Um'.
-o
-#4j
íllPfTlf?
A BATALHA
DO
BUSSACO
POR
AUGUSTO MENDES SIMÕES DE CASTRO
CAPITULO ESPECIAL E OUTROS IRECHOS
EXTRAHIDOS DA 4." EDIÇÃO (1908)
DO SEU
GUIA HISTÓRICO DO VIAJANTE NO BUSSACO
COM UMA ESTAMPA, COPIA DE OUTRA RARÍSSIMA,
REPRESENTANDO A BATALHA,
PERTENCENTE Á PRECIOSA COLLECÇÃO
DO SR. ANNIBAL FERNANDES THOMAZ
•COIMBRA
IMPRENSA DA UNIVERSIDADE
MDCCCCX
OCTAVIANO SA
COIMBRA
voi. n.-^zoyy
Est. n.' Y
Prat. n." ^
li
Digitized by the Internet Archive
in 2010 with funding from
University of Toronto
http://www.archive.org/details/batalhadobussacoOOcast
{ Copia de uma estampa raríssima [lei
collccçuo lio SI-. Annil>al 1'eiiiaiulcs Tlioiimz )
A BATALHA
DO
BUSSACO
POR
AUGUSTO MENDES SIMÕES DE CASTRO
CAPITULO ESl'i:CIAL E OUTROS 1RECH0S
EXTRAHIDOS DA 4.' EDIÇÃO (1908)
DO SEU
GUIA HISTÓRICO DO VIAJANTE NO BUSSACO
COM UMA ESTAMPA, COPIA DE OUTRA RARÍSSIMA,
REPRESENTANDO A BATALHA,
PERTENCENTE Á PRECIOSA COLLECÇÃO
DO SR. ANNIliAL FERNAM)i;S THOMAZ
COIMBRA
IMPRENSA DA UNIVERSIDADE
MDCCCCX
^^..^. -<
^
R. 6:395
BATALHA DO BUSSACO
Aqui a águia vencedora
Offuscar seu brillio outr'ora
Por nossas armas já viu ;
— Empolgava quasi a Europa,
Mas á forte lusa tropa
O colosso snccumbiu.
DkI.I I.M MaIUA n'r>LIVEIRA MaYA.
'%(;UNTO dos mui os do Buasaco se feriu no dia 27
j*g u de Setembro de 1810 uma famosa batalha, em
j-^j.i ^ que o exercito luso-britanico, sob o commando
"■^K^^p de lord Wellington, oífuscou pela primeira vez a
^ gloria militar do afortunado e celebre Masséna,
— o filho querido da Victoría, como lhe chamava Napo-
leão.
Havendo as tropas francezas invadido por duas vezes
o nosso paiz, sem que obtivessem vantagem decidida,
a primeira em 1807 capitaneadas por Junot, e a segunda
em 18o9 por Soult; resolveu Napoleão mandar de novo
invadir Portugal por um grande exercito sob o com-
mando do marechal Masséna, que eífectivamente trans-
poz a nossa fronteira em Agosto de 1810 depois de
tomar Astorga e Ciudad Rodrigo.
Era Masséna precedido pela grande fama de seus
esplendidos feitos militares; alcançara victorias assigna-
ladas, e ufanava-se de ter salvado a França com a ba-
talha de Zurich, que havia ganhado contra os russos,
e com a memorável defesa de Génova, com que facili-
tara a Napoleão a passagem dos Alpes. Trazia comsigo
generaes de grande perícia ; e suas tropas eram nume-
rosas, aguerridas e valentes. Os nossos soldados eram
em menor numero, grande parte recrutas, que nunca
se tinham encontrado em campo com o inimigo.
Bem desegual era pois o partido ; todavia os brios
da nação tudo suppriram, e o filho querido da Victoria,
que, segundo a linguagem soberba de Napoleão, vinha
arrojar Wellington para o Oceano, teve de se reconhe-
cer vencido e de evacuar o paiz depois de muitos e
grandes revezes.
Entradas as tropas francezas em Portugal, o seu
primeiro passo foi o cerco de Almeida. Uma terrível
explosão, succedida nos armazéns de pólvora d'esta
praça no dia 26 do mês de Agosto, obrigou a guarnição
a capitular.
Tractou ]\Iasséna immedia lamente de dispor as cousas
para realizar o seu plano de invasão, e ordenou aos di-
versos corpos do seu exercito fizessem colheitas e se
provessem de viveres para dezesete dias — tempo que
calculara o necessário para a conquista de Portugal.
No dia 20 de Setembro acamparam as tropas juncto
de Vizeu. Esta cidade fora abandonada pelos habitantes,
e Masséna, encontrando-a deserta e sem mantimentos,
ficou surprehendido e viu transtornados seus planos,
pois contava encontrar facilmente os necessários re-
cursos para o exercito proseguir sem embaraço na
sua marcha até Lisboa.
Convocou Masséna os ofíiciaes de estado maior, e
alguns portuguezes que trazia comsigo, para o instruí-
rem da estrada que mais conviria seguir em direcção
a Lisboa, e deliberou se que se marchasse pela de
Tondella e que era Santo António do Cântaro se atra-
vessasse a serra do Bussaco,
No dia 25 poz se todo o exercito era movimento, e veiu
acampar em Tondella e cercanias. Encontrou esta villa
deserta e completamente desprovida de viveres.
No dia 26 continuaram as tiopas a sua marcha. Na
ponte do Cri/, achou a vanguarda alguma resistência
por parte dos alliados, mas depois de ligeiro combate
abandonaram estes a ponte, deixando-a cortada. Repa-
raram-na logo os tVancezes e por ella pôde passar a
artilharia; a cavallaria e infantaria passaram num vau
pouco acima da ponte.
A vanguarda dos alliados continuou a afastar-se até
Santo António do Cântaro, e neste ponto oppoz forte
resistência. Viram as avançadas francezas que lhes era
impossivel vencer esta posição, e ao mesmo tempo
descobriram uma força superior sobre a montanha do
Galhano. Fizeram então reconhecimentos para todos
os lados, mas foram rechassadas successivamente.
Nestas circumstancias participaram a Masséna (que
havia ficado muito para traz) que os alliados se oppu-
nham á passagem da montanha com forças consideráveis.
Veiu Masséna reconhecer a posição, e seguidamente
perguntou ao general t^amplona se julgava que os allia-
dos oífereceriaiu batalha. Respondeu este que sem du-
vida, visto como sobre a montanha se descobriam forças
tão consideráveis. Disse então Masséna, convencidís-
simo e em tom de oráculo: — «Eu não me persuado que
lord Wellington se arrisque a perder a sua reputação;
mas se o faz,je le tiens: demain noxis finirons la conqitête
du Portugal^ et en peii dejoursje noyerai le Uopard (1)».
Mal diria Masséna que dentro de poucas horas ha-
viam as cousas de succeder tanto pelo contrario do que
esperava !
Antes de resolver atacar a posição, Masséna convo-
cou em o dia 26 o marechal Ney, o general Regnier
e o general Junot para os ouvir e conferenciar com
elles acerca do que conviria fazer. Ney opinou que se
não atacasse a posição no dia seguinte. Bem calculava
(1) Relação de alguns acontecimentos notáveis da campanha de
Masséna em Fortur/al, escripta por um official, que acompanhou o
mesmo exercito, impressa no Investigador Porlvguez em Inglaterra,
n.° XXI, de Março de 1813.
que durante a noite se reuniria todo o exercito luso-
britanico e que no dia iramediato teriam os francezes
de arear com todas as forças alHadas. Regnier e Junot
seguiram o parecer de Ney.
Disse então Masséna:
— Eh hien, que fant-il fairef
— Prendre position à Viseo, respondeu Ney, ou hien
retourner sur nos ^^as à Almeida pour contenir VEspa-
gne et écrire à Paris que nous n'avons pas assez de
forces pour faire la conquête du Portugal.
Por esta resposta, que tão pouco se harmonisava com
a intrepidez de Ney, julgou Masséna que o fira com que
se pretendia desvia-lo de combate era priva-lo da gloria
da conquistar o reino e torna-lo mal visto de Napoleão.
Esta desconíiança, que se fundava em desintelligencias
que tinha havido entre os dois marechaes depois da
tomada de Ciudad Rodrigo, fez com que Masséna não
somente deixasse seguir o parecer de Ney, em verdade
inadmissivel, mas que até desprezasse os meios de tor-
near a posiyão, o que indubitavelmente sei'ia mais acer-
tado. Ordenou então que no dia seguinte se atacasse a
serra, dizendo : Je ne crois là que 1'arriere-garde enne-
mie; si toute 1'armêe s'y irouve, tant mieux, le bonheur
de Venfant chéri de la victoire ne Vahandonnera pas ! (1).
O general Freirion e o general Eble, convencidos da
grande vantagem da posição dos alliados, também acon-
selharam a Masséna que, em vez de obrigar Wellin-
gton a abandonar-lhe a sua formidável posição por meio
de uma batalha atacando o boi pelos paus, tractasse de
tornear a montanha. Masséna, obstinado no seu propó-
sito, contentou-se com responder: Vói^ que sois do exer-
cito do Rheno, vós ou*ros que gostais de manobrar^ é a
(1) Constam estes pormenores do cnriosissimo livro intitulado
Aperçii Nouveau sur les Campaf/nes des Français tn Portiii/al, eu
1807, 180S, 1800, 1810 et 1811, obra impressa em Paria eni 1818.
Nào traz este livro o nome do seu auctor, mas consta ter sido
escripto pelo general portuguez, Manuel Ignacio Martins Pam-
plona, que acompanhou o exercito de Masséna.
primeira vez que Wellington j^arecf disposto a dar bata-
lha; quero portanto aproveitar-me da occasião
Masséna animava as suas tropas, dizendo: Meus
amigos, esta montanha é a chave de Lisboa, é 'preciso
ganha-la com aponta das bayonetas; esta victoria ainda
e descansaremos depois!
Como se illudia !
No dia 26 ticou reunido na raiz da serra do Bussaco
todo o exercito france/; e no mesmo dia também todas
as tropas alliadas se postaram na montanha.
É quasi impossivel determinar precisamente as for-
ças de um e outro exercito. Variam muito neste ponto
as asserções de vários escriptores; é, porém, certo que
os francezes eram em maior numero.
O bispo de Vizeu, D. Francisco Alexandre Lobo,
diz que nao pode ir muito longe da verdade a estima-
tiva que attribue aos francezes, depois da reunião dos
três corpos, 80 para 90:000 homens, e 50 para 6O:OP0
aos alliados(l).
Thiers avalia em 66:000 homens os três corpos de
Masséna.
A força do exercito francez é computada por Wel-
lington em 72:000 homens, computo que o sr. Simão
José da Luz Soriano julga exaggerado.
O mesmo Wellington diz que as forças que no Bus-
saco teve em campo se compunham de 49:275 homens,
sendo 24:000 inglezes e 25:275 portuguezes; mas o
sr. Simão José da Luz é de opinião de que a força
portugueza era de 29:065 homens, sendo 880 de arti-
lharia, 1:450 de cavallaria e 26:735 de infantaria (2).
Um official que acompanhou o exercito de Masséna
faz o seguinte computo das suas tropas:
uOrganisação do exercito de Masséna, e sua força
(1) Veja Sumrnario histórico da campanha de Portugal, desde
Agosto de 1810 até Abril de 1811 no tomo 1.» das Obras de
D. Francisco Alexandre Lobo.
(2) Veja Historia da guerra civil e do estabelecimento do governo
parlamentar em Portugal, por Simão José da Luz Soriano, se-
gunda epocha, guerra peninsular, tomo m, pag. 177, nota.
antes do sitio d'AImeida, no principio de Agosto de 1810,
que julgo exacta por ter visto e examinado o mappa
que era dado diariamente a Masséna em casa do general
Freirion, chefe do estado maior.
O 2 corpo — 17:000 homens, commandante Re-
gnier,
O 6 corpo — 19:000 — commandante o marechal
Ney.
O 8 corpo — 27:000 — commandante Junot.
Divisão Serras — 7:000
Divisão Bosiet — 8:000
Cavallaria — 5:600 — commandante Montbrun.
Total — 83:600.),
O mesmo official faz a seguinte narração da batalha :
«No dia 27 pelas duas horas da noite todo o exercito
se poz em movimento, e foi tomar a ordem de batalha
que se segue :
O 6 corpo formava a direita sobre a estrada que
conduz ao convento do Bussaco. O 8 corpo formava o
centro e a reserva. O 2 corpo a esquerda sobre a es-
trada de Santo António do Cântaro, e a cavallaria, que
era nulla em razão do terreno, tomou posição na reta-
guarda do centro da linha. Ao romper do dia começou
o ataque na direita pelas divisões Loison e Merme, que
foi ferido : o terreno foi disputado passo a passo por
alguns batalhões portuguezes, vestidus de pardo, e
algumas tropas inglezas : porém a força das columnas
francezas obrigou estas tropas a retirar se para o alto
da montanha, onde estava a linha de batalha dos allia-
dos. No meio d'esta montanha ha uma pequena aldêa
onde 08 dictos batalhões alliados se fortificaram e de-
fenderam heroicamente por mais de três quartos de hora
contra toda a força inimiga, que soffreu uma perda
muito considerável, até que vencidos pelo numero supe-
rior largaram esta posição e continuaram (disputando
o terreno) a retirar-se até que se reuniram á sua linha.
Esta, com um sangue frio e firmeza digna de admira-
cão, esperou o inimigo até á distancia de cincoenta pas-
sos para começar um fogo de filas tão hem sustentado,
que (junto com a metralha da sua artilharia) num mo-
mento as duas columnas francezas fora)n desordenadas,
e fostas em comjyleta derrota, e sem perder um momento
fizeram meia volta, e desceram a montanha mais depressa
do que a tinham subido, abandonando os seus feridos
entre os quaes estava o general Simon. Chegadas que
foram ao fundo da montanlia, as columnas francezas se
reunii'am, e tomaram posiyão a coberto do fogo dos
alliados (que tinham de novo mandado os atiradores em
seu seguimento), onde esperaram o resultado do ata-
que, que o 2 corpo fazia ao mesmo tempo na esquerda.
Este ataque foi mais sério, pois que o general Kegnier
carragou com todas as suas forças. A montanha neste
sitio tem um contraforte, o qual depois de uma longa
disputa foi tomado, e continuando os francezes o ataque
para vencerem de todo a posição, acharam tal resistên-
cia, que, depois de perderem o general Graindorge, e ali
somente vuiis de 1:000 soldados mortos, e 3:000 feridos,
cederam ao valor das tropas alliadas, que com uma pe-
quena 23erda inutilisuram a violência do ataque dos fran-
cezes. Vendo então Massóna que não podia realizar a
sua profecia, convocou Ney, Regnier, Junot e Freirion
para deliberarem o que se devia fazer, e foi decidido
que se torneasse a posição. Foram então chamados os
officiaes superiores portuguezes, para indicar o cami-
nho que se devia seguir ; e como dissessem que o não
sabiam, Masséna partiu com elles de uma maneira assas
forte e desagradável, e mandou chamar o general Mont-
brun para lhe ordenar que fosse com um forte destaca-
mento descobrir um caminho, e que mandasse o general
St. Croix e o general Laraote, cada um para seu lado,
encarregados da mesma commissao, e, em quanto não
tinha resposta, ordenou aos caçadores que entretives-
sem os alliados tiralhando. Passou-se o dia 27 e o dia
28 até ás três horas sem haver uma resposta da com-
missão dada aos três generaes, até que St. Croix che-
gou, tendo descoberto o caminho que vai por Boi-alvo.
10
Deram-se logo as ordens para a execução do movi-
mento, ao qual se deu principio pela uma hora da ma-
drugada do dia 29(1).»
Wellington, percebendo o movimento do exercito
francez, operou logo uma prompta retirada, para evitar
que elle lhe tomasse o passo, e foi occupar as formidá-
veis linhas d« Torres Vedras, barreira invencível deante
da qual o inimigo estacou attonito, vendo impotentes
todos os seus esforços.
Na batalha do Bussaco comportaram-se os nossos
soldados com a maior galhardia e heroísmo. Apezar de
quasi todos recrutas e imberbes, mostraram-se pos-
suídos de notável valor, firmeza e disciplina, rivalisando
com as tropas inglezas, segundo o testemunho insus-
peito do próprio Wellington e do marechal Beresford,
que em suas participações oífieiaes exaltam o seu com-
portamento e lhes tributam, subidos elogios.
Calcula-se que na batalha do Bussaco as perdas das
tropas luso britânicas foram de 1:250 homens, e que as
do inimigo se elevaram a perto de 4:500,
Os resultados porém que da batalha do Bussaco pro-
vieram ás tropas de Napoleão fizeram-se-lhes sentir,
mais que no desfalque das suas fileiras, numa perda
mais importante e irreparável : a visível e profunda
quebra da sua força moral. Desde então o astro de
gloria, que brilhara fulgurante ao moderno César,
começou a declinar até que de todo se eclipsou.
Fallando da batalha do Bussaco, diz o sr. Joaquim
da Costa Cascaes que ella fora a aurora resplendecente
. dos feitos de armas praticados pelo nosso exercito desde
1811 a 1814; e que foi ali que pela primeira vez, e
com tamanha honra, nos desforçámos do immerecido
desprezo com que os nossos alliados nos haviam tra-
ctado na celebre convenção, vulgarmente chamada de
Cintra. Aqui a desconsideração ; ali, nessa outra Cintra,
não menos decantada e pittorescn, a rehabilitação (2).
(1) Relação citada na nota da pag. 5.
(2) Vide um artigo do sr. Cascaes intitulado Monumento Na-
cional publicado no Jornal do Exercito e transcripto no Jornal
do Commercio, n.° 4177.
Noticias e reflexões
acerca da batalha do Bussaco
escriptas pela Duqueza de Abrantes
Cette position de Bussaco est formée par une rnon-
tagne fort élevée, au sommet de laquelle est situe le
couvent de Bussaco, habite par des religieux tr.appis-
tes. Cette montagne peut avoir quatre lieues de France,
environ, d'étendue, depuis les bords du Mondego
jusquà la route d^Opporto. Elle est sillonnée dans
presque toute cette éteiidue par de profonds précipices
et des détilés tellenient étroits, que les troupeaux de
chèvres n'y peuvent quelquefuis passer que sur deux
et trois dtí front, Ce fut cependant par ces déíilós que
Masséna fit passer ses soldats, au lieu de leur faire
prendre la route de Mealhada pour tourner la gaúche
de Tarmée anglaise, au risque de les faire foudroyer
par les troupes qui occupaient le haut de la montagne.
J'ai eu à cette époque en ma possession, et pendant
fort long-temps, un plan et une vue de la montagne
de Bussaco. Ce plan était fait par un Français ; mais
i'en avais un autre tout aussi curieux, car il était fait
par un Anglais. Un jour, en 1812, quelque temps avant
le départ pour la Russie, Junot me les demanda tous
trois, et il ne me les rendit pas. J'ai lieu de croire que
c'étaitpour expliquer à Tempereur Taífaire de Bussaco.
Un officier -general anglais de mérite, et dont ses
ennemis reconnaissaient eux-mêmes le talent, le marquis
12
de Londondtíi-iy, dit dans son ouvrage siir la guerre
de la Péninsule :
aQuand bien même Masséna aurait agi daprès les
«avis de Wellington, il n'aurait pu préparer sa défaite
«par un moyen plus efficace.»
Mais ce qui ne fut pas connii alors en France, parce
que le silence de la tombe environna les cadavres des
malheureuses victiraes de Bussaco, ce fut Tadmirable
intrépidité des regimens et des officiers-généraux qui
fournirent la première attaque faite le 27 à six heures
du matin. Cétaient le 32«, le 36® et le 70®, qui, seus
les ordres du general Merle, un de nos officiers-géné-
raux les plus distingues, entreprirent de forcer la po-
sition occuppée par les Anglais. Ces héros admirables,
sans faire un murmure, sans observer qu'ils marcliaient
à la mort, furent TaíFronter avec le courage qui est un
don du ciei dans des ames françaises. lis gravirent les
rochers de Bussaco sous une pluie de raitraille, une
grele de boulets qui les mettaient en morceauxl. . .
Les membres palpitans de ces infortunes tombaient sur
le crâne déjà fracasse de leurs frères d'armes qui
étaient au-dessous d'eux, et souvent des rangs entiers
roulaient ensemble dans les abimes. Cependant ils par-
vinrent au sommet du plateau, ces vaillans honimes, et
là, à peine échappés à une mort terrible, ils la retrou-
vèrent sous une forme encore plus certaine. Ils furent
reçus par des troupes anglaises et portugaises. . . Là
eut lieu un carnage aífreux ! . . . Nos soldats, chassés
par des forces supérieures, et d'ailleurs fatigues, es-
souíflés, n'en pouvant plus, furent culbutés par Ten-
nemi et roulèrent de rochers en rochers jusqu'au fond
des précipices dont les pointes aiguês portèrent dans
cette cruelle journée d'affreuses et de sanglantes dé-
pouilles, tandis que nonseulement les sabres et les
baionnettes ennemies étaient rouges du sang français,
mais les mains de soldats anglais en étaient baignées!...
Oh ! ce fut une horrible journée ! . . .
Ce furent les troupes du general Reignier qui reçu-
rent d'abord en ce lieu la couronne de martyre . . .
13
Puis ensuite deux autres divlsions de Ney, sous les or-
dres du general Loison, et Tautre du general Mermet,
se portaient vers le corps du general Crawford. Celui
de Junot ne donna pas ce jourlà
Retirada do exercito francez
depois da batalha do Bussaco
Guingret, militar francez que fazia parte do exer-
cito de Masséna, escreveu acerca da desastrada expe-
dição militar d'este marechal em o nosso paiz uma obra
ouriosissima, notável pela elegância do estylo, abun-
dância de noticias escriptas por testemunha ocular, e
pela competência e imparcialidade que revela o seu
auctor, Intitula-se Relation historique et militaire de la
campagne de Portugal sous le marechal Masshia, prince
d'.Esdin;/ . . ., ])ar M. GuhKjret, chef de hataillon, en
demi actii-ité, et officier de Vordre royal de la Légion
dlionneur, Limoges, 1817. O seguinte trecho, em que
tão eloquentemente. se descreve a retirada do exercito
francez depois da batalha do Bussaco, é copiado d'este
excellente livro :
Peudant Tliiver, j 'avais supportó des nuits bens ter-
ribles en AUemagne et dans la Pologne, mais celle ou
nous quittâmes la position de Boussaco est une des
époques de ma vie oíi je fus le plus pénibleraent affe-
cté. La marche lente et grave de notre armée, occupée
à transporter ses nombreux blessés sur des brancards,
oífrait Taspect d'une longue suite des convois fúnebres.
Le silence morne de Tobscurité était troublé par le
bruit sourd et lúgubre des roues de rartlllerie. De
malheureux soldats seíforçaient en vain de cóntenir
Texpression de leurs suífrances; les cris déchirans de
la douleur, à moitió comprimes par les efforts du cou-
14
rage, s'échappaient, par intervalles, du fond de leurs
entrailles, et faisaient tressaillir de compassion le cceur
le inoins sensible. Les cadavres de ceux dont la raort
terminait les maux au milieu de cette marche affli-
geante, déposés sur le bord des fosses, servaient à
faire reconnaítre la route, à travers Tobscurité, aux
troupes qui nous suivaient. Les cris aigus des oiseaux
de proie qui fuyaient leur refuge et abandono aient
leurs aires à mesure que nous avancions, et dont quel-
ques-uns accompagnaient audacieusement Tarmée, en
convoitant leurs proie, ajoutaient encore quelque chose
de sinistre à cette scène.
A batalha do Bussaco
avaliada pelo historiador francez
Bouchot (1)
Cependant Masséna s'avançait vers les murs de Lis-
bonne, sans rencontrer aucun enipéchement sérieux.
Les paysans s'enfuyaient de toutes paris devant lui ;
les villes ouvraient leurs portes, et il semblait que le
pays fút iuhabité, lorsqu'en approchant de Coímbre,
il se trouva devant toute Tarmée des Anglo-Portugais
(soixante-quatre niille liomraes et quatre-vingts canons),
à l'entrée des redoutables déHlés d'Alcoba. A Taspect
de cet obstacle inattendu, Ney et Junot, qui comman-
daient sous lui, n'osèrent pas assuraer la responsabilitó
de Tattaque: ils perdirent toute la journée en hésita-
tions. Masséna, qui n'arriva que le soir, entendit leur
rapport, examina les positions, el malgré les effrayan-
tes difficultés qu'elles présentaient, il commanda Tassaut
(1) Histoire du Foringal et de sescolonies, par Auguste Bou-
chot, professeur d'histoire au lycée Napoleon. Paris, 1854.
15
pour le lendemain au point du jour. Vainqueur, jus-
qu'alors, en toute occasion et en tout pays, il lui sem-
blait trop pénible de reculer cette fois. II coraptait sur
la constanee de la fortune, et, séduit par les souvenirs
de sa gloire passée, il refiisa jusqu'au bout d'écouter
les sages conseils du marquis d'Alorna, qni lui garan-
tissait le moyen de tourner Ia montagae au lieu de
Taborder de front.
Masséna expia bien cruellement cette confiance.
V/ellingtou cuuíprenait trop la valeiír des positions
qu'il occupait, pour se laisser entraíner. II se borua à
les déíendre corame une forteresse, et sa prudente té-
nacité finit par triompher de Tintrépidité des Français.
Masséna renonça entin à le forcer, et, vaincu par la
première fois, il se retira avec quatre mille morts et
blessés. De quel orgueil une telle victoire dut-elle
reuiplir le coeur des Anglais et des Portugais! Wellin-
gton devint tout d'un coup le héros de TEurope. L'on
vit en lui le seul horame capable de rivaliser avec
Napoléon (27 septembre 1810).
Avant de nous séparer de ce grand capitaine, rap--
pelons-nous ce que Napoléon a dit de lui à Sainte-
Hélène (9 dócembre 181 7j. «Si la réputation de Mas-
séna finit en Portugal, c'est à la maladie seule qu'il
faut attribuer cette subite décadence. Ne pouvant alors
ni monter à clieval, ni voir par lui-même ce qui se
passait, il n'était plus en effet lui-même. Sil eút été
encore ce qu'il était autrefois, il n'aurait ni attaqué les
lignes inexpugnables d'Aleoba (ou Bussaco), ni laissé
Wellington 3'afFermir dans celles de Torres Vedras, et
la carapagne aurait produit des résultats tout diffé-
rents.fl
GUIA HISTÓRICO DO VIAJANTE NO BUSSACO
o (líuia Histórico do Viajante no Bussaco por Augusto
Mendes Simões de Castro, bacharel formado em direito, etc.
■i.^ edição, da qual é extractado este folheto, é um vol. em 8."
de 244 pag., acompanhado de um mappa ou planta desdobrável
oude apparecem todas as ruas do Bussaco e se indicam os di-
versos edifícios, fontes e capellas que se encontram na floresta.
É acompanhado de 12 formosas estampas separadas do texto,
cujos assumptos são: Grande Hotel — Porta das Lapas — Porta
da Rainha — Portaria da Mala ou Portas de Coimbra — Ave-
nida dos Cedros — Mosteiro — Bustos de S. Pedro e de S.*" M."
Ma;idalena na ir/reja — Galeria do Grande Hotel — Capella de
Caiphás e torre próxima — Fonte Fria — Retrato de Lord
Wellington, o vencedor de Masséna na batalha do Bussaco —
Chalet de Emygdio Navarro.
No livro, entre outros assumptos, trata-se dos seguintes :
Fundação do Deserto do Bussaco — A Floresta — O Mosteiro
— Pinturas do Claustro — A Igreja — Annexos do Convento,
Monumental Hospedaria — Cascata e Valle dos Abetos — Er-
midas— Os Cedros — O Calvário — A Cruz Alta — A Gruta
do Negro; Etymologias de Bussaco — Fonte Fria — Diário dos
acontecimentos observados em Bussaco por occasião da batalha,
cscripto por fr. José de S. Silvestre, religioso do mesmo con-
vento, que foi testemunha de tudo— Ordem do dia datada do
Bussaco em 28 de setembro de 1810 relativa á batalha — Offi-
cio de Lord Wellington fazendo o relatório da batalha — Idem
de Beresford — Idem de Masséna — O Botânico Link e o Bus-
saco — Napoleão e a batalha do Bussaco — Poesias relativas ao
Bussaco por D. Amélia Janny; Cândido de Figueiredo; Borges
de Figueiredo; Bingre Duarte Ribeiro de Macedo; fr. António
das Chagas ; Luiz Carlos ; António Feliciano de Castilho ; Soa-
res de Passos ; Ayres de Sá ; João de Lemos ; Mendes Leal ;
Kobert Southey ; Ramos Coelho.
Termina o livro com um Itinerário do Bussaco, destinado aos
indivíduos que, indo ali em visita rápida, não tenham tempo
para leitura demorada e se satisfaçam com um elucidário resu-
mido, segundo o qual, auxiliados pelo mappa ou planta, poderão
ver em 3 ou 4 horns o que ali ha de notável.
m
\^
PLEASE DO NOT REMOVE
CARDS OR SLIPS FROM THIS POCKE
UNIVERSITY OF TORONTO LIBRAR