada, onde os precederam os só-
cios e o general Salamanca, sendo obsequiados pelo sr. Bullt^l con>
expressões as triais lisongeiras e anngaveis, e bem assim pelos snrs.
Moret e Nnnez de Arce. agradecendo Koberto Ivens
Hoje de manhã foi-llies oíTerecido um almoço na legação porlngue-
za. e logo, ás 9 horas da noite, haverá um sumptuoso banquete de
láO talheres no thealro de Alhambra. Deve ser uma festa es[)lendida.
A esta hora já estão os camarotes occupados por formosas damas hes-
panholas. Haverá algtms brindes, espei ando se que um d"elles seja fei-
to por Emilio Castelar.
A imprensa em geral dirige palavras de ologio e de louvoi' aos
ex[)loradnres portuguezes. ("apello e Ivens estão puis, sendo alvo de
demonstrações affectuosissimas por parte de todos os madrilenos.
— Relativamente ao acolhimento (jiie tiveram os nossos insignes
exploradores, lemos, entre outras cousas, o seguinte, na «Epocha» de
23 do corrente, e que antecede as n<»ticias que, como se vé, acabam
de ser confirmadas pelo noss> estima('o correspondente na capital de
Hespanha:
.4 chegada — Muih) antes da liora indicada para a chegada do com-
boio, a gare da estação das Delicias via se occupada por uma multidão
de pessoas distinctas, entre as quaes sobresahiam o sr. conde de !Vloi-
phi. representante d"el-rei, toda a legação portiigueza e o consulado,
e commissões da Sociedade Geographica. da Geographia Commercial,
do Circulo da Uniã<» Mercantil. (ío Centro Militar, da Sociedade de Es-
criptores e Artistas, do Atheneu e de outras varias corporações.
O sr. Moret havia disposto previamente o modo como deviam ser
recebidos os illuslres hospedes. A c<»mmissão. compvtsta dos srs. Coel-
lo, Fernaudez Duro e Ami, chegou a Talavera á 1 hora da tarde, che-
gandi) poucos momentos depois os exploradores portuguezes.
N'aquella exposição improvisou-se nm banquete. n<> qual se brin-
dou á He>panha e Portugal e a Capello e Ivens.
O comboio chegou a Madrid ás 5 lioras. em ponto, sendo recel>i-
dos os explõrad(jres portuguezes e os que os acompanhavam peh sr.
Moret, que immediatamente os apresentou, no salão de descanço. aos
presidentes das respectivas commissões.
Depois de se terem proferido de parte a parte affectuosas piua-
ses de sympathia, os viajantes portuguezes toniarain assento na car-
ruagem da embaixada, indo hospedar-se no hotel da Paz.
Esta n(»ite não haverá festejos a fim de (jue (ts recemchegados
jíossam descansar. O ministro de Portugal entregará aos snrs. Capello
e Ivens os diplomas e insígnias e as gran cruzes do Mt-rilo Naval e
de Isabel a Catholica que lhes concedeu S. M.
278 ARCHIVO DOS AÇORES
As recepfõcs — Aiupliando as noticias que lemos dado, diremos
*]ue o primeiro acto ollicial a que assistirão os iiliistres exploradores
pnrtuguezes será uma recepçãi) da Sociedade Geographica do edifico
da Acad.ruia de Historia, a qual se celebrará sabbado ás 9 huras da
noite, sendo convidado o ministério.
Domingo verificar se-ha a sessão solemne publica no Iheatro de
Alhambra, e a recepção no Centro do Exercito e Armada, a qual pro-
mette ser brilhante.
O banquete — \er\iicar-se-h3 segunda feira à noite no thealro de
Alhambra, que estará decorado artisticamente, para o que o alcaide
presidente do município deu amavelmente as ordens precisas a fim
de serem fornecidas as tlores e plantas dos jardins municipaes e to-
dos os objectos que forem necessários. O muzeu Naval e de Artilheria
contribuirão paia o adorno do thealro com tropheus militares, bandei-
ras e outros objectos allnsivus ao acto.
Assistirão ao banquete os ministros do fomento, marinha e ultra-
mar como representanlcb. do governo: não se sabe ainda se assistirá
o sr. Canovas. Os convidados deverão apresentar-se de uniforme ou
de casaca, com as suas condecorações, promettendo o banquete ser
brilhantissimo.
No Thtatro Real— A empreza, de^ej;tndo contribuir para o maior
esplendor dos festejos que se celebram em honra dos illustres explo-
radores lusitanos, resolveu dedicar-lhes o espectáculo que realisará do-
mingo á noite. Cantar se ha a opera "Favorita» e assistirão ao espe-
ctáculo os srs. (;apello e Ivens, o governo e commissões de Iodas as
sociedades, círculos e corporações que tomam [larte nas festas. A or-
chestra executará uma grande symphonia.
a Madrid 27, ás 6 h. e 45 m da /. — Era magnifico o aspecto do
banquete olTerccido no thealro de Aliiimbia aos exploradores portu-
guezes. Em Madrid nunca se deu uma festa tão brilhante. Mulheres
formosas, muitas flores, bamleiras [)oi tuguezas e hespanholas enlaça-
das, e uma illuminação explendida,— tudo isto mais fazia realçar tão
dislincta festa.
«Em consequência de estarem ligeiramente doentes, não poderam
concorrer ao banquete os snrs. Brito (^apell- e D. Emilio Castelar.
«O jantar foi de 150 talheres, e os brindes foram inaugurados e
encerrados pelo sr. Morei. Os restantes foram levantados pelos seguin-
tes convivas: do ministro do fomento (jue brindou ás gl(jrias portugue-
sas; do ministro da marinha, que na qualidade de representante da
armada hespanhola, brindou aos exploradores: do presidente da Asso-
ARCmVO DOS AÇORES 279
ciação (l(j Escriplores, que brindou pelas letras lusitanas; de Mendes
Leal, que saudou o rei de Ilespanlia e os exploradores; de Libra, co-
mo representante de três Sociedades, que, em phrases esplendidas, ce-
lebrou as glorias das duas nações peninsulares; do general Salaman-
ca, que enalteceu os exploradores Capello e Ivens, dizendo (jue estes
dois heroes tinham exposto a sua vida pelo amor da sciencia e da liu
manidade; de Coello, presidente da Sociedade de (ieograpliia, que brin-
dou os seus collegas de Lisboa e Porto, e os dous exploradores, co-
mo descendentes de Vasco (Ja Gama e Fernando de Magalhães; de Es-
cobar, director da «Época», representando a imprensa, que brindou
pelas bandeiras peninsulares, unidas as grandes emprezas. Roberto
Ivens respondi u, agradecendo eloquentemente todas as provas de de-
ferência e consideração que lhe eram tributadas e ao seu glorioso com-
panheiro.
«Os exploradores vão satisfeitos com o acolhimento que lhes fez
o povo madrileno, sempre admirador dos feitos heróicos Esta ceremo-
nia solemne influirá de certo para estreitar ainda mais as relações de
Portugal com a Hespanha.
«Capello e Ivens sahiiam hoje nri comboio expresso para Pariz.
Era numerosa a concorrência de pessoas que foi despedir-se d'elles á
estação do Norte. «
-^^sx^.^
CARTA DE HESPANHA
Madrid, 27 doutubro de 1885.
Sr. director do «Diário Popular».— Continuam os nossos estima-
dos hospedes Capello e Ivens a ser os heroes do dia, e por elles te-
mos chegado a esquecer a politica, cousa que em Hespanha parece im-
possível.
Continuo pois a relação da estada em Madrid dos afortunados e
valorosos exploradores.
A sua presença no theatro da oper;i foi saudada com um aplauso
unanime. Vestiam os seus uniformes de marinha; Capello trazia a gran-
cruz do Mérito Naval, e Ivens a de Isabel a Catholica.
Em um dos entreactos foram cumprimentar o ministro da guer-
ra, e anies de terminar a opera sairam do íheatro para irem ao «Cen
tro .Militar» onde eram esperados.
280 ARCHIVO DOS AÇORES
A recepçíio ijne o «Ciiciilu» llies fez foi magnifica, seiídu recebi-
dos peKis coiimiist«ões áo Ceutro Militar, do Ateneu, du Circulo Mer-
cantil, Sociedade Geogr;ip!iica, União Comniercial, Sociedade dos Escri-
ptores 6 Artistas e oulras mais.
Morei, em um eloquente discurso, fez a apresentação dos explora-
dores.
O general Salamanca, como presidente, manifestou a satislação
que o Centro Militar tinha considerando como sócios aquclles qu»i u-
niam ao valor o estudo e a sciencia.
Ivens respondeu agradecentlo ao general Salamanca, ao Circulo
e á Hespanha, ás distincções com que o lionravam; e fazendo votos para
que se estreitem os laços de amisade entre Hespanha e Poitugal.
A rogo do general Salamanca assignaram o álbum Capello e Ivens.
Dei)ois de visitarem as salas foram obsequiados com uíu es[)len-
dido banquete.
Moret levantou um brinde áquelles que uniram ás armas as scien-
cias. Niinez de Arce recordou Camões e Ercilla, cantores dos feitos
colossaes de Portugal e de Hespanha.
Ivens Levantou um brind*^ á Hespanha e ao Ceiílnj Militar repre-
sentante da integridade da pátria e tradições cavalheirescas de Hespa-
nha. O general Salamanca fez o ultimo brinde manifestando a sua gra-
tidão a Capello e Ivens pela sua visita ao Circulo.
Os Exploradores sairam do Centro Militar acompanhados por lo-
dos os socitts, e profundamente impressionados pelas attenções que
receberau). Hontem visitaram o Museu Naval. Ktceberam depois a vi-
sita da junta directora do Circulo Mercantil, que foi tributar-lhes a ho-
menagem da sua adminiração e manifestar-lhes o sentimento que este
centro havia tido não pudendo obsequial-os no seu edifício pelas gran-
des obras que ali se estão fazendo, e o prazer com que vinham oíTe-
recer-lhes o titulo de sócios honorários.
Capello e Ivens acceitaram o diploma e rogaram aos membros da
junta que tran>mittissem ao> seus consócios tjue agradeciam aquelle
acto de cortezia de todo u seu coração.
Coordenado por
pRAN^cisco Maf;ia Supico
IMOTAS AÇORIANAS'
(Continuado de VcL Vlli, 155 96)
XVIII
.A. FEST.A. i:>OS I^I^EXOS
(Ilha do Fayal)
OiiHíii. ait cahir de uma larde de Outubro de 182i. liouvesse pas-
sado, ua Viíla da Horta, etu freute da vasla moradia do morgado S. . .,
ouviria segurauipule, partido do pavimento baixo da uj^sma, por en-
tre a névoa crepuscular que começava a invadir esta marítima piivoa-
ção. um irado vozear e mais alto do que este uns dolorosos gritos, que
Hzeram juntar alli perto alguns transeuntes, admirados de semelhante
inciíJente em casa de tamanha consideração, abastança e prosápia.
Afinal abrio-se a porta duma loja que ilava para a rua e o mor-
gado munido d'um az<Mrague salii*» para o caminho, ladeado dum fra-
de de aspecto alentado e brutal, o capellão de S. S.*.
O morgado era um homem baixo, gordo e de faces oleosas c«»mo
as do coveiro no soneto de Gonçalves Oespo.
Vinha vermelho de excitação e com o fato um pouco em desor-
dem, como quem acabasse de fazer um pesado esforço, pois o chapéu
armadíj cabia lhe a uin lado, a casaca abrira uma costura debaixo do
braço direito e havia uu)a tivela rebentada entre a extremidade supe-
rior das suas meias de seda e a beiía dos calções, de bom panno in-
glez, côr de pinhão.
As cmco correias, de meia vara de comprimento cada uma, com
nós na ponta (jue sabiam do látego que empunhava, pareciam ter ain-
da umas crispações ameaçadoras, elíeito do abundoso trabalho que a-
cabavam de executar
Os gritos do interior da loja volveram-se enião n"iins proinugados
gemidos, numa espécie de uivos.
(•) For EriíHsto Rchello.
N.'^ i6 — V..|. Ylll - 1886.
282 ARCHIVO DOS AÇOhES
— Ladr.i para alii (iiianto cjiiizeiL-s, cadella, que a lirãu ha de a-
proveilar-le, uão tornarás pur muilo lempu a ser atrevida, nem a me
dizeres q(ie és livre Livre ? I . então i»aia que te comprei eu com o
meu dinheiro? . . passa fora ! . .
O frade ouvindo n'este momento iuu dos taes uivos, piscou um
olho para os es[)ectadores d"esta scena, dizendo-lhes por (roça:
A coruja não canta de dia.
Canta de noite, d Ave Maria.
No meio do riso alvar que estf dichote produzio, um dos assis-
tentes, mais familiarisado com o morgado, ousou perguntar lhe:
— Então que vem a ser isso, Y. S.* e.-tá agastado?
— Que querem vocês, ha diabos (jue não vem do Brazil se não
para inquietar a gente, é atrevida e re.^pondente, está hoje damnada
por que dei uns pontapés no filho, imi marau de quatro annos, que
appareceu alii não sei de quem . . .
O frade pareceu desejar mudar de conversa, ao que o morgado,
porem, não prestou attenção, continuando ainda: E a dizer-uie que eu
não tornasse a tocar no mulato, porque tanto elle, couk» ella. eram li-
vres, mas isto dito citm uma raiva . . . Forte atrevida !
— E' o qiu' veio fazer o tal Sr. Marquez de Pombal — acrescen-
tou senlencidsamente o frade- com as suas asneiras da passagem ou
não passagem da linha. Aqnillo foi o maior pedreiro livie que jamais
veio ao mundo, o que vale é que ha quarenta e dois annos já o diabo
o tem [»ara lá . . . temos todos essa data de còr. foi em 1782.
— Qual linha, nem meia linha — accudio o morgado — a |)anca-
daria é que ensina os brutos, o mais são lii.>torias. ella que me lorne
a dizer algunia que eu dispo-lhe a pelle.
— O Sr. morgado, - proferio paia os esiiecladores um homem
mais ietr;do que se achava no grupo— eslá perfeitamente no seu di-
reito, a escrava é fazenda sua, pejtence-lhe e hade dar lhe o ensino
que quizer, ninguém tem nada com is^o.
— E que não queio que me acont{'ça como a<t marido da I). Eu-
genia, estes ptrros são muito iesabiad(>s . . .
— Lá isso foi um caso de que ninguém leve culpa, o Sr. morga-
do bem sabe que o mulato foi encontrado de manhã, fechado á chave
como era costume.
— E quem diz a vm.'^'' que elle não teve artes do Inimigo (o fra-
de benzeu-sej para enganar a h)dos e embaçar a justi(;a ? O que eu
não entendo é c^uio 0 Sr. Corregedor deixa andar aqmdie mulato por
ahi á solta. Isto vae-se acabando tudo . .
— Mais a religião também, — acrescentou o frade.
— Eu cá lenho ouvido (pie foi um ramo de estupor, um mau ar,
que deu no seu senhor.
ARCHIVO DOS AÇOBES 283
— Historias! . . o in.iiido da D. Kiigciiia Iodas as imiles, antes
de se deitar costumava ir fechar o mulato ifuma loja, ao fiiiido da es-
cada, para o ter mais seguro e talvez por desconfiar já do ipie elle se
ria capaz.
Ora se na ninil,ã segninte o foram enconliar a meio da escada
de pedra, em camis:i. todo ensanguentado, com a cabeça debaixo do
c,)rpo e com a cliave aind i na mão. embora o mulato estivesse fe-
chado por fora, está claro (jue foi elle. Pois nTio é assim?
— Mas como?
— Kii sei lá como, aipielles diabos são mnilo ladinos e sabem mui-
tos feitiços, botam mnidinga em tud(j ... Se elles não fizessem tan-
to arranjo a uma casa de familia, eu não os queria vèr, é preci.so mui-
ta paciência . . .
— Como a de Job — accndio o frade.
— Exactamente, padre capellão, uma paciência de Job, mas eu
com uma filha e um filho, ambos dementes, (jn(ím é que os havia a-
tnrar ? . . só negros. Vamos agora ver a Domingas o que arranjíju pa-
ra a ceia.
— Já são horas, Sr. morgado, eu já começava a sentir umas gas-
turas . . .
— Pois venha o P.'' d alii. O" amigos, haja sande.
— Deus fique com o Sr. Morgado e lhe de mais folgança.
Cinco minutos depois a rua estava deserta e o morgado e o fra-
de, acercados duma bem guarnecida m: za ceiavam desalmadamente,
destacando-se d entre as viandas apetitosas um morme garrafão de
bom vinho do Pico, pertencente á lavra do dono daquella casa.
TrouNemos a(|ui, accidentalmenle, o antecedente quadro, para in-
dicar ao leitor que na epoclia a (pie nos reportamos, isto é, ha un<^
sessenta annos, apesar de [)rohibida nestas paragens, a escravatura
ainila a^pii estava em todo o seu vigor, havendo numerosos captivos
tanto na Villa da H )rla, como em to'ías as freguezias rur;ies da ilha,
especialmente em (^astello Branco, (|ue n'esta especialidade levava a
primazia a ipialquer outra p )V;)ação fayalense, pois ipie possuía muita
gente graúda e nobre, a familia das Senhoras Donas, do (Capitão da
(barreira, dos Bellencourts, dos Pinheiros, etc.
Acreditámos, pela Índole geralmente bondosa dos fayalenses, (pie
o tratamento nesta ilha applicado aos escravos não devia ser do peior
e (pie fiictos como o que acima descrevemos nã(j occorreriam, com cer-
tesa muito trivialmente, a não ser se, com vergonha o confessamos,
se davam naípiella epuclia a semelhantes infelizes, os maus e brutaes
tratos (|ne o nosso povo dá aos aiiinies, ret»ai.\ando-nos ainda hoje,
perante os numerosos estrangeiros que conslantcmeiíte aqui aportam,
ao nivel de uma povoação meia selvagem..
Oura rerilas, seil reritas.
Dos [uetos, [)or('m, resam muito succintamente as chronicas fava-
284 ARCHIVO DOS AÇORES
leiises; haviam milites é o (|iie sííljemos e os factos <|iie sobrenadam
á voragem do tempo, revelam mais excentricidades dos seus donos,
do que verdadeiras maldades, como o que acontecia com um certo mor
gado que ti^udo uma grande bebereira no seu quintal, quando se tra-
tava de apanhar os figos, mandava subir á mesma um pn to já velho
que possuía, ficando elle em baixo com uma vardasca na mão.
O Zacharias. desde que subia [)ara a bebereira, devia e^tar con-
stantemente a assobiar, para não poder cumer da saborosa tVncta, e se
parava um instante, era fustigado em chegando ao chão.
Qui^m, na ilha do Faval alimentava poderosamente a imi)ortação
de escravo.s era um capitão de navio, chamado C . . ., e natural da ilha
Terceira.
Este individuo homem í<ério e que afinal moireu C(tm bôa fortu-
na pecuniária, era o proprietário e capitão de um brigue que viajava
quasi seíupre para o Brazil, donde trazia muita e excellente madeira,
assucar e diversos outros productos daíjuellas ricas colónias, bem co-
mo pretos e pretas, por quanto, embora este trafico estivi,'sse de ha
muito abolido por lei, effeituava-se ainda assim nestas ilhas com mui-
to mais drscarauif nto do que actualmente se contrabandeia em tabaco.
Quem entregava na Horta ao capitão (]..., de 80 a I20Ô000 is.,
(. niciximo. podia contar no regresso do brigue do Bi'azil. com umrf
creoula, moleque, t»u preto, conforme a encommeuda que fi/eia.
O capitão não vendia publicamente esses desgraçados, ia-os dpi-
j-ainio pelas casas dos morgados, da gente rica e até de artistas.
Ninguém tinha nada que lhe dizer e isto durou assim largos aíi-
nos.
X escravatura era, por con.seguinte, assaz abundosa nesta peque-
na ilha e da mesíua se aproveitavam todas as classes da socic^dade.
Nas tristes condições dos captivos, tinha ainda assim a gente de
fôr um dia de grande festa, no Fayal.
Era na dominga de Setembro em qtie a egreja reza da^ Dores de.
Nos>a SeulKua.
Havia, então grande asafama em todas as cazas que possuíam es-
cravos e estes, embora das mais longiqiias freguezias ruraes. desciam
todos á Villa. sem dislincção de sexo ou edades, para conjunctamente
com os seus companheiros na mesma exi>tentes, tomar parte na festa
religiosa e graiide jantar (jue nesse dia lhe> era dado.
A festa efíeituava se no templo de São Francisco, adjuncto ao
grande convento da respectiva Ordem, e com tanto maior praser da
Communidade quanto, antecedentemente um seu irmão leigo, o preto
Fr. Jusé da (^juceição, homem de grandes virtudes, lòra at» iuq)erio
(!o Brazil ao peditório, angariando alli muitas madeiras e muito di-
nheiro para a feitura d'uma das suas cazas religiosas, o convento de
^^lo IVdro dAlcanlara, no (iaes do Pico.
E não era(u os fraíK-i.scanos. diga se a verdade, homens atreitos
ARCHIVO DOS AÇORES 285
n f>S(pi('('i>r ijiiaesquer serviçns á Onlein Seráfica, lo>sem psle> ffiios
por ijiiH|(|Mt'r religioso, oii s<^ciilar.
Assim era da praxe h festa do.s prelos ser-llie feita em caza e
(lara a mesma co.iti ibiiiun »■ se prestav;im da melhor vontade, arman-
do esplniididamente o templo e saccando do thesoiuo do convetito as
mais ricas alfaias, par.t a oriíaintntação dos aliares.
Ás 10 hítras, pois, da manliãa de tão memor.ivel dia, estando ln<!o
jtrepara(io,'coii(Oiriam á egreja de São Francisco, con) a nnica ext e-
[)ção dos enfermos, lodos os escravos na ilha existentes, as faniilias
dos seus senhort^s, ns dev(»los e os curiostts d psta animal e ^-fii (jf^np-
íis p.itnscada.
Na <;-apella mói' o clerc as aulhoridítdcs e os representantes da
ijobresa da t^rra.
Era de rigor nVsse dia. e n esle partiiidar muito Ciiidadoso.^ os
donos dos escravos, que estes ^e apresentassem ricamente vestidos,
os homens de casaca com hiítões amarellos, colete de seda, calções
visto.<os e chapéu armado, com muitas plumas, e as escravas com bons
vestid(ts, não raio de seda. grandes cordões, pulseiras e pingentes
d'oiro. trazendo iodas um veo branco e as mais nuvas, sobrepitsta ao
veu ntna grinalda de tlires, como se fossem para um niiivado.
É fácil de conjecturar a immensa concorrência que este espectá-
culo chamava ao templo e átrio de São Francisco, nimguem >e podia
mecher. era iiece>sario ir bem cedo para apanhar um Togar rasoavel.
Começava. |)roximo d;)S ti horas, a festa, dedicada a Nossa Se-
nhora da Piedade e que constava de mi>sa de musica e sermão, es-
tando ao lado da injagem da Virgem, na c.ipeila mòr. uma coroa de
prata lavrada, emblema do Divino Espirito Santo, com a qual. no prin-
cipio da funcção. era coroado, o preto que fora n'aquelle anuo eleito
Impt^rador e do qual o dono fazia, conseipienlemenle, as despe/as des-
te dia, as quaes. por vezes foram importantes, jxiis que isto se torna -
ia n'uma questão de capricho.
Terminada a missa os pretos ian» jantar, umas vezes em caza do
dítno do Imperador, ijuando esta tinha accouimodação para tão rnunero-
sh ajuntametito, outra> n'nma sachristia da egreja de São Francisco,
com grande gáudio do> frades e dos espectadores seculares ijue as-
sistiam ao destioço d a(jnellii gratide comesana.
Este jantar tomava geralmente as proporções de um luzido ban-
quete, por quanto a vaidade do projirietarii» do Imperador, não queiia
fic;u' envergonhada naquelle dia e numa lã.» publica remiião.
Alem da grande diversidade de iguarias, as abnndos.is liotelhas
il)S uimís excellenles viidios do Pico, eram então enq^inadas a valer,
l>em co(no ao dessert nunca f;dtava a bôa Amlava e Angélica, numa
[>alavra um verdadeiro rega bofe.
As 3 \/3 horas ila tarde leunia-se de novo, no corpo da egreja. a
alegre e escura turba dos escravos, havendo vésperas de mn.Nica. um
286 ARCHIVO DOS AÇORES
spgiin<lo e msis corriqueiro sermão, aconselhando aos pretos diicilida-
de, ohfdieiícia e muita giíilidão ans si os :^e^llores, seguindo se logo
uma imponente [rocissão (|ue percorria as principaes ruas da Horta.
Este préstito era immenso, compoiído-se de toda a cleresia da
Villa, numeroso pes>oal das ordens monásticas, confrarias das diver-
sas povoações da ilha. aulhoridades, inipa òc.^.
A procissão levava três imagens, por quanto de[)ois do guião, sr
guia se o Hudor de São Lobão e de Santa Kphigenia (pretos) e a algu
ma distancia Nossa Senhora da Piedade, atraz de cujo andor seguiam
em filas de dez intJividnos cada uma, todos os pretos e pretas que
haviam concorrido á sua festa.
As varas do pallio, era uso, serem levadas por estudantes, pre-
cedendo as anthoridades convidadas para este acto e os respectivos
donos dos escravos.
ppchava o pre>tilo a tropa e immenso concurso de povo.
A religiosidade daquella epocha iuciimbra-se de enfeitar as janel-
las de muitas cazas, no trajecto da procissão, podendo se nas me.^mas
admir;ir, alem de muitas mídheres formosas, immensa profusão de ra-
mos e llores, bem como magnificas e vistosas colchas de seda da ín-
dia, dependuradas das varandas.
Uuja f(ísta rasgada!
N'algumas dVstas uccasiões, resam as clironicas fayalenses, quo
se gastavam centos de patacas, visto não ser raro que, já de noite,
quando os escravos iam a caminho das suas nioradias, algumas das
quaes bem remol;is, abrir e illuminar o dono do Imperador as suas
salas á nohresa da terra e começar alli um sumptuoso baile, que du-
rava até á madrugada seguinte.
No meio desta ah^gria geral havia, ainda assim uma nota discor
dante, lúgubre, e que, porventura, não passaria de>apercebida para
qualquer cuidadoso obseivador.
Nas janelias das casas pelas quaes havia passado a procissão, a
par de muitas meninas e senhoras elegantes, formosas a[)eicebiam-se
também alguns ríjstos de umas infelizes creaturas desforujes, bestiaes
ej^repellentes.
Eram os idiotas, abumlantissimos então, principalmente no seio
das familias nobres, triste producto dos casamentos entre parentes
próximos, para angmeuto ou cotjservação dos bens vinculados.
Oiieni consultar, com um certo cuidado, o antigo lUfido de viver
da^genle desla ilha, hade topar, iuvariavelmenle. até nos mais insi-
gnificantes inculeutes, com um frade, lun demente, um e>cravo, ou
um m(>rgado.
Era uma túnica de Nesso (pie, só depois do advento e radicação
das ideas libeiaes foi caliiudo por terra desfeita e at s pedaços, levan-
do, porem, ainda nisto um bom espnço de lem|)o.
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1832
PAROCHIA DA MATRIZ DO SANTÍSSIMO SALVADOR
DA HORTA
Localidades
Rua de S. Francisco (1)
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ARCHIVít OOS AÇOHES 291
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(I) A pcs.sua mais eclusa o Doáembargador Maiiool (iarcia ila Rosa, com 82
iiitiitts. Iiiclue esla rua ;{4 religiosos do Convento do São Francisco.
(â)A pessoa mais edosa Tiíereza Aurélia, viuva, proprietária, comSOannos
(:{) <■ " « Dan:iaso Pereira da Silva, viuvo, alfaiate, idem.
(4) <' '< •< António Furtado de Mendonça, viuvo,com 87 annos.
(í); << « " Francisca Luiza, proprietária, com 79 annos.
(6) " " " Rosália Fi-ancisca, viuva, com 86 annos.
(7) « " «< Francisco de Paula, proprietário, com 34 annos.
(8) « < " ífínacia Margarida, proprietária, com 98 annos.
(9) . « <■ " D.Maria Labatli, viuva, proprietária, com 88 arinos.
Inclue esla rua 22 doentes no hospital e 22 men-
digos.
(10) • " <• António Vieira de Faria, proprietário, com 78 an-
nos. Inclue esta rua 11 presos nas cadOas e 77 re-
ligiosas do Convento da Gloria.
(II) « « " Isabel Marianna, viuva, proprietária, com 64 annos.
(12) - '- " Anna Quitéria, da familia Medina, com 74 annos.
{13j <• " « Maria do Espirito Santo, famula, com 88 annos. In-
clue esta rua 122 religiosas do Convento de
São João.
(14) « " '< Catliarina Flora, viuva, com 7o annos.
(15) " " " Isabel Joaquina, com 7o annos.
(16) '< « " Francisco Uias, viuvo, com 80 annos.
(17) '■ « " Barbara da (Conceição, viuva, com 80 annos. Inclue
esta rua 17 religiosas do Convento do Carmo.
ll8) << " " Isabel Francisca, viuva, com 70 annos.
(19) « ■' " Francisco Luiz, viuvo, proprietário, com o7 annos.
(20) <■ « " Águeda de São João, casada, com 6o annos.
(21) « " " Eugenia Rosa, viuva, com 82 annos. Inclue esta
rua 3 religiosos franciscanos, do Oratório.
(22) « << «• D. Felisarda Joa(|uina dos Santos, viuva, com 60
annos e (laetano, escravo, da mesma edade.
(23) •• « H Maria de Jesus, viuva, cum 87 annos.
(24J « •< " Maria Francisca, mulher de Manoel Roiz da Costa,
com 67 annos
(2o) <• '< '< Francisca Margarida, com 88 annos. Inclue esta rua
4 religiosas do Convento de Santo António e deve notar-se que esta Travessa, in-
do pelo lado de oeste do Convento de São João, abrangia a antiga Canada da Ga-
linha, hoje estrada da Vista-alegre, assim como a actual rua do Ministro Ávila.
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ARCHIVO DOS At:OKES 295
XIX
Depois de nove horas de jornada, de haver alravessailo a serra,
siihido e descido muita ladeira e crnsado os grandes descampados de
pedra roliça e requeimada, entremeiada aijui e alem por montas de
rasteias faias, descampados a (jne se dá o nome de mystprins, por se-
rem estes os sitios por onde passaram as ribeiras de retervente lava
das antigas erupções vnlcanicas do Pico. chegámos atinai, ao cahir da
noite, á Villa d.is Lagens.
Não alegra a prespectiva daqnella povoação, maxime para «piem
vem fatigado e balido de chnvas e ventanias, acrescendo ainda que
n"essa occasião estávamos no fim do inverno, que os dias bons eram
ainda raros e que nma nortada aguda nos fazia assoprar nos dedos e
embndhar aconchedamamente n'uns cobertores de lã, (jue nos haviam
empresladt) pelo caminho.
Os nossos companheiros de jornada eram mn rapaz da villa, que
tinha ido á ilha do Fayal, d"onde regressava, por causa do recruta-
mento, um homem da Magdalena, que tinha a seu cargo os dois pés-
simos burros (pie montávamos e um cão, rateiro, de raça ordinarissi-
ma, que durante lodo o caminho matara, na serra, dois coelhos, dos
quaes o arrieiro logo se apoderara, e pela estrada vários ratos de
<^normes pro[)orçÕes.
A priujeira povoação da ilha d." Pico, |)ois que a sua existência
data de 1500, parecia deshabitada, nem dava (» minimo signal de vi-
da, tendo um aspecto desolador tanto a sua principal e acanhada egre-
ja, como a maioria dos edifícios j)ublicos, geralmente no peior estado
de conservação.
Foi. como já dissemos noutra pnrle d estes apontamentos, um
padre d'aqnella localidade, por nome fr. Pedro Gigante, introduzio na
]lha do Pico a sua principal fonte de riquesa, alguns bacellos de vi-
nha, vindos da ilha da Madeira, que em poucos annos se multiplica-
lam de tal sorte (pie chegou a produzir ^3:000 pipas de excellenle
viidio, lornando-se písr esle facto importantissima entre lodiís as suas
irmãs do archipelago.
Kncaminham-u-nos paia o velho e estragado convénio de'São
Francisco, que domina a vilhi e no qual um amigo obzeijuioso nos ha-
via permittido permanecer n nm desguarnecido (piarto.
Arrumadas as cavalgaduras, o rapaz foi procurar o lar domestico.
o arrieiro estendeu-se no soalho e dentro em breves minutos dormia
•rofundamenle, em quanf»» eu. sentado 1111111 twnco de pinho, á luz
296 ABCHIVO DOS AÇORES
i\e. nin;i unlinaiia vela de sebo, lastimava pela centésima vez a rniiilia
inania de visitar os pontos mais remotos do Pico.
Comi algumas dentadas de «amn assada, bebi meia garrafa de
vintio, eslendi-me no chão, numa péssima cariía que alli me haviam
feito, apaguei a luz e tratei de adormecer.
A fadiga, porem, se muitas vezes causa somno, não é raro lam-
bem produzir' o contrario e nem a chuva que no caminho sentia, man-
sa e continuamente, caliir, me produzio o sen narcótico effeilo.
Alem disto, um pingo d"agna cahindo no quarto, de alguma ro-
tura do tecto, cadenciado e constante, como a pêndula de um relógio,
incomn)odava-me sobremaneira, tanto mais que eu ignorava o sitio
que elle alagava e se dentro em pouco não me acharia todo enchar-
cado.
S-in conseguir lograr descanço, quiz accender luz, era ao menos
uma companhia, e Irmbrei-me (jue uo castiçal estavam alguns phos-
pboro.-, provavi^luiente legado do ultimo habitante daqnelía parte do
exlinclo convento, que eu não sabia queui fosse, nem quando alli hou-
vesse estado.
Procurei-os às escuras, risquei un), dois, três, e apesar do cheiro
nauseabímdo que ficou em redor da cama, os malditos ardiam o en-
xofre, mas em chegando á madeira extingiiiam-se immediatameute.
O arrieiro continuava a dormir e resonava, um resono de apo-
pletico, parecendo que era capaz, com aqnelle sou), de fazer estreme-
cer todo o velho eddicio em que nos achávamos. ,
Pelos meus cálculos, deviam ser nove ou dez horas, isto é, alta
noite u'aquelles sitios.
— Queui sabe, — dizia eu — se deu algum ataque no Vicente, a-
quelle resonar não me parece natural, e eu aqui sosinho, sem luz. sem
o poder ver ... o melhor é acordai o, talvez não seja nada . . . ò tio
Vicente, tio Vicente! . .
Não obtive resposta.
Levantei-me e ás apalpadellas, sem estar bem certo da disposição
do quarto e dos poucos moveis que tiníia. fui agarrado ás paredes pro-
curar o arrieiro.
A única janella (pie deitava paia o caminho não tinha vidraça e
somente portas de madeira, de sorte que nem o miuiuKj vislumbre de
claridade por alli entrava.
Tropecei afinal no corpo do homem, apalpei lhe as mãos (pie es
tavam frias de neve, sacudi-o. tratei de o desjteitar.
Malfadado trabalho, a|)aiiliei um enorme socco que elle me atirou
e que nit! deu em cheio n uma ilharga e inalteravelmente conliimnii a
dormir, com idêntico ou ainda mais forte estrondo.
Ainda assim fiquei satisfeito, o homem que dá um murro daqiiel
jes deve estar vivo, bem viv<i.
ARCHIVO DOS AÇORES 297
Acresceu lambem uma dutia <:ircumstai]cia que mais enfadonha
me tornou semelhante no te.
A chuva continuava, lá 1'óra, a cahir lorrenciahuenle. e já desho-
ras comecei a uiivir uns giitos atílictivos, .igudos e amimlados, (jiie o-
ra pareciam soar perlo do convento, ora mais ao hjnge.
Não sabia o que isto fosse, pareciam vozes de mulheres ou de
creanças que estivessem a malar, lalvrz algum grande crime que n"a-
(juella \u)Vã se estava a praticar . . .
Quem se apanhasse no Fayal ! . .
E (|ue valente fôlego deviam ter as taes victimas, pois que leva-
i'am toda a santíssima noite n'aquella inferneira!
Só qjiando, em lingoagern local, começaram a luzir os buracos da
casa é que, vencido pelo cançaço. consegui adormecer . . .
O dia seguinte, e aciírdfi já tarde, eslava esplendido, com um sol
radiante.
O vento havia rondado ao norte e nem imia nuvem apparecia no
fundo firmamenlo azul escuro, como por vezes acontece naquella es-
tação.
Achei me sosinho, o arrieiro que dormiia á farta havia-se safado
ijiais as cavalgaduras, ainda de madrugada, como depois me disseram
e somente em frente do convento um bando de gallinhas esgravatava,
pacificamente, o chão.
Se a conlemplação da villa, como já disse, apresenta um triste
aspecto, ainda assim tinha uma verdadeira compensação na formosís-
sima bacia de mar que então via na minha frente, a Lagoa, como al-
li lhe chamam, isto é, uma grande bahia, fechada toda em roda por
margens mais ou menos elevadas, mas de pittoresco corte e somen-
te cominunicando com o oceano por estreita abertura, lá ao longe, de-
frontando a povoação.
O rapaz das Lagens que commigo jornadeara na véspera a[)pare-
ceu-me, então, em casa.
— Que tal passou o senhor a noile? — perguntou elle.
— SoíTrivelmenle, soffrivelmente, mas cahio agua a valer.
— Não senti: isto aqui como é muito socegadinho, dorme a gen-
te que é um regalo.
— Foi o que aconteceu ao Vicente, arrieiro, mas digaine uma coi-
sa, houve algum acontecimento (extraordinário esta noile na villa, fez-
se algum crime, maton-se alguém?
— Um crime! . . matar alguém!! . . (]redo . . . isso são coisas
em (jue se pense sequer, numa terra dVslas.
— .Mas é que eu, toda a noite, ouvi lautos gritos, que . . .
-Grilos?! . .
— Sim gritos, parecia que estavam a esfolar gente viva . .Safa!
— Ora essa! . . a(|ui não consta qiie hajam feiticeiras, nem Iam
N." 'i« — V(»l. VIII 1886. 3
298 ARCHIVO DOS AÇOKES
busões, nem coisas ruins . . . isso de noite o que grila são as cagarras,
mas a gente não faz caso.
Estava explicado tudo.
Achei também curiosa a maneira porque n'aquella localidade ex-
traem o uleo daquellas aves, o qual tem applicação medicinal para
rheumatismos.
Dependuram as cagarras pelos pés, vivas e presas ao traveja-
mento da caza, e os pingos de azeite que ellas então deitam pelo bi-
co, são cuidadosamente aparados para o mencionado uso.
-O senhor venha dahi, — disse-me ainda o rapaz que hoje va-
mos ler um grande divertimento, chegou em bôa occasião.
— Então o que vem a ser?
— É um caidume de botos que foi avistado ao romper da manliã,
já sairam algumas lanchas a ver se conseguem mettel-os na Lagoa e
a povoação toda está de espreita na costa, ha de ter que vér.
Comi, á pressa, algumas dentadas de pão e queijo, bebi um cá-
lix de vinho e exclamei:
— Prompto! . .
— E vamos de corrida que não podem estar longe, se elles en-
tram na Lagoa é que vae ser bonito.
No fim de um quarto de hora de caminho estávamos em cima de
um penedo, ao lado da villa, que devassava perfeitamente o vasto e
isolado oceano, única prespectiva que d'aquella localidade se descor-
tina.
Os peixes que pela escuma que faziam na agua, deviam ser im
mensos vinham acossados pelas lanchas, cujas tripulações com grande
celeu!na e arrojando-lhes um bom fornecimento de pedras, que adrede
haviam levado, os encaminhavam na direcção da bocca da Lagoa, ten-
do todo o cuidado na disposição das embarcações, de maneira que o
cardume não podesse tomar qualquer outro rumo.
Na costa a multidão era enorme, homens, mulheres, creanças,
todos com verdadeira anciã esperando o bom ou mau succedimento da
pesca.
O cardume de botos, afinal já perto da estreita passagem que o
queriam obrigar a transpor, pareceu ter consciência do perigo que o
ameaçava e tentava retroceder, levantando uma grandiosa salseirada
no mar.
As lanchas, porem, á força de remos, de gritos e de pedras, cou
seguiram tornar a reunir os peixes, que ainda assim, temerosos, pa-
raram á entrada do canal, que ladeado de rochedos conduzia para o
interior da grande bacia.
As pedras choveram então com mais força sobre os resislenles
cetáceos.
Afinal um dos maiores peixes, medindo (alvez (piatro metros de
C(»mprimenlo, {)(>ssafile e luzidio, como uma lamina de aço, encami-
ARCHIVO DOS AÇORES 299
nlioii se tnagestusamente, bufando de desespero, para o começo da
garganta da Lagoa, e deixando um sulco de escuma na sua passagem,
(lesapparecen, em breve, na direcção da lerra.
Era este. seguramente, o leader da companhia, segiiio-se lhe logo
nin segundo, depois terceiro, e assim successivamente até ao ultimo
individuo do cardume.
Os espectadores, ora encimando as circumvisinhas pedras, conta-
ram a passagem de numero superior a sessenta peixes, (|iie então se
alastravam nas fundas agoas da Lagoa.
Depois da entrada do ultimo boto, na abertura que dá ingresso
para a bahia, foi estendida uma rede especial, para embaraçar a sa-
bida de qualquer dos prisioneiros, e duas lanchas, atravessadas, alli
permaneceram constantemente sobre os remos.
A pesca estava bem segura, tanto pela disposição dos rochedos,
como pela estreiteza da passagem.
A este tempo na Matriz soava meio dia.
A maior parte d'aquella gente foi então jantar, para em seguida
continuar na inesperada faina.
Os lagenses dão certa solemnidade a esta pesca.
Uma meia hora depois, começou de novo a reunir-se o povo, es-
palhando-se pelas margens da Lagoa e parece-me que não ficariam
meia dúzia de pessoas nas casas da villa, muitos homens e mulheres
vinham armadas de grandes e luzidias fiicas americanas e no sitio em
que costumam varar barcos e lanclias umas seis embarcações eram
deitadas á agua, pelas respectivas companhas.
As lanchas da bocca da Lagoa redobraram então, de cuidado e
vigilância.
Alem dos remadores das embarcações e do homem do leme só
ia, em pé, no leito de proa e de arpão em punho, o trancador, um
em cada lancha, geralmente homem que andara á pesca da baleia,
nos navios norte americanos, e que por esta occasião veste o seu fato
domingueiro, airecada na orelha e chapéu de feltro.
Também Luiz XIV se esmerava todo, quando entrava em qual-
quer batalha
Ao soprar de lun búzio, por um dos liancadores, começou a a-
cção.
Uma das lanchas chegou-se mansamente paia um dos botos que
estava á tona dagua, e o trancador com incrível precisão, arremeçou,
ainda a aigmna distancia, o arpão, que entrou mais de uui palmo no
corpo do peixe, começando este n uma carreira vertiginosa e deixando
o trancador correr a linha que estava presa ao arpão, até que a lan-
cha arrastada também pela fuiia do cetáceo, reCi)lbendo os remos,
principiou, como um carro puchado por valente urco. a acompanhal-<i
nas suas rápidas evoluções.
A esta lancha, e com egual processo, seguiram se as outras, os
300 ARCHIVO DOS AÇORES
peixes cruzavam-se em lodos os sentidos, os trancadcres, semelhantes
a estatuas, conservavam-se impassiveis no seu porto, só mandando
com a mão ao homem do leme, que lhes executava as ordens, e as
pequenas embarcações da pesca, céleres quaes flechas, por vi^zes dei-
tando se até lhes apparecer a quilha, cortavam a Lagoa em diversas
direcções mudando por vezes de rumo nutn abrir e fechar dolhos.
Aquillo tinha o quer que fosse de assombroso e em terra ouvia-se
distinctamenle o assobio das linhas cortando o ar.
A perícia d.is marinheiros era grande, as suas embarcações n'u-
ma corrida lo:tca, á mercê de grandes e enfurecidos peix.,s, desvia-
vam-se com tal mestria umas das outras, que jamais as linhas se cru
zavam, nem haviam abalroamentos, que então significariam a sua
perda.
E, não ob;ist;mte, por vezes, seguiam parallelas, a distancia ape-
nas de alguns p.ilmos. cobrindo a escuma levantada pela proa de ujna
a tripulação da «mtra.
O mar ruborisava se do sangue dos feridos peixes, os que não
estavam arpoados corriam espavoridos em todas as direcções e alguns
approximando-se das margens encali)avam, sendo logo cercados por
immensa gente que á faca os acabava.
A pesca tomava calor, as victimas iam sendo numerosas, homens
e mulheres de facas ensanguentadas na n)ão, mettidos n'agua alé á
cintura, quando não era até ao peito, effectuavam terrível murticinio,
ao tempo que as embarcações, no meio da Lagoa não lhes ficavam a
traz.
No fim de duas horas de trabalho, estavam estendidos na costa
sessenta e nove v.denles botos e começou a mais simples faina de os
retalhar, para alli mesmo serem derretidos em enormes caldeiras
A pesca tinha sido excellente e os lucros importantes, pois quanto
azeite houvesse obtinha certo e bom preço, para exportação.
As tripulações das lanchas, em um di;i de trabalho, haviam ga-
nho mais do que nimi anno de pescaria miúda, e o vinho e aguar-
dente começou a circidar com fartura, ao som de rudes canções ma-
ritimas.
Á noite a villa estava illuminada pelo reflexo dos grandes fogos
accêsos nas margens da Lagoa, onde o toucinho dos botos se C(tnver-
tia em abundosos barris d'azeite.
O único ponto negro, no meio da alegria geral, era um cheiro
tão pronunciado a azeite de i)ei\e que invadia todas as llilbitaçõe^,
que adheria aos vestuários e a todo e qualtpier obj< cto.
Não ha nada peifeito neste mundo!
Voltei para o meu pobre quarto, no estragado convento, com sé-
lias anciãs para lançar e á falta de coisa mais odorífera bebi genebra,
deitei genebra no lenço e na sobrecasaca.
O maldito cheiro, pon m. perseguia tne cada vez mais forte, vin-
ARCHIVO DOS AÇOKES '(. 1
do em ondas de espesso fumo envolver toda a povoação.
O rapaz que linha sido meu cir( rone e que á sua i»arte, elle e
uma irmã de doze annos, esfaíjuearam dois bolos, vieram, acabada
a lijcta. ceiar commigo.
Naquelle dia, ja se vè. nas Lagens não se fallava senão em pei-
xe.
— Olhe que foi nma pescaria como não lemos lembrajiça ha mui-
tos aunos! — dizia o rapaz.
— E cada peixe... — acrescentou a pequena — grandes e luzi-
dios que nem porcos ou leilões.
- Anda lá, M;iria, que d esta vèz é que tens um veslidtj de lã-
zinha, o pae do seu quinhão d"azeite não deixa de t"o comprar.
— Poderá! . . eii lambem esfaqueei no peixe, que ainda me estão
os braços a arder.
— Foi bem bom, bem bom . . . uma esmolinha de Deus.
— O cheiro da tal esmoia é que se torna in^upportavel — retorqui
ainda — até este charuto sabe-me a azeite de peixe . . .
— É verdade, senhor, é verdade — tornou a rapariga — a genle
bem sente em si assim a modo d'um bodum, mas isto não faz mal.
quizesse o Senhoi' E>pirito Santo mand.ir muitas esmolinhas daquel-
las.
— Se o senhor quizer a[>anhar um boccado de ar bem fresco, bem
puro, eu posso-lhe ensinar o caminho, —disse o rapaz — e ainda em
cima hade divertir se bastante.
— Iss(^ vinha do ceu. levem-me vocês para aonde quizerem, mas
tirem me deste supplicio.
— Olhe que leni de andar um bom pedaço e por Jogares levados
de seiscentos . . .
— Acceilo, seja como fôr.
— O" Maiia, —ordenou o meu hospede á irmã — vae n'um pulo
a caza, e traze-me a rèdesinha delgada, o cão Piloto, dois varapaus,
um archote e o sacco.
— Francisco, deixas me ir lambem comtigo?
--Pois sim, pequena, mas não te demores, hein?
— Isto são duas pernadas. Trago a es{)ingarda?
— Não precisa, f)ara malhar bastam os bordões.
Aquillo parecia me mais o fragmento d'um ranclio de bandidos
[»reparando-se para tenebrosa empresa, do que gente de bem. no ple-
no uso dos seus direitos
— Você não me metia nalguma alhada, veja lá.
— Fique o senhor descançado. que não trora, avia-te rapariga
Dahi por um quarto de hora a Maria apparecia já de volla, com
uma rede, bastante fina, embrulhada e deitada pelas costas de hom-
bro a hombro, cujas extremidades lhe desciam quasi até aos pés, de-
l)aixo d'um braço, bem dobrada, trazia uma enorme sacca, no outro
302 ARCHIVO DOS AÇORES
atravessado iim archote e na mão dois compridos varapaus, com pon-
teiras de metal. Atraz d'ella vinha um cão grande, malhado de branco
e preto, de olhar intelligente e bastante ágil em todos os seus movi-
mentos.
— Ora vamos lá com Deus, —disse o rapaz, distribuindo-me um
dos bordões e reservando o outro para s\ — sugigue-se o senhor n'este
brinquinho, que não faltará que lhe dar que fazer.
— Eu, amigo, para valentias não tenho geilo.
— Alliora o home! — exclamou a pequena, com certo arde escar-
iieo, que começou a envergouhar-me da miaha pusillanimidade.
O Piloto, vendo aquelles bellicos preparativos, batia a cauda de
contente e começou a rodear-nos, fazendo sempre cabeça para a por-
ta de saida.
Era, talvez, o que eu pensava, uma familia de salteadores, mas
a rede? . . de que demónio pode servir a rede . . .
Sai mos.
Lá em baixo, nas margens da Lagoa, continuava o derretimento
dos botos numerosas fogueiras levantavam a grande altura as suas
linguas de brilhantes chammas e ouvia-se o vozear dos pescadores a
par do marulho da maré de encontro aos rochedos.
Na claridade do lume, os vultos daquelles homens, mulheres e
creanças tomavam turmas phantasticas, parecendo uma i-oda de feiti-
ceiras e almas penadas, em sabbatico divertimento.
Seguíamos em íila, por estreita vereda, na direcção, da costa o
Francisco, eu, a pequena e atraz de todos o cão.
Caminhamos sempre para o norte, a tal ou qual claridade prove-
niente das fogueiras extiuguira-se de todo. numa volta da vereda, a-
gora elevada, á beira de um precipicio, sentindo muito abaixo, em
grande profundidade, o mar a desfazer-se nas pedras.
O ceu estava estrellado, fundo, e effectivamente um ar puro e
balsâmico começou a fartar-me os pulmões.
— O' Sr. Francisco, isto para tomar ar parece-me que tem bas-
tante, podemos sentar nos aqui um boccado e está acabada a festa.
— Alhora o home! — t.»rnou a ra[)ariga com o seu modosinho sar-
cástico.
— Isso é que é fallar, — atalhou o lageuse — o senhor que veio
até aqui ha de ir até ao fim, o mais perigoso do caminho já está pas-
sado, agora vamos para o calhau e depois é sempre costa-cosla.
— .\las para aonde vamos nós?
— O senhor verá, e não se ha de arrepender, (irme se bem no
bordão, olhe que isto aqui é alto.
— Deixe-me o tio pas>ar para diante, feche os olhos e suyiyue-se
á minha saia, que não trova.
— Vae te com Deus, rapariga, queres que eu role poi' ahi abai-
xo? . .
ARCHIVO DOS AÇORES 303
— Alkora o home! . . namja cá a genlíí rolar, e í>e não fossem
as topadas, não havia caminho melhor.
Haviamos descido e estávamos agora á beira do mar, n'uma cos-
ta toda povoada de enormes e negros penedos, sem trilho algum pra-
ticável.
— D"aqui por diante — disse-me ainda o Francisco — é preciso
não tugir nem mugir, a gente vae trepando as rochas, mas caladoíí
que nem defuntos, são duas passadas, vá o senhor seguindo o filòto
e guie-se por onde fôr o cão, que vae bem.
— Bem estava eu em caza, isto foi o diabo em que me metti . . .
— Alhora o home ! . . acomede-se o tio e sugigiie-se ao cachaço do
Piloto.
Começámos então um trabalho incrível naquella escuridão, subir
e descer penedos, agudos que nem pontas de facas, ingratos e trai-
çoeiros que nem Judas.
As minhas pobres botas, umas botas novas, sentia bem que esta-
vam nos últimos paroxismos.
Uma ou duas vezes levantei a voz para protestar contra aquillo
tudo, mas ouvia logo o rapaz dizer me: cale-se, cale-se, quando não
está tudo perdido !
Valia-me o Piloto que percebendo, seguramente, as sérias diíTi-
culdades em que eu me achava, ííão se aíTa^tava de ao pé de mim,
guiando me com dedicada affeição por aquelle labiryntho de rochas
desabridas.
Andei de gatinhas, mais os meus companheiros, talvez metade do
trajecto.
Parámos afinal.
O sitio em que então nos achávamos era junto de uma barroca
alterosa, em cima de pedras roliças muito trabalhadas pelo mar, que
a uns três ou quatro metros de distancia, apesar do tempo estar bo-
nançoso, rosnava por vezes ameaçador.
Do lado da terra o cimo da barroca perdia-se na escuridade no-
cturna, nem se sentia o minimo signal de vida, toda a costa estava de-
serta, negra, medonha.
O Francisco, com as maiores precauções possíveis, para não fa-
zer o menor rumor, desembaraçou a irmã da rede, que ainda embru-
lhada deitou a tiracollo, deu lhe a aguentar o seu varapau e começou
a trepar a barroca, perdendo se em breve na escuridão.
O Piloto estava impassível e estático.
A rapariga pegou-me na mão, apertando-m'a bastante em signal
de silencio, e pé ante pé, passando de leve, como uma sombra, foí-me
; conduzindo para junto da encosta, fazendo me subir alguns passos e
seguida pelo cão, que caminhava com idênticas precauções.
Parámos, e pude então perceber que a rede. ora ab*^rta, come-
'^Ú'^ ARCHIVO DOS AÇORES
cava a descer com cuidado, vagarosamente, d'uma saliência superior
da rocha, esleiídendo-se ao loiígu da natura! muralha.
Quando a(|uelle aitefacto estava bem iuii(hj á rocha, a pequena
calguu-o com pedras, na sua orla inferior, o Francisco desceu do ele-
vado postit. e abrindo d"um lado uma nesga da rédr, deu passagem
ao cãt», á irmã e a mim, vindo elle em ultimo logar.
A rocha era, alli, cortada a prumo e entre esta e a rede caminhá-
mos, as>im alguns momentos, C(jm as costas para a muralha e a cara
voltada para o mar.
Não se fizera o minimo ruido.
l)'entro em pouco a rocha abrio-se repentinamente n'imia grande
fiiina. cuja entrada vi (jue estava toda toujada pela rede, sò então per-
cebendo (jual o seu uso.
(3 silencio coutuiuava ainda completo e só, a espaços, se ouvia no
interior da furna o arrulho dalgumas aves.
Decididamente, rião havíamos sido i)resentidos pelos habitantes
d'aquelle marítimo e agreste refugio.
O picoense, já a este tempo, havia-se arrastado até ao interior
da furna e de npeiite accendeu, com um phosphoro, o archote que
derramou logo avermelhada claridade, deÍNando-.ios ver o interior de
uma caverna, cujas paredes com peíjuenas e desiguais saliências es-
tavam povoadas de uulhares d'aves, brancas ou escuras
O rapaz fazia luna roda liiminosa com o facho, para lhe dar mais
vida e grilava como desesperado :
— (^hu pomba.>! , . tlhu ó pombas!! . .
O cão ladrava e corria a não poder mais, a pequena fazia um a-
Urido terrível, arreujessaiido pedras para o tecto e ás paredes da ca-
verna e eu, atordido, via de todas as |)artes levantarem-se bandos de
aves, que esvoavam loucamente, que se arremessavam contra o pórti-
co da furna, batendo na rede, aonde ficavam presas, cahindo ás dúzias
no chão, ou baqueaudo-se contra as paredes, com egual re>ultado,
O cão era infatigável, pan^/ia doido, dava latidos agudos, corria
(Tiuna |)ara oiiiia paite, trepava pelas paredes, espantava, emfim,
ipianto podia, as alerrorisadas avo.
O Francisi'0 de archote em punho e de varapau na outra mão,
fazia-llie uma segunda, em quanto a rapaiiga não tinha mãos a medir,
para agarrar nas pombas que caiiiam e ainda a e>voa(;ar ia-as melten-
do dentro do grande sacco qiuí trouxera, já então com bastante caça.
— Al/ioia o home! . . gritava me ella, toda azafamada - oh tio,
de (pie lhe stuve esse boi'dão?! . . é malhai' n"ellas bordoada rija. . .
Assim fiz e todos nó< causamos alli uma carnificina ipie, ainda
que menos rendosa, deixava muito a perder de vista a matança do>
bíMos na manhã daquelle mesmo dia.
O saeco encheu-se, coin|)letami'nte, de pombas e com elle carre-
gou o l''ranciseo, a irmã despio a sua saia (le róia. de chila, e alli ai -
ARCHIVO DOS AÇORES 305
nimoii niiia hò.i poirJio do c.iç;), íizer;iin-se cíirDljiilliões dn [xniibas. a-
marrad.Ks pelos |)tís. dois dos ijiiaes eu iroiixê e os outros dois fonun
de[)(3iidiir;idos nas costas do Pilôlo e íirarani ainda diizias de píurdjas
deitadas luoflas, no chão, (jiie o Francisco disse que na manliã seguin-
te voltaria a Ijnscar, se acazo os ratos do calliáo não as devorassem
durante a noite.
Conton-nie elle, então, (|ne de Outubro a Junho, aquellas aves
procuram refugio das tormentas e do frio nas concavidades dos roche-
dos, e que como aquella furna era muito funda, nunca alli faltava uma
boa cagada, logo (|ue o mar manso, como então estava, deixava tran-
sitar-se pelas pedras, por que não sendo assim as vagas subiam até á
entrada da mesma.
Voltamos carregados para a villa, mas com maior facilidade, por
quanto a luz do archote então nos guiava e eu podia praguejar á von-
tade, quando dava algum Irambulhão.
O Francisco teimou em deixar-me em casa uma porção de pom-
bas que dava para a comnumidade de um convento, e num convento
estava eu, mas deserto, sem frades, e a cahir em minas.
.\gradeci-llie nuiito a bella noite que me havia feito gozar e atre-
vi-me a oííerecer á pequena Maria mna moeda de seis tostões.
Al/iora o homel — accudio a rapariga, mettendo alegremente no
l)oIso aquella insignificante quantia que, para ella, representava avul-
tada fortuna.
Retirados os meus companheiros, deitei-me e adormeci profunda-
mente, ao contrario do que me havia acontecido na noite anterior.
Os últimos sons que então ouvi. era ainda na Lagoa, o barulho
dos marinheiros no derretimento dos botos.
As chauímas continuavam a illuminar as frontarias das casas da
villa e a sua claridade, atra vez das portas das janellas do meu quar-
to, vinha desenhar-me na parede caprichosas formas.
No dia seguinte deixei, com saudade, aquella laboriosa povoação,
a mais antiga da grande ilha do Pico.
N.^ 46 — Vol. VIII — 1886.
306 AHCHIVO L>US ACOHES
XX
g-t^j^t^:eíxj^ ido dist-Ricto idj^
(Ilha do Fayal)
A iiistrucção publica no archipelíigo açuiiano, ci»mo acoiilecen ein
Portugal, e.<teve, por dilatados aniiOí!, exclusivamente entregue às or-
dens monásticas, e por mais aíTastadas estas terras e estaren» então,
por assim dizer, no começo do seu povoamento, o século U).° que tão
brilhante foi a semelhante respeito no continente, jamais aqui ciinse-
guio reílectir as suas radiantes alvoradas, pois que os colonos que
para estas ilhas do oceano atlântico tinham vindo, mais se o occupa-
vam, <;om certeza, em desbravar fechadas mattas, ou retirar dos tei-
lenos que iam arroteando a necessária sustentação, do que em coui
pensar li vos, ou aprender letras.
Com os primeiros povoadores das quatro ilhas occidentaes do ar-
chipelago, que lurmam actualmente o districto da lloita, sabe se que
para o Fayal vieram alguns sacerdotes llamengos, tanto mais que os
sentimentos religiosos do capitão Jorge d Ulra e de sua consorte D.
Brites de Macedo, estam beuj patentes na conslrucção de diversas er-
midas, logo apoz da sua chegada, niima, das quaes no sitio de Santa
Cruz se disse a [>rimeira missa nesta ilha, assim como nos votos fei-
tos ao Altíssimo para isentar as novas povoações, ou o interior ainda
mal conhecido da ilha, de animaes ferozes, ou quaesquer obstáculos
em detrimento da pacifica posse da sua donatária.
Entre os annos de 1450 a 1400 ej)oca provável do descobrimento
do Fayal, até ao anno de loáO, isto é. no decurso, approximadanjente,
dum meio século, sabe-se que alguns frades franciscanos edificaram,
distante da principal pijvoação o seu primeiro convento, n"uma lomba,
desde então chamada dos frades, entre a Praya do Almoxarife e Fedro
Miguel, e se acjui tinha havido algum vislumbre de publico ensinamen-
to, eíTeituado poi aquelles religio^os, foi este, necessariamente assaz de-
ficiente, sem um plano regular e somente devido á boa vontade dos fran-
ciscanos, cuja ida, ainda assim, paia um .sitio aíTastado e despovi»ado,
devia com cei lesa, esloi var a mocidade da aprendisagem (jue os mes-
mos, por ventura, lhe ministravam.
Na agrfsb' lomba a que nos irlrrinio? e longf da floria existio
ABCHIVO DOS AÇORES 307
dnratile alguns nnnos. não se sabe com certesa iiiiaiilos, a(|nolle lios-
[jicio, com uma acljiiii:la ermida, alé qiie afinal, por quacsquer cir
cumsldncia f»i abamlon kN», vindo os fr.inciscaiios |)ara Porto-Pim, es-
tabelecer se niimas barracas (jiie fi/.rram con>lrnir no sitio ainda bo-
je alli conliecido pela (^ova dos frades, emqiiaiilo edificavam á beira
mar, alem da extremidade do sul da povoação nm maior mosteií'o, so-
bre nns locliedos alli existentes então, comi» ainda hoje — as pedras dos
frades, qne fic;iv;'m logo adiante da Grota, artn;il rua do Livramento,
desembocando no canto de D. Joanna.
Isto decorreu no anno de lo30. ou muito aproximadamenle.
Foi desta data em diante, isto é. depois de estabelecidos mais re-
gularmente, que os filhos da religião de São Francisco começaram a
[)reslar, e durante muitos ânuos, verdadeiros serviços á c;msa da in-
strucção publica, ensinando as primeiras leiras tanto no convento co-
mi» [lelas casas particulares, a todos que se queriam a|)roveitar da sua
bôa vontade, contentando se com qualquer remuneração por diminuta
(|ue fosse e recebendo no smi convento, a troco d'uma pequena esmo-
la, qualquer rapaz que das povoações distantes ou das ilhas visinhas
para acjui vinha estudar, dando egualmente temporária hospedagem
aos indivíduos que por negócios, ou atíazeres, tinliam de permanecer
por algum tenq)o na Horta.
0> fr.uiciscanos, diga-se em abotKj da verdade, foram sempre uns
bons e serviçaes amigos dos fayalcnses, captando a sym|).ithia geral e
evitando cuidadosamente, emb ^ra tivessem frequente entrada em mui-
la> casas, quaestjuei escândalos, ou impropiio comportamento.
Precisavam de todos, eram nuia ordrm mendicante, e com todos
(jueriam viver em paz.
A sua casa augmeutava assim de uma maneira extraordinária,
lauto (jue uu) grande temporal havesido lhe destruído o seu edificio da
beira mar, em qualro annos apenas, devido á c.tridade publica, a of-
fertas, esmolas e doações, conseguiram levantar, eu) logar mais segu-
ro o vasto edificio que, actualmente, n'esta cidade, serve de hospital,
bem como a magnifica eíjreja (jue lhe fica adjunta, isto desde o anuo
de 1680 a 1690.
Por estes tempos, porem, e já anteriormente desde IGi2. tinhan)
os franciscanos uns temiveis antagonistas nos padres da poderosa (^om-
[tanhia de Jesus, cuja sede açoriana era no Fayal e que leccionavam
lambem a mocidade, mas duma maneira muito mais correcta, emlto-
ra a menor nuinero de indivíduos.
Se os .jesuítas não tir)ham mestres de letras girdas, corufj vulgar
mente se diz, lambem não consentiam nas suas aulas discípulos bron-
cos.
A iníluencia q»ie o publicij ensinamento dava a estas duas ordens
feligiitsas, creou rivalidades e malquerenças entre o (^ollegio e o Con-
veuto. !(> IVancixauos ensinando, pirem, indislinctamenle, a talentosos
308 ARCHIVO DOS AÇORES
e rudes, emquanto que os Je>uilas, ao invez d'este comporlamenlo,
nãu facultavam a sua sciencia, que era vasla, seuão aos mancebos
nos quaes reconheciam aplidã*^ para as letras, aus outros, decorrido
algum tempu de prova, aconselhavam os a que fossem aprender qual-
quer oílicio mecânico, embora a expensas da Com[)anhia.
Andavam ajuisadamente: de que serve, por vezes, gastar cera
com ruins defuntos, lauto mais quando uma niillidade na republica
das letras, para as quaes tem negação, pode tornar-se um artista a-
proveilavel, útil para a sua família e para a communidade em que vi-
ver?
E' a muito sabida historia de Molière e do cabelleireiro.
Estabelecido isto, ser discípulo dos Jesuítas contava-se cumo um
diploma de capacidade, uma valiosa recommeudação para (jualqner
cargo publico.
Foi assim que veio encontrar estas duas ordens, em rivalidades,
o Alvará do Marquez de Pombal, datado de ^jíS de Junho de 1759 que
tirava aos padres da Companhia a faculdade do ensino publico e crean-
do professores de latim, phylosophía, rhetorica de, em todas as cabe-
ças de Comarca, o que, porem, só mais tarde se verificou á mingoa
de professorado competente.
Para occorrer ás despezas com o novo professorado foi creado um
imposto especial que se denominou «subsídio lilterario».
Livres dos seus antagonistas, em vista daquella ordem do seve-
ro Marquez, assim como pela subseijuenle expulsão dos jesuítas, em
1760, Continuaram os franciscanos a ensinar o que sabiam, que por
vezes não era muito, a quantos rapazes appareciara no convento e
como n'essa epoclia á maioria das rapai-igas, por defeito de educação,
não era permitlido a prender a ler, o pomo vedado da instrucção h-
raitava-se para o sexo feminino, cou) raras excepções, soujenle ao eu
sino das donzellas que, com vontade ou sem ella, tinham de entrar
para os mosteiros de religiosas, pois sem aquella prenda não lhe eram
franqueadas as portas da clausiu'a, nem podiam cingir o alvo veu das
esposas de Christo.
Ainda em 1821, apenas em todo o reino de Portugal haviam 87^}
escolas de instrucção |)rimaria, das quaes quarenta e ipiíitro somen-
te {)ara o sexo feminino.
Este numero demonstra claramente o (pie seria a educação litte-
raria das mulheres nas ilhas dos Açores e que força de vontade foi
necessária não somente [)ara algumas das nossas patrícias fazerem a-
qiií uma custosa apiendísagem, mas até chegarem a dístingnir-se pe-
los seus escriptos, como neste capitulo ainda teremos occasião de tle-
monstrar.
A revolução franceza de 1789, convulsionando a Europa toda.
também se fez i( llectir n estas, relativamente, insignificantes ilhas, e
n'aquelle frémito de ídéas novas que se alastravam por toda a parte
ARCHIVO DOS AÇORES 309
lambem tivemos um [jcqueiio qdiíihru), impititndo pnlos iiíivios e>li;)ii
geiros que então, njustanlemenle aporluvam íío Kayal, disliibuiiiilu
n"esta illia brochuras revolucionarias e propalando os >eus píí.s>ageiros.
ou tripulações, doutrinas (jue nus eram bem pouco familiaies, (jue ira-
tavam dos direitos do lioniem, do nivelamento das classes, da liber-
dade dos cultos e do livre ensinamento.
L'm verdadeiro escândalo!
Os franciscanos, condemnandu do.s púlpitos a revolução, viam cla-
ramente na nova ordem de idéas que se levantava e (|ue ia tendo nu-
(uerosos sectários, um perigo eminente para todas as instituições es-
tabelecidas e para o socègo e conunoda existência em que, alé eiitão,
haviam vivido.
Mas a hydra revolucionaria apesar de todos os exorcismos e mal-
dições continuava a medrar, a ler vigor e os mulliplices braços d"a-
quella madreposa inunensa, enlaçavam não somenle os seculares, mas
até, oli! vergonha, alguns de^venturados religiosos, que demonstravam
tal ou qual tendência para os primeii'os vislinnbres da liberdade.
A maié subia sempre e é certo (pie nem poupava as me^mas ca-
sas de oi'ação, lauto no que dizia lespeilo aos conventos de leligiosos,
como ainda conj maior exilo nos mosteiros das freiras, aonde começou
a existir um partido libeial. provavelmente constituido das mullieres
que para a clausura tinham entrado á força.
Dos pulpit(»s abaixo troavam então as mais vehementes exhorta-
ções para lhes não chamar descomposturas, contra a revolução e as
mais terminantes ameaças de que accèsa a ira celeste contra a impie-
dade que se desencadeava iidrene. grandes castigos agiuírdavam os
seus sectários e dos quaes. inlelizmeiíte. lambem os innocentes p;u1i-
Ihariam.
Livre-se alguém duma rascada semelhante!
Um assustador pjienomcno da uaturesa pareceu vir confirmar es-
tas tétricas prophecias.
A 21 de Dezembro de I7í)á, dia em (|ue a egreja chrislã celebia
a memoria d<t glorioso apostolo São Thomé. pelas 6 horas da manhã
e quando uma grande parle da j)ovoação estava nos templos a ouvir
missa e estes ainda obscurecidos, naipiella estação, pelas trevas no-
cturnas, um violento tiemor de terra, como aqui não havia memoria,
abalou toda a ilha, arruinando algumas casas, desarreigando grandes
arvores e, embora não fizesse victimas, lançand(t na máxima con>ter-
nação a todos os fayalenses.
Temos pre^ente, sobre a mèza em que escrevemos, uma minucio-
sa narrativa deste acontecimento escripta por um homem assaz sen
sato 6 que ao mesmo assistio estando a ouvir missa na egreja do mos-
teiro da Gloria, e o seu signatário confessa que riãr) pode priveipiar
mais horrendo o dia final de todos o,s dias e que o povo comeron então
a dar (pitos tão lamentosos ijue faziant trt^nicr as carnes.
310 AKOHIVO DOS AÇORES
Em sejJui'l;i íi si^iíicliiHiitf fado, ijue encarado eoiuo uma prova-
ção, iHi casligit, tiiilia grande alcance no anitno geral e sempre com a
idéa de abalar os princípios da revolução, ou as erróneas doutiinas
dos pedreiíos livres (jiie com us mesmos se cumprasiam, o general
Diniz Gregório de Mello Castro e Mendonça o qual veio a fallecer no
1." de Dezembro de 1793, mandou da ilha Terceira pôr aqui em mo-
viinenlo os Tei'ços d"Int'anteria, assim como guarnecer com tropa os
differeules portos da ilha, para prevenir, pelos meios de que dispunha,
uma invasão de francezes, (pie se annimciava para breve.
l*or outro lado o í5i>po da diocese mandava, também, em se'i lo-
gar a esta ilha o Visitador (^ardozo, cónego da Sé dAngra, não só
para e.xhortai' o povo contra as injpiedades dos tempos que corriam,
como para administrar, em diversos templos, o sacramento da Chris-
u]a, sendo coníiiuiíados na Fé muitos milhares de indivíduos.
Este Visit.idor chegou ao Fayal no tlia 27 de Feveieiro de 1792,
pas.^ou aipu a ipiaiesma e só findou os atTazeres eçciesiasticos de que
estava incumbido nos tius dWbril seguinte.
l*ara todos não foi um tenqjo folgado aquelle.
A des[)riii». pi liem. de lu(Jo. ei'a humanam< nte imposí-lvel fazei
retrogradar os piincipios de 89.
(Jual avalanche immensa ipie despenhando se do cume de escar-
[»a(la e alterosa serrania tem, necessariamente, de seguir, atiavez de
quaesquer obstáculos, prlas aprumadas encostas, até descer ao valla-
do, endjora no seu trajecto derrube arvores collossaes. (jue o decoí'
rer dos secidos havia respeitado, assim lambem a torrente impetuosa
de idéas, brotada da França, rasgando passagem atravez da Europa,
no meio de giil(»s e de imprecações, alastrava se por toda a parle,
correndo indom;>vel pelo velho continente e acarretando á tona de suas
túrbidas agoas os destroços e fragiuentos das vetusta.- insUlnijões, que
vencera na sua assombrosa fúria.
Foram estes acontecimentos, como pergunta Lopes de Mendtinça.
nas suas .Memorias da Litl.ratura (lomtcmporanea, dirigidos por um
pensamento providencia! e superior?
Assim o acreditàuK». a luz linha de .sub>lituir as trevas, a oligar-
chia do ch.'io e da nobresa de ceder logai' ao diadema rutdante da
civilisação, cujíi ditminio só pode ser estabelecido quando baseado na
liberdade dos povos.
E cumpre u)S dizer, com respi'ito á peqm-n;) localidasle em qutí
viv.mos. que no ^nno de 1794 veio do conlinenlr para (• Fayal, no
meado Irnte de philosopliia e mathemalica o dr. (loque Taveira, cava-
lheiro illustradissimo, de ideas muito livres, eivaihj das doutrinas de
Vollairv. apologista dos encyclupíidislis. fallaiidn correnteuiente diver
sas liiigoas. muito versado na litleratma pilria e captando pelas suas
dislinclas e graves maneiras a e>tima de (piem com elle privav;i. mt
tiiihi iiiesiuo si nples relações.
AHCHIVO DOS AÇOHKS 341
Esci.lliido em Portug;»!, para o m;igislerio publico, ainda no tem-
po (lo .Mar(|iiez de Punibal. ciij;! tnoito, iio anuo de I78ii. ainda e>la-
va leceiíle. é obvio que devia ser um homem apto. [xtis (pie Sebas-
tião José de Carvalho e Mello raríssimas vè/es se enganava eom os
eidadãos que lhe deviam a nomeação para cargi» pnblieos e piinci-
jialmente no que di/ia rt^sjieito ao publico ensinamento, que meieceu
sempre especial alleni;ão ao celebie estadista.
O aspecto do dr. Roque Taveira inqtnnha ja de si resp«Mto, or-
çaria n'aquella epoclia (lelos seus 40 armos, alto, varonil e alentado,
de porte sério e voz cheia e sonora.
Trajava habitualmente de preto e no rigor da etiqnela. calção,
meia de seda. casaca, gravata branca e endiora muito altencioso para
com lodos, jamais descahindo em familiaridaiJes, nem descendos a
conversações iniproprias de gente que se [)résa.
Este habilitadissimo professor ibi um dos homens a ijuem, no sen
desenvolvimento intellectual, mais deveu esta ilha. [lois que aberto o
curso para (jue Ibra nomeado, correu alli pressurosa, pelo desejo de
>e instruir e pel(t prestigii» da novidade, a mocidade da Horta, encon-
trando no seu sábio mestre a melhor bôa vontade e a substituição de
anachronicas idéas e rotineiros compêndios, por princípios mais con-
formes com a rasão e livros que lhe indicava omn nova orientação em
politica, em moral e até em assumptos religiosos.
Sobresaltaram-se com isto, como era natural, os convénios, cha-
maram a campo as suas reserv.is e os homens mais conspícuos, tan-
to franciscanos como carmelitas é que se puzeram á frente do en>ino
ministrado pela religião a que pertenciam, deligenciando assim hom-
brear, ou (piando possível exceder as afamadas prelecções do novo
mestre e o[)pôr á sua illustracão mna doze também grande de conhe
cimentos, embora um e outros militassem em bem differentes campos
e seguissem as mais dist.uiciadas doutrinas.
Esta rivalidade foi proveitosíssima para a gente nova do Faval e
talvez em epocha alguma tanto se cogitou aijui do en>ino publico, da
capacidade do professorado e do ujelhor meio de quem lecciona ga-
nhar a veneração dos seus discípulos, volvendo-os em verdadeiros a-
deptos das suas doutrinas.
Ao trabalho valente e incansável dos mestres corresi)ondeu em
bieve abundctsa seara e levanlou-se na Horta uma plêiade de escri-
[ttores e poetas, que legaram ás gerações futuras alguns trabalhos,
em manuscripto, que não etivergonham de sorte alguma a litleratura
açoriana.
Infelizmente á mingoa de inqjrensa e no seio d um ilhéu do ocea-
no, ficaram aqui fechados a sete chaves e uma grande parte óos mes-
mos perderam-se por inciuia dos siiccessores de quem os havia tra-
çado,
A esperança ijue os frades alimentavam da remoção do dr. Roque
312 AHCHIVO DOS AÇOHES
Taveirn desta ilha para fora (Jesvaneceti-se bastante com o casamento
(lo itiesmu com uma senhora da locahdulH. de famiha relativamente
aba>la(la e cujo nome era D. Mariamia Vieira de Faria, tornando-se
elle, assim, qnasi nm fayalense e podendo até viver, devido aos ha-
veres da sna consot te, independente do emprego (\ue e.Nercia, quando
isso fosse necessário.
A lucta. por conseguinte, quebrou de intt^nsidade, como improfí-
cua, o dr. Taveira foi ensinando quanto soube e como qniz, e os con-
ventos também incutindo as doutrinas que lhes eram próprias a quem,
para tanto, as procurava.
Alem disto a experiência que os antagonistas do dr. Roque Ta-
veiía foram tendo do homem que tanto os i)reocupara á sna chegada
H que imaginavam um presente do inferno, um segundo Marat, demon-
strava-lhe cada dia tjue seinelliaiite preceptor da mocidade, respeitava
í' guardava completa tolerância com relação aos que professavam idéas
contrarias ás suas e i>to até levado ao extremo e n(js mais insignifi-
cantes incidentes.
Um exemplo, emtjora assaz rasteiro, pode servir de sobeja prova.
Estabelecido com a consorte em casa própria e apesar de ser o
dr. Taveira quem. diaiiamente, no conieço com grande reparo das clas-
ses elevadas, ia ao mercado, de cesto n(» braço, fazer as suas com-
pras, precisou, ainda assim, de um creado e cahio-lhe em sorte mn
liomem oriundo do Pico, muito beato, acredit;mdo piamente nas feiti-
ceiras, em almas do outro mundo e temendo mais do que a morte os
maçãos.
Na Horta este pobre diabo, por ser este o termo (]ue melhor lhe
convém, ou do mesmo dá idéa, era geralmente couht^cido pelo alcu-
nha do Chorão, que lhe provinha do tom de constante lamuria em que
fallava, trazendo mvariavelmeute por íóra da camisa um grande rosá-
rio e quatro ou cinco figas, por causa do ujau olhado e e>tas talhadas
em rodellas e cnitadas com pouca ou nenhuma arte das armas deffen-
sivas dalgum rebanho de carneiros pretos da sna terra natal.
O dr. Taveira nunca disse uma única palavra ao Chorão a res-
peito dos adornos com que este se apresentava em publico, deixan-
do o ir a ijuantas devoções queria e ouvindo, com toda a pachoira os
cazos de ot.ipahirdios milagres (pie o seu servo por vezes lhe conta-
va, ou então incríveis partidas de feiticeiras, coisas ruins, ou d'essa
sevandija da pedieirada livre, que lallava com o Inimigo, em pinos da
meia noite.
De semana para semana, porem, as figas iam se accumulando em
volta do p^'SC<)ço do Chorão, (jue (azia encommenda d"a(]uelle artigo
para a sua terra, andando afinal cou) a>peclo dinn indio selvagem, ou
dum chefe ah'icano, com o >í'a\ [)esailo collar.
D. Marianna um dia zangou se formalmente com semelhante mas-
carada, lançl^u iTiao do rosai-io e adjimclas, ligas, puchando-o com lo-
ARCmVO DOS AÇORES 313
da a força e apesar dos gritos do seu servo, conseguio rebentar o cor-
dão do inesiii I, lirar-l!ii' Iodas aquellas prendas e escondei as em lo-
gar seguro.
O Chorão ficou abysmado, sem aqiiillo não era ninguém, estava
á mercê das almas do outro mundo, das feiticeiras, de tudo emfim que
era ruim e sobrenatural.
O dr. Roque Taveira gastava habitualmente, ososeus serões, até
ás dez boras da noite, a conversar, ou a jogar oíl^amão, na afamada
botica de Francisco da Silva, na rua da ^Misericórdia, indo o creado,
munido duma lanterna, à falta de«publica illuminição, que na Horta
só compçou em Maio de 1869, buscal-o, para o acompanhar até á sua
residência.
Quando os freijuentadores da pharmacia, poi'em, estavam no me-
llioi' da jogatina, entra-lhe de lepente, muito esbaforido, pela porta
dentro o creado do doutor, gritando a bom gritar e dando, na sua au-
cia tamanha pancada com a lanterna na hombreira da porta, que os vi-
dros d'esse útil e muito necessário artefacto n\*i(p;ella epocha, desfi-
zeram-se em mil pedaços, alastrando-se pelo chão.
O fracasso havia sido tamanho e tão inesperado que todos in-
stiucti vãmente se puzerani de pé, vendo, admirados, o Chorão a tre-
mer, bianco conio um defunto e com o braço estendido fazendo cru-
zes para o caminho, esconjurando o quer que fosse que e>tava lá fo-
ra na escuridão e repelindo com todas as veras d'alma as seguintes pa
lavras:
«Eu te requeiro da parte de Deus que digas o que (jueres e te
esconjuro para os mares amarellos Se vens por artes do Inimigo cou-
ces d'uína brava besta nessa maldita cabeça e quando este mal não
te queira abadar. Deus t'o queira acrescentar, em nome de Deus e
da mantarianna e da bicha com que se poda a vinha. Todos te ba-
tam e eu também, por ser filho do b 'Ui, que as coisas bem feitas pa-
recem liem. A meu.»
— O (jue é islo rapaz, o que tens, o que te aconteceu?!— pergun-
tavam os circumstantes, acercados já do aterrorisado serventuário, que
parecendo inconsciente do alvoroço que fi/.era continuava sempre: Eu
te requeiro cV-.
O amo agarrou-o |)elo pescoçi), saccudio-o bem, como para o des-
pertar e grilou-lhe aos ouvidos -One diabo tens tu?!..
— Uma arantesma, uma coisa luim que me queria atacar, o Sr. dr.
não se chegue ahi para a porta, que ella agaria-o, pelo amor de Deus,
fechem depressa essa porta ... Ai! Jesus.
— Tu estás doido, ora esta ! ! . .
— Doido sim!... a tal coisa vinha aos urros sempre atraz de
mim eu nem me posso sugigar em pé . . . Paciência!
O dr. Taveira e dois ou três dos seus companheirt)s sahiram ao
caminho, esbarrando a breve distancia da botica com um grande por-
N.°46 — Yol. VIU I88G. o
Mi
314 ARCHIVO DOS AÇOflES
CO, íiigido díilgnni covral e que ;i rom ar andava em nocturna vadia-
gem.
Estava explicado o cazo e não poderam suster o liso.
Nessa noite quando o amo do Chorão recolheu a casa, teimando
esle sempre que a apparição do [lorco linha sido uma apparencia do
demónio, de[)(tis de o perseguir muito e declarandi» formalmente (pie
na manliãa segui,j^[e queria abalar daquella míjradia para fora, [»ois
que passaia todos aquelh^s liahalhus e terrores, por não o deixarem an-
dar, como dantes, com o seu rosário, com os seus (ineliquvs e sobre
tudo com as suas figas de chinfrin de carneiro preto.
— Eu nunca te disse que nãtj as usasses.
— Sim Sr. mas a Sr.* D. Marianna esta manhã fez-me luiia des-
feita uma acção, que não parece d"uma pessoa de i»-ligião, arranc»
aquellas coisas bentas do meu peito e veja o sr. dr. logo que me a
conleceu, ií>lo é verdade ou não é verdade? . .
A esposa de Roque Taveira ouvindo aquellas horas, muilo esga
niçada a voz de sovelão do criado, accudio do interior da casa para
saber o que ac(»ntecera.
— Ora ainda me pergunta o ipie aconteceu'?! — disse lhe o nia-
rido — veja o estado em que flcuu a minha pobre lan|,erna, que era
Ião bôa. tão cjarinha e isto pt)r culpa da Snr.''.
— Por minha culpa ? I . .
— Pois a Snr.* cae na tolice de tirar a este ra[)az as suas armas
defensivas, deixasse-o and;^r com os seus galhos, que isso não fazia
mal a ninguém. Não é a>sim Manuel ".' . .
— - E^^sim Snr.
-- Vamos, lenha a Snr.* jnizo, e entregue lhe essas miudesas,
quando não elle vae-se embora e isso causa me desarranjo, cada um
deve ser livre de usar os objectos que mais eslima e lhe convém.
N'essa noite já o Chorão dormio com as suas figas ao pescoço e
d^alli em diante se alguen) na sua presença fallava em desabono do»
sentimentos religiosos do professor de philosophia.o (^hoião deílendia o
com unhas e dentes.
Não sahio daipiella casa senão pelo falleciuíenlu do (h'. Uoqne
Taveira, occorridi» no anuo de 18iá.
Com a D. Marianna é qiuí elle i:ão quiz continuar a servir. Lá
tinha as suas rasões.
Para [trovar quanto o Dr. Roque Taveira tomava a peito os inte-
resses da sua pátria adoptiva e nutria sentimentos liberaes bastará ler
o sen Momfcsto aos Fof/olenscs (*).
(•) Mavi festo aos Fuyahnses pelo Dr. Hoquc Taveira, proíessor di' Pliiloso-
|)tiia. ronlra a sujeição (ia Illi:i <in Fa\al ao Governo ila lllia Terceira- Li.><l)oa, No-
va Imprcs.são du Viuva Neves e Filliòs, <821, ni-4.", ií9 pagiiiaá.
.No fim: l\'n;jl It» de maio de 1821.
ARCHÍVO DOS AÇOhES 315
Vollciiios, i»orein, a fissumplo mais sério, do (jual nos desviou os-
It! iii(:id(;iilt\ einhuia a indolt,' do livro que escrevemos não tenli.i quaes-
<|iier pfMlíMiçõrs á au.sleiidade dum compendio de historia.
Tr.itavamos da inslrncgrio pidjlica.
(]om o .idvciilu da constiliiição de 1820, pedio a junta governati-
va tayalense ao solji-r.ino eongrpsso uíaior desenvolvimento da in>tru-
(•(;ão primíoia, com a creação de escolas para ambos os sexos, em to-
das as tVeguezias da ilha, e que, nniilo embora não se obtivesse, de-
vido talvez áquelle agitado periodo de conmioções politicas que então
atravessava o paiz, ainda assim demonstra que r)a Horta se prestava
a devida attenção a tão momentoso assumpto.
Km \H-H) veio de Lisboa, substituir o fallecidij dr. K()que Taveira
um dislinclo (illio desta terra, então no começo da sua brilliantissiina
vida publica, o de. António José d Ávila, o (piai, como o seu anteces-
sor, cuidíju seriamente de deseuipenhar com proveito dos discipulos o
encargo de que estava incumbido, reaiisando até, |)erante numeroso
concurso, umas theses sobre pliilosopbia, ainda hoje aijui bastante lem-
Itradas, que duraram três dias e que deram ensejo í» um notável ta-
lento. Fr. iVIaílieiis do (Coração de Maria, pertencente ao convento de
São Francisco. d(í patentear a lodos a sua vasta erudição e amor ao
estudo.
A aula de philosophia <io dr. Ávila funccionava por e>tes tempos
na ca>a do Divino E<pii'ito Santo, ou cadafalço, como o povo lhe cha
mav.t, situada na rua da Misericórdia e erecta em memoria de uma e-
riipção vu|i-anica no armo de IG7á, o (jue deu logar a (pie lu.ijs tarde,
n'unia (pieslão no [)ailamento, fizesse o grande orador José Kstevão
uma referencia á(|uella epoclia da vida do futuro [)u(iue d'Avila e Bo-
lama, di/.endo ao seu advei'sario píjlitico, com a emphase pictoresca da
sua prestigiosa argumenla(;.ão: — O sr. (Jeputado sempre é um homem
(pie, na sua leira, ensinou philosophia num . . . caflafalço !
A< galerias riram e o próprio dr. Ávila não p lude manter a siia
habitual seiiedade. ''
Descurada, em seguida, a instrucção populai' durante lodo o pe-
riodo da cam()anha da liberdade, só com o deíTenitivo estabelecimento
do governo constiliicioiíal surgio de novo para este Districlo essa aben-
(;oa(la esirejla. sendo, ainda a.-sim, forçoso confessar (pie (iesde 1830
em (pie foi creada uma cadeira de ensino mutuo normal, até ao pre-
sente anuo de I88t), pítuco, muito pouco se tem feito neste importan-
tissimo ramo da publica administração, (pie redunde em progre,ssos
reaes e inconlotaveis.
.Não desconlieceuK» o numero de escolas d'instrucção primaria
(pie (]<'S(W. essa epocha, successivamente, tem sido creadas, para am-
bos os sexos, mas quei' seja devido ao governo ou ás juntas de paro-
cliia. a maneira pela tpjal se acham ainda montadas é uiija verdadeira
lasliina. em ca/as, cttm rarissimas e:\ce[ições, sem nenhumas condições
316 AKCHIVO DOS AÇORES
hygienicas, a mobília na sua expressão mais humilde e os professores,
embora alguns assaz liabilitados, mas pessimamenle pagos e fazendo
milagres de economia para conseguir viver com decência.
O povo fayalense, tanto das freguezias ruraes, como da cidade é,
na sua grande maioria analphabeto, devendo notar-se a falta de mora-
lidade com que sendo tanta vez incommodado para as veniagas e ali-
cantinas eleitoraes, ao inverso disto é sempre descurado no maior be-
neficio que lhe podiam fazer,— ministrar lhe a instrucção.
No longo decurso de quarenta e sete annos, diga-se a verdade,
um único raio de luz, bem claro e promettedor, veio brilhar na cer-
rada escuridão que nos envolve a semelhante respeito e isto deu-se du-
rante a exemplar administração do Visconde de (Castilho, como gover-
nador civil deste Distiicto.
Ninguém, de bôa fé, dirá que a instrucção populai, entre nós,
tem sido tratada com seriedade, nem que o Lyceu Nacional, aqui crea-
do em 1840, tenha preenchido, como era de esperar, a sua levantada
missão, apesar de ter possuído, e possuir, na lista dos seus professo-
res, alguns nomes illustres.
Em toda a questão do ensino publico no Districto da Horta ha uuii-
to, muitíssimo, que fazer e abençoados aquelles que por esta verda-
deira obra de misericórdia envidarem quaesquer esforços, tentando
rasgar a gélida mortalha da ignorância que nos atrophia, varrendo pa-
ra bem longe esta indifferenca pelo cultivo das letras que se encontra,
infelizmente, não só nas povoações campesinas, mas até mesmo no seio^
da cidade.
E o estado de atraso, ou de adiantamento da litteralura de qual-
quer localidade, sabem-no todos, como trivial noção, é o mais seguro
barómetro para conhecer da sua altura na senda brilhante do progres-
so.
A nossa escala, porem, marca ainda um grão demasiadajnenle
baixo.
ARCHIVO DOS AÇORES 317
ESCRIFTORES E HOMENS DE LETRAS
Tendo de mencionar na parte bibliograpliica destes aponlainentOí>,'
embora bem incompele^itemenle, o nume de alguns fayalenses, oii de
indivíduos que pela sua long;i permanência ii'esta localidade, c(jmu
taes são considerados, e que se dedicaram ao cullivo das letras, alguns
em epochas até já um tanto affasladas, senliujo-nos possuídos d(j mais
profundo respeito [)ela sua memoria e pelos valíos(»s esforços pelos
mesmos empregados para alimentar nesta ilha, (juanto ao seu alcan-
ce, o amor pelas letras e a dedicação ao estudo, .^em a qual alé os
mais privilegiados talentos nada podem conseguir, visto ser uma re-
conhecida lei da naturesa que sem o trabalho jamais se pode levantar
um edifício qualquer, como sem desbravar o cam|)o da inteliigencia
humana, sem abrir caminhos [)elos seus fechados matagaes, sem fazer
entrar a luz em obscuros antros, sem dar muilos dias e muilas noiles
á compulsação de livros, ninguém pode inscrever o seu nome, mais
ou menos brilhantemente nos annaes da pátria litteralura.
E que trabalho por vezes, que immensa lucta, quasi sempre igno-
rada, para conseguir um insignificante resultado que seja!
Nos grandes centros de população, nas lerrajv que possuem todos
os recursos conduscentes a desenvolver a inteliigencia do homem, nas
quaes mesties competentes, bibliolhecas e convivência lilteraria, ras-
gam largos horisontes aos esludiosos, por ventura será menos ingrato
semelhante caminho e mais promplos e aperfeiçoados os seus benéfi-
cos resultados, mas numa pequena ilha como a nossa, no isolamento
do oceano, sem livros nem verdadeira orientação artistica, sem esti-
mulo de sorte alguma nem esperança de uma renumeração qualquer
e privados de impiensa. pois que a sua tardia introducção no Fayal
data apenas de 1837, foi preciso uma grande somma de coragem e
de apego á mlrucção popular, para que os nossos predecessores, é
alguns d'elles brilhantemente, deixassem apóz de si uma bôa nomeada
lilteraria.
Não é muito trivial encontrar a arte somente pelo amor á arte.
Respiguemos, pois, neste campo safaro para taes commettimentos
algumas flores agrestes, mas ainda assim cheias de vida, creadas nas
nossas montanhas, valles e povoados e bafejadas pelo sopro desse
magestoso oceano que nos circumda, confidente de todas as nossas
alegrias e magoas.
Seguiremos nestas indicações a possivel ordem chronologica,
num estudo em que já podemos contar três turnos differentes, a rieil-
l>' garde. isto é, os escriplores e poetas da escola genuinamente anti
318 ARCHIVO DOS AÇOKES
gH. tU) letn[)0 lias inesn!'as, da gavota e do cravo, á miiigoa de lermos
:iijiii lima Arcádia; —os lii)fncn.s de ha uns cincoenla annos para cá,
já eivados das idéas mod*^rnas, mas (|íU' ainda assim miiilo se cvím-
praziam com a Joren Lilia e c<jm a vaha da liainha da Prússia e fi-
nalmente alguns rapazes de iiiconleslavel talento (jne, dando de haralo
essas aiilignallias, tem apresentado ao publico, depois da iutrodiicção
da iio|)rensa na Hoila, alsíims apreciáveis trabalhos litterarios.
Oom.-cemos pelo [)rincipi(i.
ALEXANDRE FERREIRA DA SILVA (D. Frei Ale-
xandre da Sacra Familia). tlouio não é laro ir prucurar-se o ini-
cio de (pia|i|uer nagão. maxime se esta se tornou illustre, em fabulo
sas origens, ipiando não despidas comphdamenle de fundamento, ao
menos assaz duvidosas, a>sim também em algumas f imdias. <)uer dos
grandes como de insignificantes povoados, são const-rvadas tradições
da sua origem, das quaes muitas vezes uma rigorosa inveslig;u;ão, se
esta fosse possível, acarretaria comsigo grandes dt\>ilusões.
li' melhttr. talvez, deixar tudo isto numa meia obscuridade.
Uni biographo. por exemplo, da fauíilia (íarrett. da (piai lemos a-
crora ipje tiatar, diz nos que descende a u)esma da nobreza da Irlan-
da, a iprd por motivos religiosits viera para a Hespanha e dalli pas-
sou para Portugal, n.) anuo de I7i8, por occasião da princesa hespa-
nhola D. Maria Anua Victoria. de cujo seipiilo fazia parte, vir parti-
lhar (» líiiouo d El-Rei D. .losé !.", isto para nos referirmos tão somen-
te a uma ep.»cha relativamente [)roxima e não irmos i)i''»curar atpielle
apellido nas lendas de Lime.i'ick, nos (".ondes de Ijesuíonia, ou na fa-
milia dos Geraldiíios, como a e>le res^ieito menciona, mas não aíTirma.
o nolabilissimo académico o Sr. Francisco Gomes tTAmorim.
(3 (]ue é \m\ fado iínlubilavel è que no anno d- 173.... uma se-
nhora chamada I). Antónia Margarida Garrett, tida geralmente como
nalui'al de Madrid, casava eu) Lisboa com José Ferreira da Silva, rias-
cido n'a(jiH'lla capital e não açoriano, como dizem algims escri[»lores e
(lue i)or um motivo qualuiíer, que hoje ignoramos, veio este ea>a| mo-
rar para a ilha do Fayal, em pouco favoráveis condições pecuniárias.
Residiam no l^aul, um acanhado e pouco convidativo sitio da Vil-
l.i da Horta, baixo, sem vista do mar e (pie devia o seu nome a mu
charcr). qu.isi periuaneute que a conravid;ide do wwú calçado caminli»»
foriuava. proveniente das agoas da chuva (pie para alli corriam (roíi-
iras iiias mais elevadas, e que u aquella cova ficavam represadas.
Este Idc.il. consideravelmente melhorado e possuindo h(»jt! algu-
mas liòas casas partieulares, foi, modernauíenhí, na gerência do G(t-
vernador (Vivil. Gonselheiro Santa Rita, (^Iwismado no Largo do Hisp»
l). Alexaíidie.
Or;i, i\\\ c.oiKsorcio d.' .lose Ferreua da Silva com l). Anlonia Mar-
ARCHIVO DOS AÇORES 319
g;iri(l;i íjan>'lt naí^ceraiii, lodos nu Faval. (|iiati'() filhos, Alcxaiidie, ?v1;í
iiufl, Ignac.io e Aiiloiiio, sendo psle ulliiiio a quem a sorte destinava
a gloria de sei' |>(los annos adiante pae úo Visi-onde dAhneida Gai-
letl, (jiie tanto nobilitou a pátria litleralura.
De Alexandre Ferreira da Silva, mais tarde Bispo das (]iuceses de
Malaca, de São Panio de Lo iiida e d Angra (nos Açores) é (pie lemos
aipii especialmente de tratar.
No registo pantcliial da Matriz do Sanli.>simo Salvador, da lloría.
na illia do Fayal. pelo Ouvidor Domingos IVreiía Cardoso, com licen-
ça do Parodio, está lançada a certidão de b;i[)li.^mo. de Alexandre, fi-
lho de José Feireira da Silva e de sua mulher I). Antónia MaiLtaii
da (larreit, o qual nasceu aos i22 dias do mez de Maio de \1'M f foi
baptisado aos i dias do mez de Junho do mesmo anuo. sendo padri-
nhos o Ur. Alexandre de Moura e sua mulher D. Isabel Maria, fregne-
zes da mesma Matiiz.
Em ipianto novo, como ipiasi (odtis os rapazes da enlão Villa da
ílorta que desejavam de seu molu próprio, ou obedecendo á vonlade
paterna, aprendei' alguma cítisa, foi a sua educação litteraria confiada
aos frades IVaiiciscanos, depositários ainda di» monopólio do en>ino e
entre os quaes se encontravam a par de alguns litmiens boçaes. ver-
dadeiros talentos da primeira plana, de incoiiteslavel capacidade para
o publico ensinamento e de notável vastidão de conhecimentos, obti-
dos em vida azada para o cultivo da> lelias. no lemanso da ceila.
izemptos di^s baldões da vida e dos cmdados de provei' á própria sus-
tentação, quando os graneis da Ordem estavam a transbordar de ce-
reaes. as adegas cheias de excellente vinho e a piedade dos Heis a
presenteai os conslanlemenle das primicias de quanto havia bom.
Que santa vida acpiella !
Os methoilos de en>iiio n aqueile tenqio. forçoso é conh-ssar, eram
pe.-ados, morosos e poucíj alrahentes, mas ainda assim deixavam a
sua marca para toda a vida. Com um mestre que se presava de se-
melliante nome e que tomava a sério a educação de qualquer rapaz,
não havia disciplina alguma que se aprendesse superficialmente, como
não é raro actualmente acontecer, e a aprendisagem do latim se para
muitos mancebos eia uma espécie de rochedo de Sisypho. que jamais
conseguiam rolar até ao cimo da montanha, tamfiem para os mais la
lentosos tornava-se n'nma verdadeira sciencia, da qual conheciam to-
dos os segredos, lendo em n»aior conta pronunciar um barbarismo,
errar a terminação d'um cazo. ou a conjugação dum verbo, do ipie
perdei um olho.
Chegaram ale nossos dias alguns d"e>tes speciíiiens.
Aconteceu vir a ser o mestre do pequeno Alexandre um aungo
inlinio e dedicado da sua familia, o Rev.^° Fr. Ivo da l>"rnz, francis-
cano capucho, do convento de Santo António, homem de vasta erudi
ção e no isolamento da clausura senq»re rodeado de livros, irmanando
320 ARCHIVO DOS AÇOBES
tt ^cll ciillit pela institicçliu com u ciiltn respeitoso que prestava á
(bservancia cl.is regras da i-eraphica religião a que pertencia.
Era iim homem de bem este padre.
O rapasinho a quem eile começara a ensinar desde o A, B, C,
ia-llie eiicliendo as medidas, perduem-nos a cumesinlia maneira de di-
zer, era vivo, intelligente, a[)rendia bem e depressa e consegulo ler,
escrever e fazer contas n'uni perindo relativamente breve,
A ambição do frade capucho era vél-o a braços com o terrivel la-
tim. Duvil o a declinar substantivos, por ipie só então é que poderia
decididamente conhecer se d alli se fazia gente, ou não.
A prova foi favorável ao discipulo, no niór cavado dos nominal!
vos d'a<juella dilíicil lingoa, na conjugação dos seus verbos e na sub
sequente syntaxe, o pequeno Alexaudre, qual frágil chaveco, embora
luna vez por outra mrlle-se a borda debaixo dngua. ainda assim não
atirava a carga ao mar e navegava a todo o paiino para esse vasto ocea-
no aonde ha vários recilVs e um alteroso promontório denominado —
Horácio.
D"aquellas paragens, verdade seja, já se goza um vasto liorison-
le.
Passados alguns aimos, Fr. Ivo da Ouz declarava a lodos, alto
e bom sem que já não tinha mais nada que ensinar ao seu discipulo
e que era realmente pesar que um talenião daqiielles uãij >ahisse da
ilha para cursar estudos superiores, nos quaes, com os elementos que
já possuia, era possível tornar-se assaz dislmclo.
Esta idéa ap(»derou-se. completamente, do frade ca[)Ucho, sendo
o Ihema favíjrito das suas conversas, quando o seu ex-discipulo o ia
visitar e instando com opae d esle, nas poucas vezes que descia à
Villa, por ser já entrado em annos, para que mandasse o rapaz para
fora da ilha a aprender o que elle não lhe sabia eiisiuar.
Pesar linha i lie de o não poder acompanhar, mas jã fraco, os
poucos annos que talvez lhe restavam de vida tpieria-os passar na quie-
tação do seu querido convento.
E, eíTectivam. nte. o mosteiro de Santo António, para génios me-
ditativos, devia ter atrahentes predicados.
Ergue-se aquella elevada conslrucção n'um pequeno uiíeiro, ao
fundo da povoação da Horta, que domina em grande parte, e era en
Ião lodo cercado de pomares de lar.uigeiras, odoríferas na primavera
e durante a maior [)arte do anno revestidas de abundftsos pomos ver-
melhos, que se destacavam sorridentes por entre a viçosa, verde es-
cura, folhageu) dos seus ramos.
.Mleroso, lanlo devido ao sitio em que foi edificado, como [)elo
lançamento dos seus muros, a visla que se gosa de qualquer janella
de Santo António é realmente encantadora e como homens r,lí|;i(l(»s an-
daram os franciscanos, quando de posse de >en)" lliante piopriedade a
de.-tiuaram para um ermitério de recolectos.
ARCHIVO DOS AÇORES 321
A (.'o;tsti'iiC(;ã() primitiva d':i(|uelle edifício datava apenas do anuo
de 1700, em fjue a piedade dum Cayalense, o capitão Aiitunio Silvei-
la Linhares, mandara construir junto d'imia propriedade (jue possuia
n"a(|uelle sitio uma pequena ermida, tendo adjuncla uma moradia -.um-
de se podiam albergar uns cinco religiosos, para manutenção dos quaes
fez importantes doações.
Aquelle retiro de cenobitas, porem, á proporção que a ordem
franciscana foi obtendo maiores recursos e importância e devido prin-
cipalmente ás esmolas que um seu fillio foi angariar no Brazil, vol-
ven-se em poucos arinos na espaçosa construcção que ainda actual-
mente subsiste, sendo a ermida transformada n'uma soffrivel egreja e
o Cfjuvento augmenlado em todas as suas de[)endencias.
Defronta livremente com o mar e com a magestosa illia do Pico,
desassombrado da proximidade de casarias, livre do bulicio do mundo
e voltado ao nascente, alevanta-se airosamente do seio de copados ar-
voredos e a vida monástica devia alli correr aprazível e socegada, a
julgar pela immensa affinidade do sitio que habitamos, com os pensa-
mentos (jue nos povoam a mente, ou animam a ahna.
Um dia em nome da Liberdade fecharam-se as portas d"aquella
egreja, depois de a haverem despojado dos ornamentos que possuia,
foi profanada e sentenciada a destruição, chegando a tal ponto o seu
abandono que, roubadas as portas, para lenha, no seu interior guar-
davam animaes!
Era imi completo monturo.
O convento, á mingoa de religiosos sérvio por alguns annos de
liospital militar, depois de hospital civil e mais tarde ptla transferen-
cia d'este para mais espaçoso local, foi aproveitado para um pequeno
theatro de curiosos, até (jue em 1857, durante a gerência do Conse-
lheiro Santa Rila, como Governador Civil deste Districto, conseguio
esta illustrada anthoridade, coadjuvado por diversos fayalenses crear
n'a(juelle recinto um azylo para creanças desvalidas do sexo femini-
no.
Por essa occasião a egreja foi de novo reparada e restituída ao
culto divino, se não com ri(|uesa ao menos com toda a decência, tanto
faz a bôa vontade e iniciativa de quem como empregado do governo
e c(tmo particular sabe cumprir o seu dever.
No tempo, [)orem, a que nos referíamos, isto é, por meiados do
sec.ulo 18.°, não passava a ninguém, pela mente semelliantes transfor-
mações, a ordem franciscana estava então, aqui, em todo o seu auge
de prosi)eridade e o hospício de Santo António promtttendo existir
pelos séculos adiante, dando successiva moradia aos filhos da religião
sera[)hica, como num valente lro?ico são, periodicamente, renovadas
diveisas camadas de folhagens.
Para o bondoso Fr Ivo da (]rijz é que o inverno, on para melhor
dizer, a morte, já lhe andava [)ro\ima e esperava cahir socegadamente
N.^ 'i6 - Yol. VJII - 1886. 6
322 ARCHIVO DOS AÇORES
por terra, como nas próximas cercanias caliiam, por vezes sem sequer
um ténue sopro da brisa, as amareHecidas folhas das nogueiras, ou
dos plátanos.
Conseguio, ainda assim, que o seu discipuio íbsse para o conti-
nente, como taulo desejava.
E não era isto fácil emprèza para os limitados recursos pecuniá-
rios de que podia dispor José Ferreira da Silva, mas attendendo á vo-
cação do filho para os estudos e vida ecclesiastica, deliberou ir, com
a sua familia viver para o Porto, em quanto o seu rapaz cursasse a
Universidade de Coimbra, pois assim mais de perto o podia vigiar e
prover ás suas necessidades, com maior economia.
Não teve que arrepender-se d'estes sacrifícios, porquanto Alexan-
dre Ferreira da Silva tornou-se um académico dislinctissimo, formaii-
do-se em philosophia e entrando, em seguida para o convento de Nos-
sa Senhora dos Anjos de Brancanes, em Setúbal, no anno de 17GI e
alli professou em Junho do subsequente anno.
Desde essa epocha em diante é bem conhecida a vida e os ser-
viços á pátria, prestados por esse dislinctissimo fayalense, verdadeira
gloria do clero porluguez.
Homem de singular virtude, vastíssima erudição e comprovada
humildade, os elevados cargos para que foi, successivamente, nomea-
do, bem attestam dos seus méritos e aptidão.
A Academia Ueal das Sciencias, de Lisboa, inscreveu-o no nume-
ro dos seus prestimosos sócios, tanto mais que uma viagem que fez.
a pé, a Roma, mais lhe apurou o seu decidido e muito notável gosto
pelas artes e letras.
Em 1781. governando a Senhora D Maria I.*, era eleito Bispo
de Malaca, aonde não chegou, porem, a ir, sendo transferido para e-
gual cargo, em São Paulo de Loanda, para aonde seguio e aonde se
demorou durante alguns annos.
Por desgostos que soíTreu naquellas affastadas paragens, regres-
sou de seu motu próprio a Portugal, indo acolher-se de novo ao mos-
teiro no qual professara e dalli, passado algum tempo, foi reunir-se
a parte da sua familia que então vivia na ilha Teiceira, um irmão seu
e cunhada.
Por fallecimento do Bispo D. José Pegado, occorrido na ilha de
São Miguel, em Junho de 1812, partio D. Fr. Alexandre, dos Açores
para o Rio de Janeiro, aonde então se achava a corte portugueza, a
solicitar o governo espiritual da diocese dAngra, no qual foi provido
regressando a Angra, mas vindo somente a ser confirmado, em conse-
quência de questões com o cabido e estorvos da Santa Sé. no anno de
1816.
Pouco tempo, comtudo, tinha de durar o seu governo, pois que
enfermando, veio a fallecer na cidade de Angra no dia 22 dAbril de
1818. com oitenta e um annos de edade.
ARCHIVO DOS AÇORES 323
a»
A sen respeito, escreveu o Sr. Gdiiies (JAniorim, que pela pro-
tecção que dispensou aos úo seu sangue, fora o anjo bom da sua fa-
mília.
Como lilterato deixou o Rev.''° Bispo um livro de devoção ás
Dores de Maria Sanlissima e diz-se (]iie muitas outras composições,
que desappareceram depois de sua m:jrte, entre as qiiaes abundosas
poesias e alguns escriptos ascéticos.
A maior gloria, porem, de D. Fr. Alexandre da Sacra Familia foi
ler sido o mestre de poética do seu sobrinho João, filho de seu irmão
António Bernardo da Silva, casado com D. Anna Augusta de Almeida
Leitão, e que mais tarde se tornou o immortal Visconde d"Almeida
G:iri'ett.
Preceptor clássico e devotado, adestrou o joven poeta naquella
vernaculidade e purèsa de lingoagem em que tanto primou o celebre
autlior da D. Branca, recamando este, porventura, a severidade da
plirase bebida n'aquella fonte com o atticismo especial e muito seu,
que lhe fornecia a posse (Fum exuberante talento, como na vasta e
imponente columnata de um templo construído de rijo porphydo, po-
dem ser enlrelaçad(ís mimosos festões de verdura, semeados de fres-
cas e delicadíssimas flores do campo, ou como n'uma urna de finíssi-
mo oiro o cinzel d'um artista portentoso, como Benevenulo Cellini, po-
de lavrar os mais admiráveis arabescos.
O talento em certas famílias é como um legado precioso e cuida-
dusainente guardado, que vae passando de pães para filhos, até que
uma circumstancia qualquer determine a sua apparição no campo da
publicidade, muitas vezes é a scentelha de uma revolução politica que,
atravessando o espaço, vem incender os ânimos e romper a prisão, os
liames, oconvencionalibuioeniíjueseoccultava o génio, fazendo do des-
conhecido da véspera um heroe da madrugada seguinte, outras, a e-
V(»hiçã(j do progresso, o abençoado calor d'um provido e propicio sol,
abrindo naturalmente e na hora marcada pela Providencia o envolucro
([ue occultava à humanidade, durante largos períodos, uma flor d'alta
valia, uma verdadeira gloria nacional.
Também, no interior da terra, desconhecido e ignorado, o dia-
mante jazeu por muito tempo até adquirir a sua scintillante pureza,
ou a pérola permaneceu no fundo sombrio do mar, entre musgos e
algas, até se volver em preciosa genniia.
Os lentos trabalhos da natureza, afferidos pela brevidade da nossa
(íxisiencia, gastam séculos até chegar á perfeição, são o desenlace de
uma serie de plienomenos, o producto de successivas transformações,
o remate de um eilificio que tem profimdos alicerces e que se alevan-
U)U de giaduação em graduação até subir ao espaço, elevando-se. por
vezes, a altura tão grande, que é avistado do mundo inteiro, desafian-
do a eternidade, como Camões, p;ira mencionarmos, apenas, aqui, um
paleio exemplo.
324 ^ ARCHIVO DOS AÇORES
Á grandeza dri arvore corresponde, necessariamente, a extensão
das raizes.
Foi, até certo ponto, o que aconteceu com relação ao Visconde
de Almeida Garrett: — os thesouros de sabedoria ajuntados pein tio
Bispo, passaram-llie indivisos para as mãos e delles se sérvio larga-
mente, não firmando com o seu nome os escriplos do seu venerando
parente, mas aproveitando o muito oiro de lei que do mesmo rece-
bera, para ftmdir obras num estyllo do qual, só elle, em Portugal, ti-
nha o segredo, como o Fr. Luiz de Souza, D. Branca e as Folhas
Cabidas.
Faça o mesmo quem para tanto tiver fôlego.
FR. THOMAZ DA SOLEDADE rpor alcunha o P.^' Gál-
io)— Nasceu este erudito fayalense na Villa da Horta, em 1758, vin-
do a fallecer. como P.^ Mestre dellinidor, no convento de São Francis-
co, ao qual pertencia, no inverno de 18:23.
Foi distinclo poeta e orador de fama.
A sua estatura elevada e robusta, voz forte e sonora e animada
gesticulação, loinavam-no uma espécie de Mirabeau dos púlpitos faya-
Icnses; se, alli, derrubava as heresias com meia dúzia de vehementes
apostrophes, também no século não poria muita duvida, talvtz, de cor-
rer a socco qualquer hereje.
Era homem de vasta erudição e por vezes satírico.
Conta-se d'elle que estando a ouvir o sermão de um novel pre-
gador e (]uando este se espraiava em mysticos devaneios, o P.^ Gallo,
como era vidgarmenle chamado, meneando a cabeça em signal de ap-
provação, dizia aos companheiros, que lhe ficavam mais próximos:
— Muito bem, muito bem, admiravelmente, aijuillo é de S.'" A-
goslinho sem tirar nem pôr!
O orador continuava na sua doutrina e tratava agora de mais po-
sitivos assumptos.
O P." Mestre disse ainda, da mesma forma.
— Excellente trecho, aquelle rapaz promelte muito, aquillo é tudo
de São João Chrysostomo, sem a minima alteração!
A este tempo, porem, um cão ladrou no interior da egreja e de
maneira tal que não deixava o pregador proseguir, e este, perdendo
a paciência, exclamou para o sachristão que estava a ouvil-o, arruma-
do a uma das ombreiras da capella mór:
— O' Fr. Manuel, enxotai aquelle cachorro para a rua, isto não
se pode aturar!
Ao que o Fr. Thomaz da Soledade accudio logo:
— Aquillo agora é (jue é d"elle, é d"elle tudo, vou jiiral-o sobre
uns Evangelhos.
Procurado para subir ao púlpito em quasi todas as feslevidades
ARCHlVO DOS AGOhES 325
fie maior liiziaifutu. Fr. Thomnz (i;i Soledade df ii >eiii[ire prova d"ii!ii
espirito atilado e de notáveis dons oi'atoi'ios.
Lriia miica véz. conta-se, que por culpa sua ou alheia, não levou
a barca da fé a porto seguro.
Foi pelo tempo que medeia entre o sabbado de Alleli:ia até do-
mingo do Divino Espirito Santo.
Naquella epoclia do anno as mascaradas eram a ordem do dia
para a alegre sociedade Hortense e alguma^ elfeituada> com grande
pompa.
Para a direcção dos negócios attinenles a tão momentoso assumpto,
em cada anno era escolliidct um dos homens mais importantes da lo-
calidade, que ficava investido no cargo de Moixiòmo dos Mascarados.
Esta honraria acarretava comsigo, inevitavelmente, umas deter-
minadas despesas, a caza do Mordomo tornava-se o quartel general
da mocidade da Horta, dalli é que sabiam as encamisadas e dangas,
sendo também alli que se planeavanj, entre a sobiemésa e o café,
os bandos e pilhérias C(tm que de domingo a domingo se alegraiia o
povo.
Bòa gente aquella!
Isto era muito mais innocente e proveitoso do que a hodierna reu-
nião de qualquer comicio politico, para tratar da eleição d"algum es-
tapafúrdio regedor.
Resam também as chronicas que as freiras do convento da Gloria
sympathisavam altamente com os mascarados e que até na espaçosa
cerca do seu mosteiro chegaram a fazer burrícadas, nas quaes, ainda
assim, só entravam alimárias asininas do sexo feminino, fornecidas
pela freguezia do Capèllo, aonde abundava mna raça muito mansa e
de pequenas proporçr)es.
Acrescia, também, que numa das domingas daipielle tempo de
folia, era uso muito antigo haver na egreja do convento uma luzida
festevidade em honra de Nossa Senhora da Conceição, á qual concor-
riam, vistosamente uniformisados os rapazes finos da localidade, imi-
tando um terço de infanttria, com as suas fardas azues avivadas de
galão doirado, calça branca com li^tas vermelhas, barretina e grande
{)enacho e espingarda de pederneira ao hombro.
Esta Companhia de mascarados destacava uma guarda para junto
do altar mór e postava-se em duas alas, pelo centro da egreja, desde
o cruzeiro até próximo das grades do coro de baixo, então replectít
de famulas, como o coro de cima estava cheio de freiras, noviças e e-
ducandas.
Um verdadeiro enxame de mulheres e muitas d"ellas formosissi-
líKlS.
Terminada a solemne missa, a Companhia dava três descargas
no átrio do tem()lo e depois estes guerreiros d'occasião iam para os
parlatorios do convento, a C(»nvite da reconhecida coamiunidade, fazer
326 ARCHIVO bUS AÇORES
uma grande carnificina em grandes alcálras, assadas a valer, á ami-
ga p(Hnugneza. em gallinlias e perus recheados, delicados doces e dú-
zias de botelhas de saborosos e |)(ir[)nrinos vinhos do Pico, que espa-
danavam por toda a parte.
Depois, os que podiam, regressavam em ordem de marcha até ao
já citado quartel general, ao rufar dos tambores e seguidos de uma
irriqniela lin'ba de gente do povo e de quanto gaiato havia no logar.
Ora, n'uma d"essas vezes, desej;mdo as freiras um sermão de truz,
haviam incumbido o P.' Mestre Th(jmaz da Soledade, e isto com a ne-
cessária antecedência, para subir ao púlpito em tão rasgada festa.
Quando chegou o designado domingo (j P." Gallo, antes de ir pa-
ra a egreja foi ao parlatorio cumprimentar a madre abbadèssa e esta
caritativa senhora, querendo alentar o seu pregador, mandou vir, por
duas famulas, uma boa porção de tenro lombo de porco, torresmos,
biscoitos e vinho de estufa, em abundância.
O P." Gallo, a dizer a verdade, achou aquellas viandas tão bem
preparadas e o liquido tão tentador que metteu-se mais do (jue a pru-
dência aconselhava, por semelhante refeição.
Quando sahio do parlatorio a festa eslava quasi a começar e elle
sentia" se folgasão e radiante: e bolando da sachristia a cabeça para o
camarim, allirmava, enthusiasmado, que nunca vira maior porção de
luzes na sua vida!
A missa começou, e ao Evangelho, o padre pregador subio sor-
ridente os degráos do púlpito.
A egreja eslava litteralmente apinhada de devotos e de mascara-
dos, e lá no fundo, atravez das grades, os alvos véus da communida-
de bran(juejavam alegremente nos dois coros, o de cima tudo banha-
do nas ondas de luz "que líie entravam pelas suas Ires rasgadas janel-
las.
Fr. Thomaz da Soledade, com o aspecto imponente de que sabia
dispor, [)ersignuu-se em voz alta e pedio uma Ave Maria e quando fin-
dou esta breve invocação, que proferio ajoelhado, ergueu-se, médio
com a vista todo o altento auditório e em vèz do es[)erado e usual tlie-
ma em latim, começou a bailar, dando estalidos com os dedos, como
na popular Ch.amarita, requebrando se ora para mn ura para o uutro
lado e exclamando a cada volta :
— Vivam os mascaradinhos de Nossa Senhora, vivam! ! . .
Um escândalo.
Ninguém, iiaquelle dia lhe ponde sacar dos lábios outras palavras.
Cortou o ridiculo daquella scena, por (luanlo o povo ria a bom
rir. o olTicianle, erguendo-se do seu assento, dirigindo-se para o altar,
e. entoando o Credo, com quanta força tinha
Até aos melhores, oradores, diga se a verdade, pode isto aconte-
cer.
AvcrÍLaiado bem o caso, a culpa fura da madre al)l)adêssa, pois
ARCHIVO DOS AÇORES 327
que até o próprio santo António não foi livre de tentações, cm quanto
neste mundo permaneceu.
De Fr. Thomaz da Soledade muito poucas composiçrjes litterarias
chegaram até nós, devido á falta de imprensa, bem como ao descuido
dos seus patricios e companheiros, do que resultou desa[}parecerem
quasi todos os seus trabalhos religiosos ou profanos.
No «Grémio Lilterario», periódico quinzenal, mantido, na Horta,
pelo Grémio Litterario Fayalense, desde 15 de Maio de 1880 até 1."
de Novembro de 1884, no seu n.*' 8, vem pidjlicadas duas mimosas
Glosas d'este poeta, que foram dedicadas a uma formosa educanda do
convento de São João, D. Violante Quadros da Silveira e as quaes
muitos versejadores da actualidade não desdenhariam de assignai-.
Tratam de assumptos amorosos.
A julgar por semelhantes specimens, possuía um estylo aprimo-
rado e fácil, desprendido de severidades monásticas, ou de resaibos
de sachristia.
A família de Fr. Thomaz da Soledade, parece-nos haver-se extin-
guido na Horta, pois que as duas únicas irmãs que teve falleceram sol-
teiras.
O DR MANUEL IGNACIO DE SOUSA SARMENTO.
— Se acazo o leitor d'estes rasteiros apontamentos alguma vez e.^teve
na cidade da Horta, não deixou, com certeza, de visitar, n'um oitei-
ro, ao lado do norte da mesma, as ruínas do Pilar, isto é, os destroços
que ainda restam de pé dum formosíssimo palacete que allí houve,
circumdado de jardins, elegante na sua construcção e rico de bom gos-
to, até nos seus mínimos detallips, como ainda attesta aquelle esque-
leto, que a acção devastadora do tempo não consegiuo tornar disfor-
me, apesar da sua nudez e abandono.
As minas do Pilar chamam, desde logo, a attenção de quem a-
qui aporta e tem pittoresco aspecto aquelles muros, portadas e janel-
las desguarnecidas, mas nas quaceTas caridosas e pobres flores agres-
tes e sem cultivo, tentam, na estação estiva ostentar os seus humildes
encantos, abotoadas em sorridentes cachopas, ou abrindo os seus cá-
lices brancos, vermelhos, ou arnarellos, a par de festões de hera ver-
de escura e valente, como se as plantas comprehendessem melhor do
que o homem a poesia d'aquelle retiro, o esmero com que fora feita
aquella construcção e o triste desamparo em que afinal ficou um sitio
que se tornou celebre n"esta ilha, tanto pelo distinctíssimo fayalense
seu proprietário, como pelas brilhantes festas que alli se deram.
A casa do Pilar foi. indubitavelmente, a primeira, a mais elegan-
te moradia d"esta ilha e o panorama que gozámos d'aquella eminência
é esplendido e arrebatador.
Erguida aijuella construcção n'uma Íngreme encosta e quasi no ci-
328 AHCHIVO DOS AÇORES
mo de um ^lonl^^ dominava perfeitamente a w/-éí"oí6W/?í, a e.vtensa po-
voação da Morta, (jue se estende a sens pés. com esse atraheiíle as-
periu (|iie llie é peculiar e com a sua branca casaria irrompendo do
seio de pomares e jardins que descem até ás proximidades do n>ar.
Defiontava, sem o menor estorvo, com o immenso horisonte do
sul, com as agoas d'esse vasto e caprichoso oceano que rola as suas
vagas .izues e vividas qnasi até à fralda d"aquella elevação, quebran-
do-se no comprid.) areal, formando, como dizia Alfred de Mnsset, um
lon;/UP frange d' árgon t.
A leste, a grandiosa ilha do Pico, com o seu severo aspecto e ma-
gnificas cambiantes, ao [)ôr do sol, umas vezes revestida de alvos man
tos de neve, outras, a meio, com uma cinta de nuvens, mas erguendo
tmiito alem o seu cume descampado e nu, tingindo de rubros reflexos,
como se fosse cobirto de laminas de metal ainda m;il arrefecidas dos
trabalhos vulcânicos, das ribeiras de fogo que devem debater-se no
seu interior e (jue aind;i fumegam alravez de fendas de 2.412 metros
dallura.
As cercanias da caza do Pilar eram um mar de verdura e dentro
dos muros (pie delinearam aqiiella propriedade, haviam formosos e
esmeradijs jardins, estaíiias, valiosos trabalhos em mármore represas
d'agoa apresentando vistosos ctTeitos, floridas ale. is de plantas raras e
de despendioso cultivo e animaes e aves, mandados vir, como curio-
sidade, de remotos paizes.
No interior da habitação o luxo correspondia com <» que acaba-^
mos de descrever, era uma vivenda pi'incipèsca e hospitaleira, com
aniiudados b.inqueles. saraus e outras diversões, tanto para a socie-
dade elegante da Horta, como para os estrangeiros que, então, aqui
aportavam em muito maior numero do <pie actualmente.
Foi um homem feliz o dontj do Pilar e se jamis lhe escassearam
os bens da fortuna, com (jue satisfazia (ts desejos do seu génio em-
prehendedoí- e atilado e se na Horta gos;iva da máxima C(jnsideração,
como uni <ios |)rimeiros jtroprietarios da sua pátria, também a nobre-
za do talento veio-se lhe reunir á nobresa do saiigue, compondo bons
versos e diversos trabalhos litterarios. fructos do seu estudo na Univer-
sidade de Coimbra, do seu amor pelas leiras e das in>piradi>ras sce-
nas que gosava na sua vasta e magnifica moradia, ao lado de uma es-
posa querida e de filhos que. idolatrava.
Pos>uia ainda uma seleda bibli<ilheca. (|ue deixav;i a perder de
vislii a (h\<, frades de São Francisco, ajtesar de nniito numerosa, e a
dois passos da sua residência, com missa ao domingo, uma ermida
dedicada á Virgem do Pilar, fundada pelos sens antepassados.
Kffeclivamenie, devia dar graças a Deus da sua sorte.
O l)r. Manuel Ignacio de Souza, ;i (|uem nos estamos referindo,
ii.iscera na villa da Horta, no anuo de I73Í). sendo seus pães o abasta-
do |iro[»rielario e co:nmerciaiite Doming.is de Souza e Silv;i e D. Bar-
ARCHIVO DOS AÇORES 329
har.1 (1.1 Ttii)(l;iil(\ lumili.) nlidalgad.i e giie vivera sciiiiire ;i lei da
iiobi'eza.
Domingiis de Sonsa e Silva eia (iiorgado, inas m» envez do que
geralmente acoiittícia, sendtt nni homem esperto e sen>ato, esmer-oii
se em dar uma selecta ednca(;ão aos Ires filhos que linha António de
Souza e Silva, herdeiro do vinculo, João José de Souza, (jue tomou
ordens saci'as e Manuel Ignacio de Souza que se formou em direito na
Universidade de Coimbra.
Depois d'um brilhante rurso e obtida a respectiva carta, regres-
S(Ki pai\i junto da sua Cimilia, casand(j pouco depois com sua sobrinha
I). Luiz;i, filha do irmão m.iis velho, estabelecia aqui com o outro ir-
mão clérigo, (|ue para tanto obteve licença de Roma, uma muito im-
portante ca/a de commercio, em vinho do Pico, que eram exportados
para os paizes do norte da Europa, caza esta que desenvolvendo um
grande lr;ifego cíiegou a ler sele navios seus, segundo um escripto
que temos presente.
A foiluna foi sempre prospera para a firma de que usavam, en-
grossando-lhe consideravelmente os já abundosos haveres e annos de-
pois vindo a fallecer o P/ João José de Souza, legava ao seu consó-
cio e irmão quanto dinheiro ajuntara.
Em seguida a esta occorrencia, o Dr. Manuel Ignacio de Souza
litpiidou os seus numerosos negócios, relirando-se do commercio e en-
Iregando-se exclusivamente á administiação d.is pi'opriedades que pos-
suía e ao cultivo das Muzas, eslabelecendo-se delíjnilivamente na sua
moradia do Pilar.
liaras vezes d"alli sahla, a não ser por obrigação d'alguns cargos
da governança da terra, dos quaes, a seu pi\sar o investiam. N'essas
occasiões descia sempre á villa de cadeirinha e esta ladeada de cria-
dos de libré.
Falleceu em 1802, contando então 63 annos de edade e bemquis-
to e respeitado por lodos.
Do seu consorcio ficaram quatro filhos e Ires filhas, para os quaes
não sorrio a fortuna, como ao seu illuslre progenitor.
Do Dr. Manuel Ignacio de Sousa chegaram até nós algumas poe-
sias, da^ quaes conhecemos, publicadas, umas oitavas e um soneto no
n." 28 do periódico «Grémio Lillerario», correspondente a Io d"agos-
lo de 1881 e uma Ode no n." 33 do mesmo, correspondente ao l.°de
Novembro, lambem de 1881.
Nestes trabalhos e no pouco (jiui do mesmo aulbor existe ainda
inédito admira-se um estylo terso e não vulgar engenho, sendo muito
para lamentar que por imperd(javel desleixo, não houvesse um curio-
so, um amigo ou um parente (pie n"a(piella e[) ocha colleccionasse os
escri|)los de tãi» erudito fayaleii>(\
Ist) me>ni) acotiiHcen. aijiii, com a mai-^ria dos trabalhos que pro-
duziram'os nossos homens de letras e o mais que consegue hoje res-
.N." 'lO-Vol. VIII 1880. 7
330 AKCHIVO DOS AÇORES
pigar qualquer investigador de autigii-dlias, são pequenos fragmentos
que sabe de cór ou que lhe fornere um ou outro homem edoso.
Devemos também mencionar que uma Ode do Dr. Manuel Igna-
cio de Souza, já acima indicada, que se refere ao Pilar e n'a qual se
encontram estes deliciosos versos:
Aos verdes montes do Pilar subindo
Estendo por te ver os olhos tristes.
Mas não te avisto e só vou descobrindo
O sitio venturoso aonde existes.
Chamo por ti, e tu a meus gemidos
Voltas a face, cerras os ouvidos!
foi o primeiro trabalho typographico que, em I8o7 se compoz n"eslH
ilha, como um ensaio, ou experiência de trabalhos de prelo.
A composição e tiragem d'esta Ode foi effeituada por Manuel de
Brum Athayde, um rapaz de muito estudo e amor ás letras e que veio
mais tarde a fallecer, como professôi' de latim, na Villa da Magdalena,
na ilha do Pico.
Teve excepcional circulação aíjuella poesia, pela curiosidade de
vermos, na Horta, um papel aqui impresso, embora muito incorrecta-
mente e parecendo ser estampado em vez de typo, com cabeças de
pregos, como passados mais de vinte e quatro annos. ainda a respeito
dum dos nossos periódicos dizia na sua lingoagem pittoresca e hu- ,
morislica Henrique das Neves, militar e escriptor distincto.
A maioria dos trabalhos lilterarios do Dr. Manuel Ignacio de Sou-
za desappareceram, para sempre, no meio do indifferentismo dos seus
conterrâneos e da sua esplendida residência apenas restam uns mu-
ros e excavações. nos quaes as tempestades do inverno gemem lugu-
bremente. Ato o regular e verde oiíeiro em que assentava perdeu os
seus contornos, estando hoje disforme e o seu cimo, convertido num
grande barreiro.
Tudo aquillo cahio aos pedaços!
VITALIANO JOSÉ BRUM DA SILVEIRA. — Foi poeta
distincto e um verdadeiro D. Juan d'esta terra d"Yvetot.
Compunha com egual facilidade poesias [patrióticas e altisonantes,
como versos para bandos de mascarados e trovas para cantar á gui-
taria. em noites estivas, por baixo das adiifas das elegantes fayalen-
ses do seu tenq»o.
dosava boa nomeada como poeta e excellenle acolhida entre a gen-
te do povo com a qual se familiarisava. sendo cíTectivo em todas as
folgos em louvor do Divino Espirito Santo.
ARCHIVO DOS AÇORES 331
Vitaliaiio José, tíiribitia passasse no Fayal uma graiitlc parte da
sua oxistencia, era de Coimbra, filhi) iialiiral do notável fayalense o
doutor em cânones João José Paim Í3ruin da Terra Silveira Leite, so-
brinho este do arcebispo de Gòa D. António Taveira de Neiva Brnm
*í Silveira alli havia nascido o nosso versejad(jr pelos annos de 1715 a
1750, approximadamcnte, (|nando o estudante de tlieologia cursava a
Universidade.
O dr. João José Paim, embora d um génio taciturno e reserva-
do, foi homem de vastos conhecimentos, nobre estirpe e de decidido
gosto peias letras, pioduzindo diversas compoziçõt^s poéticas e traduzin-
do esnieradamente as obras de Virgilio, piMs que eia um latino pro-
fundo.
O seu fdiío apanhadiço, como diz o povo, que elle trouxera ain-
da peíjueno, de Portugal para os Açores, quando terminou a formatu-
ra, se verdadeiramente divergia muito do pae por possuir luii génio
alegre, folgasão e amigo de divertimentos, ainda assim lierdara-lhe a
boca da poesia, com que ainda em verdes annos e com grande gáudio
das raparigas e freiras, começou a dar evidentes provas.
Pelo casamento do dr. João José Paim, na ilha Terceira, com D.
Marianna Victoria de Noronba, daina da primeira nobreza d"aquella
terra, considei'ada então como a corte dos Açores, veio este a ter de
seuíellianle consorcio uma miioa filha, a futura e muito virtuosa Baro-
neza da Lagoa D. Francisca Paula da Terra Brnín, cazada com o bon-
doso morgado José Francisco da Terra Briuii, do qual já largamente
tratámos no segundo volume d'esta obra.
Foi mn magnifico recurso para o génio espairecido do poeta Vi-
taliano ter por cunhado o morgado Terra, por (|u;uito se o caracter sé-
rio e um pouco austero do pae, apesar de lhe querer muito, não lhe
dava largas a reiterados pedidos de dinheiro, com o morgado não lhe
acontecia o mesmo, sendo seu amigo e approximadamente pela mesma
edade, dispondo o poeta largamente do dinheiro, e não era pouco, que
este pi)ssuia, para se divertir em ruidosas patuscadas, em partidas eam
pestres e em amiudadas romarias.
Contou-nos um muito antigo escrevente da antiga casa do morga-
do Terra que, no seu tempo, (juando o Sr. Vitaliano, precisava de di-
nheiro, entrava pelo escriptorio do morgado dentro e alli mesmo, á
vista do cunhado, limpara quantas moedas elle tiniia sobre as mezas,
ou recebia os foros d'algum emphyteuta que alli viera desobrigar-se
dos seus ónus.
Era questão de fortuna, de occasião.
Despreoccupado assim dos meios de [irover á sua subsistência, as
Musas e a guitarra íoram-lhe na mocidade inseparáveis companheiros.
Depois da morte do pae, occorrida no amio de 1800. n poeta Vi-
taliano. nunia digressão á ilha de São .Miguel alli enamoi-ou-se de uma
senhora da familia de André Manoel da Ponte com a qual casou refoi-
332 ARCHIVO BOS AÇORES
niaiulo desde então a sua muito airad.i vida.
Já não era sem tempo.
De Vilaliano José Brum da Silveira existem ainda Imje diversas
poesias de incontestável merecimento, havendo das mesmas publicado
«O Grémio Litterario», quatro odes, unia elegia e dezeseis sonetos,
nos seus números 23, 2i, 25, 27, 29, 30, 32 e 3i, do primeiro e se-
gundo volume, desde Maio dt- 1881 a Novembro do mesmo anno.
Não podemos averiguar a epoclia do seu fallecimento, nem se oc-
coireu n'esta ilha, on em São Miguel, d'onde era a consorte,
Parecerá, porventura, estranho ao leitor que, com relação aos pou-
cos escriptos que dos antigos poetas fayalt^nses mencionamos, tenha-
mos de citar amiudadas vezes o periódico «Grémio Litteiario». como
o usual repokoir d'essas flores que nos acarretou a torrente dos tem-
pos.
Tem isto uma rasãc» de ser, muito simples.
Havíamos já. e a muito custo, conseguido colleccionar alguns, ain-
da que raros trabalhos, dos antigos homens dados ás letras na Horta,
quando uma vez. estando então a nosso cargo o periódico mantido pe-
la associação «Grémio Litterario Kayalense» desde 15 de Maio de 1880
até o 1.° de Novenibro de 1884, nos veio parar á mão nm verdadeiro
alfarrábio, descabido, velho, amarello e cheio de pó.
Era um couseiro, ou livro de assentos, do fallecido beneficiado da
Matriz da Horta o Rev.'^" Ignacio da Silveira Bettencourt, homem da-
do a letras e muito cm^ioso de antiguidades açoricas.
Comecei, com avidez, a ler aquella verdadeira miscelânea de coi-
sas sacras e profanas.
Continha este manuscripto a par de mu registo das missas que o
consciencioso sacerdote tinha a dizer, ou ia dizendo, (e não angmenta-
va na conta, honra lhe seja) de quanto lhe custava cada retelho ou pin-
tura da sua habitação modesta, de alguns commentarios íntimos d(»
pouco que lhe davam por cantar nas Endoenças, dos presentes de ces-
tas d"uvas no verão, etc, algumas poesias da gente do seu tempo e
a narração de diversos fados mais ou menos escandalosos n"esta lo-
calidade occorridos.
Alguns commentarios mostram ser dum hí^mem de espirito ati-
lado.
Abrimos, pois, com semelhante achado, uma secção especial, sob
o titulo de «Antigualbas», no «Grémio Litterario», tratando por esta
forma de conservar, quanto ao nosso alcance essas composições, para
não lhes acontecer o mesmo que aconteceu a grande copia de manus-
criptos de escriplores fayalenses, que hoje não é possível encontrar.
Na imprensa periódica desta ilha não nos consta que fossem pu-
blicadas, ou reproduzidas, sendo este o único motivo pelo qual nos re-
ferimos mais especialmente áquelle (|ninzenal.
Apesar da limitada tiragem do «Grémio Litterario», como aconle-
ARCHIVO DUS AÇORES 333
ce a todas as nossas folliéis, ainda assim iim ou oulro follecciuiiadoí t'
{lossivtd que o conserve e conjnnctainenle as poesias a (jue nos rete-
rimos. que algum v;i|i»r h-m {hna os estndiosdS.
O Kev.''° Ignacio da Silveiía Betlencourt lambem versejava o sfu
bocado, mas, realmente, aquilh» era mais prosa chata e comesinlia do
que inspiração das Musas. Constavam quasi sempre as suas composi-
ções, n"este género, de agradecimentos aos presentes que lhe fazi.un.
especialmente quando eslns constavam de perus, que rmnca levavam
em troco menos de três (piadras, em encfiuiiaslicos termos.
Era uma especialidade do bondo^so e muito reconhecido Beneficia-
do da Matriz.
CJiamou-nos, também, a attenção no proseguimento da leitui'a d'a-
quelle manuscripto a seguinte carta, cujo autographo alli se acha cui-
dadosamente collado numa [)agiua em branco e originalissiina na idêri,
forma e dizer:
«Primo e Senhor Padre Heneticiado,
«Candelaíia do Pico, 2i de Março de 1841).
«He do dever da Sevelidade a quem se auzenta o participar os suc-
cessos da sua viagem e taud>eni os da Amizade, essa forca Activa, es-
sa Antipatia gostosa, (pie faz com que os entes de uma mesma Espé-
cie se congratulem e se estimem, por um estimulo que força a Ama-
rem-se. com senciridade unesta e decente. Parece ser umas emana-
ções do Creador, que exerce sobre nós e faz com que olhemos para
luis Sujeitos com muita attenção, mas pessoas em quem selreconhe
ça uma ahiia modelada á beneficência e á magnanimidade, 'huma ahna
cujos sentimentos, nobrez e elevados pensamentos tem sobre os outros
Inmi suave Imperi(t e os sujeita voluntários a congratular-lhe a sua es-
tima.
«Atributos que reconheço em a pessoa do Primo, motivo p(ti'que
essa força me faz obrigado a particii)ar-llie o bem succedido de miidia
viagem com minha familia, qiu^ foi a mais breve possível, a mais bo
uançosa. que esperar podia nas circumstancias do tempo.
«Receba o primo muitas Rtcommendações de minha Tia e as mes-
mas mandão fazer á Sua Familia. E as minhas para com o 1'rimo .sã((
.^em fint.
«Deste Seu amigo e Priíuo
«A. F. di' Mattos.
«Eu estou Próximo a liii- a essa terra
do Faval e então fallarèmos.»
O que lhe res[»ondei ia o padre :'
334 ARCHIVO DOS ACOHES
JOÃO PEREIRA DE LA CERDA. — Foi um trabalhador
infatigável e purvenlura o primeiro, ornais inspirado poeta que o Fayal
tem produzido.
Nasceu este notável açoriano na viila da Horta, aos 12 de Agosto
de 1772, sendo filho de Joaquim P^^reira de la Cerda e de sua consor-
te D. Emerenciana Dorolhea Brum da Silveira.
Diz oCommendador Macedo, n um artigo que lemos presente, des-
cender aíiiielle talentoso fayalense duma familia hespanhola.o (pie pa-
rece confirmado pela maneira por que escrevia o seu appellido, as in-
dagações, porem, a que a este respeito procedemos deixam isso em
duvida e somente nos levam a crer que os de Ia Cerdas, ou Lacerdas,
tão abundosos no Fayal, provém t jdos do mesmo tronco, sem (pie hou-
vessem com este nome duas f.imilias de differentes nacionalidades.
Aos trinta e dois annos de edade, em 1804, casou João Pereira
de la (lerda com sua prima D. Francisca Victoria C()rle Heal, natural
da ilha Terceira, de cujo consorcio teve larga desí^endencia, parte da
qual ainda aqui existente.
Como pelo fallecimento dos pães e sendo o filho primogénito se
achasse administrador de uma rasoavel casa vincular, reconheceu em
breve tempo que a gerência de negócios não era a sua especialidaiJe.
|)ara o que a sua digna esposa tinha incontestavelmente, muita inais
habilidade.
Entregou-lhe, pois, de seu molu próprio e com a maior confian-
ça a governação dos seus haveres, do que resultou augmenlar consi-
deravelmente os seus rendimentos
Em partidas de pesca na fronteira ilha do Pico, aonde (íostuniava
permaníicer alguns mezes do anuo, ou ntiina vistosa propriedade de
que era dono, denominada Salvaleri-a, na freguezia da Conceição, na
Híjrla e n'aqual niítndara construir uma barraca, era aonde passava a
maior parle do seu tempo, entregue, exclusivainente, aos seus queri-
dos estudos lilterarios, ou á convivência de atgim.N amig(js (}ue o iam
visitai'.
As suas idéas eiam rasgadamente libei'aes e niuito eivadas das
doutrinais de Voltaire, em (^)!isequencia do que alguns de.>gostos sof-
fren, devidos ás commoções politicas que se deram de 1821 a I83().
Finalmente, em Março de 1850, cercado da |)ublica veneração, de-
vida ao seu honrado caracter e illn.stra(;ão, falleceu e.ste distincto fava-
lense, vicliuja de uma aíTecção pidmonai-.
Contava então setenta e (»ilo annos de edade.
Muitos dits escriptos de João Pereira de la (À'r(!a, ainda em vida
do píjota, foram enterrados em uma Cfsla, nunca mais se sabendo dos
metamos, por serem liberaes e temer, nessa epocha. algum parente
on amigo a sua divulgação.
ARCHIVO DOS AÇORES 33y
Dos que escaparam a seinelhaDle flestmço cuiihecemos, ou tciiids
noticia, dos seguinlts:
Uma collecção de esplendidos e inagnificos sonelos, a nriaior par-
le dos quaes no género satírico, niettendo á bnlha os nsos do sen leni-
[)o, os milicianos da localidade e os abnsos dos frades.
Diversas Odes e allegorias exaltando as idéas de hberdade, com-
postas quasi sempre para serem t ecitadas no thealro, em occasiõe> de
pnblicos festejos.
As seguintes Iraducções de Vollaiie: - £^//.sr//(> ^obre os costumes
e espirito das nações — O Conde d'Esse.r — Branca — Al ztjra.
O Retrato, de Diderot — A monarchia dos Sohjpsos, a Guerra jJos
Deuses de Parny — Jorge fJandin e o Mi/santropo, de Molière. e os ro-
mances inglezes Cecilia e Lony.
Na «Historia das quatro ilhas que compõem o Districto da Hor-
ta», na collecgão do semanário «O Atlântico», no n." 6, ultimo do 1."
vol. do «Archivo dos Açores» e no «Grémio Litterario», tem sido a
espaços publicadas diversas composições e noticias biograpliicas de
João Pereira de la Cerda, sendo um dos raríssimos escriptores fayalen-
ses que precederam a actual geração, ao qual uma n)alfadada sina não
destruio, quasi na totalidade, os trabalhos liltcrarios.
A memoria de João Pereira de la Cerda ainda hoje subsiste com
bem merecida nomeada n esta ilha.
No periódico o «Democrata», do corrente anno de 1886, está sen-
do aqui publicada uma traducção feita pelo mesmo author, do roman-
ce francez Eugénio.
BENTO PEREIRA DE LA CERDA. - F(.i também poeta
e irmão mais novo do piecedeute.
Nasceu no anno de 1774.
Muito pouco tempo permaneceu na sua pátria, indo ainda em ra-
paz para Lisboa, aonde se relacionou intimamente com Bocage e com
o conhecido michaelense André da Ponte do Quental.
Ficou legendaria a maneira pela qual estes três amigos, verse-
jando e de guitarra em punho, percorrer;iin uma grande parte de Por-
tugal, cantando trovas e recitando versos em cambio de hospitalidade
e alimento.
De Bento Pecfira de la Cerda não conseguimos obter (jualquer
Composição litteraria, nem nos parece que alguma exista nesta ilha d(»
Faval
O seu génio aventureiro levou o ale ao Brazil, aonde soube ca-
ptar a benevolência dEI-Rei D. João (>.", que com elle privava, dando
•U) poeta açoriano decidida piotecção.
Alli falleceu, em edade pouco avançada.
Na família la Cerda, até aos nossos dias. alguns indivíduos teu»
»i36 ARCHIVO Dt)S AÇOKES
a|i|);ireci(l(j cijui (alento ê V(jc;u;ho parn as letras, tanto num corno em
outro sexo, taes como D. Jesuuja de la (^errla, ha pouco ai^ui fallecida,
já septageiiaria e D. Beatriz de la (>enla, sua sobrinha, da qual algims
trabalhos tem sido publicados na imprensa periódica da Horta.
O DR. FRANCISCO VIEIRA GOULART. - Kra natural
do Fayal, atjnde nasceu a 8 de xVlarco de 17^8. sendo fdho de Manuel
Francisco Goulart e de sua consorte D. Maria Iguacia Goulart, abasta-
dos proprietários.
Ft)rmou-se em philosophia pela rnivrrsidade de (Coimbra, aonde
tez um magnifico curso e visitou, em viagem de recreio, (]ue para tan-
to o habilitavam os fartos haveres paternos, as principaes cidades da
Kuropa. mas isto vagarosamente e consoante ao seu génio investiga-
dor e estudioso.
(juando regressou á [latria, já com ordens sacras e vastíts conhe-
cimentos hauridos em Coimbra e nits paizes estrangeiros aonde resi-
dira, professava idéas tão rasgadamente libcraes (jne ma! se coaduna-
vam com o regimen politico então estabelecido em Portugal.
Em breve ttve d'isto unia evidente prova.
(]omo vagasse a Vigarari a da Matriz da Il^rta, o dr. Vieira Gou-
lart foi um dos reijuerentes, sendo, como era de ju>tiça, provido n'es-
ta pretenção, á posse, porem, da qual se op[)oz tenazmente o Fiispo D.
.losé Pegado, M)b pretexto do agraciado oarir pouco. *
O dr. Vieira Goulart [)arti(t, então, inunediatamenle, para o Bia-
ziL a íim de, junto do Sr. U .João 6.". fazer valer os seus direitos.
A proverbial lenidade d"este monarcha deu favorável acolhida á
exposição que lhe fez aquelle dislincto sacerdote e para acununodar
os ânimos transferio-o, |iara mais elevada graduação, com.» chantre da
Sé de Angra.
Ai-oiiteceu, [)orém, ijue o dr. Vieira Goulart não voltou aos Aço-
res, demoiando se no Hio de .laneiro, investindo o o Governo da dire-
cção do Jardim Botânico e do laboratório de chimica. tornando se um
vulto im[ioitante na corte.
Km premio dos bons serviços (]ue [iicstou foi agraciado corn o
giMii de Fiilalgo Ga[)ellão da ca.Na im[)erial.
Possuindo uma es[»len(lida bibliolheca que deixara na Horta e não
tencionando a(jui voltar mandou-a ir para o Rio de Janeiro, a qual, po-
rem, se perdeu no naufrágio da eud>arcação tpie para alli a conduzia.
Ghegaram até nós diver.sos Iraltalhos [>oliticos e litterarios do dr
Vieira (ioidart, e d'estes idtimo> alguns fuauí reimpressos no 1." an-
uo do "Giemio Litterario».
Vinda assim, na nossa hiuiiilde opiniãd. [losstiia uuiito niai> e.^lro
o >eu patricio João Pereii*a de la Cerda, endtora não revelasse a grau-
dii 1'npia de coiiheeinientnv (jne dexl.' logo saltam á vista nas compo
ARCinVO DOS AÇORES Ii37
sições (lo laureado doutor Vieira Goulart, um erudito, uu» sábio.
Fallfceu tão distincto fayalense, ainda no Rio de Janeiro, no an-
fio de 1830, n.1 posse de subidos cargos que desempenhou sempre
com illibada honra e acerto.
Foi dedicado amisfo do Sr. D. Pedro I.".
O P.' JOSÉ LEAL FURTADO. — Nasceu este illustradissi-
nio e talentoso sacerdote na freguezia da Praynha do Norte, no Conce-
lho de São Roíjue da ilha do Pico, no anno de 1750.
Foram seus progenitores o alferes de ordenanças .loão Quaresma
e sua coiísorte D. Jacintha Roza, gente abastada e da principal da ilha.
Depois de haver cursado com distincção os necessários estudos,
mostrando rara propensão para a musica e poesia, ordenou-se aquel-
le talentoso picoense, conseguindo ser provido como beneficiado na Ma-
triz da Horta, cargo que exerceu com muita dignidade e diligencia.
Alem d'isto era cavalheiro de fino trato e delicadíssimas manei-
ras, sendo muito estimado da sociedade elegante da Horta e frequen-
tando as primeiras casas d'esta localidade, aomJe sempre foi recebido
com consideração.
Durante a estada no Faval do Bispo D. .losé Pegado, teve este
Prelado, que lambem era excellente ínusico, occasião de ouvir cantar,
em diversas festividades religiosas, o padre beneficiado José Leal Fur-
tadi), causando-lhe viva sensação a mestria da sua execução e explen-
dida voz, a ponto de instar muito para que elle o acompanhasse para
a Sé d'Angra, aonde lhe arranjaria boa collocação.
Escusou-se, porem, muito respeitosamente o Padre beneficiado e
continuou aqui a viver junto da sua familia.
Por vezes apossava- se tanto das partes musicaes que desempenha-
va, comt) cantor, na liturgia da egreja, que ficava extremamente com-
movido e nervoso.
Conta-se, a este respeito, que no enterro de uma formosíssima
donzella da Horta, filha de uma casa que elle muito frequentava, ti-
nha de cantar um solo, o Di«'s irae.
Do coreto do órgão, aonde se achava, o P.*" Leal via, no corpo da
egreja, sobre a elevada eça, toda cercada de lumes, aijuella mimosa
i-reança a quem tinha sincero e desinteressado aftécto, aquelle angé-
lico rosto que a morte beijara tão prematuramente, a capella florida
que lhe cercava a fronte, o veu (|ue devia ser do noivado e que, tão
cedo, volvido tora em triste mortalha !
O Padre debruçado sobre a balaustrada do coreto, com o rosto eu
tre as mãos, esteve muito tenqjo de olhos fitos n'aquelle compungen-
te espectacuh», parecendo in('onsciente de quanto em seu redor se pas-
sava.
Chegou, porem, a occasião de elle evocar a misericórdia do AI-
N.« i6 — Vol. VHI - 1886. 8
338 ARGHIVO DOS AÇOhES
tissinio para essa pudibunda flor que se desprendera saudosamente da
vida, o Padre ergueu se então inspirado nos resplendores do seu por-
tentoso talento e com voz commovida e replecta de sentimento profe-
rio as primeiras notas do lúgubre canto.
O numeroso e selecto concurso que assistia aos funeraes, em bre-
ve senlio que semelhantes palavras lhe entravam nalma, tinham o quer
que fosse de extraoidinario, communicavam a todos a melancolia e o
sentir do levita que as cantava, e tudo se quedou allentamente, para
nielhor as escutar.
Quando o cantor, terminada a dolorosa invocação, abaixou o pa-
pel de musica, tinha o rosto sulcado de lagrimas.
Não estivera aili, a sua alma de artista, nas azas da fé, havia su-
bido muito alem dos paramos da terra.
Aquella naturesa essencialmente imprtssionavel devia-llie ser fa-
tal, porquanto o génio nem sempre poupa os seus eleitos e, não raro,
os consome na sua própria chamma.
O P.^ José Leal Furtado soffreu um primeiro ataque de alienação
mental, no começo do (]ual, ainda assim, compôz deliciosas poesias, a-
té que em breves dias tornou-se furioso, sendo preciso vestir-lhe uma
camisa de força e conserval-o preso.
Aquelle espirito, até alli tão lúcido, apagara se no seio d um tem-
poral medonho de idéas, tão revoltas e encontradas como as vagas do
oceano, á beira do qual vivia, quando acossadas por forte ventania.
Permaneceu assim dois mezes, até que a naturesa por um esfor-
ço supremo, o restituio ao uso da rasão e aos seus queridos estudos
lilterarios.
A(juelle anómalo estado ficou, porem, dalli em diante, repelindo-
se lhe em determinados períodos e conhecia o próprio enfenno, pri-
meiro do que ninguém a sua appro.ximação, dispondo os seus negoci(ts
para o tempo que durasse tão terrível doença.
Uma vez, já não andando bom, foi occultar o seu relógio e cadeia
d'oiro, diversos anneis e alguns outros objectos de valor, em casa da
distincta família Arriaga, enterrando os, sem que alguém desse por is-
so, debaixo da soleta de uma porta da rua.
Quando, passados tempos, recuperou a rasão, conservava ainda
a reminiscência do que havia feito, e foi elle próprio, acompanhado
dum trabalhador descobrir o escondrijo do seu thesouro.
Occorreu, assaz trágica, a sua morte em 1816, contando então
sessenta e seis annos de edade.
Estava, ao que parecia, já em convalescença d'um dos seus ac
cessos de loucura, retido ainda em logar seguro e entregue á vigilan
cia de um soldado da (lompanhia de Artilht ria. chamado Raphael, ho-
mem valente e ao qual o Padre Leal, ainda mesmo nas maiores fúrias,
temia d'alguma s(»rle.
O infeliz sacerdote havia sido sangrado poucas horas antes, con-
ARCHIVO DOS AÇORES 339
servaudo no braço a necessaiia ligiidura e o R;ipliapl a espaços vinlia
espreitar o sen estado e se vdcifeiava ainda.
Disse lhe então o enfermo com a nuiior serenidade:
— Para que te andas a inconiuiodar tanto, homem?., julgas que
eu ainda estou doido ?. .. isso já passou, já lá vae e sinto-me perfeita-
mente.
— Ora até que graças a Deus, lá que o Sr. padre beneficiado es-
tá bom, vejo eu, mas é que a gente sempie tem receios . . .
— É louvável es<e leu cuidado, isso é, olha, se eu estivesse doi
do, com esta ligadura no braço, vocês não me deviam, deixar sosinho,
pois que eu podia desamarral-a, embrulhai a no pescoço e estrangu-
lar-me. pois não é assim?
— Nunca me linha passado isso pela idéa.
— É para (jue saibas que os doidos tem muitas apanhadeiras,
para outra véz é preciso mais sentido, amigo Raphael, a vocês não
quererem que eu morra.
— Deus nos livre de taes pressas.
— Obrigado, nunca me esquecerei da lua dedicação, sempre te-
nho um somno . . .
— Pois é o Sr. padre dormir agora um pedaço, que isso faz ben»
e se precisar de alguma coisa, chame por mim, estou daqui próxi-
mo. Até logo.
-—Até logo.
Quando d ahi a uma meia hora o soldado voltou ao aposento do
seu doente, o P.*^ José Leal estava agoaisante, havendo feito com a li-
gadura da sangria e.xactamente o que mencionara ao seu guarda, pon-
do poi' esta sorte um horrivel termo á sua existência.
Desgraçado!
Os manuscriptos, ainda que em pe(pieno numero, que do P.'" José
Leal Furtado ainda subsistem, são compostos num estylo elegante,
parecendo aferidos pelo gosto de uma escola muito mais moderna do
que a da ep(jcha em que viveu.
(jlaremos aqui, excepcional e designadamente, a seguinte deci-
ma, na qual o distinclo poeta bem demonstra a magna que lhe causa-
va a sua desventurada condição:
Eu conheço, a minha mente
E' como imi mar agitado.
E' navio naufragado
N'alguma rocha inclemente.
Ai I . . triste de quem se sente
Em tamanha desventura,
No caminho da amargura
Só findará seu tormento.
Ao cahir com passo lento
Na gelada sepultura.
340 AKCHIVO BOS AÇOBES
Herdaram, se não os dotes da poesia, ao menos o talento musico
do Padre José Leal Furtado, alguns dos seus parentes que, na subli-
me arte de Verdi se tem tornado distinctos no Fayal, entre os quaes
o respeitável e bemquisto mestre da capella da Matriz, o Sr. João Jo-
sé Furtado, seu sobrinho, hoje em avançada edade e um filho deste,
o Sr. José Cândido de Bettencourt Furtado, que d"esta ilha foi recen-
temente para os Estados Unidos da America, como organista de uma
egreja catholica e professor de piano.
FR. ANTÓNIO LEAL. — Pertenceu ao convento dos Carme-
litas, aonde exercia a dignidade de Mesire e foi contemporâneo do sa-
cerdote de que acabamos de tratar.
Embora possuidor de vasta erudição e dado ás letras, era um
medíocre poeta. No que se tornou verdadeiramente notável foi em tra-
balhos de caligraphia, como magnificf) copista, do que existem ainda
diversas provas nos livros de escripturação do seu e.xtincto mosteiro,
os quaes hoje são propriedade do Estado.
Muitas vezes, pela identidade de um dos nomes, lemos ouvido
confundir estes dois homens de letras.
É um erro crasso.
Entre os dois havia dis>táncia immensa nas scintillações do talento
e maior diíTerença, se é pnssivel. do que da noite ao dia.
D. FRANCISCA CORDELIA TELLES. — Nasceu esta dis-
tincta fayalense na villa da Horta e no anno de 1775,
Era filha do notável dr. Manuel Ignacio de Souza Sarmento, do
qual já antecedentemente tratamos e de sua esposa D. Luiza de Sou-
za, dama de peregrina formosura e esmerada educação.
D. Francisca Cordelia Telles foi uma das mais ricas, senão a
primeira, herdeira fayalense, por quanto o sacerdote João José de Sou-
za, seu tio, e sócio da importantíssima casa commercial do dr. Souza,
pela sua prematura morte lhe deixou abundosa fortuna, isto alem da
legitima que viria a ter dos seus abastados pães.
Convém aqui mencionar que este afidalgado padre João José de
Souza, obtivera de Roma uma licença para poder commerciar, fazendo
no Fayal uma grande casa que possuia diversos navios.
O seu negocio, de exportação de vinhos, era de grosso traio e
ajuntou grandes capitães.
A sobrinha D. Francisca, sua predilecta, casou ainda nova, C(jm
o coronel de milícias, commandante do respectivo regimento doesta ilha.
Estacio Machado dl'tra Telles, oriundo da Terceira e descendente dos
primeiros povoadores da ilha do Fayal. isto é, da familia do donalario
Jobs Vau Huerter, natural de Flandres.
ARCHIVO DOS AÇORES 341
A famili;» tio coronel Eslacio Machado tratou se por íniiitos aniius,
ua Horta, com grande luxo e representação, habitando nma vasta ca-
sa na rua de São Francisco, na qual se davam sumptuosos bailes e
banquetes.
Morava, mesmo defronte da caza do coronel, um seu irnuuj cha-
mado Agostinho Telles, que leve a desgraça de endoidecer, manifestan-
do-se a sua loucura por grande fausto na maneira de trajar, usando
ao mesmo tempo três e quatro relógios de oiro e collocando fitas de
cores vistosas e custosos galões nos calções, collete e casaca. Apesar
disto andava pelas portas a pedir esmola, sem que tivesse a minima
necessidade.
Tratava a todos muito cortezuiente e quando, nas casas aonde ia
pedir, para satisfazerem aos seus desejos, lhe davam algum pedaço de
pão, ficava muito contente e ia leval-o ás suas gallinhas, de que tinha
farta criação.
Por morte de Estacio Machado d"Ulra Telles e pela má sina que
tem presidido, invariavelmente, aos destinos das antigas e mais [)re-
ponderanles famílias da Hijrta, a casa do coronel, como aqui era co-
nhecido, veio a cahir em relativa pobresa.
D. Francisca Cordelia Telles sobreviveu por muitos annos ao ma-
rido e se lhe vieram a escassear os bens da fortuna, nunca desmen-
tio os dotes do seu brilhante talento e não vulgar illiístração.
Foi uma poetisa muito distincta,e, conhecedora de varias línguas,
fazendo apreciáveis traduções, das obras que mais chamavam a alten-
ção publica n"aquella epocha.
Gomo seu pae, o dr. Sousa, dedicou uma grande parte da sua vi-
da ao estudo e a composições artísticas, numa das suas mais bellas
demonstrações — a poesia.
O talento n'esta familia parece hereditário, como teremos ainda
occasião de demonstrar.
A casa do coronel Estacio Machado, na rua de São Francisco e no
seio desta cidade está hoje reduzida a umas minas, requeimadas por
pavoroso incêndio quando, já de ha nuiito havendo passado a estranhos,
alli morava em 1874 o Sr. Roberto Augusto de Mes(juita Henriques.
E, coinciílencia notável, também a esplendida casa do Pilar, que
pela sua elevada posição logo dá nas vistas de quem aporta á bahia
da Horta, actualmente, como aquella, só se torna notável pelas suas
ruinas.
As habitações do pae e filha tiveram um egual destino, sobrena-
dando só á acção do tempo e do fogo a lendjrança d'aquelles dois bei-
jos talentos que ennobreceram a sua pátria.
Na familia de U. Francisca Cordelia Telles, ainda aqui existente,
devem ser conservadas algumas das suas composições poéticas e um
bom serviço seria ás letias açorianas a publicação das mesmas.
Nohlessc ohlígi'.
342 ARCHIVO DOS AÇORES
O PADRE CAMÕES. — Pelos aniios de 1760 a 1770, na ilha
(l;is Flores e na siui agreste c hurnilde fregnezia da Fajanzinha, exis-
lia um rapasiiilio, engeilado, o <iu;d recebera na pia baptismal o nome
de José.
Era esperto e atilado, mostraii(]o desde verdes annos rara propen-
são para as leiras, aprendendo com muita lacilidade o pouco que alli
lhe podiauí ensinar e desde que conseguio ler, mais ou menos corre
ctainente, devorandit (pianto livro lhe vinha ás mãos, de cuja aturada
leitura logrou, em precoce edade senão >olidos, ao menos bem varia-
dos conhecimentos.
Era uma verdadeira lucla aquelle seu viver, tanto mais que es
tando por termo em casa de lavradores, pouco ensejo tinha de appli-
car se, visto ipie o cuidar das vaccas e ajudar os trabalíios tio malto
e cerrados, quasi lhe tomavam as horas todas.
Ftdizmenle a gente campesina, devido ás continuadas fadigas, dei-
ta-se cedo, e, emquanto os seus patrões dormiam, quando a Pintada
e a Trigueira já tinham bastante pasto na mangedoura e que a noite
mais fechava o ^itu escuro manto por sobre serras e vallados, o peipie-
no engeitado, ás occultas, no canto de um sótão aonde dormia, accen-
dia, ainèdo, uma ordinária candeia e lia, lia niuilo, estudando por ve
zes até ver raiar a madrugada seguinte.
No outro dia estava que não [)reslava para nada, maxime no a-
manho das terras, o lavrador zangava-se, os rapazes seus companhei-
ros escarneciam de semelhante fraqueza e pouca actividade, levava por
vezes o seu murro para ser mais diligente e era crença acceita na fre-
guezia que o pe-queno andava enfeitiçado, ou que as bruxas se lhe ha-
viajn mettido no corpo.
Chegaram a benzel-o.
Nem podia ler outra explicação aipjelle facto, o ra[iaz tinha conji-
da em abinidancia, Deus louvado, leite e bolo de milho quanto qiiizes-
se, trabalho lambem em abundância pira enrijar os ossos, e em vez
de andar sadio e alegre e de boas cores era i) que .se via, um enfe-
sado.
Ainda assim não desgastavam d elle, por quanto o rapazinho não
eia respondente, nem á medida das suas forças se negava ao traba-
lho, tratando com desvelarlo carinho aos animaes. ijue jamais queria
que passassem fome ou sede.
N"e.ssa parte o lavrador chegavi a elogiai o, fosse a que horas
do dia ou da noite fosse, o gado andava sempre bem tratado, limpo,
conforme a estação com pasto secco, ou folha verde, bem picada na
mangedoura. as horas de lhe dar agua guardadas com toda a regu-
laridade e as imidanças d um para outro cerrado, quando a herva
em qualquer sitio ia escasseando, etíeituada C()m a mais atlenta vigi
lancia.
ARCHlVO DOS AÇOhES 343
Por isso o gfido do lavrador não liiilia oiiíro que se lhe compa-
rasse em Ioda a fregiiezia, as vaccas andavam nédias e luzidias e da-
vam leite que era imi espanto.
E nem era preciso espicaçar os animaes para trabalharem, o Jo-
sé indo C(im elles, fazia das rezes quanto qnei'ia, conÍR-ciam-no ás le-
goas.
Mais tarde, p(jr morte do laviador, seu primeiro |»atrão, ou por
qualquer outra circumslancia, que ignoramos, vamos encontrar o en-
geitado José em outro sitio, na freguezia de Ponta Delgada, em caza
de uma familia que tinha um filho que estudava [)ara clérigo.
O génio meigo do engeitado acompaiihara o para a sua nova re-
sidência, travando-se de intimas relações com o estudante (pie alli
havia, sendo o sen companheiro de estudos e dedicando mais folgadas
horas ao trato dos livros, do que até alli linha podido C(jn>agrai'.
O latim, esse pesado rochedo de Syzypho. maxime naquella epo-
cha, não leve, em breve tempo, grandes mysterios para o seu ()orfiado
trabalho, tornando se-lhe uma estrada Coimbrã, para uiais l.irgos liori-
sonles lilterarios.
Quando o seu amigo e companheiro d eslmkts teve de ir para
Angra cursar aulas superiores e necessárias para a sua ordenação,
conseguio lambem o engeitado acompanlial-o. realisando assim um so-
nho que ainda lhe parecia irrealisavel, a não ser a protecção que lhe
dispensavam.
Foi a piimeira vez que careceu d um sobrenome com que se a-
presentasse em terra estranha e consequentemente assignou-se José
António Camões, por ser este o appellido que mais venerava, como o
do cantor das nossas glorias pátrias, dos Luziada^;, cujas est;uicias sa-
bia de cór e salteadas.
Na ilha Terceii'a logrou ca[>tar a decidida protecção do convento
dos franciscauiís, aonde se albergara e seja aqui dit(t, em louvor das
ordens religiosas, que os sentimentos de generosidade para quem nas
suas aulas queria estudar, eram grandes e desinteressados, não raro
mandando aié para Coimbra e Lisboa os estudantes nos quaes reco-
nheciam notável vocação para as leiras, a frequentar estudos duma
esphera superior áquelles que nas ilhas lhes podiam ministrar, de que
resultou por vezes terem no seu grémio varões insignes em diíTereu
tes ramos dos conhecimentos humanos.
Embora José António Camões não chegasse a saliir deste archi-
pelago, ainda a^sim não lhe era ingrata a foiluna na carreira que a-
doplara, lornando-se um estudante distinclissimo e tomatido orilens
sacras, com geral louvoi , de quantos conheciam o s(ni taleido e dedi-
cação ao e^tudo.
Ordenou-se cniijunctamenle com o seu companheiro Manuel Fer-
nandes de Baicellos, regressando ambos em seguida para a ilha das
Flores e tratando-se por irmãos, do que resultou, peli» tempo adiante,
3i4 ARCHIVO DOS AÇORES
iniiit;) gente acredil.ir nesta fonsangainidade, quando nâo havia nenhu-
ma, mas simplesmente uma velha amisade.
O Padre Manoel Fernandes de Barcell;)s foi em breve nomeado Vi-
gário da fregnezia de Ponta Delgada e o Padre Camões, vivendo da
sua missa, abrio em Santa Cruz uma aula de latim, para rapazes que
([uizessem seguir a vida ecciesiastica, mas aula gratuita, da qual sahi-
ram magnificos discipulos, a ponto de muitos estudantes da ilha do
KayaK em logar de seguirem para Angra irem aprender para as Flo-
res, aonde se vivia, relativamente, com menos dispêndio do que na ca-
l)ital dos Açores.
O liomem que fora educado por esmola, esmolava também agora,
e largamente, aos famintos da instrucção.
Klellíoraram em breve, consideravelmente, os meios pecuniários
do Padre Camões, com a sua nomeação de Vice-Vigario da fregnezia
de Ponta Delgada, de Prioste, ou Recebedor das rendas das egrejas
e afinal de Ouvidor das ilhas das Flores e Corvo, justo galardão dos
seus meritoi e serviços.
Assim viveu por dilatados annos e embora tivesse rasoaveis ren-
dimentos, nnnca coalhou vintém, como geralmente dizemos.
O motivo disto era o seu génio bemfasejo e desprendido comple-
tamente de ambições, exercendo a sublime virtude da caridade a mãos
largas e concorrendo diariamente a pobresa d;i localidade em que vi-
via a partilhar de quanto o bom Padre Camões possuia.
A única coisa que elle não deixava levar eram os seus livros, pos-^
suindo uma esplendida bibliotheca, que gradualmente engrossava e es-
tando, ijuanto possivel, ao corrente das publicações do continente. Ain-
da hoje, na ilha das Flores existe grande copia de volumes com o no-
me do P." Camões no frontispicio.
Era a única riquesa de que foi avaro, em tpianto existio.
Ora um sacerdote nestas condições e com grande aura, faz som-
bra a espíritos mais acanhados e nem sempre é olhado com bons olhos,
até, itífelizmente, pelos seus próprios collegas.
Seria isto o qun aconteceu?
Os precedentes do ouvidor ecclesiastico parece deverem abonar,
sobejamente o seu caracter.
Fosse, porem, como fosse, houveram sete padre.i llorenlinos que
>e travaram de questões cou3 o P." Camões e aquelle espirito até alli
dócil e an)(travel, azedou-se e relribuio-lhcs oITensa por otTensa.
Ninguém é perfeito.
A intriga chegou a [)onto ipie, com grande consternação do P.^
CauiÕes, foi-lhe superiormente, retirada a Ouvidoria.
Kstava então velho, rançado, pobre e vivia completamente só.
Escreveu n'essa epocha, despeitado pelo procedimeiílo com elle
havido:
«Os l*ecciiiíos ilortafs» - Dialnt/n ftiin' um uiarnio v sun mulher.
I
ARCHIVO DOS AÇORES 345
no qual frizom uma justa paridade dos sele peccados mortaes com os sete
clérigos que não querem para ouvidor ecclesiastico d' estas duas ilhas
Flores e Corro ao Padr<> José Antoino Camões.-»
A ediçTio, (jiie temos presente (l'esl;i composição é um folheto em
8.", contendo 15 paginas, inipresso em Lisboa, sem designação da ty-
pograpliia e com a data de 1883 e o sen conteúdo uma pungente sa-
tyra, ou para melhor dizer, uma diatribe, parte em prosa e outra par-
te em verso, pondo pelas ruas da amargura os seus inimigos, com a
indicação dos respectivos nomes, á laia de notas. As duas epigraphes
que prrcedem Os Peccados Mortaes, são conceituosamente escolhidas
de Horácio e Juvenal.
Desancou-os, é verdade, mas desceu a termos tão baixos que
não permittem indistinctamente, a leitura d*aquella satyra, aliás escri-
pta com chiste.
Como a leitura, em copias manuscriptas, dos Peccados Mortaes,
causasse grande escândalo na ilha das Flores deu esta occorrencia en-
sejo aos seus inimigos para se queixarem ao Bispo D. José Pegado,
que então governava a diocese, do grande insulto que acabavam de
soffrer.
Pouco tempo depois, o P.'' Camões recebia ordem do seu Prelado
para se apresentar ao mesmo na ilfia Terceira a fim de responder
pela impropriedade do seu procedimento e designadamente a respeito
das inconveniências consignadas n'aqnelle seu escriplo.
Não logrou justificar-se, obrigaram-no a ler elle próprio, em alta
voz, na presença do Bispo e dos principaes clérigos d'Angra a malfa-
dada satyra que composera, regressando em seguida para as Flores,
desautorado como antecedentemente.
Os desgostos e a doença começaram então a animar aquella
existência, e. apesar de tudo, como o seu enlevo eram as letras, para
desenfado das suas horas tristes, converteu de novo a sua penna em
látego sem piedade para zuizw os seus detractores, ou as pessoas a
quem não era affecto.
D'esta vèz foi autlior d'uma obra de mais fôlego.
Eis o frontispício dum exemplar que da mesma podemos obter:
« O Testamento de D Burro, pai dos asnos. Obra de grande diver-
timento; Nova Edição. Copiado por um florentino. — Boston: Typ. de
Dakin e Metcalf. Cornhill n." 87. 1865.
Esta extensa satyra pode, a nosso ver, conferir ao Padre Camões
os foros de um original e muito chistoso poeta, tendo excellentes ver-
sos e tiradas explt^udidas, no seu género.
Eiicontram-se alli alguns trechos que, como os do Hyssope de An-
tónio Diniz da Cruz e Silva ficam-nos logo no pensamento, e poucos
leitores do Testamento esquecerão, por exemplo a(]uella passagem em
(pie o Grão-Jumento, f;izendo as suas ultimas disposições contempla
lambem o Padre Thesoureiro ao qual manda que dêem:
IS.o i6_Yoi, VIU -I88G. 9
346 ARCHIVO DOS AÇORES
«O meu couro p'ra rhamaira que não tem
«Pois se hade comprar basta em loje
«Faça uma côr de burro quando foge!
N'aquelle documento são lembrados- numerosos llorcnlinos, muitos
dos quaes da gente mais graúda da ilha e mesmo para quem não che-
gou a conhecer esses indivíduos, o riso é irresistível em algumas pas-
sagens.
Semelhante escripto, porem, como Os Peccados Mortaes, pecca pe-
la licenciosidade de algumas phrases.
Nesta edição de Boston, em 8.°, contendo 38 paginas numeradas,
vem em seguida nma declaração do ty[»ographo, que era um ílorenti-
no residente nos Estados-UnidíJS, na ipial pede desculpa aos leitores
dos erros e falta de virgulação que na mesma se encontra.
Effectivamente, ha alli muitos versos estropiados, rimas trocadas
e pontuação mal distribuída, embora a impressão esteja nilida. em
bom papel e o typographo deseje fazer um serviço á sua pátria, divul-
gando o apreciável trabalho dum seu conterrâneo.
Salve-o esta bôa intenção.
Depois de concluído o celebre Testamento, o Padre Camões foi
sempre em decadência e até chegou a passar fome.
Conta-se que uma vez estando elle enfermo e de cama, foram-no
visitar alguns dos seus palricios, e como vissem o padre estar a met-
ter dentro d'uma tigella vasia um quarto de pão que tinha na dextra
e depois a mastigal-o, perguntaram-lhe o que queria aquillo dizer, não
o julgando já muito seguro nas suas faculdades inlellecliiaes.
— Isto é para enganar este canto de pão e elle dei.var-se engulir
com mais facilidade, que emquanto a mim bem sei que é sècco e bem
reles.
Consta por tradição, na ilha das Flores, que por occasião da ida
do Padre Camões á Terceira, fora hospedado na nobre casa da fami
lia Bruges, e que desgostoso da celeuma que perante o Bispo haviam
causado Os Peccndos Mortaes alli abandonara alguns outros manuscri-
ptos de que era author.
Não sabemos, até que ponto, é isto exacto, mas um bom serviço
seria ás letras açorianas a sua publicação, se acaso existem.
O Padre José x\ntonio Camões morreu muito pobre, quasi na mi-
séria, no decurso do anuo de 1825.
Na Villa de Santa Crnz, das Flores, ainda actualmente (1886) exis-
te, já octogenário, um dos seus mais dilectos discipuhts, o Sr. Domin-
gos de Ramos, natural de Ponta Delgada da mesma illia, cavalheiro
(jue pela sua seriedade de caracter e abundosos haveres, lem na sua
[latria exercido inii)ortnntes cargos públicos.
ARCHIVO DOS AÇORES 347
A este respeitável ancião devemus algumas informações (jiie figu-
ram n"esla noticia concernente ao seu saudoso mestre, um dos maio-
res talentos ijue tem produzido atjuella ilha.
D. MARIA LEOPOLDINA DE ORNELLAS. — Foi dama
dislinclissima e nuiito estimada da sociedade elegante da Horta, aon-
de brilhou pelo seu espirito e esmerada educação.
Esta senhora, natural e descendente de uma illustre familia da
ilha da Madeira, aonde nasceu no anuo de 1781, veio com sua irmã,
mais velha cinco aunos, D. Luiza de Ornellas, residir para o Fayal,
logo depois d'esta haver casado com um cavalheiro desta ilha, Manuel
Jacintho Labath, irmão do abastado morgado o Dr. Labath, sendo com
o decurso do lempu considerada por muita gente, como filha d'esta
terra.
Por muitos annos aqui leccionou, com notável aproveitamento das
suas discípulas a lingua ingleza, que lhe era familiar, bem como ita-
liano e francez, devendo-sedhe n"esta especialidade valiosos serviços,
tanto mais n'uma localidade aonde haviam poucos recursos para os
estudiosos.
D. Maria Leopoldina de Ornellas, que no cultivo tias leiras passou
a maior parte da sua vida, foi uma rasoavel poetisa e excellente tradu-
ctora de varias novellas inglezas.
Será injustiça em qualquer livro que alguma vez se venha a es-
crever sobre o ensino e educação do sexo feminino na Horta, passar
desapercebido o seu nome, por quanto tendo crescido numero de dis-
cípulas, pois que era então um preceito da moda, para as meninas da
gente abastada, frequentar a aula da Ornellas. conseguio aqui criar um
certo gosto litterario. que não é muito trivial em pequenas localidades.
Dtí D. Maria Leopoldina d"Oruellas conhecemos, publicada, ape-
nas uma poesia, a qual se encontra nos n.°' o4 e 5o do «Grémio Lil-
terariow e que dizia respeito a uma aventura amorosa, occorrida nes-
ta ilha.
Vinha a ser o caso:
Uma menina fayalense, de familia decente e chamada D. Luiza
Amélia de Oliveira, fora seduzida por imi seu patrício, vendo-se obri-
gafia a abandonar o tecto paterno e a viver vergonhosamente á som-
bra do amante e duma maneira muito mais humilde em tratamento
de que até alli gosara.
D'esta illicita união nasceram duas creanças.
O seductor, afinal, aborrecido da mulher que transviara do cami-
nho da honra, abandonou-a e aos filhos, ficando por algum tempo re-
duzidos a viver qiiasi desinolas.
N'estas tristes condições, D. Luiza Auulia d"01iveii'a. senhora de
educação culta e (pie versejava rasoavelmente, escreveu em quadras
348 ARCHIVO DOS AGOhES
uma sentida exposição da sua immerecida desgraça, a qual foi profii-
samenle disiribuida pelas casas da elite da sociedade Hortense, que a
autliora, anlecedeiilemenle frequentava,
O excellente pueta Juão Pereira de La Cerda, accudio logo ao ap-
pello da infeliz mãe, verberando, asperamente, n"uma esplendida poe-
sia, o procedimento atroz do seduclur, tanto com relação á mulher que
desgraçara, como aos innocentes fructos d'essa extincta paixão.
D. Maria Leopoldina d Ornellas, que fora mestra da seduzida e
que lhe conhecia a bondade de caracter, secundou o poeta La Cerda,
com outra idêntica poesia, em que indicava ao estouvado Lovelace faya-
lense o caminho que lhe cumpria seguir, para reparar os seus erros.
Esta poesia tem a data de W de Julho de 18J2.
D'esta espécie de certame litterario, que nesta localidade teve
grande voga, levantando a opinião publica contra o homem que trahi-
ra um affecto puro e dedicado, resultou o arrependimento do culpado
e o casamento do mesmo com a sua formosa amante.
Foi um romance que acabou em bem, á antiga, com geral satis-
fação.
Da poetisa Ornellas existem ainda na Horta diversas poesias iné-
ditas, e nós mesmo algumas conservamos firmadas pelo seu punho.
Esta respeitável senhora morreu octogenária.
JOÃO JOSÉ D'ANDRADE. — Foi discípulo do Dr. Roque
Taveira, era homem de erudição, contrario a todos os commetimentos
modernos e afferrado, exclusivamente, ao absolutismo e ás idéas do an-
tigo regimen.
Nasceu, na Horta, pelos annos de !786 a 1789, filho de uma re-
mediada familia, cujas principaes propriedades eram vinhas na ilha do
Pico.
Destinava -se para a vida ecclesiastica, foi minorista, ignorando nós
hoje os motivos por que não proseguio na carreira que encetara.
Sérvio, na Horta, pur muitos annos, de thezoureiro da egreja da
freguezia das Angustias, aonde residia e tanto seu pae, como um tio
e um irmão, foram náuticos, capitaneando diversos navios desta pra-
ça.
João José dAndrade era muito versado em lingoas, especialmen-
te em latinidade, sciencia a que prestava a maior veneração, desejan-
do mais que lhe tirassem um dente do que lhe apanhassem uma svl-
labada no idioma de Horácio.
Compunha sonetos subordinados á escola a que pertencia, (|uasi
sempre recitados, com grande cantilena, nos banquetes por occasião
da missa nova de qualquer padre fayalense.
N'estas festas era de rigor um soneto arcadiano de João José d" An-
drade, como por exemplo, no grande jantar por occasião de celebrar
ARGHIVO DOS AÇORES 349
missa, ptla primeira vez, o Rev.*^° Vigário da Matriz, ha poucos .'Hi-
nos fallecido, Henrique da Purèsa Greaves, sen intimo amitío.
Abrio uma excepção a esta especialidade para obzeqiiiar uma fa-
niilia que muitu presava, apparecendo, apesar de já edoso e de lia mui-
to não haver recitado em publico, no baptisado da primeira filha do
Sr. João de Bettencourt V. Corrêa e Ávila.
Esse soneto foi o seu canto do cysne.
Deixou também João José d'Andrade alguns escriptos políticos e
consoantes ás suas idéas.
Casou, já entrado em annos, com D. Maria Carolo, cunhada do
abastado tayalense André Francisco Goulart, administrador do vinculo
de sua consorte D. Rosa Carolo Goulart.
Numa luzida festa litteraria, effeituada na Horta, no anno de 1827,
quando, já formado em (Coimbra, regressava á sua pátria, como pro-
fessor de philosophia, o Dr. António José dAvila (futuro Duque d"A-
vila e de Bolama) Cí^nvidou este a João José d'Andrade para ser ar-
guente numas the^es que ia defender um seu discipulo, Fr. Matheus
do Coração de Maria, franciscano e rapaz de peregrino talento.
Apresentou-se. pois. Andrade, no capitulo da Ordem 3.* do Car-
mo, aonde por vários dias teve logar esta faltada festa litteraria, ves-
tido de ecciesiastico, como minorista que fora, haveudo-se d'uma ma-
neira brilhante e revelando profundos conhecimentos e desenvolvida
erudição.
A comparência, alli, de damas e cavalheiros doesta localidade foi
grande, presidindo a este certame o Dr. António José dAvila e sendo
arguentes os Snrs. João Ignacio de Sousa, Caetano Xavier de Mendon-
ça Sardinha, major João Pedro Soares Luna e Dr. Manuel Francisco
de Medeiros.
O defensor das theses, Fr. Matheus do Coração de Maria, era um
intelligentissimo rapaz, de atrahente aspecto, natural das Lagens do
Pico e que promettia vir a tornar-se um distincío sacerdote, com o
elevado talento que possuía.
Morreu, porem, desastrosamente, muito pouco tempo depois, quan-
do, para proseguir nos seus estudos d'aqui ia para Angra do Heroís-
mo.
Ao desembarcar, do navio que o conduzia, para ura escaler, cahío
ao mar, entre as duas embarcações, que o esmagaram immediatamen-
te.
João José dAndrade foi o único discipido do Dr. Roque Taveira
que por muitos annos andasse sempre com este em renhida lucta, a
respeito das suas doutrinas, que condeumava vehementemente.
Era um antiquário incorregivel e intransigente.
Houve uma epocha na vida de João José dAndrade assaz abun-
dosa em questões e polemicas jornalísticas e que não abona muito a
fama de erudição de que gosava, nem condizia com o aspecto pacato,
350 ARCHIVO DOS AÇORES
manlioso e fradesco que revestia o seu alentado vulto.
No proseguimenlo d"uma demanda com André Francisco Goulart
fui á ilha de São Miguel, aonde deseinbarcou a 16 de Junlio de 1841,
eiilab(jll;inilo alli relações com o abastado michaelense, o morgado Frau-
cisctj Alí-inso de Chaves e Mello.
Andava, então, bastante accèsa n"a<iuella formosa ilha a paixão po-
litica entre cartistas e setembristas, dos primeiros dos quaes era vul-
to proeminente o morgado Francisco AtTons«o.
João José d'Andrade, turnando-se seu commensal, punlia sensi-
velmente á disposição do mesmo a sua pcnna, escrevendo o que lhe
ordenavam que t-screvesse.
Os adversários políticos pozeram-lhe então o alcunha do Papa so-
pas, das quaes, diga se a verdade, era grande comilão e (|ue pagava
atassalhando os inimigos de quem lhe punha a mesa.
Os escripto> de João José dAndrade nos jornaes michaeleuses «O
Monitor», desde fins de 18il até I8i4 e depois no «Cartista», são re-
cheados por tal forma de citações latinas, que não só o dão, desde lo-
go a conhecer, mas tornara semelhante leitura quasi impossível, por
tediosa.
Travou se também em grande polemica com António Feliciano de
Castilho (|ue, então, em São Miguel redigia o «Agricultoi' Michaelense.»
N"esta refrega publicou :
«O Thecel ou o Castilho em Zero», como resposta ao «Eu ou El-
Ip,s^, do illustre poeta. Ponta Delgada. Tvp. do Cartista — I8i9— 8.°—
36 pag.
IS este opúsculo diz (pag. 1 >, que tem escripto algumas obras ine-
ilitas, entre as (juaes e talvez entre el!as prepondere a todas quantas
(;a>tilho tem feito e por fazer a sua primigenia «Constituição Natural
ou a Ordenação de Deus» e ainda o Apocali/pse da Natureza e outras
curiosidades.
Vamos lá, este fayalense não deixava o seu credito por mãos a-
Iheias ! ! . .
Andrade publicou anonymo outro o[)usculo, 8 pag em i.°, com o
titulo: O dia de rerdadtura gala. Narração dos festins dedicados a Ti-
lliocas, diridido em quatro partes, com uma aduioestação interessante.
Ora, Tdliocas é o anagrarama de Castilho, cujo desembarque em
Ponta Delgada a 2o de Maio de 1849. regressando de Lisboa, o author
pretendeu ridicularisar.
António Feliciano de Castilho pagava-lhe na mesma moeda, mas
com mais valente mão e o seu «Eu ou Elles». 25 pag.. em 8.*^ peque-
no, impresso na lyp. de Castilho, eu) 1841), pode-se dizer, sem pleo-
nasmo, que deixava o Andrade sem pelle.
Kuí quanto ao alcunha do Tamtxir que Castilho iliz t«'r o seu an-
tagonista na Horta em memoria das sovas já apaiihada.'^, e menos exa-
cto.
AlíGHIVO DOS AÇORES 3^)1
Disto tudo resultou tornar-se João José d'Anflra(Je assaz aiiti[ia-
thico em São Miguel.
Afinal, já ausente da pátria o morgado Francisco Affonso, (jiie fo-
ra por algum tempo residir com a sua familia em Lisboa, un largn de
São Paulo, cercad(» de indisposições, que o seu comp )rtamento levan-
tara, já vellio e dando mais do ijue nunca ao diabo, é este o ternio li-
dimo, todas as idéas modernas, todas as conquistas de progresso, vol-
tou João José d"Andrade para o Fayal, aonde ainda teve pt^ndeiicias ju-
diciaes e questões no tribunal com o juiz (J"esla Comarca o dr. Fei-
rei ra.
Oe quem foi amigo até á morte e couí (piem se carteou constau-
temente era com o Dr. António José d"Avila, que lhe demonstrava mui-
ta deferência.
Existe ainda no numero dos escriptos d'este fayalense um : Ejjí-
cedio Carme que d saudosa morte do 111.''"'^ e fíer.""' Sr. doutor Bernar-
do Machado de Faria e Maia, Comrnendador da Ordem de Christo. Prior
da Matriz de São Sebastião de Ponta Delgada e Prorisor do Bispado
d Angra do Heroísmo. C. D. O. Para lenitivo do mais justo sentimen-
to que, como espada de dor, penetra Sua Dignissimi. Mãe a III."'''' e E.x."'''
Snr.^ D. Helena Machado de Faria e Maia e seus condigníssimos Ir-
mãos.
O Fayalense
João José d' Andrade
{Monitor n.° l'2h\ de 80 de Junho de 1841.)
A vida um tanto agitada doeste homem, d"antes quebrar que tor-
cer, no que dizia respeito ao seu credo politico, não conseguio alque-
brar-lhe as forças, já mesmo em provecta edade.
Luctitu até morrer, quasi repentinamente, com mais de oitenta
annos.
D. THERESA DE MORAES PEREIRA. - Filha de Eugé-
nio José de Moraes escrivão do judicial na Couiarca da Horta, nasceu
no anno de 1798.
Desde tenra edade mostrou esta distincla fayalense os dons dum
l)eregriuo talento e giande propensão para o estudo, especialmente no
profundo conhecimento de lingoas estrangeiras, algumas das (|uaes (al-
iava perfeitamente.
Cultivou com muito esmero a poesia e alguujas das suas compo-
sições que conhecemos, inéditas, tem bastante mimo e são escriptas
n"um estylo ligeiro e agradável.
Casou com João Francisco Peieira, interprete geral e guarda li
vros da casa do abastado ujorgado Terra (Barão da Lagoa), gosando
332 ARCHIVO DOS AÇORES
sempre na sna pátria muita cotisideração pelo seu saber e affaveis ma-
neiras.
Falleceu esta respeitável poetisa fayalense, na ilha de São Miguel,
a 8 d'Oulijbro de 184G, contando apenas quarenta e oito annos, de
edade.
Tanto n'essa ilha, cumo no Kayal, cxisleni ainda os seus descen-
dentes.
FRANCISCO VIEIRA DE FARIA. — Nasceu em 1797, na
então Villa da Horta, de uma familia remediada de bens da fortuna.
Sendo de uma constituição extremamente débil e sobrevindo-lhe
aos sete annos de edade uma violenta febre que o pòz ás i)ortas da
morte, a vehemente fé de sua mãe fez um voto do pequenc andar amor-
talhado durante seis annos, se acazo escapasse á teirivcl enfermidade
que o consumia.
Assim aconteceu.
Cingido d'alva mortalha e não raro caçoado a tal respeito pelos
seus companheiros de escola, aprendeu as primeiras letras, sendo seu
mestre um filho de José Ignacio Machado, cônsul de Nápoles e da Si-
cília, freijuentando em seguida o convento de São Francisco, aonde se
tornou um bom latino.
Dedicado exclusivamente ao cultivo das letras, estudando muilo
e procurando relações com alguns dos estrangeiros que ao Fayal apor
lavam, ou na mesma ilha residiam, conseguio, assim, pôr se ao cor-
rente com as lingoas italiana, ingleza e franceza, lendo no uriginal as
obras litterarias que mais nomeada tinham n'aquellas nações, e, como
fosse dotado de prodigiosa memoria, flcavam-íhe de cór, abundozas
paginas desses livros.
Estes estrangeiros com quem privava, alguns delles homens as-
saz illustrados e que sympathisavam sobremaneira com o estudiozo
mancebo, offereciam-lhe por vezes numerozos volumes, começando es-
se rapaz, desde logo a formar a sua umito soffrivel bibliotheca, que
augmentou constantemente em todo o decurso da sua vida.
O gosto pela litteratui'a e os conhecimentos que conseguira adqui-
rir nunca deiam.nem dão, qualquer interesse nesta pe(juena localida-
de e o estudiozo Vieira via-se, já quasi um homem e exclusivamente
a cargo da fainilia, pae, mãe e duas iimãs.
Possuindo um génio naturalmente timorato e acanhado, conheceu
que o que nvd'\< lhe convinha era uma occupação socegada e livre de
uns certos baldões da vida, que não teria aninto p;ira arrostar e de-
pois de haver [tensaiio muito sobie o (jiie lhe convinha fazer, obteve
a permissão paterna, indo por algum tempo para a ilha de São Miguel
estudar pharmacia, depois de ter tido alguma pratica n Uma das boti-
cas da sua pátria.
ARCHIVO DOS AGOHES 353
Alli, alcançou fazer exame perante três futuros collegas e dois
médicos, conseguindo obter uma carta que o habilitava a vender quan-
tas drogas lhes quizessem comprar.
A mesada, porem, que a família lhe fornecia, em quanto esteve
em terra estranha, empregou a, na sua maior parte, na compra de li
vros, para o que vivia uíiiito pobremente e quem sabe até se passan-
do fomes.
Regressou afinal para junto dos seus, já examinado, estabelecen-
do-se na Praça-Velha, hoje Alameda da Gloria, começando desde logo
a sua botica a ter uns tons originaes.
As parteleiras, por exemplo, foram mandadas fazer assaz largas,
sem vidraças e com a capacidade necessária para terem na frente al-
guns frascos com remédios e por detraz d'estes cerrada fileira de li-
vros.
Na porta do fundo da botica, que communicava com a cosinha da
mesma, quiz apresentar uma allegoria scientifica, encommendando a
um pobre pintor que na Horta existia, chamado Assis, que lhe pintas-
se uma arvore carregada de pomos e Minerva a cavallo na mesma.
O Assis, coitado, deu tratos á embotada imaginação para satisfa-
zer aos desejos do seu freguez, mas nunca conseguio fazer coisa que
geito tivesse, e como o Vieira lhe fallava n"uma arvore carregada de
fructa, pintou-lhe na tal porta, como soube, uma larangeira da qual
pendiam muitas bolas vermelhas e para simplificar a imagem da meni-
na que o boticário queria, plantoií-lhe no cimo do alrorédo uma valente
e anafada moça do Pico, de perna nua, corpete azul celeste e abeiro
de palha.
Aquillo sim!
O boticário que não era custozo de contentar, approvou a substi-
tuição da figura, crente n'aquelle ditado (|ue o habito não faz o mon-
ge, explicando a todas as pessoas que iam á botica e que achavam o-
riginal a pintura da porta, o mysterio que encerrava a(juella figura,
que embora em trajos sem ceremonia era uma esplendida Minerva, a-
crescentando logo em seguida :
— O Assis desempenhou se!
Por estes tempos António Vieira de Faria travou-se de intimas re-
lações de amisade com o Dr. Roque Taveira, do qual já anteriormen-
te tratámos e teve a subida satisfação do notável professor de philoso-
phia escolher para esposa uma das suas irmãs.
Isto, para o boticário, equivaleu em valor ao achado de uma mi-
na de diamantes, na sua insaciável sede de aprender passava a maior
parte do tempo em casa do cunhado, embora tivesse o estabelecimen-
to fechado e estudou, estudou muito, com tamanha dedicação e assi-
duidade, que o mesmo professor, em vista da franzina constituição d'a-
qiielle seu discipulo, o obrigava por vezes a deixar os livros, a dar
um passeio, e a distrahir-se.
N.° i6— Vol. VIU- 1 880. 10
3S4 ARCHIVO DOS AÇOHES
Francisco Vieira de Faria aprendeu, assim, tudo quanto o seu
sábio mestre lhe podia ensinar, saturando se tanto das suas avançadas
ideas e da sua maneira de apreciar qualquer assumpto, que as dou-
trinas um tanto scepticas, mas muito tolerantes do Dr. eram para elle
umas verdadeiras taboas da lei.
D'isto resultou lhe vasta erudição, completa indiíTerença pelas
praticas religiosas, acreditando somente na existência de um Grande-
Ser que regia o universo, e respeitando irmãmente todas as religiões,
mas tão somente como uma necessidade para a manutenção da ordem
publica.
Em politica, embora muito comedido, a sua conversa revelava
puros sentimentos republicanos.
Sabia na ponta da lingoa quasi todos os escriptos de Voltaire e
dos encyclopedistas.
Quando o Dr. Roque Taveira já não tinha mais que lhe ensinar,
é que Francisco Vieira de Faria se lembrou de novo da sua profissão,
tornando a expor ao publico a sua Minerva, mandando vir de Lisboa
mais algumas drogas e livros, e aviando as receitas eutre a leitura
d'algumas paginas da Henriada e o agradável sabor duma ode de Ho-
rácio.
Fedia pouco pelos remédios que manipulava e isto somente aos
indivíduos que conhecia terem algumas posses, por quanto os simpli-
ces que lhe exigia a gente pobre, ou do campo, dava-os a maior parte
das vezes de graça, batendo uma leve pancadinha com a mão no hom-
bro do obzequiado e dizendo-lhe com voz doce, aquella sua sacramen-
tal phrase: Adeus, menino, adeus . .
Assim foram decorrendo muitos annos, morreram successivamen-
te todas as pessoas da sua familia, assaz decahida por fim em recur-
sos pecuniários e deixando-lhe apenas algumas vinhas na ilha do Pico,
no sitio dos Fogos, uma preta velha, de grandes pingentes doiro, le-
gada por uma das irmãs com a condição de lhe ser dada todos os dias
meia canada de vinho, que o Vieira substituía prudentemente, por chá
preto, ou de sabugueiro, mas fraco, e uma outra velha, a Maria Jacin-
tha, á qual o bondoso patrão, para lhe disfarçar a edade, dizia elle,
tratava sempre pela nossa menina.
Quando, ainda bem novo, conheci o Sr. Vieirinha, como o trata-
vam geralmente, era elle então um velhinho d'uns sessenta annos de
edade, celibatário, magro, de débil apparencia, e com mellifluo sorri-
so a voltear-lhe habitualmente nos lábios delgados e algum tanto nia-
liciosos.
O seu trajar não conhecia de sorte alguma o dominio da moda.
Na cabeça usava um bonct preto, farto, immenso, antigo, uma es-
pécie de turbante, a não ser a pequena pala que de um lado se des-
tacava.
No pescoço uma toalha branca, engommada, cujas pontas se iam
ABCHIVO DOS AÇORES 355
perder no interior de um collèle, tiilhado pelo estylo do Directório, e
o qual, por ter no forro um esmerado trabalho acerluado, o seu dono
usava com o dito forro para fora, afim d»; ser admirado dos entende-
dores: um casacão de panno piloto, á ingleza, de botões enormes, isto
de inverno, e de verão uma jaíjuetinha nuiito curta, de chita, na mão
uma enorme bengala de branco osso, encimada por um globo da mes-
ma matéria e as calças meio palmo acima dos sapatos de duas solas,
deixando ver grossas meias de lã.
Se de Janeiro a Março o frio era muito, então saliia a campo um
capote de escosscz verde, com quadrados pretos.
Aquella botica era o ponto de reunião de quantos rapazes havia
na Horta, que cursavam estudos, frequentada p(jr estes desde a ma-
nhã até á noite e tendo o grande incentivo das continuadas partidas
com que o Sr. Vieirinha mimoseava os seus habitues, algumas das quaes,
por muito inesperadas, deixavam boqui aberta aquella irriquieta turba.
Fallava-se então, muito, por exemplo, do motu continuo e o bon-
doso boticário appareceu logo com uma idéa sua, dizendo já o haver
descoberto.
-- Mas como, Sr. Vieira ? ! . .
— Venham os meus amiguinhos cá, — e levando os rapazes á co-
sinha da botica, por detraz da arvore da sciencia, mostrou-lhes alli, a-
marrada, uma vacca muito magra e espantadiça, que mandara vir da
ilha do Pico.
— Ora esta!,, muitos parabéns, o Snr. Vieira tem uma vaqui-
nha . . .
— E' verdade, mas tem-me dado muito trabalho, muito, porque
eu não estou costumado a tratar com brutos.
— Mas então, que relação tem com isto o motu-continuo ?
— Tem toda, eu vou lhes explicar, e o systema é fácil de enten-
der. Este animal produz leite, não é assim ? . . pois muito bem, é or-
denhal-a todos os dias e logo em seguida b)tar-lhe com um funil o
próprio leite pela bocca dentro, que lhe servirá de alimento, e aqui
lemos nós resolvido um problema que tanto tem dado que pensar, ahi
está estabelecido o motu-continuo I
Para a sua vacca não estar ociosa, gastou alguttias patacas em
mandar construir um ordinário carro, d'uma forma especial, que se
occuparia na conducção para a cidade da bella agua nativa das bicas
da freguezia dos Flamengos, com o que se propunha a fazer um bom
serviço ao publico.
Convidou muita gente para assistir á primeira experiência da ve-
locidade do seu carro, apinhando-se efifecli vãmente de espectadores,
no dia e hora designada, as circumvisinhanças da caza em que elle
morava.
A vacca passando das trevas para a claridade, da escura cosinha
para a botica e d"aHi para o caminho, espantou-se e a muito custo foi
356 ARCHIVO DOS AÇORES
atrelada ao carro, mas ainda quando um carreiro chamado Lameiro
estava finalisando esta operação e ia a subir para o vehiculo, a vacca
esticou o rabo, deu um balido terrivel, atirou a distancia com o La-
meiro, e partiu n'nma carreira luuca, arrastando o frágil carro, mais
dois barris que no mesmo estavam, iiidu despedaçar aquelle artefacto
de encontro ao pelourinho a um lado da Praça e continuando em ver-
tiginoza fuga, seguida de muitos gaiatos, até á distante freguezia das
Angustias, aonde a conseguiram capturar.
No dia seguinte o Sr. Vieirinha oíTereceu a sua vacca ao hospital
da Horta, e se todos riram d'aquelle fracasso, quem ria ainda mais era
o original inventor de semelhante festa.
— Vou realisar o abastecimento da agua dos Flamengos, dizia o bo-
ticário, mas d'uma outra maneira, quero adaptar agora, abaixo das
costas do Lameiro luua grande pedra de iman e o cabeçalho do carro
terá umas placas de ferro. Ora como a sciencia diz que o iman atrahe
aquelle metal é evidente que o carreiro caminhando adiante do carro
este o seguirá por si mesmo para aonde quer que elle vá. A Camará
Municipal deve-me ficar muito reconhecida, ella que ha annos e annos,
trabalha sem resultado satisfatório, em abastecer d'agoa doce os seus
administrados.
Muito amigo de theatro, ao qual concorria sempre que haviam
quaesquer espectáculos, chegou a compor uma tragedia, em quatro
actos, muito nossa conhecida e á qual pôz o titulo, conforme o seu
entrecho, do «Rapto das Sabinas».
Desejava que esta peça, por ser histórica e para instrucção do
povo, fosse representada na Praça, ao ar livre, gratuitamente, e comu
a mesma requeresse um grande pessoal; muitos guerreiros romanos
e filhas e mulheres dos Sabinos, que se pedisse ao Commandante Mi-
litar licença para a tropa aqui destacada vir figurar dos soldados ro-
manos e que emquanto ás Sabinas fossem convidadas nas diversas fre-
guezias da ilha quantas moças do campo se quizessem deixar roubar
n'aquella noite, que com certeza daria brado, ao menos em todo o ar-
chipelago açorico.
Do Rapto das Sabinas, depois das dez horas da noite, na botica,
a portas fechadas, chegaram a haver alguns ensaios das scenas de me-
nor pessoal, e essa lembrança de tão bem passadas e alegres horas,
acompanhará sempre os curiosos dramáticos a quem estavam distribuí-
das algumas das partes de tão complicada composição, em que o au-
thor também fazia um importante papel.
Por occasião do fallecimento em Lisboa de uma alta personagem,
ruja infausta sorte veio contristar todo o paiz, o Sr. Vieira, apesar de
professar idéas republicanas, quiz, ainda assim, dar uma demonstra-
ção do apreço em que tinha as virtudes do illustre finado.
Arranjou pois, sob a sua direcção, um grande quadro allegorico
de tão lamentável occorrencia e quando este prompto, deliberou fazer
ARCHIVO DOS AÇORES 3o7
na sna sala uma apulheose á meinuria do Sr. D. . .
Para islo convidou tjuaiitas pessoas lhe entravam na botica, vinte
vezes ou mais a gente que a casa podia comportar, embora fosse uma
enchente á ctinha.
A curiosidade publica era grande.
A's 8 da noite designada estava tudo a postos, o quadro coberto
com um panno, sobre uma meza e cercado de muitas velas de varie-
gadas cores, o artista que o desenhara, sentado n'uma cadeira de bra-
ços ao lado do mesmo, o Sr. Vieira, com uma enorme casaca e a in-
variável toalha branca ao pescoço, sentado do outro lado, e uma tur-
ba immensa e irriquieta a lhe subir a escada e a invadir-lhe a casa
toda.
Que immenso apertão!
Na porta da rua havia murro a valer e os rapazes do Lyceu fa-
ziam um barulho de seis centos demónios. Como desde a escada da
rua até ao quintal já não coubesse sequer um alfinete, foram buscar
escadas de pedreiro e pozeram-nas contra as janellas, para poderem
ver ou ouvir alguma coisa.
Começou a final a sessão, o Sr. Vieirinha desvelou respeitosamen-
te o quadro, recitando um soneto da sua lavra, do qual ainda nos lem-
bra o primeiro quarteto, apesar de estarmos então quasi asfixiados en-
tre uma mó de espectadores:
Já não cantam os doutos rouxinoes,
Poisados n'essas arvores sombrias,
Pois seccaram se todas as fontes frias
E nem já apparecem os caracoes !
O quadro também era esquisito, a um lado um grupo composto
de alguns homens e mulheres, uns brancos outros pretos, mas todos
completamente nús e lavados em lagrimas, representando — dizia o Sr.
Vieira, — o verdadeiro estado da nação, muito pesarosa, e só com a
pelle sobre os ossos. Do outro lado, no piimeiro plano uma figura a-
gigantada, também sem vestes, mas de capacete na cabeça e abanan-
do com um lenço para o alto do quadro, aonde , entre umas espessas
nuvens se divisava confusamente um vulto hmnano a subir para as al-
turas.
Por baixo da mulher do capacete havia a seguinte inscripção: Lii-
sia saudosa.
Houveram ainda muitos versos, a coroação do artista, para o qual
o Sr. Vieira havia preparado uma farta coroa de camélias, muitas pal-
mas, muito enthusiasmo, uma noite cheia emfim.
E como alguém mais sério e amigo sincero do boticário lhe dis-
sesse no outro dia que era melhor deixar-se d'a(iuellas brhicadcitas.
respondia elle uma phrase muito sua e de que fazia frequente uso:
338 ABCHIVO DOS AÇORES
«Ora adeus, meu caru amigo. Cicero para que escreveu? para quem
o entendeu».
D'estas buas e alegres partidas liaviam alli ás dúzias, sendo ain-
da hoje um problema, attenta a reconhecida e incontestável erudição
do Sr. Vieira, se não foi acazo um grande excêntrico, a divertir se
durante a maior parte da sua vida, com, os seus conterrâneos.
Fosse, porem, como fosse, ponhamos de parte estas inoffensivas
ratices do bom velhinho e encaremos este homem, muito illustrado^
pelo lado sério e pelos serviços que prestou à sua pátria.
>'ingnem jamais na ilha do Kayal teve tanto amor ao publico en-
sinamento, nem ao mesmo se prestou de melhor vontade por quanto
o Sr. Vieira passou largos annos da sua vida, a ensinar o que sabia,
aos filhos da gente rica, ou dos pobres, sem acceitar de alguém a me-
nor retribuição, suffrendo resignadamente quant*s tropelias, lhe faziam
na botica, ou antes bibliotheca e sem o minimo signal de enfado, ins-
tando e pedindo ã mocidade que fosse estudioza, como o melhor pe-
nhor da sua futura felicidade.
Amante do progresso trabalhou sempre n'este campo, honrada,
incessante, e desinteres>adamente.
Partilhava tanto, ou mais, do que os pães dos rapazes que ensi-
nava (piaesquer vantagens que obtinham nos seus estudos e um bom
exame no Lyceu enchia-o de uma alegria sincera e expansiva, fallando
naquelle facto uns poucos de dias a quantas pessoas o visitavam, es-
crevendo cartas de felicitação aos pães e mimoseando os rapazes com
peras de calda, ou cachos de uvas passadas, de uns pedaços de vinha
que ainda possuia no Pico.
Nestas occasiões dizia sempre aos rapazes agrupados em redor
dos boiões das pêras e uvas:
— Sou pobre, não tenho nada melíirtr que lhe offereça, mas se
eu fosse rico outro gallo cantaria aos meus amigos. Paciência !
A todos, ou a quasi todtjs os homens que hoje contam quarenta,
ou cincoenla annos, na Horta, ensinou o Sr. Fri'ncisco Vieira de Fa-
ria alguma coisa, poitiiguez, mathematica. linguas A-, e não ha um úni-
co que se lembre d'elle lhe haver exigido, ou acceitado, a minima
remuneração por tanto trabalho, e isto até, quando no uliimo quartel
da sua vida, convertida de todo, por assim dizer, a botica n'uma bi-
bliotheca publica e devido á doença das vinhas, de que ei'a proprietá-
rio, vivia o mais parcamente possivel e até com certas |)rivações.
Em qualíjuer trabalho que trate do ensino publico no Faval, o no-
me honrado do Sr. Francisco Vieira de Faria deve occu[)ar sempre
um dos piimeiros logaies, e se nos rimos por vezes das suas excen-
tricidades, não quer isto di/.er, de sorte alguma, que não respeitamos,
e muito, a memoria d"aquelle benévolo mestre e dedicado amigo, com
o íjiial passámos uma parte da (jiiadra feliz da mocidade.
ARCHIVO DOS AÇORES "^ 359
O Sr. Vieira deixou alguns escriplos, quasi lodos traducções do
inglez e alguns originaes, mas poucos.
É pesar que a par da sua vasta erudição não fosse dotado d"um
estylo agradável, tornando-se enfadonho a quem o lé, embora o que
escreveu seja em linguagem assaz correcta.
É o que aconteceu nas obras de Pope, um seu author favorito,
que traduzio quazi todo, bem como com alguns trabalhos de Voltaire.
P'alleceu este muito prestante cidadão, aos sessenta e seis annos
de edade, no dia 21 de Março de 186.3, muito socegado de consciên-
cia, conhecendo perfeitamente a approximação da sua derradeira hora
e conversando até poucos momentos antes de se lhe extinguir a vida,
com os seus discípulos, em coisas de lilteratura e nos systemas de en-
sino que, quanto mais brandos, dizia elle, eram os melhores, os mais
profícuos para a juventude.
Quando o seu caixão, no dia seguinte, atravessou, no transito pa-
ra o cemitério, o átrio da egreja do Carmo, estava alli grande concur-
so de povo, pois ia sahir a procissão do Triumpho, que annualmente
effeitua a venerável OnJem 3.* d'aquelle templo.
E grande parte dessa gente se descobrio respeitoza ante aquelle
luimilde sahimento, divisando se lagrimas em muitas faces, porquanto
o honrado velhinho, à força de se tornar serviçal, havia captado a sym-
pathia do publico.
Paz á sua alma !
ANTÓNIO SILVEIRA BULCÃO. —Oriundo de uma anti-
ga familia d'esta ilha, porquanto nos livros da Santa Gaza da Miseri-
córdia da Horta, respeitantes ao anuo de 1680, alli se encontra exara-
da uma esci iptura em que Álvaro Pereira Bulcão, Cavalleiro Professo
da Ordem de Christo faz uma permuta com bens daquelle pio estabe-
lecimento, nasceu este seu distincto descendente, na Villa da Magda-
lena, na ilha do Pico, aos 8 de Setembro de 1781.
Foram seus pães o capitão António Silveira Bulcão e sua espoza
D. Maria Magdalena Úrsula, gente abastada e da primeira d'aquella
localidade.
Cursou com notável aproveitamento as aulas então existentes na
Horta, para aonde, opportunamente, veio estudar, demonstiando desde
bem novo apreciáveis dotes de um bom poeta.
Em 1816, tendo então trinta e cinco annos de edade casou com
D. Maria de Lacerda Labath, e sérvio por algum tempo, com illibada
honra o reudozo emprego de Escrivão da alfandega.
Professou constantemente ideas liberaes.
Dedicou-se mais tarde á nobre profissão de advogado, em que se
tornou distincto, exercendo lambem, depois de estabelecido o governo
constitucional, diversos cargos administrativos.
360 ARCHIVO DOS AÇORES
Em I8i0 foi nomeado, inlerinaineiite, Delegado do Procurador
Hegio n"esta Comarca.
Veio a fallecer, na cidade da Hurla, respeitado e bemquislo de
todos no anno de 1843.
Como poeta fui assaz distincto e do mesmo existem [)ublicadas di-
versas composições, de incontestável mérito, tanto na collecção do pe-
riódico «Grémio Litlerario», como na «Historia das quatro ilhas que
compõe o Districto da Horta», do Sr. Commendador Macedo.
O assumpto da maioria d'estas peças litterarias, escriptas para
serem recitadas em festejos públicos, é exaltar o triumpho das idéas
liberaes, das quaes foi sempre leal e dedicado pugnador.
Um primo deste poeta, o Rev.''° P.® Bulcão, carmelitano, foi lam-
bem pessoa muito respeitável na sua classe, exercendo por dilatados
annos o importante lugar de Ouvidor, no Concelho da Magdalena do
Pico.
O talento não tem sido escasso com a família Bulcão, por quanto
dos filhos do cavalheiro de que tratámos utu d'elles é o bem conheci-
do romancista fayaleuse António de Lacerda Bulcão, do qual, opportu-
uamente nos occuparèmos n'estes apoutanieutos, existindo também u"es-
ta ilha um seu neto Augusto Bulcão, poeta e jornalista, que promet-
te manter no campo das letras as tradições da sua familia e do qual
já existem publicados apreciáveis trabalhos.
O PADRE VICTORINO JOSÉ RIBEIRO. — A freguezia
da Praynlia do iNorte, no Concelho de São Roque da ilha do Pico, a-
lem de ser uma das suas mais antigas e melhores povoações, com cer-
ca de mil e oito centos habitantes, bons edifícios particulares, uma bel-
la egreja e vistosíssimo átrio e tendo a breve distancia a poética e for-
mosa bahia das Canuas, por muitos annos marginada diima latada de
mais de quinhentos metros d'extensão e que chegou a produzir cem
pipas de excellente vinho, gosa alem disto bem merecida fama. por
alguns dos seus filhos que conseguiram conquistar um nome distincto
no Districto a que pertenceram.
D^alli era oriundo, como já vimos, o talentoso padre e poeta Jo-
sé Leal Furtado, tendu ag(U'a de mencionar, egualmente, um outro res-
peitável sacerdote, filho craquella localidade.
Do consorcio de Francisco Iguacio e de D. Rosa Jacintha, ambos
picoenses, alíi nasceu a áo de Março de 1780, Victorino José Ribeiro,
que no convento de São Pedro d Alcautara, no sitio do Cães do Pico,
devido á bôa vontade de um seu lio clérigo, foi estudar com os frades
franciscanos e aonde professou no anuo de 1709, coui o nome de Vi-
ctorino de Sã(j José.
Fm seguida foi cursar alguns estudos superioies nas afamadas au-
ARCHIVO DOS AÇORES 361
las diJ ilh;> Terceira, cl'oricIe em 1802 i)nsson para o Fayal, sendo no-
meado Vigário do coro no convento de São Fr;incisco.
Era enlão pregador distincto e um excellenle musico.
Em 1803 resolveu ir estabelecer-se no Rio de Janeiro e seculari-
sando-se, depois de haver recebido as ordens de Presbytero, effecliva-
menle trocou a sna humilde pátria por um centro maior e mais adqua-
do aos seus talentos e reconhecida aptidão.
Sorrio-lhe a fortuna n'aquellas regiões, ganhou com que viver des-
assombradaiuente, mas começando, por effeito do clima, a soíTrer da
saúde, voltou para os Açores, em 1815, provido niim beneficio da
Matriz das Vellas, na ilha de São Jorge; passando dois annos depois
para o Fayal, aonde foi nomeado escrivão da ouvidoria ecciesiastica e
mais tarde mestre da capella da Matriz.
Em I8i0, nesta egreja foi solemnemente armado Cavalleiro pro-
fesso da Ordem Militar de N. S. Jesus Christo.
O P.*" Victorino José Ribeiro demonstrou sempre ideas liberaes,
mas sem praticar excessos, o que não obstou, ainda assim, a que na
nefasta epoclia de 1829 tivesse muitos transtornos e incommodos, sen-
do preso, enviado para a ilha de São Miguel, no Fayal sequestrados
os seus bens,e jazendo nas prisões da Trafaria, no continente até 1833,
em que o veio libertar o triumpho da causa conslilucional.
Regressou de novo para o Fayal, relativamente pobre e minado
pela doença, tornando-se-lhe necessário fazer uma segunda viagem ao
Brazil, afim de cobrar algumas quantias qne lá lhe deviam.
Decorria então o anno de 1836 e no seguinte tornava a aportar
á cidade da Horta, aonde, desde então residio até á sua morte no de-
curso do anno de 1868.
Jaz sepultado no cemitério da venerável Ordem 3.^ de Nossa Se-
nhora do Carmo.
A par de im|)Oliuta honradez e firmeza de caracter, foi este res-
peitável sacerdote um erudito investigador de antiguidades açoricas e
devotado cultor das letras.
Alem de numerosos e esplendidos sermões que pregou, os quaes
colleccionados formariam alguns apreciáveis volumes, legou-nos ainda
um livro, iujpresso na typographia Hortense, no aimo de 1862, com
89 paginas e que tem por titulo ((Breves Unhas históricas sobre as qua-
tro ilhas de que se compõe o Districto da Horta», trabalho este que lam-
bem foi publicado no semanário «O Fayalense».
Segundo uma Advertência do seu illustrado author aquella com-
posição é «um simples esboço de alguns factos geraes e mais salien-
tes que tiveram togar», e, n"esle sentido fez, realmente, mais do que
havia prometlido.
Acre^ce ainda que o Rev.'^'' Victorino José Ribeiro, fui, nos tem-
pos modernos, o primeiro escriptor que se lembnju de rememorar os
acontecimentos da sua insulana pátria.
N.*^ i6— Vol. Vni - 1886. M
362 ARCHIVO DOS AÇORES
Depois de aberta, num fechado matagal uma vereda qualquer,
torna se muito mais fácil alargar a mesma até tornar-se n'um caminho
tranzitavel e corrente, mas devemos lembrar nos que o primeiro tra-
balhador que se achou a braços com um descampado cheio de infor-
mes pedras e valentes sylvados, careceu de grande coragem e dedica-
ção para desbravar, embora apenas uma limitada porção de semelhan-
te terreno, n'uma lucta inglória e quasi ignorada.
Foi o que lhe aconteceu e por isso tem todo o direito á nossa con-
sideração.
Actualmente continua a sustentar com distincção, n'este Districto,
as boas tradições da sua família um illustrado sobrinho do Padre Vi-
ctorino, também natural da Praynha do Norte, o Rev.^° Veríssimo Jo-
sé Ribeiro, beneficiado da egreja da Conceição, e agraciado por Sua
Magestade na cathegoria de Pregador Régio, por Carta de 23 de Fe-
vereiro de 1878 e como Capellão honorário da Casa Real em 18 de
Março de 1882.
Como o seu respeitável parente, de que acabamos de tratar, Iko-
ra, sobremodo, a tribuna sagrada.
O PADRE IGNACIO FURTADO DA CRUZ.- Nasceu na
ilha das Flores, na freguezia de Ponta Delgada, em Janeiro de 1790.
Era filho de Januário Furtado da Cruz e de sua consorte D, Ma-
rianna Úrsula, ambos também naturaes da mesma freguezia de Ponta
Delgada.
Ainda novo sahio da sua pátria, como marinheiro, n'um navio es-
trangeiro que por alli passou e depois de alguns annos de aventurosa
existência, residio por largo tempo na Hespanha, aonde adquirio soli-
da instrucção.
Depois d'isto, tomando ordens sacras em Portugal, veio para a
ilha das Flores e conseguio ser nomeado Reitor da freguezia da Lom-
ba, aonde deixou honrosissima fama de notáveis virtudes e sciencia.
A sua casa dava franca hospedagem a quantos forasteiros alli ap-
pareciam e a sua bolsa estava sempre aberta para os seus parochianos.
Falleceu no dia 12 de Junho de 1879 e o povo da freguezia da
Lomba ainda hoje deplora a sua falta.
O Padre Ignacio Furtado da Cruz, dotado de muito chiste nos seus
escriptos, tomou nota de muitas occorrencias que se deram na sua pá-
tria, as quaes registava num «Diário», que apesar de estragado pelo
tempo, sabemos ainda existir em poder dos seus parentes.
Era grande enthusiasta das festas nacionaes e n'essas occasiões
escrevia cartas de felicitação aos seus nimierosos amigos, mencionan-
do nos sobrescriptos, em letra garrafal, a plausível data que a tanto
o movia.
ARCHIVO DOS AÇORES 363
Tinha a!gum;is excentricidades, mas em todo o casu foi um floren-
tino de reconhecida illustração e nm bondoso sacerdote.
O COMMENDADOR ANTÓNIO LOURENÇO DA SIL-
VEIRA MACEDO. — Encetámos, com a presente referencia um pe-
riodo novo nestes pobres apontamentos, vindo prasenteiramente ao en-
contro dum escriptor existente, depois de ha tanto tempo ter andado
a escavar em sepulturas.
Ainda assim a summula das impressões, que em semelhante tare-
fa recebemos, não teve um aspecto tenebroso e carregado, e se no
nosso pequeno cemitério d'3ldeia não deparámos com sumptuosos mo-
numentos, d'esses que duram séculos, pudemos, não obstante, respi-
gar algumas flores, embora humildes, mas de vividas cores e perfu-
mado alento.
Attendendo ao isolamento do Fayal, insignificância relativa d'esta
terra, aos poucos, uu nenhuns recursos que em pequenas povoações
encontram os estudiosos e á mingoa das communicações regulares que
então havia com o continente, diílicultando o conhecimento d'esse mes-
mo pequeno movimento litterario que vegetava em Portugal, devemos
concordar que a despeito de todas estas pouco animadoras circumstan-
cias houve sempre n'esta ilha alguns cultores das letras e até epoclias
cm que das mesmas se tratou muito mais do que actualmente.
Tivessem tido os antigos a imprensa, aqui estabelecida apenas
desde 1857 e colleccionado os seus apreciáveis trabalhos litterarios,
muitos d'elles hoje completamente perdidos, que um confronto, de bôa
fé, não sei se nos seria vantajoso.
Depondo pois, aqui, um muito humilde tributo de veneração á sua
respeitável memoria, tratemos em seguida dos contemporâneos, guar-
dando, quanto possível, a ordem, approximada, das suas edades.
António Lourenço da Silveira Macedo nasceu, na villa da Horta,
na rua de Santo Elias, aonde ainda hoje reside, a 1 1 de Setembro de
1818.
Foram seus progenitores Lourenço António da Silveira Macedo e
D. Maria Delfina da Silveira Goularlt, ambos naturaes da freguezia de
São Malheus, no Concelho da Magdalena, na ilha do Pico.
Apesar de Lourenço António ser um artista conseguiodar ao seu
filho uma regular educação, que é esse sempre, no nosso entender, o
maior titulo de nobilitação para fidalgos ou plebeus.
Aos vinte e um annos de edade, em 3 de Dezembro de 1839, co-
meçou António Lourenço da Silveira Macedo a exercer o magistério
publico de inslrucção secundaria, na regência da aula de latim, na vil-
la das Lagens do Pico, passando em seguida para a regência da mes-
ma aula na cidade da Horta, no mez de Março de 1848.
Cinco annos depois, em 1853, foi creado o nosso Lyceu Nacional
364 ARCHIVO DOS AÇORES
e desde Junho d'esse anuo começou o professor de que tratámos a en-
sinar no mesmo Philosopliia e Mathemalica e durante o longo período
de trinte e ires annos tem, constantemente e assiduamente leccionado
n'aquella casa tanto estas, como outras disciplinas, a numerosos discí-
pulos, tendo na mesma exercido os cargos de secretario, bibliotheca-
rio e reitor, este ultimo por duas vezes, em Agosto de 1871 e no mes-
mo mez de 1879.
Actualmente, já jubilado, rege ainda a cadeira de Mathematica.
Em i84o do casamento deste laboriozo fayalense com D. Maria
Aurora Telles de Macedo, senhora descendente duma muito antiga fa-
mília desta ilha, nasceu um filho que educado com desvelo por seus
pães e dotando-o a natureza de não vulgar intelligencia e amor ao es-
tudo, no anno de 1869 terminava o seu curso na Universidade de Coim-
bra, aonde se formou na faculdade de direito.
O dr. António Telles de Macedo, bom e estremecido filho, achava-
se três annos depois, na ilha do Pico, exercendo as funcções de De-
legado do Procurador Régio e casado com D. Maria Othilia d'Azevedo
e Mello vivendo feliz e parecendo destinado pela providencia para com
os seus augmentos, elevação de caracter e consideração de que goza-
va, ser a alegria, o orgulho, o premio do incessante lidar do seu pro-
genitor, por quanto, sejamos francos, se é fácil conquistar na socieda-
dade uma distincta posição para os que nascem na grandeza e oppu-
lencia, ao contrario disto para o homem que só devido ao seu traba-
lho consegue viver e dar uma esmerada educação aos seus, represen-^
la a realisação d*este empenho uma grande batalha, com muitos inci-
dentes árduos e ignorados do vulgo, com muitos sacrifícios e inces-
sante dedicação.
Que o diga quem estiver em iilenticas circumslancias.
Chegou, porem, o inverno de 1872, e, em Fevereiro, a desdita
veio ferir profundamente aquella honrada família, arrebatando celere-
mente para a sepultura o dr. António Telles de Macedo, e abrindo no
coração da mesma golpes tão profundos e insanáveis, para os quaes só
a resignação christã pode offeiecer lenitivo.
Teve, acreditamos, esse supremo recurso o angustiado pae, por
quanto a sua fé é vivida e revela-se, por vezes, nos seus escriptos,
bem como na sua conversação com os amigos, pertence ainda a uma
escola antiga na qual, segundo o nosso poeta Paulino Cabral, pode se
viver e morrer, ouvindo o credo relho ao padre cura, o que já é muito,
quando algumas doutrinas modernas existem estéreis e desoladoras,
como o sinioun do deserto e improfícuas para a sociedade, individual
ou collectivamente.
Em 1871, António Lourenço da Silveira Macedo publicou o pri-
meiro volume da sua obra: n Historia das quatro ilhas que formam o
Districto da Horta, desde a epocha do seu descobrimento até á presente,
comprovada com documentos authenticos exírahidos dm repartições pu-
ABCHFVO DOS AÇORES 36í)
blicas e comnienfada com as opiniues do!> historiaúorcs açorianos i> algu-
mas eh auctom: sendo este trabalho dedicado ao Marquez d' Ávila e de
Bolama, impresso em 4.", o primeiro volume na typítgrapliia de Graça
Júnior e no anno seguinte o segundo e terceiro volumes da mesma, na
typograptiia de Laureano Pereira da Silva (Corrêa, tendo ao todo Hlá
paginas, das qnaes uma abundoza parte de copias de documentos.
Esta («Historia das quatro ilhas» representa um trabalho de ferro,
especialmente no que diz respeito a indagações de datas, tornando-se
assim de muita utilidade para os estudiosos, tanto mais quando muito
pouco existe ainda escripto com respeito ás ilhas occidentae.s do archi-
pelago açorico.
A sua impressão e revisão deixou, porem, alguma coisa a dese-
jar, como se verá d Uma segunda e mais correcta edição que o seu e-
rudito author falia em publicar, ampliada com mais imi volume.
Alem d'esta obra e de alguns escriptos inéditos, ainda que de me-
nor fôlego, conhecemos do mesmo os seguintes compêndios elementa-
res :
Exenplos edificantes de virtudes moines e civicas ecctrahidos da His-
toria Portugueza e Iranscriptos dos clássicos da lingua. para as lições
de leitura nas escolas primarias. — Compendio de grammatica portugue-
za.—Breve tratado de Agricultura. —Noções de Historia geral, especial -
mente do Reino de Portugal. — Principios elementares de Pedagogia. —
Noções summarias de Geographia e de Corographia de Portugal. — Ele-
mentos de Arithmetica. — Historia Sagrada.
Estas diversas publicações abrangem i7á paginas, foram todas
approvadas pela Junta Consultiva de Instrucção Publica e impressas,
na Horta, pela primeira vez em 1877, na typf)graphia de Francisco Pe-
reira de Mello, e reimpressas no aimo de 1H80 na typographia Miner-
va Insulana.
O seu illustrado autht>r tem, também, collabi»rado em diversos jor-
naes da sua pátria e mais effectivanipnte em quanto se publicou «O
Grémio Litterario» no qual inserio uma serie de artigos concernentes
á instrucção publica e a homens distinctos d'este Districto.
Por Decreto de \^2 de Jidho de 1883 foi António Lourenço da Sil-
veira Macedo agraciado, pelo governo pnrtuguez, com a Conmienda da
Ordem Militar de Nosso Senhor Jesus Christo e de ha muito que o te-
mos visto exercer com a máxima assiduidade importantes carg(»s pú-
blicos, taes como: Procurador á Junta Geral do Districto, desde 187á,
em que tem servido de Secretario, vice presidente e presidente da res-
pectiva Ciommissão executiva. Conselheiro do Districto, desde 187:2 a
1878, vogal da Commissão do recrutamento, durante o mesmo perío-
do, presidente da Conunissão do recenseamento eleitoral desde 1874
até 1877 e depois desde 1880 a 1881. vogal claviculario da Junta ad
ministrativa das obras do porto artificial da Horta, vogal da (Àimmis-
são anti-phylloxerica e du conselho da agricultura, em 1883. prosiden-
366 ARCHIVO DOS AÇORES
te da Commissão promotura de soccorros para os pobres doentes da
Feteira, em 1884, e no mmo immediatu eleito presidente da Commis-
são para orgaiiisar os annaes deste municipio, bera como em 1886 do
Centro agricola da Horta.
Uma única palavra define perfeitamente a feição mais saliente do
Commendador Macedo— o trabalho.
ANTÓNIO DE LACERDA BULCÃO. — Filho do dislincto
poeta António Silveira Bulcão, de que Iratáinos antecedentemente e de
sua consorte D. Maria de Lacerda Labatli Bulcão, nasceu na então vil-
la da Horta, aos 17 de Junho de 1817.
Foi alferes da 4.^ companhia do 2.° Batalhão de voluntários, cria-
do em «lefesa da liberdade por Decreto de 7 de Setembro de 1831 e
dissolvido por Portaria do Ministério do heino de 8 d'Agosto de 1840.
Nomeado amanuense do Governo Civil da Horta em 21 de Julho
de 1836 e promovido a 2.° official em 20 de Dezembro de 1872, foi
aposentado neste ultimo cargo por Carta Regia de 11 de Fevereiro de
1880.
Durante este longo prazo de serviço publico, foi encarregado o
Sr. Bulcão, sem receber remuneração alguma, de diversas commis-
sões, algumas das quaes importantes, como se vè da seguinte copia
dnm documento ollicial:
— «Governo Civil do Districto da Horta=N.° 16= l."" Direcção= ,
2.* Repartição^^lll.""" e Ex.™' Sr. =Em cumprimento do veneiando
despacho de Y. Ex.^ de 20 de Julho ultimo, no requerimento do 2."*
olficial aposentado d'esle Governo Civil. António de Lacerda Bulcão,
em que solicita uma gratificação pelos serviços e.\lraoidinarios que
por nomeação deste Governo Civil desempenhou em diversas epochas,
devo informar a V. Ex.* que o Sr. Bulcão jamais recebeu gratificação
algiuiia pelas commissões que desempenhou sendo enviado á ilha do
Pico em 1838, pelo Ex.""* Snr. António Joaquim Nunes de Vasconcei-
los, em I8't0 pelo Ex.""' Snr. Francisco de Paula de Souza Villa Lobos,
em 1842 pelo Ex."'° Snr. António José Vieira Santa Rita: ás ilhas das
Flores e Corvo em 1842 pelo dito Ex.'"° Snr. Santa Rita e em 1843
á ilha do Pico; em 18o3 foi novamente enviado á ilha do Pico pelo
Ex."'° Snr. Luiz Teixeira de Sampaio Júnior (Alvará de 11 de Feve-
j-eiro de l8o3).Foi mais mandado á ilha Gracioza em 1844, pelo Ex.™"
Snr. Santa Rita (Inslrucções de II d Agosto) e em ISoO ás ilhas Ter-
ceira e São .Miguel, por nomeação do Ex.™" Sr. Joaquim José Pereira
da Silveira ^Alvará e Guia de o de Junho). Destas commissões as mais
importantes foram ás ilhas Terceira e São Miguel, para compra de ce-
leaes por conta do Estado, a fim de abastecer o mercado, em vista da
lernvel crise alimentícia, que então solTreu este Districto. Que desem-
penhou com zelo e honradez todas estas coininisMjes fazendo todas as
ARCHIVO DOS AÇORES 367
despezas á sua custa, das qiiaes ainda não foi indemnisado, tendo re-
querido ao Governo duas vezes nma gratificação, não se recordando
precisamente as datas dos requerimenlos, sendo o primeiro enviado
ao Ex.'"" Sr. Dr. João António Corrêa de Sequeira Pinto, Governador
Civil de Sentarem, que antes havia exercido o cargo de Secretario Ge-
ral n"este districto, e o segundo ao Ex."*" Sr. Jacintho Augusto de
SanfAnna e Vasconcellos, deputado por este Districto. Julgando, pois,
justa a pretensão do requerente e verdadeiío tudo o que o mesmo al-
lega no seu requerimento, que devolvo, V. Ex.^ se dignará mandar
arbitrar a gratificação qiie julgar conveniente. Deus Guarde a Y. Ex.*
= Governo Civil da Horta, 21 de agosto de 1880: = 111;""' ExT" Sr.
Ministro e Secretario d'Estado dos Negócios do Reino = 0 Governador
Civil substiluto = Rodrigo Alves Guerra.»
A cansa era justa, mas o resultado foi nenhum.
Dotado de talento para a pintura fez António de Lacerda Bulcão
numerosos quadros, para oíferecimentos.
A seguinte carta do virtuozo Bispo desta Diocese D. Fr. Estevão
de Jesus Maria demonstra, plenamente, a bôa acolhida que teve pelo
venerando Prelado um trabalho d'aquelle fayalense.
É um documento inédito e valiozo pela sua alta proveniência:
— «Ill.™° Sr. —Com a sua carta de 26 de Julho, d'este anuo, re-
cebi a apreciável offerta de um engenhozo pathetico quadro a óleo,
obra que sobremodo exalta o seu author, mui principalmente sabeu-
do-se que sem estudos methodicos de desenho a imaginou e levou a
effeito tão somente pela tendência e gostoza dedicação ao aprasivel
labor da pintura. Agradecendo, preso a sua altencioza lembrança por
dimanar de um coração sincero, animado de sentimentos verdadeira-
mente catholicos. Oxalá que tão affectuozo pensamento elegantemente
significado no seu bel lo quadro, com referencia ás virtudes de um
immerito Prelado fora exacto! Então, exclamaria com o Psalmista =
Não a nós. Senhor, mas ao Vosso Santo nome dai gloria. E os Anjos
Santos no Ceu, e os homens na terra, fieis á suave, doce, máxima do
Salvador=Besplandeça a Luz do vosso bom exemplo na presença dos
homens, glorifiquem ao Pai que está nos Céus, de certo Lhe tributa-
rião. em presença da virtude sempiterno Louvor, glorificando inces-
santemente a este Amorosíssimo Pae Celestial, Creador e Redemptor
Nosso Senhor Jesus Christo. Digne-se V. S.^ acceitar os sinceros vo-
tos do meu cordeal agradecimento pois sou, abençoando-o, com toda
a estima e maior consideração=De V. S.*=Prelado aíTectuoso e vene-
rador obrigado^Fr. Estevão, Bispo d"Angra=Quinta das Almas, 3 de
Setembro de 1838.).
O Sr. Bulcão no decurso da sua laboriosa vida publica foi conde-
corado com o grau de cavalleiro da ordem militar de N. S. .lesus Chris-
to, bem como de cavalleiro da ordem militar de N. S.'* da Conceição
de Vi lia Viçosa.
368 AHCHIVO DOS AÇORES
(^umo escriptor publico exisleni luimerosissimai; composições fir-
madas com o seu nome, dispersas em (juasi lodos os periódicos d'es-
te arcliipelago.
Alem de um drama em Ires actos com o lilnio oA influencia da
mulher^) em lempo representado por curiosos no thealro União P^aya-
lense, conhecemos do mesmo autlior qíjarenla e nove romances, com
os seguintes tilulos :
O Segredo diurna jlor — O Afanicoque — O Contra-mesfre — José
Imagos ^A Bahia do Inferno- A Estalla - Scenas phantasticas — Mo-
desta— Dainiana — Pefia de Talião — O Esqueleto — Jan Fernandes —
A casa sinistra — A Tia Micaela — Mistérios duma familia — Calham-
bola — Monitaria Secreta — Os dois gémeos — O Ciúme — O Sr. Viel-
la — O Oráculo— Os dois rivaes — O Cego da Feteira — O ramo de vio-
letas — Maria Dijanira — O desherdado — O Martijr — O Arrependimen-
to - O homem do capote de escocez — Mestre Parramaque — Mistérios
do Fagal — A Cruz de prata e a Cruz de ferro — O homem mysteriu-
so — A casa Negra — O Ermita — O Invalido — Os pobres do Fayal —
O Morro de Castello Branco — Bento Murtes — O Embruxado — Fr.
João — Cinco dias na ilha do Corvo — Vida do Judeu Errante — O
homem que chora — O Mendigo — O Lunático — O Prisioneiro —A Da-
ma do Cemitério — Ancilla.
D'esta longa lista trinta e dois romances foram impressos em heb-
domadarios e os últimos dezesete em três volumes, na typ. de Fran-
cisco Pereira de Mello, em 1877 e 78, sendo este artista o seu editor, ,
conjunctamente com Jeronymo Gomes dOliveira, pertencente á mes-
ma classe.
Os romances em folhetins contem, approximadamente, duas mil pa-
ginas e os avulsos 730 pag. em 8.*'.
Ao declinar de uma vida incontestavelmente de trabalho, um pro
fundo desgosto de familia, a morte d'um ÍWUo querido e geralmente
estimado, o nosso bondoso companheiro d'infancia, António de Lacer-
da Bulcã(j Júnior, nií^is tarde digno vice-consni de Hespanha n esta ilha,
veio angustiar d"uma maneira atroz o ('oração do seu extremoso pae.
A ultima visita que lhe fizemos contristoií-nos bastante, aquelle
cavalíjeiro cjue aiilecedentemente conhecêramos jovial, fallador, uni tan-
to excêntrico, estava deuiiidado, enfra(|uecido pela doença e magíjas e
invadido por acerba Irislesa.
Não era o mesmo.
Km trenle da sua pequena mesa de escrever um retrato do falle-
cido filho, sobre uma commoda algumas llores colhidas na sua sepul
Ima, lagrimas nos olhos e saudades no coração.
Hespcilámos, sinceramente, aquella dòr que é immensa e dêmos
um apéilo de mão ao inofensivo escriplor (|ue, no decin'so apenas de
alguns mezes, parecia ter envelheeiílo imii tpiarlo de século.
ARCHIVO DOS AÇORES 309
O DR. MIGUEL STREET D'ARRIAGA. -Em 1827, ii es-
sa fausta epocha para os fayaleoses, na qual as clironicas de então nos
apresentam a villa da Horta, toda entrego»! a festejos [)uljlicos e até es-
pectáculos dramáticos, devidos aos acontecimentos politicos da metró-
pole e á adliesão (jue os habitantes d esta ilha prestavam á carta con-
stitucional, em Abril do anno antecedente pronujlgaija como lei funda-
mental do paiz e em que ás vistosas encamisadas com barcas de nui-
sica, bandos e illuminações se juntavam bailes e recitas e até um gran-
de jubileu com diversas procissões e festas nos templos, para tornar
mais agradável a vida destes povos, tratando do seu recreio e espi
ritual proveito, n'esse anno, dizíamos, chegou ao Kayal empossado no
cargo de corregedor o Dr. Miguel Maria Borges da Camará, oriundo
d'esta ilha e filho d um cavalheiro notável pelos seus serviç(»s ao paiz,
o desembargador e alcaide mór Miguei dArriaga Bruni, que fora Ou-
vidor de Macau.
O dr. Miguel Maria não vinha iniciar-se na publica governação no
cargo que lhe foi confiado, porquanto tendo em Lisboa um tio Inten-
dente da Policia com o mesmo já tivera proveitoso tirocínio no segui-
mento de muitos negócios públicos.
Emquanto ao seu physico era o novu corregedor de estatuía mui-
to baixa, magro, e tão magro, que costumava dizer quando ia de ca-
deirinha a alguma festa publica, ou a algum baile, que os conductores
podiam andar de pressa e sem cauçaço, (mis o pezo maior (|ue leva-
vam era do seu espadim.
Havia o coriegedor casado em Lisboa com sua prima D. Barbara
Joaquina Street d Arriaga, Senhora nobre e de flua educação, filha de
Guilherme Street d Arriaga, abastado proprietário de (uuitos prédios
em Lisboa e duma valiosa quinta em Carnide.
O dr. Miguel Maria era cavalheiro do mais, delicado trato, possuiu
do notáveis conhecimentos, tanto com relação á litteratura pátria co-
mo de estrangeiras nações, alegre e dagradavel conversação, na qual.
não raro scintillavam ditos de fina critica e profunda observação.
Era um homem de, corte, em toda a extensão da palavra e na so-
ciedade elegante da Horta, n'aquella bella sociedade de então, que nis-
lo era notável esta localidade, o corregedor .Miguel Maria foi assidiio
fre()uentador de todos os bailes e diversões, dando taníbem sumj)tuo-
sas festas na sua hospitaleira residência.
No Fayal tornara-se assaz sympathico e gosava de geral estima.
A 25 de Outubro de 1828 nasceu-lhe, na Horta, um filho que re-
cebeu o nome de Miguel.
Aclamado subsequentemente. D. Miguel n'esla ilha, a 4 de Setem-
bro de 1828, o ctjrregedor Miguel Maria portou se com a maior mo-
N.'' ^6 — Vul. VHI - 1886. 12
370 ARCHFVO DOS AÇORES
deração, como em seguida, de 4 de Novembro em diante, nos aconte-
cimentos a que deu logar a chamada revolução do castello, no sentido
liberal, em consequência da qual veio para o Faval o syndicante Tor-
res, de lúgubre memoria.
D'este comraedimenlo com miguelistas e liberaes, aconteceu o
que succede muitas vezes aos homens bem intencionados e ordeiros,
isto é, ficar mal com o povo por causa do Rei e com o Rei por causa
do povo.
Os miguelistas, porem, tomaram-no entre dentes, acoimando o cor-
regedor de malhado, especialmente depois que na celebre Devassa,
tirada pelo syndicante Torres, protegeu, até certo ponto, os liberaes.
Passou-se, assim, ordem áe prisão contra o corregedor, a qual
com algumas peripécias assaz cómicas, foi effeituada pelo juiz por bem
da lei Gonçalo de Labath Marramaque de Lacerda, homem de supina
ignorância, gago, grotesco e ridiculamente fanático pelo throno e pelo
altar.
Do castello de Santa Cruz, aonde foi encarcerado, sahio o dr. Mi-
guel Maria d'esta ilha, seguindo depois de Lisboa para França, aonde
residio por algum tempo.
Quando D. Barbara .loaquina Street regressou para o Fayal vinha
já viuva, ainda que de recente data e mais tarde veio a casar em se-
gundas núpcias com José Curry da Gamara Gabral, abastado proprie-
tário e digníssimo cônsul da Rússia n'esta ilha, aonde viveu com faus-
to.
O filho do corregedor Miguel Maria, matriculado na Universidade
de Goimbra, cursava a faculdade de direito, com muita distincção, ob-
tendo a sua formatura no anno de 1850.
O dr. Miguel Street d'Arriaga, terminado o seu curso académico,
veio ao Fayal visitar a sua família e voltando depois para o continen-
te alli exerceu por breve tempo funcções administrativas, regressando
em seguida para esta sua pátria, aonde chegou a 2i d Outubro de 1852,
nomeado Secretario Geral do Districto da Horta, do qual exercia então
o cargo de Governador Civil Luiz Teixeira de Sampaio, aqui residen-
te desde 26 d'Agosto antecedente.
No mez de Fevereiro de 1853 casava com D. Garlota d'01iveira,
virtuosa filha do sargento mór d'ordenanças António dOliveira Perei-
ra, do qual tivemos occasião de tratar, antecedentemente, como pro-
prietário da casa em que se hospedou, na Horta, o grande tribuno Jo-
sé Estevão.
Se o dr. Miguel Street dArriaga como exemplar chefe de familia
e distincto funccionario publico, pois que exerceu sem interrupção as
funcções de Secretario Geral até princípios de Junho de 1882 em que
indo para Lisboa com sua familia foi reformado e aonde reside, honrou
sempre a terra da sua naturalidade, lambem no campo das letras, em
cujo constante convívio passava as horas de descanço das suas occu-
ARCHIVO DOS AÇORES 371
paçôes oíTiciaes, adquirio, desde longa data, um nome respeitável e
laureado.
Da mesma sorte que nos seus tempos de estudante, em Coimbra,
punha em scena, no llieatro académico, algumas das suas producções
diamaticas, ou pelas tão decantadas margens do Mondego compunha
numerosas poesias, depois de entrar na realidade da vida, não conse-
guiram arredal-o as tarefas burocráticas d'aquella sua natural vocação
para o culto da arte, sob variadas formas, mas sempre d'uma manei-
ra correcta e n'um estyllo despretenciozo e muito elegante.
Os primeiros versos que conhecemos do dr. Street d'Arriaga,
compostos no Fayal, foram os que dedicou ao celebre violinista Agos-
tinho Robbio, quando aconteceu o navio em que este grande artista se-'
guia para a America, arribar ã cidade da Horta, aonde elle deu um
concerto na noite de 21 dOutubro de 1850.
Sendo uma peça completamente inédita e talvez nem da mesma
já possuindo o original o seu author, por isso publicámos n'estes apon-
tamentos a seguinte:
oi:>E
Robbio, mortal não és, do Céu descido
Mandas ao coração, o mundo reges
Da rebeca ferindo as áureas cordas
Que o espanto derramam!
Eia, ó génio, as azas solta altivo
Aéreas regiões busca sem limites
E em sons te espraia em poesia excelsa
Que o louro deus te assopra.
Ousado sempre sobe e com teu canto
Arrasta quem te escute: eia, subindo
Em harmonias mil mengolfa a alma
E nos astros me pousa.
N'esta terra surgiste qual phantasma
Que em doces sonhos cria a mente enferma
Quando de noite em puro azul refulge
A scintillante Delia.
O delirio passando o sonho foge,
A visão mais não brilha, o fraco espirito.
E a só lembrança fica amara e triste
Da desfeita chimera !
372 AKCHIVO DOS AÇORES
Embora passes meteoro ingente
No nosso fusco cen rápido e breve,
Mas nunca o dia em que fulgente assomas
No Lelhes se mergulhe.
Dos céus m'incenda a mente o fogo ethereo.
Que aos archanjos roubaste adormecidos,
Uma porção me dá, com elle inspira
Desconhecido Vate.
Dá-me calor e força com que espalhe
Na lingoa de Camões, suave e bella,
Du leu pleclro a doçura, 6 grão discipnio
Do divo Paganini.
Mas onde vou? que arrojo avermelhando
As faces, os sentidos m'exlravia?
Que stulto intuito de Sião a musica
Na lyra de cantar?
É tal o leu poder, é tal o encanto
Que das Musas ao sacro monte arrastas
Quem do Helicon as agoas não bebeu.
Com o canoro accento.
E se a lyra dedilho, em pasmo absorto.
Se atrevido levanto a fraca voz,
Teu génio me arrebata e delirante
Meu transporte não callo.
Mortal não és, és deus, na terra imperas.
Quando largas os sons magos, dulcíssimos,
E na pyra te lanças, desvairado
D'enlhusiasmo immenso!
No \° de Abril de 1857, fres mezes incompletos depois da publi-
cação em 10 de janeiro anterior do «Incentivo,» o primeiro periódico
d'esta ilha, fundava o dr. Miguel Street d'Arriaga, conjunctamente
com um cavalheiro muito devotado ás letras, o dr. José AlToi)so Bote-
lho Andrade, então aqui residente, o semanário «O Fayalense», im-
presso na typographia de João José da Graça Júnior, na rua do Colle-
gio, n." 5 e depois na rua da Misericórdia, n." 3.
Começou este periódico e assim proseguio (até 31 de Junho de
1839, em que mudou de formato) a ser publicado em 4.*' grande, com
oilo [)aginas de composição, em duas columnas cada pagina, e ties do
2.° anuo cm diante, adoptando uma feição assaz commedida.
AnCHIVO DOS AÇORES 373
No artigo principal do primeiro numero, sob o titulo de «Introdu-
ção», declaravam os seus illustrados redactores: «trataremos de cou-
sas, de princípios, de grandes conveniências e de objectos litterarios
e scientificos por que o nosso genio'não se compadece com outro meio
de escrever. Acreditem nos esta declaração que é verdadeira e o tem-
po o mostrará».
Effectivamente o programma foi cumprido e o primeiro anuo do
«Fayalense», embora tenha sido inalterav«'lmente um periódico sério,
é O riielhor de toda a collecção de vinte e nove annos já completos de
existência, pois que traçamos estas linhas em Junho de 1886.
A par, então, das brilhantes descripções de viagem, estudos de
critica litteraria e poesias de Botelho Andrade, numerosas composições
em verso de Street dArriaga enriqueciam as suas paginas, sendo tam-
bém alli tratadas com notável proficiência algumas questões de interes-
se publico para esta localidade.
Concernentemente á arte dramática, encontrámos n'aquelle pri-
meiro anuo, do mesmo author e também em verso um Elogio, recita-
do no theatro «.União Fayalense^y, em 16 de Setembro de 1856.
E' allusivo á subida ao throno d'EI-Rei D. Pedro 5.*^, sendo aquel-
l:i data a da inauguração do mencionado theatro.
Apparece logo em seguida a publicação do drama em ires actos
A Condessa e o Caixeiro, que fora á scena, com applauso, no theatro
académico, em Coimbra, em Novembro de 1849.
Desde o 1.° n.'*, do 2."^ anno, do indicado «Fayalense», perdeu
este excellente semanário a collaboração do dr. José Affonso Botelho
Andrade, por declaração do mesmo, datada de 6 de Julho de 1858, fi-
cando a sua redacção exclusivamente a cargo do dr. Arriaga.
Começou então, alli, a publicação do seu drama Júlia Cesarina,
cuja acção é passada em Venésa, no anno de 15)6.
Apesar d'esle valioso brinde aos leitores do «Fayalense», forçoso
é, ainda assim, confessar que a sabida da redacção do dr. Botelho An-
drade, deixou uma grande lacuna naq-ielle periódico, por quanto tão
abalisada penna não é fácil de ser substituída, nem um único redactor,
embora muito hábil, pode accudir de prompto ás differentos secções
d'uma publicação litteraria, politica e noticiosa.
No emtanto o «Fayalense» continuou a ser distribuído com toda a
regularidade, o que não tem sido muito trivial com algumas publica-
ções d'esta localidade.
Devemos também aqui mencionar que o primeiro typographo com
que começou «O Fayalense», tem no acompanhado até iioje, no decur-
so de mais de vinte e nove annos.
E o Sr. Luiz da Terra, que passou a ser seu proprietário, reda-
ctor e editor desde 18 de Junho de 188:2, devendo também notar-se
que desde o n.** 50, do 1." ánno, foi composto este periódico na typo-
374 ARCHIVO DOS AÇOHES
ííraphia Hortense, proprieiJnde do mesmo dr. Arriaga e actnalmente
do redactor d'essa folha.
Pouco depois da abertura do thealro União Fayalense subio alli
á scena o drama em três actos Um Crime, composição ligeira, já re-
presentado no Theatro Académico, conhecendo nós muito mais valio-
sos trabalhos do dr. Street d'Arriaga, u'aquelle difíicil ramo de litte-
ratur?.
Existe, já impresso, do mesmo illnstrado author outro drama, em
dois actos, com o titulo Nobreza e Amor, Horla, typ. Hurlense, 1874.
Esta singela composição foi, expressamente, escripta para ser re-
presentada n'nma sala, por algumas damas e cavalheiros da elite da
nossa sociedade e por conseguinte adstricta a umas certas conveniên-
cias dos actores que a iam interpretar e do meio em que tinha de ap-
parecer.
Ainda assim, entendemos ter bastante mérito e uma encantadora
louçania de phrase, consoante ao selecto auditório que tinha de escu-
tar a peça.
Veio em seguida A Filha do Morgado, um bom drama em quatro
actos, que traduz o viver fayalense ha uns cincoenta annos e que foi
muito applaudido pela plateia. Subio á scena na noite de 10 de Feve-
reiro de 1879.
Na noite de 10 de Novembro de 1880 o theatro União Fayalense
tornava a adornar-se para outra recita d'uma nova composição do mes-
mo author e que era posta em scena em beneficio da Sociedade Hu-
manitária de Lilteratura e Agricultura.
Foi a comedia-drama em quatro actos As Lições de Guitarra, ba-
seada n'uma chronica fayalense e que reproduz elegantemente alguns
(los usos e costumes açorianos e talvez o trabalho litterario do dr.
Street d'Arriaga que contem melhores condições scenicas.
Conhecemos^lhe ainda um outro drama, inedit(» e de incontestável
merecimento, intitulado Os Estudantes, estudo d'algumas aventuras da
vida dos rapazes em Uoimbra, a sua maneira de existência, alegrias,
pesares e amor, que sem este poderoso sentimento quasi que não ha
drama^^on romance possível.
E" para lamentar que não haja ainda d esta obra uma edição qual-
(pu^r.
Eis nos agora em frente de um trabalho de maior vulto e de gran-
de responsabilidade litteraria, de um lentime muito sério, e muito
diflicil, qual a traducção do mimozo poema de Henrique Longfellow —
Evavf/elitia .
Qualquer pessoa, ainda que medianamente instruída na lilteratu-
ra do^s Estados Unidos da America, cnnhcce, com certeza que repro-
duzir nVuitra lingoagem as delicadas estrophes do author da Legenda
Áurea, tão puras, singelas e perfumadas como um punhado de rosas,
orvalhadas de diamantes e colhidas em festiva manhã de primavera,
ARCHIVO DOS AÇOPES 375
é uma empresa desanimadora, quasi impossível, tanto mais (piando
Longfellow reunia ao talento d'um exímio poeta, os distinctos predica-
dos dum sábio, occultando por debaixo duma apparente simplicidade
montões de bom oiro de lei e muitos thezouros de erudição.
E com que arte era isto tudo feito!
O dr. Street dArriaga conseguio traduzir nuiito conscencioza-
mente a «Evangelina», visando, primeiro que tudo a ser verdadeiro,
dando-nos uma approximada idéa do poema original.
Concordámos plenamente com o dizer do Sr. Xavier da Cunha,
na inlroducção d'aquelle valiozo trabalho, de muito tempo, com certe-
za, quando escreveu os seguintes períodos:
«O dr. Arriaga não cuidou em antepor á fidelidade da traducção
o capricho de corroborar para si créditos de estylísta elegante, —crédi-
tos, aliás, que todos quantos conhecem o distincto poeta fayalense lhe
confirmam, ha muito.
Em que se esmerou, em que mormente caprichou, foi no escrú-
pulo com que se propoz offerecer aos leitores portuguezes uma repro-
ducção fide-digna do poema americano ...»
A «Evangelina» foi impressa em Lisboa, pelo editor David Coraz-
zi, em 1870 e já, ainda em manuscripto, havia antecedentemente me-
recido ao seu Iraductor uma honrosissima carta de Longfellow.
Na relação de alguns trabalhos litterarios do erudito fayalense
mencionados n'uma nota da introducção da «Evangelina» vem alli in-
dicado o drama «Um Crime», como já representado no continente com
o titulo «Beatriz».
O mesmo acontece, relativamente á mudança de titulo, com o dra-
ma «Salvação e Perdição», que lemos, se a memoria nos é fiel, com o
titulo «Os Estudantes», como dissemos.
Alem das numerosas composições de que tratámos existem do dr.
Street d'Arriaga diversos discursos publicados nos folhetos narrativos
de abundosos saraus litterarios que, a contar da noite de 27 d'Abril
de 1872 houveram n'esta cidade, sendo muito para notar a magnifica
oração que proferio na noite de 10 de Junho de 1880, na sala dOs Pa-
ços do Concelho, por occasião da brilhante festa alli eíTeituada pelo
Grémio Litterario Fayalense, no tri-centenario de Camões.
Está publicada nos n.°^ 3 e 4 do 1.° anuo do periódico daquella
sociedade.
Quando tratámos de colligir estes succintos apontamentos, dirigi-
mo-nos por escripto ao poeta e dramaturgo fayalense. então residindo
em Lisboa, pedindo-lhe a indicação de todas as suas obras.
Tardou a resposta, mas afinai veio, mencionando somente como
valendo a pena duma referencia qualquer, a sua traducção da «Evan-
gelina».
376 ARCHIVO DOS AÇORES
E terminava a carta com estas palavras: «Em quanto a inéditos
lenho muita coisa que talvez e>teja destinada a accender uma foguei-
ra.»
Pelo amor de Deus ! . .
As leiras açorianas não estão de tal sorte adiantadas que se pos-
sa fazer isso impunemente. Seria caso para dizermos, parodiando o
Padre António Vieira quando via um homem de bem afíastado dos ne-
gócios do Estado, ou desconsiderado, «quem vir os nossos descartes
cuidará que lemos bom jogo».
AUGUSTO BULCÃO. — Filho de Marcello Alves da Silveira
Bulcão, exemplar e antigo funccionario publico e de D. Anna Henri-
queta Bulcão, nasceu na freguezia Matriz da Horta, a 2i de Novem-
bro de 1857.
Desde 1873 até Abril de 1876 redigio, conjunctamente com Ma-
uiiel Goulart de Medeiros, um periódico de estudantes denominado «O
Lycèn da Horta», bem como pelo mesmo tempo foi um aclivo collabo-
rador do «Picoense». de que era redactor Urbano Prudencio da Silva
e do «Jorgense», então a cargo de Cândido Serpa.
Cumulativamente com isto no periódico da Horla «A Pátria», de
que era editor João de Bettencourt Badella, assim como no «Fayalen-
se» , existem diversas poesias de Augusto Bulcão que, naquelle perío-
do, foi um tenaz trabalhador.
A producção de maior fôlego que conhecemos doeste talentoso
mancebo é a traducção da esplendida poesia hespanhola, de Roque
Barcia, «O Tejo», um folheto de 46 pag., impresso nesta cidade, na
typ. de Francisco Pereira de Mello, no anno de 4877, com um longo
e primoroso prefacio de João José da Graça e cuja tiragem foi de 20Õ
exemplares.
Possue o Sr. Bidcão, ainda inéditas, abundosa serie de poesias
lyricas que formariam um alrahente volume.
Infelizmente, no Faval, a publicação de qualquer obra litteraria
representa quasi sempre um sacrifício pecuniário para o aulhor, o que
por vezes demora ou estorva as manifestações do talento.
Augusto Bulcão é neto do nolavel poeta fayalense António Silvei-
ra Bulcão, do qual já tratámos aiitecndenlemente.
Apenas om 29 aimos de edade tem ainda um largo futuro adian-
te de si e se os aífazeres de uma vida trabalhosa o tem. ultimamente,
arredado do campo das lelrjís, estamos convencidos de que não se
mahiuistou de todo com as Muzas e que nem ellas lhe leu) deixado de
sorrir em agrestes sitios em que p<^rn»an('ce.
Atraz de tempo, tempo vem.
DONATÁRIOS DA ILHA DE S. MIGUEL
I^STITlIfÕES VINCILARES
)torga(io de D. Felippa Couliiiha: I!i.l7.
Dom .lohaiii etc. A (inamlos esta miiilia carta de contirmação vi-
rem faço saber que por parle de dona Felipa (Jouliiiha mollier que foy
lie Rny Gonçalvez da (>amara Capitam da Ilha de Sam Migell que Deos
perdoe me foy apresenitado liuii eslromento de Instituição de morga-
do cujo theor he o seguinte:
Em nome de Oeos amem que de todos lie verdadeira salvação. Se-
jam certos os que este estromenlo de morgado e revogação de testa-
mento virem como n») anno do nacimenlo de Nosso S^^nhor Jhuu Xpo
(Jesus Christo) de ]" b e xxxbij ilòS7) anos aos xbj {16) dias do nies
de Junho em a vila da Pomte Delgada desta Ilha de Sam Migell em
as casas da morada da sòra ddua Felipa Continha e capitoa d'esta Ilha
em presemça de mim piiblid) tabaliain abaixo nomeado e das testemu-
nhas (]ue ahy fforam presemtes paicceo ahy a dita sòra e dise (jue era
verdade ipie ela e o capitão Biiy Gonçalvf z da Camará que Deos tem
capitão (|ne foy desta Ilha de Sam Migell seu marido avia annos que
líizeram amb()s juntamente liini) testamento em o quall de>poseram de
suas terças e mais b'^ns segundo se em elle continha e segundo a des-
posyçam do tempo em (jue se acharam e da fazeujda que emlão tinhão
e que ora ella dita sôra per sy da sua parte quebrava e avia por que
bradn o dito testamento em todo e isto de sua livre vomtade sem cos-
Iramgimento de pesoa algUa somente por o asy semlir ser mais ser-
viço de Deos e descareguo de sua comciemcia e acrecemtamento de
sua ÍTamilia e por tãoto ordenava e ordenou por este presente estro-
mento de levogação e instituição de sua terça de toda sua fazenda
movei e raiz que por seu tfalecimento se achar e fBcar asy de dinhei
ro como de cousas moveis e sem:)ventes (pie por sua morte se acha-
rem e llicarem o seguinte:
Itciíi dise que de toda sua terça ijue acliaila f.ir e lhe couber por
seu falecimento oi'(Vnav.i e fazia limi morgado somente tirava da dita
terça duzentos mil! reáes em dinheiro, os (juaes Tp {200^000) reaes
se tiraião e pagarão em três anos do dia do seu falecimento em dean
l' e deles se fará aquillo que ella ordenar e mandar |)or seus Ifens ou
testamento e de toda a outra mais fazenda que em sua terça couber
N ". i7 -Vol. Y1II-188G. I
378 ARCHIVO DOS AÇORES
ha ajunta e une doji^ por deamte pêra sen-pre em morgado o qual ins-
telny e ordena no milhor modo, fturma e maneira que posa ser pêra
que o aja seu {Tillio Manoell da Camará Capitão desta Ilha de Sam Mi-
gell e por seu íTalecimento o avera seu ílilhn barão mais velho e elle
dito seu fTilho ou neto mais velho flilho do dito Manuel! da Camará seu
flQlho o tenha aja e pesua, reja e guoverne sem o lall morgado nem
bens que em elle ouver, e amdarem e forem metidos da dita sua ter-
ça se puderem nunqua vender nem doar nem apartar nem trocar nem
apenhar nem escambar por nhimi caso que seja nem pêra obra pie-
dosa nem por nhua via nem rezão nem partir nem devidir por soce-
são nem por outra rezão que seja e quer e manda que na socesão do di-
lo morgado e ordenamça delle se tenha a maneira seguinte, a saber :
semdo caso que sua terça lhe líique em bens de raiz os taes bens que
asy ouver serão metidos no dito morgado e pêra isto se ffarão dous
Livros de pergaminho emcadernados em taboas de pão cnbertos com
couro e em cada huu dos ditos livros se escreverão todos os bens
que ao dito morgado pertemeerem decraradamente os bens que ham
e com que comfromtam por todas as partes e de quamtos moios sam
e as herdades e vilas que tem e de quamia camtidade sam e a.\v se
tresladarão nos ditos livros no principio de cada huu delles o trelado
desta Instituição e asy todas as esprituras e titolos das propriedades
H semdo caso que sua terça íTique em dinheiro on bens moveis e se-
moventes em tall caso os ditos bens se venderão sem íTicar cousa al-
gna (jue se nam venda e o tall dinheiro todo se empregara em bens
de raiz, moveis, herdades, juros ou foros que não sejam da coroa nem
de Igrejas e sejam bens livres e isemtos que não pagem foro nem
censo a outra pesoa algua os quaes se comprarão no arcebispado de
Lisboa achandose no dito arcebispado e quamdo se ahy nom acharem
se comprarão no bispado d'Kvora omde milhor se acharem e todos os
ditos bens quamdo se comprarem seja logo declarado que se compram
pêra o dito morgado e o dinheiro que das cousas de sua terça se 111-
zer e hy ouver o socesor do morgado o pasará desta Ilha a Porlugall
por letras e não se achamdo letras em algua armada dei Rey Nosso
Senhor que vá pêra o Reino que pareça ser armada em que o dinhei-
ro posa ir seguro e o socesor do dito morgado o empregará nas ditas
herdades íToros ou juros como dito he o mais em breve que poder
fíazemdo toda a deligemcia que sobre iso se deve e poder ffazer.
Item dise que por (juanito haa dita sua terça 'podem vir peças
de prata e tapeçaria e outras cousas de calidade que nesta Ilha se nam
poderão bem vemder as taes cousas e peças avaliadas i>or pesoas que
o bem entendam se seu socesor as quizer tomar pela avaliação as po-
derá tomar asy as nomeadas como outras (juaesquer de menos sortes
e do dinheiro ,-e ffará o q'ie dito he e não as queremdo seu socesor
em tall caso as mandará vemder a Portugall ou a (jualhpier outra par-
te omde lhe parecer que mais valham: a saber: aqutllas cousas que
ARCHIVO DOS AÇORES 379
lhe parrcer (jue nesta Illi;i senão puJerum bem vemder.
Item dise que u dito Manoell da Camará seu íTillio e sucesor dee
de sua terça [terá casamento de sua nela dona Felipa, íTiIlia do dito Ma-
noell da Camará seu líillio e de dona Joana de Mendíjuça sua molhei'
jiu conto de reis em dinlieiro de eomtado per ajuda de seu casamento
o quall conto de reis o dito seu líjllto Manoell da Camará ou qualquer
outro seu socesor que este moi'gado ouver daver segumdo fforma des-
ta Instituição dará a dita dona Klelipa sua neta casamdo ella por con-
sentimento de seu pay e mãy ou dei Rey noso senhor e semdo caso
que a dita sua neta dona Feli|)a morra amtes de casar ou não casam-
do, o dito cointo de reis se comprará em bens de raiz na fornia atras
declarada o (]uall conto de reis o dito seu ílilho Manoell da Camará ou
(|ualquer outro socesor deste morgado terá em sua mão e o poderá
lograr até o tempo do casamento da dita sua neta ou até se averiguar
(jue nom liade casar ponjue casamdo se lhe dará e não casamdo se
comprará em bens de raiz ou em foros ou em juros pêra o morgado
como dito he nos lugares atras declarados e manda ela Instetnydora
que este conto de reis que asy leixa e manda dar pêra casamento da
dita dona Felipa sua neta que seu filho ou qualquer outro socesor do
dito morgado o pague pelo dinheiro e cousas moveis e semoventes que
em sua terça couberem e não abastamdo vemdidas como dito he se a-
cabará de paguar o dito conto de reis pelos rendimentos dos bens de
raiz da dita sua terça que asy faz morgado em tanto tempo quamto a-
bastar pêra comprimento do que íTalecer pêra o dito conto de reis sem
que dos ditos bens de raiz se vemda nem alheie cousa algiia pêra o
dito pagamento do dito conto de reis.
item dise ella Imstetuydora e tornon a declarar que o dito mor-
gado aja seu filho Manoell da Camará e por morte do dito seu filho
Manoell da Camará o aja o seu filho barão mais velho que legitimo
seja e não bastardo posto que seja legitimado e asy pêra sempre an-
dará em linha mascolina por decemdentes legítimos do dito seu filho
Manoell da Camará mais velhos e posto que aja líilha mais velha não
herdará o dito morgado senão o íTilho barão posto (jiie seja mais mo-
ço, e semdo caso que não aja filho barão e asy ouver filha fêmea a-
vemdo neto barão do dito seu fiilho Manoell da Camará filho de filho
já deíTunto ou de filha mais velha em tall caso erdará (j tall neto ba-
rão e não herdará a íTilha posto que seja mais velha e mais chegada
em grão e o tall neto posto que seja fiilho de fiílha e posto que lenha
outro apelido se chamará primeiro do apelido da Camará e se não se
chamar do apelido da (Gamara e não trover as armas dos da Cama-
rá, posl(j que outras mais nobres tenha e lhe pertençam ao socesor do
dito morgado quer que tragna senq)re as armas dos da Camará em
um quarteirão a mão direita e no quartcll de cima do escudo e não as
trazendo como dito he perderá o morgado e flicará loguo a outro her-
380 ARCHIVO DOS AÇOhES
deiro mais cljeg;ido oiitrosy não nveodo ííllho barão legitimo e natnrall
uu neto cumo dito lie em tall caso erdara a ITillia mayor legitima d(t
dito seu filho Manoell da Gamara não semdo freyra ou de hordem pro-
fesa que não posa casar e per sua morte da tall ÍTillia do dito seu ITi
lho Manoell da Gamara herdara sen filho barão legitimo e dahy por
deante pelo dito modo amdará sempre em, baião de sorte que en) quam-
to ouver (filho barão ainda (jue seja mais moço não herde ífillia fê-
mea e avemdo neto barão não herde neta posto que mais velha seja.
Outrosy ordenou que o dito morgado o não herde clérigo nem
frade nem liomem dordem que não posa casar.
Outrosy ordenou que o dito morgado não herde nem soceda nhuni
que se posa dizer de danado coyto posto que seja legiiimado por Rey
ou príncipe ou papa ou qualquer outra pesoa que tenha [)oder [terá iso
e sejam exclusos da dita socesão de^le morgado e em todo não soce-
dam nem posam soceder por maneyra alguma.
Outrosy lhe prouve e manda que semdo caso, o que Deos não
mande que o possuydor do dito morgado cometa caso algum por que
posa perder a fazenda e vida, asy por treiçãoou lesa magestade, o que
Deos não mande, ou por outro qualquer cas.» semelhante lhe apraz que
logo tamlo que o tall delito cometer logo soceda o tall morgado o ou-
tro paremte mais chegado seu descemdemte do dito Manoell da Gama-
ra seu flilho e não outra algua pesoa nc-m se posa soceder nem pe-
suyr por pesoa incapaz da tall socesão.
Outrosy lhe prouve que semdo caso que o socesor que o dito mor-
gado ouver de soceder seja nnido ou desasysado ou furioso ou mente-
capto ou julgado por inabell e não pêra reger o tall morgado em tall
caso herdará o morgado o paremte mais chegado da mesma linha do
dito seu flilho o quall terá em seu poder e governamça o tall parente
inabell e o proverá de todo o necesario muito homradamente segum-
do a calidade de sua pesoa.
Outrosy semdo caso que ao tempo da socesão do dito morgado
aja dous paremtes em iguall grão sempre socedeiá o filho do paremte
mais velho posto que seja menoi' em idade porque sua temção he e
decrara que o filho do pareujle mais velho este he mais chegado.
Outrosy decrara que em quamto ouver decemdemte do dito seu
filho Manoell da Gafnara abily [»era soceder e legitimo nunqua soceda
o transversall.
Outrosy semdo cas-o que não aj;i filho nem neto nem filha nem ne-
ta legítimos se por morte do posuydor do morgado ficar flilho natural:
a saber: de solteiro e solteira em tall caso o filho naturall soceda sen-
do filho do pesoydor barão porque sendo a pesoydora do morgado fê-
mea seu flilho ou flilha no caso que pode soceder nunqua socedeiá .>e-
uão flor filho legitimo e nalurall posto que se chame filho de príncipe
aeni de grande senhoi' ainda que seja con*leluydo em gramde deni-
dade.
ARCHIVO DOS AÇOPES 381
Oiitrosy quer que o dito iiiorgndo não soced.i nlm irillio aiognilt»
nem adotivo e semdo caso que a linha de seu neto mais vi^lho fillio do
dilo seu ffillio Manoell da Camará seja exlimta e acabada de sorte que
delia não aja decemdemle algum em tall caso sucederá o seu segimdo
filho e seus decemdemtes mais chegados como dilo he preleruido s( in-
pre os barões ás fenusas e os mais velhos os mais moços e mais che-
gados ou ílilhos dos mais velhos aos mais moços e qiiamdo da lifihn-
gem do seu segumdo filho não ouver herdeiro venha ao terceiro e da-
hy em deanle aos outros e não aveudo filho as filhas segundo liuha de-
crarado e semdo caso que não aja decemdemte algum seu em tall ca-
so o dito morgado virá ao paremle mais chegado do dito seu filho .Ma-
noell da Gamara da parte de seu pay.
Oulrosy lhe api'ouve que se o posuydor do dito morgado emtr.ir
em relegiam o l.dl moesteiro ou hordc-n» em que emtrar não posam a-
ver nem ter direito algum nos bens do dito morgado nem fruitos del-
le porque sua vomtade he ííazer este morgado pêra acrecenUament(j
de sua íTamilia e pêra criação dn seus decemdemtes e paremtese pê-
ra servirem a Deos como bõos casados e por esto não (^uer que ajam
os taes bens religiosos aos quaes convém pobreza, continência e cas-
tidade.
Outrosy semdo caso que ao tempo da soce^ão do dito morgado
não aja decemdemte seu leigo someute aja algum clérigo semdo om-
rrado e de bõos costumes e tall seu decemdemte em sua vida poderá
a ver as novidades e remdas do morgado e por sua morte fique ao pa-
remle mais chegado do dilo seu filho Manoell da Camará da parte de
seu pay e o nom posa aver por nenhum mod(» que seja filho do dito
clérigo posto que seja muito honirrado e virtuoso (píer que nom her-
de nem soceda o tall morgad(».
Outrosy quer (jue saimdose do reino o posuidor do morgado e não
servindo seu Rey e senhor, semdo culpado o tall posuydor em caso al-
gum o outro herdeiro mais chegado que estiver no Iteino herde e seja
metido de [)ose do morgado e porem sendo caso que se saia do heino
com justa causa pira salvai- sua vida e homra de seus iinigos não sem-
do ca^o cometido contra seu Key ou príncipe em tall caso poderá a-
ver as novidades e remdas do dito morgado ornde estiver.
Outrosy semdo caso que o socesoi do morgado for ausentado do
Reyno por culpa sua e tornar a ser resletuido por seu Rey e seidior
em tall caso tornará aver o morgado de (]ue íToy privado asy ele como
seus socesores e porem o (|ue íTor [tosuydor do morgado em tempo
que o dito ausente for cidpado ou excluso delle averá lodos os fruitos
e rendas do morgado até o lempo i|ue o verdadeiro socesor for res-
leliiydo e se tornar ao Reino.
Outrosy acomlecemdo que algiun seu decemdemte perca o mor-
gado poi' não comprir as comdições que em ele tem ordenadas ou ao
deamte ordenar e ao tall lenqio que o perder não liver ffilho barão e
382 ARCHIVO DOS AÇORES
lippois qne (Tor delle privado lhe nacer Rillio barão quer que se o qne
o t;ill morgado ouve por jdstiça não for seu decemdemte o aja o filho
que ao deanle nacer ao dito direito socesor que foy privado e porem
não averá as remdas delle senão depois que for de idade de dez anos
e até ao dito tempo as aja e pesua o que o ouve por requerer que se
fomprise o (pie ordeno.
Oiilrosy ordena e ipier qne este morgado valha pêra sempre e
seja firme no milhor modo via e maneira que posa ser porque dago
ra pêra sempre faz ao dito Manoell da Camará seu llilho e aos seus
socesores que em este morgado podem e devem soceder pura e irre
vogavel doação amtre vivos valedoura e lhe a{)raz e he comtemte de
nunca revogar nem mudar este morgado e doação amtes o aprova e
ha por bom e quer que valha sem embargo di) testamento que feito
linha o qual por este ha por quebrado e nlinm e de nenhum vigor e
posto que ontros faça ou tenlia tíeitos em que este quebre quer que
não sejão vahosos nem valham somente este o qnal se obrigua ter e
comprir como se em elle contem sem nunqna em nhum tempo por sy
nem por outrem poder ir contra ele em parte nem em todo e pede
l)or mercê a el Rey Noso Senhor que o confirme e supra todos e (jiiaes-
c|uer defeitos que nele r.ja e posam aver e derogue todas e quaesquer
leis direitos opiniões e determinações de doutores que em contrario
sejam e a este morgado e doaçam em todo dé sua Real authoridade
e mande que em todo se cumpra como se em elle contem e o dito
Manoell da Camará Capitão filho da dita Imstituidora que presente foy ^
por sy e em nome dos mais socesores aceitou este morgado e doação
em todo e per todo como se em elle conlen) e alem diso eu tabaliam
por mais abastamça como pesoa publica estipiilante e aceitante que
.sam {SOU) em nome dos ausentes aceiley este estromenlo do morgado e
doação quanto com direito poso pêra os sobreditos socesores e pesoas
nele contendas e em testenumbo de verdade mandou a dita sr.^ ser
Ifeilo este estromento nesta nota qne foy feito e ouhirgado dia mes e
era suso contendo do (piall deste theor lhe mandou pasar hunj e dons
e Ires trelados e os que lhe comprirem por averem de pasar o mar:
testemunhas (jue foram presentes o bacharell Joam Gonçalves morador
em a sua quintãa de Rosto de Cam termo d'esla villa e Lope Amies
cidadão de Vila Framca (lesta Ilha e morador na dita vila e Joam da
(Iram cavalleiro do ahito dAvis esprivão damte o dito senhor capitão
e Pêro Ribeiro seu creado da dita senhora capitoa e Bertoiameu Nu-
nez escndfuro do dito cipitão que Deos tem e eu Caspar de Freitas
(1) taballião do publico e jndiciall por el-Rey Noso Senhor em esta sua
ilha (Je Sam Migell (|ue este em minha noia tomey omde por a dita
(1) Fica corroborada a iiUerprela^íio i|ue il(i á assif^nalura do docunieiilo
inserto de pag. 34 a ;{6 do H." vol. {\'ej. not. ucstn ultima p/ig.) d>ste Aichivo.
(yota do Sr. J. I. de Brito ReheUo)
ARCHIVO DOS AÇOhES 383
senliura por sna propia mão fiqua asynado e pelo dito capitão e teste-
munhas e da dita nota este por minha propia mão tirey e com o pro-
pio corry e concertey e asyney de meu pnhhco e acusliunado syuall
que tall he:
Fedindome a dita dona Felipa Coutinha por mercê que lhe coii-
firmase a dita Instetuição de morgado e snprise qiiaesquer defeitos
que em ella ouvesse pêra sempre ser firme e valioso e visto por mim
seu retpierimento e asy a dita Imstetuição e sendo cei"teficado de lodo
o em ella conteúdo e por lhe fazer mercê tenho por bem e me praz
de confirmar como de feito confirmo a dita Imstetuição e morgado e
quero e me praz que seja sempre firme e valiosa e tenha efeito e vi-
gor e firmeza no milhor modo forma e maneira que posa ser o que a-
sy hei por bem e mando que se cumpra de meu motu propio certa
sciemcia poder reall e absoluto sem embargo de quaesquer leis e or-
denações costumes ou opiniões de doutores que em contrario disto a-
ja por quamto quero e me praz que em este caso não aja lugar nem
contra esta Instetuição se possa allegai' amtes a dita Instetuição de
morgado sempre tenha vigor em juizo e fora delle e sem embargo dn
ordenação do L.^á." til.° 49 que diz e manda que não valha gerall re-
nunciação das ordenações amtes se ffará expresa menção e especiall da
suslancia da ordenação derogada por que em e^te caso quero e me
praz que não tenha vigor nem efeito noteficoo asy e mando a todos
meus desembargadores, corregedores, ouvidores, juizes e justiças a
que esta minha carta de confirmação for mo.^trada e o conhecimento
delia pertemcer que em todo lha cunqiram guardem façam inteira-
mente cumprir e guardar sem duvida nem contradição algua que a iso
seja posta [)orque asy o ey por bem por esta que por firmeza dello
lhe mandey dar per mim a.synada e selada com o meu sello pemdem-
te. Domingos de Paiva a fez em Lisboa a xj [11) de fevereiro, ano do
nacymento de noso senhor Jhu x° [Jesus Christo) de J b e xxxix {lõ39)
anos.
{Arch. nac. da T. do T., Lh\ XXVÍ de D. João III, f. 85 r.«j
Morgado de llaooel da Camará: loS7.
Dom Joam etc. A quamtos esta minha carta virem faço saber que
por parte de Manoel da Camará capitão da Ilha de São Migel e de do-
na Joana de Mendonça sua molher me foy apresemtado huu estormen-
to de instituição do morgado de que o theor tall he :
Em nome da Santisyma Trindade padre filho spiritu sancto, tre^í
pesoas e huu soo Deos por que todas as cousas são regradas e orde-
384 ARCHIVO DOS AÇORES
nadas a buo (iin e sem sua ajuda riluia cousa pode ler perfeição com-
sideranido nós Manoel da CnHiara capitão da lllia de Sam Migel e do-
na Joana de Mendoça minha mulher como milhor pí)demos dispoer das
terças e fazemda que per noso lalecimentu (guando Deos for servido fi-
carem e como será serviço de Deos e liomra e pntveitu de nosos so-
cesores ord. namos faz-^r ambos juntanjente liuu morgado de Ioda a
fazenda (|ue em nosas terças ambas couber soomenlc reservamos de-
las pêra cada hnu de nós despoer e dar por sua alma Irezemtos mil
reaes (jue lie per ambos seis centos mill reaes e toda a outra fazenda
que mais em nosas terças couber e se achar ha ora de nosas mortes
ajuntamos e vinculamos pêra sempre em morgado em o qnall ujorga-
do insliluimos e doamos enire vivos e ordenamos no njilhtir modo e
forma e maneira (pie posa ser Huy Gonçalvez noso rilho legitimo ba-
rão primeirogenito e queremos e mandamos (|ue o dito Huy Gonçalvez
noso (iiho o aja e tenha logre e pesiia sem divisão nem p.irtilha e to-
dolos bens (pie no dito morgado andarem e forem metidos se não po-
derão vender do' nem dotar nem apíMihar nem afurar nem obrigar
nem permndar nem escaimbar nem emlhear por nliua cousa que seja
nem pêra obra piadosa nem per outra rezão tjuahpier que seja amtes
senijire o dito noso filho e loiJos seus soces(jres o acrecentarão e o
aumentarão e melhorarão amdanjdo sem[)re junt » em hun soo como
dito he e pêra o dito morgado ser maior e o dito noso filho socesor
dele melhor poder ter com <pie sirva seu Rey e senhor e pêra milhor
em()arar seus paremles quer-emos que ele haja o dito morgado com^
lall condição ijue se metta em elle toda a legitima e fazenda que por
nosas mortes herdar de nos por que cum esta conuliçãu lhe deixamos
e ordenamos o dilu morgadu pêra o tpie haveremos consentimento dei
Uey iSoso Senhor u que se elle asy nom comprii' nom averá o dito
morgado amtes o avcra u noso filho segundo barão que comprir a di-
la comdição ou outro qualquer socesor legitiuíu (pie vit r per bem des-
ta Instetnição.
Õiilro.>y ordenamos o dito morgado com t;d comdiçã(t que o (UU)
no.-o (filho ou outro qualquer socesor delle per sua morte meta noilito
moigadoamelade da teiç;i de seus bens e tãoto que soceder o dito mor-
gado se obrigii'' logo a comprir esta condição a (piai condição pudera
leipierei que se cumpra o parente mais chegadií do dito socesor a qual
olniguação se a.Neuitaiá e escrevera nos livros (jiie (udeiiamos (pie se
faça pêra tombo deste morgado e queremos que na socesão d(t dito
morgaiJo se tenha a maneira seguinte: sendo caso (pie nosas terças
lhe íi(|iiem em bens de raiz e asy a sua legitima que o <iito noso fii
lho de nós ouver ()s taes Itens que asy lhe licarein e sitceder ficarem
sujeitos e metidos no dito morgadu e pn;i isto se faiãu d(»us livros de
|iergaumiho euiadernados «'in laboas de |)au cobertas t'om coiro em
cada hum dos ditos livros se trelad-oa esta Instetnição e se escreve-
rão (leeraradamente l(idolus bens ipie .m dito morgado [lerlencerem
ARCHIVO DOS AÇORES 385
declarando os bens que sani omde com quem confront;im de lodalas
partes e de quamlas varas sam de sorte que se nom posam perder
nem sonegar por faita e mingoa de decraração os qnaes livros estaram
hum delles no cartório da see de Lisboa e o outro terá o herdeiro do
dito morgado e semdo caso que nas ditas terças ou h'gitimas e meta-
de da terça que ne^te morgado se hão de meter caybão alguas casas
que não estem em Lisbna uu em Kvora ou em Santarém as ditas ca-
sas se venderão e o dinheiro delias seja empregado em bens de raiz
moyos e rendas segundo íTorma da ordenação deste morgado e semdo
caso (jue suas terças tiquem em dinheiro e asy as legitimas que per-
tencerem ao dito noso Hilho ou socesor em tall cas(j os bens moveis
se venderão todos sem IFicar delles cousa algua e o tall dinheiro todo
que se delles ou ver e o que mais de nosas terças e suas legitimas fi-
car todo se empregará em bens de raiz; a saber: moyos erdades ou
juros ou foros que não sejão obrigados á coroa nem sejão de Igreja
e sejão livres e isemtos que não paguem fon) nem cemso a outra
pesoa algua os quaes se comprarão no arcebispado de Lisboa e nom
se achando no dito arcebispado todo ou parte se comprará no arcebis-
pado de Évora omde milhor se acharem e todolos ditos bens quamdo
se comprarem seja logo decrarado que se compram pêra o dito mor-
gado e o tall dinheiro de nosas terças e de suas legititnas semdo ca-
so que este na Ilha de São Migell ou em quaesquer outras Ilhas se pe-
sará por letra de pesoas seguras a estes Reinos e nom se achando le-
tras se segurará por mercadores abonados e por pesoas abonadas se-
gundo costume de mercadores e tãolo que em estes Reinos ff(jr o tall
dinheiro se emlregne em deposyto em poder de dons parentes nosos
abonados e pesoas de quem bem se posa confiar até se comprarem os
ditos bens aos quaes nosos parentes deposytarios pedimos e roganjos
que com o socesor deste morgado se for em idade e se o nom for com
o seu titor e com o Juiz dos órfãos de Lisboa entregue o tall dinheiro
e compre os ditos bens segundo dito he.
Item queremos que o dito noso fíilho e qualquer outro socesor do
dito morgado se chame do apellido da Camará primeiro que outro nhum
apellido e bem asy queremos que traga sempre as armas dos da Ca-
mará e posto que per geração e nierecimentos o socesor do dito mor-
gado aja outras armas mais nobres queremos que traga sempre as di-
las nosas armas e dos da Camaia no quarteirom do escudo a mão di
reita em cima e queremos e ordenamos que o dito noso IFiIho e qual-
quer outro socesor do dito morgado seja teudo em cada hu anuo man-
dar dizer por nosas almas três missas rezadas e posto que as não mau
de dizer nom emcorra por ello em pena algua por que nos não obri-
gamos os bens do dito morgado a este encarego e esto queremos que
faça o dito noso erdeiro quando milhor poder e lhe milhor e mais con-
N.'^ 47 — Vol. VIII — 1886. 2
386 ARCHIVO DOS AÇORES
veniente tempo parecer (1) por que nos ordenamos este morgado pê-
ra conservação de nosa ffamilia qneremos e ordenamos que em quanto
ouver noso decendente barão nuiiqna erde fêmea e por este qneremos
qne o dito morgado aja o nosso líillio mais velho barão posto que aja
filha mais velha sempre o filho se perfirirá e sempre amde nos decen-
dentes barões por linha mascolina que sejão legítimos e naturaes por
que nosa vontade he que este morgado nom herdem filhos adolivos
nem outros alguns nacidos de danado couto posto que sejam legitima-
dos pelo papa ou Rey noso senhor ou outras quaesquer pesoas que
poder tenham pêra iso e sendo caso que ao tempo de nosas mortes
nom aja filho barão senão filha em tall caso se ouver neto barão filho
de noso (filho já defimlo em tall caso o neto herdará o dito morgado e
não nossa filha que for viva ao tempo de nos;is mortes posto que se-
ja mais velha e mais chegada.
Outrosy avemdo ffilha ao tempo de nosa morte e avendo neto fíi-
Iho de outra (filha maior em tall caso o neto barão e íTiiho de nosa fi-
lha maior erdara o dito morgado e não averá a nosa (filha segunda e
semdo caso que ao tempo de nosos f.decimentos aja neto de Afilho de
noso (filho mais velho que seja defunto em nosa vida e ouver outro (íi-
!ho vivo queremos que sendo caso que o noso (Tjlho vivo erdar a capi-
tania da Ilha de São Migell (2) elle aja também o dito morgado e não
o neto e no caso em que lemos dito que posa erdar o noso neto filho
filho da nosa filha, posio que tenha outro apelido se chamará sempre
do dito apelido da Camará e trazerá nosas armas segundo temos de-
clarado e não o comprindo perderá o morguado e o perderá pêra o er-
deiro mais cheguado.
Outrosy não avendo (filho legitimo natural nem decendente noso
per linha mascolina nem neto segundo temos declarado erdarà a nosa
filha maior legitima não sendo freira profesa ou religiosa ou não ten-
do feito vuto de castidade pêra não poder casar e por sua morte da
dita nosa filha que casada for erdará seu fiilho barão legitimo e dhy
por deamte amdará sempre em barão legitimo em tall maneira que
em quanto ouver filho barão decendente da dita nosa filha não erde
fêmea posto que mais velha seja.
Outrosy ordenamos quo o dito morgado não erde clérigo nem fra-
de nem liomen] de ordem que não posa casar.
Outrosy he nosa vontade e nos praz que posto que nos naçam
(1) Parece haver aqui uma lacuna; talvez falte ou Item, ou Outrosym, pelo
menos.
(2) E' singular que sendo o morgaHo instiluido para ser possuído pelos aue
lierdarem a capitania de S. Miguel, se mande sejam vendidos os bens que lhe
possHni cíiher na ilha, e passado o seu valor o reino, onde elle deverá ser orde-
nado.
(Notas (lo Sr. J. l. de Brito Rebello)
ARCHIVO DOS AÇORES 387
muilus fTilhos esle morgado per;) st mpre se cumpra e aja inteiro ef-
leilo.
Oiilrosy nus praz e queremos gue sendo caso, o que Deos não
mande, que o posuidor do dito morgado cometta algum caso ou casos
per que deva pord/r a vida e fazenda asy per sentença como tanto
que o tail delito cometer logo perca o dito morgado pêra outro paren-
te mais clieguado iioso decemdeute e não posa sobcedei' iieui pesoyr
o dito morgado pesoa incapaz da tall socesão.
Outrosy queremos (pie saimdose do Reyno o posuydor do dito
morgado e não sendo no serviço de seu Rey e senhor em tall caso lo-
go outio erdeiro mais clieguado que eslever no Heyno seja metido de
pose do dito morgado e sendo caso que se saia do Reyno não temdo
caso cometido contra seu Rey e príncipe somente por salvar sua vida
e liomra de seus imigos em tall caso poderá aver as remdas e novida-
des do dito morgado omde estiver.
Outrosy sendo caso que o socesor do morgado f(jr ausemte do
Reino por culpa sua e tornar a ser restetuido por seu Rey e senhor
em tal caso tornará aver o morgado sem embargo de aquy o privar-
mos delle e averá o dito morgado asy elle como seus socesores e po-
rem o posuydor do dito morgado em o tempo que o dito ausemte e
culpado foy fora da pose delle e privado averá todas as rendas e no-
vidades até o tempo que o verdadeiro socesor for restetuido e se tor-
nar ao Reino sem lhe dar comta algua.
Outrosy nos praz que semdo caso que o socesor que o dito mor-
gado ouver de soceiier seja mudo ou fuiioso ou miMitecaplo ou ávido
por inabel e não tiver syso e pesoa (i) pêra reger tall morguado em
tall caso o averá e socederá o outro parente mais cheguado o quall so-
cesor terá em seu poder e governança o tal paremte mabel e o pnjve-
rá muito homradamente segundo calidade de sua pesoa o que se eut-
lemderá quando a tall inabely (2) for por natureza por que sendo por
doença ou cajam que lhe sobreveuha nam será piivado do dito mor
gado em quamto viver amtes elle e ^eus socesores o terão e averão e
posuyrão segundo a forma deste morgado.
Outrosy sendo caso (pie ao tempo da socesão do dito moi'gado
aja dons p^iremtes em iguall grão sempre socederá o filho do parente
mais cheguado posto que o tall filho seja menor em idade e o filho do
parente mais moço seja maior em idade porque níjsa temçam he que o
filho do (laremte mais velho este he o mais chegiiado e o que dele so
ceder.
Outrosy declaramos que em (juamto ouver decemdemte noso le-
gitimo e naiurall nunqua soceda parente tian.-versal.
(1) Estas piilavras eslão de mais no registo.
(2) Devia dizer — inhabiltdafJe—mdà faliam as duas uitinias syllabas.
(Notas do Sr. J. I. de Brito RebeUo)-
388 ARCHIVO DOS AÇORES
Outrosy sendo caso que não aja filho nem nelo nem filha nem
nela legítimos por morte do posuydor úo morgado e ficar filho natu-
rall nacido de solteiro e solteira em tall caso o tall filho naturall sen-
do barão filho de posuydor barão do morgado avera o dito morgiiado
e por sua morte seus decemdentes barões segundo temos declarado
e semdo o tall filho naturall filho de algua nosa decemdemte fêmea
nunqua poderá soceder o dito morguado posto que se chame filho de
príncipe ou de qualquer outro grande senhor e aynda que seja coste-
tuydo em grande denidade.
Outrosy queremos que sendo caso que a linha do noso filho mais
velho seja extincta e acabada de sorte que delle não aja decendente
algum em t.ill caso socedera o noso segundo filho e seus decemdem-
tes mais chegnados perferimdo sempre os barões às ffemeas e os pri-
meiros em grão e mais cheguados e seus Ifilhos dos mais chegados
aos outros paremtes mais moços e mais separados e preferimdo sem-
pre os legítimos e naturaes aos naturaes tão somente e semdo caso
que não aja decemdemtes algus nosos barões nem fêmeas em tal caso
o morgado virá ao paremte mais chegado de mim Manoell da Camará
da parte de meu pay e quando não ouver parente algum da parte de
meu pay virá ao paremte mais chegado da dita dona Joana minha mo-
Iher da parte de seu pay e asy hus como outros seus paremtes e meus
que o dito morgado socederem se chamarão da Gamara e trazerão
minhas armas com as comdições atras declaradas.
Outrosy queremos e nos praz que se o posuydor do dito morgado
entrar em religião amtes de ser casado ou depois o tall mosteiro casa
ou ordem em que entrar não posam aver nem ter direito algum no
dito morgado nem frutos delle porque nosa vontade he fazer este mor-
gado pêra acrecemtamento de nosa família e pêra emparo e homra de
nosos decemdemtes e paremtes e pêra servirem a Deos como bons ca-
sados e por esto não queremos que ajão os taes bens os religiosos
nem elles tenhão parte algua por quanto a elles convém pobreza e
nom posysões nem patrymonios.
Outrosy semdo caso que ao tempo da socesam do dito morguado
não aja decemdemte noso leiguo e aja algimi clérigo noso decenulem-
te legitimo naturall ao quall per linha direita o dito morguado pertem-
ça este tall em sua vida poderá aver as novidades e remdas do dito
morgado e por sua morte fique ao noso parente mais chegado e não
o posa aver per nhum modo que seja filho do dito clérigo nem poi-
legitimação nem abílítação, nem por outra algua provisão que seja.
Outrosy sendo caso que o posuydor do morgado tenha filho ou
irmão cativo em poder de ymfieis(lj em tall caso poderá aremdar o
(1) Mal imaginava Manoel da Camaia que anles de cinco annos completos
sei-ia elle cjueni ficaria captivu (Vei- vol. IV. de paj;. l.iõ eni deanie deste Arihi-
vo.) (Nota do Sr. J. I. de Brito Rebello).
ARGHIVO DOS AÇORES 389
morgado daiile mão por ciinqiio annos pêra resguale do lall cativo e
uão se poderá aremdar pêra outra cousa algua senão pêra esta e o
socesor que soceder o dito morguado durante o tall arendamenlo será
obrigado a comprir e pagar e dar as ditas rendas ou o que delias fa-
lecer pêra o tall resguate o que se emtemderá quando o tall cativn
não tiver outra fazenda com que se posa reunir.
Outrosy os bens que se ouverem de comprar pêra este morgado
se não comprem ao socesor que o posa ou aja de soceder.
Outrosy acomtecemdo que algum noso decemdemte perca o dito
morgado por não comprir as condições que em elle ordenamos e ao
lall tempo que o perder não tiver filho barão e depois que for dele
privado lhe nacer filho barão queremos que se o que o dito morgado
ouve por justiça não for noso decemdemte e o que foy privado o era
e lhe depois nacer filho o tal filho que ao deante nacer ao dit(i direito
socesor noso decemdemte torne a aver o dito morgado e porem não a-
verão as rendas delle senão depois que for de idade de dez annos e
até o dito tempo as aja a pesoa que o dito morgado ouve por reque-
rer que se comprise o que aquy ordenamos.
Outrosy ordenamos que sendo caso que qualquer de nós que fa-
lecer primeiro não deixar filho barão o que vivo ficar depois ouver fi-
lho barão legitimo naturall em tal caso se do que de nós primeiro fa-
lecer ficar Ifilha não avemdo ílilho a tal ffilha a verá a terça do que de
nós asy falecer por via de morguado segumdo em este temos declara-
do e ao deamte decraramos e o filho barão legitimo que ouver o que
vivo flicar averá a terça de seu pay ou mãy na forma e modo do dito
morgado e sendo caso que o que de nós vivo ficar não aja fiilho barão
algum de outra molher ou doutro marido em tal caso a nosa ííilha den-
tre ambos averá ambas nosas terças na ÍTorma deste morgado amdau-
do sempre jumtas sem se poderem partir nem dividii' nem separar se-
gundo já temos declarado.
Outrosy declaramos que em quanto o que de nós ficar vivo não
casar aja e pesua e logre as rendas de todo ho morgado até o noso
ffilho dautre ambos ser de idade de xxij (22) annos porque dhy em
deamte casamdo com consentimento de seu pay ou mãy averá o mor-
gado tanto que asy casar semdo da dita idade.
Outrosy mandamos e queremos que este morgado valha pêra sem-
pre e seja firme no milhor modo vya e maneira que posa ser por que
dagora pêra sempre o fazemos ao dito noso filho e a seus decemdem-
tes segundo temos decrarado neste m «riiadoe aos outros que podem
e devem por virtude delle soceder pura e irevogavel doação intervi-
vos valedoura e nos constetuimos posuidores em seus nomes e pydy-
mos poi' mercê a et Rey noso senhor a^y o confirme e supra todos e
quaesquer defeitos que em ele aja e derogue a ley quoniam in priori-
bus, códice df noficioso le^iamenfo (sic) que diz que se não posa poer
encareguo nem condição na legitima do ffilho por seu pay ou mãy e
390 AKCHIVO DOS AÇOhES
asy pediníos a ssua alteza derogiie a ley si unqiiam códice de recocan-
dis donationibus; que diz que sen.lo feyla doação pelo pay oii mãy a
algnu llillio fique revoguada tanto que lhe oulnj filho iiacei' e asy pe-
dimos a sua alleza derogue quaesquer leis e ordenações que sejam em
contrario deste morguado e supra todo e qualquer defeito que em ele
aja com todalas clausolas que pêra firmeza dello sejam necesarias por-
que nosa vomlade he ordenarmos esto pêra seu serviço e nesto nos
fará mercê em testemunho de verdade outorgamos e mandamos ser
feita esta presente instetuição que foy feita e outorgada em a cidade
d Évora nas casas em que pousam os ditos senhores iustetuidores eni
os xxij (22) dias do mes de julho do anno do nacimento de noso Se-
nhor e Salvador Jhuu x.^ (Jesus Chrislo) de mill e quynheutos trinta e
seis ânuos.
Prometendo elles senhores Manoel da Camará e dona Joana liis-
teluimtes a mim taballião como a pesoa publica por solene estipulação
em vez e mjme do dito seu filho e dos mais socesores e pesoa a que
convém e pode convir asy o manter e comprir estando a isto os ditos
Manoel da Camará e dona Joana sãos e ff.)ra de todo acidente de doen-
ça e em todo seu entender; testemunhas que foram presemtes Manoell
de Vlello Coutinho e Joam (Carrasco bacharel! da See desta cidade e
Jjucas de Sequeira moço da Camará dt^l Hey noso senhor e Symão Al-
varez, monteiro de cavalo do dito senhor e Manoell de Mello filho de
Jorge de Mello e Álvaro Pimto cavaleiro morador em Lisboa e eu Dio-
go Gonçalvez publico tabellião dei Key noso seidior na dita cidade que ^
este estromento en» minha nota tomey e com licemça que do dito se-
nhor lenho a meu esprivão o fiz treladar e concerley e sobes[)revy e
o asyney de meu publico sygnal (|ue tall he.
Fedindome os ditos Manoell da Camará e dona Joana de Mendoça
sua molher por mercê que lhe coiiflrmase a dita Instetuição segundo
em ella he conteúdo e suprise quaesqut^r defeitos que em ella uuvese
pêra sempre ser ffirme e eu por lhes fazer meicè ey por bem de con-
firmar como de feito confirmo a dita Instetuição e morgado e (juero que
se cumpra e guarde e valha e seja Ifiruie pêra sempre como se em e-
la conteui porque en vy a dita Instetuição toda e me praz que seja fir-
me e valiosa pêra sempre o que asy ey por bem de meu [)ropio motu
certa sciemcia poder real e absoluto quero e me praz que todos os so-
ces(Hes do dito morgado asy o cumprão e guardem em ttido como per
os ditos lustetuidortís he ordenado sem eudjarguo de quaesquer íeis
e ordenações e opiniões de donlores (jue em contrario da dita Inste-
tuição a(|uy declarada aja ou posa ao deamte aver por que todas ey
por derognadas e cassadas e quero que não se cumprão em este caso
sem embargo da hordenação do Livro "i." titulo 49 a (|ual diz que não
valha deidguaçãt) dordenação ou ley se não fizei' expecificada menção
da sustancia da lall ordenação ou ley por ([iie em este caso (|uero que
não aja lugar e se cumpra eui todo a dita liisleluição Ciimo se em el-
ARCHIVO DOS AÇORES 391
la contem e por firmeza dello lhe mandey dar esta carta per mym a-
synada e selada do meu sello de chumbo. Dada em a minha cidade
dEvora aos dezaseis dias do mez de dezembro, Diogo Lopez a fez, an-
no do naciuíenlo de noso senhor Jhu x*' {Jesus Chnslo)ôeY ^ e xxxbj
{1536} annus.
K asy me foy mais apresemtado por parte do dito Manoell da Ca-
mará e dona Joana de Mendoça sua molher hum estormento de decla-
ração e adição de que o teor de verbo (a verbo) he o seguinte:
Saibham os que este estormento de declaração e adição virem que
no ano do nacimento de noso senhor Jhu x" {Jesus Christo) de J b e
xxxbij {1587) em o primeiro dia do mes de março na cidade dEvora
nas casas em que pousa Manoell da Camará Capitão da Ilha de Sam
Migell estando elle hy presente e asy dona Joana de Mendoça sua mo-
lher e loguo per ambos ffoy dito que elles tinhão e defe-ito tem orde-
nado morguado de suas terças e legitima do seu tíilho mayor pêra o
dito seu tlilho e seus decemdemtes segundo milhor per ele consta fei-
to per mim taballião aos xxij (22) dias do mes de julho do anno pasa-
do de f b e xxxbij {lò37) (I) ao qual este estormento se ajuntará e
porque eles desejão dar maneira como suas filhas ou outras quaesquer
molheres que o dito morgado ouverem derdar sejam obedientes a seus
pães e casem homradamente segundo calidade de suas pesoas ordena-
ram e mandaram que qualquer molher que o dito morgado ouver der-
dar temdo pay vivo e casamdo sem vomtade e licemça do dito seu pay
posto que case com homem tão bom e milhor que ela temdo o dito seu
pay outra filha em tall caso a poderá deserdar e privar do dito mor-
guado e o poderá dar ha segunda filha que tiver e se não tiver ífilha
e não tiver neta o poderá dar a dita neta e poderá privar e deserdar
ha tal filha desobediente que sem sua licemça casar e sendo caso que
não tenha outro filha nem neta em tall caso lamto que da dita filha ou-
ver filho baram legitimo loguo o tal filho da dita filha desobediemle se-
rá o sobcesor do dito morguado e não o será sua mãy e nom tem-
do filho barão e tendo filha femia averá em tall caso a dita ssua filha
o dito morgado como se casara com vomtade do dito seu pay e sem-
do caso que a fêmea que o dito morguado ouver de soceder não tiver
pay e avoo pay do pay de seu pay em tall caso nom casará sem vom-
tade de sua mãy e de seu avoo e casando cofitra vontade da dita sua
mãy e avoo em tal caso a dita sua mãy e avoo poderá dar o dito mor-
gado a outra sua filha se a hy ouver que posa casar ou a neta filha
doutra filha.
E porem sendo caso que ha dita fêmea que o dito morgado so-
ceder amde no paço e casar com licemça e mandado do Rey e Rainha
com pesoa idonia e conveniente a ella nom tendo pay em tal caso nom
(1) Alia/. 1536, corno 5p vê acima: foi erro do oflicial do registo.
{Notn do Sr. J. I. de Brito Rehello).
392 ARCHrvo dos açores
será privada a tal molher que o morgado soceder do dito morgado am-
les socederá e averà e declararam que nom he sua vomtade de alterar
nem eimovar cousa alguma na Instetuição que linhão feita amtes sem-
pre se comprirá segundo em ela se contem em todo e per todo e que
pedião por mercê a el Rey noso senhor asy o confirmar e supra qual-
quer defeito que em ele aja e em testimunho delo outorgaram este es-
tormento; testemunhas que presentes foram Gaspar Fernandez e Pêro
de Paiva e António de Novaes e Pêro de Proemça criados do dito Ma-
noell da Camará e Gaspar Afomso e Francisco Ribeiro seus criados e
eu Diogo Gonçalvez publico taballiara dei Hey noso senhor na dita ci-
dade que este estormento sprevy e em ele meu publico synall fiz que
tall he.
Pedindome o dito Manoell da Gamara e dona Joana de Mendoça
sua molher que ouvese por bem lhe confirmar outrosy o dito estor-
mento e visto per mim seu requerimento querendolhes fazer graça e
mercê tenho por bem e lho confirmo e ey por confirmado asy e da ma-
neira que nelle he conteúdo e mando que asy se cumpra e guarde sem
duvida nem embargo algum que a elo^seja posto e asyney esta carta
aos biij (8) dias do mes de maio de f b e xxxbij {lõ37) annos.
{Arch. nac. da T. do T., Liv. XXVÍ de D. João III, f. 98.)
COLLECÇAO DE DOCUMENTOS
RELATIVOS
ÁS ILHAS DOS AÇORES
{Continuado de pag. 189, Vot. VIU)
Carta regia de 26 de fevereiro de 1486: mercê de escu-
deiro aposentado a João Affonso, da ilha de S. Miguel.
Dom .loam ele. A qnanlO(> esla nosa caria virem fazemos saber
<|rie querendo nos fazer graça e mercee a Jbam Afonso morador na
ylha (Je Sam .\ligne!l temos por bem e tomamollo por nosso escudeiro
apoiísenlado e em nossa especiall guarda e encomenda e porem roga-
mos e emcomendamos a lodollos fidalgos e cavaleiros de u(»ssos reynos
e senhorios e mandamos a lodolos nossos coiregedores, ajcaydes, mey-
rinlios e a outras quaes(]iier justiças e ofeciaes a (^ne esta nossa car-
ta for mostrada e aos juizes e oficiaes e moradores na dita ilha que
o ajam assy por nosso escudeiro aposent^ulo e o ajajn em espicial guar-
da defemsan) e emcomenda e lhe cumpram e guardem miiy emleyra-
M)ente e façam comprir e guardar todíillas homras. privylegios, libei-
dades, graças e mercês que am e de direito devem daver os semelhan-
tes nossos escudeiros aposentados avendo por certo que aquelle que
asy ftezerem como de todos confiamos que por nosso respeyto faram
que lho aguardecei"emos em serviço em caso que alguns ho contray-
ro tpieyram fazer mandamos a vós ditas Justiças ipie lho nam comsin-
laes e lho façaees lodo correguer como for direito. Dada em Santarém
a wbj {26) de ffevereiro. Joam de Kerreyra a fez. aniio de nosso se-
nhor de mill e iiij' Ixxxbj (1486) annos.
íArch. vac. da T. do T., Lir. I d- I). .hãn II, /. .?.9 v.\)
N.'^ 47— Vol. Vm— 188().
39 i ARcmvo DOS açores
í
Carta regia de 28 de fevereiro de 1486: perdão a Diogo
Flamengo, da ilha Terceira.
Dom Joam ele. A todollos Juizes e Justiças destes nossos regnos
a que est;i iiosa carta fur mustrada, saúde, sabeede que Dioguo Fra-
mengno murador na Ilha Tenreira nos eniviou dizer que linii Goinçallo
Magro forçara na dita }lha hnma Viollanle Alvarez por a qnall cousa
Hlle fora proso e per força cointra sua vomtade fora emlregue a elle
dito Dioguo Frampngu(» que o guardase e tivese preso e tenidoo elle
asy elle Goniçallo Vbgro tora Jidlguado que o emforcasem semdo elle
asy jullguado por hy nom aver cadeea nem prysom com que o elle
prendese a ele Gomçallu Magro elle lhe fogira por asy nam teer con»
que o premdese por a quall rezam se elle amorara e andava amorado
com themor das nossas justiças e qut; por quanito a dita Violante All-
varez querellosa perdoara e nom queria nem quisera acusar nem de-
mandar por rezam da fogida do dito preso que elle a.<y fogira, segum-
do mais compridamente veer poderiamos per huu publico estormento
o quall perante nós foi apresemtado e parecia seer fecto e asinado per
Joam Rruiz taballiam por nós em a nosa cidade de Lisbooa ao dera-
deiro dia do mes de dezembro da era presemte desta carta em o quall
se comtinha amtre as oulras cousas que per a dita viollante alvarez
querellosa fora dito que ella perdoava ao dito sopricamte todo mal e
sem rrezam quf lhe fora fecto per o dito Gomçallo Magro e asy por
elle sopricamte em lhe fugir e o nom queria por ello acusar m^m de-
mandar segumdo que todo esto e outras muitas (cousas?) milhor e
mais compridamente se em o dito estormento comlynha E mandonoi>
{aliás, mandaiidonosj elle sopricamte pedir por mercee que lhe per-
doasemos a nosa justiça se nos a ella por rezam da fugida do dilo pre-
so que lhe asy fugira em alguma guisa era theudo e nós vemdo o que
nos elle asy dizer e pedir enviou se asy he como elle diz e hi mais
nam ha, visto o perdão da parte querellosa a que pertemcia a acusa-
ção do preso que ao sopricamte fugira e queremdolhe fazer graça e
mercê: Teemos por betii e perdoamoslhe a nossa justiça a que nos el-
íe por rrezão do dito pre>o era theudo com tamto (jne elle paguase
mill e quinhemtos reaes pêra a arca da piadade e p(»r quamio elle lo-
guo paguow os ditos dinheiros a frey Joam de Santarém noso esmoller
segumdo dello fomos certo per seu a.-^inado e per outro de Joham Ba-
nha escripvam em a nosa corte que os sobre elle pos em recepta A."
em forma. Dada em a nosa villa de Santarém a xxbiij (28) dias do mes
de fevereiro. El Rey ho mandou pellos doutores Rui Boto e Dioguo Pi-
nheiro, Dioguo de Pon4e a fez anno do nascimento de noso senhor
Jl:uu Npõ {Jesus Christo) de mill e iiij'" Lxxxbj [1486 >.
{Arch. nac. da T. do T., Lir. 1 de D. João II. foi. v; r.")
ARCHIVO bOS AÇOBES 395
Carta regia de 27 de julho de 1486 : mercê de escudeiro
aposentado a Diogo Preto.
Uum Joliain A-.'* A qnitiiitos esta nossii carta viíeii) fazemos saber
(jue (jiiereiídu nós fa/er graça e mercê a Dingu Prelo, (1) escudeiro, mo-
rador ua illia de Sam Migiiell a nos praz de o filharmos ora por noso
escudeiro apousemlado pêra nós delle servirmos quando nosa mercê
for e o avemos em nosa garda e encomenda como cousa nosa que lie
e porem mandamos e encomendamos, aos Juizes e ofeciaes da dita ilha
e asy a todalas justiças de nossos rregnos e senhorios e a qnaesipier
outros ofeciaes e pesoas a (]ue perteencer e esta nosa carta for' mos
Irada que ajam o dito Diogo Pr'eto por rroso escudeira) e coiuo C(íusa
nosa trautem. onriem, favoreçom em todo o que com r/ezom e justi-
ça rrequerer por (|ue assy avemos por bem e noso serviço e por' cer-
tidom dello lhe mandamos dar esta rrosa carta per nos asyn;ida per a
qual llie avemos por dados e outorgados todollos previlegios, íramque-
zas, libei-dades que fiam e sempr'C ouverom os escudeiros nosos ciea-
dos e melhor se os elle coni direito melhor poder avt-r por que assy
nos praz e avemos por bem. Dada em Lisboa .\xbij (líZUJe julho. Phu-
laliom Giz. a fez anuo de ixxxbj (M86).
[Arch. Jiac. da T. do 7\, Liv. IV de D. João 11, /. 102 v.".)
Carta regia de 7 de junho de 1492, a favor de Catharina
Gonçalves, da ilha Terceira.
Dom Joham etc. Saúde, sabede que Caterina (jonçallvez molher
solteira, morador na ylha Terceir^a nos emvyou dizer qire ella esteve-
i'a p(»r manceba theinia e manlheuda de huu Huy Diaz Avarigelho, mo-
rador na dita ylha, asy em semdo viva Isabell Lopez, molher do dito
Rrry Diaz, como despois de se finar, com o quall Ruy Diaz dia ssopri-
camte ouvera afeição carnallmente e recebera delle bem fazer e qrre
ora comsyr'amdo ella com«i eslava com elle em pecado mortall se apar-
tara delle e de sua comversação e queria viver bem e onestamenteá.*
nn forma. Dada em a nosa cidade de Lisb(»a aos bij i7) dras do mes
de junho. Eli Rey o mandou pellos doutores Fernam Uoiz, dayão de
(loimbra e Ruy Boto, ambos do seu consellio e desembar'gadores do
paaço, Ruy Fer*nandez'(a fez) anuo do nascimento de noso senhor Jhri
xpÕ {Jesus Chrislo) de mill iiij*^ [.rij (1492).
{Arch. nac da T.' do T., Liv. V de I). .João 11, /. 98.)
(1) Ainda subsisto com o iio:ne de Díoíío Preto uma j^rota junta á la^oa das
Furnas.
396 ARCHIVO DOS AÇORES
Carta regia de 7 de junho de 1492, a favor de Ruy Dias
Evangelho, da ilha Terceira.
Dora Juliam ele. Saúde, sabecJe ijiit' hiiy Diaz Avarngelho, mora-
dor na yllia Terceira nos emviou dizer que semdo elle casado em es-
tes nossos legnnos com liua Isabel Lopez se partira destes regnnos e
fora a yllia da Madeira ( 1) umde estivera dez ou duze annos em a qual
ylha elle sopricante tevera por manceba tlieuda e manlheuda huma Ca-
lerina Gonçallvez molher solteira com a qual! ouvera afeiçam carnall
asy em snmdo a dita Isabel Lopez viva como de^pois de ser finada e
que comsyramdo como eslava CiJin a dita Calerina Gonçallvez em pe-
cado morlall se apartara delia e da sua conversação e queria viver
bem e onestauíenle etc. carta em forma. Dada em a nosa cidade de
Lisboa aos bij (7) dias do mes de junho. Eli Rey o mandou pellos dou-
tores Fernam Roiz dayam de (Coimbra e Ruy Boto ambos do seu Com-
selho e desembargadores do paaço. Ruy P>rnamdez a fez, anno do
nascimento de noso senhor .Ihu x° {Jeòim Christo) de mill iiij'' Lrij [1492).
{Arch. nav. i1a T. do T., Liv. V de D. João 11. f. 98.)
Carta regia de 8 de junho de 1492, nomeando mempostei-
ro mór dos captivos nos Açores a Fernão dEvora.
Dom Joam etc. A todollos Juizes e Justiças da IHia de Sam Mi-
guell e asy de todallas outras Ilhas dos açores saúde; sabeede que
comfiamdo nós em a bomdade e boa fama e descryçam de Fernam
dEvora, escudeiro morador na Ilha do Fayall que o fará bem e como
compre a serviço de Deos e nosso queremdolhe fazer graça e meicee
temos por bem e damoslhe o oficio de memposleiro mor das ditas
Ilhas asy como ho eia Ambiosio Alvarez e por quamto ha tempo que
nam parece e he ausentado das ditas Ilhas porem mamdamos a todol-
los juizes e justiças das ditas Ilhas que daquy em deante ajam o dito
Fernam d'Evora por memposteiro moor e outio nenhuu) nom e lhe
mandeem acudir com titdollos os direitos e causas que á dita rendição
pertemcee e por esta nosa carta mandamos a todollos memposteiros
pequenos que llie acudam com todallas cousas que teveiem recebydas
(i) Ou é fufiaiio dizer que foi para a Ilha da Madeira, ou então ha uma la-
cuna da vhida da Madeira para a Terceira, onde se vê que ambos são morado-
res. E' mais natural a primeira liypotliese, visto na rarta de Calliaiina Gon(,'alve.s
não fazer allusão <1 sua estada na Madeira. .lá por mais de utna vez se tem visto
que os escrivães não estavam muito certos na posi(;âo, divisões das ilhas, nem
iKis seus Momi'S.
(Noia do Sr. J. I. de Brito Rebello).
ARCHIVO DOS AÇORES 397
e dafjiiy om diamte receberem segundo a forma do nosso regimento
(]iie pêra iso lleva e huns e outros ali nom faç^ides. Dada em a villa
d'Alemí|ner aos biij {8} dias do mes de jiinho. Ell-Rey o mamdon por
Rny Gomes d" Azevedo fidallgno da casa do dito snnor e proveador
moor da dita rremdição. Martim dOrta escripvão dos contos a fez, an-
no do nascymenlo de nosso sennor Jhnn xpo (Jesus Christo) de mill
iili*^ Lrij (1492) annos.
[Arch. nac. da T. do T.. Liv. V de D. João II, /. 133 i'.°).
Petição de António Borges, feitor da fazenda nas ilhas,
acerca da moradia de cevada que recebera, de 1528
a 1635, e certidão da mesma: 10 d outubro de 1536.
Diz António Borges que ^ eWe lhe he necesario hua certidão do
Contador Francisco Allvarez do tempo que lhe Domingos Afomso pa-
gou sua moradya per aver da custaar em a comta de Joam Tavares pê-
ra Bertolameu Gonçalvez que a comta toma a saber: ho tempo que lhe
foy paguo pêra levar em comta xxxij bj r {32^640} rs. que lhe João
Tavares pagou. Pede a V. M. que lhe mande dar no que lhe fará jus-
tiça e muyta mercee. (1)
(Defi^paclio)
Paselhe o contador Francisco Alvarez com ho Irelado do alvará
delRey noso senhor (sem o alvará por que está na comta de Joam Ta-
vares).— Jorge Dias.
(Certifião)
Vy a recadação da comta que foy tomada a Domingos Afomso all-
moxarife que foy da Ilha de São Miguell tempo de bj [6} anos e dez
meses que começarão no mes doytubro de b*^ xxbiij (1528) e acabarão
no mes dagosto de b e \\\b{lõ35)e per ela se mostra lhe serem le-
vados em comta ao dito allmoxarife cemto e dous mill qnynhemtos reaes
per quatro adições das f. 12 e 13 da dita recadação que pagou ao con-
tador António Borges de sua moradia e cevada de tempo de seis ân-
uos e três meses que começarão per S. João de b*^ xxbiij (1028) e a-
cabaram no fim do mes de setembro de b*^ xxxiiij (lõ34) a rezão de
mill reaes por mes e alqueire de cevada por dia segundo ho dito An-
tónio Borges tem per allvará dei Rey e certidão do Livro da cozinha
de como nele foy posta verba que hadaver sua moiadia na dita Ilha
em quanto servyr de comlador em que monta por ano dezaseys niyll
<juatro cemtos reaes de sua moradia e cevada siunente por quamto hos
(1) Vejam-se os documentos sobre o mesmo assumplo no Vol. IH, p. 41 a
U e Vol IV, p. Ill o M2.
398 ARGHIVO DOS AÇOhES
doze mill reaes que tem por ano de conilador lhe forão pagos á cusU
dos rendeiros por serem das hordinarias que hos rendeiros são liobri-
gados a paguar: certeficoho asy em Évora a dez de hoytubro de b e
XXX bj {lòS6).== Francisco Alvares.
[Ardi. nac. da T. do T , Corp. Chron. Part. 2.'» maç. 209 ~ n." 27).
Petição de António Borges, feitor nas ilhas, para lhe se-
rem abonadas as quebras que teve no trigo e cevada,
que comprou nas ilhas: 13 d outubro de 1536.
Diz Amlonio Borges feytor que foy nas Ilhas dos açores o anno de
b'^xxij (1522) que dosTJ (2000) moyoi de Iriguo que ele comprou pêra
j)roviinento dos lugnares dalém (I) teve enigranelados todo lio imverno
iíij' (400) moyos de triguo porque o mais Iriguo caregou pêra Afric-a
dos quaes \\\'f {400} moyos de triguo que lhe quebrarão xxb(2.õ) moyos
que he a menos de dous alqueires e meio por moio e dos b*^ {600)
moios de cevada que comprou pêra estrebaria de V. A. leve emgra-
nelado rix [ItíO] moios porque a uiais caregou pêra estrebaria de V.
A. dos quaes clx {160) [noios de cevada que teve em granes lhe que-
brarão seis moios; ho cpial triguo e cevada llie está deylada em des-
pesa pelo escripvão de sen carego no livro de sua des[)esa. F. a V. A.*
(pie lhe mande levar em comta o dito triguo e cevada, por qnamlo ho
comtador que lhe tomou a comta lho não quis levar em comia por não
ler poder pêra yso no ipie recebera justiça e mercê.
(DeHpaclio)
Vista a delligencia que se fez sobre esta qutbra ua conta de Do
mingos Afomso levesselhe outra tamta nesta e mais nom. Km Évora a
xiij (13) dias doitubro de b' xxxbj (163iJ].= Dom Rodrigo.
Levase em comta vinte moyos de triguo dos (piatrocemlos ipie te-
ve eui graneis que he a razãt) de Ires al(pieires por moio como ^e le-
vou a Dominguos Afoms(» almoxarife da Ilha de Sam .Migell por alva-
rá de sua alteza que fazem os ditos xx {20} moios e levase em comia
os bij (7) moios riij {43) alqueires de cevada que ficou devemdo dos
clx {lò'0) moyos uue teve em granell que say ainda menos de Ires al-
ipieires por moyo.
iArch. nac. d(t T. do 7'., Corp. Chron., Pari. 2.^ waç. 209— n." 30.)
(1) V. lU) Vol. 1, puf:. 2âH.
ARCHIVO DOS AÇOHES 'i99
Petição de João Tavares, almoxarife na ilha de S. Miguel
para se lhe levar em conta o dinheiro e trigo que en-
tregou a Luiz Fernandes, feitor nas ilhas; 23 d'ou-
t^bro 1536.
Diz João Tavares almoxarife que foy ho anno de xxbij (1027) na
Ilha de Sani Migiiell que Luis l'eruanidez foy com provysões de V. A.
pêra receber todalas dividas e triguo que devido ííose a V. A. amlre
as quuaes dividam recebeo delle vimte e Ires mill e quinheailos reaes
e por quamlo lios ele quer daar em sua comia que ora dá nos vosos
comlos. P. a V. A. lhe mande pasar cerlidão de como Iíos dele rece-
beo |)era dar em sua comia no que lhe íFará mercê e lhe mamde dar
cerlidão de cenlo xbj (116) moios de Iriguo que ho dito Luis Fernam-
dez recebeo dos caseiros que eslão carregados em receila sobre ho di-
to Joam Tavares lio quall asemto está no livro do dito Luis Ffernnam-
dez.
(Despacho)
Que se lhe dee estas certidões Jorge Diaz se a yso nom tever du-
vyda.=/)owí Rodrigo.
(Ortidão)
Pola arecadaçam da comta que se toma aos erdeiros de Luys Fer-
namdez feitor que foy ás ilhas dos açores per mandado dei Rey noso
senhor o anno de b xxbij [1527) se mostra ser carregado sobre ele em
receila que recebeo de Joam Tavarez almoxarife que foy na ilha de S.
"Migell vynle e Ires mill e quynhemlos rs.; a saber: biij b*^ {8ij>ò00) a
comta das dyvidas do dito senhor que se devyam na dita Ilha em xxbiij
(28) dagosto do dito anno e os xb {lõij>000) rs. da comta do ramo dos
bezerros f. I da dila arecadação.
E asy se mostra pela dita arecadação receber mais o dito Luis
Fernandez do dito Joam Tavares almoxarife cento e dezaseys moios de
triguo; a saber: xxxbij (57) moios dos propios d Achada da dita Ilha per
Gaspar Hoiz recebedor e Ixix {6d) moios dos propios que ho dito se-
nhor tem na vyla de Ponta Delgada per Bellesar Gyll no dito dia, mes
e anno. E b (.5) moios dos próprios que ho dito senhor tem em Rabo
de Peixe no dito dia mes e anno. E os b (5) moios dos propyos de
Santo António alem dos xxx (30) moios de Fernão dWlcaçova no dito
dia mes e anno que fazem a conlya dos ditos c xbj {116') moios de Iry-
go ti. 6 ho que cerlefyco asy. Feyta em xxiij (2.9) dyas dontubro em
Évora, anno de 7 b exxxbj [lôsè).
Eu Rodrigo Lopez d' Ag n ia r= Jorge Diaz.
(Arch.nac. da T. do 7'., Corp. Chron. Part.2.^ — maç.92—n.''44.)
400 AKCHIVO DOS AÇOKES
Petição de João Tavares, almoxarife, sobre a pensão de
15 moios de trigo que recebia Frei Afíbnso de Toledo:
23 d'outubro de 1536.
Diz Joam Tavares almoxarife que toi na ylha de Saiii Miguel o an-
uo de xxbj [1026) e xxhij [1527) que ele daa ora sua conta nos vosos
contos e tem necesidade de hua procuração que fez frey Afomso de
Tolledo pregador a huu seu criado pêra receber do dito Joam Tavares
xb (/õ) moyos de trigo de que lhe V. A. fez uíercee e por quamto ho
dito J(jam Tavares tem necesidade da dita procuração pêra a sua con-
ta: Pede a V. A. (pie mande a Francisco Alvarez contador que lha dee
ou o trelado delia de maneira que faça ft-e no que lhe V. A. fará mer-
ece; e asy me mainde dar o trellado do alvará que está em poder do
dito contador de como foy feita esta mercee ao dito pregador.
(Uespaclio)
(^ut" se lhe dee este trelado em maneira que faça tee.^ Dom Ro-
drigo.
A(j contador Francisco Alvarez. -=Jonjp Dias.
(Certidão)
Trellado do alvará de frey Alomso pregador no livro da receita e
despesa da comia que foy tomada a Domyngos Afomso almoxarife que
foy da Ilha de São Miguel des ho ano de b e xxbiij {1528) té ho ano
de b xxxb {InSõ) a f. 219 está huu registo de hu alvará que foy tre- ,
ladado no dito livro per Bastião Roiz escrivão do allmoxa rifado e asy-
nado per ele de que ho trelado de verbo a verbo he ho seguimte:
Va\ el Rey mamdo a vos meu almoxarife da Ilha de São Migell
que do rendimento desa Ilha deis este ano de vimte e sete e de vim-
toito e de vimte nove ao mestre frey Afomso de Toledo ijuimze moyos
de trigo em cada hu ano. De que lhe faço esmola por seus serviços e
per este com seu conhecimento manxlo a Gomçalo Lopez ou a quall-
quer hoíicial que receber ho rendimento das Ilhas do^ açores que vo-
los levem em comta e aos conítador^s que lhos levem em despesa. Fey-
to em Allmeirim a xxh [2õ) dias de julho. Damião Diaz ho fez, de 7
b e xxbij (1527).
Ho quall allvara eu escrivão ho treladey do propio (jue hera asy-
nado por el Rey e coui a vista que dizia— da (^unha — e pasado pela
sua chaiicnllaiia e eu Bastião Roiz escrivão do allmoxarifado que ho tre-
ladey.
E eu Francisco Nunez escrivã*» dos coutos dei Rey noso .senhor
treladny lio dito allvará do dito livro e o C(tmcertey com ho comtador
Francisco Alvarez que esta certidão pasou per virtude do mandado atraz
•Mil Évora a xxiij i2S) doytubro de b e xxxbj [lô-W). =- Francisco A(-
i<n'('Z.
iArc. mir. da T. do T., C. C. 2^-111." 209- n.° 46).
ARCHIVO DOS ACOBES 401
Petição de João Tavares, almoxarife na ilha de S. Miguel.
para se llie levar em conta o que pagou ao escrivão
do lealdador mór dos pasteis; 8 de novembro de
1536.
Diz Joam Tavnrez qie ele dá ora sua conta do lempo que sérvio
de almoxarife na lllia de Sam Migell e o contador lhe pede o trellado
de liua carta de hu António da Mata descrivão do lealldador dos pas-
tes na dita Ilha pêra saber quanto inantymento tem a quall carta tem
Francisco Alvarez contador que tomou a conta ao ahnoxarife Domin-
gos Afomso. Pede a V, M. lhe mande dar o trelado, porque sem ele
não pode dar sua conta, no que lhe faraa justiça e meicee.
(Despaclio)
Porque he necesaryo ver quanto mantymento tinha Amtonio da
Mata escripvam do alealdador ponhase aqui o trelado da dyta carta que
está na conta de Domingos Afomso, e Francisco Alvarez contador que
ha tomou lha dará. — Jorge Dias.
Trellado <la carta do escripvão do lealdador dos pastees
Dom Joam per graça de Deos Rey de Portugall e dos Allgarves,
daquem e dalém mar em Africa, senhor de Guyné e da comquista na-
vegação de comercyo de Etiópia, Arábia, Persya e da Índia etc. A quam-
los esta minha carta virem faço saber que ha myin emviou dizer An-
dré Roiz morador na vyla dAmgra da Ilha Terceira qne averia três
anos pouco mais ou menos qne hu Amtonio da Mata escrivão dante Pê-
ro Vaz lealldador dos pastees da Ilha de São Mignell hera fallecido per
cujo falecimento ho dito hoficio ficou vaguo e por tamto ho pedio hu
Brás Lourenço morador que se diz ser em Lagos o qual lhe foy dado
e nunqua ho servyra nem tirara carta delle da chancellaria e que ha-
veria mays de ano e meio que o dito liras Lourenço tem a carta do
dito hoficio na chancellaria sem a tirar pelo quall ho dito Brás Louren-
ço tynha perdido o dito (jtficio por aver tanlo tempo que ho tinha ávi-
do sem o mais hir servir nem tirar a dita carta por bem do qual es-
lava vaguo, pedindome que lhe fizese dele mercê do que a mym apraz
e lhe faço dele mercê se asy he como me ele dito André Roiz me em-
viou dizer e esto se se ho dito oífici(j perde pelas ditas causas porem
mando ao comtador da dita Ilha e a quaesquer oficiaes e pesoas a que es-
ta minha carta for mostrada e o conhecimento delia pertencer, que sen-
do perante elles citado ho dito Brás Lourenço saybam de todo o certo
tyrando sobrelo imquyrição judiciall e imdo pelo feyto em deante como
he ordenado e achando que he asy como me o dito André Roiz emviou
dizer e (|ue pelas ditas caus.is ho dito oficio está vaguo e eu ho poso
dar com direito a quem me aprouver ho jullguem asy per sua senten-
N.° 47 — Vol. VIII -1886. " 4
402 ARCHIVO DOS AÇOBES
ça defenitiva dando apelação e agravo ás partes omde couber e que-
rendo ho dito Brás Lourenço estar pela dita sentença sendo condena-
do sem mais apellar nem agravar melão em pose do dito ollicio ao di-
to Amdré Roiz e lho leixem servir e delle usar e aver o mantimento
proes e precallços que lhe direitamente pertencerem sem duvida nem
embargo allgum que a yso seja posto por quanto eu lhe faço do dito
uíTicio mercê como dito he o qual André Roiz jurará na chancellaria aos
santos avamjelhos que semdo metido em pose do dito oíTicio ho sejam,
bem e verdadeyramente guardando inteiramente meu serviço e as par-
tes seu direito e pagou de ordenado na chancellaria dous myll e qui-
nhentos reaes que forão careguados em recepta sobre o recebefior de-
la. Dada nesta cidade dEvora a biij [8) dias do mes de junho el Rey
o mandou per dom Rodrigo Lobo do seu conselho e vedor de sua fa-
zenda, António de Matos a fez ano do nacimenlo de noso senhor Jhu
xpõ (Jems Chrislo) de J b e xxxiiij {1634) anos.
Ho qiiall Itellado foy tirado do Livro dos registos da comta que
deu Domingos Afomso Allmoxarife que foy da Ilha de São Miguell dos
anos de b'' xxbiij(/õ^5j té b xxxiiij {1534); comcerlado per mym Fran-
cisco Allvarez comtador com FIVancisco Nunez escrivão dos comtos
que o escreveo em Évora a biij (8) de novembro de b" xxxbj {1536).
E asy no livro dos pagamentos das ordinárias que ho dito almo-
xarife pagou ho anno de b xxxiiij {lõ34) está hu registo as f. 5 do
dito livro per que se mostra ho dito esciivão ter de mantimento com
ho dito oflicio amelade do mantimento que tem ho lealldador dos pas-
teis em cada hu anno que são na dita ametade três moyos de triguo
e uma pipa de vinho e mill reaes em dinheiro que he ametade dos
seis moyos de trigo e bua pipa de vinho e ij*^ {200) rs. em dmheiro
que Pêro Vaz lealldador tem de mantimento com seu hoficio segundo
se mostra as f. 4 do dito livro: cerlificoho asy em Évora no dito dia
mes e ano. = Francisco Alrarez=Francisco Nunez.
(Arch. nuc. da 7. do T., C. C, Pari. 2.^, mac. 209— n.'^ 66.)
Carta de Manoel Corte Real a Elrei; Angra 19 de janeiro
1537.
vSenhor. A xxix {29 ) dyas deste mes de dezembro que pasou che-
gou aquy a este porto hum dom Pedro d'Alvarado adyamladr» duma
provyncya lá nas Amtylhas que se chama Guatymala a qual he no mar
(lo síil iij'' {300) legoas do México a qual ele tj nha conquystada no tem-
po em que ho Manpies Fernãodo Cortes cõquystou Mexyco: he soube
dele que estado ele nesta terá de que era governador ihe vyerão re-
qrer por parte do emperador que fose cõ(|uystar ha provymcya de
ARCHiVO DOS AÇORES 403
Hiinduras; a qual Fernãodo Cortes já dantes lyriha desciiberto he pos-
to em scrvyço do emperador, lie por que se rebelou cõtra os crystãos
he matarão muitos deles, foy este chamado pêra que a tornase a cõ-
quystar de novo o (piai foy he cõqiiyslou, e.ste mes de mnyo pasado de
530 lie a dcvNa pMcyfyca lie a seivyço do emperador he vay agora a
pedyr an em[)erador a governação del;i, he asy vem ha casar cõ liua
irmãa de sua molher que la lhe faleceo cõ quem ho emperador ho tem
cõcertado as quaes molheres erão fyllias de dõ Liiys de la Cueva ir-
mão do duque d'Albuquerque: ele Irazya duas uaos não muito bem a-
precebydas as quaes mandou dyamte he ele fycou aquy haté homtem
que forão xbiij (J8) dyas deste mes de janeyio (pie daquy parlyo numa
barca destas daquy da terá que lhe mãdey dar (>or ma pedyr por liyr
mays seguro he mays desymidado se achase algiias armadas; as novas
mays que comta são dyzer que esta lera que ora cõíjuystcu das Hun-
duras que he muito rica he que ha nela muito ouro he prata mas ele
traz pouco cõsygo he em sua cõpanhya; ao presemte não ha outra no-
va que a vosa alteza escreva. Rogo a noso senhor que a vyda he reall
estado de vosa alteza por muitus anos acreceute. Escripta nesta cyda-
de d'Angra oje xix (19) de janeyro de 537.
M. Corte Reall.
{Sobreescripto) Pêra el Rey noso Senhoi'.
(Original e da pntpria mão de M. Corte Real).
(Arch. nac. da T. do T., Corp. Chron., Pari. l.^~-maç.58—n.^39.
De Manoel Corte Roa! so tratou nu vol. IV, p. 403 e seguintes (J'este Archivo.
Carta de Manoel Corto Real a Elrey; Angra 10 de junho
de 1537.
Senhor. Despoys de ler escryto a vosa ;dleza esta carta (pie aquy
lhe mãdo (I) faleceo Amryque Nunez de Lyão sem durar mays que oy-
to dyas do dya (^iie chegou a esta cydade ao dya que faleceo; eu se-
nhor fuy logo cõ ho corregedor he cõ dous escryvães damte ele a ca-
sa homde4io dyto Amryque Nunez estava he amles que falecese tyra-
mos os cofres dõde estavão numa arca muito seguros he cõforme ha
hua carta de vosa alteza que qiia tynha Amryque Nunez os pusemos
em casa de três homens dos prymcypaes desta cydade poi' que os co-
fres que Amryque Nunez trazya no seu navyo somente erão lies he
(1) Da carta a <|ue esta se refere existe apenas a ultima lauda, deventJo lal-
lara parle mais importante.
{Nota do Sr. J. 1. de Brito Relteflo).
404 ARCHIVO DOS AÇORES
niãdamolos muito bem lyar he selar cõ o selo de vosa alteza que o cô-
ladur tem em seu poder he de tudo se fez auto.
Ho riavyo em que ele vynha posemosllie logo ho corregedor he
eu hua guarda he mays estão dentro ho pyloto he escryvão do dyto
navyo cõ a mays gemte que nele vem.
Os capytães das outras caravelas por que vão em busca de Dio-
go da Sylveira como já a vosa alteza tenho escrypto he a rezão por que
deixarão seus cofres de sua mão em hua boa casa emtreges a pesoas
de sua cõpanhya de quem eles cofiarão por que asy pareceu bem ao
corregedor a quem vusa alteza cumeteo ho caso cõ Pedreanes du Can-
to ou a. cada tiu per sy per hua carta que qua mãduu ao dyto Amry-
que Nunez, asy senhor que tudo fyca bem he a recado.
Ho escryvão do navyo dAmrique Nunez tornamos mandar ao na-
vyu pêra estar em goarda dele cõ ho pyloto por que os cofres estão
em poder domens da terá como dygo. Rogo a noso Senhor que a vyda
he real estado de vosa alteza por muitos anus acrecente. Escryta oje
X (10) dias de junho de 537.
M. Corte Reall.
(Sobreeschptn) Pêra el Rey noso senhor.
(Original e da própria letra de M. Corte Real).
{Are. nac. da T. do T., C. C, P.' l^—m.^õS—n^ 109).
Carta regia de 16 doutubro de 1538: mercê das pensões
dos tabeliães das ilhas dos açores e das saboarias da
ilha de S. Miguel a Pedro Camello Pereira.
Dom Joam etc. a quamtos esta minha carta vyrem faço saber que
avemdo eu respeyto aos serviços que tenho recebydos e ao deanle es-
pero receber de Pêro Camello Pereyra (1) fidalguo de mynha casa e
queremdolhe fazer graça e mercê ey por bem e me praz de lhe fazer
mercê em dias de sua vida das pensões dos tabaliães das ilhas dos aço-
res e das saboaryas da ilha de Sam Myguell asy e da maueyra que as
lynha Anrique de Betancor(2)e depoys D. Byatriz de Saa per cujo fa-
lecymento vagaram e como de direyto pertencer. E por tamtu mando
aos meus comtadores das ditas Ilhas e aos corregedoies, juizes e jus-
tiças delias e a quaes quer outros oficiaaes e pesoas a que o conheci-
mento dest(» perlemcer que metam luguo o dito Pêro Camello em po-
se das ditas pemsões e saboaryas e lhas leyxem ter arecadar e po-
(1) Vid. outra doação a este Pedro Camello no Vol. 1, p. 70 doeste Archiyo.
(2) A doação a Henrique de BeUeiicourt está impressa no Vol. 1, p. 66 d'es-
te Arcliivo.
ARCHIVO DOS AÇORES 405
soyr com todas as remdas e perlemças delias como as tevcram os so-
breditos e a mym perteracem e njyllior se as o dito Pêro Camello com
direyto mylhor poder arecadar e aver por quamto lhes faço delias mer-
cê em sua vyda como dito he as qiiaes pemsões das Ilhas dos Açores
e saboaryas da Ilha de Samiguel elle averá e arecadará de Janeyro
(|iie pasoii deste ano presemte de b" xxxbiij (1538) em deante e man-
do que do dito tempo em deante lhe sejam entregues as rendas e cou-
sas delias e por firmeza dello lhe mandey dar esta carta per mym a-
synada e asellada com o meu sello pemdemte a qual se regystará nos
lyvrus dos meus propyos das ditas ilhas pelos escryvães dos contos
delias pêra se saber a maneyra em que tenho feyto esta mercê ao di-
to Pêro Camello. Dada em Lisboa a xbj(i^)dias do mes doutubro, Ma-
noel da Costa a fez, anno do nacymenlo de uoso Senhor Jhu xpõ {Jesus
Cfiristo) de myll b'^ xxxbiij {1538).
{Arch. nac. da T. do T., Liv. XXVI de D. João 3° f. 160 v.\)
Carta regia de 29 de janeiro de 1539: mercê dos offlcios
de distribuidor, inquiridor e contador na villa da La-
goa a Pedro Velho, morador na mesma.
Dom Joam etc. A vos Juizes, Concelho e homens bõos da villa da
Lagoa façovos saber que a mym emviou dizer por sua petição Pêro
Velho hy morador que hum Joam Alvarez estrebuydor, emqueredor e
contador na dita villa semdo asy oficiall per carta vendeo os ditos ofí-
cios a huu Ruy Barbosa e lhe fezera sua renunciação em forma sem
ao tall tempo ter licemça nem provysão mynha pêra yso e despoys a
ouvera pela qual não fizera obia nem se tyrara mais carta dos ditos
oííicios e de emtão alê agora nunqua os mais servira que vay em cyn-
co ou seys annos on o que vyer em verdade e por elle dito Pêro Ve-
lho ser pesoa apta o Corregedor lhos mandara servyr até aver pro-
vysão mynha e que pollos ditos erros ou cada hum delles elle perdia
os ditos oííicios e que eu os podia dar a quem me aprouvese e com-
fiamdo eu do dito Peru Velho que he tall que o fará como a meu ser-
vyço e a bem das partes compre tenho por bem per esta presemte car-
ta lhe fazer delles mercê se asy he como elle diz e por elle os perde
'O dito Joanalvares) e lhos eu com direyto dar poso a qual mercê lhe
asy faço per virtude de um meu alvará que lhe pêra ello pasey per
my asynado e pasado pela mynha chancellaria de que o theor tall he:
Chanceller moor, amigiio: eu ey por bem e me apraz que se este Joan
alvarez comtador e emqueridor e estribuidor na villa da Lagoa da Ilha
de Sam Miguell pelos erros e causas contendas nesta petiçãi» atras es-
cryla perde os ditos ofícios fazee deles mercê per se asy he a Pêro Ve-
406 AKCHIVO DOS AÇORES
llio na dita petição declarado nolificovulo asy e m.mdo que lhe pases
dos ditos oflicios carta em forma pagando prymeiro os dyreitos orde-
nados segundo ordenança. Joam Chamorro o fez em Lisboa aos xxj {21)
dias do mes de Janeiro de myll b'' xxxix {15H9). E porem vos mando
que sendo perante vós citado o dito Joanalvarez o onçaes com o dito
Pêro Velho sobre os ditos ofícios á-.^ á-/ {segundo o formulário de ou-
tros já impressos). E sendo o dito Joan Alv.irarez condcmnado que per-
ca os ditos ofícios sello ha mais em myll e quynhenlos reaes os quaes
farès loguo entregar ao dito Pêro Velho pelos ter já pago em mynha
chancellaria ao recebedor delia sobre o quall ficam carregados em re-
cepta. Dada em a cydade de Lisboa aos xxix (29) dias do mes de ja-
neiro. El Rey o mandou pelo doutor Álvaro Fernandez do seu conselho
e seu chanceller moor em todos seus regnos e senhoryos. Bernardim
Beleagoa a fez, anuo de noso Senhor Jhu xpõ {Jesus Christo) de myll
b*^ e xxxix {1539} annos.
{Arch. nac. da T. do T., Liv. XXVI de D. João 8.\ f. 21.)
Carta reg-ia de 21 de março de 1539: mercê do offlcio de
chanceller e escrivão da correição, na Terceira e ilhas
debaixo, a António do Casal.
Dom Joam etc. A quamtos esta minha carta virem faço saber que
n mim emviou dizer per sua petição Amlonio do Casall em como huu
Manoel I Garcia chançarell c sprivão da correição ua ilha Terceira e
ilhas debaixo tinha nos ditos olíicios ITeitos taes erros per omde com
direito os perdia, a saber: que em hua sentença de livramento de Ma-
noell Lopez não decrara din nem mes e o ano nomeou huu semdo ou-
tro e que asy apresentara no dito seu officio huu Gonçalo xMourato que
escrevesB por elle o qual escrevia e tirava as iinquirições sem provi-
são minha e no olficio de chançarell recebera do Licenciado João de
Qnymtana níill e trezemtos vymte reaes de dizmia de huma sentença
e no Livro meu nom carregara mais de coremla e asy recebera de di-
zima de outra sentença dEstevão do Couto sete cemtos e sesemta reaes
e carregara no Livro da chanct-lkiria dozemtos e L'* {250) e asy rece-
bera mais de Fernão Gonçalves da Hocha ccremta reaes que perten-
ciam á dita chancellaria e não os asemtara no Livro e asy recebera de
nove almotaceis que foram presos na villa da Praya a chancellaria de
cada huu que eram Q'* (4(>) reaes e uam levara nhna cousa em Livro
e asy na ilha de Sam Jorge foram presos Afonso d Almada e Pêro Diaz
e Joam Diaz e Joam Alvarez o .Magro e Pêro Anes do Poriball e Jur-
dam Vaz e Syinão hoiz e Manoel Alvarez e Diogo Dinz e Diogo Gill os
quaes foram [ire>os sob suas nienagens c recebeo delles as chancella
ARCHIVO DOS AÇORES 407
rias e no meu Livro se não carregara cousa algua e qne pelos tiito^
erros on cãúa hnu eile dito Manoell Garcia perdia os dilos oiricios e
que eu os podia dar a quem me aprouvese e comfiando eu do dilo Am-
lunio do Casall que he tall que o ííará como a meu serviço e a bem
das partes compre queremdollie fazer mercê tenho por bem per esta
presente carta lhe fazer dos ditos oílicios mercê se asy he como elle
na dita petição diz e por ello se perdiam e lhos eu com dii-eito dar po-
so a quall mercê lhe asy ífaço per virtiide de huu meu alvará que lhe
pêra ello pasey per mym asynado e pasado pela minha chancelaria de
que o theor tal he: Chançarell moor, amigno: eu ey por bem e me praz
que se este Manoell Garcia morador na ilha Terceira e chançarell e es-
privão da correição da dita ilha e ilhas de baixo pelos erros e causas
contendas nesta petição atras esprita perde os ditos oflicios ffazer del-
les mercê per se asy he a Amlonio do Casall na dita petição declara-
do nolellicovolo asy e mando que lhe paseys dos ditos oliiciosi carta
em fíbrma pagamdo primeiro os direitos ordenados segumdo ordenança.
João Chamorro o fez a xxij (22) de novembro de J" b e \\\bu}( 1538).
E por tanto mando ao corregedor que ora he em a dita correição ou
a quaesquer outros juizes e justiças a que esta minha carta for apre-
sentada e i> conhecimento delia com direito pertencer que sendo o di-
to Manoell Garcia perante elles citado o ouçam com o dito Amtonio do
Casall sobre os ditos oíficios e saibaes dello o certo á.^, á.* (segundo
a formulário de ouiros já impressos) e sendo o dito Manoel Garcia con-
denado que perca os ditos oiricios sel-o á mais em três mil reaes que
lie o ordenado delles os quaes fareis logo emtregar ao dito António do
Casall pelos ter já pagos em a dita chancellaria ao Recebedor delia so-
bre o quall ficam carregados em recepta. Dada em a cidade de Lisboa
aos xxj (21) dias do mes de março, el Hey o mandou pelo doutor João
Paez do seu desembargft que ora per seu especiall mandado tem car-
go de seu chançarel mor em todos seus reinos e senhorios. Bernardim
Beliagoa a fez, ano de noso Senhor Jesus x° (Jesus Christo) de J b e
xxxix (1539) anos
(Arch. me. da T. do T.. Ur. XXVI de D. João ,5.°, /. 73 v.\)
Carta regia de 28 de março de 1539: mercê do ofíicio de
escrivão na villa da Praya (Terceira) a António Vaz.
t)oui Joã(í etc. a vos juizes, Concelho e homens bõos da Vila da
Praya façovos saber que per António Vaz me foy apresentada hua mi-
nha carta per num asynada de que o teor tall he:
Doutor Braz (>)ta: Eu el rey vos envio muito saudar: vy a carta
que me escrevestes na qual dizeis que vos escrevy que os juizes e
408 ARCHIVO DOS AÇORES
procurador da Vila da Praya, me emvyarão dizer que duas legoas da
dita vyla estava hua povoação que seria de cento e L/^ {1-^)0) vezinhos
com o termo e que tinha ffeito hum escrivão dos testamentos, o qual
não podia servir sem minha licença perante o juiz pedaneo que em
cada hum anno é emlegiilo no dito lugar no que os moradores dele
recebiam perda por nom terem escripvam que sirva as cousas que
cabem na alçada do dito juiz pedaneo e asy as deligencias que s*^ man-
dão fazer, e que emiegerão pêra iso huu Amtonio Vaz morador no di-
to lugar e me pediam o ouvese por bem e lhe mandase pasar carta
pêra servir peramte os ditos juizes e faz^r os testamentos, e vos man-
dey que de tudo vos imformaseis se era necesario e mo escreveseis
com voso parecer e ora dizeis que tomareis diso imformaç.ão e que
achastes ser muito necesario o dito escripvan» e que podia íTazer mer-
cê dele a quem fose meu serviço e visto vosa imformação ey por bem
Afazer mercê do dito oíTicio ao dito Amtonio Vaz o qual poderá vir ti-
rar carta dele que lhe será ffeita mostrando esla. Joam Roiz a ffez
em lisboa a iiij {i} dias de julho de y b xxxbiij {1638} Bastião da Cos-
ta a sobescrepvy,
E visto per mim a dita carta tenho por bem de íTazer do dito of-
ficio mercê ao dito Amtonio Vaz por fiar dele que he tall que o fará
como a- meu serviço e a bem das partes compre e vos mando que tan-
to que vos esta for apresentada o metey logo de pose do dito oficio e
lho leixai servir como dito he e aver todo o a ele direitamente orde-
nado e proees e precalços sem lhe ser posto duvida nem embargo ai-*
guu por que asy me praz o qual jurara em minha chancellaria aos
samtos avangelhos que bem e como deve o syrva, guardando em todo
a mym meu serviço e ás partes seu direito e regimento que da dita
chancellaria leva omde pagou de ordenado ao recebedor dela seis cem-
los reis os quaes fficão sobre ele caregados em rect^pta. Dada em a
cydade de Lisboa aos xxbiij (28) dias do mes de março: el rey o man-
dou pelo doutor Joam Paes do seu desembargo, que ora per seu es-
pecial mandado tem carguo de seu chanceller moor em todos seus rei-
nos e senhorios. Bernardim Beleagoa a fez, ano de noso Senhor Jhu x°
i Jesus Christo) de "J b e xxxix (lõ39) anos.
(Arch. nac. da T. do T., Liv. XX VJ de D. João 3:\ fnl. 89.)
Carta regia de 21 de maio de 1539: mercê do offlcio de
meirinho da serra em S. Miguel a Gonçalo Pires.
Dom Joam ele. A quamtos esta minha carta virem façi) saber que
Confiando en de ííonçalo Pirez morador na Ilha de Sam Migell que em
AUCHIVO DOS AÇOBES 409
esto me serviíã bem e cotno cuinpre a meu serviço e bem das (j.iites
teiibo por bem e o doii orii (l;it|ui em deamte por meirinho da serra
na dita liba, asy e pela maneira que o ele deve sei- e o alé (piy ÍTuy
Bertolameii FleriianiJez, morador na (bla liba de Samiguell (pie o dito
oriicio tinha e renunciou cm minhas niTu^s pêra o delle prover se-
gundo dello ÍTiiy certo por bua publica procuração d(j dito lieitolameu
Kernandez e remmciagão feita por seu procurador do (Jito ollicio ao
dito Gonçído Pirez quti todo perante mim (oy apresentado. A quall
procuração reC(jntava ser ííeyla e assignada por Gaspar de Freytas,
tabellião do publico e judicialí por mim em a dita Ilha aos xb (/5) dias
do mes dabrill deste presente anuo de mil b xxxix [1039} annos em
que se continha amte outras muitas cousas nella contendas que o dito
Hertolameu Fernandez fazia seu abastante procurador por elle e lhe
dava os poderes acostumados a dom Gil! Eanes da Costa Ifidallgo de
minha casa pêra poder renunciar em minhas mãos o dito olFicio, por
virtude da qual elle seu jírocurador so estabelecera por seu procura-
dor pêra o poder fazer a dom Alv.iro da Costa, do meu (Conselho, seu
pay do dito procurador. O qual dom Álvaro por virtude di* um seu
asignado e da dita procuração e sob estabelecimento renunciou em mi-
nhas mãos o dito otllcio pêra delle [jrover e fazer mercê ao dito Gon-
çalo Pirez, segundo todo este melhor e mais compridamente na dita
procuração e substabelecimento e renunciação era conteúdo por bem
do qual eu pasey ao dito Gonçalo Pirez himi meu alvará por mym a-
synado e passado por minha chancellaria de que o trellaiio tall ííe:
Eu El Rey faço saber a vos corregedores de minha corte dos fei-
tos crimes que eu ey por bem que renunciando Bertolameu Fernandez
meirinho da serra da Ilha de Sam Miguel o dito ollicio pêra eu delle
prover a (juein me prouver, fazer delle mercê a Gonçalo Pirez mora-
dor na dita Ilha, noteficovollo asy pêra que mostrandonos elle sua re-
nunciação lhe passeis dele carta em forma sendo ele auto pêra o ser-
vir. Ba^tião da Costa o fez em Lixboa a xbj(2(>idias de maio de ]" b
e xxxix (1Ô39) annos.
Por Ijem do qual e pela dil;i renunci;ição lhe mandey [)as;ir esta mi-
nha carta [)ela qual mando ao corregedor que ora he fin as ditas Ilhas
dos Açores e aos Juizes Justiças da dita Ilha de S. Miguel e quaes(pier
outras pessoas a que o conhecimento pertencer, que ajam ao dito Gon-
çalo Pirez por meirinho da dita serra e o metam em posse do (hto of-
ficio e lho deixem servir e usar delle como lhe pertence e asy aver
lodolos proes, e precalços a elle direitamente ordenados pela maneira
que o avia e servia o dito Hertolameu Feriinudez, e melhoc, se o elle
com direito melhor poder aver sem duvida nem embargo algmu que
lhe a ello S'^ja posto, porque asy he minha mercê. O (piall Gonçalo Pi
rez jurou aos santos avangclhos em a minha cbani-ellaria de guardar
em todo meu serviço e o direito das parles e pagou de ordenado do
dito otíicio novecentos e trinta c três reis a Francisco Fernandes Re-
N." 47 — Vol. Yin 1886. o
410 AHCHIVO DOS AÇORES
cebedor de minha cliancellaria e llie furam carregados em recepta pe-
lo escripvão delia, segundo outrosym fuy certo por certidão por elle
feita nas costas do dito meu alvará. Couiprio asy e ai nom façaes. Da-
da em esta minha cidade de Lixboa aos xxj(2ijdias do mes de maio,
el Rey o mandou pelo doutor Diogo Taveira do seu conselho e desem-
bargo e corregedor dos feitos crimes em. sua corte e casa da soprica-
ção com alçada. Jaeome Pirez por Francisco de Mideiros escripvão a
fez, ano do nacimento de noso Senhor Jhu xpõ de J b e xxxix {1539)
anos. E pasuii pelo Licenciado Sebastiam Alvarez outrosy do seu des-
embargo e seu corregedor dos feitos crimes com allçada em esta sua
corte e casa da sopricação por lhe vir por destribuição; e eu Francisco
de Medeiros a sobescrepvy.
{Arch. me. da T. do T., Liv. XXVI de D. João 3.°, f. 115.)
Nomeação de Pedro Felg-ueira para escrivão do almoxa-
rifado e alfandega da Graciosa: 28 de maio de 1539.
Carla nomeando Escrivão do AInioxarifado e Alfandega da Ilha Gra-
ciosa a Pêro Felgueira, tabellião do publico e judiciall e Escrivão da
(Gamara na Villa de Santa Cruz por virtude de renunciação que nelle
fez Manoel Gonçalves (jue tinha os ditos olficios. por instrumento feito
aí)S XXX {30) de julho de 1538, por André Furtado, tabellião na mes-
ma ilha Graciosa (carta em forma). E por firmeza dello lhe mandei dar
esta carta per mim assignada e sellada com o sello de minhas armas.
Dada na minha cidade de Lisboa a xxbiij (28) dias de maio, Pêro Ri-
beiro a fez, anno do nacymento de noso Senhor Jhn xpõ (Jesus Chris-
to) de y b xxxix (1539) annos.
(Arvh. nac. da T. do T., Liv. XXVI de D. João 5.°, foi. 133.)
Carta regia para João Galego curar os enfermos em An-
gra, com umas hervas; 12 de junho de 1539.
Dom Joam etc. A quamtos esta minha carta ffor mostrada saúde:
íÍMÇo saber que Joam Galego morador em a cidade d"Amgra da Ilha
Teiceira me emviou dizer que ele com alguas mezinhas, a saber: er-
vas e raizes sabia curar de muitas imfirmidades de fisiqua e que na
dita cydade e termo e Ilha tinha feito muito boas curas o (pie me fez
certo per hua carta da Camará e [)er hmn estormento de im(|uiriçam
do Cori'Cgedor e olliciaes (Va justiça da dita cidade e comfiando eu no
ARCHIVO DOS AÇORES 411
(lilo eslormento e c;iit;i e exame (jiie IIjh íVz o meu fysyco inór e (jue-
remdnllie fiizer gniçn e mercê e coiifiMnilu nele (|ne sempre o í';ir;i l)em
e citmo compití n serviço cie Deos e m(Mi e saiide do meu povo lenho
por bem e llie doii liignr e liceiiç;i (jiie ele posa curar de fisyca na di-
ta cydade dAmgra e seu li'rmo somente e isto em (|iianto a camará
e cydade fazendo ele o (pie deve forem contentes e mando ás minhas
justiças, officiaes e pescas a que o conhecimento pertemce (|ue livre-
mente o leixem curar e usar de sua fysyca e aver os proes e percal-
ços que lhe direitamente pertemcerem e ele jurará na camará da di-
ta cydade aos samtos dvamgelhos ([ue asy bem e como deve com sam
comcyemcia use da dita fisyqua com mezinhas bramdas na dita cyda-
de e teíuio asy como compre a serviço de Deos e meu e bòa sande
do meu povo e mando que curando algum ííisyco sem mostrar minha
carta pasada pelo meu fysyco mór posto que graduado seija emcora
em pena de trinta díjbras cijmteiidas em meu regimento e semdo re-
querido pelo dito João Galego as minlias justiças o costramjam que
pague a dita pena. Dada em a cydade de Lisboa aos doze dias do mes
de junho. El Rey o mandou pelo doutor Diogo Lopez, fidalgo de sua
casa Ifisyco mór em seus Reinos e senhorios, Jorge da Fonsequa a fez,
era de mil b e xxxix {153.9) ânuos.
(Arch. noc. da T. do 1\, Lw. XXVI de D. João 3.°, f. 138 v°.)
Carta regia de 9 de julho de 1539: mercê do offlcio de es-
crivão dos órfãos na ilha do Fayal a Álvaro Dias
Beleagoa.
Dom Joam etc. A vós juizes, concelho e homens bõos da ilha do
Fayall façovos saber que confiando eu dAlvaro Diaz Beleagoa morador
nesa dita ilha que he tall que o fará como a meu serviço compre e a
bem das partes pertence e querendollie fazer graça e meicè tenho poi"
bem e o dou ora daquy em deante [tor sprivão dos órfãos da dita ilha
asy e pela maneir^a que o ele deve ser e como o íToy Ffrancisco Roiz
que o dito ollicio linha e o renunciou em minhas mãos pêra dele fazer
mercê ao dito Álvaro Dias Beleagoa segundo se vio per hum publico
estromento de renunciação feito e asynado pelo dito Francisco Roiz pu-
blico labaliam em a dita Ilha ;ios xij [12) dias do mes dabrill deste a-
no presente de 7 b e xxxix {1039) com testemunhas em elle nomea-
das e esta mercê lhe faço per virtude de hum meu alvará que lhe pê-
ra elo pasey per mim asynado e pasado per minha chancellaria de que
o tlieor tal he: Chançarell mór, amigo: a mim praz dar licença a Fran-
cisco Roiz taballião do [)nblico e judiciaíl e esprivão dos órfãos da ilha
do Fayall pêra (jue posa r» lumciar' o olirio desprivão dos órfãos em Al-
412 ARCHIVO DOS AÇORES
varo Diaz Beleagoa morador na dita Ilha sendo pêra iso apto; mandovos
qiip apresemtando-vos u dito Álvaro Diaz sna renunciação e pagando
os direitos ordenados lhe paseis sua carta em forma. Francisco Belea-
goa o fez em Lisboa a \(10) de jnnho de T b e xxxix {1539) e eu André
Pirez o sobe.sprevy. Porem vos mando que metaes ao dito Álvaro Dias
rm pose do dito oíTicio e lho leixay servir e dele usar e aver todos os
proes e percalços a ele direitamente ordenados asy como o tinha e a-
via o dito Francisco Hoiz e millior se o ele com direito poder aver sem
lhe ser posto duvida enjbargo nem contradição algna porque asy me
praz e ele jurará em minha chancellaria aos samlos avamgelhos que
bem e como devem o sirva guardando em todo o serviço de Deos e
meu e direito das partes e regimento que da dita chancellaria leva e
pagou dordenado delle ties mil! reis os quaes ficam carregados em re-
cepta sobre o recebedor da dila chancellaria. Dada em esta minha ci-
dade de Lisboa a ix {9) dias de julho, el Key o mandou pelo doutor
João Paez, do seu desembargo, que ora per seu especial mandado lenj
cargo de seu chanç^rell mór em todos seus regnos e senhorios. Fran^-
risco da Costa a fez, ano de noso senhor Jhu x° (Jesus Christo) de j
b e xxxix (1589) anos.
{Arch. me. da T. do T., Liv. XXVI de D. João S.\ f. 152 v.'').
Nomeação de Manoel Lopes dOliveira, para escrivão do
memposteiro mór dos captivos das ilhas centraes e
occidentaes dos açores; 23 de julho de 1539.
Carta de Escrivão damte o mamposteiro mór dos ca|ilivos das ilhas
Terceira, São Jorge, Graciosa, Fayal e Pico e da Ilha das Flores a Ma-
noel Lopes dOliveira, morador na cidade de Angra, como o era Gas-
par Luís, cujo o dito ollicio foi e o i enunciou em André Dias. tabel-
lião e escrivão dos contos na Ilha Terceira por instrumento feito na
cidade de Angra por Diogo Pires, labellião iiella a 8 de novembro de
1530, o quaT enviou renunciar o direito que linha no dito cargo por
Fernão Vaz, çapateiro, morador em Lisboa, junto do Carmo, por pro-
curaçãí» feita na mesma ilha Terceira aos 2C de agosto de 1538, |»or
Francisco Alvares publico tabellião nella. da (piai renunciação o dito
Fernão Vaz fez fazer instrumento a 24 de julho do corrente aimo poi'
Cliristovão Rodrigues, publico taballião em Lisb(»a. Carta cm forma.
Dada em Lisboa aos xxiij (^.9) dias do mes de Julho. El Hey o mandou
per Dom António. Conde de Linhares, seu muito amado primo e pn»-
vedor mor da rendição dos captivos e seus Beynos e senhori(ts; João
Chamoi'ro a fez. anno do nacinienlo de noso Senhor Jhuu xpõ i,/ç.v//.s
Chrislo) de mi II e b e xxxix ( 15H9\
(Arch. ?nic. da T. dn 7'.. Ur. XXVI de D. .loãn õ'." /. lô't>}
AHCHIVO DOS AÇORES 4 Kj
Nomeação de Roque Rodrigues para escrivão da Camará
da Ribeira Grande; 13 d'agosto de 1539.
(]arln fie Escrivão da Camará e Almctaceria e inquiridur da Villa
da Ribeira Grande na iliia de S. Miguel a Rot^ue Rudiigues, nella mo-
rador por venda e renuncia que nelle fez, dos ditos cargos Gonça-
lo Gomes, por instrumento feito por Gonçallo Atmes, publico tabelliãu
na dita ilha, a 3 de janeiro de 1539, e por virtude de um alvará de
licença que lhe f(;ra passado, feito em Lisboa por Manoel da Costa
n 20 de fevereiro de 1538. Carla cm forma. Dada em Lisboa a xiij
{13} dias do mes d'agosto. El Rey o mandou pelo doutor João Paez do
seu desembargo e desembargador em sua corte e casa da sopricação
que per seu especiall mandado tem cargo de seu chanceller mor em
todos seus Reynos e senhorios; Francisco da Costa a fez, anuo de noso
Senhor Jhu xpõ (Jesus Christo) de mil b'^ e xxxix {1589).
{Arch. nac. da T. do T., liv. XXVJ de D. João 3.' f. 172 ^^^)
Carta regia de 27 d'agosto de 1539: mercê do offlcio de
cirurgião na ilha do Fayal a António Rodrigues.
Dom Joam etc. A quamlos esta minha carta flor mostrada faço sa-
ber que confiando eu dAntonio Roiz morador na Ilha do Fayal que nis-
to me servirá bem a serviço de Di'")S e meu e proveyto do meu povo
e por lhe fazer graça e mercê ey por bem que ele posa usar e prati-
car da ciência de solorgia por todos meus regnos e senhorios por quan-
to fuy certo pelo doutor mestre Gil meu solorgião mór a quem o eu
mandey examinar e o examinou e Uo achou apto e soficiente pêra usar
do que dito he e por tanto mando a todolos juizes, justiças que não
prendão nem consyntão fazer sem rezão ao dito António Roiz por asy
usar do que dito he antes livremente o deixem usar como dito he ou-
trosym mando as ditas justiças que prendão qualquer pesoa que usar
da dita solorgia sem minha licença ou do meu solorgião mór cada vez
«pie pelo dito António Roiz da minha parte lhes for requerido e os não
soltem sem minha licença ou do meu solorgião mór o qual António Roi/,
jurou na minha chancellaria aos santos evangellios que bem e verda-
deiramente use do dito oficio a serviço de Deos e meu e proveito do
povo. El Rey o mandou pelos doutores mestre Gill, cavaleiro da hor-
dem de xpõ (C/nislo) e seu solorgião moor. Feita em Lisboa aos xxbij
(27) dias dagosto. Luis da Costa a fez ano do nacymento de noso Se-
nhor Jhu x'' (Jesus Christo) de mill b e xxxix (1589) annos.
(Arch. nar. da T. do T., Ur. XX Vi de I). João 8.\ f. 187.)
414 ARCHIVO DOS AÇORES
Nomeação de João Gonçalves para escrivão da correição,
da ilha de S. Miguel: 29 dagosto de 1539.
Carta de escrivão da correição e cliancellaria da ilha de S. Miguel
a Juain Gonçalves nella morador j3or venda e renuncia que llie fez Si-
mão Carduso, moço da Gamara dei Rei por instrumento feitu pelo ta-
belliãu Diogo Leitão em Lisboa a á5 de agosto de 1539, segundo um
alvará de licença feito por Bastião da Gosta em Lisboa a 20 de julho.
Carta em forma. Dada em Lisboa aos 29 dias dagosto, El Rey o man-
dou pelo doutor João Paez do seu desembargo e desembargador em
sua corte e casa da supricação, que per seu especiall [uandado tem car-
rego de seu chanceller mór, Francisco da Gosta a fez, anno de noso
Senhor Jhu xpõ (Jesus Chrislo) de mil e b xxxix {15o9) ânuos.
[Arch. nac. da T. do T., Liv. XXVI de D. João 5.°, f. 18õ.)
Carta regia sobre a nomeação de Manoel Gomes para es-
crivão da Gamara da Graciosa: 2 de setembro de 1539.
Garta aos Juizes Goncelho e homens bons da Ilha Graciosa fazen-
do saber que foi nomeado Escrivão da Gamara e allmotaçaria e tabel-'
lião do publico e judiciall da mesma ilha Manoel Gomes, morador na
mesma ilha em vista da renuncia que nelle fez dos ditos cargos Lopo
Bugalho (jue os linha, e renunciou por instrumento feito p<do tabeilião
Diogo Orelha, cavalleiro da casa Beal em Lisboa a 30 de agosto do
mesmo anno. e segundo um alvará de licença para esse fim passado
ao referido Lopo Bugalho e feito por Domingos de Paiva em Lisboa a
27 de maio do dito anno. Carta em forma. Dada em a cidade de Lis-
boa aos 2 dias do mez de setembro; El Rey o mandou pelo doutor Jo-
ham Paez do seu desembargo e desembargador em sua corte e casa
da sopricação que ora per seu especiall mandado tem carrego de seu
chamceler moor. Agostinho Salvado a fez, anuo do nacimento de noso
Senhor Jhu xpõ (Jesus Christo) de mill e b e xxxix (lõ39\ annos.
^Arch. nar. da T. do T., Liv. XXVI de D. .hão 3.\ f. 186 v.\'^
ARCHIVO DOS AÇORES 415
Nomeação do Licenciado Jeronymo Luiz para Corregedor
d'Angra: 20 doutubro de 1539.
Dom Joliain etc. Faço saber a vos Juizes, Vereadores precuraclor
e a qiiaes(juer oiilros oíUciaes, ííidallguos, cavaleiros, escudeiros e
povo da minha cidade d'Amgra das Ilhas dos Açores e de Iodas as
vyllas e lugiiares da correyção da dita cidade que por comfyar do Li-
cenciado Jerónimo Luiz que nos carreguos e cousas da Justiça de que
lio emcarregar me servirá bem e fiellmente e admenislrará justiça ás
partes c jmo te quy tem feyto nos carregos de que ho tenho emcarre-
giiado, o envyo ora por corregedor da dita correyção e luguaies delia
o qual! oITicio elle servirá segumdo forma de seu Regimento e de mi-
iilias ordenações. E alem diso usara do Regymento poderes e aliçada
que de mym leva. Noteficovollo asy e mando a todos em gerall e a
cada hum de vos em especial! que ho ajaes por corregedor da dita
correyção e lhe obedeçaes e cumpraes suas semtemças e mandados
em todo o que elle por meu serviço e bem de Justiça vos mandar,
saymdo com elle e sem elle de dia e de noyte a cavallo e a pee a
(juaesquer oras e da maneira que vos elle mandar sob as penas que
vos puser e dar a execução u^aquelles que nellas emcorrerem se-
gumdo forma do Regymento de sua aliçada e aliem diso lhe será da-
da outra qualíjuer pena que per direito merecer segumdo a calidade
do caso for. (,om ho qual ofíicio o dito Licenciado averá aquelle man-
tymento que lhe per outra minha carta que tyrará de minha fazenda
será decrarado o qual Licenciado Jerónimo Luis jurará em a minha
chancellaria aos samtos avamgelhos que bem e verdadeyra e fielmen-
te sirva o dito officio guardamdo inteyramente meu serviço e asf par-
les seu direito. Joãm Royz a fez em Lisboa a xx {20} dias doutubro
de mil e b xxxix {lô39). Bastião da Costa a sobescrepvy.
(Arch. me. da T. do T., Ur. XXVI de D. João 3.", f. 245.)
Alvará sobre a tomada de contas do recebedor João Ta-
vares: 29 de novembro de 1539.
Ho Conde de Penela vedor da fazenda dei Rey Noso Senhor e etc.
mando a vos seus contadores que levees em despesa a Joam Tavares
que teve careguo de receber as dividas que ficarão por arrecadar a
Diogo Nuuez, almoxarife que foy na Ilha de Sam Miguel ho anuo de
b xxbij (1527 i três moyos e cimcoenla e oito alqueires de trigo da di-
ta ilha e isto dos duzentos e trinta e oito moyos que o dito ano dejj
e xxbij (527) se mostra receber e ter em sen poder os (jualio mczes
416 ARCHIVO DOS AÇORES
e meio conteúdos n;i certidão do contador Herlolameu Gonçalves acima
HS|)rila os qn;)es três moyus Lbiij {e68} alqueires de trigo lhe mando
levar em conta de quebra dos ditos ij*^ xxxbiij [288} moyos que rece-
beo avendo respeito ao tempo que ho leve em poder e aa despeza que
dele fez. Ruy Gomez ho fez em Lixboa a xnín {29) de novembro de 1/
xxxix {lòS9y.i\\\e são por moyo a resão de hum alqueire por moyo.=
O Conde de Penela.
(Arch. nac. da T. do T., Corp. Chron. P." 3^ muç. 14 -n.'' 62.)
Este alvará está tangado no verso do requerimento de João Tavares, que
toi coi'tado atravez, lendo-se apenas metade de rada liiilin, e da cerlidão a que
se refere o mandado, também lia só 8 iiulias, faltando o resto.
{Nota do Sr. j. I. de Brito Rebello).
Certidão sobre a tomada de contas do recebedor João
Tavares; 11 de Dezembro de 1539.
(PpIo) livro da recepta e despeza de Joham Tavares [se) mostra
ser íTeito o derradeiro asemto de sua recepta em vinte quatro dias de
setembro de quynhemtos vinte e oyto. E asy se mostra ho derradeiro
asemto de sua despesa ser feito em quatorze dias de setembro de qui-,
nhemtos trimta e huu, certeficoo asy a vosa senhoria em Lixboa oje
xj (11) dias de dezembro de y b e xvxix {íõ39) = Bertnlameu Gon-
çalvez.
Ho Comde de Penela vedor da fazenda dei Uey noso senhor e etc.
mando a vos seus contadores que levees em comta a J(»am Tavares
Recebedor que foy das restes e dividas que erão careguadas em re-
cepta sobre Diogo Nunez, almoxarife da Ilha de Sam Miguel quando
veo dar sua conta seis mill reaes por outros tantos que pareceo rezão
aver de seu ordenado pelo trabalho que levou huu ano e meio que
sérvio ho dito caregiio e arecadar as ditas dividas a rezão de quatro
mill reaes por ano que he outro tanto couio tem o dito oficio daluKt-
xarife de mantimento por ano segundo todo pareceo pelas certidões
atras csprilas do contador Bertolameu Gonçalvez. Ruy Gomez o fez
em Lixboa a xbj {Ití) de dezenibro de b e xxxix ilõ39}. — O Conde de
Penela.
[Arch. nac. da T. do 7'., Corp. Chron. Pnrt. 3.^ maç. 14 — n." tí3).
ARCUIVO DOS AÇORES 417
Carta a Elrei, de Gonçalo Nunes d' Ares, Contador de S.
Miguel: 6 d'outubro de 1547.
Senhor. — Cheguey a esta Ilha a xxiij (23) í]'agosto e logo em-
lendy na comia de Amtonio de Bairos almoxarife e em outras cousas
da fazemda c [)or serem muitas pêra as por em ordem e fazer como
CHm[)re a serviço de Y. A. não (juis p.t^sar aa illia 'S.^ on)de tenho
minha molher e filhos pêra os trazer e quis amtes sofrer sua absem-
cia que leixar a fazemda de V. A. desemparada e também porque vim
do regno tão despeso que me não estervy ir por eles pêra os mudar
a terra estranha da maneira que estão desprovidos por nnnha absem-
cia e despesa de b ij (7) ânuos que amdei no regno: e por isso sem
me V. A. fazer mercê pêra a mudamça eu os não poderei trazer e so-
frerei minha dor e magoa como a sofry o dito tempo que no regno
amdey requeremdo justiça em que gastei minha fazemda sem aver fi
nal despacho e ficou pêra o V. A. mamdar dar de que lhe peço que
tenha lembramça por me fazer mercê e Justiça que he cousa que a
sua comciencia toca.
E corremdo pela comta do ditií Amtonio de Barros almoxarife a-
chei que hum mercador lhe levara certo pastel a Sevilha e do proce-
dimento delle lhe tomei comta e o que ficou liquido e forro das des-
pesas pagou em letras e dinheiro e mais emtregou huns cimquo co-
vodos de grã e oito de vimteno pauo roxo no preço que com as des-
|)esas custou e tudo levei em comta ao almoxarife e estaa o dito pa-
no pêra se vemder pêra pagamento de V. A e por que estou nesta
Ilha servimdo V. A. peçolhe que me faça mercê do dito pano e grã
pêra vestido de minha molher e filhas por que no lem[)o que na corte
amdei desbarataião as jóias e vestidos que tinhão pêra me la sostem-
tarem e lU(Jo lhe gastei e aimda se V. A. me provera com as mercês
que me fazia pêra despesa passar.i muito cnal. e pêra a mudamça me
faça mercê de me mandar ca dar na mão do almoxarife o que ouver
por bem porque eide fretar barca e f;izer outras despesas de percebi-
mento de nnnha familia e casa que não poderei fazer sem V. A. me
socorrer: e fazer esta mercê como espero. Nosso Senhor prospere seu
real estado com muita vida. Escriííta na Ilha de São Miguel a bj (6')
doulubro de 1547.
Do comlador da Ilha de São Miguel o Licenciado
Gomailo Nunez d Ai es
{Sobrfifscriplo) A el Hey nosso senhor = do comtador da Ilha de
São Miguel.
lArch. nac. da T. do T., C. C. Por/. l^,nfnc. T.Ç^n." 94).
N.° 47—Vol. VIII -1886.
418 AHCHIVO DOS AÇORES
Carta a Elrei, do capitão da villa da Praia, sobre corsá-
rios francezes e necessidade de munições: 2 de se-
tembro de 1553.
Senhor- Ojo que são dons de setembro veo ler ha este porto hua
caravella que ao lloniguo desta ylha corerão três nãos de francezes
qiiom ella e lhe lyrarão muitos tyros e tão perto de terá que se vya
ha jemte demlro nas nãos; e a dous dyas que veo outra de São Miguel
que dyse que ha roubarão quatro nãos perto da ilha de Santa Marya
ha jemte da terá com ha nova do que fyzeião na Pallma amda mui ha-
temoryzada polia pouca defemsão que nella tem por que hos harcabu-
zes que V. A. mandou lamçar nom ha homem que sayba como com el-
les hade tyrar nem tem pollvora nem chumbo. Peço ha V. A. nos man- •
de pollvora e chumbo pêra se lhes dar e reparlyr socedemdo nececy-
dade e nos mande huu homem que lhes emsyne asy ha tyrar como ha
mais arte millytar eu me faço aguora espynguardeyro e tenho mostra-
do ha allgumas pesoas e estes mostrarem ha outras e os faço ajumtar
muitas vezes e tyrar ha bareyra. Eu pedy ha Fero Anes do Canto al-
guas peças dartelharya por me parecer serviço de V. A. pêra aquy es-
tarem até V. A. niso mandar prover e dyseme que darya hiia espera
e huu camello e dous pedreyros e dous bombardeyros farey hua es-
tancya de madeyra omde estejão pêra allgua não se vyer. Já na har
mada pasada escrevi ha V. A. como com Isydro dAllmeyda vyra ha ,
terá e o que parece nesesaryo pêra fortyfyquasão delia. Ha vyda e real
estado de V. A. ho senhor Deos por muitos anos aumente. Desta Praya
ha dous de setembro de 1553 anos.
Beyja as reays mãos de V. A. Ho capitão da Praya. (i)
(Sobreescripto) Pêra ell Rey noso Sõr.
(Original)
[Are. nac. da T. do T., C. C, P.' l.^-waç. 91- n.'' 4).
Carta a Elrei, do ouvidor de S. Miguel, de 15 d abril de
1561, pedindo desculpa de ter casado sem licença.
Senhor — Por mandado de V. A. vim por ouvidor do capitão Ma-
noel da Camará da Ilha de Sam Migel o qual carreguo ora sirvo, ave-
rã dous ânuos e meio, e averá quinze dias ou vinte que me quasei com
lina (lona Maria, molher que foy de hum Pêro (lamelio Pereira mora-
dor e natural desta ilha. e por ella nam ser natural desta ilha e ser
(1; Este capiião era Antão xMarliiis Homem, sepuiido do nome.
AnCHIVO DOS AÇORES 419
tle Coimbra, nem nesta terra tem neiíhus parentes nem lhe ficou ne-
nhii íillio nem lillia do dito seu marido, nem tem outra nenhua obri-
garam na terra ijiie posa ser empedimento a eu deixar de fazer justi-
ça me tjuasei com ella por estas rezões por o (]ue peso a V. A. que
me faça mercê de me perdoar algua culpa que niso tive, em asi me
(]uasar sem sua licensa no que receberei mercê. De Fonia Delgada oje
15 de abril de 1501 ânuos.
Do ouvidor da ilt)a de Sã Migel
Luís da Rocha Portocarreiro.
{Sobreescripto) Â el Rei noso senbor=Do ouvidor da illia de Sam
Migel.
(Arch. nac. da T. do T., Corp. Chron., Pari. í.^ maç. 104—n.°J08).
Doação da Comenda de Nossa Senhora da Assumpção na
ilha de Santa Maria a D. Luiz Coutinho: 27 de junho
de 1567.
Dom Sebastião etc. Como governador e perpetuo administrador
que sou da ordem e cavallaria do mestrado de Nosso Senhor Jesus xpõ
I Christo) faço saber que por parte de dom Luis Couliuho fidallgo de
minha casa cavaleiro da dita ordem filho de dom Francisco Coutinho
(jue Deos aja me foi apresentado hum allvará de lembrança deli Rey
meu senhor e avô que santa gloria aja per elle asinado perque lhe prou-
ve de per falecimento do dito dom Francisco fazer mercê a seu filho
mais velho que por sua morte ficase da comenda de nosa Senhora da
Assumpção na ilha de Santa Maria que o dito dom Francisco linha co-
mo he declarado no dito alvará de que o trellado he o seguinte:
«Eu el Hei faço saber aos que este meu allvará virem que avendo
eu respeito aos serviços que me tem feitos dom Francisco Coutinhf) fi-
dallgo de minha casa e aos que e>pero que ao deante me faça ey por
bem e me praz de per seu fallecimeuto fazer mercê ao seu filho mais
velho que por sua morte ficar da comenda de Santa Maria da Asum-
l)ção na ilha de Santa Maria das Ilhas dos Açores (pie elle dom Fran-
cisco ora tem e por sua guarda e mmha lembrança lhe mandei dar es-
te allvará per mim asinado o (piall quero que se cumpra e guarde in-
teiramente como se fosse carta feita em meu nome passada [tela chan-
cellaria posto que este por ella não pasase sem embarguo da ordena-
ção do segundo livro titulo xx {20) que despõe o contrairo. André Soa-
res o fez em Lisboa a xxb [2õ) de setembro de y b e L'* {íõõO<. »
Pedindome o dito dom Luis Coutinho [)or men-ê (pie |)or quanto
420 ARCHIVO DOS AÇORES
O dito seu pai era falecido e eile era o filho mais velho que por seu
falecimento ficara segundo fez certo per certidão de justificação do dou-
loi" António Yas Ca^lello juiz dos meus feitos da fazenda e das justifi-
cações delia a que vinha e pertencia a dita comenda conforme ao di-
to allvará de lembrança oiivese por bem de lhe mandar pasar carta em
fornia delia. E visto seu requerimento e o dito alvará avendo respeito
aos serviçds do dito seu pay e aos que espero que elle dom Luis á di-
ta ordem e a mim faça ey por bem e me praz de llie fazer mercê em
comenda e com o habito delia dos dizimos da dita ilha de Santa Ma-
ria e da dizima do pescado que se antigamente ariecadav;; pelos olTi-
ciaes dos reis passados pêra sua fazenda e asi á vinlt-na do paslell da
dita ilha de Santa Maria e dos dous ilheos que sam juntos delia ao mar,
hum que se chama o de Sam Lourenço que está detrás da ilha e o ou-
tro que está defronte da ilha dos qnaes ilheos ey por bem (jue o dito
dom Luis se posa aproveitar do que lhe bem vier sem delles pagar di-
reitos allguns. E por esta presente carta lhos conto e hey por couta-
dos e lhe faço iso mesmo doação e mercee da dizima do pastell que
sair da dita ilha pêra fora do Heino que anda com a dita comenda co-
mo tudo á dita ordem e a mim pertencer pode por quallquer maneira
que seja e como tinha e pesuia o dito dom Francisco seu pay pela car-
ta que da dita comenda lhe foi passada por que de tudo ffaço per es-
ta doação e mercê ao dito dom Luis com o habito da dita ordem co-
mo dito he e com tall declaração que elle será obriguado a pagar á sua
custa os mantimentos e ordenados do vigairo e clérigos e trigo e quaes-
quer outras ordinárias de oficiaes eclesiásticos da dita ilha e dar o tri-
go necpsario pêra farinha pêra as ostias e o vinho, vellas e candeas de
cera pêra serviço das igrejas da dita ilha cada vez (jue pêra iso flor
pedido e por l;mto mando ao capitão da dita ilha e ao seu ouvidor,
juizes e olficiaes da dita camará e povo delia que ajam o dito dom Luis
por comendador da dita comenda como era o dito dom Francisco seu
pay e ao contadoí' de minha fazend.i na contadoria da ilha de Sam Mi-
guel que lhe dee a posse delia e asi mando ao allmoxarife ou recebe-
dor do allmoxarifado da dita ilha de Santa Maria que ora he e pelo
tempo for que lhe deixe aver e anvcadar per si e per quem lhe a-
prouver o rendimento da dita comenda e conforme a esta carta lhe per-
tencer aver e \>U) des o dia do falecimento do dito seu pay em diante
na maneira sobredita e cumpram e guardem e façam inteiramente cum-
prir e guardar esta minha carta (pie por firmeza delo lhe mandei daar
asinada e asellada com o sello pendente da dita ordem a qual se re-
gistará nf) Livro dos registos da dita contadoria pêra se ver e saber
<omo tenho feito esta mercê ao dito dom Luis e ao asynar dela se rom-
peo o dito allv;jrá de lembrança acima Irelladado. ÍJada em Lisboa aos
\xbij {27) de junho, Gaspar de Magalhães a fez, ano do nascimentít de
noso Senhor Jliuu xpõ {.kfius C/niíitn) de ]" b e Ixbij {lôb'7). Sebastião
da Costa a fez escrever. E dar lhe á a posse da dita comenda Pêro .\u-
ARCHIVO DOS AÇOBES 42 i
riqnez contador da ordem de noso Senhor Jhii xpõ posto que acima
diga que lha dê o contador da minha fazenda na dita iliia a qual poso
dará por si on per sua comis?m.
{Arch. me. da T. do T., Ur. 7.° da Ord. de Chr. f. 209.)
Carta reg-ia de 13 d'outubro de 1572: mercê a António
Francisco, para poder servir o cfficio de ouvidor
das ilhas dos açores, por espaço de 3 annos.
En el Rei faço saber aos que este alvará virem que pela boa en-
formação que me foi dada de Amtonio Francisco morador na Illia Ter-
ceira (jue João da Silva d(» Camto, fidalgo de minha casa servindo o
oficio de provedor de tninha fazenda nas Ilhas dos açores encarregou
de ouvidor da dita provedoria nelas per Ima minha provisam que lhe
pêra iso pasey e a servir no tal tempo o dito carguo como cumpre a
meu serviço e arrecadação e execuções que fez das dividas que se de-
viam a minha fazemda por confiar delle (|ue asi fará daqui em deamte
ei por bem e me praz que sirva o dito oficio de ouvidor da provedo-
doria de minha fazenda nas ditas Ilhas por tempo de três annos alem
do mais tempo que ho já sérvio como dito he e isto por fazer as au-
diemcias e por os feitos e termos e o despachar como for justiça e a«y
pêra arrecadar e executar todas as dividas que se devem nas ditas
ilhas a minha fazenda como o fez no tempo que foi encarregado per
João da Sillva {do Canto) o qual oficio servirá com ho esprivão que
emtão era de seu cargo e temdo empedimento o fará com quallquer
<tutro do lugar onde estiver servindo e fazendo as ditas execuções e
de Amtonio Francisco nos tempos qite lhe parecer comveniente terá
cuydado de prover os cartórios dos tahaliães e esprivães das ditas Ilhas
o que mando que lhe mostrem todos os asemtos livros e papeis que
lhe pedir e cumprirem pêra a dita arrecadação e euxecuções das di-
vidas e pêra quaesquer outras diligencias e não lhes n)ostrando (jue
ele ouvidor os posa a iso constranger com as penas que lhe bem pa-
recer e alem diso os meirinhos alcaides e porteiros facão tudo o que
lhe ele de minha parte e per meu serviço mandar no (|ue toquar a
seu oficio e ao negocio das euxecuções com o qual oficio o dito Amtí)-
nio Francisco avera de mantimento ordenado doze mill rs. cada hum
dos ditos três annos que lhe serão pagos do dinheiro das dividas que
se deverem e ele arrecadar e euxecutar e portanto mando ao prove-
dor de minha fazenda que lhe dê a pose do dito oficio de ouvidor e
lho deixe servir e delle usar na maneira neste alvará declarado pelo
dito tempo de três annos dando-lhe por juramento dos Samfos Avam-
gelhos (jue bem e verdadeiramente (► sirva guardando em todo meu
422 ARCHIVO DOS AÇORES
serviço e as partes seu direito de que se fará asemlo nas cosias des-
te e asy lhe deixe ter e aver os doze mil! rs. de mantimento e ao re-
cebedor do dito dinheiro que lh(js pague cada huu dos ditos três an-
nos e pelo treslado deste alvará com seu conhecimento e certidam do
provedor de como o dito Amtonio 1'Yancisco serve o tal! oficio mando
que lhe seja levado em conta o que lhe asy pagar e ao corregedor da
coireição das ditas Ilhas ouvidores juizes e justiças e quaesquer ou-
tros oficiaes delas asy da justiça como da fazenda que cumpram e fa-
çam inteiramente cumprir e goardar o que lhe o dito ouvidor de nji-
nha parte rcípierer p(jr sy e por suas cartas precatórias e lhe dem e
facão dar quando for de huas Ilhas pêra as outras pêra ele e pêra os
oficiaes e pesoas que comsigo levar e com que ouver de fazer os ne-
gócios que loquarem a seu oficio e euxecuções pousadas camas estre-
barias mantimentos e o mais que lhe foi" necesario que tudo pagará
per seu dinheiro pelos preços e estado da terra e cumprão outrosim
em todo este alvará que ey por bem que valha e lenha vygor posto
que o efeyto delle aja de durar mais de huu anuo sem embargo da
ordenação do segundo livro em contrario. Gonçalo Ribeiro o fez em
Lixboa treze dias doutubro de mil e quinhentos setenta e dous. Sebas-
tião da Costa o fez escrever. =Comcertada. João da Costa^Comcer-
tada António dAguiar.
{Arch. riac. da T. do T.. Liv. XXIX de doaç. de D. Sebast. f. 79 v.\j
Alvará de 26 de fevereiro de 1573, para deixar sahir li-
vremente carregado de trigo dos açores o navio fre-
tado por D. Catharina, molher de Francisco de Mello.
Eu el Rei ffaço saber a vós provedor da minha fazenda nas ilhas
dos açores tpie avendo respeito ao que dona Caterina molher que foy
de F'râncisco de Mello diz na petição atraz escripta ey por bem e me
praz que o navio (jue ele {sicí em cada hu ano mandou ás ditas Ilhas
fretado pêra lhe trazer os ditos noventa moios de trigo que diz que
nelas tem de renda lhe não seja tomado nem embargado pelo que vos
mando que pola dita maneira lhe não consintaes tomar o tall navio e
cinnpraps e guardes e façaes comprir e guardar este alvará como se
nelle cijnttni posto que ho efeito delle aja de durar mais de hu anuo
sem embargo da ordenação do segundo livro em cojitrario. Gonçalo Ri-
beiro o fez em Évora a xxbj (26') de fevereiro de J b'" e Ixxiij {1678'.
Gravyel de Moura o fiz escrever = riscou-se o tine dizia porquanto =
C(tmcerlada, .)oam da Gosta^^Comcertada, António d Aguiar.
(Arch. nac. da T. do T., Liv. XXIX de D. Seh., /. 148 r:\)
ARCHIVO DOS AÇORES 423
Carta reg-ia de 20 de novembro de 1573: mercê do officio
de juiz dos órfãos em Ponta Delgada a Pedro Camello
Pereira.
Dom Sebastião &.*. Aos que esta minha carta virem faço saber
que confiando eu de Pêro Camelo Pereira fidalgo de minha casa que
muito me servirá bem e fiehiiente como a meu serviço e a bem das
partes cumpre e por lhe fazer mercê tenho por bem e o dou ora da-
qui em deante por juiz dos órfãos da cidade da Pomta Delgada da ilha
de São Migel asi e da maneira que o ele deve ser e o foy Gaspar Co-
rèa que ho dito oficio tinha e vagou per seu falecimento e esta mercê
lhe faço vista bua portaria de Martiai Gonçalves da Gamara do meu
conselho e meu esprivam da poridade per que lhe despachou o dito
oficio pelo poder que lhe pêra iso tenho dado avendo respeito a seus
serviços e a boa enformação que dele se ouve o qual ele terá e ser-
virá em quanto eu oiiver por bem e não mandar o contrario e a todo
tempo que eu ouver por bem que ho não sirva o deixara de servir
sem por iso minha fazenda lhe fiqoar obriguada a nhua satisfação e
por tanto mando ao provedor de minha fazenda da dita Ilha de Sam
Mygel e ao ouvidor e juiz da dita cidade de Pomta Delgada e a todos
os outros oficiaes e pesoas a que esta carta for mostrada e o conheci-
mento delia pertemcer que ajão ao dito Pêro Camelo Pereira por juiz
dos órfãos como dito he e o metão em pose do dito oficio e lho dei-
xem servir e dele usar e aver os proes e percallços que lhe direita-
mente pertemcerem como tinha e avia o dito Gaspar Corea sem duvi-
da nem embargo alguu que lhe niso seja posto o qual foy emxamina-
do e ávido poi- auto pêra servir o dito oficio pelo doutor Panllo Afon-
so do meu conselho e meu desembargador do paço e pagou d«irdena-
do dele mill rs. os quaes emtregou ao recebedor de minha chancela-
ria peramte o escrivão delia que hos sobre elle caregou em receita
como pareceo per seu conhecimento em forma asinado per ambos e
ele jurará na dita chancelaria aos Samtos Avamgelhos que bem e ver-
dadeiramente syrva o dito oficio e cumpra e goarde o regimento que
dela levar e minhas ordenações goardando em todo a mim meu ser-
viço e as partes seu direito. Dada na cidade de Lixboa a dezanove dias
do mes d'outubi"o e feyta a vimte de novembio el Rey noso senhor ho
mandou pelos doutores Paulo Afonso e Gaspar de Figueredo ambos do
seu conselho e seus desembargadores do paço e petições; João da Cos-
ta a fez, ano do nacymento de nosso Senhor Jhn x[)õ [Jesus C/nisto) de
mill quinhemtos setemta e três e ele irá servo- o dito oflicio pesoall-
mente demtro em oyto meses e não imdo esta mercê não averá efey-
to = Comcertada, João da Costa = Comcertada, Anionio dAguiar.
(ArciL nac. da T. do T., Lir. XXIX de doac. de !>. Seh. f. 234 v.\)
42 i ARCHIVO DOS AÇORES
Carta reg-ia de 7 de dezembro de 1573: mercê a Lopo Dias
Homem para poder servir o offleio de juiz dos órfãos,
na villa da Ribeira Grande, por espaço de 3 annos.
Dom Sebastião &. Ffaço saber que aveindo respeito ao t\ue na
petiçãij alraz escripta diz Lo|)o Diaz Homem, morador na villa da Hi-
beiía Grande da lllia de São Miguei ey por bem e me praz que ele
syrva o oficio de juiz dos órfãos da dita villa por tempo de três annos
não mamdando eu primeiro o contrario pelo que mando ao corregedor
das Ilhas dos Açores que euxamine o dito Lopc) Dias e adiando que
hé auto pêra servir o dito olicio lhe de a pose da serventia dele e lhe
deixe servir e dele usar e aver os proes e percallços que lhe direyla-
mente perlenu-erem daíndo-lhe primeiro juramento dos Samtos Avam-
gelhos que syrva o dito oficio bem e verdadeyramente goardando em
todo a mim meu serviço e as partes seu direito da qual pose e jura-
mento se fará asemto nas costas desta provisão asiuada per ele e pe-
lo dito Lopo Diaz. El Rey noso senhor ho miudou pelo.s doutores Am-
tonio Vaz Castelo e Paullo Afonso ambos do seu conselho e seus des-
embargadores do paço. Gasp.ir de Seixas o fez em Almeirim a sete de
dezembro de J b e Ixxiij (lõ7S). Jorge da Costa a fez escrepver. =^
Comcertada, João da Costa^^Comcertada, António dWguiar.
{Arch. nuc. da T. do 7\, Ur. XXIX de doaç. de D. Seb. f. 310.)
Alvará de 5 de junho de 1574: mercê a Fernão da Rocba,
para poder servir o officio de chanceler em Ponta Del-
gada, por espaço de 3 annos.
Dom Sebastião d. Mando a vós juiz de fora da cidade de Poml;«
Delgada da Ilha de Sam Miguel que vos emformes do contlieudo na
petição atraz esprita de Fernão da Rocha morador na dita cidade e
achando dele boa emformação e de sua calidade suficieuícia, vida e
costumes e (jue o oficio de chamceler damte vos nam está provido per
mim o emcaiegareis da serventia delle per tempo de três annos não
mamdando eu primeiro ho conliario e darlhe-es a pose da serventia
do dito oficio e lho deixareis servir e dele usai' pelo dito ti-mpo de
Ires anos e aver os proes e pen.-allços (jue lhe com elle dereytamenle
per"tencerem damdolhe primeiritmeute juramento dos Sauilos Avamge-
Ihos i]ue ho sirva bem e verd.ideyramcnie goardamdo eu) tudo a myn»
meu serviço e as parles seu direito da qual pose e juramento se fará
asemto nas co>las desta provisão asinada [)er ims e per ele. Kl Rev
ÂRGHIVO DOS AÇORES 425
noso senhor lio mandou pelos donlores Amtonio Vaz Castelo e Gaspar
de Figueredo ambos do seu conselho e seus desembargadores do Pa-
ço. Gaspar de Seixas o fez em Lixboa a cymquo de Junho de mil (pii-
nhemlos setemta e quatro. Jorge da Costa a fez escrepver. = (^om(:er-
tada, João da Costa = Comcertada, António d'Aguiar.=
(Arch. me. da T. do T., Liv. XXÍX das doaç. de D Seb. f. 321).
Demanda com os conventos da Esperança e de S. Fran-
cisco, por causa das fortificações de Ponta Delgada.
1577.
Per elles tomarem parte das cercas desses dous conventos o que
he grande detrimento e periguo desa terra e gasto de S. A. que faz
com os cavouqueiros e outros offeciaes se ... . não for por deante,
por tanto quercwdo acudir e obviar aos impedimentos que .... põem
a esa obra não se efectuar e ocorrer a muitas descensões que diso po-
dem (irmanar mando a V. Hevd.™'^* pêra boa .... virtule spiritus
sancti e sob pena de ^scomunhàm ipso facto incurrenda e na privasão
de .seus olTicios e mais penas a mym arbitrarias que nem elles nem
outro allgiim religioso prelado ou súbdito e asi prellada ou súbdita di-
recte vel indirecte per si ou per outrem embarguem ou facão embar-
guar essa obra da cerca ou munj que sua A. manda fazer pêra defen-
são dessa ilha com tanto que se satisfasa a perda ou dano que lhes
fazem per outra via em cousas equivalentes ou necessárias pêra os
seus conventos e temdo V. reverendíssima causas justas pêra a di-
ta cerca e muro não se fazer per donde estaa ballisado e demarcado
pello circuito das suas cercas aos príncipes ou a mym as manyfestem
pois he contra direito algua (I) se detreminar em prejuízo de lercey-
ro in audita parte. Advirto a vosas reverendissimas que o bem com-
mum se ade prepor ao particular e fazerse esse muro e fruytificarse
(á) essa ilha como sua A. manda resulta em u/ílidade e cómodo de to-
doÁ a republica convém soceder (3) as provisõí^.v de S. A. e faiorecer
se esa obra com .... erem \)era a saúde de todos he per
e necessária. Dada em São Francisco á' Enxobvegyui treze de
wovembw) de mil e quinhentos sete/)/(í e .sv^te. =Frei António Pereira,
coinmissario.
(1) Falta a palavra — cowfir — que se deve subentender.
(2) É erro do escrevente, deve sev — fortificar-se.
(3) Assim está, deve lalvez ser acceder, ou satisfazer, e que por má intelli-
gencia do escreveiile foi assim trasladado.
(Notas do Sr. .1. I. de Brito ReheUo)
N." 47 — Yol. Vlll 1886. 7
42G AhCHlVO DOS AÇORES
Resposta
A Provisão do Rt verendo padre frei António Pereira por parle do
Senhor Rui Gonçalves da (>amara apresentada em que nos manda com
pena de excomunhão ipso facto incorrenda e outras penas tpie não em-
barguemos e impidamos a obra e for teficação que S. A. manda fazer
pêra dtfensão desta ilha mas con>intamus fazerse pela cerca e muros
de nossos conventos pois é pêra bem comum de todo este povo com
tanto que se salysfasa a perda e dano que nos fizer per outra via e
cousas equivallentes ou necessárias aos ditos conventos e que tendo
nós justas causas pêra a dita í)bra e muro se não fazer por omde es-
taa formalisaúo pellas nossas cercas ao ... . hpes ou a elle as mani-
festa .... Respondemos primeiramente esl« provisam foi pasada a
instancia e w^/nuasão do senhor cap/tòo Manoel! da Câmara como el-
la exprime o quall per parle neste neguoceo e delle a levar avante es-
ta obra por ajguas rezões sem nos sermos ouvidos e em cousa de lau-
to perjnizo como he rombar muros e cercas de religiosos e religiosas
e perturbar sua cllausura no que lambem se interessa bem comums,
não se fazemdo primeiro o exame devido, e ponderando a utilidade da
obra o que feito não ouvera este dano porque se podia allarguar a o-
bra e traça.
Nem Sua A. per suas provisões manda deribar muros e cercas
nossas senão tomar chãos e quyntais que he diferente per omde se fo-
ra informado da verdade outra maneira provera e intendendo nós que
esa era a intenção do dito senhor sem contradição allgua consentira-
mos em tudo quanto mais Ião fora está a dita fortificação ser pêra
defensam boa e proveito desta ilha que redunda em detrimen-
to seu gramde e periguo porque aliem de não se poder acabar sem
muita vexação do povoo como o confeção os mestres delia Uleixa^!)âe
fora todo o principal da cidade e deixarse de fortificar o . . . . dom-
de se teme o perigufi e deixarse a terra a risco de os ymigos o que
Deos nã(t mande nem permille se fazerem fortes entrando e
posto que lenhamos allguas justas causas e rezões que alleguar dean-
te dos príncipes e superior nosso pêra nos não derribarem o muro e
tomarem nossas cercas as quaes protestamos alleguar a seu tempo e
sermos admitidos e providos obedecemos a provisão do dito superior
em a forma nella conteuda que he que comsymlamos fazerse a obra
pella trasa que eslaa feita comlanto que a perda e dano se nos salys-
fasa per cousas equivalentes pêra o que estamos muito prestes e que-
reujos que se faça a obra pela dita trasa com tanto que nos dem ou-
tra tanta terra em outra parte pt ra a orla e recreação dos religiosos c
se deposite em a mão do sindico s?/a ovalliação pêra ornamentos e cou-
.s^£/s necessárias do convento e . . í/íaneira consinta re .... os não
incorrer em pena descomunhão e nas mais penas .... f)ra af)pella-
mos pêra quem de direito pertemcer pêra mai.^ s<'í///ransa e
quietasão nossa.
ABCHIVO DOS AÇORES 427
Em os doze dias do mes de janeiro do ano de mill e quinhentos
e setenta e sete anos nesta cidade da P(jnta Dellgnada desta ilha de
São Migell nas crastas (daustros) do convento de São Francisco hi pe-
lo Beverendo padre guardião frey Mannelí Cardoso foi dado a mim es-
privão estes autos com a resposta atras a quall en lhe disse se que-
ria asynar e dise que a não asinava por que não era necessaiio=Pe-
dro ílomem o escrevy.
Nottificasão a madre abadesa
Em os (juatorze dias do mes de janeiro do ano de mill e quinhen-
tos e setenta e sete anos nesta cidade da Ponta Uellguada da ilha de
S. Miguel! eu escrivão fui ao convento das relligiosas desta cidade de
nossa Senhora da Esperawm as grrtdes do pallaratorio do dito conven-
to (»mde veo a muito rereremX-Á madre abadesa do dUo conrAinio Maria
da Cruz a (\\\em li a patente atras do rev.-renrfo padre fiv'\ António Pe-
reira deu em resposta ipie pedia a vi>ta e que ella respon-
deria a ella e eu escrivão lhe dei loguo o trellado destes autos até quy
pêra respomderem o que lhe parecese e eu Pedro Homem o escrevy.
Em os dezaseis dias do mes de janeiro do ano de mill e quinhen-
tos e setenta e sete anos no escritório de mim escrivão por Huy Ker-
nandez procurador da casa do convento da Esperança desta cidade da
Pomta Dellguada me foi dado hum papell asinado por a madre abade-
sa dizemdo que era a resposta que dava á patente atras a (piai respos-
ta he a seguinte. Pedro Homem o escrevi.
Resposta das madres
.... noticia de hua provisão que foi notificaúa ao padre guar(]ião do
Convento de São Francisco desta cidade que em mão do padre
comisario sente a quall se dt-zia ser do reverendo padre frei
António Pereira em que nos mandava com penas consentiscmos fazer
a nova fortelicação per nossa cerca e tendo nós justas causas a não dar
o dito consentimento as alleguaremos deante delle ou dos piincipes e
por a dita nova forteficação perturbar nossa cllausura e termos outras
pistas causas pêra não d;ii' o dito consentimento sem primeiro sermo.s
ouvidas loguo tanto que a noticia nos veo a dita provisão a ella res-
pondemos e mandamos deante do superior nosso alleguar as ditas jus-
tas cau.>as na forma da provisão com a ordem e modo devido protes-
tandojião iucoreiínos nas penas delia pois em forma obedesemos e a-
guora aixs quatorze dias de janeiro de setenta e sete anos nos foi lida
liua |»rovisão que de/ia ser dú dito frei António Pereira por huvw es-
cr/z-ão d.iute o (juvidor .s^n/llar tpie ()arecia ser a mesma na quall com
penas nos mmidara desemo^ o dito consentimento ao quall nos pedimos
vista pêra ver sua /orma e respondermos obedecendo ou aleguando
nossas justas causas o não quis fazer pelo que respondem is que appel-
lamos ante (|;i dita ()rovisão e penas nella itisertas do que nos
sentimos muito agravadas pêra (|nem a cansa de diíeilo pertencer e
428 ARCHIVO DOS AÇORES
protestamos não incorer nellas pois já temos respondido com nossas
justas causas que mandamfiS li guo alleguar deanle du dito superior ou
seguir nossa appeilação. sendcnns resebida per elle conjo esperamos
e requeremos a V. S.^ Ruy Gonçalves da Camará nus mande dar vis-
ta da di/í/ /jrovisam pêra respondermos a ella que sem iso nós não
podemos senão da maneira que aqui dizemos pois por seu mandado
nos foi noteficada.=Maria da Cruz, abadesa.
E logo no dito dia atras em me sendo dada a repnsta atras escri-
ta e por eu escrivãí» ver a forma delia e parece as madres senão con-
tentarem com ver o trellado e llie ser lida a própria [»atente e mostra-
da a madre abadesa tornei loguu a portaria do dito convento e dei es-
tes próprios autos a madre porteira dona Isabell do Sí;iritu Santo e
que os dese a madre abadesa e que vise os próprios e o que quizese
e respondese todo o que quisese por ella Isabell dn Spiritu Santo ser-
vir de escrivoa da casa a qual na roda aceitou os ditos papeis e que
ella os daria a madre abadesa. =^Pero Homem o escrevy.
Vista ás madres
Em os vinte e hum dias do mes de janeiro do ano de mil e qui-
nhentos e setenta e sete anos nesta cidade da Ponta Dellguada desta
Ilha de Sam Migell na roda da portaria do convento da Esperança pe-
ja madre dona IsabeW do Spiritu Santo m^ foi dado este feito e dise
que a madre abadesa ho vira e as mais madres e que eslavão satisfei-
tas com a resposta que tinham dado para lhes dar vista dos próprios
autos e que conforme a patente tilas obedecião na ílorma delia e dian-
te quem ella mandava mandariam requerer sua justiça e que outra res-
posta não dava mais da que já tinham dada e eu escrivão dou fee es-
tes próprios autos estarem em poder das ditas madres faz oje seis
dias e o asinei, Pedro Homem o escrevi=Pedro Homem.
Os quaes autos eu Pêro Homem escrivão da ouvidoria desta ilha
de São Migell fiz trelladar dos próprios que em meu poder fiquão e
vão na verdade concertados com o tabalião abaixo, escritos em sete fo-
lhas com esta do concerto. Escrita nesta cidade da Vofita /^ellgada da
dita Ilha a \mte e cimquo dias do mes de janeiro de mill e quinhentos
setenta e sete anos.=Concertado, Pêro }lomem= Concertado, Pêro (?)
Lobo.
Monta nesta relasão e trelado contado as regras e termo do con-
certo e de conta oitocentos e sete reis = montou no próprio
escrivão dozentos = são ao todo dozentos oitenta e sete re\s=^(assi-
gnaturu ininleUigivel) .
{Documento incompleto)
{Arch. nac. da T. do T., Corp. Chron. P.' .?." maç. 19 -n."" 22.)
ARCHIVO DOS AÇORES ' 429
Carta regia de 23 de janeiro de 1578: mercê de 250^000
rs. annuaes a D. Joaniia de Mendonça, viuva de An-
tão Martins Homem, capitão da villa da Praia,
Terceira.
Dom Sebastião eto. faço saber aos que esta rarta virem que a-
veodo respeito aos serviços que me fez Antão Martins Homem que foy
capitão da capitania da ilha (*) da Praia e a falecer estando servindo
nela querendo fazer mercê a dona Joana de Mendcnça sua molher ey
por bem e me praz que ella tenha em sua vyda dozentos e cincoenta
mil reis em cada hu anno dos rendimentos da dita capitania pêra sua
soslentação e de hua sua filha que lhe ficou solteira pello que mando
ao allmoxarife ou recebedor do allmoxarifado da dita capitania da Praia
que ora he e ao deante for ou a qualquer outro otficial ou pesoa que
tiver carrego de arrecadar os ditjs rendimentos da capitania da Praia
que de seis dias do mes de novembro do anno passado de b e Ixx e
sete em que fiz esta mercê a dita dona Joana lhe dê e pague cada an-
no os ditos dozentos e cinquoenta mil reis du dito rendimento per esta
so carta geral sem mais outra provisão e pello treslado delia que será
registada no livro de sua despesa com conhecimento da dita dona Joa-
na mando que sejão levados em Conla ao allmoxarife recebedor ou of-
ficial que lhos pagar e ao provedor de minha fazenda nas ilhas dos
açores e a quaesquer outros meus olficiais delia a que o conhecimen-
to disto pertencer que na maneira sobredita lhe facão fazer o lall {ta-
gamento e cumprão e facão comprir e guardar esta minha carta que
por firmeza dello mandei dar a dita dona Joana per mim assignada e
asellada com o meu sello pendente. Gonçalo Ribeiro a fez em Lisboa
aos xxiij (23) dias de janeiro, anno do nacimento de nosso Senhor Jhu
xpõ {Jesus Christo) de "J b e Ixxbiij [lô78). Jorge da Gosta a fez es-
crever— Goncertada. António d" Aguiar — Goncertada, Pêro Gastanho.
(Arch. me. da T. do T., Lw. XLIV das doaç. D. Seb. f. 26 v.\)
Aforamento das terras largas em S. José da Relva, ao
capitão donatário Ruy Gonçalves da Gamara; 8 de
janeiro de 1580.
Os governadores e defensores etc. Aos que esta carta virem fa-
zemos saber que por parle de Uni Gonçalves da Gamara do conselho
{d'elrei) capitão da ilha de S. Miguel nos foi apresentado hu aforamen-
(•) Aliás vUla.
430 ARCHIVO DOS AÇ0BE8
loque llie foi feito per hiia provisãu dei rei dom Anrique que Sanía
Gloria aja de (juatro moios de terra no termo da cidade de Ponta Del-
gada da dita ilíia do qual aforamento o tresllado lie o seguimle:
Francisco Mendes Pireira contador da fazenda dei Rei nosso se-
nhor ne>ta ilha de São Miguel e ilha de Santa Maria etc. Faço saber
aos (pie esta carta testenuinhavel for apresemlada e o conhecimento
do caso com direito pertemcer qne no Livro dos registos das contas
fstá hum afoiamento feito a Rui Gonç.dves da Gamara capitão e go-
vernador do estado de>ta dita ilha, cujo treslado he o seguimte:
Em nome de Deos amen: saibam quantos este eslormento e carta
dafoiamento em fatiota ípfiatfwosim) pêra sempre virem que no anno
do nacimenlo dt^ nosso Senhor Jlm xpõ {Jesus Cliristo) de mil b*^ Lxxx
annos aos oito dias do mez de janeiro d«) dito anno na cidade de Pon-
te Delgada da Ilha de São Miguel na casa dos contos da fazenda dei
Rei nosso senhor estando ahi presente de liua parte Francisco Mendez
Pireira contador da fazenda do dito senhor na comarca da dita Ilha e
Ilha de Santa Maria e da outra o licenciado Bertolomeu de Frias em
nome de Ruy Gonçalves da Gamara do conselho dei hei nosso senhor
capitão desta Ilha de São Miguel e de dona Joana de Gusmão sua mo-
Iher o dito contador apresentou bua provisão dei Rei nosso senhor de
(]ue o trellado he o seguinte:
Eu El Rey faço saber a vos proved(ji ile minha fazenda nas Ilhas
dos açores que Ruy Gonçalves da Gamara do meu conselho e capitão
da ilha de São Miguel me enviou dizer que a Manoel d i Gamara seu
pai que Deos pertloe forão dados vinte moyos d • sem^^adura no tei'mo
da cidade de Ponte Delgada no limite da Relva pêra que delles ouvesse
sessenta moyos de renda cada anno pêra sempre e que possuindo seu
|)ai as ditas terras por se achar ijue na midição que se nellas fez en
leio Contra minha fazenda foy mandado fazer outra medição peia qual
se achou que eia de erro quatro moyos de terra pela vara de doze
palmos contra minha f:izemda os quaes lhe foram tirados nas cabessa
das das mesmas terras pelo que me pedia lhe fizesse mercê de lhe
mandar aforar pêra sempre os ditos ipialro moyos de terra que as.Ni
foram tirados ao dito seu pai por partir com outras terras que lhe fi-
caram e que pagara delia o foro (pie for justo: e visto per mim seu
requeiimento por folgar de fazi-r mercê ao dito Ruy Gonçalves da Ga-
mara ey [»or btun ijue os ditos (pialro moyos de terra que assi foram
tirados ao dit<) seu pai sejam aforados em fatiota [pftiilcosini) pêra seu)-
pie ao dito Ruy Gonçalves da (Gamara comtanlo (jiie elle e as pessoas
(pie nelles s ocedeiem paguem de foro eada anuo a minha fazenda três
moyos de tiigo e isto posto ipie a dita terra não andasse em pregão
sem embargo do regimento de minha fazenda e de qualquer ordena-
ção (pie aja em contrario e de se não guardar acerca dis>o as s(jleny-
dades necessárias sem embaigo da orilenação do á.** livro (pie diz (pie
se não entenda ser (ierog.ida nenhuua ordenação ^e dela ou da sus-
ARCHIVO DOS AÇORES 43!
tancia dela se não fizer expressa menção e por larilo vos mando que
lhe façais carta daforamenlo em forma dos ditos quatro ín(»yos de ter-
ra com os ditos ires moyos de trigo de foro cada anno em ijiie decla-
rareis as midições e confrontações dela com todas as mais clausulas
e condições e declarações com que se custumam fazer os taes afora-
mentos, a qual carta llie passareis com declaração que a virá confir-
mar em minha fazenda dentro de seis mezes primeiros seguintes (jue
se começarão do dia em que lhe for feita em diante e nela se tresla-
dará este alvará pêra em todo o tempo se ver e saber como se fez
por meu mandado João Alvares o fez em Li>boa a xxiiij (24) de abrill
de y b" Lxxix {1579) e eu Álvaro Pirez o fiz escrever = Kei = Dom
Francisco = A[)0stilla^=E sendo caso (jue o provedor das Ilhas dos
açores não este presente na Ilha de São Miguel mando ao contador de
minha fazenda em ella que faça o aforamento das terras que neste al-
vará faz menção (|ue comprirá em todo como nelle se contem assi co-
mo o ouvera de fazer o dito provedor se fora presente na dita Ilha de^
São Miguel e esta postilla não passará pela chancellaria sem embargo
da ordenação. João Alvares o fez em Lixboa a ij {2} de maio de mil b*^
Lx>ix {1579) e eu Álvaro Pirez o fiz escrever.
K o dito licenciado berto {sic) licenciado Berlolameu de Frias a-
presentou bua procuração da letra e sinal do dito capitão Ruy Gonçal-
vez e assin.ida pela dita dona Joana de Gusmão sua mulher de que o
treslado he o seguinte:
Dizemos nós Ruy Gonçalves da Gamara e dona Joana de Gusmão
que por esle i)Oi' nos feito e assinado damos poder ao licenciado Ber-
tolameu de Frias e António de Brum da Silveira pêra que qualquer
deles possa em nosso nome aforar e aceitar p(jr nos quatn» moyos de
terra nas cabeçadas dos dezaseis moyos que temos no limite da Relva
da Ilha de São Miguel por três moyos de foro pêra a fazenda de S.
A. e os pagarmos pelas ditas terras e todas as mais seguramças ne-
r.essarias conforme a hu;) provisão de S. A. cometida aos oíTiciaes de
sua fazenda da dita Ilha e outorgada com todas as clausulas que a pro
visão de S. A. reqnere obrigando a isso todos dos nossos bens e por
sermos contentes fizemos e assinamos este em Lixboa a xix {J9) de
junho de mil b*^ Lxxix {1579). Ruy Gonçalves da Camara=Dona Joana
de Gusnião.
E juntas e trelladadas a dita provisão e procuração disse o dito
contador Francisco Mendes Pereira que nor virtude da dita provisãi»
de S. A. aforava e dava daforamento como de feito aforou deste dia
pêra todo sempre ao dito capitão Ruy Gonçalves da Gamara e a sua mo
Iher e seus filhos e to<los seus erdeTros e subcessores doje pêra todo
sempre its quatro moios de terra conteúdos e declarados na dila pro-
visão de S. A. aqui Iresladada pela midida e vara de doze palmos os
quaes quatro moios de terra deste afoiamento estão no termo desta
cidade de Pomte Delgada na Relva como mais largamente se declara
432 ARCHIVO DOS AÇORES
•
na (Jita provisão e estão partindo do snl com as terras do dito Rny
Gonçalves e do ponente com a terra qne foi de Gaspar do Rego Bal-
daia e Bastião Gonçalvez e terra que foi de Jorge Affonso e cansela
da cerrada do dito capitão assi e da maneira que a S. A. pertencem
e pod''m [)erlencpr per qnalqner via e maneira que seja pêra elles
f()reiros milhor poderem aver as ditas terras e do levante coai terras
de xpovão (Chhsinvão) Dias, mercador, e de João d'Arruda da Costa
e do norte com terras que servião de Relvas do dito capitão e com as
mais confnmtHções com que de direito devem partir conforme e como
estão lançadas neste livro do tombo elle contador em nome do dito se-
nhor lhes trespassa todas auçõis reais e pessoaes utilles e direitos au~
tivas e passivas e todo o remédio de direito e os faz procuradores em
ren suão {sio com toda libera (sic) e geral administração e lhe afora
as ditas terras com todas suas entradas e sabidas serventias logradou-
ros direitos pertenças como ao dito senhor pertemcem e milhor se com
direito elles O milhor poderem aver com declaração que elles foreiros
e sens subcessores tratem e concertem aproveitem as ditas terras de
maneira que não venham em diministração e com declaração que pa-
garão de foro elles e as pessoas que nas ditas terras sôcederem em
cada huu anno á fazemda de S. A. três moyos de trigo bom e de re-
ceber pello mes d"agosto de cada huum anno pêra sempre e postos
nos guarneis do dito senhor nesta cidade e o pagamento primeiro dos
ditos três moyos de trigo farão pello mes d'agosto que vem desta dita
(*) era de oitenta e dahy por diante em cada hu anno [)ello dito mes»
d'agosto de cada hu ann(j e não poderão vender nem per outra via
enihear as ditas terras nem vender sem licença do dito senhor e quan-
do as vender as venderão com encarrego do dito foro a tais pesoas
que não sejão das defesas em direito e que bem paguem o dito foro
pagnando á fazenda de S. A. a corentena do preço por que as vemde-
rem e com declaração que não pagnando o foro per espaço de três
annos sejão ávidas por caidas em comisso e com estas condiçõis e de-
daraçõis e obrigaçõis disse o dito contador que fazia este aforamento
e que [xjderião tomar posse das ditas terras e mandalla tomar por
seus feitores e procuradores o (jual aforamento o dito contador fez por
não estar nesta ilha o provedor da fazenda de S. A. e o dito senhor
em sua provisão aqui tresladada assi o ouve bor bem e disse que ao
comprimento d"este contrato espycialmente obriga e ipotncava os qua-
tro moyos de terra e geralmente os mais bens do dito senhor com tal
(sic) que a espicial ipoteca não derogue a geral e pt-lo contrario antes
sob a dita pena se obrigou a liviar e defender as ditas terras d'este
(•) o oflicial (lo i-pgislo oscrcveu miui: —d'esta dita cidade era de <5t., á mar
"(Mil da pnlavra cidade poz umas aspas, naturalmente para corrigir, o que lhe es
(Uict-i'U licpois.
l^ota éo Sr. J. I dr Unto Rebello).
ARCHIVO DOS AÇOHES 433
nfuriunento e as fazer boas <> livres de qii;il(jiier pessoa que nas ditas
lerias e possição delias lhe mover algiia duvida por tal que elles fo-
reiros logrem e possuão pacilicameute as ditas terras s(ím (•onlradigão
de pessoas allguas a qual carta daforaujento lhe íez o dito contador
com declaração de (que) o dito Ruy Gonçalves da (Gamara haja con-
firmação da lazemda de Sua Altesa do dito contrato doje a seis me-
ses primeiros seguintes porque não avHudo este conti^ato e aforamento
não terá vigor e pello dito licenciado Rertolameu de Frias foi dito que
elle em nome e como procm-ador do ddo capitão Uuy Gonçalvez da
Camará e dona Joana de Gusmão sua molher per virtude da dita pro-
curação que pêra isso tem e vay tresladMda neste conlnito tomava e
aceytava pêra elle^ e seus filli.is e socessores de aforamento os ditos
quatro moyos de terra em fatiota {phatcoí-im) pêra siuqjre como neste
cotilrato está declarado coni o encargo •' obrigação de pagarem em
cada liu anuo pello mes d agosto os ditos tre> moyos de trigo de foro
com todas as obrigações e declaraçõis acima ditas e pêra isso disse
que obrigava por virtude da dita procuração os bens do dito capitão
Ruy Giinçalves da Camará ávidos e por aver como de tVito obrigou a
(jual aceitação do dito aforamento e obrigação do pagamento do foro
e dos Hiais bens o dito contador aceytou em nome do dito senhor e o
dito licenciado tão bem aceytou em nome do dito Kuy Gonçalves da
(iamara as obrigaçõis e todo o mais em que o dito contador se obri-
gou neste contrato por parte de S. A. e assi o outorgarão e afirmarão
e em testennuího de verdade o assinaram e mandarão de todo ser fei-
to este estormento que elles partes assinarão com le^temlmhas que
forãt) presentes, Gaspar Roiz e Pedro Híjuiem e António Hoiz. portei
ro dos contos e Cristóvão Gomez e eu Francisco Alvares escrivão dos
contí)S e da fazenda dei Rei nosso senhor nesta Ilha de São Miguel que
o escrevy a qual escritura de aforamento se tre.Nladou da j)ropia que
está escrita no livro do tombo destes contos de São Miguel onde es-
tá asinada por num e pello procurador do capitão e testemunhas e se
trelladou nesta carta testemunhavel na verdade pêra se dar ao procu-
rador do dito capitão pêra por ella tomar posse das ditas terras, Fran-
cisco Allvares escrivão dos contos o fez e>crever o sobescreveo e asi-
nou. Dada na cidade da Ponie Delgada desta Ilha de São Miguel sob
meu sinal e sello dos contos aos xiiij {14) dias do mes de janeiro de
mil b" Lxxx (iõSO) ânuos e eu Francisco Alvares, escrivão dos contos
da fazenda dei Rei nosso Senhor ne?.ta Ilha de São Miguel o sobes-
crevi.
Pidindonos o dito Ruy Gonçalves da Camará q:ie lhe confirmásse-
mos o dito aforamento e visto per nos seu requerimento e o dito es-
tormento daforamento aqui incorporado per esta carta lhos confirma-
mos e avemos por confirmada assi e da maneira e com todas as claii-
sullas e condiçõis e declaraçõis obrigaçõis neile contheiídas e declara-
das. E por tanto m.uidamos que asi se cumpra e guarde como se nel-
N.' i7~Vol. VIU -I88<). 8
434 AllCHlVO DOà AÇORES
le contem e esta c;uta de confirmação se treslladará no Livro dos con-
tus da dila Ilha e pêra firmeza de lodo lhe mandamos dar esta carta
per nós ;isinada e |)assada pela chancellaria e sellad.i com o sello pen
dente. Dada na vylla de AHmeirim a xxbij (27) dias do mes dabril,
João Allvares a fez, anno ele. de J b e Ixxx (lõSOy, e eu Allvaro Pi-
rez a fiz escrever=os governadores e defensores destes Heinos e se-
nhorios mandarão per dom Duarle de Caslello Branco meirinho mór
desles reinos e vedur da fazenda e do conselho, (reòo/ra.s dos riscados
e entrelinhas).
[Arch. mtc. da T. do T., Liv. XLIV de D. Seb., f. 373 v.\)
Carta regia de 16 de setembro de 1588: mercê de 150^000
rs. annuaes a D. Clemência, filha de Antão Martins
Homem, capitão da villa da Praia, Terceira.
Dom Filipe ele. Aos qne esta minha carta virem faço saber qne
avendo respeito aos serviços de Antão Martins Homem e falecer estan-
do servindo de capitão da Ilha {{) da Prava e por seu falecimento fa-
zer o senhor Rei Dom Sebastião meu sobrinho qne Deos tem mercê a
donna Joana sna mulher de duzentos e cincoenta mil reis de tença ca-
da anno pêra sua sustentação e de donna ('lemencia sua filha e não
lograr a dila tença mais de hu anno ey por bem de fazer mercê a di
ta dunna Clemência de cento e cincoenta mil reis de tença cada ant>o
em dias de sua vida us quaes começará a vencer de xb (7.õi dias du
mez de setembro do anno passado de b*" Lxxxbij [õ87) em diante em
que lhe fiz esta mercê e mando a Dom Fernando de Noronha. Conde
lie Unhares do meu cunselho do estado e vedor de minha fazenda que
lhos faça assentar no livro delia e despachar cada anno pêra lugar on-
de delles aja bom pagaaiento e pêra firmeza de todo lhe mandei dar
esta carta per mim assinada e passada pela minha chancellaria e asel-
lada com o meu sello pendente. Dada na cidade de Lixboa aos xbj (/6')
dias do mes de setembro. João Alvares o fez anno do nacimento de
noso senhor Jhii xpõ {Jesm Chistoi de mil b e Ixxxbiij (lô88), e eu
Manoel dAzevedo a fiz escrever.
íArch. vac. da T. do T., Lir. XIII de Filippe 7.°. /. 243 r.^.
Alvará da mesma data, fazendo mercê de lOOSOOO rs ã
referida D. Clemência
Fu el Uey faço saber aos ipje este allvará virem que avenihj i es-
peito aos serviços de Antão Martins Honiem e falecer estando servin-
df) de capitão da ilha (\) da Prava e per seu falecimento fazer o se-
[l) Aliás villo.
ARGHIVO DOS AÇOBES 435
nhor Rh)' dom Sebastião meu sobrinho tjiie Deos tem mercê a donii
Joana sua molher de dozentos cincoenla mi! rt^is de tença cada aum»
pêra sua sustentação e de dona (llemencia sna tilha e não lograr a
dita tença mais de huu anno ouve por bem de fazer menè á dita du-
na Clemt^ticia de cento e cincoenta mil reis de tença cada anuo em
sua vida de t|ne lhe foi passado padrão e (ii'a por lhe fazer mais mercê
ey por bem de lha fazer de cem mil reis de tença em cada hum anno
por tempo de oito amios (|ue se começarão de cinco dias deste mes
de setembro e ano presente de y b e L\x.\biij° {lõ88) em diante em
!]ue lhe fiz esta mercê em satisfação dos reditos que deixou de cobrar
(los ditos dozentos e cincoenta mil reis de tença depois que faleceu a
dita sua mãi. Noleflicoo asi e mando a dom Fernando de Noronha,
Conde de Linhares do meu conselho do estado e vedor de minha fa
zendH (jue lhe faça comtar os ditos cem mil reis no livro delia e des-
pachar cada anuo pelo dito tempo de oyto ânuos pêra lugar onde del-
les aja bom. pagamento e este allvará ey por bem que valha etc. João
Alvares o fez em Lixb ta a xbj {16) dias do mes de setembro de mil
b^ Lwxbiij" [1Õ88), e eu Manoel dÂzevedo o fiz escrever.
(Arch. nac. da T. do T., Liv. Xlll de Filippp 1° f. 243 ^.^)
Carta de D. Rodrigo da Camará a Cliristovão Soares; 24
de dezembro de 1623.
Com esta caria de V. m. de 16 deste espero ter mui boas páscoas
e que V m. pase estas e otras muitas com mui boa saúde he o que
eu ipiero que lhe poso asegurar que ningem com mais veras lha de-
seja. Aqui pasãmos já com nniita neve e de mim puso diser (jue sin-
to o rigiM- dela: os meus papeis estão remetidos ao conselho e se ve-
rão nele dipois de páscoa logo espero destes senhores me fasão resão
a el Hei bejei ja a mão e ao senhor (>)nde do Lirdiares tjue me fes
muita m. do q for esperando avisarey a V. m. por que sey (juanto ha-
de estimar todo o bom soseso q tiver nesta minha pretensão o lugar
andou estes dias mui regosijado e se perparavão muitas fesí«.s' /«do
frustrou a inorte do resem nasido suas sentidissimas.
Deos os Guarde /wrtirá ele darlhe mu sor António
Soares e Fadrique as de V. m. p ila m. q lhe las a quem Deos
Guarde como desejo. Madrid 24 de setembro de 623.
Dom Rodrigo df Camarn.
sõr Christovão Soares.
lArvIí. niu\ dn T. do 7'., ('^rp. (Jiron.. !'(irf.3.^, íimh;. 30, 27. <
436 ARCHIVO DOS ACOHES
Petição de Bartholomeu Dezcalça e Barros, ao Marquez
de Pombal, para ser substituído no log-ar de Secre-
tario do Governo Geral dos Açores; 25 de setem-
bro de 1773.
111."'° e Ex.""" Snr.^=Fazen(lo-me V, Ex.^ a graça de confiar de
mim o estabelecimento da Secretaria do Governo das Ilhas dos Aço-
res por tempo de Ires annos e achando-se este termo completo, dei
conta a V. Ex.^ de estar a Secretaria do expediente estabelecida na
melhor forma que siibe comprehender, e ainda que reconheça a incom-
parável honra {\ue teria em continuar no real serviço e occupação que
exercito, pelos créditos que tenho encontrado no mesmo sendo ha qua-
renta e oito annos Moço da Camará de S. Magestade, e servindo quin-
ze para dezeseis annos de Secretario do Governo de Mato Grosso, lo-
go no seu estabelecimento: comtudo porem, como acrescendo aos a-
deantados annos que numero de setenta e quatro as moléstias que me
constiluiram nas hohilai^eis (\) que padeço e constão das certidões dos
médicos inclusas, e concorrendo lambem as de minha mulher, que na
corte se acha padecendo sem abrigo; por não haver filho algum me
vejo nos precisos termos de recorrer á inata piedade de V. Ex.^ para
que attendendo aos relevantes motivos ponderados que me impossibi-
litam me faça a uiercè de me mandar successor, para deste modo po-
der recolher me a minha casa e cuidar na saúde, em quanto Deus me ,
não levantar o deposito da vida. = Deus Guarde a V. Ex.*. Angra 25
de setembro de I773.=III.'"° e Ex.""" Sr. Marquez de Pombal. A" Mui-
to alta pessoa de V. Ex.'* beija os pés seu fiel súbdito. ^^0 secretario
do governo — Bartholomeu Dezcalça e Barros.
(Are. nac. da T. do T. Pap. do Min. do Reino, maç. 618.)
{{') O íunanueiise escrevia muitos erros, naturalmente o rascunho tiiiliH =
hahituaes.
(Nota do Sr. J. I. de Br tio RebeUo).
DESCRIPÇÃO DAS AGUAS MINERAES
^as dramas na 3i}}a de S. Miguel.
AO Illustrissimo e Excellentissimo Senhor
MARTINHO DE MELLO E CASTRO,
MINISTRO, E SECRETARIO DO ESTADO
DOS NEGÓCIOS DA MARINHA,
E DOMÍNIOS ultramarinos;
E dada a conhecer por este meio ao Pu-
blico, em cuja utilidade tanto se
interessa o zelo daquelle Ministro.
Anno de 179 1 . '
Felix de Valois e Silva, morador ás pedras negras jiinti» an Pa-
quete, padeceu nu espaço de uito annos a liranna moléstia escrofulosa,
vulgarmente chamada alparcas. No quinto anno chegou a dita m(tlestia
ao seu maior auge. veudo-se o doente com i4 fistulas no peito e so-
vaco do lado direito, as quaes se commnnicavão de humas ás outras,
o que se conhecêo por meio da injecção. Sendo por fim desenganadc»
pelos Cirurgiões mais peritos desta Corte em Agosto de 1788, e por
elles abandonado, intentou deixar a Pátria, e embarcar-se para a Ilha
da Madeira afim de ver, se achava alivio na mudança do clima, e ao
mesmo tempo experimentar o remédio das lagartixas, então indicado
á sua queixa. Com efteito no dia 4 de Maio de 1789, embarcou para
a sobredita Ilha, aonde rezidio 13 mezes sem melhora alguma, antes
pelo contrario se augmentou a moléstia passando-se [lara as costas da
parte direita, até se contarem 25 fistulas. Todos alli geralmente lhe lem-
brarão as famosas Caldas do Ilha de S. Miguel, aonde innumeraveis
doentes de differentes lugares, principalmente da ilha da Madeira, se
tinhão achado bem. Hesolveo-se á instancia de algumas pesst)as fide-
(•) Sendo raríssimo o opúsculo de Félix Valois da Silva, torna-se ronve-
iiieiíte reproduzii-o para servir do U'imo dt* comparação entre o estado do Valle
das Furnas em 1791 e a actualidade.
Esta reimpressão ó extraliida do Jornal Enciclopédico, Lisboa, Maio de
1793: pag. 392 a 412. A estampa que a acompanha foi reproduzida por Bernar-
dins José de Senna Freitas na sua Viagem ao Valle das Furnas, Lisiioa. Impi-en-
sa Nacional, 184o.
43S AKCHIVO DOS AÇ0HE8
dignas, i^iie liiihão esl.iilu nas dilas Caldas, a tentar a Mia sorte nesta
segunda digressão, já que de nenhum elTeito llie fora o extracto das
largidixas Em Iode Junliode 1790, parlio para a sobiedita Ilha de S.
Miguel, e chegando alli dirigiu-se para o lugar dos banhos, que distão
da Ciíjade de Ponta Delgada ndve legoas. e tal fui a sua felicidade,
que no fim de iO banhos expeiimenlou taiila melhora, que se animou
a C(»nlinual-()S com toda a exactidão: visivelmente nelle se forniava hu-
ma Uííva n;itureza! Já não precizava purgar-se todas as semanas, co-
mo até então lhe era indispensável. No fim de CO banhos, (cura in-
teira) (Jas caldeiras, números 15, e 20. {a) somente lhe ri stavão 7 fis-
tulas, e já estava livre do perigo de que fora ameaçado, achando se
com grande vigor, e os mais alivios, que podião esperar-se de huma
moléstia de tantos annos. Nesse Inverno passou livre das crizes que o
HComettião Iodas ms Luas, e na seguinte Primavera lepetio os sobre-
ditos banhos, por meio dos qnaes inteiramente se restabelecéo, e
hoje se acha reslituido á sua antiga saúde, com muito mais vigor do
que antes gozava, e para bem da humanidade, e gratidão das mes-
mas agUHs mineraes dezeja fazer notórias as suas virtudes por meio
(lesta resumida descripção das suas obserrações, delineada sem aquelles
conhecimentos que re(]ueria a sua analize, narrando unicamente a ex-
periência (]ue delias colhèo á sua própria custa, e os effeilos que vio
fazer a diíJerentes doentes, que com elle se acharão nos dois amios
que alli se demorou.
Na Ilha de S. Miguel, huma dos Açores, que está na latitude de
38 gr. o 6. m., e na longitude de 23 gr. 36. m. do Meridiano de Lon-
dres Nove legoas ao N. E. da Cidade de Ponta Ddgada, está
situad(t o Valle das Furnas, rodeado de grandes montanhas, offerecen-
do do cimo de qualquer delias o aspecto mais encantador que a nossa
visla pôde gozar. Varias terras lavradias divididas por infinitos alemos,
e numerozis ribeiras do aguas cristallinas, tpie de alguns montes alli
vizmhos >e precipilão em maravilhozas cascatas, e vem atravessar á-
iiueilc. deliciozo lugar, paiecem ser produzidas pela provida natureza
para alivio, e consolação dos doentes, que alli vão buscar o sen remé-
dio. Ao lado di) Norte {alim, leste) fica a Povoação que toma o numt'
do mesmo >ilio, e que aformozea este valle com algumas cazas de te-
lha, muitas choupiiiHS,e huma ! t> reja nova de Sf//?/t/ ylw«r/, que tomou
o nome de Freguezia a 31 de .hdho de 1791, e deve ficar finalizada
no corrente ;mu)o de 1792: vários passeios de arvoredos, tornão aind;»
{ai Ha aiiiios (|ue o Minisiccio mandou n Ilha de S. Miguel hum En^^eiilieiro
pura re[)arai' as obras publicas: o niesmo levantou o plano da.s caldeiras, e nume-
rou as mais notáveis, e coujo nenhumas esU"io analizadas, .só me contento d(! ci-
tar as do n" lo, o 20, por se conhecerem os .seus préstimos.
(O Kntjeiítieiro a que o autor ."r refere vrn João Aiilonio Júdice; d caldeira
II." l't p (f cntdeini grande, fechada ha poucos amws por uma invede circular.)
ARCHIVO DOS AÇORES 439
OS diíTercntes caminhos flaqiielle valle, principalmente o (i(js banhos
que agora vou descrever.
\o S. E. (leste Ingur em distancia de hum tiro de peça se vè hum
sitio dezerlo e inculto, por causa dos muitos e diíTerentes miiieraes e
aguas thermaes, que continuamente borbotando formão caldeiras em
pequenas di.>taucia8 humas das outras, como se pôde ver do Ma[)a que
se offerece: algumas delias são inteiramente frias e muito cristallinas.
outras Com hum grão de calor insoportavel. A maior parte das caldei-
ras estão numeradas por ordem da nossa Soberana Fidelíssima com
marms de pedra. Entre estas a mais notável he a chamada Caldeira
grande, que terá de circunferência 50 pés; levanta no seu centro hum
grande coxão dagna fervente de elevação considerável, de hum calor
intolerável, que segundo as observações, que alli fizerão pessoas de
profissão, chega a 105 gr. de calor (do termómetro de l-arenheit) mms
do que o sangue humano. O Medico Gurley foi o primeiro que neste
sitio fez uso dos suadouros de fumo: mandava pôr os doentes a sota-
vento da caldeira giande em huma espécie de cadeirinha; alli recebião
o copiozí.» fumo que ella lançava, e em poucos instantes se achavão
transpirando, e por esle modo expellião o humor in^ensivelmenle pe
los puros do corp(». Esta maravilhoza caldeiía he talvez huma das mais
celebres do mundo, tanto pela sua grandeza, e gráo de calor, como
pelo beneficio, que segundo o que se observou, fez a innumeraveis
pessoas que se acharão alli ao mesmo tempo que o author desta. O en-
.\ofre faz a base das partes constituenle^s da sua agua, ella he diuré-
tica, desobstruenle, corrob(trante, e sapouacea; {a) o seu sabor he to-
lerável, o seu sedimento junto á ujargem he de hum cinzento achumba-
do; e em distancia de tiio de espingarda depõe himi musgí» verde, a-
veludado com laivos amarelos: seus maravilhozos benefícios se experi
mentão cijutra o rheumatismo. esquecimento de membros, toda a qua-
lidade de moléstia nervoza, piincipalmente moléstia de pélle; são insi-
gnes nos íamos de estupor, paializia. sarnas de promovem a circula
ção do sangue, e facilitão a transpiração. Junto a ella tom(tu o autor
desta !á5 banhos a fim de lhe laxar as fibras, e poro sangue em maior
movimento, e com elfeito delia alcançou as suas primeiras melhoras.
Na proximidade desta Caldeira grande, está outra mais pequena
com pouca difíerença de calor, e qualidade de agua, cuja corrente se
encorpóra mais abaixo d(t nascimento com a agua da caldeira grande, e
vão entrar na caza do banho alli próxima, (jue he huma choupana, que
mandou fazer I). Maria Magdalena da Camera, natural da mesma lllia,
que por diíTerentes moléstias que padece dá por bem empregada ajjor-
nada. (jue alli faz todos os ânuos.
ia) Vt'ja-se o "Diclioiíairo Univ. ot raison. de Mwllc (U' Chirurfi. cl de 1' ail
V»''lèreiiairo'' tom. á." amio 1772, e. aux sulpluir. pa^^ i82.suas qualidades, .«-itio-
e virtude?.
440 ARCHIVO DOS AÇORES
Em distancia de 30 passos da caldeira grande está a caldeira de
polmc. He humH medonha Fuma, a inatieira de liimia caverna subter-
rânea, que para se chegar ao seu nascimento, he precizo descer coiza
de "20 [>és: quasi sempre está cliéa de hiuu fumo espesso, que impe-
de aos viajantes o verem a sua horrivel bocca; porém nos dias de ve-
rão estando o sol intenso se pôde bem ver das dez horas por diante.
Nella se acha huma brenha de mais de 4 pés de comprimento, e 2 de
largo, na qual se observa continuamente huma agitação, lançando de
si huma espécie de lava muito quente (dizeu) alguns viajantes, que
bem se assemelha á do monte Vesúvio) com tal estrondo, que atemo-
riza os espectadores. MuitíS doentes alli mandão buscar o lodo junto
á breclia para usarem delle sobre os membros esquecidos, de que lhe
resulta beneficio. He este lodo muito macio, e de côr de chumbo: o
fumo que contmuamenle sahe da Furna, e rodèa aquelle lugar prepa-
ra a este remédio toda a sua virtude, seja pelas partes volatilizadas do
mineral que alli depõem, ou «pialquer outro motivo que o torna tão
smgular: o autur desta mandando infinitas vezes buscar deste lodo pa-
ra o applicar no hombro do braço direito, e repetindo esta operação,
ex[)erimentou tanto beneficio, que em algumas occasiõos, em que a
Furna estava mais agitada, e não lendo quem descesse abaixo por fal-
ta de valor, se animava a hir pessoalmente buscal-o.
No mesmo sitio se ^cUão innumerareis Caldeiras de aguas quentes.
couj difíerentes grãos de calor; hnmas com os fundos cinzentos dei-
xando depósitos verdes, outras de agua e lodo côr de leite; outras
vermelhas, infinitas de hum deposito amarelo claro. Muiu.s mais eíílTv)'
onfundidas ao longo da Ribeira que passa por baixo de.ste monte: de
todas estas ninguém se utiliza, por não estarem igualmente analiza-
das, e por se ignorarem seus préstimos.
Ha lambem innumeraveis nascimentos de aguas férreas ][mU) is
quentes, as quaes são frias, e muito cristallinas; seus depósitos em
geral são vermelhos, seus sabores acres humas mais do que outras,
desde hum grão moderado até o mais forte, e inl(»leravel; segundo as
narrações de alguns viajantes, se assemelhão ás aguas de Spaa na A-
lemaidia, em sabor, e beneficio, {a) Destas caldeiras, ou nascimentos
só se pôde dizer, que as suas aguas são muito adstringentes. Alguns
doentes fazem uso delias na relaxação de nervos misíurando-as com
MS (juentes. Também são maravilhozas contra as diarrhéas.
Nos lugares (|ue não lem agua junto ás caldeiras se acha com a-
bundancia a flor de enxofre, pedra hnme, o vermelhão, a caj)a rosa.
e muit.i |»edia calcinada.
A(tN. 0. da caldeira grande em distancia pouco mais, ou menos lUK)
passos, estão os Banhos da Ribeira, [)ara onde a maior parte dos doen-
í«i V('j;i-se o tom. 2. do 'iDictioiíairc Hriivcrsel." o :iux m;!rti;ile.>i. pa^. 485
suas (liffeccritcs qualidades, sities, e virtudes.
ARCHIVO DOS AÇORES 441
les conrorrem por serem maiji temperados, e haver mais pratica dos
seus benefícios. Sãu muitos Nascivu^nto!; de olhos cCagua, que saliern de
um rochedo com um marco de pedra N." 20. Estas aguas tem parle de
enxofre e ferro, lambem se jidga que ellas contém alguma caparoza;
seu deposito he côr de fogo, o calor mais que natiual, e o sabor ad
slringente.ou de caparoza. Foi nestes admiráveis nascimentos que o au
for obteve o seu total restabelecimento, oíide tomou 90 banhos nos dois
verões, que alli esteve, bebendo igualmente da mesma agua. Estes, e
outros nascimentos d^agua alli proxim)s,são approvados para os escro-
fulosos, e mais moléstias da pelle, como lambem na relaxação do estô-
mago bebendo-as; dão alivio aos gotozos; são excellentes para as ob-
struções, ictericias, moléstias uterinas, experimentadas para as dores
no abdómen, dor de pedra; finalmente forlificão os nervos e dão tum
á fibra.
Ha outros nascimentos d^aguas em hum sitio mais elevado da Ijan
da do N. O. da Aldèa. chamado de Santa Anna dentro do mesmo val-
le, aonde muitas pessoas lomão banhos de recreio. Dizem que forlifi-
cão os nervos, e abrem a vontade de comer. As aguas destes nasci-
mentos são mais crislallinas do que quaesquer das outras de que se
tratou.
Muitos enfermos vem a estes banhos acabar o seu reslabeleclmen-
lo depois de se terem preparado com alguns banhos na caldeira gran-
de, mas para isto he necessário a maior cautela, e observação da par-
te dos doentes na segunda escolha que fazem, porque delia dependem
as úteis, ou nocivas consequências.
A curiosidade do autor o movèo hum dia depois de eslar inteira-
mente leslabelecido a montar a cavallo para liir provar as aguas de
íudos os nascimentos das Furnas, e juntamente conlal-os se lhe fosse
possível, para o que levou hum copo, e hum criado para segurar o
cavallo nas paragens aonde o lodo mais enterrava de, não foi possí-
vel no mesmo dia executar esta empreza com aquella perfeição que se
dei^ejava, pela má situação de algumas caldeiras que eslão junto á cau
deloza Ribeira quente, assim chamada em razão do calor procedido dos
mesmos nascimentos, e pela dilTiculdade que ha para chegar a algu-
mas, tanto pelo lodo solto, como pela respiugação quente de outras :
com tudo, não obstante a confuza ordem em que a natureza as creou,
e em razão da qual chamar-se podião Labyrinto, no fim de dous tra-
balhozos dias de investigações em que sem duvida escaparão muitas,
achou liaver para sima de 200 nascimentos daguas férreas, deflerin-
do (jiiasi todas nos sabores, e depósitos com a notável galantaria, que
alguns nascimentos frios, dista vão dos quentes hum palmo. (N. B.)
(N.B.) A conta que assiiua se dà depiles nascimentos comprehende somen-
te o aitio das Furnas não rallando nos que lia juntos á famosa alagôa, nem dos
haidios da Ribeira grande (villa distante de Ponta Delgada 3 légoas), aonde me
.W i7 Vul. VIII -I88G. 9
442 ARCHIVO DOS AÇORES
O Ar que se respira em todo o valle lie o melhor de Ioda a Ilha,
purificado pelos muitos mineraes, que junto com as excellentes aguas
naturaes concorrem para o prompto restabelecimento dos doentes, sen-
do este o piimeiro beneficio que encontrão na chegada áquelle silio,
que ordinariamente succede no fim de Maio, até o meado de Setem-
bro; porém nas outras estações do anuo, he frigidissimo e húmido, o
que se attribue ás montanhas circunvizinhas, e muitas aguas que em
si encerra.
Os mantime??tos são baratos, e se fazem conduzir de Punia Del-
gada, ou da Ribeira grande, porque no sitio só ha com abundância a-
griões, morangos da serra, manteiga fresca, ovos ác. As galinhas que
apparecem nunca passão de 140 reis, ainda que são raras por indo-
lência dos habitantes.
«(ionciúo dizendo aos meus Leitores, e amigos, que conservo hum
amor, e lembrança ás ditas aguas pelo rápido beneficio que delias colhi,
livrando-me talvez da moléstia, mais pertinaz, que he o objecto da Cirur-
gia, e que padeci oito annos sem esperança de jamais me achar bom,
havendo exliaurido até áquelle tempo os remédios que a Medicina of-
ferece a este respeito, e também soíTrid(j o desengano dos melhores
Proftssures desta Corte, sem que nenhum delles tivesse a noticia de
siuíilhantes banhos, ou pelo menos a lembrança de mos applicar! por
cujo motivo dezejava que fossem notórios a todos, e com especialida-
de ás pobres, e innumeraveis victimas que nesta Corte padecem o ti-
ranno mal escrofuloso; pois discorrendo, que a Omnipotência sem du-
vida não creou aqiielles laboratórios de aguas de tão differentes, e sin-
gulares qualidades, para estarem no esquecimento do mundo, mas an-
tes para remediarem as queixas mais chronicas.
«Sim Senhores! aquella maquina que alguns sábios viandantes
chamão hum Thezoiro na Terra, (e as minhas cicatrizes o confirmão!)
está clamando por huma analize exacta, feita ao menos por dois Quí-
micos experientes, porque seria imprudência deixar a descripção e juí-
zo de hum só, o que merece a attenção de muitos; pois que os melho-
res autores que tratão desta matéria requerem que haja huma vigi-
lante observação, repetindo as anaiizes nas differentes estações do an-
uo, em que as aguas fermentão, mais, ou menos: e por este meio se
patentearem suas virtudes, como também, edificarem-se junto ás cal-
deiras, aonde se reconhecerem mais préstimos; pequenas cozas de a
dizem haver muila abundância de enxofre, que existe propriamente em secco, e
passando-llie as aguas naturaes de liuma Ribeira por cima faz fermentar huma
agua quente muito própria jiara curar sarna, e moléstias de pelle, e como este-
jão mais perto da Cidade, achão os habitantes mais cómodo lurem alli, para o
que a Gamara da dita vilia tem mandado lazer cazas de banho com alguma re-
gularidade. Eu pertendi hir examinal-as, mas a miidia repentina viagem para
esta Corte me privou da satisfação da minha curiozidade, e por cujo motivo del-
les não posso fazer melhor menção.
ARCHIVO DOS AÇORES 443
bobada, para se tomarem os banhos, e mellior comodidade dos doen-
tes, já que até agora cada qual mandava fazer Imma choupana e lhe
metia hum, on dois caixões de páo, que apenas dura hum anno por
causa da grande humidade, e va[)ôr das mesmas aguas, que tudo a-
podrece. Merece emfim ser coroada esta obra C()m hum pequeno Hos-
pital dirigido peia forma, e maneira do das Caldas da Rainha.com as-
sistência de Medico, Cirurgião, e Boticário, noujeados pela Camará, e
santa Caza da Mizericordia da dita Cidade de Ponta Delgada, para al-
li rezidirem os cinco mezes contados de Maio até Setembro debaixo
da direcção de hum Provedor, a cujas despezas bem podia prestar-se
a mesma Caza de Miserirordia com o beneplácito Régio, cujos fins ten-
derião ao bem espiritual, e corporal; porque ha immensos doentes po-
bres de ambos os sexos, que delia se não podem utilizar pela sua in-
digência, como também concorrerião sem duvida de todas as parles
innumeraveis pessoas que darião por bem empregada a despeza, que
fizessem pelo bem de sua saúde, resultando daíjui ajusta apreciação
dos ditos banlios, a utilidade da Ilha principalmente dos habitantes das
Furnas, e a satisfação de todos. «Estamos vendo, que a Providencia
Divina em quasi todos os cantões do Mundo favorece a humanidade
com varias espécies de Caldas (cr), que nos nossos dias vemos serem
applicadas como os últimos recursos da Medicina, e principalmente
nesta Corte de Lisboa, n'hum sitio de que todos lemos noticia pela
sua extensa fama, {b), e aonde não ha mais (jue huma qualidade da
gua. Que du-emos d'aquelle aonde mais de 200 ditlerentes nascimen-
tos brotão continuamente? O Ceo permitia que em meus dias veja ef-
fectuar esta desejada analize com aquella exactidão que merece aquelle
singularissimo sitio, afim que delle se possão claramente colher seus
beneficios sem a menor confusão!
Observações do Autor
As primeiras ristas do valle das Furnas, o ameno do seu sitio, e
aguas satisfazem muito a imaginação dos doentes, que alli vão; o que
« experiência, e os melhores autores nos mostrão ser hum dos prin-
cipaes remédios em todas as moléstias, principalmente nas chronicas,
em que (jrdinariamente reina a melancolia.
A transpiração no uso dos banhos (pier-se moderada, e não comi)
muilos usão, e eu observei que estavão horas esqueciílas no ab.do, e
(a) Retiro-me ao 1.°, e 2.» Tom. dos «Dicrionarios Quimicos«, das differcii-
les aguas Thermaes na Europa; em quasi Iodas as Proviíicias do nosso PortuiiaJ
as temos, quaes são as de Alcafache, de Azurrara, Anciaens, Aregos, Canavezes,
S. Gemil, GranjAo, Esturil, Gerez, Monchique, Monsanto, S. Pedro do Sul, Fonte
Santa &c.
(ft) As Caldas da Rainlia.
444 ABCHIVO DOS AÇORES
alé nelle adorinecião, pensando talvez qne a copioza transpiração os
uliviava mais depressa; por este modo initavão dcmaziadamente as
funções principaes do corpo, debililando-se depois alé desfalecer, de
modo que, em lugar de lhe acharem o proveito, sintem maior dam-
no; pelo contrario a transpiração moderada no espaço de muitos dias,
serve de hum saudável beneficio.
Nas Caldas da Rainha, e outi as se costumão interpolar os banhos
aos doentes, porque os debilitão sendo continuados, prohibem-se algu-
mas frutas, leites de, nas Furnas pelo contrario lodos os dias se fo-
mão banhos, e regularmente tomados forlificão os nervos, pela diver-
sidade de mineraes: as frutas são recowmendaveis sendo maduras, o
uso do leite misturado com as aguas ferventes de enxofre tem exceUen-
te préstimo, excepto nas obstrucçíies. Eu o tomei não obstante a opi
nião geral de ser hum veneno para os Escrofulozos.
As aguas das caldeiras, que a humas naturezas facilitão as eva-
cuações, a outras as fazem renitentes, como a mim me aconlecèo, re-
querem as vigilantes observações da parte dos doentes, que alli vão.
nhuma boa escolha, já que a natureza suptrabunda naquelle sitio com
infinitas qualidades de aguas differindo humas das outras para reme-
diarem diversas queixas; este recurso não ha nas Caldas da Raicdia,
aonde acontece ordinariamente aos doentes voltarem para suas cazas
com gravíssimo prejuízo das jornadas, de que muitas vezes lhes re-
sulta a morte, como eu poderia citar infinitos exemplos.
Hum incommodo tem as (baldas de S. Miguel para muitos, que he
a passagem do mar, porém quando ha urgente necessidade, que re-
médio? Muitas vezes a mudança de elemento, e clima concorrem para
o bem das moléstias chronicas, e neste caso devemo-nos sugeilar na
esperança de recuperar o bem de nossos dias, arriscando-nos a hum
perigo para remediar outro.
Não posso deixar de relatar alguns benefícios repentinos, que es-
tas maravilhozas aguas fizerão nos annos de 1790, e 1791, em tempo
que alli estive.
Huma Donzella de 22 annos, que havia tempos era acomettida de
huma dor no Abdómen tão violenta, que a provocava a vómitos, anciãs
e gritos, nos quaes perdia o uso dos sentidos e mais funções vitaes,
foi áquelle lugar em setembro de 1791, principiando o uso dos banhos
de Santa Anna («), ao quarto repetio lhe hum fortíssimo ataque, das
9 para ás 10 horas da noite, a tempo que me achava presente, pedi
com instancia á familia da caza a deixassem hir immediatamente aos
Banhos da Ribeira, e consentindo nisto a muito custo, a pnzemos em
sima de hum jumento, e a encaminhamf»s para o dito lugar, aonde se
lhe apron»plou hum banho N." 20: não haveria 3 minutos que eslava
dentro quando déo graças ao Ceo, de .se ver consolada, e a dôr unli-
(a) Níisciriicuiu u." 2:{.
ARCHIVO DOS AÇORES 445
gada. Esteve Io minutos no banho, e 5 no abafo, donde sahio pelo
sen pé mui alegre, repelindo no dia seguinte o mesmo, e assim con-
tinuou por espaço de Io dias. retirando-se depois para a Cidade in-
teiramente restabelecida.
Luiza Joaquina de idade de 20 annos filha de Francisco António
da Silva, negociante da Ilha da Madeira havia o annos que não era as-
sistida, e por este motivo estava obstruida, e desenganada dos Médi-
cos daquella Ilha. Foi áquelle sitio em Julho de 1791, onde tomou ^0
banhos da caldeira N." 20, bebendo da mesma agua misturada ,com
vinho tinto, e tomando ao mesmo tempo huma doze de goltas de a-
zeite (ia baga de louro, Receita particular de Thomaz Hichling, Cônsul
dos Estados Unidos da dita Ilha.
A' minha partida para esta Cidade a fui visitar, e a achei já res-
tabelecida, e querendo tornar naquelle mesmo anuo para a sua Pátria,
lhe foi aconselhado o segundar os ditos banhos, no presente verão de
1792.
O Morgado Francisco Agostinho, também da Ilha da Madeira de
idade de 48 annos com huma icterícia f.jrmal, foi alli mandado no
mesmo tempo, tomou parte dos banhos na caldeira N.*^ 15 e perto de
50 no de N." 20 bebendo a mesma agua, e fazendo uso do cozimen-
to das alcachofras mansas três vezes ao dia; voltou á sua Pátria res-
tabelecido no fim de três mezes, que delia se tinha auzentado.
D. Maria Magdalena da Camará, todos os annos alli vai buscar
alivio ás muitas moléstias que padece, ff)i o anno passado entrerada
para as Furnas, ao 5.° banho da caldeira N ** 20 andava por seu pé:
ouvi-lhe dizer, que se algum dia tivesse qualquer ataque em que per-
desse o uso dos sentidos, dezejaria a levassem áquelles banhos, aos
(|uaes tem devido a conservação da sua vida ha annos.
Á propoição destes prodígios vi muitos exemplos de rheumatis-
mos, e dilferentes qualidades de moléstias, entre as quaes a minha en-
tra no numero das mais pertinazes.
Outra maravilha da natureza observei mais, e vem a ser: que ao
Oeste noroeste O. N. O. das Furnas em distancia de meia legoa está hu-
ma famosa alagòa. Terá pouco menos de Ires quartos de legoa de cir-
cunferência: com justa razão se conjectura que ella fornece às caldei
ras das Furnas a sua agua, e as preserva de se não tornarem em
volcanos, o que assim resultaria inflammarcm se áquelles combustivos.
cazo não tivessem agua superabundante, e em proporção bastante pa-
ra contrabalançar a força da inflammação dos mineraes que alli ardem.
Esta alagòa está quasi patalnlla com os banhos de Santa .Anna.quc a
bundãr» ordinariamente cm aguas férreas, e sulfúreas; o anno passado
profundarão mais do seu costume com bem pouca corrente, a conse-
quência disto foi a grande secc.t que ella experimentou: (esta falta não
as soffrerão as caldeiras grandes, porque íicão muito mais baixas): mas
rigorozas invernadas naqiiellas altas serras, que atrahem a si pela sua
446 AHCHIVO DOS AÇORES
giMiuie elevaçãu copiozas chuvas, a tornão a pôr no seu uivei, e mui-
tas vezes fazem com que iuuudem o caiuiulio aos passageiros.
Nem huma só choupana vi naquella parte, por indolência dos lia-
bilaules, que além de ser necessária para refugio dos mesmos Passa-
geiros, e Pastores na rigoroza estação do Inverno, seria ulil nos me
zes do Estio para lodos os que vão ao divertimento da pesca, que ha
poucos ânuos introduzirão alguns curiozos, que lançarão uella peixes
da espécie que ha nas quintas particulares, de que tem produzido con-
sideravelmente, e emanado para outras alagôas que ha na Ilha; tam-
bém alli houve algum tempo huma embarcação, que por descuido a
deixarão espedaçar.
O mnpa que julguei propi io mandar fazer, representa unicamente
a vista das Caldeiras grandes, por serem estas mais notáveis, e delias
tira o sitio o nome de Furnas: poucos, ou uenhmís viajantes olharão
para aquelle quadro sem espanto, ou huma seria reflexão, meditando
nas grandes obras da natureza, e contando as entre o numero de suas
mais consideráveis maravilhas.
AGUAS IVIINERAES DA ILHA DE S. MIGUEL
Descripção pelo Dr. G. Gourlay em 1791; trad. por Fran-
cisco Tavares.
«Puriíue^a Ilha de S. Miguel !ie pertencente aos Domínios de Portugal,
e pella sua importância deve ser considerada como huma de suas Pro-
vindas, na qual ha tanta abundância e variedade de aguas mineracs,
H algumas destas se podem conduzir mui çommodamente para o Rei
no, he que me resolvi a dar aqui a noticia única regular, que delias
achei, se não absolutamente capaz de saciar a curiosidade dos aman-
tes da Sciencia, sufliciente para indicar a natureza delias e o lugai-
que devidamonte podem occupar na Practica Medica. Traduzirei pois
com a lidelidade, que cm mim couber, a Ralarão das aguas mineraes
da Ilha Portagueza de S. Miguei pello Doutor Guilherme Gourlay Me-
dico na Madeira, impressa na Década II, dos Conimentarios Médicos
de Edimburgh tou). 16 pag. 232 sect. II, Ari. I, anno de I79i, que diz
assim:
aEm distancia de (juasi dez legoas ao Nordeste de Ponta Delgada
principal (jdade da Ilha de São Miguel ha himia pequena aldeia cha-
mada as FMfwoN. situada nhum espaçoso valle cercado de aWòSjnon-,
ARCHIVO DOS AÇORES 447
tanhas. São estas compostas de pedra pomes, e cobertas de hervas, e
de varias arvores e arbustos sempre verdes. As suas siimmidades são
formadas em muitas elevações, que são separadas por ralles: e os de-
clivios são cortados por aberturas ou buracos providos de pequenos
regatos, que descendo formão lindas cascatas. As correntes separadas
cliegão a unir-se, e formão hum rio, que serpéa pello valle, cujas mar-
gens são cobertas da sombra de formosos choupos.
«O terreno deste valle consta principalmente de pomes pulverisa
da. Ainda que fraco, lie cultivado, e produz trigo, milho, legumes, e nos
sitios liimiidos, gnhames e outras raizes. Cavando hum pouco abaixo
da superfície actião-se n^niitas cavidaíles, que mesmo passeando sobre
a terra se percebem pello som. No fim do valle para a banda de Sues-
te ba huma pequena elevação a que chamão as Caldeiras. Esta eleva-
ção que por ventura terá huma anilha quadrada consta de numerosos
outeirinhos, e he a hi evidente a acção do fogo. Descobrern-se varias
camadas: pyrites, lava, pomes, mame, greda de differentes cores, ochra ,
ferro em bruto, terra calcarea, misturada com ahume e enxofre.
«Aqui ha numerosas fontes ferventes, muitas quentes, e algumas
origens frias mineraes. As aguas quentes formão varias correntes, e
delias consideravelmente profundas. Estas na sua passagem formão
borbiilhões, fumegão, e lanção vapores sulfúreos.
«Nos dias serenos sobem grossos volumes de vapor ondeando até
grande altura. Olhando do Norte, o verde variado dos campos cultiva-
dos misturado com o das «rro/í'ò- irregularmente espalhadas pellas cer-
cas, hum rio serpeando pello valle, hum lago ao longe, e nuvens de
vapor que se elevão das fontes fumegantes, formão um delicioso pros-
pectOi cuja belleza ainda he mais exaltada pello verde escuro, e livre
projecção das montanhas, que lhes ficão por detraz.
«A maior das fontes ferventes, a Caldeira, terá de 25 a 30 ^Cs de
diâmetro. Faltando-me huma linha de plnmo capaz, não pude deter-
minar exactamente a sua profundeza, indaque he considerável. A gen-
te da terra, que nunca a sondou devidamente, ou talvez de modo ne-
nhum, persuade-se que não tem fundo. A agua tem calor de escaldar,
e sempre está no estado de fervura. Lança continuamente hum vapor
excessivamente sulfúreo, e que muito se assemelha á pólvora queima-
da. Deposita hum sedimento argilloso, levemente azulado. O seu gosto
he de acescencia pungente. A' distancia de poucas jardas [)or detraz
de hum cabeço de lava ha outra fonte fervente: está n'huma cavidade
na baixa de hum rochedo prolongado, e he emphaticamente chamada
a Forja. Raras vezes aqui pode verse a superficie da agua, em ra-
zão de hum muito denso vapor sulfúreo, que a cobre. Á fonte ferve
com grande violência, e hum estrondoso assopro interrompe o ruido.
Misturada com o vapor e fumo lança fora grandes quantidades de ar-
gilla azul. glutinosa, fina, que espalha ao longe, e incrusta o penedo e
os mais corpos que lhe ficão visinhos. O ruido destas fontes asseme-
4Í8 ARCHIVO DOS AÇOHES
llia-se ao luiige ao som de alabales. Duas são as maiores; lia porem
muitas outras fontes ferventes, e em differentes lugares sahe vapor pel-
las feudas dos rochedos e dos outeiros. Naquellas em que he menos
perceptivel. chegando o ouvido ás fendas distinclamente se ouve o ruí-
do da agua fervendo. Ue outras a agua e^guiclla por intervallos, e
realmente escalda aquelles, a quem acontece aproximar-se descuida-
ilamenle.
«Em muitas partes o chão he tão quente, que sobre elle se não
pode estar sem incommodo, e mesmo sem trabalho, ou dor. Em toda
a parle está coberto de enxofre cru: liuma peça de prata exposta ao
ar immediatamente se faz côr doiro. Posto que muitas destas fontes
sejão ferventes, algumas são de moderada temperatura, e outras intei-
ramente frias. A agua de algumas he crijstaUina, ^ tran^^parente; d, de
outras lie turva de côr alvacenta, ou avermelhada, e geralmente depo-
sita argilla azul, ou encarnada. Achão-se perto das fontes crystaes de
pedra ahume, e de enxofre em grande abundância e variedade, dos
quaes muitos são extremamente formosos, e aonde o vapor sahe pel-
las aberturas, ou fendas, alguns delles tem duas polleyadas de compri-
do.
«Em alguns lugares o terreno he de consistência barrenta, e mol-
le, em outros he solto, secco, e esboroado. Cavando sahe da cova hum
forte fumo sulfúreo tão quente, que não se pode conservar a mão so-
bre elle por hum minuto, e em curto espaço de tempo ou se enche o
buraco de agua quente, uu pellos lados se cobre de liuma côdea de
enxofre sublimado, e de ahume, semelhante á geada branca. Algumas
fontes quentes brotão perlo das margens do rw que corre pello valle:
e também no meio da corrente a ebullição he em algumas partes per-
ceptivel, e dahi sahe, como das fontes quentes, fumo e vapor. O rio de-
posita sedimento ochraceo sobre as pedras, e sei.ros de seu leito. Em
poucas parles he o sedimento de côr vtrdoenga, semelhante á da ca
parrosa verde. As plantas, e arbustos das suas margens são incrusta-
das com enxofre, pedra hume, e outras substancias. O gosto das aguas
diversitica: humas o tem forte vitrioUco, outras do acido aéreo, em hu-
inas he aluminoso, ou de pedra hume, ou firreo. em outras nada se
percebe de gosto diíTerenle, e são perfeilameute insípidas.
«He ordinário que a gente do povo. para poupar o gasto de lenha,
faça a sua cosinha, pondo os utensilios sobie as fontes quentes, ou so-
bre as fendais fumegantes. O inslincto tem ensinado o gado a avisinhar-
se a este sitio para limpar-se dos insectos, demorando se nos outeiros
entre o fumo sulfúreo.
«Ao pé das origens quentes rodeando \\v\m outeiro ú^. pedra pomes
corre hum pt'(|iieno regalo de agua fria. formailo de varias nascentes
frias, que broião do outeiro, e immediatamente se unem. Em pouca
distancia da corrente deposita .vcrf/mr/íío pálido,** amarellado, ou ochra-
ceo de côr subida. O Sfu s<ibor he austero, e act'scente, o seu cheiro
ARCHIVO DOS AÇORES 449
ferruginoso. Algumas são excessivamente pungentes, e penetrantes. A
ngiia crepita nos copos como o vinho de Champanhe.
«Para a banda do Poente cerca de cento e cincoenta passos de dis-
tancia lia varias origens de agua qvente mineral da mesma natni'eza,
porem menos abundantes do que as acima mencionadas. Ali ha algu-
mas cabanas com lugares para banhos, aonde concorre //^w^e para usar
das aguas. Na mesma direcção, hiima milha quasi mais distante, ha
mais algumas origens quentes mas de calor moderado, que em tudo e
por ludo se assemelhão ás ja ditas.
«A terra e plantas visinhas estão cobertas com huma crosta ama-
rellada. As cabanas de banhos, que primeiramente se tinhão alli edifi-
cado, há poucos annos forão destruidas por grossas chuvas. Perto de
huma milha ainda mais para o Poente corre a Ribeira sanguinolenta
assim chamada por causa de mui carregada cor vermelha de suas a-
quas. Nas margens delia nascem fomes de hum sabor fortemente aces-
cente e ferruginoso, assim como he o cheiro. As aguas depositão sedi-
mento ochraceo alvacento.
«Alem d'huma cordilheira de montanhas, e quasi huma milha pa-
ra o Sul, á borda de hum lago ha muitos outros mananciaes. Nestes,
como nos que estão descriptos, se observa a mesma variedade e dif-
ferenças. Muitos delles fervem violentamente com hum sussurro seme-
lhante ao zumbido das abelhas, e trazem com sigo huma argilla espe.s-
sa, glutinosa, azul, que he lançada com borbulhões, e vapores a hu-
Nta considerável distancia. Na superfície de algumas não poucas fontes
apparece escuma bituminosa; e da mesma maneira, que nas outras fon-
tes, ha variedade de bell'>s crystaes e grossas incrustações de pedra
h '.me, e de enxofre. Entre as origens quentes deste sitio ha huma que
merece particular attenção, porque forma hum tanque, ou lago de qua-
si doze pés de largo, e duas vezes mais de comprido, o qual ferve C(»m
grantie íorça. e muito estrondo. Mui perto e achegado a este lago nas-
cem varias fontes frias em hum leito de pedra pomes, e ainda que per-
feitamente frias, estão como em actual fervura assim como acontece nas
quentes. Tem ellas hum sabor, e cheiro mui áspero e acescente, e são
mui prenhes e saturadas de acido aéreo. Alem destas até aqui referi-
das ha muitas outras fot.tes mineraes em diversas partes da Ilha.
«Tenho pezar de ter estado tam poucos dias nestas paragens, e
desprovido de necessários apparelhos j)ara poder fazer ^sanalyses, como
desejava, as quaes não podem ser completamente feitas, se não nos
sitios das origens. A extrema volatilidade de muitas das partes compo
nenles, e a quasi repentina mudança de muitos pheniíuienos. conside-
rando as distancias, tornão os exames e processos excessivamente fal-
lazes e inconcludentes. Todavia eu (iz as experiências que pude,e (|ue
justamente me servirão pu'a mostrar as p;nles predominantes na
comp.tsição (las dilTereMttis aguas. Os números referem-se aos que es-
N.* i7 - Tol. VIII I88(). 10
450
ARGHIVO DOS ACOHES
tão escritos nas pedras, que ha pouco forão erigidas próximo ás diffe-
rentes fontes.
I.
Fria
11.
Moderada
III.
Fervente
IV.
Fumante
I. Fria.
III. Fervente.
a
Aérea
a Hepatisada
b
Aérea ferruginosa
b Hepatisada aluminosa
c
Aérea hepatisada.
c Hepatisada vitriolica
II. Moderada.
d Hepatisada vilriolica argillosa
a
Aérea
e Hepatisada argillacea
h
Aérea ferruginosa
f Aérea.
c
Aérea ferruginosa aluminosa
IV. Fumante.
d
Vilriolica selenilica
a Hepatisada
c
Hepatisada.
b Hepatisada argillacea
c Hepatisada aluminosa.
Experiência I.
N.° 1. Duas origem />ms.—IIuma delias he crystallina ou trans-
parente— sabor acescente penetrante, cheiro forte ferruginoso; sedimen-
to ou deposito ocliraceo; pella tintura de galhas tornou-se roxa, ou pur-
purea: deu precipitado escuro pella addição da agua de cal, vascoleja-
da na garrafa crepita, e faz-se perfeitamente insipida.
Experiência II.
A outra origem deposita hum sedimento tirante e azul: sabor aces-
cente e pungente: que se dissipa até á insipidez por meio da agitação:
a tintura de galhas não produz alguma alteração sensivel: a agua de
cal dá hum precipitado escuro.
Experiência IH.
N.° 2. Fonte quente. — A agua ferve, e lança cheiro fortemente
sulfúreo penetrante e ferruginoso: faz-se negra com a tintura de ga-
lhas: com a agua de cal dá precipitado nublado, que cahe no fundo do
raso: com pecjuena porção da infusão de raiz de rabão dá liuma cor
rubra brilhante.
ARCHIVO DOS AÇORES 451
Experiência IV.
N.** 4. Outra origem quente fervente. — A agua depõem sedimento
azul; sabor levemente pungente e austero: escurece com a agua de cal:
e faz effervescencia com o acido nitroso.
Experiência V.
N." 8. Nascente fria. — A agua deposita sedimento ochraceo; gosto
e cheiro acescente, ferrugineo; faz-se preta pella infusão das galhas; e
sensivelmente rubra pella infusão do rabão.
Experiência VI.
N.° 46. Fonte guente fervente. — Deposita seditnento azul; lança for-
te cheiro de ovos chocos — sabor áspero acescente: faz-se insípida pel-
la agitação, e dá precipitado pella agua de cal.
Experiência VII.
N." 20, Nascente de calor moderado. — Depõem sedimento (jchra-
ceo: o sabor austero e áspero dissipa-se pella agitação; forma precipi-
tado nevoado com a agua de cai, e com a tintura de galhas dá cor pur-
púrea escura e carregada.
Experiência VIII.
N.° 13. Origem quente fumante. — Tem apparencias de leite, e lie
bordada com incrustações de cw verde escura, e rubra carregada: de-
posita sedimento argillaceo branco; lança violento fumo; o sabor heas
pêro, austero; o cheiro hepático forte; com a infusão dwi galhas faz-se
levemente rubra.
Experiência IX.
N.** 30. Fotife fria. — Deposita sedimento ochraceo: gosto e cheiro
ferruginoso forte, íicompanhado de acescencia pungente. Pella agitação
forma borbulhões, crepita e faz-se insípida: dá precipitação com a agua
de caí; faz-se rubra com a infusão do rabão; e purpúrea com a das ga-
lhas.
Experiência X.
N.° 31. Fonte /'/ví/. Depõem sedimento areioso; gosto levemente
432 ARCHIVO DOS AÇORES
acescente: agitada crepita, e se torna insípida: faz precipitação com a
agua de cal, e faz-se vermelha cum a infusão de rabão.
«Não obstante haverem sido estas aguas por muitos annos frequen-
tadas pellos habitantes para a cura de toda a casta de moléstias, bem
como para pas.>atempo e por gosto, ainda assim as accommodações pa-
ra banhos são hnmas poucas choças de calmo. Nestas estão mettidos no
chão a dois ou três pés de profundidade reservatórios, ou arcas de a-
gua de madeira, que se enchem por bicas também de pão, e se vasão
por hum buraco, que tem no fundo com seu batoque. O calor tempe-
ra-se á vontade do banhista, ajuntando-se agua úi\6 nascentes fí ias. Co-
mo todas as ordens de pessoas iisão muito francamente estes banhos,
e muitos como que estão de molho dentro delles varias vezes no dia.
poder se-hia concluir á priori, que tam frequente uso ós agua tépida.
ou quente deveria produzir relaxação. Todavia não succede assim, pel-
lo contrario estes banhos obrão como estimulantes de tudo o systema,
recreião os espiritos, e excitão o appeiife. Estas aguas, principalmente
as dos mananciaes frios, bebidas são laxantes e diuréticas, e promovem
também a e.xcreção pella pelie ou x transpiração.
«(^omo os habitantes ignoravão totalmente as virtudes das fontes
frias, e igualmente o uso do banho de vapor, tive a o[)portunidade de
lhes fazer conhecer as propriedades das primeiras, e também de lhes
demonstrar o activo poder, e benéficos effeitos do segundo. {Aqui a-
prmta o A. duas observações da efficacia do banho de vapor; huma n'hum
violento rheumatismo, outra de huma hemiplegia, curados ou muito ati-
nados por tal applicação.
«Alem destes exemplos que são de meu immediato conhecimento,
sei de vários outros casos bem authenticados, que testificão a grande
efficacia das aguas não somente nas doenças rheumaticas, mas também
em muito inveterados casos de escrophulas, e noutras enfermidades.
íAccusa neste lugar huma notável observação de cura de escrophidas pela
bebido, e banhos das aguas quentes, no espaço de poucos mezes — huma
doença cutânea na cabeça, e com chagas húmidas em varias partes do
corpo curadas em poucas semanas pello tíso interno, ou eitei'no em ba-
nho das mesnuis aguas — huma cura de gota já de alguns annos cura-
da sem recahida pelos banhos quentes).
«Em conclusão eu penso que ha sobeja razão para crer, que es-
tas aguas assim interior, como exteriormente applicadas são verdadei-
ramente ellicazes em diversas enfermidades. Parece, que o banho de
vapor he mais poderoso, e em geral pr(^ferivel ao banho da agua: as
partículas voláteis são mais soltas, subtis, e activas quando exhaladas
é formando o vapor, do que em quanto estão combinadas e prezas na
ngua. Os gi'dos de caloi' também são mais bem regulados no vapor,
do que no banho quente.
ARGHIVO DOS AÇORES 453
«As oiiy ns frias contem poderoso chalyb,'ado, e todas as virtudes
próprias do ar fia-o, e sendo bebidas não podem deixar de ser úteis
tónicos nos casos de debilidade.
«Julgo que a manhã he o tempo mais próprio tanto para os ba-
nhos, como para a bebida. Deve esta ser immediatamenle á origem,
antes que suas virtudes se evaporem: a dose ao principio seja de oito
onças, que pode repetir se de tarde, g sendo necessário augmenlar se
gradualmente.»
Até aqui chega a Relação do Doutor Gotirlay, cuido que não me
enganei dizendo ao principio que ella não lie absolutamente capaz de
satisfazer a curiosidade dos amantes da Sciencia. O' tempo, em que
ella foi escrita, ainda não brilhava com as luzes da Chymica Pneumá-
tica, que pello decurso do tempo tam avultadamente se tem espalha-
do. Quem hoje tem sido illustrado por ellas facilmente deduzirá da
descripção topográfica, e das escacas ej-periencias mencionadas â di-
versidade das aguas que a Ilha possue. Dãs sulfúreas todos concordarão
na utilidade e etlicacia: das gazosas pouco ferruginosas, {que o A. a-
ponta na Taboa das fria^ I. a.) vi eu iguaes resultados das de Sprí,
no Hospital da Universidade de Coimbra no anno de 1791. Forão re-
mettidas cautelosamente engarrafadas, e produzirão muito bom effeito.
He de crer, que qualquer das outras, sendo igualmente bem acondi-
cionadas para se transportarem, produzirão effeitos proporcionaes aos
princípios, que as mineralisão.
(Francisco Tavares, Instrucçôes e cautelas praticas sobre a natu-
resa . . . . e uso das aguas mineraes .... Coimbra, Imp. da Univer-
sidade, 1810; Parte I, pag. 178 a 192).
DAS FESTAS QUE FEZ
o COLLECIO DA CIDADE
TERCEIRA*
Poslo (jiie as festas, que nesta Ilha se fizerão pedião, e merecião
mais larga narraçam, assim pela perfeição, e concerto delias, como
lambem pela pontualidade, piedade, e devaçam, com que os nobres
Cidadãos de Angra se esmerarão em honrar, e festejar aos Sanctos :
com tud(j (porque até agora não chegou de lá a relaçam, que desse
mais claro conhecimento das cousas, para se comporem na forma que
tMM bemj foy necessário para que de todo não ficasse tudo em esque-
cimento, valer da noticia que deu hum nosso que ao fazer das festas
se achou na Ilha. Mas para que não haja algum engano em o descre-
ver das figuras por não ser possivel lembrarem todas as particulari-
dades de cada hnma. em especial do concerto, trajo, e riqueza, de que
hião ornadas: como por não se repetir qiiasi o mesmo, por serem nes-
te particular muito semelhantes a muitas, que já atras nesta historia
se descreverão, só se dirão, e apontarão summariamente as cousas
mais principaes, que para festejar aos Sanctos se fizerão.
CAPITULO I
De como se festejou a nova da canoni sacam.
Chegou esta nova â Ilha no principio de Julho, posto que já dan-
tes a fama tinha espalhaflo algum rumor do (jue passava por via de
.ilgumas ('inbarca(;ões que de outras partes ahi tinlião chegado, e da-
do novas das festas, que já em outras (cidades aos Sanctos novamen-
te canonizados, se preparavão: o que em parte não ajudou pouco pa-
ra o Collegio se yr apercebendo, e aparelhando para quando tivesse a
(•) Relaaim geral dos fntas que fez a Heligiâa da Companhin de Jesus nu Pro-
rinvia de Portngal, na canonizarão dos gloriosos Sondo Ignocio de Loyola seu fun-
dador, e S. Franrisro Xoviír Afiosfolo da Índia Oriental. Lisboa. 1622: pag. 2i2 a
HA V.".
ARCHIVO DOS AÇORES 45o
certeza desta alegre nova, que em chegando recebeu com varias de-
monstrações de alegria, repique de sinos, luminárias, foguetes, rodas,
e outras invenções de fogo, dando também ordem, com que se pozes
sem a cavalo alguns dos estudantes mais principaes,que rica,e curiosa-
mente vestidos sahirão do Collegio em companhia da Fama, e como cor
reyos delia correrão as ruas da Cidade, alvoroçando-a com ^ua vista, e
causando nova alegria em os corações de todos com as alegres novas,
que levavão: seguindo-os com semelhante applauso, e alvoroço, huma
grande multidão de gente, até himia rua, que fica fronteira ao Colle-
gio, á vista do qual, e da praça da Cidade, se levantou com grande
festa hum mastro, e nelle se ílxou o cartel escrito em huma curios;i
tarja, em que se aponlavão as festas, e o tempo, em que se havião de
fazer, convidando juntamente com seus prémios aos Poetas, que com
poesias Latinas, Portuguezas, ou Castelhanas, melhor louvassem aos
Sanctos, ou com mais erudiçam descrevessem alguns dos pass(js prin-
cipaes de sua vida. Assi mesmo se prometião prémios a quem sahis-
se com a melhor dança, chacota, e invenção, ou com mais curiosida-
de, e riqueza armasse, e ornasse a siia porta, nas ruas por onde ha
via de passar a procissão.
Depois da terra estar já alvoroçada, quiz também o mar em a
mesma tarde dar novas mostras de alegria, sahindo delle de duas par-
tes diíTerentes dous barcos bem concertados, e enramados, nos quaes
vinha bom nimiero de marinheiros, que enconlrando-se no meyo do
[)orto, que he t)em largo, e espaçoso, fizerão por vezes suas salva^ de
mosquetaria, salvando a fortaleza, e Cidade, e chegando ao cays, em
o qual, e nas mais partes sobranceiras os estava esperando huma tani
copiosa multidão de gente, que bem excedia em numero á que se cos-
timia ajuntar, quando as nãos (jue vem da Índia passão por jimto des-
ta Ilha, ou dentro em seu porto vão anchorar. Kingirão pois os mari-
nheiros serem Indiaticos, a cuja guiza vinhão lustrosamente trajados,
e sabendo como o Apostolo do Oriente S. Francisco Xavier era junta-
mente canonizado em companhia do Patriarcha Sancto Ignacio, lhe qui
zerão de caminho fazer sua festa, e dar mostras da nova alegria que
com taes novas receberão: por esta razão saltando em terra, logo em
o mesmo cays, ao som, e pancada da viola fizerão huma dança, e pala
teado, com os próprios remos, que coujsigo trazião pintados, e acon»
mudados para este intento; e desta maneira forão proseguindo. e cor-
rendo as ruas da Cidade, até se fechar a noite deste primeiro dia.
Ao Domingo seguinte, parecendo pouco ao Collegio esta primeira
demonstração, que deu de alegria, pela pressa, com que se fez, orde-
nou de novo huma bem numerosa, e lustrosa companhia de cavaleiros,
dos principaes estudantes, que em seus estudos cursão, todos vestidos
C(mi tanto concerto, e riqueza, quanto era o desejo, e emulaçani, que
cada hum tinha de não ficar- inferior ao outro nesta parte; ajunlando-
se da outra a curiosidade, e vontade, com que os prcijtrios pays, e mais
456 AHCHIVO DOS AÇORES
gfííves Cidadã().«, por servirem, e festejarem aos Saiictos, em ludo o que
toeâva ao serviço delles, se quizerão dar por achados: pelo que havia
muito que dizer de cada huma destas figuras, se em particular se hou-
vesse de descrever, e apontar a riqueza que levavão. Foy a represen-
tação deste passo, hum da vida, e conversam de Santo Ignacio, cuja
tignra fazia hum estudante dos mais graves, e principaes da Ilha, a
(juem a gravidade, modéstia, e compostura, com que au Sancto repre-
sentava, não fazia desmerecer o titulo de bom, e bera posto cavaleiro;
hia elle na retaguarda acompanhado de huma parle da Keligião, e da
outra da Milícia, cada qual também a cavalo, rica, e propriamente tra-
jada: seguia-se o Anjo Custodio do Sancto, e logo adiante os mais ca-
valeiros, com tanta ordem, e concerto, que de todos foy louvado; ao
que não ajudou pouco a muita destreza, e bizarria do Sargento, que
se houve no oíficio com tal arte, como se por muitos annos nelle fora
exercitado. Hião diante dous tambores, que com o som de guerra fa-
zião parecer este acto mais b* llicoso, e militar: desta sorte forão pas-
seando, e dando vista de sy pelas ruas da Cidade, fazendo alguns del-
les em certas paragens suas escaramuças, e passando carreiras, até
chegarem outra vez á Igreja do Collegio, á porta do qual se apearão
lodos, e entrando nella com a tnesma ordem, forão até junto ao altar
mór, que para este acto estava muy bem ornado: e ajoelhados aqui,
e postos em oração ao som de muy escolhidas vozes, músicos instru-
mentos, e letras ao intento accommodadas, dependurou S. Ignacio sua
espada do altar de nossa Senhora (como no principio de sua conver-,
sam se conta, fez diante da Senhora do Monserrate) e despedindo-se
da Milicia, o entregou seu Anjo Custodio ã Religião, a cujos pés incii-
nado^o Sancto ella o levantou e tomou delle posse com mostras de be-
nevolência, e amor: passo que a lodos os circunstantes igualmente con-
tentou, e sérvio de particular consolação.
Varias outras festas, assi de cavalo, como de chacotas, danças, e
folias, .se hião preparando nos outros quinze dias, (jue restava o antes
do de Sancto Ignacio, a n)ór parte, das quaes os estudantes linhão taai-
bem tomado á sua conta, querendo-se em ludo moslrar os primeiros,
e mais pontuaes, assi pelo gosto que nisso levavão, como pelo que da-
vão aos pays, e mais parentes: sahindo já tiumas vezes como pastores,
lazião com os cajados aprasiveis mudanças, já acomelendu-secom as fun-
das, esle áquelln, e lodos juntos entre sy fmgião hum curioso jogo de
pedradas, e dadas por fim as mão.s, e cabos das fundas fazião varias
peças, e trocados, pondo com elles fim á sua porfiada contenda.
Não era menos para ver outra dariva, em que sahião dezaseis fi-
guras, cada <jual com .sen gracioso, e verde ramo em a mão carrega-
do de fruilas, a cujas arvores se podessem com propriedade accommo-
dar algumas das virtudes dos Sanclos, com letras particulares, que
mais declarassem a lençam; e onlenando desta maneira entre sy va-
rias peças, e mudanças punha cada hum seu rafuo á pancada da vio-
ARCHIVO DOS AÇOHES 457
la, em hum bem ornado, e enramado tronco feito para este intento, fi-
cando por fim de tudo liuma fresca, e copada arvore, a cuja sombra
assentados os pastores s^bre os surrões, com discante de viola, cytba-
ra, e rabeqiiiiilia, cantavão aprasiveis, e accommodadas leiras: sahin-
do nos tiutremeyos á porfia a dançar dous e dons ao redor da arvore;
;ité que alevantandose todos, tornavão com a mesma ordem a desandar,
e desarmar a tnesma arvore, ficando cada hum outra ves com seu
próprio ramo em a mão.
A estas se ajunta vão outras varias que se hião traçando, e ensayan-
do; não faltando lambem algumas contrafeytas ã villanesca bem engra-
çadas, que a todos servião de festa, e alegria; porém a tudo, alem de
particulares razões, pareceo ser necessário yr á mão.assi para que não
se impedissem, e fizessem parar os estudos ante tempo, como para
que este ficasse mais livre, e desocupado para se buscarem os vesti-
dos, e mais ornato necessário para a procissão, e festas principaes,
que dalii a pouco tempo, no ultimo de Julho, dia próprio de Santo
Ignacio se havião de principiar, e continuar por todo o oitavaíro.
Convertido pois este gosto, e desejíj, que cada hum tinha de fes-
tas particulares, em novo fervor de se preparar para as principaes,
não ficou casa dentro, e fora da Cidade, que tendo possibilidade para
isso, não concorresse com mnv prompta, e liberai vontade com todo o
género de ornato para as figuios, que como erão incitadas igualmente
da devaçam, e emulação, não cessavão até não achar, e descobrir o
que dezejavão: não faltando também o Collegio neste zelo, e cuidado
de lhes buscar todo o necessário, assi de vestidos, como de outras pes-
sas de ouro, e pedraria, o que se ajuntou tanto em numero, que por
mais que neste crecessem as figuras, a todas largamente poderia a-
branger.
Estando as cousas preparadas desta sorte, e indo-se já fazendo
mais visinho o dia do Sancto, se ordenou huma chacota aprasivel, em
que enlravão as melhores vozes di)S moços do Coro, cantando, e to-
cando cada hum seu instrumento musico, e entre elles o que levava o
tambor, o fazia com tanta arte, e destreza, que a todos deu bem que
ver, e louvar; e para satisfazer á vontade de muitos, que mais de es-
paço os desejavão ouvir, e ver em suas portas, e ruas, não foy possí-
vel recolherem-se, senão já alta noite ao Collegio, donde com luz de
dia tinhão sabido, para com mais festa acompanhar o mastro que de
novo se tornou a concertar, e enlaçar de frescos ramos, lematando-se
com huma boa, e nova bandeira, em a qual estava curiosamente pin-
tada a imagem de Sancto Ignacio de boa estatura, para que, ainda de
longe pudesse de todos ser bem vista, henovou se também o cartel,
especificando os prémios que se promelião, e nomeando as ruas por
onde havia de passar o triumpho. e procissão, as quaes logo se forão
concertaíido á coujpetencia.
N. ' i7 — Vol. VIII - 1886. 1 1
258 ARGHIVO DOS AÇORES
CAPITULO II
Das festas que se fizerão nos cinco primeiros dias do oi-
tavario.
Chegados os 30 de Julho, vespora de Santo Igiiacio, leiído-se ai-
mada toda a Igreja do Collegio, rica e curiosamente, houve nella ves-
poras solenines da melhor musica da Capella da Sé, que assi neste,
como em os mais dias do oitavairo, em que houve sempre Missa can-
tada, e prégaçam, se esmerou com muy particular curiosidade. Sahio
lambem nesta tarde do Collegio huma grave, e vistosa dança de deza-
seis moços, todos quasi iguaes na grandeza, e niuy parecidos no tra-
ge. que era de ricas marlotas de seda de varias cores, com suas trum-
fas na cabeça, ornadas de muita riqueza, e feitas com tanta arte, e
concerto, quanta era a curiosidade de cada hum dos que nella entra-
vão, e o desejo, que tinlia de se esmerar em serviço dos Sanctos, quem
isto tomou á sua conta: dançarão a Mourisca, correndo as principaes
ruas da Cidade; e respondendo em tudo o bom successo delia, a mui-
ta de^treza no dançar: e assi foy louvada, como aquella que com qual-
quer outra, que noutras parles se fizesse, podia apparecer, e compe-
tir.
Cerrada a noyte deste dia, a elle cm parte competidora, pela se-
renidade do tempo, e claridade do muito fogo, appareceo logo o Col-
legio cercado de todas as partes de muitas, e varias luminárias de di-
versas cores, que enirefachadas humas com as outras, fazião huma
bem alegre, e aprasivel vista, respondendo lhe das janelas da Cidade
outras varias luzes de tochas, e velas de cera em que (altMU de mui-
tos fidalgos, e Cidadãos principaes; procurarão de se aventejar, e mos-
trar sua devação para com os Sanctos, e a Companhia, os Religiosos
de nossa Senhora da Graça, e do Seraphico Padre S. Francisco: cu-
jos Conventos, assi nesta noite, como em algumas outras do oitavairo
ardião com luminárias: imitandoos nisto outros de Religiosas, entre
as quaes não ficarão neste particular inferiores as de S. Gonçalo, que
alem das luminárias, inventarão outras invenções de fogo, que corres-
pondião ás rodas, e foguetes, que logo em grande copia se começarão
em o Collegio a despedir pelos ares, lançando também em terra mui-
tos buscapés bem festejados dos moços, e mais gente popular, que a
elles em grani numero acodia, multiplicando as vozes, e vivas, (jue
todos d a vão aos Sanctos.
Gastado bom espaço de tempo, em lançar foguetes, rodas, e
montantes, se deu fogo a huma machina de Atlante em figura agigan-
tada, e levantada sobre hum bem alto, mastro, que não deu pouco
trabalho para o poderem levantar em alio temeudo-se que C(im o pezo
do gigante podesse render, ecjuebrar: porem tudo teve bom successo:
ARCHIVO DOS AÇORES 459
O pondo se-ilie fogo em hum pé, furão .iriiendo algumas bomhas, qiie ar-
i-ebfrilando derão fogo a vários fogueies, (;|ue de todo o corpo couie-
çou ;t despedir, volvendo em as mãos algumas rodas coiu tanta fúria,
e estríjudo, que não pode por muito tempo ficar iiiteiío o uumdo. que
a seus liombros sustentava, desfazendo se todo em foguetes voadores,
(' buscapés, que nem aos de Atlante perdoarão, porque batendo nel-
les, já dep(jis de tudo acabado, íbrão lavrando por todas as partes, e
levantarão hiuna grande fogueira, e incêndio, que no ar teve sua gra-
ça .
Após isto se deu fogo a huma arvore de boa grandeza a qual não
leve menor successo, que o do gigante, porque alem da (»rdem cmii
(pie ardeo, foy tal o estrondo, e repostas das bombas, rodas, foguetes,
i', mais invenções de fogo, (|ue muitos que ao longe estavão, se per-
suadirão serem tiros de peças, ou grossa mosquetaria. A tudo, por to-
do este tempo da uoyte, respondia sempre o alegre re|)ique dos sinos,
assi do (]ollegio, como da Sé, os quaes amiudadamente como á com-
petência, liuus aos outros se combatião.
Amaiilieceo por fim o alegre dia do Sancto, que se festejou pela
manliãa com prégaçam, e Missa cantada com toda a solemnidade, cau-
sando em todos nova consolação, e alegria, assi a bondade da musica,
como a lembrança, que os Sanctos parece tiverão de acrecenlar novo
gosto aos que com tanto feslejavão sua memoria por que socedeo por
via de huma embarcação, que no porto da Cidade lançou ferro, che-
gar neste dia pouco mais de meya hora antes de se começar a Missa,
huma carta, na (jual aipiella se apontava, e vinhãojuntameute escritas
as próprias orações, que em Roma na canonização dos mesmos San-
ctos se disserão: e forão também as que logo neste primeiro dia se
cantarão na Igreja do Collegio. Pregou o Doutor Lopo Gil Fagundes,
Dayam da Sé, muy douta, e gravemente, engrandecendo com pezo de
sentenças, e muita erudiçam aos Sanctos, a quem mostrou particular
devação, e aífeição, que tem á Companhia.
Não foy possivel fazer-se á tarde a procissão, que se deixou para
a segunda feira, para que o Domingo ficasse mais desocupado, e se
podesse com mais facilidade acodir ás cousas da Igreja, e os hospedes,
fossem melhor agasalhados: houve porém festas de cavalo, que alguns
Cidadãos principaes tomarão á sua conta, sahindo lustrosaujente tra-
jados, e dando vista de sy pela Cidade chegarão já sobre a tarde ao
terreiro da praça, aonde o (Capitão mór, por honrar aos Sanctos, e á
(>ompanhia, quis ser o primeiro, que sahindo a campo, começou a cam-
l)ear, e abrir caminho aos mais, que logo o seguirão ordenando entre
sy muy bem travadas escaramuças, e passando carreiras com tanto
primor, e arte, quanto he o exercício, «pie tem de bons,e muy destros
cavaleiros; e como taes mostrarão ficar magoados da preparação do
tempo antecedente, e brevidade <lo presente não ser Iam larga, quan-
to o era a vontade de em louvor dos Sanctos ler ocasião para dar mayo-
460 ARGHIVO DOS AÇORES
res demonstrações de festa, e sahir com outras cousas grandiosas, qne
não pcuco excedessem ás que no cartel esta vão apontadas.
A segunda feira, depois de pela manhãa ter precedido á Prega-
çam, 6 Missa cantada, se começou a hir pondo em ordem o triumpho,
que se dividia em três alas principaes, a primeira pertencia á Fé, que
hia triumphante em hum bem lustroso, e aparatoso carro, dedicado a
S. Francisco Xavier por elle ter com tanto zelo, e espirito levado, e
pregado nas partes Orientaes a mesma Fé. A segunda ala tocava à
Charidade, que triumphava em outro carro não menos artificioso, e
magesloso, o qual se dedicou a S. Ignacio, por nelle florecer tanto es-
ta virtude, e entre as mais a deixar tam encommendada a Companhia.
A terceira pertencia á Procissão, que o Reverendo Cabido fez, queren-
do neste dia da principal festa dos gloriosos Sanctos, festejalos tam-
bém, e acompanhar a suas imagpus.
Sahindo pois o primeiro carro da Fé, hia logo por principio de
tudo em hum fermoso ginete o Anjo Custodio da Companhia ricamen-
te trajado: nas mãos levava um pendam de damasco branco, e nelle
de huma banda hum Jesus, e da outra huma imagem do Sancto Pa-
dre Francisco, No segundo lugar hia acompanhado do Dom da Prophe-
cia a Pregação Evangélica, á qual seguia o Oriente, e logo após elle
seus principaes Hpynos, e Cidades, em que o Sancto mais a exercitou,
a saber, Goa, Costa da pescaria, i^ochim, Malaca, Ternáte, Moro, ás
quaes acompanhava Japam, Miaco, Bungo; a que também seguia Chi-
na, Cantam, e Sancham aonde o Sancto Padre morreo. Todas estas fi-
guras hião em cavalos riquissimamente ajaezados, e ellas em sy tam-
bém muy rica, e lustrosamente trajadas todas ao natural, e com suas
insígnias nas mãos. Puxavão pelo carro o Zelo, e Exemplo: na proa
delle hia assentada por guia, e cocheira a Obediência, e mais acima
em hum trono alto, e bem ornado, que ficava sobre a popa, hia trium-
phando a Fé, acompanhada das quatro Virtudes, Prudência, Justiça,
Fortaleza, e Temperança, as quaes em seus instrumentos músicos, que
todas levavão hião continuamente descantando, e canlando-lhe a gala
do triumpho, com letras que de novo se fizerão, bem suaves, e aco-
modadas para a festa. Atraz do carro hião por prisioneiros o Judaís-
mo, Seita Mahometana, Heresia, e Idolatria, erros, que o Sancto des-
truyo com a verdade da Sancta Fé, que publicou no Oriente.
Seguião-se logo hum pouco atrás as figuras do segundo carro da
('haridade, por Alfers da qual hia no primeiro lugar hum Anjo, e lo-
go de huma parte o Amor divino, e da outra o Amor do próximo, cu-
jas figuras, alem de dizer bem com ellas o serem irmãos, hião assi
na boa postura, que fazião a cavalo, como no trajo, e riqueza, que as
ornava quanto se podia desejar de boas: por insígnia levavão em as
mãos seu arco. e frecha, a aljava cheia de setlas lançada a^ tiracolo.
Segíiia-os Portugal, Gastella. Itália, e França, por serem os primeiros,
e principaes Reynos, em que Sancto Ignacio fundou a Companhia: hião
ARCHIVO DOS AÇORES 461
t
todos com muita prupriedade, alem da muita riqueza, qiie cuuio a
Reyiios se devia: levavão embraçado seu escudo, e nelle pintadas ass
armas próprias de cada hum, com seus cetrus, e mais insígnias reaes.
A estes fazião companhia a Misericórdia, e a S. Doutrina, a quem tam-
bém acompanhava a cavalo huu] pagem com huma fermosa, e rica sal-
va em as mãos, e nella os prémios costumados. Logo se seguião al-
gumas das Sciencias que o Santo fez ensinar em nossos estudos, con-
vém a saber, a Theologia, Philosophia, Mathematica, Humanidade, Poe-
sia: cada qual com as insígnias, com que se coslumão pintar, e se Io-
das por seu muito concerto merecião particular descripçam, não me-
nos se devia taíubem ao Dom de milagre, que atras se seguia, levan-
do sojeitos, e rendidos a sy os quatro Elementos, cada qual trajado
á competência: pelo que alem da propriedade, e lustre dos vestidos,
davão muito que ver na riqueza, e arteficio das caraminholas. Em a
do Fogo entre a variedade de pessas de ouro, e pedras preciosas,
hião entrefachados com muita arte vários rayos. e chamas artificiaes,
e fingidas, que lhe davão muita graça. Na do Ar, que toda se hia re-
matando em pequenas gayolas, se via de todas as partes grande mul-
tidão de passarinhos: a do Mar era em figura de peixe, não faltando
alguns vivos, que em vidro cristalino cheyo de agoa se deixavão mui-
to bem ver. A da Terra era toda murada com castellos, e ameyas, a
que orna vão juntamente com o ouro, e pedraria varias flores, e frui-
tos que a terra costuma produzir: boa copia dos quaes sahia também
da boca de huma cornucopia, que pendente do hombro lhe decia até
baixo do braço. Fez esta figura hum minino bem nobre, que represen-
taria de idade oito annos, tam bv)m, e destro cavaleiro como o succes-
so mostrou, porque indo em hum feroz, e brioso ginete, fazia delle
quanto queria com tanta segurança, e arte, que a todos deu bem lar-
ga matéria para seus louvores.
Puxava por este carro a Piedade, e temor de Deos: a Humildade
era a cocheira. Hia em o trono a Gharidade, figura em tudo grave, e
lustrosa: á qual acompanhavão de huma parte a Penitencia, e da ou-
tra a Castidade: a esta respondia detraz do carro por prisioneira a
Carne, a quem atavão as mãos Imi.ias fitas, que da popa delle pendião
até baixo, e da mesma sorte levav;*, a Charidade preso ao Mundo, e a
Penitencia ao Diabo. Hia mais em a praça do carro hum coro de mu-
sica muy escolhida, e gabada, á qual os músicos na arte bem destros,
acompanhavão de continuo em as pauzas, que fazião, com muy suave
descante de arpa, e outros vários instrumentos, que todos destramen-
te tocavãít.
A este triímipho dividia huma dança das Ilhas a esta mais visi-
uhas: a saber a de S. Miguel, Sancta Maria, S. Jorge, Pico, Fayal, Gra
ciosa, Flores, Corvo: e por guia delias a Terceira. Tomarão algiuuas
pessoas graves, e devotas á sua conta estas Ilhas, e sahirão em tudo
tam perfeitas, e tam ornadas de varias pessas, e pedras preciosas, que
462 ARCHIVO DOS AÇORES
pi ir uão lhes caliirein aJgumas, se leve por mais seguro nâo dançarem,
mas que apeadas fossem fazendo reverencia, e acompanhando as duas^
imagens dos Sanctos, que em andores muy fermosos, e dourados leva-
vão a seus hombros alguns Sacerdotes; e s^^guia, como fica dito, o Re-
verendo Cabido, e mais Cleresia em ordem de procissão.
Sahio este acompanhamento do Collegio entre as duas e três da
tarde, dando vista de sy por algumas das ruas principaes, que todas
estavão muy bem ornadas, e armadas muitas das portas, com muita
iraga, e curiosidade: e até nisto o Corregedor de sua Magestade Pêro
Vas Freyre, que em tudo favoreceo, e ajudou a festejar aos Sanctos,
quiz lambem aventejar-se, fazendo com que na froutaria de suas ca-
sas se levantasse hum muy rico, e artificioso altar, que do cham toma-
va até o alto das janelas, todo cheyo de graciosos lumes, e dividido
em varias ordens de repartimentos, com muitos, e muy escolhidos pas
SOS, que letras acommodadas a louvor dos Sanctos engenhosamente
declaravão: á imitação deste se inventarão outros passos, (jue lambem
derão bem que ver, e louvar. Acrescentava o gosto, e alegria de to-
dos, ver a muita ordem, e concerto das figuras, e não menos admira-
ção causou a muita rifjueza de seu ornato, em particular das trumfas,
e caraminholas a mór parte das quaes erão de lustrosas cabeleiras,
que escaçameute se deixavão ver com as muitas pérolas, varias peças
de ouro, e pedras preciosas, que sobi'e ellas assenta vão com umita ar
te, na perfeição da qual se esmerarão muitas pessoas graves, e Keli-
giosas de quatro .Mo.>teiros, que esta Cidade tem, que por sua deva
çam quiserão fazer este serviço aos Sanctos.
Não fallo no grande concurso de gente neste dia, que enchia as
ruas, e janelas; e não contentes muitas pessoas graves de verem hu-
ma só vez a este triumpho, mudavão por muitas vezes os primeiros
lugares, e estancias, para (jue mais de espaço participassem da recrea-
çam, que a vista delle a todos causava, até (jue por fim chegou outra
vez ao (À)llegio, já quasi noyte, a qual se continuou com festa de fo-
guetes, e outras invenções de fogo, alem das muitas, e boas luinina-
rias, que houve todas as noytes do oilavairo,
A terça feira se foy continuando com a mesma solemnidade de
Missa cantada, e Prégaçam, como em as manhãas dos mais dias se-
guintes, em hum dos quaes pregou o Beverendo Padre Frey Francis-
(-0 da Piedade da Ordem de Sã(j Francisco, e Guardião do Mosteiro da
Villa da Prava: e em outro o Reverendo Padre Frey Auibrosio de San-
eio Agosliulut Prior de nossa Senhora da Graça: cada qual o fez como
se es[terava de laes pessoas, engrandecendo com graves discui'sos, e
conceitos aos Sanctos, que ficarão bem louvados; e o Collegio reconhe-
cendo a obrigação em ijue hum, e oulro, nesta, e noutras ocasiões o
tem posto. Nos mais dias que re^lavão, [)régarão alguns Padres de Ca-
sa, e lodos Sf^ houverão como em cousa própria.
Não ficarão as laides da terça até (jiiinla feira cai'eceudo de ou-
ARCHIVO DOS AÇORES 463
tras festns particulares, porque a Gamara da Ciiiade cotn particular ze-
lo, e cuidado as tomou á sua conta, e apremiou algumas (lanças, e cha-
cotas, tam boas, que por sy baslavão para us dias ficarem b^m ft\^le-
jados; e muito mais com os touros, que por duas vezes deu, correu
dose huma delias em o terreiro da praça, incitando aos toureiros com
bons prémios, á vista dos quaes fizerão algumas boas sortes, e os tou-
ros também nelles: porém sem nenhum perigo, e com muita festa, e
aplauso o mesmo causarão no outro dia, que se correrão de corda |)e-
la Cidade, vários em numero, a que não faltarão mascarados, e uulra
muita gente, que os soul)e festejar.
CAPITULO III
Das festas de sesta feira, e mais dias até o Domingo.
Por este dia cahir em dia saneio, em (jue a gente estava mais
desocupada, e podia com mayor facilidade vir de suas quintas, e do
campo em que andava, por ser tempo em que se recolhião todas as
novidades, se deixou para elle huma muy aprasivel festa naval, e con-
tenda, que houve entre o Mar, e Terra, pretendendo cada huma des-
tas partes, que á sua lhe ficasse por particular avogado S. Francisco
Xavier: ao qual se dt-dicou esta festa em particular, [)orque depois de
sua beatificação se não tinhão feito outras, que o Collegio lhe prepa-
rava para quando chegasse uma sua imagem de vulto, que esperava
lhe fosse de Lisboa.
Havendo pois de darse principio no mar a esta festa, não se teve
por pequeno favor do Ceo, a quietação das ondas, e serenidade do ar,
que [nuito ajudou, para que tudo tivesse o successo que se desejava;
sahindo do próprio mar alguns monstros, que em companhia de Nep-
tuno travassem a contenda que eiitre elle, e a Terra se começnii nes-
ta forma. Entrou ás duas hf)ras depois do meyo dia pelo porto da Ci-
f dade huma frota de barcos empavezados, e embandeirados, com guar-
nição de gente de armas, que sahindo de emboscada, trazião no meyo
huma Foca marinha de muita grandeza, e não menos artificio na fa
brica, e i)intura tam a(t natural, que parecia ser viuva, e verdadeira:
ocupava ella a huma bem grande barca, a quem a soldadesca dos bar-
cos, que a seguiam festejava com nniitas salvas de mosquetaria, fa-
^ zendo com graça seus acometimentos, e retiradas, com que entre sy
fingião himia dança aprasivel.
Tinha concorrido a este espectáculo grande numero de gente, que
enchia todo o cays, e miradouros do porto de que fica para o mar
bem larga vista, e dos mais lugares a elle sobranceiros, que por muy
comprido espaço vão correndo de hum e outro lado, até se contiima
rem com o muro das fortalezas de Saucto António, e de S. Sebastião.
464 AHCHIVO DOS AÇORES
que fazem ao porto mais seguro, reculhendo-o entre sy com liuma com-
prida, y larga enceada, capaz de toda a sorte de embarcações, e mny
acommodada para qiiaesfjiier demonstrações de festa, como o foy para
esta que os barcos por bom espaço de tempo continuarão com grande
alvoroço de lodos, até chegarem a terra, aonde logo appareceo Ne-
ptuno com seu tridente na mão cavalgado sobre o monstro marinho, a
quem acompanhava huma grande Tartaruga, sobre que apparecia hum
Tritam, que com o som do busio que tocava, acreceutava o aplauso,
e festa, que se lhe fazia. Seguião-no alguns golfãos, como o de Benga-
la: o mar Indico, e Chinico, com alguns rios principaes, que o Sancto
navegou; quaes são Tibre, Rhodano, Tejo, Ganges, Indo, e outros,
vestidos todos com particular propriedade, e ornados de canas verdes,
e coroas de flores: o Oceano como principal vencia aos mais em o con-
certo, e entre outras particularidades tinha o peito todo, e espaldar te-
cido com grande arteficio de folhas de hera, por capacete a hum pei-
xe marinho, que vinha rematar na cabeça com folhagem verde.
Porém o que sobre tudo avultava erão alguns promontórios, co-
mo o Cabo de boa Esperança, e o de Comorim, que em figura de gi-
gantes de notável grandeza fazião passo a Neptuno, movendo-se, e
meneando se com tal arte, que era para todos de particular gosto sua
vista; vinhão cubertos de musgo, e penedos fingidos, ao que dava
mais graça a rama verde, que por entre elles parecia estar brotando.
Vinhão também da parte do mar os Capitães, e homens principaes
com (pie o Sancto navegou, juntamente com alguns dos milagres, que,
obrou no próprio mar, e algumas victorias, que nelle por seu meyo
se alcançarão, entre as quaes principalmente se representava a dos
Achens, á qual seguia o Capitão d'armada. Governador de Malaca, e
outros que erão como testemunhas, que Neptuno trazia das maravi-
lhas, que o Saneio no elemento dagoa tinha obrado, e dos muitos tra-
balhos, que passara para salvar almas, passando, e atravessando tan-
tos mares que erão também as razões de que se ajudava para mos-
trar, que o Sancto lhe pertencia a sua parte.
Piuiha o remate a todo este acompanhamento hum coro de Se-
reas, nas quaes dava bem que ver, alem do ornato que levavão, o ar-
teficio dn pintura com que se representava hum corpo humano todo
cuberto de varias escamas, com as caudas de peixe, rematando-se as
(extremidades em folhagens muy [)roprias: vinhão todas dentro em hum
barco bem adereçado, a que a fermoseava hum Jesus pintado na po-
pa: servia de barqueiro himi Tritam, (pie com os reuios batia em hum
mar fingido, e á pancada delles fazia o compasso ás Sereas, que com
umy suave musica recreavão os ouvintes.
Tatito (jue Neptuno cí)m este aparato deu vista de sy em o porto
da ('idade, para que a entrada nella fosse mais celebre, respondeo jun-
tamente com gram ruido de tambores, e salva de mosípietes, e arca-
t)uzaria. Ioda a soldadesca que tinha vindo nos barcos, e a de quatro
AHCHIVO DOS AÇORES 465
companhias dos Capitães Chrislovão de Lemos de Mendoça, João de
Espimila, Francisco Cardozo, e Domingos Vieira Pacheco; que entre
os mais quizerão também nisto dar mostras do dezejo, que tinhão de
servir ao Sancto, fazendo com que toda sua gente estivesse bem orde-
nada, e dividida em fileiras por suas estancias, para que tudo em sy
ficasse mais histroso, e á vista mais agradável.
Ouvido este sinal de tambores, e arcabuzaria, acodirão logo a el-
le todos os cavaleiros da parte da Terra, que já neste tempo em sua
companhia, andavão correndo as ruas da Cidade, e encontrando-se em
huma boa paragem com Neptuno, tingirão não o conhecer, nem saber
do que passava; antes reparando na fereza, que representava seu mons-
iro marinho, e na grandeza dos promontórios, e mais aparato de fi-
guras, que o acompanhavão, lançarão todos as mãos ás espadas, e com
ellas pretenderão impedir lhe o passo. Reparou-se ao principio Neptu-
no com sen tridente, e dando sinal de paz, teve por bom espaço com
a figura da Terra hum Dialogo em verso Latino, entrefachadas algu-
mas oitavas Portuguezas, no qual dava razão de sua vinda, que aflir-
mava ser para festejar a canonizaçam do Sancto Xavier. Ao que a Ter-
ra ajuntou, que se o seu intento era esse, vinha em muito boa con-
junção, pois ella de presente andava ocupada nessas festas, e que am-
bos, com maior alegria de ambas as partes as poderião continuar. Re-
plicou Neptuno, que pois o Sancto lhe cabia só á sua parte, elle, como
poderoso Rey do mar, as queria tomar só à sua conta: e por fim das
razões, que cada hum alegava para provar, que o Sancto se lhe devia,
chegarão a termos de querer levar a cousa por força de armas, con-
fiando os da terra nas que trazião, e Neptuno no valor de seus mons-
tros marinhos, e gigantes: porem metendo se de permeyo hum Anjo,
que a cavalo dava principio ao acompanhamento da Terra, os apazi-
guou, e tornou amigos, dizendo-lhes, que primeiro alegrassem ambos
com sua vista a Cidade, e que por fim se achassem todos na Igreja
do Collegio, aonde Sancto Ignacio como Pay, e Juiz nesta parte, decla-
raria por sentença, a qual delias pertencia o Saneio Xavier.
Tiverão todos por acertado o conselho, e obedecendo logo ao An-
jo, começarão a caminhar, ficando atraz as figuras do mar, que hião
na forma, que fica dito, não cessando entre tanto a musica das Sereas,
a que da outra parte respondia a de huma boa, e concertada chaco-
ta, que de fora da Cidade tinha vindo. Seguião-se a diante as figu-
ras da Terra, que entre outras, erão as principaes, Ásia, ííuropa,
e os Anjos Custódios de cada huma: em lugar do Oriente, e Occiden-
te, por terem ido no triunipho hia a Aurora, e Hesperus, seguião-se
o Zelo Evangélico, Uso dos Sacramentos, Afabilidade, Recta Intenção,
e outras graças sobrenaturaes, e virtudes, com que o Saneio obrou
nestas partes algumas maravilhas: aqui se vião também parte das vi-
ctorias, que por meyo de suas orações se alcançarão, e milagres, que
N." 47— Vol. VIII -< 886. 12
466 ABGHIVO DOS AÇORES
fez; ludus inuy bem vestidos ã trágica. Hião coniu testemunhas de sua
sanctidade os principaes homens, com que tratou, e os Vizo Reys da
índia, que com elle concorreião, como Dom João de Castro, Dom Af-
fonso de Noronha, Martim Alfonso de Sousa, e também os Reys de
Ternate, de Travancor, d Emanguche, e outros a que fazião compa-
uhia os Capitães Portuguezes, que com. elle tiverão particular trato,
que tudo fazia gente de cavalo muy luzida.
Por remate hia o Sancto com sobrepeliz, e estola, debaixo roupa
negra de veludo, com hum Crucifixo nas mãos, e resplandor dourado
sobre a cabeça: acompanhavão el Rey de Bungo, e alguns Portugue-
zes, que lhe hião fazendo passo, e para mais a[)arato hia diante hum
coro de Virtudes, das mais insignes em que o Sancto floreceo: estas
hião a pé muy ricamente vestidas, como também hião as mais figuras
de cavalo; das qiiaes ainda que em particular se não faz expressa
menção, basta saber, que a Ilha tem boa comodidade para se ornarem
estas figuras com toda a pompa, e variedade de vestidos, com as mais
galas, e concerto, que para estas, e quaesquer outras representações
de festa se requerem: porque alem da gente mais nobre se tratar lus-
trosa, e gravemente, ajuda também muito para isso ser a terra ma-
rítima frequentada de frotas, e outras muitas embarcações, que de va-
rias partes ahi vão demandar, de que de ordinário fica bem provida.
Deu-se pois fim a esta lesta na forma (pie estava traçada, apeaudo-se
os cavaleiros á porta da Igreja do Collegio, na qual entrarão, e com
elles Neptuno, que ajoelhado diante do altar de Saneio Ignacio, lhe
fez suas petições, prometendo que se lhe dava por padroeiro ao S.
Xavier, faria com que todos os marinheiros o tivessem por muy par-
ticular avogado em suas navegações, que por meyo do Sancto lhes
prometia em tudo muy prosperas, sem naufrágios, nem perigos. E
continuando-se entre elle,e a Terra o Dialogo Latino, alegou cada qual.
sua justiça, contando os trabalhos que o Sancto por mar e terra pa-
deceo: os milagres que fez, e o muito que peregrinou, e navegou em
hum, e outro elemento. Ao que deu reposta hum Oráculo em nome
de Sancto Ignacio, dizendo que pois as maravilhas que obrou o Sancto
Xavier, abrangião ambas as partes: ambos se podião alegrar, e toma-
lo por particular avogado seu. Renderão a isto logo as graças, assi a
Terra, como Neptuno, prometendo este, ainda que de todo não ficava
com tudo o que pretendia, fazer em o mar suas festas de fogo, as
quaes a terra como mais pontual começou logo em o Collegio com
muitas rodas, huma arvore de fogo. e foguetes vários, a que respon-
dião outros que junto do porto, e ruas da Cidade se lançarão.
Nas festas que ao sabbado se fizerão, a que mais lustrou, e deu
que ver, foy huma grave encamizada, em que entrarão muitos Cida-
dãos principaes, que por sua devação quizerão festejar a noyte deste
dia, ao qual ella em grande parte ficava semelhante com a muita cia-
ARCHIVO DOS AÇORES 467
ridade das tochas que levavão, afora as muitas luminárias das jane-
las, e fogueies, (jue se hião lançando pelas rnas, as quaes por vezps
correrão com tanto concerto, e ordem, que não pode deixar de ser
milito louvada: tendo-se isto já por bom principio das festas de cavalo,
que ao dia seguinte também fizerão, com o snccesso que se podia deze-
jar, e esperar do zelo, e boa vontade com que se oíferecerão para ellas,
não reparando em gastos, que todos qiiizerão fossem á sna conta, sem
consentir, que o Collegio de alguma maneira concorresse para elles.
E parece qne em parte quizerão os Sanctos remunerar esta liberali-
dade, atalhando a algum gasto, e trabalho, que de novo querião to-
mar: porque andando muy solícitos para fazer ajuntar grande copia
de agoa para agoar toda a praça, assi para que estivesse tudo mais
fresco, como principalmente para apagar o muito pó que na carreira
temião se levantasse, ficarão livres deste cuidado, porque na mesma
manhãa choveo por bom espaço, quanto foy necessário para se apagar
lodo o pó, tornando logo o dia Iam claro, e fermoso como se deseja-
va: acrecentou se a todos nova alegria com tam bom successo, e ar-
mando se em a praça huma tenda com vários, e ricos prémios de pra-
ia se deu principio ás festas, sahindo os cavaleiros de emboscada di-
vididos em duas alas,e alem de outros enredos, arremetião já humas
vezes com os piques, cujos golpes rebatião nas adargas, já pondo es-
tas de parle, lançavão mão ás espadas, e com ellas mias se hião aco-
metendo huns aos outros, passando no primeiro arremetimento mais
ao largo, e voltando logo no segundo, tocavão as pontas das espadas,
até que do terceiro, melendo-se mais por dentro, e unindo-se lodos,
corrião as espadas humas pelas outras, com tanta expediçam. e ligei-
reza, quanta se requeria, sem haver desar algum, nem desgraça. (Cor-
rerão lambem suas canas, e depois disso manilhas, sahindo de dous
em dous por sua ordem a correr os preços, que na tenda eslavão, os
quaes por voto dos Juizes se davão áquelles que com mais destreza,
e ar se havião no correr, e no dar o golpe mais direito, e acertado.
Com este exercício se poz fim às festas deste ultimo dia, e se
deu bom remate ás do oitavario, com que a serviço dos Sanctos entre
as outras p(»pulosas, e poderosas Cidades, se quiz lambem ofl'erecer
esta Ilha da Terceira: a qual ainda que nesta obra leve o ultimo lu-
gar, não he porque não seja merecedora de outro aventejado, pois en-
tre as mais que estão sogeitas á Coroa de Portugal, o não desmerece.
Eslaí, são em breve as festas, com que esta Província de Portu-
gal celebrou as canonizações do Patriarcha Santo Ignacio, e S. Fran-
cisco Xavier: na relação das quaes foy necessário cortar, ainda por
cousas necessárias, para que o livro não sahisse de mór grandeza do
(jue se pretendia: e por esta causa não foy possível imprimiremse a-
qui juntamente as pregações, que em louvor dos Santos se fiz-rão, que
por serem muitas em ríumero podião entrar em tomo particular: como
468 ARCHIVO DOS AÇORES
também as Tragicomedias, Diálogos, Emblemas, Epigramas e outras
varias obras, e poesias Latinas, afora as que na lingoa Porlugueza,
Castelhana, Italiana, e outras muitas em as mais das partes se com-
poserão; o que se também se houvesse de mandar ao prelo, bastava
não só para fazer outro, mas outros vários tomos de boa grandeza. Tam-
bém se advirte, que se algumas Casas, ou Collegios, na ordem em
que vão postos, vão em alguma parte fora do lugar que se lhe deve,
foy por causa de não chegarem a tempo as Helações.
DA
MANEIRA
PELA QUAL FOI CELEBRADO
NA
CIDADE DE ANGRA
o DIA 15 DE MAIO DE 1824
ANNIVE.RSARIO
DE
SUA MAGESTADE FIDELÍSSIMA
D. JOÃO VI.
LISBOA :
EM A NOVA IMPRESSÃO DA VIUVA NEVES E FILHOS.
ANNO DE 1824.
Com licença da Real Commissão de Censura.
Aproximando-se o plausível dia 13 de Maio do corrente anno, pri-
meiro anniversario de Sua Magestade o Senhor Rei D. João VI depois
da sua gloriosa restituição ao pleno exercício dos Seus legítimos Di-
reitos, começaram os habitantes de Angra as demonstrações do seu
prazer, apparecendo a ('idade na noite do dia 12 espontaneamente il-
luminada. Pelas oito horas, pouco mais ou menos, entraram na praça
fronteira ao Palácio da residência do III.'"® e Ex.""" Barão da Villa da
Praia, Governador e Capitão General d'esta Capitania, duas Bandas de
Cavalleiros lustrosamente vestidos, uma de uniforme branco com ban-
das vermelhas, e outra de uniforme vermelho com bandas brancas. Os
Cavalleiros, que compunham a primeira, distinguiam-se, além do uni-
forme, por chapeos ricamente adornados de plumas e de brilhantes
jóias; os gue compunham a segunda, por elegantes barretinas seme-
lhantemente emplumadas e lustrosas. Cada Cavalleiro era acompanha-
do por dois pagens de pé com archotes, cujo clarão junto com o da il-
luminação das janellas da praça, faziam assas visível esta brilhante Ca-
470 ARCHIVO DOS AÇORES
valgada. Vinliam as duas Batidas piecedidas por tim coro de musica
inslrumenlal, que conlinuamenle variava as composições alegres, com
(jue acompanhava os movimentos dos (^avalleiros. A primeira Banda
era capitaneada pelo III."'*' Brigadeiro Vital de Bilencourt Vasconcellos
e Lemos, que a guiava, e era composta dos Senhores Luiz Meyrelles
do Canto e Castro, José Theodosio de Bitencourt Vasconcellos e Lemos,
Bento de Bitencourt Vasconcellos e Lemos, João Pereira Sarmento For-
jaz de Lacerda — Filho, Francisco Manoel Coelho Borges, Christiano Jo-
sé Garção de Carvalho. António Moules Vieira de Bitencourt, João Pe-
dro Coelho, Francisco Machado Pamplona Corte-Real, Jacinto Cario?
Mourão Pinheiro. Capitaneava a segunda o 111.""' António Nicolào de
Moura Stockler, Filho do Ex.""" Goverijador e Capitão General, e Aju-
dante de Ordens de sua pessoa, a quem os Cavalleiros Angrenses fi-
zeiam a honra de eleger para guia a par do seu illustre e respeitável
|)arente acima nomeado: esta Banda era composta dos Senhores José
de Bitencourt Vasconcellos (>orrèa e Ávila, Diogo Álvaro Pereira Sar-
mento Forjaz de Lacerda, Francisco Leite Botelho de Teive, Manoel
Homem da Costa e Noronha. Francisco Pamplona Machado Corle-Real,
João Borges do Canto e Silveira, Luiz Pacheco de Lima e Lacerda, Tho-
maz Manoel Xavier Palmeirim, Diogo de Barcellus, João Hewson.
Depois de ligeiras e bem concertadas voltas, e de darem três vi-
vas, o primeiro a Sua Magestade o Senhor Rei D. João VI nosso legi-
tiuío Rei e Senhor natural: o segundo a sua digna e para sempre me-
morável Consorte a Rainha a Senhora D. Carlota Joaquina de Bourbon:
e o terceiro a toda a Real e amável Família descendente de tão Au-
gustos Progenitores; se retiraram percorrendo as ruas da Cidade, e
repetindo nas principaes d'ellas e em todas as praças os mesmos ale-
gres vivas, que eram fervorosamente respondidos pelo Povo enlhusias-
mado e cheio de gosto.
No dia IIL depois de uma Salva Real nos Castellos de São João
Baptista e São Sebastião, se ajuntou pelas dez horas da manhã toda a
principal Nobreza de Angra e a OíTicialidade militar dos Corpos de L*
e 2.* Linha no Palácio do Ex.*"" General, d"onde este sahio pelas dez
e meia seguido daquella illustre e luzida comitiva, e se dirigio á Sé
Episcopal, na qual já o esperava o Corpo da Camará com a bandeira
da Cidade e as dos Grémios, bem como o III."'" Cabido. Ali, depois de .
exposto o Sanctissimo Sacramento, entoou o III.""' e R,""'Deão José Ma-
ria de Bitencourt Vasconcellos e Lemos o Hymno Te-Deuin laudamus,
o qual foi cantado por dois coros de excellente musica, com o maior
júbilo, decência, e devoção.
Acabado este religioso acto, se retirou Sua Excellencia para o seu
Palácio, seguido do mesmo numtro.so e brilhante cortejo: achando-se a
este tempo já postados no largo do mesmo Palácio o Batalhão de Av
lilheria, e o Destacamento do Batalhão de Caçadores N.° 5 actualmen-
te existente em Angra, os quaes lhe fizeram as continências devidas
AHCHlVO DOS AÇORES 47 <
ao seu eminente posto; locando a niii>ica a respeituosa e bem compas-
sada marcha conhecida pela denominação do Hymno de El-Rei, a qnal
Sua Excellencia lhe havia mandado ensinar para ser pela [trimeira vez
tocada neste faustissimo dia.
Pela uma íiora da tarde Sua Excellencia, vestido em grande uni-
forme e acompanhado do seu Estado Maior e do Secretario do Gover-
no, rectbeo na Sala do Docel, como Representante de Sua Magestade,
os comprimentos e felicitações, que por occasião tão plausível lhe di-
rigiram a Nobreza, o Clero, o Corpo militar, os Magistrados, e os Em-
pregados públicos, qae todos ali concorreram com as demonstrações
do prazer mais puro e sincero: terminando este acto com três descar-
gas de alegria, e outros tantos vivas dados pela Tropa, que se achava
formada, aos quaes se seguio outra Salva Real nas Fortalezas.
Tinha Sua Excellencia convidado, para se ajuntarem no seu Palá-
cio a horas do chá, as pessoas mais conspicuas pela sua qualidade, em-
pregos, postos, e dignidades: e igualmente as Senhoras mais dintinclas
da Ilha Terceira: e por este modo se ajuntou na grande Sala do Palá-
cio o concurso mais luzido, que jamais se vio na Cidade de Angra. Co-
meçou o saráo repetindo com summa graça e energia de expressão o
lll.""^ Álvaro Pereira Forjaz de Lacerda, menino ôeíO para il annos,
Filho do Commendador João Pereira Sarmento Forjaz de Lacerda, o
saguinte Elogio a Sua Magestade, composto pelo Senhor João Miguel
Coelho Borges.
EIL.OC3-IO
O' decas e aevi magna gloria tui !
Ov.
O' do século teu ornato e gloria !
Dias de applauso e magestosa pompa ;
Dias d'alta ventJira e summa gloria,
l)e ineíTavel prnzcr, quando sentada
No augusto Capitólio Roma via,
Desdenhosa, a seus pés amontoadas
As Coroas, que pallidos Monarchas
Ali vinhão prostrar, prezos seguindo
As erguidas carroças triumfantes
De S<:ylla e César, de Scipião e Mário!
Dias de applauso e magestosa pompa,
Dejinsólito prazer! Vós ténue rasgo.
Vós remedo sois débil e apoucado
Dos que hoje em Lysia júbilos tra^bordã•
472 ARGHIVO DOS ACOHES
Quando era seus horisonles vé, que aponta.
Mais qno nunca formosa e radiante,
De tão bom Dia a Aurura luminosa!
Sim, ó Lusos, que Dia ! um, que sepulta
Em total merecido esquecimento
Quantos dias de gloria desde a idade
Primeva do Orbe ao Bem sagrados forão !
Dia em fim sempre novo, e sempre amável.
Em que os Povos de Lysia acordes todos
Na sujeição e affecto inabaláveis,
Ébrios de alegria e de ventura.
Se dizem uns aos outros— hoje findão
Giros do Sol Ires vezes dezenove,
Desde quando Astros novos scinlilárão
Os olhos de João na Lusa Esphera:
João, dos Lusos Rei, Espelho, e Arrimo,
Valente Gedeão, por cujo Braço,
Salva segunda vez, Lysia alça, e mostra
De louros immortaes cingida a Fronte:
Sim, por Elle he que foi ha quasi um anno
Decepada de um golpe, e n'um momento,
A orgulhosa cerviz do mais hediondo,
Do monstro mais feroz, que os tempos virão;
Que solto em crimes cento desusados.
Salvar dizia a Pátria, e a Pátria teve
Envilecida, oppressa, e quasi escrava:
Elle a remio, vendo, que seu Povo,
Indócil sempre ás suggestões traidoras
Da aleivosa Facção, parto das Fúrias,
Apenas aguardava, que seu Chefe
Aldavada mais uma desse rija
Do Brio ás portas inda m^l desperto:
Deo-se, e surgio o Dia sempre fausto
Cinco de Junho, em que a Caterva abjecta,
O voraz monstro do covil sahindo.
Estancia da vileza, e da impiedade,
Torcendo e destorcendo a cauda longa.
Vai de rojo no pó rastando o bojo;
E olhando para traz freme de raiva.
Monstro maldito, monstro abominável I , . .
Mas ah! onde me leva, e me transporta
De justa indignação sagrado impulso!
{Conlinua).
i
EHiOOIO
(Continuado de pag 472 d'este Vol )
Ah ! não, não mais o umbral ensanguentado
Se erga a scenas de horror: sumão se dias
De tanto opprobrio, e envenenar não venhão
A gloria perennal, que aos Lusos cabe,
Vendo a coberto de perfídias novas,
Que, em quanto entre Leões fera terrível
Infiel Ottomáo Dragão persegue
Desgraçada Nação, potente outrora;
João dos Luzos Pai, cora áureo Sceplro
Dando suaves Leis, escora n'alma
De seus Povos fiéis seu Sólio firme.
D'entre dias de pranto extrahe os de ouro,
E na riqueza, e paz, e na ventura,
E na gloria dos Seus a Sua esteia.
Salve, Monarcha excelso, charo aos Povos,
Que amiga Providencia confiara
Ás vistas paternaes, com que os defendes:
Salve, da Pátria Remissor sublime.
De teus Povos, teus Filhos, Norte e Escudo:
Gloria dos Reis, do Reino segurança:
Lustros mil sobre nós feliz imperes:
Por" lustros possão mil os Lusitanos
Ver assomar o Dia dos teus Annos.
Seguio-se o Senhor José Augusto Cabral de Mello. Secretario do
Governo, cuja literatura e raros talentos são geralmente admirados em
Angra, e o serão em todo o Reino de Portugal, e mesmo fora d'elle,
se as producções do seu engenho sahirem aigum dia á luz publica; o
qual recitou o seguinte Elogio também em verso, composição, que as-
saz acredita o que n'este lugar dizemos a respeito do seu author.
N.° 48— Vol. VIII— 1886.
474 AKCHIVO DOS AÇORES
Quo nihil majus meliusve lerris,
Fata donavere, bonique divi;
Nec dabunt, quamvis redeani in auiuni
Têmpora priscum.
HOR. LlB. IV. Od. II.
Virtude, Honra, Sciencia, Amur da Palriaf
Oh tutelares venerandos Numes
De Lusitânia heróica e esclarecida!
Se da Lyra dourada, que tangeram
Argivos Vates, Laciaes Cantores,
Neste almo Dia, que respeita o Tempo,
Alegre firo as sonorosas cordas.
Os harmónicos sons elevo aos Astros:
Vos sois o assumpto, que meu Plectro excita:
A vós somente meu louvor dirijo:
A vós, que rutilais em gráo sublime
No peito illustre de João excelso,
D'esse áureo Fructo de famosa Estirpe,
Cujo Natal faustissimo, radioso,
Á voz dos altos Deoses, vem de novo
Abrilhantar os ângulos da Terra.
Escuta, oh Angra, oh Portugal, escuta
Meu ledo canto, que a Verdade inspira:
Minha voz attendei, que, agradecida,
A Lealdade pura extrahe do peito.
Que um peito Portuguez desprende altivo.
Quando, de Tróia vencedor soberbo.
De Laertes o Filho, o sábio Ulysses,
Do procelloso Egèo arando as vagas,
Trespassou a baliza, que puzera
No Hispano Calpe o valoroso Alcides,
E, entrando no espumoso largo Oceano,
A Cidade fundou, que resplandece
Do Tejo occiduo nas risonhas margens;
Por certo a mente sua, contemplando
O esplendido recinto, mas escasso.
Da formosa Ulyssea, não previa.
Que valentes Alumnos de Mavorle
Ali berço teriam, e pomposo
Inabalável Throno Reis potentes
Famigerados nos Annaes do Mundo:
ARCHIVO DOS AÇORES 47S
Nem elle então imaginar podia
Que, agitando soberbo as leves azas,
Vaidoso o Tempo um século brilhante
Lá da Morada fúlgida traria,
Em que um Rei sem igual, de Reis modelo,
Philanthropico ardor sentindo n'alma,
Por entre applausos, luminosa scena
De virtudes benéficas mimosas,
E de heróicas acções, manifestara
No Solo Fortuguez ao Mundo absorto.
Como do Nume, que abrilhanta os orbes,
A dextra omnipotente, dadivosa,
O magnifico, bello, insigne feito
Do alto Grego dourou! Como propicia.
Assombrando o Universo, lá do Empyreo
Fez descer de Ulyssea ao grémio claro
A Estirpe veneranda portentosa
De Bragança iramortal, que o Tejo adora f
Campos de Ourique, memoráveis campos,
Dizei como o primeiro Affonso egrégio.
Levando o nome Lusitano aos pólos.
Soberbo debellou. desfez ovante
As inimigas hórridas Phalanges
Da Mauritânia barbara cruenta . . .
Como, cingido de viçosos louros.
Seguindo do Heroísmo o facho ardente,
Lançou da Lusa Monarchia as bases . . .
Ah f que de esforço e brio Astro fulgente,
O sublime renome, a excelsa gloria,
Do Macedónio altivo escureceste.
Portentoso Guerreiro. Affonso invicto!
Ah! que vaidosa a Eternidade abraça
Teu nome rutilante, e se gloria
De chamar-te o primeiro venerando
Monarcha excelso tutelar dos Lusos 1 . . .
Tua Prole imitou-te: — vio o Mundo,
De espanto cheio, magestosa serie
De famosos Heioes, de heis supremos,
Impávidos, valentes, denodados,
Repellir o furor das aguerridas
Bravas Cohortes da arrogante Ibéria:
A Pátria esclarecer com mil proezas;
E, após de afortunar da Pátria o seio
Cos mimos da Abundância e do Repouso,
Intrépidos expondo o peito aos negros
476 ABCHIVO DOS AÇOBES
Embravecidos mares, ir gloriosos
De estremado valor obrar prodígios
De Africa adusta nas ardentes Plagas.
Não menos vio maravilhado o Mnndo,
Como a seu mando os Argonautas Lusos,
Rompendo de Amphitrile os ermos campos.
Do Cabo Tormentório arrostar foram
As truculentas hórridas procellas:
Como do Oriente impávidos domando
Os Potentados numerosos, foram
Arvorar triunfantes no áureo berço
Da resplendente Aurora as Regias Quinas, j
Mandando ao pátrio Tejo os primorosos 1
Ricos Ihesouros de Soberbo Ganges. |
D'est'arte parecia ter tocado f
O ápice da gloria a clara Lysia:
Mas a gloria de Lysia os Ceos augmentani.
No seu grémio, de novo o Tronco excelso |
Da preclara Bragança um Ramo brota:
João, mimo dos Ceos, na Terra brilha:
E seu peito benigno e portentoso,
Das Virtudes angélicas formado,
Á destra pluma da facunda Historia
Offerece o mais lindo e grato emblema
De fúlgidas proezas singulares,
De excellencias famosas, de preclaras
Bellissimas acções, que Lysia adora,
Que a Europa inteira e o Térreo Globo prezam.
Agora o ethereo Assento, oh sacra Musa,
CalUope formosa, um pouco esquece: ' %
Vem risonha aíiuarme a Lyra de ouro:
Co'as agoas do Permesso, adoça, alenta,
A minha rouca voz enfraquecida:
Raro torna meu canto, que só pôde
Raros feitos expor um canto raro.
Apenas no alto Sólio magestoso
O avito empunha rutilante Sceptro,
Dos Elysios descendem radiosas
A bafejar os Portuguezes Climas
A querida Minerva, a doce Astrêa:
Assoma fulgurante a Industria bella:
E os nitidos thesouros carinhosa,
Nas urnas do Commercio deposita.
As bellicas não soam roucas tubas,
Que aos ânimos das Mais e das Esposas
ARCHIVO DOS AÇORES 477
O pallido terror e a mágoa levam:
Do iroso Marte os pavilhões não tinge
O sangue Porluguez: respira exulta,
Nos braços do Uescanço o pátrio Tejo:
A potente Harmonia, em laços de ouro.
Nas quatro partes do Universo prende
Da Lusitânia os oriundos Povos.
Tanto pôde o benigno, o justo império
Do novo amado Tito, cujo nome
Do Antárctico pólo ás Ursas corre,
E da Esphera cerúlea os Soes transpondo,
O lustre leva da Memoria ao Templo.
Mas eis que Fúria atroz, crespa de serpes,
Do severo Plutão os antros deixa,
E na Gallia infeliz súbito assoma.
Sequioso de Sangue, o monstro horrendo
Bramando corre a devastar a Europa.
E, da Europa gentil brilhante esmero,
He alvo Lysia de seus crebros tiros.
Já bravas Hostes, a seu mando, estragam
As campinas Hispanas: rubras agoas
Desfalecido volve o claro Ibero! . . .
Já sobre as raias Portuguezas lançam
A magoa, o pranto, o luto 1 . . . Bem pudera
Sua audácia maligna, seus furores,
Repellir triunfante o esforço Luso:
Mas ah! derramar sangue era forçoso,
E o Génio tutelar dos Portuguezes
Portuguez sangue derramar não ousa:
Quer as vidas poupar aos caros Filhos:
«Ha de o Tempo e a Razão dar traça aos Lusos
«(Exclama o Heroe) de rechaçar da Pátria,
«Sem uimio estrago seu, essas terríveis
«Devastadoras Ho.<tes, mais cruentas,
«Que as dos cruentos orgulhosos Parthos:
«Embora consternada e lucluosa
«Um pouco gíiria a doce amada Lysia:
*X justiça dos Ceos ha de vingá-la ....
«A deixar-te me apresso, oh Pátria minha í
«Tanto julgo forçoso: voluntário
«Vou a fúria arrostar dos bravos mares:
«Tua sorte infeliz me obriga a tanto!
«Vou ver se encontro meios de útil sêr-te:
«Sacrifícios não ha, que não mereças
. «De um Filho, que risonha alçaste ao Throno. »
478 ARCHIVO DOS AÇORES
Desfarte se separa aíiliclo, e deixa
Em lagrimas banhado o Tejo aurífero:
Du espumoso Tritãu nos Paços entra:
E do horrísono Eôlo desdenhado
O rouco brado, e as férvidas voragens
Do ríspido Neptuno procelloso.
Ás praias surge do Janeiro ameno.
Que brilhante espectáculo formoso
Ali se ostenta ! . . . Que ventura, e gloria f
Que delicia f que júbilo ! que assombro 1 , . .
Tu, sonora Cantora, ó Fama alígera,
Do Levante ao Poente, na áurea tuba
Assas o decantaste: inútil fora
Rasteiro Cisne publicá-lo ao Mundo.
iNo entanto os Netos dos Pachecos bravos.
Dos Castros fortes, dos valentes Nunos,
As imigas Phalanges repelliram
Da famosa Ulyssea: a Paz celeste
Um sorriso desprende, e a Gloria surge.
Respira o bom Monarcha: novo quadro
De nitidas Virtudes apresenta
No dourado Brazil viçoso e bello:
De Virtudes unmosas, que não cedem
Ás de um justo Antonino, ás de um Trajano,
Com que na antiga Roma o summo Jove
Meigo adoçara as barbaras ferezas
Dos sanguinários odiosos Neros.
Ali a Inércia languida falece:
Ali prodígios mil a Industria ostenta:
Mostra a face risonha a loura Ceres:
O Thyrso pampinoso Baccho empimha:
A Abundância prospera: ethereo eílluvio
O solo fertiliza: ali vicejam
Os presentes de Flora, e de Pomona.
A Concórdia benigna prende a todos.
Ali renascem os dourados tempos,
Os benéficos dons, que o bom Saturno
Raiar fizera nos Latinos campos.
Mas que nuvem ao longe pavorosa
No Horisonte Luso se levanta I
Que novos Fados hórridos promette
Aos Portuguezes peitos I . . . Negros globos
De eléctrica matéria os Ceos enlutam:
Caliginosos Euros, feros Notos,
De um lado e de outra a cara Pátria agitam.
ARCHIVO DOS AÇORES 479
Rebenta a tempestade ... os raios troam . . .
De cruentos Democratas estultos
A Cabilda immoral no Douro assoma:
Traz a um lado a Illusão, e ao outro as Fúrias:
A Illusão fraudulenta um pouco afaga
Os innocentes Povos: elles cuidam.
Que a cândida Verdade só lhes falia:
Proclama o bem do Rei, o bem da Pátria:
A Pátria e o Rei leaes os Povos amam :
Incautos cedem á Maldade astuta:
Inda seu jugo férreo uão conhecem.
Em breve o sentem ... oh que Fado horrível I
As viboras da Inveja iradas fremem:
Espargindo o pavor, conturba os ares
O hálito venenoso da Calumnia,
E, em serpes desenvolto, pulveriza
O virtuoso, o sábio, A Innocencia,
A Honra, a Lealdade, em ferros gemem í . . .
Desculpai, oh benévolos Angrenses?
Se, lagrimas amargas enchugando,
Pôde um Vate rasteiro o débil canto
Alçar um pouco nos terríveis tempos . . .
Oh ! . , bem seu peito examinastes: sempre
Ao delirio damnoso illeso o vistes!
Á mais pura intenção sorrio se a Musa:
Vós éreis todos victimas das Fúrias:
Se na crise infeliz gloria não era,
As Fúrias adoçar não era crime.
Não affrouxa a Illusão: agita as plumas,
E, trespassando o Arsinario Cabo,
Vai alQm descançar na Plaga occidua.
Não triunfa do Heroe: elle perscruta
Os mysterios cruentos dos audazes
Perversos Catilinas: vivo anhelo
De salvar desditosos caros Filhos
Lhe anima o nobre peito: novamente
Do ríspido Tridente a fúria arrosta:
Calca medos e azares, té que surge
Ao magnifico berço Lusitano.
Quer o brio e o valor de leaes Filhos
Roubá-lo aos Demagógicos furores:
O zelo, o sangue, as vidas ofterecem:
Mas ah f João he Pai: correr não deixa
No Luso território o sangue Luso:
O delirio abater de ingratos Filhos
Í80 ARCHIYO DOS AÇORES
Em momento opportuno cauto espera.
Oh! presente dos Ceos! oh sempre amado
Boníssimo João I . . Que sacrifícios,
Que anciãs, que magoas, por amor dos Povos,
Teu peito generoso opprimem, rasgam 1
Como podes sem dor pungente e viva
Da illudida Pandora vér de todo
A boceta fatal abrir-se em Lysia !
Mas eis que em áureas folhas as Sibyilas
Gloriosas escrevem, que Ulyssea,
Nos braços da Alegria e da Concórdia,
Vai gosar o mais próspero destino.
Realisam-no os Deosos soberanos.
Súbito, dissipando densas trevas,
A suspirada Aurora fulgurante
O cróceo berço deixa, e a face mostra . . .
Eis que a Pátria respira ... oh Ceos, que assombro!
Que vejo, oh Ceos! ... de rojo . . . ahl sim eu vejo
Do Tártaro medonho aos negros antros
Irem de rojo as Fúrias: e bramando
Arquejar a Illusão no torvo Lethes I . . .
Descer eu vejo do sagrado Empyreo
A Religião santa luminosa ! . .
Mostrar o insigne Mérito brilhante
A magestosa face!... vejo a gloria
E o júbilo aditar do Tejo as margens ! . . .
Em Angra, Pátria minha, raiar vejo
Os dias de bonança, e de ventura 1 . . .
Vejo o Illustre Varão, que sustentara
Sempre constante e impávido, entre ferros,
A Lealdade pura ao Rei, á Pátria,
Novamente fazer brilhar nas Ilhas
As doçuras da Paz, de Astréa os risos! ; . .
Quão engenhosa és, Virtude amada,
Gentil celestial Beneficência!
Que alto poder os Deoses te doaram !
Como cum só sorriso, docemente
Fazes raiar o bem da Humanidade!
Como nutres a Honra, e a Moral pura!
Como a teu mando luminosas brilham
As Sciencias úteis, as queridas Artes ! . . .
Quanto, oh Rei immortal, quanto te deve
O Solo Portuguezl ... Oh ! quanto és útil.
Portentoso João, de Lysia aos Povos I . . .
Regentes do Universo! . . . ah! vede como
ARCHIVO DOS AÇORES 481
Se chega a disfriictar o Templo Eterno! . .
Aprendei de João como se rege
Nos brííços da Delicia amados Povos!
(]omG se ganham louros mais fonnosos
Do ipie os Itjnros, que dão mavórcias lides í . . .
Basla, ofi Musa ! . . . não mais I . . . ligeira corre
Do Hélicon sagrado ao cume excelso.
Já soherbo Padião has levantado,
Nos Átrios da Memoria, ao sábio, ao justo
Magnânimo João: assas tens dito,
Porque seu claro Nome adore o Tempo:
Porque os applausos merecidos possão,
Nas vindouras idades, tributar lhe
A Lusa Prole, a Humanidade, o Mundo.
No fim d'este elegante e melodioso Poema, rompeo a musica com
íima linda Sonata de Pleyel, em a qual a parte da primeira Rabeca
foi executada pelo digno Author do Elogio, que deixamos transcripto.
A esta formosa composição musical se seguio cantarem a duas vozes
as Ex.*"*' Senhoras D. Maria Cândida Leite de Bitencourt, Mulher do
III.™" (Coronel e Commendador José Theodosio de Bitencourt Vascon-
cellos e Lemos, e D. Maria Margarida Stockler, Filha do Ex.""" Gene-
íal Barão da Villa da Praia, ao som do Hymno Keal, as seguintes Co-
[>las, no fim de cada liuma das quaes se repetia este
Estribilho
Por vós, pela Patiia,
O sangue daremos:
Por gloria só temos
Vencer ou morrer.
Eis, Monarcha excelso,
Os votos sagrados,
Que os Lusos honrados
Vem livres fazer.
Aos mares vos destes
A bem dos Vassallos,
A fim de livra los
Do Ímpio poder.
N.° 48— Vol. VIII — I88G.
Assim ver pudestes
A fé, o amor,
O brio, o valor,
Em Lysia crescer.
Imigas Phalanges
Dos Francos temidos,
Por vós soccorridos,
Pudemos vencer.
482
ARCHIVO DOS ACOHES
Os louros famosos,
Que o Corso ganhara,
p]m Lysia preclara
Vieram perder.
Do Brazil nos climas.
Com dextra propicia,
A paz, a delicia
Fizestes nascer.
Mas ai qiie de Lysia
Se queixa o bom Povo,
Forçado de novo
A males soíTrer.
Então pressuroso
O Tejo buscais,
A Filhos, que amais,
Querendo valer.
Já Lysia seus braços
Vos abre gostosa;
Ha tanto anciosa
Do bem de vos ver.
Dos ímpios bramio
A negra Facção,
Que ousou a Nação
De males encher.
Mas vossa justiça,
Sciencia, e valor,
Em breve o furor
Lhe pôde abater.
A Seita inimiga
Do Throno e Altar
Fizestes voar,
Bramir e gemer.
Banistes da guerra
O germe nefando,
Benigno nos dando
Repouso e prazer.
O vosso triunfo
Mil bens nos augura:
A nossa ventura
Eterna vai ser.
Sujeitos, submissos
Aos seus dignos Reis
Os Lusos fieis
Só querem viver.
Um Deos nos escuda.
Oh Rei sempie caro :
Deos he vosso amparo:
Não ha que temer.
Servio-se depois um decente refresco; acabado o qual, a 111.™^ Se-
nh(tra D. Emilia Carlota da Camaia Madureira, acompanhada de seu
Irmão o Senhor José Bernardes de Madureira, tocou um bellissimo con-
certo de Flauta, que foi geralmente applaudido dos circunstantes, os
quaes não podião deixar de admirar a desteridade e perfeição, com
que um e outro executaram aquella agradável e bem escolhida Peça,
A esta seguirauí-se uma Ária e uma Cavatina de excellente gos-
to cantadas pela já mencionada Ex.""^ Senhora D. Maria Cândida Lei-
te de Bitencouri: a qual, depois segunda vez acompanhada pela Ex.™*
Filha do (ieneral. cantou com esta ao som de um novo Hymno com-
posto em Angra por occasião do restabelecimento da Authoridarh' Re-
gia na Pessoa de El-Rei Nosso Senhor, as seguintes (Coplas alusivas ás
precedentes [)ei turbações politicas, que opprimiram e dilaceraíam o
Reino; e aos sentimentos de Religião, Humanidade e Clemência, ijue
AHCHIVO DOS AÇORES
483
Sua Mdgtíslade lem manifestado para com lodos os Seus Vasallos, e
especialmente para com os Açorianos; procurando trazê-los á pa/ e
harmonia por nm períVito esquecimento dos desgraçados acontecimen-
tos pretéritos.
No fim de cada huma se repetia este
Estribilho
Vivam os fieis Angrenses
Ao abrigo do sen Rei:
Vi vão todos os que tem
Caracter, costume, e lei.
Doce paz, doce harmonia,
Do benigno Ceo descei :
Avivai entre os Angrenses
(Caracter, costume, e lei.
Tudo qua!ito digo e faço
Em nome do nosso Rei,
He para que sustenteis
Caracter, costume, e lei.
3.»
Perdoai, leaes Angrenses,
Que eu também já perdoei;
Sustestai, comigo unidos.
Caracter, costume, e lei.
4.»
Nestes nobres sentimentos
Constantes permanecei:
.Mostrai cada vez mais firmes
(>aracter, costume, e lei.
A desmedida ambição
Da pérfida infame Grei,
Supplantar em vão pretende
Caracter, costume, e lei.
6.«
A suas dolosas tramas
Contra a Patiia, e contra o Rei,
Serão barreira invencivel
Caracter, costume, e lei.
7.'
A firmeza inabalável.
Que entre ferros sustentei,
Vos ensina quanto podem
Caracter, costume, e lei.
8.»
Insanos inda blasfemão
Contra mim, eu bem o sei:
Porque sustento constante
(Caracter, costume, e lei.
484
ARCHIVO DOS ACOKES
Seus dicterios, seus insultos,
Sempre sereno encarei:
Ensinão-me a relevá-los
Caracter, costume, e lei.
10.»
Da sua insânia em castigo
Só remorsos llie deixei:
O meu empenho he que tenham
Caracter, costume, e lei.
Talvez me esforce debalde,
Como outrora me esforcei,
Pertendendo que respeitem
Caracter, costume, e lei.
Obediente aos preceitos
Da Razão, e do Meu Rei,
Não cessarei de inspirar lhes
Caracter, costume, e lei.
13.»
Vós, Angrenses generosos,
O que pratico fazei:
Inculcando-lhes benignos
Caracter, costume, e lei.
14."
Com fraternal indulgência,
Seus delírios esquecei:
Mostrailhes quanto em vós podem
Caracter, costume, e lei.
15."
Humilhados e confusos
Caiam aos pés do bom Rei:
Unidos comnosco abracem
Caracter, costume, e lei.
Estribilbo
Vivam os fieis Angrenses
Ao abrigo do seu Rei:
Vivão todos os que tem
(;:aracter, costume, e lei.
Terminou este festivo applauso, tornando a Senhora D. Emilia
Carlota a tocar outro concerto de Flauta, acompanhada por seu irmão
mais moço o Senhor Alexandre de Madureira, que apenas conta doze
annos de idade. Este segundo concerto não foi menos admirado do
que o primeiro; e a elle se seguio hum Quarteto de Pleyel, cujo mé-
rito assas he indicado pela declaração do nome do seu author, e com
o qual rematou o festejo.
Na Villa da Fria, onde o prazer do restabelecimento da Authori
dade Soberana na Pessoa do Senhor Rei D. João VI., e o desejo da
prolongação da sua preciosa vida, não são menores do que em Angra,
também os moradores, dirigidos pelo seu digno Juiz de Fora o Senhor
António Justiniano Pegado Brotero, fizeram iguaes demonstrações de
alegria e patriotismo.
Jm^r^nsa pcri0ílira nas glçaits
Cinco annos decorreiam deí>íie que ij(t N." M dVsle Archivo se
deo noticia dos joinaes açorianos a começar da sua oiigem em IS^iO.
até ao anno de 1881.
Foi um primeiro ensaio, e como tal imperfeito e diíTiciente, com
tudo assim mesmo sérvio de baze aos entendidos na matéria, para de
diversas ilhas e mesmo de Lisboa, enviarem a esta redacção valiosas
indicações tendentes ao aptríeiçoameuto de imi trabalho que só pode
ser exacto quando feito em presença das Cidiecções, sempre raras.
O catalogo que se segue contem alem disso a indicação dos jor-
naes que appareceram até ao fim de 1886.
Antes porem, reproduziremos, como Prologo apropriado, uma no-
ticia circumstanciada da introducção da arte typographica nos Açores,
tal como depois de varias correcções (Ij foi publicada pelo sr. José
Joaquim Pinheiro, Terceirense. (á)
INTRODUCÇÃO DA IMPRENSA NOS AÇORES
«Em 15 de Maio de 1885 traçámos uma breve noticia sobre a in-
troducção da imprensa nos Açores; trabalho (jue fizemos a convite da
digna redacção da folha lisbonense Portugal, Madeira e Açores, e que
a mesma redacção transcreveu no se«i n.'' 32, de 28 do mesmo mez.
Infelizmente o pouco tempo que destinamos a este serviço, e o nosso
nielindroso estado de saúde naquella occasião. fizeram-nos commetter
algumas inexactidões, que hoje, com mais descanço e melhor imfor-
mados, vimos rectificar, passando a fazer novo artigo noticioso sobre
(1) Soíjre o assumpto pode consullar-se o Commercio de Porhtgal de 27 de
julho de 1879; — Conimbrirense, N.» :iM\ de 9 d'afiOsto de 1879, 3:925 de 4 d'a-
hril de 188o, :3:942 de 2 de junlio do iiiesmo anno, e :}:944 de 9 do mesmo mez;
—Portugal, Madeira e Açores, X.° 32 de 28 de maio de 1885, em que os srs. Au-
gusto Ribeiro, Simão José da Luz, e José Joaquim Ribeiro discutiram a matéria,
illucidando-a com os próprios conhecimentos.
(2j Números 4:042, 4:043 e 4:044 (maio de 1886; do Conimbricense.
486 ARCHJVO DOS AÇORES
(\sie assiuiiplo, que cunsideramos da iiiaiur iiuporlancia para a liislo-
ria da typographia e do jornalismo. (1)
«Em 14 d(! fevereiro de I8Í29 chegou ao porto de Angra a gale-
ra americana James- Cropper, vinda de Plymoutli, trazendo a sen bor-
do yOi praças do batallião de voluntários da rainlia, e com ellas os ty-
pos, prelo e mais perlenct\>, com que nesta cidade se montou a pri-
meira imprensa açoriana. Estes materiaes lypographicos tinham sido
comprados, mesmo em Plymouth, em um leilão, [)or ordem do mar-
qucz de Palmella, para uso da junla provisória, que na ilha Terceira
coníliluia o goveino liberal portugue/. em nome da rainha a sr.* D.
Maiia 11; sendo só em seus muros que fluctuava então a bandeira bi-
color, e onde os desditosos emigrados liberaes do continente encontra
iam pátria e protecção.
«A saliida de Plymuuth d'esta galera eflectuou-se no dia liO de Ja-
neiro antecedente, e tendo chegado aos mares da Terceira com boa
viagem, ponde felizmente escapar-se ao ajtertado bloqueio inglez, a-
brigando-seda sua perseguição debaixo da bateria denominada de San-
eio António, que, no sopé do Monte-Brasii, demora na parte Occidental
da bailia d'Angra.
«O desembarque fez se, pois, no já dito dia 14 de Fevereiro, e dois
(tu ires dias depois foram as praças acabadas de chegar, sendo a I.*
companhia formada pelos voluntários académicos de Coimbra, manda-
das guarnecer a villa da Praia; logar onde algumas semanas depois
tiveram a ventura de abraçar os seus valorosos camaradas e amados
companheiros de infortúnio, que posteriormente vieram de Inglaterra
com o seu bravo commandante, o major Manoel Joaquim de Menezes.
[>ara juntos ferirem, no memorável dia II d'Agosto seguinte, a famo-
sa batalha que os encheo de immorredoira gloria, e que deu á(juelle
lixíal (j titulo de muito notável villa da Praia da Victor ia.
«A imprensa trazia duas folhas apnjximadamente de typo com al-
gum uso, de leitura (hoje corpo lá), redondo e gripho, e algum typo
novo d aquelle curpo; pouco mais de meia folha de 6rer<a/íO( corpo 8 j;
talvez mn quarto de folha de texto (corpo H»), typo de maior grande-
za para litulos— linhas de zinco, algumas vinhetas, componedores, ré-
guas de madeira, bolandeiras, lamas e pi elo com seus pertences pa-
ra o serviço de impressão.
«Transportados estes objectos para o castello de S. João Baptista
dAngra, foi alii .irmaila a iinprensa no vestíbulo do palácio do gover-
nador, que formava uma sala, com a vedação que já existia contra a
parte da escada principal, deixando se somente um corredor para pas-
(1) A maitif parte dos esclaniciíiiciilos que podemos colher loi-nos ob/.e-
quiosamente otTerecida pelo nosso erudito eseriptor, o ex."* sr. conselheiro Simão
.losé da Luz, a quem por tal motivo endereçamos os nossos sinceros ajíradeci-
meiítos. É portaíito tão hmpida a fonte (l\ujde ehes emanam, que ninguém pode-
rá (hl vidar da verdade da nossa narração de hoje. [Nota do Author).
ARCHIVO DOS AÇORES 487
sageii). Ksla sala, (pie é a prinieii'a do palácio pelo lado meridional,
prende se a unia antiga casa aonde ainda hoje appareceni umas armas
reaes portngnezas, sobre a porta de commnnicagão com a camará em
que dormiu o infeliz rei D. AíTonso VI, por nesse tempo estar ainda
em constriicção o palácio dos governadores, de que esta velha casa se
ria uma continuação, se se tivesse concluido o palácio segundo o seu
piano primitiv(), que envolvia todo o quarteirão das casas contignas,
hoje bastante arruinadas, pelo desleixo do Governo portngnez, que tu-
do descura.
«A direcção da nova imprensa foi comn)ettida ao alferes d infante-
ria n." 13, Pedro Alexandrino da Cunha, mancebo que á sua reconhe-
cida honradez, alliava grande mérito e muito talento artistico. (I) Couut
subdirector e subordinado a elle, foi nomeado o sr. Simão José da Luz,
que, por influencia do seu amigo, o tenente do batalhão de caçadores
n.° 5, Narciso de Sá Nogueira (2), tinha ficado na cidade, e havia sido
requisitado para este fnn. Eis (juaes foram os dois primeiros illustra-
dos artistas typographicos da primeira imprensa açoriana. a[)esar de
ambos desconhecerem até ahi os trabalhos de lypographia I
«Só a bôa vontade e ardente desejo de servir a causa polilica. que
haviam abraçado, e pela qual já tanto tinham soíTrido, é (pie podiam
levar dois mancebos, imi alferes do exercito e outro estudante da Fa-
culdade de Malhematica na Universidade de Coimbra, a arvorarem-se
em artistas, á força do mais Ímprobo trabalho, compulsando constan-
temente um Manual do impressor, que casualmente possuia o director
Fedro Alexandrino ú:\ Cunha, única luz que os guiou na montagem da
imprensa.
«Montada a imprensa, por maneira (jiie só nella houve depois a
emendar o tympano do prelo, que estava collocado ás avessas, quando
chegaram á ilha Terceira dois compositores de profissão, seguiram-se
os trabalhos typographicos, começando a primeira tiragem por dois
versos de Virgilio, dos quaes o segundo, (pie se conservou por bas-
tantes annos, era: Scmpcr honos nomcnque tuum. laudesqm manebunt,
que foram fixados num dos prumos do prelo, para memoria desta
primeira tiragem, e um rotulo com a data — li de Fevereiro de I8i9
— -que ainda hoje existe na parl»^ inferior do piélo.
«Nos seus ensaios typographicos compíjzeram e imprimiram os no-
véis arlistas algumas pequenas folhas avulsas, noticiosas dos aconte-
cimentos da emigração, até á chegada a Angra dos dois compositores
de profissão Simões e Poitiig^l, e do impressoi' Moura Machado, com
(1) Morreu no posto de capitão df mar e fiucrra, p jiovern;uior do .Macau.
Os seus re.-^los niortaes j;izein na lousa sepulcral, (|ue, para seu jazigo, íez erfiuer
o sr. eoiisellieiro Simão .losi;' da Luz, mandando á sua custa coijduzir o cadáver
para este tão caritativo lim. [Nota do Autfiov).
(2) Era irmão do liom-ado marquez de Sá da Bandeira. Morreu gloriosamen-
te pela sua bravura na ac(,ão de Yalougo, oin 1832 [Nota do Author).
488 ABCHIVO DOS AÇORES
o b^ltídor (las balas Joaquim José Soares, ijiie lodos eram praças do
balalliãu de voliinlarios da rainba, e que foram empregados na impren-
sa. Também foi requisitado como auxiliar o voluntário emigrado An-
tónio José Gonçalves Costa, soldado da 1.^ companbia do batalhão de
volimtarios de Coimbra, que na sua officina de encadernador, onde
residia, era incumbido das brochuras, venda de impressos, etc. Ainda
este pessoal foi reforçado pelo compositor Avelar, (1) que pertencen-
do á brigada de marinha miguelista, no parque d'arlilheria, foi feito
prisioneiro na batalha de 11 dWgosto de 1829, na villa da Praia.
«Com este pessoal desenvolveram-se bastante os trabalhos lypogra-
phicos, fazeiído-se d'esla occasião em diante boas impressões, que bem
revelaram os conhecimentos artísticos dos três compositores Simões, Por-
tugal e Avelar, Por esta occasião mudou-se a imprensa para uma casa
na rua da Sé, quasi fronteira á rua de S. João. hoje propriedade do
negociante, o sr. Bento José de Mattos Abreu, cuja casa, por haver
sido residência do tenente coronel de milicias dAngra, José Theodo-
sio de Bettencourt Lemos, fidalgo miguelista, estava sequestrada.
«A parte occidenlai desta casa foi destinada para a imprensa, e
a oriental para residência do director.
«Foi d'ahi que em 17 dAbril de 1830 saiu o primeiro numero de
A Chronica da Terceira, redigida pelo illuslrado académico, o senr.
Simão José da Luz, logar que elle acceitou a convite do niajor Ber-
nardo de Sá Nogueira, (depois marquez de Sá da Bandeira) que aqui
desembarcou em 18 de Dezembro de 1829, vindo de Ostende com
outros oITjciaes, e com a sr.* condessa de Villa Flor, a bordo da ve-
leira escuna Jack-ó-laniern. {% Desintelligencias havidas depois entre
o marquez de Palmella e o sr. Simão José da Luz levaram este ultimo
a relirar-se da redacção da Ghronka da Terceira, órgão oíTicial da re
gencia (talvez pelos n.°' 12 ou 13), entrandíj nella os emigrados aca-
démicos Elias José de Moraes, José Estevão Coelho de Magalhães, e
posteriormente o tenente do batalhão de voluntários da rainha, João
Eduardo d"Abreu Tavares. '3j
(1) João António d'Avellar, I.* compositor, que ticára empregado na ini-
pronsa, por ordem do governo, quando o exercito embarcou para o reino, foi exo-
nerado por seu pedido e com louvor pelo Prefeito aos 10 de setembro de 1834,
como se vê na Chronica Constitucional d' Angra, u.° 41. (Nota da Redac{-ão.)
(2) A Chronica vendia-se na ofiicina de António José Gonçalves Costa, nu-
ma das lojas da casa da imprensa na rua da Sé, pelo que por muitos annos se
chamou a loja (ia Chronica, e elle o António José da Chronica. (Nota do Autor).
{;{) Exerceu em .Anidra, por muitos annos, o lopar de director da Alfandega,
com a uíaior liom-adez e lino trato, sendo ainda hoje aqui knnbrado com a maior
saudade. [Nota do Author).
João Eduardo d'Abr('U Tavaies, Comniandante do Deposito de Volunta-
lios da Rahdia e do Batallião de Caçadores da Legião Nacional, Consellieiro da
1'refeitura, Mendiro da Commissão de li(iuida(;ào das dividas do estado, por não
poder ronliimar a ex»'r(-er o logar de Director da Imprensa, pedio a sua exone-
i-açâo ao Prefeito (|ue llTa concedt!o,aos 9 dejullio de 1833, nomeando na mesma
ARGHIVO DOS AÇORES 489
«Nesta imprensa publicou-se também, enlre outras coisas, um
livro iu-S.", (I) de 2G3 paginas, em typo de brevi;iriu, inlituhido Col-
lecção de decretos e ordens da regência. Uuj folheto de perto de 100
paginas de Ordens da capitania geral dos Açores, pai ticipações oíTiciaes
da tomada das ilhas dOeste e de S. Miguel. ;2) Também se imprimiu a
Carta Constifticional,{^)ou\horg'^ô:\ em 2í) d'Abril de 1820; e o enge-
nheiro José Uionisio da Serra publicou um folheto em verso sobre a
morte do desditoso Gomes Freire d"Ândrade.(4) Sob a redacção d'alguns
emigrados académicos imprimiu se clandestinamente o chistoso folheto
em verso As noites do barracão. (5) apparecendo esta edição datada de
1830— Paris, para ocbaltar ter sido feita na imprensa do governo.
«De todas as publicações d"esta imprensa, as mais interessantes e
hoje raríssimas, foram no anuo de 1830 a Folhinha da Terceira para
1831, e no fim d'esse anno a Folhinha da Terceira para 1832, ambas
em typo breviário, sendo boa a sua impressão. N'cstas folhinhas escre-
veu a parte histórica José António Guerreiro, a parte geographica o
major Bernardo de Sá Nogueir.f, e a parte restante o distincto acadé-
mico Simão José da Luz. (Cj
«Os muitos afazeres da imprensa pelos fins do anno de 1831, le-
varam a ser para ella requisitado o sargento ajudante João de Sousa
occasião José Gonçalves Baibosa, capitão do ultramar. {Chronicados Açores, d."
27). Em 20 d'agosfo se^iuinle foi Barbosa exonerado por seu pedido e nomeado a
28 d'a<j;osto de 18-33 (Chronica dos Açores, n." 33) para o substituir António Joa-
quim Nunes de Vasconcellos, que foi' escuso em i9 de jullio de 1834 para poder
concluir os estudos em Coimbra. (CAroníca Constitucional d' Angra, n.° 33).
{Da Redacção esta nota e as seguintes até á n.° 6 inclusive.)
(1) Fizeram-se 3 edições d'este livro na Terceira; a 1.* em 8.° pequeno, com
96 p. até ao Decreto n.» 34, em 18;i0; a 2.», a acima indicada, cujo verdadeiro for-
mato é 12.» pequeno, com 263 pag., (cada folha contem 24 pag., e com declara-
ção de ser esta edição com permissão do governo") Angra, 1832; a 3.^ em 4.° com
122 pag. e mais S de índice, Angra, 1832.
Alem doestas edições houve uma em Lisboa, feita na Imprensa Nacional
em 1834 a 183.o.
(2) Pubhcada no Vol. VI, pag. 76 d'este Archivo.
(3) Houve duas edições em Angra, a primeira de 1830, em 8." pequeno com
30 pag., a segunda de 1831, em 12.» pequeno com 45 pag.
(4) 1831, 23 pag. in-8.° peq.
(5) Ha quem pense que as Noites foram compostas clandestinamente por
Joaquim José Soares. A data supposta não é 1830, como acima se diz. mas sim
1834.
(6) Alem dos Opúsculos citados pelo Sr. Pinl)eiro, podem citar-se mais:
— Coltecção de Exercidos d'Artilheria. Angra 1829, 4.° pequeno, com 50 pag.
— Varias Poesias Analugas das dijferentes circumstuncias politicas, por B. M D.
(Bartlioiomeu dos Martyres Dias). 1829, 8." pequeno de 19 pag.
— Garantias dos Direitos civis e politicos dos cidadãos portuguezes. 1830, 27 qua-
dras, 8.» pequeno, de 8 pag. sem numeração.
— A Revolução de França. . .1831, 8." pequeno de 96 pag.
— Reflexões Politicas, por D. G. Lara d'Andrade, 1831, 8.° pequeno de 52 pag.
— Collecçao de poesias recitadas no theatru dos ctiriosos voluntários por
M. Á. C 1833, 8.° pequeno de 16 pag.
N.*» 48— Vol. VIH -1886. 3
490 ARCHIVO DOS AÇORES
Ribeiro, que n'ella aprendeu a arte lypographica, que aqui exerceu
até fallecer (I), e para revisor typographico o \.° sargento de infan-
teria n,° 6, servindo no batalhão d"iiiglezes, José Ezequiel da Custa
Ricci, que nesta ilha foi despachado alferes. (2) Foram também ad-
mitlidos como aprendizes, sem vencimento, os jovens terceirenses João
de Sousa Pereira, (hoje ajudante da conservatória da comarca d'An-
gra), e seu irmão Manoel de Sousa Pereira, que em 1842 embarcou
para o Brasil.
«Com todo este pessoal trabalhou a imprensa na ilha Terceira até
o anno de 1832, em que, em 23 d'Abril, próximo da noite, foi trans-
portada para a ilha de S. Miguel, com a expedição liberal, que no dia
seguinte ahi desembarcou: publicando-se naqiiella ilha os n.°* 39, 40
6 41 e seu snpplemento d'i Chronica, semanário dos Açores, publi-
cação que terminou em Junho d'esse anno com a partida para o con-
tinente do exercito libertador, a que pertencia todo o pessoal da im-
prensa, á excepção dos dois aprendizes typographos João de Sousa
Pereira e Manoel de Sousa Pereira, que ficaram em Angra, despedi-
dos da imprensa.
«Com a sabida do exercito, ficaram destacados em S. Miguel, es-
perando ordens ulteriores, encarregados da imprensa os três voluntá-
rios emigrados João de Sousa Ribeiro, como compositor, António José
Gonçalves Costa, (3j como impressor, e Joaquim José Soares, como
batedor de balas: mas logo que foi creada a prefeitura dos Açores, com
sede em Angra, voltou a imprensa para esta cidade, sendo nella read-
mittidos os terceirenses João de Sousa Pereira e Manoel de Sousa Pe-
reira.
«A imprensa, sob a direcção do compositor João de Sousa Ribeiro,
foi montada na ermida da Boa-Nova, então profauada, sendo dahi, que
em 6 de Janeiro de 1833, começou a publicação do n." I (VA Chro-
nica dos Açores, que durou até Dezembro do mesmo anno, sendo a
sua redacção confiada ao capitão João Eduardo dAbreu Tavares, e
collaborando os académicos Antoni.) Joaquim Nunes de Vasconcellos e
Faria Barbosa. (4)
«No anno de 1834 publicou-se A Chronica Constitucional de An-
gra, sendo d'ella redactores os mesmos indivíduos até Setembro do
(1) Era natural da cidade do Porto, onde com seu irmão, também voluntá-
rio emigrado, trabalhava na otficina de cereeiro, de seu pae, estabelecida na mes-
ma cidade próximo da torre dos Cleripos. íEsíta e as duas Notas seguintes são do
Author).
(2) Morreu cliefe de repartição no ministério da guerra.
(3) Este voluntário emijírado, tinha ainda no anno de 1828 a sua officina
de encadernador na rua de Qnchra Costas em Coimbra, sendo muito conhecido,
tanto dos lentes como dos estudantes da Universidade, para a qual encadernava.
Morreu em uma casa da rua da Rosa, de Angra, em avançada edade, deixando
de si boa memoria.
(4) Bacliarel António do Rego Faria Barbosa. {Nota da Redacção).
ARCHIVO DOS AÇORES 491
mesmo anno, em que seguiram para Lisboa, sendo por essa occasião
nomeado redactor, pelo prefeito, o terceirense dr. António Moniz Bar-
reto Corte-Real (I; até H de Junlio de 1833, em que finalisou a pu-
blicação deste periódico; transportando se a imprensa para uma casa
do pavimento térreo do palácio da prefeitura (lioje do governo civil)
por baixo das cozinlias do mesmo palácio (2).
«Em 16 de Março de 1835 publicou-se a Sentinella ComtUucio-
nal nos Açores, com este titulo até •• u.*^ 24, de 26 de Agosto seguin-
te, e a epigraphe Vitatn impendere vero, e do n.°25 em diante A Sen-
tinella. com a epigraplie Ccvilisação, liberdade, ordem publica. A reda-
cção d'este jornal eí.tava confiaiJa ao capitão de engenheiros José Ra-
phael da Costa, que pela maneira virulenta com que escrevia, levou o
prefeito a só permittir, que desde o n.*' 8 em diante, em vez de ap-
parecer a declaração de Angra: na Imprensa da Prefeitura. 1835 —
se mudasse para a de Angra — IS^D — Ó impressor A. J. G. da Costa.
Foi este o primeiro jornal terceirense da politica conservadora, então
chamada devorista e depois cartista, que terminou no n.° 52 de 14 de
Abril de 1836.
«Em 29 de Março de 1835 (domingo) publicou-se, impresso na
mesma typographia, O Liberal, que terminou em 9 de julho de 1836,
também primeiro jornal terceirense da politica da reforma, chamada
então reformista, depois setembrista, e ho\e progressista, sendo seus re-
dactores o dr. medico Nicolau Caetano de Bettencourt Pitta, advogado
Francisco Lúcio Duarte Rego, Francisco de Lemos Alvares, e Roberto
José da Silva (3). Este jornal, que foi o precursor d' O Angrense, sus-
tentou uma constante polemica com A Sentinella; o que levou o pre-
feito a prohibir a publicação de jornaes politico^ na imprensa da pre-
feitura, no anno de 1836.
«Esta prohibição fez com que o visconde de Bruges, conselheiro
Theotonio de Ornellas, mandasse comprar em Lisboa uma nova typo-
graphia, que fez montar em Angra, na casa da rua do Pintor, n.° 510,
próximo do largo denominado das Covas, para a qual passaram os ty-
pographos lerceirenses, Manoel de Sousa Pereira e João de Sousa Pe-
(1) É bacharel formado em Cânones pela Universidade de Coimbra, e na
avançada edade de quasi 82annos é ainda professor do lyceu nacional de Angra,
de que foi/undador, tendo sido por muitos annos seu reitor e coinmissario dos
estudos. É o mimoso auctor das Bellezas de Coimbra, e de diversas obras de in-
strucção publica, isto além de diversos jornaes políticos que redigiu nesta ilha,
onde por bastantes annos exerceu a advocacia com a maior proficiência e hon-
radez, e por muitas vezes, os logares de conselheiro de districto, e vice-presiden-
cia da camará municipal d.' Angra, sua pátria.
(2) Neste palácio residiu desde 3 de Março de 1832 até 23 de Abril seguinte
sua magestade imperial o sr. D. Pedro IV, dormindo no penúltimo quarto conti-
guo á sala grande, da parte oriental.
(3) Era irmão do par do reino, o sr. conselheiro Carlos Bento da Silva.
(Notas do Author).
492 ARCHIVO DOS AÇORES
reira, ficando o primeiro d'ella director. D'esla imprensa saiu o n." I
do Angrense, em 23 de Setembro de 4836, continuando a publicar-se
até hoje.
«Em consequência da imprensa do governo ficar limitada á pu-
blicação das peças otficiaes da prefeitura, e a alguns pequenos traba-
lhos, sem caracter politico, ficou d'ella encarregado o seu director João
de Sousa Ribeiro, saindo o impressor Gonçalves Costa e o batedor Joa-
quim José Soares, que em 1837. auxiliado por seu antigo capitão João
Eduardo d'Abreu Tavares, montou uma pequena imprensa na rua dos
Canns Verdes, na casa que hoje tem o n.° 69 de policia, publicando em
6 de Junho de 1838, o n.° 1 d"0 Íris da Terceira, que durou até 1842,
sustentando polemica com O Angrense, p(»is que o íris era da politica
cartista, sendo seus redactores João Eduardo. Amâncio Leocadio Vieira
e o padre Narciso António da Fonseca, que d'anles tinham cullaborado
na Sentinella. Ao Íris succedeu o Annnnciador da Terceira, publican-
do-se o seu primeiro numero em 22 de Abril de 1842, e o ultimo em
24 de Junho de 1843, sendo seus redactores o dr. António Moniz Bar-
reto, e o padre Jeronymo Emiliano dAndrade, que fizeram terminar
a violenta polemica do jornal antecedente com O Angrense, que era de
politica setembrista.
a Da imprensa do governo, a primeira dos Açores, existem hoje —
algumas ramas, a muleta da tinta, uma pedra lisa de O"", 90 de com-
primento por O'", 63 de largura, onde se enramavam as chapas da com-
posiçã(t, descançando sobre uma velha e tosca mesa; algumas caixas,
um armário onde estas se guardavam, tiradas dos cavalletes, e mui
pouco typo de dísticos, chamado antigamente Canon.
«O aniigoprelo é de madeira, dum só tiro, sendo sustentado por
duas fortes estacas ou prumos quadrangulares de 1™,55 de altura,
O™ ,21 de largura, e 0"\I0 de grossura, rematados transversalmente
na parte superior por uma peanha, lambem de madeira, de 0'".87 de
comprimento, O"", 2o de largura, e O"", 10 de espessura. A mesa do pre-
lo funcciona na altura de O"™, 90, e é coberta por uma chapa de ferro
polido de O"', 04 de espessura, O™, 67 de comprimento, e O"", 51 de lar-
gura, e o quadro do prelo é forrado por uma outra chapa de cobre
nas mesmas condições. As corrediças tem l'",63 de comprimento, sen-
do de ferro os seus rails. Seis pequenos malhetes, entalhados na par-
te inferior da mesa e em forma de calha, jogam com os rails. O tym-
pano é forrado de panno, coberto com pergaminho.
«O braço do prelo parte de ura eixo de ferro lateral, a que se pren-
dem duas articulações, que jogam com o parafuso central, tornando
assim mais suave o seu movimento. De cada lado deste parafuso as-
cendem dois corredores cylindricos de ferro, para equilibrarem os mo-
vimentos do quadro, terminando na sua parte superior por uma pe-
quena braçadeira, sustentando o peso suspensor do quadro.
«As corrediças terminam sobre duas mais estreitas estacas de
ÀRCHIVO DOS AÇORES 493
madeira, formando com as travessas que as unem aos dois prumos
principaes do prelo, o que antigamente se chamava gaiola, na parte
superior da qual se collocava o taboleiro da tinta, que dahi era dis-
tribuida para as balas.
«A' primeira vista parece ocioso, tratando da primeira imprensa
na ilha Terceira, (aliar das duas que lhe succederam,mas, se nos lem-
brarmos que ellas foram montadas pelo mesmo pessoal da primeira,
não será fora de propósito chamar-lhes irmãs.
«Das duas ultimas imprensas, existe hoje, como na primitiva, so-
mente a de Joaquim José Soares, sem trabalhar, n'uma casa da rua
da Rosa d'esta cidade; na imprensa do Catholico o primeiro prelo da
antiga imprensa do Visconde de Bruges, assim como alguns tyi)OS e
caixas na lypographia do Jornal da Praia.
* *
«Um iilustre terceirense, nosso respeitável e particular amigo,
vendo um folheto em idioma castelhano, com o titulo: a Relacione de ia
jornada, eapugnacion e conquista de la islã Tercera y las demas cir-
cumvicinas que hizo D. Álvaro de Bazan, marquez de Santa Cruz, ele.
Fecha en la ciudad de Angra de la islã Tercera a ti de Agosto y
1583» — julgou que a impressão deste folheto tivesse sido feita na
ilha Terceira, n'alguma imprensa trazida talvez pelo marquez de San-
ta Cruz, na forte esquadra de 97 navios, com que veiu con(]uistar es-
ta ilha, reduzindo a á obediência de Filippe II.
«Perdoe-nos, pois, o nosso nobre amigo discordarmos da sua o-
pinião. Na ilha Terceira nunca houve imprensa hespauhola, não só por
de tal facto não tratarem os nossos mais antigos chronistas, nem de
tal haver tradição entre nós, como por não ser de esperar que numa
armada que só vinha para tomar a ilha, que havia resistido a três ar-
madas antecedentes, viesse uma imprensa para uso do governo dum
general, que aqui a demorou algumas semanas apenas.
«As palavras — Fecha en la ciudad de Angra — , que na versão
portugueza dizem: encerrada, concluída, ou elaborada na cidade de
Angra, não demonstram que a citada relação fosse impressa na mes-
ma cidade; tão somente manifestam as phrases hespanholas usadas na
terminação dos seus papeis oíTiciaes, como entre nós se dizia: Dado
no paço de tal, sem que no paço houvesse imprensa.
Assim estamos convencidos que a primeira imprensa que houve
nos Açores, foi a que desembarcou em Angra no dia 14 de Fevereiro
de 1829, e que se montou na segunda quinzena do mesmo mez, no
Castello de S. João Baptista da mesma cidade.
Angra do Heroísmo, 25 de Abril de 1886.
José Joaquim Pinheiro.
494 ARCHIVO DOS AÇOHES
1830-1886
(liista Alpliabetica)
3IL.ÍI-A. IDE S. ONwdlIOTTEX.
1) O Académico. -Hebdomadario lillerario e noticioso. Pro-
prietário Manuel Corrêa Botelho Júnior. Ponta Delgada, Imprensa Aço-
riana. N.** 1 de 12 de março de 1885,4 pag. a 2 columnas em 4.° pe-
(]ueno. Terminou com o n.** 12 de 30 de maio de 1885.
2) O Açoriano Oriental. — Semanal politico e noticioso —
Ponta Delgada, Typ. da Lombinha dos Cães. Foi. peq. Primeiro Editor
José Maria da Camará Vasconcellos até ao N.° 60: do N.° 61 a 69
Manoel António de Vasconcellos (irmão do primeiro): de 70 até 120
Francisco Xavier Corrêa: em 1837 Frederico Jacome Corrêa; depois
F. J. P. de Macedo. O primeiro numero d'este jornal tem a data de
sabbado 18 de Abril de 1835; consta unicamente de duas paginas com
o prospecto do jornal. O numero 2 appareceu com uma gravura em
madeira representando um Açor, com um papel no bico, que diz — ,
Carla — e nas azas abertas, dum lado — Açoriano — e do outro —
Oriental — que se diz ter sido aberta, pelo liabil Manoel António pe
Vasconcellos. A typographia constava d^um pequeno prelo de escri-
ptorio, que de Coimbra trouxe o medico António Ferreira Borralho em
que se imprimira naquella cidade a Voz da Razão em 1822, e d'uma
pequena porção de typo gasto e em péssimo estado, com que se im-
primio até ao N.° 8, em máo papel almaço: Do N.** 16 em diante co-
meçou a ter três columnas por pagina em vez de duas que tinham os
anteriores; notando-se desde então grande melhoramento na parte
material. O ]N:° 4 foi já impresso na rua do Peru Direita N." 5, onde
a typographia se conservou por mais d'um anno e em quanto perten-
ceu a uma associação, que a trespassou com o jornal a Francisco Joa-
quim Pereira de Macedo, publicando-o regularmente todos os sabba-
dos até 1879 em que falleceu. Suas irmãs tem continuado a publica-
ção até ao presente, em que conta mais de 51 annos de existência,
sendo assim o mais antigo de todos os jornaes portuguezes. Editor
desde 1 de Juuho de 1879, José Ignacio de Sousa.
3) O Agricultor Michaelense. --Periódico dedicado á illus-
tração da classe agricola açori;uia, e especialmente a auxiliar os lavra-
dores míchaeleuses divulgando apropriados conhecimentos agronomi-
ARCHIVO DOS AÇORES 495
COS — Publicação da Sociedade Promotora da Agricultura Michaelense.
Começou em outubro de Í8i3, e suspeudeu eui juulio de I8i5 com
21 n.*". Coutiuuou a pubbcação em janeiro de 1848 e findou em mar-
ço de 1852. Apparecia mensalmente com vinte paginas de duas co-
lumnas. São apreciáveis as collecções d'este jornal, e muito estimadas
as que existem. A primeira serie foi impressa em Ponta Delgada na
Typ. da Rua do Provedor: tem 328 pag. in 8.° gr. A segunda na Typ.
da Rua do Garcia, { vol. com 852 pag. O Dr António Feliciano de
Castilho foi seu redactor desde Janeiro de 1818 até ao N.'* de 24 de
Dezembro d«' 1849.
4) Álbum do Binóculo. — Com este titulo sahiram 2 núme-
ros, que não continham mais do que uma folha com um retrato lythogra-
phado, o 1.° de Raphael Rordallo Pinheiro, o 2." de José Augusto da
Costa Resende. O formato é maior do que o do Binóculo, mas o texto
concernente aos retratos acha-se nos n.°' 36 e 39 do dito jornal.
5) Aloyon. — Periódico litterario dos Açores publicado duas ve-
zes por mez. Director A. Loureiro. P. Delgada Typ. do Ecco Social. 4
pag. a 3 columnas. N.° 1 de 1 de março de 1867; o 6.° e ultimo do
fim de maio seguinte. Gollaboradores — A. A. Avellino, Alberto Tel-
les, A. Ribeiro Gonçalves, António Pereira, Bulhão Pato, B. J. de Sen-
na Freitas, C. M. Froes, Estacio da Veiga, Ernesto Rebello, Félix J.
da Costa, F. M. Supico, F. Xavier da Silva. G. Read Cabral, João Cân-
dido de Moraes, J. Ramos Coelho, J. J. Graça Júnior, J. Hermeto C.
d'Amaraute, R. da Camará, Thomaz Ribeiro, Vicente Machado de Fa-
ria e Maia. No 1.° N.° declara ser a sequencia da Esíiieralda Atlânti-
ca e do Commercio dos Açores e que dará como supplementos com o
titulo de Correspondência dos Açores uma folha na chegada do paque-
te de Lisboa e outra na sabida para a Capital.
6) O Amigo do Povo. — Jornal para todos por uma Associa-
ção— Semanário politico. Editor Germano Velho Quintanilha. P. Del-
gada, Typ. de João Maria de Sousa. 4 pag. a 4 col. N." 1 de 17 de
Setembro de 1871. Parece que terminou com o n.° 11 de 26 de no-
vembro seguinte.
7) ArcMvo dos Açores. — Publicação periódica destinada á
vulgarisação dos elementos indispensáveis para todos os ramos da his-
toria Açoriana— Folhetos in-8.° de 80 a 100 pag., alguns com estam-
pas. Sahiu o N.° 1 em maio de 1878. Ponta Delgada, Typ. da rua do
Botelho (da Virgem Immaculada), o n.° 2 na Minerva Insulana: todos
os seguintes na Typ. do Archivo dos Açores. Houve 2.* edição do 2." e
3.<» n.°. Continua.
496 ÁRCHIVO DOS AÇORES
8) Ar cMvo Açoriano. —Jornal religioso e lilterario— Come-
çou a publicar-se em 4.° grande a duas coiumnas e 8 paginas, em 1
de outubro de 1856. A primeira série, consagrada á lilleratura reli-
giosa, pnbiicou-se regular e quinzenalmente até 15 de dezembro de
1858. O primeiru numero da segunda série, em folha grande, appa-
receu como revista mensal, politica e religiosa em I de junho de 1860,
e terminou com o sexto numero em 31 doutubro do mesmo anno. Re-
dactor Marianno Jo.sé Cabral. Ponta Delgada, Typ. de M. J. de Moraes
até ao IN.** 36; os seguintes na Auxiliadora das Lettras Açorianas.
9) O Artista. — Jornal Litlerario, Recreativo e Noticioso — Se-
manário. 4 pag. a 4 col. Proprietário e Director José M. de Sousa. O
[)rimeiro N.° saliio na segunda feira 26 de Fevereiro de 1877. Alguns
números tem gravuras em madeira, outros lythographias. No N.** 17
augmentou o formato. Ponta Delgada, Typ. do Amigo do Povo, e de-
pois nas Typ. Popular, e da Chronica dos Açores. Sahia ás segundas
feiras, e suspendeu com o N.° 25 em 31 de Dezembro de 1877. Co-
laborador, Joaquim Cândido Abranches. Continuou depois duas vezes
por semana e terminou em formato menor que o primitivo a 3 col.
com o N.° 127 de 16 de maio de 1880.
10) A Aurora dos Açores.— Folha Litteraria,Commercial,A-
gricola e Noticiosa — Começou a publicar-se em 5 de julho de 1854,
com habilitação politica, semanalmente. Deu n'alguns m.ezes de 1858
dons números por semana, e continuou depois a publicar se só aos
sabbados. Ponta Delgada, Typ. da Rua de S. Brnz. Do N.° 2 em dian
te da Typ. Auxiliadora das Lettras Açorianas, Rua de S. Braz. O N.°
45 e seguintes na Typ da Rua do Mello (Auxiliadora das Lettras Aço-
rianas). Terminou com o n.** 698 de 26 de Janeiro de 1867 e 3 sup-
plementos, o ultimo dos quaes tem a data de 9 de março seguinte. Au-
gmentou o formato no n.** 622 que passou a ter 4 coiumnas. Redactor
até 1860, Marianno José Cabral, e depois o Dr. André António Avelli-
no e outros.
11) Aurora dAlem Tumulo. —Jornal espiritista- N.° 1 de 3
de Fevert'iro de 1879, 8 pag. a 2 coiumnas. Terminou com o 4." em
14 de Março do mesmo anno. Proprietário Manoel Maria da Camará.
Ponta Delgada, Typ. de Manoel Corrêa Botelho.
12) Aurora Povoacense.— Semanário politico, litterario e no-
ticioso—Director e Administrador A. Machado de Sousa e Mello. Villa
da Povoação, Typ.. Popular. Falta em muitos numerus a designação da
lypographia em que era impressa, o certo, porem, é que metade se>
imprimia em P. Delgada na typogmphia Popular de Tavares de Re-
zendes e a outra parle na Povoação na Typ. Popular, aonde ao presen-
AKCHIVO DOS AÇORES 497
te se imprime lodo o jornal. 4 pag. a 4 col. O N." I sahiu a II de A-
bril de 1883.
13j O Azorrag-ue (1.°) — Um único numero publicado em Vii-
» Ja Franca.
14) O Azorrague (2.") — Jornal salyrico em prosa e verso —
Publicaca-se ás quartas feiras. Editor, redactor e proprietário João Ma-
ria Raposo e Silva, foi. pequeno a 3 col. N.° 1 de 21 de janeiro de
1885. Ponta Delgada, Typ. do Partido Popular. O N." 2 e seguintes
foram impressos na Typ. Imparcial, e declara publicar se aos sabba-
dos. Terminou com o n." 6 no mez seguinte.
15) O Baratíssimo. — Boletim dannuncios', com distribuição
giatuita. — Sabia todas as quartas feiras, em meia folba de papel al-
maço, com duas columnas. Começou em Abril de 1849, e publicava-
se ainda em 1854. Ponta Delgada, Typ. de Fran''Jsco Joaquim Pereira
de Macedo.
16) O Bem Publico.— Semanário politico e noticioso —Princi-
piou em 1 de Janeiro de 1871 a 3 colmnnas e terminou com o N.° 31
de 7 de novembro seguinte. O n.° 13 e seguintes sô com 2 pag. Pon-
ta Delgada, Typ. de Manoel Corrêa Botelho, proprietário e responsá-
vel.
17j Bibliotlieca Instructiva. —Semanário para todos— Re-
dactor Marianno .José Cabral. Ponta Delgada, Typ. da Voz da Liberda-
de. Sahio o n.*" 1 em 6 de janeiro de 18G8 e terminou com o n." 12
em 23 de março seguinte. Cada um com 8 pag. in-4.°.
18) O Binóculo. —Jornal de Caricaturas, quinzenal, para rir —
Illiístrado por dois philosophos nas horas vagas. Ponta Delgada, Lyth.
Luzitana. N.** 1 de maio de 1882. 4 pag. in^." grande. Terminou com
o N.^ 82 de 13 de Junho de 1884. Desenhado e lythographado pelos
irmãos Augusto, João e Jacinlho Cabral.
19) Boletim dAnnuncios da Esmeralda Atlântica. — Pu-
blicava unicamente aninujcios e era seu proprietário A. Loureiro —
Começou em Abril de 1864 e foi substituído em 18 de Junho seguin-
te pela Gazetilha Semanal.
20) Boletim Contemporâneo.— Publicação quinzenal, grátis
para os assignantes do .Mensageiro Seraphico. Editi)r e proprietário
João Ignacio Ferreira. Ponta Delgada, Typ. da Virgetn Immaculada. 4
N.° 48-Vol. VIII— 1887. 4
498 ARCHIVO DOS AÇORES
pag. folio peq. a 2 col. N.° I de 25 de fevereiro de 188S. Terminou
com o n.° 6 de 3 de Junho seguinte.
21) Boletim Mensal do Porto Artificial de Ponta Del-
gada.— Sem numeração. Começou a publicar-se em agosto de 1866,
em meias folhas, contendo unicamente o mappa do movimento das o-
bras, continuando assim até ao mez de novembro de 1867, em que
se transformou no Boletim que se segue.
22) Boletim offlcial da Junta Administrativaldas obras
do Porto Artificial de Ponta Delgada. — Começou em dezem-
bro de 1867 e continuou regularmente a publicar-se um numero cada
mez até dezembro de 1871. Foi. gr. com 4 p. Posteriormente publi-
cou-se aos trimestres com numero indeterminado de paginas, pelo
menos até ao 3." trimestre de 1873. Era destinado á publicação das
actas das sessões da Junta, e outros documentos. Imprimia-se em va-
rias typographias.
23) Boletim da Sociedade Promotora d'Agricultura
Michaelense. — 4 pag. a 2 col. Ponta Delgada, Typ. do Archivo dos
Açores. Começou em janeiro de 1881, distribuindo-se gratuitamente
e sem epocha determinada para a sua publicação. Até janeiro de 1883,
sahiram 6 n.°'.
24) Campeador.— Semanal politico— Redactor Augusto d' Arru-
da Quental. Editor A. Ferreira Jimior. O N.° \ de 18 dagosto de 1864.
Ribeira Grande, Typ. própria. 4 pag. a 3 col. Terminou com o N." 79
de 3 dagosto de 1866.
25)0 Campeão Liberal.— Folha politica, commercial, agrícola
e noticiosa— Semanal foi. peq. 4 pag. a 4 col. Redactor principal Joa-
quim Crispiniano da Costa, tenente de Caçadores M, até ao n.° 16. N.°
1 de 10 de janeiro de 1864. Ponta Delgada, Typ. de João J. Botelho.
Publicou-se até ao n.° 179 de 4 d'agosto de 1867.
26) A Caridade. —Semanário religioso, litterario e noticioso —
Director e proprietário .loão José dos Ramos e Cunha. N." 1 de 24
d'agosto de 1883. Ponta Delgada, Typ. da Virgem Immaculada, 4 pag.
a 3 col. O n." 2 e seguintes foram im[)ressos na Typ. .Açoriana. Sus-
pendeu coii o n.'' 62 em outubr > de 1884, por fdiecer o seu Director
e Proprietário. t)rnando a reapparecer em 18 de novembro seguinte,
se )do então pro[)rietarias as Irinans Cunhas e Collab radores os srs.:
Padre José Jacintho Raposo Moreira, J(»ão Machado de Benevides. Ga-
briel d'Almeida e outros. Terminou com o n.° 71 de 31 de janeiro de
1885.
ARCHIVO DOS AÇORES 499
27) o Cartista dos Açores.— Semanal politico — Começou a
publicar-se, habilitado para questões pulitieas, em "11 de fevereiro de
I8i5, e teraiiiiõu em 14 de novembro de 1850. Ponta Delgada, Typ.
da liua do Provedor. Foi princi[)almente redigido por João José d'An-
drade, (o mesmo do Monitor): depois António Marcellino da Victoria,
Secretario Geral, e o Padre João José dAmaral em 18i5. Interrompeo
a publicação pela primeira vez desde julho de 18i6 até 26 d'agosto
de 1847, e pela segunda desde o n.° 14! de 30 de janeiro de 1849
até 2 dagosto do mesmo anno.
28) O CMcote. — Folha satyrica — Começou a 13 de junho de
1874 em Villa Franca.
29) Cliroiiiea, Semanário dos Açores.— Titulo com qne se
publicaram em Ponta Delgada na Imprensa do Governo os n.°^ 39, 40,
41 e .seu Supplemenlo, da C/ironica Semanário da Terceira, e que as-
sim tem a prioridade na imprensa periódica michaelense, sendo im-
pressos em 1832 em 4, 9, 29 de maio, e o supplemento, sem data,
posterior a 6 de junho, data que se vè no fecho do ultimo documento
olficial n'elle publicado.
30) A Chronica dos Açores.— Semanário noticioso —Proprie-
tário Francisco Ignacio Rebello. Redactoj Francisco iMaria Supico. N.°
1 de 20 de março de 1867 e ultimo de 7 d'agosto do mesmo anno. O
4." supplemento ao n.° 20 é de 18 de setembro de 1867. Ponta Del-
gada, Typ. própria.
31) A Civilisação.— Periódico hebdomadario consagrado a to-
dos os interesses religiosos e sociaes — Editor João José dos Ramos e
Cunha. O n.° 1 de 13 de novembro de 1875. Teve interi'upções e mu-
danças de formato. Ponta Delgada, Typ. da Virgem Immaculada. Ter-
minou com o n.*'320 de 30 de setembro de 1882.
32) O Clamor Artistico. — Semanário politico e noticioso—
Redactor João Maria de Sousa. Editor ^Manoel Corrêa Botelho. N.** 1 de
5 de novembro de 1867. 4 pag. a 3 col. Ponta Delgada, Typ. do e-
ditor. Terminou com o Supplemento, ao n.° 68, de 28 de fevereiro de
1869. Foi substituido pela Dtwoc/Y/c/a — Redactor principal Francisco
Xavier da Silva. Depois o Proprietário Manoel Augusto Tavares de Re-
sendes, Padre Januário Philomeno Vellosa, Bernardino Augusto de Mel-
lo Azeredo, Dr. Francisco de Lima Nunes, Augusto Loureiro, Ernes-
to Rebello. João Hermeto C. dWmarante, Marianno .losé Cabral, João
Pereira Forjaz e outros.
500 AKCHIVO DOS AÇORES
33) Oommercio dos Açores. —Redactor Augusto Loureiro.
N." I de 26 de maio de J866. 4 pag. a 4 columnas. Pouta Delgada,
Typ. da Persuasão, e de Manoel Corrêa Botelho. Terminou com o n."
21 de 15 de janeiro de 1807.
34) O Conciliador. —Proprietário Responsável G. A. (Guilher-
me Augusto) Botelho. N.° 1 de março de 1865. 4 pag. numeradas a
3 col. foi. peq. Villa Franca do Campo, Typ. Yillafranquense. Termi-
nou com o n.*^ 51 no 1." d'aljril de 1806.
35) O Constitucional Michaelense.— Semanal politico — So-
bre o titulo tem uma gravura em forma de coroa (jue encerra uma
balança, um livro, uma espada e a vara da justiça. Redactor o Dr. Jo-
sé Joaquim de Moura Coutinho, Juiz da Relação dos Açores. Editor
responsável J(»sé Maria da Silva. Saia á quiula-feira. N.° 1 de 24 de
setembro de 1835. Ponta Delgada, Typ. própria. Terminou em 17 de
dezembro do mesmo anno.
36) A Convicção. — Semanário politico, publicado em Villa Fran-
ca do Campo, na typ. Villafranquense, 4 pag. a 3 col. Appareceo o
n.° 1 a 20 dagosto de 1864 e terminou com o n.° 18 de 4 de feve-
reiro de 1865. Até ao n." 9 foi responsável João Moniz Machado, do
n.° 10, impresso na Typ. da Persuasão em Ponta Delgada, foi respon-
sável J. M. Pereira da Camará.
37) Correio de Lisboa. — Revista quinzenal publicada á che-
gada dos paquetes de Lisboa. Redactores Costa Rezende, A. Varella
e Tavares de Rezende. Ponta Delgada Typ. Popular. Começou no pri-
meiro de janeiro de 1875 e continuou, pelo menos, até 19 d'abril de
1878 data do n.° 74. Foi. a 5 col., até ao n.*' 54; do 55 em diante a 4 col.
Depois passou a imprimir-se em Lisboa, com o mesmo titulo e nova
numeração no 1." de maio de 1878. Proprietário M. A. Tavares de
Rezende. Redactor em Lisboa António Furtado; na Typ. (não apparece
nos primeiros números) da Calçada do Conde de Penafiel. 4. pag. a 4
columnas. Sahiram apenas 5 n.°':o ultimo de 1 de julho de 1878; e
tornou a imprimir se em Ponta Delgada sahindo com o n.° 5 (em vez
de 6) em 15 tle julho de 1878: contimioii até ao n." 11 de 5 d'outu-
bro do mesmo anno, tendo a numeração errada até ao nono n.°. Tor-
nou a publicar se em Lisboa com a declaração de Edição para os Aço-
res e Madeira, director António Furtado: Lisboa, typ. de Chrislovão
A. Rodrigues, Rua do Norte, aonde só se imprimiram o n." 1 de 20
d'outubro, e o n." 2 de 5 de novembro. — Voltou a imprimir-se na
Typ. Popular em Ponta Delgada com o n.° 1 1 (repelido) em 20 de
novembro de 1878, continuando até ao n.^Sl de 20 de julho de 1879.
ARCHIVO DOS AÇOHES 501
Recomeçou a 2.* sorie em Ponta Delgada n.° 1, quarta feira lo de ju-
nho de 1881, 7." annuf (Contando-se os annos em que a puhliração es-
teve suspensa). Desta 2.' serie parece não ter sahido senão este n.**,
acabando assim esta vagabunda publicação, que pode servir para exa-
me, pelas indicações erradas (ie que está recheada.
38) O Correio Michaelense. (!.*')— Semanal politico— Órgão
do partido setembrista em S. Miguel. Este periódico começou a publi-
cação em 12 de setembro de 1816, e terminou com o n.° 929 em 17
de março de 1864. Desde 27 de março até 3 d agosto de 18o8 publi-
cou-se duas vezes por semana, ás quartas e sabbados. Ponta Delgada,
Typ. da Hua do Garcia, de Botelht>s e Auxiliadora das Letras. Editor
responsável F. J. Corrêa, depois d'este, Manoel (;:ardoso de Albergaria
e Valle. Foi. de 4 pag. a três columnas. Foram seus principaes re-
dactores o Dr. André António Avelino. Dr. João José da Silva Lourei-
ro; e posteriormente Francisco Maria Supico e Marianno José Cabral.
39) O Correio Mioliaelense. (2.") — Com este titulo começou
de novo a pub'licar-se em 18 de Junho de 1878, como órgão semanal
do Partido Popular e Progressista. 4 pag. a 4 columnas. Editores Ma-
noel Corrêa Botelho, Manoel Augusto Tavares de Rezendes e Pedro
do Couto Silva. Redactores Francisco Manoel Raposo Bicudo Corrêa,
Caetano dWndrade Albuquerque. Dr. Verissimo d' Aguiar Cabral, e Ma-
riano Augusto Machado de Faria e Maia. Collaboradores João e Vicen-
te Machado de Faria e Maia e outros. Ponta Delgada, Typ. Popular e
Progressista. Terminou com o supplemenlo, ao n.° 162, de 16 de se-
tembro de 1881.
40) Correspondência dos Açores. — Folha noticiosa comple-
mentar do Alcyou— Redactor Augusto Loureiro. N.** 1 de 2 de março
de 1867. Ponta Delgada, Typ. de Manoel Corrêa Botelho. TermiuDU
com o n.° 5 de 28 de março do mesmo anno.
41) O Cosmopolita.— Semanário politico e noticioso— Redactor,
proprietário e editor Francisco Jacome Corrêa. N.*' { de 3 de maio de
1874. 8 pag. a 3 col., e depois 4 pag. a 4 col. Ponta Delgada, Typ.
Açoriana de Manoel Corrêa Botelho, Typ. da Chronica dos Açores e
Typ. Commercial. Parece que terminou com o n." 57 de 3 de jidho de
1875.
42) O Cosmorama. - Jornal scientifico, histórico e recreativo
— Publicaram-se d'este jornal 17 números, sendo o n.*' 1 de 30 de no-
vembro de 1862, e o ultimo em 1868. Consagrava se á litteratura e
sciencias. dando algumas gravuras e retratas de aç<»rianos illuslres
com as suas biographias. Publicava se mensalmente em folhetos de 60
502 ARCHIVO DOS AÇORES
paginas, contendo cada numero cinco fíjlhas d'impressão. Os primeiros
12 n.°* formam um vol. com Índice. Ponta Delgada, Typ. de Botelhos.
Red.ictor Francisco Maria Supico. Collaboradores Theophilo Ferreira,
António Porfírio de Miranda, António Pereira, Augusto Loureiro e ou-
tros.
43) O Cultivador. — Revista mensal agrícola — Cada n.° de 28
pag. a 2 col. Redactor e proprietário Guillierme Read Cabral. O n.° {
appareceu em lo de janeiro de 1873. Ponta Delgada, Typ. de Manoel
Corrêa Botelho. Do n° 37 a 42 sahiu em formato menor, sendo d'es-
te o ultimo em junho de 1876; ao todo 42 n.°* com 1:200 pag.
44) Defensor da Pátria. — Redactor, proprietário e responsá-
vel José Maria de Sousa. Sahia ás quintas feiras e domingos. N.** 1 de
7 d'oulubro de 1869. 4 pag. a 3 col. Ponta Delgada, Typ. própria. Pa-
rece que terminou com o n.° 42 de 6 de março de 1870.
45) Defensor do Trabalho. — ílebdomadario politico, littera-
rio e noticioso -Proprietário e editor Manoel José de Moraes. Admi-
nistrador J. F. B. Rego. Typ. do proprietário. Começou em 1870. Sus-
pendeo com o n° 19 para reapparecer em 1 de maio de 1871. Con-
tinuou pelo menos até ao n." 27 de 5 de julho seguinte.
46) A Defeza. — Semanal açoriano— Editor e redactor o Padre
José Bernardo Mendes, cura nos Arrifes. N.** 1 de 6 de dezembro de
1884. 4 pag. a 3 col. foi. peq. Ponta Delgada, Typ. Açoriana. Termi-
nou com o n.° o de 3 de janeiro de 1885.
47) Democracia. — Semanário politico e noticioso — Redactor
Augusto Lniireiro. Proprietário Manoel Augusto Tavares de Rezendes.
Editor Manoel Corrêa Botelho. N." 1 de 7 de março de 1869. 4. pag.
a 4. col. Ponta Delgada, Typ. do editor. Terminou com o n.° 22 de
8 d'agõsto seguinte. Este jornal é a sequencia do Clamor Artistico. N.°
32 a traz.
48) Demócrito. — Burlesco— Proprietário e editor Joaquim Ma-
ria da Ponte. N.° I de 20 de junho de 1874. 4 pag. a 3 col. Typ. do
Amigo do Povo. Parece que terminou com o n.° 3 de 5 de juího do
mesmo anno. Substituio o Semanário Brulesco.
49) Diário dos Açores.— Publicação noticiosa de instrucção e
recreio- -Proprietário e administrador Manoel Augusto Tavares de Re-
zendes. Ponta Delgada, Typ. de Manoel Corrêa Botelho até aon.°71,
depois Typ. própria. Foi. de 18 centímetros por 25. 4 pag. a 3 col.
No 2." anno aiigmentou de formato, que tornou a augmentar no n."
AUCHIVO DOS AÇOBES 503
986 do 4." anno (4 de junho de 1873.) Começou di.iriamenle no dia 6
de fevereiro de 1870 alé julho de 1873, passando a piiljhc.ar-se só 3 ve-
zes por senfiana até agosto de 1874. D'esta data em diante passou a
ser de maior formato e a pubhcar-se 2 vezes por semana. Acabou com
o n.® 1:954 de 11 de junho de 1881, para, chrismado em Novo Diá-
rio dos Açores, se eximir à pubhcação a que fora condemnado judicial-
mente. Redactores e Collaboradores Francisco Jacome Corrêa , Dr.
Francisco Manoel Raposo Ricudo Corrêa, Emilio Jardim Galvão, Dr.
Caetano d'Andrade, depois que o jornal se tornou politico.
50) Diário de Annuncios. —Folha noticiosa e commercial —
Proprietário e editor Nuno Cordeiro. Collaboradores Manoel Pereira
de Lacerda, João de Nóbrega Soares, António Corrêa de Mendonça,
Dr. Júlio Pereira de Carvalho e Costa, Joaquim Cândido Abranches,
José Rolelho de Mello e outros. N." 1 de 2 de janeiro de 1885. 4 p.
a 3 col., no n.° 142 augmentou de formato, passando a ter 4 col.: al-
guns n."' tem gravuras. Ponta Delgada, Typ. Minerva. No domingo 12
d'abril de 1885, publicou um n.° especial em miniatura a favor das
victimas dos terremotos de Hespanha. Continua.
51) Diário de Noticias. — Politico e noticioso — Editores Ma-
noel Augusto Tavares de Rezendes, João Climaco dos Reis e António
Climaco dos Reis, este era também redactor. N.° 1 de i de julho de
1869. 4 pag. a 3 col. foi. peq. Ponta Delgada, Typ. do Ecco Liberal,
até ao n.*' 65, depois na de Manoel Corrêa Botelho até ao n.° 115, os
restantes em Typ. própria. Terminou com o n.° 138 de 9 de janeiro
de 1870. Os últimos 23 n.*" sò tinham 2 pag.
52) Diário de Noticias Illustrado.— Publicado por Rangel
Lopes & C* dono da lythographia em que se imprimio em Ponta Del-
gada; 4 pag. com algumas estampas. O n." 1 com data de 1 de Mar-
ço de 1880. Sahiram unicamente 44 n.^' sendo este ultimo de 15 d'a-
bril. Foi o primeiro jornal lythographado em machina movida a vapor.
Redactores nos últimos n."' o Tenente Henrique José das Neves, Al-
feres Francisco Affonso de Chaves e Mello, Tenente José Cândido de
Senna e Joaquim Cândido Abranches.
53) Direito Popular. — Semanal politico — Proprietário Luiz
^Augusto Freire Themudo. Ribeira Grande, Typ. de Botelhos. N." 1 de
15 de março 1867. Terminou com o n.° 5 de 2 de maio de 1868.
54) Direito Social.— Semanal politico— N." 1 de 2 de janei-
ro de 1880. 4 pag. a 4 col. Ponta Delgada, Typ. Açoriana de Manoel
Corrêa Botelho. Terminou com o n." 28 de 30 de julho seguinte.
50i ARCHIVO DOS AÇORES
55) Ecco Givilisador. (l."^) — Hebiloraadario publicado aos
dumiiigos. Editur responsável João de Medeiros Júnior. Parece que o
n.° I é de 19 de junho de 1870 e que terminou com o n ° 10 de 21
d'agosto du mesmo anno. Villa Franca do Campo, Typ. própria.
56) Ecco Givilisador. (2.") —Semanário politico — Princi-
piou a 15 de janeiro e durou alé 27 de Setembro de 1880. Villa Fran-
ca do Campo, Typ. de Bolelhos.
57) Ecco Liberal. — Semanário politico — Redactor António
(^lim.ico dos ÍAeis, dunu da Typ. onde se imprimia em Ponta Delgada.
Editor João Climaco úos Reis. N.° i de 26 de setembro de 1808. 4
pag. a 4 col. Parece que terminou com o u.** 55 de 10 de junho de
18G0.
53) Ecco da Liberdade. — Folha Progressista Semanal — Re-
dactor e único Proprietário, até ao n." 11 Alexandre Climaco dos Reis
e Irmão, e deste u.° em diante só o primeinj. Começou a publicação,
em 16 de Julho de 1877, ás sextas feiras. 4 pag. a 4 col. Ponta Del-
gada, Typ. do Amigo do Povo, até ao n.° 12; na Empresa Typographi-
ca dos Açores até ao n.° 16, de 17 até ao n.'' 24 e ultimo de 2 de ja-
neiro de 1878 na Typ. Aç(jriana de Manoel l>orrêa Botelho.
59) Ecco Micliaeleiíse. — Do Povo — Pelo Povo — Semanal
politico— Editoras José Ferreira Martins Júnior, Diogo Ferreira, Fran-
cisco Moniz Pontes, Manoel Corrêa Botelho, J »sé Ferreira Martins Sé-
nior e Marianu) José di Silveira. N.° 1 ile julh) de 1870. 4 pag. a 4
col. foi. grande. Ponta Delgada, Typ. do Defensor da Pátria de João
Maria de Sousa, dita de Manoel Corrêa Botellio, dita Açoriana de Mar-
tins á Botelho, dita do Diário dos Açores, e finalmente na Typ. Insu-
lana, do redactor e editor. Terminou com o u.° 722 de 1 de novembro
de 1881. A Typ. foi vendida para Angra.
60) Ecco Social. — Folha politica, commercial, agrícola e noti-
ciosa — Responsável e proprietário Ruy Vaz de Medeiros Albuquer-
que, até ao n.'' 97 de 22 de maio de 1867. 2." anuo, e d'ahi em dian-
te Manoel Corrêa Botelho. N.'' 1 de 31 de u)aio de 1864. 4 pag. a 4
col. Ponta Delgada, Typ. própria. Parece que terminou com o supple-
mento ao n." !o5 de 9 de janeiro de 1869. Declara no 1." n.° que foi
convidado para substituir em tudo o Campeão Libeíal,óes(\e que es-
te deixou (le ter habilitação politica.
61) Ecco Villafranquense. Semanário — N." 1 de 7 de
março de 1868. 4 pag. a 3 col. Vdia Franca do Campo, Typ. de Gui-
lherme Augusto Botelho, Terminou em junho do mesmo anno.
ARCHIVO DOS AÇORES 505
62) A Época. — Editor e proprietário Júlio dn Encarnação Ma-
chado. Semanal de 4 pag. a 3 col. in-fol. peq. Ponta Delgada, Tvp.
Imparcial, e do Ecco Michadcnse. N.° 1 de 10 de setembro de 1881.
O n." 18 de 3 de maio de 1882 e seguintes tem o formato um pou-
co menor. Do n.° 45 em diante começou a ser impresso na Typ. da
Rua do Boteliio. Redactor do n.° 18 até 173 o Dr. José AíTonso Bo-
telho d'Andrade. Suspendeu com o n.° 173 de 6 de maio de 1885, e
reappareceo com o n.° 174 de 29 de julho seguinte, para terminar com
o n.° 178 de 26 d'agosto do mesmo anno, impressos na Typ. da Empre-
sa Typographica. Foram lambem editores Francisco Maria Supico e
Luiz Augusto Machado.
63) Esmeralda Atlântica. — Revista mensal, litteraria e il-
lustrada — Redactor e proprietário Augusto Loureiro. Os collaborado-
res eram os mesmos do Alcyon. N.° 1 em abril de 1864. Cada n." de
16 pag. in-8.'' gr.: no 1.° n.° trazia uma gravura da cidade da Horta,
no 2.° a da cidade de Ponta Delgada e no 3.** a d'Angra. Ponta Del-
gada, Tyf». da Persuasão. Terminou com o n." 3.
64) A Esperança. —Semanal litterario, recreativo e noticioso
— Redactor João Maria de Sousa. Responsável José ferreira Cordeiro.
iN.° 1 de 5 de janeiro de 1874. 4 pag. a 3 col. Ponta Delgada, Typ.
do Amigo do Povo. Parece que terminou com o n.° 9 de 1 de março
de 1874.
65) O Espirro. — Periódico para rir — Redactor principal D.
Dynamite à. Editor José Maria de Sousa. N.° 1, quarta feira 1 de no-
vembro de 1882.In-4.° a 2 col. Ponta Delgada, Typ. do Parlido Po-
pular. Rua dos Manaias. Terminou com o n.° 6 de 20 de dezembro
do mesmo anno.
Q6) A Estrella Oriental. (1.*)— Folha litteraria, commercial,
agricola e noticiosa — Semanal com 4 pag. a 3 col. foi. peq. impresso
na Villa da Ribeira Grande, em Typ. própria, e do n.° 39 em diante
na Typ. de J. J. Botelho á Comp. Começou a 28 de maio de 1856, e
como jornal politico, no n.° 93 de 7 de março de 1858. Foram redacto-
res d'este jornal no seu principio Francisco Maria Supico durante al-
guns annos, e João Albino Peixoto, por espaço de mezes. Substituiu-os
Manoel Constantino e Theijphilo Augusto Ferreira. Desde o dia 27 de
setembro de 1863 foi Redactor único João xVIbino Peixoto. Proprietário
e responsável José Joaquim Botelho. Parece que terminou com o n.°
496 em março de 1866.
67) A Estrella Oriental (2.^)— Semanal politico, litterario e
noticioso — Redactor Gualberto Soares Vargas e outros. Responsável
J. J. (José Joaquim) Botelho. Typ. da Estrella Oriental. Foi. peq. 4 pag.'
N.« 48-Vol. VIII— 1887. 5
506 ARCHIVO DOS AÇORES
numeradas a 3 col. N.° I de 26 de setembro de 1869. Desde 13 d'oii-
lubro de 1882, (n." 70 du 13. '' anno) tem sido redigido unicamente pe-
lo dito G. S. Vargas, que deixou a redação em 1885. Tem tido uma
publicação muito irregular e uma quantidade extraordinária de sup-
piementos. A numeração annual diíficulta ainda mais o conhecimento
exacto d'esta publicação.
68) Euterpe. — Publicação mensal de Muzica — Collaboradores
A. Ferreira, Carlos Botelho, F. Peixoto da Silveira, G. P. Rangel, João
B. Rodrigues, J. Barbosa. Editores e Pmprietarios Rangel e Alberga-
ria. Ponta Delgada Lyth. Rangel e Albergaria. Sahio um único n." com
4 pag. que continha a = Valsa Taborda =^ por Carlos Botelho, sem an-
no da publicação, mais foi em 1875.
69) A Faisca. —Periódico para rir — Redactor principal D. Ras-
tilho. Editor José Maria de Sousa. Collaboradores D. Espirro e D. Es-
touro. N." 1 de 7 de janeiro de 1881. Ponta Delgada, Typ. própria.
Parece que terminou com o n.*' 28, de 31 d'agosto do mesmo anno.
Começou a sahir ás sextas feiras; depois correu os dias da semana.
70) Flores Litterarias. — Publicação litteraria— Redactor Ma-
rianno José Cabral. N.° 1 em abril de 1854. Ponta Delgada, Typ. de
M. J. de Moraes. Publica va-se em folheio de 64 pag. íd-8.°. Terminou
com o n.° 4 em julho de 1855.
71) Fórum. (1 ") — Semanal in-fol. gr. 4 pag. a 4 col. Redactor
principal Theophilo Ferreira. N." 1 de 9 de março de 1867. Ribeira
Grande, Typ. de José Joaquim Botelho. Terminou com o n.° 33 de 28
de dezembro do mesmo anno.
72) Fórum. (2.'') — Semanal politico — Redactor e responsável
Theophilo Ferreira. Administrador e impressor José Joaquim Botelho.
N.° 1 de 5 de março de 1868. 4 pag. a 4 col. Sahiu irregularmente a-
té setembro de 1869. Ribeira Grande.
73) O Futuro.— Hebdomadario politico, litterario e noticioso —
Redactor .António do Rego Santos. Editor Manoel Corrêa Botelho. N."
1 de 11 de fevereiro de 1881. Ponta Delgada, Typ. Açoriana do edi-
tor. Terminou com o n." 29 de 1 de setembro do mesmo anno.
74) Gazeta Açoriana —Jornal doutrinário em que collabora-
ram vários escriptores de diversas ilhas — Redactor e fundador Hen-
rique José das Neves. Editor Manoel Corrêa Botelho. N." 1 de 10 de
janeiro de 1883. 4 pag. a 4 col. in-fol. gr. Apparecia três vezes por
mez, nos dias 10, 20 e 30. Ponta Delgada Typ. Açoriana, e na Miner-
ARCHIVO DOS AÇORES 507
va de Nuno Cordeiro. Terminou conni o n." 12 de 30 d'abril do mesnio
anno, que foi acompanhado de uma folha avulsa,
7ô) Gazeta do Povo (1.*) — Semanário politico publicado a
favor dos Âzylos de Mendicidade e Infância Desvalida de Ponta Delga-
da— Passou a beneficiar us azylos depois do 1.° anno de publicação.
Redactores Augusto Loureiro, depois Dr. Francisco Manoel Rapozo Bi-
cudo Corrêa. Responsável J. J. Botelho. N.° I de 23 de Julho de 1867
4. pag. a 3 col. depois a 4. Continuou irregularmente até 1870, Pon-
ta Delgada, Typ. do Campião Liberal, na Rua do Frias.
76) Gazeta do Povo (2.*) — Semanal politico — Editor José
Teixeira Cordeiro. N.° 1, sabbado 21 de janeiro de 1882, foi. a 4 col.
Ponta Delgada, Typ. Açoriana, rua da Esperança. Parece que termi-
nou com o n.° 4 de 20 de fevereiro do mesmo anno.
77j Gazeta da Relação.— Diário Michaelense — Começou a 21
d'Abril de 1867 na Typ. da Chronica dos Açores em Ponta Delgada,
depois na Imparcial: 4 pag. a 3 col. Do N.° 53 em diante passou a pu-
blicar-se sò ás terças, quintas e sabbados. Foi seu proprietário e fun-
dor Marianno José Cabral até ao ultimo de Setembro de 1870, e d 'es-
te dia em diante Francisco Maria Supico. Continua.
78) Gazetilha Semanal. — Este periódico era complemento da
Esmeralda Atlântica, para a publicação de annuncios, variedades e no-
ticias locaes. Imprimio-se aos sabbados desde 18 de junho de 4864,
sendo gratuito para os subscriptores da Esmeralda. Ponta Delgada,
Typ. da Persuasão. 4 pag, a 2 col. Redigida por Augusto Loureiro.
Parece que terminou com o n,° 5 de 16 de julho de 1864.
79) O Gratuito.— Publicação gratuita, só de annuncios— Ponta
Delgada, Typ, de Francisco Joaquim Pereira de Macedo. 1852.
80) Grémio Recreativo. — Semanário litterario— Redactor An-
tónio Climaco dos Reis. N.° 1 e único de 8 de janeiro de 1865. 4 pag.
a 3 col. Ponta Delgada, Typ. de F. J, P, de Macedo.
81) A Idea Popular. — Semanário politico, litterario e noticioso
— Editor e proprietário Júlio da Encarnação Machado. N.° 1 de 12 de
fevereiro de 1879. 4 pag. a 4 col. Ponta Delgada, Typ, Popular. Ter-
minou com o n.° 13, de 13 de maio do mesmo anno.
82) A Ilha.— Semanal politico — Órgão do partido Cartista em S.
Miguel — N.° 1 de 25 de março de 1852. foi. a 3 col. Sahia ás quintas
feiras. Ponta Delgada, Typ. da Rua do Provedor. Editor responsável
508 AHCHIVO DOS AÇORES
M. J. de Moraes. Redactores, até 1856 Marianno José Cabral; depois
Francisco Maria Supico e outros. Parece que terminou com o n." 808
em 1867. Teve duas pequenas interrupções.
83) Jornal d'Annuiicios. — Semanário de noticias e annuncios
— Proprietário e editor Manoel Corrêa Botelho. N." 1 de 3 de junho
de 4876. 4 pag. a 4 col. (os n.°' 1 e 2 tem a data errada de 1873).
Terminou com o n.° 34 de 14 de janeiro de 1877. Até ao n." 16 pu-
blicou-se ás segundas e quintas feiras; d'ahi em diante aos domingos
somente.
84) Jornal Gratuito.— Destinado exclusivamente a annuncios,
era distribuído gratuitamente nas manhãs das quintas feiras e domin-
gos; o seu formato era de meia folha de papel almaço, a 2 col. O n."
3 que temos á vista tem a data de Domingo 4 de março de 1849, E-
ditor responsável F. Pereira da Silva, não contém mais do que 5 an-
nuncios, sendo o quarto o do famoso opusculo=0?/ Eu ou Elles, por
A. F. de Castilho, 25 pag. in-8.^ Preço 120 rs. Ponta Delgada, Typ.
de Castilho, Rua das Artes.
85) Jornal de Noticias.— Editores Augusto César de Sampaio
Loureiro, João Maria de Sousa e Pedro do Couto Silva. Teve dois nú-
meros primeiros, um de 15 de junho de 1871, o outro de 15 de ou-
tubro seguinte. O de junho declara servir de prospecto. Sahia aos
domingos, quartas e sextas. Com o n.° 175 augmenloude formato por
começar a sahir uma só vez por semana, foi. a 5 col., mas no 3.° an-
no só tinha 4 col. por pag. e apparecia só ao domingo. Ponta Delga-
da, Typ. Commercial. Parece que terminou com o n.*' 298 de 13 d'ou-
tubro de 1875.
86) A Justiça.— Semanal — Editor José Maria de Sousa. N." 1
de 5 de novembro de 1883. foi. peq. a 3 col. Ponta Delgada, Typ. A-
çoriana. Terminou com o n." 4 de 29 do mesmo mez.
87) A Liberdade (1.*)— Folha politica semanal— Redactor Ber-
nardino Augusto de Mello Azeredo. Editores Francisco Jacome Corrêa,
Francisco Moniz de Medeiros Pontes, Augusto Pereira de Aguiar e Jo-
sé Moreira Velho de Mello Cabral. N.° 1 de 29 de março de 1873. 4
pag. a 4 col. Ponta Delgada, Typ. própria. Parece que terminou com
o n." 26 de 21 de setembro do mesmo auno.
88) A Liberdade (2. "j— Folha politica, litleraria e noticiosa—
N.* 1, sabbado 12 doutubro de 1878. 4 pag. a 4 col. Villa Franca do
Campo, Typ. própria. Continua em 1886, tendo debaixo do titulo: Fo-
lha Villa-Franquen.se, politica, litteraria e noticiosa. — Proprietário e
responsável João Jacintho Botelho.
ARCHIVO DOS ACOHES 509
89) Lusbel. — Folha diabólica, infernal, critica, trágica, cómica,
burlesca, microscópica e inexploravel — Redactor António Climaco dos
Reis. Editor António Gonçalves da Silveira. N.° 1 de 2 de fevereiro
de 1868. 4 pag. a 3 col. Ponta Delgada, Typ. da Voz da Liberdade.
Terminou com o n.° 16 de 17 de maio do mesmo anno.
90) O Meirinho.— Periódico dos pobres Michaelenses— N.'* 1 de
3 de fevereiro de 1853. Saliio sem a menor interrupção todas as se-
manas, ás quartas feiras, publicando noticias, romances, poesias, va-
riedades e annuncios. Foi estranho à politica. Ponta Delgada. Typ. de
F. J. Pereira de Macedo. 4 pag. a 3 col. Terminou com a moite do
proprietário ao que parece com o n.° 1:362 de 14 de maio de 1879.
Acima do titulo tinha um pássaro em gravura.
91) O Mensageiro Seraphico.— Revista mensal consagrada á
propagação da venerável Ordem Terceira de S. Francisco d'Assiz. E-
ditor João Ignacio Ferreira. Ponta Delgada, Typ. da Virgem Immacu-
lada. 0 1." n." de 32 pag. in-8.° sahio em janeiro de 1883, o 2." e ul-
timo no mez seguinte.
92) O Meteoro. — Jornal scientifico, litterario e noticioso — Foi
semanal este periódico. N.** 1 de 3 de maio de 1858. 4 pag. a 2 col.
Redactor Theophilo Braga. Ponta Delgada, Typ. de M. J. de Moraes,
Rua do Provedor, e do n.° 14 em diante na Typ. de Botelhos. Termi-
nou com u n.** 27 de 12 de novembro do mesmo anno.
93) O Michaelense. (i°) — Semanário politico — Redactor Dr.
Francisco Maria de Lima Nunes. N.** 1 de 29 de setembro de de 1868.
Ponta Delgada, Typ. de Manoel Corrêa Botelho. Terminou com o n.°
27 de 15 de janeiro de 1869.
94) O Michaelense (2.°) — Hebdomadario politico, litterario e
noticioso, consagrado aos interesses do povo — N.° 1 de sexta feira 2
de maio de 1884. foi. peq. a 3 col. Ponta Delgada, Typ. de Manoel
Corrêa Botelho. Terminou com o n.° 24 de 8 de novembro do mesmo
anno.
95) A Miscelânea Michaelense.— Semanal- Redactor prin-
cipal José Joaquim Lopes de Lima, Governndor Civil. Editor Luiz Ja-
cintho dos Reis. N.*' 1 de 27 d'outubro de 1836. O seu credo éra:
Carta, Rainha e Lei. Impresso a 2 col. em papel almasso. Ponta Del-
gada. Typ. da Miscelânea, Rua do Provedor. Terminou em 29 de se-
tembro de 1837.
510 ARCHIVO DOS AÇORES
96) A Missão.— Jornal religioso — Redactor Theophilo Ferreira.
N." 1 de 1 de março de 1867. 4 pag. a 2 col. Publicaram-se poucos
n."^" Ribeira Grande, Typ. de José Joaquim Botelho.
97j O Monitor (!.")— Semanal politico— N.° 1 de 6 de feverei-
ro de 1839. 4 pag. in-fol. peq. a 2 col. Editor responsável H. J, de M.
Columbreiro Góes até ao n.'' 104. Depois J. B. de Mello até ao fim da
publicação. Foi órgão do partido conservador, redigido de 1841 a 1844
por João José d'Audrade, fayalense, sob a direcção de Francisco Af-
fonso da Costa de Chaves e Mello. Ponta Delgada, Typ, da Rua do
Provedor. Terminou com o n.'' 269 de 27 de março de 1844.
98) O Monitor (2.")— Semanal politico — Fundador Leopoldo Jo-
sé de Cliaves. Redactores Francisco Xavier da Silva e Theophilo Fer-
reira. N.'' 1 de 19 de julho de 1867. foi. gr. 4 pag. a 4 col. Conti-
nuou com a numeração do 1." Monitor, mas errada. Ponta Delgada,
Typ. da Pemnosão. Terminou em 27 de janeiro de 1868.
99) O Noticiador. — Redactor José Joaquim d Oliveira Macha-
do. N.° 1 de 30 de janeiro de 1853. 4 pag. a 2 col., depois a 3. Pu-
blicava este periódico romances, poesias, variedades, noticias scientifi-
cas e diversas, nacií)nae.>, estrangeiras, e annuncios. Sahia 2 vezes
por semana em formato pequeno, mas, augmentando de proporções,
ficou sendo semanal. Ponta Delgada, Typ. Auxiliadora das Lettras A-
çorianas. Terminou em 22 de março de 1854.
100) O Noticiarista (1.°) — Semanal recreativo e noticioso — Pro-
prietário e redactor Augusto da Silva Moreira. Editor João José dos
Ramos e Cunha. N.** 1 de 3 de março de 1880. Ponta Delgada, Typ.
Açoriana. Interrompeo a publicação até 21 d'abril de 1881 em. que sa-
hiu o n." 3, de menor formato, 2 pag. a 3 col., revista especial para
Portugal e Brazil publicada á ultima hora da sabida dos paquetes.
Typ. Recreativa Lnzo Americana do proprietário. Parece que terminou
com o n.° 9 de 17 de julho seguinte.
101) O Noticiarista. (2.°) — Editor e proprietário Manoel F.
de Castro. N." I de 2 de janeiro de 1882. foi. peq. a 3 col. Ribeira
Grande, i^S. Miguel, Açores) Typ. Ribeira Grandense, até ao n." 98;
depois Typ. Própria. Continua em 1886.
102) Noticioso e Romântico. — Semanário recreativo. —
Proprietário e editor João Maria de Sousa. N.° 1 de 1 de junho de
1876. 4 pag. a 4 col. depois a 3. Ponta Delgada, Typ. da Chronka
dos Açoirs, depois Typ. do Amigo do Poro. Terminou com o n." 23 de
16 de dezembro do mesmo anno.
ARCHIVO DOS AÇORES 5H
103) O Novo Diário dos Açores. —Continuação do Diário dos
Açores. Editor, Director e Pioprietaritj Manoel Augusto Tavares de
Rezendes. N." \ de 25 de junho de 1881. 4 pag. a 4 col. Ponta Del-
gada, Typ. Popular. Publicou só 3 n.°^ por semana até o ultimo d'a-
gosto de 1885, d'ahi em diante começou a ser diário e a ser melhor
impresso, posto que de formato um pouco menor.
lOi) O Óculo. — Com este titulo appareceram dois mimeros a 31
de novembro e 8 de dezembro de 1882, impressos pelos filhos meno-
res do Redactor do Ecco Michaeleme, suspendeo-se a publicação por
falta de habilitação. 2 pag. a 2 col. Ponta Delgada, Typ. Liberal.
105) Opinião Publica (1.^) — Folha politica, litteraria e noticio-
sa.— Redactor Luiz Augusto Freire Themudo. Responsável José Joa-
quim Botelho. N.** 1 de 17 de março de 1866. foi. peq. 4 pag. a 3 col.
Ribeira Grande, Typ. do responsável Botelho. Parece que terminou
com o n.^ 43 em janeiro de 1867.
106) A Opinião Publica (2.*)— Editor responsável Joãolgna-
cio Peixoto. Diz-se que foram Redactores o Alferes António Emílio de
Figueiredo e Mello, Dr. Fino, Cirurgião Mór, Tenente António Joaquim
Domingues, Tenente Duarte, Tenente Geraldes: todos de Caçadores 11,
e Alferes Joaquim Zeferino de Sequeira Moraes, da Administração mi-
litar. Semanal. 4 p. a 4 col. N.° I de sabbado 4 de novembro de 1882.
Ponta Delgada, Ty[). Açoriana. Terminou com o n.^ 9 de 31 de dezem-
bro seguinte, com a transferencia de alguns redactores para outros cor-
pos, em consequência da violência de seus escriptos.
107) Paizagens e costumes dos Açores.— Artigos descri-
ptivos pelos principaes escriptores açorianos; dezenhos de José Igna-
cio dArruda Pereira e João Cabral. Ponta Delgada, S. Miguel, Açores.
Lyth. Luzitana. Cada n.** com duas folhas, uma com 2 pag. de texto
e a outra com a estampa. Sahiram só 3 n."% em fevereiro, março e
abril de 1884. A folha de texto era impressa ua Typ. Minerva.
108) O Partido Popular. — Semanal politico — Editor e reda-
ctor José Augusto da Costa Rezende, foram também editores Júlio da En-
carnação Machado e João António. N.° 1 de 2 dagosto de 1875. Pon-
ta Delgada, Typ. Açoriana de Manoel Corrêa Botelho, e posteriormen-
te Typ. própria. Interrompeu a publicação em 1877 e reappareceu com
o n.° 109 em fevereiro de 1878. Parece que terminou com o n.** 166
de 19 d'abril de 1879.
512 ARCHIVO DOS AÇORES
109) O Patriota (1.°) — Foi politico e parece que o n.° 1 sahiu
na principio de janeiro de 1836. O n." 7 tem "a data de 20 de feve-
reiro seguinte. Era impresso em Ponta Delgada. N'elle escreveu alguns
artigos Joaquim José Barbosa.
110) O Patriota (2.°) — Semanário politico— Sahia ás sextas fei-
ras. Proprietários e redactores Silveira & Irmão. Editor João Ferreira
Benevides Rego. N." 1 de 16 de novembro de 1877. Ponta Delgada,
Typ. Imparcial. Terminou com o u.° 8 de 4 de janeiro de 1878.
111) O Pavilhão Nacional. — Semanário politico — Redactor
Augusto Loureiro. Editor Manoel Corrêa Botelho. N.° 1 de 12 de mar-
ço de 1868. 4 pag. a 4 col. Ponta Delgada, Typ. Açoriana do editor.
Terminou em 4 de junlio do mesmo anno.
112) A Persuasão. — Semanal politico — Foi. gr. 4 p.a 4 col. P.
Delgada, Typ. própria até 1867. Redactores Francisco Maria Supico e
José Ignacio Rebello de Medeiros. Proprietário Francisco Ignacio Bebei-
lo e responsável Francisco Moniz de Medeiros Pontes. N." 1 de 1 de
janeiro de 1862 e tem continuado até ao presente, apparecendo ás
quartas feiras, Imprimio-se algum tempo na Typ. Auxiliadora das Let-
tras Açorianas, depois na de Manoel Corrêa Botelho, e actualmente na
Imparcial. Desde a morte do primeiro proprietarijo pertence a Francis-
co Maria Supico. Defende a politica regeneradora, e tem sido sempre*
um dos mais bem escriptos jornaes michaelenses .
113) O Philologo. — Jornal da Sociedade Escholastico-Michae-
lense--Quinzenal, litterario. Redactores José de Torres, José Joaquim
d'01iveira Machado e Marianno José Cabral. N.° 1 de 1 de janeiro de
1844. 8 pag. a 2 col. in-4.°. Ponta Delgada, Typ. de Macedo. Termi-
nou com o n.° 12 de 15 de junho do mesmo anno.
114) O Pist! —Semanário humorístico e illustrado — Direcção
artística de João Cabral, editor. Publica-se ás quintas feiras. Ponta Del-
gada. 4 pag. em pequeno folio, a 1.* e 4.* lythographadas, a 2.* e
3.* impressas na Typ. Popular. N.° 1 (programmaj de 18 de novem-
bro de 1886. Continua.
Porto Artificial de Ponta Delgada. Vid. a traz Boletim
Mensal, n.° 21.
115) O Povo Açoriano. — Hebdomadario politico, litterario e
noticioso —Órgão do partido progressista de Ponta Delgada. Redactor
Caetano dAndrade Albuquerque, Dr. Francisco Manoel Raposo Bicudo
Corrêa e Manoel Augusto T. de Rezendes, editor. N." 1 de quarta
ARCHIVO DOS AÇORES 513
feira 31 de março de 1886. 4 pag. a í col. Ponta Delg.-ída, Typ. pró-
pria. Do n.° 2 em diante começou a saliir á quinta feira. Continua, mas
com diversos redactores.
116) O Povoacense. — Semanal — Redactor António d^Âmaral
Vascnncellos. Editor Júlio da Encarnação Machado. N.° 1 de !átí de ju-
lho de 1879. 4 |)ag. a 3 col. Povoação, Typ. [)ropria. Terminou com
o n.° 43 de 12 de junho de 1880.
117) O Progresso. — Periódico dos Açores— Semanário politico
— Redactor Augusto Loureiro. Responsável João J. Botelho. N." 1 de
11 de julho de 1807. 4 pag. a 4 col. Ponta Delgada. Typ. da Rua do
Frias. Parece que terminou com o n.° 93 de 3 d'outubro de 1869.
118) O Pyrilampo. —Semanário — Redactor Theophilo Ferrei-
ra. N.° 1 de 9 de janeiro de 1868. foh peq. 4 pag. a 3 col. Ribeira
Grande, Typ. de José Joaquim Botelho. Parece que terminou com o
n.° 8 de 27 de fevereiro seguinte.
119) O Raio. —Jornal satyrico — Redactor principal Armando
Krupp. Collaboradores: Pompeu Relâmpago, Estevão Corisc ), Scipião
Dynamite, Victor Paiol, Estaíiislau Pólvora, Hypolito Fulminante, Nico-
lau Arcabuz, Ricardo Obuz, Anacleto Balazio, Simão Lanterneta, As-
drúbal Ex[)losão, Cypriano Bomba, Luiz Faisca. Editores Venâncio de
Sousa Benevides e Marianno José da Silveira. N.° 1 de 10 de setem-
bro de 1883. foi. peq. 4 pag. a 3 cí)i. Ponta Delgada, Typ. Michae-
leuse, Rua da Mãe de Deus. Publicava-se ás quartas feiras. Terminou
com o n." 5 de 7 d'outubro seguinte.
120) Republica. —Semanário politico — Redactor o Bacharel
Francisco Félix Machado. N.° 1 de 11 de junho de 1873. 4 pag a 4
col. Era distribuída em Villa Franca do Campo, mas imprimia- se em
Ponta Delgada na Typ. da Liberdade. Parece que terminou com o n.°
9 de 6 dagosto seguinte.
121) Republica Federal. — Órgão semanal do Centro Repu-
blicano Federal de Ponta Delgada. Redactor Caetano ]\Ioniz de Vascon-
cellos. Editores Manoel Corrêa Botelho, Venâncio de Sousa Benevides,
Manoel Augusto Tavares de Rezendes, e Francisco dAlmeida Pache-
co. N.° 1 de sabbado 17 dabril de 1880, depois continuou a sahir re-
gularmente ás terças feiras. 4 pag. a 4 col. Ponta Delgada, Typ. Aço-
riana, depois na Minerva e actualmente na Popular. (Continua.
122) Revista dos Açores. —Semanário litterario — Redacto-
res e collaboradores: José de Torres, António Teixeira de Macedo, Fi-
N.« 48— Vol. VIII - 1887. 6
514 ARCHIVO UOS AÇOHES
lippe (Jo Quental. Francisco Maria Supico, Guilherme Read Cabral, Jo-
sé Maria do Couto Severim, Henrique d'Anfirade Albuquerque, João
Albino Peixoto, José Ben Saúde, Frederico Leão Cabreira, Luiz Filip-
pe Leite, Miguel Street dArriaga, José Joaquim dOliveira Machado,
Thomaz Carew Himt. António Bonifácio Júlio Guerra, António Homem
da Costa Noronha, Padre António Joaquim Ferreira, Bernardino de
Senna Freitas. Padre .João Jo>é do Amaral, José Joaquim Mattoso Ga-
go da Camará, João F. H. Parkin Sclioltz, José Augusto Cabral de
Mello e José Henrique de Meiieifíjs. N.° 1 de I de "janeiro de 1851.
A 1.^ serie, in-fol. a 2 col. e 4 pag., terminou com o n.° 104 de 10
de janeiro de 1853, com 424 pag. A 2.* serie, in-4.", de março de 1853
a igual mez de 1854. Publicou-se em folhetos de 32 pag. de que ap-
pareceram 12 com 384 pag., formando o 2." Vol. publicado pela Socie-
dade Auxiliadora das Lettras Açorianas. Ponta Delgada, Typ. A. das
Lettras Açorianas. São raras e muito apreciadas as colli-cções. Da 2.*
serie chegaram a imprimir-se 3 n.°' in-fol., que foram reproduzidos
in-4.°.
123) Revista Açoriana —Semanário litterario— Redactores
Francisco Maria Supico, Marianno José Cabral e José Ben Saúde. N.° 1
de 2 de janeiro de 1853. 4 pag. a 3 col. e depois a 2 Ponta Delga-
da, Typ. de Macedo. Terminou com o n.° 45, 4.° anno, em 13 de de-
zembro de 1856.
124) Revista Michaelense. — Folha commercial, litteraria,
noticiosa e critica. Redigida por Marianno José Cabral. N.'* 1 de 1 de
janeiro de 1851. 4 pag. a 2 col. no 1.° anno; a 3 no 2.°. Ponta Del-
gada, Typ. de Joã(» Jacintho Botelho até ao n." 2i, os restantes na de
Manoel José de .Moraes. Termin(jij com o n.° 12 do 2.° anno em 18
de março de 1852. Occupava-se de assumptos de interesse publico,
não políticos. Deu supplementos pelo menos aos n.*" 1 e 11.
125) A Ribeira Grande. — Folha semanal consagrada a lodos
os assumptos d"interesse pátrio — Redacção anonyma; mas que se at-
tribue ao Padre Egas Moniz. N.° 1 de quarta feira 21 de setembro de
1881. Foi. pe(j. a 3 col. Ribeira Grande, Typ. Ribeira Grandense. Ter-
minou com o n." 16 de 12 de janeiro de 1882.
126) O Santelmo. — Jornal de sciencias, litteratura, bellas-ar-
les, agricultura, industria e noticias, publicado quinzenalmente— Re-
dactores Francisco Maria Supico. Theophilo Braga e António Pereira.
N.° 1 de 15 de janeiro de 1859. In 4." a 2 col. Ponta Delgada, Typ.
de Moraes. Terminou com o n.° 44 de 31 (fontiibro de 1860. Forma
um volume com 352 pag.
ARCHIVO DOS AÇORES 515
127) A Semana. — Semanário litterario e noticioso — Proprietá-
rio Manoel Auguslo Tavares de Hezendes. N." 1 de 19 d'agosto de
!8()f). 2 folhas com 8 pag. a 2 col. foi. peq. Ponta Delgada, Typ. pró-
pria. Terminou com o n." 24 de 2C de janeiro de 1870.
128) Semanário Burlesco. — Folha satyrica— Proprietário re.s-
ponsavel Joaquim Maria da Ponte. N.° 1 de 20 de março de 1874. 4
pag. a 3 col. P. Delgada, na Ty[). Insulana o 1.° n.°, do 2.° em diante
em formato maior na Açorian;i. Parece que terminou com o n.° 9 de
21 de maio do mesmo anno, mudando u nome para Demócrito.
129) O Sinapismo. - Jornal em prosa e verso, redigido exclu-
sivamente por senhoras, a saber: D. Mostarda, D. Linhaça, D. Campho-
ra, D. Usaidella, D. Sidreira. D. Salva, D. Perpetua, e D. Losna. Edi-
tor Mariamjo José da Silveira. N." I de quarta feira tí de janeiro de
1880. Foi. peq. 4 pag. a 3 col. Ponta Delgada, Typ. do Partido Popu-
lar. Rua do Botelho. (Continua, mas com outro editor.
130) O Templo.— Jornal religioso, moral e litterario— Publica-
do [)0i' alguns estudiosos em favor do Asylo d'Infancia Desvalida da
cidade de Píjuta Delgada. Typ. de Botelho á- Irmãos. Publicou se em
folhetos de 16 pag., apparecendo de 15 em 15 dias, exclusivamente
consagrado á litleratura religiosa e moral. N.° 1 de 15 de setembro
de 1856, e terminou em 31 d"agosto de 1858; ao todo 48 n.°* em 2
volumes, cada um de 384 pag.
131) O Tempo. -Semanal politico — Propiietario e editor Fran-
cisco Jacome Corrêa. N." I de 24 de novembro de 1876. Ai)parecia ás
sextas feiras. Ponta Delgada. Typ. da Empreza Typographica dos A-
çores. Terminou com o supplemento, ao n.° 27, de 24 de junho de
1877.
132) O Tio Braz. — Proprietário Zé Povinho. Redactor quem
redige. Editor Luiz Augusto Machado. Collaboradores Manoel Soares
Pereiía, Francisco Cordeiro, António Corrêa de Mendonça e E.R.Quin-
tanilha. N.° 1 de 1 d'agosto de 1885. Foi. peq. 4 pag. a 3 col. Publi-
ca va-se aos sabbados. Ponta Delgada. Typo Lythographia dos Açores a-
té ao n.° 11, o n." 12 na Typ. da Época, o 13 até 17 na Imparcial, de
18 a 20 em Typ. própria, o 21 e seguintes na Açoriana. Deu 2 pag.
de caricaturas lythographadas. e algumas meias folhas de annuncios.
Terminou com o n.''35 de 27 de março de 1886.
516 ARGHIVO DOS ACOBES
133) A Tribuna Christã. — Publicação quinzenal religiosa —
Dedicada ao Ex.""* Sr. Prelado da Diocese d'Angra. Redactores Joaquim
Cândido Abranches e Augusto Loureiro. N.° 1 de 15 de maio de i873.
8 pag. in-4.° a 2 col. Ponta Delgada, Typ. Commercial. Terminou com
o n." 6, de 31 d'agosto do mesmo anno.
134) O Typographo. — Hebdomadario lítlerario, noticioso e re-
creativo, dedicado aos artistas michaelenses.— Proprietário e redactor
João Maria de Sousa. Editor António Gonçalves da Silveira. N." í de
H de novembro de 1866. Ponta Delgada, Typ. do Ecco Social. Pare-
ce que terminou com o n.° 30, de 30 de junho de 1867.
135) A União. — Semanário politico — Redactor José Maria de
Vasconcellos. Editor João Jacinthn Botelho. N." 1 de 19 de fevereiro
de 1857. Foi. peq. 4 pag. a 3 col. Ribeira Grande, Typ. do editor até
ao n.° 59, o n.° 60 em Ponta Delgada na Typ. Auxiliadora das Lellras
Açorianas, o n." 61 e seguintes em Typ. propi ia. Terminou com o n.**
■187, de 6 de junho de 1861.
136) A Vardasca. — Semanal politico e satyrico — Editor Manoel
C-orrêa Botelho. N.° \ de sexta feira 9 de junho de 1882. Foi peq. a
3 col. Ponta Delgada, S. Miguel, Typ. Açoriana, rua da Esperança n."
33. Terminou com o n.° 41 de 3 de junho de 1883.
137) A Ventosa. — Jornal satyrico em prosa e verso —Proprie-
tário José Maria Teixeira. Redactor José Augusto da Costa Rezende.
Editor José Teixeira Cordeiro. N." 1 de segunda feira 2 d'agoslo de
1880. ponta Delgada, Typ. do Partido Popular. Do n." 2 em diante
apparecia ao sabbado. Terminou com o n.° 14 de 30 d'outubro do
mesmo anno.
138) A Ventosa Sarjada. — Jornal satyrico em pro sa e verso
— Redactor José Augusto da Costa Rezendes. Editor Mariano José da
Silveira. N.° \ de 6^ de novembro de 1880 e tem continuado a sahir
regularmente todos os sabbados. Ponta Delgada, Typ. do Partido Po-
pular. Este jornal é a sequencia da Ventosa, acima n." 137.
139) A Verdade. — Semanal politico e litterario — Redactor
principal Dr. António Feliciano de Castilho. Editor responsável F. P.
da Silva. Foi fundado por D. Pedro da Costa de Sousa de Macedo, Se-
cretario Geral servindo de Governador Civi', cohío órgão official, prin-
cipalmente destinado a acalmar a efervescência partidária alimentada
pelo Cartista dus Açores. N.*^ l de 7 de fevereiro de 1849. Foi. de 4
ARCMIVO DOS AÇORES 517
pag. a 3 col. Ponla Delgada, Typ. de Caslillio. Terminou com o siip-
plemento, ao n.° 2i, de á'i d'agi)Sto du ineímu .umo.
140) O Vigilante. -Hebdomadario politiro, lilterario e noticio-
so—Dedicado ao Povo -Editor Manoel Corrêa liotelho. N."* I de 4 de
maio de 1886. Ponta Delgada, Typ. Açoriana. Suspendeu com o n." \'t
de 31 d'agosto do me^mo anno, para reapparecer em 1887.
141) Villafranquense. — Semanário politico, litterario, noticio-
so e agricola— Editor responsável José Maria Brazil. N." I de 5 de ju-
lho de 1861. í pag. a 3 col. Villa Franca do Campo, Typ. própria.
Terminou com o n." 133 de 26 de maio de 1864.
142) A Vontade do Povo.— Semanário politico, litterai'io e
noticioso— Redactor Dr. Francisco Manoel Raposo Bicudo Corrêa. Ad-
ministrador João Climacú dos Reis Jiinior. Editores Manoel Augusto
Tavares de Rezendes e o administrador. N.° 1 de sabbado \ d'abril de
1882. Foi. peq. a 4 col. Ponta Delgada, Typ. Popular, Rua da Canada,
Terminou com o n.'' 18 de 30 dagosto do mesmo anno.
143) A Voz da Liberdade (!.'') — Hebdomadario litterario,
politico e noticioso.— Redactor e proprietário António Climaco dos Reis.
Editor João Climaco dos Reis. N." 1 de 7 de fevereiro de 1867. 4 pag.
a 4 col. Ponta Delgada. Typ. do Campeão Liberal desde n." 1 até 21:
na do Ecco Social de 22 até ao 2o com que suspendeu em 27 de ju-
lho do mesmo anno. Reappareceu em 4 doulubro seguinte em forma-
to maior a 5 col., impresso em Typ. piopria. bem como os seguintes
até 64 e ultimo de 31 de julho de 1868, único n." que saliio em gran-
de formato dividido em 6 col.
141) A Voz da Liberdade (2.*)— Proprietário Manoel Corrêa
Botelho. Appareceu desde 1 d'abril de 1869, até ao n." 8 de 20 de
maio do mesmo anno. Ponta Delgada, Typ. própria.
145) A Voz do Povo. — Semanal politico — Redactor António
Ernesto Tavares d' Andrade. IN." 1 de 29 de junho de 1879. 4 pag. a
3 col. Villa Franca do Can)po, Typ. própria. Terminou com o n." 106,
de 1 de julho de 1881.
146) A Voz do Progresso. — Folha do Partido Regenerador
— Propriedade de Juão Climaco dos Reis Jr. N.° 1 de 1 de dezenibro
de 1877. 4 pag. a 4 col. Ponta Delgada, Typ. do Amigo do Poro até
ao n.° 53, os restantes na Imparcial. Terminou com o n.° 65, de 1
de março de 1879.
§18 ARCHIVO DOS ACOKES
147} A Voz da Verdade. —SeniíJii.uiu religioso, lilterario e
politico- Editores António José Tavares e João José dos Ramos e Cu-
nha. N.° 1 de 18 d'agoslo de 1867. Cada n." de 16 p. in 8.° a 2 col.
Ponta Delgada, Typ. do Ecco Social até ao n.** 38; depois na Typ. da
Virgen) Itnnriaculada. A numeração era aiinual, excepto nos últimos 2
annos. Terminou com um supplemeulo ao n.° 92, de 4 de setembro
de 1875.
Na pag. 494 por lapso deixou de se imprimir, por cima da ilha
de S. Miguel: DISTRICTO DE PONTA DELGADA.
DISTRIOTO DE PONTA DELGADA
iLH-^ IDE S-AisTTJ^ :bjs:j^-jE<j:J^
1) Correio Mariense.— Semanário lilterario e noticioso — Re-
dactor e edictor João Climaco dos Reis. N.° 1 de sabbado 3 d'outubro
de 1885. Foi. peq. a 3 col. Villa do Porto, da ilha de Santa Maria,
Typ. Mariense.
2) O Mariense.— Quinzenário, lilterario e noticioso — Kdilor e
proprietário Jacinlho Monteiro de Bettencourt. Redactor principal Ur-
bano de Medeiros. N." 1 de quinta feiía 9 dabril de 1885. Foi. peq.
4 pag. a 3 col. Villa do Porto (Santa Maria), Typ. Oriental, rua da Con-
ceição. Foi o 1." jornal publicado na ilha de Santa Maria, suspendeu
a publicação com o n.'' 7, de 15 de julho seguinte, em consequência
da sentença judicial por abuso de liberdade de imprensa, e do editor
se recusar a publicar a mesma. Do n.*' 8 chegou a imprimii' se a 1.*
e i.* pag., de que se tiraram mui poucos exemplares, por ser pro-
liibida a publicação pela authoridade.
ARCHIVO DOS AÇORES 519
DISTRICTO D' ANGRA DO HEROÍSMO
1) Os Açores. — Folha consagradíi aos interesses açorianos —
Hedactores c proprietários António Gil e A. Sampaio. N.° 1 de 10 d"a-
gosto de 1879. Semanal. Appareceu aos domingos alé ao n..° lá e de-
pois ás quintas feiras. Angi'a, Typ. do Correio da Terceira, Terceiren-
se, e União. Terminou com o n.° 48. de 22 de julho de 1880.
2} Álbum. — Publicação dos Alumnos do Lyceu dAngra do He-
roísmo. N.° 1 de I de dezembro de 187G. Foi. peq. a 3 col. Foi tjuin-
zenal até ao n.° 4, depois passou a ser mensal, e no fim semanal. An-
gra, Typ, do Correio da Terceira alé ao n." 9, de[)0is na Insulana. Ter-
minou com o n." 13, de 26 de janeiro de 1878. Tem artigos assigna-
dos por A. M. de S. Moniz e M. J. da Silva.
S) Alerta!— Antidolo da reacção açoriana— N." 1 em janeiro de
1881. Publica va-se em fascículos de 32, 24 e 16 pag. Angra, Typ.
União. Terminou com o n.° 15 em dezembio do mesmo anno. Houve
2.^ edição do 1." n.°. O ultimo tem um indire dos nomes de pessoas
notáveis.
4) Aluinno. -Angra -1877 -Publicou poucos números.
5) O Amigo das Famílias.— Publicação quinzenal de propa-
ganda catholica, dedicada á Virgem Immaculada— N.° 1 de 24 de maio
de 1885. 8 pag. in-4." a 3 col. Angra, Typ. do Catholico. Continua.
6) O Ang-rense.— Folha politica— Órgão do partido progressis-
ta terceirense— N.'' 1 de 23 de setembro de 1836. Augmentou de for-
mato em 1842. Publicou se regularmente alé 8 de novembro de 1870,
em que suspendeo, reapparecendo com o n.° 1530 em 8 de junho de
1874. E' redigido actualmente por Theotonio Simão Paim d'Ornellas
Bruges. Tendo o Prefeito prohibido a impressão de jornaes na Typ.
da Prefeitura, foi esle jornal impresso na primeira typographia parti-
cular montada em Angra pelo Visconde de Bruges, Theotonio dOrnel-
(*) Em consequência da demora de esclarecimentos indispensareis pa-
ra completar a relação de jornaes do Districlo d' Anf/ra, pedidos para a
ilha Terceira, não foi possivel dar-lhe a primazia, que logicamente im-
punha a chronoloyia.
520 ARCHFVO DOS AÇORES
l;is, na rua do Pintor n.° 510 próximo ao legar das Covas, a cargo dos
lypcgraplios Manoel de Sousa Pereira, director, e seu irmão João de
Sousa Pereira. Continua.
7) Annunciador (1.") — Semanal de 4 pag. a 3 col. Editor res-
ponsável Joaipiim José Soares. N.° 1 de 4 de julho de 1849, teve pou-
ca duração. Angra, Typ. do editor.
8) Annunciador (2.°)— Semanário para a publicação de annun-
cios e romances — Proprietário Antoniíj Gil. N.° 1 de 1 de janeiro de
1873. 2 pag. in-fol. a 4 col. com annuncios e 2 de romances. Angra,
Typ. do Governo Civil. Terminou com o supplemenlo, ao n.° 39, de
15 dabril de 1874.
9i O Annunciador da Terceira. — Semanal lilterario -Reda-
ctores Padre Jeronymo Emiliano dAndrade e Dr. António M. B. Cor-
te Beal. Editor Joaquim José Soares. N.° 1 de 23 dabril de 1842. 4
pag. in-4.'' a 2 col. Angra, Typ. do editor. Terminou em 24 de junho
de '1843 com o n." 51, em que se lê a baixo do titulo: Despedindo-se
de sms leitores.
10; O Arco da Vellia.— Publicou se um n." único a 14 de ju-
nho de 1838. Foi. peq. a 2 col., com as inicines A. M. S. P. Destina-
Ya-se a condjater o irw da Terceira. Angra, Typ. Angrense. Diz-se ser
escripto por freiras, para censurar o governo por lhe não pagar as pres-
tações d"egressos.
11) O Artista. — Folha Semanal, dedicada á defeza da classe
operaria. N.° 1 de domingo 8 de março de 1885. 4 pag. a 3 col. Pare-
ce que terminou com o supplemento de 4 de Maio de 1885 (com da-
ta errada de 1884) ao n.° 7. Angra, Emp. Typ Lylh.
12) O AtMeta.— Folha satyrica, democrática e noticiosa — Dedi-
cava se a combater o ultramontanismo. Redactor José Augusto de Sanj-
paio Júnior. N.° 1 de 30 de novembro de 1879. Foi. peq. a 3 col. An-
gra, Typ. própria. Duplicou o formato com 4 col. por pag. do n." 21
em diante. Suspendeu a publicaçã(j com o n." 190 em outubro de 1883,
para continuar em 25 de fevereiro de 1885. Foi. peq. a 5 col. Impri
mio se também na Typ. União e na Emp. Typ-Lyth. Terminou com o
n.° 221 de 27 doutubro de 1885.
13) Aurora Angrense. — Folha litteraria, imparcial e noliciosa,
N." 1 de sabbado 7 de março de 1885. 4 pag. a 3 col. Sahiu pelo
menos até ao n." 10, c(jj(t 2.° supplemento tem a data de 18dejimlio
de 1885. Angra Typ. Amor do Trabalho.
AHCHIVO DOS AÇORES 521
14) Boletim do Governo Civil d' Angra. — Director João
de Sousa Rilíeiro. N." \ de i dabril de 1854. com o escudo das ar-
mas reaes poituguezas. Foi. peq. a á col. Angra, Imprensa do Go-
verno. Parece que terminou em Í856.
15) Boletim do Governo Ecclesiastico dos Açores. —
N." 1 de 21 de dezeml>ro de 1872. Oada n." de 16 pag. in-4.". Angra,
Typ. do GoTerno Civil. Do n." 38 em diante na Typ. da Virgem Im-
niaculada.
16) Boletim Judicial da Commaroa d' Angra do He-
roismo. - Redactor e proprietário o advogado Manoel Hasilio Coelho
Rocha. N." I de segunda feira IS de fevereiro de 1886. Foi. peq. de
4 pag. a 3 col. Angra, Typ. do Catholico. Do n.'* 17 em diante dupli-
cou o formato, com 4 col. por pag. O n " 21 e seguintes foram im-
piessos na Typ. dos Dois Amigos, a mesma do Catholico. No n." 28
começou a dar nas ultimas 2 pag. o Regulamento do processo peran-
te o tribunal administrativo districtal, por forma a poder formar um
vol. in-4.° que concluio no n.° 31 de 12 d'oulubro do mesmo anuo.
17) Boletim da Junta Geral do Districto d' Angra do
Heroísmo.— Publicação mensal— N.** 1 de quarta feira 25 doutubio
de 1882. Foi. peq. de 4 pag. a 3 col. Angra, Imprensa da Junta Ge-
ral. Continua mas sem regularidade.
18) Boletim Mensal da Livraria e papelaria de António Gil,
Commissario da Imprensa Nacional de Lisboa em Angra do Heroisrao.
Parece que se começou a publicar em setembro de 1878: o n." 6 tem
data de fevereiro de 1879 Foi. peq. de 4 pag. a 2 col. Angra, Typ.
do Correio da Terceira.
19) Boletim Official do Districto Administrativo de
Angra do Heroismo.— Quinzenal a duas columnas. Angra Typ. do
Governo Civil. Começou em 15 de julho de 1859 pelo Alvará do Go
vernador Civil José Maria da Silva Leal incumbindo ao 2.° official da
sua secretaria Félix José da Costa a coordenação d'esta publicação.
Neste anuo sò sahiram 12 n."' com 8 pag. cada um, passando de-
|)ois a ter 4 pag. A nuuíeração, <|ue foi seguida até ao n." 113 de 25
de dezembro de 1862, pass(»u depois a ser annual. Continuou ao que
parece até 1881, mas irregularmente havendo alguns annos, como o
de 1871 em que só appareceram 5 n."*. De 27 de fevereiro de 1862,
em diante sabia a 3 col.
h." 48— Vol. VIII -1887.
522 AfiCHIVO DOS ACOhES
20) Boletim OfScial da Junta Governativa d'Ang'ra. —
N." 1 de 8 de maio de 1847. Fui. jieq. a 2 col. Angra, Typ. do An
grense. Parece que terminou com o n." 9 de 26 de julho do mesmo
anno.
21) ABorboleta. — Folha semanal e noticiosa. Redactor respon-
sável José Cijpeilino Diniz Ormonde. N." I íle quinta feira 27 de mar
ço de 1884. 4 pag. a 2 col. até a(j n." 61, e deste en) diante angmen
tou de formato passando a ler 3 col. por pag. Angra, Typ. do reda-
ctor até ao n.° 35: os seguintes na Emp, Typo Lytli. até ao n." 99 de
sabbadoo de junho de 1886. Este jornal foi substituído pela Escova.
22) Brisas Terceirenses.— Publicação mensal — Collecção de
musicas para piano. N.'^ 4 de 15 de março de 1877, contendo de 6 a
10 pag. de mnzica e annuncios nas 'apas. Appareceram 6 n.°\ Angra,
Lythographia do Collegio Inslili;t > Angrense.
23j O Catholico. — P'olha Terceirense consagrad;i a lodos os
interesses religioíios e sociaes — Hedactor por alguu) lemjto o Padre
Francisco Hogerjò da Costa. N." 1 de 21 dOutubro de 1876. 4 pag.
a 4 col. A 1.* serie consta de 60 n."*. terminada em 26 de junho de
1878, toda impres>a na Typ. da Virgem hnmactilada. Começou a 2.^
serie com o n." 6! de 21 doulubrodí^ 1880 e continua em 1886, im-
pressa na Typ. do Correio da Terceira e do Calholico: n esla 2.* .serie
modificou o titulo, e diz: Folha açoriana dedicada A.
2i) O Catholico Terceirense.— Jornal religioso e lilterario
—Redactor Bernardino José de Senna Freitas. N" 1 de 15 de janeiro
de 1857. (-ada n." de 8 p;ig. in-4." gr. a 2 col. Forma lun vol. de
376 pag. com uma gravura da Sé d'Angra. Angra, Typ. de iM. J. P.
Leal. Teríiiinou com o siipi)lemenlo dt^ 24 d'outubro de 1858, ao n."
43. O producto liquido d e>le jornal era applicado ao A>ylo d'lnfanci;».
Contém alguns arligos iuli ressantes para a Historia Ecclesia>tica das
Ilhas dos Açores.
25) O Chicote— Folha popular— Redactor, proprietário e edi-
tor António Joa(piim Teixeira Júnior. N." 1 de 5 de maio de 1878.
Foi. peq. de i [tag. a 3 col. Angn, Typ. (.Ihicotense da rua do Pin-
loi'. Terminou com o n." 7, de 25 dagitslo do mesmo anno. Deu 7 sup-
plementos.
26) A Chronica, Smiariario da Terceira. — Órgão official da
Regência. — Redi.clores os mesmos da Chronica da lerceira. N.^ 1
de 3 dabiil dt 1831. 4 pag. a 3 col. Angra, Imprensa do Goyenio.
ARCHIVO DOS AÇORES 533
1831-32, até ao n.° 38; os seguintes até ao supplemento ao n." 41 de
29 de iiiriiít de 1832. for-im impressos em Voiúi D Igada, com o titu-
lo de Chronica, Semanário dos Açores, vid. esta atraz, n.° 29 a pag.
499. Em geral não runtinlia senão os actos oííiciaes e noticias estran-
geiras. Sahiram snpplemenlos. em meia folha, aos n.°* 6, 15, 16, e
eu] todos os n.*"* de 20 até 33 inclusive Este jornal é a continu;»ção da
Chronica da Terceira. Foi reproduzida em parte n'este Archiro, Vol.
VI, pag. 440.
No ficcionaria Bibliographico, Tom. IX, pag. 1 12, se chama confusa-
mente Chronica da Terceira a esta e ao n." 29.
27) Chronica dos Açores. - Semanal —Redactor o capitão João
Eduardo d'.Abreu Tavares. (loUaboradores António Joaquim Nunes de
Vasconcellos. e o bacharel António do Rego Faria Barbosa. N.° 1 de 6
de jaut iro de 1833. Foi. peq. de 4 pag. a 2 col. Tem por cima do li
tulo o escudo das armas portiiguezas. Publicava se aos domingos de
(arde. No Prospecto se declara ser o seu fim princi[)ijl, a publicação
das noticias das operações do Exercito Lib'^rtador, insertas na C/iro-
nica Constitucional do Porto, noticias estrangeiras d. Termincju com o
n.° 51 de 29 de dezembro do mesmo anno.
28) Chronica Constitucional dAngra.— N.° 1 de 5 de ja-
neiro de 1834: em 28 de dezembro seguinte terminou a serie d este
amio com o n.® 5.*), para começar nova numeração no anno de 1835,
que chegou ao ti." 24 e ultimo de 11 de junho. Foi. peq. de 4 pag. a
2 col. Publicava-se aos domingos. Angra, Imprensa da Prefeitura. Até
13 d'outul)ro de 1834 foram redactores os mesmos da Chronica dos
Açores, dia em que pelo Prefeito foi nomeadjo Dr. António .Moniz Bar-
reto (vorte Real. para director e revisor da Empreza da Prefeitura, e
como tal diiigio a publicação deste jornal até terminar, devendo, po-
rem, notar-se que o n.° 19 de 7 de maio de 1835 e seguintes até ao
ultimo passaram a ser impressos por A. J. G. da Costa. O Dr. Antó-
nio M. B. C. Real pedio a sua exoneração que lhe foi coDcedida pelo
Prefeito em 30 d'abril de 1835. No 1.° n.'' declara que depois da di-
visão dos Açores em duas províncias, o titulo de Chronica dos Açores
não era adequado, e por este motivo foi substituído pelo de Chronica
Constitucional d' Angra. Foi reproduzida em parte n'este Archiro. Vol.
VH, pag. 368.
29) Chronica da Terceira. (1.*)— Órgão oHicial da Regência
— ^Semanal — Redactor o académico Simão José da Luz, até ao n.° 12 ou
13, depois os académicos Elias José de Moraes, José Estevão Coelho
de Magalhães, e posteriormente o capitão de Voluntários da .Rainha
.João Eduaido d Abreu Tavares. N.* 1 de 17 de abril de 1830. Foi.
524 ARGHIVO DOS AÇORES
peq. a 2 cul. Angra. Imprensa d«» Gorerno. Terminou com o n." 44
de 27 de março de 1831. Fui reproduzida em parte n'este Archivo,
Vol. VII, pag. 341.
30) Ghronicã da Terceira. (2.*)— Editor João de Sousa Ri-
beiro—N.*' 1 de 5 d'agosto de 1846. Foi. peq. a 2 col. Angra, Im-
prensa do Governo. Parece que terminou com o n." 7 de 16 de se-
tembro do mesmo anuo.
31) Olarim Terceirense. — Jornal politico e noticioso, de po-
litica progressista — Proprietário o Deão N.uciso António da Fonseca,
que o fundou em opposição á Trombeta Açoriana. Editor responsável
Manoel Joaquim d" Andrade Sénior, sineiro da Sé. N." 1 de 12 de de-
zembro de 1866. Foi. peq. a 3 col. Angra, Typ. do jornal A Terceira.
Terminou com o n.** 42 de 7 de julho de 1869.
32) O Correio. — Publicação semanal de noticias e anniuicios -
N." 1 de (juarta feira 4 de julho de 1883. 8 pag. in-4.'' a 2 col. até
ao n.° 12; d'este em diante 4 pag. a 3 col. e com novos proprietários.
Angra, Typ. do Correio da Terceira, e depois Emp. Typo-Lyth.
33j Correio da Terceira. — Folha politica mensil— Redigida
por António R;mios Moniz Corte Real. N.° 1 de 29 de janeiro de 1874.
Foi. a 4 col. Augmentou de formato do 2.° n." em diante. O seu fim
principal foi provocar a e.xtincção da Relação dos Açores. Angra, Typ.
própria. Terminou com o 4." supplemento, ao n." 26, de 25 d'outubro
de 1877.
34) Diário da Terceira. -Redactor Mathíus Augusto. N.** 1
de 1 de junho de 1878. Fui. peq. a 3 col. Angra, Typ IiL^ulana. Ter-
minou com o n.° 41 de 26 de julho do mesmo anno.
35) Direito do Povo. — Folha dedicada a advogar os interes-
ses das classes trabalhadoras. Tiragem de 1.000 a 1.500 exemplares.
N." 1 de 12 de dezembro de 1877. 3 col. Publicava-se aos domingos.
Angra, Typ. Angrense. Terminou com o supplemento de O de janeiro
de 1881, ao n.'' 15 <'e 31 de março de 1878.
36) Ecco Agricola.— Redactor João José da Graça Júnior. Exis-
lio desde 23 de janeiro até 17 de março de 1864. Angra.
37) Ecco Praiense. — Folha semanal e noticiosa da Villa da
Praia da Victoria. N." 1 de 28 de março de 1880. Foi. peq. a 3 col.
até ao n." 17, deste em diante a 4. Praia, Typ. Praiense. Terminou
em 1882.
ARCHiVO DOS AÇORES 525
38) O Echo Açoriano. — Redactor principal e proprielario João
José (ia Graça Jr. Hespoiísavel Joaquim Machado da Bocha. N.** 1 de 13
de março de 1863. Foi. gr. a 3 col. Angra, Ty{). do jornal A Terceira,
e depois Typ. de M. J. P. Leni. Pnblicava-se ás qiiarlas feiras. Ter-
minou em 5 de novembro do mesmo anno.
39) A Época. — Folha democrática, dedicada a advogar os inte-
resses do povo— Semanal— N.° I de 2! de junho de 1879. Do n." 13
em diante augmenton o fornjato, passando de 4 col. a ter o. Appare-
cia ao satibado. Angra, Typ. Insulana, e o ultimo supplemento na An-
grense, Terminou com o supplemento, ao n." 24, de 13 dezembro do
mesmo anno.
40) A Escova. —Folha semanal e encyculpedica {sk) — N." 1
de 30 de dezembro de 1886. Foi. peq. de 4 pag. a 3 col. Angra, Emp.
Typo Lyth. E" no mesmo g»^nero da Borboleta, e parece ser da mes
ma [leiína.
41) O Escudo.— Secnanal — O fim a que se propoz foi combater
«» Terceiren.se. N.** 1 de 3 de novembro de 1844. Foi. peq. a 2 col.
Angra, Imprensa de J. J. Soares O n.° Ho de domingo 17 de janei
ro de 1847 e seguintes até ao fim,augmentaram um poucn de forma-
ti>. havendo em cada pag. 3 col. Terminou com o n.** 212 de 20 de
junho de 1849.
42) O Espectador. (!.")— Kedactor José Augusto Cabral de
iMello. Editor responsável Joa(piim José Soares. N." 1 de 9 de junho
de 18i2. Foi. peq. a 2 col. Angni, Typ. do editor. O supplemento ao
n.*' 71 é de 18 d'outnbro de 1843; o n.*' 72, de 29 d'abril de 1845:
e o n." 73, de 3 de junho do mesmo anno. Terminou depois de varias
interrupções com o n.'' 74 de 29 dabril de 1849. tendo este n." 8 pag.
43) O Espectador (2.") Reappareceu em 2 de janeiro de 1830
com nova numeração, a 3 col. por pag. e de maior formato, sendo re-
dactor e editor os mesmos do 1.", e impresso também na mesma Typ.
Parece que tinha numeração annual, pois vimos um n " 20 de 20 de
maio de 1850, e um n." 15 de 16 dabril de 1851. Terminou em 6 de
jimho de 1851.
44) O Estimulo —Jornal litlerariu e instructivo, redigido por
uma sociedade — Tem artigos assignados por: F. da Silveira Machado,
B. J. Senna Freitas Júnior, J. I. Martins, João M. Mesípiita, P. Corte
Real, Read Cabral, A. T. de Ulra Machado, A. D. M. Pamplona Corte
Real, Pedro Jacintho Galvão. N.** 1 de 1 d'outubro de 1856. Foi. peq.
526 AHCHIVO DOS AÇOBES
de 8 pag. ii)-4.° a 2 col. Angra, Typ. de M. J. P. Leal. Publicaram-se
15 n.**', sendo os últimos 5 em 1857, sem indicação do mez. forman
da um Vol. de 120 pae. Terminou com o ii." 15 de 23 dagoslo d«
1857.
45) A Evolução (1.*)— Semanal re|)ul»licano — N.'^ 1 de sexla
feira 20 de junho de 1884. 4 pag. a 3 ó>i. Angra, Kmp. Typo-Lylh.
até ao n.* 23, depois Typ. Amor d<j Trabalho.
46) A Evolução. (2.*^)— Com este titulo sahio em 3 de dezem-
bro de 1885, quinta feira, um jornal de maior formato que o anterior,
e com nova nuuíeração. Angra, Typ. Amor do Trabalho. 4 pag, n 5
col. No alto da primeira p. tem uuia gravura com o titido e uma ima-
gem da Liberdade. Abaixo da gravura lè se : Órgão do Partido Bepu-
blicano Terceirense. (continua.
47) O Futuro. — Periódico açoriano dedicado aos uiteresses das
classes prolectarias- Redactor e editor João J. da Graça Jr. N." 1 de
15 de fevereiío de 1866. Foi. de 4 pag. a 3 col. Foi mudado para a
ilha Gracifisa aonde a|)pareceu com o n.** 12 de 4 d agosto do mesmo
anno. Typ. própria.
48) Gabinete de Estudos. — Jornal lilterario e niensal— Pur
J. T. da C. S. Bettencourt, com estampas e musica, N." 1 em janeiro
de 1877. 8 pag. cada n.". Tem os retratos do Padre Emiliano d An-
drade, do 1." (>onde da Praia da Victoria e do Padre Serrão. Angra,
Lythographia Angrense. Terminou com o n.° 5 em maio seguinte.
49) Gazeta de Noticias. — Redactor e [»r(iprietario António
Miguel da S. Moniz. N.° 1 de quarta feira 14 de janeiro d« 1885. 4
pag. a 3 col. e depois a 4. Foi semanal e actualmente é (piinzenal.
Angra, Typ. Amor do Trabalho. Continua.
50) O Heroismo (1.")— Responsável J. de S. Pereira. N." 1 de
1 de dezembro de 1863. Foi. peq. a 3 col. até ao n." 22, e d'esle em
diante augmentou de dimensões passando a ter 4 col. por pag. Angra,
Typ. do Angrense até ao n.° 22, depois na de .VI. J. P. Leal, e ('mal-
mente Typ. própria. Terminou com o n." 146 de 26 de fevereiro de
1867.
51) O Heroismo (2.°) —Folha democrática e noticio.<a — N.° 1
de 1 de janeiro de 1880. Foi. a 4 col. Angra, Typ. Angrense. Termi-
nou em 1881.
ARCHIVO DOS AÇOBKS 527
52) A Idéa Social —Jornal do Grémio Lilterario dAngra do
Heroísmo — Redaclor Joã(» C-arlos Rodrigues da Cosia. Pnhlicaram-se
2n."' de í e 12 doiitiihro de 1870. Angra, Typ. do jornal /l Terceira.
Snspendeu por dtísinlclligencia com a Typographia, cumo fez scienle o
publico em nm Aviso impresso na Typ. Terceirense.
53) A Ideia Nova—Folha Insnlana do P;irlido Liberal. Advo
gava a idéa da separaçãc» dos Açores. Redactor Angnsto Ribeiro. N."
I de 9 dagostf» de I87(). Foi. a 4 col. Angra, Typ. Insnlana, e Ter-
ceirense. Terníinoii com o n.° 107 de 24 d'onlnbro de 1878.
51) O Imparcial. — Folha semanal dedicada aos interesses do
povo -Tiragem de 3:000 exemplares. N." 1 de 5 de novembro de 1883.
Foi. pe(|. a 3 col. Angra, Empresa Typo-Lyth. até ao n.°57: deste em
diante na Typ. Amor do Trabalho. Continna.
55) O Incentivo.— Jornal do Grémio Litterario dAngra do He-
roísmo— Publicação semanal. Collaboradores: M. Pinheiro, T. Soares,
Francisco Xavier da Silva, Zeferino Brandão, J. J. Pinheiro, F. J. Mo-
niz de Beltenconrt, J. Augusto do (^outo, Ermínio Maria. J. Sampaio,
João Teixeira Soares (artigo sobre (Camões). N." \ de i5 de fevereiro
de 1871. Foi. 8 p. a 2 col. Angra, Typ. Angrense. Até ao n.'' 3 dava
uma folha noticiosa e d"annimci(»s, depois apparecia alternadamente a
folha noticiosa, em foi. grande a 4 col., de que apenas sahiram 4 fo-
lhas, com os n.*** 5, 6, 8 e II. E" original esta permiscuidade de for-
matos, e de natnnza. Terminou com o n." 14 de 27 de maio de 1871.
Forma um vol. de 80 pag.
56) A Independência. - Folha açoriana, politica e noticiosa—
Redigida pelo Rev.° [)r. José da Fonseca Abreu Castello Branco. N "
I de M de maio de 1871. Foi. a 5 col. Em 1874-75 sahiram exem-
plaivs sem minjeração, com o subtilido: Edição do Bra/.il. Angra. Typ.
própria. Terminou com o n." 2(i0 de 13 de julho de 1870. Foi nm dos
mais babeis defensores do partido progressista.
57) O Independente da Terceira. — Jornal republicano se-
paratista— Semanal polití<'o. Redactores o Dr. Fernando Rocha e o
Cónego José da Fonseca Abreu Castello Branco. N.° 1 de 15 de setem-
bro de 1870. Foi. a 4 col. Angra, Typ. Terceirense. Terminou com o
suppicmento ao n." 25 de 9 de maio de 1871.
58) O Insulano.— Jornal noticioso, histórico, agrícola e com-
mercial -Redactor Félix José da Costa. N.° 1 de 19 de janeiro de 1857.
Foi. a 3 col. Angra. Typ. de M. J. P. Leal. Terminou com o n." 95
de 4 de janeiro de 1861.
528 ARCHIVO DOS AÇORES
59) íris da Terceira. — Redixiores João Eduardo de Abreu
Tavaresi, Padre Narciso Aulunio da Fonseca (^depois Deão da Sé) e
Lucas José de Chaves. N.** 1 de 6 de junho de 1838. Foi. pe«f a 2
col. L)e poHtica carlisla, sustentou polemica com o Angrense, órgão do
partido setenihrisla. Angra, Typ. de Joaguim José Soares, que toi seu
editor e res|)onsavel pelo menos do n.** 158 por «iiante. Esta Typ. foi
a terceira que houve em Angra. Termimju com o n.** 20! de 9 da
bril de 1842. Ao íris succedeo o Annnnciador da Terceira.
60) Jornal do Grémio Litterario dAngra do Herois-
mo. — Redactor principal João Carlos Rodrigues da Costa. Collabora
dores: Ernesto Rebello, Augusto Lourein», Padre M. F. dos Santos
Peixoto, António Gil. A. A. dos Santos, F. J. Moniz de Rettencourt,
F. Maria Supico, M. H. da Silveira Espínola, Theotonio Flávio da Sil-
veira, A. R. do (]anto. Luiz A. P. de, Sande Júnior, Francisco Xavier
da Silva, Mendes de Fana, J. Sampaio, D. Marianna Belmira d' Andra-
de, Ruy da Camará. N." I em fevereiro de I8G8. 8 pag. numeradas
a 2 col. Angra, Typ. do Governo Civil, e posteriormente n» Typ. Ter-
ceirense. Terminou em fevereiro de 1869. Forma um Vol. de 192 pag.
61) Jornal dá Praia. — Folha do Partido Progressista na Villã
da Praia da Victoria N." 1 de 18 de jnnho de 1883. Foi. gr. a 4 col.
Publica-se aos sabbados. Ilha Terceira, Typ. Praiense. Continua.
62) A Lagrima.— Jornal politico, litterario, commercial e noti-
cioso. Redactor e fundador João Carlos Roi/- da Costa. N." l de do-
mingo 26 dabril de 1868. Foi. peq. a 3 col. Angra, Typ. do jornal
A Terceira até ao n.* H; e seguintes na Terceirense. Terminou com
o supplemento ao n." 3(>, de 20 de março de 1869.
63) O Liberal. (1.") — Semanário politico — Órgão do partido
reformista. Redactores Dr. Nicolão Caetano de Relfencourt Pitta, Fran-
cisco de Lemos Alvares, Francisco Lúcio Duarte Rego e Roberto José
da Silva. N." 1 de domingo 29 de março de 1835. In-fol. peq. a 2 col.
Até ao n." 49 trazia uma gravura re[)rezentMndo um Açor de azas a-
beitas dentro de um circulo. An^ra, Imprensa da Prefeitura até ao n.*"
5 e deste em diante só .^e declara serem impressos por A. J. G. da
Costa, por ordem do Prefeito. Terminou com o n.** 63 de 9 de julho
de 1836. O Liberal sustentou constante [)olemica C(jm a Sentinelta que
representava o partido con.-erv; dor, chamado devorista, e com o An-
grense.
64) O Liberal. (2.**; Semanário Terceirense~N.° I de 10 d'ou-
inbro de 1863. Foi. gr. a 4 col. Angra, Typ. de M. J. P. Leal. Ter-
minou com o n." 30 de 1 de junho de 1864.
AKCHIVO DOS AÇORES 529
65) O Lidador. — Semanário Terceirense — Proprietário M. J. V.
Leal. Responsável C. C. dos Sanlos. N." 1 de 15 de fevereiro de 18Gá.
Foi. gr. a 4 cul. Angra, Typ. do proprietário. Terminou com o n.° 82
de 2 dotílubro de 1803.
66) O Luctador. — Jornal litterario, agrícola, conimercial, poli-
tico e noticiosíj, de politica progressista — Redactor no principio An-
tónio Casimiro .Monrato. N." 1 de segunda feira 13 d 'outubro de 1884.
KoU gr. de 4 pag. a 4 col. Angra, Typ. do Correio da Terceira até ao
n.° 23; e posteriormente Typ. Angrense. Continua.
67) Luiz de Camões.— Jornal do Club l.° de dezembro — N."
1 de 1 de dezenibro de 1883. 8 pag. in 4." a i col. Angra, Typ. do
Correio da Terceira n.° 1 e 2: os seguintes na Emp. Typo Lyth. Ter-
minou Com o n.° 6 de 8 de maio de 1884.
68) Lyceo (1.°) Jornal litterario, semanal, dedicado unicamen-
te á iiístrucção publica, S(-iencias, lettras e artes. Redigido por Antó-
nio Moniz Barreto Coite Real. N.° 1 de 30 de setembro df' 1855. In-
4." gr. 8 pag. a 2 col. Angra, Typ. de M. J. P. Leal. Terminou com o
n." 20 de 26 d abril de 1856. Contém grande parte dos escriptos do
auctor compreliendendo a rcproducção das Bellezas de Coimbra.
69) O Lyceu (2. °j— Jornal dos Estudantes do Lyceo Nacional
(1'Angra do Heroísmo — Folha exclusivamente lilteraria. Redactor prin-
cipal Augusto Ribeiro. Collaboradores: António Gil, E. B. do Canto,
Pedio Félix Machado, Moniz de Bettencourt, Ernesto Rebello, Ricardo
Vellozo de Carvalho. N.° 1 de 6 de março de 1873. In 4.° a 2 col.,
com o n.° de pag. variando de 4 a 8, sem numeração. Angra, Typ. do
Governo Civil até ao n.° 4: o n.* 5 e idtimo em 24 de julho do mes-
UKj auno, na Typ. do Jornal A Terceira.
70) O Observador.— ]N.° 1 de 14 d'abrll de 1830. Foi. peq.
de 4 pag. a 2 col. Angra, Impressor A. J. G. d.i Costa. Terminou com
o n.° 12 de 31 de julho do ntesmo anuo, no qual se declara que sen-
dovedada a permissão de continuar a imprimir-se,na Imprensa do Go-
verno, qualquer jornal particular, cessa a publicação. Defendia o parti-
do cartista.
71) O 11 d' Agosto de 1829.— Jornal politio, litterario, agrí-
cola e noticioso. N."* 1 de quinta feira 26 de março de 1868 Foi. peq.
de 4 pag. a 3 col. Vllla da Praia da Vlctorla, Typ. própria até ao n."
29; os seguintes na Typ. Pralt-nse. Foi este o primeiro jornal que se
publicou na Vllla da Praia. Terminou com o n.** 165 de 15 de junho
de 1871.
N.' 48— Vol. VIÍI -1887. 8
530 AKCHIVO DOS AÇORES
72) O Operário. — Foi lia consagrada á defeza dos opprimidus
— N.° I de 21 de janeiro de 1880; i.^ e ultimo, em 26 do mesmo mez.
4 pag. a 3 col. Angra. Emp. Typ Lylli.
73) Padres e Reis.— SeQianal de i6 pag. in S." gr.— N.° í
em outubro de 1884, com numeração seguida. Angra Typ. do Correio
da Terceira. Terminou com o n.^ 8 em janeiro de 1885. Forma um
Vol. de 127 pag.
74) O Partido do Povo. — Jornal politico e. noticioso, de |(o-
litica regeneradora — Publicou um n.° único de 4 pag. a 4 col. em 28
de julho de 1878. Angra, Typ. Insulana.
75) Pobres na Terceira.— N." I de 26 de novembro de 1852.
4 pag. a 3 col. Angra, Typ. de Joaquim José Soares até ao n.** 187:
os seguintes na de António José Gonçalves Costa. Terminou com o n.**
3i2 de 19 de março de 1865. Foi sempre influenciado pelo Deão Nar-
ciso António da Fonseca.
76) O Popular. — Semanário democrático, dedicado a advogar
os interesses do povo. — Proprietário J. A. dOliveira. ]N.° 1 de 9 d"a-
bril de 1878. Foi. peq. de 4 pag. a 4 col. Angra, Ty[). do Angrense
até ao [." supplemento ao n.*^ 6 de \\ doulubro do mesmo anno; o
2.° supplemento e ultimo de 10 de junho de 1879 na Typ. Insulana.
77j O Praiense. — Folha regeneradora, consagrada aos inte-
resses do Concelho da Praia da Victoria — N.° 1 de 6 de julho de 1864.
Era quinzenal. Angra, Typ. União. Terminou em poucos mezes. Publi-
cou-se outro do mesmo nome em fins de 1880.
78) O Pregoeiro.- Jornal noticioso- Collaborador Ant mio Mo
niz Barreto Corte Real. Piiblicou-se de janeiro a dezembro de 1843.
Angra, Typ. de J. J. Soares.
79) O Prog"resso.— Folha açoriana, politica e noticiosa —Re
dactor o Cónego José da Fonseca Abreu Castello Branco. N.^ 1 de 26
de novembro de 1876. Foi. de 4 pag. a 4 col. e os últimos 3 n."* a 5
col. Até 1878 apparecia aos domingos, depois á quarta feira. Angra.
Typ. Insulana. Terminou com o sup[)lemenlo ao n.° 76. de 15 de maio
de 1878.
8Ò) O Protesto.— De opposição ao Governador Civil Conde da
Praia da Victoria — Redactor o Dr. José Augusto Nogueira Sanqiaio.
N." 1 de 10 de novembro de 1877. Foi. de 4 pag. a 4 col. Angra. Typ.
ARCHIVO DOS AÇORES 531
du Correio da Terceira. Terminou com o 2." supplemento ao n." II de
8 de fevereiro de 1878.
81) A Razão. — Publicação mensal, litteraria e n'>tici()sa. Reda-
ctor José Sampaio. Collaboradores Félix de Sotlo-Mayor, António Gil,
V. Alaria Siipico, Tlieotonio Flávio da Silveira, .Jorge Severino da Sil-
va, António Borges do Canto Moniz, Theophilo Braga e out!'os. N.** I
de 1 junho de 1871. Angra, Typ.''* Terceirense. Angrense, do Gover-
íio Civil e da Independência. Terminou com o u.° 12 de I de maio de
1872. Forma um Vol. com 98. pag. in^." gr.
82) Religrião e Pátria.— O papado e a revolução: curiosa col
lecção de escriptos e documentos históricos e diplomáticos, de U-ireito
publico e canónico, religiosos, philosophicos e moraes, oílerecida aos
catholicos porluguezes de todos os partidos. Publicaram-se 7 n.*'* a 16
pag. cada um, de julho de 1860 a janeiro de 1861. Angra, Typ. de
M. J. P. Leal.
83) A Ronda. — Folha salyrica — N." 1 de 2 de fevereiro de
1878. Foi. peq. a 3 coi., com irnia gravura emblemática no titulo. No
n.° 3 e seguintes diz-se: Folha didicada a advogar os interesses do po-
ro e a condenmar os abusos do poder. Angra, Typ. Instilana. Terminou
com o supplemento ao n." 9, de 8 de maio do mesmo atmo. De poli-
tica progressista, em violenta polemica coui a Sentinella, defensora da
ptditica regeneradora.
84) Santelmo.— .lornal politico, noticioso e satyrico, de politica
progressista — N.° I de 2i de novembro de 1860. Foi. peq. a 3 eol.
Angra, Typ. do Heroísmo. O n.° 8 e seguintes são de maior formato e
a 4 col. Com o n." 34 tornou a tomar as primitivas dimensões. O n.''
51 e seguintes, impressos na Typ. Angrense, tem outra vez menor for-
mato. Terminou com o supplemento de 25 de setembro de 1869 ao
n.° 88; mas passados 8 ânuos, em 12 de novembro de 1877, ressus-
citou com um supplemento ao n." 80 (aliaz 88), que partce ser unica-
mente arma eleitoral. Foi irregular não só nos formatos mas na pu-
blicação que raras vezes foi em dias certos. Contem alem d*isso mui-
tos supplementos de todos os formatos.
85) Sentinella.— Chn «nica dos Açores — Redactor Augusto Ri-
beiro. De violenta opposição ao 2." Conde da Praia da Victoria. N." I
de 1 de janeiro de 1878. Ft)l. peq. a 3 col. Angra, Typ. do Correio
da Terceira. Terminou com o 3.° supplemento ao n." 1, em 8 de fe-
vereiro seguinte.
86) Sentinella Constitucional nos Açores.— Semanal po-
832 ARCHIVO DOS AÇORES
lítico — Redactores principaes o Capiião d'Engenheir()s José Raphael da
Costa (que foi traiçoeiramente assassinado por cansa dos sens escri-
ptos) e o Dr. António do Rego Faria Baibosa. Apparecia ás segundas
feiras. N." 1 de 16 de março de 183o. Cada n." com 6 pag. in-4.^
O segundo n.° e seguintes tem a mais do que o primeiro, a meio do
titulo, um quadro com a palavra Alerta, que no n.** 13 foi subslituido
por outro em que grosseiramente se gravuu imia sentineila junto de
sua guarita. Depois no n.° áo mudou para o formato de folha inteira
com 4 pag. a 2 col sem gravura. Terminou com o n.° 5í2 de 14 d'a-
bril de 1836. Angra, Imprensa da Prefeitura até ao n." 7. \)o n." 8
em diante foi impresso por A. J. G. Costa. Foi o primeiro jornal de po-
litica conservadora na Terceira.
87) A Terceira.— Jornal jwlilico, agrícola, commercial e noti-
cioso— Órgão do partido regenerador. Redigido [>elo Visconde Sienve
de Menezes (hoje Conde do" mesmo titulo). N.** \ de 4 de janeiro de
4859. Foi. gr. de 4 pag. a 4 col. Angra, Typ. própria. Continua.
8S) O Terceirense. — Semanário lilierario e politico. Redacto-
res e'collaboradores: A. Telles P. G. Palhinha, M. C. Homem. Rodri-
go Zagallo Nogueira, Dr. António Moniz Barreto Corte Real, e José Au-
gusto Cabral de Mello, que assignavam os respectivos artigos. N.** 1
de 14 de fevereiro de 1844. Foi. peq. a 3 col. Sahia á quarta feira.
Angra, Officina Terceirense. Terminou em 17 de dezembro de 1845.
89) A Trombeta Açoriana. — Jornal ecciesiastico, politico e
noticioso. N.'* 1 de 28 de novembro de 1860. Foi. peq. de 4 pag. a 3
col. Angra. Typ. do Angrense. Terminou rotn o n.° 89 de 19 de ju-
nho de 1869. Fez opposição a D. Fr. Estevam de Jesus Maria. O ap-
parecimento d'este jornal provocou a publicação do Clarim Terceiren-
se.
90) Utilidade Publica.— Ai)pareceu um único n.° em 9 de
fevereiro de I8.j0, com meia foll);i de annuticius. Angra, Typ. de M.
J. P. Leal.
91) A Voz do Artista.— Órgão da classe operaria— Semanal
de 4 pag. a 3 cl. N.» 1 de 21 de junho de 1885. Angra, os [."' 5
n."' na Imp. da Junta Geral: es restantos na Typ. Amor do Trabalho.
Terminou com n n.° 9 de 14 de setembro do mesmo anuo.
92) A Voz do Professorado.— Jornal inslructivo e noticioso.
Quinzenal. Redactor António Miguel da S. Moniz. fN.° 1 de quarta fei-
ra 15 de agosto de 1883. 4 pag. a 3 col. Angra, Typ. do Correio da
Terceira. Terminou com o n.° 26 de 42 de setembro de 1884.
ARCHIVO DOS AÇORES 533
1) O Futuro. —Jornal politico — Começou efn 4 d'agosto de 1866
com o n." 12, por se terem publicado os primeiros n.°^ em Angra, e
erminou com o n.° i7 em setembro seguinte, quando o proprietário
João José da Graça Jr., mudou de residência para o Fayal. Foi o pri-
meiro jornal que se publicou na Graciosa.
TriH.A. IDE S- J"OI^C3-E
1) Ecoo Jorgense. — Órgão do partido regenerador— Começou
em 1884 e continua em 1886.
2) Gazeta Judicial.— Da Comarca de S. Jorge — Semanal no-
ticioso e d'anniincios — N.° 1 de domingo 22 d'agnsto de 1886. Foi.
peq. de 4 pag. a 3 col. Villa das Velas, Typ. própria. Parece que ter
minou com o n." 3 de 5 de setembro seguinte.
3' O Jorgense. í!.")— Quinzenal politico, litterario e noticioso
— Director A. S. B. Silveira. Responsável José Urbano d'Andrade. Tem
muitos artigos assignados pelo Dr. João Teixeira Soares. N." 1 de 15
de fevereiro de 1871. 4 pag. a 3 col. Villa das Velas, Typ. própria.
Terminou com o n." i95 de 15 de novem.bro de 1879. Foi este o pri-
meiro jornal publicado em S. Jorge.
4) O Jorgense. (2.") — Semanal, politico e noticioso— Redactor
Manoel d'Andrade. N." 1 em abril de 1880. Villa das Velas, Typ. pró-
pria. Terminou em 1882 com o n.° 97 e seu supplemento; faltando-
Ihe o n." 94, porque passou de 93 a 95,
5) O Jorgense. (3.°)— J(»rnal politico, agrícola, commercial e
noticioso — Órgão do partido progressista em opposiçãf) ao Ecco Jorgen-
se, de politica regeneradora. N." 1 de domingo 24 d'outubro de 1886.
Foi. de 4 pag. a 4 col. Villn das Velas, Typ. própria. Continua.
6) Pomo ProMbido.— Villa das Velas— 1886.
534 ARCHIVO DOS AÇORES
7) o Velense.— Quinzenal politico, agricola, commercial e no-
ticioso.— N." I de 8 de dezembro de 1879. 4 pag. a 4 col. Villa das
Velas, Typ. própria.
8) A Verdade.- Semanal independente, dedicadu a todos os in-
teresses >ociaes. N." \ de domingo 30 d'.abril de 1882. Foi, peq. de 4
pag. a 3 col. Villa das Velas, Typ. própria, rua do Cães n.° 6. Cou)
I) u.° o passou a ser quinzenal e a ler um turmato duplo do primeiro,
que retomou do n.* 15 em diante, tornando a ser semanal.
DISTRICTO DA HORTA
IX.XI-A. IDO F-A-^S^-A^IL.
1) O Açoriano. —Semanal — Redactor Manoel Garcia Monteiro.
iN.° I de 9 de setembro de 1883. Horta Typ. Gutlemberg. Continua
em 1886, defendendo a politica progressista.
2) O Açoriano Occidental.- Semanal— N.° I de 2 de maio
de 1877. Horta, Typ. Fayalense. Terminou com o n.'' 12 de 11 de
julho do mesmo anuo.
3) O Amigo do Povo. Semanal -Kedactor Ernesto Rebello,
Editor J. B. Badella. N.° 1 de 1 de janeiro de 1870. Foi. de 4 pag.
a 3 col. Apparecia aos sabbados. Horta, Typ, do editor desde n.° I
até IS: na de João de Bettencourt os n.°* 19 e 20: os seguintes em
Typ. própria, sendo o responsável A. L. Sequeira Bettencourt. Termi-
nou com o n." 30 de 30 de julho do mesmo anno,
4) O ArcMvo. — Semanal religioso, redigido por alguns sacer-
dotes, N.** 1 de I de dezembro de 1875, e termmf)u no anno seguin-
te. Horta, Typ, própria (de Francisco Pereira de Mello),
5) O Atlântico. —Semanário politico e lillerario -Os primeiros
22 n."* foram redigidos por João José da Graça Júnior e depois pelo
Dr. Manoel Francisco de Medeiros. Foi responsável no primeiro aimo
J. H. Lopes Ameno e depois responsável e director António Theodoro
da Silva. Tem sido ct)llat)or;<dores: Ernesto de l>acerda Lavallière Re-
bello, António de Lacerda Bulcão, António de Sousa Hilário. Florêncio
Terra, Manoel Zerbone, Manoel Garcia Monteiro. E' propriedade do Dr.
AHCHIVO DOS AÇORES 53^)
Manoel Francisco de Medeiros. Parece que saliiu o n.'' 1 em 'áíí de ja-
neiro de i8í)2. O n,° 4, que temos presente é de O de marro de IHOá.
Sahia á quinta feira. Horta, Typ. [iropria. Em 187á advogou a sepa
ração dos Açores.
6) Balão. —Jornal semanal, critico, burlesco, dedicado aos mys-
terios da sciencia para regeneração dos ignorantes e melediços — l*u-
blicou-se aos domingos, N.** 1 de 10 de vomembro de 1878. Teve pou-
ca duração. Horta, Typ. Fayalense. Fez opposição á União, e foi sub-
stituído [)ela Sentinella.
7) O BibliopMlo. — Semanal lilterario e noticioso — Redigido
pelos estudantes do Lyceo. N.° I de 31 de maio de 1885. Foi. peq.
de 4 pag. a 3 col. Horta, Typ. Fayalense (de Francisco Pereira de Mel-
lo). Terminou com o n." 2!í em dezembro do mesmo anno.
8) O Birimbau. — Semanal - N.'' 1 de 11 de jimlio de 1883.
Horta. Typ. de Victor Amadeu de Lemos e Silveira. Terminou em
1884.
9) O Biscuit. — Semanal — Redactores Florêncio José Terra, e
Zerbone Júnior. IN.° 1 de 5 de julho, 3.° e ultimo de 26 de julho; sem
indicação do anno, mas vè-se que é de 1878. Horta, Typ. do Allanti-
co.
10) O Civilisador. -Quinzenal lilterario -Dirigido por Ernesto
Hebello e Domingos Mendes de Faria. Publicação da Empresa Editora,
Bibliotheca Hortense. Horta, Typ. da mesma Bibliotheca. N.° 1 de 15
de dezembro de 1878: 8 pag. a 2 col. Susjiendeo a publicação c(tm o
n." 8 em abril de 1879.
11) O Commercio.— Semanal — Redactor principal J. F. de Es-
Gobar. N." 1 de 12 de dezembro de 1878. Horta, Typ. do Fayahmsc.
Terminou com o n.° 5 de 10 de janeiro de 1879.
12) Correio da Horta. — Semanal — Redactor e proprietário
João José da Graça Júnior, (^ollaborador António de Lacerda Bulcão.
N.'* 1 de 7 d outubro de 1869. Foi. peq. de 4 pag. a 3 col. Horta, Typ.
de Jacinlho Augusto de Bettencomt. Terminou em junho de 1870. Es
te jornal substituio a Palavra.
13) Democrata. —Jornal republicano— N.° 1 de 4 de janeiro de
1885, e terminou em 1886. Horta, Typ. de Victor Amadeu de Lemos
e Silveira.
536 ARGHIVO DOS AÇORES
14) O Direito Popular.- Semanal — Orgão da verdade, para
advogar os interesses do povo, e para manter seus direitos contra as
prepotências de qualquer origem. Propiielario, redactor e editor res-
ponsável António de Sousa Hilário. N." 4 de segunda feira 14 dabril
de i879. Fui. a 3 col. Horta, Typ. do Atlântico; em i880 na Typ. de
F. Fereiía de Mello, e posterioiínente de^de o n.° 97, na Typ. da Re-
generação, em que terminou com o n." 107, como declara no supple-
mento a este n.", com data de I de junho de 1881, por lhe faltar Typ.
própria.
15) O Districto da Horta. — Semanal de politica regenerado-
ra— Editor responsável João Pereira Sarmento. N." 1 de 8 d abril de
1871. Foi. dn 4 pag. a 3 col. A numeração foi annual nos primeiros 3
annos. Horta, Typ. própria. Conliniiou pelo menos até ao n.° 5 do V
anuo, quarta feira 2Í de julho de 1874.
16) O Ecoo Liberal. — Jornal do partido regenerador Fayalen-
se — Redactor e proprietário Climaco dos Reis. N.** 1 de 27 de feverei-
ro de 1878, segundo e ultimo, de 1 de maio >eguinle. Horta, Typ. de
Francisco Pereira de Mello.
17) O Ecoo Litterario.— Semanal litterario — N.° 1 de 15 de
abril de 1877. Horta, Typ. de Francisco Pereira de Mello. Terminou
com o n.° C de 21 de julho do mesmo anuo.
18) A Escola. — Semanal dedicado á instrucção primaria. ^.° 1
de sexta feira 27 doutubro de 1882. Folio peq. de 4 pag. a 2 col.
Horta, Typ. da Regeneração, rua de D. Pedro IV n.° 9. Os n"* 3 e 4
appareceramaos domingos. Terminou em 1882.
19) O Fayalense.— Semanário da Horta — Redactores o Dr. .Mi-
guel Street dArriaga e Dr. José Alfonso Botelho d" Vu!r:írle,esle sò no
principio. N.* 1 de 1 dabiil de 1857. lii 4.° gr. a 2 col. e 8 pag., com
paginação destinada a formar vol. Horta, Typ. de João José da Graça
Júnior. Era litterario; e ao depois tornou-se politico, e seu formato au-
gmentou, passando a ter só 4 pag. a 4 col. e a imprimir-se na Typ.
Horten.Ne. Desde 1880 é seu editor e proprietário Luiz da Terra. ( on-
tinua.
20) O Furta Fogo. — Semanal — Sahio à luz a 2 de novembro
de 1883, e não ultrapassou este mesmo anno. Horta, Typ. de Victor
Amadeu de Lemos e Silveira.
21) Gazeta Judicial. — Folha popular — Redactor principal e
proprietário (Domingos) Mendes de Faria. N." 1 de 5 d'agosto de 1877.
ARCHIVO DOS AÇORES 537
Semanal. 4 pag. a 3 col. Horta, Typ. <Io Faijalense, em 1878 Typ. de
Francisco Pereira de Mello e ( iii 1870 Tv[). do Atlântico. Continua.
22) O Grémio Litterario.— Publicação quinzenal do Grémio
Litlerario Fayalense. Collaboradores: Ernesto Rebello, A. L. da Silvei-
ra Macedo, Garcia Monteiro, Costa Rebello, Manoel Zerbone Júnior,
Joaquim Dias, Florêncio José Terra, Krneslo Amaral, Maximiliano
d'Azevedo, Augusto Bulcão, António Gil, Matlieus Augu.sto, Júlio da
Silva, Augusto Massano, C. da Costa, L. V. Pimentel, Eça Leal, Men-
des de Faria, António Borges do Canto Moniz, M<jysés Ben Saúde, J.
(Carlos Rodrigues da Costa, Alfredo dAvellar, J. Hermeto Coelho d"A-
marante, L. Ávila, Manoel Aprigio Carvalho Severino dAvellar, Ber-
nardino Passos, António Silveira Bulcão, Cândido M. de Sousa, Henri-
que das Neves, Miguel Street d Arriaga, Guerra Júnior, Luiz (bandido,
Manoel dArriaga. e Guerra Junqueiro. N.** \ de 15 de maio de 1880.
Horta, Typ. Minerva Insulana do n." 1 até C: na do Atlântico do n." 7
a 26: na de Francisco Pereira de Mello do n," 27 a 57: na Fayalense
do n." 58 a 65: e seguintes até ao n." 100 e ultimo de I de novem-
bro de 1884 na Imp. Gullemberg. Forma um vol. com 845 pag.
23) A Horta. -Semanário lilterario e noticioso— Redigido na
maior parte pelo Dr. José Joaquim d'Azevedo. N.° 1 de 25 de maio
de 1862. Horta, Typ. Hortense. Terminou em 1863.
24) O Imparcial.— Semanal— N.° 1 de 9 dagoslo de 1876.
Horta, Typ. da Verdade. Terminou com o n.** 4 de 9 de setembro do
mesmo anuo.
25) O Incentivo. --Semanário litlerario e noticioso -Redactor
e proprietário João José da Graça Júnior. N.^ 1 de 1 de janeiro de
1857. H(jrta, Typ. própria. Terminou em abril de 1858. Foi o pri-
meiro jornal publicado na ilha do Fayal.
26) Jornal do Povo. — Semanal noticioso e politico— Redactor
José de Serpa Miranda. N.° 1 de 26 de dezembro de 1875. Horta,
Typ. de Francisco Pereira de Mello. Termintju em 1876.
27) A Lucta.— Semanário politico e noticioso, de politica pro-
gressista -N." i de 29 d Outubro de 1881. Foi. peq. de 4 pag. a 4
col. Horta, Typ. própria (de Alexandre Climaco dos Reis). Continuou
pelo menos até 25 de setembro de I88'í.
28) A Luz.— Semanal politico e lilterario— Redactores: Carlos
Augusto de Bettencourt, António de Lacerda Bidcão, Francisco P. de
Lacerda, e Costa Rebello. N." l de 4 de janeiro de 1871. Foi. de 4
N.° 48— Yol. Vlll — 1887. 9
538 ÂRCHIVO DOS AÇORES
pag. a 3 col. Horta, Typ. própria. Parece que terminou com o n.° 47
do 4.° anuo em 29 d'abril de 1874. A numeração era animal. Foi
substitnido pelo Pensamento.
29) O Lyceu da Horta. —Qinzt^nal litterario-N.° 1 de l de
janeiro de 187o. ln-4.'' de 8 pag. a 2 col. Horta, Typ. da Calçada da
Paiva até ao n." 6: os outros 6 na Typ. de Francisco Pereira de Mel-
lo. Terminou mm o n.° 12 de 29 dabril de 1876.
30) O Observador. — Jornal politico, iiistructivu e noticioso —
N.° 1 de quinta feira 22 de janeiro de 1874. Foi. de 4 pag. a 3 col.
Saliia ás quintas feiras. Pretendia exercer luna missão de concili.ição
entre os partidos que se dilaceravam no campo desastrado das intrigas
e dos odiíts pessoaes. Horta, Typ. Fayalense. Parece que terminou com
0 u." 5 de sabbadd 21 de fevereiro seguinte.
31) O Orphão.— Semanal — Red^iclor João Pereira de Escobar.
N." 1 de 4 de setembro de 1875 e terminou no mesmo anno. Horta,
Typ. Fayalense.
32) A Palavra.— Semanal politico e litterario— Redactor J tãi»
José da Graça Júnior. Collaborador António de Lacerda Bulcão. N." \
de 19 de janeiro de 1868. Foi. peij. de 4 pag. a 3 col. Horta Typ.
própria ;de Nunes da Silva). Terniinou em setembro de 1869.
33) O Passatempo. — Semanal salyrico. builesco. critico e no-
ticioso— Redactor M. d. \I. (Manoel Garcia Monteiro). N." 1 e único de
27 dabril de 1874. Foi. peq. a 3 col. Horta, Typ. Fayalense.
34) A Pátria. — Semanal — Redactores Florêncio José Terra, e
Telles de HarcelIu.N. N.° 1 de 13 de fevereiro de 1876 e terminou no
mesmo anno. Horla, Typ. de J. Betteíicourt.
35) Pensamento. — Jornal noticioso e litterario — N." 1 de 12
de dezembro de 1874, e terminou em 1876. Horta, Hyp. de Francis-
co Pereira de Mello. Substituio a Luz.
36) O Pharol. - Revista Escolástica. Civil e Politica. — Semanal.
N.** 1 de 6 de joieiro de 1869. 4 [)ag. a 3 col. Horla. Hyp. pr(»pria.
Terminou com n ti." 26 de 31 de julho do mesmn anuo. Redactor e pro-
prietário da Typ. de Carlos de Bettencoiirl.
37) Porto Franco.- Redactor João J isé d.i Graça Júnior. N."
1 de 1 de janeiro de 1877. Foi. a 3 col. Horta, Ty[i. própria. Termi-
nou com o n.° 8 de 8 de março do mesmo anno.
ARCHIVO DOS AÇOHES S39
38) o Pyrilampo. -N.° I de 9 de janeiro de I87íá, e lermi-
noii no mesmo nnno. Esln piilVicação não tinha praso certo de i\[)\);í-
recer. Horta Typ. do Districio da Horta.
39j Quadros Fantásticos de Brocha Grossa.— iN.° I de
I") de junho de 1858, e lerniiiioii no mesnií» anno. Kstc jornal não ti-
nha dia certo de apparecer. Horta. Typ. da riia da Miseíicordia, n.° \\.
40) O Raio. —Semanal politito,ciitico e noticioso- Editor e pro-
~|irielario Francisco S. Garcia Júnior. N.'' I de domingo 3 de dezem-
bro de 1882. Foi. peq. a 2 col. Horta, Typ. da Kua de U. Pedro 4.°
do n." I a 2; na da Alameda da Gloria do n.° 3 a 9. No n." 5 appare-
ce como Director A. Lima. Comprado pelo partido regenerador, inter-
rompeo por algum tempo a publicação, continuando depois em 5 d"a-
bril de 1883, com o n." 10, impresso na Typ. da Regeneração. Termi-
nou ifeste mesmo anno de 1883.
41) O Recreio. —Semanal recreativo e noticioso Redactor An-
tónio de Lacerda Bulcão. N.° I de 9 de julho de 1882. Foi. peq a 2
col. Horta, Typ. da Regeneração, rua de D. Pedro 4.°, do n." 1 a 26:
os seguintes na Typ. da Lucta. Terminou em 1883. Continuou pelo
menos até ao n.° 48 de 3 de junho de 1883.
42) A Regeneração. — Órgão do Partido Regenerador.— Sema-
nal. Foi. de 4 pag. a 3 col. Redactores João .José da Graça Júnior e
Luiz Telles de Barcellos. Substitnio a Scntinella, (adiante n.° 46) con-
tinuando a numeração d"esta, appareceo pela primeira vez em 11 de
janeiro de 1880, com o n.° 26. Horta, Typ. própria. Continuou pelo
menos até 30 de dezembro de 1884.
43) Revista Açorica. — Pamphleto mensal — Dedicado á in-
strucção popular dos Açores e a dividgar a importância deste archi-
pelago. Folhetos de 48 pag. in-8.° a 2 col., má impressão, sobre his-
toria, sciencias, litteralura e noticias. N." 1 de 1 de junho de 1873.
Parece que não sahiram mais do que 4 n.°\ Horta, Typ. Fayalense.
44) O Rouxinol. — Semanário litterario e noticioso— N.° 1 de
27 d'agosto de 1862. Horta, Typ. Hortense. Terminou em 1863.
45) A Semana. -Publica-se aos domingos. Redactores João Pe-
reira Forjaz e José Filippe da Graça. N.° 1 de 17 d Outubro de 1886.
4 pag. a 4 col. Horta, Typ. de Victor de Lemos Silveira. Continua.
46) Sentinella— Órgão do Partido regenerador— N." 1 de 1 de
julho de 1879. Foi. a 3 col. Horta, Typ. própria. Terminou com o n."
2o, para continuar com o titulo a Regeneração, vid. n." i2 atraz.
540 ARCHIVO DOS AÇOHES
47) O Tio Braz. — Semana! democrático, critico e noticioso —
N.° \ de 14 de dezembro de 1871. Foi. peq. de 3 col. App.irecia aos
domingos. H«jrta, Typ. própria, de João Francisco Escobar, até ao n."
78: os seguintes na Typ. Fayalense. Unplicoii o formato no 2.° anno,
para retomar o fíjrmato primitivo no n.° 90. Terminou em dezembro
de 1873.
48) A Torcida. — Periódico burlesco, não polilico — Redact(»r
João José da Graça Júnior— N." i de riuinta feira 2 de setembro de
1858. Foi. peq. a á col. Horta, Typ. (lo Redactor. Terminou com o n."
8 de sabbado 23 d'outubro do mesmo anno.
49) O Tribuno. — Folha quinzenal dedicada a defender energi-
camente os direitos e interesses das classes desprotegidas, especial-
mente das que são opprimidas pelo despotismo. Esta folha é a mais
barata de tftdas. Redactores o Dr. António Emilio Severino d Avellar,
Thomaz de Bettencourt e João José da Graça Júnior. N.° 1 de quinta
feira 15 de junho de 1871. Foi. peq. a 3 col. No n.*» 5 apparece co-
mo responsável J. A. Bettencíurt. No 2." anno é responsável J. F.
d'Athayde. O n." 6 e seguintes são maiores que os anteriores. Horta,
Typ. propiia de Laureanno Pereira da Silva Corrêa. Terminou com o
n.° 12 do 2.* anno em 15 de dezembro de 1872. Pnltlicou ao todo 30
numero.s.
50) O Typographo.— Semanal- N." I de 15 de junho de 1858,
e terminou no mesmo anno. Horta, Typ. Hortense.
51) A União. — Folha semanal dedicada a t(jdos os interesses
sociaes— Órgão do [)artido progressista. Editor responsável J. de Mel-
lo e Simas. N." 1 de 6 de junho de 1878. Foi. de 4 pag. a 3 col. Hor-
ta, Typ. do Mello (de Francisco Pereira de Mello). A nunieraçâo era an-
nual. (.onlinua em 1886.
52) A Verdade.-- Semanário politico e noticioso -Redactor João
José da Graça Júnior. N." 1 de I d'outubro de 1874. Foi. a 3 col. Sa-
bia aos domingos. Horta. Typ. da Voz do Povo, e dtpois proj)iia. Ter-
minoii em 1876.
53) Voz do Povo. — Semanário democrativo — Redactor Manoel
Joaquim Uias. N.° I de 23 de fevereiío de 1873. Foi. [)e(j. a 3 col.
Sabia aos domingos. Horta, Typ própria. Terminou em 10 de dezem-
bro de 1875.
54) O Zé Careca. .íornal safyrico e burlesco -Semanal- Re-
dactor Mendes de Faria. iN." 1 de 25 de selembro de 1872. Horta,
Typ. própria. Parece que terminou com o 2." n.".
ARCHiVO DOS AÇORES 5i 1
ILH-A. IDO FXGO
1) Boletim Judicial.— Folha quinzenal litteraria e noticiosa —
Editor responsável Manoel José Dias Júnior. Redactores no começo o
seu proprietário Manoel Mai ia de Mello e o Dr. Arsénio Leonel de Me-
deiros, guarda mór de saúde. Do n.° 120 em diante furam redactores
Manoel Emilio Tliomaz da Silveira, e Domingos Machado Soares. Colla-
borador Manoel Henri(|ues Dias. N.° 1 de IG de novembro de 1879.
Foi. [)e(|. de 4 pag. a 3 col. Augmenlou o formato no n.*^2G e seguin-
tes a 4 col.. para mais t.irde tornar ao primitivo formato. S. Koque,
Typ. Picoense. Terminou com o n.° 148 de 5 de maio de 1885.
2) O Ecco Picoense. — Semanal politico, inslructivo e noticio-
so— Proprietário e redactor João Francisco Escobar. N.'' I de domin-
go 20 d'outubro de 1878. S. Roque, Cães do Pico, Typ. própria. Deu
48 n."* no I.*' anno, e 24 no 2.". sendo este o ultimo de 28 de março
de 1880. Numeração annual. Foi o 1." Jornal publicado em S. Roque,
Cães do Pico.
3) O Independente. — Semanário popular — Redactor principal
e proprietário Manoel Henrique Dias. N." 1 de domingo 28 de feve-
reiro de 1886. 4 pag. a 4 col. Villa de S. Roque, Tyf). Popular (de João
Francisco Escobar). Continua.
4) O Picaroto. — Quinzenal, inslructivo e noticioso— N.** 1 de
domingf» I de janeiro de 1882. Foi. peq. a 3 col. Villa de S. R(»que,
Typ. do Bolífim Judicial. Do n.'' 13 em diante dobrou o formato com
5 col., passando a ser semanal e a imprimir se na Typ. Picoense de
Manoel Dias de Lima, rua do Cães, cujo nome só por acaso eslá de-
clarado em alguns n.*" salteados. Continuou pelo menos até 15 de fe-
vereiro de 1883.
5) O Pico. — Semanal— Redactores Manoel Emilio Tliomaz da Sil
veira e Domingos Machado Soares. N." 1 de 17 de maio de 1885. VII
la de S. Roque, Typ. de João FranciscoEscobar. (Continua.
6) O Picoense — Semanal — Redactor Urbano Pereira da Silva.
N." 1 de 20 de dezembro de 1874. Saliia aos domingos Villa da Ma-
gdalena. Typ. própria. Pare«^e que terminou em 27 de maio de 1877.
Foi este o primeiro jornal publicado na ilha do Pico, e na Villa da .Ma-
gdalena.
A priímira imprensa esfabclmâa na ilha do Pico . fni ?)a Villa das
Lagens, em setembro de 1874, pertencente an professor Manoel Thnnuiz
Pereira, que antes fora typographo no Fayal.
542 ARGHIVO DOS AÇOKES
N'esla lypographia não se imprimio jornal algum senão depois de
passar a ser propriedade de Manoel Maria de Mello, do Cães do Pico,
concelho de S. Roque, em fins de 1879; começando então a publicação
do «Boletim Judicial».
A segunda imprensa foi estabelecida na Villa da Magdalena em no-
vembro de 1874, por João Francisco d^Escobar, gue para alli mudou
sua residência da Horta, aonde publicara alguns jornaes. Foi desta li^-
pographia que sahio o primeiro jornal da ilha do Pico «O Picoense» .
ILH-A. ID.A.S FXuO-R:E1&
1) O Amig-o do Povo. — Publica-se nos dias 5, 15 e 2o de cada
mez.RedactDr Constantino Cândido Leal Soares. N° I de 15 d'agosto
de I88(). Villa de Santa Cruz, Typ. Imparcial Florentina. Continna.
2) Florentino. — Semanal— Redactor Constantino Cândido Leal
Soares, cuja redacção deixou para fundar o Amigo do Povo. N." \ de
20 de julho de 1885. Em agosto de 1886, começou a saliir nos dias,
10, 20 e 30 de cada mez. Villa de Santa Cruz, Typ. Imparcial Flo-
rentina. Foi este o 1." jíjrnal publicado na Ilha das Flores. Continua.
A arte typographica foi introduzida Tia ilha das Fiares em J88õ,
pelo typographo fayalense Jacintho Augusto de Bettei court, que na Vil-
la de Santa Cruz estabeleceo a sua officina typographica, com o titulo
de: «Imparcial Florentina».
AHCHIVO DOS AÇORES 543
ADDITAMENTOS E CORRECÇÕES
xxu:bj:j^ ode s. isdiía-xjEnL
26) A Caridade.
Suspendeo com o n.*' 62 de 22 de novembro de i88i, reappare-
cendo o u." 03 do \.° anno na quinta feira 18 de dezembro, (qne er-
radamente diz novembro ). Continuou depois com nova numeração
em 8 de janeiro seguinte, para terminar no sabbado 31 do mesmo
mez, com o n." 4 do 2.° anno Deve se observar que no primeiro an
no d este jornal contou 63 semanas!
32) O Clamor Artístico
Terminou com o supplemento ao n." 68, de 21 de fevereiro de
1869.
39) O Correio Michaelense (2.").
Começou a apparecer em \S de julho de 1878.
40) Correspondência dos Açores.
Ternunou em 28 de maio de 1867.
47) A Democracia
Terminou com o snpplemento ao n." 22, em 8 d'agosto de 186Í).
46) Demócrito.
Lèa se: O Deviorrífo. Substituio o Semanário Burlesco.
55; Ecoo Civilisador (l.").
Pelo menos publicoii-se até ao n." 21 de 15 de janeiro de 1871.
58) Ecco da Liberdade.
Redactores e pro|)rielarios até ao supplemento ao n." 1 1 Alexan-
dre t^limaco dos Reis A Irmão, d'ahi em deante só o primeiro. Im-
primio-se na Typ. Amigo do Povo até ao supplemento ao n." 1 1.
60) Ecco Social.
Lèa-se: O Ecco Social.
64) A Esperança
Responsável José Teixeira Curdeiro.
o Vi AHCHIVO DOS AÇORES
66) A Estrella Oriental.
Pruprietario e resimiisavel João Jaciulho Botelho e não José Joa-
quim.
77) Gazeta da Relação.
Começou em 21 d abril de 1868 {enão em 1867). Do ii." 52 em
diante é que mudou os dias da publicação.
81) A Idea Popular.
Léa-se: A Ideia Popular.
82 A Ilha.
Parece ler terminado era 23 de março de 1868 com o suppie-
menlo ao n.° 808.
83) Jornal d'Annuncios.
N.° 1 de a de julho de 1876 a 3 col. (Os n."' \ e 2 tem a data
errada de junho de 1873).
89) Lusbel.
Na 2.^ linha aonde se diz: inexploracel, léa-se: inexhoravel.
9i) O Michaelense (2.°).
Terminou em 8 de n )vembro de 188i com o supplemenlo a» n."
24.
98) O Monitor (2.°).
N." 1 de Io d'agosto de 1867; terminou em 2o de janeiro de
1868.
105) Opinião Publica (1.*).
Léa-se: A Opinião Publica {{.*).
109) Patriota (1.°).
Vè-se pelo seu prospecto, que o I ." n.*' devia sahir no dia 30 de
dezembro de 1835 e continuaria a publicar-se ás quartas feiras. Edi
lor José Maria da Silva, substituindo o Comlitucional Michaelmse, que
terminou com a sabida do Dr. José Joaquim de Moura Coutinho, Juiz
da Relação (Jos Açores. A Imprensa era a mesma do Cotislilucional
Michaelense, na Rua dos Mercadoies n.° 16.
114) O Pist !
Léa-se: Pisl t
ARCinVO DOS AÇORES S45
117) o Progresso.
Léa-se: Progresso.
120) Republica.
Lêa-se: A Republica. 4 pag. a 3 col.
123) Revista Açoriana.
Lèa-se: A Revista Açoriana.
133) A Tribuna Ohristã.
Lêa-se: Tribuna Christã.
138) A Ventosa Sarjada.
Editor actualmente José Augusto da Costa Rezende.
141) Villafranquense.
Lèa se: O Villafranquense.
143) A Voz da Liberdade {{.'').
Lèa-se: Voz da Liberdade {i."^).
147) A Voz da Verdade.
N.*' \ de 28 dagosto de 1867.
11) O Artista.
O ultimo numero foi o 8.° de 10 de maio de 1885.
13) Aurora Angrense.
Suspendeo com effeito a publicação com o 2." supplemento ao n.''
10. Redactor Coelho Mendes.
21) A Borboleta.
Só acabou em 19 de junho de 1886 com o supplemento ao n.*'
99. Não tinha politica mas fez constante opposição ao Bispo D.
João Maria e seus familiares.
N." 48- Vol. VIII - 1887. 10
^6 ARGHIVO DOS AÇORES
45) A Evolução (!.').
Suspendeo com o n.° 24 de ti de dezembro de 1884 por desin-
teligencia entie os seus redactores, um dos qnaes fundou a 2.^*
Erohição, n.° 40.
49j Gazeta de Noticias.
Esteve suspensa desde 21 dabril até 1 de julho de 1885. Defen-
de as ideas republicanas, tendo por divisa: Hors le bonél rouge
point de solufl
IIjtlA. IDE S_ JOI^OE
li Ecoo Jorg-ense.
Lèa-se: O Ecco Jorgense.
II^H-A. IDO FJ^^^J^IL,
7) O Bibliophilo.
Os n.°* I e 2 sahiram a 2 col. Existio pelo menos até ao n." W
de 17 de janeiro de 1880.
8) O Birimban.
Lèa-se: Biiimhau. Existio pelo menos até ao n." 27 de í2 dt' ju-
lho de 1884.
13) Democrata.
Lèa-se: O Democrata. Semanário politico e noticioso.
16) O Ecco Liberal.
Lèa-se: Ecco Liberal. 4 pag. a W col.
I7j O Ecco Litterario.
Lèa-se: O Echo Litterario. 8 pag. a 2 col.
21 1 Gazeta Judicial.
Lèa-se: A Gazeta Judicial.
ARGHIVO DOS AÇOHES
547
ÍNDICE CHRONOLOGICO
I83U
Abril
I8:íi
«
183^2
Maio
1833
Janeiro
I83i
((
1835
Março
((
«
«
Abril
»
Setembro
1830
Janeiro
((
Abril
«
Seleiíibro
((
Outubro
1838
Junho
«
«
183Í)
KevíMeiro
184á
Abril
«
Junho
18i3
Janeiro
«
Outubro
18ii
Janeiro
«
Kevereirti
(i
Novembro
1845
hVvereiro
18i6
Agoslo
((
St4en;bro
[H'ú
M.iio
1849
Fevereiro
«
Marco
rt
Aliril
((
Jnlho
1850
J.ineiro
1851
((
«
M
185i
«
Março
«
Movtínibro
1853
.lauciío
«
Fevei'eiro
Ilhas N."
Chronica da Terceira (l.^j . . . Terceira 29
A Chronica, Semanário da Terceira « 26
A (Chronica, Semanário dos Açores S. Miguel 29
Chronica dos Açores Terceira 27
Chronica Constitucional d'Angra . « 28
O Liberal (l.^j « 63
Sentiiielb Constitucional nos Açores « 86
O Açoriano Oriental S. Miguel 2
O Constitucional MichaeleiíSH . , « 35
O Patriota (!."; « 109
O Observador Terceira 70
O Angrense « 6
A Miscelânea Michaelense . . . S. Miguel 95
íris da Terceira Terceira 59
O Arco da Velha « 10
O Monitor (l."j S. Miguel 97
O Aniiunciador da Terceira . . . Terceira 9
O p:spectador (1.°) « 42
O Pregoeiro « 78
O Agricultor Michaelense . . . S. Miguel 3
O Philologo « H3
O Terceirense Terceira 88
O Escudo « 41
O Cartista dos Açores . . . . S. Miguel 27
(Chronica da Terceira (2.^^) . . . Terceira 30
O Colírio Michaelense il.°j . . S. Miguel 38
Holelim Onicial da Junta Governati-
va (f Angra , . Terceira 20
A Verdade S. Miguel 139
J(jriial Gratuito « 84
O Baratissimo ....... « 15
Aniiunciador (!.") Terceira .7
O H:>|)ectador ^2.") « 43
Kevista d-is Açores S. Miguel 122
« Michaelense « 124
O Gratuito « 79
A Ilha « 82
Pobres na Terceira Terceira 75
O Noii.-iador S. Miguel 99
A Revista Açoriana « 123
O Meirinho '. « 90
548
ARCHIVO DOS AÇORES
1854 Abril
«
Julho
1855
Setembro
1856
Fevereiro
«
Maio
«
Setembro
a
Outubro
«
«
1857
Janeiro
fl
«
<
«
«
Fevereiro
«
Abril
1858
Maio
«
Junho
<
d
c
Setembro
1859
Janeiro
«
«
«
Julho
1860
«
1861
«
1862
Janeiro
a
<
«
Fevereiro
«
Maio
«
Agosto
«
Novembro
1863
Marco
«
Outubro
«
Dezembro
1864
Janeiro
«
Março
«
Abril
«
«
a
Maio
«
Junho
a
Julho
«
Agosto
<
«
Flores Litterarias S. Miguel 70
Boletim do Governo Civil d'Angra. Terceira 14
A Aurora dos Açores . . . . S. Miguel 10
Lyceo (1.°) Terceira 68
Utilidade Publica « 90
A Estrella Oriental (1.^) . . . S. Miguel 66
O Templo « 130
Archivo Açoriano « 8
O Estimulo Terceira 44
O Cathulico Terceirense .... « 24
O Incentivo Faval 25
O Insulano Terceira 58
A União S. Miguel 135
O Fayalense Faval 19
O Meteoro S. Miguel 92
Quadros Fantásticos de Brocha
Grossa . Fayal 39
O Typographo ....... « 50
A Torcida « 48
A Terceira Terceira 87
O Santelmo S. Miguel 126
Boletim Olficial do Districto Admi-
nistrativo d'Angra do Heroísmo Terceira 19
Religião e Pátria « 82
O Villafranquense S. Miguel 141
O Atlântico Fayal 5
A Persuasão S. Miguel 112
O Lidador Terceira 65
A Horta Fayal 23
O Rouxinol « 44
O Cosmorama S. Miguel 42
O Fcho Açoriano Terceira 38
O Liberal (2.°) « 64
O Heroismo (!.") « 50
O Campeão Liberal S. Miguel 25
Ecco Agrícola Terceira 36
Esmeralda Atlântica S. Miguel 63
Boletim d'Annuncios da Esmeralda
Atlântica « 19
O Ecco Social « 60
Gazetilha Semanal « 78
O Praiense Terceira 77
A Convicção S. Miguel 36
Campeador « 24
ARCHIVO DOS AÇORES
549
1865
«
1866
1867
1868
Janeiro
Março
Fevereiro
M.trço
Maio
Agosto
NoveiDbni
Dezembro
Fevereiro
Março
a
Julho
«
Agosto
«
Novembro
Dezembro
Janeiro
« «
« «
« Fevereiro
« «
« Março
« «
c a
« n
« Abril
« «
« Setembro
1869
Janeiro
Março
Abril
Grémio Recreativo S. Miguel
O Conciliador «
O Futuro Terceira
A Opinião Publica ({.*) .... S. Miguel
Commercio dos Açores .... «
Boletim Mensal do Porto Artificial
de Ponta Delgada .... «
O Futuro Graciosa
S;mtelmo Terceira
A Trombeta Açoriana .... Terceira
O Typographo S. Miguel
Clarim Terceirense Terceira
Voz da Liberdade (i.*) . . . . S. Miguel
Alcyon «
Correspondência dos Açores . . «
Direito Popular S. Miffuel
Fórum (l.°)
A Missão «
A Chronica dos Açores .... «
Gazeta do Povo (1.*) «
Progresso «
O Monitor (2.") «
A Voz da Verdade «
O Clamor Artístico «
Boletim OfTicial da Junta Adminis-
trativa das Obras do Porto Ar-
tificial de Ponta Delgada . . «
Bibliotheca Instructiva .... «
A Palavra Fayal
O Pyrilampo S. Miguel
Lusbel «
Jornal do Grémio Litterario d'An-
gra do Ileroismo .... Terceira
Ecco Villafranquense . . . . S. Miguel
O Pavilhão Nacional «
O \ 1 d agosto de 1829 .... Terceira
Fórum (2.") S. Miguel
Gazeta da Relação «
A Lagrima Terceira
Ecco Liberal S. Miguel
O Michaelense (l.°j «
O Pharol Fayal
A Democracia S, Miguel
A Voz da Liberdade (2.*) ... «
80
34
47
105
33
21
1
84
89
134
31
143
5
40
53
71
96
30
75
117
98
147
32
22
17
32
M8
89
60
61
111
71
72
77
62
57
93
36
47
14i
550
ARCHIVO DOS AÇORES
1869
Julho
Diário de Noticias
S. Miguel
51
a
Agosto
A Semana
«
127
((
Setembro
A Estrella Oriental (2.«) ...
«
67
«
Outubro
r.orreio da Horta
Fayal
12
a
«
Defensor da Pátria
S. Miguel
44
1870
Defensor do Trabalho . . . .
«
45
«
Janeiro
0 Amigo do Povo
Fayal
3
«
Fevereiro
Diário dos Açores
S. Miguel
49
M
Junho
Ecco Civilisador (1."')
«
55
«
Jullio
« Michaeiense
n
59
a
Setembro
0 Independente da Terceira . .
Terceira
57
«
Outubro
A Idéa Social
«
52
1871
Janeiro
A Luz
Fayal
28
«
«
0 Bem Publico
S. Miguel
16
«
Fe Te re iro
0 Incentivo
Terceira
55
((
«
0 Jorgense ({.")
S. Jor^e
3
«
Abril
0 Districto da Horta . . . . .
Fayal
15
((
Maio
A Independência
Terceira
56
(1
Junho
A Razão
«
81
«
«
Jornal de Noticias
S. Miguel
85
«
f
0 Tribuno
Fayal
49
a
Setembro
0 Amigo do Povo
S. Miguel
6
«
Dezembro
0 Tio Braz
Fayal
47
1872
Janeiro
0 Pyrilampo . . . . . .
«
38
«
Setembro
0 Zé Careca
«
54
«
Dezembro
Boletim do Governo Ecclesiasticc
dos Açores .....
Ten:eira
1.")
187:]
Janeiro
0 Cultivador
S. Miguel
43
«
«
Aununciadori^.")
Terceira
8
«
Fevereiro
Voz do Povo
Fayal
53
«
Março
0 Lyceu (2.'';
Teiceira
()9
((
«
A Liberdade [].*)
S. Miguel
87
«
Maio
Tiibuna Christã
«
133
c
Junho
A Republica . . . . . .
«
120
«
«
Revista Açorica
Fayal
43
1874
Janeiro
A Esperança
S. Miguel
64
a
((
0 Observador
Fayal
30
c
«
Correio da Terceira ....
Terceira
33
«
Março
Semanaiio Burlesco ....
S. Miguel
128
«
Abril
0 Passatempo
Fayal
33
((
Maio
0 Cosmopolita
. S. Miguel
41
»
Junho
0 Democriío
«
48
«
(>
0 Chicote
«
28
«
Outi>bro
A Verdade .......
Fayal
52
ARGHIVO DOS AÇORES
551
1874 Dezembro
« («
1875
« Janeiro
« «
« Agosto
« Setembro
« Novembro
« Dezembro
1876
1877
1878
Fevereiro
Junho
Julho
Agosto
«
Outubro
Novembro
«
Dezembro
Janeiro
«
Fevereiro
Março
Abril
Maio
Julho
Agos to
Novembro
«
Dezembro
«
Janeiro
Fevereiío
«
Abril
Maio
«
Junho
«
Julho
Setembro
Pensamento Fayal 35
O Picoense Pico O
Eiiterpe S. Miguel 68
Correio de Lisboa <t 37
O Lyceu da H<»rla Fayal 29
O Partido Popular S. Miguel 108
O Orphão Fayal 31
A Civilisação S. Miguel 31
O Archivo Fayal 4
Jornal do Povo « 26
A Pátria « 34
Noticioso e Romântico . . . . S. Miguel 102
Jornal d'Annuncios « 83
A Idéa Nova Terceira 53
O Imparcial Fayal 24
O Catholico Terceira 23
O Tempo S. Miguel 131
O Progresso Terceira 79
Álbum « 2
Alumno « 4
Gabinete de Estudos « 48
Porto Franco Fayal 37
O Artista S. Miguel 9
Brisas Terceirenses Terceira 22
O Eclio Litterario Fayal 17
O Açoriano Occidental .... o 2
Ecco da Liberdade S. Miguel 58
A Gazeta Judicial Fayal 21
O Protesto Terceira 80
O Patriota (2.") S. Miguel MO
Direito do Povo ...... Terceira 35
A Voz do Progresso S. Miguel 116
Sentinella . " Terceira 85
Ecco Liberal Fayal 16
A Ronda Terceira 83
O Popular « 76
O Chicote (' 25
Archivo dos Açores S. Miguel 7
Diário da Terceira Terceira 34
A União Fayal 51
O Biscuit Fayal 9
O Correio Michaelense (2.") . . S. Miguel 39
O Partido do Povo Terceira 74
Boletim Mensal « 18
552
1878 Outubro
« «
« Noveuibio
« Dezembro
« «
1870 Fevereiro
« «
« Abril
i« Junho
a «
« Julho
a
a
Agosto
Novembro
«
«
1880
u
Dezembro
Janeiro
w
«
«
«
«
«
Mnrço
«
«
Abril
«
«
4881
«
Maio
Agoslo
Novembro
Janeiro
a
fevereiro
«
Junho
«
Setembro
«
«
«
Outubro
1882
Janeiro
«
«
a
«
«
Abril
«
a
a
Maio
«
Junho
«
Julho
AKCHIVO DOS AÇORES
O Ecco Picoense Pico 2
A Liberdade (2.^) ...... S. Miguel 88
Balão Fayal 6
O Civilisador . « 10
O Commercio « 11
Aurora dAleni Tumulo . . . . S. Miguel 11
A Ideia Popular S. Miguel 81
O Direito Popular Fayal 14
A Voz do Povo S. Miguel 145
A Época Terceira 39
O Povoacense S. Miguel 116
Senliuella Fayal 46
Os Açores Terceira 1
O Athleta « 12
Boletim Judicial Pico 1
O Velense S. Jorge 7
O Heroísmo (2.") Terceira 51
Direito Social S. Miguel 54
Ecco Civilisador (2.") « 56
A Regeneração Fayal 42
O Noticiarista (l.°j S. Miguel 100
Diário de Noticias lllustrado . . « 52
Ecco Praiense Terceira 37
Republica Federal S. Miguel 121
O Jorgense (2.*') S. Jorge 4
O Grémio Litterario Fayal 22
A Ventosa S. Miguel 137
A Ventosa Sarjada « 138
Alerta! Terceira 3
Boletim da Sociedade Promotora
d^Agricnltura Michaelense . . S. Miguel 23
A Faisca « 69
O Futuro « 73
O Novo Diário dos Açores ... « 103
A Ribeira Grande « 125
A Época « 62
A Lucta Fayal 27
Gazeta do Povo {-2.") S. Miguel 76
O IMcarolo Pico 4
O Noticiarista (2.°) S. Miguel 101
A Verdade S. Jorge 8
A Vontade do Povo . . . . . S. Miguel 142
O Binóculo « 18
A Vardisca « 136
O Recreio Fayal 41
ARCHIVO DOS AÇORES 5Í3
1882 Outubro A EmcoIii Fnyal 18
« « Boletim (Ih JuuI.í Geral do Dislriclo
d' Angra do Heroísmo . . . Terceira 17
« Novembro A Opinião Publica (2.*) . . . . S. Miguel 106
« « O Espirro « 65
« Dezembro O Kaio Fayal 40
« O Óculo S. Miguel 104
188í] Albuiti do Biuiiculo « 4
« Janeiro Gazela Açoiiana « 74
« Abril Aurora Povuacense « 12
« Junho liirimbau Fayal 8
« « Jornal da Praia Terceira 61
« Julho O Correio . « 32
« Agosto A Caridade S. Miguel 26
<' « A Voz do Professorado .... Terceira 92
« Sfteaibro O Raio S. Miguel 119
« « O Açoriano Fayal 1
« Novembro O Furta Fogo « 20
« « A Justiça ' S. Miguel 86
« « O Imparcial Terceira 54
« Dezembro Luiz de Camões « 67
1884 Ecco Jorgense S. Jorge 1
« Fevereiro Paisagens e costumes dos Açores . S. Miguel 107
« Março A Borboleta . . Terceira 21
« Maio O Michaelense (2.*') S. Miguel 94
« Junho A Ev' lução {[.^j ...... Terceira 45
« Outubro Padres e Reis « 73
'< « O Luctadíjr « 66
« Dezembro A Defeza S. Miguel 46
O Azorragiie (1.'^) « 13
1885 Janeiro O Âzorrague (2.°) ...... « 14
« « Gazeta di; N iticias Terceira 49
« « Diário de Ain m^-ios . . . . . S. Miguel 50
« « O Demociata Fayal 13
'< « O Mensageiro Serviphico. . . . S. Miguel 91
« Fevereiro Roletiin (;onlein[)nraneo .... « 20
« Março O Académico « {
« « Aurora Angrense Terceira 13
« ' O Artista « H
Abiil O Marien^e . ...... . S. 'Miaria 2
« Maio () Amigo das l"a;uilia.> .... Terceira 5
« « () l*ico Pico 5
« ' O Bibliophilo Fayal 7
" Junho A Voz do Altista Terceira 91
N.° 48— Vol. VIII— 1887. II
554
ARCHIVO DOS AÇORES
■1885 Julho Florentino Flores 2
« Agosto O Tiij Braz S. Miguel 132
« Outubro Correio Mariense ...... S.'* Maria 1
« Dezembro A Evolução (2.*) Terceira 46
1886 Pomo Prohibido S. Jorge 6
« Janeiro O Sinapismo . . .• . . . .8. Miguel 120
« « O Operário Terceira 72
« Fevereiro O Independente Pico 3
K 8 Boletim Judicial da Comarca d"Au-
gra do Heroísmo .... Terceira 16
« Março O Povo Açoriano S. Miguel 115
« Maio O Vigilante « 140
« Agosto O Amigo do Povo Flores 1
« « Gazeta Judicial S. Jorge 2
« Outubro O Jorgense (3.°) « « 5
« « A Semana Fayal 45
« Novembro Pist! . S. Miguel^! 14
« Dezembro A Escova Terceira 40
ARCHIVO DOS AÇORES S55
I^ EO-A^I^ITXTL.A. ÇJ.A. O
DISTRICTO DE PONTA DELGADA
í Ponta Delgada 123
ç, -_. , \ Ribeira Grande (1) lá
t>, Mig-uei < Yiu,^ p^,„,,.., ^^^ canipo (2) . . . IO
Povoação (3j 2 147
S.'* Maria -Villa do Porto 2 li9
DISTRICTO D ANGRA DO HEROÍSMO
m . \ Angra do Heroísmo 89
lerceira ^ yj,,^ .j^ p^^j^ ^.^ vicloria(4; . . 3 92
Graciosa - Snnla Cruz 1
S. Jorge —Velas 8 101
DISTRICTO DA HORTA
Fayal — Horta 34
Pico * ^- '^'"1"^ ^
^^^^ i Magdalena 1 O
Flores —Santa (Irnz 2 02
Toial 312
(1) São os n.-' 24, o3, 66, 67, 71, 72, 96, 101, 10o, 1 18, 125 e i3o.
(2) .. .. 13, 28, 34, 36, 55, 56, 61, S% 141 o 145.
(3)- .< .. 12 e 116.
(4) « « 37, 61 e 71.
556 ARCHIVO DOS AÇORES
DISTRICTO DE PONTA DELGADA
Lista de 1881 113
eliminados agora (*) . . , , o 110
omissos ....... G
novos 33
Lista de 1886 i49
DISTRICTO DANGRA DO HEROÍSMO
Lista de 1881 73
omissos 4
novos 24
Lista de 1886 ..".... 101
DISTRICTO DA HORTA
Lista de 1881 . 37
omissos 10
novos 15
Lista de 1886 62
Total 312
Som ma em 1881 . . . 223
Differenca em 1886 . . 89
(1) Eliminados os n." 29, 30 e 67 da lista de 1881; este por ser lilliogra-
pliado cm Lisboa; e aquelles por serem refundidos no n." 37 da presente lista.
índices
no YOLDie VIII lio \RcniYo dos açores
I Clironologico de diploBuas* «locaimentoii cte.
II AlpIíalteSieoi <la» isiat4'riaf^ mais notáveis.
III AlpvteaSíelàeo de nomes de pessoas.
WV AlpIiaBieSieo de nomes de Bogares.
Paginas
1486— Carla regia de escudeiro aposentado a João Affonso . 393
« — « 9 perdão a Diogo Flamengo . . . .394
f — « « mercê de escudeiro aposentado a Diogo Pieto 395
1492— « « a lavur de Ruy Dias Evangelho . . . 396
« — « « « de Calliarina Gonçalves . . . 395
« — « «de Memposleiro mór dos caplivos a Fernão
d'Evora 396
1516 — Alvará de iiidemnisação a João Serrão pela fazenda que
lhe fora tomada na índia .... 97
1534 — Carta regia: nomeação de António da Matla, escrivão do
lealdador mór dos pasteis . . . 401
1536 — Petição de João Tavares, almoxarife, sobre a pensão que
recebia Fr. Affonso de Toledo . . . 400
« — «do mesmo, sobre o dinheiro e trigo dado a Luiz
Fernandes 399
« — « do mesmo, sobre o que pagou ao escrivão do leal-
dador mór dos pasteis .... 401
« — «de António Borges, sobre a cevada que recebeu
de moradia 397
« — « do mesmo, sobre as quebras do trigo e cevada
comprada nas ilhas .... 398
558 ARCHIVO DOS AÇORES '~
i537— Carta de Manoel Corte Real a EIrei sobre a morte de
Henrique Nunes de Leão . . i03
« — « do mesmo a Eliei, sobre a conquista da provín-
cia de Hunduras 402
1538 — « regia: mercê das sabuarias de S. Miguel a Pedro
Camello Pereira . . . . . 40i
1539 — Alvará sobre a tomada das contas ao recebedor João
Tavares 415
« —Carta regia nomeando Manoel Lopes d Oliveira para es-
crivão do memposteiro mór dos captivos
nos açores, centiaes e occidenlaes . . 412
a — « « que nomeia Roque Rodrigues para escrivão
da Camará da Ribeira Grande (S. Miguel) 413
« — ;< « nomeando cirurgião no Fayal a António Ro
drigues 413
« — « « mercê do ofíicio de escrivão da correição
em S. Miguel a João Gonçalves . . 414
« — « « de nomeação de Jerónimo Luiz para corre-
gedor em Angra 415
« — « « que nomeia Manoel Gomes para escrivão da
Camará na Graciosa . . . .414
« — « « que nomeia Álvaro Dias Beleago, escrivão
dos orpbãos no Fayal . . .411
« — « « que permitte a João Galego curar enfermos
em Angra . . . . . .410
« — « € nomeando Pedro Felgueira para escrivão
da Alfandega da Graciosa . . .410
« — « « <iue nomeia Gonçalo Pires, meirinho da Ser-
ra em S. Miguel . . . . . 408
« — « « que nomeia escrivão da Viila da Praia (Ter
ceira) a António Vaz .... 407
c — c « mercê de chanceller e escrivão da correição
na Terceira e ilhas de bai.xo, a António do
Casal 40G
« — « « nomeia distribuidor, contador e inquiridor
na Lagoa, a Pedro Velho . . . 405
« — Ortidão sobie a tomada de contas do recebedor João
Tavares 410
1545 — Despe>a da cevada comprada nos Açores por C(jnta do governo 98
4547 — Carta de Gonçalo Nimes d"Ares a EIrei, participando lhe
a chegada a Angia, e ('Utios assumptos . 417
1551 — Carla do corregedor Luiz. da Guarda a EIrei, sobre o
conflicto Com o ouvidor .... 100
« - Auto a que se refere a carta anterior . . . 101
AKCHIVO DOS AÇORES 559
1553— Carla do capitão da Praia a EIrei sobre corsaiios fran-
rezes , .418
15o() - Nomeação de Francisco Dias para condestavel dos Bum-
bardeiíos de Ponta Delgada . . . 102
1557 — Carta de António Pires do Canto, á Rainha . . 105
« —Nomeação de Pedro Fernandes para pesador do pastel
na Terceira 105
1558 — Alvará que manda pagar aos bombardeiros de P. Delgada 112
« — Mercê de 12f5!720 rs. a João Gonçalves, Fscrivão da correição 114
« — Mercê de labellião no Fayal a Joanne Annes de Góes . 108
« —Nomeação de Barlholomeu de Magalhães, para Lealda-
dore dos Pasteis, na Terceira . . . Ill
« — «de Vicente Vaz para tabellião em Santa Maria 106
1559— Alvará de lembrança para servir de tabellião o que ca-
sar com uma filha de Lazaro Dias, do Fayal 125
« —Licença para Mestre Pedro usar de cirurgia na Villa da Praia 118
« — « para Manoel Alvares pôr botica em Ponta Delgada 125
« — Mercê a Manoel Fernandes Cabral de memposteiro mór
dos captivos 116
« — « á Misericórdia dAngra para ©corregedor ser juiz
das suas causas 119
« — «de escrivão do almoxarifado da alfandega de S.
Jorge, áquelle que casar com uma filha de
Galas Lopes 120
« —Nomeação de António Fernandes para tabellião na Villa
da Praia ...... 122
tt -- «de António Fernandes para condestavel de bom-
bardeiros em Ponta Delgada . . .124
« — «de Balthazar Dias para tabellião da Camará das
Lages (Pico) 121
« — '( de João Serrão para Alcaide pequeno de P. Delgada 123
« — « de Rny Dias Evangelho, para Ouvidor no Fayal e Pico 1 19
1560 -Alvará de lembrança a favor de quem casar com a filha
de Galas Lopes 132
« — Carta regia: que nomeia Juiz dos orphãos a Gonçalo
Vieira, em S. Jorge . . . .128
« — Confirmação de Francisco Dias no cargo de condestavel
de bombardeiros de P. Delgada . . 130
« — Mercê a Gabriel Mendes para curar por 3 annos os en-
fermos na Misericórdia de Ponta Delgada . 128
« —Nomeação de António Pires do Canto para Provedor
das Armadas nos Açores . . . 129
« — 8 de Gonçalo Vieira para Escrivão da Camará das
Velas (S. Jorge) 126
560 ARCHIVO DOS AÇORES
15()I— Carla de Aiitunio Pires do Canto a EIrei, ^obre as náos
da índia 133
« — Carla do Ouvidur de S. Miguel a EIrei pedindo descul-
pa de casar sem licença . . . il8
« — Nomeação de Miguel de Figueiredo para procurador' em
Santa Maria . . • . . . .133
1503 Auto sobre as culpas de Pedro Carrilho . . . 135
« — Carta regia e alvarás de fiança a Pedro Carrilho . 137
1566— Alvará para o Licenciado Joãij Usademar poder ser acom-
panhado por um escravo .... 145
« — « que isenta a Misericórdia d'Angra de prestar con-
tas ao Provedor 142
« — Licença para o Taballião Francisco Affonso poder ter
um ajudante . . . . . .145
« — ^Quitação a Lucas de Sequeira, almoxarife . . . 143
« — « a Henrique Esteves da Veiga, feitor . . 147
1567 — Carta de doação da Commenda de N. S.^ d'Assumpção
em Santa Maria 419
1572 — « regia que nomeia António Francisco para Ouvidor
nos Açores 421
1573— Alvará que permitte a sabida do navio cairegado de
trigo dos Açores, fretado por D. Cathari-
na, mulher dr^ Francisco ile Mello . . 422
a — Carla regia: mercê do oííici;) de escrivão dos orphãos
em P. Delgada a Pedro Camello Pereira . 423
« — « « que noiíieia Lopo Dias Homem para Juiz. ua
Ribeira Grande i2i
1574 — Alvará de nomeação de chanceller em Ponta Delgada a
Fernão da Rocha . . . .424
1577 — Demanda com os conventos da Esperança e S. Francis-
co de Ponta Delgada .... 425
[57^ —Carla regia: pen>ãod(í 250Ò0U0 rs. a D. Jo.uia de Mendiniça 'í29
1580 — Alvará de D. António Prior do Crato. (|ue nomeia Bel-
cliioi' de Sonsa, feitor em S. .Miguel . 149
« — c( de tença de 30Ò000 rs. por D. .António a Diogo
Vaz Rodovalho 148
« — Aforamento das terras de S. Ji)sé da Relva (S. Miguel) . 429
(f — Mercê de cidadão d.Vngra a Gaspar .\lvares, [)or D. Ant.^ 150
1582— Provisão de D. Fi.i|)pe para trancar alvarás e cirlas re
gias de 1). António, ni Torre úo Tombo 149
j:;83 — Alçada dada por D. Filippc ao Dr. (lil Eanes da Silveira 152
« — Alvará que manda correr' iras ilhas os reaes de prata . 151
,|;j88_\lv;iiá de pensão de 100:>000 rs a D. Clemência de
Mendonça 434
ARCHIVO DOS AÇORES
561
I008 — Carla regia: pensíio de loUj^GOO r>. á ineMiia D. Cle-
mência, íillja de Antão Marliiis lluinem . 43i
1501 — Alvará sobre a laxa do liigo nos Açores . , . 154
I5í)2— » de privilégios aos membros da (Gamara de Villa
lYanca 155
1593 — « sobre arrendamenUts na illia de Sanla Maria . 158
« — « sobre a caça dos coelhos na dila ilha , . 157
« — « de privilégios a Pcdj^o Uchalles . . . 161
« — Provisão a favor de Belchior Eslacio de Amaral . 156
« —Regimento de Fernão Faleiro, [)rovedor dos oiphãos
na Terceira 159
1598— 'Alvará de privilégios aos Ihesoureiros da Camará de P.
Delgada 161
« -Consulta de Simôa Soeira, da Terceira, sobre o olficio
de escrivão dos residiios . . . 190
1001 — Consulta para dar um emprego a Domingos Carvalho,
de S. Miguel 191
160i— « sobie Pedro Affonso d'Ornellas, da Terceira . 191
1605 — Alvará sobre a eleição da Camará de Ponta Delgada . lOi
« — (' de con<leslavel de Bombardeiros na Terceira a
Manoel de Lemos 163
« — Nomtação de escrivão da camará de Villa Franca a Pe-
dro Mendes 162
1606— Finta para a construcção da egreja das Capellas . 166
« — Nomeação de João Dias da Bica para juiz em S. Jorge 164
1616 — S(jccorro á itlia de Sanla Maria, safjueada por corsários 167
162á— Festas em Angra na canonização de S. Francisco Xa-
vier e S/° Ignacio de Loyola . . . 454
16i3— Carla de D. Rodrigo da Camará a Chrislovãu Suares . 435
1630— Carla de Agostinho Borges de Sousa a FIrei . , 168
« — Carta do Bispo dWngra D. João Pimenta dAbreu e ou-
tros a EIrei 169
1631— Informação sobre as queixas da camará de P. Delgada 170
1633— Emi)reslimo de dez mil cruzados para a restauração de
Pernambuco , . . . .' .173
1080- Remessas de géneros dos Açores pnra Lisboa . . 176
1766— Noticia do Caslello dAngra 181
1768 — Representação dos habitantes da ilha do (^oivo . . 184
1773 — Petição de Barlholomeu Dezcalça e Barros ao Marquez
de Pombal 436
179 1 — Descripção das aguas mineracs das Furnas (S. Miguel) 437 e 446
179i - Re[)resenlação do governo dos Açores sobre a crise
monetária 185
1820 -Jiuila Governativa na Horta 28
N." 48— Vol. VIII— 1887.
12
562
ARCHIVO DOS AÇORES
18Í24—
1831-
« —
1832-
183i-
1836—
1857—
« —
1858-
« — -
1860—
tí —
1861-
1868—
1869-
1872—
1874—
1876
1877-
1883-
1884-
1885-
1886
Relação das festas em Angra, no anniversario de D. João 6
José Estevão Coelho de Magalhães no Kayal
Alguns visitantes illnstres da ilha do Fayal .
Camará da Horta: felicitação a D. Pedro 4.°
Diversos cargos na Ilurta ....
Escravos e seus senhores na Horta e Fayal
Parochia da Matriz da Horta: fogos e habitantes
D. Pedro 4.° no Fayal ....
O Príncipe de Joinville, no Fayal
O Conde de Vargas, no Fayal .
Padre António Maria Clarelte de Clara, no Faya
D. Patricio Xavier de Moura, no Fayal
Carta do Bispo d Angra D. Fr. Estevão
O Serenissiuio Infante D. Luiz, no Fayal
O Principe Alfredo, de Inglaterra, no Fayal
« Jerónimo Napoleão, no Fayal
O General Prim, no Fayal
Raymundo António de Bulhão Pato, no Fayal
Lady Franklin, no Fayal ....
Francisco de Sá Noronha, no Fayal .
D. João Pereira de Amaral e Pimentel, Bispo d^Angra
no Fayal .....
Visita do Bispo ás ilhas do Fayal e Pico
« a « das Flores e Corvo
O Visconde de Castilho, no Fayal
O Principe da Corêa, no Fayal
« « Henrique d'Allemanha, no Fayal
« « de Mónaco, no Fayal .
Cortejo civico cn) Ponta Delgada
Convite pelos sócios da Sociedade de Geographia de Lis
boa em Ponta Delgada
Notas Açorianas por Ernesto Rebello .
469
5
6
24
287
292
290
19
42
49
53
57
367
58
71
71
73
76
79
81
86
86
90
91
94
95
95
193
195
5
ARCHIVO DOS ACOHES 563
II
Alptial)4^tico «las matérias mais notáveis
AforaiDenlo das terras largas, em S. José da Relva (S. Miguel) 429
Agradecimento de Roberto Ivens 219
« da Sociedade de Geographia de Lisboa, á commis-
são dos festejos a Capello e Iveus . . 220
Aguas iniueraes das Furnas (descripção das) . . 437 a 446
Alçada dada por D. Filipi)e ao Dr. Gil Eanes da Silveira . 152
Alvará concedendo previlegios aos membros da Gamara de Vil-
la Franca 155
« de condestavel dos bombardeiros de í^ Delgada a Antó-
nio Fernandes 124
« de condestavel de bombardeiros em P. Delgada a Fran-
cisco Dias 102
" de confirmação no cargo de condestavel de bombardei
ros de P. Delgada a Francisco Dias . . 130
" da finta para a conslrncção da egreja das Gapellas . 166
« de indemnisação a Juão Serrão pela fazenda que na ín-
dia líie fura lomada ..... 97
« isentando a Misericórdia d'Angra de prestar contas ao
Provedor 142
« de lendjrança a fav(jr de quem casar com a filha de Ga-
las Lopes, de S.Jorge . . . .132
« « para servir de tabellião aquelle (pie casar
' com uma filha de Lazaro Dias, do Fayal . 125
X (pie manda correr nas ilhas os reaes de prata . . 151
<( de mi'r<'è (Je cidadão dAngra a Gaspar Alvares, por D. Ant." 150
« *< de C(tndestavel dos bombardeiros na Terceira.
a Manoel de Lemos 163
« « de escrivão do almoxaritado da Alfandega de
S. Jorge 120
« « a Gabriel Mendes paia curar os enfermos na
Misericórdia de P. Delgada . . . 128
« « a João Gonçalves, da pensão de 12:720 . . 114
« « de 50|$000 rs. a António Pires do Canto . 131
< « a Manoel Fernandes Cabral, de memposteiro
mór dos captivos . . . . .116
« a á Misericórdia d'Angra 119
564 ARCHIVO DOS AÇOKES
Alvará que nomeia Alcaide pequeno de P. Delgada a João Sei lâo I2.'i
« « « Anionio Pires do Canto para Provedor das
Armadas nos Açores .... 129
« « « clianieller em P. Delgada a Fernão da Roclia 424
« de D. Anionio que nomeia Belchior de Sousa feitor em
S.Miguel . . . . . . .149
c que nomeia Miguel de Figueiredo paia procurador em
S.^" Maria 133
« « « Ruy Dias Evangelho para Ouvidor no Fayal . 119
« que estabelece o ordenado aos 12 bombarbeiros de Pon-
ta Delgada M2
« para o Licenciado Joãu Uzademar ser acompanliado por
um escravo . . . . .145
« para permittir a sabida do navio carregado de trigo dos
Açores, fretado por D. Catharina, mulher de
Francisco de Mello .... 422
« de pensão de 100|$Í000 rs. a D. Clemência de Mendonça 434
« « de 12:720 rs. a João Gonçalves . . .114
« de pesador do pastel na Terceira, a Pedro Fernandes . 105
« de privilégios a Pedro Uchalles 161
t « aos ihezoureiros da Camará (]p P. Delgada 161
« sobre arrendamentos na ilha de S.'* Maria . . . 158
« «a caça dos coelhos na ilha de S.'^ Maria . . 157
« « a eleição da Camará de P. Delgada . . . 16i
« « o processo de culpas de Pedro Carrilho . . 138
« « a taxa do trigo nos Açores 154
« «a tomada de contas ao recebedor João Tavares . 415
« de labellião da Camará das Liges do Pico, a Bailhazar Dias 121
a da tença de 305000 rs. por D. António, a Diogo Vaz Rodovalho 148
Annaes da Terceira por Drumm >nd 157
Anniversario de D. João 6.**: festas em Angra . . . 469
Appenso á primeira mensagem aos exploradores Capello e Iveiis 263
Arsenal marítimo na Horta ....... 24
Auto das culpas de Pedro Carrilho em Angra . . . 135
« da resposta que deu o ouvidor de S. Miguel no conflicto
com o corregedor 101
Aviso transferindo o cortejo civico em Ponta Delgada para 5 de
Dezembro 269
Bibliographia do Districto da Horta 306
Botos e Pombas no Pico 295
à
ARCHIVO DOS AÇORES 565
Caça de cot-lhos em Santa Maria 157
« das pombas no Pico . . . . . . .301
Gamara da Horla: felicitação a D. Pedro 4° em 1832 . . 2i
Capello e Ivens, poesia por Nemo 2oá
« «s Sandação, soneto por Manoel Duarte . . 243
Carta de Agostinho Borges de Sousa participando a sua che-
gada a Angra i59
« de António Pires do Canto á Rainha .... 105
« do mesmo a KIrei . . . . . . .133
« do Bispo d' Angra e outros, a EIrei .... 169
« « « D. Fr. Estevão, a António de Lacerda Bulcão 367
« do capitão da Praia, a EIrei, sobre corsários . . 418
« de doação da com iienda de N.'* S.* d'Assumpção em S.^'* Maria 419
« do Dr. Luiz da Guarda, a EIrei .... 100
« de Gonçalo Nunes d' Ares, a EIrei, communicando-llie a
sua chegada a S. Miguel . . . .417
« de Hespanha, sobre os Exploradores Capello e Ivens . 279
« do Lealdador dos pasteis na Terceira a Bartholomeu de
Magalhães 111
« de Manoel Corte Real, a EIrei, sobre a conquista de Honduras 402
« do mesmo sobre a morte de Henrique Nunes de Leão . 403
« que nomeia Juiz em S. Jorge a João Dias da Bica . 164
« de nomeação de Escrivão da Camará de Villa Franca . 162
« do Ouvidor de S. Miguel, a EIrei, pedindo desculpa de
casar sem licença . . . . .418
« de poder e alçada dada por D. Filippe ao Dr. Gil Eanes
da Silveira 152
« de (juitação a Henrique Esteves da Veiga, feitor . . 147
« « dada a Lucas de Sequeira, almoxarife . . 143
« regia de escudeiro aposentado, a João AíTonso, de S. Miguel 393
« «a favor de Catharina Gonçalves . . . 395 e 396
« « «de Ruy Dias Evangelho .... 396
« « licença a Mestre Pedro para usar de cirurgia . 118
« f « para Manoel Alvares pôr botica em P. Delgada 125
« « de memposteiro mór dos captivos nos Açores, a
Fernão dEvora 396
« « mercê de escudeiro aposentado a Diogo Preto . 395
« « « do oíTicio de escrivão dos orphãos em P. Del-
gada a Pedro Camello Pereira . . . 423
« * «das saboarias de S. Miguel a Pedro Camello
Pereira 404
t « nomeação de António da Matta para escrivão do
lealdador mór dos pasteis . . . .401
« « nomeando escrivão dAlfandega da Graciosa a Pe-
dro Felgueira 410
566
ARCHIVO DOS AÇORES
Carla regia que nomeia Jerunimo Luiz para corregedor em
Angra 415
« « « nomeia Gonçalo Vieira para Escrivão da Ga-
mara das Velas \iO
« « « nomeia Manoel Lopes dOliveira, para escrivão
do meaiposleiro niór dos caplivos nos açores
cenlraes e occidentaes . . . . il2
« « « nomeia Álvaro Dias Beleago, escrivão dos or-
phãos no Fayai Ul
« « « nomeia António Fernandes, tabellião na Vil-
la da Praia 12i
« « « nomeia António Fr;inci.-co, ouvidor nos açores 421
« « « « » Rodrigues, cirnigião no F;iyal 4ií)
« « « « chanceiler e escrivão da coi'reição na
Terceira e ilhas de baixo a António do Gasal 400
« « M nomeia escrivão da Gamara da Gracioza a Ma
noel Gomes 414
« « « nomeia escrivão da Villa da Praia (Terceira)
a António Vaz ...... 407
« « « nomeia inquiridor, distribuidor e contador na
Laoôa a Pedro Velho .... 405
« 3 ^( nomeia Gonçalo Pire?, meirinho da serra em
S. Miguel 408
.( « « nomeia Gonçalo Vieira, Juiz dos orpliãos imS.
Jorge . . . . . . .128
M • « « João Gonçalves para escrivão da correi-
ção em S. Miguel . . . . 41i
« « « nomeia Lopo Dias Homem para Juiz na R. Grande 424
« « « Roque Rodrigues escrivão d.i ('amara
na Ribeira Grande (S. MigueO . . . 4i;i
« « para o tabellião Francisco Aííonso, ter um ajudante lio
a « pensão de loO.oOOO rs. a D. Clemência, filha de
Antão Maitiiis Homem .... i3i
.. « « de 2oOi$000 rs. a D. Joanna de Mendonça . 429
« « p. r(Jão a Diogo Flamengo, da Terceira . . 394
« .< <pie permille a João Galego curar enfeniKJs em Angra i 10
« a sobre a fiança de Pedro Carrilho . . . 137
« de D. Rodi'igo da Camará a Christovão Soares . . 435
« de Roberto Ivens, ao Presidente da conunissão dos fes-
tejos em Ponta Delgada . . . .219
a de tiibellião no Fayal a Joane .\nnes de Góes . . lOS
.( « em Santa M;u'ia a Vicente Vaz . . . 106
Carros Iriunipliaes no cortejo civico de f^jnta Delgada . . i08
Castello dArgra: Noiicia pelo capitão mói' .... 181
Certidão sobre a tomada de contas do recebeilor João Tavares i Ki
I
AHCHIVO DOS AÇORES 567
Cevadii comprada nos Açores por conta do Governo . . 98
Circular— sobre o festival michaelense a Capello e Ivens . 267
Cirurgião na Villa da Praia H8
Collecção de Documentos relativos ás ilhas dos Açores . 97 e 393
Commissão dos festejos a Capello e Ivens . . . .197
Commenda de Nossa Senhora d'Assumpção em Santa Maria:
doação da mesma a D. Luiz Coutinho . 419
Condestavel de bombardi iros da Terceira, Manoel de Lemos . 163
Confirmação de Francisco Dias para condestavel de bombar-
deiros em Ponta Delgada .... 130
Contlicto entre o corregedor e ouvidor em S. Miguel . . 100
Consagrações Civicas ........ 193
Consultas da Meza da Consciência e Ordens .... 190
Conventos de Ponta Delgada: demanda com o governo , 425
Convite ás Camarás Municipaes de S. Miguel para o cortejo civico 268
Convite pelos sócios n'esta ilha da Sociedade de Geographia
de Lisboa para o cortejo civico . . .195
Cortejo civico em Ponta Delgada em honra de Capello e Ivens 193
« (O) e a Commemoração 234
Corsários nos Açores . . . . . . . 167 e 418
Crise monetária em Angra 185
Demanda com os conventos da Esperança e S. Francisco, de
Ponta Delgada 425
Deputação que da Terceira foi cumprimentar D. Pedro 4." e D.
Maria 2.* a Inglaterra .... 20
Descripção das aguas mineraes das Furnas . . . 437 e 446
« do festival michaelense no cortejo civico em P. Delgada 201
Despeza dos festejos em Ponta Delgada com o cortejo civico . 261
Differentes oíTicios e avisos sobre os ditos festejos . . 264
Diversos cargos públicos na Horta em 1832 . . . 287
Documentos relativos às ilhas dos Açores . . . 97 e 393
Dois Symbolos 239
Donatários da ilha de S. Miguel 377
Egreja das Capellas: finta para se construir .... 166
Eia avante (poesia) 238
Eleição da Camará de Ponta Delgada; alteração da época em
que deve fazer-se 164
Empréstimo de 10:000 cruzados para a restauração de Per-
nambuco 173
Entrada de D. Pedro 4.° no Fayal 33
Escravos na Horta em 1832 292
568
ARCHIVO DOS ÂCORES
Escriptores e homens de leiras no Fayal
Expedição (A) africana, poesia por Soares 1'ereiia
Exploradores africanos ....
317
230
Família do morgado Terra, da Horla, em 1832
Fe^las em Angra no anniversario de D. João 6." .
« « « na canonisação de S. Francisco Xavier e Sl.°
Ignacio de Loyola ....
« cívicas (As) .......
Fesla dos Pretos (A) no Fayal
Festej(js cívicos em Ponta Delgada ....
Festival de hoje (O)
« michaelense no cortejo cívico em Ponta Delgada .
Final (O) dos festejos em Ponta Delgada
Finta para a constrncção da egreja das Capellas .
Foro, ou pensão que pagavão os habitantes da ilha do (kirvo
31
469
4o4
240
281
193
232
201
262
166
184
Géneros remeltidos dos Açores para Lisboa .
Gnarnição do Castello d'Angra: despe.-a com a mesma
Gnerras da Paz (Asj
176
183
228
Homenagem d'um arti>ta a R. ivens c B. Capello
ílymno: liomenagem a Uoberlo Ivens .
254
Impiensa PeiModíca nos Açores .....
« « no Fayal
« « na Tercei ia . . . . • .
« (( em S. MigU(d
Impressos distribuídos durante o cortejo cívico em P. Delgad
Informação sobre as queixas da Gamara de Ponta Delgada
Instituição vincular do capitão Manoel da Ganiar;i .
« « de D. Filippa Goutinho, S. Miguel
Instituições vinculares d(js donatários de S. Miguel
Ivens e r,a|tt'll(i: n." único d(» jornal distribuído no coilejo ci
viço eui Ponta Delgada ....
485
534
519
494
221
170
383
377
377
i21
.lunl;^ Guvernaliva na lloila em 1820
-28
ARCHIVO DOS AÇORES
369
L;i|»i(lt' rornmemoraliva do arsenal marítimo oa Horta
« fl (la residcncja (!<; D. Pedro 4." na llorla
Lealdador di»s |);í>1 is na Terceira ....
Licença para Francisco Afíoiiso. tabelhão, ler um ;ijndanle
« « Manoel Alvares [)ôr l)i)lica em Ponta iJelgada
Licença para Mestre Pedro, usar lia arte de cirnrgia
24
41
111
145
123
U8
Memposlpiro mór dos caplivos nas ilhas .... I IO
Mensagem a C.ipello e Ivens pelos haltitantes de S. Miguel . 217
« da Sociedade de Geographia de Madrid a Capello e Ivens 27 i
Mercê de oOáíOUO rs. a António Pires do Canto . . . 131
« -.u, Bachaiel Gabriel Mendes para curar os enfermos da
Misericórdia de Ponta Delgada . . . 128
« de escrivão do almoxaiafado da alfandega de S. Jorge, a
(jnem casar com uma das fdlias de Galas Lopes 120
« de escudeiro aposentado, a João Affonso . , . 393
« á Misericórdia d'Angra para o corregedor ser juiz nas
suas causas 119
« do oiricio de Tabellião a Joanne Annes de Góes . . 108
« a Gaspar Alvares, de cidadão dAngra .... 130
« a Manoel Fernandes Cabral, de m^mposteiro mór (los captlvos 1 16
« da pensão de 12?$Í720 rs. a João Gonçalves . . . 114
Mestre Pedro, cirurgião na Villa da Praia , . . .118
Morgado de D. Filippa Conliidto 377
« de Manoel da Camará, capitão donatário . . , 383
Náos da Índia 133
Nomeação de Antotiio Fernandes para condestavel de bombar-
deiros de Ponta Delgada .... 124
'« de líartholomeu de Magalhães para lealdador dos pasteis Ml
« de Belchior de Sousa para feitor em S. Miguel . 149
'< do (íscrivão da (]amara de Villa Franca . . . 162
'< de Francisco Dias para condestavel dos bombardeiros de
Ponta Delgada 102
« de Gonçalo Vieira para escrivão da Camará das Velas (S.
Jorge) 126
X de Miguel de Figueiredo para procurador 'em St.^ Maria 133
« de João Dias <la Bica. para juiz em S. Jorge . . 16i-
<( de João Serrão para alcaide pequeno de Ponta De^lgada 123
« de Pedro Fernandes para pesador do pastel na Terceira lOo
« de Rny Dias Evangelho para ouvidor no Fayal e Pico . I fl)
.( de Balthasar Dias para tabellião da Camará das Lagens
do Pic(t 121
N/' 'iS— Vol. VIU -1887. 13
570
ARCHíVO DOS AÇORES
Nomeação de António Fernandes para tabellião da Vil!a da Praia 122
a de Vicente Vaz para labellião em Santa Maria . . 106
Notas Açorianas por Ernest(» Rebello . . , . . 6 e 281
Noticia do Castello d'Angra ...... 181
OíTicio da Sociedade de Geograpltia de Lisboa, agradecendo os
festejos a Capello e Ivens .... 220
Ordenado dos bombardeiros de Ponta Delgada . . .112
Parecer da snb-commissão dos festejos civicos em Ponta Delgada 196
Pastel: pesador nomeado para o mesmo na Terceira . . 105
« lealdador dos mesmos na Terceira . . . .IH
Parochia da Matriz da Horta: fogos e habitantes em 1832 . 290
Pelo Estrangeiro: festejos a Capello e Ivens .... 269
Pensão de 200?5íOOO rs. a D. Clemência de Mendonça . . 434
« de 2oO/?ÍOOO rs. a D. Joanna de Mendonça . . . 429
« 011 foro que pagavam os habitantes da ilha do (^orvo . 184
Pesca dos bolos no Pico 298
Petição de António Borges, feitor nas ilhas, sobre a cevada que
recebeu de moradia 397
« do mesmo, sobre quebras no trigo e cevada comprada
nas ilhas ....... 398
« de Bartholomeu Dezcalça e Barros ao Marquez de Pombal 436
« de João Tavares sobre o que pagou ao escrivão do leal-
dador mór dos pasteis .... 401
« do mesmo, sobre a pensão que recebia Frei Affonso de
Toledo 4(X)
Poema nnvissimo 227
Pombas e Rotos no Pico 295
Privilégios aos membros da Camará de Villa Franca . . 155
« a Pedro Uchalles para coser cal com carvão de pedra,
em S. Miguel 161
« aos thezoureiros da Camará de Ponta Delgada . . 116
Processo de fiança de Pedro Carrilho ..... 137
Programma do festival: cortejo civico em Ponta Delgada 198
« (bases doi para o dito cortejo civico .... 197
Provisão de D. Filippe que manda trancar alvarás e cartas re-
gias de D. António 149
« a favor de Belchior Estacio do Amaral . . . 156
Quitação a Henrique Esteves da Veiga, feitor
« a Lucas de Sequeira, almoxari!e, S. Miguel
U7
143
ARCHIVO DOS AÇORES
57!
Reaes de prata: seu valor nas ilhas 151
Ktícepç.ão de Ca[)eIlo e Iveiis em Madrid .... 270
Regimento de Fernão Faleiro, provedor dos orpiíãos na Terceira 159
Relação das festas em Angra, no Anniversario de D. João 6.° 46'J
« « « « « na canonisação de S. Francisco Xa
vier e Santo Ignacio de Loyola . . , 454
Remessa de géneros dos Açores para Lisboa . . .170
Representação dos habitantes da ilha do Corvo a EIrei . . 184
« sobre a crise monetária em Angra .... 185
Restauração de Pernambuco 173
Retrato de Roberto Ivens 193
Rua em que nasceu Roberto Ivens (em Ponta Delgada) . . 221
Saboarias da ilha de S. Miguel: mercê das mesmas a Pedro
Camello Pereira
Será reviviscencia? poesia [)or Arão Cohen .
Serviços de Roberto Ivens
Soccorro á ilha de Santa Maria, saqueada por corsários
Sol (O) e o Oriente: poesia por Arão Cohen .
Subscripção publica |)ara o cortejo civico em Ponta Delgada
Subsidio para uma bibliographia do districto da Horta .
404
244
222
167
251
257
30tí
Taxa do trigo nos Açores .......
Tença de 30)$Í000 rs. por D. António, a Diogo Vaz Rodovalho
Trigo nos Açores: taxa do mesmo
154
148
154
Uma lição .
Um voto sincen^
23(5
233
Viagem de Bento de Góes .
Visitantes illustres da ilha do Fayal
226
6
572
ABCHIVO DOS AÇORES
III
.41pliabeti<'0 de nomes fie peí^soas
A. Ribeiro Gonçalves
195,
Alexa
ndre Ferreira da Sil-
Abram Ben Sliiiian .
260,
v.i . . 318 e
322
Abreu Vascoiicellos, irmãos
257
«
Himíboldt
49
Accurcio Garcia Hamos
51
«
Madureira
484
Adrião de Bairros, labellião
121
«
Martins Pamplona .
20
« I.ucio . . 103 e
130
«
de Monra (D.)
319
AÍTonso d' Almada . 1^6 e
406
«
da Sacra Familia^D.
« Figueira
98
Fr.), Bispo d' Angra
« de Mattos
99
318 e
323
« de Miranda .
143
Alfredo dAvellar
537
« de Noronha (U.)
466
«
Leopoldo da Silveira
« de Toledo (frei)
400
Orlatidi (Major)
258
Agostinho Borses de Sousa
«
de Jlusset
328
168 e
176
«
Sampaio .
519
« de Carvalho (I)r.) .
58
Alvares Cabral
215
a Cymbrom Borges de
Álvaro Ainorim Borges
258
Souza .
259
«
de Bazan (D.) .
493
« José Freire
23
«
da Coííla
409
« Machado de Faria e
«
Dias Beleago .
411
Maia (l)r.; .
257
«
Fernandes . 132 e
40(>
« Robbio .
371
Álvaro Ko|ike de Barbosa
« Salvado .
414
Ayala (Dr.) .
259
« Telles .
341
«
Lopes
104
Águeda de S. João .
291
«
Martins Homem
122
Alberto de Freitas da Sdva
259
«
IVreira Bulcão
359
« Telles .
495
«
« Forjaz de Laceida
47 1
Aleixo de Menezes (D.), aio
a
Pinto
390
de D. St bastião
125
«
Pires 129. 131, 431 t
434
Alexandrina, escrava
293
«
Rodrigues dAzevedo
260
Alexandre Climacodos Beis
«
da Senra
113
50 V. o3(), 537 (
5'i3
«
Vieira
142
« Domingos Martins Pam-
Amâncio Gago da Camará
260
|)l(»na Coite Beal
525
«
Júlio Cabral .
2()0
« Ferreira
500
«
Leocadio Vieira
i92
ARCHIVO DOS AÇORES
573
Ambrósio Alvares
,
:u)0
« de St." Agostinho
(P/i
40^
« (li^ Sequeira .
I7:í
Anchieta (D. José de)
ti 15
Angelo José Dias
200
« Pereira da Silva
288
André Alv.ires Cabral
259
« António AvellinoíDr.)
495,
490
e 501
« Dias
412
« Francisco Goulart
:m
e 350
« Furtado
410
« Manoel da Ponte
331
« de Negreiros .
111
« Pires Goulart
109
« da Ponte Quental
335
« Hodrigues
401
Soares 103, 130, 132 e
Anna, escrava
« Augusta dAlnfíCida
Leilão (D.) .
« Henriqueta Bulcão (D.)
« de Lacerda (D.)
« Luiza. professora
« Narcisa .
« Quitéria .
Annibal de Betteticourt Bar-
b(isa
« Gomes (>abido
Anlão .Martins Homem t;Ca-
pitãi») . 418, 429 e
Anlão da Rocha
Antónia .Margarida Garrett
António, escravo
« (D.j, Prior do (^rato
148 (•
« Alberto Pinheiro de
Barros (Dr.) .
« Alfi'edo Barbosa
« dAguiar 103, 117,
119, 120, 121,125,
127, 128, 129, 131,
132, 133, 140, 142,
145. 148, 157, V22,
423. 424. 425 e
19
392
323
370
293
289
293
291
200
258
'í34
148
318
292
150
259
259
429
António dAmaral Vasconcellos
513
«
Amorim da Cunha .
258
«
dAndrade
102
«
Augusto dAguiar .
220
«
« Pacheco 258 e
200
«
de Barros
417
«
Bernardo da Silva .
323
((
B(»nifacio Júlio Guerra
51'!
«
Borges, feitor nas ilhas
397
«
« da Camará
Medeiros
77
«
Borges do Canto Mo-
niz . 528, 531 e
537
«
de Briun da Silveira
431
«
Cândido, meirinho .
288
«
do Casal
406
«
Casimiro Mouralo .
529
«
Climaco dos Reis 503,
50 'i, 507, 509 e
517
Cf
Coelho de Mendonça
184
«
Corrêa de Mendonça
503 e
«
da Cosia
122
«
Dias Rego
177
«
Diniz da Cruz e Silva
345
«
Emilio de Figueiredo
e Mello (alferes) .
511
«
Emilio Severino d'A-
vellar (Dr.) .
540
«
Ernesto Tavares dAti-
drade .
517
<
Feleciano de Casti-
lho (Dr.) 93, 350,
495, 508 e
516
«
Fernandes 122, 130,
138 e
\M
«
« condestavel
de bombardeiros ,
124
«
Ferreira Borralho .
494
«
« Júnior
498
«
« Provedor da
Fazenda
169
«
Florim .
176
«
Francisco, onvidoí' nos
Açores .
421
574
ARCHIVO DOS ACOHES
António Furtado
a « de Mendonça .
« « « professor
« Garcia da Hoza
« « « tenen-
te Coronel .
« Gil 78. 519, 520,
521, 528, 529, 53 i e
« Gonçalves
« « tabellião
« « da Silveira 509 e
« Homem da Cosia No-
ronha . . 50 e
« Jacinlho dAmaral A-
ragão .
« Jacintliode Mello 287 e
« Joaijiiim d'Arrii.la .
« « Domingues 259 e
« « Ferreira (Padre)
« « Pereira .
« « Nunes da Silva
« « «de Vascon-
eellos 523,366. 489 e
« Joaquim Teixeira Jr.
. José dAvila(I)r.)24.
315 e
« « « (major)
« « Gonçalves da Cos-
ia 488, 490, 523,
528, 529, 530 e
« José Machado .
« « Pereira Leite .
« José Raposo . 216 e
« « Tavares .
« « de Vasconcellos
« « Vieira de Santa
Rita 59. 91 e
« Justiniano Pegado Bro-
tero
« de Labath, alferes
« de l^acerda Bidcão
360, 366,534,535,
537, 538 e
« Leal [Vriú)
« Leite (la Gama
500
António Lourenço (Padre)
185
291
«
« da Silveira
288
Macedo 23, 66,
24
363 e
537
«
Machado
114
287
«
« Alvaies Cabral
258
«
« de Sousa e Mello
496
537
:<
Maria Claretle de Cla-
137
ra (D.)
53
111
«
Maria d"Oliveira (Dr.)
62
516
«
Marianno de Lacerda
29
«
Marcelliiio da Victoria
499
514
«
Martins .
122
«
de Mattos
402
259
«
de Medeiros Bettcn-
294
coiui (general)
259
261
«
de Mendonça, capitão
288
5H
«
Miguel da Silveira
514
Moniz . . 526 e
532
51
H
Moniz
133
257
«
u Barreto Corte
Real (Dr.) 491,
490
492,5i'0, 523,529,
522
530 e
532
M
Moreira da Camará
349
Coutinho de Gus
65
mão (Dr.)
259
«
da Malta
401
«
Moules Vieira de Bet-
532
tencourt
470
257
«
Nicolão de Moura Sto-
288
ckler .
470
258
((
de Novaes
392
518
«
Nunes .
98
259
(1
dOliveira Pereira 7,
293 e
370
366
«
Pereira 495 502 e
514
«
« (Fi-ei)
425
484
M
« de Sousa
192
288
«
Pires do C-anto 105,
129, 131 e
133
«
da Ponte Maia 213 e
258
539
«
Pofíirio de Miranda
502
340
«
Ramos Moniz Corte
257
Real
524
ARCHIVO DOS AÇORES
575
Aiilonio du Rego Faria Bar-
bosa 490. 5á3 e 532
d (lu Rego SmíiIos . 506
« Ribeiro . . .177
« Rodrigues Ii9, 150,
152, 4i:j e 433
« de Sampaio 100 e 104
« dos Sant(js Ribeiro . 258
« Sérgio de Sousa 60 e 66
« Silveira . . . 293
« « d"Avila, escrivão
da Camará da Horta 37
« Silveira Bulcão 30.
359 e 366
« « « (outro)
359 e 537
« « Linhares (cap.) 321
« Soares . . . 435
de Sousa Arruda . 258
« « Hilário 534 e 536
Tavares Ne! to. . 257
Taveira de Neiva Brimi
da Silveira (D ), Bis-
po de Goa . . 331
« Teixeira de Macedo 513
« « d'Oliveii'a . 257
« Telles de Macedo (Dr.) 364
« « Peixoto Gutlier-
res Palhinha . . 532
« Telles d"Utra Machado 525
« da Terra Pinheiro (Dr.) 57
« Theodoro da Silva . 534
« dUlra . . .109
« Vaz . . .407
« 1 Castello ( Dr. )
420, 424 e 425
« Vieira 108, 110, 123 e 141
« « (Padre) . . 376
« « de Faria . 291 e 353
Arão Bensaude . . 260
« Cohen . . .202
Aristides Brandão de Cas-
tro 197 260. 265 e 267
« Moreira da Motla (Dr.)
195, 258 e 267
Armando da Silva . . 241
Arsénio Leonel de Medei-
ros (Dr.) . . 541
Arlhur Hintze Ribeiro (Dr.)
196 e 258
« Machado Gama Car-
reiro . . . 257
Augusto dArruda Quental 498
« Athaide Corte Real da
Silveira Eslrella . 259
« Bulcão 360, 376 e 537
« Cabral . . .497
« César Supico 195 e 263
« Loureiro 495, 497,
499, 500,501,502,
505, 507,508,513,
516 e 52íi
« Massano . . . 537
« Pereira d'Aguiar . 508
« Ribeiro 485, 527,
529 e 531
« da Silva Moreira . 510
Ayres Pires Cabra) . . 114
Balthazar Alvares Paim . 135
« de Azurara . 99 e 103
« da Costa 107, 110,
119, 122, 125 e 146
« Dias (tabellião) . 121
« Ferraz . , .150
« Gil ... 399
« Gomes Sodré . . 116
« Gonçalves . . 136
« Joaquim da Luz . 261
Barão dAlvito . . .131
« da Arèa Larga . 24
« de Fonte Bella (l.^j 29
« « « « (Jacin-
Iho) 195, 203, 244 e 263
« Hugon ... 45
« da Lagoa 25, 28,
29, 31, 41, 67 e 351
tf das Larangeiras (1.°) 29
« « « (3.**) 203
576
ARCHIVO DOS AÇORES
B.irãi) (Ic Míiriijú . . 49
« de iNoi-oiiha . . 'id
« de Rdiissin . . 40
« da Yilla da Praia 469 e 481
Barbara da ((iiiceição . 291
« Dometdia {[).) . 294
« Jiia(|iiina Slreet d'Ar-
ri;iga (D.) . . 369
« da Trindade (D.) . 328
Baruiieza da Lagoa . 331
Bai lliuloiiieii Drzcalça e
liairos - . . 436
« Dias . . . 215
« reriiandes . . 409
a de Frias . 430 e 431
« Gonçalves . 397 e 410
« dos Martyres Dias . 489
« Nunes . . 101 e 382
Bastião. Vid. Sebaslião.
Beatriz de la Cerda (D.) . 330
« de Sá (D.) . . 404
Belchior du Amaral (Dr.)
154, 156 e 160
« Eslacio d(j Amaral . 150
« de Sonsa . . 149
Benito Marão . . .178
Benevennto Ctllini . . 323
Benjamim Ferin . 257 e 201
Bento de Bellenconrt Vas-
eoncellos e Lemos . 470
« de Góes . 215, 226 e 241
« Jo>é de Mattos Abreu 488
« Pereiía de la Cerda 335
Bernardin Beleago , . 406
Bn iiardino Aimuslo de Mel-
lo <! A/^eredo 499 e 508
rt .lo>é de Seima Frei-
la> 437, 495, 514 e 525
» 1'aclieco Alvt!S Pas-
sos ;Dr ) . 537
Bernardo Macliado de Fa-
ria e Maia (Dr.)258 e 351
« de Sá Nogueira 0.
488 p 489
.. Trlli .s rtr.i M;icliado 287
Braz dAlvide . . 107 e 109
c( Cota íDr.) . . 407
« Lonienço . . 401
Brito Capelio. e Roberto Ivens 193
« Reitello (Vide Jacinllio
■ Ignacio de).
Bulhão Pato ( Vidf Raymun-
do António de).
(Caetano, escravo . . 293
8 dWndrade Albuquer-
que (Dr.) 195, 196,
263, 259, 501, 603 e 512
« Coelho dWvellar (P/) 185
« Moniz de Va>coucel-
Ims . 196 e 503
« Xavier de Mendonça
Sanlmha . . 3i9
Camões (Padre) . . 342
Cândido José Xavier . 213
« Maria de Sousa . 537
« Serpa . . . 376
Carlo< Augusto de Bett- u-
courl . . 537 e 538
« Augusto Carneiro Za
gallo e Mello 196,
197, 260, 266 e 267
« Renlo da Silva 491
« Bolelho . . . 506
« (inilherme Dabiny 289
C. M. Fri.es . . . 495
« Miri I Gomes Macha-
do (Dr.i 195,2.59 e 263
« de Mas(arenhas (D.) 20
« Vieira Goulart . 6(5
Carlota, escrava . . 292
« escrava '^oulra) . 293
« escrava ( « ) . 293
« .loaquina de Bttnrbon 470
« dOhveira (D.) . 370
Casiuíir Pcrier . . 42
C>atliar na Flora . 291
« Luiza de Brmii 293
« de Mello ([).) . . 422
AhCHlVO DOS AÇORES
577
Callinrina Thomazia, escrava
(Charles Williaiii Dabiiey .
(-Iirislianu José Garção de
Carvalho
« de Medeiros Frazão
« Gomes .
Clii'istovão de Lemos de
Mendonça (capitão)
« A. Rodrigues .
« Mendes de Carvalho
« Hodrignes
« Soares .
« « d'Albergaria
Clara Dabney (D.) . 67
« Thomazia d 'Amaran-
te (D.) .
Clemência de Mendonça (D.)
Clemente Joaquim da Costa
Conde de Linhares CO,
4i2 e
« de Miranda
« de Penela
« d^ Praia da Victoria
« « « (í « (2.*')
1. 530 e
« de Saldanha .
« de Santa Cruz
« da Silva 195, 257 e
« de Sieuve de Menezes
« de Vargas
« da Vidigueira .
« de Villa Franca
« de Villa Flor 7, 20 e
Constantino Cândido Leal
Soares .
(>orte Real
Custodio dWbren
Cypriano Joaquim da Silveira
294
35
470
259
433
465
500
146
412
435
151
e 81
293
434
257
435
175
416
526
531
16
184
263
532
49
169
170
488
542
215
147
66
Damazo Pereira da Silva . 291
Damião dAguiar (Dr.) 162 e 166
« Dias . . .400
Daniel Conegna Cordeiro 281
David Xavier Cohen (capi-
tão) 197, 258, 266 e 207
N.^ 48— Vol. VIII— 1887.
Delfina, escrava
Diniz Alvares .
« Gregório de Mello
Castro e Mendonça
Diocleciano Leão Cabreira
Diogo Alvares Pereira Sar
mento Forjaz de La
cerda .
« de Barcellos
« Borges .
« Cão
« Celema .
« Dias
« Fernandes
a Ferreira
« Flamengo
« Gil
« Gonçalves . 390
« Leitão
« Lopes 106, 111, 120
« c( (Dr.)
« Martins .
« Nunes . . 415 e
« Orelha .
« Pinheiro
« Pires . . 113 e
« Palrone Jr. (J. P.) .
« da Ponte
« Preto
« de Proença
« da Silveira
« Soares . 116 e 177
« Taveira (Dr.)
« Vaz Rodovalho
Domingos Affonso 397, 400 e
« Carvalho
« do Couto
« Fernandes
« Gonçalves
« Machado Soares
« Mendes de Faria 81,
535, 536, 537
« de Paiva . 383
« Pereira Cardozo
« de Ramos
295
98
310
19
470
470
122
215
104
406
146
504
394
406
392
414
391
411
104
416
414
394
412
220
394
395
122
404
177
410
148
401
191
113
113
98
5H
e 540
e 414
319
346
14
S78
ARCHIVO DOS ACOhES
Domingos Kibeiro de Car-
valho . 90 e
« de Sousa e Silva 3i8 e
« Vieira Pacheco (cap.)
Drumiiumd (F. F.) .
Duarte d Abreu . 143 e
« Borges da Gamara
Medeiros
« de Caslello Branco ,
« Dias . lOG, m e
Duque d^Albuqnerijue
« dAveiro
« dAvila e Bolama 24,
79 e
« de la Torre
Eça Leal .
Edmond Abuut
Eduardo, escravo
« Augusto Kopke
« Ivens
Egas Moniz (Padre) .
Elias José de Moraes 488 e
Emerenciana Dorolhea Brum
da Silveira .
Emigdio Ignacio de Souza
Emilia Carlota da Camará
Madureira (D.)
Emilio Castellar (D.)
« Jardim Galvão
Engracia Barbara
Ernesto d'Amaral
« do Canto 195, 198,
206,219,220.227,
263, 264, 265, 266,
267 e
« Rebello 6, 281,495,
499, 528, 529, 534,
535 e
Erminio Maria .
Estacio Machado Dutra Tel-
les . . 28 e
f da Veiga
Eitevão Alvares, almoxarife
143
294
0 Alves
102
329
« Borges do Canto
529
465
u do Couto
406
157
« de Jesus Maria (D.
147
Fr.) Bispo d'Angra
367
e 532
29
Eugenia Rosa .
291
434
Eugénio do Canto (Dr.)
258
113
« José de Moraes
351
403
» Rapozo Quintanilha .
515
184
349
Felicidade, escrava ,
293
73
Felisberto Augusto Vieira
de Bem (Padre)
90
Felisarda Joaquina dos San-
tos (D.)
291
537
Félix de Brito Capello
223
71
« José da Costa 70,
292
495
e 527
259
« Sottomaior
531
221
« de Valois e Silva
437
514
Fernando Cortes (Marquez)
402
523
« de Noronha
435
« Rocha (Dr.) .
527
334
Fernão d' Alcáçova .
399
293
« Alvi.ns d'Oliveira 118
e 151
« de Annes
113
482
« Barboza 119, 122
e 125
277
« Carvalho . 103
e 104
503
« dFvora .
396
292
« Faleiro, Provedor .
159
537
« Gomes .
106
« Gonçalves da Rocha
406
« Lourenço
106
« de Magalhães .
215
268
« Martins de Sousa 190
e 191
« da Rocha
424
« Rodrigues . 395
e 396
537
« Vaz . . 106
e 412
527
Ferreira Cordeiro (M.)
202
. Rocha (A. J.) .
293
340
Filippa Coutinho (D.)
377
495
Filippe dAiKlrade Albuquerque 258
ARCHIVO DOS AÇORES
579
Filippe Orveií-a
135
Fra
«
Fialho Rorges .
104
«
«
(Jo OuenUil
514
Filomeno Bicudo 197, 249,
«
251, 261, 205 e
267
Florêncio José Terra 534,
«
535, 537 e
538
«
Franciscn Cordelia Telles
«
(D.) . . 292 e
340
((
«
Emerenciana .
289
«
«
Guerra (D.) .
81
«
«
Liiiza . . 291 e
293
«
«
Margarida
291
«
«
Pania da Terra Brum
«
(D.) . 25, 31 e
331
«
«
Yicloria Corte Real (D.)
334
«
Francisco, escravo .
294
«
escravo (outro)
294
«
AíTonso, tabellião
145
«
c
« de Chaves e
«
Mello .
350
«
<í
AíTunsoda Costa Cha-
«
ves e Mello. 503 e
510
«
a
Agostinho ' .
445
«
«
d" Almeida
150
«
«
« Pacheco .
513
«
«
dWlvarenga .
141
«
Alvares 400, 401 412 e
433
«
«
d' Andrade Albuquer-
que Bettencourt .
261
«
«
António da Silva
445
«
« « « alferes
260
((
('
« Tavares .
446
li
dArruda Furtado .
51
«
«
Augusto Pamplona Ser-
pa .. .
202
«
Barbosa Furtado 77 e
202
«
«
« Furtado Jr.
259
«
«
Beleago .
412
«
«
Bento Franco .
259
«
«
de Bettencourt
260
«
Borges Bicudo
260
((
«
Botelho .
161
«
rf
do Canto
101
«
«
de Caravide, corregedor 169
238
412, 413
.) .
102, 130
123
(Dr.)
Francisco Cardoso, capitão
Carvalho de Medei-
ros . . 287
Christiauo da Silvei-
ra Baptista, escrivão
Coelho .
Cordeiro
da (]osla
Coutinho (D.
Dias
« dAmaral
Félix Machado
Fernandes
« recebedor
« Moreno .
Fernando d'Orleans
(príncipe de Joinvil-
le) . . 42 e 47
Ferreira . . 161 e 165
« Goulart (Dr. P.")
Gomes dWmorim
Gonçalves
Horta (Padre) .
Ignacio .
« Rebello . 499 (
« da Terra Brum
da Silveira .
Jacome Corrêa 501,
502, 508 e 515
Jerónimo Coelho e
Souza (Dr.) .
Joaquim Moniz de Bet-
tencourt . 527 e 528
Joaquim Pereira de
Macedo 494, 497,
507 (
José da Costa Rebello
Leite Botelho de Teive
de Lemos Alvares 491 e 528
de Lima Nunes (Dr.)
499 e 509
Luclo Duarte Rego 491 e 528
Luiz . .291
Machado Pamplona
Corte Real . . MO
465
293
288
185
515
414
419
291
128
513
113
409
142
336
318
113
258
360
512
25
258
509
293
470
580
ARCniVO DOS AÇORES
Francisco Maria Supico 195,
224, 226, 230,231,
240, 260. 263, 266,
267, 280, 495, 499.
501, 502,505,507,
508, 512, 514, 528 e
« Manoel Cuellio Hurges
« « Guttierres
« « Rapozo Bicudo
Corrêa (Dr.) 501,
503, 507, 512 e
'< de Medeiros .
« de Mello .
« Mendes Pereira 430 e
« da Motla Ozurio
« Moniz de Medeiros
Pontes 504, 508 e
« Nunes . . 400 e
« Pacheco de Mello de
Mariz Sarmento
« de Paula
« « de Souza Vil-
la Lobos
8 Pedro, alcaide 135 e
« Peixoto da Silveira
197,202,261,265,
267 e
* P. de Lacerda
« Pereira Lopes de Bet-
tencourt Athaide (Dr.)
195, 196, 197, 257,
266 e
« Pereira de Mello 365,
368, 376, 534, 535.
536. 537, 538 e
« Pereira Ribeiro 287 e
« « da Silva 508 e
« Peres
« Pires
« Rebello de Chaves
« Ribeiro .
« Rodrigues, juiz
« « escrivão .
« de Sá Noronha
« de Salles Rezendes
531
470
288
517
410
422
431
191
512
402
65
291
366
137
506
537
267
540
294
516
99
113
260
392
139
411
81
259
Francisco Salles de Sousa (P,
0 88
d
Serpa (Francisco Au-
gusto Pampluna Serpa)
202
«
S. Garcia Júnior
539
((
da Silva .
313
«
« « Cabral (Dr.)
258
«
da Silveira Lacerda .
289
«
« xMachado .
525
«
Simões da Cunha 157 €
. 158
«
Tavares, almoxarife
287
«
Vieira de Faria
352
0
Xavier Corrêa
494
«
« Pinto
258
«
« da Silva 495,
499, 510. 527 e
528
((
« da Silva (P.'')
24, 28 e
287
Frederico Alberto da Silva
261
«
Leão Cabreira
514
Froes (C. M.) .
495
Gabriel d'Almeida .
498
«
Mendes .
128
«
de Moura
422
«
Pereira de Castro .
173
Galas Lopes . 120 e
132
Gallo
(Padre) .
324
Gaspar Aftonso
392
«
Alvares ,
150
«
Corrêa .
423
«
Fernandes
392
«
de Figueiredo 146,
423 e
424
((
de Freitas . 382 e
409
«
Homem .
109
«
Jorge
135
«
Luiz
412
((
de Magalhães .
420
(1
Maldonado 149, 152 e
162
«
de Medeiros, capitão
178
((
Pereira de Lacerda .
65
«
do Rego Baldaia
432
«
Rodrigues
433
«
de Seixas . 424 e
425
ARCHIVO DOS AÇORES
581
Gil Eannes da Cusla(D.) 139e
a « da Silveira
« Gago da Camará
« Jacome
« Miranda
General Prim .
« Serrano .
George Sand (M."'")
« Williani Hayes
Germano V'eliio Quintanilha
Gomes d Amorim
« da Cruz (José António)
« Freire d"Andrade
« de Sequeira
Gonçalo Annes 109, 113 e
« Arraes de Mendonça
135 e
« Dias
« Fernandes
« Gomes .
« de Labalh Marrama-
qne de Lacerda
« Lopes . . 97 e
« Magro
« xMourato
a Nunes d'Ares .
« Pinheiro, Bispo 108 e
« Pires . . 113 e
« Ribeiro . . 422 e
« Vaz . . 103 e
« Velho Cabral .
« Vieira
Gourlay (DrO . . 439 e
Gracia Gonçalves
Gregório Nunes
Gualberto Soares Vargas .
Gualdino Alfredo Lobo de
Gouvea Valladares(Dr.)
Guerra Junqueiro
Guilherme Augusto Bote
lho . . 500 e
« de Brito Capello
« Frazão .
« Gonrlay (Dr.) 439 e
c Ivens
409
152
259
113
261
73
73
72
258
495
323
213
489
215
413
137
99
106
413
370
400
394
406
417
110
408
429
104
215
126
446
98
126
505
260
537
504
225
260
446
221
Guilherme Machado de Fa
ria e Maia (Dr.) . 257
« Pereira dOliveira . 81
« « Rangel . . 506
« Poças Falcão (Dr.) . 260
« Read Cabral 495,
502, 514 e 525
« Street d'Arriaíí;i . 369
Helena Machado de Faria e
Maia (D.) . .351
Henrique dAndrade Albu-
querque . . 514
« Ben Saúde . . 258
« de Bettencourt . 404
« da Camará Frazão 258 e 266
« Esteves da Veiga . 147
« Ferreira de Paula Me-
deiros (Dr.) . 221 e 258
« da Fonseca . . 287
« « « de Sousa Prego 43
« Herz (Dr.) . . 81
« José de Medeiros Co-
lumbreiro de Góes 510
« José das Neves 195,
197, 263, 266, 267,
330, 503, 506 e 537
" Longfellow . . 374
« Nunes de Leão . 403
« da Pureza Greaves . 349
« Walker, cônsul . 288
Herbert Dabney . . 95
Hermano de Medeiros, alferes 259
Hermenegildo de Brito Ca-
pello 193, 220 e 225
Hermenegilda de Lacerda
(D.) ... 81
Ignacia Margarida . . 291
Ignacio Furtado . . 289
« « da Cruz (V.')J . 3()2
« Ribeiro Alves . . 213
« da Silveira Bettencourt 332
582
ARCHiVO DOS AÇORES
Iiifaute D. Hcnriíjiie .
« D. Luiz .
Izabel, escrava
« do Espirilo Saiilo (D.)
« Francisca
« Hicklitig (D.) .
« Joaquina
a Lopes . . 39o e
« Maria (D.)
« Marianua
Ivo da Cruz (Fr.) 319 e
215
58
292
428
291
221
291
396
319
291
321
495
337
259
542
J. Ramos Coelho
Jacinta Uusa (D.)
Jacinto d'Andrade Albuquer-
que
« Augusto de Betten-
court 535, 540
a Augusto de Freitas
Oliveira . . II
« Augusto de Sant'An-
na e Vasconcellos . 367
« Cabral . . .497
« Carlos Mourão Pinheiro 470
« Ignacio de Brito Re-
bpllo 130, 148.150,
157. 158, 160,170,
171, 172, 173, 175,
181, 183. 185.382,
386, 387,38S, 391,
396. 403, 416,425,
431, 432 e 436
« Ignacio Rodrigues da
Silveira . . 29
« Leite de Bettencourt 260
« Victnrino Moniz . 257
« Monteiro de Bettencourt 5 18
« Pacíieco d'Alnieiila . 260
« da INjiite (Padi-e) . 259
« Soares d'Albergaria 260
Jacome (Carvalho . . 126
r>« Pires . . 410
Jane Griffin ... 79
Januaiio Filomeno Vellosa (P.') 499
« Furtado da Cruz , 362
Jerónimo Corrêa da Silva
« Emiliano dWndrade
(Padre) 492, 520 e
« Gomes d'Oliveira
« Luiz (Licenciado)
« P;iclieco . 98. 103 e
« Pereira de Sá (^Dr.)
154, 156 e
Jesuina de la Cerda (D.) .
Joanna, escrava
" (outra)
de Gusmão (D.) 430 e
de Mendonça (D.)
379, 383, 429 e
Joanne Annes de Gò*'s
João AÍTonso, escudeiro .
« dAguiar Valladão (P.®)
« Albino Peixoto 505 e
« Alvares 129, 131,
405, 431, 434 e
« « o Mngro .
« António .
« « dAvellar .
« « Botelho (Padre)
<í « Corrêa de Se-
queira Pinto .
« António Júdice
« d'Arruda da Costa .
« de Bairros
« Banha
« de Barros 120, 123 e
« de Bellas
« Bento Botelho de Gus-
mão
« Bernardes d"Abreu e
Lima
« Bernardino de Sena
195, 259. 263 e
« Bernardo de Mello .
« « Rodrigues 77 e
8 de Bettencourt
« « « Badf^lla .
« « a Vasconcel-
los Corrêa e Avilla
66 e
260
526
368
415
104
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336
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294
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434
108
393
88
514
435
406
511
488
258
367
438
432
100
394
142
99
260
259
266
510
506
534
376
349
ARCHIVO DOS AÇORES
583
Joãu Borges do Canto e
Silveira . . 470
« de Brito Capello . 223
« C.ibral 497, 311 e 512
« Cândido de Moraes . 495
« Carlos Rodrigues da
Co.sta 78, 520, 528 e 537
« de Castilho 127 e 140
« de Castro (D.) . 466
« Carrasco, bacharel . 390
« Cayado . . .138
« Chamorro . 406 e 412
« (^iliniaco dos Reis 503,
506 e 517
€ « « « Jr. 517 e 518
« Corrêa de Mello . 257
« da Costa 103, 106,
112, 113, 117, 119,
120, 121, 125,126,
129, 131, 132, 133,
142, 143, 146, 148,
160, 422, 423, 424 e
« Daniel .
« Dias
« « dAlmada .
« « da Bica, juiz
« « de Carvalho
« Eduardo dAbreu Ta-
vares 488, 492,
523 e 528
« de Espínola (cap.) . 465
« V. H. Parkin Scholtz 514
« Félix d'Oliveira Pi-
nho (Padre) . . 258
« Ferreira Benevides Rego 512
« Francisco . . 289
« « d'Escobar 535,
538, 540, 541 e 5i2
« « Luiz . , 287
« « Pereira . . 351
de Freitas . . 294
Galego . . . 410
Galvão . . .140
Gonçilves 101, 102,
114 e 414
425
178
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164
164
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Gonçalves, bacharel .
382
«
« Zarco .
215
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«
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537
«
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309
«
« Pacheco Leal .
239
«
« Peixoto .
511
«
« de Sousa
349
«
Jacinlho Botelho 498,
505, 508, 513,514,
516 e
344
«
Joaquim da Costa
259
«
José d Amaral (P.'') 499 e 514
«
José dWndrade 348,
499 e
510
((
« da Cunha Ferraz
19
«
« Furtado .
3iO
«
« da Graça Júnior
372, 376, 495, 524.
525, 526, 533, 534,
535, 536, 537, 538,
539 e
540
«
José Paim Brurn da
Terra Silveira Leite
25, 61 e
331
«
José dos Ramos e
Cunha 498, 499, 510 e
518
«
José da Silva Lourei-
ro (Dr.)
301
«
José de Sousa
260
«
« « (P.^) 329 e
3i0
«
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88
«
Leite Pacheco de Bet-
tencourt
258
j Luiz de Moraes Pereira 238
«
Machado Alvares
6
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f de Benevides .
498
«
« de Faria e Maia
501
«
Manoel .
288
«
« de Sousa de Me-
deiros .
289
«
Maria Mesquita
523
584
ARCHIVO DOS AÇORES
Coellio Borges
João Maria Pereira d'Ama-
ral e Pimentel (D.)
« Maria Raposo o Silva
« «de Sousa 493.
401), oOo, o08 510
« Martins, tabellião
« de Medeiros Júnior .
« de Mello Abreu
« Miyue
« Moniz Machado
« « Peren^a da Ga-
mara
« Monteiro
« de Nóbrega Soares
« Paes (Dr.) 407, 408,
412, 413 e
« Pedro Coelho
« « Ribeiro
« « Soares Luna
« Peieira de Bettencourt
« « de Escobar 53o,
538 e
« « Forjaz 409 e
« « de ia Cerda 30,
33 i e
« « a « « capitão
« « Sarmento .
« « « bVjrjaz de
Lacerda 470 e
« Pimenta dAbreu (D.)
« Quaresma
« Quintana (Licenciado)
« Rodrigues 167, 408 e
'.< « Falleiro, capitão
.' « de SiMjueira
« de Santarém (Fiei^ .
« dos Santos
« Serrão .
« da Silva do Canto 135e421
;< Silvestre Serrã(j (Padre; 526
« Siuve de Seguier . 259
« de Sousa Pereira 490,
i91 e 520
« « « Ribeiro 489,
490, 521 e 52 i
86
497
516
101
504
258
471
500
500
100
503
414
470
172
3i9
288
540
539
348
288
536
471
169
337
406
415
178
99
39i
99
123
João Tavares 397, 399,
400, 401, 415 e
« Teixeira Soares (Dr.)
527 e
« Usademar (Licenciado)
« de Valladares .
« Vasc(» Ferreira Leão
« Vieira
« \Yhitlon, tenente
Joaquim António
« Barbosa 77, 258 e
« « Furtado .
« Cândido Abranches
496, 503 e
« Chrispiniano da Costa
« Dias
« Diogo de Mello
« Firmino Borges Bicu-
do (Tenente Coronel)
« José Barbosa .
« « Pert ira da Silveira
« Soares 488, 489,
490, 492, 520, 525.
528 e
« Lopes Carreira de Mello
« Machado da Rocha .
« Maria de Miranda e
Oliveira
« Maria da Ponte 502 e
« de Mello Maroel da
Camará (D.) .
« Pereira de Lacerda 288 e
« « Soares .
« Zeferino de Scíjueira
Moraes (alferes)
Joaquina, escrava
fl « (outra)
« Clara de Noronha ^b.)
Jobs Vau lluerler
John Franklin .
Jurge Aílonso . . 99 e
.< de Cabedo
« do Canto
« (](»rréa Fafez, ouvidor
« da Costa 116, 42i, 'i25e
416
533
145
137
60
288
288
289
506
202
516
498
537
257
250
512
366
530
46
525
59
010
260
334
288
511
293
294
25
340
79
432
1 49
288
113
429
AKCHIVO DOS AÇORES
o85
Jorge Dias . .399
« Ferral) . . . Ii3
a (la Konseita . . 411
« <í.ií;|)ar . . . 1 18
« <le Mello . 390
« Severino da Silva . 331
José AfTonso Hotellio (TAii-
(Ira(le(l)r.)207,"2i7.
37i, 505 e 536
« (I Almei.la e Silva 24 e 60
« António (Camões (Padre) 342
« « Guerreiro . 489
« « da Silva Torres 20
« d Airnda Leite . 258
« d"Ave Maria da Costa
e Silva (D. Fr.) . 189
« Angiisto (>abral de
Mello 474, 514, 525 e 532
« Augusto da Costa Re-
zendes 495, 500,
511, 516 e 545
« Augusto Nogueira Sam-
paio (Ur.) . . 530
« Augusto de Sampaio
Júnior . . 530 e 531
« Ben Saúde . 260 e 514
« Bernardes de Madureira 482
« Bernardo Mendes (P.") 502
« de Bettencourt Atliaide 259
« « Vascon-
Cellos Corrêa e Ávila 470
« Borges de VascHicel-
los . . . 258
«( Botelho Âmbar 261 e 2()6
« « de Mello . 503
« (bandido de Betten-
court Furtado . 340
« (>aiidido de Sena . 503
« do Caulo . . 263
•c Coelho . . . 289
« da (Conceição (Fr.) . 284
« Ciirry da Cauiara (Ca-
bral . . 24 e 370
« IJaniel da Silveira, es
cri vão . . . 288
N.« 48— Vol. VIII - 1887.
José Daniel da Silveira iP.")
« Dionizio da Serra
62
489
257
Duaite (hl llnrla
Fstevão (Coelho de .Ma-
galhães 6, 370, 488 e 523
Kzeijuiel da Costa Ric-
ce ... 490
Ferreira Martins . 504
« Martins Júnior 504
« Bocha (António) 65
« da Silva 318 e 322
Filippe da Graça . 539
da Fonseca . . 287
« Abreu Cas-
tello Branco 527 e 530
Francisco Balheila . 289
« da Camará Ter-
ra Berquó . . 65
Francisco de Medei
ros (Dr.) . 28 e 287
« da Terra Brum
25, 28, 29, 31, 41.
288 e 331
Gonçalves Barboza . 489
Henrique de Medeiros 514
Horta . . .258
287
d' Arruda Pereira 51 1
« Machado 287 e 352
« Pimentel. . 293
« Rebello Júnior 257
tf «( de Medeiros 512
« de Sousa . 494
Jaciutho Pacheco de
Medi^iros . . 257
Jacinto Rapozo Morei-
ra (Padre) . . 498
Jacome Corrêa . 261
Joaquiu) . . . 289
« d AzevedoiDr.)
66 e 537
« Botelho 506, 511 e5l3
« Lopes de Lima 509
« MjUoso (]ao(i
da (]amaia . . 514
15
Ignacio
586
ARClllVO DOS AÇORES
José Joaquim de Moura Cou
tinho (Dr.) . 5tK) e 54i
« Joaquim ti Oliveira M;i-
chadu 510, 512 e 51 1
« Joacjuim Pinheiro 485,
493 e 52!7
« '< Hibeiro . . 485
« Júlio Teixeira (Dr.) . 259
« Leal Furtado (Padre)
87, ;j37 e 360
« Lopes d Azevedo 202 e 266
« Machado de Faria e
Maia (Dr.) . 259
« Maria . . .289
« « Alvares Cabral 259
« « Barbosa Coutinho 258
« « Brazil . . 517
« « de Bettencourt
Vasconrellos e Leuios 470
« Maria Cabral Ramalho 259
« « da l>an>.ira Vas-
concellos . , 494
« Maria do Couto Severim 514
« « Pimentel 257
« « d Oliveira Pereira 65
« « da Silva 500 e 54 V
« « « Leal . 521
« «de Sousa 496.
502, 505, 506 e 508
« « Teixeira . 516
« « de Vasconcello.s 516
« de Medeiros Betten-
court Hego 259
« de Medeiros C(»gMm-
breiro . 257
« Migu» I Borjíes I Padre) 221
« .Moniz Barreto ( « i 90
« Moreira Velho de Mel-
lo Cabral . 508
« d'Oliveira Soares 288
« Pacheco Toste . 2I()
« Pamplona Corte Heal 70
" « Moniz Corte
Real . ()5
« Pedro de Jesu.^ Cardo.^i i 257
24 e 292
322
258
267
177
532
221
213
46
292
537
260
José Pegado d" Azevedo (D.)
26 e
t Pereira Botelho (Dr.)
206 e
« « i< Bilev
(Dr.) 197, 202,257.
265 e
•í Pereira Sodré .
« Raphael da (>osla 491 e
« Rebello Cordeiro
« « da Silva
« da Roza (>nrado
« Sebastião Corrêa
a de Ser()a .Miranda
« da Sdva (Cabral
« Tavares Carreiro 2 18,
257 e 260
« Teixeira C(»rdeiro 505,
507, 516 e 543
« Maciel . . 287
'< Theodo>io de Betten-
court Vasconcellos e
Lemos 470, 481 e 488
« de Torres . . . 512
« Irbano dAndrade . 533
« Xavier Mousinho da
Silveira 23
Jnlia, escrava . . 284
Juliana, escrava . . 292
Julião Vieiía . . 113
Jnlio, escravo . . 293
« de Castilho . . 91
« Cezar Machado . 202
« da Fncarnacão Macha-
do 505.' 507, 511
'< Pereira de Carvalho
e Cosia (\)v.) 202
'' da Silva .
Juidão Vaz
KarI Ritlcr
e 513
e 503
537
106
AhCHIVO DOS AÇORES
587
Lady Trankliii . . 79 ,
Litcmla . . . -215!
Lara (lAndrade d». G.) . i89 I
Laureaimo Pereira da Silva
(>(Miea . 305 e 540
Lazaro Dias . . . 125 ^
Leonardo Nimes . I J8 e 125 j
Leonor, escrav;! . . 292 |
Leopoldo José de Chaves . 510
Liciíiio Jidio Botelho Tavares 200
Liziiarte Piíes d "Andrade . 133
Ln[)Hs AiMies . . . 382
« (Ih Mendonça , . 76
Lopo FingallKj . . . 414
<' Dias Homem . . 424
<( Gil Fagundes (Dr.) 459
« de Sousa, capilão . 105
Lourenço António da Silvei-
ra MaceíJo . . 363
« de Baldrnque . . H2
« Marquez . . .215
Lucas Duarte (tenente) . 511
« Giraldes . . .138
« José de Chaves . 528
>i de Sequeira . 1 43 e 390
'< Vieira . . .166
Luciano Cordeiro . 220
Luiz A. P. de Saúde Jr. . 528
:< Alhaide Corte lU-al . 260
♦< Ávila . . . 537
« Augusto Freire The-
mudo . . 503 e 51 1
« Augusto Maehado 505 e 515
» do C:nilo <la Camará
Faleão . . - 258
« <la Costa . . 413
.< Ciutinho {D.) . .419
« Felgueira . . 128
" Fernandes . . 399
'c Firii)[)e LeitH . . 514
i< d;i (íuarda (Dr.) . 114
<( Jacinlho dos Reis . 509
« José Ribeiro . . 257
.( de la Cueva (D.) . 403
« Maria de Moraes 259
Luiz Maria Pires da Gama 258
« Meirelles do (^anlo e
Castro . . . 470
« Pacheco de Lima e
Lacerda . . 470
« Pereira . . .168
'< Poças Falcão (Dr.) . 260
" Quintino d'Aguiar . 2(J0
M da Rocha Porto (car-
reiro, ouvidor . 419
« Rodrigues . 162
« da Silva . . . 168
« Tavares . . . 257
« Telles de Barcellos
538 e 539
« da Terra . 373 e 536
« « « Peixoto, cap. 294
« Teixeira de Sam[)aio
Júnior . 57. 366 e 570
Luiza Amélia dOliveira (D.) 347
« Borralho (D.) . . 222
« Joaquina . . 445
« dOruellas [D.) 292 e 347
« de Sousa (D.) . 340
Mani António, escravo
Marujel, escravij
« d Almeida
" Alvares . . 127 t
« « boticário
K « Cabral (Di'.) .
« Alves Guerra . 61
292
293
138
400
125
114
e 68
533
494
d Andrade
António de Vascoucellos
Aprigio de Carvalho Se-
veiino dAvellar (Dr.j 537
dAiriaga . 537
Augusto do Amaral . 202
« Hinlze Ribeiro 259
« da Pureza . 60
« Tavares de Re-
zendes233,496, 499,
500,501, 502, 503,
511 512. 513, 515 e 517
588
ARCHIVO DOS AÇORES
MíHK.el 'lAzevedo , 43i e
« Hazilio Coelho Rocha
88 e
« Bellenciuil Neves .
« de Bruin Ath.nde
« « L.iljalh Alhaide
« da Camará (capitão)
M2, 114, 3"/ ;í, 383,
426 e
« do Canto de Ca>lro ,
« (^ardozi) (Frey)
« « Albergaria e \alle
« Carvalho de Medeiros
« Christiano Carolo
« Cobbs
« Coelho .
« Constantino Theophi-
lo Auqnsto Ferreira
302,\^i05, 50G 510 e
« Corrêa Botelho 496,
497, 499,500.501,
502, 503, 504, 506,
508. 509,511.512.
51-3, 516 e
« Corrêa Botelho Júnior
« « e Silva .
« Corte Real . 402 e
• « da ílosla 116, 405 e
« Dias de Lima .
(' Duarte . . 239 e
« KmilioThtunazda Sil-
veii'a
« Fernandes de Barcellos
« « (Cabral .
« da Fonseca Lima
« Francisco íioularl
« « de Medeiros .
M « » « (Dr.i
« Franco .
« de Frias de Castm .
« Garcia . . 406 e
« '< Monteiro 534.
537 e
« « da Rosa (Dr.).
t Gomes .
435
Manoel Gonçalves
410
((
Goulart de Medeiros
376
521
«
Henrique Dias
541
257
«
Homem da Costa No-
330
ronha . . 183 e
470
65
tí
Igna('iod"Athayde287 e
292
«
Ignacio da Caniara
2'il
a
« Corrêa
257
430
<(
« Pina
292
163
«
« de Sonsa (Dr.),328t
329
427
«
« « Tenente
293
501
((
« « Sar-
65
mento (Dr.) . 327 e
340
288
«
J. da Camará .
241
178
«
Jacinto Labalh
347
185
«
« Lopes .
261
a
« Pacheco .
258
«
Joaiinim d'Andrade .
524
513
«
« Dias
540
«
« de Menezes .
481)
«
José Bruni da Silveira
189
«
« Dias Júnior
541
«
« Duarte
254
517
<í
«. Mendes Leite .
17
494
u
« de .Moraes 496,
260
502, 506, 508 e
514
403
«
« das Neves (Padre)
89
413
«
« de Sequeira
90
541
0
de Lemos
163
243
«
Lopes
40(>
«
« Guimarães i^Dr.i
258
541
«
« dOliveira
412
343
«
Lourenço Tanger
288
116
«
da Maia .
173
176
s
Maria tia Camará
496
336
«
« « (Dr.)
259
3'.9
«
« da Costa (Padre)
89
534
«
« de Mello 541 e
542
162
«
« da Terra Brum 41
e67
510
«
.Mariz
28Í)
407
«
« de Sousa
289
«
de Medeiros Co>ta (]au-
538
to Albuquerque
29
291
((
de Mello
390
414
a
« Coutinho
390
ARCHIVO DOS AÇORES
589
M.ino
el ll^^ Muiua
97
«
N()g-n'ira
150
«
d Oliveira da Silva .
287
«
Pereira (iej.acenia 2^
1 e 503
«
Prrlo Valdez .
179
«
Kebello Moniz .
257
«
Hodrigiies da (ItK^ta
291
«
da Silva Passos
17
«
Soares Pereira
515
«
de Sonsa Pereiía 490
491 e 520
«
« Raivoso
20
«
« Simões
213
«
Thoiiia/, Pereiía
541
«
Vaz
141
«
Victor da Costa Se(jiieira 65
«
Zerbone 534, 53
j e 537
Marcello Alves da Silveira
Biilcão .
376
Marcus Uias
108
Marií
1, escrava .
293
«
« (outra) .
293
«
« ( « ).
293
«
« ( « ).
294
«
« ( « ).
292
«
Anna Kickliog (D.) .
221
«
« Victoria (D.) .
318
«
Aurora Telles de Ma-
cedo (D.)
364
«
Cândida Leite de Bet-
tencourt (D.) 48
1 e 482
«
Carolo (D.)
349
H
Con>tança
288
«
da Crnz .
427
«
Delfina da Silveira
GoHlart {[).) .
363
«
da Kncarnação
289
«
do Es[)irilo Santo
291
■ M.
Enlalia . ,
288
«
Francisca
291
«
da Gloria da Terr;
Brum (D.)
40
«
da Gloria Terra Ber-
qiió (D.)
70
«
Guerra (D.) .
69
Maria Ignacia Gonlart 336
« de Jesus . . 291
« José, escrava . . 293
« JuliaT('rraCarv;Hllial(D.) 67
« Lííbatli (D.) . . 291
« de Lacei da LabatlKD.)
359 e 366
« Leopoldina dOrnel-
las (D.) . . 347
« Magdalena da Cama-
rá (D.) . . 439 e 445
« Magdalena Ursnla (D.) 35Ô
« Margarida Stocklcr . 481
« Otliilia dAzevedo e
Mello (D.) . . 364
a Pereira de Sousa 190 e 191
Margarida Graham (D.) . 293
Marianna, escrava . . 294
« « (outra) . 293
« Belmira d'Andrade (D.) 528
« Victoria de Noi'onha
(U.) . . 25 e 331
« Ursnla (D.) . . 362
« Vieira de Faria (U.) 312
Marianno Augu.>to Machado
de Faria e Maia (L)r.i
259 e 501
« Hanserden (D.) . 54
« José Cabral 496, 497,
499, 501, 506.507,
508, 512 e 5ri
« José da Silveira 504,
513 e 515
« Raposo Alvaies (la-
bial ^Di.) . 260 e 265
Marquez de Castello Rodrigo 169
" de Loulé . . 22
« de Pai me lia . 20 e 488
« de P<»mbal . 311 e 436
« de Sá da Bandeira 487 e 488
« de Santa Cruz . 493
Marlim AíTonso . . 466
« Freire . . .128
« Gonçalves da Caujara 4r?3
Martinho de Mello e Casln» 437
390
ARCHIVO DOS ACOHES
Matheiís Augusto . 524 e 337
« (lo (lor;t(jão de Maria
(rr.) . . 313 e 3i9
« da Maia . . . i'»8
A}allii;is (À)resnia . . 178
Malliilde, escrava . . 293
Maiiricio Sand ... 72
.MaxiiuiliaiK» d'Azevèiiu . 337
Maximino Rego (Maximino
Uias do Rego) . 202
M.^cia Dias . . . 106
Melchior (Vid. Relchior)
« do Am;iral . . 134
Micer de Torres . . 163
Miguel, escravo . . 292
« d'Arriaga Rrum . 369
« de Figueiredo . . 133
« .losé Lui/> (Padre) . 292
« Maria Rorges da (Da-
maia (Dl.) . 289 e 369
« de Sousa Pinheiro (Dr.)260
« Streel Arriaga (Dr.)
37,60, 81. 369,314,
536 e 337
Miuvdu .1 k (Principe da (:orea)94
Moniz de Rellenconnrl . 78
« da Ponle . . 202
Moraes Pinlu . . .202
Moysés Ren Saúde . . 337
Naicisu António da Fonseca
(Padre) 492, 324 e
« de Sá Nogueira
Niculáo Caetano de Relten-
court IMtla « 491 e
« Card(js<j .
« Tolenlino dAhueida .
« « de Moura
Nuno António Porto .
« Cijrdeiío . . 503 e
o de Mascarenhas
Paiva Lemos
328
487
328
169
36
24
39
307
98
237
Panlaliam Gonçalves . 393
Patrício Xavier de Moura (D. j 37
Patronilha Rosa, escrava . 293
Paulino Cabral . . 364
Paulo AíTonso . . 423 e 424
« (luedes d;i Silva e Al-
meid.t (Dr.) . . 239
Pedro ',D.) 4." . lie 19
« Allonso d Ornellas . 191
« Alexandrmo d.i Cunha 487
« d'Almada . . !26
« Alvarado (D.) ■ 402
« Annes do Canto 101.
h29. 40i e 418
« «de Pombal . 406
« Ricudo Coirea . 2J6O
-i Camello Pereira 40i,
418 e 423
« Castanho 148, 130,
161, 162 e 429
«
Carrilho .
133
«
de Castro (D.)
97
(í
Corte Real
323
«
da Costa 161 e
163
«
« « de Sousa de
Macedo (D.) .
316
«
do (]outo da Silva 301 e
308
«
Dias
406
«
Pelgueira
410
«
FelÍN .M.ichado
329
«
Fernandes 103, 121,
127, 132 e
133
«
Fragoso .
104
«
(iaspar .
109
«
Cigiotle (Fr.) .
293
«
Ilcnriíjues
420
«
Homem 427, 428 e
433
«
« da (^osla Noi'o-
nha . 20
e 29
«
Jacintlio Galvão
323
«
Lobo
'i28
«
Lopes
162
u
.Mendes .
162
K
Nunes tia Costa Dr. )
162 e 166
ARCHIVO DOS AÇORES
591
Pedio fl^Olivein lOH, lOS,
IIG. 118. láO, 12:r
1Í6 |:íO e \iV.i
« de Paiv.i . . 39i2
« de Proença . . .'{Oá
« Uibcin^ . . :iH± e ilO
« Saticlics Farinha 102
« de Seixas irii, lo.*>,
156, 157, 158 e 164
« Uchallesi . . 161
«Vaz . . i:i3 e 401
« « Freire. f(irreged(»r 462
« Velho . . 405
Pereira de Lacerda 2H e 50:{
Peru. Vid. Pedro.
Philippe Vid. Fihppe.
Príncipe Alfredo, de Inglaterra 71
« da (loréa . . 94
« Henriqi.e, da Allema-
nha . . . 95
« Jerónimo Napoleão . 7 1
« de .loinville . . 42
« de Mónaco . . 95
Prior do Cralo d). Antonioi 148
Princesa Clotilde . . 71
Pnlqiieria, escrava . . 293
QnintiliaiKt A. Foítado 254
(Juiteria Mariainia 292
Hanios Coelho (,.1. i . . 495
Raphael Honlallí» Pinheiro 495
Raniino Peicií-a Galvão 287
Havinnndo António de Bu-
lhão Pato 16. 76 e 495
Ueniigio Noiele . . 177
Hibeiro GiMiçalves (A.) . 495
Hicardo Vello^o de Carvalho 529
Hichard Seeniann . 257
Richarte Hiichensoii . 178
Rita, escrava . . . 292
« « (outra) . - . 292
« e ( « j . . 293
Rita, escrava . . . á!K{
Roberto Angnsto de M« s-
qnila llenrifjiies . 341
« Brekt's[»ere Ivrns 221
« Ivens 193, 219, 220 e 249
« José da Silva 491 e 528
« Pires Alves de Miranda 28
Rodrigo Alves Guerra . 367
« da Camará (l).i . 435
« da Fonsecii Magalhães 17
c< Lobo (D.) . . 402
'< Lopes dAgniar . 399
« de Sá Nogueira . 58
« Soares de Medeiros
Gamboa . . 268
€ Zagaljo Nogueira . 532
Roqne Rareia . . . 376
« Centeno . . 169
« Francisco Fnrt ido de
Mello . . 59 e 66
« Rodrigues . . 413
« Taveira (Ui.j 310,
348 e 353
« Vieira 108, 110, 113.
118 120, 123, 128 e 130
Rosa, escrava . . .294
« dAndrade . . 107
« Carolo Goulart . 349
« Jiicintlia . . .294
« .< (outra! . . 294
« 'í (U.) . . 360
H Joaquina, escrava . 294
Rosália, e.-ciava . . 292
« Francisca . . 291
Rose Jorge Sartoriíis . 32
Rnv Barbosa . . 405
Riiy Bòt(t . 394, 395 e 396
« da (Gamara . 495 e 528
« Dias Kvangelho 395 e 396
« « de Menezes 162 e 163
« Fernandes 395, 396 e 427
« « dAlpoiíii . . 106
« de Figiieiíedo Corrêa I 12
« Gomes . . . 416
u H d Azevedo 397
592
ARCHIVO DOS AÇORES
Uny Gonç.ilves da ',(".am;ira 384
« « « (011 Iro)
377, 426, 4i9 e 431
« V;iz de Medeiros . 50 i
S;dva
lor A/,nlay
260
Samu
el Uabnpy
68
«
W. Uabney .
94
Sanei
0 de Tovar da Silva
170
Sanla
Rila (conselheii'o) .
321
Saiilos l'eix(jto
78
Sarmento (ea|iilão) .
260
Sebastião Alvares
410
a
do Canto
76
«
da Costa 408, 409.
414, 41o, 420 e
422
«
Dias
148
«
Fernandes
104
((
« Mattoso
98
«
da Fonseca
104
«
Garcia .
177
«
Gonçalves
432
«
José de Carvalho e Mello
311
«
Rodrigues
400
Seles
trina, escrava .
292
Sérgio' Anousto Ribeiro .
69
«
Pereira Ribeiro 28, 39 e
287
Serpr
Pinto
215
Silva
Poi-to
215
Silvério Dias .
293
Simão Alviires .
390
«
Borralho 113, 119, loOe 152
«
(>ardoso .
414
«
Gonçalves Preto
122
((
José da Luz Soriano
i85, 480, 487, i88,
489 e
523
«
de Mascarfidias
108
u
de Miranda llenri(|ues
121, 122 e
128
a
Pinheiro .
151
«
Rodrigues
406
«
Soares .
168
Sim[
Iicio Gago da Camaia
258
Soares Pereira
243
Tavares de Rf^zendes (Vid.
Manoel Augusto)
Theopliilo Rraga 509, 514 e 531
Theolonio Claudino da Sil-
veira Moniz (Dr.) . 259
« Flávio da Silveira 528 e 531
« d'Ornellas Bruges d"A-
vila . . 20 e 29
« dOrnellas Bruges . 491
« Simão Paim d Ornel-
519
291
351
257
260
las Bruges
Thereza Aurélia
« de Moraes Pereira (D.
Tliomaz Augusto de Borba
« Augu>to Serpa
« de Bettencourt (Dr.) 62 e 540
« Carew Hunt . . 514
« Eduardo Iveus . 221
« Francisco da Rosa . 293
« Hickling . . .445
« José de Bettencourt 24 e 293
« « Luizde Bettencouri 289
« Manoel Xavier Palmeirim 470
Thomé da Moita . . 98
« Ribeiro . . 79 e 495
« da Silva Ribeiro . 78
« da Soledade (D.) . 324
M Pinheiro da Veigi . 170
Urbano de Medeiros . 518
« l*ereira.da Silva . 541
« Prudencio da SHva . 376
Vasco da Gama . 215 e 227
Venâncio de Sousa Benevides 513
Veris>imo d Aguiar (Cabral
(Dr.) . . 260 e 501
« José Ribeiro (Padre) 362
Vicente Gultierres Bracamonte 288
« Luiz de Liuía . 292
AHCHIVO DOS ACOHKS
593
Vicente Machado de Faria e
Maia (Dl.) 10o,
260, 263, iOo
« Vaz
« « Ramos
Victor Amadeu de Lemos e
Silveira 535, 536
Victoriaiio Sequeira 197,
257, 265, 267 e
Victorino Ignacio d 'Arruda
;< José Ribeiro ( Padre "i
Violante Alvares
« Quadros da Silveira (D.)
Virgílio Soares d'Albergaria
Visconde d'Almeida Garrett
319, 323 e
« de Rruges 29, 491 e
« de Castilho , 91 e
e 501
106
167
e 539
288
259
360
394
327
258
324
519
316
Visconde das Larangeiras
(Manoelj ■. . 258
« da Praia (1.°) . 29
« de Sá da Bandeira . 6
« de SanfAnna 61 e 68
« de Santa Catharina . 260
« de Sienve de Menezes 532
Vital de Bettencourt Vas-
concellos e Lemos 470
Vitaliano José Brum da Sil-
veira . . . 330
Walker (Mr.) ... 19
William Kenedy . . 64
« Read . . . 261
Zeferino Brandão
81 e 527
.41|>lialielíco «le nomes <le togares
Capellas (logar das): construcção da sua egreja
Corvo (ilha do): Representação de seus habitantes contra a pen-
são que pagavam ao estado
« ( « « ) Visita do Bispo em 1876 . .
166
184
90
Fajam de Cima— (S. Miguel): onde foi baptisado Roberto Ivens 221
Fayal (ilha do): imprensa periódica 534
« ( u (. ) visita do Bispo em 1874 e 1875 ... 86
Flores (ilha das): imprensa periódica 542
« ( « « ) visita do Bispo em 1876 .... 90
Furnas (Valle das) — S. Miguel: descripç.ãodas aguas mineraes 437 e 4t6
Graciosa (ilha): imprensa periódica
Grota de Diogo Preto (S, Miguel)
533
395
594
AhCHIVO DOS ACOKES
Honduras: caria sobre a sua coniiitista .
Lagens (villa d;is) — Piío: 1/ povo.-irão .la ilha
40-2
Magdnlena ( villa da) — Picu: dehastada [i tr um lufao
«8
Pico (ilha doi: visila do Ris|io em 1875
« ( t « ) imprensa periódica
Ponta Delgada (cidade de;: Cortejo civico em 1885
86
541
19:3
Santa .Maria ilha de): saqueada por corsários em 101(3
« a ( « « ) imprensa periódica
São Jorge (ilha de;: « « . .
'< Matheiís (logar de) — Pico: Visita do Bispo em 1875
« Miguel (ilha dei: imprensa periódica
107
518
89
494
Terceira (ilha):
519
ERRATAS
Pag. Lmais Erros Emendas
l'riireisí'l
os (iiirr.^fos
profusão
flfi.rfissf
Al nula
dinirani
eiiitíiniii
jiróriili)S
sua
1886
ivrritjiieifo
disfonnea
(hiiinUt mór
Coiici/iift
4 reluiiosos
rasteiras
('iiraini)ih(i-iiiti-niis
os proiuiidrn
pifttarsca
(lefníitlvo
citnilucpiites
izfiitos
bom sõiii
tinijiilu
vinhos
ilfscosiilo
Sisi/jjliii
a iniiHír
harta cm lojf
jxiiilin sfrrilmnilf
atifíjaailn
Jasi' Ri- Rrrfl." Josc Vrri<simi> /,'
beiro
ilcrantai ?
uns aijrestes sifiir:
12 -
28
— Universal
31 —
4
— o.s' aposentos
33 —
17
— profissão
47 —
19
— deixassem
o6 —
2o
— _ Movida
m —
14
— deseanrava
7o —
31
— entanto
76 —
10
— pávidos
80 —
34
— mo
219 —
4
— J88Õ
286 —
1
— cerriqneiro
286 —
33
— desformes
287 —
4
— Guarca mór
287 —
16
— Conetjna
291 —
38
— 4 religiosas
29o —
6
— rasteias
29o —
3o
— encaminliam-o-nos
312 —
10
— as procurava
31o —
28
— pirtoresra
31o —
34
— deffeniliro
317 —
20
— condnsirntes
319 —
24
— izemptos
320 —
21
— bom sem
328 —
13
— tingindo
329 —
13
— rii^ho
332 —
21
— descabido
343 —
lo
— Sy-iiplií)
34o —
28
— a animar
3Í6 -
2
■ — basta em loje
3oO —
[)
— punha sensivelmente
161 —
6
— ailqnado
362 —
12
— Hevd." \'erissinHt .i
beiro
372 —
16
— de cantar?
376 —
40
— em agrestes sitins
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LOWE-MARTIN CO. UMITED