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Full text of "Archivo dos Açores; publicação periodica destinada à vulgarisação dos elementos indispensaveis para todos os ramos da historia Açoriana"

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ARGHIVO  DOS  AÇORES 


VIII 


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PUBLICAÇÃO  PERIÓDICA  DESTINADA  Á  VULGARISAÇÃO  DOS  ELEMENTOS  INDISPENSÁVEIS 
PARA  TODOS  OS  RAMOS  DA 


VOLUME   OITAVO 


519575 

/^.    3.  SI 


1886-'^ 


PONTA  DELGADA -ILHA  DE  S    MIULEI, 
Typ.  do  Arciiivo  dos  Açores. 


Digitized  by  the  Internet  Archive 

in  2010  with  funding  from 

University  of  Toronto 


http://www.archive.org/details/archivodosaore08pont 


íiOTÁS    AÇORIANAS 


XVIII 

giljjuns  riíjitanteíí  lllmím  da  ilha 
àa  (^apl 

JOSÉ    ESTE-VÂO    COELHO   IDE 

3^d:.A.a-.^^iuX3:ÂEs 

(1831) 

{Continuado  de  pag.  552,   Vol.  VII.) 

A  amisade  de  João  Machado  Alvares  para  com  o  destemido  Ber- 
nardo de  Sá  Nogueira  foi,  effectivamente,  muito  duradoura,  sendo  um 
facto  sabido  por  muita  gente  que  este  picoense  decorridos  alguns  an- 
nos  mimoseara  o  nobre  viiíconde  de  Sá  da  Bandeira  com  um  presen- 
te, acautelado  numa  caixa  de  madeira. 

O  bravo  titular,  lembrando-se  da  sua  estada  nos  Açores  e  da  lo- 
calidade em  que  conhecera  o  remettente,  imaginou  que  o  contheúdoda 
caixa,  seriam  excellentes  queijos  do  Pico,  tendo  curiosidade  na  aber- 
tura da  mesma. 

Enganou-se,  o  que  alli  estavam  eram  algumas  fundas  e  mais  de 
trezentos  emplastos. 

Terminaremos  este  incidente  dizendo  que  as  lanchas  em  que  iam 
os  nossos  conhecidos,  n'aquella  noite  de  24  para  25  de  Junho  de  1831, 
fizeram  perfeitamente,  debaixo  d'um  luar  esplendido,  a  travessia  do 
Pico  para  o  Faval,  aonde  chegaram  quasi  de  madrugada,  ao  som  dos 
hymnos  liberaes  cantados  pelos  soldados  da  expedição. 

Era  a  primeira  vez  que  os  prisioneiros  ouviam  aquellas  notas. 

(•)  Por  Ernesto  Rehdlo. 


6  AKCHIVU   DOS  AÇOHES 

Do  caps  da  Huila  der;im  niilrada  no  castello  de  St.^  Cruz.  indo 
engrossar  o  numero  dos  iirisioneiros  que  n\'sla  illia  se  elevou  a  3()i 
indivíduos,  isto  é,  a  tropa  que  preleiídera  >eguir  no  brigue  ainericaut» 
e  que  d(  pois  se  entregara,  bem  cuuio  diversos  destacamentos  estacio- 
nados em  vários  pontos  da  ilha,  os  quaes  na  precipitação  da  saliida 
das  anteriores  authoridades  não  haviam  sido  mandados  recolher. 

Toda  a  gente  prisioneiía  saiiio  em  breves  dias  da  Horta,  para 
Angra,  nas  embarcações  constitucionaes,  passando  a  maior  parte  a  fa- 
zer serviço  nas  fileirjis  liberaes.  especi.ilmente  para  caçadores  n.°  á. 

Chamavam  a  e.sle  corpo,  por  antonomásia,  o  batalhão  de  Nossa 
Senhora  da  Rocha,  porquanto  numa  revista  ás  caixas  dos  soldados 
aprisionados,  de  que  em  grande  parte  se  C(jmpunha.  haviam  sido  en- 
contradas grande  numero  de  imagens  da  St."  Mãe  de  Deus,  sob  aquel- 
la  invocação. 

Egualmente  eram  denominados  os  piscados  aquelles  soldados  mi- 
guelistas, depois  espalhados  pelos  diversos  corpos  e  que  tinham  toma- 
do parte  na  batalha  de  H  d'Agosto,  na  Terceu^a,  isto  em  allusão  aos 
liberaes  haverem  salvado  muitos  de  ser  airebatados  pelas  vagas,  na 
péssima  posição  do  desembarque,  em  aprimiadas  barrocas  do  mar. 

Affastados  temos  de  ha  nmito  andado  e  mais,  com  certesa,  do  que 
tencionávamos  do  principal  assumpto  que  motivou  esta  refeiencia,n'ts- 
ta  comesinha  conversação  com  o  benévolo  leitor,  estraviàmo  nos,  por 
vezes  do  caminho  direito  e  divagamos  livreniente,  como  um  estudante 
em  feiias,  p(jr  esses  campos  fora,  repousando  aonde  mais  ik-s  agr.ida, 
já  para  admirar  uma  paisagem,  ou  [lara  colher  uma  agreste  llíjr,  úni- 
cas de  que  nos  é  da(Jo  fazer  modesta  collecção. 

A  estrada  Coimbrã  não  é,  porem,  dilficil  de  encontrai'  e  irrom- 
pendo do  seio  d'estes  rnassiços  de  mal  cultivados  arbustos,  em  que 
nos  temos  embrenhado,  prosigamos  agora  em  linha  recta,  para  chegar 
a  casa  com  dia. 

Deixámos,  se  nos  recordamos  bem,  a  expedição  liberal,  que  ha- 
via sabido  da  Villa  da  Magdalena,  a  atravessai',  já  perto  da  noite  o 
canal  ()ue  separa  o  Pico  da  ilha  do  Fayal,  para  aonde  se  dirigia. 

O  desembarque  da  força  principal  eff.-ituou-se  no  vasto  ;treal  da 
freguezia  da  Praya  do  Almoxarife,  approximaiJiimente  uma  legoa  ao  nor- 
te da  Horta,  da  qual  é  separada  pela  grande  lomba  da  Espalamaca. 
(agulfia  em  estranho  idioma)  ao  tempo  que  outras  embarcações,  ain- 
da que  em  menor  numero,  atravessavam  a  baliia  da  principal  povoa- 
ção da  ilha,  até  ao  único  cães,  então  existente. 

Aos  bellicos  sons  das  cornetas  militares,  (pie  só  recentemente  os 
fayalenses  ouviam  á  frente  de  tropas,  |)ori|uanto,  até  então,  o  uso  era 
tambores,  seguia  da  Praya  do  Almoxarife  a  divisão  em  cohimna  cer- 
rada, pela  Íngreme  ladeira  (pie  sobe  a  lomba,  batendo  já  a  lua  de  cha- 
pa nas  reluzentes  baionetas  das  armas,  (pie  apreseutav.un  o  fulgor  de 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  7 

!im;i  ce.ir.i  ile  prata  Oiidul.indo  no  fundo  escuro  dos  arvoredos  circiim- 

VÍ>Íllll()S. 

O  nobfc  conde  de  Vilía  Flor,  que  cominandava  a  expedição,  devia 
estar  satisfeito  do  houi  exilo  da  sua  empresa,  aqnelle  passeio  militar 
ia  se  gradualmente  tornando  n'uma  ruidosa  ovação,  o  povo  apinhava- 
sc  em  lodo  o  seu  trajecto,  para  ver  passar  a  tropa,  os  vivas  aos  li- 
herladores  irrompiam  amiudados  e  com  a  approximação  da  Horta  mais 
veliementes  e  expansivos  se  tornaram,  havendo  grande  entlmsiasmo,  a- 
cliando  se  a  maioria  das  casas  illuminadas,  os  sinos  atroando  os  ares 
com  festivos  repiques,  bem  como  innumeros  foguetes  e  outras  demon- 
strações de  publico  rngosijo,  esmerando-se  cada  qual  em  obzequiar  o 
mais  possível  os  recém -chegados. 

Da  lisímgeira  impressão  que  ao  Conde  de  Vilía  Flor  e  a  toda  a 
tropa  liberal  causou  esta  fraternal  e  vivida  recepção,  ha  sobejas  pro- 
vas nos  documentos  da  epocha  que  se  referem  a  estes  acontecimentos. 

No  numero  dos  soldados,  pertencentes  ao  batalhão  académico,  que 
acomp;m!)avam  a  expedição  e  cujo  fardamento  era  calça  branca,  ou 
preta,  conforme  a  estação,  farda  preta,  com  canhões  e  gola  de  velludo 
da  mesma  côr,  avivados  de  vermelho  e  gorro  preto,  com  pequena  pal- 
ia, avivado  também  semelhantemente,  p  )der-se-hia  notar  um  rapaz, 
então  de  2á  anu  is  de  edade,  muito  emmagrecido,  apenas  com  um  pe- 
(pieno  bigode,  de  apparencia  doente,  mas  ainda  assim,  diíferençando- 
se  da  generalidade  dos  seus  companheiros,  por  esse  mysterioso  não 
m  qm\  imprimido  invariavelmente  pelo  génio  na  fronte  dos  seus  ra- 
ros eleitos,  bastando  fital-o  por  alguns  instantes  para  se  reconhecer 
que  estava  alli  um  homem  de  talento,  embora  em  bem  péssimas  con- 
dições physicas  e  aspecto  de  um  tysico. 

A  titt|)a  que  acabava  de  entrar  na  Horta  aquartelou  se  nos  redu- 
ctos  militares  aqui  existentes  e  a  officialidade  e  cadetes  nos  conventos 
de  São  Francisco  e  Carmo,  bem  como  por  casas  particulares,  que  ju- 
bilos;uTiente  os  recebiam. 

O  solicito  conde  de  Villa  Flor  presidia,  incançavelmente,  á  instal- 
lação  de  todo  o  pessoal  debaixo  das  suas  ordens  e  se  a  mais  rigida  e 
Hxenqilar  disciplina  era  mantida  por  todos  os  militares,  tornava-se 
também  impossivel  mais  delicadas  maneiras  para  com  elles  da  parte 
rio  seu  distinctissimo  capitão  general. 

(lomo  um  dos  principaes  da  localidade  acercara-se  do  conde  de 
Villa  Flor  o  sargento  mór  de  ordenanças  António  d'01iveira  Pereira, 
de  cujas  excellencias  e  bondade  de  caracter  e  educação  já  tinha  as  me- 
lhores informaçõt^s  o  commandante  da  e>pedição. 

Mandou  este,  por  uma  ordenança,  chamar  á  sua  presença  o  mi- 
litar enfermo,  a  (pie  já  nos  referimos,  e  quando  o  seu  subalterno  se  lhe 
apresentou,  perfilado  como  uma  fita  e  fazendo  a  continência  militar,  o 
conde  disse  lhe: 

—  O  Sr.  vae  ser  aboletado  em  casa,  aqui,  do  Sr.  Oliveira,  o  cirur- 


8  AKCHIVO   DOS  AÇOKES 

gião  do  batalhão  lá  mesmo  o  irá  visitar  diariamente,^  e  depois,  cha- 
mando de  parle  o  sargento  mór,  acrescentou  em  voz  haixa:  — Recom- 
niHndo-lhe  muito  especialmente,  Sr.  Oliveira,  aquelle  rapaz,  é  um  ex- 
cellente  e  distincto  moço,  pertencente  á  familia  de  um  honrado  medi- 
co de  Aveiro.  Chama  se  José  Estevão  Coelho  de  Magalhães. 

— As  ordens  de  V.  Ex.**  serão  fielmente  cumpridas. 

— Ordens  não,  isto  é  um  obzequio  que  lhe  peço  e  que,  desde  já, 
agradeço. 

O  conde  aíTastou-se  dalli,  para  ir  prover  a  varias  requisições,  ao 
tempo  que  o  honrado  Oliveira  dirigia-se  ao  seu  aboletado,  dizendo-lhe 
com  a  sua  uzual  bonhomia : 

—Venha  d'ahi,  Sr.  José  Estevão,  o  Sr.  deve  carecer  de  descan- 
ço  e  d'aqui  de  São  Francisco,  até  a  minha  casa,  é  um  bom  bocado, 
para  quem  já  deu  uma  caminhada. 

— EíTectivamente  aquella  ladeira  da  Praya  do  .  .  . 

—  Almoxarife. 

—Sim,  do  Almoxarife  é  custosa  de  subir  e  eu  ando  fraco  ...  de 
mais  a  mais  com  este  arsenal  béllico  ás  costas  .  .  . 
—Não  pode  ser  agradável,  isso  com  certesa. 
Foram  seguindo. 

—  Eu  sinto,  Sr.  Oliveira,  ler  de  o  incommodar,  isto  deve  ser, 
porem,  por  poucos  dias  .  .  .  — e  o  rapaz  cambaleava  visivelmente  de 
cançaço  — vamos  de  vagar  se  faz  obzequio. 

— Dè  me  o  seu  braço,  anda  tanta  gente  n  estas  ruas,  que  melhor 
será  irmos  pelo  lado  do  mar,  o  Sr.  sente-se  incommodado  ? 

— la-me  dando  uma  vertig.^m...  ha  tempos  que  soffro  muito  e  se 
não  fosse  a  Liberdade,  esta  idèa  sagraiia  que  deffendemos,  já  talvez  fos- 
se um  cadáver,  é  ella  que  me  anima,  que  me  dá  vida  e  que  atravez 
d'estes  dias  de  incertezas  e  cruéis  privações  nos  deixa  antever  um 
sonho  talvez,  mas  um  sonho  esplendido,  a  redempção  da  minha  pá- 
tria, áqual  amo  tanto, tão  entranhadamente,  como  amava  a  minha  que- 
rida mãe,  aquella  santa  que  lhe  repousa  no  seio. 

Apesar  da  fraquesa  do  aboletado  e  do  esforço  que  fizera  [)ara  pro- 
ferir estas  palavras,  havia,  ainda  assim,  tanto  fogo,  tanta  energia  e 
Ião  suaves  modulações  na  sua  voz,  que  o  seu  companheiro  parou  pa- 
ra ouvil-o  e  quando  elle  finalisou,  não  sabemos  como,  linha  duas  la- 
grimas a  lhe  rolar  pelas  faces. 

— Venha  dahi,  homem  de  Deus,  o  Sr.  tem  uuia  maneira  de  di- 
zer as  coisas  .  .  .  ora  esta!  pois  não  estou  a  chorar. 

— E'  o  seu  bom  coração  .  .  . 

— Eu  seu  lá  o  que  é,— e  olhando  para  a  figura  franzina  de  José 
Estevão,  acrescentava  a  meia  voz— Pobre  rapaz  ! 

Chegaram  afinal  a  casa,  a  mesma  propriedade  de  vasta  frente  e 
dois  andares,  sita  á  es(juina  da  travessa  da  Misericórdia,  que  ainda 
hoje  pertence  á  respeitável  familia  Oliveira,  entrando  [)ara  a  sala,  a- 


ARCHIVO  DOS  AÇOKES  9 

dornada  d'uina  meia  duzia  de  espelhos  redondos,  com  largas  moldu- 
ras (kiiradas,  um  piano  e  varias  jarras  da  índia,  bem  co  no  mobília  es- 
tofaila  de  vermellio.  no  gosto  daquelle  lempu. 

O  dono  (Ja  casa  foi  dentro  m;mdar  pre[)arar  um  quarto  para  o  seu 
hospede  e  pouco  depois  voltava  á  sala,  dizendo-lhe  ainda  : 

— O  Sin\  José  Estevão  o  que  mais  carece  agora  é  de  rei)ouso  e 
portanto  amanhã  é  que  o  apresentarei  á  minha  faaiilia,  indo  agora  so- 
mente indicar-llie  o  seu  quarto,  já  lá  deve  estar  uma  gota  de  chá,  se 
precisar  de  alguma  coisa  chame  com  toda  a  franq;ieza,  como  se  esti- 
vesse em  sua  casa. 

— Agradeço  tão  bòa  recepção,  trata  me  como  a  um  filho. 

— O  que  desejo  é  que  esteja  á  vontade  e  que  durma  bem. 

— Bòa  noite. 

Ao  futuro  grande  tribuno  portiiguez  offeiecia  eííectivamente  a  sua 
bòa  eslrella  uma  hospitaleira  e  distincta  moradia,  como  se  respeitas- 
se, desde  então,  os  altos  méritos  d  aquelle  mancebo  fadado  para  tor- 
nar se  uma  brilhantíssima  gloria  pátria,  um  dos  mais  notáveis  vultos 
do  paiz. 

Em  1831,  a  família  do  sargento  mór  de  Ordenanças  António  de 
Oliveira  Pereira  era  numerosa,  compondo  se  alem  d^t-ste  cavalheiro 
(jiie  então  contava  41  annos,  da  sua  virtuosa  esposa  D.  Francisca  Eleo- 
(tora  Pacheco  d'Oliveira,  oriímda  da  ilha  Terceira,  da  mesma  edade  e 
das  suas  filhas  D.  Maria,  D.  Francisca,  D.  Carlota  e  D.  Marianna,  a 
primeiía  apenas  de  oito  annos,  a  segunda  de  cinco  e  as  duas  ultimas, 
gémeas,  de  um  anuo. 

Tinha  também  quatro  filhos,  o  mais  velho  João.  com  treze  annos, 
Joaquim  que  contava  onze,  AnhJiiio  com  oito  e  José,  o  mais  novo,  a- 
penas  com  três. 

Havia  ainda  a  creada  Águeda,  septuagenária  e  que  envelhecera 
na  casa,  Beatriz  de  cincoenta  e  nove  ann^s,  Barbara  de  quarenta  e  mn 
e  Vicencia,  nmi  rapariga  de  vinte  e  três  primaveras. 

Contava  se  ainda  alli  o  creado  Francisco  e  vários  quinteiros  e  ho- 
mens de  serviç  ).  que  diariamente  frequentavam  aquella  habitação. 

E  não  se  admire  o  leitor  de  o  determos  nestas  minnciosidades, 
pois  alem  do  desejo  de  aqui  mencionar  toda  e  qualquer  indicação 
dos  factos  a  que  nos  referimos,  é  também  certo  que  em  muitas  casas 
antigas,  da  tal  educação  que  hoje  faz  sorrir  desdenhosamente  algumas 
nullidades  endinheiradas,  não  se  sabe  como,  e  que  julgam  que  um  sac- 
co  de  patacas  pode  su|)prir  tudo,  n'essas  casas,  repito,  os  servo.s  e  pa- 
trões formavam  uma  espécie  de  c7a»,  adoptando  até  aquelles,  não  ra- 
ras Vezes,  o  nome  da  família  a  que  pertenciam. 

(Chegaram  até  nós  alguns  espécimens  d'essa  raça  que  está  a  ex- 
tinguir se  e  que,  pela  transformação  que  experimentou,  talvez  ninguém, 
de  futuro,  acredite  que  chegou  a  existir. 

N.°  43  —  Vol.  VIU  —  1880.  2 


10  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

Tinha,  assim,  para  njais  de  vinte  pessoas  a  casn  em  que  se  al- 
bei'guu  José  Eslevãu. 

K  não  era  este  o  único  hospede  (jue,  n  essa  otcasião,  tivesse  o 
sargento  niór  Oliveira,  porquanto  já  na  sua  abastada  moradia  st-  a- 
chavam  diversos  otlJciaes  da  expedição. 

O  aposento  destinado  para  José  Estevão  foi  no  primeiro  andar,  á 
esquerda  da  porta  que  abre  para  a  escada  da  rua,  uma  bella  sahn  de 
duas  janeUas  rasgadas,  chamada  o  qu;irto  do  Orat(trio,  sullíciente, 
pelas  suas  dimensões,  para  alh  ouvir  missa  toda  a  família  de  casa. 

O  motivo  do  quarto  do  Oratório  ser  dtjstinado  para  o  rerem-che- 
gado,  foi  por  já,  no  segundo  andar,  estarem  todos  os  quartos  que  ha 
via  disponíveis,  occupados  pelos  aboletados  e  só  para  alli  pass(ju  Ji)sé 
Estevão  quando  estes  sahiram  e  elle  ficou,  sosinho,  em  casa  do  seu 
patrão. 

Se  naquelles  dias  o  Oratório  teve  um  intruso,  no  sagrado  mister 
para  que  fora  destinado,  esta  justificada  a  apparente  iiTeverencia,  [)e- 
la  pratica  d'uma  das  obras  de  caridade,  velar  pelos  enfermos. 

A  criada,  especialmente  destinada  para  tr^itar  do  joven  académi- 
co, foi  a  Barbara,  mulher  ja  quarentona,  feia,  de  aspecto  vart^nii,  voz 
cheia,  secca  e  sacudida,  uma  verdadeira  virugo  emquanto  ao  aspe- 
cto. 

Como,  porem,  tanto  a  miúdo  dizem  os  inglezes  <iAll  i;  not  gold 
that  gliUtrs,^  nmguem  se  fie  nas  apparencias,  ou  nem  tudo  que  luz  é 
oiio. 

Debaixo  daquella  pouco  atrahente  figura,  debaixo  daquella  in- 
cntestavel  fealdade,  de  modos  bruscos,  a  naturesa  dotara  aquella  po- 
bre mulher  com  um  coração  bondoso  e  compassivo. 

Conheoia  a  bem  o  sargento  mór  quando  a  mandou  tratar  d"um 
doente. 

Eífectivamente,  para  José  Estevão  a  Barbara  foi  o  mais  dedicada 
possível,  velando-o  como  a  um  filho,  não  tendo  um  descuido  nem  um 
esquecimento,  parecendo  um  camarada,  cumprindo  com  exactidão  mi- 
litar e  solit  ila  bôa  vontade  tudo  o  que  o  joven  militar  lhe  ordenava. 

Jamais  se  esqueceu  o  grande  tribuno  do  levantado  procedimento 
d'esta  açoriana  e  ainda,  mais  de  trinta  annos  depi  i^,  qu;ind(t  escrevia 
á  familia  Oliveira,  perguntava  sempre:  —  Como  ia  a  bôa  velhota  Bar- 
bara ? 

Esta  collccção  de  cartas  de  tão  notável  vulto  do  nosso  paiz  e  que 
seriam  uma  gloria  conservar,  perderam-se,  ou  extraviaram-se,  não  con- 
seguindo nós  obter  uma  única  que  fosse,  para  figurar  n'estes  ai)onta- 
mentos,  apesar  da  bôa  vontade  e  diligencias  dos  sobreviventes  mem- 
bros da  familia  em  casa  de  quem  elle  esteve. 

Estabelecido  o  governo  constitucional  e  nomeadas  novas  anthori- 
dades,  houveram  diversas  demon>traçõi'S  de  publico  regosijo,  augmen- 
tadas  ainda  em  breve  tempo  quando,  tomada  também  a  ilha  de  São 


ÂRCHIVO  DOS  AÇORES  11 

Miguel,  dalli  ipgressarani  alguns  fayalenses  que  estavam  presos  fDUio 
liberíies,  islo  em  Agoslu  de  \S'M. 

No  Fayal  tiavia  ficado  alguma  tropa  de  infanteria  e  de  artillieria, 
até  á  chegada,  a  8  de  Jullto,  do  batalhão  de  caçadores  12,  (jiie  vei» 
guarnecer  a  ilha. 

J(jsé  Estevão  ficou  também  na  Horta,  sem  que  fosse  rendido,  con- 
tinuando a  residir,  como  lodo  o  tempo  que  na  ilha  esteve,  com  a  fa- 
mília Oliveira. 

No  hvro  ftJosé  Esteva»),  esboço  histórico,  por  .lacinlho  Augusto  de 
Freitas  Oliveira,  bacharel  formado  em  matliematica»^,  diz  alli  o  seu  il- 
lustre  autlior,  a  paginas  70,  que  a  conquista  das  ilhas  do  Fayal,  de 
São  Jorge  e  de  São  Miguel  já  se  fez  debaixo  das  ordens  de  D.  Pedro. 

Ha  n"isto  um  engano  manifesto,  a  chegada  do  Sr.  D.  Pedro  aos 
Açores  foi  no  dia  22  de  Fevereiro  de  1832,  desembarcando  na  cidade 
de  Ponta  Delgada,  quando  todo  o  archipelago  já  eslava  liberto  do  an- 
terior governo  e  apenas,  antecedentemente,  havia  passado  pela  bahia 
da  Horta,  quando  vinha  do  Brazil,  na  fragata  ingleza  crLa  Volage», 
com  destino  à  Inglaterra,  como  já  tivemos  occasião  de  ver  n"outro  to- 
gar d'estes  apontam»  ntos,  mas  isto  antes  da  conquista  das  njencioua- 
das  ilhas,  que  foi  effeituada,  exclusivamente,  sob  as  ordens  do  gene- 
lal  donde  de  Villa  Flor. 

Mais  uma  vez,  como  geralmente,  no  que  temos  visto  escripto  a 
resf)eilo  dos  Açores,  tanto  na  epocha  a  que  nos  referimos,  como  em 
outras,  não  é  raro  encontrar  palpáveis  erros. 

Admira,  porem,  isto  mais  quando  a  historia  ê  contemporânea  e 
não  são  estrangeiros  que  de  nós  tratam. 

As  primeiras  seman  ts  da  estada  de  José  Estevão,  na  Horta,  fo- 
ram verdadeiramente  desanimadtjras,  enfraqueceu  de  dia  a  dia  e  a 
moléstia  que  o  minava  parecia  arrastal-o,  sem  compaixão,  para  um 
termo  fatal  e  breve. 

A  sua  extrema  fraquesa  não  llie  permittia  sahir  do  quarto,  nem 
aos  serões  ir  até  á  sala  do  sargento  mór,  compartilhar  da  alegre  con- 
vivência d'aquella  familia,  que  o  tratava  como  a  um  filho. 

A  criada  Barbara  não  aljandonava  o  enfermo  uma  hora  i]ue  fos- 
se, velando  lhe  as  mal  dormidas  noites,  coutando-lhe  historias  açoria- 
nas e  casos  da  sua  vida,  destrahindo-o  emfim,  como  melhor  lhe  dita- 
va o  seu  bom  coração  e  sendo  exactis>ima  em  cumprir,  quer  de  dia, 
ou  alta  noite,  todas  as  prescripções  do  medico,  nas  quaes,  ainda  as- 
sim, não  tmha  grande  confiança,  pois  dizia  muitas  vezes  aos  amos, 
com  as  lagrimas  nos  olhos. 

— A  barbara  bem  faz  a  diligencia  de  ver  se  salva  aquella  crean 
ça,  mas,  coitado,  a  morte  está  a  empurral-o  para  a  cova,  isto  em  pas- 
sando o  bom  tempo  e  vindo  o  começo  do  inverno,  vai-se  com  toda  a 
certesa.  Só  se  o  Senhor  Espirito  Santo  fizer  um  milagre,  eu  bem  lhe 
tenho  pedido  .  .  . 


VÁ  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

Assim  diienlc,  n  cuiliido  no  seu  qriarto,  entre  estranhos,  embora 
bondosos,  sentindo  decorrer  lentamente  o  tempo  e  (•om  a  imaginação 
angustiada  e  apprehensiv.i  s<)bre  o  destino  da  sua  t"amiiia,com  a  qual, 
devido  ás  cominnções  politicas  da  epocha,  raras  vezes  tivera  comnui- 
nicação  por  esiTipto,  a  permanência  de  José  Estevão  no  Fayal,  devia 
ser  um;i  triste  provação  se,  ainda  assim,  as  auras  da  mocidade,  ape- 
sar d'estes  azares  da  sorte,  não  fizessem  uma  vez  por  outra,  soriir  uma 
lenne  flor  no  descampado  que  ia  trilhando,  se  não  visse  no  firmamento 
algumas  d'essas  abençoadas  nesgas  de  ceu  azul.  que  apezar  de  todos 
os  contratempos  a  Providencia,  não  raro.  oflerece  á  g'nte  nova. 

A's  vezes  depois  de  um  dia  de  tristezas  e  soíTrimento,  *um  dito 
ou  um  disparate  da  velhota  Barbara,  fazia-u  rir  a  bom  rir,  esquecido 
de  tudo  o  mais. 

O  sargento-mór  desejava  patrocinar  ao  seu  lios|>ede  quaesquer 
distracções,  mas  estas,  pelo  estado  do  enfermo  limit;ivam-se  a  minis- 
trar-lhe,  qnasi  a  medo,  a  leitura  de  alguns  livros,  com  o  que  a  solici- 
ta enfermeira  embirrava  solemnemente,  dizendo  que  er;i  mal  permit- 
tido  ftuxar  assim  pela  memoria  e  que  melhor  empregaria  elle  o  seu 
tempo,  acumpanhando-a  com  um  rosário,  á  noite,  nas  suas  rezas. 

N"esta  parte,  porem,  é  (]ue  José  Estevão,  apesar  de  naturalmen- 
te religioso,  desobedecia  à  sua  mentora  e  como  fossem  em  resumido 
numero  os  livros  que  n'aquella  casa  se  encontravam,  valia-se  o  dono 
da  mesma  de  um  amigo  que  possuia  uma  livraria,  rasoavelmente  for- 
necida, obtendo  d"alli,por  empréstimo,  muitas  obras  que  o  académico 
lia  com  avidez. 

Tenho,  junto  da  mesa  em  que  escrevo  estas  linhas,  os  primeiros 
d"esses  livros  que  foram  para  casa  do  Sr.  Oliveira,  sendo,  em  vinte 
volumes  o  ^'Dictionaire  Univerml,  historique,  critique  et  bibliographique, 
par  une  snciété  de  sai^:nts  [rançais  e  etranrjers — Paris—  1810.»  que  José 
Estevão  leu,  no  decurso  de  mezes,  do  principio  ao  fim,  como  lia  sem- 
pre com  maior  agrado  as  obras  que  versavam  sobre  historia,  ou  ati- 
nentes á  vida  de  homens  illustres. 

Aijuelles  livros,  independente  do  seu  valor  litterario,  são-nos  ex- 
tremamente caros,  como  recordação  duma  gloria  pátria. 

Puerilidades! -dirá  muita  gente. 

Embora. 

Findou  afinal  o  verão  d"aquelle  anno,  aos  grandes  calores  de  uma 
prolongada  estiagem,  snccedeu,  com  a  entrada  de  Outubro  mais  sup- 
portaveisdias,  brisas  mitigantes  que  fartavam  os  pulmões  d'um  ar  fres- 
co e  mais  salutar  do  que  essa  temperatura,  (jue  por  vezes  aqui  rei- 
na de  8'i.  grãos  de  Fahrenheit,  em  Agosto  e  Setembro. 

Se  nestt^  clima,  por  assim  dizer,  não  sabemos  o  que  seja  a  Pri- 
mavera, passando  rapidamente  dos  frios  do  inverno  ao  calor  do  estio, 
ao  contrario  d'isto  os  nossos  oulomnos  são.  geralmente,  formosíssimos 
lornando-se  até  a  mais  aprasivel  quadra  do  anuo  e  dando  tanto  na  ci- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  13 

dade,  roíno  nos  campos,  dias  esplendidos  e  doremente  temperados. 

O  eahir  das  folhas  é,  puis,  aqui  (jnasi  sempre  benigno,  salvo  [)ara 
algumas  vidas  ejne  se  apagam  myrradas  pela  tísica,  como  nos  vallados 
pendem  no  haslil,  exliaiislas,  as  flores  tocadas  pelos  primeiros  so[)ros 
do  nordeste. 

Qnando,  n"est;)s  circmnstancias,  maiores  receios  inspirava  a  com- 
promeltida  sande  do  académico  e  qnando  a  devotada  Barbara  fazia, 
sem  que  elle  ouvisse,  tristes  predicções,  convicta  de  que  o  rapaz  não 
chegava  ao  anno  novo,  a  natureza,  por  my.^t^rioso  esforço,  começou  a 
reagir  tenazmente  contra  a  tori'ente  (|ue  o  impellia  para  a  stpuKura. 

Aquella  existência  era  preciosa. 

As  noites  começaram  a  oíferecer  aigum  descanço  ao  enfermo,  suc- 
cedendo  ás  terríveis  inSi)mnias  benelico  sonino.  a  alimentação  começou 
a  ser  saboreada  com  um  certo  prazer,  quando,  até  então,  era  tomada 
com  pronunciado  tédio  e  o  enfermo  que  raras  vezes  sahia  do  seu  apo- 
sento, fez  algimias  agradáveis  surpresas,  apparecendo  inespeiaiJamen- 
te  na  sala,  aonde  á  no'te  se  reunia  a  família  e  a  brincar,  com  prasen- 
leiro  aspecto  com  as  creanças  que  o  cercavam  de  meigos  e  innocea- 
tes  sorrisos. 

A  Barbara  c  que  continuava  renitente  nos  S"us  máos  agxiros,  di- 
zendo amiudadas  vezes:  Coitado,  aquillo  é  a  visita  de  saúde  e  está  al- 
li,  está  na  cova  .  .  . — e  redobrava  de  carinhos  e  cuidados. 

O  primeiro  dia  que  o  enfermo  conseguio  sahir  á  rua,  Un  imia  ver- 
dadeira festa  de  família.  Acompanhou-o  o  sargento  mór,  a  cujo  braço 
se  encostava  e  ia  precedido  por  duas  meninas  da  casa,  pelas  quaes 
demonstrava  mais  predilecção. 

Que  disvelo  e  exemplar  comportamento  d'aquella  honrada  gente! 

D^alli  a  mezes  já  as  melhoras  eram  tão  accentuadas  que,  até  a 
Barbara  cedia  á  sua  incontestável  evidencia,  atribuindo,  porem,  tudo 
ás  suas  rezas  e  multas  promessas  qué  havia  feito. 

A  questão  politii'.a  começou  então,  de  novo,  a  alvoroçar  José  Es- 
tevão e  nas  suas  incertezas,  ou  ridentes  crenças,  es(iuecia-se  dos  pa- 
decimentos physicos. 

A  Barbara  durante  a  doença  e  nas  longas  conversações  com  o  en- 
fermo sabia-Ihe  a  vida  palmo  a  palmo  e  andava  sempre  a  dizer  em  ca- 
sa, que  o  seu  protegido  fazia  annos  a  26  de  Dezembro,  pela  festa  do 
Natal  e  que  se  elle  alé  lá  chegasse,  tencionava  fazer-lhe  uma  bonita 
oíTerta,  mas  que  isso  era  segredo  .  .  . 

Vaidades,  quasi  maternaes  ! 

Efl^ectivamente,  passada  a  noite  do  Natal,  na  qual  José  Estevão  foi 
ouvir  missa,  para  uma  tribuna  da  egreja  Matriz,  conjunctamente  com 
a  família  de  casa,  chegou  aquella  desejada  d.ita. 

E  cabe-me  aqui  dizer  (jue  o  futuro  grande  orador  portuguez,  ape- 
sar da  sua  edade  e  profissão  militar,  demonstrava  sempre  bem  enten- 
didos sentimentos  religiosos,  concorrendo  aos  templos  e  nunca,  antece- 


li  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

íJenlcnienle,  empecendo  com  ironias,  ou  ditos  men.js  respeitosos,  as 
re/as  que  de  rosário  cm  [niiilio,  a  >ua  enfermeira  repetia,  durante  as 
liuras  que  o  velava. 

De.-les  sentimentos  religiosos  deu  este  notável  cidadão  exuberan- 
tes provas  em  todd  o  decurso  da  sua  vida  e  chamando  os  Sacramen- 
tos numa  eníV  ruiidade  que  teve  em  ll^oá. 

A  este  respeito  diz  nmito  sensatamente  um  seu  biograplio. 

"Que  ronscicMicia  mais  limpa,  que  alma  mais  pura  se  apresiMitou  ainda  ao 
julgamcnlo  de  um  padre  ?  ! 

Amei  a  Deus,  amando  a  minlia  pátria,  como  aimla  ninguém  melhor  a  sou- 
be amar;  amei  os  homens  com  todo  o  amor  e  todo  o  alTeclo  que  esta  alma  e  este 
cora^:ão  poderiam  sentir,  se  todos  elles  fossem  lilhos  do  meu  velho  pae; — dis- 
cípulo lie  Christo,  combali  contra  os  déspotas  e  preguei  por  toda  a  parte  onde 
(•liegou  a  minha  voz — a  liberdade,  a  egualdade  e  a  fraternidade.  Como  Elie  sof- 
fri  clmf.iá  e  apedrejos,  como  EUe  padeceria  o  martyrioe  a  cruciticação.  se  dez- 
enove  séculos  de  luz  não  tivessem  já  esclarecido  os  corações  dos  homens;  como 
Eile  morro  sem  ódio  aos  meus  perseguidores,  antes  offereço  a  minha  agonia  a 
Deus  para  os  salvar  !  » 

Não  antecipemos,  porem. 

Ninguém,  na  caza  Oliveira,  dera  o  miuimo  indicio  de  que  sabia  a 
data  dos  annos  do  académico,  e  este,  sem  fazer  também  essa  decla- 
raçãt),  veio  na  manhã  d'aquelle  dia,  26  de  Dezembro,  sentar-se  como 
habitualmente  à  meza  do  almoço. 

Nolim.  é  veixlade,  certo  ar  mysterioso  nas  creanças,  uns  sorrisos 
mal  escondidos  e  uns  segredinhos  de  que  eslava  bem  longe  de  adivi- 
nhar a  causa. 

A  Barbara  appareceu  a  trazer  uns  pratos,  mas  de  corrida,  como 
quem  ii)  interior  da  casa  estivesse  muito  atarefada  e  com  uma  domin- 
gueií^a  louca  branca  na  cabeça,  á  vista  da  qual  entraram  todos  a  rir 
francamente,  ao  tempo  que  a  serva,  por  detraz  da  cadeira  do  acadé- 
mico, com  o  indicador  nos  lábios,  fazia  o  signal  de  silencio. 

Acabado  o  almoço,  todos  se  levantaram  e  José  Estevão  foi  para 
o  seu  (jiiarlo. 

Abrindo,  |)oi"em,  a  porta,  estacou  de  surpresa,  a  sua  cama  esta- 
va ricamente  preparada  com  imia  colcha  de  setim  branco,  bi>rdada  a 
matiz,  ent  imada  por  um  grande  travesseiro  de  luxo  e  almofada  com 
rendas  e  bordados,  sobre  as  bancas  jarras  da  índia  nplectas  de  jun- 
quilhos,  cameliris  e  rosas  d'inverno  e,  nas  janellas,  as  modestas  corti- 
nas de  cassa,  da  generalidade  dos  dias,  substituídas  por  cortinas  bor- 
dadas de  dilliceis  lavores,  sanefas  de  cores  vistosas  e  fartas  prisões  de 
cordão  de  seda  com  grossas  borlas  de  retroz. 

Aíjuillo  parecia  um  quarto  para  noivos. 

As  crranças  com  a  sua  iíiipaciente  curiosidade  haviam  seguido  Jo- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  15 

sé  Estevão  e  cada  uma,  a  Sini  turno  lhe  vinha  offerecer  pei|Menos  ra- 
malhetes de  flores  e  beijos  ainda  mais  frescos  do  (jue  as  mesnias. 

O  académico  sentio->e  sensibilisado,  aquelle  meigo  chilrear  da  in- 
fância, aqiiella  alegria  IViinca  e  saudável  enlornava-llic,  na  alma,  como 
um  suave  bálsamo,  subindo  ainda  de  ponto  a  sua  citmmoção  (juando 
a  Barbara,  entrando  também  alli,  lhe  apresentou,  muito  enveigonlia- 
da,  umas  varas  de  bom  panno  fmu,  preto,  para  um  r.udamento  novo, 
pedindo-lhe  desculpa  daijuelle  .  .  .  atrevimento. 

O  coração  sensível  de  José  Estevão  bateu-lhe  f')rlemente  no  pei- 
to sempre  aberto  aos  mais  nobres  sentimentos,  coino  uiua  harpi  eóli- 
ca que,  nas  alturas  da  serra  vibra  ao  menor  sopro  da  brisa; — devia, 
talvez,  áquella  mídher  estar  ainda  vivo  e  era  ainda  ella,  uma  pobre, 
que  com  o  saciilicio  das  suas  pequenas  economias  queria  vestir  um 
desconhecido,  um  forasteii'o,  tendo,  queiu  sabe?,  {)or  prespectiva  um 
futuro  de  miséria  e  cruéis  privações. 

Quiz  fallar,  mas  aquelle  grande  e  inspirado  orador  que  mais  tar- 
de teria  suspensas  ao  ouvir  o  seu  verbo  eloquente  as  multidões  assom- 
bradas pelas  scinlillações  do  génio,  aquelle  homem  que  seria  a  gloria 
do  parlamento  porluguez,  não  ponde  articular  enlão  iiiais  do  que  esta 
simples  palavra:  — Obrigado!  —  e  as  lagrimas  de  lia  muitít  c  imprimi- 
das, rebentaram  lhe  irresistivelmente  a  flux,  innundando-lhe  as  honra- 
das faces. 

N  essa  noite  o  sargento-mór,  reunio  em  casa,  as  famílias  das  suas 
mais  próximas  relações,  havendo  alli  uma  animada  soirée,  em  honra 
de  José  Estevão,  com  excellente  seiviço  e  delicadíssimo  tratamento, 
como  todas  as  frequentes  reuniões  que  se  davam  n'aquella  moradia  e 
das  quaes  ainda  hoje  subsiste  a  fama. 

Não  foram,  felizmente,  fictícias  as  melhoras  do  académico,  avigo- 
rou  e  restabeleceu-se,  ainda  que  vagorosamente  e  só  d'esta  ilha  sahio 
em  meiados  de  Jimho  (ie  I83á,  indo  reimir-se,  em  São  Miguel,  ás  tro- 
pas que  a  á3  do  mesmo  mez  dalli  partiram  para  ir  combater  em  Por- 
tugal. 

A  permanência  de  José  Estevão,  na  Horta  foi,  assim,  de  uin  anno, 
menos  poucos  dias. 

Ateou-se,  então,  a  guerra  em  toda  a  sua  força  e  nas  diversas  ba- 
talhas que  foram  feridas  o  importantíssimo  papel  que  elle  representou, 
arriscando  milhares  de  vezes  a  vida.  especialmente  no  Porto,  na  he- 
róica defeza  da  Flecha  dos  Mortos,  são  factos  que  pertencem  á  histo- 
ria hodierna  e  ao  alcance  de  todos,  ganhando  nessas  pugnas  a  conde- 
coração da  Torre  e  Espada,  como  um  dos  mais  estrénuos  deíTensores 
da  Liberdade. 

Como  tribuno  parlamentar  aguardava-o,  porem,  uma  não  menos 
honrosa  missão,  sendo  aquelle  o  campo  aonde  elevou  a  sua  gloria  e  fa- 
ma ao  seu  maior  apogeu,  ponjuanto  a  sua  insinuante,  inspirada  e  do- 
minadora linguagem,  representou,  invaríavelmenie,  não  os  interesses 


16  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

dum  ou  oulro  partido,  nem  as  mudáveis  cambiantes  duma  ou  outra 
facçii»»  politica,  mas  >\m  a  voz  do  povo,  cujo  bem  estar  velava,  des- 
jireiídiíio  com[ilelameute,  de  quaesquei'  interesses,  ou  conveniências 
pesso;ies. 

l>to  é  tão  raro  ! 

Deirolados  íiíiiial  os  miguelistas  em  Almoster,  pelo  conde  de  Sal- 
danha e  a  IG  de  .Main  de  I8:j't  na  Asseiceira,  pelo  duque  da  Terceira, 
ficou  decidida  a  virtoria  das  tropas  constitucionaes  e  a  convenção  de 
Kvtjra  Miinle,  pondo  um  termo  a  essa  lucta  fratricida,  indicavH  o  cami- 
nljii  do  desterro  a  D.  Miguel. 

Ueabriram-í>e,  com  a  paz,  as  aulas  da  Universidade  e  José  Este- 
vão, então  primeiro  tenente  de  artilheria,  para  alli  voIUju  a  concluir  o 
inlerroni[»ido  curso  de  leis. 

Em  18)J7  formava-se  na  faculdade  do  direito,  sendo  nVsse  mesmo 
anno  eleito,  p  ir  Aveiro,  deputado  ao  Congresso  (Constituinte. 

E  não  podemos,  aqui.  furtar-nos  a  apresentar  ao  leitor  os  e\- 
cellentes  períodos  a  este  respeito  traç;idos  por  Bulhão  P.ito,  no  livro 
que  tem  por  titulo  «Sob  os  Ciprestes»,  quando  u'essa  epocha,  a  que 
se  refere  o  notável  poeta,  a  fama  do  grande  orador  lhe  chegou  aos  ou- 
vidos e  que  Bulhão  Pato,  na  "sua  infuntina  curiosidade,  desejou  conhe- 
cer aqnelle  liomem  de  quem  tanto  se  fallava. 

Heconhecerá,  acaso,  o  leitor,  no  esplendido  retrato  que  se  segue, 
o  académico  que  estivera  no  Fayal  e  ao  qual  seis  annos  de  luctas  mar- 
ciaes,  haviam  mudado,  completamente,  de  aspecto. 

Eis  o  boiU  oiro  de  lei,  que  nos  apresentou  o  autor  da  Paquita: 

—"Instei  com  meu  pae  para  que  me  levasse  ás  cortes.  Tinha  já  visto  o  ti)oa- 
tro  e  queria  ver  aijuclle  outro  theatro  mais  real  e  não  menos  cortado  de  paixões 
nobres  e  miseráveis,  de  lances,  de  situagões^  de  scenas,  de  peripécias  e  princi- 
palmente de  enredos! 

Cedeu,  ás  minhas  instancias,  a  íenidade  paterna. 

Fui  um  dia  a  S.  Bento. 

José  Estevão  liiiiia  a  palavra. 

Aquella  figura  elegante,  gentilissima,  arrebatadora,  ficou-me  gravada  no  es- 
pirito, tão  lundamenle,  que  me  parece  estal-a  vendo  agora  diante  de  mim. 

O  cabelio  liiio,  basto,  aniielado,  cas'anlio  escuro,  povoava-liie  a  cabega  de 
vinte  e  sete  aunos,  bella  e  correcta  como  uma  obra  de  arte  nos  (has  áureos  da 
Grécia  ou  nos  prodigiosos  dias  da  Renascença.  A  barba  longa,  não  demasiado 
espessa,  de  uma  tinta  mais  clara  que  a  dos  c.ibellos,  apartava-se  na  ponta  do 
queixo,  similliante  á  barba  de  Cbrislo  nos  quadros  do  Van-l)yck. 

O  rosto  pallido;  nos  transportes  da  palavra,  ora  enfiava  como  se  o  sangue 
parasse  na  circulação,  ora  se  lhe  tingia  de  purpura.  O  nariz,  levemente  aquilino 
conq)lelava  a  graça  e  correcção  do  períil. 

As  azas  do  nariz  vincavam-se  e  pareciam  palpiíar  quando  a  paixão  o  infla- 
mava. Medinlo  o  adversário,  antes  de  lhe  disparar  a  aposlroplie  fulminante,  a 


ARCHIVO  DOS  AÇOKES  17 

cabeça  crguia-sc  e  coii.sji"vava-si'  na  imíiichiliilailc  ameaçadora  do  nebri  paira- 
do, subitameiílf  nos  ares,  antes  de  saltar  subre  a  presa. 

Os  olhos  pequenos,  vivíssimos,  faiscavam  como  dois  relâmpagos.  A  boca 
era  cortada  com  rraii'|U(-'za  para  accudir  ripida  á  transmissão  do  verbo  fluentís- 
simo. A  estaturii  cleviída:  delgado,  mas  o  peilo  bondjeado  e  amplo;  o  pescoço 
forte,  destacado  dos  liombros  largos  e  próprio  para  auxiliar  os  movimentos  leo- 
ninos da  cabeça  enérgica. 

Proporcionadissimas  todas  as  partes  da  sua  estatura.  As  mãos  finas;  o  ges- 
to inspirado:  a  voz  com  inflexões  meigas,  temíveis  patheticas,  suavíssimas,  apai- 
xonadas, arrebatadoras ! 

José  Estevão  iraquella  idade,  com  o  fjaptismo  do  exilio  e  o  baptismo  do 
campo  da  batalha,  accèso  no  amor  da  liberdade  o  ferido  com  o  amor  da  mulher, 
illuminado  pelo  génio,  encarando  um  horisoíJle  sem  termo,  advogando  a  causa 
da  huniiiiiidade  com  a  boca  livre  e  os  pulsos  desapertados  das  algemas  da  tir.i- 
nia;  coberto  de  palmas,  nadando  cm  gloria,  como  um  dia  de  abril  nada  em  sol, 
era  a  realisação  na  terra  da  máxima  felicidade  a  que  pode  aspirar  o  homem! 

Eu  não  sabia  o  que  eram  «camarás»  nem  «deputados»,  nem  o  qu'  signifi- 
cavam as  palavras  «discursos»  e  «eloquência», —  não  comprehendia  o  que  José 
Estevão  dizia,  mas  não  podia  tirar  os  olhos  d'aquelle  homem  singular,  e  na  mi- 
nha alma  infantil  ficou  gravada  por  muito  tempo  a  sua  imagem  como  uma  coi- 
sa exli"aordinaria  ! 

Tal  é  o  poder  do  génio.» 

Durante  o  longo  perioflo  de  vinte  e  cinco  annos,  isto  é,  desde  1837 
a  \S(S^,  (jue  na  tribuna  parlamentar,  como  lente  da  cadeira  de  econo- 
mia politica  na  Escola  Polylechnica,  on  como  publicista  nos  jornaes  «O 
Tempo»,  «A  Liberdade»  e  a  «Revolução  de  Setembro»,  do  qual  foi 
fundador  em  J8il,  conjunctamente  com  Manuel  José  Mendes  Leite, 
prestou  os  mais  relevantes  serviços  ao  paiz,  advogando  constantemen- 
te, na  sua  accidentada  vida  politica,  as  idéas  da  mais  ampla  liberda- 
de e  do  engrandecimento  nacional. 

Kra  immenso  o  prestigio  de  que  gosava  e  a  multidão  corria,  ávi- 
da, a  escutal-o,  aonde  sabia  que  elle  ia  levantar  a  sua  autliorisada  voz, 
nos  comícios,  nos  clubs  ou  em  São  Bento. 

Os  seus  pmprios  inimigos  políticos,  nas  diversas  ramiticações  do 
partido  constitucional  e  que  eram,  pi»r  vezes,  homens  da  tempera  de 
Passos  (Manuel)  ou  Rodrigo  da  Fonseca  Magalhães,  declaravam  publi- 
camente o  respeito  que  lhes  merecia  a  izempção  de  caracter  do  seu 
antagonista,  bem  como  o  seu  privilegiado  talento,  o  que  mais  exalçava 
a  justa  influencia  que  havia  conquistado  nos  destinos  da  sua  pátria. 

Teve  José  Estevão  occasião,  no  ultimo  período  da  sua  vida  de  de- 
monstrar á  família  Oliveira,  do  Fayal,  a  sua  gratidão  e  os  longos  an- 
nos que  já  haviam  decorrido  não  esfriaram  a  bôa  vontade  de  lhe  ser 
utíl,  como  efifectívamente  foi.  .. 

DecoiTeram  ainda  alguns  dias  e  o  inverno  com  os  seus  gélidos 
mantos  amortalhava  as  campinas,  espalhando  por  toda  a  parte  uma  in- 
disivel  tristeza. 

N.°  43— Vol.  VIU  -  1886.  3 


18  ARCHIVO  DOS  AÇOKES 

Como  o  valeroso  cedro  que,  em  alterosa  serra,  dMiiitia  pelas  suas 
gigantescas  dimen>ões  os  circnmvisinlios  arvoredos,  cae,  por  vezes. 
re[)entinamente  fulminado  por  desapiedado  raio  que  o  fere  no  C(tração. 
assim  também  José  Estevão  na  opnlencia  du  seu  grande  mérito  e  no 
vigor  ainda  da  sua  existência,  contando  apenas  cincoenta  e  três  annos 
de  edade,  sentio-se  de  súbito  tcjcado  pela  mão  descarnada  da  morte, 
resvallando  rápida,  inesperadamente  para  a  sepultura,  para  esse  gran- 
de e  mysterios)  oceano  aonde  se  affundam  todas  as  glorias  e  todas  as 
misérias  d'esta  transitória  vida. 

Deixava  uma  nação  em  luto,  uma  família  idolatrada,  e  todos  os 
grandes  commellimentos  que,  na  véspera  ainda  lhe  referviam  na  mente. 

Estranha  quietação  a  dos  mortos,  estranha  serenidade  a  que  se  di- 
visa nos  seus  pallidos  rostos  I 

N'esse  dia,  a  4  de  Novembro  de  1862,  a  noticia  do  seu  falleci- 
mento  echoou  rapidamente  na  capital  e  em  breve  em  todo  o  reino  e  a 
consternação  do  povo  n'essa  luctuosa  conjunctura  foi  expontânea,  gran- 
de, imponente. 

No  seu  sahimento  á  mingoa  de  pomposos  programmas  a  multi- 
dão apoderou-se  do  féretro,  conduzindo  nos  seus  braços  aqnelle  ho- 
mem notável  e  excepcional,  em  quem  depositava  a  maior  confiança  pa- 
ra velar  pelas  suas  garantias. 

A  tribima  parlamentar  portugueza,  desde  então,  aguarda  ainda 
quem  o  possa  substituir,  apesar  de  ter  sido  honrado  com  talentos  da 
primeira  plana. 

Com  relação  á  ilha  do  Fayal  faremos  apenas  uma  observação,  pa 
ra  terminar  estas  linhas. 

Com  marmórea  lapide  está  commemorada  na  cidade  da  Horta  a 
caza  que  sérvio  de  residência  ao  Senhor  D.  Pedro  IV,  e,  embora  bem 
modesto  seja  semelhante  padrão,  demonstra,  ainda  assim,  aos  visitan- 
tes d'esta  terra  que  pi  estamos  veneração  á  heroicidade  e  que  sabemos 
respeitar  um  sceptro  e  uma  coroa. 

Mas  a  realeza  não  pertence,  exclusivamente  aos  Ihronos,  existe 
lambem  uma  outra,  não  menos  respeitável  realesa,  a  do  génio,  embo- 
ra nasça  ii"um  humilde  tugúrio,  ou  na  desnudada  moradia  dos  prole- 
tários. E  foi  n'este  sentido  que  Béranger  disse : 

Des  fienrs,  enfants,  vous  dont  les  mains  sonl  purés: 
Entants,  des  tleurs.  des  palmes,  des  flambeaux  ! 
De  nos  Trois-Jours  ornez  les  sépidtures; 
Cumme  les  róis  le  peuple  a  ses  tombeaux. 

EfTectivan;ente,  o  povo  tem  também  direito  a  honrar  os  seus  mortos. 

A  casa,  em  que,  na  Horta,  residio  José  Estevão  aguarda  ainda 
uma  singela  lapide  que  indique  á  moderna  geração  a  passagem  por 
esta  terra  de  uma  tão  levantada  gloria  nacional. 

Aqui  fica  con>jgnado  este  alvitre,  cuja  realisação  honraria  a  Ca- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  19 

marn  \lniiiii[)al  que,  represenliinte  do  povo,  p.ignsse  essa  divida  de 
gratidão  á  iiiemoria  de  quem  peio  povo  lidou  constantemente. 


(1832) 

Decorria  o  mez  de  Maio  de  1831. 

A*  30  desse  niez,  depois  de  quarenta  e  sete  dias  de  viagem,  de- 
mandando a  Europa,  a  fragata  inglesa  «La-Volage»,  proveniente  do 
Hio  de  Janeiro,  passava  ao  sul  da  baliia  da  Horta,  coniniunicarido  ape- 
nas Com  uma  embarcação  de  terra,  que  lhe  fora  levai-  alguns  refres- 
cos. 

Em  breve  espalhou  se  na  Horta  uma  inesperada,  (juão  importan- 
tissinia  noticia,  tanto  mais  nas  circumstancias  politicas  de  então,  com  a 
expedição  cijustitucional  já  dominando  na  ilha  do  Pico. 

Esta  boa  nova  era  que  Sua  Magestade  Imperial,  D.  Pedro  IV,  es- 
tava a  bord(j  d'aquelle  vaso  de  guerra  e  que  ao  mestre  da  lancha  faya- 
lense  entregara  um  bilhete,  firmado  do  seu  próprio  punho,  confirma- 
tivo da  sua  i)assagem  por  estes  mares,  acompanhado  da  dadiva  de 
quatro  moedas  doiro  e  d"uma  carta  para  o  marechal  de  campo,  con- 
de de  Vdia  Flor,  commandaiite  das  forças  que  lhe  eram  alfectas  e  à 
(íaiisa  da  Sua  Augusta  filha,  (jue  na  fragata  franceza  «La  Seine»  se 
dirigia  para  Brest. 

O  cônsul  inglez  M.""  Walker,  incumbio-se  de,  com  a  maior  brevi- 
dade, fazer  chegar  aquella  missiva  ás  mãos  do  commandante  das  for- 
ças militares,  como  eftectivaniente  fez,  alentando  summamente  este 
facto  o  partido  liberal  ifestas  ilhas,  ás  quaes  em  pouco  tempo  chegou 
tão  grata  revelação 

A  «Volage»,  com  mais  onze  dias  de  viagem  chegou  a  Falmouth, 
a  1 1  de  Junho  seguinte. 

Nos  Açores  continuavam,  bafejadas  pela  fortuna,  as  operações  mi- 
litares e  no  decurso  de  Agosto,  e  n'estes  penhascos  do  oceano  atlân- 
tico, aonde  a  foragida  Liberdade  viera  acoitar-se  e  juntar  forças,  para 
depois,  qual  águia,  arrojar-se  com  indómita  coragem  a  titânicas  pugnas, 
já  tremulava  por  toda  a  parte  a  bandeira  azul  e  branca  e  a  Junta  Pro- 
visória do  Governo  da  capitania  dos  Açores,  que  havia  sido  eleita  a  5 
de  Outubro  de  1828,  acendia  de  prompto  a  um  complicado  e  difficil 
expediente. 

Esta  Junta  Provisória  que  no  seu  inicio  era  apenas  composta  dé 
Ires  membros,  o  Brigadeiro  Uioclecianno  Leão  Cabreira,  general  d  ar- 
mas d.i  Prv)viucia,  o  Reverendo  João  José  da  Cunha  Ferraz,  thesourei- 


20  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

ro  niór  e  do  coronfl  de  cavalhria  José  António  da  Silva  Torres,  os 
(jii-ies  declararam  em  28  dontiibro  d  esse  nipsmo  anno.  ser  a  ilha  Ter- 
ceira o  nnico  poiíío  aonde  se  snslentava  os  direitos  dEI-Rei  D.  Pedro 
IV,  teve  depois  as  suas  actas  também  assignadas  por  três  illustres  a- 
ç  trian(ts  Tlieotonio  dOrnellas  Hriiges  Ávila,  Pedro  Homem  da  (losta 
Noronha  e  Alexandre  Martins  Pamplona. 

A  Junta,  acabou,  porem,  com  a  chegada  do  Conde  de  Villa  Flor, 
22  de  Jnnho  de  1829,  começando  a  Regência  do  Reino  em  nome  da 
Rainha  e  nomeando  í^sta,  com  a  noticia  da  chegada  á  Europa  de  El- 
Rei  D.  Pedro  IV  e  da  Senhora  D.  Maria  II  uma  deputação  para  em 
seu  nome  ir  cumprimentar  os  régios  viajantes. 

A  deputação  sahiod"Angra  na  escuna  «Ilha  Terceira»  e  era  com- 
posta dos  Srs.  Theotonio  dOrnellas  Bruges  e  Avilla,  Maimel  de  Sou- 
za Raivoso  e  D.  Carlos  de  Mascarenhas,  tendo  por  coiupanheiro  de 
viagem  o  Marquez  de  Palmella  e  realisando  me  'Utrar  Suas  Mageslades 
não  na  Inglateria,  para  aonde  se  haviam  dirigido,  mas  sim  em  Paris. 

No  respectivo  discurso  de  felicitação,  dirigia  o  seu  Presidente  a 
seguinte  supplica  ao  Senhor  D.  Pedro,  depois  de  a  Suas  Mageslades 
haver  assegurado  os  sentimentos  de  respeito,  amor  e.  kaldude  que  por 
Elles  professavam  os  membros  da  Regência,  os  bravos  defensores  e  os 
leaes  habitantes  dos  Açores. 

— «Sirva-se,  pois,  Vossa  Magostadeimpei-ial  de  por-Se  ostensivamente  á  tes- 
ta dos  negócios  de  Sua  Magestade  Fidelissinia  e  do  desembaiarar  e  de  seguir 
por  todos  os  modos  o  lio  delicado,  e  imporlante,  que  deve  conduzir  a  um  fim 
glorioso  03  nobres  esforços  da  Nação  Portugueza:  n'isto,  Senhor,  preencherá 
Vossa  Mageslade  Jmpei'ial  os  deveres  de  Pai,  tão  caros  a  Seu  coração;  pagará  o 
tributo  á  Pátria,  que  o  vio  nascer  e  que  é  sempre  tão  sagrado  para  o  homem  de 
bem;  recompensará  lodos  os  sacrifícios  que  tem  feito  á  causa  da  Legitimidade  e 
da  razão  a  íiel  Nação  Portugueza,  que  tão  digna  se  tetu  tornado  de  tão  illustre 
recompensa;  n'isto  finalmente,  achará  Vossa  Magcslade  Imperial  com  que  com- 
pletar os  nobres  sentinientos  de  Seu  magnânimo  Coi'ação».— 

A  res[)osta  do  Senhr  D.  Pedro,  foi  o  agradecimento  de  tantos  sacri- 
fícios e  que  fnia  tudo  o  ijue  houver  por  mais  conveniente  dos  inte- 
resses da  causa  da  sua  Augusta  filha:  e  da  Carta  Constitucional. 

Effectivamente  no  dia  ii5  de  Janeiro  de  1832  sahia  o  Duque  de 
Bragança  de  Paris,  por  Orleans,  Tours,  Aiigers,  Nantes  e  Belle-Isle, 
aonde  o  aguardavam  as  fragatas  «D.  Maria  II»  e  «Rainha  de  Portu- 
gal», a  corveta  «Juno»,  a  escuna  «Terceira»  e  vários  navios  de  trans- 
porte e  d"onde  devia  seguir  para  a  ilha  Terceira. 

Depois  dos  indispetisaveis  arranjos  e  preparativos  para  luua  tão 
importante  empreza,  o  Duque  de  Bragança,  no  dia  IO  de  Fevereiro, 
embarcava  n'a(|uelle  porto  na  fragata  «Rainha  de  Portugal»,  preceden- 
do o  resto  da  e.xpedição  e  levantando  ancora  com  destino  a  Angra,  pa- 
ra reunir  se  e  pôr-se  á  fivnte  dos  seus  bravos  deffensores. 


ARCHIVO  DOS   AÇORES  21 

Foi  Irnb.illiosa  esta  viagem,  a  fragata  «Rainha  de  Portugal»  era 
uni  pesado  navio  e  as  inclenieneias  pruprias  da  estação  e  as  ^olJerbas 
vagas  do  oceano  atlântico,  ti/erain  com  que  em  vez  de  poder  tomar  a 
ilha  Terceira,  estivesse  no  tha  2á  seguinte  em  fiente  d;i  cidade  de  Pon- 
ta DelgMíhi.  aonde  içado  nos  mastros  da  fragata  o  pavillião  reid,  foi 
logo  salvado  festivamente  pelas  fortalezas  michaelen>es. 

A  estada,  pela  primeira  vez,  do  Sr.  D.  Pedro  IV  na  mnilo  formosa 
ilha  de  S.  Miguel,  prolongou-se  até  ao  dia  2  de  Março  seguinte  e  fo- 
ram estPS  dias  de  enthusiasuio  e  de  verdadeiro  rego>ijo  [lublico.  sen- 
do por  toda  a  parte  o  régio  lio.-pede  acolhido  com  o  maior  respeito  e 
veneração. 

Houve,  na  egreja  Matriz,  um  solemne  Te-Deum  por  tão  fausto  a- 
contecimenlo,  ao  qual  concorreu  Sua  Magestade,  bem  como  a  Camará 
Municipal  de  Ponta  Delgada,  Clero,  Olficialidade  militar,  os  principa- 
es  fia  ilha  e  muito  povo,  assim  como  imia  revista  da  tropa  da  guarni- 
ção, exercícios  do  batalhão  de  caçadores  5  e  intV.nteria  18,  visitas  aos 
quartéis,  bailes  na  residência  do  cônsul  inglez  e  (amara  Municipal, 
bem  como  uma  sumptuosa  festa  nocturna,  em  retribuição  d'estes  ob- 
zequios,  offerecid.i  por  Sua  Magestade  a  quiulieut.s  convidados  e  rea- 
lisada  com  a  máxima  sumptuosidade  susceptivrl  nimia  illin. 

As  freiras  do  mosteiro  de  Santo  André,  de  Villa  Franca  do  Cam- 
po, que  eram  coustitucionaes  enrogés,  o  que  já  haviam  demonstrado 
n"uma  fallada  q  sui  g^neris  felicitação  ao  Conde  de  Villa  Flor  os  seus  pa- 
tri(jticos  sentimentos,  oífereceram,  então,  ao  Seuhi>r  l).  Pedro,  para 
fornecimento  da  tropa  expedicionária,  uma  avultada  porção  de  moios 
de  trigo,  já  que,  talvez  bem  a  seu  pesar,  não  podia  dar  bailes  e  func- 
ções. 

A  par,  porem,  de  tudo  isto,  não  constava  só  de  pi'azeres  a  esta- 
da do  iJnque  de  Bragança  n  aquella  localidade  e  bem  ao  contrario  d"is- 
to  o  trabalho  abundava,  havendo  sérios  negócios  a  que  prover  de  prom- 
pto  e  sendo  Sua  Magestade  muito  solicito  em  obter  a  maior  copia  pos- 
sível de  informações  a  respeito  das  necessidades  da  ilha,  do  seu  com- 
niercio,  industria  e  aspirações. 

A's  á  Va  horas  da  tarde  do  dia  dois  de  Março,  com  a  assistência 
de  todas  as  corporações  da  ilha,  nobreza,  tropa  e  inmienso  povo,  Sua 
Magestade  descia  o  cães  de  Ponta  Delgada,  seguindo  n"iun  escaler  em 
direcção  à  fragata  Rainha  de  Portugal. 

(Corria,  porem,  grosso  mar  no  ancoradouro,  a  ponto  do  Senhor 
D,  Pedro  ter  de  acolher-se  a  um  navio  mercante,  estrangeiro,  que  es- 
tava fundeado,  até  ás  í>eis  horas  da  tarde,  occasião  esta  em  que  a  fra- 
gata, que  já  andava  de  vella,  approximando-se  (Taquella  embarcação 
consegiiio  receber  o  régio  passageiro,  troando  em  seguida  da  altero- 
sa bateria  uma  salva  de  vinte  e  um  tiros. 

O  vento  na  subsequente  noite  levantou-se  rijo,  mas  favorável  e 


22  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

na  manliã  seguinte  achava-se  a  fragata  Rainha  de  Portugal  na  baliia 
ila  fíunigernda  citlade  cP Angra. 

A  chegada  de  S.  M.  1.  ao  foco  do  liberalismo  portuguez,  áqnella 
terra  aonde  já  em  outras  epochas,  como  na  actual,  tamanhos  prodí- 
gios d<^  valor  se  haviam  realisado  na  defensa  da  autonomia  e  direi- 
tos imprescriptiveis  da  pátria,  era  um  facto  assaz  jubiloso  na  realida- 
de, tanto  mais  (|uando  todas  as  dilficeis  Vircumslancias  em  que  se  a- 
chava  o  partido  ctmstitucional  o  aconselhavam,  pois  que,  indubitavel- 
mente, a  presença  do  Duque  de  Bragança,  avigorando  ainda  mais  os 
ânimos,  daria  maior  unidade  a  quaesquer  operações  ou  destruiria  a- 
iritos  ou  divergências,  sempre  inevitáveis  aonde  todos  se  julgam  com 
approximadas  prerogativas. 

A  vinda  d(j  Senhor  f).  Pedro  para  a  Terceira,  pondo-se  á  frente 
das  suas  leaes  tropas,  significava  a  consolidação  da  pedra  angular  do 
novo  ediflcio  social  que  se  tentava  alevantar  em  Portugal  e  que  im[tjr- 
tava  na  regeneração  de  um  povo  escravisado. 

E  tanto  as>im  o  comprehendeu  S.  M.  I.  que  ao  desembarcar  na 
ilha,  quiz  já  ir  investido  das  insígnias  do  poder. 

Havendo,  pois,  pelas  9  Va  horas  da  manhã  içado  o  pavilhão  real, 
ao  som  de  uma  salva  a  fragata  recem-ch^-gada  e  concorrendo  em  se- 
guida a  bordo  da  mesma  os  membros  e  secretários  da  Regência,  que 
alli  foram  recebidos  com  as  devidas  honras,  logo  depois  de  um  discur- 
so de  congratulação,  proferido  pelo  Marquez  de  Palmella,  S.  M.  I.  man- 
dando ler  um  Decreto,  traçado  abordo  da  fragata,  n'aquelle  mesmo 
dia,  assumia,  na  qualidade  de  Hegente,  a  authoridade  suprema  da  pu- 
blica governação,  até  que  fosse  definitivamente,  estabelecido  em  Por- 
tugal o  Governo  da  Senhora  D.  Maria  II. 

Desembarcou  pouco  depois,  acompanhado  do  ministério  novamen- 
te nomeado,  do  conde  de  Villa  Flor,  do  marquez  de  Loulé  e  d'oulras 
personagens  do  seu  séquito. 

As  manifestações  de  regosijo  dos  Terceirenses  foram  imponentes 
como  era  natural,  salvas  nas  fortalezas  e  nos  navios  de  guerra,  sur- 
tos na  bahia  d'Angra,  arcos  triumphaes,  cmbandeiramentos,  repiques 
de  sinos,  girandolas  de  foguetes,  ruidosos,  enthusiasticos  vivas  e  ta- 
manha aftluencia  de  povo,  que  era  quasi  impossivel  transitar-se,  es- 
pt'cialmente  nas  ruas  mais  [iroximas  do  cães. 

A  Camará  Miuiicipal  da  cidade  aguardava,  solemnemente,  S.  M.  I. 
e  depois  do  discurso  do  estyllo,  precedeu  o  régio  cortejo,  pela  prin- 
cipal rua  que  conduz  à  sé  cathedral,  cuja  extensão  eslava  ladeada  de 
tropa,  juncada  de  ramos  e  flores,  com  as  janellas  festivamente  arma- 
das de  sedas  e  damasco  e  nas  quaes  grande  numero  de  damas  pre- 
seuceavam  aquelle  notável  acto,  acenando  com  os  lenços,  ou  expar- 
gindo  flores. 

O  enlhusiastno  era  indisivel  e  os  vivas  constantes. 

Na  cathedral  houve  então  um  solemne  Te-Deum  e  findo  este,  a- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  ?3 

cliando-se  já  S.  ^\.  I.  no  pal.icio  do  governo,  que  fora  destinado  |).ira 
sua  residência,  segnio-se  a  recepção  da  (lamara  e  de  diversos  milita- 
res de  elevada  patente. 

A'  nitite,  antes  do  jantar,  apre>entou  a  S.  \I.  I.,  o  Comle  de  Vil- 
la  Flor,  todos  os  oíficiaes  de  terra  e  mar,  pertencentes  aos  diversos 
corpos  e  a  armada,  os  qiiaes  tiveram  a  honra  d'}  ser  convid.idos  [i.ira 
aqnelle  banquete. 

No  dia  immediato  houve  uma  revista  a  todos  os  corpos  da  guar- 
nição, que  desfilaram  perante  S.  M.  1.  com  irre[)reheiisivel  firmeza  e 
acceio,  assistindo  o  Sr.  D.  Pedro,  n'essa  noite,  a  uma  brillianlissima 
recita,  n'um  theatro  que  os  olficiaes  da  guarnição  liaviam  estabelecido 
em  Angra,  bem  como  na  noite  de  cinco  de  Março  a  utn  luzido  e  sum- 
ptuoso baile  que  lhe  oífereceu  o  respeitável  cidadão  Theotonio  d'Or- 
nellas  Bruges  e  Ávila,  cujos  serviços  á  causa  constitucional  foram  dos 
mais  importantes,  se  não  por  muito  tempo  o  seu  mais  valioso  esteio. 

A  estas  seguiram-se  outras  publicas  e  amiudadas  demonstrações 
de  regosijo  e  de  veneração,  tanto  da  parle  de  diversas  corporações, 
como  dos  militares  e  particulares,  podendo  assegurar-se  (jue  a  pri- 
meira semana  da  e4ada  d  i  Sr.  D.  Pedro,  na  ilha  Terceii-a,  r)ram  (li- 
as de  e.Npansivo  contentamento  e  das  mais  animadas  e  brilhiiites  fes- 
tas. 

Acalmada,  porem,  essa  efTervescencia,  o  governo  da  Regência  de 
D.  Pedro,  que  era  composto  de  ministros  da  tempera  do  Marquez  de 
Palmella,  José  Xavier  Mousinho  da  Silveira  e  Agostinho  José  Freire, 
começou  a  trabalhar  activamente  nos  múltiplos  negócios  concernentes 
aos  preparativos  da  expedição,  isto  sem  tregoas,  nem  descanço. 

As  secretarias  funccionavam  de  dia  e  de  noite. 

Com  a  chegada  de  S.  M.  I.  á  ilha  Terceira  é  também  indubitável 
que  serenaram  muito  mais  os  ódios  políticos,  sempre  tão  siigeitos  a  in- 
cend(T-se  nas  dissenções  intestinas  e  que  idéas  de  tolerância  politicas 
começaram  a  accentuar-se  de  dia  a  dia,  sendo  uma  das  mais  atrahen- 
tes  feições  da  Regência. 

A  este  respeito  diz  muito  sensatamente  o  erudicto  historiador  a- 
çoriano  o  Sr.  António  Lourenço  da  Silveira  Macedo,  que  «estas  medi- 
das de  clemência  e  generosidade  e  a  afabilidade  de  S.  M.  I.  o  Duque 
de  Bragança  valeram  mais  á  causa  liberal  do  que  muitos  mil  homens 
recrutados  á  força  ou  por  dinheiro.» 

A  alta  competência  (Jo  Ministério  demonstrava-se  assim  a  cada 
passo,  nem  d'outra  maneira  é  possivel  explicar,  a  não  ser  pela  con- 
vicção, as  adhesões  que  por  toda  a  parte  encontrava  o  governo  do  Re- 
gente, tanto  nos  Açores,  como  depois  nos  grandes  feitos  darmas  da 
campanha  da  liberdade. 

Só  onze  dias  depois  foram  recebidas,  oflicialmente,  no  Fayal,  as 
gratas  noticias  de  quanto  se  havia  passado  na  ilha  Terceira,  e  em  vir- 
tude das  mesmas  no  dia  16  de  Março  foi  celebrado  um  muito  concor- 


24^  AHCHIVO  DOS  AÇOKES 

rido  Te-DriDn  ii;i  egieja  Míilriz  pregando  com  a  sua  usual  proficiência 
o  Kevereiído  Ouvidor  Francisco  Xavier  da  Silva,  sacerdote  illustradis- 
simo  e  íiíiectu  á  uo\i\  ordem  de  idéas  e  o  qurA  a  2i-  de  Dei-euibro  an- 
terior fizera  uma  nolavel  circular  a  lodos  os  vigários  desta  ilha.  indu- 
zindo-os  a  auxiliar,  nas  respectivas  parochias  o  recrutamento  jiara  a 
tropa  de  primeira  liulia,  pois  que,  — «assim  como  todo  o  cidadão  é  sol- 
dado e  obrigado  por  direito  natural  a  defender  a  sua  vida  e  a  sua  sub- 
sistência, assim  lambem  é  obrigado  a  defender  o  Estado,  em  cujos  do- 
mínios nasceu  e  aonde  está  vivendo  e  se  conserva.» 

A  Camará  Municipal  da  Horta,  então  composta  dos  Snrs.  António 
José  (lAvila  (futuro  Duque  d'Avila),  José  dAlmeida  e  Silva,  José  Cur- 
ry  da  Camará  Cabral.  Thomaz  José  de  Bettencourt,  Nicolau  Tolentino 
de  Moura  e  António  Garcia  da  Rosa  (que  morreu  Barão  dWréa-larga) 
dirigio  a  S.  M.  I.  uma  felicitação,  datada  de  18  de  Março  doesse  anno 
de  1832,  depondo  reverente  aos  pés  do  Regente  a  sua  homenagem  de 
amor,  respeito  e  devida  adbesão,  tralando-se  em  seguida  da  conslriic- 
ção  de  um  arsenal  de  marinha  para  reparo  ou  armação  dos  navios  des- 
tinados á  expedição,  sendo,  na  freguezia  das  Angustias  para  este  fim 
oíTerecido  pelo  cidadão  José  Sebastião  Corrêa  o  uso-fructo  de  um  ter- 
reno que  possuia,  próximo  do  mar,  no  sitio  de  Santa  Cruz. 

Na  parede  deste  prédio  existe,  actualmente,  uma  lapide  comme- 
moraliva,  com  os  seguintes  dizeres: 


ff  # 

11  ^'esle  sitio  de  Santa  Cruz  ^■ 

II  em  Í8Õ2  H 

H  se  improvisou  á  custa  dos  haiiitanles  H 

H  da  M 

II  Cidade  da  Horta  H 

íí  um  arsenal  marilimo  que  foi  oíTerecido  a  g 

II  S.  M.  I.  O  Duque  de  Bragança.  # 

1^  Aqui  se  aprestou  uma  parle  (ia  armada  || 

II  que  levou  á  Arenosa  de  Pampelido  g 

H  os  l.m  liberaes.  H 

II  -í*-€^  H 

H    Esta  memoria  mandou  pôr  a  Camará  Municipal:  era  1877    *| 

W:^5::^:í.5  335  35^  í3£:^í3í5::S8tfeíS:íEt  335:3^:^335: 3^:^5:3^  3^3^ 


N'esla  inscripção  notaremos  apenas,  o  que  não  ignorava,  lambem, 


ARCHIVO  DOS  AÇOKES  25 

de  certo,  h  illiislre  vereação  <Ju  siipracilado  aiiuu  que  a  então  Villa  da 
Horta  só  passou  á  catliegoria  de  Cidade,  em  virtude  do  Decreto  de  13 
de  Jullio  tle  1833,  por  conseguinte  em  epocha  posteriijr  aos  foros  que 
n"aquellas  linlins  já  lhe  são  concedidos. 

Este  repan^  significa  apenas  a  rectificação  de  um  lapso  talvez. 

A  (gamara  Miuiicipal,  gerente  em  1832,  conseguio,  também  rea- 
lisar  na  Horta,  voluntários  donativos  para  o  provimento  do  arsenal, 
sendo  estes  mais  ou  menos  valiosos,  conforme  as  posses  de  cada  pro- 
prietario,  ou  commerciante  bem  como  que  os  homens  validos  de  to- 
das as  freguezias  ruraes,  prestassem,  alternadamente,  um  dia  de  tra- 
balho, ou  a  sua  importância  em  dinheiro,  medida  esta  (jue  foi  accei- 
ta  gostosamente,  como  acceito  foi  o  recrutamento  a  que  se  procedeu, 
o  (jual,  sem  a  miiiima  relutância,  excedeu  toda  a  expectativa. 

Estauilo  nestas  circiun.-;tancias  os  negócios  públicos  no  Fayal,  ha- 
via toda  a  i)rob:ibilidade  de  uma  visita  a  esta  ilha  de  S.  M.  I.  e  pensa- 
va-se  na  maneira  mais  digna  de,  n'esse  caso,  hospedar  tão  illustre  per- 
sonagem, indicando-se  d'esde  logo  a  casa  d'um  distincto  fayalense,  do 
(jual  passamos  a  dar  algumas  noticias,  como  a  mais  própria  para  tão 
elevado  recebimento. 

O  Sr.  José  Francisco  da  Terra  Brum,  primeiro  Barão  da  Lagoa, 
por  Decreto  de  22  de  Dezembro  de  1841,  do  Conselho  de  S;a  Mages- 
lade  (I83V),  Ficalgo  da  Casa  Beal,  cavalleiro  da  Ordem  .Mihlar  de 
Nosso  Senh(ji'  Jesus  Christo,  ca()iirio  mór  de  Ordenanças  e  Coronel  de 
Voluntários,  nasceu  na,  então,  Villa  da  Horta,  aos  9  dias  do  mez  de 
Março  de  1777,  sendo  seus  pães  o  morgado  Francisco  Ignacio  da  Ter- 
ra Brum  e  Silveira  e  D.  Joaquina  Clara  de  Noronha. 

Na  edade  de  vinte  e  seis  annos,  isto  é,  a  14  d' Agosto  de  1803, 
casou  com  a  Sr.^  D.  Francisca  Paula  da  Terra  Briim,  que  nascera  a 
9  de  Julho  de  1787,  filha  do  muito  abastado  e  distincto  morgado  faya- 
lense, o  Sr.  João  José  Paim  Brmn  da  Silveira  Terra  Leite,  doutor  for- 
mado em  direito  pela  Universidade  de  Coimbra,  fidalgo  da  Casa  Real, 
e  de  sua  consorte  D.  Marianna  Victoria  de  Noronha. 

Assim,  o  Morgado  Terra,  como  mais  vulgarmente  era  conhecido 
n'esta  ilha  o  futuro  Barão  da  Lagoa,  alem  de  ser  um  cavalheiro  da 
primeira  nobreza  dos  Açores,  possuio  também  a  maior  casa  vincular, 
fayalense,  pois  ao  morgado  que  herdou  de  seus  pães,  reunio  uma  mui- 
to maior  casa,  pertencente  á  sua  virtuosa  e  muito  respeitável  consorte. 

Foi  egualmente  o  mais  importante  proprietário  de  vinhas  na  ilha 
do  Pico,  as  quaes  lhe  chegaram  a  render,  como  no  anno  de  1841,  mil 
pipas  de  excellente  vinh  »,  tornando-se  notável  o  bum  methodo  e  cui- 
dado com  que  mandava  trabalhar  esses  grandes  tractos  de  terrenos. 

Era  o  morgado  Terra  de  elevada  estatura,  typo  peninsular  e  ape- 
sar de  uma  certa  franquesa  que  lhe  era  natural,  dizendo  sem  rebuçv) 
o  que  sentia,  temperava  esta  espécie  de  rudeza  de  caracter-,  por  atra- 
hente  bonhomia,  ujaxima  integridade  em  todos  os  negócios  e  despren- 

N."  43  — Vol.  Vlll  -  1886.  4 


26  AHCHIVO  DOS  AÇOHES 

dimento  de  etiijuctas,  faIllilia^isandu-^e  cuin  as  classes  proletárias,  pe- 
lu  que  gosava  muita  popularidade. 

Esta  familiaridade  uão  descaída,  pf)rem.  em  desrespeito  e  uin- 
guem  gosava  na  Horta  de  maior  consideração  em  todas  as  classes. 

Foi,  também,  este  cavallieiro  um  óptimo  e  exemplar  administra- 
dor dos  seus  largos  haveres,  e,  apesar  de  bastante  económico,  vivia 
com  grandeza,  estando  a  sua  moradia  sempre  franca  para  os  seus  a- 
migos,  como  a  sua  bolsa  constantemente  aberta  para  os  necessitados, 
ou  para  qualquer  commetimeiito  de  pid)lica  utilidade. 

N'estes  excellenles  predicados  ninguém  lhe  levava  a  primasia. 

Apesar,  porem,  da  sua  família  viver  coin  o  fausto  cirresp^nden- 
te  á  sua  elevada  posição,  o  murgaíjij  IVrra  era  um  cavalheiro  assaz 
modesto,  gostando  (jue  ficassem  na  sombra  muitas  das  suas  melhores 
acções  e  até,  tendo  sido  nomeado  cavalleiro  da  Ordem  Militar  de  Nos- 
so Senhor  Jesus  Christo,  o  (jue  n'a(iuelle  tempo  era  distiiicção  assaz 
apetecida,  guardou  de  tal  sorte  o  diploma  e  venera,  que  só  per  ( c- 
casião  do  seu  fallecimento  é  que  se  soube  da  concessão  de  semelhante 
graça,  sendo  no  seu  enterro  a  única  vez  que  lhe  brilhou  no  peito  a 
cruz  vermelha  aberta  em  branco. 

Apesar  do  morgado  Terra  uão  ter  estudos  superiores,  possuia 
comtudo,  ba>tante  illustração  e  bom  senso,  lendo  desenvolvido  gosto 
artistico,  aponto  de  na  sua  vasta  residência,  como  já  vimos  no  capitu- 
lo terceiro  desta  (,bra,  estabelecer  o  primeiro  Thealro  da  Horta,  aon- 
de durante  alguns  annos  se  representou  perante  a  melhor  .sociedade 
d'aqui,  contribuindo,  assim,  j)oderosamenle  para  a  civilisação  d'esta 
localidade. 

Todas  as  quartas-feiras  dava  em  sua  casa  uma  muito  concorrida 
p;^rtida  e  a  espaços  luzidos  bailes  e  jantares,  recebendo  elle  e  a  sua 
familia.  com  a  mais  selecta  delicadesa,  a  bôa  sociedade  Hortense. 

As  duas  maiores  festas,  ainda  assim,  no  decurso  de  cada  anno. 
eram  os  bailes  de  19  de  Março,  dia  de  São  José,  anniversario  do  ba- 
ptisado  deste  illustre  fayalense  e  a  22  de  Maio,  anniversario  natalicio 
da  sua  filha  mais  velha  D.  Joaquina,  da  qual  o  baptisado  havia  sido 
uma  das  mais  falladas  festas  de  que  n'esla  ilha  ha  memoria,  [uinjuan- 
to  achando-se,  então,  de  visita  no  Fayal,  o  Bispo  da  diocese,  D.  José 
Pegado  dAzevedo.  foi  este  Prelado  quem  se  dignou  de  baptisar  a  re- 
cenmascida,  de  tarde,  na  egreja  de  São  Francisco,  aonde  concorreram 
com  brandões  accesos,  todas  as  ordens  religiosas  da  Horta,  acoFupa- 
nhando.  d(q)0is.  processiunalmente  o  Bispo  até  á  morada  do  uiorgado 
Terra,  aonde  nCssa  noite  houve  um  grande  baníjiiete  e  sumptuosís- 
simo baile. 

Como  fosse  immenso  o  povo  que  se  ajuntou  na  rua,  em  frente 
da  casa,  os  criados  faziam  descer  das  janellas  bandejas  suspensas  em 
cordéis,  atuljiadas  de  bolos,  viandas  e  manjares  finos,  para  (jue  todos 
partilhassem  da  festa  (|i;e  reinava  no  interior  d  aquella  moradia. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  27 

P.iia  os  tlois  bailes  a  que  nos  referimos  de  19  ile  Margo  e  !2á 
de,  Maio,  estava  estabelecido  não  haver  ronvites,  sendo  indetermina- 
do o  numero  de  convivas,  pois  qne  n"essas  noites  o  Sr  Teira  illumi- 
nava  profusamente  a  casa  e  abria  as  suas  salas,  comparecendo  ou 
fazendo  se  alli  representar,  expontaneamente,  todas  as  famílias  da  sua 
amisade,  em  numero  sempre  avultadíssimo. 

Uma  (trcliestra  de  amadores  de  musica,  patrocinada  pelo  morga- 
do, concdiría  amiudadas  vezes  ás  diversas  reuniões,  dando  assim  im- 
pulso na  sua  pátria  a  esse  poderoso  meio  de  progresso,  a  sublime 
arte  de  Mozarl,  da  qual  era  apaixonadissimo. 

E  em  todos  os  actos  públicos  representava,  lambem,  com  distinc- 
(;ão  a  classe  a  que  pertencia. 

I)"isto  temos  um  exemplo  bem  frisante,  occorrido  no  anuo  de  1804. 

Sendo  Regente  em  Portugal,  o  príncipe  D.  João,  em  consequên- 
cia da  enfermidade  mental  de  que,  sem  probabilidade  de  melhoras, 
estava  soffrendo  a  Senhora  D.  Maria  I.*^,  entendeu  o  governo  otliciar 
a  todas  as  tiamaras  xMunicipaes,  pedindo  um  donativo  geral  e  voliui- 
tario  para  accudir  ás  urgências  do  Estado  e  poder  conservar  a  neu- 
tralidade, no  meio  dos  embales  políticos  que  então  agitavam  a  Europa. 

Nos  Açores,  semelhante  pedido,  foi  acceito  sem  reluctancia  e  o 
Hispo  I).  José  Pegado  dAzevedo  [)ublícou,  então,  aquella  sua  ncjtavel 
Pastoral,  dirigida  a  todo  o  clenj  secular  e  regular  da  diocese  a  res- 
peito do  donativo  voluntário  |)ara  as  urgências  do  Estado,  docun}ento 
este  considerado  um  dos  seus  ujelhores  escríptos  e  cuja  doutrina  foi 
muito  commentada,avanç;  ndo  no  mesmo  o  seu  illustre  signatário  idéas 
modernas  e,  a  dizer  a  virdade,  pouco  triviaes  n'aquella  epinha,  como 
se  vè  nos  seguintes  períodos. 

"Pagamos  iristo  a  César,  o  que  é  de  César,  o  tributo  é  do  Soberano,  por 
tanto  não  se  llie  nega.  Accrescentarenios  alem  d'islo,  por  sabermos  do  que  nos 
toca  de  mais  perto,  isto  é,  da  historia  da  nossa  monarclii;i,  que  os  senhores  reis 
d'este  riMtio,  e  os  mais  reis  catholicos,  eiUre  os  soberanos  da  ciiristandade,  as- 
sim como  foram  zelosos  protectores  d  i  santa  eyreja,  nos  seus  domínios,  proíno- 
vendo  ;i  pro|)agação  da  le.  em  todo  o  mundo,  onde  a  dispêndios  de  sangue  por- 
tuguez  se  arvorou  a  cruz  de  Nosso  Senhor  Jesus  Christo,  e  concedendo  magnifi- 
camente grandes  honras  e  immunidades  ao  estado  ecciesiastico;  comtudo  não 
(leix;n"ain  em  lodos  os  tempos,  quando  a  necessidade  publica  assim  o  exigio  de 
;icceit;n'  e  até  de  pedir  ao  clero  certas  contribuições  que  concorressem  ao  mes- 
mo tempo  para  a  causa  publica  e  para  os  seus  vassallos  sujeitos  a  muitos  ou- 
tros penosos  encargos,  conseguissem  algum  refrigério  na  diminuição  dos  impos- 
tos, e  dos  tributos  de  outra  sorte  inevitáveis. 

Isto  é  o  que  sempre  se  praticou  em  Portugal,  as  nossas  leis,  as  cortes  an- 
tigas, as  historias  portuguezas,  assim  couio  o  provam  evidentemente,  são  tam- 
bém outros  tanlos  monumenlos  puhhcos  e  authenticos  da  íideUdade  e  do  ardor, 
com  (|ue  II  i'l(ro  portuguez  acudio  ao  reino  em  semelhantes  circumstancias:  que 


28  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

assim  soube  cm  todas  as  edados  a  religião,  e  piedade  intiegavel  do  tlirono  por- 
tuí^uez  combinar  as  immunidades  e(*i;lesiasUf;as  por  elle  generosamente  conce- 
didas, com  aquella  obrigação  primitiva,  natural,  e  inherente  tjue  lem  lodos  os 
indivíduos  de  concorrer,  quanto  é  da  sua  parte,  para  o  bem  commum  do  estado, 
e  do  império  em  que  vivem  feliz  e  pacitlcamente." 

Os  liabitfintes  da  Horta,  tanto  civis,  como  ecciesiasticos,  a  pedido 
da  Camará  Municipal  e  do  Bispo,  concorreram  todos,  conforme  as  su- 
as posses,  para  o  bem  commum  da  pátria  e  d'a:jui,  numa  escuua  cha- 
mada «Nymplia»,  foiçam  para  Lisboa,  alem  doutros  d.»uativos  em  di- 
nheiro e  géneros,  um  valioso  carregamento  de  vinhos. 

N'esla  subscripção  figurou  o  morgado  Terra  com  vinte  pipas  do 
mais  escolhido  e  precioso  liquido  da  sua  lavra. 

Ainda  assim,  como  de  todos  é  sabido,  apesar  do  sacrifício  pecu- 
niário que  fez,  então  Píjrlugal,  para  assegurar  a  paz,  as  exigências 
de  Napoleão  I.°,  em  1807,  que  não  puderam  ser  em  tudo  satisfeitas, 
deram  causa  a  entrar  no  paiz,  invadindo-o,  um  exercito  de  40:000 
homens,  comtiiandado  pelo  general  Junot,  auseulaudo-se  o  Regente  pa- 
ra as  terras  de  Santa  Cruz  ! 

Aos  açorianos,  comtudo,  não  lhes  poude  restar  escrúpulos  de 
consciência  de  não  haver  contribuído,  largamente,  para  evitar  este  tris- 
te desenlace. 

Excerceu  o  morgado  Terra,  com  a  máxima  dignidade  e  honradez 
iis  primeiros  cargos  da  governação  d"esta  ilha,  entre  os  quaes,  desi- 
gnadamente, o  logar  de  membro  da  Junta  Governativa,  a  qual  em  vir- 
tude da  glorio.^a  revolução  militar  de  2i  d' Agosto  de  I8á0,  que  li- 
bertou o  paiz  do  jugo  britânico,  foi  aqui  estabelecida,  no  meii»  de  grati- 
diosos  festejos,  como  singulares  foram  as  provas  de  adhesão  ao  Sobe- 
rano Congresso,  em  breve  reunido  na  Capital,  em  1(3  de  Janeiro  de  I8á  I. 

Ksta  Junta  Governativa,  fayalense,  foi  composta  dos  seguintes  ca- 
valheiros. 

Uoberto  Pires  Alves  de  Miranda— Governador  militar — Presidente. 
Estacio  Machado  d'L'tra  Telles— coronel  de  milícias— vice-presi- 
dente. 
José  Francisco  da  Terra  Brum— capitão  mór  dOrdeiianças. 
Francisco  Xavier  da  Silva— Ouvidor  Ecclesiaslico. 
Sérgio  Peieira  Ribeiro— proprietário  e  cônsul  francez. 
I)r.  José  Francisco  de  Medeiros— proprietário  e  commerciante. 

Doutra  commissão,  não  menos  importante,  fez  também  parte  o 
Sr.  Terra,  no  anno  de  1833,  quando  o  governo  liberal  quiz  contrahir 
o  avultado  empn^stimo  de  400:0006000  rs.,  nos  Açores,  applicando  ao 
pagamento  do  mr.smo  diversos  rendimentos. 

O  morgado  Terra  f(}i,  então,  á  ilha  de  São  Miguel,  aonde  se  reu- 


Ar.CHlVO  DOS  AÇORES  29 

niram  (js  oiilnis  inembnts  da  (^ommissão  nomeada  para  tratar  d'este 
as.^nin[)lo,  que  ficou  assiui  CDiisliliiida: 

Theutoniu  de  Ornellas  Bruges  Ávila  Paim  da  Caiuara  NY)rouha  — 
Presidente  (Visconde  de  BiMiges  por  Decreto  de  8  de  Dezem- 
bro de  183-i). 

Pedro  Homem  da  Costa  Noronha  Ponce  de  Leão — Vice-presiden- 
te (Barão  de  Noronha  por  Decreto  de  8  de  Dezembro  de  \H'Ò±). 

António  Marianno  de  Lacerda  (Carta  do  Conselho  de  S.  M.  em  Ja- 
neiro de  1834). 

Manuel  de  Medeiros  Costa  (]anto  e  Albuquerque,  (1."  Barão  das 
Larangeiras  por  Carta  de  "21  de  M.iio  de  1836.) 

Jacintho  ígnacio  Bodrigues  da  Silveira  (1.*  Barão  de  Fonte  Bella 
por  Decreto  de  lá  de  Março  de  1836.) 

José  Francisco  da  Terra  Brum  (Barãij  da  Lagoa,  por  Decreto  de 
áá  de  Dezembro  de  1841). 

Duarte  Borges  da  Camará  Medeiros,  (I.°  Visct)nde  da  Praia  [)or 
Decreto  de  7  de  Maio  de  184oj. 

Em  seguida  a  isto  e  como  recompensa  dos  seus  bons  serviços  re- 
cebeu o  illuslre  fayalense  a  carta  de  Conselheiro  de  S.  M.  1.  em  Ja- 
neiro de   1834. 

E  devemos  observar  que,  ainda  que  educado  nos  princípios  do 
antigo  governo  e  da  supremacia  da  nobresa,  sympatliisou  sempre,  por 
índole,  com  as  idéas  liberaes  e  aquelle  homem  a  quem  nada  faltava, 
em  cjnsideração  e  riquesa,  para  viver  na  sua  [)alria  vida  desassombra- 
da e  feliz,  expoz-se.  a  bem  da  liberdade  a  soffrer  perseguições,  sen- 
do aqui  preso,  como  constitucional  incorrigível  e  enviado  para  Lisboa 
e  dalli,  mais  tarde,  transferido  para  as  prisões  da  ilha  de  São  Miguel, 
aonde  o  foram  encontrar,  e  libertar,  as  tropas  constitucionaes,  só  en- 
tão consegumdo  regressar  aos  seus  lares. 

Compare-se  esta  integridade  e  firmeza  de  caracter  com  o  libera- 
lismo de  alguns  aventureiros  .  .  . 

N'estas  vi"agens  que  fez  sob  prisão  a  experiência  fel-o  conhecer 
bem  os  homens  e  (ts  acontecimentos,  como  os  occultos  meios  que  de- 
termitiam  por  vezes  o  seu  procedimt^nto,  e,  assim,  quando  se  espera- 
va que  o  morgado  Terra  regressando  ao  seio  da  sua  extremecida  fa- 
mília, que  dias  tão  amargurados  acabava  de  passar,  viria,  exacerbado 
de  soffrimento  exercer  aqui  vinganças,  retaliações  ou  represálias,  ao 
contrario  d'isto  apresentou-se  como  havendo  esqueci(Jo  completamente 
a  infausta  epocha  que  decorrera  e  os  graves  prejuízos  que  tivera,  tra- 
tando a  todos  os  seus  conterrâneos  ctmio  amigos  e  sem  que,  jamais, 
alguém  tivesse  occasião  de  queíxar-se  de  uma  recriminação  da  sua 
parte,  ou  de  um  dito  allusívo  ao  mau  procedimento  dos  que  haviam 
sido  os  seus  perseguidores. 


30  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

Homens  desla  tempera  são  raríssimos,  tanto  mais  quando  a  sua 
fiiruina  os  colloca  em  desassombrada  independência,  á  sombra  do  par- 
tido a  quL'  pertencem,  então  victorioso. 

Se  jamais  deixou  de  ser  de  uma  generosidade  a  toda  a  prova, 
para  os  seus  inimigos  politicos  (que  jamais  conheceu  outros)  e  se  mui- 
tas vezes,  em  diíTiceis  crises  lhes  accudio  com  o  seu  valimenlo,  ou 
com  o  seu  dinheiro,  j.imais  também  o  espirito  de  partido  díjniinou  as 
suas  acções  e  se  alguns  desgostos  a  este  respeito  teve,  foi  [)or  não 
se  prestar  a  vinganças  ou  resenlimentos. 

A  sua  consciência,  a  de  um  verdadeiro  homem  de  bem  e  a  es- 
tima geral  de  que  gosou,  invariavelmente,  até  á  sua  morte  compeu- 
savauj  lhe  esses  leves  atritos,  dos  quaes  era  o  primeiro  a  rir-se,  na 
habitual  honhomia  e  des|)reoccupado  animo  que  o  caracterisava. 

As  intrigas,  os  ódios  e  as  malquerenças  não  tinham  entrada  n"a- 
(|uelle  levantado  eoração  e  se  trabalhou  umito,  tomando  parte  activa 
na  governação  d'esta  ilha,  a  sua  missão  foi,  invariavelmente,  concilia- 
dora, antepondo  sempre  os  interesses  da  pátria  a  toda  e  (pialquer  ou- 
tra consid^  ração. 

Que  exemplo  a  seguir  ! 

Por  occasião  da  entrada  no  Fayal,  a  á3  de  Junho  de  1832,  da 
expedição  constitucional,  como  já  acontecera  com  o  tenente  coronel 
Guido  José  Serrão,  coinmandante  da  tropa  de  infauteria  u.°  1  e  n.°  7, 
f)i  hospedado  na  resilen.  i i  do  morgadj  Terra  o  nobre  e  heróico  con- 
de de  Villa  Flor,  e  isto  com  tal  sumptuosidade  e  fino  trato,  que  mui- 
to penhorou  áquelle  fidalgo,  habituado,  apesar  de  guerreiro,  a  todos 
os  requintes  da  corte,  com  os  quaes  muito  se  com[)rasia  e  tanto  assim 
que,  como  governador  que  havia  sido  da  província  do  Gran  Pará,  uo 
Brazil,  a  sua  est.ida  íicára,  alli,  memorável  pelo  brilhantismo  dos  sa- 
raus e  festas  que  no  seu  palácio  oíTerecia,  amiudadas  vezes,  á  mais 
selecta  sociedade  da  muito  importante  e  rica  cidade  de  Santa  Maria 
de  Bethiem,  capital  da  Provinda. 

(Jra,  desde  a  chegada  á  ilha  Terceira,  do  Seulior  D.  Pedro,  as 
jirovidencias  adoptadas  pelo  Hegente,  com  relação  a  ampliar  e  desen- 
volver a  iiistrucção  publica  e  acabar  com  os  dízimos  sobre  algims  gé- 
neros, a  que  chamavam  rniunças,  causou  uma  bòa  impressão  nos  po- 
vos fayalenses,  concorrendo  isto  poderosamente  para  haver  a  melhor 
harmonia  entre  governantes  e  governados. 

N'esse  anno,  o  dia  4  d  Abril,  anníversarío  natalíci(j  de  S.  M.  D. 
Maria  2.*,  foi  brilhantemente  festejado  na  Horta,  com  um  Te-lJeiím, 
salvas,  [tarada,  illuminação,  fogos  de  artificio,  musicas  e  uma  luzida 
cavalhada,  com  bando  e  figuras  allegoricas  que  recitavam  pelas  ruas 
e  em  frente  das  residências  dos  pi'incipaes  da  povoação,  odes  e  outras 
•  composíçõi  s  poéticas  d.)S  poetas  da  localidade,  entre  os  quaes,  nesta 
especialidade,  occu[)avam  proeminente  logar  os  Srs.  António  Silveira 
Bidcão  e  Joiío  Pereira  de  la  Cerda. 


Af.CHlVO  UOS  AÇOKES  31 

No  (Jia  immedicilo  a  esles  festejos  chegou  á  bahia  da  llorla  a  coi- 
véla  «JiHio»  e  logf)  depois,  a  6  de  Abril,  a  fcagala  «R;ííiiI);i  de  h>rtii- 
^M»  e  dois  transportes  fraiicezes,  todas  estas  eiiibarcações  proceden- 
tes da  Tei'ceira,  sabendo  se,  então,  ollicialmente,  (]ue  o  !Ju  lue  de  Bra- 
gança, acompanhado  de  diversos  personagens  da  sua  côite,  em  breve 
visitaria  esta  ilha,  sali.sfazendo  assim  aos  desejos  dos  fayaleiíses  e  pa- 
ra inspeccionar.  [)essoalmente,  os  aposentos  para  a  ex[iedição,  que  se 
estavam  fazendo  na  Horta. 

Tão  alegre  nova  foi  aqui  recebida  com  verdadeiro  alvoroço,  reu- 
nlndo-se,  immediatamente,  a  Camarci  Municipal  para  tratar  da  manei- 
ra comhgna  de  receber  um  tão  illustre  personagem  e,  muito  natural- 
mente, a  casa  de  José  Francisco  da  Terra  Brum  foi  logo  lembrada  \);\- 
ra  gozar  da  elevadíssima  hi)ma  de  hospedar  S.  M.  I. 

Olliciou,  pois,  a  Camará  Municipal  n'este  sentido  ao  morgado  Ter- 
ra, ao  (jue  elle  annuio  gostosamente,  não  só  com  relação  ao  L)n(|ue  de 
Bragança,  mas  a  todo  o  séquito  que  o  acompanhasse. 

A  familia  do  morgad(j  Terra  compunha-se,  então  (ISlJij  das  se- 
guintes pessoas: 

José  Francisco  da  Terra  Brum,  de  55  aunos. 

I).  Francisca  Paula  da  Terra  Brum,  sua  consorte,  de 

D.  Joaíjuina,  filha,  solteira         .... 

D.  Francisca     «  «  .... 

D.  Maria  «  «  .... 

José  Francisco,  da  Terra  Brum,  filho,  solteiro 

Francisco  «  « 

Tliouiaz  «  « 

Manuel  «  « 

João  «  « 

f  de  seis  criados  e  cinco  criadas,  dirigidos  [)or  Manuel  José,  então  de 
40  annos,  oriundo  da  ilha  Graciíjsa  e  que  pela  sua  imi)olluta  honradez 
e  extrema  dedicação  á  familia  do  morgado,  foi  iraijuella  casa,  para 
aonde  viera  ainda  muito  novo,  a  chamado  de  um  tio,  mais  considera- 
do como  um  amigo,  um  homem  de  toda  a  confiança,  do  que  um  sim- 
ples domestico. 

Ao  todo  vinte  e  duas  pessoas  de  portas  a  dentro. 

Não  se  fez  esperar  a  visita  de  S.  M.  1.,  porquanto  logo  no  dia  se- 
guinte, 7  d'Abril,  com  tempo  assaz  sereno  e  mar  dmu  seria  uma  ho 
ra,  ap[)roximadamenle,  da  tarde,  divisou-se  ao  longe,  dobrando  a  ex- 
tremidade do  norte  da  fronteira  ilha  do  Pico,  uma  embarcação  a  va- 
por que  se  dirigia  no  rumo  da  bahia  da  Horta. 

A  curiosidade  dos  fayalenses  foi  então  grande,  tanto  pela  espe- 
ctativa  cm  que  estavam  da  visita  do  Regente,  como  pela  circumstancia 
da  chegada  d'um  navio  a  vapor,  novidade  esta  que  a  maioria  dos  ha- 
bitantes da  ilha  jamais  haviam  visto,  sendo  aquella   embarcação  ipie 


45 

annos 

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23 

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15 

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10 

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32  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

gradualiiiente  se  approxiinava,  vomitando  espessas  nuvens  de  fumo,  o 
primeiro  navio  de  semelhante  systema  que  ao  Fayal  aportava,  apesar 
de  essencialmente  marítimo  o  porto  da  Horta. 

Admira-n')s  algum  tanto  este  facto,  quando  attendemos  á  nossa 
posição  geograpliica  e  ao  crescido  numero  de  embarcações  que  pas- 
sam por  estas  paragens,  acrescendo  ainda  que  a  navi^gação  a  vapor 
devia,  necessariamente,  ser  então  muit()  mais  morosa  do  que  hoje  e 
sujeita  a  maior  numero  de  desarranjos  no  machinismo  do  que  nos  ex- 
plendidos  steamers  dos  n  )ss  )S  dias  e  que,  por  conseguinte,  cresciam 
as  occasiões  de  qualquer  arribada,  ou  cai'encia  de  mantim.^ntos,  alem 
da  necessidade  de  refazer-se  de  carvão,  emb  )ra  estejamos  pei'suadi- 
d.is  não  haver  ain  la  aqui  abundosos  depósitos.  Verdade  é  que  a  tra- 
vessia transatlântica  devia  offerecer,  com  cei-tesa,  sérias  dilficuldades  e 
que  só,  talvez,  a  tentasse  um  diminuto  numero  de  embarcações  do  no- 
vo systema  de  navegação. 

Ainda  assim,  desde  1807.  como  diz  P.  Tavernier,  na  sua  Histo- 
ria anedoctica  do  vapor  «a  invenção  de  Fultou  começara  a  de>envol- 
ver-se,  ao  principio  adslricta  somente  a  rios  e  canaes  e  em  seguida 
abalançando-se  a  rasgar  o  seio  do  oceano  e  dirigida  quasi  exclusiva- 
mente |iela  raça  saxonia 

A  águia  (la  França  ferida  no  coração  e  ainda  conturbada  da  sua 
grande  derrota  de  1815  não  i)restava  altenção,  nem  tomou  a  minima 
parte  n'essa  grande  conquista  do  progresso  que,  de  anuo  para  anno, 
ia  logrando  assombroso  desenvolvimento  e  só  em  181(5,  uma  vez  ac- 
cidentalLiente,  é  que  a  primeira  embarcação,  inglf^za,  movida  a  vapor, 
foi  vista  nas  agoas  do  Sena,  mas  sem  que  lhe  dessem  importância. 

E  esta  indifferença  prolongou-se  até  ao  anno  di  1825,  n)  qual  a 
marinha  franceza  começ  lu  a  aproveitar-se  das  michinas  de  W,it,  quan- 
do em  britíve  ia  já  ser  estabelecido  um  caminho  de  ferro,  na  rival  In- 
glaterra, desde  Liverpool  a  Manchester. 

Esse  navio  que  se  approximava  da  Horta,  como  iamos  dizendo,  e- 
ra  o  «Snpeib»,  um  barco  de  limitadas  proporções,  dois  mastros  e 
grandes  caixas  de  rodas,  o  mesmo  que  no  dia  30  de  Janeiro  anterior, 
em  França,  fazendo  parte  da  esquadra  constitncional,  recentemenie  e 
com  grandes  sacrifícios  adquirida,  havia  ido  a  Nantes  buscar  8.  -M.  l. 
mas  (jue  só  dois  dias  depois  conseguiu  poder  navegar  nas  aguas  do 
Loire,  conduzindo  o  Senhor  D.  Pedro  a  Belle-hie,  aonde  foi  recebido 
com  salvas  dos  navios  de  guerra  porluguczes,  formando  a  esquadra 
cujo  '-onunaudo  fora  entregue  ao  vice-almirante  Kose  Jorge  Sarturius 
o  qual,  innncdiatamente  veio  cumprimentar  S.  M.  1.  conduzindo-o  em 
seguida  para  bordo  da  fragata  «Rainha  de  Portugal»,  acnde  ao  som 
de  uma  salva  de  vinte  e  um  tiros,  ficou  içado  o  pavilhão  Real. 

O  '(Supeib»  fundeou,  lodo  embandeirado,  na  bahia  da  Horta,  pe- 
las ires  horas  da  tarde.  d'esse  dia  7  d  Abril  de  1832,  ao  troar  da  ar- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  33 

lillipíin  dtis  iwivios  de  giicrTíi,  que  o  haviam  precedidij,  \n;in  coiiio  de 
iiina  s;»lv;i  do  Castello  de  Santa  Onz. 

Como  desde  a  vesper.i  se  sabia,  publicamente,  que  era  aquella 
embarcação  a  vapoi'  em  (|iie  S.  M.  l.  viria  dAngra,  apenas  esta  ap- 
pai-eceu  em  distancia,  muita  gente  de  todas  as  classes  da  sociedade 
começou  a  afíluii'  para  o  cães  e  suas  irmnediações,  taut(j  por  curiosida- 
de natural,  como  por  enthusiasmo  politico,  de  maneira  que  em  breve 
tempo  foi  Ião  compacta  a  multidão  n'aquelles  arredores  que  muito  dif- 
liciliueule  por  alli  se  podia  transitar,  e  como  já  era  publico  que  S. 
M.  I.  seiia  hospedado  na  residência  do  coronel  de  voliuitarios  José  Fran- 
cisco da  Terra  Brum,  todas  as  janellas  das  uumer  isas  moradias  das 
ruas  da  Misericórdia,  Collegio,  São  Francisco  e  Cães,  pelas  quaes  ti- 
nha de  passar  a  regia  comitiva,  começaram  a  enfeitar  se  com  immen- 
sa  profissão  de  bandeiras,  colclias  de  damasco,  ou  de  seda,  ramagens 
e  ílores,  venlose  nas  mesmas  grande  numero  de  damas,  com  os  seus 
melhores  trajos. 

As  residências  consulares  estavam  também,  todas,  embandeira- 
das e  na  egreja  principal  da  povoação,  preparava-se  festivamente  o 
altar  mór,  para  um  Te-Deum  que  na  mesma  tinha  de  ser  celebrado 
n"aqu(Mla  tarde,  por  tão  fausto  acontecimento. 

O  batalhão  de  Caçadores  lá,  (|ue  guarnecia  a  ilha,  veio  então, 
em  grande  uniforme,  ao  som  das  Cíjrnetas  e  commandado  [)elo  major 
Menezes,  poslar-se  em  frente  do  portão  do  castello  de  Santa  Cruz,  a 
lemj)o  (|ue  a  Camará  Municipal,  em  trajo  de  ceremonia,  próprio  d'a- 
(pjella  corporação  e  com  a  bandeira  do  município  na  frente,  bem  co- 
mo todas  as  authoridades  civis,  militares  e  ecclesiasticas,  também  con- 
corriam ao  cães,  para  receber  S.  M.  I. 

A  multidão  tornara-se  enorme  e  com  tal  rapidez  se  espalhou  a 
noticia  da  chegada  do  régio  visitante,  qiie,  até  das  m^is  próximas  fre- 
guezias  campesinas,  milhares  de  individmjs  chegavam  apressadamen- 
te da  Feteira,  Castello  Branco.  Flamengos  e  Praya  do  Almoxarife. 

Junto  do  cães  balouçava-se,  docemente,  no  mar,  um  grande  e 
possante  escaler,  branco  como  um  cy>ne  e  tendo  a  cinta  doirada,  bem 
como  no  painel  da  popa  o  nome  «Amphytrite»  e  sobreposto  a  este  as 
armas  dos  Terras  Brnns,  timbradas  por  duas  cabeças  d'aguia.  Na  po- 
pa do  escaler  tremidava  a  bandeira  bicolor,  toda  de  seda  e  com  as 
armas  uacionaes  primorosamente  bordadas. 

O  interior  (Testa  embarcação,  pertencente  ao  morgado  Terra,  a- 
chava-se  luxuosamente  preparada,  lendo  custosos  coxins  na  bancada 
da  ré  e  seis  marujos  por  banda,  uniformisados  e  robustos,  não  contan- 
do o  respectivo  patrão. 

Para  O  « Amphytrite»  saltou  então  o  seu  proprietário,  uma  impo- 
nente e  respeitável  figura,  com  o  fardamento  de  capitã(j  mór,  azul,  a- 
vivado  de  vermelho,  leluzentes  dragonas.  espada  e  chapéu  armado. 

O  escaler  dirigio  se,  immediatamenle,  á  torça  de  remos  para  o 

N.''  i3— Vol.  VIU  -  1886.  5 


Si  AMCHIVO   DOS   AÇOKES 

vapur  «Siipeib»,  ítkIc,  :)s>in),  ;iqiie]le  dislinctu  ^(oriaiin  nboido,  [i.ii:! 
;u'(iinpaiilir'if  p;ir;i  tei  i;i  c  ninduzii'  alé  á  sua  r»>i('.eiicia,  o  Hegeiílf  do 
reino. 

Perli)  (ias  (jiiatm  lioi^as  da  lardc,  deitois  de  liavrr  vi>iladu  os  iia- 
viiis  de  gnetra  surlos  na  baliia.  S.  M.  I  .  seguido  do  seu  sfijiiilo,  isl.) 
é,  de  algiiiis  dos  mais  notáveis  \nlt(Ks  da  expedição  liLetai,  desembar- 
cava do  «Anii)li}lrite)s  no  cães  da  Horta-,  ao  som  das  salvas  no  mar 
t'  em  leria  e  de  enthusiasticos  vivas  do  povo,  de  repi(Hies  (Vslivoj  em 
todas  as  egr»-jas  e  de  ontras  d(  nionslrarões  de  legosijo  pnblieo. 

No  trajecto  até  terra,  S.  M.  I.  dera  a  honra  ao  capitão  n;6r  d<'  o 
mandar  sentar  á  sua  direita. 

O  pre-sidente  da  (^lunarn  .>hjnicipal,  o  Dr.  A[itonio  José  dAvila 
unais  larde  o  nobre  DníjLie  dAvila  e  de  Bolama)  diiigio  então  ao  \)n 
(\ue  de  Bragança  i;ma  breve  allornçâo,  pa>san(!o  enj  segnida  a  real  co- 
mitiva pela  freide  do  Castello  de  Santa  (rnz,  aonde  eslava  postado, 
como  já  dissemits.  Caçisdores  1:2,  que  fez  a  S.  M.  1.  as  respectivas  hon- 
ras militares,  seguindo  logo  o  préstito  ua  direcção  da  casa  do  m<irg;i- 
do  T»rra.  sendo  o  Hegente  cotitinnamente  saudado  [)e!os  vivas  do  po- 
vo e  no  meio  de  um  chuveiro  de  llcjies,  lançadas  das  janellas  pelas  nu- 
merosas damas  gue  nas  mesmas  se  achavam. 

A  enoíine  multidão  estava  tão  ávida  tle  conteuíplar  o  r»  gio  visi- 
tante que,  atravez  das  suas  ondas,  jamais  conseguio  (»  Presidente  da 
C.amaia  e  o  Revd.''  Ouvidor  Eci  h-siastico  a|)roximart'Ui-.«-e  de  S.  M.  1.. 
jiara  o  convidai-  a  assistir  a  mu  Te-Dctun  na  Matiiz. 

Chegados  á  casa  da  rua  da  Miseric()rdia  (hoje  de  D.  IVdro  IV)  c 
.■■pre>entada.  pelo  (^onde  de  Villa  Flor,  a  S.  M.  1.  a  familia  do  capitão 
mór.  dignou  se  taudjem  o  Regente  receber  todas  as  antlioridadfs  ci- 
vis, militares  e  ecclesiasticas  ipie  concorreram  a  comprimental o  e,  a«i 
cahir  da  noite,  depois  de  lauto  banquete  no  Paço,  illuminoií-se.  expoií- 
taneamenle  toda  a  povoação,  repicando  os  sinos  das  egrejas  r  subin- 
do ao  ar  grande  numero  de  giiandolas  de  foguetes. 

A  multidão,  nas  ruas,  eia  ainda  immen,-:),  ma.\ime  em  bcntc  d  i 
residência  real. 

A  casa  do  morgado  Terra,  com  a  bontaria  resplendeiile  de  in/,e>. 
rec»'bia  dentro  em  breve  tem|)o  grande  numero  de  f.imilias  desta  lo- 
calidade e  as  elegantes  fayalen>es,  com  a  sua  formosiira,  ricas  tnilcí- 
fes  e  piuverbiaí  bôa  maneira  de  apresentação,  (igiiiavam  num  anima- 
dissimo  baile  (jue  se  prolongou,  até  muito  tarde,  pela  noite  adiante. 

Koi  inexcedivel  a  animação  das  danças,  o  enlbiísiasmo  que  em  lo- 
dos se  divisava  e  a  profusão  dos  símvíços.  devendo  notar-se  (pie  |)ara 
a  condigna  recepção  de  S.  M  I.  e  da  sua  comitiva,  o  morgado  Ter- 
ra não  havia  pedido  a  alguém  o  miniino  objecto  que  fosse,  lendo  a  sua 
casa  montada  de  principesca  maneira. 

D'esde  a  chegada  dn  Imperador  a  guarda  de  honra  fora  feita  por 
um  c  jitingenle  de  c.-içadorcs  1-2.   mas  como  se  llie  apresentasse  uma 


ARCHIVO   DOS  AÇORES  3o 


r.)i'(;.i  (Ic  Vtliiiitarios,  Toi  esta  arceita,  [xn-  atu-uçãu  aos  fayaiciis.s,  iijiiu- 
(latido  ifcoliíer  a  primeira  aos  seus  quartéis. 

No  dia  imniediato,  8  d  Abril,  douiiiigo  da  Paixão,  recebeu,  so 
li'uiueuienle  S.  .M.  I  ,  eercado  da  sua  côrlc.  as  autlioridades,  diversas 
lorjiorações  »'  os  |nincipaes  da  terra  (^  de  tarde,  das  jan^^llas  do  Paço, 
vio  a  procissão  deiioiiiiiiada  (jo  Triuiiiplio,  (jiie  n'esse  dia  percorre  as 
I  ii.is  da  Horta  aonde  desceram  das  tregiiezias  nnaes  a  uiaioria  dos 
li;il)itaiilf's  da  ilha.  (jiie  irroinpiaiii  em  .mimados  vivis  ao  Hegenle,  sem- 
pre que  do  caminho  o  divisavam. 

A'  noite  outro  grandioso  baile  geral  sandava.  ainda,  na  resideii- 
ci.i  (Jo  capitão  mór,  o  praser  da  recepção  de  tão  illnslrt^  [lersonagem. 

No  (lia  9,  vestido  de  geneial,  e  acompanhado  de  to(io  o  seu  se- 
(|utto,  saliio  S.  VI.  1.,  a  cavidio,  indo  visitar  (»  arsenal  de  Santa  Cruz. 
(^  alii  mesmo  se  dignou  de  acceitar  um  almoço  que  lhe  fcíi  olíerecidi» 
pelo  corpo  commercial,  passando  em  seguida  uma  rev!sta  ao  batalhão 
de  Voluntários,  indo  também  ver  manobrar  a  artilheria  do  (^astello  de 
Santa  (iniz  e  assistindo  ao  exercício  do  batalhão  de  caçadores  lá.  vi- 
sitando depois  a  alfandega  e  o  hospital  mditar,  estabelecido  no  con- 
vento de  Siinto  António. 

Nessa  noite  olTereceu  a  S.  M.  I.  um  gí-andioso  baile  o  benemérito 
cônsul  americano  (>harles  William  Uabney. 

No  dia  10,  segunda  visita  ao  arsenal,  digressões  pelo<  mais  apra- 
siveis  sitius  da  Horta,  indo  em  segiiida  o  Regente  jantar  cO!U  o  cônsul 
inglez  Mr.  Walker  e  honrando,  á  noite,  com  a  sua  presença,  um  bai- 
le ipie  lhe  oír.íreceu  .VI.''  L  ine,  cônsul  hollandez. 

No  iJia  II,  muito  cedo,  passou  revista  eui  ordem  de  marcha  ao 
batalhão  de  caçadores  12,  que  seguia  para  a  ilha  de  S.  Miguel  e  ás 
sete  horas  da  manhã,  no  meio  de  enonue  multidão,  ao  som  das  sal- 
vas e  de  inúmeros  vivas  ao  Regt-nte  e  á  (>arta  Constitucional,  eud)ar- 
cou  S.  M.  I.  luais  o  seu  séquito,  no  mesmo  escaler  « Ampliytrite»,  se- 
guindo para  bordo  do  «Siiperb»,  que  em  breve  levantava  ancoras,  com 
d('Sliiio  á  ilha  de  São  J  ir,ue. 

Durante  a  >na  [)ern)aneiuMa  de  (juatio  dias,  na  Morta,  colheu  o 
Duipie  de  Bragança  grande  copia  de  informações  sobre  o  estado  d.< 
ilha,  sua  prodncção  e  commercio,  providenciando  a  respeito  dt^  divei- 
sos  assumptos  attinentes  á  publica  governação. 

Os  aposentos  do  Duque  de  Bragança,  iia  casa  do  capitão  \m\\  fo- 
ram na  parte  do  sul  do  interior  da  caza,  deitando  sobre  o  jardim,  os 
qnaes  se  achavam  luxuosamente  mobilados  e  ornamentidos. 

No  quarto  de  dormir  de  S.  M.  I.  ficava  também  o  seu  camarista 
Almeida,  e  numa  saleta  contigna  o  dedic  ido  servo  do  morgado  Terra, 
Manoel  Jos<l'.  que  acompanhara  o  seu  amo  em  todo  o  tempo  (pie  este 
estivera  preso  em  Lisboa  e  na  ilha  de  São  Vliguel. 

.\  impres>ão  recebida  pelo  Regente  da  sua  visila  á  ilha  do  Kayal. 
foi  lhe  MgiHil.ivel  e  leve,  em  gei-il,  [)ilavras  assa/  b^'nevolas  [)ara  as 


36  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

petisoas  que  o  rodeavam,  apri-ci.iiido  muilo  a  uíTerta  de  urna  handtMr.i 
bi^rdada  [)ur  damas  fayalensi-s,  a  (jiial,  mais  tarde,  fui  devorada  pel;K> 
cliammas  num  incêndio,  na  cidade  du  Puit(». 

A  figura  do  Duque  de  Bragança,  quando  e.-^teve  n'esla  ilha,  era 
imponente  e  de  aspecto  marcial,  algum  tanto  trigueiro,  estatin-a  regu- 
lar, barba  cerrada  e  parecendo  muito  despiendido  de  preconceitos  de 
gerarcliia,  pelo  modo  lhano  e  afável  com  que  a  todos  tratava.  Fuma- 
va muito  e  até  pela  rua,  o  que  no  Fayal  só  começou  a  usai'-se  desde 
a  chegada  da  tr(jpa  conslitticional,  não  sendo  raro  ver  S.  M.  1.  (lelo 
braço  do  seu  camarista  Almeida  (depois  visconde  do  mesmo  nome)  ou 
do  seu  medico,  o  Dr.  Tavares,  brazileiro.  grão  dignatario  da  maçona- 
ria e  subse(iuentemente  physico  mór  do  reino,  logar,  porem,  que  pou- 
co tempo  durou,  vindo  a  ser  extincto  por  lei. 

Ja  durante  a  sua  estada  no  Fayal,  apesar  de  inculcar  ainda  ro- 
bustez, a  saúde  do  Duque  de  Bragança  não  era  prospera,  [)ois  qne 
soíTria  bastante  do  estômago,  limitando-se  o  seu  alimeut*»  a  uma  c;ui- 
ja  de  arroz  e  ligeira  porção  de  carne  assada,  muito  sim|)les. 

Era  muito  amigo  de  musica  e  até  compositor,  assin)  como  nas  fes- 
tas religiosas  acompanhava  por  vezes,  em  voz  alta,  na  capella  mói-,  o> 
padres,  nos  seus  cantos  sacros. 

Contava,  n  e>ta  epocha  34  annos  de  edade. 

Devemos  aíjui  mencionar  (jue  na  véspera  do  regresso  de  S.  M.  1. 
as  freiras  do  Mosteiro  da  Gloria,  fizer-am-lhe  um  avultado  presente  de 
doces  para  a  viagem,  incluindo  no  mesmo  outnjs  tantos  corações  de 
alfenim,  como  o  numero  de  religiosas,  de  tamanho  natural  e  tendo  ca- 
da um  em  leiras  doiradas  as  iniciaes  do  nome  da  oíleiente. 

(>om  a  saliida  de  S.  M.  1.  e  do  batalhão  de  caçadores  12,  íican- 
do  a  ilha  guarnecida  pelo  corpo  de  Voluntários,  retomou  a  Horta  o  seu 
socegado  aspecto,  de  que  ha  tanto  tempo  andava  aíTaslada,  [)ur  ellei- 
lo  das  connnoções  politicas  ultimamente  occoriidas. 

As  obras  do  arsenal  de  Santa  Cruz  continuavam  cora  toda  a  acti- 
vidade, j>ara  auxiliar  a  próxima  expedição  e  os  novos  governantes  es- 
forçavam-se,  n'aquelle  tempo,  ainda  de  vividas  crenças,  para  se  tornar 
úteis  á  communidade. 

Estamos  a  22  de  Maio  seguinte,  quarenta  e  mn  dias  de[)0is  da 
[)artida  do  Duque  de  Bragança. 

O  morgado  Terra,  não  cansado  das  sumptuosas  festas  que  ulti- 
mamente, com  a  estada  do  Regente  em  sua  casa,  tinha  dado,  oíTei'e- 
cia  ainda,  nessa  roite,  um  luzido  baile  á  elite  da  s(»ciedade  fayalen- 
se, festejando  o  anniversario  natalício  da  sua  filha  mais  velha  D.  Joa- 
quina. 

A  noite  apresenlara-se  sertiia,  mas  escuríssima,  dessa  escuridão 
peculiar  ás  noites  fayalenses,  da  ipial  não  sabemos  a  causa,  mas  qne 
ó  reconhecid.i,  especialmente,  [)or  lodos  os  nossos  marilimos  e  pesca- 
dores. 


AP.CHIVO   DOS  AÇORES  37 

N;i  rua  da  Misei'iconJia  a  vasta  fn miaria  da  casa  du  capilão  iiiúr, 
com  as  suas  treze  janellas,  rasgadns  de  frente,  de>tacava  se  aiegre- 
menle  illumiiiada  lu»  lueiu  d'essas  li'evas  e  os  acrordes  d  uuia  orclies- 
tra  animavíim  o  sai-áo,  ha  pouco  começado. 

Na  sala  principal  uma  exuberância  extraordinária  de  flores,  dis- 
postas em  custosas  jarras  da  índia,  embalsamavam  o  ar,  rivaes,  mas 
não  excedendo,  na  rre>ciH'a  e  bellesa,  essa  porção  de  bonitas  ra()ari- 
gas  da  aristocracia  fayalense,  que  alli  volteavam,  no  redemoitilio  das 
valsas  e  guadrillias.  em  substituição  da  gavota,  solo  inglez  e  minuetes 
ainda  ha  pouco  em  voga  e  cabidos  agora  em  desuzo,  como  [terteiicen- 
les  ao  antigo  regimen. 

Como  geralmente  acontece,  reunira  se  muita  gente  do  povo  em 
frente  da  casa  do  capitão  mór,  para  vt^r  entrar  os  convidados,  mas 
desde  que  o  baile  havia  começado  e  rjue  só  tinham  a  contemplar  o 
guarda  portã<j  de  libré  azul,  caníiões  e  gola  encarnada  e  botões  de  pra- 
ta, furam-se  gradualmente  rrcolheudo  ás  suas  habitações,  pelas  desei- 
tas  ruas  da  Horta,  completamente  desitrovidas  ainda  de  illuminação 
publica  e  escuia?  como  um  sepidchro. 

Dessa  hora  em  diante,  como  ainda  hoje.  não  apparncia  rira.  alma 
na  phraseologia  po[iular,  a  não  ser  algum  grande  estravag.iute  reco- 
Ihendo-se  de  alguma  nocturna  aventura. 

Este  isolamento  das  ruas  fayalenses,  durante  a  noite,  deu  que  fal- 
lar  ao  filho  de  M."""  George  Sand,  quando  por  a(|ui  passou,  ha  annos, 
para  a  America,  com  o  princi[»e  Jerónimo  Napoleão,  jogando-nos  a  es- 
se re>peito  alguns  chascos  niunas  impressões  de  viagem  que  depois 
publicou,  sem  se  lembr.ir  que  cada  um,  em  sua  casa,  pode  viver  co- 
mo mellioi'  lhe  aprouver. 

Já  é  teimar  ! 

Próximo  das  II  da  noite,  de  2i  de  Mai )  de  I83i,  o  vapor  «Su- 
perb»,  já  muito  conhecido  nesta  Ilha,  entrava  na  bahia  da  ílorta,  fun- 
deando alem  do  ancoradouro,  dcnunciando-se  a[)enas,  em  terra,  a  es- 
tada de  uma  nova  embarcação  n'este  porto,  pelo  acréscimo  de  mais  mn 
pharol  nos  já  alli  existentes. 

Não  sahio  ao  mar  (jualquer  lancha  ou  bote  de  serviço. 

Pouco  tempo,  porem,  depois,  atracava  ao  cães  da  Hoita  um  es- 
calei- de  navio  de  guerra,  conduzindo  no  leito  de  popa  dois  passagei- 
ros, que  immediatainente  saltaram  em  terra. 

O  cães  estava  deserto,  á  excepção  d'um  rapaz,  de  dezoito  annos 
de  edade  (jue,  accidentalmente,  alli  se  achava  e  o  qual  ouvindo  o  ba- 
ter dos  remos  nagoa,  se  ap[)roximara  das  escaleiras  do  desembarca- 
douro. 

Este  rapaz,  chamado  Ayres,  era  um  sobrinho  do  Escrivão  d;i  Ca- 
mará Anhjuio  Silveira  d'Avila,  e  quando  os  dois  recem-chegados  pas- 
^^avam  junto  d"elle,  com  as  suas  capas  do  marinha,  um  d'estes  desço- 


',\S  ARCHIVO   I>OS  AÇORES 

iilieci(Jos.(jii('  estava  v«\»t.i'l()  á  paisana,  a.iíairoii-o  siiWilaineiitf'  iiiim  hra- 
(••).  tlizeiíflo-llie  (Min  iiilim.itiva. 

— Voi*è  t*>tá  preso  e  tetii  <K'  n.is  acompauliar.  Dão  ijiierí»  ipif  \'a 
adiante  demiiiciai'  a  minha  pres^nç,;),  vamos,  para  a  fit-nle  .  .  . 

— Oh!  senhor!  .  .  .  deixe-me,  en  .  .  . 

—  Silencio,  nem  n)ais  palavia,  ningnem  lhe  ipiei-  lazer  mal.  •• 
não  largiin  o  liraçt»  do  atermrisado  Ayres.  i\\\e.  bnn  (jré.  nwl  gréfConn".- 
çon  a  ;iii(tar  ao  lado  do  lai  sujeito,  sem  saber  o  (pje  tudo  aquillo  siííni- 
lii-ava.  nem  'piem  era  aipielle  homem,  ajíora  lodo  embne.jdo  e  rum  a 
i^ola  do  eapole  levantada. 

Até  adiante  da  t^greja  de  São  Franci.sco  não  encontraram  pes.<òa 
alguma  c  só  próximo  do  canto  de  I).  Joanna  é  ipie  viram,  a  distancia 
urna  luz  caíninhando  [>ara  elles. 

O  individuo  vestido  á  paisana,  o  rpial  já  o  moço  tayalense  descon- 
liava  ser  |)essòa  de  Cdiisideiação,  por  (inanto  o  ollicial  de  niarinha  qne 
o  acompaiiliava   jauiais  ein[iarelhava  com  elle.  indo  por  lòra  do  ladri- 
lho e  nm  [HXico  nlraz,  vendo  approximar-se  aquella  luz,  chegou  (i  cha 
pHii  mais  para  os  olhos,  dizendo  em  voz  baixa  ao  Ayres: 

— Você  não  solte  ahi  meia  palavra,  tome  cantfila. 

— Kn  não  digd  nada.  Snr..  mas  é  que  ... 

— 1'shiii  !  .  .^ 

(Iriisaram,  enlã(»,  com  .jiiHai  os  encontrava,  (pje  era  nm  cavalliei- 
!o  já  entrailo  em  aimos,  vestido  de  casaca  e  gravata  branca,  empu- 
nhando na  dextra  nm  pefpieno  tiirta-fogo,  traste  ainda  não  ha  muitos 
annos  trivialissimo  n"e>la  cidade.  Vinha,  evidentemente,  do  t»aile  do 
capitão  mór  e  ivcoJhia-se  cedo,  depois  de  haver  dado  nm  aperto  de 
mã(»  ao  SHii  amigo  Terra  Briim. 

(>(»nhecen-o  o  recetií-chegadd  (jue  aprisionara  <i  Ayres,  porquanto 
dt'j)ois  delie  passar,  parou  um  motnento,  voltando-se  para  traz  e  di 
zendo  com  desfigurada  vóz: 

^0'  velho,  ó  velho,  vae  para  casa  deilar-te. 

O  tayalense  a  quem  eram  dirigidas  estas  palavras,  julgando  tal- 
vez ser  alv(t  dos  motejos  dalguns  estróinas,  volt(Mi-se  também,  dando 
alguns  passos  para  a  tVente  e  assestando  o  lerrivel  dl/io  dr  boi  do  seu 
lurla  logo,  sobre  o  grupo  (pie  inticava  com  ejle,  (jiiando  seguia  xtcc 
gadanjente  o  seu  cantinho. 

O  conviva  do  morgado  Tei'ia,  exclamou  então.  adiniiadi>siino: 

— O  qne  é  isto,  Senhor,  Vossa  Magestade  aipii  ?  !  .  . 

-  Não  grites,  homem,  conjo  esta  o  capitão  mór  ".' 

—  Perleitamenle,  venho  agora  mesmo  do  sen  baile. 

-  K  eu  para  lá  V(»u,  desejo  lazer  lhe  uma  surpresa. 

—  I*ermitla-me,  Vossa  Magestade,  que  eu  tenha  a  h  mra  de  o  a- 
companhar. 

Isso  não,  vne  la   ter,  se  quizeres.  que  estimarei  bastante  m- 
coiiliar-fe,  mas  deixa-nie  agtUM  ir  sozinho,  levo  aqui  agariado  este  i'a- 


ArCHlVO  DOá   ACOhKS 


ao 


j»;i/,  ;i  unira  ^)e^^^o.l  ijuc  ciiciuitiri,  |);ira  (jiie  iíTio  fiOM*  .nli.mii'  ;!vi>,jc 
.iliiueiii  <Ia  iiiinli;i  |)rf'^('iii;;i. 

Ota   eslr  cavaltieifo  com   i|nem  o   Sciiiioi    1).    I'e'ilrn  ilt'|i;MMra  ii,i 
Mia  t\v  São  Ftaiicisco.  itcollitíii(lo->e  a  sua  moradia,  eia  o  digno  cimi 
>\ú  liancez,   Seriiio  IVffiia   Ribeiro,    que    [lelo  seu   honrado  caiacttM 
muila  syinpatliia  mcrecHia.  antecedentementH,  a  S.  .M.  1.,  (]ne  lhe  drii 
inequivoca.s  provas  da  ronsidfiação  em  (jiic  tinha  as  .snas  óptimas  ipia 
(idades. 

—Até  logo,  Uilieiro,  -  e  o  lieíiente  coiitmuoii  no  s^  u  (Jesliiio,  sc- 
í>nidu  do  ollicial  de  marinha  e  ladeado  [lelo  atomto  Avre.N.  de  Itoné  na 
uíãu  e  a  tremer  de  cummoção.  desde  que  sitnhera  a  alta  personagem 
de  (|ne  se  achava  junto. 

(liíeyarani  atinai  a  enliada  daeasa  do  morgado  Tcm  a.  ipieiendo  o 
Imperador  dar  algum  dinheiro  ao  sen  prisioneiro,  olíerla,  porem,  qnr 
e.^te  não  se  prestou  a  acceitar,  pedindo  .somente  perini>são  paia  lici- 
jar  a  mão  de  Sua  Magestade. 

O  guarda  portão,  admiiadissiniu,  recebeu  o^  ag.i>altios  do>  doi> 
recem-cliegado>  e  (pieiia  ('oricr  eseada  acima,  a  avisar  o  morgado  do 
itliistre  per>o:iagem  (jue  ia,  di'  n  )vo,  honrar  aijiit'!!  i  casa. 

O  Hegrnte  o[>p()Z  se  tormalmenle  a  isto  e  coni'ertaud  >  o  íaío  su- 
;)i.i  a  larga  escadaria  ipie  coiidii/ia  ao  interior  da  liabilacã  >. 

Esta  occorrencia  tinha  uma  simples  explicação. 

S.  M.  I.  tencionava,  eíTectivamrnte,  vir  ontia  vez  á  iliia  do  TavaJ. 
aiite>  da  e.\[»edigãn  partir  para  o  continente,  alim  de  in.^peccionar  a> 
<t!)ias  (pie  se  estavam  preparando  no  arsenal  de  Santa  V.in/..  mas  sem 
«pie  |)aia  isso,  achando  se  na  Terceii'a,  houvesse  ainda  de.>igiiadi)  um 
dia  certo. 

Fallandu  a  este  re>peito  com  o  seu  camarista  e  amigo  Almeida, 
lembrou  lhe  este  que  o  morgado  Terra  davn  um  baile  na  noite  de  :2i 
daipieile  mez,  por  si^!'  o  anniversario  natalício  da  sua  íillia  !).  .lo;i(|ui- 
na  e  que  seria  de  subido  [)razer  par.i  o  di.>.tiiicto  lavídense.  a  compa- 
rência de  S.  M.  I.  áqiiella  lesta. 

—  l'uis  bem  —  respondeu  o  Regente — se  o  tempo  lier  l(»gir.  vou 
caliir-lhe  em  casa  e  sem  ipie  elle  espere  >emelliaute  visita.  Ao  Terra. 
i\o  Kayal,  tie^ejo  o  mais  possível  ser  agradável. 

l'oi  [)alavra  de  rei.  como  vimo.>. 

VI  tanto  o  lm[)erador  escolheu,  então,   de  projtosito  aqiielle  dia, 
alliando  a  sua  já  piojeclada  viagem  ao  veidadeiro  pia/ei  de  ob/eipii 
ar  um  cavalheiíi»  que  lhe  era  sinceramente  aíT- elo.  ijue  de.Nembarcoii 
de  casaca,  collele  e  luvas  bi'ancas,  sapatos  de  pohmenli,  meias  de  .*^è- 
da  e  chapéu  de  pa.sta,  e  com  a  grau  cruz  da  Ordem  de  (Ihnsto  ao  peito. 

Ve.^timenta  completa  de  baile. 

Knlrou  no  salão  principal,  procurando  com  a  vista  a  Sr."*  l).  í''rau- 
ci>ca  l*anla  da  Terra  Brum.  a  quem  dirigio  ^^^  logo.  a  cumprimentar 


40  AHCHIVO   DOS  AÇOHES  _ 

e  depois  liinndo  para  daiisar  a  sua  filha  D.  Ji)aquiiia,  bateu  as  palmas 
[)ara  se  organisar  urna  quadrilha  frauceza. 

Um  viva  expoutaneo  e  prolongado  saudou  o  régio  recem-ehegado, 
ao  tempo  que  o  capitão  mór,  sem  saber  explicar  com)  aquillo  fosse, 
estava  radiante  de  alegria,  assim  couio  todos  os  seus  convidados. 

Apesar  (h)  baile  estar  muito  concorrido  haviam,  ainda  assim,  al- 
gumas familias  das  quaes  não  estavam  todas  as  pessoas,  indo  desde 
logo  os  homens  dar  parte  a  casa  da  chegada  do  Duque  rle  Bragança, 
de  surte  que  dentro  em  menos  de  uma  hora,  achavam-se  as  salas  do 
morgado  TiriM  com  o  dobro  dos  convivas,  d.)  que  antecedentemente 
á  chegada  do  Imperador,  pois  que  todos  desejavam  gosar  tão  augus- 
ta companhia. 

Este  inesperado  acontecimento  deu  maior  encanto  áquella  festa  e 
este  baile  ficou  marcado  nas  chronicas  fayalenses  como  um  d"a(piel- 
les  em  que  o  enthusiasmo,  a  alegria  e  a  bôa  união  tocam  as  raias  do 
delírio. 

O  Regente  fiooii  de  novo  hospedad(j  em  casa  do  capitão  mór  e  na 
madrugada  seguinte  os  fe>tivos  repiques  em  todas  as  egrejas,  a  gran- 
de aggiomeração  de  povo  pelas  ruas  e  os  vivas  prolongados  e  innnen- 
sos,  bem  como  um  grande  numero  de  casas  embandeiradas  demons- 
travam exuberantemente  os  patrióticos  sentiment!)s  da  povoação. 

Foi  breve,  d'esta  vez,  a  permanência  de  S,  M.  I.  no  Fayal,  pois 
que  na  manhã  do  dia  i2i  depois  de  haver  sido  cumprimentado  pelas 
authoridades  e  de  ter  tratado,  no  arsenal,  de  vários  negócios  relativos 
aos  preparativos  para  a  próxima  partida  da  expedição,  embarcou  cer- 
cado de  immenso  povo,  para  o  vapor  que  o  conduzira  e  que  seguio 
em  direitura  a  Angra. 

O  Duque  de  Bragança  conservou  sempie  do  Fayal  as  mais  lison- 
geiras  recordaçijes  e  d'esta  ilha  fallava  em  levantados  termos.  Algu- 
mas concessi^es  lhe  fez,  mas  a  implacável  morte  que  em  breve  o  fe- 
rio a  24  de  Setembro  de  183 i,  veio  obstar  a  que  esta  terra  tivesse 
em  S.  M.  I.  o  mais  desvelado  protector. 

O  respeitável  morgado  José  Francisco  da  Terra  Brum,  falleceu 
na  sua  pátria,  com  6o  annos  de  ed;ide,  no  dia  2á  de  Janeiro  de  \S'r2 
e  a  sua  virtuosa  consorte  a  Sr.^  D.  Francisca  Paula  da  Terra  Brum, 
a  21  de  Junhíj  de  18o7,  cercados  ambos  da  consideração  e  estima  ge- 
ral dos  seus  conterrâneos,  como  as  suas  apreciáveis  qualidades  tinham 
sido  devidamente  consideradas  pelo  primeiro  cidadão  do  paiz. 

Foram  sepultados  no  cemitério  de  São  Francisco. 

Pelo  prematuro  fallecimenlo  do  fillio  primogénito  do  Barão  da  La- 
goa, que  foi  Commendador  de  Chrislo  e  deputado  da  nação,  usando 
o  mesmo  nome  e  titulo  do  seu  illiistre  pae,  devia  ter  succedido  no  ti- 
tulo sua  lillia  D.  Maria  da  Gloria  Terra  Bruu),  que  nasceu  a  4  d'A- 
gosto  de  1838,  1)  que,  porem,  não  se  lealisou. 

Actualmente  o  representante  d'esta  casa,  no  Fayal,  é  o  Sr.  Ma- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  41 

injL'1  .Mariii  (hl  Terni  Briim,  c.ivallieiro  muito  disliiicto  e  i]iie  susl«iila 
coiii  dignidade  o  respeitável  nome  dos  seus  antepassados  e  dos  res- 
tantes membros  da  Siia  familia,  (jne  ainda  existem. 

Na  casa  do  morgado  Terra,  hoje  dividida  em  duas  propriedades, 
uma  pertencendo  ainda  á  sua  farnilia  e  a  outra  a  estranhos,  foi,  ha 
poucos  annos,  coilocada  a  seguinte  lapide  commemoraliva: 


I  S.  M.  I.  O  Duque  de  Bragança  f| 
(4  Dom  Pedro  |f 
fl  cm  1852  H 
^  hahiloii  esla  casa  que  então  comprelieiidia  as  duas  ^ 

II  propriedades  até  á  esquina  || 
H  e  pertencia  a  || 
II  José  Francisco  da  Terra  Brum  || 
H  Barão  da  Lagoa  || 
H  do  Conselho  de  S.  ]l  I.  e  Fidalgo  da  Casa  Real.  H 
li  -^-^  H 
H  Esta  memoria  mandou  pôr  a  Camará  Municipal:  era  de  1877  H 
ff  ff 


Consignamos  n"estas  breves  hnhas  todas  as  informações  ijiie  po- 
demos obter,  concernentes  á  estada  no  Fayal  do  magnânimo  Duque  de 
Bragança,  bem  como  algumas  indicações  que  diZi^mVespeito  a  uma  fa- 
milia que  lhe  foi  dedicada  e  da  qual  o  chefe,  com  o  maior  desinteres- 
se solTreii  bastante  pela  causa  da  liberdade. 

Se  por  ventura  todos  aquelles  (|ue  cercam  os  monarchas  tives- 
sem sentimentos  eguaes  ao  honrado  fidalgo  insulano  de  que  tratamos, 
as  insígnias  do  poder  não  seriam  tão  amiudadas  vezes  volvidas  em  la- 
cerante coroa  de  espinhos,  como  aconteceu  ao  Senhor  D.  Pedro  IV,. a- 
pesar  dos  seus  gloriosos  feitos  d'armas. 


N."  í:í  -  Vol.  VIII —1886. 


42  ARCHIVO  DOS  AÇOBES 

O  FiR-iisrciFE  j-oi:isr"v^iiL.i-.E 

(1834) 

o  governo  de  Luiz  Pliilippe,  inaugurado  em  França,  desde  9  dA- 
gostij  de  1830,  apesar  de  se  e^forçar  por  todos  os  modos,  paia  o  res- 
labelecimeiílo  da  ordem  publica  no  inlei'ior  datpiell.i  impoilanle  na- 
ção, adofdando  também  uma  politica  conciliadora  e  moderada  nas  suas 
relações  com  as  diversas  cortes  estrangeiras,  não  era,  ainda  assim,  bem 
vislu  aos  olhos  do  governo  do  Sr.  D.  Miguel,  que  considerava  uma  ex- 
torsão a  Carlos  10.*  o  evento  ao  tlirono  do  príncipe  d"()rleans.  cuja 
elevação  ao  [)oder  não  passava  de  um  acto  da  revolução,  que  neces- 
sariamente leria,  em  breve,  de  desapparecer,  com  o  restabelecimen- 
to do  antigo  i-egimen. 

E  não  se  guardavam  attenções  ou  disfarces  n'esla  animadversão 
dos  ministros  miguelistas,  tornando  se  constantes  as  queixas  do  côn- 
sul francez,  em  Lisboa,  feitas  ao  seu  governo,  sobre  a  maneira  insóli- 
ta, como  não  era  laro  em  Poitiigal  serem  tratados  os  lYancezes. 

Esse  errado  systema  de  qun'er  governai-  pela  violência  e  pelo  ter- 
ror era  a  descida  fat.d  pela  qual  se  precipitava  o  governo  de  O.  Mi- 
guel, aiigmeiítando  diariamente  o  descontentamento  publico,  tanto  no 
interior  do  paiz,  como  nas  nações  da  Europa,  que,  á  excepção  da  Hes- 
panlia,  não  haviam  reconhecido  o  sen  governo. 

O  ódio,  porem,  aos  francezes,  era  mais  visivel  do  que  af)s  súbdi- 
tos de  (jOilipier  outra  nacionalidade,  (loiquanlo  ^e  ccusidirava  qne  de 
Paris  irradiavam  |)ara  todo  o  numdo  os  princípios  <la  grande  revolu- 
ção de  1789  e  qne  não  seriam  perdidos  todos  os  meios  de  snflocar  as 
ideas  que  d'alii  cliegn^am  até  njs,  e  que  se  alastravam  diariamente, 
apesar  da  perseguição  e  do  cárcere,  quando  não  era  o  p;itibulo,  para 
os  sectários  das  ideas  liberaes. 

Fatal  cegueira,  tanto  mais  para  deplorar,  qnando  ella  levaria  a 
nobre  pátria  de  Camões  a  soffrer  um  grande  desaire  e  uma  verdadei- 
ra humilhação. 

Accendeu,  n'e>t.is  circumstancias,  ainda  mais,  o  resentimento  ao 
governo  francez,  a  que  presidia  Casimir  Herier,  as  violências  prati- 
cadas com  o  estudante  Bonhomme  e  o  negociante  Sauvinet,  por  deli- 
ctos  conmietlidos  n'este  reino,  o  primeiro  por  se  haver  conqmrtado 
com  menos  derôro  num  tem[)lo  e  o  segundo,  condeiunado  a  dez  annos 
de  degredo  pai;i  Africa  por.  num  dia  de  revolta,  ler  subido  ao  ar, 
dum  seu  jardim,  aberto  ao  publico,  uma  girandola  de  foguetes  ! 

E  não  eram  estas  as  únicas  violências. 

Conhecedor  a'este  estado  de  coisas  o  governo  francez,  maiiiJou  a 
Portugal  uma  esquadra  sob  o  cominando  do  capitão  Rabaudy.  [iara 
appoiar  os  protestos  do  cônsul  francez.  concernentes  ás  desfeitas  (pie. 


ARCHIVO  DOS  AÇOHES  43 

nos  nltimos  dois  annos,  soffriam  os  seus  patrícios. 

A[)en;is  a  es(|iia(lra  fui  avistada  do  Tejo,  sabendo-se  posteriormen- 
W,  em  terra  (|iial  a  sua  missão,  o  governo  de  D.  Miguel  qiiiz  mostrar 
(|iie  não  tinlia  medo,  e  n'esstí  mes;iio  dia  mandou  tirar  da  prisão  o 
Irancez  Bonliomme,  e  organizar-  imia  espécie  de  préstito.  O  (jocienle 
foi  des|)ido  até  á  cintura  e  ladeado  de  olficiaes  da  jiist  (;a.  esbirros 
e  do  carrasco,  parando  a  comitiva  nos  logares  mais  públicos  da  capi- 
tal era  lida  em  alia  voz  a  sentença  e  em  seguida  chibatado  desliuma- 
namenle  o  pobre  rapaz,  isto  com  grande  gauijio  e  no  mei(t  das  chufas 
da  reles  populaça  que  acom[)anhava  aqueile  cruel  e>|»ect;iculo,  próprio 
de  uma  nação  de  selvagens,  (pie  a  tanto  havia  clirg;ido  ;i  sua  degra- 
dação. 

Esta  repellenle  scena  durou  algumas  horas,  como  diz  Victor  de 
Nouviou  na  sua  monumenlaí  historia  do  reinado  de  Luiz  Philippe,  pa- 
retendo  que  todo  o  sentimento  de  decoro  e  de  brio  nacional,  Imlia  a- 
{)andonado  os  governantes  na  vertigem  em  que  [lendiam  para  a  sua 
irremediável  perdição. 

Nesse  ennoduado  dia,  nos  annaes  da  nossa  historia  pátria,  for- 
çando a  barra,  fundeava  no  Tejo,  e:n  frente  do  cães  das  Columnas,  o 
brigue  francez  «Endymion»,  com  a  Nota  das  satisfaçijes  que  o  cônsul 
fciucez  tinha  de  exigir  do  gítverno  de  Portugal. 

O  Visconde  dt-  Santarém  então  ministro  dos  Negócios  E>trangei- 
ros,  despresoii  completamente  semelhantes  exigências,  valendo-se  do 
subterfúgio  (pie  nm  cônsul  não  era  individualidade  assa/,  aiilliorisada 
para  tr;itar  com  nm  governo,  do  que  resultou  retirarem  se  para  bor- 
do do  «Endymion»,  alem  do  cônsul,  muitos  súbditos  francezes  resi- 
dentes em  Lisboa. 

O  capitão  Habaiidy,  seguindo  as  instrncções  do  seu  governo,  blo 
(jueoii,  immediatamente  as  co>tas  de  Portugal  e  destacou  alguns  na- 
vios da  esquadra  ás  suas  ordens  para  o  mar  dos  Açores,  a  fim  de  a- 
prisionar  os  navios  de  guerra  portiiguezes  que  criisavam  nestas  para- 
gens e  especialmente  nas  proximidades  da  ilha  Terceira,  para  dar  ca- 
ça aos  constitucionaes  que  naquelle  reducto  da  liberdade  se  iam  re- 
fugiando. 

E  não  perderam  o  seu  tempo  os  navios  destacados  para  estes  ma- 
res, os  qiiaes  foram  o  brigue  «Endymion»,  de  que  ha  pouco  falíamos, 
e  a  fragata  «Melpomene»,  navio  que  montava  00  valentes  canhões  de 
calibre  30. 

A  bandeira  tricolor,  ipie  tremulava  na  mezéua  destas  embarca- 
ções, fora  considerada  [)elo  governo  de  U.  Miguel  como  um  lábaro  re- 
volucionário e  como  tal  merecedor  da  senha  destruidora  da  sua  mari- 
nha de  guerra,  tanto  assim  que  o  general  Henrique  da  Eonseca  de 
Sousa  IM-ego,  em  I'2  de  Setembro  de  1830.  ofliciava  a  um  seu  subal- 
terno, o  governador  da  ilha  de  São  Jorge,  dizendo-lhe  (pie  tni  ília  2ò 
de  Julho  lia  cia  arrebentado  uma  revolução  em  Paris,  em  cnnse(jurncia 


44  ABCHIVO  DOS  AÇORES 

(ia  (jucú  sahio  da  capital  El-Rei  Carlos  X,  ficavdo  a  nação  dividida  nn 
partidos,  que  a  punição  de  tão  atroz  delicfo  se  Signiria  de  perto  e  que 
não  d- viam  ser  recebidas  qnaesquer  embarcações  com  bandeira  que  não 
estivesse  reconhecida . 

Verdade  seja  que  a  4  d"Outnbr()  seguinte  o  general  Prego  torna 
va  a  otliciar  ao  mesmo  governador,  em  Circular  com  o  N.°  29,  pois 
que  em  vista  das  reaes  ordens  que  recebera,  devia  ser  tolerada  a  ban- 
deira tricolor  de  que  actualmente  usavam  os  navios  francezes. 

O  motivo  d"esta  contra-ordem  é  o  (jue  veremos  em  breve. 

Crusava  a  esse  tempo  nos  mares  dos  Açores,  fazendo  parte  do 
blo(jueio  a  corveta  «Urania»  navio  de  600  toneladas  e  que  montava 
vinte  e  duas  boccas  de  fogo,  commandada  pelo  oíTicímI  de  marinha  An- 
drade. 

Foi  com  este  navio  que  romperam  as  hostilidades. 

A  'lUrania»,  na  madrugada  de  3  de  Julho  de  1831,  achava-se 
nas  proxiuíidades  e  ao  norte  da  ilha  de  São  Miguel,  ainda  ipie  não  se 
avistava  terra,  e  o  ofFicial  do  quarto  foi  annunciar  ao  commandanle 
que  estavam  á  vista  e  dirigindo-se  na  sua  direcção,  dois  navios  de 
guerra,  dos  quaes  ainda  ignt  rava  a  nacionalidade. 

Haviam  já,  como  era  sabido,  complicaçíjes  com  os  inglezes  por 
cansa  do  aprisionamento  fora  dos  limites  do  bloqueio  de  embarcaçíjes 
d'aquella  nacionalidade  e  na  duvida  das  intenções  d'aquelles  vazos  de 
guerra  o  commandante  da  «Urania»  mandou  tocar  a  postos,  desenvol- 
vendo-se  a  bordo  grande  actividade  bellica 

A  bimdeira  branca,  com  as  (]uinas  portuguezas,  desfraldou-se  en-   ' 
tão  na  popa  da  «Urania «,  começando  immediatamente  o  brigue  a  lhe 
dar  caça  e  tomando  afinal  a  corveta  sem  que  esta  apresentasse  a  mi- 
nima  resistência  ! 

A  fragata  «Melpomene»  conservara-se  sempre  a  distancia,  atra- 
vessada, como  simples  espectadora  d"essa  ()ouco  edificante  scena. 

Se  é  diiTicil  de  explicar  como  três  notabilidades  mythologicas,  pf^r- 
dendo  a  sua  habitual  serenidade  vinham  gladiar  se  nos  mares  açoria- 
nos, de  bem  má  fama  e  como  Endymion,  rapaz  de  notável  formosura 
e  atreito  a  estudos  de  astronomia,  depois  de  haver  attentado  contra  a 
honra  de  Juno.  e  de  haver  sido  raptado  por  Diana  que  o  transportou 
para  o  monte  Latmus,  aonde  uma  vez  por  outra  o  ia,  occultamente. 
visitar,  se  achava  agora  de  [jarceria  com  Melpomene,  a  severa  Musa 
da  tragedia,  que  empunha  um  punhal  na  dextra  e  na  outra  mão  um 
sceptro  e  não  se  contentando  já  com  duas  amantes,  ainda  vae  coikjuís- 
tar  «Uiania*,  uma  simples  rapariga,  também  dada  á  mania  do  estudo 
dos  astros,  tanto  que  não  se  retratava  se  não  toda  vestiiia  de  azul  e 
com  uma  corôa  de  estrellas  na  fronte,  se  isto  não  é  fácil  de  explicar, 
como  dizíamos,  e  se  ningueu)  pode  atinar  com  o  fio  (Kesta  grande  eui- 
brulhada  da  corte  celestn.  também.  ('gu:dinenle,  não  é  menos  dillicil 
de  decifrar  o  papel  que  n'esle  lamentável  incidente  representaram  to- 


Al.CHIVO  UOS  AÇORES  45 

dus  os  porliiguezes  do  navio  aprisidiiMcio. 

Lá  (jiití  era  geiíle  acommudada,  isso  é  indubitável  .  .  . 

A  guarnição  da  C(»rvéla  «Urania»  passou,  immediatauienle,  não  íli- 
go  pelas  forcas  candinas,  mas  sitn  [);u\t  bordo  do  brigue  e  fragata  fran- 
eeza  e  aijiielle  navio  recebendo  uni  troço  da  uiariídiageni  estrangeira, 
dirigio-se,  aprisionado  e  incólume  |)ara  Brest,  aonde  depois  foi  ven- 
dido aos  portuguezes  constitucionaes  para  fazer  paite  da  armada  de 
D.  Pedro  ! 

,  E  somos  nós  ipie  dizemos  roupa  de  francezes  .  .  .  com  certeza  que 
a  dos  portuguezes  também,  não  é  raro,  ter  sido  bem  desl)aratada. 

Seis  dias  depois  da  captura  da  «Urania»,  o  «Endymion»  e  a  «Mel- 
pomene»  surgiram  no  porto  de  Ponta  Delgada,  em  S.  Miguei,  (|uaiido 
esta  ilha  já  se  achava  entregue  ao  dominio  liberal.  Desembarcou  o  Im- 
mediato  do  brigue,  dando  muitos  vivas,  de  chapéu  na  mão.  á  Senhora 
D,  Maria  ÍL.^  aos  quaes  respondiam  os  indígenas  com  eguaes  brados 
ao  Rei  (Cidadão  e  seguio  depoi.';  este  official,  escoltado  de  muito  povo 
até  ao  palácio  do  governo,  aonde  se  demorou  algjun  tempo,  não  fal- 
tando eiu  tndo  isto  a  [)arte  espectaculosa  de  que  tanto  gostam  os  da 
sua  nacionalidade. 

Tão  péssimas  são,  invariavelmente,  as  consequências  das  dissen- 
sões intestinas  de  qualijuer  povo,  que  um  dos  militares  (jue  acabava 
de  a[)risionar  mii  iujportante  vazo  de  guerra  portngnez,  era  por  [)or- 
luguezes  considerado  como  nm  heroc ! 

A  esse  tempo,  no  continente,  a  questão  com  a  França  tinha  to- 
mado o  mais  carregado  aspecto,  os  verdadeiros  pronmicios  d'nma  gran- 
de tormenta. 

E  vinlia  a  ser  o  caso  (jue  o  governo  do  Palais  Royal  continuando 
'A  julgar-se  desconsiderado  pelas  authoridades  miguelistas  e  não  satis- 
feitas as  suas  reclamações,  mandara  reforçar  o  numero  de  endjarca- 
ções  que  já  tinha  nas  costas  de  Portugal,  com  navios  de  grande  lota- 
ção e  que  constituíam  assim  uma  imponente  armada  de  dezesete  na- 
vios, sendo  seis  naus,  quatro  fragatas,  três  corvetas  e  quatro  brigues. 

O  commando  desta  es(|uadra  foi  confiado  ao  almirante  Barão  Rous- 
sin,  o  (piai  hasteou  o  seu  pavilhão  a  bordo  da  nau  «Suffren»,  emipian- 
to  que  o  almirante  Barão  Hugon,  sob  as  suas  ordens  estava  a  bordo  da 
nau  «Trident». 

Chegados  ás  costas  de  Portugal,  o  sommandante  em  chefe  da  es- 
quadra destacou  o  brigue  «Dragou»  para,  como  parlamentario,  ir  a 
Lisboa  intimar  o  govt-rno  portuguez  ijue.  se  no  praso  de  vinte  e  qua- 
tro horas  não  fossem  acceitas  todas  as  requisições  anteriormente  a- 
presentadas  pelo  commandande  do  «Endymion»,  bem  como  unia  indem- 
tiisação  pecuniária  para  as  despezas  da  guerra,  que  n"esta  occasião 
lhe  apresentava,  a  esquadra  h'anceza  forçaria  o  Tejo.  decidindo  as  ar- 
mas esta  (piestãi». 


46  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

Islo  foi  a  oilo  de  Junho. 

O  brigue  parlnmeutario  entron,  eífectivamente,  em  Lisljoa  e  ao 
oflicio  (lo  Barão  Koussin  respondeu  o  governo  porluguez  com  mal  dis- 
íaiç^das  evasivas,  regeitando  as  condições  d.i  almirante  e  opinando,  |»a- 
ra  a  resolução  d'esle  confliclo,  que  essas  exgencias  seriam  tratadas  em 
Paris,  pelo  encarregado  d  is  negócios  da  llespanha. 

O  Si'.  Joaipiim  Lopes  Carreira  de  Mvllu,  na  sua  Historia  de  Por- 
tugal, eudxjra  partidário  e  defensor  do  governo  de  D.  Miguel,  ainda 
assim  ipiando  trata  d  esle  incidenie,  confessa  o  completo  desleixo  e 
imprevidência  do  governo,  procurando  (Talguma  sorte  jiistifical-o  |)ij- 
las  probabilidades,  então  eAistentes,  da  Gran-Brelnuiia  vir  soccorrer 
Portugal,  alfirmando  este  insuspeito  autlior  que  a  incúria  do  governo 
foi  tal,  que  no  dia  em  que  a  esquadra  fi'ancrza  entrava  no  Tejo  é 
que  um  major  d'artilheria,  José  da  Roza  Curado  linha  ido  á  torre  de 
São  Julião,  conliect-r  do  estado  d^aquella  forlalesa,  para  a  defeza  da 
baira.  ;ichau(lo-se  também  desguarnecidas  liiuitas  fortificações  que  pro- 
legeriíim  Lisboa  contra  (jiinli^uer  invasão. 

No  Tejo  achavam-se  fundeados  diversos  navios  de  guerra  porlu- 
guezes. 

Decidido  o  ataque  pelo  ahnirante  Houssin,  em  consequência  da 
res|)osta  ás  suas  r.'.clamações,  (pie  lhe  trouxei^a  o  «Dragou»,  es[)era- 
vam  siuqiiesmente  os  francezes  ensejo  favorável  de  poder  Iranspor  a 
bari'a,  porquanto  o  vento,  até  então,  lhes  fora  contrario. 

Na  madrugaila,  porem,  do  dia  li  de  Jidho,  uma  brisa  esperta  do 
quadrante  do  norte  começou  a  enfunar  as  vellas  da  armada  inimiga, 
estando  o  lenq)o,  t  nnublado  e  de  mau  cariz  e  o  mar  assaz  cavado. 

Apesar  d  isto.  pelas  10  horas  da  uiiuihã  a  aSutíren»  içou  o  si- 
gnal  de  appirelliar  e  em  breve  seis  naus,  três  fragatas  e  três  corvetas, 
destinadas  para  a  investida,  collocavam  se  em  linha  de  batalha,  fican- 
do os  restantes  navios  a  b<trdejar  fora  da  barra. 

A'  72  P-  "í-  enh^ava,  imponentemente  no  Tejo  aquella  divisão  na- 
val. 

As  fortalezas  portuguezas  e  alguns  dos  nossos  navios  de  gueri"a, 
por  honra  da  firma,  sempre  se  resolveram  a  disparar  alguns  incertos 
tiros,  os  quaes  não  iuconunodarau],  nem  retiveram,  os  francezes,  que 
proseguiram  no  seu  laimo,  até  ipie  defrontando,  bem  em  cheio  a  cida- 
de, atroaram  os  ares  com  repetidas  bandas  de  artillieria,  que  foram 
em  leira  causar  sérios  prejuízos  e  destroços,  islo  ao  leiupo  (|ue  a  fra- 
gata «Palias»  ia  aprisionando  sete  navios  de  guerra  [xirtuguezes,  in- 
depeuilenle  dos  Ires  n.ivios  ipie  para  semelhante  fim  de>lacara  o  al- 
mirante Konssiri. 

Pelas  í  horas  da  tarde,  apenas  com  a  perda  de  três  homens,  (|ua- 
renla  feridos  e  idgumas  avarias  no  apparelho,  estava  victoriosa  a  es- 
(jiiadra  franceza,  e  dictava  leis  ao  governo  porluguez,  (jue  foram  logo 
acceilas,  bem  como  uma  imleumisação  a  pagai-  d  uns  1 'iU:000;>000  rs. 


AHCHIVO  DOS  AÇORES  47 

(limnlia  que  devi^i  ser  dividiíla  pelos  subditos  ÍV;iiicezes  que  liavi.uii 
.sido  oITeudiddS  e  pelas  dt^sju^sas  da  expedição. 

Kxigio  uiais  o  aluiiraute  Koussiu  (]ue  as  humilliantes  condições 
que  apresentava  losseu)  a.ssignadas.  não  em  terra  mas  a  bordo  da  «Sid- 
íien»  e  em  seguida  publicadas  na   «Gazela  olíicial». 

A  Inglaterra  n  esta  ipiestão,  apesar  de  nossa  alliada  lia  (jualro 
centos  annos,  crusou  t'om|)letamente  os  braços,  tão  errado  é  o  cami- 
nlio  de  confiarmos  em  estranho  auxilio,  (|uando  vm  nós  mesmos  lemos 
os  recursos  necessários  de  vingar  uma  aííronla  nacional. 

Ora  o  aprisionamento,  pelos  francezes,  tanto  no  mar  dos  Açores, 
como  no  Tejo,  da  esquadra  de  D.  Miguel,  foi  de  grande  e  inesperado 
auxilio  para  o  partido  constitucional,  porquanto,  á  mingoa  de  adqua- 
das  embarcações»  desfeito  o  bloipieio  estabelecido,  ficaram  livi'es  as 
communicações  dos  emigrados  com  a  Terceira,  para  aonde  podiam  se- 
guir dos  diversos  depósitos  dos  [)aizes  estrangeiros,  acompanhados  de 
tudo  quanto  quizessem. 

E.  ainda  assim,  devemos  confessar  que  nunca  fora  tão  apertado 
o  bloqueio  açoriano  que,  desde  Junho  de  1829  alé  Fevereiro  de  1830, 
não  deixassem  entrar  na  bahia  de  Angra,  com  armas,  mantimentos, 
fazendas  e  emigrados,  trinta  e  quatro  embarcações,  das  quaes  trinta 
e  uma  inglezas,  escunas  na  maior  parte,  bem  como  três  navios  fran- 
cezes, incluindo  uma  barca, 

Distrahio  em  breve  a  attenção  dos  porluguezes  destes  importan- 
tes fados,  a  momentosa  questão  politica,  a  lucta  fratricida  em  que  se 
ia  debater  o  paiz,  desde  o  desembarque  nas  praias  do  Mindello  a  8 
de  Julho  de  183á  das  tropas  de  D.  Pedro,  havendo  de  sobejo  em  que 
pensar  em  casa,  alem  do  insulto  que  nos  fizera  uma  estranha  nação. 

Era.  porem,  indubitável  e  reconhecido  que  as  sympathias  da  Fran- 
ça, estavam  todas  voltadas  para  o  exercito  liberal,  para  o  partido  C(m- 
stitucional  portuguez. 

Decorreu  em  seguida  todo  o  período  da  campanha  da  liberdade, 
até  que  a  20  de  Maio  do  1834  assignou-se  em  Évora,  mediante  os  ge- 
neraes  dos  exércitos  belligerantes,  a  convenção  que  indicava  a  D,  Mi- 
guel o  caminho  do  desterro  e  no  dia  seguinte  proclamava  o  deposto 
monarcha  ás  suas  tropas,  annunciando-lhe  que  em  breve  se  retirava 
do  reino,  deixando,  assim,  as  insígnias  d(t  poder  que  usofruira  desde 
o  auno  de  1828. 

A  23  de  Setembro  d'esse  mesmo  anno  de  1834,  inn  membro  da 
família  de  Luiz  Philíppe,  desembarcava,  de  passagem,  em  território 
portuguez. 

Era  o  Príncipe  de  Joinville  (Francisco  Fernando  dOrleans)G,°  fi- 
lho do  monarcha  francez,  contando  apenas  dezeseis  annos  de  edade, 
pois  nascera  em  1818,  o  qual,  como  aspirante  de  marinha,  vinha  a 
bordo  da  corveta  «Belle  Poule»,  em  sua  i)rimeira  viagem  de  inslruc- 
ção. 


48  ARCHIVO  DOS   AÇORES 

O  Piiiicipe  de  Joinville  (Jemuroii-se  somente  dois  dias  no  Fayal, 
sendo  a>saz  obsequiado  pelo  digno  vice-consni  francez  o  Snr.  Sérgio 
Pereira  Ribeiro,  que  falleceu  nu  anno  seguinte,  bem  C(jmo  pelo  bene- 
mérito eousul  americano  Charles  William  Dabney,  estando  na  sua  bei- 
ja residência  da  «Bagatella»  e  com  este  cavalheiro  e  com  um  respei- 
tável Preceptor  que  acompanhava  S.  A.  deu  um  j)asseio,  a  cavallo, 
pelos  caujpos  da  ilha. 

Ao  Príncipe  foram  oíferecidas  algumas  curiosidades  da  localida- 
de que  S.  A.  muito  mostrou  presar  e  na  segunda  noite  da  sua  esta- 
da na  Hoi'ta,  o  Sr.  Dabney  oíTereceu-lhe  um  baile,  ao  qual,  porem,  S. 
A.  não  poude  assistir,  por  ter  de  se  recolher  cedo  para  bordo,  mas 
ao  qual  concorreu  a  oíTicialidade  da  «Belle  Poule». 

Nas  paginas  de  um  livro  pertencente  á  família  Dabney  e  ainda 
hoje  na  mesma  devidamente  conservado,  traçou  o  príncipe  de  Joinvil- 
le uma  referencia  á  sua  estada  no  Fayal  e  antes  da  sua  partida  man- 
dou de  bordo  offerecer  a  duas  creanças  d'aquella  família  D.  Rosa  e 
Samuel  um  accordion  e  um  relógio  de  oiro  que  lhe  fora  dado  pela  sua 
regia  e  virtuosa  mãe. 

Apesar  d'um  rigoroso  lucto  que  então  pesava  sobre  a  família  Ri- 
beiro, ainda  assim  o  vlce-consul  francez  obzequiou  em  tudo  que  este- 
ve ao  seu  alcance  tão  llluslre  viajante,  que  levou  do  Fayal  as  melho- 
res impressões. 

Foi,  como  vamos  ver,  reconhecido  o  Rei  dos  francezes  ã  expon- 
tânea e  bôa  acolhida,  llberalisada  na  pequena  ilha  do  Fayal,  ao  seu 
sympathico  filho. 

Algtms  mezes  depois  da  estada  na  bahia  da  Horta  da  «Belle-Poule», 
uma  corveta  frauceza  que  se  dirigia  para  o  mar  Pacifico,  recebeu  or- 
dem de  fazer  escala  por  esta  localidade,  expressamente  para  entregar 
aos  respeitáveis  vlce-consul  francez  e  cônsul  americano  um  presente 
de  Luiz  Philippe,  sendo  ao  primeiro  uma  boceta  d'oiro,  com  as  ini- 
ciaes  do  nome  d'a(juelle  monarcha  e  ao  Sr.  Dabney  um  serviço  para 
duas  pessoas  (tète-à-tète)  de  finíssima  porcelana  de  Sèvres,  verde, 
branca  e  oiro,  ainda  hoje  existente  e,  egualmente,  com  o  anagrama  de 
Luiz  Philippe,  em  cada  peça. 

Se  a  modéstia  aprendida  em  tempos  de  adversidade  foi  sempre 
a  característica  feição  da  exemplar  família  de  Luiz  Philippe,  é  também 
indubitável  que  o  reconhecimento  nunca  (Jeixou  na  sombra  os  favores 
dispensados  ao  Rei  Cidadão,  ou  aos  numerosos  membros  da  sua  casa 
real 

Ainda  asíim  as  óptimas  qualidades  do  Napoleão  da  paz,  como  en- 
tão era  denominado,  não  obstaram,  de  )83á  a  I8i6,  a  que  houvessem 
sete  attentados  contra  a  sua  existência  ! 


ARGHIVO  DOS  AÇORES  49 

O    COISTIDE    IDE    "V^.A.i^C3-^^S 

(1836) 

Em  Maio  d.j  :iiino  que  indicámos  chegou,  á  ilha  do  Fayal,  o  no- 
l.ivel  sahio  dinamarquez  i^onde  de  Vargas,  contando  então  oitenta  an- 
nos  (h;  edade  e  vindo  n  nma  missão  scientifi-a  sohre  estudos  concer- 
nentes á  geoliigia  d"este  archipelagi). 

Acon)[)anhava  este  titular  inna  reconiniendação  especial  do  go- 
verno portuguez,  o  ipie  deu  higar  á  (>amara  Municipal  da  Horta  em 
data  de,  11  de  Março  dirigir-lhe  uma  felicitaçrio  peia  sua  chegada  a 
esta  ilha. 

Este  venerando  ancião  f(ji  obzequiosamen'e  hospedado  na  explen- 
dida  residência  do  cônsul  americano  Charles  William  L);ibney.  sendo  a 
sua  demora  iTesta  locahdade  approximadamente  de  O  mezes,  pois  que 
n'nm  livro  existente  em  poder  da  i'espeitavel  familia  Dabney,  vimos 
traçadas  pelo  (^onde  de  Vargas  algumas  linhas  de  agradecimento,  em 
inglez,  a  valiosos  ohzequios  recebidos  alli  euj  Setembro  do  mesmo  an- 
uo. 

Apesar  da  sua  edade  e  da  diíticiddaíJe  da  subida,  o  sábio  natu- 
ralista tez  uma  excursão  á  alterosa  [ioiita  do  Pico,  i.4h2  metros  acima 
do  uivei  do  mar  e  b^m  assim  visitiu  os  mais  remotos  togares  daipiel- 
la  ilha,  fazendo  importantes  collecções  de  plantas  e  productos  vulcâni- 
cos. 

Do  Fayal  correspondia-se,  em  todas  as  opportunidades  com  o  gran- 
de Alexandre  Humb(jldt,  esse  Aristoties  dos  modernos  tempos,  co- 
mo lhe  chama  o  Barão  de  Marajó,  no  excelienle  livro  «A  Aniazonia» 
e  cuja  fama  era  já  então  universal,  desde  as  suas  viagens  d'explora- 
ção  ao  continente  Americano. 

Esta  correspondência  versava  sobre  averiguações  (pie  cumpria  ao 
(^onde  de  Vargas  fazer,  concernentes  á  mencionada  existência,  por  al- 
guns escriptores,  de  uma  estatua  na  ilha  do  Corvo,  firmada,  sobran- 
ceira ao  mar,  em  elevado  promontório,  e  com  a  dextra  indicando  o 
occidente,  talvez  para  annunciar  aos  navegantes  europeus  a  existên- 
cia, n^aquella  direcção,  d'um  continente,  noção  esta  que  a  ser  exacta 
e  anterior  ao  anuo  de  1492  viria  roubar  a  Christovão  Colombo  a  glo- 
ria da  descoberta  da  America. 

A  par  d'isto  havia  também  a  investigação  relativamente  ao  acha- 
do n'ai|uella  mesma  ilha,  no  anuo  de  1740,  de  uma  porção  de  moedas 
Carthaginezas  e  Cyrenaicas,  as  qiiaes  d'aquella  ilha  haviam  sido  re- 
mettidas  para  Madrid,  a  um  Padre  Flores,  que  as  oííerecei^a  a  M.  Po- 
dolyn. 

Apesar  do  pouco  fundamento  d"estas  asserções  e  de  se  acreditar 
geralmente  que  a  existência  da  tão  fallada  estatua  da  ilha  do  Murco, 

N."  43  — Vul.  VIII  -  1886.  7 


50  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

de  Saiilo  Aiitãít,  oii  do  Corvo,  não  passou  de  uma  ficgão,  oii  talvez  (h 
app;irenci;i  (jiie,  a  flist.incia,  algum  rochedo  a|)resentava  com  serne- 
Ihante  obra  darie,  é,  ainda  assim, evidente  (|iie  iim  grande  sábio,  díts 
()ropurçõrs  de  Hnmboldl  não  as  despresava  complelanv^nte,  porque  se 
o  houvesse  feito,  no  meio  dijs  seus  importantissimos  e  numerosos  Ira- 
balhus.  não  desperdiçaria  seguramente  o  seu  precioso  tempo  a  in(|ui- 
rir  sobre  uma  futilidade,  sem  o  menor  vizo  de  verdade. 

Assim,  e>ta  questão,  que  por  algum  tempo  se  ventilou  no  miui- 
d(»  scientifico  não  leve  ain<la  uma  solução,  parece-nos,  ('«tmpletamentc 
satisfatória,  pouco  ou  nada  provando,  como  allirmou  o  Sr.  António  flo- 
mem  da  (losla  Noronha,  por  louváveis  pesquisas  fritas  n"a(iuella  pró- 
pria localidade,  que  os  actuaes  habitantes  do  Corvo  não  tenham  a  mí- 
nima noção  da  existência  da  antiga  estatua,  no  cazo  d'ella  haver  exis- 
tido. 

O  mesmo  acontece  em  diver>as  e  mais  populosas  povoações  com 
factos  importantes  da  sua  historia  local  e  que  mais  direclanieide  to- 
cava o  povo,  cuja  ignorância  é  por  vezes  verdadeiramente  desanima- 
dora nas  ilhas  occidcntaes  do  archipel.igo. 

E'  o  mesmo  que  se  pergimtanios  hoje  a  ujuitos  dos  (/ahichos  que 
velam  pela  manutenção  das  nossas  instituições  politicas  quem  foi  o 
vulto  gigantesco  do  Saldanha  ?- Nimca  ouvirnui  fallar  de  tal,  e,  com- 
tudo.  isto  é  apenas  de  hontem  e  por  assim  dizer  o  cadavei'  do  nobre 
Duípie  aind;)  e>lá  niôrno. 

Como  na  provinda  de  Yucatan,  na  America  central,  grandes  mi- 
nas recentemente  descobertas,  tem  nvrlado  a  e.xisl  ncia  (\f  uma  re- 
m.  ta  civilisação  n'aquellas  paragens,  de  povos  cujos  nomes  Inje  se 
desconhece,  assim  também  nos  Açores  as  indicações,  não  de  uma  a- 
diantada  civilisação,  m;is  seguramente  de  um  povoamento  (piahpjei- 
d"e>tas  ilhas,  também  não  é  raro  descortinar-se,  i'eferindo-se  a  (un  pe- 
liodo  muito  anterior,  com  certesa,  ao  século  XV. 

E"  um  íacl(»,  geralmente  sabido  na  ilha  das  Flores,  que  ha  alguns 
annos  dand(;-se  ;tlli  um  grande  desmoionnmento  de  terrenos  sobran- 
ceiros MO  mar,  tão  grande  que  a  porção  de  terra  e  pedras  cabidas  no 
seio  do  ftceano  intluio  nas  agoas  de  maneira  (pie  as  arremeçou  em 
grandes  vagas  até  á  distante  ilha  do  Corvo,  no  corte,  quasi  vertical 
que  ficou  na  parte  do  promontório  ligado  á  ilha,  e  muitas  dúzias  de 
metros  inferior  á  sua  superficie,  foi  avistada  uma  abertura,  ou  furna, 
que  chamou  a  curiosidade  dos  indígenas. 

Subindo,  .)  muito  custo,  alguns  homens,  desde  a  beira  do  mara- 
lé  áqiiella  elevMção,  veiiíicaram  ser  mu  grande  forno  de  coser  louça, 
perfeitamente  construído  e  que  estava,  não  se  sabe  ha  quatdos  sécu- 
los alli  soterradí». 

Lembramo  nos,  também,  não  ha  nmiío  tem[)o,  que  numa  digres- 
são que  fizemos,  no  Faval,  á  freguezia  campesina  de  Pedro  Miguel,  o, 
actualmente  fallecido,  Revd."  Vigário  daquella  povoação.  I*.''  Amaral. 


AKCHIVO  DOS  AÇORES  51 

homeiíj  illiistrado  e  muito  investigador  de  curiosidades  naturaes,  nos 
haver  oíTerecido  um  pedaço  de  madeira,  muito  leve,  odorífera  e  per- 
feitamente con>eivada,  fragíneiito  de  um  grande  cedro  encontrado  na 
laiz  de  uma  pe(Jreira,  q\ut  aili  andou  em  exploração  e  (jiie  [)ara  che- 
gar á  parle  superior  da  mesma  fora  necessário  urna  excavaçãp  de  dois 
metnts  de  bòa  terra. 

Ha  (piantos  séculos  a(|iielle  maileiro  alli  se  conservava  tão  bem 
acondicionado  ? 

E  devia  ainda  notar  se,  disse-me  o  Vigário,  (pie  senielhanle  ar- 
vore não  parece  ser  indígena  dVsta  ilha,  como  a  faya  e  outras  plan- 
tas, mas  smi  importada  de  fora,  pois  que  não  é  ahuiid  )sa  em  todos 
os  sitiits  da  ilha  e  (pie  se  umi  [jovoaçã;)  importante  da  mesma  tem  o 
nome  da  freguezia  dos  (Cedros,  podia  ser  por  n  aquella  localidade  cul- 
tivarem maior  numero  d"essas  plantas  do  que  nas  outras  povoações, 
s(;ndo,  porem,  em  t(jda  a  ilha,  actualmente,  pouco  trivial. 

O  madeiro  a  qiie  nos  referimos  foi,  pelo  Vigaii.)  Âmai^al,  oíTere- 
cido  ao  Director  das  Obras  Publicas  tresle  Districto  .Xntonio  Joaquim 
Pereira,  o  qual.  conjunctamenle  com  uma  collecção  de  madeiras  aqui 
obtidas,  as  reuK  tleu  para  a  i-espectiva  Direcção  Gei-al  d"esse  .Minis- 
tério. 

Será  acazo  pelo  cedro  não  ser  indígena  d'esta  ilha  (pje  não  o  a- 
cliamos  mencionado  na  «Historia  das  quatro  ilhas  que  formam  o  Dis- 
tricto da  Horta»,  na  relação  das  arvores  aqui  produzidas,  declarando 
o  respeitável  authoi'  d'aquella  obra  que  seguio  n'esta  parte  os  traba- 
lhos sobre  o  archipelago  açoriano,  confeccionados  pelo  Snr.  Accureio 
(i  areia  Ha  mos  ? 

Alguns  escriptores  que  trataram  do  descobrimento,  n  )  século  15.°, 
(Teste  ai'chipel;igo,  beui  como  o  Sr.  Arruda  Furtado,  no  seu  muito  a- 
|)reciavel  livro  «Materiaes  para  o  estudo  anthropologico  dos  povos  a- 
çorianos»,  alliidem  ao  facto  de  no  mesmo  haverem  os  descobridores 
encontrado  morcegos,  sendo  e>les  os  únicos  mammif.Tos  a(jui  exis- 
tentes. 

E,  comtud(j,  os  cheinjpleros  parece  nos  não  poderem  ser  indíge- 
nas destas  paragens,  mas  sim  importados,  como  a  generalidade  dos 
outros  animaes,  consoante  as  necessidades  do  homem,  ou  accitlental- 
mente  com  o  decorrer  dos  tempos. 

E"  sabido  que  o  morcego,  essencialmente  insectiverw  e  noctívago 
é  um  grande  auxiliar  |)ara  o  desenvolvimento  da  agricultuia,por  pres- 
tar relevantíssimos  serviços,  de>truindo  com  incrível  avi(Jez  grande  nu- 
uíero  de  parasitas,  insectos  e  bi)rbolétas,  que  infestam  as  searas,  em 
detrimento  do  producto  (pie  o  lavrador  aguarda  das  suas  semeaduras. 

A  aversão  estúpida  que  os  nossos  actuaes  campone/.es  demons- 
tram pel(3s  morcegos,  pode  com  um  povo  mais  illustrado  não  ter  sido 
sempre  a  mesma  e  bem  pelo  contrario  avaliar  este  devidamente  a  be- 
iieíica  missão  e  valioso  préstimo  daquelles  trabalhadores  crepuscula- 


52  ARCHIVO   DOS  AÇORES 

rt^s,  delig('ii('i;ii)d()  i\  siia  prusimidíide,  nos  béirae^  dos  telhados  ou  iiíks 
f(]rn;is  e  c.mcivid.ides  dus  pt-nhascos  que  ilie  cercavMiii  os  c;hii[)Os  pro- 
ductivos. 

Não  seria,  pois,  para  estranhar  (jiie  apesar  de  não  serem  daipii 
naturaes  e  de  até  este  clima  não  parecer  muito  proticiio  para  a  sua 
propagação,  visto  giie  a  assim  ser,  deveria  acliar-se,  como  nos  paizes 
orientaes  muito  niais  desenvolvida  a  espécie  dos  cheirópleros,  os  im- 
portassem do  estrangeiro,  isto  é.  das  zonas  quentes,  aonde  são  trivia- 
lissimos  diversas  castas  de  morcegos,  tanto  iumís  quaiido  aqui  apenas 
temos  a  espécie  pequena,  exactamente  aqiiella  qiie  devora  sem  Iregoas 
os  insectos,  não  havemJo  noticia  dos  parós.  ou  vampiros,  que  atacam 
os  animaes  e  até  o  homem,  na  sua  sofreguidão  peio  sangue  morno. 

Segundo  uma  phrase  de  Figuier.  quando  diz  que  os  ujorcègos  já 
começam  a  apparecrr  na  He>panha  e  em  Portugal,  deprehende-se  que 
em  remotas  eras  não  existiam  n  aipselles  [)aizes  e  talV(V.  ainda  menos 
no  nf)rte  da  Europa. 

Ora  se  considerarnios  os  hábitos  e  a  maneii'a  de  viver  dos  chei- 
rópleros, não  iremos  talvez  muitn  longe  da  V(M'dade,  dizendo  que  ne- 
cessariamente foram  importados  para  estas  ill.as  e  qiu'  os  descobri- 
dores das  mesmas  em  li32,  aqui  os  acharam,  por  que  já  outros  po- 
vnad(tr<'S.  anlecedeiitemente  a  elles,  talvez  ha  muitos  séculos,  os  Iia- 
viaui  Irazido. 

Heuglin  affirma  raras  vezes  haver  visto  morcegos  fora  dos  seus 
sitios  antes  do  crepusciilo  e  qiu'  iniujigos  da  chuva  e  do  Irio,  as  suas 
caçadas  .são  sempre  breves  e  quasi  de  fugida,  sendo  alem  dMs.so  sii- 
geitos,  com  o  resfriamento  da  atmosphera,  á  lelhargia  ou  somno  hiber- 
nal, permanecendo  então,  duranli^  mezes.  insensíveis  e  como  morto>, 
dependmadtis  dos  tectos,  no  inlerior  das  habitações  e  >ustentandi)-se  da 
própria  gordura,  adquirida  durante  o  estio. 

Como  podemos,  pois  admitlir  que  um  animal  essencialmente  ca- 
seiro e  Jamais  emigrante,  se  abalançasse  a  criisar  o  oceano,  como  as 
andorinhas,  sem  um  único  ponto  aonde  repousar  do  seu  fatigante  vo- 
ar em  zig-'/.ag  e  temeroso  senq>re  das  chuvas  e  das  ventanias  tão  fre- 
quentes nas  ásperas  travessias  do  atlântico,  especialmente  na  latitude 
aonde  demoram  os  .Açores  ? 

A  mesma  guerra  que  lhe  fazem  os  nosM)s  campone/.es  e  o  pra- 
zer com  que-pregam  o  corpo  palpitante  do  morcego  na  porta  das  suas 
moradias,  se  acaso  conseguein  a[)anh.ir  um  individuo  (Taiiuella  es- 
pécie, parece  provar  que  pela  sua  raridade  era  aipii  pouco  vulgai\ 
um  objecto  de  curiosidade,  e  que  lhe  desconhecem  ainda  o  préstimo, 
irmanando  o  com  a  praga  e  com  todas  as  aves  e  animaes  damniiHios. 

Não  acontece  o  mesmo  nos  paizes  orientaes  d'onde  são  oriundos 
ou  na  zona  tórrida,  aonde  tão  profusamente  se  desenvolvem. 

Alli  as  espécies  pe(|uenas  d(ts  cheiíópteros,  com  a  única  que  te- 
ni()s  nVste  archqielago,  vivem  muito  socegadamente  e  em  bòa  hainio- 


ARCHIVO  DOS  AÇOBES  S3 

nia  com  o  lioineni,  (Jependtiradus,  sem  pânico,  dos  tectos  (\íí<.  \,Mú\;\- 
ções  e  ( orno  o  morcego  é  ddtado  de  bastante  intelligencia.  não  é  raro 
domeslicar-se,  livrando  também  (»s  rebanhos  de  onía  iniinidade  de  in- 
sectos tjiie  os  perseguia. 

Todas  estas  razões  levam-nos  a  crer  que  os  cheiró[tteros  foram 
para  aqui  importados,  numa  epocba  remota,  e  porventura  como  uma 
tiecessidade  e  que  a  sua  [)ri)pagação,  devido  ás  inclemências  dos  in- 
vernos insulanos,  tem  sido  muito  lenta  e  pouco  abundosa,  ao  invez  de 
ceri,as  qualidades  de  ratos  ao  Fayal  trazidos  pelos  navios  que  se  des- 
mancham em  l\)rto  Vm  e  das  ràns  que  ha  somente  alguns  .mnos  ap- 
pareceram  nos  mattos,  impftrtadas  da  ilha  de  São  Miguel  e  que  hoje 
já  se  vão  encontrando  em  quasi  todas  as  nossas  ribeiras,  até  mesmo 
dentro  dos  povoados. 

O  Conde  de  Vargas  foi  eflectivamente  ás  ilhas  das  Flores  e  Cor- 
vo sem  que,  não  obstante,  pode>se  obter  quaesqiier  e.^clarecimentos  á 
cerca  da  Estatua  e  das  moedas  antigas,  pois  que  os  acluaes  povoado- 
res, é  certo,  que  nada  souberam  responder  a  semelhante  respeito. 

De  regresso  á  sua  pátria  publicou  o  sábio  naturalista  um  peque- 
no livro,  em  latim,  concernente  a  estas  ilhas,  do  qual  enviou  um  e.\em- 
pl'-ir  á  família  Dabney,  mas  que  hoje  não  se  encontra. 

Foi  quanh)  podemos  colligir  a  respeito  da  sua  e>tada  n■e^tas  ilhas 
occidentaes  do  archipelago  açoriano. 


IDE     GXaJ^lElJ^ 

(1857) 

Fuzillava-se,  então  valentemente,  na  Hespanlia. 

Na  manhã  de  IO  de  Maio  de  1857  entrava  na  bahia  da  Horta, 
procedente  de  Cuba  o  vapor  de  guerra,  hespanhol  apisarro»,  salvan- 
do immediatamente  a  terra. 

No  decurso  d'esta  salva  notou  se,  no  final,  algiuua  irregularidade 
dos  tiros. 

Regressado  a  terra  o  escaler  da  visita  da  saúde  soube-se  que  o 
«Pisai'ro»  conduzia  a  seu  bordo  o  Rev."'"  D.  António  Maria  Clarette  de 
Clara,  arcebispo  de  Cuba  e  vulto  muito  importante  na  politica  que 
então  dominava  na  Hespanlia,  o  qual  ia  transferido  para  o  arcebispa- 
do de  Toledo,  bem  como  que  na  occasião  do  recem-chegado  vapor 
salvar  á  bandeira  portugueza,  houvera  um  lamentável  sinistro,  occa- 


54  ARCHiVO  DOS   AÇORES 

sionando,  iim  descnido,  rebentar  iiin  tiro  intempestivamente,  o  (jual  ma- 
tou flois  pobres  artilheiros. 

Mal  íui  sabido  achar-se  neste  porto  nm  ecciesiastic.o  de  tão  ele- 
vada calhegoria.  logo  as  princi|)aes  anthoridades  Fayalenses,  bem  ot- 
nio  diversos  cavallieiros  dos  principaes  se  dirigiram  a  bordo  a  enm- 
j)rimentar  S.  Kx.''. 

O  clero  da  Horta  e  muito  povo,  na  espectativa  do  arcebispo  des- 
rmbarcar  atíloio  l(»go  ao  cães  e  os  adros  da  egreja  de  São  Fiancisco 
e  Matriz,  a<'liaran»-se  em  breve  apinhados  de  mulheres  de  capote  de 
capuz. 

Eflectivamente  o  Padre  ('larette,  seguido  do  seu  confessor  e  se- 
crrtario,  bem  mal  encarisados  por  signal,  e  das  anthoridades  portu- 
guezas  que  tinham  ido  abordo,  em  breve  desembarcou  no  cães  da 
Horta,  ao  troar  duma  salva  do  (^astello  de  Santa  Cruz.  encorporando- 
se  no  seu  seipiito  muitos  padres  e  escoltado  por  immeuso  povo. 

O  arcebispo  c;:minliava  pelo  meio  da  rua,  ladeado  dos  dois  padres 
seus  compatriotas  e  no  centro  do  cortejo  das  nossas  anthoridades,  ex- 
alçadas já  com  a  sua  veneranda  benção,  no  que  S.  Ex.*  era  muito  pró- 
digo. 

Dirigio-s»^  a  comitiva  [)ara  a  egreja  de  São  Francisco,  a  primeira 
que  lhe  lícava  em  caminho  e  no  Largo  de  Neptuno,  apesar  de  vasto 
a  agdoiueraçãíj  de  povo  era  immensa,  e  o  mulherio  qua>i  h.do  de  joe- 
lhos recebendo  um  chuveiro  de  baiçãosque  o  arcebispo  lhe  ia  atiran- 
do de  passagem  e  cpie  cahiani  poi'  toda  a  parte,  como  o:  trora  chu- 
veu  o  maná  no  deserto. 

Fm  dia  cheio  ! 

O  Padre  Clarelte,  para  sermos  justos  e  dizer  a  verdade,  não  pri- 
mava muito  pela  belleza  physica,  que  da  moral  essa  então  não  men- 
cionamos aqui,  por  desnecessária,  estando  sobejame:ite  demonstrada 
na  historia  do  reinado  de  Isabel  2.*. 

Era  i:m  homem  baixo,  d'uns  cincoeuta  ânuos  de  edade.  assaz  nu- 
trido, de  còr  trigueira  esverdeada  e  com  uma  bem  saliente  cicatriz  que 
das  proximidades  duma  sobrancelha  lhe  (Jescia.  um  pono  transversal- 
mente até  ao  lábio  superior,  dando-lhe  uma  estranha  expressão  á  phy- 
sionomia,  na  (pjal  reluziam  dois  olhos  |)equenos,  negros  e  muito  vivos. 

S.  Ex /^  visitou  neste  dia  os  templos  d<!  São  Francisco,  Matriz  e 
(^^nceição,  orando  no  primeiro  demoradamente,  visitando  algumas  das 
moradias  das  anthoridades  loi'aes  e  indo  atinai  descançar,  antes  de  se 
recolher  para  bordo,  na  caza  do  vice-consul  de  He-spanha  D.  Marian- 
no  HanserdtMi,  ipie  exercia  aquelle  cargo  desde  o  anuo  de  I8i2. 

Havendo  tambeuj  estado  este  Prelado  no  hospital  e  annexo  .\zylo 
de  mendicidade,  esmolou  generosament(í  os  individuos  alli  lecolhidos, 
dando  I>:2l)0rs.  a  cada  liomeu)  e  000  rs.  a  cada  mídher.  O  pessoal, 
porem,  do  mesmi,  Azylo  é  assaz  diminuto. 

O  goverirador  militar  mandou  uma  guarda  de  houra  e>perar  o 


ARCmVO  DOS  AÇOHES  55 

arcebi^lK),  por  occnsião  ilu  sen  desembarque,  íicando  á  sn;i  (lis|»i)>i(;ã(>. 
(\c\  (jual,  poiétn,  S.  Ex.^  presciíidio. 

Pouco  tempo  depois  do  P:idre  Cl.netle  t  r  ido  [vaíw  huidd.  reiímu 
até  ;io  «Pisarro»  um  escaler  da  terra,  |)ara  apreseiitar-llie  um  olílcio 
congralulatorio  da  sua  chegada  a  esta  ilha,  (pie  lhe  dirigia  a  Camará 
Municipal  da  Horta. 

Confessa  esta  illustre  corporação  naipielle  documento  (pie  está 
possuída  río  maior  jubilo  e  iu(m  viva  satisfarão  por  ver  entre  si  um 
príncipe  da  egreja  catholíca,  adornado,  como  S.  Ex.%  dr  todas  as  rir- 
fades  evangélicas,  agradecendo  também  a  tionra  de  haver  visitado  a 
cidade  e  os  respectivos  templ(»s. 

Acju.elle  adorno  de  todas  as  virtudes  evangélicas,  se  é  verdadei- 
ra a  historia,  é  (^ue  foi  talvez  para  mostrar  que  tínhamos  sangue  [)e- 
nínsular  e  que  também  por  aqui  sabíamos  manejar  uma  ^espanholada. 
(piando  era  necessário. 

Apesar,  porem,  do  papel  essencialmente  reaccionário  do  Padre 
Clarette,  na  politica  do  seu  paiz,  é  possível  que  anda.s.^e  em  tudo  a- 
quillo  de  boa  fé  e  (jue  também  assim  o  acreditasse  a  Camará  Munici- 
pal da  Horta,  pois  que  as  ídeas  são  conforme  o  meio  pelo  (piai  iKJs  as 
ivcebemos 

Isto  justifica  até  os  Torquemadas. 

K,  eífectivamente,  como  disse  um  dístincto  padre  protestante  n"u- 
ma  das  suas  notáveis  predicas  num  dos  principaes  templos  de  Boston 
—  The  purest  rat/  of  stin  light  may  be  tingi  d  and  rolond  by  t/te  médium 
tkrough  which  it  passes,  so  the  idea  of  God  may  be  stained  and  disco- 
lore.d  by  the  character  of  the  mind,  throngh  ivhich  ií  passes,  o  que  nós 
ousaremos  traduzir,  em  conie.^inha  phrase  nas  seguintes  palavras: 

«O  mai^  puro  raio  do  sol  {((.de  ser  tingido  e  colorido  conforme  o 
prisma  que  atravessar,  assim  também  a  idea  de  Deus  pode  ser  macu- 
lada 011  alterada,  em  consequência  do  caracter  do  indivíduo  (jue  a  re 
cebe.» 

O  arcebispo  de  Cuba  declarou,  em  casa  do  vice-consul  Hanserden, 
que  viria  no  dia  seguinte  a  terra  olíicíar  nos  funeraes  dos  dois  solda 
dos  victímas  do  sinistro  que  occorréra  e  que  desejava  que  essa  solem- 
nidade  religiosa  se  eíTeituasse  com  toda  a  p(jmpa  possível. 

Envidaram  se  em  terra,  para  este  fim,  toijos  os  esforços,  armaii- 
do-se  adequadamente  o  templo  de  São  Francisco. 

Pelas  10  horas  da  manhã  do  dia  ímniediato  um  escaler  do  «Pi- 
sarro>'  conduzia  dois  caixões  com  os  rest(js  mortai  s  dos  artilheiros, 
cobertos  com  a  gloriosa  bandeira  hespanhola  e  acompauhad(ts  pelo  ca- 
pellão  de  bordo,  seguindo-se  noutras  emt)arcações  o  arcebispo,  alguns 
otliciaes  de  maiinha  e  umas  cíncoenla  [iraças  bespanholas,  em  grande 
uniforme  e  debaixo  de  forma. 

O  arcebispo  foi  recebido  com  as  mesmas  honras  da  véspera  e  pe- 
lo mesmo  cortejo  já  seu  conhecido. 


56  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

As  e\e<|iii.is.  iia  egreja  de  São  Francisco  foram  sumptuosas,  oííi- 
(•ÍMii(l(j  S.  Ex."^  e  concorrendo  ás  mesmas  a  cleresia  da  cidade,  beni 
como  diversos  sacerdotes  das  fregaezias  rnraes. 

Pieslar.im  as  lionras  fúnebres  ás  duas  vidimas,  tanto  a  tropa  (jiie 
viera  de  b.»rdo,  como  um  destacamento  de  infanleria  da  guarnição  da 
Ilha. 

O  arcebispo  depois  de  tiMininado  o  oiíicio.  dirigio-se  á  moradia 
do  vice  cônsul  liespanliol,  aonde  lhe  f  )i  servido  um  lauto  almoço. 

S.  Ex.^  mostrou-se  muito  reconhecido  aos  obzequios  que  na  Hor- 
ta havia  recebiilo  e  apenas  chegou  á  sua  pátria  escreveu  para  o  Fava! 
demonstrando  o  seu  reconhecimento  pela  maneira  afável  como  tora  a- 
()ui  tratado. 

Pouco  tempo  depois  da  passagem  por  esta  ilha  do  arcebispo  de 
Cuba,  aijui  esteve  lambem,  n'oulro  navio  de  guerra,  hespanhol,  da 
mesma  procedência  e  preso,  o  tenente  (pie  riscara^  é  este  o  termo  lí- 
dimo, as  feições  daquella  dignidade  ecciesiastica. 

Pertencia  ao  exercito  e  foi-lhe  concedida  licença  de  vir  passear  a 
terra,  na  companhia  de  diversos  olliciaes  de  marinha. 

Era  um  rapaz  ainda  novo  e  de  sympathico  aspecto,  não  parecen- 
do desanimado  com  a  sua  sorte,  a  que  dera  causa  divergências  d"opi- 
niões  politicas. 

A"quelle  rapaz  podia  se  applicar  o  que  escreveu  o  nosso  bondoso 
Nicijlau  Totenlino  dAlmeida,  n'um  caso  parecido: 

Feriu  sacrílega  espada, 
Movida  por  mão  traidora, 
Cabeça  que  sempre  fora 
Até  aos  barbeiros  vedada. 

Do  que  não  houve,  depois,  aipii  noticia,  foi  do  castigo  ou  indul- 
to, que  encontrou  na  Hespanha  o  perpetrador  de  semelhante  desaca- 
to. 

Cruzes! 

Em  todo  o  caso,  como  dissemos  no  começo  d'esta  referencia,  n'a- 
(]uella  ep  )cha  fuzillava-se,  valentemente,  na  Hespanha. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  57 

(1857) 


(i( 


Kstevtí  lia  fliirt.1  este  respeita vt;!  Hispo  da  diocese  de  (>abo  Ver- 

desde  ()  dia  l)i  a  !(>  d' Agosto  do  supra  citado  anno,  ciiegando  a 
este  porlo,  com  á2  dias  de  viagem,  no  brigue  portngiiez  «Maria  Eiiii- 
iia»,  o  (jiial  com  18  p.issageiros  e  um  carregameiílo  de  iirzella  e  piir- 
giicira  aqui  veio  refrescar,  em  viageui  para  Lisboa. 

Achava-se  assaz  (hdjilitado  e  í':»íTrendo  d;i  s  iiide  o  Rev.'""  Bispo 
H  apenas  o  brigie  ancorou,  efTeitnou,  inesperad.imenie,  o  seu  deseiii- 
b.iriiue,  recolhendo-se  ao  botei  iiigh3z,  aonde  o  foram  cumprimentar 
as  aulboridades  locaes  e  cleresia,  que  S.  Ex.^  pessoabneiile  recebeu, 
a  todos  captivanilo  ()elo  seu  trato  Ibano  e  amena  conversação. 

Na  l;ii'de  desse  mesmo  dia,  bem  como  na  manbã  seguinte  visi- 
tou os  templos  d  "esta  cidade,  convento  da  Gloria,  Misericórdia,  caza 
do  ouvidor  eccli'si;).stico,  o  Dr.  António  (l;i  Terra  Piulieiro  e  bem  as- 
sim a  familia  do  Governador  Civil,  Luiz  Teixeira  de  Sampaio  Júnior, 
o  (piai  SH  adiava,  então,  ausente  do  Dislri'to. 

A  Lj  oiivio  o  digno  Prelado  missa  na  egreja  M.ilriz.  aonde  foi  im- 
meiísa  a  concorrência  de  |)ovo  e  de  tarde  visitou  a  residência  e  bellos 
jardins  da  respeitável  familia  do  coiisul  americano.  Cíiarles  William 
Dabiiey. 

No  dia  16,  festejava  se,  neste  anno,  com  extraordinário  brillian 
lismo  Santa  Filomena,  na  egieja  do  Carmo,  soiemnidade  religiosa  a 
(pie  S.  E\.'^  Rev.'"'^  desej(ju  assistir,  apresentando  se  no  templo  com  os 
^ens  trajos  prelaticios  e  dando,  quando  tirminada  a  festa,  o  anel  a 
beijar  a  uma  multidão  immensa  de  povo  que  alli  concorrera,  tanto  da 
cidade,  (;omo  das  fi'eguezias  niraes. 

O  disiincto  secretario  geral  d'este  Dislricti,  dr.  Miguel  Street 
dArriaga,  que  então  fazia  as  vezes  de  Governador  Civil,  foi  incansá- 
vel em  obzeípiiar  o  Ex."^°  Bispo,  em  tudo  quanto  estava  ao  seu  alcan- 
ce, acompanhando-o  nas  visitas  aos  tenqtlos,  auttioridades  e  particula- 
res. 

Na  tarde  d"este  mesmo  dia  o  dr.  Street  dArriaga  oííereceu  ao  il- 
liistre  visitante  nm  lauto  banquete  na  sua  residência  da  rua  de  Sã(j 
Fianci>co,  ao  (piai  assistiram  alem  de  divers;is  autlioridades,  algmis  a- 
migos  mais  Íntimos  d(»  (iovernador  (jvil  iuteiino. 

Foram  algumas  horas  bem  [lassadas,  d.is  (juaes  se  demonstiMU 
muito  reconhecido  o  venerando  Prelado,  sendo  inexcedivel  a  muito  dis- 
tiucta  familia  Street  d'Arriaga  nas  suas  demonstrações  de  respeito  e 
affecto  p;iia  o  nobre  hospede  que  honrava  aijiiella  casa. 

A  hauipiesa  de  iiiatieiras  e  iirbanidade  de  D.  Patricio  Xavier  de 
Moura,  atrahiam  todas  as  .sympalluas,  ;is>íiíí  chio  os  pobres  beiíMbs- 

N. '  'iM  -  Vol.  VIII  -  1886.  8 


58  ARCHIVO  D.tS   AÇORES 

ser.tin  y  mim  estada  n  esta  ilha,  j>('las  iiinitas  esmolas  ijiie  fez  tanto  nos 
sens  passeií  s,  como  aos  infelizes  (jne  o  procnravain  no  hotel  em  (pie 
se  albergara,  lecebendo-os  sempre  coiri  evangélica  caridade. 

De  caza  do  dr.  Street  d"Arri.iga.  acompanliad(j  de  numeroso  sé- 
quito, embarcou  o  liispo  D  Patiicio  para  o  brigue  «Maria  Em  lia»,  (jne 
já  andava  de  vella,  agradecendo  antes  de  partir,  publicamente  e  no 
cães  da  Horta,  aonde  era  enorme  a  aggiomeração  de  povo,  a  bôa  aco- 
lhida que  tivera  dos  fayalensr-s,  deixando  alem  d"isto,  para  ser  publi- 
cada nos  jornaes  da  locilidade,  uma  sentida  e  delicada  despedida. 

No  mesmo  navio  seguiam  também  alguns  distinctos  cavalheiros, 
entre  os  qnaes  o  Physico  mór,  dr.  Agostinho  de  (-arvallio  e  iíodiigii 
de  Sá  Nogueira,  empregados  públicos  de  elevada  graduação  no  arclii- 
|>elago  de  (labo  Verde. 


TuTJXZ 
(185S) 

Af»  catiir  da  tarde  de  á  de  Novembro,  com  tempo  assaz  nublado, 
annuiiciou  o  facl.o  da  Espalamaca  ipie  dois  navios  de  guerra,  a  vapor. 
di  matidavam  a  baliia  da  H«  rta. 

Ktfectivamente,  pjuco  depois,  duas  corvetas  porliiguezas  na  mes- 
ma davam  entrada,  fundeando  ainda  antes  de  ser  noite  com[»leta,  (pie 
ii'a(piella  e^lação  e  nVslas  paragens  desce  rapidamente. 

Visitadas  pela  repartição  de  saúde  e  alfainJega.  soube  se,  no  re- 
gresso dos  escaleres,  que  eram  as  corvetas  «Bartholomeii  Dias»  e  «Sa- 
gre>)).  a  priíneiía  dasquaes  sob  o  commando  de  S.  A.  R.  D.  Luiz,  Duque 
do  Porto,  primeiro  irmão  do  egrégio  monarcha  o  Senhor  D.  Pedro  o.", 
que  governava  então  Portugal,  cercado  (Ui:<  bênçãos  e  do  amor  de  to- 
dos os  seus  súbditos.  Ião  levantadas  eram  as  virtudes  com  (pje,  sábia 
6  admiravalmente,  dirigia  os  destinos  da  nação. 

Esta  plausível  noticia,  (pie  rapidamente  se  divulgou,  veio  encher 
de  jubilo  a  população  florlense,  embora  essa  epoclia  fosse  eivada  de 
calamidades  para  esta  ilha,  pelas  excipcionaes  circumstancias  (pie  oc- 
corriam  ha  lem[)OS  e  muito  especialmente  desde  o  memorável  furacão 
de  á4  d  Agosto  dt;  1857,  havendo  fome  e  grande  miséria  nas  ilhas  do 
Faval  e  Pico.  bem  como  escacez  de  géneros  alimentícios  em  todo  o  ar- 
chipí  lago  a(;oiiano. 

No  Districli^  da  Morta,  inai>  provado  na  advt  rsidade.  .se  alguns 
generosos  cavalheiros  fizeram  os  mais  louváveis  sacrificios  pecuniariíts 


ARCHIVO   DUS  AÇORES  59 

(>  (Mivi(l,u;im  os  maiores  esforços  para  conjurar  d  alguma  sorte  a  ler- 
livel  crise  aliinenticia  porgne  estavam  |uis>aiií].)  t'>tt\s  ()i)V(»s,  ainda  as- 
>m,  em  face  da  grandesa  da  necessidade  era  necessário  um  braço 
mais  potente  para  sustei',  ou  au  menos  minorar,  o  llagollo  (jiie  nos  as- 
soberbava. 

Valeu  nos  então,  por  intermédio  do  benemérito  cônsul  amei'ica- 
iio  ('liailes  William  Dabnej,  ins[)irado  pelos  santos  sentimentos  de  ca- 
ridade da  \í\."'^  Sr.^  I).  Francisca  Dabiiey,  sua  exemplar  consorte,  os 
Estados  Unidos  da  America,  |)ara  aonde  escreveu  aos  seus  amigos  e 
sociedades  humanitaiias  a  este  respeito,  sendo  as  suas  s-ipplicas,  por 
uKTce  de  Deus,  atleudidas  de  iuaueira  tal,  (pie  ex  :edeii  ttd.i  a  espe- 
ctativa. 

Em  breve  tempo  chegavam.  |)õis,  ao  Fayal,  soccorros  em  géne- 
ros (pie  permittiram  durante  13o  dias,  ser  dislribuidas  a  I  o80  iiidi- 
vidiios  (U)  Fay;d  e  Pico,  rações  de  milho  ou  trigo,  em  taiinha  ou  em 
grão,  evitando  >e  assim  a  extrema  [)em)ria  e  desvalimento  e  as  repel- 
leules  sceiías  que  sempre  accarreta  com^igo  a  miséria,  (juando  estrei- 
ta. apei'ta(lamente,  nos  seus  desapiedados  braços  uma  numerosa  po- 
])iilação,  sem  recursos  alguns. 

F  devemos  notar  (pie  no  anuo  de  18o7  1858,  alem  das  importa- 
ções j,'i  ai]tece(Jenlemente  íeit.is.  sahio  desta  pe(piena  ilha  para  compra 
de  cereaes,  (piantia  superior  a  2U():U0Uí>000  is.,  esgotandose,  [lor 
■issim  dizer,  o  nmnerario  exi>tente. 

Não  se  vivia,  pois,  aipii,  desassombradamtMite. 

Nessa  mesma  noite  de  2  de  Novembro,  pelas  nove  horas,  dirigi- 
rain-se  a  bordo  da  «Bartholomeii  Uias,»  num  e>caler  d  alfandega,  a 
cumprimentar  o  Principe,  os  Srs.  Conselheiro  Governador  Civil  do  Uis- 
tricto,  Antoiíio  José  Vieira  Santa  Kita,  o  Ciimmandante  da  sub  divisão 
militar,  tenente  coronel  lUxpie  Francisco  Furtado  de  .Mello,  dr.  Juiz  de 
Direito  Joaiiuim  Maria  de  .Miranda  e  Oliveira  e  director  d'alfaiidega 
Nuno  António  Porto. 

3  de  ^'o%'eniSiro 

Na  madrugada  d'esle  dia  chitveu  copiosamente,  o  vento  rondou 
paia  um  outro  (pia<lrante,  desanuviou  se  o  firmamento  e  os  primeiros 
raios  do  sol  nascente  espelharam-se  livremente  por  sobre  as  ondas 
bonançosas  da  bdiia. 

S.  A.  K.  [)oude  então  cont(;mplar  [)e!leitameiite  a  esplendida  vis- 
ta do  Pico,  (piadro  arrebatador,  tanto  pela  grande  j.ltiira  do  cume  da 
montanha, como  pelas  variadíssimas  cambiantes  (]ue  esta  apresenta  nos 
S(Mis  Íngremes  e  alterosos  descampados  a  semelhante  liora. 

Do  lado  do  oeste,  no  Fayal  a  cidade  da  Horta,  com  a  sua  alva  (Ca- 
saria, tod.i  entreineadi  de  arvoredos  e  co.n  sorridente  aspecto,  real- 
çava, p<d,)  coutra.sle,  o  severo  cariz  do  gigante  d  )s  .\çòres.   seido  o 


60  AHCHIVO  DOS  AÇOKES 

iiiellior  [loiílo  |)nia  admirai-  todo  este  tiiagnifico  panorama  da  amara- 
da de  iim  iiavjo  liindeailo,  como  a  «Bartholomeii  r)ia>»  nas  agoas  do 
canal,  (jue  separa  as  duas  illias. 

As  6  \/2  horas  da  manhã,  o  Castello  de  Santa  Crnz,  o  único  a- 
qui  exi.-tenle  com  ariiliíeria,  iç.indo  a  bandi  ira  narjonal,  havia  dado 
uma  salva  de  vinte  e  um  tiros,  salvando  também  depois,  [)elas  oitolK»- 
ras.  a  corveta  «Batlholomeii  Dias.» 

Alguns  menibros  do  corpo  consrdar,  de  diversas  nacionalidades, 
foram,  desde  logo,  abordo.  cnm[)rimenlar  o  Sr.  Inlante.  e  pelas  1 1  ho 
ras  do  dia  t( das  as  anllioridades,  Camará  Municipal,  elides  de  repai- 
tição  e  principaes  cavalheiros  da  localidade,  lambem  com  idenlicn  in- 
tuito, alli  se  dirigiram. 

O  acolhimento  que  receberam  do  Sereníssimo  Infanle  ("oi  o  mais 
delicado  [lossivel,  captivando  a  todos  a  aíHabilidade  com  que  foram  (ra- 
tados. 

Havendo  S.  A.  R.  annimciado  aos  visitantes  (pie  eíf^iliiaria  o  sen 
desembanpie  pela  uma  hora  da  tarde,  regressaram  estes  a  terra  aí 
gum  tempo  antes  da  hora  designada,  a  lim  de  aguardar  o  Princi[>e  so- 
bre o  cães  e  providenciar  a  sen  condigno  recebimentix 

Como  é  bem  de  suppor  unia  extraordinária  nmltidão.  composln 
de  todas  as  classes  da  sociedade  fav;dense.  concorreu  áqnelle  silit»  e 
suas  immediações,  estando  todas  as  janellas  replectas  de  damas  pri- 
morosauienle  trajadas  e  achando  se  formado  um  destacamento  de  in- 
fanteria   18.°  no  cimo  da  ranifta  que  conduz  ao  desembarcadouro. 

O  I'iin(  Ipe  \fU)  n'um  escaler  de  bordo,  acompanhado  do  seu  ca- 
marisla  o  Conde  de  Linhares,  !>.  Rodrigo,  e  ajudanle  de  ordens,  o  ca- 
[>ilão  de  fragata  António  Sérgio  de  Sousa,  segnindo-se  em  outros  es- 
caleres a  olíicialidade  dos  navios  de  guerra. 

A  Ci.inara  .Vhinicipal  com  o  seu  trajo  de  gala  e  ceremonia,  aguar- 
dava S.  A.  R.  nas  escadas  do  cães,  bem  como  sobre  o  mesmo  as  au- 
thoridades,  secr»  lario  geral  dr.  Miguel  Slreet  dArriaga.  delegado  do 
Procurador  Régio  dr.  João  Vascí»  Ferreira  l^eão,  administrador  do  con- 
celho .l(»sé  dAlmeida  e  Silva,  todos  os  chefes  de  re[)artições.  com  os 
respectivos  empregados,  clero,  diversas  corporações,  grande  mimeic» 
de  cavalheiros  de  consideração,  alem  de  muito  povo. 

O  Castelh.'  de  Santa  Cruz  salv(;U  por  esta  occasião,  subindo  aos 
ares.  de  diversos  pontos  da  cidade,  innunn  ros  foguetes,  o  ipie  se  |)ro- 
loiígou  durante  a  estada  nu  terra  do  augusto  IMincipe,  rt  picainio  tam- 
bém as  loires  de  todas  as  egrejas. 

S.  A.  R.  segiiio  em  direitura  á  egreja  Matriz,  collocada  (piasi  ao 
eeiilro  da  cidade  e  das  janellas  das  luas  (pie  ia  percorrendo,  imiitas 
d.nnas  d(;itavam  flores  sobre  o  nobre  visitante. 

A"  porta  da  egreja  principal,  os  vereadores  da  Camará  Municipal, 
que  se  haviam  adiantado  ao  |)restito,  aguardavam  S.  A.  R.  com  o  pal- 
lio  armadí».  sob  o  (piai.  aconij)anlia(lo  lambriii  da  collegiada  d.KpielIa 


AhCHIVO  DOS  AGOHES  61 

egrej.i,  foi  o  Sr.  Infante  coníliizido  pnni  (»  IíhIo  dircitu  do  ;ill;.r  mòr, 
onde  lhe  eslava  i'eseivado  ntn  vistoso  docel  e  cadeira  dCspaldar. 

Seguiu  se  inii  Ic-Dcuni  e  lindo  este  religioso  a(  to.  S.  A.  li.  diri- 
gio-se  para  o  contigno  eddicio  do  Governo  (livil,  no  (piai  se  adiava 
convenienlemenle  [)repaiada  nina  sala,  para  o  receber,  sendo-llie  al- 
li  apresentadas  (Jivi  rsas  corporações,  fiincciunarios  piihlicos.  e  cava- 
lheiros, dando  a  lodos  beija  mão. 

Perlo  das  Ires  horas  da  tarde,  sahindn  do  Governo  C-ivil  dirigií»- 
se  O  Sr.  Infante  pelas  mas  da  Misericórdia  e  Matriz  velha  até  ao  lar- 
go da  Torre  do  Relógio  (hoje  largo  do  Infante  I).  Lui/,j  d'onde  gtisoii 
fi  bella  vista  que  apresenta  atjuelle  sitio;  e  descendo  depois  pela  rua 
da  Koda.  tornou  a  segnir  pelas  ruas  da  .Misericórdia  e  de  São  Fran- 
cisco até  ao  cães. 

Houve  no  seu  embaripie  para  bordo  a  terceira  salva,  n"este  dia, 
do  castello  de  Si.*  ('rnz. 

O  Senhor  D.  Luiz  era,  enlão,  uni  formoso  rapaz  de  20  annos.  in- 
completos de  edade,  pois  que  nasceu  no  Paço  das  Necessidades  a  ){ I 
d'Outnbro  de  I8IJ8,  trajava  uniforme  de  oííicial  de  marinha  e  a  toilos 
penhorava  pilas  suas  delicadíssimas  maneiras. 

Na  noite  deste  dia  houve  illuminacão  em  lodos  os  edifícios  [)ii- 
blicos  e  nuin-erosas  casas  de  particulares. 

•1  de  ;\ovesnl>ro 

N'esle  dia,  anniversario  nalalicio  de  S.  A.  H.  o  infante  D.  Augus- 
t ),  embandeiraram  as  corvetas  "Barlliolomeu  Dias»  e  «Sagres». 

No  decurso  da  manhã  foram  abordo  apresentar  os  seus  respeitos 
ao  Príncipe,  diversas  authoridades,  indo  lambem  cumprimentar  S.  A. 
o  coronel  Oay,  do  exercilo  inglez,  que  se  achava  então  residindo  n"es- 
ta  ilha,  em  casa  de  seu  sogro  o  cônsul  britânico  .M.*^  Micheii,  visita 
que  o  Sr.  Infante  presoii  sobreniodo,  porque  sendo  o  coronel  iim  gran- 
de caçador.  paí\ã(»  lambem  favorita  de  S.  A.,  ;^lli  planearam  algumas 
digressões  d  este  género  de  divertimento. 

O  vice  €onsul  da  Bélgica,  Sr.  Manoel  Alves  Guerra,  hoje  Viscon- 
<le  de  SanlAnna,  lambem  esteve  a  bordo,  para  olferecer  ao  Sr.  Infan- 
te um  baile,  na  sua  residência,  e  ao  meio  dia,  a  Gamara  Municipal,  foi 
em  corporação  felicitar  S.  A  pelo  anniversario  nalalicio  do  sen  augus- 
to irmão. 

G  Sr  Infante  desembarcou,  n"esle  dia,  pelas  duas  horas  da  tar- 
de, dirigindo-se  imniediatamenle  á  Santa  Gaza  da  Misericórdia,  de  que 
era  enlão  Provedoí'  o  Sr.  João  José  Paini  da  Terra  Hrum.  íillio  do  fa- 
lecido Barão  da  Lagoa. 

S.  A.  R.  foi  recebido  á  [)orla  da  egreja  de  São  Francisco,  per- 
tencente áipielle  pio  estabelecimento,   pela  respectiva  .Mèza.  com  ba- 


62  ARCHIVO   DOS  AÇOKES 

laiidiaiis  e  varas,  pelo  Reverendo  Ca()elirio  Padre  José  Daniel  da  Sil- 
veira, medico  do  banco  dr.  Thoinaz  d(í  BeHencoiirt  e  da  enfermaria  de 
cirurgia  U/  António  Maria  dOliveira,  hoje  Con>ellieiro  de  S.  M..  bem 
como  [)õr  lodos  os  empregado-;  d'aijnelia  cisa,  e depois  de  haver  fei- 
to oração  na  capella  mór.  foi  visitar  o  H  i>i)ilal  e  adjuncto  Asylo  de 
mendicidade. 

Na  enfermaria  tie  cirmgia,  a  carg(j  do  benemérito  dr.  António 
Maria  dOliveira,  [jresloii  este  facnilalivo  diversas  iníoiinações  a  S.  A. 
1{.  concernentes  ao  importante  serviço  que  llie  eslava  conliado. 

Dnranle  a  visita  do  Sr.  Infante,  mostron-lhe  o  Provedor,  na  en- 
fermaria dos  estrangeiros,  imi  súbdito  norte  americano,  <iue  ^lli  se 
achava  em  tratamento  e  (pie  bastante  interessou  S.  A.,  pelas  extraor- 
(hnarias  ciicnmslancias  qne  o  conduziram  aj  Ho>pilal  da  Horta. 

Vinha  a  ser  o  caso: 

No  decurso  do  mez  de  Setembro,  anterior,  havia  sabido  de  New- 
Vork,  carregada  de  carvão  e  coin  destino  a  São  Francisco  da  Califór- 
nia, a  galera  americana  «Mu^garet  Tiron»,  de  1:030  toneladas. 

Kra  um  possante  navio  e  com  numerosa  tripulação. 

N'aqiieMa  estação,  p  irem,  são  mal  afamadas  as  costas  da  Ame- 
rica, a  mãe  lins  icmporaes,  como  lhe  chamam  os  nossos  marítimos. 

Desde  os  primeiros  dias  de  viagem  o  mar  deuDnstroLi-se  iracun 
do,  o  navio  aífastava  se  do  seu  rumo  e  uma  sob-rbi   ventania,   vinda 
de  oeste,  não  lhe  peiuiittia  mais  do  (jue  alguns  b.)lsos  de  panno  na 
a  lein>a  mastreação. 

Os  dias  2:2,  i23  e  :2i  de  Setembro  foiMui  de  um  verdadeiro  cy- 
clone  e  medonhas  vagas,  de  descommunal  altura,  varriam  o  navio,  que 
ia  fugindo,  desde  a  popa  á  proa. 

Afinal  como  impulso  gr.mdioso  do  mar  a  galera  começ  )u  a  fazer 
agoa  e  em  quantidade  lai,  (pie  desde  |.)go  foi  julgada  irremeíJiavelmen- 
t(!  perdida. 

A  ceiração  era  inmiensa,  no  limitado  horisonle  não  se  divisava 
(|ual(|uer  endjarcação,  o  que,  ainda  a>sim,  |)ouca  es[)e rança  de  salva- 
mento p.)deria  olTerecer,  naquelle  de>vairado  embate  das  vagas. 

Pas>adas  algumas  h(jras  a  «Margaret  Tirou)),  como  um  moribun- 
do no  e>tado  com;itoso.  estava  quasi  insensível  ao  que  em  seu  redor 
se  pas>ava,  enterrada  no  mar  até  perto  da  cinta  e  arfando  apenas  num 
laid  de  agonia,  em  ve/.  de  tentar  levantar-se  na  crista  espnmusa  ilas 
ondas. 

()  convez  era  já  um  lago  em  todo  o  seu  com[)rímenlo,  no  (piai 
borbotões  de  escuma,  batendo  contra  as  amuradas,  levavam  na  sua 
ingente  biria  (juantíj  enconlravauí  na  [).i>sagem.  ou  lhe  oppunha  a  mí- 
nima resistência. 

(Chegou  o  mnmeiílo  fatal.  ' 

l  nia  giganlexa  vagi,  negra  e  ti  emenda,  ergueu-se  a  alguma  dis 
laijcia,  pela  popa  da  galera,  sendo  as  suas  proporções  espantosas  e  do- 


AlíGHIVO  OOS  AÇORKS  Cí{ 

bando  ameaçadora  na  (lirecrãít  do  navio,  então  (piasi  ininiovel.  [);ire- 
cendti  pelo  n  íluxo  da  agua,  descahir  a  ré,  para  mais  em  rlirio  poder 
leceber  o  golpe,  como  mu  condcmnadn  ijiie  no  p.itihido  se  agcitasse 
melhor  para  tornar  mais  rápido  o  momento  (pie  ia  decidir  da  sua  exi>- 
tencia. 

Sobranceira  á  galera  a  grande  vaga  formon  nma  aba  immciisa, 
debruada  de  escuma,  e  depois  aquelle  grande  volmne  de  agua  caliiu 
de  pancada  sobre  a  mi>era  embarcação  que  unio  um  lugidire  rangido 
aos  gritos  da  aterrurisada  companha. desapparecendo  da  face  do  mar. 
afundada  no  seio  do  atlântico. 

Algum  tempo  depois,  da  infeliz  «Margaret»  apenas  boiavam  so- 
bre o  cavado  oceano,  alguns  fragamenlos  de  madeira,  bem  coun»  cin- 
co marinheiros,  agarraclos.  nem  elles  sabiam  como,  á  caza  do  fogão. 
que  se  havia  despegado  dtt  convez. 

Fora  um  desesperado  struggie  fur  life,  que  os  fizera  lançar  mão 
do  primeiro  objecto  que  encontraram  no  redemoinho  da  voragem. 

A  muito  custo,  no  embate  furioso  das  vagas,  ccmseguiram  subir 
para  o  tecto  da  caza  do  fogão,  que  semelhante  a  mna  jangada  lhes  of- 
ferecia,  ainda  que  bem  rasteiro  con)  o  mar,  i\in  leiuie  refugio,  emquan- 
to  alguma  vaga  dalli  os  não  arrebatasse. 

Ainda  as>im,  estendidos  sobre  aquelle  paradouro  e  agarradi»s  a(j 
resbordo  do  mesmo,  conseguirauj  não  ser  varridos  pelo  mar. 

A  tormenta,  sacciada  de  victimas.  quebrou,  afiu. d.  de  impetuosi- 
dade e  chuvas  torrenciaes  fizeram  acalmar  o  tempo  e  tornar  o  mar 
relativamente  chão. 

Toda  a  sub>e(piente  noite  IVti  de  cruéis  incertezas  para  os  cinco 
pobres  náufragos,  na  duvida  de  estar,  ou  não,  á  vista  algum  navio. 

A  madrugada  seguinte,  já  com  tempo  claro,  veio  <lesfazer-lhes  de 
lodo  essa  ridente  esperança,  não  se  avistava  na  vastidão  das  agoas 
uma  única  vela,  era  completa  a  solidão! 

Tiidiam  fome  e  não  liavia  alli  uma  imica  migalha  de  alimento. 

Em  redor  das  taboas  que  os  aguentavam  viauj,  a  espaços.  [)assar 
alguns  peJNes  e,  como  fazem  os  Índios  adestrados  tfeste  exercicii», 
foi  com  a  mão  que  conseguiram  apanhar  um  daqnelles  habitantes  do 
alto  mar. 

Dovuraram-no  immediatamente,  sorvendo  a  agoa  da  chuva  de  que 
estavam  encharcados,  o  (pie  dalguma  sorte  lhes  mitigou  a  sede. 

O  tempo  contimiava  agora  assaz  bonançoso,  mas  os  olhares  avi 
dos  dos  náufragos  jamais  descortinavam,  em  (jualqner  direcção  um  na- 
vio, e  a  fome  ia-os  enfraquecendo  gradualmente,  preferivel,  ainda  as- 
sim á  sede,  porquanto  mata  por  desfaliecimento,  em(|uatito  ipie  a  fal- 
ta d'agoa  é  pela  febre,  com(»  é  sabido. 

William  Kenedy,  um  rapaz  de  fraca  apparencia  e  franzina  con- 
stituição vio  successivamente  fallecer  ao  seu  lado  os  seus  quatro  com- 
panheiros, alguns  d'elles  assaz  robustos,  e  (piando  os  deitava  afinal 


64  ARCHIVO  DOS  AÇOIÍES 

ao  mar,  [iivsenciava  com  terror,  as  fauces  ávidas  de  enorm«^s  liiha- 
rões,  como  se  (bssem  corvos  irum  campo  de  batalha,  dispntnr,  raivo- 
sos, as  suas  prezas, 

Sosiiilio  afmal  na  jangada,  aguardava  d  um  momento  para  o  ou- 
tro a  sua  lioia  suprema. 

NessM  dia,  porem,  inesperadamente,  um  pei.xe  veio,  tanto  á  ílor 
daiiua  e  tãu  próximo  da  beira  das  taboas  que  tdle.  repentinamente, 
conseguio  apanli;d-u. 

A  agua  potável  era  a  )]ue  de  noite  cbovèra  e  (|ue  conservava  cui- 
dadosamente, dentro  do  chapeo,  ao  seu  lado. 

Passaram  assim  longos,  intermináveis  dias  e  noites,  nem  elle  sa- 
bia b'"m  (piaatos,  conseguindo,  por  mais  três  vezes,  apanliar  com  a 
n»ão  alguns  peixes,  dos  qnaes  comia  absolidamente  o  necessário  para 
aguentai'  a  vida.  acautelando  o  resto. 

O  oceano  continuava  sempre  calmo,  mas  em  completa  soledade. 

Atinai  Deus  amerciou-se  da  soile  d'aquelle  infeliz. 

Numa  madrugada,  vanidas  as  sombi'as  da  noite,  um  liiate  ame- 
ricano, baleidro,  [)airava  a  breve  distancia  do  naufrago  e  avistado  es- 
te pelos  homens  de  vigia,  eiu  breve  uma  canoa  escorregava  ao  longo 
do  costado  do  navio,  vindo  vejozuiente  em  seu  soccorro. 

Esta  embarcação  era  o  hiate,  também  americano  «Oread». 

Averiguada  a  d.ita  do  naufrágio  da  galera  «Margarel  Tirou»,  ha- 
via dezesete  dias  (puí  o  marinheiro  William  Kenedy,  pairava  sobre  as 
ond;i.s ! 

O  naufrago  foi  encontrado  a  33  "  de  latitude  e  40.°  de  longitu- 
de, approximadMmenle. 

A  ^i  d  Outubro  o  hiate  «Oreail«  dava  fundo  ni  bahia  da  Horta, 
para  rebescar.  tendo  de  soffrer  alguns  dias  de  quarentena. 

Quando  fin  lou  este  praso.  William  Kenedy  deu  entrada  no  Hos- 
pital da  Horta,  aonde  se  restabeleceu  e  ainda  permanecia  na  occasião 
da  vi>ila  do  Sr.  Infante  D.  Luiz,  que  com  o  mesmo  ctjuversou,  dando 
lhe  uma  esmola. 

(lom  aíjuelle  marinheiro  provon-se  mais  uma  vez  o  facto  ditlícil 
de  explicar,  mas  ipie  geralmente  se  tem  registado  nos  grandes  sinis- 
tros marítimos,  isto  é,  que  os  individuos  de  mais  débil  appareucia  e 
mais  bíica  coustituigão,  resistem  muito  m;iis  do  ipie  os  seus  couq)a- 
nlieii"os  robustos  e  sadios. 

Oiiaudo  no  banco  dArguin.  nas  proximidades  da  (^osta  d  Ab'ica, 
em  Jidho  de  1810,  occorreu  aquella  tremenda  catastro[)lie  da  perda  da 
fragata  bauceza  «La  Mednse»,  que  conduzia  para  São  Luiz  do  Sene- 
gal, diversos  ea)[)regados  do  Lslailo,  com  sua>  famílias  bem  couio 
creschio  numero  de  colonos  e  (pie  em  181!)  innnoilalisou  o  notável 
pintor  (íericauld.  collocando  o  a  pai'  dos  grandes  mestres  da  arte,  pe- 
lo seu  maguíliio  (piadro  «O  Naubagio  da  Medusa»,  conservado  ainda 
hoje  cuidiídosamente  no  museu  do  Louvi'e,  o  goverut)  fraucez,  (|uando 


ARCHIVO   DOS  AÇORES  65 

veio  a  saber  da  chegada  a  São  Luiz  dos  únicos  quinze  sobreviventes 
das  cenlo  e  cincoenta  e  duas  possoas  (]ne  numa  jangada  liaviam  pro- 
curado salvar  se  das  ondas,  mandou  abrir  um  inijuerilo  olíicial  sobre 
aqnella  terrível  hecalombe  e  bem  assim  com  relação  aos  restantes  náu- 
fragos. 

Esse  interessantíssimo  docimiento,  consigna  nas  suas  paginas,  fir- 
madas por  verdadeiros  homens  de  sciencia,  que  os  indivíduos  que  ha- 
viam resistido  á  grande  violência  do  mar  e  aos  adustos  e  immensos 
areaes  (|ue  tiveram  depois  de  atravessar,  debaixo  de  ardentissiiníj  sul, 
extenuados  de  fadiga,  de  fome  e  de  sede,  eram  exactamente  os  (jue 
menos  probabilidades  pareciam  olíerecer  de  conservar  a  vida  atra  vez 
de  tamanhas  privações  e  trabalhos. 

No  oceano,  ou  nos  areaes,  havia  ficado  um  largo  rasto  de  cadá- 
veres, mas  da  gente  forte! 

Continuemos,  porem,  a  narrativa,  principal  objecto  desta  refe- 
rencia e  da  qual  nos  affastáinos  por  algmu  tempo,  devido  a  um  inci- 
dente marítimo  qne  impressionou  o  Príncipe  portnguez,  n"aquella  epo- 
clia  todo  dedicado  á  navegação. 

Sahindo  do  hospital  da  Horta  deixou  alli  S.  A.  R.  uma  esmola  de 
W-SOOO  rs.,  quantia  egual  á  íjue  ofíereceu  ao  Azylo  d'lnfancia  desva- 
lida. 

Em  seguida  visitou  a  alfandega,  situada  então,  n'esta  cidade,  nas 
mais  péssimas  condições  e  dalli  dirigio-se  á  casa  da  Gamara  Municipal 
vindo  esta  respeitável  corporação  esperar  S.  A.  á  rampa  adjuncta  ao 
lado  do  norte  do  edifício  em  que  fnncciona  e  que  ultimamente,  em 
1883,  llie  foi  doado  pelo  Governo,  devido  a  diligencias  de  dois  bene- 
méritos fayalenses,  o  Conselheiro  António  Maria  Barbosa  e  major  do 
estado-maior  António  José  d'Aviia. 

A  vereação  municipal  compunha-se  então  dos  seguintes  cavalhei- 
ros: Francisco  Pacheco  de  Mello  de  Mariz  Sarmento,  presidente  —Jo- 
sé Pamplona  Moniz  Corte  Real,  vice-presidente  —Gaspar  Pereira  de 
Lacerda,  fiscal — José  Francisco  da  Camará  Terra  Rerquó— José  Maria 
d'01íveira  Pereira  —  Manuel  de  Brum  Labat  Athayde  e  António  José 
Ferreira  Rocha,  em  substituição  de  Manuel  Carvalho  de  Medeiros. 

Era  então  Secretario  da  Gamara  Municipal  o  hábil  e  prestante  ci- 
dadão Manuel  Victor  de  Sequeira. 

Na  janella  central  dos  Paços  do  Concelho  tremulava  a  bandeíi'a 
(kl  Gamara,  e  a  sala  principal,  aposentos  adjunctos  e  escadaria  estava 
convenientemente  adornada,  se  não  com  sumptuosidade,  ao  menos 
com  toda  a  decência  e  com  notável  profusão  de  flores,  apesar  da  qua- 
dra do  anuo  que  então  reinava. 

S.  A.  R.  acomi)anhado  á  esquerda  pelo  Presidente  da  (>amara  e 
seguido  dos  mais  vereadores  e  respectivo  Escrivão  entrou  no  edificio, 
aos  festivos  sons  dos  sinos  da  Matriz  e  da  Gamara  e  de  immensas  gi- 
ra ndolas  de  foguetes. 

N.'  i3  — Vol.  Vlll  -  1886.  9 


66  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

Acompaiiliaviim  lambem  o  Príncipe  o  seu  camarista,  conde  de  Li- 
nhares, ajudante  dordens  António  Sérgio  de  Sousa,  as  authoridades 
locaes,  alguns  chefes  de  repartições  e  muitos  cavalheiros  de  distincção. 

Depuis  de  alguma  demora  na  sala  principal  dirigio-se  o  augusto 
visitante  á  respectiva  secretaria,  examinando  os  livros  das  actas  das 
sessões  e  contas  de  receita  e  despeza  do  municipio,  dignando-se  irum 
dos  primeiros,  a  pedido  do  Presidente  da  Camará,  alli  assignar  o  se\i 
nome. 

A"  sahida  dos  Paços  no  Concelho  houve  as  mesmas  demonstrações 
de  regosijo  do  que  no  recebimento  do  Príncipe,  acompanhando-o  a  ve- 
reação até  á  porta  externa  do  edifício. 

A  quarta  visita,  neste  dia,  do  Senhor  Infante,  foi  ao  Lyceu  Na- 
cional da  Horta,  que  também  estava  convenientemente  ornamentado. 

O  corpo  docente  d"esta  casa  de  ensino  compunha-se  entã(j  dos 
Srs.  João  de  Bettencourt  Yasconcellos  Corrêa  e  Ávila,  reitor,  Manuel 
Augusto  da  Pureza,  secretario,  Cyi)riano  Joaquim  da  Silveira,  Antó- 
nio Lourenço  da  Silveira  Macedo,  dr.  José  Joaijuinj  d  Azevedo  e  Car- 
los Vieira  Goulart,  que  vieram  receber  o  Infante  fora  da  poria  do  edi- 
fício, dirigindo-lhe  pouco  depois,  numa  das  principaes  salas  do  Lyceu, 
uma  allocução  o  Reitor  Corrêa  e  Ávila,  á  qual  em  termos  benévolos 
respondeu  S.  A.  R.,  promellendo  a  sua  coadjuvação  na  creação  de  al- 
gumas aulas  de  que  ainda  havia  carência,  como  de  Theologia  e  Náu- 
tica. 

Do  Lyceu  seguío  S.  A.  para  a  residência  do  governador  militar, 
tenente  coronel  Roque  Francisco  P'uitado  de  Mello,  hoje  general,  aon- 
de a  dístincta  família  deste  bravo  do  Mindello  recebeu  S.  A.  esmera- 
damente, sendo-lhe  alli  apresentadas  dilferentes  damas  da  elite  da 
sociedade  fayalense  e  gosando  o  príncipe  a  magnifica  vista  que  apre- 
senta aquelle  sitio  do  Livramento,  bem  como  entrando  na  pequena  er- 
mida edificada  no  jardim  d'aquelle  prédio. 

S.  A.,  uma  hora  depois,  embarcava  para  a  sua  corveta,  salvando 
novamente  o  castello  de  Santa  (]ruz. 

5  cie  ^'ovembro 

O  tempo  neste  dia  apresentou-se  péssimo,  havendo  muito  vento 
do  quadrante  do  sul,  chuva  e  o  mar  assaz  agitado  na  baliia. 

Apesar  disto  as  authoridades  foram,  como  na  véspera,  abordo 
cumprimentar  o  Príncipe,  que  nesse  dia  não  desembarcou. 

o  de  .>'o«eiiubro 

Melhor  tempo. 

Foram  abordo  as  authoridades.  Camará  .Municipal,  cônsul  ameri- 
cano Dabney  e  diversos  cavalheiros.  S.  A.  dignou-se  de  acceilar  nm 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  67 

\yM\e  que  n'essa  noile  lhe  offerecia  o  consnl  americano,  promeltendo 
famljem  a  sua  comparência  ao  baile  i]ue  na  noite  de  7  seria  dado  pe- 
lo Conselheiro  (iovernador  Civil,  bem  como  a  pedido  da  Camará,  de- 
signando a  noite  para  um  terceiro  baile  qne  esta  corporação  lhe  fora 
DÍTerecer. 

EíTeclivamente,  S.  A.  R.  deu  entrada  no  consulado  americano  p  )u- 
('o  depois  das  oito  horas  da  noite. 

A  resiilencia  da  respeitável  familia  IJabney  estava  decorada  com 
esmero  e  simplicidade,  tendo  na  sala  principal  e  n.)  logar  de  honra  o 
retrato  do  Senhor  D.  Pedro  5.°  circumdado  de  ílores  e  em  diversos 
sitios  bandeiras  poituguezas  e  americanas,  entrelaçadas. 

A'  entrada  da  sala  aguardava  o  Sr.  Infante  a  familia  do  cônsul  a- 
mericano,  que  lhe  foi  apresentada  pelo  seu  chefe. 

O  augusto  Principe  distinguio  a  casa  em  que  se  achava  dançan- 
do a  primeira  quadrilha  com  a  Ex.'"^  Sr.*  D.  Clara  Dabney,  filha  mais 
velha  do  cônsul  americano,  tendo  por  eis  à-vis  o  commandante  da  sub- 
divisão militar. 

S.  A.  dançou  animadamente  durante  o  decurso  da  noite,  retiran- 
do-se  para  bordo  pelas  três  horas  da  madrugada. 

V  de  iVovombro 

Na  noite  d"este  dia  effeituon-se  o  baile  dedicado  ao  Sr.  Infante  pe- 
li)  (Conselheiro  Governador  Civil. 

A  caza  escolhida  para  este  fim,  a  qual  então  estava  deshabitada, 
foi  a  mesma  em  que  noutro  tempo,  [)ertencendo  ao  distinctissimo  mor- 
gado Terra,  se  hospedara,  por  duas  vezes,  o  Senhor  I).  Pedro  4.°. 

No  quarto  em  que  dormira  o  Imperador  e  sob  um  docel  condi- 
gno, estava  o  retrato  de  S.  M.  I.,  bem  como  haviam  alli  damascos,  se- 
das e  alfaias  que  haviam  sido  do  seu  uzo. 

As  salas  do  baile  achavam-.>e  vistosamente  ornamentadas,  a  exten- 
sa frontaria  da  caza  toda  illuminada,  comparecendo  no  baile  uma  ban- 
(Ja  de  musica. 

Vieram  receber,  á  porta  da  rua,  o  illustre  Principe,  o  Governa- 
dor Civil,  commandante  da  sub  divisão  militar,  dr.  juiz  de  direito,  func- 
cionarios  públicos  e  diversos  cavalheiros,  tocando  então  a  banda  de 
musica  o  hymuo  do  St-nhor  D.  Pedro  5.". 

Conduzido  o  Snr.  Infante,  pelo  (>onselheiro  Governador  Civil  ao 
quarto  em  que  residira  o  Imperador,  alli  lhe  foram  apresentados  to- 
dos os  descendentes  do  morgado  Terra,  Barão  da  Lagoa,  dedicado  a- 
migo  do  magnânimo  Duque  de  Bragança. 

Depois  d  esta  apresentação,  S.  A.  R.  deu  entrada  nas  salas  do 
baile,  dançando  a  primeira  contradança  com  a  Ex."'*  Sr.*  D.  Maria  .lu- 
lia  Terra  (>arvallial,  nora  do  fallecido  Barão  da  Lagoa  e  lendo  por  vis- 
à-cis  o  Sr.  Manuel  Maria  da  Terra  Bruni,  filho  do  mesmo. 


(B8  ARCHIVO   DOS  AÇOBES 

O  baile  esteve  anima(Jissimo,  retiriíndo-se  o  Sr.  Infante  pelas  seis 
horas  da  manhã. 

A  f.imiha  Terra  Brinn  e  mais  algumas  ômuns  e  cavalheiros,  fora 
convidada  para  fazer  as  honras  da  casa. 

Aiíida  existia  naqnella  familia  imi  velho  e  honrado  servo  tjue  fo- 
ra o  criado  do  Imperador,  quando  alli  mesmo  estivera  hospedado  e 
f]ue  teve  a  honra  de  trazer  um  copo  d'agoa  ao  neto  de  S.  M.  I.,  já 
(leccorridos  vinte  e  seis  annos. 

N'este  dia  7  de  Novembro  a  corveta  'Sagres»  que,  anteriormen- 
te, de  passagem  pela  ilha  Terceira,  ali  havia  desembarcado  alguma 
tropa,  para  reforçar  a  guarnição  da  ilha  em  consequência  do  povo  estar 
alvoroçado  por  causa  de  exportação  de  cereaes,  deixou  a  bahia  da  Hor- 
ta, com  destino  a  Angra  do  Heroísmo,  a  fim  de  recolher  aijuella  força, 
e  em  quanto  na  Horta  se  descançava  alegremente,  no  baile  a  que  nos 
reft-i'imos,  um  violento  tufão,  pelas  onze  horas  da  noite,  devastava  par- 
le do  Concelho  da  IVIagdalena,  na  ilha  do  Pico,  desde  a  villa  alé  á  fre- 
guezia  das  Bandeiras,  derrubando  muios,  algumas  casas,  e  arrancan- 
do antigos  e  valentes  arvoredos. 

S  «le  i%'ovonil>i-o 

Este  dia  foi  escolhido  pelo  Sr.  Infante  para  uma  caçada,  na  (jual 
aconipaniiaram  S.  A.  o  coronel  (^ray,  Samuel  Dabney  e  alguns  olli- 
ciaes  de  boido,  indo  todos  a  cavallo  até  á  Ponta  Furada  e  dalli  diri- 
gindo-se  a  pé  para  a  Feteira  alta. 

No  meio  do  campo  foi  servido  ao  Príncipe  lun  refresco. 

o  íle  IVoveiubro 

Houve  um  jantar  a  bordo  <la  «Bai-tholomeu  Dias»,  {)ara  o  qual 
f(tram  convidados  os  Srs.  Governador  Civil,  commandanle  da  sub-di- 
visão  militai-,  presidente  da  Camará  Municipal,  juiz  de  direito,  delega- 
do do  conselho  de  saúde,  guarda  mór  de  saúde,  director  dalfaudega. 
cônsul  americano  e  vice-consul  da  Bélgica. 

S.  A.  R.  na  t;u(le  d'esse  dia  veio  a  terra,  visitando  algumas  pro- 
priedades e  arsenal  do  Sr.  Dabney  e  á  noite  compareceu  no  baile  da- 
do em  sua  honra  pelo  mesmo  vice-consul  belga,  Sr.  Manuel  Alves 
Guerra,  hoje  Visconde  de  SanfAnna. 

Os  aposentos  em  que  teve  logar  esta  luzida  festa  estavam  esme- 
radamente decorados,  havendo  na  sala  [)rincipal  um  estrado,  com  c.i- 
deira  de  espaldar,  reservada  para  o  Sr.  Infante.  Dum  e  outro  lado  do 
estrado  pendiam  da  parede,  circunulados  de  dores,  os  retratos  do  Se- 
nhor D.  Pedro  o."  e  Bainha  D.  Kstephania. 

S.  A.  R.  foi  recebido  á  porta  da  rua  pelo  Sr.  (Iiierra.  aullioi'ida- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  69 

(ies  e  diversos  cavalheiros,  aguanlniido-o  no  topo  da  escada  a  fainilia 
íliíerra,  que  lhe  foi  a[)resentada  pelo  dono  da  casa. 

O  Sr.  Infante  dangon  a  primeira  quadrilha  com  a  \\\.'"^  Sr."  I). 
Maria  Guerra,  sobrinha  do  sen  hospede,  tendo  este  por  ris-à-ris. 

O  haile,  como  os  antecedentes,  esteve  animadissimo,  concorrendo 
também  alli  nma  banda  de  musica. 

S.  A.  R.  retirou-se  para  bordo  as  3  ^'2  horas  da  manhã. 

10  ele  .Novembro 

O  tempo  desencandeou-se  péssimo,  o  mar  bastante  cavado,  chu- 
va e  grande  ventania  do  quadrante  do  norte,  dando  apenas  logar  e  is- 
to mesmo  com  difficnldade,  a  que  as  authoridades  fossem  a  bordo  cum- 
primentar S.  A. 

I  I  <le  ?Vo%oi»9)ro 

Iloilve,  n"este  dia,  nova  caçada,  sendo  o  sitio  escolhido  os  matlos 
do  Chão-frio.  aonde  foi  S.  A.  R.  acompanhado  dos  niesmos  cavalhei- 
ros que  o  haviam  seguido  em  idêntica  digressão  no  dia  8. 

Alem  da  magnifica  paisagem  que  apresenta  aquella  parte  desta 
ilha,  mas  que  n'essa  epocha  do  anuo  estava  muito  despida  da  maioria 
dos  seus  encantos  e  desprovida  das  flores  agrestes  que,  durante  o  ve- 
rão, alii  pollulam  por  toda  a  parte,  pouca  distracção,  seguramente, 
lhe  poderia  oíferecer  semelhante  jornada. 

Nós  aqui.  por  assim  dizer  não  temos  caça,  maxime  no  decurso 
ílo  inverno,  alguns  coelhos  que  batidos  da  neve  e  frio  não  sahem  das 
suas  tocas  e  nos  mattos  do  Chão-frio  algumas  gallinholas,  que  é  raro 
apparecerem,  a  não  ser  no  verão  ao  descahir  da  tarde,  ipiando  vão 
beber  agoa  a  alguma  poça  do  descampado. 

No  i'egresso  para  a  cidade  a  chuva  cahia  torrencialmente,  abri- 
gando-se  o  Sr.  Infante  e  a  sua  comitiva  na  pobre  morada  de  uma  viu- 
va da  rua  nova  da  freguezia  dos  Flamengos,  cá  qual,  no  dia  seguinte 
mandou  entregar  a  esmola  de  40áí000  rs. 

S.  A.  embarcou,  n'esse  dia,  ás  5  horas  da  tarde,  voltando,  po- 
rem, a  terra,  ás  8  V^  da  noite,  para  assistir  ao  baile  que  em  sua  hon- 
ra dava  a  Camará  Municipal. 

Por  mais  commoda  a  casa,  do  que  os  Paços  do  Concelho,  pedi- 
ram os  vereadores  para  se  realisar  este  baile  a  bella  residência  do  abas- 
tado proprietário,  Commendador  Sérgio  Augusto  Ribeiro,  sendo  enfei- 
tada a  extensa  entrada  que  a  precede,  mna  rua  povoada  de  arvore- 
d(»s,  com  arcos  de  verdura  e  uma  illuminação  á  veneziana,  destacan- 
do-se  no  fundo,  em  grande  transparente  as  armas  do  Príncipe. 

O  interior  d"aquella  moradia  estava  excellentemente  decorado,  ten- 


70  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

(lo  S.  A.,  duiá  qiiaitus  reservados  [);ira  descançar,  ou  tomar  qualquer 
refresco. 

(lompareceu  ao  baile  uma  banda  de  musica. 

Faziam  as  honras  da  caza  as  esposas  e  filhas  dos  vereadores,  a 
consorte  do  proprietário  d'aquelle  prédio,  bem  como  alguns  cavalhei- 
ros para  este  lim  convidados. 

A'  chegada  do  Sr.  Infante,  veio  esperal-o,  em  corporação  a  (Gama- 
ra Municipal,  dirigindo-lhe  então  o  seu  Presidente  uma  allocução  con- 
gratulaluria  da  honra  que  era  concedida  á  mesma  curporação  com  o 
recebimento  de  S.  A.  R. 

O  Sr.  Infante  dançou  a  primeira  quadrilha  com  a  Ex.'"^  Sr.""  D. 
Maria  da  Gloria  Terra  Berqiió,  esposa  dum  dos  vereadores,  tendo  por 
vis-à-vis  o  major  José  Pamplona  Corte  Heal,  vice-presidente  da  Ca- 
mará. 

O  baile  correu  muito  animado  e  realmente,  durante  a  estida  do 
Sr.  Infante  na  pacifica  cidade  da  Horta,  apresentava  esta  povoação  um 
anormal  movimento,  sendo  sempre  grande  a  multidão  de  povo,  nos 
sitios  por  onde  sabia  que  tinha  de  passar  S.  A.  R. 

O  baile  da  Gamara  Municipal  terminou  de  madrugada 

13  fic  i^^ovonibro 

Neste  dia  o  illustre  hospede  não  veio  a  terra,  indo  como  usual- 
mente, a  bordo  as  authoridades  e  bem  assim  o  Reitor  do  Lyceu,  apre- 
sentar a  S.  A.  um  livro  para  se  dignar  de  assignar  o  seu  nome,  com- 
memorando,  assim,  a  sua  visita  á  nossa  primeira  caza  de  ensino. 

13  <le  :Vovenil»ro 

Pelas  8  horas  da  manhã,  a  corveta  «Bartholomeu  Dias,»  dando 
uma  ^alva,  que  foi  correspondida  pelo  castello  de  Santa  Cruz,  sahia 
da  bailia  da  Horta,  na  direcção  do  norte. 

Kra  o  seu  destino  a  ilha  Terceira,  porquanto  eslava  dando  cuida- 
do ainda  não  ter  regressado,  á  bahia  da  Horta,  a  coivèta  «Sagres», 
que  alli  linha  ido  buscar  alguma  tropa,  como  mencionámos  nas  occor- 
rencias  do  dia  sele. 

Da  estada  do  Sereníssimo  Infante  D.  Luiz  na  ilha  Terceira  e  da 
honrosa  maneira  como  foi  recebido  n'aquella  heróica  terra,  publicou, 
em  folheto,  uma  minuciosa  descripção,  o  Sr.  Félix  José  da  (^osta,  a 
quem  as  leiras  açorianas  deveram  sempre  curiosas  informações. 

F(>ram  o  Faval  e  a  Terceira  as  duas  únicas  ilhas,  d'esle  archi- 
pelago,  (pie  visitou  S.  A.  R.,  a  quem  o  fulm*o  destinava  que  cingisse 
a  cor(*)a  ()ortugneza,  estandíj,  não  obslanles,  feitos  grandes  preparati- 
vos na  ilha  de  S.  Miguel,  para  o  seu  condigno  recebimento. 

Obstou,  porem,  a  isto  a  inclemência  da  estação,  sendo  muito  tor- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  7  I 

monlosa  a  tiavessia  da  «Bartholomeii  Dias»  e  da  «Sagres»  desde  An- 
gia  do  Heroísmo  até  á  barra  de  Lisboa. 


(1860) 

A  bordo  da  magnifica  fragata  ingleza  «Eiiryalus»  esteve  na  l)a- 
liia  da  Horta,  a  '28  de  Outubro,  este  filho  da  Rainha  Viotoria,  na  qua- 
lidade de  guarda-marinha. 

Houve  as  usuaes  salvas  entre  as  fragatas  e  a  terra,  indo  abordo 
diversas  authoridades  cumprimentar  o  illustre  príncipe. 

S.  A.  R,  não  ponde,  porem,  desembarcar,  por  estar  doente  e  a 
«Euryalus»,  depois  de  haver  recebido  alguns  refrescos  partio,  sem  de 
mora,  para  a  Gran-Bretanha. 

Este  mesmo  Príncipe  tornou  a  estar  na  bahia  da  Horta  no  dia  3 
de  Maio  de  1871,  commandando  a  fragata  «Galatèa»,  mas  como  esta 
ficasse  de  quarentena,  em  breve  sahio  d'este  porto. 


(1860) 

Ainda  quando  a  fortuna  da  familia  do  grande  Napoleão  l.''  reto- 
mara em  França  todo  o  seu  antecedente  esplendor,  tocou  na  bahia  da 
Horta,  a  12  de  julho  deste  anuo,  vindo  da  America  do  norte,  num 
esplendido  hiale  a  vapor,  o  primo  germano  de  Napoleão  Hl,  então  Im- 
perador dos  francezes,  acompanhado  da  sua  virtuosa  esposa  a  Prince- 
za  Clotilde,  que  muito  melhor  do  que  o  marido  conseguio,  á  imitação 
da  egrégia  Rainha  dos  portuguezes  a  Sr.*  D.  iMaria  Pia,  sua  irmã.  u- 
ma  virente  coroa  de  bênçãos  dos  desvalidos  da  fortuna  e  da  qual  ain- 
da ha  ponco  o  notável  escriptor  francez  Edmond  Abont  escrevia  nos 
seguintes  termos: 

« Tnus  les  saints  ont  qmtlé  la  terre;  cest  gráce  a  celte  incomtance 
qw  le  ciei  est  si  bien  peitpU.  Mais  iious  comptons  encore  parmis  nom. 


72  ARCHIVO  DOS  AÇOKÈS 

deiix  ou  troís  suiníes.  Je  pourrais  citer  detix:  la  princesse  Clotilde  et  sa 
íicetir  la  Reine  de  Portugal."^ 

O  príncipe  Jerónimo,  vestido  ã  paisana,  e  sua  esposa,  acompa- 
nhados de  algniis  oíficiaes  de  marinha  desembarcaram  immediatamen- 
le  depois  da  chegada  do  hiate  a  vapor,  dirigindo-se  ao  passeio  publico 
acompanhados  de  uma  senhora,  filha  do  vice-consnl  francez,  que  enlãi) 
.>e  achava  na  ilha  do  Pico,  bem  como  dum  filho  d'este  cavalheiro. 

O  aspecto  e  traços  physionomicos  do  Principe  Jerónimo  é  bem 
sabido  que  retratam  muito  approximadanjente  as  feições  de  seu  tio  Na- 
poleão l.**. 

Na  Horta  o  Príncipe  apresentou-se  um  verdadeiro  ratão,  de  cha- 
péu do  Chili  muito  deneg^fido,  sobrecasaca  em  mais  de  meio  uzo  e  u- 
mas  calças  brancas  que  estavam  a  pedir  uma  boa  libra  de  sabão,  ou 
melhor  talvez  uma  valente  barella  e  pelas  ruas,  ao  lado  da  esposa,  ca- 
minhava de  cigarro  ao  canto  da  boca. 

E'  esta  a  verdade. 

Concedemos  de  barato  que  o  Príncipe  Jerónimo  não  prestasse  a 
mínima  importância  á  humilde  cidade  açoriana  que,  occasionalmente, 
visitava,  é  iss(j,  até  certo  ponto,  natural,  mas  que  apparecesse  com 
umas  calças  naquelle  estado  .  .  .  Sacrè  nom  de  Dieu  I  .  .  . 

xVpenas  constou  pela  Horta  o  desembarque  de  tão  elevada  perso- 
nagem, sem  o  minimo  aviso  prévio,  as  nossas  bonacheironas  authori- 
dddes,  lançaram-se  em  busca  do  mesmo,  como  os  alchimislas  do  sécu- 
lo 16.°  em  busca  da  pedra  philosophal. 

Afinal  sempre  encontraram  S.  A.  1.,  que  estava  muito  descança- 
damenle  lumando  talvez  o  seu  decimo  cigarrinho,  sentado  n"um  incom- 
modo  banco  di3  nosso  jardim  publico  e  pensando  na  sua  vida,  ou  na 
do  seu  primo,  com  quem  nunca  fora  nmito  bem  casado. 

E  não  o  largaram  mais  até  embarcar,  já  perto  da  noite. 

No  cães  da  Horta,  por  essa  occasião,  entre  umas  rumas  de  ta- 
boado  que  eslava  desembarcando  uma  barca  americana,  achava-se  já 
postada  uma  força  militar  para  fazer  ao  Príncipe  as  honras  de  caza, 
salvando  também  o  castello  de  Santa  Cruz  em  seu  obzetjuio. 

Em  quanto,  no  dia  seguinte  o  hiate  recebia  algum  carvão  que  ne- 
cessitava, o  P;'inci[)e  Jeronymo  foi,  n'um  escalar  movido  a  vapor,  ca- 
çar ás  pombas  na  costa  da  Feteira,  sahindo  d"e.>te  porto  na  subsequen- 
te manhã  de   14  de  Julho. 

Acompanhava  o  Príncipe  JeronyuiO,  nesta  viagem  de  recreio, 
Maurício  Saud,  filho  da  notabilissima  e>criplora  francesa  George  Sand. 

Depois  da  sua  chegada  a  França  publicou  aquelle  viajante  um  li- 
vro descri[)tivo  de  semelhante  excursão  marilima,  iio  qual  melleu, 
(jiianto  ponde,  a  ridi(:ulo  esta  pobi'e,  (x^iuena,  mas  pittoresca  cidade, 
mentindo,  poiem,  nalgims  pontos,  multo  rasoavHlment<\ 

Ainda  assim,  e  valha-nos  isso,  o  seu  nou)e,  (juasi  ignorado  na  lit- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  73 

leratnrn  franceza  foi  sempre  de  somenos  imporlnnci^  e  não  passava 
(Vmu  reflexo  pallido,  mas  muit)  pallido,  do  génio  biilhuile  da  sua  pro- 
genitora, nma  grande  gloria  d'a(piella  grande  nação. 


(1861) 

Este  notabilissimo  e  valente  militar  liespanhol,  que  tanto  figurou 
na  politica  contemporânea,  aportou  ao  Fayal,  procedente  de  Cuba,  no 
dia  27  de  Junho  d'esse  anno. 

Visitou  os  mais  amenos  sitios  da  cidade  da  Horta,  bem  como  a 
egreja  Matriz,  examinando  detidamente  e  elogiando  muito,  coujo  pe- 
ritt)  conhecedof,  duas  grandes  telas  que  alli  existem,  na  capella  da 
Senhora  da  Bòa  Morte,  uma  representando  o  passamento  de  Nossa  Se- 
nhora e  a  outra  o  apostolíj  querido  de  Jesus  expargindo  flores  no  tu- 
mulo da  Virgem,  das  quaes  ignoramos  a  proveniência,  ou  o  autlior, 
indubitavelmente  um  artista  de  mérito. 

O  general  Prim  foi  cui)q:>riii]entado  pelas  authoridades  locaes, 
mi)slrai]do-se  muito  penhorado  pelas  altenções  que  lhe  dispensaram 
e  captivando  a  todos,  pelo  seu  mod(j  franco,  alegre  e  enérgica  conver- 
sação. 

Ouviu,  com  interesse,  ter  estado  na  baliia  da  Horta,  em  Abril  an- 
tecedente, o  Duque  de  la  Torre,  general  Serrano,  sentindo  que  o  seu 
illustre  compatriota  não  houvesse  desembarcado,  para  gozar  dos  ma- 
gnificos  pontos  de  vista  que  apresentava  a  encanUidora  ilha  do  F.iyal. 

O  general  Prim  parecia  mais  um  artista  enthusiasmado  dos  pano- 
ramas esplendidos  da  natureza,  do  que  o  fogoso  soldado  que,  em  re- 
nhidas refregas,  com  o  mais  completo  desdém  [)ela  uK^rte,  soube  sem- 
pre affrontar  os  maiores  perigos  e  cujo  nome  conquistara  grande  po- 
pidaiidade  no  brioso  exercit(j  do  seu  paiz  natal.  • 

O  vapor  em  (jue  recolhia  á  Hespanha  sahio  na  manhã  de  29  de 
Julho. 

E'  de  todos  conhecida  a  parte  activíssima  que  o  celebre  general 
tomou  em  todos  os  acontecimentos  que  agitaram  a  Hespanha,  na  epo- 
cha  subsequente  á  data  que  encima  esta  referencia. 

Em  1870,  já  nomeado  marechal,  achava-se  investido  no  elevado 
cargo  de  ministro  da  guerra. 

Tratava-se,  então,  no  parlamento  hespanhol  de  uma  importanlis- 
sima  questão,  da  qual  Prim  era  o  mais  acérrimo  instigador  e  advoí^ar 
do  e  na  qual  envidava  o  prestigio  (\ú  seu  nome,  ou  (juando  fosse  ne- 

N/'  43  — Vol.  VIU  -  1886.  10 


74  ARCHIVO  DOS  AÇOKES 

cessario  o  pezo  da  >ua  espada  e  essa  questão  era  nada  menos  do  que 
collocar  no  tluoDO  da  H.  spanlia  um  príncipe  estrangeiro,  o  Duípie 
dWosta,  idéa  que  por  muito  leujpo  não  tivera  o  assentimento  dn.  Vi- 
ctor Manuel,  nias  que  afmal,  devido  ás  diligencias  de  Prim,  e  á  im- 
possibilidade da  candidatura  Holien/ullern  e  de  D.  Fernando,  fora  ar- 
ceita  pelo  monarclia  da  Itália. 

Embora  o  príncipe  Amadeu  fosse  dotado  das  mais  egrégias  vir- 
tudes e  de  lodos  os  predicados  necessários  para  bem  adíuinislrar  uma 
nação,  é  f.icil  de  adnnttirque  o  advento  ao  throno  de  Hcspanha  de  un» 
estraugeiíít,  acarretou  uuiito  descontentamento  nopaiz,  tanto  mais  que 
destruía,  por  e^la  forma,  as  esperanças  de  todos  os  partidos  alli  e.xis 
tentes,  desde  os  absoluti^tas  alé  aos  mais  avançados  republicanos. 

Era  quasi  tentar  o  impos.-^ivel. 

No  [)ail;imento  lies[tanliol  Irovejaram,  então,  os  mais  renhidos  de- 
bates a  st  ujellianlL-  respeito  e  feriram  se  alli  verdadeiras  batalhas,  a- 
chando  se  as  paixões  politicas  tão  exactrbadas,  como  um  revolto  e  in- 
domável oceano. 

Prim.  sempre  firme  no  seu  propósito  d  •  remover  as  ditíiculdades 
poUtícas  que  assoberbavam  a  sua  pátria,  com  a  adopção  d"um  reinan- 
te estrangeiío,  conserva va-se  denodadamente  na  brecha,  alvo  de  gran- 
des vituperiu>  e  ódios,  sentindo  em  seu  redor  rugir  as  mais  terríveis 
ameaças. 

Ó  ministio  da  guerra,  no  emtanto,  era  um  homem  de  pulso  de 
ferro.  d"eítes  de  antes  quebrar  que  torcer. 

O  Duipie  dAosla  já  estava  em  viagem  para  a  Hespanha. 

A  sessão  parlamentar  de  ^7  de  Dezembro  de  1870.  precedendo 
três  dias  o  desembarque  do  Duque  em  terreno  hespanhol  e  menos  de 
dois  mezes  a  sua  eleição,  (Ití  de  Novembro  de  !870j  tocuu  o  cumulo 
da  vehemencia  e  da  agitação. 

As  cortes  tornaram  se  uma  jaida  de  furibundos  tigres  e  o  mes- 
mo Prim,  apesar  do  seu  íum>en>o  sangue  frio,  indómita  coragem  e  no- 
táveis aptidões  de  consumado  estadista,  começou  a  trocar  insulto  por 
insulto,  apostrophe  por  aposirophe  e  a  esmagar  sem  piedade  os  qne, 
também,  desapiedadamente  o  queriam  ferir. 

(Juandò  terminou  a  sessão  estava,  completamente,  fora  de  si. 

Não  t-ra  desconhecido  aos  amigos  do  ministro  da  guerra  o  umito 
(jue  em  Madrid  se  andava  traujando  contra  a  vida  daquelle  valente 
militar  e  grande  numero  de  policias  tinham  expressa  ordem  de  o  se- 
guir disfarçada,  mas  tenazmente,  por  toda  a  parte,  vigiando  pela  sua 
><'gurança  a  todas  as  horas  do  dia  e  da  noite. 

Havia  até  signaes  combinados  para  o  chefe  da  policia,  perdido 
entre  a  turba  e  ve.^tido  á  paizana,  conhecer  o  destino  e  as  ruas  que 
ia  seguir  o  miní>íro  da  guerra  e  lançai  no  seu  encalço  uma  porção 
de  agentes  vigilantíssimos. 

Estes  signaes  eram  segundo  a  maneira  (pie  o  marechal  abotoa>- 


AHCHIVO  DOS  AÇORES  75 

se  o  f;il»,  livesse  .ollocadas  as  mãos,  aguentasse  a  bengala  á-. 

No  <li:i.  porem,  a  que  nos  re(Vpinio>  era  tal  a  excitação  de  Prim, 
ao  saliir  do  pirlauieiito,  lallando  aniniadamenle  cotn  vários  indivíduos, 
(|ne  esqiiecerido-se  das  precauções  (pie  <levia  loniar,  e  (jue  o  chefe  da 
policia  em  vão  aguardou  aiiciosameute,  não  pareceu  consciente  dos  pe- 
rigos fjue  o  ameaçavam. 

(Casualmente  sustinha  a  bengala  na  mão  direita,  mas  não  da  ma- 
neu\i  que  secretamente  estava  combinado  e  ainda  assim,  embora  du- 
vidoso, (I  chefe  da  policia  mandou  post.ir  a  sua  gente  n'ai|uella  (Jirec- 
ção  e  tt'r  olhos  de  lynce  para  o  menor  incidente  (|ne  occorrèsse. 

Piim  subio  para  a  carroagem  e  mandou  tocar  a  toda  a  brida,  pa- 
ra o  ministério  da  guerra,  mas  exactamente  pelo  lado  contrario  áquel- 
le  em  ipie  a  policia  o  esperava! 

A  carroagem  parlio  como  um  raio  e  (juando  costeava  os  muros 
d'iuu  extenso  jardim,  ouvio-se  uma  descarga  de  fuzilaria  e  uma  por- 
ção de  balas  atravessam  a  caixa  do  vehicnio  em  diversos  sentidos. 

O  corpo  do  infeliz  Piim  ficou  crivado  de  ferimentos,  recebendo 
sete  balas  no  hombro  esquerdo. 

Eram  feridas  mortaes. 

.\  sua  agonia  foi  longa  e  replecla  de  soffrimentos  dolorosos,  pois 
([ue  o  marechal  dotado  de  robusta  constituição  só  Vfio  a  fallecer  Ires 
ílias  depois,  a  liO  de  Novembro,  no  m^smo  dia  em  (}ue,  por  fatal  coin- 
cidência, dt^sembarcava  na  Hespanha  o  UKjnarcha  que  lhe  devia  a  co 
rôa  e  cujo  reinado,  embora  breve,  foi  replecto  de  cruéis  dis>abíjres  e 
de  amarguradas  horas. 

Do  pi'Ocesso  concernente  ao  assassinato  de  Prim  jamais  se  pon- 
de colher  alguma  coisa,  ou  talvez,  para  melhor  dizer,  coliu'u-se  tanto 
e  estava  no  mesmo  compromettida  gente  de  Ião  graúda  importância, 
(jiie  esse  saldo  de  contas  está  ainda  por  liquidar,  nem,  provavelmen- 
te, jamais  se  li(]uidará. 

No  entanto,  a  espaços,  a  iuiprensa  hespanhola,  em  duas  ou  três 
linhas  cheias  de  termos  emphaticos,  estampa  a  semelhante  respeito  u- 
mas  noticias,  que  temos  lido  em  diversos  jornaes  e  que  terminam  qua- 
si  sempre,  pouco  mais  ou  menos,  nos  seguintes  termos:  «Uevive  e  d  es- 
ta vez  até  á  sua  conclusão  o  affamado  processo  concernente  á  estupen- 
da morte,  do  valerosissimo  marechal  Prim». 

Já  não  é  sem  tempo. 

Caramba  ! 


76  ABCHIVO  DOS  AÇOHES 

TlJ^^nsySlU-lsrJDG     .A.3SrT03SriO    IDE     BXJ- 

(1868) 

A  primeira  vez  que  o  fislejado  auUiur  da  Paquila  esteve  dos  A- 
çures  foi,  por  inotivus  de  doeni;a,  no  inverno  de  1860,  chegando  ã  illia 
de  São  Miguel  no  vapor  «Açoriano»,  no  dia  26  de  Novembro. 

Quatro  dias  apenas  dip.)is  de  desembarcar  na  populosa  cidade  de 
Ponta  Delgada,  parlio  para  Villa  Franca  do  Campo,  na  companhia  do 
seu  amigo  o  Snr.  Sebastião  do  Canto,  a  pedir,  apesar  da  rigorosa  es- 
tação, aos  [)ávidos  valles  e  planicies  d  aquella  esplendida  terra,  leniti- 
vo aos  padecimentos  que,  então,  comprometliam  seriamente  a  sua 
saúde. 

O  descanço,  a  quietação  d  aquella  campesina  moradia,  a  hospita- 
lidade franca,  sinci-ra  e  carinhosa  em  que  tanto  se  destiuguem  os  uii- 
chaeienses.  dessa  hospitalidade  que  não  se  limita  a  bauaes  cumpri- 
mentos, mais  ou  menos  adubados  de  phrases  convencionaes,  mas  sim 
da  que  fnz  os  velhos  amigos  e  as  duradouras  saudades,  concorreram 
poderosamente  para  em  breve  tempo  tornar  o  notável  poeta  um  (jutro 
homem,  vigoroso  de  saúde,  retomando  interesse  em  litterarios  conj- 
metimentos  e  colhendo  grande  copia  de  apontamentos  para  o  delicio- 
so livro  (pie,  sob  o  titulo  de  «Flores  Agrestes»,  publicou  em  1870. 

Effectivamente  a  Musa  loura  e  ingénua  de  Bulhão  Pato,  coii^p  dos 
seus  escriptos  dizia  nas  Memorias  da  Litleralura  (À)ntemporant.'a  o  ma- 
logrado Lopes  de  Mendonça,  devia  exuberar  de  prazer  naquelles  tão 
ubérrimos  campos,  nos  quaes,  apesar  das  geadas  e  cortante  noiie  min- 
ca  lhe  faltavam  flores  para  formar  uma  vistosa  capella,  nas  suas  diva- 
gações num  ou  outro  sitio,  quer  fosse  n:i  quebrada  de  um  monte,  nas 
orlas  d"uma  terra  lavradia,  ou  nas  margens  dum  lago  azul.  de  limpi- 
das  aguas  e  frondosas  margens,  d'aqu('llL'S  que  tanto  amava  o  suave 
author  do  Jocelin  e  da  Chute  d  un  Ange. 

E  depois,  de  Dezembro  em  diante,  a  natureza  começa,  ainda  (jue 
lentamente,  a  prepar.u-se  para  a  sua  pro.xima  e  esplendida  festa  da 
primavera  e  como  aijuellas  pombas  que  esvoaçam  adiante  do  carro  de 
Vénus,  mensageiras  de  boas  novas,  assim  também  aipii  e  alem  se  di- 
visam algumas  singelas  e  rasteiras  ílorinhas.azues  ou  vermelhas,  que 
apoz  muitos  dias  de  fechado  nevoeiro  e  pesadas  chuvas,  nos  vem  fat- 
iar dos  dias  límpidos  em  que  lixia  aquell-a  ilha  se  tornará  n"um  vasto 
e  sorridente  jardim. 

O  clima  açoriano  foi  benigno  para  com  o  recém  chegado,  parecen- 
do poupal-o,  conl:ecer-lhe  a  valia. 

Em  Janeiro  seguinte  tratava-se,  em  Ponta  Delgada.  d'uma  le>ta 


AKCHIVO  DOS  AÇOHKS  77 

de  caridade,  em  beneficio  do  Azylo  diníaucia  det^valida,  e  na  qual  Hu- 
lliã(»  Pato  ia  tomar  activa  parle,  deliciando,  no  Iheatro,  a  illiislrada  so- 
ciedade michaelense,  com  a  recitação  de  algumas  das  suas  mimosissi- 
rnas  composições  poéticas. 

Foi  na  noite  de  22  d'esse  mez  que  se  eífeituou  o  beneficio  a  fa- 
vor dos  desprovidos  da  fortuna,  a  concorrência  ao  theatro  era  enor- 
me, selecta,  e  Bulhão  Pato.  com  a  mestria  que  sempre  encanta  aos 
seus  ouvintes,  recitou  primorosamente  as  poesias  José  Enlevam,  A  Vol- 
ta, da  «Paquita»,o  Adeus  do  mesmo  poema  e  as  suas  magnificas  traduc- 
ções  de  Trueba  <íAs  Flores  para  a  Viryemy  e  «^5  Mães». 

A  ovação  ao  illustre  vate  foi  sincera,  enthusiastica  e  vchemente, 
impressionando-o  bastante  e  levando  os  seus  hospedes  a  delicadesa, 
a  ponto  de  o  acompanhar,  bem  como  a  banda  de  muzica  de  Caçado- 
res 1 1.  que  também  concorrera  ao  theatro,  até  á  residência  do  Sr.  An- 
tónio Borges  da  Camará  Medeiros,  aonde  residia. 

No  sarau  musico-litterario  alguns  exímios  tocadores ,  como  os 
Srs  Joaquim  Barbosa,  Francisco  Barbosa  e  João  Bernardo  Rodrigues 
Júnior,  haviam  também  concorrido  para  o  brilhantismo  dessa  noite 
executando  magnificas  peças  de  musica. 

Foi  uma  noite  cheia. 

Algum  tempo  depois,  muito  melhorado  dos  seus  padecimentos 
physicos,  Bulhão  Pato  vio-se  apesar  seu,  obrigado  a  deixar  a  ilha  de 
São  xMiguel,  para  regressar  ao  continente. 

Partio,  pois,  saudoso  e  reconhecido  áquella  formosa  terra,  aonde 
só  favores  recebera,  no  I."  de  Março  de  1807,  consignando  n'uma  car- 
ta que  então  fez  publicar  na  imprensa  da  localidade,  os  vividos  senti- 
mentos de  gratidão  que  lhe  iam  na  alma. 

A  sua  demora  nos  Açores,  nesta  primeira  visita,  foi  de  pouco 
mais  de  Ires  mezes. 

A  par  da  maneira  cavalheirosa  pela  qual  Bulhão  Pato  foi  recebi- 
do na  ilha  de  São  Miguel,  existe  uma  deplorável  nota  discordante  e 
e.Ntremamente  cómica,  ter  sido  excommungado,  em  consequência  de 
umas  «Cartas  dos  Açores»  que  correram  impressas. 

Deus  perdoe  aos  authores  de  semelhante  sacrilégio! 

Em  19  de  Fevereiro  de  1868  voltou  pela  segimda  vez  o  distincto 
poeta  aos  Açores:  em  Junho  seguinte  visitava  a  cidade  de  Angra  do 
Heroismo, 

Fez-lhe  alli  as  honras  da  caza  o  Grémio  Litterario,  benemérita  as- 
sociação (^ue  n'a(iuella  epocha  se  empenhava  em  desenvolver  n'estas 
paragens  ainda  bem  pouco  propicias  para  tentames  litterarios,  o  amor 
ao  estudo  e  a  qual,  alem  de  outros  civilisadores  conniiettimentos,  ha- 
via criado  um  periódico  quinzenal,  cora  o  mesmo  titulo  da  associação, 
que  publicou  vinte  e  quatro  números,  desde  o  1."  de  Fevereiro  de 
1808  a  egual  datado  anuo  subsequente  e  habilmente  redigido  por  João 


78  AKCHIVO  DOS   AÇORES 

Carlos  Rodrigues  <Ia  Cosln,  Anloiiin  Gil,  Santos  Peixoto,  Moniz  de  Bet- 
lenfidiirt  e  alguns  outros  esciiplores  açorianos, 

N"esta  oaasião  deniijroii-se  Bulhão  Pato  na  ilha  Terceira  apenas 
Ires  (lias. 

Na  noite  de  21  de  Ftvereiro  o  Greuiio  Litterario  dWngra  do  He- 
roísmo oíTerecia  ao  exímio  poeta  um  saiau  litterario,  estando  a  caza 
primorusamenle  ornamentada  e  C(jncorren  lo  ao  mesmo  crescido  nume- 
10  de  damas  e  cavalheiíos. 

João  (Carlos  Rodrigues  da  Gosta,  amigo  desde  a  infância  do  poe- 
ta, dirigio  lhe  uma  allocução  em  nome  do  Grémio  Litteraiio  e  dos  Ter- 
ceirenses,  pelo  sincero  prazer  (jue  experimentavam  com  a  sua  visita 
á(|uella  ilha. 

Bulhão  Pato,  erguendo  em  seguida  a  voz,  proferio  então  um  ma- 
gnifico discurso  de  agradecimento,  sendo  Ireneticamente  applaudido. 

Na  manhã  de  :2o  houve  tamhem  nas  salas  do  palácio  do  Governo 
(]ivil.  prestado  da  uiclhor  vontade,  mna  palestra  litleraria  em  benefi- 
cio do  cofre  do  mesmo  Grémio  Litterario,  em  que  Bulhão  Pato  deli 
ciou  os  seus  numerosos  ouvintes  com  a  recitação  de  diversas  das  suas 
composições  poéticas. 

A  mocidade  Terceirense  personificada  n'aquella  associação,  tratou 
de,  por  todos  os  meios  ao  seu  alcance,  tornar  agradável  o  breve  tem- 
po da  permanência  do  poeta  n\iquella  heróica  ilha. 

Na  sua  peregrinação  pelos  Açores,  chegou  Bulhão  Paio  á  bahia 
da  Horta,  na  corveta  "Eslephauia)>  na  tarde  de  sabbado  17  de  Julho 
(Je  1809,  conjunctameiíle  com  outros  passageiros  distinclos,  taes  como 
o  general  Mahlonado,  cummandante  da  divisão  militar  dos  Açores,  o 
Reverendo  Padre  Horta,  muito  apreciado  e  distinclo  cantor,  algumas 
damas  terceirenses  e  o  Sr.  João  de  Bettencourt  V.  Corrêa  e  Ávila. 

Foi,  então,  que  tivemos  o  prazer  de  conhncer  Bulhão  Pato,  n"um 
esplendido  baile  ijue  em  obzetjuio  ao  Sr.  Otrréa  e  Ávila  deu  n  essa 
occasião,  na  sua  híjspitaleira  residência  o  Sr.  Thoniaz  da  Silva  Ribei- 
10,  já  actualmente  fallecido,  e  ao  qual  concorreiam  todos  os  illustres 
l)assageiros  da  «Estephania»  e  bem  assim  parle  da  olFicialidade  da 
quelle  vaso  de  guerra,  ipie  a  este  porto,  com  escala  por  São  Miguel  e 
Terceira  viera  trazei'  iXi  praças  de  caçadores  á,  com  receios,  segun 
do  se  dizia,  diun  levante  do  povo,  por  causa  de  contribuições. 

Quittc  fjour  la  pear,  como  dizem  os  fiaiicezes,  havia  conipleto  so- 
cègo  no  Kayal. 

Ao  baile  a  que  nos  referimos,  como  geralmente  acontece  na  Hor- 
ta, concorreu  nu)  solTrivel  numero  de  damas  estrangeiras,  a  par  de 
muitas  fayalenscs  e  tanto  alli  se  fallava  inglez,  como  a  linguagem  na- 
cional, denunciando-se  assim  a  ium^sh  proximidade  da  grande  repu- 
blica americana. 

Das  damas  estrangeiras  e  das  portuguezas  recordou-se  depois 
Bulhão  Pato  nos  mais  lisongcirus  lermos,  elogiando  a  sua   form(K>ura 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  79 

('  íinolrato.  no  livro  «Paisagens»,  composição  ligeira,  pscii[il.i  iini  pou- 
ro  sii|)erri('ialinenle. 

[I;i  n'aqnelle  pe(]iieno  livro,  traçado  no  correr  da  [)enna,  embora 
esta  fosse  doiro,  algumas  inexactidões,  que  revelam  evidente  preciju- 
tação  e  qne  para  os  contfcedores  da  localidade  e  das  pessoas  não  dei- 
xaram de  ter  nma  certa  pilhéria,  o  Conselheiro  St.^  Hita.  por  exemplo, 
antigo  fiovernadítr  Civil  dVste  Districto,  foi  chrismado  em  Conselheiro 
Santa  Clara,  Thoma/.  da  Silva  Uibeiro  leve  a  honra  de  se  tornar  ho- 
ínonymo  do  notável  [)0Pta  o  estadista  Thomaz  Ribeiro  e  a  casa  qne  Bn- 
Ihão  Pato  indica  como  o  berço  do  nobre  Dnipie  dAvila  e  Bolama,  no 
cimo  do  Monte  Qneimado,  embora  pertencente  á  família  Ávila,  jamais 
teve  a  disíincçã(»  de  escntar  os  primeiros  choros  oii  risos  infantis  d"a- 
qnelle  distinctissimo  fayalense. 

No  baile  a  qne  assistio  Bilhão  Pato  delicion  este  a  numerosa  e 
selecta  companhia  com  a  recitação  de  algnmas  esplendidas  poesias, 
sendo  a  (pie  maior  sensação  prodnzio  as  «Flores  para  a  Virgem»,  tra- 
dncção  esmeradíssima  de  Trneba,  como  já  mencionámos. 

A  brevidade  da  sua  estada  R"esta  ilha  não  den  ensejo  a  que  o 
poeta  visitasse  algnmas  das  pittorescas  aldeias  fayalenses  e  especial- 
mente o  Capello,  qne  lhe  offereceria,  com  certesa  assumpto  para  deli- 
( iosas  paginas  descriptivas,  devido  ás  admiráveis  prespectivas  que  a- 
presenta  aquelle  solo  essencialmente  vulcânico,  as  qiiaes  encantam  to- 
dos os  visitantes  qiie  alli  concorrem,  tanto  nacionaes  como  estrangei 
rv)s. 

Cumpre  vir  reparar  esta  omi.^ísão. 

Mais  pobre  a  semelhante  respeito  do  que  actualmente,  não  tinha 
n'essa  epocha  a  Cidade  da  Horta  qualquer  sociedade  litteraria.  falta 
esta  que  devia  notar  aijnelle  esmerado  cultor  das  leiras  palrias  e  qne 
depois  a  mocidade  fayalense  soiibe  remediar,  com  louvável  zelo,  esta- 
belecendo o  Grémio  Litlerario  Fayalense,  o  Grémio  Litterario  Arlisla 
e  a  Sociedade  Humanitária.  Uma  segunda  visita  a  esta  ilha  não  S(  ria 
lí-mpo  perdido.  Voltará  accaso  ? 


(18691 

Jane  Grilfin.  a  respeitável  e  veneranda  viuva  do  malogrado  aimi 
rante  Sir  John  Franklin,  a  heróica  destruidora  das  scrpcntcòt  negroa, 
na  terra  de  Van-Diemen,  de   1820  a   I83G,  tpiando  alli  estivera  com 
seu  marido,  então  governador  da  Dieménia  e  que  do  seu  bolsinho  par- 


80  ARCHIVO  nos  AÇOBES 

ticiilar  despendeu  uma  grossa  somm.i,  conseguindo  extinguir  .iquelle 
reptil,  terror  de  semelhantes  paragens,  essa  mulher  distincta,  que,  ma- 
is tarde,  desde  o  mysterioso  desapparecimento  du  almirante  Franklin 
na  expedição  aos  ujares  árcticos,  composta  dos  navios  «Erebus»  e 
«Terror»,  em  Maio  de  1845,  apresentou  ao  mimdo  o  mais  sublime 
exemplo  de  dedicação  e  amor  conjugal,  esteve  na  cidade  da  Horta, 
chegada  no  vapor  «Insulano,  na  primavera  de  1809, 

^  Já  em  avançada  edade,  pois  nascera  do  começo  do  actual  século 
e  abatida  por  continuos  soffrimenlos  e  dissabores,  esta  virtuosa  senho- 
ra hospedou-sc  HM  hotel  inglez  e  só  dalli  >ahiu  a  visitar  algumas  e- 
grejas. 

O  seu  as[)eclo  infundia  o  maior  respeito  e  cercava-a  a  publica  ve- 
neração. 

Elíectivamente  a  tenacidade  com  que  Lady  Franklin  soube  procu- 
rar o  cadáver,  ou  quaesquer  vestígios  do  seu  infeliz  marido  e  dos 
seus  heróicos  companheiros  nas  eternas  regiões  do  gelo,  nas  grandes 
solidões  das  mais  inhospitas  paragens  do  mundo,  não  descançando  um 
momentij,  não  perdendo  a  fé,  não  desanimando  nunca,  apesar  da  qua- 
si  evidencia  da  sua  morte,  caplou-lhe  as  sympathias  de  todas  as  na- 
ções cultas  e  deu-lhe  um  logar  distinclissimo  entre  as  mais  celebres 
mulheres  contemporâneas. 

E  esta  lucla,  sem  tregoas,  durou  o  largo  periodo  de  quatorze  ân- 
uos, até  que  o  vapor  «Fox»,  mantido  por  sua  custa,  voltava  á  Ingla- 
terra, em  I8o0,  do  paiz  dos  Esquimáus,  confirmando  a  dolorosa  reali- 
dade das  sinistras  aprehenções  que  havia  sobre  o  destino  dos  tripu- 
lantes do  «Erebus»  e  «Terror». 

l>to,  porem,  só  se  conseguio,  segundo  o  Diccionario  dos  Contem- 
porâneos de  Valpareau,  depois  de  dezenove  expedições,  oito  navios 
[)erdidos  e  dez  niilliões  gastus  ! 

Se  é  hfjnru^issimo  para  a  Inglaten^a  e  Estados  Unidos  da  Ameri- 
ca, quanlo  os  seus  illusirados  governos  e  muitos  particjilares  tizerauí 
para  o  descobrimento,  vivo  ou  uiorto,  de  Sir  John  Franklin,  a  historia 
também  sempre  je  curvará  respeitosa  [jerante  essa  dedicada  esposa 
que,  só  deu  por  terminada  a  suo  piedosa  missão,  quando  já  não  havia 
o  mininio  vislumbre  de  esperança  com  relação  ao  lamentável  destino 
d'aquelh\  que  lanlo  amáia, 

Neste  empenho  consumio  a  vida  e  enormes  capitães. 
Durma  cm  paz  no  seu  sumptuoso  mausoléu  quem  tão  virtuosa 
soube  ser  duiante  a  sua  |  ermanencia  na  sociedade. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  81 

(1872) 

Os  iiliimos  diíis  do  mez  dAbril  d'<í<te  anno  e  o  decurso  de  Maio 
subsequente  íbr.iíu  assaz  animados  na  (Cidade  da  Horta,  p^las  civilisa- 
(loras  diversões  que  nessa  epocha  houveram,  muito  a  aprasimento  da 
melhor  sociedade  (festa  terra. 

Na  noite  de  27  dWbril  effeituava  se.  nas  salas  d.i  antiga  casa  da 
sociedade,  «Amor  da  Pátria»,  com  a  concorrência  de  numero  superior 
a  oitenta  damas  e  muito  maior  concurso  de  cavalheiros  o  [)rimeiro 
sarau  lilterario,  iniciado  aíjui  [)or  Zepherino  Brandão,  Domingos  Men- 
des de  Karia  e  o  author  destas  linhas,  no  qual  lambem  tomaram  pai- 
te,  [troft^rindo  mimosas  poesias  ou  bem  elaborados  discursos,  a  K.\.'"* 
Sr.^  D.  Hermenegilda  de  Lacerda  e  os  Srs.  Miguel  Street  dArriaga  e 
I).'  Henrique  Heiz. 

A  casa  estava  vistosamente  ornamentada,  luzes  e  llores  por  toda 
a  parte,  e  nos  intcrvallos  que  medeiavam  entre  as  lecilações  algu- 
mas senhoras  da  nossa  primeira  sociedade,  preenchiam  esses  momen- 
tos cantando  ou  tocando  ao  piano  escolhidas  peças  de  musica. 

A  phylarmonica  «Artistas»  conq)arecera  também,  generosamen- 
te, a  esta  testa,  executando  um  variad'?  reportório,  o  (|ual  continhi 
duas  composições  originaes,  expressamente  escriptas  para  aíjuella  noite 
e  devidas  ao  apreciável  talento  do  seu  hábil  mestre,  o  fayalense  Gui- 
llierme  Pereira  dOliveira.  hoje  infelizmente  privado  da  rasão  e  cujas 
numerosas  producções  musicaes,  embora  ligeiras,  aguardau)  ainda  um 
colleccionador  competente  e  dedicado  de  coração  á  sublime  arte  de 
Verdi. 

A  piimeira  d'eslas  composições,  a  que  me  refiro,  era  mii  biilhan- 
le  hymno  denominado  «Sarau  Lilterario»  e  a  segunda  uma  esplendida 
valsa  «A  (Caridade». 

A'  meia  noite,  n'um  dos  interv.dios  e  conforme  eslava  annuncia- 
do,  duas  creanças,  do  sexo  femmino  e  pertencentes  ao  Azylo  de  Santo 
Antonii),  acíjmpanhadas  pelas  Ex."^**^  Snr.^^  D.  Clara  Dabney  e  D.  Fran- 
cisca Guerra,  correram  um  tronco  de  beneficência  pelas  pessoas  pre- 
sentes, o  (jual  logo  prodnzio  a  quantia  de  9oíí290  reis,  sendo  depois 
elevada  a  I06>290  reis,  <jue  um  acto  rontinno  foram  repartidos, 
irmãmente,  pelos  representantes  do  Azyl  •  d  Infância  Desvalida  e  A/y- 
l>)  de  Mendicidade,  (jue  se  achavam  |)resentes. 

Alhada  assim  a  idéa  lilteraria  a  um  acto  caritativo,  esta  festa  dei- 
xou a  todos  bem  impressionados,  dando  em  resultado  uma  alluvião  de 
saraus  lilterarios  nesta  cidade,  os  quaes.  afinal,  por  muito  re[)etidos 
l)erderam  todo  o  interesse,  tanto  mais  quando  n'uma  pequena  localida 

N.'  W  — Vol.  VIII— 1886.  '  11 


82  AHCHIVO   nos  AÇOHES 

de  são,  qiia.<i  invariavelmente,  as  mesmas  pessoas  ijiie  a{)[»art'cem  a  o- 
rar,  nVssas  reuniões. 

Não  acoíitecia,  porem,  isto,  no  primeiro,  havendo  o  [soderoso  in- 
centivo da  novidade. 

Punco  antes  de  começar  o  sarau  litterario  soube-se,  na  sociedade 
«Amónia  Palria»  que  acabava  de  entrar  na  bahia  o  «Atlântico»,  um  dos 
paquetes  da  carreira  entre  Lisboa  e  os  Açores  e  que  se  achava  abor- 
do do  mesmo,  vindo  da  Terceira,  o  maestro  portngnez  Sá  Noronha, 
privando-o.  desagradavelment»',  a  tempestuosa  noite  -pie  eslava,  de  [lo- 
(Irr  desembarcar,  e  alli  comparecer. 

Precedia  grande  nomeada  o  notável  violinista  e  as  caila>'  e  ji^r- 
naes  anlt^riormente  vindos  d'Angra  do  Heroísmo  não  cessavam  de  elo- 
giar os  seus  grandes  méritos  de  artista,  como  as  suas  não  menos  apre- 
ciáveis qualidades  de  perfeito  cavalheiro. 

Tinliam  rasão 

DiíTicil  seria  encontrar  nm  mais  sympathico  homem  do  (pje  o  bon- 
doso Sá  Noronha,  com  a  sua  imponente  figura,  barba  c  cabello  todo 
grisalho,  maneiras  delicadíssimas  e  distinctas  e  com  um  sorriso  ref)assa- 
do  de  melancolia  a  lhe  voltear  por  vezes  nos  lábios  e  cou)  exticnia 
modéstia  a  tran.>»luzir-lhe  nas  menores  acções. 

Já  antes  de  escularmos  o  arrebatador  violinista,  o  estimávamos 
sinceramente,  como  a  inn  velho  amigo. 

Alem  d'isto,  com(|uanlo  Sá  Noronha  não  fosse  um  lillerato,  nem 
possuisse  profundos  conhecimentos,  alem  da  sua  sublime  arte.  em  que 
era  eximio,  havia,  não  obstante  viajado  muito,  percoiiera  detidauken 
te  o  interior  da  America  do  sul,  vivera  mezes  entre  (ts  iudios,  por  lá 
aitrendera  muitas  canções  e  das  suas  recordações  de  remotos  climas 
a|)resenlava-nõs  uma  variada  collecção  de  incidentes  e  anedoctas  de 
uma  aventurosa  vida,  que  formavam  o  assumpto  de  mu  delicioso  fi- 
re-side,  em  noites  desabridas,  entre  o  café,  de  que  era  apaixonadíssi- 
mo e  o  fumo  d'um  bello  charuto  havano,  dos  quaes  trazia  sempre  com- 
sigo  abundoso  fornecimento. 

Que  saudades  (jue  não  temos  d'alguns  sei'ões  assim  passados,  na 
("Uipanhia  d"aquelle  excellente  homem",  a  quem  devemos  bastante  a- 
misade  e  que  tão  cedo  devia  cahir  exangue,  tocado  pelas  azas  da  mor- 
te, bem  longe  da  sua  pátria. 

Não  antecipemos,  porem. 

Oepois  da  espectativa  da  noite  do  sarau  litterario.  realisado  afinal 
icgularmente,  toda  a  attenção  da  gente  fina  da  Horta,  vultou-se  para 
o  recem-chegado  maestro,  tanto  mais.  e  diga  se  isto  sem  menoscabo 
dtis  brios  indígenas,  (pie  nalgumas  n'estas  terras  Liliputianas  raríssi- 
mas vezes  temos  occasião  de  ouvir  um  bocado  de  musica  rasoavel,  que 
falle  ao  coração,  que  nos  transporte  ás  doces  regiões  do  ideal. 

O  maestro,  ()orem,  demorou  por  algum  tempo  deixar-se  ouvir,  um 
ligeiro  incotnmodo  de  saúde  e  o  cançaço  de  uma  viagem,  embora  bre 


ABCHIVO  nos   AÇORI.S  83 

vo,  mas  Mssaz  tirmenlosa,  r.-tiveram-no  quasi  sempre  na  casa  em  que 
-e  lin.s|M'dara,  pioxima  fia  cgivj;)  das  Ang!!>li;is. 

Paia  o  primeiro  coiicèrlo  de  Sá  Noroí.lia.  a  9  de  Maio.  no  lliealro 
Inião  Fayalense,  não  havia  um  uni/o  legar  devoluto.  dispula:ido-se  os 
hillietes  e  isto  sem  programmas  de  feira,  nem  solicitações  ou  pedidos, 
coisas  com  (|ue  embirrava  muito  o  dislinclo  artista. 

No  theatro  era  tamanha  a  cuncorivncia  de  senhoras  gue  foi  ne- 
cessário, alem  dos  caíuarotcs  reseiv.ir-lhe  logar  na  plateia  superior, 
aonde  lambem  se  achavam  algumas  damas  e  cavalheiros  da  ilha  dt;  S. 
.lorge,  ijue  no  «Atlântico»  haviam  viinJo  ao  Taval,  para  ouvir  a(juella  no- 
tabilidade portngneza. 

O  aspecto  do  no-so  Ihealro,  elegantemente  ornamentado,  destaca- 
va-se  nessa  noite  da  pobre>a  hanciscana  ci)m  que,  então,  g.ralmente 
se  apresentava  nos  seus  amiudados,  mas  nem  sempre  muito  ocolhi- 
dos  espectáculos. 

Na  plateia  do  principal  theatro  da  Horta  achava-se  lambem  um 
cavalheiro  ijue  era  extremamente  sympathico  a  toda  esta  povoação  e  o 
(jual  com  os  recursos  da  sua  grande  fortuna  havia  poderosamente  va- 
lido a  esta  terra  nos  afílictivos  transes  dumi  nefasta  epocha  de  fo- 
me, no  anuo  de  l8o7. 

Kra  o  importante  proprietário  americano  Mi'.  Torbes  que  a  esle 
porto  viera,  em  viagem  de  recreio,  no  seu  esplendido  hiale  «Hambler» 
e  ao  qual  uma  banda  de  musica  fora  expontaneamenle,  comprimenlar 
a  bordo,  que  recebera  uma  alienei  t>a  felicitaçã  >  da  (Jaujara  Municipal 
deste  (>oncellio,  bem  cOmo  uma  delegação  da  benemérita  sociedade 
Amor  da  Pátria,  a  lhe  dar  os  parabéns  pela  sua  feliz  chegada  a  esta 
localidade,  que  não  esquecia  o  assignalado  serviço  que  o  philanlropico 
americano  lhe  prestara,  como  um  dos  principaes  snbscriptorcs  para  a 
livrar  das  torturas  cruéis  e  re[)ellentes  sceuas  da  miséria. 

Havia,  pois,  n'aquella  sala  d'espectaculos,  litteralmenle  cheia  de 
espectadores  uma  atmo>p!iera  bja  e  f'Stva  e  uma  certa  expansibili- 
dade que  uão  é  mulo  Irivi  il  nos  insulanos,  seja  em  que  classe  fôr  da 
nossa  sociedade. 

Subio  aíiual  a  cortina  e  a  figiira  imp.jnente  de  Sá  Noronha,  alto, 
a[)rmnado,  com  o  cabeljo  e  barba  já  grisalho,  com  o  dislinclo  porte 
(|Ue  lhe  era  peculiar  e  com  o  peito  iodo  cou.>lellado  de  condecorações, 
apresenlou-se  ante  o  publico,  sendo  recebid  »  com  estrondosa  salva  de 
palmas  e  com  férvidas  demon.sirações  de  enlhusiasmo,  da  parle  da  mo- 
cidade alli  presente. 

O  |)rimeiro  liecho  de  musica  que  Sá  Noronha  nos  deixou  ouvij-, 
fii  uma  phantazia  sobre  motivos  da  opera  a  Tiaviala,  o  mais  religio- 
M)  silencio  reinava  em  ioda  a  caza  e  aquellas  fu.las  sentidas,  vibran- 
|i'S  e  re[)leclas  d"uma  suave  melancolia,  passivam  pelos  nossos  ouvi- 
dos como  uma  coisa  nova  e  extraordinária,  c-miío  a  revelação  dum  no- 
vo m'Mrlo  da  arte,  [lara  nós  coinplelauiente  dest:onh*'CÍdo,  pobres  des- 


84  ARGHIVO  DOS  AÇOHES 

graçudui».  (|ih*  nn  miisici  pouco  mais  (•(HilieciauKis  tJi»  (jiu'  inrici  diizia 
tJe  l);ui;u's  (jii.idi  illia>  ou  qiiMtio  e^tro|len(h^s  valsas,  vibradas  rudeíneii- 
le  in)  piano  por  alguma  dislinvta  ra/Voàrt, gloria  dos  nossos  paclioircii- 
los  e  lympliaticos  professores  de  IJOO  rs.  por  lição,  (indo  ás  casas  uma 
vez  pur  semana) 

Para  a  generalidade  dos  fayalenses,  para  a  gente  sedentária,  pa- 
ra os  (jue  nunca  d"estes  rochedos  haviam  sahido,  aquillo.  como  ja  di>- 
se,  era  uma  verdadeira  revelação!  .  . 

A'  Traviala  seguio.  no  encantado  violino  uma  Murcha  Militar,  dt  - 
pois  o  Ikirnaval  de  Linboa,  terminando  o  concerto,  isto  é  o  acoiupaidia- 
menlo  da  r;ibeca  por  um  piano,  com  mwdi  valsas  btirlcsias,  ^cintillan- 
tes  de  graça  e  desenvoltura. 

A  ovação  ao  exímio  n);!e^tl■o  íoi  sincera  e  velienjenle,  o  tlieatr»» 
parecia  vir  abaixo  com  ap[)la!iso>,  todos  desejavam  a  repetição  (ie  tão 
btMTi  pa>sada  noit  •. 

O  segundo  concerto,  a  14  de  Maio,  constou  de  uma  Fantasia  so- 
bre motivos  da  opera  Trocador,  de  mimo>issimo  capiicho,  com  v;iiia- 
ç(jes  Ai !  JíSHs  e  do  Carnacal  de  Lisboa. 

O  terceiro  concerto,  a  17  do  mesmo  mez,  de  uma  fantasia  .>obre 
motivfjs  da  opera  Traviata  e  da  eucaiitadtua  elegia  Os  Tristes  d'fl  P<' 
ru,  que  causou  profunda  sensação  e  o  mais  viv(j  enthiisiasmo  em  to- 
dos os  numerosos  ouvintes,  sendo  este  o  tiecho  de  musica  executado 
pelo  dislinclo  mae>tro  (|ue  mais  nos  ariebatasse. 

rinalmente  a  iá  de  Maio  ainda  houve  um  quaito  concerto,  de  dc^- 
pedida,  composto  do  Ai!  Jesus,  de  uma  njazuika  e  também  da  repeti- 
ção dos  Tristes  d'el  Peru. 

No  dia  Í4  Francisco  de  Sá  Noronha  deixava  a  cidade  da  Horta, 
no  vapor  "Atlântico»,  dirigindo-se  para  Angra  do  Heroismo  e  indo  pe- 
nhoradissimo  da  bella  recepção  que  tivera  no  Fayal,  tanto  da  parte  do 
publico,  como  de  diversos  particulares,  que  o  obzequiaram  (juanto  ao 
seu  alcance. 

Aconjpanhou-o  até  a  bordo  do  paquete  uma  banda  de  nuisica. 

A  idea  do  notável  maestro  era  voUar  aos  Açores,  no  anno  seguin- 
te, coui  uma  companhia  de  canto,  paia  o  que,  de  regresso  ao  conti- 
nente, envidou  mmtas  diligencias  em  Lisboa  e  no  Porto,  sem  que,  não 
obstante,  p(jdesse  realizar  o  seu  intento. 

A  este  artista,  uma  verdadeira  gloria  nacional,  jamais  sorrio  be- 
nevolamente a  fortuna  e  de  decepção  em  decepção,  apesar  do  seu  bri- 
llianle  mérito,  como  instrumentista  e  compositor  vio-se  alinal  obrigado 
a  ir  procurar  a  subsistência  em  terra  estianha. 

Em  Janeiro  de  1881  achava-se.  havia  já  algum  lem[)0.  na  capibd 
do  grande  inipei  io  brazileiro;  e  a  i23  desse  mesmo  mez,  viclima  da  fe- 
bre amarella  e  (juando  a  fortuna  parecia  emfim  prolegel-o.  andando 
em  scena  o  seu  derradeiro  trabalho,  a  opera  cómica  «\  Princesa  dos 
Cajueiros»,  fallecia,  a[ioz  de  mniln  rápido  soíTrimento. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  85 

ConlHva  então  58  annos  de  edade,  pois  iiascfTii  em  (Jiiiiiiarães 
no  anno  de  18íá3. 

Fouces  homens,  em  Portugal,  tiveratn  maior  jus  ás  grandes  re- 
<ompensas  que  n'outr(>s  paizes  se  concedem  aos  previligiados  talen- 
tos, sendo  lhe,  porem,  constantemente  ingrata  a  pátria,  tratando  o  co- 
mo descaridosa  maíhasta. 

O  miuioso  author  das  operas  «Arco  de  SantWnna);,  «Rcatiiz  de 
Portugal^.  6  «Tagir»,  jamais  logrou  n'este  paiz  ver  condignamente  re- 
munerado o  seu  trabalho,  e,  bem  ao  contrario  d  isto.  foram  essas  e\- 
cellentes  composições  nacionaes  preteridas  por  algmnas  frívolas  ope- 
retas france/.as,  não  raro  somente  notáveis  pela  desenvoltura  de  cos- 
Imnes  ([ue  apresentavam  em  scena. 

Assim,  no  que  dizia  respeito  a  proventos  pecuniários,  teve  a  mais 
restricta  mediania,  quasi  a  pobreza. 

Nola-se  como  um  felicíssimo  pensamento  da  sua  sublime  arte  e 
que  por  si  só  formaria  a  reputação  de  ipialquer  compositor,  a  plirase 
plangente  e  delicada  dos  «Tristes  d  el  Peru». 

O  i'e[tortono  de  Sá  Noronha  era  limitado,  mas  correctíssimo,  re- 
veland(t  profundos  conhecimentos  musicaes,  os  mais  valiosos  segredíts 
da  nobre  arte  á  qual,  desde  creança,  se  devotara  com  estremoso  af- 
fecto. 

Olvidado  e  quasi  desapercebido  em  Portugal,  pobre,  com  a  cabe- 
ça prematuramente  coberta  de  cans,  cançado  dum  constante  e  mal  re- 
tribuído trabalho,  tentara  mais  uma  vez  o  dístíncto  maestro  voltar  ao 
Brazil,  a  terras  americanas,  na  esperança  de  allí  ganhar  a  subsistên- 
cia. 

O  desenlace  d  isto  foi  o  tpie  já  vimos  e  emquanto  no  thealro  Phe- 
nix  Dramático  era  posta  em  scena,  com  grandes  applausos,  a  sua  re- 
cente composição,  lro|»eçava  o  author  e  cahia  na  cova  aberta  de  uma 
sepultura. 

Km  seguida  á  sua  morte,  a  única  pessoa  de  família  que  contava, 
uma  irmã  edosa  e  pobre  que  residia  no  Porto,  immersa  na  mais  pro 
funda  dor  quiz,  apesar  de  fraca  e  abatida,  ir  em  piedosa  romagem 
visitar  a  canqia  do  seu  irmão,  nas  longínquas  terras  de  Santa  Cruz. 

Conseguio  o  seu  desígnio  e  ainda  ponde,  de  joelhos  sobre  aquel- 
les  humildes  palmos  de  terra,  rogar  ao  Altíssimo  pelo  irmão  que  fôia 
o  seu  imíco  amparo  e  que  sempre  lhe  havia  dedicado  a  mais  extrema 
aflfeição. 

De  regresso,  porem,  á  caza  aonde  estava  hospedada,  sentío-se 
muito  aíllícta  e  inconnnodada  de  saúde,  constando  em  breve  o  seu 
passamento,  que  foi  sinceramente  lamentado  por  (juantos  a  conhece- 
ram. 

AU  is  over  I 

A  colónia  portugueza  existente  no  Rio  de  Janeiro,  com  a  sua  pro- 


86  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

verbial  gt-ncrosidade  eíTeitiiou  os  fiineraos  desl.i  desventurada  senlio- 
rn.  re[)t'tinili)  ilesla  furina  o  (jiie  já  havia  leilu  ao  inspirado  aiilhoi- da 
"PrinCHsa  dos  Cajueiros»,  que  continuava  ainda  em  scena. 

Em  h»rtngal  só  em  Ihi8o  é  (jne  foi  oiividu  o  canto  do  cysne  do 
|)ol)re  Sá  Nornnha. 

A  (tl)ra,  porém,  mais  valiosa  do  maestro  portugiiez.  na  opinião 
de  enlendedoies  competentes,  é  a  formosa  partituia  do  -Arco  de  Sant' 
Anna»,  musica  d'iim  Criracler  heni  portnguez  e  na  qual  o  ntavioso  vio- 
linista nnio  a  sna  individualidade  ao  interessante  entrecho  d"um  nola- 
vel  trabalho  lilterario  do  Visconde  d"Almeida  Garrett. 

Acaljavamos  de  escrever  esta  rt^ferencia  qnando,  casu.dmente,  de- 
parámos ifuma  correspondência  do  Rio  de  Janeiro,  para  um  dos  pri- 
meiros jornacs  do  continente,  com  a  seguinte  Fioticia,  que  nos  foi  as- 
saz grata: 

«Os  redactores  do  «Diário  de  Noticias»,  do  Rio  de  Janeiro,  inicia- 
ram uma  suhscripção  [)ara  o  Hm  d^'  se  perpetuar,  de  modo  condigno, 
a  memoria  do  maestro  portnguez  Francisco  de  Sá  Noronha.  Adherin- 
do  a  essa  generosa  iniciativa,  a  'Gazeta  Suburbana»  organisou  unj 
concerto,  cujo  producto  será  applicado  a  tão  nobre  fim.  O  concerto  se- 
rá eflectuado  no  dia  i3  de  Novembro  (188o)  no  salão  do  theatro  do 
São  Pedro  d" Alcântara  B 

Possam  os  autliores  de  tão  formosa  idéa  realisar,  n"a(}uelle  ubér- 
rimo paiz,  este  sen  levintado  propósito,  é  o  que  bem  do  curagão  de- 
sejamos, porquanto  honrarão  assim  a  nossa  palri;i,  bem  como  as  cin- 
zas d"um  .seu  di.slincti>simo  filho. 


l^^J^TiJ^X^    E    FIIvdlElSrTEX. 

(187i) 

.Mais  de  meio  .Necuio  havia  decorridit  sem  que  o  |)ovo  fay.dense  hou- 
vi^sse  sido  visitado  pelo  respi'Ctivo  Prelado  diocesano,  quando  nos  fins 
do  anno  de  187 i,  o  ■ácluM  Ris[)o  annunciou  com  alguma  antecipação  a 
sua  visita  a  v<l;\  parle  occidental  dns  ilha.-,  sujeila  á  sua  espiritual 
a(]niinistrHrão. 

Foi  u[u:\  boa  nov.i  pai'a  todos,  rt cebiila  a(|iii  com  alegria. 

O  Sr.  I).  João  Maria,  ^8  "  Rispo  d  Angra,  na.scido  em  Portugal, 
na  Villa  de  Oleiros,  ;i  ál  de  Junho  de  l8lo,  bacli;irel  joruiado  em  di- 
nilo  em  I8'»í),  chantre  da  Sé  (^alhedral  de  Rragaiiíja  em  ISoO,  sócio 
provincial  da  Academia  Real  das  Sciencias  (]8ri7i,  conmiendador  da 


AHCHIVO   Dua  AÇOHES  87 

Ordem  tiiililar  dt;  Nos.>(»  Senhor  Jesus  í>liii>U»,  par  do  reino  Ã-,  L.ivia 
sitio  apresentada  Bispo  de  Macau  em  I8()5,  diocese,  porém,  aonde  não 
chegou  a  ir,  sendo  Uansferido  para  o  Bispado  dAngia  dn  Heroísmo  a 
28  dWbril  de  I87i  e  desembarcando  na  Terceira  a  ^1  dWgosto  se- 
guinte. 

Na  illia  do  Fayal  esperava  se  a  chegada  de  S.  Ex.^  Rev.'"*  no  dia 
23  d'Outubro  e  em  consei^uencia  d'isto,  desde  a  véspera,  uiu.i  grande 
parte  da  popuhi(;ão  de  toda  a  ilha  havia  alllnido  á  cidade  da  Horla, 
bem  como  nniitos  liabitanies  da  ilha  do  Bico,  para  presenciar  o  de^en)- 
barcjue  do  seu  Bispo. 

O  «Atlântico»,  porem,  um  dos  vapores  da  carreira  entre  Lisboa 
e  Açores,  demorou-se  n'essa  viagem  mais  do  que  liabilu-diuente  e  só 
appareceu  neste  porto  depois  da  meia  noite  de  2i  para  2y  dOulubro. 

Um  íegundo  tiro  de  peça,  alem  do  usual  á  chegada  do  paquete 
era  o  signal  antecedentemente  combinado,  se  accaso  viesse  naquella 
viageui  o  Reverendo  Bispo  e  apenas  foi  ouvido  em  terra,  apesar  da  ho- 
ra adiantada  da  noite  comegaram  os  sinos  de  todas  as  egrejas  a  repi- 
car, milhares  de  foguetes  a  subirão  ar.  illuminaramse  os  ediliciíts  pú- 
blicos e  muitas  casas  particulares  e  toda  a  coitina  de  mui"al!ias  cpie 
piotege  esta  povoação  contra  as  inclemências  do  oceano.  de>de  o  mon 
te  da  Guia  até  ao  forte  da  Lagoa,  illuminou  se  vistosamente,  forman- 
do uma  cinta  de  fogo  de  mais  de  dois  kilonietros  de  extensão,  a  qual 
reflectindo-se  nas  tranquillas  aguas  da  baliia.  porquanto  a  noite  eslava 
muito  serena,  apresentava  uu)  deslumbrante  espectáculo. 

As  ruas  da  cidade  encheram  se  immediatamente  de  povo,  era  um 
alvoroço  geral. 

O  vapor  foi  visitado  a  essa  mesma  hora.  indo  a  authoridade  ('ecle- 
siástica. Reverendo  Ouvidor  José  Leal  Furtado  e  diversos  sacerdotes 
comprimenlar  S.  Ex.^  Reverendissima,  que  a  todos  recebeu  benevola- 
mente, subindo  alguns  instantes  ao  convez,  para  gozar  d»»  magnifico 
eííeilo  das  illuminações. 

O  Reverendo  Bispo  designou  as  \ú  horas  do  dia  seguinte  para  o 
seu  solemne  desend)an|ue  e  a  noticia  da  sua  chegada  n'esía  mesma 
noite,  correndo  com  iucrivel  rapidez,  chegou  a  todas  as  povoações  ru- 
raes  da  ilha,  afíluindo  em  seguida  Uiilhaivs  de  camponezes  á  cidade, 
desde  que  raiou  a  madrugada,  bem  como  muitas  embarcações  com  pas 
sageiros  vindas  da  ilha  do  Pico. 

Nas  ruas  mais  próximas  do  cães  era  quasi  impossivel  o  transito. 

Pouco  depois  das  9  lioras  da  manhã,  o  Conselheiro  Governador 
Civil  do  Districto,  Commandante  da  Sub  divisão  militar.  Secretario  ge- 
ral. Director  dalfandega.  Chefe  fiscal  e  Capitando  poih».  Guarda  mór 
da  saúde.  Ouvidor  ecciesiastico,  collegiada  da  Matriz  e  muitos  sacer- 
dotes, tanto  da  Horta,  como  das  freguezias  riiraes.  dirigiram  se  abor- 
do para  cumprimentar  o  Reverendo  Bispo  e  aionq)anhal  o  [tara  lerra. 

A  philartnonica  «Artistas»,  foi  n  (mi  escaler  até  junto  do  vapor, 


88  ARCHIVO  DOS  AÇOKES 

locando  alli  diversos  treclios  de  musica,  os  numerosos  navios  que  es- 
tavam fundeados  na  baliia  embaudeiraram-se  todo,''  e  grande  nnmero 
de  lanchas,  tanto  desta  cidade,  como  da  Prava  do  Almoxarife,  enra- 
madas e  tand>em  com  bandeiras  foram  collocar-se,  em  alas,  nas  pro- 
ximidades do  «Atlântico»,  apresentando  niiia  esplendida  prespectiva, 
tanto  m;iis  (pie  o  dia  estava  sereno,  magnifico. 

As  1 1  horas,  approximadamente,  S.  Ex.^  Heverendissima  deixou 
o  vapor,  e  os  escaleres  remaram  na  direcção  do  cães,  aconjpanhados 
pela  musica,  locando  festivos  hymnos. 

(juando  o  Si'.  Bispo  punha  pé  em  terra,  o  castello  de  Santa  Cruz 
içou  a  bandeira  nacional,  dando  uma  salva  de  vinte  e  um  tiros,  e  a 
phylarmonica  «Nova  Lyra»  i^ue  no  cães  o  aguardava,  rompeu  também 
com  e>tridulos  toques. 

Aguai  dava,  egualmente  o  Reverendo  Bispo,  toda  a  força  militar, 
disponivi^l,  bem  como,  em  alas,  as  ordens  terceiras  e  diversas  irman- 
dades, desde  o  cães  até  a  um  pavilhão  levantado  em  frente  da  esqui- 
na supeiior  do  castello. 

O  Sr.  bispo  dirigio  se  para  alli,  precedido  dos  sacerdotes  e  segui- 
do das  autlioridades  e  funccionarios  públicos  da  localidade,  serviudo- 
Ihe  de  caudatário  o  commandante  da  sub  divisão  militar. 

Perto  do  pavilhão  sahio-lhe  ao  encontn»  a  Camará  Municipal  da 
llortH,  em  traje  de  gala  e  com  a  bandeira  do  nmnicipio,  dirigindo  o  seu 
presidente  ao  illu>tre  recem-chegado  uma  breve  allocução,  á  (piai  S. 
K\^  Kevereudissima  respondeu  reconhecido. 

Entrado  no  pavilhão  beijou  o  Crucifixo  (pie  lhe  apresentou  o  Ou- 
vidor Ecclesiastico  e  alli  aguard(ju,  sentado,  durante  algum  tempo, 
até  que  o  préstito  se  organisasse. 

Isto  é  que,  então,  se  lornou  (jiiasi  impossível,  por(juanlo  o  po- 
vo na  sua  anciã  de  se  approximar  do  Reverendo  Prelado,  invadia  tudo, 
n'uma  couípacta  onda,  respeitoso,  mas  não  cedendo  um  palmo  de  ter- 
reno a  quem  (luer  que  fosse. 

Ainda  assim  os  Procuradores  á  Junta  Geral  do  Dislricto  sempre 
eonsegniiam  abrir  o  pallio,  sob  o  (jual  devia  caminhar  o  Prelado,  as 
authoridades  furaram,  como  poderam  alé  junto  de  S.  Ex.*  Reveren- 
dissima,  os  padres,  funccionarios  públicos  e  outras  pessoas  convida- 
das paia  a  recepção  marinharam  até  jundo  do  pavilhão,  olTeganles  e 
apertados  e  aCmal  a  comitiva  poz-se  em  andamento,  mas  em  muita 
confusão,  até  á  egreja  de  São  Erancisco,  a  primeira  (pie  ficava  no  ca- 
minho e  na  tpial  o  Sr.  Bispo  devia  entrar  a  fazer  oração. 

Haviam  acompanhado  S.  Ex."  Rev."'"  vindos  de  Angra  do  Herois- 
1110,  os  Srs.  pregador  régio,  Reverendo  João  d  Aguiar  Valladão,  o  Re- 
verendo vigário  João  Laureano  da  Rocha,  o  Reverendo  vice  vigari*) 
Erancisco  de  Salles  de  Souza  e  bem  assim  o  Snr.  Manuel  Bazilio  Coe 
lho  Rocha. 


ARCIllVO  DOS  AÇORES  89 

O  secretario  do  Sr.  Bispo,  nesta  visita,  era  o  Reverendo  Padre 
M.uiiiel  Maria  da  Costa,  da  ilha  Teireira. 

(Chegados  ao  templo  de  S.  Francisco,  depois  dos  cânticos  do  es- 
lillo  e  do  illll^lre  Prelado  haver  feito  oração  no  altar  nnór,  S.  Ex.^ 
Rev.'"^  revestio-se  com  as  suas  vestes  episcopaes,organisando  se  então, 
convenientemente,  o  préstito,  pela  seguinte  ordem:  —irmandades,  sa- 
cerdotes, o  Prelado,  debaixo  do  pallio,  tendo  por  caudatário  a  autho- 
lidade  militar,  Conselheiro  (loveinador  Civil  e  seu  secretario,  admi- 
nistrador d(j  Conceilio,  Camará  Municipal,  funccioiiarios  públicos  e  con- 
vidados, as  duas  phylarmonicas  «Artistas»  e  «Nova  Lyra». 

O  transito  tornou-se  dilficilimo  nas  ruas,  tal  era  a  aggiomeração 
de  povo,  as  janellas  estavam  apinhadas  de  espectadores  e  na  entrada 
da  Matriz,  o  nosso  principal  templo  e  para  aonde  o  préstito  se  dirigia 
deu  se  de  novo  a  confusão  e  borborinho  dum  grande  e  irrequieto  a- 
jnntauíento  popular. 

Na  egreja  Matriz  repetiram-se  então  as  orações  próprias  de  tão 
solemne  occasião,  celebrando  S.  Ex.''  Rev.'"*a  missa  conventual  e  dan- 
do em  seguida  a  beijar  o  anel  aos  sacerdotes,  aulhoridades  e  ordens 
terceiras. 

Dalli,  S.  Ex.*  Rev.™^  não  quiz  ir  de  Irem,  mas  sim  a  pé,  até  á  mora- 
dia que  lhe  estava  destinada  na  rua  de  S.  João  e  pertencente  ao  abasta- 
do padre,  o  Revd."  Manuel  José  das  Neves<  sendo  ainda  acompanha- 
do pelas  aulhoridades,  sacerdotes  e  varias  pessoas  de  distincção. 

Em  frente  dessa  casa,  quando  o  Revd."  Bispo  alli  chngou,  com 
este  acompanhamento  e  seguido  também  da  phylarmonica  «Nova  Ly- 
ra», já  estava  postada  uma  força  militar  de  caçadores,  que  fez  as  hon- 
ras devidas  á  sua  elevada  cathegoria. 

Estabelecido  o  Prelado  n"e>ta  cidade  começou  em  breve  a  sua  vi- 
sita pastoral  ás  diversas  parochias  da  ilha,  escolas  e  estabelecimentos 
de  caridade,  sendo,  invariavelmente,  por  toda  a  parte  recebido  com  vi- 
vidas demonstrações  de  respeito,  com  embandeiramentos,  illuminações 
e  vários  testemunhos  de  publico  regosijo. 

De  25  dOutubro  de  1874  a  i  de  Fevereiro  de  187o,  S.  Ex.^  Rev.'"'* 
visitou  todas  as  freguezias  do  Fayal,  com  excepção  da  parochia  de  Nos- 
sa Senhora  das  Angustias,  na  Horta,  passando  naquella  ultima  data  á 
ilha  do  Pico,  a  começar  pela  freguezia  de  São  Matheus,  aonde  no  mes- 
mo trabalho  e  com  luzidas  recepções  se  domorou  até  18  dAbril  .se- 
guinte, faltando-lhe  apenas  visitar,  por  incommodo  de  saúde,  a  Villa  de 
São  Roque  e  as  freguezias  de  Santo  António  e  Santa  Luzia. 

Regressando  á  ilha  do  Fayal,  effeituou,  então,  a  sua  visita  á  paro 
chia  das  Angustias  nos  dias  17,  li),  20  e  21  de  Março  e  preparava-se 
para  seguir  viagem  para  as  ilhas  das  Flores  e  Corvo,  nas  quaes  já  ha 
via  mandado  annunciar  a  sua  visita,  quando  peiorou  a   sua  já   muito 
vacillante  saúde,  ficando  n'mn  estado  de  grande  abatimento  e  proslia- 
ção. 

N."  43— Vol.  VIU—  1886.  12 


90  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

N'eslíJbi  circumstancias  deliberou  a  iminediata  partida  para  a  sede 
da  diocese,  o  que  ainda  assim  poude  ter  logar  no  vapor,  «Atlântico», 
a  26  de  Maio  seguinte. 

O  embaíque  do  Sr.  Bispo  foi  concorridissimo,  comparecendo  no 
cães  da  Horta,  para  receber  a  derradeira  benção  do  seu  Pastor,  qua- 
si  todo  o  clero  da  ilha,  autlioridades,  vários  cavalheiros  de  distincção 
e  immenso  povo. 

Acompanharan»  S.  Ex.-'  Rev.""^  até  Angra  do  Heioismo,  os  Reve- 
rendos Srs.  Padres  José  Leal  Fuitado,  Ouvidor  Ecciesiastico o  Vigário 
da  egreja  Matriz,  o  Pregador  Régio  Felisberto  Augusto  Vieira  do  Bem 
e  José  liloniz  Barreto,  cura  da  freguezia  de  São  Matíieus  do  Pico. 

O  Reverendo  Bispo  d'esta  diocese  teve  opportunidade,  estancos 
persuadidos,  de  apreciar  no  Districto  da  Horta,  uma  população  res- 
peitosa e  crente  e  bem  assim,  diga-se  em  abono  da  verdade,  um  cle- 
ro illustrado  que  gosa,  merecidamente,  da  publica  consideração. 

No  anuo  seguinte,  no  dia  Í4  de  Maio  de  1876,  com  destino  ás 
ilhas  das  Flores  e  Corvo  esteve  S.  Ex.**  Reverendíssima  de  passagem 
nesta  ilha,  hospedado  na  sua  anterior  residência  e  seguindo  o  seu  des- 
tino no  dia  immediato,  pelas  Ires  horas  da  tarde. 

No  dia  24  chegou  á  Villa  de  Santa  Cruz,  das  Flores,  e  na  visita 
a  toda  a  ilha  se  demorou  até  ao  dia  8  de  Jidho,  no  qual  da  freguezia 
da  Fajã  Grande  embarcou  para  a  remota  ilha  do  Ci>rvo,  expondo-se 
aos  perigos  que,  em  pequenas  embarcações,  sempre  offerece  aquelle 
arriscado  canal. 

Regressou  á  ilha  das  Flores,  freguezia  de  Ponta  Delgada,  no  dia 
13  do  mesmo  mez  e  d'alli  para  Santa  Cruz,  no  dia  19,  aonde  perma- 
neceu até  ao  dia  25,  em  que  seguio,  no  paquete,  com  escala  pelo  Fav- 
al, para  a  sede  da  diocese.  No  regresso  desta  viagem,  foi  hospedad(» 
ua  Cidade  da  Horta,  pelo  Commendador  Manuel  José  de  Seqiuira. 

Uma  das  atlenções  que  na  Ilha  das  Flores,  em  Santa  Ouz,  mais 
penhorou  S.  Ex.^  Rev."*^  foi  ao  terminar  o  dia  21  de  Julho,  seu  au- 
niversario  nalalicio,  ir  procural-o,  inesperadamente,  em  corporação,  a 
Camará  Municipal,  de  que  era  Presidente  o  Sr.  Domingos  Ribeiro  de 
Carvalho,  rogando  ao  Prelado  a  sua  comparência  a  um  Te-Deum  que 
na  egreja  Matriz  ia  ser  celebrado  por  tão  fausta  occorrencia. 

Annuindo  S.  Ex.^  a  semelhante  desejo,  aguardava-o  na  rua  im- 
menso povo  e  bem  assim  a  phviarmonica  da  Villa. 

A  frontaria  do  templo  para  aonde  se  dirigiram  estava  vistosamen- 
te illuminada  e  o  seu  interior  ornamentado  com  pompa,  tendo  diver- 
sos dislicos  allusivos  às  principaes  epochas  da  vida  de  tão  elevado  vi- 
sitante. 

S.  Ex.*  Rev."'*'  subio  por  essa  occasião  ao  altar  e  quando  findou 
aquelle  solemne  acto  religioso,  a  phylaimonica  florentina  percorreu  as 
ruas  de  Santa  Cruz,  havendo  muitas  demonstrações  de  [jublico  rego- 
sijo  n'aquella  terra  essencialmente  hospitaleira. 


ARCHIVO  DOS  AÇOKES  01 

O     ^v^ISCOnSTIDE    IDE     C.A.STIIL.IÍO 

(1877) 

A  24  (Jl'  Novembro  d'esle  anno.  no  vapor  «Neptuno»,  chegava 
inesperadamente,  á  ilha  do  Fayal,  nomeado  Governador  (>ivil  doIJis- 
Iricto  da  Hjrta  o  Snr.  Visconde  de  Castilho  (Jnlio),  vindo  snbstitnir 
o  Sr  Conselheiro  António  José  Vieira  de  Santa  Rita,  exonerado  por  De- 
creto de  1 1  dOiitubro  antecedente  do  cargo  qne  exercia  desde  IG  de 
Dezembro  de  1857. 

A  demissão  do  Conselheiro  Santa  Rita,  qne  no  longo  período  de 
vinte  annos  viamos  á  frente  d  este  Districto,  causou  aqui  pr.ifunda  sen- 
sação, aonde  S.  E.x.^  contava  numerosos  amigos,  aonde  havia  encane- 
cido no  serviço  pubhco,  revelando  sempre  os  dotes  dum  funccionario 
honrado  e  de  não  trivial  illustração  na  gerência  dos  negócios  que  lhe  e- 
ram  confiados. 

Não  foram,  pois,  auspiciosas  as  condições  espi  ciaes  em  que  o  go- 
verno de  Sua  Magestade,  presidido  pelo  nobre  Duque  d'Avila,  e  que 
ha  pouco  acabava  de  subir  ao  poder,  nomeara  o  Visconde  de  Castilho, 
para  semelhante  commissão  nos  Açores,  tant )  mais  que  era  este  o  pri- 
meiri)  cargo  administrativo  que  elle  ia  servir  e  quando  tinha  por  ante- 
cessor um  cavalheiro  a  quem  os  seus  próprios  inimigos  políticos  não 
negavam  incontestável  competência  para  tão  elevado  cargo. 

No  dia  immedialo  á  sua  chegada  (25  de  Novembro)  tomava  pos- 
se o  novo  Governador  Civil,  tratando  com  a  máxima  consideração  e 
deflerencia  o  seu  edoso  collega  e  demonstrando,  des(ie  logo,  os  mais 
sinceros  desejos  de  administrar  com  acerto  este  Districto. 

E,  eftectivamente,  desde  essa  occasião  mn  incessante  lidar  a  bem 
dos  interesses  das  quatro  ilhas  que  lhe  haviam  sido  confiadas,  assi- 
gnalou  a  estada  nestas  paragens  do  illustrado  Governador  Civil  Cas- 
tilho. Se  a  sua  nimia  delicadesa  a  todos  caplivava.  não  menos  o  cerca- 
va de  respeito  a  publica  consideiagão,  quando  os  seus  administrados 
viam  a  primeira  authoridade  desta  ilha  promover,  por  todos  os  meios 
ao  seu  alcance,  o  seu  desenvolvimento  tanto  material,  como  intelle- 
ctual, 

O  Conselheiro  Santa  Rita  encontrava  no  recem-chegado.  ao  qual 
entregara  o  poder,  um  amigo  dedicado  e  aíTectuoso,  e  as  nomeações 
que  havia  feito,  da  confiança  exclusiva  da  authoridade,  foram  respei- 
tadas, dando  assim  o  Visconde  de  Castilho  um  publico  testemunho  de 
tolerância  e  sensatez  politica. 

A  momentosa  questão  do  atrazo  da  instrucção  primaria  n'este  dis- 
tricto chamou,  immediatamente,  todo  u  cuidado  do  novo  Governador 
Civil  e  n'uma  substanciosa  circular  aos  administradores  de  Concelho, 
e  publicada,  tauíbein.  n.i  imprensa  periódica,  expunha  bem  claramen- 


92  ARCHIVO   DOS  AÇORES 

te  qaaes  as  suas  idéas  a  semelhante  respeito  e  os  ardentes  desejos  de 
que  se  aclinva  animado  de  melhorar  as  precárias  condições  em  que 
n'aqnella  epocha,  como  actualmente,  ainda  nos  achávamos  em  Uidu  (» 
que  dizia  respeito  á  inslrucçãu  popular. 

E  seja  nos  permittida  aqui  a  transcripção  de  alguns  hreves  excer- 
ptos  d'esse  honrosissimo  documento,  que  é  leitura  para  todos  aprovei- 
tável: 

«III.'""  Snr.—  Venho  pedir  a  V.  S.^  que  chame  com  urgência  a  at- 
tenção  dos  Reverendos  Parochos  para  o  importantíssimo  assumpto  da 
instrucçãn  popular.  Elles  podem  muito  nas  povoações.  A  iníluencia  de 
que  dispõe  pela  palavra  e  pelo  sagrado  caracter  do  seu  ujinisterio,  a 
sua  sciencia  e  as  suas  virtudes,  é  indispensável  aproveital-as  em  la 
vor  do  povo,  convidando-os  a  evangelisarem  quanto  possam  o  amor  ás 
letras,  e  a  propagarem,  pelos  modos  directos  e  indirectos,  a  genera- 
lisação  da  instrucção  primaria. 

«E'  banalidade  apresentar  as  vantagens  da  instrucção  dos  felizes 
que  a  possuem:  mas  é  nrgentissimo  preconisal  as  sob  todas  as  formas 
da  persuasão  opportuna  e  importuna  aos  desherdados  da  sorte,  as  po- 
pulações analphabetas.  Cumpramos  todos  esse  dever. 

«Os  pães  lem  uma  responsabilidade  tremenda  no  futuro  bom  ou 
mau  dos  seus  filhos.  Preparar-lh'o  tão  bom  quanto  poderem  é  o  seu 
dever  principal,  e  dar-lhes  a  instrucção  é  o  primeiro  passo  no  cumpri- 
mento desse  dever. 

«Que  significa  aproveitarem-se  de  qualqner  pretexto  para  deixa- 
rem de  mandar  á  escola  os  filhos?  significa,  em  ultima  analyse.  negli- 
gencia pela  felicidade  d'aqnelles  innocentes,  que  a  Piovidencia  Divina 
lhes  concedeu  como  companheiros,  pupillos  e  representantes:  e  essa 
negligencia  é  crime  diante  de  Deus  e  crime  diante  dos  homens. 

«Lembremo-nos  de  que  nas  populações  ruraes  d'este  Districto  ha 
uma  tendência  reconhecida  para  a  emigração;  tendência  que  é  impos- 
sível (e  talvez  inconveniente)  reprimir  de  todo.  Ora  se  o  nivel  da  in- 
strucção subir,  já  os  meios  de  grangear  a  vida  não  hãode  escassear 
tanto,  porque  ha  de  dar-se  uma  de  duas  coisas:  ou  os  pobres  não  e- 
migram  e  a  instrucção  elementar  que  possuírem  os  habilitará  para  ob- 
terem nas  nossas  ilhas  os  meios  com  que  melhorem  de  fortuna:  ou  e- 
migram,  e  a  mesma  instrucção  os  habilitará  para  muito  rnais  favorá- 
veis collocações  commerciaes  ou  agrícolas  nas  terras  forasteiras.» 

Não  será  esta  doutrina  applicavel  a  todas  as  ilhas  d'este  archipe 
lago? 

Não  se  limitava,  porem  a  isto  somente  o  afàn  do  Visconde  de  Cas- 
tilho pelo  ensino  publico,  visitava  amiudadas  vezes,  tanto  as  escolas  pu- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  93 

blicas,  como  as  [larticulares  e  nas  ()rimeiras  estabelecia  prémios  jids 
aliimnos  que  mais  se  distinguissem. 

No  palácio  da  sua  residência  creou  lambem  uma  escola  de  adul- 
tos, poi-  elle  próprio  leccionada,  retribuindo  generosamente,  do  ^en 
bolsinlK»,  os  homens  cjne  á  mesma  concorriam,  pela  maior  |»arte  tra- 
balhadores da  doca,  alguns  d'aqui  mesmo,  outros  da  ilha  de  São  Mi- 
guel. 

E'  indubitável  que  a  sabia  administração  do  Visconde  de  Castilho 
insuflava  uma  nova  vida  no  Districto  a  i^en  cargo,  a  contento  de  todos 
<■  tendo  por  orientação  elevados  e  nobres  sentimentos. 

Todas  as  classes  da  nossa  pequena  sociedade  fazian»  a  devida  jus- 
tiça ás  salutares  intenções  que  animavam  a  sua  primeira  aulhoridade 
administrativa. 

Alem  d'isto  a  maneira  respeitosa  e  a  magoa  profunda  (jiie  de- 
monstrou por  occasião  do  fallecimento,  21  de  Dezembro  de  1877,  do 
Sr.  Conselheiro  Santa  Rita,  fazendo,  em  termos  sentidissimos,  á  bei- 
ra da  sepidtura  do  mesmo  o  elogio  daquelle  respeitável  ancião,  ca 
ptou-lhe  numerosas  sympalhias  dos  amigos  políticos  ou  particulares 
de  um  cavalheiro  que  nesta  localidade  residira  por laigfts  aniios  e  que 
deixava  honrada  memoria. 

Por  estes  tempos,  porém,  occorriam  no  continente  novas  mudan- 
ças ministeriaes,  sahira  do  poder  o  nobre  Duque  d  Ávila,  imperava 
uma  politica  ditferente  e  por  infeliz  Decr^itõ  era  exonerado  da  comniis- 
são  que  tão  dignamente  exercia  no  Districto  da  Horta,  o  Visconde  de 
Castilt)0. 

Semelhante  noticia  foi  aqui,  geralmente,  mal  recebida. 

O  Visconde  de  Castilho  seguio  immediatamenle  para  Lisboa,  no 
mesmo  paquete  em  que  lhe  viera  a  demissão,  deixando  na  im[»rensa 
periódica  uma  saudosa  despedida  aos  habitantes  deste  Districto,  que 
todos  lhe  eram  sinceramente  aíTeiçoados. 

A  sua  permanência  na  Horta  foi  desde  24  dOutubro  de  1877  a 
9  de  Fevereiro  de  1878. 

Alem  da  aptidão  e  notáveis  qualidades  do  caracter  olficial  do  de- 
missionado, o  nome  litterario  de  .Júlio  de  Castilho  já  era  vantajosamente 
conhecido  pelos  estudiosos  e  amantes  d'uma  leitura  sã  e  amena  como  a 
que  se  encontra  nas  paginas  do  seu  livro  O  Eremitério  e  n'outras  diver- 
sas e  apreciáveis  composições  do  mesmo  author,  aureolado  pelo  talen- 
to que  circumda  a  distinctissima  familia  que  teve  a  ventura  de  pos 
suir  por  chefe  esse  cego  venerando,  que  será  sempre  uma  das  nossas 
glorias  nacionaes— António  Feliciano  de  Castilho. 

O  povo  ainda  hoje  diz  que  o  Governador  Civil  de  que  tratâiHos 
veio  a  esta  ilha  por  engano. 


04  ARCHIVO  DOS  AÇOBES 

(1883) 

Já  vae  longo  o  segundo  volume  «1  eslas  pobres  Notas  Açorianas, 
t'  o  paciente  leilor  está  desejando,  assim  como  nós,  mais  variado  as- 
sumpto. 

Temos,  porem,  estado  em  bôa  cíunpanhia  e  vallia-nos,  ao  menos 
isso. 

Terminaremos,  pois,  não  com  chave  de  oiro,  mas  sim  com  uma 
liindade  principesca. 

Assim,  temos  ainda  a  registar  o  seguinte: 

A  bordo  da  corveta  americana  «Trenton»,  procedente  de  Nevv- 
York  cliegi)u  á  bahia  da  Horta  a  17  de  De/.embro  de  1883,  o  Príncipe 
Miiiyou  J-k,  o  qual  estmíra  em  Washington,  na  qualidade  de  ministro 
da  (^)réa,  e  que  recolhia  então  para  o  seu  longínquo  paíz,  ao  norte  da 
(]|]ina. 

Acompanhavam  o  Príncipe  mn  secretario  e  interprete,  sendo  Miuyou 
.I-k  o  primeiro  embaixador  que  a  Coréa  mandara  ás  nações  estrangei-' 
ras  havendo  celebrado  esta  personagem  um  ti-atado  de  commercio  com 
os  Estados  Unidos  da  America. 

O  Príncipe,  vestido  com  os  trajos  do  seu  paíz,  desembarcou  na 
cidade  da  Horta,  indo  jantar  a  caza  do  cônsul  americano,  o  Sr.  Samuel 
W.  Dabney,  visitando  a  egreja  do  (]armo  e  dando  um  pequeno  pas- 
seio pela  cidade. 

Era  homem  ilhistrado  e  muito  amigo  (Jos  comínettímentos  do  pro- 
gresso, que  encarecia  amiudadas  vezes. 

Decorriílo  algum  tempo  depois  da  sua  e^lada  na  Horta,  lemos  nos 
jornaes  estrangeiros  que  em  conseqiiencia  de  uma  revolta  do  partido 
retrogrado  do  seu  paíz,  o  Príncipe  Mmyou  J-k  havia  sido  barbaramen- 
te assassinado,  conjunclan}ente  com  a  numerosa  facção  politica  que  ii»- 
tentava  implantar  na  Coréa  alguns  modernos  tentames  civilísadores. 

Pa/,  á  sua  memoria. 


AKCHIVO  DOS  AÇOKES  95 


(1884) 

A  8  de  Fevereiro  de  1884  fundeava  tamhem  net^te  porlo  a  cor- 
veta allemã  «Olga»,  procedente  das  Bermudas,  fazendo  parte  da  sua 
guarnição  o  Príncipe  Henrifjue,  da  Allenianha,  filho  segundo  do  Prin- 
cipe  herdeiro  daquella  nação  e  neto  do  Imperador  Guilherme  e  da 
({ainha  Victoria. 

Trocadas  as  salvas  do  esiyilo,  S.  A.  R.  foi  cumprimentado  pelas 
íiuthoridades  fayalenses  e  por  diversos  cônsules,  que  todos  embandei- 
raram as  suas  residências. 

O  Piincipe  Henrique  veio  a  terra  amiudadas  vezes  e  no  dia  10  a- 
companhado  do  cônsul  allemão,  o  Sr.  Herbert  Dabnry  e  de  alguns  of- 
ficiaes  de  marinha,  da  «Olga»,  visitou  a  encantadora  Caldeira  d'esta 
ilha,  admirando  muito  a  esplendida  prespectiva  que  das  cumieiras  da 
mesma  se  gosa. 

A  «Olga»,  depois  de  refrescar  e  tomar  carvão,  sahio  deste  porto 
no  dia  15  de  Fevereiro. 


(1885) 

O  Príncipe  de  Mónaco  esteve,  egualmente,  no  Fayal,  no  dia  \o  de 
Fevereiro  de  1885,  abordo  da  escuna  monagestica  «Hirondelle»,  de 
que  é  proprietário.  A  sua  [irocedencía  era  de  Lorient,  em  1 1  dias  de 
viagem. 

Já  era  aqui  conhecido  este  personagem,  porquanto  em  1879,  em 
viagem  de  recreio,  aportara  à  bahia  da  Horta,  naquella  mesma  ele- 
gante embarcação,  mas  então  com  apparelho  de  hiate. 

O  motivo  da  segunda  viagem  do  Príncipe  de  Mónaco  a  estas  pa- 
ragens, tinha  d'esta  vez,  um  desígnio  utilitário  e  scientifico.  qual  o  de 
indagar  as  direcções,  das  correntes  do  gtilf  atream,  tarefa  esta  a  que 
se  entregava  com  verdadeira  dedicação,  lançando  n'estes  mares  mui- 
tos fluctuadores,  que  mais  tarde  tem  sido  encontrados  e  remeltidos  ao 
governo  francez,  segundo  as  indicações  nos  mesmos  consignad<»s,  in- 
dicando os  remettentes  a  latitude  em  que  foram  encontrados. 


96  ABCHIVO  DOS  AÇORES 

Islo,  melhor  ih  <\ue  o  seu  pequeno  Estado,  notável  principalmeu- 
le,  por  ser  um  poulo  de  reunião  paia  jogadores,  rivalisandoo  Casino 
C(tm  Spa  ou  Baden-Baden,  fará  seguramente  á(|uelle  Príncipe  uma  b()a 
reputação  nas  nações  da  Europa. 


E"  possivel  qu*í.  pela  malha, deixássemos  passar  desapercebida  a 
visita  de  algum  homem  notável  à  ilha  do  Fayal,  registamos,  porém,  o 
nome  de  lodos  aquelles  de  que  tivemos  noticia,  e  isto  até,  por  vezes, 
com  ceita  prolyx idade. 

Ainda  assim,  mesmo  que  se  dè  semelhante  facto,  ficaremos  sa- 
tisfeitos, pois  é  conveniente  deixar  sempre  algum  trabalho  para  quem 
nos  succeder,  acrescendo  ainda  que  Napoleão  I.**  recommendava  aos 
seus  subordinados:  Pas  trop  de  zele,  Mr.  le  Perfect. 

Na  ilha  do  Pico,  para  nos  servirmos  d'uma  comparação  açoriana, 
ha  rabiscos  de  vinha  que  dão  quasi  uma  segunda  colheita,  quando  ff- 
feituados  por  gente  esperta,  d  olho  vivo. 

E'  o  que  desejamos  também  que  nos  aconteça  neste  campo,  aon- 
de, (jual  (jbscuro  trabalhador,  temos  apenas  cultivado  algumas  infesa- 
das  plantas,  creadas  entre  informes  calháos  e  valentes  silvados. 


COLLECÇAO  ])E  DOCUMENTOS 

RELATIVOS 
As    ILHAS    DOS    AÇORES 

(Continuado  do  Vol.  Vil,  pag  326.) 


Alvará  para  dar  131^073  rs.  a  João  Serrão,  dos  Açores, 

importância  de  certa  fazenda  que  lhe  fora  tomada  na 

índia;  Abril  de  1516. 

l)i»m  iMaiiiiell,  por  graça  de  De.os  rey  de  Porlugall  e  dos  Algarves 
il;i(|iiem  e  úãlem  mar  em  Africa  senhor  de  Guiné  e  etc.  a  vos  Gnomça- 

U)  Lopes ú'ds  iWrds  ão&  d  cores  (deste  presente  aiUíO)  úe 

h  e  xb  (lõlô),  des  a  Joatn  Serão cemto  e  trimta  e 

liiini  inill  e  setemta  e  três  reaes  que  lhe  são  devidos  em  parte  dos  b^xxxbij 

\\\iij  {537078)  rs que  lhe  o  vissorrey  na  Inidia  to- 

iiiiiH depois  foy  julgada  per  ssenímça 

ii;i  (|iial  iiiomtou  os  ditos  WxxxMj  locxiij  ÕS7S073)  rs.  .  .  porque 
os  mais  que  falecem  leva  áesemhargados  em  outras  partes,  e  hum  no- 
so  alvará  que  tinha  dello  per  que  lhe  foram  despachados  foi  roto  ao  a- 
synar  deste e  vos  fazelhe  delles  bom  pagamento  sen- 
do primeiro  Ctírtificado  por  certidam  do  escrivam  do  feito  domde  a  di- 
ta semtemça  sa/o  de  qao^fica  posta  verba  nele  que  ouve  pagnamento 
deles  em  vosa  mão,  e  com e  seu  conhecimento  vos  se- 
rão levados  em  comta.  Feito  em  .  .  aos  .  .  .  dias  dabrill.  El 
rey  o  mandou  per  Dom  Pedro  de  Castro  do  seu  conselho  e  veedor  de 
sua  fazemda.  Manuell  de  Moura  o  fez,  ano  de  y  h  ibj  {lõl6)  annos. 
Dom  Pedro  de  Castro. 

Cxxxj  Ixxiij  ílSlé>073)  reaes  a  Joham  Sserrão  na  Ilha  dos  açores 
isic)  em  parte  dos  b'^xx\bij  Ixxiij  [Õ37S073)  reaes  que  lhe  sam  devi- 
dos e  ouve  per  semtemça  de  certa  fazemda  que  lhe  na  Imdia  foi  t(j- 
mada  por  ipie  os  mais  leva  em  outras  partes. 

N."  íi  — Vol.  VIII  -  1886.  I 


98  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

Recebeu  Joam  Saram  de  Gomealo  Lopez  os  cemlo  e  Irimta  e  Iíiih! 
mill  selemta  e  três  rreaes  cunllieiídos  neste  desembargo  dos  quaes  lhe 
deii  este  eonliecimento  per  mim  escrivam  e  asinado  per  ambos  a  xx 
{20}  dias  de  março  de  b^xbij  (Í5i7). =NunoMascarenhas=Joliam  Ser 
ram. 

No  verso 
Lançado,  Perv  da  Fonseca. 

Rodericus. 

Fyqiia  posta  verba  no  fnyto  do:nde  sayo  esta  semtemça  de  (pie 
faz  mençam  este  desembargo  de  como  passou  este  pêra  Gonçalo  Lo- 
pez  ele.  e  en  Tomé  da  Mota  se[)rivam  a  pus  ojV  dez  de  dezembro 
de  y  b  xb  iíõlò)  anos.  Tomé  da  Mola;  de  cento  tiimta  e  hum  mill 
e  setenta  e  três  reaes.  Tomé  da  Mota. 

Registado — Afonso  Figueira. 

(Arch.  nac.  da   T.  do  T..  Fragmentos.) 

As  datas  d  'estes  dociimeiítos  não  parecem  exactas. 


Despesa  da  cevada  da  Rainha  nossa  snra  comprada  nos 
Açores;  1  d  outubro  de  154:5. 

II.  Comprou  Jerónimo  Pachequo  feytor  deli  Rey  noso  snor  em  es- 
tas ylhas  dos  açores  a  Amtonio  Nunez  mercador  morador  em  vila  Nti 
\a  de  Portimão  coremla  moios  de  cevada  a  [)reço  de  mill  e  quinhem- 
los  e  sesemla  reaes  bo  moyo  em  que  momtou  sesemta  e  dous  mill  e 
quatro  cemtos  reaes  hos  quaes  coremta  movos  vyeram  da  vil  ia  r.i;i- 
ciosa  e  ífnrão  no  navyo  de  Dominguos  donçalvez  morador  na  yllia  Ter- 
ceyra  bí\i  luf  {62^400). 

It.  Paguo  o  dito  feytor  ao  dito  mercador  de  carretos  da  dita  ce- 
vada e  custos  que  com  ela  tinha  fpylos.  a  saber:  esteiras,  tramqua. 
e  ystiba  e  avallyas  do  navio  em  (jue  ha  tinha  caregunda  por  lha  asy  to- 
mar caregada  três  mill  e  oyto  cemtos  reaes— íí]  biij'.  iJJòSOih 

It.  Comprou  mais  ho  dito  feitor  sesemta  e  cimquo  moyos  e  cint- 
quoenía  alijueires  de  cevada  a  (íracia  Gonçalvez  e  Doniz  Alvarez  mo- 
radores na  yllia  Terceira  a  preço  de  mill  e  (piinhentos  reaes  o  moyo 
em  que  montãn  novemta  e  oyto  mil  e  sele  cemios  reaes'  os  (piaes  se 
semta  e  cynupKt  moyos  e  cymipioemla  alipieires  forão  n<t  navyo  S.im- 
ta  Cruz  de  que  era  mestre  Rastião  Fernamdpz  Matozo,  morador  em 
Aveiro— ÍFEíi]  bi.j^  {98^700) 

It.  Pagou  o  dito  feytor  ao  dilo  mestre  de  seu  meo  frete  damte- 
mão  dez  mil  e  sele  cemios  e  rymte  e  cimquo  reaes  ipu'  se  lhe  mom- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  99 

lon  aver  a  rpzão  de  seis  ceiíitos  e  ciinqiioeiUa  reaes  |)or  tonelada  — x 
hij  xxb.  [10fi>72ò) 

Jt.  1'agijoii  mais  o  dilu  feylor  a(j  dilo  ruestie  de  suas  avalias  seis 
fcmtos  e  sesenila  reaes  a  rezão  de  vyinte  reaes  por  tonelada— jjj' In. 
( WO) 

It.  Pa»n(jii  mais  o  dilo  fi.-itor  de  duas  caradas  de  tramqna  e  esti- 
ba  e  asy  de  cíjremla  e  cimqiio  esteiras  que  comprou  a  vymte  reaes 
por  esteira  e  liuu  alqueire  com  que  se  médio  a  dita  cevada  que  o  di- 
to mestre  com  syguo  leva  pêra  a  entreguar  por  ele  que  custou  sesem- 
ta  reaes  em  que  se  momtou  ao  todo  mill  e  ceuilo  e  sesemta  reaes 
7  c"^  Ix.  {U160) 

II.  Pagiiou  mais  de  careto  da  dita  cevada  dos  graneis  ao  porto  e 
dailugueres  de  sacos  a  trimta  reaes  por  moyo  em  que  montou  ao  to- 
do mil  e  novecemtos  e  oitemla  reaes — J  ix*-  Ixxx.  (i)!5í^8C>) 

It.  Couíprou  João  de  Bellas  e  Gonçalo  Diaz  n"esta  ylha  de  Sami- 
giiel  a  diversas  pesoas  oytemta  e  oylo  moyos  e  vimte  e  três  alqueires 
de  cevada  com  lios  quaes  fizeram  de  custos,  a  saber:  compra,  care- 
tos,  tramqua,  estyba  e  esteiras  e  avallias  do  navio  cemto  e  trimta  e 
sete  mill  e  oyto  cemtos  reaes  e  tamtos  Uie  levou  em  comta  o  dito  fei- 
tor dos  dinheiros  que  lhe  mamdou  da  Ilha  Tenreira  omde  estava  fa- 
zemdo  seu  negocio  e  íorão  hos  ditos  oytemta  e  oyto  moyos  e  vimte  e 
três  all(|ueires  de  cevada  no  navio  Comseyção  de  que  he  mestre  Joam 
dos  Samtos  morador  em  Aveiro — c'°xxxbij  biij^  il37Í!>800) 

It.  comprou  mais  o  dito  feitor  em  esta  Ilha  de  Samiguel  a  Afomso 
de  Matos  e  a  Francisco  Perez  moradores  na  Pomta  Dellgada  vymte  e 
três  moyos  e  coremta  e  sete  allqueires  de  cevada  a  preço  de  mill  e 
seis  cemtos  reaes  o  moyo  em  que  momtão  trimta  e  oyto  mill  reaes  os 
(juoais  vymte  e  três  moyos  e  rbij  {47)  alqueires  que  leva  Gomçalo 
Diax  no  navio  em  que  ora  vay  o  qual  veo  fretado  da  casa  de  Ceuta  pê- 
ra el  Rey  noso  senhor  e  ho  mestre  dele  se  chama  Jorge  Afomso  mo- 
rador n'Atouguia  xxxbiij  rs.  (38^000) 

It.  Paguou  o  dito  feitor  de  careto  dos  ditos  vymte  e  três  moyos 
de  cevada  e  coremta  e  sete  allqueyres  a  rezão  de  coremta  reaes  por 
moyo  com  allugueres  de  sacos  em  que  momtou  ao  todo  nove  cemtos 
e  sesemta  reaes — ix'lx.  (960) 

It.  Paguou  mais  o  dito  feitor  de  tramqua,  estiba  e  esteiras,  a  sa- 
ber: de  vimte  esteiras  a  vimte  reaes  cada  hua  e  de  duas  caradas  de 
trauKjua  e  estiba  duzentos  reaes,  que  são  ao  lodo  seis  cemtos  reaes, 
e  o  frete  e  avallias  deste  navio  se  amde  paguar  a  Johão  Roiz  de  Se- 
queyra  tesoureiro  mór  da  casa  de  Ceuta  a  rezão  de  sele  cemtos  e  vym- 
te reaes  por  tonelada  por  que  elle  o  fretou  pello  dito  preço  pêra  ell 
Rey  nosso  senhor— bj*^.  (600) 

As  quoais  despesos  o  dito  feitor  fez  per  amte  mim  Ballt«^zar  de  Zu- 
rara scripvão  de  seu  carego  asy  e  pella  maneira  que  atras  estam  decla- 
radas ('  per  amte  o  dito  Gomçalo  Diaz  e  por  todo  pasar  na  verdade  a- 


100  ABCHIVO  DOS  AÇORES 

siiiamos  esle  r»)l  delas  na  Pomta  Dellgada  da  yllia  de  Sainiguel  ao  pri 
líieiro  dia  dmitnbro  de  1545  aiios  em  o  qiiuall  se  muiiitdU  ao  tudo  com 
tjiioatro  alkjLieires  cjue  custarão  duzentos  e  corenta  reaes  de  que  ficãn 
por  pôr  nas  despezas  atraz,  Ires  que  custarão  cemlo  e  oylenta  reaes 
que  com  tndo  soma  ao  todo  esta  conta  trezentos  e  cimíjuoenta  e  seis 
mill  e  novecentos  e  sesemta  ecimijuo  Cf»M]  estes  cemto  e  nyteinta  reaes 
acima — ijj^Jbj  ix*"  Ixb.  {3õ6'ii>9ò'ô) 

Jerónimo  Pacheco — Balltesar  d'Azurara=Joam  Dia:  dr  Carral/m. 

Sam  ij'  xbiij  (218)  moyos  o  qne  se  compraram. 

Está  emtregue  na  cevadaria  19 i  moios  48  alqoçires  •• 
•à>y  fica  felecendo  da  que  se  compruu  !:23  moyos  e  xij  (12 
alqueires. 

Hegistado,  Amtonio  de  Sampayo. 

íArch.  imc.  da  T.  do  T.,  Corp.  Chroii.   Pari.  1^  moç.  !j9—74. 


Carta  do  Corregedor  o  Dr.  Luiz  da  Guarda  a  el-rei;  6  de 
Julho  de  1551.  (Conflicto  com  o  Ouvidor) 

Seniior=0  amio  pasado  escrevi  a  V.  A.  como  o  ouvidor  doca[)itã(i 
de  São  Miguel  mandara  aos  Juizes  da  dita  Ilha  que  me  não  obedeces- 
sem nem  compri>sem  meus  mandados  e  diso  mandei  ;iMtos  a  V.  A. 
que  foraii)  enlicgnes  ao  doctor  Joam  de  liairros  escrivão  da  Camaia 
e  que  eu  não  iria  a  dita  lllia  pêra  niso  prover  (lorque  não  podia  lá  em- 
trar  .-^e  não  em  Janeiro,  Fevereiro, Man;o  e  Abril  conforme  a  do.ição  dn 
capitão  e  pci'  se  escusarem  deferenças  (Om  o  dito  ouvidor  de  que  se 
podia  seguir  puuqiio  serviço  de  Deos  e  de  V.A.  e  inquietação  do  po- 
vo pedia  a  V.  A.  mandasse  ver  os  ditos  autos  e  me  mandasse  o  (|ue 
niso  fizesse  e  até  aguora  nuraqua  vi  despaclio  delles  eu  não  pude  liii' 
a  dita  Ilha  este  anno  no  tempo  que  la  [)odia  entrar  por  soceder  este 
inverno  passado  hir  as  lllias  de  baixo  fazer  correição  e  andar  la  alé 
Páscoa;  e  V.  A.  me  escreveo  (jue  soubesse  se  se  diziam  em  todas  es- 
tas Ilhas  as  nossas  do  Infante  Dom  Anriíjue  conforme  a  seu  te>tamen- 
to  e  se  se  pagava  aos  capellães  e  que  as  Ilhas  a  (pi»>  eu  não  podessc 
hir  pasase  caitas  pêra  os  ouvidores  e  Juizes  pêra  fazerem  a  dita  deli- 
gencia  e  (jue  ma  mandassem  pêra  a  eu  mandar  ao  doctor  Joam  Mon- 
teiro coin  a  (jue  fizesse:  eu  mandei  pasar  cartas  pêra  o  ouvidor  e  Juize'> 
da  dita  Ilha  de  São  Miguel  pêra  fazerem  a  dita  deligencia  mandando 
lhe  que  a  fizessem  com  o  treslado  da  carta  de  V.  A.  e  por  me  não 
mandarem  reposta  tornei  a  pasar  outra  carta  pêra  os  dilos  Juizes  qur 


ARCHIVO  DOS  AÇORKS  101 

me  mítndassem  a  dita  deligeiícia  sse  a  tinhão  Icila  c  s.-c  não  (|iit'  ,■■  li 
zesspiii  ou  notefic-assem  ao  ouvidor  (|iie  se  a  tiulia  feita  (juc  uia  man- 
dasse i'es[)onderauime  c|ue  o  ouvidor  a  fizera  e  (jiie  a  tinha  mandada 
ao  Reino  e  indo  o  lahallião  que  fez  a  dita  notifÍ!|ua(;ão  aos  Jiiizi^s  note- 
fiijunt  ao  ouvidor  a  dita  uiinlia  carta  respondeo  ijiie  me  não  obilecia  e 
fliandou  aos  Juizes  que  me  não  obedecessem  como  V.  A.  pode  ver  por 
o  treslado  do  seu  despacho  que  com  esta  invio  a  Y.  A.  crea  (pie  eu 
não  posso  hir  a  dita  Ilha  se  não  uo  leuq)o  que  dito  tenho  quiz  fazer 
sabei'  a  V.  A.  o  que  pasava  pêra  que  mande  o  que  for  seu  serviço 
porijue  não  vindo  recado  de  V.  A.  e  indo  eu  a  São  Migel  eide  proce- 
der contra  o  ouvidor  e  Juizes  como  me  parecer  justiça  [tello  (|ue  V.  A. 
pode  mandar  ver  os  autos  que  e^í^tão  em  [)oder  de  Joam  de  líairros  i* 
ujandarme  o  que  faça. 

Ó  derradeiro  dia  do  uicz  de  juidio  chegou  a(j  [)(ti1(t  desta  cidade  o 
g;deam  da  aimada  euiqne  vem  por  ca{)dão  l^rancisco  do  (^anto  hllio  de 
í^edreaues  do  Cauto  e  a  caravella  dos  recados  loguo  Pedreanes  tomou 
bua  nao  e  huu  navio  que  estavam  no  porto  e  os  mandou  com  muita 
deligencia  concertar  pêra  hu'em  com  o  dito  galeam  a  [laragem  do  Cor- 
vo aguardar  as  nãos  da  índia  couio  foiem  a|)arelha(i(is  ijue  será  nuii- 
to  prestes  segumdo  a  pressa  e  deligencia  (pie  Pedr*  anes  niso  põem 
ioguo  se  fará  á  vella  com  a  ajuda  de  nosso  Senhor  e  [)razera  a  Ueos 
que  traia  as  nãos  da  Indea  a  salvamento  e  hiram  todas  ao  Reino.  Nos- 
so Senhor  acrecente  a  V.  A.  seu  Real  estado  com  muitos  annos  de  vi- 
da e  muita  saúde:  oje  seis  de  JulJio  de  1351  anuíjs. 

O  doctor  Luiz  da  Guarda. 

(Sobrescripto)  A  el  \W\  nosso  senhor  -^  do  C()rregedor  das  Ilhas 
dos  açores. 

[AtrJi.  nar.  da  T.  do  T..  Corp.    Chrouol.  P.'  1.^  mar.  Stí—it."  b'J.\ 


Auto  a  que  se  refere  a  Carta  supra;  (6  de  julho  de  1551 1 

Aos  que  esla  certydam  virem  digo  eu  João  Gonçalves  escrivão  da 
coreição  destas  Ilhas  dos  haçores  e  dou  ííe  que  o  treslado  (pie  habai- 
xo  vai  da  decllaraçam  de  na  certidam  he  da  letra  ho  propio  de  Jotiain 
Martins  publico  taballiam  em  a  cidade  de  Ponta  Dellgada  da  Ilha  de 
Sam  Mygell  que  he  ha  seguinte: 

Certidam  =  dygo  mais  que  iuido  esla  certidãí»  feita  e  asinada  c 
dada  a  Herlholameu  Nunes  que  em  ho  primeiro  dia  <!o  nicz  de  julho 
do  ano  de  myll  e  b''  e  I'"  hu  [lô^lj  annos  llogo  pella  menhã  eu  taba- 
liam  llevei  a  carta  com  ho   auto  daprescntação  do  Juiz  ao  ouvidor  e 


102  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

lhe  amostrei  lodo  e  elie  ouvidor  pôs  per  sua  mão  lio  despaclio  de  que 
li(t  ireslado  é  o  seguinte  por  elle  asinado: 

Não  obedeço  ao  que  me  manda  o  C(nreí>edor  por  que  elle  !iam 
lie  meu  sopriur  nem  pí)de  mandar  em  esta  Ilha  nem  nssar  nella  de 
nhuu  acto  de  jnrdiçam  passados  os  três  mezes  que  p  )r  bem  da  jurdição 
pode  nella  estar  e  fazer  ysto  mais  com  tençam  de  me  agravar  por  to- 
mar a  jurdição  que  não  he  ssua  que  por  requerer  justiça  que  bem  sa- 
be elle  que  no  casso  he  feito  e  os  papes  qu(í  já  corerão  pello  (jue  se 
allgua  cousa  quer  rogue  e  requeira  como  costumam  os  jullgadores  e 
não  mande  puis  lie  doutra  jurdição  poi'  o  que  mando  aos  juizes  que 
lhe  não  obedeção  nem  cumprão  seos  mandados  no  tempo  que  ho  co- 
regedor  na  Ilha  não  residir  porque  hos  não  pode  mandar  senão  per 
rogo  por  não  serem  seos  inferiores  mais  que  ho  temp.)  que  pessoalmen- 
te na  Ilha  reside  e  asi  lhe  mando  que  ho  cumpram  so  pena  de  priva- 
são  do  hoficio  e  vinte  cruzados  pêra  os  cativos  e  quem  hos  acusar  e 
com  a  mesma  pena  mando  aos  tabaliães  que  lhe  notefiquem  e  me  dem 
rellação  do  caso.  E  com  ho  dito  despacho  me  torney  ao  dito  Juiz  Es- 
tevão Allvez  e  lho  amostrei  e  n(jtefiquei  e  visto  por  elle  Juiz  me  man- 
dou (pie  com  ho  dito  theor  delle  mandasse  esta  certidão  au  sõr  Core- 
gedor  com  ha  que  ja  eslava  feita  atras  a  quall  lhe  pasei  mais  esta  de- 
dlaração  oje  dito  primeiro  de  Julho  de  myll  e  b  e  1'*  e  hu  [lõõi)  ân- 
uos e  asinei  Johão  Martims  tabaliam  o  escprevi  por  verdade. 

O  quall  treslado  consertei  com  ha  própria  certidão  que  íiqua  em 
poder  do  (loregedor  e  consertei  com  elle  oje  seis  dias  d)  mez  de  julho 
anno  de  mill  e  b  e  I**  hu  (lõôl)  anos. 

Comcertada,  Juam  Gonçalves  (1551).  =  Comcertada,  comigo  o  do- 
ctor  Luiz  da  Guarda. 

{Arch.  nac.  da  T.  do  T.,   Corp.  Chronol.  P.'  2^  maç.  242 -n.''  87.) 


Nomeação  de  Francisco  Dias.  para  o  cargo  de  Condesta- 
vel  dos  Bombardeiros  de  Ponta  Delgada;  9  de  julho 

de  1556. 

Eu  Eli  Rey  (*)  faço  saber  a  ijuantos  este  meu  allvara  virem  que 
confiando  eu  de  Francisco  Diaz,  Bombardeiro,  natural  da  Ilha  de  Sam 
Migel  que  no  cargo  de  condestabre  da  cydade  de  Ponta  Dellgada  da 
dita  Ilha  me  servirá  bem  e  fielmente  como  a  meu  serviço  cumpre  e 
por  lhe  fazer  mercê  ey  por  bem  e  me  praz  «pie  elle  sirva  o  dito  car- 
go em  quanto  o  ouver  por  bem  e  não  mandar  o  ("ontrario  e  avera  com 

(•)  D.  Jofio  :}.". 


AKCHIVO  DOS   AÇOhES  103 

elle  em  cady  Imm  aiinu  o  maiiliiiieiitu  ao  dilo  ollicio  oídeiiHilo  e  t<)(In> 
os  [jrois  e  precal(,-os  que  lhe  (lireilaineiile  perteiiicerem.  E  [xir  taiiUi 
o  nolefu'»»  asi  ao  contador  de  minlia  fazenda  na  dila  Ilha  e  mandollit' 
que  niela  ao  dito  Franci>co  Diaz  em  posse  do  dito  carguo  e  lho  leixe 
pella  dita  maneira  servir  e  aver  o  dito  mantimento  proes  e  peri;all(;os 
como  dito  he  dandollie  [tiimeiro juramento  (pie  bem  e  verdadeiramen- 
te o  sirva  guardando  em  todo  o  que  eumpre  a  meu  serviço  o  qual  car- 
go crio  ora  novamente:  e  (juero  e  me  praz  que  e^te  valha,  tenha  (orça 
e  vigor  como  se  fosse  caita  feita  em  meu  nome  e  asellada  do  meu  sel- 
lo  pemdemle  sem  embargo  da  ordenação  do  segundo  livro  tit.''  20  que 
dispõe  o  contrario.  Adriam  Lúcio  o  fez  em  Lisboa  a  nove  de  julho  de 
mil  b  e  Ibj  (1556)  André  Soarez  o  fez  escrever,  {resalva  dos  vimiiloí!) 
— Comcertado,  João  da  Costa=Comcerlado.  António  dWguiar. 

{Airh.  nac.  da  T.  do  T.,  Lie."  IV  de  f).  S>^b.,  /.  104.  i 


Ordem  da  Rainha  para  Jeronymo  Pacheco  ser  pagro; 
13  d'agosto  de  1556. 

Alvaio  Lopez.mandovos  que  pagueys  a  Jeronymo  1'acheco  feitor 
que  foy  dei  Key  meu  senhor  nas  Ilhas  dos  açores  o  anno  de  qninhenr- 
los  coremla  e  cimco;  cemto  novemta  e  hum  mdl  e  s^semla  e  ties  reaes 
pêra  comprimento  dos  trezemtos  e  timcoemta  e  seys  md  nove  cemtos 
sesemta  e  cimco  reaes  que  desjtemdeo  em  compra  de  dozemtos  e  de- 
zoyto  uKtyos  de  cevada,  fretes  e  despezas  que  com  ella  fez,  que  per 
meu  mandado  com[)rou  nas  ditas  Ilhas  segimdo  [)arpce  per  esta  cer- 
tidão atraz  escri|)ta  de  Baltezar  de  Zurara  escryvão  de  seu  cargiK»: 
porque  os  cemto  sesemta  e  cimco  mil  uovecemtos  e  dous  reaes  que 
ialectm  pêra  com[)rimento  dos  ditos  trezemtos  cimcoemta  e  seys  mil 
nove  cemtos  sesemta  e  cinco  reaes  foy  paguo  delles  [)er  hua  provysão 
dei  Rey  meu  senhor  jtera  lhe  serem  levados  em  despesa  na  comta  (pie 
do  dito  carguo  da,  os  quaes  a  fazemda  de  sua  A.  devya  a  minha  fa- 
zenda de  cemto  trynUa  e  sete  arobas  e  vimte  e  sete  arates  daçuqar 
(jue  me  ficarão  poi-  paguai-  do  anno  de  (piinhentos  e  cimcoenla,  e  dos 
ditos  d(»zemtos  e  dezoito  moyos  de  cevada  forão  emtregues  em  minha 
cevadaria  cemto  novemta  e  quatro  moyos,  e  coremta  e  oyto  alqueires 
que  estão  careguaíJos  em  receita  sobre  Fernão  Carvalho  com  o  nome 
em  bramquo  da  pessoa  de  que  se  receberão;  I)eclarar-se-a  na  dita  Re- 
ceita como  >e  receberão  de  Jerónimo  Pachequo  pella  maneira  acima 
declarada  e  catorze  moyos  e  dez  alipieires  de  cevada  ipie  recebeo  (iom- 
çalo  Vaz  que  foy  meu  reposteiro  de  que  deu  comta,  e  coreiuta  e  seys 
alqueires  porque  se  descontaram  uovecemtos  oitemta  e  ties  reaes  a 


104  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

Bustiãõ  Feni.imlt^z  nieslie  dd  (pie  ;ivia  ilaver  tJe  frete  de  certa  cevada 
que  ln)(i\e  a  (|iie  lalecerão  na  inedyda  aleiíi  da  (juebra  ijue  lhe  foy 
liada,  os  (lil)s  coremta  e  seys  alqueires  sc^jiiiiido  se  declaia  na  areca- 
daçãt)  da  onwU  de  I)i(»giio  Celema  a  folhas  xxbij  {27)  iJelIa;  e  dos  oi- 
to inoyos  e  dezaseys  alqueires  que  falecem  peia  comprimento  dos  di- 
tos dozemtos  e  dezoyto  moyos  de  cevada  que  comprou  faço  mercê  de 
dar  de  quebras  ao  dito  Jerónimo  Paclieqiio  avemdo  respeito  a  comprar 
a  dita  cevada  per  meu  uiandado.  e  não  querer  que  por  me  servir  elle 
perdese  nada:  os  quaes  cemto  novemta  e  hum  mil  ses'^mta  e  três  reaes 
lhe  paguareys  pomdose  primeiro  verba  na  receita  de  rernão  Cai  valho 
e  asy  na  conta  que  deu  o  dito  Gonçalo  Vaz  como  foy  paguo  de  todos 
os  ditos  trezemtos  cimcoemta  e  seis  mil  novecemtos  sesemta  e  cimco 
reaes  pt  lia  maneira  acima  e  atraz  declarada;  e  per  este  com  seu  co- 
nhecimento feito  |)ello  escryvão  de  voso  carguo  e  as  ditas  verbas  vos 
serão  levadas  em  comta  os  ditos  cemto  novemta  e  hum  mil  e  sesem- 
ta e  três  reaes  e  este  se  coinprirá  posto  que  não  passe  pella  chancel- 
larya.  Bastião  da  Fonseqiia  o  fez  em  Lixboa  a  treze  dias  do  mez  da- 
goslo  de  mil  quinlientos  cimcoemta  e  seys.  Amtonyo  de  Sampayo  o 
fez  esprever^  Bayiilia.  Dp  Noronlia. 

Pêra  Álvaro  Lopez  pagiiar  a  Jerónimo  Pacheqinj  feitor  (jue  foy 
lias  Ilhas  dos  açores  c'°  Irj  Ixiij  {191é06S\  rs.  para  cumprimento  dos 
iij<-lbj  i.V^  Ixb  {3õô'é065)  reis  que  valeram  ij*^  xbiij  (218)  moyos  de  ce- 
vada que  lai  comprou  pêra  a  cevadarya  de  V.  A.  por  que  os  c'°  ixb 
ix*^  ij  i  lò'ôÍ!>.902jVí>.  lhe  são  pagos  por  Ima  provisão  dei  Bey  nosso  se- 
nhor—  pella  maneira  atras  declarada  pêra  V.  A.  ver  e  que  não  pase 
pella  chancelarya. 

Fiipiam  postas  as  verbas  que  requere  este  mandado  acima  na  con- 
ta de  Fernam  {^larvalho  per  mym  em  xxiij  (28)  dagosto  de  b  Ibj  (5õ6i. 

Per  o  Fragoso. 

Fi(iua  posta  verba  na  conta  di;  Gonçalo  Vaaz  em  Ima  adição  dos 
xxiij  (2.>)  moios  XX  (20 1  ahpieires  de  cevada  (pie  dyserão  ser  de  Jero- 
iiyino  Pacheipio  feytor  que  foy  nas  Ilhas  (juando  a  recebeo  como  este 
mandado  de  sua  A.  requere.  Fm  Ij>b.ta  aos  xxxj  (.7i)  dias  dagosto  de 
b  e  Ibj  iõõO).  Felipe  Fialho  Borges. 

Btícebeo  Jeronymo  Pachequo  ijue  foy  feitor  nas  yllias  dos  açores 
do  thezour(,'iro  Álvaro  Lopez  os  cento  noventa  e  huu  inill  setenta  e 
três  reaes  conteúdos  neste  alvará.  Fm  Lisboa  a  xix  {Ift)  de  oitiibro 
de   ir>o(),  .leronirni)  Pac/iequo^=Dioguu  Martins. 

'Arcfi.  ridc.  da   T.  dn  T..  O////.   Chran.  Part.  7.\  maç.  09— 7 i) 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  lOo 


Carta  de  António  Pires  do  Canto  ã  Rainha;  5  de  Agosto 

de  1557. 

Senhora. — Noso  8õr  sabe  que  me  falece  os  esprilos  e  que  já  nã 
tciilio  ser  iiê  poder  pêra  servir  como  servya  a  el  Uey  iioso  sõr  que 
i)eos  tê  è  groria  por(|iie  somente  a  mercê  (]ue  de  sua  A.  tinha  em  ter 
ê  mi  rmiito  coníiança  ainda  que  outras  mercês  me  nã(j  fizera  ;  tendo- 
me  feitas  muitas  abastava  [)era  eu  gastar  a  vida  ê  seu  serviço;  e  já 
que  por  nosos  pecados  permitio  noso  sõr  fiquar  este  Heyno  orfam  de 
tão  santo  Key  e  sõr  lembrouse  elle  ê  leyxar  a  V.  A.  que  tem  conhe- 
cimento (los  que  a  sua  A.  bem  servirão:  a  mi  senõra  a  võlade  de  ser- 
vir nuniípia  me  falecera,  os  espritos  me  falecem  que  de  todo  sam  que- 
biados;  e  por  tanto  muita  mercê  me  fará  V,  A.  este  careguo  mandar 
servir  a  quê  o  milhor  poderá  e  saberá  íazer  que  eu;  que  se  até  qui 
tynha  forças  pêra  o  fazer  davamas  lio  favor  de  sua  A.;  a  el  Rey  no- 
so sõr  esprevo  o  que  se  fez  de  seu  serviço  e  porque  V.  A.  he  hò  pro- 
pio  Rey  e  sõr  noso  nã  diguo  nesta  o  que  na  outra  escrevo  o  que  me 
V.  A.  espreveo  acenpja  das  procelanas  ao  capitão  mor  Lopo  de  Sousa 
as  entreguey;  noso  sõr  a  vida  estado  de  V.  A.  e  dei  Key  noso  sõr  a- 
crescenle  pêra  êparo  deste  Reyno.  Da  Ilha  S.""  a  b  [õ)  de  agosto  de 
1557. 

Amtonio  Pirez  do  Camto. 

{Sohresciipto)  A'  Raynha  nosa  srã. 

DWmtonio  Pirez  do  Canto. 
[Oíigifml  toda) 

[Are.  nac.  da  T.  do  T.,  Corp.  Chron.  PS  IS  maç.  101—94.) 


Nomeação  de  Pêro  Fernandes  para  pesador  do  pastel  na 
ilha  Terceira;  2  de  Novembro  de  1557. 

Eu  El  Rey  faço  saber  aos  que  este  alvará  virem  que  eu  ey  por 
beu)  e  me  praz  por  confiar  de  Pêro  Fernandes  escudeiro  de  minha  ca- 
sa que  me  servirá  bem  e  fielmente  como  a  meu  serviço  compre  que 
elle  sirva  o  oíFicio  de  pesador  do  pastell  da  Ilha  Terceira  por  tempo  de 
(juatro  annos  que  se  começaram  da  feitura  deste  em  deante  aalem  do 
mais  tempo  que  ja  sérvio  o  dito  oíTicio  per  provisões  dei  Rey  meu  Se- 
nhor e  avo  que  santa  gloria  aja  com  o  quall  avera  de  mantimento  or- 
denado em  cada  hum  anno  hUp  {8^000)  rs.  que  são  ordenados  ao  di- 
to ollicio  e  he  outro  Iniilo  como  ouve  o  tempo  que  o  sérvio  pelas  di- 

N.'^  U  — Vol.  Vlll  -  1886.  2 


106  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

las  provisões  os  qiiaes  blíp  {8:$000)rÁ.  lhe  sei-ão  paguos  aa  (Misla  dos 
contratadores  das  rendas  das  Ilhas  dos  açores  semdo  aremdadas  e  nã(» 
o  send )  aa  cnsla  de  minha  fazenda  e  [jortanto  mando  ao  contador  del- 
ia na  contadoria  da  Ilha  Terceira  que  dè  a  pose  da  serventia  do  dito 
olíicio  ao  dito  Pêro  Fernaiidez  e  lho  deyxe  servir  pelo  tempo  de  qna- 
tro  annos  soomente  e  aver  o  dito  mantimento  da  maneira  que  dito  lie 
e  amtes  de  começar  a  servir  lhe  dará  juramento  dos  samtos  evamge- 
Ihos  que  b.  m  e  verdadeirainenle  sirva  guardando  em  todo  meu  ser- 
viço e  as  partes  seu  direito  de  que  se  fará  asemto  nas  costas  deste 
que  ey  por  bem  qne  valha  e  tenha  força  e  vigor  como  se  fosse  carta 
feyta  em  meu  nome  per  mim  hasynada  e  [tasada  ()er  minha  chaiicel- 
laria  sem  embarguo  da  ordenação  do  segundo  livro  til.°  nx  [20)  (pie 
diz  que  as  cousas  cujo  efeyto  ouver  de  diu'ar  mais  de  liu  ano  [lasem 
per  cartas  e  por  alvarás  não  valham.  Dyoguo  Lopes  o  IVz  em  Lisbo.i 
a  dons  dias  de  novembro  de  Jb  e  Ibij  {I5õ7).  E  eu  Dijaite  Dias  o  fiz 
escrever=:i;omcrrtado,  Joam  da  ('osta=^Comcertado,  Pêro  dOliveira. 

{Arch.  nac.  da  T.  do  7'.,  Ur.  Jí  de  í).  Seb..  f.  209  r.'\i 


Nomeação  de  Vicente  Vaz  para  Tabelião  na  ilha  de  San- 
ta Maria,  donde  constam  os  erros  dofficio  de  Ferna,m 
Vaz;  23  de  fevereiro  de  155S. 

Dom  Sebastião  ele  A  quamtos  esta  miiiha  carta  virem  façí>  saber 
(jue  Vicemte  Vaaz  morador  na  Ilha  de  Santa  Maria  me  enviou  dizer 
per  sua  petição  (jue  na  dita  Iliia  he  morador  Fernão  Vaaz  tabaliiun  i> 
qual  he  tabeliam  do  [)nblico  e  judicial  e  sendo  tabelião  como  dito  he  e 
sendo  obriguado  per  seu  legymnnto  citmo  per  leis  di^  Reino  a  usar  de 
seu  oficio  bem  e  verdadeiramente  o  faz  pelo  contrairo  como  fez  que 
sendo  escprivam  de  liu  feyh)  crime  pela  Justiça  contra  hua  Mecia  Diaz 
por  hua  querella  de  adultério  e  e.-lanido  presa  e  lyvrandose  não  ros- 
tou  o  auto  da  prisão  de  modo  ipie  mandou  o  feyto  e  trel.ido  dapelação 
a  esta  corte  com  o  dito  auto  da  [)risão  per  onde  oje  em  dia  esta  a  a- 
pelação  nesta  corte  sem  ser  des()acliada  pur  não  ter  nella  o  auto  da 
prisão.  Outro  sy  sendo  escprivam  de  hua  remataçam  [)er  hua  senten- 
ça de  Fernão  Lourenço  contra  Fernão  Gomez  barbeiro  arematuu  hua 
terra  de  hu  moyo  e  por  continuar  os  preguões  em  dias  aferia(J(»s  e  en- 
trepellar  {hnerpo'ar)  os  lermos  dos  preguões  e  não  pôr  em  allguni  dei 
les  dya  nem  hera  em  (|ue  fora  feyto  pelo  (piai  fty  aremilação  nulla: 
outrosy  trazendo  demanda  huu  Kuy  Fernandes  dWllpoem  contra  hmi 
Gonçalo  Fernandez  e  aveindo  sentença  no  feylo  estando  apellado  pêra 
esta  corte  tirou  a  sentença  do  processo  e  a  deu  á  parle  e  rtfpu-rendo 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  107 

,1  p.Hlc  (jiie  de  s(Mi  níirio  lhe  lirase  e  dese  i:m  eslormento  pêra  eslacor- 
ft'  liio  iiHí»  (|iiiz  iImi'  (!  Ilio  (ieiieiíou:  |iell()s  qiiaes  herros  e  cada  Imm  del- 
les  u  dilu  lei  liam  Vaaz  perdia  us  diiu>  ollicios  e  eu  os  pedia  cuni  direito 
(lar  a  quem  minha  mercê  fose  e  pedindome  o  dito  Vicemt3  Vaaz  que  lhe 
íizese  deles  mercê  pur  quanto  hera  ;qjto  pêra  o  servir:  E  visto  per 
mim  seu  dizer  e  pydir  confiando  delle  ditt»  Vicente  Vaaz  que  he  tall 
(pie  110  (pie  o  encarregar  me  servirá  bem  e  tielmenle  C(jmo  a  meu  ser- 
viço e  a  bem  das  partes  compre  e  [)or  lhe  fazer  mercê  lenho  por  bem 
e  lha  faço  dos  ditos  oficios  se  asi  he  que  o  dito  Fernão  Vaaz  fez  os  di- 
los  erros  e  por  elles  se  perdem  pêra  mim  e  i!ios  eu  com  direito  dar 
p(jsso  e  esta  mercê  lhe  faço  per  virtude  de  huu  meu  alvará  per  mim 
hasinado  e  pasado  per  minha  chancellaria  do  qual  lio  trellado  he  o  se- 
guinte: 

Desembargadores  do  paço.  amigiios,  eu  ey  por  bem  de  fazer  mer- 
cê a  Vicente  Vaaz  morador  na  Ilha  de  Santa  Maria  dos  oficios  de  ta- 
beliam  do  publico  e  judiciall  da  dita  Ilha  se  asy  he  que  Fernão  Vaaz 
cujos  diz  que  os  ditos  otficios  são, os  perde  pelos  herr<)s  conteúdos  na 
pytição  atiaz  escprita  e  esto  não  sendo  elle  já  acusado  por  cada  hu  dos 
(fitos  erros  ou  culpado  nelljs  em  allgus  autos  ou  devassas  ou  inquirições 
jiidiciaes  e  o  dito  Vicente  ^ól  Íá  examinado  e  ávido  por  auto  [apto)  pêra 
servir  os  ditos  ofici(JS  pelo  licenciado  Braz  dAlvide  do  meu  conselho 
e  meu  desembargador  do  paço:  mandovos  que  lhe  paseis  carta  em  for- 
ma dos  ditos  oficios  paguando  primeiro  os  ditos  ordenados  e  porem 
não  havendo  hi  outra  prova  dos  ditos  herros  pêra  o  dito  Fernão  Vaaz 
aver  de  perder  os  ditos  oficios  senão  sua  confição  e  posto  que  os  elle  pe- 
la tall  conlição  perqua  e  sejam  per  sentença  jullguados  por  perdidos 
não  avera  o  dito  Vicenlo  Vaaz  per  virtude  da  dita  carta  os  ditos  ofici- 
os e  eu  poderei  provei'  delles  qualquer  outra  pesoa  que  oiiver  por  bem. 
Baltesar  da  Costa  o  fez  em  Lisboa  a  xij  {12}  de  fevereiro  de  J  b  e 
Ibiij  {1ÕÕ8). 

E  porem  mando  aos  juizes  da  dita  Ilha  de  Sanla  Maria  e  a  todo- 
lo5  outros  oficiaes  e  pesoas  a  que  esta  carta  for  mostrada  e  o  conhe- 
cimento delia  com  direito  pertencer  que  sendo  perante  elles  citado  o 
(fito  Fernão  Vaaz  o  oução  judiciall.nente  com  ho  dito  Vicente  Vaaz  tiran- 
do sobre  o  dito  caso  inquiiição  judiciall  e  indo  peio  feito  em  deanteco- 
mh  he  ordenado  e  achando  o  que  he  asy  <"-omo  o  dito  o  dito{sic)\'icen[e 
Vaaz  perde  os  ditos  erros  ou  cada  hu  delles  o  dito  Fernão  Vaaz  per- 
de os  ditos  (jficios  o  jullguem  asy  per  sua  sentença  defenetiva  dando 
apelação  e  agravo  ás  partes  nos  casos  em  que  com  direito  couber  e 
sendo  o  dito  Fernam  Vaaz  condenado  que  perqua  o>^  ditos  oficios  e  não 
(juereuido  apellar  nem  agravar  da  dita  sentença  vos  apelay  por  parte 
de  minha  justiça  e  não  metereis  em  posse  delles  ao  dito  Vic(M)te  Vaaz 
até  [)rimeiro  mostrar  provisão  do  caso  dapelaçam  e  mostraudoa  emtam 
será  metido  em  pose  dos  ditos  oficios  e  lhos  lleyxareis  servir  e  dt  lies 
iizar  e  aver  as  remdas  e  direitos,  proes  e  precalços  a  elle  direitamen- 


108  AHCHIVO  DOS  AÇORES 

te  ordenados  sem  duvida  nem  embarga  algnm  (jue  llie  a  iso  seja  pos- 
to. E  não  avendo  lii  outra  prova  dos  ditos  erros  pêra  o  ditu  Fernam 
Vaaz  aver  de  perder  os  ditos  oflcios  senão  sua  confisãi)  posto  que  os 
elle  pella  tal  cíjnfisão  perqua  e  sejam  julgados  per  sentenea  per  per- 
didos não  averá  o  dito  Vicente  Va^z  i)er  virtude  desta  carta  os  ditos 
officios  e  eu  provei ei  delles  quallquer  outra  pesea  que  ouver  por  bem 
e  esto  me  praz  asy  não  sendo  o  dito  Fernam  Vaaz  ja  acusad;.-  por  ca- 
da hum  dos  ditos  erros  ou  culpado  nelles  em  alguns  aulos,  devasas  ou 
Inquirições  judiciaes  e  sendo  o  dito  Fernam  Vaaz  condenado  em  per- 
dimento  dos  ditos  ofícios  seilo  ha  mais  em  mil  e  quinhentos  reis  os 
quaaes  fareis  emtregar  ao  dito  Vicente  Vaaz  pejos  paguar  dordenado 
delles  os  quaaes  emtreguon  ao  Recebedor  de  minha  chancellaria  pe- 
ramle  o  escprivão  delia  que  os  sibre  elles  caregou  em  rece[)la  como 
pareceo  per  seu  conhecimento  em  forma  asynado  por  ambos  na  qual 
chancelaria  o  dito  Vicente  Vaaz  jurara  aos  samtos  evamgellios  que  bem 
e  verdadeiramente  e  como  deve  sirva  e  use  dos  ditos  ofícios  e  cumpra 
e  guarde  os  regimentos  que  delia  levar  guardando  em  todo  a  inim  meu 
serviço  e  às  parles  seu  dereito. 

Dada  na  cidade  de  Lisboa  aos  xxiij  (23}  dias  do  n)ez  de  feve- 
reiro, el  Rey  noso  Senhor  o  mandou  pelo  lecenciado  Braz  d"Alvide  e 
per  dom  Gonçalo  Pinheiro,  bispo  de  Viseu  ambos  do  seu  conselho  e  seus 
desembargadores  do  paço  e  petições.  Hoipie  Vieira  a  fez,  ano  do  na- 
cimenlo  de  noso  Senhor  Jhu  ^^\)h  (Jesus  Cliristo)  de  J  b  e  Ibiij  (Jõõ8> 
annos  e  eu  António  Vieira  que  tenho  cargo  descrivão  da  chancellaria 
do  dito  senhor  a  fi/  escrever,  (com  as  resolvas  dos  riscados  e  entrelinhas  i 
Eu  Vicente  Vaaz  nesta  carta  contendo  asynd  aqui  de  meu  publico  sy- 
nall  que  tall  lie  (siijnah  Comcertadri  Roque  V ieira=Conicertada  l*ero 
d  Oliveira. 

(Arc/t.  nac.  da  T.  do  T.,  Lir.  2.^  de  I).  Seb..  f.  83.) 


Mercê  do  offioio  de  Tabelião  a  Joane  Annes  de  Góes.  da 
ilha  do  Fayal;  1  de  março  de  1558. 

D.  Sebastião  ele.  A  quantos  esta  mynha  carta  virem  faço  saber  que 
Joane  Anes  de  Góes,  morador  na  Ilha  do  Fayall  me  enviou  dizer  por 
sua  petição  (jue  servindo  ele  de  vereador  da  dita  Ilha  do  ano  de  "]"  U 
e  Ib  (lôõõ)  hi!U  Symão  Mnzcarenhas  quiz  caregar  camtidade  de  trigun 
pêra  fora  contra  legymento  da  teia  e  ([ue  elh'  suplicante  lho  empedio 
como  justiça  e  por  o  empedimento  o  dito  Mazcarenhas  regislio  com  ar- 
mas e  palavras  em  xxbj  (26)  dagosto  do  dito  ano  de  (pie  fez  autos  com 
him  Lazaro  Diaz  tabaliam  e  o  prendeo  e  pêra  se  lyvrar  da  dita  culpa 
ele  Mazcarenhas.  Iiiiu  Marqnos  Diaz  taliaili;im  do  publico  e  judicial  ou- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  109 

trosy  ii;i  dila  IIIim  lhe  [kisou  liim  estormentu  falso  e  den  nele  fés  fal- 
sas o  (|iial  llie  passou  em  viiiite  e  oyto  dias  de  ji:lli(i  de  b  e  ll»j  (lijõG) 
o  que  lodo  foy  em  prejuízo  dele  sii|)li(-ante  [mv  lhe  dcneíicar  sua  jus- 
tiça dizendo  que  era  suspeyção  emtemtada  ao  esprivani  com  que  fez 
os  autos  e  ímquerições  e  no  ano  de  J  Ij  e  Ibj  {15õG)  fez  hna  procu- 
ração a  Rosa  rlAndrade  moradora  na  Ilha  pêra  seu  marido  l'Yancisco 
d'Utra  sem  esprever  dia  nem  mez  por  que  lhe  deu  de  i^erda  bem 
cem  mill  rs.  Item  mais  iio  ano  de  b  Ij  {lõõl}  sendo  ele  Manpios  l)i;iz 
esprivam  de  Imu  feyto  danlre  Pêro  Gaspar  e  Gonçalo  Anes  na  Ilha  mo- 
radores tirou  folhas  do  dito  feyto  e  meteo  outras  em  contrario  do  que 
tinha  escripto  e  no  ano  de  b  e  ris  {1549)  deu  íTe  que  citara  André 
r-irez  Gularte  pêra  huu  feyto  amtre  elle  e  huu  Amtonio  d'Utra  não  es 
laudo  ele  ao  tal  tempo  na  Ilha  como  se  provara  [)or  o  feyto  que  deu 
ífee  em  comtrario  dos  autos  de  que  estava  escripto.  Item  no  ano  de  b 
e  Ibij  (1507)  em  huu  feyto  amtre  Gaspar  Homem  e  o  dito  Amtonio 
d  Utra  e.vtamdo  pubricada  o  juiz  dele  (pie  não  recebera  bua  apelação 
a  Ima  das  partes,  rospançou  o  não  e  ficava  apelação  rccebiiia  e  tiran- 
do a  parte  estormento  agravando-se  delle  tabaliam  lhe  pagou  as  custas 
poi-que  se  calase  pelos  quaes  erros  e  cada  hu  deles  o  dito  \lar(|uos  Diaz 
perdia  os  ditos  oíicios  e  eu  os  podia  com  diíeito  dar  a  quem  myuha  mer- 
cê fose  pedimdome  o  dito  Joane  Anes  de  Góes  que  lhe  fizese  deles  mer- 
ece por  (juamto  era  apto  pêra  os  servir  e  visto  pt)r  mim  seu  dizer  e 
pedir  confiando  dele  dito  Joane  Anes  que  he  lall  que  no  que  bo  eu 
carregar  me  servira  bem  e  fielmente  como  a  m.u  serviço  e  a  bem  d.is 
partes  comprn  e  por  lhe  fazer  mercee  eu  tenho  por  bem  e  lha  faç.» 
dos  ditos  ofii-ios  se  asy  he  que  o  dit-)  M  irquos  Diaz  fez  os  ditos  ero> 
e  por  elo  se  perdem  pêra  mym  e  lhos  eu  com  direito  dar  poso  e  esta 
mercee  lhe  faço  per  virtude  de  huu  meu  alvará  per  mym  asynado  e 
pasado  per  minha  chancelaria  do  qual  o  tnllado  d*'  veríx)  a  verbo  he 
o  seguinte: 

Desend)argadores  do  paço  amyguos  eu  ey  por  bem  de  fazer  mer- 
cee a  Joane  Anes  de  Góes  m.)rador  na  Ilha  do  Payall  dos  ofícios  de 
tabaliam  do  Publico  e  judiciall  da  dita  Ilha  se  asy  he  que  Marquos  Dias 
cujos  diz  que  os  (htos  ofícios  são  os  perde  pelos  eros  contheudos  na  di- 
ta petição  e  qual  Joane  Anes  foy  examinado  e  ávido  por  auto  (apfo)  pêra 
os  servir  pelo  Licenciado  Braz  d  Alvide  do  meu  conselho  e  meu  desem- 
bargador do  paço  e  esto  me  praz  asy  não  semdo  o  dito  Maríjuos  Diaz 
já  acusado  por  cada  hiiu  dos  ditos  eros  ou  culpado  neles  em  algims 
autos  ou  devasas  ou  Impiirições  judiciaes  mauilovos  que  ao  dito  Ji»ane 
Anes  paseis  carta  em  f<M'ma  dos  ditos  ofícios  pagamdo  primeiro  os  de- 
feitos ordenados  e  porem  não  avemdo  hy  outi'a  prova  dos  ditos  eros 
pêra  o  dito  Marquos  Diaz  aver  de  perder  os  ditos  oíicios  senão  sua  con- 
íisão  posto  que  os  ele  pela  tall  coiifisão  perqua  e  sejão  per  sentença 
julgados  por  perdidos  não  averá  o  dito  Joane  Anes  [jor  virtude  da  di- 
ta carta  os  ditos  ofícios  e  eu  [)oderei  prover  deles  a  ipiallipte/'   outra 


no  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

pesoa  queouver  por  bera.  Balltazar  da  Costa  o  fez  em  Lisboa  a  quim- 
zc  de  k-vereiru  de  J  b  e  Ibiij"  [Iõõ8). 

E  porem  mando  aos  juizes  da  dila  Ilha  do  Kayall  e  a  todolos  ou- 
lids  ftíiciaes  e  pesoas  a  (jiip,  esta  carta  for  mostrada  e  o  conhecimento 
dela  [lerlemcer  (jiie  sendo  perante  eles  citado  lio  dito  Marqnos  Diaz  o 
unção  jndiciallmente  com  o  dito  Joane  Anes  tirando  sobre  o  <lito  caso 
lnqnirii;ã(»  Judiciall  e  hindo  pelo  feyto  em  deante  como  lie  orrienado  e 
achando  qne  he  asy  como  o  dito  Joane  Anes  di/  e  que  pelos  ditos  e- 
ins  ou  cada  hnu  dcdes  o  dito  Marípios  Diaz  perde  os  ditos  oíicios  o  jul- 
guem asy  por  sua  sentemça  definitiva  dando  apellação  e  agravo  ás  par- 
les nos  casos  que  com  direito  couber  e  sendo  o  diio  Manpios  Diaz  con- 
demnado  que  perijua  os  ditos  olicios  e  não  queremdo  apelar  nem  a- 
gravar  da  dita  sentença  vós  apelay  por  parte  de  minha  justiça  e  não 
metereis  em  pose  deles  ao  dito  Joane  Anes  até  primeiro  mostrar  pro- 
visão do  caso  da|)elação  e  mostrandoa  então  será  metida  em  pose  dos 
ditos  uticios  e  lhes  deyxareis  servir  e  deles  usar  e  aver  as  remdas,  di- 
leytos,  proes  e  percalços  a  eles  dereytamente  ordenados  sem  duvida 
nem  embargo  alguu  que  lhe  a  isto  sejn  posto  e  não  avemdo  hy  outra 
prova  dos  ditos  eros  pêra  os  ditos  Marquos  Diaz  aver  ele  perder  os  di- 
tos otricios  senão  sua  confisão  posto  que  os  de  pela  tall  confisão  per- 
([ua  e  sejão  jiilguados  por  sentença  por  perdidos  não  averá  o  dito  Joa- 
ne AiiHS  por  virtude  desta  carta  os  ditos  ofícios  e  eu  proverei  delles 
a  (|iiall  ipier  outra  pesoa  que  ouver  por  bem  e  esto  me  praz  asy  não 
seiid(j  o  dito  Marquos  Diaz  já  acusado  por  cada  huu  dos  ditos  eros  ou 
culpado  neles  em  alguns  autos,  devasas  ou  Inquirições  judiciaes  e  sen- 
do o  dito  Marquos  Diaz  condenado  em  perdimento  dos  ditos  ofícios 
sél-o-ha  mais  em  dous  mill  reis  os  quaes  fareis  entregar  ao  dito  Joa- 
ne Anes  pelos  [lagar  dordenado  deles  os  quaes  emtregou  ao  recebe- 
dor de  minha  chancelaria  pnraiite  o  escripvam  dela  que  os  sobre  elle  ca- 
regoii  em  receyta  como  pareceo  per  seu  conhecimento  em  forma  asy- 
nado  [ler  ambos  na  qiiall  chancellaria  o  dito  Joane  Anes  jurara  aos 
samtos  evangelhos  que  bem  e  verdadeyramente  e  como  deve  syrva  e 
use  dos  ditos  oficios  e  cumpra  e  guarde  os  regimentos  que  dela  levar 
goardamdo  em  todo  a  mim  njeu  serviço  e  às  partes  seu  dereyto.Dada 
em  a  c.ydade  de  Lisb(ja  ao  primeiro  dia  de  março.  El  Rei  noso  Senhor 
lio  mandou  pelo  Licenciado  Braz  d  Alvide  e  por  dom  Gonçalo  Pinheiro 
liis[)o  de  Viseu  ambos  do  seu  conselho  e  seus  desembargadores  do  pa- 
ço e  pytições.  Roque  Vieira  a  fez:  ano  do  nacymento  de  noso  senhor 
Jliuu  x[K)  (Jesus  Christo)  de  mill  b  e  Ibiij  (/õõSiauos:  e  eu  Amtonio 
Vieira  (pie  tenho  cargo  de  scripvam  da  chancelaria  do  dito  senhor  a 
liz  scr"epver.  U'oin  as  resalvas  dm  riscados  e  emendas,  e  o  sitjnal  de  João 
Anes  de  Góes). 

[Airh.  nar.  da  T.  do  t.,   Ur.  I  de  f).  Seh..fl.  ò3  r.".) 


ÀHCHIVO  DOS  ACOHEb  \  1  I 


Nomeação  de  Bartholomeu  de  Magalhães  para  Lealdador 
dos  pasteis  na  illia  Terceira  e  Ilhas  de  baixo,  por  re- 
nuncia de  André  de  Negreiros;  9  de  março  de  1558. 

IJum  Sebastião  ele.  A  tjnaiiitus  esla  minha  carta  virem  faço  >alier 
qiie  por  parle  de  Bertolameu  de  Magalliães  morador  na  eidade  dAm- 
gra  da  ilha  Terceira  me  foy  apresentado  hnii  alvaia  asynadn  pi>r  ri 
Rey  meu  senhor  e  avô  que  sanla  gloria  aja  e  pasailo  pela  (■hanielaria 
de  qne  o  trellado  he  o  seguinte: 

Barão  amigno  en  ey  por  bem  dar  licemça  a  André  de  iNegreyr(L> 
meu  moço  da  Camará  pêra  renimciar  em  Ima  pesoa  apta  o  sen  oíicio 
de  alealldador  dos  pasteis  da  Ilha  Terceira  e  liignares  de  sua  conla- 
doria  (jne  tem  per  minha  carta.  Noleficovoio  asy  e  mando  (pie  apn - 
semlaiidoV(»s  a  lall  pesoa  a  carta  que  o  dito  .André  de  Negreiros  tem 
do  dito  oficio  e  sua  renunciação  lhe  laçaes  ía/er  outra  em  forma  a- 
sy  e  da  maneira  cpie  ao  dilo  AmJré  de  Negreií^os  tem  sendn  asy  apto 
e  pagiiando  primeiro  os  ditos  liordenados.  Uioguo  Lupez  o  fez  em  Li\- 
boa  a  xiiij  [14)  dias  de  março  de  "J  I  e  Ibj  {lõ5ò').  E  en  Duarte  Diaz 
o  fiz  eM'prever.  E  a  pesoa  em  quem  asy  renunciar  o  dito  oficio  o  le- 
raa  e  serviraa  em  quamlo  o  eu  ouver  por  bem  e  não  mandar  (»  con- 
trario e  com  esla  declaração  lhe  será  passada  a  carta  delia. 

Ppdindome  o  dilo  Bertolameu  de  Magalliães  que  lhe  mandase  dar 
carta  em  forma  do  dito  oficio  por  quamlo  o  dito  André  de  Negreiros 
o  renunciáia  nelle  seguuíJo  se  vio  per  hum  pidíliv o  eslormenlo  de  i't'- 
nunciação  que  dizia  ser  feylo  e  asynado  per  António  Gonçalves  publi- 
co tabalião  na  dita  Ilha  aos  xxiiij  (24)  dias  do  mes  doiitidtro  do  ano 
de  b  e  Ibj  {lõõò'i  com  te.Ntemunhas  em  elle  nomeadas.  E  visto  sen  iv- 
querimento  (luerendo-lhe  fazer  mercee  lenho  pnr  bem  e  o  dou  ora  da- 
qui em  deante  por  alealldador  di>s  pasteis  da  dita  Ilha  Terceira  e  das 
outras  Ilhas  debayxo  asy  e  da  maneyra  (]ne  o  elle  deve  ser  e  o  hera 
o  dito  André  de  Negreiíos  com  ho  qual  oficio  avei"á  de  mantimento  em 
cada  hun  anuo  quatro  mill  reaes  e  seis  moyos  de  trigno  que  lie  outro 
lantii  C(<(no  tinha  n  dit(t  André  de  Negreiros  [)er  Mia  carta  que  lhe  se- 
rão paguos  per  ordinárias  no  allmoxarifado  da  cidade  dAngra  á  custa 
dos  rendeiros  das  ditas  Ilhas  .sí"*  foram  arrendadas  e  quando  não  ha 
custa  de  minha  fazenda.  E  por  tanto  mando  ao  contador  da  contadoria  da 
dita  Ilha  Terceira  que  meta  em  pose  do  dilo  oficio  ao  dilo  Bertolameu  de 
Magalhães  e  lho  deixe  servir  e  dele  usar  e  averodito  mantimento,  proes 
e  precalços  a  elle  direitamente  ordenados  e  lhe  dará  juramento  aos 
samtos  evamgelhos  que  bem  e  verdadeiramente  sirva  o  dilo  oficio  guar 
dando  em  lodo  meu  seiviço  e  ás  parle  seu  direito  o  qual  foi  examinadi) 
e  avydo  por  apto  pei'a  o  servir.  E  jinando  a  tpiaesipier  justiças  e  ofi- 


{•)  Falia  esta  |>ala\ra. 


I  12  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

riaes  oiilros  a  que  esta  carta  for  niostriída  que  o  leixem  servir  e  llie  não 
vHão  a  isso  á  mão  e  em  todo  cum[)rão  e  guardem  esta  carta  comon"el- 
la  he  conllieudo  sem  duvida  nem  embargfj  algum  que  a  ello  seja  pos- 
to poi\jiie  asy  o  ey  por  beio  e  pagncu  de  srdenado  do  dito  oficio  em 
ujiídia  (liaucellai-ia  ao  recebedor  delia  oyto  mill  rs.  couio  se  vio  per 
seu  conhecimento  e  ceitidam  do  escprivam  do  seu  cargo  que  os  so- 
bre elle  caregou  em  receyta  e  o  ali  vara'  acima  trelladado  e  a  carta  do 
dito  André  de  Negreiros  com  sua  renunciação  foy  tudo  rolo  ao  asynar 
desta  o  qual  oficio  o  dito  Bertolameu  de  .Magalhães  teraa  e  serviraa 
eui  quanto  o  eu  ouver  por  bem  e  não  mandar  o  contrario.  Belchior 
Alvarez  a  tVz  aos  ix  (9)  dias  do  mez  de  março,  ano  do  nacimento  de 
nosso  senhor  Jhu  xpõ  [Jems  Clirislo)  de  "]"  b  Ibiij  iJõõS)  annos.  Ruy 
de  Figueiredo  Coréa  a  fez  esci)rever,  [com  resalra  dos  riscados).  Con- 
certada, João  da  Costa=Concertada,  Pêro  de  Oliveira. 

{Arch.  rmc.  da  T.  do  T.,  Liv."  Jl  de  D.  Seb.,  f.  214  v.\) 


Alvará  de  17  d'agosto  de  1558.  em  que  se  manda  pagar  o 

ordenado  dos  12  Bombardeiros  de  Ponta  Delgada,  es- 

colMdos  para  fazerem  serviço  nas  armadas. 

Eu  El  Rey  faço  saber  aos  que  este  alvará  virem  que  el  Rey  meu  * 
Senhor  e  avo  que  santa  gloria  aja  ouve  por  bem  por  hua  sua  provisão 
feyta  a  treze  dias  doutubro  do  anuo  de  b  e  lij  {1ÒÕ2)  que  Manoel  da 
(Gamara  do  meu  conselho  capitão  da  Ilha  de  S.  Migel  com  Lourenço  de 
Baldruque  que  a  ella  hya  pêra  estar  por  condestabre  dos  bombardei- 
ros e  o  escrivão  dos  contos  ou  do  allmoxarifado  da  dita  Ilha  buscasse 
e  escolhesse  trimta  omês  moradores  na  cidade  de  Ponte  Delgada  de  ida- 
des e  disposições  convenientes  pêra  poderem  servir  de  bombardeiros 
quando  fossem  necessários  que  serião  examinados  pella  maneira  decla- 
rada na  dita  provisão  e  residirião  e  vivirião  sempre  na  dita  Ilha  e  não 
salrião  fora  delia  e  que  dus  ditos  trinta  bombardeiros  escolhessem  <!o 
ze  os  (jue  lhe  parecesem  mais  suficientes  pêra  me  servirem  em  minhas 
armadas  e  cada  liuu  dos  ditos  doze  bombardeiros  ouvese  de  mantimen- 
to em  cada  hu  anno  hu  moyo  de  trigo  quer  servisem  nas  ditas  arma- 
das quer  \\l\ú,  estando  porem  na  dita  cidade  prestes  pêra  me  servir 
apontando  se  hua  vez  cada  mes  e  que  fallecendo  allgum  dos  ditos  do- 
ze metese  outro  dos  ditos  examinados  em  seu  lugar  e  averião  mais, 
quando  servissem,  o  soldo  na  dita  provisão  declarado  e  que  do  dito 
moyo  de  trigo  que  cada  hu  delles  avia  davei  lhe  seria  dada  outra  pêra 
lhe  per  ella  ser  pago,  per  virtude  da  qual  provisão  forão  feitos  na  di- 
ta cidade  de  Ponte' Dellgada  da  Ilha  de  São  Migell  os  ditos  trinta  bom- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  H3 

hai'(leiros  e  delitos  for.un  escolhidos  e  ap.irladus  pêra  me  servirem  nas 
ditas  mnihas  armadas  iloze  a  saber:  Domiiiguos  Fernandez,  Jullião  Viei- 
ra, Dit^f»  l*irez,  Francisco  Firez,  Allvaro  da  Seiíra,  Feriiain  Guiiçalvez, 
Fernão  de  Aimes,  Gonçalo  Anes,  Gil  Jacome.João  Fernandez,  Francisco 
Fernandez  e  Gonçalo  Pirez  os  (juaes  Ci>m^^çárão  a  servir  o  dito  cargo 
aos  Ireze  dias  do  mes  de  março  de  J  b  1'^  e  seys(iõy6')  segundo  con- 
stou |)'  r  hiia  carta  leslemimhavel  do  Licenciado  Jorge  (Corrêa  Fafez  ou- 
vidor na  dita  Ilha  e  porque  até  ora  lhes  não  foy  dada  provisão  pêra  a- 
verem  o  dito  moyo  de  trigo  lhe  mandei  dar  este  meu  alvará  pelo  qual 
ey  por  bem  e  me  praz  que  cada  hum  dos  ditos  doze  bombardeiros  a- 
cima  nomeados  e  os  que  pello  tenjpo  forem  tenhão  e  ajão  de  manti- 
mento ordenado  em  cada  Inim  anno  com  o  dito  cargo  hum  moyo  de 
trigo  o  qual  lhe  será  pago  no  almoxarifado  da  dita  cidade  de  Ponte 
Delgada  á  custa  de  minha  fazenda  per  este  soo  alvará  gerall  sem  mais 
outra  provisão  aliem  do  soldo  que  mais  ão  daver  servind(j  nas  ditas 
minhas  armadas  no  modo  conteúdo  !)a  outra  provisão  e  por  tanto  man- 
do ao  meu  almoxarife  ou  recebedor  do  dito  almoxarifado  que  ora  he 
e  ao  deante  for  que  dos  ditos  treze  dias  de  março  do  dito  anno  de  b*^ 
Ibj  {1ÕÒ6)  em  deante  em  que  os  ditos  doze  bombardeiros  começarão  a 
servir  dee  e  pague  a  cada  huu  delles  o  dito  moyo  de  trigo  cadanno 
per  este  soo  alvará  gerall  como  dito  he  e  pello  trellado  delle  que  se- 
rá registado  no  Livro  do  dito  almoxarifado  pello  escrivão  delle  e  com 
o  trellado  da  provisão  de  que  neste  faz  menção  e  as  certidões  nella 
declaradas  de  como  os  ditos  doze  bombardeiros  vivem  na  dita  cidade 
e  estão  prestes  pêra  me  servirem  nas  ditas  armadas  mando  que  lhe 
seja  levado  em  conta  todo  o  trigo  que  lhe  pela  dita  maneira  pagar  e 
este  alvará  se  registará  nos  Livros  de  minlia  fazenda  do  negoceo  da 
índia  e  do  allmazem  da  índia  pêra  se  saber  o  mantimento  que  os  di- 
tos bombardeiros  tem  e  quero  que  valha  tenha  força  e  vigor  como  se 
fosse  carta  feyta  em  meu  nome  per  mym  asinada  e  pasada  pela  chan- 
cellaria  sem  embargo  da  ordenação  do  segundo  livro  titulo  vinte  que 
diz  que  as  cousas  cujo  efteilo  ouver  de  durar  mais  de  hum  anno  pa- 
sem  per  cartas  e  passando  per  alvarás  não  valhão.  Symão  Borralho  o 
fez  em  Lisboa  a  xbij  {17)  dias  dagosto  de  J  b  e  Ibiij  iJõõS)  e  asy  se 
registará  este  alvará  no  Livro  do  ponto  dos  ditos  bombardeiros  que  es- 
tão na  dita  Ilha.  E  eu  Duarte  Diaz  o  fiz  escprever  {resalvas  dos  risca- 
dos e  entrelinhas)  Comcertado,  Rotpie  Vieira=Comcertado,  Joam  da 
Cost 


d. 


[Ardi.  nac.  da  T.  do  T.,  Lir."  III  de  D.  Seb.,  f.  146.) 


N."  Vi  — Vol.  VIII  -  1886. 


114  AHGHIVO  DOS  ACOhES 


Mercê  a  João  Gonçalves,  cavaleiro  e  escrivão  da  correi- 
ção e  chancellaria  das  ilhas  de  S.  Miguel  e  Santa 
Maria,  de  uma  pensão  de  12^720  rs.  em  compen- 
sação de  certos  prejuizos;  25  de  novembro 
de  1558. 

Eu  El  Rei  faço  saber  aos  qne  este  alvará  virem  que  Joam  Goii 
çalves  cavaleiro  de  minha  casa  e  escripvam  da  coreiçaiu  e  chancelaria 
das  Ilhas  dos  açores  fez  Ima  petição  a  el  rey  meu  senhor  o  avo  qne 
samta  Cltjria  aja  de  qne  o  treladi»  he  o  seguinte: 

Diz  Joam  Gonçalvez  cavaleiro  de  vosa  casa  (|ue  elle  couiprou  os 
ofícios  descripvão  da  coreição  e  chamcelaria  da  Ilha  de  São  Migel  e 
Santa  Maria  sendo  liua  só  coreição  da  Ilha  Terceira  e  Ilha  de  São  Jorge 
e  Fayall  e  mais  Jlhas  debaixo  em  outra  coreição  e  vosa  alteza  a\eia 
dez  anos  qne  ajuntou  estas  coreições  em  hua  ^ó  e  mandou  qne  os  es- 
cripvães  servisem  todos  juntamente  em  a  dita  coieição  e  elle  siipplican- 
te  pêra  comprar  os  ditos  oíiicii)S  vem<leo  toda  sua  fazenda  que  lhe  de- 
rão  em  casamento  e  lhe  custarão  trezentos  mill  reis  e  os  ditos  ofícios 
forão  somente  na  Ilha  de  São  Migel  e  Stjmta  Maria  e  por  vosa  alteza 
mandar  ajuntar  as  coreições  a  hua  so  elle  supplicante  perde  em  cada 
liu  ano  mais  cyniipioenta  mill  rs  por  elle  ter  duas  estrebuições  na  Ilha 
de  São  Migel  omde  o  coiegedoí'  não  emtra  agora  se  não  três  mi'ze> 
de  dons  em  dons  anos  per  hua  provisão  que  vosa  alteza  comcedeo  a 
Manoel  da  Camará  capilão  da  dita  Ilha  e  bem  asy  he  esprivão  da  rlian- 
celaria  umde  leva  niuito  trabalho  sem  proveito  somente  n.ill  e  nove 
cemlos  rs.  qne  são  p.  ia  livros,  papel  e  timta:  pede  a  vosa  altesa  etn 
satisfação  de>ta  perda  a  vendo  respeyto  a  ser  seu  creado  e  pitbre  coni 
molher  e  filhos  e  aver  muylos  anos  que  o  serve  e  em  seu  serviço  sei' 
ferido  no  ro>to  e  em  hua  mão  pi  r  prender  um  homem  omiziado  e  o 
servir  em  as  naus  da  hidia  e  Mina  (juando  vem  ter  á  cidade  d'Amgra 
na  Ilha  Terceira,  aja  por  bem  que  posa  la  vencer  sua  moradia  omde  lhe 
faz  mais  serviço  (|ue  ne.-t.t  corte  (ju.de  a  ora  vemce  e  e>ta  mercê  lhe 
faça  em  qnamto  a  coreição  amda  jumta  e  laudo  que  >e  dividir  em  du- 
as como  damtes  erão.  ele  su[)()licante  não  (jner  saíisfação  de  vosa  al- 
teza senão  servilo  como  sempre  f^z  e  da  perda  qne  recebe  em  cada 
hun  ano  vosa  alteza  se  pode,  emformar  dos  coregedores  que  ãs  Ilhas 
forão  o  doutor  Andonio  de  Macedo.  Aires  Pires  Cabral,  o  doutor  Ma- 
noel Alvares;  no  (jiie  recetierá  justiça  e  mercec. 

E  amles  de  lhe  sua  alleza  dar  despacho  a  rt'r(|ua  do  (pie  na  dita 
p(  tição  pedia  mandou  [)er  sua  |)iovisão  ao  dontiu  Luiz.  da  Coarda  sem- 
do  coregedor  das  ditas  Ilhas  ípie  se  en.foiuiase  do  contli(  udo  na  dita 
petição  perguntando  sobre  yso  testemunlia>  sem  sos[>eita  ipie  livessem 
resão  de  sat>er  >e  o  dilo  Joam  Goiíçalves  recebe(»  perda  na  mudança 
ajnntameiitõ  das  ctreições  das  ditas  Illia>  e  (piania  perda  podia  rece- 


ABCHIVO  DOS  AÇORES  I  |5 

her  e  de  que  acerqna  diso  acliase  e  da  emformação  que  lomase  e  as 
ditas  pesuas  diseseni  íizesc  Tizer  aiili  ben»  declaiado  o  (|ual  enviase  a 
sua  alteza  sei"ado  e  aseladu  coui  seu  parecer  acerqua  do  que  o  dito 
.loaiu  (ioMçalvtís  requeria  e  o  dito  eoregedor  fez  a  dita  delygencia  da 
uiaueira  tjue  lhe  pei'  el  Rey  meu  senhor  e  avo  foy  ma  ida. lo;  a  qual  vis- 
ta por  uiyui  com  ho  parecer  do  dito  coregedor  que  nela  vinha  e  por 
se  por  ella  mostrar  receber  o  dito  Joam  Gonçalves  nmila  perda  no  dito 
olicio  em  se  ajimtarem  as  duas  correições  que  havia  nas  ditas  Ilhas 
dos  Açores  em  liuua  s(jo  correição  que  ora  mias  ha  como  na  dita 
petição  declara  ey  por  bem  e  me  praz  que  ele  lenha  e  aja  de  my- 
uha  fazenda  doze  mill  setecemtos  e  vymte  reis  em  cada  huu  ano 
em  satisfação  da  dita  perda  que  he  outro  tanto  como  se  monta  na 
moradia  e  cevada  que  de  mym  II. em  a  rtzão  de  setecemtos  reis 
por  mes  de  moradia  e  de  huu  alqueire  de  cevada  por  dia  que  se  lhe 
paga  a  doze  reis  o  alqueire  segundo  ordenamça  de  minha  casa  com 
quaes  xí]  bij*^  xx  {12^720)  reis  asy  terá  e  avera  em  quanto  as  ditas 
correições  andarem  juntas  em  hua  correição  e  se  não  apartarem  em 
duas  (la  maneira  que  dantes  andavão  e  lhe  serão  paguos  no  almoxari- 
fado da  cidade  de  Ponte  Delgada  da  Ilha  de  São  Migel  e  por  tanto 
mando  ao  meu  almoxarife  ou  recebedor  do  dito  almoxarifado  que  hora 
he  ao  deante  for  que  (Jo  primeiro  dia  de  janeiro  do  ano  que  vem  de 
h  e  I  e  nove  {lõô9)  em  deante  dé  e  pague  em  cada  huu  ano  ao  dito  João 
Gonçalves  os  ditos  doze  mill  setecemtos  e  vimte  rs.  e  lhe  faça  delles 
bom  pagamento  aos  quartéis  per  imteiro  e  sem  quebra  posto  que  a  hi 
aja  com  certidão  do  coregedor  das  ditas  Ilhas  de  como  as  ditas  corei- 
ções  andão  jumtas  per  este  allvara  geral  sem  mais  outra  provisão  e 
polo  trelado  dele  que  sara  registado  no  Livro  de  su.i  despesa  peio  es- 
privão  de  seu  cargo  com  conhecimento  do  dito  João  Gonçalvez  mando 
que  lhe  sejão  os  ditos  xi]  bij''  xx  {I2ij>720}  cad.mo  levados  em  comta 
sem  embargo  de  não  irem  em  caderno  dasent^mento  e  do  regymento 
em  contrario  e  porseha  verba  no  Livro  da  matricula  em  seu  titulo  de 
como  lhe  fiz  mercee  em  cada  huu  ano  pelo  dito  respeihMla  dita  com 
tia  que  se  monta  na  dita  moradia  e  cevada  em  qiiamto  as  ditas  corei- 
ções  andarem  jumtas  e  que  o  não  hade  vemcer  posto  que  syrva  na 
corte  de  que  o  escripvão  da  matricola  pasara  sua  certidão  nas  costas 
deste  alvará  e  porque  ao  dito  Joam  Gonçalvez  pertemcya  aver  a  dita 
satisfação  dos  ditos  doze  mill  sete  cemtos  e  vimte  rs.  do  primeiro  dia 
de  janeiro  do  anuo  de  b*^  liiij  (lõõé)  em  deante  por  no  dito  tempo 
lhe  ser  despachada  e  não  tirar  até  agora  provisão  dela  ey  por  bem 
(|ue  demtão  lhe  seja  pagua  e  mando  ao  dito  almoxarife  ou  recebedor 
(lo  dito  almoxarifaíJo  da  Pomta  Delgada  que  do  rendimento  das  rem- 
das  deli  do  dito  ano  (pie  vem  de  cymquoemta  e  nove  lhe  dè  e  pague 
junlauiente  os  ditos  si]  bii''  xx  [12fj>720)  reis  cada  ano  do  tempo  de 
cymquo  anos  cymquíjemla  e  (juatro  Ib,  Ibj,  Ibij  e  Ibiij  [1554,  lôôõ, 
lõõb',  1ÕÕ7  0.  1ÕÕ8)  que  lhe  são  devidos  nos  quaes  lhe  monta  aver  se- 


i  16  ARGHIVO  DOS  AÇOHES 

semt.i  e  Ires  rnill  e  seis  cemios  rs.,  pelo  trellado  deste  alvará  com  spji 
conhecimento  lhe  serão  outrosy  levados  em  comta,  o  qual  ey  por  ben) 
qne  valha  e  tenha  força  e  vygor  como  se  fose  carta  feita  em  men  no- 
me per  mym  asynada  e  pasada  [)er  mynlia  chancellaria  sem  embargo 
da  ordenaçãí»  do  á.°  livro  lilnio  xx  ('JO)  que  diz  «pie  as  cousas  cuj(» 
efeylo  onver  de  durar  mais  de  hiiu  ano  p^sem  per  cartas  e  pasando 
per  alvaraes  não  valhão.  Jorge  da  Costa  o  fez  em  Lisboa  a  xxb  (25  > 
dias  do  mes  de  novembro  de  J  b  e  Ibiij  (lòõ8\.  Manoel  da  Costa  o 
fez  escrever.  K  primeiro  que  se  lhe  faça  pagamento  algum  porá  o  di- 
to coregedor  das  ditas  Ilhas  verba  na  carta  que  o  dito  João  Gonçalvez 
them  do  dito  oficio  de  como  lhe  fiz  esta  men  ee  em  satisfação  da  dita 
perda  na  maneira  sobredita  e  pasará  diso  sua  ceitidão  nas  costas  (\<^)>- 
te=^(líz  per  ow/rí'//w//fl=(///í/.v=  (Nomeei  tada,  João  da  Costa  =^  Comcer- 
tada,  Pêro  d  Oliveira. 

[Al  c/l.   iHic.   (la    T.  do   7'.,   Lir.  1  de  D.  Scb.,  fl.  284.) 


Mercê  a  T^anoel  Fernandes  Cabral  do  officio  de  Mempos- 

teiro  Mor  dos  captivcs  da  ilha  Terceira  e  ilhas  de 

baixo  &;  10  dabril  de  1559. 

Eu  VÁ  Key  faço  saber  a  vo.^  deleitados  do  de.<pacho  da  Meza  da 
Conscit  meia  qne  por  meu  mandado  tendes  cargo  de  pr(»ver  e  despa- 
char as  Cousas  d;i  rendição  (ios  cativos  e  seus  oHiciaes  que  por  ron- 
fiar  de  Manuel  Ftrnandez  (Cabral  cavaleiro  de  minha  casa  ujorador  n;i 
cidade  dAmgia  da  Ilha  Terceira  que  no  (|ue  o  encarregar  .servira  bem 
e  fielmente  como  couqjre  a  serviço  de  Deos  e  descargo  de  mynha  cttns- 
cyemcia  e  avemdo  respeylo  aos  serviços  que  fez  a  el  rey  meu  senhoi 
e  avo  que  iJeos  tln-m,  nas  parl^-s  dAfriqua  em  Azamoi-  e  em  .Maza- 
gão  oujde  sérvio  ey  por  bem  de  lhe  Inzer  uiercee  dos  oliiios  de  mam 
posteiro  mor  da  renidição  dos  cativos  da  dita  llíia  Terceiia  e  Ilhas  de 
baixo  e  thysourein»  das  fazendas  dos  defuintns  que  falecem  nas  ditas 
Ilhas  asy  dos  que  vem  das  partes  de  Giné  como  doutras  (piaes(^uer 
partes  que  nas  ditas  Ilhas  fnlcerem  e  esto  p.^r  tempo  de  Ires  ani»s  so- 
mente com  os  (juaes  ofícios  averá  o  mantimento  e  ordenados,  proes  e 
precalços  a  elles  perfemcemtes  asy  como  os  ouve  outros  três  anos  que 
já  sérvio  os  ditos  ofícios  por  provisão  do  dito  senhor  e  como  os  avi;t 
e  linha  Haltesar  (iomes  Sodré  por  cujo  falecimiMito  os  ditos  ofícios  v;t- 
garão  os  quaes  ele  servirá  seguindo  iorma  tie  seiís  regimentos  e  a  fa- 
zenda que  o  dito  Manuel  Feru;uidez  receber  dos  defumlos  que  nas  di- 
tas Ilhas  falecerem  que  ahy  vierem  das  partes  de  Giné  será  obrigado 
a  ujandar  em  cada  liuii  ano  a  entregai  a  Dingo  Soares  thezoureiro 
mor  das  fazendas  dos  defuntos  de  Guiné  ()or  leira  por  >•  nân  arisqiinr 


AKCHIVO  DOh  AÇORES  117 

conruniie  aus  regyiiifiUos  do  iJilo  lliezoureiro  Diogo  Soiíres  o  dos  (lie- 
zoureiros  d(L>  ditos  deriiiilos  (|iie  estão  iihs  Ilhas  de  São  Tlioiné  e  de 
Ciibo  Verde  e  eom  a  dita  letra  enviara  ao  dito  tliey.onrciro  caderiius 
em  que  virão  esepritos  os  nonie.N  das  |tessoas  cuja  a  dita  fazenda  lie 
pêra  que  o  dito  Diogo  Soares  fazei'  entregna  dela  a  seus  erdeiros  coii- 
ionne  a  seu  regyuíenlo  e  o  dito  Manuel  Fernandez  dará  fiamça  abas- 
tante de  contia  de  trezeintos  mill  rs.  ao  recebimento  d(»s  ditos  ofícios 
aos  juizes  da  cidade  dWmgra  da  dita  lllia  Terreiía  em  que  seus  fiadn- 
les  se  obrigarão  como  |»riiicipaes  pagadores  e  fieis  depositários  a  pa- 
gar o  dito  dinheiro  a  quem  pertemcem  semdo  ca>o  que  ele  dito  Ma- 
noel Fernandez  lio  fique  devendo  do  dito  recebymenlo  dos  ditos  três 
anos  a  dita  remdição  ou  aos  erdeiros  dos  ditos  definitos  e  será  a  dita 
fiança  desaforada  e  abonada  pelos  ditos  jui/.es  a  (jual  dará  antes  que 
comece  a  servir  e  será  obrigado  o  dito  Manuel  Fernandez  a  mandara 
dita  fiança  a  esta  corte  a  entregar  a  João  da  tiosta  escprivam  da  [»ro- 
vedoria  nuiv  dos  cativos  pêra  a  ter  em  goarda  no  cartório  do  dito  ofi- 
cio no  primeiro  navio  que  vier  pêra  esta  cidade  da  dita  Ilha  e  do  dia 
que  lhe  for  tomada  a  dita  fiança  a  oyto  meses  não  mostrando  certidão 
d(t  dito  João  da  Co>ta  como  recebeo  a  dita  fiança  o  não  conseiitirãd 
servir  (»s  dilos  ofícios  e  no  fim  dos  ditos  três  anos  virá  á  corte  oii 
mandará  por  seu  procurador  dar  conta  com  entregna  de  seu  receby- 
mento  c(tnforme  a  seus  regyment<»s:  noteficovolo  asy  a  ipiaesquer  ou 
tros  coregedores,  ouvidores,  juizes  e  justiças  oficiaes  e  pesoas  das  di- 
tas Ilhas  a  que  este  meu  alvará  for  apresentaiio  e  o  conhecimento  de- 
lo  [lertencer  que  durando  o  dito  tempo  de  três  anos  e  dando  a  dita 
fiança  leyxem  >eivir  os  ditos  oficios  de  mamposteiro  mor  dos  cativos 
e  tesoureiro  das  fazendas  dos  ditos  defuntos  ao  dito  Manoel  Feriian 
dez  e  aver  o  dito  mamtimento,  proes  e  precalços  a  eles  dereytamenle. 
ordenados  pela  maneira  que  dito  he  sem  duvida  nem  embargo  algiin 
(jue  a  elo  seja  posto  e  jurará  na  chancelaria  aos  santos  avangellios 
que  bem  e  verdadeiramente  e  como  deve  sirva  e  use  dos  dití»s  uticios 
goardando  em  todo  o  serviço  de  Deos  e  á  remdição  e  ás  [lartes  seu 
direito  e  este  alvará  ey  [lor  fjem  que  valha  e  tenha  força  e  vigor  co- 
mo se  fose  carta  feyta  em  meu  nome  por  inym  asynada  e  jiasada  por 
minha  chancelaria  sem  embargo  da  ordenação  di>  segundo  livro  tit.° 
x\  Ç^Oi  que  o  contrario  dispõe.  João  da  (^osta  o  fez  em  Lisboa  a  dez 
dabril  de  ~f'  I»  e  lix  [Jõõ9)  anos.  icom  as  resulvas  de  eulrdmhas  p  e- 
wondas)  Concerladi»,  João  da  Costa=Comcertado,  António  d' Aguiar. 

(Arch.  nac.  da  T.  do  T..  Ur.  I  do  I).  Seh..  /.  ."iO-J.) 


H8  ARCHIVO  DOS  AÇORES 


Licença  para  Mestre  Pedro,  cirurgião,  usar  da  sua  arte 
na  Villa  da  Praia;  27  de  Maio  de  1559. 

1)0111  Sebastião  etc.  A  quamlos  esta  minha  caria  virein  faço  saber 
(|iie  a  niiin  enviou  dizer  Mestrt?  Pedro  njoradíjr  em  a  Villa  da  Praya 
(jiie  elle  era  auto  (apto)  e  suficiente  pêra  usar  da  arte  e  ofirio  de  so- 
lorgia  como  í'uy  certo  per  buu  estormento  e  dyto  de  testemuiilias  o 
(jue  não  podia  fa/.er  sem  primeiri)  ser  examinado  ou  ter  carta  e  licen- 
ça e  vemdo  eu  seu  dzer  e  pedir  mandey  ao  licenciado  Lyonardo  Nu 
nez  meu  fisiquo  mór  que  ora  por  meu  especiall  mandado  serve  de 
solorgiam  mooi'  (|ue  vise  o  dito  estormento  e  (Jytos  de  testemunhas  o 
quall  o  vy(»  e  achou  ser  auto  iapto)  e  soficiemte  pêra  iizar  da  dita  ar- 
te e  oficio  de  solorgia  e  confiando  delle  dito  Mestre  Pedro  e  no  dito 
est(Jrln^^nto  que  usando  da  dita  arte  e  oficio  de  solorgia  o  fará  bem  e 
como  compie  a  sei'viço  de  Deos  e  meu  e  saúde  do  povo  e  querendo- 
Ihe  fazer  graça  e  mercê  ey  por  bem  e  me  |)raz  por  elle  ser  velho  e 
a  dystancia  do  caminho  grande,  que  elle  posa  usar  da  dita  arte  de  so- 
lorgia em  a  villa  da  Praya  soomente  e  em  seu  termo  e  mando  aas  mi- 
nhas justiças  oficiaes  da  dita  villa  a  que  o  conhecimento  pertencer  que 
lyvremente  o  leyxem  curar  e  usar  da  dita  arte  e  oficio  da  maneira 
que  dito  lie  com  aver  os  proes  e  percalços,  houiras  e  lyberdades 
que  por  rezão  da  dyta  arte  e  oficio  ouver  daver  e  efie  jurará  em  a 
(>amara  da  dita  villa  aos  samtos  evamgelhos  que  bem  e  verdadeira- 
mente e  com  sãa  consciência  use  da  dita  aite  e  oficio  de  solorgia  co- 
mo cumpre  a  serviço  de  Deos  e  meu  e  bem  do  povo  e  mando  que 
curando  algiiu  outro  solorgião  na  dita  villa  e  termo  ou  em  quallquer 
outra  parte  de  meus  reinos  e  senhorios  sem  mostrar  minha  carta  pas- 
sada pei'  meu  soNjrgião  moor  emcorre  em  pena  de  trinta  dobras  de 
banida  conforme  a  seu  regimento  e  sendolhe  requerido  [)or  elle  dito 
meslie  Pedro  ás  minhas  justiças  lhe  mando  que  o  constranguam  que 
pareça  em  minha  corte  peramte  (j  meu  solorgião  moor  pêra  sobriso 
ser  ouvido.  Feyta  em  esta  cidade  de  Lixboa  a  xxbij  [27}  dias  do  mes' 
de  mayo,  el  Rey  noso  senhor  ho  mandou  pelo  licenciado  Leonardo 
Nunez  seu  fisyquo  moor  que  ora  por  seu  especiall  mandado  serve  de 
solorgião  moor  em  seus  reinos  e  senhorios.  Jorge  (íuaspar  a  fez,  ano 
do  nacimento  de  noso  Senhor  Jhu  xpõ  {Je.sns  Cliris(o)  de  J  b  e  l'''  e 
nove  [IÕÒ9)  ânuos.  (^re.salva  de  entrelinhas)  Comcerlada,  fio()ue  Vieira 
=(^omcertada,  Pêro  d  Oliveira. 

{Anh.  nac.  da  T.  do  T.,  Lii:."  II  de  D.  Seb.,  /.  40õ.) 


ARUHIVO  DOS  AÇORES  1 19 


Mercê  á  Misericórdia  d'AngTa,  para  que  o  corregedor  se- 
ja juiz  das  suas  causas:  1  de  junho  de  1559. 

Kii  el  Key  l.iço  saher  .t  vns  corregedor  da  coreição  das  Ilhas  dos 
açores  qne  ora  soes  e  ao  deaníe  for  que  aveiido  respeito  ao  que  dizem 
i»a  petição  atraz  escprita  o  provedor  e  Irmaõs  da  caza  da  misericórdia 
(la  cidade  d  Amgra  e  por  lhes  fazer  esmola  ey  pttr  bem  e  me  praz  (jiie 
vos  conlieçaes  daijui  em  deaiite  de  lodalas  cansas  que  toqiiarem  a  di- 
la  casa  da  misericórdia  aiilre  quaesquer  [lartes  que  demandar  e  esto 
(jiiando  per  via  de  coreição  residirdes  nos  lugares  omde  as  taes  par- 
les que  forem  reos  morarHím  e  por  tamto  vos  mando  que  conlieçaes 
das  ditas  causas  na  maneira  ipie  dito  he  e  ouvidas  as  partes  detremi- 
nares  o  que  for  justiça  dando  apelação  e  agravo  nos  casos  em  (|iie 
couber  e  este  ey  por  bem  qne  valha  como  se  fose  carta  per  mym  asy- 
uada  e  pasada  pela  chancellaria  semeuibargo  da  ordenação  do  segun- 
do livro  til."  x\  (|ue  diz  qne  as  cousas  cnjo  efeyto  ouver  de  durar  mais 
de  liuu  ano  ()asem  per  cartas  e  pasaudo  per  alvaraes  não  valhão.  Fer 
não  Barbosa  o  fez  em  Lisboa  a  primeiro  de  junho  de  J  b  e  lix  {lòò9). 
Halltesar  da  Costa  u  fez  escrrver=^Comcertada,  .loam  da  (^osta=Coni- 
cerlada,  António  d'Aguiar. 

(Anh.  nac.  da  T.  do  7'.,  Ur.  l  di'  í).  Sd>.,  f.  Sòl  r.") 


Nomeação  de  Ruy  Dias  Evangelho,  para  Ouvidor  das  ilhas 
do  Fayal  e  do  Pico;  11  de  junho  de  1559. 

Kn  el  Uey  faço  saber  a  vos  Juizes,  vereail  ires,  fidallgiios,  caval- 
leiros,  escudeiros  e  povo  da;  villa.>  e  lugares  das  Ilhas  do  Fayal  e  do 
Pyquo,  qne  por  confiar  de  Kuy  Diaz  Avamgelho  moradoí"  na  dita  ilha 
do  Fayal  que  nisto  me  servirá  bem  e  administraiá  jnsliça  ás  parles 
como  a  ella  e  a  meu  serviço  compre  ey  por  bem  que  elle  sirva  de  ou- 
vidor dessas  Ilhas  em  quamto  o  eu  asy  ouver  por  bem  e  não  mandar 
o  contrario  o  (|ual  oficio  elle  servirá  conforme  a  minhas  ordenações  e 
segundo  forma  das  doações  (jue  tinha»»  os  capitães  ipie  forão  das  di- 
las  ilhas  C(Mitii-madas  por  el  Rey  meu  senhor  e  avo  (pie  santa  gloria 
aja.  Notificovolo  asy  e  V(ts  mando  que  lhe  deis  a  pose  do  dito  oficio  e 
lho  deyxeis  servir  e  delle  usar  dandolhe  primeiro  juramentít  na  Cama 
ra  principal  da  dita  ilha  do  Fayal  que  siiva  (»  dito  oticio  bem  e  verda- 
deiramente guardando  a  mim  meu  serviço  e  ao  povo  seu  direito  do 
qual  juramento  e  pose  se  fará  termo  nas  C(»stas  deste  alvará  (jue  ey 
por  bt'in  (pie  valha  como  se  fose  carta  feyta  eus  meu  nome  pei'  mim 


120  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

li;isinada  e  pasada  per  minha  chancelaria  sem  embargo  da  ordenação 
do  Lívio  segniidit  i. '  2  ^  que  despocm  que  hs  CMK^as  cujo  elffito  oii- 
ver  de  durar  mais  de  hiiu  {nnnn)  pasem  p»  r  carias  e  não  per  alvarás^ 
O  doutor  João  de  Barros  o  fez  em  Lisboa  aos  xj  '//)  de  junho  de  j 
l>  e  r^  e  nove  ilòòO)  annos  e  servirá  o  dilo  oficio  três  aniios  soomen- 
le.=Comcertada,  Uoque  Vieira=Comcertada,  Pêro  d"Ohveira. 

[Arã.  imc.  da   T.  do  T.,  Lir.  ÍI  de  I).  Seb.,  f.  410  c.".) 


Mereê  do  officio  de  escrivão  do  almoxarifado  da  alfande- 
ga da  ilha  de  S.  Jorge,  á  pessoa  que  casar  com  uma 
das  filhas  de  Galas  Lopes,  proprietário;  13  de  ju- 
nho de  1559. 

Vai  el  Rey  faço  saber  aos  que  este  alvará  virem  que  av^mdo  res- 
peito ao  muit()  tempo  que  lia  que  Galaz  Lopes  escprivam  do  almoxa- 
rifado da  alfandega  da  ilha  de  S.  Jorge  serve  o  dito  oficio  e  »  ter  sete 
filhas  ey  por  bem  e  me  praz  de  per  sen  falecimento  fazer  mercê  do 
iJito  oficio  descprivam  do  almoxarifado  da  dita  Ilha  de  São  Jorge  a  hua 
das  ditas  suas  filhas  qual  ele  nomear  pêra  a  pesoa  que  com  ela  casar 
sendo  auta  {apta)  pêra  o  servir  a  qual  pesoa  amtes  de  casar  se  virá 
apresentar  ao  vedor  de  minha  fazenda  do  negocio  do  reyno  pêra  ver 
se  he  auto  {apto}  e  achando  que  ho  he  lhe  pasarà  diso  sua  certidão 
com  a  qual  e  esionnento  ou  certidão  aiitemtica  de  como  he  casado  e 
recebido  per  palavras  de  presente  lhe  será  pasada  carta  em  forma  do 
dilo  oficio  com  declaração  que  o  terá  e  servirá  em  qnanto  o  eu  ouver 
por  bem  e  não  mandar  o  contrario  pagand(j  primeiro  os  direitos  or- 
denados e  por  sua  guarda  e  minha  lembrança  lhe  mandei  dar_  esle 
alvará.  Diogo  Lopez  o  fez  em  Lisboa  a  xiij  (IS)  de  Junho  de  j  b  e 
I  e  nove  (./5õ5).=Comcertada,  Joam  da  Costa  ^=  Comcertada,  António 
d'Aguiar. 

[Are.  nac.  da  T.  do  T.,  Lir."  í."  de  D.  S>'b.  f.  384  v.") 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  121 


Nomeação  de  Balthazar  Dias  para  servir  de  Tabellião  e 

escrivão  da  Camará  da  Villa  das  Lages  da  ilha  do 

Pico,  em  quanto  o  proprietário  não  sahir  livre  da 

prizão  da  Inquizição  de  Lisboa;  27  de  junho  de 

1559. 

Eu  el  Rey  faço  saber  aos  que  este  meu  alvará  virem  gue  eu  ey 
por  bem  de  fazer  mercê  a  Balllesar  Diaz  morador  na  villa  das  Layas 
{sic)  da  Ilha  do  Pico  da  serventia  dos  oílicios  de  taballião  do  i)ublico  e 
do  judiciall  escrivão  da  C.amara  e  dallmotaçaria  da  dita  villa  que  sam 
de  Adriain  de  Bairros  que  ora  está  preso  pella  santa  Inquisição  nesta 
cidade  de  Lisboa  e  isto  em  quanto  o  dito  Adriam  de  Bairros  não  for 
livre  ou  eu  não  mandar  o  contrario  o  qual  foy  examinado  por  Symão 
de  Miranda  Anrriquez  do  meu  conselho  e  meu  desembargador  do  pa- 
ço e  havido  por  auto  (aplo)  pêra  os  servir;  notefico-o  assy  aos  juizes 
da  dita  villa  das  Layas  (s?c)  da  Ilha  do  Pico;  e  a  todos  e  quaesquer  ou- 
tros meus  ofliciaes  e  pessoas  a  que  o  conhecimento  desto  pertencer  e 
lhes  mando  que  o  deixem  servir  e  usar  da  serventia  dos  ditos  olHcios 
e  aver  os  proes  e  percallços  a  elles  direitamente  ordenados  em  quan- 
to o  dito  Adriam  de  Bairros  não  for  livre  ou  eu  não  mandar  o  con- 
trario como  dito  é,  sem  a  ysso  lhe  ser  posta  duvida  nem  emb:irgo  al- 
guu  porque  asy  é  minha  mercê  e  elle  jurara  na  chancellaria  aos  san- 
tos evangelhos  que  bem  e  verdadeiramente  os  sirva  guardando  em  to- 
do a  mym  meu  serviço  e  ás  partes  seu  direito  e  o  regimento  d"elles 
que  da  dita  chancellaria  tirará  e  nella  fará  o  synall  publico  de  que  ou- 
ver  de  usar.E  isto  me  praz  que  valha  e  tenha  vigor  como  se  fosse  car- 
ta feyta  em  meu  nome  asynada  per  my  e  asellada  do  meu  sello  pen- 
dente sem  embargo  da  ordenação  do  2.°  livro  lit.*'  xx  que  diz  que  as 
cousas  cujo  efeito  ouver  de  durar  mais  de  huu  anno  pasem  per  cartas 
e  passando  per  allvarás  não  valham.  António  d'Aguiar  o  fez  em  Lis- 
boa a  xxbij  (27)  dias  de  junho  de  J  b  e  lix  (lõô9).  Pêro  Feruandez  o 
fez  escrever  {resalras  dos  tiscados)^=\iea  Balltazar  Dias  contheudo  nes- 
ta carta  acima  escprita  haqui  meu  publico  synal  (;6/^wrt/jtywò//co)  fiz  que 
lall  é  =  signal.  =  Comcertado,  João  da  Costa  =  Concertado,  António 
d  Aguiar. 

[Arch.  nac.  da  T.  do  T.,  Lir.  4.''  de  D.  Seb.,  f.  79  c") 


K"  44  — Vol.  Vlll  -  1886. 


Í22  ARCHIVO  DOS  AÇORES 


Nomeação  de  António  Fernandes  para  Tabelião  do  judi- 
cial na  Villa  da  Praia;  11  de  Setembro  de  1559. 

Dom  Sebastifiu  etc.  Aos  que  esta  minha  carta  virem  faço  saber 
que  confiando  eu  de  António  Fernandez  criado  de  Álvaro  Martins  Ho- 
mem, filho  de  Amtão  Martins  capytão  da.  villa  da  Praya  da  Ilha  Tercei- 
ra que  no  que  o  encaregnar  me  servirá  bem  e  fielmente  como  a  meu 
serviço  e  a  bem  das  parles  cumpre  e  por  lhe  fazer  mercê  tenho  poi' 
bem  e  o  dou  ora  daquy  em  diante  [)or  tabellião  do  judicial  da  dita  vil- 
la da  Praya  da  Ilha  Terceira  asy  e  pela  maneira  que  ho  elle  deve  ser 
e  ho  hera  Dy^guo  Borgt-s  que  oditi»  (>ficio  tynha  e  o  perdeo  pf^r  senten- 
ça de  minha  relação  per  cnllpas  que  no  dito  oficio  com^teo,  segundt» 
fuy  certo  pela  dita  sentença  que  perante  mim  foy  hapresentada  pasa- 
da  per  minha  chancelaria  que  parecia  ser  assinada  pelo  doutor  Si- 
mão Gonçaivez  Preto  do  meu  desembargo,  corregedor  dos  feytos  cri- 
mes de  minha  corte.  Juiz  dos  feytos  da  dita  chancellaria  e  sobscri- 
pta  per  Amtonio  da  (]osta  escprivam  dos  feitos  das  Ilhas  aos  xx  b 
{20}  dias  do  mes  d" Agosto  de  J  b  e  lix  {1559)  annos:  e  esta  n  ercet- 
lhe  faço  per  virtude  de  huu  allvará  per  mim  asinado  e  de  bua  apos- 
tilla  ao  pee  do  dito  alvará  iso  mesmo  por  mim  asinado  e  pasado  per 
minha  chancehiria  de  que  o  trellado  huu  depôs  outro  he  o  seguinte: 

Desembarguadores  do  paço  amigiios,  eu  ey  por  bem  por  mo  pe- 
dir a  lííante  d<  na  Isabel  minha  nuiito  amada  e  |)rezada  tia  de  fazer 
ujerce  a  Amtonio  Keiti.indez,  criado  de  Allvaro  Martins  Homem, filho 
de  Amtão  Martins  capitão  da  Villa  da  Praya  da  Ilha  Terceira  dos  o- 
fícios  de  tabalião  do  publico  e  judicial  da  dita  Villa  (jue  diz  que  estão 
vaguos  por  ser  condenado  em  perdimenio  delles  [>or  .-eiitença  de  mi- 
nha Relação  hu  byoguo  Borges  cujos  diz  que  herão  per  culpas  qne 
comeleo  nos  ditos  uficios  o  qual  Amtonio  Fernandez  foi  examinado  e 
ávido  por  apto  pêra  o  servir  pelo  doutor  Symão  de  Miranda  Amriquez 
do  meu  conselho  e  meu  desembarguador  do  paço,  mandovos  que  mos- 
Irandovos  elle  co.no  os  ditos  ofícios  estão  vaguos  na  maneira  sobredita 
lhe  pases  delles  carta  em  forma  com  declarnção  (|ue  os  lerá  e  servirá 
em  quanto  eu  ouver  por  bem  e  não  mandar  o  contrario  pagiiando  pri- 
meiro os  direitos  ordenados  Feiíião  Barbosa  o  fez  em  Lisboa  a  xij  'J2i 
dias  de  julho  de  Jb  e  lix  {If^õO).  Baltasar  da  Costa  o  fez  escprever. 
E  posto  que  diga  que  lhe  pa>seis  carta  dos  ofícios  de  tabaliam  publico 
e  judiciall  da  Villa  da  Praya  da  Ilha  Terceira  pasarlheeis  somenle  o  do 
judiciall  porquíiuto  delle  >o  fby  piivado  por  sentença.  Dioguo  de  Pro- 
efiça  o  fez  em  Li>boa  a  xx  biij  .,28   dias  d' Agosto  de  J  b  e  lix  {ir)õ9.s 

E  por  tanto  mando  aos  juizes  da  dita  Villa  da  Praya  e  a  todolos 
outros  ofíciaes  e  pesoas  a  que  esta  caria  for  mostrada  e  o  conhecimen- 
to delia  pertemcer  (pie  ajão  ao  dito  Amtonio  Fernandez  por  taballião  do 
judiciall  como  dito  he  e  lhe  dem  logo  a  [)ose  do  dito  oticio  e  lho  dey- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  123 

xem  servir  e  delle  usir  em  quanto  o  eu  oiiver  por  bem  e  não  man- 
dar o  contrario  e  aver  os  proes  e  percalços  a  elle  direitamente  orde- 
nados sem  dovida  nem  eoíbarguo  algiiu  que  Hie  a  ello  seja  pijsto  por 
que  asy  he  minlia  inercee  e  elle  pagou  dordenado  do  dito  oficio  dous 
niill  rs.  os  quaes  emtreg(ju  ao  recebedor  de  minha  chancellaria  peran- 
te o  esc[)rivam  delia  que  os  sobre  elle  caregou  em  recepta  como  pa- 
receo  per  seu  coiiliecimenlo  em  forma  na  qual  chancellaria  elle  dito 
Amtonio  Fernandez  jurará  aos  samtos  evangelhos  que  sirva  o  dito  o- 
ficio  bem  e  verdadeiramente  e  cumpra  e  guarde  o  regimento  que  del- 
ia levar  guardando  em  todo  a  mim  meu  serviço  e  ás  partes  seu  di- 
reito. Dada  em  a  cidade  de  Lisboa  a  xj  (iijdias  do  mes  de  setembro; 
el  Rey  noso  senhor  o  mandou  per  Symão  de  Miranda  Anriquez  e  pe- 
lo licenciado  Francisco  Dias  do  Amarall  chanceller  do  mestrado  de  xpõ 
[Christo]  ambos  do  seu  conselho  e  seus  desembargadores  do  paço  e 
petições.  Roque  Vieira  a  fez,  ano  do  nacimento  de  Noso  Senhor  jhu  xpõ 
íJesKS  Christo)  de  J  b  e  lix  (1559)  annos;  e  eu  Amtonio  Vieira  a  fiz 
escprever  {com  as  resalvas  dos  riscados).  Fu  Amtonio  Fernandez  nesta 
carta  conteúdo  asyney  aquy  de  meu  pubryco  synall  que  tall  he  {signal 
publico)  Comcertada,  Roque  Vieira^=Comcertada,  l*edro  d'Oliveira. 
{Arch.  nac.  da  T.  do  T.,  Liv.°  2.°  de  D.  Seb.  f.  448.) 


Nomeação  de  João  Serrão  para  Alcaide  pequeno  da  cida- 
de de  Ponta  Delgada;  13  de  setembro  de  1559. 

Eu  El  Rey  faço  saber  a  quamtos  este  allvará  virem  que  eu  ey  por 
bem  e  me  praz  que  João  Serrão,  alcaide  pequeno  da  cidade  de  Pomta 
Delguada  posa  servir  o  dito  careguo  três  annos  aalem  de  outros  três 
que  já  tem  servido  e  esto  semdo  elle  apresemtado  pello  allcaide  moor 
a  que  pertemce  apresemtaçam  do  dito  oficio  e  recebido  pelos  verea- 
dores em  Camará  o  que  asy  ey  por  bem  sem  embarguo  da  ordenação 
em  contrario  visto  como  se  mostra  servir  bem  o  dito  oficio  e  não  ser 
culpado  nas  devasas  judiciaes  que  se  tirarão  no  tempo  que  sérvio,  co- 
mo se  mostra  per  certidam  do  juiz  de  fora  da  dita  cidade.  O  doutor 
Joam  de  Barros  o  fez  em  Lisboa  aos  xiij  (13)  dias  de  setembro  de" 
b  e  lix  {1ÕÕ9)  annos. 

{Arch.  nac.  da  T.  do  T.,  Lie.  II  de  D.  Seb.,  /l  474.) 


124  ARCHIVO  DOS  AÇORES 


Nomeação  de  António  Fernandes,  para  servir  de  Condes- 

tavel  dos  Bombardeiros  em  Ponta  Delg-ada;  9  d'outu- 

bro  de  1559. 

Eu  El  hey  faço  saber  a  vós  ouvidor  da  Ilha  de  São  Migel  que  ey 
por  bem  e  me  praz  que  o  condeestabré  dos  bonbardeyros  que  ora 
está  na  dita  Ilha  se  venha  pêra  este  reyuo  e  que  em  seu  lugar  sirva 
de  condeestabré  dos  ditos  bonbardeiros  António  Fernãodez  bonbar- 
deiro,  morador  na  dita  Ilha  com  o  qual  carrego  averá  xij  {12è000) 
rs.  de  mantimento  cadanno  á  custa  da  inposição  dos  dous  por  cento 
que  el  Rev  nu-u  senhor  e  avô  que  santa  gloria  aja  mandou  pôr  nas 
mercadoria*s  da  cidade  de  Ponte  Delgada  da  dita  Ilha  o  qual  cargo 
servirá  em  quanto  eu  ouver  por  bem  e  não  mandar  o  contrario  e  por 
tanto  vos  mando  que  tanto  que  vos  e^te  for  apresentado  no  primeiro 
navio  que  pêra  está  Reino  vier  deys  embarcação  ao  dito  condestabre 
que  ora  esta  pêra  que  se  venha  e  metereys  de  pose  do  dito  carguo 
ao  dito  António  Fernãodez  ao  qual  dareys  juramento  dos  santos  avan- 
gellios  que  bem  e  verdadeyramente  sirva  o  dito  carguo  da  qual  pose 
e  juramento  se  fará  asento  nas  costas  deste, asynado  por  vós  e  per  ele 
pêra  se  saber  como  lhe  asy  foy  dado  e  asy  mando  ao  recebedor  da 
dita  enposição  dos  dous  por  cento  que  do  dia  que  o  dito  António  Fer- 
nãodez começar  servir  em  deante  lhe  dee  e  pague  os  ditos  xij  {120OOO) 
IS.  em  cada  anuo  aos  quartéis  do  anuo  per  inteiro  e  sem  quebra  al- 
gua  per  este  soo  alvará  geral  sem  mais  ser  necesario  outra  provisão 
minha  e  pello  trellado  delle  que  será  registado  no  livro  de  sua  despe- 
sa pelo  escrivão  de  ^^w  cargo  e  conhecimentos  do  dito  António  Fer- 
nãodez mando  aos  contadores  que  llevem  em  comta  ao  dito  recebedor 
da  dita  enposição  o  que  lhe  asy  pagar  e  este  me  praz  que  valha  e  te- 
nha foiça  e  vigor  como  se  fose  carta  feyta  em  meu  nome  per  mym  a- 
sinada  e  pasada  per  minha  chancellaria  sem  embargiio  da  ordenação 
do  segundo  livro  titulo  >x  {20)  que  o  contmio  dispõem.  João  Alvarez 
o  fez  em  Lisboa  a  nove  diaz  doutubro  de  j  b  e  T"  e  nove  [lô59),oi 
quaes  xij  [12i»()00)  rs.  lhe  o  dito  recebedor  pagará  com  vo^a  cerlydãi» 
de  como  serve  o  dito  carguo  e  nas  costas  deste  vos  mostrará  certidão 
do  contador  de  minha  fazenda  de  cumo  no  registo  da  piovisão  do  di- 
to conde  estabie  puz  verba  que  não  adaver  mais  ordenado  que  por 
etla  tinha.  E  eu  Álvaro  Pirez  o  fiz  escprever.  =  Concertado,  Hoque 
Vieirar^Concertado,  Pêro  dOliveira. 

{Anh.  nac.  da  T.  ('0  7'.,  hr.  lU  tir  D.  í^eh..  f.  378.) 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  123 


Alvará  de  lembrança,  para  servir  de  tabellião  quem 

casar  com  uma  das  filhas  de  Lazaro  Dias,  da  ilha  do 

Fayal;  20  d'outubro  de  1559. 

Eu  ell  Rey  faço  saber  aos  que  este  ali  vara  virem  que  eu  ey  por 
bem  e  me  praz  por  mo  pedir  Dum  Aleixo  de  Menezes  meu  ayo,  de 
per  fallecimento  de  Lazaro  Diaz  taballiam  do  publlico  e  do  judicial  e 
escrivão  da  Camará  da  villa  d  Orla  da  Ilha  do  Fayall  e  dante  o  capi- 
tão da  dita  Ilha,  fazer  mercê  dos  ditos  ulTicios  a  hua  de  suas  filhas 
qual  elle  nomear  pêra  a  pessoa  que  com  ella  casar  a  qual  pesoa  será 
obrigada  de  antes  que  case  se  vir  apresentar  aos  desembargadores 
(lo  paço  pêra  a  examinarem  e  achando  que  he  apta  pêra  servir  os  di- 
tos oflicios  lhe  passarão  disso  sua  certidão  pêra  com  ella  e  este  allva- 
rá  depois  de  casar  lhe  ser  delles  passada  carta  em  forma  mostrando 
a  carta  do  dito  Lazaro  Diaz  e  sua  renuuciação  e  pagando  o  primeiro  os 
direitos  ordenados  e  a  dita  pessoa  terá  e  servirá  os  ditos  ollicios  pela 
dita  carta  em  quanto  eu  o  ouver  por  bem  e  não  mandar  o  contrario. 
Fernão  Barbosa  o  fez  em  Lisboa  a  xx  (20)  doutubro  de  mil  b  e  lix 
(1559}.  Balltesar  da  Costa  o  fez  escrever. =Comcertado,  João  da  Cos- 
ta=Concertado,  António  dAguiar. 

[Arch.  mic  da  T.  do  T.,  Liv."  ÍV  de  D.  Seb.  f.  103  r.") 


Licença  para  Manuel  Alvares  pôr  botica  em  Ponta  Del- 
gada; 30  doutubro  de  1559. 

Dom  Sebastião  etc.  A  quantos  esta  minha  carta  vyrem  faço  saber 
que  a  mym  enviou  diyzer  por  sua  petição  Manuel  Alvares  morador 
em  a  cidade  de  Ponto  Delgada  que  por  se  achar  apto  e  suficiemte  pê- 
ra usai'  do  oficio  de  boticário  como  consta  do  estormento  (jue  oferece 
queria  asemtar  boliqua  o  que  nam  podia  fazer  sem  primeiro  ser  exa- 
minado e  vemdo  eu  seu  dizer  e  pedir  mandey  ao  licenciado  Lionardo 
Nunez  meu  fisyquo  mor  que  vise  o  dito  estormento  o  qual  o  vio  e  con 
fiando  do  dito  estonnento  e  nu  dito  Manuel  Alvarez  que  usando  o  di- 
to oficio  e  cargo  o  fará  bem  e  como  cumpre  a  serviço  de  Deus  e  meu 
e  querendolhe  fazer  graça  e  mercê  ey  por  bem  e  me  apraz  que  elle 
posa  asentar  botiqua  e  usar  da  arte  e  oficio  de  boticairo  em  a  dita  ci- 
dade somente  e  seu  termo  e  averá  as  liberdades  e  omras  que  por  re- 
zão  do  dito  oficio  ouver  daver  e  os  proes  e  piecalços  <jue  de  suas  me- 
decinas  lhe  pertencerem  por  suas  valias  não  os  vendendo  por  mais 
preçíts  nem  valia  do  que  as  vende  o  meu  boticário  sob  pena  de  as  pa- 
gar anoveadas  amelade  [)era  quem  u  acusar  e  a  outia  metade  pêra  o 


126  AHCHIVO  DOS  AÇORES 

meirinho  de  rainha  corte  e  o  dito  Manuel  Alvarez  jurará  eni  a  Cama- 
rá (ia  dita  cidade  a.is  samlos  avamgellios  que  bem  e  verdadeyramen- 
te  com  sã  comcyemcia  use  da  dita  arte  e  oficio  de  biticairo  como  cum- 
pre a  serviço  de  Deos  e  meu  e  bem  do  povo  e  mando  a  tndolas  justi- 
ças e  oficiaes  e  pe^oas  a  que  fio  conliecimento  pertemcer  e  esta  mi- 
idia  carta  for  mostrada  que  o  deixem  asemtar  botiqua  e  usar  dela  da 
maneira  que  dito  he  e  a  outra  alguma  pesoa  não,  se  nãu  íor  examina- 
do e  mostrar  minha  carta  pasada  por  o  meu  íisiquo  mor  sob  [)ena  de 
trinta  dobras  de  bamda  conforme  a  seu  regymento  e  sendo  requerido 
por  ele  dito  Manuel  Alvarez  as  minhas  justiças  lhe  mando  que  o  cos- 
tranjão  (|ue  pareça  em  mynha  corte  perante  o  meu  íisiquo  mor  pêra 
sobryso  ser  ouvido  e  mando  que  sob  a  dita  prna  das  ditas  trimta  do- 
bras tenha  regymento  asynado  por  o  meu  fysyqno  mor  por  omde  vem- 
da  suas  medicinas.  Feyto  em  esta  cidade  de  Lisboa  a  x\x  {30)  dias  do 
mes  doutubro;  el  Rey  noso  senhor  ho  mandou  por  o  Licenciado  Lio- 
nardo  Nimez  seu  fysiquo  mor  em  seus  reynos  e  senhorios.  Gregório 
Nunez  a  fez,  ano  do  nacyíuento  de  Jhu  xpõ  (Jesus  Chrislo)  de  J  b  e 
lix  {1ÕÔ9)  anos.=Comcertada,  Joam  da  Cosla=Comcertada,  Pêro  d'0- 
liveira. 

{Arcf>.  me.  da  T.  do  T.,  Liv.  1  de  D.  Seb.,  f.  462.) 


Nomeação  de  Gonçalo  Vieira  para  escrivão  da  Gamara 
da  Villa  das  Vellas  da  ilha  de  S.  Jorge;  12  de  janei- 
ro de  1560. 

Dom  Sebastião  etc.  Aos  que  esta  minha  carta  virem  faço  saber 
que  comfiando  eu  de  Gonçalo  Vieira  morador  na  villa  das  Veias  da 
Ilha  de  São  Jorge  que  no  que  ho  encarregar  me  servirá  bem  e  fiel- 
mente como  a  meu  serviço  e  a  bem  das  partes  compre  e  por  lhe  fa- 
zer mercê  tenho  por  bem  e  o  dou  ora  daqui  em  deante  por  escprivam 
da  camará  da  dita  vila  das  Velas  da  dita  Ilha  de  São  Jorge  asy  e  pe- 
la maneira  (jue  o  elle  deve  ser  e  o  era  Afonso  d'Almada.  seu  sogro, 
que  o  dito  oficio  tinha  e  se  finou,  por  cujo  falecimento  el  Rey  meu  se- 
nhor e  avô  que  samta  gloria  aja  pasou  hu  alvará  por  sua  alteza  asy- 
nado e  pasado  pela  chancelaria  por  que  ouve  por  bem  fazer  mercê  do 
dito  ofíicio  descripvam  da  camará  e  asy  do  otficio  de  Juiz  dos  órfãos 
da  dita  Ilha  a  Pêro  d'Ahnada,  seu  filho,  o  ipial  Perod'Almada  per  my- 
nha lycemça  renunciou  ora  o  dito  oficio  descprivam  da  camará  da  di- 
ta villa  das  Velas  no  dito  Gonçalo  Vieira  seu  cunhado  segundo  fui  cer- 
to per  huu  publico  estromenlo  da  renunciação  que  perante  mym  foy 
apresemtado  «jue  dizia  '>ev  sobescprito  e  asynado  por  Jacome  Carva- 
lho tabelliam  das  notas  desta  cidade  de  Lisboa  aos  quatro  dias  do  mes 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  127 

de  novembro  du  anu  pasado  de  7  b  e  lix  (lõõO)  com  lesleniunliMs  nel- 
le  nomeadas  e  esta  mercê  lhe  faço  por  virtude  do  dito  alvará  dei  Hey 
meu  senhor  de  que  acima  se  faz  menção  e  de  outro  alvará  per  mym 
asynado  e  pasado  [tor  minha  chancellaria  de  que  o  trelado  hu  depôs 
outro  de  verbo  a  verbo  he  o  seguinte: 

Eu  el  Hei  (*)  faço  saber  a  quantos  este  meu  alvará  virem  que  eu 
ey  por  bem  e  me  praz  de  fazer  mercê  a  Pêro  d 'Almada  tillio  mais 
velho  d'Afon)so  d'Almada  já  falecido  dos  oficios  de  juiz  dos  órfãos  e 
escprivam  da  Camará  da  Illia  de  São  Jorge  nas  Ilhas  Terceiras  que  va- 
garam por  falecimento  do  dito  seu  pay  e  isto  semdo  elle  a[)to  pêra  os 
servir  e  tanto  que  for  em  idade  e  apto  cttnio  dito  he  lhe  mandarei  fa- 
zer carta  em  forma  delas  pagamdo  primeiro  os  dereytos  ordenados  e 
pêra  sua  guai'da  lhe  mandey  pasar  este  alvará  que  quero  que  valha 
como  carta  sem  embargo  da  ordenação  do  segundo  Livro  titulo  xx  que 
ho  contrario  despoem.  Joam  de  Castilho  o  fez  em  Lisboa  a  xj  (11)  diaz 
de  mayo  de  y  b  e  lij  {lõ52). 

Desembargadores  do  paço,  Amyguos,  ey  por  bem  e  me  apraz  de 
dar  lugar  e  lycença  a  Pêro  d'Almada  Juiz  dos  órfãos  e  escprivão  ida 
Camará  da  Villa  das  Velas  da  Ilha  de  São  Jorge  que  pusa  remmciar 
os  ditos  ofícios  em  Gonçalo  Vieira  seu  cunhado  morador  na  dita  Villa 
sendo  auto  [apto)  e  suficiente  pêra  o  servir  vista  a  provú^ão  que  tem 
dei  Key  meu  senhor  e  avô  que  samta  gloria  aja  por  ipie  ouve  por  bem 
de  lhe  fazer  men'ê  deles  p(!r  vagarem  por  falecimento  de  Afouiso  d"AI- 
mada  seu  pay  mandovos  que  examineis  o  dito  Gonçalo  Vieira  e  semdo 
auto  {apto}  líie  pases  carta  em  forma  dos  ditos  ofícios  apresentandovos 
a  renunciação  do  dito  Pêro  d'Almada  e  a  dita  provisão  perque  lhe  sua 
alteza  fez  dtles  mercê  pagando  primeiro  os  direitos  ordenados  na  qual 
carta  se  faiá  decoração  que  os  terá  e  servirá  em  (pianto  eu  o  ouver 
pi»r  bem  e  não  mandar  o  contrario  e  a  renunciação  que  o  dito  Pêro 
d'Almada  fizer  dos  ditos  ofícios  ey  por  bem  que  valha  e  tenha  vigor 
posto  que  seja  menor  de  vymte  e  cymquo  anos  vista  a  delygencia  que 
o  Corregedor  Manoel  Alvarez  do  meu  desembargo  sobre  este  caso  fez 
por  meu  mandado.  Amtonio  d'Aguiar  <;  ívi  em  Lisboa  a  seis  de  nu- 
vembro  de  y  b  e  lix  [lõòfJ).  Pêro  Fernandez  o  fez  escprever.  E  pos- 
to que  diga  Juiz  dos  órfãos  na  Villa  das  Vellas  somente,  he  Juiz  dos 
órfãos  de  toda  a  Ilha  de  Sam  Jorge  e  ua  villa  do  Topo  e  Calheta  asy 
e  da  maneira  que  o  sservio  Afonso  d  Almada  seu  sogro.  Pêro  Fernati 
dez  o  fez  em  Lisboa  a  xiij  (JS)  dias  de  dezembro  de  y  b  e  lix  {15õ9). 

E  por  tanto  mand.»  aos  juizes  da  dita  Villa  das  Vellas  e  a  todolos 
outros  oficiaes  e  pesoas  a  (jue  esta  carta  for  mostrada  e  o  conheci- 
mento delia  pertemcer  que  ajão  ao  dito  Gonçalo  Vieira  por  escprivão 
da  Camará  (.oino  dito  he  e  lhe  dem  logo  a  pose  do  dito  oficio  e  lho 
leixem  servir  delle  usar  em  quanto  o  eu  ouver  por  bem  e  não  mandar 

(•)  D.  .luão  ;{." 


128  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

O  contrario  e  aver  os  proes  e  percalços  a  elie  dereytamente  ordenados 
sein  duvida  nem  embargo  algum  que  lhe  a  ello  seja  posto  por  quanto 
fui  examinado  e  ávido  por  auto  pêra  o  servir  por  Symão  de  .Miranda 
Amriqiiez  do  meu  conselho  e  meu  desembargador  do  paço  e  elie  pagou 
de  ordenado  do  dito  oficio  e  doutro  que  leva  per  outra  carta  de  Juiz 
dos  órfãos  dous  mill  e  qualrocemtos  rs.  os  quaes  emtregou  ao  rece- 
bedor de  minha  chancellaria  peramte  o.  escprivam  delia  e  os  sobre  el- 
ie carregou  em  recepta  como  pareceo  per  seu  conhecimento  em  forma 
na  qual  chancellaria  elie  dito  Gonçalo  Vieira  jurara  aos  Samtos  avam- 
gelhos  que  sirva  o  dito  oficio  bem  e  verdadeiramente  e  cumpra  e  guar- 
de o  regimento  que  dele  levar  guardando  em  todo  a  mim  meu  servi- 
ço e  as  partes  seu  direito.  Dada  em  a  cidade  de  Lisboa  ao  .\ij  (12)  dias 
de  janeiro;  el  Rey  nosso  senhor  ho  mandou  por  Simão  de  Miranda  .\m- 
riquez  e  pelo  Licenciado  Francisco  Diaz  do  .\marall  chanceller  do  mes- 
trado de  Christo,  ambos  do  seu  conselho  e  seus  desembargadores  do 
paço  e  petições,  Roque  Vieira  a  fez,  ano  do  nacimenlo  de  noso  senhor 
Jhu  xpõ  {.ksHs  Christo)  de  J  b  e  Ix  {lõ60).  Martim  Freire  o  sobescpre- 
vy,  Este  huficio  descprivam  da  Camará  he  da  villa  das  Velas  somente 
(resalva  dos  riscados  e  entrelinhas)  Comcertada,  Joam  da  Costa=^Con- 
certada,  António  dAguiar. 

{Arch.  nac.  da  T.  do  T.,  Liv.  V  de  D.  Seb.,  f.  7.) 


Carta  ao  mesmo,  de  Juiz  dos  órfãos  da  Ilha  de  S.  Jorge  e  nas 
Villas  das  Vellas,  do  Topo  e  da  Calheta,  pelos  mesmos  fundam.enlos  da' 
antecedente  e  incluindo  as  mesmas  provisões,  e  com  prescripções  idên- 
ticas, mandada  passar  pelos  mesmos  desembargadores=  12  de  janei- 
ro 1560=Luiz  Felgueiras  a  fez. 

{Idem,  f.  7  v.") 


Mercê  ao  Bacharel  Gabriel  Mendes,  para  por  3  annos  cu- 
rar os  enfermos  do  hospital  da  Misericórdia  de  Ponta 
Delgada;  16  de  fevereiro  de  1560. 

Eu  El  Rey  faço  saber  a  vós  juiz  vereadores  e  procurador  da  cida- 
de de  Ponta  Delgada  da  Ilha  de  Sam  Miguel  que  pela  boa  enfoimação 
(|ue  me  foi  dada  do  Bacharel  Graviel  Mendez  morador  na  dita  cidade 
ipie  nela  cura  de  medicina  e  sulurgia  ey  por  bem  e  me  praz  que  por 
tempo  de  Irez  anos  que  se  começarão  da  feitura  deste  em  diante  ele 
cure  os  enfermos  da  confraria  da  .Misericórdia  e  espritall  da  dita  cida- 


ÂBGHIVO  DOS  AÇORES  129 

(!e  (Tazendolio  ele  bem  no  dito  tempo  e  pelo  trabtjllio  (jiie  niso  ade  le- 
var ey  por  bem  que  aja  doze  mill  rs.  em  cada  liun  dos  ditos  trez  anos 
(lUtílhe  SHiTio  pagos  á  custa  da  empo.>i(;ão  í|ue  eí  Rey  meu^senlior  e  avô 
(|tie  samta  gloria  aja  coincedeo  á  dita  cidade,  pelo  que  vos  mando  que  lhe 
façaes  pagar  os  ditos  doze  mil!  rs.  aos  quartéis  d.j  ano  asy  como  for 
servindo  e  por  o  trelado  deste  (\iie  será  registado  no  Livro  da  despe- 
sa do  recebedor  da  dita  emposyção  e  certidão  do  provedor  da  (lita 
confraria  de  como  o  dito  Graviel  Mendez  serve  e  cura  os  ditos  enfer- 
mos asy  de  niedecina  como  de  sulurgia  mando  que  seja  levado  em  con- 
ta ao  dito  recebedor  o  que  lhe  asy  pagar  em  cada  huu  dos  ditos  três 
anos  até  a  dita  quantia  dos  ditos  doze  mill  rs.  com  conhecimento  do 
dito  Graviel  Mendez  de  como  os  dele  recebeo  e  esto  ey  asy  por  bem 
alem  de  outros  três  anos  que  o  dito  Senhor  ouve  per  bem  que  servise 
e  curase  os  ditos  enfermos  e  este  me  praz  que  valha  e  tenha  força  e 
vigor  como  se  fose  carta  feyta  em  meu  nome  per  mym  asynada  e  pa- 
sada  pela  minha  chancellaria  sem  embargo  da  ordenação  do  segundo 
Livro  titulo  xx  que  ho  comtrario  dispõem.  João  Alvarez  o  fez  em  Lis- 
boa a  xbj  (16)  de  fevereiro  de  X  b  e  Ix  {lõ60);  e  eu  Álvaro  Pirez  o  fiz 
escprever.  Comcertada,  João  da  Costa^=(]oncertada,  António  d"Aguiar. 

{Are.  nac.  da  T.  do  T.,  Liv.''  K.°  de  D.  Seb.  f.  17) 


Nomeação  de  António  Pirez  do  Canto  para  Provedor   das 
Armadas  nos  Açores;  26  de  março  de  1560. 

Eu  el  Rey  faço  saber  a  quantos  este  meu  allvará  virem  que  com- 
fiamdo  eu  dAmtonio  Pirez  do  Camto  fidalgo  de  minha  casa  que  no  de 
que  o  encarregar  me  servirá  com  haquelle  cuidado,  vygilancia  e  reca- 
do que  a  meu  serviço  cumpre  e  como  até  ora  o  tem  feyto  nos  negó- 
cios de  que  o  encareguey  tenho  por  bem  e  praz  que  elle  tenha  e  syr- 
va  o  carguo  de  prover  em  todas  as  minhas  armadas  que  vem  da  ín- 
dia e  Mina,  Brazill  e  Guiné  e  de  quaesquer  outras  parles  que  ao  porto 
da  cidade  dAmgra  da  Ilha  Terceira  e  a  quaesquer  outros  portos  das 
Ilhas  dos  Açores  vierem  ou  forem  ter  asy  das  ditas  partes  acima  de- 
claradas como  deste  reino  asy  e  da  maneira  que  tudo  o  fazia  Pedro 
Anes  do  Camto  seu  pay  per  cujo  fallecimento  o  dito  carguo  vaguou  o 
qual  asy  servirá  em  quanto  o  ouver  por  bem  e  não  mandar  o  con- 
trario e  com  elle  averá  o  ordenado  que  per  outra  minha  provisão  ey 
por  bem  que  aja  com  o  dito  carguo.  E  por  tanto  o  notefico  asy  ao  com- 
tador  da  dita  Ilha  e  mandolhe  que  meta  ao  dito  Amtonio  Pirez  em  po- 
se do  dito  oficio  dandolhe  primeiro  juramento  que  bem  e  verdadeira- 
mente o  syrva  guardando  em  tudo  o  que  cumpre  a  meu  serviço  do 

N.'^  4i  — Vol.  VIII  -  1886.  3 


130  AhCHlVO  DOS  AÇORES 

qiiall  juramenlu  se  fará  asemto  nas  costas  deste  allvará  que  quero  e 
me  praz  que  v;ilh;',leiilia  furça  e  vygur  como  se  fose  carta  feita  em  meu 
nome  e  asellad.i  do  meu  sello  pemilemte  sem  euibargo  da  hordenaçam 
do  segundo  Livro  titulo  iO  que  diz  que  as  ctjusas  cujo  efeito  ouver  de 
durar  mais  de  hu  ano  pasem  i)er  cartas  e  pasando  per  allvaiás  não 
valhão.  Adrião  Lúcio  o  fez  em  Lisboa  a  \xbj  [26)  de  março  de  mill  b 
e  Ix  {1Ô6U).  André  Soares  o  fez  escprever=C(íncertado,  Pêro  d"Olivei- 
ia=Comcerttldo.  Roque  Vieira. 

{An-h.  mic.  da  T.  do  T.,  Lir.''  6'.°  de  /).  Seb.,  f.  161  v.°) 


Confirmação  de  Francisco  Dias  no  cargo  de  Oondestavel 
dos  Bombardeiros  de  Ponta  Delgada  e  annulando  a  no- 
meação de  António  Fernandes;  25  dabril  de  1560. 

Eu  El  Rey  faço  saber  aos  que  este  meu  alvará  virem  que  el  Hey 
meu  senlior  e  avô  (pie  santa  gloria  aja  ouve  por  bem  per  liuu  seu  al- 
vará feittt  a  nove  dias  do  mes  de  julho  do  anuo  de  b  Ibj  {ln56)  fazer 
mercê  novamente  do  cargo  de  (^ondeestabre  dos  bomdardeiros  da  ci- 
dade de  Pomla  Delgada  da  lllia  de  São  xMigel  a  Frauci>co  Diaz  mora- 
dor na  dita  cidade  em  quanto  bo  ouvese  por  bem  e  não  mandase  o 
contrairo  e  por  lio  dito  Francisco  Diaz  não  apresentara  dilii  i)rovisão 
e  se  não  saber  que  ele  tinha  o  dito  cargo  fiz  dele  mercê  a  Amtonio 
Fernandez  mui'adur  na  dita  Ilha  com  doze  mil  rs.  de  ordenado  cad.ino 
pagos  á  cu>ta  do  dinheiro  da  Inposyção  dos  dons  por  cento  da  dit.i  ci 
dade  e  ora  avendo  respeito  a  el  Rey  meu  senhor  e  avô  ter  feyto  a  di- 
ta mercê  pela  dita  provisão  ao  dito  Francisco  Diaz  e  asy  a  enformíi- 
ção  que  dele  me  foy  dada  e  por  confiar  dele  que  no  dito  cargo  de  con- 
destabre dos  bombardeiros  da  dita  cidade  (h*  Pomta  Delgada  me  ser- 
virá bem  e  fielmente  como  a  meu  serviço  cumpre  e  por  lhe  fazer  mer- 
cê ey  por  bem  e  me  apraz  que  elle  syrva  daípii  em  deaule  o  dito  car- 
go em  quanto  ho  eu  ouver  por  bem  e  não  manriar  (»  contniÍ!-o  como 
qual  cargo  ele  averá  de  mantimento  em  cada  liuu  anno  \b  {lôéOOO) 
rs.  do  dia  que  começar  a  servir  em  deante  os  quaes  lhe  serão  pagos 
á  custa  do  dinheint  da  enposição  dos  dous  por  cemto  da  dita  cidade 
com  certidão  ilo  ouvidor  da  dita  Ilha  de  como  serve  e  por  tanto  man- 
do ao  recebedor  da  dita  Imposição  (pie  ora  he  e  ao  deaule  for  que  em 
cada  luui  anno  dee  e  pague  ao  dito  Fram-isco  Diaz  os  ditos  quimze 
mill  rs.  aos  quartéis  do  anno  per  inteiro  e  sem  quebra  e  por  o  trela- 
do  deste  que  será  regi>tado  no  li\ru  de  sua  despesa  pelo  escprivão 
de  seu  cargo  e  conhecimentos  d(»  dito  Francisco  Diaz  e  a  dita  certi- 
dão do  dito  ouvidor  de  connt  serve  o  dito  cargo  mando  aos  contado- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  131 

res  que  lhe  levem  em  comln  o  que  lhe  asy  pagar  e  asy  mando  ao  di- 
to oiivydor  (|ne  lhe  dé  a  |tosse  do  dito  cargo  e  dahi  em  deaiit(!  lho  lei- 
xe  servir  e  dcln  usar  e  aver  u  dito  manliuienlo,  proes  e  percalços  que 
lhe  dereylameute  pertencerem  sem  duvida  nem  emhargo  algim  por 
que  asy  he  minha  mercê  da  (jiial  pose  se  fará  asento  nas  costas  deste 
asynado  pelo  dito  ouvidor  e  a  dita  provisão  do  dito  Amtonio  Fernan- 
dez  se  não  compriíá  nem  haverá  eíleilo  e  s(.omente  se  cumpra  esta 
como  se  nela  conthem  e  o  dito  Francisco  Diaz  jurará  na  minha  chan- 
celaria aos  samtos  avangelhos  que  bem  e  verdadeiramente  syrva  e  use 
do  dito  cargo  goardamJo  em  todo  meu  serviço  e  ás  partes  seu  derey- 
to  e  este  me  praz  que  valha  e  tenha  força  e  vygor  conio  se  fose  car- 
ta feyta  em  meu  nome  por  mym  asynada  e  pasada  pela  minha  chan- 
cellaria  sem  embargo  da  ordenação  do  segundo  Livro  titulo  xx  (20) 
ipie  lio  contrario  dispõem.  João  Alvarez  o  fez  em  Lisboa  a  xxb  (20) 
dabril  de  J  b  e  Ix  {lõ60)  e  a  provisão  que  el  Rey  meu  senhor  e  avô 
pasou  do  dito  cargo  ao  dito  Francisco  Diaz  como  atraz  faz  menção  se 
não  ronqieo  ao  asynar  deste  por  dizer  que  era  perdida  e  por  tamto 
mando  ao  ouvidor  da  dita  Ilha  e  a  quallquer  outro  meu  oíFicial  que 
imdolhe  a  dita  provisão  ou  souberem  em  que  parte  está  a  enviem  a 
Álvaro  Pirez  íidalgo  de  minha  casa  e  escprivão  de  minha  fazenda  e  da 
provedoria  mór  de  meus  reynos  pêra  se  romper  e  eu  Álvaro  Pirez  a 
fiz  escprever.=Comcertada,  Joam  da  Costa=Concertada,  António  d'A- 
guiar. 

{Arch.  nac.  da  T.  do  T.,  Liv.  V  de  D.  Seb.,  f.  49.) 


Merca  de  50^000  reis  a  António  Pires  do  Canto;  26  de 

junho  de  1560. 

Eu  El  Rey  faço  saber  a  quantos  este  meu  alvará  virem  que  eu 
tenho  emcareguado  per  outra  minha  provisão  a  Amtonio  Pirez  do  Cam- 
ti)  ííidalguo  de  minha  casa,  do  carguo  de  prover  nas  Ilhas  Terceiras 
todas  as  minhas  armadas  que  vyerern  ter  a  quaesquer  portos  dos  lu- 
gares das  ditas  Ilhas  em  coamto  o  eu  ouver  por  bem  e  não  mandar  o 
comtrario  com  o  qual  carguo  ey  por  bem  e  me  praz  por  lhe  fazer  mer- 
cê que  elle  tenlia  e  aja  de  mym  em  cada  huu  anno  em  quanto  o  ser- 
vir cimcoenta  mill  reis  os  quaes  começará  a  vemcer  do  primeiro  dia 
de  janeiro  de  quinhentos  e  sesemta  em  deante  e  serlheão  pagiios  ca- 
da ano  com  certidão  do  comtador  das  ditas  Ilhas  de  como  o  dito  Am- 
tonio Pirez  serve  o  dito  carguo.  E  por  tanto  o  notefico  asy  e  mando  ao 
Barão  dAlvito  vedor  de  minha  fazenda  que  lhe  faça  asemlar  este  al- 
vará nos  Livros  delia  e  lhe  faça  paguar  nas  ditas  Ilhas  os  ditos  F 


i32  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

(60'5>000)  reis  oadamj  em  parte  oinde  lhe  sejão  bem  paguos  e  quero  e 
me  praz  que  este  valha  como  se  iase  carta  começada  em  meu  nome  e 
asellada  de  meu  sello  pemdemte  sem  embarguo  da  ordenação  do  2." 
livro  titulo  2.°  que  despoem  o  conlrarii».  Allvaro  Fernnndez  o  fez  em 
Lisboa  a  xxbj  (26)  de  junho  de  b  e  Ix  {1560).  Amdré  Soares  o  fez  es- 
cprever. 

{Arch.  me.  da  T.  do  T.,  Liv.   VI  de  D.  Seb..  f.  161  v.\) 


Alvará  de  lembrança  a  favor  da  pessoa  que  casar  com 

uma  das  filhas  de  Galas  Lopes,  Tabellião  na  Villa 

das  Velas  da  illia  de  S.  Jorge;  12  de  novembro 

de  1560, 

Eu  el  Rey  faço  saber  aos  que  este  meu  alvará  virem  que  en  ey 
por  t)em  e  me  praz  de  fazer  mercê  a  Galas  Lopes  taballiam  do  publi- 
co e  judicial  da  villa  das  Vellas  da  Ilha  de  São  Jorge  dos  ditos  ofícios 
per  seu  falecimento  pêra  a  pesoa  que  casar  com  uma  de  suas  filhas 
quall  ele  mais  quiser  e  nomear  casando  com  pesoa  auta  e  suficiente  pêra 
os  servir  esto  se  ao  tempo  de  seu  falecimento'!  não  tiver  feito  neles  eros 
perque  os  tenha  perdidos  e  a  pessoa  com  que  a  dita  sua  filha  se  concer- 
tar de  casar  amtes  de  ser  feyto  o  casamento  se  virá  apresentar  a  huu 
dos  meus  desembargadores  do  paço  pêra  ver  se  he  auto  pêra  os  ser- 
vir e  semdoo  lhe  dará  diso  sua  certidam  pela  qual  de|)ois  de  ft^yto  o 
dito  casamento  lhe  será  feyta  carta  em  forma  dos  ditos  oficios  mos- 
trando a  carta  que  o  dito  Galaz  Lopez  deles  them  e  sua  nomeação  <■ 
certidão  de  como  be  casado  e  recebido  per  palavras  de  presente  com 
a  dita  sua  filha  segundo  mandamento  da  santa  madre  Igreja  de  Roma 
pagamdo  primeiro  os  direylos  ordenados  na  quall  carta  se  fará  decla 
ração  que  os  terá  e  servirá  em  quanto  eu  ouver  por  bem  e  nam  man 
dar  o  conlrairo  e  outrosy  mostrará  certidão  do  Juiz  de  fora  da  dita 
villa  de  com  o  dito  Galas  Lopez  não  cometeo  neles  erros  por  que  os 
perdese.  Amtonio  dWguiar  o  fez  em  Lisboa  a  xij  (12)  de  novembro 
de  y  b  e  Ix  (lô60)  Pêro  Fernandez  o  fiz  escprever=Comcertada,  Joãi» 
da  Costa=Concertada,  António  d"Aguiar. 

{Are.  me.  da  T.  do  T.,  Ur.  V.  de  D.  Seb.  f.  14Ò  r."i 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  133 

Nomeação  de  Mig-uel  de  Figueiredo  para  procurador  de 
numero  na  ilha  de  Santa  Maria;  3  de  março  de  1561. 

Eu  El  Rey  f^ço  Síiber  a  vós  João  Soares  de  Sousa  fidalgo  de  mi- 
nha casa  capitão  da  Ilha  de  Santa  Maria  (jiie  aveindo  eu  respeito  ao 
que  na  petição  alraz  esrprita  diz  Migel  de  Figueredo  morador  iia  di- 
ta Ilha  ey  por  bem  e  vos  mando  que  vos  enformes  do  contheudo  ne- 
la e  achando  que  he  necessai"io  proverse  de  [)rocuraiJor  do  mnnero 
em  lugar  de  Pêro  Vaz  ausente  de  que  na  pt^lição  faz  menção  e  que 
ho  Migel  de  Figueredo  he  auto  (apto)  e  suíicietite  para  servir  o  di- 
to oficio  de  procurador  do  numero  da  dita  Ilha  o  encaregares  da  ser- 
ventia dela  e  ysto  em  quanto  durar  a  ausência  do  dito  Pêro  Vaz  ou  eu 
iião  mandar  o  contrairo  e  amtes  de  o  começar  a  servir  lhe  dares  ju- 
ramento dos  samtos  avamgelhos  que  bem  e  verdadeiratnente  o  sirva 
guardando  em  todo  meu  serviço  e  ás  partes  seu  direito  de  que  se  fa- 
rá asento  no  Livro  da  Camará  per  elle  asynado  e  dhy  em  deante  lho 
deixares  servir  e  dele  usar  e  aver  os  i)roes  e  petcalços  que  lhe  direy- 
tamente  pertemcerem  sem  niso  lhe  ser  posta  duvida  nem  embargo  al- 
guu  porque  asy  he  minha  mei'ce.  Amtonio  d'Aguiar  o  fez  em  Lisboa  a 
iij  (5)  dias  de  março  de  y  b  e  Ixj  [1561).  Pêro  Fernandez  o  fez  es- 
cprever=Comcertado,  Joam  da  Costa=Concertado, Amtonio  dAguiar. 
{Arclt.   MIC.  da    T.  do   T.,  Liv.   V  de  D.  Seb.,  fl.  212  r.°j 


Carta  do  Provedor  das  Armadas,  António  Pires  do  Canto 
a  Elrei;  de  25  de  julho  de  1561. 

Senhor.— Ontem  xxiiij  (24;  deste  mez  de  julho  trouxe  nosso  Se- 
nhor a  este  porto  a  náo  São  Martinho  de  que  lie  capitão  António  Mo- 
niz com  muita  presteza  foy  loguo  provida  he  partira  oje  e  com  ella 
Lisnarte  Pirez  d'Andrade,  com  toda  su  armada  por  se  não  esperar  já 
este  ano  por  mais  nãos.  Arma(ia  da  Mina  tenho  nova  que  partio  ao 
derradeiro  dia  do  mes  dAbrill,  não  deve  tardar,  como  a  noso  Senhor 
trouxer  nam  terá  nem  hua  detença  porque  loguo  será  [)rovyda  he  avya- 
da. 

Todo  o  que  me  V.  A.  este  ano  tem  mandado  por  suas  cartas  lenho 
feito  muy  emteiramente  e  canto  Senhor  ao  porto  que  V.  A.  me  mandou 
que  com  Lisnarte  Pirez  he  pillotos  fosemos  sondar  tudo  se  fez  asy  co- 
mo V.  A.  mandava,  e  os  pylolos  e  pessoas  antygas  se  tirarão  por  tes- 
temunhas por  o  Corregedor  de  V.  A.  que  a  todo  foy  presente,  estam 
sse  tresladando  os  autos  pêra  com  esta  os  envyar  a  V.  A.  se  sse  aca- 
barem antes  desta  náo  dar  á  vella  o>  levará  Lisnarte  Pirez  he  senam 


134  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

emvyallus  em{sic)  por  armada  da  Mina:  por  elles  verá  V.  A.  o  que  cum- 
pre a  seu  serviço  he  pois  me  V.  A.  manda  que  também  digna  meu 
parecer;  digu(j  senlior  que  as  nãos  da  Índia  que  sse  podese  .^er  nun- 
(|ua  ancorarem  em  nemliua  parle  que  isto  lie  o  que  mais  cumpre  a 
voso  serviço  e  á  vella  sserem  providos;  e  pêra  ist(j  estar  ssempre  tu- 
do prestes  e  como  entrase  abril  V.  A.  mandar  a  esta  ilha  liua  cara- 
vela darmada  ou  duas  pêra  que  vynd(j  allgua  não  cedo,  logiio  se  par- 
tysse  com  hua  caravela,  e  outras  em  que  sse  aqui  meteiia  arlelheiia 
ssem  custar  fazerse  despeza  como  este  ano  fiz;  e  que  pêra  isto  venlia 
artelliaria  miúda  he  pollvora  pois  V.  A.  aquy  tem  doze  bombardeiros 
lie  hum  condestabre  (pie  leva  cada  hum  hum  moyo  de  trigo  e  o  condes- 
tabre dezasete  myll  reaes,  isto  de  tença  que  nem  porisso  lhe  leyxam  de 
pagar  ca.ndo  servem  e  nam  avemdo  artelliaria  meuda  he  pollvora  nem 
se  podem  armar  navyos  nem  V.  A.  ser  bem  servydo  e  perdese  o  que 
se  dá  aos  ditos  bombardeiros;  tenho  envyada  toda  a  dita  artelliaria  nam 
a  tornaram  a  mandar,  V.  A.  mande  que  a  tomem  a  mandar  se  asy  o 
á  por  seu  serviço  e  sse  não  não  se  faça  conta  de  sse  qua  poder  armar 
nem  liu  navyo. 

E  camdo.  senhor,  as  nãos  não  poderem  escusar  dancorarem  deve 
V.  A.  mandar  que  ancorem  donde  ancoraram  des  o  tempo  que  se 
a  índia  descobrio  até  que  el  Rey  voso  avô  que  está  em  Groria  man- 
dou (pie  ancorassem  em  trimta  braças  porque  cando  ancoravam  dentro 
no  porto  nunipia  ouve  desastre  nem  perigou  nãos. 

Canto,  Senhor,  ao  porto  que  V.  A.  mandou  ver  he  porto  de  três 
legoas  desta  cidade  em  costa  brava  ssem  porto  nem  calheta  mansa 
onde  se  posam  varar  botes,  terra  ssem  p(jvoaçam  pêra  acudir  gente 
cando  for  necesario  sem  auguoa  que  he  o  principal  como  tudo  mais 
largamente  vay  justifiquado!  porto  onde  ornem  desta  terra  sse  allenbra 
dormyr  navyo  de  nuyte  e  sse  allgnem  vay  a  ell  caregar  trigo  não  está 
senam  pouquo  e  de  dia,  e  por  tomar  nt- II  trigo  leva  mais  ij^  (200)  rea- 
es por  tonellada  e  creo  que  ainda  que  V.  A.  mande  aos  pillotos  das 
nãos  da  índia  que  so  pena  de  nell  ancorem  o  nam  poderam  conprir 
ponpie  crarainenle  veram  sua  perdiçam:  de  irem  a  V.  A.  com  estas 
novydades  não  me  espanto  por^que  as  desta  Ilha  sam  muitas,  as  nãos 
e  nos  toilos  somos  de  V.  A.  o  que  mandar  «jue  se  faça  teremos  por 
bem,  com  acupação  de  fazer  esta  náo  ha  vella  e  armada  não  dou  de 
tudo  mais  miudamente  conta  a  V.  A.  fallo  ey  por  armada  da  Mina.  No- 
so  Senhor  acrecente  a  vida  e  estado  de  V.  A.  he  da  Raynha  iiosa  se- 
nhora: da  Ilha  3  ^  a  xxb  (2ò)  de  julho  de  1561. 

Ao  provedor  dos  alhnazês  envio  certidam  do  mamtymento  que  este 
ano  dey. 

Aintotiio  Pires  do  Canto. 

[Sobreicripto)  A  el  Key  noso  Senhor,  d'Antonio  Pirez  do  Camto. 
[Ori(jinal) 

'  iArcL  uac.  da  T.  do  T.,  Corp.  Chr.  PS  1.^  mar.  lOÕ—n.''  12.) 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  13o 


Auto  mandado  levantar  pelo  Provedor  das  Armadas,  em 

Angra,  aos  14  de  maio  de  1563,  a  respeito  das  culpas 

de  Pêro  Carrilho. 

Saibam  (|ii;unlus  este  estroiiie^iiti)  com  lio  trellido  de  liuu  auto  fTi'i- 
ti»  per  mamdaiJu  de  Joain  (Ja  Silva  do  Camlo  fíldallgiio  da  casa  dp|| 
Hei  ni)so  senhor  e  provedor  de  suas  armadas  e  nãos  da  Imdia  e  trel- 
lado  de  hnna  carta  deli  Rei  n(tso  senhor  virem  que  no  anno  do  naci- 
mento  de  noso  seidior  Jlinii  xpõ  {Jesus  C/iristo)  de  mil  e  qiiinheinlos  h 
^esemla  e  três  {lõ6H)  arnios  aos  catorze  dias  do  mez  de  mayo  do  di 
lo  anno  em  esta  cidade  d  Amgra  da  Ilha  Terceira  nas  casas  da  mora- 
da de  Joam  da  Silva  do  Camto  llidallguo  da  casa  deli  Key  noso  senhor 
e  proved(»r  de  suas  armadí^s  e  nãos  da  Imdia  que  a  est^s  Ilhas  vem 
liT  sendo  liy  presemte  ho  dito  provador  [)er  elle  ífoy  mamdado  a  mym 
l.dialliam  da  parte  do  dito  senhor  que  llizese  anto  de  como  hera  ver- 
ilade  qne  oje  chegara  ao  porto  da  dita  cidade  dAmgra  a  nao  per  no- 
me «Sam  Christovão»  de  (jne  era  mestre  e  senhorio  Gaspar  Jorge  mo- 
rador em  Sevilha  da  hamda  de  Triana,  a  qual  náo  vinha  das  InuJias  de 
Castella,  de  Sam  Joam  de  Porto  Rico  e  por  elle  ter  emcaregnado  a  Fran- 
cisco Pedrozo  moço  da  camará  do  dito  senhor  he  allcaide  na  dita  ci- 
dade depois  da  partida  de  Kfelipe  (lerveira  desta  Ilha  [)era  ho  Reino 
qne  tivese  muyta  vegia  em  todas  as  nãos  e  navios  que  ao  dito  porto 
vieseín  asi  de  iionte  como  de  dia  sem  comsemtir  que  p<\s()a  ailgua  a 
elles  cheguase  sem  primeiro  íTallarem  com  elle  dito  Joam  da  Silva  pêra 
se  poderem  heíTetuar  certas  delligencias  qne  lio  dito  senhor  ínandava 
ÍTazer,  o  dito  Ffrancisco  Pedrozo  fíora  á  dita  ná(t  e  lhe  viera  loguo  com 
recado  ao  caminho  domde  elle  dito  Joam  da  Silva  do  Camttj  estava  e 
l)0r  vei'  domde  a  dita  não  vinha  lhe  ínamdára  (pie  peramte  elle  trou- 
xese  ho  mestre  e  escripvam  da  dita  náo  e  asy  os  mercadores  delia  o 
quoall  lloguo  íTez  com  hos  quoaes  elle  dito  Juam  da  Silva  tfizera  as 
dylligemcias  que  sua  allleza  lhe  mamda  ífazer  per  suas  provisões  he 
por  achar  amtre  outras  cousas  de  que  se  emfoimara  que  nesta  dita 
cidade  dAmgra  andava  G(»nçMlo  Arrais  de  Memdoça  que  hera  sobri: 
uho  de  Pêro  Garrilho  ííilho  de  sua  Irmãa  e  achar  poi'  emformações  de 
pesoas  da  dita  náo  ser  aqny  ho  dito  Guomçallo  Arrais  de  Mend(»ça  so 
brinlio  do  dito  Pêro  Carrilho  com  certos  avisos  pêra  o  dito  seu  tio  com 
parecer  do  Licenciado  Balltesar  Allvarez  Uamiiez  comtador  «lell  Rey 
noso  senhor  de  sua  fTazemda  em  esta  Ilha  por  nam  estar  aijni  ho  cor 
regedor  com  quem  sua  allteza  manda  que  llizese  he  commiicas(;  lios  di- 
tos neguocios  por  ser  Iletrado  e  muy  zelloso  do  serviço  de  sua  allleza 
lhe  pareceo  damdolhe  diso  comta  (jue  devia  no  dito  neguocio  ÍTazer  ali 
gua  delligencia.  K  Ih  guo  no  mesmo  istante  mamdaia  ao  dito  Ffrancis- 
co Pedrozo  allcaide  ipie  na  mesma  ora  biiscase  ao  dito  Guomçalo  Aiais 
de  Memdoça  damdolhe  os  sinais  que  por  emfíormaçam  tinha  per  omde 


136  ARCHIVO  DOS  AÇOKES 

O  devia  conhecer  e  o  tron\ese  per;jmte  sy,  o  que  lloguo  ho  dito  allcai- 
de  com  muyla  dyllygemcia  ífizera,  e  o  trouxe  semdo  presemte  ao  tra- 
zer Balllezar  Guoínçallvez  e  eu  taballiam  setndo  liy  ho  dito  provedor 
Joam  da  Silva  do  Camto  ffez  as  pregumtas  seguimtes  ao  dito  Guom- 
ç.dlo  Âraiz  de  Meiwloça,  damdolhe  juramento  dos  sanitos  avamgelhos 
(jue  respomdese  ao  que  lhe  pregiuntase  bem  e  verdadeyramemle  he 
elle  respomdeo  que  asi  ho  ffaria  he  tomou  ho  dito  juramemto  —  pri- 
meiramemte  lhe  pregumlou  a  que  hera  vimdo  a  esta  terá  e  que  ne- 
goceos  vinlia  a  ella  íTazer.  E  o  dito  Guomçallo  Âraiz  de  Memdoi^a  se 
sopesou  a  dita  pregumta,  e  ho  dito  Joam  da  Silva  lhe  dise  que  ho  que 
lhe  pregumtava  hera  da  parte  áo  dito  senhor  e  per  cumprir  muyto  a- 
si  a  seu  serviço  por  ser  emfformado  que  elle  vynha  aquy  pêra  dar  cer- 
tos avisos  comtra  ho  serviço  de  sua  allteza  (jue  soubesn  certo  que  nam 
dizemdo  e  decllaramdo  a  verdade  seria  preso  e  ho  mamdaria  preso 
em  íTeros  ao  dito  senhor  e  que  soubese  certo  que  primeiro  que  saise 
de  casa,  e  de  presemça  delle  provedor  lhe  avia  de  mandar  tomar  a  ca- 
sa domde  pousava  he  lhe  buscar  hos  papeis  que  trazia  e  achamdo  per 
elles  o  comtrairo  do  que  disese  emxecutaria  nelle  o  que  lhe  jà  tinha 
dito  he  per  o  dito  Guomçallo  Araiz  de  Memdoça  que  pois  que  elle  nam 
era  vimdo  a  esta  Ilha  a  cousas  de  serviço  do  dito  senhor  e  que  pois 
elle  provedor  lho  asi  mamdava  de  sua  parte  e  com  juramemto  e  gra- 
ves penas  (jue  dezia  a  rezam  e  causa  a  que  viera  a  esta  Ilha. 

E  pêra  mais  certeza  da  verdade  que  ho  deixase  liir  ahomde  pou- 
sava e  que  elle  lhe  traria  provisões  que  trazia  do  dito  senhor  que  era 
a  causa  per  que  viera  a  esta  Ilha  e  ho  dito  provedor  ho  manidou  hir 
com  ho  dito  allcaide  e  Balllezar  (1)  Guomçallvez  taballiam  ha  dita  sua 
casa  hos  quais  íToram  e  vieram  e  trouxe  ho  dito  Guomçallo  Arais  [)a- 
peis  que  diseram  elle  ter  em  sua  caixa,  amtre  as  quais  mostrou  duas 
cartas  de  sua  allteza  pasadas  per  sua  chamçalaria  ambas  de  huu  te- 
hor  em  que  se  comtyuha  de  que  o  tiesllado  da  dita  provisam  hirà  ao 
diamte  deste  auto,  as  quais  provisões  lloguo  fforani  vistas  per  elle  di- 
to provedor  he  comtador,  e  por  a  dita  provisam  ser  de  callidade  que 
parecia  suallteza  se  aver  po  servido  de  sobjstarem  he  se  nam  emxe- 
cutarem  nem  se  aver  de  proceder  mais  per  outras  muitas  provi.^ões 
he  cartas  que  sobre  o  mesmo  caso  ho  dito  seidior  tynha  escripto  e 
mamdado  a  elle  provedor  acerqua  do  neguocio  tocamte  a  ellas  e  a  di- 
ta provisão  elle  dito  provedor  dise  he  mamdou  ao  dito  Guomçallo  A- 
raiz  de  Memdoça  da  parte  do  dito  senhor  que  lhe  emtreguase  huas  das 
ditas  provisões  pêra  com  elle  escrepver  a  sua  allteza  e  ho  certeiíicar 
de  como  pello  que  na  dita  provisão  via  avia  de  sobestar  e  nam  pro- 
ceder avamte  nas  mais  dyllygnmcias  que  lhe  sua  allteza  tinha  mam- 
dado he  emcareguado  per  suas  provisões  toocamtes  a  este  neguocio 


(1)  Aqui  houve  sdlto  do  escreveiile,  devendo  dizer:  tíaltezar  Allvarez  com- 
tdditr  romntitjo  António  Gonrallves  taballium. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  137 

por  (luoanto  n.im  estav;i  iipsla  cidade  residemle  ÍTura  de  sna  casa  he 
ITazenda.  este  negocio  he  delligenicias  pêra  bem  se  poder  lieíTi-Uiar  ho 
serviço  do  diio  senhor  que  per  bem  das  ditas  suas  provisões  e  carias 
lhe  linha  mamdado  ho  qual  Gnomçallo  Araiz  de  Memdoça  dyse  que 
a  elle  lhe  era  necesaryo  as  ditas  provisões  pêra  também  por  ellas  se 
heíTetnar  o  que  sua  allteza  nellas  mamdava  he  se  segurar  a  justiça  e 
direito  do  dito  Pêro  Carilho. 

E  porem  pois  que  elle  provedor  lhe  mandava  dar  por  asy  sei'  ser- 
viço de  sua  allteza  he  lambem  porque  niso  íTazia  o  que  compria  a  bem 
da  justiça  do  dito  Pêro  Carilho  pois  era  que  elle  provedor  tinha  hos 
dylos  recados  de  sua  allteza  [terá  com  elles  aver  de  ífazer  as  dylli- 
gemcias  de  seu  serviço  que  ora  com  as  provisões  do  dito  senhor  que 
elle  tinha  e  trazia,  elle  dava  a  elle  provedor  e  apre^emtava  hua  das 
ditas  provisões  se  necesario  era  per  cima  do  que  sua  allteza  nellas 
mandava  requeria  a  elle  provedor  que  cumprise  e  guoardase  a  dita 
l)rovisam  asy  e  da  maneira  que  sua  allteza  nella  mamdava  do  que  to- 
do lio  dito  provedor  mamdou  ffazer  este  auto  e  todo  mamdou  escre- 
pver  dizemdo  que  faria  niso  aquillo  (]ue  mais  parecese  serviço  de  sua 
allteza  e  mamdou  que  eu  laballiam  Iresladasse  adyamle  deste  auto  a 
dita  provisam  porque  a  propia  lhe  avia  de  IFicar  em  sua  mão  pêra  sua 
guoarda  e  houtrosy  lhe  Ireslladase  a  mais  emformaçam  que  sobre  o 
caso  tinha  tomado  com  declaraçam  das  pesoas  per  que  estain  asyna- 
das  e  dello  ffiz  ho  dito  auto  que  Mdos  asinaram.  K  eu  Amtonio  Gom- 
çallvez  taballiam  o  escrepvy  =  Joam  da  Silva  do  Camto  =  Guomçallo 
Araiz  de  Memdoça=Balltesar  Allvarez=Francisco  Pedroso. 


Trellado  da  carta  dei  Rey  noso  senhor. 

Dom  Sebastião  per  Graça  de  Deos  Rey  de  Portugal  e  dos  Allgar- 
ves  daquem  e  dallem  maar  em  Affriqua  senhor  de  Guine  e  da  Com- 
quista  Navegaçam  Cvimercio  d'Ethiopia,  Arábia,  Pérsia  e  da  Imdia  etc. 
a  todos  corregedores,  houvidores,  juizes  e  justiças  hoffyciaes  e  pesoas 
de  meus  heinos  e  senhorios  a  que  esta  minha  carta  ííor  apresemtada  e 
ho  conhecimento  delia  com  direito  pertemcer  ffaçovos  saber  que  por  par- 
te de  Pêro  Carilho  morador  nesta  cidade  de  Llixboa  mo  ffoi  apresemtada 
hua  petição  dizemdo  que  elle  ffora  cullpado  em  hua  davassa  que  tirara 
ho  dr.  Joam  de  Valladares  por  meu  mandado  por  se  dizer  que  elle  fo- 
ra a  Sam  Tomé  em  navios  castelhanos  e  que  resistyra  aos  oíliciaes  e 
justiças  do  Cabo  Verde  e  de  outras  cullpas  por  vertude  das  quoais  eu 
lynha  mamdado  pasar  provisões  pêra  as  Ilhas  e  outros  portos  pêra  o 
premderem  vindo  elle  das  Imdias  de  Castella  e  lhe  embargarem  a  ffa- 
zemda  e  ora  semdo  eu  iinformado  do  caso  lhe  pasara  huu  allvará  de 
ííiamça  de  dous  mill  cruzados  entregue  a  ffiadores  cacereiros  a  qual 
tiança  tynha  dada  e  registada  como  parecia  do  allvará  e  certidam  que 

N."  4i  — Vol.  Vlll—  1886.  6 


i38  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

apresemtava  e  porque  temia  ser  nas  lllias  embaraçado  e  presoo  vin- 
do das  Imdias  de  Casteila  domde  vmlia  pur  caminho,  me  pedia  qiw 
vi^tu  lio  dito  allvará  e  íliamça  llie  inatidase  pasar  três  nu  quDalro  cai- 
tas  fom  u  trellado  da  sua  petiçam  e  allvara  e  registo  da  lliamça  pê- 
ra mandar  [tur  vias  ds  lllia»  pernumciamdo  que  nnm  fose  [treso  nem 
embarguada  sua  Dazemda  pois  tinlia  dada  ha  dita  tfiamça  etc.  seguin- 
do que  lodo  esto  miilior  e  mais  coinpridamente  na  dyta  petiçam  he- 
ra cumleudd  com  ha  quoali  íiby  lioulrosy  por  sua  pai'le  apresemtado 
huu  meu  allvara  de  que  nella  tíazia  memgão  pasado  per  minha  cham- 
celaria  e  nas  cobtas  delle  hua  petiçam  per  que  íioy  comeedido  e  com 
duas  portaiias  hua  do  doutor  Manoell  d  Almeida  corregedor  de  minha 
corte  e  outra  do  dito  doutor  Joani  de  Valladares.  E  asi  huma  certidauí 
de  Amtonyo  Iternamdes  escri[)vam  das  íliamças  de  minha  corte  da 
quoali  petvçam,  portaiias  e  aJvará  e  certidam  o  trellado  he  o  seguim- 
te: 

Diz  Pêro  Carrilho  morador  nesta  cidade  de  Li>boa  que  elle  IToy 
a  Sevilha  em  hua  náo  pêra  liir  as  Amlyihas  de  (^a>tella  e  nella  llevou 
allguas  peças  de  artelharya  que  foram  de  V.  A.  que  Joam  (^ayado  de- 
zia  Comprar  ha  Lluquas  Giralldez  e  chegamdo  a  sevilha  ffez  compa- 
nhia com  huns  mercadores  da  dita  cidade  pêra  liir  comprai-  escrapvos 
ao  Cabo  Verde  liou  a  Sam  Tomé  e  hos  llevar  ás  Inulias  de  Castella  e 
por  cau>a  da  dita  neguociaçam  se  mudou  elle  siipricante  a  hua  náo 
Castelhana  per  nome  Santo  Estevã(j  e  por  hir  por  caiútão  delia  peia 
seguramça  de  sua  pessoa  e  líazeuda  que  llevava  meteo  nella  allgua  da 
dita  arteilharia  que  llevava  como  cousa  de  Joam  Cayado  ijiie  lha  dera  * 
ue>ta  cidade  peia  meter  na  náo  em  que  hia  e  imdo  elle  xipricainte 
ter  ao  (^abo  Verde  ao  porto  da  Praia  por  nam  se  comcertar  sobre  o 
preço  dos  escrapvos  com  lios  ITeiloies  dos  lratadore>  e  se  hyr  á  Ilha 
de  Sam  Tome  comprar  os  ditos  escrapvos  huu  meslre  Manoell  que  es- 
tava por  Heitor  dos  tratadores  no  t^abo  Verde  houve  diso  de.>guosto  e 
anidou  biisquamdo  todas  as  maneiras  e  modos  ([iie  pode  peia  (»  des- 
troyr  e  llamçar  a  [lerder  e  ífez  com  o  juiz  da  villa  da  Praia  e  com  ho 
ca[)itain  e  allmoxarile  no  Cabo  Verde  ijue  ^lizes^em  delle  autos  e  de- 
vasas  dizendo  que  elle  sopricamte  imdo  ha  dila  villa  da  Praia  na  dila 
nao  castelhana  llevava  artelharia  de  bronze  de  vosa  allesa  e  que  elle 
fíora  mandado  pelo  juiz  e  hoíiciaes  da  dita  villa  com  pt  na  de  dous  mill 
cruzados  e  cimquo  anos  ile  degredo  que  se  nam  saise  da  dita  villa  até 
se  fazerem  as  dellygencias  sobre  a  dita  artelharia  e  meiquadnrias  que 
llevava  na  flita  nao  de  que  devia  direilo>  e  que  elle  sopricamle  ([uebra- 
ra  ha  menag»  in  [hnnunugníDQ  mandara  vir  lia  dita  nái>  miiyta  gemle  ar- 
mada com  aiqnabiizes.  e  bestas  e  armas  ;.omeyo  dya  e  fogira  ptra  a  nao 
llevando  a  gemte  de  resguoardo  e  que  sai  iam  e>[)os  elle  hos  allcaides 
da  terá  e  mar  e  ca[itam  e  juiz  e  almoxarife  e  ijiie  elle  supricamte  vyra- 
ra  comtra  o  allcaide  da  ti-ra  com  hos  arqiiabii/.eyros  e  se  embarcara  lla- 
zemdo  tudo  ctunn  Inimem  allevamtado  e  desiialurall     «•  ipie  e.^tava  na 


A RCHIVO  DOS  AÇORES  139 

não  ;ilyramdo  tyros  de  arqaabu/.ari;)  e  ffogiio  ffazemdo  represaria  nos 
baleis  e  gemte  ijiie  lia  riao  liia  e  os  tinha  releiídos  e  presos  c  uno  ho- 
mem poderoso  e  allev.imlado  por  omde  não  poderam  hir  a  nau  ITazer 
(hílhgemcia  sobre  hos  ihtos  liros  de  artelharia  nem  ao  (pie  eom[)ria  aos 
(hreilos  e  bein  de  vosa  ffazemda  e  despois  diso  nesla  cidade  hos  ditos 
tratadores  do  (]abo  Wrde  deram  emfoi-aiagam  a  vosa  alteza  por  sy  e  poi- 
outras  pessoas  com  capitólios  de  todo  ho  sobiedito  di>,emdo  mais  (pie 
elle  sopricamte  ffora  a  Ilha  de  Sam  Tomé  com  navio  e  não  castelhana 
e  de.  estramgeiros  que  partiram  de  Castella  semdo  deffeso  hirem  ha 
Sam  Tomé  e(jiie  vemdera  e  deixara  em  Seviliia  a  náo  em  (jne  ffora  des- 
te reino  pêra  se  meter  na  dita  nao  castelhana  e  hir  a  Sam  Tomé  com- 
ira  (forma  das  provisões,  hordenações  e  regimento  de  vosa  allteza  so- 
bre as  ipiaes  cunsas  sam  jaa  tyradas  dnas  devasas  e  inquirições  Ima 
pello  Licenciado  Ffrancisco  Huiz  jniz  da  {Imdia)  e  Mina  e  outra  pello 
llicemceado  Joam  de  Valladares  juiz  dos  ffeitos  de  vosa  allteza  e  por 
voso  inamdado  e  porque  elle  sopricamte  he  inocemte  e  sem  cnllpa  nos 
ditos  casos  e  lhe  (foy  tudo  llevamtado  manhosamente  pollo  dito  mestre 
.Manoel  e  tratadores  do  Cabo  Verde  e  olliciaes  da  dita  Ilha  por  sua  com- 
tempraçam  e  llevun  ha  artelharia  desta  cidade  [tor  de  Joam  Cayado 
qne  dezia  comprara  a  Lluqiias  Giralldez  e  he  muil(j  Uiitorio  e  elle  su- 
pricamte  ffoi  ha  Sam  Tomé  pubriquamente  ha  ffeyt  »ria  de  vosa  allteza 
homde  comtratou  himdo  desta  cidade  com  os  tratadores  de  Sam  Tomé, 
a  qne  pertemcia  hos  direitos  diso  e  comcertado  com  hos  remdeiros  da 
sisa  d(js  escpravos  tudo  á  boa  ffee  sem  dollo  nem  mallycia  e  teme  ser 
preso  e  avexado  e  enidevidamente  mollestado  semdo  sem  cnllpa  e  com- 
iia  que  polias  ditas  devasas  conste  de  sua  justiça  digno  de  sua  inocem- 
cia  e  tem  molher  e  filhos  nesta  cidade  e  se  quer  vir  llivrar  e  lia  mais 
de  três  aunos  que  amda  fora  de  sua  casa  e  vimdo  hora  das  Amtilhas 
na  dita  náo  caregnada  de  mercadorias  deu  a  nao  através  e  se  perdeo 
com  quoamlo  trazia  e  íliqua  perdido  e  de.>baratado  e  sem  remédio  de 
vida  e  sobre  iso  amorado  por  causa  de  que  he  inocemte  e  sem  cullpa 
pede  a  vosa  allteza  que  avemdo  respeito  ao  sobredito  e  serem  jaa  ti- 
radas has  ditas  devasas  e  os  desembargadores  do  paço  lhe  terem  jaa 
comcedido  allvará  de  Ifiamça  sobre  ffiamça  de  mill  cruzados  i)or  verem 
ser  asy  justiça,  ho  quoal  allvará  vosa  allteza  nam  quis  asinar  ajaa  por 
bem  de  lhe  comceder  allvará  de  ffiamça  pêra  qne  sullto  se  llivre  sobre 
Uiamça  que  vosa  allteza  houver  por  setr  serviço  e  receberá  mercê. 

Portaria  do  corregedor  Manoel  d'Almeida. 
Em  outra  petiçam  pus  já  esta  portaria  e  por  mo  affirmarem  que 
se  perdeo  e  ma  tornarem  ha  pedir  a  dou  e  digno  que  eu  falley  ho  an- 
*  no  pasado  nesta  petiçam  á  Hainlia  nosa  senhora  semdo  presemte  dom 
Gill  Eanes  he  sua  allteza  ouve  por  bem  por  justos  respeitos  que  a  iso 
m(»veram  que  ho  supricamte  Pêro  Carilho  se  llivrase  das  cnllpas  com- 
teudas  nesla  petiçam  entregue  a  lliadores  cacereiros  que  se  liobryguem 


140  AHCHIVO  DOS  AÇORES 

ao  eiiilregiiar  cada  vez  que  lhe  ffor  rnandaclo  como  cacereyros  e  sob 
pena  de  pagnarem  dons  mil  cruzados.  Enj  Llixbo.i  a  dezasete  de  fivc- 
reiru  de  [uill  e  ijninl.emtos  e  sesemta  e  seis  {1506).  Manuell  dWlmfida. 

Outra  purlari;i=Sua  alteza  lia  por  bem  que  lio  supricamte  Pêro 
Carillio  se  llivre  das  eullpas  cumteudas  nesta  [jetiçain  e  seja  emtregue 
a  fiadores  cacereiros  que  se  hobriguem  ao  emtreguar  cada  vez  que 
llie  for  mamdado  como  cacereyros  sob  peua  de  paguarem  dous  mil 
cruzados  vista  a  tíiamça  que  lhe  íToi  dada  pello  llicemceadu  ^Joam  de 
Valladares  que  tyrou  devasaa  do  dito  Pêro  Ciarilho  per  mamd;)do  de 
sua  allteza.  Em  Lixboa  a  vimte  dous  dyas  de  ffevereiro  de  mill  e  qni- 
nhemtos  e  sesemta  e  três  {1563). 

Trellado  do  allvará=Eu  El  Rey  ííayo  saber  aos  que  este  meu  all- 
vará  virem  que  avemdo  respeito  ao  que  diz  Pêro  Carillio  na  petyçam 
atras  escripla  ey  por  [bem)  que  elle  se  posaa  llivrar  solho  das  cnll[)as 
de  que  na  dita  petiçam  tfaz  ujemçam  e  seja  emtregue  a  líiadures  ca- 
cereiros  e  que  se  hobriguem  ao  emtreguarem  presoo  á  justiça  ciida 
vez  que  lhe  ftor  mamdado  sob  pena  se  ho  asy  nam  compryrem  paga- 
rem dous  mil  cruzados  pêra  ho  esprital  de  todos  hos  samtos  desta  ci- 
dade de  Lixboa  e  isto  ey  asy  por  bem  avemdo  respeito  á  emfoimaçam 
que  me  do  ca(iso  deu  ho  Licemceado  Joam  de  Valladares  do  meu  des- 
embargo e  juiz  dos  ffeitos  de  minha  fíazemda  do  neguocio  da  Imdia  e 
hos  ditos  Ihadores  cacereiros  seram  hobriguados  a  ITazer  registar  es- 
te meu  allvará.  E  o  ijue  ha  dita  fiamça  no  Livro  das  fiamças  da  corte 
e  mostraram  certidam  do  escripvam  d:is  ditas  íiamças  de  como  e^le 
allvará  e  a  dita  riiamçaMIiquam  registadas  no  dito  llivro.  Joam  fiallvam 
ho  ffez  em  Lixboa  aos  vimte  e  dous  de  ffevereiro  de  mil  e  qiiiidiem- 
tos  e  sesemta  e  três  {1563}  e  os  ditos  lliadores  furam  registar  o  livra- 
mento do  dyto  Pêro  Cariiho  do  dya  que  ho  ouver  a  (juoremla  dias  sob 
perdimento  da  dita  íliamça  pêra  ho  dito  esprital.  Joau)  de  Castilho  ho 
fez  escrepver.=0  Cardeal  Ifamte. 

Sub^cripçam  =  Ha  vosa  allteza  por  bem  (jue  Pêro  Carilho  mora- 
dor' nesta  cid-ule  se  pos.-a  llivrar  sollto  das  cidlpas  de  ijiie  na  petiçam 
alraz  escripta  ffaz  memçam  e  emtregue  a  Ihadores  cacereii'os  em  (|ue 
se  hobriguem  ao  emtreguai'  preso  ha  justiça,  cada  vez  (pie  lhe  ffor 
mamdado  e  i^to  sobre  fhamça  de  dous  mil  cruzados  vista  ha  emfor- 
maçam  que  do  caso  deu  a  vosa  allteza  ho  Liceuiciado  Joam  de  Valla- 
dares juiz  dos  ffeitos  da  Imdia  ele. 

Trellado  da  certidam  da  fiamça.  Ei(pia  registado  a  peliçaiu  e  all- 
vará deli  Kei  ni>so  senhor  atraz  escripto  no  Livro  das  lliamças  da  cor- 
te que  serve  este  anuo  presemte  de  (juiuliemtos  e  seseml.i  e  trez  as 
flolhas  sesemta  e  oito  e  nove  e  bem  asy  huii  pubrico  estromento  de 
Íliamça  de  dous  mil  cruzados  jusliíicaindD  de  Hiaíiores  cacereiros  coii- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  14! 

ffoime  ao  dito  allvaiá;  certetíiqiio  asy  em  Llixbua  a  trez  de  março  do 
dito  anní) — pagou  oilemta  reaeis— Amloiiio  Fernamdez. 

E  semdo  asy  a[)re.st'mtada  a  dita  [)etiçam  com  hodilo  allvará  e  cer- 
tidam  da  dyta  lliamça  e  mais  despachos  de  que  nesla  carta  atraz  ffaz 
memçam  mandey  de  tudo  tíazer  auto  e  jmnlar  a  elle  lios  ditos  |)a(i<'i> 
e  com  elles  mandey  que  nie  fose  llevadn  comcruso  e  visto  jier  mim 
com  lios  desembargad((rt's  de  minha  ITazemda,  acordey  que  se  pasem 
cartas  confforme  ao  allvará  de  tíiamça  apresemlado  como  ho  so[)ri- 
camte  pede  vista  a  forma  do  dito  allvará  etc.  per  virtude  do  qual  se 
pasou  a  presemte  [h^v  que  mando  aos  correged(»i'es,  houvidores  e  jui- 
zes e  justiças  das  dylas  Ilhas  e  de  outros  quaesquer  portos  lie  lluga- 
res,  cidades  e  villas  de  meus  Reinos  e  senhorios  a  (pie  hapresemtada 
for  que  iiam  [irendae>  nem  comsintaes  premder  ao  dito  Pêro  (laiillio 
nem  lhe  tomaram  nem  socrestaram  sua  ffazemda  nem  cousa  allgua 
pt-r  resam  dos  casos  e  cull[)as  nesta  carta  decllaradas  sem  embarguo  de 
quoaesquer  outras  cartas  e  provisões  minhas  e  de  minhas  justiças  qup 
em  contrario  e  amles  desta  s<'jam  (»asadas  pêra  ser  preso  e  sua  fa- 
zemda  pello  dito  caso  soct estada  por  (juoamto  despois  de  se  pasarem 
lhe  ffoi  pasado  ho  dito  allvará  atraz  comteudo  e  tem  satisffeito  com  a 
lliamça  comforme  a  elle  e  por  tamto  llivremente  e  sem  nlium  empedi- 
mento  deixareis  desembarqnai'  em  quoalquer  porto  huu  portos  que  che- 
gar peia  dahi  se  vyr  direitamente  a  esta  corte  homde  se  hade  llivrar 
sollto  per  virtude  do  dito  allvará  peramte  ho  dito  juiz  dos  ffeitos  de 
minha  íTazemda  liou  peramte  quem  ho  conhecimento  do  caso  com  di- 
reito perteui!  er  ho  que  hiins  e  outros  asy  c  »mpry  sem  nliiima  duvida 
nem  embarguo  que  a  ellu  ponhaes  e  ali  nam  façais.  Dada  em  esta  mi- 
nha cidade  de  Li>boa  aos  seis  dias  do  mes  de  março.  El  Hey  noso  se- 
iilior  ho  mandou  pello  Licemciado  Joam  de  Valladares  do  seu  desem- 
bargiio  e  Juiz  de  seus  ífeitos  do  negiiocio  da  Imdia  e  Mina  etc.  Kfrau- 
cisco  d'Alvareigua  ha  ffez  por  Manoel  Vaaz,  anno  do  nacymento  de  Nos- 
so Senhor  Jhuu  xpõ  {Je-sns  C/nisto)  de  mil  e  quinhemtos  e  sesemta  e 
três  {15b'S)  annos.  E  eu  Manoel  Vaaz  escripvam  a  tíiz  escrepver  e  sob- 
escrepvy,  pagou  desta  carta  ceinlo  e  dez  reaes  e  dasiguatura  delia 
vimle  re.ies  a  quall  carta  y.iy  per  duas  vias  e  fazemdose  obra  per 
hua  a  outra  nom  averá  effeito-='pg.  xxx  {30}  reaes  =  Amtonio  Vieira 
=Doni  Symão=Joam  de  Valladares. 

Jt.  Gaspar  Jorge  mestre  e  senhorio  da  não  Sã(»  Xpovão  [Christo- 
râo)  vezynho  de  Sevilha  morador  em  Triana,  dyxe  vir  Pêro  Carilln» 
preso  na  náo  gallega  elle  lie  outro  ffeitor  dos  Jorgês  chomado  Joam 
Guterres,  partiram  de  Sainto  Domingo  em  qiiimze  dias  de  março  pa- 
sado, diz  ter  a  metade  da  náo  de  (>arilho,  e  que  vinham  com  temção 
de  tomar  estas  Ilhas,  diz  este  mestre  que  partyo  qatorze  dias  depois 
e  asynou  com  jiiramemto  que  lhe  dey  e  afirma  se  nam  llevã  mantymeuí 
to  pêra  poderem  pasar  sem  tomare-m  allgua  destas  ilhas,  decllarou 
mais  ho  dyto  mestre  ipie  vem  na  náo  espynosa  asy  chomada  miiyta 


142  ARCHIVO  DOS  ÂÇOKES 

tíazemda  do  dylo  Pêro  Carilho,  e  sabe  pousar  em  sua  casa  Pêro  Ca- 
rilho  e  que  vem  muita  ffazemda  sua  nesta  niu)  que  lie  dEspiuosa  e  dos 
senhores  delia  Allinona,  vem  por  mestre  e  pillotu  Ffrancisco  Feruandez 
Moreno  natural!  de  Sevilha  morador  em  Tryana=Gaspar  Jorgt^. 

Ho  quall  tresllado  em  estromemto  eu  Amt  )nio  Guomç.dlvpz  tabal- 
liam  publico  e  do  judycyall  por  ell  Key  noso  senhor  em  toda  e>ta  Ilha 
Terceira  fiz  ireslladar  e  treslladey  do  propio  |»er  provisam  que  pêra 
ello  do  dyto  senhor  lenho  e  ho  sobescrepvy  e  com  ho  propio  couícer- 
tey  com  ho  taballiam  abaixo  asynado  e  asyney  de  meu  pubrico  syuall 
lie  vay  com  esta  em  homze  ffolhas  sem  viço  alígiim  ele.  =  pg.  nada. 
=^signal  publico  do  taballiam.  =  Comceilado,  Amtouio  Gonçallves  ^ 
(^omcertado,  Álvaro  Vieira  f?), 

íAic/;.  mtc.  da  T.  do  T.,  Corp.  Chr.  P.'  2.^  mac.  247—??."  23.) 


Alvará  de  10  d'abril  de  1566  izentando  a  Misericórdia 
d' Angra  de  prestar  contas  ao  Provedor 

Eu  el!  Rey  faço  saber  a  vos  provedor  das  Ilhas  dos  Açores  que 
lio  provedor  e  irmãos  da  confradia  da  Misericórdia  da  cidade  dAngra 
me  emviaião  dizer  que  vos  lhe  quereis  tomar  c  tnta  das  esmolas  e  ren- 
dimentos da  dita  confraria  e  asy  do  esprilall  da  dida  cidade,  que  era 
aneyxo  a  ela  e  que  des  que  a  dita  comfraria  se  ordenara  se  lhe  não  * 
tomara  tal!  comta  per  nlium  provedor  alegamdo  outras  resões  per  que 
se  lhe  não  dt-via  tomar  e  visto  o  que  asy  dizem  ey  por  bem  e  vos  man- 
do que  lhe  não  tomes  comta  das  esmolas  e  remdimemtos  da  dita  confra- 
ria da  misericórdia  ssomente  e  quando  vos  parecer  que  he  necessário 
tomarlhe  a  dita  comta  por  algus  justos  respeitos  vós  mo  espreveres  e 
as  cousas  porque  se  deve  tomar  pêra  eu  niso  mandar  o  que  ouver  por 
meu  serviço  e  mando  aos  provedtires  que  ao  deamte  forem  que  asym 
o  cumprão  em  qiiamto  o  eu  asy  oiiver,por  bem  e  não  mandar  o  cum- 
trario  e  quero  que  este  alvará  valha  como  carta  sem  embargo  da  or- 
denação do  Liv."  segundo  til.°  \.\  {20)  que  diz  que  as  cousas  cujo  efei- 
to ouver  de  durar  mais  de  hum  anuo  pasem  per  c;irtas  e  (lasando  per 
alvarás  não  valhão  e  quanto  as  rendas  do  dito  esprital  aneyxo  a  dita 
confraria  vós  lhe  tomares  a  dita  comia  e  coinprires  acerqiia  diso  vo- 
so  regimento.  Joam  de  Baros  o  fez  em  Lisboa  a  x  (10)  dabril  de  J  b 
e  Ixbj  (1Õ66).  Comcertado,  Joam  da  Cosla=Comcertado,  António  d"A- 
guiar. 

{Aich.  ntic.  da   T.  do  T.,  Lir.   VJ  de  D.  Scb.,  f.  21.) 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  143 


Quitação  a  Lucas  de  Sequeira,  almoxarife  da  ilha  de  S. 
Mig-uel,  do  anno  de  1537-1538;  18  d'abril  de  I56fcj. 

Dom  Sebastião  etc.  A  quainlos  esta  carta  de  quytação  virem  faço 
saber  que  eu  maindey  tomar  conta  nos  meus  conitos  do  reynu  e  casa 
a  Luquas  de  Sequeira  cavaleiío  fidalgo  de  minha  casa  almoxarife  que 
toy  da  lllia  de  Sam  Miguei  lio  ano  que  comesou  por  Sam  Joam  de  mill 
qnynliemtos  Iriuita  e  sete  e  acabou  por  outro  tall  dia  de  b  e  xxxbiij 
{1Õ38)  e  pela  recaiJação  de  sua  comta  se  mostra  receber  nove  cemlus 
nove  mill  qiiinliemt(js  novemta  e  hu  rs.  por  esta  maneira,  a  saber  : 
xFuj  iij'  biij  {ô2Hft>S08)  rs.  que  recebeo  dos  rt-nideiros  rameiros  pêra 
pagamento  das  ordinárias  dos  clérigos  beneficiados  e  raçoeiros  da  di- 
ta Ilha,  e  c.'^  J  iiij*^  xxxiij  {lOlH-^S)  rs.  da  remda  da  saboaria  e  das 
pensões  dos  tabalyães  dos  rendeiros  da  chamcelaria;  e  ~J  h\\f  (1-5800) 
rs.  que  recebeo  dos  rendeiros  dos  ramos  das  meuças,  e  xxxiuj  bij*^ 
Irij  {S4{j>792)  rs.  d'Esievão  Alv.irez  almoxarife  que  foy  da  dita  Ilha  que 
os  ficou  levando  na  comta  do  ano  de  b*^  xxxbj  (lõ-'JU)  e  c."  Tn]  ix*^ 
{192fj>900)  rs.  (jue  recebeo  por  venda  de  cento  e  vymte  e  dons  moyos 
de  triguo  dos  próprios  que  tenho  na  dita  Ilha  ;  e  os  ib  lij'^  Ibiij 
(õôéSõSi  rs.  tjue  o  dito  Luquas  de  Sequeira  ficou  devemdo  na  comta  do 
ano  de  b  e  xxxbiij  (lõ38)  que  acabou  por  Sam  Joam  de  b  e  xxxix 
{1539)  e  lhe  Ibião  carregados  em  receita  nesta  comia  e  asy  se  mos- 
tra receber  c.'"  Irbij  {197)  moyos  Ij  {òl)  alqueires  de  trigo,  a  saber: 
rix  {49}  moyos  que  recadoii  dos  remdeiros  que  ^ram  obriguados  pa- 
gar i)era  pagamento  das  ordinárias  e  os  c.*"  Irbiij  {198)  nioyos  Ij(.õi) 
alqueires  recadou  das  remdas  dos  propiosede  biscouto  liij  {58)  quym- 
laes  Ilua  aroba  xbj  {W)  arates  e  lij  {ò2)  arobas  b  (õ)  arates  de  carne 
de  vaqiia  e  (juatro  botas  cymijuu  alumdes  de  vynho  e  seys  arobas  da- 
zeyte  e  outras  cousas  ineudas  declaradas  no  enceramento  os  (juaes 
ixMx  b'^  e  [v\)\{909':>õ96)  r>.  trigo  e  cousas  acyma  (Jeclaradas  o  dito  Lu- 
quas de  Sequeira  despemdeo  e  eniti'eg(»u  por  meus  mandados  e  do.> 
veedores  de  minha  fazunda  sem  fiquar  devemdo  cousa  algua  como  se 
vyo  pela  dita  comia  que  foy  tomada  por  Afomso  de  Miranda  comlarlor 
dos  ditos  comtos  e  vista  por  Jorge  Perão  provedor  das  Imentas  e  por 
tanto  o  dou  [»or  quyte  e  livre  e  a  todos  seus  erdeiros  que  nunqua  em 
tempo  aigiiu  [lor  elo  sejão  requeridos,  citados  nem  demandados  em 
meus  comtos  nem  fora  delles  por  ssy  ter  dado  comta  com  eulregua 
como  dito  he  e  mindo  aos  ditos  veedores  de  minha  fazenda  comladnr 
mor  dos  ditos  comtos  e  a  todos  os  coregedores,  juizes  e  justiças  ofi- 
ciaes  e  pesoas  a  que  o  conhecimento  pertemcer  que  asy  o  cumprão  e 
goardem  sem  lhe  sei'  posto  duvida  nem  emb.ugo  algum  e  por  firmeza 
delo  lhe  mandei  dar  est.t  minha  caila  de  quytação  pnr  \\\\m  asynada  e 
aselada  do  meu  selo  pemdemte.  O  dito  Atbmso  de  Miiaiida  comtador, 


1 44  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

que  a  dita  conUa  tomou  a  fez  em  Lisboa  a  xbiij  (18)  dias  do  mes  da- 
brill,  ano  do  nncymenlo  de  riusso  Senhor  Jhu  \{iõ  deyb  e  Ixbj  ilõft') 
annos. 

(^^■(7^  nac.  (hl  T.  do  T.,  Lii\   VI  de  f).  Seb.,  /'.  20.) 


Quitação  ao  dito  Lucas  de  Sequeira,  almoxarife  em  S. 
Sliguel,  do  anno  de  1538-1539;  28  d' abril  de  1566. 

Dom  Sebastião  etc  A  quamtos  esta  minha  carta  de  quitação  vy- 
rem  faço  saber  que  eu  mandey  tomar  comta  em  meus  couit(js  do  rei- 
no e  casa  a  Lucas  de  Sequeira  cavaleiro  fidalgo  de  minha  casa,  ahno- 
xarife  que  foi  na  Ilha  de  Sam  Migell  huu  anno  que  comesou  por  Sam 
Joam  Bautista  de  mil  quynhemtos  trymla  e  oylo  e  acabou  por  outro 
tal!  dia  de  b  e  xxxix  ^lõS9)  epela  arecadação  de  sua  comta  se  mostra 
receber  quatrocemtos  novemta  e  seis  mil!  e  quynhemtos  e  cymquo  rs. 
per  esta  maneira,  a  saber:  c.'"  rbj  xxx  {146^030)  rs.  da  renda  da  chamce- 
iaria  e  meuças  da  dita  Ilha  e  osUpT  iiij'^  \\\h{SòOS47í>)Vi.  recebeo  por 
vemda  de  cemto  coremla  e  seys  moyos  nove  alqueires  */4  de  trigo  e 
vimte  e  cymquo  moyos  de  cevada  e  trinta  e  nove  alqueires  de  cemteo 
e  asy  se  mostra  receber  quynhemtos  vymte  e  hum  moyos  cymqnoenta 
e  três  alqueires  de  triguo  e  V^  da  remda  dos  meus  propios  da  dita  Illia 
e  vimte  cinquo  moyos  C(jremta  e  três  alqueires  ^/i  de  cevada  e  trimta 
e  nove  alqneiíes  e  quaremta  de  cemteo  e  sete  cemtos  oytemta  hnu 
qnyntaes  duas  arobas  nove  arates  de  pastel  granado  que  se  fizerão 
dois  mil  quaremta  e  dois  quymtaes  vimte  e  sete  arates  de  pastel  em 
bolos  que  recebeo  da  dizyma  da  dita  Ilha  os  quaes  quatrocemtos  no- 
vemta e  seis  mill  quynhemtos  e  cymquo  rs.  e  o  dito  pastel  trigo  e  ce- 
vada e  cemteo  o  dito  Luquas  de  Sequeira  despemdeo  e  emtregou  per 
meus  mandados  e  dos  veedores  de  minha  fazemda  sem  ficar  devemdo 
cousa  algua  como  se  vyo  pela  recadação  de  sua  comia  que  foy  toma- 
da por  Afomso  de  Miranda  comtador  e  vista  per  Duarte  dAbreu  pro- 
vedor (pie  foy  das  comias  e  por  tanto  o  dou  por  quyte  e  lyvre  e  a  to- 
dos seus  erdeiros  que  nunqua  em  tempo  alguu  pelo  dito  dinheiro,  pas- 
tel,triguo,  cevada  e  centeo  sejão  requeridos,  citados  nem  demandados 
em  meus  comtos  nem  fora  delles  por  asy  ler  dado  comta  com  entrega 
como  dito  he  e  mando  aos  ditos  veedores  de  minha  fazenda  comtador 
mor  dos  ditos  comtos  e  a  todos  os  coregedores,  juizes  e  justiças,  ofi- 
ciaes  e  pesoas  a  que  o  conhecimento  pertemcer  que  asy  o  cumprão 
e  guardem  e  facão  imleiramenle  comprir  e  goardar  sem  lhe  ser  posto 
duvida  nem  embargo  alguu  e  por  firmeza  delle  lhe  mandey  dar  esta 
minha  carta  de  quitação  por  mym  ;isynada  e  aselada  do  meu  selo  pem- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  I  V3 

demte.  Afomso  de  MiranKla  comtadir  a  fez  em  Lisboa,  ano  dn  iiacy- 
munUi  de  Nosso  Senhor  Jliu  x[)õ  {Jesus  C/iristo)  de  myll  quynlieintos 
saseiiita  e  sois  ;iiios  aos  dezoito  dias  dahrill  do  dito  ano,  iriscoiise  o 
i|ne  dizia  sete  e  diz  per  antre  linha  dons)  (]oincertada,  Joam  da  Cos- 
tH=(>oin('ert;tda,  Aintoiíio  d'Agniar. 

{Anh.  mic.  da  T.  do  T.,  Liv.  Vi  de  D.  Seb..  f.  20  v.') 


Alvará  de  28  d' abril  de  1566  para  o  Licenciado  João  Usa- 

domar  poder  ser  acompanhado  por  um  seu  escravo 

com  o  ordenado  respectivo. 

Kn  EU  Hey  faço  saber  aos  qne  este  alvará  vyrem  (|ne  havendo 
re>peitu  ao  que  diz  na  petição  atra/,  escripta  o  Licenciado  João  Lsado- 
niar  Juiz  de  fora  da  cidade  de  Ponta  Delgada  da  Ilha  de  Sani  Migel 
ey  por  bem  e  me  praz  que  semdo  o  seu  escravo  de  que  na  dita  [)e- 
tição  fez  njenção  anto  (apto)  e  sofecyeuite  pêra  o  acompanhar  e  andar 
rom  eJe  posa  o  dito  espravo  servir  em  lugar  de  linu  dos  dois  homes 
(jue  o  dito  licenciado  diz  que  lhe  lenho  concedido  que  ajão  ordenado 
e  vença  o  dito  espravo  ho  dito  ordenado  e  mando  ao  coregedor  (ka 
coreição  das  Ilhas  dos  Açores  (jue  trazendo  o  dito  licenciado  o  dito 
espravo  comsiguo  em  lugar  de  hums  dos  ditos  homens  e  semdo  pêra 
yso  suficienjte  como  dito  he  llie  faça  pagar  o  dito  ordenado  e  lhe  cnm- 
pra  este  alvará  como  se  nele  conthem  o  qual  ey  por  bem  que  valha 
posto  que  ho  efeyto  dele  aja  de  durar  mais  de  hu  ano  sem  embargo 
da  ordenação  do  seguíído  L.°  tit.°  xx  {20)  que  ho  contrario  despoem. 
IJioguo  Fernandes  o  fez  em  Lisboa  a  xxbiij  {28}  dabril  de  J  b  e  Ixbj 
{1Õ60'].  Baltasar  da  Costa  o  fez  escprever^^Comcertado,  Joam  da  Cos- 
ta::^(^omcertado,  António  dWgiiiar. 

{Anh.   mie.  da    T.  do   T.,   Liv.   Vnh  D.  Scb.,  fl.  21  r.") 


Licença  para  Francisco  Affonso,  tabelião  na  Cidade  de 
Ponta  Delgada,  ter  um  ajudante;  18  de  julho  de  1566. 

IJom  Seb;islião  ele.  Faço  saber  aos  que  esta  carta  virem  qne  Fran- 
cisco Afonso  tabelião  do  pnblico  e  judicial  da  cidade  de  l*on(a  Delga- 
da da  lllia  de  Sam  Migell  me  fez  a  pptiçam  seguinte: 

Diz  Franci.^co  Afomso  tabellião  do  publico  e  judicial  da  cidade  de 
N."  ii  — Vol.  VIU  -  I8S(Í.  7 


146  AHCHIVO  DOS  AÇORES 

P.  l)elga'ia  da  Ilha  de  Sam  Migel  que  ele  pêra  bom  despacho  das  par- 
tes tem  necessidade  de  ter  hiia  pesoa  que  lhe  ajude  a  escrever  sob- 
esprevendo  ele  por  quanto  na  dita  cidade  ha  mais  de  dois  mil!  vysi- 
nhos  (*)  pede  a  vosa  alteza  lhe  dè  licença  pêra  poder  ter  a  dita  pes- 
soa  e  recebera  meiíee:  E  visto  sen  requerimento  ey  por  bem  e  me  praz 
de  lhe  dar  lugar  e  lycença  pêra  que  posa  ter  hua  pesoa  que  o  ajude 
a  esprever  nos  ditos  ofícios  na  maneira  seguinte,  a  saber:  n.)  oficio  das 
notas  tirará  soomente  as  esprituras  das  notas  concertandoas  e  sobespre- 
vendo  as  elle  Trancisco  Afonso  e  asynandoas  de  sen  synall  publico,  e 
no  do  judicial  o  ajudará  quanto  aos  treliados  dos  feytos,  apelações  e 
tirar  semtemças  e  cartas  dos  processos  e  nos  treliados  de  quaesqner 
papeis,  esprituras  e  Inquirições  que  forem  abertas, [)i)briradas  nãoaven- 
do  nas  ditas  causas  e  treslados  segredo  de  justiça  concertandoas  e  s(jbes- 
prevendoas  elle  Francisco  Afomso  per  sy  a  lall  pesoa  não  fará  nem  es- 
preverá  nhnm  propio  somente  os  ditos  treliados  das  sobreditas  cansas 
que  ho  dito  Francisco  Afonso  lhe  der  a  treladar  e  ele  Francisco  Afon- 
so terá  em  ImII  guarda  o  seu  cartório  que  ha  dita  pesoa  não  veja  os 
segredos  delle  nem  seja  causa  de  as  cousas  da  justiça  se  descobrirem 
a  qual  pesoa  será  mayor  de  idade  de  dezaseis  annos  apta  e  pertem- 
cemte  i>era  nis(t  servir  e  mando  ao  juiz  de  fctra  da  dita  cidade  que 
a[tresentando-lhe  o  (Jit(j  Francisco  Afonso  pesoa  que  seja  da  dita  ida- 
de e  parecendoli.e  que  he  anta  como  dito  he  lhe  dè  juramento  dos 
santos  evangelhos  que  bem  e  verdadeiramente  espreva  e  faça  o  que 
per  esta  carta  lhe  dou  lycemça  que  posa  fazer  e  de  como  asy  ouver  a 
dita  peM)a  por  anta  lhe  der  o  dito  juramento  se  fará  asemto  nas  cos- 
ta desta  carta  por  huu  tabalião  a>yna(lo  pelo  dito  juiz  e  dhy  em  de- 
anle  deixarão  ajudar  a  esprever  a  rlita  pesoa  ao  dito  Francisco  Afonso 
como  se  nesta  carta  conlhem  e  se  a  tal  pesoa  falecer  ou  lyver  (»u!ro 
quahjuer  in)pedimento  por  onde  não  p(jsa  e.^prever  nos  ditos  (,ficios  e 
o  dito  Francisco  Afonso  quiser  nomear  outra  peson  em  seu  lugar  o  po 
dera  fazer  e  lhe  será  recebida  como  a  cyma  he  declarado  de  maneira 
que  em  todo  temp(j  posa  ter  hua  pesoa  que  ho  ajude  a  esprever  e 
mais  não.  Kl  Hei  nosso  senhor  ho  mandou  pólos  doutores  Expovam 
{Clirisfovão}  Mendes  de  Carvalho  e  Gaspar  de  Figueredo  ambos  do  seii 
eonsellio  e  seus  desembargadores  do  paço.  Diogo  Fernandes  a  fez  em 
Lisboa  a  xbiij  ilSi  de  julho,  ano  do  nacymento  de  N(».>so  Senhor  Jliu 
xpõ  de  y  b  e  l\bj  ilõ66).  Baltasar  da  Costa  a  fez  esprevei=^i  Kiscou- 
se  o  que  diz=seivir — )  Comeertada,  Joam  da  Costa.-  (lomcertada, 
António  dAí^uiar. 

{Arch.  nac.  da  T.  do  7'..  Ur.   VI  de  />.  S>'h..  f.  29.) 


(•)  O  que  equivale  a  9:000  habitantes  iipproxiiniiilaiiiente. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  147 


Quitação  a  favor  de  Henrique  Esteves  da  Veiga,  feitor  na 

Terceira  e  Graciosa,  de  1538  a  151:2; 

27  d'agosto  de  1566. 

Dttiii  Sebastião  ele.  Aos  que  est;i  iniiilia  carta  de  (jiiitação  virem 
faço  saiíer  (|ue  eu  mandey  tomar  comta  em  meus  C(jntos  do  reyno  e 
cassa  a  AuH-i(|ue  Estevez  da  Veiga  teytor  que  foy  na  Ilha  Terceira  ho 
anuo  de  T  b  e  xxxbiij  {lõ38)  e  na  lllia  Graciosa  hu  auno  de  xxxix 
[lõ-^íB)  e  r  {1Õ40)  e  na  capytanya  dWmgra  e  Praya  ho  ano  de  rj  (lõ41) 
lê  Sau  Joam  de  rij  {lõ42)  e  pela  recadação  de  sua  cuinta  se  mostra 
receber  de  dinheiío  dous  coutos  nove  ceiutos  deznyto  mill  duzentos  e 
doze  reis  em  que  eutrão  itHJ  iij"  \\b{44^82õ)  rei.s  em  (jue  forão  ava- 
lyadas  as  cousas  que  ficou  devendo  por  enceramento  da  dita  conta  e 
de  Iriguo  mill  sesemta  e  oyto  moyos  coremta  alqueires  ^jU  e  de  ceni- 
leo  qiiymze  moyos  vimte  e  seis  alqueires  V*  e  de  biscoulo  seis  cem- 
tos  sasemta  quymtaes  quatorze  arates  e  meio  e  de  pastel  em  bolos 
mill  trezemtos  dezoyto  quymtaes  três  arobas  vymte  e  trez  arates  e  de 
pastel  granado  c-ym^jiio  mill  trezemtos  coremta  e  huu  quymtaes  três 
arobas  oyto  arates  e  de  pescado  sasemta  e  seis  dúzias  e  de  carne  de 
vaqua  cemto  coremta  e  cymijno  arobas  e  meia  e  huu  boy  e  de  falcões 
de  melall  omze  e  de  cameras  de  fero  darf.dharia  cemto  coremta  e 
cymquo  e  de  chaves  dartelharia  cymquoemta  e  quatro  e  de  pelouros 
de  fero  dartelharia  mill  oytíjcemtos  coremta  e  três  e  de  berços  de  me- 
lall Irimla  e  sele  e  desperas  de  melall  hua,  e  de  camelos  gramdes 
quatro  e  de  pedreiros  de  melall  cymquo,  de  meãs  esperas  de  melall 
duas  e  de  meos  b.'n;os  de  melall  huu  e  de  berços  de  fero  huu  e  de 
pólvora  vymle  e  cymquo  quymtaes  e  de  peytos  espalldeiras  e  cervi- 
Iheiras  e  ca()aceles  quatro  pipas  e  duas  bolas  cheas  e  de  mantas  de 
chamalole  com  sauaslro  vermelho  Ijuu  e  de  iillmaticas  duas  do  dito 
chamalole  e  corea  e  de  fionlaes  do  dito  chamabte  dous  e  de  capas  de 
chamalole  vermelho  e  pardo  hua  e  de  vestimentas  qualro,  duas  de 
chamalole  e  as  duas  de  fiislão  e  outras  muytas  cousas  contheudas  na 
dita  comia  o  qual  diidieiro  e  cousas  acyma  e  no  enceramento  de  sua 
couita  declaradas  o  dilo  Anu'ique  Estevez  da  Veyga  emlregou  e  des- 
pemdeo  per  meus  mamdados  e  dos  veedores  de  minha  fazemda  sem 
ticar  devemdo  cousa  algua,  na  qual  despesa  emirão  du/emlos  oylemta 
e  (pjalro  mill  seis  cemlos  novcmla  e  cymquo  reaes  de  que  lhe  fiz 
mercee  avemdo  resi)eylo  ao  ordenado  com  ijue  sérvio  e  a  boa  vou 
lade  que  deu  e  a  não  aver  moradi  i  nem  ordenado  do  tempo  que  sér- 
vio o  dilo  car^go  e  ihni  a  dita  comta  e  aos  mais  serviços  e  despe- 
zas  que  fez  á  sua  custa  como  se  pela  dita  comia  vyo  que  foy  toma- 
da pelo  [)rovedor  (Custodio  d"Abreu  servymdo  de  comlador  e  vysla  per 
Duarte  dAbreu  que  servyo  de  provedor  de  mynh.is  comias  e  por  tam- 
to  deu  [)or  quyle  e  livre  ao  dito  Amrique  Estevez  da  Veyga  do  dito 


i48  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

dinheiro  e  cousas  que  nunqua  em  tempo  alguu  por  ij.o  ^ejão  re(iiieri- 
dos  nem  demandados  nem  a  seus  erdeiros  em  meus  comlos  iiein  Co- 
ra delles  por  a.^y  ler  dado  comta  com  emtrega  como  dito  lie:  e  mando 
aos  veedores  de  minlia  fazemda,  comlador  mór  de  meus  comtos  e  a 
todos  os  coregedores  juizes  e  justiças  e  oficiaes  a  que  o  conhecymen- 
lo  pertemcer  que  asy  o  cumprão  e  goardem  sem  lhe  ser  posto  duvy- 
da  nem  embaigo  alguu  e  por  firmeza  diso  lho  mandey  dar  esta  my- 
nha  carta  de  (juytação  per  mym  asynada  e  aselada  do  meu  selo  peti- 
demte.  Mateus  da  Maya  escripvão  dos  contos  a  fez  a  xxbij  (27)  do  mez 
dagosto,  ano  do  nacymento  de  nosso  senhor  Jhuu  xpõ  (Jf'^7/.s'C/?/?^7í)) 
de  y  b  Ixbj  {15b'b'):  diz  o  mali  escripto=arobas=Comcertada,  Joam 
da  Costa=Comcerlada,  António  d'Aguiar. 

(Arch.  nac.  da  T.  do  T.,  Ur.   VI  de  H.  Sib..  /.  43  í.^j 


Tença  de  SO^OCO  rs.,  concedida  por  D.  António  a  Diogo 
Vaz  Rodovalho;  2  de  julho  de  1580. 

Eu  El  Rey  faço  saber  aos  que  este  alvará  viieni  que  avendo  res- 
peito aos  serviços  que  Diogo  Vaz  Rodovalho  fidalgo  de  minha  casa  tem 
feitos  a  estes  reinos  e  aos  que  espero  que  adeante  me  faça  mormente 
nas  ilhas  Terceiras  onde  ora  o  envio  ey  por  berii  e  me  praz  de  lhe  fa- 
zer mercê  de  Yxx  (30c>000i  rs.  de  tença  cada  anno  em  quanto  o  não 
jUdver  enj  hna  das  (»rden^  de  hua  comenda  que  valha  mais  de  cem 
mil  reis  de  lenda,  porque  provendoo  delht  os  largnará  e  não  haverá 
mais,  os  quaes  xxx  [SOWOO)  rs.  começará  vencer  do  primeiro  dia  des- 
te mez  de  julho  do  anjiO  presente  de  b  e  Ixxx  ( /.õ80,i  em  deante  e  lhe 
serão  paguos  com  certidão  de  Bastião  Diaz  ou  ipiem  seu  cargo  servil- 
de  como  não  he  providí»  e  poi'  tanh»  mando  aos  veedores  de  minha  fa- 
zenda que  lhos  façam  aseintar  no  livro  delia  e  do  dito  tempo  em  dean- 
te despachar  cada  anno  |tera  a  parte  omde  lhe  sejão  bem  paguos  e 
este  alvará  ey  por  l)en(  (pie  valha  como  se  fosse  carta  {etc.  cm  forma). 
Amtão  da  Rocha  o  fez  em  Setnvel  a  dous  de  junli*»  de  f  b  e  Inxx 
{lò80\  Fernão  dAlvare.s  dOliveira  (j  fez  esc[»rever.=(loncertado,  An- 
tónio d"Aguiar=«(;onceitado.  Pêro  Castanho.  (I) 

{Arch.  nac.  da  T.  do  T  .  Lrr.^  XLVI  de  í)    Sib.  /.  140  v.\) 


(l)  A'  in.ii-geni  Icm  ;i  iiiosnia  vt-rlta  que  o  (Inruiiicnlo  seguinte  tem;  e  está 
Itiincado. 

{Nutti  (h  Svr.  J.  l.  de  Brito  Rebelh.) 


I 


ARCiilVO  DOS  AÇOHES  i49 


Nomeação  de  Belchior  de  Sousa  para  Feitor  da  ilha  de  S. 
Miguel:  3  de  julho  de  1580. 

Kii  El  Hey  (I)  faço  saber  -ãos  que  este  alvarj  virem  que  aveiuli» 
respeito  aos  serviços  de  Belcliiur  de  Sousa  nien  moço  da  catuara  ey 
por  bem  e  me  apraz  de  Ibe  fazer  mercê  do  carguo  de  feitor  da  ilba 
(te  Sam  Migel  por  tempo  de  lies  aniios  e  com  o  ordenado  cada  amio 
coíitlieudo  no  regimento  o  qual  o  servirá  assi  e  da  maneira  que  o  sér- 
vio Diogo  Lopez.  Noteficoo  asi  ao  provedor  de  minba  fazenda  na  dita 
ilba  e  mandolbe  qne  Ibe  dè  a  posse  do  dito  carguo  e  Ibojdeixe  servir 
(jiiando  Ibe  couber  entrar  e  aver  o  dito  ordenado,  pioes  e  [)ercalços 
que  Ibe  direitamente  pertemcer  sem  duviíla  nem  embargo  algum  e  na 
cbancellaria  Ibe  será  dado  juramento  dos  santos  evangelbos  que  bem 
e  verdadeiramente  o  sirva  guardando  em  todo  meu  serviço  e  ás  pai- 


(1)  Este  (Jocumoiito  como  os  mais,  passados  por  D.  António,  Prior  tio  Cra- 
to, acha-se  trancatio,  tendo  ao  lado  a  seguinte  declaragrio:=líiscou-se  este  alva- 
rá per  mandado  de  S.  M.  por  ser  passado  por  dom  AnUonio  que  tiraincamenle 
osurpou  o  nome  de  Rei,  e  por  esse  respeito  ser  nullo,  como  secontliem  em  Ima 
provisain  de  S.  Magestade  por  que  o  mandou  riscar  e  pôr  esta  verlja,  feita  em 
List)oa  a  xij  {í'J)  de  Março  de  j   t)  Ixxxij  (/58á)=Gaspar  Maldonado. 

A  provisão  a  que  se  refere  esta  e  as  mais  verbas  análogas,  é  a  seguinte: 

«Eu  El  Rey  faço  saber  a  vós  Gaspar  Maldonado  fidalgo  de  minha  casa  es- 
crivão da  cliancèllaria  de  minha  corte  que  eu  passei  hum  meu  alvará  per  mym 
asinado  per  que  ouve  por  bem  e  Mandei  que  entregaseis  ao  doctor  Jorge  de  Ca- 
bedo  do  meu  desembargo  desembargador  da  casa  da  suplicação  todos  os  livros 
dos  registos  da  chancelaria  que  servirão  até  o  tempo  do  falecimento  do  Senhor 
Rey  Dom  Hemique  meu  tio,  que  santa  gloria  aja  e  no  tempo  dos  governadores 
(lo  qual  o  treslado  he  o  seguinte. 

«Eu  El  Rey  faço  saber  a  vós  Gaspar  Maldonado  lidalgo  de  minha  casa,  es- 
crivão da  chancèllari;i  de  minha  corte  (^ue  eu  hei  por  bem  e  me  praz  que  entre- 
gueis ao  doctor  Jorge  de  Cabedo  do  meu  desembarguo  desembargador  da  casa 
da  supplicação  que  (tra  serve  de  guarda  morda  Torre  do  Tombo  todos  os  livros 
(los  registos  da  cbancellaria  que  servirão  até  o  tempo  do  falecimento  do  Seidior 
Rey  dom  Henrique  meu  tio  que  santa  gloria  aja,  em  tempo  dos  governadores  que 
foram  destes  reinos  pêra  se  guardarem  na  dita  Torre,  como  he  costume  e  estillo 
delle,  os  quaes  livros  se  carregarão  em  receita  sobre  o  dito  Guarda  mór  pelo  es- 
crivão de  seu  carguo,  e  delia  vos  passará  conhecimento  em  forma  feito  pelo  dito 
escrivão  e  asinado  poi'  ambos  para  vosso  descarguo;  pelo  que  vos  mando  lhe 
ecntregueis  loguo  os  ditos  livros  e  em  todo  cumpraes  e  guardeis  este  meu  alvará 
como  nelle  se  contem.  Amtonio  Roiz  o  fez,  em  Lisboa  a  xxj  (2í)  de  janeiro  de 
7"  b  Ixxxij  {Í58'J}  e  eu  Siínão  Borralho  o  \h  escrever.» 

"E  por  que  sou  informado  que  nos  mesmos  livros  estão  rregistadas  algua>í 
provisões  de  Dom  Amtonio.  Prior  do  Crato,  filho  não  legitimo  do  ífante  dom  Lois 
meu  tio  que  d(>os  tem,  as  quaes  indo  nos  ditos  livros  pêra  a  Torre  do  Totnbo  sem 
nellas  se  fazerem  algumas  declarações,  se  poderia  peio  tempo  em  deante  seguir 
<liso  atgus  inconvenientes  avendo  eu  a  isso  respeito  e  como  as  ditas  provisões 
são  nullas  e  de  nenhu  vigor  por-  serem  passadas  pelo  dito  doíu  Amtonio  que  ti- 
ranicamenlec  coín  foiça  osurpou  o  nome  de  Rey  destes  Reinos  pelo  que  não  con- 
vém estarem  nos  livros  dos  registos  da  cliancèllaria  entre  as  provisões  do  dito 
senhor  Rei  dom  líiirifiue  meu  tioe  dos  governadores  e  entre  alguas  minhas  nem 


150  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

tes  seu  direito  o  quai  pagou  de  ordenado  delle  três  mil  e  oylocetitos  o 
C()renta  rs.  que  se  careg  iram  em  recepta  sobre  Manjei  Nogueira  que 
serve  de  recebedor  da  diancellari)  como  se  vio  pei  cerliJão  de  Gas- 
par Maldonado  fidalgo  de  minha  casa  escprivão  da  dila  chancellaria  a- 
syiiada  per  ambos  que  foy  rolo  ao  asynar  deste  (jne  «juero  que  vallia, 
lenha  força  e  vigor  como  se  fose  carta  feita  em  meu  nome  seiíi  em- 
bargi)  das  ordenações  em  contrario.  Baltesar  Feraz  o  fez  em  Lixboa  a 
Ires  de  julho  de  b  e  Ixxx  {lò80).  Francis(;o  d'Almeida  o  fez  escrever. 
{Arch.  nac.  da  T.  do  T.,  Liv.  XLVI  de  D.  Seb.,  fl.  137.) 


Mercê  a  Gaspar  Alvares,  das  honras  e  regalias  de  cida- 
dão da  cidade  d" Angra,  por  D.  António;  9  de  julho  de 

1580. 

Ku  El  Rey  faço  saber  aos  que  este  meu  alvará  virem  que  avendo 
respeito  ao  que  na  petição  atraz  escripla  diz  Gaspar  Alvarez  natural 
da  Ilha  Terceira,  cidade  dAngra,e  vistas  as  causas  que  nella  allega  que 
justificou  per  estromento  e  por  mo  pr^dir  o  capitam  Gaspar  Luiz  (>a- 
mello  de  Mello  ey  |>or  bem  e  me  apraz  que  o  dil »  Gaspar  Alvarez  go- 
ze e  use  daqui  em  deante  de  tórios  os  privillegios,o.nras  e  liberdades 
que  tem  e  de  que  gozam  e  usam  e  podem  gosar  e  usar  os  cidadãos 
da  dila  cidade  (lAmgra  assy  e  tam  inteiramente  como  elle  de  tudo  go 
zara  e  usara  se  fora  cidadão  da  dita  cidade  e  servirá  autualmenle  nos 
carguos  e  oíficios  da  Governança  delia  e  mando  a  toilos  meus  desem- 
bargadores.corregedores, ouvidores,  juizes,  justiças,  oíTiciaes  e  pessoas 
a  que  o  conliecimento  deslo  pertencer  que  cumpram  e  guardem  e  ffa- 


lançarcnise  na  dita  Torre  do  Tombo  sem  as  declaragões  necessárias  porque  u  lo- 
do o  tempo  conste  de  sua  nullidade  vos  mando  (jue  risqueis  toilas  as  cartas,  pro- 
visões e  outros  alvarás  que  nos  ditos  hvros  estiverem  que  fossem  passados  pelo 
dito  dom  António  de  qualquer  rahdade  que  sejam,  e  na  margem  década  Ima  del- 
ias poreis  verba  per  vos  asinada  de  como  pelo  dito  i^espeitò  riscastes  per  meu 
mandado.  E  este  meu  alvai'á  trasladaieis  em  todos  os  dUos  livros  pêra  que  em 
todo  tempo  conste  de  como  o  asy  ouve  por  bem  eo  próprio  entregueis  na  Torre 
do  Tombo  com  os  ditos  livros  dos  registos  da  cliancellaria  como  tenlio  mauda- 
lio  pelo  alvará  neste  tresladado,  depois  de  terdes  satisfeito  ao  contendo  neste  e 
liuu  e  outro  comprireis  inteiramente  assi  e  da  maneira  í|ue  nelle  se  contem  sem 
duvida  nem  embargo  algum  que  a  isso  se  ponlia  porque  assj  o  ey  por  meu  ser- 
vigo.  António  lluiz  o  fez  em  Lisboa  a  xij  (12)  de  maryo  de  J  b  l.vxxij  ^1582).  E 
eu  Simão  Iioi-i'alliu  o  liz  escrever.  —  Concertada  com  a  própria.  Gaspar  Maldo- 
nado^ Concertada,  l*ero  Castanho. 

Aelia-se  laiit-ado  no  íim  dos  livros  4.{,  4o  e  4tt  da  cliancellaria  de  U.  S.b. 
e  \).  Henrique. 

{Nola  do  Snv.  J.  í.  de  HriUi  Rebellú.) 


ARGHIVO  DOS  AÇORES  151 

cão  iiileiraiiienle  comprir  e  guardar  estf  allvará  como  se  nelle  contem 
(I  (jiial  se  registará  no  Livro  da  Gamara  da  dita  cidade  d"Amgra  pi^a 
se  saber  comi»  (»  asi  tenho  concedido  e  ey  por  bem  que  valha  como  se 
fose  carta  (etc.  em  forma).  Simão  Pinheiro  o  fez  em  Lisboa  a  ix  (9) 
de  julho  de  T  b  e  Ixxx  {1580}  Fernão  d" Alvarez  d'Oliveira  o  fez  es- 
crever. (1) 

(Are.  me.  da  T.  d<>  T  .  Liv.  XIlí  dos  Prir.  dv  D.  Srb.  f.  2S2,) 


Alvará  por  que  sua  Mag:estade  lia  por  bem  que  nas  Ilhas 
dos  Açores  valháo  os  Reales  de  prata;  25  de  janeiro 

de  1583. 

En  El  Rey  faço  saber  aos  que  este  alvará  virem  que  por  ser  in- 
formado que  nas  Ilhas  dos  Açores  não  correm  os  reales  de  prata,  nem 
vse  tomam  pela  valia  que  correm  nestes  Keinos  o  que  he  em  grande 
prejuízo  do  comercio  e  trato  das  ditas  Ilhas  e  das  pessoas  que  nellas 
negoceajn.  E  (pierendo  nisso  prover  ey  por  bem  e  mando  que  daqui 
em  deante  valhão  nas  ditas  llíias  dos  Açores  os  reales  de  prata  sin- 
gellos  a  dons  vinténs  cada  hum  e  as  moedas  de  dons  reales  a  quatro 
vinténs,  e  as  de  quatro  reales  a  oito  vinténs  e  as  uioedas  de  oito  rea- 
les valham  cada  huma  dezeseis  vinténs  e  meo  real  de  i)rala  hum  vin- 
tém. E  isto  em  quanto  eu  o  houver  por  bem  e  não  mandar  o  contra- 
rio pelo  que  mando  a  todos  os  moradores  das  ditas  Ilhas,  e  pesoas 
que  nellas  negoceam  e  tem  seu  trato  e  commercio  que  daqui  em  de- 
ante tomem  as  ditas  moedas  nas  valias  declaradas  e  nas  mesmas  va- 
lias corram  em  todas  as  ditas  Ilhas  sem  nisso  haver  duvida  alguma. 
E  aquelles  que  assy  o  não  cumprirem  e  não  (juizerem  tomar  as  ditas 
moedas  nas  ditas  valias  e  as  engeitarem  ey  por  bem  que  encorram 
nas  penas  em  que  per  minhas  ordenações  encorrem  aquelles  que  en- 
geitam  e  não  querem  tomar  as  moedas  destes  Heinos.  As  quaes  pe- 
nas se  darão  á  execução  nas  taes  pessoas  cada  vez  (jue  nellas  encor- 
rerem,  pelo  que  mando  ao  licenciado  Christovam  Soares  dAlbergaria 
(p:e  ora  serve  de  corregedor  nas  ditas  Ilhas,  ipie  tanto  que  lhe  este 
meu  alvará  for  apresentado  o  faça  logo  publicar  e  apregoar  em  Iodas 
as  cidades,  villas  e  lugares  das  ditas  Ilhas,  pelos  lugaies  públicos  del- 
ias e  fixar  o  treslado  por  elle  assignado  e  sellado  com  o  sello  da  cor- 
reição nas  [)ortas  das  casas  das  Camarás  dos  taes  lugares  pêra  vir 
á  noticia  de  todos,  e  se  saber  como  assy  o  tenho  mandado.  E  assi  ujan- 
do  ao  dito  corregedor  e  aos  ouvidores  e  mais  justiças  das  ditas  Ilhas 
que  em  todo  o  cumpram  e  façam  inteiramente  com{u^ir  e  guardar  co 

(1)  Está  trancado,  e  tem  á  margem  verba  análoga  ás  dos  antecedentes. 


152  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

mu  iielle  se  contem  e  procedam  contra  as  pessoas  que  contra  elle  fo- 
rem e  o  não  quizerem  coni[)rir  na  forma  das  ditas  ordenações  e  C(tn- 
forme  a  ellas.  E  este  alvará  qnero  (jne  valha,  tenha  força  e  vigor  como 
se  fose  carta  feita  em  meu  nome  por  myin  assinada  e  passada  por  mi- 
nha chancellaria,  sem  embargo  da  ordenação  do  2.°  I.ivro  titulo  xtv 
que  diz  que  as  cousas  cujo  elfeito  ouver  de  durar  n>ais  de  huin  anno 
passem  per  cartas  e  passando  por  alvarás  não  valham.  António  Hodri- 
gues  o  fez  em  Lisboa  a  >ij  [12]  de  dezembro  de  ~  b  e  Ixxxij  [lõ82) 
Simão  Borralho  o  fez  escrever. 

Foy  publicado  o  alvarã  dei  Rey  noso  senhor  atraz  escripto  na 
chancellaria  |)or  mim  Gaspar  Maldonado  scrivão  d rlla  perante  os  ofti- 
ciaes  da  dita  chanct-llaria  e  outra  muita  gente  que  vinha  requerer  seu 
despacho.  Km  Lisboa  a  xxb  {2ò)  de  janeiro  de  J"  b  e  Ixxxiij  (lô83). 

Gaspar  Maldonado. 
[Are.  nac.  da  T.  do  T.,  Li».''  1."  de  Leis  e  fír/-'*'^  /"•  SO  v."} 


Poder  e  alçada  que  leva  o  doutor  Gil  Eanes  da  Silveira 
que  vai  por  juiz  de  fora  da  cidade  de  Ponta  Delgada; 
10  de  novembro  de  1583. 

Dom  Philippe  per  graça  de  Deos  Rey  de  Portugal  e  dos  Algarves, 
da^iuem  e  dalém  mar  em  Africa,  senhor  dr*  Guiné  e  ú\  (^jnquisla  Na- 
vegação e  Comercio  de  Ethiopia,  Arábia,  Pérsia  e  da  índia  á-.  Faço  sa- 
ber a  vós  doutor  Gil  Eanes  da  Silveira  que  ora  envio  por  juiz  de  fo- 
ra da  cidade  da  Ponta  Delgada  que  eu  ey  i)or  bem,  pella  confiança 
(pie  de  vós  tenho  qne  alem  dos  poderes  que  per  minhas  ordenações 
sam  dados  aos  .luizes  ordinários,  vós  tenhaes  mais  os  poderes  e  alça- 
da adeante  declarada. 

Ey  por  bem  e  me  praz  que  nos  cas(ts  crimes  vós  posães  mandar 
açoutar  piães  de  soldadas  qne  estiverem  asoldadadose  outros  piães  que 
ganharem  dinheiro  por  sua  braçagem  e  eí^cravos.  e  posaes  degradar 
os  ditos  piães  para  os  lugares  dalém  até  dous  atmos  e  para  os  coutos 
do  Reino  até  três  annos. 

E  asy  ey  por  bem  que  |)0s&is  degradar  escudeiros  e  vasalos  que 
não  forem  de  linhagens  e  olliciaes  macanicos  pêra  os  lugares  dalém 
por  dous  annos  epera  os  coutos  do  reino  por  três. 

O  (jual  poder  e  alçada  se  entenderá  naquelles  casos  em  que  per 
minhas  orden^^ções  sam  postas  expressamente  as  dilas  penas  porque 
naquelles  em  que  assynão  forem  postas  expressamente  as  determina- 
reis Cl  imo  f  ir  justiça  dando  apellação  e  agravo. 

Nos  casos  eiveis  tereis  alçada  até  contia  (Je  cinco  mil  reis,  sendo 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  Io3 

(le  bens  inoveis  e  sendo  de  raiz  ulè  quatro  mil  rs.  e  p.)dt'r('is  pôr  pe- 
nas alé  mil  rs.  nos  casi)s  em  (jue  vos  parecer  necessário  p!)r  bem  de 
JMsliça  se  pôreni. 

E  nestes  casos  acima  declarados  assy  crimes  como  eiveis  e  penas 
dareis  vossas  sentenças  á  devida  execnção  sem  delias  receberdes  a- 
pellação  nem  agravo  porque  para  isso  vos  dou  per  este  lodo  o  poder 
e  alçada. 

E  quando  qner  qne  algnms  fidalgos,  cavaleirijs,  e  escudeiros  que 
forem  de  linhagem  e  vasalos  fkerem  tais  cousas  per  onde  vos  pareça 
que  devem  ser  emprazados  para  minha  corte  vós  fareis  fazer  os  autos 
(le  suas  culpas,  que  vos  parecer  necessário:  e  feitos  os  emprazareis 
para  a  corte  e  lhes  asinareis  termo  conveniente  a  (jue  nella  pareçam 
e  Com  elles  enviareis  os  ditos  autos  [)era  serem  vistos  e  elles  ouviílos, 
e  se  fazer  o  que  for  justiça. 

E  assy  ey  por  bem  que  acerca  das  suspeições  que  vos  forem  pos- 
tas nos  feitos  e  causas  de  (pie  por  rezão  do  dito  oílicio  poderdes  conhe- 
(;er  tenhais  maneira  seguinte.  Tanto  que  vos  for  intentada  suspeição 
per  alguma  parte  não  vos  lançando  vós  por  suspeito,  procedereis  sem- 
pre na  cau>a  em  que  vos  for  posta  até  se  determinar  a  -suspeição  fi- 
nalmente tomando  comvosco  por  adjunto  o  vereador  mais  antigo,  não 
sendo  suspeito,  e  sendo-o.  tomareis  outro  e  sendo  o  segundo  vereador 
lambem  suspeito  tomareis  o  terceiro  pêra  amb  »s  procederdes  junta- 
mente no  tal  caso:  e  se  todos  os  Ires  vereadores  forem  suspeil(js  ho 
fareis  com  hum  dos  do  anno  passado  ao  qual  se  não  poderá  pôr  sos- 
peição,  e  os  autos  que  assy  amb)S  fizerdes  ey  por  bem  que  sejam  va- 
liosos, como  se  a  sospeição  vos  não  fora  intentada  :  e  seindo  julgada 
(|ue  nã<)  sois  suspeito  procedereis  só  na  causa  como  avieis  de  fazer  se 
a  suspeição  vos  não  fora  posta;  e  send  j  julgado  que  o  sois  em  tal  ca- 
so não  procedereis  mais,  e  as  parles  se  huivarão  em  juiz  sem  suspei- 
ta (jue  em  noso  lugar  o  determine. 

E  por  quanto  algumas  pessoas  vos  poderão  pôr  suspeições  (mais 
a  fim  de  dilatar  seus  feitos  e  demandas,  que  por  lhe  serdes  suspeito) 
ey  por  bem  que  qualquer  pesoa  que  vos  poser  suspeição,  tanto  que 
vos  op.izerdes  a  ella,  e  em  voso  depoimento  vos  não  derdes  por  sus- 
peito, logo  deposite  dous  cruzados  os  quaes  perderá  pêra  os  presos 
pobres  da  dita  villa  (não  provando  a  dita  suspeição)  e  será  juiz  das 
ditas  suspeições,  depois  que  vos  assy  forem  postas,  ho  Corregedor 
dessa  Comarca  se  estiver  nessa  villa,  ou  o  Juiz  de  fora  do  lugai  mais 
perto-  delia:  e  isto  processand(»lhe  primeiro  na  terra  e  no  final  lhe  se- 
rão levadas,  ao  qual  mando  que  as  veja  e  as  determine  como  for  jus- 
tiça. 

E  assy  me  praz  que  quando  fordes  fora  de  vosa  jurisdição  por 
meu  mandado  ou  de  cada  hua  de  minhas  relações  a  fazer  alguma  di- 
ligencia por  bem  de  justiça  a  rt'(]uerimenlo  de  partt's  possaes  levar 
duzentos  rs.  por  dia  loilos  os  dias  <jue  andardes  ocultado  nas  ditas  di- 

N.°  li^-Vol.  Vlll-1886.  8 


154  AhCHlVO   DOS  AÇUhES 

ligeiícias,  á  ciisl.i  díis  partes  que  o  requererem,  ilus  quaes  vus  f.ireis 

Noleíicuvolu  íis^y,  e  vos  maiido  que  deste  poder  e  alçada  c  d^t 
iDais  contliendo  nesta  provisão  vós  inteiramente  (?<2e/s;,  por  qnanlo  [)uv 
confiar  de  vós  que  tudo  o  que  a  bem  da  justiça  e  meu  serviço  com- 
pi'ir  fareis  assy  bem  e  como  se  de  vós  espera  o  ey  assy  pnr  bem  e 
mando  aos  desembargadores  e  corregedores  e  ofiiciaes  e  [)essoas  a 
que  o  conhtcimento  dislo  pertencer  que  nisto  vos  não  ponham  duvida 
nem  embargo  algum  El  rrey  nosso  senhor  o  mandou  pelos  doutores 
Jerónimo  Pereira  de  Sá  e  Melchior  do  Amaral,  ambos  do  seu  conselho 
e  seus  desembargadores  do  paço.  Pêro  de  Seixas  a  fez  escrever  em 
Lixboa  a  úvy.  de  novendjio  de  Jb  e  Ixxxiij  {lõ8S). 

{Arch.  nac.  ila  T.  do  T.,  Ur.  1  dv  Leis  e  Hegini.'"',  j.  Uò  r.°) 


Alvará  de  2  de  novembro  de  1591,  sobre  a  taxa  do  trig-o 
das  Ilhas  dos  Açores. 

Eu  el  Rei  faço  saber  aos  que  este  alvará  virem  que  avendo  res- 
peito a  f-^te  anno  presente  de  mil  e  b  e  l.w.wj  \lõ9J)  awi  pouco  tri- 
go nas  Ilhas,  a  saber:  A  Terceira.  S.  Miguel,  Tavai,  Piquo,  Sam  Joi- 
ge,  Santa  Maria.  Graciosa  e  Corvo  e  por  se  ter  entendido  que  aveiido- 
se  de  tomar  a  copia  de  trigo  que  hão  mister  os  soldados  que  cm  meu 
serviço  lesidem  nas  dilas  Ilhas,  ficará  tão  pouco  nas  terras  que  as 
pessoas  que  o  tiverem  o  venderão  por  preços  tão  excessivos  (|ue  os 
pobies  em  nt  nhua  m.meira  poderãi»  a  isso  suprir  e  pereceião  de  todo, 
e  os  ricos  com  grande  trabalho  e  des|»eza  de  suas  fn/endas,  alem  de 
os  lavradores  por  este  respeito  ficarem  impossibdilados  para  poderem 
semear  as  terras,  e  por  se  ter  visto  por  experiência  que  se  não  hou- 
ver nas  ditas  Ilhas  té  á  novidade  do  anno  que  vem  de  mil  e  b  e  Ixxxx 
e  dous  t  JÔ.92)  certo  pr»  ço  no  dito  (rig<i  por  alipieire  se  acabarão  os 
ditos  moradores  de  perder  e  os  pobi-es  ficarãíj  destruídos,  (juerendo 
nisso  prover  pêra  que  uns  e  outros  teuliam  remédio:  ey  por  bem  que 
nas  ditas  ilhas  e  seus  termos  não  passe  o  trigo  que  se  colher  das  no- 
vidades delias,  somente  lé  dia  de  Nossa  Senhora  de  Setemtiro  do  dito 
anno  que  vem  de  J  b  e  Ixxxxij  {lõ92)  de  cento  e  setenta  rs.  o  ahpiei- 
re  nem  se  venda  a  maiores  [)reços  e  toda  a  pesoa  de  (pialquer  callida- 
de  e  condição  (pie  seja  que  algum  trigo  vender  per  mai(»r  preço  do  a- 
cima  declarado  >erá  preso  e  degradado  per  Im  anno  pêra  toia  das  di- 
tas Ilhas,  e  da  prisão  pagará  por  cada  vez  que  nisso  for  C(»m[)rehen- 
dido  vinte  cruzados  e  perderá  a  valia  do  dito  trigo  que  assi  vendeo  a 
maior  preço,  auu'tade  pêra  quem  o  acusai-,  e  a  outra  ametade  pêra  o> 
captivos.  e  mando  ao  corregedor  das  Ilhas  dos  Açoivs  (|ue  leu  ha  es- 


ARCHIVO  DOS   AÇORES  lo5 

pcciiil  cnid.nl!)  fie  lir.ir  tlfv.issa  deste  <mso  no  fitn  do  nnno  sohre,  ns 
pessoMs  (|iii'  •■i>sY  o  iirii»  romprirão  e  prenda  os  (jne  achar  nisMu-nlpn 
dos,  e  |»ro(*(,'da  contra  elles  como  Cor  justiça,  dando  a[)pellação  e  ajjra- 
V.)  nos  casos  em  (pie  Cídiber  e  o  modo  por(pie  se  liade  repartir  o  dito 
trigo  e  em  qne  lugares  e  tempos  se  fará  tudo  por  ordem  dos  olíiciaes 
das  camarás,  e  não  em  outra  alguma  maneira,  e  o  dit(j  corregedor  ten- 
do informado  que  os  ofliciaes  que  repartirem  o  trigo  fazem  na  tal  re- 
partição o  qne  nani  (Jevem  tirai^/ri)  soljre  isso  té  oito  testemunhas  e 
procederá  contra  os  culpados  como  for  justiça  e  os  olliciaes  e  pessoas 
(jue  fizerem  o  (pie  não  he  rezão  na  dita  repartição  contra  forma  des- 
te alvará  enori-erão  alem  das  ditas  penas  em  lium  anno  de  degredo 
mais  pêra  hum  dos  lugares  de  Africa,  e  em  todas  as  ditas  penas  en- 
correrão  também  os  rendeiros  e  quaesipier  outras  pessoas  que  tirarem 
pão  dos  celleiros  ou  de  quaes(pier  outras  partes  sem  autoridade  de 
jiisliça,  e  a  reparti(;ão  que  se  fizer  do  trigo  a  [)essoas  que  o  pedirem 
se  fará  conforme  a  necessidade  de  (!ada  hnu,  tendo  sempre  respeito 
aos  mais  pobres. 

K  mando  aos  ditos  corregedor  e  olliciaes  das  camara.s  que  assy 
o  cumpiam  e  façam  logo  pregoar  este  alvará  na  cidade  de  Angra  da 
lllia  Terceira  na  cidade  de  Ponta  delgad.i,  e  nas  mais  Ilhis  acima  de- 
claradas pelos  lugare>  públicos  e  custumados  pnra  (jie  a  todos  S(.\ja  no- 
tório o  que  por  elle  mando,  e  senão  possa  alegar  ignorância  E  este 
íilvará  se  registará  nos  Livros  das  camarás  das  ditas  Ilhas,  o  qual  se 
comprirá  inteiramente  como  nelle  se  contem  do  dia  em  que  asy  for 
pregoado  nas  ditas  cidades  e  Ilhas  em  deante,  té  o  dito  dia  de  IVossa 
Senhora  de  Septembro  do  anno  que  vem  de  noventa  e  dons  sem  con- 
tradição alguma,  e  o  trigo  que  se  levar  de  Imas  das  ditas  Ilhas  pêra 
outras,  os  ofliciaes  das  camarás  parecendolhes  que  se  deve  de  dar 
algum  ganho  ás  pessoas  que  o  levarem  lho  arbitrarão  e  taxarão  o  pre- 
Çi)  que  mais  devem  de  aver,  alem  dos  ditos  cento  e  setenta  reis  por 
alqueire.  Pêro  de  Seixas  o  fez  em  Lixboa  a  doiis  de  novembro  de  mil 
e  b  e  Ixxxxj  {lõ9í).  E  d(j  teor  deste  alvará  foi  pasado  mais  outro  pe- 
i-a  irem  por  duas  vias  de  que  esta  he  a  primeira,  Cumprirseha  hnu 
somente.  {Riscou-se  piihlicado). 

(Are/',  me.  da  T.  do  T.,  Liv.  I  de  Leis  e  Re(jim.^''\  f.  219.) 


Alvará  de  3  de  Dezembro  de  1592,  concedendo  certos  pri- 
vilégios aos  procuradores  e  thezoureiros  da  Gamara 
de  Villa  Franca  do  Campo. 

Eu  el   Rei  faço  saber  aos  que  este  alvará  virem  que  per  alguns 
respeitos  (|ue  me  a  isso  movem  ey  por  bem  (jue  os  procuradores  e  te- 


loG  AHGHIVO  DOS  AÇORES 

zonreiros  que  andarem  nos  pelouros  da  (Clamara  da  villa  de  Vilhi  Fran- 
ca do  Canipíj  da  ilha  de  Sani  Miguel  com  os  juizes  e  vereadores  delia 
gozem  dos  mesmos  privilégios  de  que  gozam  os  ditos  juizes  e  verea- 
dores notetricoo  assi  a  todos  meus  desembargadores,  corregedores,  ou- 
vidores, juizes,  justiças,  olíiciaes  e  pessoas  a  que  este  alvará  ou  o  tras- 
lado delle  em  publica  foima  for  mostrado  e  o  conhecimento  pertencer 
e  lhes  mando  que  aos  ditos  procuradores  e  tescmreiros  que  assi  anda- 
lem  nos  pellfturos  da  dita  camará  não  impidão  gozar  dos  ditos  privi- 
légios pela  maneira  sobredita  antes  livremente  os  deixem  gozar  delles 
sem  nisso  lhes  ser  posta  duvida,  embargo  nem  contradição  alguma,  e 
cumprão, guardem  e  facão  inteiramente  comprir  e  guardar  este  alvará 
como  nelle  se  ci  nlem  o  qual  se  registará  no  Livro  da  Camará  da  di- 
ta villa  de  Villa  Fi-anca  do  Campo  pello  escrivão  delia  (juh  passará  nas 
costas  deste  sua  certidão  de  como  fica  registado  no  dito  livro  e  a  quan- 
tas folhas  e  o  próprio  se  poerá  no  cai  tório  da  dita  camará  em  toda 
boa  guarda  para  sempre  se  ver  e  saber  que  o  ouve  assi  por  bem  e 
(}uero  que  valha  á-.  Fero  de  Seixas  o  fez  em  Lixhoa  aos  três  de  de- 
zembro de  mil  [f  Irij  {1592). 

[Arch.  ?i(ic.  du   T.  do  T.,  Ur.  2.^'  dos  Priril.  de  Filipp.  l.'\  foi. 
185  i\\) 


Provisão  de  15  de  fevereiro  de  1593,  a  favor  de  Melchior 
Estacio  do  Amaral,  Provedor  dos  defuntos  e  auzentes. 

Dom  Fellipe  A.  Faço  saber  que  avendo  respeito  ao  (jiie  íia  peti- 
ção atraz  escrita  diz  Melchior  Estacio  do  Amaral  cavaleii'o  lidalgo  de 
minha  casa.  ey  por  bem  que  elle  não  possa  ser  preso  salvo  sendo  a 
chado  em  fraganle  dellito  nem  se  possa  dar  delle  ([ueivila  ou  denun- 
ciação  allgua  senão  perante  hum  dos  corregedores  de  minha  corte  e 
isto  per  tempo  de  quatro  dimos  mais  alem  do  tempo  que  lhe  já  pêra 
este  efleito  foi  dado,  os  quaes  (piatro  annos  começarão  do  dia  que 
esta  provisão  chegar  aas  ilhas  dos  açores  [terá  omde  o  dito  Melchior 
Kstacio  diz  (jue  está  provido  na  .serventia  dit  otíici(»  de  provedor  dos 
defuntos  e  ausentes  delias  da  maneira  que  na  dita  petiçãit  declara  e 
do  tempo  em  que  assi  chegar  constará  per  certidão  autentica  de  all- 
giim  escrivão  ou  tabelião  publico  na  outra  meia  desta  folha.  E  mando 
ao  corregedor  das  ditas  illias  ou  a  quem  o  dito  cargi»  servir  e  a  qnaes 
quer  outras  justiças,  olíiciaes  e  pessoas  a  que  esta  |trovisão  ou  o  tres- 
lado  delia  em  [Hiblica  forma  foi'  mostrado  e  o  conhecimento  pertencer 
que  lhe  não  ponhão  a  isso  duvida  nem  contradição  allgua  e  cumpram 
inteiramente  esta  provi.são  como  nella  se  contem:  el  Hei  uos.-^o  senhor 
o  mandou  [tehis  doutores  Jerónimo  Pereira  de  Sá  e  Melchior  do  Ama- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  Í57 

r;il  A.  Pen»  de  Seixas  o  fez  em  Lisboa  aos  xb  {lõ)  de  fevereiro  de  tnil 
b''  Iriij  {I50S  .  E  esta  pnjvisão  (jiiero  que  valha  d.  Concertadas— 3  — 
António  d'A2;tiiar. 
[Arch.  nat\  (ia  T.  do  T.,  Liv.  2."  de  Prinl.  de  FHipp.  l.\  foi.  Km.) 

Por  idêntica  Provisão  cie  19  de  novembro  de  1597  lhe  foi  prorogado  o  pra- 
so  por  mais  quatro  aiinos. 

Melchior  Estacio,  tinha  ja  servido  o  mesmo  logar  por  Alv.  de  2â  de  Margo 
de  1588,  aonde  se  diz:  «em  attetigão  aos  servigos  que  tinha  feito  em  S.  Miguel 
»/fls  alternrões  passadas."  (Drumíiiond,  Annaes  da  Ilha  Terceira,  T.  í,  p.  362  nota.; 


Alvará  de  4  de  junho  de  1593,  para  a  Gamara  da  ilha  de 
Santa  Maria,  sobre  a  oaça  dos  coelhos. 

Eu  el  Rei  façf)  saber  aos  que  este  alvará  vitem  que  avendo  res- 
peito ao  que  os  olliciaes  da  Camará  da  ilha  de  Santa  Maria  dizem  no 
apontamento  que  entre  outros  me  enviaram  de  que  o  treslado  vai  es- 
rripto  att^az  e  visto  a  informação  que  acerca  do  contendo  no  dito  apon- 
tamento se  ouve  de  Francisco  Simões  (ia  Cunha  juiz  de  fora  na  cidade 
de  Ponta  Delgada  da  ilha  de  São  .Miguel  ei  por  bem  que  na  dita  ilha 
de  Santa  Maria  se  possa  livremente  caçar  aos  coelhos  em  todo  (li 
com  fios  e  quaesquer  outras  armadilhas  com  que  os  poderem  caçar  e 
isto  se  entendei  á  da  parte  fia  Almagreira  para  a  serra  somente  sem  em- 
bargo da  ordenação  em  contrario  e  com  declaração  que  para  a  parte 
da  dita  ilha  de  Santa  Maria  e  contra  o  niar  se  não  armem  em  tempo 
algum  tios  nem  nenhumas  outras  armadilhas  aos  coelhos,  o  que  todo 
assim  me  praz,  por  espaço  de  dous  annos  (pie  começarão  do  dia  em 
que  este  alvará  for  presentado  na  ilha  de  Santa  Maria  em  diante  de 
que  nas  costas  delle  constará  por  certidão  do  escrivão  da  Camará  da 
dita  ilha  visto  como  pela  dita  informação  constou  f;»zerem  os  coelhos 
na  dita  parte  da  Almageira  pêra  a  serra  muitas  perdas  e  damnos  nas 
searas  e  vinhas.  E  mando  a  todas  as  justiças,  olliciaes  e  pessoas  a  que 
o  conhecimento  disto  pertencer  que  cum[)ram  inteiramente  este  alvará 
couKj  nelle  se  contem  sem  duvida  neiu  contradição  alguma  e  quero 
que  valha  d.  E  do  teor  deste  alvará  foi  passado  mais  outro  para  irem 
por  duas  vias  de  que  este  he  a  primeira  ciun[trirseha  hum  somente. 
Pêro  de  Seixas  o  fez  em  Lisboa  a  iiij  {4<  de  jimho  de  mil  1/  Ixxxxiij 
{1Ò9S).  Miscouse — pasar. 

{Arch.  nac.  da  T.  do  T.,  Liv.  2.°  de  Priril.  de  Fiiippe  2.\.  f.  246.  \ 


(1)  Parece  que  faltam  aqui  as  palavras— o  a«íío  -sem  o  que  não  faz  mmtn 
sentido,  nem  era  muito  precisa  a  concessão,  porque  ainda  que  a  ordenação  fal- 
tava geralmente,  comtudo  especializava  as  priíicipaes  terras  onde  o  rei  costuma- 
va ir  folgar,  e  as  posturas  de  muitas  camarás  marcavam  o  tempo  em  que  apenas 
era  prohit)ida  a  cacja.  {ISnta  do  Svr.  J.  I.  de  Brit»  íleheUo.) 


158  ARCHIVO  DOS  AÇORES 


Alvará  de  4  de  julho  de  1593,  para  a  Camará  da  ilha  de 

Santa  Maria. 

Eu  El  Hei  faço  saber  aos  (jiie  estn  alvará  virem  que  aveudo  res- 
peito ao  (]ije  os  olliciaes  da  camará  da  ilha  de  Santa  Maria  dizem  no 
apontamento  que  entre  outros  me  enviaram  de  que  o  traslado  vai  a- 
iraz  (1)  escriplo  e  vista  a  informação  que  acerca  do  conteúdo  no  dito 
apontamento  se  ouve  por  rrancisco  Simões  da  Oinlia  juiz  de  fora  na 
cidade  de  Ponta  Delgada  da  ilha  de  São  Miguel  ei  por  bem  que  por 
espaço  de  seis  aimos  que  começarão  do  dia  que  este  alvará  for  apre- 
sentado na  ilha  de  Santa  Maria  em  diante  de  (]ue  nas  cosias  delle  con- 
stará por  certidão  do  escrivão  da  camará  da  dita  ilha  se  arrendem  aos 
moios  per  arrendamentos  as  terras  do  concelho  delia  a  pessoas  que  as 
tratem  bem  e  paguem  aquillo  em  que  lhes  forem  arrendadas  dando-se 
nos  arrendamentos  das  ditas  terras  parle  aos  pobres  visto  como  pella 
dita  informação  constou  sendo  o  povo  ouvido  importar  á  boa  arreca- 
dação do  rendimnnto  das  ditas  terras  do  concelho  arrendarem-se  aos 
moios  per  arrendamentos  pela  muita  deminuição  que  nelles  avia  das 
estremas  que  cada  anuo  fazia  os  lavradores  que  as  pessohiam  com  o 
(pie  as  ditas  terras  se  hião  ao  mar  com  as  aguas  que  pelas  taes  es- 
tremas corriam  o  que  todo  assi  me  praz  com  declaração  que  as  pes- 
soas a  que  se  arrendarem  pela  dita  maneira  façam  nas  estremas  ba- 
lisas  de  paao  para  divisão  delias.  E  mando  aos  olFiciaes  da  camará  da 
dita  ilha  de  Santa  Maria  que  ora  são  e  pelo  tempo  forem  e  a  quaes- 
qiier  justiças,  pessoas  e  ofíiciaes  outi'()s  a  que  o  conhecimento  desto 
pertencer  que  cumprão  inteiramente  este  alvará  como  wAW  se  contem 
sem  duvida  nem  embargo  algum  e  quero  tjue  valha  á-.  E  do  teor  des- 
te alvará  foi  passado  mais  outro  para  ir  por  duas  vias  de  que  esta  he 
a  primeira,  cumprirseha  um  somente  —  Pêro  de  Seixas  o  fez  em  Lis 
boa  aos  iiij  [4)  de  junho  de  mil  b*'  Iriij  {1693). 

{Ai-c.  nac.  da  T.  <lo  T.,  Ur.  2°  dos  hiv.  de  FIlipp.  l.\  f.  246.) 


(1)  Est:i  palavra  não  oálá  no  registo,  mas  segundo  o  teor  ilo  outi'os  alvuras 

^iiiiilliaiitts  |)art'ct'  ilovia  cslar  iio  original. 

[NoUi  do  Sr.  .1.  I.  ,lf  Br>Ui  HrbeUo). 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  150 


Reg-imento  de  Fernão  Faleiro,  provedor  dos  órfãos  e  re- 
síduos da  ilha  Terceira;  7  de  dezembro  de  1593. 

Dom  Philipe  á-.  Fíiço  saber  a  vós  Feinãd  Kalleiro  que  <»ra  envio 
por  Provedor  dos  órfãos,  tesidos,  liospitaes.  capellas.  confrarias  e  al- 
hergaiias  da  comniarea  da  Ilha  Terceira  que  eu  cy  por  bem  e  me  praz 
(|ne  alem  do  (]:ie  p  )r  minha-;  ordenações  e  pelo  R-^gimento  do  dito  of- 
íicio  vos  he  mandado  acerca  delle.  useis  e  cumpraes  o  ipie  nos  capi- 
(ulos  abaixo  declarados  se  contem. 

E  por  quanto  os  Provedores  dos  oifãos  por  bem  de  seu  Regimen- 
to nas  cousas  dos  ditos  órfãos  não  podem  conhecer  senão  de  certas 
causas  per  aiição  nova,  nem  tem  mais  alçada  ipie  até  conlia  de  dois 
mil  reis,  ey  por  bem  que  (pierendf»  algua  das  partes  perante  nós  de- 
mandar algua  cousa  que  vos  [»osars  conhecer  per  aução  nova  de  todos 
os  casos  que  os  Juizes  dos  órfãos  per  seu  Regimento  e  ordenações  po- 
dem conhecer,  e  sendo  os  ditos  casos  nos  logares  em  que  o  correge- 
dor pode  entrar  per  via  de  coireição,  tenhaes  a  alçada  que  tem  o  di- 
lo  corregedor,  e  nos  outros  lugares  em  que  assi  o  dito  corregedor  não 
poder  entrar  per  via  de  C(trreição  tereis  somente  a  alçada  que  tem  os 
provedores  pelo  regimento  de  seu  ofíicio,  a  qual  alçada  assi  mesmo 
tereis  n(»s  feitos  e  causas  dos  ditos  órfãos  que  a  vós  forem  per  agra- 
vo dos  ditos  lugares,  em  que  entrar  o  dito  corregedor,  de  que  atégo- 
ra  os  Provedores  passados  [)odiam  conhecer  pelo  dito  Regimento. 

It.  os  feitos  que  não  poderdes  acabar  de  despachar  nos  lugares 
onde  os  começardes  não  levareis  comvosco  e  os  dei.xareis  aos  Juizes 
dos  ortãos  os  quaes  procederão  nelles  e  os  despacharão  como  for  jus- 
tiça segundo  forma  de  seu  Regimento  e  ordenações. 

K  por  quanto  no  Rtgimento  dos  provedores  no  tituk»  cincoenta  e 
hum  (pie  falia  como  liam  de  prover  sobre  os  órfãos  no  principio  dfi 
dito  titulo  he  mandadi»  a(»s  ditos  Provedores  (jue  quando  acharem  que 
(ts  Juizes  dos  órfãos  não  servem  como  devem  seus  olíicios  e  os  acha- 
rem em  alguas  culpas  mo  facão  a  saber  etc.  ey  por  bem  pella  contian- 
ça  que  de  vós  tenho  que  quando  quer  que  achardes  os  ditos  Juizes  e 
ntliciaes  culpados  em  tais  culpas  que  contra  elles  per  direito  se  deva 
prt)ceder,  que  vós  procedaes  contra  elles  como  for  justiça  sem  mais 
mo  fazerdes  a  saber  dando  apellação  e  agravo  nos  casos  que  não  cou- 
berem em  vossa  alçada. 

It.  tanto  que  fordes  na  dita  comarca  fareis  fazer  hun  livro  bem 
ejicadernado.  no  qual  fareis  escrever  em  titollos  apartados  de  per  sy 
os  nomes  das  villas  e  lugares  que  ouver  na  dita  comarca  e  provedo- 
ria, e  quandít  começardes  a  correr  a  dita  comarca,  e  chegardes  a  ca- 
<la  huii  dos  ditos  lugares  pei"a  pruver  as  capellas  que  nelles  ouvei' se- 
gimdo  forma  do  Regimento,  como  acabardes  de  prover  cada  bua  dei- 


160  ARCHJVO  DOS  AÇORES 

las  mandareis  treslladar  a  Insliluição  ou  lestamento  da  provestes  (I) 
abaixo  do  titulo  da  villa  ou  lugar  eui  que  estiver,  e  allfui  disso  fareis 
HSt^rever  o  nome  da  dita  capella,  e  da  igreja  em  que  eslaa,  e  quem  a 
inslituliio,  e  qunm  he  o  administrador  delia  e  se  lie  de  liuhagt^m,  ou 
lhe  vem  p^r  sobcessão,  ou  per  mercê  que  lhe  eu  delia  fizesse  e  se  a 
dita  mercê  he  somente  em  sua  vida,  se  pêra  seu  filho,  ou  geração,  e 
se  os  oíTiciaes  da  camará  são  administradores,  e  assi  a  obrigação  (jue 
tem  e  a  renda  que  lhe  foi  deixada  pêra  se  comprir  a  dita  obrigação, 
e  em  que  heranças,  ho  que  ora  rende  ao  presente,  e  o  selario  que  o 
administrador  leva  j)er  seu  trabalho,  e  a  maneira  de  que  por  elle  he 
servida,  e  o  que  nella  provestes  e  mandastes  que  se  fizesse,  e  polia 
dita  maneira  fareis  escrever  no  dito  Livro  todas  as  capellas  que  na  di- 
ta comarca  ouver  como  as  acabardes  de  prover  cada  hua  no  lugar  on- 
de estiver,  e  com  todas  as  declariíções  qne  acima  se  contem,  o  qual 
Livro  estará  na  arca  onde  estiverem  os  Livros  e  cousas  que  locarem 
ao  dito  oíFicio  de  Provedor  que  sempre  andará  convosco  pêra  quando 
tornardes  a  prover  as  ditas  capellas  verdes  pello  dito  livro  as  que  a- 
veis  de  prover,  e  se  se  comprio  o  que  as  Instituições,  ou  testamentos 
mandão,  e  assi  se  se  comprio  o  que  mandastes  que  em  algiia  se  fizes- 
se pêra  quando  vierdes  a  minha  corte  e  vos  for  j3ergimtado  dardes  re- 
zão  do  que  acerca  disso  se  vos  perguntar,  e  assim  para  que  o  Prove- 
vedor  que  depois  de  vós  for  saiba  tomar  larga  enformação  de  quantas 
as  ditas  capellas  são,  e  de  suas  obrigações,  e  do  mais  neste  capitólio 
declarado. 

E  por  quanto  se  já  mandou  fazer  o  dito  Livro  pella  dita  maneira 
aos  provedores  que  antes  de  vós  foram  da  dita  comarca,  enformar- 
voseis  dos  officiaes  da  provedoria  delia  se  fizeram  os  ditos  provedo- 
res o  dito  livro  e  adiando  que  o  fizerão  o  vereis,  e  sabereis  por  elle 
se  está  feito  o  que  conforme  ao  qne  no  capitólio  acima  he  declarado  e 
estando  alguma  cousa  por  fazer  a  acabarias,  e  não  sendo  o  livro  feito 
o  fareis  logo  pida  dita  maneira,  e  entodo  comprireis  este  Regimento 
como  se  nelle  contem.  LI  Rei  nosso  senhor  o  mandou  pelos  doutores 
.leronimo  Pereira  de  Sá  e  Melchior  do  Amaral  ambos  do  seu  conselho 
e  seus  desembargadores  do  Paço.  E  eu  .loão  da  Costa  o  sobescrevy  a 
sete  de  dezembro  de  mil  e  b  e  Ixxxxiij  {lõ93)  annos. 

{Arch.  tine.  da  T.  do  T.,  Liv.  1."  das  Leis  e  Rig.y  f.  223.) 


(1)  A  [iiilavi-a  Ini  cmciitkul;!,  pareccodo  liavcr-so  cscriplo  \M'\fm-\vo—f>roven}es. 

^Nuta  lio  Sr.  ./.  /.  de  Brito  Rebello.) 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  161 


Alvará  de  l  d'dgosto  de  1593,  concedendo  privilégios  aos 
thezoiíreiros  da  Gamara  de  Ponta  Delgada. 

)  Eli  el  Rei  faço  saber  aus  ijiie  esle  alvará  virem  que  por  alguns 
respeitos  que  me  a  isso  inuveui  ey  [)or  bem  e  uie  praz  que  (J'aqui  em 
ilianle  os  ihesoureiros  que  andarem  nos  pelouros  da  governança  da 
Camará  da  Cidade  da  Ponta  Delgada  da  ilha  de  São  Miguel  gozem  dos 
mesmos  privilégios  de  que  gozam  os  juizes  e  vereadores  da  dita  cida- 
de como  foi  por  mim  concedido  á  villa  dn  Villa  Franca  «Ja  dita  illia: 
uoteíico  o  assim  a  todos  meus  desembargadores,  C(»rregedores,  ouvido- 
res,juizes  e  justiças,  oíliciaes  e  pessoas  a  que  este  alvará  ou  o  Irelado 
delle  em  publica  forma  for  mostrado  e  o  conhecimento  perlenct-r  e 
lhes  mando  (jue  aos  ditos  thesoureiros  que  assim  andarem  nos  pelou- 
ros da  dila  commarca  não  impiíJam  gozar  dos  ditos  privilégios  pela 
maneira  sobre  dita  antes  livremente  os  deixem  gnznr  delles  e  sem 
nisso  lhe  ser  posta  duvida,  embargo  nem  contradição  alguuja  e  cum- 
pram e  guardem  e  façam  inteiramente  cumprir  e  guardar  este  alvará 
<*omo  se  ntdle  contem  o  qual  se  registará  no  Livro  da  Camará  da  ci- 
dade de  Ponta  Delgada  pelo  escrivão  d"ella  (pie  pa>sará  nas  costas 
deste  hiia  certidão  de  como  fica  registado  no  dito  Livro  e  a  quantas 
folhas  (i  o  próprio  se  porá  no  cartório  da  dita  Camará  em  toda  boa 
guarda  pêra  sempre  se  ver  e  saber  que  o  ouve  eu  assy  por  bem  e  este 
quero  que  valha  como  cana  sem  embargo  da  ordenaçam  do  "2."  livro 
tt.°  XX  (20)  que  diz  que  as  cousas  cujo  elTeito  ouvercm  isic)  de  durar 
mais  de  hum  anuo  pa>sem  per  cartas  e  passando  pei-  alvarás  não  va- 
Hião  — Francisco  Ferreira  o  fez  em  Lixboa  ao  primeiro  de  agosto  de 
i  b  e  Irbiij  ilõOS)  Pêro  da  Costa  o  fez  escrever=concertadas  2,  Peio 
Castanho. 

(Anh.  me.  da  T.  do  T.,  Lk.  4.°  dos  Prinl.  de  Ftlippe  1."  f.  177.) 


Privilegio  para  Pêro  Uchalles  coser  cal  com  carvão  de 
pedra  na  ilha  de  S.  Miguel;  17  de  novembro  de  1598. 

Eu  el  Rey  faço  sab.r  aos  que  este  alvará  virem  que  avendo  res- 
peito ao  que  na  petição  aqui  junta  diz  Peio  Uchalles,  ingrez  de  nação,, 
morador  na  ilha  de  Sam  Migel  e  vista  a  informação  que  do  contheudo 
nelli  se  ouve  por  Francisco  BHelho.  provedor  de  minha  fazenda  nas 
ilhas  dos  açores  e  mais  deligencias  que  sobre  isso  se  fizerão  ey  por 
bem  e  me  praz  dar  licença  ao  dito  Pêro  Uchalles  pcra  que  por  tempo 
de  cinco  ânuos  po>sa  fazer  na  dita  ilha  cal  com  carvão  de  pedra,  deu 
N.    'il— Vol.  VIII  —  1886.  !j 


162  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

tro  dos  quaes  nenhurníi  outra  pesscia  poderá  fazer  a  dita  cal  c<jm  o 
dito  carvão  de  pedra,  o  qual  carvão  file  poderá  mandar  trazer  de  Fraii- 
dez  ou  Escócia  e  quaesquer  outras  partes,  nãu  sendo  de  Inglaterra, 
com  declaração  que  toda  a  outra  pessoa  poderá  trazer  cal  a  vendei' 
ás  ditas  ilhas  de  todas  as  partes  que  quizer,  pelo  que  mando  a  todas 
minhas  ju>tiças,  oíFiciaes  e  pessoas  das  ditas  illias  a  que  este  alvará 
for  mostrado  e  o  conhecimento  delle  pertencer,  que  pelo  dito  tempo 
de  cinco  annos  deixem  ao  dito  Pêro  Uch;dles  fazer  cal  nellas  cou)  o 
dito  carvam  de  pedra  que  elle  mandará  trazer  de  Fraudes  ou  Escócia 
e  quaesquer  outras  partes  não  sendo  Inglaterra  como  dito  he,  e  não 
consintão  que  nenliua  outr;i  pessoa  possa  fazer  cal  com  o  dito  carvão 
de  pedra  se  não  elle,  a  qual  fará  assim  na  dita  ilha  de  S.  Migel  como 
nas  mais  ilhas  dos  açores  e  cumpram  e  guardem  este  alvará  como  se 
nelle  contf.m,  o  qual  se  pubhcará  nas  camarás  das  ditas  ilhas,  villas 
e  lugares  delias,  e  se  registará  nos  livros  das  ditas  camarás  pêra  se 
saber  como  assi  o  tenho  mandado  e  quero  (jue  valha  d-.  Manoel  Fran- 
co o  fez  em  Lixhoa  a  xbij  (17)  de  novembro  de  J  b  e  Irbiij  (10.98): 
Eu  Ruy  Diaz  de  Menezes  o  fiz  escrepver.  Concertado,  Pêro  Castanho. 

(Arch.  nac.  da  T.  do  T.,  Lk.°  VI  dos  Privil.  de  Fdip.  l.\  f.  ÍOS.) 


Nomeação  de  Escrivão  da  Camará  de  Villa  Franca; 
18  de  julho  de  16C5. 

Carta  de  nomeação  de  escrivão  da  Camará  de  Villa  Franca  do 
Campo  na  ilha  de  S.  Miguel  a  Pêro  Mendes  cavalleiío  fidalgo,  e  isto 
por  virtude  de  um  alvará  de  18  de  junho  de  1605  feito  por  Luiz  Ro- 
drigues e  mandado  escrever  por  Pêro  Sanches  Farinha,  no  qual  diz 
que:  «avendo  respeito  á  boa  informação  que  me  enviou  o  corregedor 
das  ilhas  dos  Açores  de  Pêro  ^Mendes,  cavalleiro  fidalgo  de  minha  ca- 
sa e  haver  sido  de  meu  serviço  nas  alterações  passadas  e  ter  servido 
o  officio  de  escrivão  da  Camará  de  Villa  Franca  do  Campo  mais  de 
doze  annos,  ey  por  bem  e  me  praz  de  lhe  fazer  mercê  do  dito  officio 
o  qual  está  vago  por  simples  reniuiciação  (jue  delle  fez  em  minhas 
mãos  o  propiatairo  Amtonio  dAmdrade  por  ser  muito  velho  e  estar 
entrevado»  éc.  Dada  a  carta  na  cidade  de  Lisboa  aos  dezoito  dias  do 
mes  de  julho,  el  Rey  nosso  senhor  o  mandou  pelos  doutores  Damiam 
d  Aguiar  e  Pêro  Nunez  da  Costa  d-.  Pêro  Lopes  a  fez,  anno  de  Nosso 
Senhfir  Jesus  (^liristo  de  160o.  E  eu  Gaspar  Maldonado  a  fiz  escrever. 

{Arch.  mic.  da    T.  do   T.,   Liv.  XV í  do  Fdip.  2.\  fl.  60) 


k 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  1G3 


Alvará  de  mercê  a  Manoel  de  Lemos  do  officio  de  condes- 

tavel  dos  bombardeiros  das  nãos  da  índia  e  armadas, 

na  Ilha  Terceira;  12  de  setembro  de  1605 

E(i  El  Rey  faço  saber  aos  qne  este  alvjirà  virem  que  avendo  res- 
peito ao  qne  na  petição  a  este  junta  diz  Manoel  de  Lemos  morador  na 
cidade  de  Amgra  da  ilha  Terceira  e  á  informação  qne  delle  se  ouve 
na  mesa  do  conselho  de  minha  fazenda  por  Manoel  d(j  Canto  de  Cas- 
tro fulalgo  de  mirihíi  casa  e  provedor  de  minhas  armadas  na  dita  ilha 
de  como  he  apto  e  suficiente  pêra  servir  o  (jfficio  de  condestavel  dos 
bombardeiros  das  nãos  da  índia  e  armadas  qne  vem  ha  dita  ilha  (pie 
vagou  per  falecimento  de  Micer  de  Torres  seu  sogro  que  delle  hera 
proprietário,  e  o  dito  Manoel  de  Lemos  sérvio  o  dito  officio  o  tempo 
que  delle  foi  encarregado,  bem  e  com  cuidado:  ey  por  bem  e  me  praz 
de  lhe  fazer  mercê  do  dito  oiricio  de  condestavel  dos  bombardeiros 
das  nãos  da  Índia  e  armadas  que  vem  ter  ha  dita  ilha  Terceira  e  isto 
com  declaração  que  o  terá  e  servirá  em  quanto  o  eu  ouver  por  bem 
e  não  mandar  o  contrario  e  que  tirandose  ou  extinguindosse  o  ditouf- 
ticio  em  tempo  algum  llie  não  ficará  minha  fazi  nda  por  isso  obrigada 
a  satisfação  algua  e  averá  com  elle  de  or<ienado  cada  anno  (juinze  mil 
reaes  que  he  o  mesmo  orden.ido  que  tinha  e  avia  o  dito  Micer  de  Tor- 
res per  cujo  falecimento  o  dito  officio  vagou;  os  quaes  xb  (lõWOO) 
reaes  lhe  serão  pagos  no  almoxarifado  de  minhas  rendas  da  dita  ilha 
Terceira  |)resentando  o  dito  Manoel  de  Lemos  cada  anno  certidão  do 
provedor  de  minhas  armadas  de  como  serve:  pelo  que  mando  ao  meu 
feitor  ou  almoxarife  das  rendas  da  dita  ilha  qne  ora  he  e  ao  diante  for 
que  constando  lhe  per  certidão  do  dito  provedor  de  como  o  dito  Ma- 
noel de  Lemos  serve  lhe  dee  e  pague  os  ditos  xí)  {lòBOOO)  reaes  e 
pelo  treslado  de.^te  alvará  que  será  registado  no  livro  da  despesa  do 
dito  almoxarifado  pelo  escrivão  de  seu  cargo  e  conhecimentos  do  dito 
Manoel  de  Lemos  e  a  dita  certidão  mando  aos  contadores  de  minha 
casa  lhe  levem  em  conta  o  que  lhe  pela  dita  maneira  pagar  e  ao  pro- 
vedor de  minhas  armadas  lhe  dee  posse  e  juramento  do  dito  officio 
que  bem  e  verdadeiramente  o  sirva  guardando  em  tudo  meu  serviço, 
e  o  direito  das  partes,  de  qne  se  fará  asento  nas  citstas  deste,  que  ey 
por  bem  qne  valha  como  carta  etc.  Pêro  dOliveira  o  fez  em  Lisboa  a 
xij  {12)  de  setembro  de  mil  bj'  e  b  {1605).  Eu  Ruy  Dias  de  Menezes 
o  Í\L  escrever. 

[Ánh.  nac.  da  T.  do  T.,  Lir.  XV f  d^  Filip.  2.^  f.  126  v.") 


164  AftCHIVO  DOS  AÇORES 


Alvará  sobre  a  eleição  dos  officiaes  da  Camará  de  Ponta 
Delg-ada;  19  de  novembro  de  16C5. 

Eu  El  Rey  (aro  síiber  mus  que  este  <\\\i\ii\  viíeui  que  vistas  as 
causas  que  os  vereatloies  e  prucmadoí  da  camará  da  cidade  de  Ponta 
Delgada  da  ilha  de  São  iMigel  allegão  na  petição  atrás  escrita,  com  a 
informação  que  acerca  do  que  uella  requerem  se  ouve  do  juiz  de  fora 
da  dita  cidade  ponjue  constou  do  consentimeulo  dos  ditos  vereadores 
e  procurador  e  d<is  procuradores  dos  misteres  da  dita  cidade  sendo 
sobre  isso  ouvid(»s  e  que  ()elas  ditas  causas  e  suas  respostas  e  mais 
diligencias  que  fizera  e  pelo  que  do  que  requerião  tinha  alcançado  do 
tempo  que  avia  que  assy  servia  de  juiz  de  tnra.  se  lhes  devia  conce- 
der o  (|ue  pedião  por  ser  justo  pêra  bom  governo  do  [>ovo:  ey  por 
bem  que  a  elleição  dos  oíliciaes  da  dita  camará  que  cada  anuo  se  faz 
na  dita  cidaile  poi'  dia  de  janeiro  se  faça  da(jui  em  diante  por  dia  de 
São  João  Bautista  de  cada  hum  anuo,  e  que  as  pessoas  que  na  dita 
elleição  ft>rem  elleitas  |>ara  os  olíiciaes  e  caigos  do  concelho  os  sirvão 
do  dito  dia  de  São  João  té  outro  lai  dia  do  anno  seguinte  asy  e  da 
maneira  que  até  (»ra  os  servirão  de  janeiro  a  janeiro,  o  que  tudo  asy 
me  ptaz  por  tempo  de  cinquo  ânuos  avendo  respeito  aos  oíliciaes  da 
camará  da  Yilla  de  Villa  Franca  da  dita  ilha  terem  perpetua  (Hitra 
semelhante  provisão  a  esta  de  que  na  dita  petição  tratão  e  de  que  se 
offereceo  (»  trtsiado  autentico:  e  mauí^o  a  todas  as  justiças,  olíiciaes  e  * 
pesoas  a  (pie  o  conheciniento  disto  pertencer  (jue  cumprão  inleira- 
niente  este  alvará  como  nelle  se  coutem,  e  quero  que  valha  ele.  IVn» 
de  Seixas  o  tVz  em  EiNboa  a  xix  ( J9)  de  novembro  de  mil  seiscentas 
e  cinco  e  do  theor  deste  alvará  que  he  a  primeira  via  se  passou  mais 
outro  para  ir  por  duas  vias:  comprir  se  á  hum  somente. 

(Arch.  nac.  da  T.  do  T.,  Lir.'>  XVI  dv  Fdip.  2.\  f.  1H2  r.". 


Nomeação  de  João  Dias  da  Bica  para  juiz  dos  orphãos, 
nas  Vellas  (S    Jorge):  6  de  setembro  de  1606. 

Dom  Felipe  ele.  Faço  saber  aos  que  esta  minha  carta  vuem  que 
p(  r  parte  de  João  Dias  da  Bica  morador  na  Villa  das  Vellas  da  ilha  de 
São  J(nge  me  foi  a[iresentado  hum  alvará  por  mym  asynado  e  passa 
do  pela  chancellaria  de  que  o  treslado  he  o  sefiuinte: 

Deseuíbargadoies  do  paço  amigos:  avendo  respeitt»  a  João  Dias 
d  Almada  já  falpcid(»  que  foi  juiz  dos  orlTios  da  ilha  de  Sã(t  Jorge  e  es- 
crivão da  camará  da  Villa  das  Vellas  da  dita  ilha  sei  vir  os  ditos  ofli- 


AHCHIVO  DOS  AÇOBES  105 

cios  o  It  tupo  que  (lelles  foi  [)i()|)ií<tario  bem  e  ^em  iielles  cometer  er- 
nts  e  M  ficar  sua  molher  pohre  e  com  ciiicu  filhos  e  Mll!;^s  como  con 
stou  [)er  iiifoiíiiaçíio  do  coiregcdor  das  illias  dos  jçores:  ey  por  bem  e 
me  [»raz  fazer  mercê  á  fillia  mais  velha  que  fic(»ii  solteira  por  faleci- 
mento do  dito  João  Dias  d(»s  ditos  olíicios  de  jiiiz  dos  órfãos  e  es(TÍ 
vão  da  camará  pêra  a  pe.Hia  que  com  ella  casai-  [>elo  (pie  vos   mando 
examineis  a  dita  pesoa  e  sendo  apta  e  não  tendo  impednnenlo  algum 
pêra  as  a  ver  de  servir  lhe  deis  nisso  despacho  pêra  depois  que  fizer 
cei  to  ser  casado  e  recebido  per  pallavras  de  presente  conforme  ao  sa- 
grado Concilio  Tridenlino  com  a  filha  mais  velha  do  dito  João  Uias 
m(»strando  este  alvará  lhe  ser  passado  carta  em  f(»rma  dos  ditos  olíi 
cios  mostrando  a  que  tinha  (Jeiles  o  dito  seu  sogro  e  pagando  primei- 
ro os  diíeitos  ordenados  com  declaração  que  a  vendo  eu  por  bem  de 
Uns  tirar  em  aigmn  tem[t(»  it  poderei  fazer  sem  por  isso  minha  f.izen- 
da  lhe  ficar  obiigada  a  salisfação  alguma.  Francisco  Ferreira  (t  fez  em 
Lisb(»a  a  xxij  [22)  de  dezembro  de  mil  seis  centos  e  três  [1603).  Pe 
to  da  Costa  o  fez  escrever=Hev. 

Pedind(»me  o  dito  hm\  Dias  da  Bica  que  conforme  ao  dito  alvará 
Itie  fizesse  mercê  de  lhe  mandar  passar  carta  em  forma  do  olficio  de 
juiz  dos  órfãos  da  dita  ilha  de  São  Jorge  e  vi.>to  i^kiw  retpierimento  e  (» 
dito  alvará  acnna  treslad.ído  e  como  elle  dito  João  Dias  da  Bica  foi  exa- 
minado e  ávido  por  apto  pêra  servir  o  dito  ofiicio  na  mesa  do  despa- 
cho dos  meus  (Jesembarga(h>res  do  paço  e  pela  confiança  c^ne  delle  le- 
nho que  no  de  que  o  encarregar  me  servuá  bem  e  fiehnente  como 
cumpre  a  meu  seiviço  e  a  bem  das  partes  e  por  lhe  fazer  meicé  e\ 
por  bem  e  me  praz  de  lha  fazer  do  dito  ollicio  de  juiz  dos  oifãos  da 
ilha  de  São  Jorge  assy  e  da  maneira  que  o  elle  deve  ser  e  como  o 
foi  o  dito  João  Dias  d'Almada  e  as  outras  pesoas  que  antes  delle  sei- 
virão  o  dito  (dlicio  o  ipial  terá  e  servirá,  segundo  foiína  do  Kegimen 
t(»  delle  e  minhas  ordenações  com  declaração  que  avendo  eu  por  bem 
de  lho  tirar  em  algum  tempo  o  poderei  fazer  sem  p(»i  i<so  minha  fa- 
zenda ficar  obrigada  a  salisfação  alguma  e  averá  o  sellaiio.  proes  e 
percalços  (pie  lhe  direitamente  i)ertenceiem  e  mando  ao  provedor  da 
comarca  das  ilhas  dos  Açores  lhe  dè  a  posse  do  dito  oílicio  e  aos  jui- 
zes e  olíiciaes  da  camará,  pesoas  da  g(»vernança  e  povo  a  que  o  co 
nhecimento  pert»  ncer  (pie  ajão  o  dito  João  Dias  da  Bica  poi-  juiz  dos 
órfãos  da  dita  ilha  de  São  Jorge  e  seu  termo  e  lhe  deixem  servir  e 
delle  usar  e  aver  o  dito  salário,  proes  e  precalços  sem  nisso  lhe  ser 
posta  duvida  nem  embargo  algum  por  que  asy  he  minha  mercê  e  o 
dilo  João  Dias  da  Bica  jurará  na  chancelaria  aos  santos  evangelhos 
que  sirva  bem  e  verdadeiramente,  guardando  em  tudo  meu  serviço  e 
o  regimento  do  dito  otricio,  e  ás  partes  e  órfãos  seu  diíeito  na  qual 
chancellaria  pagou  de  ordenado  delle  ao  thezoureir(»  delia  dons  mil  e 
quinhentos  reaes.  como  se  vio  por  hum  conhecimento  em  forma,  feito 
pelo  escrivão  delia  e  asynado  poi  ambíts  e  |)or  firmeza  disto  lhe  man 


166  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

deis  dar  esla  carta.  Dada  na  cidade  de  Lisboa  aos  6  dias  do  mes  de 
setembro,  el  Rcy  nosso  senhor  o  mandou  pelos  doutores  Damião  d'A- 
guiar  e  Pêro  Nunez  da  Costa  etc.  Domingos  do  Couto  a  iez,  anno  do 
nacimenlo  de  Nosso  Senhor  Jezu  \[)õ  [C/uistO)  de  mil  bj*^  e  seis  {1606). 
Lucas  Vieira  a  fez  escrever. 

{Arch.  nac.  da   T.  do  T.,  Liv.  XVI  de  Filipp.  2.\  foi.  148  v°) 


Finta  para  a  igreja  nova  do  logar  das  Capellas,  ilha  de 
S.  Miguel,  por  carta  regia  de  2  de  setembro  de  1606. 

Eu  El  Rey  faço  saber  a  vos  juiz  de  fora  da  cidade  de  Ponta  Del- 
gada da  ilha  de  São  Miguel  que  avendo  respeyto  ao  cjue  na  petição 
junta  a  esta  folha  dizem  os  fregue/.es  da  igreja  de  Nossa  Senhora  da 
Apresentação  do  lugar  das  Capellas  termo  dessa  dita  cidade  e  vista  a 
inforujação  e  parecer  que  sobre  o  conteúdo  na  dita  petição  me  envias- 
tes per  que  constou  da  necessidade  que  avia  de  se  fazer  de  novo  a  di- 
la  igreja  por  se  dizer  missa  aos  fregnezes  em  hum  oratório  de  palha 
ey  por  bem  e  vos  mando  façaes  lançar  finta  de  contia  de  trezentos  e 
noventa  mil  reaes  pelos  freguezes  e  pesoas  que  na  dita  freguezia  ti- 
verem fazendas  de  raiz  que  pagarão  dos  rendimentos  delias  pêra  a  di- 
ta finta  a  rezão  de  cinco  por  cento  e  ao  dito  respeito  de  cinco  por  cen- 
to pagarão  as  pesoas  que  viverem  em  casas,  quintas,  ortas,  olivaes  e 
outras  fazendas  e  propiadades,  suas  propias  que  não  tiverem  alugadas 
nem  arrendadas  e  isso  sendolhe  os  ditos  alugeres  e  rendas  avaliadas 
por  pesoas  que  bem  o  entendão  assi  como  se  esliverão  alugadas  e  ar- 
rendadas por  seus  donos  e  senhorios  e  as  pesoas  que  não  tiverem  pro- 
piadades suas  na  dita  fregnezia  e  vivei'em  nella  dalnger  se  avaliarão 
pelos  ditos  avaliadores  suas  fazendas,  e  os  que  tiverem  cem  mil  reaes 
de  fazenda  para  sima  pagarão  no  dito  lançamento  quatrocentos  reaes 
e  dahy  para  baixo  atee  cincoenta  mil  reaes  pagarão  trezentos  reaes  e 
dos  ditos  cincoenta  mil  reaes  pêra  baixo  i)agarã(j  a  cem  reaes  e  a  se- 
senta  e  trinta  e  vinte,  a  soldo  a  livra,  ou  conio  milhor  parecer  segun- 
do a  po^se  e  a  vivenda  de  cada  hum  de  que  não  seja  escusa  pesoa  al- 
guma de  qualquer  calidade  e  condiçãij  que  seja  sem  embargo  de  (juaes- 
quer  privilégios,  liberdades,  isenções  e  preheminencias  que  tenhão  pos- 
to que  d(js  laes  lançamentos  os  escuse  e  faça  expresa  e  pailicular  men- 
ção, por  quanto  no  dito  lançamento  e  para  o  dito  effeit.)  ey  por  bem 
que  todos  paguem,  e  do  dinheiro  da  dita  fiula  averá  recebedor  e  es- 
crivão com  livros  em  (jue  por  adições  se  asenle  o  que  se  arrecadar  e 
despender,  os  quaes  livros  serão  numerados  e  assignados  por  vós  6  no 
fim  delles  se  fará  hum  asento  em  (|ne  declare  (juaulas  folhas  tem  e  co- 
mo sãa  todas  numeradas  e  asinadas  por  vós  e  os  ditos  recebedor  e 
escrivão  não  levará  cousa  alguma  por  rezãt)  dos  ditos  cargos  somente 


ARCHIVO  DOS  AÇOBES  167 

serão  escusos  de  pagarem  para  a  dita  finta,  as  qiiaes  serão  nomeadas 
por  vos  o  assim  todas  as  mais  pesoas  qne  oiiverem  de  servir  neste 
negocio  a  que  dareis  juramento  dos  santus  evangelhos  (]ue  sirvão  nis- 
so bem  e  verdadeiramente,  guardando  em  tudo  a  mim  meu  serviço  e 
as  partes  seu  direito  de  que  se  fará  asento  nas  costas  deste  alvará  a- 
sinado  por  vos  e  por  elles,  o  qual  dinheiro  da  finta  assim  couio  se  for 
arrecadando  se  meterá  em  liua  arca  que  pêra  isso  averá  com  três  cha- 
ves, das  quaes  hua  teres  vos  e  outra  o  dito  recebedor,  e  outra  o  es- 
crivão e  por  vosa  ordem  que  asistireis  a  tudo  fareis  o  que  por  este 
está  ordenado  e  não  em  outro  modo,  e  fareis  paguar  a  todos  na  for- 
ma sobredita,  e  o  dinheiro  da  dita  finta  se  não  gastará  nem  despen- 
derá em  outra  cousa  algua  senão  nas  obras  da  dita  igreja  de  que  to- 
mareis conta  como  a  obra  for  acabada,  on  nos  tempos  que  vos  milhor 
parecer  vendo  os  ditos  livros  e  sabereis  se  se  despendeo  o  dito  dinhei- 
ro em  outras  cousas  mais  que  nas  ditas  obras  para  qne  somente  con- 
cedo esta  licença,  e  achando  que  se  fez  a  dita  finta  e  aplicou  o  dinhei- 
ro delia  conforme  a  este  alvará  o  levareis  em  conta,  e  pelo  contra rií» 
procedereis  nisso  na  forma  delle  e  de  minhas  ordenações,  o  qual  com- 
prireis  inteiramente  e  fareis  comprir  e  guardar  como  se  nelle  contem 
o  qual  me  praz  que  valha  posto  que  o  efleito  delle  aja  de  durar  mais 
de  hum  anuo,  sem  embargo  da  ordenação  que  o  contrario  dispõem, 
com  declaração  que  a  obra  da  capella  mór  da  dita  igreja  que  se  ade 
fazer  á  custa  de  minha  fazenda,  se  não  começar  até  não  aver  dinheiro 
da  dita  finta,  para  se  começar  a  obra  toda  junta.  João  Roiz  o  fez  em 
Lisboa  a  dous  de  setembro  de  mil  seis  centos  e  seis,  Vicente  Vaz  Ra- 
mos o  fez  escrever. 

[Arch.  mic.  da  T.  do  T.,  Lh\  XVI  de  Fiiipp.  2.\  foi.  166.) 

Foi  muito  demorada  a  obra,  pois  em  1617  ainda  servia  a  ermida  coberta  de  [lalha,  como  se  disse 
110  Vol.  I,  pag.  íítS. 


Soccorro  á  ilha  de  Santa  Maria;  21  de  julho  de  1616. 

Senhor— O  Arcebispo  Visorrey  remeteo  a  este  conselho  hua  car 
ta  de  V.  Magestade  em  que  diz  que  havendo  considerado  o  muito  que 
convém  acudirse  á  Ilha  de  Santa  Maria  que  foy  entrada  e  saqueada 
dos  cossarios,  com  armas,  pólvora,  e  monições  e  mais  cousas  e  petre- 
chos de  guerra  que  necessárias  furem  para  que  os  moradores  delia 
se  possão  deffender  e  reprimir  os  imigos  que  a  quizerem  cometer:  pel- 
lo  que  emcomendava  V.  Magestade  muito  ao  dito  Visorrey  ordenasse 
logo  que  se  enviassem  estas  armas  á  mesma  Ilha  e  que  com  toda  a 
brevidade  se  embarcasse  com  este  socorro  que  seria  em  quantidade 
o  mayor  que  pudesse  ser  o  filho  do  capitão  da  dita  Ilha  tpie  anda  nes- 
ta cidade,  de  maneira  que  não  houvesse  dilação  alguma  na  sua  parti- 


168  AHCHIVO  DOS  AÇOREà 

tia,  mas  antes  se  procurasse  fosse  apressada  quanto  for  possível  pnis 
a  necessidade  q?ie  a  Ilha  tem  de  delTensão  e  está  pedindo. 

E  porque  ao  tempo  (jiie  se  r^cebeo  iie.ste  funselho  a  carta  refe- 
rida se  linha  delle  feito  consulta  a  V.  Mageslade  em  10  deste  sobre 
a  matéria  (jue  iinila  se  trata  do  ipie  se  dá  conta  a  V.  Magestade  que 
mandará  o  que  for  servido.  Km  Lixboa  a  ál  de  julho  de  1CI6  =  0 
lloiide  Monteiro  Mór  =  Luis  da  Silva  =  Luis  Pereira  =  Simão  Soares. 

Resolução 

A  outra  consulta  se  enviará  a  S.  Mageslade  e  pellas  resões  que 
ha  para  se  fazer  o  que  S.  Mageslade  manda  serem  muy  convenientes 
a  seu  credito  convirá  que  se  execute  sem  dilação  a  sua  ordem.  Em 
Lisboa  a  21  de  julho  de   1616  =  Arcebispo  de  Lisboa. 
(Arch.  do  Minist.^  do  Marinha  -  Cons.°  Ulram..^  —  Consultas  de  1616). 


Girta  de  Agostiaho  Borges  de  Sousa,  Angra  30  d'agosto 

de  1(330. 

Desculpão  sse  minha  demazia  e  confiansa  com  o  intento  de  vosa 
S/'  mais  aprovado:  ser  encaminhado  a  dar  de  mim  rezão  nas  couzas 
do  serviçi)  de  S.  Magestade  e  mais  quando  por  V.  S.'*  ordenadas.  (!he- 
gei  a  esle  porto  de  Angra  na  mesma  hora  que  chegado  havia  a  escoa-' 
dra  de  Cádis  e  como  trazia  as  ordens  de  S.  Mageslade  asim  para  a 
Navelta  como  carrega  de  fazenda  que  a(|ui  estava  as  entregei  logo  ao 
provedor  que  o  encomprimento  delias  em  seis  dias  se  ex[)edio  a  Na- 
velta .se  carregou  a  fazenda  e  o  que  mais  aseito  será  a  V.  S.''  se  deu 
com  iguoal  pressa  e  cuidado  tudo  o  que  o  general  da  escoadra  pedio 
e  apontou  serlhe  necessário  de  lastro  aguoada  e  mais  cousas  para  os 
seus  navios  e  estando  meia  fazenda  embarcada  nesta  nau  que  a  leva 
a  toniou  por  de  contrabando  o  mestre  de  campo  castelhano  que  com 
i'ezÕes  lauto  do  serviço  de  S.  Mageslade  se  convensfu  [)ara  a  largai- 
e  eu  como  quem  trabalhou  a  matéria  pos.so  e  devo  dizer  a  V.  S.*  que 
hua  das  maiores  com  que  o  obrigei  foi  ropresentarlbe  que  em  tempo 
•MU  <jue  V.  S.*  por  mercê  do  Ceo  governava  esle  Reino  deviamos  com 
mais  cuidado  não  desviar  nelle  bons  sucessos  que  Noso  Senhor  permit- 
ia seuipre  a  V.  S.^.  IJO  de  agosto  I6.S0=^  A  gostinho  Borges  de  Sousa. 
=(Não  tem  sol)reescriplo)=cola  na  meia  folha  immediata— De  Agos- 
tinho Borges.  M)  d  Agosto— Recebida  a  23  de  .setembro— diz  que  em 
chegando  a  Ilha  deu  Ittgo  os  despachos  ao  provedor  da  fazenda.  K  (|ue 
conforme  a  ellcs  se  aviou  a  Navelta  e  deu  aos  navios  da  csipiadra  o 
que  pedião. 

[Arclt.  iKiv.  (Iti   T.  dit  T.,    (iareid  2<K  iwir.   lõ—n."  Hl.) 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  i69 


Carta  cio  Bispo  d'Ang-ra  D.  João  Pimenta;  do  Correg-edor 

Francis3J  d8  Oaravicle;   e  do  Provedor  da  Fazenda 

António  Ferreira:  de  30  d'Agosto  de  1630. 

Spiilior  =  Ein  i3  deste  mes  de  Agosto  amanlu^seião  a  Ima  vista 
desta  terra  nove  navios  e  por  noite  se  soube  ser  hua  escuadra  da  ar- 
mada Heal  (jue  vinha  a  dar  Guoarda  a  navetta  de  Cocliim,  e  ao  dia 
seguinte  2i  á  véspera  entrarão  neste  porto  dois  navios  que  vinlião  de 
Lisboa  e  Agostinho  Borges  de  Souza  entregou  a  ord^n  de  Vossa  Ma- 
gestade  para  se  haverem  de  carregar  eu  navios  poiínguezes  se  os 
ouvesse  e  en  falta  en  navios  estrangeu^os  as  fazendas  da  índia  do  Gal- 
leão  Bat;dha  para  cujo  effeito  se  fretou  hun  dos  ditos  navios  por  nome 
a  Koza  Unirada.  Mestre  Arnao  Vautresen  por  ser  grande,  posto  que 
não  pode  carregar  todas  as  fazendas  e  tição  no  Almazen  alguns  qiioar- 
los  e  burris  e  mtis  de  noveiíta  fardos  de  canella  que  dizen  ser  do 
Conde  Almirante. 

As  fazendas  vão  entreges  a  Niculâo  Cardozo  pessoa  conhesida  e 
do  serviço  do  Marques  de  Caslello  Kodrigo  por  se  entender  que  o  fa- 
rá com  cuidado  e  coiitiansa,  leva  para  sua  ajuda  dois  duoardas  das 
nãos  da  índia  nesta  ilha.  A  Roque  Centeno  cabo  da  dita  escoadra  pe- 
dimos soldados  para  a  guoarda  e  defensão  da  dita  nau  deu  trinta  C()n 
liun  Alferes  p)r  cabo  e  20  marinheiros  para  os  quoaes  metem  )S  20 
mosquettes  com  pólvora  bailas  e  marrão  e  hum  Pilloto  da  terra  para 
vigiar  a  guia;  o  dito  (Centeno  deu  os  mantimentos  ()ara  os  trinta  sol- 
dados e  vinte  marinheiros  em  recompensa  do  que  e  porque  de  me- 
lhor vontade  a  guoar(Jase  lhe  fizemos  alastrar  a  Capitana  e  Almiranta 
e  se  lhe  deu  a  aguoa  la  e  conserto  de  pipas;  o  invenlairo  das  fazendas 
a  rellação  dos  gastos  vai  ao  conselho  da  fazenda.  Já  poderia  ser  que 
a  muita  brevidade  com  que  descarregou  a  ii.iu  e  se  lhe  deu  a  carga 
cauzasse  algua  confuzão  posto  (jue  segundo  o  cudado  deve  ser  pouca. 
(iu(jarde  Noso  Senhor  a  pessoa  de  V.  Magestade  por  muitos  annos. 
Angra  30  de  agosto  16:jO.  =  D.  João  Pimenta  dAbreu.  Bispo  dAngra. 
^Francisco  de  Cavide  =  António  Ferreira ^=(.çewi  snhrecsciiptn  tendo 
porem  no  verso  da  "i^  meia  follia  a  seguinte  cota )  =  Do  Bispo  áXn 
gra=Corregedor  das  Ilhas  — E  Provedor  da  fazenda  —  Recebida  ;'j 
23  de  setembro  —  dão  conta  de  como  vem  a  navetta  e  das  fazendas 
do  Galeão  Batalha  e  como  aly  não  ficão  senão  alguns  barris,  quartas  e 
idgua  canela  do  Conde  da  Vidigueira  que  se  não  pode  carregar. 

{Arch.  nac.  da  T.  do  T.,  Gav.  20,  mac.  lõ  —  n.°  110). 


.N."  ii— Vol.  Vííl— 1886.  10 


170  ARCHIVO  DOS  AÇORES 


Informação  pelo  procurador  e  juiz  dasCapellas  da  Coroa, 
Thomé  Pinheiro  da  Veiga,  sobre  as  queixas  da  Gama- 
ra e  juiz  de  fora  de  Ponta  Delgada,  contra  o  gover- 
nador Sancho  de  Tovar  da  Silva. 
(1631-1636?) 

Deslas  queixas  qiie  a  Tâmara  e  juiz  de  f(»ra,  e  sargento  mór  de 
Ponta  Delgada  da  Ilha  de  São  Migel,  fazem  a  V.  Magestade  do  Gover- 
nador e  capitão  mór  Sancho  de  Tovar  e  Sylva  justeíicadas  pellas  cer- 
tidões juntas  e  de  outros  que  per  agravos  vem  a  Relação  de  que  tive 
vista  se  deixa  entender  que  uu  por  falta  de  experiência  ou  conselho 
está  enganado  nus  limites  do  seu  cargo  e  poderes  que  exercita.  E  lia 
necessidade  de  se  prover  no  excesso  destes  procedimentos:  principal- 
meflte  servindct  na  absencia  do  C(jnde  Donatário  e  com  o  exemplo  se 
lhe  ficaria  acipiirindo  jmíW/fão  (I)  e  abusos  do  que  não  tem  per  di- 
reito Sancho  de  Tovar. 

Porque  conforme  a  carta  cuja  copia  juntei,  V.  Magestade  o  u(»- 
mea  por  Gcveriiador  em  absencia  do  Conde  de  Villa  Franca  e  ainda 
nestas  relações  se  refere  que  com  salário  e  stipendio  do  Conde.  E  sen- 
do assi  parece  que  não  tem  outro  regimento  senão  as  doações  do 
donatário  e  dentro  de  seus  limites  ainda  que  seja  posto  por  V.  Ma- 
gestade. E  a  este  respeito  me  cabe  fazer  estas  lenbranças  por  se 
não  introdusirem  excessos  de  jurisdição  e  costume  pêra  o  donatário 
e  deve  ir  (2)  a  Juizo  da  coroa  por  excessos  de  Jurisdição.  E  os  da 
militin  (II)  cometcrem-se  pello  governo. 

E  em  particular  os  primeiros  cap.°*  da  Camará  e  .luiz  eui  quanto 
dizem  que  estando  per  Governador  por  V.  .Magestade  em  liiiiar  do 
Conde  e  levando-lhe  seu  salário  lhe  arroga  a  jurisdição  cum  poder 
absoluto  toniandoa  ao  Juiz  e  Justiças  dando  sentenças  conhecendo  de 
dividas  e  crimes  mandando  soltar  e  prender  e  que  se  não  cnmprão 
as  sentenças  do  Juiz  de  fora.  E  passando  oídens  ipie  se  não  exequu- 
tem  os  condenados.  E  dando  perdoens  e  couuilações  por  dinheiro  e 
condenando  em  degredos  sem  appellação  nem  as  deixando  ir  ao  ou- 
vidor na  forma  da  ord.  e  doação.  E  tudo  bastantemenie  c(in>ta  tios  pa- 
peis juntos  e  folhas  apontadas  na  carta  do  Jiiis. 

E  em  quanto  aveiido  provisão  e  sentença  da  Relação  que  os  In 
greses  e  mais  estrangeiros  que  vem  com  mercadorias  se  vão  em  as 
vendendo  e  o  facão  por  peças  e  não  aos  covados  e  não  liqueiii  na  ter- 
ra nem  com  logea  por  não  tirar  o  ganho  da  maioria  aos  naturaes  com 


(1)  Está  muito  rabiscadíi  a  palavra,  mas  não  pode  ?er  oulra  roísa. 

^2)  Ou  talvez  uii\  lendo-se  como  u  um  pequeno  borrão. 

(3)  Assim  está  escripto. 

{Nota  (lo  $nr.  J.  l.  de  brito  Rdiello.) 


ARCHIVO  DOS  AÇOKES  171 

tii(l(3  O  dito  (1)  Goveriiad.ir  deu  Ima  sentença  mui  desordenanda  (sic) 
i^iie  visla  [SIC)  as  [jazes  em  que  se  C'»nlem  que  sejão  b^m  tratados  co- 
mo nalnraes,  ijiie  lia  por  revogadas  as  provisões  e  premalicas  senten- 
ças da  Relação  e  por  nenhum  caso  inda  qne  seja  de  morte  os  pren- 
da («  margem  f.  7.^)  neidiam  outro  julgador.  K  os  deixe,  entrar,  sair 
residir,  vender  como  quizerem  por  estarem  de.-feitas  e  abrogadas  to- 
das as  sentenças  e  provi^ois.  E  imda  que  seja  cobrança  de  fazenda 
real  ou  sua  segur.inça  ou  grave  crime  nenhuma  outra  pessoa  possa  fa- 
zel o,  e  mandou  lançar  bandos  e  noteficar  o  Juis  com  penas  e  empra- 
zanjento  foi.  lo  o  que  tudo  he  excesso  e  proceder  desordenado  e  pre- 
judicial e  .superioridade  absoluta  que  não  tem. 

Pella  mesma  maneira  tendo  o  alcaide  denunciado  de  hum  Ingres 
per  grande  copia  de  moeda  de  ouro  de  Berbéria  que  trouxe  em  moe- 
da e  barra  com  denunciação  de  mi)eda  falsa  se  averiguou  per  ourives 
ser  o  (juro  de  baixa  lei  e  neste  não  se  entendia  ser  moeda  falsa  não 
sendo  dos  cunhos  do  Reino  mas  entravão  algumas  peças  de  latão  que 
deu  por  ouro.  E  inda  que  o  Juis  os  absolveu,  o  alcaide  appellou  e  em- 
bargou. E  sabendo  o  Governador  sem  embargo  da  appellação  mandou 
entregar  o  deposito  ao  Ingres  e  que  se  fosse  como  fez,  e  mandou  pren- 
der o  alcaide  e  o  condenou  em  degredo  e  oOO  cruzad  )s  perque  seguia 
o  requerimento  por  dizer  que  nem  por  moeda  falsa  avião  de  entender 
com  Ingres  nem  por  cas(j  outro  de  moile  sob  as  penas  que  tinha  pos- 
tas em  que  lambem  ouve  por  condenado  ao  Juis  por  entender  no  ca- 
>u  e  sem  embargo  da  appelação  não  deixar  ir  o  Ingres  a  que  levantou 
o  embargo  do  dito  (i)  ouro  acrecentando  que  avia  per  traidor  á  catho- 
hca  e  real  coroa  de  V.  Magestade  quem  entendesse  com  elle  e  com  os 
mais  com  (tulros  deslumbramentos  que  delia  consta  de  que  se  quei- 
xão. 

E  aggravasse  ese  excesso  com  se  queixarem  que  faz  o  sobredito 
por  tratar  em  pastel  e  outras  mercadorias  e  retornos  ("?)  com  eses  In- 
greses  e  que  tem  as  tulhas  no  Paço  onde  o  manda  granar  e  por  o  ieal- 
dadoí'  e  otiiciaes  não  darem  licença  sem  a  forma  do  Regimento  os  tem 
presos  e  vexados  (foi  25)  e  (|ue  pelo  seu  trato  faz  isto. 

Tão  bem  se  queixão  de  novo  tributo  ou  vexação  que  impôs  e  dei- 
xa levar  de  entrada  e  visita  de  quada  navio  que  manda  fazer  com  320 
rs.  de  vizita  e  oito  vinténs  d(j  barco  e  oito  dos  soldados  que  trazem 
o  mestre  ou  piloto  a  sua  casa  e  que  he  nova  vexação  que  ordenou  e 
j)ermite.  (fui.  35) 

E  que  pellas  ordenanças  de  milícia  nas  culpas  e  condenações  le- 
ves dos  soldados  conhecem  as  justiças  ordinárias  e  nas  graves  se  dá 
conta  a  V.  Magestade.  E  elle  condena  em  culpas  grandes  e  piquenas 
e  comuta  por  dinheiro  e  avendose  de  aplicar  á  fortificação  o  recolhe. 

(i)  Em  todas  estas  palavras  lia  só  um  d. 

{Nuta  do  Sr.  J.  l  de  Brito  Rebello.) 


17á  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

E  se  queixa  a  camará  delle  não  guardar  seus  privilégios  (Je  iii- 
faiiçOes  e  os  prender  rigiirosaniente  no  castello  e  com  as  vexações  que 
relatã(j  e  mandando  ir  a  camará  a  siia  casa  e  tomando  lhe  a  jurisdi- 
ção das  licenças  da  saca  e  carregação  do  trigo  e  mantimentos,  (f.  2o) 

Também  se  advirte  que  tem  posto  luun  filho  de  lo  annos  por  al- 
caide mór  e  tenente  da  fortaleza  sem  idade  nt-m  capacidade  nem  me- 
najem  em  (Gamara.  — E  outras  semelhantes. 

O  que  se  me  oíTerece  requerer  nestes  termos  supposlo  que  das  cer- 
tidões e  despachos  do  dito  Sancho  de  Tovar  e  Sylva  se  mostra  baj^lan- 
temente  que  se  não  aconselha  nos  poderes  ipie  cuida  que  tem  e  des- 
ordeu)  com  que  os  exercita.  Que  V.  Magestade  seja  servido  mandar 
ao  Governador  a  sustaucia  destas  queixas  pêra  que  dé  satisfação  a  ci- 
las e  se  lhe  eNtranheni  estes  excessos  notórios  do  seu  regimento  e  («t- 
der  ordenandolhe  que  não  exequute  os  ditos  seus  despachos  dos  es- 
trangeiros e  editais  e  deixe  as  justiças  exercitar  seus  officios  goardan- 
do  as  provi.^ões  e  sentenças  sem  as  alterar  per  sua  authoridade  nem 
se  intrometer  na  jurisdição  do  Juis  de  fora  e  mais  julgadores  e  dê  sa 
tisfação  com  copia  de  seu  regimento  de  (jue  usa  e  deixe  vir  as  appel- 
íações  e  aggravos  interpostos. 

E  pêra  se  remeterem  os  pontos  de  jurisdição  ao  Juizo  da  í^orôa 
com  estes  papeis  no  que  lhe  toca  peço  (pie  pello  desembargo  do  Pa- 
ço a  meu  requerimento  se  responda  ao  juis  de  fora  e  ofíiciaes  da  ca- 
mará que  das  matérias  de  jurisdição  de  que  avisão  em  que  se  preju- 
dica aa  de  V.  .Magestade  e  ordinária  por  ser  em  terra  de  donatário  fa- 
cão ex|iedir  agravo  pello  procurador  da  camará  em  nome  tand)en)  da 
coroa  com  os  documentos  necessários  e  copia  das  doações  (pie  vinhão 
como  se  costuma  |)rover  e  res[)onder  nos  casos  semelliantes  pello  di- 
lo  (I)  tribunal  do  Paço  nas  matérias  de  justiça  e  V.  Magestade  prove 
rá  como  for  sei  vido. 

Na  queixa  do  sargento  mór  he  vindo  aggravo  em  forma  ordiná- 
ria a  que  se  deve  (2)  .  .  .  e  proverse  ou  cometerse  pello  gonrno  (-2) 
=Thctmé  Pinheiro  úa  Veiga  (2). 

(Are.  nac.  da  T.  do  T..  Cart.  vii.ssir.  luaç.  2."     y/."  70.) 

Este  documento  é  uma  minuta  muito  emmcnduda,  rabiscada,  com  parufira- 
pjios  cujos  acrcscenlamentos  ou  cmnitntlas  se  tMitremetU-m  pelas  linhas  de  ou- 
tros parugrapiíos  ix..^  e  todo  oscriplo  pelo  punlio  do  celebre  Tliomé  l^inlieiro  da 
Veii!a.  (]ue  por  longos  annos  serviu  de  Procurador  e  Juiz  das  Capellas  da  ('o- 
roa  &.'\ 

João  Pedro  liibeiro  paii.  2158  da  2."  parte  do  tom.  IV  das  "Disserf.  Chron.» 
nota  a  escassez  de  manusrripios  existentes  na  Torre  do  Tondio  dos  que  a  faíni- 

i\)  N'esta  palavra  lia  só  um  d. 

(2)  Falta  um  bocadinho  de  papel  na  mai-iicm  interna  da  folha  onde  parece 
devia  estar  aijiuma  palavra  (jue  completasse  esta  oragão,  assim  como  o  rosto  da 
jialavra  íioveriin  e  da  assignatura  de  Tliomé  Pinheiro  (jue  vão  sublinhadas. 

(Ao/í/    í/o  $r.  .1.  I  ih'  Brito  Rebeljo). 


ABCHIVO  DOS  AÇORES  173 

lin  de  Tlionir  Pinheiro  alli  eiiln-fiou,  por  ordem  sup(M-ior,  depois  do  seu  laleci- 
(iieiito,  dando  por  causa  o  haverem  sido  rotdiados  em  1671  a  M  A.  Portuí^al.  o 
<|ue  já  se  havia  feito  a  Gabriel  Pereira  de  Castro:  da  1/ conressão  não  temos  du- 
vida; a  secunda  pareee-nos  impossível,  lendo  Gabriel  Pereira  laleeido  em  1(332, 
isto  é.  24  annos  antes  de  Tlionié  Pinheiro,  e  havendo  publicado  o  traiailo  De  Ma- 
nu  Hegia  (para  cuja  roniposição  Uibeiro  diz  ter-se-llie  feito  o  empréstimo)  dt! 
1622  a  25,  Isto  é,  31  a  34  annos  antes  que  os  ditos  manuscriptos  entrassem  no 
archivo  nacional. 

Ainda  assim  alem  do  documento  que  acabo  de  transcrever,  tenho  encontra- 
do alll  mais  alguns  e  um  até  muito  interessante  por  ser  uma  representação  de 
Tlumié  Pinlielro  com  reiagão  ao  mesmo  tratado  De  Maim  Hegia^  que  elle  celebra 
e  avalia  vantajosamente. 

Se  os  manuscriptos  não  se  perderam  ou  extraviaram  do  poder  de  Portugal, 
devem  ter  sofiido  prejuízo  pelo  terremoto  de  1755,  que  causou  algumas  perdas 
ao  archivo  da  Torre  do  Tombo,  não  obstante  a  dedicação  e  nobre  isenção  do  seu 
guarda  tnòr  o  brigatleiro  Manoel  da  Maia,  que  deixou  a  sua  casa  a  arder,  para  w 
acudir  ao  archivo.  e  salval-o  da  ruina  que  o  ameaçava,  quando  aquelle  abalo  o 
dfsmoronou. 

{Nota  do  Sr.  J.  I.  de  Brito  Bebellu) 


Empréstimo  de  10:000  cruzados  para  as  despezas  da  res- 
tauração de  Pernambuco;  28  de  Junho  de  1633. 

DesembafgHdor  Anibrozio  de  Sequeira:  (1)  En  El  Rey  vos  envio 
milito  saudar.  Mandando  eu  tratar  dos  meyos  coni  qne  se  poderia  for- 
mar liua  Armada  de  cincoenta  galeijes  (jiie  tenho  rezointo  que  va  por 
esta  coroa,  e  pela  de  (^astella  á  restauração  de  Pernamliuco,  Cdusi- 
derando-se  o  estado  em  que  se  acha  minha  fazenda,  e  como  delia  se 
não  pode  acudir  por. ora  a  esta  facção,  com  lhe  aplicar  tudo  o  que  me 
fica  livre,  e  sendo  como  he  tão  importante  ao  beiri  commiim  deste 
Reytio  ai  udir-se  ao  Brasil  |)elas  dependências  que  tem  daquelle  estado 
que  totalmente  se  extinguirá  não  se  acudindo  com  forças  bastantes 
a  dezalojar  brevemente  o  enemigo  reljelde  de  Pernambuco,  ficando 
expostas  as  mais  conquistas  a  podereiTi  ser  invailidas  do  mesmo  ine- 
migo:  tendo  se  tratado  a  matéria  se  assentou  entre  outros  meios 
(|ue  nella  se  me  propuzeram  que  se  pedisse  hum  empréstimo  neste 
Heyno.  e  Ilhas  adjacentes,  o  qual  depois  se  hade  hir  pagand(t  cada 
anno,  o  que  se  execuinii  já  neste  Reyno  (á)  e  falta  [>or  executar  S(»- 

(1)  Este  rascunho  era  redli^ido  para  o  bispo  do  Funchal  com  relação  á  ilha 
da  Madeira  e  porisso  as  primeiras  palavras  que  aqui  tinha  íTíuu^^^ Reverendo  bis- 
po  goi-ernador=  (\nc  foram  i-iscadas  e  substituídas  pelo  nome  de  desembargador 
que  foi  (ou  estava?)  nos  Açores. 

(2)  Aqui  onde  diz  =  neste  tUnno=tambem  tem  umas  palavi'as  riscadas  = 
nas  ilhas  dos  Açores  =  que  parece' haverem  sido  escriptas  por  engano:  as  pala- 
vras=illia  e  nas  dos  açores=estão  á  margem  com  uma  chamada. 

(Notas  do  Sr.  .1.  í.  de  Brito  HebeHo). 


174  ARCH1\0  DOS  AÇORES 

inente  nessa  lllia  e  nas  cios  Açores,  h  para  que  se  faça  com  a  igual- 
fhkie  e  suavidade  que  eu  quero,  me  pareceu  encairegarvus  da  maté- 
ria, lendo  por  cerlo  de  \os  que  com  vo>so  z^llo  e  prudência  a  sabe- 
reis dispor  muito  como  convém  a  meu  serviço,  e  nella  se  procederá 
na  forma  seguinte. 

It.  O  que  se  ha-de  lepartir  hão  de  ser  dez  mil  cruzados  porque 
inda  que  esta  quantia  he  limitada  a  respeito  da  povoação  dessa  ilha  e 
do  cabedal  de  seus  moradoies  comtudo  respeytei  nisto  o  estado  em 
(pie  está  o  tempo  e  a  falta  que  ha  de  comercio. 

It.  Para  se  poder  tratar  desta  matéria  ordenareis  que  se  faça  Ima 
Junta  em  que  entraiá  o  Provedor  da  fazenda  dessa  Ilha,  o  ouvidor 
delia,  e  duas  pessoas  mai^j,  que  com  elles  elegereis,  que  serão  nobres, 
e  terão  conhecimento  das  pessoas,  para  com  esta  noticia  se  ajustar  a 
i'eparlição. 

It.  firmada  nesta  maneira  a  dita  .Junta,  se  começará  logo  a  en- 
tender no  negocio  sem  perder  hora  de  tempo  vendosse  que  pessoas 
são  as  que  tem  fazenda,  e  cabedal  bastante  para  poderem  contribuir 
neste  empréstimo. 

It.  (>onferido  ^í  ajustado  este  ponto  se  fará  a  repaitição  adver- 
tindo que  inda  que  eu  tinha  mandado  que  se  pedisse  a  cada  pessoa 
(lumhentos  cruzados,  sou  servido  que  se  imponha  mais  ou  menos, 
lendo-^e  con>ideração  ao  estado  e  condição  das  pessoas  e  á  fazenda 
e  cabedal  de  cada  hum,  e  isto  sem  differença,  nem  excepção  de  pes- 
soa, e  sem  embargo  de  qualquer  previlegio  guarilandosse  no  modo 
da  execução  o  estillo  que  se  teve  em  outras  occasiões  de  emprésti- 
mos pedidos  pelos  senhores  Reys  deste  Reyno  meus  antecessores  con- 
forme a  qualidade,  e  respeito  das  pessoas  com  advertência  que  se  não 
tratará  dos  que  tiverem  o  foro  de  fidalgos  de  minha  casa,  ou  os  hábi- 
tos das  ordens  militares,  por  que  de  estes  se  ha-de  tratar  por  outra 
via,  para  o  que  me  avizareis  dos  que  são,  fazendo  delles  hua  relação 
em  que  declare  o  cabedal  e  fazenda  que  tem  e  a  quantidade  que  se 
lhes  poderá  pedir. 

It.  feita  a  ditta  repailiçã(j  se  dirá  a  cada  hum  que  acuda  com  o 
que  lhe  foi  lançado,  declarandosse  a  lodos  que  se  lhes  hade  dar  con- 
signação em  que  hajam  de  ser  pagos  do  que  as^y  empreitarem. 

It.  Signilicar-se  ha  aos  (jiie  assy  se  pedir  a  necessidade  que  ha 
de  soccorrer  o  Hrazil  com  forças  bastantes  e  o  que  isto  importa,  e  quão 
inleiessados  todos  estão  na  recuperação  daquelle  estado  com  o  mais 
(pie  parecer,  para  que  se  venha  no  serviço  que  se  pretende  com  a 
vontade  e  aplaiizo  que  eu  devo  esperar  de  tambons  vassallos  pelo  que 
(IS  amo  e  cuidado  roín  que  traio  do  que  lhes  toca  e  |)elo  que  neste  cazo 
os  aperta  a  sua  obrigação,  advertmdo  que  havend(j  alguns  que  se  es- 
cuzem  (o  (pie  não  espero)  nem  creo,  ande  ser  consti'angidos  pelos 
meios  que  á  Junta  parecerem  precisos,  e  necessários  poiípie  em  oc- 
casião  Ião  íipeilada,  em  ijiie  principalmente  olha  a  nossa  santa  fee  e 


ARCHÍVO  DOS  AÇORES  HS 

Religião  í.íilolica,  e  a  conservação  e  defensão  desta  coroí».  e  em  que 
iis  leys.  iitítural,  divina,  e  as  deste  Reino  tãoto  obrigação  a  todos, 
mayorineiile  tendo  eu  rezoluto  de  ajudai'  roui  as  forças  da  (^oroa  de 
Cástella  em  tem|)()  (|ue  st^  acha  Ião  necessitada  e  apeitada  com  ciutros 
gastos,  não  poderey  deixar  de  iizar  de  meu  Real  oUícIo. 

It.  Ter-se-ha  consideração  con»  os  que  gozão  mais  bens  e  fazen- 
da da  ('oroa  Real.  porque  a  estes  corre  mayor  obrigação,  que  aos  que 
souiente  tem  fazenda  patrimonial. 

It.  A  Junta  se  fará  na  casn  da  Gamara,  e  haverá  hum  livro  nu- 
merado por  vós,  em  que  depois  de  f<  ita  a  repartição  se  declarará  no 
assento  de  cada  bum,  o  que  conforme  a  ella  lhe  cabe,  no  qual  assen- 
to ficará  lugar  para  se  acrecentar  como  cada  hum  satisfez,  que  assi- 
gnará  a  pessoa  que  servir  de  escrivão  da  Junta. 

It.  O  numero  das  pessoas  a  que  se  ha-de  pedir  seiá  o  que  pare- 
cer á  Junta,  em  (jue  se  deixa  o  tocante  a  isto  e  aos  meyos  com  que 
se  deve  tratar  este  negocio,  nos  quais  se  haverá  de  maneiía  que  se 
escuse  chegarsse  aos  da  execução  podendo  ser. 

It.  Contra  os  que  não  vierem  em  emprestar  o  qíie  se  lhes  pedir 
depois  de  feitas  todas  as  diligencias  necessárias  se  procederá  como 
fica  ordenado. 

It.  (1/  Todo  o  diidieiro  deste  empréstimo  se  carregará  sobre  o 
Almoxarife  dessa  Ilha  em  livro  á  parte  o  qual  se  mandará  aquy  por 
letra  a  eidregar  ao  Conde  de  Miranda  do  meu  conselho  de  estado  e 
Prezidente  de  minha  fazenda. 

It.  Posto  que  por  im[>edimentõ.  ou  outro  respeito  não  possão  vir  á 
Junta  alguns  dos  adjuntos,  nem  porisso  se  parará  e  o  negocio  se  con- 
tinuará sem  intermissão  de  tempo. 

Para  a  execução  de  tudo  vos  dou  [ler  e>ta  a  commissão  necessa- 
i'ia  e  mando  a  todas  as  justiças  dessa  Ilha  que  [)or  sua  parte  concor- 
rão  com  as  (irdens  e  mais  assistência  que  cumpri i.  e  a  vós  vos  en- 
carrego muito  procui-ardes  que  a  repartição  se  faça  com  toda  a  igual- 
dade, e  que  se  cobre  quanto  mais  brevemente  for  possivel,  entenden- 
do (jue  terev  em  serviço  o  que  nisto  me  fizerdes.  Èscripta  em  Lixboa 
a  28  de  Junho  de  1633 

(Arch.  nac.  da  T.  do  T.,  Corp.  Chron.  Part.  1.'  mar.  119  ~n.'>  23) 


(1)  Neste  poiíln  ha  uma  risca  eiilre  os  dois  || ''^  ou  it<'i)s,  e  diz  a  noUi  ao 
(ado  =  até  aqui,  c  dahy  adianto— o  cap."  que  .se  segue  na  ouira  carta  que  se  fez 
para  o  mesmo  pelo  quê  toca  ás  Ilhas  dos  Açores. 

(A'o/rt  do  Sr. ./.  /.  (íe  Brtto  Hfbelhy 


176  ARCHIVO  DOS  AÇORES 


Remessas  de  géneros  por  conta  da  Fazenda  Real,  feitas 
pelo  Provedor  Agostinho  Borges  de  Sousa  Cimbron, 

em  1680. 

Entregiieiii  se  as  carregações  induzas  viiulas  da  Ilha  :j.^  na  iiaii 
Hyeriisaleiíi  ao  Thezuiireiro  Anlonio  Florim  pêra  pôr  em  arrecadação 
<j  trigo,  >evada  e  tramosos  contlieiido  iiella,  como  lambem  o  njl  inclu 
so  das  letras  pêra  as  aceitar  e  fazer  pagamento  ás  partes  a  seu  tem- 
po. Lixboa  i  de  Novembro  de  1680.  Rubricas. 

Angra  25  de  setembro  de  1080. 

(>airegação  com  o  fav(jr  divino  mandada  fazer  por  mim  Aiignsli- 
nlio  Borges  de  Sonsa  Cimbrom  Provedor  da  fazenda  real  nestas  lliias 
dos  Açores  pêra  a  cidade  de  Lixboa  em  a  Nau  nomeada  Hyerusalem 
de  que  lie  (Capitam  Manoel  da  Fonseca  Lima  vezinho  de  Lixboa  de  IO 
moios  de  Iramoço  a  granel  por  conta  e  risco  da  fazenda  de  S.  A.  que 
Deos  Gnaide  p^hi  .Junta  da  administração  do  tabaco  a  entregar  á  or 
dem  da  dita  Junta. 

Por   IO  moios  de  Iramoço  comprados  a   I^oOO 
rs.  o  moio Ioí>000  rs. 

Por  medida,  alcofa,  carretos,  frete  de  barco,  alu 
gueis  de  sacos  a  250  rs.  o  moio áíSoOO  rs. 


Total 17^500  rs. 

Angra  2õ  de  aetenibro  de  16S0. 

Carregação  com  o  favor  divino  mandada  fazer  por  mim  Augusti- 
nlio  Borges  de  Sousa  Ciuibrom  Provedor  da  fazenda  real  nestas  Illias 
dos  Açores  pêra  a  Cidade  de  Lixboa  em  a-  Nao  nomeada  Hyerusalem 
de  que  lie  Capitam  Manoel  da  Ftjnseca  Lima  vezinlio  da  dita  cidade  de 
;jOO  moios  de  trigo  a  granel  por  conta  e  risco  da  fa/.euda  de  S.  A. 
que  Deos  Guarde  a  entregar  á  ordem  do  dito  Senhor  pella  .lunta  da 
administração  do  tabaco. 

Por  3()0  moios  de  trigo  comprad()s  a  ÍJoOOO  rs. 
o  moio ^M"^) O 6000  rs. 

Por.  gastos  meudos  de  medida,  homens,  carros 
e  barcos,  alugueis  de  sacos,  perda  delles.  esteira, 
j-azoula  poripie  se  médio  o  trigo,  e  assistência  de 
peçoas  que  correrão  com  e^ta  carregação,  importou 
tudo  a  ^{80  rs.  por  moio  <pie  vaÍPin I30í>800  rs. 


I;d ;{::)!)á:>800  rs. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  177 

Também  .•^e  pedem  destes  360  moios  de  trigo  69)51120  rs.  por  par- 
le das  pessoas  que  lejiatarão  na  camera  os  direitos  dos  2  p.  100  (2  7o) 
(Ja  cidade  a  rezão  de  192  rs.  por  cada  moio  mas  eii  os  não  mandey 
pagar  athe  o  prezente  nem  o  farey  sem  ordem  de  S.  A.  atendendo  a 
ir  esta  carregação  por  conta  e  risco  da  fazenda  do  dito  senhor  mas  pa- 
rece deve  vir  provisão  pello  dezembargo  do  Paço  para  que  no  preço  do 
seu  arrendamento  se  lhe  abatão  estes  69áH2Ò  rs.  quando  S.  A.  que 
Deos  guarde  lhos  não  mande  pagar. 

Senhor  =  Diogo  Soares  escrivão  das  Provedorias  da  fazenda  e 
Armadas  por  Sua  Alteza  que  Deos  Guarde,  nestas  ilhas  dos  Assores: 
(Certifico  que  hoje  que  se  contão  treze  do  mez  de  Agosto  de  mil  seis 
cent;.'S  e  outenta,  notefiquei  a  Kemigio  Noiete  Administrador  do  Es- 
tanco do  tabaco  nestas  Ilhas  huma  ordem  do  Senhor  Duque  do  Cada- 
val do  conselho  destado  de  S.  A.  e  Prezidente  da  Junta  da  administras- 
são  do  tabaco,  de  data  de  trinta  de  Janeiro  de  mil  seiscentos  setenta 
e  nove,  para  effeito  de  entregar  ao  Provedor  da  fazenda  Agostinho 
Borges  de  Sousa  Cimbrom,  o  dinheiro  do  Rendimento  do  contrato  do 
tabaco  que  estivesse  vencido  ou  se  fosse  vencendo  para  a  compra  das 
cevadas  que  S.  A.  lhe  manda  comprar  para  provimento  do  assento  da 
cavallaria  da  corte,  de  que  lhe  daria  ressibo  para  em  virtude  delle  se 
passar  conhecimento  em  forma  para  o  bem  da  conta  dos  contratado- 
res do  dito  estanco  Sebastião  Garcia  e  António  Ribeiro  a  respeito  de 
siníjuo  mil  cruzados  por  anuo  que  he  o  presso  do  dito  contrato:  e  por 
elle  foi  dito  que  os  contratadores  erão  moradores  na  cidade  de  Lix- 
boa  os  quaes  devião  dar  carta  para  elle  Remigio  Noiete  fazer  a  entre- 
ga do  dito  dinheiro,  como  o  fizerão  quando  foi  passada  a  dita  ordem 
pois  estava  administrando  o  contrato  nestas  Illias  por  procurassão  sua; 
e  ao  prezente  não  tinha  dinheiro  algum  pertencente  aos  ditos  contra- 
tos, pello  aver  remetido  aos  ditos  contratadores,  em  fé  do  que  passei 
a  prezente  por  mandado  do  dito  Provedor  da  fazenda  —  no  dito  dia  as- 
sima,  Diogo  Soares  o  escrevi  =;  Diogo  Soares. 

Senhor=Jà  V.  A.  terá  avizo  como  o  Provedor  da  Fazenda  nestas 
Ilhas  Agostinho  Borges  Cimbron  me  ordenou  comprasse  seis  centos 
moyos  de  trigo  nesta  Ilha  de  São  Miguel  para  carregar  em  hua  nau 
que  avia  veer  dessa  cidade  de  Lisboa  por  conta  da  Fazenda  de  V.  A. 
adujinistrada  pela  Junta  do  Tabaquo  e  que  logo  com  efeito  preparey 
paf-a  os  ter  promptos  a  cada  hora  que  chegasse  a  não. 

Etn  i  I  deste  mez  anchorou  neste  Porto  a  náo  São  Jozeph  Cappi- 
tam  António  Dias  Reguo  que  V.  A.  mandou  frettar  para  os  ditos  seis 
centos  moyos  do  trigo  que  no  mesmo  dia  principiey  a  meltyr  (sic)  e 
oje  espero  ficará  com  pierto  de  500  moyos  carregados  e  em  breve  se 
despachará  por  quanto  o  governador  desta  Ilha  Jozeph  Pereira  Sodré 
ofeciays  da  Camará  e  ministros  da  Fazenda  de  V.  A.  com  grande  zel- 

N."  i't— Vol.  \Ill-1886.  II 


i78 


ARCHIVO  DOS  AÇORES 


Io  no  seu  servisso  me  dão  todo  o  ajudo  e  favor  que  he  o  que  de  pre- 
zente  offresse  para  avizar  a  V.  A.  cuja  Real  Pessoa  Conserve  Dios 
Largos  Annos.  Punia  Delgada  18  de  selleinbru  de  1G80. 

Rícharfe  Hiicfienson. 


Angra  20  de  setembro  de  1680, 

Carregação  cum  o  favor  divino  mandada  fazer  por  mim  Augusli- 
nho  Borges  de  Sousa  Cimbrom  Provedor  da  fazenda  real  nestas  Ilhas 
dos  Açores  pêra  a  cidade  de  Lixboa  em  a  Nao  nomeada  Hyerusalem 
de  que  lie  Capitão  Manoel  da  Fonseca  Lima  vezinlio  de  Lixboa  de  á5 
moios  de  sevada  a  granel  por  cunia  e  riscu  da  fazenda  de  S.  A.  que 
Deos  Guarde  pella  Junta  da  administração  do  tabaco  a  entregar  á  or- 
dem da  dita  Junta. 

Pur  áo  moios  de  sevada  comprados  na  Ilha  Gra- 
ciosa a  4)^200  rs.  o  muiu 105;5000  rs. 

Pur  fretes  das  caravellas  que  trouxeram  da  Gra- 
cio.^a  pêra  esta  Ilha  a  600  rs.  o  moio  .     .     .     .     .  ISjjíOOO  rs. 

Por  gastos  de  medida,  estiva  de  caravelões,  as- 
sistência de  peçoa,  alugueis  de  sacos  a  200  rs.  por 
moio 5^^000  rs. 

Total 125toO  rs. 

Ponta  Delgada  21  de  setembro  de  1680. 

Carregação  ((jue  Deos  salve)  feita  por  mim  Richarte  Huchenson 
por  ordem  do  Provedor  da  fazenda  de  S.  A.  nestas  Ilhas  Ago>tinho 
Borges  de  Sousa  Cimbrão  de  quinhentos  e  O}  tenta  e  oyto  moios  do  tri- 
go carregados  a  granel  na  Náo  São  Joseph  mestre  Mathias  Correzma 
por  conta  e  risco  da  fazenda  de  S.  A.  administrado  pella  Junta  do  Ta- 
baquo  e  consignados  á  ordem  do  dito  senhor,  pella  ditta  Junta  o  cus- 
to e  os  gastos  siguem: 

100  moios  do  Capitam  João  Royz  Falleiro  da  Ilha 

T.  rceira  a  9?5>600  rs.  o  moyo 960^1000 

40  moios  de  Manoel  Cobbs  a  9?$»C00  rs.  o  moio    .  384?^000 

100  moios  de  João  Daniel  a  9?^600  rs.  o  moio      .  960í>000 

130  moios  de  Bennitto  Marão  e  outras  pessoas  a 

9^000  rs.  o  moio 1:248^000 

i)Vi  moios  do  Cappittam  Guaspar  de  Medeiros  de 

Sousa  a  9?$Í500  rs.  o  ujoyo 522j$k500 

163  moios  de  diversas  pessoas  a  9;^000  o  moio   .        I:467)$>000 
Por  donativo  e  2  por  cento  a  280  rs.  o  moio.  que 

Somma S:5'rl..5500 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  179 

Transporte 5:541 -5500 

os  remaltadores  pedem  jiidicialmenle  e  synão  pngo  tor- 

narey  a  bonarlhy 10i?>640 

Por  gastos  de  carregar,  escrivão  e  guarda  a  220 
rs.  o  moio 129?>3C0 

Por  50  moios  do  trigo  comprado  a  9;$Í600  rs.  que 
me  obrigarão  os  ofíiciays  da  Camará  depozitar  em  mãos 
de  granheyros  por  elles  nomeadus  para  vender  ao  po- 
vo a  140  rs.  o  alqueire  que  como  menor  preço, quebras 
i!  tudo  granelaje  e  vendaja  ficara  vendido  a  liplOO  rs. 
não  avendo  maior  pierda  ou  dano  alem  de  dezembolsar 
o  dinheiro  importa  a  falta  a  l!5í900  rs.,  a  falta  he         .  95?íi000 

Por  commição  a  4  por  cento        ....  237^*220 


Somma  he G:167j$í720 

Richarte  Hucheson. 

Senhor=Em  7  do  corrente  chegou  a  este  porto  a  Nao  São  Jozeph 
de  que  he  cappitão  António  Diaz  Kego,  em  que  recebi  a  ordem  de 
V.  A.  de  17  de  Agosto  e  logo  aos  9  se  partiu  pêra  a  Ilha  de  São  Mi- 
guel levando  as  ordens  e  papeis  convenientes  pêra  Richarte  Huchen- 
som  (ppçoa  a  quem  encomendei  este  negosio)  lhe  carregar  os  seis 
centos  moios  de  trigo  que  alli  estavão  prevenidos  por  conta  da  fazen- 
da de  V.  A.  na  forma  do  primeiro  aviso. 

Depois  de  chegada  a  dita  Nao  São  Joseph,  tive  cartas  do  Cappi- 
tão António  Diaz  Rego,  e  de  Richarte  líuchensom,  em  que  me  dizem 
a  toda  a  pressa  ficava  carregando  (supposto  que  com  dilficuldade  na 
Licensa  dos  600  moi(js  inteiramente)  e  na  ultima  de  18  do  corrente 
me  diz  o  dito  Richarte  Huchensom  que  naquella  noite  teria  a  dita  Nao 
a  bordo  quatro  centos  e  cincoenta  moios,  com  que  espero  que  já  terá 
partido  para  esse  Reino,  aonde  Deos  a  condusa. 

Não  faço  aviso  a  V.  A.  do  custo  que  fez  esta  carregação,  porque 
não  se  pode  saber  ao  certo,  se  não  depois  de  todo  o  trigo  estar  a  bor- 
do, porem  fio  da  verdade  de  Richarte  Hucliensom  experimentada  já 
em  muitas  occasiões,  a  fará  com  todo  o  accerto  e  pontualidade,  e  a 
seu  tempo  me  valerei  do  custo  que  elle  importar,  abatida  a  letra  de 
l:800?5ÍOOO  rs.  que  já  passei  sobre  o  Thezoureiro  geral  António  Flo- 
rim a  pagar  a  Manoel  Preto  Valdez.  E  o  credito  de  1:C00;$000  rs.  que 
remeti  ao  dito  Richarte  Huchensom  para  se  poder  valer  por  letras  so- 
bre o  dito  Thezoureiro,  e  ambas  estas  partidas  importão:  3:400/$ÍOOO 
rs.  que  ficão  abonadas  nesta  carregação  da  Ilha  de  São  Miguel.  A  Real 
Peçoa  de  V.  A.  guarde  nosso  Senh(jr  muitos  annos  como  seus  vassal- 
los  havemos  mister.  Angra  23  de  setembro  de  1080. 

Agostinho  Borges  de  Sousa  Cimbrom. 
1.^  wà={original  toda  da  letra  deste) 


180  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

Senhor=Na  forma  da  ordem  de  W.  A.  de  19  de  Agosto  Recebi- 
da em  5  do  corrente  fiz  carregar  na  Nao  chamada  Jeruzalem  trezetitus 
e  secenta  moios  de  trigo  de  conhecida  bondade,  e  que  custarão  postos 
a  bordo  trez  contos  quinhentos  nuventa  e  dous  mil  outo  centos  reis 
como  paresse  da  c:irregação  que  com  esta  remeto,  e  se  alterou  o  pre- 
ço de  9?$>600  rs.  o  moio  por  me  não  chegar  antecipadamente  avizo  ai 
gum  de  V.  A.  para  esta  compra,  antes  muitos  Navios  dessa  corte  com 
as  noticias  de  valer  nelia  hum  alqueire  de  trigo  de  450  a  500  rs.  o 
(jue  cauzou  grande  alteração  nesta  cidade. 

Mandei  carregar  mais  vinte  sinco  moios  de  sevada  por  conta  da 
fazenda  de  V.  A.  cujo  custo  importa  cento  vinte  sinco  mil  rs.  como 
milhor  constará  da  caregaçam  junta.  Também  vão  por  não  pagar  frete 
de  vazio  dez  moios  de  tiamoço  que  custarão  dezacete  mil  e  quinhen- 
tos rs.,  e  me  rezolvi  a  mandallos  por  me  chegarem  noticias  de  que 
teria  aíii  bom  gasto,  e  como  esta  carregação  he  tão  limitada,  nunqua 
poderá  dar  perda  á  fazenda  de  V.  A. 

Importão  as  três  carregações  de  trigo,  sevada  e  tramosso  trez 
contos  sete  centos  trinta  e  sinco  mil  e  trezentos  rs.  salvo  erro  dos 
coaes  me  detremino  valer  por  letras  sobre  o  Ihezoureiro  geral  Auto 
nie  Florim  pelo  discurso  do  tempo,  e  agora  o  faço  somente  em  quan- 
tia de  56I-5386  '/s  por  que  como  ouve  muitas  compras  de  trigos,  sen- 
do necessário,  alem  de  outras  dificuldades,  supprir  com  o  meu  credi- 
to e  cabedal  esta  falta  por  aventejar  o  serviço  de  V.  A.  e  se  expedir 
com  mais  brevidade  esta  Nau  que  Deos  leve  em  pax  e  guarde  a  Re^! 
Pessoa  de  V.  A.  como  seos  leaes  Vassallos  havemos  mister.  Angra  da 
Ilha  3.*  25  de  setembro  de  IfíSO. 

1.*  via.  Agostinho  Borges  de  Sotisa  Ciiubrom. 

Senhor  =  Em  24  do  passado  parlio  deste  Porto  a  Nao  São  Jozeph 
Cappitam  António  Dias  Reguo  que  espero  tenha  I)i(»s  recolhvda  em 
paz;  com  esta  será  a  carregação  dos  (juinhentos  e  outenta  e  O}  to  moyo.s 
do  trigo  carregados  nella  por  conta  da  Fazenda  de  V.  A.  administra- 
da pella  Junta  do  Tabaco  na  qual  se  achará  hua  addição  de  cento  e 
sessenta  quatro  mil  seis  centos  e  quarenta  rs.  de  dous  por  cento  e  do- 
nativo que  judicialmente  me  pedem  os  remattadores  mas  pretendo  de 
oppor  o  pagamento  por  quanto  a  carregação  foy  feyla  [íor  conta  da  Fa- 
zenda de  V.  A.  sobreditta  e  otra  partida  de  noventa  sinco  mil  rs.  da 
pierda  que  ade  aver  nos  sinquenta  moyos  do  trigo  que  os  otliciaes  da 
Camará  contra  toda  rezão  me  obrigarão  a  dar  do  exame  [Kir  concede- 
rem licença  para  carregar,  de  hua  cousa  e  outra  tenho  dado  conta  ao 
Piovedor  da  Fazenda  de  V.  A.  Agostinho  Borges  de  Sousa  Ciml)rom 
para  em  tudo  dispoer  o  que  milhor  lhe  parecer  convém  ao  servisso  de 
V.  A.  cuja  Real  Pessoa  Largos  e  felices  Annos  [sio.  Poida  Delgada  5 
de  outubro  de  1680.  Richarle  Hucftensnn. 

{Arch.  nac.  da  T.  do  T.,  Junt.  da  Administuiçãn  do  Tabaco,  pa- 
peis findos    maç.  115  A.) 


ARCHIVO  DOS  ACOBES  181 


Noticia  do  castello  de  S.  João  Baptista,  pelo  capitão  mór 
d  Angra,  em  1766. 

Tem  o  Castello  de  S.  João  Baptista  da  cidade  de  Angi-a  liiini  Pre- 
sidio militar  que  se  compõe  da  guarnição  seguinte : 

Hum  governador  que  tem  de  soldo  seis  centos  mil  reis,  pagos  pe- 
los direitos  da  Alfandega,  alem  de  quatrocentos  pouco  mais  ou  menos 
de  proes  e  precalços  dos  despachos  dos  navios,  barcos  e  terras  dentro 
do  mesmo  Castello  no  Palácio,  onde  esleve  o  Snr.  Rey  D.  Affonso  Seis- 
to:  e  para  a  guarda  do  governador  tem  seis  archeiros,  que  vão  pagos 
no  pé  de  lista  da  primeira  Plana,  com  o  mesmo  soldo  a  dinheiro  e  tri- 
go dos  soldados. 

Hum  sargento  mór  que  tem  de  soldo  trezentos  dozeílj  mil  reis. 
como  os  mais  sargentos  mores  da  corte  aregimentados.  Deste  soldo 
recebe  na  folha  da  alfandega  cento  e  cinquenta  mil  reií>,  e  o  mais  no 
pé  de  lista  da  primeira  Plana. 

Tem  cazas  nobres  de  rezidencia  pertencentes  ao  mesmo  Castello, 
vinhas  e  terras  deste,  da  sua  repartiçam. 

Três  companhias  de  Infantaria  de  cem  homens  cada  uma, com  três 
tenentes,  três  alferes,  seis  sargentos  (2)  e  três  tambores.  Os  capitães 
lem  cada  um  de  soldo  cento  e  vinte  mil  rs.  em  dinheiro.  O  trigo  nam  es- 
tá na  minha  lembrança.  Os  tenentes  tem  de  soldo  sele  mil  e  duzentos 
cada  um  e  nam  tem  trigo  para  o  pam  de  muniçam.  Os  alferes  tem  de 
soldo  três  mil  e  seis  centos.  (3)  O  trigo  nam  está  na  minha  lembran- 
ça. Os  soldados  tem  sete  mil  e  duzentos  de  soldo,  e  quatro  alqueires 
(ie  trigo  por  mes,  pagos  a  dinheiro  a  razão  de  cento  e  oitenta  o  alquei- 
i'e.  O  trigo  se  satisfaz  pela  consignaçam  imposta  no  Contrato  do  Taba- 
co daquella  Ilha:  e  aos  soldados  pela  consignaçam  imposta  nas  sobras 
da  alfandega  da  Ilha  da  Madeira,  por  uaia  Resoluçam  de  S.  Magestade 
do  anno  de  I75I,  por  não  ter  a  feitoria  de  Angra  rendimento  para  es- 
ta despeza,  por  onde  eram  antecedentemente  pagos. 

Dous  ajudantes,  que  tem  só  o  soldo  a  dinheiro,  pagos  no  pé  de 
lista  da  1."  Plana,  também  pelo  rendimento  da  Ilha  da  Madeira,  e  ex- 
cede cada  um  a  quantia  de  sessenta  mil  reis  de  soldo  e  um  destes  a- 
judantes  serve  também  no  mar  ao  despacho  dos  navios. 

Tem  um  medico  com  cincoenta  mil  reis  de  ordenado  e  um  cirur- 
gião com  trinta  e  seis  mil  reis  de  ordenado,  pagos  no  pé  de  lista  da 
primeira  Plana,  pela  consignação  da  Madeira:  e  um  barbeiro  pago  na 


(1)  Tinlia-se  escripto:  trezentos  mil  reis,  mas  emmenclou-sp  para  312^000, 
e  o  niesmo  se  fez  1  marf^em. 

(2)  A  1333  por  mes  e  16^000  rs.  por  anno  e  48  alqueires. 

(3)  Em  entrelinha  diz-se:  a  2500  e  10  alqueires, 

{Notas  do  Sr.  J.  I,  de  Brito  Rebello). 


182  AHCHIVO  DOS  AÇORES 

mesma  forma  cora  trinta  mil  reis  de  ordenado,  para  sangrar  e  fazer 
a  barba  aos  soldados. 

Tem  dons  capellães,  maior  e  menor.  Este  C(jm  trinta  e  seis  mil 
reis,  e  aijnelie  com  sessenta  de  soldo,  pagos  na  forma  referida. 

Tem  cincoenta  soldados  da  artelharia,  em  forma  de  companhia 
com  o  soldo  de  dezoito  mil  reis  cada  amjo,  e  nam  tem  trigo  ou  pam 
de  muniçam.  O  seo  capitam  da  artelharia  na  mesma  conformidade,  tem 
de  soldo  cento  e  vinte  mil  reis. 

O  condestavel  da  nipsma  artelharia  tem  trinta  e  seis  mil  reis  em 
dinheiro  na  mesma  conformidade  sem  trigo  e  o  sola  condestavel  na 
meí>ma  fornia  com  dezoito  mil  reis  de  S(jldo. 

Tem  n!n  amieiro  ou  serralheiro  com  soldo  de  cincoenta  e  sete  mil 
e  seis  centos  reis  a  razão  de  moeda  por  mes,  pagos  no  pé  de  lista,  pe- 
la mesma  consignação  da  Madeira  e  nm  varredor  com  trinta  mil  reis, 
pagos  na  mesma  conformidade. 

Como  este  Prezidio  não  é  sudiciente  para  a  gnarniçam  do  caslel- 
lo,  pela  sua  grandeza,  foi  S.  Magestade  servido  que  o  capitão  mòr  da 
cidade  lhe  (iesse  nas  occasiões  de  rebate  quatro  centos  homens  esco- 
lhidos, pelo  que  se  confirma  a  necessidade  que  ha  de  maior  regula- 
mento de  tropas. 

Dentro  do  mesmo  castello  estão  muitos  (piarteis  armados,  e  alo- 
jamentos em  que  moram  (|uasi  todos  os  oliiciaes  e  soldados  com  mu- 
lher e  fillios,  que  com  elteito  ha  commodidade  para  se  alojar  muito 
maior  numero. 

A  sua  egreja  é  sumptuosa  e  o  seu  Orago  é  o  do  mesmo  Castello 
de  S.  João  Baptista,  a  qual  precisa  nniito  constituir  se  Parochia,  como 
se  acham  muitas  no  Reino,  ainda  de  menor  lotaçam  e  menos  vizinhos 

Para  o  curativo  dos  oííiciaes  e  soldados  deste  castello  ha  um  hos- 
pital magnifico  com  uma  ermida  de  Nossa  Senhora  da  Boa  Nova,  cujo 
rendimento  sahe  todo  da  Fazenda  Beal. 

Para  assistência  dos  remédios  tem  boticário  certo,  a  quem  se  pa- 
gam os  remédios  pela  importância  das  receitas  que  se  incluem  na  con- 
signaçam  da  Madeira. 

Toda  a  despeza  precisa  para  o  provimento  e  reparo  do  Castello  e 
assistência  necessária  para  a  Igreja,  é  feita  por  ordem  dos  Provedores 
da  Fazenda,  í)a  conformidade  dos  Decretos  de  S.  Magestade. 

Para  os  reparos  dos  alojamentos  do  dito  (Castello  se  consignou  o 
jendimento  de  uma  imposição  a  (pie  chamam  Pequena,  de  vinhos  e 
carnes,  na  jurisdiçam  da  cidade,  cpie  rende  actualmente  para  cima  de 
seis  centos  mil  reis. 

Do  presidio  do  castello  de  S.  .João  Baptista  se  guarnece  também 
o  castello  de  S.  Sebastião,  ()ue  fica  fronteiro  ao  dito,  em  o  ipial  está 
um  capitão  (pie  serve  de  commandante,  e  tem  i)  mesmo  soldo  (pn3  os 
capitães  de  infaiileria. 

Estas  memorias  sã<t  as  (pie  julgo  serem  con.^rnt-nles  ao  (pie  V. 


ARGHIVO  DOS  AGOHES 


183 


S.^  me  iiKsiiiuou  e  a  serem  preciíias  mais  algumas  respectivas  ao  meu 
cargo,  ou  outra  couza  de  que  leuha  cabal  nota  estou  para  em  tudo  o- 
bedecer  ás  determinações  de  V.  S.^.  Lisboa  10  de  agosto  de  17G0. 

De  V.  S.* 

O  mais  reverente  creado 

O  capitam  mór  de  Angra 

Manoel  Homem  da  Costa  Noronha. 

(Arch.  nac.  da  T.  do  T.,  Pap.  do  Min."  do  Mm,  maç.  611.) 

Original  mas  só  o  encerramento  e  assignatura  por  leira  do  capitão  mór. 
A  conta  geral  não  está  certa  porque  tendo  recebido  emendas  nas  parcellas 
não  occorreu  emendar  a  somma. 

Rectilicada  devia  ser: 


1  governador 

eooáooo 

6  archeiros  j  f*^''^^    " 

43â000 

\  trigo     . 

5U840 

1  sargento  mór   . 

312^^0 

3  capitães  a  8^000      . 

288^^000 

3  tenentes   . 

2o9â200 

3  alferes 

t37â6(X> 

300  soldados   !  f^'^"- 

.     2:160^000 

1  trigo  . 

.     2:o92á000 

6  sargentos . 

209^520 

3  tambores  . 

43â200 

2  ajudantes . 

120â000 

1  medico     . 

50^000 

1  cirurgião  . 

36;^000 

1  barbeiro   . 

30^000 

1  capellão  mor    . 

eoíàooo 

{  capellão    .... 

36;^000 

1  capitão     . 

120^000 

Artilheiros. 

SO  artilheiros 

900^000 

1  condestavel 

36^000 

1  sota  condestavel 

18^000 

Armeiro      .... 

57^600 

Varredor 

SOíàOOO 

1  capitão  do  forte  de  S.  Sebastião 

120.§000 

Total 

.     8:3tOâl60 

{mta  do  Sr.  J.  I.  de  Brito  Bebello) 

184  ARCHIVO  DOS  AÇORES 


Representação  dos  habitantes  da  ilha  do  Corvo  em  1768  * 

Dizem  pelo  seu  parodio  António  Coeiho  de  Mendonça  os  morado- 
res da  lllia  do  Corvo,  comarcam  desta  das  flores,  povo  que  contem 
cento  e  trinta  fdgos  e  setecentas  e  vinte. pessoas,  que  pela  necessida- 
de em  que  se  acham  e  estreiteza  da  terra  que  não  passa  de  três  lé- 
guas em  circuito,  sendo  muita  da  mesma  estéril,  leuj  varias  vezes 
representado  a  esta  camará  a  impossibilidade  de  existirem  na  dita 
Ilha,  continuando  se-lhe  o  gravamen  intolerável  de  pagarem  a  avença 
de  quarenta  moios  de  trigo  e  outocentas  varas  de  panuo  de  lan,  hoje 
á  coroa,  e  antigamente  ao  infame  donatário  que  foy  destas  Ilhas,  o 
Conde  de  Santa  Cruz  e  Duque  de  Aveiro,  que  principiando  em  quan- 
tia bem  módica  cresceo  a  sobredita  pela  ambição  dos  Procuradores  e 
rendeiros  do  dito  donatário,  e  porque  crescendo  cada  vez  mais  a  gen- 
te enfraquecendo  as  terras  que  não  admittem  por  poucas  ficarem  an- 
uo algum  em  descanço,  chegando  se  ainda  a  deminuir  pai^te  das  mes- 
mas terras,  pela  quebrada  maior  do  que  em  outras  occasiões,  que  fez 
ha  dous  ânuos  a  locha.  daquella  Ilha,  que  caindo  ao  mar,  foi  formar 
neste  hum  Ilheo,  de  que  ainda  se  conservam  vestígios,  levando  então 
comsigo  muitas  das  mesmas  terras,  e  bastante  gado,  como  tudo  he 
bem  constante;  agora  que  os  supplicantes  se  vem  na  ultima  conster- 
nação, porcjue  alhé  depois  de  perseguidos  de  fome,  chegam  a  ser  mo- 
lestados da  justiça,  para  pagarem  a  sobredita  pensão,  quando  nunca 
do  trigo  que  colhem  lhes  fica  o  necessário  para  somente,  nem  do  pan- 
nu  que  fabricam  tiram  o  preciso  para  se  vestirem  e  conhecem  serem 
todas  estas  Ilhas  hum  dos  principaes  objectos  das  providencias  de 
Sua  Magestade  e  que  pela  que  o  dito  Senhor  deu  já  de  Ministro  letra- 
do pur  presidente  a  esta  Camará,  pode  a  mesma  com  facilidade  repre- 
sentar a  Sua  Magestade  a  consternação  dos  supplicantes  e  rezolução 
em  que  estão  de  passarem  todos  a  algum  dos  seus  dominios  da  Ame- 
rica, aonde  com  o  seu  trabalho  melhor  possam  viver  e  utilizar  a  Sua 
Magestade,  quando  o  mesmo  Senhor  não  haja  antes  por  bem  remit- 
tir-lhes,  da  sobredita  pensão  em  que  se  adiam  gravados,  o  necessa- 
lio  para  viverem  por  mais  tempo  na  sua  Ilha  ou  Ilheo,  como  vulgar- 
mente e  melhor  merece  se  lhe  chame: 

Portanto 

Peílcm  a  Vossa  Mercê,  Senhor  Doutor  Juiz  de  fora  e  mais  oíii- 
ciaes  da  Camará,  que  assim  como  a  V.  Mercês  são  bem  manifestas  as 
misérias  e  consternação  com  que  os  supplicantes  vivem,  as  represen- 
tem,  pelo  amor  ile  Deus,  a  Sua  Magestade,  iudividuando-lhe  as  cir- 


(•)  Esta  roprtiseiitação  nconipanhava  a  da  ('amara  da  Villa  de  Santa  Cruz 
da  Ulia  das  Flores,  improssa  no  Vol-  VI.  p.  19  d'<'Ste  Aicliivo. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  I8o 

ciimstancias  <jiie  V.  Merrès  não  igiior.im,  acredilHin  a  Illia  do  Corvo 
pela  mais  miserável  lí^ra  do  mundo,  ;»  ciij')  fim  assignam  esla  loiJos 
(is  que  dos  ditos  suppiic.iiiles  sabem  escrever.  (  I) 

E.  R.  M/" 
O  Vigário  —  António  Coelho  de  Mendonça. 
O  Cura     —  Caetano  Coelho  de  Avellar. 
O  Padre    — António  Lourenço. 
O  Juiz      — Francisco  Coelho. 

Manoel  6W/io— escrivão. 

{Arch.  nac.  da  T.  do  T.,  Pap.  do  Mm.''  do  Reino  nmç.  n.""  611.) 


Representação  dos  Governadores  interinos,  á  Rainha,  so- 
bre a  crise  monetária  em  Angra;  22  de  março  de  1794. 

Senhora. — Por  occasião  desle  novo  emprego  em  que  nos  adiamos 
(jne  não  deixa  de  transcender  muito  alem  das  nossas  forças,  nos  foi 
necessário  averiguar  com  toda  a  exacção  o  estado  das  cousas,  e  em 
particular  os  movimentos  que  no  tempo  do  governador  e  capitão  gene- 
ral defunto  houveram  a  respeito  da  Ínfima  moeda,  cada  vez  mais  cer- 
ceada, adulterada  e  viciada,  que  unicamente  girando  nestas  Ilhas,  exi 
ge  uma  promta  e  efficaz  providencia,  a  que  só  pode  abranger  o  Real 
braço  de  Vossa  Magestade;  e  porque  a  demora  delia  a  fará  tanto  mais 
diííicultoza  e  prejudicial  ao  ponto  de  ser  executada,  quanto  é  entretan- 
to a  incessante  continuação  e  augmento  do  sobredito  mal,  insta  n(js  o 
beneficio  commum  destes  povos  a  que  roguemos  a  V^ossa  Magestade, 
para  que  queira,  sem  dilação  de  uma  a^z  cortar  este  mal  na  sua  raiz. 

O  mesmo  governador  defunto,  depois  de  varias  contas  que  deu  a 
este  respeito,  pela  respectiva  secretaria  de  estado,  para  serem  presen- 
tes a  Vossa  Vlagestade,  movido  da  consternação  e  confuzão  a  que  os^ 
povos  chegaram  por  este  mesmo  principio,  tomou  ultimamente  a  reso- 
lução de  convocar  no  dia  20  de  fevereiro  de  1793,  nas  casas  da  sua 
residência  uma  junta,  composta  dos  ministros  letrados,  assim  civis,  co- 
mo ecciesiasticos  desta  cidade,  do  Deão  e  capitulares  da  Sé  da  mesma, 
dos  Prelados  das  Religiões,  da  Gamara,  nobreza,  negociantes  e  povo  e 
ahi  fez  ver  a  todos  que  tendo-se  passado  um  Edital,  por  concordância 


(1)  Sejiuiido  esta  declaração,  liaveria  só  os  5  signatários,  entre  os  720  habi- 
tantes da  Ilha  do  Corvo,  que  soubessem  escrever?  É  documento  muito  importan- 
te para  abonar  não  só  a  solicitude  do  donatário,  mas  também  a  do  Vigário  e  do 
Cura ! 

{Nota  do  Sr.  ./.  /.  de  Brito  Rebello). 

N."  11— Vol.  VIU— I88C.  12 


186  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

de  Oiitia  similliante  Junta  de  28  de  Janeiro  do  mesmo  auno.  para  que 
Os  moradores  desta  Illia,  dentro  no  termo  de  quinze  dias  delatassem  as 
quantias  de  dinheiro  que  possuíssem,  do  que  novamente  se  dizia  in- 
Iraduzido,  se  não  podéra  completamente  conseguir  e^íe  fim,  certamen- 
te porque  a  confuzão  da  moeda,  já  ha  annos  geralmente  Ct^rrente,  não 
deixava  bem  distinguir,  pela  mnltqjlicidade  dos  seus  d iílerentes  cunhos, 
a  moeda  novamente  introduzida  da  antiga,  de  cuja  bondade  e  auctori- 
dade,  sempre  nestas  Ilhas  se  duvidou. 

Concordando  todos,  que  isto  mesmo  era  o  que  tinha  |)osto  o  povu 
em  desordem  e  vexação  que  foi  notória,  a  esta  se  devia  atlender,  com 
a  interina  providencia  que  parecesse  mais  opportuna  a  socegar  o  po 
vo,  que  pela  falta  do  giro  da  moeda  eia  victima  de  um  sem  numero 
de  necessidades  e  incommodos.  Não  votaram  porem  sobre  selecção  ou 
escolha  de  nioeda,  por  ser  nas  circumstancias  expostas  um  impossivel 
identificar-se  o  cimho  da  que  havia  de  girar. 

Daqui  rtzultou  loniar  o  (Jito  governador  a  deliberação  de  fazer 
espedir  e  publicar  um  edital  para  que  corresse  toda  a  moeda  de  pra- 
ta, do  mesmo  modo  em  que  sempre  girou,  de  qualquer  marca  e  cfi- 
nho  que  fosse,  dando,  em  taes  lermos,  f)or  signal  infalível  da  b(»ndade 
ou  maldade  do  dinheiro  em  questão,  ser  ou  não  ser  de  prata,  persiia 
dido  de  que  ptir  esta  forma  se  adquiriria  a  quietação  e  socego  do  mes- 
mo povo.  como  com  elíeiti»  assim  succedeo,  e  todo  este  seu  procedi- 
mento fez  presente  a  Vos>a  Magestade,  pela  respectiva  Secretaria  de 
Estado,  nas  contas  que  lhe  enviou  em  30  de  janeiro  e  2G  de  março 
do  anno  pretérito  de  1793. 

Esta  providencia,  porem,  que  fdi  inteiina,  como  não  podia  extir 
par  o  mal  na  sua  raiz,  tem  esta  pioduzido  novas  conseípiencias.  (]ue 
íontinuam  a   inficcionar  estes  jiovoj.,  mai(»rmenle  pelo  abuso,  que  se 
fez  pela  determinação  daquelle  dito  Edital. 

É  certo  qne  ao  tempo  da  publicação  deste  girava  nestas  Ilhas,  já 
de  muitos  annos,  bastante  uKteda,  introduzida  (ielo>  estrangeiros,  pe- 
las Ilhas  do  Eyial  e  São  Miguel,  cuidiada  á  imitMÇão  da  hespanhola. 
Ufllas  coríente:  linha  porem  esta  nioeda  figura  de  dinheiro  e  seu  tal 
ou  qual  valiir  inlrinseco,  e  sendo  isto  prejudicial  não  residtou  d'ahi  a 
presente  perturbação.  Cerceou-se  sempre  esta  e  a  antiga  e  primitiva 
moeda,  e  pelo  decuiso  do  tempo  se  foi  diminuindo  a  sua  forma  e  va- 
lor, e  foi  lambem  aparecendo  e  girando  uma  nova  moeda,  de  differen- 
tes  cunhos,  que  de  muitos  annos  a  esta  pai  te  se  pensou  sen)pre  fabri- 
cada nestas  mesmas  Ilhas.  Ultimamente  aparece  de  lepente  uma  cas- 
ta de  dinheiro  menos  conhecido  e  de  Ínfima  qualidade  que  por  ser  de 
algum  modo  similhante  ao  chamado  velho,  cori'eo  por  algum  tempo 
sem  maior  reparo:  cornludo  como  a  quanlidnde  insensivelmente  cres- 
cesse e  igualmente  o  seu  vício  e  diminuição,  princiaram  a  duvidar 
delle,  sem  comtudo  poder-se  vir  no  conhecimento  da  fonte  ou  fontes 
donde  elle  sabia,  apesar  de  se  rosnai-  de  que  em  li>das  estas  ilhas. 


ARCHIVO  DOS  AÇOKES  187 

maiurmente  nas  das  Flores,  Faial,  Pico,  esta  (!)  e  S.  Miguel  se  fabri- 
cava uma  tal  mí)e(la,  mas  (jiie  aiiiiJa  então  se  espalhava  entre  os  po- 
vos com  comedimento,  e  girava  com  algum  pejo.  Depois,  porem  do 
dito  Edital  se  tt-m  esta  augmrntado  e  propagado  com  muit(j  maior 
excesso,  abusando  se  totalmente  da  sua  justa  providencii,  e  tão  escan- 
dalosamente, que  se  está  conhecendo  ser  a  moeda  Cundida  de  pouco 
tempo,  areada,  e  em  maior  numero  viciada  na  sua  matéria,  tendo  ape- 
nas aigmna  tintura  de  prata,  e  quasi  toda  ella  reduzida  a  tostões  tão 
Ínfimos,  e  tão  diminutos,  (jue  cada  um  não  [toderá  ter  valor  intrinseco 
(|ue  exceda  a  20  rs., muito  particularmente  attendida  a  mistura  com 
(jiie  ella  aparece  fabiicada;  o  que  se  nos  verificoii,  fazendo  nós  pezar 
na  nossa  presença  uma  pouca  que  fizesse  o  peso  de  um  marco  de  6i 
oitavas,  que  sendo  prata  boa,  poderia  segurar  OjííIOO  rs.  sendo  conta- 
dos os  tostões  que  fi/.eram  o  dito  peso  se  achou,  em  um,  pelo  nume- 
ro de  tostões:  31;í>300  rs.  e  em  outro,  que  igualmente  fizemos  pesar, 
se  acharam  32'JOOO  rs. 

Daqui  se  vè  o  excessivo  damno  com  que  estes  povos  se  estão 
prejudicando  mutuamente,  sendo,  os  que  deste  geral  prejuízo  tiram 
lucro,  aquelles  que  fabricam  ou  introduzem  semelhante  moeda,  que 
até,  para  a  sua  Ínfima  e  diminuta  construcção,  é  de  presumir  vão 
consumindo  toda  a  moeda  de  sarrilha  e  toda  a  outra  que  se  chama- 
va de  barra,  que  apanharam,  e  apanham  ás  mãos.  Com  esta  infima 
moeda,  de  cujo  uso  se  não  pode  dispensar  a  necessidade  publica,  pela 
sua  generalidade  e  falta  de  outr-a,  que  se  não  descobre,  se  compram 
por  excessivos  preços  todos  os  géneros  que  tratam  de  exportar-se  pa- 
ra onde  os  possam  reduzir  a  dinheiro  hespanhol,  ou  melhor  moeda, 
ainda  nestas  mesmas  ilhas  se  diz  venderem-se  aquelles  por  menos 
preço  do  que  se  compram,  se  se  pagam  em  sarrillia;  negocio  este, 
tjue  talvez  fazendo  o  os  seus  agentes  [)ara  melhorarem  de  sorte,  com- 
tudo  a  má  fé  com  que  talvez  se  olham  sobre  semelhante  assumpto  de 
moeda,  faz,  sem  outro  indicio  algum,  suspeitar  que  aquelles  o  fazem, 
para  continuarem  a  augmentar  o  umnero  de  uma  moeda  tão  prejudi- 
('ial  e  escandalosa.  Fm  taes  circumstancias  os  que  vivem  innocentes 
padecem  dois  vexames,  nada  pequenos,  primeiro  é  comprarem  por 
dez  o  que  vai  Irez  ou  quatro,  custando  ao  seu  suor  e  trabalho  os  pre- 
ços porque  o  compram,  e  o  segundo,  e  o  maior,  é  o  não  acharem  o 
que  lhe  é  necessário;  porque  os  viveres  cada  v.z  mais  vão  desapare- 
cendo, as  lojas  dos  commerceantes  vão-se  fechando,  por  não  terem 
estes  já  quasi  nada  de  fazendas  para  o  necessário  uso  destes  habitan- 
tes, a  quem  certificam,  de  que  mais  não  mandarão  vir  cousa  de  con- 
sideração necessidade  ou  utilidade  á  terra  para  a  venderem  por  nmâ 
tal  moeda,  (jue  demais  de  não  poder  nutrir-lhes  o  seu  commercio,  os 
desanima   pelo  certo  empate  que  lhes  devem  recear  mais  hoje,  mais 


;i)  A  lll)a  Tfrceirii. 


188  ARCHIVO  DOS  AÇOHES 

íuiKuiliã.  O  azeite  de  baleia  ha  mais  de  seis  mezes  que  o  não  lia,  falta 
igiialnunte  o  de  «liiveira,  pelo  que  tem  chegado  a  aliimiar-se  o  Saii- 
tis;;imo  .Sacramento  com  cera.  e  (jiiando  pur  (im  raro  acaso  aparecem 
estes  géneros  se  vendenj  por  triplicado  prego  du  qne  se  vendiam. 

Os  trigos  e  milhos  dpsta  ilha  no  principio  du  verão,  e  ainda  pen- 
dentes foram  atravessados  por  preços  excessivos,  poripit^  o  trigo  a  400 
rs.  e  o  milho  se  acha  já  a  300  rs.  o  alqueire,  e  ainda  por  taes  preços 
se  não  podiam  descobrir,  não  só  porque  aquelles,  em  cujas  mãos  por 
suas  negociações  havia  parado  abundância  desta  moeda  e  delia  se  qui- 
zeram  livrar,  compraram  e  sobarcaram  os  sobreditos  géneros  para  os 
exportarem,  mas  tanibem  porque  alguém  que  tem  destes  géneros  de 
sobra  o  não  (jiier  vender  por  semelhante  moeda,  servindo  se  aliás  del- 
ia para  todos  os  seus  gastos,  e  despesas,  e  não  achando  outra  o  com- 
mum  das  gentes  de  maior  e  menor  graduação.  Chegou  este  dito  mo- 
nopólio a  tal  excesso  que  não  achando  os  povos  de>ta  cidade  um  só 
l»ão  para  comprem,  nos  lugares  públicos  onde  este  se  costuma  vender, 
nem  em  outros  mais  particulares,  nos  obrigou  a  mandarmos  pelo  Juí- 
zo da  Correição  examinar  o  trigo  e  milho  í|ue  havia  pelos  graneis  des- 
ta cidade,  e  mandai'  se  tirar,  da  pouca  porção  que  deste  se  achou,  al- 
gum para  o  Terreiro  publico,  a  fim  de  accudir-se,  não  só  ao  povo,  qne 
genua  de  fome,  mas  a  infinitas  casas  particidares  que  sofriam  a  mes- 
ma sorte;  e.  attenta  a  carestia,  determinarmos  aos  que  pretendiam 
exportar  os  géneros  de  trigo  e  milho,  quaesquei'  que  elles  fossem,  que 
só  o  poderiam  fazer  deste  ultimo  género,  deixando  no  dito  Terreiro  a 
terça  parte,  respectiva  á  porção  que  quizcssom  embarcar,  piohibindo 
a  exportação  daquelle  primeiro,  por  se  haver  já  embaicado  [lara  essa 
corte  e  Ilha  da  Madeira  a  porção  que  neste  anuo  pod<'ria,—  segiíhdo 
as  orças  que  da  [troducção  de.-^te  género  fizemos,  e  do  que  ao  consu- 
mo da  terra  é  necessário,— extrahir-se  sem  prejuízo  da  couseivação 
destes  povos:  bem  persuadidos  de  que  a  mente  de  Vossa  Magestade, 
nas  suas  respeitáveis  ordens  para  se  franquear  a  exportação  de  seme- 
lhantes géneros  para  essa  corte  ou  dita  ilha  da  Madeira,  é  nos  termos 
de  não  perigar  aquella.  e  de  não  haver  a  necessidade  (pie  é  íiotoria, 
e  se  experimenta,  que  até  tem  custado  e  dado  cuidado  a  descobrir-se 
o  preciso  paia  se  municiarem  os  terços  auxiliares,  na  conformidade 
das  ordens  de  Vossa  Magestade:  já  por  causa  dos  atravessadores  que 
os  tem  occultado.  para  os  exportarem  em  algum  tempo,  já  por  qne  na 
lealidade,  ptic  que  se  tem  exportado,  não  restaria  iia  ilha  o  necessá- 
rio, se  não  houvesse  a  sobredita  restricção:  providencia  (oní  (pie  fica 
o  povo  nesta  [)arte  soctgado. 

E"  esta  a  consternação,  a  que  os  povos  destas  Ilhas  se  vem  re- 
duzidos, pela  necessidade  de  sofrerem  o  giro  de  uma  tão  indigna  moe- 
da, no  meio  porem  da  qual,  apesar  dos  males  de  que  incessantemen- 
te se  sentem  rodeados,  padecem  com  uma  admirável  conformidade, 
esperançados  em  que  Vossa  Magestade  se  dignará  um  dia  com  as  sau- 


ABCHIVO   DOS  AÇORES  189 

flcíveis  [)i(tvidem'ias,  próprias  da  sua  maternal  piedade,  nltirnar-llies  (K- 
lima  ve/.  tanta  riiina.  Desta  só  se  nos  apresenta  de  alguma  forma  in- 
demnisada  a  Illia  de  Sã<»  MigueL  que  ahunda  na  dita  .carrilha  liespa- 
nhola,  e  em  cobre  deste  Heir)o.  porque  as  suas  maiores  producções 
que  lui  mesma  fazem  girar  uma  maior  negociação,  llie  tem  facilitado 
os  meios  a  este  fim,  e  aijuelles  que  nem  nesta  ilha  nem  nas  mais  se 
pi»dem  descubrir  pelas  suas  meiiores  producções  e  tenuidades  dos  seus 
negócios. 

Tem-se  procedido  a  devassas  que  continuam  contra  os  fabrican- 
tes da  moeda  falsa,  e  viciada,  tem-se  pronunciado  e  pieso  alguns,  cu- 
jos processos  tem  sido  remettidos  ao  Juizo  da  casa  da  moeda:  mas  co- 
mo são  devassas  ex-officio,  em  que  não  íia  parte  queixosa,  que  apon- 
te as  fontes  principaes  deste  mal,  e  a  ellas  encaminhe  os  Ministros, 
não  se  tem  até  agora  descoberto  as  suas  origens  principaes:  e  posto 
que  nas  vozes  populares  se  formem  alguns  indicios  contra  diversas 
pessoas,  não  se  conhece  comludo  nestas  a  necessária  e  relevante  qua- 
lidade que  autorise  os  mesmos  Ministros  para  procederem  simples- 
mente por  ellas  contra  estas  mesmas  pessoas  e  casas  particulares,  que 
aliás  na  consideração  dos  mesmos  povos  se  fazem  das  mais  principaes 
e  qualificada.>  destas  Ilhas. 

Finalmente,  senhora,  este  mal  é  gravissimo  e  por  que  elle  se  au- 
gmenta  com  os  dias  parece  vae  a  precipitar  estas  Ilhas,  cei  tameute  no 
ultimo  grau  da  sua  decadência,  se  sobre  elle  não  houver  uma  prezen 
lanea  providencia:  sendo  que  ellas  merecem  a  altenção  de  Vossa  Ma- 
gestade,  pois  são  os  seus  moradores  descendentes  de  progenitores  que 
como  elles  não  duvidarão  sacrificar  vidas  e  fazendas  pelo  serviço  da 
Real  coroa  de  Vossa  Magestade. 

O  que  tudo  pomos  na  Heal  presença  de  Vossa  Magestade,  a  quem 
suplicamos,  com  toda  a  submissão,  queira  tomar  na  sua  Hegia  consi- 
deração um  oljjecto  de  tanto  melindre  e  ponderação,  e  dai'  a  respei- 
to delle  as  providencias  que  na  situação  presente  das  cousas,  só  pode 
dar  o  Real  braço  de  Vossa  Magestade,  do  qual  as  es()eramos,  revés 
tidas  dai^iiplla  equidade  e  comiseração  que  lhe  é  inherente. 

A  Muito  Alta  e  Muito  Poderosa  pessoa  de  Vossa  Magestade,  guar- 
de Ueos  os  annos  que  estes  Reinos  e  seus  fieis  vassalos  desejamos  e 
havemos  mister  para  nossa  felicidade.  Angra  22  de  Março  de  i794. 

Fr.  José,  Bispo  lÍ Angra,  (D.  Fr.  José  d" Ave  Maria  da  Costa  e  Sil- 
va) Gorernador.=^0  Corregedor  d Angru,  Governador  Manoel  José  d' Ar 
riaga  Briim  da  Silveira. 

(Arch.  nac.  da  T.  do  7'.,  Pap.  do  Min.  do  Reino,  nKtat,  613.) 


CONSULTAS  OA  MESA  OA  CONSCIÊNCIA  E  OROEMS 


Consulta  de  Simoa  Soeira,  viuva,  da  ilha  Terceira,  sobre 

o  officio  de  escrivão  dos  Residos  nas  ilhas  de  baixo; 

20  d  ag-osto  de  1598. 

Simòa  S()HÍr;i,  Viuva  ile  Fernão  M;)rtii)S  de  Soush,  tnoiador  na  ilha 
Terceii'«  fez  pelição  a  V.  M.  nesta  mez^  dizendo  qiíe  o  dilo  sen  mari- 
do fora  proprietário  do  officio  d^escrivão  dos  residos  das  ilhas  do  Fayal, 
Fitjno,  Gracioza  e  Sani  Jorge,  o  (jiial  serviía  muitos  annos  fazendo  sem- 
pre o  <jne  devia  sem  cometer  erro,  nem  culpa  algnma.  Pelo  que  pedia 
a  V.  \iag<\stade  lhe  fizesse  mercê  do  ditto  olficio  pêra  a  pessoa  que 
cazar  com  uma  íillia  que  lhe  ficou  do  dito  Fernão  Martins,  a  qual  não 
tem  nenluHiia  couza  por  ser  nuiito  pobre.  Pediosse  informação  ao  cor- 
regeilor  das  Ilhas  e  informou  que  Fernão  Martins  de  Sonsa  servira  de 
propriedade  o  officio  descrivão  dos  residos  das  ilhas  de  baixo,  onlo 
ou  nove  anos  comprindo  em  todo  este  tempo  com  sua  obrigação,  e  sem 
cometer  erro,  e  (jue  passa  de  hum  anuo  que  he  falecido  e  que  está  va 
go  este  ofíicio,  e  que  lhe  ficara  hum  filho  e  huma  filha,  e  que  o  filho 
íião  [)relende  pêra  si  o  officio,  e  que  a  filha  por  nome  Maria  Pereira  he 
de  itiade  de  mais  de  vinte  amios,  muito  pobre,  e  que  não  tem  outro  re- 
médio, salvo  o  que  lhe  pode  vir  por  meo  deste  officio  fazendolhe  V. 
Magestade  mercê  delle  pêra  a  pessoa  que  com  ella  cazar. 

Pareceo  que  visto  o  (jue  a  supplicante  allega  e  a  informação  (jue 
deve  V.  MagestaíJe  ser  servido  de  lhe  fazer  mercê  do  officio  que  pe- 
de pêra  a  pessoa  que  cazar  com  sua  filha,  sendo  apta,  e  sufficiente  e 
por  tal  aprovada  no  despacho  da  Meza  da  Consciência  e  Ordens  em 
IJxboa  a  XX  (20)  d'agosto  de  M.  D.  Ixxxxbiij  (lõ98)={colas  ao  lado) 
—Officio  de  escrivão  dos  residos  da.  Ilha  do  Faial.  Wo?/í/y/)  por  carta 
de  ál  de  setembro,  f.  38  =  [outra)  faz  he  S.  Magestade  mercê  como 
pareceo  na  meza.=Veo  a  ál  de  seten)bro  de  08. 

íT.  do   '/'..  Lk.  1."  do  fírr/.'"'  de  Comullas  da  Mesa  da  Omsc.  e 
(hd.,  f.   1.) 


AHCHIVO  DOS  ACOKES  191 


Consulta  para  se  dar  uns  offlcios  a  Doming-os  Carvalho 
da  Ilha  de  San  Mig-uel;  20  de  junho  de  1601. 

Uomingos  Carvíilho,  morador  na  Ilha  de  Sam  Migiit^l  fez  petição 
a  V.  Magestade  nesta  mesa  (Jizeiuk»  que  seu  s.tgio  Francisco  da  Moía 
Osório,  toi  proprietário  dos  ollicios  de  Procurador,  (>ontador  e  Incjue- 
redor  da  provedoria  dos  Residos  e  que  por  impedimento  da  muita  ida- 
de do  dito  (troprietario  lhe  fizera  V.  Magestade  mercê  da  serventia  do 
dito  olíicio  o  (jual  sérvio  até  falecer  o  dito  Francisco  da  Motta  com  sa- 
tisfação de  lodos  com  diligencia  e  verdade  e  asi  o  servira  o  dito  sen 
sogro  dezoito  ou  vinte  annos  sem  nunca  ser  comprendido  de  erros, 
antes  com  muita  verdade  e  satisfação.  Cede  a  Vossa  Magestade  que 
havendo  respeito  a  ser  casado  con)  a  filha  mais  velha  do  dito  Francis- 
cisco  da  Motta  proprietário  que  foi  dos  ditos  ollicios,  e  a  ter  em  sua 
casa  sua  sogra  entrevada,  com  hua  menina  sua  filha  e  não  terem  ou- 
tra cousa  de  que  se  sustentar  [lor  serem  muito  pobres  e  os  ditos  ofli- 
cios  de  pouco  rendimento  e  a  elle  snpplicante  ser  christão  velho  e  a 
ler  servido  a  V.  Magestade  nove  ou  dez  atmos  em  trtdas  as  cousas  que 
se  otYt-recerão  de  guerra  na  dita  ilha  e  no  mar  delia  que  forãu  niuitas 
e  muito  importantes,  lhe  faça  mercê  da  propriedade  do>  ditos  ollicios. 
Todo  o  sobredito  justifica  por  instrumentos  e  carta  do  juiz  de  fora  e 
certidões  do  juiz  dos  órfãos  e  dos  capitães  da  dita  Ilha.  Pareceo  que 
visto  o  que  o  siq)plicante  allega  e  a  boa  informação  que  ha  de  suas 
partes  e  calidades  deve  V.  Magestade  ser  servido  de  lhe  fazer  mercê 
dos  ollicios  que  pedtí.  Km  IJsboa  a  20  de  junho  de  1001  annos. 

(T.  do  T..  Ur.  1."  de  Coftsull .  dd  M^^s,  d/i  Cnnsc.  c  Ord..  f.  108  r.") 


180.^    Consulta  sobre  Pedro  Aôbnso  d'Ornellas  da  ilha 
Terceira;  14  de  novembro  de  1602. 

Pedrafonsf»  {Pedro  Affhnsn)  Dornellas,  morador  na  Ilha  Terceyra 
fez  petição  a  V.  Magestade  nesta  mesa  dizendo  que  V.  Magestade 
fez  mercê  a  seu  sogro  Fernão  Martins  de  Sousa  do  olíicio  de  escrivãit 
ante  o  juiz  dos  Residos  das  ilhas  de  São  Jorge,  Faial,  Graciosa  e  Pico 
depois  de  servir  muitos  annos.  e  faleceo  sem  ter  outro  herdeiro  nem 
descendente  mais  que  sua  filha  Maria  Pereira  de  Sousa,  que  é  casada 
com  elle  supplicante,  o  qual  olficio  está  elle  servindo  [xtr  commissão 
do  contador  dos  Residos.  Pede  a  V.  Magestade  que  havendo  respeitt» 
a(»  sobredito  e   ter  as  partes  e  qualidades  que  se  requerem  para  <• 


192  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

bem  poder  servir  e  o  dito  seu  sogro  ficar  muito  pobre  e  assim  o  ficou 
a  dita  sua  filha,  com  a  qual  elle  dito  supplicaute  casi>u  com  as  espe- 
ranças soaieiíttí  do  dito  oíficiu,  lhe  faça  uiercé  delle  assim  como  o  ti- 
nha o  dito  seu  sogro,  enformou  o  corregedor  das  ilhas  dos  Açores 
(jue  V.  Magestade  fizera  mercê  a  Fernão  Martins  de  Soiisa  definito 
sogro  do  Supplicaute  Pêro  Aílonso  d'Ornellas  do  otlicio  de  escrivão 
dante  o  juiz  dos  hesidos  das  Ilhas  Graciosa,  São  Jorge,  Faial  e  Pico, 
o  qual  serviu  em  quanto  vivo,  e  por  falecimenttj  proveu  o  Juiz  dos 
HesifJos  da  serventia  deste  otFicio  a  elle  supplicaute,  e  que  justificou 
tel-o  servido  com  verdade  e  ser  honrado  e  ter  as  partes  e  qualidades 
que  se  requerem  para  o  poder  bem  ^ervir  e  que  poderá  render  em 
cada  um  anuo  até  trinta  mil  reis  andando  por  correição  por  todas  as 
ilhas,  e  que  o  supplicaute,  está  casado  com  Maria  Pereira  filha  do  pro- 
prietário que  foi  com  quem  casou  sendo  té  por  elle  ser  pobre  e  não 
ter  que  lhe  dar,  e  i\ne  lhe  ficara  outro  filho  mais  velho  por  nome  An- 
tónio Pereira  de  Sousa  que  está  casado  na  Ilha  de  São  Miguel,  o  qual 
tem  renuncia  lo  no  supplicaute  toda  a  aução  que  podia  ter  na  prelen- 
ção  do  dito  officio  e  Pede  a  V.  Magestade  seja  servido  fazer  mercê 
delle  a  seu  cunhado  por  ser  pobre  e  não  haver  mais  filhos  do  dito 
seu  páe,  que  foi  proprietário,  e  que  esta  era  a  informação  que  achara. 
Pareceu  que  vista  a  informação  e  o  que  o  supplicaute  allega  de- 
ve V.  Magestade  haver  por  bem  de  lhe  fazer  mercê  da  propriedade 
deste  otficio.  Em  Lisboa  a  14  de  novembro  de  I60á. 

{T.  do  T.,  Ltv.°  1°,  de  Consulta  da  Mes.  da  Canse,  e  Ord.,  foi. 
177  L\% 


IW1]EPJ0   IVEN8 


CONSAGRAÇÕES  CÍVICAS 


iriítf  (Jjaplb  t  jl0krí0  ^Imm 


A  missão  tresle  Archivo  é  registar  em  suas  paginas  todos  os  factos 
(jue  possam  interessar  á  historia  açoriana. 

À  que,  para  nós,  é  antiga,  tem  este  jornal  consagrado  quasi  ex- 
clusivamente os  sete  volumes  publicados. 

Os  successos  notáveis  da  actualidade  serão  considerados  em  adi- 
antado futuro  com  interesse  egual  ao  que  nos  merecem  os  de  remo- 
tas eras. 

A  historia  d'um  povo  nasce  com  elle  mas  sobrevive  lhe.  Sem  a 
historia  de  todo  desconheceriamos  hoje  o  que  numerosos  esta<Jos,  não 
existentes  ou  decaidos.contribuiram  para  o  caminhar  da  civilisação. 

Cumpre-nos,  por  isso,  ser  cuidadosos  no  registo  de  successos, 
que  ás  interrogações  do  futuro  possam  revelar  os  nossos  adiantamen- 
tos d'agora. 


O  dia  6  de  dezembro  de  1885  marcou  para  S.  Miguel  uma  data 
memorável. 

Celebrou  se  a  mais  apparatosa  festa  que  em  Ponta  Delgada  se  tem 
visto,  festa  de  consagraçãíj  da  gloria  de  dois  eminentes  portuguezes, 
um  dos  quaes  nascido  nesta  cidade,  os  srs.  Hermenegildo  de  Brito 
Capello  e  Roberto  Ivens. 

Para  completar  a  noticia  do  acontecimento,  quizémos  acompanhal-a 
d'um  bom  retrato  do  nosso  illuslre  conterrâneo,  o  sr.  Roberto  Ivens. 

Mandámos  graval-o  em  Lisboa  em  vista  d'uma  recente  e  nitida 
phothographia,  e  como  só  ha  pouco  recebemos  este  bello  trabalho  ar- 
tístico, só  agora  se  pôde  destinar  o  espaço  d  este  jornal  á  commemo- 
ração  do  facto. 

A  demora  cousa  alguma  prejudica.  São  para  vindouros  as  pagi- 
nas que  vão  seguir  se. 


N.°  i5— Yoi.  VI1I--I886. 


194  ARCHiVO  DOS  AÇOKES 


Em  setembro  do  anuo  passado  desembarcavam  em  Lisboa  Herme- 
negildo do  Brito  Capello  e  Roberto  Ivens,  vindos  d'Africa. 

Precedera-os  o  applauso  e  a  admiração  miiversal  pelo  arrojado 
feito  que  tinham  praticado,  realisando  uma  travessia  n^aquelle  continen- 
te, a  descobrir  caminlio  commercial  para  ligar  pontos  extremos  do  nos- 
so domínio,  em  que  lia  duas  cidades  consideráveis,  Loanda  e  Moçam- 
bique, naturalmente  indicadas  para  capitães  d'um  vasto  império. 

Se  em  viagem  triumphal  chegaram  a  Lisboa,  ah  esperava  os  au- 
daciosos portuguezes  a  mais  delirante  das  ovações. 

O  paiz  inteiro  oíferecia  jubiloso  os  lauréis  de  vencedores  aos  dois 
heroes,  que  o  não  foram  dum  só  dia,  pois  que  chegou  a  parecer  in- 
terminável o  periodo  para  homenagens  que  ninguém  queria  deixar  de 
tributar-lhes. 

Os  michaelenses  são  pouco  dados  a  expansibilidades  ruidosas. 

Porem,  sendo  seu  irmão,  pelo  sangue  e  pela  pátria,  o  sr.  Rober- 
to Ivens,  saudado  e  victoriado  por  todo  o  mundo  culto,  a  scentelha 
das  grandes  commoções  enthusiasticas  inflammou  os  nossos  espíritos 
para  a  justa  e  devida  sagração  da  gloria. 


Os  sócios  correspondentes  da  Sociedade  de  Geogropliia  de  Lisboa, 
residentes  em  Ponta  Delgada,  logo  que  souberam  da  chegada  dos  Ex- 
ploradores a  Lisboa,  enviaram-lhe  uma  Mensagem  de  congratulação, 
no  paquete  que  a  17  de  setembro  daqui  saiu  para  o  Tejo. 


A  li  d'outubro,  lendo-se  feito  prévio  e  geral  convite,  a  Socieda- 
de Promotora  do  Progresso,  tinha  uma  numerosa  reunião,  em  que  se 
inaugurou  o  retrato  de  Roberto  Ivens,  e  se  insta  liou  uma  tiula  de  de- 
zenho  que  tomou  o  nome  do  eminente  michaelense. 

Cavalheiros  esclarecidos  discursaram  brilhantemente  dando  a  ní- 
tida comprehensão  do  successo  tão  celebrado. 

Bellissimas  peças  de  musica  correctamente  executadas  intermeia- 
ram  os  discursos  e  completaram  o  sarau. 

Na  abertura  e  encerramento  executou-se  o  Hymno  de  Robehto 
IvENs,  expressamente  composto  para  este  fim,  de  que  adiante  se  pu- 
blicará a  lettra,  sendo  também  publicada  a  musica  no  numero  286  da 
Bandeira  Porlugiieza,  jornal  de  Lisboa,  de  14  de  março  de  1886. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  195 


Nus  jurnaes  fia  segunda  semana  do  mez  dVjuliibro,  os  mesmos  só- 
cios fizeram  publicar  o  seguinte: 


Convite 

«Os  sócios  correspondentes  da  Sociedade  de  Geographia,  de  Lis- 
boa, abaixo  assignados,  residentes  em  Ponta  Delgada,  compenetrados 
da  insistência  com  que  a  opinião  publica  exige  uma  solemne  manifes- 
tação dos  sentimentos  de  admiração  e  enthusiasmo  a  favor  do  illustre 
e  corajoso  explorador  d"Africa,  o  michaelense  —  Roberto  Ivens;  côns- 
cios egualmente  da  necessidade  de  se  constituir  uma  commissão  que 
realise  os  melhores  alvitres,  teem  a  honra  de  convidar  os  seus  conci- 
dadãos a  concorrer  pela  I  hora  da  tarde  do  dia  11  do  corrente,  na  sa- 
la das  sessões  da  Gamara  Municipal  desta  cidade,  a  fim  de  ali  se  re- 
solver o  que  melhor  convier. 

Ponta  Delgada  7  d'outubro  de  1885. 

Ernesto  do  Canto. 

Caetano  d' Andrade  Albuquerque. 

Francisco  Maria  Supico. 

Conde  da  Silva. 

Augusto  César  Stipico. 

Carlos  Maria  Gomes  Machado. 

Barão  de  Fonte  Bella  (Jacintho). 

Vicente  Machado  de  Faria  e  Maia. 

João  Bernardino  de  Sena. 

Henrique  José  das  Neves. 


Esta  reunião  foi  amplamente  concorrida.  Presidio  o  sr.  dr.  Ernes- 
to do  Canto. 

Paliaram  diíferentes  cavalheiros  despontando  vários  alvitres  sobre 
o  modo  de  se  realisar  o  fim  para  que  fora  convocada. 

Votou-se  uma  proposta  do  sr.  dr.  Francisco  Pereira  Lopes  de  Bet- 
tencourt Athaide  para  que  78  cavalheiros,  que  indicou,  constituíssem 
uma  grande  commissão  para  apreciar  os  differentes  alvitres  e  prefe- 
rir os  melhores. 

Tendo  antes  declarado  o  sr.  presidente  da  camará  dr.  Aristides 
Moreira  da  Motta,  que  a  corporação  da  digna  presidência  de  s.  ex.* 
celebraria  uma  sessão  solemne  em  homenagem  aos  gloriosos  explora- 
dores, isto  se  considerou  desde  logo  como  artigo  e  base  do  program- 
ma  a  redigir. 


196  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

Uma  sub-commissão  foi  eleila  para,  inspirada  nas  ideias  expostas 
na  reunião  do  dia  11,  elaborar  iin)  parecer  para  ser  discutido  em  ses- 
são da  grande  conimissão. 

Teve  logar  esta  sessão  a  25  doulubro,  e  em  desempenho  do  man- 
dato que  recebera  apresentou  o  seguinte: 


Parecer 

A  sub  commissão  nomeada  para  dar  parecer  sobre  as  propostas 
apresentadas  na  sessão  de  18  do  corrente,  tendentes  a  festejar  e  com- 
memorar  a  gloriosa  travessia  de  Roberto  Ivens  e  Brito  Capello,  reali- 
sada  em  Africa,  colhendo  e  apreciando  quaesquer  outros  alvitres,  vem 
desempenhar-se  do  honrozo  encargo,  apresentando  a  seguinte  propos- 
ta que  submette  á  vossa  apreciação: 

[.°  effectuar  um  cortejo  civico  por  occasião  da  sessão  solemne 
que  a  Camará  Municipal  intenta,  fazendo-se  n'esse  dia  as  manifesta- 
ções festivas  mais  adquadas  ao  fim  e  aos  meios  e  adherindo  â  mensa- 
gem que  a  Municipalidade  vae  apresentar; 

2.°  que  se  abram  duas  subscripções,  uma  como  succursal  da 
s.ubscripção  nacional  iniciada  pelo  professor  José  Júlio  Rodrigues;  ou- 
tra, destinada  ás  despezas  de  festejos  e  commemoração  locaes,  apu- 
rando-se  na  cobrança  da  parte  já  subscripta  a  vontade  dos  subscripto- 
res  sobre  a  quantia  com  que  concorrem  para  cada  uma. 

Entre  os  alvitres  propostos,  relativos  a  esta  segunda  parte,  jul- 
gamos mais  pratico  e  realisavel  o  que  tem  por  fim  collocar  um  monu- 
mento commemorativo  da  travessia  d'Africa  encimado  pelo  busto  de 
Roberto  Ivens,  na  avenida  lateral  direita  que  se  acha  traçada  no  plano 
da  projectada  alameda  commemorativa  da  expedição  liberal,  oíTerecen- 
do  á  municipalidade  para  a  construcção  da  alameda  e  do  monumento 
o  que  produzir  a  segunda  subscripção  deduzida  a  despeza  com  o  fes- 
tival. 

Arthur  HinlZi'  Ribeiro. 

Caetano  d' Andrade  Albuquerque  (vencido  quanto  á  es 
colha  do  local). 

Carlos  Augusto  Carneiro  ZagaUo  e  Mello. 

Francisco  Pereira  Lopes  de  Bettencourt  Athaide  (ven- 
cido em  parte). 

Caetano  Moniz  de  Vasconcellos. 


ARCHIVO  DOS  AÇOhES  197 

Tendo  liavido  ampla  discussão  appr(»vou-se  parle  do  precedente 
parecer,  regeitada  a  primeira  snbscripçãíj  propost;*  e  elaborado  o  .se- 
guinte e  inicial 

Programiiia  approvado  na  sessão  de  2o  douluhro  de  i88o,  da  gran- 
de coraniissão  encarregada  de  festejar  e  commemorar  em  Ponta 
Delgada  a  gloriosa  travessia  dAfrica  por  Roberto  Ivens  e 
Brito  Capello. 

I.''  Effecluar  um  cortejo  civico  por  occa^ião  da  sessão  solemne, 
que  a  Camará  Municipal  de  Ponta  Delgada  deliberou  celebrar:  promo- 
vendo no  mesmo  dia  manifestações  festivas  adequadas  ao  fim  e  aos 
meios;  e  adherir  ã  mensagem  que  a  Municipalidade  apresentar. 

2.°  Collocar  um  monumento  commemorativo  da  travessia  dAfri- 
ca  encimado  pelo  busto  de  tioherto  Ivens,  na  avenida  lateral  direita, 
que  se  acha  traçada  no  plano  da  projectada  Alameda  da  Expedição  Li- 
beral, offerecendo-se  á  Municipalidade  o  producto  das  subscripções,  de- 
duzidas as  despezas  do  monumento  e  do  festival. 

Três  sub-commissões  foram  encarregadas  de  realisar  este  program- 
ma,  desenvolvendo  o  de  modo  compatível  com  as  circumstancias. 

Eis  os  nomes  dos  cavalheiros  que  constituíram  estas  sub-com- 
missões: 

Sub-commissão  da  subscripção: 

Aristides  Brandão  de  Castro. 
Dr.  José  Pereira  Botelho  Riley. 
Victoriano  Sequeira. 
Francisco  Peixoto  da  Silveira. 
Filomeno  Bicudo. 

Sub-commissão  para  dirigir  a  parte  comniemoraliva: 

Dr.  Francisco  Pereira  Lopes  de  Bettencourt  Athaide. 
David  Xavier  Cohen. 

Sub-commissão  da  parte  festival: 

Henrique  José  das  Neves. 

Carlos  Augusto  Carneiro  Zagallo  e  Mello. 


198  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

Aggregaram-se  differeníes  cavalheiros  a  estas  sub-commissôes 
conforme  a  deliberação  da  grande  commissão  e  a  Iodas  presidio  o  sr. 
dr. 

Ernesto  do  Canto. 

As  duas  ultimas  sub-commissões  trabalharam  de  harmonia  com 
o  Presidente  da  Camará  sr.  dr.  Aristides  Moreira  da  Mutta. 

Para  se  desempenharem  do  lionroso  encargo  que  lhes  fura  com- 
inettido,  tiveram  differentes  reuniões  as  sub-commissões  acima  indica- 
das, deliberando,  a  5  de  novembro,  a  sub-commissão  do  festival  con- 
vidar as  differentes  associações,  classes  e  corporações  desta  cidade  a 
fazerem-se  representar  cada  qual  por  um  delegado  na  sala  da  camará 
municipal,  devendo  os  delegados  communicar  o  modo  como  as  colle- 
ctividades  que  representavam  se  associariam  ás  publicas  manifestações. 

Compareceram  muitos  delegados  e  apuz  as  declarações  feitas  por 
cada  um,  foi  approvado  o  seguinte: 


Piogiumina  do  festival  que  o  povo  miciíaeleiíse  lealísa  na  cidade  de 
Poiíla  Delirada  no  dia  29  de  novembro  de  I88S  em  iionra  dos  ex- 
ploradores Porluguezes  Brito  Capello  e  Roberto  Ivens. 

I.  —  o  cortejo  civico  organisar-se-lia  nas  ruas  que  circumdam  o  Largo 
de  S.  Francisco  a  começar  pela  do  sul  e  com  frente  para  leste, 
desfilando  ao  meio  dia,  e  ao  signal  d'uma  girandola  de  foguetes. 

II. — As  pessoas  e  carros  que  tiverem  de  compor  o  cortejo  entrarão 
no  Largo  de  São  Francisco  somente  pelas  ruas  da  Esperança  e 
do  Cerco. 

IH.— ORDEM  DO  CORTEJO: 

l.°  —  Banda  da  Sociedade  Rival  das  Musas,  sua  Direcção  e  Só- 
cios, 

i.*^  —  Classe  marítima, 

3.° —Professorado  olíicial  e  particular  d'instrucção  primaria  e 
alumnos. 

i."  —  Professorado  dinstrucção  secundaria,  e  alumnos, 

o.°  —  Redacções  de  jornaes  e  typographos. 

6.*' —  Lavradores  e  camponezes. 

7."  —  Club  Gvmnasio  .Michaelense. 

8."  — Esc(.la  dos  Marlvn-s  da  Palria. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  199 

9/'  —  Banda  da  Sociedade  Promotora  do  Progresso,  Direcção, 
Sócios,  e  escolas  «Victor  Hugo»  e  «Roberto  lvens«. 

10." — Associação,  Corpo  e  empregados  comnierciaes. 

i\.°  —  Classes  laboriosas. 

12." — Associação  dos  Bombeiros  Voluntários. 

13.°  — Sociedade  Recreativa. 

14.°  — Direcção  do  Azyio  de  Mendicidade.  , 

■15.° — Banda  União  Fraternal. 

16."  —  Empregados  e  operários  do  Porto  Artificial  de  Ponta 
Delgada. 

17.°- Clas^se  Militar. 

18.°  —  Governador  Civil,  Relação  dos  Açores,  e  mais  fimcciona- 
rios  públicos. 

19.°  —  Corpo  Consular. 

20."— Junta  Geral  do  Districto. 

21.°  -  Camarás  Municipaes  ou  seus  delegados. 

22.°  —  Camará  Municipal  de  Ponta  Delgada. 

23.°  —  Parentes  de  Roberto  Ivens.  Grande  Commissão  Promo- 
tora das  manifestações  do  povo  michaelense  em  honra 
dos  Exploradores 

24.° — Banda  de  musica  de  Caçadores  n.°  11. 

Os  grupos  2,  4,  5,  6,  7,  10,  11, i2  e  16  são  os  que  se  prepa- 
ram para  apresentar  carros  triumphaes. 

IV. —Para  boa  ordem  e  disposição  do  cortejo  convém  observar  o  se- 
guinte: 

1.°  — As  pessoas  que  composerem  o  cortejo  devem  ir  dispostas 

em  fileiras  regulares  convenientemente  distanciadas. 
2.°  —  As  associações  que  apresentarem  pendão  devem  leval-o 

adiante  da  sua  primeira  fileira. 
3.°  —  Aquellas  que  somente  apresentarem  carro  devem  collo- 

cal-o  na  sua  frente. 
4."  — As  que  tiverem  pendão  e  carro  levarão  em  1.°  logar  o 

pendão,  seguindo-se  a  certa  distancia  o  carro. 
5.°  —  Os  diííerentes  grupos  conservar-se  hão  convenientemente 

distanciados  para  melhor  se  distinguirem. 

V.  —  O  cortejo  percorrerá  o  seguinte  itenerario:  ruas  de  S.  Francisco 
e  da  Trindade,  Praça  do  Município,  onde  receberá  as  vereações 
dos  municípios  michaelenses,  lado  sul  da  Matriz,  rua  dos  Merca- 
dores, largo  de  Camões,  rua  da  Graça  até  á  Calheta,  rua  do  Pe- 
ru, rua  do  Mercado,  e  prolongamento  destas  até  ao  largo  de  S. 
Francisco. 


200  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

VI.  —  Nu  regresso  ao  Largo  de  S.  Francisco  o  cortejo  voltando  sobre 

n  esquerda  spguirá  ein  volta  e  fará  alto  em  frente  da  egreja  da 
Esperança. 

VII.  —  Lida  pelo  presidente  da  Cainara  Municipal  a  mensagem  dirigi- 
da aos  exploradores,  proceder-se-ha  á  sua  assignatura,  e  uma 
girandola  de  foguetes  annunciará  o  fim  do  cortejo. 

VIII.  —  Ficará  exposto  no  mesmo  Largo  o  carro  triumphal  da  grande 
commissão  na  tarde  e  noite  de  29  e  no  dia  30,  bem  como  os  dos 
differentes  grupos  que  assim  o  entendam. 

IX. —  UMA  MARCHA  ALIX  FLAMBEAUX  partirá  ás  7  horas  da  noite 
do  dia  29.  da  Praça  do  Municipio,  acompanhada  de  bandas  mar- 
ciaes,  percorrendo  as  principaes  ruas  da  cidade  e  terminará  no 
Largo  de  S.  Francisco,  onde  haverá  iHuminação,  fogo  do  ar  e 
musica. 

X.— SARAU  THEATRAL.  No  Theatro  Michaelense  haverá  na  noite  do 
dia  30  do  corrente  uma  festa  artistica,  offerecida  por  amadores 
em  homenagem  a  Brito  Capello  e  Roberto  Ivons. 

Na  lorre  do  Paço  Municipal  apparecorá  içada  uma  bandeira  vprmcllia  ás 
10  horas  da  manhã  de  29  se  por  motivo  de  máo  tempo  o  festival  fôi-  addiado 
para  o  domingo  immediato. 


Para  melhor  comprehensão  d'esta  solemnidade,  o  nosso  distincto 
orador  sr.  dr.  Pereira  Athaide,  illustre  Presidente  da  Associação  dos 
Rombciros  Voluntários,  fez  uma  conferencia  historico-geographica,  em 
ires  sessões,  concluindo  no  dia  26  de  novembro.  As  salas  da  Socieda- 
de Promotora  do  Progresso,  em  (]ue  o  C(jnferente  teve  occasião  de  ma- 
nifestar mais  uma  vez  a  facilidade  que  tem  para  expor  altos  conheci- 
mentos ao  Tilcance  de  todas  as  intelligencias,  estiveram  sempre  reple- 
tas de  ouvintes,  na  sua  grande  maioria  artistas. 

Este  brilhante  trabalho  do  sr.  dr.  Athaide  muitissimo  contribuio 
para  excitar  (j  enthusiasmo  nas  classes  que  eram  convidadas  ait  acto  cí- 
vico. 


Em  rasão  do  mau  tempo  não  toi  possível  realisar  o  festival  no 
domingo,  29  de  novembro. 

Addíou-se  para  O  de  dezembro,  o  (jue  se  lez  publico  pela  impren- 
sa nos  termos  (jue  se  seguem: 

A  commissão  do  festival  em  honra  de  Brito  (^•^pello  e   Roberto 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  201 

Ivens,  tendo  em  altenção  (jiie  é  possivel  haver  mau  tempo  nas  primei- 
ras horas  de  domingo  6  de  dezembro,  e  melhorar  de  modo  <jiie  seja 
possivel  desfilai'  o  cortejo  até  ás  2  horas,  faz  publico  o  seguinte: 

í.°  Uma  bandeira  portiigneza  içada  na  torre  dos  Paços  do  Con- 
celho pelas  10  horas  da  manhã,  indicará  qne  o  cortejo  se  realisa  pe- 
lo meio  dia. 

2.°  Uma  bandeira  amarella  içada  a  qualquer  hora  indicará  que  se 
hesita  na  realisação  do  mesmo  cortejo  n'aquelle  dia. 

3."  Se  a  bandeira  amarella  for  substituída  pela  porlugueza  e  su- 
bir ao  ar  uma  girandola  de  foguetes,  o  cortejo  desfilará  uma  hora  de- 
pois. 

4.°  Uma  bandeira  vermelha  içada  á  I  hora  da  tarde,  significa  a- 
diamento  para  outro  dia. 

Se  não  fôr  possivel  realisar  o  cortejo  no  domingo  próximo  eífe- 
ctuar-se-ha  na  segunda  feira,  7  do  corrente,  ou  no  domJngo  13,  repe- 
tindo-se  os  signaes  acima  indicados,  segundo  as  circumstancias  do  tem- 
po. 

.\  marcha  aux  flamheaux,  a  illuminação  e  musica  no  largo  de  S. 
Francisco  terá  logar  na  noite  do  dia  do  cortejo. 

Se  n'essa  noite  o  tempo  não  permittir  a  realisação  d'estas  mani- 
festações, ficarão  addiadas  para  a  noite  immediata,  aliás  não  se  effe- 
ctuarão. 


Não  foi  necessário  o  addiamento.  O  dia  esteve  magnifico  e  todo  o 
programma  foi  desempenhado. 

Os  jornaes  só  no  dia  10  começaram  a  publicar  deseripções  da 
festa. 

Nos  três  dias  anteriores  não  trabalharam  as  otficinas  typographi- 
cas.  Feriaram-se  os  seus  empregados  solemnisando  a  installação  d'uma 
associação  de  classe,  eíTeito  d'esta  consagração  civica. 

As  deseripções  mais  circumstanciadas  encontram-se  nos  jornaes 
Diário  de  Anmmcios,  Novo  Diário  dos  Açores  e  Persuasão. 

E'  a  desta  folha,  numero  1:247  de  16  de  dezembro,  illustrado  com 
um  bello  retrato  de  Roberto  Ivens  pelo  nosso  distincto  artista  titular 
Ex.™"  Sr.  Barão  das  Larangeiras,  a  descripção  que  registamos  por  nos 
parecer  a  mais  completa. 

E'  como  se  segue: 

NO  THEATRO: 

A  nossa  brilhante  e  ampla  casa  de  espectáculos  achava-se  na  noite 
N.*^  45  — Vol.  VIII  -  1886.  2 


202  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

(lu  din  ri  lindamente  ornament.ida  de  galas.  Á  frente  do  proscénio  os 
letratos  d'a(jnelles  que  eram  assumpto  da  festa  em  artística  disposi- 
ção. Nas  linhas  dos  camarotes  escndos  com  os  nome^  dos  mais  conhe- 
cidos exploradores  africanos  e  navegadores.  No  centro  da  I.*  ordem 
—  explendido  trophéo  de  ricas  bandeiras  c  armas  nacionaes. 

Nos  camarotes  correspondentes  a  familia  deste  ilhistre  conterrâ- 
neo. 

Abnndancia  de  flores  e  luz  ;t  farta  a  fazer  resaltar  todas  as  cores 
das  decorações. 

(>amarotes  e  plateias  repletas  de  cavalheiros  e  damas  em  trajos 
de  gala.  Nas  plateias  mais  de  40  senhoras  da  mellior  sociedade  dando 
relevo  ao  numeroso  concurso  de  pessoas  do  outro  sexo. 

A  orehestra  rompeo  com  o  hymno  nacional,  por  todos  ouvido  de 
pé,  e  da  mesma  forma  e  em  seguida  um  hymno  consagrado  a  Rober- 
to Ivens. 

Seguio-se  a  execução  do  programma. 

I.  parte.  Capello  e  Ivens,  poesia  de  M.  A.d'AmaraI,  recitada  por 
Francisco  Serpa,— Dio  comcertante,  de  violino  e  piano  da  opera  Nio- 
be  pelos  srs.  Francisco  e  Joaquim  Barbosa. — A  Gran  duqueza  de  Ge- 
ROLSTEiN  E  O  Barba  Azul  NO  MEIO  DA  RUA.  Opereta  cómica  em  um  acto. 
executada  por  Lopes  d"Azeve"do,  Ferreira  Cordeiro  e  Moniz  da  Ponte. 

II.  parte.  I."  o  Belk,  2.°  Double  trapézio.  3.°  Grupos —  exercí- 
cios por  oito  sócios  do  Club  Gymnasio  Michaelense. 

III.  parte.  Do  outro  lado,  cançoneta  por  Moraes  Pinto,  executada 
por  Ferreira  Cordeiro.  —  Trio  concertante,  de  violino,  violoncello  e 
pianno,  da  opera  D.  Carlos,  executado  pelos  srs.  Francisco  e  Joaíjuim 
Barbosas  e  Francisco  Peixoto  — Uma  poesia  composta  e  recitada  pelo 
sr.  dr.  José  Botelho  Bylei. 

IV.  parte.  As  Mães,  poesia  de  Eduardo  Vidal,  recitada  pelo  snr. 
F.  Serpa.— Pará  as  eleições,  entre  acto  por  Júlio  Cezar  Machado,  de- 
sempenhado por  Lopes  d'Azevedo,  Maximino  Hego  e  Moniz  da  Ponte. 
—Será  reviviscencia?  poesia  recitada  pelo  seu  aulhor,  sr.  Arão  Co- 
lien. 

Execução  de  todo  este  programma  a  mais  correcta  e  perfeita  (pie 
seria  para  desejar. 

Depois  da  2.'  parte  o  sr.  di-.  Júlio  Pereira  proferiu  imi  belh»  e 
conceituosissimo  discurso,  dinua  das  tribunas:  e  do  mesmo  logar,  a 
terminar  (»  espectáculo,  dando  a  nota  da  alta  significação  da  festa  e 
como  que  prei)arando  os  espíritos  para  a  ovação  do  dia  seguinte,  um 
enthusiaslico  discurso  do  sr.  dr.  Pereira  Athayde. 

Aud)os  estes  oradores,  l)em  como  o  sr.  dr.  Bylei,  e  todos  os  ra- 
v.dheiros  (pie  executaram  as  diíTerentes  [)artes  da  soiréi\  foram  sauda- 
dos com  estrepitosas  e  repetidas  salvas  de  palmas. 

Se  houve  defeito  no  espectáculo,  mas  louvável  defeito,  foi  o  du- 
rar seis  horas  sendo  perlo  das  duas  da  madrugada  quando  concluiu. 


ARCHIVO   DOS  AÇORES  203 

Esquecia-nos  iiina  circiiiiisUmcia:  Por  todos  os  camarotes  fijtain  ilislri- 
buiíJas  belias  lylograpliias  <le  ROBERTO  IVENS,  trabalho  du  sr.  Barão 
(las  Larangeiriís,  o  nosso  titdiar  artista,  a  quem  se  ficou  devendo  es- 
ta offerta  galante. 


NA  KUA: 

O  cortejo  civico  organison  se  no  campo  de  S.  Francisco.  Ainda  a 
sua  parte  final  se  não  linha  movido,  e  jã  a  frente  se  achava  a  mais  de 
meio  da  rua  dos  Mercadores.  Comprimenti»  muito  superior  a  um  kilo- 
melro.  em  columna  larga  e  compacta. 

Gastava  mais  de  t2i  minutos  na  passagem  em  andamento  não  va- 
garoso. 

Precedido,  seguido  e  acompanhado  sempre  por  immensa  multi- 
dão, alegre,  satisfeita,  radiosa. 

O  percurso  foi  desde  o  Campo  até  á  Calheta  seguindo  as  ruas  pe- 
rallelas  ao  mar;  e  regressou  ao  mesmo  sitio  pelas  ruas  centraes  da  ci- 
dade. Seguio  as  principaes  artérias  d'esta  grande  população.  Todas  as 
casas  d'este  trajecto  bellamente  decoradas  muitas,  ricamente  adorna- 
das com  bandeiras  e  coixas  preciosas,  e  regurgitando  de  espectadores 
de  ambos  os  sexos. 

O  todo  uma  animação  phantasiosa,  imponente,  indiscriptivel. 

O  préstito  tinha  a  seguinte  coordenação: 

I.  Banda  da  Sociedade  Bival  das  Mv6x>  em  grande  gala,  levan- 
do todos  os  músicos  largas  fachas  em  que  se  lia  em  douradas  letras 

(>APELLO   E  lVEN>. 

Acompanhavam  na  numerosos  membros  da  sociedade. 

II.  Classe  maritima.  Um  grande  troço  de  homens  do  mar  com  um 
formoso  grupo  de  olBciaes  marítimos  vistosamente  uniformisados,  fa- 
zendo honra  a  um  carro  triumphal  figurando  o  mar  com  um  elegan- 
tíssimo e  grande  navio,  armado  a  brigue-escuna,  flamejando-lhe  ricas 
bandeiras,  galhardetes  e  signaes;  arreando  se  lhe  ou  içando-se  lhe  os 
mastareos,  onde  os  fios  telegraphicos  lhe  podiam  impedir  a  passagem. 
Era  tirado  por  duas  magnificas  parelhas,  formosamente  ajaezadas.  Tu- 
do a  expensas  do  sr.  Barão  da  Fonte  Bella,  Jacintho. 

III.  Professorado  official  e  particular  de  instrucção  primaria  e  a- 
lumnos. 

IV.  Professorado  de  instrucção  secundaria  e  alumnos. 

Estes  dois  grupos,  numerosos,  c onslituiam  uma  secção  fazendo 
honra  ao  gakí\o  das  sciencias,  allegorico  e  artisticamente  decorado. 
Os  estudantes  do  lyceo  apresentaram-se  com  um  uniforme  de  que  vão 
fazer  uso  permanente,  vistoso,  modesto  e  económico. 

V.  Redacções  de  jornaes  e  typographos  Estas  duas  classes  eram 
representadas  por  mais  de  (50  indivivjuos.  Faziam  hijura  ao  carro  da 


204  AKCHIVO  DOS  AÇORES 

IMPRENSA,  furmosa  Cdncepção  em  (jiie  liavia  um  prelu  e  muitos  ulensi- 
lios  da  arte  ty[)Ograpliica  em  disposição  triumphal,  ladeado  de  escudos 
cm  que  figuravam  os  joniaes  em  publicação  e  alguns  dos  mais  impor- 
tantes que  já  não  existem.  Na  frente  o  rico  pendão  da  Associação  Ty- 
pographica,  de  selim  e  ouro  expressamente  feito  para  apparecer  n'a- 
quelle  dia.  Todos  os  jornalistas  e  typographos  sobraçando  números  do 
jornal  Ivens  e  Capello,  collaborado  exclusivamente  pelos  jornalistas 
em  actividade,  e  ainda  outras  publicações  apropriadas  á  festa,  que  iam 
distribuindo. 

VI.  Lavradores  e  camponezes—  grupo  de  aldeões  acompanhando 
nm  CARRO  DE  LAVOURA  dccorado  com  todos  os  utensílios  de  lavoura  e 
fructos  da  terra,  encimado  por  Ci»rnncópia  espalhando  flores  e  fructos. 

O  carro  era  circumdado  de  palmas  e  tirado  por  uma  bella  junta 
de  bois  apropriadamente  enfeitada. 

VII.  Club  Gymnasio  Michaeleuse.  Muitos  sócios  acompanhando  um 
bello  e  artístico  carro,  consagrado  á  educação  phisica,  feito  de  todos 
os  aprestes  da  arte  e  tirado  por  cavallos  bem  ajaesados. 

VIII.  Escola  Martvres  da  Pátria,  com  excellente  pendãf»,  levan- 
do o  professor,  muitos  alumnos  e  grande  numero  de  sócios. 

IX.  Banda  da  Sociedade  Promotora  do  Progresso,  sócios  e  esco- 
las ViLTo»  Hugo  e  Roberto  Ivens,  com  artísticos  e  formosos  pendões 
da  sociedade  e  de  cada  uma  d'aquellas  suas  escolas. 

X.  Associação,  corpo  e  empregados  comnierciaes.  Estas  classes 
foram  perfeitamente  repiesentadas,  levando  á  frenta  o  seo  carro  sym- 
bolico  e  vistoso. 

XI.  Classes  laboriosas.  Aqui  ia  um  regimento  de  operários.  Mais 
de  400.  A'  frenta  um  amplo  e  rico  pendão  da  classe.  Depois  um  car- 
ro do  trabalho,  magnifico  e  vistoso,  representando  uma  immensa  co- 
roa glorificando  os  instrumentos  e  productos  das  artes  manuaes  e  me- 
chanicas,  ladeando  o  carro  amplas  almofadas  com  as  estrophes  do 
Hymno  do  trabalho.  Era  tirado  a  duas  bellas  parelhas. 

XII.  Associação  dos  Bombeiros  Voluntários.  Um  gruj)o  numero- 
so de  sócios  uniformisados  fazendo  honra  a  um  carro  consagrado  á 
Fraternidai»e  humana,  que  era  conjuncto  de  riqueza,  de  arte  e  de 
bom  gosto. 

Tiravam-uo  duas  formosas  parelhas  sumptuosamente  ajaesadas, 
guiadas  [)or  quatro  cocheiros  expressa  e  ricamente  fardados  para  es- 
te fim. 

XIII.  Sociedade  Recreativa. 

XIV.  Direcção  e  Asylados,  do  Asylo  dk  Mendicidade. 

XV.  Banda  União  Fraternal,  com  o  seo  novo  e  rico  iiiiilorme. 
acompanhada  de  muitos  sócios  formando  extenso  grupo. 

XVI.  Empregados  e  operaiios  do  Porto  Artificial  de  Ponla  Delga- 
da—  Uma  secção  das  mais  numerosas  com  dois  carros  puxados  por  8 
juntas  de  bois  magníficos,  um  dos  Mergulhadores,  com  lodos  os  a- 


AKCHIVO   DOS  AÇORES  205 

prestos  próprios  para  Irabalfios  submarinos,  e  oulro  conduzindo  uniM 
LocoMovKL.  a  machina  potente  que  tem  mudado  a  faie  ao  mundo  plii- 
sico. 

XVII.  Classe  militar. 

XVIII.  Alto  funccionalismo  admini.strativo.  judicial  e  de  fazenda  e 
mais  empregados  públicos. 

XIX.  Corpo  Consular. 

XX.  Junta  Geral  do  distrito. 

XXI.  e  XXII.  Delegados  das  Camarás  dos  differentes  municípios 
do  districo —Camará  municipal  de  Ponta  Delgada,  com  o  seo  estan- 
darte, indo  também  os  das  demais  camarás. 

XXIU.  Parentes  de  Roberto  Ivens,  Grande  Commissão  Promotora 
das  manifestações  do  povo  micliaelense  em  honra  dos  exploradores. 

Estes  últimos  e  numerosos  grupos  eram  precedidos  pelo  opulento, 
vistoso  e  apropriado  cabko  da  explohação  áfkicana,  todo  decorado 
de  instrumentos  náuticos  e  de  observação  marítima  e  terrestre,  de  es- 
tatuas alegóricas  dos  continentes,  espheras  e  mappa  geographico  afri- 
cano, legendas  com  os  nomes  de  navegadores  e  exploradores  portu- 
guezes,  tropheos  de  armas  verdadeiras  d^Africa,  ornamentado  de  plan- 
tas e  flores  todas  oriundas  d"aquelle  continente. 

Mais  cinco  bandas  de  musica  (ao  lodo  oito)  se  dislribuiam  por 
differentes  pontos  do  cortejo. 


O  percurso  fez-se  sem  o  menor  accidente.  O  tempo  a  principio 
duvidoso  prestou  se  magnificamente  para  isso. 

Depois  de  voltar  ao  Campo  o  cortejo,  os  grupos  das  camarás, 
junta  geral  e  grande  commissão,  entraram  no  kioske,  onde  o  sr.  pre- 
sidente da  camará  de  Ponta  Delgada  leo  na  mais  alta  voz  a  Mensagem 
que  vae  ser  enviada  aos  heroes  que  se  festejavam,  escrevendo  muitis- 
simas  pessoas  os  seus  nomes  em  folhas  de  papel  sobre  mezas  aos  la- 
dos do  campo  e  que  hão  de  unir-se  á  da  manifestação,  para  serem 
offerecidas  em  nco  Álbum  aos  eminentes  exploradores. 

Tendo  se  posto  em  movimento  ao  meio  dia.  eram  3  '/a  da  tarde 
quando  o  cortejo  se  desfez,  constituindo  outros  menos  numerosos  o 
regresso  dos  carros  triumphaes  com  as  suas  respectivas  corporações 
e  musicas  para  os  pontos  de  onde  tinham  saido. 

Á  noite  illuminaram-se  numerosos  edifícios  da  cidade,  houve  illu- 
minação  e  musica  no  campo,  e  percorreo  alguns  pontos  uma  marcha 
aux  flnmhemix  de  mais  de  500  archotes,  musica  e  muito  povo. 

O  effeito  era  surprehendente. 

Ao  entrar  no  Campo  foi  verdadeiramente  pliantastico,  o  quadro 
d"aquella  enorme  quantidade  de  fogachos  por  sobre  as  cabeças  da  mul- 
tidão que  alli  se  apitihava  a  ouvir  musica.  Eram  9  horas  quando  ter- 


206  ARCHIVO  DOS  AÇOHES 

minou.  O  tempo  que  se  tiuha  conservado  ameno  e  bom,  toldou-se  dan- 
do chuva.  Foi  providencial  isto,  pai  a  applacar  a  febre  do  enthusiasmo. 


NA  FA.MILIA: 

Depois  <le  concluido  o  cortejo  o  illiistre  presidente  da  commissão 
sr.  dr.  Ernesto  do  Cíinto,  acompanhado  por  alguns  seus  collegas,  foram 
cimiprimentar  a  família  Ivens. 

Em  toda  era  grande  a  comihoção  jubilosa,  produzindo  extrema 
sensação  o  quadro  duma  senhora  de  8o  annos,  tia  avó  de  Roberto 
Ivens,*  muito  sensibilisada  abraçada  ao  sr.  dr.  Ernesto  do  Canto,  a  a- 
gradecer  por  tal  forma  as  honras  tributadas  águelle  a  quem  a  prendem 
lã(j  Íntimos  laços  de  sangue. 

Em  casa  do  venerável  cavalheiro  sr.  dr.  .José  Pereira  Botelho, 
casado  com  uma  santa  senhora  apparentada  na  familia  Ivens,  não  foi 
menos  c(jmmovedor  o  ijuadro. 

Pôde  ter-se  uma  ideia  delle  figurando  o  homem  que  todos  res- 
peitamos rodeiado  de  familia  numerosa,  que  quasi  se  constitue  de 
creanças  seos  netos  que  lhe  são  formoso  sol  damor  a  dourar  os  dias 
de  sua  decrepitude,  proferindo  naquella  accentnação  que  lhe  é  pecu- 
liar as  phrases  da  ailocução  que  se  segue: 


Meus  Senhores. 

Agradeço  as  vo.ssas  delicadas  attenções,  as  vossas  muito  beut-vo 
las  palavras,  agradeço-vos  por  mim  e  como  representante  desta  fami- 
lia. Acham-se  aqui  reunidas  as  pessoas  que  mais  ile  perto  nos  per- 
tencem, em  cujo  numero  conto  doze  netos  e  mais  do  que  eu  apparen- 
tados  com  um  dos  homens  distinctos  qne  fizeram  a  i'ecenle  travessia 
da  Africa 

Fiz  já  sentir  aos  meus  netos  a  lição  contida  no  esplendido  festival 
deste  dia:  sabem,  portanto,  que  tantas  e  tão  grandes  honras  re()resen- 
tim  um  ponderoso  incentivo  para  cada  (jual  se  esforçar  em  encarnar 
em  si  o  amor  do  trabalho,  applicando-o  em  adquirir  boa  educação  e 
préstimo,  e  mais  tarde  em  alguns  dos  variados  serviços  úteis,  honro- 
sos todos  sempre  que  o  interesse  individual  se  associa  com  o  interes- 
se do  bem  geral,  como  fizeram  Capello  e  Ivens,  os  uuiito  illustres  he- 
roes  da  ultima  ex|)ioração  no  interior  da  Africa. 

Eu  quero  coadjuvar-vos,  ó  meus  netos,  em  quanto  viver,  com  o 
meu  pobre  exemplo,  e  coui  a  minha  [xinco  aulhorisada  palavra,  e  a- 
praz  UR'  allirujar  isto  na  presença  destes  cavalheir  iS,  te^lem^mhas  dis- 
tinctissimas.  Sereis  felizes  se  alcançardes  —  préstimo,  assiduidade  no 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  207 

Iraballh».  foitalesa  de  animo,  Imíos.  amor  da  humanidade,  da  verdade, 
da  justiça  e  da  liberdade,  egualdade  e  fraternidade. 

Acompanliae-me,  mens  netos,  na  expressão  do  n:)sso  bem  senti- 
do agradecimento  a  estes  cavalheiros. 

Viva  a  Grande  Commissão  do  festival  e  o  seu  Digníssimo  Presi- 
dente, que  muito  bem  se  tem  sabido  desempenhar! 

Viva!  Viva!  Viva! 


]N0  LEITO  DO  SOFRIMENTO:  ^ 

O  nosso  bom  e  infeliz  amigo  sr.  dr.  José  Affonso  Botelho  Andra- 
de, hicta  ha  seis  mezes  com  uma  das  enfermidades  das  que  mais  fla- 
gelam a  humanidade.  Poz-lhe  Deus  ao  lado  uma  esposa  benjdita,  mo- 
delo das  e.xtremas  dedicações  da  mulher  no  seio  da  família.  De  cer- 
to, por  isto.  o  seu  grande  e  lucidissimo  espirito,  nem  ao  menos  empal- 
idece nos  contítuiados  e  atrozes  tormentos  phisicos. 

Trouxe  também  á  fe>ta  a  sua  offerenda.  O  valor  aquilata-se-lhe 
tanto  mais,  quanto  é  desolador  o  seu  estado. 

Com  lagrimas  pelos  seus  soíTrimentos  atrozes,  e  sinceros  votos  de 
alma  pelas  suas  melhoras,  lhe  agradecemos  a  carta  e  poesia  que  se  se- 
fi[ue: 


Mm  caro  Supico 

Se  a  Época  ainda  tivesse  uma  redacção  enviaria  aoji>niai  da  im- 
prensa os  versos  que  abaixo  lhe  oíTereço. 

São  a  synthese  de  um  artigo  seu  no  mesmo  jornal:  Ha  nas  nos- 
sas almas  uma  nota  unisona  e  creia  que  não  é  esse  um  dos  meus  me- 
nores desvanecimentos. 

Como  é  provável  ipie  descreva  na  sua  Persuasão  as  festas  explen- 
didas  aos  exploradores,  pôde  approveilar  os  versos  e  esta  carta. 

la-me  passando  pela  malha  o  estabelecer  a  dííTerença  entre  elles 
e  o  seu  artigf»:  é  simples:  o  meu  amigo  escreveu  em  |)rosa  poética  e 
eu  poetisei  em  versos  prosaicos. 

Seu  do  coração 
S.  C.  7/12/85. 

J.  A.  Boti'1/io  Andrade. 


208  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

A  m  TE^DEfl  AS  EXPLORAÇÕES 

(A  Francisco  Maria  Supico) 

Tigres  e  onças  e  leões,  panlheras 
E'  tal  a  raça  humana — us  reis  e  povois: 
Rasgueni-se  ao  mundo  os  horisonles  novos 
Lave-se  a  terra  das  sangrentas  feras; 
E  reis  e  povos  em  fraterno  abraço, 
Sellando  a  paz  universal,  constante. 
Darão  o  nó  que  não  desdà  o  laço 
Que  une  a  Deus  a  humanidade  ovante. 
* 
«      * 
A  festa  michaelense  de  glorificação  aos  beneméritos  Capello  e  Ivens, 
foi,  na  opinião  de  muitos  estrangeiros  illustrados  que  a  presencearam, 
digna  de  qualquer  cidade  de  primeira  ordem  das  outras  nações. 

Influio  para  isso  a  circumstancia  de  ser  nosso  patrício  Roberto 
Itens. 

Uma  das  notas  mais  significativas  d'ella  é  não  se  ter  dado  o  me- 
nor accidente  desagradável,  na  completa  ausência  de  toda  a  policia  ci- 
vil ou  militar. 

E  ainda  não  terminaram  as  homenagens  desta  ilha  ao  seu  com 
patriota.  Falta  a  parte  commemorativa,  a  que  ha  de  ficar,  a  inaugura- 
ção da  Alameda  Liberal.  Será  mais  tarde.  Talvez  fosse  bom  escolher- 
se  para  isso  o  dia  12  de  junho,  anniversario  do  nascimento  de  Rober- 
to Ivens. 

* 

CARROS  TRlliMPHAES 

Damos  descripção  d'alguns  dos  carros  triumphaes  que  se  apresen- 
taram no  cortejo,  conforme  as  notas  que  pudemos  obter  de  cada  um. 
D'aquelles  de  que  as  não  obtivemos  damos  indicações  no  artigo  discri- 
plivo  do  Festival. 

Carro  da  marinha 

{Dedicado  d  navegação) 

Tinha  este  carro  8'", 20  de  comprimento  e  egual  altura  da  base  ao 
tope  dos  mastros  e  r',70  de  bocca. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  209 

Armava  a  brigue  escuna,  e  enbandeirava  em  arco  com  um  com- 
pleto maryato. 

Tinha  tudo  o  que  pertence  a  uma  embarcação  bem  provida.  Pan 
no  enrolado  nas  vergas,  instrumentos  de  observação,  bitacula,  pharoes, 
bóias  de  salvação,  bole,  prumo  de  sondar,  aguada,  camará  de  capitão, 
cosinlia  de  rancho  de  marinheiros,  baldes,  sino,  pipas,  ferros,  corren- 
tes etc.  etc.  A  base  figurava  o  mar. 

Tudo  finamente  acabado,  um  verdadeiro  modelo  de  embarcação 
luxuosa. 

Era  tirado  por  daas  parelhas  de  magníficos  cavallos  ricamente  a- 
dornados. 

O  offerente,  snr.  Barão  de  Fonte  Bella,  Jacintho,  não  desmancha 
este  formoso  navio,  o  que  era  pena.  Foi  photographado  no  sabbado  e 
muita  gente  o  foi  ver  ao  paço  da  Conceição  até  domingo,  em  que  es- 
teve patente. 


Carro  dos  estudantes 

{Consagrado  d  scimcia) 

Era  o  de  menores  proporções,  mas  lindamente  armado,  observan- 
do-se  o  estylo  manuelino  na  sua  architectura. 

Ornamenlavam-no  um  globo,  uma  esphera  armilar,  um  mocho, 
um  craneo  humano,  o  prisma,  machina  hydraulica,  instrumentos  de  phy- 
sica  e  vários  livros. 

Conduzia-o  uma  parelha  de  bonitos  cavallos  garranos,  em  harmo- 
nia com  o  tamanho  do  carro,  e  ladeados  por  dois  cocheiros. 


Carro  da  imprensa 

{A'  civilisação  miiversal) 

Tinha  o  carro  da  imprensa  3  met.  de  comprimento  e  [""jSO  de  lar- 
gura. Em  cada  canto  erguia-se  uma  columna  dourada  encimada  por 
coroa  de  carvalho  e  louro,  natural.  Era  rodeado  por  uma  balaustrada 
composta  de  lyras  azues  e  brancas,  tendo  prezas  nas  suas  cordas  os 
titulos  de  todos  os  jornaes  michaelenses  em  publicação,  e  dalguns  que 
já  não  existem. 

Nos  cantos  da  balaustrada  viam-se  quatro  escudos  com  as  armas 
da  cidade  de  Ponta  Delgada;  havendo  no  meio  delles  mais  quatro,  dois 
com  emblemas  typographicos  e  dois  com  as  estrophes  seguintes: 
N.°  45  — Yol.  Vlll— 1886.  3 


210  ARCHIVO  DOS  AÇORES 


A  Imprensa 

Gullemberg  foi  branda  hiz 
Surgindo  radiante  á  flux 
De  negro  abysnjo  profundo  : 
Mais  brilliante  do  que  o  sol 
Fez  da  imprensa  um  pbarol 
Que  illumina  a  todo  o  mundo  ! 


A  Ivens  e  Capello 

Salve!  salve!  vencedores! 
Expostos  a  mil  rigores 
Vós  podestes  trinmpliar ! 
Tremula  o  pendão  das  quinas. 
E  Portugal— das  ruinas 
Surge  pra  vos  abraçar! 

Estas  sextilhas  foram  feitas  pelo  typograplio  sr.  Manoel  Pereiía 
de  Lacerda. 

Todos  os  escudos  eram  ladeados  por  bandeiras  portuguezas. 

No  centro  do  carro  erguia-se  uma  columna  dourada  de  oO  centi- 
metros  de  circumferencia  e  S^^^GO  dallura,  encimada  por  um  escudo 
representando  as  armas  da  imprensa. 

Do  alto  desta  columna  partiam  umas  fitas  azues  e  branca.'*,  que 
vinham  prender-se  nas  columnas  dos  cantos,  com  estas  legendas  em 
letras  douradas: 

Homenagem  da  imprensa 
Gloria  aos  exploradores 

Roberto  Ivens 

Brito  Capello 

A  meio  da  columna  central  via-se  um  escudo,  também  cnm  as  ar- 
mas da  cidade,  ladeado  por  bandeiras  portuguezas. 

Sobre  o  estiado  do  carro  iam  em  bonita  disposição  um  |»relo  ly 
pographico,  caixas  de  typo,  e  diversos  utensílios  typograpbicos 

Na  frente  do  carro  desfraldava-se  o  lindo  pendão  da  Assucnirãn 
Ti/pographka,  levado  por  um  membro  da  classe  e  ladeado  por  outros. 

O  pendão  é  de  setini  branco  de  mais  de  dois  metros  dalli»  sobre 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  2H 

iiin  de  l.ngo.  lendo  no  centro  em  alto  relevo  sobre  fundo  nznl  e  ver- 
melho bordadas  a  ouro  as  armas  da  imprensa,  e  por  sobre  ellas  a  le- 
genda da  Associação  lambem  em  grandes  letras  douro. 

Fazendo  honra  ao  carro  os  restantes  membros  da  classe  lypogra- 
phica  e  os  redactores  dos  jornaes.  Sobraçavam  todos  exemplares  do 
numero  único  do  jornal  Imns  e  CapeUo,  homenagem  da  imprensa  mi- 
chaelense  em  honra  daquelles  beneméritos,  e  outras  pequenas  folhas 
avulsas,  em  prosa  e  verso,  ailusivas  ao  acto,  <jne  foram  distribuindo 
durante  todo  o  trajecto  do  cortejo. 


( .,-  -'     -  -  -  -  j 

* 


* 


Carru  do  Club  Gymnasío  }lichaelensc 

íA'  educação  physica) 

Este  carro  era  dum  bonito  efteito,  symbolisando  perfeitamente  a 
educação  physica. 

Ao  centro  erguiam-se  em  caprichosa'combinação  os  principaes  ap- 
parelhos  gymnasticos,  taes  como:  parallelas.  escadas,  trapézios,  punhos 
liictantes,  cordas  d  ascenção  de.  à-c,  tendo  por  remate  quatro  escudos, 
nos  ijuaes  se  lia: 

O  Club  Gymnasio  Michaelense 

A 

Roberto  Ivens 

E 

B.  Capello 

e  a  diviza — 

«Me>'S   sana   IN  CORPORE  SANO-> 

elevando-se  ao  centro  um  pequeno  mastro  com  uma  flâmula  azul  e  bran- 
ca. 

O  leito  era  forrado  d'um  rico  tapete  rodeado  de  fazenda  azul  e 
branca.— Na  face  dianteira  levava  um  grande  escudo  e  coroa  represen- 
tando as  armas  de  Ponta  Delgada,  e  nas  outras,  três  tropheus  com  os 
emblemas  da  gymnastica,  musica  e  comedia,  com  as  bandeiras  nacio- 
naes,  —  pendendo  do  mesmo  leito  uma  rica  sanefa  de  setineta  azul, 
branca  e  encarnada,  dum  desenho  de  bello  gosto. 

As  parelhas  que  tiraram  este  carro  iam  ricamente  enfeitadas,  com 
chaireis  de  velludo  azul  com  tarja  e  emblema  da  gymnastica  a  bran- 
co. 

O  estandarte  desta  associação  era  todo  de  seda,  sendo  o  fundo 
azul  e  na  [inrte  superior  uma  sanefa  branca,  vendo-se  no  centro  ura 


212  AhCHlVO  DOS  AÇORES 

escudo  com  as  armas  da  cidade  encimado  por  duas  altas,  —  lendo-se 
na  parte  superior:  Mens  sana  in  corpore  sano,  e  na  inferior:  —  Club 
Gymnasio  Michaelense. 

A  frente  du  edeficio  do  Gymnasio  esteve  toda  embandeirada,  ten- 
do no  centro  as  armas  da  cidade  com  as  bandeiras  nacionaes  e  á  direi- 
ta e  esquerda  dois  grande  medalhões  com  os  bustos  dos  arrojados  ex- 
ploradores. 


Cano  e  pendão  das  Classes  Laboriosas 

{Dedicado  ao  trabalho) 

O  aspecto  do  carro  representava  uma  grande  coroa  em  cima  d'um 
pedestal  fingindo  mármore.  O  pedestal  era  rectangular  medindo  S""  de 
comprido,  I'"80  de  largo  e  0,'"80  de  alto,  guarnecido  pela  borda  supe- 
rior por  uma  grade  fundida  de  O"", 35  de  altura,  composta  de  colum- 
nas,  os  cantos  e  centros  com  suas  pyramides,  tudo  de  ferro  bronzea- 
do. Os  ornamentos  que  enchiam  os  vãos  entre  as  columnas,  também 
fundidos  e  d'um  desenho  de  bom  gosto,  eram  pintados  a  branco  e  a- 
zid  entrelaçados  sendo  os  varões  dourados. 

Três  lados  do  pedestal  eram  divididos  em  oito  almofadas,  nas  quaes 
se  viam  escriptos  em  fundo  branco  e  letras  pretas  e  polidas  as  estro- 
phes  e  coro  do  hynmo  do  trabalho,  de  Castilho,  ideia  do  artista  snr. 
Ignacio  Ribeiro  Alves. 

Nos  intervalos  das  almofadas  e  no  centro  das  grades  estavam  col- 
locados  os  escudos  das  diíTerentes  classes,  representadas  por  algumas 
peças  de  feri-amenta  dispostas  com  elegância  e  pintadas  pelo  artista 
encadernador  sr.  Sequeira.  As  classes  representadas  nos  escudos,  e- 
ram  sapateiros,  alfaiates,  carpinteiros,  serralheiros,  barbeiros,  enca- 
dernadores, pintores,  fundidores  e  a  musica.  O  lado  fronteiro  era  guar- 
necido de  ornamentos  fundidos,  pintados  a  branco  e  azul  e  dourados, 
caindo  em  pingente  até  ao  jogo  do  carro. 

Dos  ângulos  do  pedestal  elevavam-se^quatro  grandes  hastes  de  fer- 
ro bronzeado  de  uma  pollegada  de  grosso,  que  formavam  as  curvatu- 
ras da  grande  coroa,  saindo  do  meio  de  florões  collocados  a  espaços 
nas  grandes  hastes  ;  petpienas  ramificações  encaracoladas  figurando 
quatro  grandes  ramos  d  arvore,  sustentando  nas  pontas  mais  elevadas 
uma  coroa  de  louros  de  O"", 90  de  diâmetro,  matisada  de  lindas  cauíe- 
lias  de  differentes  cores  e  laços  de  fita  de  seda  azul,  sendo  encimada 
á  altura  de  O"™, 50  por  uma  esphera  de  vidro  branco  de  O'", 40  de  diâ- 
metro. 

Abaixo  da  grande  coroa  de  louro  O^^joO  estava  uma  galeria  qua- 
drada de  1"',30  poi'  lado  guarnecida  por  ornamento  de  zinco  fundido, 


ARCHIVO  DOS  AÇOKES  213 

de  goslo  muito  delicado,  pintado  de  branco  e  azul,  douradas  as  folhas 
mais  elevadas,  florões  e  pingentes,  tendo  os  centros  figuras  e  pyranii- 
des  douradas  das  quaes  pendiam  quatro  coroas  de  louro,  camélias  e  la- 
ços de  fita  azul.  Esta  galeria  siistentava-se  nas  ramificações  das  grandes 
hastes  de  ferro  bronzeado.  Debaixo  dos  pingentes  da  galeria  caiam  dos 
quatro  lados  cortinados  com  apanhados  de  festões  pintados  em  trans- 
parentes pelo  sr.  Cândido  José  Xavier,  onde  se  viam  no  centro  as  ini- 
ciaes  de  Capello  e  Ivens  com  duas  palmas  encrusadas,  curvando-se  ca- 
da uma  das  palmas  sobre  cada  inicial.  Nas  curvas  dos  apanhados  das 
cortinas  lateraes  lia  se  em  grandes  letras: 

Homenagem 

e  nas  de  traz  e  frente  lia-se: 

As  artes  reunidas 

Mais  abaixo  preso  nas  ramificações  que  se  seguiam,  lateraes, 
viam-se  dois  quadros  saindo  do  meio  da  coroa  de  louro  com  laços  de 
fita  azul,  onde  se  lia,  no  da  esquerda  Exploradores;  e  no  da  direita 
Capello  Ive/is. 

Entre  os  dois  quadr(js  e  de  pé  sobre  uma  columna  bronzeada 
estava  uma  figura  de  zinco  fundida  e  dourada  e  empunhando  uma 
bandeira  em  que  se  lia: 

Aos  intrépidos 

Sobre  um  pedestal  e  a.>  centro  estava  collocado  um  motor  a  va- 
por da  força  de  dois  cavallos  circundado  por  grupos  de  rodas  de  en- 
grenagem, columnas  de  diíTerentes  feitios,  utensílios  de  fundição  de. 
d-c,  nos  ângulos  viam  se  um  brocador,  uma  serra,  um  serrote  de  cor- 
tar esquadrias,  calandra  de  puchar  solla,  tudo  mechanico,  um  pequeno 
alambique  de  cobre  e  outros  grupos  de  ferramenta,  como  serras.  Ira- 
dos, plainas,  rebotes,  enxós,  marte  lios  d.,  d.,  d. 

Trabalharam  na  construcção  do  carro: 

Fundição  AUiança,  de  (>ruz  d  Moura. 

Fabrica  de  Pregos  Mkhaelense.  dirigida  pelo  sr.  Ignacio  Ribeiro 
Alves. 

Srs.  Manoel  de  Souza  Simões  e  José  Rebello  da  Silva,  Serralhei- 
ros. 

Srs.  Lopes,  pintores:  e  diíferentes  carpinteiros  e  outros  artistas. 

O  snr.  António  da  Ponte  Maia  dirigio  a  construcção  e  enfeite  da 
coroa.  O  plano  geral  é  do  snr.  Gomes  da  Cruz,  fundidor. 

O  pendão  da  classe  mede  l^.SS  por  0"\80  de  largo  em  forma  de 
escudo.  Metade  de  veludo  azul  e  metade  de  veludo  branco.  No  centro. 


214  ARCHIVO  DOS  AÇOHES 

inelatle  das  armas  desta  cidade,  preenchendo  o  resto,  em  grupo,  uma 
serra,  nm  esquadro  e  uni  compasso;  tendo  a  metade  das  armas  do  mu- 
iiicipio  em  veludo  vermelho  e  as  setas  com  um  fundo  de  setim  bran- 
co. 1)0  lado  do  grupo  a  cinta  é  azul  e  o  fundo  branco.  E'  forrado  de 
>etim  còr  de  canário.  As  armas  são  encimadas  por  uma  coroa  de  ve- 
ludo verde  com  mn  malho  entrelaçado.  Por  sobre  as  armas,  em  leiras 
(Touro,  lé-se: 

O  trabalho  é  a  divisa  do  operário 
e  por  hai.xo 

As  classes  laboriosas 

DE 

Ponta  Delgada 

lambem  em  leiras  de  ouro. 

Nos  cantos  superiores,  onde  prendem  t)S  cordões  e  borlas,  uma 
azul  e  outra  branca,  tudo  de  seda,  são  rematados  por  dois  cuvos  dou- 
rados. A  haste  encimada  por  uma  palheta  de  pintor,  dourada.  O  dese- 
nho e  tudo  o  trabalho  do  pendão  é  devido  ao  sr.  Sequeira  e  sua  es- 
posa. 

O  grupo  dos  artistas  levava  para  cima  de  iOO  pessoas. 


(lano  (los  Bombeiros  >oiuiilaríos 

(i'  cor/ fraternidade  humana) 

Base. — Festões  de  azul  celeste  e  ultramarino,  ornados  de  arren- 
dados de  canolilhu  dourad»»,  presos  a  uma  f:ixa  dourada  formando  um 
açafate  repleto  de  camélias  naluraes.  Deslacavam-se  nos  quatro  ângu- 
los as  quinas  porluguezas  abraçadas  por  tropheos  de  seda  das  cores 
nacionaes. 

Peanha. — Forrada  de  amarello  còr  de  canário  sobre  o  que  des- 
tacavam uns  grandes  festões  de  veludo  celeste  ornado  de  rendilhados 
e  franjas  douradas.  Na  frente  e  lados  sobrepunham  li  medalhões  em 
estofo  de  veludo  azul  ultramarino,  lendo-se  no  da  frente  as  datas  da 
lravessia==  188 V  — 1883;  e  nas  laleraes  as  seguintes  legendas. 

Travessia  d'Africa 
De  Mossamedes  a  Quilimane 

A  peanha  encimada  com  seus  medalhões  em  setim  com  as  cores 
nacionaes,  cororido>  de  louro  e  carvalho  enj  folluigem  artificial,  em  que 
se  liam  o.s  nomes  d  .dguns  logares  e  rios  onde  estiveram  os  explora- 


ARCHIVO  DOS  AÇORKS  2  15 

dores,  senúo— inalava,  lacca,  Cuangc,  Cuangn.  Luapaln,  Gaianyanja. 
Sobre  a  peanh;i  adiavam -se  dispostas  diíTe  rentes  {)eças  df»  mate- 
rial da  associação,  taes  como,  a  bomba,  maiigiieicMs.  agtilhelas,  ma- 
chadas, escadas,  escudos,  picaretas,  bóia  de  salvação,  croijiiete.  p(»rla- 
voz,  destacando-se  nos  braços  da  b(»mba  (juatro  galhardetes  de  setim 
com  as  cores  nacionaes,  e  sendo  esta  encimada  com  nm  trophéo  de 
machados,  fechado  poi  nm  capacete  e  pendão  de  setim  azul  bordado 
a  ouro  e  contado  com  louros  e  carvalho  com  franjas  douradas,  tendo 
a  seguinte  inscripção: 

A 
Roberto  Ivens 

E 

Brito  Capello 

os 

Bombeiros  Voluntários 

O  carro,  um  bijou  em  que  a  arte  e  a  riqueza  se  alliavaui.  foi  ti- 
rado por  duas  magnificas  parelhas  di^  cavallos  baios,  com  arreios  de 
polimento  e  ferragem  de  nikel,  guias  de  cordão  azul  com  borlas  da 
mesma  côr.  chaireis  de  paimo  azul  orlados  com  rendilhamentos  dou 
rados  e  penachos  de  fitas  de  seda  das  cores  nacionaes.  As  [>a relhas 
eram  conduzidas  por  quatro  cocheiros  vestidos  de  libré  e  bouet  azul 
agaloado  de  branco. 

Guardavam  a  trazeira  do  carro  dois  bast(»neiros  com  bastões  pre- 
tos e  dourados  e  cordões  e  borlas  azues,  e  fardamentos  de  egual  côr. 

Fazia  lhe  a  guarda  de  honra  mu  piquete  de  Bombeiros  Voluiita 
rios. 

Seguia-se  lhe  a  Direcção  e  mais  membros  da  Associação. 


(laiTO  da  Cirande  Coniiiiissão  promoItMa  do  restívai 

(Consagrado  d  t-xploroção) 

(^arro  de  forma  quadrilonga,  de  três  melros  de  comprido  e  I"M}.') 
de  laigo,  imitando  bronze,  com  ornamentoí;  dourados.  Nos  ângulos 
inferiores  bandeiras  de  diversas  nações  com  dois  escudos  com  as  le- 
gendas, lendo-se  no  direito  os  seguintes  nomes:  D.  Henrique.  Vellm 
Cabral.  Diogo  Cão,  Gonçalves  Zarco,  Silva  Porto,  Lourenço  .Marques. 
F.  de  Magalhães,  Lacerda:  e  no  da  esquerda:  Corte  Heal,  Vasco  da 
Gama.  Serpa  Pinto,  Alvares  Cabral,  Bento  de  Góes,  Barthoiomeii  Dia^. 
Gomes  de  Sequeira,  Anchieta. 

Nos  angjilos  [tosteriores  dois  tr(»pheus  de  esudos  e  armas  africa- 
nas. 


216  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

Sobre  o  carro:  na  frente  o  globo  terrestre  ladeado  d'um  pantome- 
tro  e  um  theodolito  e  por  baixo  um  sextante.  De  cada  lado  figuras  al- 
legoricas  da  Africa  e  da  Ásia.  Ao  centro  figura  allegorica  da  Africa  ten- 
do por  delraz  uma  columna  encimada  pur  um  tropheo  de  bandeiras 
purluguezas,  mustrandu  pela  frente  um  Açor  douradc  rodeado  de  no- 
ve eslrellas  symbolisando  as  nove  ilhas  d'este  arcliipelago,  e  pelo  ou- 
tro lado  o  escudo  das  Armas  de  Ponta  Delgada.  Das  garras  do  Açor 
pendiam  duas  curôas  de  louro  sobre  dois  escudos  suspensos  a  meio  da 
columna,  em  que  se  liam  os  nomes  de  Roberto  Ivens  e  Brito  Capello;  e 
ainda  a  par  d'estes  um  outro  escudo  com  a  legenda: 

Travessia  d' Africa,  1884-1885. 
De  Beng-uella  a  laca,  1877-1880. 

No  ultimo  plano  dois  arautos,  levando  solto  ás  auras  o  mappa  da 
travessia  desenhado  em  setim  branco  de  I™,10  de  altura  e  egual  lar- 
gura. 

Entre  os  ornamentos  do  carro  e  na  parte  posterior  tinha  a  legen- 
da: 

A  Grande  Commissão 
Promotora  dos  festejos 

e  por  baixo  estes  versos  dos  Luziadas  — 

Vereis  amor  da  pátria  não  movido 
De  premio  vil,  mas  alto  e  quasi  eterno; 
Que  não  é  premio  vil  ser  conhecido 
Por  um  pregão  do  ninho  meu  paterno. 

O  chão  do  carro  era  atapetado  por  varias  plantas  naturaes.  oriun- 
das todas  das  regiões  africanas. 

Era  tirado  por  três  bellas  parelhas  vistosamente  ajaezadas,  e  co- 
cheiros correspondentemente  vestidos. 

As  estatuas  valiosas,  os  arautos  de  muito  valor  e  elegância,  as 
armas  africanas  muitas,  variadas  e  verdadeiras,  e  tudo  o  mais  corres- 
pondendo em  grandeza. 


Os  carros  Iriumphaes  acima  descriptos  foram  photographados  pe- 
los artistas  srs.  António  José  Raposo  e  José  Pacheco  Toste. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  ál7 

lidn  p«'^lo  mv.  pr4'')«Mlente  tia  Camará  apóHi  o  re^resMo  do 

c'ort<>Jo  ao  Campo  «te  H.  Francisco*  c  allí  mefimo  asHí- 

l^nada  por  grande  namero  de  pctisoas. 

///."""  ('  E./".'""^  Sr.s.  Hermonegildo  dp  Brito  Cnppth  p  Rohpvto  Ivevs: 

As  CamaiMS  Vlunicipaes  da  Ilha  de  S.  Miguel,  reunidas  extraur- 
diiiariameiíte,  e  perante  um  grande  concurso  de  cidadãos,  vem  con- 
graUilar-se  cumvosco,  e  saudar  vos,  por  lerdes  realisado  com  a  tena 
(•idade,  e  a  (jusadia  |)ropria  do  caracter  portugnez,  uma  das  mais  bri- 
lhantes e  gloriosas  travessias  do  Continente  Africano. 

Nós,  os  habitantes  de  uma  dessas  ilhas  que  foram  desvendadas 
do  myslerio  que  as  envolvia  pelos  audazes  Navegadores  do  XV  sécu- 
lo, nós,  Portuguezes,  que  ao  deixarmos  a  Metrópole,  trouxemos  com- 
nosco,  e  conservamos  piedosamente  no  culto  dos  grandes  aconteci- 
mentos, a  Epopéa  maravilhosa  das  nossas  descobertas  e  conquistas; 
nós  que  sentimos  a  seducção  das  cousas  longitjuas  e  as  tentações  do 
perigo,  na  contemplação  do  Oceano  immenso,  (jue  nos  rodeia  e  amea- 
ça; nós  os  conterrâneos  de  Boberlo  ivens,  rejubilamos  de  enlhusias- 
mo  e  alegria,  ao  vermos  que  a  nossa  geração  alíirma  o  vigor  da  nos- 
sa raça  em  dous  homens,  (jue  sã(j  os  continuadores  das  nossas  tradi- 
ções de  gloria,  que  iniciam  imia  nova  epocha  de  engrandecimento  pá- 
trio, que  ao  trophéo  das  bandeiras  com  que  temos  atravessado  lodos 
os  mares  e  todos  os  continentes,  juntam  mais  uma  -pura  de  todo  o 
egoismo,  iunnaculada  de  todo  o  sangue. 

Quando  no  XV  século  a  alma  porlugueza,  cheia  de  desejos  e  de 
•  renças,  de  aspirações  e  de  sonhos,  se  endjarcou  n'essa  longa  viagem 
do  desconhecido,  desde  esse  momento,  traçámos  um  novo  rumo  á  ci- 
vilisação;  revolucionámos  todos  os  elementos  do  progresso,  conquistá- 
mos para  elle  n  tvas  forças;  e  a  sciencia  e  a  politica,  «j  commercio  e 
a  industria,  a  religião  e  a  arte,  transformaram-se  e  desenvolveram-se 
illuminadas  pela  luz  de  novos  horisonles. 

A  nós  Porluguezes,  temeraiios  e  aventureiros,  coube-nos,  por 
singular  destino,  airancar  ao  mar  o  segredo  das  suas  ilhas;  descobrir 
e  percorrer  as  costas  dos  continentes;  entrar  pelos  sertões;  devassar 
as  florestas;  marcar  o  curso  dos  rios;  pôr  em  communicação  povos 
ignorados:  e,  tornando  o  mundo  maior,  dar  á  humanidade  a  conscien 
cia  de  si  mesma. 

(iom  a  giandeza  épica  dos  nossos  feitos  adormecemos  nas  alluci 
nações  da  gloria,  e  por  longos  se-culos  só  tivemos  [)ara  atteslar  o  nos- 
so podeiio,  o  nome  porluguez  indelevelmente  gravado  por  toda  a  su- 
perfície da  terra,  e  na  memoria  de  todos  os  povos.  Mas  hoje  recobrai!- 

N."  V.j-Vol.  VIII— 1886.  'ir 


248  AfiCHIVO  DOS  AÇOhES 

do  as  antigas  virtudeb',  mostramos  ás  Nações  civilisadas  que  o  traba- 
lho e  as  aspirações  da  vida  moderna  também  nos  inflammam.  que  ain- 
da vamos —  .... 

ledos  ....  por  varias  vias 

Dando  os  corpos  a  fomes  e  vigias, 
A  ferro,  a  fogo,  a  seitas  e  pelouros, 
A  quentes  regiões,  e  plagas  frias, 
A  golpes  de  Idolatras  e  de  Mouros, 

6  aos  peiigos  incógnitos  do  mundo  ; 
e  que  boje  como  outr'ora  ousados,  e  generosos,  soubemos  servir  a  Pá- 
tria e  a  Sciencia,  com  a  coragem  e  abnegação  que  fulgem  nas  pagi- 
nas da  historia. 

Sala  das  sessões  da  Camará  Municipal  de  Ponta  Delgada  29  lU 
Novembro  de  1885. 


Este  documento  foi  escripto  em  primorosíssima  caligrapbia  pelo 
sr.  José  Tavares  Carreiro. 

As  suas  primeiras  assignaturas  foram  as  dos  dignos  vereadores 
do  município  de  Ponta  Delgada  e  as  dos  representantes  dos  dernais  dn 
ilha. 

Depois  muitissimas  mais  e  entre  ellas  as  do«;  mais  iiualificados  ca 
valheiros  e  altos  funccionarios. 


AHCHIVO  DOS  AÇORES  2  19 

AGRADECIMENTO 

Eii)  ciu  t;i  particular  ao  si .  <lr.  Ernesto  fio  Canlo,  escreveu  Hober- 
to  Ivens: 

35  —Rua  íla  Quintinha — Lisboa  o  de  Fevereiro  de  1885. 

Ea-."""  Sr.  Ernesto  do  Conto 

As  linhas  (jue  tomo  a  liberdade  de  enviar  a  V.  Ex.^  servirão  sim- 
plesmente para  accusar  a  recepção  do  delicado  oíTicio  que  V.  Ex.*  se 
dignou  remelter  n'os  com  as  photographias  dos  carros  triumphaes  que 
entraram  no  coitejo  civico,  realisado  n'essa  cidade  em  commemoração 
da  nossa  tiavessia,  e  nunca  para  exprimir  o  meu  profundo  reconheci- 
mento pela  prova  de  alta  consideração  que  acabo  de  receber  d'aquel- 
les,  de  quem  tanto  me  honro  de  ser  patrício. 

A  funda  impressão  que  me  domina,  Ex.'"°Sr.,  nem  pode  traduzir- 
se  nos  estreitos  limites  de  uma  carta,  nem  deve,  attenta  a  grandeza 
do  facto  que  a  inspirou,  ficar  escondida  euti'e  as  duas  laudas  de  uma 
fiiissiva  singella. 

(>arece  ir  a  descuberto  e  no  conhecimento  de  todos  por  sobre  o 
Atlântico  até  essa  tão  attrahente  terra,  e  em  documento  oííicial  de  per- 
manente caracter,  ahi  evidenciar-se  como  tributo  aos  nobres  sentimen- 
tos que  a  inspiraram. 

A  Sociedade  de  Geographia  de  quem  solicitámos  este  espinhoso 
encargo,  Ex."""  Sr.,  vae  breve  delle  desempenhar-se,  enviando,  firma- 
da por  seu  presidente  e  secretários,  a  expressão  do  nosso  sentir  .    . 

tenho  a  honra  de  me  assignar  de  V.  Ex.*  respeitador  e  creado 

Roberto  Ivens. 


220  ARCHIVO  DOS  AÇORES 


Sociedade  de  (jieo,<>rapliia  de  Lisboa 

.^gradeeimonlo  aoM  micliaelensies  V'tn  nome  «lo8  e.iLpIora- 
radores  Capello  e  l%enA 

...  Sr. 

ProíunílHnienlf  comiiiovidos  pelas  hoiirusissimas  manifestações 
que  receberam  (l(t>  habitantes  dessa  nobre  cidade  e  do  resto  do  Ar- 
chipelago  Açoriano,  os  nosS(»s  beneméritos  consócios  srs.  Hermenegil- 
do de  Brito  (lapello  e  Roberto  Ivens.  de>ejani  na  sna  muita  niode>fia, 
(|ue  a  Sociedade  de  Geographia  de  Lisboa  seja  a  interprete  da  grati- 
dão de  (|ue  se  acham  possuidos  e  que  jidgam  não  poder  dignamente 
exprimir,  para  com  os  noí.sos  exm."*  consócios,  a  Imprensa,  as  Cor- 
porações e  os  niais  cidadãos  d'essa  parle  tão  distincta  e  sempre  tão 
patriótica  e  generosa  da  nação  portngueza. 

(>um[irindo  gosto>amente  este  desejo,  dos  illnstres  exploradoies, 
e  sentindo  como  elles  que  a  palavra  não  possa  e.xpiimir  toda  a  inten- 
sidade e  elevação  dos  sentimentos  que  aquellas  manifestações  sjigge- 
riram  não  só  no  animo  commovido  dos  que  tiveram  a  fortuna  de  as 
merecer,  n»as  no  de  títdos  os  membros  d"esla  Sociedade.  —  solicitamos 
a  dedicação  de  V  .  . .  para  que  na  qualidade  de  nosso  consócio  e  accei- 
tando  a  de  representante  da  Sociedade  de  Geogra[ihia  de  List)oa  se 
sirva  em  nome  d'ella  e  dos  srs.  Capello  e  Ivens,  tiaii>mittir  [tela  for- 
ma que  tenha  por  melhor  os  agiadecinientos  dVlles  e  as  nossas  c(.ii- 
gratiilações  á  briosa  população  açoriana  e  ás  corpítraçõe.-»  e  cavalheiros 
que  nessa  cidade  e  no  resto  do  Archipelago  se  associaram  áqjiella> 
manifestações. 

Queira  V..  .receber  os  protestos  de  alta  consideração  v  estima 
desta  Direcção. 

Deos  Guarde  a  V  .  .  . 

Sociedade,  4  de  feverein)  de  188C. 

.  .  .  Sr.  Ernesto  do  Canto,  digníssimo  sócio  CundMdnr  tia  .'^ocie- 
dade  de  Geogra[)hia  de  Lisboa. 

o  l"r«'«iíl«'nl«* 

António  Augnsht  <t  Aguiar. 

Ou  derreta rioi» 

Ln(iaf40  donh-iro. 

J.  P.  DiiHfd  Vatroin'  .Inuior. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  2íá  | 

distribuídos  pelos  jornalistas  durante  o  cortejo  civico 


IVENS  E  CAPELLO' 

Homenagem   da   Imprensa   M ichaelense  no  festival  de 
Ponta  Delgada  em  honra  d'estes  Beneméritos 


RoLerto  Ivens 

Nítsceu  pste  illn>.tre  niicli;»elení>e  .«  12  (ie  jimlio  de  1850.  ri;i  ci- 
dadt'  (lp  Ponta  Delgada,  na  nia  d(»  Mpíh  da  fregiiezia  de  S.  Pedio. 

K>las  circnmstancias.  (|ne  são  conliecidas,  rorroborain-se  c'(tin  as 
informações  dadas  por  sen  pae  o  si'.  Roberto  Brekespere  Ivens,  ao 
sr.  dr.  Henriqne  Ferrenha  de  Paula  Medeiros,  de  qnem  é  primo  e  c«tm- 
padre,  em  carta  de  líi  dOutubro  de  188o,  pelas  seguintes  palavras: 

«Noto  que  desejam  saber  na  ilha  qual  a  casa  em  (jue  o  Roberto 
nasceu.  A  rua  cliama-se — Bua  do  Meio  e  a  casa  de  (lymbron  faz  es- 
quina {)ara  ella,  mas  o  numero  e  nome  do  dono  ignoro.» 

O  registo  civil  do  seu  nascimento  é  o  do  termo  n."  1:228  exarailo 
a  folhas  1:^7  do  livro  4."  do  registo  de  nascimentos  da  fn*gue/ia  de 
S.  Pedro  d  e.>ta  cidade  de  Ponta  Delgada. 

No  livrít  n.*'  íi  a  fctlhas  114  dos  termos  de  baptismo  ilo  Arcliivo 
da  egreja  de  Nossa  Senhoi-a  da  Oliveira  da  freguezia  da  Fajã  de  í'ima. 
está  o  terruí»  do  baptismo  religioso  de  Roberto  Ivens,  ipie  teve  logar 
a  7  d'agoslo  de  1850.  Foi  lavrado  pelo  revd.°  José  Miguel  Borges,  sen 
do  padrinho  o  sr.  José  Bebello  Cítrdeiro. 

A  familia  Ivens  começou  em  San  Miguel  em  fins  d(»  século  passa- 
ílo  na  pessoa  do  sr.  William  Ivens,  natural  de  Swinbrooke,  Oxfordsliire. 
Inglaterra,  o  qual.  alliando-se  a  duas  irmãs,  Izabel  e  Maria  Anna  Hi- 
ikling,  foi  Ironco  de  todos  os  Ivens  michaelenses.  aclualmenle  disf>er- 
sos  pela  Europa  e  pela  America. 

Roberto  Ivens  euibarcftu  d"esta  ilha  para  Lisboa  com  >^u  irmão 
Kduardo  em  agosto  de  1858.  Para  elles  tirou  passaporte  na  adminis- 
tração deste  concelho  seu  tio  Thomaz  Ivens,  aos  12  d'agosto  d  aipiel- 

(•I  Numero  único  dum  jornal,  de  quati'o  papinas  ^liiiidcs  e  (|u;itn)  {'oluni- 
iia»  |)oi'  pagina,  tendo  a  primeira  lies  columnas,  liiula  cerrndura  e  tbrniosas  vi- 
nlicla?  aos  cantos,  e  todo  nitidamente  impresso. 


222  ARCHIVO  DOS  AÇOBES 

Ití  Hiiuo.  Deo  se  a  Roberta  no  registo  a  edaile  de  7  annos  mas  tinha 
ciilão  8  e  dois  tiiezes. 

Sen  pae  linha  tirado  passaporte  para  sair  da  ilha  em  20  de  ju- 
nho de  1857.  Neste  docnmento  designa-se  lhe  o  estado  de  casado,  a 
edade  de  35  annos  e  a  ijnaiidade  de  negociante  britannico.  Era  sua 
esposa  a  sr.*  D.  Luiza  Borralho,  de  23  annos,  natural  do  Fayal,  filha 
d  um  medico  dislincto  d'aquella  ilha,  desde  njuito  estabelecido  em  S. 
Miguel  onde  falleceu. 

A  sr.^  D.  Luiza  liion  o  passaporte  numero  13:285  na  adniinistra- 
ção  do  concelho  desta  cidade,  em  22  de  setembro  de  1857,  para  se 
eujliarcar  com  seu  filho  Arthnr  de  dois  annos  de  idsde.. 

Roberto  Ivens,  pois,  nasceu  e  creou-se  na  cidade  de  Ponta  Delga- 
da até  depois  dos  oito  annos. 

Kònios  tão  n)inuciosos  nestas  circnmstancias  para  que  de  futuro 
não  possa  haver  duvidas  sobre  a  naturalidade  deste  benemérito  da  pá- 
tria. 

Ha  aqui  diííerentes  pessoas  que  foram  seus  condiscípulos  no  es- 
tiiíid  de  primeiras  lettras.  Denominavam-no  na  escola  —  Roberto  do 
Diabo — em  rasão  da  sua  travessa  vivacidade.  Eram  as  juvenis  re- 
velações da  sua  individualidade  ousada  e  intrépida,  da  sua  compre- 
liensão  fácil  e  da  presteza  e  correcção  com  que  lhe  acode  a  phrase. 

Para  ullimo  toque  da  sua  biographia  em  S.  Miguel,  aproveitamos 
amda  da  caita  já  referida,  dirigida  ao  .sr.  dr.  Paula  Medeiros,  o  que 
se  segue: 

«A  maneira  lisongeira  pela  qual  elle  tem  sido  recebido,  tem-me 
dado  a  mim  e  aos  meus  muito  prazer  e  alegria;  e  o  primo  também 
deve  partilhar  isso  ponjue  também  tem  parle  ahi,  pelos  conselhos  que 
me  deu  quando  o  Roberto  nasceu,  pelos  quaes  consegui  o  fim  que 
desejava  e  a  que  eu  estava  completamente  alheio.» 


O  homem,  o  já  agora  inunorlal  explorador  africano,  tem  sido  nos 
últimos  tempos  biographado  por  quasi  todos  os  jornaes  do  paiz. 

Daremos  aipii  as  notas  principaes. 

Assentou  praça  como  aspirante  de  guarda  marinha  em  22  dou- 
tubro  de  1807. 

(Concluiu  o  curso  da  arma  em   1870  e  a  4  doutidjro  do  mesmo, 
anuo  foi  protnovido  a  guarda  marinha. 

Passou  a  segimdo  tenente  em  7  de  julho  de  1875  e  a  primeiro 
leiíente,  sem  prejuiso  dos  officiaes  mais  antigos  da  sua  classe,  em  20 
de  junho  de  1877,  por  estar  nomeado  para  a  sua  primeira  exploração 
africana. 

Não  tem  tido  ócios  desil^"  que  concluiu  o  cinso. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  223 

Eli)  1870  eiiibarcon  como  as(»iranle  para  a  Itidia  na  corvi  ta  Ks 
tephania. 

Quando  voltou,  já  guarda  marinha,  apenas  esteve  em  I..i>boa  >eis 
dias,  partindo  logo  para  Angola  na  corveta  Duque  da  Terceira.  Alli 
andou  no  criiseiro,  na  estação,  [)ercorrendo  na  canhoneira  Hio  Minhn 
e  na  escuna  Napier  todos  os  pontos  importantes  da  costa,  desde  .Mo>- 
samedes  até  San  Thomé,  onde  estava  em  1871  quando  o  tianspotte 
Martinho  de  Mello,  pas^sando  alli.  o  trouxe  a  Portugal. 

N'este  espaço  de  tem[)o  prestou  importantes  >erviços  no  Congo 
e  em  Cabinda. 

No  mesmo  anno  de  1874,  já  como  segundo  tenente,  embarcou  na 
corveta  Duque  dn  Terceira  e  foi  a  S.  Thomé.  d"alH  ao  Pará.  Pernam- 
buco, Rio  de  Janeiro  e  Montevideo. 

Em  março  de  1876  regressou  a  Lisboa,  partindo  logo  em  abril 
seguinte  para  os  Estados-Unidos  a  bordo  do  transporte  Índia,  que  alli 
foi  em  com  missão. 

Em  1876  desempenhou  também  uma  commissão  de  serviço  ik» 
mar  da  America  do  Sul.  Quando  dalli  V(»ltou  delineava-se  o  plano 
duma  exploração  scientifica  no  interior  da  Africa.  Hoberlo  Ivens,  in- 
ílammado  por  esta  ideia  foi  logo  oflferecer-se  para  tomar  i)arte  na  ex- 
pedição. 

Como  se  demorasse  a  execução  deste  plano  e  não  sendo  [taia  a 
ociosidade  o  seu  temperamento,  pedio  para  ir  para  a  Africa  servir  na 
estação  de  Angola. 

Estava  lá  em  1877  quando  a  expedição  coujeçou  a  organisar-se 
com  rapidez.  Roberto  Ivens,  sabendo-o,  pedio  logo  passagem  para  Li> 
boa  para  se  reunir  a  Capello  e  Serpa  Pinto  e  seguirem  juntos  a  pro- 
jectada exploração. 

Quando  chegou  não  encontrou  já  os  companheiros,  que  tinham  par- 
tido a  5  de  junho  d'aquelle  anno  de  1877.  Ivens  a[»ortou  a  Lisboa  a  1 1 
de  julho  e  tão  rapidamente  se  apromptou  que  a  8  dagosto  partia  a 
juntar-se  aos  companheiros  em  Loanda. 

Em  1880  estava  de  volta  em  Portugal  com  Brito  Capello. 

Os  estudos  que  fizeram  na  vasta  provincia  d'Angola,  os  subsídios 
que  trouxeram  á  sciencia,  congregaram-lhe  universalmente  as  symi>a- 
Ihias  dos  homens  illustres  e  deram  grande  nome  a  Portugal. 

Serpa  Pinto  aíTastou-se  dos  companheiros  e  fez  uma  das  mais  ar 
rojadas  travessias  africanas.  Capello  e  Ivens  procuraram  ser  úteis  noií- 
tra  ordem  de  explorações. 

O  livro  que  escreveram  dando  conta  d*e^ta  viagem  merecetj  (»> 
lauréis  das  mais  celebres  sociedades  de  geographia  do  estrangeiro,  co- 
mo já  por  ellas  tinham  sido  calorosamente  saudados  os  seus  authores. 
nas  exposições  verbaes  em  que  fizeram  a  narração  de  sua  viagem  pu 
ramente  scientiflca. 

Em  setembro  d  este  anno  regressaram  os  dois.  Capello  e  Ivens. 


224  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

íla  travessia  que  fizeram  alravez  de  mil  perigos,  traçando  um  cimiiniio 
commercial  de  Ln;uida  a  Aloçambiíjue,  ua  extensão  de  i:oOO  milhas,  a 
terça  parle  da  qual  atravessando  regiões  totalmente  desconhecidas. 

Liga->e  tão  alta  significação  a  este  facto,  (pie  o  mundn  inteiro  ap- 
plandio  ariienlemente  os  valentes  que  o  realisaram  e  tem  dispensado 
as  mais  subidas  honras  á  pátria  destes  heroes. 

A'  ex[>ressão  scientifica  do  facto  associa  Portugal  uma  alta  signi- 
ficação politica.  Respondeu  nobremente  aos  desdéns  com  (]ue  foi  trata- 
d()  o  fíosso  paiz  na  conferencia  de  Berlim  o  anuo  passado. 

Por  isso  a  nUnA  nacional  se  exaltou  em  amoraveis  expansões  re- 
cebendo triuuiphalmente  os  dois  que  com  tanianho  arrojo  e  brio  a  le- 
vantaram nos  escudos  da  admiração  universal. 

«Beijemos  lhe  as  mãos  eu)  nome  da  pátria» 

escreviau)  os  mais  distinctos  jornalistas  continentaes  na  véspera  de  sua 
chegada  a  Lisb>a,  e  acrescentavam: 

«Ensinemos  os  seus  nomes  illustres  aos  mais  obscuios  sertaiie- 

jos». 

Roberto  Ivens,  o  michaelense  immoital,  e  Brito  Capello,  seu  glo- 
I  itiso  companheiro,  são  o  assumpto  da  festa  mais  apparatosa  e  mai^ 
significativa  que  se  tem  visto  em  Ponta  Delgada.  E  de  consagração  da 
gloria  dos  dois  beneméritos! 

Roberto  ivens  neste  momento  histórico  e  uma  das  celebridades 
em  que  mais  se  fixam  as  attenções  do  Uiundo. 

Mais  do  que  o  mundo  o  devemos  fixar  nós.  seus  irmãos  pelo  san- 
gue, pelas  crenças,  pela  pátria  e  [)elo  amor. 

Demonstramo-nos  dignos  deste  estreito  parentesco. 

A  ilha  de  S.  Miguel,  ufana  e  reconhecida,  abraça  o  seu  lieroe,  af- 
firma-lhe  a  gloria  e  saúda 

Roberto  Ivens 

Fnnuisfo  Maria   Sufrico. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  225 


Briío  Capello 


Ao  nome  de  Roberto  Iven>  anda  intimamente  ligado  o  de  Brito  Ca- 
|)ello.  Os  dois  cumo  que  constituem  uma  só  individualidade. 

Nã<i  nos  permittindo  o  espaço  falar  de  Capello  com  a  devida  lar- 
gueza, daremos  da  sua  biographia  os  mais  concisos  traços. 

Nasceu  Hermenegildo  de  Brit(j  Capello  em  1839  em  Almada. 

Assentou  praça  de  aspirante  a  guarda  marinha  em  28  de  setem- 
bro de  1853. 

Estudou  distirictamente  as  cadeiras  da  Escola  Polytechnica  n'aguel- 
le  tempo  incluídas  no  curso  geral  da  arma  de  marinha. 

Concluindo  o  curso  da  Escola  Naval  foi  promovido  a  guarda  ma- 
rinha em  20  de  junho  de  1861.  Passou  a  segundo  tenente  graduado 
em  janeiro  de  1802,  e  a  effectivo  em  dezembro  de  1863.  Em  março 
de  1874  foi  promovido  a  primeiro  tenente;  e  a  capitão-tenente  em  1877, 
sem  prejuiso  dos  oíTiciaes  mais  antigos  da  sua  classe,  por  ser  nomeado 
para  a  sua  primeira  exploração  africana. 

Teve  mais  quatro  irmãos  todos  muito  distiuctos. 

Félix  Capello,  já  fallecido,  foi  naturalista  qualificado.  São  muito 
íjotaveis  os  seus  trabalhos  sobre  a  fauna  portugueza,  publicados  pela 
Academia  Real  das  Sciencias. 

João  Capello,  é  director  do  observatório  do  Infante  D.  Luiz.  Tem 
nome  muito  respeitado  fora  do  paiz.  Nos  congressos  e  conferencias 
meteorológicas  tem  representado  um  papel  extremamente  honroso  pa- 
ra elle  e  para  a  nação. 

Guilherme  Capello.  é  um  de  nossos  primeiros  ofíiciaes  de  mari- 
nha, e  no  desempenho  de  importantes  commissões  tem  sobremodo  il- 
lustrado  o  seu  nome. 

Augusto  Capello,  o  mais  novo,  também  meteorologista  eminente, 
por  amor  da  sciencia,  condemnou-se  a  viver  na  solidão  dos  píncaros 
da  Serra  da  Estrella,  em  modesto  observatório  para  estudar  o  clima 
d'aquella  região. 

Hermenegildo  Capello,  é  um  espirito  por  egual  temperado  para 
as  grandes  luctas  dos  tempos  modernos  e  para  os  árduos  trabalhos  de 
investigação  scientiflca. 

Como  oííicial  de  marinha  valente  e  hábil,  conhecedor  de  toda  a 
sciencia  da  sua  profissão,  ninguém  o  vè  trepidar  perante  o  inimigo  ou 
perante  a  furla  do  mar.  Sempre  o  mesmo,  qualquer  que  seja  a  situa- 
ção a  que  o  chame  o  dever. 

Homem  de  aturado  estudo  no  gabinete,  possue  vasta  erudição  nas 
sciencias  phisico-naluraes,  nas  mathematicas,  nas  geographicas  e  noií- 
tros  ramos  do  saber  humano. 

Tem  passado  na   Africa  o  melhor  do  seu  tempo,  preferindo  os 

N."  4o— Vol.  YIIl— 1886.  .> 


226  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

itiCíimiiiodus  díiís  yrílnas  conrimissues  alli,  ao  viver  tianquillo  da  Eu- 
ropa. 

É  um  dos  qiie  mais  serviços  lem  prestado  no  Coiíliiienle  Negro. 

No  artigo  em  que  se  trata  de  Robeito  Ivens  se  f;izem  referencias 
a  factos  commim>  aos  dois.  e  ipie  completam  o  r;i[)i(lo  quadro  biogra- 
phico  de  Brito  Capello. 

Francisco  Maria  Sifpico. 


Bento  de  Góes 

Hoje  que  na  cidade  de  Ponta  Delgada  se  expandem  os  vivos  s»  n- 
timentos  de  admiração  e  enthusiasmo  dos  micliaelenses  pelos  arroja- 
dos e  brilhantes  feitos  de  \,m  seu  illustre  filho,  não  será  lóra  de  pro 
posito  rememorar  em  brtvissimos  traços  os  notáveis  feitos  doutro  mi 
chaeit  use  benemérito. 

pode  a  pequena  ilha  de  S.  Migu»  I  ufanar-se  de  ter  sido  mãe  de 
dois  notáveis  e  mui  distinclos  exploradores.  Bento  de  Góes  no  século 
XVU,  Roberto  Ivens,  no  actual! 

É  tão  restiicto  o  numero  das  celebridades  desta  espécie,  que  S. 
Miguel,  eui  i elação  á  sua  população,  pôde  consideiar  se  como  a  mai.s 
bem  favorecida  na  partilha. 

Ríberto  lven>  atravessou  a  Africa,  Bento  de  Góes  a  Ásia!  Ambos 
porém  lev.mtaram  o  espesso  véo  (jue  envolvia  aijuclles  contiuente>, 
resolvendo  problemas  de  grande  alcance  scientifico!  Um.  armauo  de 
modernos  instiumentos  e  de  a|>ropriada  instriicção,  o  outro  de  zelo  e 
fé,  caminharam  denodados  atravez  de  mil  perigos,  percorrendo  amb«is 
a  n)esma  distancia.  4:00í)  kilometros! 


* 
* 


Bento  de  Góes,  tendo  nsscidn  em  Villa  Franca  do  Campo.  j)rin- 
cipal  povoação  de  S.  Miguel,  por  \l)ia:í,  passou  em  veides  ânuos  á 
Índia  em  cata  de  aventuras,  (jue  o  seu  animo  irrequieto  lhe  impunha. 

No  serviç(»  miitar  passou  t(  rmentosa  mocidade,  até  que.  coFitri 
cto  e  arrependido,  se  fez  coadjuhir  lem[)oral  da  companhia  de  Jesus. 
e  n'esta  qualidade  prestou  um  relevante  SfMviço  a  Portugal,  dissuadiu 
do  o  Gran-Mogol  de  proseguir  no  intento  de  expfllir  os  porluguezes 
das  possessões  da  índia.  Não  foi  porém  est»'  o  feito  principal  da  sua 
vida.  Outro  mais  im[)ortante  lhe  f*>i  confiado— o  de  atravessara  índia 
até  ás  fronteiras  da  Gliina.  Escolhido  por  seus  superiores,  atteuta  a  sua 
inteiíeza  de  caracter,  provado  talento  e  ]»erfeito  couhecimentn  da  lin 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  227 

goa  persa,  .ilern  do  rlole  especial  do  captar  a  benevolência  d'a(|uelles 
com  quem  (lacl.iva,  parliu  Bento  de  Gocs  disfarçado  em  neg(íciaiile  ar- 
ménio. Salil »  »le  Agra  em  oaliibru  de  1602  e  de  Lahore,  capital  do 
(iran  Mogol,  em  Ij  de  fevereiro  do  atmo  de  1603,  incorporado  n'ii- 
ma  grande  caravana  de  mercadores.  Longa  foi  a  viagem. 

Só  seis  mezes  depois  cliegon  a  (>abon[.  ten  lo  padecido  muito  a- 
travez  das  frias  montanhas  do  Himalaya,  sendo  de  imminente  perigo 
de  sua  vida,  se  os  fanáticos  companheiros  descobrissem  a  sua  religião! 
Prosegnindo  na  viagem  por  paizes  inhospitos,  experimentando  toda  a 
espécie  de  contrariedades,  ora  abrindo  passagem  por  meio  das  armas, 
ora  despojado  de  todos  os  haveres,  só  em  1605  chegou  á  grande  mu- 
ralha da  (Ihina  e  ptuico  depois  á  cidade  de  Sou-tcheou,  aonde  contava 
receber  licença  para  ir  a  Pekin,  que  debalde  esperou  quasi  em  capti- 
veiro,  até  que,  exhausto  de  forças,  perdeu  a  vida  aos  11  d'abril  de 
1607.  Poucos  momentos  antes  é  que  recebeu  a  visita  de  um  seu  con- 
frade, enviado  de  Pekin  pelo  p.^  Ricci  para  o  conduzir  áquella  capital. 

A  importância  desta  viagem  só  se  pôde  bem  avaliar,  transcreven- 
d()  as  palavras  do  sábio  geographo  alemão  Karl  Ritler,  o  qual  diz  de 
Bento  de  G(ies:  n  encarregado  heroím  da  difficH  missão  de  abrir  o  ca- 
minho continental,  eotão  de  todo  desconhecido,  da  índia  ao  Calhayo  por 
Caboiíl,  Kachgar,  Yeiken,  Aksu  e  Khamil  (Hami)  .  .  .  caminho  notável 
i/ite  explorou,  mas  que  até  ha  pouco  não  fora  ainda  devidamente  com- 
prehendido  e  explica  lo». 

Para  mais  amplas  noticias  d  esta  notável  expli>ração,  remetlemos 
os  leitores  para  o  —  volmne  II  do  Archivo  dos  Açores,  paginas  196 
e  seguintes. 

Ernesto  do  Canto. 

(Pelo  Archivo  dos  Açores). 


Poema  novíssimo 


llysses  sulcando  os  mares  de  Ithaca  a  Tróia,  de  Tróia  á  ilha  de 
Circe,  d  esta  á  de  Calypso,  e  naufragando  por  junto  da  dos  Cyclopes, 
inspirou  a  Homero  o  primeiro  e  o  mais  assombroso  dos  poemas. 

Eneas.  lavrando  as  ondas  de  Tróia  ao  Lacio,  evitando  as  syrtes 
para  ir  fundar  o  reino  que  dominou  o  mundo  siiggeriu  a  Virgilio  o  li- 
vro de  encantos  chamado  Eneida. 

Vasco  da  Gama,  abalançando-se  a  mares  desconhecidos,  dobran 
do  o  Cabo  das  Tormentas,  dando  á  pátria  novos  empórios,  persuadiu 
a  (^lamões  o  poema  dos  Lusíadas  arca  santa  do  amor  da  [latria  do  mais 
leal  [iorluguez. 


228  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

D'anles  con  ia-se  o  risco  de  encantamentos  e  magias  dos  descan 
tes  das  sereias,  dos  gigantes  devoradores,  de  Scylla  e  Carybedes,  do- 
naires lie  Calypsos  e  ferocidades  de  Adamastores:  tudo  quanto  creou  a 
imaginação  humana  aclia-se  hoje  apontado  nos  mappas  da  navegação, 
porque  o  homem  havia  poetisado  os  perigos  reaes  dos  oceanos. 

As  quilhas  dos  lavradores  dos  campos  liquidos  abriram  sulcos  por 
entre  as  vagas,  que  os  instrumentos  náuticos  tornaram  indefCveis. 

Restava  navegar  pelos  oceanos  das  terras  ainda  desconhecidas  : 
isso  fazem  os  modernos  exploradores,  deixando  as  pegadas  a  marcar 
caminhos  por  sobre  brenhas  e  florestas  e  pântanos. 

Começa  a  escrever-se  o  poema  definitivo  da  humanidade,  livn»  su- 
blime em  que  cada  verso  assignala  uma  vicloria  do  homem  sobre  a 
natureza.  Ditosos  os  que  como  Ivens  e  Capello  podem  assignar  uma 
estancia  d'esse  poema  cujos  cantos  se  hão  de  intitular  —  as  sciendas, 
as  industrias,  o  commercio.  a  agricultura,  o  trabalho,  a  fraternisação 
dos  povos,  a  paz  tinirersal:  poema  em  que  as  rimas  poderão  reduzir- 
se  a  duas — Humanidade,  Fraternidade. 

(Do  Açoriano  Orientai). 


As  guerras  da  paz 

Cale-se  d'Alexandro  e  de  Tra.iano 
A  fama  da?  victorias  que  tiveran) 
Camões. 

A  fama  das  victorias  marciaes  já  não  é  o  que  mais  engrandece  os 
povos. 

Os  grandes  feitos  d'armas  deixam  de  ser  cantados  como  eslrophes 
mais  brilhantes  dos  poemas  celebres. 

As  guerras  são  ainda  um  cruel  argumento  para  decidir  capricho- 
sas pendências  de  ambiciosos  potentados,  mas  estão  condemnadas  pe 
la  infallivel  jusliça  da  humanidade. 

E'  sympathico  o  paiz  fraco  sacriíicando-se  até  ao  esphacelamento 
para  manter  os  seus  brios  e  zelar  os  foros  de  independência  e  integri- 
dade do  território. 

A  Hespanha.  por  exemplo,  esteve  agora  próxima  d  uma  dessas 
phases.  Ferida  no  seu  timbre  cavalheiroso  pela  bellicosa  cubica  alle- 
mã,  preparou-se  para  todos  os  eífeitos  duma  lucla  cruelissima  sem 
cogitar  no  numero  dos  enormes  exércitos  do  chanceller  de  feiro. 

As  nações,  com(»  <»s  individu.>s,  ou  morrem  ou  se  desaggravam 
quando  ultrajados  nos  seus  foros  e  regalias. 


ARCHIVO  DOS  AÇOHES  229 

A  causa  dos  fraros  cougroga  sempre  nniversaps  adfieivnpias.  O 
sobi^ecenho  dos  arrogantes  nos  seus  abusos  do  puder  e  da  força  sò 
provocam  a  execração. 

Estas  são  as  guerras  ccMidemnMdas.  as  que  são  provocadas  pelos 
potentados  para  humilharem  os  que  o  não  são. 

Nós,  os  portuguezes,  não  luctámos  com  a  França  quando  nti>  j(»- 
gou  o  atroz  insulto  da  Charles  e  George.  Éramos  pequenos  e  demasia- 
do fracos  então.  Em  taes  condições,  a  lucta  seria  o  termo  do  noss(> 
aniquilamento.  Appellámos  para  a  justiça  providencial,  e  não  se  tVz 
ella  esperar.  Assim,  pudemos,  reanimar  forças,  levantar-nos  do  le- 
tliargo  e  reviver  para  continuarmos  a  nossa  missão  civilisadora. 

A  França  enterrou  as  águias  napoleónicas  nos  lagos  sanguíneos 
de  Sedan;  e  a  Inglaterra,  que  por  nós  tinha  obrigação  de  erguer  a 
luva  afTronlosa  que  nos  fora  arremessada,  pagou  caro  a  sua  cynica 
iiidiflferença,  pois  com  isso  coincide  o  empallidecimento  do  fulgor  da 
sua  estrella  de  felicidade. 

Nós  mesmos  fomos  causa  de  que  em  Berlim  se  manchasse  de 
lama  o  Leopardo  da  sua  bandeira,  que  era  dantes  o  assombro  das  na- 
ções. 

* 

*       « 

A  guerra  ha  de  ser  morta  pela  guerra. 

O  que  era  no  século  passado  sonhadora  utopia  dum  pouco  mais 
do  que  obscuro  padre  francez  —  a  solução  diplomática  de  todas  as  con- 
tendas internacionaes,  ha  de  realisar-se  pelo  caminhar  das  sciencias, 
das  artes  e  das  industrias. 

Essas  machinas  monsliuosas  de  destruição-- os  inuuensos  coura- 
çados—em  que  se  tem  esterilisado  o  melhor  das  forças  activas  das 
grandes  potencias,  ameaçam-nas  de  lhe  tirar  todo  o  valor  bellico  umas 
embarcações  pequeninas  conduzindo  alguns  torpedos  destruidores. 

As  espingardas  tem  já  laes  alcances,  que  a  mira  aos  alvos  é  im- 
possível. Assim,  acaba  a  sciencía  dos  Turennes,  dos  Frederícos.  dos 
Bonapartes  e  Wellingtons. 

A'manhã  será  realidade  o  (|ue  é  hoje  apenas  tímida  aspiração. 

Então  a  fama  das  victorias  aclamadas  ao  tn^ar  dos  baluartes,  dei- 
xará de  ser  registada  nos  annaes  das  nações. 


Mas  ha  de  n  elles  assignalar-se  para  todo  o  sempre  e  esplendida- 
mente, a  fama  das  c(»nquislas  em  que  aproveita  a  sciencía  e  em  que 
utilísa  a  humanidade. 

As  guerras  á  ignorância  é  cpie  hão  de  ter  a  sua  eterna  apottieose. 

Os  feitos  praticados  á  sombra  da  paz.  aquelles  em  que  os  inarty- 


230  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

res  se  cuiòam  de  myrtiios  offerecidos  pela  gratidão  universal,  com  es- 
ses é  qiie  se  hão  de  escrever  as  radiosas  e  immoredouras  paginas  de 
gloria. 

Pertence  aos  d'esta  classe  o  feito  praticado  por  Ivens  e  por  Capello. 

São  triles  da  tempera  dos  lieroes  a  quem  o  nosso  poeta  gigante 
consagrou  os  versos: 

Cessem  do  sábio  grego  e  do  Troyano 
As  navegações  grandes  que  fizeram 

Não  descobriram  mares  porque  por  todos  elles  ensinámos  cami- 
nhos á  navegação. 

Foram-se  a  descobertas  não  menos  diííiceis.  nem  menos  tormen- 
tosas^ _as  de  terras  ainda  ignotas,  abi  indo  caminho  extensissimo  atra- 
vez  do  Continente  Negro,  que  leva  direito  á  conquista  de  thesouros 
Ião  valiosos  como  se  não  pôde  prever  desde  já. 

Com  elles.  com  os  nossos  heroes,  caminhou  a  sciencia;  ha  de  se- 
guil-os  a  lé;  irão  depois  o  commercio  e  a  industria;  irão  todas  as  for- 
ças vivas  dos  povos;  e  teremos  um  mundo  novo  formado  para  a  com- 
prehensão  de  tudo  o  que  é  grande. 

Htirrah,  pelo  nosso  paiz  que  se  enaltece  por  tal  feito  ! 

Hiinah,  pelos  intrépidos  que  puzeram  as  vidas  a  preço  d'esla 
gloria ! 

Hurrah,  pela  confraternidade  universal! 

Novembro,  de  1885. 

(Pela  Persuasão).  F.  M.  Sttpico. 


Exploradores  africanos 

(Extracto  dum  relatório  ã  Junta  Geral  do  Districto) 

A  alma  nat-ioml  revive  e  exp.nule-se,  iiiflam:nando  os  corações 
p(»ittigue/.es  pa!-a  ousados  em|)reliendimenlos  de  civilisação. 

As  antigas  p  honradas  gjoiías  da  nossa  nacionaliilade  tiveram  por 
p('(lesl;il  ;ís  i|ni!h;ís  de  nossos  gali^õcs.  a  intrepidez  de  nossos  navega- 
dores ('  os  it^merarios  ;irrojos  com  qne  diívassavam  caminlios  alravez 
(los  coiilineiites  ignotos,  como  dos  mares  iniiica  díoites  navegados. 

Se  lionve  nin  largo  parenlhesis  em  nossa  heioica  epopeia,  que  se- 
iiii'lliava  o  etfiiio  adormecer  d  iini  povo  aniorlalliado  nos  restos  da  ban- 
(iena,  (|ne  lóra  syn)liolo  augusto  dos  ni.iis  altos  IViíos,  esse  parenthe- 
sis  t't'chon-se  e  novos  crmlos  cgiialnieiite  suhlitncs  se  estão  acre.scen- 
tando  ao  imsx»  imniortal  poema. 


ARCHIVO  DOS   AÇORES  231 

Aimlíi  liii  |>unco  lios  tMictiiíUii  de  síircasinns  ?is  pnteiiciíis  niniores, 
cofilieceMirlo-tios  apenas  g^-ogiapliicainente  «omit  fava  pe(|uenis>inia  ims 
extremos  dccideiilaes  da  Europa. 

Mas  em  Anliíeipia  surprrhcndcmos  a  Kiirit[)a  em  univtjsal  cei ia- 
ine  do  trabalho  eom  a  nossa  exposição  colonial;  c  regressaram  dAfii- 
ca  dttis  peregrinos  da  santa  romagem  das  desciibirtas,  tendo  dt  svni- 
dado  ao  mnnd(t  1:500  milhas  do  (^ontint-nte  N>gro  tolalmenle  desco- 
nhecido, e  ensinado  nm  caminho  conimercial  de  'i:500  milhas.  de>de 
Angola  até  Moçamhiiine.  os  limites  exteriores  d  um  grande  im[>erio, 
(jue  ousou  conceber  e  poderá  fundar  a  alma  nacional! 

DesaíTrontamo  nos  a>sim  e  é  assim  que  nsam  desaggravar  se  o-;  ge- 
iieroKts  e  os  grandes.  Admiiam-iios  agitra  aijnelles  mesmos  ipie  ainda 
ha  pouco  apenas  sabiam  deprimir-nos. 

Exalta-se  radiosa  a  nobre  alma  da  nação! 

O  (laiz  inteiro,  entoando  os  mais  calorosos  hymiios  de  enlhnsias- 
mo,  saudou  aquelles  intrépidos  romeiros  Hermenegildí»  ile  Brito  (a 
l»ello  e  Hoberto  Ivens,  [lor  elfeclnarem  a  mais  notável  travessia  ahica 
na  que  se  regista  nos  archivos  da  sciencia. 

Keconlieceu  e  aííirmou  assim,  que  é  por  esh's  feitos  e  não  pelos 
ardis  da  di[)lomacia,  ou  [jelas  audácias  da  espada,  que  uos  C(»nliniia 
remos  a  engrandecei'. 

E  o  entliusiasmo  nacional  não  podia  deisar  de  conununiiar-se  á 
Ilha  de  San  .Miguel,  (jue  em  todos  os  tempos  t^m  tido  larga  participa- 
ção nos  successos  de  glorificação  nacional. 

Fadada  lambem  para  continuar  as  suas  antigas  e  uobies  liadi 
cções,  nas  qiiaes  se  assignála  o  nome  do  illustre  villa  franquense  Ben- 
to de  Góes.  como  ex})lorad(»r  asiático,  succede  que  é  seu  ciinterraneo. 
nascido  n"esla  cidade  em  junho  de  I80O,  Robeito  Ivens.  um  d  aipiel 
les  que  pelos  titnios  n>ais  ligilimos  acabam  de  inscul[»ir  os  nomes  no 
eterno  bronze  da  historia. 

Prepaiando  se  esta  terra  para  lambem  prestar  aos  dois  as  homena- 
gens de  grande  admiração  e  alto  reconhecimento,  parece-nos  interpretai 
bem  os  patrióticos  sentimentos  desta  Junta,  propondo  ijue  ella.  como 
a  mais  legitima  corporação  representativa  do  Ôistrich),  se  associe  á  pu 
blica  ex[iausibilidade  tomando  parte  nas  projectadas  manifestacõfs. 

0  modo  como,  resolvei  o  ha  vossa  sabedoria. 

1  de  novembro  de  1883. 

F.  M.  Sn/hio. 
(I*ela  Gazela  da  Relação). 


A  Junta  Geral  resolveo  fazer-se  representar  no  coilejo  civico  do 
dia  29  pelo  se(t  presidente  e  pela  commissão  executiva:  e  votou  a  ver- 
ba de  3005000  reis  para  auxiliar  a  parte  commemorativa  do  festiva!. 


232  ABCHIVO  DOS  AÇORES 

O  festival  de  hoje 

Portugal,  liús  lodos,  empenhamo-nos  n  uma  das  mais  justas  apo- 
llieostís  do  trab.illio,  do  S(»ffrimento,  da  lieroifidade  pela  benemerenria 
civica. 

Brito  (>apello  e  Roberto  Ivens,  d>)ns  eméritos  exploradores  afri- 
ca iios.  representam  no  actual  momento  uma  gloria  egual  à  que  nos 
alcançaram  os  nossos  lieroes  da  epopéa  antiga,  (pie  dilataram  peias 
liescobertas  e  conquistas  os  dominios  d  esta  iilu^tre  nacionalidade. 

Obedeçamos,  pois,  ao  nobre  exeniplo  que  resalta  da  sloica  abne- 
gação com  ipie  os  mais  generosos  filhos  de  tão  nobre  pátria  alFirma- 
ram  e  allirmam  que  sabemos  ter  a  compreensão  das  differenles  civi- 
lisaçõtjs,  nos  antigos  como  nos  hodiernos  periodos  históricos. 

Lição  edilicaiite  é  fsta,  que  agnra  se  nos  offerece,  em  que  frater- 
ni>am  pobrns  e  licos,  sábios  e  ignorantes,  acciamando  com  todo  o  seu 
etithusiasmo  os  lieroes  de>te  festival.  O  seu  exemplo,  pois,  ficará  per- 
durável, alentando  nos,  estimulando-nos,  e  incitando  nos  a  fundirem-se 
os  esforços  communs  para  não  mentirmos  aos  fastos  e  Iradicções  glo- 
i-iosas  da  pátria,  e  á  grandeza  dos  serviços  prestados  pelos  seus  maio- 
les  filhos. 

Assim,  e»tas  festas  civicas  em  que  empenhamos  todo  o  valor. dos 
ni^^^sos  júbilos  espontâneos,  todo  o  brio  das  nossas  gratidões  impere- 
cedouras,  ao  mesmo  tempo  que  nos  divertem,  obedecem  ao  systema 
H  ao  metliodo  de  uma  escola  pratica  e  utilíssima  para  o  desenvolvi- 
iiíi-nto  da  mentalidade  social. 

(Correspondem,  sem  duvida,  ao  desafogo  de  um  sentimento  de  al- 
truísmo (pie  ha  de  ser  n  um  próximo  futuro,  esperamos,  aproveitado 
como  turca  impulsionadora  do  verdadeiro  progresso  intellectual  e  ma- 
terial pela  associação  de  todas  as  actividades,  satisfazendo  assim  aos 
mais  elevados  ideaes  civilisadores. 

Ao  mesniíj  tempo  predispõem  os  cidadãos  para  o  bem  da  pátria 
pelo  consciente  e  proficuo  exercício  das  liberdades  publicas. 

C-onvenj,  por  tanto,  á  mutuidade  de  interesses  não  perder  um  sò 
dos  muitos  ensinamentos  que  nos  dá  o  coitejo  civico  d  este  dia,  que 
tem  a  alta  significação  de  re>peito  de  individuo  para  individuo,  de  col- 
lectivade  para  collectividade  pela  forma  porque  congraça  a  todos,  tra- 
zendo os  espiritos  das  diíTerentes  classes  e  corporações  presos  a  um 
mesuio  objectivo,  obedecendo  a  uma  expansão  egual  e  a  um  dever  im- 
posto |H'las  necessidades  do  transformi>mo,  que  se  opera  pela  evolu- 
ção que  a  siMencia  e  o  trabalho  estão  produzindo,  aíim  de  atlingirmos 
a  um  estado  mais  perfeito. 

O  trabalho  da  intelligencia.  consociando-se  ao  trabalho  rude  do  o- 
perario  obscuro,  1'nrmam.  entre  si,  esse  conjnncto  de  symijolos  que 
mo>ir.i  a  allianca  harmónica  da  ubra  humana. 


ABCHIVO  DOS  AÇOHES  233 

E\  por  isso,  que  o  concurso  cominuiii  dos  enlhusiasmos  equiva- 
le nestes  festivaes  a  largos  passos  andados  na  senda  do  progresso, 
pelas  noções  t\\w  lirnia  em  muitos  espíritos,  pelas  irradi.ições  de  luz 
(jne  faz  sobre.Nair  e  fecundar  as  vantagens  das  grandes  associações  de 
trabalhadores. 

Compenetrem  se,  pois,  os  operários  de  todas  as  classes  d'esta 
verdatle  apurada  na  bella  lição  a  (jue  hoje  assistem  e  para  a  qual  já 
muitos  prestaram  um  tão  valioso  concurso  de  energias,  de  vontades  e 
de  sacrifícios. 

Formem-se,  por  tanto,  as  associações  de  classe;  e  pela  força  que 
delias  derivará  ha  de  necessariamente  chegar-se  a  resultados  mui  prá- 
ticos e  seguros,  que  ensinarão  aos  que  trabalham  a  melhor  compreen- 
derem o  exercicio  dos  seus  labores  e  a  serem  mais  previdentes  para 
se  acautelarem  das  contingências  da  miséria,  procurando  tirar  todo  o 
proveito  possível  dos  productos  da  sua  actividade. 

Esta  solemnisação  deve  sobretudo  carecterisar-se  n"este  sentido. 

Tavares  de  Resende. 
(?eh  redacção  do  Novo  Diário  dos  Açores). 


Um  voto  sincero 

Também  vimos  em  nome  do  povo  que  representamos  na  impren- 
so prestar  a  nossa  humilde  homenagem  n'este  faustoso  dia  ao  michae- 
lense  Roberto  Ivens  e  ao  seu  companheiro  da  exploração  africana  Her- 
menegildo Capello. 

No  concelho  da  Povoação  predomina  a  vida  agrícola. 

Ora  aos  agricultores  cabe-lhes  uma  parte  importante  n'este  fes- 
tival. 

E  elles  representam  uma  das  mais  distinctas  (^lasses  em  que  a  so- 
ciedade se  divide,  porque  a  agricultura  constitue  sem  duvida  uma  das 
mais  solidas  bases  de  todo  o  progresso. 

Basta  considerar  se  que  a.  agricultura  é  a  mãe  do  commercio,  pa- 
ra logo  se  compreender  quanto  ella  vale.  e  quanto  deve  orgulhar-se  da 
representação  que  lhe  cabe  ter  nos  regosijos  que  hoje  animam  todos  os 
trabalhadores. 

Desejamos  sinceramente  que  estes  regosijos  realisem  para  ella  e 
para  todos  verdadeira  importância  pratica,  para  que  as  condições  de 
existência  dos  operários  dos  campos  tenham  alguma  melhoria,  como 
incentivo  e  estimulo  a  continuarem  a  prestar  á  pátria  os  valiosos  ser- 
viços que  tanto  devem  estimar-se-lhes,  e  por  modo  a  pouparmo-nos  a 
N."  í5~Vol.  VIII  -^  1886.  6 


234  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

vel-o:r  abandonarem  o  nosso  ubérrimo  solo,  a  troco  de  mellutres  van- 
t.igens  offerecidas  entre  estranhos,  em  li)ngin:|uas  terras;  e  emfini  qnè~ 
da  ultima  travessia  da  Africa  resulte  abrirem  se  novos  mercados  con- 
sumidores dos  nossos  productos  agrícolas. 

No  interesse  commum  façam  se  reciprocas  concessões  entre  o  u- 
perario  e  o  agricultor,  porque  assim  convém  e  é  necessário. 

Animem  se  uns  e  outros  de  um  espirito  de  reciproca  e  equilati 
va  vantagem  na  prestação  e  troca  de  serviços. 

Protejam  se,  pois.  E  a  onda  da  emigração  hade  cessar  necessa- 
riamente, em  essa  generosa  associação  de  civismos  chegando  a  produ- 
zir a  conciliação  d(»s  interesses  da  classe — una  e  amiga — dos  agricul 
tores  e  simples  operários  do  campo. 

Tal  é  o  voto  qne  fazemos  neste  dia  solemne  em  que  todos  os  em- 
blemas (io  trabalho  se  offerecem  em  culto  social,  como  demonstração 
de  vida  nova  e  rejuvenescimento  da  pátria. 

Assim  entendemos  prestar  a  nossa  homenagem  de  gratidão  aos 
dons  intrépidos  exploradores  scientificos,  qne  nesta  hora  estão  rece- 
bendo das  academias  mais  doutas  da  Europa,  os  applausos  que  mere- 
cem pelos  serviços  íjue  vêem  de  prestar  á  civilisação  e  á  humanidade. 

(A  redacção  da — Auroro  Poroacense.) 


O  cortei  o  e  a  commeinoraçao 

Pode  parecer  ao  povo  qne  o  remate  do  trabalho  dos  nossos  arro- 
jad(js  exploradores  Ivens  e  Capello,  é  a  glorificação  dos  seus  nomes 
por  festas  e  commemorações;  nós  continuaremos  a  clamar-lhe  que  isto 
é  apenas  o  inicio  do  que  nos  compele  a  nós  fazer,  para  corresponder- 
mos á  sua  dedicação  patriótica,  para  utilisarmos  os  sacrifícios  que  fi- 
zeram pela  pátria  e  pela  humanidade. 

Somos,  talvez,  importunos  e  inopportMiios,  mas  a  nossa  desculpa 
está  nos  bons  desejos  que  alimentamos,  porque  as  travessias  d"Africa 
não  sejam  apenas  um  luxo  e  os  festejos  uma  vaidade  nacionaes.  Não 
é  fiara  isso  que  se  sacrifica  dinheiro  e  vidas  preciosas;  não  é  só  aos 
governos  (|ue  compete  a  iniciativa  da  cítlonisação  e  exploração  com- 
mercial  ou  agrícola  d.Xfrica:  CA)mpete,  [irinci|)almenlt'.  ao  paíz.  e  ás 
associações  [)articulares. 

Os  festejos  e  as  commemorações  estinuilam  a  novos  emprehendi- 
inentos,  levantado  o  espírito  publico  nesse  sentido,  e  recompensando, 
moialmefiie  ao  menos,  os  que  se  dedicam  a  taes  conmieltimentos:  mas 
não  basta  que  se  rasguem  os  falos  dos  exploradores  nos  espinhos  de 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  23S 

tutlas  MS  naturezas  que  erriçam  aquelles  sertões,  não  basta  que  se  des- 
cubraiii  as  origens  dos  cursos  dagua,  os  lagos,  os  montes,  as  bacias 
hydrographicas,  que  se  devasse  em  fim  para  a  sciencia,  os  seios  ubér- 
rimos deste  vcllio,  mas  escuro  mundo:  é  preciso,  é  esse  o  fim  a  que 
visam  es^es  trabalhos,  que  o  conjmercio,  a  agricultura,  a  exploração 
mineira,  a  civilisação,  em  fim,  abra  ao  mundo  os  tliesoiíros  que  elle 
encerra. 

Permutar  os  productos  que  os  povos  dWfrica  extraliem  da  terra 
ou  utilisam  dos  despojos  dos  animaes,  pelos  que  a  industria  europeia 
cria  para  desenvolvimento  e  commodidade  humana,  é  o  primeiro  pas- 
so; explorar  as  minas  que  as  circmnstancias  de  jazigo  e  de  transporte 
permiltam,  (i  segundo;  aproveitar  a  fecundidade  daquelles  teiienos 
(|ue  o  arado  e  a  enxada  ainda  não  rasgaram,  o  termo  da  nossa  em- 
preza  de  colonisação. 

É  pelo  commercio  que  havemos  de  trazer  a  Africa  ao  convívio 
humano,  trocando-lhe  por  objectos  de  valor  í)bjectos  <le  alimentação: 
agazalho  e  commodidade,  tornando-os  d'est"arte  de[)endentes  e  tribu- 
tários da  civilisaÇão,  e  estimulando-os  ao  trabalho  pelo  desejo  de  pos- 
suírem os  productos  europeus,  pela  exploração  do  sub-solo  e  do  solo, 
pela  industria  extractiva  e  agrícola,  podemos,  depitis,  utilisar  o  traba- 
lho daquelles  povos  e  educal-os  para  a  vida  industrial  e  agrícola. 

Ivens  e  Capello  fizeram  da  sua  parte  o  que  a  pátria  exigia  da  sua 
aptidão  e  dedicação,  elles  offerecerarn  o  socego.  a  saúde  e  a  vida, 
que  tudo  arriscaram,  à  salvação  da  pátria,  quer  a  encaremos  pelo  la- 
do moral  —  a  honra  nacional;  quer  visemos  á  regeneração  económica 
e  financeira  —  indicando  thesouros  á  industria  particular  e  fontes  de 
leceita  á  fazenda  nacional:  quer  olhemos  á  questão  politica  —  dando- 
nos  destino,  razão  e  força  de  manter  a  nossa  autonomia. 

O  paiz  parece  enti'ar  na  comprehensão  deste  grande  serviço  pelo 
modo  por  que  se  levanta  para  glorificar  os  que  o  levaram  a  cabo;  mas, 
se  o  paiz  não  corresponder  a  esse  serviço  —  utilisando-o,  nem  a  honra 
nos  ficai'á  deste  facto;  porque  mostramos  ao  mundo  que  somos  um 
povo  gasto  e  degenerado,  mais  digno  de  viver  em  Marrocos  do  que 
n'este  pequeno  extremo  da  Europa  d'onde  os  nossos  maiores  desço 
briram  e  avassalaram  os  mundos. 

(A  redacção  da  Republica  Federal). 


A  travessia  de  Africa  por  Capello  e  Ivens,  veio  affirmar  á  Europa 
o  fervoroso  amor  da  nossa  independência,  e  a  integridade  da  pátria. 


236  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

Na   vasta  galeria  das  nossas  glorias  nacionaes  estão,  a  par  dos 
de.-cobridores  do  século  IO,  os  vultos  sympatliicos  de  Capello  e  Ivens. 


Os  tributos  de  iespeit(j  e  as  homenagens  de  admiração  que  hoje 
se  prestam  aos  dois  heroes  Capello  e  Ivens,  são  um  incentivo  para 
nijvas  e  arrojadas  empresas,  que  engrandecerão  a  pátria,  e  lhe  resti- 
tuirão o  passadit  nome, 

(A  redacção  do  Nolmarista.) 

Kil)eira  (irande. 


Uma  licao 

A  bandeira  portugueza  tremulara  victoriosa  em  t(jda  a  costa  d  A- 
frica,  sustentada  pelo  valor  guerreiro  dos  grandes  lidadores.  Aqui  le- 
vantara-se  imi  presidio;  alem  assentara-se  uma  colónia;  mais  adeante 
conquistara  se  um  reino:  e  o  que  o  valor  das  arnias  alcançara,  conser- 
vou-o  a  mansidão  dos  costumes  portuguezes. 

Fomos  o  primeiro  povo  colonisador,  porque  ao  arrojo  de  guerrei- 
ros S(jubémos  aliar  a  prudência  destadistas. 

Em  quanto  nós  conservávamos  sem  esforço  as  nossas  colónias,  as 
outras  nações  da  Europa,  insultando  nos  com  o  apparalo  da  sua  força, 
arruinavam-se  com  o  abuso  d'ella. 

Quizeram  dar-nos  lições  de  colonisaçãíí,  e  despovoaram  as  metró- 
poles creando  poderosos  exércitos  coloniaes. 

E  nós  que  fizemos?  Chamámos  Capello  e  Ivens,  e  dissemos-lhes: 

Ide !  mostrai  aos  orgulhosos  que  a  raça  dos  heroes  não  niori-e  ein 
Portugal ! 

Pagai-lhes  a  lição  indo  inermes,  sós,  sem  exercito,  desfraldar  en- 
tie  os  povos  mais  aguerridos  d"Africa  a  bandeira  das  quinas!  ide  con- 
quistar, não  as  terras  que  são  propriedade  singular,  mas  a  verdade 
scientifica,  e  as  relações  de  commercio! 

São  assim  os  heroes  dhoje.  Ás  luctas  da  fort-a  bruta  síiccederam 
as  luctas  incruentas  do  trabalho:  aos  combates  das  armas,  os  da  in- 
telligencia;  ás  ávidas  vistas  do  concjuistador  as  benéficas  ambições  sci- 
entificas. 

Poiam:  e  aqiuMles  homens  venceram  sem  matar,  e  voltaram  cii- 
bertos  de  gloria. 

A  pátria,  olhando  para  o  ceu  que  encerra  os  arcanos  do  seu  fu- 
liuo  e  vendo  brilhar  alli  — estrellas  de  {)rimeira  grandeza    -os  génios 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  237 

heróicos  de  (iíipello  e  Ivens,  abre-llies  os  braços  em  plirenetico  en- 
thusiasmo  e  regista-llies  os  nomes  no  livro  donro  dos  seus  filhos  be- 
neméritos. 

Estava  dada  a  ligão. 

([)a  redacção  (h Diário  de  Anmwdos.) 


Capello  e  Ivens 


Entre  as  condições  necessárias  para  a  existência  e  manutenção  da 
soberania  d'uma  nação,  é  uma  das  principaes  o  conhecimento  do  es- 
pirito da  epocha  que  atravessa. 

Como  individuo  ante  a  communidade,  tem  uma  nação  o  dever  de, 
conhecendo  as  phases  de  civilisação  por  que  vae  passando  a  Humani- 
de,  satisfazer  aos  preceitos  que  lhe  impõe,  perante  esta,  a  solidarie- 
<lade  humana.  Do  contrario  torna-se  desnecessária  a  sua  existência  e 
como  tndo  o  que  é  inútil  no  universo,  c(>rre  fatalmente  a  abysmar-se 
no  nada. 

E  hoje  principalmente  em  que  toda  a  Europa  é  o  theatro  de  si- 
gnificativos acontecimentos  que  são  o  pronuncio  de  grandes  tran-foi'- 
mações  sociaes,  é  mais  do  que  nunca  indispensável  a  energia  nacio 
nal  manifestada  na  concurrencia  para  o  desenvolvimento  dos  progres- 
sos humanos. 

E'  aqui  especialmente  que  se  avalia  o  alto  alcance  da  travessia  do 
continente  negro,  levada  a  efTeito  pelos  dois  eminentes  porluguezes 
Brito  Capello  e  Roberto  Ivens. 

Levantando-se  estes  airojados  exploradores  a  prestar,  antes  do 
que  á  Pátria  em  particular,  um  serviço  relevantissimo  e  immoi  redoiro 
á  civilisação  univei'sal,  concorrendo  para  os  progressos  da  sciencia  e 
elevação  do  nivel  moral  dum  povo  que  vive  sem  luz  e  na  desgraça, 
deram  um  formal  desmentido  ás  aílirmativas  desses  que  dizem  ter 
sido  o  povo  porluguez  \m\  bom  elemento  de  civilisação  nos  tempos  do 
direito  da  força,  mas  incompativel  para  sustentar  os  progressos  actiiaes 
e  inapto  para  solidarianiente  concorrer  para  a  direcção  d'aqnelles,  ,se 
gundo  o  ideal  moderno. 

Mostrando  estes  dois  heroes  á  Europa  que  somos  digíios  do  pre- 
sente como  o  fomos  do  passado,  mais  um  documento  ajuntaiam  aos 
que  estão  destinados  a  fazer  valer  perante  o  futuro  o  direito  da  nação 
portugueza  á  sua  soberania. 

E  de  tanta  valia  como  este  são  bem  poucas  as  nações  enropeas 
que  o  apresentam. 

Fazendo  os  dois  beneméritos  porluguezes.  cotno  se  vè.  com  que 


238  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

lios  tornássemos  dignos  de  toda  a  Europa,  tornaram  se  dignos  do  nos- 
so respeito  e  liomenagem.  Conservando  aquelle  e  rendendo-llies  esta. 
não  fazemos  mais  do  (jue  praticar  um  dever  de  gratidão.  Portanto  — 
avante!  e 

Vivam  Capello  e  Ivens ! 


Francisco  Cardeiro. 


{Tio  Braz.) 


EIA  AVANTE! 

No  cortejo  cívico  a  Capello  e  Irem 

Despertai,  Portugnezes!  que  a  Sciencia 
Desprezou  para  sempre  a  indolência 

E  condemna  a  apathia  f 
Despertai  ao  c'rôar-se  o  Heroismo 
No  Templo  Sacrosanto  do  Civisnio, 

Despertai  n'este  dia  I 

Levantai-vos  do  torpe  abatimento 
E  caminhai  a  ver  o  incitamento 

— Estimulo  ao  Futuro! 
— Apotheose  brilhante  dos  Heroes 
Que  fulguram  no  céo  quaes  outros  Soe 

Em  dia  claro  e  puro ! 


s 


Uni-vos  aos  cultos  do  Progresso 

Que  saúda  os  Heroes  no  seu  regresso 

Da  lucta  audaz,  ingente  I 
Uni-vos  à  funcção  que  immorlalisa 
Aqnelles  que  a  Sciencia  preconisa 

No  Futuro  e  no  Presente! 

Novos  Leviathans  da  Humanidade 
('onseguiram  romper  a  escuridade 

Dignotas  regiões! 
E   por  isso  que  Ivens  e  Capello 
Recebem  do  Universo  inteiro,  nm  bello 

Concurso  d'ovações ! 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  239 


Procurai  imitar  os  Immortaes 

— Os  Alhleías  dos  feitos  nacionaes 

Coroados  de  gloria! 
Tiaballiai  para  mais  acrescentar 
Os  nomes  que  ninguém  pode  olvidar 

Da  vussa  Lusa-Historia  ! 

Purlugiiezes!  eia  avante!  caminhemos! 
E  nesta  apotheose  estimulemos 

Os  homens  d'ãmanliã ! 
E.  desfraldando  o  Lábaro  das  Quinas, 
Convertamos  a  Pátria  das  rninas 

Em  nova  (]anaan!  .  .  . 

Dezembro — 1885. 

Manoel  Duarte. 


VENS  E  CAPELLO 


DOIS    SYMBOLOS 

Desfraldn-se  ovante  a  bandeira  da  pátria. 

Glorificamos  hoje  aquelle  symbolo  augusto  de  nossas  crenças  mais 
intimas,  de  nossos  affectos  mais  santos,  no  immenso  e  festival  concur- 
;;o  de  todas  as  forças  activas  da  intelligencia  e  do  trabalho. 

Acrescentaram-lhe  irradições  explendorosas  dois  beneméritos  por- 
tuguezes,  Brito  Capello  e  Hoberlo  Ivens,  coroados  de  louros  pela  sua 
travessia  dWfrica,  que  os  eleva  ao  fastígio  das  honras  conferidas  pela 
;.dma  universal  da  humanidade  reconhecida. 

Levanta-os  também  nos  escudos  da  immortalidade  a  ilha  de  S. 
Miguel. 

ROBERTO  IVENS,  é  nosso  irmão  fielo  sangue,  pelo  coração  e  pe- 
los altos  estimulos  do  amor  da  pátria. 

Nasceu  em  Ponta  Delgada  em  1850.  O  nosso  formosissimo  sol  il- 
luminou-lhe  os  dias  da  primeira  idade  e  fecundou-lhe  no  peil(»  os  ger- 
mens das  grandes  aspirações. 

O  seo  nome  será  lambem  inn  symbolo  dos  lemerarii»s  arrojos  e 
das  e.\tremas  dedicações  civicas. 


240  ARCHIVO  DOS  AÇOBES 

Saii(lamol-o  nos  nillos  fia  nussa  admiração  e  nas  bênçãos  do  nos- 
so amor. 

Pelas  solidões  dos  desertos,  pelas  espessuras  das  brenhas  urdi- 
das dos  mais  agudos  espinhos,  nas  ardências  do  sol  africano,  nas  lu- 
ctas  com  os  tigres,  com  as  pantheras  e  com  os  leões,  só  leve  a  alen- 
tar lhe  as  forças  e  a  inflammar-lhe  a  coragem,  o  symbolo  venerando 
de  nossas  glorias  antigas,  o  palladio  augusto  de  nossas  novas  conquis- 
tas de  civilisação  e  de  liberdade I 

Hnrrah,  pela  immacniada  bandeira  d'Ourique  e  d'Aljubarrotal 

Hurrah,  pelo  grande  michaelense  ROBERTO  IVEiNS!! 

Ponta  Delgada,  Dezembro,  1885. 

Francisco  Maria  Siipico. 


SIGNIFICAÇÃO  E  FINS  DO  FESTIVAL 

Esquecimento  das  dissenções  de  escolas,  formação  dos  Iropheus 
pelas  bandeiras  politicas  em.  homenagem  aos  pendões  symbolicos  do 
trabalho. 

Tréguas  ás  discórdias  pessoaes  e  de  classes,  ás  pugnas  partidá- 
rias e  ás  contenções  religiosas. 

Tal  é  a  significação  d'esta  apotheose. 

Resultado  pratico:  firmar-se  o  principio  da  solidariedade  huma- 
na, iniciando-se  escolas  e  associações  de  trabalhadores. 

E'  esta  a  maior  glorificação  ao  michaelense  Roberto  Ivens. 

Tarares  de  Rezende. 


AS  FESTAS  cívicas 

As  manifestações  collectivas  da  actividade  humana  são  sempre 
affectivas  da  evolução  mental  das  modernas  sociedades. 

O  centenário  de  Camões,  a  festa  da  nossa  reviviscencia,  imprimio 
um  enorme  adiantamento  à  nossa  industria,  ao  nosso  commercio  e  em 
especial  ao  nosso  movimento  litterario. 

S.  Miguel  não  ficou  inactivo,  ante  esse  progresso  e  demonstra 
hoje  que  está  possuído  da  compreensão  da  força  moral  dos  jubileus 
civicos,  uniudo-se  em  significativo  cortejo,  para  ir  prestar  uma  home- 
nagem aos  dois  heroes  do  dia  -  IVENS  E  CAPELLO. 

As  festas  niichaelenses  em  honra  dos  dois  arrojados  exploradores, 
deixam  atraz  de  si  um  gérmen  de  luz  e  de  progresso  — o  inicio  da 
Associação  operaria. 

A  classe  artística,  levada  por  um  sentimento  illuslre,  por  um  im 


ARCinVO  DOS  AÇORES  241 

pulso  n()i>re,  ergue  o  seu  pendão  e  une-se,  à  sombra  d'elle,  i)ara  se 
eiiiMrporar  na  prorissão  civica. 

O  (jiie  é  preciso  é  (|iu'  esle  senlimenlo  fique. 

Armando  da  Silva. 


A IVENS  E  CAPELLO 

Salve!  salve  vencedores  1 

Affroniando  mil  rigores 

Vós  podesteis  triumpliar! 

—  Tremula  o  pendão  das  Quinas 

E  Portugal  — das  ruinas 

Surge  pra  vos  abraçar! 

Pereira  de  Lacerda. 


HOMENAGEM  DE  UM  ARTISTA 

A 

Roberto  Ivens  e  Brito  Capello 

o  amor  pelo  Trabalho,  e  o  Trabalho  pela  Idéa.  Taes  são  as  cau- 
sas da  gloria  dos  beneméritos  Exploradores. 

Quem  deixará  de  lhes  prestar  homenagem ! 

Ninguém,  de  certo,  porque  até  as  mais  sabias  Academias  [)reco- 
nisão  o  seu  ousado  íeito. 

A  esses  beneméritos  da  sciencia,  que  â  custa  de  tantas  privações 
conseguiram  fazer  a  gloriosa  travessia  d'Afric.i,  de  costa  a  contra  cos- 
ta, (|ue  tanto  honra  a  pátria,  é  justo  preito  e  dever  dos  michaelenses 
presta r-llie  homen agem . 

E  eu  como  o  mais  obscuro  filho  desta  terra  dirijo-lhes  este  sin- 
gelo tributo  da  minha  admiração! 


Bom  será  que  no  explendor  das  festas  aos  intrépidos  Explorado- 
res, não  fiijue  em  esquecimento  um  outro  michaelense,  BENTO  DE 
GÓES,  que  iio  século  XVII  também  fez  uma  gloriosa  travessia  na  Azia 
('.entrai,  começando  pela  Índia,  percorrendo  Caboul,  Kacligar,  Yerken, 
Aksu  e  Khamil  (Hami),  até  Calayo. 

Bento  de  Góes,  nasceo  em  Villa  Franca  do  Campo  (S.  Miguel)  em 
I5G2  e  falleceo  na  Ghina  n  II  de  abril  de  1607. 

Manoel  J.  da  Cawara,  typograplio. 

N"  io—Vol.  VIU— 1886.  7 


242  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

e  IDE  lDEZElVrBIR,0  IDE  1885 

A  EXPEDIÇÃO  AFRICANA 

Por  occasião  do  cortejo  civico  em  honra  dos  arrojados 
exploradores  Capello  e  Ivens 

«Cesse  tudo  o  que  a  antiga  Musa  canta 
Que  outro  valor  mais  alio  se  alevanta.- 
Camões. 

Em  quanto  junto  ao  seio  o  filho  aquece 
Com  desvelado  aííecto  a  terna  Mãe. 
Heróicos,  n'essas  plagas  sem  abrigo 
Descobrem  ao  Commercio  um  novo  Bem. 

A'  tarde,  o  sol  tombando  no  horisonte 
Alegra  o  camponez,  mostra-lhe  o  ninho, 
E  a  elles,  aos  Heroes,  mostra  o  horror 
Da  tétrica  floresta  no  caminho! 

A'  noite,  na  choupana,  em  quentes  palhas, 

Daffagos  rodeado,  tu  descanças 

E  elles— Ashaveros  do  sertão, 

Da  paíria  só  conservam  as  lembranças. 

Por  cama  no  sertão  tem  o  paul. 

Por  guia  na  floresta — a  escuridade! 

Galgando  precipícios  por  amor 

Da  SciENciA — esse  Pharol  da  Humanidade. 

Sorrisos,  só  recebem  da  panthera, 
Do  tigre,  do  leão  e  do  elephante. 
Os  nobres  peregrinos  da  Sciencia 
Luctando  pela  Pátria— sempre  avante! 

Buscar  para  o  Commercio  Universal. 
No  Continento  Negro,  a  extracção 
Dos  seus  vastos  productos— é  o  Lemma 
Dos  dois  exploradores  -seu  Brazão. 

E  hoje,  Michaelenses,  que  o  tribulo 
Prestaes  a  uns  Heroes  de  fama  tal. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  243 

Levantae  mais  um  viva  enlliusiasla 
Ao  velho  marinheiro— PORTUGAL! 

Ao  nobre  Portugal  que  a  lodo  o  mundo 
Lições  de  gran  valor  em  tempo  deu, 
E  que  hoje  Laminares  inda  inílamma 
Pra  rasgarem  da  treva  o  denso  ven. 

A  IVENS  e  CAPELLO  alevantae 
Um  VIVA  assaz  grandioso,  a  que  teem  jus! 
São  elles  os  pharoes  que  no  ignoto 
Desfazem  negra  treva  dando  a  LUZ. 

E  aos  Bravos  que  sem  nome  na  conquista 
Venceram  grandes  p'rigos — denodados, 
Direito  lambem  tem  de  ser  por  vós, 
Que  justos  sois  ainda— SAUDADOS  ! 

Soares  Pereira,  lypographo. 
# 
♦       * 

SAUDAÇÃO 

Michaelenses !  Saúda!  na  vossa  Consciência 
Os  dois  Heroes  do  dia— os  Filhos  da  Sciencia! 
Saudai  o  seu  arrojo  —  impávida  coragem  — 
Que  n'essa  saudação  prestaes-lhes  homenagem! 

Se  Historia  —  Lição  d  Hoje  —  em  paginas  doiradas 
Hegista  dos  Heroes  das  épochas  passadas 
Os  feitos,  o  valor:  então  a  hodierna  Historia 
—  A  nossa  Consciência  —  o  Templo  da  Memoria  — 

Gravar  deve  lambem  os  nomes  dos  Heroes 

Com  sua  própria  luz  —  o  brilho  de  dois  Soes! .  .  . 

O  mundo  acompanhai  nos  bravos  e  nas  palmas 

Que  elevam  mais  e  mais  aquellas  duas  Almas! 

Á  vossa  saudação  aos  Astros  peregrinos 

Juntai  a  admiração,  lecendo-lhes  dois  Hymnos ! . .  . 

Novembro —  1885. 

Manuel  Duarte. 


244  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

de  que  se  tirou  limitado  numero  de  exemplares 


Ao  Excellentíssímo  Barão  de  Fonte  Bella,  Jacint/to 


Por  todo  e  largo  mar  e  pola  lerra 

Que  inila  lias  de  sojugar  (com  dura  guerra?)" 

Camões.— Lus.  C  V.  Est.  XLII. 


Quando  Iveus  e  Capello  em  pura  chamnia  absortos 
Deixavam  seu  paiz,  num  dos  últimos  portos. 
Encontraram  um  velho  athletico  e  sympatliico, 
No  alto  d'uma  montanha,  esquálido  e  scismalico. 
Bradando  n'um  tremor!:  —«Não  tenho  já  confortos! 
Não  tenho  já  valor!  Meus  filhos  qnasi  mortos! 
Eu  !  .  .  .  tão  altivo  outrOra,  embriagado,  extático 
Na  gloria  do  meu  ser,  soldado  tão  fanatici». 

Decahi:  mas  vivia  alegre  e  satisfeito! 
Ser  i)0bre  não  avilta  !  A  honra  do  meu  peito 
Estava  immaculada.  Havia,  num  segundo. 
Surgido  do  meu  nada  e  conquistado  o  mundo! 
Mas"  fui  adormecendo  á  sombra  do  meu  feito 
E  foram-me  usurpando  a  Força  e  o  Direito! 
Um  dia  .  .  ao  despertar  .  .  soltei  um  ai  profundo : 
Mas  vivia  na  esperança— a  luz  do  moribundo  — 

Que  me  alentava  muito.  Eu  tenho  muitos  tilhos : 

Se  agora  já  não  posso  andar  por  esses  trilhos 

Que  pisei  com  denodo  outr'ora,  algum  dia 

Êlles  me  vingarão.  Assim  é  que  eu  dizia. 

Porem !  .  .  .Creste  momento,  offuscam-se-me  os  brilhos 

E  já  não  tenho  fé!  Insullam-me  uns  peralvilhos 

Covarde  e  impunemente!  .  .  oh  !  .  .  qiiem.  quem  tal  diria?! 

Agora  o  que  me  resta?:  —  a  túrbida  agonia 


(•)  Recitado  pelo  autlior  no  sarau  tlicalral  na  noite  de  5  de  dezembro. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES 

Ihj  suiciíJio  infernal?!  pois  bem:  cumpra-sc  o  fado! 
A  morte,  e  não  a  nódoa!»  E  nisto,  o  velho  honrado 
Lança-se  como  iim  raio  á  escarpa  da  montanha 
E  vai  de  catadnpa  em  convulsão  tamanha, 
Que  a  terra  no  sen  eixo  eslremcren  nnm  brado 
l3'horror,  ao  ver  tombar  o  i^en  melhor  soldado! 
O  mar,  rugindo  em  baixo,  engole-o  na  sna  entranha  ! 
Ouve-se  um  grande  baque!  extincta  era  a  façanha! 

* 

Seguiram  sua  derrota.  Em  cada  passo  dado. 
Uma  alta  descoberta:  em  cada  descoberta. 
Um  novo  poema  alado;  em  cada  poema  alado. 
Um  mundo  a  palpitar:  em  cada  mund(j.  alerta. 
Um  sol  a  scintillar,  o  brilho  d'nm  punhado 
D"estrellas  matisando  a  auréola,  que  se  acerta 
Na  fronte  dos  Titans,  dum  céo  aljofarado 
De  luz  que  nos  revive  e  luz  que  nos  liberta ! 


<^on)pleta  a  travessia,  ao  regressar  á  amada 
Pátria,  oh!  deslumbramento!  ao  romper  d"alvorada, 
N'aquelle  mesmo  sitio,  áquella  mesma  altura. 
Descobrem  na  montanha  a  athletica  figura 
Do  velho  colossal.  A  fronte  illuminada 
D"um  vívido  clarão,  a  barba  alvi-nevada, 
E  um  semblante  de  paz  em  jorros  de  luz  pura. 
Recordava  Moyses  no  alto  da  planura! 

De  pé  na  cnmiada.  erguia-se  o  gigante 
Em  toda  a  estatura  esbelta  e  culminante! 
N  uma  altitude  nobre,  alevantado  o  braço 
Direito,  sustentava  em  seus  músculos  d 'aço. 
N'um  globo  d"alva  luz.  um  oásis  verdejante ! 
O  esquerdo,  em  posição  egual,  alça  iier.inle 
O  ceo,  um  outro  glubo!  Havia  em  seu  regaço 
Um  geographico  mappa  assignalando  o  espaço 

De  Quillimane  até  Mossamedes!  Então, 

Não  se  podem  conter  em  viva  commoção 

Os  nossos  dois  Heroes,  e  ro!iipem  a  uma  voz: 

—  «Venerável  ancião!  Dizei-nos:  quem  sois  vós? 

Um  Homem?  um  Mysterio?  um  Génio?  uma  Visão?" 

E  o  velho  respondeu:  —«Sinto  hoje  o  coração 


246  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

Pullular  de  prazer!  Bem  visles  quão  feroz 
Fedi  a  morte  ao  mar,  e  o  mar  não  foi  algoz f 

Arremessou-me,  exangue,  ao  seio  das  areias! 
Uma  musica  suave,  um  canto  de  Napeias, 
Annunciava  a  bonança;  o  rhytlimo,  a  cadencia 
De  M/AtiS  de  sereia,  infiltrava-me  a  essência 
Perdida,  e  eu  recobrava  o  sangue  em  minhas  veias! 
Sem  Revivescência?  É  a  voz  das  epopeias 
Dos  fastos  nacionaes  que  se  ergue  para  o  Bem?  Se  a 
Nação  reviverá  p'ra  a  Industria,  pra  a  Sciencia? 

Não  sei ! .  . .  Mas  vós,  que  alçais  a  pátria  dos  escombros 
Em  que  dormia  inerte,  aiçando-a  em  vossos  hombros 
Á  altura  das  nações  cultas;  vós,  que  a  bandeira 
Portugueza  em  sertões  d'Africa,  sobranceira, 
Fizestes  venerar,  erguendo-a  em  desassombros 
Entre  cafres  e  leões,  p'los  matagaes  e  combros, 
Gloriosa  e  esbandalhada  e  rota  e  altaneira 
Qual  valente  soldado  impávido,  em  guerreira 

Acção,  que  vai  medindo  a  gloria,  pelas  balas 
Oavadas  em  seu  peito;  a  vós,  todas  as  galas, 
Homenagens,  brazões,  cortejos  triumphaes, 
Honrarias,  troplieus,  e  ainda  mais  e  mais, 
É  pouco  e  muito  pouco!  Em  todas  as  escalas 
Do  mundo  social,  nas  praças  e  nas  salas. 

Vereis »  «oh !  suspendei ! . .  .  porque  é  que  vos  não  dais 

A  conhecer?  Quem  sois?  O  que  é  que  demandais?» 

Aqui  empallidece  o  velho!  AIjofarada, 
Da  pálpebra  deslisa  a  lagrima  acendrada 
No  crisol  do  heroismo!  É  trémulo,  elle  diz: 
—  «Eu  sou  . .  sou  Portugal!  . .  e  sinto-me  feliz 
Ao  vér  dois  filhos  meus,  co'a  face  e.^brazeada 
De  glorias  immortaes,  co'a  fronte  coroada 
De  chammas  tropicaes,  descobrindo  a  raiz 
Do  empório  —  salvação  futura  do  Paiz! 

Este  globo  de  luz  que  trago  com  desvelo 
Na  minha  mão  esquerda,  é  o  fúlgido  Castello 
De  Palmella!  Na  outra,  o  oásis  de  mil  carinhos, 
A  Ilha  de  S.  Miguel!»  São  os  ditosos  ninhos 


ABCHIVO  DOS  AÇORES  247 

D"essas  águias  de  paz,  d'esses  condures  bellos 
De  flamma  damur  pátrio,  e  d'esses  bons  modelos 
De  pura  abnegaçãu,  que  exploram  nos  arminhos 
Das  nuvens  do  ignoto  a  flor  de  rosmaninhos! 

«O  meu  destino  aqui  no  topo  da  montanha, 
É  escutar  dos  Titans  a  altíssima  façanha, 
Cantada  em  melopeia,  ao  som  de  rouxinoes! 
É  impor  a  todo  o  mundo  a  luz  d'estes  pharoes! 
É  responder  aos  Bright  e  a  quem  nos  abocanha, 
Que  inda  ha  um  portuguez  que  faz  esta  campanha! 
E  inculir-vos  na  fronte  o  brilho  de  mil  soes! 
É  dizer  ás  nações: — Passagem  aos  HEROES!!» 


E  assim  terminou  o  novo  Adamastor, 

Que  já  não  prevê  Guerra,  e  sim  a  Paz,  o  Amor. 

i.     Ponta  Delgada  — Novembro,  1885. 

P 


IVENS  E  CAPELLO 

NO  GOKTKJO 
Ao  Ex."'"  Sr.  Dr.  J.  A.  Bolclho  A?Hlrade 


«E  se  mais  mundo  houvera,  lá  chegara.» 

Camões— Lus.  C.  Vil.  Est.  XIV. 


Povo ! 

Comprehendeis  a  signiíicação 
De  todo  este  delirio?:  —  O  nosso  coração 
Inflamma-se  de  febre  e  d'enthusiasmo  ardente, 
Por  ver  <jue  um  michaelense,  alem  no  Continente, 
Na  Europa,  em  todo  o  mundo  scientiíico, 
De  pasmo  e  admiração  é  o  alvo  beatifico! 


becuir. 


■)  Recitada  pelo  aiitlioi'  iia  praga  Municipal  linda   a   marcha  aux  fiam- 


248  -      ARCHIVO  DOS  AÇORES 

StílJlimos  iim  «irgiillio  itllivo  e  (Joiuitiíitite 

Por  (\w  à  nossa  leria  —  a  concha  mais  brilhante 

Que  o  oceano  arremessou  das  phigas  do  mysterio, 

Á  sua  superfície,  á  face  do  hemispherio,  — 

Hrodiizio  esse  heroe,  a  pérola  mais  rútila 

Dos  fash)S  actuaes,  o  cidadão  mais  iitii,  a 

Jóia  de  mais  valor  da  c'ròa  portugneza, 

No  critico  monjenlo  em  que  a  nação  —  princeza 

Outrora,  escravisada  íjoje  —  definlia,  estorce-se 

Nas  vascas  da  agonia,  em  gélido  suor!  Se  se 

Att^nder  a  que  o  empório  o  mais  grandioso  e  bello, 

—  Futura  salvação  do  nosso  paiz  —  o  élo 

Que  ha  de  prender  um  mundo  a  outro  mundo,  está 

Em  semeiar  tormenta  e  recolher  maná 

Da  colonisação,  industria,  agricultura, 

{lommt-nio  e  instrucção  dos  povos  da  futura 

Albion  portugiieza  —  a  Africa  Central; 

Se  se  attender  ainda  a  que  esse  manancial 

D  epopeias,  occidto  aos  ollios  da  sciencia 

Geographica,  foi  agora  na  sua  essência 

Descoberto  e  estudado  em  ramos  diíTerentes, 

À  custa  de  baldões,  em  lucta  com  serpentes, 

Abutres  e  leões  e  homens  mais  pantheras 

Que  os  pro[)rios  animaes  e  moscas  peior  que  feras: 

Se  se  attender  emfim,  a  que  Ivens  juntamente 

Com  seu  irmão  (^apello,  abrem  no  Continente 

Negro,  sulcos  de  vida  á  pátria  agonizante, 

Scintillações  de  luz  na  treva  dominante 

Neste  leão  que  dorme,  ao  qual  se  chama  —o  Povo, — 

Despertando-o  para  o  Bem,  acordando-o  de  novo 

Para  a  grande  conquista  —  a  Civilisação;  , 

Se  se  attender  a  tudo;  a  vossa  agremiação 

Aqui  p>a  festejar  dois  nomes  tão  brilhantes. 

Não  deve  hcar  so  em  vivas  flammejantes, 

Em  meras  saudações,  girandolas  de  lumes. 

Incensos  e  tropheus.  palavras  e  [terfumes; 

Deve  esteiider-se  alem  das  vossas  expansões, 

Do  profundo  sentir  dos  vossos  ctjrações; 

Deve  íicar  gravada  em  vossas  consciências 

E  nas  vossas  acçõrs,  segundo  as  advertências 

Que  vou  fazer-vos.  Sim?: — Ligai-vos  meus  amigos 

Que  a  união  faz  a  força  e  vence  mil  peiigos ! 

Ligai-vos:  que  a  união  na  vida  (e  até  [)'i"a  a  morte) 

Transforma  o  pobre  em  rico  e  muda  o  Iraco  em  forte! 


ARGHIVO  DOS  AÇOBES  249 


Formai  associações  do  artista,  do  operário, 
(^aniponeo,  agricultor,  do  rude  proletário. 
De  ti)do  o  pobre  eiufim:  creai  C.aixa  Económica 
Dos  [>omos  do  trj bailio,  e  tendes,  autonómica, 
A  arvore  da  existência!  E  seja  este  dia 
O  ponto  de  partida  a  uma  tal  porfiai 
Ajudai  vos  um  ao  outro,  amai-vos  mutuamente, 
E  assim  tereis  mais  tarde  o  fructo  da  semente! 


É  este  o  resplendor  o  mais  brilhante  e  bello 
Que  vós  podeis  tecer  ao  Ivens  e  Capellof 

Ponta  Delgada  — Dezembro  1885. 


IMITAÇÃO-- 
Ao  Excellenlissimo  Senhor  Doutor  Ernesto  do  Canto 


Ora  imagina  agora,  quão  coitados 
Andariamos  todos,  quão  perdidos, 
De  fomes,  de  tormentas  quebrantados, 
Por  climas  e  por  mares  não  sabidos; 
E  do  esperar  comprido  tão  cansados, 
Quanto  a  desesperar  já  compellidos, 
Por  céus  não  naturaes,  de  qualidade 
Inimiga  da  nossa  humanidade; 

Camões. — Lus.  C.  V.  Est.  LXX. 


Senhoras !  Cherubins  !  sorrisos  do  poeta  ! 
Essência  da  Creação,  perfume  da  violeta ! 
Mysterio  divinal !  encanto  da  existência  ! 


(•)  Recitada  pelo  sr.  Filomeno  Bicudo  no  sarau  theatral  de  5  de  dezembro. 

(-•)  Apenas  alguns  pensamentos  d'esta  poesia,  é  que  imitam  os  de  um  ar- 
tigo em  prosa  publicado  n'um  jornal  do  Continente  nas  vésperas  da  chegada  dos 
exploradores. 

N.°  45— Vol.  VIII  -1886.  8 


2Õ0  ARCHIVO  DOS  AÇORES 


P'ry  celebrar  o  h»  roe  du  dia,  ergue  a  consciência 
D'nm  povo,  sen  irmão,  as  festas  populares : 
—Cortejos  triumpliaes.  girandítlas  aos  ares, 
Hymijos  e  madrigaes,  pendões,  tropheus,  escudos. 
Bordados  a  matiz,  em  sedas,  em  velludos ! 

O  operário,  o  agricultor,  o  artista,  o  pobre,  o  pária, 
Em  júbilo  e  prazer,  tudo  canta  uma  ária. 
Tudo  u^tenta  o  seu  symb"io ! 

A  própria  Natureza 
Reveste-se  de  gala  e  faz  uma  surpreza! 
Nas  teclas  do  arvoredo  aíina-se  a  harpa  Eólia 
E  diz  canções  d"anK»r  .  .  segredos  .  .  á  magnólia! 
As  donzellas  ao  piano,  as  aves  na  floresta. 
Tudo  diz  num  acórde:~//o/>  é  dia  de  festa! 
A  rocha  lá  no  mar,  a  arvore  na  campina, 
O  arbusto,  a  planta,  a  ílor.  tudo,  tudo  se  inclina. 
Para  saudar  o  heroe  que  a  esta  pátria  sua, 
Dá  f.iuia  e  nome  e  gloria  e  luz  que  a  perpetua. 
As  pedras  da  calçada  o  brilho  das  saphiras. 
E  ao  todo  encantador  o  bojo  das  espiras! 

.Mas  vós.  Senhoras,  vós  que  peilenceis  ao  sexo 
Das  Laiiras.  Maintenons,  Nathercias.  nm  amplexo 
Vosso,  não  se  dispensa  em  festas  populares 
D'esla  monta,  e  por  isso,  haveis  dos  vossos  lares 
Concorrer  amanhã  pra  que  o  cortejo  reúna 
Todos  os  materiaes  precisos  p'ra  a  cohimna 
D^amor  e  gratidão  que  vamos  levantar 
Em  nossos  corações:  pra  o  esplendido  altar 
Que  vamos  erigir  no  templo  e  nos  anoaes 
Da  memoria  dum  povo,  em  honras  immortaes 
Do  ínclito  explorador,  do  bravo  marinheiro, 
Que  a  nação  talvez  salve  á  fúria  do  nevoeiro  ! 
Que  assim  qual  Levialhan,  rasgando  foi  os  mares 
De  campos  virginaes,  ílorestas  secidares. 
Por  montes  e  pinhaes  nunca  dantes  sulcados. 
Por  bosíjues  deparando  espinhos  e  silvados. 
Em  lucta  com  chacaes  e  régulos  ferinos. 
In.<iectos,  tremedaes,  e  cafres  assassinos !  .  .  . 
Entie  pântanos  mil,  transpondo  rios.  pontes. 
Percorre  costa  a  costa,  abrindo  horisontes 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  25Í 

Novos,  entre  a  floreslíi  africma  d  Angola 

A  Moçambique  !  (A  (jiianto  o  am  )i'  da  Scieiícia  imaiola  !  !  . . ) 

As>im  é  ijiie  eu  já  vejo,  a  parte  abrilhantada 

Oiie  vos  cabe  tomar,  mui  bem  desempenhada. 

Sabeis  como?  dum  modo  altisono  e  singelo: 

— (]om  vossas  mãos  darminho  e  com  todo  o  desvelo, 

Em  troca  dum  braçado  aurifero  de  glorias 

Que  d" Africa  nos  trouxe,  em  troca  das  victorias, 

Espalhando  com  graça,  encanto  e  galhardia. 

No  carro  Iriumphal  da  grande  travessia, 

Sorrisos  de  carmim,  braçados  de  camélias, 

O  mesmo  que  se  fosse  um  grupo  de  Cornelias ! 

* 
*        * 

A  flor  é  um  sorriso  angélico  do  chão, 

Assim  como  o  sorriso  é  a  flor  do  coração. 


O     SOIL.    E    O    OPlIElSrTE 

A  Filomeno  Bicudo 

Os  Génios,  os  Heroes,  são  como  a  luz  do  sol 
Que  inunda  o  Universo,  e  cujo  arrebol 

É  muito  mais  brilhante,  é  mais  encantador, 
Mais  poético,  tem  mais  feitiço,  mais  alvor. 

Deslumbra  mais,  tem  mais  encanto,  no  sitio  onde 
Nasce;  assim  é  Roberto  Ivens: — corresponde 

Em  S.  Miguel  —   sen  berço—  ao  brilho  e  à  belleza 
Que  o  sol  lá  donde  nasce  espalha  na  (leveza. 

No  prado  e  na  campina;  assim  pois  S.  Miguel 
É  o  Oriente  d"esse  sol  que  doira  o  capitel 

Do  grande  monumento  alevantado  em  gloria 
De  Portugal,  do  mundo  inteiro,  e  cuja  historia, 


232  ARCHIVO  DOS  ACOBES 


Se  muita  luz  derrama  em  todos  os  seus  filhos, 
É  certo  que  esta  Ilha  é  o  foco  dos  seus  brilhos ! 


Se  elle  fez  da  sua  terra  um  puro  ceo  radiante. 
Façamos  também  nós  um  sol  d'esse  gigante! 

Ponta  Delgada  —  Dezembro,  1885. 


CAPELLO  E  IVENS 


Festejou  Portugal  com  ufania 
Dois  cidadãos  distinctos,  sublimados 
Que,  pelo  amor  da  Pátria  arrebatados, 
Lá  da  Africa  fizeram  a  travessia. 

Para  os  michaelenses  um  tal  dia 
Deverá  ser  dos  mais  commemorados. 
Porque  um  dos  cidadãos  assignalados 
INesta  ilha  veio  á  luz  e  aqui  vivia: 

Portuguezes  de  lei,  em  nós  o  amor 
Da  Pátria  é,  foi,  será  o  dominante 
E  sempre  cultivado  qual  primor. 

Por  isso  nós  sentimos  neste  instante. 
Em  elevado  grau,  consolador 
Suave  enthusiasmo  edificante. 


* 
* 


ARCHFVO  DOS  AÇORES  253 

Jvens  homem  prestante  e  corajoso, 
Nasceu  em  S.  Miguel  e  é  meio  inglez, 
A  boa  educação  e  intrepidez 
Deve  elle,  sim,  já  hoje  um  tifio  honroso, 

É  homem  sobre  tudo  virtuoso: 
Idolatra,  acatou  sempre  a  honradez, 
Sem  que  nunca,  jamais,  uma  só  vez 
Desprezasse  o  caminho  glorioso! 

Um  cidadão  assim,  um  exemplar, 

Um  homem  íypo,  é  um  modelo 

<}ue  a  todos  nós  nos  cumpre  hoje  exaltar. 

E'  assim.  E  assim  será.  Ohf  quanto  é  bello3 

Sim.  quiz-nos  a  fortuna  deparar. 

Em  Ivens  um  heroe!  a  par  Capellof  .  .  . 


* 
*       * 


E"  louvável,  bonito  festejar 
Capello  e  Ivens,  dois  homenzarrões, 
<)ue  da  Africa  correram  os  sertões 
E  souberam  (quiz  Deust)  de  iá  voltar. 

€omo  um  tão  grande  feito  aquilatar  ? 
Qual  a  expansão  e  quaes  demonstrações? 
Fogos?  Folias?  Festas,  mil  funcções? 
Eil-o  aqui,  ora  exposto,  o  meu  pensar: 

Procurar  promover  publico  bem, 
E  pYa  tanto  tirar  de  nós  os  meios ; 
Pôr  escola  nocturna  aqui  e  alem; 

Publicar  mensalmente,  e  sem  rodeios, 

Quanto  distingue,  exalta  e  ennobrece  o  homem: 

Nomes— Capello  e  Ivens— serão  feios  ? 

New.  o 
Ponta  Delgada  17  d'outubro  de  1885. 


254  ARCHIVO  DOS  AÇORES 


HYMNO 


Em  liomeiíageni  ao  arrojado  e  intrépido  explorador 

Offerecido  pela  philarmonica  da  «Sociedade  Promotora  do  Progresso» 
Musica  de  Quintiliano  A.  Furtado —Letra  de  M.  J.  Duarte 

Voz 

A  Sciencia  é  uma  luz  que  illumin» 
Qual  um  astro  dMntenso  fulgor, 
É  na  terra  quem  tudo  germina, 
É  no  mundo  outro  sol  creador. 

Coro 

—  Roberto  Ivens — um  filho  illuslrado 
Desta  terra — seu  berço  natal, 

Da  Sciencia  ao  amor  dedicado 
É  no  mundo  um  brilhante  phanal. 

VOK 

O  apostio  que  induz  ao  Progresso, 
O  asceta  da  Deusa  da  Luz, 
É  aquelle  que  dá  mais  ingresso 
Na  Sciencia  — pharol  que  seduz. 

CôfO 

—  Roberto  Ivens  —  um  filho  illustrado  etc. 


(•)   LeUra  do  liymiio  musical  publicado  na  Bandeira  Portugueza  a  que  se 
lez  iprorenoia  n'outro  lopar. 


AhCHIVO  DOS  AÇOKES  Í^OO 

Quem  ei^parge  o  clarão  no  escuro 
E  no  cliáos  víie  a  luz  projectar, 
Tal  acção,  no  presente  e  futuro, 
Ha-de  lodo  o  Universo  lembrar. 

Coro 

—  Roberto  Ivens  —  um  filho  illustrado  etc. 

VOK 

SÓ  o  amor  da  Sciencia  embutido 
No  trabalho  e  vontade  e  prazer, 
Pôde  o  homem  levar  foragido 
Píira  as  plagas  onde  acha  <>  soíTrer. 

Coro 

—  Roberto  Ivens  —  um  filho  illustrado  etc 

Voz 

O  arrojo  entre  pYigos  e  feras 
Um  caminho  ao  commercio  traçou; 
Tremedaes  e  abutres,  crateras, 
Não  temeu,  nem  jamais  vacillou ! 

Coro 

—  Roberto  Ivens  —  um  filho  illustrado  etc. 

Voz 

As  incultas  regiões  africanas 
Onde  o  cafre  domina  o  sertão, 
Lapidadas  por  forças  humanas 
Bellas  jóias  mais  tarde  serão. 

Coro 

—  Roberto  Ivens  —  um  filho  illustrado  etc. 


256  ARCHIVO  DOS  AÇORE 9 

Voz 

Um  enorme  edifício  selecto 

Já  construe  a  Sciencia  ao  porvir: 

É  o  amor  ao  saber  predilecto 

—  Perfeição — quando  a  meta  atlingir.. 

Coro 

—  Roberto  Ivens  —  um  filho  illustrado  etc, 

Voz 

Portugal  teve  heroes,  na  conquista 
Que  a  attenção  do  Universo  prendeu, 
E  ainda  hoje  accrescenta  na  lista 
Mais  um  nome  que  essa  honra  mer'ceu. 

Coro 

—  Roberto  Ivens — um  fílho  illustrado 
D'esta  terra  — seu  berço  natal, 

Da  Sciencia  ao  amor  dedicado 
É  no  mundo  um  brilhante  phanal. 

Ponta  Delgada  1 !  dOutubro  de  1885. 


AKCHIVO  DOS  ACOBES 


257 


MEIOS  m  SE  OBTIVERAM  POR  SUBSCRIPgÃO 


FA^^RA.       OS       r^ESTE.TOS       A^ 


CíJ^T>:E,XuJ^(D  E  I■VE1^TS 


Dr    Praiicisco  P.  Lopes  de  Beltenromi  Athaidt 

6;5iOOO 

l)r.  José  Pereira  Botelho  Riley 

6-^000 

i^onde  da  Silva 

50^000 

Victoriano  Sequeira 

6:^000 

José  Pedi'o  de  Jesus  (^ardozo  . 

M200 

JaciíUho  VicloriíKt  \I  miz 

Ii5^200 

Artliur  Machado  Gama  (barreiro 

2^400 

Antoni(j  Teixeira  d"Oliveira 

2íiiOO 

Benjamin  Feriu 

^200 

Paiva  Lemos           .         .         .         . 

Iíi200 

António  Joat|iiim  Nunes  da  Silva 

o;5Í600 

José  Duarte  da  Horta 

1^200 

Joaquim  Diogo  de  Mello 

l?>200 

Luiz  Tavares 

m'to 

António  Tavares  Netto    . 

3áilJ00 

António  José  Machado     . 

6^0*000 

Luiz  José  Bibein»  . 

3dOOO 

Manoel  1.  Corrêa    . 

1:^200 

Abreu  Vascoucellos,  lru)ãos     . 

3^600 

Manoel  Kebello  Muniz  A-  C/    . 

\moo 

Bicliard  Semann     . 

C^OOO 

Manoel  Bettencourt  Neves 

Ií^200 

José  1.  Bebello  Júnior     . 

2^400 

Dr.  (juillierme  Machado  de  Paria  e 

Maia 

2?$íiOO 

Dr.  Agostinho  Machado  de  Faria  e 

Maia 

"imo 

João  (Corrêa  de  Mello 

2r>400 

José  de  Medeiros  (logombreiro 

:moo 

Clemente  Joa(|uini  da  (j)sta 

7?5200 

José  ravares  Carreiro 

1^200 

António  Leite  da  Gama  . 

3áí600 

José  Jaciutho  Pacheco  d(^  Medeiros 

1^200 

José  M;iria  Pitnentel 

láí200 

Thom.iz  Augusto  de  Borba 

1  -5800 

Somma I4i-56i0 

"  io  — Vol.  VIII  -  1886. 

9 

258 


ARCHIVO  DOS  AÇORES 


Transporte 
Virgílio  Sonres  d  Albergaria    . 
Dr.  Eugénio  do  Cantti     . 
Dr.  Ant(»tiio  AiigiisU»  Paclieco 
CHpilão  David  Xavier  Cohen  . 
António  Amnrini  da  Cnnlia 
Dr.  Franciscit  .Jerónimo  (loellio  e  Souza 
Dr.  Henri(|ne  Ferreiía  de  Paula  Medeiros 
Annibal  Gomes  Cabido   . 
Dr.  Francisco  da  Silva  Cabral 
FilippH  d  Andiade  Albuqnt njur 
Anti  mio  de  Souza  Arrnda 
Joaqnim  Harbosa    . 
Lni/-  do  (vanto  da  Camará  Falcão 
José  Borges  de  Vasconcellos    . 
Dr.  Artbni'  Hintze  Ribeiro 
António  Mactiado  Alvares  Cabral 
Henriíjne  da  Camará  Frazão   . 
\lajor  Alfredo  Leopoldo  da  Silveira  Orlandi 
Álvaro  Amorim  Borges  . 
Visconde  das  Larangeiras  (JManorli 
António  dos  Santos  Bibeiro 
Con»nel  Lniz  Maria  Pires  da  Cama 
Gcoige  William  Hayes    . 
João  Lniz  de  Moraes.  Pereira   . 
António  da  Ponte  Maia    . 
Francisco  Xnvitr  Pinto  . 
José  Maria  Barbosa  (  oulinho  . 
Dr   Manoel  Lopes  Gnimarães. 
João  Leite  Paclieco  de  Bi'ttenc(nirl 
HeruMíjue  Bensande 
Manoel  Jacintlio  Pacheco 
António  José  Raposo 
Dr.  Aristides  Moreira  da  Motla 
José  Horta     .... 
José  d' Arrnda  Leite 
Bernardo  Machado  de  Faria  e  Maia 
Dr.  José  Pereira  Botelho 
Padre  Francisco  H»»rta    . 
Padre  João  António  Botelho 
Padre  João  Félix  d  Oliveira  Pijilio 
Syniplicio  (iago  da  Camará 
Anitnymo       .... 
João  de  Mello  Abreu 

Soinma    ... 


144^040 

2^400 

12^5.000 

1:5200 

2^4(M) 
2^400 
3^000 
3^000 

3^600 
0720 
15200 
1^200 
2^400 
I?$íi00 
0^000 
4,5(800 
US800 
1-5200 
2^400 

10-5000 
^600 
Ií$l200 
2^400 
1^200 
L>200 
5^600 
15200 
l'>200 
1->200 

206000 
U20(» 
lí)200 
1^200 
l$200 
^240 
7-52(K) 
4-5800 
id200 
Ií5200 
l?>200 
2<>400 

48.)00O 
15200 

3225400 


ARCHIVO  nos   ACORKS 


ii59 


Transporle 
João  HíTiianles  dAbreii  e  Lim.i 
Dr.  C.)e'l.iii()  (I  Aiidt.Hle  Alljii(|iiHrqne 
Jacinllin  dAmiiadi'  AlbiKjiierqiip 
Francisco  Bt^nlo  KfHiico  . 
Dr.  Carlos  .Viária  domes  \l.iclia(Jo    . 
José  de  Medeiros  Betlencoml  Hego. 
\)v.  Aiilouio  Moreira  da  Camará  Coutinho 
Eduardo  Augusto  Kopke 
Dr.  José  Júlio  Teixeira   . 
Tenente  (^(tr'onel  Joaijuim  Firmiu(j  Borges 
Augusto  Atliaide  C(jrte  Beal  da  Silveira  [ 
José  Maria  Alvares  Cabral 
Dr.  Paulo  Cuedes  da  S.  e  Almeida 
Alberto  de  Freitas  da  Silva     . 
João  Bernardino  de  Sena 
Dr.  Álvaro  Kopke  de  Barbosa  Ayala 
Alferes  Hermano  de  Medeiros  Camará 
Dr.  Manoel  Maria  da  Bosa 
Dr.  José  Machadi»  de  Faria  e  Maia  . 
Dr.  A.  Alberto  Piuluin»  de  Barros  . 
Dr.  Tlieotonio  Claudino  <la  Silveira  Moniz 
Francisco  de  Salles  Resendes . 
Luiz  Maria  de  Moraes     . 
Manoel  Aiigust<»  Hintze  Ribeiro 
António  Jacintho  de  Amaral  Aragão 
António  Joai|uim  Domingues    . 
Agostinho  Cymbron  Borges  de  Sousa 
José  Maria  Cabral  Ramalho     . 
João  Sieuve  de  Seguiei'  . 
Dr.  Maiianiio  Aiigusti»  Machado  de  Faria 
António  José  de  Vascoiicellos  . 
(tÍI  Gago  da  (Gamara 
Victoniio  Ignacio  dArruda 
João  Joaquim  da  Costa  A  Filho 
General  António  de  Medeiros  de  Beltencí 
António  Alfredo  Barbosa 
André  Alvares  (Cabral     . 
João  Ignacio  Pacheco  Leal 
Padre  Jacintho  da  Ponte. 
Francisco  Barbosa  Furtado  Júnior    , 
Christiano  de  Medeiros  Frazão 
Jíisé  de  Bettencourt  Athaide    . 


de  (jusmão 


Bicu 
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do 


e  Mai 


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1^200 
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1^5800 
1'5200 
I  f$i200 
:{^600 

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1^200 

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f>000 

1^200 

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2^.220 

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I  f>20() 

I  í>200 

Ír)»8U0 
I  r>800 

OSOIK) 

?>600 
2^.100 
Iái200 
2?^  UM.) 


Sonima 


'amno 


260 


ARCHIVO  DOS  ACOHES 


Transporte 
JaciíJlliu  Píicliecu  dAliiieida     . 
Dr.  Miguel  fie  Souza  Pinheiro 
[)r.  Vicente  Machado  de  Faria  e  Maia 
Aunibal  de  Betti-nconrt  Barbosa 
Francisco  de  Bettencdurt 
Lniz  (jnintino  d'Agniar   . 
Dr.  Luiz  Poças  Falcão    . 
Aristides  Biandão  de  Castro   . 
Dr.  Marianno  Kebello  Alvares  Cabral 
(íuilherme  Frazão  .... 
Angelo  José  Dias   .... 
João  Bento  Botelho  de  Gusmão 
Capitão  Álvaro  Rodrigues  dAzevedo 
Francisco  Borges  Bicudo 
José  Bensaude        .... 
Jacinlho  Soares  dAlbergaria   . 
Jacintho  Leite  de  Betlenconrt  . 
Francisco  Maria  Supicí»  . 
Jerónimo  Corrêa  da  Silva 
Dr.  Giialdino  Alfredo  Lobo  de  Goiívèa  V 
Dr.  Guilherme  Poças  Falcão    . 
Francisco  Hebello  de  Chaves  . 
Abram  Ben  Slimam 
Capitão  Sarmento  .... 
Arão  Bensaude       .... 
Alferes  Francisco  António  da  Silva  . 
Manoel  Corrêa  e  Silva    . 
Licinio  Jnlio  Botelho  Tavares  . 
João  José  de  Sousa 

Thomaz  Augusto  Ser|)a.  ça[)itão  ahno\ar 
Amâncio  Júlio  Cabral 
José  da  Silva  (Cabral 
D.  Joaquim  de  Mello  Manoel  da  Caiiijua 
Dr.  Veríssimo  dAgiiiar  Cabral 
Salvador  Azul.iy     .... 
.losé  Tavares  Cordeiro    . 
Pedro  Bicudo  Corrêa 
Amâncio  Gago  da  (Gamara 
Luiz  Alhanie  Corte  Heal 
Carlos  Augusto  Carneiro  Zagallo     . 
Auonymo       ..... 
ViscfMide  de  Santa  Catharina  . 


Iladar 


es 


í:í2à940 

2,5880 
2?5Í400 

If^200 

lr>200 

;íí)6oo 

2í^400 

fir>600 

5-3600 

2r>800 
2:S40(J 

2d400 

l>2(X) 

J  6^5*800 

lodooo 

1^200 
LS200 
2d400 
20400 
6^000 
2?5400 
2'>800 
L>200 
US200 

2r>800 

(5()00 
/>600 
í^600 

2SUM) 
Ò600 
?51960 

1)5200 

I.->200 

oí^eoo 

i>6(H) 
L>200 
or>00O 
6d000 
L>200 
IA2(M) 
2i,>(MM» 


Som  ma 


577Ò980 


AHCHIVO  DOS  ACOKKS 


201 


Tíaiis{)õríe       .... 

577.-S98U 

Manoel  .líicinllio  I.opes  (Villa   KiaiiCH) 

Gr>()ÍX) 

Pranciscu  <l  Amlradc  Alliiii|nci(|iie  BpltPiicoiirt 

USáOO 

Filomeno  Bicudo    ..... 

Or5.60() 

Francisco  Peixoto  da  Silveir.i 

5r>60í) 

William  Read 

2^400 

Ballliazar  .Foaiiiiiiii  da  Ijiz 

16200 

AnonyíMo       .         . 

l?)200 

José  Jaconie  (Corrêa 

mmoi) 

Anonynio       ...... 

200Í.000 

Producto  liquido  da  lecila  de  5  de  dtzenihn» 

I02f>27o 

Diário  dos  Açores  (siibscripção  que  abri(M 

!0j>97(> 

Diaro  d"Anniincios  (       «               «       «     ) 

1 3-5375 

Republica  Federal  (       «              «       «     ) 

19^^07 

^0 

51-S1I5 

Benjamin  Ferin              (Lista  dei 

lí>2l 

José  B.  Âmbar               (     «     «   )     . 

7-5650 

Frederico  A.  da  Silva    (    «     a  )     . 

\S1W 

Gil  Miranda                    (    «     «  )     . 

Idl20 

Tabac.de  Cogiimbreiro  (     «     a    )      . 

h>080 

Adrebis                         i    «     «  )     . 

tí.548Ó 

22'>270 

Somma 

l:377S140 

hfspczas  (lo  (lortejó  e  Festival 


Pago  as  sr.  António  Joaipiim  d'Ai'rnda  por  despezas 

com  os  escddíts  do  Campo  de  S.  Francisc 
Despeza  do  Carro  da  Agricnltnra 

«  «       «     das  classes  Laboriosas  . 

«  «        «     dos  Estudantes 

«  «       «     da  Commissão 

Á  Banda  de  Musica  das  Capellas 
A  Banda  de  Musica  da  Ribeira  Giande 
Cobrador  e  avisos  ..... 
2't  |iliotograliias  dos  Carros  triumphae>  para  nlTeiecei 

aos  dois  Exploradores 
A  rebotes  para  a  March-au.r-fhimbcmar 
Bandeiras,  mastros,  vasos  de  ílores,  palanques,  et( 
Ciirandolas.  foguetes  e  salva    .... 

Somma 


18^713 
49;>.37o 
70?5.830 
43í5>o55 
!83,>II0 
20.'>000 
20:5000 
I3í>200 

5f>7CO 

43:5220 

2056335 

3269 'i  O 

70660 'i  O 


262  ARCHIVO  DOS  AC0BE8 


Resumo 

Receita .  1:377^^140 

Despeza .  70(5^040 

Saldi)  com  applicação  a  Alameda  e  Monumento  O/MIOO 


O    FXISJJ^X^ 


o  iionje  de  Kobert'»  hens  não  esquecerá  jamais  na  sna  terra. 

Kica  designan  lo  a  l)elli>ima  Aveniila  que  se  está  abrindo  para  li- 
gar á  Bua  Formosa  o  Campo  de  San  Francisco,  de  Ponta  Delgada:  e 
ficará  niim  mommiento  de  mármore  que  se  erigirá  na  Alameda  do 
Duque  de  Bragança,  ha  muitos  annos  projectada  e  que  aliual  vae 
tornar-se  realidade,  no  Helvão.  o  sitio  onde  em  1832  lurujou  a  divisão 
dos  7:500  bravos  do  exercito  libertador  e  d'alli  desfilou  para  os  cães 
d'esta  cidade  a  embarcar-se  para  surgir  no  Mindello  a  couipiislar  lie- 
roecamente  a  liberdade  nacional. 

A  Alanj^^da  será  comuíemorativa  deste  fado  notável  da  nossa  his- 
toria modeiua. 

E  na  sua  avenida  hiteial  .lireita.  uma  columua  de  ordem  coryu- 
thia,  de  4  melros  d'Hltura,  encimada  por  uma  esphera,ttrá  legendas, 
nas  faces  de  sua  base,  allusivas  ao  feito  (pie  determinou  esla  home- 
nagem de  admiração  ao  compatriot;i  dluslre. 


-^  >'ê>Cê^^^-J3-- 


ARCHIVO  DOS   AÇORES  263 


APPENSO 


Em  con)|jl<Miieiilo  deste  íiaballio  vamos  i'epruduzir  Unh  a  corres 
pendência  impressa,  e  algiim;t  que  o  não  loi,  por  motivo  dos  feslejtts. 


A  PRIMEIRA  MENSAGEM 

N"e.-la  circnm>lanciada  noticia  cjnizéuKts  inserir  também  a  }Jetisu- 
fjfm  enviada  em  setenjbro  aos  exploradores  pelos  sócios  da  Sociedade 
de  Geographia  residentes  em  Ponta  Delgada. 

Recorremos  ao  nosso  esclarecido  amigo  Henrique  das  Neves,  que 
<i  redigio  e  |)rom'>veo  a  sua  assignatura,  para  nos  proporcio.iar  a  res- 
pectiva copia. 

Hesporjdeo  nos  com  as  seguintes  linhas: 

Am/* 

Procuro  eutre  os  meus  papeis  alguns  vestígios  da  redacção  da 
Mensagem  e  nada  encontro.  Signal  de  (pie  inutilisei  o  borrão. 

Pelos  m^èu^  apontamentos  posso  dizer  apenas  que  foi  datada  de 
IH  de  setembro  de  1885  e  subscripta  por  nove  sócios,  os  srs.: 

Dr.  Ernesto  do  (>anto. 

Dr.  (Caetano  d  Andrade  Albuquerque. 

Francisco  Maria  Supico. 

Augusto  ('esar  Supico. 

donde  da  Silva. 

Dr.  (lailos  Maria  Gomes  Machado. 

Barão  de  Fonte  Bella  (Jacintho). 

João  Bernardino  de  Sena. 

Henrique  das  Neves. 

Faltando  a[)enas  dois  ausentes,  os  srs.: 

José  do  tlaido. 

Dr.  Vicente  Machado  de  Faria  e  Maia. 

Sempre  am." 
Henriqne  das  Neves. 


264  ARCHIVO  DOS  AÇOfíES 


III.""'  e  Es.™''  Siir. 

Cabe  11)6  ;i  hunra  de  partici|jar  a  V.  E\/,  que  na  reunião  publii-a 
de  lioiUein.  iia  ^ala  ilas  sessões  da  Camará  Mnnicifial  desla  cidade,  toi 
V.  E\.*  eleito  membro  da  grande  (lommissão  iiiciniibida  de  promov-'- 
e  realisar  (juaesquer  maiiite>ta(;ões  publicas  em  Imiiia  do?  illu>lres 
ex[tloradores  dAfrica,  Capello  e  Ivens.  bem  como  de  qualquer  comme- 
moragão  devida  ao  Beiiomerilo  Micbaelense  ipje  lanto  honrou  a  terra 
em  que  nascei ►. 

No  próximo  Doujingo,  18  do  corrente,  pela  i  li.  da  tarde  na  su- 
pradita sala,  liaveiá  a  primeira  reunião  da  commissãu,  á  qual  digiian- 
do-se  V.  Ex.^  coiicoirer  prestará  uma  primeira  e  devida  honienagem 
de  elevada  significaçãn. 

Deus  guarde  a  V.  Ex.'*  Ponta  Delgada  12  de  outubio  de   1885. 

111.'"^'  e  E\."'^  Sr 

lassignado) 
Entesto  (Io  Canto. 


111.'"*'  e  Ex."**'  Snr. 

Os  abaixo  assigiiados.  ((tnslituidos  em  uma  sub-commissão  afim 
de,  na  freguezia  de  S.  .losé,  angariarem  jiarte  dos  recursos  indispen- 
sáveis para  a  realisação  das  manifestações  publicas,  (]ue  se  pretendem 
levar  a  eífeito  nesta  ciila-le  de  Ponta  lJelga(Ja,  em  homenagem  aos 
nossos  beneméritos  concidadãos  e  valentes  exploradores  da  Africa,  Ro- 
berto Ivens  e  Brito  Capello,  tiveram  a  honra  de  procurar  V  Ex.**  em 
sua  casa,  no  intento  de  lhe  exporem  a  sua  missão  e  solicitar  de  V. 
Ex.**  o  seu  concurso  para  >e  levar  a  cabo  tão  alevantado  pensamento; 
e  como  não  houvessem  conseguido  dar,  pessoalmente,  cordiecimenlo  a 
V.  E\.^  do  fim  especial  a  que  se  propu/.eram,  tomam,  os  signatários, 
a  liberdade  de  o  fazer  por  es(e  meio,  condados  em  (pie  V.  Ex.'\  não 
só  ac(tllierá  favoravelmente  o  apello  que  ousão  fazei'  á  provada  eleva- 
ção dos  seiítimenlos  patrioticus  de  V.  Ex.'',  mas  também,  que  se  di- 
gnará subscrever  com  qualquer  (piantia.  destinada  a  festejar  e  perpe- 
tuar os  gloriosos  leitos  d  aquelles  heróicos  ()oiliiguezes. 

As.^im.  e  para  poupar  mais  incoiiiuioilo  a  V.  Ex.'\  rogamos-lhe  a 
liueza  de,  quereiid(t.  imlicar  em  seguida  ao  seu  nome,  a  quantia  ipie 
lhe  aprouver  dispensar-nos,  devolvendo  esta  circular  a  qualipier  dos 
membro^  da  siib-commissão,  até  ao  dia  17  de  corrente. 


ARCHÍVO  DOS  AÇORES  265 

Deus  Guarde  a  V.  En.^  —  Ponta  Delgada,  \2  doulubro  de  1885. 
111."'°  e  Ex."'°  Sur 

A  Niib-ComniiNHilo 

Francisco  Peixolo  da  Silveira. 
Mariaimo  R.  A.  Cabral. 
Aristides  Brandão  de  Castro. 
Filomeno  Bicudo. 


AVISO 

No  DoiDÍngo  25  d'outul3ro,  pela  1  hora  da  tarde,  na  sala  da  Ca- 
mará Municipal  de  Ponta  Delgada  haverá  reunião  da  Commissão  Pro- 
motora dos  Festejos  a  Capello  e  Iveus. 

o  Presidente 

Ernesto  do  Canto. 


111.'"°  e  E.\.'"°  Snr. 

A  sub  rommissão  encarregada  de  promover  donativos  para  execu- 
ção do  programma  junto.  (*lcom  o  fim  de  festejar  e  commemorar  con- 
dignameute  a  heróica  travessia  dAfrica  effectiiada  pelos  beneméritos 
Koberto  Ivens  e  Brito  Capello.  confiada  nos  sentimentos  patrióticos  de 
V.  Ex.*,  vem  por  este  meio  solicitar  o  seu  concurso  para  levar  a  ca- 
bo tão  elevado  pensamento. 

Qjierendo  V.  Ex.^  subscrever  com  qualquer  quantia,  roga-lhe  a 
sub-cummissão  a  fineza  de  a  indicar  abaixo  do  seu  nome,  n"esta  cir- 
cular. 

Para  poupar  mais  iucommodo  a  V.  Ex.*  mandará  a  sub-commis- 
são  nos  proximits  dias  procurar  a  resposta. 

Deus  Guarde  a  V.  Ex.^  -Ponta  Delgada,  i8  dOutubro  de  1885. 

lil.'""  e  Ex."'°  Snr. 

Hs.  ^ 

A  sub-comniisjião 

Ernesto  do  Canto. 

Aristides  Brandão  de  Castro. 

Filomeno  Bicudo. 

Francisco  Peixoto  da  Silveira. 

Victoriano  Sequeira. 

José  Pereira  Botelho  Riley. 


(•)  Já  o  reproduzimos  n'outra  parlo. 
N/*  i5— Vol.  VIU -1886.  10 


266  ARCHIVO  DOS  AÇORES 


Ex.'^"  Sr. 

Os  abaixo  assignadus,  membros  da  sub-commissão  do  Festival, 
presentes  á  sua  sessão  de  5  do  corrente  mez,  deliberaram,  para  dar 
cumprimento  au  arl.°  1.°  do  Pmgramma  junto,  (*)  uuvir  as  varias  As- 
sociações desta  cidade,  para  com  mais  segurança  e  acerto  a  sub  cum- 
missão  poder  formular  o  Programma  de  festejos,  que  melhor  resp(»n- 
da  ao  sentimento  civico  da  população  da  cidade  para  com  os  illustres 
exploradores. 

Neste  intuito  rogamos  a  V.  Ex.^,  se  digne  convidar  a  Associaçãi» 
da  sna  digna  presidência,  a  enviar  um  socio.  — seu  delegado  que  a 
represente — ^á  sessão  desta  sub  commi^são.  que  se  hade  realisar  no 
domingo  15  do  corrente,  pelo  meio  dia,  na  sala  da  camará  municipal. 

Ponta  delgada  6  de  novembro  de  1885. 
Ex.'""  Sr.  Presidente  de 


António  Augmlo  Pacheco. 
Carlos  A.  Carneiro  Zagallo. 
David  Xavitr  Coliert. 
Ernesto  do  Canto. 
Francisco  P.  L.  de  B.  Athayd» 
Francisco  Maria  Supico. 
João  Bernardino  de  Sena. 
Henrii]ue  da  Camará  Frazão 
Henrique  das  Neves 
José  Botelho  Âmbar 
José  Lopes  d' Azevedo 


E\.'"°*  Collegas 

Os  jornalislas  desta  cidade,  em  reunião  no  dia  1 1  do  corrent{\ 
para  manifestarem  a  sua  adhesão  ás  publicas  manifestações  em  honra 
dos  illnsíres  exploradores  Brito  Capello  e  Roberto  Ivens.  resolveram: 

apresentar-se  em  corporação  no  cortejo  civico  (|ue  terá  logar  no 
dia  'á9  do  corrente:  e 

publicar  o  numero  único  de  um  jornal.  (|ue  se  intitulará  Irens  e 


(•)  O  quo  se  reproduzio  n'outríi  parle. 


ARCIUVO  DOS  AÇORES  267 

Capciln,  redigido  por  lorJos  os  collegas,  de  que  se  fará  larga  e  gratui- 
ta dislrihiiição  durante  o  cortejo. 

Na  qualidade  de  decíimi  da  classe  tenho  a  honra  de  lhes  fazer 
esta  coniniuuicíição,  convidando-os  ao  mesmo  tenipo  a  nccupar  os  seus 
logares  junto  dos  collegas  e  a  enviarem  alguma  collaboração  para  o 
jornal.  Esta  deve  ficar  em  meu  poder  até  á  quarta  feira  immediata- 
mente  anterior  ao  dia  29. 

Tenho  a  honra  de  me  subscrever  C(»m  a  maior  consideração 

De  V.  Ex.^=* 


Ponta  Delgada  14  de 
novembro  de  1885. 
III.'"''*  e  Ex."^°^  Redaclores  do  jornal  — 


Colleaa  muito  reconhecido 


o 


Francisco  Maria  Supicò. 


CIRCULAR 

Tornando  se  necessário  harmonizar  e  regular  a  acção  das  Ires 
sub-commissões  da  grande  Commissão  Promotora  dus  festejos  a  Capei- 
lo  e  Ivens  e  da  Camará  Mimicipal,  tenho  a  honra  de  convidar  os  Ex."'*'* 
Snr.*  abaixo  designados,  para  se  reunirem,  no  Club  Michaelense,  no 
dia  18  (quarta-feira)  do  corrente  mez  pelas  7  horas  da  noite  a  fim  de 
se  resolver  o  que  melhor  se  deva  fazer. 

Ponta  Delgada  18  de  Novembro  de  1885. 

Presidente  da  Cornara  Dr.  Aristides  Moreira  da  Motta 

Aristides  Brandão  de  (lastro 
^Dr.  .iose  Pereira  Botelho  Kiley 
Sub-commissão  da  subscripção  'Victoriano  Sequeira 

/Francisco  Peixoto  da  Silveira 
l  Filomeno  Bicudo 

n  .    j         .  ,•        *Dr.  Francisco  P.  L.  B.  Athavde 

Daa  da  parte  commemorativa     j  ^^^^.^  ^^^.^^  ^^^^^  ^ 

f. ,     ,    .  ,     ,  i  Henrique  das  Neves 

^^'"  ^'  f'''''"^  i  Carlos  Augusto  Carneiro  Zagallo 

Ernesto  do  Canto. 


268  ABCHIVO  DOS  AÇORES 


111."'°  e  En.°'°  Snr. 


Em  nome  da  Commissão  encarregada  de  feslejar  a  travessia  dA- 
frica  pelos  illustres  Exploradores  Capello  e  Ivens,  n"esta  cidade  de 
Ponta  Delgada,  tenhu  a  honra  de  convidar  a  V.  Ex.^  para  tomar  parte 
no  Cortejo  Civico,  que  se  deve  eíTectuar  no  Domingo  ^9  do  coriente 
mez,  (ou  no  immediato  se  o  tempo  não  fôr  favorável  [)artindo  du  Lar- 
go de  S.  Francisco  ao  meio  dia  em  ponto. 

Dignando-se  V.  Ex.^  acceder  au  nosso  convite  concorrerá  para 
que  seja  mais  brilhante  e  significativa  a  homenagem  aos  bentuieritiis 
Exploradores. 

Deus  Guarde  a  V.  Ex.* — Ponta  Delgada.  Íá3  de  Novembro  de  ISSo. 
lli.'"9  e  Ex."'"  Sr 

o  Presidente 

ErneMo  do  Cahto. 


CONVITES  ÁS  CAMARÁS 

Ás  camarás  municipaes  dos  concelhos  de  Lagoa,  Viila  Franca,  Po- 
voação, Nordeste  e  Bibeira  Grande,  foram  dirigidos  convites  paia  se 
incorporarem  no  cortejo.  As  que  não  poderam  comparecer  em  rasão 
da  distancia  da  sede  do  districto,  nomearam  representantes,  a  quem  di- 
rigiram officios  pelo  theor.  mais  ou  menos,  do  que  se  segue: 


III."'"  e  Ex.'"°  Snr. 

Rogo  a  V.  Ex.^  em  nome  da  Camará  Municipal  deste  Concelho 
de  a  representar  nos  festejos  que  deverão  ter  logar  no  próximo  do- 
mingo 29,  em  honra  dos  exploradores  Capello  e  Ivens.  pelo  que  lhe 
ficará  altamente  reconhecida. 

Deus  Guarde  a  V.  Ex.^ 

Secretaria  da  Camará  Municipal  do  Concelho  do  Nordeste,  27  de 
Novembro  de  1885. 

111.'"^'  e  Ex.""*  Sr.  Francisco  Maria  Supico. 

o  Pre8i«lenle  da  Camará. 

Rodrigo  Soares  de  Medeiros  Gamboa, 


AHCHIVO  DOS  ACOhES  269 


AVISO 


Como  não  teve  logar  o  cortejo  civico  e  mais  festejos  ;io  ar  livre, 
que  se  projectava  realisar  hoje.  em  homenagem  a  Brito  Capello  e  ho- 
berto  Ivens,  fica  transferido  o  saiau  tiíealral  para  sabbado  5  de  de- 
zembro p.  f. 

A's  pessoas  que  tomaram  bilhetes  para  este  sarau,  roga-se  a  es- 
pecial fineza  de  os  mandarem  buscar  ao  camaroleiro  do  theatio. 

Ponla-delgada,  29  de  novembro  de  1885. 


PELO  immm 


Seria  necessário  explanarmo-nos  tiemasiadamente  se  qiiizessemos 
aqui  registar  todas  as  manifestações  de  que  foram  objecto  no  estrangei- 
ro os  nossos  eminentes  compatriotas. 

Se  o  não  fizemos  com  relação  ao  nosso  paiz,  pois  só  para  isso  se- 
ria necessário  occupar  volmnes.  isso  nos  absolve  de  nos  poupaimos 
ao  trabalho  de  colleccionar  o  que  se  passou  pelas  outras  nações. 

A  França,  a  Allemanlia  a  Inglaterra  e  outros  paizes,  convidaram 
os  explorad(jres.  por  intermédio  das  suas  sociedades  geographicas,  (ta- 
ra os  ouvir  e  os  honrarem,  pelo  altissimo  serviço  que  prestaram  á  ci- 
vil isação. 

Só  puderam  ii'  a  Hespanha  e  França. 

Em  Paris,  foi  o  mais  arrojado  homem  d'esle  século,  o  immortal 
Fernando  de  Lesseps,  quem  os  apresentou  á  Sociedade  de  Geographia, 
fazendo-lhes  o  mais  levantado  elogio.  A  sociedade  na  sessão  annual  em 
que  confere  distincções  aits  mais  intrépidos  e  aos  que  maiores  subsí- 
dios trazem  á  sciencia,  conferiu  aos  nossos  gloriosos  compatriotas  a 
grande  medalha  de  honra. 

Ha.  todavia,  um  documento  que  não  podemos  deixar  de  registar 
na  sua  integra  nestas  paginas. 

Multiplicaram-lhe  as  edicções  os  jornaes  de  todos  os  matizes,  mas 
raras  pessoas  guardam  collecções  das  folhas  (jue  mais  circulam.  Poi- 
isso  nos  parfceo,  que  honrando  com  elle  estas  paginas  contribuiria- 


270  ARCHIVO  DOS  AÇOBES 

mos  p.ira  que  mais  se  prolongue  a  sua  duração  i]'esles  f.istos  coevos 
(Je  successos  tão  glorificados. 

O  dociimenl;)  referido,  é  o  convite  feito  de  Madrid,  em  nome  do 
cavallieiroso  povo  hespanhol,  para  que  visitassem  aquella  capital  Brito 
(^apello  e  Roberto  Ivens. 

São  paginas  escriptas  calorosamente  celebrando  as  glorias  portii- 
gnezas,  e  tragando  a  missão  altíssima,  qíie  nos  cumpre  ainda  desem- 
penhar para  correspondermos  dignamente  ás  nossas  brilhantes  tradi- 
cções. 

(>omo  portiiguezes,não  podemos  deixar  de  orgnlhar-nos  por  ver- 
mos de  tal  modo  alTirmado  nm  passado  glorioso,  inteira  justiça  fei- 
ta ao  muito  que  nos  esforçamos  para  nos  mantermos  no  posto  que  nos 
compete  como  das  primeiras  nações  colonisadoras,  e  estimulados  os 
brios  nacionaes  [lara  as  obrigações  (]ue  temos  contraído  perante  a  ci- 
vilisação. 

A  levantada  forma  e  profunda  verdade  de  semelhante  documen- 
to nos  decidio  a  assignalar-lhe  espaço  n"este  Archivo. 

Como  complemento,  as  noticias,  ainda  que  succintas,  do  modoco 
mo  na  capital  da  nação  visinha  e  irmã  foram  recebidos  os  dois  heroes 
das  pacificas  e  incruentas  luctas. 

Tudo  isto  é  com[)leta  justificação  dos  enthusiasmos  excepcionaes 
desenvolvidos  em  Ponta  Delgada  glorificando  aquelles  homens,  um  dos 
quaes  nascido  nesta  formosa  cidade  açoriana,  onde  lhe  sorriram  as  bel- 
las  auroras  da  existência,  onde  seu  espirito  começou  a  illustrar-se  e 
o  seu  coração  a  formar-se  para  os  intrépidos  arrojos  e  para  os  feitos 
immortaes. 

Pareceo-nos  que  seria  o  melhor  remate  d'este  trabalho  o  docu- 
mento de  que  temos  faltado  e  começa  na  pagina  seguinte. 


ARCHIVO  DOS  ACOKES  Jíl  \ 


CAPELLO  E  lYENS 


EM 


HESPANHA 


É  extremamente  livSongeira  (escreveo  (»  Jornal  do  Commercio  de 
Lishoa)  para  os  exploradores  e  para  Portugal  a  altitude  que  a  Ijerie- 
merita  Sociedade  Hespanhola  de  Geographia  Commereial  de  Madrid  a- 
caba  de  tomai-  em  presença  do  facto  memorável  da  travessia  realisa- 
da  no  continente  africano  por  Capello  e  Ivens. 

No  Circulo  da  União  Mercantil,  e  a  pedido  de  vuiios  sócios,  cele- 
brou na  noite  de  14,  eu)  Madrid,  uma  sessãn  extraordinária  a  Socie- 
dade Hespanhola  de  Africanistas,  hoje  de  Geographia  Gommercial,  a 
fim  de  discutir  a  seguinte  proposta : 

«Tendo  regressado  a  Portugal,  da  sua  importantíssima  expedição 
da  Africa  Austral,  os  exploradores  Hermenegildo  l>apello  e  Hnjtprlo 
Ivens,  o  vogal  que  assigna  tem  a  honra  de  propor  á  junta  dirniiiva 
que  lhes  seja  dirigida  uma  carta  de  felicitação:  que  sejam  ní»meados 
sócios  honorários,  e  convidados  a  visitar  Madrid,  com  o  fim  de  que  em 
uma  ou  varias  sessões  publicas  façauí  o  relatório  dos  Sfus  resultados 
scientificos  e  cimmerciaes  obtidos  nas  viagens,  e  que  adhira  a  socie- 
dade, por  sua  deliberação,  á  recepção  que  sp  organise  em  honra  dus 
i Ilustres  geographos  porluguezes.w 

Como  consequência  d'esta  sessão,  aquella  sociedade  dirigiu  aos 
srs.  Capello  e  Ivens  a  seguinte  mensagem: 


Ex.""'*  srs.  Hermenegildo  Capello  e  [U»beitr>  Ivens. 

A  junta  directora  desta  sociedade  soube  com  extraordinário  jubi- 
lo do  termo  feliz  da  vossa  expedição,  atravez  a  Africa  Austral,  de  tão 
immensa  transcendência  para  a  geographia.  para  o  comnieicio  univer- 
sal e  para  o  futuro  da  vossa  pátria:  e  cumprimos  gostosamente  o  en- 
cargo que  em  sessão  extraonlinaria  de  hoje  nos  foi  incuuihido  de  vos 
saudar  e  dar-vos  as  boas  vindas  mais  cordeaes  e  enlhusi;isticas  em 
seu  [)roprio  nome,  e  em  nome  de  Hespauha. 


272  AKCHIVO   DOS  AGOKES 

Os  [iroincMiiies  íjne  chegaram  até  nós  da  vossa  viagem,  dos  im- 
meiísos  [)erigos  (jue  vos  cercaram,  das  insuperáveis  dilíiculdades  que 
eiicoulroii  a  vossa  perseverança  e  dos  problemas  que  resolveu  a  vossa 
compelHficia:  da  muita  audácia,  do  heroiMuo,  da  abnegação,  do  enge- 
nho e  da  prudência,  empregadas  por  vós  para  cotiseguir  o  exilo  da 
empreza  que  será  uma  das  mais  arrojadas  do  nosso  tempo:  do  enthu- 
siasmo  dehianle  com  que  vos  recebeu  a  vossa  pátria,  tornando-vos  al- 
vos de  fe.vtas  nacionaes  como  nunca  se  fizeram  mais  solemnes  e  gran- 
diosas, nem  mais  merecidas,  a  imperador  ou  a  general  victorioso,  nos 
commoveram  profundamente  encheudo-nos  de  orgulho  e  admiração  e 
fazendo  reviver  na  uíjssa  memoria  tantas  gloriosas  paginas  na  historia 
das  duas  nações  da  Península,  que  são  paginas  da  Historia  Universal. 

Gama,  subjugando,  novo  Neptuno,  as  tormentas  formidáveis  do 
{^abo  H  roubanlo-lhe  os  seus  segredos:  a  triumphal  entrada  de  Colom- 
bo em  Barcelona:  a  travessia  legendaria  de  Orellana  pela  America  cen'- 
tral;  a  Odissea  de  Mendes  Pinto  no  mar  das  índias;  as  temerárias  aven- 
turas de  Braz  Huiz  em  Toukim  e  Siam,  que  oíiuscaram  os  doze  pares; 
Halboa  em  Panamá,  cruzando  as  espumosas  ondas  do  Pacifico  e  após- 
sniido-se  das  suas  ilhas  nm  nome  de  Hes[);mha;  Las-Cisas,  esse  cavai 
leiro  defensor  da  egualdade  e  do  direito  que  atravessou  qualorze  ve- 
zes o  Allanlico  nas  a/.as  da  razão  e  da  fé;  Magalhães  e  Elcauo  circum- 
daudo  o  plau(,'ta  e  pondo  a  humanidade  em  posse  d'elle,  que  o  habita- 
va sem  coiihecel-o;  Cortez  no  México,  como  um  filho  do  Sol,  annuncia- 
do  nas  prophecias  sagradas  dos  ascetas:  Albuquerque  na  índia,  fazen- 
do de  Lisboa  a  rainha  do  Oriente,  e  aos  olhos  do  Oriente  a  capital  da 
Europa,  um  século  de  génesis  prodigiosas:  três  gerações  de  homens 
como  não  foram  cantadas  pela  umsa  de  Homero,  reveladores  de  mun- 
dos e  creadores  de  nações,  a  um  tempo  guerreiros,  navegadores,  geo- 
graphos,  naturalistas,  médicos,  legisladores,  diplomatas,  poetas,  cliro- 
nistas,  sacerdotes,  martyres,  carrascos,  mercadores  e  colonos;  raça  de 
Quichotes  sublimes,  entliusiastas  e  doidos  pela  paixão  do  desconheci- 
do e  do  impossível,  fi/.eram  do  século  XVI  um  poema  em  acção  atra- 
vessando climas,  cambiando  constellações,  duplicando  o  mappa  do  mun- 
do, identificando  regiões  longínquas  e  ignoradas,  demonstrando  expe- 
rimentalmente a  redondeza  da  leria,  que  linha  sido  até  então  um  pre- 
senlimenlo  da  humanidade,  esgotando  o  sauloral  e  o  diccionario  das 
duas  nações  cm  dar  nomes  aos  rios,  lagos,  portos,  cabos,  ilhas,  mon- 
tes, estreitos,  e  penínsulas  em  todas  as  latitudes,  (Itq)osilando  por  to- 
da a  parte  o  gérmen  de  novos  estados  e  conquistando  a  immortalida- 
de  para  a  raça  porliigueza  e  para  a  raça  hespanhola. 

Accreditae:  não  nos  teríamos  lisongeado  mais,  não  nos  teriam  com- 
movido  mais  as  vossas  descobertas  e  friumphos  se  fôramos  portugue- 
ses. Havíamos  julgado  exgotada  a  antiga  vitalidade  da  terra  peninsu- 
lai'  para  produzir  homens  daipiella  tenqjera  e  a  vo>sa  travessia  vem 
provar-nos  que  apenas  e.^tava  adormecida.  Com  ella  evocastes  a  me- 


AHCHIVO   DOS  AÇORES  273 

iiiuri.i  (]";ii|tit'lla  gloii)s;(  c.-.v.íllijrin  ot^^ariira  que  encheu  o  mundo  de 
Hssdinlm».  sidcando  mares  nunca  d'antcs  navegados,  e  retocastes  as  fi- 
guras (l"a.|ue|les  seres  exlr.iordinarios  e  sobrehumanos  (jue  eclipsaram 
ijiianlo  de  gr;Mide  liaviu  conhecido  a  historia  da  antiguidade  e  fatiga- 
ram com  as  suas  façaniias  os  anuaes  da  Renascença. 

Coiilinnaes  a  creação  immorlal  de  Dias  e  de  Guna:  íi^<>e,  hemis- 
|)herio  austral,  cuja  existência  revehíram  á  chrislandade  os  vossos  an- 
ticessores  no  heroísmo  e  na  fauia  :  vós  os  seguis  agora  revelando  á 
sciencia  e  á  industria,  estas  deusas  dos  modernos  tempos.  A  vossa  via- 
gem é  (»utro  canto  ira<|ue[la  epijpeia  maravilhosa,  (jue  parecerá  aos 
vindouros  sonhada  pela  phantasia,  e  mais  imi  re'splendor  accrescenta- 
do  a  tantos  infinitos  resplendores  projectados  sobre  o  mundo  pela  in- 
telligencia  luminosa  e  pelo  coração  esforçado  da  nossa  raça. 

Precursores  da  civilisação  n'a(]uellf^s  remotos  climas  do  continen- 
te africano,  a  causa  da  humanidade  vos  deve  serviços  eminentes,  e  por 
tanto  a  nossa  pátria  se  associa  á  vossa  para  vos  acciamar  os  beneme- 
rit(js,  enviando  vos  por  nosso  intermédio  a  mais  sincera  felicitação,  di- 
clada  pelo  aífecto,  pela  gratidão  e  pelo  enthusiasmo. 

A  Hespanha,  que  períieu  tatitas  outras  virtudes,  conserva  ainda  a 
virtude  de  admirar  e  a  de  agradecer,  e  a  Hespanha  agradece  á  vossa 
pátria  o  grande  exemplo  que  lhe  dá  e  vos  admira  como  filhos  dilectos 
do  seu  génio  expan>ivo  e  civilisador. 

OlTereceis  novos  dias  de  gloria  á  vossa  [latria.  A  ella  Ih»^  cum{)re 
agora  levantar  sobre  um  pedestal  solido  e  inabalável  a  vossa  prtjpria 
gloria. 

O  meio  elficaz  que  possuem  as  nações  de  immortalisar  e  engran- 
decer seus  filhos  consiste  em  engrandecerem-se  ellas  a  si  próprias. 
Todo  um  povo  se  levantou  a  abraçar  vos  e  glorificar-vos:  espectáculo 
commovedor!  Mas  somente  com  isto  não  vos  paga  o  paiz  o  que  vos  de- 
ve. Tem  valor  a  sumptuosa  manifestação  só  como  prefacio:  ahi  onde 
a  vossa  tarefa  acabou  deve  começar  a  de  Portugal.  Os  povos  não  vi- 
vem só  de  pão,  mas  também  não  vivem  só  de  gloria.  Devem  reunir  o 
sentimento  ideal  de  Salomé  e  as  mãos  trabalhadoras  de  Marlha. 

Portugal,  entre  outras  qualidades  eminentes,  possue  uma  propen- 
são ingenita  para  enamorar-se  irresistivelmente  de  tudo  (juanto  é  gran- 
de só  por  devotamenlo  á  própria  grande/a.  Por  isso,  talvez,  descuida 
mais  que  nenhum  outro  paiz,  se  exceptuarmos  o  nosso,  o  lado  pratico 
das  cíjisas:  por  isso  tanto  tem  trat)alhado  na  historia,  como  as  abelhas 
de  Oviího.  vindo  outros  aproveitar  lhe  o  mel.  Já  é  tempo  de  Portugal 
trabalhar  para  si.  Humanidade  e  pátria  não  .^ão  incompaliveis. 

Assim,  [tois,  não  devem  as  vossas  explorações  envolver  se  somen- 
te nas  condições  de  uma  obi  a  universal  e  humanitária:  não  devem  con- 
tar-se  para  Portugal  no  rjumero  das  obras  inúteis.  Portugal  não  deve 
adormeutai-se  em  deliiiuio  extático  para  c>ntem[)lar  em  espirito  o  ca- 
minho que  lhe  abrist-^s  atravez  das  florestas  e  dos  pântanos  austraes: 

N"  io— Vol.  VIU— 1886.  il 


274  ARGHIVO  DOS  AÇOHES 

deve  pôr-se  em  acção  e  caminhar  por  onde  vós  caminhastes.  Que  se 
não  contente  com  o  património  colonial  herdado  de  outras  ép(jcas,  mas 
reproduza  no  Zambeze  o  exemplo  da  Associação  Internacional,  no  Zai- 
re, creando  uma  linha  de  estações  ao  Idngo  d"aquelle  rio  e  apossan- 
do se  da  sua  dilatada  bacia  e  de  parte  das  adjacentes.  O  vasto  qua- 
drilátero comprehendido  entre  as  desembticaduras  do  Congo,  Cunene. 
Lirapopo,  e  Rovuma,  deve-o  a  Europa  a  Portugal  e  Portugal  á  civili- 
sação.  Alli  vos  aguardam  centenares  de  Iribus,  que  balbuciam  a  lingiia 
portugueza,  única  da  Europa  que  ha  chegado  aos  seus  ouvidos.  De- 
senvolver-llies  a  intelligencia,  accender  lhes.  nos  espíritos  a  luz  da  ra- 
zão, redimil  os  da  barbárie,  trazel-os  ao  grémio  da  himianidade:  eis 
ahi  o  vosso  destino,  são  para  isso  as  vossas  aptidões  e  as  vossas  ten- 
dências, é  essa  a  missão  que  vos  legaram  os  fundadores  da  vossa  na- 
cionalidade. 

Não  se  esqueça  que,  assim  como  a  Hespanha  é  mais  uma  nação 
americana  do  que  uma  nação  européa,  Portugal  é  mais  do  que  uma 
nação  européa,  é  uma  nação  africana.  Portugal  tem  o  coração  na  Eu- 
ropa, aqui  onde  continua  a  historia  viva  da  humanidade,  para  escu- 
tar todos  os  seus  gemidos:  mas  tem  os  pés  e  as  mãos  além-mar,  em 
Africa,  onde  assenta  o  seu  património. 

Por  isso,  iniciou  as  explorações  no  interior,  com  Lacerda,  ainda 
antes  de  ter  nascido  Levingstone. 

Por  isso.  tem  feito  pela  Africa  sacrifícios  relativamente  tão  enor- 
mes, que  só  de  1860  para  cá  representam  quantia  superior  a  vinte  e 
dois  mil  contos,  ao  passo  que  os  parlamentos  das  grandes  potencias 
regateavam  sommas  insignificantes  para  desenvolver  os  seus  interes- 
ses commerciaes  e  |»oliticos  na  costa  occidental  ou  no  Mar  Vermelho. 

Por  isso,  continuamente  tem  exercido  unja  salutar  auctoridade 
sobre  os  negros,  fundando  escolas,  creando  consulados  e  embaixadas, 
estabelecendo  estações  civilisadoras.  feitorias,  destacamentos,  obras 
publicas,  sem  esquecer  que  a  Portugal  teem  devido  os  europeus  a 
única  policia  de  segurança  nas  costas. 

Por  isso,  é  a  liugua  portugueza  a  lingua  commercial  da  Africa. 

Por  isso,  o  rei  do  (,ongo  protestou  contra  o  facto  de  (íuererem  as 
potencias  reunidas  em  Berlim  subtrail-o  á  vassalagem  do  rei  de  Por 
tugal. 

São  estes  os  titidos  do  vosso  paiz.  Vós  ambos  e  o  arrojado  Serpa 
Pinto  accresceutastel-os  com  outro  não  menos  elevado,  que  os  amplia, 
corrobora  e  fortifica:  as  expedições  scientificas  e  commerciaes  no  in- 
terior. 

E  Portugal  não  é  simplesmente  uma  potencia  africana  por  excel- 
lencia,  é  já  quasi,  e  está  destinado  a  ser,  a  primeira  de  todas. 

A  estatura  das  nações  não  se  mede  como  a  dos  indivíduos,  pelas 
dimensões  materiaes  do  corpo,  mas  pela  grandeza  de  animo,  e,  n"es- 
te  ponto,  a  estatura  de  Portugal  é  de  gigante. 


AHCHiVO  DOS  AÇOKES  27o 

Que  a  expanda  inteiramenle  e,  projectando-a  de  mar  a  mar,  u 
corpo  será  proporcional  ao  seu  immenso  espirito.  E  quanto  aiitrs,  me- 
lhor. 

Ha  horas  criticas  na  vida  dos  povos,  que  soam  uma  vez  só  no  re- 
lógio da  Eternidade. 

Se  Portugal  não  tivesse  abandonado  aos  inglezes  e  hollandezes  as 
vastas  regiões  do  Cabo,  para  estabelecer-se  na  zona  lorrida.  ha  mui- 
to que  possuiria  na  Afrrca  um  segundo  Brazil.  Mas  deixou  a  realidade 
e  preferiu  a  sombra.  Reconliece  e  expia  n'este  moujento  o  seu  erro. 
Que  admirável  lição!  Um  minuto  de  desalento  agora  seria  origem  de 
lagrimas  e  desgostos  para  as  gerações  vindouras. 

Assim,  ao  passo  que  alargáveis  os  horisontes  da  geograpliia,  tra- 
çáveis rumo  á  politica  externa  da  vossa  pátria.  E  mars  fazíeis  ainda: 
ao  preparar  a  annexação  e  occupação  do  interior  edificáveis  o  único  ba- 
luarte solido  para  a  defeza  das  costas  que  tendes  occupadas  ha  tantos 
séculos.  Encarados  sob  e^te  ponto  de  vista  o  passado  e  o  porvir,  pa- 
rece que  se  colligam.  D.  Luiz  I  figura  ao  mesmo  tempo  como  discípu- 
lo e  secretario  de  D.  Henrique,  o  Navegador.  Abençoae  esta  solidarie- 
dade entre  duas  edades,  que  se  vos  impõe.  Não  está,  não,  na  vonta- 
de de  Portugal  o  deter  se;  não  está  ua  sua  vontade  o  dar-se  por  sa- 
tisfeito com  a  lieK^mça  que  lhe  foi  legada,  porque  isso  valeria  tanto  co- 
mo repudial-a. 

Possuis  3.000  kilometros  de  costa  na  Afiica  Austral,  e  as  costas 
são  a  chave  dos  continentes,  por  certo,  com  a  condição  de  abrir  com 
ellas  o  interior  e  tomar  posse  deile,  primeiro  que  outros  penetrem  pe- 
lo telhado,  ou  arrombem  as  portas  e  ponham  fora  us  seus  guardiões... 
D"isto  nos  deram  proveitosas  lições  na  península  romanus  e  carthagi- 
nezes.  Tendes  de  vela  á  roda  (fesse  collossal  património  que  se  vos 
iiílerece,  os  boers  do  TranswaI,  os  belgas  do  Congo,  os  inglezes  do  Ca- 
bo e  do  Nyansa:  os  allemães  de  Zanzibar  e  Angra  Pequena,  e  aquel- 
le  que  menos  desenha  já  com  as  cores  da  sua  bandeira  as  vossas  co- 
lónias, no  mappa  ideai  dWfrlca,  (|ue  cada  qual  põe  como  objectivo  da 
sua  politica  colonial  e  mercantil. 

Assiu),  para  Portugal  não  ha  te.i'mo  médio  entre  avançar  ou  re- 
cuar, entre  alargar  as  suas  colónias  africanas  immediatamente,  ou  per- 
del-as  n'um  espaço  de  tempo  mais  ou  menos  breve. 

Optando  por  conserval-as,  necessita  de  fazer  das  duas  uma,  ag- 
gregando-as  ao  interior  n  uma  extensão  sextupla  á  da  Península. 

Tal  é  o  formoso  condão  da  vossa  nação:  haud  Ceaar,  /tawi  nihil. 
Não  podeis  ser,  senão  sendo  grandes. 

Em  relação  com.  a  historia,  tem  este  programma  outra  qualidade: 
a  de  ser  uma  immensa  desforra  subre  o  passado,  uma  reivindicação 
de  sublimes  iniciativas  vossas,  que  infelizmente  se  mallograram.  Per- 
destes o  Indiistão,  ganhaes  a  Afru:a:  vantajosa  compensação.  As  augus- 


276  ARGHIVO  DOS  AÇORES 

Uis  sombras  rJe  Aibuqnenjiie  e  Alliayde  poderão  desarrugar  as  s.)bran- 
celhas  e  i'ecoiKÍIiar-se  com  a  siíh  palria. 

Isto  não  são  coii.>elhos  de  mestre,  mas  sim  avisos,— ai! — se  des- 
enganados, e  mais  do  que  a  vós  são  dirigidos  ao  vosso  povo  ainda 
desorientado  e  sem  ideaes  fixos  na  sua  vida  externa,  e  que,  mais  do 
que  nenhum  outro  necessita  de  tocar  a  ^iia  complicação  i(]Ha!ista  e  so- 
nhadora nascida  a  impulso  de  causas  históricas,  já  felizmente  na  sua 
maior  parte  removidas 

Quizemos  tir;ir  á  nossa  felicitação  todo  o  caracter  de  forma  cere- 
moniosa,  antes  de  vos  pedir  a  seguinte  mercê: 

«Madrid  deseja  ouvir  da  vossa  bocca  a  narração  da  expedição  com 
que  tanto  enaltecestes  o  nume  de  Portugal,  e  offerecer-vos  pessoííl- 
menle,  interpretando  os  SHilimentos  de  toda  a  Hespanlia.  os  testemu 
nhos  sinceros  da  sua  admiração  e  estima. 

Quanto  a  nós,  ser  nos-ha  mui  grato  associar-mo-nos  materialmen- 
te, Como  já  em  espirito  o  fizemos,  ao  vosso  triumpho  e  collier  os  pre- 
ciosos ensinamentos,  que  encerra  a  vossa  expedição. 

Se  vos  dignardes  honrar-nos  com  a  vossa  visita,  supplicamos  que 
fixeis  os  dias  que  vos  será  possivel  dedicar  nos. 

Ao  mesmo  tempo,  vos  participamos  que  esta  sociedade  vos  no- 
meou seus  sócios  honorários,  e  esperamos  que  tereis  a  botidade  de  ac- 
ceitar  o  titulo  que  soujos  encairegados  de  vos  remetter. 

Madrid,  14  de  outubro  de  188.").» 

(Seguem-se  as  assignaluras'. 


Madrid  26  de  outubro,  á  I  hora  e  15  m.  da  tarde.  —  Cajxllo  e 
Ivens  assistiram  no  sabbado  a  uma  sessão  le.ilisada  [)ela  Sociedade, 
Geogra[)hica.  Presidiu  o  ministro  do  fomento,  o  qual  se  congratulou 
com  a  Hespanlia  pur  ser  a  primeiía  estação  da  viagem  gloriosa  dos 
dous  exploradores  purtuguezes  pela  Europa. 

Hontem.  domingo,  tiveram  uma  ovação  ff^ita  por  um  auditório 
immeroso  no  theatio  de  Alhambra,  explicando  Roberto  Ivens  os  deta- 
lhes da  excur^ão  africana  realisada  poi'  elle  e  pelo  seu  companheirí». 
Brito  Capello  agradeceu  as  phrases  de  Sympathia  que  a  Portugal  eram 
dirigidas  [jcIos  representantes  da  Sociedade  de  Geographia  (lommer- 
cial,  os  srs.  Morei  e  Coello.  O  snr.  (-osta  exprimiu  o  seu  mais  fervo- 
roso enlhusiasmo  pelos  Iriumphos  dos  dous  exiiloradores,  que  abriram 
uma  nova  éra  na  prosperidade  do  commercio  e  da  industria  dos  do«is 
povos  peninsulares. 

Á  noite  h(  uve  espectáculo  de  gala,  liuia  festa  briH'anfe.  no  (hea- 
tro  Real,  assistindo  os  mini.-lros.  Os  exploradores  estiveram  j)rescnles 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  277 

no  começo  do  sarau,  e  m;iis  tarde  foram  fraternalmenle  recebidos  iio 
Centro  Militar  do  Exercito  e  da  Armada,  onde  os  precederam  os  só- 
cios e  o  general  Salamanca,  sendo  obsequiados  pelo  sr.  Bullt^l  con> 
expressões  as  triais  lisongeiras  e  anngaveis,  e  bem  assim  pelos  snrs. 
Moret  e  Nnnez  de  Arce.  agradecendo  Koberto  Ivens 

Hoje  de  manhã  foi-llies  oíTerecido  um  almoço  na  legação  porlngue- 
za.  e  logo,  ás  9  horas  da  noite,  haverá  um  sumptuoso  banquete  de 
láO  talheres  no  thealro  de  Alhambra.  Deve  ser  uma  festa  es[)lendida. 
A  esta  hora  já  estão  os  camarotes  occupados  por  formosas  damas  hes- 
panholas.  Haverá  algtms  brindes,  espei  ando  se  que  um  d"elles  seja  fei- 
to por  Emilio  Castelar. 

A  imprensa  em  geral  dirige  palavras  de  ologio  e  de  louvoi'  aos 
ex[)loradnres  portuguezes.  ("apello  e  Ivens  estão  puis,  sendo  alvo  de 
demonstrações  affectuosissimas  por  parte  de  todos  os  madrilenos. 

— Relativamente  ao  acolhimento  (jiie  tiveram  os  nossos  insignes 
exploradores,  lemos,  entre  outras  cousas,  o  seguinte,  na  «Epocha»  de 
23  do  corrente,  e  que  antecede  as  n<»ticias  que,  como  se  vé,  acabam 
de  ser  confirmadas  pelo  noss>  estima('o  correspondente  na  capital  de 
Hespanha: 

.4  chegada  —  Muih)  antes  da  liora  indicada  para  a  chegada  do  com- 
boio, a  gare  da  estação  das  Delicias  via  se  occupada  por  uma  multidão 
de  pessoas  distinctas,  entre  as  quaes  sobresahiam  o  sr.  conde  de  !Vloi- 
phi.  representante  d"el-rei,  toda  a  legação  portiigueza  e  o  consulado, 
e  commissões  da  Sociedade  Geographica.  da  Geographia  Commercial, 
do  Circulo  da  Uniã<»  Mercantil.  (ío  Centro  Militar,  da  Sociedade  de  Es- 
criptores  e  Artistas,  do  Atheneu  e  de  outras  varias  corporações. 

O  sr.  Moret  havia  disposto  previamente  o  modo  como  deviam  ser 
recebidos  os  illuslres  hospedes.  A  c<»mmissão.  compvtsta  dos  srs.  Coel- 
lo,  Fernaudez  Duro  e  Ami,  chegou  a  Talavera  á  1  hora  da  tarde,  che- 
gandi)  poucos  momentos  depois  os  exploradores  portuguezes. 

N'aquella  exposição  improvisou-se  nm  banquete.  n<>  qual  se  brin- 
dou á  He>panha  e  Portugal  e  a  Capello  e  Ivens. 

O  comboio  chegou  a  Madrid  ás  5  lioras.  em  ponto,  sendo  recel>i- 
dos  os  explõrad(jres  portuguezes  e  os  que  os  acompanhavam  peh  sr. 
Moret,  que  immediatamente  os  apresentou,  no  salão  de  descanço.  aos 
presidentes  das  respectivas  commissões. 

Depois  de  se  terem  proferido  de  parte  a  parte  affectuosas  piua- 
ses  de  sympathia,  os  viajantes  portuguezes  toniarain  assento  na  car- 
ruagem da  embaixada,  indo  hospedar-se  no  hotel  da  Paz. 

Esta  n(»ite  não  haverá  festejos  a  fim  de  (jue  (ts  recemchegados 
jíossam  descansar.  O  ministro  de  Portugal  entregará  aos  snrs.  Capello 
e  Ivens  os  diplomas  e  insígnias  e  as  gran  cruzes  do  Mt-rilo  Naval  e 
de  Isabel  a  Catholica  que  lhes  concedeu  S.  M. 


278  ARCHIVO  DOS  AÇORES 


As  recepfõcs  —  Aiupliando  as  noticias  que  lemos  dado,  diremos 
*]ue  o  primeiro  acto  ollicial  a  que  assistirão  os  iiliistres  exploradores 
pnrtuguezes  será  uma  recepçãi)  da  Sociedade  Geographica  do  edifico 
da  Acad.ruia  de  Historia,  a  qual  se  celebrará  sabbado  ás  9  huras  da 
noite,  sendo  convidado  o  ministério. 

Domingo  verificar  se-ha  a  sessão  solemne  publica  no  Iheatro  de 
Alhambra,  e  a  recepção  no  Centro  do  Exercito  e  Armada,  a  qual  pro- 
mette  ser  brilhante. 


O  banquete —  \er\iicar-se-h3  segunda  feira  à  noite  no  thealro  de 
Alhambra,  que  estará  decorado  artisticamente,  para  o  que  o  alcaide 
presidente  do  município  deu  amavelmente  as  ordens  precisas  a  fim 
de  serem  fornecidas  as  tlores  e  plantas  dos  jardins  municipaes  e  to- 
dos os  objectos  que  forem  necessários.  O  muzeu  Naval  e  de  Artilheria 
contribuirão  paia  o  adorno  do  thealro  com  tropheus  militares,  bandei- 
ras e  outros  objectos  allnsivus  ao  acto. 

Assistirão  ao  banquete  os  ministros  do  fomento,  marinha  e  ultra- 
mar como  representanlcb.  do  governo:  não  se  sabe  ainda  se  assistirá 
o  sr.  Canovas.  Os  convidados  deverão  apresentar-se  de  uniforme  ou 
de  casaca,  com  as  suas  condecorações,  promettendo  o  banquete  ser 
brilhantissimo. 

No  Thtatro  Real— A  empreza,  de^ej;tndo  contribuir  para  o  maior 
esplendor  dos  festejos  que  se  celebram  em  honra  dos  illustres  explo- 
radores lusitanos,  resolveu  dedicar-lhes  o  espectáculo  que  realisará  do- 
mingo á  noite.  Cantar  se  ha  a  opera  "Favorita»  e  assistirão  ao  espe- 
ctáculo os  srs.  (;apello  e  Ivens,  o  governo  e  commissões  de  Iodas  as 
sociedades,  círculos  e  corporações  que  tomam  [larte  nas  festas.  A  or- 
chestra  executará  uma  grande  symphonia. 


a  Madrid  27,  ás  6  h.  e  45  m  da  /.  —  Era  magnifico  o  aspecto  do 
banquete  olTerccido  no  thealro  de  Aliiimbia  aos  exploradores  portu- 
guezes.  Em  Madrid  nunca  se  deu  uma  festa  tão  brilhante.  Mulheres 
formosas,  muitas  flores,  bamleiras  [)oi  tuguezas  e  hespanholas  enlaça- 
das, e  uma  illuminação  explendida,— tudo  isto  mais  fazia  realçar  tão 
dislincta  festa. 

«Em  consequência  de  estarem  ligeiramente  doentes,  não  poderam 
concorrer  ao  banquete  os  snrs.  Brito  (^apell-  e  D.  Emilio  Castelar. 

«O  jantar  foi  de  150  talheres,  e  os  brindes  foram  inaugurados  e 
encerrados  pelo  sr.  Morei.  Os  restantes  foram  levantados  pelos  seguin- 
tes convivas:  do  ministro  do  fomento  (jue  brindou  ás  gl(jrias  portugue- 
sas; do  ministro  da  marinha,  que  na  qualidade  de  representante  da 
armada  hespanhola,  brindou  aos  exploradores:  do  presidente  da  Asso- 


ARCmVO  DOS  AÇORES  279 

ciação  (l(j  Escriplores,  que  brindou  pelas  letras  lusitanas;  de  Mendes 
Leal,  que  saudou  o  rei  de  Ilespanlia  e  os  exploradores;  de  Libra,  co- 
mo representante  de  três  Sociedades,  que,  em  phrases  esplendidas,  ce- 
lebrou as  glorias  das  duas  nações  peninsulares;  do  general  Salaman- 
ca, que  enalteceu  os  exploradores  Capello  e  Ivens,  dizendo  (jue  estes 
dois  heroes  tinham  exposto  a  sua  vida  pelo  amor  da  sciencia  e  da  liu 
manidade;  de  Coello,  presidente  da  Sociedade  de  (ieograpliia,  que  brin- 
dou os  seus  collegas  de  Lisboa  e  Porto,  e  os  dous  exploradores,  co- 
mo descendentes  de  Vasco  (Ja  Gama  e  Fernando  de  Magalhães;  de  Es- 
cobar,  director  da  «Época»,  representando  a  imprensa,  que  brindou 
pelas  bandeiras  peninsulares,  unidas  as  grandes  emprezas.  Roberto 
Ivens  respondi  u,  agradecendo  eloquentemente  todas  as  provas  de  de- 
ferência e  consideração  que  lhe  eram  tributadas  e  ao  seu  glorioso  com- 
panheiro. 

«Os  exploradores  vão  satisfeitos  com  o  acolhimento  que  lhes  fez 
o  povo  madrileno,  sempre  admirador  dos  feitos  heróicos  Esta  ceremo- 
nia  solemne  influirá  de  certo  para  estreitar  ainda  mais  as  relações  de 
Portugal  com  a  Hespanha. 

«Capello  e  Ivens  sahiiam  hoje  nri  comboio  expresso  para  Pariz. 
Era  numerosa  a  concorrência  de  pessoas  que  foi  despedir-se  d'elles  á 
estação  do  Norte. « 


-^^sx^.^ 


CARTA  DE   HESPANHA 


Madrid,  27  doutubro  de  1885. 

Sr.  director  do  «Diário  Popular».— Continuam  os  nossos  estima- 
dos hospedes  Capello  e  Ivens  a  ser  os  heroes  do  dia,  e  por  elles  te- 
mos chegado  a  esquecer  a  politica,  cousa  que  em  Hespanha  parece  im- 
possível. 

Continuo  pois  a  relação  da  estada  em  Madrid  dos  afortunados  e 
valorosos  exploradores. 

A  sua  presença  no  theatro  da  oper;i  foi  saudada  com  um  aplauso 
unanime.  Vestiam  os  seus  uniformes  de  marinha;  Capello  trazia  a  gran- 
cruz  do  Mérito  Naval,  e  Ivens  a  de  Isabel  a  Catholica. 

Em  um  dos  entreactos  foram  cumprimentar  o  ministro  da  guer- 
ra, e  anies  de  terminar  a  opera  sairam  do  íheatro  para  irem  ao  «Cen 
tro  .Militar»  onde  eram  esperados. 


280  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

A  recepçíio  ijne  o  «Ciiciilu»  llies  fez  foi  magnifica,  seiídu  recebi- 
dos peKis  coiimiist«ões  áo  Ceutro  Militar,  do  Ateneu,  du  Circulo  Mer- 
cantil, Sociedade  Geogr;ip!iica,  União  Comniercial,  Sociedade  dos  Escri- 
ptores  6  Artistas  e  oulras  mais. 

Morei,  em  um  eloquente  discurso,  fez  a  apresentação  dos  explora- 
dores. 

O  general  Salamanca,  como  presidente,  manifestou  a  satislação 
que  o  Centro  Militar  tinha  considerando  como  sócios  aquclles  qu»i  u- 
niam  ao  valor  o  estudo  e  a  sciencia. 

Ivens  respondeu  agradecentlo  ao  general  Salamanca,  ao  Circulo 
e  á  Hespanha,  ás  distincções  com  que  o  lionravam;  e  fazendo  votos  para 
que  se  estreitem  os  laços  de  amisade  entre  Hespanha  e  Poitugal. 

A  rogo  do  general  Salamanca  assignaram  o  álbum  Capello  e  Ivens. 

Dei)ois  de  visitarem  as  salas  foram  obsequiados  com  uíu  es[)len- 
dido  banquete. 

Moret  levantou  um  brinde  áquelles  que  uniram  ás  armas  as  scien- 
cias.  Niinez  de  Arce  recordou  Camões  e  Ercilla,  cantores  dos  feitos 
colossaes  de  Portugal  e  de  Hespanha. 

Ivens  Levantou  um  brind*^  á  Hespanha  e  ao  Ceiílnj  Militar  repre- 
sentante da  integridade  da  pátria  e  tradições  cavalheirescas  de  Hespa- 
nha. O  general  Salamanca  fez  o  ultimo  brinde  manifestando  a  sua  gra- 
tidão a  Capello  e  Ivens  pela  sua  visita  ao  Circulo. 

Os  Exploradores  sairam  do  Centro  Militar  acompanhados  por  lo- 
dos os  socitts,  e  profundamente  impressionados  pelas  attenções  que 
receberau).  Hontem  visitaram  o  Museu  Naval.  Ktceberam  depois  a  vi- 
sita da  junta  directora  do  Circulo  Mercantil,  que  foi  tributar-lhes  a  ho- 
menagem da  sua  adminiração  e  manifestar-lhes  o  sentimento  que  este 
centro  havia  tido  não  pudendo  obsequial-os  no  seu  edifício  pelas  gran- 
des obras  que  ali  se  estão  fazendo,  e  o  prazer  com  que  vinham  oíTe- 
recer-lhes  o  titulo  de  sócios  honorários. 

Capello  e  Ivens  acceitaram  o  diploma  e  rogaram  aos  membros  da 
junta  que  tran>mittissem  ao>  seus  consócios  tjue  agradeciam  aquelle 
acto  de  cortezia  de  todo  u  seu  coração. 


Coordenado  por 
pRAN^cisco    Maf;ia  Supico 


IMOTAS    AÇORIANAS' 


(Continuado  de  VcL  Vlli,  155  96) 


XVIII 

.A.  FEST.A.  i:>OS  I^I^EXOS 

(Ilha  do  Fayal) 

OiiHíii.  ait  cahir  de  uma  larde  de  Outubro  de  182i.  liouvesse  pas- 
sado, ua  Viíla  da  Horta,  etu  freute  da  vasla  moradia  do  morgado  S.  .  ., 
ouviria  segurauipule,  partido  do  pavimento  baixo  da  uj^sma,  por  en- 
tre a  névoa  crepuscular  que  começava  a  invadir  esta  marítima  piivoa- 
ção.  um  irado  vozear  e  mais  alto  do  que  este  uns  dolorosos  gritos,  que 
Hzeram  juntar  alli  perto  alguns  transeuntes,  admirados  de  semelhante 
inciíJente  em  casa  de  tamanha  consideração,  abastança  e  prosápia. 

Afinal  abrio-se  a  porta  duma  loja  que  ilava  para  a  rua  e  o  mor- 
gado munido  d'um  az<Mrague  salii*»  para  o  caminho,  ladeado  dum  fra- 
de de  aspecto  alentado  e  brutal,  o  capellão  de  S.  S.*. 

O  morgado  era  um  homem  baixo,  gordo  e  de  faces  oleosas  c«»mo 
as  do  coveiro  no  soneto  de  Gonçalves  Oespo. 

Vinha  vermelho  de  excitação  e  com  o  fato  um  pouco  em  desor- 
dem, como  quem  acabasse  de  fazer  um  pesado  esforço,  pois  o  chapéu 
armadíj  cabia  lhe  a  uin  lado,  a  casaca  abrira  uma  costura  debaixo  do 
braço  direito  e  havia  uu)a  tivela  rebentada  entre  a  extremidade  supe- 
rior das  suas  meias  de  seda  e  a  beiía  dos  calções,  de  bom  panno  in- 
glez,  côr  de  pinhão. 

As  cmco  correias,  de  meia  vara  de  comprimento  cada  uma,  com 
nós  na  ponta  (jue  sabiam  do  látego  que  empunhava,  pareciam  ter  ain- 
da umas  crispações  ameaçadoras,  elíeito  do  abundoso  trabalho  que  a- 
cabavam  de  executar 

Os  gritos  do  interior  da  loja  volveram-se  enião  n"iins  proinugados 
gemidos,  numa  espécie  de  uivos. 


(•)  For  EriíHsto  Rchello. 
N.'^  i6  — V..|.  Ylll  -   1886. 


282  ARCHIVO  DOS  AÇOhES 

—  Ladr.i  para  alii  (iiianto  cjiiizeiL-s,  cadella,  que  a  lirãu  ha  de  a- 
proveilar-le,  uão  tornarás  pur  muilo  lempu  a  ser  atrevida,  nem  a  me 
dizeres  q(ie  és  livre  Livre  ?  I .  então  i»aia  que  te  comprei  eu  com  o 
meu  dinheiro?  . .  passa  fora  ! .  . 

O  frade  ouvindo  n'este  momento  iuu  dos  taes  uivos,  piscou  um 
olho  para  os  es[)ectadores  d"esta  scena,  dizendo-lhes  por  (roça: 

A  coruja  não  canta  de  dia. 
Canta  de  noite,  d  Ave  Maria. 

No  meio  do  riso  alvar  que  estf  dichote  produzio,  um  dos  assis- 
tentes, mais  familiarisado  com  o  morgado,  ousou  perguntar  lhe: 

—  Então  que  vem  a  ser  isso,  Y.  S.*  e.-tá  agastado? 

—  Que  querem  vocês,  ha  diabos  (jue  não  vem  do  Brazil  se  não 
para  inquietar  a  gente,  é  atrevida  e  re.^pondente,  está  hoje  damnada 
por  que  dei  uns  pontapés  no  filho,  imi  marau  de  quatro  annos,  que 
appareceu  alii  não  sei  de  quem  .  .  . 

O  frade  pareceu  desejar  mudar  de  conversa,  ao  que  o  morgado, 
porem,  não  prestou  attenção,  continuando  ainda:  E  a  dizer-uie  que  eu 
não  tornasse  a  tocar  no  mulato,  porque  tanto  elle,  couk»  ella.  eram  li- 
vres, mas  isto  dito  citm  uma  raiva  .  .  .  Forte  atrevida  ! 

—  E'  o  qiu'  veio  fazer  o  tal  Sr.  Marquez  de  Pombal  —  acrescen- 
tou senlencidsamente  o  frade-  com  as  suas  asneiras  da  passagem  ou 
não  passagem  da  linha.  Aqnillo  foi  o  maior  pedreiro  livie  que  jamais 
veio  ao  mundo,  o  que  vale  é  que  ha  quarenta  e  dois  annos  já  o  diabo 
o  tem  [»ara  lá  .  .  .  temos  todos  essa  data  de  còr.  foi  em  1782. 

—  Qual  linha,  nem  meia  linha  —  accudio  o  morgado — a  |)anca- 
daria  é  que  ensina  os  brutos,  o  mais  são  lii.>torias.  ella  que  me  lorne 
a  dizer  algunia  que  eu  dispo-lhe  a  pelle. 

—  O  Sr.  morgado,  -  proferio  paia  os  esiiecladores  um  homem 
mais  ietr;do  que  se  achava  no  grupo—  eslá  perfeitamente  no  seu  di- 
reito, a  escrava  é  fazenda  sua,  pejtence-lhe  e  hade  dar  lhe  o  ensino 
que  quizer,  ninguém  tem  nada  com  is^o. 

—  E  que  não  queio  que  me  acont{'ça  como  a<t  marido  da  I).  Eu- 
genia, estes  ptrros  são  muito  iesabiad(>s  .  .  . 

—  Lá  isso  foi  um  caso  de  que  ninguém  leve  culpa,  o  Sr.  morga- 
do bem  sabe  que  o  mulato  foi  encontrado  de  manhã,  fechado  á  chave 
como  era  costume. 

—  E  quem  diz  a  vm.'^''  que  elle  não  teve  artes  do  Inimigo  (o  fra- 
de benzeu-sej  para  enganar  a  h)dos  e  embaçar  a  justi(;a  ?  O  que  eu 
não  entendo  é  c^uio  0  Sr.  Corregedor  deixa  andar  aqmdie  mulato  por 
ahi  á  solta.  Isto  vae-se  acabando  tudo  .     . 

—  Mais  a  religião  também,  —  acrescentou  o  frade. 

—  Eu  cá  lenho  ouvido  (pie  foi  um  ramo  de  estupor,  um  mau  ar, 
que  deu  no  seu  senhor. 


ARCHIVO  DOS  AÇOBES  283 

—  Historias!  .  .  o  in.iiido  da  D.  Kiigciiia  Iodas  as  imiles,  antes 
de  se  deitar  costumava  ir  fechar  o  mulato  ifuma  loja,  ao  fiiiido  da  es- 
cada, para  o  ter  mais  seguro  e  talvez  por  desconfiar  já  do  ipie  elle  se 
ria  capaz. 

Ora  se  na  ninil,ã  segninte  o  foram  enconliar  a  meio  da  escada 
de  pedra,  em  camis:i.  todo  ensanguentado,  com  a  cabeça  debaixo  do 
c,)rpo  e  com  a  cliave  aind  i  na  mão.  embora  o  mulato  estivesse  fe- 
chado por  fora,  está  claro  (jue  foi  elle.  Pois  nTio  é  assim? 

—  Mas  como? 

—  Kii  sei  lá  como,  aipielles  diabos  são  mnilo  ladinos  e  sabem  mui- 
tos feitiços,  botam  mnidinga  em  tud(j  ...  Se  elles  não  fizessem  tan- 
to arranjo  a  uma  casa  de  familia,  eu  não  os  queria  vèr,  é  preci.so  mui- 
ta paciência  .  .  . 

—  Como  a  de  Job  —  accndio  o  frade. 

—  Exactamente,  padre  capellão,  uma  paciência  de  Job,  mas  eu 
com  uma  filha  e  um  filho,  ambos  dementes,  (jn(ím  é  que  os  havia  a- 
tnrar  ?  .  .  só  negros.  Vamos  agora  ver  a  Domingas  o  que  arranjíju  pa- 
ra a  ceia. 

—  Já  são  horas,  Sr.  morgado,  eu  já  começava  a  sentir  umas  gas- 
turas  .  .  . 

—  Pois  venha  o  P.''  d  alii.  O"  amigos,  haja  sande. 

—  Deus  fique  com  o  Sr.  Morgado  e  lhe  de  mais  folgança. 

Cinco  minutos  depois  a  rua  estava  deserta  e  o  morgado  e  o  fra- 
de, acercados  duma  bem  guarnecida  m:  za  ceiavam  desalmadamente, 
destacando-se  d  entre  as  viandas  apetitosas  um  morme  garrafão  de 
bom  vinho  do  Pico,  pertencente  á  lavra  do  dono  daquella  casa. 

TrouNemos  a(|ui,  accidentalmenle,  o  antecedente  quadro,  para  in- 
dicar ao  leitor  que  na  epoclia  a  (pie  nos  reportamos,  isto  é,  ha  un<^ 
sessenta  annos,  apesar  de  [)rohibida  nestas  paragens,  a  escravatura 
ainila  a^pii  estava  em  todo  o  seu  vigor,  havendo  numerosos  captivos 
tanto  na  Villa  da  H  )rla,  como  em  to'ías  as  freguezias  rur;ies  da  ilha, 
especialmente  em  (^astello  Branco,  (|ue  n'esta  especialidade  levava  a 
primazia  a  ipialquer  outra  p  )V;)ação  fayalense,  pois  ipie  possuía  muita 
gente  graúda  e  nobre,  a  familia  das  Senhoras  Donas,  do  (Capitão  da 
(barreira,  dos  Bellencourts,  dos  Pinheiros,  etc. 

Acreditámos,  pela  Índole  geralmente  bondosa  dos  fayalenses,  (pie 
o  tratamento  nesta  ilha  applicado  aos  escravos  não  devia  ser  do  peior 
e  (pie  fiictos  como  o  que  acima  descrevemos  nã(j  occorreriam,  com  cer- 
tesa  muito  trivialmente,  a  não  ser  se,  com  vergonha  o  confessamos, 
se  davam  naípiella  epuclia  a  semelhantes  infelizes,  os  maus  e  brutaes 
tratos  (|ne  o  nosso  povo  dá  aos  aiiinies,  ret»ai.\ando-nos  ainda  hoje, 
perante  os  numerosos  estrangeiros  que  conslantcmeiíte  aqui  aportam, 
ao  nivel  de  uma  povoação  meia  selvagem.. 

Oura  rerilas,  seil  reritas. 

Dos  [uetos,  [)or('m,  resam  muito  succintamente  as  chronicas  fava- 


284  ARCHIVO   DOS  AÇORES 

leiises;  haviam  milites  é  o  (|iie  sííljemos  e  os  factos  <|iie  sobrenadam 
á  voragem  do  tempo,  revelam  mais  excentricidades  dos  seus  donos, 
do  que  verdadeiras  maldades,  como  o  que  acontecia  com  um  certo  mor 
gado  que  ti^udo  uma  grande  bebereira  no  seu  quintal,  quando  se  tra- 
tava de  apanhar  os  figos,  mandava  subir  á  mesma  um  pn  to  já  velho 
que  possuía,  ficando  elle  em  baixo  com  uma  vardasca  na  mão. 

O  Zacharias.  desde  que  subia  [)ara  a  bebereira,  devia  e^tar  con- 
stantemente a  assobiar,  para  não  poder  cumer  da  saborosa  tVncta,  e  se 
parava  um  instante,  era  fustigado  em  chegando  ao  chão. 

Qui^m,  na  ilha  do  Faval  alimentava  poderosamente  a  imi)ortação 
de  escravo.s  era  um  capitão  de  navio,  chamado  C . . .,  e  natural  da  ilha 
Terceira. 

Este  individuo  homem  í<ério  e  que  afinal  moireu  C(tm  bôa  fortu- 
na pecuniária,  era  o  proprietário  e  capitão  de  um  brigue  que  viajava 
quasi  seíupre  para  o  Brazil,  donde  trazia  muita  e  excellente  madeira, 
assucar  e  diversos  outros  productos  daíjuellas  ricas  colónias,  bem  co- 
mo pretos  e  pretas,  por  quanto,  embora  este  trafico  estivi,'sse  de  ha 
muito  abolido  por  lei,  effeituava-se  ainda  assim  nestas  ilhas  com  mui- 
to mais  drscarauif  nto  do  que  actualmente  se  contrabandeia  em  tabaco. 

Quem  entregava  na  Horta  ao  capitão  (]...,  de  80  a  I20Ô000  is., 
(.  niciximo.  podia  contar  no  regresso  do  brigue  do  Bi'azil.  com  umrf 
creoula,  moleque,  t»u  preto,  conforme  a  encommeuda  que  fi/eia. 

O  capitão  não  vendia  publicamente  esses  desgraçados,  ia-os  dpi- 
j-ainio  pelas  casas  dos  morgados,  da  gente  rica  e  até  de  artistas. 

Ninguém  tinha  nada  que  lhe  dizer  e  isto  durou  assim  largos  aíi- 
nos. 

X  escravatura  era,  por  con.seguinte,  assaz  abundosa  nesta  peque- 
na ilha  e  da  mesíua  se  aproveitavam  todas  as  classes  da  socic^dade. 

Nas  tristes  condições  dos  captivos,  tinha  ainda  assim  a  gente  de 
fôr  um  dia  de  grande  festa,  no  Fayal. 

Era  na  dominga  de  Setembro  em  qtie  a  egreja  reza  da^  Dores  de. 
Nos>a  SeulKua. 

Havia,  então  grande  asafama  em  todas  as  cazas  que  possuíam  es- 
cravos e  estes,  embora  das  mais  longiqiias  freguezias  ruraes.  desciam 
todos  á  Villa.  sem  dislincção  de  sexo  ou  edades,  para  conjunctamente 
com  os  seus  companheiros  na  mesma  exi>tentes,  tomar  parte  na  festa 
religiosa  e  graiide  jantar  (jue  nesse  dia  lhe>  era  dado. 

A  festa  efíeituava  se  no  templo  de  São  Francisco,  adjuncto  ao 
grande  convento  da  respectiva  Ordem,  e  com  tanto  maior  praser  da 
Communidade  quanto,  antecedentemente  um  seu  irmão  leigo,  o  preto 
Fr.  Jusé  da  (^juceição,  homem  de  grandes  virtudes,  lòra  at»  iuq)erio 
(!o  Brazil  ao  peditório,  angariando  alli  muitas  madeiras  e  muito  di- 
nheiro para  a  feitura  d'uma  das  suas  cazas  religiosas,  o  convento  de 
^^lo  IVdro  dAlcanlara,  no  (iaes  do  Pico. 

E  não  era(u  os  fraíK-i.scanos.  diga  se  a  verdade,  homens  atreitos 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  285 

n  f>S(pi('('i>r  ijiiaesquer  serviçns  á  Onlein  Seráfica,  lo>sem  psle>  ffiios 
por  ijiiH|(|Mt'r  religioso,  oii  s<^ciilar. 

Assim  era  da  praxe  h  festa  do.s  prelos  ser-llie  feita  em  caza  e 
(lara  a  mesma  co.iti  ibiiiun  »■  se  prestav;im  da  melhor  vontade,  arman- 
do esplniididamente  o  templo  e  saccando  do  thesoiuo  do  convetito  as 
mais  ricas  alfaias,  par.t  a  oriíaintntação  dos  aliares. 

Ás  10  hítras,  pois,  da  manliãa  de  tão  memor.ivel  dia,  estando  ln<!o 
jtrepara(io,'coii(Oiriam  á  egreja  de  São  Francisco,  con)  a  nnica  ext  e- 
[)ção  dos  enfermos,  lodos  os  escravos  na  ilha  existentes,  as  faniilias 
dos  seus  senhort^s,  ns  dev(»los  e  os  curiostts  d  psta  animal  e  ^-fii  (jf^np- 
íis  p.itnscada. 

Na  <;-apella  mói'  o  clerc  as  aulhoridítdcs  e  os  representantes  da 
ijobresa  da  t^rra. 

Era  de  rigor  nVsse  dia.  e  n  esle  partiiidar  muito  Ciiidadoso.^  os 
donos  dos  escravos,  que  estes  ^e  apresentassem  ricamente  vestidos, 
os  homens  de  casaca  com  hiítões  amarellos,  colete  de  seda,  calções 
visto.<os  e  chapéu  armado,  com  muitas  plumas,  e  as  escravas  com  bons 
vestid(ts,  não  raio  de  seda.  grandes  cordões,  pulseiras  e  pingentes 
d'oiro.  trazendo  iodas  um  veo  branco  e  as  mais  nuvas,  sobrepitsta  ao 
veu  ntna  grinalda  de  tlires,  como  se  fossem  para  um  niiivado. 

É  fácil  de  conjecturar  a  immensa  concorrência  que  este  espectá- 
culo chamava  ao  templo  e  átrio  de  São  Francisco,  nimguem  >e  podia 
mecher.  era  iiece>sario  ir  bem  cedo  para  apanhar  um  Togar  rasoavel. 

Começava.  |)roximo  d;)S  ti  horas,  a  festa,  dedicada  a  Nossa  Se- 
nhora da  Piedade  e  que  constava  de  mi>sa  de  musica  e  sermão,  es- 
tando ao  lado  da  injagem  da  Virgem,  na  c.ipeila  mòr.  uma  coroa  de 
prata  lavrada,  emblema  do  Divino  Espirito  Santo,  com  a  qual.  no  prin- 
cipio da  funcção.  era  coroado,  o  preto  que  fora  n'aquelle  anuo  eleito 
Impt^rador  e  do  qual  o  dono  fazia,  conseipienlemenle,  as  despe/as  des- 
te  dia,  as  quaes.  por  vezes  foram  importantes,  jxiis  que  isto  se  torna - 
ia  n'uma  questão  de  capricho. 

Terminada  a  missa  os  pretos  ian»  jantar,  umas  vezes  em  caza  do 
dítno  do  Imperador,  ijuando  esta  tinha  accouimodação  para  tão  rnunero- 
sh  ajuntametito,  outra>  n'nma  sachristia  da  egreja  de  São  Francisco, 
com  grande  gáudio  do>  frades  e  dos  espectadores  seculares  ijue  as- 
sistiam ao  destioço  d  a(jnellii  gratide  comesana. 

Este  jantar  tomava  geralmente  as  proporções  de  um  luzido  ban- 
quete, por  quanto  a  vaidade  do  projirietarii»  do  Imperador,  não  queiia 
fic;u'  envergonhada  naquelle  dia  e  numa  lã.»  publica  remiião. 

Alem  da  grande  diversidade  de  iguarias,  as  abnndos.is  liotelhas 
il)S  uimís  excellenles  viidios  do  Pico,  eram  então  enq^inadas  a  valer, 
l>em  co(no  ao  dessert  nunca  f;dtava  a  bôa  Amlava  e  Angélica,  numa 
[>alavra  um  verdadeiro  rega  bofe. 

As  3  \/3  horas  ila  tarde  leunia-se  de  novo,  no  corpo  da  egreja.  a 
alegre  e  escura  turba  dos  escravos,  havendo  vésperas  de  mn.Nica.  um 


286  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

spgiin<lo  e  msis  corriqueiro  sermão,  aconselhando  aos  pretos  diicilida- 
de,  ohfdieiícia  e  muita  giíilidão  ans  si  os  :^e^llores,  seguindo  se  logo 
uma  imponente  [rocissão  (|ue  percorria  as  principaes  ruas  da  Horta. 

Este  préstito  era  immenso,  compoiído-se  de  toda  a  cleresia  da 
Villa,  numeroso  pes>oal  das  ordens  monásticas,  confrarias  das  diver- 
sas povoações  da  ilha.  aulhoridades,  inipa  òc.^. 

A  procissão  levava  três  imagens,  por  quanto  de[)ois  do  guião,  sr 
guia  se  o  Hudor  de  São  Lobão  e  de  Santa  Kphigenia  (pretos)  e  a  algu 
ma  distancia  Nossa  Senhora  da  Piedade,  atraz  de  cujo  andor  seguiam 
em  filas  de  dez  intJividnos  cada  uma,  todos  os   pretos   e  pretas  que 
haviam  concorrido  á  sua  festa. 

As  varas  do  pallio,  era  uso,  serem  levadas  por  estudantes,  pre- 
cedendo as  anthoridades  convidadas  para  este  acto  e  os  respectivos 
donos  dos  escravos. 

ppchava  o  pre>tilo  a  tropa  e  immenso  concurso  de  povo. 

A  religiosidade  daquella  epocha  iuciimbra-se  de  enfeitar  as  janel- 
las  de  muitas  cazas,  no  trajecto  da  procissão,  podendo  se  nas  me.^mas 
admir;ir,  alem  de  muitas  mídheres  formosas,  immensa  profusão  de  ra- 
mos e  llores,  bem  como  magnificas  e  vistosas  colchas  de  seda  da  ín- 
dia, dependuradas  das  varandas. 

Uuja  f(ísta  rasgada! 

N'algumas  dVstas  uccasiões,  resam  as  clironicas  fayalenses,  quo 
se  gastavam  centos  de  patacas,  visto  não  ser  raro  que,  já  de  noite, 
quando  os  escravos  iam  a  caminho  das  suas  nioradias,  algumas  das 
quaes  bem  remol;is,  abrir  e  illuminar  o  dono  do  Imperador  as  suas 
salas  á  nohresa  da  terra  e  começar  alli  um  sumptuoso  baile,  que  du- 
rava até  á  madrugada  seguinte. 

No  meio  desta  ah^gria  geral  havia,  ainda  assim  uma  nota  discor 
dante,  lúgubre,  e  que,  porventura,  não  passaria  de>apercebida  para 
qualquer  cuidadoso  obseivador. 

Nas  janelias  das  casas  pelas  quaes  havia  passado  a  procissão,  a 
par  de  muitas  meninas  e  senhoras  elegantes,  formosas  a[)eicebiam-se 
também  alguns  ríjstos  de  umas  infelizes  creaturas  desforujes,  bestiaes 
ej^repellentes. 

Eram  os  idiotas,  abumlantissimos  então,  principalmente  no  seio 
das  familias  nobres,  triste  producto  dos  casamentos  entre  parentes 
próximos,  para  angmeuto  ou  cotjservação  dos  bens  vinculados. 

Oiieni  consultar,  com  um  certo  cuidado,  o  antigo  lUfido  de  viver 
da^genle  desla  ilha,  hade  topar,  iuvariavelmenle.  até  nos  mais  insi- 
gnificantes inculeutes,  com  um  frade,  lun  demente,  um  e>cravo,  ou 
um  m(>rgado. 

Era  uma  túnica  de  Nesso  (pie,  só  depois  do  advento  e  radicação 
das  ideas  libeiaes  foi  caliiudo  por  terra  desfeita  e  at  s  pedaços,  levan- 
do, porem,  ainda  nisto  um  bom  espnço  de  lem|)o. 


AIICHIVO  DOS  ACUHES 


287 


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ARCHIVO  DOS   AÇORES 


1832 

PAROCHIA  DA  MATRIZ  DO  SANTÍSSIMO  SALVADOR 

DA  HORTA 


Localidades 


Rua  de  S.  Francisco  (1) 
o  do  Arco  (2) 
«  nova  do  Livianienlo 
«  de  Jesus  ('ij 
«  d'Arêa  (5) 
«  do  Sacco  (61 
«  do  Cano  (7) 
a  Direita  (8) 
«  da  .Misericórdia  í9> 
«   da  Praça  (10 
«  da  Matriz  Vcilia  •  i  I 
«  da  Roda  (1'ái 
»  de  São  João  <  \'ò> 
('  acima  do  LiMainento 
«  de  SantAriiia  i15; 
«  de  Sanlí»  Eliss  (16; 
«  do  Carmo  (17) 
"  nova  do  Carmo  (18) 
«  de  São  Paulo  (19) 
«  de  São  Pedro   20) 
«  de  Santo  António  lâl 
Travessa  de  S.  Fiancisco 
«     do  Paul  rl'\) 
■     de  Santo  António 
«     de  São  João  ^2rri 


(3) 


■14) 


(22 
2i^ 


61 
25 
12 
27 
49 
5 
2 
59 
21 

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103 

46 

67 

69 

105 

113 

180 

11 

16 

5 

6 

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336 

103 

182 

179 

255 

35 

54 

33 

49 

279 

375 

61 

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48 

125 

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51 

66 

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3.145 

ARCHIVít   OOS  AÇOHES  291 


!\'olaiii(  fia  yt\g.  anterior 

(I)  A  pcs.sua  mais  eclusa  o  Doáembargador  Maiiool  (iarcia  ila  Rosa,  com  82 
iiitiitts.  Iiiclue  esla  rua  ;{4  religiosos  do  Convento  do  São  Francisco. 

(â)A  pessoa  mais  edosa  Tiíereza  Aurélia,  viuva,  proprietária,  comSOannos 

(:{)  <■  "  «  Dan:iaso  Pereira  da  Silva,  viuvo,  alfaiate,  idem. 

(4)  <'  '<  •<  António  Furtado  de  Mendonça,  viuvo,com  87  annos. 

(í);  <<  «  "  Francisca  Luiza,  proprietária,  com  79  annos. 

(6)  "  "  "  Rosália  Fi-ancisca,  viuva,  com  86  annos. 

(7)  «  "  «<  Francisco  de  Paula,  proprietário,  com  34  annos. 

(8)  «  <  "  ífínacia  Margarida,  proprietária,  com  98  annos. 

(9)  .  «  <■        "     D.Maria  Labatli,  viuva,  proprietária,  com  88  arinos. 

Inclue  esla  rua  22  doentes  no  hospital  e  22  men- 
digos. 

(10)  •  "        <•    António  Vieira  de  Faria,  proprietário,  com  78  an- 

nos. Inclue  esta  rua  11  presos  nas  cadOas  e  77  re- 
ligiosas do  Convento  da  Gloria. 

(II)  «  «        "     Isabel  Marianna,  viuva,  proprietária,  com  64  annos. 

(12)      -  '-        "     Anna  Quitéria,  da  familia  Medina,  com  74  annos. 

{13j      <•  "        «     Maria  do  Espirito  Santo,  famula,  com  88  annos.  In- 

clue esta  rua  122  religiosas  do  Convento  de 
São  João. 

(14)  «  "  '<  Catliarina  Flora,  viuva,  com  7o  annos. 

(15)  "  "  "  Isabel  Joaquina,  com  7o  annos. 

(16)  '<  «  "  Francisco  Uias,  viuvo,  com  80  annos. 

(17)  '■  «  "  Barbara  da  (Conceição,  viuva,  com  80  annos.  Inclue 

esta  rua  17  religiosas  do  Convento  do  Carmo. 
ll8)      <<  "        "     Isabel  Francisca,  viuva,  com  70  annos. 

(19)  «  ■'        "     Francisco  Luiz,  viuvo,  proprietário,  com  o7  annos. 

(20)  <■  «        "    Águeda  de  São  João,  casada,  com  6o  annos. 

(21)  «  "        "     Eugenia  Rosa,  viuva,   com  82  annos.  Inclue  esta 

rua  3  religiosos  franciscanos,  do  Oratório. 

(22)  «  <<        «•     D.  Felisarda  Joa(|uina  dos  Santos,  viuva,  com  60 

annos  e  (laetano,  escravo,  da  mesma  edade. 

(23)  ••  «        H     Maria  de  Jesus,  viuva,  cum  87  annos. 

(24J      «  •<        "     Maria  Francisca,  mulher  de  Manoel  Roiz  da  Costa, 

com  67  annos 

(2o)      <•  '<        '<    Francisca  Margarida,  com  88  annos.  Inclue  esta  rua 

4  religiosas  do  Convento  de  Santo  António  e  deve  notar-se  que  esta  Travessa,  in- 
do pelo  lado  de  oeste  do  Convento  de  São  João,  abrangia  a  antiga  Canada  da  Ga- 
linha, hoje  estrada  da  Vista-alegre,  assim  como  a  actual  rua  do  Ministro  Ávila. 


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ARCHIVO  DOS  At:OKES  295 

XIX 


Depois  de  nove  horas  de  jornada,  de  haver  alravessailo  a  serra, 
siihido  e  descido  muita  ladeira  e  crnsado  os  grandes  descampados  de 
pedra  roliça  e  requeimada,  entremeiada  aijui  e  alem  por  montas  de 
rasteias  faias,  descampados  a  (jne  se  dá  o  nome  de  mystprins,  por  se- 
rem estes  os  sitios  por  onde  passaram  as  ribeiras  de  retervente  lava 
das  antigas  erupções  vnlcanicas  do  Pico.  chegámos  atinai,  ao  cahir  da 
noite,  á  Villa  d.is  Lagens. 

Não  alegra  a  prespectiva  daqnella  povoação,  maxime  para  «piem 
vem  fatigado  e  balido  de  chnvas  e  ventanias,  acrescendo  ainda  que 
n"essa  occasião  estávamos  no  fim  do  inverno,  que  os  dias  bons  eram 
ainda  raros  e  que  nma  nortada  aguda  nos  fazia  assoprar  nos  dedos  e 
embndhar  aconchedamamente  n'uns  cobertores  de  lã,  (jue  nos  haviam 
empresladt)  pelo  caminho. 

Os  nossos  companheiros  de  jornada  eram  mn  rapaz  da  villa,  que 
tinha  ido  á  ilha  do  Fayal,  d"onde  regressava,  por  causa  do  recruta- 
mento, um  homem  da  Magdalena,  que  tinha  a  seu  cargo  os  dois  pés- 
simos burros  (pie  montávamos  e  um  cão,  rateiro,  de  raça  ordinarissi- 
ma,  que  durante  lodo  o  caminho  matara,  na  serra,  dois  coelhos,  dos 
quaes  o  arrieiro  logo  se  apoderara,  e  pela  estrada  vários  ratos  de 
<^normes  pro[)orçÕes. 

A  priujeira  povoação  da  ilha  d."  Pico,  |)ois  que  a  sua  existência 
data  de  1500,  parecia  deshabitada,  nem  dava  (»  minimo  signal  de  vi- 
da, tendo  um  aspecto  desolador  tanto  a  sua  principal  e  acanhada  egre- 
ja,  como  a  maioria  dos  edifícios  j)ublicos,  geralmente  no  peior  estado 
de  conservação. 

Foi.  como  já  dissemos  noutra  pnrle  d  estes  apontamentos,  um 
padre  d'aqnella  localidade,  por  nome  fr.  Pedro  Gigante,  introduzio  na 
]lha  do  Pico  a  sua  principal  fonte  de  riquesa,  alguns  bacellos  de  vi- 
nha, vindos  da  ilha  da  Madeira,  que  em  poucos  annos  se  multiplica- 
lam  de  tal  sorte  (pie  chegou  a  produzir  ^3:000  pipas  de  excellenle 
viidio,  lornando-se  písr  esle  facto  importantissima  entre  lodiís  as  suas 
irmãs  do  archipelago. 

Kncaminham-u-nos  paia  o  velho  e  estragado  convénio  de'São 
Francisco,  que  domina  a  vilhi  e  no  qual  um  amigo  obzeijuioso  nos  ha- 
via permittido  permanecer  n  nm  desguarnecido  (piarto. 

Arrumadas  as  cavalgaduras,  o  rapaz  foi  procurar  o  lar  domestico. 

o  arrieiro  estendeu-se  no  soalho  e  dentro  em  breves  minutos  dormia 

•rofundamenle,  em  quanf»»  eu.  sentado  1111111   twnco  de  pinho,  á  luz 


296  ABCHIVO  DOS  AÇORES 

i\e.  nin;i  unlinaiia  vela  de  sebo,  lastimava  pela  centésima  vez  a  rniiilia 
inania  de  visitar  os  pontos  mais  remotos  do  Pico. 

Comi  algumas  dentadas  de  «amn  assada,  bebi  meia  garrafa  de 
vintio,  eslendi-me  no  chão,  numa  péssima  cariía  que  alli  me  haviam 
feito,  apaguei  a  luz  e  tratei  de  adormecer. 

A  fadiga,  porem,  se  muitas  vezes  causa  somno,  não  é  raro  lam- 
bem produzir'  o  contrario  e  nem  a  chuva  que  no  caminho  sentia,  man- 
sa e  continuamente,  caliir,  me  produzio  o  sen  narcótico  effeilo. 

Alem  disto,  um  pingo  d"agna  cahindo  no  quarto,  de  alguma  ro- 
tura do  tecto,  cadenciado  e  constante,  como  a  pêndula  de  um  relógio, 
incomn)odava-me  sobremaneira,  tanto  mais  que  eu  ignorava  o  sitio 
que  elle  alagava  e  se  dentro  em  pouco  não  me  acharia  todo  enchar- 
cado. 

S-in  conseguir  lograr  descanço,  quiz  accender  luz,  era  ao  menos 
uma  companhia,  e  Irmbrei-me  (jue  uo  castiçal  estavam  alguns  phos- 
pboro.-,  provavi^luiente  legado  do  ultimo  habitante  daqnelía  parte  do 
exlinclo  convento,  que  eu  não  sabia  queui  fosse,  nem  quando  alli  hou- 
vesse estado. 

Procurei-os  às  escuras,  risquei  un),  dois,  três,  e  apesar  do  cheiro 
nauseabímdo  que  ficou  em  redor  da  cama,  os  malditos  ardiam  o  en- 
xofre, mas  em  chegando  á  madeira  extingiiiam-se  immediatameute. 

O  arrieiro  continuava  a  dormir  e  resonava,  um  resono  de  apo- 
pletico,  parecendo  que  era  capaz,  com  aqnelle  sou),  de  fazer  estreme- 
cer todo  o  velho  eddicio  em  que  nos  achávamos.  , 

Pelos  meus  cálculos,  deviam  ser  nove  ou  dez  horas,  isto  é,  alta 
noite  u'aquelles  sitios. 

—  Queui  sabe,  — dizia  eu  —  se  deu  algum  ataque  no  Vicente,  a- 
quelle  resonar  não  me  parece  natural,  e  eu  aqui  sosinho,  sem  luz.  sem 
o  poder  ver  ...  o  melhor  é  acordai  o,  talvez  não  seja  nada  .  .  .  ò  tio 
Vicente,  tio  Vicente!  .  . 

Não  obtive  resposta. 

Levantei-me  e  ás  apalpadellas,  sem  estar  bem  certo  da  disposição 
do  quarto  e  dos  poucos  moveis  que  tiníia.  fui  agarrado  ás  paredes  pro- 
curar o  arrieiro. 

A  única  janella  (pie  deitava  paia  o  caminho  não  tinha  vidraça  e 
somente  portas  de  madeira,  de  sorte  que  nem  o  miuiuKj  vislumbre  de 
claridade  por  alli  entrava. 

Tropecei  afinal  no  corpo  do  homem,  apalpei  lhe  as  mãos  (pie  es 
tavam  frias  de  neve,  sacudi-o.  tratei   de  o  desjteitar. 

Malfadado  trabalho,  a|)aiiliei  um  enorme  socco  que  elle  me  atirou 
e  que  nit!  deu  em  cheio  n  uma  ilharga  e  inalteravelmente  conliimnii  a 
dormir,  com  idêntico  ou  ainda  mais  forte  estrondo. 

Ainda  assim  fiquei  satisfeito,  o  homem  que  dá  um  murro  daqiiel 
jes  deve  estar  vivo,  bem  viv<i. 


ARCHIVO  DOS   AÇORES  297 

Acresceu  lambem  uma  dutia  <:ircumstai]cia  que  mais  enfadonha 
me  tornou  semelhante  no  te. 

A  chuva  continuava,  lá  1'óra,  a  cahir  lorrenciahuenle.  e  já  desho- 
ras  comecei  a  uiivir  uns  giitos  atílictivos,  .igudos  e  amimlados,  (jiie  o- 
ra  pareciam  soar  perlo  do  convento,  ora  mais  ao  hjnge. 

Não  sabia  o  que  isto  fosse,  pareciam  vozes  de  mulheres  ou  de 
creanças  que  estivessem  a  malar,  lalvrz  algum  grande  crime  que  n"a- 
(juella  \u)Vã  se  estava  a  praticar  .  .  . 

Quem  se  apanhasse  no  Fayal !  .  . 

E  (|ue  valente  fôlego  deviam  ter  as  taes  victimas,  pois  que  leva- 
i'am  toda  a  santíssima  noite  n'aquella  inferneira! 

Só  qjiando,  em  lingoagern  local,  começaram  a  luzir  os  buracos  da 
casa  é  que,  vencido  pelo  cançaço.  consegui  adormecer  .  .  . 

O  dia  seguinte,  e  aciírdfi  já  tarde,  eslava  esplendido,  com  um  sol 
radiante. 

O  vento  havia  rondado  ao  norte  e  nem  imia  nuvem  apparecia  no 
fundo  firmamenlo  azul  escuro,  como  por  vezes  acontece  naquella  es- 
tação. 

Achei  me  sosinho,  o  arrieiro  que  dormiia  á  farta  havia-se  safado 
ijiais  as  cavalgaduras,  ainda  de  madrugada,  como  depois  me  disseram 
e  somente  em  frente  do  convento  um  bando  de  gallinhas  esgravatava, 
pacificamente,  o  chão. 

Se  a  conlemplação  da  villa,  como  já  disse,  apresenta  um  triste 
aspecto,  ainda  assim  tinha  uma  verdadeira  compensação  na  formosís- 
sima bacia  de  mar  que  então  via  na  minha  frente,  a  Lagoa,  como  al- 
li  lhe  chamam,  isto  é,  uma  grande  bahia,  fechada  toda  em  roda  por 
margens  mais  ou  menos  elevadas,  mas  de  pittoresco  corte  e  somen- 
te cominunicando  com  o  oceano  por  estreita  abertura,  lá  ao  longe,  de- 
frontando a  povoação. 

O  rapaz  das  Lagens  que  commigo  jornadeara  na  véspera  a[)pare- 
ceu-me,  então,  em  casa. 

—  Que  tal  passou  o  senhor  a  noile?  —  perguntou  elle. 

—  SoíTrivelmenle,  soffrivelmente,  mas  cahio  agua  a  valer. 

—  Não  senti:  isto  aqui  como  é  muito  socegadinho,  dorme  a  gen- 
te que  é  um  regalo. 

—  Foi  o  que  aconteceu  ao  Vicente,  arrieiro,  mas  digaine  uma  coi- 
sa, houve  algum  acontecimento  (extraordinário  esta  noile  na  villa,  fez- 
se  algum  crime,  maton-se  alguém? 

—  Um  crime!  .  .  matar  alguém!!  .  .  (]redo  .  .  .  isso  são  coisas 
em  (jue  se  pense  sequer,  numa  terra  dVslas. 

—  .Mas  é  que  eu,  toda  a  noite,  ouvi  lautos  gritos,  que  .  .  . 
-Grilos?!  .  . 

—  Sim  gritos,  parecia  que  estavam  a  esfolar  gente  viva  .  .Safa! 

—  Ora  essa!  .  .  a(|ui  não  consta  qiie  hajam  feiticeiras,  nem  Iam 

N."  'i«  — V(»l.  VIII       1886.  3 


298  ARCHIVO  DOS  AÇOKES 

busões,  nem  coisas  ruins  .  .  .  isso  de  noite  o  que  grila  são  as  cagarras, 
mas  a  gente  não  faz  caso. 

Estava  explicado  tudo. 

Achei  também  curiosa  a  maneira  porque  n'aquella  localidade  ex- 
traem o  uleo  daquellas  aves,  o  qual  tem  applicação  medicinal  para 
rheumatismos. 

Dependuram  as  cagarras  pelos  pés,  vivas  e  presas  ao  traveja- 
mento da  caza,  e  os  pingos  de  azeite  que  ellas  então  deitam  pelo  bi- 
co, são  cuidadosamente  aparados  para  o  mencionado  uso. 

-O  senhor  venha  dahi,  —  disse-me  ainda  o  rapaz  que  hoje  va- 
mos ler  um  grande  divertimento,  chegou  em  bôa  occasião. 

—  Então  o  que  vem  a  ser? 

—  É  um  caidume  de  botos  que  foi  avistado  ao  romper  da  manliã, 
já  sairam  algumas  lanchas  a  ver  se  conseguem  mettel-os  na  Lagoa  e 
a  povoação  toda  está  de  espreita  na  costa,  ha  de  ter  que  vér. 

Comi,  á  pressa,  algumas  dentadas  de  pão  e  queijo,  bebi  um  cá- 
lix de  vinho  e  exclamei: 

—  Prompto! . . 

—  E  vamos  de  corrida  que  não  podem  estar  longe,  se  elles  en- 
tram na  Lagoa  é  que  vae  ser  bonito. 

No  fim  de  um  quarto  de  hora  de  caminho  estávamos  em  cima  de 
um  penedo,  ao  lado  da  villa,  que  devassava  perfeitamente  o  vasto  e 
isolado  oceano,  única  prespectiva  que  d'aquella  localidade  se  descor- 
tina. 

Os  peixes  que  pela  escuma  que  faziam  na  agua,  deviam  ser  im 
mensos  vinham  acossados  pelas  lanchas,  cujas  tripulações  com  grande 
celeu!na  e  arrojando-lhes  um  bom  fornecimento  de  pedras,  que  adrede 
haviam  levado,  os  encaminhavam  na  direcção  da  bocca  da  Lagoa,  ten- 
do todo  o  cuidado  na  disposição  das  embarcações,  de  maneira  que  o 
cardume  não  podesse  tomar  qualquer  outro  rumo. 

Na  costa  a  multidão  era  enorme,  homens,  mulheres,  creanças, 
todos  com  verdadeira  anciã  esperando  o  bom  ou  mau  succedimento  da 
pesca. 

O  cardume  de  botos,  afinal  já  perto  da  estreita  passagem  que  o 
queriam  obrigar  a  transpor,  pareceu  ter  consciência  do  perigo  que  o 
ameaçava  e  tentava  retroceder,  levantando  uma  grandiosa  salseirada 
no  mar. 

As  lanchas,  porem,  á  força  de  remos,  de  gritos  e  de  pedras,  cou 
seguiram  tornar  a  reunir  os  peixes,  que  ainda  assim,  temerosos,  pa- 
raram á  entrada  do  canal,  que  ladeado  de  rochedos  conduzia  para  o 
interior  da  grande  bacia. 

As  pedras  choveram  então  com  mais  força  sobre  os  resislenles 
cetáceos. 

Afinal  um  dos  maiores  peixes,  medindo  (alvez  (piatro  metros  de 
C(»mprimenlo,  {)(>ssafile  e  luzidio,  como  uma  lamina  de  aço,  encami- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  299 

nlioii  se  tnagestusamente,  bufando  de  desespero,  para  o  começo  da 
garganta  da  Lagoa,  e  deixando  um  sulco  de  escuma  na  sua  passagem, 
(lesapparecen,  em  breve,  na  direcção  da  lerra. 

Era  este.  seguramente,  o  leader  da  companhia,  segiiio-se  lhe  logo 
nin  segundo,  depois  terceiro,  e  assim  successivamente  até  ao  ultimo 
individuo  do  cardume. 

Os  espectadores,  ora  encimando  as  circumvisinhas  pedras,  conta- 
ram a  passagem  de  numero  superior  a  sessenta  peixes,  (|iie  então  se 
alastravam  nas  fundas  agoas  da  Lagoa. 

Depois  da  entrada  do  ultimo  boto,  na  abertura  que  dá  ingresso 
para  a  bahia,  foi  estendida  uma  rede  especial,  para  embaraçar  a  sa- 
bida de  qualquer  dos  prisioneiros,  e  duas  lanchas,  atravessadas,  alli 
permaneceram  constantemente  sobre  os  remos. 

A  pesca  estava  bem  segura,  tanto  pela  disposição  dos  rochedos, 
como  pela  estreiteza  da  passagem. 

A  este  tempo  na  Matriz  soava  meio  dia. 

A  maior  parte  d'aquella  gente  foi  então  jantar,  para  em  seguida 
continuar  na  inesperada  faina. 

Os  lagenses  dão  certa  solemnidade  a  esta  pesca. 

Uma  meia  hora  depois,  começou  de  novo  a  reunir-se  o  povo,  es- 
palhando-se  pelas  margens  da  Lagoa  e  parece-me  que  não  ficariam 
meia  dúzia  de  pessoas  nas  casas  da  villa,  muitos  homens  e  mulheres 
vinham  armadas  de  grandes  e  luzidias  fiicas  americanas  e  no  sitio  em 
que  costumam  varar  barcos  e  lanclias  umas  seis  embarcações  eram 
deitadas  á  agua,  pelas  respectivas  companhas. 

As  lanchas  da  bocca  da  Lagoa  redobraram  então,  de  cuidado  e 
vigilância. 

Alem  dos  remadores  das  embarcações  e  do  homem  do  leme  só 
ia,  em  pé,  no  leito  de  proa  e  de  arpão  em  punho,  o  trancador,  um 
em  cada  lancha,  geralmente  homem  que  andara  á  pesca  da  baleia, 
nos  navios  norte  americanos,  e  que  por  esta  occasião  veste  o  seu  fato 
domingueiro,  airecada  na  orelha  e  chapéu  de  feltro. 

Também  Luiz  XIV  se  esmerava  todo,  quando  entrava  em  qual- 
quer batalha 

Ao  soprar  de  lun  búzio,  por  um  dos  liancadores,  começou  a  a- 
cção. 

Uma  das  lanchas  chegou-se  mansamente  paia  um  dos  botos  que 
estava  á  tona  dagua,  e  o  trancador  com  incrível  precisão,  arremeçou, 
ainda  a  aigmna  distancia,  o  arpão,  que  entrou  mais  de  uui  palmo  no 
corpo  do  peixe,  começando  este  n  uma  carreira  vertiginosa  e  deixando 
o  trancador  correr  a  linha  que  estava  presa  ao  arpão,  até  que  a  lan- 
cha arrastada  também  pela  fuiia  do  cetáceo,  reCi)lbendo  os  remos, 
principiou,  como  um  carro  puchado  por  valente  urco.  a  acompanhal-<i 
nas  suas  rápidas  evoluções. 

A  esta  lancha,  e  com  egual  processo,  seguiram  se  as  outras,  os 


300  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

peixes  cruzavam-se  em  lodos  os  sentidos,  os  trancadcres,  semelhantes 
a  estatuas,  conservavam-se  impassiveis  no  seu  porto,  só  mandando 
com  a  mão  ao  homem  do  leme,  que  lhes  executava  as  ordens,  e  as 
pequenas  embarcações  da  pesca,  céleres  quaes  flechas,  por  vi^zes  dei- 
tando se  até  lhes  apparecer  a  quilha,  cortavam  a  Lagoa  em  diversas 
direcções  mudando  por  vezes  de  rumo  nutn  abrir  e  fechar  dolhos. 

Aquillo  tinha  o  quer  que  fosse  de  assombroso  e  em  terra  ouvia-se 
distinctamenle  o  assobio  das  linhas  cortando  o  ar. 

A  perícia  d.is  marinheiros  era  grande,  as  suas  embarcações  n'u- 
ma  corrida  lo:tca,  á  mercê  de  grandes  e  enfurecidos  peix.,s,  desvia- 
vam-se  com  tal  mestria  umas  das  outras,  que  jamais  as  linhas  se  cru 
zavam,   nem   haviam   abalroamentos,  que  então  significariam  a  sua 
perda. 

E,  não  ob;ist;mte,  por  vezes,  seguiam  parallelas,  a  distancia  ape- 
nas de  alguns  p.ilmos.  cobrindo  a  escuma  levantada  pela  proa  de  ujna 
a  tripulação  da  «mtra. 

O  mar  ruborisava  se  do  sangue  dos  feridos  peixes,  os  que  não 
estavam  arpoados  corriam  espavoridos  em  todas  as  direcções  e  alguns 
approximando-se  das  margens  encali)avam,  sendo  logo  cercados  por 
immensa  gente  que  á  faca  os  acabava. 

A  pesca  tomava  calor,  as  victimas  iam  sendo  numerosas,  homens 
e  mulheres  de  facas  ensanguentadas  na  n)ão,  mettidos  n'agua  alé  á 
cintura,  quando  não  era  até  ao  peito,  effectuavam  terrível  murticinio, 
ao  tempo  que  as  embarcações,  no  meio  da  Lagoa  não  lhes  ficavam  a 
traz. 

No  fim  de  duas  horas  de  trabalho,  estavam  estendidos  na  costa 
sessenta  e  nove  v.denles  botos  e  começou  a  mais  simples  faina  de  os 
retalhar,  para  alli  mesmo  serem  derretidos  em  enormes  caldeiras 

A  pesca  tinha  sido  excellente  e  os  lucros  importantes,  pois  quanto 
azeite  houvesse  obtinha  certo  e  bom  preço,  para  exportação. 

As  tripulações  das  lanchas,  em  um  di;i  de  trabalho,  haviam  ga- 
nho mais  do  que  nimi  anno  de  pescaria  miúda,  e  o  vinho  e  aguar- 
dente começou  a  circidar  com  fartura,  ao  som  de  rudes  canções  ma- 
ritimas. 

Á  noite  a  villa  estava  illuminada  pelo  reflexo  dos  grandes  fogos 
accêsos  nas  margens  da  Lagoa,  onde  o  toucinho  dos  botos  se  C(tnver- 
tia  em  abundosos  barris  d'azeite. 

O  único  ponto  negro,  no  meio  da  alegria  geral,  era  um  cheiro 
tão  pronunciado  a  azeite  de  i)ei\e  que  invadia  todas  as  llilbitaçõe^, 
que  adheria  aos  vestuários  e  a  todo  e  qualtpier  obj<  cto. 

Não  ha  nada  peifeito  neste  mundo! 

Voltei  para  o  meu  pobre  quarto,  no  estragado  convento,  com  sé- 
lias  anciãs  para  lançar  e  á  falta  de  coisa  mais  odorífera  bebi  genebra, 
deitei  genebra  no  lenço  e  na  sobrecasaca. 

O  maldito  cheiro,  pon  m.  perseguia  tne  cada  vez  mais  forte,  vin- 


ARCHIVO  DOS  AÇOKES  '(.  1 

do  em  ondas  de  espesso  fumo  envolver  toda  a  povoação. 

O  rapaz  que  linha  sido  meu  cir(  rone  e  que  á  sua  i»arte,  elle  e 
uma  irmã  de  doze  annos,  esfaíjuearam  dois  bolos,  vieram,  acabada 
a  lijcta.  ceiar  commigo. 

Naquelle  dia,  ja  se  vè.  nas  Lagens  não  se  fallava  senão  em  pei- 
xe. 

—  Olhe  que  foi  nma  pescaria  como  não  lemos  lembrajiça  ha  mui- 
tos aunos!  —  dizia  o  rapaz. 

—  E  cada  peixe...  —  acrescentou  a  pequena  —  grandes  e  luzi- 
dios que  nem  porcos  ou  leilões. 

-  Anda  lá,  M;iria,  que  d  esta  vèz  é  que  tens  um  veslidtj  de  lã- 
zinha,  o  pae  do  seu  quinhão  d"azeite  não  deixa  de  t"o  comprar. 

—  Poderá! . .  eii  lambem  esfaqueei  no  peixe,  que  ainda  me  estão 
os  braços  a  arder. 

—  Foi  bem  bom,  bem  bom .  . .  uma  esmolinha  de  Deus. 

—  O  cheiro  da  tal  esmoia  é  que  se  torna  in^upportavel — retorqui 
ainda  —  até  este  charuto  sabe-me  a  azeite  de  peixe  . . . 

—  É  verdade,  senhor,  é  verdade  —  tornou  a  rapariga  —  a  genle 
bem  sente  em  si  assim  a  modo  d'um  bodum,  mas  isto  não  faz  mal. 
quizesse  o  Senhoi'  E>pirito  Santo  mand.ir  muitas  esmolinhas  daquel- 
las. 

—  Se  o  senhor  quizer  a[>anhar  um  boccado  de  ar  bem  fresco,  bem 
puro,  eu  posso-lhe  ensinar  o  caminho,  —disse  o  rapaz  —  e  ainda  em 
cima  hade  divertir  se  bastante. 

—  Iss(^  vinha  do  ceu.  levem-me  vocês  para  aonde  quizerem,  mas 
tirem  me  deste  supplicio. 

—  Olhe  que  leni  de  andar  um  bom  pedaço  e  por  Jogares  levados 
de  seiscentos  . .  . 

—  Acceilo,  seja  como  fôr. 

—  O"  Maiia, —ordenou  o  meu  hospede  á  irmã  —  vae  n'um  pulo 
a  caza,  e  traze-me  a  rèdesinha  delgada,  o  cão  Piloto,  dois  varapaus, 
um  archote  e  o  sacco. 

—  Francisco,  deixas  me  ir  lambem  comtigo? 
--Pois  sim,  pequena,  mas  não  te  demores,  hein? 

—  Isto  são  duas  pernadas.  Trago  a  es{)ingarda? 

—  Não  precisa,  f)ara  malhar  bastam  os  bordões. 

Aquillo  parecia  me  mais  o  fragmento  d'um  ranclio  de  bandidos 
[»reparando-se  para  tenebrosa  empresa,  do  que  gente  de  bem.  no  ple- 
no uso  dos  seus  direitos 

—  Você  não  me  metia  nalguma  alhada,  veja  lá. 

—  Fique  o  senhor  descançado.  que  não  trora,  avia-te  rapariga 
Dahi  por  um  quarto  de  hora  a  Maria  apparecia  já  de  volla,  com 

uma  rede,  bastante  fina,  embrulhada  e  deitada  pelas  costas  de  hom- 
bro  a  hombro,  cujas  extremidades  lhe  desciam  quasi  até  aos  pés,  de- 
l)aixo  d'um  braço,  bem  dobrada,  trazia  uma  enorme  sacca,  no  outro 


302  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

atravessado  iim  archote  e  na  mão  dois  compridos  varapaus,  com  pon- 
teiras de  metal.  Atraz  d'ella  vinha  um  cão  grande,  malhado  de  branco 
e  preto,  de  olhar  intelligente  e  bastante  ágil  em  todos  os  seus  movi- 
mentos. 

—  Ora  vamos  lá  com  Deus, —disse  o  rapaz,  distribuindo-me  um 
dos  bordões  e  reservando  o  outro  para  s\  —  sugigue-se  o  senhor  n'este 
brinquinho,  que  não  faltará  que  lhe  dar  que  fazer. 

—  Eu,  amigo,  para  valentias  não  tenho  geilo. 

—  Alliora  o  home!  —  exclamou  a  pequena,  com  certo  arde  escar- 
iieo,  que  começou  a  envergouhar-me  da  miaha  pusillanimidade. 

O  Piloto,  vendo  aquelles  bellicos  preparativos,  batia  a  cauda  de 
contente  e  começou  a  rodear-nos,  fazendo  sempre  cabeça  para  a  por- 
ta de  saida. 

Era,  talvez,  o  que  eu  pensava,  uma  familia  de  salteadores,  mas 
a  rede? . .  de  que  demónio  pode  servir  a  rede  .  .  . 

Sai  mos. 

Lá  em  baixo,  nas  margens  da  Lagoa,  continuava  o  derretimento 
dos  botos  numerosas  fogueiras  levantavam  a  grande  altura  as  suas 
linguas  de  brilhantes  chammas  e  ouvia-se  o  vozear  dos  pescadores  a 
par  do  marulho  da  maré  de  encontro  aos  rochedos. 

Na  claridade  do  lume,  os  vultos  daquelles  homens,  mulheres  e 
creanças  tomavam  turmas  phantasticas,  parecendo  uma  i-oda  de  feiti- 
ceiras e  almas  penadas,  em  sabbatico  divertimento. 

Seguíamos  em  íila,  por  estreita  vereda,  na  direcção,  da  costa  o 
Francisco,  eu,  a  pequena  e  atraz  de  todos  o  cão. 

Caminhamos  sempre  para  o  norte,  a  tal  ou  qual  claridade  prove- 
niente das  fogueiras  extiuguira-se  de  todo.  numa  volta  da  vereda,  a- 
gora  elevada,  á  beira  de  um  precipicio,  sentindo  muito  abaixo,  em 
grande  profundidade,  o  mar  a  desfazer-se  nas  pedras. 

O  ceu  estava  estrellado,  fundo,  e  effectivamente  um  ar  puro  e 
balsâmico  começou  a  fartar-me  os  pulmões. 

—  O'  Sr.  Francisco,  isto  para  tomar  ar  parece-me  que  tem  bas- 
tante, podemos  sentar  nos  aqui  um  boccado  e  está  acabada  a  festa. 

—  Alhora  o  home!  —  t.»rnou  a  ra[)ariga  com  o  seu  modosinho  sar- 
cástico. 

—  Isso  é  que  é  fallar, — atalhou  o  lageuse  —  o  senhor  que  veio 
até  aqui  ha  de  ir  até  ao  fim,  o  mais  perigoso  do  caminho  já  está  pas- 
sado, agora  vamos  para  o  calhau  e  depois  é  sempre  costa-cosla. 

—  .\las  para  aonde  vamos  nós? 

—  O  senhor  verá,  e  não  se  ha  de  arrepender,  (irme  se  bem  no 
bordão,  olhe  que  isto  aqui  é  alto. 

—  Deixe-me  o  tio  pas>ar  para  diante,  feche  os  olhos  e  suyiyue-se 
á  minha  saia,  que  não  trova. 

—  Vae  te  com  Deus,  rapariga,  queres  que  eu  role  poi'  ahi  abai- 
xo? .  . 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  303 

—  Alkora  o  home!  .  .  namja  cá  a  genlíí  rolar,  e  í>e  não  fossem 
as  topadas,  não  havia  caminho  melhor. 

Haviamos  descido  e  estávamos  agora  á  beira  do  mar,  n'uma  cos- 
ta toda  povoada  de  enormes  e  negros  penedos,  sem  trilho  algum  pra- 
ticável. 

—  D"aqui  por  diante  —  disse-me  ainda  o  Francisco  —  é  preciso 
não  tugir  nem  mugir,  a  gente  vae  trepando  as  rochas,  mas  caladoíí 
que  nem  defuntos,  são  duas  passadas,  vá  o  senhor  seguindo  o  filòto 
e  guie-se  por  onde  fôr  o  cão,  que  vae  bem. 

—  Bem  estava  eu  em  caza,  isto  foi  o  diabo  em  que  me  metti . . . 

—  Alhora  o  home !  .  .  acomede-se  o  tio  e  sugigiie-se  ao  cachaço  do 
Piloto. 

Começámos  então  um  trabalho  incrível  naquella  escuridão,  subir 
e  descer  penedos,  agudos  que  nem  pontas  de  facas,  ingratos  e  trai- 
çoeiros que  nem  Judas. 

As  minhas  pobres  botas,  umas  botas  novas,  sentia  bem  que  esta- 
vam nos  últimos  paroxismos. 

Uma  ou  duas  vezes  levantei  a  voz  para  protestar  contra  aquillo 
tudo,  mas  ouvia  logo  o  rapaz  dizer  me:  cale-se,  cale-se,  quando  não 
está  tudo  perdido ! 

Valia-me  o  Piloto  que  percebendo,  seguramente,  as  sérias  diíTi- 
culdades  em  que  eu  me  achava,  ííão  se  aíTa^tava  de  ao  pé  de  mim, 
guiando  me  com  dedicada  affeição  por  aquelle  labiryntho  de  rochas 
desabridas. 

Andei  de  gatinhas,  mais  os  meus  companheiros,  talvez  metade  do 
trajecto. 

Parámos  afinal. 

O  sitio  em  que  então  nos  achávamos  era  junto  de  uma  barroca 
alterosa,  em  cima  de  pedras  roliças  muito  trabalhadas  pelo  mar,  que 
a  uns  três  ou  quatro  metros  de  distancia,  apesar  do  tempo  estar  bo- 
nançoso, rosnava  por  vezes  ameaçador. 

Do  lado  da  terra  o  cimo  da  barroca  perdia-se  na  escuridade  no- 
cturna, nem  se  sentia  o  minimo  signal  de  vida,  toda  a  costa  estava  de- 
serta, negra,  medonha. 

O  Francisco,  com  as  maiores  precauções  possíveis,  para  não  fa- 
zer o  menor  rumor,  desembaraçou  a  irmã  da  rede,  que  ainda  embru- 
lhada deitou  a  tiracollo,  deu  lhe  a  aguentar  o  seu  varapau  e  começou 
a  trepar  a  barroca,  perdendo  se  em  breve  na  escuridão. 

O  Piloto  estava  impassível  e  estático. 

A  rapariga  pegou-me  na  mão,  apertando-m'a  bastante  em  signal 
de  silencio,  e  pé  ante  pé,  passando  de  leve,  como  uma  sombra,  foí-me 
; conduzindo  para  junto  da  encosta,  fazendo  me  subir  alguns  passos  e 
seguida  pelo  cão,  que  caminhava  com  idênticas  precauções. 

Parámos,  e  pude  então  perceber  que  a  rede.  ora  ab*^rta,  come- 


'^Ú'^  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

cava  a  descer  com  cuidado,  vagarosamente,  d'uma  saliência  superior 
da  rocha,  esleiídendo-se  ao  loiígu  da  natura!  muralha. 

Quando  a(|uelle  aitefacto  estava  bem  iuii(hj  á  rocha,  a  pequena 
calguu-o  com  pedras,  na  sua  orla  inferior,  o  Francisco  desceu  do  ele- 
vado postit.  e  abrindo  d"um  lado  uma  nesga  da  rédr,  deu  passagem 
ao  cãt»,  á  irmã  e  a  mim,  vindo  elle  em  ultimo  logar. 

A  rocha  era,  alli,  cortada  a  prumo  e  entre  esta  e  a  rede  caminhá- 
mos, as>im  alguns  momentos,  C(jm  as  costas  para  a  muralha  e  a  cara 
voltada  para  o  mar. 

Não  se  fizera  o  minimo  ruido. 

l)'entro  em  pouco  a  rocha  abrio-se  repentinamente  n'imia  grande 
fiiina.  cuja  entrada  vi  (jue  estava  toda  toujada  pela  rede,  sò  então  per- 
cebendo (jual  o  seu  uso. 

(3  silencio  coutuiuava  ainda  completo  e  só,  a  espaços,  se  ouvia  no 
interior  da  furna  o  arrulho  dalgumas  aves. 

Decididamente,  rião  havíamos  sido  i)resentidos  pelos  habitantes 
d'aquelle  marítimo  e  agreste  refugio. 

O  picoense,  já  a  este  tempo,  havia-se  arrastado  até  ao  interior 
da  furna  e  de  npeiite  accendeu,  com  um  phosphoro,  o  archote  que 
derramou  logo  avermelhada  claridade,  deÍNando-.ios  ver  o  interior  de 
uma  caverna,  cujas  paredes  com  peíjuenas  e  desiguais  saliências  es- 
tavam povoadas  de  uulhares  d'aves,  brancas  ou  escuras 

O  rapaz  fazia  luna  roda  liiminosa  com  o  facho,  para  lhe  dar  mais 
vida  e  grilava  como  desesperado : 

—  (^hu  pomba.>!  ,  .  tlhu  ó  pombas!!  .  . 

O  cão  ladrava  e  corria  a  não  poder  mais,  a  pequena  fazia  um  a- 
Urido  terrível,  arreujessaiido  pedras  para  o  tecto  e  ás  paredes  da  ca- 
verna e  eu,  atordido,  via  de  todas  as  |)artes  levantarem-se  bandos  de 
aves,  que  esvoavam  loucamente,  que  se  arremessavam  contra  o  pórti- 
co da  furna,  batendo  na  rede,  aonde  ficavam  presas,  cahindo  ás  dúzias 
no  chão,  ou  baqueaudo-se  contra  as  paredes,  com  egual  re>ultado, 

O  cão  era  infatigável,  pan^/ia  doido,  dava  latidos  agudos,  corria 
(Tiuna  |)ara  oiiiia  paite,  trepava  pelas  paredes,  espantava,  emfim, 
ipianto  podia,  as  alerrorisadas  avo. 

O  Francisi'0  de  archote  em  punho  e  de  varapau  na  outra  mão, 
fazia-llie  uma  segunda,  em  quanto  a  rapaiiga  não  tinha  mãos  a  medir, 
para  agarrar  nas  pombas  que  caiiiam  e  ainda  a  e>voa(;ar  ia-as  melten- 
do  dentro  do  grande  sacco  qiuí  trouxera,  já  então  com  bastante  caça. 

—  Al/ioia  o  home!  .  .  gritava  me  ella,  toda  azafamada  -  oh  tio, 
de  (pie  lhe  stuve  esse  boi'dão?!  .  .  é  malhai'  n"ellas  bordoada  rija.  .  . 

Assim  fiz  e  todos  nó<  causamos  alli  uma  carnificina  ipie,  ainda 
que  menos  rendosa,  deixava  muito  a  perder  de  vista  a  matança  do> 
bíMos  na  manhã  daquelle  mesmo  dia. 

O  saeco  encheu-se,  coin|)letami'nte,  de  pombas  e  com  elle  carre- 
gou o  l''ranciseo,  a  irmã  despio  a  sua   saia  (le  róia.  de  chila,  e  alli  ai  - 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  305 

nimoii  niiia  hò.i  poirJio  do  c.iç;),  íizer;iin-se  cíirDljiilliões  dn  [xniibas.  a- 
marrad.Ks  pelos  |)tís.  dois  dos  ijiiaes  eu  iroiixê  e  os  outros  dois  fonun 
de[)(3iidiir;idos  nas  costas  do  Pilôlo  e  íirarani  ainda  diizias  de  píurdjas 
deitadas  luoflas,  no  chão,  (jiie  o  Francisco  disse  que  na  manliã  seguin- 
te voltaria  a  Ijnscar,  se  acazo  os  ratos  do  calliáo  não  as  devorassem 
durante  a  noite. 

Conton-nie  elle,  então,  (|ne  de  Outubro  a  Junho,  aquellas  aves 
procuram  refugio  das  tormentas  e  do  frio  nas  concavidades  dos  roche- 
dos, e  que  como  aquella  furna  era  muito  funda,  nunca  alli  faltava  uma 
boa  cagada,  logo  (|ue  o  mar  manso,  como  então  estava,  deixava  tran- 
sitar-se  pelas  pedras,  por  que  não  sendo  assim  as  vagas  subiam  até  á 
entrada  da  mesma. 

Voltamos  carregados  para  a  villa,  mas  com  maior  facilidade,  por 
quanto  a  luz  do  archote  então  nos  guiava  e  eu  podia  praguejar  á  von- 
tade, quando  dava  algum  Irambulhão. 

O  Francisco  teimou  em  deixar-me  em  casa  uma  porção  de  pom- 
bas que  dava  para  a  comnumidade  de  um  convento,  e  num  convento 
estava  eu,  mas  deserto,  sem  frades,  e  a  cahir  em  minas. 

.\gradeci-llie  nuiito  a  bella  noite  que  me  havia  feito  gozar  e  atre- 
vi-me  a  oííerecer  á  pequena  Maria  mna  moeda  de  seis  tostões. 

Al/iora  o  homel  —  accudio  a  rapariga,  mettendo  alegremente  no 
l)oIso  aquella  insignificante  quantia  que,  para  ella,  representava  avul- 
tada fortuna. 

Retirados  os  meus  companheiros,  deitei-me  e  adormeci  profunda- 
mente, ao  contrario  do  que  me  havia  acontecido  na  noite  anterior. 

Os  últimos  sons  que  então  ouvi.  era  ainda  na  Lagoa,  o  barulho 
dos  marinheiros  no  derretimento  dos  botos. 

As  chauímas  continuavam  a  illuminar  as  frontarias  das  casas  da 
villa  e  a  sua  claridade,  atra  vez  das  portas  das  janellas  do  meu  quar- 
to, vinha  desenhar-me  na  parede  caprichosas  formas. 

No  dia  seguinte  deixei,  com  saudade,  aquella  laboriosa  povoação, 
a  mais  antiga  da  grande  ilha  do  Pico. 


N.^  46  — Vol.  VIII —  1886. 


306  AHCHIVO  L>US   ACOHES 


XX 


g-t^j^t^:eíxj^  ido  dist-Ricto  idj^ 

(Ilha  do  Fayal) 


A  iiistrucção  publica  no  archipelíigo  açuiiano,  ci»mo  acoiilecen  ein 
Portugal,  e.<teve,  por  dilatados  aniiOí!,  exclusivamente  entregue  às  or- 
dens monásticas,  e  por  mais  aíTastadas  estas  terras  e  estaren»  então, 
por  assim  dizer,  no  começo  do  seu  povoamento,  o  século  U).°  que  tão 
brilhante  foi  a  semelhante  respeito  no  continente,  jamais  aqui  ciinse- 
guio  reílectir  as  suas  radiantes  alvoradas,  pois  que  os  colonos  que 
para  estas  ilhas  do  oceano  atlântico  tinham  vindo,  mais  se  o  occupa- 
vam,  <;om  certeza,  em  desbravar  fechadas  mattas,  ou  retirar  dos  tei- 
lenos  que  iam  arroteando  a  necessária  sustentação,  do  que  em  coui 
pensar  li  vos,  ou  aprender  letras. 

Com  os  primeiros  povoadores  das  quatro  ilhas  occidentaes  do  ar- 
chipelago,  que  lurmam  actualmente  o  districto  da  lloita,  sabe  se  que 
para  o  Fayal  vieram  alguns  sacerdotes  llamengos,  tanto  mais  que  os 
sentimentos  religiosos  do  capitão  Jorge  d  Ulra  e  de  sua  consorte  D. 
Brites  de  Macedo,  estam  beuj  patentes  na  conslrucção  de  diversas  er- 
midas, logo  apoz  da  sua  chegada,  niima,  das  quaes  no  sitio  de  Santa 
Cruz  se  disse  a  [>rimeira  missa  nesta  ilha,  assim  como  nos  votos  fei- 
tos ao  Altíssimo  para  isentar  as  novas  povoações,  ou  o  interior  ainda 
mal  conhecido  da  ilha,  de  animaes  ferozes,  ou  quaesquer  obstáculos 
em  detrimento  da  pacifica  posse  da  sua  donatária. 

Entre  os  annos  de  1450  a  1400  ej)oca  provável  do  descobrimento 
do  Fayal,  até  ao  anno  de  loáO,  isto  é.  no  decurso,  approximadanjente, 
dum  meio  século,  sabe-se  que  alguns  frades  franciscanos  edificaram, 
distante  da  principal  pijvoação  o  seu  primeiro  convento,  n"uma  lomba, 
desde  então  chamada  dos  frades,  entre  a  Praya  do  Almoxarife  e  Fedro 
Miguel,  e  se  acjui  tinha  havido  algum  vislumbre  de  publico  ensinamen- 
to, eíTeituado  poi  aquelles  religio^os,  foi  este,  necessariamente  assaz  de- 
ficiente, sem  um  plano  regular  e  somente  devido  á  boa  vontade  dos  fran- 
ciscanos, cuja  ida,  ainda  assim,  paia  um  .sitio  aíTastado  e  despovi»ado, 
devia  com  cei  lesa,  esloi  var  a  mocidade  da  aprendisagem  (jue  os  mes- 
mos, por  ventura,  lhe  ministravam. 

Na  agrfsb'  lomba  a  que  nos  irlrrinio?  e  longf  da  floria  existio 


ABCHIVO  DOS  AÇORES  307 

dnratile  alguns  nnnos.  não  se  sabe  com  certesa  iiiiaiilos,  a(|nolle  lios- 
[jicio,  com  uma  acljiiii:la  ermida,  alé  qiie  afinal,  por  quacsquer  cir 
cumsldncia  f»i  abamlon kN»,  vindo  os  fr.inciscaiios  |)ara  Porto-Pim,  es- 
tabelecer se  niimas  barracas  (jiie  fi/.rram  con>lrnir  no  sitio  ainda  bo- 
je alli  conliecido  pela  (^ova  dos  frades,  emqiiaiilo  edificavam  á  beira 
mar,  alem  da  extremidade  do  sul  da  povoação  nm  maior  mosteií'o,  so- 
bre nns  locliedos  alli  existentes  então,  comi»  ainda  hoje — as  pedras  dos 
frades,  qne  fic;iv;'m  logo  adiante  da  Grota,  artn;il  rua  do  Livramento, 
desembocando  no  canto  de  D.  Joanna. 

Isto  decorreu  no  anno  de  lo30.  ou  muito  aproximadamenle. 

Foi  desta  data  em  diante,  isto  é.  depois  de  estabelecidos  mais  re- 
gularmente, que  os  filhos  da  religião  de  São  Francisco  começaram  a 
[)reslar,  e  durante  muitos  ânuos,  verdadeiros  serviços  á  c;msa  da  in- 
strucção  publica,  ensinando  as  primeiras  leiras  tanto  no  convento  co- 
mi» [lelas  casas  particulares,  a  todos  que  se  queriam  a|)roveitar  da  sua 
bôa  vontade,  contentando  se  com  qualquer  remuneração  por  diminuta 
(|ue  fosse  e  recebendo  no  smi  convento,  a  troco  d'uma  pequena  esmo- 
la, qualquer  rapaz  que  das  povoações  distantes  ou  das  ilhas  visinhas 
para  acjui  vinha  estudar,  dando  egualmente  temporária  hospedagem 
aos  indivíduos  que  por  negócios,  ou  atíazeres,  tinliam  de  permanecer 
por  algum  tenq)o  na  Horta. 

0>  fr.uiciscanos,  diga-se  em  abotKj  da  verdade,  foram  sempre  uns 
bons  e  serviçaes  amigos  dos  fayalcnses,  captando  a  sym|).ithia  geral  e 
evitando  cuidadosamente,  emb  ^ra  tivessem  frequente  entrada  em  mui- 
la>  casas,  quaestjuei  escândalos,  ou  impropiio  comportamento. 

Precisavam  de  todos,  eram  nuia  ordrm  mendicante,  e  com  todos 
(jueriam  viver  em  paz. 

A  sua  casa  augmeutava  assim  de  uma  maneira  extraordinária, 
lauto  (jue  uu)  grande  temporal  havesido  lhe  destruído  o  seu  edificio  da 
beira  mar,  em  qualro  annos  apenas,  devido  á  c.tridade  publica,  a  of- 
fertas,  esmolas  e  doações,  conseguiram  levantar,  eu)  logar  mais  segu- 
ro o  vasto  edificio  que,  actualmente,  n'esta  cidade,  serve  de  hospital, 
bem  como  a  magnifica  eíjreja  (jue  lhe  fica  adjunta,  isto  desde  o  anuo 
de  1680  a   1690. 

Por  estes  tempos,  porem,  e  já  anteriormente  desde  IGi2.  tinhan) 
os  franciscanos  uns  temiveis  antagonistas  nos  padres  da  poderosa  (^om- 
[tanhia  de  Jesus,  cuja  sede  açoriana  era  no  Fayal  e  que  leccionavam 
lambem  a  mocidade,  mas  duma  maneira  muito  mais  correcta,  emlto- 
ra  a  menor  nuinero  de  indivíduos. 

Se  os  .jesuítas  não  tir)ham  mestres  de  letras  girdas,  corufj  vulgar 
mente  se  diz,  lambem  não  consentiam  nas  suas  aulas  discípulos  bron- 
cos. 

A  iníluencia  q»ie  o  publicij  ensinamento  dava  a  estas  duas  ordens 
feligiitsas,  creou  rivalidades  e  malquerenças  entre  o  (^ollegio  e  o  Con- 
veuto.  !(>  IVancixauos  ensinando,  pirem,  indislinctamenle,  a  talentosos 


308  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

e  rudes,  emquanto  que  os  Je>uilas,  ao  invez  d'este  comporlamenlo, 
nãu  facultavam  a  sua  sciencia,  que  era  vasla,  seuão  aos  mancebos 
nos  quaes  reconheciam  aplidã*^  para  as  letras,  aus  outros,  decorrido 
algum  tempu  de  prova,  aconselhavam  os  a  que  fossem  aprender  qual- 
quer oílicio  mecânico,  embora  a  expensas  da  Com[)anhia. 

Andavam  ajuisadamente:  de  que  serve,  por  vezes,  gastar  cera 
com  ruins  defuntos,  lauto  mais  quando  uma  niillidade  na  republica 
das  letras,  para  as  quaes  tem  negação,  pode  tornar-se  um  artista  a- 
proveilavel,  útil  para  a  sua  família  e  para  a  communidade  em  que  vi- 
ver? 

E'  a  muito  sabida  historia  de  Molière  e  do  cabelleireiro. 

Estabelecido  isto,  ser  discípulo  dos  Jesuítas  contava-se  cumo  um 
diploma  de  capacidade,  uma  valiosa  recommeudação  para  (jualqner 
cargo  publico. 

Foi  assim  que  veio  encontrar  estas  duas  ordens,  em  rivalidades, 
o  Alvará  do  Marquez  de  Pombal,  datado  de  ^jíS  de  Junho  de  1759  que 
tirava  aos  padres  da  Companhia  a  faculdade  do  ensino  publico  e  crean- 
do  professores  de  latim,  phylosophía,  rhetorica  de,  em  todas  as  cabe- 
ças de  Comarca,  o  que,  porem,  só  mais  tarde  se  verificou  á  mingoa 
de  professorado  competente. 

Para  occorrer  ás  despezas  com  o  novo  professorado  foi  creado  um 
imposto  especial  que  se  denominou  «subsídio  lilterario». 

Livres  dos  seus  antagonistas,  em  vista  daquella  ordem  do  seve- 
ro Marquez,  assim  como  pela  subseijuenle  expulsão  dos  jesuítas,  em 
1760,  Continuaram  os  franciscanos  a  ensinar  o  que  sabiam,  que  por 
vezes  não  era  muito,  a  quantos  rapazes  appareciara  no  convento  e 
como  n'essa  epoclia  á  maioria  das  rapai-igas,  por  defeito  de  educação, 
não  era  permitlido  a  prender  a  ler,  o  pomo  vedado  da  instrucção  h- 
raitava-se  para  o  sexo  feminino,  cou)  raras  excepções,  soujenle  ao  eu 
sino  das  donzellas  que,  com  vontade  ou  sem  ella,  tinham  de  entrar 
para  os  mosteiros  de  religiosas,  pois  sem  aquella  prenda  não  lhe  eram 
franqueadas  as  portas  da  clausiu'a,  nem  podiam  cingir  o  alvo  veu  das 
esposas  de  Christo. 

Ainda  em  1821,  apenas  em  todo  o  reino  de  Portugal  haviam  87^} 
escolas  de  instrucção  |)rimaria,  das  quaes  quarenta  e  ipiíitro  somen- 
te {)ara  o  sexo  feminino. 

Este  numero  demonstra  claramente  o  (pie  seria  a  educação  litte- 
raria  das  mulheres  nas  ilhas  dos  Açores  e  que  força  de  vontade  foi 
necessária  não  somente  [)ara  algumas  das  nossas  patrícias  fazerem  a- 
qiií  uma  custosa  apiendísagem,  mas  até  chegarem  a  dístingnir-se  pe- 
los seus  escriptos,  como  neste  capitulo  ainda  teremos  occasião  de  tle- 
monstrar. 

A  revolução  franceza  de  1789,  convulsionando  a  Europa  toda. 
também  se  fez  i(  llectir  n  estas,  relativamente,  insignificantes  ilhas,  e 
n'aquelle  frémito  de  ídéas  novas  que  se  alastravam  por  toda  a  parte 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  309 

lambem  tivemos  um  [jcqueiio  qdiíihru),  impititndo  pnlos  iiíivios  e>li;)ii 
geiros  que  então,  njustanlemenle  aporluvam  íío  Kayal,  disliibuiiiilu 
n"esta  illia  brochuras  revolucionarias  e  propalando  os  >eus  píí.s>ageiros. 
ou  tripulações,  doutrinas  (jue  nus  eram  bem  pouco  familiaies,  (jue  ira- 
tavam  dos  direitos  do  lioniem,  do  nivelamento  das  classes,  da  liber- 
dade dos  cultos  e  do  livre  ensinamento. 

L'm  verdadeiro  escândalo! 

Os  franciscanos,  condemnandu  do.s  púlpitos  a  revolução,  viam  cla- 
ramente na  nova  ordem  de  idéas  que  se  levantava  e  (|ue  ia  tendo  nu- 
(uerosos  sectários,  um  perigo  eminente  para  todas  as  instituições  es- 
tabelecidas e  para  o  socègo  e  conunoda  existência  em  que,  alé  eiitão, 
haviam  vivido. 

Mas  a  hydra  revolucionaria  apesar  de  todos  os  exorcismos  e  mal- 
dições continuava  a  medrar,  a  ler  vigor  e  os  mulliplices  braços  d"a- 
quella  madreposa  inunensa,  enlaçavam  não  somenle  os  seculares,  mas 
até,  oli!  vergonha,  alguns  de^venturados  religiosos,  que  demonstravam 
tal  ou  qual  tendência  para  os  primeii'os  vislinnbres  da  liberdade. 

A  maié  subia  sempre  e  é  certo  (pie  nem  poupava  as  me^mas  ca- 
sas de  oi'ação,  lauto  no  que  dizia  lespeilo  aos  conventos  de  leligiosos, 
como  ainda  conj  maior  exilo  nos  mosteiros  das  freiras,  aonde  começou 
a  existir  um  partido  libeial.  provavelmente  constituido  das  mullieres 
que  para  a  clausura  tinham  entrado  á  força. 

Dos  pulpit(»s  abaixo  troavam  então  as  mais  vehementes  exhorta- 
ções  para  lhes  não  chamar  descomposturas,  contra  a  revolução  e  as 
mais  terminantes  ameaças  de  que  accèsa  a  ira  celeste  contra  a  impie- 
dade que  se  desencadeava  iidrene.  grandes  castigos  agiuírdavam  os 
seus  sectários  e  dos  quaes.  inlelizmeiíte.  lambem  os  innocentes  p;u1i- 
Ihariam. 

Livre-se  alguém  duma  rascada  semelhante! 

Um  assustador  pjienomcno  da  uaturesa  pareceu  vir  confirmar  es- 
tas tétricas  prophecias. 

A  21  de  Dezembro  de  I7í)á,  dia  em  (|ue  a  egreja  chrislã  celebia 
a  memoria  d<t  glorioso  apostolo  São  Thomé.  pelas  6  horas  da  manhã 
e  quando  uma  grande  parle  da  j)ovoação  estava  nos  templos  a  ouvir 
missa  e  estes  ainda  obscurecidos,  naipiella  estação,  pelas  trevas  no- 
cturnas, um  violento  tiemor  de  terra,  como  aqui  não  havia  memoria, 
abalou  toda  a  ilha,  arruinando  algumas  casas,  desarreigando  grandes 
arvores  e,  embora  não  fizesse  victimas,  lançand(t  na  máxima  con>ter- 
nação  a  todos  os  fayalenses. 

Temos  pre^ente,  sobre  a  mèza  em  que  escrevemos,  uma  minucio- 
sa narrativa  deste  acontecimento  escripta  por  um  homem  assaz  sen 
sato  6  que  ao  mesmo  assistio  estando  a  ouvir  missa  na  egreja  do  mos- 
teiro da  Gloria,  e  o  seu  signatário  confessa  que  riãr)  pode  priveipiar 
mais  horrendo  o  dia  final  de  todos  o,s  dias  e  que  o  povo  comeron  então 
a  dar  (pitos  tão  lamentosos  ijue  faziant  trt^nicr  as  carnes. 


310  AKOHIVO  DOS  AÇORES 

Em  sejJui'l;i  íi  si^iíicliiHiitf  fado,  ijue  encarado  eoiuo  uma  prova- 
ção, iHi  casligit,  tiiilia  grande  alcance  no  anitno  geral  e  sempre  com  a 
idéa  de  abalar  os  princípios  da  revolução,  ou  as  erróneas  doutiinas 
dos  pedreiíos  livres  (jiie  com  us  mesmos  se  cumprasiam,  o  general 
Diniz  Gregório  de  Mello  Castro  e  Mendonça  o  qual  veio  a  fallecer  no 
1."  de  Dezembro  de  1793,  mandou  da  ilha  Terceira  pôr  aqui  em  mo- 
viinenlo  os  Tei'ços  d"Int'anteria,  assim  como  guarnecer  com  tropa  os 
differeules  portos  da  ilha,  para  prevenir,  pelos  meios  de  que  dispunha, 
uma  invasão  de  francezes,  (pie  se  annimciava  para  breve. 

l*or  outro  lado  o  í5i>po  da  diocese  mandava,  também,  em  se'i  lo- 
gar  a  esta  ilha  o  Visitador  (^ardozo,  cónego  da  Sé  dAngra,  não  só 
para  e.xhortai'  o  povo  contra  as  injpiedades  dos  tempos  que  corriam, 
como  para  administrar,  em  diversos  templos,  o  sacramento  da  Chris- 
u]a,  sendo  coníiiuiíados  na  Fé  muitos  milhares  de  indivíduos. 

Este  Visit.idor  chegou  ao  Fayal  no  tlia  27  de  Feveieiro  de  1792, 
pas.^ou  aipu  a  ipiaiesma  e  só  findou  os  atTazeres  eçciesiasticos  de  que 
estava  incumbido  nos  tius  dWbril  seguinte. 

l*ara  todos  não  foi  um  tenqjo  folgado  aquelle. 

A  des[)riii».  pi  liem.  de  lu(Jo.  ei'a  humanam<  nte  imposí-lvel  fazei 
retrogradar  os  piincipios  de  89. 

(Jual  avalanche  immensa  ipie  despenhando  se  do  cume  de  escar- 
[»a(la  e  alterosa  serrania  tem,  necessariamente,  de  seguir,  atiavez  de 
quaesquer  obstáculos,  prlas  aprumadas  encostas,  até  descer  ao  valla- 
do,  endjora  no  seu  trajecto  derrube  arvores  collossaes.  (jue  o  decoí' 
rer  dos  secidos  havia  respeitado,  assim  lambem  a  torrente  impetuosa 
de  idéas,  brotada  da  França,  rasgando  passagem  atravez  da  Europa, 
no  meio  de  giil(»s  e  de  imprecações,  alastrava  se  por  toda  a  parle, 
correndo  indom;>vel  pelo  velho  continente  e  acarretando  á  tona  de  suas 
túrbidas  agoas  os  destroços  e  fragiuentos  das  vetusta.-  insUlnijões,  que 
vencera  na  sua  assombrosa  fúria. 

Foram  estes  acontecimentos,  como  pergunta  Lopes  de  Mendtinça. 
nas  suas  .Memorias  da  Litl.ratura  (lomtcmporanea,  dirigidos  por  um 
pensamento  providencia!  e  superior? 

Assim  o  acreditàuK».  a  luz  linha  de  .sub>lituir  as  trevas,  a  oligar- 
chia  do  ch.'io  e  da  nobresa  de  ceder  logai'  ao  diadema  rutdante  da 
civilisação,  cujíi  ditminio  só  pode  ser  estabelecido  quando  baseado  na 
liberdade  dos  povos. 

E  cumpre  u)S  dizer,  com  respi'ito  á  peqm-n;)  localidasle  em  qutí 
viv.mos.  que  no  ^nno  de  1794  veio  do  conlinenlr  para  (•  Fayal,  no 
meado  Irnte  de  philosopliia  e  mathemalica  o  dr.  (loque  Taveira,  cava- 
lheiro illustradissimo,  de  ideas  muito  livres,  eivaihj  das  doutrinas  de 
Vollairv.  apologista  dos  encyclupíidislis.  fallaiidn  correnteuiente  diver 
sas  liiigoas.  muito  versado  na  litleratma  pilria  e  captando  pelas  suas 
dislinclas  e  graves  maneiras  a  e>tima  de  (piem  com  elle  privav;i.  mt 
tiiihi  iiiesiuo  si  nples  relações. 


AHCHIVO   DOS  AÇOHKS  341 

Esci.lliido  em  Portug;»!,  para  o  m;igislerio  publico,  ainda  no  tem- 
po (lo  .Mar(|iiez  de  Punibal.  ciij;!  tnoito,  iio  anuo  de  I78ii.  ainda  e>la- 
va  leceiíle.  é  obvio  que  devia  ser  um  homem  apto.  [xtis  (pie  Sebas- 
tião José  de  Carvalho  e  Mello  raríssimas  vè/es  se  enganava  eom  os 
eidadãos  que  lhe  deviam  a  nomeação  para  cargi»  pnblieos  e  piinci- 
jialmente  no  que  di/ia  rt^sjieito  ao  publico  ensinamento,  que  meieceu 
sempre  especial  alleni;ão  ao  celebie  estadista. 

O  aspecto  do  dr.  Roque  Taveira  inqtnnha  ja  de  si  resp«Mto,  or- 
çaria n'aquella  epoclia  (lelos  seus  40  armos,  alto,  varonil  e  alentado, 
de  porte  sério  e  voz  cheia  e  sonora. 

Trajava  habitualmente  de  preto  e  no  rigor  da  etiqnela.  calção, 
meia  de  seda.  casaca,  gravata  branca  e  endiora  muito  altencioso  para 
com  lodos,  jamais  descahindo  em  familiaridaiJes,  nem  descendos  a 
conversações  iniproprias  de  gente  que  se  [)résa. 

Este  habilitadissimo  professor  ibi  um  dos  homens  a  ijuem,  no  sen 
desenvolvimento  intellectual,  mais  deveu  esta  ilha.  [lois  que  aberto  o 
curso  para  (jue  Ibra  nomeado,  correu  alli  pressurosa,  pelo  desejo  de 
>e  instruir  e  pel(t  prestigii»  da  novidade,  a  mocidade  da  Horta,  encon- 
trando no  seu  sábio  mestre  a  melhor  bôa  vontade  e  a  substituição  de 
anachronicas  idéas  e  rotineiros  compêndios,  por  princípios  mais  con- 
formes com  a  rasão  e  livros  que  lhe  indicava  omn  nova  orientação  em 
politica,  em  moral  e  até  em  assumptos  religiosos. 

Sobresaltaram-se  com  isto,  como  era  natural,  os  convénios,  cha- 
maram a  campo  as  suas  reserv.is  e  os  homens  mais  conspícuos,  tan- 
to franciscanos  como  carmelitas  é  que  se  puzeram  á  frente  do  en>ino 
ministrado  pela  religião  a  que  pertenciam,  deligenciando  assim  hom- 
brear,  ou  (piando  possível  exceder  as  afamadas  prelecções  do  novo 
mestre  e  o[)pôr  á  sua  illustracão  mna  doze  também  grande  de  conhe 
cimentos,  embora  um  e  outros  militassem  em  bem  differentes  campos 
e  seguissem  as  mais  dist.uiciadas  doutrinas. 

Esta  rivalidade  foi  proveitosíssima  para  a  gente  nova  do  Faval  e 
talvez  em  epocha  alguma  tanto  se  cogitou  aijui  do  en>ino  publico,  da 
capacidade  do  professorado  e  do  ujelhor  meio  de  quem  lecciona  ga- 
nhar a  veneração  dos  seus  discípulos,  volvendo-os  em  verdadeiros  a- 
deptos  das  suas  doutrinas. 

Ao  trabalho  valente  e  incansável  dos  mestres  corresi)ondeu  em 
bieve  abundctsa  seara  e  levanlou-se  na  Horta  uma  plêiade  de  escri- 
[ttores  e  poetas,  que  legaram  ás  gerações  futuras  alguns  trabalhos, 
em  manuscripto,  que  não  etivergonham  de  sorte  alguma  a  litleratura 
açoriana. 

Infelizmente  á  mingoa  de  inqjrensa  e  no  seio  d  um  ilhéu  do  ocea- 
no, ficaram  aqui  fechados  a  sete  chaves  e  uma  grande  parte  óos  mes- 
mos perderam-se  por  inciuia  dos  siiccessores  de  quem  os  havia  tra- 
çado, 

A  esperança  ijue  os  frades  alimentavam  da  remoção  do  dr.  Roque 


312  AHCHIVO  DOS  AÇOHES 

Taveirn  desta  ilha  para  fora  (Jesvaneceti-se  bastante  com  o  casamento 
(lo  itiesmu  com  uma  senhora  da  locahdulH.  de  famiha  relativamente 
aba>la(la  e  cujo  nome  era  D.  Mariamia  Vieira  de  Faria,  tornando-se 
elle,  assim,  qnasi  nm  fayalense  e  podendo  até  viver,  devido  aos  ha- 
veres da  sna  consot  te,  independente  do  emprego  (\ue  e.Nercia,  quando 
isso  fosse  necessário. 

A  lucta.  por  conseguinte,  quebrou  de  intt^nsidade,  como  improfí- 
cua, o  dr.  Taveira  foi  ensinando  quanto  soube  e  como  qniz,  e  os  con- 
ventos também  incutindo  as  doutrinas  que  lhes  eram  próprias  a  quem, 
para  tanto,  as  procurava. 

Alem  disto  a  experiência  que  os  antagonistas  do  dr.  Roque  Ta- 
veiía  foram  tendo  do  homem  que  tanto  os  i)reocupara  á  sna  chegada 
H  que  imaginavam  um  presente  do  inferno,  um  segundo  Marat,  demon- 
strava-lhe  cada  dia  tjue  seinelliaiite  preceptor  da  mocidade,  respeitava 
í'  guardava  completa  tolerância  com  relação  aos  que  professavam  idéas 
contrarias  ás  suas  e  i>to  até  levado  ao  extremo  e  n(js  mais  insignifi- 
cantes incidentes. 

Um  exemplo,  emtjora  assaz  rasteiro,  pode  servir  de  sobeja  prova. 

Estabelecido  com  a  consorte  em  casa  própria  e  apesar  de  ser  o 
dr.  Taveira  quem.  diaiiamente,  no  conieço  com  grande  reparo  das  clas- 
ses elevadas,  ia  ao  mercado,  de  cesto  n(»  braço,  fazer  as  suas  com- 
pras, precisou,  ainda  assim,  de  um  creado  e  cahio-lhe  em  sorte  mn 
liomem  oriundo  do  Pico,  muito  beato,  acredit;mdo  piamente  nas  feiti- 
ceiras, em  almas  do  outro  mundo  e  temendo  mais  do  que  a  morte  os 
maçãos. 

Na  Horta  este  pobre  diabo,  por  ser  este  o  termo  (]ue  melhor  lhe 
convém,  ou  do  mesmo  dá  idéa,  era  geralmente  couht^cido  pelo  alcu- 
nha do  Chorão,  que  lhe  provinha  do  tom  de  constante  lamuria  em  que 
fallava,  trazendo  mvariavelmeute  por  íóra  da  camisa  um  grande  rosá- 
rio e  quatro  ou  cinco  figas,  por  causa  do  ujau  olhado  e  e>tas  talhadas 
em  rodellas  e  cnitadas  com  pouca  ou  nenhuma  arte  das  armas  deffen- 
sivas  dalgum  rebanho  de  carneiros  pretos  da  sna  terra  natal. 

O  dr.  Taveira  nunca  disse  uma  única  palavra  ao  Chorão  a  res- 
peito dos  adornos  com  que  este  se  apresentava  em  publico,  deixan- 
do o  ir  a  ijuantas  devoções  queria  e  ouvindo,  com  toda  a  pachoira  os 
cazos  de  ot.ipahirdios  milagres  (pie  o  seu  servo  por  vezes  lhe  conta- 
va, ou  então  incríveis  partidas  de  feiticeiras,  coisas  ruins,  ou  d'essa 
sevandija  da  pedieirada  livre,  que  lallava  com  o  Inimigo,  em  pinos  da 
meia  noite. 

De  semana  para  semana,  porem,  as  figas  iam  se  accumulando  em 
volta  do  p^'SC<)ço  do  Chorão,  (jue  (azia  encommenda  d"a(]uelle  artigo 
para  a  sua  terra,  andando  afinal  cou)  a>peclo  dinn  indio  selvagem,  ou 
dum  chefe  ah'icano,  com  o  >í'a\  [)esailo  collar. 

D.  Marianna  um  dia  zangou  se  formalmente  com  semelhante  mas- 
carada, lançl^u  iTiao  do  rosai-io  e  adjimclas,  ligas,  puchando-o  com  lo- 


ARCmVO  DOS  AÇORES  313 

da  a  força  e  apesar  dos  gritos  do  seu  servo,  conseguio  rebentar  o  cor- 
dão do  inesiii  I,  lirar-l!ii'  Iodas  aquellas  prendas  e  escondei  as  em  lo- 
gar  seguro. 

O  Chorão  ficou  abysmado,  sem  aqiiillo  não  era  ninguém,  estava 
á  mercê  das  almas  do  outro  mundo,  das  feiticeiras,  de  tudo  emfim  que 
era  ruim  e  sobrenatural. 

O  dr.  Roque  Taveira  gastava  habitualmente,  ososeus  serões,  até 
ás  dez  boras  da  noite,  a  conversar,  ou  a  jogar  oíl^amão,  na  afamada 
botica  de  Francisco  da  Silva,  na  rua  da  ^Misericórdia,  indo  o  creado, 
munido  duma  lanterna,  à  falta  de«publica  illuminição,  que  na  Horta 
só  compçou  em  Maio  de  1869,  buscal-o,  para  o  acompanhar  até  á  sua 
residência. 

Quando  os  freijuentadores  da  pharmacia,  poi'em,  estavam  no  me- 
llioi'  da  jogatina,  entra-lhe  de  lepente,  muito  esbaforido,  pela  porta 
dentro  o  creado  do  doutor,  gritando  a  bom  gritar  e  dando,  na  sua  au- 
cia  tamanha  pancada  com  a  lanterna  na  hombreira  da  porta,  que  os  vi- 
dros d'esse  útil  e  muito  necessário  artefacto  n\*i(p;ella  epocha,  desfi- 
zeram-se  em  mil  pedaços,  alastrando-se  pelo  chão. 

O  fracasso  havia  sido  tamanho  e  tão  inesperado  que  todos  in- 
stiucti vãmente  se  puzerani  de  pé,  vendo,  admirados,  o  Chorão  a  tre- 
mer, bianco  conio  um  defunto  e  com  o  braço  estendido  fazendo  cru- 
zes para  o  caminho,  esconjurando  o  quer  que  fosse  que  e>tava  lá  fo- 
ra na  escuridão  e  repelindo  com  todas  as  veras  d'alma  as  seguintes  pa 
lavras: 

«Eu  te  requeiro  da  parte  de  Deus  que  digas  o  que  (jueres  e  te 
esconjuro  para  os  mares  amarellos  Se  vens  por  artes  do  Inimigo  cou- 
ces d'uína  brava  besta  nessa  maldita  cabeça  e  quando  este  mal  não 
te  queira  abadar.  Deus  t'o  queira  acrescentar,  em  nome  de  Deus  e 
da  mantarianna  e  da  bicha  com  que  se  poda  a  vinha.  Todos  te  ba- 
tam e  eu  também,  por  ser  filho  do  b 'Ui,  que  as  coisas  bem  feitas  pa- 
recem liem.  A  meu.» 

— O  (jue  é  islo  rapaz,  o  que  tens,  o  que  te  aconteceu?!— pergun- 
tavam os  circumstantes,  acercados  já  do  aterrorisado  serventuário,  que 
parecendo  inconsciente  do  alvoroço  que  fi/.era  continuava  sempre:  Eu 
te  requeiro  cV-. 

O  amo  agarrou-o  |)elo  pescoçi),  saccudio-o  bem,  como  para  o  des- 
pertar e  grilou-lhe  aos  ouvidos    -One  diabo  tens  tu?!.. 

—  Uma  arantesma,  uma  coisa  luim  que  me  queria  atacar,  o  Sr.  dr. 
não  se  chegue  ahi  para  a  porta,  que  ella  agaria-o,  pelo  amor  de  Deus, 
fechem  depressa  essa  porta  ...  Ai!  Jesus. 

—  Tu  estás  doido,  ora  esta  ! ! . . 

—  Doido  sim!... a  tal  coisa  vinha  aos  urros  sempre  atraz  de 
mim  eu  nem  me  posso  sugigar  em  pé .  .  .  Paciência! 

O  dr.  Taveira  e  dois  ou  três  dos  seus  companheirt)s  sahiram  ao 
caminho,  esbarrando  a  breve  distancia  da  botica  com  um  grande  por- 
N.°46  — Yol.  VIU       I88G.  o 


Mi 


314  ARCHIVO  DOS  AÇOflES 

CO,  íiigido  díilgnni  covral  e  que  ;i  rom  ar  andava  em  nocturna  vadia- 
gem. 

Estava  explicado  o  cazo  e  não  poderam  suster  o  liso. 

Nessa  noite  quando  o  amo  do  Chorão  recolheu  a  casa,  teimando 
esle  sempre  que  a  apparição  do  [lorco  linha  sido  uma  apparencia  do 
demónio,  de[)(tis  de  o  perseguir  muito  e  declarandi»  formalmente  (pie 
na  manliãa  segui,j^[e  queria  abalar  daquella  míjradia  para  fora,  [»ois 
que  passaia  todos  aquelh^s  liahalhus  e  terrores,  por  não  o  deixarem  an- 
dar, como  dantes,  com  o  seu  rosário,  com  os  seus  (ineliquvs  e  sobre 
tudo  com  as  suas  figas  de  chinfrin  de  carneiro  preto. 

—  Eu  nunca  te  disse  que  nãtj  as  usasses. 

—  Sim  Sr.  mas  a  Sr.*  D.  Marianna  esta  manhã  fez-me  luiia  des- 
feita uma  acção,  que  não  parece  d"uma  pessoa  de  i»-ligião,  arranc» 
aquellas  coisas  bentas  do  meu  peito  e  veja  o  sr.  dr.  logo  que  me  a 
conleceu,  ií>lo  é  verdade  ou  não  é  verdade?  .  . 

A  esposa  de  Roque  Taveira  ouvindo  aquellas  horas,  muilo  esga 
niçada  a  voz  de  sovelão  do  criado,  accudio  do  interior  da  casa  para 
saber  o  que  ac(»ntecera. 

—  Ora  ainda  me  pergunta  o  ipie  aconteceu'?!  —  disse  lhe  o  nia- 
rido  —  veja  o  estado  em  que  flcuu  a  minha  pobre  lan|,erna,  que  era 
Ião  bôa.  tão  cjarinha  e  isto  pt)r  culpa  da  Snr.''. 

—  Por  minha  culpa  ?  I  .  . 

—  Pois  a  Snr.*  cae  na  tolice  de  tirar  a  este  ra[)az  as  suas  armas 
defensivas,  deixasse-o  and;^r  com  os  seus  galhos,  que  isso  não  fazia 
mal  a  ninguém.  Não  é  a>sim  Manuel ".' .  . 

—  -  E^^sim  Snr. 

--  Vamos,  lenha  a  Snr.*  jnizo,  e  entregue  lhe  essas  miudesas, 
quando  não  elle  vae-se  embora  e  isso  causa  me  desarranjo,  cada  um 
deve  ser  livre  de  usar  os  objectos  que  mais  eslima  e  lhe  convém. 

N'essa  noite  já  o  Chorão  dormio  com  as  suas  figas  ao  pescoço  e 
d^alli  em  diante  se  alguen)  na  sua  presença  fallava  em  desabono  do» 
sentimentos  religiosos  do  professor  de  philosophia.o  (^hoião  deílendia  o 
com  unhas  e  dentes. 

Não  sahio  daipiella  casa  senão  pelo  falleciuíenlu  do  (h'.  Uoqne 
Taveira,  occorridi»  no  anuo  de  18iá. 

Com  a  D.  Marianna  é  qiuí  elle  i:ão  quiz  continuar  a  servir.  Lá 
tinha  as  suas  rasões. 

Para  [trovar  quanto  o  Dr.  Roque  Taveira  tomava  a  peito  os  inte- 
resses da  sua  pátria  adoptiva  e  nutria  sentimentos  liberaes  bastará  ler 
o  sen  Momfcsto  aos  Fof/olenscs  (*). 


(•)  Mavi festo  aos  Fuyahnses  pelo  Dr.  Hoquc  Taveira,  proíessor  di'  Pliiloso- 
|)tiia.  ronlra  a  sujeição  (ia  Illi:i  <in  Fa\al  ao  Governo  ila  lllia  Terceira-  Li.><l)oa,  No- 
va Imprcs.são  du  Viuva  Neves  e  Filliòs,  <821,  ni-4.",  ií9  pagiiiaá. 
.No  fim:  l\'n;jl  It»  de  maio  de  1821. 


ARCHÍVO  DOS  AÇOhES  315 

Vollciiios,  i»orein,  a  fissumplo  mais  sério,  do  (jual  nos  desviou  os- 
It!  iii(:id(;iilt\  einhuia  a  indolt,'  do  livro  que  escrevemos  não  tenli.i  quaes- 
<|iier  pfMlíMiçõrs  á  au.sleiidade  dum  compendio  de  historia. 

Tr.itavamos  da  inslrncgrio  pidjlica. 

(]om  o  .idvciilu  da  constiliiição  de  1820,  pedio  a  junta  governati- 
va tayalense  ao  solji-r.ino  eongrpsso  uíaior  desenvolvimento  da  in>tru- 
(•(;ão  primíoia,  com  a  creação  de  escolas  para  ambos  os  sexos,  em  to- 
das as  tVeguezias  da  ilha,  e  que,  nniilo  embora  não  se  obtivesse,  de- 
vido talvez  áquelle  agitado  periodo  de  conmioções  politicas  que  então 
atravessava  o  paiz,  ainda  assim  demonstra  que  r)a  Horta  se  prestava 
a  devida  attenção  a  tão  momentoso  assumpto. 

Km  \H-H)  veio  de  Lisboa,  substituir  o  fallecidij  dr.  K()que  Taveira 
um  dislinclo  (illio  desta  terra,  então  no  começo  da  sua  brilliantissiina 
vida  publica,  o  de.  António  José  d  Ávila,  o  (piai,  como  o  seu  anteces- 
sor, cuidíju  seriamente  de  deseuipenhar  com  proveito  dos  discipulos  o 
encargo  de  que  estava  incumbido,  reaiisando  até,  |)erante  numeroso 
concurso,  umas  theses  sobre  pliilosopbia,  ainda  hoje  aijui  bastante  lem- 
Itradas,  que  duraram  três  dias  e  que  deram  ensejo  í»  um  notável  ta- 
lento. Fr.  iVIaílieiis  do  (Coração  de  Maria,  pertencente  ao  convento  de 
São  Francisco.  d(í  patentear  a  lodos  a  sua  vasta  erudição  e  amor  ao 
estudo. 

A  aula  de  philosophia  <io  dr.  Ávila  funccionava  por  e>tes  tempos 
na  ca>a  do  Divino  E<pii'ito  Santo,  ou  cadafalço,  como  o  povo  lhe  cha 
mav.t,  situada  na  rua  da  Misericórdia  e  erecta  em  memoria  de  uma  e- 
riipção  vu|i-anica  no  armo  de  IG7á,  o  (jue  deu  logar  a  (pie  lu.ijs  tarde, 
n'unia  (pieslão  no  [)ailamento,  fizesse  o  grande  orador  José  Kstevão 
uma  referencia  á(|uella  epoclia  da  vida  do  futuro  [)u(iue  d'Avila  e  Bo- 
lama, di/.endo  ao  seu  advei'sario  píjlitico,  com  a  emphase  pictoresca  da 
sua  prestigiosa  argumenla(;.ão:  — O  sr.  (Jeputado  sempre  é  um  homem 
(pie,  na  sua  leira,  ensinou  philosophia  num  .  .  .  caflafalço  ! 

A<  galerias  riram  e  o  próprio  dr.  Ávila  não  p  lude  manter  a  siia 
habitual  seiiedade.  '' 

Descurada,  em  seguida,  a  instrucção  populai'  durante  lodo  o  pe- 
riodo da  cam()anha  da  liberdade,  só  com  o  deíTenitivo  estabelecimento 
do  governo  constiliicioiíal  surgio  de  novo  para  este  Districlo  essa  aben- 
(;oa(la  esirejla.  sendo,  ainda  a.-sim,  forçoso  confessar  (pie  (iesde  1830 
em  (pie  foi  creada  uma  cadeira  de  ensino  mutuo  normal,  até  ao  pre- 
sente anuo  de  I88t),  pítuco,  muito  pouco  se  tem  feito  neste  importan- 
tissimo  ramo  da  publica  administração,  (pie  redunde  em  progre,ssos 
reaes  e  inconlotaveis. 

.Não  desconlieceuK»  o  numero  de  escolas  d'instrucção  primaria 
(pie  (]<'S(W.  essa  epocha,  successivamente,  tem  sido  creadas,  para  am- 
bos os  sexos,  mas  quei'  seja  devido  ao  governo  ou  ás  juntas  de  paro- 
cliia.  a  maneira  pela  tpjal  se  acham  ainda  montadas  é  uiija  verdadeira 
lasliina.  em  ca/as,  cttm  rarissimas  e:\ce[ições,  sem  nenhumas  condições 


316  AKCHIVO  DOS  AÇORES 

hygienicas,  a  mobília  na  sua  expressão  mais  humilde  e  os  professores, 
embora  alguns  assaz  liabilitados,  mas  pessimamenle  pagos  e  fazendo 
milagres  de  economia  para  conseguir  viver  com  decência. 

O  povo  fayalense,  tanto  das  freguezias  ruraes,  como  da  cidade  é, 
na  sua  grande  maioria  analphabeto,  devendo  notar-se  a  falta  de  mora- 
lidade com  que  sendo  tanta  vez  incommodado  para  as  veniagas  e  ali- 
cantinas  eleitoraes,  ao  inverso  disto  é  sempre  descurado  no  maior  be- 
neficio que  lhe  podiam  fazer,— ministrar  lhe  a  instrucção. 

No  longo  decurso  de  quarenta  e  sete  annos,  diga-se  a  verdade, 
um  único  raio  de  luz,  bem  claro  e  promettedor,  veio  brilhar  na  cer- 
rada escuridão  que  nos  envolve  a  semelhante  respeito  e  isto  deu-se  du- 
rante a  exemplar  administração  do  Visconde  de  (Castilho,  como  gover- 
nador civil  deste  Distiicto. 

Ninguém,  de  bôa  fé,  dirá  que  a  instrucção  populai,  entre  nós, 
tem  sido  tratada  com  seriedade,  nem  que  o  Lyceu  Nacional,  aqui  crea- 
do  em  1840,  tenha  preenchido,  como  era  de  esperar,  a  sua  levantada 
missão,  apesar  de  ter  possuído,  e  possuir,  na  lista  dos  seus  professo- 
res, alguns  nomes  illustres. 

Em  toda  a  questão  do  ensino  publico  no  Districto  da  Horta  ha  uuii- 
to,  muitíssimo,  que  fazer  e  abençoados  aquelles  que  por  esta  verda- 
deira obra  de  misericórdia  envidarem  quaesquer  esforços,  tentando 
rasgar  a  gélida  mortalha  da  ignorância  que  nos  atrophia,  varrendo  pa- 
ra bem  longe  esta  indifferenca  pelo  cultivo  das  letras  que  se  encontra, 
infelizmente,  não  só  nas  povoações  campesinas,  mas  até  mesmo  no  seio^ 
da  cidade. 

E  o  estado  de  atraso,  ou  de  adiantamento  da  litteralura  de  qual- 
quer localidade,  sabem-no  todos,  como  trivial  noção,  é  o  mais  seguro 
barómetro  para  conhecer  da  sua  altura  na  senda  brilhante  do  progres- 
so. 

A  nossa  escala,  porem,  marca  ainda  um  grão  demasiadajnenle 
baixo. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  317 


ESCRIFTORES  E  HOMENS  DE  LETRAS 


Tendo  de  mencionar  na  parte  bibliograpliica  destes  aponlainentOí>,' 
embora  bem  incompele^itemenle,  o  nume  de  alguns  fayalenses,  oii  de 
indivíduos  que  pela  sua  long;i  permanência  ii'esta  localidade,  c(jmu 
taes  são  considerados,  e  que  se  dedicaram  ao  cullivo  das  letras,  alguns 
em  epochas  até  já  um  tanto  affasladas,  senliujo-nos  possuídos  d(j  mais 
profundo  respeito  [)ela  sua  memoria  e  pelos  valíos(»s  esforços  pelos 
mesmos  empregados  para  alimentar  nesta  ilha,  (juanto  ao  seu  alcan- 
ce, o  amor  pelas  letras  e  a  dedicação  ao  estudo,  .^em  a  qual  alé  os 
mais  privilegiados  talentos  nada  podem  conseguir,  visto  ser  uma  re- 
conhecida lei  da  naturesa  que  sem  o  trabalho  jamais  se  pode  levantar 
um  edifício  qualquer,  como  sem  desbravar  o  cam|)o  da  inteliigencia 
humana,  sem  abrir  caminhos  [)elos  seus  fechados  matagaes,  sem  fazer 
entrar  a  luz  em  obscuros  antros,  sem  dar  muilos  dias  e  muilas  noiles 
á  compulsação  de  livros,  ninguém  pode  inscrever  o  seu  nome,  mais 
ou  menos  brilhantemente  nos  annaes  da  pátria  litteralura. 

E  que  trabalho  por  vezes,  que  immensa  lucta,  quasi  sempre  igno- 
rada, para  conseguir  um  insignificante  resultado  que  seja! 

Nos  grandes  centros  de  população,  nas  lerrajv  que  possuem  todos 
os  recursos  conduscentes  a  desenvolver  a  inteliigencia  do  homem,  nas 
quaes  mesties  competentes,  bibliolhecas  e  convivência  lilteraria,  ras- 
gam largos  horisontes  aos  esludiosos,  por  ventura  será  menos  ingrato 
semelhante  caminho  e  mais  promplos  e  aperfeiçoados  os  seus  benéfi- 
cos resultados,  mas  numa  pequena  ilha  como  a  nossa,  no  isolamento 
do  oceano,  sem  livros  nem  verdadeira  orientação  artistica,  sem  esti- 
mulo de  sorte  alguma  nem  esperança  de  uma  renumeração  qualquer 
e  privados  de  impiensa.  pois  que  a  sua  tardia  introducção  no  Fayal 
data  apenas  de  1837,  foi  preciso  uma  grande  somma  de  coragem  e 
de  apego  á  mlrucção  popular,  para  que  os  nossos  predecessores,  é 
alguns  d'elles  brilhantemente,  deixassem  apóz  de  si  uma  bôa  nomeada 
lilteraria. 

Não  é  muito  trivial  encontrar  a  arte  somente  pelo  amor  á  arte. 

Respiguemos,  pois,  neste  campo  safaro  para  taes  commettimentos 
algumas  flores  agrestes,  mas  ainda  assim  cheias  de  vida,  creadas  nas 
nossas  montanhas,  valles  e  povoados  e  bafejadas  pelo  sopro  desse 
magestoso  oceano  que  nos  circumda,  confidente  de  todas  as  nossas 
alegrias  e  magoas. 

Seguiremos  nestas  indicações  a  possivel  ordem  chronologica, 
num  estudo  em  que  já  podemos  contar  três  turnos  differentes,  a  rieil- 
l>'  garde.  isto  é,  os  escriplores  e  poetas  da  escola  genuinamente  anti 


318  ARCHIVO  DOS  AÇOKES 

gH.  tU)  letn[)0  lias  inesn!'as,  da  gavota  e  do  cravo,  á  miiigoa  de  lermos 
:iijiii  lima  Arcádia; —os  lii)fncn.s  de  ha  uns  cincoenla  annos  para  cá, 
já  eivados  das  idéas  mod*^rnas,  mas  (|íU'  ainda  assim  miiilo  se  cvím- 
praziam  com  a  Joren  Lilia  e  c<jm  a  vaha  da  liainha  da  Prússia  e  fi- 
nalmente alguns  rapazes  de  iiiconleslavel  talento  (jne,  dando  de  haralo 
essas  aiilignallias,  tem  apresentado  ao  publico,  depois  da  iutrodiicção 
da  iio|)rensa  na  Hoila,  alsíims  apreciáveis  trabalhos  litterarios. 
Oom.-cemos  pelo  [)rincipi(i. 


ALEXANDRE  FERREIRA  DA  SILVA  (D.  Frei  Ale- 
xandre da  Sacra  Familia).  tlouio  não  é  laro  ir  prucurar-se  o  ini- 
cio de  (pia|i|uer  nagão.  maxime  se  esta  se  tornou  illustre,  em  fabulo 
sas  origens,  ipiando  não  despidas  comphdamenle  de  fundamento,  ao 
menos  assaz  duvidosas,  a>sim  também  em  algumas  f  imdias.  <)uer  dos 
grandes  como  de  insignificantes  povoados,  são  const-rvadas  tradições 
da  sua  origem,  das  quaes  muitas  vezes  uma  rigorosa  inveslig;u;ão,  se 
esta  fosse  possível,  acarretaria  comsigo  grandes  dt\>ilusões. 

li'  melhttr.  talvez,  deixar  tudo  isto  numa  meia  obscuridade. 

Uni  biographo.  por  exemplo,  da  fauíilia  (íarrett.  da  (piai  lemos  a- 
crora  ipje  tiatar,  diz  nos  que  descende  a  u)esma  da  nobreza  da  Irlan- 
da, a  iprd  por  motivos  religiosits  viera  para  a  Hespanha  e  dalli  pas- 
sou para  Portugal,  n.)  anuo  de  I7i8,  por  occasião  da  princesa  hespa- 
nhola  D.  Maria  Anua  Victoria.  de  cujo  seipiilo  fazia  parte,  vir  parti- 
lhar (»  líiiouo  d  El-Rei  D.  .losé  !.",  isto  para  nos  referirmos  tão  somen- 
te a  uma  ep.»cha  relativamente  [)roxima  e  não  irmos  i)i''»curar  atpielle 
apellido  nas  lendas  de  Lime.i'ick,  nos  (".ondes  de  Ijesuíonia,  ou  na  fa- 
milia dos  Geraldiíios,  como  a  e>le  res^ieito  menciona,  mas  não  aíTirma. 
o  nolabilissimo  académico  o  Sr.  Francisco  Gomes  tTAmorim. 

(3  (]ue  é  \m\  fado  iínlubilavel  è  que  no  anno  d-  173....  uma  se- 
nhora chamada  I).  Antónia  Margarida  Garrett,  tida  geralmente  como 
nalui'al  de  Madrid,  casava  eu)  Lisboa  com  José  Ferreira  da  Silva,  rias- 
cido  n'a(jiH'lla  capital  e  não  açoriano,  como  dizem  algims  escri[»lores  e 
(lue  i)or  um  motivo  qualuiíer,  que  hoje  ignoramos,  veio  este  ea>a|  mo- 
rar para  a  ilha  do  Fayal,  em  pouco  favoráveis  condições  pecuniárias. 

Residiam  no  l^aul,  um  acanhado  e  pouco  convidativo  sitio  da  Vil- 
l.i  da  Horta,  baixo,  sem  vista  do  mar  e  (pie  devia  o  seu  nome  a  mu 
charcr).  qu.isi  periuaneute  que  a  conravid;ide  do  wwú  calçado  caminli»» 
foriuava.  proveniente  das  agoas  da  chuva  (pie  para  alli  corriam  (roíi- 
iras  iiias  mais  elevadas,  e  que  u  aquella  cova  ficavam  represadas. 

Este  Idc.il.  consideravelmente  melhorado  e  possuindo  h(»jt!  algu- 
mas liòas  casas  partieulares,  foi,  modernauíenhí,  na  gerência  do  G(t- 
vernador  (Vivil.  Gonselheiro  Santa  Rita,  (^Iwismado  no  Largo  do  Hisp» 
l).  Alexaíidie. 

Or;i,  i\\\  c.oiKsorcio  d.'  .lose  Ferreua  da  Silva  com  l).  Anlonia  Mar- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  319 

g;iri(l;i  íjan>'lt  naí^ceraiii, lodos  nu  Faval.  (|iiati'()  filhos,  Alcxaiidie,  ?v1;í 
iiufl,  Ignac.io  e  Aiiloiiio,  sendo  psle  ulliiiio  a  quem  a  sorte  destinava 
a  gloria  de  sei'  |>(los  annos  adiante  pae  úo  Visi-onde  dAhneida  Gai- 
letl,  (jiie  tanto  nobilitou  a  pátria  litleralura. 

De  Alexandre  Ferreira  da  Silva,  mais  tarde  Bispo  das  (]iuceses  de 
Malaca,  de  São  Panio  de  Lo  iiida  e  d  Angra  (nos  Açores)  é  (pie  lemos 
aipii  especialmente  de  tratar. 

No  registo  pantcliial  da  Matriz  do  Sanli.>simo  Salvador,  da  lloría. 
na  illia  do  Fayal.  pelo  Ouvidor  Domingos  IVreiía  Cardoso,  com  licen- 
ça do  Parodio,  está  lançada  a  certidão  de  b;i[)li.^mo.  de  Alexandre,  fi- 
lho de  José  Feireira  da  Silva  e  de  sua  mulher  I).  Antónia  MaiLtaii 
da  (larreit,  o  qual  nasceu  aos  i22  dias  do  mez  de  Maio  de  \1'M  f  foi 
baptisado  aos  i  dias  do  mez  de  Junho  do  mesmo  anuo.  sendo  padri- 
nhos o  Ur.  Alexandre  de  Moura  e  sua  mulher  D.  Isabel  Maria,  fregne- 
zes  da  mesma  Matiiz. 

Em  ipianto  novo,  como  ipiasi  (odtis  os  rapazes  da  enlão  Villa  da 
ílorta  que  desejavam  de  seu  molu  próprio,  ou  obedecendo  á  vonlade 
paterna,  aprendei'  alguma  cítisa,  foi  a  sua  educação  litteraria  confiada 
aos  frades  IVaiiciscanos,  depositários  ainda  di»  monopólio  do  en>ino  e 
entre  os  quaes  se  encontravam  a  par  de  alguns  litmiens  boçaes.  ver- 
dadeiros talentos  da  primeira  plana,  de  incoiiteslavel  capacidade  para 
o  publico  ensinamento  e  de  notável  vastidão  de  conhecimentos,  obti- 
dos em  vida  azada  para  o  cultivo  da>  lelias.  no  lemanso  da  ceila. 
izemptos  di^s  baldões  da  vida  e  dos  cmdados  de  provei'  á  própria  sus- 
tentação, quando  os  graneis  da  Ordem  estavam  a  transbordar  de  ce- 
reaes.  as  adegas  cheias  de  excellente  vinho  e  a  piedade  dos  Heis  a 
presenteai  os  conslanlemenle  das  primicias  de  quanto  havia  bom. 

Que  santa  vida  acpiella ! 

Os  methoilos  de  en>iiio  n  aqueile  tenqio.  forçoso  é  conh-ssar,  eram 
pe.-ados,  morosos  e  poucíj  alrahentes,  mas  ainda  assim  deixavam  a 
sua  marca  para  toda  a  vida.  Com  um  mestre  que  se  presava  de  se- 
melliante  nome  e  que  tomava  a  sério  a  educação  de  qualquer  rapaz, 
não  havia  disciplina  alguma  que  se  aprendesse  superficialmente,  como 
não  é  raro  actualmente  acontecer,  e  a  aprendisagem  do  latim  se  para 
muitos  mancebos  eia  uma  espécie  de  rochedo  de  Sisypho.  que  jamais 
conseguiam  rolar  até  ao  cimo  da  montanha,  tamfiem  para  os  mais  la 
lentosos  tornava-se  n'nma  verdadeira  sciencia,  da  qual  conheciam  to- 
dos os  segredos,  lendo  em  n»aior  conta  pronunciar  um  barbarismo, 
errar  a  terminação  d'um  cazo.  ou  a  conjugação  dum  verbo,  do  ipie 
perdei   um  olho. 

Chegaram  ale  nossos  dias  alguns  d"e>tes  speciíiiens. 

Aconteceu  vir  a  ser  o  mestre  do  pequeno  Alexandre  um  aungo 
inlinio  e  dedicado  da  sua  familia,  o  Rev.^°  Fr.  Ivo  da  l>"rnz,  francis- 
cano capucho,  do  convento  de  Santo  António,  homem  de  vasta  erudi 
ção  e  no  isolamento  da  clausura  senq»re  rodeado  de  livros,  irmanando 


320  ARCHIVO  DOS  AÇOBES 

tt   ^cll   ciillit  pela    institicçliu  com  u  ciiltn   respeitoso  que  prestava  á 
(bservancia  cl.is  regras  da  i-eraphica  religião  a  que  pertencia. 

Era  iim  homem  de  bem  este  padre. 

O  rapasinho  a  quem  eile  começara  a  ensinar  desde  o  A,  B,  C, 
ia-llie  eiicliendo  as  medidas,  perduem-nos  a  cumesinlia  maneira  de  di- 
zer, era  vivo,  intelligente,  a[)rendia  bem  e  depressa  e  consegulo  ler, 
escrever  e  fazer  contas  n'uni  perindo  relativamente  breve, 

A  ambição  do  frade  capucho  era  vél-o  a  braços  com  o  terrivel  la- 
tim. Duvil  o  a  declinar  substantivos,  por  ipie  só  então  é  que  poderia 
decididamente  conhecer  se  d  alli  se  fazia  gente,  ou  não. 

A  prova  foi  favorável  ao  discipulo,  no  niór  cavado  dos  nominal! 
vos  d'a<juella  dilíicil  lingoa,  na  conjugação  dos  seus  verbos  e  na  sub 
sequente  syntaxe,  o  pequeno  Alexaudre,  qual  frágil  chaveco,  embora 
luna  vez  por  outra  mrlle-se  a  borda  debaixo  dngua.  ainda  assim  não 
atirava  a  carga  ao  mar  e  navegava  a  todo  o  paiino  para  esse  vasto  ocea- 
no aonde  ha  vários  recilVs  e  um  alteroso  promontório  denominado  — 
Horácio. 

D"aquellas  paragens,  verdade  seja,  já  se  goza  um  vasto  liorison- 
le. 

Passados  alguns  aimos,  Fr.  Ivo  da  Ouz  declarava  a  lodos,  alto 
e  bom  sem  que  já  não  tinha  mais  nada  que  ensinar  ao  seu  discipulo 
e  que  era  realmente  pesar  que  um  talenião  daqiielles  uãij  >ahisse  da 
ilha  para  cursar  estudos  superiores,  nos  quaes,  com  os  elementos  que 
já  possuia,  era  possível  tornar-se  assaz  dislmclo. 

Esta  idéa  ap(»derou-se.  completamente,  do  frade  ca[)Ucho,  sendo 
o  Ihema  favíjrito  das  suas  conversas,  quando  o  seu  ex-discipulo  o  ia 
visitar  e  instando  com  opae  d  esle,  nas  poucas  vezes  que  descia  à 
Villa,  por  ser  já  entrado  em  annos,  para  que  mandasse  o  rapaz  para 
fora  da  ilha  a  aprender  o  que  elle  não  lhe  sabia  eiisiuar. 

Pesar  linha  i  lie  de  o  não  poder  acompanhar,  mas  jã  fraco,  os 
poucos  annos  que  talvez  lhe  restavam  de  vida  tpieria-os  passar  na  quie- 
tação do  seu  querido  convento. 

E,  eíTectivam.  nte.  o  mosteiro  de  Santo  António,  para  génios  me- 
ditativos, devia  ter  atrahentes  predicados. 

Ergue-se  aquella  elevada  conslrucção  n'um  pequeno  uiíeiro,  ao 
fundo  da  povoação  da  Horta,  que  domina  em  grande  parte,  e  era  en 
Ião  lodo  cercado  de  pomares  de  lar.uigeiras,  odoríferas  na  primavera 
e  durante  a  maior  [)arte  do  anno  revestidas  de  abundftsos  pomos  ver- 
melhos, que  se  destacavam  sorridentes  por  entre  a  viçosa,  verde  es- 
cura, folhageu)  dos  seus  ramos. 

.Mleroso,  lanlo  devido  ao  sitio  em  que  foi  edificado,  como  [)elo 
lançamento  dos  seus  muros,  a  visla  que  se  gosa  de  qualquer  janella 
de  Santo  António  é  realmente  encantadora  e  como  homens  r,lí|;i(l(»s  an- 
daram os  franciscanos,  quando  de  posse  de  >en)"  lliante  piopriedade  a 
de.-tiuaram  para  um  ermitério  de  recolectos. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  321 

A  (.'o;tsti'iiC(;ã()  primitiva  d':i(|uelle  edifício  datava  apenas  do  anuo 
de  1700,  em  fjue  a  piedade  dum  Cayalense,  o  capitão  Aiitunio  Silvei- 
la  Linhares,  mandara  construir  junto  d'imia  propriedade  (jue  possuia 
n"a(|uelle  sitio  uma  pequena  ermida,  tendo  adjuncla  uma  moradia  -.um- 
de  se  podiam  albergar  uns  cinco  religiosos,  para  manutenção  dos  quaes 
fez  importantes  doações. 

Aquelle  retiro  de  cenobitas,  porem,  á  proporção  que  a  ordem 
franciscana  foi  obtendo  maiores  recursos  e  importância  e  devido  prin- 
cipalmente ás  esmolas  que  um  seu  fillio  foi  angariar  no  Brazil,  vol- 
ven-se  em  poucos  arinos  na  espaçosa  construcção  que  ainda  actual- 
mente subsiste,  sendo  a  ermida  transformada  n'uma  soffrivel  egreja  e 
o  Cfjuvento  augmenlado  em  todas  as  suas  de[)endencias. 

Defronta  livremente  com  o  mar  e  com  a  magestosa  illia  do  Pico, 
desassombrado  da  proximidade  de  casarias,  livre  do  bulicio  do  mundo 
e  voltado  ao  nascente,  alevanta-se  airosamente  do  seio  de  copados  ar- 
voredos e  a  vida  monástica  devia  alli  correr  aprazível  e  socegada,  a 
julgar  pela  immensa  affinidade  do  sitio  que  habitamos,  com  os  pensa- 
mentos (jue  nos  povoam  a  mente,  ou  animam  a  ahna. 

Um  dia  em  nome  da  Liberdade  fecharam-se  as  portas  d"aquella 
egreja,  depois  de  a  haverem  despojado  dos  ornamentos  que  possuia, 
foi  profanada  e  sentenciada  a  destruição,  chegando  a  tal  ponto  o  seu 
abandono  que,  roubadas  as  portas,  para  lenha,  no  seu  interior  guar- 
davam animaes! 

Era  imi  completo  monturo. 

O  convento,  á  mingoa  de  religiosos  sérvio  por  alguns  annos  de 
liospital  militar,  depois  de  hospital  civil  e  mais  tarde  ptla  transferen- 
cia d'este  para  mais  espaçoso  local,  foi  aproveitado  para  um  pequeno 
theatro  de  curiosos,  até  (jue  em  1857,  durante  a  gerência  do  Conse- 
lheiro Santa  Rila,  como  Governador  Civil  deste  Districto,  conseguio 
esta  illustrada  anthoridade,  coadjuvado  por  diversos  fayalenses  crear 
n'a(juelle  recinto  um  azylo  para  creanças  desvalidas  do  sexo  femini- 
no. 

Por  essa  occasião  a  egreja  foi  de  novo  reparada  e  restituída  ao 
culto  divino,  se  não  com  ri(|uesa  ao  menos  com  toda  a  decência,  tanto 
faz  a  bôa  vontade  e  iniciativa  de  quem  como  empregado  do  governo 
e  c(tmo  particular  sabe  cumprir  o  seu  dever. 

No  tempo,  [)orem,  a  que  nos  referíamos,  isto  é,  por  meiados  do 
sec.ulo  18.°,  não  passava  a  ninguém,  pela  mente  semelliantes  transfor- 
mações, a  ordem  franciscana  estava  então,  aqui,  em  todo  o  seu  auge 
de  prosi)eridade  e  o  hospício  de  Santo  António  promtttendo  existir 
pelos  séculos  adiante,  dando  successiva  moradia  aos  filhos  da  religião 
sera[)hica,  como  num  valente  lro?ico  são,  periodicamente,  renovadas 
diveisas  camadas  de  folhagens. 

Para  o  bondoso  Fr  Ivo  da  (]rijz  é  que  o  inverno,  on  para  melhor 
dizer,  a  morte,  já  lhe  andava  [)ro\ima  e  esperava  cahir  socegadamente 

N.^  'i6   -  Yol.  VJII  -  1886.  6 


322  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

por  terra,  como  nas  próximas  cercanias  caliiam,  por  vezes  sem  sequer 
um  ténue  sopro  da  brisa,  as  amareHecidas  folhas  das  nogueiras,  ou 
dos  plátanos. 

Conseguio,  ainda  assim,  que  o  seu  discipuio  íbsse  para  o  conti- 
nente, como  taulo  desejava. 

E  não  era  isto  fácil  emprèza  para  os  limitados  recursos  pecuniá- 
rios de  que  podia  dispor  José  Ferreira  da  Silva,  mas  attendendo  á  vo- 
cação do  filho  para  os  estudos  e  vida  ecclesiastica,  deliberou  ir,  com 
a  sua  familia  viver  para  o  Porto,  em  quanto  o  seu  rapaz  cursasse  a 
Universidade  de  Coimbra,  pois  assim  mais  de  perto  o  podia  vigiar  e 
prover  ás  suas  necessidades,  com  maior  economia. 

Não  teve  que  arrepender-se  d'estes  sacrifícios,  porquanto  Alexan- 
dre Ferreira  da  Silva  tornou-se  um  académico  dislinctissimo,  formaii- 
do-se  em  philosophia  e  entrando,  em  seguida  para  o  convento  de  Nos- 
sa Senhora  dos  Anjos  de  Brancanes,  em  Setúbal,  no  anno  de  17GI  e 
alli  professou  em  Junho  do  subsequente  anno. 

Desde  essa  epocha  em  diante  é  bem  conhecida  a  vida  e  os  ser- 
viços á  pátria,  prestados  por  esse  dislinctissimo  fayalense,  verdadeira 
gloria  do  clero  porluguez. 

Homem  de  singular  virtude,  vastíssima  erudição  e  comprovada 
humildade,  os  elevados  cargos  para  que  foi,  successivamente,  nomea- 
do, bem  attestam  dos  seus  méritos  e  aptidão. 

A  Academia  Ueal  das  Sciencias,  de  Lisboa,  inscreveu-o  no  nume- 
ro dos  seus  prestimosos  sócios,  tanto  mais  que  uma  viagem  que  fez. 
a  pé,  a  Roma,  mais  lhe  apurou  o  seu  decidido  e  muito  notável  gosto 
pelas  artes  e  letras. 

Em  1781.  governando  a  Senhora  D  Maria  I.*,  era  eleito  Bispo 
de  Malaca,  aonde  não  chegou,  porem,  a  ir,  sendo  transferido  para  e- 
gual  cargo,  em  São  Paulo  de  Loanda,  para  aonde  seguio  e  aonde  se 
demorou  durante  alguns  annos. 

Por  desgostos  que  soíTreu  naquellas  affastadas  paragens,  regres- 
sou de  seu  motu  próprio  a  Portugal,  indo  acolher-se  de  novo  ao  mos- 
teiro no  qual  professara  e  dalli,  passado  algum  tempo,  foi  reunir-se 
a  parte  da  sua  familia  que  então  vivia  na  ilha  Teiceira,  um  irmão  seu 
e  cunhada. 

Por  fallecimento  do  Bispo  D.  José  Pegado,  occorrido  na  ilha  de 
São  Miguel,  em  Junho  de  1812,  partio  D.  Fr.  Alexandre,  dos  Açores 
para  o  Rio  de  Janeiro,  aonde  então  se  achava  a  corte  portugueza,  a 
solicitar  o  governo  espiritual  da  diocese  dAngra,  no  qual  foi  provido 
regressando  a  Angra,  mas  vindo  somente  a  ser  confirmado,  em  conse- 
quência de  questões  com  o  cabido  e  estorvos  da  Santa  Sé.  no  anno  de 
1816. 

Pouco  tempo,  comtudo,  tinha  de  durar  o  seu  governo,  pois  que 
enfermando,  veio  a  fallecer  na  cidade  de  Angra  no  dia  22  dAbril  de 
1818.  com  oitenta  e  um  annos  de  edade. 


ARCHIVO  DOS   AÇORES  323 

a» 

A  sen  respeito,  escreveu  o  Sr.  Gdiiies  (JAniorim,  que  pela  pro- 
tecção que  dispensou  aos  úo  seu  sangue,  fora  o  anjo  bom  da  sua  fa- 
mília. 

Como  lilterato  deixou  o  Rev.''°  Bispo  um  livro  de  devoção  ás 
Dores  de  Maria  Sanlissima  e  diz-se  (]iie  muitas  outras  composições, 
que  desappareceram  depois  de  sua  m:jrte,  entre  as  qiiaes  abundosas 
poesias  e  alguns  escriptos  ascéticos. 

A  maior  gloria,  porem,  de  D.  Fr.  Alexandre  da  Sacra  Familia  foi 
ler  sido  o  mestre  de  poética  do  seu  sobrinho  João,  filho  de  seu  irmão 
António  Bernardo  da  Silva,  casado  com  D.  Anna  Augusta  de  Almeida 
Leitão,  e  que  mais  tarde  se  tornou  o  immortal  Visconde  d"Almeida 
G:iri'ett. 

Preceptor  clássico  e  devotado,  adestrou  o  joven  poeta  naquella 
vernaculidade  e  purèsa  de  lingoagem  em  que  tanto  primou  o  celebre 
autlior  da  D.  Branca,  recamando  este,  porventura,  a  severidade  da 
plirase  bebida  n'aquella  fonte  com  o  atticismo  especial  e  muito  seu, 
que  lhe  fornecia  a  posse  (Fum  exuberante  talento,  como  na  vasta  e 
imponente  columnata  de  um  templo  construído  de  rijo  porphydo,  po- 
dem ser  enlrelaçad(ís  mimosos  festões  de  verdura,  semeados  de  fres- 
cas e  delicadíssimas  flores  do  campo,  ou  como  n'uma  urna  de  finíssi- 
mo oiro  o  cinzel  d'um  artista  portentoso,  como  Benevenulo  Cellini,  po- 
de lavrar  os  mais  admiráveis  arabescos. 

O  talento  em  certas  famílias  é  como  um  legado  precioso  e  cuida- 
dusainente  guardado,  que  vae  passando  de  pães  para  filhos,  até  que 
uma  circumstancia  qualquer  determine  a  sua  apparição  no  campo  da 
publicidade,  muitas  vezes  é  a  scentelha  de  uma  revolução  politica  que, 
atravessando  o  espaço,  vem  incender  os  ânimos  e  romper  a  prisão,  os 
liames,  oconvencionalibuioeniíjueseoccultava  o  génio,  fazendo  do  des- 
conhecido da  véspera  um  heroe  da  madrugada  seguinte,  outras,  a  e- 
V(»hiçã(j  do  progresso,  o  abençoado  calor  d'um  provido  e  propicio  sol, 
abrindo  naturalmente  e  na  hora  marcada  pela  Providencia  o  envolucro 
([ue  occultava  à  humanidade,  durante  largos  períodos,  uma  flor  d'alta 
valia,  uma  verdadeira  gloria  nacional. 

Também,  no  interior  da  terra,  desconhecido  e  ignorado,  o  dia- 
mante jazeu  por  muito  tempo  até  adquirir  a  sua  scintillante  pureza, 
ou  a  pérola  permaneceu  no  fundo  sombrio  do  mar,  entre  musgos  e 
algas,  até  se  volver  em  preciosa  genniia. 

Os  lentos  trabalhos  da  natureza,  afferidos  pela  brevidade  da  nossa 
(íxisiencia,  gastam  séculos  até  chegar  á  perfeição,  são  o  desenlace  de 
uma  serie  de  plienomenos,  o  producto  de  successivas  transformações, 
o  remate  de  um  eilificio  que  tem  profimdos  alicerces  e  que  se  alevan- 
U)U  de  giaduação  em  graduação  até  subir  ao  espaço,  elevando-se.  por 
vezes,  a  altura  tão  grande,  que  é  avistado  do  mundo  inteiro,  desafian- 
do a  eternidade,  como  Camões,  p;ira  mencionarmos,  apenas,  aqui,  um 
paleio  exemplo. 


324  ^    ARCHIVO  DOS  AÇORES 

Á  grandeza  dri  arvore  corresponde,  necessariamente,  a  extensão 
das  raizes. 

Foi,  até  certo  ponto,  o  que  aconteceu  com  relação  ao  Visconde 
de  Almeida  Garrett: — os  thesouros  de  sabedoria  ajuntados  pein  tio 
Bispo,  passaram-llie  indivisos  para  as  mãos  e  delles  se  sérvio  larga- 
mente, não  firmando  com  o  seu  nome  os  escriplos  do  seu  venerando 
parente,  mas  aproveitando  o  muito  oiro  de  lei  que  do  mesmo  rece- 
bera, para  ftmdir  obras  num  estyllo  do  qual,  só  elle,  em  Portugal,  ti- 
nha o  segredo,  como  o  Fr.  Luiz  de  Souza,  D.  Branca  e  as  Folhas 
Cabidas. 

Faça  o  mesmo  quem  para  tanto  tiver  fôlego. 


FR.  THOMAZ  DA  SOLEDADE  rpor  alcunha  o  P.^'  Gál- 
io)—  Nasceu  este  erudito  fayalense  na  Villa  da  Horta,  em  1758,  vin- 
do a  fallecer.  como  P.^  Mestre  dellinidor,  no  convento  de  São  Francis- 
co, ao  qual  pertencia,  no  inverno  de  18:23. 

Foi  distinclo  poeta  e  orador  de  fama. 

A  sua  estatura  elevada  e  robusta,  voz  forte  e  sonora  e  animada 
gesticulação,  loinavam-no  uma  espécie  de  Mirabeau  dos  púlpitos  faya- 
Icnses;  se,  alli,  derrubava  as  heresias  com  meia  dúzia  de  vehementes 
apostrophes,  também  no  século  não  poria  muita  duvida,  talvtz,  de  cor- 
rer a  socco  qualquer  hereje. 

Era  homem  de  vasta  erudição  e  por  vezes  satírico. 

Conta-se  d'elle  que  estando  a  ouvir  o  sermão  de  um  novel  pre- 
gador e  (]uando  este  se  espraiava  em  mysticos  devaneios,  o  P.^  Gallo, 
como  era  vidgarmenle  chamado,  meneando  a  cabeça  em  signal  de  ap- 
provação,  dizia  aos  companheiros,  que  lhe  ficavam  mais  próximos: 

—  Muito  bem,  muito  bem,  admiravelmente,  aijuillo  é  de  S.'"  A- 
goslinho  sem  tirar  nem  pôr! 

O  orador  continuava  na  sua  doutrina  e  tratava  agora  de  mais  po- 
sitivos assumptos. 

O  P."  Mestre  disse  ainda,  da  mesma  forma. 

— Excellente  trecho,  aquelle  rapaz  promelte  muito,  aquillo  é  tudo 
de  São  João  Chrysostomo,  sem  a  minima  alteração! 

A  este  tempo,  porem,  um  cão  ladrou  no  interior  da  egreja  e  de 
maneira  tal  que  não  deixava  o  pregador  proseguir,  e  este,  perdendo 
a  paciência,  exclamou  para  o  sachristão  que  estava  a  ouvil-o,  arruma- 
do a  uma  das  ombreiras  da  capella  mór: 

—  O'  Fr.  Manuel,  enxotai  aquelle  cachorro  para  a  rua,  isto  não 
se  pode  aturar! 

Ao  que  o  Fr.  Thomaz  da  Soledade  accudio  logo: 

—  Aquillo  agora  é  (jue  é  d"elle,  é  d"elle  tudo,  vou  jiiral-o  sobre 
uns  Evangelhos. 

Procurado  para  subir  ao  púlpito  em  quasi  todas  as  feslevidades 


ARCHlVO  DOS  AGOhES  325 

fie  maior  liiziaifutu.  Fr.  Thomnz  (i;i  Soledade  df  ii  >eiii[ire  prova  d"ii!ii 
espirito  atilado  e  de  notáveis  dons  oi'atoi'ios. 

Lriia  miica  véz.  conta-se,  que  por  culpa  sua  ou  alheia,  não  levou 
a  barca  da  fé  a  porto  seguro. 

Foi  pelo  tempo  que  medeia  entre  o  sabbado  de  Alleli:ia  até  do- 
mingo do  Divino  Espirito  Santo. 

Naquella  epoclia  do  anno  as  mascaradas  eram  a  ordem  do  dia 
para  a  alegre  sociedade  Hortense  e  alguma^  elfeituada>  com  grande 
pompa. 

Para  a  direcção  dos  negócios  attinenles  a  tão  momentoso  assumpto, 
em  cada  anno  era  escolliidct  um  dos  homens  mais  importantes  da  lo- 
calidade, que  ficava  investido  no  cargo  de  Moixiòmo  dos  Mascarados. 

Esta  honraria  acarretava  comsigo,  inevitavelmente,  umas  deter- 
minadas despesas,  a  caza  do  Mordomo  tornava-se  o  quartel  general 
da  mocidade  da  Horta,  dalli  é  que  sabiam  as  encamisadas  e  dangas, 
sendo  também  alli  que  se  planeavanj,  entre  a  sobiemésa  e  o  café, 
os  bandos  e  pilhérias  C(tm  que  de  domingo  a  domingo  se  alegraiia  o 
povo. 

Bòa  gente  aquella! 

Isto  era  muito  mais  innocente  e  proveitoso  do  que  a  hodierna  reu- 
nião de  qualquer  comicio  politico,  para  tratar  da  eleição  d"algum  es- 
tapafúrdio regedor. 

Resam  também  as  chronicas  que  as  freiras  do  convento  da  Gloria 
sympathisavam  altamente  com  os  mascarados  e  que  até  na  espaçosa 
cerca  do  seu  mosteiro  chegaram  a  fazer  burrícadas,  nas  quaes,  ainda 
assim,  só  entravam  alimárias  asininas  do  sexo  feminino,  fornecidas 
pela  freguezia  do  Capèllo,  aonde  abundava  mna  raça  muito  mansa  e 
de  pequenas  proporçr)es. 

Acrescia,  também,  que  numa  das  domingas  daipielle  tempo  de 
folia,  era  uso  muito  antigo  haver  na  egreja  do  convento  uma  luzida 
festevidade  em  honra  de  Nossa  Senhora  da  Conceição,  á  qual  concor- 
riam, vistosamente  uniformisados  os  rapazes  finos  da  localidade,  imi- 
tando um  terço  de  infanttria,  com  as  suas  fardas  azues  avivadas  de 
galão  doirado,  calça  branca  com  li^tas  vermelhas,  barretina  e  grande 
{)enacho  e  espingarda  de  pederneira  ao  hombro. 

Esta  Companhia  de  mascarados  destacava  uma  guarda  para  junto 
do  altar  mór  e  postava-se  em  duas  alas,  pelo  centro  da  egreja,  desde 
o  cruzeiro  até  próximo  das  grades  do  coro  de  baixo,  então  replectít 
de  famulas,  como  o  coro  de  cima  estava  cheio  de  freiras,  noviças  e  e- 
ducandas. 

Um  verdadeiro  enxame  de  mulheres  e  muitas  d"ellas  formosissi- 

líKlS. 

Terminada  a  solemne  missa,  a  Companhia  dava  três  descargas 
no  átrio  do  tem()lo  e  depois  estes  guerreiros  d'occasião  iam  para  os 
parlatorios  do  convento,  a  C(»nvite  da  reconhecida  coamiunidade,  fazer 


326  ARCHIVO   bUS  AÇORES 

uma  grande  carnificina  em  grandes  alcálras,  assadas  a  valer,  á  ami- 
ga p(Hnugneza.  em  gallinlias  e  perus  recheados,  delicados  doces  e  dú- 
zias de  botelhas  de  saborosos  e  |)(ir[)nrinos  vinhos  do  Pico,  que  espa- 
danavam por  toda  a  parte. 

Depois,  os  que  podiam,  regressavam  em  ordem  de  marcha  até  ao 
já  citado  quartel  general,  ao  rufar  dos  tambores  e  seguidos  de  uma 
irriqniela  lin'ba  de  gente  do  povo  e  de  quanto  gaiato  havia  no  logar. 

Ora,  n'uma  d"essas  vezes,  desej;mdo  as  freiras  um  sermão  de  truz, 
haviam  incumbido  o  P.'  Mestre  Th(jmaz  da  Soledade,  e  isto  com  a  ne- 
cessária antecedência,  para  subir  ao  púlpito  em  tão  rasgada  festa. 

Quando  chegou  o  designado  domingo  (j  P."  Gallo,  antes  de  ir  pa- 
ra a  egreja  foi  ao  parlatorio  cumprimentar  a  madre  abbadèssa  e  esta 
caritativa  senhora,  querendo  alentar  o  seu  pregador,  mandou  vir,  por 
duas  famulas,  uma  boa  porção  de  tenro  lombo  de  porco,  torresmos, 
biscoitos  e  vinho  de  estufa,  em  abundância. 

O  P."  Gallo,  a  dizer  a  verdade,  achou  aquellas  viandas  tão  bem 
preparadas  e  o  liquido  tão  tentador  que  metteu-se  mais  do  (jue  a  pru- 
dência aconselhava,  por  semelhante  refeição. 

Quando  sahio  do  parlatorio  a  festa  eslava  quasi  a  começar  e  elle 
sentia" se  folgasão  e  radiante:  e  bolando  da  sachristia  a  cabeça  para  o 
camarim,  allirmava,  enthusiasmado,  que  nunca  vira  maior  porção  de 
luzes  na  sua  vida! 

A  missa  começou,  e  ao  Evangelho,  o  padre  pregador  subio  sor- 
ridente os  degráos  do  púlpito. 

A  egreja  eslava  litteralmente  apinhada  de  devotos  e  de  mascara- 
dos, e  lá  no  fundo,  atravez  das  grades,  os  alvos  véus  da  communida- 
de  bran(juejavam  alegremente  nos  dois  coros,  o  de  cima  tudo  banha- 
do nas  ondas  de  luz  "que  líie  entravam  pelas  suas  Ires  rasgadas  janel- 

las. 

Fr.  Thomaz  da  Soledade,  com  o  aspecto  imponente  de  que  sabia 
dispor,  [)ersignuu-se  em  voz  alta  e  pedio  uma  Ave  Maria  e  quando  fin- 
dou esta  breve  invocação,  que  proferio  ajoelhado,  ergueu-se,  médio 
com  a  vista  todo  o  altento  auditório  e  em  vèz  do  es[)erado  e  usual  tlie- 
ma  em  latim,  começou  a  bailar,  dando  estalidos  com  os  dedos,  como 
na  popular  Ch.amarita,  requebrando  se  ora  para  mn  ura  para  o  uutro 
lado  e  exclamando  a  cada  volta : 

—  Vivam  os  mascaradinhos  de  Nossa  Senhora,  vivam! !  . . 

Um  escândalo. 

Ninguém,  iiaquelle  dia  lhe  ponde  sacar  dos  lábios  outras  palavras. 

Cortou  o  ridiculo  daquella  scena,  por  (luanlo  o  povo  ria  a  bom 
rir.  o  olTicianle,  erguendo-se  do  seu  assento,  dirigindo-se  para  o  altar, 
e.  entoando  o  Credo,  com  quanta  força  tinha 

Até  aos  melhores,  oradores,  diga  se  a  verdade,  pode  isto  aconte- 
cer. 

AvcrÍLaiado  bem  o  caso,  a  culpa  fura  da  madre  al)l)adêssa,  pois 


ARCHIVO  DOS   AÇORES  327 

que  até  o  próprio  santo  António  não  foi  livre  de  tentações,  cm  quanto 
neste  mundo  permaneceu. 

De  Fr.  Thomaz  da  Soledade  muito  poucas  composiçrjes  litterarias 
chegaram  até  nós,  devido  á  falta  de  imprensa,  bem  como  ao  descuido 
dos  seus  patricios  e  companheiros,  do  que  resultou  desa[}parecerem 
quasi  todos  os  seus  trabalhos  religiosos  ou  profanos. 

No  «Grémio  Lilterario»,  periódico  quinzenal,  mantido,  na  Horta, 
pelo  Grémio  Litterario  Fayalense,  desde  15  de  Maio  de  1880  até  1." 
de  Novembro  de  1884,  no  seu  n.*'  8,  vem  pidjlicadas  duas  mimosas 
Glosas  d'este  poeta,  que  foram  dedicadas  a  uma  formosa  educanda  do 
convento  de  São  João,  D.  Violante  Quadros  da  Silveira  e  as  quaes 
muitos  versejadores  da  actualidade  não  desdenhariam  de  assignai-. 

Tratam  de  assumptos  amorosos. 

A  julgar  por  semelhantes  specimens,  possuía  um  estylo  aprimo- 
rado e  fácil,  desprendido  de  severidades  monásticas,  ou  de  resaibos 
de  sachristia. 

A  família  de  Fr.  Thomaz  da  Soledade,  parece-nos  haver-se  extin- 
guido na  Horta,  pois  que  as  duas  únicas  irmãs  que  teve  falleceram  sol- 
teiras. 


O  DR    MANUEL  IGNACIO  DE  SOUSA  SARMENTO. 

—  Se  acazo  o  leitor  d'estes  rasteiros  apontamentos  alguma  vez  e.^teve 
na  cidade  da  Horta,  não  deixou,  com  certeza,  de  visitar,  n'um  oitei- 
ro,  ao  lado  do  norte  da  mesma,  as  ruínas  do  Pilar,  isto  é,  os  destroços 
que  ainda  restam  de  pé  dum  formosíssimo  palacete  que  allí  houve, 
circumdado  de  jardins,  elegante  na  sua  construcção  e  rico  de  bom  gos- 
to, até  nos  seus  mínimos  detallips,  como  ainda  attesta  aquelle  esque- 
leto, que  a  acção  devastadora  do  tempo  não  consegiuo  tornar  disfor- 
me, apesar  da  sua  nudez  e  abandono. 

As  minas  do  Pilar  chamam,  desde  logo,  a  attenção  de  quem  a- 
qui  aporta  e  tem  pittoresco  aspecto  aquelles  muros,  portadas  e  janel- 
las  desguarnecidas,  mas  nas  quaceTas  caridosas  e  pobres  flores  agres- 
tes e  sem  cultivo,  tentam,  na  estação  estiva  ostentar  os  seus  humildes 
encantos,  abotoadas  em  sorridentes  cachopas,  ou  abrindo  os  seus  cá- 
lices brancos,  vermelhos,  ou  arnarellos,  a  par  de  festões  de  hera  ver- 
de escura  e  valente,  como  se  as  plantas  comprehendessem  melhor  do 
que  o  homem  a  poesia  d'aquelle  retiro,  o  esmero  com  que  fora  feita 
aquella  construcção  e  o  triste  desamparo  em  que  afinal  ficou  um  sitio 
que  se  tornou  celebre  n"esta  ilha,  tanto  pelo  distinctíssimo  fayalense 
seu  proprietário,  como  pelas  brilhantes  festas  que  alli  se  deram. 

A  casa  do  Pilar  foi.  indubitavelmente,  a  primeira,  a  mais  elegan- 
te moradia  d"esta  ilha  e  o  panorama  que  gozámos  d'aquella  eminência 
é  esplendido  e  arrebatador. 

Erguida  aijuella  construcção  n'uma  Íngreme  encosta  e  quasi  no  ci- 


328  AHCHIVO  DOS  AÇORES 

mo  de  um  ^lonl^^  dominava  perfeitamente  a  w/-éí"oí6W/?í,  a  e.vtensa  po- 
voação da  Morta,  (jue  se  estende  a  sens  pés.  com  esse  atraheiíle  as- 
periu  (|iie  llie  é  peculiar  e  com  a  sua  branca  casaria  irrompendo  do 
seio  de  pomares  e  jardins  que  descem  até  ás  proximidades  do  n>ar. 

Defiontava,  sem  o  menor  estorvo,  com  o  immenso  horisonte  do 
sul,  com  as  agoas  d'esse  vasto  e  caprichoso  oceano  que  rola  as  suas 
vagas  .izues  e  vividas  qnasi  até  à  fralda  d"aquella  elevação,  quebran- 
do-se  no  comprid.)  areal,  formando,  como  dizia  Alfred  de  Mnsset,  um 
lon;/UP  frange  d' árgon t. 

A  leste,  a  grandiosa  ilha  do  Pico,  com  o  seu  severo  aspecto  e  ma- 
gnificas cambiantes,  ao  [)ôr  do  sol,  umas  vezes  revestida  de  alvos  man 
tos  de  neve,  outras,  a  meio,  com  uma  cinta  de  nuvens,  mas  erguendo 
tmiito  alem  o  seu  cume  descampado  e  nu,  tingindo  de  rubros  reflexos, 
como  se  fosse  cobirto  de  laminas  de  metal  ainda  m;il  arrefecidas  dos 
trabalhos  vulcânicos,  das  ribeiras  de  fogo  que  devem  debater-se  no 
seu  interior  e  (jue  aind;i  fumegam  alravez  de  fendas  de  2.412  metros 
dallura. 

As  cercanias  da  caza  do  Pilar  eram  um  mar  de  verdura  e  dentro 
dos  muros  (pie  delinearam  aqiiella  propriedade,  haviam  formosos  e 
esmeradijs  jardins,  estaíiias,  valiosos  trabalhos  em  mármore  represas 
d'agoa  apresentando  vistosos  ctTeitos,  floridas  ale. is  de  plantas  raras  e 
de  despendioso  cultivo  e  animaes  e  aves,  mandados  vir,  como  curio- 
sidade, de  remotos  paizes. 

No  interior  da  habitação  o  luxo  correspondia  com  <»  que  acaba-^ 
mos  de  descrever,  era  uma  vivenda  pi'incipèsca  e  hospitaleira,  com 
aniiudados  b.inqueles.  saraus  e  outras  diversões,  tanto  para  a  socie- 
dade elegante  da  Horta,  como  para  os  estrangeiros  que,  então,  aqui 
aportavam  em  muito  maior  numero  do  <pie  actualmente. 

Foi  um  homem  feliz  o  dontj  do  Pilar  e  se  jamis  lhe  escassearam 
os  bens  da  fortuna,  com  (jue  satisfazia  (ts  desejos  do  seu  génio  em- 
prehendedoí-  e  atilado  e  se  na  Horta  gos;iva  da  máxima  C(jnsideração, 
como  uni  <ios  |)rimeiros  jtroprietarios  da  sua  pátria,  também  a  nobre- 
za do  talento  veio-se  lhe  reunir  á  nobresa  do  saiigue,  compondo  bons 
versos  e  diversos  trabalhos  litterarios.  fructos  do  seu  estudo  na  Univer- 
sidade de  Coimbra,  do  seu  amor  pelas  leiras  e  das  in>piradi>ras  sce- 
nas  que  gosava  na  sua  vasta  e  magnifica  moradia,  ao  lado  de  uma  es- 
posa querida  e  de  filhos  que.  idolatrava. 

Pos>uia  ainda  uma  seleda  bibli<ilheca.  (|ue  deixav;i  a  perder  de 
vislii  a  (h\<,  frades  de  São  Francisco,  ajtesar  de  nniito  numerosa,  e  a 
dois  passos  da  sua  residência,  com  missa  ao  domingo,  uma  ermida 
dedicada  á  Virgem  do  Pilar,  fundada  pelos  sens  antepassados. 

Kffeclivamenie,  devia  dar  graças  a  Deus  da  sua  sorte. 

O  l)r.  Manuel  Ignacio  de  Souza,  ;i  (|uem  nos  estamos  referindo, 
ii.iscera  na  villa  da  Horta,  no  anuo  de  I73Í).  sendo  seus  pães  o  abasta- 
do |iro[»rielario  e  co:nmerciaiite  Doming.is  de  Souza  e  Silv;i  e  D.  Bar- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  329 

har.1   (1.1   Ttii)(l;iil(\  lumili.)  nlidalgad.i  e  giie  vivera  sciiiiire  ;i  lei  da 
iiobi'eza. 

Domingiis  de  Sonsa  e  Silva  eia  (iiorgado,  inas  m»  envez  do  que 
geralmente  acoiittícia,  sendtt  nni  homem  esperto  e  sen>ato,  esmer-oii 
se  em  dar  uma  selecta  ednca(;ão  aos  Ires  filhos  que  linha  António  de 
Souza  e  Silva,  herdeiro  do  vinculo,  João  José  de  Souza,  (jue  tomou 
ordens  saci'as  e  Manuel  Ignacio  de  Souza  que  se  formou  em  direito  na 
Universidade  de  Coimbra. 

Depois  d'um  brilhante  rurso  e  obtida  a  respectiva  carta,  regres- 
S(Ki  pai\i  junto  da  sua  Cimilia,  casand(j  pouco  depois  com  sua  sobrinha 
I).  Luiz;i,  filha  do  irmão  m.iis  velho,  estabelecia  aqui  com  o  outro  ir- 
mão clérigo,  (|ue  para  tanto  obteve  licença  de  Roma,  uma  muito  im- 
portante ca/a  de  commercio,  em  vinho  do  Pico,  que  eram  exportados 
para  os  paizes  do  norte  da  Europa,  caza  esta  que  desenvolvendo  um 
grande  lr;ifego  cíiegou  a  ler  sele  navios  seus,  segundo  um  escripto 
que  temos  presente. 

A  foiluna  foi  sempre  prospera  para  a  firma  de  que  usavam,  en- 
grossando-lhe  consideravelmente  os  já  abundosos  haveres  e  annos  de- 
pois vindo  a  fallecer  o  P/  João  José  de  Souza,  legava  ao  seu  consó- 
cio e  irmão  quanto  dinheiro  ajuntara. 

Em  seguida  a  esta  occorrencia,  o  Dr.  Manuel  Ignacio  de  Souza 
litpiidou  os  seus  numerosos  negócios,  relirando-se  do  commercio  e  en- 
Iregando-se  exclusivamente  á  administiação  d.is  pi'opriedades  que  pos- 
suía e  ao  cultivo  das  Muzas,  eslabelecendo-se  delíjnilivamente  na  sua 
moradia  do  Pilar. 

liaras  vezes  d"alli  sahla,  a  não  ser  por  obrigação  d'alguns  cargos 
da  governança  da  terra,  dos  quaes,  a  seu  pi\sar  o  investiam.  N'essas 
occasiões  descia  sempre  á  villa  de  cadeirinha  e  esta  ladeada  de  cria- 
dos de  libré. 

Falleceu  em  1802,  contando  então  63  annos  de  edade  e  bemquis- 
to  e  respeitado  por  lodos. 

Do  seu  consorcio  ficaram  quatro  filhos  e  Ires  filhas,  para  os  quaes 
não  sorrio  a  fortuna,  como  ao  seu  illuslre  progenitor. 

Do  Dr.  Manuel  Ignacio  de  Sousa  chegaram  até  nós  algumas  poe- 
sias, da^  quaes  conhecemos,  publicadas,  umas  oitavas  e  um  soneto  no 
n."  28  do  periódico  «Grémio  Lillerario»,  correspondente  a  Io  d"agos- 
lo  de  1881  e  uma  Ode  no  n."  33  do  mesmo,  correspondente  ao  l.°de 
Novembro,  lambem  de  1881. 

Nestes  trabalhos  e  no  pouco  (jiui  do  mesmo  aulbor  existe  ainda 
inédito  admira-se  um  estylo  terso  e  não  vulgar  engenho,  sendo  muito 
para  lamentar  que  por  imperd(javel  desleixo,  não  houvesse  um  curio- 
so, um  amigo  ou  um  parente  (pie  n"a(piella  e[) ocha  colleccionasse  os 
escri|)los  de  tãi»  erudito  fayaleii>(\ 

Ist)  me>ni)  acotiiHcen.  aijiii,  com  a  mai-^ria  dos  trabalhos  que  pro- 
duziram'os  nossos  homens  de  letras  e  o  mais  que  consegue  hoje  res- 

.N."  'lO-Vol.  VIII     1880.  7 


330  AKCHIVO  DOS  AÇORES 

pigar  qualquer  investigador  de  autigii-dlias,  são  pequenos  fragmentos 
que  sabe  de  cór  ou  que  lhe  fornere  um  ou  outro  homem  edoso. 

Devemos  também  mencionar  que  uma  Ode  do  Dr.  Manuel  Igna- 
cio  de  Souza,  já  acima  indicada,  que  se  refere  ao  Pilar  e  n'a  qual  se 
encontram  estes  deliciosos  versos: 

Aos  verdes  montes  do  Pilar  subindo 
Estendo  por  te  ver  os  olhos  tristes. 
Mas  não  te  avisto  e  só  vou  descobrindo 
O  sitio  venturoso  aonde  existes. 
Chamo  por  ti,  e  tu  a  meus  gemidos 
Voltas  a  face,  cerras  os  ouvidos! 

foi  o  primeiro  trabalho  typographico  que,  em  I8o7  se  compoz  n"eslH 
ilha,  como  um  ensaio,  ou  experiência  de  trabalhos  de  prelo. 

A  composição  e  tiragem  d'esta  Ode  foi  effeituada  por  Manuel  de 
Brum  Athayde,  um  rapaz  de  muito  estudo  e  amor  ás  letras  e  que  veio 
mais  tarde  a  fallecer,  como  professôi'  de  latim,  na  Villa  da  Magdalena, 
na  ilha  do  Pico. 

Teve  excepcional  circulação  aíjuella  poesia,  pela  curiosidade  de 
vermos,  na  Horta,  um  papel  aqui  impresso,  embora  muito  incorrecta- 
mente e  parecendo  ser  estampado  em  vez  de  typo,  com  cabeças  de 
pregos,  como  passados  mais  de  vinte  e  quatro  annos.  ainda  a  respeito 
dum  dos  nossos  periódicos  dizia  na  sua  lingoagem  pittoresca  e  hu-  , 
morislica  Henrique  das  Neves,  militar  e  escriptor  distincto. 

A  maioria  dos  trabalhos  lilterarios  do  Dr.  Manuel  Ignacio  de  Sou- 
za desappareceram,  para  sempre,  no  meio  do  indifferentismo  dos  seus 
conterrâneos  e  da  sua  esplendida  residência  apenas  restam  uns  mu- 
ros e  excavações.  nos  quaes  as  tempestades  do  inverno  gemem  lugu- 
bremente. Ato  o  regular  e  verde  oiíeiro  em  que  assentava  perdeu  os 
seus  contornos,  estando  hoje  disforme  e  o  seu  cimo,  convertido  num 
grande  barreiro. 

Tudo  aquillo  cahio  aos  pedaços! 


VITALIANO  JOSÉ  BRUM  DA  SILVEIRA.  —  Foi  poeta 
distincto  e  um  verdadeiro  D.  Juan  d'esta  terra  d"Yvetot. 

Compunha  com  egual  facilidade  poesias  [patrióticas  e  altisonantes, 
como  versos  para  bandos  de  mascarados  e  trovas  para  cantar  á  gui- 
taria.  em  noites  estivas,  por  baixo  das  adiifas  das  elegantes  fayalen- 
ses  do  seu  tenq»o. 

dosava  boa  nomeada  como  poeta  e  excellenle  acolhida  entre  a  gen- 
te do  povo  com  a  qual  se  familiarisava.  sendo  cíTectivo  em  todas  as 
folgos  em  louvor  do  Divino  Espirito  Santo. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  331 

Vitaliaiio  José,  tíiribitia  passasse  no  Fayal  uma  graiitlc  parte  da 
sua  oxistencia,  era  de  Coimbra,  filhi)  iialiiral  do  notável  fayalense  o 
doutor  em  cânones  João  José  Paim  Í3ruin  da  Terra  Silveira  Leite,  so- 
brinho este  do  arcebispo  de  Gòa  D.  António  Taveira  de  Neiva  Brnm 
*í  Silveira  alli  havia  nascido  o  nosso  versejad(jr  pelos  annos  de  1715  a 
1750,  approximadamcnte,  (|nando  o  estudante  de  tlieologia  cursava  a 
Universidade. 

O  dr.  João  José  Paim,  embora  d  um  génio  taciturno  e  reserva- 
do, foi  homem  de  vastos  conhecimentos,  nobre  estirpe  e  de  decidido 
gosto  peias  letras,  pioduzindo  diversas  compoziçõt^s  poéticas  e  traduzin- 
do esnieradamente  as  obras  de  Virgilio,  piMs  que  eia  um  latino  pro- 
fundo. 

O  seu  fdiío  apanhadiço,  como  diz  o  povo,  que  elle  trouxera  ain- 
da peíjueno,  de  Portugal  para  os  Açores,  quando  terminou  a  formatu- 
ra, se  verdadeiramente  divergia  muito  do  pae  por  possuir  luii  génio 
alegre,  folgasão  e  amigo  de  divertimentos,  ainda  assim  lierdara-lhe  a 
boca  da  poesia,  com  que  ainda  em  verdes  annos  e  com  grande  gáudio 
das  raparigas  e  freiras,  começou  a  dar  evidentes  provas. 

Pelo  casamento  do  dr.  João  José  Paim,  na  ilha  Terceira,  com  D. 
Marianna  Victoria  de  Noronba,  daina  da  primeira  nobreza  d"aquella 
terra,  considei'ada  então  como  a  corte  dos  Açores,  veio  este  a  ter  de 
seuíellianle  consorcio  uma  miioa  filha,  a  futura  e  muito  virtuosa  Baro- 
neza  da  Lagoa  D.  Francisca  Paula  da  Terra  Brnín,  cazada  com  o  bon- 
doso morgado  José  Francisco  da  Terra  Briuii,  do  qual  já  largamente 
tratámos  no  segundo  volume  d'esta  obra. 

Foi  mn  magnifico  recurso  para  o  génio  espairecido  do  poeta  Vi- 
taliano  ter  por  cunhado  o  morgado  Terra,  por  (|u;uito  se  o  caracter  sé- 
rio e  um  pouco  austero  do  pae,  apesar  de  lhe  querer  muito,  não  lhe 
dava  largas  a  reiterados  pedidos  de  dinheiro,  com  o  morgado  não  lhe 
acontecia  o  mesmo,  sendo  seu  amigo  e  approximadamente  pela  mesma 
edade,  dispondo  o  poeta  largamente  do  dinheiro,  e  não  era  pouco,  que 
este  pi)ssuia,  para  se  divertir  em  ruidosas  patuscadas,  em  partidas  eam 
pestres  e  em  amiudadas  romarias. 

Contou-nos  um  muito  antigo  escrevente  da  antiga  casa  do  morga- 
do Terra  que,  no  seu  tempo,  (juando  o  Sr.  Vitaliano,  precisava  de  di- 
nheiro, entrava  pelo  escriptorio  do  morgado  dentro  e  alli  mesmo,  á 
vista  do  cunhado,  limpara  quantas  moedas  elle  tiniia  sobre  as  mezas, 
ou  recebia  os  foros  d'algum  emphyteuta  que  alli  viera  desobrigar-se 
dos  seus  ónus. 

Era  questão  de  fortuna,  de  occasião. 

Despreoccupado  assim  dos  meios  de  [irover  á  sua  subsistência,  as 
Musas  e  a  guitarra  íoram-lhe  na  mocidade  inseparáveis  companheiros. 

Depois  da  morte  do  pae,  occorrida  no  amio  de  1800.  n  poeta  Vi- 
taliano. nunia  digressão  á  ilha  de  São  .Miguel  alli  enamoi-ou-se  de  uma 
senhora  da  familia  de  André  Manoel  da  Ponte  com  a  qual  casou  refoi- 


332  ARCHIVO   BOS  AÇORES 

niaiulo  desde  então  a  sua  muito  airad.i  vida. 

Já  não  era  sem  tempo. 

De  Vilaliano  José  Brum  da  Silveira  existem  ainda  Imje  diversas 
poesias  de  incontestável  merecimento,  havendo  das  mesmas  publicado 
«O  Grémio  Litterario»,  quatro  odes,  unia  elegia  e  dezeseis  sonetos, 
nos  seus  números  23,  2i,  25,  27,  29,  30,  32  e  3i,  do  primeiro  e  se- 
gundo volume,  desde  Maio  dt-  1881  a  Novembro  do  mesmo  anno. 

Não  podemos  averiguar  a  epoclia  do  seu  fallecimento,  nem  se  oc- 
coireu  n'esta  ilha,  on  em  São  Miguel,  d'onde  era  a  consorte, 

Parecerá,  porventura,  estranho  ao  leitor  que,  com  relação  aos  pou- 
cos escriptos  que  dos  antigos  poetas  fayalt^nses  mencionamos,  tenha- 
mos de  citar  amiudadas  vezes  o  periódico  «Grémio  Litteiario».  como 
o  usual  repokoir  d'essas  flores  que  nos  acarretou  a  torrente  dos  tem- 
pos. 

Tem  isto  uma  rasãc»  de  ser,  muito  simples. 

Havíamos  já.  e  a  muito  custo,  conseguido  colleccionar  alguns,  ain- 
da que  raros  trabalhos,  dos  antigos  homens  dados  ás  letras  na  Horta, 
quando  uma  vez.  estando  então  a  nosso  cargo  o  periódico  mantido  pe- 
la associação  «Grémio  Litterario  Kayalense»  desde  15  de  Maio  de  1880 
até  o  1.°  de  Novenibro  de  1884,  nos  veio  parar  á  mão  nm  verdadeiro 
alfarrábio,  descabido,  velho,  amarello  e  cheio  de  pó. 

Era  um  couseiro,  ou  livro  de  assentos,  do  fallecido  beneficiado  da 
Matriz  da  Horta  o  Rev.'^"  Ignacio  da  Silveira  Bettencourt,  homem  da- 
do a  letras  e  muito  cm^ioso  de  antiguidades  açoricas. 

Comecei,  com  avidez,  a  ler  aquella  verdadeira  miscelânea  de  coi- 
sas sacras  e  profanas. 

Continha  este  manuscripto  a  par  de  mu  registo  das  missas  que  o 
consciencioso  sacerdote  tinha  a  dizer,  ou  ia  dizendo,  (e  não  angmenta- 
va  na  conta,  honra  lhe  seja)  de  quanto  lhe  custava  cada  retelho  ou  pin- 
tura da  sua  habitação  modesta,  de  alguns  commentarios  íntimos  d(» 
pouco  que  lhe  davam  por  cantar  nas  Endoenças,  dos  presentes  de  ces- 
tas d"uvas  no  verão,  etc,  algumas  poesias  da  gente  do  seu  tempo  e 
a  narração  de  diversos  fados  mais  ou  menos  escandalosos  n"esta  lo- 
calidade occorridos. 

Alguns  commentarios  mostram  ser  dum  hí^mem  de  espirito  ati- 
lado. 

Abrimos,  pois,  com  semelhante  achado,  uma  secção  especial,  sob 
o  titulo  de  «Antigualbas»,  no  «Grémio  Litterario»,  tratando  por  esta 
forma  de  conservar,  quanto  ao  nosso  alcance  essas  composições,  para 
não  lhes  acontecer  o  mesmo  que  aconteceu  a  grande  copia  de  manus- 
criptos  de  escriplores  fayalenses,  que  hoje  não  é  possível  encontrar. 

Na  imprensa  periódica  desta  ilha  não  nos  consta  que  fossem  pu- 
blicadas, ou  reproduzidas,  sendo  este  o  único  motivo  pelo  qual  nos  re- 
ferimos mais  especialmente  áquelle  (|ninzenal. 

Apesar  da  limitada  tiragem  do  «Grémio  Litterario»,  como  aconle- 


ARCHIVO  DUS  AÇORES  333 

ce  a  todas  as  nossas  folliéis,  ainda  assim  iim  ou  oulro  follecciuiiadoí  t' 
{lossivtd  que  o  conserve  e  conjnnctainenle  as  poesias  a  (jue  nos  rete- 
rimos.  que  algum  v;i|i»r  h-m  {hna  os  estndiosdS. 

O  Kev.''°  Ignacio  da  Silveiía  Betlencourt  lambem  versejava  o  sfu 
bocado,  mas,  realmente,  aquilh»  era  mais  prosa  chata  e  comesinlia  do 
que  inspiração  das  Musas.  Constavam  quasi  sempre  as  suas  composi- 
ções, n"este  género,  de  agradecimentos  aos  presentes  que  lhe  fazi.un. 
especialmente  quando  eslns  constavam  de  perus,  que  rmnca  levavam 
em  troco  menos  de  três  (piadras,  em  encfiuiiaslicos  termos. 

Era  uma  especialidade  do  bondo^so  e  muito  reconhecido  Beneficia- 
do da  Matriz. 

CJiamou-nos,  também,  a  attenção  no  proseguimento  da  leitui'a  d'a- 
quelle  manuscripto  a  seguinte  carta,  cujo  autographo  alli  se  acha  cui- 
dadosamente collado  numa  [)agiua  em  branco  e  originalissiina  na  idêri, 
forma  e  dizer: 

«Primo  e  Senhor  Padre  Heneticiado, 
«Candelaíia  do  Pico,  2i  de  Março  de  1841). 

«He  do  dever  da  Sevelidade  a  quem  se  auzenta  o  participar  os  suc- 
cessos  da  sua  viagem  e  taud>eni  os  da  Amizade,  essa  forca  Activa,  es- 
sa Antipatia  gostosa,  (pie  faz  com  que  os  entes  de  uma  mesma  Espé- 
cie se  congratulem  e  se  estimem,  por  um  estimulo  que  força  a  Ama- 
rem-se.  com  senciridade  unesta  e  decente.  Parece  ser  umas  emana- 
ções do  Creador,  que  exerce  sobre  nós  e  faz  com  que  olhemos  para 
luis  Sujeitos  com  muita  attenção,  mas  pessoas  em  quem  selreconhe 
ça  uma  ahiia  modelada  á  beneficência  e  á  magnanimidade, 'huma  ahna 
cujos  sentimentos,  nobrez  e  elevados  pensamentos  tem  sobre  os  outros 
Inmi  suave  Imperi(t  e  os  sujeita  voluntários  a  congratular-lhe  a  sua  es- 
tima. 

«Atributos  que  reconheço  em  a  pessoa  do  Primo,  motivo  p(ti'que 
essa  força  me  faz  obrigado  a  particii)ar-llie  o  bem  succedido  de  miidia 
viagem  com  minha  familia,  qiu^  foi  a  mais  breve  possível,  a  mais  bo 
uançosa.  que  esperar  podia  nas  circumstancias  do  tempo. 

«Receba  o  primo  muitas  Rtcommendações  de  minha  Tia  e  as  mes- 
mas mandão  fazer  á  Sua  Familia.  E  as  minhas  para  com  o  1'rimo  .sã(( 
.^em  fint. 

«Deste  Seu  amigo  e  Priíuo 
«A.  F.  di'  Mattos. 

«Eu  estou  Próximo  a  liii-  a  essa  terra 
do  Faval  e  então  fallarèmos.» 

O  que  lhe  res[»ondei  ia  o  padre  :' 


334  ARCHIVO  DOS  ACOHES 


JOÃO  PEREIRA  DE  LA  CERDA.  —  Foi  um  trabalhador 
infatigável  e  purvenlura  o  primeiro,  ornais  inspirado  poeta  que  o  Fayal 
tem  produzido. 

Nasceu  este  notável  açoriano  na  viila  da  Horta,  aos  12  de  Agosto 
de  1772,  sendo  filho  de  Joaquim  P^^reira  de  la  Cerda  e  de  sua  consor- 
te D.  Emerenciana  Dorolhea  Brum  da  Silveira. 

Diz  oCommendador  Macedo,  n  um  artigo  que  lemos  presente, des- 
cender aíiiielle  talentoso  fayalense  duma  familia  hespanhola.o  (pie  pa- 
rece confirmado  pela  maneira  por  que  escrevia  o  seu  appellido,  as  in- 
dagações, porem,  a  que  a  este  respeito  procedemos  deixam  isso  em 
duvida  e  somente  nos  levam  a  crer  que  os  de  Ia  Cerdas,  ou  Lacerdas, 
tão  abundosos  no  Fayal,  provém  t  jdos  do  mesmo  tronco,  sem  (pie  hou- 
vessem com  este  nome  duas  f.imilias  de  differentes  nacionalidades. 

Aos  trinta  e  dois  annos  de  edade,  em  1804,  casou  João  Pereira 
de  la  (lerda  com  sua  prima  D.  Francisca  Victoria  C()rle  Heal,  natural 
da  ilha  Terceira,  de  cujo  consorcio  teve  larga  desí^endencia,  parte  da 
qual  ainda  aqui  existente. 

Como  pelo  fallecimento  dos  pães  e  sendo  o  filho  primogénito  se 
achasse  administrador  de  uma  rasoavel  casa  vincular,  reconheceu  em 
breve  tempo  que  a  gerência  de  negócios  não  era  a  sua  especialidaiJe. 
|)ara  o  que  a  sua  digna  esposa  tinha  incontestavelmente,  muita  inais 
habilidade. 

Entregou-lhe,  pois,  de  seu  molu  próprio  e  com  a  maior  confian- 
ça a  governação  dos  seus  haveres,  do  que  resultou  augmenlar  consi- 
deravelmente os  seus  rendimentos 

Em  partidas  de  pesca  na  fronteira  ilha  do  Pico,  aonde  (íostuniava 
permaníicer  alguns  mezes  do  anuo,  ou  ntiina  vistosa  propriedade  de 
que  era  dono,  denominada  Salvaleri-a,  na  freguezia  da  Conceição,  na 
Híjrla  e  n'aqual  niítndara  construir  uma  barraca,  era  aonde  passava  a 
maior  parle  do  seu  tempo,  entregue,  exclusivainente,  aos  seus  queri- 
dos estudos  lilterarios,  ou  á  convivência  de  atgim.N  amig(js  (}ue  o  iam 
visitai'. 

As  suas  idéas  eiam  rasgadamente  libei'aes  e  niuito  eivadas  das 
doutrinais  de  Voltaire,  em  (^)!isequencia  do  que  alguns  de.>gostos  sof- 
fren,  devidos  ás  commoções  politicas  que  se  deram  de  1821  a  I83(). 

Finalmente,  em  Março  de  1850,  cercado  da  |)ublica  veneração,  de- 
vida ao  seu  honrado  caracter  e  illn.stra(;ão,  falleceu  e.ste  distincto  fava- 
lense,  vicliuja  de  uma  aíTecção  pidmonai-. 

Contava  então  setenta  e  (»ilo  annos  de  edade. 

Muitos  dits  escriptos  de  João  Pereira  de  la  (À'r(!a,  ainda  em  vida 
do  píjota,  foram  enterrados  em  uma  Cfsla,  nunca  mais  se  sabendo  dos 
metamos,  por  serem  liberaes  e  temer,  nessa  epocha.  algum  parente 
on  amigo  a  sua  divulgação. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  33y 

Dos  que  escaparam  a  seinelhaDle  flestmço  cuiihecemos,  ou  tciiids 
noticia,  dos  seguinlts: 

Uma  collecção  de  esplendidos  e  inagnificos  sonelos,  a  nriaior  par- 
le dos  quaes  no  género  satírico,  niettendo  á  bnlha  os  nsos  do  sen  leni- 
[)o,  os  milicianos  da  localidade  e  os  abnsos  dos  frades. 

Diversas  Odes  e  allegorias  exaltando  as  idéas  de  hberdade,  com- 
postas quasi  sempre  para  serem  t  ecitadas  no  thealro,  em  occasiõe>  de 
pnblicos  festejos. 

As  seguintes  Iraducções  de  Vollaiie:  -  £^//.sr//(>  ^obre  os  costumes 
e  espirito  das  nações  —  O  Conde  d'Esse.r  —  Branca  —  Al ztjra. 

O  Retrato,  de  Diderot  — A  monarchia  dos  Sohjpsos,  a  Guerra jJos 
Deuses  de  Parny  —  Jorge  fJandin  e  o  Mi/santropo,  de  Molière.  e  os  ro- 
mances inglezes  Cecilia  e  Lony. 

Na  «Historia  das  quatro  ilhas  que  compõem  o  Districto  da  Hor- 
ta», na  collecgão  do  semanário  «O  Atlântico»,  no  n."  6,  ultimo  do  1." 
vol.  do  «Archivo  dos  Açores»  e  no  «Grémio  Litterario»,  tem  sido  a 
espaços  publicadas  diversas  composições  e  noticias  biograpliicas  de 
João  Pereira  de  la  Cerda,  sendo  um  dos  raríssimos  escriptores  fayalen- 
ses  que  precederam  a  actual  geração,  ao  qual  uma  n)alfadada  sina  não 
destruio,  quasi  na  totalidade,  os  trabalhos  liltcrarios. 

A  memoria  de  João  Pereira  de  la  Cerda  ainda  hoje  subsiste  com 
bem  merecida  nomeada  n  esta  ilha. 

No  periódico  o  «Democrata»,  do  corrente  anno  de  1886,  está  sen- 
do aqui  publicada  uma  traducção  feita  pelo  mesmo  author,  do  roman- 
ce francez  Eugénio. 


BENTO  PEREIRA  DE  LA  CERDA.  -  F(.i  também  poeta 
e  irmão  mais  novo  do  piecedeute. 

Nasceu  no  anno  de  1774. 

Muito  pouco  tempo  permaneceu  na  sua  pátria,  indo  ainda  em  ra- 
paz para  Lisboa,  aonde  se  relacionou  intimamente  com  Bocage  e  com 
o  conhecido  michaelense  André  da  Ponte  do  Quental. 

Ficou  legendaria  a  maneira  pela  qual  estes  três  amigos,  verse- 
jando e  de  guitarra  em  punho,  percorrer;iin  uma  grande  parte  de  Por- 
tugal, cantando  trovas  e  recitando  versos  em  cambio  de  hospitalidade 
e  alimento. 

De  Bento  Pecfira  de  la  Cerda  não  conseguimos  obter  (jualquer 
Composição  litteraria,  nem  nos  parece  que  alguma  exista  nesta  ilha  d(» 
Faval 

O  seu  génio  aventureiro  levou  o  ale  ao  Brazil,  aonde  soube  ca- 
ptar a  benevolência  dEI-Rei  D.  João  (>.",  que  com  elle  privava,  dando 
•U)  poeta  açoriano  decidida  piotecção. 

Alli  falleceu,  em  edade  pouco  avançada. 

Na  família  la  Cerda,  até  aos  nossos  dias.  alguns  indivíduos  teu» 


»i36  ARCHIVO  Dt)S   AÇOKES 

a|i|);ireci(l(j  cijui  (alento  ê  V(jc;u;ho  parn  as  letras,  tanto  num  corno  em 
outro  sexo,  taes  como  D.  Jesuuja  de  la  (^errla,  ha  pouco  ai^ui  fallecida, 
já  septageiiaria  e  D.  Beatriz  de  la  (>enla,  sua  sobrinha,  da  qual  algims 
trabalhos  tem  sido  publicados  na  imprensa  periódica  da  Horta. 


O  DR.  FRANCISCO  VIEIRA  GOULART.  -  Kra  natural 
do  Fayal,  atjnde  nasceu  a  8  de  xVlarco  de  17^8.  sendo  fdho  de  Manuel 
Francisco  Goulart  e  de  sua  consorte  D.  Maria  Iguacia  Goulart,  abasta- 
dos proprietários. 

Ft)rmou-se  em  philosophia  pela  rnivrrsidade  de  (Coimbra,  aonde 
tez  um  magnifico  curso  e  visitou,  em  viagem  de  recreio,  (]ue  para  tan- 
to o  habilitavam  os  fartos  haveres  paternos,  as  principaes  cidades  da 
Kuropa.  mas  isto  vagarosamente  e  consoante  ao  seu  génio  investiga- 
dor e  estudioso. 

(juando  regressou  á  [latria,  já  com  ordens  sacras  e  vastíts  conhe- 
cimentos hauridos  em  Coimbra  e  nits  paizes  estrangeiros  aonde  resi- 
dira, professava  idéas  tão  rasgadamente  libcraes  (jne  ma!  se  coaduna- 
vam com  o  regimen  politico  então  estabelecido  em  Portugal. 

Em  breve  ttve  d'isto  unia  evidente  prova. 

(]omo  vagasse  a  Vigarari a  da  Matriz  da  Il^rta,  o  dr.  Vieira  Gou- 
lart foi  um  dos  reijuerentes,  sendo,  como  era  de  ju>tiça,  provido  n'es- 
ta  pretenção,  á  posse,  porem,  da  qual  se  op[)oz  tenazmente  o  Fiispo  D. 
.losé  Pegado,  M)b  pretexto  do  agraciado  oarir  pouco.  * 

O  dr.  Vieira  Goulart  [)arti(t,  então,  inunediatamenle,  para  o  Bia- 
ziL  a  íim  de,  junto  do  Sr.  U   .João  6.".  fazer  valer  os  seus  direitos. 

A  proverbial  lenidade  d"este  monarcha  deu  favorável  acolhida  á 
exposição  que  lhe  fez  aquelle  dislincto  sacerdote  e  para  acununodar 
os  ânimos  transferio-o,  |iara  mais  elevada  graduação,  com.»  chantre  da 
Sé  de  Angra. 

Ai-oiiteceu,  [)orém,  ijue  o  dr.  Vieira  Goulart  não  voltou  aos  Aço- 
res, demoiando  se  no  Hio  de  .laneiro,  investindo  o  o  Governo  da  dire- 
cção do  Jardim  Botânico  e  do  laboratório  de  chimica.  tornando  se  um 
vulto  im[ioitante  na  corte. 

Km  premio  dos  bons  serviços  (]ue  [iicstou  foi  agraciado  corn  o 
giMii  de  Fiilalgo  Ga[)ellão  da  ca.Na  im[)erial. 

Possuindo  uma  es[»len(lida  bibliolheca  que  deixara  na  Horta  e  não 
tencionando  a(jui  voltar  mandou-a  ir  para  o  Rio  de  Janeiro,  a  qual,  po- 
rem, se  perdeu  no  naufrágio  da  eud>arcação  tpie  para  alli  a  conduzia. 

Ghegaram  até  nós  diver.sos  Iraltalhos  [>oliticos  e  litterarios  do  dr 
Vieira  (ioidart,  e  d'estes  idtimo>  alguns  fuauí  reimpressos  no  1."  an- 
uo do  "Giemio  Litterario». 

Vinda  assim,  na  nossa  hiuiiilde  opiniãd.  [losstiia  uuiito  niai>  e.^lro 
o  >eu  patricio  João  Pereii*a  de  la  Cerda,  endtora  não  revelasse  a  grau- 
dii  1'npia  de  coiiheeinientnv  (jne  dexl.'  logo  saltam  á  vista  nas  compo 


ARCinVO  DOS  AÇORES  Ii37 

sições  (lo  laureado  doutor  Vieira  Goulart,  um  erudito,  uu»  sábio. 

Fallfceu  tão  distincto  fayalense,  ainda  no  Rio  de  Janeiro,  no  an- 
fio  de  1830,  n.1  posse  de  subidos  cargos  que  desempenhou  sempre 
com  illibada  honra  e  acerto. 

Foi  dedicado  amisfo  do  Sr.  D.  Pedro  I.". 


O  P.'  JOSÉ  LEAL  FURTADO.  —  Nasceu  este  illustradissi- 
nio  e  talentoso  sacerdote  na  freguezia  da  Praynha  do  Norte,  no  Conce- 
lho de  São  Roíjue  da  ilha  do  Pico,  no  anno  de  1750. 

Foram  seus  progenitores  o  alferes  de  ordenanças  .loão  Quaresma 
e  sua  coiísorte  D.  Jacintha  Roza,  gente  abastada  e  da  principal  da  ilha. 

Depois  de  haver  cursado  com  distincção  os  necessários  estudos, 
mostrando  rara  propensão  para  a  musica  e  poesia,  ordenou-se  aquel- 
le  talentoso  picoense,  conseguindo  ser  provido  como  beneficiado  na  Ma- 
triz da  Horta,  cargo  que  exerceu  com  muita  dignidade  e  diligencia. 

Alem  d'isto  era  cavalheiro  de  fino  trato  e  delicadíssimas  manei- 
ras, sendo  muito  estimado  da  sociedade  elegante  da  Horta  e  frequen- 
tando as  primeiras  casas  d'esta  localidade,  aomJe  sempre  foi  recebido 
com  consideração. 

Durante  a  estada  no  Faval  do  Bispo  D.  .losé  Pegado,  teve  este 
Prelado,  que  lambem  era  excellente  ínusico,  occasião  de  ouvir  cantar, 
em  diversas  festividades  religiosas,  o  padre  beneficiado  José  Leal  Fur- 
tadi),  causando-lhe  viva  sensação  a  mestria  da  sua  execução  e  explen- 
dida  voz,  a  ponto  de  instar  muito  para  que  elle  o  acompanhasse  para 
a  Sé  d'Angra,  aonde  lhe  arranjaria  boa  collocação. 

Escusou-se,  porem,  muito  respeitosamente  o  Padre  beneficiado  e 
continuou  aqui  a  viver  junto  da  sua  familia. 

Por  vezes  apossava- se  tanto  das  partes  musicaes  que  desempenha- 
va, comt)  cantor,  na  liturgia  da  egreja,  que  ficava  extremamente  com- 
movido  e  nervoso. 

Conta-se,  a  este  respeito,  que  no  enterro  de  uma  formosíssima 
donzella  da  Horta,  filha  de  uma  casa  que  elle  muito  frequentava,  ti- 
nha de  cantar  um  solo,  o  Di«'s  irae. 

Do  coreto  do  órgão,  aonde  se  achava,  o  P.*"  Leal  via,  no  corpo  da 
egreja,  sobre  a  elevada  eça,  toda  cercada  de  lumes,  aijuella  mimosa 
i-reança  a  quem  tinha  sincero  e  desinteressado  aftécto,  aquelle  angé- 
lico rosto  que  a  morte  beijara  tão  prematuramente,  a  capella  florida 
que  lhe  cercava  a  fronte,  o  veu  (|ue  devia  ser  do  noivado  e  que,  tão 
cedo,  volvido  tora  em  triste  mortalha  ! 

O  Padre  debruçado  sobre  a  balaustrada  do  coreto,  com  o  rosto  eu 
tre  as  mãos,  esteve  muito  tenqjo  de  olhos  fitos  n'aquelle  compungen- 
te  espectacuh»,  parecendo  in('onsciente  de  quanto  em  seu  redor  se  pas- 
sava. 

Chegou,  porem,  a  occasião  de  elle  evocar  a  misericórdia  do  AI- 

N.«  i6  — Vol.  VHI  -  1886.  8 


338  ARGHIVO  DOS  AÇOhES 

tissinio  para  essa  pudibunda  flor  que  se  desprendera  saudosamente  da 
vida,  o  Padre  ergueu  se  então  inspirado  nos  resplendores  do  seu  por- 
tentoso talento  e  com  voz  commovida  e  replecta  de  sentimento  profe- 
rio  as  primeiras  notas  do  lúgubre  canto. 

O  numeroso  e  selecto  concurso  que  assistia  aos  funeraes,  em  bre- 
ve senlio  que  semelhantes  palavras  lhe  entravam  nalma,  tinham  o  quer 
que  fosse  de  extraoidinario,  communicavam  a  todos  a  melancolia  e  o 
sentir  do  levita  que  as  cantava,  e  tudo  se  quedou  allentamente,  para 
nielhor  as  escutar. 

Quando  o  cantor,  terminada  a  dolorosa  invocação,  abaixou  o  pa- 
pel de  musica,  tinha  o  rosto  sulcado  de  lagrimas. 

Não  estivera  aili,  a  sua  alma  de  artista,  nas  azas  da  fé,  havia  su- 
bido muito  alem  dos  paramos  da  terra. 

Aquella  naturesa  essencialmente  imprtssionavel  devia-llie  ser  fa- 
tal, porquanto  o  génio  nem  sempre  poupa  os  seus  eleitos  e,  não  raro, 
os  consome  na  sua  própria  chamma. 

O  P.^  José  Leal  Furtado  soffreu  um  primeiro  ataque  de  alienação 
mental,  no  começo  do  (]ual,  ainda  assim,  compôz  deliciosas  poesias,  a- 
té  que  em  breves  dias  tornou-se  furioso,  sendo  preciso  vestir-lhe  uma 
camisa  de  força  e  conserval-o  preso. 

Aquelle  espirito,  até  alli  tão  lúcido,  apagara  se  no  seio  d  um  tem- 
poral medonho  de  idéas,  tão  revoltas  e  encontradas  como  as  vagas  do 
oceano,  á  beira  do  qual  vivia,  quando  acossadas  por  forte  ventania. 

Permaneceu  assim  dois  mezes,  até  que  a  naturesa  por  um  esfor- 
ço supremo,  o  restituio  ao  uso  da  rasão  e  aos  seus  queridos  estudos 
lilterarios. 

A(juelle  anómalo  estado  ficou,  porem,  dalli  em  diante,  repelindo- 
se  lhe  em  determinados  períodos  e  conhecia  o  próprio  enfenno,  pri- 
meiro do  que  ninguém  a  sua  appro.ximação,  dispondo  os  seus  negoci(ts 
para  o  tempo  que  durasse  tão  terrível  doença. 

Uma  vez,  já  não  andando  bom,  foi  occultar  o  seu  relógio  e  cadeia 
d'oiro,  diversos  anneis  e  alguns  outros  objectos  de  valor,  em  casa  da 
distincta  família  Arriaga,  enterrando  os,  sem  que  alguém  desse  por  is- 
so, debaixo  da  soleta  de  uma  porta  da  rua. 

Quando,  passados  tempos,  recuperou  a  rasão,  conservava  ainda 
a  reminiscência  do  que  havia  feito,  e  foi  elle  próprio,  acompanhado 
dum  trabalhador  descobrir  o  escondrijo  do  seu  thesouro. 

Occorreu,  assaz  trágica,  a  sua  morte  em  1816,  contando  então 
sessenta  e  seis  annos  de  edade. 

Estava,  ao  que  parecia,  já  em  convalescença  d'um  dos  seus  ac 
cessos  de  loucura,  retido  ainda  em  logar  seguro  e  entregue  á  vigilan 
cia  de  um  soldado  da  (lompanhia  de  Artilht  ria.  chamado  Raphael,  ho- 
mem valente  e  ao  qual  o  Padre  Leal,  ainda  mesmo  nas  maiores  fúrias, 
temia  d'alguma  s(»rle. 

O  infeliz  sacerdote  havia  sido  sangrado  poucas  horas  antes,  con- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  339 

servaudo  no  braço  a  necessaiia  ligiidura  e  o  R;ipliapl  a  espaços  vinlia 
espreitar  o  sen  estado  e  se  vdcifeiava  ainda. 

Disse  lhe  então  o  enfermo  com  a  nuiior  serenidade: 

—  Para  que  te  andas  a  inconiuiodar  tanto,  homem?.,  julgas  que 
eu  ainda  estou  doido  ?. ..  isso  já  passou,  já  lá  vae  e  sinto-me  perfeita- 
mente. 

— Ora  até  que  graças  a  Deus,  lá  que  o  Sr.  padre  beneficiado  es- 
tá bom,  vejo  eu,  mas  é  que  a  gente  sempie  tem  receios  . . . 

—  É  louvável  es<e  leu  cuidado,  isso  é,  olha,  se  eu  estivesse  doi 
do,  com  esta  ligadura  no  braço,  vocês  não  me  deviam,  deixar  sosinho, 
pois  que  eu  podia  desamarral-a,  embrulhai  a  no  pescoço  e  estrangu- 
lar-me.  pois  não  é  assim? 

—  Nunca  me  linha  passado  isso  pela  idéa. 

—  É  para  (jue  saibas  que  os  doidos  tem  muitas  apanhadeiras, 
para  outra  véz  é  preciso  mais  sentido,  amigo  Raphael,  a  vocês  não 
quererem  que  eu  morra. 

—  Deus  nos  livre  de  taes  pressas. 

—  Obrigado,  nunca  me  esquecerei  da  lua  dedicação,  sempre  te- 
nho um  somno . . . 

—  Pois  é  o  Sr.  padre  dormir  agora  um  pedaço,  que  isso  faz  ben» 
e  se  precisar  de  alguma  coisa,  chame  por  mim,  estou  daqui  próxi- 
mo. Até  logo. 

-—Até  logo. 

Quando  d  ahi  a  uma  meia  hora  o  soldado  voltou  ao  aposento  do 
seu  doente,  o  P.*^  José  Leal  estava  agoaisante,  havendo  feito  com  a  li- 
gadura da  sangria  e.xactamente  o  que  mencionara  ao  seu  guarda,  pon- 
do poi'  esta  sorte  um  horrivel  termo  á  sua  existência. 
Desgraçado! 

Os  manuscriptos,  ainda  que  em  pe(pieno  numero,  que  do  P.'"  José 
Leal  Furtado  ainda  subsistem,  são  compostos  num  estylo  elegante, 
parecendo  aferidos  pelo  gosto  de  uma  escola  muito  mais  moderna  do 
que  a  da  ep(jcha  em  que  viveu. 

(jlaremos  aqui,  excepcional  e  designadamente,  a  seguinte  deci- 
ma, na  qual  o  distinclo  poeta  bem  demonstra  a  magna  que  lhe  causa- 
va a  sua  desventurada  condição: 

Eu  conheço,  a  minha  mente 
E'  como  imi  mar  agitado. 
E'  navio  naufragado 
N'alguma  rocha  inclemente. 
Ai  I . .  triste  de  quem  se  sente 
Em  tamanha  desventura, 
No  caminho  da  amargura 
Só  findará  seu  tormento. 
Ao  cahir  com  passo  lento 
Na  gelada  sepultura. 


340  AKCHIVO  BOS  AÇOBES 

Herdaram,  se  não  os  dotes  da  poesia,  ao  menos  o  talento  musico 
do  Padre  José  Leal  Furtado,  alguns  dos  seus  parentes  que,  na  subli- 
me arte  de  Verdi  se  tem  tornado  distinctos  no  Fayal,  entre  os  quaes 
o  respeitável  e  bemquisto  mestre  da  capella  da  Matriz,  o  Sr.  João  Jo- 
sé Furtado,  seu  sobrinho,  hoje  em  avançada  edade  e  um  filho  deste, 
o  Sr.  José  Cândido  de  Bettencourt  Furtado,  que  d"esta  ilha  foi  recen- 
temente para  os  Estados  Unidos  da  America,  como  organista  de  uma 
egreja  catholica  e  professor  de  piano. 


FR.  ANTÓNIO  LEAL.  —  Pertenceu  ao  convento  dos  Carme- 
litas, aonde  exercia  a  dignidade  de  Mesire  e  foi  contemporâneo  do  sa- 
cerdote de  que  acabamos  de  tratar. 

Embora  possuidor  de  vasta  erudição  e  dado  ás  letras,  era  um 
medíocre  poeta.  No  que  se  tornou  verdadeiramente  notável  foi  em  tra- 
balhos de  caligraphia,  como  magnificf)  copista,  do  que  existem  ainda 
diversas  provas  nos  livros  de  escripturação  do  seu  e.xtincto  mosteiro, 
os  quaes  hoje  são  propriedade  do  Estado. 

Muitas  vezes,  pela  identidade  de  um  dos  nomes,  lemos  ouvido 
confundir  estes  dois  homens  de  letras. 

É  um  erro  crasso. 

Entre  os  dois  havia  dis>táncia  immensa  nas  scintillações  do  talento 
e  maior  diíTerença,  se  é  pnssivel.  do  que  da  noite  ao  dia. 


D.  FRANCISCA  CORDELIA  TELLES.  — Nasceu  esta  dis- 
tincta  fayalense  na  villa  da  Horta  e  no  anno  de  1775, 

Era  filha  do  notável  dr.  Manuel  Ignacio  de  Souza  Sarmento,  do 
qual  já  antecedentemente  tratamos  e  de  sua  esposa  D.  Luiza  de  Sou- 
za, dama  de  peregrina  formosura  e  esmerada  educação. 

D.  Francisca  Cordelia  Telles  foi  uma  das  mais  ricas,  senão  a 
primeira,  herdeira  fayalense,  por  quanto  o  sacerdote  João  José  de  Sou- 
za, seu  tio,  e  sócio  da  importantíssima  casa  commercial  do  dr.  Souza, 
pela  sua  prematura  morte  lhe  deixou  abundosa  fortuna,  isto  alem  da 
legitima  que  viria  a  ter  dos  seus  abastados  pães. 

Convém  aqui  mencionar  que  este  afidalgado  padre  João  José  de 
Souza,  obtivera  de  Roma  uma  licença  para  poder  commerciar,  fazendo 
no  Fayal  uma  grande  casa  que  possuia  diversos  navios. 

O  seu  negocio,  de  exportação  de  vinhos,  era  de  grosso  traio  e 
ajuntou  grandes  capitães. 

A  sobrinha  D.  Francisca,  sua  predilecta,  casou  ainda  nova,  C(jm 
o  coronel  de  milícias, commandante  do  respectivo  regimento  doesta  ilha. 
Estacio  Machado  dl'tra  Telles,  oriundo  da  Terceira  e  descendente  dos 
primeiros  povoadores  da  ilha  do  Fayal.  isto  é,  da  familia  do  donalario 
Jobs  Vau  Huerter,  natural  de  Flandres. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  341 

A  famili;»  tio  coronel  Eslacio  Machado  tratou  se  por  íniiitos  aniius, 
ua  Horta,  com  grande  luxo  e  representação,  habitando  nma  vasta  ca- 
sa na  rua  de  São  Francisco,  na  qual  se  davam  sumptuosos  bailes  e 
banquetes. 

Morava,  mesmo  defronte  da  caza  do  coronel,  um  seu  irnuuj  cha- 
mado Agostinho  Telles,  que  leve  a  desgraça  de  endoidecer,  manifestan- 
do-se  a  sua  loucura  por  grande  fausto  na  maneira  de  trajar,  usando 
ao  mesmo  tempo  três  e  quatro  relógios  de  oiro  e  collocando  fitas  de 
cores  vistosas  e  custosos  galões  nos  calções,  collete  e  casaca.  Apesar 
disto  andava  pelas  portas  a  pedir  esmola,  sem  que  tivesse  a  minima 
necessidade. 

Tratava  a  todos  muito  cortezuiente  e  quando,  nas  casas  aonde  ia 
pedir,  para  satisfazerem  aos  seus  desejos,  lhe  davam  algum  pedaço  de 
pão,  ficava  muito  contente  e  ia  leval-o  ás  suas  gallinhas,  de  que  tinha 
farta  criação. 

Por  morte  de  Estacio  Machado  d"Ulra  Telles  e  pela  má  sina  que 
tem  presidido,  invariavelmente,  aos  destinos  das  antigas  e  mais  [)re- 
ponderanles  famílias  da  Hijrta,  a  casa  do  coronel,  como  aqui  era  co- 
nhecido, veio  a  cahir  em  relativa  pobresa. 

D.  Francisca  Cordelia  Telles  sobreviveu  por  muitos  annos  ao  ma- 
rido e  se  lhe  vieram  a  escassear  os  bens  da  fortuna,  nunca  desmen- 
tio  os  dotes  do  seu  brilhante  talento  e  não  vulgar  illiístração. 

Foi  uma  poetisa  muito  distincta,e,  conhecedora  de  varias  línguas, 
fazendo  apreciáveis  traduções,  das  obras  que  mais  chamavam  a  alten- 
ção  publica  n"aquella  epocha. 

Gomo  seu  pae,  o  dr.  Sousa,  dedicou  uma  grande  parte  da  sua  vi- 
da ao  estudo  e  a  composições  artísticas,  numa  das  suas  mais  bellas 
demonstrações  —  a  poesia. 

O  talento  n'esta  familia  parece  hereditário,  como  teremos  ainda 
occasião  de  demonstrar. 

A  casa  do  coronel  Estacio  Machado,  na  rua  de  São  Francisco  e  no 
seio  desta  cidade  está  hoje  reduzida  a  umas  minas,  requeimadas  por 
pavoroso  incêndio  quando,  já  de  ha  nuiito  havendo  passado  a  estranhos, 
alli  morava  em   1874  o  Sr.  Roberto  Augusto  de  Mes(juita  Henriques. 

E,  coinciílencia  notável,  também  a  esplendida  casa  do  Pilar,  que 
pela  sua  elevada  posição  logo  dá  nas  vistas  de  quem  aporta  á  bahia 
da  Horta,  actualmente,  como  aquella,  só  se  torna  notável  pelas  suas 
ruinas. 

As  habitações  do  pae  e  filha  tiveram  um  egual  destino,  sobrena- 
dando só  á  acção  do  tempo  e  do  fogo  a  lendjrança  d'aquelles  dois  bei- 
jos talentos  que  ennobreceram  a  sua  pátria. 

Na  familia  de  U.  Francisca  Cordelia  Telles,  ainda  aqui  existente, 
devem  ser  conservadas  algumas  das  suas  composições  poéticas  e  um 
bom  serviço  seria  ás  letias  açorianas  a  publicação  das  mesmas. 

Nohlessc  ohlígi'. 


342  ARCHIVO  DOS  AÇORES 


O  PADRE  CAMÕES.  —  Pelos  aniios  de  1760  a  1770,  na  ilha 

(l;is  Flores  e  na  siui  agreste  c  hurnilde  fregnezia  da  Fajanzinha,  exis- 
lia  um  rapasiiilio,  engeilado,  o  <iu;d  recebera  na  pia  baptismal  o  nome 
de  José. 

Era  esperto  e  atilado,  mostraii(]o  desde  verdes  annos  rara  propen- 
são para  as  leiras,  aprendendo  com  muita  lacilidade  o  pouco  que  alli 
lhe  podiauí  ensinar  e  desde  que  conseguio  ler,  mais  ou  menos  corre 
ctainente,  devorandit  (pianto  livro  lhe  vinha  ás  mãos,  de  cuja  aturada 
leitura  logrou,  em  precoce  edade  senão  >olidos,  ao  menos  bem  varia- 
dos conhecimentos. 

Era  uma  verdadeira  lucla  aquelle  seu  viver,  tanto  mais  que  es 
tando  por  termo  em  casa  de  lavradores,  pouco  ensejo  tinha  de  appli- 
car  se,  visto  ipie  o  cuidar  das  vaccas  e  ajudar  os  trabalíios  tio  malto 
e  cerrados,  quasi  lhe  tomavam  as  horas  todas. 

Ftdizmenle  a  gente  campesina,  devido  ás  continuadas  fadigas,  dei- 
ta-se  cedo,  e,  emquanto  os  seus  patrões  dormiam,  quando  a  Pintada 
e  a  Trigueira  já  tinham  bastante  pasto  na  mangedoura  e  que  a  noite 
mais  fechava  o  ^itu  escuro  manto  por  sobre  serras  e  vallados,  o  peipie- 
no  engeitado,  ás  occultas,  no  canto  de  um  sótão  aonde  dormia,  accen- 
dia,  ainèdo,  uma  ordinária  candeia  e  lia,  lia  niuilo,  estudando  por  ve 
zes  até  ver  raiar  a  madrugada  seguinte. 

No  outro  dia  estava  que  não  [)reslava  para  nada,  maxime  no  a- 
manho  das  terras,  o  lavrador  zangava-se,  os  rapazes  seus  companhei- 
ros escarneciam  de  semelhante  fraqueza  e  pouca  actividade,  levava  por 
vezes  o  seu  murro  para  ser  mais  diligente  e  era  crença  acceita  na  fre- 
guezia  que  o  pe-queno  andava  enfeitiçado,  ou  que  as  bruxas  se  lhe  ha- 
viajn  mettido  no  corpo. 

Chegaram  a  benzel-o. 

Nem  podia  ler  outra  explicação  aipjelle  facto,  o  ra[iaz  tinha  conji- 
da  em  abinidancia,  Deus  louvado,  leite  e  bolo  de  milho  quanto  qiiizes- 
se,  trabalho  lambem  em  abundância  pira  enrijar  os  ossos,  e  em  vez 
de  andar  sadio  e  alegre  e  de  boas  cores  era  i)  que  .se  via,  um  enfe- 
sado. 

Ainda  assim  não  desgastavam  d  elle,  por  quanto  o  rapazinho  não 
eia  respondente,  nem  á  medida  das  suas  forças  se  negava  ao  traba- 
lho, tratando  com  desvelarlo  carinho  aos  animaes.  ijue  jamais  queria 
que  passassem  fome  ou  sede. 

N"e.ssa  parte  o  lavrador  chegavi  a  elogiai  o,  fosse  a  que  horas 
do  dia  ou  da  noite  fosse,  o  gado  andava  sempre  bem  tratado,  limpo, 
conforme  a  estação  com  pasto  secco,  ou  folha  verde,  bem  picada  na 
mangedoura.  as  horas  de  lhe  dar  agua  guardadas  com  toda  a  regu- 
laridade e  as  imidanças  d  um  para  outro  cerrado,  quando  a  herva 
em  qualquer  sitio  ia  escasseando,  etíeituada  C()m  a  mais  atlenta  vigi 
lancia. 


ARCHlVO  DOS  AÇOhES  343 

Por  isso  o  gfido  do  lavrador  não  liiilia  oiiíro  que  se  lhe  compa- 
rasse em  Ioda  a  fregiiezia,  as  vaccas  andavam  nédias  e  luzidias  e  da- 
vam leite  que  era  imi  espanto. 

E  nem  era  preciso  espicaçar  os  animaes  para  trabalharem,  o  Jo- 
sé indo  C(im  elles,  fazia  das  rezes  quanto  qnei'ia,  conÍR-ciam-no  ás  le- 
goas. 

Mais  tarde,  p(jr  morte  do  laviador,  seu  primeiro  |»atrão,  ou  por 
qualquer  outra  circumslancia,  que  ignoramos,  vamos  encontrar  o  en- 
geitado  José  em  outro  sitio,  na  freguezia  de  Ponta  Delgada,  em  caza 
de  uma  familia  que  tinha  um  filho  que  estudava  [)ara  clérigo. 

O  génio  meigo  do  engeitado  acompaiihara  o  para  a  sua  nova  re- 
sidência, travando-se  de  intimas  relações  com  o  estudante  (pie  alli 
havia,  sendo  o  sen  companheiro  de  estudos  e  dedicando  mais  folgadas 
horas  ao  trato  dos  livros,  do  que  até  alli  linha  podido  C(jn>agrai'. 

O  latim,  esse  pesado  rochedo  de  Syzypho.  maxime  naquella  epo- 
cha,  não  leve,  em  breve  tempo,  grandes  mysterios  para  o  seu  ()orfiado 
trabalho,  tornando  se-lhe  uma  estrada  Coimbrã, para  uiais  l.irgos  liori- 
sonles  lilterarios. 

Quando  o  seu  amigo  e  companheiro  d  eslmkts  teve  de  ir  para 
Angra  cursar  aulas  superiores  e  necessárias  para  a  sua  ordenação, 
conseguio  lambem  o  engeitado  acompanlial-o.  realisando  assim  um  so- 
nho que  ainda  lhe  parecia  irrealisavel,  a  não  ser  a  protecção  que  lhe 
dispensavam. 

Foi  a  piimeira  vez  que  careceu  d  um  sobrenome  com  que  se  a- 
presentasse  em  terra  estranha  e  consequentemente  assignou-se  José 
António  Camões,  por  ser  este  o  appellido  que  mais  venerava,  como  o 
do  cantor  das  nossas  glorias  pátrias,  dos  Luziada^;,  cujas  est;uicias  sa- 
bia de  cór  e  salteadas. 

Na  ilha  Terceii'a  logrou  ca[>tar  a  decidida  protecção  do  convento 
dos  franciscauiís,  aonde  se  albergara  e  seja  aqui  dit(t,  em  louvor  das 
ordens  religiosas,  que  os  sentimentos  de  generosidade  para  quem  nas 
suas  aulas  queria  estudar,  eram  grandes  e  desinteressados,  não  raro 
mandando  aié  para  Coimbra  e  Lisboa  os  estudantes  nos  quaes  reco- 
nheciam notável  vocação  para  as  leiras,  a  frequentar  estudos  duma 
esphera  superior  áquelles  que  nas  ilhas  lhes  podiam  ministrar,  de  que 
resultou  por  vezes  terem  no  seu  grémio  varões  insignes  em  diíTereu 
tes  ramos  dos  conhecimentos  humanos. 

Embora  José  António  Camões  não  chegasse  a  saliir  deste  archi- 
pelago,  ainda  a^sim  não  lhe  era  ingrata  a  foiluna  na  carreira  que  a- 
doplara,  lornando-se  um  estudante  distinclissimo  e  tomatido  orilens 
sacras,  com  geral  louvoi ,  de  quantos  conheciam  o  s(ni  taleido  e  dedi- 
cação ao  e^tudo. 

Ordenou-se  cniijunctamenle  com  o  seu  companheiro  Manuel  Fer- 
nandes de  Baicellos,  regressando  ambos  em  seguida  para  a  ilha  das 
Flores  e  tratando-se  por  irmãos,  do  que  resultou,  peli»  tempo  adiante, 


3i4  ARCHIVO   DOS  AÇORES 

iniiit;)  gente  acredil.ir  nesta  fonsangainidade,  quando  nâo  havia  nenhu- 
ma, mas  simplesmente  uma  velha  amisade. 

O  Padre  Manoel  Fernandes  de  Barcell;)s  foi  em  breve  nomeado  Vi- 
gário da  fregnezia  de  Ponta  Delgada  e  o  Padre  Camões,  vivendo  da 
sua  missa,  abrio  em  Santa  Cruz  uma  aula  de  latim,  para  rapazes  que 
([uizessem  seguir  a  vida  ecciesiastica,  mas  aula  gratuita,  da  qual  sahi- 
ram  magnificos  discipulos,  a  ponto  de  muitos  estudantes  da  ilha  do 
KayaK  em  logar  de  seguirem  para  Angra  irem  aprender  para  as  Flo- 
res, aonde  se  vivia,  relativamente,  com  menos  dispêndio  do  que  na  ca- 
l)ital  dos  Açores. 

O  liomem  que  fora  educado  por  esmola,  esmolava  também  agora, 
e  largamente,  aos  famintos  da  instrucção. 

Klellíoraram  em  breve,  consideravelmente,  os  meios  pecuniários 
do  Padre  Camões,  com  a  sua  nomeação  de  Vice-Vigario  da  fregnezia 
de  Ponta  Delgada,  de  Prioste,  ou  Recebedor  das  rendas  das  egrejas 
e  afinal  de  Ouvidor  das  ilhas  das  Flores  e  Corvo,  justo  galardão  dos 
seus  meritoi  e  serviços. 

Assim  viveu  por  dilatados  annos  e  embora  tivesse  rasoaveis  ren- 
dimentos, nnnca  coalhou  vintém,  como  geralmente  dizemos. 

O  motivo  disto  era  o  seu  génio  bemfasejo  e  desprendido  comple- 
tamente de  ambições,  exercendo  a  sublime  virtude  da  caridade  a  mãos 
largas  e  concorrendo  diariamente  a  pobresa  d;i  localidade  em  que  vi- 
via a  partilhar  de  quanto  o  bom  Padre  Camões  possuia. 

A  única  coisa  que  elle  não  deixava  levar  eram  os  seus  livros,  pos-^ 
suindo  uma  esplendida  bibliotheca,  que  gradualmente  engrossava  e  es- 
tando, ijuanto  possivel,  ao  corrente  das  publicações  do  continente.  Ain- 
da hoje,  na  ilha  das  Flores  existe  grande  copia  de  volumes  com  o  no- 
me do  P."  Camões  no  frontispicio. 

Era  a  única  riquesa  de  que  foi  avaro,  em  tpianto  existio. 

Ora  um  sacerdote  nestas  condições  e  com  grande  aura,  faz  som- 
bra a  espíritos  mais  acanhados  e  nem  sempre  é  olhado  com  bons  olhos, 
até,  itífelizmente,  pelos  seus  próprios  collegas. 

Seria  isto  o  qun  aconteceu? 

Os  precedentes  do  ouvidor  ecclesiastico  parece  deverem  abonar, 
sobejamente  o  seu  caracter. 

Fosse,  porem,  como  fosse,  houveram  sete  padre.i  llorenlinos  que 
>e  travaram  de  questões  cou3  o  P."  Camões  e  aquelle  espirito  até  alli 
dócil  e  an)(travel,  azedou-se  e  relribuio-lhcs  oITensa  por  otTensa. 

Ninguém  é  perfeito. 

A  intriga  chegou  a  [)onto  ipie,  com  grande  consternação  do  P.^ 
CauiÕes,  foi-lhe  superiormente,  retirada  a  Ouvidoria. 

Kstava  então  velho,  rançado,  pobre  e  vivia  completamente  só. 

Escreveu  n'essa  epocha,  despeitado  pelo  procedimeiílo  com  elle 
havido: 

«Os  l*ecciiiíos  ilortafs»    -  Dialnt/n  ftiin'  um  uiarnio  v  sun  mulher. 


I 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  345 

no  qual  frizom  uma  justa  paridade  dos  sele  peccados  mortaes  com  os  sete 
clérigos  que  não  querem  para  ouvidor  ecclesiastico  d' estas  duas  ilhas 
Flores  e  Corro  ao  Padr<>  José  Antoino  Camões.-» 

A  ediçTio,  (jiie  temos  presente  (l'esl;i  composição  é  um  folheto  em 
8.",  contendo  15  paginas,  inipresso  em  Lisboa,  sem  designação  da  ty- 
pograpliia  e  com  a  data  de  1883  e  o  sen  conteúdo  uma  pungente  sa- 
tyra,  ou  para  melhor  dizer,  uma  diatribe,  parte  em  prosa  e  outra  par- 
te em  verso,  pondo  pelas  ruas  da  amargura  os  seus  inimigos,  com  a 
indicação  dos  respectivos  nomes,  á  laia  de  notas.  As  duas  epigraphes 
que  prrcedem  Os  Peccados  Mortaes,  são  conceituosamente  escolhidas 
de  Horácio  e  Juvenal. 

Desancou-os,  é  verdade,  mas  desceu  a  termos  tão  baixos  que 
não  permittem  indistinctamente,  a  leitura  d*aquella  satyra,  aliás  escri- 
pta  com  chiste. 

Como  a  leitura,  em  copias  manuscriptas,  dos  Peccados  Mortaes, 
causasse  grande  escândalo  na  ilha  das  Flores  deu  esta  occorrencia  en- 
sejo aos  seus  inimigos  para  se  queixarem  ao  Bispo  D.  José  Pegado, 
que  então  governava  a  diocese,  do  grande  insulto  que  acabavam  de 
soffrer. 

Pouco  tempo  depois,  o  P.''  Camões  recebia  ordem  do  seu  Prelado 
para  se  apresentar  ao  mesmo  na  ilfia  Terceira  a  fim  de  responder 
pela  impropriedade  do  seu  procedimento  e  designadamente  a  respeito 
das  inconveniências  consignadas  n'aqnelle  seu  escriplo. 

Não  logrou  justificar-se,  obrigaram-no  a  ler  elle  próprio,  em  alta 
voz,  na  presença  do  Bispo  e  dos  principaes  clérigos  d'Angra  a  malfa- 
dada satyra  que  composera,  regressando  em  seguida  para  as  Flores, 
desautorado  como  antecedentemente. 

Os  desgostos  e  a  doença  começaram  então  a  animar  aquella 
existência,  e.  apesar  de  tudo,  como  o  seu  enlevo  eram  as  letras,  para 
desenfado  das  suas  horas  tristes,  converteu  de  novo  a  sua  penna  em 
látego  sem  piedade  para  zuizw  os  seus  detractores,  ou  as  pessoas  a 
quem  não  era  affecto. 

D'esta  vèz  foi  autlior  d'uma  obra  de  mais  fôlego. 

Eis  o  frontispício  dum  exemplar  que  da  mesma  podemos  obter: 

«  O  Testamento  de  D  Burro,  pai  dos  asnos.  Obra  de  grande  diver- 
timento; Nova  Edição.  Copiado  por  um  florentino.  —  Boston:  Typ.  de 
Dakin  e  Metcalf.  Cornhill  n."  87.   1865. 

Esta  extensa  satyra  pode,  a  nosso  ver,  conferir  ao  Padre  Camões 
os  foros  de  um  original  e  muito  chistoso  poeta,  tendo  excellentes  ver- 
sos e  tiradas  explt^udidas,  no  seu  género. 

Eiicontram-se  alli  alguns  trechos  que,  como  os  do  Hyssope  de  An- 
tónio Diniz  da  Cruz  e  Silva  ficam-nos  logo  no  pensamento,  e  poucos 
leitores  do  Testamento  esquecerão,  por  exemplo  a(]uella  passagem  em 
(pie  o  Grão-Jumento,  f;izendo  as  suas  ultimas  disposições  contempla 
lambem  o  Padre  Thesoureiro  ao  qual  manda  que  dêem: 

IS.o  i6_Yoi,  VIU  -I88G.  9 


346  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

«O  meu  couro  p'ra  rhamaira  que  não  tem 
«Pois  se  hade  comprar  basta  em  loje 
«Faça  uma  côr  de  burro  quando  foge! 

N'aquelle  documento  são  lembrados- numerosos  llorcnlinos,  muitos 
dos  quaes  da  gente  mais  graúda  da  ilha  e  mesmo  para  quem  não  che- 
gou a  conhecer  esses  indivíduos,  o  riso  é  irresistível  em  algumas  pas- 
sagens. 

Semelhante  escripto,  porem,  como  Os  Peccados  Mortaes,  pecca  pe- 
la licenciosidade  de  algumas  phrases. 

Nesta  edição  de  Boston,  em  8.°,  contendo  38  paginas  numeradas, 
vem  em  seguida  nma  declaração  do  ty[»ographo,  que  era  um  ílorenti- 
no  residente  nos  Estados-UnidíJS,  na  ipial  pede  desculpa  aos  leitores 
dos  erros  e  falta  de  virgulação  que  na  mesma  se  encontra. 

Effectivamente,  ha  alli  muitos  versos  estropiados,  rimas  trocadas 
e  pontuação  mal  distribuída,  embora  a  impressão  esteja  nilida.  em 
bom  papel  e  o  typographo  deseje  fazer  um  serviço  á  sua  pátria,  divul- 
gando o  apreciável  trabalho  dum  seu  conterrâneo. 

Salve-o  esta  bôa  intenção. 

Depois  de  concluído  o  celebre  Testamento,  o  Padre  Camões  foi 
sempre  em  decadência  e  até  chegou  a  passar  fome. 

Conta-se  que  uma  vez  estando  elle  enfermo  e  de  cama,  foram-no 
visitar  alguns  dos  seus  palricios,  e  como  vissem  o  padre  estar  a  met- 
ter  dentro  d'uma  tigella  vasia  um  quarto  de  pão  que  tinha  na  dextra 
e  depois  a  mastigal-o,  perguntaram-lhe  o  que  queria  aquillo  dizer,  não 
o  julgando  já  muito  seguro  nas  suas  faculdades  inlellecliiaes. 

—  Isto  é  para  enganar  este  canto  de  pão  e  elle  dei.var-se  engulir 
com  mais  facilidade,  que  emquanto  a  mim  bem  sei  que  é  sècco  e  bem 
reles. 

Consta  por  tradição,  na  ilha  das  Flores,  que  por  occasião  da  ida 
do  Padre  Camões  á  Terceira,  fora  hospedado  na  nobre  casa  da  fami 
lia  Bruges,  e  que  desgostoso  da  celeuma  que  perante  o  Bispo  haviam 
causado  Os  Peccndos  Mortaes  alli  abandonara  alguns  outros  manuscri- 
ptos  de  que  era  author. 

Não  sabemos,  até  que  ponto,  é  isto  exacto,  mas  um  bom  serviço 
seria  ás  letras  açorianas  a  sua  publicação,  se  acaso  existem. 

O  Padre  José  x\ntonio  Camões  morreu  muito  pobre,  quasi  na  mi- 
séria, no  decurso  do  anuo  de  1825. 

Na  Villa  de  Santa  Crnz,  das  Flores,  ainda  actualmente  (1886)  exis- 
te, já  octogenário,  um  dos  seus  mais  dilectos  discipuhts,  o  Sr.  Domin- 
gos de  Ramos,  natural  de  Ponta  Delgada  da  mesma  illia,  cavalheiro 
(jue  pela  sua  seriedade  de  caracter  e  abundosos  haveres,  lem  na  sua 
[latria  exercido  inii)ortnntes  cargos  públicos. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  347 

A  este  respeitável  ancião  devemus  algumas  informações  (jiie  figu- 
ram n"esla  noticia  concernente  ao  seu  saudoso  mestre,  um  dos  maio- 
res talentos  ijue  tem  produzido  atjuella  ilha. 


D.  MARIA  LEOPOLDINA  DE  ORNELLAS.  —  Foi  dama 
dislinclissima  e  nuiito  estimada  da  sociedade  elegante  da  Horta,  aon- 
de brilhou  pelo  seu  espirito  e  esmerada  educação. 

Esta  senhora,  natural  e  descendente  de  uma  illustre  familia  da 
ilha  da  Madeira,  aonde  nasceu  no  anuo  de  1781,  veio  com  sua  irmã, 
mais  velha  cinco  aunos,  D.  Luiza  de  Ornellas,  residir  para  o  Fayal, 
logo  depois  d'esta  haver  casado  com  um  cavalheiro  desta  ilha,  Manuel 
Jacintho  Labath,  irmão  do  abastado  morgado  o  Dr.  Labath,  sendo  com 
o  decurso  do  lempu  considerada  por  muita  gente,  como  filha  d'esta 
terra. 

Por  muitos  annos  aqui  leccionou,  com  notável  aproveitamento  das 
suas  discípulas  a  lingua  ingleza,  que  lhe  era  familiar,  bem  como  ita- 
liano e  francez,  devendo-sedhe  n"esta  especialidade  valiosos  serviços, 
tanto  mais  n'uma  localidade  aonde  haviam  poucos  recursos  para  os 
estudiosos. 

D.  Maria  Leopoldina  de  Ornellas,  que  no  cultivo  tias  leiras  passou 
a  maior  parte  da  sua  vida,  foi  uma  rasoavel  poetisa  e  excellente  tradu- 
ctora  de  varias  novellas  inglezas. 

Será  injustiça  em  qualquer  livro  que  alguma  vez  se  venha  a  es- 
crever sobre  o  ensino  e  educação  do  sexo  feminino  na  Horta,  passar 
desapercebido  o  seu  nome,  por  quanto  tendo  crescido  numero  de  dis- 
cípulas, pois  que  era  então  um  preceito  da  moda,  para  as  meninas  da 
gente  abastada,  frequentar  a  aula  da  Ornellas.  conseguio  aqui  criar  um 
certo  gosto  litterario.  que  não  é  muito  trivial  em  pequenas  localidades. 

Dtí  D.  Maria  Leopoldina  d"Oruellas  conhecemos,  publicada,  ape- 
nas uma  poesia,  a  qual  se  encontra  nos  n.°'  o4  e  5o  do  «Grémio  Lil- 
terariow  e  que  dizia  respeito  a  uma  aventura  amorosa,  occorrida  nes- 
ta  ilha. 

Vinha  a  ser  o  caso: 

Uma  menina  fayalense,  de  familia  decente  e  chamada  D.  Luiza 
Amélia  de  Oliveira,  fora  seduzida  por  imi  seu  patrício,  vendo-se  obri- 
gafia  a  abandonar  o  tecto  paterno  e  a  viver  vergonhosamente  á  som- 
bra do  amante  e  duma  maneira  muito  mais  humilde  em  tratamento 
de  que  até  alli  gosara. 

D'esta  illicita  união  nasceram  duas  creanças. 

O  seductor,  afinal,  aborrecido  da  mulher  que  transviara  do  cami- 
nho da  honra,  abandonou-a  e  aos  filhos,  ficando  por  algum  tempo  re- 
duzidos a  viver  qiiasi  desinolas. 

N'estas  tristes  condições,  D.  Luiza  Auulia  d"01iveii'a.  senhora  de 
educação  culta  e  (pie  versejava  rasoavelmente,  escreveu  em  quadras 


348  ARCHIVO  DOS  AGOhES 

uma  sentida  exposição  da  sua  immerecida  desgraça,  a  qual  foi  profii- 
samenle  disiribuida  pelas  casas  da  elite  da  sociedade  Hortense,  que  a 
autliora,  anlecedeiilemenle  frequentava, 

O  excellente  pueta  Juão  Pereira  de  La  Cerda,  accudio  logo  ao  ap- 
pello  da  infeliz  mãe,  verberando,  asperamente,  n"uma  esplendida  poe- 
sia, o  procedimento  atroz  do  seduclur,  tanto  com  relação  á  mulher  que 
desgraçara,  como  aos  innocentes  fructos  d'essa  extincta  paixão. 

D.  Maria  Leopoldina  d  Ornellas,  que  fora  mestra  da  seduzida  e 
que  lhe  conhecia  a  bondade  de  caracter,  secundou  o  poeta  La  Cerda, 
com  outra  idêntica  poesia,  em  que  indicava  ao  estouvado  Lovelace  faya- 
lense  o  caminho  que  lhe  cumpria  seguir,  para  reparar  os  seus  erros. 

Esta  poesia  tem  a  data  de  W  de  Julho  de  18J2. 

D'esta  espécie  de  certame  litterario,  que  nesta  localidade  teve 
grande  voga,  levantando  a  opinião  publica  contra  o  homem  que  trahi- 
ra  um  affecto  puro  e  dedicado,  resultou  o  arrependimento  do  culpado 
e  o  casamento  do  mesmo  com  a  sua  formosa  amante. 

Foi  um  romance  que  acabou  em  bem,  á  antiga,  com  geral  satis- 
fação. 

Da  poetisa  Ornellas  existem  ainda  na  Horta  diversas  poesias  iné- 
ditas, e  nós  mesmo  algumas  conservamos  firmadas  pelo  seu  punho. 

Esta  respeitável  senhora  morreu  octogenária. 


JOÃO  JOSÉ  D'ANDRADE.  — Foi  discípulo  do  Dr.  Roque 
Taveira,  era  homem  de  erudição,  contrario  a  todos  os  commetimentos 
modernos  e  afferrado,  exclusivamente,  ao  absolutismo  e  ás  idéas  do  an- 
tigo regimen. 

Nasceu,  na  Horta,  pelos  annos  de  !786  a  1789,  filho  de  uma  re- 
mediada familia,  cujas  principaes  propriedades  eram  vinhas  na  ilha  do 
Pico. 

Destinava -se  para  a  vida  ecclesiastica,  foi  minorista,  ignorando  nós 
hoje  os  motivos  por  que  não  proseguio  na  carreira  que  encetara. 

Sérvio,  na  Horta,  pur  muitos  annos,  de  thezoureiro  da  egreja  da 
freguezia  das  Angustias,  aonde  residia  e  tanto  seu  pae,  como  um  tio 
e  um  irmão,  foram  náuticos,  capitaneando  diversos  navios  desta  pra- 
ça. 

João  José  dAndrade  era  muito  versado  em  lingoas,  especialmen- 
te em  latinidade,  sciencia  a  que  prestava  a  maior  veneração,  desejan- 
do mais  que  lhe  tirassem  um  dente  do  que  lhe  apanhassem  uma  svl- 
labada  no  idioma  de  Horácio. 

Compunha  sonetos  subordinados  á  escola  a  que  pertencia,  (|uasi 
sempre  recitados,  com  grande  cantilena,  nos  banquetes  por  occasião 
da  missa  nova  de  qualquer  padre  fayalense. 

N'estas  festas  era  de  rigor  um  soneto  arcadiano  de  João  José  d" An- 
drade, como  por  exemplo,  no  grande  jantar  por  occasião  de  celebrar 


ARGHIVO  DOS  AÇORES  349 

missa,  ptla  primeira  vez,  o  Rev.*^°  Vigário  da  Matriz,  ha  poucos  .'Hi- 
nos fallecido,  Henrique  da  Purèsa  Greaves,  sen  intimo  amitío. 

Abrio  uma  excepção  a  esta  especialidade  para  obzeqiiiar  uma  fa- 
niilia  que  muitu  presava,  apparecendo,  apesar  de  já  edoso  e  de  lia  mui- 
to não  haver  recitado  em  publico,  no  baptisado  da  primeira  filha  do 
Sr.  João  de  Bettencourt  V.  Corrêa  e  Ávila. 

Esse  soneto  foi  o  seu  canto  do  cysne. 

Deixou  também  João  José  d'Andrade  alguns  escriptos  políticos  e 
consoantes  ás  suas  idéas. 

Casou,  já  entrado  em  annos,  com  D.  Maria  Carolo,  cunhada  do 
abastado  tayalense  André  Francisco  Goulart,  administrador  do  vinculo 
de  sua  consorte  D.  Rosa  Carolo  Goulart. 

Numa  luzida  festa  litteraria,  effeituada  na  Horta,  no  anno  de  1827, 
quando,  já  formado  em  (Coimbra,  regressava  á  sua  pátria,  como  pro- 
fessor de  philosophia,  o  Dr.  António  José  dAvila  (futuro  Duque  d"A- 
vila  e  de  Bolama)  Cí^nvidou  este  a  João  José  d'Andrade  para  ser  ar- 
guente numas  the^es  que  ia  defender  um  seu  discipulo,  Fr.  Matheus 
do  Coração  de  Maria,  franciscano  e  rapaz  de  peregrino  talento. 

Apresentou-se.  pois.  Andrade,  no  capitulo  da  Ordem  3.*  do  Car- 
mo, aonde  por  vários  dias  teve  logar  esta  faltada  festa  litteraria,  ves- 
tido de  ecciesiastico,  como  minorista  que  fora,  haveudo-se  d'uma  ma- 
neira brilhante  e  revelando  profundos  conhecimentos  e  desenvolvida 
erudição. 

A  comparência,  alli,  de  damas  e  cavalheiros  doesta  localidade  foi 
grande,  presidindo  a  este  certame  o  Dr.  António  José  dAvila  e  sendo 
arguentes  os  Snrs.  João  Ignacio  de  Sousa,  Caetano  Xavier  de  Mendon- 
ça Sardinha,  major  João  Pedro  Soares  Luna  e  Dr.  Manuel  Francisco 
de  Medeiros. 

O  defensor  das  theses,  Fr.  Matheus  do  Coração  de  Maria,  era  um 
intelligentissimo  rapaz,  de  atrahente  aspecto,  natural  das  Lagens  do 
Pico  e  que  promettia  vir  a  tornar-se  um  distincío  sacerdote,  com  o 
elevado  talento  que  possuía. 

Morreu,  porem,  desastrosamente,  muito  pouco  tempo  depois,  quan- 
do, para  proseguir  nos  seus  estudos  d'aqui  ia  para  Angra  do  Heroís- 
mo. 

Ao  desembarcar,  do  navio  que  o  conduzia,  para  ura  escaler,  cahío 
ao  mar,  entre  as  duas  embarcações,  que  o  esmagaram  immediatamen- 
te. 

João  José  dAndrade  foi  o  único  discipido  do  Dr.  Roque  Taveira 
que  por  muitos  annos  andasse  sempre  com  este  em  renhida  lucta,  a 
respeito  das  suas  doutrinas,  que  condeumava  vehementemente. 

Era  um  antiquário  incorregivel  e  intransigente. 

Houve  uma  epocha  na  vida  de  João  José  dAndrade  assaz  abun- 
dosa em  questões  e  polemicas  jornalísticas  e  que  não  abona  muito  a 
fama  de  erudição  de  que  gosava,  nem  condizia  com  o  aspecto  pacato, 


350  ARCHIVO   DOS  AÇORES 

manlioso  e  fradesco  que  revestia  o  seu  alentado  vulto. 

No  proseguimenlo  d"uma  demanda  com  André  Francisco  Goulart 
fui  á  ilha  de  São  Miguel,  aonde  deseinbarcou  a  16  de  Junlio  de  1841, 
eiilab(jll;inilo  alli  relações  com  o  abastado  michaelense,  o  morgado  Frau- 
cisctj  Alí-inso  de  Chaves  e  Mello. 

Andava,  então,  bastante  accèsa  n"a<iuella  formosa  ilha  a  paixão  po- 
litica entre  cartistas  e  setembristas,  dos  primeiros  dos  quaes  era  vul- 
to proeminente  o  morgado  Francisco  AtTons«o. 

João  José  d'Andrade,  turnando-se  seu  commensal,  punlia  sensi- 
velmente á  disposição  do  mesmo  a  sua  pcnna,  escrevendo  o  que  lhe 
ordenavam  que  t-screvesse. 

Os  adversários  políticos  pozeram-lhe  então  o  alcunha  do  Papa  so- 
pas, das  quaes,  diga  se  a  verdade,  era  grande  comilão  e  (|ue  pagava 
atassalhando  os  inimigos  de  quem  lhe  punha  a  mesa. 

Os  escripto>  de  João  José  dAndrade  nos  jornaes  michaeleuses  «O 
Monitor»,  desde  fins  de  18il  até  I8i4  e  depois  no  «Cartista», são  re- 
cheados por  tal  forma  de  citações  latinas,  que  não  só  o  dão,  desde  lo- 
go a  conhecer,  mas  tornara  semelhante  leitura  quasi  impossível,  por 
tediosa. 

Travou  se  também  em  grande  polemica  com  António  Feliciano  de 
Castilho  (|ue,  então,  em  São  Miguel  redigia  o  «Agricultoi'  Michaelense.» 

N"esta  refrega  publicou : 

«O  Thecel  ou  o  Castilho  em  Zero»,  como  resposta  ao  «Eu  ou  El- 
Ip,s^,  do  illustre  poeta.  Ponta  Delgada.  Tvp.  do  Cartista  — I8i9— 8.°— 
36  pag. 

IS  este  opúsculo  diz  (pag.  1  >,  que  tem  escripto  algumas  obras  ine- 
ilitas,  entre  as  (juaes  e  talvez  entre  el!as  prepondere  a  todas  quantas 
(;a>tilho  tem  feito  e  por  fazer  a  sua  primigenia  «Constituição  Natural 
ou  a  Ordenação  de  Deus»  e  ainda  o  Apocali/pse  da  Natureza  e  outras 
curiosidades. 

Vamos  lá,  este  fayalense  não  deixava  o  seu  credito  por  mãos  a- 
Iheias  ! !  .  . 

Andrade  publicou  anonymo  outro  o[)usculo,  8  pag  em  i.°,  com  o 
titulo:  O  dia  de  rerdadtura  gala.  Narração  dos  festins  dedicados  a  Ti- 
lliocas,  diridido  em  quatro  partes,  com  uma  aduioestação  interessante. 

Ora,  Tdliocas  é  o  anagrarama  de  Castilho,  cujo  desembarque  em 
Ponta  Delgada  a  2o  de  Maio  de  1849.  regressando  de  Lisboa,  o  author 
pretendeu  ridicularisar. 

António  Feliciano  de  Castilho  pagava-lhe  na  mesma  moeda,  mas 
com  mais  valente  mão  e  o  seu  «Eu  ou  Elles».  25  pag..  em  8.*^  peque- 
no, impresso  na  lyp.  de  Castilho,  eu)  1841),  pode-se  dizer,  sem  pleo- 
nasmo, que  deixava  o  Andrade  sem  pelle. 

Kuí  quanto  ao  alcunha  do  Tamtxir  que  Castilho  iliz  t«'r  o  seu  an- 
tagonista na  Horta  em  memoria  das  sovas  já  apaiihada.'^,  e  menos  exa- 
cto. 


AlíGHIVO  DOS  AÇORES  3^)1 

Disto  tudo  resultou  tornar-se  João  José  d'Anflra(Je  assaz  aiiti[ia- 
thico  em  São  Miguel. 

Afinal,  já  ausente  da  pátria  o  morgado  Francisco  Affonso,  (jiie  fo- 
ra por  algum  tempo  residir  com  a  sua  familia  em  Lisboa,  un  largn  de 
São  Paulo,  cercad(»  de  indisposições,  que  o  seu  comp  )rtamento  levan- 
tara, já  vellio  e  dando  mais  do  ijue  nunca  ao  diabo,  é  este  o  ternio  li- 
dimo,  todas  as  idéas  modernas,  todas  as  conquistas  de  progresso,  vol- 
tou João  José  d"Andrade  para  o  Fayal,  aonde  ainda  teve  pt^ndeiicias  ju- 
diciaes  e  questões  no  tribunal  com  o  juiz  (J"esla  Comarca  o  dr.  Fei- 
rei ra. 

Oe  quem  foi  amigo  até  á  morte  e  couí  (piem  se  carteou  constau- 
temente  era  com  o  Dr.  António  José  d"Avila,  que  lhe  demonstrava  mui- 
ta deferência. 

Existe  ainda  no  numero  dos  escriptos  d'este  fayalense  um  :  Ejjí- 
cedio  Carme  que  d  saudosa  morte  do  111.''"'^  e  fíer.""'  Sr.  doutor  Bernar- 
do Machado  de  Faria  e  Maia,  Comrnendador  da  Ordem  de  Christo.  Prior 
da  Matriz  de  São  Sebastião  de  Ponta  Delgada  e  Prorisor  do  Bispado 
d  Angra  do  Heroísmo.  C.  D.  O.  Para  lenitivo  do  mais  justo  sentimen- 
to que,  como  espada  de  dor,  penetra  Sua  Dignissimi.  Mãe  a  III."''''  e  E.x."''' 
Snr.^  D.  Helena  Machado  de  Faria  e  Maia  e  seus  condigníssimos  Ir- 
mãos. 

O  Fayalense 
João  José  d' Andrade 
{Monitor  n.°  l'2h\  de  80  de  Junho  de  1841.) 

A  vida  um  tanto  agitada  doeste  homem,  d"antes  quebrar  que  tor- 
cer, no  que  dizia  respeito  ao  seu  credo  politico,  não  conseguio  alque- 
brar-lhe  as  forças,  já  mesmo  em  provecta  edade. 

Luctitu  até  morrer,  quasi  repentinamente,  com  mais  de  oitenta 
annos. 


D.  THERESA  DE  MORAES  PEREIRA.  -  Filha  de  Eugé- 
nio José  de  Moraes  escrivão  do  judicial  na  Couiarca  da  Horta,  nasceu 
no  anno  de  1798. 

Desde  tenra  edade  mostrou  esta  distincla  fayalense  os  dons  dum 
l)eregriuo  talento  e  giande  propensão  para  o  estudo,  especialmente  no 
profundo  conhecimento  de  lingoas  estrangeiras,  algumas  das  (|uaes  (al- 
iava perfeitamente. 

Cultivou  com  muito  esmero  a  poesia  e  alguujas  das  suas  compo- 
sições que  conhecemos,  inéditas,  tem  bastante  mimo  e  são  escriptas 
n"um  estylo  ligeiro  e  agradável. 

Casou  com  João  Francisco  Peieira,   interprete  geral  e  guarda  li 
vros  da  casa  do  abastado  ujorgado  Terra  (Barão  da  Lagoa),  gosando 


332  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

sempre  na  sna  pátria  muita  cotisideração  pelo  seu  saber  e  affaveis  ma- 
neiras. 

Falleceu  esta  respeitável  poetisa  fayalense,  na  ilha  de  São  Miguel, 
a  8  d'Oulijbro  de  184G,  contando  apenas  quarenta  e  oito  annos,  de 
edade. 

Tanto  n'essa  ilha,  cumo  no  Kayal,  cxisleni  ainda  os  seus  descen- 
dentes. 


FRANCISCO  VIEIRA  DE  FARIA. —  Nasceu  em  1797,  na 
então  Villa  da  Horta,  de  uma  familia  remediada  de  bens  da  fortuna. 

Sendo  de  uma  constituição  extremamente  débil  e  sobrevindo-lhe 
aos  sete  annos  de  edade  uma  violenta  febre  que  o  pòz  ás  i)ortas  da 
morte,  a  vehemente  fé  de  sua  mãe  fez  um  voto  do  pequenc  andar  amor- 
talhado durante  seis  annos,  se  acazo  escapasse  á  teirivcl  enfermidade 
que  o  consumia. 

Assim  aconteceu. 

Cingido  d'alva  mortalha  e  não  raro  caçoado  a  tal  respeito  pelos 
seus  companheiros  de  escola,  aprendeu  as  primeiras  letras,  sendo  seu 
mestre  um  filho  de  José  Ignacio  Machado,  cônsul  de  Nápoles  e  da  Si- 
cília, freijuentando  em  seguida  o  convento  de  São  Francisco,  aonde  se 
tornou  um  bom  latino. 

Dedicado  exclusivamente  ao  cultivo  das  letras,  estudando  muilo 
e  procurando  relações  com  alguns  dos  estrangeiros  que  ao  Fayal  apor 
lavam,  ou  na  mesma  ilha  residiam,  conseguio,  assim,  pôr  se  ao  cor- 
rente com  as  lingoas  italiana,  ingleza  e  franceza,  lendo  no  uriginal  as 
obras  litterarias  que  mais  nomeada  tinham  n'aquellas  nações,  e,  como 
fosse  dotado  de  prodigiosa  memoria,  flcavam-íhe  de  cór,  abundozas 
paginas  desses  livros. 

Estes  estrangeiros  com  quem  privava,  alguns  delles  homens  as- 
saz illustrados  e  que  sympathisavam  sobremaneira  com  o  estudiozo 
mancebo,  offereciam-lhe  por  vezes  numerozos  volumes,  começando  es- 
se rapaz,  desde  logo  a  formar  a  sua  umito  soffrivel  bibliotheca,  que 
augmentou  constantemente  em  todo  o  decurso  da  sua  vida. 

O  gosto  pela  litteratui'a  e  os  conhecimentos  que  conseguira  adqui- 
rir nunca  deiam.nem  dão,  qualquer  interesse  nesta  pe(juena  localida- 
de e  o  estudiozo  Vieira  via-se,  já  quasi  um  homem  e  exclusivamente 
a  cargo  da  fainilia,  pae,  mãe  e  duas  iimãs. 

Possuindo  um  génio  naturalmente  timorato  e  acanhado,  conheceu 
que  o  que  nvd'\<  lhe  convinha  era  uma  occupação  socegada  e  livre  de 
uns  certos  baldões  da  vida,  que  não  teria  aninto  p;ira  arrostar  e  de- 
pois de  haver  [tensaiio  muito  sobie  o  (jiie  lhe  convinha  fazer,  obteve 
a  permissão  paterna,  indo  por  algum  tempo  para  a  ilha  de  São  Miguel 
estudar  pharmacia,  depois  de  ter  tido  alguma  pratica  n Uma  das  boti- 
cas da  sua  pátria. 


ARCHIVO  DOS  AGOHES  353 

Alli,  alcançou  fazer  exame  perante  três  futuros  collegas  e  dois 
médicos,  conseguindo  obter  uma  carta  que  o  habilitava  a  vender  quan- 
tas drogas  lhes  quizessem  comprar. 

A  mesada,  porem,  que  a  família  lhe  fornecia,  em  quanto  esteve 
em  terra  estranha,  empregou  a,  na  sua  maior  parte,  na  compra  de  li 
vros,  para  o  que  vivia  uíiiito  pobremente  e  quem  sabe  até  se  passan- 
do fomes. 

Regressou  afinal  para  junto  dos  seus,  já  examinado,  estabelecen- 
do-se  na  Praça-Velha,  hoje  Alameda  da  Gloria,  começando  desde  logo 
a  sua  botica  a  ter  uns  tons  originaes. 

As  parteleiras,  por  exemplo,  foram  mandadas  fazer  assaz  largas, 
sem  vidraças  e  com  a  capacidade  necessária  para  terem  na  frente  al- 
guns frascos  com  remédios  e  por  detraz  d'estes  cerrada  fileira  de  li- 
vros. 

Na  porta  do  fundo  da  botica,  que  communicava  com  a  cosinha  da 
mesma,  quiz  apresentar  uma  allegoria  scientifica,  encommendando  a 
um  pobre  pintor  que  na  Horta  existia,  chamado  Assis,  que  lhe  pintas- 
se uma  arvore  carregada  de  pomos  e  Minerva  a  cavallo  na  mesma. 

O  Assis,  coitado,  deu  tratos  á  embotada  imaginação  para  satisfa- 
zer aos  desejos  do  seu  freguez,  mas  nunca  conseguio  fazer  coisa  que 
geito  tivesse,  e  como  o  Vieira  lhe  fallava  n"uma  arvore  carregada  de 
fructa,  pintou-lhe  na  tal  porta,  como  soube,  uma  larangeira  da  qual 
pendiam  muitas  bolas  vermelhas  e  para  simplificar  a  imagem  da  meni- 
na que  o  boticário  queria,  plantoií-lhe  no  cimo  do  alrorédo  uma  valente 
e  anafada  moça  do  Pico,  de  perna  nua,  corpete  azul  celeste  e  abeiro 
de  palha. 

Aquillo  sim! 

O  boticário  que  não  era  custozo  de  contentar,  approvou  a  substi- 
tuição da  figura,  crente  n'aquelle  ditado  (|ue  o  habito  não  faz  o  mon- 
ge, explicando  a  todas  as  pessoas  que  iam  á  botica  e  que  achavam  o- 
riginal  a  pintura  da  porta,  o  mysterio  que  encerrava  a(juella  figura, 
que  embora  em  trajos  sem  ceremonia  era  uma  esplendida  Minerva,  a- 
crescentando  logo  em  seguida  : 

— O  Assis  desempenhou  se! 

Por  estes  tempos  António  Vieira  de  Faria  travou-se  de  intimas  re- 
lações de  amisade  com  o  Dr.  Roque  Taveira,  do  qual  já  anteriormen- 
te tratámos  e  teve  a  subida  satisfação  do  notável  professor  de  philoso- 
phia  escolher  para  esposa  uma  das  suas  irmãs. 

Isto,  para  o  boticário,  equivaleu  em  valor  ao  achado  de  uma  mi- 
na de  diamantes,  na  sua  insaciável  sede  de  aprender  passava  a  maior 
parte  do  tempo  em  casa  do  cunhado,  embora  tivesse  o  estabelecimen- 
to fechado  e  estudou,  estudou  muito,  com  tamanha  dedicação  e  assi- 
duidade, que  o  mesmo  professor,  em  vista  da  franzina  constituição  d'a- 
qiielle  seu  discipulo,  o  obrigava  por  vezes  a  deixar  os  livros,  a  dar 
um  passeio,  e  a  distrahir-se. 

N.°  i6— Vol.  VIU- 1 880.  10 


3S4  ARCHIVO  DOS  AÇOHES 

Francisco  Vieira  de  Faria  aprendeu,  assim,  tudo  quanto  o  seu 
sábio  mestre  lhe  podia  ensinar,  saturando  se  tanto  das  suas  avançadas 
ideas  e  da  sua  maneira  de  apreciar  qualquer  assumpto,  que  as  dou- 
trinas um  tanto  scepticas,  mas  muito  tolerantes  do  Dr.  eram  para  elle 
umas  verdadeiras  taboas  da  lei. 

D'isto  resultou  lhe  vasta  erudição,  completa  indiíTerença  pelas 
praticas  religiosas,  acreditando  somente  na  existência  de  um  Grande- 
Ser  que  regia  o  universo,  e  respeitando  irmãmente  todas  as  religiões, 
mas  tão  somente  como  uma  necessidade  para  a  manutenção  da  ordem 
publica. 

Em  politica,  embora  muito  comedido,  a  sua  conversa  revelava 
puros  sentimentos  republicanos. 

Sabia  na  ponta  da  lingoa  quasi  todos  os  escriptos  de  Voltaire  e 
dos  encyclopedistas. 

Quando  o  Dr.  Roque  Taveira  já  não  tinha  mais  que  lhe  ensinar, 
é  que  Francisco  Vieira  de  Faria  se  lembrou  de  novo  da  sua  profissão, 
tornando  a  expor  ao  publico  a  sua  Minerva,  mandando  vir  de  Lisboa 
mais  algumas  drogas  e  livros,  e  aviando  as  receitas  eutre  a  leitura 
d'algumas  paginas  da  Henriada  e  o  agradável  sabor  duma  ode  de  Ho- 
rácio. 

Fedia  pouco  pelos  remédios  que  manipulava  e  isto  somente  aos 
indivíduos  que  conhecia  terem  algumas  posses,  por  quanto  os  simpli- 
ces  que  lhe  exigia  a  gente  pobre,  ou  do  campo,  dava-os  a  maior  parte 
das  vezes  de  graça,  batendo  uma  leve  pancadinha  com  a  mão  no  hom- 
bro  do  obzequiado  e  dizendo-lhe  com  voz  doce,  aquella  sua  sacramen- 
tal phrase:  Adeus,  menino,  adeus    . . 

Assim  foram  decorrendo  muitos  annos,  morreram  successivamen- 
te  todas  as  pessoas  da  sua  familia,  assaz  decahida  por  fim  em  recur- 
sos pecuniários  e  deixando-lhe  apenas  algumas  vinhas  na  ilha  do  Pico, 
no  sitio  dos  Fogos,  uma  preta  velha,  de  grandes  pingentes  doiro,  le- 
gada por  uma  das  irmãs  com  a  condição  de  lhe  ser  dada  todos  os  dias 
meia  canada  de  vinho,  que  o  Vieira  substituía  prudentemente,  por  chá 
preto,  ou  de  sabugueiro,  mas  fraco,  e  uma  outra  velha,  a  Maria  Jacin- 
tha,  á  qual  o  bondoso  patrão,  para  lhe  disfarçar  a  edade,  dizia  elle, 
tratava  sempre  pela  nossa  menina. 

Quando,  ainda  bem  novo,  conheci  o  Sr.  Vieirinha,  como  o  trata- 
vam geralmente,  era  elle  então  um  velhinho  d'uns  sessenta  annos  de 
edade,  celibatário,  magro,  de  débil  apparencia,  e  com  mellifluo  sorri- 
so a  voltear-lhe  habitualmente  nos  lábios  delgados  e  algum  tanto  nia- 
liciosos. 

O  seu  trajar  não  conhecia  de  sorte  alguma  o  dominio  da  moda. 

Na  cabeça  usava  um  bonct  preto,  farto,  immenso,  antigo,  uma  es- 
pécie de  turbante,  a  não  ser  a  pequena  pala  que  de  um  lado  se  des- 
tacava. 

No  pescoço  uma  toalha  branca,  engommada,  cujas  pontas  se  iam 


ABCHIVO  DOS  AÇORES  355 

perder  no  interior  de  um  collèle,  tiilhado  pelo  estylo  do  Directório,  e 
o  qual,  por  ter  no  forro  um  esmerado  trabalho  acerluado,  o  seu  dono 
usava  com  o  dito  forro  para  fora,  afim  d»;  ser  admirado  dos  entende- 
dores: um  casacão  de  panno  piloto,  á  ingleza,  de  botões  enormes,  isto 
de  inverno,  e  de  verão  uma  jaíjuetinha  nuiito  curta,  de  chita,  na  mão 
uma  enorme  bengala  de  branco  osso,  encimada  por  um  globo  da  mes- 
ma matéria  e  as  calças  meio  palmo  acima  dos  sapatos  de  duas  solas, 
deixando  ver  grossas  meias  de  lã. 

Se  de  Janeiro  a  Março  o  frio  era  muito,  então  saliia  a  campo  um 
capote  de  escosscz  verde,  com  quadrados  pretos. 

Aquella  botica  era  o  ponto  de  reunião  de  quantos  rapazes  havia 
na  Horta,  que  cursavam  estudos,  frequentada  p(jr  estes  desde  a  ma- 
nhã até  á  noite  e  tendo  o  grande  incentivo  das  continuadas  partidas 
com  que  o  Sr.  Vieirinha  mimoseava  os  seus  habitues,  algumas  das  quaes, 
por  muito  inesperadas,  deixavam  boqui  aberta  aquella  irriquieta  turba. 

Fallava-se  então,  muito,  por  exemplo,  do  motu  continuo  e  o  bon- 
doso boticário  appareceu  logo  com  uma  idéa  sua,  dizendo  já  o  haver 
descoberto. 

--  Mas  como,  Sr.  Vieira  ? ! . . 

—  Venham  os  meus  amiguinhos  cá,  —  e  levando  os  rapazes  á  co- 
sinha  da  botica,  por  detraz  da  arvore  da  sciencia,  mostrou-lhes  alli,  a- 
marrada,  uma  vacca  muito  magra  e  espantadiça,  que  mandara  vir  da 
ilha  do  Pico. 

—  Ora  esta!,,  muitos  parabéns,  o  Snr.  Vieira  tem  uma  vaqui- 
nha . . . 

—  E'  verdade,  mas  tem-me  dado  muito  trabalho,  muito,  porque 
eu  não  estou  costumado  a  tratar  com  brutos. 

—  Mas  então,  que  relação  tem  com  isto  o  motu-continuo  ? 

—  Tem  toda,  eu  vou  lhes  explicar,  e  o  systema  é  fácil  de  enten- 
der. Este  animal  produz  leite,  não  é  assim  ? . .  pois  muito  bem,  é  or- 
denhal-a  todos  os  dias  e  logo  em  seguida  b)tar-lhe  com  um  funil  o 
próprio  leite  pela  bocca  dentro,  que  lhe  servirá  de  alimento,  e  aqui 
lemos  nós  resolvido  um  problema  que  tanto  tem  dado  que  pensar,  ahi 
está  estabelecido  o  motu-continuo  I 

Para  a  sua  vacca  não  estar  ociosa,  gastou  alguttias  patacas  em 
mandar  construir  um  ordinário  carro,  d'uma  forma  especial,  que  se 
occuparia  na  conducção  para  a  cidade  da  bella  agua  nativa  das  bicas 
da  freguezia  dos  Flamengos,  com  o  que  se  propunha  a  fazer  um  bom 
serviço  ao  publico. 

Convidou  muita  gente  para  assistir  á  primeira  experiência  da  ve- 
locidade do  seu  carro,  apinhando-se  efifecli vãmente  de  espectadores, 
no  dia  e  hora  designada,  as  circumvisinhanças  da  caza  em  que  elle 
morava. 

A  vacca  passando  das  trevas  para  a  claridade,  da  escura  cosinha 
para  a  botica  e  d"aHi  para  o  caminho,  espantou-se  e  a  muito  custo  foi 


356  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

atrelada  ao  carro,  mas  ainda  quando  um  carreiro  chamado  Lameiro 
estava  finalisando  esta  operação  e  ia  a  subir  para  o  vehiculo,  a  vacca 
esticou  o  rabo,  deu  um  balido  terrivel,  atirou  a  distancia  com  o  La- 
meiro, e  partiu  n'nma  carreira  luuca,  arrastando  o  frágil  carro,  mais 
dois  barris  que  no  mesmo  estavam,  iiidu  despedaçar  aquelle  artefacto 
de  encontro  ao  pelourinho  a  um  lado  da  Praça  e  continuando  em  ver- 
tiginoza  fuga,  seguida  de  muitos  gaiatos,  até  á  distante  freguezia  das 
Angustias,  aonde  a  conseguiram  capturar. 

No  dia  seguinte  o  Sr.  Vieirinha  oíTereceu  a  sua  vacca  ao  hospital 
da  Horta,  e  se  todos  riram  d'aquelle  fracasso,  quem  ria  ainda  mais  era 
o  original  inventor  de  semelhante  festa. 

— Vou  realisar  o  abastecimento  da  agua  dos  Flamengos,  dizia  o  bo- 
ticário, mas  d'uma  outra  maneira,  quero  adaptar  agora,  abaixo  das 
costas  do  Lameiro  luua  grande  pedra  de  iman  e  o  cabeçalho  do  carro 
terá  umas  placas  de  ferro.  Ora  como  a  sciencia  diz  que  o  iman  atrahe 
aquelle  metal  é  evidente  que  o  carreiro  caminhando  adiante  do  carro 
este  o  seguirá  por  si  mesmo  para  aonde  quer  que  elle  vá.  A  Camará 
Municipal  deve-me  ficar  muito  reconhecida,  ella  que  ha  annos  e  annos, 
trabalha  sem  resultado  satisfatório,  em  abastecer  d'agoa  doce  os  seus 
administrados. 

Muito  amigo  de  theatro,  ao  qual  concorria  sempre  que  haviam 
quaesquer  espectáculos,  chegou  a  compor  uma  tragedia,  em  quatro 
actos,  muito  nossa  conhecida  e  á  qual  pôz  o  titulo,  conforme  o  seu 
entrecho,  do  «Rapto  das  Sabinas». 

Desejava  que  esta  peça,  por  ser  histórica  e  para  instrucção  do 
povo,  fosse  representada  na  Praça,  ao  ar  livre,  gratuitamente,  e  comu 
a  mesma  requeresse  um  grande  pessoal;  muitos  guerreiros  romanos 
e  filhas  e  mulheres  dos  Sabinos,  que  se  pedisse  ao  Commandante  Mi- 
litar licença  para  a  tropa  aqui  destacada  vir  figurar  dos  soldados  ro- 
manos e  que  emquanto  ás  Sabinas  fossem  convidadas  nas  diversas  fre- 
guezias  da  ilha  quantas  moças  do  campo  se  quizessem  deixar  roubar 
n'aquella  noite,  que  com  certeza  daria  brado,  ao  menos  em  todo  o  ar- 
chipelago  açorico. 

Do  Rapto  das  Sabinas,  depois  das  dez  horas  da  noite,  na  botica, 
a  portas  fechadas,  chegaram  a  haver  alguns  ensaios  das  scenas  de  me- 
nor pessoal,  e  essa  lembrança  de  tão  bem  passadas  e  alegres  horas, 
acompanhará  sempre  os  curiosos  dramáticos  a  quem  estavam  distribuí- 
das algumas  das  partes  de  tão  complicada  composição,  em  que  o  au- 
thor  também  fazia  um  importante  papel. 

Por  occasião  do  fallecimento  em  Lisboa  de  uma  alta  personagem, 
ruja  infausta  sorte  veio  contristar  todo  o  paiz,  o  Sr.  Vieira,  apesar  de 
professar  idéas  republicanas,  quiz,  ainda  assim,  dar  uma  demonstra- 
ção do  apreço  em  que  tinha  as  virtudes  do  illustre  finado. 

Arranjou  pois,  sob  a  sua  direcção,  um  grande  quadro  allegorico 
de  tão  lamentável  occorrencia  e  quando  este  prompto,  deliberou  fazer 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  3o7 

na  sna  sala  uma  apulheose  á  meinuria  do  Sr.  D.  . . 

Para  islo  convidou  tjuaiitas  pessoas  lhe  entravam  na  botica,  vinte 
vezes  ou  mais  a  gente  que  a  casa  podia  comportar,  embora  fosse  uma 
enchente  á  ctinha. 

A  curiosidade  publica  era  grande. 

A's  8  da  noite  designada  estava  tudo  a  postos,  o  quadro  coberto 
com  um  panno,  sobre  uma  meza  e  cercado  de  muitas  velas  de  varie- 
gadas cores,  o  artista  que  o  desenhara,  sentado  n'uma  cadeira  de  bra- 
ços ao  lado  do  mesmo,  o  Sr.  Vieira,  com  uma  enorme  casaca  e  a  in- 
variável toalha  branca  ao  pescoço,  sentado  do  outro  lado,  e  uma  tur- 
ba immensa  e  irriquieta  a  lhe  subir  a  escada  e  a  invadir-lhe  a  casa 
toda. 

Que  immenso  apertão! 

Na  porta  da  rua  havia  murro  a  valer  e  os  rapazes  do  Lyceu  fa- 
ziam um  barulho  de  seis  centos  demónios.  Como  desde  a  escada  da 
rua  até  ao  quintal  já  não  coubesse  sequer  um  alfinete,  foram  buscar 
escadas  de  pedreiro  e  pozeram-nas  contra  as  janellas,  para  poderem 
ver  ou  ouvir  alguma  coisa. 

Começou  a  final  a  sessão,  o  Sr.  Vieirinha  desvelou  respeitosamen- 
te o  quadro,  recitando  um  soneto  da  sua  lavra,  do  qual  ainda  nos  lem- 
bra o  primeiro  quarteto,  apesar  de  estarmos  então  quasi  asfixiados  en- 
tre uma  mó  de  espectadores: 

Já  não  cantam  os  doutos  rouxinoes, 
Poisados  n'essas  arvores  sombrias, 
Pois  seccaram  se  todas  as  fontes  frias 
E  nem  já  apparecem  os  caracoes ! 

O  quadro  também  era  esquisito,  a  um  lado  um  grupo  composto 
de  alguns  homens  e  mulheres,  uns  brancos  outros  pretos,  mas  todos 
completamente  nús  e  lavados  em  lagrimas,  representando — dizia  o  Sr. 
Vieira,  —  o  verdadeiro  estado  da  nação,  muito  pesarosa,  e  só  com  a 
pelle  sobre  os  ossos.  Do  outro  lado,  no  piimeiro  plano  uma  figura  a- 
gigantada,  também  sem  vestes,  mas  de  capacete  na  cabeça  e  abanan- 
do com  um  lenço  para  o  alto  do  quadro,  aonde  , entre  umas  espessas 
nuvens  se  divisava  confusamente  um  vulto  hmnano  a  subir  para  as  al- 
turas. 

Por  baixo  da  mulher  do  capacete  havia  a  seguinte  inscripção:  Lii- 
sia  saudosa. 

Houveram  ainda  muitos  versos,  a  coroação  do  artista,  para  o  qual 
o  Sr.  Vieira  havia  preparado  uma  farta  coroa  de  camélias,  muitas  pal- 
mas, muito  enthusiasmo,  uma  noite  cheia  emfim. 

E  como  alguém  mais  sério  e  amigo  sincero  do  boticário  lhe  dis- 
sesse no  outro  dia  que  era  melhor  deixar-se  d'a(iuellas  brhicadcitas. 
respondia  elle  uma  phrase  muito  sua  e  de  que  fazia  frequente  uso: 


338  ABCHIVO  DOS  AÇORES 

«Ora  adeus,  meu  caru  amigo.  Cicero  para  que  escreveu?  para  quem 
o  entendeu». 

D'estas  buas  e  alegres  partidas  liaviam  alli  ás  dúzias,  sendo  ain- 
da hoje  um  problema,  attenta  a  reconhecida  e  incontestável  erudição 
do  Sr.  Vieira,  se  não  foi  acazo  um  grande  excêntrico,  a  divertir  se 
durante  a  maior  parte  da  sua  vida,  com,  os  seus  conterrâneos. 

Fosse,  porem,  como  fosse,  ponhamos  de  parte  estas  inoffensivas 
ratices  do  bom  velhinho  e  encaremos  este  homem,  muito  illustrado^ 
pelo  lado  sério  e  pelos  serviços  que  prestou  à  sua  pátria. 

>'ingnem  jamais  na  ilha  do  Kayal  teve  tanto  amor  ao  publico  en- 
sinamento, nem  ao  mesmo  se  prestou  de  melhor  vontade  por  quanto 
o  Sr.  Vieira  passou  largos  annos  da  sua  vida,  a  ensinar  o  que  sabia, 
aos  filhos  da  gente  rica,  ou  dos  pobres,  sem  acceitar  de  alguém  a  me- 
nor retribuição,  suffrendo  resignadamente  quant*s  tropelias,  lhe  faziam 
na  botica,  ou  antes  bibliotheca  e  sem  o  minimo  signal  de  enfado,  ins- 
tando e  pedindo  ã  mocidade  que  fosse  estudioza,  como  o  melhor  pe- 
nhor da  sua  futura  felicidade. 

Amante  do  progresso  trabalhou  sempre  n'este  campo,  honrada, 
incessante,  e  desinteres>adamente. 

Partilhava  tanto,  ou  mais,  do  que  os  pães  dos  rapazes  que  ensi- 
nava (piaesquer  vantagens  que  obtinham  nos  seus  estudos  e  um  bom 
exame  no  Lyceu  enchia-o  de  uma  alegria  sincera  e  expansiva,  fallando 
naquelle  facto  uns  poucos  de  dias  a  quantas  pessoas  o  visitavam,  es- 
crevendo cartas  de  felicitação  aos  pães  e  mimoseando  os  rapazes  com 
peras  de  calda,  ou  cachos  de  uvas  passadas,  de  uns  pedaços  de  vinha 
que  ainda  possuia  no  Pico. 

Nestas  occasiões  dizia  sempre  aos  rapazes  agrupados  em  redor 
dos  boiões  das  pêras  e  uvas: 

—  Sou  pobre,  não  tenho  nada  melíirtr  que  lhe  offereça,  mas  se 
eu  fosse  rico  outro  gallo  cantaria  aos  meus  amigos.  Paciência ! 

A  todos,  ou  a  quasi  todtjs  os  homens  que  hoje  contam  quarenta, 
ou  cincoenla  annos,  na  Horta,  ensinou  o  Sr.  Fri'ncisco  Vieira  de  Fa- 
ria alguma  coisa,  poitiiguez,  mathematica.  linguas  A-,  e  não  ha  um  úni- 
co que  se  lembre  d'elle  lhe  haver  exigido,  ou  acceitado,  a  minima 
remuneração  por  tanto  trabalho,  e  isto  até,  quando  no  uliimo  quartel 
da  sua  vida,  convertida  de  todo,  por  assim  dizer,  a  botica  n'uma  bi- 
bliotheca publica  e  devido  á  doença  das  vinhas,  de  que  ei'a  proprietá- 
rio, vivia  o  mais  parcamente  possivel  e  até  com  certas  |)rivações. 

Em  qualíjuer  trabalho  que  trate  do  ensino  publico  no  Faval,  o  no- 
me honrado  do  Sr.  Francisco  Vieira  de  Faria  deve  occu[)ar  sempre 
um  dos  piimeiros  logaies,  e  se  nos  rimos  por  vezes  das  suas  excen- 
tricidades, não  quer  isto  di/.er,  de  sorte  alguma,  que  não  respeitamos, 
e  muito,  a  memoria  d"aquelle  benévolo  mestre  e  dedicado  amigo,  com 
o  íjiial  passámos  uma  parte  da  (jiiadra  feliz  da  mocidade. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  "^  359 

O  Sr.  Vieira  deixou  alguns  escriplos,  quasi  lodos  traducções  do 
inglez  e  alguns  originaes,  mas  poucos. 

É  pesar  que  a  par  da  sua  vasta  erudição  não  fosse  dotado  d"um 
estylo  agradável,  tornando-se  enfadonho  a  quem  o  lé,  embora  o  que 
escreveu  seja  em  linguagem  assaz  correcta. 

É  o  que  aconteceu  nas  obras  de  Pope,  um  seu  author  favorito, 
que  traduzio  quazi  todo,  bem  como  com  alguns  trabalhos  de  Voltaire. 

P'alleceu  este  muito  prestante  cidadão,  aos  sessenta  e  seis  annos 
de  edade,  no  dia  21  de  Março  de  186.3,  muito  socegado  de  consciên- 
cia, conhecendo  perfeitamente  a  approximação  da  sua  derradeira  hora 
e  conversando  até  poucos  momentos  antes  de  se  lhe  extinguir  a  vida, 
com  os  seus  discípulos,  em  coisas  de  lilteratura  e  nos  systemas  de  en- 
sino que,  quanto  mais  brandos,  dizia  elle,  eram  os  melhores,  os  mais 
profícuos  para  a  juventude. 

Quando  o  seu  caixão,  no  dia  seguinte,  atravessou,  no  transito  pa- 
ra o  cemitério,  o  átrio  da  egreja  do  Carmo,  estava  alli  grande  concur- 
so de  povo,  pois  ia  sahir  a  procissão  do  Triumpho,  que  annualmente 
effeitua  a  venerável  OnJem  3.*  d'aquelle  templo. 

E  grande  parte  dessa  gente  se  descobrio  respeitoza  ante  aquelle 
luimilde  sahimento,  divisando  se  lagrimas  em  muitas  faces,  porquanto 
o  honrado  velhinho,  à  força  de  se  tornar  serviçal,  havia  captado  a  sym- 
pathia  do  publico. 

Paz  á  sua  alma ! 


ANTÓNIO  SILVEIRA  BULCÃO. —Oriundo  de  uma  anti- 
ga familia  d'esta  ilha,  porquanto  nos  livros  da  Santa  Gaza  da  Miseri- 
córdia da  Horta,  respeitantes  ao  anuo  de  1680,  alli  se  encontra  exara- 
da uma  esci  iptura  em  que  Álvaro  Pereira  Bulcão,  Cavalleiro  Professo 
da  Ordem  de  Christo  faz  uma  permuta  com  bens  daquelle  pio  estabe- 
lecimento, nasceu  este  seu  distincto  descendente,  na  Villa  da  Magda- 
lena,  na  ilha  do  Pico,  aos  8  de  Setembro  de  1781. 

Foram  seus  pães  o  capitão  António  Silveira  Bulcão  e  sua  espoza 
D.  Maria  Magdalena  Úrsula,  gente  abastada  e  da  primeira  d'aquella 
localidade. 

Cursou  com  notável  aproveitamento  as  aulas  então  existentes  na 
Horta,  para  aonde, opportunamente,  veio  estudar,  demonstiando  desde 
bem  novo  apreciáveis  dotes  de  um  bom  poeta. 

Em  1816,  tendo  então  trinta  e  cinco  annos  de  edade  casou  com 
D.  Maria  de  Lacerda  Labath,  e  sérvio  por  algum  tempo,  com  illibada 
honra  o  reudozo  emprego  de  Escrivão  da  alfandega. 

Professou  constantemente  ideas  liberaes. 

Dedicou-se  mais  tarde  á  nobre  profissão  de  advogado,  em  que  se 
tornou  distincto,  exercendo  lambem,  depois  de  estabelecido  o  governo 
constitucional,  diversos  cargos  administrativos. 


360  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

Em  I8i0  foi  nomeado,  inlerinaineiite,  Delegado  do  Procurador 
Hegio  n"esta  Comarca. 

Veio  a  fallecer,  na  cidade  da  Hurla,  respeitado  e  bemquislo  de 
todos  no  anno  de  1843. 

Como  poeta  fui  assaz  distincto  e  do  mesmo  existem  [)ublicadas  di- 
versas composições,  de  incontestável  mérito,  tanto  na  collecção  do  pe- 
riódico «Grémio  Litlerario»,  como  na  «Historia  das  quatro  ilhas  que 
compõe  o  Districto  da  Horta»,  do  Sr.  Commendador  Macedo. 

O  assumpto  da  maioria  d'estas  peças  litterarias,  escriptas  para 
serem  recitadas  em  festejos  públicos,  é  exaltar  o  triumpho  das  idéas 
liberaes,  das  quaes  foi  sempre  leal  e  dedicado  pugnador. 

Um  primo  deste  poeta,  o  Rev.''°  P.®  Bulcão,  carmelitano,  foi  lam- 
bem pessoa  muito  respeitável  na  sua  classe,  exercendo  por  dilatados 
annos  o  importante  lugar  de  Ouvidor,  no  Concelho  da  Magdalena  do 
Pico. 

O  talento  não  tem  sido  escasso  com  a  família  Bulcão,  por  quanto 
dos  filhos  do  cavalheiro  de  que  tratámos  utu  d'elles  é  o  bem  conheci- 
do romancista  fayaleuse  António  de  Lacerda  Bulcão,  do  qual,  opportu- 
uamente  nos  occuparèmos  n'estes  apoutanieutos,  existindo  também  u"es- 
ta  ilha  um  seu  neto  Augusto  Bulcão,  poeta  e  jornalista,  que  promet- 
te  manter  no  campo  das  letras  as  tradições  da  sua  familia  e  do  qual 
já  existem  publicados  apreciáveis  trabalhos. 


O  PADRE  VICTORINO  JOSÉ  RIBEIRO.  —  A  freguezia 
da  Praynlia  do  iNorte,  no  Concelho  de  São  Roque  da  ilha  do  Pico,  a- 
lem  de  ser  uma  das  suas  mais  antigas  e  melhores  povoações,  com  cer- 
ca de  mil  e  oito  centos  habitantes,  bons  edifícios  particulares,  uma  bel- 
la  egreja  e  vistosíssimo  átrio  e  tendo  a  breve  distancia  a  poética  e  for- 
mosa bahia  das  Canuas,  por  muitos  annos  marginada  diima  latada  de 
mais  de  quinhentos  metros  d'extensão  e  que  chegou  a  produzir  cem 
pipas  de  excellente  vinho,  gosa  alem  disto  bem  merecida  fama.  por 
alguns  dos  seus  filhos  que  conseguiram  conquistar  um  nome  distincto 
no  Districto  a  que  pertenceram. 

D^alli  era  oriundo,  como  já  vimos,  o  talentoso  padre  e  poeta  Jo- 
sé Leal  Furtado,  tendu  ag(U'a  de  mencionar,  egualmente,  um  outro  res- 
peitável sacerdote,  filho  craquella  localidade. 

Do  consorcio  de  Francisco  Iguacio  e  de  D.  Rosa  Jacintha,  ambos 
picoenses,  alíi  nasceu  a  áo  de  Março  de  1780,  Victorino  José  Ribeiro, 
que  no  convento  de  São  Pedro  d  Alcautara,  no  sitio  do  Cães  do  Pico, 
devido  á  bôa  vontade  de  um  seu  lio  clérigo,  foi  estudar  com  os  frades 
franciscanos  e  aonde  professou  no  anuo  de  1709,  coui  o  nome  de  Vi- 
ctorino de  Sã(j  José. 

Fm  seguida  foi  cursar  alguns  estudos  superioies  nas  afamadas au- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  361 

las  diJ  ilh;>  Terceira,  cl'oricIe  em  1802  i)nsson  para  o  Fayal,  sendo  no- 
meado Vigário  do  coro  no  convento  de  São  Fr;incisco. 

Era  enlão  pregador  distincto  e  um  excellenle  musico. 

Em  1803  resolveu  ir  estabelecer-se  no  Rio  de  Janeiro  e  seculari- 
sando-se,  depois  de  haver  recebido  as  ordens  de  Presbytero,  effecliva- 
menle  trocou  a  sna  humilde  pátria  por  um  centro  maior  e  mais  adqua- 
do  aos  seus  talentos  e  reconhecida  aptidão. 

Sorrio-lhe  a  fortuna  n'aquellas  regiões,  ganhou  com  que  viver  des- 
assombradaiuente,  mas  começando,  por  effeito  do  clima,  a  soíTrer  da 
saúde,  voltou  para  os  Açores,  em  1815,  provido  niim  beneficio  da 
Matriz  das  Vellas,  na  ilha  de  São  Jorge;  passando  dois  annos  depois 
para  o  Fayal,  aonde  foi  nomeado  escrivão  da  ouvidoria  ecciesiastica  e 
mais  tarde  mestre  da  capella  da  Matriz. 

Em  I8i0,  nesta  egreja  foi  solemnemente  armado  Cavalleiro  pro- 
fesso da  Ordem  Militar  de  N.  S.  Jesus  Christo. 

O  P.*"  Victorino  José  Ribeiro  demonstrou  sempre  ideas  liberaes, 
mas  sem  praticar  excessos,  o  que  não  obstou,  ainda  assim,  a  que  na 
nefasta  epoclia  de  1829  tivesse  muitos  transtornos  e  incommodos,  sen- 
do preso,  enviado  para  a  ilha  de  São  Miguel,  no  Fayal  sequestrados 
os  seus  bens,e  jazendo  nas  prisões  da  Trafaria,  no  continente  até  1833, 
em  que  o  veio  libertar  o  triumpho  da  causa  conslilucional. 

Regressou  de  novo  para  o  Fayal,  relativamente  pobre  e  minado 
pela  doença,  tornando-se-lhe  necessário  fazer  uma  segunda  viagem  ao 
Brazil,  afim  de  cobrar  algumas  quantias  qne  lá  lhe  deviam. 

Decorria  então  o  anno  de  1836  e  no  seguinte  tornava  a  aportar 
á  cidade  da  Horta,  aonde,  desde  então  residio  até  á  sua  morte  no  de- 
curso do  anno  de  1868. 

Jaz  sepultado  no  cemitério  da  venerável  Ordem  3.^  de  Nossa  Se- 
nhora do  Carmo. 

A  par  de  im|)Oliuta  honradez  e  firmeza  de  caracter,  foi  este  res- 
peitável sacerdote  um  erudito  investigador  de  antiguidades  açoricas  e 
devotado  cultor  das  letras. 

Alem  de  numerosos  e  esplendidos  sermões  que  pregou,  os  quaes 
colleccionados  formariam  alguns  apreciáveis  volumes,  legou-nos  ainda 
um  livro,  iujpresso  na  typographia  Hortense,  no  aimo  de  1862,  com 
89  paginas  e  que  tem  por  titulo  ((Breves  Unhas  históricas  sobre  as  qua- 
tro ilhas  de  que  se  compõe  o  Districto  da  Horta»,  trabalho  este  que  lam- 
bem foi  publicado  no  semanário  «O  Fayalense». 

Segundo  uma  Advertência  do  seu  illustrado  author  aquella  com- 
posição é  «um  simples  esboço  de  alguns  factos  geraes  e  mais  salien- 
tes que  tiveram  togar»,  e,  n"esle  sentido  fez,  realmente,  mais  do  que 
havia  prometlido. 

Acre^ce  ainda  que  o  Rev.'^''  Victorino  José  Ribeiro,  fui,  nos  tem- 
pos modernos,  o  primeiro  escriptor  que  se  lembnju  de  rememorar  os 
acontecimentos  da  sua  insulana  pátria. 

N.*^  i6— Vol.  Vni  -  1886.  M 


362  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

Depois  de  aberta,  num  fechado  matagal  uma  vereda  qualquer, 
torna  se  muito  mais  fácil  alargar  a  mesma  até  tornar-se  n'um  caminho 
tranzitavel  e  corrente,  mas  devemos  lembrar  nos  que  o  primeiro  tra- 
balhador que  se  achou  a  braços  com  um  descampado  cheio  de  infor- 
mes pedras  e  valentes  sylvados,  careceu  de  grande  coragem  e  dedica- 
ção para  desbravar,  embora  apenas  uma  limitada  porção  de  semelhan- 
te terreno,  n'uma  lucta  inglória  e  quasi  ignorada. 

Foi  o  que  lhe  aconteceu  e  por  isso  tem  todo  o  direito  á  nossa  con- 
sideração. 

Actualmente  continua  a  sustentar  com  distincção,  n'este  Districto, 
as  boas  tradições  da  sua  família  um  illustrado  sobrinho  do  Padre  Vi- 
ctorino,  também  natural  da  Praynha  do  Norte,  o  Rev.^°  Veríssimo  Jo- 
sé Ribeiro,  beneficiado  da  egreja  da  Conceição,  e  agraciado  por  Sua 
Magestade  na  cathegoria  de  Pregador  Régio,  por  Carta  de  23  de  Fe- 
vereiro de  1878  e  como  Capellão  honorário  da  Casa  Real  em  18  de 
Março  de  1882. 

Como  o  seu  respeitável  parente,  de  que  acabamos  de  tratar,  Iko- 
ra,  sobremodo,  a  tribuna  sagrada. 


O  PADRE  IGNACIO  FURTADO  DA  CRUZ.- Nasceu  na 
ilha  das  Flores,  na  freguezia  de  Ponta  Delgada,  em  Janeiro  de  1790. 

Era  filho  de  Januário  Furtado  da  Cruz  e  de  sua  consorte  D,  Ma- 
rianna  Úrsula,  ambos  também  naturaes  da  mesma  freguezia  de  Ponta 
Delgada. 

Ainda  novo  sahio  da  sua  pátria,  como  marinheiro,  n'um  navio  es- 
trangeiro que  por  alli  passou  e  depois  de  alguns  annos  de  aventurosa 
existência,  residio  por  largo  tempo  na  Hespanha,  aonde  adquirio  soli- 
da instrucção. 

Depois  d'isto,  tomando  ordens  sacras  em  Portugal,  veio  para  a 
ilha  das  Flores  e  conseguio  ser  nomeado  Reitor  da  freguezia  da  Lom- 
ba, aonde  deixou  honrosissima  fama  de  notáveis  virtudes  e  sciencia. 

A  sua  casa  dava  franca  hospedagem  a  quantos  forasteiros  alli  ap- 
pareciam  e  a  sua  bolsa  estava  sempre  aberta  para  os  seus  parochianos. 

Falleceu  no  dia  12  de  Junho  de  1879  e  o  povo  da  freguezia  da 
Lomba  ainda  hoje  deplora  a  sua  falta. 

O  Padre  Ignacio  Furtado  da  Cruz,  dotado  de  muito  chiste  nos  seus 
escriptos,  tomou  nota  de  muitas  occorrencias  que  se  deram  na  sua  pá- 
tria, as  quaes  registava  num  «Diário»,  que  apesar  de  estragado  pelo 
tempo,  sabemos  ainda  existir  em  poder  dos  seus  parentes. 

Era  grande  enthusiasta  das  festas  nacionaes  e  n'essas  occasiões 
escrevia  cartas  de  felicitação  aos  seus  nimierosos  amigos,  mencionan- 
do nos  sobrescriptos,  em  letra  garrafal,  a  plausível  data  que  a  tanto 
o  movia. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  363 

Tinha  a!gum;is  excentricidades,  mas  em  todo  o  casu  foi  um  floren- 
tino de  reconhecida  illustração  e  nm  bondoso  sacerdote. 


O  COMMENDADOR  ANTÓNIO  LOURENÇO  DA  SIL- 
VEIRA MACEDO.  —  Encetámos,  com  a  presente  referencia  um  pe- 
riodo  novo  nestes  pobres  apontamentos,  vindo  prasenteiramente  ao  en- 
contro dum  escriptor  existente,  depois  de  ha  tanto  tempo  ter  andado 
a  escavar  em  sepulturas. 

Ainda  assim  a  summula  das  impressões,  que  em  semelhante  tare- 
fa recebemos,  não  teve  um  aspecto  tenebroso  e  carregado,  e  se  no 
nosso  pequeno  cemitério  d'3ldeia  não  deparámos  com  sumptuosos  mo- 
numentos, d'esses  que  duram  séculos,  pudemos,  não  obstante,  respi- 
gar algumas  flores,  embora  humildes,  mas  de  vividas  cores  e  perfu- 
mado alento. 

Attendendo  ao  isolamento  do  Fayal,  insignificância  relativa  d'esta 
terra,  aos  poucos,  uu  nenhuns  recursos  que  em  pequenas  povoações 
encontram  os  estudiosos  e  á  mingoa  das  communicações  regulares  que 
então  havia  com  o  continente,  diílicultando  o  conhecimento  d'esse  mes- 
mo pequeno  movimento  litterario  que  vegetava  em  Portugal,  devemos 
concordar  que  a  despeito  de  todas  estas  pouco  animadoras  circumstan- 
cias  houve  sempre  n'esta  ilha  alguns  cultores  das  letras  e  até  epoclias 
cm  que  das  mesmas  se  tratou  muito  mais  do  que  actualmente. 

Tivessem  tido  os  antigos  a  imprensa,  aqui  estabelecida  apenas 
desde  1857  e  colleccionado  os  seus  apreciáveis  trabalhos  litterarios, 
muitos  d'elles  hoje  completamente  perdidos,  que  um  confronto,  de  bôa 
fé,  não  sei  se  nos  seria  vantajoso. 

Depondo  pois,  aqui,  um  muito  humilde  tributo  de  veneração  á  sua 
respeitável  memoria,  tratemos  em  seguida  dos  contemporâneos,  guar- 
dando, quanto  possível,  a  ordem,  approximada,  das  suas  edades. 

António  Lourenço  da  Silveira  Macedo  nasceu,  na  villa  da  Horta, 
na  rua  de  Santo  Elias,  aonde  ainda  hoje  reside,  a  1 1  de  Setembro  de 
1818. 

Foram  seus  progenitores  Lourenço  António  da  Silveira  Macedo  e 
D.  Maria  Delfina  da  Silveira  Goularlt,  ambos  naturaes  da  freguezia  de 
São  Malheus,  no  Concelho  da  Magdalena,  na  ilha  do  Pico. 

Apesar  de  Lourenço  António  ser  um  artista  conseguiodar  ao  seu 
filho  uma  regular  educação,  que  é  esse  sempre,  no  nosso  entender,  o 
maior  titulo  de  nobilitação  para  fidalgos  ou  plebeus. 

Aos  vinte  e  um  annos  de  edade,  em  3  de  Dezembro  de  1839,  co- 
meçou António  Lourenço  da  Silveira  Macedo  a  exercer  o  magistério 
publico  de  inslrucção  secundaria,  na  regência  da  aula  de  latim,  na  vil- 
la das  Lagens  do  Pico,  passando  em  seguida  para  a  regência  da  mes- 
ma aula  na  cidade  da  Horta,  no  mez  de  Março  de  1848. 

Cinco  annos  depois,  em  1853,  foi  creado  o  nosso  Lyceu  Nacional 


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e  desde  Junho  d'esse  anuo  começou  o  professor  de  que  tratámos  a  en- 
sinar no  mesmo  Philosopliia  e  Mathemalica  e  durante  o  longo  período 
de  trinte  e  ires  annos  tem,  constantemente  e  assiduamente  leccionado 
n'aquella  casa  tanto  estas,  como  outras  disciplinas,  a  numerosos  discí- 
pulos, tendo  na  mesma  exercido  os  cargos  de  secretario,  bibliotheca- 
rio  e  reitor,  este  ultimo  por  duas  vezes,  em  Agosto  de  1871  e  no  mes- 
mo mez  de  1879. 

Actualmente,  já  jubilado,  rege  ainda  a  cadeira  de  Mathematica. 

Em  i84o  do  casamento  deste  laboriozo  fayalense  com  D.  Maria 
Aurora  Telles  de  Macedo,  senhora  descendente  duma  muito  antiga  fa- 
mília desta  ilha,  nasceu  um  filho  que  educado  com  desvelo  por  seus 
pães  e  dotando-o  a  natureza  de  não  vulgar  intelligencia  e  amor  ao  es- 
tudo, no  anno  de  1869  terminava  o  seu  curso  na  Universidade  de  Coim- 
bra, aonde  se  formou  na  faculdade  de  direito. 

O  dr.  António  Telles  de  Macedo,  bom  e  estremecido  filho,  achava- 
se  três  annos  depois,  na  ilha  do  Pico,  exercendo  as  funcções  de  De- 
legado do  Procurador  Régio  e  casado  com  D.  Maria  Othilia  d'Azevedo 
e  Mello  vivendo  feliz  e  parecendo  destinado  pela  providencia  para  com 
os  seus  augmentos,  elevação  de  caracter  e  consideração  de  que  goza- 
va, ser  a  alegria,  o  orgulho,  o  premio  do  incessante  lidar  do  seu  pro- 
genitor, por  quanto,  sejamos  francos,  se  é  fácil  conquistar  na  socieda- 
dade  uma  distincta  posição  para  os  que  nascem  na  grandeza  e  oppu- 
lencia,  ao  contrario  disto  para  o  homem  que  só  devido  ao  seu  traba- 
lho consegue  viver  e  dar  uma  esmerada  educação  aos  seus,  represen-^ 
la  a  realisação  d*este  empenho  uma  grande  batalha,  com  muitos  inci- 
dentes árduos  e  ignorados  do  vulgo,  com  muitos  sacrifícios  e  inces- 
sante dedicação. 

Que  o  diga  quem  estiver  em  iilenticas  circumslancias. 

Chegou,  porem,  o  inverno  de  1872,  e,  em  Fevereiro,  a  desdita 
veio  ferir  profundamente  aquella  honrada  família,  arrebatando  celere- 
mente  para  a  sepultura  o  dr.  António  Telles  de  Macedo,  e  abrindo  no 
coração  da  mesma  golpes  tão  profundos  e  insanáveis,  para  os  quaes  só 
a  resignação  christã  pode  offeiecer  lenitivo. 

Teve,  acreditamos,  esse  supremo  recurso  o  angustiado  pae,  por 
quanto  a  sua  fé  é  vivida  e  revela-se,  por  vezes,  nos  seus  escriptos, 
bem  como  na  sua  conversação  com  os  amigos,  pertence  ainda  a  uma 
escola  antiga  na  qual,  segundo  o  nosso  poeta  Paulino  Cabral,  pode  se 
viver  e  morrer,  ouvindo  o  credo  relho  ao  padre  cura,  o  que  já  é  muito, 
quando  algumas  doutrinas  modernas  existem  estéreis  e  desoladoras, 
como  o  sinioun  do  deserto  e  improfícuas  para  a  sociedade,  individual 
ou  collectivamente. 

Em  1871,  António  Lourenço  da  Silveira  Macedo  publicou  o  pri- 
meiro volume  da  sua  obra:  n Historia  das  quatro  ilhas  que  formam  o 
Districto  da  Horta,  desde  a  epocha  do  seu  descobrimento  até  á  presente, 
comprovada  com  documentos  authenticos  exírahidos  dm  repartições  pu- 


ABCHFVO  DOS  AÇORES  36í) 

blicas  e  comnienfada  com  as  opiniues  do!>  historiaúorcs  açorianos  i>  algu- 
mas eh  auctom:  sendo  este  trabalho  dedicado  ao  Marquez  d' Ávila  e  de 
Bolama,  impresso  em  4.",  o  primeiro  volume  na  typítgrapliia  de  Graça 
Júnior  e  no  anno  seguinte  o  segundo  e  terceiro  volumes  da  mesma,  na 
typograptiia  de  Laureano  Pereira  da  Silva  (Corrêa,  tendo  ao  todo  Hlá 
paginas,  das  qnaes  uma  abundoza  parte  de  copias  de  documentos. 

Esta  («Historia  das  quatro  ilhas»  representa  um  trabalho  de  ferro, 
especialmente  no  que  diz  respeito  a  indagações  de  datas,  tornando-se 
assim  de  muita  utilidade  para  os  estudiosos,  tanto  mais  quando  muito 
pouco  existe  ainda  escripto  com  respeito  ás  ilhas  occidentae.s  do  archi- 
pelago  açorico. 

A  sua  impressão  e  revisão  deixou,  porem,  alguma  coisa  a  dese- 
jar, como  se  verá  d  Uma  segunda  e  mais  correcta  edição  que  o  seu  e- 
rudito  author  falia  em  publicar,  ampliada  com  mais  imi  volume. 

Alem  d'esta  obra  e  de  alguns  escriptos  inéditos,  ainda  que  de  me- 
nor fôlego,  conhecemos  do  mesmo  os  seguintes  compêndios  elementa- 
res : 

Exenplos  edificantes  de  virtudes  moines  e  civicas  ecctrahidos  da  His- 
toria Portugueza  e  Iranscriptos  dos  clássicos  da  lingua.  para  as  lições 
de  leitura  nas  escolas  primarias. —  Compendio  de  grammatica  portugue- 
za.—Breve  tratado  de  Agricultura.  —Noções  de  Historia  geral,  especial - 
mente  do  Reino  de  Portugal.  —  Principios  elementares  de  Pedagogia.  — 
Noções  summarias  de  Geographia  e  de  Corographia  de  Portugal. — Ele- 
mentos de  Arithmetica. — Historia  Sagrada. 

Estas  diversas  publicações  abrangem  i7á  paginas,  foram  todas 
approvadas  pela  Junta  Consultiva  de  Instrucção  Publica  e  impressas, 
na  Horta,  pela  primeira  vez  em  1877,  na  typf)graphia  de  Francisco  Pe- 
reira de  Mello,  e  reimpressas  no  aimo  de  1H80  na  typographia  Miner- 
va Insulana. 

O  seu  illustrado  autht>r  tem,  também,  collabi»rado  em  diversos  jor- 
naes  da  sua  pátria  e  mais  effectivanipnte  em  quanto  se  publicou  «O 
Grémio  Litterario»  no  qual  inserio  uma  serie  de  artigos  concernentes 
á  instrucção  publica  e  a  homens  distinctos  d'este  Districto. 

Por  Decreto  de  \^2  de  Jidho  de  1883  foi  António  Lourenço  da  Sil- 
veira Macedo  agraciado,  pelo  governo  pnrtuguez,  com  a  Conmienda  da 
Ordem  Militar  de  Nosso  Senhor  Jesus  Christo  e  de  ha  muito  que  o  te- 
mos visto  exercer  com  a  máxima  assiduidade  importantes  carg(»s  pú- 
blicos, taes  como:  Procurador  á  Junta  Geral  do  Districto,  desde  187á, 
em  que  tem  servido  de  Secretario,  vice  presidente  e  presidente  da  res- 
pectiva Ciommissão  executiva.  Conselheiro  do  Districto,  desde  187:2  a 
1878,  vogal  da  Commissão  do  recrutamento,  durante  o  mesmo  perío- 
do, presidente  da  Conunissão  do  recenseamento  eleitoral  desde  1874 
até  1877  e  depois  desde  1880  a  1881.  vogal  claviculario  da  Junta  ad 
ministrativa  das  obras  do  porto  artificial  da  Horta,  vogal  da  (Àimmis- 
são  anti-phylloxerica  e  du  conselho  da  agricultura,  em  1883.  prosiden- 


366  ARCHIVO   DOS  AÇORES 

te  da  Commissão  promotura  de  soccorros  para  os  pobres  doentes  da 
Feteira,  em  1884,  e  no  mmo  immediatu  eleito  presidente  da  Commis- 
são para  orgaiiisar  os  annaes  deste  municipio,  bera  como  em  1886  do 
Centro  agricola  da  Horta. 

Uma  única  palavra  define  perfeitamente  a  feição  mais  saliente  do 
Commendador  Macedo— o  trabalho. 


ANTÓNIO  DE  LACERDA  BULCÃO.  —  Filho  do  dislincto 
poeta  António  Silveira  Bulcão,  de  que  Iratáinos  antecedentemente  e  de 
sua  consorte  D.  Maria  de  Lacerda  Labatli  Bulcão,  nasceu  na  então  vil- 
la  da  Horta,  aos  17  de  Junho  de  1817. 

Foi  alferes  da  4.^  companhia  do  2.°  Batalhão  de  voluntários,  cria- 
do em  «lefesa  da  liberdade  por  Decreto  de  7  de  Setembro  de  1831  e 
dissolvido  por  Portaria  do  Ministério  do  heino  de  8  d'Agosto  de  1840. 

Nomeado  amanuense  do  Governo  Civil  da  Horta  em  21  de  Julho 
de  1836  e  promovido  a  2.°  official  em  20  de  Dezembro  de  1872,  foi 
aposentado  neste  ultimo  cargo  por  Carta  Regia  de  11  de  Fevereiro  de 
1880. 

Durante  este  longo  prazo  de  serviço  publico,  foi  encarregado  o 
Sr.  Bulcão,  sem  receber  remuneração  alguma,  de  diversas  commis- 
sões,  algumas  das  quaes  importantes,  como  se  vè  da  seguinte  copia 
dnm  documento  ollicial: 

—  «Governo  Civil  do  Districto  da  Horta=N.°  16=  l.""  Direcção=  , 
2.*  Repartição^^lll."""  e  Ex.™'  Sr.  =Em  cumprimento  do  veneiando 
despacho  de  Y.  Ex.^  de  20  de  Julho  ultimo,  no  requerimento  do  2."* 
olficial  aposentado  d'esle  Governo  Civil.  António  de  Lacerda  Bulcão, 
em  que  solicita  uma  gratificação  pelos  serviços  e.\lraoidinarios  que 
por  nomeação  deste  Governo  Civil  desempenhou  em  diversas  epochas, 
devo  informar  a  V.  Ex.*  que  o  Sr.  Bulcão  jamais  recebeu  gratificação 
algiuiia  pelas  commissões  que  desempenhou  sendo  enviado  á  ilha  do 
Pico  em  1838,  pelo  Ex.""*  Snr.  António  Joaquim  Nunes  de  Vasconcei- 
los,  em  I8't0  pelo  Ex.""'  Snr.  Francisco  de  Paula  de  Souza  Villa  Lobos, 
em  1842  pelo  Ex."'°  Snr.  António  José  Vieira  Santa  Rita:  ás  ilhas  das 
Flores  e  Corvo  em  1842  pelo  dito  Ex.'"°  Snr.  Santa  Rita  e  em  1843 
á  ilha  do  Pico;  em  18o3  foi  novamente  enviado  á  ilha  do  Pico  pelo 
Ex."'°  Snr.  Luiz  Teixeira  de  Sampaio  Júnior  (Alvará  de  11  de  Feve- 
j-eiro  de  l8o3).Foi  mais  mandado  á  ilha  Gracioza  em  1844,  pelo  Ex.™" 
Snr.  Santa  Rita  (Inslrucções  de  II  d  Agosto) e  em  ISoO  ás  ilhas  Ter- 
ceira e  São  .Miguel,  por  nomeação  do  Ex.™"  Sr.  Joaquim  José  Pereira 
da  Silveira  ^Alvará  e  Guia  de  o  de  Junho).  Destas  commissões  as  mais 
importantes  foram  ás  ilhas  Terceira  e  São  Miguel,  para  compra  de  ce- 
leaes  por  conta  do  Estado,  a  fim  de  abastecer  o  mercado,  em  vista  da 
lernvel  crise  alimentícia,  que  então  solTreu  este  Districto.  Que  desem- 
penhou com  zelo  e  honradez  todas  estas  coininisMjes  fazendo  todas  as 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  367 

despezas  á  sua  custa,  das  qiiaes  ainda  não  foi  indemnisado,  tendo  re- 
querido ao  Governo  duas  vezes  nma  gratificação,  não  se  recordando 
precisamente  as  datas  dos  requerimenlos,  sendo  o  primeiro  enviado 
ao  Ex.'""  Sr.  Dr.  João  António  Corrêa  de  Sequeira  Pinto,  Governador 
Civil  de  Sentarem,  que  antes  havia  exercido  o  cargo  de  Secretario  Ge- 
ral n"este  districto,  e  o  segundo  ao  Ex."*"  Sr.  Jacintho  Augusto  de 
SanfAnna  e  Vasconcellos,  deputado  por  este  Districto.  Julgando,  pois, 
justa  a  pretensão  do  requerente  e  verdadeiío  tudo  o  que  o  mesmo  al- 
lega  no  seu  requerimento,  que  devolvo,  V.  Ex.^  se  dignará  mandar 
arbitrar  a  gratificação  qiie  julgar  conveniente.  Deus  Guarde  a  Y.  Ex.* 
=  Governo  Civil  da  Horta,  21  de  agosto  de  1880:  =  111;""'  ExT"  Sr. 
Ministro  e  Secretario  d'Estado  dos  Negócios  do  Reino  =  0  Governador 
Civil  substiluto  =  Rodrigo  Alves  Guerra.» 

A  cansa  era  justa,  mas  o  resultado  foi  nenhum. 

Dotado  de  talento  para  a  pintura  fez  António  de  Lacerda  Bulcão 
numerosos  quadros,  para  oíferecimentos. 

A  seguinte  carta  do  virtuozo  Bispo  desta  Diocese  D.  Fr.  Estevão 
de  Jesus  Maria  demonstra,  plenamente,  a  bôa  acolhida  que  teve  pelo 
venerando  Prelado  um  trabalho  d'aquelle  fayalense. 

É  um  documento  inédito  e  valiozo  pela  sua  alta  proveniência: 

—  «Ill.™°  Sr.  —Com  a  sua  carta  de  26  de  Julho,  d'este  anuo,  re- 
cebi a  apreciável  offerta  de  um  engenhozo  pathetico  quadro  a  óleo, 
obra  que  sobremodo  exalta  o  seu  author,  mui  principalmente  sabeu- 
do-se  que  sem  estudos  methodicos  de  desenho  a  imaginou  e  levou  a 
effeito  tão  somente  pela  tendência  e  gostoza  dedicação  ao  aprasivel 
labor  da  pintura.  Agradecendo,  preso  a  sua  altencioza  lembrança  por 
dimanar  de  um  coração  sincero,  animado  de  sentimentos  verdadeira- 
mente catholicos.  Oxalá  que  tão  affectuozo  pensamento  elegantemente 
significado  no  seu  bel  lo  quadro,  com  referencia  ás  virtudes  de  um 
immerito  Prelado  fora  exacto!  Então,  exclamaria  com  o  Psalmista  = 
Não  a  nós.  Senhor,  mas  ao  Vosso  Santo  nome  dai  gloria.  E  os  Anjos 
Santos  no  Ceu,  e  os  homens  na  terra,  fieis  á  suave,  doce,  máxima  do 
Salvador=Besplandeça  a  Luz  do  vosso  bom  exemplo  na  presença  dos 
homens,  glorifiquem  ao  Pai  que  está  nos  Céus,  de  certo  Lhe  tributa- 
rião.  em  presença  da  virtude  sempiterno  Louvor,  glorificando  inces- 
santemente a  este  Amorosíssimo  Pae  Celestial,  Creador  e  Redemptor 
Nosso  Senhor  Jesus  Christo.  Digne-se  V.  S.^  acceitar  os  sinceros  vo- 
tos do  meu  cordeal  agradecimento  pois  sou,  abençoando-o,  com  toda 
a  estima  e  maior  consideração=De  V.  S.*=Prelado  aíTectuoso  e  vene- 
rador  obrigado^Fr.  Estevão,  Bispo  d"Angra=Quinta  das  Almas,  3  de 
Setembro  de  1838.). 

O  Sr.  Bulcão  no  decurso  da  sua  laboriosa  vida  publica  foi  conde- 
corado com  o  grau  de  cavalleiro  da  ordem  militar  de  N.  S.  .lesus  Chris- 
to, bem  como  de  cavalleiro  da  ordem  militar  de  N.  S.'*  da  Conceição 
de  Vi  lia  Viçosa. 


368  AHCHIVO  DOS  AÇORES 

(^umo  escriptor  publico  exisleni  luimerosissimai;  composições  fir- 
madas com  o  seu  nome,  dispersas  em  (juasi  lodos  os  periódicos  d'es- 
te  arcliipelago. 

Alem  de  um  drama  em  Ires  actos  com  o  lilnio  oA  influencia  da 
mulher^)  em  lempo  representado  por  curiosos  no  thealro  União  P^aya- 
lense,  conhecemos  do  mesmo  autlior  qíjarenla  e  nove  romances,  com 
os  seguintes  tilulos  : 

O  Segredo  diurna  jlor  —  O  Afanicoque  —  O  Contra-mesfre  —  José 
Imagos  ^A  Bahia  do  Inferno-  A  Estalla  -  Scenas  phantasticas  —  Mo- 
desta—  Dainiana  —  Pefia  de  Talião — O  Esqueleto  —  Jan  Fernandes  — 
A  casa  sinistra  —  A  Tia  Micaela  —  Mistérios  duma  familia — Calham- 
bola  —  Monitaria  Secreta  —  Os  dois  gémeos  —  O  Ciúme  —  O  Sr.  Viel- 
la —  O  Oráculo—  Os  dois  rivaes —  O  Cego  da  Feteira  —  O  ramo  de  vio- 
letas —  Maria  Dijanira  —  O  desherdado  —  O  Martijr  —  O  Arrependimen- 
to -  O  homem  do  capote  de  escocez  —  Mestre  Parramaque  —  Mistérios 
do  Fagal  —  A  Cruz  de  prata  e  a  Cruz  de  ferro  —  O  homem  mysteriu- 
so  —  A  casa  Negra  —  O  Ermita  —  O  Invalido  —  Os  pobres  do  Fayal  — 
O  Morro  de  Castello  Branco  —  Bento  Murtes  —  O  Embruxado  —  Fr. 
João  —  Cinco  dias  na  ilha  do  Corvo  —  Vida  do  Judeu  Errante  —  O 
homem  que  chora  —  O  Mendigo  —  O  Lunático  —  O  Prisioneiro  —A  Da- 
ma do  Cemitério  —  Ancilla. 

D'esta  longa  lista  trinta  e  dois  romances  foram  impressos  em  heb- 
domadarios  e  os  últimos  dezesete  em  três  volumes,  na  typ.  de  Fran- 
cisco Pereira  de  Mello,  em  1877  e  78,  sendo  este  artista  o  seu  editor, , 
conjunctamente  com  Jeronymo  Gomes  dOliveira,  pertencente  á  mes- 
ma classe. 

Os  romances  em  folhetins  contem,  approximadamente,  duas  mil  pa- 
ginas e  os  avulsos  730  pag.  em  8.*'. 

Ao  declinar  de  uma  vida  incontestavelmente  de  trabalho,  um  pro 
fundo  desgosto  de  familia,  a  morte  d'um  ÍWUo  querido  e  geralmente 
estimado,  o  nosso  bondoso  companheiro  d'infancia,  António  de  Lacer- 
da Bulcã(j  Júnior,  nií^is  tarde  digno  vice-consni  de  Hespanha  n  esta  ilha, 
veio  angustiar  d"uma  maneira  atroz  o  ('oração  do  seu  extremoso  pae. 

A  ultima  visita  que  lhe  fizemos  contristoií-nos  bastante,  aquelle 
cavalíjeiro  cjue  aiilecedentemente  conhecêramos  jovial,  fallador,  uni  tan- 
to excêntrico,  estava  deuiiidado,  enfra(|uecido  pela  doença  e  magíjas  e 
invadido  por  acerba  Irislesa. 

Não  era  o  mesmo. 

Km  trenle  da  sua  pequena  mesa  de  escrever  um  retrato  do  falle- 
cido  filho,  sobre  uma  commoda  algumas  llores  colhidas  na  sua  sepul 
Ima,  lagrimas  nos  olhos  e  saudades  no  coração. 

Hespcilámos,  sinceramente,  aquella  dòr  que  é  immensa  e  dêmos 
um  apéilo  de  mão  ao  inofensivo  escriplor  (|ue,  no  decin'so  apenas  de 
alguns  mezes,  parecia  ter  envelheeiílo  imii  tpiarlo  de  século. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  309 


O  DR.  MIGUEL  STREET  D'ARRIAGA.  -Em  1827,  ii  es- 
sa fausta  epocha  para  os  fayaleoses,  na  qual  as  clironicas  de  então  nos 
apresentam  a  villa  da  Horta,  toda  entrego»!  a  festejos  [)uljlicos  e  até  es- 
pectáculos dramáticos,  devidos  aos  acontecimentos  politicos  da  metró- 
pole e  á  adliesão  (jue  os  habitantes  d  esta  ilha  prestavam  á  carta  con- 
stitucional, em  Abril  do  anno  antecedente  pronujlgaija  como  lei  funda- 
mental do  paiz  e  em  que  ás  vistosas  encamisadas  com  barcas  de  nui- 
sica,  bandos  e  illuminações  se  juntavam  bailes  e  recitas  e  até  um  gran- 
de jubileu  com  diversas  procissões  e  festas  nos  templos,  para  tornar 
mais  agradável  a  vida  destes  povos,  tratando  do  seu  recreio  e  espi 
ritual  proveito,  n'esse  anno,  dizíamos,  chegou  ao  Kayal  empossado  no 
cargo  de  corregedor  o  Dr.  Miguel  Maria  Borges  da  Camará,  oriundo 
d'esta  ilha  e  filho  d  um  cavalheiro  notável  pelos  seus  serviç(»s  ao  paiz, 
o  desembargador  e  alcaide  mór  Miguei  dArriaga  Bruni,  que  fora  Ou- 
vidor de  Macau. 

O  dr.  Miguel  Maria  não  vinha  iniciar-se  na  publica  governação  no 
cargo  que  lhe  foi  confiado,  porquanto  tendo  em  Lisboa  um  tio  Inten- 
dente da  Policia  com  o  mesmo  já  tivera  proveitoso  tirocínio  no  segui- 
mento de  muitos  negócios  públicos. 

Emquanto  ao  seu  physico  era  o  novu  corregedor  de  estatuía  mui- 
to baixa,  magro,  e  tão  magro,  que  costumava  dizer  quando  ia  de  ca- 
deirinha a  alguma  festa  publica,  ou  a  algum  baile,  que  os  conductores 
podiam  andar  de  pressa  e  sem  cauçaço,  (mis  o  pezo  maior  (|ue  leva- 
vam era  do  seu  espadim. 

Havia  o  coriegedor  casado  em  Lisboa  com  sua  prima  D.  Barbara 
Joaquina  Street  d  Arriaga,  Senhora  nobre  e  de  flua  educação,  filha  de 
Guilherme  Street  d  Arriaga,  abastado  proprietário  de  (uuitos  prédios 
em  Lisboa  e  duma  valiosa  quinta  em  Carnide. 

O  dr.  Miguel  Maria  era  cavalheiro  do  mais,  delicado  trato,  possuiu 
do  notáveis  conhecimentos,  tanto  com  relação  á  litteratura  pátria  co- 
mo de  estrangeiras  nações,  alegre  e  dagradavel  conversação,  na  qual. 
não  raro  scintillavam  ditos  de  fina  critica  e  profunda  observação. 

Era  um  homem  de,  corte,  em  toda  a  extensão  da  palavra  e  na  so- 
ciedade elegante  da  Horta,  n'aquella  bella  sociedade  de  então,  que  nis- 
lo  era  notável  esta  localidade,  o  corregedor  .Miguel  Maria  foi  assidiio 
fre()uentador  de  todos  os  bailes  e  diversões,  dando  taníbem  sumj)tuo- 
sas  festas  na  sua  hospitaleira  residência. 

No  Fayal  tornara-se  assaz  sympathico  e  gosava  de  geral  estima. 

A  25  de  Outubro  de  1828  nasceu-lhe,  na  Horta,  um  filho  que  re- 
cebeu o  nome  de  Miguel. 

Aclamado  subsequentemente.  D.  Miguel  n'esla  ilha,  a  4  de  Setem- 
bro de  1828,  o  ctjrregedor  Miguel  Maria  portou  se  com  a  maior  mo- 

N.''  ^6  — Vul.  VHI  -   1886.  12 


370  ARCHFVO  DOS  AÇORES 

deração,  como  em  seguida,  de  4  de  Novembro  em  diante,  nos  aconte- 
cimentos a  que  deu  logar  a  chamada  revolução  do  castello,  no  sentido 
liberal,  em  consequência  da  qual  veio  para  o  Faval  o  syndicante  Tor- 
res, de  lúgubre  memoria. 

D'este  comraedimenlo  com  miguelistas  e  liberaes,  aconteceu  o 
que  succede  muitas  vezes  aos  homens  bem  intencionados  e  ordeiros, 
isto  é,  ficar  mal  com  o  povo  por  causa  do  Rei  e  com  o  Rei  por  causa 
do  povo. 

Os  miguelistas,  porem,  tomaram-no  entre  dentes,  acoimando  o  cor- 
regedor de  malhado,  especialmente  depois  que  na  celebre  Devassa, 
tirada  pelo  syndicante  Torres,  protegeu,  até  certo  ponto,  os  liberaes. 

Passou-se,  assim,  ordem  áe  prisão  contra  o  corregedor,  a  qual 
com  algumas  peripécias  assaz  cómicas,  foi  effeituada  pelo  juiz  por  bem 
da  lei  Gonçalo  de  Labath  Marramaque  de  Lacerda,  homem  de  supina 
ignorância,  gago,  grotesco  e  ridiculamente  fanático  pelo  throno  e  pelo 
altar. 

Do  castello  de  Santa  Cruz,  aonde  foi  encarcerado,  sahio  o  dr.  Mi- 
guel Maria  d'esta  ilha,  seguindo  depois  de  Lisboa  para  França,  aonde 
residio  por  algum  tempo. 

Quando  D.  Barbara  .loaquina  Street  regressou  para  o  Fayal  vinha 
já  viuva,  ainda  que  de  recente  data  e  mais  tarde  veio  a  casar  em  se- 
gundas núpcias  com  José  Curry  da  Gamara  Gabral,  abastado  proprie- 
tário e  digníssimo  cônsul  da  Rússia  n'esta  ilha,  aonde  viveu  com  faus- 
to. 

O  filho  do  corregedor  Miguel  Maria,  matriculado  na  Universidade 
de  Goimbra,  cursava  a  faculdade  de  direito,  com  muita  distincção,  ob- 
tendo a  sua  formatura  no  anno  de  1850. 

O  dr.  Miguel  Street  d'Arriaga,  terminado  o  seu  curso  académico, 
veio  ao  Fayal  visitar  a  sua  família  e  voltando  depois  para  o  continen- 
te alli  exerceu  por  breve  tempo  funcções  administrativas,  regressando 
em  seguida  para  esta  sua  pátria,  aonde  chegou  a  2i  d  Outubro  de  1852, 
nomeado  Secretario  Geral  do  Districto  da  Horta,  do  qual  exercia  então 
o  cargo  de  Governador  Civil  Luiz  Teixeira  de  Sampaio,  aqui  residen- 
te desde  26  d'Agosto  antecedente. 

No  mez  de  Fevereiro  de  1853  casava  com  D.  Garlota  d'01iveira, 
virtuosa  filha  do  sargento  mór  d'ordenanças  António  dOliveira  Perei- 
ra, do  qual  tivemos  occasião  de  tratar,  antecedentemente,  como  pro- 
prietário da  casa  em  que  se  hospedou,  na  Horta,  o  grande  tribuno  Jo- 
sé Estevão. 

Se  o  dr.  Miguel  Street  dArriaga  como  exemplar  chefe  de  familia 
e  distincto  funccionario  publico,  pois  que  exerceu  sem  interrupção  as 
funcções  de  Secretario  Geral  até  princípios  de  Junho  de  1882  em  que 
indo  para  Lisboa  com  sua  familia  foi  reformado  e  aonde  reside,  honrou 
sempre  a  terra  da  sua  naturalidade,  lambem  no  campo  das  letras,  em 
cujo  constante  convívio  passava  as  horas  de  descanço  das  suas  occu- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  371 

paçôes  oíTiciaes,  adquirio,  desde  longa  data,  um  nome  respeitável  e 
laureado. 

Da  mesma  sorte  que  nos  seus  tempos  de  estudante,  em  Coimbra, 
punha  em  scena,  no  llieatro  académico,  algumas  das  suas  producções 
diamaticas,  ou  pelas  tão  decantadas  margens  do  Mondego  compunha 
numerosas  poesias,  depois  de  entrar  na  realidade  da  vida,  não  conse- 
guiram arredal-o  as  tarefas  burocráticas  d'aquella  sua  natural  vocação 
para  o  culto  da  arte,  sob  variadas  formas,  mas  sempre  d'uma  manei- 
ra correcta  e  n'um  estyllo  despretenciozo  e  muito  elegante. 

Os  primeiros  versos  que  conhecemos  do  dr.  Street  d'Arriaga, 
compostos  no  Fayal,  foram  os  que  dedicou  ao  celebre  violinista  Agos- 
tinho Robbio,  quando  aconteceu  o  navio  em  que  este  grande  artista  se-' 
guia   para  a  America,  arribar  ã  cidade  da  Horta,  aonde  elle  deu  um 
concerto  na  noite  de  21  dOutubro  de  1850. 

Sendo  uma  peça  completamente  inédita  e  talvez  nem  da  mesma 
já  possuindo  o  original  o  seu  author,  por  isso  publicámos  n'estes  apon- 
tamentos a  seguinte: 


oi:>E 

Robbio,  mortal  não  és,  do  Céu  descido 
Mandas  ao  coração,  o  mundo  reges 
Da  rebeca  ferindo  as  áureas  cordas 
Que  o  espanto  derramam! 

Eia,  ó  génio,  as  azas  solta  altivo 
Aéreas  regiões  busca  sem  limites 
E  em  sons  te  espraia  em  poesia  excelsa 
Que  o  louro  deus  te  assopra. 

Ousado  sempre  sobe  e  com  teu  canto 
Arrasta  quem  te  escute:  eia,  subindo 
Em  harmonias  mil  mengolfa  a  alma 
E  nos  astros  me  pousa. 

N'esta  terra  surgiste  qual  phantasma 
Que  em  doces  sonhos  cria  a  mente  enferma 
Quando  de  noite  em  puro  azul  refulge 
A  scintillante  Delia. 

O  delirio  passando  o  sonho  foge, 
A  visão  mais  não  brilha,  o  fraco  espirito. 
E  a  só  lembrança  fica  amara  e  triste 
Da  desfeita  chimera ! 


372  AKCHIVO  DOS  AÇORES 


Embora  passes  meteoro  ingente 
No  nosso  fusco  cen  rápido  e  breve, 
Mas  nunca  o  dia  em  que  fulgente  assomas 
No  Lelhes  se  mergulhe. 

Dos  céus  m'incenda  a  mente  o  fogo  ethereo. 
Que  aos  archanjos  roubaste  adormecidos, 
Uma  porção  me  dá,  com  elle  inspira 
Desconhecido  Vate. 

Dá-me  calor  e  força  com  que  espalhe 
Na  lingoa  de  Camões,  suave  e  bella, 
Du  leu  pleclro  a  doçura,  6  grão  discipnio 
Do  divo  Paganini. 

Mas  onde  vou?  que  arrojo  avermelhando 
As  faces,  os  sentidos  m'exlravia? 
Que  stulto  intuito  de  Sião  a  musica 
Na  lyra  de  cantar? 

É  tal  o  leu  poder,  é  tal  o  encanto 
Que  das  Musas  ao  sacro  monte  arrastas 
Quem  do  Helicon  as  agoas  não  bebeu. 
Com  o  canoro  accento. 

E  se  a  lyra  dedilho,  em  pasmo  absorto. 
Se  atrevido  levanto  a  fraca  voz, 
Teu  génio  me  arrebata  e  delirante 
Meu  transporte  não  callo. 

Mortal  não  és,  és  deus,  na  terra  imperas. 
Quando  largas  os  sons  magos,  dulcíssimos, 
E  na  pyra  te  lanças,  desvairado 
D'enlhusiasmo  immenso! 


No  \°  de  Abril  de  1857,  fres  mezes  incompletos  depois  da  publi- 
cação em  10  de  janeiro  anterior  do  «Incentivo,»  o  primeiro  periódico 
d'esta  ilha,  fundava  o  dr.  Miguel  Street  d'Arriaga,  conjunctamente 
com  um  cavalheiro  muito  devotado  ás  letras,  o  dr.  José  AlToi)so  Bote- 
lho Andrade,  então  aqui  residente,  o  semanário  «O  Fayalense»,  im- 
presso na  typographia  de  João  José  da  Graça  Júnior,  na  rua  do  Colle- 
gio,  n."  5  e  depois  na  rua  da  Misericórdia,  n."  3. 

Começou  este  periódico  e  assim  proseguio  (até  31  de  Junho  de 
1839,  em  que  mudou  de  formato)  a  ser  publicado  em  4.*'  grande,  com 
oilo  [)aginas  de  composição,  em  duas  columnas  cada  pagina,  e  ties  do 
2.°  anuo  cm  diante,  adoptando  uma  feição  assaz  commedida. 


AnCHIVO  DOS  AÇORES  373 

No  artigo  principal  do  primeiro  numero,  sob  o  titulo  de  «Introdu- 
ção», declaravam  os  seus  illustrados  redactores:  «trataremos  de  cou- 
sas, de  princípios,  de  grandes  conveniências  e  de  objectos  litterarios 
e  scientificos  por  que  o  nosso  genio'não  se  compadece  com  outro  meio 
de  escrever.  Acreditem  nos  esta  declaração  que  é  verdadeira  e  o  tem- 
po o  mostrará». 

Effectivamente  o  programma  foi  cumprido  e  o  primeiro  anuo  do 
«Fayalense»,  embora  tenha  sido  inalterav«'lmente  um  periódico  sério, 
é  O  riielhor  de  toda  a  collecção  de  vinte  e  nove  annos  já  completos  de 
existência,  pois  que  traçamos  estas  linhas  em  Junho  de  1886. 

A  par,  então,  das  brilhantes  descripções  de  viagem,  estudos  de 
critica  litteraria  e  poesias  de  Botelho  Andrade,  numerosas  composições 
em  verso  de  Street  dArriaga  enriqueciam  as  suas  paginas,  sendo  tam- 
bém alli  tratadas  com  notável  proficiência  algumas  questões  de  interes- 
se publico  para  esta  localidade. 

Concernentemente  á  arte  dramática,  encontrámos  n'aquelle  pri- 
meiro anuo,  do  mesmo  author  e  também  em  verso  um  Elogio,  recita- 
do no  theatro  «.União  Fayalense^y,  em  16  de  Setembro  de  1856. 

E'  allusivo  á  subida  ao  throno  d'EI-Rei  D.  Pedro  5.*^,  sendo  aquel- 
l:i  data  a  da  inauguração  do  mencionado  theatro. 

Apparece  logo  em  seguida  a  publicação  do  drama  em  ires  actos 
A  Condessa  e  o  Caixeiro,  que  fora  á  scena,  com  applauso,  no  theatro 
académico,  em  Coimbra,  em  Novembro  de  1849. 

Desde  o  1.°  n.'*,  do  2."^  anno,  do  indicado  «Fayalense»,  perdeu 
este  excellente  semanário  a  collaboração  do  dr.  José  Affonso  Botelho 
Andrade,  por  declaração  do  mesmo,  datada  de  6  de  Julho  de  1858,  fi- 
cando a  sua  redacção  exclusivamente  a  cargo  do  dr.  Arriaga. 

Começou  então,  alli,  a  publicação  do  seu  drama  Júlia  Cesarina, 
cuja  acção  é  passada  em  Venésa,  no  anno  de  15)6. 

Apesar  d'esle  valioso  brinde  aos  leitores  do  «Fayalense»,  forçoso 
é,  ainda  assim,  confessar  que  a  sabida  da  redacção  do  dr.  Botelho  An- 
drade, deixou  uma  grande  lacuna  naq-ielle  periódico,  por  quanto  tão 
abalisada  penna  não  é  fácil  de  ser  substituída,  nem  um  único  redactor, 
embora  muito  hábil,  pode  accudir  de  prompto  ás  differentos  secções 
d'uma  publicação  litteraria,  politica  e  noticiosa. 

No  emtanto  o  «Fayalense»  continuou  a  ser  distribuído  com  toda  a 
regularidade,  o  que  não  tem  sido  muito  trivial  com  algumas  publica- 
ções d'esta  localidade. 

Devemos  também  aqui  mencionar  que  o  primeiro  typographo  com 
que  começou  «O  Fayalense»,  tem  no  acompanhado  até  iioje,  no  decur- 
so de  mais  de  vinte  e  nove  annos. 

E  o  Sr.  Luiz  da  Terra,  que  passou  a  ser  seu  proprietário,  reda- 
ctor e  editor  desde  18  de  Junho  de  188:2,  devendo  também  notar-se 
que  desde  o  n.**  50,  do  1."  ánno,  foi  composto  este  periódico  na  typo- 


374  ARCHIVO  DOS  AÇOHES 

ííraphia  Hortense,  proprieiJnde  do  mesmo  dr.  Arriaga  e  actnalmente 
do  redactor  d'essa  folha. 

Pouco  depois  da  abertura  do  thealro  União  Fayalense  subio  alli 
á  scena  o  drama  em  três  actos  Um  Crime,  composição  ligeira,  já  re- 
presentado no  Theatro  Académico,  conhecendo  nós  muito  mais  valio- 
sos trabalhos  do  dr.  Street  d'Arriaga,  u'aquelle  difíicil  ramo  de  litte- 
ratur?. 

Existe,  já  impresso,  do  mesmo  illnstrado  author  outro  drama,  em 
dois  actos,  com  o  titulo  Nobreza  e  Amor,  Horla,  typ.  Hurlense,  1874. 

Esta  singela  composição  foi,  expressamente,  escripta  para  ser  re- 
presentada n'nma  sala,  por  algumas  damas  e  cavalheiros  da  elite  da 
nossa  sociedade  e  por  conseguinte  adstricta  a  umas  certas  conveniên- 
cias dos  actores  que  a  iam  interpretar  e  do  meio  em  que  tinha  de  ap- 
parecer. 

Ainda  assim,  entendemos  ter  bastante  mérito  e  uma  encantadora 
louçania  de  phrase,  consoante  ao  selecto  auditório  que  tinha  de  escu- 
tar a  peça. 

Veio  em  seguida  A  Filha  do  Morgado,  um  bom  drama  em  quatro 
actos,  que  traduz  o  viver  fayalense  ha  uns  cincoenta  annos  e  que  foi 
muito  applaudido  pela  plateia.  Subio  á  scena  na  noite  de  10  de  Feve- 
reiro de  1879. 

Na  noite  de  10  de  Novembro  de  1880  o  theatro  União  Fayalense 
tornava  a  adornar-se  para  outra  recita  d'uma  nova  composição  do  mes- 
mo author  e  que  era  posta  em  scena  em  beneficio  da  Sociedade  Hu- 
manitária de  Lilteratura  e  Agricultura. 

Foi  a  comedia-drama  em  quatro  actos  As  Lições  de  Guitarra,  ba- 
seada n'uma  chronica  fayalense  e  que  reproduz  elegantemente  alguns 
(los  usos  e  costumes  açorianos  e  talvez  o  trabalho  litterario  do  dr. 
Street  d'Arriaga  que  contem  melhores  condições  scenicas. 

Conhecemos^lhe  ainda  um  outro  drama,  inedit(»  e  de  incontestável 
merecimento,  intitulado  Os  Estudantes,  estudo  d'algumas  aventuras  da 
vida  dos  rapazes  em  Uoimbra,  a  sua  maneira  de  existência,  alegrias, 
pesares  e  amor,  que  sem  este  poderoso  sentimento  quasi  que  não  ha 
drama^^on  romance  possível. 

E"  para  lamentar  que  não  haja  ainda  d  esta  obra  uma  edição  qual- 
(pu^r. 

Eis  nos  agora  em  frente  de  um  trabalho  de  maior  vulto  e  de  gran- 
de responsabilidade  litteraria,  de  um  lentime  muito  sério,  e  muito 
diflicil,  qual  a  traducção  do  mimozo  poema  de  Henrique  Longfellow  — 
Evavf/elitia . 

Qualquer  pessoa,  ainda  que  medianamente  instruída  na  lilteratu- 
ra do^s  Estados  Unidos  da  America,  cnnhcce,  com  certeza  que  repro- 
duzir nVuitra  lingoagem  as  delicadas  estrophes  do  author  da  Legenda 
Áurea,  tão  puras,  singelas  e  perfumadas  como  um  punhado  de  rosas, 
orvalhadas  de  diamantes  e  colhidas  em  festiva  manhã  de  primavera, 


ARCHIVO   DOS  AÇOPES  375 

é  uma  empresa  desanimadora,  quasi  impossível,  tanto  mais  (piando 
Longfellow  reunia  ao  talento  d'um  exímio  poeta,  os  distinctos  predica- 
dos dum  sábio,  occultando  por  debaixo  duma  apparente  simplicidade 
montões  de  bom  oiro  de  lei  e  muitos  thezouros  de  erudição. 

E  com  que  arte  era  isto  tudo  feito! 

O  dr.  Street  dArriaga  conseguio  traduzir  nuiito  conscencioza- 
mente  a  «Evangelina»,  visando,  primeiro  que  tudo  a  ser  verdadeiro, 
dando-nos  uma  approximada  idéa  do  poema  original. 

Concordámos  plenamente  com  o  dizer  do  Sr.  Xavier  da  Cunha, 
na  inlroducção  d'aquelle  valiozo  trabalho,  de  muito  tempo,  com  certe- 
za, quando  escreveu  os  seguintes  períodos: 

«O  dr.  Arriaga  não  cuidou  em  antepor  á  fidelidade  da  traducção 
o  capricho  de  corroborar  para  si  créditos  de  estylísta  elegante,  —crédi- 
tos, aliás,  que  todos  quantos  conhecem  o  distincto  poeta  fayalense  lhe 
confirmam,  ha  muito. 

Em  que  se  esmerou,  em  que  mormente  caprichou,  foi  no  escrú- 
pulo com  que  se  propoz  offerecer  aos  leitores  portuguezes  uma  repro- 
ducção  fide-digna  do  poema  americano  ...» 

A  «Evangelina»  foi  impressa  em  Lisboa,  pelo  editor  David  Coraz- 
zi,  em  1870  e  já,  ainda  em  manuscripto,  havia  antecedentemente  me- 
recido ao  seu  Iraductor  uma  honrosissima  carta  de  Longfellow. 

Na  relação  de  alguns  trabalhos  litterarios  do  erudito  fayalense 
mencionados  n'uma  nota  da  introducção  da  «Evangelina»  vem  alli  in- 
dicado o  drama  «Um  Crime»,  como  já  representado  no  continente  com 
o  titulo  «Beatriz». 

O  mesmo  acontece,  relativamente  á  mudança  de  titulo,  com  o  dra- 
ma «Salvação  e  Perdição»,  que  lemos,  se  a  memoria  nos  é  fiel,  com  o 
titulo  «Os  Estudantes»,  como  dissemos. 

Alem  das  numerosas  composições  de  que  tratámos  existem  do  dr. 
Street  d'Arriaga  diversos  discursos  publicados  nos  folhetos  narrativos 
de  abundosos  saraus  litterarios  que,  a  contar  da  noite  de  27  d'Abril 
de  1872  houveram  n'esta  cidade,  sendo  muito  para  notar  a  magnifica 
oração  que  proferio  na  noite  de  10  de  Junho  de  1880,  na  sala  dOs  Pa- 
ços do  Concelho,  por  occasião  da  brilhante  festa  alli  eíTeituada  pelo 
Grémio  Litterario  Fayalense,  no  tri-centenario  de  Camões. 

Está  publicada  nos  n.°^  3  e  4  do  1.°  anuo  do  periódico  daquella 
sociedade. 

Quando  tratámos  de  colligir  estes  succintos  apontamentos,  dirigi- 
mo-nos  por  escripto  ao  poeta  e  dramaturgo  fayalense.  então  residindo 
em  Lisboa,  pedindo-lhe  a  indicação  de  todas  as  suas  obras. 

Tardou  a  resposta,  mas  afinai  veio,  mencionando  somente  como 
valendo  a  pena  duma  referencia  qualquer,  a  sua  traducção  da  «Evan- 
gelina». 


376  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

E  terminava  a  carta  com  estas  palavras:  «Em  quanto  a  inéditos 
lenho  muita  coisa  que  talvez  e>teja  destinada  a  accender  uma  foguei- 
ra.» 

Pelo  amor  de  Deus !  . . 

As  leiras  açorianas  não  estão  de  tal  sorte  adiantadas  que  se  pos- 
sa fazer  isso  impunemente.  Seria  caso  para  dizermos,  parodiando  o 
Padre  António  Vieira  quando  via  um  homem  de  bem  afíastado  dos  ne- 
gócios do  Estado,  ou  desconsiderado,  «quem  vir  os  nossos  descartes 
cuidará  que  lemos  bom  jogo». 


AUGUSTO  BULCÃO.  —  Filho  de  Marcello  Alves  da  Silveira 
Bulcão,  exemplar  e  antigo  funccionario  publico  e  de  D.  Anna  Henri- 
queta Bulcão,  nasceu  na  freguezia  Matriz  da  Horta,  a  2i  de  Novem- 
bro de  1857. 

Desde  1873  até  Abril  de  1876  redigio,  conjunctamente  com  Ma- 
uiiel  Goulart  de  Medeiros,  um  periódico  de  estudantes  denominado  «O 
Lycèn  da  Horta»,  bem  como  pelo  mesmo  tempo  foi  um  aclivo  collabo- 
rador  do  «Picoense».  de  que  era  redactor  Urbano  Prudencio  da  Silva 
e  do  «Jorgense»,  então  a  cargo  de  Cândido  Serpa. 

Cumulativamente  com  isto  no  periódico  da  Horla  «A  Pátria»,  de 
que  era  editor  João  de  Bettencourt  Badella,  assim  como  no  «Fayalen- 
se» ,  existem  diversas  poesias  de  Augusto  Bulcão  que,  naquelle  perío- 
do, foi  um  tenaz  trabalhador. 

A  producção  de  maior  fôlego  que  conhecemos  doeste  talentoso 
mancebo  é  a  traducção  da  esplendida  poesia  hespanhola,  de  Roque 
Barcia,  «O  Tejo»,  um  folheto  de  46  pag.,  impresso  nesta  cidade,  na 
typ.  de  Francisco  Pereira  de  Mello,  no  anno  de  4877,  com  um  longo 
e  primoroso  prefacio  de  João  José  da  Graça  e  cuja  tiragem  foi  de  20Õ 
exemplares. 

Possue  o  Sr.  Bidcão,  ainda  inéditas,  abundosa  serie  de  poesias 
lyricas  que  formariam  um  alrahente  volume. 

Infelizmente,  no  Faval,  a  publicação  de  qualquer  obra  litteraria 
representa  quasi  sempre  um  sacrifício  pecuniário  para  o  aulhor,  o  que 
por  vezes  demora  ou  estorva  as  manifestações  do  talento. 

Augusto  Bulcão  é  neto  do  nolavel  poeta  fayalense  António  Silvei- 
ra Bulcão,  do  qual  já  tratámos  aiitecndenlemente. 

Apenas  om  29  aimos  de  edade  tem  ainda  um  largo  futuro  adian- 
te de  si  e  se  os  aífazeres  de  uma  vida  trabalhosa  o  tem.  ultimamente, 
arredado  do  campo  das  lelrjís,  estamos  convencidos  de  que  não  se 
mahiuistou  de  todo  com  as  Muzas  e  que  nem  ellas  lhe  leu)  deixado  de 
sorrir  em  agrestes  sitios  em  que  p<^rn»an('ce. 

Atraz  de  tempo,  tempo  vem. 


DONATÁRIOS  DA  ILHA  DE  S.  MIGUEL 

I^STITlIfÕES  VINCILARES 

)torga(io  de  D.  Felippa  Couliiiha:  I!i.l7. 

Dom  .lohaiii  etc.  A  (inamlos  esta  miiilia  carta  de  contirmação  vi- 
rem faço  saber  que  por  parle  de  dona  Felipa  (Jouliiiha  mollier  que  foy 
lie  Rny  Gonçalvez  da  (>amara  Capitam  da  Ilha  de  Sam  Migell  que  Deos 
perdoe  me  foy  apresenitado  liuii  eslromento  de  Instituição  de  morga- 
do cujo  theor  he  o  seguinte: 

Em  nome  de  Oeos  amem  que  de  todos  lie  verdadeira  salvação.  Se- 
jam certos  os  que  este  estromenlo  de  morgado  e  revogação  de  testa- 
mento virem  como  n»)  anno  do  nacimenlo  de  Nosso  S^^nhor  Jhuu  Xpo 
(Jesus  Christo)  de  ]"  b  e  xxxbij  ilòS7)  anos  aos  xbj  {16)  dias  do  nies 
de  Junho  em  a  vila  da  Pomte  Delgada  desta  Ilha  de  Sam  Migell  em 
as  casas  da  morada  da  sòra  ddua  Felipa  Continha  e  capitoa  d'esta  Ilha 
em  presemça  de  mim  piiblid)  tabaliain  abaixo  nomeado  e  das  testemu- 
nhas (]ue  ahy  fforam  presemtes  paicceo  ahy  a  dita  sòra  e  dise  (jue  era 
verdade  ipie  ela  e  o  capitão  Biiy  Gonçalvf  z  da  Camará  que  Deos  tem 
capitão  (|ne  foy  desta  Ilha  de  Sam  Migell  seu  marido  avia  annos  que 
líizeram  amb()s  juntamente  liini)  testamento  em  o  quall  de>poseram  de 
suas  terças  e  mais  b'^ns  segundo  se  em  elle  continha  e  segundo  a  des- 
posyçam  do  tempo  em  (jue  se  acharam  e  da  fazeujda  que  emlão  tinhão 
e  que  ora  ella  dita  sôra  per  sy  da  sua  parte  quebrava  e  avia  por  que 
bradn  o  dito  testamento  em  todo  e  isto  de  sua  livre  vomtade  sem  cos- 
Iramgimento  de  pesoa  algUa  somente  por  o  asy  semlir  ser  mais  ser- 
viço de  Deos  e  descareguo  de  sua  comciemcia  e  acrecemtamento  de 
sua  ÍTamilia  e  por  tãoto  ordenava  e  ordenou  por  este  presente  estro- 
mento  de  levogação  e  instituição  de  sua  terça  de  toda  sua  fazenda 
movei  e  raiz  que  por  seu  tfalecimento  se  achar  e  fBcar  asy  de  dinhei 
ro  como  de  cousas  moveis  e  sem:)ventes  (pie  por  sua  morte  se  acha- 
rem e  llicarem  o  seguinte: 

Itciíi  dise  que  de  toda  sua  terça  ijue  acliaila  f.ir  e  lhe  couber  por 
seu  falecimento  oi'(Vnav.i  e  fazia  limi  morgado  somente  tirava  da  dita 
terça  duzentos  mil!  reáes  em  dinheiro,  os  (juaes  Tp  {200^000)  reaes 
se  tiraião  e  pagarão  em  três  anos  do  dia  do  seu  falecimento  em  dean 
l'  e  deles  se  fará  aquillo  que  ella  ordenar  e  mandar  |)or  seus  Ifens  ou 
testamento  e  de  toda  a  outra  mais  fazenda  que  em  sua  terça  couber 

N  ".  i7  -Vol.  Y1II-188G.  I 


378  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

ha  ajunta  e  une  doji^  por  deamte  pêra  sen-pre  em  morgado  o  qual  ins- 
telny  e  ordena  no  milhor  modo,  fturma  e  maneira  que  posa  ser  pêra 
que  o  aja  seu  {Tillio  Manoell  da  Camará  Capitão  desta  Ilha  de  Sam  Mi- 
gell  e  por  seu  íTalecimento  o  avera  seu  ílilhn  barão  mais  velho  e  elle 
dito  seu  fTilho  ou  neto  mais  velho  flilho  do  dito  Manuel!  da  Camará  seu 
flQlho  o  tenha  aja  e  pesua,  reja  e  guoverne  sem  o  lall  morgado  nem 
bens  que  em  elle  ouver,  e  amdarem  e  forem  metidos  da  dita  sua  ter- 
ça se  puderem  nunqua  vender  nem  doar  nem  apartar  nem  trocar  nem 
apenhar  nem  escambar  por  nhimi  caso  que  seja  nem  pêra  obra  pie- 
dosa nem  por  nhua  via  nem  rezão  nem  partir  nem  devidir  por  soce- 
são  nem  por  outra  rezão  que  seja  e  quer  e  manda  que  na  socesão  do  di- 
lo  morgado  e  ordenamça  delle  se  tenha  a  maneira  seguinte,  a  saber : 
semdo  caso  que  sua  terça  lhe  líique  em  bens  de  raiz  os  taes  bens  que 
asy  ouver  serão  metidos  no  dito  morgado  e  pêra  isto  se  ffarão  dous 
Livros  de  pergaminho  emcadernados  em  taboas  de  pão  cnbertos  com 
couro  e  em  cada  huu  dos  ditos  livros  se  escreverão  todos  os  bens 
que  ao  dito  morgado  pertemeerem  decraradamente  os  bens  que  ham 
e  com  que  comfromtam  por  todas  as  partes  e  de  quamtos  moios  sam 
e  as  herdades  e  vilas  que  tem  e  de  quamia  camtidade  sam  e  a.\v  se 
tresladarão  nos  ditos  livros  no  principio  de  cada  huu  delles  o  trelado 
desta  Instituição  e  asy  todas  as  esprituras  e  titolos  das  propriedades 
H  semdo  caso  que  sua  terça  íTique  em  dinheiro  on  bens  moveis  e  se- 
moventes em  tall  caso  os  ditos  bens  se  venderão  sem  íTicar  cousa  al- 
gna  (jue  se  nam  venda  e  o  tall  dinheiro  todo  se  empregara  em  bens 
de  raiz,  moveis,  herdades,  juros  ou  foros  que  não  sejam  da  coroa  nem 
de  Igrejas  e  sejam  bens  livres  e  isemtos  que  não  pagem  foro  nem 
censo  a  outra  pesoa  algua  os  quaes  se  comprarão  no  arcebispado  de 
Lisboa  achandose  no  dito  arcebispado  e  quamdo  se  ahy  nom  acharem 
se  comprarão  no  bispado  d'Kvora  omde  milhor  se  acharem  e  todos  os 
ditos  bens  quamdo  se  comprarem  seja  logo  declarado  que  se  compram 
pêra  o  dito  morgado  e  o  dinheiro  que  das  cousas  de  sua  terça  se  111- 
zer  e  hy  ouver  o  socesor  do  morgado  o  pasará  desta  Ilha  a  Porlugall 
por  letras  e  não  se  achamdo  letras  em  algua  armada  dei  Rey  Nosso 
Senhor  que  vá  pêra  o  Reino  que  pareça  ser  armada  em  que  o  dinhei- 
ro posa  ir  seguro  e  o  socesor  do  dito  morgado  o  empregará  nas  ditas 
herdades  íToros  ou  juros  como  dito  he  o  mais  em  breve  que  poder 
fíazemdo  toda  a  deligemcia  que  sobre  iso  se  deve  e  poder  ffazer. 

Item  dise  que  por  (juanito  haa  dita  sua  terça  'podem  vir  peças 
de  prata  e  tapeçaria  e  outras  cousas  de  calidade  que  nesta  Ilha  se  nam 
poderão  bem  vemder  as  taes  cousas  e  peças  avaliadas  i>or  pesoas  que 
o  bem  entendam  se  seu  socesor  as  quizer  tomar  pela  avaliação  as  po- 
derá tomar  asy  as  nomeadas  como  outras  (juaesquer  de  menos  sortes 
e  do  dinheiro  ,-e  ffará  o  q'ie  dito  he  e  não  as  queremdo  seu  socesor 
em  tall  caso  as  mandará  vemder  a  Portugall  ou  a  (jualhpier  outra  par- 
te omde  lhe  parecer  que  mais  valham:  a  saber:  aqutllas  cousas  que 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  379 

lhe  parrcer  (jue  nesta  Illi;i  senão  puJerum  bem  vemder. 

Item  dise  que  u  dito  Manoell  da  Camará  seu  íTillio  e  sucesor  dee 
de  sua  terça  [terá  casamento  de  sua  nela  dona  Felipa,  íTiIlia  do  dito  Ma- 
noell da  Camará  seu  líillio  e  de  dona  Joana  de  Mendíjuça  sua  molhei' 
jiu  conto  de  reis  em  dinlieiro  de  eomtado  per  ajuda  de  seu  casamento 
o  quall  conto  de  reis  o  dito  seu  líjllto  Manoell  da  Camará  ou  qualquer 
outro  seu  socesor  que  este  moi'gado  ouver  daver  segumdo  fforma  des- 
ta Instituição  dará  a  dita  dona  Klelipa  sua  neta  casamdo  ella  por  con- 
sentimento de  seu  pay  e  mãy  ou  dei  Rey  noso  senhor  e  semdo  caso 
que  a  dita  sua  neta  dona  Feli|)a  morra  amtes  de  casar  ou  não  casam- 
do, o  dito  cointo  de  reis  se  comprará  em  bens  de  raiz  na  fornia  atras 
declarada  o  (]uall  conto  de  reis  o  dito  seu  ílilho  Manoell  da  Camará  ou 
(|ualquer  outro  socesor  deste  morgado  terá  em  sua  mão  e  o  poderá 
lograr  até  o  tempo  do  casamento  da  dita  sua  neta  ou  até  se  averiguar 
(jue  nom  liade  casar  ponjue  casamdo  se  lhe  dará  e  não  casamdo  se 
comprará  em  bens  de  raiz  ou  em  foros  ou  em  juros  pêra  o  morgado 
como  dito  he  nos  lugares  atras  declarados  e  manda  ela  Instetnydora 
que  este  conto  de  reis  que  asy  leixa  e  manda  dar  pêra  casamento  da 
dita  dona  Felipa  sua  neta  que  seu  filho  ou  qualquer  outro  socesor  do 
dito  morgado  o  pague  pelo  dinheiro  e  cousas  moveis  e  semoventes  que 
em  sua  terça  couberem  e  não  abastamdo  vemdidas  como  dito  he  se  a- 
cabará  de  paguar  o  dito  conto  de  reis  pelos  rendimentos  dos  bens  de 
raiz  da  dita  sua  terça  que  asy  faz  morgado  em  tanto  tempo  quamto  a- 
bastar  pêra  comprimento  do  que  íTalecer  pêra  o  dito  conto  de  reis  sem 
que  dos  ditos  bens  de  raiz  se  vemda  nem  alheie  cousa  algiia  pêra  o 
dito  pagamento  do  dito  conto  de  reis. 

item  dise  ella  Imstetuydora  e  tornon  a  declarar  que  o  dito  mor- 
gado aja  seu  filho  Manoell  da  Camará  e  por  morte  do  dito  seu  filho 
Manoell  da  Camará  o  aja  o  seu  filho  barão  mais  velho  que  legitimo 
seja  e  não  bastardo  posto  que  seja  legitimado  e  asy  pêra  sempre  an- 
dará em  linha  mascolina  por  decemdentes  legítimos  do  dito  seu  filho 
Manoell  da  Camará  mais  velhos  e  posto  que  aja  líilha  mais  velha  não 
herdará  o  dito  morgado  senão  o  íTilho  barão  posto  (jiie  seja  mais  mo- 
ço, e  semdo  caso  que  não  aja  filho  barão  e  asy  ouver  filha  fêmea  a- 
vemdo  neto  barão  do  dito  seu  fiilho  Manoell  da  Camará  filho  de  filho 
já  deíTunto  ou  de  filha  mais  velha  em  tall  caso  erdará  (j  tall  neto  ba- 
rão e  não  herdará  a  íTilha  posto  que  seja  mais  velha  e  mais  chegada 
em  grão  e  o  tall  neto  posto  que  seja  fiilho  de  fiílha  e  posto  que  lenha 
outro  apelido  se  chamará  primeiro  do  apelido  da  Camará  e  se  não  se 
chamar  do  apelido  da  (Gamara  e  não  trover  as  armas  dos  da  Cama- 
rá, posl(j  que  outras  mais  nobres  tenha  e  lhe  pertençam  ao  socesor  do 
dito  morgado  quer  que  tragna  senq)re  as  armas  dos  da  Camará  em 
um  quarteirão  a  mão  direita  e  no  quartcll  de  cima  do  escudo  e  não  as 
trazendo  como  dito  he  perderá  o  morgado  e  flicará  loguo  a  outro  her- 


380  ARCHIVO  DOS  AÇOhES 

deiro  mais  cljeg;ido  oiitrosy  não  nveodo  ííllho  barão  legitimo  e  natnrall 
uu  neto  cumo  dito  lie  em  tall  caso  erdara  a  ITillia  mayor  legitima  d(t 
dito  seu  filho  Manoell  da  Gamara  não  semdo  freyra  ou  de  hordem  pro- 
fesa  que  não  posa  casar  e  per  sua  morte  da  tall  ÍTillia  do  dito  seu  ITi 
lho  Manoell  da  Gamara  herdara  sen  filho  barão  legitimo  e  dahy  por 
deante  pelo  dito  modo  amdará  sempre  em, baião  de  sorte  que  en)  quam- 
to  ouver  (filho  barão  ainda  (jue  seja  mais  moço  não  herde  ífillia  fê- 
mea e  avemdo  neto  barão  não  herde  neta  posto  que  mais  velha  seja. 

Outrosy  ordenou  que  o  dito  morgado  o  não  herde  clérigo  nem 
frade  nem  liomem  dordem  que  não  posa  casar. 

Outrosy  ordenou  que  o  dito  morgado  não  herde  nem  soceda  nhuni 
que  se  posa  dizer  de  danado  coyto  posto  que  seja  legiiimado  por  Rey 
ou  príncipe  ou  papa  ou  qualquer  outra  pesoa  que  tenha  [)oder  [terá  iso 
e  sejam  exclusos  da  dita  socesão  de^le  morgado  e  em  todo  não  soce- 
dam  nem  posam  soceder  por  maneyra  alguma. 

Outrosy  lhe  prouve  e  manda  que  semdo  caso,  o  que  Deos  não 
mande  que  o  possuydor  do  dito  morgado  cometa  caso  algum  por  que 
posa  perder  a  fazenda  e  vida,  asy  por  treiçãoou  lesa  magestade,  o  que 
Deos  não  mande,  ou  por  outro  qualquer  cas.»  semelhante  lhe  apraz  que 
logo  tamlo  que  o  tall  delito  cometer  logo  soceda  o  tall  morgado  o  ou- 
tro paremte  mais  chegado  seu  descemdemte  do  dito  Manoell  da  Gama- 
ra seu  flilho  e  não  outra  algua  pesoa  nc-m  se  posa  soceder  nem  pe- 
suyr  por  pesoa  incapaz  da  tall  socesão. 

Outrosy  lhe  prouve  que  semdo  caso  que  o  socesor  que  o  dito  mor- 
gado ouver  de  soceder  seja  nnido  ou  desasysado  ou  furioso  ou  mente- 
capto ou  julgado  por  inabell  e  não  pêra  reger  o  tall  morgado  em  tall 
caso  herdará  o  morgado  o  paremte  mais  chegado  da  mesma  linha  do 
dito  seu  flilho  o  quall  terá  em  seu  poder  e  governamça  o  tall  parente 
inabell  e  o  proverá  de  todo  o  necesario  muito  homradamente  segum- 
do  a  calidade  de  sua  pesoa. 

Outrosy  semdo  caso  que  ao  tempo  da  socesão  do  dito  morgado 
aja  dous  paremtes  em  iguall  grão  sempre  socedeiá  o  filho  do  paremte 
mais  velho  posto  que  seja  menoi'  em  idade  porque  sua  temção  he  e 
decrara  que  o  filho  do  pareujle  mais  velho  este  he  mais  chegado. 

Outrosy  decrara  que  em  quamto  ouver  decemdemte  do  dito  seu 
filho  Manoell  da  Gafnara  abily  [»era  soceder  e  legitimo  nunqua  soceda 
o  transversall. 

Outrosy  semdo  cas-o  que  não  aj;i  filho  nem  neto  nem  filha  nem  ne- 
ta legítimos  se  por  morte  do  posuydor  do  morgado  ficar  flilho  natural: 
a  saber:  de  solteiro  e  solteira  em  tall  caso  o  filho  naturall  soceda  sen- 
do filho  do  pesoydor  barão  porque  sendo  a  pesoydora  do  morgado  fê- 
mea seu  flilho  ou  flilha  no  caso  que  pode  soceder  nunqua  socedeiá  .>e- 
uão  flor  filho  legitimo  e  nalurall  posto  que  se  chame  filho  de  príncipe 
aeni  de  grande  senhoi'  ainda  que  seja  con*leluydo  em  gramde  deni- 
dade. 


ARCHIVO   DOS  AÇOPES  381 

Oiitrosy  quer  que  o  dito  iiiorgndo  não  soced.i  nlm  irillio  aiognilt» 
nem  adotivo  e  semdo  caso  que  a  linha  de  seu  neto  mais  vi^lho  fillio  do 
dilo  seu  ffillio  Manoell  da  Camará  seja  exlimta  e  acabada  de  sorte  que 
delia  não  aja  decemdemle  algum  em  tall  caso  sucederá  o  seu  segimdo 
filho  e  seus  decemdemtes  mais  chegados  como  dilo  he  preleruido  s(  in- 
pre  os  barões  ás  fenusas  e  os  mais  velhos  os  mais  moços  e  mais  che- 
gados ou  ílilhos  dos  mais  velhos  aos  mais  moços  e  qiiamdo  da  lifihn- 
gem  do  seu  segumdo  filho  não  ouver  herdeiro  venha  ao  terceiro  e  da- 
hy  em  deanle  aos  outros  e  não  aveudo  filho  as  filhas  segundo  liuha  de- 
crarado  e  semdo  caso  que  não  aja  decemdemte  algum  seu  em  tall  ca- 
so o  dito  morgado  virá  ao  paremle  mais  chegado  do  dito  seu  filho  .Ma- 
noell da  Gamara  da  parte  de  seu  pay. 

Oulrosy  lhe  api'ouve  que  se  o  posuydor  do  dito  morgado  emtr.ir 
em  relegiam  o  l.dl  moesteiro  ou  hordc-n»  em  que  emtrar  não  posam  a- 
ver  nem  ter  direito  algum  nos  bens  do  dito  morgado  nem  fruitos  del- 
le  porque  sua  vomtade  he  ííazer  este  morgado  pêra  acrecenUament(j 
de  sua  íTamilia  e  pêra  criação  dn  seus  decemdemtes  e  paremtese  pê- 
ra servirem  a  Deos  como  bõos  casados  e  por  esto  não  (^uer  que  ajam 
os  taes  bens  religiosos  aos  quaes  convém  pobreza,  continência  e  cas- 
tidade. 

Outrosy  semdo  caso  que  ao  tempo  da  soce^ão  do  dito  morgado 
não  aja  decemdemte  seu  leigo  someute  aja  algum  clérigo  semdo  om- 
rrado  e  de  bõos  costumes  e  tall  seu  decemdemte  em  sua  vida  poderá 
a  ver  as  novidades  e  remdas  do  morgado  e  por  sua  morte  fique  ao  pa- 
remle mais  chegado  do  dilo  seu  filho  Manoell  da  Camará  da  parte  de 
seu  pay  e  o  nom  posa  aver  por  nenhum  mod(»  que  seja  filho  do  dito 
clérigo  posto  que  seja  muito  honirrado  e  virtuoso  (píer  que  nom  her- 
de nem  soceda  o  tall  morgad(». 

Outrosy  quer  (jue  saimdose  do  reino  o  posuidor  do  morgado  e  não 
servindo  seu  Rey  e  senhor,  semdo  culpado  o  tall  posuydor  em  caso  al- 
gum o  outro  herdeiro  mais  chegado  que  estiver  no  Iteino  herde  e  seja 
metido  de  [)ose  do  morgado  e  porem  sendo  caso  que  se  saia  do  heino 
com  justa  causa  pira  salvai-  sua  vida  e  homra  de  seus  iinigos  não  sem- 
do ca^o  cometido  contra  seu  Key  ou  príncipe  em  tall  caso  poderá  a- 
ver  as  novidades  e  remdas  do  dito  morgado  ornde  estiver. 

Outrosy  semdo  caso  que  o  socesoi  do  morgado  for  ausentado  do 
Reyno  por  culpa  sua  e  tornar  a  ser  resletuido  por  seu  Rey  e  seidior 
em  tall  caso  tornará  aver  o  morgado  de  (]ue  íToy  privado  asy  ele  como 
seus  socesores  e  porem  o  (|ue  íTor  [tosuydor  do  morgado  em  tempo 
que  o  dito  ausente  for  cidpado  ou  excluso  delle  averá  lodos  os  fruitos 
e  rendas  do  morgado  até  o  lempo  i|ue  o  verdadeiro  socesor  for  res- 
leliiydo  e  se  tornar  ao  Reino. 

Outrosy  acomlecemdo  que  algiun  seu  decemdemte  perca  o  mor- 
gado poi'  não  comprir  as  comdições  que  em  ele  tem  ordenadas  ou  ao 
deamte  ordenar  e  ao  tall  lenqio  que  o  perder  não  liver  ffilho  barão  e 


382  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

lippois  qne  (Tor  delle  privado  lhe  nacer  Rillio  barão  quer  que  se  o  qne 
o  t;ill  morgado  ouve  por  jdstiça  não  for  seu  decemdemte  o  aja  o  filho 
que  ao  deanle  nacer  ao  dito  direito  socesor  que  foy  privado  e  porem 
não  averá  as  remdas  delle  senão  depois  que  for  de  idade  de  dez  anos 
e  até  ao  dito  tempo  as  aja  e  pesua  o  que  o  ouve  por  requerer  que  se 
fomprise  o  (pie  ordeno. 

Oiilrosy  ordena  e  ipier  qne  este  morgado  valha  pêra  sempre  e 
seja  firme  no  milhor  modo  via  e  maneira  que  posa  ser  porque  dago 
ra  pêra  sempre  faz  ao  dito  Manoell  da  Camará  seu  llilho  e  aos  seus 
socesores  que  em  este  morgado  podem  e  devem  soceder  pura  e  irre 
vogavel  doação  amtre  vivos  valedoura  e  lhe  a{)raz  e  he  comtemte  de 
nunca  revogar  nem  mudar  este  morgado  e  doação  amtes  o  aprova  e 
ha  por  bom  e  quer  que  valha  sem  embargo  di)  testamento  que  feito 
linha  o  qual  por  este  ha  por  quebrado  e  nlinm  e  de  nenhum  vigor  e 
posto  que  ontros  faça  ou  tenlia  tíeitos  em  que  este  quebre  quer  que 
não  sejão  vahosos  nem  valham  somente  este  o  qnal  se  obrigua  ter  e 
comprir  como  se  em  elle  contem  sem  nunqna  em  nhum  tempo  por  sy 
nem  por  outrem  poder  ir  contra  ele  em  parte  nem  em  todo  e  pede 
l)or  mercê  a  el  Rey  Noso  Senhor  que  o  confirme  e  supra  todos  e  (jiiaes- 
c|uer  defeitos  que  nele  r.ja  e  posam  aver  e  derogue  todas  e  quaesquer 
leis  direitos  opiniões  e  determinações  de  doutores  que  em  contrario 
sejam  e  a  este  morgado  e  doaçam  em  todo  dé  sua  Real  authoridade 
e  mande  que  em  todo  se  cumpra  como  se  em  elle  contem  e  o  dito 
Manoell  da  Camará  Capitão  filho  da  dita  Imstituidora  que  presente  foy  ^ 
por  sy  e  em  nome  dos  mais  socesores  aceitou  este  morgado  e  doação 
em  todo  e  per  todo  como  se  em  elle  conlen)  e  alem  diso  eu  tabaliam 
por  mais  abastamça  como  pesoa  publica  estipiilante  e  aceitante  que 
.sam  {SOU)  em  nome  dos  ausentes  aceiley  este  estromenlo  do  morgado  e 
doação  quanto  com  direito  poso  pêra  os  sobreditos  socesores  e  pesoas 
nele  contendas  e  em  testenumbo  de  verdade  mandou  a  dita   sr.^  ser 
Ifeilo  este  estromento  nesta  nota  qne  foy  feito  e  ouhirgado  dia  mes  e 
era  suso  contendo  do  (piall  deste  theor  lhe  mandou  pasar  hunj  e  dons 
e  Ires  trelados  e  os  que  lhe  comprirem  por  averem  de  pasar  o  mar: 
testemunhas  (jue  foram  presentes  o  bacharell  Joam  Gonçalves  morador 
em  a  sua  quintãa  de  Rosto  de  Cam  termo  d'esla  villa  e  Lope  Amies 
cidadão  de  Vila  Framca  (lesta  Ilha  e  morador  na  dita  vila  e  Joam  da 
(Iram  cavalleiro  do  ahito  dAvis  esprivão  damte  o  dito  senhor  capitão 
e  Pêro  Ribeiro  seu  creado  da  dita  senhora  capitoa  e  Bertoiameu  Nu- 
nez   escndfuro  do  dito  cipitão  que  Deos  tem  e  eu  Caspar  de  Freitas 
(1)  taballião  do  publico  e  jndiciall  por  el-Rey  Noso  Senhor  em  esta  sua 
ilha  (Je  Sam   Migell   (|ue  este  em  minha  noia  tomey  omde  por  a  dita 


(1)  Fica  corroborada  a  iiUerprela^íio  i|ue  il(i  á  assif^nalura  do  docunieiilo 
inserto  de  pag.  34  a  ;{6  do  H."  vol.  {\'ej.  not.  ucstn  ultima  p/ig.)  d>ste  Aichivo. 

(yota  do  Sr.  J.  I.  de  Brito  ReheUo) 


ARCHIVO  DOS  AÇOhES  383 

senliura  por  sna  propia  mão  fiqua  asynado  e  pelo  dito  capitão  e  teste- 
munhas e  da  dita  nota  este  por  minha  propia  mão  tirey  e  com  o  pro- 
pio  corry  e  concertey  e  asyney  de  meu  pnhhco  e  acusliunado  syuall 
que  tall  he: 

Fedindome  a  dita  dona  Felipa  Coutinha  por  mercê  que  lhe  coii- 
firmase  a  dita  Instetuição  de  morgado  e  snprise  qiiaesquer  defeitos 
que  em  ella  ouvesse  pêra  sempre  ser  firme  e  valioso  e  visto  por  mim 
seu  retpierimento  e  asy  a  dita  Imstetuição  e  sendo  cei"teficado  de  lodo 
o  em  ella  conteúdo  e  por  lhe  fazer  mercê  tenho  por  bem  e  me  praz 
de  confirmar  como  de  feito  confirmo  a  dita  Imstetuição  e  morgado  e 
quero  e  me  praz  que  seja  sempre  firme  e  valiosa  e  tenha  efeito  e  vi- 
gor e  firmeza  no  milhor  modo  forma  e  maneira  que  posa  ser  o  que  a- 
sy  hei  por  bem  e  mando  que  se  cumpra  de  meu  motu  propio  certa 
sciemcia  poder  reall  e  absoluto  sem  embargo  de  quaesquer  leis  e  or- 
denações costumes  ou  opiniões  de  doutores  que  em  contrario  disto  a- 
ja  por  quamto  quero  e  me  praz  que  em  este  caso  não  aja  lugar  nem 
contra  esta  Instetuição  se  possa  allegai'  amtes  a  dita  Instetuição  de 
morgado  sempre  tenha  vigor  em  juizo  e  fora  delle  e  sem  embargo  dn 
ordenação  do  L.^á."  til.°  49  que  diz  e  manda  que  não  valha  gerall  re- 
nunciação  das  ordenações  amtes  se  ffará  expresa  menção  e  especiall  da 
suslancia  da  ordenação  derogada  por  que  em  e^te  caso  quero  e  me 
praz  que  não  tenha  vigor  nem  efeito  noteficoo  asy  e  mando  a  todos 
meus  desembargadores,  corregedores,  ouvidores,  juizes  e  justiças  a 
que  esta  minha  carta  de  confirmação  for  mo.^trada  e  o  conhecimento 
delia  pertemcer  que  em  todo  lha  cunqiram  guardem  façam  inteira- 
mente cumprir  e  guardar  sem  duvida  nem  contradição  algua  que  a  iso 
seja  posta  [)orque  asy  o  ey  por  bem  por  esta  que  por  firmeza  dello 
lhe  mandey  dar  per  mim  a.synada  e  selada  com  o  meu  sello  pemdem- 
te.  Domingos  de  Paiva  a  fez  em  Lisboa  a  xj  [11)  de  fevereiro,  ano  do 
nacymento  de  noso  senhor  Jhu  x°  [Jesus  Christo)  de  J  b  e  xxxix  {lõ39) 
anos. 

{Arch.  nac.  da  T.  do  T.,  Lh\  XXVÍ  de  D.  João  III,  f.  85  r.«j 


Morgado  de  llaooel  da  Camará:  loS7. 

Dom  Joam  etc.  A  quamtos  esta  minha  carta  virem  faço  saber  que 
por  parte  de  Manoel  da  Camará  capitão  da  Ilha  de  São  Migel  e  de  do- 
na Joana  de  Mendonça  sua  molher  me  foy  apresemtado  huu  estormen- 
to  de  instituição  do  morgado  de  que  o  theor  tall  he  : 

Em  nome  da  Santisyma  Trindade  padre  filho  spiritu  sancto,  tre^í 
pesoas  e  huu  soo  Deos  por  que  todas  as  cousas  são  regradas  e  orde- 


384  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

nadas  a  buo  (iin  e  sem  sua  ajuda  riluia  cousa  pode  ler  perfeição  com- 
sideranido  nós  Manoel  da  CnHiara  capitão  da  lllia  de  Sam  Migel  e  do- 
na Joana  de  Mendoça  minha  mulher  como  milhor  pí)demos  dispoer  das 
terças  e  fazemda  que  per  noso  lalecimentu  (guando  Deos  for  servido  fi- 
carem e  como  será  serviço  de  Deos  e  liomra  e  pntveitu  de  nosos  so- 
cesores  ord.  namos  faz-^r  ambos  juntanjente  liuu  morgado  de  Ioda  a 
fazenda  (|ue  em  nosas  terças  ambas  couber  soomenlc  reservamos  de- 
las pêra  cada  hnu  de  nós  despoer  e  dar  por  sua  alma  Irezemtos  mil 
reaes  (jue  lie  per  ambos  seis  centos  mill  reaes  e  toda  a  outra  fazenda 
que  mais  em  nosas  terças  couber  e  se  achar  ha  ora  de  nosas  mortes 
ajuntamos  e  vinculamos  pêra  sempre  em  morgado  em  o  qnall  ujorga- 
do  insliluimos  e  doamos  enire  vivos  e  ordenamos  no  njilhtir  modo  e 
forma  e  maneira  (pie  posa  ser  Huy  Gonçalvez  noso  rilho  legitimo  ba- 
rão primeirogenito  e  queremos  e  mandamos  (|ue  o  dito  Huy  Gonçalvez 
noso  (iiho  o  aja  e  tenha  logre  e  pesiia  sem  divisão  nem  p.irtilha  e  to- 
dolos  bens  (pie  no  dito  morgado  andarem  e  forem  metidos  se  não  po- 
derão vender  do'  nem  dotar  nem  apíMihar  nem  afurar  nem  obrigar 
nem  permndar  nem  escaimbar  nem  emlhear  por  nliua  cousa  que  seja 
nem  pêra  obra  piadosa  nem  per  outra  rezão  tjuahpier  que  seja  amtes 
senijire  o  dito  noso  filho  e  loiJos  seus  soces(jres  o  acrecentarão  e  o 
aumentarão  e  melhorarão  amdanjdo  sem[)re  junt »  em  hun  soo  como 
dito  he  e  pêra  o  dito  morgado  ser  maior  e  o  dito  noso  filho  socesor 
dele  melhor  poder  ter  com  <pie  sirva  seu  Rey  e  senhor  e  pêra  milhor 
em()arar  seus  paremles  quer-emos  que  ele  haja  o  dito  morgado  com^ 
lall  condição  ijue  se  metta  em  elle  toda  a  legitima  e  fazenda  que  por 
nosas  mortes  herdar  de  nos  por  que  cum  esta  conuliçãu  lhe  deixamos 
e  ordenamos  o  dilu  morgadu  pêra  o  tpie  haveremos  consentimento  dei 
Uey  iSoso  Senhor  u  que  se  elle  asy  nom  comprii'  nom  averá  o  dito 
morgado  amtes  o  avcra  u  noso  filho  segundo  barão  que  comprir  a  di- 
la  comdição  ou  outro  qualquer  socesor  legitiuíu  (pie  vit  r  per  bem  des- 
ta Instetnição. 

Õiilro.>y  ordenamos  o  dito  morgado  com  t;d  comdiçã(t  que  o  (UU) 
no.-o  (filho  ou  outro  qualquer  socesor  delle  per  sua  morte  meta  noilito 
moigadoamelade  da  teiç;i  de  seus  bens  e  tãoto  que  soceder  o  dito  mor- 
gado se  obrigii''  logo  a  comprir  esta  condição  a  (piai  condição  pudera 
leipierei  que  se  cumpra  o  parente  mais  chegadií  do  dito  socesor  a  qual 
olniguação  se  a.Neuitaiá  e  escrevera  nos  livros  (jiie  (udeiiamos  (pie  se 
faça  pêra  tombo  deste  morgado  e  queremos  que  na  socesão  d(t  dito 
morgaiJo  se  tenha  a  maneira  seguinte:  sendo  caso  (pie  nosas  terças 
lhe  íi(|iiem  em  bens  de  raiz  e  asy  a  sua  legitima  que  o  <iito  noso  fii 
lho  de  nós  ouver  ()s  taes  Itens  que  asy  lhe  licarein  e  sitceder  ficarem 
sujeitos  e  metidos  no  dito  morgadu  e  pn;i  isto  se  faiãu  d(»us  livros  de 
|iergaumiho  euiadernados  «'in  laboas  de  |)au  cobertas  t'om  coiro  em 
cada  hum  dos  ditos  livros  se  trelad-oa  esta  Instetnição  e  se  escreve- 
rão (leeraradamente   l(idolus  bens  ipie  .m  dito   morgado  [lerlencerem 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  385 

declarando  os  bens  que  sani  omde  com  quem  confront;im  de  lodalas 
partes  e  de  quamlas  varas  sam  de  sorte  que  se  nom  posam  perder 
nem  sonegar  por  faita  e  mingoa  de  decraração  os  qnaes  livros  estaram 
hum  delles  no  cartório  da  see  de  Lisboa  e  o  outro  terá  o  herdeiro  do 
dito  morgado  e  semdo  caso  que  nas  ditas  terças  ou  h'gitimas  e  meta- 
de da  terça  que  ne^te  morgado  se  hão  de  meter  caybão  alguas  casas 
que  não  estem  em  Lisbna  uu  em  Kvora  ou  em  Santarém  as  ditas  ca- 
sas se  venderão  e  o  dinheiro  delias  seja  empregado  em  bens  de  raiz 
moyos  e  rendas  segundo  íTorma  da  ordenação  deste  morgado  e  semdo 
caso  (jue  suas  terças  tiquem  em  dinheiro  e  asy  as  legitimas  que  per- 
tencerem ao  dito  noso  Hilho  ou  socesor  em  tall  cas(j  os  bens  moveis 
se  venderão  todos  sem  IFicar  delles  cousa  algua  e  o  tall  dinheiro  todo 
que  se  delles  ou  ver  e  o  que  mais  de  nosas  terças  e  suas  legitimas  fi- 
car todo  se  empregará  em  bens  de  raiz;  a  saber:  moyos  erdades  ou 
juros  ou  foros  que  não  sejão  obrigados  á  coroa  nem  sejão  de  Igreja 
e  sejão  livres  e  isemtos  que  não  paguem  fon)  nem  cemso  a  outra 
pesoa  algua  os  quaes  se  comprarão  no  arcebispado  de  Lisboa  e  nom 
se  achando  no  dito  arcebispado  todo  ou  parte  se  comprará  no  arcebis- 
pado de  Évora  omde  milhor  se  acharem  e  todolos  ditos  bens  quamdo 
se  comprarem  seja  logo  decrarado  que  se  compram  pêra  o  dito  mor- 
gado e  o  tall  dinheiro  de  nosas  terças  e  de  suas  legititnas  semdo  ca- 
so que  este  na  Ilha  de  São  Migell  ou  em  quaesquer  outras  Ilhas  se  pe- 
sará por  letra  de  pesoas  seguras  a  estes  Reinos  e  nom  se  achando  le- 
tras se  segurará  por  mercadores  abonados  e  por  pesoas  abonadas  se- 
gundo costume  de  mercadores  e  tãolo  que  em  estes  Reinos  ff(jr  o  tall 
dinheiro  se  emlregne  em  deposyto  em  poder  de  dons  parentes  nosos 
abonados  e  pesoas  de  quem  bem  se  posa  confiar  até  se  comprarem  os 
ditos  bens  aos  quaes  nosos  parentes  deposytarios  pedimos  e  roganjos 
que  com  o  socesor  deste  morgado  se  for  em  idade  e  se  o  nom  for  com 
o  seu  titor  e  com  o  Juiz  dos  órfãos  de  Lisboa  entregue  o  tall  dinheiro 
e  compre  os  ditos  bens  segundo  dito  he. 

Item  queremos  que  o  dito  noso  fíilho  e  qualquer  outro  socesor  do 
dito  morgado  se  chame  do  apellido  da  Camará  primeiro  que  outro  nhum 
apellido  e  bem  asy  queremos  que  traga  sempre  as  armas  dos  da  Ca- 
mará e  posto  que  per  geração  e  nierecimentos  o  socesor  do  dito  mor- 
gado aja  outras  armas  mais  nobres  queremos  que  traga  sempre  as  di- 
las  nosas  armas  e  dos  da  Camaia  no  quarteirom  do  escudo  a  mão  di 
reita  em  cima  e  queremos  e  ordenamos  que  o  dito  noso  IFiIho  e  qual- 
quer outro  socesor  do  dito  morgado  seja  teudo  em  cada  hu  anuo  man- 
dar dizer  por  nosas  almas  três  missas  rezadas  e  posto  que  as  não  mau 
de  dizer  nom  emcorra  por  ello  em  pena  algua  por  que  nos  não  obri- 
gamos os  bens  do  dito  morgado  a  este  encarego  e  esto  queremos  que 
faça  o  dito  noso  erdeiro  quando  milhor  poder  e  lhe  milhor  e  mais  con- 

N.'^  47  —  Vol.  VIII  —  1886.  2 


386  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

veniente  tempo  parecer  (1)  por  que  nos  ordenamos  este  morgado  pê- 
ra conservação  de  nosa  ffamilia  qneremos  e  ordenamos  que  em  quanto 
ouver  noso  decendente  barão  nuiiqna  erde  fêmea  e  por  este  qneremos 
qne  o  dito  morgado  aja  o  nosso  líillio  mais  velho  barão  posto  que  aja 
filha  mais  velha  sempre  o  filho  se  perfirirá  e  sempre  amde  nos  decen- 
dentes  barões  por  linha  mascolina  que  sejão  legítimos  e  naturaes  por 
que  nosa  vontade  he  que  este  morgado  nom  herdem  filhos  adolivos 
nem  outros  alguns  nacidos  de  danado  couto  posto  que  sejam  legitima- 
dos pelo  papa  ou  Rey  noso  senhor  ou  outras  quaesquer  pesoas  que 
poder  tenham  pêra  iso  e  sendo  caso  que  ao  tempo  de  nosas  mortes 
nom  aja  filho  barão  senão  filha  em  tall  caso  se  ouver  neto  barão  filho 
de  noso  (filho  já  defimlo  em  tall  caso  o  neto  herdará  o  dito  morgado  e 
não  nossa  filha  que  for  viva  ao  tempo  de  nos;is  mortes  posto  que  se- 
ja mais  velha  e  mais  chegada. 

Outrosy  avemdo  ffilha  ao  tempo  de  nosa  morte  e  avendo  neto  fíi- 
Iho  de  outra  (filha  maior  em  tall  caso  o  neto  barão  e  íTiiho  de  nosa  fi- 
lha maior  erdara  o  dito  morgado  e  não  averá  a  nosa  (filha  segunda  e 
semdo  caso  que  ao  tempo  de  nosos  f.decimentos  aja  neto  de  Afilho  de 
noso  (filho  mais  velho  que  seja  defunto  em  nosa  vida  e  ouver  outro  (íi- 
!ho  vivo  queremos  que  sendo  caso  que  o  noso  (Tjlho  vivo  erdar  a  capi- 
tania da  Ilha  de  São  Migell  (2)  elle  aja  também  o  dito  morgado  e  não 
o  neto  e  no  caso  em  que  lemos  dito  que  posa  erdar  o  noso  neto  filho 
filho  da  nosa  filha,  posio  que  tenha  outro  apelido  se  chamará  sempre 
do  dito  apelido  da  Camará  e  trazerá  nosas  armas  segundo  temos  de- 
clarado e  não  o  comprindo  perderá  o  morguado  e  o  perderá  pêra  o  er- 
deiro  mais  cheguado. 

Outrosy  não  avendo  (filho  legitimo  natural  nem  decendente  noso 
per  linha  mascolina  nem  neto  segundo  temos  declarado  erdarà  a  nosa 
filha  maior  legitima  não  sendo  freira  profesa  ou  religiosa  ou  não  ten- 
do feito  vuto  de  castidade  pêra  não  poder  casar  e  por  sua  morte  da 
dita  nosa  filha  que  casada  for  erdará  seu  fiilho  barão  legitimo  e  dhy 
por  deamte  amdará  sempre  em  barão  legitimo  em  tall  maneira  que 
em  quanto  ouver  filho  barão  decendente  da  dita  nosa  filha  não  erde 
fêmea  posto  que  mais  velha  seja. 

Outrosy  ordenamos  quo  o  dito  morgado  não  erde  clérigo  nem  fra- 
de nem  liomen]  de  ordem  que  não  posa  casar. 

Outrosy  he  nosa  vontade  e  nos  praz  que  posto  que  nos  naçam 


(1)  Parece  haver  aqui  uma  lacuna;  talvez  falte  ou  Item,  ou  Outrosym,  pelo 
menos. 

(2)  E'  singular  que  sendo  o  morgaHo  instiluido  para  ser  possuído  pelos  aue 
lierdarem  a  capitania  de  S.  Miguel,  se  mande  sejam  vendidos  os  bens  que  lhe 
possHni  cíiher  na  ilha,  e  passado  o  seu  valor  o  reino,  onde  elle  deverá  ser  orde- 
nado. 

(Notas  (lo  Sr.  J.  l.  de  Brito  Rebello) 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  387 

muilus  fTilhos  esle  morgado  per;)  st  mpre  se  cumpra  e  aja  inteiro  ef- 
leilo. 

Oiilrosy  nus  praz  e  queremos  gue  sendo  caso,  o  que  Deos  não 
mande,  que  o  posuidor  do  dito  morgado  cometta  algum  caso  ou  casos 
per  que  deva  pord/r  a  vida  e  fazenda  asy  per  sentença  como  tanto 
que  o  tail  delito  cometer  logo  perca  o  dito  morgado  pêra  outro  paren- 
te mais  clieguado  iioso  decemdeute  e  não  posa  sobcedei'  iieui  pesoyr 
o  dito  morgado  pesoa  incapaz  da  tall  socesão. 

Outrosy  queremos  (pie  saimdose  do  Reyno  o  posuydor  do  dito 
morgado  e  não  sendo  no  serviço  de  seu  Rey  e  senhor  em  tall  caso  lo- 
go outio  erdeiro  mais  clieguado  que  eslever  no  Heyno  seja  metido  de 
pose  do  dito  morgado  e  sendo  caso  que  se  saia  do  Reyno  não  temdo 
caso  cometido  contra  seu  Rey  e  príncipe  somente  por  salvar  sua  vida 
e  liomra  de  seus  imigos  em  tall  caso  poderá  aver  as  remdas  e  novida- 
des do  dito  morgado  omde  estiver. 

Outrosy  sendo  caso  que  o  socesor  do  morgado  f(jr  ausemte  do 
Reino  por  culpa  sua  e  tornar  a  ser  restetuido  por  seu  Rey  e  senhor 
em  tal  caso  tornará  aver  o  morgado  sem  embargo  de  aquy  o  privar- 
mos delle  e  averá  o  dito  morgado  asy  elle  como  seus  socesores  e  po- 
rem o  posuydor  do  dito  morgado  em  o  tempo  que  o  dito  ausemte  e 
culpado  foy  fora  da  pose  delle  e  privado  averá  todas  as  rendas  e  no- 
vidades até  o  tempo  que  o  verdadeiro  socesor  for  restetuido  e  se  tor- 
nar ao  Reino  sem  lhe  dar  comta  algua. 

Outrosy  nos  praz  que  semdo  caso  que  o  socesor  que  o  dito  mor- 
gado ouver  de  soceiier  seja  mudo  ou  fuiioso  ou  miMitecaplo  ou  ávido 
por  inabel  e  não  tiver  syso  e  pesoa  (i)  pêra  reger  tall  morguado  em 
tall  caso  o  averá  e  socederá  o  outro  parente  mais  cheguado  o  quall  so- 
cesor terá  em  seu  poder  e  governança  o  tal  paremte  mabel  e  o  pnjve- 
rá  muito  homradamente  segundo  calidade  de  sua  pesoa  o  que  se  eut- 
lemderá  quando  a  tall  inabely  (2)  for  por  natureza  por  que  sendo  por 
doença  ou  cajam  que  lhe  sobreveuha  nam  será  piivado  do  dito  mor 
gado  em  quamto  viver  amtes  elle  e  ^eus  socesores  o  terão  e  averão  e 
posuyrão  segundo  a  forma  deste  morgado. 

Outrosy  sendo  caso  (pie  ao  tempo  da  socesão  do  dito  moi'gado 
aja  dons  p^iremtes  em  iguall  grão  sempre  socederá  o  filho  do  parente 
mais  cheguado  posto  que  o  tall  filho  seja  menor  em  idade  e  o  filho  do 
parente  mais  moço  seja  maior  em  idade  porque  níjsa  temçam  he  que  o 
filho  do  (laremte  mais  velho  este  he  o  mais  chegiiado  e  o  que  dele  so 
ceder. 

Outrosy  declaramos  que  em  (juamto  ouver  decemdemte  noso  le- 
gitimo e  naiurall  nunqua  soceda  parente  tian.-versal. 


(1)  Estas  piilavras  eslão  de  mais  no  registo. 

(2)  Devia  dizer — inhabiltdafJe—mdà  faliam  as  duas  uitinias  syllabas. 

(Notas  do  Sr.  J.  I.  de  Brito  RebeUo)- 


388  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

Outrosy  sendo  caso  que  não  aja  filho  nem  nelo  nem  filha  nem 
nela  legítimos  por  morte  do  posuydor  úo  morgado  e  ficar  filho  natu- 
rall  nacido  de  solteiro  e  solteira  em  tall  caso  o  tall  filho  naturall  sen- 
do barão  filho  de  posuydor  barão  do  morgado  avera  o  dito  morgiiado 
e  por  sua  morte  seus  decemdentes  barões  segundo  temos  declarado 
e  semdo  o  tall  filho  naturall  filho  de  algua  nosa  decemdemte  fêmea 
nunqua  poderá  soceder  o  dito  morguado  posto  que  se  chame  filho  de 
príncipe  ou  de  qualquer  outro  grande  senhor  e  aynda  que  seja  coste- 
tuydo  em  grande  denidade. 

Outrosy  queremos  que  sendo  caso  que  a  linha  do  noso  filho  mais 
velho  seja  extincta  e  acabada  de  sorte  que  delle  não  aja  decendente 
algum  em  t.ill  caso  socedera  o  noso  segundo  filho  e  seus  decemdem- 
tes  mais  chegnados  perferimdo  sempre  os  barões  às  ffemeas  e  os  pri- 
meiros em  grão  e  mais  cheguados  e  seus  Ifilhos  dos  mais  chegados 
aos  outros  paremtes  mais  moços  e  mais  separados  e  preferimdo  sem- 
pre os  legítimos  e  naturaes  aos  naturaes  tão  somente  e  semdo  caso 
que  não  aja  decemdemtes  algus  nosos  barões  nem  fêmeas  em  tal  caso 
o  morgado  virá  ao  paremte  mais  chegado  de  mim  Manoell  da  Camará 
da  parte  de  meu  pay  e  quando  não  ouver  parente  algum  da  parte  de 
meu  pay  virá  ao  paremte  mais  chegado  da  dita  dona  Joana  minha  mo- 
Iher  da  parte  de  seu  pay  e  asy  hus  como  outros  seus  paremtes  e  meus 
que  o  dito  morgado  socederem  se  chamarão  da  Gamara  e  trazerão 
minhas  armas  com  as  comdições  atras  declaradas. 

Outrosy  queremos  e  nos  praz  que  se  o  posuydor  do  dito  morgado 
entrar  em  religião  amtes  de  ser  casado  ou  depois  o  tall  mosteiro  casa 
ou  ordem  em  que  entrar  não  posam  aver  nem  ter  direito  algum  no 
dito  morgado  nem  frutos  delle  porque  nosa  vontade  he  fazer  este  mor- 
gado pêra  acrecemtamento  de  nosa  família  e  pêra  emparo  e  homra  de 
nosos  decemdemtes  e  paremtes  e  pêra  servirem  a  Deos  como  bons  ca- 
sados e  por  esto  não  queremos  que  ajão  os  taes  bens  os  religiosos 
nem  elles  tenhão  parte  algua  por  quanto  a  elles  convém  pobreza  e 
nom  posysões  nem  patrymonios. 

Outrosy  semdo  caso  que  ao  tempo  da  socesam  do  dito  morguado 
não  aja  decemdemte  noso  leiguo  e  aja  algimi  clérigo  noso  decenulem- 
te  legitimo  naturall  ao  quall  per  linha  direita  o  dito  morguado  pertem- 
ça  este  tall  em  sua  vida  poderá  aver  as  novidades  e  remdas  do  dito 
morgado  e  por  sua  morte  fique  ao  noso  parente  mais  chegado  e  não 
o  posa  aver  per  nhum  modo  que  seja  filho  do  dito  clérigo  nem  poi- 
legitimação  nem  abílítação,  nem  por  outra  algua  provisão  que  seja. 

Outrosy  sendo  caso  que  o  posuydor  do  morgado  tenha  filho  ou 
irmão  cativo  em  poder  de  ymfieis(lj  em  tall  caso  poderá  aremdar  o 


(1)  Mal  imaginava  Manoel  da  Camaia  que  anles  de  cinco  annos  completos 
sei-ia  elle  cjueni  ficaria  captivu  (Vei-  vol.  IV.  de  paj;.  l.iõ  eni  deanie  deste  Arihi- 
vo.)  (Nota  do  Sr.  J.  I.  de  Brito  Rebello). 


ARGHIVO   DOS  AÇORES  389 

morgado  daiile  mão  por  ciinqiio  annos  pêra  resguale  do  lall  cativo  e 
uão  se  poderá  aremdar  pêra  outra  cousa  algua  senão  pêra  esta  e  o 
socesor  que  soceder  o  dito  morguado  durante  o  tall  arendamenlo  será 
obrigado  a  comprir  e  pagar  e  dar  as  ditas  rendas  ou  o  que  delias  fa- 
lecer pêra  o  tall  resguate  o  que  se  emtemderá  quando  o  tall  cativn 
não  tiver  outra  fazenda  com  que  se  posa  reunir. 

Outrosy  os  bens  que  se  ouverem  de  comprar  pêra  este  morgado 
se  não  comprem  ao  socesor  que  o  posa  ou  aja  de  soceder. 

Outrosy  acomtecemdo  que  algum  noso  decemdemte  perca  o  dito 
morgado  por  não  comprir  as  condições  que  em  elle  ordenamos  e  ao 
lall  tempo  que  o  perder  não  tiver  filho  barão  e  depois  que  for  dele 
privado  lhe  nacer  filho  barão  queremos  que  se  o  que  o  dito  morgado 
ouve  por  justiça  não  for  noso  decemdemte  e  o  que  foy  privado  o  era 
e  lhe  depois  nacer  filho  o  tal  filho  que  ao  deante  nacer  ao  dit(i  direito 
socesor  noso  decemdemte  torne  a  aver  o  dito  morgado  e  porem  não  a- 
verão  as  rendas  delle  senão  depois  que  for  de  idade  de  dez  annos  e 
até  o  dito  tempo  as  aja  a  pesoa  que  o  dito  morgado  ouve  por  reque- 
rer que  se  comprise  o  que  aquy  ordenamos. 

Outrosy  ordenamos  que  sendo  caso  que  qualquer  de  nós  que  fa- 
lecer primeiro  não  deixar  filho  barão  o  que  vivo  ficar  depois  ouver  fi- 
lho barão  legitimo  naturall  em  tal  caso  se  do  que  de  nós  primeiro  fa- 
lecer ficar  Ifilha  não  avemdo  ílilho  a  tal  ffilha  a  verá  a  terça  do  que  de 
nós  asy  falecer  por  via  de  morguado  segumdo  em  este  temos  declara- 
do e  ao  deamte  decraramos  e  o  filho  barão  legitimo  que  ouver  o  que 
vivo  flicar  averá  a  terça  de  seu  pay  ou  mãy  na  forma  e  modo  do  dito 
morgado  e  sendo  caso  que  o  que  de  nós  vivo  ficar  não  aja  fiilho  barão 
algum  de  outra  molher  ou  doutro  marido  em  tal  caso  a  nosa  ííilha  den- 
tre ambos  averá  ambas  nosas  terças  na  ÍTorma  deste  morgado  amdau- 
do  sempre  jumtas  sem  se  poderem  partir  nem  dividii'  nem  separar  se- 
gundo já  temos  declarado. 

Outrosy  declaramos  que  em  quanto  o  que  de  nós  ficar  vivo  não 
casar  aja  e  pesua  e  logre  as  rendas  de  todo  ho  morgado  até  o  noso 
ffilho  dautre  ambos  ser  de  idade  de  xxij  (22)  annos  porque  dhy  em 
deamte  casamdo  com  consentimento  de  seu  pay  ou  mãy  averá  o  mor- 
gado tanto  que  asy  casar  semdo  da  dita  idade. 

Outrosy  mandamos  e  queremos  que  este  morgado  valha  pêra  sem- 
pre e  seja  firme  no  milhor  modo  vya  e  maneira  que  posa  ser  por  que 
dagora  pêra  sempre  o  fazemos  ao  dito  noso  filho  e  a  seus  decemdem- 
tes  segundo  temos  decrarado  neste  m  «riiadoe  aos  outros  que  podem 
e  devem  por  virtude  delle  soceder  pura  e  irevogavel  doação  intervi- 
vos  valedoura  e  nos  constetuimos  posuidores  em  seus  nomes  e  pydy- 
mos  poi'  mercê  a  et  Rey  noso  senhor  a^y  o  confirme  e  supra  todos  e 
quaesquer  defeitos  que  em  ele  aja  e  derogue  a  ley  quoniam  in  priori- 
bus,  códice  df  noficioso  le^iamenfo  (sic)  que  diz  que  se  não  posa  poer 
encareguo  nem  condição  na  legitima  do  ffilho  por  seu  pay  ou  mãy  e 


390  AKCHIVO  DOS  AÇOhES 

asy  pediníos  a  ssua  alteza  derogiie  a  ley  si  unqiiam  códice  de  recocan- 
dis  donationibus;  que  diz  que  sen.lo  feyla  doação  pelo  pay  oii  mãy  a 
algnu  llillio  fique  revoguada  tanto  que  lhe  oulnj  filho  iiacei'  e  asy  pe- 
dimos a  sua  alleza  derogue  quaesquer  leis  e  ordenações  que  sejam  em 
contrario  deste  morguado  e  supra  todo  e  qualquer  defeito  que  em  ele 
aja  com  todalas  clausolas  que  pêra  firmeza  dello  sejam  necesarias  por- 
que nosa  vomlade  he  ordenarmos  esto  pêra  seu  serviço  e  nesto  nos 
fará  mercê  em  testemunho  de  verdade  outorgamos  e  mandamos  ser 
feita  esta  presente  instetuição  que  foy  feita  e  outorgada  em  a  cidade 
d  Évora  nas  casas  em  que  pousam  os  ditos  senhores  iustetuidores  eni 
os  xxij  (22)  dias  do  mes  de  julho  do  anno  do  nacimento  de  noso  Se- 
nhor e  Salvador  Jhuu  x.^  (Jesus  Chrislo)  de  mill  e  quynheutos  trinta  e 
seis  ânuos. 

Prometendo  elles  senhores  Manoel  da  Camará  e  dona  Joana  liis- 
teluimtes  a  mim  taballião  como  a  pesoa  publica  por  solene  estipulação 
em  vez  e  mjme  do  dito  seu  filho  e  dos  mais  socesores  e  pesoa  a  que 
convém  e  pode  convir  asy  o  manter  e  comprir  estando  a  isto  os  ditos 
Manoel  da  Camará  e  dona  Joana  sãos  e  ff.)ra  de  todo  acidente  de  doen- 
ça e  em  todo  seu  entender;  testemunhas  que  foram  presemtes  Manoell 
de  Vlello  Coutinho  e  Joam  (Carrasco  bacharel!  da  See  desta  cidade  e 
Jjucas  de  Sequeira  moço  da  Camará  dt^l  Hey  noso  senhor  e  Symão  Al- 
varez, monteiro  de  cavalo  do  dito  senhor  e  Manoell  de  Mello  filho  de 
Jorge  de  Mello  e  Álvaro  Pimto  cavaleiro  morador  em  Lisboa  e  eu  Dio- 
go Gonçalvez  publico  tabellião  dei  Key  noso  seidior  na  dita  cidade  que  ^ 
este  estromento  en»  minha  nota  tomey  e  com  licemça  que  do  dito  se- 
nhor lenho  a  meu  esprivão  o  fiz  treladar  e  concerley  e  sobes[)revy  e 
o  asyney  de  meu  publico  sygnal  (|ue  tall  he. 

Fedindome  os  ditos  Manoell  da  Camará  e  dona  Joana  de  Mendoça 
sua  molher  por  mercê  que  lhe  coiiflrmase  a  dita  Instetuição  segundo 
em  ella  he  conteúdo  e  suprise  quaesqut^r  defeitos  que  em  ella  uuvese 
pêra  sempre  ser  ffirme  e  eu  por  lhes  fazer  meicè  ey  por  bem  de  con- 
firmar como  de  feito  confirmo  a  dita  Instetuição  e  morgado  e  (juero  que 
se  cumpra  e  guarde  e  valha  e  seja  Ifiruie  pêra  sempre  como  se  em  e- 
la  conteui  porque  en  vy  a  dita  Instetuição  toda  e  me  praz  que  seja  fir- 
me e  valiosa  pêra  sempre  o  que  asy  ey  por  bem  de  meu  [)ropio  motu 
certa  sciemcia  poder  real  e  absoluto  quero  e  me  praz  que  todos  os  so- 
ces(Hes  do  dito  morgado  asy  o  cumprão  e  guardem  em  ttido  como  per 
os  ditos  lustetuidortís  he  ordenado  sem  eudjarguo  de  quaesquer  íeis 
e  ordenações  e  opiniões  de  donlores  (jue  em  contrario  da  dita  Inste- 
tuição a(|uy  declarada  aja  ou  posa  ao  deamte  aver  por  que  todas  ey 
por  derognadas  e  cassadas  e  quero  que  não  se  cumprão  em  este  caso 
sem  embargo  da  hordenação  do  Livro  "i."  titulo  49  a  (|ual  diz  que  não 
valha  deidguaçãt)  dordenação  ou  ley  se  não  fizei'  expecificada  menção 
da  sustancia  da  lall  ordenação  ou  ley  por  ([iie  em  este  caso  (|uero  que 
não  aja  lugar  e  se  cumpra  eui  todo  a  dita  liisleluição  Ciimo  se  em  el- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  391 

la  contem  e  por  firmeza  dello  lhe  mandey  dar  esta  carta  per  mym  a- 
synada  e  selada  do  meu  sello  de  chumbo.  Dada  em  a  minha  cidade 
dEvora  aos  dezaseis  dias  do  mez  de  dezembro,  Diogo  Lopez  a  fez,  an- 
no  do  naciuíenlo  de  noso  senhor  Jhu  x*'  {Jesus  Chnslo)ôeY ^  e  xxxbj 
{1536}  annus. 

K  asy  me  foy  mais  apresemtado  por  parte  do  dito  Manoell  da  Ca- 
mará e  dona  Joana  de  Mendoça  sua  molher  hum  estormento  de  decla- 
ração e  adição  de  que  o  teor  de  verbo  (a  verbo)  he  o  seguinte: 

Saibham  os  que  este  estormento  de  declaração  e  adição  virem  que 
no  ano  do  nacimento  de  noso  senhor  Jhu  x"  {Jesus  Christo)  de  J  b  e 
xxxbij  {1587)  em  o  primeiro  dia  do  mes  de  março  na  cidade  dEvora 
nas  casas  em  que  pousa  Manoell  da  Camará  Capitão  da  Ilha  de  Sam 
Migell  estando  elle  hy  presente  e  asy  dona  Joana  de  Mendoça  sua  mo- 
lher e  loguo  per  ambos  ffoy  dito  que  elles  tinhão  e  defe-ito  tem  orde- 
nado morguado  de  suas  terças  e  legitima  do  seu  tíilho  mayor  pêra  o 
dito  seu  tlilho  e  seus  decemdemtes  segundo  milhor  per  ele  consta  fei- 
to per  mim  taballião  aos  xxij  (22)  dias  do  mes  de  julho  do  anno  pasa- 
do  de  f  b  e  xxxbij  {lò37)  (I)  ao  qual  este  estormento  se  ajuntará  e 
porque  eles  desejão  dar  maneira  como  suas  filhas  ou  outras  quaesquer 
molheres  que  o  dito  morgado  ouverem  derdar  sejam  obedientes  a  seus 
pães  e  casem  homradamente  segundo  calidade  de  suas  pesoas  ordena- 
ram e  mandaram  que  qualquer  molher  que  o  dito  morgado  ouver  der- 
dar temdo  pay  vivo  e  casamdo  sem  vomtade  e  licemça  do  dito  seu  pay 
posto  que  case  com  homem  tão  bom  e  milhor  que  ela  temdo  o  dito  seu 
pay  outra  filha  em  tall  caso  a  poderá  deserdar  e  privar  do  dito  mor- 
guado e  o  poderá  dar  ha  segunda  filha  que  tiver  e  se  não  tiver  ífilha 
e  não  tiver  neta  o  poderá  dar  a  dita  neta  e  poderá  privar  e  deserdar 
ha  tal  filha  desobediente  que  sem  sua  licemça  casar  e  sendo  caso  que 
não  tenha  outro  filha  nem  neta  em  tall  caso  lamto  que  da  dita  filha  ou- 
ver filho  baram  legitimo  loguo  o  tal  filho  da  dita  filha  desobediemle  se- 
rá o  sobcesor  do  dito  morguado  e  não  o  será  sua  mãy  e  nom  tem- 
do filho  barão  e  tendo  filha  femia  averá  em  tall  caso  a  dita  ssua  filha 
o  dito  morgado  como  se  casara  com  vomtade  do  dito  seu  pay  e  sem- 
do  caso  que  a  fêmea  que  o  dito  morguado  ouver  de  soceder  não  tiver 
pay  e  avoo  pay  do  pay  de  seu  pay  em  tall  caso  nom  casará  sem  vom- 
tade de  sua  mãy  e  de  seu  avoo  e  casando  cofitra  vontade  da  dita  sua 
mãy  e  avoo  em  tal  caso  a  dita  sua  mãy  e  avoo  poderá  dar  o  dito  mor- 
gado a  outra  sua  filha  se  a  hy  ouver  que  posa  casar  ou  a  neta  filha 
doutra  filha. 

E  porem  sendo  caso  que  ha  dita  fêmea  que  o  dito  morgado  so- 
ceder amde  no  paço  e  casar  com  licemça  e  mandado  do  Rey  e  Rainha 
com  pesoa  idonia  e  conveniente  a  ella  nom  tendo  pay  em  tal  caso  nom 


(1)  Alia/.  1536,  corno  5p  vê  acima:  foi  erro  do  oflicial  do  registo. 

{Notn  do  Sr.  J.  I.  de  Brito  Rehello). 


392  ARCHrvo  dos  açores 

será  privada  a  tal  molher  que  o  morgado  soceder  do  dito  morgado  am- 
les  socederá  e  averà  e  declararam  que  nom  he  sua  vomtade  de  alterar 
nem  eimovar  cousa  alguma  na  Instetuição  que  linhão  feita  amtes  sem- 
pre se  comprirá  segundo  em  ela  se  contem  em  todo  e  per  todo  e  que 
pedião  por  mercê  a  el  Rey  noso  senhor  asy  o  confirmar  e  supra  qual- 
quer defeito  que  em  ele  aja  e  em  testimunho  delo  outorgaram  este  es- 
tormento;  testemunhas  que  presentes  foram  Gaspar  Fernandez  e  Pêro 
de  Paiva  e  António  de  Novaes  e  Pêro  de  Proemça  criados  do  dito  Ma- 
noell  da  Camará  e  Gaspar  Afomso  e  Francisco  Ribeiro  seus  criados  e 
eu  Diogo  Gonçalvez  publico  taballiara  dei  Hey  noso  senhor  na  dita  ci- 
dade que  este  estormento  sprevy  e  em  ele  meu  publico  synall  fiz  que 
tall  he. 

Pedindome  o  dito  Manoell  da  Gamara  e  dona  Joana  de  Mendoça 
sua  molher  que  ouvese  por  bem  lhe  confirmar  outrosy  o  dito  estor- 
mento e  visto  per  mim  seu  requerimento  querendolhes  fazer  graça  e 
mercê  tenho  por  bem  e  lho  confirmo  e  ey  por  confirmado  asy  e  da  ma- 
neira que  nelle  he  conteúdo  e  mando  que  asy  se  cumpra  e  guarde  sem 
duvida  nem  embargo  algum  que  a  elo^seja  posto  e  asyney  esta  carta 
aos  biij  (8)  dias  do  mes  de  maio  de  f  b  e  xxxbij  {lõ37)  annos. 

{Arch.  nac.  da  T.  do  T.,  Liv.  XXVÍ  de  D.  João  III,  f.  98.) 


COLLECÇAO  DE  DOCUMENTOS 

RELATIVOS 
ÁS  ILHAS  DOS  AÇORES 

{Continuado  de  pag.  189,   Vot.  VIU) 


Carta  regia  de  26  de  fevereiro  de  1486:  mercê  de  escu- 
deiro aposentado  a  João  Affonso,  da  ilha  de  S.  Miguel. 

Dom  .loam  ele.  A  qnanlO(>  esla  nosa  caria  virem  fazemos  saber 
<|rie  querendo  nos  fazer  graça  e  mercee  a  Jbam  Afonso  morador  na 
ylha  (Je  Sam  .\ligne!l  temos  por  bem  e  tomamollo  por  nosso  escudeiro 
apoiísenlado  e  em  nossa  especiall  guarda  e  encomenda  e  porem  roga- 
mos e  emcomendamos  a  lodollos  fidalgos  e  cavaleiros  de  u(»ssos  reynos 
e  senhorios  e  mandamos  a  lodolos  nossos  coiregedores,  ajcaydes,  mey- 
rinlios  e  a  outras  quaes(]iier  justiças  e  ofeciaes  a  (^ne  esta  nossa  car- 
ta for  mostrada  e  aos  juizes  e  oficiaes  e  moradores  na  dita  ilha  que 
o  ajam  assy  por  nosso  escudeiro  aposent^ulo  e  o  ajajn  em  espicial  guar- 
da defemsan)  e  emcomenda  e  lhe  cumpram  e  guardem  miiy  emleyra- 
M)ente  e  façam  comprir  e  guardar  todíillas  homras.  privylegios,  libei- 
dades,  graças  e  mercês  que  am  e  de  direito  devem  daver  os  semelhan- 
tes nossos  escudeiros  aposentados  avendo  por  certo  que  aquelle  que 
asy  ftezerem  como  de  todos  confiamos  que  por  nosso  respeyto  faram 
que  lho  aguardecei"emos  em  serviço  em  caso  que  alguns  ho  contray- 
ro  tpieyram  fazer  mandamos  a  vós  ditas  Justiças  ipie  lho  nam  comsin- 
laes  e  lho  façaees  lodo  correguer  como  for  direito.  Dada  em  Santarém 
a  wbj  {26)  de  ffevereiro.  Joam  de  Kerreyra  a  fez.  aniio  de  nosso  se- 
nhor de  mill  e  iiij'  Ixxxbj  (1486)  annos. 

íArch.  vac.  da  T.  do  T.,  Lir.  I  d-  I).  .hãn  II,  /.  .?.9  v.\) 


N.'^  47— Vol.  Vm— 188(). 


39 i  ARcmvo  DOS  açores 

í 

Carta  regia  de  28  de  fevereiro  de  1486:  perdão  a  Diogo 
Flamengo,  da  ilha  Terceira. 

Dom  Joam  ele.  A  todollos  Juizes  e  Justiças  destes  nossos  regnos 
a  que  est;i  iiosa  carta  fur  mustrada,  saúde,  sabeede  que  Dioguo  Fra- 
mengno  murador  na  Ilha  Tenreira  nos  eniviou  dizer  que  linii  Goinçallo 
Magro  forçara  na  dita  }lha  hnma  Viollanle  Alvarez  por  a  qnall  cousa 
Hlle  fora  proso  e  per  força  cointra  sua  vomtade  fora  emlregue  a  elle 
dito  Dioguo  Frampngu(»  que  o  guardase  e  tivese  preso  e  tenidoo  elle 
asy  elle  Goniçallo  Vbgro  tora  Jidlguado  que  o  emforcasem  semdo  elle 
asy  jullguado  por  hy  nom  aver  cadeea  nem  prysom  com  que  o  elle 
prendese  a  ele  Gomçallu  Magro  elle  lhe  fogira  por  asy  nam  teer  con» 
que  o  premdese  por  a  quall  rezam  se  elle  amorara  e  andava  amorado 
com  themor  das  nossas  justiças  e  qut;  por  quanito  a  dita  Violante  All- 
varez  querellosa  perdoara  e  nom  queria  nem  quisera  acusar  nem  de- 
mandar por  rezam  da  fogida  do  dito  preso  que  elle  a.<y  fogira,  segum- 
do  mais  compridamente  veer  poderiamos  per  huu  publico  estormento 
o  quall  perante  nós  foi  apresemtado  e  parecia  seer  fecto  e  asinado  per 
Joam  Rruiz  taballiam  por  nós  em  a  nosa  cidade  de  Lisbooa  ao  dera- 
deiro  dia  do  mes  de  dezembro  da  era  presemte  desta  carta  em  o  quall 
se  comtinha  amtre  as  oulras  cousas  que  per  a  dita  viollante  alvarez 
querellosa  fora  dito  que  ella  perdoava  ao  dito  sopricamte  todo  mal  e 
sem  rrezam  quf  lhe  fora  fecto  per  o  dito  Gomçallo  Magro  e  asy  por 
elle  sopricamte  em  lhe  fugir  e  o  nom  queria  por  ello  acusar  m^m  de- 
mandar segumdo  que  todo  esto  e  outras  muitas  (cousas?)  milhor  e 
mais  compridamente  se  em  o  dito  estormento  comlynha  E  mandonoi> 
{aliás,  mandaiidonosj  elle  sopricamte  pedir  por  mercee  que  lhe  per- 
doasemos  a  nosa  justiça  se  nos  a  ella  por  rezam  da  fugida  do  dilo  pre- 
so que  lhe  asy  fugira  em  alguma  guisa  era  theudo  e  nós  vemdo  o  que 
nos  elle  asy  dizer  e  pedir  enviou  se  asy  he  como  elle  diz  e  hi  mais 
nam  ha,  visto  o  perdão  da  parte  querellosa  a  que  pertemcia  a  acusa- 
ção do  preso  que  ao  sopricamte  fugira  e  queremdolhe  fazer  graça  e 
mercê:  Teemos  por  betii  e  perdoamoslhe  a  nossa  justiça  a  que  nos  el- 
íe  por  rrezão  do  dito  pre>o  era  theudo  com  tamto  (jne  elle  paguase 
mill  e  quinhemtos  reaes  pêra  a  arca  da  piadade  e  p(»r  quamio  elle  lo- 
guo  paguow  os  ditos  dinheiros  a  frey  Joam  de  Santarém  noso  esmoller 
segumdo  dello  fomos  certo  per  seu  a.-^inado  e  per  outro  de  Joham  Ba- 
nha escripvam  em  a  nosa  corte  que  os  sobre  elle  pos  em  recepta  A." 
em  forma.  Dada  em  a  nosa  villa  de  Santarém  a  xxbiij  (28) dias  do  mes 
de  fevereiro.  El  Rey  ho  mandou  pellos  doutores  Rui  Boto  e  Dioguo  Pi- 
nheiro, Dioguo  de  Pon4e  a  fez  anno  do  nascimento  de  noso  senhor 
Jl:uu  Npõ  {Jesus  Christo)  de  mill  e  iiij'"  Lxxxbj  [1486 >. 

{Arch.  nac.  da   T.  do  T.,  Lir.  1  de  D.  João  II.  foi.  v;  r.") 


ARCHIVO   bOS  AÇOBES  395 

Carta  regia  de  27  de  julho  de  1486 :  mercê  de  escudeiro 
aposentado  a  Diogo  Preto. 

Uum  Joliain  A-.'*  A  qnitiiitos  esta  nossii  carta  viíeii)  fazemos  saber 
(jue  (jiiereiídu  nós  fa/er  graça  e  mercê  a  Dingu  Prelo,  (1)  escudeiro,  mo- 
rador ua  illia  de  Sam  Migiiell  a  nos  praz  de  o  filharmos  ora  por  noso 
escudeiro  apousemlado  pêra  nós  delle  servirmos  quando  nosa  mercê 
for  e  o  avemos  em  nosa  garda  e  encomenda  como  cousa  nosa  que  lie 
e  porem  mandamos  e  encomendamos,  aos  Juizes  e  ofeciaes  da  dita  ilha 
e  asy  a  todalas  justiças  de  nossos  rregnos  e  senhorios  e  a  qnaesipier 
outros  ofeciaes  e  pesoas  a  (]ue  perteencer  e  esta  nosa  carta  for'  mos 
Irada  que  ajam  o  dito  Diogo  Pr'eto  por  rroso  escudeira)  e  coiuo  C(íusa 
nosa  trautem.  onriem,  favoreçom  em  todo  o  que  com  r/ezom  e  justi- 
ça rrequerer  por  (|ue  assy  avemos  por  bem  e  noso  serviço  e  por'  cer- 
tidom  dello  lhe  mandamos  dar  esta  rrosa  carta  per  nos  asyn;ida  per  a 
qual  llie  avemos  por  dados  e  outorgados  todollos  previlegios,  íramque- 
zas,  libei-dades  que  fiam  e  sempr'C  ouverom  os  escudeiros  nosos  ciea- 
dos  e  melhor  se  os  elle  coni  direito  melhor  poder  avt-r  por  que  assy 
nos  praz  e  avemos  por  bem.  Dada  em  Lisboa  .\xbij  (líZUJe  julho.  Phu- 
laliom  Giz.  a  fez  anuo  de  ixxxbj  (M86). 

[Arch.  Jiac.  da  T.  do  7\,  Liv.  IV  de  D.  João  11,  /.  102  v.".) 


Carta  regia  de  7  de  junho  de  1492,  a  favor  de  Catharina 
Gonçalves,  da  ilha  Terceira. 

Dom  Joham  etc.  Saúde,  sabede  que  Caterina  (jonçallvez  molher 
solteira,  morador  na  ylha  Terceir^a  nos  emvyou  dizer  qire  ella  esteve- 
i'a  p(»r  manceba  theinia  e  manlheuda  de  huu  Huy  Diaz  Avarigelho,  mo- 
rador na  dita  ylha,  asy  em  semdo  viva  Isabell  Lopez,  molher  do  dito 
Rrry  Diaz,  como  despois  de  se  finar,  com  o  quall  Ruy  Diaz  dia  ssopri- 
camte  ouvera  afeição  carnallmente  e  recebera  delle  bem  fazer  e  qrre 
ora  comsyr'amdo  ella  com«i  eslava  com  elle  em  pecado  mortall  se  apar- 
tara delle  e  de  sua  comversação  e  queria  viver  bem  e  onestamenteá.* 
nn  forma.  Dada  em  a  nosa  cidade  de  Lisb(»a  aos  bij  i7)  dras  do  mes 
de  junho.  Eli  Rey  o  mandou  pellos  doutores  Fernam  Uoiz,  dayão  de 
(loimbra  e  Ruy  Boto,  ambos  do  seu  consellio  e  desembar'gadores  do 
paaço,  Ruy  Fer*nandez'(a  fez)  anuo  do  nascimento  de  noso  senhor  Jhri 
xpÕ  {Jesus  Chrislo)  de  mill  iiij*^  [.rij  (1492). 

{Arch.  nac  da  T.' do  T.,  Liv.   V  de  I).  .João  11,  /.  98.) 


(1)  Ainda  subsisto  com  o  iio:ne  de  Díoíío  Preto  uma  j^rota  junta  á  la^oa  das 
Furnas. 


396  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

Carta  regia  de  7  de  junho  de  1492,  a  favor  de  Ruy  Dias 
Evangelho,  da  ilha  Terceira. 

Dora  Juliam  ele.  Saúde,  sabecJe  ijiit'  hiiy  Diaz  Avarngelho,  mora- 
dor na  yllia  Terceira  nos  emviou  dizer  que  semdo  elle  casado  em  es- 
tes nossos  legnnos  com  liua  Isabel  Lopez  se  partira  destes  regnnos  e 
fora  a  yllia  da  Madeira  ( 1)  umde  estivera  dez  ou  duze  annos  em  a  qual 
ylha  elle  sopricante  tevera  por  manceba  tlieuda  e  manlheuda  huma  Ca- 
lerina  Gonçallvez  molher  solteira  com  a  qual!  ouvera  afeiçam  carnall 
asy  em  snmdo  a  dita  Isabel  Lopez  viva  como  de^pois  de  ser  finada  e 
que  comsyramdo  como  eslava  CiJin  a  dita  Calerina  Gonçallvez  em  pe- 
cado morlall  se  apartara  delia  e  da  sua  conversação  e  queria  viver 
bem  e  onestauíenle  etc.  carta  em  forma.  Dada  em  a  nosa  cidade  de 
Lisboa  aos  bij  (7)  dias  do  mes  de  junho.  Eli  Rey  o  mandou  pellos  dou- 
tores Fernam  Roiz  dayam  de  (Coimbra  e  Ruy  Boto  ambos  do  seu  Com- 
selho  e  desembargadores  do  paaço.  Ruy  P>rnamdez  a  fez,  anno  do 
nascimento  de  noso  senhor  .Ihu  x°  {Jeòim  Christo)  de  mill  iiij''  Lrij  [1492). 
{Arch.  nav.  i1a  T.  do  T.,  Liv.  V  de  D.  João  11.  f.  98.) 


Carta  regia  de  8  de  junho  de  1492,  nomeando  mempostei- 
ro  mór  dos  captivos  nos  Açores  a  Fernão  dEvora. 

Dom  Joam  etc.  A  todollos  Juizes  e  Justiças  da  IHia  de  Sam  Mi- 
guell  e  asy  de  todallas  outras  Ilhas  dos  açores  saúde;  sabeede  que 
comfiamdo  nós  em  a  bomdade  e  boa  fama  e  descryçam  de  Fernam 
dEvora,  escudeiro  morador  na  Ilha  do  Fayall  que  o  fará  bem  e  como 
compre  a  serviço  de  Deos  e  nosso  queremdolhe  fazer  graça  e  meicee 
temos  por  bem  e  damoslhe  o  oficio  de  memposleiro  mor  das  ditas 
Ilhas  asy  como  ho  eia  Ambiosio  Alvarez  e  por  quamto  ha  tempo  que 
nam  parece  e  he  ausentado  das  ditas  Ilhas  porem  mamdamos  a  todol- 
los juizes  e  justiças  das  ditas  Ilhas  que  daquy  em  deante  ajam  o  dito 
Fernam  d'Evora  por  memposteiro  moor  e  outio  nenhuu)  nom  e  lhe 
mandeem  acudir  com  titdollos  os  direitos  e  causas  que  á  dita  rendição 
pertemcee  e  por  esta  nosa  carta  mandamos  a  todollos  memposteiros 
pequenos  que  llie  acudam  com  todallas  cousas  que  teveiem  recebydas 


(i)  Ou  é  fufiaiio  dizer  que  foi  para  a  Ilha  da  Madeira,  ou  então  ha  uma  la- 
cuna da  vhida  da  Madeira  para  a  Terceira,  onde  se  vê  que  ambos  são  morado- 
res. E'  mais  natural  a  primeira  liypotliese,  visto  na  rarta  de  Calliaiina  Gon(,'alve.s 
não  fazer  allusão  <1  sua  estada  na  Madeira.  .lá  por  mais  de  utna  vez  se  tem  visto 
que  os  escrivães  não  estavam  muito  certos  na  posi(;âo,  divisões  das  ilhas,  nem 
iKis  seus  Momi'S. 

(Noia  do  Sr.  J.  I.  de  Brito  Rebello). 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  397 

e  dafjiiy  om  diamte  receberem  segundo  a  forma  do  nosso  regimento 
(]iie  pêra  iso  lleva  e  huns  e  outros  ali  nom  faç^ides.  Dada  em  a  villa 
d'Alemí|ner  aos  biij  {8}  dias  do  mes  de  jiinho.  Ell-Rey  o  mamdon  por 
Rny  Gomes  d" Azevedo  fidallgno  da  casa  do  dito  snnor  e  proveador 
moor  da  dita  rremdição.  Martim  dOrta  escripvão  dos  contos  a  fez,  an- 
no  do  nascymenlo  de  nosso  sennor  Jhnn  xpo  (Jesus  Christo)  de  mill 
iili*^  Lrij  (1492)  annos. 

[Arch.  nac.  da  T.  do  T..  Liv.  V  de  D.  João  II,  /.  133  i'.°). 


Petição  de  António  Borges,  feitor  da  fazenda  nas  ilhas, 

acerca  da  moradia  de  cevada  que  recebera,  de  1528 

a  1635,  e  certidão  da  mesma:  10  d  outubro  de  1536. 

Diz  António  Borges  que  ^  eWe  lhe  he  necesario  hua  certidão  do 
Contador  Francisco  Allvarez  do  tempo  que  lhe  Domingos  Afomso  pa- 
gou sua  moradya  per  aver  da  custaar  em  a  comta  de  Joam  Tavares  pê- 
ra Bertolameu  Gonçalvez  que  a  comta  toma  a  saber:  ho  tempo  que  lhe 
foy  paguo  pêra  levar  em  comta  xxxij  bj  r  {32^640}  rs.  que  lhe  João 
Tavares  pagou.  Pede  a  V.  M.  que  lhe  mande  dar  no  que  lhe  fará  jus- 
tiça e  muyta  mercee.  (1) 

(Defi^paclio) 

Paselhe  o  contador  Francisco  Alvarez  com  ho  Irelado  do  alvará 
delRey  noso  senhor  (sem  o  alvará  por  que  está  na  comta  de  Joam  Ta- 
vares).— Jorge  Dias. 

(Certifião) 

Vy  a  recadação  da  comta  que  foy  tomada  a  Domingos  Afomso  all- 
moxarife  que  foy  da  Ilha  de  São  Miguell  tempo  de  bj  [6}  anos  e  dez 
meses  que  começarão  no  mes  doytubro  de  b*^  xxbiij  (1528)  e  acabarão 
no  mes  dagosto  de  b  e  \\\b{lõ35)e  per  ela  se  mostra  lhe  serem  le- 
vados em  comta  ao  dito  allmoxarife  cemto  e  dous  mill  qnynhemtos  reaes 
per  quatro  adições  das  f.  12  e  13  da  dita  recadação  que  pagou  ao  con- 
tador António  Borges  de  sua  moradia  e  cevada  de  tempo  de  seis  ân- 
uos e  três  meses  que  começarão  per  S.  João  de  b*^  xxbiij  (1028)  e  a- 
cabaram  no  fim  do  mes  de  setembro  de  b*^  xxxiiij  (lõ34)  a  rezão  de 
mill  reaes  por  mes  e  alqueire  de  cevada  por  dia  segundo  ho  dito  An- 
tónio Borges  tem  per  allvará  dei  Rey  e  certidão  do  Livro  da  cozinha 
de  como  nele  foy  posta  verba  que  hadaver  sua  moiadia  na  dita  Ilha 
em  quanto  servyr  de  comlador  em  que  monta  por  ano  dezaseys  niyll 
<juatro  cemtos  reaes  de  sua  moradia  e  cevada  siunente  por  quamto  hos 


(1)  Vejam-se  os  documentos  sobre  o  mesmo  assumplo  no  Vol.  IH,  p.  41  a 
U  e  Vol  IV,  p.  Ill  o  M2. 


398  ARGHIVO  DOS  AÇOhES 

doze  mill  reaes  que  tem  por  ano  de  conilador  lhe  forão  pagos  á  cusU 
dos  rendeiros  por  serem  das  hordinarias  que  hos  rendeiros  são  liobri- 
gados  a  paguar:  certeficoho  asy  em  Évora  a  dez  de  hoytubro  de  b  e 
XXX bj  {lòS6).==  Francisco  Alvares. 
[Ardi.  nac.  da  T.  do  T  ,  Corp.  Chron.  Part.  2.'»  maç.  209  ~  n."  27). 


Petição  de  António  Borges,  feitor  nas  ilhas,  para  lhe  se- 
rem abonadas  as  quebras  que  teve  no  trigo  e  cevada, 
que  comprou  nas  ilhas:  13  d  outubro  de  1536. 

Diz  Amlonio  Borges  feytor  que  foy  nas  Ilhas  dos  açores  o  anno  de 
b'^xxij  (1522)  que  dosTJ  (2000)  moyoi  de  Iriguo  que  ele  comprou  pêra 
j)roviinento  dos  lugnares  dalém  (I)  teve  enigranelados  todo  lio  imverno 
iíij'  (400)  moyos  de  triguo  porque  o  mais  Iriguo  caregou  pêra  Afric-a 
dos  quaes  \\\'f  {400}  moyos  de  triguo  que  lhe  quebrarão  xxb(2.õ)  moyos 
que  he  a  menos  de  dous  alqueires  e  meio  por  moio  e  dos  b*^  {600) 
moios  de  cevada  que  comprou  pêra  estrebaria  de  V.  A.  leve  emgra- 
nelado  rix  [ItíO]  moios  porque  a  uiais  caregou  pêra  estrebaria  de  V. 
A.  dos  quaes  clx  {160)  [noios  de  cevada  que  teve  em  granes  lhe  que- 
brarão seis  moios;  ho  cpial  triguo  e  cevada  llie  está  deylada  em  des- 
pesa pelo  escripvão  de  sen  carego  no  livro  de  sua  des[)esa.  F.  a  V.  A.* 
(pie  lhe  mande  levar  em  comta  o  dito  triguo  e  cevada,  por  qnamlo  ho 
comtador  que  lhe  tomou  a  comta  lho  não  quis  levar  em  comia  por  não 
ler  poder  pêra  yso  no  ipie  recebera  justiça  e  mercê. 

(DeHpaclio) 

Vista  a  delligencia  que  se  fez  sobre  esta  qutbra  ua  conta  de  Do 
mingos  Afomso  levesselhe  outra  tamta  nesta  e  mais  nom.  Km  Évora  a 
xiij  (13)  dias  doitubro  de  b'  xxxbj  (163iJ].=  Dom  Rodrigo. 

Levase  em  comta  vinte  moyos  de  triguo  dos  (piatrocemlos  ipie  te- 
ve eui  graneis  que  he  a  razãt)  de  Ires  al(pieires  por  moio  como  ^e  le- 
vou a  Dominguos  Afoms(»  almoxarife  da  Ilha  de  Sam  .Migell  por  alva- 
rá de  sua  alteza  que  fazem  os  ditos  xx  {20}  moios  e  levase  em  comia 
os  bij  (7)  moios  riij  {43)  alqueires  de  cevada  que  ficou  devemdo  dos 
clx  {lò'0)  moyos  uue  teve  em  granell  que  say  ainda  menos  de  Ires  al- 
ipieires  por  moyo. 
iArch.  nac.  d(t  T.  do  7'.,  Corp.  Chron.,  Pari.  2.^     waç.  209— n." 30.) 


(1)  V.  lU)  Vol.  1,  puf:.  2âH. 


ARCHIVO  DOS  AÇOHES  'i99 


Petição  de  João  Tavares,  almoxarife  na  ilha  de  S.  Miguel 
para  se  lhe  levar  em  conta  o  dinheiro  e  trigo  que  en- 
tregou a  Luiz  Fernandes,  feitor  nas  ilhas;  23  d'ou- 
t^bro  1536. 

Diz  João  Tavares  almoxarife  que  foy  ho  anno  de  xxbij  (1027)  na 
Ilha  de  Sani  Migiiell  que  Luis  l'eruanidez  foy  com  provysões  de  V.  A. 
pêra  receber  todalas  dividas  e  triguo  que  devido  ííose  a  V.  A.  amlre 
as  quuaes  dividam  recebeo  delle  vimte  e  Ires  mill  e  quinheailos  reaes 
e  por  quamlo  lios  ele  quer  daar  em  sua  comia  que  ora  dá  nos  vosos 
comlos.  P.  a  V.  A.  lhe  mande  pasar  cerlidão  de  como  Iíos  dele  rece- 
beo |)era  dar  em  sua  comia  no  que  lhe  íFará  mercê  e  lhe  mamde  dar 
cerlidão  de  cenlo  xbj  (116)  moios  de  Iriguo  que  ho  dito  Luis  Fernam- 
dez  recebeo  dos  caseiros  que  eslão  carregados  em  receila  sobre  ho  di- 
to Joam  Tavares  lio  quall  asemto  está  no  livro  do  dito  Luis  Ffernnam- 
dez. 

(Despacho) 

Que  se  lhe  dee  estas  certidões  Jorge  Diaz  se  a  yso  nom  tever  du- 
vyda.=/)owí  Rodrigo. 

(Ortidão) 

Pola  arecadaçam  da  comta  que  se  toma  aos  erdeiros  de  Luys  Fer- 
namdez  feitor  que  foy  ás  ilhas  dos  açores  per  mandado  dei  Rey  noso 
senhor  o  anno  de  b  xxbij  [1527)  se  mostra  ser  carregado  sobre  ele  em 
receila  que  recebeo  de  Joam  Tavarez  almoxarife  que  foy  na  ilha  de  S. 
"Migell  vynle  e  Ires  mill  e  quynhemlos  rs.;  a  saber:  biij  b*^  {8ij>ò00)  a 
comta  das  dyvidas  do  dito  senhor  que  se  devyam  na  dita  Ilha  em  xxbiij 
(28)  dagosto  do  dito  anno  e  os  xb  {lõij>000)  rs.  da  comta  do  ramo  dos 
bezerros  f.   I  da  dila  arecadação. 

E  asy  se  mostra  pela  dita  arecadação  receber  mais  o  dito  Luis 
Fernandez  do  dito  Joam  Tavares  almoxarife  cento  e  dezaseys  moios  de 
triguo;  a  saber:  xxxbij  (57)  moios  dos  propios  d  Achada  da  dita  Ilha  per 
Gaspar  Hoiz  recebedor  e  Ixix  {6d)  moios  dos  propios  que  ho  dito  se- 
nhor tem  na  vyla  de  Ponta  Delgada  per  Bellesar  Gyll  no  dito  dia,  mes 
e  anno.  E  b  (.5)  moios  dos  próprios  que  ho  dito  senhor  tem  em  Rabo 
de  Peixe  no  dito  dia  mes  e  anno.  E  os  b  (5)  moios  dos  propyos  de 
Santo  António  alem  dos  xxx  (30)  moios  de  Fernão  dWlcaçova  no  dito 
dia  mes  e  anno  que  fazem  a  conlya  dos  ditos  c  xbj  {116')  moios  de  Iry- 
go  ti.  6  ho  que  cerlefyco  asy.  Feyta  em  xxiij  (2.9)  dyas  dontubro  em 
Évora,  anno  de  7  b  exxxbj  [lôsè). 

Eu  Rodrigo  Lopez  d' Ag n ia r= Jorge  Diaz. 

(Arch.nac.  da  T.  do  7'.,  Corp.  Chron.  Part.2.^  —  maç.92—n.''44.) 


400  AKCHIVO  DOS  AÇOKES 

Petição  de  João  Tavares,  almoxarife,  sobre  a  pensão  de 

15  moios  de  trigo  que  recebia  Frei  Afíbnso  de  Toledo: 

23  d'outubro  de  1536. 

Diz  Joam  Tavares  almoxarife  que  toi  na  ylha  de  Saiii  Miguel  o  an- 
uo de  xxbj  [1026)  e  xxhij  [1527)  que  ele  daa  ora  sua  conta  nos  vosos 
contos  e  tem  necesidade  de  hua  procuração  que  fez  frey  Afomso  de 
Tolledo  pregador  a  huu  seu  criado  pêra  receber  do  dito  Joam  Tavares 
xb  (/õ)  moyos  de  trigo  de  que  lhe  V.  A.  fez  uíercee  e  por  quamto  ho 
dito  J(jam  Tavares  tem  necesidade  da  dita  procuração  pêra  a  sua  con- 
ta: Pede  a  V.  A.  (pie  mande  a  Francisco  Alvarez  contador  que  lha  dee 
ou  o  trelado  delia  de  maneira  que  faça  ft-e  no  que  lhe  V.  A.  fará  mer- 
ece; e  asy  me  mainde  dar  o  trellado  do  alvará  que  está  em  poder  do 
dito  contador  de  como  foy  feita  esta  mercee  ao  dito  pregador. 

(Uespaclio) 

(^ut"  se  lhe  dee  este  trelado  em  maneira  que  faça  tee.^  Dom  Ro- 
drigo. 

A(j  contador  Francisco  Alvarez.  -=Jonjp  Dias. 
(Certidão) 

Trellado  do  alvará  de  frey  Alomso  pregador  no  livro  da  receita  e 
despesa  da  comia  que  foy  tomada  a  Domyngos  Afomso  almoxarife  que 
foy  da  Ilha  de  São  Miguel  des  ho  ano  de  b  e  xxbiij  {1528)  té  ho  ano 
de  b  xxxb  {InSõ)  a  f.  219  está  huu  registo  de  hu  alvará  que  foy  tre- , 
ladado  no  dito  livro  per  Bastião  Roiz  escrivão  do  allmoxa rifado  e  asy- 
nado  per  ele  de  que  ho  trelado  de  verbo  a  verbo  he  ho  seguimte: 

Va\  el  Rey  mamdo  a  vos  meu  almoxarife  da  Ilha  de  São  Migell 
que  do  rendimento  desa  Ilha  deis  este  ano  de  vimte  e  sete  e  de  vim- 
toito  e  de  vimte  nove  ao  mestre  frey  Afomso  de  Toledo  ijuimze  moyos 
de  trigo  em  cada  hu  ano.  De  que  lhe  faço  esmola  por  seus  serviços  e 
per  este  com  seu  conhecimento  manxlo  a  Gomçalo  Lopez  ou  a  quall- 
quer  hoíicial  que  receber  ho  rendimento  das  Ilhas  do^  açores  que  vo- 
los  levem  em  comta  e  aos  conítador^s  que  lhos  levem  em  despesa.  Fey- 
to  em  Allmeirim  a  xxh  [2õ)  dias  de  julho.  Damião  Diaz  ho  fez,  de  7 
b  e  xxbij  (1527). 

Ho  quall  allvara  eu  escrivão  ho  treladey  do  propio  (jue  hera  asy- 
nado  por  el  Rey  e  coui  a  vista  que  dizia—  da  (^unha  —  e  pasado  pela 
sua  chaiicnllaiia  e  eu  Bastião  Roiz  escrivão  do  allmoxarifado  que  ho  tre- 
ladey. 

E  eu  Francisco  Nunez  escrivã*»  dos  coutos  dei  Rey  noso  .senhor 
treladny  lio  dito  allvará  do  dito  livro  e  o  C(tmcertey  com  ho  comtador 
Francisco  Alvarez  que  esta  certidão  pasou  per  virtude  do  mandado  atraz 
•Mil  Évora  a  xxiij  i2S)  doytubro  de  b  e  xxxbj  [lô-W).  =-  Francisco  A(- 
i<n'('Z. 

iArc.  mir.  da  T.  do  T.,  C.  C.  2^-111."  209- n.°  46). 


ARCHIVO  DOS  ACOBES  401 


Petição  de  João  Tavares,  almoxarife  na  ilha  de  S.  Miguel. 

para  se  llie  levar  em  conta  o  que  pagou  ao  escrivão 

do  lealdador  mór  dos  pasteis;  8  de  novembro  de 

1536. 

Diz  Joam  Tavnrez  qie  ele  dá  ora  sua  conta  do  lempo  que  sérvio 
de  almoxarife  na  lllia  de  Sam  Migell  e  o  contador  lhe  pede  o  trellado 
de  liua  carta  de  hu  António  da  Mata  descrivão  do  lealldador  dos  pas- 
tes na  dita  Ilha  pêra  saber  quanto  inantymento  tem  a  quall  carta  tem 
Francisco  Alvarez  contador  que  tomou  a  conta  ao  ahnoxarife  Domin- 
gos Afomso.  Pede  a  V,  M.  lhe  mande  dar  o  trelado,  porque  sem  ele 
não  pode  dar  sua  conta,  no  que  lhe  faraa  justiça  e  meicee. 

(Despaclio) 

Porque  he  necesaryo  ver  quanto  mantymento  tinha  Amtonio  da 
Mata  escripvam  do  alealdador  ponhase  aqui  o  trelado  da  dyta  carta  que 
está  na  conta  de  Domingos  Afomso,  e  Francisco  Alvarez  contador  que 
ha  tomou  lha  dará. — Jorge  Dias. 

Trellado  <la  carta  do  escripvão  do  lealdador  dos  pastees 

Dom  Joam  per  graça  de  Deos  Rey  de  Portugall  e  dos  Allgarves, 
daquem  e  dalém  mar  em  Africa,  senhor  de  Guyné  e  da  comquista  na- 
vegação de  comercyo  de  Etiópia,  Arábia,  Persya  e  da  Índia  etc.  A  quam- 
los  esta  minha  carta  virem  faço  saber  que  ha  myin  emviou  dizer  An- 
dré Roiz  morador  na  vyla  dAmgra  da  Ilha  Terceira  qne  averia  três 
anos  pouco  mais  ou  menos  qne  hu  Amtonio  da  Mata  escrivão  dante  Pê- 
ro Vaz  lealldador  dos  pastees  da  Ilha  de  São  Mignell  hera  fallecido  per 
cujo  falecimento  ho  dito  hoficio  ficou  vaguo  e  por  tamto  ho  pedio  hu 
Brás  Lourenço  morador  que  se  diz  ser  em  Lagos  o  qual  lhe  foy  dado 
e  nunqua  ho  servyra  nem  tirara  carta  delle  da  chancellaria  e  que  ha- 
veria mays  de  ano  e  meio  que  o  dito  liras  Lourenço  tem  a  carta  do 
dito  hoficio  na  chancellaria  sem  a  tirar  pelo  quall  ho  dito  Brás  Louren- 
ço tynha  perdido  o  dito  (jtficio  por  aver  tanlo  tempo  que  ho  tinha  ávi- 
do sem  o  mais  hir  servir  nem  tirar  a  dita  carta  por  bem  do  qual  es- 
lava vaguo,  pedindome  que  lhe  fizese  dele  mercê  do  que  a  mym  apraz 
e  lhe  faço  dele  mercê  se  asy  he  como  me  ele  dito  André  Roiz  me  em- 
viou dizer  e  esto  se  se  ho  dito  oífici(j  perde  pelas  ditas  causas  porem 
mando  ao  comtador  da  dita  Ilha  e  a  quaesquer  oficiaes  e  pesoas  a  que  es- 
ta minha  carta  for  mostrada  e  o  conhecimento  delia  pertencer,  que  sen- 
do perante  elles  citado  ho  dito  Brás  Lourenço  saybam  de  todo  o  certo 
tyrando  sobrelo  imquyrição  judiciall  e  imdo  pelo  feyto  em  deante  como 
he  ordenado  e  achando  que  he  asy  como  me  o  dito  André  Roiz  emviou 
dizer  e  (|ue  pelas  ditas  caus.is  ho  dito  oficio  está  vaguo  e  eu  ho  poso 
dar  com  direito  a  quem  me  aprouver  ho  jullguem  asy  per  sua  senten- 

N.°  47  — Vol.  VIII    -1886.  "  4 


402  ARCHIVO  DOS  AÇOBES 

ça  defenitiva  dando  apelação  e  agravo  ás  partes  omde  couber  e  que- 
rendo ho  dito  Brás  Lourenço  estar  pela  dita  sentença  sendo  condena- 
do sem  mais  apellar  nem  agravar  melão  em  pose  do  dito  ollicio  ao  di- 
to Amdré  Roiz  e  lho  leixem  servir  e  delle  usar  e  aver  o  mantimento 
proes  e  precallços  que  lhe  direitamente  pertencerem  sem  duvida  nem 
embargo  allgum  que  a  yso  seja  posto  por  quanto  eu  lhe  faço  do  dito 
uíTicio  mercê  como  dito  he  o  qual  André  Roiz  jurará  na  chancellaria  aos 
santos  avamjelhos  que  semdo  metido  em  pose  do  dito  oíTicio  ho  sejam, 
bem  e  verdadeyramente  guardando  inteiramente  meu  serviço  e  as  par- 
tes seu  direito  e  pagou  de  ordenado  na  chancellaria  dous  myll  e  qui- 
nhentos reaes  que  forão  careguados  em  recepta  sobre  o  recebefior  de- 
la. Dada  nesta  cidade  dEvora  a  biij  [8)  dias  do  mes  de  junho  el  Rey 
o  mandou  per  dom  Rodrigo  Lobo  do  seu  conselho  e  vedor  de  sua  fa- 
zenda, António  de  Matos  a  fez  ano  do  nacimenlo  de  noso  senhor  Jhu 
xpõ  (Jems  Chrislo)  de  J  b  e  xxxiiij  {1634)  anos. 

Ho  qiiall  Itellado  foy  tirado  do  Livro  dos  registos  da  comta  que 
deu  Domingos  Afomso  Allmoxarife  que  foy  da  Ilha  de  São  Miguell  dos 
anos  de  b''  xxbiij(/õ^5j  té  b  xxxiiij  {1534);  comcerlado  per  mym  Fran- 
cisco Allvarez  comtador  com  FIVancisco  Nunez  escrivão  dos  comtos 
que  o  escreveo  em  Évora  a  biij  (8)  de  novembro  de  b"  xxxbj  {1536). 

E  asy  no  livro  dos  pagamentos  das  ordinárias  que  ho  dito  almo- 
xarife pagou  ho  anno  de  b  xxxiiij  {lõ34)  está  hu  registo  as  f.  5  do 
dito  livro  per  que  se  mostra  ho  dito  esciivão  ter  de  mantimento  com 
ho  dito  oflicio  amelade  do  mantimento  que  tem  ho  lealldador  dos  pas- 
teis em  cada  hu  anno  que  são  na  dita  ametade  três  moyos  de  triguo 
e  uma  pipa  de  vinho  e  mill  reaes  em  dinheiro  que  he  ametade  dos 
seis  moyos  de  trigo  e  bua  pipa  de  vinho  e  ij*^  {200)  rs.  em  dmheiro 
que  Pêro  Vaz  lealldador  tem  de  mantimento  com  seu  hoficio  segundo 
se  mostra  as  f.  4  do  dito  livro:  cerlificoho  asy  em  Évora  no  dito  dia 
mes  e  ano. = Francisco  Alrarez=Francisco  Nunez. 

(Arch.  nuc.  da  7.  do  T.,  C.  C,  Pari.  2.^,  mac.  209— n.'^  66.) 


Carta  de  Manoel  Corte  Real  a  Elrei;  Angra  19  de  janeiro 

1537. 

vSenhor.  A  xxix  {29 )  dyas  deste  mes  de  dezembro  que  pasou  che- 
gou aquy  a  este  porto  hum  dom  Pedro  d'Alvarado  adyamladr»  duma 
provyncya  lá  nas  Amtylhas  que  se  chama  Guatymala  a  qual  he  no  mar 
(lo  síil  iij''  {300)  legoas  do  México  a  qual  ele  tj  nha  conquystada  no  tem- 
po em  que  ho  Manpies  Fernãodo  Cortes  cõquystou  Mexyco:  he  soube 
dele  que  estado  ele  nesta  terá  de  que  era  governador  ihe  vyerão  re- 
qrer  por  parte  do  emperador  que  fose  cõ(|uystar   ha  provymcya  de 


ARCHiVO  DOS  AÇORES  403 

Hiinduras;  a  qual  Fernãodo  Cortes  já  dantes  lyriha  desciiberto  he  pos- 
to em  scrvyço  do  emperador,  lie  por  que  se  rebelou  cõtra  os  crystãos 
he  matarão  muitos  deles,  foy  este  chamado  pêra  que  a  tornase  a  cõ- 
quystar  de  novo  o  (piai  foy  he  cõqiiyslou,  e.ste  mes  de  mnyo  pasado  de 
530  lie  a  dcvNa  pMcyfyca  lie  a  seivyço  do  emperador  he  vay  agora  a 
pedyr  an  em[)erador  a  governação  del;i,  he  asy  vem  ha  casar  cõ  liua 
irmãa  de  sua  molher  que  la  lhe  faleceo  cõ  quem  ho  emperador  ho  tem 
cõcertado  as  quaes  molheres  erão  fyllias  de  dõ  Liiys  de  la  Cueva  ir- 
mão do  duque  d'Albuquerque:  ele  Irazya  duas  uaos  não  muito  bem  a- 
precebydas  as  quaes  mandou  dyamte  he  ele  fycou  aquy  haté  homtem 
que  forão  xbiij  (J8)  dyas  deste  mes  de  janeyio  (pie  daquy  parlyo  numa 
barca  destas  daquy  da  terá  que  lhe  mãdey  dar  (>or  ma  pedyr  por  liyr 
mays  seguro  he  mays  desymidado  se  achase  algiias  armadas;  as  novas 
mays  que  comta  são  dyzer  que  esta  lera  que  ora  cõíjuystcu  das  Hun- 
duras  que  he  muito  rica  he  que  ha  nela  muito  ouro  he  prata  mas  ele 
traz  pouco  cõsygo  he  em  sua  cõpanhya;  ao  presemte  não  ha  outra  no- 
va que  a  vosa  alteza  escreva.  Rogo  a  noso  senhor  que  a  vyda  he  reall 
estado  de  vosa  alteza  por  muitus  anos  acreceute.  Escripta  nesta  cyda- 
de  d'Angra  oje  xix  (19)  de  janeyro  de  537. 

M.  Corte  Reall. 
{Sobreescripto)  Pêra  el  Rey  noso  Senhoi'. 

(Original  e  da  pntpria  mão  de  M.  Corte  Real). 
(Arch.  nac.  da  T.  do  T.,  Corp.  Chron.,  Pari.  l.^~-maç.58—n.^39. 

De  Manoel  Corte  Roa!  so  tratou  nu  vol.  IV,  p.  403  e  seguintes  (J'este  Archivo. 


Carta  de  Manoel  Corto  Real  a  Elrey;  Angra  10  de  junho 

de  1537. 

Senhor.  Despoys  de  ler  escryto  a  vosa  ;dleza  esta  carta  (pie  aquy 
lhe  mãdo  (I)  faleceo  Amryque  Nunez  de  Lyão  sem  durar  mays  que  oy- 
to  dyas  do  dya  (^iie  chegou  a  esta  cydade  ao  dya  que  faleceo;  eu  se- 
nhor fuy  logo  cõ  ho  corregedor  he  cõ  dous  escryvães  damte  ele  a  ca- 
sa homde4io  dyto  Amryque  Nunez  estava  he  amles  que  falecese  tyra- 
mos  os  cofres  dõde  estavão  numa  arca  muito  seguros  he  cõforme  ha 
hua  carta  de  vosa  alteza  que  qiia  tynha  Amryque  Nunez  os  pusemos 
em  casa  de  três  homens  dos  prymcypaes  desta  cydade  poi' que  os  co- 
fres que  Amryque  Nunez  trazya  no  seu  navyo  somente  erão  lies  he 

(1)  Da  carta  a  <|ue  esta  se  refere  existe  apenas  a  ultima  lauda,  deventJo  lal- 
lara  parle  mais  importante. 

{Nota  do  Sr.  J.  1.  de  Brito  Relteflo). 


404  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

niãdamolos  muito  bem  lyar  he  selar  cõ  o  selo  de  vosa  alteza  que  o  cô- 
ladur  tem  em  seu  poder  he  de  tudo  se  fez  auto. 

Ho  riavyo  em  que  ele  vynha  posemosllie  logo  ho  corregedor  he 
eu  hua  guarda  he  mays  estão  dentro  ho  pyloto  he  escryvão  do  dyto 
navyo  cõ  a  mays  gemte  que  nele  vem. 

Os  capytães  das  outras  caravelas  por  que  vão  em  busca  de  Dio- 
go da  Sylveira  como  já  a  vosa  alteza  tenho  escrypto  he  a  rezão  por  que 
deixarão  seus  cofres  de  sua  mão  em  hua  boa  casa  emtreges  a  pesoas 
de  sua  cõpanhya  de  quem  eles  cofiarão  por  que  asy  pareceu  bem  ao 
corregedor  a  quem  vusa  alteza  cumeteo  ho  caso  cõ  Pedreanes  du  Can- 
to ou  a. cada  tiu  per  sy  per  hua  carta  que  qua  mãduu  ao  dyto  Amry- 
que  Nunez,  asy  senhor  que  tudo  fyca  bem  he  a  recado. 

Ho  escryvão  do  navyo  dAmrique  Nunez  tornamos  mandar  ao  na- 
vyu  pêra  estar  em  goarda  dele  cõ  ho  pyloto  por  que  os  cofres  estão 
em  poder  domens  da  terá  como  dygo.  Rogo  a  noso  Senhor  que  a  vyda 
he  real  estado  de  vosa  alteza  por  muitos  anus  acrecente.  Escryta  oje 
X  (10)  dias  de  junho  de  537. 

M.  Corte  Reall. 

(Sobreeschptn)  Pêra  el  Rey  noso  senhor. 

(Original  e  da  própria  letra  de  M.  Corte  Real). 

{Are.  nac.  da  T.  do  T.,  C.  C,  P.'  l^—m.^õS—n^  109). 


Carta  regia  de  16  doutubro  de  1538:  mercê  das  pensões 

dos  tabeliães  das  ilhas  dos  açores  e  das  saboarias  da 

ilha  de  S.  Miguel  a  Pedro  Camello  Pereira. 

Dom  Joam  etc.  a  quamtos  esta  minha  carta  vyrem  faço  saber  que 
avemdo  eu  respeyto  aos  serviços  que  tenho  recebydos  e  ao  deanle  es- 
pero receber  de  Pêro  Camello  Pereyra  (1)  fidalguo  de  mynha  casa  e 
queremdolhe  fazer  graça  e  mercê  ey  por  bem  e  me  praz  de  lhe  fazer 
mercê  em  dias  de  sua  vida  das  pensões  dos  tabaliães  das  ilhas  dos  aço- 
res e  das  saboaryas  da  ilha  de  Sam  Myguell  asy  e  da  maueyra  que  as 
lynha  Anrique  de  Betancor(2)e  depoys  D.  Byatriz  de  Saa  per  cujo  fa- 
lecymento  vagaram  e  como  de  direyto  pertencer.  E  por  tamtu  mando 
aos  meus  comtadores  das  ditas  Ilhas  e  aos  corregedoies,  juizes  e  jus- 
tiças delias  e  a  quaes  quer  outros  oficiaaes  e  pesoas  a  que  o  conheci- 
mento dest(»  perlemcer  que  metam  luguo  o  dito  Pêro  Camello  em  po- 
se das  ditas  pemsões  e  saboaryas  e  lhas  leyxem  ter  arecadar  e  po- 

(1)  Vid.  outra  doação  a  este  Pedro  Camello  no  Vol.  1,  p.  70  doeste  Archiyo. 

(2)  A  doação  a  Henrique  de  BeUeiicourt  está  impressa  no  Vol.  1,  p.  66  d'es- 
te  Arcliivo. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  405 

soyr  com  todas  as  remdas  e  perlemças  delias  como  as  tevcram  os  so- 
breditos e  a  mym  perteracem  e  njyllior  se  as  o  dito  Pêro  Camello  com 
direyto  mylhor  poder  arecadar  e  aver  por  quamto  lhes  faço  delias  mer- 
cê em  sua  vyda  como  dito  he  as  qiiaes  pemsões  das  Ilhas  dos  Açores 
e  saboaryas  da  Ilha  de  Samiguel  elle  averá  e  arecadará  de  Janeyro 
(|iie  pasoii  deste  ano  presemte  de  b"  xxxbiij  (1538)  em  deante  e  man- 
do que  do  dito  tempo  em  deante  lhe  sejam  entregues  as  rendas  e  cou- 
sas delias  e  por  firmeza  dello  lhe  mandey  dar  esta  carta  per  mym  a- 
synada  e  asellada  com  o  meu  sello  pemdemte  a  qual  se  regystará  nos 
lyvrus  dos  meus  propyos  das  ditas  ilhas  pelos  escryvães  dos  contos 
delias  pêra  se  saber  a  maneyra  em  que  tenho  feyto  esta  mercê  ao  di- 
to Pêro  Camello.  Dada  em  Lisboa  a  xbj(i^)dias  do  mes  doutubro,  Ma- 
noel da  Costa  a  fez,  anno  do  nacymenlo  de  uoso  Senhor  Jhu  xpõ  {Jesus 
Cfiristo)  de  myll  b'^  xxxbiij  {1538). 

{Arch.  nac.  da  T.  do  T.,  Liv.  XXVI  de  D.  João  3°  f.  160  v.\) 


Carta  regia  de  29  de  janeiro  de  1539:  mercê  dos  offlcios 
de  distribuidor,  inquiridor  e  contador  na  villa  da  La- 
goa a  Pedro  Velho,  morador  na  mesma. 

Dom  Joam  etc.  A  vos  Juizes,  Concelho  e  homens  bõos  da  villa  da 
Lagoa  façovos  saber  que  a  mym  emviou  dizer  por  sua  petição  Pêro 
Velho  hy  morador  que  hum  Joam  Alvarez  estrebuydor,  emqueredor  e 
contador  na  dita  villa  semdo  asy  oficiall  per  carta  vendeo  os  ditos  ofí- 
cios a  huu  Ruy  Barbosa  e  lhe  fezera  sua  renunciação  em  forma  sem 
ao  tall  tempo  ter  licemça  nem  provysão  mynha  pêra  yso  e  despoys  a 
ouvera  pela  qual  não  fizera  obia  nem  se  tyrara  mais  carta  dos  ditos 
oííicios  e  de  emtão  alê  agora  nunqua  os  mais  servira  que  vay  em  cyn- 
co  ou  seys  annos  on  o  que  vyer  em  verdade  e  por  elle  dito  Pêro  Ve- 
lho ser  pesoa  apta  o  Corregedor  lhos  mandara  servyr  até  aver  pro- 
vysão mynha  e  que  pollos  ditos  erros  ou  cada  hum  delles  elle  perdia 
os  ditos  oííicios  e  que  eu  os  podia  dar  a  quem  me  aprouvese  e  com- 
fiamdo  eu  do  dito  Peru  Velho  que  he  tall  que  o  fará  como  a  meu  ser- 
vyço  e  a  bem  das  partes  compre  tenho  por  bem  per  esta  presemte  car- 
ta lhe  fazer  delles  mercê  se  asy  he  como  elle  diz  e  por  elle  os  perde 
'O  dito  Joanalvares)  e  lhos  eu  com  direyto  dar  poso  a  qual  mercê  lhe 
asy  faço  per  virtude  de  um  meu  alvará  que  lhe  pêra  ello  pasey  per 
my  asynado  e  pasado  pela  mynha  chancellaria  de  que  o  theor  tall  he: 
Chanceller  moor,  amigiio:  eu  ey  por  bem  e  me  apraz  que  se  este  Joan 
alvarez  comtador  e  emqueridor  e  estribuidor  na  villa  da  Lagoa  da  Ilha 
de  Sam  Miguell  pelos  erros  e  causas  contendas  nesta  petiçãi»  atras  es- 
cryla  perde  os  ditos  ofícios  fazee  deles  mercê  per  se  asy  he  a  Pêro  Ve- 


406  AKCHIVO  DOS  AÇORES 

llio  na  dita  petição  declarado  nolificovulo  asy  e  m.mdo  que  lhe  pases 
dos  ditos  oflicios  carta  em  forma  pagando  prymeiro  os  dyreitos  orde- 
nados segundo  ordenança.  Joam  Chamorro  o  fez  em  Lisboa  aos  xxj  {21) 
dias  do  mes  de  Janeiro  de  myll  b''  xxxix  {15H9).  E  porem  vos  mando 
que  sendo  perante  vós  citado  o  dito  Joanalvarez  o  onçaes  com  o  dito 
Pêro  Velho  sobre  os  ditos  ofícios  á-.^  á-/  {segundo  o  formulário  de  ou- 
tros já  impressos).  E  sendo  o  dito  Joan  Alv.irarez  condcmnado  que  per- 
ca os  ditos  ofícios  sello  ha  mais  em  myll  e  quynhenlos  reaes  os  quaes 
farès  loguo  entregar  ao  dito  Pêro  Velho  pelos  ter  já  pago  em  mynha 
chancellaria  ao  recebedor  delia  sobre  o  quall  ficam  carregados  em  re- 
cepta. Dada  em  a  cydade  de  Lisboa  aos  xxix  (29)  dias  do  mes  de  ja- 
neiro. El  Rey  o  mandou  pelo  doutor  Álvaro  Fernandez  do  seu  conselho 
e  seu  chanceller  moor  em  todos  seus  regnos  e  senhoryos.  Bernardim 
Beleagoa  a  fez,  anuo  de  noso  Senhor  Jhu  xpõ  {Jesus  Christo)  de  myll 
b*^  e  xxxix  {1539}  annos. 

{Arch.  nac.  da  T.  do  T.,  Liv.  XXVI  de  D.  João  8.\  f.  21.) 


Carta  reg-ia  de  21  de  março  de  1539:  mercê  do  offlcio  de 

chanceller  e  escrivão  da  correição,  na  Terceira  e  ilhas 

debaixo,  a  António  do  Casal. 

Dom  Joam  etc.  A  quamtos  esta  minha  carta  virem  faço  saber  que 
n  mim  emviou  dizer  per  sua  petição  Amlonio  do  Casall  em  como  huu 
Manoel I  Garcia  chançarell  c  sprivão  da  correição  ua  ilha  Terceira  e 
ilhas  debaixo  tinha  nos  ditos  olíicios  ITeitos  taes  erros  per  omde  com 
direito  os  perdia,  a  saber:  que  em  hua  sentença  de  livramento  de  Ma- 
noell  Lopez  não  decrara  din  nem  mes  e  o  ano  nomeou  huu  semdo  ou- 
tro e  que  asy  apresentara  no  dito  seu  officio  huu  Gonçalo  xMourato  que 
escrevesB  por  elle  o  qual  escrevia  e  tirava  as  iinquirições  sem  provi- 
são minha  e  no  olficio  de  chançarell  recebera  do  Licenciado  João  de 
Qnymtana  níill  e  trezemtos  vymte  reaes  de  dizmia  de  huma  sentença 
e  no  Livro  meu  nom  carregara  mais  de  coremla  e  asy  recebera  de  di- 
zima de  outra  sentença  dEstevão  do  Couto  sete  cemtos  e  sesemta  reaes 
e  carregara  no  Livro  da  chanct-lkiria  dozemtos  e  L'*  {250)  e  asy  rece- 
bera mais  de  Fernão  Gonçalves  da  Hocha  ccremta  reaes  que  perten- 
ciam á  dita  chancellaria  e  não  os  asemtara  no  Livro  e  asy  recebera  de 
nove  almotaceis  que  foram  presos  na  villa  da  Praya  a  chancellaria  de 
cada  huu  que  eram  Q'*  (4(>)  reaes  e  uam  levara  nhna  cousa  em  Livro 
e  asy  na  ilha  de  Sam  Jorge  foram  presos  Afonso  d  Almada  e  Pêro  Diaz 
e  Joam  Diaz  e  Joam  Alvarez  o  .Magro  e  Pêro  Anes  do  Poriball  e  Jur- 
dam  Vaz  e  Syinão  hoiz  e  Manoel  Alvarez  e  Diogo  Dinz  e  Diogo  Gill  os 
quaes  foram  [ire>os  sob  suas  nienagens  c  recebeo  delles  as  chancella 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  407 

rias  e  no  meu  Livro  se  não  carregara  cousa  algua  e  qne  pelos  tiito^ 
erros  on  cãúa  hnu  eile  dito  Manoell  Garcia  perdia  os  dilos  oiricios  e 
que  eu  os  podia  dar  a  quem  me  aprouvese  e  comfiando  eu  do  dilo  Am- 
lunio  do  Casall  que  he  tall  que  o  ííará  como  a  meu  serviço  e  a  bem 
das  partes  compre  queremdollie  fazer  mercê  tenho  por  bem  per  esta 
presente  carta  lhe  fazer  dos  ditos  oílicios  mercê  se  asy  he  como  elle 
na  dita  petição  diz  e  por  ello  se  perdiam  e  lhos  eu  com  dii-eito  dar  po- 
so a  quall  mercê  lhe  asy  ífaço  per  virtiide  de  huu  meu  alvará  que  lhe 
pêra  ello  pasey  per  mym  asynado  e  pasado  pela  minha  chancelaria  de 
que  o  theor  tal  he:  Chançarell  moor,  amigno:  eu  ey  por  bem  e  me  praz 
que  se  este  Manoell  Garcia  morador  na  ilha  Terceira  e  chançarell  e  es- 
privão  da  correição  da  dita  ilha  e  ilhas  de  baixo  pelos  erros  e  causas 
contendas  nesta  petição  atras  esprita  perde  os  ditos  oflicios  ffazer  del- 
les  mercê  per  se  asy  he  a  Amlonio  do  Casall  na  dita  petição  declara- 
do nolellicovolo  asy  e  mando  que  lhe  paseys  dos  ditos  oliiciosi  carta 
em  fíbrma  pagamdo  primeiro  os  direitos  ordenados  segumdo  ordenança. 
João  Chamorro  o  fez  a  xxij  (22)  de  novembro  de  J"  b  e  \\\bu}(  1538). 
E  por  tanto  mando  ao  corregedor  que  ora  he  em  a  dita  correição  ou 
a  quaesquer  outros  juizes  e  justiças  a  que  esta  minha  carta  for  apre- 
sentada e  i>  conhecimento  delia  com  direito  pertencer  que  sendo  o  di- 
to Manoell  Garcia  perante  elles  citado  o  ouçam  com  o  dito  Amtonio  do 
Casall  sobre  os  ditos  oíficios  e  saibaes  dello  o  certo  á.^,  á.*  (segundo 
a  formulário  de  ouiros  já  impressos)  e  sendo  o  dito  Manoel  Garcia  con- 
denado que  perca  os  ditos  oiricios  sel-o  á  mais  em  três  mil  reaes  que 
lie  o  ordenado  delles  os  quaes  fareis  logo  emtregar  ao  dito  António  do 
Casall  pelos  ter  já  pagos  em  a  dita  chancellaria  ao  Recebedor  delia  so- 
bre o  quall  ficam  carregados  em  recepta.  Dada  em  a  cidade  de  Lisboa 
aos  xxj  (21)  dias  do  mes  de  março,  el  Hey  o  mandou  pelo  doutor  João 
Paez  do  seu  desembargft  que  ora  per  seu  especiall  mandado  tem  car- 
go de  seu  chançarel  mor  em  todos  seus  reinos  e  senhorios.  Bernardim 
Beliagoa  a  fez,  ano  de  noso  Senhor  Jesus  x°  (Jesus  Christo)  de  J  b  e 
xxxix  (1539)  anos 

(Arch.  me.  da  T.  do  T..  Ur.  XXVI  de  D.  João  ,5.°,  /.  73  v.\) 


Carta  regia  de  28  de  março  de  1539:  mercê  do  ofíicio  de 
escrivão  na  villa  da  Praya  (Terceira)  a  António  Vaz. 

t)oui  Joã(í  etc.  a  vos  juizes,  Concelho  e  homens  bõos  da  Vila  da 
Praya  façovos  saber  que  per  António  Vaz  me  foy  apresentada  hua  mi- 
nha carta  per  num  asynada  de  que  o  teor  tall  he: 

Doutor  Braz  (>)ta:  Eu  el  rey  vos  envio  muito  saudar:  vy  a  carta 
que  me  escrevestes  na  qual  dizeis  que  vos  escrevy  que  os  juizes  e 


408  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

procurador  da  Vila  da  Praya,  me  emvyarão  dizer  que  duas  legoas  da 
dita  vyla  estava  hua  povoação  que  seria  de  cento  e  L/^  {1-^)0)  vezinhos 
com  o  termo  e  que  tinha  ffeito  hum  escrivão  dos  testamentos,  o  qual 
não  podia  servir  sem  minha  licença  perante  o  juiz  pedaneo  que  em 
cada  hum  anno  é  emlegiilo  no  dito  lugar  no  que  os  moradores  dele 
recebiam  perda  por  nom  terem  escripvam  que  sirva  as  cousas  que 
cabem  na  alçada  do  dito  juiz  pedaneo  e  asy  as  deligencias  que  s*^  man- 
dão fazer,  e  que  emiegerão  pêra  iso  huu  Amtonio  Vaz  morador  no  di- 
to lugar  e  me  pediam  o  ouvese  por  bem  e  lhe  mandase  pasar  carta 
pêra  servir  peramte  os  ditos  juizes  e  faz^r  os  testamentos,  e  vos  man- 
dey  que  de  tudo  vos  imformaseis  se  era  necesario  e  mo  escreveseis 
com  voso  parecer  e  ora  dizeis  que  tomareis  diso  imformaç.ão  e  que 
achastes  ser  muito  necesario  o  dito  escripvan»  e  que  podia  íTazer  mer- 
cê dele  a  quem  fose  meu  serviço  e  visto  vosa  imformação  ey  por  bem 
Afazer  mercê  do  dito  oíTicio  ao  dito  Amtonio  Vaz  o  qual  poderá  vir  ti- 
rar carta  dele  que  lhe  será  ffeita  mostrando  esla.  Joam  Roiz  a  ffez 
em  lisboa  a  iiij  {i}  dias  de  julho  de  y  b  xxxbiij  {1638}  Bastião  da  Cos- 
ta a  sobescrepvy, 

E  visto  per  mim  a  dita  carta  tenho  por  bem  de  íTazer  do  dito  of- 
ficio  mercê  ao  dito  Amtonio  Vaz  por  fiar  dele  que  he  tall  que  o  fará 
como  a- meu  serviço  e  a  bem  das  partes  compre  e  vos  mando  que  tan- 
to que  vos  esta  for  apresentada  o  metey  logo  de  pose  do  dito  oficio  e 
lho  leixai  servir  como  dito  he  e  aver  todo  o  a  ele  direitamente  orde- 
nado e  proees  e  precalços  sem  lhe  ser  posto  duvida  nem  embargo  ai-* 
guu  por  que  asy  me  praz  o  qual  jurara  em  minha  chancellaria  aos 
samtos  avangelhos  que  bem  e  como  deve  o  syrva,  guardando  em  todo 
a  mym  meu  serviço  e  ás  partes  seu  direito  e  regimento  que  da  dita 
chancellaria  leva  omde  pagou  de  ordenado  ao  recebedor  dela  seis  cem- 
los  reis  os  quaes  fficão  sobre  ele  caregados  em  rect^pta.  Dada  em  a 
cydade  de  Lisboa  aos  xxbiij  (28)  dias  do  mes  de  março:  el  rey  o  man- 
dou pelo  doutor  Joam  Paes  do  seu  desembargo,  que  ora  per  seu  es- 
pecial mandado  tem  carguo  de  seu  chanceller  moor  em  todos  seus  rei- 
nos e  senhorios.  Bernardim  Beleagoa  a  fez,  ano  de  noso  Senhor  Jhu  x° 
i Jesus  Christo)  de  "J  b  e  xxxix  (lõ39)  anos. 

(Arch.  nac.  da  T.  do  T.,  Liv.  XX VJ  de  D.  João  3:\  fnl.  89.) 


Carta  regia  de  21  de  maio  de  1539:  mercê  do  offlcio  de 
meirinho  da  serra  em  S.  Miguel  a  Gonçalo  Pires. 

Dom  Joam  ele.  A  quamtos  esta  minha  carta  virem  façi)  saber  que 
Confiando  en  de  ííonçalo  Pirez  morador  na  Ilha  de  Sam  Migell  que  em 


AUCHIVO  DOS  AÇOBES  409 

esto  me  serviíã  bem  e  cotno  cuinpre  a  meu  serviço  e  bem  das  (j.iites 
teiibo  por  bem  e  o  doii  orii  (l;it|ui  em  deamte  por  meirinho  da  serra 
na  dita  liba,  asy  e  pela  maneira  que  o  ele  deve  sei-  e  o  alé  (piy  ÍTuy 
Bertolameii  FleriianiJez,  morador  na  (bla  liba  de  Samiguell  (pie  o  dito 
oriicio  tinha  e  renunciou  cm  minhas  niTu^s  pêra  o  delle  prover  se- 
gundo dello  ÍTiiy  certo  por  bua  publica  procuração  d(j  dito  lieitolameu 
Kernandez  e  remmciagão  feita  por  seu  procurador  do  (Jito  ollicio  ao 
dito  Gonçído  Pirez  quti  todo  perante  mim  (oy  apresentado.  A  quall 
procuração  reC(jntava  ser  ííeyla  e  assignada  por  Gaspar  de  Freytas, 
tabellião  do  publico  e  judicialí  por  mim  em  a  dita  Ilha  aos  xb  (/5)  dias 
do  mes  dabrill  deste  presente  anuo  de  mil  b  xxxix  [1039}  annos  em 
que  se  continha  amte  outras  muitas  cousas  nella  contendas  que  o  dito 
Hertolameu  Fernandez  fazia  seu  abastante  procurador  por  elle  e  lhe 
dava  os  poderes  acostumados  a  dom  Gil!  Eanes  da  Costa  Ifidallgo  de 
minha  casa  pêra  poder  renunciar  em  minhas  mãos  o  dito  olFicio,  por 
virtude  da  qual  elle  seu  jírocurador  so  estabelecera  por  seu  procura- 
dor pêra  o  poder  fazer  a  dom  Alv.iro  da  Costa,  do  meu  (Conselho,  seu 
pay  do  dito  procurador.  O  qual  dom  Álvaro  por  virtude  di*  um  seu 
asignado  e  da  dita  procuração  e  sob  estabelecimento  renunciou  em  mi- 
nhas mãos  o  dito  otllcio  pêra  delle  [jrover  e  fazer  mercê  ao  dito  Gon- 
çalo Pirez,  segundo  todo  este  melhor  e  mais  compridamente  na  dita 
procuração  e  substabelecimento  e  renunciação  era  conteúdo  por  bem 
do  qual  eu  pasey  ao  dito  Gonçalo  Pirez  himi  meu  alvará  por  mym  a- 
synado  e  passado  por  minha  chancellaria  de  que  o  trellaiio  tall  ííe: 

Eu  El  Rey  faço  saber  a  vos  corregedores  de  minha  corte  dos  fei- 
tos crimes  que  eu  ey  por  bem  que  renunciando  Bertolameu  Fernandez 
meirinho  da  serra  da  Ilha  de  Sam  Miguel  o  dito  ollicio  pêra  eu  delle 
prover  a  (juein  me  prouver,  fazer  delle  mercê  a  Gonçalo  Pirez  mora- 
dor na  dita  Ilha,  noteficovollo  asy  pêra  que  mostrandonos  elle  sua  re- 
nunciação lhe  passeis  dele  carta  em  forma  sendo  ele  auto  pêra  o  ser- 
vir. Ba^tião  da  Costa  o  fez  em  Lixboa  a  xbj(2(>idias  de  maio  de  ]"  b 
e  xxxix  (1Ô39)  annos. 

Por  Ijem  do  qual  e  pela  dil;i  renunci;ição  lhe  mandey  [)as;ir  esta  mi- 
nha carta  [)ela  qual  mando  ao  corregedor  que  ora  he  fin  as  ditas  Ilhas 
dos  Açores  e  aos  Juizes  Justiças  da  dita  Ilha  de  S.  Miguel  e  quaes(pier 
outras  pessoas  a  que  o  conhecimento  pertencer,  que  ajam  ao  dito  Gon- 
çalo Pirez  por  meirinho  da  dita  serra  e  o  metam  em  posse  do  (hto  of- 
ficio  e  lho  deixem  servir  e  usar  delle  como  lhe  pertence  e  asy  aver 
lodolos  proes,  e  precalços  a  elle  direitamente  ordenados  pela  maneira 
que  o  avia  e  servia  o  dito  Hertolameu  Feriinudez,  e  melhoc,  se  o  elle 
com  direito  melhor  poder  aver  sem  duvida  nem  embargo  algmu  que 
lhe  a  ello  S'^ja  posto,  porque  asy  he  minha  mercê.  O  (piall  Gonçalo  Pi 
rez  jurou  aos  santos  avangclhos  em  a  minha  cbani-ellaria  de  guardar 
em  todo  meu  serviço  e  o  direito  das  parles  e  pagou  de  ordenado  do 
dito  otíicio  novecentos  e  trinta  c  três  reis  a  Francisco  Fernandes  Re- 

N."  47  — Vol.  Yin       1886.  o 


410  AHCHIVO   DOS  AÇORES 

cebedor  de  minha  cliancellaria  e  llie  furam  carregados  em  recepta  pe- 
lo escripvão  delia,  segundo  outrosym  fuy  certo  por  certidão  por  elle 
feita  nas  costas  do  dito  meu  alvará.  Couiprio  asy  e  ai  nom  façaes.  Da- 
da em  esta  minha  cidade  de  Lixboa  aos  xxj(2ijdias  do  mes  de  maio, 
el  Rey  o  mandou  pelo  doutor  Diogo  Taveira  do  seu  conselho  e  desem- 
bargo e  corregedor  dos  feitos  crimes  em. sua  corte  e  casa  da  soprica- 
ção  com  alçada.  Jaeome  Pirez  por  Francisco  de  Mideiros  escripvão  a 
fez,  ano  do  nacimento  de  noso  Senhor  Jhu  xpõ  de  J  b  e  xxxix  {1539) 
anos.  E  pasuii  pelo  Licenciado  Sebastiam  Alvarez  outrosy  do  seu  des- 
embargo e  seu  corregedor  dos  feitos  crimes  com  allçada  em  esta  sua 
corte  e  casa  da  sopricação  por  lhe  vir  por  destribuição;  e  eu  Francisco 
de  Medeiros  a  sobescrepvy. 

{Arch.  me.  da  T.  do  T.,  Liv.  XXVI  de  D.  João  3.°,  f.  115.) 


Nomeação  de  Pedro  Felg-ueira  para  escrivão  do  almoxa- 
rifado e  alfandega  da  Graciosa:  28  de  maio  de  1539. 

Carla  nomeando  Escrivão  do  AInioxarifado  e  Alfandega  da  Ilha  Gra- 
ciosa a  Pêro  Felgueira,  tabellião  do  publico  e  judiciall  e  Escrivão  da 
(Gamara  na  Villa  de  Santa  Cruz  por  virtude  de  renunciação  que  nelle 
fez  Manoel  Gonçalves  (jue  tinha  os  ditos  olficios.  por  instrumento  feito 
aí)S  XXX  {30)  de  julho  de  1538,  por  André  Furtado,  tabellião  na  mes- 
ma ilha  Graciosa  (carta  em  forma).  E  por  firmeza  dello  lhe  mandei  dar 
esta  carta  per  mim  assignada  e  sellada  com  o  sello  de  minhas  armas. 
Dada  na  minha  cidade  de  Lisboa  a  xxbiij  (28)  dias  de  maio,  Pêro  Ri- 
beiro a  fez,  anno  do  nacymento  de  noso  Senhor  Jhn  xpõ  (Jesus  Chris- 
to)  de  y  b  xxxix  (1539)  annos. 

(Arvh.  nac.  da   T.  do  T.,  Liv.  XXVI  de  D.  João  5.°,  foi.  133.) 


Carta  regia  para  João  Galego  curar  os  enfermos  em  An- 
gra, com  umas  hervas;  12  de  junho  de  1539. 

Dom  Joam  etc.  A  quamtos  esta  minha  carta  ffor  mostrada  saúde: 
íÍMÇo  saber  que  Joam  Galego  morador  em  a  cidade  d"Amgra  da  Ilha 
Teiceira  me  emviou  dizer  que  ele  com  alguas  mezinhas,  a  saber:  er- 
vas e  raizes  sabia  curar  de  muitas  imfirmidades  de  fisiqua  e  que  na 
dita  cydade  e  termo  e  Ilha  tinha  feito  muito  boas  curas  o  (pie  me  fez 
certo  per  hua  carta  da  Camará  e  [)er  hmn  estormento  de  im(|uiriçam 
do  Cori'Cgedor  e  olliciaes  (Va  justiça  da  dita  cidade  e  comfiando  eu  no 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  411 

(lilo  eslormento  e  c;iit;i  e  exame  (jiie  IIjh  íVz  o  meu  fysyco  inór  e  (jue- 
remdnllie  fiizer  gniçn  e  mercê  e  coiifiMnilu  nele  (|ne  sempre  o  í';ir;i  l)em 
e  citmo  compití  n  serviço  cie  Deos  e  m(Mi  e  saiide  do  meu  povo  lenho 
por  bem  e  llie  doii  liignr  e  liceiiç;i  (jiie  ele  posa  curar  de  fisyca  na  di- 
ta cydade  dAmgra  e  seu  li'rmo  somente  e  isto  em  (|iianto  a  camará 
e  cydade  fazendo  ele  o  (pie  deve  forem  contentes  e  mando  ás  minhas 
justiças,  officiaes  e  pescas  a  que  o  conhecimento  pertemce  (|ue  livre- 
mente o  leixem  curar  e  usar  de  sua  fysyca  e  aver  os  proes  e  percal- 
ços que  lhe  direitamente  pertemcerem  e  ele  jurará  na  camará  da  di- 
ta cydade  aos  samtos  dvamgelhos  ([ue  asy  bem  e  como  deve  com  sam 
comcyemcia  use  da  dita  fisyqua  com  mezinhas  bramdas  na  dita  cyda- 
de e  teíuio  asy  como  compre  a  serviço  de  Deos  e  meu  e  bòa  sande 
do  meu  povo  e  mando  que  curando  algum  ííisyco  sem  mostrar  minha 
carta  pasada  pelo  meu  fysyco  mór  posto  que  graduado  seija  emcora 
em  pena  de  trinta  díjbras  cijmteiidas  em  meu  regimento  e  semdo  re- 
querido pelo  dito  João  Galego  as  minlias  justiças  o  costramjam  que 
pague  a  dita  pena.  Dada  em  a  cydade  de  Lisboa  aos  doze  dias  do  mes 
de  junho.  El  Rey  o  mandou  pelo  doutor  Diogo  Lopez,  fidalgo  de  sua 
casa  Ifisyco  mór  em  seus  Reinos  e  senhorios,  Jorge  da  Fonsequa  a  fez, 
era  de  mil  b  e  xxxix  {153.9)  ânuos. 

(Arch.  noc.  da  T.  do  1\,  Lw.  XXVI  de  D.  João  3.°,  f.  138  v°.) 


Carta  regia  de  9  de  julho  de  1539:  mercê  do  offlcio  de  es- 
crivão dos  órfãos  na  ilha  do  Fayal  a  Álvaro  Dias 

Beleagoa. 

Dom  Joam  etc.  A  vós  juizes,  concelho  e  homens  bõos  da  ilha  do 
Fayall  façovos  saber  que  confiando  eu  dAlvaro  Diaz  Beleagoa  morador 
nesa  dita  ilha  que  he  tall  que  o  fará  como  a  meu  serviço  compre  e  a 
bem  das  partes  pertence  e  querendollie  fazer  graça  e  meicè  tenho  poi" 
bem  e  o  dou  ora  daquy  em  deante  [tor  sprivão  dos  órfãos  da  dita  ilha 
asy  e  pela  maneir^a  que  o  ele  deve  ser  e  como  o  íToy  Ffrancisco  Roiz 
que  o  dito  ollicio  linha  e  o  renunciou  em  minhas  mãos  pêra  dele  fazer 
mercê  ao  dito  Álvaro  Dias  Beleagoa  segundo  se  vio  per  hum  publico 
estromento  de  renunciação  feito  e  asynado  pelo  dito  Francisco  Roiz  pu- 
blico labaliam  em  a  dita  Ilha  ;ios  xij  [12)  dias  do  mes  dabrill  deste  a- 
no  presente  de  7  b  e  xxxix  {1039)  com  testemunhas  em  elle  nomea- 
das e  esta  mercê  lhe  faço  per  virtude  de  hum  meu  alvará  que  lhe  pê- 
ra elo  pasey  per  mim  asynado  e  pasado  per  minha  chancellaria  de  que 
o  tlieor  tal  he:  Chançarell  mór,  amigo:  a  mim  praz  dar  licença  a  Fran- 
cisco Roiz  taballião  do  [)nblico  e  judiciaíl  e  esprivão  dos  órfãos  da  ilha 
do  Fayall  pêra  (jue  posa  r»  lumciar'  o  olirio  desprivão  dos  órfãos  em  Al- 


412  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

varo  Diaz  Beleagoa  morador  na  dita  Ilha  sendo  pêra  iso  apto;  mandovos 
qiip  apresemtando-vos  u  dito  Álvaro  Diaz  sna  renunciação  e  pagando 
os  direitos  ordenados  lhe  paseis  sua  carta  em  forma.  Francisco  Belea- 
goa o  fez  em  Lisboa  a  \(10)  de  jnnho  de  T  b  e  xxxix  {1539)  e  eu  André 
Pirez  o  sobe.sprevy.  Porem  vos  mando  que  metaes  ao  dito  Álvaro  Dias 
rm  pose  do  dito  oíTicio  e  lho  leixay  servir  e  dele  usar  e  aver  todos  os 
proes  e  percalços  a  ele  direitamente  ordenados  asy  como  o  tinha  e  a- 
via  o  dito  Francisco  Hoiz  e  millior  se  o  ele  com  direito  poder  aver  sem 
lhe  ser  posto  duvida  enjbargo  nem  contradição  algna  porque  asy  me 
praz  e  ele  jurará  em  minha  chancellaria  aos  samlos  avamgelhos  que 
bem  e  como  devem  o  sirva  guardando  em  todo  o  serviço  de  Deos  e 
meu  e  direito  das  partes  e  regimento  que  da  dita  chancellaria  leva  e 
pagou  dordenado  delle  ties  mil!  reis  os  quaes  ficam  carregados  em  re- 
cepta sobre  o  recebedor  da  dila  chancellaria.  Dada  em  esta  minha  ci- 
dade de  Lisboa  a  ix  {9)  dias  de  julho,  el  Key  o  mandou  pelo  doutor 
João  Paez,  do  seu  desembargo,  que  ora  per  seu  especial  mandado  lenj 
cargo  de  seu  chanç^rell  mór  em  todos  seus  regnos  e  senhorios.  Fran^- 
risco  da  Costa  a  fez,  ano  de  noso  senhor  Jhu  x°  (Jesus  Christo)  de  j 
b  e  xxxix  (1589)  anos. 

{Arch.  me.  da  T.  do  T.,  Liv.  XXVI  de  D.  João  S.\  f.  152  v.''). 


Nomeação  de  Manoel  Lopes  dOliveira,  para  escrivão  do 

memposteiro  mór  dos  captivos  das  ilhas  centraes  e 

occidentaes  dos  açores;  23  de  julho  de  1539. 

Carta  de  Escrivão  damte  o  mamposteiro  mór  dos  ca|ilivos  das  ilhas 
Terceira,  São  Jorge,  Graciosa,  Fayal  e  Pico  e  da  Ilha  das  Flores  a  Ma- 
noel Lopes  dOliveira,  morador  na  cidade  de  Angra,  como  o  era  Gas- 
par Luís,  cujo  o  dito  ollicio  foi  e  o  i enunciou  em  André  Dias.  tabel- 
lião  e  escrivão  dos  contos  na  Ilha  Terceira  por  instrumento  feito  na 
cidade  de  Angra  por  Diogo  Pires,  labellião  iiella  a  8  de  novembro  de 
1530,  o  quaT  enviou  renunciar  o  direito  que  linha  no  dito  cargo  por 
Fernão  Vaz,  çapateiro,  morador  em  Lisboa,  junto  do  Carmo,  por  pro- 
curaçãí»  feita  na  mesma  ilha  Terceira  aos  2C  de  agosto  de  1538,  |»or 
Francisco  Alvares  publico  tabellião  nella.  da  (piai  renunciação  o  dito 
Fernão  Vaz  fez  fazer  instrumento  a  24  de  julho  do  corrente  aimo  poi' 
Cliristovão  Rodrigues,  publico  taballião  em  Lisb(»a.  Carta  cm  forma. 
Dada  em  Lisboa  aos  xxiij  (^.9)  dias  do  mes  de  Julho.  El  Hey  o  mandou 
per  Dom  António.  Conde  de  Linhares,  seu  muito  amado  primo  e  pn»- 
vedor  mor  da  rendição  dos  captivos  e  seus  Beynos  e  senhori(ts;  João 
Chamoi'ro  a  fez.  anno  do  nacinienlo  de  noso  Senhor  Jhuu  xpõ  i,/ç.v//.s 
Chrislo)  de  mi II  e  b  e  xxxix  ( 15H9\ 

(Arch.  ?nic.  da  T.  dn  7'..  Ur.  XXVI  de  D.  .loãn  õ'."  /.  lô't>} 


AHCHIVO  DOS  AÇORES  4  Kj 


Nomeação  de  Roque  Rodrigues  para  escrivão  da  Camará 
da  Ribeira  Grande;  13  d'agosto  de  1539. 

(]arln  fie  Escrivão  da  Camará  e  Almctaceria  e  inquiridur  da  Villa 
da  Ribeira  Grande  na  iliia  de  S.  Miguel  a  Rot^ue  Rudiigues,  nella  mo- 
rador  por  venda  e  renuncia  que  nelle  fez,  dos  ditos  cargos  Gonça- 
lo Gomes,  por  instrumento  feito  por  Gonçallo  Atmes,  publico  tabelliãu 
na  dita  ilha,  a  3  de  janeiro  de  1539,  e  por  virtude  de  um  alvará  de 
licença  que  lhe  f(;ra  passado,  feito  em  Lisboa  por  Manoel  da  Costa 
n  20  de  fevereiro  de  1538.  Carla  cm  forma.  Dada  em  Lisboa  a  xiij 
{13}  dias  do  mes  d'agosto.  El  Rey  o  mandou  pelo  doutor  João  Paez  do 
seu  desembargo  e  desembargador  em  sua  corte  e  casa  da  sopricação 
que  per  seu  especiall  mandado  tem  cargo  de  seu  chanceller  mor  em 
todos  seus  Reynos  e  senhorios;  Francisco  da  Costa  a  fez,  anuo  de  noso 
Senhor  Jhu  xpõ  (Jesus  Christo)  de  mil  b'^  e  xxxix  {1589). 

{Arch.  nac.  da  T.  do  T.,  liv.  XXVJ  de  D.  João  3.'  f.  172  ^^^) 


Carta  regia  de  27  d'agosto  de  1539:  mercê  do  offlcio  de 
cirurgião  na  ilha  do  Fayal  a  António  Rodrigues. 

Dom  Joam  etc.  A  quamlos  esta  minha  carta  flor  mostrada  faço  sa- 
ber que  confiando  eu  dAntonio  Roiz  morador  na  Ilha  do  Fayal  que  nis- 
to me  servirá  bem  a  serviço  de  Di'")S  e  meu  e  proveyto  do  meu  povo 
e  por  lhe  fazer  graça  e  mercê  ey  por  bem  que  ele  posa  usar  e  prati- 
car da  ciência  de  solorgia  por  todos  meus  regnos  e  senhorios  por  quan- 
to fuy  certo  pelo  doutor  mestre  Gil  meu  solorgião  mór  a  quem  o  eu 
mandey  examinar  e  o  examinou  e  Uo  achou  apto  e  soficiente  pêra  usar 
do  que  dito  he  e  por  tanto  mando  a  todolos  juizes,  justiças  que  não 
prendão  nem  consyntão  fazer  sem  rezão  ao  dito  António  Roiz  por  asy 
usar  do  que  dito  he  antes  livremente  o  deixem  usar  como  dito  he  ou- 
trosym  mando  as  ditas  justiças  que  prendão  qualquer  pesoa  que  usar 
da  dita  solorgia  sem  minha  licença  ou  do  meu  solorgião  mór  cada  vez 
«pie  pelo  dito  António  Roiz  da  minha  parte  lhes  for  requerido  e  os  não 
soltem  sem  minha  licença  ou  do  meu  solorgião  mór  o  qual  António  Roi/, 
jurou  na  minha  chancellaria  aos  santos  evangellios  que  bem  e  verda- 
deiramente use  do  dito  oficio  a  serviço  de  Deos  e  meu  e  proveito  do 
povo.  El  Rey  o  mandou  pelos  doutores  mestre  Gill,  cavaleiro  da  hor- 
dem  de  xpõ  (C/nislo)  e  seu  solorgião  moor.  Feita  em  Lisboa  aos  xxbij 
(27)  dias  dagosto.  Luis  da  Costa  a  fez  ano  do  nacymento  de  noso  Se- 
nhor Jhu  x''  (Jesus  Christo)  de  mill  b  e  xxxix  (1589)  annos. 

(Arch.  nar.  da  T.  do  T.,  Ur.  XX Vi  de  I).  João  8.\  f.  187.) 


414  ARCHIVO  DOS  AÇORES 


Nomeação  de  João  Gonçalves  para  escrivão  da  correição, 
da  ilha  de  S.  Miguel:  29  dagosto  de  1539. 

Carta  de  escrivão  da  correição  e  cliancellaria  da  ilha  de  S.  Miguel 
a  Juain  Gonçalves  nella  morador  j3or  venda  e  renuncia  que  llie  fez  Si- 
mão Carduso,  moço  da  Gamara  dei  Rei  por  instrumento  feitu  pelo  ta- 
belliãu  Diogo  Leitão  em  Lisboa  a  á5  de  agosto  de  1539,  segundo  um 
alvará  de  licença  feito  por  Bastião  da  Gosta  em  Lisboa  a  20  de  julho. 
Carta  em  forma.  Dada  em  Lisboa  aos  29  dias  dagosto,  El  Rey  o  man- 
dou pelo  doutor  João  Paez  do  seu  desembargo  e  desembargador  em 
sua  corte  e  casa  da  supricação,  que  per  seu  especiall  [uandado  tem  car- 
rego de  seu  chanceller  mór,  Francisco  da  Gosta  a  fez,  anno  de  noso 
Senhor  Jhu  xpõ  (Jesus  Chrislo)  de  mil  e  b  xxxix  {15o9)  ânuos. 

[Arch.  nac.  da  T.  do  T.,  Liv.  XXVI  de  D.  João  5.°,  f.  18õ.) 


Carta  regia  sobre  a  nomeação  de  Manoel  Gomes  para  es- 
crivão da  Gamara  da  Graciosa:  2  de  setembro  de  1539. 

Garta  aos  Juizes  Goncelho  e  homens  bons  da  Ilha  Graciosa  fazen- 
do saber  que  foi  nomeado  Escrivão  da  Gamara  e  allmotaçaria  e  tabel-' 
lião  do  publico  e  judiciall  da  mesma  ilha  Manoel  Gomes,  morador  na 
mesma  ilha  em  vista  da  renuncia  que  nelle  fez  dos  ditos  cargos  Lopo 
Bugalho  (jue  os  linha,  e  renunciou  por  instrumento  feito  p<do  tabeilião 
Diogo  Orelha,  cavalleiro  da  casa  Beal  em  Lisboa  a  30  de  agosto  do 
mesmo  anno.  e  segundo  um  alvará  de  licença  para  esse  fim  passado 
ao  referido  Lopo  Bugalho  e  feito  por  Domingos  de  Paiva  em  Lisboa  a 
27  de  maio  do  dito  anno.  Carta  em  forma.  Dada  em  a  cidade  de  Lis- 
boa aos  2  dias  do  mez  de  setembro;  El  Rey  o  mandou  pelo  doutor  Jo- 
ham  Paez  do  seu  desembargo  e  desembargador  em  sua  corte  e  casa 
da  sopricação  que  ora  per  seu  especiall  mandado  tem  carrego  de  seu 
chamceler  moor.  Agostinho  Salvado  a  fez,  anuo  do  nacimento  de  noso 
Senhor  Jhu  xpõ  (Jesus  Christo)  de  mill  e  b  e  xxxix  (lõ39\  annos. 
^Arch.  nar.  da  T.  do  T.,  Liv.  XXVI  de  D.  .hão  3.\  f.  186  v.\'^ 


ARCHIVO   DOS  AÇORES  415 


Nomeação  do  Licenciado  Jeronymo  Luiz  para  Corregedor 
d'Angra:  20  doutubro  de  1539. 

Dom  Joliain  etc.  Faço  saber  a  vos  Juizes,  Vereadores  precuraclor 
e  a  qiiaes(juer  oiilros  oíUciaes,  ííidallguos,  cavaleiros,  escudeiros  e 
povo  da  minha  cidade  d'Amgra  das  Ilhas  dos  Açores  e  de  Iodas  as 
vyllas  e  lugiiares  da  correyção  da  dita  cidade  que  por  comfyar  do  Li- 
cenciado Jerónimo  Luiz  que  nos  carreguos  e  cousas  da  Justiça  de  que 
lio  emcarregar  me  servirá  bem  e  fiellmente  e  admenislrará  justiça  ás 
partes  c jmo  te  quy  tem  feyto  nos  carregos  de  que  ho  tenho  emcarre- 
giiado,  o  envyo  ora  por  corregedor  da  dita  correyção  e  luguaies  delia 
o  qual!  oITicio  elle  servirá  segumdo  forma  de  seu  Regimento  e  de  mi- 
iilias  ordenações.  E  alem  diso  usara  do  Regymento  poderes  e  aliçada 
que  de  mym  leva.  Noteficovollo  asy  e  mando  a  todos  em  gerall  e  a 
cada  hum  de  vos  em  especial!  que  ho  ajaes  por  corregedor  da  dita 
correyção  e  lhe  obedeçaes  e  cumpraes  suas  semtemças  e  mandados 
em  todo  o  que  elle  por  meu  serviço  e  bem  de  Justiça  vos  mandar, 
saymdo  com  elle  e  sem  elle  de  dia  e  de  noyte  a  cavallo  e  a  pee  a 
(juaesquer  oras  e  da  maneira  que  vos  elle  mandar  sob  as  penas  que 
vos  puser  e  dar  a  execução  u^aquelles  que  nellas  emcorrerem  se- 
gumdo forma  do  Regymento  de  sua  aliçada  e  aliem  diso  lhe  será  da- 
da outra  qualíjuer  pena  que  per  direito  merecer  segumdo  a  calidade 
do  caso  for.  (,om  ho  qual  ofíicio  o  dito  Licenciado  averá  aquelle  man- 
tymento  que  lhe  per  outra  minha  carta  que  tyrará  de  minha  fazenda 
será  decrarado  o  qual  Licenciado  Jerónimo  Luis  jurará  em  a  minha 
chancellaria  aos  samtos  avamgelhos  que  bem  e  verdadeyra  e  fielmen- 
te sirva  o  dito  officio  guardamdo  inteyramente  meu  serviço  e  asf par- 
les seu  direito.  Joãm  Royz  a  fez  em  Lisboa  a  xx  {20}  dias  doutubro 
de  mil  e  b  xxxix  {lô39).  Bastião  da  Costa  a  sobescrepvy. 

(Arch.  me.  da  T.  do  T.,  Ur.  XXVI  de  D.  João  3.",  f.  245.) 


Alvará  sobre  a  tomada  de  contas  do  recebedor  João  Ta- 
vares: 29  de  novembro  de  1539. 

Ho  Conde  de  Penela  vedor  da  fazenda  dei  Rey  Noso  Senhor  e  etc. 
mando  a  vos  seus  contadores  que  levees  em  despesa  a  Joam  Tavares 
que  teve  careguo  de  receber  as  dividas  que  ficarão  por  arrecadar  a 
Diogo  Nuuez,  almoxarife  que  foy  na  Ilha  de  Sam  Miguel  ho  anuo  de 
b  xxbij  (1527 i  três  moyos  e  cimcoenla  e  oito  alqueires  de  trigo  da  di- 
ta ilha  e  isto  dos  duzentos  e  trinta  e  oito  moyos  que  o  dito  ano  dejj 
e  xxbij  (527)  se  mostra  receber  e  ter  em  sen  poder  os  (jualio  mczes 


416  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

e  meio  conteúdos  n;i  certidão  do  contador  Herlolameu  Gonçalves  acima 
HS|)rila  os  qn;)es  três  moyus  Lbiij  {e68}  alqueires  de  trigo  lhe  mando 
levar  em  conta  de  quebra  dos  ditos  ij*^  xxxbiij  [288}  moyos  que  rece- 
beo  avendo  respeito  ao  tempo  que  ho  leve  em  poder  e  aa  despeza  que 
dele  fez.  Ruy  Gomez  ho  fez  em  Lixboa  a  xnín  {29)  de  novembro  de  1/ 
xxxix  {lòS9y.i\\\e  são  por  moyo  a  resão  de  hum  alqueire  por  moyo.= 
O  Conde  de  Penela. 

(Arch.  nac.  da  T.  do  T.,  Corp.  Chron.  P."  3^  muç.  14 -n.''  62.) 

Este  alvará  está  tangado  no  verso  do  requerimento  de  João  Tavares,  que 
toi  coi'tado  atravez,  lendo-se  apenas  metade  de  rada  liiilin,  e  da  cerlidão  a  que 
se  refere  o  mandado,  também  lia  só  8  iiulias,  faltando  o  resto. 

{Nota  do  Sr.  j.  I.  de  Brito  Rebello). 


Certidão  sobre  a  tomada  de  contas  do  recebedor  João 
Tavares;  11  de  Dezembro  de  1539. 

(PpIo)  livro  da  recepta  e  despeza  de  Joham  Tavares  [se)  mostra 
ser  íTeito  o  derradeiro  asemto  de  sua  recepta  em  vinte  quatro  dias  de 
setembro  de  quynhemtos  vinte  e  oyto.  E  asy  se  mostra  ho  derradeiro 
asemto  de  sua  despesa  ser  feito  em  quatorze  dias  de  setembro  de  qui-, 
nhemtos  trimta  e  huu,  certeficoo  asy  a  vosa  senhoria  em  Lixboa  oje 
xj  (11)  dias  de  dezembro  de  y  b  e  xvxix  {íõ39)  =  Bertnlameu  Gon- 
çalvez. 

Ho  Comde  de  Penela  vedor  da  fazenda  dei  Uey  noso  senhor  e  etc. 
mando  a  vos  seus  contadores  que  levees  em  comta  a  J(»am  Tavares 
Recebedor  que  foy  das  restes  e  dividas  que  erão  careguadas  em  re- 
cepta sobre  Diogo  Nunez,  almoxarife  da  Ilha  de  Sam  Miguel  quando 
veo  dar  sua  conta  seis  mill  reaes  por  outros  tantos  que  pareceo  rezão 
aver  de  seu  ordenado  pelo  trabalho  que  levou  huu  ano  e  meio  que 
sérvio  ho  dito  caregiio  e  arecadar  as  ditas  dividas  a  rezão  de  quatro 
mill  reaes  por  ano  que  he  outro  tanto  couio  tem  o  dito  oficio  daluKt- 
xarife  de  mantimento  por  ano  segundo  todo  pareceo  pelas  certidões 
atras  csprilas  do  contador  Bertolameu  Gonçalvez.  Ruy  Gomez  o  fez 
em  Lixboa  a  xbj  {Ití)  de  dezenibro  de  b  e  xxxix  ilõ39}. — O  Conde  de 
Penela. 
[Arch.  nac.  da  T.  do  7'.,  Corp.  Chron.  Pnrt.  3.^  maç.  14 — n."  tí3). 


ARCUIVO  DOS  AÇORES  417 


Carta  a  Elrei,  de  Gonçalo  Nunes  d' Ares,  Contador  de  S. 
Miguel:  6  d'outubro  de  1547. 

Senhor.  —  Cheguey  a  esta  Ilha  a  xxiij  (23)  í]'agosto  e  logo  em- 
lendy  na  comia  de  Amtonio  de  Bairos  almoxarife  e  em  outras  cousas 
da  fazemda  c  [)or  serem  muitas  pêra  as  por  em  ordem  e  fazer  como 
CHm[)re  a  serviço  de  Y.  A.  não  (juis  p.t^sar  aa  illia  'S.^  on)de  tenho 
minha  molher  e  filhos  pêra  os  trazer  e  quis  amtes  sofrer  sua  absem- 
cia  que  leixar  a  fazemda  de  V.  A.  desemparada  e  também  porque  vim 
do  regno  tão  despeso  que  me  não  estervy  ir  por  eles  pêra  os  mudar 
a  terra  estranha  da  maneira  que  estão  desprovidos  por  nnnha  absem- 
cia  e  despesa  de  b  ij  (7)  ânuos  que  amdei  no  regno:  e  por  isso  sem 
me  V.  A.  fazer  mercê  pêra  a  mudamça  eu  os  não  poderei  trazer  e  so- 
frerei minha  dor  e  magoa  como  a  sofry  o  dito  tempo  que  no  regno 
amdey  requeremdo  justiça  em  que  gastei  minha  fazemda  sem  aver  fi 
nal  despacho  e  ficou  pêra  o  V.  A.  mamdar  dar  de  que  lhe  peço  que 
tenha  lembramça  por  me  fazer  mercê  e  Justiça  que  he  cousa  que  a 
sua  comciencia  toca. 

E  corremdo  pela  comta  do  ditií  Amtonio  de  Barros  almoxarife  a- 
chei  que  hum  mercador  lhe  levara  certo  pastel  a  Sevilha  e  do  proce- 
dimento delle  lhe  tomei  comta  e  o  que  ficou  liquido  e  forro  das  des- 
pesas pagou  em  letras  e  dinheiro  e  mais  emtregou  huns  cimquo  co- 
vodos  de  grã  e  oito  de  vimteno  pauo  roxo  no  preço  que  com  as  des- 
|)esas  custou  e  tudo  levei  em  comta  ao  almoxarife  e  estaa  o  dito  pa- 
no pêra  se  vemder  pêra  pagamento  de  V.  A  e  por  que  estou  nesta 
Ilha  servimdo  V.  A.  peçolhe  que  me  faça  mercê  do  dito  pano  e  grã 
pêra  vestido  de  minha  molher  e  filhas  por  que  no  lem[)o  que  na  corte 
amdei  desbarataião  as  jóias  e  vestidos  que  tinhão  pêra  me  la  sostem- 
tarem  e  lU(Jo  lhe  gastei  e  aimda  se  V.  A.  me  provera  com  as  mercês 
que  me  fazia  pêra  despesa  passar.i  muito  cnal.  e  pêra  a  mudamça  me 
faça  mercê  de  me  mandar  ca  dar  na  mão  do  almoxarife  o  que  ouver 
por  bem  porque  eide  fretar  barca  e  f;izer  outras  despesas  de  percebi- 
mento  de  nnnha  familia  e  casa  que  não  poderei  fazer  sem  V.  A.  me 
socorrer:  e  fazer  esta  mercê  como  espero.  Nosso  Senhor  prospere  seu 
real  estado  com  muita  vida.  Escriííta  na  Ilha  de  São  Miguel  a  bj  (6') 
doulubro  de  1547. 

Do  comlador  da  Ilha  de  São  Miguel  o  Licenciado 
Gomailo  Nunez  d  Ai  es 
{Sobrfifscriplo)  A  el  Hey  nosso  senhor  =  do  comtador  da  Ilha  de 
São  Miguel. 

lArch.  nac.  da  T.  do   T.,  C.  C.  Por/.   l^,nfnc.  T.Ç^n."  94). 


N.°  47—Vol.  VIII  -1886. 


418  AHCHIVO  DOS  AÇORES 


Carta  a  Elrei,  do  capitão  da  villa  da  Praia,  sobre  corsá- 
rios francezes  e  necessidade  de  munições:  2  de  se- 
tembro de  1553. 

Senhor-  Ojo  que  são  dons  de  setembro  veo  ler  ha  este  porto  hua 
caravella  que  ao  lloniguo  desta  ylha  corerão  três  nãos  de  francezes 
qiiom  ella  e  lhe  lyrarão  muitos  tyros  e  tão  perto  de  terá  que  se  vya 
ha  jemte  demlro  nas  nãos;  e  a  dous  dyas  que  veo  outra  de  São  Miguel 
que  dyse  que  ha  roubarão  quatro  nãos  perto  da  ilha  de  Santa  Marya 
ha  jemte  da  terá  com  ha  nova  do  que  fyzeião  na  Pallma  amda  mui  ha- 
temoryzada  polia  pouca  defemsão  que  nella  tem  por  que  hos  harcabu- 
zes  que  V.  A.  mandou  lamçar  nom  ha  homem  que  sayba  como  com  el- 
les  hade  tyrar  nem  tem  pollvora  nem  chumbo.  Peço  ha  V.  A.  nos  man-  • 
de  pollvora  e  chumbo  pêra  se  lhes  dar  e  reparlyr  socedemdo  nececy- 
dade  e  nos  mande  huu  homem  que  lhes  emsyne  asy  ha  tyrar  como  ha 
mais  arte  millytar  eu  me  faço  aguora  espynguardeyro  e  tenho  mostra- 
do ha  allgumas  pesoas  e  estes  mostrarem  ha  outras  e  os  faço  ajumtar 
muitas  vezes  e  tyrar  ha  bareyra.  Eu  pedy  ha  Fero  Anes  do  Canto  al- 
guas  peças  dartelharya  por  me  parecer  serviço  de  V.  A.  pêra  aquy  es- 
tarem até  V.  A.  niso  mandar  prover  e  dyseme  que  darya  hiia  espera 
e  huu  camello  e  dous  pedreyros  e  dous  bombardeyros  farey  hua  es- 
tancya  de  madeyra  omde  estejão  pêra  allgua  não  se  vyer.  Já  na  har 
mada  pasada  escrevi  ha  V.  A.  como  com  Isydro  dAllmeyda  vyra  ha  , 
terá  e  o  que  parece  nesesaryo  pêra  fortyfyquasão  delia.  Ha  vyda  e  real 
estado  de  V.  A.  ho  senhor  Deos  por  muitos  anos  aumente.  Desta  Praya 
ha  dous  de  setembro  de  1553  anos. 

Beyja  as  reays  mãos  de  V.  A.  Ho  capitão  da  Praya.  (i) 

(Sobreescripto)  Pêra  ell  Rey  noso  Sõr. 

(Original) 

[Are.  nac.  da  T.  do  T.,  C.  C,  P.'  l.^-waç.  91- n.''  4). 


Carta  a  Elrei,  do  ouvidor  de  S.  Miguel,  de  15  d  abril  de 
1561,  pedindo  desculpa  de  ter  casado  sem  licença. 

Senhor  — Por  mandado  de  V.  A.  vim  por  ouvidor  do  capitão  Ma- 
noel da  Camará  da  Ilha  de  Sam  Migel  o  qual  carreguo  ora  sirvo,  ave- 
rã  dous  ânuos  e  meio,  e  averá  quinze  dias  ou  vinte  que  me  quasei  com 
lina  (lona  Maria,  molher  que  foy  de  hum  Pêro  (lamelio  Pereira  mora- 
dor e  natural  desta  ilha.  e  por  ella  nam  ser  natural  desta  ilha  e  ser 

(1;  Este  capiião  era  Antão  xMarliiis  Homem,  sepuiido  do  nome. 


AnCHIVO  DOS  AÇORES  419 

tle  Coimbra,  nem  nesta  terra  tem  neiíhus  parentes  nem  lhe  ficou  ne- 
nhii  íillio  nem  lillia  do  dito  seu  marido,  nem  tem  outra  nenhua  obri- 
garam na  terra  ijiie  posa  ser  empedimento  a  eu  deixar  de  fazer  justi- 
ça me  tjuasei  com  ella  por  estas  rezões  por  o  (]ue  peso  a  V.  A.  que 
me  faça  mercê  de  me  perdoar  algua  culpa  que  niso  tive,  em  asi  me 
(]uasar  sem  sua  licensa  no  que  receberei  mercê.  De  Fonia  Delgada  oje 
15  de  abril  de  1501  ânuos. 

Do  ouvidor  da  ilt)a  de  Sã  Migel 
Luís  da  Rocha  Portocarreiro. 

{Sobreescripto)  Â  el  Rei  noso  senbor=Do  ouvidor  da  illia  de  Sam 
Migel. 

(Arch.  nac.  da  T.  do  T.,  Corp.  Chron.,  Pari.  í.^  maç.  104—n.°J08). 


Doação  da  Comenda  de  Nossa  Senhora  da  Assumpção  na 
ilha  de  Santa  Maria  a  D.  Luiz  Coutinho:  27  de  junho 

de  1567. 

Dom  Sebastião  etc.  Como  governador  e  perpetuo  administrador 
que  sou  da  ordem  e  cavallaria  do  mestrado  de  Nosso  Senhor  Jesus  xpõ 
I  Christo)  faço  saber  que  por  parte  de  dom  Luis  Couliuho  fidallgo  de 
minha  casa  cavaleiro  da  dita  ordem  filho  de  dom  Francisco  Coutinho 
(jue  Deos  aja  me  foi  apresentado  hum  allvará  de  lembrança  deli  Rey 
meu  senhor  e  avô  que  santa  gloria  aja  per  elle  asinado  perque  lhe  prou- 
ve de  per  falecimento  do  dito  dom  Francisco  fazer  mercê  a  seu  filho 
mais  velho  que  por  sua  morte  ficase  da  comenda  de  nosa  Senhora  da 
Assumpção  na  ilha  de  Santa  Maria  que  o  dito  dom  Francisco  linha  co- 
mo he  declarado  no  dito  alvará  de  que  o  trellado  he  o  seguinte: 

«Eu  el  Hei  faço  saber  aos  que  este  meu  allvará  virem  que  avendo 
eu  respeito  aos  serviços  que  me  tem  feitos  dom  Francisco  Coutinhf)  fi- 
dallgo de  minha  casa  e  aos  que  e>pero  que  ao  deante  me  faça  ey  por 
bem  e  me  praz  de  per  seu  fallecimeuto  fazer  mercê  ao  seu  filho  mais 
velho  que  por  sua  morte  ficar  da  comenda  de  Santa  Maria  da  Asum- 
l)ção  na  ilha  de  Santa  Maria  das  Ilhas  dos  Açores  (pie  elle  dom  Fran- 
cisco ora  tem  e  por  sua  guarda  e  mmha  lembrança  lhe  mandei  dar  es- 
te allvará  per  mim  asinado  o  (piall  quero  que  se  cumpra  e  guarde  in- 
teiramente como  se  fosse  carta  feita  em  meu  nome  passada  [tela  chan- 
cellaria  posto  que  este  por  ella  não  pasase  sem  embarguo  da  ordena- 
ção do  segundo  livro  titulo  xx  {20)  que  despõe  o  contrairo.  André  Soa- 
res o  fez  em  Lisboa  a  xxb  [2õ)  de  setembro  de  y  b  e  L'*  {íõõO<.  » 
Pedindome  o  dito  dom  Luis  Coutinho  [)or  men-ê  (pie  |)or  quanto 


420  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

O  dito  seu  pai  era  falecido  e  eile  era  o  filho  mais  velho  que  por  seu 
falecimento  ficara  segundo  fez  certo  per  certidão  de  justificação  do  dou- 
loi"  António  Yas  Ca^lello  juiz  dos  meus  feitos  da  fazenda  e  das  justifi- 
cações delia  a  que  vinha  e  pertencia  a  dita  comenda  conforme  ao  di- 
to allvará  de  lembrança  oiivese  por  bem  de  lhe  mandar  pasar  carta  em 
fornia  delia.  E  visto  seu  requerimento  e  o  dito  alvará  avendo  respeito 
aos  serviçds  do  dito  seu  pay  e  aos  que  espero  que  elle  dom  Luis  á  di- 
ta ordem  e  a  mim  faça  ey  por  bem  e  me  praz  de  llie  fazer  mercê  em 
comenda  e  com  o  habito  delia  dos  dizimos  da  dita  ilha  de  Santa  Ma- 
ria e  da  dizima  do  pescado  que  se  antigamente  ariecadav;;  pelos  olTi- 
ciaes  dos  reis  passados  pêra  sua  fazenda  e  asi  á  vinlt-na  do  paslell  da 
dita  ilha  de  Santa  Maria  e  dos  dous  ilheos  que  sam  juntos  delia  ao  mar, 
hum  que  se  chama  o  de  Sam  Lourenço  que  está  detrás  da  ilha  e  o  ou- 
tro que  está  defronte  da  ilha  dos  qnaes  ilheos  ey  por  bem  (jue  o  dito 
dom  Luis  se  posa  aproveitar  do  que  lhe  bem  vier  sem  delles  pagar  di- 
reitos allguns.  E  por  esta  presente  carta  lhos  conto  e  hey  por  couta- 
dos e  lhe  faço  iso  mesmo  doação  e  mercee  da  dizima  do  pastell  que 
sair  da  dita  ilha  pêra  fora  do  Heino  que  anda  com  a  dita  comenda  co- 
mo tudo  á  dita  ordem  e  a  mim  pertencer  pode  por  quallquer  maneira 
que  seja  e  como  tinha  e  pesuia  o  dito  dom  Francisco  seu  pay  pela  car- 
ta que  da  dita  comenda  lhe  foi  passada  por  que  de  tudo  ffaço  per  es- 
ta doação  e  mercê  ao  dito  dom  Luis  com  o  habito  da  dita  ordem  co- 
mo dito  he  e  com  tall  declaração  que  elle  será  obriguado  a  pagar  á  sua 
custa  os  mantimentos  e  ordenados  do  vigairo  e  clérigos  e  trigo  e  quaes- 
quer  outras  ordinárias  de  oficiaes  eclesiásticos  da  dita  ilha  e  dar  o  tri- 
go necpsario  pêra  farinha  pêra  as  ostias  e  o  vinho,  vellas  e  candeas  de 
cera  pêra  serviço  das  igrejas  da  dita  ilha  cada  vez  (jue  pêra  iso  flor 
pedido  e  por  l;mto  mando  ao  capitão  da  dita  ilha  e  ao  seu  ouvidor, 
juizes  e  olficiaes  da  dita  camará  e  povo  delia  que  ajam  o  dito  dom  Luis 
por  comendador  da  dita  comenda  como  era  o  dito  dom  Francisco  seu 
pay  e  ao  contadoí'  de  minha  fazend.i  na  contadoria  da  ilha  de  Sam  Mi- 
guel que  lhe  dee  a  posse  delia  e  asi  mando  ao  allmoxarife  ou  recebe- 
dor do  allmoxarifado  da  dita  ilha  de  Santa  Maria  que  ora  he  e  pelo 
tempo  for  que  lhe  deixe  aver  e  anvcadar  per  si  e  per  quem  lhe  a- 
prouver  o  rendimento  da  dita  comenda  e  conforme  a  esta  carta  lhe  per- 
tencer aver  e  \>U)  des  o  dia  do  falecimento  do  dito  seu  pay  em  diante 
na  maneira  sobredita  e  cumpram  e  guardem  e  façam  inteiramente  cum- 
prir e  guardar  esta  minha  carta  (pie  por  firmeza  delo  lhe  mandei  daar 
asinada  e  asellada  com  o  sello  pendente  da  dita  ordem  a  qual  se  re- 
gistará nf)  Livro  dos  registos  da  dita  contadoria  pêra  se  ver  e  saber 
<omo  tenho  feito  esta  mercê  ao  dito  dom  Luis  e  ao  asynar  dela  se  rom- 
peo  o  dito  allv;jrá  de  lembrança  acima  Irelladado.  ÍJada  em  Lisboa  aos 
\xbij  {27)  de  junho,  Gaspar  de  Magalhães  a  fez, ano  do  nascimentít  de 
noso  Senhor  Jliuu  xpõ  {.kfius  C/niíitn)  de  ]"  b  e  Ixbij  {lôb'7).  Sebastião 
da  Costa  a  fez  escrever.  E  dar  lhe  á  a  posse  da  dita  comenda  Pêro  .\u- 


ARCHIVO  DOS  AÇOBES  42  i 

riqnez  contador  da  ordem  de  noso  Senhor  Jhii  xpõ  posto  que  acima 
diga  que  lha  dê  o  contador  da  minha  fazenda  na  dita  iliia  a  qual  poso 
dará  por  si  on  per  sua  comis?m. 

{Arch.  me.  da  T.  do  T.,  Ur.  7.°  da  Ord.  de  Chr.  f.  209.) 


Carta  reg-ia  de  13  d'outubro  de  1572:  mercê  a  António 
Francisco,  para  poder  servir  o  cfficio  de  ouvidor 
das  ilhas  dos  açores,  por  espaço  de  3  annos. 

En  el  Rei  faço  saber  aos  que  este  alvará  virem  que  pela  boa  en- 
formação  que  me  foi  dada  de  Amtonio  Francisco  morador  na  Illia  Ter- 
ceira (jue  João  da  Silva  d(»  Camto,  fidalgo  de  minha  casa  servindo  o 
oficio  de  provedor  de  tninha  fazenda  nas  Ilhas  dos  açores  encarregou 
de  ouvidor  da  dita  provedoria  nelas  per  Ima  minha  provisam  que  lhe 
pêra  iso  pasey  e  a  servir  no  tal  tempo  o  dito  carguo  como  cumpre  a 
meu  serviço  e  arrecadação  e  execuções  que  fez  das  dividas  que  se  de- 
viam a  minha  fazemda  por  confiar  delle  (|ue  asi  fará  daqui  em  deamte 
ei  por  bem  e  me  praz  que  sirva  o  dito  oficio  de  ouvidor  da  provedo- 
doria  de  minha  fazenda  nas  ditas  Ilhas  por  tempo  de  três  annos  alem 
do  mais  tempo  que  ho  já  sérvio  como  dito  he  e  isto  por  fazer  as  au- 
diemcias  e  por  os  feitos  e  termos  e  o  despachar  como  for  justiça  e  a«y 
pêra  arrecadar  e  executar  todas  as  dividas  que  se  devem  nas  ditas 
ilhas  a  minha  fazenda  como  o  fez  no  tempo  que  foi  encarregado  per 
João  da  Sillva  {do  Canto)  o  qual  oficio  servirá  com  ho  esprivão  que 
emtão  era  de  seu  cargo  e  temdo  empedimento  o  fará  com  quallquer 
<tutro  do  lugar  onde  estiver  servindo  e  fazendo  as  ditas  execuções  e 
de  Amtonio  Francisco  nos  tempos  qite  lhe  parecer  comveniente  terá 
cuydado  de  prover  os  cartórios  dos  tahaliães  e  esprivães  das  ditas  Ilhas 
o  que  mando  que  lhe  mostrem  todos  os  asemtos  livros  e  papeis  que 
lhe  pedir  e  cumprirem  pêra  a  dita  arrecadação  e  euxecuções  das  di- 
vidas e  pêra  quaesquer  outras  diligencias  e  não  lhes  n)ostrando  (jue 
ele  ouvidor  os  posa  a  iso  constranger  com  as  penas  que  lhe  bem  pa- 
recer e  alem  diso  os  meirinhos  alcaides  e  porteiros  facão  tudo  o  que 
lhe  ele  de  minha  parte  e  per  meu  serviço  mandar  no  (|ue  toquar  a 
seu  oficio  e  ao  negocio  das  euxecuções  com  o  qual  oficio  o  dito  Amtí)- 
nio  Francisco  avera  de  mantimento  ordenado  doze  mill  rs.  cada  hum 
dos  ditos  três  annos  que  lhe  serão  pagos  do  dinheiro  das  dividas  que 
se  deverem  e  ele  arrecadar  e  euxecutar  e  portanto  mando  ao  prove- 
dor de  minha  fazenda  que  lhe  dê  a  pose  do  dito  oficio  de  ouvidor  e 
lho  deixe  servir  e  delle  usar  na  maneira  neste  alvará  declarado  pelo 
dito  tempo  de  três  annos  dando-lhe  por  juramento  dos  Samfos  Avam- 
gelhos  (jue  bem  e  verdadeiramente  (►  sirva  guardando  em  todo  meu 


422  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

serviço  e  as  partes  seu  direito  de  que  se  fará  asemlo  nas  cosias  des- 
te e  asy  lhe  deixe  ter  e  aver  os  doze  mil!  rs.  de  mantimento  e  ao  re- 
cebedor do  dito  dinheiro  que  lh(js  pague  cada  huu  dos  ditos  três  an- 
nos  e  pelo  treslado  deste  alvará  com  seu  conhecimento  e  certidam  do 
provedor  de  como  o  dito  Amtonio  1'Yancisco  serve  o  tal!  oficio  mando 
que  lhe  seja  levado  em  conta  o  que  lhe  asy  pagar  e  ao  corregedor  da 
coireição  das  ditas  Ilhas  ouvidores  juizes  e  justiças  e  quaesquer  ou- 
tros oficiaes  delas  asy  da  justiça  como  da  fazenda  que  cumpram  e  fa- 
çam inteiramente  cumprir  e  goardar  o  que  lhe  o  dito  ouvidor  de  nji- 
nha  parte  rcípierer  p(jr  sy  e  por  suas  cartas  precatórias  e  lhe  dem  e 
facão  dar  quando  for  de  huas  Ilhas  pêra  as  outras  pêra  ele  e  pêra  os 
oficiaes  e  pesoas  que  comsigo  levar  e  com  que  ouver  de  fazer  os  ne- 
gócios que  loquarem  a  seu  oficio  e  euxecuções  pousadas  camas  estre- 
barias mantimentos  e  o  mais  que  lhe  foi"  necesario  que  tudo  pagará 
per  seu  dinheiro  pelos  preços  e  estado  da  terra  e  cumprão  outrosim 
em  todo  este  alvará  que  ey  por  bem  que  valha  e  lenha  vygor  posto 
que  o  efeyto  delle  aja  de  durar  mais  de  huu  anuo  sem  embargo  da 
ordenação  do  segundo  livro  em  contrario.  Gonçalo  Ribeiro  o  fez  em 
Lixboa  treze  dias  doutubro  de  mil  e  quinhentos  setenta  e  dous.  Sebas- 
tião da  Costa  o  fez  escrever.  =Comcertada.  João  da  Costa^Comcer- 
tada  António  dAguiar. 
{Arch.  riac.  da  T.  do  T..  Liv.  XXIX  de  doaç.  de  D.  Sebast.  f.  79  v.\j 


Alvará  de  26  de  fevereiro  de  1573,  para  deixar  sahir  li- 
vremente carregado  de  trigo  dos  açores  o  navio  fre- 
tado por  D.  Catharina,  molher  de  Francisco  de  Mello. 

Eu  el  Rei  ffaço  saber  a  vós  provedor  da  minha  fazenda  nas  ilhas 
dos  açores  tpie  avendo  respeito  ao  que  dona  Caterina  molher  que  foy 
de  F'râncisco  de  Mello  diz  na  petição  atraz  escripta  ey  por  bem  e  me 
praz  que  o  navio  (jue  ele  {sicí  em  cada  hu  ano  mandou  ás  ditas  Ilhas 
fretado  pêra  lhe  trazer  os  ditos  noventa  moios  de  trigo  que  diz  que 
nelas  tem  de  renda  lhe  não  seja  tomado  nem  embargado  pelo  que  vos 
mando  que  pola  dita  maneira  lhe  não  consintaes  tomar  o  tall  navio  e 
cinnpraps  e  guardes  e  façaes  comprir  e  guardar  este  alvará  como  se 
nelle  cijnttni  posto  que  ho  efeito  delle  aja  de  durar  mais  de  hu  anuo 
sem  embargo  da  ordenação  do  segundo  livro  em  cojitrario.  Gonçalo  Ri- 
beiro o  fez  em  Évora  a  xxbj  (26')  de  fevereiro  de  J  b'"  e  Ixxiij  {1678'. 
Gravyel  de  Moura  o  fiz  escrever  =  riscou-se  o  tine  dizia  porquanto  = 
C(tmcerlada,  .)oam  da  Gosta^^Comcertada,  António  d  Aguiar. 

(Arch.  nac.  da  T.  do  T.,  Liv.  XXIX  de  D.  Seh.,  /.  148  r:\) 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  423 


Carta  reg-ia  de  20  de  novembro  de  1573:  mercê  do  officio 
de  juiz  dos  órfãos  em  Ponta  Delgada  a  Pedro  Camello 

Pereira. 

Dom  Sebastião  &.*.  Aos  que  esta  minha  carta  virem  faço  saber 
que  confiando  eu  de  Pêro  Camelo  Pereira  fidalgo  de  minha  casa  que 
muito  me  servirá  bem  e  fiehiiente  como  a  meu  serviço  e  a  bem  das 
partes  cumpre  e  por  lhe  fazer  mercê  tenho  por  bem  e  o  dou  ora  da- 
qui em  deante  por  juiz  dos  órfãos  da  cidade  da  Pomta  Delgada  da  ilha 
de  São  Migel  asi  e  da  maneira  que  o  ele  deve  ser  e  o  foy  Gaspar  Co- 
rèa  que  ho  dito  oficio  tinha  e  vagou  per  seu  falecimento  e  esta  mercê 
lhe  faço  vista  bua  portaria  de  Martiai  Gonçalves  da  Gamara  do  meu 
conselho  e  meu  esprivam  da  poridade  per  que  lhe  despachou  o  dito 
oficio  pelo  poder  que  lhe  pêra  iso  tenho  dado  avendo  respeito  a  seus 
serviços  e  a  boa  enformação  que  dele  se  ouve  o  qual  ele  terá  e  ser- 
virá em  quanto  eu  oiiver  por  bem  e  não  mandar  o  contrario  e  a  todo 
tempo  que  eu  ouver  por  bem  que  ho  não  sirva  o  deixara  de  servir 
sem  por  iso  minha  fazenda  lhe  fiqoar  obriguada  a  nhua  satisfação  e 
por  tanto  mando  ao  provedor  de  minha  fazenda  da  dita  Ilha  de  Sam 
Mygel  e  ao  ouvidor  e  juiz  da  dita  cidade  de  Pomta  Delgada  e  a  todos 
os  outros  oficiaes  e  pesoas  a  que  esta  carta  for  mostrada  e  o  conheci- 
mento delia  pertemcer  que  ajão  ao  dito  Pêro  Camelo  Pereira  por  juiz 
dos  órfãos  como  dito  he  e  o  metão  em  pose  do  dito  oficio  e  lho  dei- 
xem servir  e  dele  usar  e  aver  os  proes  e  percallços  que  lhe  direita- 
mente pertemcerem  como  tinha  e  avia  o  dito  Gaspar  Corea  sem  duvi- 
da nem  embargo  alguu  que  lhe  niso  seja  posto  o  qual  foy  emxamina- 
do  e  ávido  poi-  auto  pêra  servir  o  dito  oficio  pelo  doutor  Panllo  Afon- 
so do  meu  conselho  e  meu  desembargador  do  paço  e  pagou  d«irdena- 
do  dele  mill  rs.  os  quaes  emtregou  ao  recebedor  de  minha  chancela- 
ria peramte  o  escrivão  delia  que  hos  sobre  elle  caregou  em  receita 
como  pareceo  per  seu  conhecimento  em  forma  asinado  per  ambos  e 
ele  jurará  na  dita  chancelaria  aos  Samtos  Avamgelhos  que  bem  e  ver- 
dadeiramente syrva  o  dito  oficio  e  cumpra  e  goarde  o  regimento  que 
dela  levar  e  minhas  ordenações  goardando  em  todo  a  mim  meu  ser- 
viço e  as  partes  seu  direito.  Dada  na  cidade  de  Lixboa  a  dezanove  dias 
do  mes  d'outubi"o  e  feyta  a  vimte  de  novembio  el  Rey  noso  senhor  ho 
mandou  pelos  doutores  Paulo  Afonso  e  Gaspar  de  Figueredo  ambos  do 
seu  conselho  e  seus  desembargadores  do  paço  e  petições;  João  da  Cos- 
ta a  fez,  ano  do  nacymento  de  nosso  Senhor  Jhn  x[)õ  [Jesus  C/nisto)  de 
mill  quinhemtos  setemta  e  três  e  ele  irá  servo-  o  dito  oflicio  pesoall- 
mente  demtro  em  oyto  meses  e  não  imdo  esta  mercê  não  averá  efey- 
to  =  Comcertada,  João  da  Costa  =  Comcertada,  Anionio  dAguiar. 
(ArciL  nac.  da  T.  do  T.,  Lir.  XXIX  de  doac.  de  !>.  Seh.  f.  234  v.\) 


42 i  ARCHIVO  DOS  AÇORES 


Carta  reg-ia  de  7  de  dezembro  de  1573:  mercê  a  Lopo  Dias 

Homem  para  poder  servir  o  offleio  de  juiz  dos  órfãos, 

na  villa  da  Ribeira  Grande,  por  espaço  de  3  annos. 

Dom  Sebastião  &.  Ffaço  saber  que  aveindo  respeito  ao  t\ue  na 
petiçãij  alraz  escripta  diz  Lo|)o  Diaz  Homem,  morador  na  villa  da  Hi- 
beiía  Grande  da  lllia  de  São  Miguei  ey  por  bem  e  me  praz  que  ele 
syrva  o  oficio  de  juiz  dos  órfãos  da  dita  villa  por  tempo  de  três  annos 
não  mamdando  eu  primeiro  o  contrario  pelo  que  mando  ao  corregedor 
das  Ilhas  dos  Açores  que  euxamine  o  dito  Lopc)  Dias  e  adiando  que 
hé  auto  pêra  servir  o  dito  olicio  lhe  de  a  pose  da  serventia  dele  e  lhe 
deixe  servir  e  dele  usar  e  aver  os  proes  e  percallços  que  lhe  direyla- 
mente  perlenu-erem  daíndo-lhe  primeiro  juramento  dos  Samtos  Avam- 
gelhos  que  syrva  o  dito  oficio  bem  e  verdadeyramente  goardando  em 
todo  a  mim  meu  serviço  e  as  partes  seu  direito  da  qual  pose  e  jura- 
mento se  fará  asemto  nas  costas  desta  provisão  asiuada  per  ele  e  pe- 
lo dito  Lopo  Diaz.  El  Rey  noso  senhor  ho  miudou  pelo.s  doutores  Am- 
tonio  Vaz  Castelo  e  Paullo  Afonso  ambos  do  seu  conselho  e  seus  des- 
embargadores do  paço.  Gasp.ir  de  Seixas  o  fez  em  Almeirim  a  sete  de 
dezembro  de  J  b  e  Ixxiij  (lõ7S).  Jorge  da  Costa  a  fez  escrepver.  =^ 
Comcertada,  João  da  Costa^^Comcertada,  António  dWguiar. 

{Arch.  nuc.  da   T.  do  7\,  Ur.  XXIX  de  doaç.  de  D.  Seb.  f.  310.) 


Alvará  de  5  de  junho  de  1574:  mercê  a  Fernão  da  Rocba, 
para  poder  servir  o  officio  de  chanceler  em  Ponta  Del- 
gada, por  espaço  de  3  annos. 

Dom  Sebastião  d.  Mando  a  vós  juiz  de  fora  da  cidade  de  Poml;« 
Delgada  da  Ilha  de  Sam  Miguel  que  vos  emformes  do  contlieudo  na 
petição  atraz  esprita  de  Fernão  da  Rocha  morador  na  dita  cidade  e 
achando  dele  boa  emformação  e  de  sua  calidade  suficieuícia,  vida  e 
costumes  e  (jue  o  oficio  de  chamceler  damte  vos  nam  está  provido  per 
mim  o  emcaiegareis  da  serventia  delle  per  tempo  de  três  annos  não 
mamdando  eu  primeiro  ho  conliario  e  darlhe-es  a  pose  da  serventia 
do  dito  oficio  e  lho  deixareis  servir  e  dele  usai'  pelo  dito  ti-mpo  de 
Ires  anos  e  aver  os  proes  e  pen.-allços  (jue  lhe  com  elle  dereytamenle 
per"tencerem  damdolhe  primeiritmeute  juramento  dos  Sauilos  Avamge- 
Ihos  i]ue  ho  sirva  bem  e  verd.ideyramcnie  goardamdo  eu)  tudo  a  myn» 
meu  serviço  e  as  parles  seu  direito  da  qual  pose  e  juramento  se  fará 
asemto  nas  co>las  desta  provisão  asinada  [)er  ims  e  per  ele.  Kl  Rev 


ÂRGHIVO  DOS  AÇORES  425 

noso  senhor  lio  mandou  pelos  donlores  Amtonio  Vaz  Castelo  e  Gaspar 
de  Figueredo  ambos  do  seu  conselho  e  seus  desembargadores  do  Pa- 
ço. Gaspar  de  Seixas  o  fez  em  Lixboa  a  cymquo  de  Junho  de  mil  (pii- 
nhemlos  setemta  e  quatro.  Jorge  da  Costa  a  fez  escrepver.  =  (^om(:er- 
tada,  João  da  Costa  =  Comcertada,  António  d'Aguiar.= 

(Arch.  me.  da  T.  do  T.,  Liv.  XXÍX  das  doaç.  de  D    Seb.  f.  321). 


Demanda  com  os  conventos  da  Esperança  e  de  S.  Fran- 
cisco, por  causa  das  fortificações  de  Ponta  Delgada. 

1577. 

Per  elles  tomarem  parte  das  cercas  desses  dous  conventos  o  que 
he  grande  detrimento  e  periguo  desa  terra  e  gasto  de  S.  A.  que  faz 
com  os  cavouqueiros  e  outros  offeciaes  se  ...  .  não  for  por  deante, 
por  tanto  quercwdo  acudir  e  obviar  aos  impedimentos  que ....  põem 
a  esa  obra  não  se  efectuar  e  ocorrer  a  muitas  descensões  que  diso  po- 
dem (irmanar  mando  a  V.  Hevd.™'^*  pêra  boa  ....  virtule  spiritus 
sancti  e  sob  pena  de  ^scomunhàm  ipso  facto  incurrenda  e  na  privasão 
de  .seus  olTicios  e  mais  penas  a  mym  arbitrarias  que  nem  elles  nem 
outro  allgiim  religioso  prelado  ou  súbdito  e  asi  prellada  ou  súbdita  di- 
recte  vel  indirecte  per  si  ou  per  outrem  embarguem  ou  facão  embar- 
guar  essa  obra  da  cerca  ou  munj  que  sua  A.  manda  fazer  pêra  defen- 
são dessa  ilha  com  tanto  que  se  satisfasa  a  perda  ou  dano  que  lhes 
fazem  per  outra  via  em  cousas  equivalentes  ou  necessárias  pêra  os 
seus  conventos  e  temdo  V.  reverendíssima  causas  justas  pêra  a  di- 
ta cerca  e  muro  não  se  fazer  per  donde  estaa  ballisado  e  demarcado 
pello  circuito  das  suas  cercas  aos  príncipes  ou  a  mym  as  manyfestem 
pois  he  contra  direito  algua  (I)  se  detreminar  em  prejuízo  de  lercey- 
ro  in  audita  parte.  Advirto  a  vosas  reverendissimas  que  o  bem  com- 
mum  se  ade  prepor  ao  particular  e  fazerse  esse  muro  e  fruytificarse 
(á)  essa  ilha  como  sua  A.  manda  resulta  em  u/ílidade  e  cómodo  de  to- 
doÁ  a  republica  convém  soceder  (3)  as  provisõí^.v  de  S.  A.  e  faiorecer 

se  esa  obra  com  ....  erem  \)era  a  saúde  de  todos  he per 

e  necessária.  Dada  em  São  Francisco  á' Enxobvegyui  treze  de 

wovembw)  de  mil  e  quinhentos  sete/)/(í  e  .sv^te.  =Frei  António  Pereira, 
coinmissario. 


(1)  Falta  a  palavra  — cowfir  — que  se  deve  subentender. 

(2)  É  erro  do  escrevente,  deve  sev  —  fortificar-se. 

(3)  Assim  está,  deve  lalvez  ser  acceder,  ou  satisfazer,  e  que  por  má  intelli- 
gencia  do  escreveiile  foi  assim  trasladado. 

(Notas  do  Sr.  .1.  I.  de  Brito  ReheUo) 

N."  47  — Yol.  Vlll       1886.  7 


42G  AhCHlVO  DOS  AÇORES 

Resposta 

A  Provisão  do  Rt  verendo  padre  frei  António  Pereira  por  parle  do 
Senhor  Rui  Gonçalves  da  (>amara  apresentada  em  que  nos  manda  com 
pena  de  excomunhão  ipso  facto  incorrenda  e  outras  penas  tpie  não  em- 
barguemos e  impidamos  a  obra  e  for teficação  que  S.  A.  manda  fazer 
pêra  dtfensão  desta  ilha  mas  con>intamus  fazerse  pela  cerca  e  muros 
de  nossos  conventos  pois  é  pêra  bem  comum  de  todo  este  povo  com 
tanto  que  se  salysfasa  a  perda  e  dano  que  nos  fizer  per  outra  via  e 
cousas  equivallentes  ou  necessárias  aos  ditos  conventos  e  que  tendo 
nós  justas  causas  pêra  a  dita  í)bra  e  muro  se  não  fazer  por  omde  es- 
taa  formalisaúo  pellas  nossas  cercas  ao  ...  .  hpes  ou  a  elle  as  mani- 
festa ....  Respondemos  primeiramente  esl«  provisam  foi  pasada  a 
instancia  e  w^/nuasão  do  senhor  cap/tòo  Manoel!  da  Câmara  como  el- 
la  exprime  o  quall  per  parle  neste  neguoceo  e  delle  a  levar  avante  es- 
ta obra  por  ajguas  rezões  sem  nos  sermos  ouvidos  e  em  cousa  de  lau- 
to perjnizo  como  he  rombar  muros  e  cercas  de  religiosos  e  religiosas 
e  perturbar  sua  cllausura  no  que  lambem  se  interessa  bem  comums, 
não  se  fazemdo  primeiro  o  exame  devido,  e  ponderando  a  utilidade  da 
obra  o  que  feito  não  ouvera  este  dano  porque  se  podia  allarguar  a  o- 
bra  e  traça. 

Nem  Sua  A.  per  suas  provisões  manda  deribar  muros  e  cercas 
nossas  senão  tomar  chãos  e  quyntais  que  he  diferente  per  omde  se  fo- 
ra informado  da  verdade  outra  maneira  provera  e  intendendo  nós  que 
esa  era  a  intenção  do  dito  senhor  sem  contradição  allgua  consentira- 
mos  em  tudo  quanto  mais  Ião  fora  está  a  dita  fortificação  ser  pêra 
defensam  boa  e  proveito  desta  ilha  que redunda  em  detrimen- 
to seu  gramde  e  periguo  porque  aliem  de  não  se  poder  acabar  sem 
muita  vexação  do  povoo  como  o  confeção  os  mestres  delia  Uleixa^!)âe 
fora  todo  o  principal  da  cidade  e  deixarse  de  fortificar  o  .  .  .  .  dom- 
de  se  teme  o  perigufi  e  deixarse  a  terra  a  risco  de  os  ymigos  o  que 

Deos  nã(t  mande  nem  permille  se  fazerem  fortes  entrando e 

posto  que  lenhamos  allguas  justas  causas  e  rezões  que  alleguar  dean- 
te  dos  príncipes  e  superior  nosso  pêra  nos  não  derribarem  o  muro  e 
tomarem  nossas  cercas  as  quaes  protestamos  alleguar  a  seu  tempo  e 
sermos  admitidos  e  providos  obedecemos  a  provisão  do  dito  superior 
em  a  forma  nella  conteuda  que  he  que  comsymlamos  fazerse  a  obra 
pella  trasa  que  eslaa  feita  comlanto  que  a  perda  e  dano  se  nos  salys- 
fasa per  cousas  equivalentes  pêra  o  que  estamos  muito  prestes  e  que- 
reujos  que  se  faça  a  obra  pela  dita  trasa  com  tanto  que  nos  dem  ou- 
tra tanta  terra  em  outra  parte  pt  ra  a  orla  e  recreação  dos  religiosos  c 
se  deposite  em  a  mão  do  sindico  s?/a  ovalliação  pêra  ornamentos  e  cou- 
.s^£/s  necessárias  do  convento  e  .  .  í/íaneira  consinta  re  ....  os  não 
incorrer  em  pena  descomunhão  e  nas  mais  penas  ....  f)ra  af)pella- 

mos  pêra  quem de  direito  pertemcer  pêra  mai.^  s<'í///ransa  e 

quietasão  nossa. 


ABCHIVO  DOS  AÇORES  427 

Em  os  doze  dias  do  mes  de  janeiro  do  ano  de  mill  e  quinhentos 
e  setenta  e  sete  anos  nesta  cidade  da  P(jnta  Dellgnada  desta  ilha  de 
São  Migell  nas  crastas  (daustros)  do  convento  de  São  Francisco  hi  pe- 
lo Beverendo  padre  guardião  frey  Mannelí  Cardoso  foi  dado  a  mim  es- 
privão  estes  autos  com  a  resposta  atras  a  quall  en  lhe  disse  se  que- 
ria asynar  e  dise  que  a  não  asinava  por  que  não  era  necessaiio=Pe- 
dro  ílomem  o  escrevy. 

Nottificasão  a  madre  abadesa 

Em  os  (juatorze  dias  do  mes  de  janeiro  do  ano  de  mill  e  quinhen- 
tos e  setenta  e  sete  anos  nesta  cidade  da  Ponta  Uellguada  da  ilha  de 
S.  Miguel!  eu  escrivão  fui  ao  convento  das  relligiosas  desta  cidade  de 
nossa  Senhora  da  Esperawm  as  grrtdes  do  pallaratorio  do  dito  conven- 
to (»mde  veo  a  muito  rereremX-Á  madre  abadesa  do  dUo  conrAinio  Maria 
da  Cruz  a  (\\\em  li  a  patente  atras  do  rev.-renrfo  padre  fiv'\  António  Pe- 
reira   deu  em  resposta  ipie  pedia  a  vi>ta  e  que  ella  respon- 
deria a  ella  e  eu  escrivão  lhe  dei  loguo  o  trellado  destes  autos  até  quy 
pêra  respomderem  o  que  lhe  parecese  e  eu  Pedro  Homem  o  escrevy. 

Em  os  dezaseis  dias  do  mes  de  janeiro  do  ano  de  mill  e  quinhen- 
tos e  setenta  e  sete  anos  no  escritório  de  mim  escrivão  por  Huy  Ker- 
nandez  procurador  da  casa  do  convento  da  Esperança  desta  cidade  da 
Pomta  Dellguada  me  foi  dado  hum  papell  asinado  por  a  madre  abade- 
sa dizemdo  que  era  a  resposta  que  dava  á  patente  atras  a  (piai  respos- 
ta he  a  seguinte.  Pedro  Homem  o  escrevi. 

Resposta  das  madres 

....  noticia  de  hua  provisão  que  foi  notificaúa  ao  padre  guar(]ião  do 

Convento  de  São  Francisco  desta  cidade  que em  mão  do  padre 

comisario sente  a  quall  se  dt-zia  ser  do  reverendo  padre  frei 

António  Pereira  em  que  nos  mandava  com  penas  consentiscmos  fazer 
a  nova  fortelicação  per  nossa  cerca  e  tendo  nós  justas  causas  a  não  dar 
o  dito  consentimento  as  alleguaremos  deante  delle  ou  dos  piincipes  e 
por  a  dita  nova  forteficação  perturbar  nossa  cllausura  e  termos  outras 
pistas  causas  pêra  não  d;ii'  o  dito  consentimento  sem  primeiro  sermo.s 
ouvidas  loguo  tanto  que  a  noticia  nos  veo  a  dita  provisão  a  ella  res- 
pondemos e  mandamos  deante  do  superior  nosso  alleguar  as  ditas  jus- 
tas cau.>as  na  forma  da  provisão  com  a  ordem  e  modo  devido  protes- 
tandojião  iucoreiínos  nas  penas  delia  pois  em  forma  obedesemos  e  a- 
guora  aixs  quatorze  dias  de  janeiro  de  setenta  e  sete  anos  nos  foi  lida 
liua  |»rovisão  que  de/ia  ser  dú  dito  frei  António  Pereira  por  huvw  es- 
cr/z-ão  d.iute  o  (juvidor  .s^n/llar  tpie  ()arecia  ser  a  mesma  na  quall  com 
penas  nos  mmidara  desemo^  o  dito  consentimento  ao  quall  nos  pedimos 
vista  pêra  ver  sua  /orma  e  respondermos  obedecendo  ou  aleguando 
nossas  justas  causas  o  não  quis  fazer  pelo  que  respondem  is  que  appel- 

lamos  ante (|;i  dita  ()rovisão  e  penas  nella  itisertas  do  que  nos 

sentimos  muito  agravadas  pêra  (|nem  a  cansa  de  diíeilo  pertencer  e 


428  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

protestamos  não  incorer  nellas  pois  já  temos  respondido  com  nossas 
justas  causas  que  mandamfiS  li  guo  alleguar  deanle  du  dito  superior  ou 
seguir  nossa  appeilação.  sendcnns  resebida  per  elle  conjo  esperamos 
e  requeremos  a  V.  S.^  Ruy  Gonçalves  da  Camará  nus  mande  dar  vis- 
ta da  di/í/  /jrovisam  pêra  respondermos  a  ella  que  sem  iso  nós  não 
podemos  senão  da  maneira  que  aqui  dizemos  pois  por  seu  mandado 
nos  foi  noteficada.=Maria  da  Cruz,  abadesa. 

E  logo  no  dito  dia  atras  em  me  sendo  dada  a  repnsta  atras  escri- 
ta e  por  eu  escrivãí»  ver  a  forma  delia  e  parece  as  madres  senão  con- 
tentarem com  ver  o  trellado  e  llie  ser  lida  a  própria  [»atente  e  mostra- 
da a  madre  abadesa  tornei  loguu  a  portaria  do  dito  convento  e  dei  es- 
tes próprios  autos  a  madre  porteira  dona  Isabell  do  Sí;iritu  Santo  e 
que  os  dese  a  madre  abadesa  e  que  vise  os  próprios  e  o  que  quizese 
e  respondese  todo  o  que  quisese  por  ella  Isabell  dn  Spiritu  Santo  ser- 
vir de  escrivoa  da  casa  a  qual  na  roda  aceitou  os  ditos  papeis  e  que 
ella  os  daria  a  madre  abadesa. =^Pero  Homem  o  escrevy. 

Vista  ás  madres 

Em  os  vinte  e  hum  dias  do  mes  de  janeiro  do  ano  de  mil  e  qui- 
nhentos e  setenta  e  sete  anos  nesta  cidade  da  Ponta  Dellguada  desta 
Ilha  de  Sam  Migell  na  roda  da  portaria  do  convento  da  Esperança  pe- 
ja madre  dona  IsabeW  do  Spiritu  Santo  m^  foi  dado  este  feito  e  dise 
que  a  madre  abadesa  ho  vira  e  as  mais  madres  e  que  eslavão  satisfei- 
tas com  a  resposta  que  tinham  dado  para  lhes  dar  vista  dos  próprios 
autos  e  que  conforme  a  patente  tilas  obedecião  na  ílorma  delia  e  dian- 
te quem  ella  mandava  mandariam  requerer  sua  justiça  e  que  outra  res- 
posta não  dava  mais  da  que  já  tinham  dada  e  eu  escrivão  dou  fee  es- 
tes próprios  autos  estarem  em  poder  das  ditas  madres  faz  oje  seis 
dias  e  o  asinei,  Pedro  Homem  o  escrevi=Pedro  Homem. 

Os  quaes  autos  eu  Pêro  Homem  escrivão  da  ouvidoria  desta  ilha 
de  São  Migell  fiz  trelladar  dos  próprios  que  em  meu  poder  fiquão  e 
vão  na  verdade  concertados  com  o  tabalião  abaixo,  escritos  em  sete  fo- 
lhas com  esta  do  concerto.  Escrita  nesta  cidade  da  Vofita  /^ellgada  da 
dita  Ilha  a  \mte  e  cimquo  dias  do  mes  de  janeiro  de  mill  e  quinhentos 
setenta  e  sete  anos.=Concertado,  Pêro  }lomem=  Concertado,  Pêro  (?) 
Lobo. 

Monta  nesta  relasão  e  trelado  contado  as  regras  e  termo  do  con- 
certo e  de conta  oitocentos  e  sete  reis  =  montou  no  próprio 

escrivão  dozentos  =  são  ao  todo  dozentos  oitenta  e  sete  re\s=^(assi- 
gnaturu  ininleUigivel) . 

{Documento  incompleto) 

{Arch.  nac.  da  T.  do  T.,  Corp.  Chron.  P.'  .?."  maç.  19 -n.""  22.) 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  '  429 


Carta  regia  de  23  de  janeiro  de  1578:  mercê  de  250^000 
rs.  annuaes  a  D.  Joaniia  de  Mendonça,  viuva  de  An- 
tão Martins  Homem,  capitão  da  villa  da  Praia, 
Terceira. 

Dom  Sebastião  eto.  faço  saber  aos  que  esta  rarta  virem  que  a- 
veodo  respeito  aos  serviços  que  me  fez  Antão  Martins  Homem  que  foy 
capitão  da  capitania  da  ilha  (*)  da  Praia  e  a  falecer  estando  servindo 
nela  querendo  fazer  mercê  a  dona  Joana  de  Mendcnça  sua  molher  ey 
por  bem  e  me  praz  que  ella  tenha  em  sua  vyda  dozentos  e  cincoenta 
mil  reis  em  cada  hu  anno  dos  rendimentos  da  dita  capitania  pêra  sua 
soslentação  e  de  hua  sua  filha  que  lhe  ficou  solteira  pello  que  mando 
ao  allmoxarife  ou  recebedor  do  allmoxarifado  da  dita  capitania  da  Praia 
que  ora  he  e  ao  deante  for  ou  a  qualquer  outro  otficial  ou  pesoa  que 
tiver  carrego  de  arrecadar  os  ditjs  rendimentos  da  capitania  da  Praia 
que  de  seis  dias  do  mes  de  novembro  do  anno  passado  de  b  e  Ixx  e 
sete  em  que  fiz  esta  mercê  a  dita  dona  Joana  lhe  dê  e  pague  cada  an- 
no os  ditos  dozentos  e  cinquoenta  mil  reis  du  dito  rendimento  per  esta 
so  carta  geral  sem  mais  outra  provisão  e  pello  treslado  delia  que  será 
registada  no  livro  de  sua  despesa  com  conhecimento  da  dita  dona  Joa- 
na mando  que  sejão  levados  em  Conla  ao  allmoxarife  recebedor  ou  of- 
ficial  que  lhos  pagar  e  ao  provedor  de  minha  fazenda  nas  ilhas  dos 
açores  e  a  quaesquer  outros  meus  olficiais  delia  a  que  o  conhecimen- 
to disto  pertencer  que  na  maneira  sobredita  lhe  facão  fazer  o  lall  {ta- 
gamento  e  cumprão  e  facão  comprir  e  guardar  esta  minha  carta  que 
por  firmeza  dello  mandei  dar  a  dita  dona  Joana  per  mim  assignada  e 
asellada  com  o  meu  sello  pendente.  Gonçalo  Ribeiro  a  fez  em  Lisboa 
aos  xxiij  (23)  dias  de  janeiro,  anno  do  nacimento  de  nosso  Senhor  Jhu 
xpõ  {Jesus  Christo)  de  "J  b  e  Ixxbiij  [lô78).  Jorge  da  Gosta  a  fez  es- 
crever—  Goncertada.  António  d" Aguiar — Goncertada,  Pêro  Gastanho. 
(Arch.  me.  da  T.  do  T.,  Lw.  XLIV  das  doaç.  D.  Seb.  f.  26  v.\) 


Aforamento  das  terras  largas  em  S.  José  da  Relva,  ao 

capitão  donatário  Ruy  Gonçalves  da  Gamara;  8  de 

janeiro  de  1580. 

Os  governadores  e  defensores  etc.  Aos  que  esta  carta  virem  fa- 
zemos saber  que  por  parle  de  Uni  Gonçalves  da  Gamara  do  conselho 
{d'elrei)  capitão  da  ilha  de  S.  Miguel  nos  foi  apresentado  hu  aforamen- 

(•)  Aliás  vUla. 


430  ARCHIVO  DOS  AÇ0BE8 

loque  llie  foi  feito  per  hiia  provisãu  dei  rei  dom  Anrique  que  Sanía 
Gloria  aja  de  (juatro  moios  de  terra  no  termo  da  cidade  de  Ponta  Del- 
gada da  dita  ilíia  do  qual  aforamento  o  tresllado  lie  o  seguimle: 

Francisco  Mendes  Pireira  contador  da  fazenda  dei  Rei  nosso  se- 
nhor ne>ta  ilha  de  São  Miguel  e  ilha  de  Santa  Maria  etc.  Faço  saber 
aos  (pie  esta  carta  testenuinhavel  for  apresemlada  e  o  conhecimento 
do  caso  com  direito  pertemcer  qne  no  Livro  dos  registos  das  contas 
fstá  hum  afoiamento  feito  a  Rui  Gonç.dves  da  Gamara  capitão  e  go- 
vernador do  estado  de>ta  dita  ilha,  cujo  treslado  he  o  seguimte: 

Em  nome  de  Deos  amen:  saibam  quantos  este  eslormento  e  carta 
dafoiamento  em  fatiota  ípfiatfwosim)  pêra  sempre  virem  que  no  anno 
do  nacimenlo  dt^  nosso  Senhor  Jlm  xpõ  {Jesus  Cliristo)  de  mil  b*^  Lxxx 
annos  aos  oito  dias  do  mez  de  janeiro  d«)  dito  anno  na  cidade  de  Pon- 
te Delgada  da  Ilha  de  São  Miguel  na  casa  dos  contos  da  fazenda  dei 
Rei  nosso  senhor  estando  ahi  presente  de  liua  parte  Francisco  Mendez 
Pireira  contador  da  fazenda  do  dito  senhor  na  comarca  da  dita  Ilha  e 
Ilha  de  Santa  Maria  e  da  outra  o  licenciado  Bertolomeu  de  Frias  em 
nome  de  Ruy  Gonçalves  da  Gamara  do  conselho  dei  hei  nosso  senhor 
capitão  desta  Ilha  de  São  Miguel  e  de  dona  Joana  de  Gusmão  sua  mo- 
Iher  o  dito  contador  apresentou  bua  provisão  dei  Rei  nosso  senhor  de 
(]ue  o  trellado  he  o  seguinte: 

Eu  El  Rey  faço  saber  a  vos  proved(ji  ile  minha  fazenda  nas  Ilhas 
dos  açores  que  Ruy  Gonçalves  da  Gamara  do  meu  conselho  e  capitão 
da  ilha  de  São  Miguel  me  enviou  dizer  que  a  Manoel  d  i  Gamara  seu 
pai  que  Deos  pertloe  forão  dados  vinte  moyos  d  •  sem^^adura  no  tei'mo 
da  cidade  de  Ponte  Delgada  no  limite  da  Relva  pêra  que  delles  ouvesse 
sessenta  moyos  de  renda  cada  anno  pêra  sempre  e  que  possuindo  seu 
|)ai  as  ditas  terras  por  se  achar  ijue  na  midição  que  se  nellas  fez  en 
leio  Contra  minha  fazenda  foy  mandado  fazer  outra  medição  peia  qual 
se  achou  que  eia  de  erro  quatro  moyos  de  terra  pela  vara  de  doze 
palmos  contra  minha  f:izemda  os  quaes  lhe  foram  tirados  nas  cabessa 
das  das  mesmas  terras  pelo  que  me  pedia  lhe  fizesse  mercê  de  lhe 
mandar  aforar  pêra  sempre  os  ditos  ipialro  moyos  de  terra  que  as.Ni 
foram  tirados  ao  dito  seu  pai  por  partir  com  outras  terras  que  lhe  fi- 
caram e  que  pagara  delia  o  foro  (pie  for  justo:  e  visto  per  mim  seu 
requeiimento  por  folgar  de  fazi-r  mercê  ao  dito  Ruy  Gonçalves  da  Ga- 
mara ey  [»or  btun  ijue  os  ditos  (pialro  moyos  de  terra  que  assi  foram 
tirados  ao  dit<)  seu  pai  sejam  aforados  em  fatiota  [pftiilcosini)  pêra  seu)- 
pie  ao  dito  Ruy  Gonçalves  da  (Gamara  comtanlo  (jiie  elle  e  as  pessoas 
(pie  nelles  s ocedeiem  paguem  de  foro  eada  anuo  a  minha  fazenda  três 
moyos  de  tiigo  e  isto  posto  ipie  a  dita  terra  não  andasse  em  pregão 
sem  embargo  do  regimento  de  minha  fazenda  e  de  qualquer  ordena- 
ção (pie  aja  em  contrario  e  de  se  não  guardar  acerca  dis>o  as  s(jleny- 
dades  necessárias  sem  embaigo  da  orilenação  do  á.**  livro  (pie  diz  (pie 
se  não  entenda  ser  (ierog.ida  nenhuua  ordenação  ^e  dela  ou  da  sus- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  43! 

tancia  dela  se  não  fizer  expressa  menção  e  por  larilo  vos  mando  que 
lhe  façais  carta  daforamenlo  em  forma  dos  ditos  quatro  ín(»yos  de  ter- 
ra com  os  ditos  ires  moyos  de  trigo  de  foro  cada  anno  em  ijiie  decla- 
rareis as  midições  e  confrontações  dela  com  todas  as  mais  clausulas 
e  condições  e  declarações  com  que  se  custumam  fazer  os  taes  afora- 
mentos, a  qual  carta  llie  passareis  com  declaração  que  a  virá  confir- 
mar em  minha  fazenda  dentro  de  seis  mezes  primeiros  seguintes  (jue 
se  começarão  do  dia  em  que  lhe  for  feita  em  diante  e  nela  se  tresla- 
dará  este  alvará  pêra  em  todo  o  tempo  se  ver  e  saber  como  se  fez 
por  meu  mandado  João  Alvares  o  fez  em  Li>boa  a  xxiiij  (24)  de  abrill 
de  y  b"  Lxxix  {1579)  e  eu  Álvaro  Pirez  o  fiz  escrever  =  Kei  =  Dom 
Francisco  =  A[)0stilla^=E  sendo  caso  (jue  o  provedor  das  Ilhas  dos 
açores  não  este  presente  na  Ilha  de  São  Miguel  mando  ao  contador  de 
minha  fazenda  em  ella  que  faça  o  aforamento  das  terras  que  neste  al- 
vará faz  menção  (|ue  comprirá  em  todo  como  nelle  se  contem  assi  co- 
mo o  ouvera  de  fazer  o  dito  provedor  se  fora  presente  na  dita  Ilha  de^ 
São  Miguel  e  esta  postilla  não  passará  pela  chancellaria  sem  embargo 
da  ordenação.  João  Alvares  o  fez  em  Lixboa  a  ij  {2}  de  maio  de  mil  b*^ 
Lx>ix  {1579)  e  eu  Álvaro  Pirez  o  fiz  escrever. 

K  o  dito  licenciado  berto  {sic)  licenciado  Berlolameu  de  Frias  a- 
presentou  bua  procuração  da  letra  e  sinal  do  dito  capitão  Ruy  Gonçal- 
vez  e  assin.ida  pela  dita  dona  Joana  de  Gusmão  sua  mulher  de  que  o 
treslado  he  o  seguinte: 

Dizemos  nós  Ruy  Gonçalves  da  Gamara  e  dona  Joana  de  Gusmão 
que  por  esle  i)Oi'  nos  feito  e  assinado  damos  poder  ao  licenciado  Ber- 
tolameu  de  Frias  e  António  de  Brum  da  Silveira  pêra  que  qualquer 
deles  possa  em  nosso  nome  aforar  e  aceitar  p(jr  nos  quatn»  moyos  de 
terra  nas  cabeçadas  dos  dezaseis  moyos  que  temos  no  limite  da  Relva 
da  Ilha  de  São  Miguel  por  três  moyos  de  foro  pêra  a  fazenda  de  S. 
A.  e  os  pagarmos  pelas  ditas  terras  e  todas  as  mais  seguramças  ne- 
r.essarias  conforme  a  hu;)  provisão  de  S.  A.  cometida  aos  oíTiciaes  de 
sua  fazenda  da  dita  Ilha  e  outorgada  com  todas  as  clausulas  que  a  pro 
visão  de  S.  A.  reqnere  obrigando  a  isso  todos  dos  nossos  bens  e  por 
sermos  contentes  fizemos  e  assinamos  este  em  Lixboa  a  xix  {J9)  de 
junho  de  mil  b*^  Lxxix  {1579).  Ruy  Gonçalves  da  Camara=Dona  Joana 
de  Gusnião. 

E  juntas  e  trelladadas  a  dita  provisão  e  procuração  disse  o  dito 
contador  Francisco  Mendes  Pereira  que  nor  virtude  da  dita  provisãi» 
de  S.  A.  aforava  e  dava  daforamento  como  de  feito  aforou  deste  dia 
pêra  todo  sempre  ao  dito  capitão  Ruy  Gonçalves  da  Gamara  e  a  sua  mo 
Iher  e  seus  filhos  e  to<los  seus  erdeTros  e  subcessores  doje  pêra  todo 
sempre  its  quatro  moios  de  terra  conteúdos  e  declarados  na  dila  pro- 
visão de  S.  A.  aqui  Iresladada  pela  midida  e  vara  de  doze  palmos  os 
quaes  quatro  moios  de  terra  deste  afoiamento  estão  no  termo  desta 
cidade  de  Pomte  Delgada  na  Relva  como  mais  largamente  se  declara 


432  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

• 

na  (Jita  provisão  e  estão  partindo  do  snl  com  as  terras  do  dito  Rny 
Gonçalves  e  do  ponente  com  a  terra  qne  foi  de  Gaspar  do  Rego  Bal- 
daia  e  Bastião  Gonçalvez  e  terra  que  foi  de  Jorge  Affonso  e  cansela 
da  cerrada  do  dito  capitão  assi  e  da  maneira  que  a  S.  A.  pertencem 
e  pod''m  [)erlencpr  per  qnalqner  via  e  maneira  que  seja  pêra  elles 
f()reiros  milhor  poderem  aver  as  ditas  terras  e  do  levante  coai  terras 
de  xpovão  (Chhsinvão)  Dias,  mercador,  e  de  João  d'Arruda  da  Costa 
e  do  norte  com  terras  que  servião  de  Relvas  do  dito  capitão  e  com  as 
mais  confnmtHções  com  que  de  direito  devem  partir  conforme  e  como 
estão  lançadas  neste  livro  do  tombo  elle  contador  em  nome  do  dito  se- 
nhor lhes  trespassa  todas  auçõis  reais  e  pessoaes  utilles  e  direitos  au~ 
tivas  e  passivas  e  todo  o  remédio  de  direito  e  os  faz  procuradores  em 
ren  suão  {sio  com  toda  libera  (sic)  e  geral  administração  e  lhe  afora 
as  ditas  terras  com  todas  suas  entradas  e  sabidas  serventias  logradou- 
ros direitos  pertenças  como  ao  dito  senhor  pertemcem  e  milhor  se  com 
direito  elles  O  milhor  poderem  aver  com  declaração  que  elles  foreiros 
e  sens  subcessores  tratem  e  concertem  aproveitem  as  ditas  terras  de 
maneira  que  não  venham  em  diministração  e  com  declaração  que  pa- 
garão de  foro  elles  e  as  pessoas  que  nas  ditas  terras  sôcederem  em 
cada  huu  anno  á  fazemda  de  S.  A.  três  moyos  de  trigo  bom  e  de  re- 
ceber pello  mes  d"agosto  de  cada  huum  anno  pêra  sempre  e  postos 
nos  guarneis  do  dito  senhor  nesta  cidade  e  o  pagamento  primeiro  dos 
ditos  três  moyos  de  trigo  farão  pello  mes  d'agosto  que  vem  desta  dita 
(*)  era  de  oitenta  e  dahy  por  diante  em  cada  hu  anno  [)ello  dito  mes» 
d'agosto  de  cada  hu  ann(j  e  não  poderão  vender  nem  per  outra  via 
enihear  as  ditas  terras  nem  vender  sem  licença  do  dito  senhor  e  quan- 
do as  vender  as  venderão  com  encarrego  do  dito  foro  a  tais  pesoas 
que  não  sejão  das  defesas  em  direito  e  que  bem  paguem  o  dito  foro 
pagnando  á  fazenda  de  S.  A.  a  corentena  do  preço  por  que  as  vemde- 
rem  e  com  declaração  que  não  pagnando  o  foro  per  espaço  de  três 
annos  sejão  ávidas  por  caidas  em  comisso  e  com  estas  condiçõis  e  de- 
daraçõis  e  obrigaçõis  disse  o  dito  contador  que  fazia  este  aforamento 
e  que  [xjderião  tomar  posse  das  ditas  terras  e  mandalla  tomar  por 
seus  feitores  e  procuradores  o  (jual  aforamento  o  dito  contador  fez  por 
não  estar  nesta  ilha  o  provedor  da  fazenda  de  S.  A.  e  o  dito  senhor 
em  sua  provisão  aqui  tresladada  assi  o  ouve  bor  bem  e  disse  que  ao 
comprimento  d"este  contrato  espycialmente  obriga  e  ipotncava  os  qua- 
tro moyos  de  terra  e  geralmente  os  mais  bens  do  dito  senhor  com  tal 
(sic)  que  a  espicial  ipoteca  não  derogue  a  geral  e  pt-lo  contrario  antes 
sob  a  dita  pena  se  obrigou  a  liviar  e  defender  as  ditas  terras  d'este 


(•)  o  oflicial  (lo  i-pgislo  oscrcveu  miui:  —d'esta  dita  cidade  era  de  <5t.,  á  mar 
"(Mil  da  pnlavra  cidade  poz  umas  aspas,  naturalmente  para  corrigir,  o  que  lhe  es 
(Uict-i'U  licpois. 

l^ota  éo  Sr.  J.  I  dr  Unto  Rebello). 


ARCHIVO  DOS  AÇOHES  433 

nfuriunento  e  as  fazer  boas  <>  livres  de  qii;il(jiier  pessoa  que  nas  ditas 
lerias  e  possição  delias  lhe  mover  algiia  duvida  por  tal  que  elles  fo- 
reiros  logrem  e  possuão  pacilicameute  as  ditas  terras  s(ím  (•onlradigão 
de  pessoas  allguas  a  qual  carta  daforaujento  lhe  íez  o  dito  contador 
com  declaração  de  (que)  o  dito  Ruy  Gonçalves  da  (Gamara  haja  con- 
firmação da  lazemda  de  Sua  Altesa  do  dito  contrato  doje  a  seis  me- 
ses primeiros  seguintes  porque  não  avHudo  este  conti^ato  e  aforamento 
não  terá  vigor  e  pello  dito  licenciado  Rertolameu  de  Frias  foi  dito  que 
elle  em  nome  e  como  procm-ador  do  ddo  capitão  Uuy  Gonçalvez  da 
Camará  e  dona  Joana  de  Gusmão  sua  molher  per  virtude  da  dita  pro- 
curação que  pêra  isso  tem  e  vay  tresladMda  neste  conlnito  tomava  e 
aceytava  pêra  elle^  e  seus  filli.is  e  socessores  de  aforamento  os  ditos 
quatro  moyos  de  terra  em  fatiota  {phatcoí-im)  pêra  siuqjre  como  neste 
cotilrato  está  declarado  coni  o  encargo  •'  obrigação  de  pagarem  em 
cada  liu  anuo  pello  mes  d  agosto  os  ditos  tre>  moyos  de  trigo  de  foro 
com  todas  as  obrigações  e  declaraçõis  acima  ditas  e  pêra  isso  disse 
que  obrigava  por  virtude  da  dita  procuração  os  bens  do  dito  capitão 
Ruy  Giinçalves  da  Camará  ávidos  e  por  aver  como  de  tVito  obrigou  a 
(jual  aceitação  do  dito  aforamento  e  obrigação  do  pagamento  do  foro 
e  dos  Hiais  bens  o  dito  contador  aceytou  em  nome  do  dito  senhor  e  o 
dito  licenciado  tão  bem  aceytou  em  nome  do  dito  Kuy  Gonçalves  da 
(iamara  as  obrigaçõis  e  todo  o  mais  em  que  o  dito  contador  se  obri- 
gou neste  contrato  por  parte  de  S.  A.  e  assi  o  outorgarão  e  afirmarão 
e  em  testennuího  de  verdade  o  assinaram  e  mandarão  de  todo  ser  fei- 
to este  estormento  que  elles  partes  assinarão  com  le^temlmhas  que 
forãt)  presentes,  Gaspar  Roiz  e  Pedro  Híjuiem  e  António  Hoiz.  portei 
ro  dos  contos  e  Cristóvão  Gomez  e  eu  Francisco  Alvares  escrivão  dos 
contí)S  e  da  fazenda  dei  Rei  nosso  senhor  nesta  Ilha  de  São  Miguel  que 
o  escrevy  a  qual  escritura  de  aforamento  se  tre.Nladou  da  j)ropia  que 
está  escrita  no  livro  do  tombo  destes  contos  de  São  Miguel  onde  es- 
tá asinada  por  num  e  pello  procurador  do  capitão  e  testemunhas  e  se 
trelladou  nesta  carta  testemunhavel  na  verdade  pêra  se  dar  ao  procu- 
rador do  dito  capitão  pêra  por  ella  tomar  posse  das  ditas  terras,  Fran- 
cisco Allvares  escrivão  dos  contos  o  fez  e>crever  o  sobescreveo  e  asi- 
nou.  Dada  na  cidade  da  Ponie  Delgada  desta  Ilha  de  São  Miguel  sob 
meu  sinal  e  sello  dos  contos  aos  xiiij  {14)  dias  do  mes  de  janeiro  de 
mil  b"  Lxxx  (iõSO)  ânuos  e  eu  Francisco  Alvares,  escrivão  dos  contos 
da  fazenda  dei  Rei  nosso  Senhor  ne?.ta  Ilha  de  São  Miguel  o  sobes- 
crevi. 

Pidindonos  o  dito  Ruy  Gonçalves  da  Camará  q:ie  lhe  confirmásse- 
mos o  dito  aforamento  e  visto  per  nos  seu  requerimento  e  o  dito  es- 
tormento daforamento  aqui  incorporado  per  esta  carta  lhos  confirma- 
mos e  avemos  por  confirmada  assi  e  da  maneira  e  com  todas  as  claii- 
sullas  e  condiçõis  e  declaraçõis  obrigaçõis  neile  contheiídas  e  declara- 
das. E  por  tanto  m.uidamos  que  asi  se  cumpra  e  guarde  como  se  nel- 

N.'  i7~Vol.  VIU  -I88<).  8 


434  AllCHlVO  DOà  AÇORES 

le  contem  e  esta  c;uta  de  confirmação  se  treslladará  no  Livro  dos  con- 
tus  da  dila  Ilha  e  pêra  firmeza  de  lodo  lhe  mandamos  dar  esta  carta 
per  nós  ;isinada  e  |)assada  pela  chancellaria  e  sellad.i  com  o  sello  pen 
dente.  Dada  na  vylla  de  AHmeirim  a  xxbij  (27)  dias  do  mes  dabril, 
João  Allvares  a  fez,  anno  ele.  de  J  b  e  Ixxx  (lõSOy,  e  eu  Allvaro  Pi- 
rez  a  fiz  escrever=os  governadores  e  defensores  destes  Heinos  e  se- 
nhorios mandarão  per  dom  Duarle  de  Caslello  Branco  meirinho  mór 
desles  reinos  e  vedur  da  fazenda  e  do  conselho,  (reòo/ra.s  dos  riscados 
e  entrelinhas). 

[Arch.  mtc.  da  T.  do  T.,  Liv.  XLIV  de  D.  Seb.,  f.  373  v.\) 


Carta  regia  de  16  de  setembro  de  1588:  mercê  de  150^000 

rs.  annuaes  a  D.  Clemência,  filha  de  Antão  Martins 

Homem,  capitão  da  villa  da  Praia,  Terceira. 

Dom  Filipe  ele.  Aos  qne  esta  minha  carta  virem  faço  saber  qne 
avendo  respeito  aos  serviços  de  Antão  Martins  Homem  e  falecer  estan- 
do servindo  de  capitão  da  Ilha  {{)  da  Prava  e  por  seu  falecimento  fa- 
zer o  senhor  Rei  Dom  Sebastião  meu  sobrinho  qne  Deos  tem  mercê  a 
donna  Joana  sna  mulher  de  duzentos  e  cincoenta  mil  reis  de  tença  ca- 
da anno  pêra  sua  sustentação  e  de  donna  ('lemencia  sua  filha  e  não 
lograr  a  dila  tença  mais  de  hu  anno  ey  por  bem  de  fazer  mercê  a  di 
ta  dunna  Clemência  de  cento  e  cincoenta  mil  reis  de  tença  cada  ant>o 
em  dias  de  sua  vida  us  quaes  começará  a  vencer  de  xb  (7.õi  dias  du 
mez  de  setembro  do  anno  passado  de  b*"  Lxxxbij  [õ87)  em  diante  em 
que  lhe  fiz  esta  mercê  e  mando  a  Dom  Fernando  de  Noronha.  Conde 
lie  Unhares  do  meu  cunselho  do  estado  e  vedor  de  minha  fazenda  que 
lhos  faça  assentar  no  livro  delia  e  despachar  cada  anno  pêra  lugar  on- 
de delles  aja  bom  pagaaiento  e  pêra  firmeza  de  todo  lhe  mandei  dar 
esta  carta  per  mim  assinada  e  passada  pela  minha  chancellaria  e  asel- 
lada  com  o  meu  sello  pendente.  Dada  na  cidade  de  Lixboa  aos  xbj  (/6') 
dias  do  mes  de  setembro.  João  Alvares  o  fez  anno  do  nacimento  de 
noso  senhor  Jhii  xpõ  {Jesm  Chistoi  de  mil  b  e  Ixxxbiij  (lô88),  e  eu 
Manoel  dAzevedo  a  fiz  escrever. 

íArch.  vac.  da  T.  do  T.,  Lir.  XIII  de  Filippe  7.°.  /.  243  r.^. 


Alvará  da  mesma  data,  fazendo  mercê  de  lOOSOOO  rs   ã 

referida  D.  Clemência 

Fu  el  Uey  faço  saber  aos  ipje  este  allvará  virem  que  avenihj  i  es- 

peito  aos  serviços  de  Antão  Martins  Honiem  e  falecer  estando  servin- 

df)  de  capitão  da  ilha  (\)  da  Prava  e  per  seu  falecimento  fazer  o  se- 


[l)  Aliás  villo. 


ARGHIVO   DOS  AÇOBES  435 

nhor  Rh)'  dom  Sebastião  meu  sobrinho  tjiie  Deos  tem  mercê  a  donii 
Joana  sua  molher  de  dozentos  cincoenla  mi!  rt^is  de  tença  cada  aum» 
pêra  sua  sustentação  e  de  dona  (llemencia  sna  tilha  e  não  lograr  a 
dita  tença  mais  de  huu  anno  ouve  por  bem  de  fazer  menè  á  dita  du- 
na Clemt^ticia  de  cento  e  cincoenta  mil  reis  de  tença  cada  anuo  em 
sua  vida  de  t|ne  lhe  foi  passado  padrão  e  (ii'a  por  lhe  fazer  mais  mercê 
ey  por  bem  de  lha  fazer  de  cem  mil  reis  de  tença  em  cada  hum  anno 
por  tempo  de  oito  amios  (|ue  se  começarão  de  cinco  dias  deste  mes 
de  setembro  e  ano  presente  de  y  b  e  L\x.\biij°  {lõ88)  em  diante  em 
!]ue  lhe  fiz  esta  mercê  em  satisfação  dos  reditos  que  deixou  de  cobrar 
(los  ditos  dozentos  e  cincoenta  mil  reis  de  tença  depois  que  faleceu  a 
dita  sua  mãi.  Noleflicoo  asi  e  mando  a  dom  Fernando  de  Noronha, 
Conde  de  Linhares  do  meu  conselho  do  estado  e  vedor  de  minha  fa 
zendH  (jue  lhe  faça  comtar  os  ditos  cem  mil  reis  no  livro  delia  e  des- 
pachar cada  anuo  pelo  dito  tempo  de  oyto  ânuos  pêra  lugar  onde  del- 
les  aja  bom.  pagamento  e  este  allvará  ey  por  bem  que  valha  etc.  João 
Alvares  o  fez  em  Lixb  ta  a  xbj  {16)  dias  do  mes  de  setembro  de  mil 
b^  Lwxbiij"  [1Õ88),  e  eu  Manoel  dÂzevedo  o  fiz  escrever. 

(Arch.  nac.  da  T.  do  T.,  Liv.  Xlll  de  Filippp  1°  f.  243  ^.^) 


Carta  de  D.  Rodrigo  da  Camará  a  Cliristovão  Soares;  24 
de  dezembro  de  1623. 

Com  esta  caria  de  V.  m.  de  16  deste  espero  ter  mui  boas  páscoas 
e  que  V  m.  pase  estas  e  otras  muitas  com  mui  boa  saúde  he  o  que 
eu  ipiero  que  lhe  poso  asegurar  que  ningem  com  mais  veras  lha  de- 
seja. Aqui  pasãmos  já  com  nniita  neve  e  de  mim  puso  diser  (jue  sin- 
to o  rigiM-  dela:  os  meus  papeis  estão  remetidos  ao  conselho  e  se  ve- 
rão nele  dipois  de  páscoa  logo  espero  destes  senhores  me  fasão  resão 
a  el  Hei  bejei  ja  a  mão  e  ao  senhor  (>)nde  do  Lirdiares  tjue  me  fes 
muita  m.  do  q  for  esperando  avisarey  a  V.  m.  por  que  sey  (juanto  ha- 
de  estimar  todo  o  bom  soseso  q  tiver  nesta  minha  pretensão  o  lugar 
andou  estes  dias  mui  regosijado  e  se  perparavão  muitas  fesí«.s'  /«do 

frustrou  a  inorte  do resem  nasido  suas sentidissimas. 

Deos  os  Guarde /wrtirá  ele  darlhe  mu sor  António 

Soares e  Fadrique  as  de  V.  m.  p  ila  m.  q  lhe  las  a  quem  Deos 

Guarde  como  desejo.  Madrid  24  de  setembro  de  623. 

Dom  Rodrigo  df  Camarn. 
sõr  Christovão  Soares. 

lArvIí.  niu\  dn  T.  do  7'.,  ('^rp.  (Jiron..  !'(irf.3.^,  íimh;.  30,  27.  < 


436  ARCHIVO  DOS  ACOHES 


Petição  de  Bartholomeu  Dezcalça  e  Barros,  ao  Marquez 
de  Pombal,  para  ser  substituído  no  log-ar  de  Secre- 
tario do  Governo  Geral  dos  Açores;  25  de  setem- 
bro de  1773. 

111."'°  e  Ex."""  Snr.^=Fazen(lo-me  V,  Ex.^  a  graça  de  confiar  de 
mim  o  estabelecimento  da  Secretaria  do  Governo  das  Ilhas  dos  Aço- 
res por  tempo  de  Ires  annos  e  achando-se  este  termo  completo,  dei 
conta  a  V.  Ex.^  de  estar  a  Secretaria  do  expediente  estabelecida  na 
melhor  forma  que  siibe  comprehender,  e  ainda  que  reconheça  a  incom- 
parável honra  {\ue  teria  em  continuar  no  real  serviço  e  occupação  que 
exercito,  pelos  créditos  que  tenho  encontrado  no  mesmo  sendo  ha  qua- 
renta e  oito  annos  Moço  da  Camará  de  S.  Magestade,  e  servindo  quin- 
ze para  dezeseis  annos  de  Secretario  do  Governo  de  Mato  Grosso,  lo- 
go no  seu  estabelecimento:  comtudo  porem,  como  acrescendo  aos  a- 
deantados  annos  que  numero  de  setenta  e  quatro  as  moléstias  que  me 
constiluiram  nas  hohilai^eis  (\)  que  padeço  e  constão  das  certidões  dos 
médicos  inclusas,  e  concorrendo  lambem  as  de  minha  mulher,  que  na 
corte  se  acha  padecendo  sem  abrigo;  por  não  haver  filho  algum  me 
vejo  nos  precisos  termos  de  recorrer  á  inata  piedade  de  V.  Ex.^  para 
que  attendendo  aos  relevantes  motivos  ponderados  que  me  impossibi- 
litam me  faça  a  uiercè  de  me  mandar  successor,  para  deste  modo  po- 
der recolher  me  a  minha  casa  e  cuidar  na  saúde,  em  quanto  Deus  me  , 
não  levantar  o  deposito  da  vida. =  Deus  Guarde  a  V.  Ex.*.  Angra  25 
de  setembro  de  I773.=III.'"°  e  Ex."""  Sr.  Marquez  de  Pombal.  A"  Mui- 
to alta  pessoa  de  V.  Ex.'*  beija  os  pés  seu  fiel  súbdito. ^^0  secretario 
do  governo — Bartholomeu  Dezcalça  e  Barros. 

(Are.  nac.  da  T.  do  T.  Pap.  do  Min.  do  Reino,  maç.  618.) 


{{')  O  íunanueiise  escrevia  muitos  erros,  naturalmente  o  rascunho  tiiiliH  = 
hahituaes. 

(Nota  do  Sr.  J.  I.  de  Br  tio  RebeUo). 


DESCRIPÇÃO  DAS  AGUAS  MINERAES 

^as    dramas    na    3i}}a    de    S.    Miguel. 

AO  Illustrissimo  e  Excellentissimo  Senhor 

MARTINHO  DE  MELLO  E  CASTRO, 

MINISTRO,  E  SECRETARIO  DO  ESTADO 
DOS    NEGÓCIOS    DA    MARINHA, 

E  DOMÍNIOS  ultramarinos; 
E  dada  a  conhecer  por  este  meio  ao  Pu- 
blico, em  cuja   utilidade  tanto  se 
interessa   o    zelo    daquelle    Ministro. 
Anno  de    179  1  .  ' 

Felix  de  Valois  e  Silva,  morador  ás  pedras  negras  jiinti»  an  Pa- 
quete, padeceu  nu  espaço  de  uito  annos  a  liranna  moléstia  escrofulosa, 
vulgarmente  chamada  alparcas.  No  quinto  anno  chegou  a  dita  m(tlestia 
ao  seu  maior  auge.  veudo-se  o  doente  com  i4  fistulas  no  peito  e  so- 
vaco do  lado  direito,  as  quaes  se  commnnicavão  de  humas  ás  outras, 
o  que  se  conhecêo  por  meio  da  injecção.  Sendo  por  fim  desenganadc» 
pelos  Cirurgiões  mais  peritos  desta  Corte  em  Agosto  de  1788,  e  por 
elles  abandonado,  intentou  deixar  a  Pátria,  e  embarcar-se  para  a  Ilha 
da  Madeira  afim  de  ver,  se  achava  alivio  na  mudança  do  clima,  e  ao 
mesmo  tempo  experimentar  o  remédio  das  lagartixas,  então  indicado 
á  sua  queixa.  Com  efteito  no  dia  4  de  Maio  de  1789,  embarcou  para 
a  sobredita  Ilha,  aonde  rezidio  13  mezes  sem  melhora  alguma,  antes 
pelo  contrario  se  augmentou  a  moléstia  passando-se  [lara  as  costas  da 
parte  direita,  até  se  contarem  25  fistulas.  Todos  alli  geralmente  lhe  lem- 
brarão as  famosas  Caldas  do  Ilha  de  S.  Miguel,  aonde  innumeraveis 
doentes  de  differentes  lugares,  principalmente  da  ilha  da  Madeira,  se 
tinhão  achado  bem.  Hesolveo-se  á  instancia  de  algumas  pesst)as  fide- 

(•)  Sendo  raríssimo  o  opúsculo  de  Félix  Valois  da  Silva,  torna-se  ronve- 
iiieiíte  reproduzii-o  para  servir  do  U'imo  dt*  comparação  entre  o  estado  do  Valle 
das  Furnas  em  1791  e  a  actualidade. 

Esta  reimpressão  ó  extraliida  do  Jornal  Enciclopédico,  Lisboa,  Maio  de 
1793:  pag.  392  a  412.  A  estampa  que  a  acompanha  foi  reproduzida  por  Bernar- 
dins  José  de  Senna  Freitas  na  sua  Viagem  ao  Valle  das  Furnas,  Lisiioa.  Impi-en- 
sa  Nacional,  184o. 


43S  AKCHIVO  DOS  AÇ0HE8 

dignas,  i^iie  liiihão  esl.iilu  nas  dilas  Caldas,  a  tentar  a  Mia  sorte  nesta 
segunda  digressão,  já  que  de  nenhum  elTeito  llie  fora  o  extracto  das 
largidixas  Em  Iode  Junliode  1790,  parlio  para  a  sobiedita  Ilha  de  S. 
Miguel,  e  chegando  alli  dirigiu-se  para  o  lugar  dos  banhos,  que  distão 
da  Ciíjade  de  Ponta  Delgada  ndve  legoas.  e  tal  fui  a  sua  felicidade, 
que  no  fim  de  iO  banhos  expeiimenlou  taiila  melhora, que  se  animou 
a  C(»nlinual-()S  com  toda  a  exactidão:  visivelmente  nelle  se  forniava  hu- 
ma  Uííva  n;itureza!  Já  não  precizava  purgar-se  todas  as  semanas,  co- 
mo até  então  lhe  era  indispensável.  No  fim  de  CO  banhos,  (cura  in- 
teira) (Jas  caldeiras,  números  15,  e  20.  {a)  somente  lhe  ri  stavão  7  fis- 
tulas, e  já  estava  livre  do  perigo  de  que  fora  ameaçado,  achando  se 
com  grande  vigor,  e  os  mais  alivios,  que  podião  esperar-se  de  huma 
moléstia  de  tantos  annos.  Nesse  Inverno  passou  livre  das  crizes  que  o 
HComettião  Iodas  ms  Luas,  e  na  seguinte  Primavera  lepetio  os  sobre- 
ditos banhos,  por  meio  dos  qnaes  inteiramente  se  restabelecéo,  e 
hoje  se  acha  reslituido  á  sua  antiga  saúde,  com  muito  mais  vigor  do 
que  antes  gozava,  e  para  bem  da  humanidade,  e  gratidão  das  mes- 
mas agUHs  mineraes  dezeja  fazer  notórias  as  suas  virtudes  por  meio 
(lesta  resumida  descripção  das  suas  obserrações,  delineada  sem  aquelles 
conhecimentos  que  re(]ueria  a  sua  analize,  narrando  unicamente  a  ex- 
periência (]ue  delias  colhèo  á  sua  própria  custa,  e  os  effeilos  que  vio 
fazer  a  diíJerentes  doentes,  que  com  elle  se  acharão  nos  dois  amios 
que  alli  se  demorou. 

Na  Ilha  de  S.  Miguel,  huma  dos  Açores,  que  está  na  latitude  de 
38  gr.  o  6.  m.,  e  na  longitude  de  23  gr.  36.  m.  do  Meridiano  de  Lon- 
dres   Nove  legoas  ao  N.  E.  da  Cidade  de  Ponta  Ddgada,  está 

situad(t  o  Valle  das  Furnas,  rodeado  de  grandes  montanhas,  offerecen- 
do  do  cimo  de  qualquer  delias  o  aspecto  mais  encantador  que  a  nossa 
visla  pôde  gozar.  Varias  terras  lavradias  divididas  por  infinitos  alemos, 
e  numerozis  ribeiras  do  aguas  cristallinas,  tpie  de  alguns  montes  alli 
vizmhos  >e  precipilão  em  maravilhozas  cascatas,  e  vem  atravessar  á- 
iiueilc.  deliciozo  lugar,  paiecem  ser  produzidas  pela  provida  natureza 
para  alivio,  e  consolação  dos  doentes,  que  alli  vão  buscar  o  sen  remé- 
dio. Ao  lado  di)  Norte  {alim,  leste)  fica  a  Povoação  que  toma  o  numt' 
do  mesmo  >ilio,  e  que  aformozea  este  valle  com  algumas  cazas  de  te- 
lha, muitas  choupiiiHS,e  huma  ! t> reja  nova  de  Sf//?/t/ ylw«r/,  que  tomou 
o  nome  de  Freguezia  a  31  de  .hdho  de  1791,  e  deve  ficar  finalizada 
no  corrente  ;mu)o  de   1792:  vários  passeios  de  arvoredos,  tornão  aind;» 


{ai  Ha  aiiiios  (|ue  o  Minisiccio  mandou  n  Ilha  de  S.  Miguel  hum  En^^eiilieiro 
pura  re[)arai'  as  obras  publicas:  o  niesmo  levantou  o  plano  da.s  caldeiras,  e  nume- 
rou as  mais  notáveis,  e  coujo  nenhumas  esU"io  analizadas,  .só  me  contento  d(!  ci- 
tar as  do  n"  lo,  o  20,  por  se  conhecerem  os  .seus  préstimos. 

(O  Kntjeiítieiro  a  que  o  autor  ."r  refere  vrn  João  Aiilonio  Júdice;  d  caldeira 
II."  l't  p  (f  cntdeini  grande,  fechada  ha  poucos  amws  por  uma  invede  circular.) 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  439 

OS  diíTercntes  caminhos  flaqiielle  valle,  principalmente  o  (i(js  banhos 
que  agora  vou  descrever. 

\o  S.  E.  (leste  Ingur  em  distancia  de  hum  tiro  de  peça  se  vè  hum 
sitio  dezerlo  e  inculto,  por  causa  dos  muitos  e  diíTerentes  miiieraes  e 
aguas  thermaes,  que  continuamente  borbotando  formão  caldeiras  em 
pequenas  di.>taucia8  humas  das  outras,  como  se  pôde  ver  do  Ma[)a  que 
se  offerece:  algumas  delias  são  inteiramente  frias  e  muito  cristallinas. 
outras  Com  hum  grão  de  calor  insoportavel.  A  maior  parte  das  caldei- 
ras estão  numeradas  por  ordem  da  nossa  Soberana  Fidelíssima  com 
marms  de  pedra.  Entre  estas  a  mais  notável  he  a  chamada  Caldeira 
grande,  que  terá  de  circunferência  50  pés;  levanta  no  seu  centro  hum 
grande  coxão  dagna  fervente  de  elevação  considerável,  de  hum  calor 
intolerável,  que  segundo  as  observações,  que  alli  fizerão  pessoas  de 
profissão,  chega  a  105  gr.  de  calor  (do  termómetro  de  l-arenheit)  mms 
do  que  o  sangue  humano.  O  Medico  Gurley  foi  o  primeiro  que  neste 
sitio  fez  uso  dos  suadouros  de  fumo:  mandava  pôr  os  doentes  a  sota- 
vento da  caldeira  giande  em  huma  espécie  de  cadeirinha;  alli  recebião 
o  copiozí.»  fumo  que  ella  lançava,  e  em  poucos  instantes  se  achavão 
transpirando,  e  por  esle  modo  expellião  o  humor  in^ensivelmenle  pe 
los  puros  do  corp(».  Esta  maravilhoza  caldeiía  he  talvez  huma  das  mais 
celebres  do  mundo,  tanto  pela  sua  grandeza,  e  gráo  de  calor,  como 
pelo  beneficio,  que  segundo  o  que  se  observou,  fez  a  innumeraveis 
pessoas  que  se  acharão  alli  ao  mesmo  tempo  que  o  author  desta.  O  en- 
.\ofre  faz  a  base  das  partes  constituenle^s  da  sua  agua,  ella  he  diuré- 
tica, desobstruenle,  corrob(trante,  e  sapouacea;  {a)  o  seu  sabor  he  to- 
lerável, o  seu  sedimento  junto  á  ujargem  he  de  hum  cinzento  achumba- 
do;  e  em  distancia  de  tiio  de  espingarda  depõe  himi  musgí»  verde,  a- 
veludado  com  laivos  amarelos:  seus  maravilhozos  benefícios  se  experi 
mentão  cijutra  o  rheumatismo.  esquecimento  de  membros,  toda  a  qua- 
lidade de  moléstia  nervoza,  piincipalmente  moléstia  de  pélle;  são  insi- 
gnes nos  íamos  de  estupor,  paializia.  sarnas  de  promovem  a  circula 
ção  do  sangue,  e  facilitão  a  transpiração.  Junto  a  ella  tom(tu  o  autor 
desta  !á5  banhos  a  fim  de  lhe  laxar  as  fibras,  e  poro  sangue  em  maior 
movimento,  e  com  elfeito  delia  alcançou  as  suas  primeiras  melhoras. 

Na  proximidade  desta  Caldeira  grande,  está  outra  mais  pequena 
com  pouca  difíerença  de  calor,  e  qualidade  de  agua,  cuja  corrente  se 
encorpóra  mais  abaixo  d(t  nascimento  com  a  agua  da  caldeira  grande,  e 
vão  entrar  na  caza  do  banho  alli  próxima,  (jue  he  huma  choupana,  que 
mandou  fazer  I).  Maria  Magdalena  da  Camera,  natural  da  mesma  lllia, 
que  por  diíTerentes  moléstias  que  padece  dá  por  bem  empregada  ajjor- 
nada.  (jue  alli  faz  todos  os  ânuos. 

ia)  Vt'ja-se  o  "Diclioiíairo  Univ.  ot  raison.  de  Mwllc  (U'  Chirurfi.  cl  de  1' ail 
V»''lèreiiairo''  tom.  á."  amio  1772,  e.  aux  sulpluir.  pa^^  i82.suas  qualidades,  .«-itio- 
e  virtude?. 


440  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

Em  distancia  de  30  passos  da  caldeira  grande  está  a  caldeira  de 
polmc.  He  humH  medonha  Fuma,  a  inatieira  de  liimia  caverna  subter- 
rânea, que  para  se  chegar  ao  seu  nascimento,  he  precizo  descer  coiza 
de  "20  [>és:  quasi  sempre  está  cliéa  de  hiuu  fumo  espesso,  que  impe- 
de aos  viajantes  o  verem  a  sua  horrivel  bocca;  porém  nos  dias  de  ve- 
rão estando  o  sol  intenso  se  pôde  bem  ver  das  dez  horas  por  diante. 
Nella  se  acha  huma  brenha  de  mais  de  4  pés  de  comprimento,  e  2  de 
largo,  na  qual  se  observa  continuamente  huma  agitação,  lançando  de 
si  huma  espécie  de  lava  muito  quente  (dizeu)  alguns  viajantes,  que 
bem  se  assemelha  á  do  monte  Vesúvio)  com  tal  estrondo,  que  atemo- 
riza os  espectadores.  MuitíS  doentes  alli  mandão  buscar  o  lodo  junto 
á  breclia  para  usarem  delle  sobre  os  membros  esquecidos,  de  que  lhe 
resulta  beneficio.  He  este  lodo  muito  macio,  e  de  côr  de  chumbo:  o 
fumo  que  contmuamenle  sahe  da  Furna,  e  rodèa  aquelle  lugar  prepa- 
ra a  este  remédio  toda  a  sua  virtude,  seja  pelas  partes  volatilizadas  do 
mineral  que  alli  depõem,  ou  «pialquer  outro  motivo  que  o  torna  tão 
smgular:  o  autur  desta  mandando  infinitas  vezes  buscar  deste  lodo  pa- 
ra o  applicar  no  hombro  do  braço  direito,  e  repetindo  esta  operação, 
ex[)erimentou  tanto  beneficio,  que  em  algumas  occasiõos,  em  que  a 
Furna  estava  mais  agitada,  e  não  lendo  quem  descesse  abaixo  por  fal- 
ta de  valor,  se  animava  a  hir  pessoalmente  buscal-o. 

No  mesmo  sitio  se  ^cUão  innumerareis  Caldeiras  de  aguas  quentes. 
couj  difíerentes  grãos  de  calor;  hnmas  com  os  fundos  cinzentos  dei- 
xando depósitos  verdes,  outras  de  agua  e  lodo  côr  de  leite;  outras 
vermelhas,  infinitas  de  hum  deposito  amarelo  claro.  Muiu.s  mais  eíílTv)' 
onfundidas  ao  longo  da  Ribeira  que  passa  por  baixo  de.ste  monte:  de 
todas  estas  ninguém  se  utiliza,  por  não  estarem  igualmente  analiza- 
das,  e  por  se  ignorarem  seus  préstimos. 

Ha  lambem  innumeraveis  nascimentos  de  aguas  férreas  ][mU)  is 
quentes,  as  quaes  são  frias,  e  muito  cristallinas;  seus  depósitos  em 
geral  são  vermelhos,  seus  sabores  acres  humas  mais  do  que  outras, 
desde  hum  grão  moderado  até  o  mais  forte,  e  inl(»leravel;  segundo  as 
narrações  de  alguns  viajantes,  se  assemelhão  ás  aguas  de  Spaa  na  A- 
lemaidia,  em  sabor,  e  beneficio,  {a)  Destas  caldeiras,  ou  nascimentos 
só  se  pôde  dizer,  que  as  suas  aguas  são  muito  adstringentes.  Alguns 
doentes  fazem  uso  delias  na  relaxação  de  nervos  misíurando-as  com 
MS  (juentes.  Também  são  maravilhozas  contra  as  diarrhéas. 

Nos  lugares  (|ue  não  lem  agua  junto  ás  caldeiras  se  acha  com  a- 
bundancia  a  flor  de  enxofre,  pedra  hnme,  o  vermelhão,  a  caj)a  rosa. 
e  muit.i  |»edia  calcinada. 

A(tN.  0.  da  caldeira  grande  em  distancia  pouco  mais, ou  menos  lUK) 
passos,  estão  os  Banhos  da  Ribeira,  [)ara  onde  a  maior  parte  dos  doen- 


í«i  V('j;i-se  o  tom.  2.  do  'iDictioiíairc  Hriivcrsel."  o  :iux  m;!rti;ile.>i.  pa^.  485 
suas  (liffeccritcs  qualidades,  sities,  e  virtudes. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  441 

les  conrorrem  por  serem  maiji  temperados,  e  haver  mais  pratica  dos 
seus  benefícios.  Sãu  muitos  Nascivu^nto!;  de  olhos  cCagua,  que  saliern  de 
um  rochedo  com  um  marco  de  pedra  N."  20.  Estas  aguas  tem  parle  de 
enxofre  e  ferro,  lambem  se  jidga  que  ellas  contém  alguma  caparoza; 
seu  deposito  he  côr  de  fogo,  o  calor  mais  que  natiual,  e  o  sabor  ad 
slringente.ou  de  caparoza.  Foi  nestes  admiráveis  nascimentos  que  o  au 
for  obteve  o  seu  total  restabelecimento,  oíide  tomou  90  banhos  nos  dois 
verões,  que  alli  esteve,  bebendo  igualmente  da  mesma  agua.  Estes,  e 
outros  nascimentos  d^agua  alli  proxim)s,são  approvados  para  os  escro- 
fulosos, e  mais  moléstias  da  pelle,  como  lambem  na  relaxação  do  estô- 
mago bebendo-as;  dão  alivio  aos  gotozos;  são  excellentes  para  as  ob- 
struções, ictericias,  moléstias  uterinas,  experimentadas  para  as  dores 
no  abdómen,  dor  de  pedra;  finalmente  forlificão  os  nervos  e  dão  tum 
á  fibra. 

Ha  outros  nascimentos  d^aguas  em  hum  sitio  mais  elevado  da  Ijan 
da  do  N.  O.  da  Aldèa.  chamado  de  Santa  Anna  dentro  do  mesmo  val- 
le,  aonde  muitas  pessoas  lomão  banhos  de  recreio.  Dizem  que  forlifi- 
cão os  nervos,  e  abrem  a  vontade  de  comer.  As  aguas  destes  nasci- 
mentos são  mais  crislallinas  do  que  quaesquer  das  outras  de  que  se 
tratou. 

Muitos  enfermos  vem  a  estes  banhos  acabar  o  seu  reslabeleclmen- 
lo  depois  de  se  terem  preparado  com  alguns  banhos  na  caldeira  gran- 
de, mas  para  isto  he  necessário  a  maior  cautela,  e  observação  da  par- 
te dos  doentes  na  segunda  escolha  que  fazem,  porque  delia  dependem 
as  úteis,  ou  nocivas  consequências. 

A  curiosidade  do  autor  o  movèo  hum  dia  depois  de  eslar  inteira- 
mente leslabelecido  a  montar  a  cavallo  para  liir  provar  as  aguas  de 
íudos  os  nascimentos  das  Furnas,  e  juntamente  conlal-os  se  lhe  fosse 
possível,  para  o  que  levou  hum  copo,  e  hum  criado  para  segurar  o 
cavallo  nas  paragens  aonde  o  lodo  mais  enterrava  de,  não  foi  possí- 
vel no  mesmo  dia  executar  esta  empreza  com  aquella  perfeição  que  se 
dei^ejava,  pela  má  situação  de  algumas  caldeiras  que  eslão  junto  á  cau 
deloza  Ribeira  quente,  assim  chamada  em  razão  do  calor  procedido  dos 
mesmos  nascimentos,  e  pela  dilTiculdade  que  ha  para  chegar  a  algu- 
mas, tanto  pelo  lodo  solto,  como  pela  respiugação  quente  de  outras : 
com  tudo,  não  obstante  a  confuza  ordem  em  que  a  natureza  as  creou, 
e  em  razão  da  qual  chamar-se  podião  Labyrinto,  no  fim  de  dous  tra- 
balhozos  dias  de  investigações  em  que  sem  duvida  escaparão  muitas, 
achou  liaver  para  sima  de  200  nascimentos  daguas  férreas,  deflerin- 
do  (jiiasi  todas  nos  sabores,  e  depósitos  com  a  notável  galantaria,  que 
alguns  nascimentos  frios,  dista  vão  dos  quentes  hum  palmo.  (N.  B.) 


(N.B.)  A  conta  que  assiiua  se  dà  depiles  nascimentos  comprehende  somen- 
te o  aitio  das  Furnas  não  rallando  nos  que  lia  juntos  á  famosa  alagôa,  nem  dos 
haidios  da  Ribeira  grande  (villa  distante  de  Ponta  Delgada  3  légoas),  aonde  me 

.W  i7     Vul.  VIII  -I88G.  9 


442  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

O  Ar  que  se  respira  em  todo  o  valle  lie  o  melhor  de  Ioda  a  Ilha, 
purificado  pelos  muitos  mineraes,  que  junto  com  as  excellentes  aguas 
naturaes  concorrem  para  o  prompto  restabelecimento  dos  doentes,  sen- 
do este  o  piimeiro  beneficio  que  encontrão  na  chegada  áquelle  silio, 
que  ordinariamente  succede  no  fim  de  Maio,  até  o  meado  de  Setem- 
bro; porém  nas  outras  estações  do  anuo,  he  frigidissimo  e  húmido,  o 
que  se  attribue  ás  montanhas  circunvizinhas,  e  muitas  aguas  que  em 
si  encerra. 

Os  mantime??tos  são  baratos,  e  se  fazem  conduzir  de  Punia  Del- 
gada, ou  da  Ribeira  grande,  porque  no  sitio  só  ha  com  abundância  a- 
griões,  morangos  da  serra,  manteiga  fresca,  ovos  ác.  As  galinhas  que 
apparecem  nunca  passão  de  140  reis,  ainda  que  são  raras  por  indo- 
lência dos  habitantes. 

«(ionciúo  dizendo  aos  meus  Leitores,  e  amigos,  que  conservo  hum 
amor,  e  lembrança  ás  ditas  aguas  pelo  rápido  beneficio  que  delias  colhi, 
livrando-me  talvez  da  moléstia,  mais  pertinaz,  que  he  o  objecto  da  Cirur- 
gia, e  que  padeci  oito  annos  sem  esperança  de  jamais  me  achar  bom, 
havendo  exliaurido  até  áquelle  tempo  os  remédios  que  a  Medicina  of- 
ferece  a  este  respeito,  e  também  soíTrid(j  o  desengano  dos  melhores 
Proftssures  desta  Corte,  sem  que  nenhum  delles  tivesse  a  noticia  de 
siuíilhantes  banhos,  ou  pelo  menos  a  lembrança  de  mos  applicar!  por 
cujo  motivo  dezejava  que  fossem  notórios  a  todos,  e  com  especialida- 
de ás  pobres,  e  innumeraveis  victimas  que  nesta  Corte  padecem  o  ti- 
ranno  mal  escrofuloso;  pois  discorrendo,  que  a  Omnipotência  sem  du- 
vida não  creou  aqiielles  laboratórios  de  aguas  de  tão  differentes,  e  sin- 
gulares qualidades,  para  estarem  no  esquecimento  do  mundo,  mas  an- 
tes para  remediarem  as  queixas  mais  chronicas. 

«Sim  Senhores!  aquella  maquina  que  alguns  sábios  viandantes 
chamão  hum  Thezoiro  na  Terra,  (e  as  minhas  cicatrizes  o  confirmão!) 
está  clamando  por  huma  analize  exacta,  feita  ao  menos  por  dois  Quí- 
micos experientes,  porque  seria  imprudência  deixar  a  descripção  e  juí- 
zo de  hum  só,  o  que  merece  a  attenção  de  muitos;  pois  que  os  melho- 
res autores  que  tratão  desta  matéria  requerem  que  haja  huma  vigi- 
lante observação,  repetindo  as  anaiizes  nas  differentes  estações  do  an- 
uo, em  que  as  aguas  fermentão,  mais,  ou  menos:  e  por  este  meio  se 
patentearem  suas  virtudes,  como  também,  edificarem-se  junto  ás  cal- 
deiras, aonde  se  reconhecerem  mais  préstimos;  pequenas  cozas  de  a 


dizem  haver  muila  abundância  de  enxofre,  que  existe  propriamente  em  secco,  e 
passando-llie  as  aguas  naturaes  de  liuma  Ribeira  por  cima  faz  fermentar  huma 
agua  quente  muito  própria  jiara  curar  sarna,  e  moléstias  de  pelle,  e  como  este- 
jão  mais  perto  da  Cidade,  achão  os  habitantes  mais  cómodo  lurem  alli,  para  o 
que  a  Gamara  da  dita  vilia  tem  mandado  lazer  cazas  de  banho  com  alguma  re- 
gularidade. Eu  pertendi  hir  examinal-as,  mas  a  miidia  repentina  viagem  para 
esta  Corte  me  privou  da  satisfação  da  minha  curiozidade,  e  por  cujo  motivo  del- 
les não  posso  fazer  melhor  menção. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  443 

bobada,  para  se  tomarem  os  banhos,  e  mellior  comodidade  dos  doen- 
tes, já  que  até  agora  cada  qual  mandava  fazer  Imma  choupana  e  lhe 
metia  hum,  on  dois  caixões  de  páo,  que  apenas  dura  hum  anno  por 
causa  da  grande  humidade,  e  va[)ôr  das  mesmas  aguas,  que  tudo  a- 
podrece.  Merece  emfim  ser  coroada  esta  obra  C()m  hum  pequeno  Hos- 
pital dirigido  peia  forma,  e  maneira  do  das  Caldas  da  Rainha.com  as- 
sistência de  Medico,  Cirurgião,  e  Boticário,  noujeados  pela  Camará,  e 
santa  Caza  da  Mizericordia  da  dita  Cidade  de  Ponta  Delgada,  para  al- 
li  rezidirem  os  cinco  mezes  contados  de  Maio  até  Setembro  debaixo 
da  direcção  de  hum  Provedor,  a  cujas  despezas  bem  podia  prestar-se 
a  mesma  Caza  de  Miserirordia  com  o  beneplácito  Régio,  cujos  fins  ten- 
derião  ao  bem  espiritual,  e  corporal;  porque  ha  immensos  doentes  po- 
bres de  ambos  os  sexos,  que  delia  se  não  podem  utilizar  pela  sua  in- 
digência, como  também  concorrerião  sem  duvida  de  todas  as  parles 
innumeraveis  pessoas  que  darião  por  bem  empregada  a  despeza,  que 
fizessem  pelo  bem  de  sua  saúde,  resultando  daíjui  ajusta  apreciação 
dos  ditos  banlios,  a  utilidade  da  Ilha  principalmente  dos  habitantes  das 
Furnas,  e  a  satisfação  de  todos.  «Estamos  vendo,  que  a  Providencia 
Divina  em  quasi  todos  os  cantões  do  Mundo  favorece  a  humanidade 
com  varias  espécies  de  Caldas  (cr),  que  nos  nossos  dias  vemos  serem 
applicadas  como  os  últimos  recursos  da  Medicina,  e  principalmente 
nesta  Corte  de  Lisboa,  n'hum  sitio  de  que  todos  lemos  noticia  pela 
sua  extensa  fama,  {b),  e  aonde  não  ha  mais  (jue  huma  qualidade  da 
gua.  Que  du-emos  d'aquelle  aonde  mais  de  200  ditlerentes  nascimen- 
tos brotão  continuamente?  O  Ceo  permitia  que  em  meus  dias  veja  ef- 
fectuar  esta  desejada  analize  com  aquella  exactidão  que  merece  aquelle 
singularissimo  sitio,  afim  que  delle  se  possão  claramente  colher  seus 
beneficios  sem  a  menor  confusão! 


Observações  do  Autor 

As  primeiras  ristas  do  valle  das  Furnas,  o  ameno  do  seu  sitio,  e 
aguas  satisfazem  muito  a  imaginação  dos  doentes,  que  alli  vão;  o  que 
«  experiência,  e  os  melhores  autores  nos  mostrão  ser  hum  dos  prin- 
cipaes  remédios  em  todas  as  moléstias,  principalmente  nas  chronicas, 
em  que  (jrdinariamente  reina  a  melancolia. 

A  transpiração  no  uso  dos  banhos  (pier-se  moderada,  e  não  comi) 
muilos  usão,  e  eu  observei  que  estavão  horas  esqueciílas  no  ab.do,  e 


(a)  Retiro-me  ao  1.°,  e  2.»  Tom.  dos  «Dicrionarios  Quimicos«,  das  differcii- 
les  aguas  Thermaes  na  Europa;  em  quasi  Iodas  as  Proviíicias  do  nosso  PortuiiaJ 
as  temos,  quaes  são  as  de  Alcafache,  de  Azurrara,  Anciaens,  Aregos,  Canavezes, 
S.  Gemil,  GranjAo,  Esturil,  Gerez,  Monchique,  Monsanto,  S.  Pedro  do  Sul,  Fonte 
Santa  &c. 

(ft)  As  Caldas  da  Rainlia. 


444  ABCHIVO  DOS  AÇORES 

alé  nelle  adorinecião,  pensando  talvez  qne  a  copioza  transpiração  os 
uliviava  mais  depressa;  por  este  modo  initavão  dcmaziadamente  as 
funções  principaes  do  corpo,  debililando-se  depois  alé  desfalecer,  de 
modo  que,  em  lugar  de  lhe  acharem  o  proveito,  sintem  maior  dam- 
no;  pelo  contrario  a  transpiração  moderada  no  espaço  de  muitos  dias, 
serve  de  hum  saudável  beneficio. 

Nas  Caldas  da  Rainha,  e  outi  as  se  costumão  interpolar  os  banhos 
aos  doentes,  porque  os  debilitão  sendo  continuados,  prohibem-se  algu- 
mas frutas,  leites  de,  nas  Furnas  pelo  contrario  lodos  os  dias  se  fo- 
mão  banhos,  e  regularmente  tomados  forlificão  os  nervos,  pela  diver- 
sidade de  mineraes:  as  frutas  são  recowmendaveis  sendo  maduras,  o 
uso  do  leite  misturado  com  as  aguas  ferventes  de  enxofre  tem  exceUen- 
te  préstimo,  excepto  nas  obstrucçíies.  Eu  o  tomei  não  obstante  a  opi 
nião  geral  de  ser  hum  veneno  para  os  Escrofulozos. 

As  aguas  das  caldeiras,  que  a  humas  naturezas  facilitão  as  eva- 
cuações, a  outras  as  fazem  renitentes,  como  a  mim  me  aconlecèo,  re- 
querem as  vigilantes  observações  da  parte  dos  doentes,  que  alli  vão. 
nhuma  boa  escolha,  já  que  a  natureza  suptrabunda  naquelle  sitio  com 
infinitas  qualidades  de  aguas  differindo  humas  das  outras  para  reme- 
diarem diversas  queixas;  este  recurso  não  ha  nas  Caldas  da  Raicdia, 
aonde  acontece  ordinariamente  aos  doentes  voltarem  para  suas  cazas 
com  gravíssimo  prejuízo  das  jornadas,  de  que  muitas  vezes  lhes  re- 
sulta a  morte,  como  eu  poderia  citar  infinitos  exemplos. 

Hum  incommodo  tem  as  (baldas  de  S.  Miguel  para  muitos,  que  he 
a  passagem  do  mar,  porém  quando  ha  urgente  necessidade,  que  re- 
médio? Muitas  vezes  a  mudança  de  elemento,  e  clima  concorrem  para 
o  bem  das  moléstias  chronicas,  e  neste  caso  devemo-nos  sugeilar  na 
esperança  de  recuperar  o  bem  de  nossos  dias,  arriscando-nos  a  hum 
perigo  para  remediar  outro. 

Não  posso  deixar  de  relatar  alguns  benefícios  repentinos,  que  es- 
tas maravilhozas  aguas  fizerão  nos  annos  de  1790,  e  1791,  em  tempo 
que  alli  estive. 

Huma  Donzella  de  22  annos,  que  havia  tempos  era  acomettida  de 
huma  dor  no  Abdómen  tão  violenta,  que  a  provocava  a  vómitos,  anciãs 
e  gritos,  nos  quaes  perdia  o  uso  dos  sentidos  e  mais  funções  vitaes, 
foi  áquelle  lugar  em  setembro  de  1791,  principiando  o  uso  dos  banhos 
de  Santa  Anna  («),  ao  quarto  repetio  lhe  hum  fortíssimo  ataque,  das 
9  para  ás  10  horas  da  noite,  a  tempo  que  me  achava  presente,  pedi 
com  instancia  á  familia  da  caza  a  deixassem  hir  immediatamente  aos 
Banhos  da  Ribeira,  e  consentindo  nisto  a  muito  custo,  a  pnzemos  em 
sima  de  hum  jumento,  e  a  encaminhamf»s  para  o  dito  lugar,  aonde  se 
lhe  apron»plou  hum  banho  N."  20:  não  haveria  3  minutos  que  eslava 
dentro  quando  déo  graças  ao  Ceo,  de  .se  ver  consolada,  e  a  dôr  unli- 

(a)  Níisciriicuiu  u."  2:{. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  445 

gada.  Esteve  Io  minutos  no  banho,  e  5  no  abafo,  donde  sahio  pelo 
sen  pé  mui  alegre,  repelindo  no  dia  seguinte  o  mesmo,  e  assim  con- 
tinuou por  espaço  de  Io  dias.  retirando-se  depois  para  a  Cidade  in- 
teiramente restabelecida. 

Luiza  Joaquina  de  idade  de  20  annos  filha  de  Francisco  António 
da  Silva,  negociante  da  Ilha  da  Madeira  havia  o  annos  que  não  era  as- 
sistida, e  por  este  motivo  estava  obstruida,  e  desenganada  dos  Médi- 
cos daquella  Ilha.  Foi  áquelle  sitio  em  Julho  de  1791,  onde  tomou  ^0 
banhos  da  caldeira  N."  20,  bebendo  da  mesma  agua  misturada  ,com 
vinho  tinto,  e  tomando  ao  mesmo  tempo  huma  doze  de  goltas  de  a- 
zeite  (ia  baga  de  louro,  Receita  particular  de  Thomaz  Hichling,  Cônsul 
dos  Estados  Unidos  da  dita  Ilha. 

A'  minha  partida  para  esta  Cidade  a  fui  visitar,  e  a  achei  já  res- 
tabelecida, e  querendo  tornar  naquelle  mesmo  anuo  para  a  sua  Pátria, 
lhe  foi  aconselhado  o  segundar  os  ditos  banhos,  no  presente  verão  de 
1792. 

O  Morgado  Francisco  Agostinho,  também  da  Ilha  da  Madeira  de 
idade  de  48  annos  com  huma  icterícia  f.jrmal,  foi  alli  mandado  no 
mesmo  tempo,  tomou  parte  dos  banhos  na  caldeira  N.*^  15  e  perto  de 
50  no  de  N."  20  bebendo  a  mesma  agua,  e  fazendo  uso  do  cozimen- 
to das  alcachofras  mansas  três  vezes  ao  dia;  voltou  á  sua  Pátria  res- 
tabelecido no  fim  de  três  mezes,  que  delia  se  tinha  auzentado. 

D.  Maria  Magdalena  da  Camará,  todos  os  annos  alli  vai  buscar 
alivio  ás  muitas  moléstias  que  padece,  ff)i  o  anno  passado  entrerada 
para  as  Furnas,  ao  5.°  banho  da  caldeira  N  **  20  andava  por  seu  pé: 
ouvi-lhe  dizer,  que  se  algum  dia  tivesse  qualquer  ataque  em  que  per- 
desse o  uso  dos  sentidos,  dezejaria  a  levassem  áquelles  banhos,  aos 
(|uaes  tem  devido  a  conservação  da  sua  vida  ha  annos. 

Á  propoição  destes  prodígios  vi  muitos  exemplos  de  rheumatis- 
mos,  e  dilferentes  qualidades  de  moléstias,  entre  as  quaes  a  minha  en- 
tra no  numero  das  mais  pertinazes. 

Outra  maravilha  da  natureza  observei  mais,  e  vem  a  ser:  que  ao 
Oeste  noroeste  O.  N.  O.  das  Furnas  em  distancia  de  meia  legoa  está  hu- 
ma famosa  alagòa.  Terá  pouco  menos  de  Ires  quartos  de  legoa  de  cir- 
cunferência: com  justa  razão  se  conjectura  que  ella  fornece  às  caldei 
ras  das  Furnas  a  sua  agua,  e  as  preserva  de  se  não  tornarem  em 
volcanos,  o  que  assim  resultaria  inflammarcm  se  áquelles  combustivos. 
cazo  não  tivessem  agua  superabundante,  e  em  proporção  bastante  pa- 
ra contrabalançar  a  força  da  inflammação  dos  mineraes  que  alli  ardem. 
Esta  alagòa  está  quasi  patalnlla  com  os  banhos  de  Santa  .Anna.quc  a 
bundãr»  ordinariamente  cm  aguas  férreas,  e  sulfúreas;  o  anno  passado 
profundarão  mais  do  seu  costume  com  bem  pouca  corrente,  a  conse- 
quência disto  foi  a  grande  secc.t  que  ella  experimentou:  (esta  falta  não 
as  soffrerão  as  caldeiras  grandes,  porque  íicão  muito  mais  baixas):  mas 
rigorozas  invernadas  naqiiellas  altas  serras,  que  atrahem  a  si  pela  sua 


446  AHCHIVO  DOS  AÇORES 

giMiuie  elevaçãu  copiozas  chuvas,  a  tornão  a  pôr  no  seu  uivei,  e  mui- 
tas vezes  fazem  com  que  iuuudem  o  caiuiulio  aos  passageiros. 

Nem  huma  só  choupana  vi  naquella  parte,  por  indolência  dos  lia- 
bilaules,  que  além  de  ser  necessária  para  refugio  dos  mesmos  Passa- 
geiros, e  Pastores  na  rigoroza  estação  do  Inverno,  seria  ulil  nos  me 
zes  do  Estio  para  lodos  os  que  vão  ao  divertimento  da  pesca,  que  ha 
poucos  ânuos  introduzirão  alguns  curiozos,  que  lançarão  uella  peixes 
da  espécie  que  ha  nas  quintas  particulares,  de  que  tem  produzido  con- 
sideravelmente, e  emanado  para  outras  alagôas  que  ha  na  Ilha;  tam- 
bém alli  houve  algum  tempo  huma  embarcação,  que  por  descuido  a 
deixarão  espedaçar. 

O  mnpa  que  julguei  propi  io  mandar  fazer,  representa  unicamente 
a  vista  das  Caldeiras  grandes,  por  serem  estas  mais  notáveis,  e  delias 
tira  o  sitio  o  nome  de  Furnas:  poucos,  ou  uenhmís  viajantes  olharão 
para  aquelle  quadro  sem  espanto,  ou  huma  seria  reflexão,  meditando 
nas  grandes  obras  da  natureza,  e  contando  as  entre  o  numero  de  suas 
mais  consideráveis  maravilhas. 


AGUAS  IVIINERAES  DA  ILHA  DE  S.  MIGUEL 

Descripção  pelo  Dr.  G.  Gourlay  em  1791;  trad.  por  Fran- 
cisco Tavares. 

«Puriíue^a  Ilha  de  S.  Miguel  !ie  pertencente  aos  Domínios  de  Portugal, 
e  pella  sua  importância  deve  ser  considerada  como  huma  de  suas  Pro- 
vindas, na  qual  ha  tanta  abundância  e  variedade  de  aguas  mineracs, 
H  algumas  destas  se  podem  conduzir  mui  çommodamente  para  o  Rei 
no,  he  que  me  resolvi  a  dar  aqui  a  noticia  única  regular,  que  delias 
achei,  se  não  absolutamente  capaz  de  saciar  a  curiosidade  dos  aman- 
tes da  Sciencia,  sufliciente  para  indicar  a  natureza  delias  e  o  lugai- 
que  devidamonte  podem  occupar  na  Practica  Medica.  Traduzirei  pois 
com  a  lidelidade,  que  cm  mim  couber,  a  Ralarão  das  aguas  mineraes 
da  Ilha  Portagueza  de  S.  Miguei  pello  Doutor  Guilherme  Gourlay  Me- 
dico na  Madeira,  impressa  na  Década  II,  dos  Conimentarios  Médicos 
de  Edimburgh  tou).  16  pag.  232  sect.  II,  Ari.  I,  anno  de  I79i,  que  diz 
assim: 

aEm  distancia  de  (juasi  dez  legoas  ao  Nordeste  de  Ponta  Delgada 
principal  (jdade  da  Ilha  de  São  Miguel  ha  himia  pequena  aldeia  cha- 
mada as  FMfwoN.  situada  nhum  espaçoso  valle  cercado  de  aWòSjnon-, 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  447 

tanhas.  São  estas  compostas  de  pedra  pomes,  e  cobertas  de  hervas,  e 
de  varias  arvores  e  arbustos  sempre  verdes.  As  suas  siimmidades  são 
formadas  em  muitas  elevações,  que  são  separadas  por  ralles:  e  os  de- 
clivios  são  cortados  por  aberturas  ou  buracos  providos  de  pequenos 
regatos,  que  descendo  formão  lindas  cascatas.  As  correntes  separadas 
cliegão  a  unir-se,  e  formão  hum  rio,  que  serpéa  pello  valle,  cujas  mar- 
gens são  cobertas  da  sombra  de  formosos  choupos. 

«O  terreno  deste  valle  consta  principalmente  de  pomes  pulverisa 
da.  Ainda  que  fraco,  lie  cultivado,  e  produz  trigo,  milho,  legumes,  e  nos 
sitios  liimiidos,  gnhames  e  outras  raizes.  Cavando  hum  pouco  abaixo 
da  superfície  actião-se  n^niitas  cavidaíles,  que  mesmo  passeando  sobre 
a  terra  se  percebem  pello  som.  No  fim  do  valle  para  a  banda  de  Sues- 
te ba  huma  pequena  elevação  a  que  chamão  as  Caldeiras.  Esta  eleva- 
ção que  por  ventura  terá  huma  anilha  quadrada  consta  de  numerosos 
outeirinhos,  e  he  a  hi  evidente  a  acção  do  fogo.  Descobrern-se  varias 
camadas:  pyrites,  lava,  pomes,  mame,  greda  de  differentes  cores,  ochra , 
ferro  em  bruto,  terra  calcarea,  misturada  com  ahume  e  enxofre. 

«Aqui  ha  numerosas  fontes  ferventes,  muitas  quentes,  e  algumas 
origens  frias  mineraes.  As  aguas  quentes  formão  varias  correntes,  e 
delias  consideravelmente  profundas.  Estas  na  sua  passagem  formão 
borbiilhões,  fumegão,  e  lanção  vapores  sulfúreos. 

«Nos  dias  serenos  sobem  grossos  volumes  de  vapor  ondeando  até 
grande  altura.  Olhando  do  Norte,  o  verde  variado  dos  campos  cultiva- 
dos misturado  com  o  das  «rro/í'ò- irregularmente  espalhadas  pellas  cer- 
cas, hum  rio  serpeando  pello  valle,  hum  lago  ao  longe,  e  nuvens  de 
vapor  que  se  elevão  das  fontes  fumegantes,  formão  um  delicioso  pros- 
pectOi  cuja  belleza  ainda  he  mais  exaltada  pello  verde  escuro,  e  livre 
projecção  das  montanhas,  que  lhes  ficão  por  detraz. 

«A  maior  das  fontes  ferventes,  a  Caldeira,  terá  de  25  a  30  ^Cs  de 
diâmetro.  Faltando-me  huma  linha  de  plnmo  capaz,  não  pude  deter- 
minar exactamente  a  sua  profundeza,  indaque  he  considerável.  A  gen- 
te da  terra,  que  nunca  a  sondou  devidamente,  ou  talvez  de  modo  ne- 
nhum, persuade-se  que  não  tem  fundo.  A  agua  tem  calor  de  escaldar, 
e  sempre  está  no  estado  de  fervura.  Lança  continuamente  hum  vapor 
excessivamente  sulfúreo,  e  que  muito  se  assemelha  á  pólvora  queima- 
da. Deposita  hum  sedimento  argilloso,  levemente  azulado.  O  seu  gosto 
he  de  acescencia  pungente.  A'  distancia  de  poucas  jardas  [)or  detraz 
de  hum  cabeço  de  lava  ha  outra  fonte  fervente:  está  n'huma  cavidade 
na  baixa  de  hum  rochedo  prolongado,  e  he  emphaticamente  chamada 
a  Forja.  Raras  vezes  aqui  pode  verse  a  superficie  da  agua,  em  ra- 
zão de  hum  muito  denso  vapor  sulfúreo,  que  a  cobre.  Á  fonte  ferve 
com  grande  violência,  e  hum  estrondoso  assopro  interrompe  o  ruido. 
Misturada  com  o  vapor  e  fumo  lança  fora  grandes  quantidades  de  ar- 
gilla  azul.  glutinosa,  fina,  que  espalha  ao  longe,  e  incrusta  o  penedo  e 
os  mais  corpos  que  lhe  ficão  visinhos.  O  ruido  destas  fontes  asseme- 


4Í8  ARCHIVO  DOS  AÇOHES 

llia-se  ao  luiige  ao  som  de  alabales.  Duas  são  as  maiores;  lia  porem 
muitas  outras  fontes  ferventes,  e  em  differentes  lugares  sahe  vapor  pel- 
las  feudas  dos  rochedos  e  dos  outeiros.  Naquellas  em  que  he  menos 
perceptivel.  chegando  o  ouvido  ás  fendas  distinclamente  se  ouve  o  ruí- 
do da  agua  fervendo.  Ue  outras  a  agua  e^guiclla  por  intervallos,  e 
realmente  escalda  aquelles,  a  quem  acontece  aproximar-se  descuida- 
ilamenle. 

«Em  muitas  partes  o  chão  he  tão  quente,  que  sobre  elle  se  não 
pode  estar  sem  incommodo,  e  mesmo  sem  trabalho,  ou  dor.  Em  toda 
a  parle  está  coberto  de  enxofre  cru:  liuma  peça  de  prata  exposta  ao 
ar  immediatamente  se  faz  côr  doiro.  Posto  que  muitas  destas  fontes 
sejão  ferventes,  algumas  são  de  moderada  temperatura,  e  outras  intei- 
ramente frias.  A  agua  de  algumas  he  crijstaUina,  ^  tran^^parente;  d,  de 
outras  lie  turva  de  côr  alvacenta,  ou  avermelhada,  e  geralmente  depo- 
sita argilla  azul,  ou  encarnada.  Achão-se  perto  das  fontes  crystaes  de 
pedra  ahume,  e  de  enxofre  em  grande  abundância  e  variedade,  dos 
quaes  muitos  são  extremamente  formosos,  e  aonde  o  vapor  sahe  pel- 
las  aberturas,  ou  fendas,  alguns  delles  tem  duas polleyadas  de  compri- 
do. 

«Em  alguns  lugares  o  terreno  he  de  consistência  barrenta,  e  mol- 
le,  em  outros  he  solto,  secco,  e  esboroado.  Cavando  sahe  da  cova  hum 
forte  fumo  sulfúreo  tão  quente,  que  não  se  pode  conservar  a  mão  so- 
bre elle  por  hum  minuto,  e  em  curto  espaço  de  tempo  ou  se  enche  o 
buraco  de  agua  quente,  uu  pellos  lados  se  cobre  de  liuma  côdea  de 
enxofre  sublimado,  e  de  ahume,  semelhante  á  geada  branca.  Algumas 
fontes  quentes  brotão  perlo  das  margens  do  rw  que  corre  pello  valle: 
e  também  no  meio  da  corrente  a  ebullição  he  em  algumas  partes  per- 
ceptivel, e  dahi  sahe,  como  das  fontes  quentes,  fumo  e  vapor.  O  rio  de- 
posita sedimento  ochraceo  sobre  as  pedras,  e  sei.ros  de  seu  leito.  Em 
poucas  parles  he  o  sedimento  de  côr  vtrdoenga,  semelhante  á  da  ca 
parrosa  verde.  As  plantas,  e  arbustos  das  suas  margens  são  incrusta- 
das com  enxofre,  pedra  hume,  e  outras  substancias.  O  gosto  das  aguas 
diversitica:  humas  o  tem  forte  vitrioUco,  outras  do  acido  aéreo,  em  hu- 
inas  he  aluminoso,  ou  de  pedra  hume,  ou  firreo.  em  outras  nada  se 
percebe  de  gosto  diíTerenle,  e  são  perfeilameute  insípidas. 

«He  ordinário  que  a  gente  do  povo.  para  poupar  o  gasto  de  lenha, 
faça  a  sua  cosinha,  pondo  os  utensilios  sobie  as  fontes  quentes,  ou  so- 
bre as  fendais  fumegantes.  O  inslincto  tem  ensinado  o  gado  a  avisinhar- 
se  a  este  sitio  para  limpar-se  dos  insectos,  demorando  se  nos  outeiros 
entre  o  fumo  sulfúreo. 

«Ao  pé  das  origens  quentes  rodeando  \\v\m  outeiro  ú^.  pedra  pomes 
corre  hum  pt'(|iieno  regalo  de  agua  fria.  formailo  de  varias  nascentes 
frias,  que  broião  do  outeiro,  e  immediatamente  se  unem.  Em  pouca 
distancia  da  corrente  deposita  .vcrf/mr/íío  pálido,**  amarellado,  ou  ochra- 
ceo de  côr  subida.  O  Sfu  s<ibor  he  austero,  e  act'scente,  o  seu  cheiro 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  449 

ferruginoso.  Algumas  são  excessivamente  pungentes,  e  penetrantes.  A 
ngiia  crepita  nos  copos  como  o  vinho  de  Champanhe. 

«Para  a  banda  do  Poente  cerca  de  cento  e  cincoenta  passos  de  dis- 
tancia lia  varias  origens  de  agua  qvente  mineral  da  mesma  natni'eza, 
porem  menos  abundantes  do  que  as  acima  mencionadas.  Ali  ha  algu- 
mas cabanas  com  lugares  para  banhos,  aonde  concorre //^w^e  para  usar 
das  aguas.  Na  mesma  direcção,  hiima  milha  quasi  mais  distante,  ha 
mais  algumas  origens  quentes  mas  de  calor  moderado,  que  em  tudo  e 
por  ludo  se  assemelhão  ás  ja  ditas. 

«A  terra  e  plantas  visinhas  estão  cobertas  com  huma  crosta  ama- 
rellada.  As  cabanas  de  banhos,  que  primeiramente  se  tinhão  alli  edifi- 
cado, há  poucos  annos  forão  destruidas  por  grossas  chuvas.  Perto  de 
huma  milha  ainda  mais  para  o  Poente  corre  a  Ribeira  sanguinolenta 
assim  chamada  por  causa  de  mui  carregada  cor  vermelha  de  suas  a- 
quas.  Nas  margens  delia  nascem  fomes  de  hum  sabor  fortemente  aces- 
cente  e  ferruginoso,  assim  como  he  o  cheiro.  As  aguas  depositão  sedi- 
mento ochraceo  alvacento. 

«Alem  d'huma  cordilheira  de  montanhas,  e  quasi  huma  milha  pa- 
ra o  Sul,  á  borda  de  hum  lago  ha  muitos  outros  mananciaes.  Nestes, 
como  nos  que  estão  descriptos,  se  observa  a  mesma  variedade  e  dif- 
ferenças.  Muitos  delles  fervem  violentamente  com  hum  sussurro  seme- 
lhante ao  zumbido  das  abelhas,  e  trazem  com  sigo  huma  argilla  espe.s- 
sa,  glutinosa,  azul,  que  he  lançada  com  borbulhões,  e  vapores  a  hu- 
Nta  considerável  distancia.  Na  superfície  de  algumas  não  poucas  fontes 
apparece  escuma  bituminosa;  e  da  mesma  maneira,  que  nas  outras  fon- 
tes, ha  variedade  de  bell'>s  crystaes  e  grossas  incrustações  de  pedra 
h  '.me,  e  de  enxofre.  Entre  as  origens  quentes  deste  sitio  ha  huma  que 
merece  particular  attenção,  porque  forma  hum  tanque,  ou  lago  de  qua- 
si doze  pés  de  largo,  e  duas  vezes  mais  de  comprido,  o  qual  ferve  C(»m 
grantie  íorça.  e  muito  estrondo.  Mui  perto  e  achegado  a  este  lago  nas- 
cem varias  fontes  frias  em  hum  leito  de  pedra  pomes,  e  ainda  que  per- 
feitamente frias,  estão  como  em  actual  fervura  assim  como  acontece  nas 
quentes.  Tem  ellas  hum  sabor,  e  cheiro  mui  áspero  e  acescente,  e  são 
mui  prenhes  e  saturadas  de  acido  aéreo.  Alem  destas  até  aqui  referi- 
das ha  muitas  outras  fot.tes  mineraes  em  diversas  partes  da  Ilha. 

«Tenho  pezar  de  ter  estado  tam  poucos  dias  nestas  paragens,  e 
desprovido  de  necessários  apparelhos  j)ara  poder  fazer  ^sanalyses,  como 
desejava,  as  quaes  não  podem  ser  completamente  feitas,  se  não  nos 
sitios  das  origens.  A  extrema  volatilidade  de  muitas  das  partes  compo 
nenles,  e  a  quasi  repentina  mudança  de  muitos  pheniíuienos.  conside- 
rando as  distancias,  tornão  os  exames  e  processos  excessivamente  fal- 
lazes  e  inconcludentes.  Todavia  eu  (iz  as  experiências  que  pude,e  (|ue 
justamente  me  servirão  pu'a  mostrar  as  p;nles  predominantes  na 
comp.tsição  (las  dilTereMttis  aguas.  Os  números  referem-se  aos  que  es- 

N.*  i7  -  Tol.  VIII       I88().  10 


450 


ARGHIVO  DOS  ACOHES 


tão  escritos  nas  pedras,  que  ha  pouco  forão  erigidas  próximo  ás  diffe- 
rentes  fontes. 


I. 

Fria 

11. 

Moderada 

III. 

Fervente 

IV. 

Fumante 

I.  Fria. 

III.  Fervente. 

a 

Aérea 

a  Hepatisada 

b 

Aérea  ferruginosa 

b  Hepatisada  aluminosa 

c 

Aérea  hepatisada. 

c  Hepatisada  vitriolica 

II.  Moderada. 

d  Hepatisada  vilriolica  argillosa 

a 

Aérea 

e  Hepatisada  argillacea 

h 

Aérea  ferruginosa 

f  Aérea. 

c 

Aérea  ferruginosa  aluminosa 

IV.  Fumante. 

d 

Vilriolica  selenilica 

a  Hepatisada 

c 

Hepatisada. 

b  Hepatisada  argillacea 
c  Hepatisada  aluminosa. 

Experiência  I. 

N.°  1.  Duas  origem  />ms.—IIuma  delias  he  crystallina  ou  trans- 
parente— sabor  acescente  penetrante,  cheiro  forte  ferruginoso;  sedimen- 
to ou  deposito  ocliraceo;  pella  tintura  de  galhas  tornou-se  roxa,  ou  pur- 
purea:  deu  precipitado  escuro  pella  addição  da  agua  de  cal,  vascoleja- 
da  na  garrafa  crepita,  e  faz-se  perfeitamente  insipida. 

Experiência  II. 

A  outra  origem  deposita  hum  sedimento  tirante  e  azul:  sabor  aces- 
cente e  pungente:  que  se  dissipa  até  á  insipidez  por  meio  da  agitação: 
a  tintura  de  galhas  não  produz  alguma  alteração  sensivel:  a  agua  de 
cal  dá  hum  precipitado  escuro. 


Experiência  IH. 

N.°  2.  Fonte  quente.  —  A  agua  ferve,  e  lança  cheiro  fortemente 
sulfúreo  penetrante  e  ferruginoso:  faz-se  negra  com  a  tintura  de  ga- 
lhas: com  a  agua  de  cal  dá  precipitado  nublado,  que  cahe  no  fundo  do 
raso:  com  pecjuena  porção  da  infusão  de  raiz  de  rabão  dá  liuma  cor 
rubra  brilhante. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  451 


Experiência  IV. 

N.**  4.  Outra  origem  quente  fervente. — A  agua  depõem  sedimento 
azul;  sabor  levemente  pungente  e  austero:  escurece  com  a  agua  de  cal: 
e  faz  effervescencia  com  o  acido  nitroso. 

Experiência  V. 

N."  8.  Nascente  fria. — A  agua  deposita  sedimento  ochraceo;  gosto 
e  cheiro  acescente,  ferrugineo;  faz-se  preta  pella  infusão  das  galhas;  e 
sensivelmente  rubra  pella  infusão  do  rabão. 

Experiência  VI. 

N.°  46.  Fonte  guente  fervente. — Deposita  seditnento  azul;  lança  for- 
te cheiro  de  ovos  chocos — sabor  áspero  acescente:  faz-se  insípida  pel- 
la agitação,  e  dá  precipitado  pella  agua  de  cal. 

Experiência  VII. 

N."  20,  Nascente  de  calor  moderado.  —  Depõem  sedimento  (jchra- 
ceo:  o  sabor  austero  e  áspero  dissipa-se  pella  agitação;  forma  precipi- 
tado nevoado  com  a  agua  de  cai,  e  com  a  tintura  de  galhas  dá  cor  pur- 
púrea escura  e  carregada. 

Experiência  VIII. 

N.°  13.  Origem  quente  fumante.  —  Tem  apparencias  de  leite,  e  lie 
bordada  com  incrustações  de  cw  verde  escura,  e  rubra  carregada:  de- 
posita sedimento  argillaceo  branco;  lança  violento  fumo;  o  sabor  heas 
pêro,  austero;  o  cheiro  hepático  forte;  com  a  infusão  dwi  galhas  faz-se 
levemente  rubra. 

Experiência  IX. 

N.**  30.  Fotife  fria.  —  Deposita  sedimento  ochraceo:  gosto  e  cheiro 
ferruginoso  forte,  íicompanhado  de  acescencia  pungente.  Pella  agitação 
forma  borbulhões,  crepita  e  faz-se  insípida:  dá  precipitação  com  a  agua 
de  caí;  faz-se  rubra  com  a  infusão  do  rabão;  e  purpúrea  com  a  das  ga- 
lhas. 

Experiência  X. 

N.°  31.  Fonte  /'/ví/.     Depõem  sedimento  areioso;  gosto  levemente 


432  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

acescente:  agitada  crepita,  e  se  torna  insípida:  faz  precipitação  com  a 
agua  de  cal,  e  faz-se  vermelha  cum  a  infusão  de  rabão. 

«Não  obstante  haverem  sido  estas  aguas  por  muitos  annos  frequen- 
tadas pellos  habitantes  para  a  cura  de  toda  a  casta  de  moléstias,  bem 
como  para  pas.>atempo  e  por  gosto,  ainda  assim  as  accommodações  pa- 
ra banhos  são  hnmas  poucas  choças  de  calmo.  Nestas  estão  mettidos  no 
chão  a  dois  ou  três  pés  de  profundidade  reservatórios,  ou  arcas  de  a- 
gua  de  madeira,  que  se  enchem  por  bicas  também  de  pão,  e  se  vasão 
por  hum  buraco,  que  tem  no  fundo  com  seu  batoque.  O  calor  tempe- 
ra-se  á  vontade  do  banhista,  ajuntando-se  agua  úi\6  nascentes  fí  ias.  Co- 
mo todas  as  ordens  de  pessoas  iisão  muito  francamente  estes  banhos, 
e  muitos  como  que  estão  de  molho  dentro  delles  varias  vezes  no  dia. 
poder  se-hia  concluir  á  priori,  que  tam  frequente  uso  ós  agua  tépida. 
ou  quente  deveria  produzir  relaxação.  Todavia  não  succede  assim,  pel- 
lo  contrario  estes  banhos  obrão  como  estimulantes  de  tudo  o  systema, 
recreião  os  espiritos,  e  excitão  o  appeiife.  Estas  aguas,  principalmente 
as  dos  mananciaes  frios,  bebidas  são  laxantes  e  diuréticas,  e  promovem 
também  a  e.xcreção  pella  pelie  ou  x  transpiração. 

«(^omo  os  habitantes  ignoravão  totalmente  as  virtudes  das  fontes 
frias,  e  igualmente  o  uso  do  banho  de  vapor,  tive  a  o[)portunidade  de 
lhes  fazer  conhecer  as  propriedades  das  primeiras,  e  também  de  lhes 
demonstrar  o  activo  poder,  e  benéficos  effeitos  do  segundo.  {Aqui  a- 
prmta  o  A.  duas  observações  da  efficacia  do  banho  de  vapor;  huma  n'hum 
violento  rheumatismo,  outra  de  huma  hemiplegia,  curados  ou  muito  ati- 
nados por  tal  applicação. 

«Alem  destes  exemplos  que  são  de  meu  immediato  conhecimento, 
sei  de  vários  outros  casos  bem  authenticados,  que  testificão  a  grande 
efficacia  das  aguas  não  somente  nas  doenças  rheumaticas,  mas  também 
em  muito  inveterados  casos  de  escrophulas,  e  noutras  enfermidades. 
íAccusa  neste  lugar  huma  notável  observação  de  cura  de  escrophidas  pela 
bebido,  e  banhos  das  aguas  quentes,  no  espaço  de  poucos  mezes — huma 
doença  cutânea  na  cabeça,  e  com  chagas  húmidas  em  varias  partes  do 
corpo  curadas  em  poucas  semanas  pello  tíso  interno,  ou  eitei'no  em  ba- 
nho das  mesnuis  aguas  —  huma  cura  de  gota  já  de  alguns  annos  cura- 
da sem  recahida  pelos  banhos  quentes). 

«Em  conclusão  eu  penso  que  ha  sobeja  razão  para  crer,  que  es- 
tas aguas  assim  interior,  como  exteriormente  applicadas  são  verdadei- 
ramente ellicazes  em  diversas  enfermidades.  Parece,  que  o  banho  de 
vapor  he  mais  poderoso,  e  em  geral  pr(^ferivel  ao  banho  da  agua:  as 
partículas  voláteis  são  mais  soltas,  subtis,  e  activas  quando  exhaladas 
é  formando  o  vapor,  do  que  em  quanto  estão  combinadas  e  prezas  na 
ngua.  Os  gi'dos  de  caloi'  também  são  mais  bem  regulados  no  vapor, 
do  que  no  banho  quente. 


ARGHIVO  DOS  AÇORES  453 

«As  oiiy  ns  frias  contem  poderoso  chalyb,'ado,  e  todas  as  virtudes 
próprias  do  ar  fia-o,  e  sendo  bebidas  não  podem  deixar  de  ser  úteis 
tónicos  nos  casos  de  debilidade. 

«Julgo  que  a  manhã  he  o  tempo  mais  próprio  tanto  para  os  ba- 
nhos, como  para  a  bebida.  Deve  esta  ser  immediatamenle  á  origem, 
antes  que  suas  virtudes  se  evaporem:  a  dose  ao  principio  seja  de  oito 
onças,  que  pode  repetir  se  de  tarde,  g  sendo  necessário  augmenlar  se 
gradualmente.» 

Até  aqui  chega  a  Relação  do  Doutor  Gotirlay,  cuido  que  não  me 
enganei  dizendo  ao  principio  que  ella  não  lie  absolutamente  capaz  de 
satisfazer  a  curiosidade  dos  amantes  da  Sciencia.  O'  tempo,  em  que 
ella  foi  escrita,  ainda  não  brilhava  com  as  luzes  da  Chymica  Pneumá- 
tica, que  pello  decurso  do  tempo  tam  avultadamente  se  tem  espalha- 
do. Quem  hoje  tem  sido  illustrado  por  ellas  facilmente  deduzirá  da 
descripção  topográfica,  e  das  escacas  ej-periencias  mencionadas  â  di- 
versidade das  aguas  que  a  Ilha  possue.  Dãs  sulfúreas  todos  concordarão 
na  utilidade  e  etlicacia:  das  gazosas  pouco  ferruginosas,  {que  o  A.  a- 
ponta  na  Taboa  das  fria^  I.  a.)  vi  eu  iguaes  resultados  das  de  Sprí, 
no  Hospital  da  Universidade  de  Coimbra  no  anno  de  1791.  Forão  re- 
mettidas  cautelosamente  engarrafadas,  e  produzirão  muito  bom  effeito. 
He  de  crer,  que  qualquer  das  outras,  sendo  igualmente  bem  acondi- 
cionadas para  se  transportarem,  produzirão  effeitos  proporcionaes  aos 
princípios,  que  as  mineralisão. 

(Francisco  Tavares,  Instrucçôes  e  cautelas  praticas  sobre  a  natu- 
resa  .  .  .  .  e  uso  das  aguas  mineraes ....  Coimbra,  Imp.  da  Univer- 
sidade, 1810;  Parte  I,  pag.  178  a  192). 


DAS  FESTAS  QUE  FEZ 

o  COLLECIO  DA  CIDADE 

TERCEIRA* 

Poslo  (jiie  as  festas,  que  nesta  Ilha  se  fizerão  pedião,  e  merecião 
mais  larga  narraçam,  assim  pela  perfeição,  e  concerto  delias,  como 
lambem  pela  pontualidade,  piedade,  e  devaçam,  com  que  os  nobres 
Cidadãos  de  Angra  se  esmerarão  em  honrar,  e  festejar  aos  Sanctos : 
com  tud(j  (porque  até  agora  não  chegou  de  lá  a  relaçam,  que  desse 
mais  claro  conhecimento  das  cousas,  para  se  comporem  na  forma  que 
tMM  bemj  foy  necessário  para  que  de  todo  não  ficasse  tudo  em  esque- 
cimento, valer  da  noticia  que  deu  hum  nosso  que  ao  fazer  das  festas 
se  achou  na  Ilha.  Mas  para  que  não  haja  algum  engano  em  o  descre- 
ver das  figuras  por  não  ser  possivel  lembrarem  todas  as  particulari- 
dades de  cada  hnma.  em  especial  do  concerto,  trajo,  e  riqueza,  de  que 
hião  ornadas:  como  por  não  se  repetir  qiiasi  o  mesmo,  por  serem  nes- 
te particular  muito  semelhantes  a  muitas,  que  já  atras  nesta  historia 
se  descreverão,  só  se  dirão,  e  apontarão  summariamente  as  cousas 
mais  principaes,  que  para  festejar  aos  Sanctos  se  fizerão. 

CAPITULO  I 
De  como  se  festejou  a  nova  da  canoni sacam. 

Chegou  esta  nova  â  Ilha  no  principio  de  Julho,  posto  que  já  dan- 
tes a  fama  tinha  espalhaflo  algum  rumor  do  (jue  passava  por  via  de 
.ilgumas  ('inbarca(;ões  que  de  outras  partes  ahi  tinlião  chegado,  e  da- 
do novas  das  festas,  que  já  em  outras  (cidades  aos  Sanctos  novamen- 
te canonizados,  se  preparavão:  o  que  em  parte  não  ajudou  pouco  pa- 
ra o  Collegio  se  yr  apercebendo,  e  aparelhando  para  quando  tivesse  a 


(•)  Relaaim  geral  dos  fntas  que  fez  a  Heligiâa  da  Companhin  de  Jesus  nu  Pro- 
rinvia  de  Portngal,  na  canonizarão  dos  gloriosos  Sondo  Ignocio  de  Loyola  seu  fun- 
dador, e  S.  Franrisro  Xoviír  Afiosfolo  da  Índia  Oriental.  Lisboa.  1622:  pag.  2i2  a 
HA  V.". 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  45o 

certeza  desta  alegre  nova,  que  em  chegando  recebeu  com  varias  de- 
monstrações de  alegria,  repique  de  sinos,  luminárias,  foguetes,  rodas, 
e  outras  invenções  de  fogo,  dando  também  ordem,  com  que  se  pozes 
sem  a  cavalo  alguns  dos  estudantes  mais  principaes,que  rica,e  curiosa- 
mente vestidos  sahirão  do  Collegio  em  companhia  da  Fama,  e  como  cor 
reyos  delia  correrão  as  ruas  da  Cidade,  alvoroçando-a  com  ^ua  vista,  e 
causando  nova  alegria  em  os  corações  de  todos  com  as  alegres  novas, 
que  levavão:  seguindo-os  com  semelhante  applauso,  e  alvoroço,  huma 
grande  multidão  de  gente,  até  himia  rua,  que  fica  fronteira  ao  Colle- 
gio, á  vista  do  qual,  e  da  praça  da  Cidade,  se  levantou  com  grande 
festa  hum  mastro,  e  nelle  se  ílxou  o  cartel  escrito  em  huma  curios;i 
tarja,  em  que  se  aponlavão  as  festas,  e  o  tempo,  em  que  se  havião  de 
fazer,  convidando  juntamente  com  seus  prémios  aos  Poetas,  que  com 
poesias  Latinas,  Portuguezas,  ou  Castelhanas,  melhor  louvassem  aos 
Sanctos,  ou  com  mais  erudiçam  descrevessem  alguns  dos  pass(js  prin- 
cipaes  de  sua  vida.  Assi  mesmo  se  prometião  prémios  a  quem  sahis- 
se  com  a  melhor  dança,  chacota,  e  invenção,  ou  com  mais  curiosida- 
de, e  riqueza  armasse,  e  ornasse  a  siia  porta,  nas  ruas  por  onde  ha 
via  de  passar  a  procissão. 

Depois  da  terra  estar  já  alvoroçada,  quiz  também  o  mar  em  a 
mesma  tarde  dar  novas  mostras  de  alegria,  sahindo  delle  de  duas  par- 
tes diíTerentes  dous  barcos  bem  concertados,  e  enramados,  nos  quaes 
vinha  bom  nimiero  de  marinheiros,  que  enconlrando-se  no  meyo  do 
[)orto,  que  he  t)em  largo,  e  espaçoso,  fizerão  por  vezes  suas  salva^  de 
mosquetaria,  salvando  a  fortaleza,  e  Cidade,  e  chegando  ao  cays,  em 
o  qual,  e  nas  mais  partes  sobranceiras  os  estava  esperando  huma  tani 
copiosa  multidão  de  gente,  que  bem  excedia  em  numero  á  que  se  cos- 
timia  ajuntar,  quando  as  nãos  (jue  vem  da  Índia  passão  por  jimto  des- 
ta Ilha,  ou  dentro  em  seu  porto  vão  anchorar.  Kingirão  pois  os  mari- 
nheiros serem  Indiaticos,  a  cuja  guiza  vinhão  lustrosamente  trajados, 
e  sabendo  como  o  Apostolo  do  Oriente  S.  Francisco  Xavier  era  junta- 
mente canonizado  em  companhia  do  Patriarcha  Sancto  Ignacio,  lhe  qui 
zerão  de  caminho  fazer  sua  festa,  e  dar  mostras  da  nova  alegria  que 
com  taes  novas  receberão:  por  esta  razão  saltando  em  terra,  logo  em 
o  mesmo  cays,  ao  som,  e  pancada  da  viola  fizerão  huma  dança,  e  pala 
teado,  com  os  próprios  remos,  que  coujsigo  trazião  pintados,  e  acon» 
mudados  para  este  intento;  e  desta  maneira  forão  proseguindo.  e  cor- 
rendo as  ruas  da  Cidade,  até  se  fechar  a  noite  deste  primeiro  dia. 

Ao  Domingo  seguinte,  parecendo  pouco  ao  Collegio  esta  primeira 
demonstração,  que  deu  de  alegria,  pela  pressa,  com  que  se  fez,  orde- 
nou de  novo  huma  bem  numerosa,  e  lustrosa  companhia  de  cavaleiros, 
dos  principaes  estudantes,  que  em  seus  estudos  cursão,  todos  vestidos 
C(mi  tanto  concerto,  e  riqueza,  quanto  era  o  desejo,  e  emulaçani,  que 
cada  hum  tinha  de  não  ficar-  inferior  ao  outro  nesta  parte;  ajunlando- 
se  da  outra  a  curiosidade,  e  vontade,  com  que  os  prcijtrios  pays,  e  mais 


456  AHCHIVO  DOS  AÇORES 

gfííves  Cidadã().«,  por  servirem,  e  festejarem  aos  Saiictos,  em  ludo  o  que 
toeâva  ao  serviço  delles,  se  quizerão  dar  por  achados:  pelo  que  havia 
muito  que  dizer  de  cada  huma  destas  figuras,  se  em  particular  se  hou- 
vesse de  descrever,  e  apontar  a  riqueza  que  levavão.  Foy  a  represen- 
tação deste  passo,  hum  da  vida,  e  conversam  de  Santo  Ignacio,  cuja 
tignra  fazia  hum  estudante  dos  mais  graves,  e  principaes  da  Ilha,  a 
(juem  a  gravidade,  modéstia,  e  compostura,  com  que  au  Sancto  repre- 
sentava, não  fazia  desmerecer  o  titulo  de  bom,  e  bera  posto  cavaleiro; 
hia  elle  na  retaguarda  acompanhado  de  huma  parle  da  Keligião,  e  da 
outra  da  Milícia,  cada  qual  também  a  cavalo,  rica,  e  propriamente  tra- 
jada: seguia-se  o  Anjo  Custodio  do  Sancto,  e  logo  adiante  os  mais  ca- 
valeiros, com  tanta  ordem,  e  concerto,  que  de  todos  foy  louvado;  ao 
que  não  ajudou  pouco  a  muita  destreza,  e  bizarria  do  Sargento,  que 
se  houve  no  oíficio  com  tal  arte,  como  se  por  muitos  annos  nelle  fora 
exercitado.  Hião  diante  dous  tambores,  que  com  o  som  de  guerra  fa- 
zião  parecer  este  acto  mais  b*  llicoso,  e  militar:  desta  sorte  forão  pas- 
seando, e  dando  vista  de  sy  pelas  ruas  da  Cidade,  fazendo  alguns  del- 
les em  certas  paragens  suas  escaramuças,  e  passando  carreiras,  até 
chegarem  outra  vez  á  Igreja  do  Collegio,  á  porta  do  qual  se  apearão 
lodos,  e  entrando  nella  com  a  tnesma  ordem,  forão  até  junto  ao  altar 
mór,  que  para  este  acto  estava  muy  bem  ornado:  e  ajoelhados  aqui, 
e  postos  em  oração  ao  som  de  muy  escolhidas  vozes,  músicos  instru- 
mentos, e  letras  ao  intento  accommodadas,  dependurou  S.  Ignacio  sua 
espada  do  altar  de  nossa  Senhora  (como  no  principio  de  sua  conver-, 
sam  se  conta,  fez  diante  da  Senhora  do  Monserrate)  e  despedindo-se 
da  Milicia,  o  entregou  seu  Anjo  Custodio  ã  Religião,  a  cujos  pés  incii- 
nado^o  Sancto  ella  o  levantou  e  tomou  delle  posse  com  mostras  de  be- 
nevolência, e  amor:  passo  que  a  lodos  os  circunstantes  igualmente  con- 
tentou, e  sérvio  de  particular  consolação. 

Varias  outras  festas,  assi  de  cavalo,  como  de  chacotas,  danças,  e 
folias,  .se  hião  preparando  nos  outros  quinze  dias,  (jue  restava  o  antes 
do  de  Sancto  Ignacio,  a  n)ór  parte,  das  quaes  os  estudantes  linhão  taai- 
bem  tomado  á  sua  conta,  querendo-se  em  ludo  moslrar  os  primeiros, 
e  mais  pontuaes,  assi  pelo  gosto  que  nisso  levavão,  como  pelo  que  da- 
vão  aos  pays,  e  mais  parentes:  sahindo  já  tiumas  vezes  como  pastores, 
lazião  com  os  cajados  aprasiveis  mudanças,  já  acomelendu-secom  as  fun- 
das, esle  áquelln,  e  lodos  juntos  entre  sy  fmgião  hum  curioso  jogo  de 
pedradas,  e  dadas  por  fim  as  mão.s,  e  cabos  das  fundas  fazião  varias 
peças,  e  trocados,  pondo  com  elles  fim  á  sua  porfiada  contenda. 

Não  era  menos  para  ver  outra  dariva,  em  que  sahião  dezaseis  fi- 
guras, cada  <jual  com  .sen  gracioso,  e  verde  ramo  em  a  mão  carrega- 
do de  fruilas,  a  cujas  arvores  se  podessem  com  propriedade  accommo- 
dar  algumas  das  virtudes  dos  Sanclos,  com  letras  particulares,  que 
mais  declarassem  a  lençam;  e  onlenando  desta  maneira  entre  sy  va- 
rias peças,  e  mudanças  punha  cada  hum  seu  rafuo  á  pancada  da  vio- 


ARCHIVO  DOS  AÇOHES  457 

la,  em  hum  bem  ornado,  e  enramado  tronco  feito  para  este  intento,  fi- 
cando por  fim  de  tudo  liuma  fresca,  e  copada  arvore,  a  cuja  sombra 
assentados  os  pastores  s^bre  os  surrões,  com  discante  de  viola,  cytba- 
ra,  e  rabeqiiiiilia,  cantavão  aprasiveis,  e  accommodadas  leiras:  sahin- 
do  nos  tiutremeyos  á  porfia  a  dançar  dous  e  dons  ao  redor  da  arvore; 
;ité  que  alevantandose  todos,  tornavão  com  a  mesma  ordem  a  desandar, 
e  desarmar  a  tnesma  arvore,  ficando  cada  hum  outra  ves  com  seu 
próprio  ramo  em  a  mão. 

A  estas  se  ajunta  vão  outras  varias  que  se  hião  traçando,  e  ensayan- 
do;  não  faltando  lambem  algumas  contrafeytas  ã  villanesca  bem  engra- 
çadas, que  a  todos  servião  de  festa,  e  alegria;  porém  a  tudo,  alem  de 
particulares  razões,  pareceo  ser  necessário  yr  á  mão.assi  para  que  não 
se  impedissem,  e  fizessem  parar  os  estudos  ante  tempo,  como  para 
que  este  ficasse  mais  livre,  e  desocupado  para  se  buscarem  os  vesti- 
dos, e  mais  ornato  necessário  para  a  procissão,  e  festas  principaes, 
que  dalii  a  pouco  tempo,  no  ultimo  de  Julho,  dia  próprio  de  Santo 
Ignacio  se  havião  de  principiar,  e  continuar  por  todo  o  oitavaíro. 

Convertido  pois  este  gosto,  e  desejíj,  que  cada  hum  tinha  de  fes- 
tas particulares,  em  novo  fervor  de  se  preparar  para  as  principaes, 
não  ficou  casa  dentro,  e  fora  da  Cidade,  que  tendo  possibilidade  para 
isso,  não  concorresse  com  mnv  prompta,  e  liberai  vontade  com  todo  o 
género  de  ornato  para  as  figuios,  que  como  erão  incitadas  igualmente 
da  devaçam,  e  emulação,  não  cessavão  até  não  achar,  e  descobrir  o 
que  dezejavão:  não  faltando  também  o  Collegio  neste  zelo,  e  cuidado 
de  lhes  buscar  todo  o  necessário,  assi  de  vestidos,  como  de  outras  pes- 
sas  de  ouro,  e  pedraria,  o  que  se  ajuntou  tanto  em  numero,  que  por 
mais  que  neste  crecessem  as  figuras,  a  todas  largamente  poderia  a- 
branger. 

Estando  as  cousas  preparadas  desta  sorte,  e  indo-se  já  fazendo 
mais  visinho  o  dia  do  Sancto,  se  ordenou  huma  chacota  aprasivel,  em 
que  enlravão  as  melhores  vozes  di)S  moços  do  Coro,  cantando,  e  to- 
cando cada  hum  seu  instrumento  musico,  e  entre  elles  o  que  levava  o 
tambor,  o  fazia  com  tanta  arte,  e  destreza,  que  a  todos  deu  bem  que 
ver,  e  louvar;  e  para  satisfazer  á  vontade  de  muitos,  que  mais  de  es- 
paço os  desejavão  ouvir,  e  ver  em  suas  portas,  e  ruas,  não  foy  possí- 
vel recolherem-se,  senão  já  alta  noite  ao  Collegio,  donde  com  luz  de 
dia  tinhão  sabido,  para  com  mais  festa  acompanhar  o  mastro  que  de 
novo  se  tornou  a  concertar,  e  enlaçar  de  frescos  ramos,  lematando-se 
com  huma  boa,  e  nova  bandeira,  em  a  qual  estava  curiosamente  pin- 
tada a  imagem  de  Sancto  Ignacio  de  boa  estatura,  para  que,  ainda  de 
longe  pudesse  de  todos  ser  bem  vista,  henovou  se  também  o  cartel, 
especificando  os  prémios  que  se  promelião,  e  nomeando  as  ruas  por 
onde  havia  de  passar  o  triumpho.  e  procissão,  as  quaes  logo  se  forão 
concertaíido  á  coujpetencia. 

N. '  i7  —  Vol.  VIII    -  1886.  1 1 


258  ARGHIVO  DOS  AÇORES 


CAPITULO   II 

Das  festas  que  se  fizerão  nos  cinco  primeiros  dias  do  oi- 

tavario. 

Chegados  os  30  de  Julho,  vespora  de  Santo  Igiiacio,  leiído-se  ai- 
mada  toda  a  Igreja  do  Collegio,  rica  e  curiosamente,  houve  nella  ves- 
poras  solenines  da  melhor  musica  da  Capella  da  Sé,  que  assi  neste, 
como  em  os  mais  dias  do  oitavairo,  em  que  houve  sempre  Missa  can- 
tada, e  prégaçam,  se  esmerou  com  muy  particular  curiosidade.  Sahio 
lambem  nesta  tarde  do  Collegio  huma  grave,  e  vistosa  dança  de  deza- 
seis  moços,  todos  quasi  iguaes  na  grandeza,  e  niuy  parecidos  no  tra- 
ge.  que  era  de  ricas  marlotas  de  seda  de  varias  cores,  com  suas  trum- 
fas  na  cabeça,  ornadas  de  muita  riqueza,  e  feitas  com  tanta  arte,  e 
concerto,  quanta  era  a  curiosidade  de  cada  hum  dos  que  nella  entra- 
vão,  e  o  desejo,  que  tinlia  de  se  esmerar  em  serviço  dos  Sanctos,  quem 
isto  tomou  á  sua  conta:  dançarão  a  Mourisca,  correndo  as  principaes 
ruas  da  Cidade;  e  respondendo  em  tudo  o  bom  successo  delia,  a  mui- 
ta de^treza  no  dançar:  e  assi  foy  louvada,  como  aquella  que  com  qual- 
quer outra,  que  noutras  parles  se  fizesse,  podia  apparecer,  e  compe- 
tir. 

Cerrada  a  noyte  deste  dia,  a  elle  cm  parte  competidora,  pela  se- 
renidade do  tempo,  e  claridade  do  muito  fogo,  appareceo  logo  o  Col- 
legio cercado  de  todas  as  partes  de  muitas,  e  varias  luminárias  de  di- 
versas cores,  que  enirefachadas  humas  com  as  outras,  fazião  huma 
bem  alegre,  e  aprasivel  vista,  respondendo  lhe  das  janelas  da  Cidade 
outras  varias  luzes  de  tochas,  e  velas  de  cera  em  que  (altMU  de  mui- 
tos fidalgos,  e  Cidadãos  principaes;  procurarão  de  se  aventejar,  e  mos- 
trar sua  devação  para  com  os  Sanctos,  e  a  Companhia,  os  Religiosos 
de  nossa  Senhora  da  Graça,  e  do  Seraphico  Padre  S.  Francisco:  cu- 
jos Conventos,  assi  nesta  noite,  como  em  algumas  outras  do  oitavairo 
ardião  com  luminárias:  imitandoos  nisto  outros  de  Religiosas,  entre 
as  quaes  não  ficarão  neste  particular  inferiores  as  de  S.  Gonçalo,  que 
alem  das  luminárias,  inventarão  outras  invenções  de  fogo,  que  corres- 
pondião  ás  rodas,  e  foguetes,  que  logo  em  grande  copia  se  começarão 
em  o  Collegio  a  despedir  pelos  ares,  lançando  também  em  terra  mui- 
tos buscapés  bem  festejados  dos  moços,  e  mais  gente  popular,  que  a 
elles  em  grani  numero  acodia,  multiplicando  as  vozes,  e  vivas,  (jue 
todos  d  a  vão  aos  Sanctos. 

Gastado  bom  espaço  de  tempo,  em  lançar  foguetes,  rodas,  e 
montantes,  se  deu  fogo  a  huma  machina  de  Atlante  em  figura  agigan- 
tada, e  levantada  sobre  hum  bem  alto,  mastro,  que  não  deu  pouco 
trabalho  para  o  poderem  levantar  em  alio  temeudo-se  que  C(im  o  pezo 
do  gigante  podesse  render,  ecjuebrar:  porem  tudo  teve  bom  successo: 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  459 

O  pondo  se-ilie  fogo  em  hum  pé,  furão  .iriiendo  algumas  bomhas,  qiie  ar- 
i-ebfrilando  derão  fogo  a  vários  fogueies,  (;|ue  de  todo  o  corpo  couie- 
çou  ;t  despedir,  volvendo  em  as  mãos  algumas  rodas  coiu  tanta  fúria, 
e  estríjudo,  que  não  pode  por  muito  tempo  ficar  iiiteiío  o  uumdo.  que 
a  seus  liombros  sustentava,  desfazendo  se  todo  em  foguetes  voadores, 
('  buscapés,  que  nem  aos  de  Atlante  perdoarão,  porque  batendo  nel- 
les,  já  dep(jis  de  tudo  acabado,  íbrão  lavrando  por  todas  as  partes,  e 
levantarão  hiuna  grande  fogueira,  e  incêndio,  que  no  ar  teve  sua  gra- 
ça . 

Após  isto  se  deu  fogo  a  huma  arvore  de  boa  grandeza  a  qual  não 
leve  menor  successo,  que  o  do  gigante,  porque  alem  da  (»rdem  cmii 
(pie  ardeo,  foy  tal  o  estrondo,  e  repostas  das  bombas,  rodas,  foguetes, 
i',  mais  invenções  de  fogo,  (|ue  muitos  que  ao  longe  estavão,  se  per- 
suadirão serem  tiros  de  peças,  ou  grossa  mosquetaria.  A  tudo,  por  to- 
do este  tempo  da  uoyte,  respondia  sempre  o  alegre  re|)ique  dos  sinos, 
assi  do  (]ollegio,  como  da  Sé,  os  quaes  amiudadamente  como  á  com- 
petência, liuus  aos  outros  se  combatião. 

Amaiilieceo  por  fim  o  alegre  dia  do  Sancto,  que  se  festejou  pela 
manliãa  com  prégaçam,  e  Missa  cantada  com  toda  a  solemnidade,  cau- 
sando em  todos  nova  consolação,  e  alegria,  assi  a  bondade  da  musica, 
como  a  lembrança,  que  os  Sanctos  parece  tiverão  de  acrecenlar  novo 
gosto  aos  que  com  tanto  feslejavão  sua  memoria  por  que  socedeo  por 
via  de  huma  embarcação,  que  no  porto  da  Cidade  lançou  ferro,  che- 
gar neste  dia  pouco  mais  de  meya  hora  antes  de  se  começar  a  Missa, 
huma  carta,  na  (jual  aipiella  se  apontava,  e  vinhãojuntameute  escritas 
as  próprias  orações,  que  em  Roma  na  canonização  dos  mesmos  San- 
ctos se  disserão:  e  forão  também  as  que  logo  neste  primeiro  dia  se 
cantarão  na  Igreja  do  Collegio.  Pregou  o  Doutor  Lopo  Gil  Fagundes, 
Dayam  da  Sé,  muy  douta,  e  gravemente,  engrandecendo  com  pezo  de 
sentenças,  e  muita  erudiçam  aos  Sanctos,  a  quem  mostrou  particular 
devação,  e  aífeição,  que  tem  á  Companhia. 

Não  foy  possivel  fazer-se  á  tarde  a  procissão,  que  se  deixou  para 
a  segunda  feira,  para  que  o  Domingo  ficasse  mais  desocupado,  e  se 
podesse  com  mais  facilidade  acodir  ás  cousas  da  Igreja,  e  os  hospedes, 
fossem  melhor  agasalhados:  houve  porém  festas  de  cavalo,  que  alguns 
Cidadãos  principaes  tomarão  á  sua  conta,  sahindo  lustrosaujente  tra- 
jados, e  dando  vista  de  sy  pela  Cidade  chegarão  já  sobre  a  tarde  ao 
terreiro  da  praça,  aonde  o  (Capitão  mór,  por  honrar  aos  Sanctos,  e  á 
(>ompanhia,  quis  ser  o  primeiro,  que  sahindo  a  campo,  começou  a  cam- 
l)ear,  e  abrir  caminho  aos  mais,  que  logo  o  seguirão  ordenando  entre 
sy  muy  bem  travadas  escaramuças,  e  passando  carreiras  com  tanto 
primor,  e  arte,  quanto  he  o  exercício,  «pie  tem  de  bons,e  muy  destros 
cavaleiros;  e  como  taes  mostrarão  ficar  magoados  da  preparação  do 
tempo  antecedente,  e  brevidade  <lo  presente  não  ser  Iam  larga,  quan- 
to o  era  a  vontade  de  em  louvor  dos  Sanctos  ler  ocasião  para  dar  mayo- 


460  ARGHIVO  DOS  AÇORES 

res  demonstrações  de  festa,  e  sahir  com  outras  cousas  grandiosas,  qne 
não  pcuco  excedessem  ás  que  no  cartel  esta  vão  apontadas. 

A  segunda  feira,  depois  de  pela  manhãa  ter  precedido  á  Prega- 
çam,  6  Missa  cantada,  se  começou  a  hir  pondo  em  ordem  o  triumpho, 
que  se  dividia  em  três  alas  principaes,  a  primeira  pertencia  á  Fé,  que 
hia  triumphante  em  hum  bem  lustroso,  e  aparatoso  carro,  dedicado  a 
S.  Francisco  Xavier  por  elle  ter  com  tanto  zelo,  e  espirito  levado,  e 
pregado  nas  partes  Orientaes  a  mesma  Fé.  A  segunda  ala  tocava  à 
Charidade,  que  triumphava  em  outro  carro  não  menos  artificioso,  e 
magesloso,  o  qual  se  dedicou  a  S.  Ignacio,  por  nelle  florecer  tanto  es- 
ta virtude,  e  entre  as  mais  a  deixar  tam  encommendada  a  Companhia. 
A  terceira  pertencia  á  Procissão,  que  o  Reverendo  Cabido  fez,  queren- 
do neste  dia  da  principal  festa  dos  gloriosos  Sanctos,  festejalos  tam- 
bém, e  acompanhar  a  suas  imagpus. 

Sahindo  pois  o  primeiro  carro  da  Fé,  hia  logo  por  principio  de 
tudo  em  hum  fermoso  ginete  o  Anjo  Custodio  da  Companhia  ricamen- 
te trajado:  nas  mãos  levava  um  pendam  de  damasco  branco,  e  nelle 
de  huma  banda  hum  Jesus,  e  da  outra  huma  imagem  do  Sancto  Pa- 
dre Francisco,  No  segundo  lugar  hia  acompanhado  do  Dom  da  Prophe- 
cia  a  Pregação  Evangélica,  á  qual  seguia  o  Oriente,  e  logo  após  elle 
seus  principaes  Hpynos,  e  Cidades,  em  que  o  Sancto  mais  a  exercitou, 
a  saber,  Goa,  Costa  da  pescaria,  i^ochim,  Malaca,  Ternáte,  Moro,  ás 
quaes  acompanhava  Japam,  Miaco,  Bungo;  a  que  também  seguia  Chi- 
na, Cantam,  e  Sancham  aonde  o  Sancto  Padre  morreo.  Todas  estas  fi- 
guras hião  em  cavalos  riquissimamente  ajaezados,  e  ellas  em  sy  tam- 
bém muy  rica,  e  lustrosamente  trajadas  todas  ao  natural,  e  com  suas 
insígnias  nas  mãos.  Puxavão  pelo  carro  o  Zelo,  e  Exemplo:  na  proa 
delle  hia  assentada  por  guia,  e  cocheira  a  Obediência,  e  mais  acima 
em  hum  trono  alto,  e  bem  ornado,  que  ficava  sobre  a  popa,  hia  trium- 
phando  a  Fé,  acompanhada  das  quatro  Virtudes,  Prudência,  Justiça, 
Fortaleza,  e  Temperança,  as  quaes  em  seus  instrumentos  músicos,  que 
todas  levavão  hião  continuamente  descantando,  e  canlando-lhe  a  gala 
do  triumpho,  com  letras  que  de  novo  se  fizerão,  bem  suaves,  e  aco- 
modadas para  a  festa.  Atraz  do  carro  hião  por  prisioneiros  o  Judaís- 
mo, Seita  Mahometana,  Heresia,  e  Idolatria,  erros,  que  o  Sancto  des- 
truyo  com  a  verdade  da  Sancta  Fé,  que  publicou  no  Oriente. 

Seguião-se  logo  hum  pouco  atrás  as  figuras  do  segundo  carro  da 
('haridade,  por  Alfers  da  qual  hia  no  primeiro  lugar  hum  Anjo,  e  lo- 
go de  huma  parte  o  Amor  divino,  e  da  outra  o  Amor  do  próximo,  cu- 
jas figuras,  alem  de  dizer  bem  com  ellas  o  serem  irmãos,  hião  assi 
na  boa  postura,  que  fazião  a  cavalo,  como  no  trajo,  e  riqueza,  que  as 
ornava  quanto  se  podia  desejar  de  boas:  por  insígnia  levavão  em  as 
mãos  seu  arco.  e  frecha,  a  aljava  cheia  de  setlas  lançada  a^  tiracolo. 
Segíiia-os  Portugal,  Gastella.  Itália,  e  França,  por  serem  os  primeiros, 
e  principaes  Reynos,  em  que  Sancto  Ignacio  fundou  a  Companhia:  hião 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  461 

t 

todos  com  muita  prupriedade,  alem  da  muita  riqueza,  qiie  cuuio  a 
Reyiios  se  devia:  levavão  embraçado  seu  escudo,  e  nelle  pintadas  ass 
armas  próprias  de  cada  hum,  com  seus  cetrus,  e  mais  insígnias  reaes. 
A  estes  fazião  companhia  a  Misericórdia,  e  a  S.  Doutrina,  a  quem  tam- 
bém acompanhava  a  cavalo  huu]  pagem  com  huma  fermosa,  e  rica  sal- 
va em  as  mãos,  e  nella  os  prémios  costumados.  Logo  se  seguião  al- 
gumas das  Sciencias  que  o  Santo  fez  ensinar  em  nossos  estudos,  con- 
vém a  saber,  a  Theologia,  Philosophia,  Mathematica,  Humanidade,  Poe- 
sia: cada  qual  com  as  insígnias,  com  que  se  coslumão  pintar,  e  se  Io- 
das por  seu  muito  concerto  merecião  particular  descripçam,  não  me- 
nos se  devia  taíubem  ao  Dom  de  milagre,  que  atras  se  seguia,  levan- 
do sojeitos,  e  rendidos  a  sy  os  quatro  Elementos,  cada  qual  trajado 
á  competência:  pelo  que  alem  da  propriedade,  e  lustre  dos  vestidos, 
davão  muito  que  ver  na  riqueza,  e  arteficio  das  caraminholas.  Em  a 
do  Fogo  entre  a  variedade  de  pessas  de  ouro,  e  pedras  preciosas, 
hião  entrefachados  com  muita  arte  vários  rayos.  e  chamas  artificiaes, 
e  fingidas,  que  lhe  davão  muita  graça.  Na  do  Ar,  que  toda  se  hia  re- 
matando em  pequenas  gayolas,  se  via  de  todas  as  partes  grande  mul- 
tidão de  passarinhos:  a  do  Mar  era  em  figura  de  peixe,  não  faltando 
alguns  vivos,  que  em  vidro  cristalino  cheyo  de  agoa  se  deixavão  mui- 
to bem  ver.  A  da  Terra  era  toda  murada  com  castellos,  e  ameyas,  a 
que  orna  vão  juntamente  com  o  ouro,  e  pedraria  varias  flores,  e  frui- 
tos  que  a  terra  costuma  produzir:  boa  copia  dos  quaes  sahia  também 
da  boca  de  huma  cornucopia,  que  pendente  do  hombro  lhe  decia  até 
baixo  do  braço.  Fez  esta  figura  hum  minino  bem  nobre,  que  represen- 
taria de  idade  oito  annos,  tam  bv)m,  e  destro  cavaleiro  como  o  succes- 
so  mostrou,  porque  indo  em  hum  feroz,  e  brioso  ginete,  fazia  delle 
quanto  queria  com  tanta  segurança,  e  arte,  que  a  todos  deu  bem  lar- 
ga matéria  para  seus  louvores. 

Puxava  por  este  carro  a  Piedade,  e  temor  de  Deos:  a  Humildade 
era  a  cocheira.  Hia  em  o  trono  a  Gharidade,  figura  em  tudo  grave,  e 
lustrosa:  á  qual  acompanhavão  de  huma  parte  a  Penitencia,  e  da  ou- 
tra a  Castidade:  a  esta  respondia  detraz  do  carro  por  prisioneira  a 
Carne,  a  quem  atavão  as  mãos  Imi.ias  fitas,  que  da  popa  delle  pendião 
até  baixo,  e  da  mesma  sorte  levav;*,  a  Charidade  preso  ao  Mundo,  e  a 
Penitencia  ao  Diabo.  Hia  mais  em  a  praça  do  carro  hum  coro  de  mu- 
sica muy  escolhida,  e  gabada,  á  qual  os  músicos  na  arte  bem  destros, 
acompanhavão  de  continuo  em  as  pauzas,  que  fazião,  com  muy  suave 
descante  de  arpa,  e  outros  vários  instrumentos,  que  todos  destramen- 
te tocavãít. 

A  este  triímipho  dividia  huma  dança  das  Ilhas  a  esta  mais  visi- 
uhas:  a  saber  a  de  S.  Miguel,  Sancta  Maria,  S.  Jorge,  Pico,  Fayal,  Gra 
ciosa,  Flores,  Corvo:  e  por  guia  delias  a  Terceira.  Tomarão  algiuuas 
pessoas  graves,  e  devotas  á  sua  conta  estas  Ilhas,  e  sahirão  em  tudo 
tam  perfeitas,  e  tam  ornadas  de  varias  pessas,  e  pedras  preciosas,  que 


462  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

pi  ir  uão  lhes  caliirein  aJgumas,  se  leve  por  mais  seguro  nâo  dançarem, 
mas  que  apeadas  fossem  fazendo  reverencia,  e  acompanhando  as  duas^ 
imagens  dos  Sanctos,  que  em  andores  muy  fermosos,  e  dourados  leva- 
vão  a  seus  hombros  alguns  Sacerdotes;  e  s^^guia,  como  fica  dito,  o  Re- 
verendo Cabido,  e  mais  Cleresia  em  ordem  de  procissão. 

Sahio  este  acompanhamento  do  Collegio  entre  as  duas  e  três  da 
tarde,  dando  vista  de  sy  por  algumas  das  ruas  principaes,  que  todas 
estavão  muy  bem  ornadas,  e  armadas  muitas  das  portas,  com  muita 
iraga,  e  curiosidade:  e  até  nisto  o  Corregedor  de  sua  Magestade  Pêro 
Vas  Freyre,  que  em  tudo  favoreceo,  e  ajudou  a  festejar  aos  Sanctos, 
quiz  lambem  aventejar-se,  fazendo  com  que  na  froutaria  de  suas  ca- 
sas se  levantasse  hum  muy  rico,  e  artificioso  altar,  que  do  cham  toma- 
va até  o  alto  das  janelas,  todo  cheyo  de  graciosos  lumes,  e  dividido 
em  varias  ordens  de  repartimentos,  com  muitos,  e  muy  escolhidos  pas 
SOS,  que  letras  acommodadas  a  louvor  dos  Sanctos  engenhosamente 
declaravão:  á  imitação  deste  se  inventarão  outros  passos,  (jue  lambem 
derão  bem  que  ver,  e  louvar.  Acrescentava  o  gosto,  e  alegria  de  to- 
dos, ver  a  muita  ordem,  e  concerto  das  figuras,  e  não  menos  admira- 
ção causou  a  muita  rifjueza  de  seu  ornato,  em  particular  das  trumfas, 
e  caraminholas  a  mór  parte  das  quaes  erão  de  lustrosas  cabeleiras, 
que  escaçameute  se  deixavão  ver  com  as  muitas  pérolas,  varias  peças 
de  ouro,  e  pedras  preciosas,  que  sobi'e  ellas  assenta  vão  com  umita  ar 
te,  na  perfeição  da  qual  se  esmerarão  muitas  pessoas  graves,  e  Keli- 
giosas  de  quatro  .Mo.>teiros,  que  esta  Cidade  tem,  que  por  sua  deva 
çam  quiserão  fazer  este  serviço  aos  Sanctos. 

Não  fallo  no  grande  concurso  de  gente  neste  dia,  que  enchia  as 
ruas,  e  janelas;  e  não  contentes  muitas  pessoas  graves  de  verem  hu- 
ma  só  vez  a  este  triumpho,  mudavão  por  muitas  vezes  os  primeiros 
lugares,  e  estancias,  para  (jue  mais  de  espaço  participassem  da  recrea- 
çam,  que  a  vista  delle  a  todos  causava,  até  (jue  por  fim  chegou  outra 
vez  ao  (À)llegio,  já  quasi  noyte,  a  qual  se  continuou  com  festa  de  fo- 
guetes, e  outras  invenções  de  fogo,  alem  das  muitas,  e  boas  luinina- 
rias,  que  houve  todas  as  noytes  do  oilavairo, 

A  terça  feira  se  foy  continuando  com  a  mesma  solemnidade  de 
Missa  cantada,  e  Prégaçam,  como  em  as  manhãas  dos  mais  dias  se- 
guintes, em  hum  dos  quaes  pregou  o  Beverendo  Padre  Frey  Francis- 
(-0  da  Piedade  da  Ordem  de  Sã(j  Francisco,  e  Guardião  do  Mosteiro  da 
Villa  da  Prava:  e  em  outro  o  Reverendo  Padre  Frey  Auibrosio  de  San- 
eio Agosliulut  Prior  de  nossa  Senhora  da  Graça:  cada  qual  o  fez  como 
se  es[terava  de  laes  pessoas,  engrandecendo  com  graves  discui'sos,  e 
conceitos  aos  Sanctos,  que  ficarão  bem  louvados;  e  o  Collegio  reconhe- 
cendo a  obrigação  em  ijue  hum,  e  oulro,  nesta,  e  noutras  ocasiões  o 
tem  posto.  Nos  mais  dias  que  re^lavão,  [)régarão  alguns  Padres  de  Ca- 
sa, e  lodos  Sf^  houverão  como  em  cousa  própria. 

Não  ficarão  as  laides  da  terça  até  (jiiinla  feira  cai'eceudo  de  ou- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  463 

tras  festns  particulares,  porque  a  Gamara  da  Ciiiade  cotn  particular  ze- 
lo, e  cuidado  as  tomou  á  sua  conta,  e  apremiou  algumas  (lanças,  e  cha- 
cotas, tam  boas,  que  por  sy  baslavão  para  us  dias  ficarem  b^m  ft\^le- 
jados;  e  muito  mais  com  os  touros,  que  por  duas  vezes  deu,  correu 
dose  huma  delias  em  o  terreiro  da  praça,  incitando  aos  toureiros  com 
bons  prémios,  á  vista  dos  quaes  fizerão  algumas  boas  sortes,  e  os  tou- 
ros também  nelles:  porém  sem  nenhum  perigo,  e  com  muita  festa,  e 
aplauso  o  mesmo  causarão  no  outro  dia,  que  se  correrão  de  corda  |)e- 
la  Cidade,  vários  em  numero,  a  que  não  faltarão  mascarados,  e  uulra 
muita  gente,  que  os  soul)e  festejar. 


CAPITULO  III 
Das  festas  de  sesta  feira,  e  mais  dias  até  o  Domingo. 

Por  este  dia  cahir  em  dia  saneio,  em  (jue  a  gente  estava  mais 
desocupada,  e  podia  com  mayor  facilidade  vir  de  suas  quintas,  e  do 
campo  em  que  andava,  por  ser  tempo  em  que  se  recolhião  todas  as 
novidades,  se  deixou  para  elle  huma  muy  aprasivel  festa  naval,  e  con- 
tenda, que  houve  entre  o  Mar,  e  Terra,  pretendendo  cada  huma  des- 
tas partes,  que  á  sua  lhe  ficasse  por  particular  avogado  S.  Francisco 
Xavier:  ao  qual  se  dt-dicou  esta  festa  em  particular,  [)orque  depois  de 
sua  beatificação  se  não  tinhão  feito  outras,  que  o  Collegio  lhe  prepa- 
rava para  quando  chegasse  uma  sua  imagem  de  vulto,  que  esperava 
lhe  fosse  de  Lisboa. 

Havendo  pois  de  darse  principio  no  mar  a  esta  festa,  não  se  teve 
por  pequeno  favor  do  Ceo,  a  quietação  das  ondas,  e  serenidade  do  ar, 
que  [nuito  ajudou,  para  que  tudo  tivesse  o  successo  que  se  desejava; 
sahindo  do  próprio  mar  alguns  monstros,  que  em  companhia  de  Nep- 
tuno travassem  a  contenda  que  eiitre  elle,  e  a  Terra  se  começnii  nes- 
ta forma.  Entrou  ás  duas  hf)ras  depois  do  meyo  dia  pelo  porto  da  Ci- 
f  dade  huma  frota  de  barcos  empavezados,  e  embandeirados,  com  guar- 
nição de  gente  de  armas,  que  sahindo  de  emboscada,  trazião  no  meyo 
huma  Foca  marinha  de  muita  grandeza,  e  não  menos  artificio  na  fa 
brica,  e  i)intura  tam  a(t  natural,  que  parecia  ser  viuva,  e  verdadeira: 
ocupava  ella  a  huma  bem  grande  barca,  a  quem  a  soldadesca  dos  bar- 
cos, que  a  seguiam  festejava  com  nniitas  salvas  de  mosquetaria,  fa- 
^  zendo  com  graça  seus  acometimentos,  e  retiradas,  com  que  entre  sy 
fingião  himia  dança  aprasivel. 

Tinha  concorrido  a  este  espectáculo  grande  numero  de  gente,  que 
enchia  todo  o  cays,  e  miradouros  do  porto  de  que  fica  para  o  mar 
bem  larga  vista,  e  dos  mais  lugares  a  elle  sobranceiros,  que  por  muy 
comprido  espaço  vão  correndo  de  hum  e  outro  lado,  até  se  contiima 
rem  com  o  muro  das  fortalezas  de  Saucto  António,  e  de  S.  Sebastião. 


464  AHCHIVO  DOS  AÇORES 

que  fazem  ao  porto  mais  seguro,  reculhendo-o  entre  sy  com  liuma  com- 
prida, y  larga  enceada,  capaz  de  toda  a  sorte  de  embarcações,  e  mny 
acommodada  para  qiiaesfjiier  demonstrações  de  festa,  como  o  foy  para 
esta  que  os  barcos  por  bom  espaço  de  tempo  continuarão  com  grande 
alvoroço  de  lodos,  até  chegarem  a  terra,  aonde  logo  appareceo  Ne- 
ptuno com  seu  tridente  na  mão  cavalgado  sobre  o  monstro  marinho,  a 
quem  acompanhava  huma  grande  Tartaruga,  sobre  que  apparecia  hum 
Tritam,  que  com  o  som  do  busio  que  tocava,  acreceutava  o  aplauso, 
e  festa,  que  se  lhe  fazia.  Seguião-no  alguns  golfãos,  como  o  de  Benga- 
la: o  mar  Indico,  e  Chinico,  com  alguns  rios  principaes,  que  o  Sancto 
navegou;  quaes  são  Tibre,  Rhodano,  Tejo,  Ganges,  Indo,  e  outros, 
vestidos  todos  com  particular  propriedade,  e  ornados  de  canas  verdes, 
e  coroas  de  flores:  o  Oceano  como  principal  vencia  aos  mais  em  o  con- 
certo, e  entre  outras  particularidades  tinha  o  peito  todo,  e  espaldar  te- 
cido com  grande  arteficio  de  folhas  de  hera,  por  capacete  a  hum  pei- 
xe marinho,  que  vinha  rematar  na  cabeça  com  folhagem  verde. 

Porém  o  que  sobre  tudo  avultava  erão  alguns  promontórios,  co- 
mo o  Cabo  de  boa  Esperança,  e  o  de  Comorim,  que  em  figura  de  gi- 
gantes de  notável  grandeza  fazião  passo  a  Neptuno,  movendo-se,  e 
meneando  se  com  tal  arte,  que  era  para  todos  de  particular  gosto  sua 
vista;  vinhão  cubertos  de  musgo,  e  penedos  fingidos,  ao  que  dava 
mais  graça  a  rama  verde,  que  por  entre  elles  parecia  estar  brotando. 
Vinhão  também  da  parte  do  mar  os  Capitães,  e  homens  principaes 
com  (pie  o  Sancto  navegou,  juntamente  com  alguns  dos  milagres,  que, 
obrou  no  próprio  mar,  e  algumas  victorias,  que  nelle  por  seu  meyo 
se  alcançarão,  entre  as  quaes  principalmente  se  representava  a  dos 
Achens,  á  qual  seguia  o  Capitão  d'armada.  Governador  de  Malaca,  e 
outros  que  erão  como  testemunhas,  que  Neptuno  trazia  das  maravi- 
lhas, que  o  Saneio  no  elemento  dagoa  tinha  obrado,  e  dos  muitos  tra- 
balhos, que  passara  para  salvar  almas,  passando,  e  atravessando  tan- 
tos mares  que  erão  também  as  razões  de  que  se  ajudava  para  mos- 
trar, que  o  Sancto  lhe  pertencia  a  sua  parte. 

Piuiha  o  remate  a  todo  este  acompanhamento  hum  coro  de  Se- 
reas,  nas  quaes  dava  bem  que  ver,  alem  do  ornato  que  levavão,  o  ar- 
teficio dn  pintura  com  que  se  representava  hum  corpo  humano  todo 
cuberto  de  varias  escamas,  com  as  caudas  de  peixe,  rematando-se  as 
(extremidades  em  folhagens  muy  [)roprias:  vinhão  todas  dentro  em  hum 
barco  bem  adereçado,  a  que  a  fermoseava  hum  Jesus  pintado  na  po- 
pa: servia  de  barqueiro  himi  Tritam,  (pie  com  os  reuios  batia  em  hum 
mar  fingido,  e  á  pancada  delles  fazia  o  compasso  ás  Sereas,  que  com 
umy  suave  musica  recreavão  os  ouvintes. 

Tatito  (jue  Neptuno  cí)m  este  aparato  deu  vista  de  sy  em  o  porto 
da  ('idade,  para  que  a  entrada  nella  fosse  mais  celebre,  respondeo  jun- 
tamente com  gram  ruido  de  tambores,  e  salva  de  mosípietes,  e  arca- 
t)uzaria.  Ioda  a  soldadesca  que  tinha  vindo  nos  barcos,  e  a  de  quatro 


AHCHIVO  DOS  AÇORES  465 

companhias  dos  Capitães  Chrislovão  de  Lemos  de  Mendoça,  João  de 
Espimila,  Francisco  Cardozo,  e  Domingos  Vieira  Pacheco;  que  entre 
os  mais  quizerão  também  nisto  dar  mostras  do  dezejo,  que  tinhão  de 
servir  ao  Sancto,  fazendo  com  que  toda  sua  gente  estivesse  bem  orde- 
nada, e  dividida  em  fileiras  por  suas  estancias,  para  que  tudo  em  sy 
ficasse  mais  histroso,  e  á  vista  mais  agradável. 

Ouvido  este  sinal  de  tambores,  e  arcabuzaria,  acodirão  logo  a  el- 
le  todos  os  cavaleiros  da  parte  da  Terra,  que  já  neste  tempo  em  sua 
companhia,  andavão  correndo  as  ruas  da  Cidade,  e  encontrando-se  em 
huma  boa  paragem  com  Neptuno,  tingirão  não  o  conhecer,  nem  saber 
do  que  passava;  antes  reparando  na  fereza,  que  representava  seu  mons- 
iro  marinho,  e  na  grandeza  dos  promontórios,  e  mais  aparato  de  fi- 
guras, que  o  acompanhavão,  lançarão  todos  as  mãos  ás  espadas,  e  com 
ellas  pretenderão  impedir  lhe  o  passo.  Reparou-se  ao  principio  Neptu- 
no com  sen  tridente,  e  dando  sinal  de  paz,  teve  por  bom  espaço  com 
a  figura  da  Terra  hum  Dialogo  em  verso  Latino,  entrefachadas  algu- 
mas oitavas  Portuguezas,  no  qual  dava  razão  de  sua  vinda,  que  aflir- 
mava  ser  para  festejar  a  canonizaçam  do  Sancto  Xavier.  Ao  que  a  Ter- 
ra ajuntou,  que  se  o  seu  intento  era  esse,  vinha  em  muito  boa  con- 
junção, pois  ella  de  presente  andava  ocupada  nessas  festas,  e  que  am- 
bos, com  maior  alegria  de  ambas  as  partes  as  poderião  continuar.  Re- 
plicou Neptuno,  que  pois  o  Sancto  lhe  cabia  só  á  sua  parte,  elle,  como 
poderoso  Rey  do  mar,  as  queria  tomar  só  à  sua  conta:  e  por  fim  das 
razões,  que  cada  hum  alegava  para  provar,  que  o  Sancto  se  lhe  devia, 
chegarão  a  termos  de  querer  levar  a  cousa  por  força  de  armas,  con- 
fiando os  da  terra  nas  que  trazião,  e  Neptuno  no  valor  de  seus  mons- 
tros marinhos,  e  gigantes:  porem  metendo  se  de  permeyo  hum  Anjo, 
que  a  cavalo  dava  principio  ao  acompanhamento  da  Terra,  os  apazi- 
guou, e  tornou  amigos,  dizendo-lhes,  que  primeiro  alegrassem  ambos 
com  sua  vista  a  Cidade,  e  que  por  fim  se  achassem  todos  na  Igreja 
do  Collegio,  aonde  Sancto  Ignacio  como  Pay,  e  Juiz  nesta  parte,  decla- 
raria por  sentença,  a  qual  delias  pertencia  o  Saneio  Xavier. 

Tiverão  todos  por  acertado  o  conselho,  e  obedecendo  logo  ao  An- 
jo, começarão  a  caminhar,  ficando  atraz  as  figuras  do  mar,  que  hião 
na  forma,  que  fica  dito,  não  cessando  entre  tanto  a  musica  das  Sereas, 
a  que  da  outra  parte  respondia  a  de  huma  boa,  e  concertada  chaco- 
ta, que  de  fora  da  Cidade  tinha  vindo.  Seguião-se  a  diante  as  figu- 
ras da  Terra,  que  entre  outras,  erão  as  principaes,  Ásia,  ííuropa, 
e  os  Anjos  Custódios  de  cada  huma:  em  lugar  do  Oriente,  e  Occiden- 
te,  por  terem  ido  no  triunipho  hia  a  Aurora,  e  Hesperus,  seguião-se 
o  Zelo  Evangélico,  Uso  dos  Sacramentos,  Afabilidade,  Recta  Intenção, 
e  outras  graças  sobrenaturaes,  e  virtudes,  com  que  o  Saneio  obrou 
nestas  partes  algumas  maravilhas:  aqui  se  vião  também  parte  das  vi- 
ctorias,  que  por  meyo  de  suas  orações  se  alcançarão,  e  milagres,  que 
N."  47— Vol.  VIII  -< 886.  12 


466  ABGHIVO  DOS  AÇORES 

fez;  ludus  inuy  bem  vestidos  ã  trágica.  Hião  coniu  testemunhas  de  sua 
sanctidade  os  principaes  homens,  com  que  tratou,  e  os  Vizo  Reys  da 
índia,  que  com  elle  concorreião,  como  Dom  João  de  Castro,  Dom  Af- 
fonso  de  Noronha,  Martim  Alfonso  de  Sousa,  e  também  os  Reys  de 
Ternate,  de  Travancor,  d  Emanguche,  e  outros  a  que  fazião  compa- 
uhia  os  Capitães  Portuguezes,  que  com. elle  tiverão  particular  trato, 
que  tudo  fazia  gente  de  cavalo  muy  luzida. 

Por  remate  hia  o  Sancto  com  sobrepeliz,  e  estola,  debaixo  roupa 
negra  de  veludo,  com  hum  Crucifixo  nas  mãos,  e  resplandor  dourado 
sobre  a  cabeça:  acompanhavão  el  Rey  de  Bungo,  e  alguns  Portugue- 
zes,  que  lhe  hião  fazendo  passo,  e  para  mais  a[)arato  hia  diante  hum 
coro  de  Virtudes,  das  mais  insignes  em  que  o  Sancto  floreceo:  estas 
hião  a  pé  muy  ricamente  vestidas,  como  também  hião  as  mais  figuras 
de  cavalo;  das  qiiaes  ainda  que  em  particular  se  não  faz  expressa 
menção,  basta  saber,  que  a  Ilha  tem  boa  comodidade  para  se  ornarem 
estas  figuras  com  toda  a  pompa,  e  variedade  de  vestidos,  com  as  mais 
galas,  e  concerto,  que  para  estas,  e  quaesquer  outras  representações 
de  festa  se  requerem:  porque  alem  da  gente  mais  nobre  se  tratar  lus- 
trosa, e  gravemente,  ajuda  também  muito  para  isso  ser  a  terra  ma- 
rítima frequentada  de  frotas,  e  outras  muitas  embarcações,  que  de  va- 
rias partes  ahi  vão  demandar,  de  que  de  ordinário  fica  bem  provida. 
Deu-se  pois  fim  a  esta  lesta  na  forma  (pie  estava  traçada,  apeaudo-se 
os  cavaleiros  á  porta  da  Igreja  do  Collegio,  na  qual  entrarão,  e  com 
elles  Neptuno,  que  ajoelhado  diante  do  altar  de  Saneio  Ignacio,  lhe 
fez  suas  petições,  prometendo  que  se  lhe  dava  por  padroeiro  ao  S. 
Xavier,  faria  com  que  todos  os  marinheiros  o  tivessem  por  muy  par- 
ticular avogado  em  suas  navegações,  que  por  meyo  do  Sancto  lhes 
prometia  em  tudo  muy  prosperas,  sem  naufrágios,  nem  perigos.  E 
continuando-se  entre  elle,e  a  Terra  o  Dialogo  Latino,  alegou  cada  qual. 
sua  justiça,  contando  os  trabalhos  que  o  Sancto  por  mar  e  terra  pa- 
deceo:  os  milagres  que  fez,  e  o  muito  que  peregrinou,  e  navegou  em 
hum,  e  outro  elemento.  Ao  que  deu  reposta  hum  Oráculo  em  nome 
de  Sancto  Ignacio,  dizendo  que  pois  as  maravilhas  que  obrou  o  Sancto 
Xavier,  abrangião  ambas  as  partes:  ambos  se  podião  alegrar,  e  toma- 
lo  por  particular  avogado  seu.  Renderão  a  isto  logo  as  graças,  assi  a 
Terra,  como  Neptuno,  prometendo  este,  ainda  que  de  todo  não  ficava 
com  tudo  o  que  pretendia,  fazer  em  o  mar  suas  festas  de  fogo,  as 
quaes  a  terra  como  mais  pontual  começou  logo  em  o  Collegio  com 
muitas  rodas,  huma  arvore  de  fogo.  e  foguetes  vários,  a  que  respon- 
dião  outros  que  junto  do  porto,  e  ruas  da  Cidade  se  lançarão. 

Nas  festas  que  ao  sabbado  se  fizerão,  a  que  mais  lustrou,  e  deu 
que  ver,  foy  huma  grave  encamizada,  em  que  entrarão  muitos  Cida- 
dãos principaes,  que  por  sua  devação  quizerão  festejar  a  noyte  deste 
dia,  ao  qual  ella  em  grande  parte  ficava  semelhante  com  a  muita  cia- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  467 

ridade  das  tochas  que  levavão,  afora  as  muitas  luminárias  das  jane- 
las, e  fogueies,  (jue  se  hião  lançando  pelas  rnas,  as  quaes  por  vezps 
correrão  com  tanto  concerto,  e  ordem,  que  não  pode  deixar  de  ser 
milito  louvada:  tendo-se  isto  já  por  bom  principio  das  festas  de  cavalo, 
que  ao  dia  seguinte  também  fizerão,  com  o  snccesso  que  se  podia  deze- 
jar,  e  esperar  do  zelo,  e  boa  vontade  com  que  se  oíferecerão  para  ellas, 
não  reparando  em  gastos,  que  todos  qiiizerão  fossem  á  sna  conta,  sem 
consentir,  que  o  Collegio  de  alguma  maneira  concorresse  para  elles. 
E  parece  qne  em  parte  quizerão  os  Sanctos  remunerar  esta  liberali- 
dade, atalhando  a  algum  gasto,  e  trabalho,  que  de  novo  querião  to- 
mar: porque  andando  muy  solícitos  para  fazer  ajuntar  grande  copia 
de  agoa  para  agoar  toda  a  praça,  assi  para  que  estivesse  tudo  mais 
fresco,  como  principalmente  para  apagar  o  muito  pó  que  na  carreira 
temião  se  levantasse,  ficarão  livres  deste  cuidado,  porque  na  mesma 
manhãa  choveo  por  bom  espaço,  quanto  foy  necessário  para  se  apagar 
lodo  o  pó,  tornando  logo  o  dia  Iam  claro,  e  fermoso  como  se  deseja- 
va: acrecentou  se  a  todos  nova  alegria  com  tam  bom  successo,  e  ar- 
mando se  em  a  praça  huma  tenda  com  vários,  e  ricos  prémios  de  pra- 
ia se  deu  principio  ás  festas,  sahindo  os  cavaleiros  de  emboscada  di- 
vididos em  duas  alas,e  alem  de  outros  enredos,  arremetião  já  humas 
vezes  com  os  piques,  cujos  golpes  rebatião  nas  adargas,  já  pondo  es- 
tas de  parle,  lançavão  mão  ás  espadas,  e  com  ellas  mias  se  hião  aco- 
metendo huns  aos  outros,  passando  no  primeiro  arremetimento  mais 
ao  largo,  e  voltando  logo  no  segundo,  tocavão  as  pontas  das  espadas, 
até  que  do  terceiro,  melendo-se  mais  por  dentro,  e  unindo-se  lodos, 
corrião  as  espadas  humas  pelas  outras,  com  tanta  expediçam.  e  ligei- 
reza, quanta  se  requeria,  sem  haver  desar  algum,  nem  desgraça.  (Cor- 
rerão lambem  suas  canas,  e  depois  disso  manilhas,  sahindo  de  dous 
em  dous  por  sua  ordem  a  correr  os  preços,  que  na  tenda  eslavão,  os 
quaes  por  voto  dos  Juizes  se  davão  áquelles  que  com  mais  destreza, 
e  ar  se  havião  no  correr,  e  no  dar  o  golpe  mais  direito,  e  acertado. 

Com  este  exercício  se  poz  fim  às  festas  deste  ultimo  dia,  e  se 
deu  bom  remate  ás  do  oitavario,  com  que  a  serviço  dos  Sanctos  entre 
as  outras  p(»pulosas,  e  poderosas  Cidades,  se  quiz  lambem  ofl'erecer 
esta  Ilha  da  Terceira:  a  qual  ainda  que  nesta  obra  leve  o  ultimo  lu- 
gar, não  he  porque  não  seja  merecedora  de  outro  aventejado,  pois  en- 
tre as  mais  que  estão  sogeitas  á  Coroa  de  Portugal,  o  não  desmerece. 

Eslaí,  são  em  breve  as  festas,  com  que  esta  Província  de  Portu- 
gal celebrou  as  canonizações  do  Patriarcha  Santo  Ignacio,  e  S.  Fran- 
cisco Xavier:  na  relação  das  quaes  foy  necessário  cortar,  ainda  por 
cousas  necessárias,  para  que  o  livro  não  sahisse  de  mór  grandeza  do 
(jue  se  pretendia:  e  por  esta  causa  não  foy  possível  imprimiremse  a- 
qui  juntamente  as  pregações,  que  em  louvor  dos  Santos  se  fiz-rão,  que 
por  serem  muitas  em  ríumero  podião  entrar  em  tomo  particular:  como 


468  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

também  as  Tragicomedias,  Diálogos,  Emblemas,  Epigramas  e  outras 
varias  obras,  e  poesias  Latinas,  afora  as  que  na  lingoa  Porlugueza, 
Castelhana,  Italiana,  e  outras  muitas  em  as  mais  das  partes  se  com- 
poserão;  o  que  se  também  se  houvesse  de  mandar  ao  prelo,  bastava 
não  só  para  fazer  outro,  mas  outros  vários  tomos  de  boa  grandeza.  Tam- 
bém se  advirte,  que  se  algumas  Casas,  ou  Collegios,  na  ordem  em 
que  vão  postos,  vão  em  alguma  parte  fora  do  lugar  que  se  lhe  deve, 
foy  por  causa  de  não  chegarem  a  tempo  as  Helações. 


DA 

MANEIRA 

PELA  QUAL  FOI  CELEBRADO 

NA 

CIDADE    DE    ANGRA 

o    DIA    15    DE    MAIO    DE    1824 

ANNIVE.RSARIO 

DE 

SUA    MAGESTADE    FIDELÍSSIMA 

D.  JOÃO  VI. 


LISBOA : 

EM    A    NOVA  IMPRESSÃO   DA   VIUVA    NEVES  E   FILHOS. 

ANNO  DE  1824. 

Com  licença  da  Real  Commissão  de  Censura. 


Aproximando-se  o  plausível  dia  13  de  Maio  do  corrente  anno,  pri- 
meiro anniversario  de  Sua  Magestade  o  Senhor  Rei  D.  João  VI  depois 
da  sua  gloriosa  restituição  ao  pleno  exercício  dos  Seus  legítimos  Di- 
reitos, começaram  os  habitantes  de  Angra  as  demonstrações  do  seu 
prazer,  apparecendo  a  ('idade  na  noite  do  dia  12  espontaneamente  il- 
luminada.  Pelas  oito  horas,  pouco  mais  ou  menos,  entraram  na  praça 
fronteira  ao  Palácio  da  residência  do  III.'"®  e  Ex."""  Barão  da  Villa  da 
Praia,  Governador  e  Capitão  General  d'esta  Capitania,  duas  Bandas  de 
Cavalleiros  lustrosamente  vestidos,  uma  de  uniforme  branco  com  ban- 
das vermelhas,  e  outra  de  uniforme  vermelho  com  bandas  brancas.  Os 
Cavalleiros,  que  compunham  a  primeira,  distinguiam-se,  além  do  uni- 
forme, por  chapeos  ricamente  adornados  de  plumas  e  de  brilhantes 
jóias;  os  gue  compunham  a  segunda,  por  elegantes  barretinas  seme- 
lhantemente emplumadas  e  lustrosas.  Cada  Cavalleiro  era  acompanha- 
do por  dois  pagens  de  pé  com  archotes,  cujo  clarão  junto  com  o  da  il- 
luminação  das  janellas  da  praça,  faziam  assas  visível  esta  brilhante  Ca- 


470  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

valgada.  Vinliam  as  duas  Batidas  piecedidas  por  tim  coro  de  musica 
inslrumenlal,  que  conlinuamenle  variava  as  composições  alegres,  com 
(jue  acompanhava  os  movimentos  dos  (^avalleiros.  A  primeira  Banda 
era  capitaneada  pelo  III."'*'  Brigadeiro  Vital  de  Bilencourt  Vasconcellos 
e  Lemos,  que  a  guiava,  e  era  composta  dos  Senhores  Luiz  Meyrelles 
do  Canto  e  Castro,  José  Theodosio  de  Bitencourt  Vasconcellos  e  Lemos, 
Bento  de  Bitencourt  Vasconcellos  e  Lemos,  João  Pereira  Sarmento  For- 
jaz  de  Lacerda — Filho,  Francisco  Manoel  Coelho  Borges,  Christiano  Jo- 
sé Garção  de  Carvalho.  António  Moules  Vieira  de  Bitencourt,  João  Pe- 
dro Coelho,  Francisco  Machado  Pamplona  Corte-Real,  Jacinto  Cario? 
Mourão  Pinheiro.  Capitaneava  a  segunda  o  111.""'  António  Nicolào  de 
Moura  Stockler,  Filho  do  Ex."""  Goverijador  e  Capitão  General,  e  Aju- 
dante de  Ordens  de  sua  pessoa,  a  quem  os  Cavalleiros  Angrenses  fi- 
zeiam  a  honra  de  eleger  para  guia  a  par  do  seu  illustre  e  respeitável 
|)arente  acima  nomeado:  esta  Banda  era  composta  dos  Senhores  José 
de  Bitencourt  Vasconcellos  (>orrèa  e  Ávila,  Diogo  Álvaro  Pereira  Sar- 
mento Forjaz  de  Lacerda,  Francisco  Leite  Botelho  de  Teive,  Manoel 
Homem  da  Costa  e  Noronha.  Francisco  Pamplona  Machado  Corle-Real, 
João  Borges  do  Canto  e  Silveira,  Luiz  Pacheco  de  Lima  e  Lacerda,  Tho- 
maz  Manoel  Xavier  Palmeirim,  Diogo  de  Barcellus,  João  Hewson. 

Depois  de  ligeiras  e  bem  concertadas  voltas,  e  de  darem  três  vi- 
vas, o  primeiro  a  Sua  Magestade  o  Senhor  Rei  D.  João  VI  nosso  legi- 
tiuío  Rei  e  Senhor  natural:  o  segundo  a  sua  digna  e  para  sempre  me- 
morável Consorte  a  Rainha  a  Senhora  D.  Carlota  Joaquina  de  Bourbon: 
e  o  terceiro  a  toda  a  Real  e  amável  Família  descendente  de  tão  Au- 
gustos Progenitores;  se  retiraram  percorrendo  as  ruas  da  Cidade,  e 
repetindo  nas  principaes  d'ellas  e  em  todas  as  praças  os  mesmos  ale- 
gres vivas,  que  eram  fervorosamente  respondidos  pelo  Povo  enlhusias- 
mado  e  cheio  de  gosto. 

No  dia  IIL  depois  de  uma  Salva  Real  nos  Castellos  de  São  João 
Baptista  e  São  Sebastião,  se  ajuntou  pelas  dez  horas  da  manhã  toda  a 
principal  Nobreza  de  Angra  e  a  OíTicialidade  militar  dos  Corpos  de  L* 
e  2.*  Linha  no  Palácio  do  Ex.*""  General,  d"onde  este  sahio  pelas  dez 
e  meia  seguido  daquella  illustre  e  luzida  comitiva,  e  se  dirigio  á  Sé 
Episcopal,  na  qual  já  o  esperava  o  Corpo  da  Camará  com  a  bandeira 
da  Cidade  e  as  dos  Grémios,  bem  como  o  III."'"  Cabido.  Ali,  depois  de . 
exposto  o  Sanctissimo  Sacramento,  entoou  o  III.""'  e  R,""'Deão  José  Ma- 
ria de  Bitencourt  Vasconcellos  e  Lemos  o  Hymno  Te-Deuin  laudamus, 
o  qual  foi  cantado  por  dois  coros  de  excellente  musica,  com  o  maior 
júbilo,  decência,  e  devoção. 

Acabado  este  religioso  acto,  se  retirou  Sua  Excellencia  para  o  seu 
Palácio,  seguido  do  mesmo  numtro.so  e  brilhante  cortejo:  achando-se  a 
este  tempo  já  postados  no  largo  do  mesmo  Palácio  o  Batalhão  de  Av 
lilheria,  e  o  Destacamento  do  Batalhão  de  Caçadores  N.° 5  actualmen- 
te existente  em  Angra,  os  quaes  lhe  fizeram  as  continências  devidas 


AHCHlVO  DOS  AÇORES  47  < 

ao  seu  eminente  posto;  locando  a  niii>ica  a  respeituosa  e  bem  compas- 
sada  marcha  conhecida  pela  denominação  do  Hymno  de  El-Rei,  a  qnal 
Sua  Excellencia  lhe  havia  mandado  ensinar  para  ser  pela  [trimeira  vez 
tocada  neste  faustissimo  dia. 

Pela  uma  íiora  da  tarde  Sua  Excellencia,  vestido  em  grande  uni- 
forme e  acompanhado  do  seu  Estado  Maior  e  do  Secretario  do  Gover- 
no, rectbeo  na  Sala  do  Docel,  como  Representante  de  Sua  Magestade, 
os  comprimentos  e  felicitações,  que  por  occasião  tão  plausível  lhe  di- 
rigiram a  Nobreza,  o  Clero,  o  Corpo  militar,  os  Magistrados,  e  os  Em- 
pregados públicos,  qae  todos  ali  concorreram  com  as  demonstrações 
do  prazer  mais  puro  e  sincero:  terminando  este  acto  com  três  descar- 
gas de  alegria,  e  outros  tantos  vivas  dados  pela  Tropa,  que  se  achava 
formada,  aos  quaes  se  seguio  outra  Salva  Real  nas  Fortalezas. 

Tinha  Sua  Excellencia  convidado,  para  se  ajuntarem  no  seu  Palá- 
cio a  horas  do  chá,  as  pessoas  mais  conspicuas  pela  sua  qualidade,  em- 
pregos, postos,  e  dignidades:  e  igualmente  as  Senhoras  mais  dintinclas 
da  Ilha  Terceira:  e  por  este  modo  se  ajuntou  na  grande  Sala  do  Palá- 
cio o  concurso  mais  luzido,  que  jamais  se  vio  na  Cidade  de  Angra.  Co- 
meçou o  saráo  repetindo  com  summa  graça  e  energia  de  expressão  o 
lll.""^  Álvaro  Pereira  Forjaz  de  Lacerda,  menino  ôeíO  para  il  annos, 
Filho  do  Commendador  João  Pereira  Sarmento  Forjaz  de  Lacerda,  o 
saguinte  Elogio  a  Sua  Magestade,  composto  pelo  Senhor  João  Miguel 
Coelho  Borges. 


EIL.OC3-IO 

O'  decas  e  aevi  magna  gloria  tui ! 

Ov. 

O'  do  século  teu  ornato  e  gloria ! 

Dias  de  applauso  e  magestosa  pompa ; 
Dias  d'alta  ventJira  e  summa  gloria, 
l)e  ineíTavel  prnzcr,  quando  sentada 
No  augusto  Capitólio  Roma  via, 
Desdenhosa,  a  seus  pés  amontoadas 
As  Coroas,  que  pallidos  Monarchas 
Ali  vinhão  prostrar,  prezos  seguindo 
As  erguidas  carroças  triumfantes 
De  S<:ylla  e  César,  de  Scipião  e  Mário! 
Dias  de  applauso  e  magestosa  pompa, 
Dejinsólito  prazer!  Vós  ténue  rasgo. 
Vós  remedo  sois  débil  e  apoucado 
Dos  que  hoje  em  Lysia  júbilos  tra^bordã• 


472  ARGHIVO  DOS  ACOHES 


Quando  era  seus  horisonles  vé,  que  aponta. 
Mais  qno  nunca  formosa  e  radiante, 
De  tão  bom  Dia  a  Aurura  luminosa! 
Sim,  ó  Lusos,  que  Dia !  um,  que  sepulta 
Em  total  merecido  esquecimento 
Quantos  dias  de  gloria  desde  a  idade 
Primeva  do  Orbe  ao  Bem  sagrados  forão ! 
Dia  em  fim  sempre  novo,  e  sempre  amável. 
Em  que  os  Povos  de  Lysia  acordes  todos 
Na  sujeição  e  affecto  inabaláveis, 
Ébrios  de  alegria  e  de  ventura. 
Se  dizem  uns  aos  outros— hoje  findão 
Giros  do  Sol  Ires  vezes  dezenove, 
Desde  quando  Astros  novos  scinlilárão 
Os  olhos  de  João  na  Lusa  Esphera: 
João,  dos  Lusos  Rei,  Espelho,  e  Arrimo, 
Valente  Gedeão,  por  cujo  Braço, 
Salva  segunda  vez,  Lysia  alça,  e  mostra 
De  louros  immortaes  cingida  a  Fronte: 
Sim,  por  Elle  he  que  foi  ha  quasi  um  anno 
Decepada  de  um  golpe,  e  n'um  momento, 
A  orgulhosa  cerviz  do  mais  hediondo, 
Do  monstro  mais  feroz,  que  os  tempos  virão; 
Que  solto  em  crimes  cento  desusados. 
Salvar  dizia  a  Pátria,  e  a  Pátria  teve 
Envilecida,  oppressa,  e  quasi  escrava: 
Elle  a  remio,  vendo,  que  seu  Povo, 
Indócil  sempre  ás  suggestões  traidoras 
Da  aleivosa  Facção,  parto  das  Fúrias, 
Apenas  aguardava,  que  seu  Chefe 
Aldavada  mais  uma  desse  rija 
Do  Brio  ás  portas  inda  m^l  desperto: 
Deo-se,  e  surgio  o  Dia  sempre  fausto 
Cinco  de  Junho,  em  que  a  Caterva  abjecta, 
O  voraz  monstro  do  covil  sahindo. 
Estancia  da  vileza,  e  da  impiedade, 
Torcendo  e  destorcendo  a  cauda  longa. 
Vai  de  rojo  no  pó  rastando  o  bojo; 
E  olhando  para  traz  freme  de  raiva. 
Monstro  maldito,  monstro  abominável  I  ,  .  . 
Mas  ah!  onde  me  leva,  e  me  transporta 
De  justa  indignação  sagrado  impulso! 

{Conlinua). 


i 


EHiOOIO 

(Continuado  de  pag  472  d'este  Vol ) 

Ah !  não,  não  mais  o  umbral  ensanguentado 
Se  erga  a  scenas  de  horror:  sumão  se  dias 
De  tanto  opprobrio,  e  envenenar  não  venhão 
A  gloria  perennal,  que  aos  Lusos  cabe, 
Vendo  a  coberto  de  perfídias  novas, 
Que,  em  quanto  entre  Leões  fera  terrível 
Infiel  Ottomáo  Dragão  persegue 
Desgraçada  Nação,  potente  outrora; 
João  dos  Luzos  Pai,  cora  áureo  Sceplro 
Dando  suaves  Leis,  escora  n'alma 
De  seus  Povos  fiéis  seu  Sólio  firme. 
D'entre  dias  de  pranto  extrahe  os  de  ouro, 
E  na  riqueza,  e  paz,  e  na  ventura, 
E  na  gloria  dos  Seus  a  Sua  esteia. 
Salve,  Monarcha  excelso,  charo  aos  Povos, 
Que  amiga  Providencia  confiara 
Ás  vistas  paternaes,  com  que  os  defendes: 
Salve,  da  Pátria  Remissor  sublime. 
De  teus  Povos,  teus  Filhos,  Norte  e  Escudo: 
Gloria  dos  Reis,  do  Reino  segurança: 
Lustros  mil  sobre  nós  feliz  imperes: 
Por"  lustros  possão  mil  os  Lusitanos 
Ver  assomar  o  Dia  dos  teus  Annos. 

Seguio-se  o  Senhor  José  Augusto  Cabral  de  Mello.  Secretario  do 
Governo,  cuja  literatura  e  raros  talentos  são  geralmente  admirados  em 
Angra,  e  o  serão  em  todo  o  Reino  de  Portugal,  e  mesmo  fora  d'elle, 
se  as  producções  do  seu  engenho  sahirem  aigum  dia  á  luz  publica;  o 
qual  recitou  o  seguinte  Elogio  também  em  verso,  composição,  que  as- 
saz acredita  o  que  n'este  lugar  dizemos  a  respeito  do  seu  author. 


N.°  48— Vol.  VIII— 1886. 


474  AKCHIVO  DOS  AÇORES 


Quo  nihil  majus  meliusve  lerris, 
Fata  donavere,  bonique  divi; 
Nec  dabunt,  quamvis  redeani  in  auiuni 
Têmpora  priscum. 

HOR.  LlB.  IV.  Od.  II. 

Virtude,  Honra,  Sciencia,  Amur  da  Palriaf 

Oh  tutelares  venerandos  Numes 

De  Lusitânia  heróica  e  esclarecida! 

Se  da  Lyra  dourada,  que  tangeram 

Argivos  Vates,  Laciaes  Cantores, 

Neste  almo  Dia,  que  respeita  o  Tempo, 

Alegre  firo  as  sonorosas  cordas. 

Os  harmónicos  sons  elevo  aos  Astros: 

Vos  sois  o  assumpto,  que  meu  Plectro  excita: 

A  vós  somente  meu  louvor  dirijo: 

A  vós,  que  rutilais  em  gráo  sublime 

No  peito  illustre  de  João  excelso, 

D'esse  áureo  Fructo  de  famosa  Estirpe, 

Cujo  Natal  faustissimo,  radioso, 

Á  voz  dos  altos  Deoses,  vem  de  novo 

Abrilhantar  os  ângulos  da  Terra. 

Escuta,  oh  Angra,  oh  Portugal,  escuta 
Meu  ledo  canto,  que  a  Verdade  inspira: 
Minha  voz  attendei,  que,  agradecida, 
A  Lealdade  pura  extrahe  do  peito. 
Que  um  peito  Portuguez  desprende  altivo. 

Quando,  de  Tróia  vencedor  soberbo. 
De  Laertes  o  Filho,  o  sábio  Ulysses, 
Do  procelloso  Egèo  arando  as  vagas, 
Trespassou  a  baliza,  que  puzera 
No  Hispano  Calpe  o  valoroso  Alcides, 
E,  entrando  no  espumoso  largo  Oceano, 
A  Cidade  fundou,  que  resplandece 
Do  Tejo  occiduo  nas  risonhas  margens; 
Por  certo  a  mente  sua,  contemplando 
O  esplendido  recinto,  mas  escasso. 
Da  formosa  Ulyssea,  não  previa. 
Que  valentes  Alumnos  de  Mavorle 
Ali  berço  teriam,  e  pomposo 
Inabalável  Throno  Reis  potentes 
Famigerados  nos  Annaes  do  Mundo: 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  47S 

Nem  elle  então  imaginar  podia 

Que,  agitando  soberbo  as  leves  azas, 

Vaidoso  o  Tempo  um  século  brilhante 

Lá  da  Morada  fúlgida  traria, 

Em  que  um  Rei  sem  igual,  de  Reis  modelo, 

Philanthropico  ardor  sentindo  n'alma, 

Por  entre  applausos,  luminosa  scena 

De  virtudes  benéficas  mimosas, 

E  de  heróicas  acções,  manifestara 

No  Solo  Fortuguez  ao  Mundo  absorto. 

Como  do  Nume,  que  abrilhanta  os  orbes, 
A  dextra  omnipotente,  dadivosa, 
O  magnifico,  bello,  insigne  feito 
Do  alto  Grego  dourou!  Como  propicia. 
Assombrando  o  Universo,  lá  do  Empyreo 
Fez  descer  de  Ulyssea  ao  grémio  claro 
A  Estirpe  veneranda  portentosa 
De  Bragança  iramortal,  que  o  Tejo  adora  f 

Campos  de  Ourique,  memoráveis  campos, 
Dizei  como  o  primeiro  Affonso  egrégio. 
Levando  o  nome  Lusitano  aos  pólos. 
Soberbo  debellou.  desfez  ovante 
As  inimigas  hórridas  Phalanges 
Da  Mauritânia  barbara  cruenta  .  .  . 
Como,  cingido  de  viçosos  louros. 
Seguindo  do  Heroísmo  o  facho  ardente, 
Lançou  da  Lusa  Monarchia  as  bases  .  .  . 
Ah  f  que  de  esforço  e  brio  Astro  fulgente, 
O  sublime  renome,  a  excelsa  gloria, 
Do  Macedónio  altivo  escureceste. 
Portentoso  Guerreiro.  Affonso  invicto! 
Ah!  que  vaidosa  a  Eternidade  abraça 
Teu  nome  rutilante,  e  se  gloria 
De  chamar-te  o  primeiro  venerando 
Monarcha  excelso  tutelar  dos  Lusos  1  .  .  . 
Tua  Prole  imitou-te:  —  vio  o  Mundo, 
De  espanto  cheio,  magestosa  serie 
De  famosos  Heioes,  de  heis  supremos, 
Impávidos,  valentes,  denodados, 
Repellir  o  furor  das  aguerridas 
Bravas  Cohortes  da  arrogante  Ibéria: 
A  Pátria  esclarecer  com  mil  proezas; 
E,  após  de  afortunar  da  Pátria  o  seio 
Cos  mimos  da  Abundância  e  do  Repouso, 
Intrépidos  expondo  o  peito  aos  negros 


476  ABCHIVO  DOS  AÇOBES 

Embravecidos  mares,  ir  gloriosos 

De  estremado  valor  obrar  prodígios 

De  Africa  adusta  nas  ardentes  Plagas. 

Não  menos  vio  maravilhado  o  Mnndo, 

Como  a  seu  mando  os  Argonautas  Lusos, 

Rompendo  de  Amphitrile  os  ermos  campos. 

Do  Cabo  Tormentório  arrostar  foram 

As  truculentas  hórridas  procellas: 

Como  do  Oriente  impávidos  domando 

Os  Potentados  numerosos,  foram 

Arvorar  triunfantes  no  áureo  berço 

Da  resplendente  Aurora  as  Regias  Quinas,  j 

Mandando  ao  pátrio  Tejo  os  primorosos  1 

Ricos  Ihesouros  de  Soberbo  Ganges.  | 

D'est'arte  parecia  ter  tocado  f 

O  ápice  da  gloria  a  clara  Lysia: 
Mas  a  gloria  de  Lysia  os  Ceos  augmentani. 
No  seu  grémio,  de  novo  o  Tronco  excelso  | 

Da  preclara  Bragança  um  Ramo  brota: 
João,  mimo  dos  Ceos,  na  Terra  brilha: 
E  seu  peito  benigno  e  portentoso, 
Das  Virtudes  angélicas  formado, 
Á  destra  pluma  da  facunda  Historia 
Offerece  o  mais  lindo  e  grato  emblema 
De  fúlgidas  proezas  singulares, 
De  excellencias  famosas,  de  preclaras 
Bellissimas  acções,  que  Lysia  adora, 
Que  a  Europa  inteira  e  o  Térreo  Globo  prezam. 

Agora  o  ethereo  Assento,  oh  sacra  Musa, 
CalUope  formosa,  um  pouco  esquece:  '  % 

Vem  risonha  aíiuarme  a  Lyra  de  ouro: 
Co'as  agoas  do  Permesso,  adoça,  alenta, 
A  minha  rouca  voz  enfraquecida: 
Raro  torna  meu  canto,  que  só  pôde 
Raros  feitos  expor  um  canto  raro. 

Apenas  no  alto  Sólio  magestoso 
O  avito  empunha  rutilante  Sceptro, 
Dos  Elysios  descendem  radiosas 
A  bafejar  os  Portuguezes  Climas 
A  querida  Minerva,  a  doce  Astrêa: 
Assoma  fulgurante  a  Industria  bella: 
E  os  nitidos  thesouros  carinhosa, 
Nas  urnas  do  Commercio  deposita. 
As  bellicas  não  soam  roucas  tubas, 
Que  aos  ânimos  das  Mais  e  das  Esposas 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  477 

O  pallido  terror  e  a  mágoa  levam: 
Do  iroso  Marte  os  pavilhões  não  tinge 
O  sangue  Porluguez:  respira  exulta, 
Nos  braços  do  Uescanço  o  pátrio  Tejo: 
A  potente  Harmonia,  em  laços  de  ouro. 
Nas  quatro  partes  do  Universo  prende 
Da  Lusitânia  os  oriundos  Povos. 
Tanto  pôde  o  benigno,  o  justo  império 
Do  novo  amado  Tito,  cujo  nome 
Do  Antárctico  pólo  ás  Ursas  corre, 
E  da  Esphera  cerúlea  os  Soes  transpondo, 
O  lustre  leva  da  Memoria  ao  Templo. 

Mas  eis  que  Fúria  atroz,  crespa  de  serpes, 
Do  severo  Plutão  os  antros  deixa, 
E  na  Gallia  infeliz  súbito  assoma. 
Sequioso  de  Sangue,  o  monstro  horrendo 
Bramando  corre  a  devastar  a  Europa. 
E,  da  Europa  gentil  brilhante  esmero, 
He  alvo  Lysia  de  seus  crebros  tiros. 
Já  bravas  Hostes,  a  seu  mando,  estragam 
As  campinas  Hispanas:  rubras  agoas 
Desfalecido  volve  o  claro  Ibero!  .  .  . 
Já  sobre  as  raias  Portuguezas  lançam 
A  magoa,  o  pranto,  o  luto  1 . . .  Bem  pudera 
Sua  audácia  maligna,  seus  furores, 
Repellir  triunfante  o  esforço  Luso: 
Mas  ah!  derramar  sangue  era  forçoso, 
E  o  Génio  tutelar  dos  Portuguezes 
Portuguez  sangue  derramar  não  ousa: 
Quer  as  vidas  poupar  aos  caros  Filhos: 
«Ha  de  o  Tempo  e  a  Razão  dar  traça  aos  Lusos 
«(Exclama  o  Heroe)  de  rechaçar  da  Pátria, 
«Sem  uimio  estrago  seu,  essas  terríveis 
«Devastadoras  Ho.<tes,  mais  cruentas, 
«Que  as  dos  cruentos  orgulhosos  Parthos: 
«Embora  consternada  e  lucluosa 
«Um  pouco  gíiria  a  doce  amada  Lysia: 
*X  justiça  dos  Ceos  ha  de  vingá-la  .... 
«A  deixar-te  me  apresso,  oh  Pátria  minha  í 
«Tanto  julgo  forçoso:  voluntário 
«Vou  a  fúria  arrostar  dos  bravos  mares: 
«Tua  sorte  infeliz  me  obriga  a  tanto! 
«Vou  ver  se  encontro  meios  de  útil  sêr-te: 
«Sacrifícios  não  ha,  que  não  mereças 
.  «De  um  Filho,  que  risonha  alçaste  ao  Throno. » 


478  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

Desfarte  se  separa  aíiliclo,  e  deixa 
Em  lagrimas  banhado  o  Tejo  aurífero: 
Du  espumoso  Tritãu  nos  Paços  entra: 
E  do  horrísono  Eôlo  desdenhado 
O  rouco  brado,  e  as  férvidas  voragens 
Do  ríspido  Neptuno  procelloso. 
Ás  praias  surge  do  Janeiro  ameno. 

Que  brilhante  espectáculo  formoso 
Ali  se  ostenta ! . . .  Que  ventura,  e  gloria  f 
Que  delicia  f  que  júbilo !  que  assombro  1  , . . 
Tu,  sonora  Cantora,  ó  Fama  alígera, 
Do  Levante  ao  Poente,  na  áurea  tuba 
Assas  o  decantaste:  inútil  fora 
Rasteiro  Cisne  publicá-lo  ao  Mundo. 

iNo  entanto  os  Netos  dos  Pachecos  bravos. 
Dos  Castros  fortes,  dos  valentes  Nunos, 
As  imigas  Phalanges  repelliram 
Da  famosa  Ulyssea:  a  Paz  celeste 
Um  sorriso  desprende,  e  a  Gloria  surge. 

Respira  o  bom  Monarcha:  novo  quadro 
De  nitidas  Virtudes  apresenta 
No  dourado  Brazil  viçoso  e  bello: 
De  Virtudes  unmosas,  que  não  cedem 
Ás  de  um  justo  Antonino,  ás  de  um  Trajano, 
Com  que  na  antiga  Roma  o  summo  Jove 
Meigo  adoçara  as  barbaras  ferezas 
Dos  sanguinários  odiosos  Neros. 
Ali  a  Inércia  languida  falece: 
Ali  prodígios  mil  a  Industria  ostenta: 
Mostra  a  face  risonha  a  loura  Ceres: 
O  Thyrso  pampinoso  Baccho  empimha: 
A  Abundância  prospera:  ethereo  eílluvio 
O  solo  fertiliza:  ali  vicejam 
Os  presentes  de  Flora,  e  de  Pomona. 
A  Concórdia  benigna  prende  a  todos. 
Ali  renascem  os  dourados  tempos, 
Os  benéficos  dons,  que  o  bom  Saturno 
Raiar  fizera  nos  Latinos  campos. 

Mas  que  nuvem  ao  longe  pavorosa 
No  Horisonte  Luso  se  levanta  I 
Que  novos  Fados  hórridos  promette 
Aos  Portuguezes  peitos  I . .  .  Negros  globos 
De  eléctrica  matéria  os  Ceos  enlutam: 
Caliginosos  Euros,  feros  Notos, 
De  um  lado  e  de  outra  a  cara  Pátria  agitam. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  479 

Rebenta  a  tempestade ...  os  raios  troam . .  . 

De  cruentos  Democratas  estultos 

A  Cabilda  immoral  no  Douro  assoma: 

Traz  a  um  lado  a  Illusão,  e  ao  outro  as  Fúrias: 

A  Illusão  fraudulenta  um  pouco  afaga 

Os  innocentes  Povos:  elles  cuidam. 

Que  a  cândida  Verdade  só  lhes  falia: 

Proclama  o  bem  do  Rei,  o  bem  da  Pátria: 

A  Pátria  e  o  Rei  leaes  os  Povos  amam : 

Incautos  cedem  á  Maldade  astuta: 

Inda  seu  jugo  férreo  uão  conhecem. 

Em  breve  o  sentem  ...  oh  que  Fado  horrível  I 

As  viboras  da  Inveja  iradas  fremem: 

Espargindo  o  pavor,  conturba  os  ares 

O  hálito  venenoso  da  Calumnia, 

E,  em  serpes  desenvolto,  pulveriza 

O  virtuoso,  o  sábio,  A  Innocencia, 

A  Honra,  a  Lealdade,  em  ferros  gemem  í .  . . 

Desculpai,  oh  benévolos  Angrenses? 
Se,  lagrimas  amargas  enchugando, 
Pôde  um  Vate  rasteiro  o  débil  canto 
Alçar  um  pouco  nos  terríveis  tempos  . . . 
Oh  ! . ,  bem  seu  peito  examinastes:  sempre 
Ao  delirio  damnoso  illeso  o  vistes! 
Á  mais  pura  intenção  sorrio  se  a  Musa: 
Vós  éreis  todos  victimas  das  Fúrias: 
Se  na  crise  infeliz  gloria  não  era, 
As  Fúrias  adoçar  não  era  crime. 

Não  affrouxa  a  Illusão:  agita  as  plumas, 
E,  trespassando  o  Arsinario  Cabo, 
Vai  alQm  descançar  na  Plaga  occidua. 
Não  triunfa  do  Heroe:  elle  perscruta 
Os  mysterios  cruentos  dos  audazes 
Perversos  Catilinas:  vivo  anhelo 
De  salvar  desditosos  caros  Filhos 
Lhe  anima  o  nobre  peito:  novamente 
Do  ríspido  Tridente  a  fúria  arrosta: 
Calca  medos  e  azares,  té  que  surge 
Ao  magnifico  berço  Lusitano. 
Quer  o  brio  e  o  valor  de  leaes  Filhos 
Roubá-lo  aos  Demagógicos  furores: 
O  zelo,  o  sangue,  as  vidas  ofterecem: 
Mas  ah  f  João  he  Pai:  correr  não  deixa 
No  Luso  território  o  sangue  Luso: 
O  delirio  abater  de  ingratos  Filhos 


Í80  ARCHIYO  DOS  AÇORES 

Em  momento  opportuno  cauto  espera. 
Oh!  presente  dos  Ceos!  oh  sempre  amado 
Boníssimo  João  I  .  .  Que  sacrifícios, 
Que  anciãs,  que  magoas,  por  amor  dos  Povos, 
Teu  peito  generoso  opprimem,  rasgam  1 
Como  podes  sem  dor  pungente  e  viva 
Da  illudida  Pandora  vér  de  todo 
A  boceta  fatal  abrir-se  em  Lysia  ! 

Mas  eis  que  em  áureas  folhas  as  Sibyilas 
Gloriosas  escrevem,  que  Ulyssea, 
Nos  braços  da  Alegria  e  da  Concórdia, 
Vai  gosar  o  mais  próspero  destino. 
Realisam-no  os  Deosos  soberanos. 
Súbito,  dissipando  densas  trevas, 
A  suspirada  Aurora  fulgurante 
O  cróceo  berço  deixa,  e  a  face  mostra  .  .  . 
Eis  que  a  Pátria  respira  ...  oh  Ceos,  que  assombro! 
Que  vejo,  oh  Ceos!  ...  de  rojo  .  .  .  ahl  sim  eu  vejo 
Do  Tártaro  medonho  aos  negros  antros 
Irem  de  rojo  as  Fúrias:  e  bramando 
Arquejar  a  Illusão  no  torvo  Lethes  I  .  .  . 
Descer  eu  vejo  do  sagrado  Empyreo 
A  Religião  santa  luminosa  !  .  . 
Mostrar  o  insigne  Mérito  brilhante 
A  magestosa  face!...  vejo  a  gloria 
E  o  júbilo  aditar  do  Tejo  as  margens !  .  .  . 
Em  Angra,  Pátria  minha,  raiar  vejo 
Os  dias  de  bonança,  e  de  ventura  1  .  .  . 
Vejo  o  Illustre  Varão,  que  sustentara 
Sempre  constante  e  impávido,  entre  ferros, 
A  Lealdade  pura  ao  Rei,  á  Pátria, 
Novamente  fazer  brilhar  nas  Ilhas 
As  doçuras  da  Paz,  de  Astréa  os  risos!  ;  .  . 

Quão  engenhosa  és,  Virtude  amada, 
Gentil  celestial  Beneficência! 
Que  alto  poder  os  Deoses  te  doaram ! 
Como  cum  só  sorriso,  docemente 
Fazes  raiar  o  bem  da  Humanidade! 
Como  nutres  a  Honra,  e  a  Moral  pura! 
Como  a  teu  mando  luminosas  brilham 
As  Sciencias  úteis,  as  queridas  Artes !  .  .  . 

Quanto,  oh  Rei  immortal,  quanto  te  deve 
O  Solo  Portuguezl  ...  Oh  !  quanto  és  útil. 
Portentoso  João,  de  Lysia  aos  Povos  I  .  .  . 

Regentes  do  Universo!  .  .  .  ah!  vede  como 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  481 

Se  chega  a  disfriictar  o  Templo  Eterno!  .  . 

Aprendei  de  João  como  se  rege 

Nos  brííços  da  Delicia  amados  Povos! 

(]omG  se  ganham  louros  mais  fonnosos 

Do  ipie  os  Itjnros,  que  dão  mavórcias  lides  í . . . 

Basla,  ofi  Musa ! . . .  não  mais  I . . .  ligeira  corre 
Do  Hélicon  sagrado  ao  cume  excelso. 
Já  soherbo  Padião  has  levantado, 
Nos  Átrios  da  Memoria,  ao  sábio,  ao  justo 
Magnânimo  João:  assas  tens  dito, 
Porque  seu  claro  Nome  adore  o  Tempo: 
Porque  os  applausos  merecidos  possão, 
Nas  vindouras  idades,  tributar  lhe 
A  Lusa  Prole,  a  Humanidade,  o  Mundo. 


No  fim  d'este  elegante  e  melodioso  Poema,  rompeo  a  musica  com 
íima  linda  Sonata  de  Pleyel,  em  a  qual  a  parte  da  primeira  Rabeca 
foi  executada  pelo  digno  Author  do  Elogio,  que  deixamos  transcripto. 
A  esta  formosa  composição  musical  se  seguio  cantarem  a  duas  vozes 
as  Ex.*"*'  Senhoras  D.  Maria  Cândida  Leite  de  Bitencourt,  Mulher  do 
III.™"  (Coronel  e  Commendador  José  Theodosio  de  Bitencourt  Vascon- 
cellos  e  Lemos,  e  D.  Maria  Margarida  Stockler,  Filha  do  Ex."""  Gene- 
íal  Barão  da  Villa  da  Praia,  ao  som  do  Hymno  Keal,  as  seguintes  Co- 
[>las,  no  fim  de  cada  liuma  das  quaes  se  repetia  este 

Estribilho 

Por  vós,  pela  Patiia, 
O  sangue  daremos: 
Por  gloria  só  temos 
Vencer  ou  morrer. 


Eis,  Monarcha  excelso, 
Os  votos  sagrados, 
Que  os  Lusos  honrados 
Vem  livres  fazer. 

Aos  mares  vos  destes 
A  bem  dos  Vassallos, 
A  fim  de  livra  los 
Do  Ímpio  poder. 


N.°  48— Vol.  VIII  — I88G. 


Assim  ver  pudestes 
A  fé,  o  amor, 
O  brio,  o  valor, 
Em  Lysia  crescer. 

Imigas  Phalanges 
Dos  Francos  temidos, 
Por  vós  soccorridos, 
Pudemos  vencer. 


482 


ARCHIVO  DOS  ACOHES 


Os  louros  famosos, 
Que  o  Corso  ganhara, 
p]m  Lysia  preclara 
Vieram  perder. 

Do  Brazil  nos  climas. 
Com  dextra  propicia, 
A  paz,  a  delicia 
Fizestes  nascer. 

Mas  ai  qiie  de  Lysia 
Se  queixa  o  bom  Povo, 
Forçado  de  novo 
A  males  soíTrer. 

Então  pressuroso 
O  Tejo  buscais, 
A  Filhos,  que  amais, 
Querendo  valer. 

Já  Lysia  seus  braços 
Vos  abre  gostosa; 
Ha  tanto  anciosa 
Do  bem  de  vos  ver. 

Dos  ímpios  bramio 
A  negra  Facção, 
Que  ousou  a  Nação 
De  males  encher. 


Mas  vossa  justiça, 
Sciencia,  e  valor, 
Em  breve  o  furor 
Lhe  pôde  abater. 

A  Seita  inimiga 
Do  Throno  e  Altar 
Fizestes  voar, 
Bramir  e  gemer. 

Banistes  da  guerra 
O  germe  nefando, 
Benigno  nos  dando 
Repouso  e  prazer. 

O  vosso  triunfo 
Mil  bens  nos  augura: 
A  nossa  ventura 
Eterna  vai  ser. 

Sujeitos,  submissos 
Aos  seus  dignos  Reis 
Os  Lusos  fieis 
Só  querem  viver. 

Um  Deos  nos  escuda. 
Oh  Rei  sempie  caro : 
Deos  he  vosso  amparo: 
Não  ha  que  temer. 


Servio-se  depois  um  decente  refresco;  acabado  o  qual,  a  111.™^  Se- 
nh(tra  D.  Emilia  Carlota  da  Camaia  Madureira,  acompanhada  de  seu 
Irmão  o  Senhor  José  Bernardes  de  Madureira,  tocou  um  bellissimo  con- 
certo de  Flauta,  que  foi  geralmente  applaudido  dos  circunstantes,  os 
quaes  não  podião  deixar  de  admirar  a  desteridade  e  perfeição,  com 
que  um  e  outro  executaram  aquella  agradável  e  bem  escolhida  Peça, 

A  esta  seguirauí-se  uma  Ária  e  uma  Cavatina  de  excellente  gos- 
to cantadas  pela  já  mencionada  Ex.""^  Senhora  D.  Maria  Cândida  Lei- 
te de  Bitencouri:  a  qual,  depois  segunda  vez  acompanhada  pela  Ex.™* 
Filha  do  (ieneral.  cantou  com  esta  ao  som  de  um  novo  Hymno  com- 
posto em  Angra  por  occasião  do  restabelecimento  da  Authoridarh'  Re- 
gia na  Pessoa  de  El-Rei  Nosso  Senhor,  as  seguintes  (Coplas  alusivas  ás 
precedentes  [)ei turbações  politicas,  que  opprimiram  e  dilaceraíam  o 
Reino;  e  aos  sentimentos  de  Religião,  Humanidade  e  Clemência,  ijue 


AHCHIVO  DOS  AÇORES 


483 


Sua  Mdgtíslade  lem  manifestado  para  com  lodos  os  Seus  Vasallos,  e 
especialmente  para  com  os  Açorianos;  procurando  trazê-los  á  pa/  e 
harmonia  por  nm  períVito  esquecimento  dos  desgraçados  acontecimen- 
tos pretéritos. 

No  fim  de  cada  huma  se  repetia  este 

Estribilho 

Vivam  os  fieis  Angrenses 
Ao  abrigo  do  sen  Rei: 
Vi  vão  todos  os  que  tem 
Caracter,  costume,  e  lei. 


Doce  paz,  doce  harmonia, 
Do  benigno  Ceo  descei  : 
Avivai  entre  os  Angrenses 
(Caracter,  costume,  e  lei. 


Tudo  qua!ito  digo  e  faço 
Em  nome  do  nosso  Rei, 
He  para  que  sustenteis 
Caracter,  costume,  e  lei. 


3.» 


Perdoai,  leaes  Angrenses, 
Que  eu  também  já  perdoei; 
Sustestai,  comigo  unidos. 
Caracter,  costume,  e  lei. 


4.» 


Nestes  nobres  sentimentos 
Constantes  permanecei: 
.Mostrai  cada  vez  mais  firmes 
(>aracter,  costume,  e  lei. 


A  desmedida  ambição 
Da  pérfida  infame  Grei, 
Supplantar  em  vão  pretende 
Caracter,  costume,  e  lei. 

6.« 

A  suas  dolosas  tramas 
Contra  a  Patiia,  e  contra  o  Rei, 
Serão  barreira  invencivel 
Caracter,  costume,  e  lei. 


7.' 


A  firmeza  inabalável. 
Que  entre  ferros  sustentei, 
Vos  ensina  quanto  podem 
Caracter,  costume,  e  lei. 

8.» 

Insanos  inda  blasfemão 
Contra  mim,  eu  bem  o  sei: 
Porque  sustento  constante 
(Caracter,  costume,  e  lei. 


484 


ARCHIVO  DOS  ACOKES 


Seus  dicterios,  seus  insultos, 
Sempre  sereno  encarei: 
Ensinão-me  a  relevá-los 
Caracter,  costume,  e  lei. 

10.» 

Da  sua  insânia  em  castigo 
Só  remorsos  llie  deixei: 
O  meu  empenho  he  que  tenham 
Caracter,  costume,  e  lei. 

Talvez  me  esforce  debalde, 
Como  outrora  me  esforcei, 
Pertendendo  que  respeitem 
Caracter,  costume,  e  lei. 

Obediente  aos  preceitos 
Da  Razão,  e  do  Meu  Rei, 
Não  cessarei  de  inspirar  lhes 
Caracter,  costume,  e  lei. 


13.» 

Vós,  Angrenses  generosos, 
O  que  pratico  fazei: 
Inculcando-lhes  benignos 
Caracter,  costume,  e  lei. 

14." 

Com  fraternal  indulgência, 
Seus  delírios  esquecei: 
Mostrailhes  quanto  em  vós  podem 
Caracter,  costume,  e  lei. 

15." 

Humilhados  e  confusos 
Caiam  aos  pés  do  bom  Rei: 
Unidos  comnosco  abracem 
Caracter,  costume,  e  lei. 

Estribilbo 

Vivam  os  fieis  Angrenses 
Ao  abrigo  do  seu  Rei: 
Vivão  todos  os  que  tem 
(;:aracter,  costume,  e  lei. 


Terminou  este  festivo  applauso,  tornando  a  Senhora  D.  Emilia 
Carlota  a  tocar  outro  concerto  de  Flauta,  acompanhada  por  seu  irmão 
mais  moço  o  Senhor  Alexandre  de  Madureira,  que  apenas  conta  doze 
annos  de  idade.  Este  segundo  concerto  não  foi  menos  admirado  do 
que  o  primeiro;  e  a  elle  se  seguio  hum  Quarteto  de  Pleyel,  cujo  mé- 
rito assas  he  indicado  pela  declaração  do  nome  do  seu  author,  e  com 
o  qual  rematou  o  festejo. 

Na  Villa  da  Fria,  onde  o  prazer  do  restabelecimento  da  Authori 
dade  Soberana  na  Pessoa  do  Senhor  Rei  D.  João  VI.,  e  o  desejo  da 
prolongação  da  sua  preciosa  vida,  não  são  menores  do  que  em  Angra, 
também  os  moradores,  dirigidos  pelo  seu  digno  Juiz  de  Fora  o  Senhor 
António  Justiniano  Pegado  Brotero,  fizeram  iguaes  demonstrações  de 
alegria  e  patriotismo. 


Jm^r^nsa  pcri0ílira  nas  glçaits 


Cinco  annos  decorreiam  deí>íie  que  ij(t  N."  M  dVsle  Archivo  se 
deo  noticia  dos  joinaes  açorianos  a  começar  da  sua  oiigem  em  IS^iO. 
até  ao  anno  de  1881. 

Foi  um  primeiro  ensaio,  e  como  tal  imperfeito  e  diíTiciente,  com 
tudo  assim  mesmo  sérvio  de  baze  aos  entendidos  na  matéria,  para  de 
diversas  ilhas  e  mesmo  de  Lisboa,  enviarem  a  esta  redacção  valiosas 
indicações  tendentes  ao  aptríeiçoameuto  de  imi  trabalho  que  só  pode 
ser  exacto  quando  feito  em  presença  das  Cidiecções,  sempre  raras. 

O  catalogo  que  se  segue  contem  alem  disso  a  indicação  dos  jor- 
naes  que  appareceram  até  ao  fim  de  1886. 

Antes  porem,  reproduziremos,  como  Prologo  apropriado,  uma  no- 
ticia circumstanciada  da  introducção  da  arte  typographica  nos  Açores, 
tal  como  depois  de  varias  correcções  (Ij  foi  publicada  pelo  sr.  José 
Joaquim  Pinheiro,  Terceirense.  (á) 


INTRODUCÇÃO  DA  IMPRENSA  NOS  AÇORES 

«Em  15  de  Maio  de  1885  traçámos  uma  breve  noticia  sobre  a  in- 
troducção da  imprensa  nos  Açores;  trabalho  (jue  fizemos  a  convite  da 
digna  redacção  da  folha  lisbonense  Portugal,  Madeira  e  Açores,  e  que 
a  mesma  redacção  transcreveu  no  se«i  n.''  32,  de  28  do  mesmo  mez. 
Infelizmente  o  pouco  tempo  que  destinamos  a  este  serviço,  e  o  nosso 
nielindroso  estado  de  saúde  naquella  occasião.  fizeram-nos  commetter 
algumas  inexactidões,  que  hoje,  com  mais  descanço  e  melhor  imfor- 
mados,  vimos  rectificar,  passando  a  fazer  novo  artigo  noticioso  sobre 


(1)  Soíjre  o  assumpto  pode  consullar-se  o  Commercio  de  Porhtgal  de  27  de 
julho  de  1879;  —  Conimbrirense,  N.»  :iM\  de  9  d'afiOsto  de  1879,  3:925  de  4  d'a- 
hril  de  188o,  :3:942  de  2  de  junlio  do  iiiesmo  anno,  e  :}:944  de  9  do  mesmo  mez; 
—Portugal,  Madeira  e  Açores,  X.°  32  de  28  de  maio  de  1885,  em  que  os  srs.  Au- 
gusto Ribeiro,  Simão  José  da  Luz,  e  José  Joaquim  Ribeiro  discutiram  a  matéria, 
illucidando-a  com  os  próprios  conhecimentos. 

(2j  Números  4:042,  4:043  e  4:044  (maio  de  1886;  do  Conimbricense. 


486  ARCHJVO  DOS  AÇORES 

(\sie  assiuiiplo,  que  cunsideramos  da  iiiaiur  iiuporlancia  para  a  liislo- 
ria  da  typographia  e  do  jornalismo.  (1) 

«Em  14  d(!  fevereiro  de  I8Í29  chegou  ao  porto  de  Angra  a  gale- 
ra americana  James- Cropper,  vinda  de  Plymoutli,  trazendo  a  sen  bor- 
do yOi  praças  do  batallião  de  voluntários  da  rainlia,  e  com  ellas  os  ty- 
pos,  prelo  e  mais  perlenct\>,  com  que  nesta  cidade  se  montou  a  pri- 
meira imprensa  açoriana.  Estes  materiaes  lypographicos  tinham  sido 
comprados,  mesmo  em  Plymouth,  em  um  leilão,  [)or  ordem  do  mar- 
qucz  de  Palmella,  para  uso  da  junla  provisória,  que  na  ilha  Terceira 
coníliluia  o  goveino  liberal  portugue/.  em  nome  da  rainha  a  sr.*  D. 
Maiia  11;  sendo  só  em  seus  muros  que  fluctuava  então  a  bandeira  bi- 
color, e  onde  os  desditosos  emigrados  liberaes  do  continente  encontra 
iam  pátria  e  protecção. 

«A  saliida  de  Plymuuth  d'esta  galera  eflectuou-se  no  dia  liO  de  Ja- 
neiro antecedente,  e  tendo  chegado  aos  mares  da  Terceira  com  boa 
viagem,  ponde  felizmente  escapar-se  ao  ajtertado  bloqueio  inglez,  a- 
brigando-seda  sua  perseguição  debaixo  da  bateria  denominada  de  San- 
eio António,  que,  no  sopé  do  Monte-Brasii,  demora  na  parte  Occidental 
da  bailia  d'Angra. 

«O  desembarque  fez  se,  pois,  no  já  dito  dia  14  de  Fevereiro,  e  dois 
(tu  ires  dias  depois  foram  as  praças  acabadas  de  chegar,  sendo  a  I.* 
companhia  formada  pelos  voluntários  académicos  de  Coimbra,  manda- 
das guarnecer  a  villa  da  Praia;  logar  onde  algumas  semanas  depois 
tiveram  a  ventura  de  abraçar  os  seus  valorosos  camaradas  e  amados 
companheiros  de  infortúnio,  que  posteriormente  vieram  de  Inglaterra 
com  o  seu  bravo  commandante,  o  major  Manoel  Joaquim  de  Menezes. 
[>ara  juntos  ferirem,  no  memorável  dia  II  d'Agosto  seguinte,  a  famo- 
sa batalha  que  os  encheo  de  immorredoira  gloria,  e  que  deu  á(juelle 
lixíal  (j  titulo  de  muito  notável  villa  da  Praia  da  Victor  ia. 

«A  imprensa  trazia  duas  folhas  apnjximadamente  de  typo  com  al- 
gum uso,  de  leitura  (hoje  corpo  lá),  redondo  e  gripho,  e  algum  typo 
novo  d  aquelle  curpo;  pouco  mais  de  meia  folha  de  6rer<a/íO( corpo  8 j; 
talvez  mn  quarto  de  folha  de  texto  (corpo  H»),  typo  de  maior  grande- 
za para  litulos— linhas  de  zinco,  algumas  vinhetas,  componedores,  ré- 
guas de  madeira,  bolandeiras,  lamas  e  pi  elo  com  seus  pertences  pa- 
ra o  serviço  de  impressão. 

«Transportados  estes  objectos  para  o  castello  de  S.  João  Baptista 
dAngra,  foi  alii  .irmaila  a  iinprensa  no  vestíbulo  do  palácio  do  gover- 
nador, que  formava  uma  sala,  com  a  vedação  que  já  existia  contra  a 
parte  da  escada  principal,  deixando  se  somente  um  corredor  para  pas- 


(1)  A  maitif  parte  dos  esclaniciíiiciilos  que  podemos  colher  loi-nos  ob/.e- 
quiosamente  otTerecida  pelo  nosso  erudito  eseriptor,  o  ex."*  sr.  conselheiro  Simão 
.losé  da  Luz,  a  quem  por  tal  motivo  endereçamos  os  nossos  sinceros  ajíradeci- 
meiítos.  É  portaíito  tão  hmpida  a  fonte  (l\ujde  ehes  emanam,  que  ninguém  pode- 
rá (hl  vidar  da  verdade  da  nossa  narração  de  hoje.  [Nota  do  Author). 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  487 

sageii).  Ksla  sala,  (pie  é  a  prinieii'a  do  palácio  pelo  lado  meridional, 
prende  se  a  unia  antiga  casa  aonde  ainda  hoje  appareceni  umas  armas 
reaes  portngnezas,  sobre  a  porta  de  commnnicagão  com  a  camará  em 
que  dormiu  o  infeliz  rei  D.  AíTonso  VI,  por  nesse  tempo  estar  ainda 
em  constriicção  o  palácio  dos  governadores,  de  que  esta  velha  casa  se 
ria  uma  continuação,  se  se  tivesse  concluido  o  palácio  segundo  o  seu 
piano  primitiv(),  que  envolvia  todo  o  quarteirão  das  casas  contignas, 
hoje  bastante  arruinadas,  pelo  desleixo  do  Governo  portngnez,  que  tu- 
do descura. 

«A  direcção  da  nova  imprensa  foi  comn)ettida  ao  alferes  d  infante- 
ria  n."  13,  Pedro  Alexandrino  da  Cunha,  mancebo  que  á  sua  reconhe- 
cida honradez,  alliava  grande  mérito  e  muito  talento  artistico.  (I)  Couut 
subdirector  e  subordinado  a  elle,  foi  nomeado  o  sr.  Simão  José  da  Luz, 
que,  por  influencia  do  seu  amigo,  o  tenente  do  batalhão  de  caçadores 
n.°  5,  Narciso  de  Sá  Nogueira  (2),  tinha  ficado  na  cidade,  e  havia  sido 
requisitado  para  este  fnn.  Eis  (juaes  foram  os  dois  primeiros  illustra- 
dos  artistas  typographicos  da  primeira  imprensa  açoriana.  a[)esar  de 
ambos  desconhecerem  até  ahi  os  trabalhos  de  lypographia  I 

«Só  a  bôa  vontade  e  ardente  desejo  de  servir  a  causa  polilica.  que 
haviam  abraçado,  e  pela  qual  já  tanto  tinham  soíTrido,  é  (pie  podiam 
levar  dois  mancebos,  imi  alferes  do  exercito  e  outro  estudante  da  Fa- 
culdade de  Malhematica  na  Universidade  de  Coimbra,  a  arvorarem-se 
em  artistas,  á  força  do  mais  Ímprobo  trabalho,  compulsando  constan- 
temente um  Manual  do  impressor,  que  casualmente  possuia  o  director 
Fedro  Alexandrino  ú:\  Cunha,  única  luz  que  os  guiou  na  montagem  da 
imprensa. 

«Montada  a  imprensa,  por  maneira  (jiie  só  nella  houve  depois  a 
emendar  o  tympano  do  prelo,  que  estava  collocado  ás  avessas,  quando 
chegaram  á  ilha  Terceira  dois  compositores  de  profissão,  seguiram-se 
os  trabalhos  typographicos,  começando  a  primeira  tiragem  por  dois 
versos  de  Virgilio,  dos  quaes  o  segundo,  (pie  se  conservou  por  bas- 
tantes annos,  era:  Scmpcr  honos  nomcnque  tuum.  laudesqm  manebunt, 
que  foram  fixados  num  dos  prumos  do  prelo,  para  memoria  desta 
primeira  tiragem,  e  um  rotulo  com  a  data — li  de  Fevereiro  de  I8i9 
— -que  ainda  hoje  existe  na  parl»^  inferior  do  piélo. 

«Nos  seus  ensaios  typographicos  compíjzeram  e  imprimiram  os  no- 
véis arlistas  algumas  pequenas  folhas  avulsas,  noticiosas  dos  aconte- 
cimentos da  emigração,  até  á  chegada  a  Angra  dos  dois  compositores 
de  profissão  Simões  e  Poitiig^l,  e  do  impressoi'  Moura  Machado,  com 


(1)  Morreu  no  posto  de  capitão  df  mar  e  fiucrra,  p  jiovern;uior  do  .Macau. 
Os  seus  re.-^los  niortaes  j;izein  na  lousa  sepulcral,  (|ue,  para  seu  jazigo,  íez  erfiuer 
o  sr.  eoiisellieiro  Simão  .losi;'  da  Luz,  mandando  á  sua  custa  coijduzir  o  cadáver 
para  este  tão  caritativo  lim.  [Nota  do  Autfiov). 

(2)  Era  irmão  do  liom-ado  marquez  de  Sá  da  Bandeira.  Morreu  gloriosamen- 
te pela  sua  bravura  na  ac(,ão  de  Yalougo,  oin  1832  [Nota  do  Author). 


488  ABCHIVO  DOS  AÇORES 

o  b^ltídor  (las  balas  Joaquim  José  Soares,  ijiie  lodos  eram  praças  do 
balalliãu  de  voliinlarios  da  rainba,  e  que  foram  empregados  na  impren- 
sa. Também  foi  requisitado  como  auxiliar  o  voluntário  emigrado  An- 
tónio José  Gonçalves  Costa,  soldado  da  1.^  companbia  do  batalhão  de 
volimtarios  de  Coimbra,  que  na  sua  officina  de  encadernador,  onde 
residia,  era  incumbido  das  brochuras,  venda  de  impressos,  etc.  Ainda 
este  pessoal  foi  reforçado  pelo  compositor  Avelar,  (1)  que  pertencen- 
do á  brigada  de  marinha  miguelista,  no  parque  d'arlilheria,  foi  feito 
prisioneiro  na  batalha  de  11  dWgosto  de  1829,  na  villa  da  Praia. 

«Com  este  pessoal  desenvolveram-se  bastante  os  trabalhos  lypogra- 
phicos,  fazeiído-se  d'esla  occasião  em  diante  boas  impressões,  que  bem 
revelaram  os  conhecimentos  artísticos  dos  três  compositores  Simões,  Por- 
tugal e  Avelar,  Por  esta  occasião  mudou-se  a  imprensa  para  uma  casa 
na  rua  da  Sé,  quasi  fronteira  á  rua  de  S.  João.  hoje  propriedade  do 
negociante,  o  sr.  Bento  José  de  Mattos  Abreu,  cuja  casa,  por  haver 
sido  residência  do  tenente  coronel  de  milicias  dAngra,  José  Theodo- 
sio  de  Bettencourt  Lemos,  fidalgo  miguelista,  estava  sequestrada. 

«A  parte  occidenlai  desta  casa  foi  destinada  para  a  imprensa,  e 
a  oriental  para  residência  do  director. 

«Foi  d'ahi  que  em  17  dAbril  de  1830  saiu  o  primeiro  numero  de 
A  Chronica  da  Terceira,  redigida  pelo  illuslrado  académico,  o  senr. 
Simão  José  da  Luz,  logar  que  elle  acceitou  a  convite  do  niajor  Ber- 
nardo de  Sá  Nogueira,  (depois  marquez  de  Sá  da  Bandeira)  que  aqui 
desembarcou  em  18  de  Dezembro  de  1829,  vindo  de  Ostende  com 
outros  oITjciaes,  e  com  a  sr.*  condessa  de  Villa  Flor,  a  bordo  da  ve- 
leira escuna  Jack-ó-laniern.  {%  Desintelligencias  havidas  depois  entre 
o  marquez  de  Palmella  e  o  sr.  Simão  José  da  Luz  levaram  este  ultimo 
a  relirar-se  da  redacção  da  Ghronka  da  Terceira,  órgão  oíTicial  da  re 
gencia  (talvez  pelos  n.°'  12  ou  13),  entrandíj  nella  os  emigrados  aca- 
démicos Elias  José  de  Moraes,  José  Estevão  Coelho  de  Magalhães,  e 
posteriormente  o  tenente  do  batalhão  de  voluntários  da  rainha,  João 
Eduardo  d"Abreu  Tavares.  '3j 


(1)  João  António  d'Avellar,  I.*  compositor,  que  ticára  empregado  na  ini- 
pronsa,  por  ordem  do  governo,  quando  o  exercito  embarcou  para  o  reino,  foi  exo- 
nerado por  seu  pedido  e  com  louvor  pelo  Prefeito  aos  10  de  setembro  de  1834, 
como  se  vê  na  Chronica  Constitucional  d' Angra,  u.°  41.     (Nota  da  Redac{-ão.) 

(2)  A  Chronica  vendia-se  na  ofiicina  de  António  José  Gonçalves  Costa,  nu- 
ma das  lojas  da  casa  da  imprensa  na  rua  da  Sé,  pelo  que  por  muitos  annos  se 
chamou  a  loja  (ia  Chronica,  e  elle  o  António  José  da  Chronica.  (Nota  do  Autor). 

{;{)  Exerceu  em  .Anidra,  por  muitos  annos,  o  lopar  de  director  da  Alfandega, 
com  a  uíaior  liom-adez  e  lino  trato,  sendo  ainda  hoje  aqui  knnbrado  com  a  maior 
saudade.  [Nota  do  Author). 

João  Eduardo  d'Abr('U  Tavaies,  Comniandante  do  Deposito  de  Volunta- 
lios  da  Rahdia  e  do  Batallião  de  Caçadores  da  Legião  Nacional,  Consellieiro  da 
1'refeitura,  Mendiro  da  Commissão  de  li(iuida(;ào  das  dividas  do  estado,  por  não 
poder  ronliimar  a  ex»'r(-er  o  logar  de  Director  da  Imprensa,  pedio  a  sua  exone- 
i-açâo  ao  Prefeito  (|ue  llTa  concedt!o,aos  9  dejullio  de  1833,  nomeando  na  mesma 


ARGHIVO   DOS  AÇORES  489 

«Nesta  imprensa  publicou-se  também,  enlre  outras  coisas,  um 
livro  iu-S.",  (I)  de  2G3  paginas,  em  typo  de  brevi;iriu,  inlituhido  Col- 
lecção  de  decretos  e  ordens  da  regência.  Uuj  folheto  de  perto  de  100 
paginas  de  Ordens  da  capitania  geral  dos  Açores,  pai  ticipações  oíTiciaes 
da  tomada  das  ilhas  dOeste  e  de  S.  Miguel.  ;2)  Também  se  imprimiu  a 
Carta  Constifticional,{^)ou\horg'^ô:\  em  2í)  d'Abril  de  1820;  e  o  enge- 
nheiro José  Uionisio  da  Serra  publicou  um  folheto  em  verso  sobre  a 
morte  do  desditoso  Gomes  Freire  d"Ândrade.(4)  Sob  a  redacção  d'alguns 
emigrados  académicos  imprimiu  se  clandestinamente  o  chistoso  folheto 
em  verso  As  noites  do  barracão.  (5)  apparecendo  esta  edição  datada  de 
1830— Paris,  para  ocbaltar  ter  sido  feita  na  imprensa  do  governo. 

«De  todas  as  publicações  d"esta  imprensa,  as  mais  interessantes  e 
hoje  raríssimas,  foram  no  anuo  de  1830  a  Folhinha  da  Terceira  para 
1831,  e  no  fim  d'esse  anno  a  Folhinha  da  Terceira  para  1832,  ambas 
em  typo  breviário,  sendo  boa  a  sua  impressão.  N'cstas  folhinhas  escre- 
veu a  parte  histórica  José  António  Guerreiro,  a  parte  geographica  o 
major  Bernardo  de  Sá  Nogueir.f,  e  a  parte  restante  o  distincto  acadé- 
mico Simão  José  da  Luz.  (Cj 

«Os  muitos  afazeres  da  imprensa  pelos  fins  do  anno  de  1831,  le- 
varam a  ser  para  ella  requisitado  o  sargento  ajudante  João  de  Sousa 


occasião  José  Gonçalves  Baibosa,  capitão  do  ultramar.  {Chronicados  Açores,  d." 
27).  Em  20  d'agosfo  se^iuinle  foi  Barbosa  exonerado  por  seu  pedido  e  nomeado  a 
28  d'a<j;osto  de  18-33  (Chronica  dos  Açores,  n."  33)  para  o  substituir  António  Joa- 
quim Nunes  de  Vasconcellos,  que  foi' escuso  em  i9  de  jullio  de  1834  para  poder 
concluir  os  estudos  em  Coimbra.  (CAroníca  Constitucional  d' Angra,  n.°  33). 

{Da  Redacção  esta  nota  e  as  seguintes  até  á  n.°  6  inclusive.) 
(1)  Fizeram-se  3  edições  d'este  livro  na  Terceira;  a  1.*  em  8.°  pequeno,  com 
96  p.  até  ao  Decreto  n.»  34,  em  18;i0;  a  2.»,  a  acima  indicada,  cujo  verdadeiro  for- 
mato é  12.»  pequeno,  com  263  pag.,  (cada  folha  contem  24  pag.,  e  com  declara- 
ção de  ser  esta  edição  com  permissão  do  governo")  Angra,  1832;  a  3.^  em  4.°  com 
122  pag.  e  mais  S  de  índice,  Angra,  1832. 

Alem  doestas  edições  houve  uma  em  Lisboa,  feita  na  Imprensa  Nacional 
em  1834  a  183.o. 

(2)  Pubhcada  no  Vol.  VI,  pag.  76  d'este  Archivo. 

(3)  Houve  duas  edições  em  Angra,  a  primeira  de  1830,  em  8."  pequeno  com 
30  pag.,  a  segunda  de  1831,  em  12.»  pequeno  com  45  pag. 

(4)  1831,  23  pag.  in-8.°  peq. 

(5)  Ha  quem  pense  que  as  Noites  foram  compostas  clandestinamente  por 
Joaquim  José  Soares.  A  data  supposta  não  é  1830,  como  acima  se  diz.  mas  sim 
1834. 

(6)  Alem  dos  Opúsculos  citados  pelo  Sr.  Pinl)eiro,  podem  citar-se  mais: 
— Coltecção  de  Exercidos  d'Artilheria.  Angra  1829,  4.°  pequeno,  com  50  pag. 
—  Varias  Poesias  Analugas  das  dijferentes  circumstuncias  politicas,  por  B.  M  D. 

(Bartlioiomeu  dos  Martyres  Dias).  1829,  8."  pequeno  de  19  pag. 

— Garantias  dos  Direitos  civis  e  politicos  dos  cidadãos  portuguezes.  1830,  27  qua- 
dras, 8.»  pequeno,  de  8  pag.  sem  numeração. 

— A  Revolução  de  França. .  .1831,  8."  pequeno  de  96  pag. 

— Reflexões  Politicas,  por  D.  G.  Lara  d'Andrade,  1831,  8.°  pequeno  de  52  pag. 

— Collecçao  de  poesias  recitadas  no  theatru  dos  ctiriosos  voluntários por 

M.  Á.  C   1833,  8.°  pequeno  de  16  pag. 

N.*»  48— Vol.  VIH  -1886.  3 


490  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

Ribeiro,  que  n'ella  aprendeu  a  arte  lypographica,  que  aqui  exerceu 
até  fallecer  (I),  e  para  revisor  typographico  o  \.°  sargento  de  infan- 
teria  n,°  6,  servindo  no  batalhão  d"iiiglezes,  José  Ezequiel  da  Custa 
Ricci,  que  nesta  ilha  foi  despachado  alferes.  (2)  Foram  também  ad- 
mitlidos  como  aprendizes,  sem  vencimento,  os  jovens  terceirenses  João 
de  Sousa  Pereira,  (hoje  ajudante  da  conservatória  da  comarca  d'An- 
gra),  e  seu  irmão  Manoel  de  Sousa  Pereira,  que  em  1842  embarcou 
para  o  Brasil. 

«Com  todo  este  pessoal  trabalhou  a  imprensa  na  ilha  Terceira  até 
o  anno  de  1832,  em  que,  em  23  d'Abril,  próximo  da  noite,  foi  trans- 
portada para  a  ilha  de  S.  Miguel,  com  a  expedição  liberal,  que  no  dia 
seguinte  ahi  desembarcou:  publicando-se  naqiiella  ilha  os  n.°*  39,  40 
6  41  e  seu  snpplemento  d'i  Chronica,  semanário  dos  Açores,  publi- 
cação que  terminou  em  Junho  d'esse  anno  com  a  partida  para  o  con- 
tinente do  exercito  libertador,  a  que  pertencia  todo  o  pessoal  da  im- 
prensa, á  excepção  dos  dois  aprendizes  typographos  João  de  Sousa 
Pereira  e  Manoel  de  Sousa  Pereira,  que  ficaram  em  Angra,  despedi- 
dos da  imprensa. 

«Com  a  sabida  do  exercito,  ficaram  destacados  em  S.  Miguel,  es- 
perando ordens  ulteriores,  encarregados  da  imprensa  os  três  voluntá- 
rios emigrados  João  de  Sousa  Ribeiro,  como  compositor,  António  José 
Gonçalves  Costa,  (3j  como  impressor,  e  Joaquim  José  Soares,  como 
batedor  de  balas:  mas  logo  que  foi  creada  a  prefeitura  dos  Açores,  com 
sede  em  Angra,  voltou  a  imprensa  para  esta  cidade,  sendo  nella  read- 
mittidos  os  terceirenses  João  de  Sousa  Pereira  e  Manoel  de  Sousa  Pe- 
reira. 

«A  imprensa,  sob  a  direcção  do  compositor  João  de  Sousa  Ribeiro, 
foi  montada  na  ermida  da  Boa-Nova,  então  profauada,  sendo  dahi,  que 
em  6  de  Janeiro  de  1833,  começou  a  publicação  do  n."  I  (VA  Chro- 
nica dos  Açores,  que  durou  até  Dezembro  do  mesmo  anno,  sendo  a 
sua  redacção  confiada  ao  capitão  João  Eduardo  dAbreu  Tavares,  e 
collaborando  os  académicos  Antoni.)  Joaquim  Nunes  de  Vasconcellos  e 
Faria  Barbosa.  (4) 

«No  anno  de  1834  publicou-se  A  Chronica  Constitucional  de  An- 
gra, sendo  d'ella  redactores  os  mesmos  indivíduos  até  Setembro  do 


(1)  Era  natural  da  cidade  do  Porto,  onde  com  seu  irmão,  também  voluntá- 
rio emigrado,  trabalhava  na  otficina  de  cereeiro,  de  seu  pae,  estabelecida  na  mes- 
ma cidade  próximo  da  torre  dos  Cleripos.  íEsíta  e  as  duas  Notas  seguintes  são  do 
Author). 

(2)  Morreu  cliefe  de  repartição  no  ministério  da  guerra. 

(3)  Este  voluntário  emijírado,  tinha  ainda  no  anno  de  1828  a  sua  officina 
de  encadernador  na  rua  de  Qnchra  Costas  em  Coimbra,  sendo  muito  conhecido, 
tanto  dos  lentes  como  dos  estudantes  da  Universidade,  para  a  qual  encadernava. 
Morreu  em  uma  casa  da  rua  da  Rosa,  de  Angra,  em  avançada  edade,  deixando 
de  si  boa  memoria. 

(4)  Bacliarel  António  do  Rego  Faria  Barbosa.  {Nota  da  Redacção). 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  491 

mesmo  anno,  em  que  seguiram  para  Lisboa,  sendo  por  essa  occasião 
nomeado  redactor,  pelo  prefeito,  o  terceirense  dr.  António  Moniz  Bar- 
reto Corte-Real  (I;  até  H  de  Junlio  de  1833,  em  que  finalisou  a  pu- 
blicação deste  periódico;  transportando  se  a  imprensa  para  uma  casa 
do  pavimento  térreo  do  palácio  da  prefeitura  (lioje  do  governo  civil) 
por  baixo  das  cozinlias  do  mesmo  palácio  (2). 

«Em  16  de  Março  de  1835  publicou-se  a  Sentinella  ComtUucio- 
nal  nos  Açores,  com  este  titulo  até  ••  u.*^  24,  de  26  de  Agosto  seguin- 
te, e  a  epigraphe  Vitatn  impendere  vero,  e  do  n.°25  em  diante  A  Sen- 
tinella. com  a  epigraplie  Ccvilisação,  liberdade,  ordem  publica.  A  reda- 
cção d'este  jornal  eí.tava  confiaiJa  ao  capitão  de  engenheiros  José  Ra- 
phael  da  Costa,  que  pela  maneira  virulenta  com  que  escrevia,  levou  o 
prefeito  a  só  permittir,  que  desde  o  n.*'  8  em  diante,  em  vez  de  ap- 
parecer  a  declaração  de  Angra:  na  Imprensa  da  Prefeitura.  1835  — 
se  mudasse  para  a  de  Angra  —  IS^D  —  Ó  impressor  A.  J.  G.  da  Costa. 
Foi  este  o  primeiro  jornal  terceirense  da  politica  conservadora,  então 
chamada  devorista  e  depois  cartista,  que  terminou  no  n.°  52  de  14  de 
Abril  de  1836. 

«Em  29  de  Março  de  1835  (domingo)  publicou-se,  impresso  na 
mesma  typographia,  O  Liberal,  que  terminou  em  9  de  julho  de  1836, 
também  primeiro  jornal  terceirense  da  politica  da  reforma,  chamada 
então  reformista,  depois  setembrista,  e  ho\e  progressista,  sendo  seus  re- 
dactores o  dr.  medico  Nicolau  Caetano  de  Bettencourt  Pitta,  advogado 
Francisco  Lúcio  Duarte  Rego,  Francisco  de  Lemos  Alvares,  e  Roberto 
José  da  Silva  (3).  Este  jornal,  que  foi  o  precursor  d' O  Angrense,  sus- 
tentou uma  constante  polemica  com  A  Sentinella;  o  que  levou  o  pre- 
feito a  prohibir  a  publicação  de  jornaes  politico^  na  imprensa  da  pre- 
feitura, no  anno  de  1836. 

«Esta  prohibição  fez  com  que  o  visconde  de  Bruges,  conselheiro 
Theotonio  de  Ornellas,  mandasse  comprar  em  Lisboa  uma  nova  typo- 
graphia, que  fez  montar  em  Angra,  na  casa  da  rua  do  Pintor,  n.°  510, 
próximo  do  largo  denominado  das  Covas,  para  a  qual  passaram  os  ty- 
pographos  lerceirenses,  Manoel  de  Sousa  Pereira  e  João  de  Sousa  Pe- 


(1)  É  bacharel  formado  em  Cânones  pela  Universidade  de  Coimbra,  e  na 
avançada  edade  de  quasi  82annos  é  ainda  professor  do  lyceu  nacional  de  Angra, 
de  que  foi/undador,  tendo  sido  por  muitos  annos  seu  reitor  e  coinmissario  dos 
estudos.  É  o  mimoso  auctor  das  Bellezas  de  Coimbra,  e  de  diversas  obras  de  in- 
strucção  publica,  isto  além  de  diversos  jornaes  políticos  que  redigiu  nesta  ilha, 
onde  por  bastantes  annos  exerceu  a  advocacia  com  a  maior  proficiência  e  hon- 
radez, e  por  muitas  vezes,  os  logares  de  conselheiro  de  districto,  e  vice-presiden- 
cia  da  camará  municipal  d.'  Angra,  sua  pátria. 

(2)  Neste  palácio  residiu  desde  3  de  Março  de  1832  até  23  de  Abril  seguinte 
sua  magestade  imperial  o  sr.  D.  Pedro  IV,  dormindo  no  penúltimo  quarto  conti- 
guo  á  sala  grande,  da  parte  oriental. 

(3)  Era  irmão  do  par  do  reino,  o  sr.  conselheiro  Carlos  Bento  da  Silva. 

(Notas  do  Author). 


492  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

reira,  ficando  o  primeiro  d'ella  director.  D'esla  imprensa  saiu  o  n."  I 
do  Angrense,  em  23  de  Setembro  de  4836,  continuando  a  publicar-se 
até  hoje. 

«Em  consequência  da  imprensa  do  governo  ficar  limitada  á  pu- 
blicação das  peças  otficiaes  da  prefeitura,  e  a  alguns  pequenos  traba- 
lhos, sem  caracter  politico,  ficou  d'ella  encarregado  o  seu  director  João 
de  Sousa  Ribeiro,  saindo  o  impressor  Gonçalves  Costa  e  o  batedor  Joa- 
quim José  Soares,  que  em  1837.  auxiliado  por  seu  antigo  capitão  João 
Eduardo  d'Abreu  Tavares,  montou  uma  pequena  imprensa  na  rua  dos 
Canns  Verdes,  na  casa  que  hoje  tem  o  n.°  69  de  policia,  publicando  em 
6  de  Junho  de  1838,  o  n.°  1  d"0  Íris  da  Terceira,  que  durou  até  1842, 
sustentando  polemica  com  O  Angrense,  p(»is  que  o  íris  era  da  politica 
cartista,  sendo  seus  redactores  João  Eduardo.  Amâncio  Leocadio  Vieira 
e  o  padre  Narciso  António  da  Fonseca,  que  d'anles  tinham  cullaborado 
na  Sentinella.  Ao  Íris  succedeu  o  Annnnciador  da  Terceira,  publican- 
do-se  o  seu  primeiro  numero  em  22  de  Abril  de  1842,  e  o  ultimo  em 
24  de  Junho  de  1843,  sendo  seus  redactores  o  dr.  António  Moniz  Bar- 
reto, e  o  padre  Jeronymo  Emiliano  dAndrade,  que  fizeram  terminar 
a  violenta  polemica  do  jornal  antecedente  com  O  Angrense,  que  era  de 
politica  setembrista. 

a  Da  imprensa  do  governo,  a  primeira  dos  Açores,  existem  hoje — 
algumas  ramas,  a  muleta  da  tinta,  uma  pedra  lisa  de  O"", 90  de  com- 
primento por  O'", 63  de  largura,  onde  se  enramavam  as  chapas  da  com- 
posiçã(t,  descançando  sobre  uma  velha  e  tosca  mesa;  algumas  caixas, 
um  armário  onde  estas  se  guardavam,  tiradas  dos  cavalletes,  e  mui 
pouco  typo  de  dísticos,  chamado  antigamente  Canon. 

«O  aniigoprelo  é  de  madeira,  dum  só  tiro,  sendo  sustentado  por 
duas  fortes  estacas  ou  prumos  quadrangulares  de  1™,55  de  altura, 
O™ ,21  de  largura,  e  0"\I0  de  grossura,  rematados  transversalmente 
na  parte  superior  por  uma  peanha,  lambem  de  madeira,  de  0'".87  de 
comprimento,  O"", 2o  de  largura,  e  O"", 10  de  espessura.  A  mesa  do  pre- 
lo funcciona  na  altura  de  O"™, 90,  e  é  coberta  por  uma  chapa  de  ferro 
polido  de  O"', 04  de  espessura,  O™, 67  de  comprimento,  e  O"", 51  de  lar- 
gura, e  o  quadro  do  prelo  é  forrado  por  uma  outra  chapa  de  cobre 
nas  mesmas  condições.  As  corrediças  tem  l'",63  de  comprimento, sen- 
do de  ferro  os  seus  rails.  Seis  pequenos  malhetes,  entalhados  na  par- 
te inferior  da  mesa  e  em  forma  de  calha,  jogam  com  os  rails.  O  tym- 
pano  é  forrado  de  panno,  coberto  com  pergaminho. 

«O  braço  do  prelo  parte  de  ura  eixo  de  ferro  lateral, a  que  se  pren- 
dem duas  articulações,  que  jogam  com  o  parafuso  central,  tornando 
assim  mais  suave  o  seu  movimento.  De  cada  lado  deste  parafuso  as- 
cendem dois  corredores  cylindricos  de  ferro,  para  equilibrarem  os  mo- 
vimentos do  quadro,  terminando  na  sua  parte  superior  por  uma  pe- 
quena braçadeira,  sustentando  o  peso  suspensor  do  quadro. 

«As  corrediças  terminam  sobre  duas  mais  estreitas  estacas  de 


ÀRCHIVO  DOS  AÇORES  493 

madeira,  formando  com  as  travessas  que  as  unem  aos  dois  prumos 
principaes  do  prelo,  o  que  antigamente  se  chamava  gaiola,  na  parte 
superior  da  qual  se  collocava  o  taboleiro  da  tinta,  que  dahi  era  dis- 
tribuida  para  as  balas. 


«A'  primeira  vista  parece  ocioso,  tratando  da  primeira  imprensa 
na  ilha  Terceira,  (aliar  das  duas  que  lhe  succederam,mas,  se  nos  lem- 
brarmos que  ellas  foram  montadas  pelo  mesmo  pessoal  da  primeira, 
não  será  fora  de  propósito  chamar-lhes  irmãs. 

«Das  duas  ultimas  imprensas,  existe  hoje,  como  na  primitiva,  so- 
mente a  de  Joaquim  José  Soares,  sem  trabalhar,  n'uma  casa  da  rua 
da  Rosa  d'esta  cidade;  na  imprensa  do  Catholico  o  primeiro  prelo  da 
antiga  imprensa  do  Visconde  de  Bruges,  assim  como  alguns  tyi)OS  e 
caixas  na  lypographia  do  Jornal  da  Praia. 

*       * 

«Um  iilustre  terceirense,  nosso  respeitável  e  particular  amigo, 
vendo  um  folheto  em  idioma  castelhano,  com  o  titulo:  a  Relacione  de  ia 
jornada,  eapugnacion  e  conquista  de  la  islã  Tercera  y  las  demas  cir- 
cumvicinas  que  hizo  D.  Álvaro  de  Bazan,  marquez  de  Santa  Cruz,  ele. 
Fecha  en  la  ciudad  de  Angra  de  la  islã  Tercera  a  ti  de  Agosto  y 
1583»  — julgou  que  a  impressão  deste  folheto  tivesse  sido  feita  na 
ilha  Terceira,  n'alguma  imprensa  trazida  talvez  pelo  marquez  de  San- 
ta Cruz,  na  forte  esquadra  de  97  navios,  com  que  veiu  con(]uistar  es- 
ta ilha,  reduzindo  a  á  obediência  de  Filippe  II. 

«Perdoe-nos,  pois,  o  nosso  nobre  amigo  discordarmos  da  sua  o- 
pinião.  Na  ilha  Terceira  nunca  houve  imprensa  hespauhola,  não  só  por 
de  tal  facto  não  tratarem  os  nossos  mais  antigos  chronistas,  nem  de 
tal  haver  tradição  entre  nós,  como  por  não  ser  de  esperar  que  numa 
armada  que  só  vinha  para  tomar  a  ilha,  que  havia  resistido  a  três  ar- 
madas antecedentes,  viesse  uma  imprensa  para  uso  do  governo  dum 
general,  que  aqui  a  demorou  algumas  semanas  apenas. 

«As  palavras  —  Fecha  en  la  ciudad  de  Angra — ,  que  na  versão 
portugueza  dizem:  encerrada,  concluída,  ou  elaborada  na  cidade  de 
Angra,  não  demonstram  que  a  citada  relação  fosse  impressa  na  mes- 
ma cidade;  tão  somente  manifestam  as  phrases  hespanholas  usadas  na 
terminação  dos  seus  papeis  oíTiciaes,  como  entre  nós  se  dizia:  Dado 
no  paço  de  tal,  sem  que  no  paço  houvesse  imprensa. 

Assim  estamos  convencidos  que  a  primeira  imprensa  que  houve 
nos  Açores,  foi  a  que  desembarcou  em  Angra  no  dia  14  de  Fevereiro 
de   1829,  e  que  se  montou  na  segunda  quinzena  do  mesmo  mez,  no 
Castello  de  S.  João  Baptista  da  mesma  cidade. 
Angra  do  Heroísmo,  25  de  Abril  de  1886. 

José  Joaquim  Pinheiro. 


494  ARCHIVO  DOS  AÇOHES 

1830-1886 

(liista  Alpliabetica) 

3IL.ÍI-A.  IDE  S.  ONwdlIOTTEX. 


1)  O  Académico.  -Hebdomadario  lillerario  e  noticioso.  Pro- 
prietário Manuel  Corrêa  Botelho  Júnior.  Ponta  Delgada,  Imprensa  Aço- 
riana. N.**  1  de  12  de  março  de  1885,4  pag.  a  2  columnas  em  4.°  pe- 
(]ueno.  Terminou  com  o  n.**  12  de  30  de  maio  de  1885. 

2)  O  Açoriano  Oriental.  —  Semanal  politico  e  noticioso  — 
Ponta  Delgada,  Typ.  da  Lombinha  dos  Cães.  Foi.  peq.  Primeiro  Editor 
José  Maria  da  Camará  Vasconcellos  até  ao  N.°  60:  do  N.°  61  a  69 
Manoel  António  de  Vasconcellos  (irmão  do  primeiro):  de  70  até  120 
Francisco  Xavier  Corrêa:  em  1837  Frederico  Jacome  Corrêa;  depois 
F.  J.  P.  de  Macedo.  O  primeiro  numero  d'este  jornal  tem  a  data  de 
sabbado  18  de  Abril  de  1835;  consta  unicamente  de  duas  paginas  com 
o  prospecto  do  jornal.  O  numero  2  appareceu  com  uma  gravura  em 
madeira  representando  um  Açor,  com  um  papel  no  bico,  que  diz —  , 
Carla  — e  nas  azas  abertas,  dum  lado  — Açoriano —  e  do  outro  — 
Oriental  — que  se  diz  ter  sido  aberta,  pelo  liabil  Manoel  António  pe 
Vasconcellos.  A  typographia  constava  d^um  pequeno  prelo  de  escri- 
ptorio,  que  de  Coimbra  trouxe  o  medico  António  Ferreira  Borralho  em 
que  se  imprimira  naquella  cidade  a  Voz  da  Razão  em  1822,  e  d'uma 
pequena  porção  de  typo  gasto  e  em  péssimo  estado,  com  que  se  im- 
primio  até  ao  N.°  8,  em  máo  papel  almaço:  Do  N.**  16  em  diante  co- 
meçou a  ter  três  columnas  por  pagina  em  vez  de  duas  que  tinham  os 
anteriores;  notando-se  desde  então  grande  melhoramento  na  parte 
material.  O  ]N:°  4  foi  já  impresso  na  rua  do  Peru  Direita  N."  5,  onde 

a  typographia  se  conservou  por  mais  d'um  anno  e  em  quanto  perten- 
ceu a  uma  associação,  que  a  trespassou  com  o  jornal  a  Francisco  Joa- 
quim Pereira  de  Macedo,  publicando-o  regularmente  todos  os  sabba- 
dos  até  1879  em  que  falleceu.  Suas  irmãs  tem  continuado  a  publica- 
ção até  ao  presente,  em  que  conta  mais  de  51  annos  de  existência, 
sendo  assim  o  mais  antigo  de  todos  os  jornaes  portuguezes.  Editor 
desde  1  de  Juuho  de  1879,  José  Ignacio  de  Sousa. 

3)  O  Agricultor  Michaelense.  --Periódico  dedicado  á  illus- 
tração  da  classe  agricola  açori;uia,  e  especialmente  a  auxiliar  os  lavra- 
dores míchaeleuses  divulgando  apropriados  conhecimentos  agronomi- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  495 

COS  —  Publicação  da  Sociedade  Promotora  da  Agricultura  Michaelense. 
Começou  em  outubro  de  Í8i3,  e  suspeudeu  eui  juulio  de  I8i5  com 
21  n.*".  Coutiuuou  a  pubbcação  em  janeiro  de  1848  e  findou  em  mar- 
ço de  1852.  Apparecia  mensalmente  com  vinte  paginas  de  duas  co- 
lumnas.  São  apreciáveis  as  collecções  d'este  jornal,  e  muito  estimadas 
as  que  existem.  A  primeira  serie  foi  impressa  em  Ponta  Delgada  na 
Typ.  da  Rua  do  Provedor:  tem  328  pag.  in  8.°  gr.  A  segunda  na  Typ. 
da  Rua  do  Garcia,  {  vol.  com  852  pag.  O  Dr  António  Feliciano  de 
Castilho  foi  seu  redactor  desde  Janeiro  de  1818  até  ao  N.'*  de  24  de 
Dezembro  d«'  1849. 

4)  Álbum  do  Binóculo.  —  Com  este  titulo  sahiram  2  núme- 
ros, que  não  continham  mais  do  que  uma  folha  com  um  retrato  lythogra- 
phado,  o  1.°  de  Raphael  Rordallo  Pinheiro,  o  2."  de  José  Augusto  da 
Costa  Resende.  O  formato  é  maior  do  que  o  do  Binóculo,  mas  o  texto 
concernente  aos  retratos  acha-se  nos  n.°'  36  e  39  do  dito  jornal. 

5)  Aloyon.  — Periódico  litterario  dos  Açores  publicado  duas  ve- 
zes por  mez.  Director  A.  Loureiro.  P.  Delgada  Typ.  do  Ecco  Social.  4 
pag.  a  3  columnas.  N.°  1  de  1  de  março  de  1867;  o  6.°  e  ultimo  do 
fim  de  maio  seguinte.  Gollaboradores  —  A.  A.  Avellino,  Alberto  Tel- 
les, A.  Ribeiro  Gonçalves,  António  Pereira,  Bulhão  Pato,  B.  J.  de  Sen- 
na  Freitas,  C.  M.  Froes,  Estacio  da  Veiga,  Ernesto  Rebello,  Félix  J. 
da  Costa,  F.  M.  Supico,  F.  Xavier  da  Silva.  G.  Read  Cabral,  João  Cân- 
dido de  Moraes,  J.  Ramos  Coelho,  J.  J.  Graça  Júnior,  J.  Hermeto  C. 
d'Amaraute,  R.  da  Camará,  Thomaz  Ribeiro,  Vicente  Machado  de  Fa- 
ria e  Maia.  No  1.°  N.°  declara  ser  a  sequencia  da  Esíiieralda  Atlânti- 
ca e  do  Commercio  dos  Açores  e  que  dará  como  supplementos  com  o 
titulo  de  Correspondência  dos  Açores  uma  folha  na  chegada  do  paque- 
te de  Lisboa  e  outra  na  sabida  para  a  Capital. 

6)  O  Amigo  do  Povo.  —  Jornal  para  todos  por  uma  Associa- 
ção—  Semanário  politico.  Editor  Germano  Velho  Quintanilha.  P.  Del- 
gada, Typ.  de  João  Maria  de  Sousa.  4  pag.  a  4  col.  N."  1  de  17  de 
Setembro  de  1871.  Parece  que  terminou  com  o  n.°  11  de  26  de  no- 
vembro seguinte. 

7)  ArcMvo  dos  Açores.  —  Publicação  periódica  destinada  á 
vulgarisação  dos  elementos  indispensáveis  para  todos  os  ramos  da  his- 
toria Açoriana— Folhetos  in-8.°  de  80  a  100  pag.,  alguns  com  estam- 
pas. Sahiu  o  N.°  1  em  maio  de  1878.  Ponta  Delgada,  Typ.  da  rua  do 
Botelho  (da  Virgem  Immaculada),  o  n.°  2  na  Minerva  Insulana:  todos 
os  seguintes  na  Typ.  do  Archivo  dos  Açores.  Houve  2.*  edição  do  2."  e 
3.<»  n.°.  Continua. 


496  ÁRCHIVO  DOS  AÇORES 

8)  Ar cMvo  Açoriano.  —Jornal  religioso  e  lilterario— Come- 
çou a  publicar-se  em  4.°  grande  a  duas  coiumnas  e  8  paginas,  em  1 
de  outubro  de  1856.  A  primeira  série,  consagrada  á  lilleratura  reli- 
giosa, pnbiicou-se  regular  e  quinzenalmente  até  15  de  dezembro  de 
1858.  O  primeiru  numero  da  segunda  série,  em  folha  grande,  appa- 
receu  como  revista  mensal,  politica  e  religiosa  em  I  de  junho  de  1860, 
e  terminou  com  o  sexto  numero  em  31  doutubro  do  mesmo  anno.  Re- 
dactor Marianno  Jo.sé  Cabral.  Ponta  Delgada,  Typ.  de  M.  J.  de  Moraes 
até  ao  IN.**  36;  os  seguintes  na  Auxiliadora  das  Lettras  Açorianas. 

9)  O  Artista. — Jornal  Litlerario,  Recreativo  e  Noticioso  —  Se- 
manário. 4  pag.  a  4  col.  Proprietário  e  Director  José  M.  de  Sousa.  O 
[)rimeiro  N.°  saliio  na  segunda  feira  26  de  Fevereiro  de  1877.  Alguns 
números  tem  gravuras  em  madeira,  outros  lythographias.  No  N.**  17 
augmentou  o  formato.  Ponta  Delgada,  Typ.  do  Amigo  do  Povo,  e  de- 
pois nas  Typ.  Popular,  e  da  Chronica  dos  Açores.  Sahia  ás  segundas 
feiras,  e  suspendeu  com  o  N.°  25  em  31  de  Dezembro  de  1877.  Co- 
laborador, Joaquim  Cândido  Abranches.  Continuou  depois  duas  vezes 
por  semana  e  terminou  em  formato  menor  que  o  primitivo  a  3  col. 
com  o  N.°  127  de  16  de  maio  de  1880. 

10)  A  Aurora  dos  Açores.— Folha  Litteraria,Commercial,A- 
gricola  e  Noticiosa  —  Começou  a  publicar-se  em  5  de  julho  de  1854, 
com  habilitação  politica,  semanalmente.  Deu  n'alguns  m.ezes  de  1858 
dons  números  por  semana,  e  continuou  depois  a  publicar  se  só  aos 
sabbados.  Ponta  Delgada,  Typ.  da  Rua  de  S.  Brnz.  Do  N.°  2  em  dian 
te  da  Typ.  Auxiliadora  das  Lettras  Açorianas,  Rua  de  S.  Braz.  O  N.° 
45  e  seguintes  na  Typ  da  Rua  do  Mello  (Auxiliadora  das  Lettras  Aço- 
rianas). Terminou  com  o  n.**  698  de  26  de  Janeiro  de  1867  e  3  sup- 
plementos,  o  ultimo  dos  quaes  tem  a  data  de  9  de  março  seguinte.  Au- 
gmentou o  formato  no  n.**  622  que  passou  a  ter  4  coiumnas.  Redactor 
até  1860,  Marianno  José  Cabral,  e  depois  o  Dr.  André  António  Avelli- 
no  e  outros. 

11)  Aurora  dAlem  Tumulo.  —Jornal  espiritista-  N.°  1  de  3 
de  Fevert'iro  de  1879,  8  pag.  a  2  coiumnas.  Terminou  com  o  4."  em 
14  de  Março  do  mesmo  anno.  Proprietário  Manoel  Maria  da  Camará. 
Ponta  Delgada,  Typ.  de  Manoel  Corrêa  Botelho. 

12)  Aurora  Povoacense.— Semanário  politico,  litterario  e  no- 
ticioso—Director e  Administrador  A.  Machado  de  Sousa  e  Mello.  Villa 
da  Povoação,  Typ..  Popular.  Falta  em  muitos  numerus  a  designação  da 
lypographia  em  que  era  impressa,  o  certo,  porem,  é  que  metade  se> 
imprimia  em  P.  Delgada  na  typogmphia  Popular  de  Tavares  de  Re- 
zendes  e  a  outra  parle  na  Povoação  na  Typ.  Popular,  aonde  ao  presen- 


AKCHIVO  DOS  AÇORES  497 

te  se  imprime  lodo  o  jornal.  4  pag.  a  4  col.  O  N."  I  sahiu  a  II  de  A- 
bril  de  1883. 

13j  O  Azorrag-ue  (1.°)  —  Um  único  numero  publicado  em  Vii- 
»  Ja  Franca. 


14)  O  Azorrague  (2.")  —  Jornal  salyrico  em  prosa  e  verso  — 
Publicaca-se  ás  quartas  feiras.  Editor,  redactor  e  proprietário  João  Ma- 
ria Raposo  e  Silva,  foi.  pequeno  a  3  col.  N.°  1  de  21  de  janeiro  de 
1885.  Ponta  Delgada,  Typ.  do  Partido  Popular.  O  N."  2  e  seguintes 
foram  impressos  na  Typ.  Imparcial,  e  declara  publicar  se  aos  sabba- 
dos.  Terminou  com  o  n."  6  no  mez  seguinte. 

15)  O  Baratíssimo. —  Boletim  dannuncios',  com  distribuição 
giatuita.  —  Sabia  todas  as  quartas  feiras,  em  meia  folba  de  papel  al- 
maço,  com  duas  columnas.  Começou  em  Abril  de  1849,  e  publicava- 
se  ainda  em  1854.  Ponta  Delgada,  Typ.  de  Fran''Jsco  Joaquim  Pereira 
de  Macedo. 

16)  O  Bem  Publico.— Semanário  politico  e  noticioso  —Princi- 
piou em  1  de  Janeiro  de  1871  a  3  colmnnas  e  terminou  com  o  N.°  31 
de  7  de  novembro  seguinte.  O  n.°  13  e  seguintes  sô  com  2  pag.  Pon- 
ta Delgada,  Typ.  de  Manoel  Corrêa  Botelho,  proprietário  e  responsá- 
vel. 

17j  Bibliotlieca  Instructiva. —Semanário  para  todos— Re- 
dactor Marianno  .José  Cabral.  Ponta  Delgada,  Typ.  da  Voz  da  Liberda- 
de. Sahio  o  n.*"  1  em  6  de  janeiro  de  18G8  e  terminou  com  o  n."  12 
em  23  de  março  seguinte.  Cada  um  com  8  pag.  in-4.°. 

18)  O  Binóculo. —Jornal  de  Caricaturas,  quinzenal,  para  rir — 
Illiístrado  por  dois  philosophos  nas  horas  vagas.  Ponta  Delgada,  Lyth. 
Luzitana.  N.**  1  de  maio  de  1882.  4  pag.  in^."  grande.  Terminou  com 
o  N.^  82  de  13  de  Junho  de  1884.  Desenhado  e  lythographado  pelos 
irmãos  Augusto,  João  e  Jacinlho  Cabral. 

19)  Boletim  dAnnuncios  da  Esmeralda  Atlântica. — Pu- 
blicava unicamente  aninujcios  e  era  seu  proprietário  A.  Loureiro  — 
Começou  em  Abril  de  1864  e  foi  substituído  em  18  de  Junho  seguin- 
te pela  Gazetilha  Semanal. 

20)  Boletim  Contemporâneo.— Publicação  quinzenal,  grátis 
para  os  assignantes  do  .Mensageiro  Seraphico.  Editi)r  e  proprietário 
João  Ignacio  Ferreira.  Ponta  Delgada,  Typ.  da  Virgetn  Immaculada.  4 

N.°  48-Vol.  VIII— 1887.  4 


498  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

pag.  folio  peq.  a  2  col.  N.°  I  de  25  de  fevereiro  de  188S.  Terminou 
com  o  n.°  6  de  3  de  Junho  seguinte. 

21)  Boletim  Mensal  do  Porto  Artificial  de  Ponta  Del- 
gada.— Sem  numeração.  Começou  a  publicar-se  em  agosto  de  1866, 
em  meias  folhas,  contendo  unicamente  o  mappa  do  movimento  das  o- 
bras,  continuando  assim  até  ao  mez  de  novembro  de  1867,  em  que 
se  transformou  no  Boletim  que  se  segue. 

22)  Boletim  offlcial  da  Junta  Administrativaldas  obras 
do  Porto  Artificial  de  Ponta  Delgada.  —  Começou  em  dezem- 
bro de  1867  e  continuou  regularmente  a  publicar-se  um  numero  cada 
mez  até  dezembro  de  1871.  Foi.  gr.  com  4  p.  Posteriormente  publi- 
cou-se  aos  trimestres  com  numero  indeterminado  de  paginas,  pelo 
menos  até  ao  3."  trimestre  de  1873.  Era  destinado  á  publicação  das 
actas  das  sessões  da  Junta,  e  outros  documentos.  Imprimia-se  em  va- 
rias typographias. 

23)  Boletim  da  Sociedade  Promotora  d'Agricultura 
Michaelense. — 4  pag.  a  2  col.  Ponta  Delgada,  Typ.  do  Archivo  dos 
Açores.  Começou  em  janeiro  de  1881,  distribuindo-se  gratuitamente 
e  sem  epocha  determinada  para  a  sua  publicação.  Até  janeiro  de  1883, 
sahiram  6  n.°'. 

24)  Campeador.— Semanal  politico— Redactor  Augusto  d' Arru- 
da Quental.  Editor  A.  Ferreira  Jimior.  O  N.°  \  de  18  dagosto  de  1864. 
Ribeira  Grande,  Typ.  própria.  4  pag.  a  3  col.  Terminou  com  o  N."  79 
de  3  dagosto  de  1866. 

25)0  Campeão  Liberal.— Folha  politica,  commercial,  agrícola 
e  noticiosa— Semanal  foi.  peq.  4  pag.  a  4  col.  Redactor  principal  Joa- 
quim Crispiniano  da  Costa,  tenente  de  Caçadores  M,  até  ao  n.°  16.  N.° 
1  de  10  de  janeiro  de  1864.  Ponta  Delgada,  Typ.  de  João  J.  Botelho. 
Publicou-se  até  ao  n.°  179  de  4  d'agosto  de  1867. 

26)  A  Caridade.  —Semanário  religioso,  litterario  e  noticioso — 
Director  e  proprietário  .loão  José  dos  Ramos  e  Cunha.  N."  1  de  24 
d'agosto  de  1883.  Ponta  Delgada,  Typ.  da  Virgem  Immaculada,  4  pag. 
a  3  col.  O  n."  2  e  seguintes  foram  im[)ressos  na  Typ.  .Açoriana.  Sus- 
pendeu coii  o  n.''  62  em  outubr  >  de  1884,  por  fdiecer  o  seu  Director 
e  Proprietário.  t)rnando  a  reapparecer  em  18  de  novembro  seguinte, 
se  )do  então  pro[)rietarias  as  Irinans  Cunhas  e  Collab  radores  os  srs.: 
Padre  José  Jacintho  Raposo  Moreira,  J(»ão  Machado  de  Benevides.  Ga- 
briel d'Almeida  e  outros.  Terminou  com  o  n.°  71  de  31  de  janeiro  de 
1885. 


ARCHIVO  DOS   AÇORES  499 


27)  o  Cartista  dos  Açores.— Semanal  politico  —  Começou  a 
publicar-se,  habilitado  para  questões  pulitieas,  em  "11  de  fevereiro  de 
I8i5,  e  teraiiiiõu  em  14  de  novembro  de  1850.  Ponta  Delgada,  Typ. 
da  liua  do  Provedor.  Foi  princi[)almente  redigido  por  João  José  d'An- 
drade,  (o  mesmo  do  Monitor):  depois  António  Marcellino  da  Victoria, 
Secretario  Geral,  e  o  Padre  João  José  dAmaral  em  18i5.  Interrompeo 
a  publicação  pela  primeira  vez  desde  julho  de  18i6  até  26  d'agosto 
de  1847,  e  pela  segunda  desde  o  n.°  14!  de  30  de  janeiro  de  1849 
até  2  dagosto  do  mesmo  anno. 

28)  O  CMcote.  —  Folha  satyrica  —  Começou  a  13  de  junho  de 
1874  em  Villa  Franca. 


29)  Cliroiiiea,  Semanário  dos  Açores.— Titulo  com  qne  se 
publicaram  em  Ponta  Delgada  na  Imprensa  do  Governo  os  n.°^  39,  40, 
41  e  .seu  Supplemenlo,  da  C/ironica  Semanário  da  Terceira,  e  que  as- 
sim tem  a  prioridade  na  imprensa  periódica  michaelense,  sendo  im- 
pressos em  1832  em  4,  9,  29  de  maio,  e  o  supplemento,  sem  data, 
posterior  a  6  de  junho,  data  que  se  vè  no  fecho  do  ultimo  documento 
olficial  n'elle  publicado. 

30)  A  Chronica  dos  Açores.— Semanário  noticioso  —Proprie- 
tário Francisco  Ignacio  Rebello.  Redactoj  Francisco  iMaria  Supico.  N.° 
1  de  20  de  março  de  1867  e  ultimo  de  7  d'agosto  do  mesmo  anno.  O 
4."  supplemento  ao  n.°  20  é  de  18  de  setembro  de  1867.  Ponta  Del- 
gada, Typ.  própria. 

31)  A  Civilisação.— Periódico  hebdomadario  consagrado  a  to- 
dos os  interesses  religiosos  e  sociaes  —  Editor  João  José  dos  Ramos  e 
Cunha.  O  n.°  1  de  13  de  novembro  de  1875. Teve  interi'upções  e  mu- 
danças de  formato.  Ponta  Delgada,  Typ.  da  Virgem  Immaculada.  Ter- 
minou com  o  n.*'320  de  30  de  setembro  de  1882. 

32)  O  Clamor  Artistico.  —  Semanário  politico  e  noticioso— 
Redactor  João  Maria  de  Sousa.  Editor  ^Manoel  Corrêa  Botelho.  N.**  1  de 
5  de  novembro  de  1867.  4  pag.  a  3  col.  Ponta  Delgada,  Typ.  do  e- 
ditor.  Terminou  com  o  Supplemento,  ao  n.°  68,  de  28  de  fevereiro  de 
1869.  Foi  substituido  pela  Dtwoc/Y/c/a  —  Redactor  principal  Francisco 
Xavier  da  Silva.  Depois  o  Proprietário  Manoel  Augusto  Tavares  de  Re- 
sendes,  Padre  Januário  Philomeno  Vellosa,  Bernardino  Augusto  de  Mel- 
lo Azeredo,  Dr.  Francisco  de  Lima  Nunes,  Augusto  Loureiro,  Ernes- 
to Rebello.  João  Hermeto  C.  dWmarante,  Marianno  .losé  Cabral,  João 
Pereira  Forjaz  e  outros. 


500  AKCHIVO  DOS  AÇORES 


33)  Oommercio  dos  Açores.  —Redactor  Augusto  Loureiro. 
N."  I  de  26  de  maio  de  J866.  4  pag.  a  4  columnas.  Pouta  Delgada, 
Typ.  da  Persuasão,  e  de  Manoel  Corrêa  Botelho.  Terminou  com  o  n." 
21  de  15  de  janeiro  de  1807. 

34)  O  Conciliador.  —Proprietário  Responsável  G.  A.  (Guilher- 
me Augusto)  Botelho.  N.°  1  de  março  de  1865.  4  pag.  numeradas  a 
3  col.  foi.  peq.  Villa  Franca  do  Campo,  Typ.  Yillafranquense.  Termi- 
nou com  o  n.*^  51  no  1."  d'aljril  de  1806. 

35)  O  Constitucional  Michaelense.— Semanal  politico — So- 
bre o  titulo  tem  uma  gravura  em  forma  de  coroa  (jue  encerra  uma 
balança, um  livro,  uma  espada  e  a  vara  da  justiça.  Redactor  o  Dr.  Jo- 
sé Joaquim  de  Moura  Coutinho,  Juiz  da  Relação  dos  Açores.  Editor 
responsável  J(»sé  Maria  da  Silva.  Saia  á  quiula-feira.  N.°  1  de  24  de 
setembro  de  1835.  Ponta  Delgada,  Typ.  própria.  Terminou  em  17  de 
dezembro  do  mesmo  anno. 

36)  A  Convicção. — Semanário  politico,  publicado  em  Villa  Fran- 
ca do  Campo,  na  typ.  Villafranquense,  4  pag.  a  3  col.  Appareceo  o 
n.°  1  a  20  dagosto  de  1864  e  terminou  com  o  n.°  18  de  4  de  feve- 
reiro de  1865.  Até  ao  n."  9  foi  responsável  João  Moniz  Machado,  do 
n.°  10,  impresso  na  Typ.  da  Persuasão  em  Ponta  Delgada,  foi  respon- 
sável J.  M.  Pereira  da  Camará. 

37)  Correio  de  Lisboa.  —  Revista  quinzenal  publicada  á  che- 
gada dos  paquetes  de  Lisboa.  Redactores  Costa  Rezende,  A.  Varella 
e  Tavares  de  Rezende.  Ponta  Delgada  Typ.  Popular.  Começou  no  pri- 
meiro de  janeiro  de  1875  e  continuou,  pelo  menos,  até  19  d'abril  de 
1878  data  do  n.°  74.  Foi.  a  5  col.,  até  ao  n.*'  54;  do  55  em  diante  a  4  col. 
Depois  passou  a  imprimir-se  em  Lisboa,  com  o  mesmo  titulo  e  nova 
numeração  no  1."  de  maio  de  1878.  Proprietário  M.  A.  Tavares  de 
Rezende.  Redactor  em  Lisboa  António  Furtado;  na  Typ.  (não  apparece 
nos  primeiros  números)  da  Calçada  do  Conde  de  Penafiel.  4.  pag.  a  4 
columnas.  Sahiram  apenas  5  n.°':o  ultimo  de  1  de  julho  de  1878;  e 
tornou  a  imprimir  se  em  Ponta  Delgada  sahindo  com  o  n.°  5  (em  vez 
de  6)  em  15  tle  julho  de  1878:  contimioii  até  ao  n."  11  de  5  d'outu- 
bro  do  mesmo  anno,  tendo  a  numeração  errada  até  ao  nono  n.°.  Tor- 
nou a  publicar  se  em  Lisboa  com  a  declaração  de  Edição  para  os  Aço- 
res e  Madeira,  director  António  Furtado:  Lisboa,  typ.  de  Chrislovão 
A.  Rodrigues,  Rua  do  Norte,  aonde  só  se  imprimiram  o  n."  1  de  20 
d'outubro,  e  o  n."  2  de  5  de  novembro.  —  Voltou  a  imprimir-se  na 
Typ.  Popular  em  Ponta  Delgada  com  o  n.°  1 1  (repelido)  em  20  de 
novembro  de  1878,  continuando  até  ao  n.^Sl  de  20  de  julho  de  1879. 


ARCHIVO  DOS  AÇOHES  501 

Recomeçou  a  2.*  sorie  em  Ponta  Delgada  n.°  1,  quarta  feira  lo  de  ju- 
nho de  1881,  7."  annuf  (Contando-se  os  annos  em  que  a  puhliração  es- 
teve suspensa).  Desta  2.'  serie  parece  não  ter  sahido  senão  este  n.**, 
acabando  assim  esta  vagabunda  publicação,  que  pode  servir  para  exa- 
me, pelas  indicações  erradas  (ie  que  está  recheada. 

38)  O  Correio  Michaelense.  (!.*')— Semanal  politico— Órgão 
do  partido  setembrista  em  S.  Miguel.  Este  periódico  começou  a  publi- 
cação em  12  de  setembro  de  1816,  e  terminou  com  o  n.°  929  em  17 
de  março  de  1864.  Desde  27  de  março  até  3  d  agosto  de  18o8  publi- 
cou-se  duas  vezes  por  semana,  ás  quartas  e  sabbados.  Ponta  Delgada, 
Typ.  da  Hua  do  Garcia,  de  Botelht>s  e  Auxiliadora  das  Letras.  Editor 
responsável  F.  J.  Corrêa,  depois  d'este, Manoel  (;:ardoso  de  Albergaria 
e  Valle.  Foi.  de  4  pag.  a  três  columnas.  Foram  seus  principaes  re- 
dactores o  Dr.  André  António  Avelino.  Dr.  João  José  da  Silva  Lourei- 
ro; e  posteriormente  Francisco  Maria  Supico  e  Marianno  José  Cabral. 

39)  O  Correio  Mioliaelense.  (2.")  —  Com  este  titulo  começou 
de  novo  a  pub'licar-se  em  18  de  Junho  de  1878,  como  órgão  semanal 
do  Partido  Popular  e  Progressista.  4  pag.  a  4  columnas.  Editores  Ma- 
noel Corrêa  Botelho,  Manoel  Augusto  Tavares  de  Rezendes  e  Pedro 
do  Couto  Silva.  Redactores  Francisco  Manoel  Raposo  Bicudo  Corrêa, 
Caetano  dWndrade  Albuquerque.  Dr.  Verissimo  d' Aguiar  Cabral,  e  Ma- 
riano Augusto  Machado  de  Faria  e  Maia.  Collaboradores  João  e  Vicen- 
te Machado  de  Faria  e  Maia  e  outros.  Ponta  Delgada,  Typ.  Popular  e 
Progressista.  Terminou  com  o  supplemenlo,  ao  n.°  162,  de  16  de  se- 
tembro de  1881. 

40)  Correspondência  dos  Açores.  — Folha  noticiosa  comple- 
mentar do  Alcyou— Redactor  Augusto  Loureiro.  N.**  1  de  2  de  março 
de  1867.  Ponta  Delgada,  Typ.  de  Manoel  Corrêa  Botelho.  TermiuDU 
com  o  n.°  5  de  28  de  março  do  mesmo  anno. 

41)  O  Cosmopolita.— Semanário  politico  e  noticioso— Redactor, 
proprietário  e  editor  Francisco  Jacome  Corrêa.  N.*'  {  de  3  de  maio  de 
1874.  8  pag.  a  3  col.,  e  depois  4  pag.  a  4  col.  Ponta  Delgada,  Typ. 
Açoriana  de  Manoel  Corrêa  Botelho,  Typ.  da  Chronica  dos  Açores  e 
Typ.  Commercial.  Parece  que  terminou  com  o  n."  57  de  3  de  jidho  de 
1875. 

42)  O  Cosmorama.  -  Jornal  scientifico,  histórico  e  recreativo 
— Publicaram-se  d'este  jornal  17  números,  sendo  o  n.*'  1  de  30  de  no- 
vembro de  1862,  e  o  ultimo  em  1868.  Consagrava  se  á  litteratura  e 
sciencias.  dando  algumas  gravuras  e  retratas  de  aç<»rianos  illuslres 
com  as  suas  biographias.  Publicava  se  mensalmente  em  folhetos  de  60 


502  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

paginas,  contendo  cada  numero  cinco  fíjlhas  d'impressão.  Os  primeiros 
12  n.°*  formam  um  vol.  com  Índice.  Ponta  Delgada,  Typ.  de  Botelhos. 
Red.ictor  Francisco  Maria  Supico.  Collaboradores  Theophilo  Ferreira, 
António  Porfírio  de  Miranda,  António  Pereira,  Augusto  Loureiro  e  ou- 
tros. 

43)  O  Cultivador. — Revista  mensal  agrícola  —  Cada  n.°  de  28 
pag.  a  2  col.  Redactor  e  proprietário  Guillierme  Read  Cabral.  O  n.°  { 
appareceu  em  lo  de  janeiro  de  1873.  Ponta  Delgada,  Typ.  de  Manoel 
Corrêa  Botelho.  Do  n°  37  a  42  sahiu  em  formato  menor,  sendo  d'es- 
te  o  ultimo  em  junho  de  1876;  ao  todo  42  n.°*  com  1:200  pag. 

44)  Defensor  da  Pátria. — Redactor, proprietário  e  responsá- 
vel José  Maria  de  Sousa.  Sahia  ás  quintas  feiras  e  domingos.  N.**  1  de 

7  d'oulubro  de  1869.  4  pag.  a  3  col.  Ponta  Delgada,  Typ.  própria.  Pa- 
rece que  terminou  com  o  n.°  42  de  6  de  março  de  1870. 

45)  Defensor  do  Trabalho. —  ílebdomadario  politico,  littera- 
rio  e  noticioso  -Proprietário  e  editor  Manoel  José  de  Moraes.  Admi- 
nistrador J.  F.  B.  Rego.  Typ.  do  proprietário.  Começou  em  1870.  Sus- 
pendeo  com  o  n°  19  para  reapparecer  em  1  de  maio  de  1871.  Con- 
tinuou pelo  menos  até  ao  n."  27  de  5  de  julho  seguinte. 

46)  A  Defeza. — Semanal  açoriano— Editor  e  redactor  o  Padre 
José  Bernardo  Mendes,  cura  nos  Arrifes.  N.**  1  de  6  de  dezembro  de 
1884.  4  pag.  a  3  col.  foi.  peq.  Ponta  Delgada,  Typ.  Açoriana.  Termi- 
nou com  o  n.°  o  de  3  de  janeiro  de  1885. 

47)  Democracia.  — Semanário  politico  e  noticioso  —  Redactor 
Augusto  Lniireiro.  Proprietário  Manoel  Augusto  Tavares  de  Rezendes. 
Editor  Manoel  Corrêa  Botelho.  N."  1  de  7  de  março  de  1869.  4.  pag. 
a  4.  col.  Ponta  Delgada,  Typ.  do  editor.  Terminou  com  o  n.°  22  de 

8  d'agõsto  seguinte.  Este  jornal  é  a  sequencia  do  Clamor  Artistico.  N.° 
32  a  traz. 

48)  Demócrito. — Burlesco— Proprietário  e  editor  Joaquim  Ma- 
ria da  Ponte.  N.°  I  de  20  de  junho  de  1874.  4  pag.  a  3  col.  Typ.  do 
Amigo  do  Povo.  Parece  que  terminou  com  o  n.°  3  de  5  de  juího  do 
mesmo  anno.  Substituio  o  Semanário  Brulesco. 

49)  Diário  dos  Açores.— Publicação  noticiosa  de  instrucção  e 
recreio- -Proprietário  e  administrador  Manoel  Augusto  Tavares  de  Re- 
zendes. Ponta  Delgada,  Typ.  de  Manoel  Corrêa  Botelho  até  aon.°71, 
depois  Typ.  própria.  Foi.  de  18  centímetros  por  25.  4  pag.  a  3  col. 
No  2."  anno  aiigmentou  de  formato,  que  tornou  a  augmentar  no  n." 


AUCHIVO   DOS  AÇOBES  503 

986  do  4."  anno  (4  de  junho  de  1873.)  Começou  di.iriamenle  no  dia  6 
de  fevereiro  de  1870  alé  julho  de  1873,  passando  a  piiljhc.ar-se  só  3  ve- 
zes por  senfiana  até  agosto  de  1874.  D'esta  data  em  diante  passou  a 
ser  de  maior  formato  e  a  pubhcar-se  2  vezes  por  semana.  Acabou  com 
o  n.®  1:954  de  11  de  junho  de  1881,  para,  chrismado  em  Novo  Diá- 
rio dos  Açores,  se  eximir  à  pubhcação  a  que  fora  condemnado  judicial- 
mente. Redactores  e  Collaboradores  Francisco  Jacome  Corrêa ,  Dr. 
Francisco  Manoel  Raposo  Ricudo  Corrêa,  Emilio  Jardim  Galvão,  Dr. 
Caetano  d'Andrade,  depois  que  o  jornal  se  tornou  politico. 

50)  Diário  de  Annuncios. —Folha  noticiosa  e  commercial  — 
Proprietário  e  editor  Nuno  Cordeiro.  Collaboradores  Manoel  Pereira 
de  Lacerda,  João  de  Nóbrega  Soares,  António  Corrêa  de  Mendonça, 
Dr.  Júlio  Pereira  de  Carvalho  e  Costa,  Joaquim  Cândido  Abranches, 
José  Rolelho  de  Mello  e  outros.  N."  1  de  2  de  janeiro  de  1885.  4  p. 
a  3  col.,  no  n.°  142  augmentou  de  formato,  passando  a  ter  4  col.:  al- 
guns n."'  tem  gravuras.  Ponta  Delgada,  Typ.  Minerva.  No  domingo  12 
d'abril  de  1885,  publicou  um  n.°  especial  em  miniatura  a  favor  das 
victimas  dos  terremotos  de  Hespanha.  Continua. 

51)  Diário  de  Noticias.  — Politico  e  noticioso  —  Editores  Ma- 
noel Augusto  Tavares  de  Rezendes,  João  Climaco  dos  Reis  e  António 
Climaco  dos  Reis,  este  era  também  redactor.  N.°  1  de  i  de  julho  de 
1869.  4  pag.  a  3  col.  foi.  peq.  Ponta  Delgada,  Typ.  do  Ecco  Liberal, 
até  ao  n.*'  65,  depois  na  de  Manoel  Corrêa  Botelho  até  ao  n.°  115,  os 
restantes  em  Typ.  própria.  Terminou  com  o  n.°  138  de  9  de  janeiro 
de  1870.  Os  últimos  23  n.*"  sò  tinham  2  pag. 

52)  Diário  de  Noticias  Illustrado.— Publicado  por  Rangel 
Lopes  &  C*  dono  da  lythographia  em  que  se  imprimio  em  Ponta  Del- 
gada; 4  pag.  com  algumas  estampas.  O  n."  1  com  data  de  1  de  Mar- 
ço de  1880.  Sahiram  unicamente  44  n.^'  sendo  este  ultimo  de  15  d'a- 
bril.  Foi  o  primeiro  jornal  lythographado  em  machina  movida  a  vapor. 
Redactores  nos  últimos  n."'  o  Tenente  Henrique  José  das  Neves,  Al- 
feres Francisco  Affonso  de  Chaves  e  Mello,  Tenente  José  Cândido  de 
Senna  e  Joaquim  Cândido  Abranches. 

53)  Direito  Popular.  —  Semanal  politico  —  Proprietário  Luiz 
^Augusto  Freire  Themudo.  Ribeira  Grande,  Typ.  de  Botelhos.  N."  1  de 

15  de  março  1867.  Terminou  com  o  n.°  5  de  2  de  maio  de  1868. 

54)  Direito  Social.— Semanal  politico— N."  1  de  2  de  janei- 
ro de  1880.  4  pag.  a  4  col.  Ponta  Delgada,  Typ.  Açoriana  de  Manoel 
Corrêa  Botelho.  Terminou  com  o  n."  28  de  30  de  julho  seguinte. 


50i  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

55)  Ecco  Givilisador.  (l."^)  —  Hebiloraadario  publicado  aos 
dumiiigos.  Editur  responsável  João  de  Medeiros  Júnior.  Parece  que  o 
n.°  I  é  de  19  de  junho  de  1870  e  que  terminou  com  o  n  °  10  de  21 
d'agosto  du  mesmo  anno.  Villa  Franca  do  Campo,  Typ.  própria. 

56)  Ecco  Givilisador.  (2.")  —Semanário  politico  — Princi- 
piou a  15  de  janeiro  e  durou  alé  27  de  Setembro  de  1880.  Villa  Fran- 
ca do  Campo,  Typ.  de  Bolelhos. 

57)  Ecco  Liberal.  —  Semanário  politico  —  Redactor  António 
(^lim.ico  dos  ÍAeis,  dunu  da  Typ.  onde  se  imprimia  em  Ponta  Delgada. 
Editor  João  Climaco  úos  Reis.  N.°  i  de  26  de  setembro  de  1808.  4 
pag.  a  4  col.  Parece  que  terminou  com  o  u.**  55  de  10  de  junho  de 
18G0. 

53)  Ecco  da  Liberdade. — Folha  Progressista  Semanal  —  Re- 
dactor e  único  Proprietário,  até  ao  n."  11  Alexandre  Climaco  dos  Reis 
e  Irmão,  e  deste  u.°  em  diante  só  o  primeinj.  Começou  a  publicação, 
em  16  de  Julho  de  1877,  ás  sextas  feiras.  4  pag.  a  4  col.  Ponta  Del- 
gada, Typ.  do  Amigo  do  Povo,  até  ao  n.°  12;  na  Empresa  Typographi- 
ca  dos  Açores  até  ao  n.°  16,  de  17  até  ao  n.''  24  e  ultimo  de  2  de  ja- 
neiro de  1878  na  Typ.  Aç(jriana  de  Manoel  l>orrêa  Botelho. 

59)  Ecco  Micliaeleiíse.  —  Do  Povo  —  Pelo  Povo  —  Semanal 
politico— Editoras  José  Ferreira  Martins  Júnior,  Diogo  Ferreira,  Fran- 
cisco Moniz  Pontes,  Manoel  Corrêa  Botelho,  J  »sé  Ferreira  Martins  Sé- 
nior e  Marianu)  José  di  Silveira.  N.°  1  ile  julh)  de  1870.  4  pag.  a  4 
col.  foi.  grande.  Ponta  Delgada,  Typ.  do  Defensor  da  Pátria  de  João 
Maria  de  Sousa,  dita  de  Manoel  Corrêa  Botellio,  dita  Açoriana  de  Mar- 
tins á  Botelho,  dita  do  Diário  dos  Açores,  e  finalmente  na  Typ.  Insu- 
lana, do  redactor  e  editor.  Terminou  com  o  u.°  722  de  1  de  novembro 
de  1881.  A  Typ.  foi  vendida  para  Angra. 

60)  Ecco  Social.  —  Folha  politica,  commercial,  agrícola  e  noti- 
ciosa —  Responsável  e  proprietário  Ruy  Vaz  de  Medeiros  Albuquer- 
que, até  ao  n.''  97  de  22  de  maio  de  1867.  2."  anuo,  e  d'ahi  em  dian- 
te Manoel  Corrêa  Botelho.  N.''  1  de  31  de  u)aio  de  1864.  4  pag.  a  4 
col.  Ponta  Delgada,  Typ.  própria.  Parece  que  terminou  com  o  supple- 
mento  ao  n."  !o5  de  9  de  janeiro  de  1869.  Declara  no  1."  n.°  que  foi 
convidado  para  substituir  em  tudo  o  Campeão  Libeíal,óes(\e  que  es- 
te deixou  (le  ter  habilitação  politica. 

61)  Ecco  Villafranquense.  Semanário  —  N."  1  de  7  de 
março  de  1868.  4  pag.  a  3  col.  Vdia  Franca  do  Campo,  Typ.  de  Gui- 
lherme Augusto  Botelho,  Terminou  em  junho  do  mesmo  anno. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  505 

62)  A  Época.  —  Editor  e  proprietário  Júlio  dn  Encarnação  Ma- 
chado. Semanal  de  4  pag.  a  3  col.  in-fol.  peq.  Ponta  Delgada,  Tvp. 
Imparcial,  e  do  Ecco  Michadcnse.  N.°  1  de  10  de  setembro  de  1881. 
O  n."  18  de  3  de  maio  de  1882  e  seguintes  tem  o  formato  um  pou- 
co menor.  Do  n.°  45  em  diante  começou  a  ser  impresso  na  Typ.  da 
Rua  do  Boteliio.  Redactor  do  n.°  18  até  173  o  Dr.  José  AíTonso  Bo- 
telho d'Andrade.  Suspendeu  com  o  n.°  173  de  6  de  maio  de  1885,  e 
reappareceo  com  o  n.°  174  de  29  de  julho  seguinte,  para  terminar  com 
o  n.°  178  de  26  d'agosto  do  mesmo  anno,  impressos  na  Typ.  da  Empre- 
sa Typographica.  Foram  lambem  editores  Francisco  Maria  Supico  e 
Luiz  Augusto  Machado. 

63)  Esmeralda  Atlântica.  —  Revista  mensal,  litteraria  e  il- 
lustrada  —  Redactor  e  proprietário  Augusto  Loureiro.  Os  collaborado- 
res  eram  os  mesmos  do  Alcyon.  N.°  1  em  abril  de  1864.  Cada  n."  de 
16  pag.  in-8.''  gr.:  no  1.°  n.°  trazia  uma  gravura  da  cidade  da  Horta, 
no  2.°  a  da  cidade  de  Ponta  Delgada  e  no  3.**  a  d'Angra.  Ponta  Del- 
gada, Tyf».  da  Persuasão.  Terminou  com  o  n."  3. 

64)  A  Esperança.  —Semanal  litterario,  recreativo  e  noticioso 
— Redactor  João  Maria  de  Sousa.  Responsável  José  ferreira  Cordeiro. 
iN.°  1  de  5  de  janeiro  de  1874.  4  pag.  a  3  col.  Ponta  Delgada,  Typ. 
do  Amigo  do  Povo.  Parece  que  terminou  com  o  n.°  9  de  1  de  março 
de  1874. 

65)  O  Espirro.  — Periódico  para  rir  —  Redactor  principal  D. 
Dynamite  à.  Editor  José  Maria  de  Sousa.  N.°  1,  quarta  feira  1  de  no- 
vembro de  1882.In-4.°  a  2  col.  Ponta  Delgada,  Typ.  do  Parlido  Po- 
pular. Rua  dos  Manaias.  Terminou  com  o  n.°  6  de  20  de  dezembro 
do  mesmo  anno. 

Q6)  A  Estrella  Oriental.  (1.*)— Folha  litteraria,  commercial, 
agricola  e  noticiosa — Semanal  com  4  pag.  a  3  col.  foi.  peq.  impresso 
na  Villa  da  Ribeira  Grande,  em  Typ.  própria,  e  do  n.°  39  em  diante 
na  Typ.  de  J.  J.  Botelho  á  Comp.  Começou  a  28  de  maio  de  1856,  e 
como  jornal  politico,  no  n.°  93  de  7  de  março  de  1858.  Foram  redacto- 
res d'este  jornal  no  seu  principio  Francisco  Maria  Supico  durante  al- 
guns annos,  e  João  Albino  Peixoto,  por  espaço  de  mezes.  Substituiu-os 
Manoel  Constantino  e  Theijphilo  Augusto  Ferreira.  Desde  o  dia  27  de 
setembro  de  1863  foi  Redactor  único  João  xVIbino  Peixoto.  Proprietário 
e  responsável  José  Joaquim  Botelho.  Parece  que  terminou  com  o  n.° 
496  em  março  de  1866. 

67)  A  Estrella  Oriental  (2.^)— Semanal  politico,  litterario  e 
noticioso  —  Redactor  Gualberto  Soares  Vargas  e  outros.  Responsável 
J.  J.  (José  Joaquim)  Botelho.  Typ.  da  Estrella  Oriental.  Foi.  peq.  4  pag.' 

N.«  48-Vol.  VIII— 1887.  5 


506  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

numeradas  a  3  col.  N.°  I  de  26  de  setembro  de  1869.  Desde  13  d'oii- 
lubro  de  1882,  (n."  70  du  13. ''  anno)  tem  sido  redigido  unicamente  pe- 
lo dito  G.  S.  Vargas,  que  deixou  a  redação  em  1885.  Tem  tido  uma 
publicação  muito  irregular  e  uma  quantidade  extraordinária  de  sup- 
piementos.  A  numeração  annual  diíficulta  ainda  mais  o  conhecimento 
exacto  d'esta  publicação. 

68)  Euterpe.  —  Publicação  mensal  de  Muzica  —  Collaboradores 

A.  Ferreira,  Carlos  Botelho,  F.  Peixoto  da  Silveira,  G.  P.  Rangel,  João 

B.  Rodrigues,  J.  Barbosa.  Editores  e  Pmprietarios  Rangel  e  Alberga- 
ria. Ponta  Delgada  Lyth.  Rangel  e  Albergaria.  Sahio  um  único  n."  com 
4  pag.  que  continha  a  =  Valsa  Taborda  =^ por  Carlos  Botelho,  sem  an- 
no da  publicação,  mais  foi  em  1875. 

69)  A  Faisca.  —Periódico  para  rir — Redactor  principal  D.  Ras- 
tilho. Editor  José  Maria  de  Sousa.  Collaboradores  D.  Espirro  e  D.  Es- 
touro. N."  1  de  7  de  janeiro  de  1881.  Ponta  Delgada,  Typ.  própria. 
Parece  que  terminou  com  o  n.*'  28,  de  31  d'agosto  do  mesmo  anno. 
Começou  a  sahir  ás  sextas  feiras;  depois  correu  os  dias  da  semana. 

70)  Flores  Litterarias. — Publicação  litteraria— Redactor  Ma- 
rianno  José  Cabral.  N.°  1  em  abril  de  1854.  Ponta  Delgada,  Typ.  de 
M.  J.  de  Moraes.  Publica va-se  em  folheio  de  64  pag.  íd-8.°.  Terminou 
com  o  n.°  4  em  julho  de  1855. 

71)  Fórum.  (1  ")  —  Semanal  in-fol.  gr.  4  pag.  a  4  col.  Redactor 
principal  Theophilo  Ferreira.  N."  1  de  9  de  março  de  1867.  Ribeira 
Grande,  Typ.  de  José  Joaquim  Botelho.  Terminou  com  o  n.°  33  de  28 
de  dezembro  do  mesmo  anno. 

72)  Fórum.  (2.'')  — Semanal  politico  —  Redactor  e  responsável 
Theophilo  Ferreira.  Administrador  e  impressor  José  Joaquim  Botelho. 
N.°  1  de  5  de  março  de  1868.  4  pag.  a  4  col.  Sahiu  irregularmente  a- 
té  setembro  de  1869.  Ribeira  Grande. 

73)  O  Futuro.— Hebdomadario  politico,  litterario  e  noticioso — 
Redactor  .António  do  Rego  Santos.  Editor  Manoel  Corrêa  Botelho.  N." 
1  de  11  de  fevereiro  de  1881.  Ponta  Delgada,  Typ.  Açoriana  do  edi- 
tor. Terminou  com  o  n."  29  de  1  de  setembro  do  mesmo  anno. 

74)  Gazeta  Açoriana  —Jornal  doutrinário  em  que  collabora- 
ram  vários  escriptores  de  diversas  ilhas  —  Redactor  e  fundador  Hen- 
rique José  das  Neves.  Editor  Manoel  Corrêa  Botelho.  N."  1  de  10  de 
janeiro  de  1883.  4  pag.  a  4  col.  in-fol.  gr.  Apparecia  três  vezes  por 
mez,  nos  dias  10,  20  e  30.  Ponta  Delgada  Typ.  Açoriana,  e  na  Miner- 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  507 

va  de  Nuno  Cordeiro.  Terminou  conni  o  n."  12  de  30  d'abril  do  mesnio 
anno,  que  foi  acompanhado  de  uma  folha  avulsa, 

7ô)  Gazeta  do  Povo  (1.*)  —  Semanário  politico  publicado  a 
favor  dos  Âzylos  de  Mendicidade  e  Infância  Desvalida  de  Ponta  Delga- 
da—  Passou  a  beneficiar  us  azylos  depois  do  1.°  anno  de  publicação. 
Redactores  Augusto  Loureiro,  depois  Dr.  Francisco  Manoel  Rapozo  Bi- 
cudo Corrêa.  Responsável  J.  J.  Botelho.  N.°  I  de  23  de  Julho  de  1867 
4.  pag.  a  3  col.  depois  a  4.  Continuou  irregularmente  até  1870,  Pon- 
ta Delgada,  Typ.  do  Campião  Liberal,  na  Rua  do  Frias. 

76)  Gazeta  do  Povo  (2.*)  —  Semanal  politico  — Editor  José 
Teixeira  Cordeiro.  N.°  1,  sabbado  21  de  janeiro  de  1882,  foi.  a  4  col. 
Ponta  Delgada,  Typ.  Açoriana,  rua  da  Esperança.  Parece  que  termi- 
nou com  o  n.°  4  de  20  de  fevereiro  do  mesmo  anno. 

77j  Gazeta  da  Relação.— Diário  Michaelense — Começou  a  21 
d'Abril  de  1867  na  Typ.  da  Chronica  dos  Açores  em  Ponta  Delgada, 
depois  na  Imparcial:  4  pag.  a  3  col.  Do  N.°  53  em  diante  passou  a  pu- 
blicar-se  sò  ás  terças,  quintas  e  sabbados.  Foi  seu  proprietário  e  fun- 
dor  Marianno  José  Cabral  até  ao  ultimo  de  Setembro  de  1870,  e  d 'es- 
te dia  em  diante  Francisco  Maria  Supico.  Continua. 

78)  Gazetilha  Semanal. — Este  periódico  era  complemento  da 
Esmeralda  Atlântica,  para  a  publicação  de  annuncios,  variedades  e  no- 
ticias locaes.  Imprimio-se  aos  sabbados  desde  18  de  junho  de  4864, 
sendo  gratuito  para  os  subscriptores  da  Esmeralda.  Ponta  Delgada, 
Typ.  da  Persuasão.  4  pag,  a  2  col.  Redigida  por  Augusto  Loureiro. 
Parece  que  terminou  com  o  n,°  5  de  16  de  julho  de  1864. 

79)  O  Gratuito.— Publicação  gratuita,  só  de  annuncios— Ponta 
Delgada,  Typ,  de  Francisco  Joaquim  Pereira  de  Macedo.  1852. 

80)  Grémio  Recreativo.  — Semanário  litterario— Redactor  An- 
tónio Climaco  dos  Reis.  N.°  1  e  único  de  8  de  janeiro  de  1865.  4  pag. 
a  3  col.  Ponta  Delgada,  Typ.  de  F.  J,  P,  de  Macedo. 

81)  A  Idea  Popular. — Semanário  politico,  litterario  e  noticioso 
— Editor  e  proprietário  Júlio  da  Encarnação  Machado.  N.°  1  de  12  de 
fevereiro  de  1879.  4  pag.  a  4  col.  Ponta  Delgada,  Typ,  Popular.  Ter- 
minou com  o  n.°  13,  de  13  de  maio  do  mesmo  anno. 

82)  A  Ilha.— Semanal  politico — Órgão  do  partido  Cartista  em  S. 
Miguel — N.°  1  de  25  de  março  de  1852.  foi.  a  3  col.  Sahia  ás  quintas 
feiras.  Ponta  Delgada,  Typ.  da  Rua  do  Provedor.  Editor  responsável 


508  AHCHIVO  DOS  AÇORES 

M.  J.  de  Moraes.  Redactores,  até  1856  Marianno  José  Cabral;  depois 
Francisco  Maria  Supico  e  outros.  Parece  que  terminou  com  o  n."  808 
em  1867.  Teve  duas  pequenas  interrupções. 

83)  Jornal  d'Annuiicios. — Semanário  de  noticias  e  annuncios 
—  Proprietário  e  editor  Manoel  Corrêa  Botelho.  N."  1  de  3  de  junho 
de  4876.  4  pag.  a  4  col.  (os  n.°'  1  e  2  tem  a  data  errada  de  1873). 
Terminou  com  o  n.°  34  de  14  de  janeiro  de  1877.  Até  ao  n."  16  pu- 
blicou-se  ás  segundas  e  quintas  feiras;  d'ahi  em  diante  aos  domingos 
somente. 

84)  Jornal  Gratuito.— Destinado  exclusivamente  a  annuncios, 
era  distribuído  gratuitamente  nas  manhãs  das  quintas  feiras  e  domin- 
gos; o  seu  formato  era  de  meia  folha  de  papel  almaço,  a  2  col.  O  n." 
3  que  temos  á  vista  tem  a  data  de  Domingo  4  de  março  de  1849,  E- 
ditor  responsável  F.  Pereira  da  Silva,  não  contém  mais  do  que  5  an- 
nuncios, sendo  o  quarto  o  do  famoso  opusculo=0?/  Eu  ou  Elles,  por 
A.  F.  de  Castilho,  25  pag.  in-8.^  Preço  120  rs.  Ponta  Delgada,  Typ. 
de  Castilho,  Rua  das  Artes. 

85)  Jornal  de  Noticias.— Editores  Augusto  César  de  Sampaio 
Loureiro,  João  Maria  de  Sousa  e  Pedro  do  Couto  Silva.  Teve  dois  nú- 
meros primeiros,  um  de  15  de  junho  de  1871,  o  outro  de  15  de  ou- 
tubro seguinte.  O  de  junho  declara  servir  de  prospecto.  Sahia  aos 
domingos,  quartas  e  sextas.  Com  o  n.°  175  augmenloude  formato  por 
começar  a  sahir  uma  só  vez  por  semana,  foi.  a  5  col.,  mas  no  3.°  an- 
no  só  tinha  4  col.  por  pag.  e  apparecia  só  ao  domingo.  Ponta  Delga- 
da, Typ.  Commercial.  Parece  que  terminou  com  o  n.*'  298  de  13  d'ou- 
tubro  de  1875. 

86)  A  Justiça.— Semanal  — Editor  José  Maria  de  Sousa.  N."  1 
de  5  de  novembro  de  1883.  foi.  peq.  a  3  col.  Ponta  Delgada,  Typ.  A- 
çoriana.  Terminou  com  o  n."  4  de  29  do  mesmo  mez. 

87)  A  Liberdade  (1.*)— Folha  politica  semanal— Redactor  Ber- 
nardino Augusto  de  Mello  Azeredo.  Editores  Francisco  Jacome  Corrêa, 
Francisco  Moniz  de  Medeiros  Pontes,  Augusto  Pereira  de  Aguiar  e  Jo- 
sé Moreira  Velho  de  Mello  Cabral.  N.°  1  de  29  de  março  de  1873.  4 
pag.  a  4  col.  Ponta  Delgada,  Typ.  própria.  Parece  que  terminou  com 
o  n."  26  de  21  de  setembro  do  mesmo  auno. 

88)  A  Liberdade  (2. "j— Folha  politica,  litleraria  e  noticiosa— 
N.*  1,  sabbado  12  doutubro  de  1878.  4  pag.  a  4  col.  Villa  Franca  do 
Campo,  Typ.  própria.  Continua  em  1886,  tendo  debaixo  do  titulo:  Fo- 
lha Villa-Franquen.se,  politica,  litteraria  e  noticiosa.  —  Proprietário  e 
responsável  João  Jacintho  Botelho. 


ARCHIVO  DOS  ACOHES  509 


89)  Lusbel. — Folha  diabólica,  infernal,  critica,  trágica,  cómica, 
burlesca,  microscópica  e  inexploravel — Redactor  António  Climaco  dos 
Reis.  Editor  António  Gonçalves  da  Silveira.  N.°  1  de  2  de  fevereiro 
de  1868.  4  pag.  a  3  col.  Ponta  Delgada,  Typ.  da  Voz  da  Liberdade. 
Terminou  com  o  n.°  16  de  17  de  maio  do  mesmo  anno. 

90)  O  Meirinho.— Periódico  dos  pobres  Michaelenses— N.'*  1  de 
3  de  fevereiro  de  1853.  Saliio  sem  a  menor  interrupção  todas  as  se- 
manas, ás  quartas  feiras,  publicando  noticias,  romances,  poesias,  va- 
riedades e  annuncios.  Foi  estranho  à  politica.  Ponta  Delgada.  Typ.  de 
F.  J.  Pereira  de  Macedo.  4  pag.  a  3  col.  Terminou  com  a  moite  do 
proprietário  ao  que  parece  com  o  n.°  1:362  de  14  de  maio  de  1879. 
Acima  do  titulo  tinha  um  pássaro  em  gravura. 

91)  O  Mensageiro  Seraphico.— Revista  mensal  consagrada  á 
propagação  da  venerável  Ordem  Terceira  de  S.  Francisco  d'Assiz.  E- 
ditor  João  Ignacio  Ferreira.  Ponta  Delgada,  Typ.  da  Virgem  Immacu- 
lada.  0  1."  n."  de  32  pag.  in-8.°  sahio  em  janeiro  de  1883,  o  2."  e  ul- 
timo no  mez  seguinte. 

92)  O  Meteoro. — Jornal  scientifico,  litterario  e  noticioso — Foi 
semanal  este  periódico.  N.**  1  de  3  de  maio  de  1858.  4  pag.  a  2  col. 
Redactor  Theophilo  Braga.  Ponta  Delgada,  Typ.  de  M.  J.  de  Moraes, 
Rua  do  Provedor,  e  do  n.°  14  em  diante  na  Typ.  de  Botelhos.  Termi- 
nou com  u  n.**  27  de  12  de  novembro  do  mesmo  anno. 

93)  O  Michaelense.  (i°) — Semanário  politico — Redactor  Dr. 
Francisco  Maria  de  Lima  Nunes.  N.**  1  de  29  de  setembro  de  de  1868. 
Ponta  Delgada,  Typ.  de  Manoel  Corrêa  Botelho.  Terminou  com  o  n.° 
27  de  15  de  janeiro  de  1869. 

94)  O  Michaelense  (2.°) — Hebdomadario  politico,  litterario  e 
noticioso,  consagrado  aos  interesses  do  povo — N.°  1  de  sexta  feira  2 
de  maio  de  1884.  foi.  peq.  a  3  col.  Ponta  Delgada,  Typ.  de  Manoel 
Corrêa  Botelho.  Terminou  com  o  n.°  24  de  8  de  novembro  do  mesmo 
anno. 

95)  A  Miscelânea  Michaelense.— Semanal- Redactor  prin- 
cipal José  Joaquim  Lopes  de  Lima,  Governndor  Civil.  Editor  Luiz  Ja- 
cintho  dos  Reis.  N.*'  1  de  27  d'outubro  de  1836.  O  seu  credo  éra: 
Carta,  Rainha  e  Lei.  Impresso  a  2  col.  em  papel  almasso.  Ponta  Del- 
gada. Typ.  da  Miscelânea,  Rua  do  Provedor.  Terminou  em  29  de  se- 
tembro de  1837. 


510  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

96)  A  Missão.— Jornal  religioso — Redactor  Theophilo  Ferreira. 
N."  1  de  1  de  março  de  1867.  4  pag.  a  2  col.  Publicaram-se  poucos 
n."^"  Ribeira  Grande,  Typ.  de  José  Joaquim  Botelho. 

97j  O  Monitor  (!.")— Semanal  politico— N.°  1  de  6  de  feverei- 
ro de  1839.  4  pag.  in-fol.  peq.  a  2  col.  Editor  responsável  H.  J,  de  M. 
Columbreiro  Góes  até  ao  n.''  104.  Depois  J.  B.  de  Mello  até  ao  fim  da 
publicação.  Foi  órgão  do  partido  conservador,  redigido  de  1841  a  1844 
por  João  José  d'Audrade,  fayalense,  sob  a  direcção  de  Francisco  Af- 
fonso  da  Costa  de  Chaves  e  Mello.  Ponta  Delgada,  Typ,  da  Rua  do 
Provedor.  Terminou  com  o  n.''  269  de  27  de  março  de  1844. 

98)  O  Monitor  (2.")— Semanal  politico — Fundador  Leopoldo  Jo- 
sé de  Cliaves.  Redactores  Francisco  Xavier  da  Silva  e  Theophilo  Fer- 
reira. N.''  1  de  19  de  julho  de  1867.  foi.  gr.  4  pag.  a  4  col.  Conti- 
nuou com  a  numeração  do  1."  Monitor,  mas  errada.  Ponta  Delgada, 
Typ.  da  Pemnosão.  Terminou  em  27  de  janeiro  de  1868. 

99)  O  Noticiador.  — Redactor  José  Joaquim  d  Oliveira  Macha- 
do. N.°  1  de  30  de  janeiro  de  1853.  4  pag.  a  2  col.,  depois  a  3.  Pu- 
blicava este  periódico  romances,  poesias,  variedades,  noticias  scientifi- 
cas  e  diversas,  nacií)nae.>,  estrangeiras,  e  annuncios.  Sahia  2  vezes 
por  semana  em  formato  pequeno,  mas,  augmentando  de  proporções, 
ficou  sendo  semanal.  Ponta  Delgada,  Typ.  Auxiliadora  das  Lettras  A- 
çorianas.  Terminou  em  22  de  março  de  1854. 

100)  O  Noticiarista  (1.°) — Semanal  recreativo  e  noticioso — Pro- 
prietário e  redactor  Augusto  da  Silva  Moreira.  Editor  João  José  dos 
Ramos  e  Cunha.  N.**  1  de  3  de  março  de  1880.  Ponta  Delgada,  Typ. 
Açoriana.  Interrompeo  a  publicação  até  21  d'abril  de  1881  em.  que  sa- 
hiu  o  n."  3,  de  menor  formato,  2  pag.  a  3  col.,  revista  especial  para 
Portugal  e  Brazil  publicada  á  ultima  hora  da  sabida  dos  paquetes. 
Typ.  Recreativa  Lnzo  Americana  do  proprietário.  Parece  que  terminou 
com  o  n.°  9  de  17  de  julho  seguinte. 

101)  O  Noticiarista.  (2.°)  —  Editor  e  proprietário  Manoel  F. 
de  Castro.  N."  I  de  2  de  janeiro  de  1882.  foi.  peq.  a  3  col.  Ribeira 
Grande,  i^S.  Miguel,  Açores)  Typ.  Ribeira  Grandense,  até  ao  n."  98; 
depois  Typ.  Própria.  Continua  em  1886. 

102)  Noticioso  e  Romântico.  —  Semanário  recreativo.  — 
Proprietário  e  editor  João  Maria  de  Sousa.  N.°  1  de  1  de  junho  de 
1876.  4  pag.  a  4  col.  depois  a  3.  Ponta  Delgada,  Typ.  da  Chronka 
dos  Açoirs,  depois  Typ.  do  Amigo  do  Poro.  Terminou  com  o  n."  23  de 
16  de  dezembro  do  mesmo  anno. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  5H 


103)  O  Novo  Diário  dos  Açores.  —Continuação  do  Diário  dos 
Açores.  Editor,  Director  e  Pioprietaritj  Manoel  Augusto  Tavares  de 
Rezendes.  N."  \  de  25  de  junho  de  1881.  4  pag.  a  4  col.  Ponta  Del- 
gada, Typ.  Popular.  Publicou  só  3  n.°^  por  semana  até  o  ultimo  d'a- 
gosto  de  1885,  d'ahi  em  diante  começou  a  ser  diário  e  a  ser  melhor 
impresso,  posto  que  de  formato  um  pouco  menor. 

lOi)  O  Óculo. — Com  este  titulo  appareceram  dois  mimeros  a  31 
de  novembro  e  8  de  dezembro  de  1882,  impressos  pelos  filhos  meno- 
res do  Redactor  do  Ecco  Michaeleme,  suspendeo-se  a  publicação  por 
falta  de  habilitação.  2  pag.  a  2  col.  Ponta  Delgada,  Typ.  Liberal. 

105)  Opinião  Publica  (1.^) — Folha  politica,  litteraria  e  noticio- 
sa.—  Redactor  Luiz  Augusto  Freire  Themudo.  Responsável  José  Joa- 
quim Botelho.  N.**  1  de  17  de  março  de  1866.  foi.  peq.  4  pag.  a  3  col. 
Ribeira  Grande,  Typ.  do  responsável  Botelho.  Parece  que  terminou 
com  o  n.^  43  em  janeiro  de  1867. 

106)  A  Opinião  Publica  (2.*)— Editor  responsável  Joãolgna- 
cio  Peixoto.  Diz-se  que  foram  Redactores  o  Alferes  António  Emílio  de 
Figueiredo  e  Mello,  Dr.  Fino,  Cirurgião  Mór,  Tenente  António  Joaquim 
Domingues,  Tenente  Duarte,  Tenente  Geraldes:  todos  de  Caçadores  11, 
e  Alferes  Joaquim  Zeferino  de  Sequeira  Moraes,  da  Administração  mi- 
litar. Semanal.  4  p.  a  4  col.  N.°  I  de  sabbado  4  de  novembro  de  1882. 
Ponta  Delgada,  Ty[).  Açoriana.  Terminou  com  o  n.^  9  de  31  de  dezem- 
bro seguinte,  com  a  transferencia  de  alguns  redactores  para  outros  cor- 
pos, em  consequência  da  violência  de  seus  escriptos. 

107)  Paizagens  e  costumes  dos  Açores.— Artigos  descri- 
ptivos  pelos  principaes  escriptores  açorianos;  dezenhos  de  José  Igna- 
cio  dArruda  Pereira  e  João  Cabral.  Ponta  Delgada,  S.  Miguel,  Açores. 
Lyth.  Luzitana.  Cada  n.**  com  duas  folhas,  uma  com  2  pag.  de  texto 
e  a  outra  com  a  estampa.  Sahiram  só  3  n."%  em  fevereiro,  março  e 
abril  de  1884.  A  folha  de  texto  era  impressa  ua  Typ.  Minerva. 

108)  O  Partido  Popular. — Semanal  politico  — Editor  e  reda- 
ctor José  Augusto  da  Costa  Rezende,  foram  também  editores  Júlio  da  En- 
carnação Machado  e  João  António.  N.°  1  de  2  dagosto  de  1875.  Pon- 
ta Delgada,  Typ.  Açoriana  de  Manoel  Corrêa  Botelho,  e  posteriormen- 
te Typ.  própria.  Interrompeu  a  publicação  em  1877  e  reappareceu  com 
o  n.°  109  em  fevereiro  de  1878.  Parece  que  terminou  com  o  n.**  166 
de  19  d'abril  de  1879. 


512  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

109)  O  Patriota  (1.°) — Foi  politico  e  parece  que  o  n.°  1  sahiu 
na  principio  de  janeiro  de  1836.  O  n."  7  tem  "a  data  de  20  de  feve- 
reiro seguinte.  Era  impresso  em  Ponta  Delgada.  N'elle  escreveu  alguns 
artigos  Joaquim  José  Barbosa. 

110)  O  Patriota (2.°) — Semanário  politico— Sahia  ás  sextas  fei- 
ras. Proprietários  e  redactores  Silveira  &  Irmão.  Editor  João  Ferreira 
Benevides  Rego.  N."  1  de  16  de  novembro  de  1877.  Ponta  Delgada, 
Typ.  Imparcial.  Terminou  com  o  u.°  8  de  4  de  janeiro  de  1878. 

111)  O  Pavilhão  Nacional.  — Semanário  politico  —  Redactor 
Augusto  Loureiro.  Editor  Manoel  Corrêa  Botelho.  N.°  1  de  12  de  mar- 
ço de  1868.  4  pag.  a  4  col.  Ponta  Delgada,  Typ.  Açoriana  do  editor. 
Terminou  em  4  de  junlio  do  mesmo  anno. 

112)  A  Persuasão. — Semanal  politico — Foi.  gr.  4  p.a  4  col.  P. 
Delgada,  Typ.  própria  até  1867.  Redactores  Francisco  Maria  Supico  e 
José  Ignacio  Rebello  de  Medeiros. Proprietário  Francisco  Ignacio  Bebei- 
lo  e  responsável  Francisco  Moniz  de  Medeiros  Pontes.  N."  1  de  1  de 
janeiro  de  1862  e  tem  continuado  até  ao  presente,  apparecendo  ás 
quartas  feiras,  Imprimio-se  algum  tempo  na  Typ.  Auxiliadora  das  Let- 
tras  Açorianas,  depois  na  de  Manoel  Corrêa  Botelho,  e  actualmente  na 
Imparcial.  Desde  a  morte  do  primeiro  proprietarijo  pertence  a  Francis- 
co Maria  Supico.  Defende  a  politica  regeneradora,  e  tem  sido  sempre* 
um  dos  mais  bem  escriptos  jornaes  michaelenses . 

113)  O  Philologo.  —  Jornal  da  Sociedade  Escholastico-Michae- 
lense--Quinzenal,  litterario.  Redactores  José  de  Torres,  José  Joaquim 
d'01iveira  Machado  e  Marianno  José  Cabral.  N.°  1  de  1  de  janeiro  de 
1844.  8  pag.  a  2  col.  in-4.°.  Ponta  Delgada,  Typ.  de  Macedo.  Termi- 
nou com  o  n.°  12  de  15  de  junho  do  mesmo  anno. 

114)  O  Pist! —Semanário  humorístico  e  illustrado  —  Direcção 
artística  de  João  Cabral,  editor.  Publica-se  ás  quintas  feiras.  Ponta  Del- 
gada. 4  pag.  em  pequeno  folio,  a  1.*  e  4.*  lythographadas,  a  2.*  e 
3.*  impressas  na  Typ.  Popular.  N.°  1  (programmaj  de  18  de  novem- 
bro de  1886.  Continua. 

Porto  Artificial  de  Ponta  Delgada.  Vid.  a  traz  Boletim 
Mensal,  n.°  21. 

115)  O  Povo  Açoriano. —  Hebdomadario  politico,  litterario  e 
noticioso —Órgão  do  partido  progressista  de  Ponta  Delgada.  Redactor 
Caetano  dAndrade  Albuquerque,  Dr.  Francisco  Manoel  Raposo  Bicudo 
Corrêa  e  Manoel  Augusto  T.   de  Rezendes,  editor.  N."  1  de   quarta 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  513 

feira  31  de  março  de  1886.  4  pag.  a  í  col.  Ponta  Delg.-ída,  Typ.  pró- 
pria. Do  n.°  2  em  diante  começou  a  saliir  á  quinta  feira.  Continua,  mas 
com  diversos  redactores. 

116)  O  Povoacense.  —  Semanal  — Redactor  António  d^Âmaral 
Vascnncellos.  Editor  Júlio  da  Encarnação  Machado.  N.°  1  de  !átí  de  ju- 
lho de  1879.  4  |)ag.  a  3  col.  Povoação,  Typ.  [)ropria.  Terminou  com 
o  n.°  43  de  12  de  junho  de  1880. 

117)  O  Progresso. — Periódico  dos  Açores— Semanário  politico 
—  Redactor  Augusto  Loureiro.  Responsável  João  J.  Botelho.  N."  1  de 
11  de  julho  de  1807.  4  pag.  a  4  col.  Ponta  Delgada.  Typ.  da  Rua  do 
Frias.  Parece  que  terminou  com  o  n.°  93  de  3  d'outubro  de  1869. 

118)  O  Pyrilampo. —Semanário  — Redactor  Theophilo  Ferrei- 
ra. N.°  1  de  9  de  janeiro  de  1868.  foh  peq.  4  pag.  a  3  col.  Ribeira 
Grande,  Typ.  de  José  Joaquim  Botelho.  Parece  que  terminou  com  o 
n.°  8  de  27  de  fevereiro  seguinte. 

119)  O  Raio. —Jornal  satyrico  — Redactor  principal  Armando 
Krupp.  Collaboradores:  Pompeu  Relâmpago,  Estevão  Corisc ),  Scipião 
Dynamite,  Victor  Paiol,  Estaíiislau  Pólvora,  Hypolito  Fulminante,  Nico- 
lau Arcabuz,  Ricardo  Obuz,  Anacleto  Balazio,  Simão  Lanterneta,  As- 
drúbal Ex[)losão,  Cypriano  Bomba,  Luiz  Faisca.  Editores  Venâncio  de 
Sousa  Benevides  e  Marianno  José  da  Silveira.  N.°  1  de  10  de  setem- 
bro de  1883.  foi.  peq.  4  pag.  a  3  cí)i.  Ponta  Delgada,  Typ.  Michae- 
leuse,  Rua  da  Mãe  de  Deus.  Publicava-se  ás  quartas  feiras.  Terminou 
com  o  n."  5  de  7  d'outubro  seguinte. 

120)  Republica. —Semanário  politico  —  Redactor  o  Bacharel 
Francisco  Félix  Machado.  N.°  1  de  11  de  junho  de  1873.  4  pag  a  4 
col.  Era  distribuída  em  Villa  Franca  do  Campo,  mas  imprimia- se  em 
Ponta  Delgada  na  Typ.  da  Liberdade.  Parece  que  terminou  com  o  n.° 
9  de  6  dagosto  seguinte. 

121)  Republica  Federal.  —  Órgão  semanal  do  Centro  Repu- 
blicano Federal  de  Ponta  Delgada.  Redactor  Caetano  ]\Ioniz  de  Vascon- 
cellos.  Editores  Manoel  Corrêa  Botelho,  Venâncio  de  Sousa  Benevides, 
Manoel  Augusto  Tavares  de  Rezendes,  e  Francisco  dAlmeida  Pache- 
co. N.°  1  de  sabbado  17  dabril  de  1880,  depois  continuou  a  sahir  re- 
gularmente ás  terças  feiras.  4  pag.  a  4  col.  Ponta  Delgada,  Typ.  Aço- 
riana, depois  na  Minerva  e  actualmente  na  Popular.  (Continua. 

122)  Revista  dos  Açores.  —Semanário  litterario  — Redacto- 
res e  collaboradores:  José  de  Torres,  António  Teixeira  de  Macedo,  Fi- 

N.«  48— Vol.  VIII  -  1887.  6 


514  ARCHIVO  UOS   AÇOHES 

lippe  (Jo  Quental.  Francisco  Maria  Supico,  Guilherme  Read  Cabral,  Jo- 
sé Maria  do  Couto  Severim,  Henrique  d'Anfirade  Albuquerque,  João 
Albino  Peixoto,  José  Ben  Saúde,  Frederico  Leão  Cabreira,  Luiz  Filip- 
pe  Leite,  Miguel  Street  dArriaga,  José  Joaquim  dOliveira  Machado, 
Thomaz  Carew  Himt.  António  Bonifácio  Júlio  Guerra,  António  Homem 
da  Costa  Noronha,  Padre  António  Joaquim  Ferreira,  Bernardino  de 
Senna  Freitas.  Padre  .João  Jo>é  do  Amaral,  José  Joaquim  Mattoso  Ga- 
go da  Camará,  João  F.  H.  Parkin  Sclioltz,  José  Augusto  Cabral  de 
Mello  e  José  Henrique  de  Meiieifíjs.  N.°  1  de  I  de  "janeiro  de  1851. 
A  1.^  serie,  in-fol.  a  2  col.  e  4  pag.,  terminou  com  o  n.°  104  de  10 
de  janeiro  de  1853,  com  424  pag.  A  2.*  serie,  in-4.",  de  março  de  1853 
a  igual  mez  de  1854.  Publicou-se  em  folhetos  de  32  pag.  de  que  ap- 
pareceram  12  com  384  pag.,  formando  o  2."  Vol.  publicado  pela  Socie- 
dade Auxiliadora  das  Lettras  Açorianas.  Ponta  Delgada,  Typ.  A.  das 
Lettras  Açorianas.  São  raras  e  muito  apreciadas  as  colli-cções.  Da  2.* 
serie  chegaram  a  imprimir-se  3  n.°'  in-fol.,  que  foram  reproduzidos 
in-4.°. 

123)  Revista  Açoriana —Semanário  litterario— Redactores 
Francisco  Maria  Supico,  Marianno  José  Cabral  e  José  Ben  Saúde.  N.°  1 
de  2  de  janeiro  de  1853.  4  pag.  a  3  col.  e  depois  a  2  Ponta  Delga- 
da, Typ.  de  Macedo.  Terminou  com  o  n.°  45,  4.°  anno,  em  13  de  de- 
zembro de  1856. 

124)  Revista  Michaelense.  —  Folha  commercial,  litteraria, 
noticiosa  e  critica.  Redigida  por  Marianno  José  Cabral.  N.'*  1  de  1  de 
janeiro  de  1851.  4  pag.  a  2  col.  no  1.°  anno;  a  3  no  2.°.  Ponta  Del- 
gada, Typ.  de  Joã(»  Jacintho  Botelho  até  ao  n."  2i,  os  restantes  na  de 
Manoel  José  de  .Moraes.  Termin(jij  com  o  n.°  12  do  2.°  anno  em  18 
de  março  de  1852.  Occupava-se  de  assumptos  de  interesse  publico, 
não  políticos.  Deu  supplementos  pelo  menos  aos  n.*"  1  e  11. 

125)  A  Ribeira  Grande. — Folha  semanal  consagrada  a  lodos 
os  assumptos  d"interesse  pátrio  — Redacção  anonyma;  mas  que  se  at- 
tribue  ao  Padre  Egas  Moniz.  N.°  1  de  quarta  feira  21  de  setembro  de 
1881.  Foi.  pe(j.  a  3  col.  Ribeira  Grande,  Typ.  Ribeira  Grandense.  Ter- 
minou com  o  n."  16  de  12  de  janeiro  de  1882. 

126)  O  Santelmo. —  Jornal  de  sciencias,  litteratura,  bellas-ar- 
les,  agricultura,  industria  e  noticias,  publicado  quinzenalmente— Re- 
dactores Francisco  Maria  Supico.  Theophilo  Braga  e  António  Pereira. 
N.°  1  de  15  de  janeiro  de  1859.  In  4."  a  2  col.  Ponta  Delgada,  Typ. 
de  Moraes.  Terminou  com  o  n.°  44  de  31  (fontiibro  de  1860.  Forma 
um  volume  com  352  pag. 


ARCHIVO   DOS   AÇORES  515 


127)  A  Semana. — Semanário  litterario  e  noticioso  — Proprietá- 
rio Manoel  Auguslo  Tavares  de  Hezendes.  N."  1  de  19  d'agosto  de 
!8()f).  2  folhas  com  8  pag.  a  2  col.  foi.  peq.  Ponta  Delgada,  Typ.  pró- 
pria. Terminou  com  o  n."  24  de  2C  de  janeiro  de  1870. 


128)  Semanário  Burlesco.  — Folha  satyrica— Proprietário  re.s- 
ponsavel  Joaquim  Maria  da  Ponte.  N.°  1  de  20  de  março  de  1874.  4 
pag.  a  3  col.  P.  Delgada,  na  Ty[).  Insulana  o  1.°  n.°,  do  2.°  em  diante 
em  formato  maior  na  Açorian;i.  Parece  que  terminou  com  o  n.°  9  de 
21  de  maio  do  mesmo  anno,  mudando  u  nome  para  Demócrito. 

129)  O  Sinapismo.  -  Jornal  em  prosa  e  verso,  redigido  exclu- 
sivamente por  senhoras,  a  saber:  D.  Mostarda,  D.  Linhaça,  D.  Campho- 
ra,  D.  Usaidella,  D.  Sidreira.  D.  Salva,  D.  Perpetua,  e  D.  Losna.  Edi- 
tor Mariamjo  José  da  Silveira.  N."  I  de  quarta  feira  tí  de  janeiro  de 
1880.  Foi.  peq.  4  pag.  a  3  col.  Ponta  Delgada,  Typ.  do  Partido  Popu- 
lar. Rua  do  Botelho.  (Continua,  mas  com  outro  editor. 

130)  O  Templo.— Jornal  religioso,  moral  e  litterario— Publica- 
do [)0i'  alguns  estudiosos  em  favor  do  Asylo  d'Infancia  Desvalida  da 
cidade  de  Píjuta  Delgada.  Typ.  de  Botelho  á-  Irmãos.  Publicou  se  em 
folhetos  de  16  pag.,  apparecendo  de  15  em  15  dias,  exclusivamente 
consagrado  á  litleratura  religiosa  e  moral.  N.°  1  de  15  de  setembro 
de  1856,  e  terminou  em  31  d"agosto  de  1858;  ao  todo  48  n.°*  em  2 
volumes,  cada  um  de  384  pag. 

131)  O  Tempo.  -Semanal  politico  — Propiietario  e  editor  Fran- 
cisco Jacome  Corrêa.  N."  I  de  24  de  novembro  de  1876.  Ai)parecia  ás 
sextas  feiras.  Ponta  Delgada.  Typ.  da  Empreza  Typographica  dos  A- 
çores.  Terminou  com  o  supplemento,  ao  n.°  27,  de  24  de  junho  de 
1877. 

132)  O  Tio  Braz.  —  Proprietário  Zé  Povinho.  Redactor  quem 
redige.  Editor  Luiz  Augusto  Machado.  Collaboradores  Manoel  Soares 
Pereiía,  Francisco  Cordeiro,  António  Corrêa  de  Mendonça  e  E.R.Quin- 
tanilha. N.°  1  de  1  d'agosto  de  1885.  Foi.  peq.  4  pag.  a  3  col.  Publi- 
ca va-se  aos  sabbados.  Ponta  Delgada.  Typo  Lythographia  dos  Açores  a- 
té  ao  n.°  11,  o  n."  12  na  Typ.  da  Época,  o  13  até  17  na  Imparcial,  de 
18  a  20  em  Typ.  própria,  o  21  e  seguintes  na  Açoriana.  Deu  2  pag. 
de  caricaturas  lythographadas.  e  algumas  meias  folhas  de  annuncios. 
Terminou  com  o  n.''35  de  27  de  março  de  1886. 


516  ARGHIVO   DOS  ACOBES 


133)  A  Tribuna  Christã. —  Publicação  quinzenal  religiosa  — 
Dedicada  ao  Ex.""*  Sr.  Prelado  da  Diocese  d'Angra.  Redactores  Joaquim 
Cândido  Abranches  e  Augusto  Loureiro.  N.°  1  de  15  de  maio  de  i873. 
8  pag.  in-4.°  a  2  col.  Ponta  Delgada,  Typ.  Commercial.  Terminou  com 
o  n."  6,  de  31  d'agosto  do  mesmo  anno. 

134)  O  Typographo. — Hebdomadario  lítlerario,  noticioso  e  re- 
creativo, dedicado  aos  artistas  michaelenses.— Proprietário  e  redactor 
João  Maria  de  Sousa.  Editor  António  Gonçalves  da  Silveira.  N."  í  de 
H  de  novembro  de  1866.  Ponta  Delgada,  Typ.  do  Ecco  Social.  Pare- 
ce que  terminou  com  o  n.°  30,  de  30  de  junho  de  1867. 

135)  A  União.  —  Semanário  politico  —  Redactor  José  Maria  de 
Vasconcellos.  Editor  João  Jacinthn  Botelho.  N."  1  de  19  de  fevereiro 
de  1857.  Foi.  peq.  4  pag.  a  3  col.  Ribeira  Grande,  Typ.  do  editor  até 
ao  n.°  59,  o  n.°  60  em  Ponta  Delgada  na  Typ.  Auxiliadora  das  Lellras 
Açorianas,  o  n."  61  e  seguintes  em  Typ.  propi  ia.  Terminou  com  o  n.** 
■187,  de  6  de  junho  de  1861. 

136)  A  Vardasca. — Semanal  politico  e  satyrico — Editor  Manoel 
C-orrêa  Botelho.  N.°  \  de  sexta  feira  9  de  junho  de  1882.  Foi  peq.  a 
3  col.  Ponta  Delgada,  S.  Miguel,  Typ.  Açoriana,  rua  da  Esperança  n." 
33.  Terminou  com  o  n.°  41  de  3  de  junho  de  1883. 

137)  A  Ventosa. — Jornal  satyrico  em  prosa  e  verso —Proprie- 
tário José  Maria  Teixeira.  Redactor  José  Augusto  da  Costa  Rezende. 
Editor  José  Teixeira  Cordeiro.  N."  1  de  segunda  feira  2  d'agoslo  de 
1880.  ponta  Delgada,  Typ.  do  Partido  Popular.  Do  n."  2  em  diante 
apparecia  ao  sabbado.  Terminou  com  o  n.°  14  de  30  d'outubro  do 
mesmo  anno. 

138)  A  Ventosa  Sarjada. — Jornal  satyrico  em  pro  sa  e  verso 
— Redactor  José  Augusto  da  Costa  Rezendes.  Editor  Mariano  José  da 
Silveira.  N.°  \  de  6^  de  novembro  de  1880  e  tem  continuado  a  sahir 
regularmente  todos  os  sabbados.  Ponta  Delgada,  Typ.  do  Partido  Po- 
pular. Este  jornal  é  a  sequencia  da  Ventosa,  acima  n."  137. 

139)  A  Verdade.  —  Semanal  politico  e  litterario — Redactor 
principal  Dr.  António  Feliciano  de  Castilho.  Editor  responsável  F.  P. 
da  Silva.  Foi  fundado  por  D.  Pedro  da  Costa  de  Sousa  de  Macedo,  Se- 
cretario Geral  servindo  de  Governador  Civi',  cohío  órgão  official,  prin- 
cipalmente destinado  a  acalmar  a  efervescência  partidária  alimentada 
pelo  Cartista  dus  Açores.  N.*^  l  de  7  de  fevereiro  de  1849.  Foi.  de  4 


ARCMIVO  DOS  AÇORES  517 

pag.  a  3  col.  Ponla  Delgada,  Typ.  de  Caslillio.  Terminou  com  o  siip- 
plemento,  ao  n.°  2i,  de  á'i  d'agi)Sto  du  ineímu  .umo. 

140)  O  Vigilante.  -Hebdomadario  politiro,  lilterario  e  noticio- 
so—Dedicado  ao  Povo -Editor  Manoel  Corrêa  liotelho.  N."*  I  de  4  de 
maio  de  1886.  Ponta  Delgada,  Typ.  Açoriana.  Suspendeu  com  o  n."  \'t 
de  31  d'agosto  do  me^mo  anno,  para  reapparecer  em  1887. 

141)  Villafranquense. —  Semanário  politico,  litterario,  noticio- 
so e  agricola— Editor  responsável  José  Maria  Brazil.  N."  I  de  5  de  ju- 
lho de  1861.  í  pag.  a  3  col.  Villa  Franca  do  Campo,  Typ.  própria. 
Terminou  com  o  n."  133  de  26  de  maio  de  1864. 

142)  A  Vontade  do  Povo.— Semanário  politico,  litterai'io  e 
noticioso— Redactor  Dr.  Francisco  Manoel  Raposo  Bicudo  Corrêa.  Ad- 
ministrador João  Climacú  dos  Reis  Jiinior.  Editores  Manoel  Augusto 
Tavares  de  Rezendes  e  o  administrador.  N.°  1  de  sabbado  \  d'abril  de 
1882.  Foi.  peq.  a  4  col.  Ponta  Delgada,  Typ.  Popular,  Rua  da  Canada, 
Terminou  com  o  n.''  18  de  30  dagosto  do  mesmo  anno. 

143)  A  Voz  da  Liberdade  (!.'')  — Hebdomadario  litterario, 
politico  e  noticioso.— Redactor  e  proprietário  António  Climaco  dos  Reis. 
Editor  João  Climaco  dos  Reis.  N."  1  de  7  de  fevereiro  de  1867.  4  pag. 
a  4  col.  Ponta  Delgada.  Typ.  do  Campeão  Liberal  desde  n."  1  até  21: 
na  do  Ecco  Social  de  22  até  ao  2o  com  que  suspendeu  em  27  de  ju- 
lho do  mesmo  anno.  Reappareceu  em  4  doulubro  seguinte  em  forma- 
to maior  a  5  col.,  impresso  em  Typ.  piopria.  bem  como  os  seguintes 
até  64  e  ultimo  de  31  de  julho  de  1868,  único  n."  que  saliio  em  gran- 
de formato  dividido  em  6  col. 

141)  A  Voz  da  Liberdade  (2.*)— Proprietário  Manoel  Corrêa 
Botelho.  Appareceu  desde  1  d'abril  de  1869,  até  ao  n."  8  de  20  de 
maio  do  mesmo  anno.  Ponta  Delgada,  Typ.  própria. 

145)  A  Voz  do  Povo. — Semanal  politico  —  Redactor  António 
Ernesto  Tavares  d' Andrade.  IN."  1  de  29  de  junho  de  1879.  4  pag.  a 
3  col.  Villa  Franca  do  Can)po,  Typ.  própria.  Terminou  com  o  n."  106, 
de  1  de  julho  de  1881. 

146)  A  Voz  do  Progresso.  — Folha  do  Partido  Regenerador 
—  Propriedade  de  Juão  Climaco  dos  Reis  Jr.  N.°  1  de  1  de  dezenibro 
de  1877.  4  pag.  a  4  col.  Ponta  Delgada,  Typ.  do  Amigo  do  Poro  até 
ao  n.°  53,  os  restantes  na  Imparcial.  Terminou  com  o  n.°  65,  de  1 
de  março  de  1879. 


§18  ARCHIVO  DOS  ACOKES 


147}  A  Voz  da  Verdade.  —SeniíJii.uiu  religioso,  lilterario  e 
politico-  Editores  António  José  Tavares  e  João  José  dos  Ramos  e  Cu- 
nha. N.°  1  de  18  d'agoslo  de  1867.  Cada  n."  de  16  p.  in  8.°  a  2  col. 
Ponta  Delgada,  Typ.  do  Ecco  Social  até  ao  n.**  38;  depois  na  Typ.  da 
Virgen)  Itnnriaculada.  A  numeração  era  aiinual,  excepto  nos  últimos  2 
annos.  Terminou  com  um  supplemeulo  ao  n.°  92,  de  4  de  setembro 
de  1875. 

Na  pag.  494  por  lapso  deixou  de  se  imprimir,  por  cima  da  ilha 
de  S.  Miguel:   DISTRICTO  DE  PONTA  DELGADA. 


DISTRIOTO  DE  PONTA  DELGADA 


iLH-^  IDE  S-AisTTJ^  :bjs:j^-jE<j:J^ 


1)  Correio  Mariense.— Semanário  lilterario  e  noticioso  —  Re- 
dactor e  edictor  João  Climaco  dos  Reis.  N.°  1  de  sabbado  3  d'outubro 
de  1885.  Foi.  peq.  a  3  col.  Villa  do  Porto,  da  ilha  de  Santa  Maria, 
Typ.  Mariense. 

2)  O  Mariense.— Quinzenário,  lilterario  e  noticioso  —  Kdilor  e 
proprietário  Jacinlho  Monteiro  de  Bettencourt.  Redactor  principal  Ur- 
bano de  Medeiros.  N."  1  de  quinta  feiía  9  dabril  de  1885.  Foi.  peq. 
4  pag.  a  3  col.  Villa  do  Porto  (Santa  Maria),  Typ.  Oriental,  rua  da  Con- 
ceição. Foi  o  1."  jornal  publicado  na  ilha  de  Santa  Maria,  suspendeu 
a  publicação  com  o  n.''  7,  de  15  de  julho  seguinte,  em  consequência 
da  sentença  judicial  por  abuso  de  liberdade  de  imprensa,  e  do  editor 
se  recusar  a  publicar  a  mesma.  Do  n.*'  8  chegou  a  imprimii'  se  a  1.* 
e  i.*  pag.,  de  que  se  tiraram  mui  poucos  exemplares,  por  ser  pro- 
liibida  a  publicação  pela  authoridade. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  519 

DISTRICTO  D' ANGRA  DO  HEROÍSMO 

1)  Os  Açores.  —  Folha  consagradíi  aos  interesses  açorianos  — 
Hedactores  c  proprietários  António  Gil  e  A.  Sampaio.  N.°  1  de  10  d"a- 
gosto  de  1879.  Semanal.  Appareceu  aos  domingos  alé  ao  n..°  lá  e  de- 
pois ás  quintas  feiras.  Angi'a,  Typ.  do  Correio  da  Terceira,  Terceiren- 
se,  e  União.  Terminou  com  o  n.°  48.  de  22  de  julho  de  1880. 

2}  Álbum. — Publicação  dos  Alumnos  do  Lyceu  dAngra  do  He- 
roísmo. N.°  1  de  I  de  dezembro  de  187G.  Foi.  peq.  a  3  col.  Foi  tjuin- 
zenal  até  ao  n.°  4,  depois  passou  a  ser  mensal,  e  no  fim  semanal.  An- 
gra, Typ,  do  Correio  da  Terceira  alé  ao  n."  9,  de[)0is  na  Insulana.  Ter- 
minou com  o  n."  13,  de  26  de  janeiro  de  1878.  Tem  artigos  assigna- 
dos  por  A.  M.  de  S.  Moniz  e  M.  J.  da  Silva. 

S)  Alerta!— Antidolo  da  reacção  açoriana— N."  1  em  janeiro  de 
1881.  Publica va-se  em  fascículos  de  32,  24  e  16  pag.  Angra,  Typ. 
União.  Terminou  com  o  n.°  15  em  dezembio  do  mesmo  anno.  Houve 
2.^  edição  do  1."  n.°.  O  ultimo  tem  um  indire  dos  nomes  de  pessoas 
notáveis. 

4)  Aluinno.  -Angra  -1877  -Publicou  poucos  números. 

5)  O  Amigo  das  Famílias.— Publicação  quinzenal  de  propa- 
ganda catholica,  dedicada  á  Virgem  Immaculada— N.°  1  de  24  de  maio 
de  1885.  8  pag.  in-4."  a  3  col.  Angra,  Typ.  do  Catholico.  Continua. 

6)  O  Ang-rense.— Folha  politica— Órgão  do  partido  progressis- 
ta terceirense— N.''  1  de  23  de  setembro  de  1836.  Augmentou  de  for- 
mato em  1842.  Publicou  se  regularmente  alé  8  de  novembro  de  1870, 
em  que  suspendeo,  reapparecendo  com  o  n.°  1530  em  8  de  junho  de 
1874.  E'  redigido  actualmente  por  Theotonio  Simão  Paim  d'Ornellas 
Bruges.  Tendo  o  Prefeito  prohibido  a  impressão  de  jornaes  na  Typ. 
da  Prefeitura,  foi  esle  jornal  impresso  na  primeira  typographia  parti- 
cular montada  em  Angra  pelo  Visconde  de  Bruges,  Theotonio  dOrnel- 

(*)  Em  consequência  da  demora  de  esclarecimentos  indispensareis  pa- 
ra completar  a  relação  de  jornaes  do  Districlo  d' Anf/ra,  pedidos  para  a 
ilha  Terceira,  não  foi  possivel  dar-lhe  a  primazia,  que  logicamente  im- 
punha a  chronoloyia. 


520  ARCHFVO  DOS  AÇORES 

l;is,  na  rua  do  Pintor  n.°  510  próximo  ao  legar  das  Covas,  a  cargo  dos 
lypcgraplios  Manoel  de  Sousa  Pereira,  director,  e  seu  irmão  João  de 
Sousa  Pereira.  Continua. 

7)  Annunciador  (1.") — Semanal  de  4  pag.  a  3  col.  Editor  res- 
ponsável Joaipiim  José  Soares.  N.°  1  de  4  de  julho  de  1849,  teve  pou- 
ca duração.  Angra,  Typ.  do  editor. 

8)  Annunciador  (2.°)— Semanário  para  a  publicação  de  annun- 
cios  e  romances — Proprietário  Antoniíj  Gil.  N.°  1  de  1  de  janeiro  de 
1873.  2  pag.  in-fol.  a  4  col.  com  annuncios  e  2  de  romances.  Angra, 
Typ.  do  Governo  Civil.  Terminou  com  o  supplemenlo,  ao  n.°  39,  de 
15  dabril  de  1874. 

9i  O  Annunciador  da  Terceira. — Semanal  lilterario -Reda- 
ctores Padre  Jeronymo  Emiliano  dAndrade  e  Dr.  António  M.  B.  Cor- 
te Beal.  Editor  Joaquim  José  Soares.  N.°  1  de  23  dabril  de  1842.  4 
pag.  in-4.''  a  2  col.  Angra,  Typ.  do  editor.  Terminou  em  24  de  junho 
de  '1843  com  o  n."  51,  em  que  se  lê  a  baixo  do  titulo:  Despedindo-se 
de  sms  leitores. 

10;  O  Arco  da  Vellia.— Publicou  se  um  n."  único  a  14  de  ju- 
nho de  1838.  Foi.  peq.  a  2  col.,  com  as  inicines  A.  M.  S.  P.  Destina- 
Ya-se  a  condjater  o  irw  da  Terceira.  Angra,  Typ.  Angrense.  Diz-se  ser 
escripto  por  freiras,  para  censurar  o  governo  por  lhe  não  pagar  as  pres- 
tações d"egressos. 

11)  O  Artista. — Folha  Semanal,  dedicada  á  defeza  da  classe 
operaria.  N.°  1  de  domingo  8  de  março  de  1885.  4  pag.  a  3  col.  Pare- 
ce que  terminou  com  o  supplemento  de  4  de  Maio  de  1885  (com  da- 
ta errada  de  1884)  ao  n.°  7.  Angra,  Emp.  Typ  Lylh. 

12)  O  AtMeta.— Folha  satyrica, democrática  e  noticiosa  — Dedi- 
cava se  a  combater  o  ultramontanismo.  Redactor  José  Augusto  de  Sanj- 
paio  Júnior.  N.°  1  de  30  de  novembro  de  1879.  Foi.  peq.  a  3  col.  An- 
gra, Typ.  própria.  Duplicou  o  formato  com  4  col.  por  pag.  do  n."  21 
em  diante.  Suspendeu  a  publicaçã(j  com  o  n."  190  em  outubro  de  1883, 
para  continuar  em  25  de  fevereiro  de  1885.  Foi.  peq.  a  5  col.  Impri 
mio  se  também  na  Typ.  União  e  na  Emp.  Typ-Lyth.  Terminou  com  o 
n.°  221  de  27  doutubro  de  1885. 

13)  Aurora  Angrense. — Folha  litteraria,  imparcial  e  noliciosa, 
N."  1  de  sabbado  7  de  março  de  1885.  4  pag.  a  3  col.  Sahiu  pelo 
menos  até  ao  n."  10,  c(jj(t  2.°  supplemento  tem  a  data  de  18dejimlio 
de  1885.  Angra  Typ.  Amor  do  Trabalho. 


AHCHIVO  DOS  AÇORES  521 


14)  Boletim  do  Governo  Civil  d' Angra.  —  Director  João 
de  Sousa  Rilíeiro.  N."  \  de  i  dabril  de  1854.  com  o  escudo  das  ar- 
mas reaes  poituguezas.  Foi.  peq.  a  á  col.  Angra,  Imprensa  do  Go- 
verno. Parece  que  terminou  em  Í856. 

15)  Boletim  do  Governo  Ecclesiastico  dos  Açores.  — 
N."  1  de  21  de  dezeml>ro  de  1872.  Oada  n."  de  16  pag.  in-4.".  Angra, 
Typ.  do  GoTerno  Civil.  Do  n."  38  em  diante  na  Typ.  da  Virgem  Im- 
niaculada. 

16)  Boletim  Judicial  da  Commaroa  d' Angra  do  He- 

roismo.  -  Redactor  e  proprietário  o  advogado  Manoel  Hasilio  Coelho 
Rocha.  N."  I  de  segunda  feira  IS  de  fevereiro  de  1886.  Foi.  peq.  de 
4  pag.  a  3  col.  Angra,  Typ.  do  Catholico.  Do  n.'*  17  em  diante  dupli- 
cou o  formato,  com  4  col.  por  pag.  O  n  "  21  e  seguintes  foram  im- 
piessos  na  Typ.  dos  Dois  Amigos,  a  mesma  do  Catholico.  No  n."  28 
começou  a  dar  nas  ultimas  2  pag.  o  Regulamento  do  processo  peran- 
te o  tribunal  administrativo  districtal,  por  forma  a  poder  formar  um 
vol.  in-4.°  que  concluio  no  n.°  31  de  12  d'oulubro  do  mesmo  anuo. 

17)  Boletim  da  Junta  Geral  do  Districto  d' Angra  do 
Heroísmo.— Publicação  mensal— N.**  1  de  quarta  feira  25  doutubio 
de  1882.  Foi.  peq.  de  4  pag.  a  3  col.  Angra,  Imprensa  da  Junta  Ge- 
ral. Continua  mas  sem  regularidade. 

18)  Boletim  Mensal  da  Livraria  e  papelaria  de  António  Gil, 
Commissario  da  Imprensa  Nacional  de  Lisboa  em  Angra  do  Heroisrao. 
Parece  que  se  começou  a  publicar  em  setembro  de  1878:  o  n."  6  tem 
data  de  fevereiro  de  1879  Foi.  peq.  de  4  pag.  a  2  col.  Angra,  Typ. 
do  Correio  da  Terceira. 

19)  Boletim  Official  do  Districto  Administrativo  de 
Angra  do  Heroismo.— Quinzenal  a  duas  columnas.  Angra  Typ.  do 
Governo  Civil.  Começou  em  15  de  julho  de  1859  pelo  Alvará  do  Go 
vernador  Civil  José  Maria  da  Silva  Leal  incumbindo  ao  2.°  official  da 
sua  secretaria  Félix  José  da  Costa  a  coordenação  d'esta  publicação. 
Neste  anuo  sò  sahiram  12  n."'  com  8  pag.  cada  um,  passando  de- 
|)ois  a  ter  4  pag.  A  nuuíeração,  <|ue  foi  seguida  até  ao  n."  113  de  25 
de  dezembro  de  1862,  pass(»u  depois  a  ser  annual.  Continuou  ao  que 
parece  até  1881,  mas  irregularmente  havendo  alguns  annos,  como  o 
de  1871  em  que  só  appareceram  5  n."*.  De  27  de  fevereiro  de  1862, 
em  diante  sabia  a  3  col. 


h."  48— Vol.  VIII  -1887. 


522  AfiCHIVO  DOS  ACOhES 


20)  Boletim  OfScial  da  Junta  Governativa  d'Ang'ra.  — 
N."  1  de  8  de  maio  de  1847.  Fui.  jieq.  a  2  col.  Angra,  Typ.  do  An 
grense.  Parece  que  terminou  com  o  n."  9  de  26  de  julho  do  mesmo 
anno. 

21)  ABorboleta. — Folha  semanal  e  noticiosa.  Redactor  respon- 
sável José  Cijpeilino  Diniz  Ormonde.  N."  I  íle  quinta  feira  27  de  mar 
ço  de  1884.  4  pag.  a  2  col.  até  a(j  n."  61,  e  deste  en)  diante  angmen 
tou  de  formato  passando  a  ler  3  col.  por  pag.  Angra,  Typ.  do  reda- 
ctor até  ao  n.°  35:  os  seguintes  na  Emp,  Typo  Lytli.  até  ao  n."  99  de 
sabbadoo  de  junho  de  1886.  Este  jornal  foi  substituído  pela  Escova. 

22)  Brisas  Terceirenses.— Publicação  mensal — Collecção  de 
musicas  para  piano.  N.'^  4  de  15  de  março  de  1877,  contendo  de  6  a 
10  pag.  de  mnzica  e  annuncios  nas  'apas.  Appareceram  6  n.°\  Angra, 
Lythographia  do  Collegio  Inslili;t  >  Angrense. 

23j  O  Catholico. — P'olha  Terceirense  consagrad;i  a  lodos  os 
interesses  religioíios  e  sociaes  —  Hedactor  por  alguu)  lemjto  o  Padre 
Francisco  Hogerjò  da  Costa.  N."  1  de  21  dOutubro  de  1876.  4  pag. 
a  4  col.  A  1.*  serie  consta  de  60  n."*.  terminada  em  26  de  junho  de 
1878,  toda  impres>a  na  Typ.  da  Virgem  hnmactilada.  Começou  a  2.^ 
serie  com  o  n."  6!  de  21  doulubrodí^  1880  e  continua  em  1886,  im- 
pressa na  Typ.  do  Correio  da  Terceira  e  do  Calholico:  n  esla  2.*  .serie 
modificou  o  titulo,  e  diz:  Folha  açoriana  dedicada  A. 

2i)  O  Catholico  Terceirense.— Jornal  religioso  e  lilterario 
—Redactor  Bernardino  José  de  Senna  Freitas.  N"  1  de  15  de  janeiro 
de  1857.  (-ada  n."  de  8  p;ig.  in-4."  gr.  a  2  col.  Forma  lun  vol.  de 
376  pag.  com  uma  gravura  da  Sé  d'Angra.  Angra,  Typ.  de  iM.  J.  P. 
Leal.  Teríiiinou  com  o  siipi)lemenlo  dt^  24  d'outubro  de  1858,  ao  n." 
43.  O  producto  liquido  d  e>le  jornal  era  applicado  ao  A>ylo  d'lnfanci;». 
Contém  alguns  arligos  iuli  ressantes  para  a  Historia  Ecclesia>tica  das 
Ilhas  dos  Açores. 

25)  O  Chicote— Folha  popular— Redactor,  proprietário  e  edi- 
tor António  Joa(piim  Teixeira  Júnior.  N."  1  de  5  de  maio  de  1878. 
Foi.  peq.  de  i  [tag.  a  3  col.  Angn,  Typ.  (.Ihicotense  da  rua  do  Pin- 
loi'.  Terminou  com  o  n."  7,  de  25  dagitslo  do  mesmo  anno.  Deu  7  sup- 
plementos. 

26)  A  Chronica,  Smiariario  da  Terceira.  —  Órgão  official  da 
Regência.  —  Redi.clores  os  mesmos  da  Chronica  da  lerceira.  N.^  1 
de  3  dabiil  dt    1831.  4  pag.  a  3  col.  Angra,  Imprensa  do  Goyenio. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  533 

1831-32,  até  ao  n.°  38;  os  seguintes  até  ao  supplemento  ao  n."  41  de 
29  de  iiiriiít  de  1832.  for-im  impressos  em  Voiúi  D  Igada,  com  o  titu- 
lo de  Chronica,  Semanário  dos  Açores,  vid.  esta  atraz,  n.°  29  a  pag. 
499.  Em  geral  não  runtinlia  senão  os  actos  oííiciaes  e  noticias  estran- 
geiras. Sahiram  snpplemenlos.  em  meia  folha,  aos  n.°*  6,  15,  16,  e 
eu]  todos  os  n.*"*  de  20  até  33  inclusive  Este  jornal  é  a  continu;»ção  da 
Chronica  da  Terceira.  Foi  reproduzida  em  parte  n'este  Archiro,  Vol. 
VI,  pag.  440. 

No  ficcionaria  Bibliographico,  Tom.  IX,  pag.  1 12,  se  chama  confusa- 
mente Chronica  da  Terceira  a  esta  e  ao  n."  29. 

27)  Chronica  dos  Açores.  -  Semanal  —Redactor  o  capitão  João 
Eduardo  d'.Abreu  Tavares.  (loUaboradores  António  Joaquim  Nunes  de 
Vasconcellos.  e  o  bacharel  António  do  Rego  Faria  Barbosa.  N.°  1  de  6 
de  jaut  iro  de  1833.  Foi.  peq.  de  4  pag.  a  2  col.  Tem  por  cima  do  li 
tulo  o  escudo  das  armas  portiiguezas.  Publicava  se  aos  domingos  de 
(arde.  No  Prospecto  se  declara  ser  o  seu  fim  princi[)ijl,  a  publicação 
das  noticias  das  operações  do  Exercito  Lib'^rtador,  insertas  na  C/iro- 
nica  Constitucional  do  Porto,  noticias  estrangeiras  d.  Termincju  com  o 
n.°  51  de  29  de  dezembro  do  mesmo  anno. 

28)  Chronica  Constitucional  dAngra.— N.°  1  de  5  de  ja- 
neiro de  1834:  em  28  de  dezembro  seguinte  terminou  a  serie  d  este 
amio  com  o  n.®  5.*),  para  começar  nova  numeração  no  anno  de  1835, 
que  chegou  ao  ti."  24  e  ultimo  de  11  de  junho.  Foi.  peq.  de  4  pag.  a 
2  col.  Publicava-se  aos  domingos.  Angra,  Imprensa  da  Prefeitura.  Até 
13  d'outul)ro  de  1834  foram  redactores  os  mesmos  da  Chronica  dos 
Açores,  dia  em  que  pelo  Prefeito  foi  nomeadjo  Dr.  António  .Moniz  Bar- 
reto (vorte  Real.  para  director  e  revisor  da  Empreza  da  Prefeitura,  e 
como  tal  diiigio  a  publicação  deste  jornal  até  terminar,  devendo,  po- 
rem, notar-se  que  o  n.°  19  de  7  de  maio  de  1835  e  seguintes  até  ao 
ultimo  passaram  a  ser  impressos  por  A.  J.  G.  da  Costa.  O  Dr.  Antó- 
nio M.  B.  C.  Real  pedio  a  sua  exoneração  que  lhe  foi  coDcedida  pelo 
Prefeito  em  30  d'abril  de  1835.  No  1.°  n.''  declara  que  depois  da  di- 
visão dos  Açores  em  duas  províncias,  o  titulo  de  Chronica  dos  Açores 
não  era  adequado,  e  por  este  motivo  foi  substituído  pelo  de  Chronica 
Constitucional  d' Angra.  Foi  reproduzida  em  parte  n'este  Archiro.  Vol. 
VH,  pag.  368. 

29)  Chronica  da  Terceira.  (1.*)— Órgão  oHicial  da  Regência 
— ^Semanal — Redactor  o  académico  Simão  José  da  Luz,  até  ao  n.°  12  ou 
13,  depois  os  académicos  Elias  José  de  Moraes,  José  Estevão  Coelho 
de  Magalhães,  e  posteriormente  o  capitão  de  Voluntários  da  .Rainha 
.João  Eduaido  d  Abreu  Tavares.  N.*  1  de  17  de  abril  de  1830.  Foi. 


524  ARGHIVO  DOS  AÇORES 

peq.  a  2  cul.  Angra.  Imprensa  d«»  Gorerno.  Terminou  com  o  n."  44 
de  27  de  março  de  1831.  Fui  reproduzida  em  parte  n'este  Archivo, 
Vol.  VII,  pag.  341. 

30)  Ghronicã  da  Terceira.  (2.*)— Editor  João  de  Sousa  Ri- 
beiro—N.*' 1  de  5  d'agosto  de  1846.  Foi.  peq.  a  2  col.  Angra,  Im- 
prensa do  Governo.  Parece  que  terminou  com  o  n."  7  de  16  de  se- 
tembro do  mesmo  anuo. 

31)  Olarim  Terceirense. — Jornal  politico  e  noticioso,  de  po- 
litica progressista — Proprietário  o  Deão  N.uciso  António  da  Fonseca, 
que  o  fundou  em  opposição  á  Trombeta  Açoriana.  Editor  responsável 
Manoel  Joaquim  d" Andrade  Sénior,  sineiro  da  Sé.  N."  1  de  12  de  de- 
zembro de  1866.  Foi.  peq.  a  3  col.  Angra,  Typ.  do  jornal  A  Terceira. 
Terminou  com  o  n.**  42  de  7  de  julho  de  1869. 

32)  O  Correio. — Publicação  semanal  de  noticias  e  anniuicios  - 
N."  1  de  (juarta  feira  4  de  julho  de  1883.  8  pag.  in-4.''  a  2  col.  até 
ao  n.°  12;  d'este  em  diante  4  pag.  a  3  col.  e  com  novos  proprietários. 
Angra,  Typ.  do  Correio  da  Terceira,  e  depois  Emp.  Typo-Lyth. 

33j  Correio  da  Terceira. — Folha  politica  mensil— Redigida 
por  António  R;mios  Moniz  Corte  Real.  N.°  1  de  29  de  janeiro  de  1874. 
Foi.  a  4  col.  Augmentou  de  formato  do  2.°  n."  em  diante.  O  seu  fim 
principal  foi  provocar  a  e.xtincção  da  Relação  dos  Açores.  Angra,  Typ. 
própria.  Terminou  com  o  4."  supplemento,  ao  n."  26,  de  25  d'outubro 
de  1877. 

34)  Diário  da  Terceira. -Redactor  Mathíus  Augusto.  N.**  1 
de  1  de  junho  de  1878.  Fui.  peq.  a  3  col.  Angra,  Typ  IiL^ulana.  Ter- 
minou com  o  n.°  41  de  26  de  julho  do  mesmo  anno. 

35)  Direito  do  Povo. —  Folha  dedicada  a  advogar  os  interes- 
ses das  classes  trabalhadoras.  Tiragem  de  1.000  a  1.500  exemplares. 
N."  1  de  12  de  dezembro  de  1877.  3  col.  Publicava-se  aos  domingos. 
Angra,  Typ.  Angrense.  Terminou  com  o  supplemento  de  O  de  janeiro 
de  1881,  ao  n.''  15  <'e  31  de  março  de  1878. 

36)  Ecco  Agricola.— Redactor  João  José  da  Graça  Júnior.  Exis- 
lio  desde  23  de  janeiro  até  17  de  março  de  1864.  Angra. 

37)  Ecco  Praiense.  —  Folha  semanal  e  noticiosa  da  Villa  da 
Praia  da  Victoria.  N."  1  de  28  de  março  de  1880.  Foi.  peq.  a  3  col. 
até  ao  n."  17,  deste  em  diante  a  4.  Praia,  Typ.  Praiense.  Terminou 
em  1882. 


ARCHiVO  DOS  AÇORES  525 


38)  O  Echo  Açoriano. — Redactor  principal  e  proprielario  João 
José  (ia  Graça  Jr.  Hespoiísavel  Joaquim  Machado  da  Bocha.  N.**  1  de  13 
de  março  de  1863.  Foi.  gr.  a  3  col.  Angra,  Ty{).  do  jornal  A  Terceira, 
e  depois  Typ.  de  M.  J.  P.  Leni.  Pnblicava-se  ás  qiiarlas  feiras.  Ter- 
minou em  5  de  novembro  do  mesmo  anno. 

39)  A  Época. — Folha  democrática,  dedicada  a  advogar  os  inte- 
resses do  povo— Semanal— N.°  I  de  2!  de  junho  de  1879.  Do  n."  13 
em  diante  augmenton  o  fornjato,  passando  de  4  col.  a  ter  o.  Appare- 
cia  ao  satibado.  Angra,  Typ.  Insulana,  e  o  ultimo  supplemento  na  An- 
grense, Terminou  com  o  supplemento,  ao  n."  24,  de  13  dezembro  do 
mesmo  anno. 

40)  A  Escova.  —Folha  semanal  e  encyculpedica  {sk)  —  N."  1 
de  30  de  dezembro  de  1886.  Foi.  peq.  de  4  pag.  a  3  col.  Angra,  Emp. 
Typo  Lyth.  E"  no  mesmo  g»^nero  da  Borboleta,  e  parece  ser  da  mes 
ma  [leiína. 

41)  O  Escudo.— Secnanal — O  fim  a  que  se  propoz  foi  combater 
«»  Terceiren.se.  N.**  1  de  3  de  novembro  de  1844.  Foi.  peq.  a  2  col. 
Angra,  Imprensa  de  J.  J.  Soares  O  n.°  Ho  de  domingo  17  de  janei 
ro  de  1847  e  seguintes  até  ao  fim,augmentaram  um  poucn  de  forma- 
ti>.  havendo  em  cada  pag.  3  col.  Terminou  com  o  n.**  212  de  20  de 
junho  de  1849. 

42)  O  Espectador.  (!.")— Kedactor  José  Augusto  Cabral  de 
iMello.  Editor  responsável  Joa(piim  José  Soares.  N."  1  de  9  de  junho 
de  18i2.  Foi.  peq.  a  2  col.  Angni,  Typ.  do  editor.  O  supplemento  ao 
n.*'  71  é  de  18  d'outnbro  de  1843;  o  n.*'  72,  de  29  d'abril  de  1845: 
e  o  n."  73,  de  3  de  junho  do  mesmo  anno.  Terminou  depois  de  varias 
interrupções  com  o  n.''  74  de  29  dabril  de  1849.  tendo  este  n."  8  pag. 

43)  O  Espectador  (2.")  Reappareceu  em  2  de  janeiro  de  1830 
com  nova  numeração,  a  3  col.  por  pag.  e  de  maior  formato,  sendo  re- 
dactor e  editor  os  mesmos  do  1.",  e  impresso  também  na  mesma  Typ. 
Parece  que  tinha  numeração  annual,  pois  vimos  um  n  "  20  de  20  de 
maio  de  1850,  e  um  n."  15  de  16  dabril  de  1851. Terminou  em  6  de 
jimho  de  1851. 

44)  O  Estimulo  —Jornal  litlerariu  e  instructivo,  redigido  por 
uma  sociedade — Tem  artigos  assignados  por:  F.  da  Silveira  Machado, 
B.  J.  Senna  Freitas  Júnior,  J.  I.  Martins,  João  M.  Mesípiita,  P.  Corte 
Real,  Read  Cabral,  A.  T.  de  Ulra  Machado,  A.  D.  M.  Pamplona  Corte 
Real,  Pedro  Jacintho  Galvão.  N.**  1  de  1  d'outubro  de  1856.  Foi.  peq. 


526  AHCHIVO  DOS  AÇOBES 

de  8  pag.  ii)-4.°  a  2  col.  Angra,  Typ.  de  M.  J.  P.  Leal.  Publicaram-se 
15  n.**',  sendo  os  últimos  5  em  1857,  sem  indicação  do  mez.  forman 
da  um  Vol.  de  120  pae.  Terminou  com  o  ii."  15  de  23  dagoslo  d« 
1857. 

45)  A  Evolução  (1.*)— Semanal  re|)ul»licano  —  N.'^  1  de  sexla 
feira  20  de  junho  de  1884.  4  pag.  a  3  ó>i.  Angra,  Kmp.  Typo-Lylh. 
até  ao  n.*  23,  depois  Typ.  Amor  d<j  Trabalho. 

46)  A  Evolução.  (2.*^)— Com  este  titulo  sahio  em  3  de  dezem- 
bro de  1885,  quinta  feira,  um  jornal  de  maior  formato  que  o  anterior, 
e  com  nova  nuuíeração.  Angra,  Typ.  Amor  do  Trabalho.  4  pag,  n  5 
col.  No  alto  da  primeira  p.  tem  uuia  gravura  com  o  titido  e  uma  ima- 
gem da  Liberdade.  Abaixo  da  gravura  lè  se :  Órgão  do  Partido  Bepu- 
blicano  Terceirense.  (continua. 

47)  O  Futuro. — Periódico  açoriano  dedicado  aos  uiteresses  das 
classes  prolectarias- Redactor  e  editor  João  J.  da  Graça  Jr.  N."  1  de 
15  de  fevereiío  de  1866.  Foi.  de  4  pag.  a  3  col.  Foi  mudado  para  a 
ilha  Gracifisa  aonde  a|)pareceu  com  o  n.**  12  de  4  d  agosto  do  mesmo 
anno.  Typ.  própria. 

48)  Gabinete  de  Estudos. — Jornal  lilterario  e  niensal— Pur 
J.  T.  da  C.  S.  Bettencourt,  com  estampas  e  musica,  N."  1  em  janeiro 
de  1877.  8  pag.  cada  n.".  Tem  os  retratos  do  Padre  Emiliano  d  An- 
drade, do  1."  (>onde  da  Praia  da  Victoria  e  do  Padre  Serrão.  Angra, 
Lythographia  Angrense.  Terminou  com  o  n.°  5  em  maio  seguinte. 

49)  Gazeta  de  Noticias.  — Redactor  e  [»r(iprietario  António 
Miguel  da  S.  Moniz.  N.°  1  de  quarta  feira  14  de  janeiro  d«  1885.  4 
pag.  a  3  col.  e  depois  a  4.  Foi  semanal  e  actualmente  é  (piinzenal. 
Angra,  Typ.  Amor  do  Trabalho.  Continua. 

50)  O  Heroismo  (1.")— Responsável  J.  de  S.  Pereira.  N."  1  de 
1  de  dezembro  de  1863.  Foi.  peq.  a  3  col.  até  ao  n."  22,  e  d'esle  em 
diante  augmentou  de  dimensões  passando  a  ter  4  col.  por  pag.  Angra, 
Typ.  do  Angrense  até  ao  n.°  22,  depois  na  de  .VI.  J.  P.  Leal,  e  ('mal- 
mente Typ.  própria.  Terminou  com  o  n."  146  de  26  de  fevereiro  de 
1867. 

51)  O  Heroismo  (2.°)  —Folha  democrática  e  noticio.<a  —  N.°  1 
de  1  de  janeiro  de  1880.  Foi.  a  4  col.  Angra,  Typ.  Angrense.  Termi- 
nou em  1881. 


ARCHIVO   DOS  AÇOBKS  527 

52)  A  Idéa  Social  —Jornal  do  Grémio  Lilterario  dAngra  do 
Heroísmo  —  Redaclor  Joã(»  C-arlos  Rodrigues  da  Cosia.  Pnhlicaram-se 
2n."'  de  í  e  12  doiitiihro  de  1870.  Angra,  Typ.  do  jornal /l  Terceira. 
Snspendeu  por  dtísinlclligencia  com  a  Typographia,  cumo  fez  scienle  o 
publico  em  nm  Aviso  impresso  na  Typ.  Terceirense. 

53)  A  Ideia  Nova—Folha  Insnlana  do  P;irlido  Liberal.  Advo 
gava  a  idéa  da  separaçãc»  dos  Açores.  Redactor  Angnsto  Ribeiro.  N." 
I  de  9  dagostf»  de  I87().  Foi.  a  4  col.  Angra,  Typ.  Insnlana,  e  Ter- 
ceirense. Terníinoii  com  o  n.°  107  de  24  d'onlnbro  de  1878. 

51)  O  Imparcial.  — Folha  semanal  dedicada  aos  interesses  do 
povo  -Tiragem  de  3:000  exemplares.  N."  1  de  5  de  novembro  de  1883. 
Foi.  pe(|.  a  3  col.  Angra,  Empresa  Typo-Lyth.  até  ao  n.°57:  deste  em 
diante  na  Typ.  Amor  do  Trabalho.  Continna. 

55)  O  Incentivo.— Jornal  do  Grémio  Litterario  dAngra  do  He- 
roísmo—  Publicação  semanal.  Collaboradores:  M.  Pinheiro,  T.  Soares, 
Francisco  Xavier  da  Silva,  Zeferino  Brandão,  J.  J.  Pinheiro,  F.  J.  Mo- 
niz de  Beltenconrt,  J.  Augusto  do  (^outo,  Ermínio  Maria.  J.  Sampaio, 
João  Teixeira  Soares  (artigo  sobre  (Camões).  N."  \  de  i5  de  fevereiro 
de  1871.  Foi.  8  p.  a  2  col.  Angra,  Typ.  Angrense.  Até  ao  n.''  3  dava 
uma  folha  noticiosa  e  d"annimci(»s,  depois  apparecia  alternadamente  a 
folha  noticiosa,  em  foi.  grande  a  4  col.,  de  que  apenas  sahiram  4  fo- 
lhas, com  os  n.***  5,  6,  8  e  II.  E"  original  esta  permiscuidade  de  for- 
matos, e  de  natnnza.  Terminou  com  o  n."  14  de  27  de  maio  de  1871. 
Forma  um  vol.  de  80  pag. 

56)  A  Independência.  -  Folha  açoriana,  politica  e  noticiosa— 
Redigida  pelo  Rev.°  [)r.  José  da  Fonseca  Abreu  Castello  Branco.  N  " 
I  de  M  de  maio  de  1871.  Foi.  a  5  col.  Em  1874-75  sahiram  exem- 
plaivs  sem  minjeração,  com  o  subtilido:  Edição  do  Bra/.il.  Angra.  Typ. 
própria.  Terminou  com  o  n."  2(i0  de  13  de  julho  de  1870.  Foi  nm  dos 
mais  babeis  defensores  do  partido  progressista. 

57)  O  Independente  da  Terceira.  —  Jornal  republicano  se- 
paratista—  Semanal  polití<'o.  Redactores  o  Dr.  Fernando  Rocha  e  o 
Cónego  José  da  Fonseca  Abreu  Castello  Branco.  N.°  1  de  15  de  setem- 
bro de  1870.  Foi.  a  4  col.  Angra,  Typ.  Terceirense.  Terminou  com  o 
suppicmento  ao  n."  25  de  9  de  maio  de  1871. 

58)  O  Insulano.— Jornal  noticioso,  histórico,  agrícola  e  com- 
mercial  -Redactor  Félix  José  da  Costa.  N.°  1  de  19  de  janeiro  de  1857. 
Foi.  a  3  col.  Angra.  Typ.  de  M.  J.  P.  Leal.  Terminou  com  o  n."  95 
de  4  de  janeiro  de  1861. 


528  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

59)  íris  da  Terceira.  — Redixiores  João  Eduardo  de  Abreu 
Tavaresi,  Padre  Narciso  Aulunio  da  Fonseca  (^depois  Deão  da  Sé)  e 
Lucas  José  de  Chaves.  N.**  1  de  6  de  junho  de  1838.  Foi.  pe«f  a  2 
col.  L)e  poHtica  carlisla,  sustentou  polemica  com  o  Angrense,  órgão  do 
partido  setenihrisla.  Angra,  Typ.  de  Joaguim  José  Soares,  que  toi  seu 
editor  e  res|)onsavel  pelo  menos  do  n.**  158  por  «iiante.  Esta  Typ.  foi 
a  terceira  que  houve  em  Angra.  Termimju  com  o  n.**  20!  de  9  da 
bril  de  1842.  Ao  íris  succedeo  o  Annnnciador  da  Terceira. 

60)  Jornal  do  Grémio  Litterario  dAngra  do  Herois- 
mo. — Redactor  principal  João  Carlos  Rodrigues  da  Costa.  Collabora 
dores:  Ernesto  Rebello,  Augusto  Lourein»,  Padre  M.  F.  dos  Santos 
Peixoto,  António  Gil.  A.  A.  dos  Santos,  F.  J.  Moniz  de  Rettencourt, 
F.  Maria  Supico,  M.  H.  da  Silveira  Espínola,  Theotonio  Flávio  da  Sil- 
veira, A.  R.  do  (]anto.  Luiz  A.  P.  de,  Sande  Júnior,  Francisco  Xavier 
da  Silva,  Mendes  de  Fana,  J.  Sampaio,  D.  Marianna  Belmira  d' Andra- 
de, Ruy  da  Camará.  N."  I  em  fevereiro  de  I8G8.  8  pag.  numeradas 
a  2  col.  Angra,  Typ.  do  Governo  Civil,  e  posteriormente  n»  Typ.  Ter- 
ceirense.  Terminou  em  fevereiro  de  1869.  Forma  um  Vol.  de  192  pag. 

61)  Jornal  dá  Praia. —  Folha  do  Partido  Progressista  na  Villã 
da  Praia  da  Victoria  N."  1  de  18  de  jnnho  de  1883.  Foi.  gr.  a  4  col. 
Publica-se  aos  sabbados.  Ilha  Terceira,  Typ.  Praiense.  Continua. 

62)  A  Lagrima.— Jornal  politico,  litterario,  commercial  e  noti- 
cioso. Redactor  e  fundador  João  Carlos  Roi/-  da  Costa.  N."  l  de  do- 
mingo 26  dabril  de  1868.  Foi.  peq.  a  3  col.  Angra,  Typ.  do  jornal 
A  Terceira  até  ao  n.*  H;  e  seguintes  na  Terceirense.  Terminou  com 
o  supplemento  ao  n."  3(>,  de  20  de  março  de  1869. 

63)  O  Liberal.  (1.") — Semanário  politico — Órgão  do  partido 
reformista.  Redactores  Dr.  Nicolão  Caetano  de  Relfencourt  Pitta,  Fran- 
cisco de  Lemos  Alvares,  Francisco  Lúcio  Duarte  Rego  e  Roberto  José 
da  Silva.  N."  1  de  domingo  29  de  março  de  1835.  In-fol.  peq.  a  2  col. 
Até  ao  n."  49  trazia  uma  gravura  re[)rezentMndo  um  Açor  de  azas  a- 
beitas  dentro  de  um  circulo.  An^ra,  Imprensa  da  Prefeitura  até  ao  n.*" 
5  e  deste  em  diante  só  .^e  declara  serem  impressos  por  A.  J.  G.  da 
Costa,  por  ordem  do  Prefeito.  Terminou  com  o  n.**  63  de  9  de  julho 
de  1836.  O  Liberal  sustentou  constante  [)olemica  C(jm  a  Sentinelta  que 
representava  o  partido  con.-erv;  dor,  chamado  devorista,  e  com  o  An- 
grense. 

64)  O  Liberal.  (2.**;  Semanário  Terceirense~N.°  I  de  10  d'ou- 
inbro  de  1863.  Foi.  gr.  a  4  col.  Angra,  Typ.  de  M.  J.  P.  Leal.  Ter- 
minou com  o  n."  30  de  1  de  junho  de  1864. 


AKCHIVO  DOS  AÇORES  529 

65)  O  Lidador. — Semanário  Terceirense — Proprietário  M.  J.  V. 
Leal.  Responsável  C.  C.  dos  Sanlos.  N."  1  de  15  de  fevereiro  de  18Gá. 
Foi.  gr.  a  4  cul.  Angra,  Typ.  do  proprietário.  Terminou  com  o  n.°  82 
de  2  dotílubro  de  1803. 

66)  O  Luctador. — Jornal  litterario,  agrícola,  conimercial,  poli- 
tico e  noticiosíj,  de  politica  progressista  — Redactor  no  principio  An- 
tónio Casimiro  .Monrato.  N."  1  de  segunda  feira  13  d 'outubro  de  1884. 
KoU  gr.  de  4  pag.  a  4  col.  Angra,  Typ.  do  Correio  da  Terceira  até  ao 
n.°  23;  e  posteriormente  Typ.  Angrense.  Continua. 

67)  Luiz  de  Camões.— Jornal  do  Club  l.°  de  dezembro  — N." 
1  de  1  de  dezenibro  de  1883.  8  pag.  in  4."  a  i  col.  Angra,  Typ.  do 
Correio  da  Terceira  n.°  1  e  2:  os  seguintes  na  Emp.  Typo  Lyth.  Ter- 
minou Com  o  n.°  6  de  8  de  maio  de  1884. 

68)  Lyceo  (1.°)  Jornal  litterario,  semanal,  dedicado  unicamen- 
te á  iiístrucção  publica,  S(-iencias,  lettras  e  artes.  Redigido  por  Antó- 
nio Moniz  Barreto  Coite  Real.  N.°  1  de  30  de  setembro  df'  1855.  In- 
4."  gr.  8  pag.  a  2  col.  Angra,  Typ.  de  M.  J.  P.  Leal.  Terminou  com  o 
n."  20  de  26  d  abril  de  1856.  Contém  grande  parte  dos  escriptos  do 
auctor  compreliendendo  a  rcproducção  das  Bellezas  de  Coimbra. 

69)  O  Lyceu  (2. °j— Jornal  dos  Estudantes  do  Lyceo  Nacional 
(1'Angra  do  Heroísmo — Folha  exclusivamente  lilteraria.  Redactor  prin- 
cipal Augusto  Ribeiro.  Collaboradores:  António  Gil,  E.  B.  do  Canto, 
Pedio  Félix  Machado,  Moniz  de  Bettencourt,  Ernesto  Rebello,  Ricardo 
Vellozo  de  Carvalho.  N.°  1  de  6  de  março  de  1873.  In  4.°  a  2  col., 
com  o  n.°  de  pag.  variando  de  4  a  8,  sem  numeração.  Angra,  Typ.  do 
Governo  Civil  até  ao  n.°  4:  o  n.*  5  e  idtimo  em  24  de  julho  do  mes- 
UKj  auno,  na  Typ.  do  Jornal  A  Terceira. 

70)  O  Observador.— ]N.°  1  de  14  d'abrll  de  1830.  Foi.  peq. 
de  4  pag.  a  2  col.  Angra,  Impressor  A.  J.  G.  d.i  Costa.  Terminou  com 
o  n.°  12  de  31  de  julho  do  ntesmo  anuo,  no  qual  se  declara  que  sen- 
dovedada  a  permissão  de  continuar  a  imprimir-se,na  Imprensa  do  Go- 
verno, qualquer  jornal  particular,  cessa  a  publicação.  Defendia  o  parti- 
do cartista. 

71)  O  11  d' Agosto  de  1829.— Jornal  politio,  litterario,  agrí- 
cola e  noticioso.  N."*  1  de  quinta  feira  26  de  março  de  1868  Foi.  peq. 
de  4  pag.  a  3  col.  Vllla  da  Praia  da  Vlctorla,  Typ.  própria  até  ao  n." 
29;  os  seguintes  na  Typ.  Pralt-nse.  Foi  este  o  primeiro  jornal  que  se 
publicou  na  Vllla  da  Praia.  Terminou  com  o  n.**  165  de  15  de  junho 
de  1871. 

N.'  48— Vol.  VIÍI  -1887.  8 


530  AKCHIVO  DOS  AÇORES 

72)  O  Operário.  —  Foi  lia  consagrada  á  defeza  dos  opprimidus 
— N.°  I  de  21  de  janeiro  de  1880;  i.^  e  ultimo,  em  26  do  mesmo  mez. 
4  pag.  a  3  col.  Angra.  Emp.  Typ  Lylli. 

73)  Padres  e  Reis.— SeQianal  de  i6  pag.  in  S."  gr.— N.°  í 
em  outubro  de  1884,  com  numeração  seguida.  Angra  Typ.  do  Correio 
da  Terceira.  Terminou  com  o  n.^  8  em  janeiro  de  1885.  Forma  um 
Vol.  de  127  pag. 

74)  O  Partido  do  Povo. — Jornal  politico  e.  noticioso,  de  |(o- 
litica  regeneradora  — Publicou  um  n.°  único  de  4  pag.  a  4  col.  em  28 
de  julho  de  1878.  Angra,  Typ.  Insulana. 

75)  Pobres  na  Terceira.— N."  I  de  26  de  novembro  de  1852. 
4  pag.  a  3  col.  Angra,  Typ.  de  Joaquim  José  Soares  até  ao  n.**  187: 
os  seguintes  na  de  António  José  Gonçalves  Costa.  Terminou  com  o  n.** 
3i2  de  19  de  março  de  1865.  Foi  sempre  influenciado  pelo  Deão  Nar- 
ciso António  da  Fonseca. 

76)  O  Popular. — Semanário  democrático,  dedicado  a  advogar 
os  interesses  do  povo. — Proprietário  J.  A.  dOliveira.  ]N.°  1  de  9  d"a- 
bril  de  1878.  Foi.  peq.  de  4  pag.  a  4  col.  Angra,  Ty[).  do  Angrense 
até  ao  [."  supplemento  ao  n.*^  6  de  \\  doulubro  do  mesmo  anno;  o 
2.°  supplemento  e  ultimo  de  10  de  junho  de  1879  na  Typ.  Insulana. 

77j  O  Praiense. — Folha  regeneradora,  consagrada  aos  inte- 
resses do  Concelho  da  Praia  da  Victoria — N.°  1  de  6  de  julho  de  1864. 
Era  quinzenal.  Angra,  Typ.  União.  Terminou  em  poucos  mezes.  Publi- 
cou-se  outro  do  mesmo  nome  em  fins  de  1880. 

78)  O  Pregoeiro.-  Jornal  noticioso- Collaborador  Ant  mio  Mo 
niz  Barreto  Corte  Real.  Piiblicou-se  de  janeiro  a  dezembro  de  1843. 
Angra,  Typ.  de  J.  J.  Soares. 

79)  O  Prog"resso.—  Folha  açoriana,  politica  e  noticiosa  —Re 
dactor  o  Cónego  José  da  Fonseca  Abreu  Castello  Branco.  N.^  1  de  26 
de  novembro  de  1876.  Foi.  de  4  pag.  a  4  col.  e  os  últimos  3  n."*  a  5 
col.  Até  1878  apparecia  aos  domingos,  depois  á  quarta  feira.  Angra. 
Typ.  Insulana.  Terminou  com  o  sup[)lemenlo  ao  n.°  76.  de  15  de  maio 
de  1878. 

8Ò)  O  Protesto.— De  opposição  ao  Governador  Civil  Conde  da 
Praia  da  Victoria  —  Redactor  o  Dr.  José  Augusto  Nogueira  Sanqiaio. 
N."  1  de  10  de  novembro  de  1877.  Foi.  de  4  pag.  a  4  col.  Angra.  Typ. 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  531 

du  Correio  da  Terceira.  Terminou  com  o  2."  supplemento  ao  n."  II  de 
8  de  fevereiro  de  1878. 

81)  A  Razão. — Publicação  mensal,  litteraria  e  n'>tici()sa.  Reda- 
ctor José  Sampaio.  Collaboradores  Félix  de  Sotlo-Mayor,  António  Gil, 
V.  Alaria  Siipico,  Tlieotonio  Flávio  da  Silveira,  .Jorge  Severino  da  Sil- 
va, António  Borges  do  Canto  Moniz,  Theophilo  Braga  e  out!'os.  N.**  I 
de  1  junho  de  1871.  Angra,  Typ.''*  Terceirense.  Angrense,  do  Gover- 
íio  Civil  e  da  Independência.  Terminou  com  o  u.°  12  de  I  de  maio  de 
1872.  Forma  um  Vol.  com  98.  pag.  in^."  gr. 

82)  Religrião  e  Pátria.— O  papado  e  a  revolução:  curiosa  col 
lecção  de  escriptos  e  documentos  históricos  e  diplomáticos,  de  U-ireito 
publico  e  canónico,  religiosos,  philosophicos  e  moraes,  oílerecida  aos 
catholicos  porluguezes  de  todos  os  partidos.  Publicaram-se  7  n.*'*  a  16 
pag.  cada  um,  de  julho  de  1860  a  janeiro  de  1861.  Angra,  Typ.  de 
M.  J.  P.  Leal. 

83)  A  Ronda.  —  Folha  salyrica  —  N."  1  de  2  de  fevereiro  de 
1878.  Foi.  peq.  a  3  coi.,  com  irnia  gravura  emblemática  no  titulo.  No 
n.°  3  e  seguintes  diz-se:  Folha  didicada  a  advogar  os  interesses  do  po- 
ro e  a  condenmar  os  abusos  do  poder.  Angra,  Typ.  Instilana.  Terminou 
com  o  supplemento  ao  n."  9,  de  8  de  maio  do  mesmo  atmo.  De  poli- 
tica progressista,  em  violenta  polemica  coui  a  Sentinella,  defensora  da 
ptditica  regeneradora. 

84)  Santelmo.— .lornal  politico,  noticioso  e  satyrico,  de  politica 
progressista  —  N.°  I  de  2i  de  novembro  de  1860.  Foi.  peq.  a  3  eol. 
Angra,  Typ.  do  Heroísmo.  O  n.°  8  e  seguintes  são  de  maior  formato  e 
a  4  col.  Com  o  n."  34  tornou  a  tomar  as  primitivas  dimensões.  O  n.'' 
51  e  seguintes,  impressos  na  Typ.  Angrense,  tem  outra  vez  menor  for- 
mato. Terminou  com  o  supplemento  de  25  de  setembro  de  1869  ao 
n.°  88;  mas  passados  8  ânuos,  em  12  de  novembro  de  1877,  ressus- 
citou com  um  supplemento  ao  n."  80  (aliaz  88),  que  partce  ser  unica- 
mente arma  eleitoral.  Foi  irregular  não  só  nos  formatos  mas  na  pu- 
blicação que  raras  vezes  foi  em  dias  certos.  Contem  alem  d*isso  mui- 
tos supplementos  de  todos  os  formatos. 

85)  Sentinella.— Chn «nica  dos  Açores  —  Redactor  Augusto  Ri- 
beiro. De  violenta  opposição  ao  2."  Conde  da  Praia  da  Victoria.  N."  I 
de  1  de  janeiro  de  1878.  Ft)l.  peq.  a  3  col.  Angra,  Typ.  do  Correio 
da  Terceira.  Terminou  com  o  3.°  supplemento  ao  n."  1,  em  8  de  fe- 
vereiro seguinte. 

86)  Sentinella  Constitucional  nos  Açores.— Semanal  po- 


832  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

lítico — Redactores  principaes  o  Capiião  d'Engenheir()s  José  Raphael  da 
Costa  (que  foi  traiçoeiramente  assassinado  por  cansa  dos  sens  escri- 
ptos)  e  o  Dr.  António  do  Rego  Faria  Baibosa.  Apparecia  ás  segundas 
feiras.  N."  1  de  16  de  março  de  183o.  Cada  n."  com  6  pag.  in-4.^ 
O  segundo  n.°  e  seguintes  tem  a  mais  do  que  o  primeiro,  a  meio  do 
titulo,  um  quadro  com  a  palavra  Alerta,  que  no  n.**  13  foi  subslituido 
por  outro  em  que  grosseiramente  se  gravuu  imia  sentineila  junto  de 
sua  guarita.  Depois  no  n.°  áo  mudou  para  o  formato  de  folha  inteira 
com  4  pag.  a  2  col  sem  gravura.  Terminou  com  o  n.°  5í2  de  14  d'a- 
bril  de  1836.  Angra,  Imprensa  da  Prefeitura  até  ao  n."  7.  \)o  n."  8 
em  diante  foi  impresso  por  A.  J.  G.  Costa.  Foi  o  primeiro  jornal  de  po- 
litica conservadora  na  Terceira. 

87)  A  Terceira.— Jornal  jwlilico,  agrícola,  commercial  e  noti- 
cioso— Órgão  do  partido  regenerador.  Redigido  [>elo  Visconde  Sienve 
de  Menezes  (hoje  Conde  do"  mesmo  titulo).  N.**  \  de  4  de  janeiro  de 
4859.  Foi.  gr.  de  4  pag.  a  4  col.  Angra,  Typ.  própria.  Continua. 

8S)  O  Terceirense. — Semanário  lilierario  e  politico.  Redacto- 
res e'collaboradores:  A.  Telles  P.  G.  Palhinha,  M.  C.  Homem.  Rodri- 
go Zagallo  Nogueira,  Dr.  António  Moniz  Barreto  Corte  Real,  e  José  Au- 
gusto Cabral  de  Mello,  que  assignavam  os  respectivos  artigos.  N.**  1 
de  14  de  fevereiro  de  1844.  Foi.  peq.  a  3  col.  Sahia  á  quarta  feira. 
Angra,  Officina  Terceirense.  Terminou  em  17  de  dezembro  de  1845. 

89)  A  Trombeta  Açoriana.  —  Jornal  ecciesiastico,  politico  e 
noticioso.  N.'*  1  de  28  de  novembro  de  1860.  Foi.  peq.  de  4  pag.  a  3 
col.  Angra.  Typ.  do  Angrense.  Terminou  rotn  o  n.°  89  de  19  de  ju- 
nho de  1869.  Fez  opposição  a  D.  Fr.  Estevam  de  Jesus  Maria.  O  ap- 
parecimento  d'este  jornal  provocou  a  publicação  do  Clarim  Terceiren- 
se. 

90)  Utilidade  Publica.— Ai)pareceu  um  único  n.°  em  9  de 
fevereiro  de  I8.j0,  com  meia  foll);i  de  annuticius.  Angra,  Typ.  de  M. 
J.  P.  Leal. 

91)  A  Voz  do  Artista.— Órgão  da  classe  operaria— Semanal 
de  4  pag.  a  3  cl.  N.»  1  de  21  de  junho  de  1885.  Angra,  os  [."'  5 
n."'  na  Imp.  da  Junta  Geral:  es  restantos  na  Typ.  Amor  do  Trabalho. 
Terminou  com  n  n.°  9  de  14  de  setembro  do  mesmo  anuo. 

92)  A  Voz  do  Professorado.— Jornal  inslructivo  e  noticioso. 
Quinzenal.  Redactor  António  Miguel  da  S.  Moniz. fN.°  1  de  quarta  fei- 
ra 15  de  agosto  de  1883.  4  pag.  a  3  col.  Angra,  Typ.  do  Correio  da 
Terceira.  Terminou  com  o  n.°  26  de  42  de  setembro  de  1884. 


ARCHIVO  DOS   AÇORES  533 


1)  O  Futuro. —Jornal  politico  —  Começou  efn  4  d'agosto  de  1866 
com  o  n."  12,  por  se  terem  publicado  os  primeiros  n.°^  em  Angra,  e 
erminou  com  o  n.°  i7  em  setembro  seguinte,  quando  o  proprietário 
João  José  da  Graça  Jr.,  mudou  de  residência  para  o  Fayal.  Foi  o  pri- 
meiro jornal  que  se  publicou  na  Graciosa. 


TriH.A.  IDE  S-  J"OI^C3-E 


1)  Ecoo  Jorgense. — Órgão  do  partido  regenerador— Começou 
em  1884  e  continua  em  1886. 

2)  Gazeta  Judicial.— Da  Comarca  de  S.  Jorge — Semanal  no- 
ticioso e  d'anniincios — N.°  1  de  domingo  22  d'agnsto  de  1886.  Foi. 
peq.  de  4  pag.  a  3  col.  Villa  das  Velas,  Typ.  própria.  Parece  que  ter 
minou  com  o  n."  3  de  5  de  setembro  seguinte. 

3'  O  Jorgense.  í!.")— Quinzenal  politico,  litterario  e  noticioso 
— Director  A.  S.  B.  Silveira.  Responsável  José  Urbano  d'Andrade.  Tem 
muitos  artigos  assignados  pelo  Dr.  João  Teixeira  Soares.  N."  1  de  15 
de  fevereiro  de  1871.  4  pag.  a  3  col.  Villa  das  Velas,  Typ.  própria. 
Terminou  com  o  n."  i95  de  15  de  novem.bro  de  1879.  Foi  este  o  pri- 
meiro jornal  publicado  em  S.  Jorge. 

4)  O  Jorgense.  (2.") — Semanal,  politico  e  noticioso— Redactor 
Manoel  d'Andrade.  N."  1  em  abril  de  1880.  Villa  das  Velas,  Typ.  pró- 
pria. Terminou  em  1882  com  o  n.°  97  e  seu  supplemento;  faltando- 
Ihe  o  n."  94,  porque  passou  de  93  a  95, 

5)  O  Jorgense.  (3.°)— J(»rnal  politico,  agrícola,  commercial  e 
noticioso — Órgão  do  partido  progressista  em  opposiçãf)  ao  Ecco  Jorgen- 
se, de  politica  regeneradora.  N."  1  de  domingo  24  d'outubro  de  1886. 
Foi.  de  4  pag.  a  4  col.  Villn  das  Velas,  Typ.  própria.  Continua. 

6)  Pomo  ProMbido.— Villa  das  Velas— 1886. 


534  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

7)  o  Velense.— Quinzenal  politico,  agricola,  commercial  e  no- 
ticioso.— N."  I  de  8  de  dezembro  de  1879.  4  pag.  a  4  col.  Villa  das 
Velas,  Typ.  própria. 

8)  A  Verdade.-  Semanal  independente,  dedicadu  a  todos  os  in- 
teresses >ociaes.  N."  \  de  domingo  30  d'.abril  de  1882.  Foi,  peq.  de  4 
pag.  a  3  col.  Villa  das  Velas,  Typ.  própria,  rua  do  Cães  n.°  6.  Cou) 
I)  u.°  o  passou  a  ser  quinzenal  e  a  ler  um  turmato  duplo  do  primeiro, 
que  retomou  do  n.*  15  em  diante,  tornando  a  ser  semanal. 


DISTRICTO   DA  HORTA 
IX.XI-A.  IDO  F-A-^S^-A^IL. 


1)  O  Açoriano.  —Semanal — Redactor  Manoel  Garcia  Monteiro. 
iN.°  I  de  9  de  setembro  de  1883.  Horta  Typ.  Gutlemberg.  Continua 
em  1886,  defendendo  a  politica  progressista. 

2)  O  Açoriano  Occidental.- Semanal— N.°  I  de  2  de  maio 
de  1877.  Horta,  Typ.  Fayalense.  Terminou  com  o  n.''  12  de  11  de 
julho  do  mesmo  anuo. 

3)  O  Amigo  do  Povo.  Semanal -Kedactor  Ernesto  Rebello, 
Editor  J.  B.  Badella.  N.°  1  de  1  de  janeiro  de  1870.  Foi.  de  4  pag. 
a  3  col.  Apparecia  aos  sabbados.  Horta,  Typ,  do  editor  desde  n.°  I 
até  IS:  na  de  João  de  Bettencourt  os  n.°*  19  e  20:  os  seguintes  em 
Typ.  própria,  sendo  o  responsável  A.  L.  Sequeira  Bettencourt.  Termi- 
nou com  o  n."  30  de  30  de  julho  do  mesmo  anno, 

4)  O  ArcMvo. — Semanal  religioso,  redigido  por  alguns  sacer- 
dotes, N.**  1  de  I  de  dezembro  de  1875,  e  termmf)u  no  anno  seguin- 
te. Horta,  Typ,  própria  (de  Francisco  Pereira  de  Mello), 

5)  O  Atlântico. —Semanário  politico  e  lillerario  -Os  primeiros 
22  n."*  foram  redigidos  por  João  José  da  Graça  Júnior  e  depois  pelo 
Dr.  Manoel  Francisco  de  Medeiros.  Foi  responsável  no  primeiro  aimo 
J.  H.  Lopes  Ameno  e  depois  responsável  e  director  António  Theodoro 
da  Silva.  Tem  sido  ct)llat)or;<dores:  Ernesto  de  l>acerda  Lavallière  Re- 
bello, António  de  Lacerda  Bulcão,  António  de  Sousa  Hilário.  Florêncio 
Terra,  Manoel  Zerbone,  Manoel  Garcia  Monteiro.  E'  propriedade  do  Dr. 


AHCHIVO  DOS  AÇORES  53^) 

Manoel  Francisco  de  Medeiros.  Parece  que  saliiu  o  n.''  1  em  'áíí  de  ja- 
neiro de  i8í)2.  O  n,°  4,  que  temos  presente  é  de  O  de  marro  de  IHOá. 
Sahia  á  quinta  feira.  Horta,  Typ.  [iropria.  Em  187á  advogou  a  sepa 
ração  dos  Açores. 

6)  Balão.  —Jornal  semanal,  critico,  burlesco,  dedicado  aos  mys- 
terios  da  sciencia  para  regeneração  dos  ignorantes  e  melediços  —  l*u- 
blicou-se  aos  domingos,  N.**  1  de  10  de  vomembro  de  1878.  Teve  pou- 
ca duração.  Horta,  Typ.  Fayalense.  Fez  opposição  á  União,  e  foi  sub- 
stituído [)ela  Sentinella. 

7)  O  BibliopMlo.  —  Semanal  lilterario  e  noticioso — Redigido 
pelos  estudantes  do  Lyceo.  N.°  I  de  31  de  maio  de  1885.  Foi.  peq. 
de  4  pag.  a  3  col.  Horta,  Typ.  Fayalense  (de  Francisco  Pereira  de  Mel- 
lo). Terminou  com  o  n."  2!í  em  dezembro  do  mesmo  anno. 

8)  O  Birimbau.  —  Semanal  -  N.''  1  de  11  de  jimlio  de  1883. 
Horta.  Typ.  de  Victor  Amadeu  de  Lemos  e  Silveira.  Terminou  em 
1884. 

9)  O  Biscuit.  —  Semanal  —  Redactores  Florêncio  José  Terra,  e 
Zerbone  Júnior.  IN.°  1  de  5  de  julho,  3.°  e  ultimo  de  26  de  julho;  sem 
indicação  do  anno,  mas  vè-se  que  é  de  1878.  Horta,  Typ.  do  Allanti- 

co. 

10)  O  Civilisador.  -Quinzenal  lilterario  -Dirigido  por  Ernesto 
Hebello  e  Domingos  Mendes  de  Faria.  Publicação  da  Empresa  Editora, 
Bibliotheca  Hortense.  Horta,  Typ.  da  mesma  Bibliotheca.  N.°  1  de  15 
de  dezembro  de  1878:  8  pag.  a  2  col.  Susjiendeo  a  publicação  c(tm  o 
n."  8  em  abril  de  1879. 

11)  O  Commercio.—  Semanal — Redactor  principal  J.  F.  de  Es- 
Gobar.  N."  1  de  12  de  dezembro  de  1878.  Horta,  Typ.  do  Fayahmsc. 
Terminou  com  o  n.°  5  de  10  de  janeiro  de  1879. 

12)  Correio  da  Horta.  —  Semanal  —  Redactor  e  proprietário 
João  José  da  Graça  Júnior,  (^ollaborador  António  de  Lacerda  Bulcão. 
N.'*  1  de  7  d  outubro  de  1869.  Foi.  peq.  de  4  pag.  a  3  col.  Horta, Typ. 
de  Jacinlho  Augusto  de  Bettencomt.  Terminou  em  junho  de  1870. Es 
te  jornal  substituio  a  Palavra. 

13)  Democrata. —Jornal  republicano— N.°  1  de  4  de  janeiro  de 
1885,  e  terminou  em  1886.  Horta,  Typ.  de  Victor  Amadeu  de  Lemos 
e  Silveira. 


536  ARGHIVO  DOS  AÇORES 

14)  O  Direito  Popular.-  Semanal  —  Orgão  da  verdade,  para 
advogar  os  interesses  do  povo,  e  para  manter  seus  direitos  contra  as 
prepotências  de  qualquer  origem.  Propiielario,  redactor  e  editor  res- 
ponsável António  de  Sousa  Hilário.  N."  4  de  segunda  feira  14  dabril 
de  i879.  Fui.  a  3  col.  Horta,  Typ.  do  Atlântico;  em  i880  na  Typ.  de 
F.  Fereiía  de  Mello,  e  posterioiínente  de^de  o  n.°  97,  na  Typ.  da  Re- 
generação, em  que  terminou  com  o  n."  107,  como  declara  no  supple- 
mento  a  este  n.",  com  data  de  I  de  junho  de  1881,  por  lhe  faltar  Typ. 
própria. 

15)  O  Districto  da  Horta. — Semanal  de  politica  regenerado- 
ra— Editor  responsável  João  Pereira  Sarmento.  N."  1  de  8  d  abril  de 
1871.  Foi.  dn  4  pag.  a  3  col.  A  numeração  foi  annual  nos  primeiros  3 
annos.  Horta,  Typ.  própria.  Conliniiou  pelo  menos  até  ao  n.°  5  do  V 
anuo,  quarta  feira  2Í  de  julho  de  1874. 

16)  O  Ecoo  Liberal. — Jornal  do  partido  regenerador  Fayalen- 
se — Redactor  e  proprietário  Climaco  dos  Reis.  N.**  1  de  27  de  feverei- 
ro de  1878,  segundo  e  ultimo,  de  1  de  maio  >eguinle.  Horta,  Typ.  de 
Francisco  Pereira  de  Mello. 

17)  O  Ecoo  Litterario.— Semanal  litterario  —  N.°  1  de  15  de 
abril  de  1877.  Horta,  Typ.  de  Francisco  Pereira  de  Mello.  Terminou 
com  o  n.°  C  de  21  de  julho  do  mesmo  anuo. 

18)  A  Escola. — Semanal  dedicado  á  instrucção  primaria.  ^.°  1 
de  sexta  feira  27  doutubro  de  1882.  Folio  peq.  de  4  pag.  a  2  col. 
Horta,  Typ.  da  Regeneração,  rua  de  D.  Pedro  IV  n.°  9.  Os  n"*  3  e  4 
appareceramaos  domingos.  Terminou  em  1882. 

19)  O  Fayalense.— Semanário  da  Horta — Redactores  o  Dr.  .Mi- 
guel Street  dArriaga  e  Dr.  José  Alfonso  Botelho  d"  Vu!r:írle,esle  sò  no 
principio.  N.*  1  de  1  dabiil  de  1857.  lii  4.°  gr.  a  2  col.  e  8  pag.,  com 
paginação  destinada  a  formar  vol.  Horta,  Typ.  de  João  José  da  Graça 
Júnior.  Era  litterario;  e  ao  depois  tornou-se  politico,  e  seu  formato  au- 
gmentou,  passando  a  ter  só  4  pag.  a  4  col.  e  a  imprimir-se  na  Typ. 
Horten.Ne.  Desde  1880  é  seu  editor  e  proprietário  Luiz  da  Terra.  ( on- 
tinua. 

20)  O  Furta  Fogo. — Semanal  —  Sahio  à  luz  a  2  de  novembro 
de  1883,  e  não  ultrapassou  este  mesmo  anno.  Horta,  Typ.  de  Victor 
Amadeu  de  Lemos  e  Silveira. 

21)  Gazeta  Judicial.  —  Folha  popular  —  Redactor  principal  e 
proprietário  (Domingos)  Mendes  de  Faria.  N."  1  de  5  d'agosto  de  1877. 


ARCHIVO   DOS  AÇORES  537 

Semanal.  4  pag.  a  3  col.  Horta,  Typ.  <Io  Faijalense,  em  1878  Typ.  de 
Francisco  Pereira  de  Mello  e  ( iii  1870  Tv[).  do  Atlântico.  Continua. 

22)  O  Grémio  Litterario.— Publicação  quinzenal  do  Grémio 
Litlerario  Fayalense.  Collaboradores:  Ernesto  Rebello,  A.  L.  da  Silvei- 
ra Macedo,  Garcia  Monteiro,  Costa  Rebello,  Manoel  Zerbone  Júnior, 
Joaquim  Dias,  Florêncio  José  Terra,  Krneslo  Amaral,  Maximiliano 
d'Azevedo,  Augusto  Bulcão,  António  Gil,  Matlieus  Augu.sto,  Júlio  da 
Silva,  Augusto  Massano,  C.  da  Costa,  L.  V.  Pimentel,  Eça  Leal,  Men- 
des de  Faria,  António  Borges  do  Canto  Moniz,  M<jysés  Ben  Saúde,  J. 
(Carlos  Rodrigues  da  Costa,  Alfredo  dAvellar,  J.  Hermeto  Coelho  d"A- 
marante,  L.  Ávila,  Manoel  Aprigio  Carvalho  Severino  dAvellar,  Ber- 
nardino Passos,  António  Silveira  Bulcão,  Cândido  M.  de  Sousa,  Henri- 
que das  Neves,  Miguel  Street  d  Arriaga,  Guerra  Júnior,  Luiz  (bandido, 
Manoel  dArriaga.  e  Guerra  Junqueiro.  N.**  \  de  15  de  maio  de  1880. 
Horta,  Typ.  Minerva  Insulana  do  n."  1  até  C:  na  do  Atlântico  do  n."  7 
a  26:  na  de  Francisco  Pereira  de  Mello  do  n,"  27  a  57:  na  Fayalense 
do  n."  58  a  65:  e  seguintes  até  ao  n."  100  e  ultimo  de  I  de  novem- 
bro de  1884  na  Imp.  Gullemberg.  Forma  um  vol.  com  845  pag. 

23)  A  Horta. -Semanário  lilterario  e  noticioso— Redigido  na 
maior  parte  pelo  Dr.  José  Joaquim  d'Azevedo.  N.°  1  de  25  de  maio 
de  1862.  Horta,  Typ.  Hortense.  Terminou  em  1863. 

24)  O  Imparcial.— Semanal— N.°  1  de  9  dagoslo  de  1876. 
Horta,  Typ.  da  Verdade.  Terminou  com  o  n.**  4  de  9  de  setembro  do 
mesmo  anuo. 

25)  O  Incentivo. --Semanário  litlerario  e  noticioso  -Redactor 
e  proprietário  João  José  da  Graça  Júnior.  N.^  1  de  1  de  janeiro  de 
1857.  H(jrta,  Typ.  própria.  Terminou  em  abril  de  1858.  Foi  o  pri- 
meiro jornal  publicado  na  ilha  do  Fayal. 

26)  Jornal  do  Povo. — Semanal  noticioso  e  politico— Redactor 
José  de  Serpa  Miranda.  N.°  1  de  26  de  dezembro  de  1875.  Horta, 
Typ.  de  Francisco  Pereira  de  Mello.  Termintju  em  1876. 

27)  A  Lucta.— Semanário  politico  e  noticioso,  de  politica  pro- 
gressista -N."  i  de  29  d  Outubro  de  1881.  Foi.  peq.  de  4  pag.  a  4 
col.  Horta,  Typ.  própria  (de  Alexandre  Climaco  dos  Reis).  Continuou 
pelo  menos  até  25  de  setembro  de  I88'í. 

28)  A  Luz.— Semanal  politico  e  lilterario— Redactores:  Carlos 
Augusto  de  Bettencourt,  António  de  Lacerda  Bidcão,  Francisco  P.  de 
Lacerda,  e  Costa  Rebello.  N."  l  de  4  de  janeiro  de  1871.  Foi.  de  4 

N.°  48—  Yol.  Vlll  —  1887.  9 


538  ÂRCHIVO  DOS  AÇORES 

pag.  a  3  col.  Horta,  Typ.  própria.  Parece  que  terminou  com  o  n.°  47 
do  4.°  anuo  em  29  d'abril  de  1874.  A  numeração  era  animal.  Foi 
substitnido  pelo  Pensamento. 

29)  O  Lyceu  da  Horta. —Qinzt^nal  litterario-N.°  1  de  l  de 
janeiro  de  187o.  ln-4.''  de  8  pag.  a  2  col.  Horta,  Typ.  da  Calçada  da 
Paiva  até  ao  n."  6:  os  outros  6  na  Typ.  de  Francisco  Pereira  de  Mel- 
lo. Terminou  mm  o  n.°  12  de  29  dabril  de  1876. 

30)  O  Observador. — Jornal  politico,  iiistructivu  e  noticioso — 
N.°  1  de  quinta  feira  22  de  janeiro  de  1874.  Foi.  de  4  pag.  a  3  col. 
Saliia  ás  quintas  feiras.  Pretendia  exercer  luna  missão  de  concili.ição 
entre  os  partidos  que  se  dilaceravam  no  campo  desastrado  das  intrigas 
e  dos  odiíts  pessoaes.  Horta,  Typ.  Fayalense.  Parece  que  terminou  com 

0  u."  5  de  sabbadd  21  de  fevereiro  seguinte. 

31)  O  Orphão.— Semanal  —  Red^iclor  João  Pereira  de  Escobar. 
N."  1  de  4  de  setembro  de  1875  e  terminou  no  mesmo  anno.  Horta, 
Typ.  Fayalense. 

32)  A  Palavra.— Semanal  politico  e  litterario— Redactor  J  tãi» 
José  da  Graça  Júnior.  Collaborador  António  de  Lacerda  Bulcão.  N."  \ 
de  19  de  janeiro  de  1868.  Foi.  peij.  de  4  pag.  a  3  col.  Horta  Typ. 
própria  ;de  Nunes  da  Silva).  Terniinou  em  setembro  de  1869. 

33)  O  Passatempo. — Semanal  salyrico.  builesco.  critico  e  no- 
ticioso— Redactor  M.  d.  \I.  (Manoel  Garcia  Monteiro).  N."  1  e  único  de 
27  dabril  de  1874.  Foi.  peq.  a  3  col.  Horta,  Typ.  Fayalense. 

34)  A  Pátria.  — Semanal  —  Redactores  Florêncio  José  Terra,  e 
Telles  de  HarcelIu.N.  N.°  1  de  13  de  fevereiro  de  1876  e  terminou  no 
mesmo  anno.  Horla,  Typ.  de  J.  Betteíicourt. 

35)  Pensamento. — Jornal  noticioso  e  litterario  — N."  1  de  12 
de  dezembro  de  1874,  e  terminou  em  1876.  Horta,  Hyp.  de  Francis- 
co Pereira  de  Mello.  Substituio  a  Luz. 

36)  O  Pharol.  -  Revista  Escolástica.  Civil  e  Politica. — Semanal. 
N.**  1  de  6  de  joieiro  de  1869.  4  [)ag.  a  3  col.  Horla.  Hyp.  pr(»pria. 
Terminou  com  n  ti."  26  de  31  de  julho  do  mesmn  anuo.  Redactor  e  pro- 
prietário da  Typ.  de  Carlos  de  Bettencoiirl. 

37)  Porto  Franco.-  Redactor  João  J  isé  d.i  Graça  Júnior.  N." 

1  de  1  de  janeiro  de  1877.  Foi.  a  3  col.  Horta,  Ty[i.  própria.  Termi- 
nou com  o  n.°  8  de  8  de  março  do  mesmo  anno. 


ARCHIVO  DOS  AÇOHES  S39 

38)  o  Pyrilampo.  -N.°  I  de  9  de  janeiro  de  I87íá,  e  lermi- 
noii  no  mesmo  nnno.  Esln  piilVicação  não  tinha  praso  certo  de  i\[)\);í- 
recer.  Horta  Typ.  do  Districio  da  Horta. 

39j  Quadros  Fantásticos  de  Brocha  Grossa.— iN.°  I  de 
I")  de  junho  de  1858,  e  lerniiiioii  no  mesnií»  anno.  Kstc  jornal  não  ti- 
nha dia  certo  de  apparecer.  Horta.  Typ.  da  riia  da  Miseíicordia,  n.°  \\. 

40)  O  Raio.  —Semanal  politito,ciitico  e  noticioso-  Editor  e  pro- 
~|irielario  Francisco  S.  Garcia  Júnior.  N.''  I  de  domingo  3  de  dezem- 
bro de  1882.  Foi.  peq.  a  2  col.  Horta,  Typ.  da  Kua  de  U.  Pedro  4.° 
do  n."  I  a  2;  na  da  Alameda  da  Gloria  do  n.°  3  a  9.  No  n."  5  appare- 
ce  como  Director  A.  Lima.  Comprado  pelo  partido  regenerador,  inter- 
rompeo  por  algum  tempo  a  publicação,  continuando  depois  em  5  d"a- 
bril  de  1883,  com  o  n."  10,  impresso  na  Typ.  da  Regeneração.  Termi- 
nou ifeste  mesmo  anno  de  1883. 

41)  O  Recreio. —Semanal  recreativo  e  noticioso  Redactor  An- 
tónio de  Lacerda  Bulcão.  N.°  I  de  9  de  julho  de  1882.  Foi.  peq  a  2 
col.  Horta,  Typ.  da  Regeneração,  rua  de  D.  Pedro  4.°,  do  n."  1  a  26: 
os  seguintes  na  Typ.  da  Lucta.  Terminou  em  1883.  Continuou  pelo 
menos  até  ao  n.°  48  de  3  de  junho  de  1883. 

42)  A  Regeneração. — Órgão  do  Partido  Regenerador.— Sema- 
nal. Foi.  de  4  pag.  a  3  col.  Redactores  João  .José  da  Graça  Júnior  e 
Luiz  Telles  de  Barcellos.  Substitnio  a  Scntinella,  (adiante  n.°  46)  con- 
tinuando a  numeração  d"esta,  appareceo  pela  primeira  vez  em  11  de 
janeiro  de  1880,  com  o  n.°  26.  Horta,  Typ.  própria.  Continuou  pelo 
menos  até  30  de  dezembro  de  1884. 

43)  Revista  Açorica. — Pamphleto  mensal  — Dedicado  á  in- 
strucção  popular  dos  Açores  e  a  dividgar  a  importância  deste  archi- 
pelago.  Folhetos  de  48  pag.  in-8.°  a  2  col.,  má  impressão,  sobre  his- 
toria, sciencias,  litteralura  e  noticias.  N."  1  de  1  de  junho  de  1873. 
Parece  que  não  sahiram  mais  do  que  4  n.°\  Horta,  Typ.  Fayalense. 

44)  O  Rouxinol. — Semanário  litterario  e  noticioso— N.°  1  de 
27  d'agosto  de  1862.  Horta,  Typ.  Hortense.  Terminou  em  1863. 

45)  A  Semana. -Publica-se  aos  domingos.  Redactores  João  Pe- 
reira Forjaz  e  José  Filippe  da  Graça.  N.°  1  de  17  d  Outubro  de  1886. 
4  pag.  a  4  col.  Horta,  Typ.  de  Victor  de  Lemos  Silveira.  Continua. 

46)  Sentinella— Órgão  do  Partido  regenerador— N."  1  de  1  de 
julho  de  1879.  Foi.  a  3  col.  Horta,  Typ.  própria.  Terminou  com  o  n." 
2o,  para  continuar  com  o  titulo  a  Regeneração,  vid.  n."  i2  atraz. 


540  ARCHIVO  DOS  AÇOHES 

47)  O  Tio  Braz.  —  Semana!  democrático,  critico  e  noticioso  — 
N.°  \  de  14  de  dezembro  de  1871.  Foi.  peq.  de  3  col.  App.irecia  aos 
domingos.  H«jrta,  Typ.  própria,  de  João  Francisco  Escobar,  até  ao  n." 
78:  os  seguintes  na  Typ.  Fayalense.  Unplicoii  o  formato  no  2.°  anno, 
para  retomar  o  fíjrmato  primitivo  no  n.°  90.  Terminou  em  dezembro 
de  1873. 

48)  A  Torcida.  —  Periódico  burlesco,  não  polilico  —  Redact(»r 
João  José  da  Graça  Júnior— N."  i  de  riuinta  feira  2  de  setembro  de 
1858.  Foi.  peq.  a  á  col.  Horta,  Typ.  (lo  Redactor.  Terminou  com  o  n." 
8  de  sabbado  23  d'outubro  do  mesmo  anno. 

49)  O  Tribuno. — Folha  quinzenal  dedicada  a  defender  energi- 
camente os  direitos  e  interesses  das  classes  desprotegidas,  especial- 
mente das  que  são  opprimidas  pelo  despotismo.  Esta  folha  é  a  mais 
barata  de  tftdas.  Redactores  o  Dr.  António  Emilio  Severino  d  Avellar, 
Thomaz  de  Bettencourt  e  João  José  da  Graça  Júnior.  N.°  1  de  quinta 
feira  15  de  junho  de  1871.  Foi.  peq.  a  3  col.  No  n.*»  5  apparece  co- 
mo responsável  J.  A.  Bettencíurt.  No  2."  anno  é  responsável  J.  F. 
d'Athayde.  O  n."  6  e  seguintes  são  maiores  que  os  anteriores.  Horta, 
Typ.  propiia  de  Laureanno  Pereira  da  Silva  Corrêa.  Terminou  com  o 
n.°  12  do  2.*  anno  em  15  de  dezembro  de  1872.  Pnltlicou  ao  todo  30 
numero.s. 

50)  O  Typographo.— Semanal-  N."  I  de  15  de  junho  de  1858, 
e  terminou  no  mesmo  anno.  Horta,  Typ.  Hortense. 

51)  A  União.  —  Folha  semanal  dedicada  a  t(jdos  os  interesses 
sociaes— Órgão  do  [)artido  progressista.  Editor  responsável  J.  de  Mel- 
lo e  Simas.  N."  1  de  6  de  junho  de  1878.  Foi.  de  4  pag.  a  3  col.  Hor- 
ta, Typ.  do  Mello  (de  Francisco  Pereira  de  Mello).  A  nunieraçâo  era  an- 
nual.  (.onlinua  em  1886. 

52)  A  Verdade.--  Semanário  politico  e  noticioso  -Redactor  João 
José  da  Graça  Júnior.  N."  1  de  I  d'outubro  de  1874.  Foi.  a  3  col.  Sa- 
bia aos  domingos.  Horta.  Typ.  da  Voz  do  Povo,  e  dtpois  proj)iia.  Ter- 
minoii  em  1876. 

53)  Voz  do  Povo. — Semanário  democrativo  — Redactor  Manoel 
Joaquim  Uias.  N.°  I  de  23  de  fevereiío  de  1873.  Foi.  [)e(j.  a  3  col. 
Sabia  aos  domingos.  Horta,  Typ  própria.  Terminou  em  10  de  dezem- 
bro de  1875. 

54)  O  Zé  Careca.  .íornal  safyrico  e  burlesco -Semanal-  Re- 
dactor Mendes  de  Faria.  iN."  1  de  25  de  selembro  de  1872.  Horta, 
Typ.  própria.  Parece  que  terminou  com  o  2."  n.". 


ARCHiVO  DOS   AÇORES  5i  1 

ILH-A.    IDO    FXGO 

1)  Boletim  Judicial.— Folha  quinzenal  litteraria  e  noticiosa — 
Editor  responsável  Manoel  José  Dias  Júnior.  Redactores  no  começo  o 
seu  proprietário  Manoel  Mai  ia  de  Mello  e  o  Dr.  Arsénio  Leonel  de  Me- 
deiros, guarda  mór  de  saúde.  Do  n.°  120  em  diante  furam  redactores 
Manoel  Emilio  Tliomaz  da  Silveira,  e  Domingos  Machado  Soares.  Colla- 
borador  Manoel  Henri(|ues  Dias.  N.°  1  de  IG  de  novembro  de  1879. 
Foi.  [)e(|.  de  4  pag.  a  3  col.  Augmenlou  o  formato  no  n.*^2G  e  seguin- 
tes a  4  col..  para  mais  t.irde  tornar  ao  primitivo  formato.  S.  Koque, 
Typ.  Picoense.  Terminou  com  o  n.°  148  de  5  de  maio  de  1885. 

2)  O  Ecco  Picoense. — Semanal  politico,  inslructivo  e  noticio- 
so— Proprietário  e  redactor  João  Francisco  Escobar.  N.''  I  de  domin- 
go 20  d'outubro  de  1878.  S.  Roque,  Cães  do  Pico,  Typ.  própria.  Deu 
48  n."*  no  I.*'  anno,  e  24  no  2.".  sendo  este  o  ultimo  de  28  de  março 
de  1880.  Numeração  annual.  Foi  o  1."  Jornal  publicado  em  S.  Roque, 
Cães  do  Pico. 

3)  O  Independente. — Semanário  popular — Redactor  principal 
e  proprietário  Manoel  Henrique  Dias.  N."  1  de  domingo  28  de  feve- 
reiro de  1886.  4  pag.  a  4  col.  Villa  de  S.  Roque,  Tyf).  Popular  (de  João 
Francisco  Escobar).  Continua. 

4)  O  Picaroto. — Quinzenal,  inslructivo  e  noticioso— N.**  1  de 
domingf»  I  de  janeiro  de  1882.  Foi.  peq.  a  3  col.  Villa  de  S.  R(»que, 
Typ.  do  Bolífim  Judicial.  Do  n.''  13  em  diante  dobrou  o  formato  com 
5  col.,  passando  a  ser  semanal  e  a  imprimir  se  na  Typ.  Picoense  de 
Manoel  Dias  de  Lima,  rua  do  Cães,  cujo  nome  só  por  acaso  eslá  de- 
clarado em  alguns  n.*"  salteados.  Continuou  pelo  menos  até  15  de  fe- 
vereiro de  1883. 

5)  O  Pico. — Semanal— Redactores  Manoel  Emilio  Tliomaz  da  Sil 
veira  e  Domingos  Machado  Soares.  N."  1  de  17  de  maio  de  1885.  VII 
la  de  S.  Roque,  Typ.  de  João  FranciscoEscobar.  (Continua. 

6)  O  Picoense  — Semanal — Redactor  Urbano  Pereira  da  Silva. 
N."  1  de  20  de  dezembro  de  1874.  Saliia  aos  domingos  Villa  da  Ma- 
gdalena.  Typ.  própria.  Pare«^e  que  terminou  em  27  de  maio  de  1877. 
Foi  este  o  primeiro  jornal  publicado  na  ilha  do  Pico,  e  na  Villa  da  .Ma- 
gdalena. 

A  priímira  imprensa  esfabclmâa  na  ilha  do  Pico .  fni  ?)a  Villa  das 
Lagens,  em  setembro  de  1874,  pertencente  an  professor  Manoel  Thnnuiz 
Pereira,  que  antes  fora  typographo  no  Fayal. 


542  ARGHIVO  DOS  AÇOKES 

N'esla  lypographia  não  se  imprimio  jornal  algum  senão  depois  de 
passar  a  ser  propriedade  de  Manoel  Maria  de  Mello,  do  Cães  do  Pico, 
concelho  de  S.  Roque,  em  fins  de  1879;  começando  então  a  publicação 
do  «Boletim  Judicial». 

A  segunda  imprensa  foi  estabelecida  na  Villa  da  Magdalena  em  no- 
vembro de  1874,  por  João  Francisco  d^Escobar,  gue  para  alli  mudou 
sua  residência  da  Horta,  aonde  publicara  alguns  jornaes.  Foi  desta  li^- 
pographia  que  sahio  o  primeiro  jornal  da  ilha  do  Pico  «O  Picoense»   . 


ILH-A.  ID.A.S  FXuO-R:E1& 


1)  O  Amig-o  do  Povo. — Publica-se  nos  dias  5, 15  e  2o  de  cada 
mez.RedactDr  Constantino  Cândido  Leal  Soares.  N°  I  de  15  d'agosto 
de  I88().  Villa  de  Santa  Cruz,  Typ.  Imparcial  Florentina.  Continna. 

2)  Florentino. — Semanal— Redactor  Constantino  Cândido  Leal 
Soares,  cuja  redacção  deixou  para  fundar  o  Amigo  do  Povo.  N."  \  de 
20  de  julho  de  1885.  Em  agosto  de  1886,  começou  a  saliir  nos  dias, 
10,  20  e  30  de  cada  mez.  Villa  de  Santa  Cruz,  Typ.  Imparcial  Flo- 
rentina. Foi  este  o  1."  jíjrnal  publicado  na  Ilha  das  Flores.  Continua. 

A  arte  typographica  foi  introduzida  Tia  ilha  das  Fiares  em  J88õ, 
pelo  typographo  fayalense  Jacintho  Augusto  de  Bettei court,  que  na  Vil- 
la de  Santa  Cruz  estabeleceo  a  sua  officina  typographica,  com  o  titulo 
de:  «Imparcial  Florentina». 


AHCHIVO  DOS  AÇORES  543 

ADDITAMENTOS  E  CORRECÇÕES 

xxu:bj:j^  ode  s.  isdiía-xjEnL 


26)  A  Caridade. 

Suspendeo  com  o  n.*'  62  de  22  de  novembro  de  i88i,  reappare- 
cendo  o  u."  03  do  \.°  anno  na  quinta  feira  18  de  dezembro,  (qne  er- 
radamente diz  novembro ).  Continuou  depois  com  nova  numeração 
em  8  de  janeiro  seguinte,  para  terminar  no  sabbado  31  do  mesmo 
mez,  com  o  n."  4  do  2.°  anno  Deve  se  observar  que  no  primeiro  an 
no  d  este  jornal  contou  63  semanas! 

32)  O  Clamor  Artístico 

Terminou  com  o  supplemento  ao  n."  68,  de  21  de  fevereiro  de 
1869. 

39)  O  Correio  Michaelense  (2."). 

Começou  a  apparecer  em  \S  de  julho  de  1878. 

40)  Correspondência  dos  Açores. 
Ternunou  em  28  de  maio  de  1867. 

47)  A  Democracia 

Terminou  com  o  snpplemento  ao  n."  22,  em  8  d'agosto  de  186Í). 

46)  Demócrito. 

Lèa  se:  O  Deviorrífo.  Substituio  o  Semanário  Burlesco. 

55;  Ecoo  Civilisador  (l."). 

Pelo  menos  publicoii-se  até  ao  n."  21  de  15  de  janeiro  de  1871. 

58)  Ecco  da  Liberdade. 

Redactores  e  pro|)rielarios  até  ao  supplemento  ao  n."  1 1  Alexan- 
dre t^limaco  dos  Reis  A  Irmão,  d'ahi  em  deante  só  o  primeiro.  Im- 
primio-se  na  Typ.  Amigo  do  Povo  até  ao  supplemento  ao  n."  1 1. 

60)  Ecco  Social. 

Lèa-se:  O  Ecco  Social. 

64)  A  Esperança 

Responsável  José  Teixeira  Curdeiro. 


o  Vi  AHCHIVO  DOS  AÇORES 

66)  A  Estrella  Oriental. 

Pruprietario  e  resimiisavel  João  Jaciulho  Botelho  e  não  José  Joa- 
quim. 

77)  Gazeta  da  Relação. 

Começou  em  21  d  abril  de  1868  {enão  em  1867).  Do  ii."  52  em 
diante  é  que  mudou  os  dias  da  publicação. 

81)  A  Idea  Popular. 

Léa-se:  A  Ideia  Popular. 

82  A  Ilha. 

Parece  ler  terminado  era  23  de  março  de  1868  com  o  suppie- 
menlo  ao  n.°  808. 

83)  Jornal  d'Annuncios. 

N.°  1  de  a  de  julho  de  1876  a  3  col.  (Os  n."'  \  e  2  tem  a  data 
errada  de  junho  de  1873). 

89)  Lusbel. 

Na  2.^  linha  aonde  se  diz:  inexploracel,  léa-se:  inexhoravel. 

9i)  O  Michaelense  (2.°). 

Terminou  em  8  de  n  )vembro  de  188i  com  o  supplemenlo  a»  n." 
24. 

98)  O  Monitor  (2.°). 

N."  1  de   Io  d'agosto  de   1867;  terminou  em  2o  de  janeiro  de 
1868. 

105)  Opinião  Publica  (1.*). 

Léa-se:  A  Opinião  Publica  {{.*). 

109)  Patriota  (1.°). 

Vè-se  pelo  seu  prospecto,  que  o  I ."  n.*'  devia  sahir  no  dia  30  de 
dezembro  de  1835  e  continuaria  a  publicar-se  ás  quartas  feiras.  Edi 
lor  José  Maria  da  Silva,  substituindo  o  Comlitucional  Michaelmse,  que 
terminou  com  a  sabida  do  Dr.  José  Joaquim  de  Moura  Coutinho,  Juiz 
da  Relação  (Jos  Açores.  A  Imprensa  era  a  mesma  do  Cotislilucional 
Michaelense,  na  Rua  dos  Mercadoies  n.°  16. 

114)  O  Pist ! 
Léa-se:  Pisl  t 


ARCinVO  DOS  AÇORES  S45 


117)  o  Progresso. 

Léa-se:  Progresso. 

120)  Republica. 

Lêa-se:  A  Republica.  4  pag.  a  3  col. 

123)  Revista  Açoriana. 
Lèa-se:  A  Revista  Açoriana. 

133)  A  Tribuna  Ohristã. 
Lêa-se:  Tribuna  Christã. 

138)  A  Ventosa  Sarjada. 

Editor  actualmente  José  Augusto  da  Costa  Rezende. 

141)  Villafranquense. 

Lèa  se:  O  Villafranquense. 

143)  A  Voz  da  Liberdade  {{.''). 
Lèa-se:  Voz  da  Liberdade {i."^). 

147)  A  Voz  da  Verdade. 

N.*'  \  de  28  dagosto  de  1867. 


11)  O  Artista. 

O  ultimo  numero  foi  o  8.°  de  10  de  maio  de  1885. 

13)  Aurora  Angrense. 

Suspendeo  com  effeito  a  publicação  com  o  2."  supplemento  ao  n.'' 
10.  Redactor  Coelho  Mendes. 

21)  A  Borboleta. 

Só  acabou  em  19  de  junho  de  1886  com  o  supplemento  ao  n.*' 
99.  Não  tinha  politica  mas  fez  constante  opposição  ao  Bispo  D. 
João  Maria  e  seus  familiares. 

N."  48-  Vol.  VIII  -  1887.  10 


^6  ARGHIVO  DOS  AÇORES 


45)  A  Evolução  (!.'). 

Suspendeo  com  o  n.°  24  de  ti  de  dezembro  de  1884  por  desin- 
teligencia  entie  os  seus  redactores,  um  dos  qnaes  fundou  a  2.^* 
Erohição,  n.°  40. 

49j  Gazeta  de  Noticias. 

Esteve  suspensa  desde  21  dabril  até  1  de  julho  de  1885.  Defen- 
de as  ideas  republicanas,  tendo  por  divisa:  Hors  le  bonél  rouge 
point  de  solufl 


IIjtlA.  IDE  S_  JOI^OE 

li  Ecoo  Jorg-ense. 

Lèa-se:  O  Ecco  Jorgense. 


II^H-A.  IDO  FJ^^^J^IL, 

7)  O  Bibliophilo. 

Os  n.°*  I  e  2  sahiram  a  2  col.  Existio  pelo  menos  até  ao  n."  W 
de  17  de  janeiro  de  1880. 

8)  O  Birimban. 

Lèa-se:  Biiimhau.  Existio  pelo  menos  até  ao  n."  27  de  í2  dt'  ju- 
lho de  1884. 

13)  Democrata. 

Lèa-se:  O  Democrata.  Semanário  politico  e  noticioso. 

16)  O  Ecco  Liberal. 

Lèa-se:  Ecco  Liberal.  4  pag.  a  W  col. 

I7j  O  Ecco  Litterario. 

Lèa-se:  O  Echo  Litterario.  8  pag.  a  2  col. 

21 1  Gazeta  Judicial. 

Lèa-se:  A  Gazeta  Judicial. 


ARGHIVO  DOS  AÇOHES 


547 


ÍNDICE  CHRONOLOGICO 


I83U 

Abril 

I8:íi 

« 

183^2 

Maio 

1833 

Janeiro 

I83i 

(( 

1835 

Março 

(( 

« 

« 

Abril 

» 

Setembro 

1830 

Janeiro 

(( 

Abril 

« 

Seleiíibro 

(( 

Outubro 

1838 

Junho 

« 

« 

183Í) 

KevíMeiro 

184á 

Abril 

« 

Junho 

18i3 

Janeiro 

« 

Outubro 

18ii 

Janeiro 

« 

Kevereirti 

(i 

Novembro 

1845 

hVvereiro 

18i6 

Agoslo 

(( 

St4en;bro 

[H'ú 

M.iio 

1849 

Fevereiro 

« 

Marco 

rt 

Aliril 

(( 

Jnlho 

1850 

J.ineiro 

1851 

(( 

« 

M 

185i 

« 

Março 

« 

Movtínibro 

1853 

.lauciío 

« 

Fevei'eiro 

Ilhas  N." 

Chronica  da  Terceira  (l.^j    .     .     .  Terceira  29 

A  Chronica,  Semanário  da  Terceira         «  26 

A  (Chronica,  Semanário  dos  Açores  S.  Miguel  29 

Chronica  dos  Açores Terceira  27 

Chronica  Constitucional  d'Angra    .         «  28 

O  Liberal  (l.^j «  63 

Sentiiielb  Constitucional  nos  Açores         «  86 

O  Açoriano  Oriental S.  Miguel  2 

O  Constitucional  MichaeleiíSH     .     ,         «  35 

O  Patriota  (!."; «  109 

O  Observador Terceira  70 

O  Angrense «  6 

A  Miscelânea  Michaelense     .     .     .  S.  Miguel  95 

íris  da  Terceira Terceira  59 

O  Arco  da  Velha «  10 

O  Monitor  (l."j S.  Miguel  97 

O  Aniiunciador  da  Terceira  .     .     .  Terceira  9 

O  p:spectador  (1.°) «  42 

O  Pregoeiro «  78 

O  Agricultor  Michaelense     .     .     .  S.  Miguel  3 

O  Philologo «  H3 

O  Terceirense Terceira  88 

O  Escudo «  41 

O  Cartista  dos  Açores      .     .     .     .  S.  Miguel  27 
(Chronica  da  Terceira  (2.^^)     .     .     .  Terceira  30 
O  Colírio  Michaelense  il.°j       .     .  S.  Miguel  38 
Holelim  Onicial  da  Junta  Governati- 
va (f  Angra ,   .  Terceira  20 

A  Verdade S.  Miguel  139 

J(jriial  Gratuito «  84 

O  Baratissimo  .......         «  15 

Aniiunciador  (!.") Terceira  .7 

O  H:>|)ectador  ^2.") «  43 

Kevista  d-is  Açores S.  Miguel  122 

«     Michaelense «  124 

O  Gratuito «  79 

A  Ilha «  82 

Pobres  na  Terceira Terceira  75 

O  Noii.-iador S.  Miguel  99 

A  Revista  Açoriana «  123 

O  Meirinho   '. «  90 


548 


ARCHIVO  DOS  AÇORES 


1854     Abril 


« 

Julho 

1855 

Setembro 

1856 

Fevereiro 

« 

Maio 

« 

Setembro 

a 

Outubro 

« 

« 

1857 

Janeiro 

fl 

« 

< 

« 

« 

Fevereiro 

« 

Abril 

1858 

Maio 

« 

Junho 

< 

d 

c 

Setembro 

1859 

Janeiro 

« 

« 

« 

Julho 

1860 

« 

1861 

« 

1862 

Janeiro 

a 

< 

« 

Fevereiro 

« 

Maio 

« 

Agosto 

« 

Novembro 

1863 

Marco 

« 

Outubro 

« 

Dezembro 

1864 

Janeiro 

« 

Março 

« 

Abril 

« 

« 

a 

Maio 

« 

Junho 

a 

Julho 

« 

Agosto 

< 

« 

Flores  Litterarias S.  Miguel  70 

Boletim  do  Governo  Civil  d'Angra.  Terceira  14 

A  Aurora  dos  Açores      .     .     .     .  S.  Miguel  10 

Lyceo  (1.°) Terceira  68 

Utilidade  Publica «  90 

A  Estrella  Oriental  (1.^)       .     .     .  S.  Miguel  66 

O  Templo «  130 

Archivo  Açoriano «  8 

O  Estimulo Terceira  44 

O  Cathulico  Terceirense  ....  «  24 

O  Incentivo Faval  25 

O  Insulano Terceira  58 

A  União S.  Miguel  135 

O  Fayalense Faval  19 

O  Meteoro S.  Miguel  92 

Quadros    Fantásticos    de    Brocha 

Grossa .  Fayal  39 

O  Typographo  .......  «  50 

A  Torcida «  48 

A  Terceira Terceira  87 

O  Santelmo S.  Miguel  126 

Boletim  Olficial  do  Districto  Admi- 
nistrativo d'Angra  do  Heroísmo  Terceira  19 

Religião  e  Pátria «  82 

O  Villafranquense S.  Miguel  141 

O  Atlântico Fayal  5 

A  Persuasão S.  Miguel  112 

O  Lidador Terceira  65 

A  Horta Fayal  23 

O  Rouxinol «  44 

O  Cosmorama S.  Miguel  42 

O  Fcho  Açoriano Terceira  38 

O  Liberal  (2.°) «  64 

O  Heroismo  (!.") «  50 

O  Campeão  Liberal S.  Miguel  25 

Ecco  Agrícola Terceira  36 

Esmeralda  Atlântica S.  Miguel  63 

Boletim  d'Annuncios  da  Esmeralda 

Atlântica «  19 

O  Ecco  Social «  60 

Gazetilha  Semanal «  78 

O  Praiense Terceira  77 

A  Convicção S.  Miguel  36 

Campeador «  24 


ARCHIVO  DOS  AÇORES 


549 


1865 

« 
1866 


1867 


1868 


Janeiro 

Março 

Fevereiro 

M.trço 

Maio 

Agosto 


NoveiDbni 


Dezembro 
Fevereiro 
Março 


a 

Julho 
« 

Agosto 

« 
Novembro 
Dezembro 


Janeiro 

«  « 

«  « 

«  Fevereiro 

«  « 

«  Março 

«  « 

c  a 

«  n 

«  Abril 

«  « 

«  Setembro 


1869 


Janeiro 

Março 

Abril 


Grémio  Recreativo S.  Miguel 

O  Conciliador « 

O  Futuro Terceira 

A  Opinião  Publica  ({.*)     ....  S.  Miguel 
Commercio  dos  Açores    ....         « 
Boletim  Mensal  do  Porto  Artificial 

de  Ponta  Delgada     ....        « 

O  Futuro Graciosa 

S;mtelmo Terceira 

A  Trombeta  Açoriana      ....    Terceira 

O  Typographo S.  Miguel 

Clarim  Terceirense Terceira 

Voz  da  Liberdade  (i.*)    .     .     .     .  S.  Miguel 

Alcyon « 

Correspondência  dos  Açores     .     .        « 

Direito  Popular S.  Miffuel 

Fórum  (l.°) 

A  Missão « 

A  Chronica  dos  Açores    ....        « 

Gazeta  do  Povo  (1.*) « 

Progresso    « 

O  Monitor  (2.") « 

A  Voz  da  Verdade « 

O  Clamor  Artístico « 

Boletim  OfTicial  da  Junta  Adminis- 
trativa das  Obras  do  Porto  Ar- 
tificial de  Ponta  Delgada    .     .        « 
Bibliotheca  Instructiva     ....         « 

A  Palavra Fayal 

O  Pyrilampo S.  Miguel 

Lusbel « 

Jornal  do  Grémio  Litterario  d'An- 

gra  do  Ileroismo      ....    Terceira 
Ecco  Villafranquense        .     .     .     .  S.  Miguel 

O  Pavilhão  Nacional « 

O  \  1  d  agosto  de  1829    ....    Terceira 

Fórum  (2.") S.  Miguel 

Gazeta  da  Relação « 

A  Lagrima Terceira 

Ecco  Liberal S.  Miguel 

O  Michaelense  (l.°j « 

O  Pharol Fayal 

A  Democracia S,  Miguel 

A  Voz  da  Liberdade  (2.*)    ...        « 


80 
34 
47 
105 
33 

21 

1 

84 

89 

134 
31 

143 
5 

40 
53 
71 
96 
30 
75 

117 
98 

147 
32 


22 
17 

32 

M8 

89 

60 

61 

111 

71 

72 
77 
62 
57 
93 
36 
47 
14i 


550 


ARCHIVO  DOS  AÇORES 


1869 

Julho 

Diário  de  Noticias 

S.  Miguel 

51 

a 

Agosto 

A  Semana 

« 

127 

(( 

Setembro 

A  Estrella  Oriental  (2.«)  ... 

« 

67 

« 

Outubro 

r.orreio  da  Horta 

Fayal 

12 

a 

« 

Defensor  da  Pátria 

S.  Miguel 

44 

1870 

Defensor  do  Trabalho      .     .     .     . 

« 

45 

« 

Janeiro 

0  Amigo  do  Povo 

Fayal 

3 

« 

Fevereiro 

Diário  dos  Açores 

S.  Miguel 

49 

M 

Junho 

Ecco  Civilisador  (1."') 

« 

55 

« 

Jullio 

«    Michaeiense 

n 

59 

a 

Setembro 

0  Independente  da  Terceira      .     . 

Terceira 

57 

« 

Outubro 

A  Idéa  Social 

« 

52 

1871 

Janeiro 

A  Luz 

Fayal 

28 

« 

« 

0  Bem  Publico 

S.  Miguel 

16 

« 

Fe  Te  re  iro 

0  Incentivo 

Terceira 

55 

(( 

« 

0  Jorgense  ({.") 

S.  Jor^e 

3 

« 

Abril 

0  Districto  da  Horta  .     .     .     .     . 

Fayal 

15 

(( 

Maio 

A  Independência 

Terceira 

56 

(1 

Junho 

A  Razão 

« 

81 

« 

« 

Jornal  de  Noticias 

S.  Miguel 

85 

« 

f 

0  Tribuno 

Fayal 

49 

a 

Setembro 

0  Amigo  do  Povo 

S.  Miguel 

6 

« 

Dezembro 

0  Tio  Braz 

Fayal 

47 

1872 

Janeiro 

0  Pyrilampo      .     .     .     .     .     . 

« 

38 

« 

Setembro 

0  Zé  Careca 

« 

54 

« 

Dezembro 

Boletim   do   Governo   Ecclesiasticc 
dos  Açores     ..... 

Ten:eira 

1.") 

187:] 

Janeiro 

0  Cultivador 

S.  Miguel 

43 

« 

« 

Aununciadori^.") 

Terceira 

8 

« 

Fevereiro 

Voz  do  Povo     

Fayal 

53 

« 

Março 

0  Lyceu  (2.''; 

Teiceira 

()9 

(( 

« 

A  Liberdade  [].*) 

S.  Miguel 

87 

« 

Maio 

Tiibuna  Christã 

« 

133 

c 

Junho 

A  Republica      .     .     .     .     .     . 

« 

120 

« 

« 

Revista  Açorica 

Fayal 

43 

1874 

Janeiro 

A  Esperança      

S.  Miguel 

64 

a 

(( 

0  Observador 

Fayal 

30 

c 

« 

Correio  da  Terceira    .... 

Terceira 

33 

« 

Março 

Semanaiio  Burlesco    .... 

S.  Miguel 

128 

« 

Abril 

0  Passatempo 

Fayal 

33 

(( 

Maio 

0  Cosmopolita 

.  S.  Miguel 

41 

» 

Junho 

0  Democriío 

« 

48 

« 

(> 

0  Chicote 

« 

28 

« 

Outi>bro 

A  Verdade  ....... 

Fayal 

52 

ARGHIVO  DOS  AÇORES 


551 


1874  Dezembro 

«  (« 

1875 

«  Janeiro 

«  « 

«  Agosto 

«  Setembro 

«  Novembro 

«  Dezembro 


1876 


1877 


1878 


Fevereiro 
Junho 
Julho 
Agosto 

« 
Outubro 
Novembro 

« 
Dezembro 

Janeiro 

« 
Fevereiro 
Março 
Abril 
Maio 
Julho 
Agos  to 
Novembro 

« 

Dezembro 

« 
Janeiro 
Fevereiío 

« 
Abril 
Maio 

« 
Junho 

« 
Julho 


Setembro 


Pensamento Fayal  35 

O  Picoense Pico  O 

Eiiterpe S.  Miguel  68 

Correio  de  Lisboa <t  37 

O  Lyceu  da  H<»rla Fayal  29 

O  Partido  Popular S.  Miguel  108 

O  Orphão Fayal  31 

A  Civilisação S.  Miguel  31 

O  Archivo Fayal  4 

Jornal  do  Povo «  26 

A  Pátria «  34 

Noticioso  e  Romântico      .     .     .     .  S.  Miguel  102 

Jornal  d'Annuncios «  83 

A  Idéa  Nova Terceira  53 

O  Imparcial Fayal  24 

O  Catholico Terceira  23 

O  Tempo S.  Miguel  131 

O  Progresso Terceira  79 

Álbum «  2 

Alumno «  4 

Gabinete  de  Estudos «  48 

Porto  Franco Fayal  37 

O  Artista S.  Miguel  9 

Brisas  Terceirenses Terceira  22 

O  Eclio  Litterario Fayal  17 

O  Açoriano  Occidental     ....  o  2 

Ecco  da  Liberdade S.  Miguel  58 

A  Gazeta  Judicial Fayal  21 

O  Protesto Terceira  80 

O  Patriota  (2.") S.  Miguel  MO 

Direito  do  Povo     ......  Terceira  35 

A  Voz  do  Progresso S.  Miguel  116 

Sentinella     .  " Terceira  85 

Ecco  Liberal Fayal  16 

A  Ronda Terceira  83 

O  Popular «  76 

O  Chicote ('  25 

Archivo  dos  Açores S.  Miguel  7 

Diário  da  Terceira Terceira  34 

A  União Fayal  51 

O  Biscuit Fayal  9 

O  Correio  Michaelense  (2.")      .     .  S.  Miguel  39 

O  Partido  do  Povo Terceira  74 

Boletim  Mensal «  18 


552 

1878  Outubro 

«  « 

«  Noveuibio 

«  Dezembro 

«  « 

1870  Fevereiro 

«  « 

«  Abril 

i«  Junho 

a  « 

«  Julho 


a 
a 

Agosto 
Novembro 

« 
« 

1880 

u 

Dezembro 
Janeiro 

w 

« 

« 

« 

« 

« 

Mnrço 

« 
« 

Abril 

« 
« 

4881 

« 
Maio 
Agoslo 
Novembro 
Janeiro 

a 

fevereiro 

« 

Junho 

« 

Setembro 

« 

« 

« 

Outubro 

1882 

Janeiro 

« 

« 

a 

« 

« 

Abril 

« 

a 

a 

Maio 

« 

Junho 

« 

Julho 

AKCHIVO  DOS  AÇORES 

O  Ecco  Picoense Pico  2 

A  Liberdade  (2.^)  ......  S.  Miguel  88 

Balão Fayal  6 

O  Civilisador .  «  10 

O  Commercio «  11 

Aurora  dAleni  Tumulo    .     .     .     .  S.  Miguel  11 

A  Ideia  Popular S.  Miguel  81 

O  Direito  Popular Fayal  14 

A  Voz  do  Povo S.  Miguel  145 

A  Época Terceira  39 

O  Povoacense S.  Miguel  116 

Senliuella Fayal  46 

Os  Açores Terceira  1 

O  Athleta «  12 

Boletim  Judicial Pico  1 

O  Velense S.  Jorge  7 

O  Heroísmo  (2.") Terceira  51 

Direito  Social S.  Miguel  54 

Ecco  Civilisador  (2.") «  56 

A  Regeneração Fayal  42 

O  Noticiarista  (l.°j S.  Miguel  100 

Diário  de  Noticias  lllustrado      .     .  «  52 

Ecco  Praiense Terceira  37 

Republica  Federal S.  Miguel  121 

O  Jorgense  (2.*') S.  Jorge  4 

O  Grémio  Litterario Fayal  22 

A  Ventosa S.  Miguel  137 

A  Ventosa  Sarjada «  138 

Alerta! Terceira  3 

Boletim    da    Sociedade   Promotora 

d^Agricnltura  Michaelense  .     .  S.  Miguel  23 

A  Faisca «  69 

O  Futuro «  73 

O  Novo  Diário  dos  Açores    ...  «  103 

A  Ribeira  Grande «  125 

A  Época «  62 

A  Lucta Fayal  27 

Gazeta  do  Povo  {-2.") S.  Miguel  76 

O  IMcarolo Pico  4 

O  Noticiarista  (2.°) S.  Miguel  101 

A  Verdade S.  Jorge  8 

A  Vontade  do  Povo     .     .     .     .     .  S.  Miguel  142 

O  Binóculo «  18 

A  Vardisca «  136 

O  Recreio Fayal  41 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  5Í3 

1882  Outubro  A  EmcoIii Fnyal  18 

«  «  Boletim  (Ih  JuuI.í  Geral  do  Dislriclo 

d' Angra  do  Heroísmo     .     .     .  Terceira  17 

«  Novembro  A  Opinião  Publica  (2.*)   .     .     .     .  S.  Miguel  106 

«  «  O  Espirro «  65 

«  Dezembro  O  Kaio Fayal  40 

«  O  Óculo S.  Miguel  104 

188í]  Albuiti  do  Biuiiculo «  4 

«  Janeiro  Gazela  Açoiiana «  74 

«  Abril  Aurora   Povuacense «  12 

«  Junho  liirimbau Fayal  8 

«  «  Jornal  da  Praia Terceira  61 

«  Julho  O  Correio      .          «  32 

«  Agosto  A  Caridade S.  Miguel  26 

<'  «  A  Voz  do  Professorado    ....  Terceira  92 

«  Sfteaibro  O  Raio S.  Miguel  119 

«  «  O  Açoriano Fayal  1 

«  Novembro  O  Furta  Fogo «  20 

«  «  A  Justiça    ' S.  Miguel  86 

«  «  O  Imparcial Terceira  54 

«  Dezembro  Luiz  de  Camões «  67 

1884  Ecco  Jorgense S.  Jorge  1 

«  Fevereiro  Paisagens  e  costumes  dos  Açores  .  S.  Miguel  107 

«  Março  A  Borboleta .     . Terceira  21 

«  Maio  O  Michaelense  (2.*') S.  Miguel  94 

«  Junho  A  Ev'  lução  {[.^j     ......  Terceira  45 

«  Outubro  Padres  e  Reis «  73 

'<  «  O  Luctadíjr «  66 

«  Dezembro  A  Defeza S.  Miguel  46 

O  Azorragiie  (1.'^) «  13 

1885  Janeiro  O  Âzorrague  (2.°)  ......  «  14 

«  «  Gazeta  di;  N  iticias Terceira  49 

«  «  Diário  de  Ain  m^-ios  .     .     .     .     .  S.  Miguel  50 

«  «  O  Demociata Fayal  13 

'<  «  O  Mensageiro  Serviphico.      .      .     .  S.  Miguel  91 

«  Fevereiro  Roletiin  (;onlein[)nraneo  ....  «  20 

«  Março  O  Académico «  { 

«  «  Aurora  Angrense Terceira  13 

«  '  O  Artista «  H 

Abiil  O  Marien^e  .     ......     .  S. 'Miaria  2 

«  Maio  ()  Amigo  das  l"a;uilia.>      ....  Terceira  5 

«  «  ()  l*ico Pico  5 

«  '  O  Bibliophilo Fayal  7 

"  Junho  A  Voz  do  Altista Terceira  91 

N.°  48— Vol.  VIII—  1887.  II 


554 


ARCHIVO  DOS  AÇORES 


■1885  Julho  Florentino Flores  2 

«  Agosto  O  Tiij  Braz S.  Miguel  132 

«  Outubro  Correio  Mariense   ......  S.'*  Maria  1 

«  Dezembro  A  Evolução  (2.*) Terceira  46 

1886  Pomo  Prohibido S.  Jorge  6 

«  Janeiro  O  Sinapismo      .     .     .•   .     .     .     .8.  Miguel  120 

«           «  O  Operário Terceira  72 

«  Fevereiro  O  Independente Pico  3 

K  8  Boletim  Judicial  da  Comarca  d"Au- 

gra  do  Heroísmo      ....  Terceira  16 

«  Março  O  Povo  Açoriano S.  Miguel  115 

«  Maio  O  Vigilante «  140 

«  Agosto  O  Amigo  do  Povo Flores  1 

«           «  Gazeta  Judicial S.  Jorge  2 

«  Outubro  O  Jorgense  (3.°) «       «  5 

«           «  A  Semana Fayal  45 

«  Novembro  Pist! .  S.  Miguel^!  14 

«  Dezembro  A  Escova Terceira  40 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  S55 


I^  EO-A^I^ITXTL.A.  ÇJ.A.  O 


DISTRICTO  DE  PONTA  DELGADA 

í   Ponta  Delgada 123 

ç,    -_.        ,    \  Ribeira  Grande  (1)        lá 

t>,  Mig-uei    <   Yiu,^  p^,„,,..,  ^^^  canipo  (2)     .     .     .     IO 


Povoação  (3j       2     147 

S.'*  Maria    -Villa  do  Porto 2     li9 

DISTRICTO  D  ANGRA  DO  HEROÍSMO 

m         .  \  Angra  do  Heroísmo 89 

lerceira      ^   yj,,^  .j^  p^^j^  ^.^  vicloria(4;       .     .       3       92 

Graciosa     -  Snnla  Cruz 1 

S.  Jorge     —Velas 8     101 

DISTRICTO  DA  HORTA 

Fayal  — Horta 34 

Pico  *  ^-  '^'"1"^        ^ 

^^^^  i  Magdalena 1         O 

Flores  —Santa  (Irnz 2      02 

Toial 312 


(1)  São  os  n.-'  24,  o3,  66,  67,  71,  72,  96,  101,  10o,  1 18,  125  e  i3o. 

(2)  ..  ..     13,  28,  34,  36,  55,  56,  61,  S%  141  o  145. 
(3)-    .<          ..     12  e  116. 

(4)     «  «     37,  61  e  71. 


556  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

DISTRICTO  DE  PONTA  DELGADA 

Lista  de  1881 113 

eliminados  agora  (*)  .         .         ,         ,  o       110 

omissos     .......  G 

novos 33 

Lista  de   1886 i49 

DISTRICTO  DANGRA  DO  HEROÍSMO 


Lista  de  1881 73 

omissos 4 

novos 24 

Lista  de  1886       .."....  101 


DISTRICTO  DA  HORTA 


Lista  de  1881 .  37 

omissos 10 

novos 15 

Lista  de  1886 62 

Total 312 

Som  ma  em  1881      .         .         .  223 

Differenca  em  1886  .         .  89 


(1)  Eliminados  os  n."  29,  30  e  67  da  lista  de  1881;  este  por  ser  lilliogra- 
pliado  cm  Lisboa;  e  aquelles  por  serem  refundidos  no  n."  37  da  presente  lista. 


índices 

no  YOLDie  VIII  lio  \RcniYo  dos  açores 

I  Clironologico  de  diploBuas*  «locaimentoii  cte. 

II  AlpIíalteSieoi  <la»  isiat4'riaf^  mais  notáveis. 

III  AlpvteaSíelàeo  de  nomes  de  pessoas. 
WV    AlpIiaBieSieo  de  nomes  de  Bogares. 


Paginas 
1486— Carla  regia  de  escudeiro  aposentado  a  João  Affonso     .      393 
«  —     «       9     perdão  a  Diogo  Flamengo  .         .         .         .394 
f  —     «       «     mercê  de  escudeiro  aposentado  a  Diogo  Pieto      395 
1492—     «       «     a  lavur  de  Ruy  Dias  Evangelho  .         .         .       396 
«  —     «       «  «     de  Calliarina  Gonçalves    .         .         .       395 

«  —     «       «de  Memposleiro  mór  dos  caplivos  a  Fernão 

d'Evora 396 

1516 — Alvará  de  iiidemnisação  a  João  Serrão  pela  fazenda  que 

lhe  fora  tomada  na  índia  ....         97 
1534  — Carta  regia:  nomeação  de  António  da  Matla,  escrivão  do 

lealdador  mór  dos  pasteis         .         .         .       401 
1536 — Petição  de  João  Tavares,  almoxarife,  sobre  a  pensão  que 

recebia  Fr.  Affonso  de  Toledo   .         .         .       400 
«  —     «do  mesmo,  sobre  o  dinheiro  e  trigo  dado  a  Luiz 

Fernandes 399 

«  —     «     do  mesmo,  sobre  o  que  pagou  ao  escrivão  do  leal- 
dador mór  dos  pasteis      ....       401 
«  —     «de  António  Borges,  sobre  a  cevada  que  recebeu 

de  moradia 397 

«  —     «     do  mesmo,  sobre  as  quebras  do  trigo  e  cevada 

comprada  nas  ilhas  ....       398 


558  ARCHIVO  DOS  AÇORES  '~ 

i537— Carta  de  Manoel  Corte  Real  a  EIrei  sobre  a  morte  de 

Henrique  Nunes  de  Leão           .         .  i03 
«  —     «     do  mesmo  a  Eliei,  sobre  a  conquista  da  provín- 
cia de  Hunduras 402 

1538 —     «     regia:  mercê  das  sabuarias  de  S.  Miguel  a  Pedro 

Camello  Pereira      .         .         .         .         .       40i 
1539 — Alvará  sobre  a  tomada  das  contas  ao  recebedor  João 

Tavares 415 

«  —Carta  regia  nomeando  Manoel  Lopes  d  Oliveira  para  es- 
crivão do  memposteiro  mór  dos  captivos 
nos  açores,  centiaes  e  occidenlaes  .         .       412 
a  —     «         «     que  nomeia  Roque  Rodrigues  para  escrivão 

da  Camará  da  Ribeira  Grande  (S.  Miguel)       413 
«  —     ;<         «     nomeando  cirurgião  no  Fayal  a  António  Ro 

drigues 413 

«  —     «         «     mercê  do  ofíicio  de  escrivão  da  correição 

em  S.  Miguel  a  João  Gonçalves       .         .       414 
«  —     «         «     de  nomeação  de  Jerónimo  Luiz  para  corre- 
gedor em  Angra 415 

«  —     «         «     que  nomeia  Manoel  Gomes  para  escrivão  da 

Camará  na  Graciosa        .         .         .         .414 

«  —     «         «     que    nomeia  Álvaro  Dias  Beleago,  escrivão 

dos  orpbãos  no  Fayal  .         .         .411 

«  —     «         «     que  permitte  a  João  Galego  curar  enfermos 

em  Angra      .         .         .         .         .         .410 

«  —     «         €     nomeando   Pedro   Felgueira    para  escrivão 

da  Alfandega  da  Graciosa        .         .         .410 
«  —     «         «     <iue  nomeia  Gonçalo  Pires,  meirinho  da  Ser- 
ra em  S.  Miguel     .         .         .         .         .       408 

«  —     «         «     que  nomeia  escrivão  da  Viila  da  Praia  (Ter 

ceira)  a  António  Vaz       ....       407 

c  —     c         «     mercê  de  chanceller  e  escrivão  da  correição 
na  Terceira  e  ilhas  de  bai.xo,  a  António  do 

Casal 40G 

«  —     «         «     nomeia  distribuidor,  contador  e  inquiridor 

na  Lagoa,  a  Pedro  Velho        .         .         .       405 
«  —  Ortidão  sobie  a  tomada  de  contas  do  recebedor  João 

Tavares 410 

1545  — Despe>a  da  cevada  comprada  nos  Açores  por  C(jnta  do  governo  98 
4547 — Carta  de  Gonçalo  Nimes  d"Ares  a  EIrei,  participando  lhe 

a  chegada  a  Angia,  e  ('Utios  assumptos  .        417 
1551  — Carla  do  corregedor  Luiz.  da  Guarda  a  EIrei,  sobre  o 

conflicto  Com  o  ouvidor  ....       100 
«  -  Auto  a  que  se  refere  a  carta  anterior         .         .         .       101 


AKCHIVO  DOS  AÇORES  559 

1553— Carla  do  capitão  da  Praia  a  EIrei  sobre  corsaiios  fran- 

rezes ,         .418 

15o()  -  Nomeação  de  Francisco  Dias  para  condestavel  dos  Bum- 

bardeiíos  de  Ponta  Delgada      .         .         .       102 
1557 — Carta  de  António  Pires  do  Canto,  á  Rainha  .         .       105 

«  —Nomeação  de  Pedro  Fernandes  para  pesador  do  pastel 

na  Terceira 105 

1558 — Alvará  que  manda  pagar  aos  bombardeiros  de  P.  Delgada  112 
«  — Mercê  de  12f5!720  rs.  a  João  Gonçalves,  Fscrivão  da  correição  114 
«  — Mercê  de  labellião  no  Fayal  a  Joanne  Annes  de  Góes  .  108 
«   —Nomeação  de  Barlholomeu  de  Magalhães,  para  Lealda- 

dore  dos  Pasteis,  na  Terceira  .  .  .  Ill 
«  —  «de  Vicente  Vaz  para  tabellião  em  Santa  Maria  106 
1559— Alvará  de  lembrança  para  servir  de  tabellião  o  que  ca- 
sar com  uma  filha  de  Lazaro  Dias,  do  Fayal  125 
«  —Licença  para  Mestre  Pedro  usar  de  cirurgia  na  Villa  da  Praia  118 
«  —  «  para  Manoel  Alvares  pôr  botica  em  Ponta  Delgada  125 
«  — Mercê  a  Manoel  Fernandes  Cabral  de  memposteiro  mór 

dos  captivos 116 

«  —     «     á  Misericórdia  dAngra  para  ©corregedor  ser  juiz 

das  suas  causas        119 

«  —     «de  escrivão  do  almoxarifado  da  alfandega  de  S. 
Jorge,  áquelle  que  casar  com  uma  filha  de 

Galas  Lopes 120 

«  —Nomeação  de  António  Fernandes  para  tabellião  na  Villa 

da  Praia  ......       122 

tt  --       «de  António  Fernandes  para  condestavel  de  bom- 
bardeiros em  Ponta  Delgada     .         .         .124 
«  —       «de  Balthazar  Dias  para  tabellião  da  Camará  das 

Lages  (Pico) 121 

«  —       '(     de  João  Serrão  para  Alcaide  pequeno  de  P.  Delgada  123 
«  —       «     de  Rny  Dias  Evangelho,  para  Ouvidor  no  Fayal  e  Pico  1 19 
1560  -Alvará  de  lembrança  a  favor  de  quem  casar  com  a  filha 

de  Galas  Lopes 132 

«  — Carta  regia:  que  nomeia  Juiz  dos  orphãos  a  Gonçalo 

Vieira,  em  S.  Jorge  .         .         .         .128 

«  — Confirmação  de  Francisco  Dias  no  cargo  de  condestavel 

de  bombardeiros  de  P.  Delgada         .        .       130 
«  — Mercê  a  Gabriel  Mendes  para  curar  por  3  annos  os  en- 
fermos na  Misericórdia  de  Ponta  Delgada  .       128 
«  —Nomeação  de  António  Pires  do  Canto  para  Provedor 

das  Armadas  nos  Açores  .         .         .       129 

«  —       8     de  Gonçalo  Vieira  para  Escrivão  da  Camará  das 

Velas  (S.  Jorge) 126 


560  ARCHIVO  DOS  AÇORES 

15()I— Carla  de  Aiitunio  Pires  do  Canto  a  EIrei,  ^obre  as  náos 

da  índia 133 

«  — Carla  do  Ouvidur  de  S.  Miguel  a  EIrei  pedindo  descul- 
pa de  casar  sem  licença  .         .         .       il8 
«  — Nomeação  de  Miguel  de  Figueiredo  para  procurador'  em 

Santa  Maria     .         .   •      .         .         .         .133 
1503     Auto  sobre  as  culpas  de  Pedro  Carrilho       .         .         .       135 
«  — Carta  regia  e  alvarás  de  fiança  a  Pedro  Carrilho          .       137 
1566— Alvará  para  o  Licenciado  Joãij  Usademar  poder  ser  acom- 
panhado por  um  escravo  ....       145 
«  —     «     que  isenta  a  Misericórdia  d'Angra  de  prestar  con- 
tas ao  Provedor 142 

«   — Licença  para  o  Taballião  Francisco  Affonso  poder  ter 

um  ajudante    .         .         .         .         .         .145 

«  — ^Quitação  a  Lucas  de  Sequeira,  almoxarife    .         .         .       143 
«  —     «     a  Henrique  Esteves  da  Veiga,  feitor  .         .       147 

1567 — Carta  de  doação  da  Commenda  de  N.  S.^  d'Assumpção 

em  Santa  Maria 419 

1572 —     «     regia  que  nomeia  António  Francisco  para  Ouvidor 

nos  Açores 421 

1573— Alvará  que  permitte  a  sabida  do  navio  cairegado  de 
trigo  dos  Açores,  fretado  por  D.  Cathari- 
na,  mulher  dr^  Francisco  ile  Mello    .         .       422 
a   — Carla  regia:  mercê  do  oííici;)  de  escrivão  dos  orphãos 

em  P.  Delgada  a  Pedro  Camello  Pereira  .       423 
«   —     «         «     que  noiíieia  Lopo  Dias  Homem  para  Juiz.  ua 

Ribeira  Grande i2i 

1574 — Alvará  de  nomeação  de  chanceller  em  Ponta  Delgada  a 

Fernão  da  Rocha    .         .         .  .424 

1577 — Demanda  com  os  conventos  da  Esperança  e  S.  Francis- 
co de  Ponta  Delgada        ....       425 
[57^  —Carla  regia:  pen>ãod(í  250Ò0U0  rs.  a  D.  Jo.uia  de  Mendiniça    'í29 
1580  — Alvará  de  D.  António  Prior  do  Crato.  (|ue  nomeia  Bel- 

cliioi'  de  Sonsa,  feitor  em  S.  .Miguel         .       149 
«  —     c(     de  tença  de  30Ò000  rs.  por  D.  .António  a  Diogo 

Vaz  Rodovalho 148 

«  — Aforamento  das  terras  de  S.  Ji)sé  da  Relva  (S.  Miguel)       .       429 
(f  — Mercê  de  cidadão  d.Vngra  a  Gaspar  .\lvares,  [)or  D.  Ant.^  150 
1582— Provisão  de  D.  Fi.i|)pe  para  trancar  alvarás  e  cirlas  re 

gias  de  1).  António,  ni  Torre  úo  Tombo  149 

j:;83 — Alçada  dada  por  D.  Filippc  ao  Dr.  (lil  Eanes  da  Silveira     152 
«  — Alvará  que  manda  correr'  iras  ilhas  os  reaes  de  prata  .        151 
,|;j88_\lv;iiá  de  pensão  de   100:>000  rs    a  D.  Clemência  de 

Mendonça 434 


ARCHIVO  DOS  AÇORES 


561 


I008  — Carla  regia:  pensíio  de  loUj^GOO  r>.  á  ineMiia  D.  Cle- 
mência, íillja  de  Antão  Marliiis  lluinem    .  43i 
1501 — Alvará  sobre  a  laxa  do  liigo  nos  Açores      .         ,         .  154 
I5í)2—     »     de  privilégios  aos  membros  da  (Gamara  de   Villa 

lYanca 155 

1593 —     «     sobre  arrendamenUts  na  illia  de  Sanla  Maria       .  158 

«  —     «     sobre  a  caça  dos  coelhos  na  dila  ilha          ,         .  157 

«   —     «     de  privilégios  a  Pcdj^o  Uchalles           .         .         .  161 

«  — Provisão  a  favor  de  Belchior  Eslacio  de  Amaral            .  156 
«  —Regimento   de   Fernão  Faleiro,   [)rovedor  dos  oiphãos 

na  Terceira 159 

1598— 'Alvará  de  privilégios  aos  Ihesoureiros  da  Camará  de  P. 

Delgada 161 

«    -Consulta  de  Simôa  Soeira,  da  Terceira,  sobre  o  olficio 

de  escrivão  dos  residiios         .         .         .  190 
1001 — Consulta  para  dar  um  emprego  a  Domingos   Carvalho, 

de  S.  Miguel 191 

160i—     «     sobie  Pedro  Affonso  d'Ornellas,  da  Terceira        .  191 

1605 — Alvará  sobre  a  eleição  da  Camará  de  Ponta  Delgada     .  lOi 
«  —     ('     de  con<leslavel  de  Bombardeiros  na  Terceira  a 

Manoel  de  Lemos 163 

«  —  Nomtação  de  escrivão  da  camará  de  Villa  Franca  a  Pe- 
dro Mendes 162 

1606— Finta  para  a  construcção  da  egreja  das  Capellas          .  166 
«   — Nomeação  de  João  Dias  da  Bica  para  juiz  em  S.  Jorge  164 
1616 — S(jccorro  á  itlia  de  Sanla  Maria,  safjueada  por  corsários  167 
162á— Festas  em  Angra  na  canonização  de  S.  Francisco  Xa- 
vier e  S/°  Ignacio  de  Loyola  .         .         .  454 
16i3— Carla  de  D.  Rodrigo  da  Camará  a  Chrislovãu  Suares    .  435 
1630— Carla  de  Agostinho  Borges  de  Sousa  a  FIrei       .         ,  168 
«  — Carta  do  Bispo  dWngra  D.  João  Pimenta  dAbreu  e  ou- 
tros a  EIrei 169 

1631— Informação  sobre  as  queixas  da  camará  de  P.  Delgada  170 
1633— Emi)reslimo  de  dez  mil  cruzados  para  a  restauração  de 

Pernambuco    ,         .         .         .         .'         .173 

1080- Remessas  de  géneros  dos  Açores  pnra  Lisboa     .         .  176 

1766— Noticia  do  Caslello  dAngra 181 

1768 — Representação  dos  habitantes  da  ilha  do  (^oivo    .         .  184 
1773 — Petição  de  Barlholomeu  Dezcalça  e  Barros  ao  Marquez 

de  Pombal 436 

179 1 — Descripção  das  aguas  mineracs  das  Furnas  (S.  Miguel)  437  e  446 
179i  -  Re[)resenlação  do  governo  dos   Açores  sobre   a  crise 

monetária 185 

1820  -Jiuila  Governativa  na  Horta 28 


N."  48— Vol.  VIII— 1887. 


12 


562 


ARCHIVO  DOS  AÇORES 


18Í24— 

1831- 

«  — 
1832- 


183i- 
1836— 
1857— 

«  — 
1858- 

«  — - 
1860— 

tí  — 
1861- 
1868— 
1869- 
1872— 
1874— 


1876 

1877- 
1883- 
1884- 
1885- 


1886 


Relação  das  festas  em  Angra,  no  anniversario  de  D.  João  6 

José  Estevão  Coelho  de  Magalhães  no  Kayal 

Alguns  visitantes  illnstres  da  ilha  do  Fayal  . 

Camará  da  Horta:  felicitação  a  D.  Pedro  4.° 

Diversos  cargos  na  Ilurta  .... 

Escravos  e  seus  senhores  na  Horta  e  Fayal 

Parochia  da  Matriz  da  Horta:  fogos  e  habitantes 

D.  Pedro  4.°  no  Fayal        .... 

O  Príncipe  de  Joinville,  no  Fayal 

O  Conde  de  Vargas,  no  Fayal     . 

Padre  António  Maria  Clarelte  de  Clara,  no  Faya 

D.  Patricio  Xavier  de  Moura,  no  Fayal 

Carta  do  Bispo  d  Angra  D.  Fr.  Estevão 

O  Serenissiuio  Infante  D.  Luiz,  no  Fayal 

O  Principe  Alfredo,  de  Inglaterra,  no  Fayal 

«       Jerónimo  Napoleão,  no  Fayal 
O  General  Prim,  no  Fayal 
Raymundo  António  de  Bulhão  Pato,  no  Fayal 
Lady  Franklin,  no  Fayal     .... 
Francisco  de  Sá  Noronha,  no  Fayal     . 
D.  João  Pereira  de  Amaral  e  Pimentel,  Bispo  d^Angra 

no  Fayal     ..... 
Visita  do  Bispo  ás  ilhas  do  Fayal  e  Pico 

«  a  «     das  Flores  e  Corvo 

O  Visconde  de  Castilho,  no  Fayal 
O  Principe  da  Corêa,  no  Fayal 

«       «       Henrique  d'Allemanha,  no  Fayal 

«  «  de  Mónaco,  no  Fayal  . 
Cortejo  civico  cn)  Ponta  Delgada 
Convite  pelos  sócios  da  Sociedade  de  Geographia  de  Lis 

boa  em  Ponta  Delgada 
Notas  Açorianas  por  Ernesto  Rebello  . 


469 

5 

6 

24 

287 

292 

290 

19 

42 

49 

53 

57 

367 

58 

71 

71 

73 

76 

79 

81 

86 
86 
90 
91 
94 
95 
95 
193 

195 
5 


ARCHIVO  DOS  ACOHES  563 


II 


Alptial)4^tico  «las  matérias  mais  notáveis 

AforaiDenlo  das  terras  largas,  em  S.  José  da  Relva  (S.  Miguel)       429 

Agradecimento  de  Roberto  Ivens 219 

«  da  Sociedade  de  Geographia  de  Lisboa,  á  commis- 

são  dos  festejos  a  Capello  e  Iveus       .         .       220 
Aguas  iniueraes  das  Furnas  (descripção  das)  .         .     437  a  446 

Alçada  dada  por  D.  Filipi)e  ao  Dr.  Gil  Eanes  da  Silveira         .       152 
Alvará  concedendo  previlegios  aos  membros  da  Gamara  de  Vil- 

la  Franca 155 

«     de  condestavel  dos  bombardeiros  de  í^  Delgada  a  Antó- 
nio Fernandes 124 

«     de  condestavel  de  bombardeiros  em  P.  Delgada  a  Fran- 
cisco Dias 102 

"     de  confirmação  no  cargo  de  condestavel  de  bombardei 

ros  de  P.  Delgada  a  Francisco  Dias     .         .       130 

"     da  finta  para  a  conslrncção  da  egreja  das  Gapellas        .       166 

«     de  indemnisação  a  Juão  Serrão  pela  fazenda  que  na  ín- 
dia líie  fura  lomada    .....         97 

«     isentando   a  Misericórdia  d'Angra  de  prestar  contas  ao 

Provedor 142 

«     de  lendjrança  a  fav(jr  de  quem  casar  com  a  filha  de  Ga- 
las Lopes,  de  S.Jorge         .         .         .         .132 

«  «         para  servir  de  tabellião  aquelle  (pie  casar 

'  com  uma  filha  de  Lazaro  Dias,  do  Fayal       .        125 

X     (pie  manda  correr  nas  ilhas  os  reaes  de  prata       .         .        151 

<(     de  mi'r<'è  (Je  cidadão  dAngra  a  Gaspar  Alvares,  por  D.  Ant."  150 

«  *<     de  C(tndestavel  dos  bombardeiros  na  Terceira. 

a  Manoel  de  Lemos 163 

«  «     de   escrivão   do   almoxaritado  da  Alfandega  de 

S.  Jorge 120 

«  «     a   Gabriel  Mendes   paia  curar  os  enfermos  na 

Misericórdia  de  P.  Delgada  .         .         .       128 

«  «     a  João  Gonçalves,  da  pensão  de  12:720  .         .       114 

«  «     de  50|$000  rs.  a  António  Pires  do  Canto  .       131 

<  «     a   Manoel    Fernandes   Cabral,  de  memposteiro 

mór  dos  captivos        .         .         .         .         .116 

«  a     á  Misericórdia  d'Angra 119 


564  ARCHIVO  DOS  AÇOKES 

Alvará  que  nomeia  Alcaide  pequeno  de  P.  Delgada  a  João  Sei  lâo  I2.'i 
«       «         «       Anionio   Pires   do  Canto  para  Provedor  das 

Armadas  nos  Açores         ....  129 

«       «         «       clianieller  em  P.  Delgada  a  Fernão  da  Roclia  424 
«     de  D.  Anionio  que  nomeia  Belchior  de  Sousa  feitor  em 

S.Miguel    .         .         .         .         .         .         .149 

c     que  nomeia  Miguel  de  Figueiredo   paia   procurador  em 

S.^"  Maria 133 

«       «         «       Ruy  Dias  Evangelho  para  Ouvidor  no  Fayal   .  119 
«     que  estabelece  o  ordenado  aos  12  bombarbeiros  de  Pon- 
ta Delgada M2 

«     para  o  Licenciado  Joãu  Uzademar  ser  acompanliado  por 

um  escravo      .         .  .         .         .145 

«     para  permittir  a  sabida  do  navio  carregado  de  trigo  dos 
Açores,  fretado  por  D.  Catharina,  mulher  de 

Francisco  de  Mello              ....  422 

«     de  pensão  de  100|$Í000  rs.  a  D.  Clemência  de  Mendonça  434 
«               «     de  12:720  rs.  a  João  Gonçalves      .         .         .114 

«     de  pesador  do  pastel  na  Terceira,  a  Pedro  Fernandes   .  105 

«     de  privilégios  a  Pedro  Uchalles 161 

t                  «       aos  ihezoureiros  da  Camará  (]p  P.  Delgada  161 

«     sobre  arrendamentos  na  ilha  de  S.'*  Maria    .         .         .  158 

«         «a  caça  dos  coelhos  na  ilha  de  S.'^  Maria        .         .  157 

«         «     a  eleição  da  Camará  de  P.  Delgada      .         .         .  16i 

«         «     o  processo  de  culpas  de  Pedro  Carrilho        .         .  138 

«         «     a  taxa  do  trigo  nos  Açores 154 

«        «a  tomada  de  contas  ao  recebedor  João  Tavares      .  415 

«     de  labellião  da  Camará  das  Liges  do  Pico,  a  Bailhazar  Dias  121 

a     da  tença  de  305000  rs.  por  D.  António,  a  Diogo  Vaz  Rodovalho  148 

Annaes  da  Terceira  por  Drumm  >nd 157 

Anniversario  de  D.  João  6.**:  festas  em  Angra        .         .         .  469 

Appenso  á  primeira  mensagem  aos  exploradores  Capello  e  Iveiis  263 

Arsenal  marítimo  na  Horta  .......  24 

Auto  das  culpas  de  Pedro  Carrilho  em  Angra         .         .         .  135 
«    da  resposta  que  deu  o  ouvidor  de  S.  Miguel  no  conflicto 

com  o  corregedor 101 

Aviso  transferindo  o  cortejo  civico  em  Ponta  Delgada  para  5  de 

Dezembro 269 


Bibliographia  do  Districto  da  Horta 306 

Botos  e  Pombas  no  Pico 295 


à 


ARCHIVO  DOS  AÇORES  565 

Caça  de  cot-lhos  em  Santa  Maria 157 

«     das  pombas  no  Pico       .         .         .         .         .         .         .301 

Gamara  da  Horla:  felicitação  a  D.  Pedro  4°  em  1832     .         .        2i 

Capello  e  Ivens,  poesia  por  Nemo 2oá 

«              «s     Sandação,  soneto  por  Manoel  Duarte       .         .       243 
Carta  de  Agostinho  Borges  de  Sousa  participando  a  sua  che- 
gada a  Angra i59 

«     de  António  Pires  do  Canto  á  Rainha     ....       105 

«     do  mesmo  a  KIrei        .         .         .         .         .         .         .133 

«     do  Bispo  d' Angra  e  outros,  a  EIrei       ....       169 

«  «  «     D.  Fr.  Estevão,  a  António  de  Lacerda  Bulcão    367 

«     do  capitão  da  Praia,  a  EIrei,  sobre  corsários  .         .       418 

«     de  doação  da  com  iienda  de  N.'*  S.*  d'Assumpção  em  S.^'*  Maria  419 
«     do  Dr.  Luiz  da  Guarda,  a  EIrei  ....       100 

«     de  Gonçalo  Nunes  d' Ares,  a  EIrei,  communicando-llie  a 

sua  chegada  a  S.  Miguel    .         .         .         .417 

«  de  Hespanha,  sobre  os  Exploradores  Capello  e  Ivens  .  279 
«     do  Lealdador  dos  pasteis  na  Terceira  a  Bartholomeu  de 

Magalhães 111 

«  de  Manoel  Corte  Real,  a  EIrei,  sobre  a  conquista  de  Honduras  402 
«  do  mesmo  sobre  a  morte  de  Henrique  Nunes  de  Leão  .  403 
«     que  nomeia  Juiz  em  S.  Jorge  a  João  Dias  da  Bica  .       164 

«  de  nomeação  de  Escrivão  da  Camará  de  Villa  Franca  .  162 
«     do  Ouvidor  de  S.  Miguel,  a  EIrei,  pedindo  desculpa  de 

casar  sem  licença       .         .         .         .         .418 
«     de  poder  e  alçada  dada  por  D.  Filippe  ao  Dr.  Gil  Eanes 

da  Silveira 152 

«  de  (juitação  a  Henrique  Esteves  da  Veiga,  feitor  .  .  147 
«  «       dada  a  Lucas  de  Sequeira,  almoxarife  .         .       143 

«  regia  de  escudeiro  aposentado,  a  João  AíTonso,  de  S.  Miguel  393 
«  «a  favor  de  Catharina  Gonçalves  .  .  .  395  e  396 
«         «  «de  Ruy  Dias  Evangelho     ....       396 

«  «  licença  a  Mestre  Pedro  para  usar  de  cirurgia  .  118 
«         f  «     para  Manoel  Alvares  pôr  botica  em  P.  Delgada     125 

«        «     de  memposteiro  mór  dos  captivos  nos  Açores,  a 

Fernão  dEvora 396 

«         «     mercê  de  escudeiro  aposentado  a  Diogo  Preto       .      395 
«        «         «     do  oíTicio  de  escrivão  dos  orphãos  em  P.  Del- 
gada a  Pedro  Camello  Pereira  .        .         .       423 
«         *         «das  saboarias  de  S.  Miguel  a  Pedro  Camello 

Pereira 404 

t         «     nomeação  de  António  da  Matta  para  escrivão  do 

lealdador  mór  dos  pasteis  .        .        .        .401 
«         «     nomeando  escrivão  dAlfandega  da  Graciosa  a  Pe- 
dro Felgueira 410 


566 


ARCHIVO  DOS  AÇORES 


Carla   regia  que  nomeia  Jerunimo  Luiz  para  corregedor  em 

Angra 415 

«         «       «     nomeia  Gonçalo  Vieira  para    Escrivão  da  Ga- 
mara das  Velas \iO 

«         «       «     nomeia  Manoel  Lopes  dOliveira,  para  escrivão 
do  meaiposleiro  niór  dos  caplivos  nos  açores 
cenlraes  e  occidentaes         .         .         .         .       il2 
«         «       «     nomeia  Álvaro  Dias  Beleago,  escrivão  dos  or- 

phãos  no  Fayai Ul 

«         «       «     nomeia  António  Fernandes,  tabellião  na  Vil- 

la  da  Praia 12i 

«         «       «     nomeia  António  Fr;inci.-co,  ouvidor  nos  açores      421 
«         «        «         «  »      Rodrigues,  cirnigião  no  F;iyal         4ií) 

«         «       «         «     chanceiler  e  escrivão  da   coi'reição  na 

Terceira  e  ilhas  de  baixo  a  António  do  Gasal      400 
«         «       M     nomeia  escrivão  da  Gamara  da  Gracioza  a  Ma 

noel  Gomes 414 

«         «       «     nomeia  escrivão  da  Villa  da  Praia  (Terceira) 

a  António  Vaz   ......       407 

«         «        «     nomeia  inquiridor,  distribuidor  e  contador  na 

Laoôa  a  Pedro  Velho  ....       405 

«  3        ^(     nomeia  Gonçalo  Pire?,  meirinho  da   serra  em 

S.  Miguel 408 

.(         «       «     nomeia  Gonçalo  Vieira,  Juiz  dos  orpliãos  imS. 

Jorge        .         .         .         .         .         .         .128 

M         •       «         «     João  Gonçalves  para  escrivão  da  correi- 
ção em  S.  Miguel       .         .         .  .       41i 

«         «       «    nomeia  Lopo  Dias  Homem  para  Juiz  na  R.  Grande  424 
«         «  «     Roque   Rodrigues   escrivão   d.i  ('amara 

na  Ribeira  Grande  (S.  MigueO     .         .         .       4i;i 
«         «     para  o  tabellião  Francisco  Aííonso,  ter  um  ajudante        lio 
a         «     pensão  de    loO.oOOO  rs.   a   D.  Clemência,  filha  de 

Antão  Maitiiis  Homem        ....       i3i 

..  «  «     de  2oOi$000  rs.  a  D.  Joanna  de  Mendonça    .       429 

«  «     p.  r(Jão  a  Diogo  Flamengo,  da  Terceira  .  .       394 

«         .<     <pie  permille  a  João  Galego  curar  enfeniKJs  em  Angra       i  10 
«  a     sobre  a  fiança  de  Pedro  Carrilho  .         .  .        137 

«     de  D.  Rodi'igo  da  Camará  a  Christovão  Soares       .  .        435 

«     de  Roberto  Ivens,  ao  Presidente  da  conunissão  dos  fes- 
tejos em  Ponta  Delgada       .         .         .         .219 

a     de  tiibellião  no  Fayal  a  Joane  .\nnes  de  Góes  .  .        lOS 

.(  «       em  Santa  M;u'ia  a   Vicente  Vaz    .  .  .        106 

Carros  Iriunipliaes  no  cortejo  civico  de  f^jnta  Delgada     .  .       i08 

Castello  dArgra:  Noiicia  pelo  capitão  mói'      ....        181 

Certidão  sobre  a  tomada  de  contas  do  recebeilor  João  Tavares       i  Ki 


I 


AHCHIVO  DOS  AÇORES  567 

Cevadii  comprada  nos  Açores  por  conta  do  Governo        .         .        98 
Circular— sobre  o  festival  michaelense  a  Capello  e  Ivens         .       267 

Cirurgião  na  Villa  da  Praia H8 

Collecção  de  Documentos  relativos  ás  ilhas  dos  Açores   .       97  e  393 
Commissão  dos  festejos  a  Capello  e  Ivens      .         .         .         .197 

Commenda  de  Nossa  Senhora  d'Assumpção  em  Santa  Maria: 

doação  da  mesma  a  D.  Luiz  Coutinho  .       419 

Condestavel  de  bombardi  iros  da  Terceira,  Manoel  de  Lemos  .       163 
Confirmação  de  Francisco  Dias  para  condestavel  de  bombar- 
deiros em  Ponta  Delgada    ....       130 

Contlicto  entre  o  corregedor  e  ouvidor  em  S.  Miguel       .         .       100 
Consagrações  Civicas    ........       193 

Consultas  da  Meza  da  Consciência  e  Ordens  ....       190 

Conventos  de  Ponta  Delgada:  demanda  com  o  governo  ,       425 

Convite  ás  Camarás  Municipaes  de  S.  Miguel  para  o  cortejo  civico  268 
Convite  pelos  sócios  n'esta  ilha  da  Sociedade  de  Geographia 

de  Lisboa  para  o  cortejo  civico  .         .         .195 
Cortejo  civico  em  Ponta  Delgada  em  honra  de  Capello  e  Ivens      193 

«     (O)  e  a  Commemoração 234 

Corsários  nos  Açores   .        .        .        .        .        .        .     167  e  418 

Crise  monetária  em  Angra 185 


Demanda  com  os  conventos  da  Esperança  e  S.  Francisco,  de 

Ponta  Delgada 425 

Deputação  que  da  Terceira  foi  cumprimentar  D.  Pedro  4."  e  D. 

Maria  2.*  a  Inglaterra         ....  20 

Descripção  das  aguas  mineraes  das  Furnas   .         .         .    437  e   446 

«     do  festival  michaelense  no  cortejo  civico  em  P.  Delgada  201 

Despeza  dos  festejos  em  Ponta  Delgada  com  o  cortejo  civico  .  261 

Differentes  oíTicios  e  avisos  sobre  os  ditos  festejos          .         .  264 

Diversos  cargos  públicos  na  Horta  em  1832           .         .         .  287 

Documentos  relativos  às  ilhas  dos  Açores      .        .        .      97  e  393 

Dois  Symbolos 239 

Donatários  da  ilha  de  S.  Miguel 377 


Egreja  das  Capellas:  finta  para  se  construir   ....  166 

Eia  avante  (poesia) 238 

Eleição  da  Camará  de  Ponta  Delgada;  alteração  da  época  em 

que  deve  fazer-se 164 

Empréstimo  de   10:000  cruzados  para  a  restauração  de  Per- 
nambuco       173 

Entrada  de  D.  Pedro  4.°  no  Fayal 33 

Escravos  na  Horta  em  1832 292 


568 


ARCHIVO  DOS  ÂCORES 


Escriptores  e  homens  de  leiras  no  Fayal 
Expedição  (A)  africana,  poesia  por  Soares  1'ereiia 
Exploradores  africanos  .... 


317 

230 


Família  do  morgado  Terra,  da  Horla,  em  1832 
Fe^las  em  Angra  no  anniversario  de  D.  João  6."   . 

«         «       «     na  canonisação  de  S.  Francisco  Xavier  e  Sl.° 
Ignacio  de  Loyola         .... 

«     cívicas  (As)         ....... 

Fesla  dos  Pretos  (A)  no  Fayal 

Festej(js  cívicos  em  Ponta  Delgada          .... 
Festival  de  hoje  (O) 

«     michaelense  no  cortejo  cívico  em  Ponta  Delgada    . 
Final  (O)  dos  festejos  em  Ponta  Delgada 
Finta  para  a  constrncção  da  egreja  das  Capellas    . 
Foro,  ou  pensão  que  pagavão  os  habitantes  da  ilha  do  (kirvo 


31 

469 

4o4 
240 
281 
193 
232 
201 
262 
166 
184 


Géneros  remeltidos  dos  Açores  para  Lisboa  . 
Gnarnição  do  Castello  d'Angra:  despe.-a  com  a  mesma 
Gnerras  da  Paz  (Asj 


176 
183 

228 


Homenagem  d'um  arti>ta  a  R.  ivens  c  B.  Capello 
ílymno:  liomenagem  a  Uoberlo  Ivens     . 


254 


Impiensa  PeiModíca  nos  Açores     ..... 

«  «     no  Fayal 

«  «     na  Tercei  ia    .         .         .         .   •      . 

«  ((     em  S.  MigU(d 

Impressos  distribuídos  durante  o  cortejo  cívico  em  P.  Delgad 
Informação  sobre  as  queixas  da  Gamara  de  Ponta  Delgada 
Instituição  vincular  do  capitão  Manoel  da  Ganiar;i  . 

«  «     de  D.  Filippa  Goutinho,  S.  Miguel 

Instituições  vinculares  d(js  donatários  de  S.  Miguel 
Ivens  e  r,a|tt'll(i:  n."  único  d(»  jornal  distribuído  no  coilejo  ci 
viço  eui  Ponta  Delgada    .... 


485 
534 
519 
494 
221 
170 
383 
377 
377 

i21 


.lunl;^  Guvernaliva  na  lloila  em   1820 


-28 


ARCHIVO  DOS   AÇORES 


369 


L;i|»i(lt'  rornmemoraliva  do  arsenal  marítimo  oa  Horta 
«  fl     (la  residcncja  (!<;  D.  Pedro  4."  na  llorla 

Lealdador  di»s  |);í>1  is  na  Terceira  .... 

Licença  para  Francisco  Afíoiiso.  tabelhão,  ler  um  ;ijndanle 
«  «     Manoel  Alvares  [)ôr  l)i)lica  em  Ponta  iJelgada 

Licença  para  Mestre  Pedro,  usar  lia  arte  de  cirnrgia 


24 
41 
111 
145 
123 
U8 


Memposlpiro  mór  dos  caplivos  nas  ilhas         ....  I  IO 

Mensagem  a  C.ipello  e  Ivens  pelos  haltitantes  de  S.  Miguel      .  217 

«         da  Sociedade  de  Geographia  de  Madrid  a  Capello  e  Ivens  27  i 

Mercê  de  oOáíOUO  rs.  a  António  Pires  do  Canto       .         .         .  131 

«     -.u,  Bachaiel  Gabriel  Mendes  para  curar  os  enfermos  da 

Misericórdia  de  Ponta  Delgada     .         .         .  128 
«     de  escrivão  do  almoxaiafado  da  alfandega  de  S.  Jorge,  a 

(jnem  casar  com  uma  das  fdlias  de  Galas  Lopes  120 

«     de  escudeiro  aposentado,  a  João  Affonso        .         ,         .  393 
«     á  Misericórdia  d'Angra  para  o  corregedor  ser  juiz  nas 

suas  causas 119 

«     do  oiricio  de  Tabellião  a  Joanne  Annes  de  Góes     .         .  108 

«     a  Gaspar  Alvares,  de  cidadão  dAngra  ....  130 

«     a  Manoel  Fernandes  Cabral,  de  m^mposteiro  mór  (los  captlvos  1 16 

«     da  pensão  de  12?$Í720  rs.  a  João  Gonçalves  .         .         .  114 
Mestre  Pedro,  cirurgião  na  Villa  da  Praia       ,         .         .         .118 

Morgado  de  D.  Filippa  Conliidto 377 

«       de  Manoel  da  Camará,  capitão  donatário    .         .         ,  383 


Náos  da  Índia 133 

Nomeação  de  Antotiio  Fernandes  para  condestavel  de  bombar- 
deiros de  Ponta  Delgada  ....  124 
'«  de  líartholomeu  de  Magalhães  para  lealdador  dos  pasteis  Ml 
«  de  Belchior  de  Sousa  para  feitor  em  S.  Miguel  .  149 
'<  do  (íscrivão  da  (]amara  de  Villa  Franca  .  .  .  162 
'<     de  Francisco  Dias  para  condestavel  dos  bombardeiros  de 

Ponta  Delgada 102 

«     de  Gonçalo  Vieira  para  escrivão  da  Camará  das  Velas  (S. 

Jorge) 126 

X     de  Miguel  de  Figueiredo  para  procurador  'em  St.^  Maria  133 

«     de  João  Dias  <la  Bica.  para  juiz  em  S.  Jorge         .         .  16i- 

<(     de  João  Serrão  para  alcaide  pequeno  de  Ponta  De^lgada  123 

«     de  Pedro  Fernandes  para  pesador  do  pastel  na  Terceira  lOo 

«     de  Rny  Dias  Evangelho  para  ouvidor  no  Fayal  e  Pico    .  I  fl) 
.(     de  Balthasar  Dias  para  tabellião  da  Camará  das  Lagens 

do  Pic(t 121 

N/'  'iS— Vol.  VIU  -1887.  13 


570 


ARCHíVO  DOS  AÇORES 


Nomeação  de  António  Fernandes  para  tabellião  da  Vil!a  da  Praia  122 

a     de  Vicente  Vaz  para  labellião  em  Santa  Maria       .         .       106 

Notas  Açorianas  por  Ernest(»  Rebello     .         .       ,  .         .        6  e  281 

Noticia  do  Castello  d'Angra  ......       181 


OíTicio  da  Sociedade  de  Geograpltia  de  Lisboa,  agradecendo  os 

festejos  a  Capello  e  Ivens     ....      220 
Ordenado  dos  bombardeiros  de  Ponta  Delgada       .         .         .112 


Parecer  da  snb-commissão  dos  festejos  civicos  em  Ponta  Delgada  196 

Pastel:  pesador  nomeado  para  o  mesmo  na  Terceira       .         .  105 

«       lealdador  dos  mesmos  na  Terceira      .         .         .         .IH 

Parochia  da  Matriz  da  Horta:  fogos  e  habitantes  em  1832       .  290 

Pelo  Estrangeiro:  festejos  a  Capello  e  Ivens  ....  269 

Pensão  de  200?5íOOO  rs.  a  D.  Clemência  de  Mendonça     .         .  434 

«     de  2oO/?ÍOOO  rs.  a  D.  Joanna  de  Mendonça     .         .         .  429 

«     011  foro  que  pagavam  os  habitantes  da  ilha  do  (^orvo     .  184 

Pesca  dos  bolos  no  Pico 298 

Petição  de  António  Borges,  feitor  nas  ilhas,  sobre  a  cevada  que 

recebeu  de  moradia 397 

«     do  mesmo,  sobre  quebras  no  trigo  e  cevada  comprada 

nas  ilhas     .......  398 

«     de  Bartholomeu  Dezcalça  e  Barros  ao  Marquez  de  Pombal  436 

«     de  João  Tavares  sobre  o  que  pagou  ao  escrivão  do  leal- 
dador mór  dos  pasteis          ....  401 

«     do  mesmo,  sobre  a  pensão  que  recebia  Frei   Affonso  de 

Toledo 4(X) 

Poema  nnvissimo 227 

Pombas  e  Rotos  no  Pico 295 

Privilégios  aos  membros  da  Camará  de  Villa  Franca      .         .  155 

«     a  Pedro  Uchalles  para  coser  cal  com  carvão  de  pedra, 

em  S.  Miguel 161 

«     aos  thezoureiros  da  Camará  de  Ponta  Delgada      .         .  116 

Processo  de  fiança  de  Pedro  Carrilho    .....  137 

Programma  do  festival:  cortejo  civico  em  Ponta  Delgada  198 

«     (bases  doi  para  o  dito  cortejo  civico     ....  197 
Provisão  de  D.  Filippe  que  manda  trancar  alvarás  e  cartas  re- 
gias de  D.  António 149 

«     a  favor  de  Belchior  Estacio  do  Amaral          .         .         .  156 


Quitação  a  Henrique  Esteves  da  Veiga,  feitor 
«     a  Lucas  de  Sequeira,  almoxari!e,  S.  Miguel 


U7 
143 


ARCHIVO  DOS  AÇORES 


57! 


Reaes  de  prata:  seu  valor  nas  ilhas 151 

Ktícepç.ão  de  Ca[)eIlo  e  Iveiis  em  Madrid  ....  270 
Regimento  de  Fernão  Faleiro,  provedor  dos  orpiíãos  na  Terceira  159 
Relação  das  festas  em  Angra,  no  Anniversario  de  D.  João  6.°       46'J 

«  «       «         «       «    na  canonisação  de  S.  Francisco  Xa 

vier  e  Santo  Ignacio  de  Loyola      .         .         ,       454 
Remessa  de  géneros  dos  Açores  para  Lisboa  .         .         .170 

Representação  dos  habitantes  da  ilha  do  Corvo  a  EIrei  .         .       184 

«     sobre  a  crise  monetária  em  Angra       ....       185 

Restauração  de  Pernambuco 173 

Retrato  de  Roberto  Ivens 193 

Rua  em  que  nasceu  Roberto  Ivens  (em  Ponta  Delgada)  .         .       221 


Saboarias  da  ilha  de  S.  Miguel:  mercê  das  mesmas  a  Pedro 

Camello  Pereira 

Será  reviviscencia?  poesia  [)or  Arão  Cohen     . 

Serviços  de  Roberto  Ivens 

Soccorro  á  ilha  de  Santa  Maria,  saqueada  por  corsários 
Sol  (O)  e  o  Oriente:  poesia  por  Arão  Cohen  . 
Subscripção  publica  |)ara  o  cortejo  civico  em  Ponta  Delgada 
Subsidio  para  uma  bibliographia  do  districto  da  Horta    . 


404 
244 
222 
167 
251 
257 
30tí 


Taxa  do  trigo  nos  Açores      ....... 

Tença  de  30)$Í000  rs.  por  D.  António,  a  Diogo  Vaz  Rodovalho 


Trigo  nos  Açores:  taxa  do  mesmo 


154 
148 
154 


Uma  lição   . 
Um  voto  sincen^ 


23(5 
233 


Viagem  de  Bento  de  Góes    . 
Visitantes  illustres  da  ilha  do  Fayal 


226 
6 


572 


ABCHIVO  DOS  AÇORES 


III 


.41pliabeti<'0  de  nomes  fie  peí^soas 


A.  Ribeiro  Gonçalves 

195, 

Alexa 

ndre  Ferreira  da  Sil- 

Abram  Ben  Sliiiian   . 

260, 

v.i        .         .      318  e 

322 

Abreu  Vascoiicellos,  irmãos 

257 

« 

Himíboldt 

49 

Accurcio  Garcia  Hamos 

51 

« 

Madureira 

484 

Adrião  de  Bairros,  labellião 

121 

« 

Martins  Pamplona  . 

20 

«     I.ucio     .          .     103  e 

130 

« 

de  Monra  (D.) 

319 

AÍTonso  d' Almada      .     1^6  e 

406 

« 

da  Sacra  Familia^D. 

«     Figueira 

98 

Fr.),  Bispo  d' Angra 

«     de  Mattos 

99 

318  e 

323 

«     de  Miranda     . 

143 

Alfredo  dAvellar 

537 

«     de  Noronha  (U.) 

466 

« 

Leopoldo  da  Silveira 

«     de  Toledo  (frei) 

400 

Orlatidi  (Major) 

258 

Agostinho  Borses  de  Sousa 

« 

de  Jlusset 

328 

168  e 

176 

« 

Sampaio  . 

519 

«     de  Carvalho  (I)r.)     . 

58 

Alvares  Cabral 

215 

a     Cymbrom  Borges  de 

Álvaro  Ainorim  Borges 

258 

Souza    . 

259 

« 

de  Bazan  (D.)  . 

493 

«     José  Freire 

23 

« 

da  Coííla 

409 

«     Machado  de  Faria  e 

« 

Dias  Beleago    . 

411 

Maia  (l)r.;      . 

257 

« 

Fernandes        .     132  e 

40(> 

«     Robbio    . 

371 

Álvaro  Ko|ike  de   Barbosa 

«     Salvado  . 

414 

Ayala  (Dr.)    . 

259 

«     Telles      . 

341 

« 

Lopes 

104 

Águeda  de  S.  João    . 

291 

« 

Martins  Homem 

122 

Alberto  de  Freitas  da  Sdva 

259 

« 

IVreira  Bulcão 

359 

«     Telles      . 

495 

« 

«     Forjaz  de  Laceida 

47 1 

Aleixo  de  Menezes  (D.),  aio 

a 

Pinto 

390 

de  D.  St  bastião 

125 

« 

Pires    129.  131,  431  t 

434 

Alexandrina,  escrava 

293 

« 

Rodrigues  dAzevedo 

260 

Alexandre  Climacodos  Beis 

« 

da  Senra 

113 

50  V.  o3(),  537  ( 

5'i3 

« 

Vieira 

142 

«     Domingos  Martins  Pam- 

Amâncio  Gago  da  Camará 

260 

|)l(»na  Coite  Beal 

525 

« 

Júlio  Cabral     . 

2()0 

«     Ferreira 

500 

« 

Leocadio  Vieira 

i92 

ARCHIVO  DOS  AÇORES 


573 


Ambrósio  Alvares 

, 

:u)0 

«     de  St."  Agostinho 

(P/i 

40^ 

«     (li^  Sequeira     . 

I7:í 

Anchieta  (D.  José  de) 

ti  15 

Angelo  José  Dias 

200 

«     Pereira  da  Silva 

288 

André  Alv.ires  Cabral 

259 

«     António  AvellinoíDr.) 

495, 

490 

e  501 

«     Dias 

412 

«     Francisco  Goulart 

:m 

e  350 

«     Furtado 

410 

«     Manoel  da  Ponte 

331 

«     de  Negreiros   . 

111 

«     Pires  Goulart 

109 

«     da  Ponte  Quental 

335 

«     Hodrigues 

401 

Soares  103,  130,  132  e 
Anna,  escrava 

«     Augusta    dAlnfíCida 

Leilão  (D.)     . 
«     Henriqueta  Bulcão  (D.) 
«     de  Lacerda  (D.) 
«     Luiza.  professora 
«     Narcisa   . 
«     Quitéria  . 
Annibal  de  Betteticourt  Bar- 
b(isa 
«     Gomes  (>abido 
Anlão  .Martins  Homem  t;Ca- 

pitãi»)    .     418,  429  e 
Anlão  da  Rocha 
Antónia  .Margarida  Garrett 
António,  escravo 

«     (D.j,  Prior  do  (^rato 

148  (• 
«     Alberto   Pinheiro  de 

Barros  (Dr.)  . 
«     Alfi'edo  Barbosa 
«     dAguiar    103,    117, 
119,  120,  121,125, 
127,  128,  129,  131, 
132,  133,  140,  142, 
145.  148,  157,  V22, 
423.  424.  425  e 


19 

392 

323 
370 
293 
289 
293 
291 

200 

258 

'í34 
148 
318 
292 

150 

259 
259 


429 


António  dAmaral  Vasconcellos 

513 

« 

Amorim  da  Cunha    . 

258 

« 

dAndrade 

102 

« 

Augusto  dAguiar     . 

220 

« 

«     Pacheco     258  e 

200 

« 

de  Barros 

417 

« 

Bernardo  da  Silva    . 

323 

(( 

B(»nifacio  Júlio  Guerra 

51'! 

« 

Borges,  feitor  nas  ilhas 

397 

« 

«       da     Camará 

Medeiros 

77 

« 

Borges  do  Canto  Mo- 

niz    .         528,  531  e 

537 

« 

de  Briun  da  Silveira 

431 

« 

Cândido,  meirinho    . 

288 

« 

do  Casal 

406 

« 

Casimiro  Mouralo     . 

529 

« 

Climaco  dos  Reis  503, 

50 'i,  507,  509  e 

517 

Cf 

Coelho  de  Mendonça 

184 

« 

Corrêa  de  Mendonça 

503  e 

« 

da  Cosia 

122 

« 

Dias  Rego 

177 

« 

Diniz  da  Cruz  e  Silva 

345 

« 

Emilio  de  Figueiredo 

e  Mello  (alferes)     . 

511 

« 

Emilio  Severino  d'A- 

vellar  (Dr.)    . 

540 

« 

Ernesto  Tavares  dAti- 

drade    . 

517 

< 

Feleciano   de    Casti- 
lho (Dr.)     93,  350, 

495,  508  e 

516 

« 

Fernandes  122,  130, 

138  e 

\M 

« 

«        condestavel 

de  bombardeiros    , 

124 

« 

Ferreira  Borralho    . 

494 

« 

«       Júnior 

498 

« 

«       Provedor  da 

Fazenda 

169 

« 

Florim     . 

176 

« 

Francisco,  onvidoí'  nos 

Açores  . 

421 

574 


ARCHIVO  DOS  ACOHES 


António  Furtado 

a         «     de  Mendonça  . 

«         «  «    professor 

«     Garcia  da  Hoza 

«         «  «     tenen- 

te  Coronel    . 

«     Gil    78.    519,    520, 
521,  528,  529,  53  i  e 

«     Gonçalves 

«         «     tabellião 

«         «     da  Silveira  509  e 

«     Homem  da  Cosia  No- 
ronha    .         .       50  e 

«     Jacinlho  dAmaral  A- 
ragão    . 

«     Jacintliode  Mello  287  e 

«     Joaijiiim  d'Arrii.la     . 

«       «     Domingues    259  e 

«       «     Ferreira  (Padre) 

«       «     Pereira     . 

«       «     Nunes  da  Silva 

«       «       «de  Vascon- 
eellos  523,366.  489  e 

«     Joaquim  Teixeira  Jr. 

.     José  dAvila(I)r.)24. 

315  e 

«        «        «      (major) 

«       «    Gonçalves  da  Cos- 
ia    488,  490,  523, 
528,  529,  530  e 

«     José  Machado  . 

«       «     Pereira  Leite    . 

«     José  Raposo     .     216  e 

«        «     Tavares    . 

«       «     de  Vasconcellos 

«       «     Vieira  de  Santa 
Rita  59.  91  e 

«     Justiniano  Pegado  Bro- 
tero 

«     de  Labath,  alferes 

«     de    l^acerda    Bidcão 
360,  366,534,535, 

537,  538  e 

«     Leal  [Vriú) 

«     Leite  (la  Gama 


500 

António  Lourenço  (Padre) 

185 

291 

« 

«       da  Silveira 

288 

Macedo      23,  66, 

24 

363  e 

537 

« 

Machado 

114 

287 

« 

«     Alvaies  Cabral 

258 

« 

«     de  Sousa  e  Mello 

496 

537 

:< 

Maria  Claretle  de  Cla- 

137 

ra  (D.) 

53 

111 

« 

Maria  d"Oliveira  (Dr.) 

62 

516 

« 

Marianno  de  Lacerda 

29 

« 

Marcelliiio  da  Victoria 

499 

514 

« 

Martins   . 

122 

« 

de  Mattos 

402 

259 

« 

de  Medeiros  Bettcn- 

294 

coiui  (general) 

259 

261 

« 

de  Mendonça,  capitão 

288 

5H 

« 

Miguel    da    Silveira 

514 

Moniz    .         .     526  e 

532 

51 

H 

Moniz 

133 

257 

« 

u      Barreto    Corte 
Real  (Dr.)         491, 

490 

492,5i'0,  523,529, 

522 

530  e 

532 

M 

Moreira    da    Camará 

349 

Coutinho    de    Gus 

65 

mão  (Dr.) 

259 

« 

da  Malta 

401 

« 

Moules  Vieira  de  Bet- 

532 

tencourt 

470 

257 

« 

Nicolão  de  Moura  Sto- 

288 

ckler     . 

470 

258 

(( 

de  Novaes 

392 

518 

« 

Nunes     . 

98 

259 

(1 

dOliveira  Pereira  7, 

293  e 

370 

366 

« 

Pereira          495  502  e 

514 

« 

«     (Fi-ei) 

425 

484 

M 

«     de  Sousa 

192 

288 

« 

Pires  do  C-anto   105, 

129,  131  e 

133 

« 

da  Ponte  Maia       213  e 

258 

539 

« 

Pofíirio  de  Miranda 

502 

340 

« 

Ramos   Moniz  Corte 

257 

Real 

524 

ARCHIVO  DOS  AÇORES 


575 


Aiilonio  du  Rego  Faria  Bar- 
bosa 490.  5á3  e  532 
d     (lu  Rego  SmíiIos        .       506 
«     Ribeiro   .         .         .177 
«     Rodrigues  Ii9,  150, 

152,  4i:j  e  433 
«     de  Sampaio  100  e  104 

«  dos  Sant(js  Ribeiro  .  258 
«  Sérgio  de  Sousa  60  e  66 
«  Silveira  .  .  .  293 
«       «    d"Avila,  escrivão 

da  Camará  da  Horta  37 
«     Silveira  Bulcão     30. 

359  e  366 
«       «  «      (outro) 

359  e  537 
«  «  Linhares  (cap.)  321 
«  Soares  .  .  .  435 
de  Sousa  Arruda  .  258 
«  «  Hilário  534  e  536 
Tavares  Ne! to.  .  257 
Taveira  de  Neiva  Brimi 
da  Silveira  (D  ),  Bis- 
po de  Goa  .  .  331 
«  Teixeira  de  Macedo  513 
«       «     d'Oliveii'a  .       257 

«  Telles  de  Macedo  (Dr.)  364 
«       «     Peixoto  Gutlier- 

res  Palhinha  .  .  532 
«  Telles  d"Utra  Machado  525 
«  da  Terra  Pinheiro  (Dr.)  57 
«  Theodoro  da  Silva  .  534 
«  dUlra  .  .  .109 
«  Vaz  .  .  .407 
«       1     Castello    ( Dr. ) 

420,  424  e  425 
«     Vieira  108,  110,  123  e  141 
«       «     (Padre)     .         .       376 
«       «     de  Faria  .     291  e  353 
Arão  Bensaude         .         .       260 
«     Cohen     .         .         .202 
Aristides  Brandão  de  Cas- 
tro      197  260.  265  e  267 
«     Moreira  da  Motla  (Dr.) 

195,  258  e  267 


Armando  da  Silva     .         .       241 
Arsénio  Leonel  de  Medei- 
ros (Dr.)       .         .       541 
Arlhur  Hintze  Ribeiro  (Dr.) 

196  e  258 
«     Machado  Gama   Car- 
reiro    .         .         .       257 
Augusto  dArruda  Quental       498 
«     Athaide  Corte  Real  da 

Silveira  Eslrella     .       259 
«     Bulcão  360,  376  e  537 

«     Cabral     .         .         .497 
«     César  Supico        195  e  263 
«     Loureiro     495,  497, 
499,  500,501,502, 
505,  507,508,513, 

516  e  52íi 
«  Massano .  .  .  537 
«  Pereira  d'Aguiar  .  508 
«     Ribeiro        485,  527, 

529  e  531 

«     da  Silva  Moreira      .       510 

Ayres  Pires  Cabra)  .         .       114 


Balthazar  Alvares  Paim  .  135 
«  de  Azurara  .  99  e  103 
«     da  Costa     107,  110, 

119,  122,  125  e  146 
«  Dias  (tabellião)  .  121 
«  Ferraz  .  ,  .150 
«     Gil  ...       399 

«  Gomes  Sodré  .  .  116 
«  Gonçalves  .  .  136 
«     Joaquim  da  Luz       .       261 

Barão  dAlvito  .  .  .131 
«  da  Arèa  Larga  .  24 
«     de  Fonte  Bella  (l.^j  29 

«     «       «         «     (Jacin- 

Iho)  195,  203,  244  e  263 
«  Hugon  ...  45 
«     da  Lagoa        25,  28, 

29,  31,  41,  67  e  351 
tf  das  Larangeiras  (1.°)  29 
«       «  «  (3.**)      203 


576 


ARCHIVO  DOS  AÇORES 


B.irãi)  (Ic  Míiriijú        .         .  49 

«  de  iNoi-oiiha  .  .  'id 
«  de  Rdiissin  .  .  40 
«     da  Yilla  da  Praia  469  e  481 

Barbara  da  ((iiiceição        .       291 
«     Dometdia  {[).)  .       294 

«     Jiia(|iiina  Slreet  d'Ar- 

ri;iga  (D.)       .  .       369 

«     da  Trindade  (D.)      .       328 

Baruiieza  da  Lagoa  .       331 

Bai  lliuloiiieii    Drzcalça    e 

liairos  -  .  .  436 
«  Dias  .  .  .  215 
«  reriiandes  .  .  409 
a     de  Frias  .     430  e  431 

«  Gonçalves  .  397  e  410 
«  dos  Martyres  Dias  .  489 
«     Nunes      .         .     101  e  382 

Bastião.  Vid.  Sebaslião. 

Beatriz  de  la  Cerda  (D.)    .       330 
«     de  Sá  (D.)       .         .       404 

Belchior    du    Amaral   (Dr.) 

154,  156  e  160 
«  Eslacio  d(j  Amaral  .  150 
«     de  Sonsa  .         .       149 

Benito  Marão    .  .  .178 

Benevennto  Ctllini    .         .       323 

Benjamim  Ferin        .     257  e  201 

Bento  de  Bellenconrt  Vas- 

eoncellos  e  Lemos  .  470 
«  de  Góes  .  215,  226  e  241 
«  Jo>é  de  Mattos  Abreu  488 
«     Pereiía  de  la  Cerda        335 

Bernardin  Beleago     ,         .       406 

Bn  iiardino  Aimuslo  de  Mel- 
lo <!  A/^eredo       499  e  508 
rt     .lo>é  de  Seima  Frei- 

la>      437,  495,  514  e  525 
»     1'aclieco    Alvt!S   Pas- 
sos ;Dr  )  .       537 

Bernardo  Macliado  de  Fa- 
ria e  Maia  (Dr.)258  e  351 
«     de    Sá    Nogueira    0. 

488  p  489 
..     Trlli  .s  rtr.i  M;icliado        287 


Braz  dAlvide  .         .      107  e  109 
c(     Cota  íDr.)  .         .       407 

«     Lonienço  .         .  401 

Brito  Capelio.  e  Roberto  Ivens    193 
«     Reitello  (Vide  Jacinllio 
■  Ignacio  de). 
Bulhão  Pato  ( Vidf  Raymun- 
do  António  de). 


(Caetano,  escravo       .         .  293 
8      dWndrade  Albuquer- 
que (Dr.)  195,  196, 

263,  259,  501,  603  e  512 

«     Coelho  dWvellar  (P/)  185 
«     Moniz  de  Va>coucel- 

Ims                  .     196  e  503 
«     Xavier  de  Mendonça 

Sanlmha         .          .  3i9 

Camões  (Padre)         .         .  342 

Cândido  José  Xavier          .  213 

«     Maria  de  Sousa         .  537 

«      Serpa      .          .          .  376 

Carlo<  Augusto  de  Bett-  u- 

courl     .         .     537  e  538 
«     Augusto  Carneiro  Za 
gallo  e  Mello     196, 

197,  260,  266  e  267 
«     Renlo  da  Silva  491 
«     Bolelho    .         .         .  506 
«     (inilherme    Dabiny  289 
C.  M.  Fri.es      .          .          .  495 
«      Miri  I  Gomes  Macha- 
do (Dr.i       195,2.59  e  263 
«     de  Mas(arenhas  (D.)  20 
«     Vieira  Goulart           .  6(5 
Carlota,  escrava        .         .  292 
«     escrava  '^oulra)         .  293 
«     escrava  (     «    )         .  293 
«     .loaquina  de  Bttnrbon  470 
«     dOhveira  (D.)           .  370 
Casiuíir  Pcrier           .         .  42 
C>atliar  na  Flora                   .  291 
«     Luiza  de  Brmii  293 
«     de  Mello  ([).)  .         .  422 


AhCHlVO  DOS  AÇORES 


577 


Callinrina  Thomazia,  escrava 
(Charles  Williaiii  Dabiiey    . 
(-Iirislianu  José  Garção  de 
Carvalho 

«     de  Medeiros  Frazão 

«     Gomes     . 
Clii'istovão   de  Lemos   de 
Mendonça  (capitão) 

«     A.  Rodrigues  . 

«     Mendes  de  Carvalho 

«     Hodrignes 

«     Soares    . 

«       «     d'Albergaria 
Clara  Dabney  (D.)     .        67 

«     Thomazia  d 'Amaran- 
te (D.)  . 
Clemência  de  Mendonça  (D.) 
Clemente  Joaquim  da  Costa 
Conde  de  Linhares        CO, 

4i2  e 

«     de  Miranda 

«     de  Penela 

«     d^  Praia  da  Victoria 

«        «      «         (í      «  (2.*') 
1.  530  e 

«     de  Saldanha     . 

«     de  Santa  Cruz 

«     da  Silva        195,  257  e 

«     de  Sieuve  de  Menezes 

«     de  Vargas 

«     da  Vidigueira  . 

«     de  Villa  Franca 

«     de  Villa  Flor      7,  20  e 
Constantino   Cândido    Leal 

Soares  . 
(>orte  Real 
Custodio  dWbren 
Cypriano  Joaquim  da  Silveira 


294 
35 

470 
259 
433 

465 
500 
146 
412 
435 
151 
e  81 

293 
434 
257 

435 
175 
416 
526 

531 
16 
184 
263 
532 
49 
169 
170 
488 

542 
215 
147 

66 


Damazo  Pereira  da  Silva  .      291 
Damião  dAguiar  (Dr.)  162  e  166 
«     Dias        .         .         .400 
Daniel  Conegna   Cordeiro       281 
David  Xavier  Cohen  (capi- 
tão)   197,  258,  266  e  207 
N.^  48— Vol.  VIII— 1887. 


Delfina,  escrava 
Diniz  Alvares   . 

«     Gregório    de    Mello 

Castro  e  Mendonça 

Diocleciano  Leão  Cabreira 

Diogo  Alvares  Pereira  Sar 

mento  Forjaz  de  La 

cerda     . 

«     de  Barcellos 

«     Borges    . 

«     Cão 

«     Celema    . 

«     Dias 

«     Fernandes 

a     Ferreira 

«     Flamengo 

«     Gil 

«     Gonçalves         .     390 

«     Leitão 

«     Lopes  106,  111,  120 

«       c(        (Dr.) 

«     Martins  . 

«     Nunes     .        .     415  e 

«     Orelha     . 

«     Pinheiro 

«     Pires       .        .     113  e 

«     Palrone  Jr.  (J.  P.)    . 

«     da  Ponte 

«     Preto 

«     de  Proença 

«     da  Silveira 

«     Soares  .     116  e  177 

«     Taveira  (Dr.) 

«     Vaz  Rodovalho 
Domingos  Affonso  397,  400  e 

«     Carvalho 

«     do  Couto 

«     Fernandes 

«     Gonçalves 

«     Machado  Soares 

«     Mendes  de  Faria    81, 
535,  536,  537 

«     de  Paiva  .     383 

«  Pereira  Cardozo 

«  de  Ramos 


295 

98 

310 
19 


470 
470 
122 
215 
104 
406 
146 
504 
394 
406 
392 
414 
391 
411 
104 
416 
414 
394 
412 
220 
394 
395 
122 
404 
177 
410 
148 
401 
191 
113 
113 
98 
5H 


e  540 

e  414 

319 

346 

14 


S78 


ARCHIVO  DOS  ACOhES 


Domingos  Kibeiro  de  Car- 
valho     .  90  e 

«     de  Sousa  e  Silva  3i8  e 

«     Vieira  Pacheco  (cap.) 
Drumiiumd  (F.  F.)    . 
Duarte  d  Abreu         .     143  e 

«     Borges    da    Gamara 
Medeiros 

«     de  Caslello  Branco  , 

«     Dias        .     lOG,  m  e 
Duque  d^Albuqnerijue 

«     dAveiro 

«     dAvila  e  Bolama  24, 

79  e 

«     de  la  Torre 


Eça  Leal  . 
Edmond  Abuut 
Eduardo,  escravo 
«     Augusto  Kopke 
«     Ivens 
Egas  Moniz  (Padre)  . 
Elias  José  de  Moraes     488  e 
Emerenciana  Dorolhea  Brum 

da  Silveira     . 
Emigdio  Ignacio  de  Souza 
Emilia   Carlota  da  Camará 

Madureira  (D.) 
Emilio  Castellar  (D.) 
«     Jardim  Galvão 
Engracia  Barbara 
Ernesto  d'Amaral 

«  do  Canto  195,  198, 
206,219,220.227, 
263,  264,  265,  266, 

267  e 
«     Rebello  6,  281,495, 
499,  528,  529,  534, 

535  e 
Erminio  Maria  . 
Estacio  Machado  Dutra  Tel- 
les        .         .       28  e 
f     da  Veiga 


Eitevão  Alvares,  almoxarife 

143 

294 

0     Alves 

102 

329 

«     Borges  do  Canto 

529 

465 

u     do  Couto 

406 

157 

«     de   Jesus   Maria  (D. 

147 

Fr.)  Bispo  d'Angra 

367 

e  532 

29 

Eugenia  Rosa   . 

291 

434 

Eugénio  do  Canto  (Dr.) 

258 

113 

«     José  de  Moraes 

351 

403 

»     Rapozo  Quintanilha  . 

515 

184 

349 

Felicidade,  escrava    , 

293 

73 

Felisberto   Augusto  Vieira 

de  Bem  (Padre) 

90 

Felisarda  Joaquina  dos  San- 

tos (D.) 

291 

537 

Félix  de  Brito  Capello 

223 

71 

«     José  da  Costa       70, 

292 

495 

e  527 

259 

«     Sottomaior 

531 

221 

«     de  Valois  e  Silva 

437 

514 

Fernando  Cortes  (Marquez) 

402 

523 

«     de  Noronha 

435 

«     Rocha  (Dr.)     . 

527 

334 

Fernão  d' Alcáçova     . 

399 

293 

«     Alvi.ns  d'Oliveira  118 

e  151 

«     de  Annes 

113 

482 

«     Barboza        119,  122 

e  125 

277 

«     Carvalho           .     103 

e  104 

503 

«     dFvora   . 

396 

292 

«     Faleiro,  Provedor     . 

159 

537 

«     Gomes     . 

106 

«     Gonçalves  da  Rocha 

406 

«     Lourenço 

106 

«     de  Magalhães  . 

215 

268 

«     Martins  de  Sousa  190 

e  191 

«     da  Rocha 

424 

«     Rodrigues        .     395 

e  396 

537 

«     Vaz         .         .     106 

e  412 

527 

Ferreira  Cordeiro  (M.) 

202 

.     Rocha  (A.  J.)  . 

293 

340 

Filippa  Coutinho  (D.) 

377 

495 

Filippe  dAiKlrade  Albuquerque  258 

ARCHIVO  DOS   AÇORES 


579 


Filippe  Orveií-a 

135 

Fra 

« 

Fialho  Rorges  . 

104 

« 

« 

(Jo  OuenUil 

514 

Filomeno  Bicudo  197,  249, 

« 

251,  261,  205  e 

267 

Florêncio  José  Terra    534, 

« 

535,  537  e 

538 

« 

Franciscn    Cordelia    Telles 

« 

(D.)       .         .     292  e 

340 

(( 

« 

Emerenciana    . 

289 

« 

« 

Guerra  (D.)      . 

81 

« 

« 

Liiiza       .         .     291  e 

293 

« 

« 

Margarida 

291 

« 

« 

Pania  da  Terra  Brum 

« 

(D.)        .         25,  31  e 

331 

« 

« 

Yicloria  Corte  Real  (D.) 

334 

« 

Francisco,  escravo     . 

294 

« 

escravo  (outro) 

294 

« 

AíTonso,  tabellião 

145 

« 

c 

«      de   Chaves   e 

« 

Mello     . 

350 

« 

<í 

AíTunsoda  Costa  Cha- 

« 

ves  e  Mello.        503  e 

510 

« 

a 

Agostinho     '  . 

445 

« 

« 

d"  Almeida 

150 

« 

« 

«     Pacheco    . 

513 

« 

« 

dWlvarenga     . 

141 

« 

Alvares  400,  401  412  e 

433 

« 

« 

d' Andrade  Albuquer- 

que Bettencourt     . 

261 

« 

« 

António  da  Silva 

445 

« 

«           «      «     alferes 

260 

(( 

(' 

«     Tavares    . 

446 

li 

dArruda  Furtado    . 

51 

« 

« 

Augusto  Pamplona  Ser- 

pa        ..         . 

202 

« 

Barbosa  Furtado     77  e 

202 

« 

« 

«     Furtado  Jr. 

259 

« 

« 

Beleago  . 

412 

« 

« 

Bento  Franco  . 

259 

« 

« 

de  Bettencourt 

260 

« 

Borges  Bicudo 

260 

(( 

« 

Botelho   . 

161 

« 

rf 

do  Canto 

101 

« 

« 

de  Caravide,  corregedor  169 

238 
412,  413 
.)  . 

102,  130 
123 
(Dr.) 


Francisco  Cardoso,  capitão 

Carvalho  de    Medei- 
ros       .         .     287 

Christiauo  da  Silvei- 
ra Baptista,  escrivão 

Coelho    . 

Cordeiro 

da  (]osla 

Coutinho  (D. 

Dias 
«     dAmaral 

Félix  Machado 

Fernandes 
«     recebedor 
«     Moreno     . 

Fernando  d'Orleans 
(príncipe  de  Joinvil- 
le)        .         .        42  e  47 

Ferreira  .        .     161  e  165 
«     Goulart  (Dr.  P.") 

Gomes  dWmorim 

Gonçalves 

Horta  (Padre)  . 

Ignacio    . 

«     Rebello  .     499  ( 
«     da  Terra  Brum 
da  Silveira     . 

Jacome  Corrêa  501, 

502,  508  e  515 

Jerónimo    Coelho    e 
Souza  (Dr.)    . 

Joaquim  Moniz  de  Bet- 
tencourt        .     527  e  528 

Joaquim   Pereira   de 
Macedo    494,    497, 
507  ( 

José  da  Costa  Rebello 

Leite  Botelho  de  Teive 

de  Lemos  Alvares  491  e  528 

de  Lima  Nunes  (Dr.) 

499  e  509 

Luclo  Duarte  Rego  491  e  528 

Luiz  .         .291 

Machado   Pamplona 
Corte  Real     .        .      MO 


465 

293 

288 
185 
515 
414 
419 
291 
128 
513 
113 
409 
142 


336 
318 
113 

258 
360 
512 

25 


258 


509 
293 
470 


580 


ARCniVO  DOS  AÇORES 


Francisco  Maria  Supico  195, 
224,  226,  230,231, 
240,  260.  263,  266, 
267,  280,  495,  499. 
501,  502,505,507, 
508,  512,  514,  528  e 

«     Manoel  Cuellio  Hurges 

«       «     Guttierres 

«       «     Rapozo    Bicudo 
Corrêa  (Dr.)     501, 
503,  507,  512  e 

'<     de  Medeiros     . 

«     de  Mello . 

«     Mendes  Pereira     430  e 

«     da  Motla  Ozurio 

«     Moniz    de    Medeiros 
Pontes        504,  508  e 

«     Nunes      .         .     400  e 

«     Pacheco  de  Mello  de 
Mariz  Sarmento 

«     de  Paula 

«  «     de  Souza  Vil- 

la  Lobos 

8     Pedro,  alcaide       135  e 

«     Peixoto    da    Silveira 
197,202,261,265, 

267  e 

*     P.  de  Lacerda 

«     Pereira  Lopes  de  Bet- 
tencourt Athaide  (Dr.) 
195,   196,  197,  257, 
266  e 

«     Pereira  de  Mello  365, 
368,  376,  534,  535. 
536.  537,  538  e 

«     Pereira  Ribeiro    287  e 

«       «      da  Silva       508  e 

«     Peres 

«     Pires 

«     Rebello  de  Chaves 

«     Ribeiro    . 

«     Rodrigues,  juiz 

«       «     escrivão   . 

«     de  Sá  Noronha 

«    de  Salles  Rezendes 


531 
470 

288 


517 
410 
422 
431 
191 

512 

402 

65 
291 

366 
137 


506 
537 


267 


540 
294 
516 

99 
113 
260 
392 
139 
411 

81 
259 


Francisco  Salles  de  Sousa  (P, 

0  88 

d 

Serpa  (Francisco  Au- 

gusto Pampluna  Serpa) 

202 

« 

S.  Garcia  Júnior 

539 

(( 

da  Silva  . 

313 

« 

«       «     Cabral  (Dr.) 

258 

« 

da  Silveira  Lacerda  . 

289 

« 

«     xMachado    . 

525 

« 

Simões  da  Cunha  157  € 

.  158 

« 

Tavares,  almoxarife 

287 

« 

Vieira  de  Faria 

352 

0 

Xavier  Corrêa 

494 

« 

«     Pinto 

258 

« 

«     da  Silva     495, 

499,  510.  527  e 

528 

(( 

«     da    Silva    (P.'') 

24,   28  e 

287 

Frederico  Alberto  da  Silva 

261 

« 

Leão  Cabreira 

514 

Froes  (C.  M.)   . 

495 

Gabriel  d'Almeida     . 

498 

« 

Mendes   . 

128 

« 

de  Moura 

422 

« 

Pereira  de  Castro    . 

173 

Galas  Lopes     .              120  e 

132 

Gallo 

(Padre)   . 

324 

Gaspar  Aftonso 

392 

« 

Alvares    , 

150 

« 

Corrêa     . 

423 

« 

Fernandes 

392 

« 

de    Figueiredo    146, 

423  e 

424 

(( 

de  Freitas        .     382  e 

409 

« 

Homem   . 

109 

« 

Jorge 

135 

« 

Luiz 

412 

(( 

de  Magalhães  . 

420 

(1 

Maldonado    149,  152  e 

162 

« 

de  Medeiros,  capitão 

178 

(( 

Pereira  de  Lacerda  . 

65 

« 

do  Rego  Baldaia 

432 

« 

Rodrigues 

433 

« 

de  Seixas         .     424  e 

425 

ARCHIVO  DOS  AÇORES 


581 


Gil  Eannes  da  Cusla(D.)  139e 
a       «     da  Silveira 
«  Gago  da  Camará 
«  Jacome 
«  Miranda 
General  Prim    . 

«     Serrano  . 
George  Sand  (M."'") 

«     Williani  Hayes 
Germano  V'eliio  Quintanilha 
Gomes  d  Amorim 

«     da  Cruz  (José  António) 

«     Freire  d"Andrade 

«     de  Sequeira 
Gonçalo  Annes       109,  113  e 

«     Arraes  de  Mendonça 

135  e 

«     Dias 

«     Fernandes 

«     Gomes     . 

«     de  Labalh  Marrama- 
qne  de  Lacerda 

«     Lopes      .        .      97  e 

«     Magro 

«     xMourato 

a     Nunes  d'Ares  . 

«     Pinheiro,  Bispo     108  e 

«     Pires       .        .     113  e 

«     Ribeiro    .         .     422  e 

«     Vaz         .        .     103  e 

«     Velho  Cabral  . 

«     Vieira 
Gourlay  (DrO    .         .     439  e 
Gracia  Gonçalves 
Gregório  Nunes 
Gualberto  Soares  Vargas   . 
Gualdino  Alfredo   Lobo   de 

Gouvea  Valladares(Dr.) 
Guerra  Junqueiro 
Guilherme   Augusto    Bote 

lho         .         .     500  e 

«     de  Brito  Capello 

«     Frazão    . 

«     Gonrlay  (Dr.)        439  e 

c     Ivens 


409 
152 
259 
113 
261 
73 
73 
72 
258 
495 
323 
213 
489 
215 
413 

137 

99 

106 

413 

370 
400 
394 
406 
417 
110 
408 
429 
104 
215 
126 
446 
98 
126 
505 

260 
537 

504 
225 
260 
446 
221 


Guilherme  Machado  de  Fa 

ria  e  Maia  (Dr.)      .  257 

«     Pereira  dOliveira     .  81 

«        «     Rangel      .          .  506 

«     Poças  Falcão  (Dr.)    .  260 
«     Read    Cabral      495, 

502,  514  e  525 

«     Street  d'Arriaíí;i       .  369 


Helena  Machado  de  Faria  e 

Maia  (D.)        .         .351 
Henrique  dAndrade  Albu- 
querque        .         .       514 
«     Ben  Saúde       .         .       258 
«     de  Bettencourt  .       404 

«  da  Camará  Frazão  258  e  266 
«  Esteves  da  Veiga  .  147 
«  Ferreira  de  Paula  Me- 
deiros (Dr.)  .  221  e  258 
«  da  Fonseca  .  .  287 
«  «  «  de  Sousa  Prego  43 
«  Herz  (Dr.)  .  .  81 
«     José  de  Medeiros  Co- 

lumbreiro  de  Góes        510 
«     José  das  Neves    195, 
197,  263,  266,  267, 

330,  503,  506  e  537 
"     Longfellow       .         .       374 
«     Nunes  de  Leão         .       403 
«     da  Pureza  Greaves  .       349 
«     Walker,  cônsul         .       288 
Herbert  Dabney        .         .        95 
Hermano  de  Medeiros,  alferes  259 
Hermenegildo  de  Brito  Ca- 
pello 193,  220  e  225 
Hermenegilda  de   Lacerda 

(D.)       ...         81 


Ignacia  Margarida     .         .      291 

Ignacio  Furtado         .         .       289 

«        «    da  Cruz  (V.')J  .       3()2 

«     Ribeiro  Alves  .         .       213 

«     da  Silveira  Bettencourt  332 


582 


ARCHiVO  DOS  AÇORES 


Iiifaute  D.  Hcnriíjiie  . 

«  D.  Luiz  . 
Izabel,  escrava 

«     do  Espirilo  Saiilo  (D.) 

«     Francisca 

«     Hicklitig  (D.)   . 

«     Joaquina 

a     Lopes      .         .     39o  e 

«     Maria  (D.) 

«  Marianua 
Ivo  da  Cruz  (Fr.)  319  e 


215 

58 
292 
428 
291 
221 
291 
396 
319 
291 
321 

495 

337 

259 
542 


J.  Ramos  Coelho 
Jacinta  Uusa  (D.) 
Jacinto  d'Andrade  Albuquer- 
que 
«     Augusto   de   Betten- 
court 535,  540 
a     Augusto  de  Freitas 

Oliveira  .         .         II 

«     Augusto  de  Sant'An- 

na  e  Vasconcellos  .       367 
«     Cabral     .         .         .497 
«     Carlos  Mourão  Pinheiro    470 
«     Ignacio  de  Brito  Re- 
bpllo  130,  148.150, 
157.  158,  160,170, 
171,  172,  173,  175, 
181,  183.  185.382, 
386,  387,38S,  391, 
396.  403,  416,425, 

431,  432  e  436 
«     Ignacio  Rodrigues  da 

Silveira  .         .         29 

«     Leite  de  Bettencourt      260 

«     Victnrino  Moniz        .       257 

«     Monteiro  de  Bettencourt  5 18 

«     Pacíieco  d'Alnieiila    .       260 

«     da  INjiite  (Padi-e)      .       259 

«     Soares  d'Albergaria        260 

Jacome  (Carvalho       .         .       126 

r>«     Pires       .         .  410 

Jane  Griffin      ...         79 

Januaiio  Filomeno  Vellosa  (P.')  499 

«     Furtado  da  Cruz       ,      362 


Jerónimo  Corrêa  da  Silva 
«     Emiliano  dWndrade 

(Padre)       492,  520  e 
«     Gomes  d'Oliveira 
«     Luiz  (Licenciado) 
«     P;iclieco  .       98.  103  e 
«     Pereira   de  Sá  (^Dr.) 

154,   156  e 
Jesuina  de  la  Cerda  (D.)   . 
Joanna,  escrava 

"      (outra) 
de  Gusmão  (D.)    430  e 
de  Mendonça   (D.) 

379,  383,  429  e 
Joanne  Annes  de  Gò*'s 
João  AÍTonso,  escudeiro     . 
«     dAguiar  Valladão  (P.®) 
«     Albino  Peixoto      505  e 
«     Alvares       129,  131, 

405,  431,  434  e 
«        «      o  Mngro  . 
«     António  . 
«       «     dAvellar . 
«       «     Botelho  (Padre) 
<í       «     Corrêa   de   Se- 
queira Pinto  . 
«     António  Júdice 
«     d'Arruda  da  Costa   . 
«     de  Bairros 
«     Banha 

«     de  Barros     120,  123  e 
«     de  Bellas 
«     Bento  Botelho  de  Gus- 
mão 
«     Bernardes  d"Abreu  e 

Lima 
«     Bernardino  de  Sena 

195,  259.  263  e 
«     Bernardo  de  Mello   . 
«       «     Rodrigues       77  e 
8     de  Bettencourt 
«      «         «     Badf^lla     . 
«      «         a     Vasconcel- 
los Corrêa  e  Avilla 

66  e 


260 

526 
368 
415 
104 

160 
336 
293 
294 
431 

434 
108 
393 
88 
514 

435 
406 
511 

488 
258 

367 
438 
432 
100 
394 
142 
99 

260 

259 

266 
510 
506 
534 
376 


349 


ARCHIVO  DOS  AÇORES 


583 


Joãu  Borges  do   Canto   e 

Silveira  .         .       470 

«  de  Brito  Capello  .  223 
«     C.ibral  497,  311  e  512 

«  Cândido  de  Moraes  .  495 
«     Carlos  Rodrigues  da 

Co.sta    78,  520,  528  e  537 
«     de  Castilho  127  e  140 

«     de  Castro  (D.)  .       466 

«  Carrasco,  bacharel  .  390 
«  Cayado  .  .  .138 
«  Chamorro  .  406  e  412 
«     (^iliniaco  dos  Reis  503, 

506  e  517 
€         «         «     «  Jr.  517  e  518 
«     Corrêa  de  Mello       .       257 
«     da  Costa     103,  106, 
112,  113,  117,  119, 
120,  121,  125,126, 
129,  131,  132,  133, 
142,  143,  146,  148, 
160,  422,  423,  424  e 
«     Daniel     . 
«     Dias 

«       «    dAlmada  . 
«       «    da  Bica,  juiz 
«       «    de  Carvalho 
«     Eduardo  dAbreu  Ta- 
vares       488,  492, 

523  e  528 
«  de  Espínola  (cap.)  .  465 
«  V.  H.  Parkin  Scholtz  514 
«  Félix  d'Oliveira  Pi- 
nho (Padre)  .  .  258 
«  Ferreira  Benevides  Rego  512 
«  Francisco  .  .  289 
«       «    d'Escobar    535, 

538,  540,  541  e  5i2 
«       «     Luiz  .         ,       287 

«  «  Pereira  .  .  351 
de  Freitas  .  .  294 
Galego  .  .  .  410 
Galvão  .  .  .140 
Gonçilves   101,  102, 

114  e  414 


425 
178 
406 
164 
164 
100 


João 

Gonçalves,  bacharel  . 

382 

« 

«     Zarco  . 

215 

« 

da  Grani 

382 

« 

Guterres 

141 

« 

Ilermelo  Coelho  dA- 

maranle      493,  499  e 

537 

« 

Hewson  . 

470 

( 

Igiiacio  Ferreira    497  e 

309 

« 

«     Pacheco  Leal  . 

239 

« 

«     Peixoto   . 

511 

« 

«     de  Sousa 

349 

« 

Jacinlho  Botelho  498, 
505,  508,  513,514, 

516  e 

344 

« 

Joaquim  da  Costa 

259 

« 

José  d  Amaral  (P.'')  499  e  514 

« 

José  dWndrade  348, 

499  e 

510 

(( 

«     da  Cunha  Ferraz 

19 

« 

«     Furtado    . 

3iO 

« 

«     da  Graça  Júnior 
372,  376,  495,  524. 
525,  526,  533,  534, 
535,  536,  537,  538, 

539  e 

540 

« 

José  Paim  Brurn  da 
Terra  Silveira  Leite 

25,  61  e 

331 

« 

José    dos    Ramos    e 

Cunha  498,  499,  510  e 

518 

« 

José  da  Silva  Lourei- 

ro (Dr.) 

301 

« 

José  de  Sousa 

260 

« 

«            «  (P.^)  329  e 

3i0 

« 

Laureano  da  Rocha  (P.") 

88 

« 

Leite  Pacheco  de  Bet- 

tencourt 

258 

j     Luiz  de  Moraes  Pereira  238 


« 

Machado  Alvares 

6 

« 

f    de  Benevides     . 

498 

« 

«    de  Faria  e  Maia 

501 

« 

Manoel    . 

288 

« 

«    de  Sousa  de  Me- 

deiros   . 

289 

« 

Maria  Mesquita 

523 

584 


ARCHIVO  DOS  AÇORES 


Coellio  Borges 


João  Maria  Pereira  d'Ama- 
ral  e  Pimentel  (D.) 
«     Maria  Raposo  o  Silva 
«       «de  Sousa      493. 
401),  oOo,  o08  510 
«     Martins,  tabellião 
«     de  Medeiros  Júnior  . 
«     de  Mello  Abreu 
«     Miyue 
«     Moniz  Machado 
«       «      Peren^a  da  Ga- 
mara 
«     Monteiro 
«     de  Nóbrega  Soares 
«     Paes  (Dr.)  407,  408, 

412,  413  e 
«     Pedro  Coelho 
«       «    Ribeiro 
«       «    Soares  Luna 
«     Peieira  de  Bettencourt 
«       «    de  Escobar  53o, 

538  e 
«       «    Forjaz  409  e 

«       «    de  ia  Cerda  30, 

33  i  e 
«       «     a    «    «    capitão 
«       «    Sarmento . 
«       «         «     bVjrjaz  de 

Lacerda  470  e 

«  Pimenta  dAbreu  (D.) 
«  Quaresma 
«  Quintana  (Licenciado) 
«  Rodrigues  167,  408  e 
'.<  «  Falleiro,  capitão 
.'  «  de  SiMjueira 
«  de  Santarém  (Fiei^  . 
«  dos  Santos 
«  Serrão  . 
«  da  Silva  do  Canto  135e421 
;<  Silvestre  Serrã(j  (Padre;  526 
«  Siuve  de  Seguier  .  259 
«     de  Sousa  Pereira  490, 

i91  e  520 
«      «     «    Ribeiro    489, 

490,  521  e  52  i 


86 
497 

516 
101 

504 
258 
471 
500 

500 
100 
503 

414 

470 
172 
3i9 

288 

540 
539 

348 
288 
536 

471 
169 
337 
406 
415 
178 

99 
39i 

99 
123 


João  Tavares       397,  399, 

400,  401,  415  e 

«     Teixeira  Soares  (Dr.) 

527  e 
«     Usademar  (Licenciado) 
«     de  Valladares  . 
«     Vasc(»  Ferreira  Leão 
«     Vieira 
«     \Yhitlon,  tenente 

Joaquim  António 

«     Barbosa  77,  258  e 

«         «     Furtado  . 

«     Cândido  Abranches 

496,  503  e 

«     Chrispiniano  da  Costa 

«     Dias 

«     Diogo  de  Mello 

«     Firmino  Borges  Bicu- 
do (Tenente  Coronel) 

«     José  Barbosa    . 

«       «     Pert ira  da  Silveira 
«     Soares  488,  489, 
490,  492,  520,  525. 

528  e 
«  Lopes  Carreira  de  Mello 
«     Machado  da  Rocha   . 

«     Maria  de  Miranda  e 
Oliveira 

«     Maria  da  Ponte     502  e 

«     de   Mello  Maroel   da 
Camará  (D.)  . 

«     Pereira  de  Lacerda  288  e 

«  «     Soares  . 

«     Zeferino  de  Scíjueira 
Moraes  (alferes) 
Joaquina,  escrava 

fl  «      (outra) 

«     Clara  de  Noronha  ^b.) 
Jobs  Vau  lluerler 
John  Franklin  . 
Jurge  Aílonso  .         .      99  e 

.<     de  Cabedo 

«     do  Canto 

«     (](»rréa  Fafez,  ouvidor 

«     da  Costa  116,  42i,  'i25e 


416 

533 
145 
137 

60 
288 
288 
289 
506 
202 

516 
498 
537 
257 

250 
512 
366 


530 

46 

525 

59 

010 

260 
334 

288 

511 
293 
294 

25 
340 

79 
432 
1 49 
288 
113 
429 


AKCHIVO  DOS  AÇORES 


o85 


Jorge  Dias  .        .399 

«  Ferral)  .  .  .  Ii3 
a  (la  Konseita  .  .  411 
«  <í.ií;|)ar  .  .  .  1 18 
«     <le  Mello  .  390 

«     Severino  da  Silva     .       331 
José  AfTonso  Hotellio  (TAii- 
(Ira(le(l)r.)207,"2i7. 

37i,  505  e  536 
«  (I  Almei.la  e  Silva  24  e  60 
«  António  (Camões  (Padre)  342 
«  «  Guerreiro  .  489 
«  «  da  Silva  Torres  20 
«     d  Airnda  Leite  .       258 

«     d"Ave  Maria  da  Costa 

e  Silva  (D.  Fr.)  .  189 
«     Angiisto    (>abral    de 

Mello  474,  514,  525  e  532 
«     Augusto  da  Costa  Re- 
zendes     495,    500, 

511,  516  e  545 
«     Augusto  Nogueira  Sam- 
paio (Ur.)       .         .       530 
«     Augusto  de  Sampaio 

Júnior  .  .  530  e  531 
«  Ben  Saúde  .  260  e  514 
«  Bernardes  de  Madureira  482 
«  Bernardo  Mendes  (P.")  502 
«  de  Bettencourt  Atliaide  259 
«  «       Vascon- 

Cellos  Corrêa  e  Ávila  470 
«     Borges  de  VascHicel- 

los  .  .  .  258 
«(  Botelho  Âmbar  261  e  2()6 
«  «  de  Mello  .  503 
«  (bandido  de  Betten- 
court Furtado  .  340 
«  (>aiidido  de  Sena  .  503 
«  do  Caulo  .  .  263 
•c  Coelho  .  .  .  289 
«  da  (Conceição  (Fr.)  .  284 
«  Ciirry  da  Cauiara  (Ca- 
bral .  .  24  e  370 
«     IJaniel  da  Silveira,  es 

cri  vão    .         .         .       288 

N.«  48— Vol.  VIII  -  1887. 


José  Daniel  da  Silveira  iP.") 
«     Dionizio  da  Serra 


62 

489 
257 


Duaite  (hl  llnrla 
Fstevão  (Coelho  de  .Ma- 
galhães 6,  370,  488  e  523 
Kzeijuiel  da  Costa  Ric- 

ce  ...       490 

Ferreira  Martins       .       504 
«     Martins  Júnior     504 
«     Bocha  (António)     65 
«     da  Silva     318  e  322 
Filippe  da  Graça      .       539 
da  Fonseca      .         .       287 
«     Abreu  Cas- 
tello  Branco         527  e  530 
Francisco  Balheila     .       289 
«     da  Camará  Ter- 
ra Berquó      .         .        65 
Francisco  de  Medei 

ros  (Dr.)  .       28  e  287 
«     da  Terra   Brum 
25,  28,  29,  31,  41. 

288  e  331 

Gonçalves  Barboza    .       489 

Henrique  de  Medeiros     514 

Horta      .         .         .258 

287 

d' Arruda  Pereira  51 1 

«     Machado      287  e  352 

«     Pimentel.         .       293 

«     Rebello  Júnior        257 

tf         «(     de  Medeiros  512 

«     de  Sousa         .       494 

Jaciutho   Pacheco  de 

Medi^iros        .         .       257 
Jacinto  Rapozo  Morei- 
ra (Padre)      .         .       498 
Jacome  Corrêa  .       261 

Joaquiu)  .  .  .       289 

«     d  AzevedoiDr.) 

66  e  537 

«     Botelho  506,  511  e5l3 

«     Lopes  de  Lima      509 

«      MjUoso     (]ao(i 

da  (]amaia      .  .       514 

15 


Ignacio 


586 


ARClllVO  DOS  AÇORES 


José  Joaquim  de  Moura  Cou 

tinho  (Dr.)  .  5tK)  e  54i 
«     Joaquim  ti  Oliveira  M;i- 

chadu  510,  512  e  51 1 
«     Joacjuim  Pinheiro  485, 

493  e  52!7 
«  '<     Hibeiro  .         .       485 

«  Júlio  Teixeira  (Dr.)  .  259 
«     Leal  Furtado  (Padre) 

87,  ;j37  e  360 
«  Lopes  d  Azevedo  202  e  266 
«     Machado  de  Faria  e 

Maia  (Dr.)      .  259 

«  Maria  .  .  .289 
«  «  Alvares  Cabral  259 
«  «  Barbosa  Coutinho  258 
«  «  Brazil  .  .  517 
«         «     de    Bettencourt 

Vasconrellos  e  Leuios  470 
«  Maria  Cabral  Ramalho  259 
«        «     da  l>an>.ira  Vas- 

concellos  .  ,  494 
«  Maria  do  Couto  Severim  514 
«         «     Pimentel  257 

«  «  d  Oliveira  Pereira  65 
«  «  da  Silva  500  e  54 V 
«        «  «     Leal    .       521 

«        «de  Sousa    496. 

502,  505,  506  e  508 
«        «     Teixeira  .  516 

«        «     de  Vasconcello.s      516 
«     de  Medeiros  Betten- 
court Hego  259 
«     de  Medeiros  C(»gMm- 

breiro    .  257 

«  Migu»  I  Borjíes  I  Padre)  221 
«  .Moniz  Barreto  (  «  i  90 
«  Moreira  Velho  de  Mel- 
lo Cabral  .  508 
«  d'Oliveira  Soares  288 
«  Pacheco  Toste  .  2I() 
«  Pamplona  Corte  Heal  70 
"         «         Moniz    Corte 

Real  .        ()5 

«     Pedro  de  Jesu.^  Cardo.^i  i    257 


24  e  292 


322 

258 


267 
177 
532 
221 
213 
46 
292 
537 
260 


José  Pegado  d" Azevedo  (D.) 

26  e 
t     Pereira  Botelho  (Dr.) 

206  e 
«  «  i<     Bilev 

(Dr.)  197,  202,257. 

265  e 
•í     Pereira  Sodré  . 
«     Raphael  da  (>osla  491  e 
«     Rebello  Cordeiro 
«         «     da  Silva 
«     da  Roza  (>nrado 
«     Sebastião  Corrêa 
a     de  Ser()a  .Miranda 
«     da  Sdva  (Cabral 
«     Tavares  Carreiro  2 18, 

257  e  260 
«     Teixeira  C(»rdeiro  505, 

507,  516  e  543 
«     Maciel       .         .       287 
'<     Theodo>io  de  Betten- 
court Vasconcellos  e 
Lemos        470,  481  e  488 
«     de  Torres .      .         .       512 
«     Irbano  dAndrade    .       533 
«     Xavier   Mousinho  da 

Silveira  23 

Jnlia,  escrava  .  .       284 

Juliana,  escrava         .         .       292 
Julião  Vieiía  .         .       113 

Jnlio,  escravo  .         .       293 

«     de  Castilho      .         .         91 
«     Cezar  Machado         .       202 
«     da  Fncarnacão  Macha- 
do     505.' 507,  511 
'<     Pereira  de  Carvalho 
e  Cosia  (\)v.)       202 
''     da  Silva  . 
Juidão  Vaz 


KarI   Ritlcr 


e  513 

e  503 
537 
106 


AhCHIVO  DOS  AÇORES 


587 


Lady  Trankliii  .         .  79 , 

Litcmla    .  .         .       -215! 

Lara  (lAndrade  d».  G.)      .       i89  I 
Laureaimo  Pereira  da  Silva 

(>(Miea    .  305  e  540 

Lazaro  Dias       .         .         .        125  ^ 
Leonardo  Nimes        .      I J8  e  125  j 
Leonor,  escrav;!         .         .       292  | 
Leopoldo  José  de  Chaves  .       510 
Liciíiio  Jidio  Botelho  Tavares    200 
Liziiarte  Piíes  d  "Andrade  .        133 
Ln[)Hs  AiMies     .         .         .       382 
«     (Ih  Mendonça    ,         .         76 
Lopo  FingallKj    .         .         .       414 
<'     Dias  Homem    .         .       424 
<(     Gil  Fagundes  (Dr.)  459 

«     de  Sousa,  capilão     .       105 
Lourenço  António  da  Silvei- 
ra MaceíJo      .         .       363 
«     de  Baldrnque   .         .       H2 
«     Marquez  .         .         .215 
Lucas  Duarte  (tenente)       .       511 
«     Giraldes  .         .         .138 
«     José  de  Chaves        .       528 
>i     de  Sequeira     .     1 43  e  390 
'<     Vieira      .         .         .166 
Luciano  Cordeiro      .  220 

Luiz  A.  P.  de  Saúde  Jr.  .  528 
:<  Alhaide  Corte  lU-al  .  260 
♦<  Ávila  .  .  .  537 
«     Augusto  Freire  The- 

mudo  .  .  503  e  51 1 
«  Augusto  Maehado  505  e  515 
»     do  C:nilo  <la  Camará 

Faleão  .  .  -  258 
«     <la  Costa  .  .       413 

.<  Ciutinho  {D.)  .  .419 
«  Felgueira  .  .  128 
"  Fernandes  .  .  399 
'c  Firii)[)e  LeitH  .  .  514 
i<  d;i  (íuarda  (Dr.)  .  114 
<(  Jacinlho  dos  Reis  .  509 
«  José  Ribeiro  .  .  257 
.(  de  la  Cueva  (D.)  .  403 
«     Maria  de  Moraes  259 


Luiz  Maria  Pires  da  Gama       258 
«     Meirelles  do  (^anlo  e 

Castro  .         .         .       470 
«     Pacheco  de   Lima   e 

Lacerda  .  .  470 
«  Pereira  .  .  .168 
'<  Poças  Falcão  (Dr.)  .  260 
"  Quintino  d'Aguiar  .  2(J0 
M  da  Rocha  Porto  (car- 
reiro, ouvidor  .  419 
«     Rodrigues  .       162 

«  da  Silva  .  .  .  168 
«  Tavares  .  .  .  257 
«     Telles   de   Barcellos 

538  e  539 
«     da  Terra  .     373  e  536 

«  «  «  Peixoto,  cap.  294 
«     Teixeira  de  Sam[)aio 

Júnior    .       57.  366  e  570 
Luiza  Amélia  dOliveira  (D.)     347 
«     Borralho  (D.)  .         .       222 
«     Joaquina  .         .       445 

«  dOruellas  [D.)  292  e  347 
«     de  Sousa  (D.)  .       340 


Mani  António,  escravo 
Marujel,  escravij 

«  d  Almeida 

"  Alvares   .         .     127  t 

«  «     boticário 

K  «     Cabral  (Di'.)  . 

«  Alves  Guerra   .        61 


292 
293 
138 
400 
125 
114 
e  68 
533 
494 


d  Andrade 

António  de  Vascoucellos 

Aprigio  de  Carvalho  Se- 

veiino  dAvellar  (Dr.j    537 
dAiriaga  .  537 

Augusto  do  Amaral  .       202 
«     Hinlze  Ribeiro        259 
«     da  Pureza        .         60 
«     Tavares  de  Re- 
zendes233,496, 499, 
500,501,  502,  503, 
511    512.  513,  515  e  517 


588 


ARCHIVO  DOS   AÇORES 


MíHK.el  'lAzevedo      ,     43i  e 

«     Hazilio  Coelho  Rocha 

88  e 

«     Bellenciuil  Neves    . 

«     de  Bruin  Ath.nde 

«  «     L.iljalh  Alhaide 

«  da  Camará  (capitão) 
M2,  114,  3"/ ;í,  383, 

426  e 

«     do  Canto  de  Ca>lro  , 

«     (^ardozi)  (Frey) 

«  «     Albergaria  e  \alle 

«     Carvalho  de  Medeiros 

«     Christiano  Carolo 

«     Cobbs 

«     Coelho     . 

«     Constantino  Theophi- 
lo  Auqnsto  Ferreira 
302,\^i05,  50G  510  e 

«  Corrêa  Botelho  496, 
497,  499,500.501, 
502,  503,  504,  506, 
508.  509,511.512. 

51-3,  516  e 

«     Corrêa  Botelho  Júnior 

«         «     e  Silva    . 

«     Corte  Real        .     402  e 
•    «     da  ílosla        116,  405  e 

«     Dias  de  Lima  . 

('     Duarte     .         .     239  e 

«  KmilioThtunazda  Sil- 
veii'a 

«     Fernandes  de  Barcellos 

«  «     (Cabral  . 

«     da  Fonseca  Lima 

«     Francisco  íioularl 

«         «       de  Medeiros  . 

M         «        »        «    (Dr.i 

«     Franco    . 

«     de  Frias  de  Castm  . 

«     Garcia     .         .     406  e 

«         '<      Monteiro   534. 

537  e 

«         «     da  Rosa  (Dr.). 

t     Gomes     . 


435 

Manoel  Gonçalves 

410 

(( 

Goulart  de  Medeiros 

376 

521 

« 

Henrique  Dias 

541 

257 

« 

Homem  da  Costa  No- 

330 

ronha     .         .     183  e 

470 

65 

tí 

Igna('iod"Athayde287  e 

292 

« 

Ignacio  da  Caniara 

2'il 

a 

«     Corrêa 

257 

430 

<( 

«     Pina 

292 

163 

« 

«  de  Sonsa  (Dr.),328t 

329 

427 

« 

«              «       Tenente 

293 

501 

(( 

«             «         Sar- 

65 

mento  (Dr.)    .     327  e 

340 

288 

« 

J.  da  Camará  . 

241 

178 

« 

Jacinto  Labalh 

347 

185 

« 

«     Lopes     . 

261 

a 

«     Pacheco  . 

258 

« 

Joaiinim  d'Andrade  . 

524 

513 

« 

«     Dias 

540 

« 

«     de  Menezes     . 

481) 

« 

José  Bruni  da  Silveira 

189 

« 

«     Dias  Júnior 

541 

« 

«     Duarte 

254 

517 

<í 

«.    Mendes  Leite     . 

17 

494 

u 

«     de  .Moraes    496, 

260 

502,  506,  508  e 

514 

403 

« 

«     das  Neves  (Padre) 

89 

413 

« 

«     de  Sequeira 

90 

541 

0 

de  Lemos 

163 

243 

« 

Lopes 

40(> 

« 

«     Guimarães  i^Dr.i 

258 

541 

« 

«     dOliveira 

412 

343 

« 

Lourenço  Tanger 

288 

116 

« 

da  Maia  . 

173 

176 

s 

Maria  tia  Camará 

496 

336 

« 

«               «         (Dr.) 

259 

3'.9 

« 

«     da  Costa  (Padre) 

89 

534 

« 

«     de  Mello      541  e 

542 

162 

« 

«     da  Terra  Brum  41 

e67 

510 

« 

.Mariz 

28Í) 

407 

« 

«     de  Sousa 

289 

« 

de  Medeiros  Co>ta  (]au- 

538 

to  Albuquerque 

29 

291 

(( 

de  Mello 

390 

414 

a 

«     Coutinho 

390 

ARCHIVO  DOS   AÇORES 


589 


M.ino 

el  ll^^  Muiua 

97 

« 

N()g-n'ira 

150 

« 

d  Oliveira  da  Silva    . 

287 

« 

Pereira  (iej.acenia  2^ 

1  e  503 

« 

Prrlo  Valdez    . 

179 

« 

Kebello  Moniz  . 

257 

« 

Hodrigiies  da  (ItK^ta 

291 

« 

da  Silva  Passos 

17 

« 

Soares  Pereira 

515 

« 

de  Sonsa  Pereiía  490 

491  e  520 

« 

«      Raivoso 

20 

« 

«     Simões 

213 

« 

Thoiiia/,  Pereiía 

541 

« 

Vaz 

141 

« 

Victor  da  Costa  Se(jiieira     65 

« 

Zerbone        534,  53 

j  e  537 

Marcello  Alves  da  Silveira 

Biilcão   . 

376 

Marcus  Uias 

108 

Marií 

1,  escrava  . 

293 

« 

«     (outra) . 

293 

« 

«     (     «    ). 

293 

« 

«     (    «    ). 

294 

« 

«     (    «     ). 

292 

« 

Anna  Kickliog  (D.)  . 

221 

« 

«     Victoria  (D.)   . 

318 

« 

Aurora  Telles  de  Ma- 

cedo (D.) 

364 

« 

Cândida  Leite  de  Bet- 

tencourt (D.)       48 

1  e  482 

« 

Carolo  (D.) 

349 

H 

Con>tança 

288 

« 

da  Crnz  . 

427 

« 

Delfina     da     Silveira 

GoHlart  {[).)  . 

363 

« 

da  Kncarnação 

289 

« 

do  Es[)irilo  Santo 

291 

■     M. 

Enlalia     .          , 

288 

« 

Francisca 

291 

« 

da    Gloria   da   Terr; 

Brum  (D.) 

40 

« 

da  Gloria  Terra  Ber- 

qiió  (D.) 

70 

« 

Guerra  (D.)      . 

69 

Maria  Ignacia  Gonlart  336 

«     de  Jesus  .         .       291 

«  José,  escrava  .  .  293 
«  JuliaT('rraCarv;Hllial(D.)  67 
«  Lííbatli  (D.)  .  .  291 
«     de  Lacei  da  LabatlKD.) 

359  e  366 
«     Leopoldina     dOrnel- 

las  (D.)  .         .       347 

«     Magdalena  da  Cama- 
rá (D.)  .         .     439  e  445 
«     Magdalena  Ursnla  (D.)    35Ô 
«     Margarida  Stocklcr  .       481 
«     Otliilia    dAzevedo   e 

Mello  (D.)       .         .       364 
a     Pereira  de  Sousa  190  e  191 
Margarida  Graham  (D.)      .       293 
Marianna,  escrava     .         .      294 
«  «     (outra)     .       293 

«  Belmira  d'Andrade  (D.)  528 
«     Victoria   de  Noi'onha 

(U.)       .         .       25  e  331 
«     Ursnla  (D.)      .         .       362 
«     Vieira  de  Faria  (U.)        312 
Marianno  Augu.>to  Machado 
de  Faria  e  Maia  (L)r.i 

259  e  501 
«     Hanserden  (D.)         .         54 
«     José  Cabral  496,  497, 
499,  501,  506.507, 

508,  512  e  5ri 
«     José  da  Silveira  504, 

513  e  515 
«     Raposo   Alvaies    (la- 
bial ^Di.)       .     260  e  265 
Marquez  de  Castello  Rodrigo    169 
"     de  Loulé  .         .        22 

«  de  Pai  me  lia  .  20  e  488 
«  de  P<»mbal  .  311  e  436 
«  de  Sá  da  Bandeira  487  e  488 
«     de  Santa  Cruz  .       493 

Marlim  AíTonso  .         .       466 

«     Freire     .         .         .128 
«     Gonçalves  da  Caujara      4r?3 
Martinho  de  Mello  e  Casln»      437 


390 


ARCHIVO  DOS  ACOHES 


Matheiís  Augusto       .     524  e  337 
«     (lo  (lor;t(jão  de  Maria 

(rr.)  .  .  313  e  3i9 
«  da  Maia  .  .  .  i'»8 
A}allii;is  (À)resnia  .  .  178 
Malliilde,  escrava  .  .  293 
Maiiricio  Sand  ...  72 
.MaxiiuiliaiK»  d'Azevèiiu  .  337 
Maximino   Rego  (Maximino 

Uias  do  Rego)  .  202 
M.^cia  Dias  .  .  .  106 
Melchior  (Vid.  Relchior) 

«     do  Am;iral        .  .       134 

Micer  de  Torres        .         .       163 
Miguel,  escravo         .         .       292 
«     d'Arriaga  Rrum        .       369 
«     de  Figueiredo  .         .       133 
«     .losé  Lui/>  (Padre)      .       292 
«     Maria  Rorges  da  (Da- 
maia (Dl.)      .     289  e  369 
«     de  Sousa  Pinheiro  (Dr.)260 
«     Streel   Arriaga  (Dr.) 
37,60,  81.  369,314, 

536  e  337 
Miuvdu  .1  k  (Principe  da  (:orea)94 
Moniz  de  Rellenconnrl       .         78 
«     da  Ponle  .         .       202 

Moraes  Pinlu     .         .         .202 
Moysés  Ren  Saúde     .         .       337 


Naicisu  António  da  Fonseca 

(Padre)        492,  324  e 

«     de  Sá  Nogueira 
Niculáo  Caetano  de  Relten- 

court  IMtla     «     491  e 

«     Card(js<j  . 

«     Tolenlino  dAhueida  . 

«  «     de  Moura 

Nuno  António  Porto  . 

«     Cijrdeiío .         .     503  e 

o     de  Mascarenhas 


Paiva  Lemos 


328 

487 

328 
169 
36 
24 
39 
307 
98 


237 


Panlaliam  Gonçalves  .       393 

Patrício  Xavier  de  Moura  (D. j  37 
Patronilha  Rosa,  escrava  .  293 
Paulino  Cabral  .  .       364 

Paulo  AíTonso  .         .     423  e  424 
«     (luedes  d;i  Silva  e  Al- 

meid.t  (Dr.)   .         .       239 
Pedro  ',D.)  4."  .  lie  19 

«  Allonso  d  Ornellas  .  191 
«  Alexandrmo  d.i  Cunha  487 
«     d'Almada  .         .       !26 

«     Alvarado  (D.)  ■  402 

«     Annes  do  Canto  101. 

h29.  40i  e  418 
«  «de  Pombal  .  406 
«     Ricudo  Coirea  .       2J6O 

-i     Camello  Pereira  40i, 

418  e  423 
«     Castanho    148,  130, 

161,  162  e  429 


« 

Carrilho  . 

133 

« 

de  Castro  (D.) 

97 

(í 

Corte  Real 

323 

« 

da  Costa               161  e 

163 

« 

«     «     de  Sousa   de 

Macedo  (D.)  . 

316 

« 

do  (]outo  da  Silva  301  e 

308 

« 

Dias 

406 

« 

Pelgueira 

410 

« 

FelÍN  .M.ichado 

329 

« 

Fernandes  103,  121, 

127,  132  e 

133 

« 

Fragoso  . 

104 

« 

(iaspar    . 

109 

« 

Cigiotle  (Fr.)  . 

293 

« 

Ilcnriíjues 

420 

« 

Homem         427,  428  e 

433 

« 

«     da    (^osla  Noi'o- 

nha                 .         20 

e  29 

« 

Jacintlio  Galvão 

323 

« 

Lobo 

'i28 

« 

Lopes 

162 

u 

.Mendes   . 

162 

K 

Nunes  tia  Costa   Dr. ) 

162  e  166 

ARCHIVO  DOS  AÇORES 


591 


Pedio  fl^Olivein  lOH,  lOS, 
IIG.  118.  láO,  12:r 

1Í6  |:íO  e  \iV.i 
«     de  Paiv.i  .         .       39i2 

«  de  Proença  .  .  .'{Oá 
«  Uibcin^  .  .  :iH±  e  ilO 
«     Saticlics  Farinha  102 

«     de  Seixas  irii,    lo.*>, 

156,   157,   158  e  164 
«     Uchallesi  .         .        161 

«Vaz  .  .  i:i3  e  401 
«  «  Freire.  f(irreged(»r  462 
«     Velho      .         .  405 

Pereira  de  Lacerda        2H  e  50:{ 

Peru.  Vid.  Pedro. 

Philippe    Vid.  Fihppe. 

Príncipe  Alfredo,  de  Inglaterra  71 
«     da  (loréa  .         .         94 

«     Henriqi.e,  da  Allema- 

nha  .  .  .  95 
«  Jerónimo  Napoleão  .  7 1 
«  de  .loinville  .  .  42 
«     de  Mónaco      .         .         95 

Prior  do  Cralo  d).  Antonioi      148 

Princesa  Clotilde       .         .         71 

Pnlqiieria,  escrava    .         .       293 


QnintiliaiKt  A.  Foítado  254 

(Juiteria  Mariainia  292 


Hanios  Coelho  (,.1.  i     .         .  495 
Raphael  Honlallí»  Pinheiro  495 
Raniino  Peicií-a  Galvão  287 
Havinnndo  António  de  Bu- 
lhão Pato        16.  76  e  495 
Ueniigio  Noiele         .         .  177 
Hibeiro  GiMiçalves  (A.)      .  495 
Hicardo  Vello^o  de  Carvalho  529 
Hichard  Seeniann               .  257 
Richarte  Hiichensoii           .  178 
Rita,  escrava    .         .         .  292 
«       «     (outra)      .    -      .  292 
«       e     (    «   j      .         .  293 


Rita,  escrava    .         .         .       á!K{ 
Roberto  Angnsto  de   M«  s- 

qnila  llenrifjiies  .  341 
«     Brekt's[»ere  Ivrns  221 

«  Ivens  193,  219,  220  e  249 
«  José  da  Silva  491  e  528 
«  Pires  Alves  de  Miranda  28 
Rodrigo  Alves  Guerra  .  367 
«  da  Camará  (l).i  .  435 
«  da  Fonsecii  Magalhães  17 
c<  Lobo  (D.)  .  .  402 
'<  Lopes  dAgniar  .  399 
«  de  Sá  Nogueira  .  58 
«     Soares   de   Medeiros 

Gamboa         .         .       268 

€     Zagaljo  Nogueira      .       532 

Roqne  Rareia  .         .         .       376 

«     Centeno  .         .       169 

«     Francisco  Fnrt  ido  de 

Mello  .  .  59  e  66 
«  Rodrigues  .  .  413 
«     Taveira  (Ui.j      310, 

348  e  353 
«     Vieira  108,  110,  113. 

118    120,   123,  128  e   130 

Rosa,  escrava  .         .         .294 

«     dAndrade       .         .       107 

«     Carolo  Goulart  .       349 

«     Jiicintlia  .         .         .294 

«       .<     (outra!      .         .       294 

«        'í     (U.)  .         .       360 

H     Joaquina,  escrava     .       294 

Rosália,  e.-ciava        .         .       292 

«     Francisca         .         .       291 

Rose  Jorge  Sartoriíis         .         32 

Rnv  Barbosa    .         .  405 

Riiy  Bòt(t  .     394,  395  e  396 

«     da  (Gamara       .     495  e  528 

«     Dias  Kvangelho    395  e  396 

«        «    de  Menezes    162  e  163 

«     Fernandes    395,  396  e  427 

«        «    dAlpoiíii  .         .       106 

«     de  Figiieiíedo  Corrêa      I  12 

«     Gomes    .         .         .       416 

u        H    d  Azevedo  397 


592 


ARCHIVO  DOS  AÇORES 


Uny  Gonç.ilves  da  ',(".am;ira       384 
«       «  «      (011  Iro) 

377,  426,  4i9  e  431 
«     V;iz  de  Medeiros      .       50 i 


S;dva 

lor  A/,nlay 

260 

Samu 

el  Uabnpy 

68 

« 

W.  Uabney      . 

94 

Sanei 

0  de  Tovar  da  Silva 

170 

Sanla 

Rila  (conselheii'o)     . 

321 

Saiilos  l'eix(jto 

78 

Sarmento  (ea|iilão)     . 

260 

Sebastião  Alvares 

410 

a 

do  Canto 

76 

« 

da  Costa    408,  409. 

414,  41o,  420  e 

422 

« 

Dias 

148 

« 

Fernandes 

104 

(( 

«     Mattoso 

98 

« 

da  Fonseca 

104 

« 

Garcia     . 

177 

« 

Gonçalves 

432 

« 

José  de  Carvalho  e  Mello 

311 

« 

Rodrigues 

400 

Seles 

trina,  escrava    . 

292 

Sérgio' Anousto  Ribeiro     . 

69 

« 

Pereira  Ribeiro  28,  39  e 

287 

Serpr 

Pinto 

215 

Silva 

Poi-to 

215 

Silvério  Dias     . 

293 

Simão  Alviires  . 

390 

« 

Borralho  113,  119,  loOe  152 

« 

(>ardoso  . 

414 

« 

Gonçalves  Preto 

122 

(( 

José  da  Luz  Soriano 
i85,  480,  487,  i88, 

489  e 

523 

« 

de  Mascarfidias 

108 

u 

de  Miranda  llenri(|ues 

121,  122  e 

128 

a 

Pinheiro  . 

151 

« 

Rodrigues 

406 

« 

Soares     . 

168 

Sim[ 

Iicio  Gago  da  Camaia 

258 

Soares  Pereira 


243 


Tavares  de  Rf^zendes  (Vid. 

Manoel  Augusto) 
Theopliilo  Rraga     509,  514  e  531 
Theolonio  Claudino  da  Sil- 
veira Moniz  (Dr.)    .       259 
«     Flávio  da  Silveira  528  e  531 
«     d'Ornellas  Bruges  d"A- 

vila  .         .      20  e  29 

«     dOrnellas  Bruges    .       491 
«     Simão  Paim  d  Ornel- 

519 
291 
351 
257 
260 


las  Bruges 


Thereza  Aurélia 

«     de  Moraes  Pereira  (D. 

Tliomaz  Augusto  de  Borba 
«  Augu>to  Serpa 
«  de  Bettencourt  (Dr.)  62  e  540 
«  Carew  Hunt  .  .  514 
«     Eduardo  Iveus  .       221 

«  Francisco  da  Rosa  .  293 
«  Hickling  .  .  .445 
«  José  de  Bettencourt  24  e  293 
«  «  Luizde  Bettencouri  289 
«    Manoel  Xavier  Palmeirim  470 

Thomé  da  Moita  .  .  98 
«  Ribeiro  .  .  79  e  495 
«  da  Silva  Ribeiro  .  78 
«  da  Soledade  (D.)  .  324 
M     Pinheiro  da  Veigi    .        170 


Urbano  de  Medeiros  .       518 

«     l*ereira.da  Silva       .       541 
«     Prudencio  da  SHva  .       376 


Vasco  da  Gama  .  215  e  227 
Venâncio  de  Sousa  Benevides  513 
Veris>imo  d  Aguiar  (Cabral 

(Dr.)     .         .     260  e  501 

«     José  Ribeiro  (Padre)       362 
Vicente  Gultierres  Bracamonte  288 

«     Luiz  de  Liuía  .  292 


AHCHIVO   DOS   ACOHKS 


593 


Vicente  Machado  de  Faria  e 

Maia  (Dl.)        10o, 

260,  263,  iOo 

«     Vaz 

«      «    Ramos 

Victor  Amadeu  de  Lemos  e 

Silveira      535,  536 

Victoriaiio  Sequeira      197, 

257,  265,  267  e 
Victorino  Ignacio  d 'Arruda 
;<     José  Ribeiro  ( Padre "i 
Violante  Alvares 

«     Quadros  da  Silveira  (D.) 

Virgílio  Soares  d'Albergaria 

Visconde  d'Almeida  Garrett 

319,  323  e 

«     de  Rruges      29,  491  e 

«     de  Castilho      ,      91  e 


e  501 
106 
167 

e  539 


288 
259 
360 
394 
327 
258 

324 
519 
316 


Visconde  das  Larangeiras 

(Manoelj        ■.         .  258 

«     da  Praia  (1.°)           .  29 

«     de  Sá  da  Bandeira  .  6 

«     de  SanfAnna           61  e  68 

«     de  Santa  Catharina  .  260 

«     de  Sienve  de  Menezes  532 
Vital  de   Bettencourt   Vas- 

concellos  e  Lemos  470 
Vitaliano  José  Brum  da  Sil- 
veira    .         .         .  330 

Walker  (Mr.)   ...  19 

William  Kenedy       .         .  64 

«     Read       .         .         .  261 


Zeferino  Brandão 


81  e  527 


.41|>lialielíco  «le  nomes  <le  togares 

Capellas  (logar  das):  construcção  da  sua  egreja 
Corvo  (ilha  do):  Representação  de  seus  habitantes  contra  a  pen- 
são que  pagavam  ao  estado 
«     (  «     «  )  Visita  do  Bispo  em  1876       .        . 


166 

184 
90 


Fajam  de  Cima— (S.  Miguel):  onde  foi  baptisado  Roberto  Ivens  221 
Fayal  (ilha  do):  imprensa  periódica 534 

«  (  u  (.  )  visita  do  Bispo  em  1874  e  1875  ...  86 
Flores  (ilha  das):  imprensa  periódica 542 

«  (  «  «  )  visita  do  Bispo  em  1876  ....  90 
Furnas  (Valle  das) — S.  Miguel:  descripç.ãodas  aguas  mineraes  437  e  4t6 


Graciosa  (ilha):  imprensa  periódica 
Grota  de  Diogo  Preto  (S,  Miguel) 


533 
395 


594 


AhCHIVO  DOS  ACOKES 


Honduras:  caria  sobre  a  sua  coniiitista  . 


Lagens  (villa  d;is) — Piío:  1/  povo.-irão  .la  ilha 


40-2 


Magdnlena  ( villa  da) — Picu:  dehastada  [i  tr  um  lufao 


«8 


Pico  (ilha  doi:  visila  do  Ris|io  em  1875 

«     ( t      «  )  imprensa  periódica 
Ponta  Delgada  (cidade  de;:  Cortejo  civico  em  1885 


86 
541 
19:3 


Santa  .Maria    ilha  de):  saqueada  por  corsários  em  101(3 

«         a      (    «     «  )  imprensa  periódica 
São  Jorge  (ilha  de;:  «  «  .         . 

'<  Matheiís  (logar  de) — Pico:  Visita  do  Bispo  em  1875 

«  Miguel  (ilha  dei:  imprensa  periódica 


107 
518 

89 
494 


Terceira  (ilha): 


519 


ERRATAS 


Pag.  Lmais  Erros  Emendas 

l'riireisí'l 
os  (iiirr.^fos 
profusão 
flfi.rfissf 
Al  nula 
dinirani 
eiiitíiniii 
jiróriili)S 
sua 
1886 

ivrritjiieifo 
disfonnea 
(hiiinUt  mór 
Coiici/iift 
4  reluiiosos 
rasteiras 

('iiraini)ih(i-iiiti-niis 
os  proiuiidrn 
pifttarsca 
(lefníitlvo 
citnilucpiites 
izfiitos 
bom  sõiii 
tinijiilu 
vinhos 
ilfscosiilo 
Sisi/jjliii 
a  iniiHír 
harta  cm  lojf 
jxiiilin  sfrrilmnilf 
atifíjaailn 
Jasi'    Ri-      Rrrfl."    Josc    Vrri<simi>     /,' 
beiro 
ilcrantai  ? 
uns  aijrestes  sifiir: 


12    - 

28 

—     Universal 

31    — 

4 

—    o.s'  aposentos 

33    — 

17 

—    profissão 

47    — 

19 

—    deixassem 

o6    — 

2o 

—  _  Movida 

m  — 

14 

—     deseanrava 

7o     — 

31 

—    entanto 

76    — 

10 

—    pávidos 

80    — 

34 

—    mo 

219    — 

4 

—     J88Õ 

286    — 

1 

—    cerriqneiro 

286    — 

33 

—    desformes 

287     — 

4 

—     Guarca  mór 

287     — 

16 

—     Conetjna 

291     — 

38 

—    4  religiosas 

29o    — 

6 

—    rasteias 

29o    — 

3o 

—    encaminliam-o-nos 

312    — 

10 

—     as  procurava 

31o     — 

28 

—    pirtoresra 

31o    — 

34 

—     deffeniliro 

317     — 

20 

—    condnsirntes 

319     — 

24 

—     izemptos 

320    — 

21 

—    bom  sem 

328     — 

13 

—     tingindo 

329     — 

13 

—     rii^ho 

332    — 

21 

—     descabido 

343     — 

lo 

—     Sy-iiplií) 

34o     — 

28 

—     a  animar 

3Í6     - 

2 

■ —     basta  em  loje 

3oO     — 

[) 

—     punha  sensivelmente 

161     — 

6 

—     ailqnado 

362     — 

12 

—     Hevd."     \'erissinHt    .i 
beiro 

372     — 

16 

—     de  cantar? 

376     — 

40 

—    em  agrestes  sitins 

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