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Digitfcd
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CASTRIOTO
LUSITANO.
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PARIZ.— I1IPIIRNS4 HA VIUVA ©ONDKY-DUPR^ ,
riia SahiULouis, n' 4G, nn llarai&.
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THE NEW yOT^K
PUBLIC LIBRABV
A<*0«.
TIUD
,,.■ f^»«»*
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tot. /fe7<^ yy\ K'-U _
CASTRIOTO
LUSITANO
ou y
HISTORIA DA GIMRA ECTRE 0 BRAZIL E A HOllANDA ,
DVBANTE OS ANNOS »E 10*4 A iS64,
TEaMlNADA ^BLA 6L0A10SA RBSTAURACAO DB PEBNAMBUCO E DAS CAPITA NUS
CONFINANTBS;
Obra em que se descrerem os heroicos feitos do illustre
JOAO FERMAin^BS VIBZRA,
o rios valerosos capitaes que com elleconquistarao . a independencia nacional,
For Fb. JRAPHA£L DE JESUS. ^
]lfto!«6E BENEDICTINO. - '
KOVA EDI^aO SECniDO A DE 1679, IMPRESSA EM LI8B0A , FOR CRAE8BBECK,
DBDICADA A SUA MAGESTADE IMPERIAL
O SENHOR DOM PEDRO 11,
IMPBRADOR DO BRAZIL;
Ornada com o rcirato dc loio FemandeA TIeIra
e duas estampas historicas.
' ^ .
PARiZ,
PIIBLICADA PORJ.P. AlKLAUD,
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, PUBLIC LIBRARY
TIUOEH FOUNDATION* I
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^enm
o?)
/i&?*ioao /do ort^anh e awncdo como
o aae aJirekf^^ilou^ o uOrce^zu a^ca/iao
uc€^i4^ co/^i. od rarcod cotojd^ed cut
^6o/uifnaa /in /^^ cAocnfO;: t/e diKt
Oj auoj /e^^p G^A^f^^
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7/ior€mec /ordo cu^?tay e Ae^nenle ccm^
dua^ awrt€i, e od i^^^^ed aedceTuie9iied
aciauewed Ae^oed, ao 9/ieuwr li/u/o ae
dua novreza.
ty€ An^nei^a etucdo cio (oaM:^4rtolo
/w (lecucaaa a (of ^ec o h/e^ioT
^o/n crecm) ae ^ar^u^^, aiiand^o
cufcenae^t/e ae uo^d^ Ovwaaed^fvae
t%/^erta^;j:a re€^?Ar^^^MO T/iem^raaa
\/: ^., ^>' '/V.*
cu^nc, : '^eJ^iJ^'VA^^^^^^^^^^ d^^ COUO-'
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nom6naae/7i^ aae red/iedodo e rei^erenle
t^ l/o^co 9ym^cia6cyla€/e t'^77f/i&ncU,
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ADVERTENCIA DO EDITOR.
A edi^ao que ora damos a iuz do Gasirioto
Lusitano^ e uma copia fiet da de*1679 pelo qiie
pertence a parte historica , geographica e des-
criptiva; mas nao assim em quanto ao mais.
EscrevSra o autor na epocha da decadencia da
boa lingoagem pdrtugueza; e dominado pelo
gosto do seculo, em que vivia, espalhou com mao
larga por toda a obra os deffeitos de que sao
ootados OS seiscentistas. Digressoes diffiisas^ e
pouco pertencentes ao assumpto; reflexoes e con-
ceitos frequentes^ e algumas vezes pouco judicio-;
SOS; antitheses buscadas com excesso e sem
gosto, e em fim decidida affei^ao ao maravilhoso,
sao OS defeitos de Fr. Raphael de Jesus. Aeon-
selhados por pessoas intendidas» e ajudados de
sua coopera^ao emprehendemos expurgar este
livro de seus defeitos em quanto a forma , sem
aiterar em nada a materia ; e eis aqui como nos
houvemos. Simplificamos as digressoes a fim de
fazer melhor sobresair o assumpto principal;
supprimimos muitas reflex5es e conceitos , que
por sua frequencia mais service de'^empecer o
discurso que de illustrara'nkrracjaoTresumimos
algumas iallas e alloc^ucoes ^ qut)*6a£itor mal
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X ADVERTENCIA DO EDITOR.
exerceo sua rhetorica^ e que nao erao ponto histo-
rico, pois diz pareceyfoifamaqMommfallaraetc. ;
femes muite circumspectos em tude que diz
respeite a credulidade d'aquelles tempos ; em fim
corrigimes e estilo sempre que fei pessivel faz^l-
e sem destruir*o cunho de sea autor. Assim que,
as altera^^oes que nesta edifSo se netSe antes se
devem chamar melhoramentos que mudangas.
Fei per isso que demos as materias nova distri-
buifao» fazende .doze livros de dez que erSo , e
pende no ceme^o de cada urn d'elles urn sum-
marie com remissoes numericas de que nelle se
trata para cemmedidade de leitor. Genservames
textualmente as dedicaterias e prologe de auter
per serem impertantes para a histeria litteraria
d aquelle tempo. Esperames peis que os lei tores
relevarae tedas as imperfei(5es que nella encen-
trarem , levande-nes em centa e deseje que ti-
yemes de vulgarizar um livre que tanto henra
OS antiges Brazileires , e de centribuir per este
mode a fazer mais publica a gloria que com tao
juste titule cabe ae Imperie Brazileire peles it-
lustres feitos que nelle se centum.
0 Editor.
Pariz 28 (iV^P^'cbe 18^^.
• • • ,
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AO SERENlSSUiO
PRINCIPE DOM PEDRO,
RBGBNTE DA HONARCULV LUSITANA.
SENHOR,
Ao sol» quelhes preside, devem os astros todo
o ser de seu lusimento ; a Yossa AUeza, que nos
governa, se hao de attribuir todos os progressos
de seifs vassallos. Com esta divida offere^o a
seus reaes pes a memoria do que em seu servi^o
obrou minha possibilidade, para que se restituao
OS effeitos a quern se devem os influxos. Aquellas
aguas que os rios levao ao mar nao ^ servifo, e
restituifao. Bern sei que no tempo do Senhor
Oom JoaOy dignissimo progenitor de Yossa Real
Alteza, se intentou e se conseguio a restaura^ao
d'esta e das mais capitanias , que neste Estado
do Brazil tinha usurpado a violencia inimiga ;
mas tambem considero que os astros em que o
sol substitue sua ausencia , tomao corpo d'uma
mesma materia, euma mesma luz os informa.
Porvao do corpo do pai e o corpo do filbo pela
gera^ao , e pela educa^ao urn reflexo de seu es-
pirito : razao , que agora me representa outro
tempo, por^m nao outro Principe. Yossa Alteza
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nasceo para o ser da paz, depoisi de vinie e oito
annos gastados em viva guerra, e os successes
d ella so a Yossa Alieza se hao de dedicar. Aquel-
les materiaes, que t)avid congregou no tempo da
guerra para o tempto , nao quiz Deos que na
forma d*elle se ihe dedicassem^ senao em tempo
de seu filbo Salomao , por s6r rei pacifico. Nao
faltara acceita^ao ao ofierecimento , que este
acerto apadrinha, e que faz o desejo de um vas-
snllo, que, faito de occasioes para servir, diverte
sua magoa com as memorias do que tem servido
a Vossa Alteza, cuja vida e estado augmeate o ceo
por felizes e diiatados annos, para gloria d'esta
monarchia, e bem de seus vassailos.
Fidelissimo criado de V. A. R.
JOAO FeRNAND£S VlElttA*
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JOAO FERNANDES VIEIRA,
FIDALCO DA CASA DB SUA ALTEZA, E DO SEO C0N8BLH0 DB GUBRRA ,
ALCAIDE MOa DA VILLA DE PINHEL, COMMENDADOR DAS COMMENDAS DA
ORDRM DB CHRISTO, SAO PEDRO DE TORRADAS , B SANTA EUGBfllA DE
AULA , SCIPBRINTBNDBNTE , PBLO MBSMO SBNHOR , DAS FORTinCACOBS
DK PBRNAMBUCO, E DE TODAS AS UAIS DO ESTADO DO BRAZIL PARA O
NORTE, B PRIMBIRO ACCLAMADOR DA L1BBRDADR B RBSTllTRACAO DB
PBRNAMBUCO.
Escreveo Atheneo as proezas de Lucullo, vale-
roso e esclarecido Romano, e acabada a historia,
a remetteo ao mesmo Lucullo (ja retirado da
guerra) para que nella visse, como em um retrato
de suas obras, se a narra^ao se aiTastava em al-
guma cousa da verdade, e com a sua appro va^ao
ficasse o referido sem duvida. Sabia que se nao
da inteira fe aos treslados , que nao sao confe-
ridos com sens originaes. Tudo quanto cont^m
este livro, em seu principal assumpto , sao obras
de Vossa Senhoria, por filhas ou de seu brago,
ou de seu conselho, ou de sua disposi<;ao. A no-
ticia dos successos, das pessoas, dos tempos e
das partes , recebi de sujeitos fidedignos pelos
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XIV
postos que occuparao, pela continua^ao com que
servirao, e pela honra com que proced^rao, aos
quaes como a testemimhas de vista manda o di-
reito dar inteiro credito. Muitos autores escre-
v^rao OS progressos de Alexandre Magno , e na
opiniao de Yolaterrano a nenhum se deve tanta
fe como a Aristobulo judeu^ porque os referio de
vista, assistindo-lhe a tudo, e em todo o discurso
de suas conquistas. Aristobulus Judem res gestas
Alexandri Magni conscripsitj comesque ipnus peregrin
nationis fait. E supposto que esta razao me obriga
a crer o verdadeiro das noticias, deixara de o
ser o argumento d'esta narra^o se na menor
parte d'ella faltar a verdade. No mundo nao sao
menos os ambiciosos da fama» que os da fazenda,
e com mais cuidado se esconde a infamia que a
pobreza. Os olhos de Yossa Senboria busca neste
volume meu escrupulo ; nelle achara espelho em
que se veja retratado, e todos neste espelho po-
derao ver o retrato de Yossa Senhoria, se em
tudo se conformar a imagem com o original.
Basta a dissimilhan^a d'uma c6r para destruir o
parecer d'uma imagem ; e porque nesta nao falle
o menor accidente, o remetto ao exame de Yossa
Senboria, para que com sua emenda» ou com sua
approvacao fique a certeza sem duvida , e se leia
esta historia sem escrupulo, certo o leitor que v6
o que Yossa Senboria e na verdadeira represen-
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XY
ta(^o do que tern side. Ainda que pe^o, nao
adulo. Intento em que nao cabe iuteresse nao
tern parte a lisonja , nem se obriga com a ver-
dade a quem nao gosta da mentira ; quem nas
occasioes se naoalterou com os vivas dos applau-
sos nao se pode esvaecer com as repeti^Ses dos
progressos. Esperomeu desengano, e os de todos
nadefini^ao do certo, e com ella ficara meu tra-
balho mais luzido , e este volume mais digno de
se dar a estampa, uma vez por verdadeiro, e
muitas por Vossa Senhoria ser sen assumpio e
sen autor. A pessoa de Vossa Senhoria guarde
Deo& por dilatados annos, para que neltes viva
a seguran^a d'esse Estado, e o castigo da emula-
^ao. — Braga e Outubro 22 de 1676.— Capellao
de Vossa Senhoria. 0 pregador e procurador
geral da ordem de S. Bento nesta curia de Braga.
Fn. Raphael de Jesus.
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Digitized by VjOOQ IC
PROLOGO.
Dos prologos faziao os escriptores humilde rogo ;
permittia-o a singeleza de algum tempo. Na pre-
sente idade, prevenidas adverlencias devem $er o
argumenlo dos prologos ; neeessita d'ellas a mar
licia. 0 que menos sabe he o que mais presume;
razao, por que a tudo se atreve o que menos sabe.
No maior p^o correm os rios com menos es-
trondo; os juizos^ quanto mais tem de fundo, mais
tern de capacidade* 0 curioso I^; o noticioso ob*
serva; o limitado grita; julga de si que p6de cen-
surar sem reparo o que se escreveo com estudo. 0
certo nao tem pressas ; e se algum a teve , foi dita
da occasiao, e nao effeito do repente. Porque ha de
ter animo para censurar o que os outros escrevem
quem nao teve brio, nem ainda applicacao para
escrever? Nenhum esta tao longe de si como o es-
vaecido; nenhum tanto em si como o considerado.
0 sol tem de planeta mais luzido o expor sens
raios & nota, cobrindo com seu resplandor a falta
de todos OS mais astros. Se queres aproveitar, nao
leias para escurecer; leras para saber, se leres
com OS claros de teu juizo. Se o queres formar
desta obra, nella te offereco processada a causa;
julga pelo mericimento do processo , para que a
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XVIII PROLOGO.
paixao te nao faf4 fiarle^ ^uatido te constitues
juiz.
Com razao dcsejaris saber a que live para me
occupar em argumento, a teu parecer, tao alheio
de meu estado, quanto 6 o estrondo da guerra do
socego religioso? No motivo do reparo tens a sa-
tisfa^ao da dtivida. 0 echo em uma parte se fdrma,
em outra se causa ; nelle ouves o golpe , sem ver
a ferida. Os conflictos escrevem-se na campanha
com sangue^ na historia com tinta. Nas iroagens
Tes boca para fa liar, mas nao Ihe verds nunca
abrir a boca. Tal i a relacao dos successos, ima-
gem sem yoz, echo sem golpe, ferida sem sangue.
Nao te pareca o clausiro lao diverso da cam-
panha, que imagines se nao milita em uma e ou-
tra parte. Nao basta a differen^a das armas para
tirar o ser aos conflictos. Os inimigos, por serem
d'outra na^ao, nao deixao de ser contrarios : os
mais ardilosos sao os mais nocivos. Para todos os
mortaes i todo o lugar campanha ; e nao sera sol*
dado senao quem deixar de ser homem. Militia est
vita hominis super terram (Job. I, 7). Na institui-
cao das ordens militares achards praticados^ como
equivocos, campanha e choro, breviario e lan9a,
religiao e milicia. Os filhos de Sao Bento ar-
mados cantavao os officios divinos; o mesmo sino
que Ihes tocava a rebate, os chamava a reza ; ob-
servou-o ElReiDomSancho de Gastella, e disse ao
abbade dom Raimundo : « Admira-me, padre, o ver
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nmjoGo. xn
» qu6 n «stei yoM08 subditos fiiz urn mesmo sine
» leoes e cordeiros. »
Ja se Tfrao militar as estreHas^ sem que a
guerra Ihes relaxasse^ nem o curso da virtude^
nem a observancia da ordem : Stetim nument^^ in
ordine mo et in curm iuo pugMverunl emir tf 5f so-
ram (Judic. v, 20). E estao tao apartadas do
mundo, como o esta o ceo da terra. 0 que a pro-
fissao faz proprio^ que razao o p6de fazer alheio?
0 mais religtoso i o melhor soldado^ e seri melhor
soldado 0 que for mais religioso. Nacasade David
e no tabemaculo esteve a espada com que truncou
0 gigante; a decencia do deposito equiroc^u os lu»
gares, pelo religioso, e pelo soldado.
Pelas occupacoes se distingue o reformado do
destrabido : bonesta^ decorosa e util i aquella que
serve as melboras do particular e do commum.
Os livros aproveitao ao commum em quanto oc-*
cupao, e ao particular em quanto ensinao. Grande
servifo faz 4 patria o que a illustra com obras
dignas de se escreverem; maior o que a enno^
brece escrevendo feitos dignos de se imitarem. A
proeza executada p6de fazer um heroe^ por^m
Uda, muitos. A gloria, e nao o perigo, i que ao*-
cende a emula9ao : melbor persuade o exemplo
que o espanto. A fa^anba que o golpe da espada
fez transitoria, faz a escritura permanente. Quan-
tas obras beroicas sepult^ra p braco , se a penna
as nao livrara do tumulo ! A poucos aproveita o
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XX PROLOGO*
que a uma idade se limita : Paueis natus est, qui
papulum cHatis suw cogitat (Senec. Epist. 80). Es-^
creveo Diccearco as proezas dos Esparlanos; e or*
denou aquella republica que todos os annos se
lessem em uma praca publica , para que sempre
repetidas as etemizasse a lembrauca, e vivessem a
beneficio da historia , o que nao fora possivel a
golpes da espada.
Nao deve nada a America a gloria que a na^ao
portugueza adquirio na Africa, na Asia, na Eu-
ropa. Nas mais paries ajudava-se o valor da opi*
niao, e deduziao-se umas de outras as victorias ;
portoi no Estado do Brazil, perdida a fazeuda^ su*^
jeita a liberdade , sepultada a opiniao, enterrado
0 brio nas mesmas cinzas do estrago (dominante a
nacao mais bellicosa , e mais bem affortunada de
todas quantas naquella idade applaudio a fama)
resuscitar, e sobresair o valor portuguez com tao
agigantado vulto, que nao sd se restituio no p^-
dido, senao que de um golpe vio o poder d'aquella
gente a sens p^ rendido e prostrado y tanto mais
se adianta na gloria, quanto menos o imaginou a
esperanca. Nao espanta o triumpho depois da
victoria^ porque 6 consequencia ; admira o viv^
depois da morte , porque i maravilha. Na res-
tauracao de Pernambuco te nao deve parecer enca-
recimento a maior exagera9ao, vistos e considera-
dos ossuccessos, que te offereco neste volume,
porque forao tao estranhos e heroicos, que nao so
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PROLOGC. XXI
6 necessario contestarem-no muitas escripturas
para Ihes facilitarem a credulidade , senao que
tambem se bouverao de esculpir em bronze, para
que Dunca o tempo os podesse tirar da memoria
humana.
Com esta razao me desculparis a coufianca com
que escrevo argumento, que tantas e tao illuslres
pennas escrev^rao. Se me nao achares igual no ea-
tilo, nao me notards desigual na verdade^ e quando
nella nao tenhas licao, nao te faltara entreteni-
mento. A diversidade dos lavores se nao faz a
t^la mais rica , nao deixa de a fazer mais vistosa.
Alguns dos que escreverao este assumpto^ o tece-
riaa com melhor fio^ por^.m nenhum com fio tao
continuado. Em o valoroso Lucideno acharas o
prindpio sem fim ; em outras relacoes veras o fim
sem OS principios; 4quelle atalhou a morte, a eates
escusou a eleicao : de todos me aproyeitei. Nao
ensina menos o que atalba que o que guia. Se no-
tares differenca na repeticao de alguns nomes es»
trangeiros, nao imagines que foi desatencao^ ou
falta de noticia. Escrevo para os naturaes^ e quero
que se oucao agora, como entao entre elles se pro-
nunciavao, para que assim como entao pelos no-
mes se conheciao as pessoas^ assim agora as re-
presentem a memoria ; a disimilbanca dos ncmies
nao faca parecer que sao d'outras pessoas.
Se fizeres reparo no titulo d'este lirro , bas dc
notar (como discreto) que nelle altribuo a um a
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XXU PR0L060.
obra em que trabalharao niuitos. Muitos rios rece-
be o mar debaixo do nome de urn , porque aioda
que 08 mais Ihe engrossao a corrente, deve-se aata
& sua primeira fonte. Muitos siio os astros que as^
sistem ao dia, e a nenhum deixa luzir o sol. Todas
as espheras se movemi e ao primeiro movel se at-
tribue o movimento de todas. Foi Joao Fernandes
Vieira o que com o zelo, com a industria, com a
&zeoda» com o braco> e com a assisteocia inten-
tou, dispoz, seguio e feneceo aquella guerra , e
como o maior planeta, mais caudaloso rio, e pri-
meiro move! se Ihe devem attribuir as opera^oes
de todos seus inferiores*
Com este fuodameato fiz de sua pessoa e de
suas obraso principal assumpto d'esta historia.
No appellido de Castrioto leras todo o ai^umeato
d'este livro, e todas as prendas do sujeito; e no
titulo , cifrada toda a materia d'este argumeato :
coudi^oes, que uos titulos dos lirros ha de buscar
a escolha para oao serem espurios. 0 parecido das
ac^oes Ihe deo o nome de Castrioto, e a aa^ao a
difieren^a de Lusitano, para distiuc^ao do Ca»-
irioto Epirense. Com esta mesma razao deo a an-
tiguidade a Sicinio Dentato o nome de Achiles
romano , para que suas obras o nao oonfundis-
•Ma com o Achiles grego : Stctmni DMiatus oh
ingentem fotiUudwem Achiles rmnaimi appellalus €H
(Plin. 1. VII, c. 38. GeU. 1. H, c. U). Tio umas
forio as prendas, as valentias e as fortunas d'um
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e outro sujeito^ que as destinguuio as patrias,
porque nellas se nao confuodiSsem as passoas.
Nao se estranba o usual. A sunilbauca da virtude
ou do vicio idemtilica em muitos um mesmo
nome. A liberalidade deo a muitos o Qoii>e do
Alexandre; a fortuua o de Cesar; a valentia o de
Hercules; a industria o de Ulysses; a raping q de
Gaoo^ elc.
Gotejem^se as obras, o valor e a fortuna de
Joao Feniandes Yieira com as de Castrioto alba**
uense ^ e achar-ae-ha peste livroi e nos que es^
creveo Marinho Barlecio d*esle argumentoi que a
todas as formou um^ molde* Como Castrioto eutre
06 Turcos iusolentes, se houve Joao Feraaudes
Yieira eutre os berejes domiuautes. Com auimo
catholico soffrSrao muitos auuos a oppressao da
tyrannia por uao perderem a possibilidade de fa-
Torecer aos fieis. Deo o tempo aviso a Joao Fer^
naudes Yieira de que sua ^timacao o fazia suspei-
toso ao Hollandez^ como deo ao Epireuse, de que
seu valor o fazia suspeitoso ao Turco. A um e ou-
tro servio o perigo de opportuuidade para se de-
dararem coutrarios ao imperio que os domiuava;
e persuadirem aos naturaes mais coufideutes a que
pegassem nas armas em beueficio de sua liberdade.
Os mesmos officioS| e com o mesmo effeito de que
se valeoo Turco para reduzir a seu servi^ o Cas-
trioto Epir^ose, fez o Flamejjgo com Joao Fer-
oaodes Yieira p^a o tnuer a sua obediencia.
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XXIT PBOLOGO.
Aquelle com poucos venceo batalbas, prendendo
e matando generaes das armas othomanas; es(e
com menbft matou e prendeo generaes, voicendo
em di?ersas batalhas as armas hollandezas. Nao
houve conflicto em que o Lusitano nao pelejasse
com OS inimigos a cara descoberta; como tambem
nao houve occasiao em que o Albanense nao con-
tendesse com seus adversarios a braco partido.
Nem um nem outro quiz nunca para si das bata-
Ibas mas despojo que o applauso das victorias^
deixando para seus soldados toda a riqueza das
Campanhas. Das maos dos Turcos tirou o Alba-
nense todas as pracas usurpadas, at^ os acurralar
lia cidade d'Esfetigrado ; tirou Joao Fernandes das
maos dos HoUandezes todas as pracas que domi-
navao pelos contornos de Pemambuco at£ os cer-
car dentro no Arrecife. Trahido de amigos, pa-
rentes e obrigados se vio Joao Fernandes Vieira,
que promettdrao ao Fiamengo entregar^lh'o morto
ou vivo. Com similbante trai^ao promettlrao ao
Turco entregar-lhe a Gastrioto^ ou vivo ou morto,
seu sobrinho Amessa, e Moyses sen mais obrigado.
Como Castrioto ao Turco consummio Joao Fer-
nandes Vieira em repetidas batalhas e encontros a
paciencia e o poder hollandez. Ao Albanense nao
deixou seu generoso coracao lograr com descanco
a gloria de tanto triumpho, buscando fiira de sua
patria occasioes para exercitar as armas, como o
fez em obsequio d'El Rei Dom Fernando, a quern
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PBOLOGO. XXV
08 Francezes tinhao despojado do reino de Napoles.
Mao soube Joao Femandes V ieira lograr com socego
o fnicto de tantos servicos; por mandado do Se-
nhorReide Portugal Dom Joao Quarto foi govemar
OS reinos de Angola^ e nelles se exercitou nas ar-
masy obrigado de sua prompta obediencia a esti-
mar mais o servir que o descancar. Ao Castrioto
albanense attribue Barlecio toda a gloria dos suc-
cesses d'Epiro ; com a mesma razao se devem at-
tribuir ao Castrioto Lusitano todos os progressos
que as armas portuguezas obrarao na restauracao
de Pemambuco*
Na similhanca das obras acharas a similhanca
dos costumes, dos intentos e dos animos. A toda
Europa 6 notorio, que o zelo do servico de Deos
e do bem publico foi a causa e o fim de Joao Fer-
nandes Vieira tomar as armas contra os Hollan-
dezes> e que a elle sedeve como a principio e meio
a felicidade daquella empreza. Por sua intelligen-
cia se sublev^rao os moradores d'aquellas capita-
nias ; com sua fazenda se sustentou muito tempo
aquella guerra ; de sua constancia forao resulta
gloriosa aquellas victorias. Com desoito annos
d'idade o animava um coracao tao varonil que ap-
petecia os perigos que todos receavao. Fez-se o
Flamengo senhor do Arrecife^ quiz ganhar as
fortalezas daBarra, uma d'ellas desempararao mui-
tos; e offereceo-se Joao Femandes Vieira para se
metter nella kvando comsigo alguns homens per-
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UVI PBOiOOO*
suadidos de seu exemplo. CapituUiio 03 cabos a
eotrega, e so elle teve a advertencia e animo para
salvar as insignias d'alguus cabos, e as baadeiras
d'El Rei^ saindo com ellas eoroladas em si mesmo,
com manifesto perigo de sua vida. No arraial de
Pernam Morim o tinha feito Matliias d' Albuquer-
que capitao de descoorir o campo, quando o Fla-
mengo sitiou e rendeo aquella for^a; d'ella saio
como captivo, resgatando-se a $i, e a dous cria-
dos seua por quiabentas patacas, sem dar ouvidos
as bom*as e promessas que 0 inimigo ibe fascia :
nao sabia seu cora9ao antepor a coavenieoeia ^
fidelidadet Ganbou o Hollandez a campauba eom
todas as fortifica9oes d'ella, e seguindo Joao Fer-
uandes Vieira a fortuna de todos, se deixou ficar
eutre os inimigos, com aquelle intento, que depois
publiearao suas obras.
A beneBcios comprou a estimacao do vulgo; a
respeitos, a dos priucipaes; a dadivas, a dos aii-
nistrosy tendo tanta eutrada com os do governo^
que para com elles erao auas peticoes decretos.
Seu maior empenbo era alcancar do hereje liber-
dade para que os catholicos frequentassem os sa-
cramentos e as igrejas, e que nellas se celebra^
sem OS officios divinos com aquella solemnidade e
pompacom que se faziao antes do captiveiro, tendo
particular cuidado de reedificar os templos, que o
inimigo destruiai e de Ibes restituir os paramentos
sagrados que d^eUes rouhava; e pwra auatentar a
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HQWOO' XXYH
devo^ik) do povo se fazia mordomo de todaa as
oonfrarias. Com yigiiante zelo acudia as necessi-
da(^ particulares 9 proporcionando a mezinha
com a chaga, de &orte que nao yacillassem os que
deemaiavao eom a oppressao. Porque a pureza da
religiao se uao mauchasse, tinha particular cui-
dado de fayorecer os presos e roubados^ dando a
UDs saida, e a outros remedio. Ao sexo mais fraco
acudia mais solicito, procurando que nao resva*
Jasse a virtude nqs tropecos da necessidade. Aos
peraeguidos e desamparados desviava o laoo, a que
oi podia levar a desespera^, ou com a exborta-
cao ou com o soccorro. For sua diligencia se con-
vertteio e bapUzarao ciuco judeos, e se reduzirao
ao gremio da Igreja dous herejes e umapostata;
de (odoB foi padrinho e amparo. Tao fervoroso foi
aempre seu zelo, que uao s6 trabalhou per couser^
var, senao tambem por adquirir , despresaudo o
desabrimento com que o sofiriao os do goverao.
Com dispeudio e iudustjria tinba gaubado em todos
OS tribunaas mioistros coufidentes que o avisassem
de todas as materias, que nelle se couferiao, e de
todas as resolu^oes que n elle se tomavao: dili^u-
cia tao uecessaria para a couserva^ao do particu-
lar e do commum, que uella acbou o Estado de-
£eusa, os principaes cautella, e o vulgo reparo.
£stimulado das tyraunias, coudoido das mise-
rias^ e ^scaodalizado das injustii^asi rompeo pelo
aoffritneTOOi resoluto em deitar dos hombroa de
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jxna PROLOGa
todos o insoftrivel jugo : empreza que a qualquer
cot^acao parec^ra mais desatino que lemeridade.
Com este intento (com peria de morte tinba of la-
mengo prohibido aos moradores todo o genero
d'armas assim offensivas como defensivas) mandou
fazer^ por officiaes peritos e coufidentes^ nas matas
e fazendas, que tinha pe|o certao^ armas, mani-
as, vestidos, mantimentos, e tudo o mais que Ihe
pareceo necessario e preciso para conduzir e guarr
necer um exercito, correndo todo o dispendio por
sua con ta. Avizado das espias, que tinha no Arre-
cife, conheceo que inimigos e emulos o tiohao
malsinado, e descomposto com os superiores d'a*
quelle governo, noticia que o obrigou a sair a pu-
blico com seu designio antes do tempo determi-
nadoy at^ aquella hora impedido por falta de
occasiao. Ag^regou a si os praticos, persuadio aos
leaes, animou aos timidos, constrangeo aos dis-
tantes, libertou a duzentos escravos sens, e posto
em campo se vio em poucos dias assistido de dous
mil e quinheutos moradores^ todos homens no
animo, e poucos soldados, porque faltos d'armas
e disciplina. Adiantou-o a fidelidade de sorte, que
primeiro satisfez a obediencia que ao valor ^ nao
faltando as obrigacoes de fiel christao , e de fiel
vassalloy certo, pela causa de que acharia sua re-
solucao em Deos favor, nos superiores desculpa,
nos iguaes assistencia, e nos inferiores agrado.
Nao podera dizer a verdade, que sua convenien-
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PRQLOGO* IXIX
cia o moveo a emprehender tamanho e tao arris-
cado n^ocio, sabendo o mundo o que nelle perdeo,
e q que gastou. Quando saio a campo era casado
de um anuo; mais que nenhum outro estimado
do ^lamengo, e respeitado dos naturaes ; servido
de mil e quinhentos escravos e criados ; aeompa-
nhado de cento e cincoenta homens de sua casa e
guarda. Na sua eslrebaria sustentava vinte e dous
cavallos, e outros tantos mouros para curarem
d'elles. Tinha capella de musica com varies instru*
mentos e diversos ternos de charamellas. Dava
crescidos salaries a mestres d'artes liberaes, e mais
avantajados aos que ensinavao a arte da milicia ,
assim para o que intentava, come tambem para
escusar nos moradores a barbaridade com que o
Flamengo pretendia amortalhar-Ihes o brio, e in-
troduzir-lhes a sujei9ao. Sen trato em tudo mos-
trava o tamanho de seu animo, e sen cabedal, o de
seu cora^ao ; por uma e outra causa avaliado de
todo pelo miaio da ventura.
Nao olhaTa para a conveniencia propria quern
deixava tanta commodidade e regalo pelo rigor da
guerra, e pelos trabalhos da campanha. Pelo ser-
vice de Deos, de seu Principe e de seu proximo
deixou duas casas, uma no Arrecife, e outra no
campo omadas com primor e riqueza, cujo recheio
valia muitos cruzados, sem d elles tirar a menor
alfaia pelo risco de ser arguido, e malsinado. Gas-
tou na conduccao da gente, arroas, municoes^ pa-
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gas e sustento dos soldados seis centos mil ctiiztdos
em dinheiro , e o procedido de toda sua prata la-
vrada e joias, que valiao muitos. Em generos, ciir-
raes, matas, eugenhos e fabricas, que o inimigo
Ihe roubou e destruio, perdeo mais de quatro* cen-
tos mil cruzados. Pouco se lembrava de adquirir
quern tanfo sabia perder. A mercancia enriquece
a quern poupa^ e nao a quern gasta ; idoUtra na
cobica aquelle que desconhece a largueza. A bonra
6 a que meihor ensina a desprezar a fazenda.
A Santidade do Papa Innocencio X , por bre?e
expedido no ultimo anno de seu pontificado, deo
a Joao Fernandes Vieira o titulo do re^taurador
da Igreja naquella parte da America, commu-
tando-lhe o servi90 que Ihe fez no Brazil em servi-
cos de Africa. A toz de todos Ihe deo o titulo de
restaurador de Pernambuco. Por acclamacao dos
tres estados d'aquella e das capitanias confinantes
foi acclamado governador da liberdade, e general
das armas. Por novos servicos Ihe confirmou Sua
Majestade o titulo de general com a merc6 que Ihe
fez dandoJhe o govemo dos reinos de Angola.
Que razao Ihe ptfde negar o que a justica Ihe
deo? Porque nao ha de ser o Gastrioto d'esta his-
toria, se foi o Achiles d'esta guerra? Quem mais o
encontra, mais o affirma : verdade que poddrao tes-
timunhar os encontros d*esta historia, pois a su-
birao 4quella alteza, onde nunca presumio chegar.
Por seu mandado foi seu revedor dom Diogo de
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PAUOGO. XXXI
Lima 9 Bisconde de Villa Noya de Serveira, conse-
Iheiro d'Estado de Sua AUeza» varao excellente a
todas as luzes pelas lettras, pelas armas, pelo san-
gue, pela casa, e pelos poslos que occupou. Effeito
foi da politica melhor advertida, e pode ser causa
da emulacao mais justa. A inveja, sendo um afecto
vil, sempre faz presa no melhor. A todos honra o
generoso, porque em sua estimacao nada Ihe falta.
As sombras dos valles uao sao effeito da aiteza do
sol, seDao de baixeza dos montes. Falle a verdade,
e dira que o Brazil deixara de ser, se Joao Fernan-
des Vieira nao fora, como de Chrysipo disse Car-
neadas df pois que leo suas obras : Nisi Chrysippus
nmesset, egononessem.
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CASTWOTO
LUSITANO.
LIVRO PRIMEIRO.
SUMHAEIO.
I. DescobrimeRtoda ilba da Madeira, patria de Joao Fernandet Vieira.
— 2. Sua erUfioM pnerieia. — 8. Descobriinento e altara do Bratil.
-— 4. Capitanias em que o Estado esU dividido. — 5. £1 Rei
D. Joao 111 da a eoDquiata a differentes yassaWos. — 6. A Duarie
Coelho coube a coDquista dePernambuco ; a onde dii principio a villa
de Oliiida, — 7. DMcripsio do maritimo e terreno de PeroambuGO.
-» 8. Keforma El Rei os governos do Braiil.— 9.Manda por gorer-
nador do Estado a Thom^ de Sousa. — 10. Fundacao da cidade de
Sao Salvador da Batata. ~ 11. Morte d'Bl Rei de Portagal D. Henrique.
^12 . Toraa posse do reino Philippe H deCasldla. —13. Tregoas enire
Hespanba e Hollanda. — 14. Principio da Coinpanhia occidental em
Hollanda.— 15. Interpresa da Bahia pelos Hollandeze8.->16. Trata-
se na corte de Gastella da restauracio da Bahia. — 17. Como e
quando se restaura. — 18. Intentao os HoUandeies cobrar-se no
perdido. — 19. As delidas afemioao os animos dos Pernambuea-
no0. — 30. Sai a aimada de Hollanda em direitora a Femambaco.
A RBSTAURA^AO de PerDftmbnco , em que as
armasportuguezas tritiinph^rao do poder e da for-
tuna, estayencidadaconstancia, aquelia do valor,
escreve minha penna mais para admiracao que para
memoria; mais para veneer a incredulidade das
uacSes estrangeiras, que para animar com o exempio
a propria. 0 valor dos Portuguezes obra na occasiao
sem necessitar de estimulos.^Em todas as accoes
humanas iosnao os principios o SQr do fim : as que
I. i
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2 C^TRIOTO LUSITA90.
escrevo o nao parectm, porque tiellas nao teve
mais ser o tim que aquelle que Ihe deo o pria-
cipio ; um e otitro dcve Portugal a Joao Femttides
Yieira, a quem e$te volume chmna Caitrioto Lu-
sitano : as obras Ihe derao o nome , e bem ponde-
radas p^sao mais para a parte do excesso , que para
a da imita9ao. Para que o parecesse em tudo vere-
mos que , se uma conquista Ihe deo o nome , ou-
tra conquista Ihe deo o ser*
I. Pelos annos de 1420 descobrio o perito nave-
gador Joao Gon9alves Zarco a ilba da Madeira ,
primeira joia da coroa portugueza no mar Atlan->
tico. Animado peloiliustre Infante Dom Henrique,
chefe e director de todos os descobrimentos, e
agraciado por Et Rei com a capitania da terra, se
embarcou no veraode 1423, levando comsigo toda
sua casa e familia , e muitas outras pessoas conri-
dadas dos parlidos que Ihes fazia o capilao, e das
coQveniencias que Ihes promettiaa terra. Surgindo
no porto ja per elle descoberto , desceo pacitica-
mente em terra com toda sua comitiva , e no mais
acommodado della deo principio a primeira povoa-
9ao de toda a ilha , fundando a cidade do Fun-
chaly com tanta fortuna que em poucos annos veio a
ser abundantissima de tudo o que i necessario part
a vida humana , dando para outras terras exceUoo^
tea generos por commuia^ao e por venda, com que
adquirio o lustroso e rico de que hoje esti povoada.
Eata foi a ditosa patria de Joao Fernandea Vieira,
a quern elle tanto illustrou com sen nome e altoa
feitos, restaurando para Portugal a mdhor pelade
sua coroa.
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CAamOTO LOnTAlRK t
II. Em a cidade do Funchal (quando ja nao ad
pelo tornpo e pelo toreno, aenao peioa edificioa,
pela foriificacao, pela grandesa, pelo porto, ptlo
commercio , e pela cathedral , era digna cabe9a da«
quelle goTomo) naceo Joao Femandes Vieira no
anno de 1613. Sua creacao qualificou aau naaci«
menio » e aeua generoaoa procedimentos o claro de
aua ascendencia. £) o aangue (omento Tital doe ea»
piritoa) eo generoao oa produz generoaoa. Paasou
o tempo da puericia na patria , que nelle obaervou
yiTer maispara a raaao que para a idade ; em todal
auaa acooes se adiani4ra o animo ao corpo, tao
disciplinado da modestia y que j aem dar ocoaaiao
a queixa» a deo muitaa vezea ao exemplo. Oa brioai
que na mocidade aliimentao anobreia^ aem eatudo
aao oppoaioa & baixeza doa vicioa. Era de onxe
annoa, e como aeu cora^ao ja entao Ihe nao cabta
no peito, parecia-lhe eatreita priaao a limitada
aphera de sua patria. Um coracao grande nao cabe
em pequeno lugar : nao cabia o de Alexandre no
mundo, e deaejava maia mundos para ae dilatar.
Reaolveo-ae a pasaar ^a partes do Brazil ^ por^ao
grande da America ; e aeria todo o motiYO da elei^ao
o ter entendido , que i a America a maior entre aa
quatro partea do mundo. Sem dilacao, nem em^
baraco executou o que reaolveo. Nao aoffrem dila^ao
oa impulaoa do valor : toda a oppoaicao atropellM,
porque com a deaeatimacao sabem veneer aa dil&*
culdadea. Foz-ae a ocoaaiao da parte do deaejo^ e
ae embarcou no anno de 1624, levando em ai
meamo o melbor de aeu oabedal. Sao aa prendaa
propriaa o cabedal maia precioao e maia aeguro.
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4 CASTRIOTO LUSITANO.
porque nascem isentas do poder e da fortuna.
Com prospera viagem chegou i villa de Pernam-
bnco f cabe^ de uma das principaes capitanias do
Brazil; e porque ha de ser o theatro de meu as-
sumplo f i forca descrever aquelle antes que d£
razaod'este.
IlL £ o Brazil aquella parte oriental da Americai
a qual descobrio Pedro Alvares Gabral no anno
de 1 500 em 24 d'Abril, na altura de 45« da parte
do sul, e 2" da linha equinocial (debaixo da qual
fica o rio das Amazonas), constrangido da vio«
lencia dos mares , que o desviou da carreira da
India , para onde navegava, dando-lhe o nome de
terra de Sancta Cruz, por haver arvorado uma cruz
mui grande no mais alto lugar d' uiiia arvore, ao p^
da qual se celebrou missa , e da qual tomou posse
em nome d*El Rei de Portugal, elevando um padrao
com as armas reaes do reino. A razao que tiverao
OS homens para Ihe mudarem o nome de terra de
Sancta Cruz em terra do Brazil tem pouco que des-
cutir. 0 nome de Sancta Cruz i o nome da arvore
de nossa redempcao ; o nome do Brazil 6 nome de
umas arvores que produz a terra, de cuja madeira
se fez o primeiro commercio : e claro esta que
entre os mortaes havia de prevalecer o titulo de seus
interesses, e nao o despertadordesuasalvacao.Tem
esta parte da America, que se chama Brazil, pek
costa maritima 1800 legoas (no mais apurado com-
pute ), que terminao e devidem da conquista de
Castella dous caudalosos rios; da parte do norte o
das AmazonaS; debaixo da linha; da parte do sul o
no da Praia, em 35* para o mesmo sul. G<Hnputada
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CA8TBI0T0 LDSITAnO. 5
eaia distancia pelo recto dos graos tern muito menos
legoas : uns Ihe dao 1 500, outros 1 022.
IV. Repartio a desaten^ao dos Principes e a am-
bicao dos vassallos toda esta distancia de terra em
quatorze capi tanias^ na forma seguinte. A 1 * domina
1 60 l^oas, que corre do grao Para at^ o Maranhao.
A 2* oorre do Maranhao at^ ao Geara por distancia
de 135 legoas. A 3*, que se terminano rioGrande,
tern 1 60 legoas de demarcacao. A 4' continna por
espaco de 45 legoas at£ a Paiaiba; da Paraiba at^
a ilba de Itamaraca 25 legoas de caminho que de-
marcao a 5* capitania. £ a 6'' a que chamao de Ita-
maraca de 7 legoas de costa. A 7% que i a capitania
dePernambuco, indue 65 legoas de costa, que ter-
minao, pela parte do norte, o rio de Sancta Cruz,
e pela do $ul, o rio de Sao Francisco; e de Per-
nambuco a Sergipe sao 1 30 legoas. A 8* tern por
termo a que toma o nome da cidade da Bahia; tern
de costa 50 legoas. Desta at^ os Uh^os sao 30 legoas
de costa, que formao a 9* capitania. A 1 0* corre at^
a do Porto Seguro, por distancia de 30 legoas. Desta
do Porto Seguro at^ o Espirito Santo corre a 1 1 ^, e
occupa 61 legoas de costa. A 12* termina no Rio
de Janeiro , e tem dc costa 35 legoas. A 1 3' corre
do Rio de Janeiro at^ Sao Vicente por distancia de
65 legoas. A ultima corre atd o porlo de Santos, e
delle ate o rio da Praia, por costa de grande nu-
mero de legoas.
y. Destas quatorze capitanias erao oito d'El Rei,
porque as conquistou a coroa; seis de particulares
senbores, porque particulares vassallos as conquia-
tarao.Por este titulo foi muitosannos a capitania de
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Pernamboco do^ Albuquerqnes , porque Duarte
Coelhod' Albuquerque, a que a deoElRei D. Joao III
por sua qnalidade, e peloa 8em90S que fisera na In-
dia, a conquistou. Direi o como, e o porque. Occu-
pado El Rei nas eonquistas da Asia, nao attendeo k
importaDcia da America , ou porque Ihe pareceo mais
£ral, ou porque a julgou menos util ; ou mais que
tudoy porque a opposicao dos Principes da India
Ihe arrebatava toda a applicacao. Deseoberta a terra
do Brazil por Pedro AfyaresCabral no annodel 500,
oomotenho dilo, pedirao alguns capitaes a El Rei
IX ManoeU e a seu filhoEl Rei D. Jbio, a conquista
do diFersas partes d'aquelle Estado, oflerecendo-se
cpoToaUas, com tanto, que haviao de ficar com o
j»nhoriod'eIlas, etodaaalcada,eUes e sens dedcen-
denies : o que os Reis naquelles principios outor-
girao liberalmente sem mais encargo que o da con-
"MTsao do gentio, querendo que as povoacoes fossem
•eminarios de pr^adores evangelicos, e presidios
de soldadosvalerososy que domassem e insiruissem
OS Indios ; este fei o intento que teve a liberalidade
dos Principes, desejosos de premiar o merecimento
dos Tassallos. Tinha vindo da India Duarte Coelho
d'Albuquerqu^, a onde servira El Rei D. Manoel
com Utmlo, braco, e valor, capitao, embaixador,
soUado. Pedio a El Rei D. Ill a conquista de
Pemambuco, que facilmente Ihe concedro pelos
annos de 1530. lllustravao-se os servicos d'este
Tassallo com as relevantes prendas do sangue, do
mIo e do Talor; qualidades que adiantava muito
o eabedal e lusimento com que ei^tao cobria o
^bmiiQ da incouTenientes futuros. 0 maior danmo
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CAiniMO UMTAHO. 7
dasMoaarohtas i resulta dageiieroMda<}e doft Prio-
cipesquando senao acompanha de pmdencia ; por-
que obra d« preaente sem attender ao futuro. A th-
xinhanca do Prinoipe influe respeito noa yasaaUog;
ooma£alta d'esta saaniina a liberdade dos stdnlUos*
A onde menoa se lemem os casdgos^ brotao com
maiafertilidade oa atreTimentos. Coosidaracao que
devem fazer os Principea^ qimndo dao os governos^
para que a qoarciacao dos poderes peMe a liceo9a
doa goveraadores; pois i certo que adia facil Iran-
sito o Ijvre para tjnnoj e o tyrauo para rebelde.
VI. Preparado dt tudo o que podia ser neces-
sario para invadir e povoar, saio Duarte Coelha de
Lisboa^ e depoia de prospera viagem a^iatou terra
em 27 de Sef^mbro, e entrando pelo rio de Saneta
Cru29 viouma povoacao^ e fora della grande multidao
de gemio^ que , com mats tumulto que disciplina,
tratava de Ihe defender o saltar em terra; o que o
▼aleroso capitao fez , apezar de toda a resistencia
idimigay d^baratando e poudoem fugida aquellea
barbaroa, ferindo e matando muitos no lugar onde
agora est4 aituada a villa de Igarassu, tomando o
nome que naquelia occasiao the deo a admiracao dos
naturaes, vendo a grandeza de nossas embarcacoes ;
aeudo o mesmo em sen Idioma Igarass^ que n4o
grande em portuguez. Attribuirao os nossos a vie*
toria aos inditos martyres 8ao Cosme e SaoDamiao^
em eujo dia a alcancarao ; e em reconbecimento
do beneficio levantArao alii um templo, que consa-
grarao ao nome dos gloriosos sanctos, a onde suas
oontinuadas maravilhas attestao o quanto Ihes f6ra
grato este aervico. Com adevo^o dos novos povoado-
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8 CA8TB10I0 LO&ITAIIO.
res cresceo de sorte a nova villa que absorreo em si,
peio tempo adiaate, outra villa que chamarao dos
Marcos y postos naquella parte para demarca^ao
do districto ^ e da terra que £1 Rei havia dado a
Duarte Coelho d' Albuquerque. — Neste lugar ae
deteve o capitao todo o tempo necessario para o
povoar e guarnecer em forma que servisse para a
defensa e s^ricultura da terra; depois de tudo hem
dispostOy parlio com o grosso de sua gente em boa
ordeiian9a9 para evitar os repentinos assaltos dos
ludios (ordinario modo depelejar entre todos estes
barbaros), de que 4inha sido advertido^ e foi cor-
remio a terra para a parte do sul, sempre a vista do
mar^ descgoso de achar sitio conveniente para edi«
ficar uma poyoa9aOy em que se achassem todos os
requisitos , assim maritimos como terrenos, que a
fizessem capaz de ser cabe^a d'aquella capitania.
Cbegou a avistar um ameno e aprazivel outeiro
descoberto, e vizinho ao mar (habita^ d'alguns
gentios) em altura de 8* da equinocial para d
polio austral; e namorado do sitio pelas qualidades
d'elle, disse para os seus : « 0 que linda situacao para
se fundar uma villa! » Approvarao todos o voto do
capitao ; e porque a verdade nao ficasse livre da
adula^ao, poz^rao a villa o nome de Olinda, porque
ouvirao dizer ao superior : 0 que linda situafao
para se fundar uma villa. Anda a lisonjataoavincu-
lada a dependencia , que nao ha verdade que na
boca da dependencia nao pare^a adulacao.
Yll. Como foi um o parecer de todos , pos^rao
todos uiao a obra com tanto calor, que publicava no
que crecia que a obra era particular eki9ao decada
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CASTUOtO LQSIIAm. 9
um. Em breve tempo se achou a villa com 700 vi-
zinhos. A lerra foi correspoDdendo com os fructos
a esperan^a com que a benefeciavao os moradores;
o commercio foi engrossando ao passo que crescia
a noticia das muitas e utilissimas drogas, que havia
Delia : facilitava a saca, e commuta^ao das fazendas,
a grande commodidade do porto, que allifaz o mar^
abrindo a natureza em uma dilatada corda de ser*
rania, ou rochedo^ que metlido pelo mar ciuge
muita distancia de terra , uoia aberCura, a qual os
naturaes chamao PerDambuco, que em sua lingua
6 o mesmo que pedra furada , ou buraco, que fez
o mar, de que se forma a garganta da barra, com
fundo capaz para entrarem e sairem por ella difle^
rentes navios, que , abrigados da mesma serrania,
se amparao dentro do porto das tempestades do
mar. A esta corda de rochedo cbamao Arrecife; e
da nome a uma povoacao, que pelo tempo adianle
fez a mercaucia em uma ponta de terra y que tera
de largo vinte bracas, cortada dos rios Beberibe e
Capiberibe , que juntos quebrao sua corrente no
mesmo Arrecife y recebendo o mar suas aguas pdia
dita abertura. Desta mesma sorte, provida a natur
reza abrio na dilatada corda d'aquelle muro, ou
arrecife, differentes portas em diversas partes para
dar entrada no mar a diversos rios, que per aquella
costa fazem desiguaes portos.
YIII. Ao passo que pela grangearia e pelo com-
mercio crescia a opulenciados subditos, creacia a
licenca e a demazia dos governadores , tao abso-
lutos, que nao havia honra, vida, nem fazenda que
nao estivesse a disposi9ao de seu goato. 0 respeito
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to GiililOW ftOMffAK^
as leis e o temor do Principe tinha sepuUado n
▼iolencia; originando-se maior damno do exemplo
que da tyrania, porque a religiao e o zelo fahava
nog poder06O8, e gemia o povo com oppressao. Re--
for^ou^ae o grito de sorte que chegou a Lisboa a
£1 Rei D. Joao III^ Principe naturalmente affavel e
piedoso; condoeo-se elle dos miseraveis vassallos, e
rendo que todos se perdtao (os pequenos por oppri-
midosy OS grandes por absolutos), com catfaolica
resolucao mandou aprestar tres naos, duas cara-
▼ellas e urn bargantim, e fazendo escoiha d'um
fidalgo , em quern concorriao requizitos para
maiores empregos, o nomeou governador geral de
todo 0 Estado do Brazil, e capitao maior dos ditos
vasoe, em que levava comsigo ministrose soldados :
estes, para fomentarem a obediencia ; aquelles para
extinguirem adissolucao; e todos para reprirairem
com o conselho, e com a execucao, o orgulho do
gentio, que farorecido da emula^ao estrangeira e
da fortuna propria se tinha animado a assaltar e
destruir muiias poToacoes de Portuguezes, matando
e roubaodo com favoravel successo.
IX. 0 fidalgo, a quern El Rei confiou esta dif-
ficil maa honrosa missao^ foiThom^deSousa; varao
nao menos illustre por sua linhagem que por sens
merecimentos ; e para que se conseguisse cabahnente
odesejado fim para que era enviado, nao so o acom-
panhoude magistrados e tropas, como dito i, mas
revestio-o de toda a alcada, tirando-a a todos os
govemadores particulares,aquemcollocou debaixo
da sua inspeccao j estabellecendo d'esta arte a uni-
dMh de govemo naqueUe nascente £stado; e para
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cmtioM imif AWK if
que nio fahasse nooa metropole a tao rieas provin-
ciasy ordenou*lhe que na Bafaia de todos os Santos
ediGcaase uma cidade, 4 qtial pozease o nome de
Sao Salvador^ no sitio que melhor Ihe pareoesse,
porque servisse de assento e de fortificaeao a todos
OS goYernadores futures d'aquella proTincia.
X. Partio Thom^ de Sousa do porto de Lisboa
DO primeiro dia de Fevereiro do anno de 1549.
Em 8 de Marqo do mesmo anno ehegou & Bahia^
onde ja se tinha diTulgado sua ida j sens poderes,
com Codas as ordensque levava deseu Rei. Desem^
barcou^ e com a gente formada em esquadiio ser*
rado (poique o temor faeilitasse a sujekao) cami-
nhou para o lugar, precedendo-lhe uma devota
proeisiao, queorden^rao os retigiosos e clerigosque
levava do reino para a refbrmacao do espiritual.
Foi recebido com alegria de muitos, e com obedien*
cia de todos , rendidos os animos tanto ao temor
ooiacH) A compmncao. Escolbeo-se sitio, ajunt^rao-se
materiaes, concorrferao obreiros, deo-se forma A nova
cidade, e com tai efficacia se obrava, que no pri-
meiro dia d' Abrii do mesmo anno se vio a fortaleza^
e a cireumTalaoao oapaz de agazalhar e defender
OS moradores. Consignou o govemador alojamento
para os soldados, tribunaes para os ministros^ si-
tioB para os retigiosos, com tao boa disposicao,
que bastou a fama para domar os Indios, e para re-
frear os Portuguezes, faltandoa todos a confianca,
com que uhs e outros se atreviao.
XL Com a nova forma de govemo se augmentou
de maneira o Estado, assira no espiritual como no
temp<Hrttl, que se deseonhem a si mesmo. Penetr^r
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tt ' GAitUOlO LIWIAIIO.
rao 08 obreiros da (i muitas legoas de sertao, coor
verteudo innumeravel g^itio. As religioes do
grande patriarcha SaoBento, da Gompanhia, de
Sao Francisco, e do Carmo forao urn singular bene-
ficio para as almas d'aquelle Estado. Obrigados por
este meio tratavao os homens de viver do propriO|
e se davao a plantar com tanto cuidado , e com tao
boa sorte, que em settenta annos se achou o recon-
cavo da Bahia com perto de 200 engenhos, que em
cada um annp acudiao com 70,000 arrobas d'assu-
car macho; e a capitania de Pernambuco com 1 50>
que em cada ^afra , um anno por outro , davao
50,000 arrobas. Avaliadas as destas duaspartidas
pelo pre^o ordinario fazem somma de seis milhoes
de cruzados, nao fallando em outra grande quanti-
dade de dinheiro, que se tirava de muitos e varios
generos, como p^os de tintas, madeiras incorrup*-
tiyeis, coucos, tabacos , etc. , que nossas embarca-
foes conduziao a Portugal, e d'elle per commercio
a todas as nacoes estrangeiras, com grosso avanco
das rendas reaes. — Assim prosperava o Brazil
fomecendo a Portugal os principaes elementos de
sua grandeza, quando este imperio, subido a maior
miigestade na reputafao, no poderio e nas rique-
zas, declinou por decreto da fortuna, e veio a cair
opprimido de sua mesma grandeza. Esta chorou
Portugal, sepultada em os campos d' Africa por um
Principe mais bellicoso que advertido; em o pa*
lacio d' Almeirim , por outro menos aconselhado
que remisso : este foi o cardeal D. Henrique, que
tomou a coroa mais para a le?ar a sepultura, que
para a subir ao throno, AlcancouH) a morte em o
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GASTEIOtO LUSITANO. IS
ulUmo de Janeiro de 1 580 com settenta et otto an-
nos de idade, anno e meio depois da perda de
D. Sebastiao em Africa; acabando a gloria de Por-
tugal entre o caduco e florido d'uma e outra idade;
fechadas m portas com estes extremos para o re*
gresso e para a esperanca.
XII. Apoderou-se do reino D. Philippe II de
Castella, chamadoprimeiro dePoriugal, iao fayo-
recido sen poder do tempo e da fortuna, como des-
emparado da juslica e da razao. D'esCa sorle unido
o reino de Portugal a coroa de Castella, ficou su-
jeito ao odio com que todas as nacoes da Europa
se oppunhaoagrandeza'da monarchia hespanhola,
tanto mais aborrecida, quanto mais dilatada.
XIII. Ardia neste tempo a guerra, nos Estados
de Fiandes, entre Hollandezes eHespanhoes ; aquel-
ks , por defenderem a rebeidia ; estes , por casti-
garem a rebelliao y sendo a religiao o pretexto e a
causa. Cresceo o odio com a prefia, e com a prefia
o maior damno daHespanha, nao so pelo que nesta
guerra consummio de gente e de cabedal , senao
tambem porque com o exercicio das armas fez
guerreiros os que so sabiao ser tratantes. Empu*
nhou o sceptro d'Hespanha Philippe III de Casteila
e II de Portugal; e aconselhado, tanto da ommis-
sao como da recessidade^ abracou a suspencao das
armas por dez annos, que se assentou nas tregoas
conclnidas no de 1 609 com menos decorosas con-
dicoes que o mundo esperava, e com a desattencao
(se ja nao foi impiedade) de deixar fora d'ellas as
pra^as de nossas conquistas^ expostas a toda a fu«
ria do odio e da vingan^ d'esta nagao , nao por-
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ik Ci9ffU9fO MMffAlOw
que no6 julg«Bie complioes em seat ckmatei aenlo
porque nos considerava sujeitos ao contrario do-
minio. 0 exercicio das armas, como da navegacao
tinhao feito aoa HoUandezes lao aenhoreft do mut^
que pelo commercio e pelo roubo traziao a aeu»
portos o miihor das riquezas da Europa , devendo
sua boa fortuna mais ao descuido alheio que a po-
tencia propria, poit fiando mais da diia que do va-
lor , sempre triumphavao com a industria, e me-
nos com a for^a.
XIV. For este tempo florecia naquelles Estadot
em cabedal e baas successos a companhia, ou hot
9a, que intitulavao da India Oriental. Yiao-se em
Hollandacom os olhos da inveja^ e da emulacao de
muitos f crecer os avan^os com que st enriqueciao
todos OS principaes na dita companhia, e o poda:
d'aquellas Provincias Unidas ; o que considerado
por Jans Andres Moerthecan , HoUandez de capa-
cidade e esperteza , assentou comsigo que fazia
para si um graude negocio> e para sua republica
nao pequeno servi9o, propondo aos Elstados que se
formasse uma nova companhia » ou bol^a , que se
inlitulasse das Indias Occidentaes, a qual se conce*
desse a conquista da dilatada provincia do Brazil^
tao facil de adquerir peio remisso da defensa* co^
mo de se conservar pelo util do commercioi sendo
este naquellas pra9aa a causa da frouxidao e de
ocio. Yia-se a verdade da proposta ; palpaTa-se,
pela facilidade da navega^ao, quanto menos custoso
seria conduzir do Brazil a HoUanda o precioso
d elle do que d'uma e outra India; e sem replica
se approYou o dictame, que logo poserao em pra«
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MiMumo wmatims II
ika ; e em brevefi dias form^rao o corpo d'ttta noTt
companhia noventa partes interesaadad.
XV. Achava-se a nqva companhia com eabedal
e forcas para iiitentar qualquer imporlante fac^ao^
6 eomo a primeira ha^ia de facilitar as mais , de«
terminarao que se empregasse no melhor; asseo-
Uado que invadissem a cidade da Bahia, como ca?
be^a de todo aquelle Estado que pretendiao domi-
nar; tendo-se por certa consequenQia a $ijjei9ao de
todo o corpo, scDhoreada uma rez a cabeca. Prepa-
rou-6e umaesquadra de vinte e seis vasos, parte doa
EatadoQ, parte dos mercadores, guaroecida de trea
mil soldados, couseguindo-se assim a observancia
do segredo e a brevidade da execu^ao. Sa'k) a armada
de Holhnda, em 8 de Maio 1 624 ; appareceo sobre
a cidade da Bahia , que por entrepresa oocupou
quasi sem resisteucia, entregaudo a terra primeiro
o descuido de uosaa coafianca que a presteza de sua
diiigencia. Quern uao sabe iemer nao se sabe pre--
Teoir; e no repeate dos assaltos obra mais a ooAr
fttsao dos inyadidos, que o Talor e for^a dos iura**
sores.
XVI. Cbegou a noticia do sucoesso a Lisboa^
onde fez grande impressao; de la passou a Madrid^
onde pelo costume se faziao menos sensiveis as des*
gra9as; e como esta era tao propria do reino de
Portugal foi olhada peloa ministros como alhea da
Goroa de Castella. Come^ava Philippe IV de Gas->
tella e UI de Portugal a governar a monarchia de
Hespanha, de que tomou posse em Mar90 de 1 621 «
Importunados os maiores ministros das quotidia«*
MS instancias do omselho de Portugal , propose
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16 GASTBIOrO LU8IT41IO.
no e persuadirao a El Rei a importancia do nego*
cio, tanto pelas premissas como pelas conseqiien-
cias , de que pela vizinhanca do Brazil com as In-
dias de Gastella ameacavao a ultima invasao de toda
a America. Estava o zelo da reputacao do Principe
com a viveza , com que se acha em os principios
de lodos OS governos ; e com efficacia mandou pre-
parar armadas, em uns e outros reinos, consignan-
do-se todos os meios necessarios pera se executa-
rem as ordens. De sua propria miM> escrcTco El Rei
a todos OS grandes de Portugal , com o que muitos
d'elles se derao por tao obrigados , que servlrao
nesta occasiao nao so com as fazendas, senao tarn-
bem com as pessoas.
XVII • Saio de Lisboa D. Manoel deMenezes, ge-
neral da armada portugueza, com vinte et seis vasos,
e quatro mil homens de mar e guerra ; tomou a ilha
de Cabo Verde, onde esperou ati ao fim de Feve-
reiro pela armada castelhana , que se compunha
de dobrado poder, de que era general e superior a
todos D. Fradique de Toledo ; e unidas em um
corpo navegarao as duas armadas com favoravel
fortuna, e com animoso alvoro^o entrarao pela en-
seada da Bahiaem sesta feira santa, 28 de Marco
de 1625 , cuja vista fez nos animos tao differentes
impressoes , quanto differentes erao os affectos :
nos da esperanca causou excessiva alegria , nos
do temor medrosa desconfianca. Desembarcou a
nossa infanteria, saio em terra, escolheo sitio, for-
mou quarteis , levantou trincheiras, dispoz plata-
formas, acommodou arti Iberia, bateo asfortifica«
foea do inimigo vigilante em se defender , at^ que
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GA&rmi(m) ltjsitai^o. 17
desenganado e opprimido entregou a cidade^ sai-
gas as yidas, e saio em 20 de Abril corrido e casti*
gado o mesmo orguiho que no Junho antecedente
tinha entrado triumphante e atrevido, deixando^
nos a cidade tao abastecida e municiaday como se
so nella entrara para a deixar fortalecida.
XVIII. Mui sensivel foi este golpe para a nova
companhia, e supposta que o tolerou sem desmaio,
teve aberia muitos aunos a ferida (sopprindo o ani-
mo a falla-das forcas). Nao se rendeo ao primeiro
golpe da fortuna.; continuou a infeslar aquelies
mares alguns annos sem maiseffeito que o desojo
da Tinganca; outros, com o de alguns roubos e pre-
sas, com que foi criando aquelle corpo novo san-
gue e mais alenlados espiritos; e vendo^se os in-
teressados senhores de muita parle da prata , que
para Castella conduzia das Indias D. Joao de Be*-
navides na frota de anno de 1630, resolutos e
animados intentarao seguoda vez a conquisla do
Brazil , esperando da fortuna melhor semblante.
Depois de largas conferencias concluirao que nao
convinha eiperimentar a sorle na Bahia y a onde
presumirao certa a resistencia. Nesta occasiao che*-
garao a Hollanda algumas presas^ que se haviao feiio
em navios de Pernambuco^ e com ellas a informa**
cao do recbeio , e descuido da (erra , tao opolenta
de riquezas como pobre de forcas. Servio o aviso
de confirmar o desejo, e assen(arao que fosse Per-
nambuGo o alvo d'aquelle segundo tiro. Repetidos
avisos dos cossarios que corriao aquelies mares con-
firmarao os intentos do HoUandez , e animarao a
diligencia com que se preparavao os navios, de ma-
L 2
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IB GAflTltUm) tUtlTAHa
nw*a que em hrevM diaa poz no map uma armaiUi
de oujo porte fiava todo o bom successo,
XIX. Se 08 crimes e peccados doa horoeus pro«-
▼ocao alguma vez 08 castigoB do ceo, podamoa sup-
por que aa calamidades que aobrevi^riio a capita*
nia de Pemambuoo maia aao devidas aos conaeUioa
da Providencia que 48 astucias da politica. Alimen-
tadasdo8 deleites brotarao de sorte as demaziaseQ-o
ire OS moradores de Peraambuco , que suQbcavao
a razao, e desconheciao o pejo : nao havia para ca-
da qual mais lei que seu proprio gosto. A continua-
cao sepultou as memorias da censura; eanimada do
lucro y da abundancia e da riqueza, desprezara a
nola, correndo a maliciataodeseufreada pela sutis-
facao dos apetites, que chegavao com as obras onde
chegavao com os desejos. As lascivias^ os fauslos^
OS regalos, as vaidades, as usuras, os roubos, as
emulacoes , as vingancas, os odios ^ as aleivozias,
e as liberdades, de nenhum sa estranhayao, por*
que era exercicio de todos os que podiao. A vida que
se sustenta do vicio sempre conduzpara a iujuria,
e nunca para a bonra, sendo natural effeito das de*-
mazias afeminar os animos, desatender os castigos,
e nao imaginar nos futuros. Vio-^se na desatencao
com que todos yiviao, que servindo de reclamo
para a invasao, foi o lotal desvio para a defensa,
sendo a mesma mao do peccado a que pegou do
acoute para executar o castigo, permittindo Deos
que com a mesma diligehcia, com quese tractava
da conservacaOy se execntasse a ruina.
XX. Individuahnente se sabiao em Hollanda
todas as disposicoes que levavao a villa d'OUnda
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CASTBIOTO LUSTTAIIO. 10
a sua ultima perdicao; nao faltando mais para cair
que encostar-lhe a mio ao peso que a fazia decli-
nar. Em 29 de Junho de 1 629 poz a Companhia
occidental de verga d'alto cincoenla e quatix) vasos
sorteadosy e guarnecidos de 7,280 homens^ entre
mareantes esoidados, munieiadoseforoectdospara
tedo o successo da dilacao, da resistencia e da con-
quista. Navegarao divididos emdireilura a ilha de
Sao Vicente, ou deCabo Verde , a onde enoorponi-
doft sairao a 26 de Dezembro do dito anno, huscando
a altura do Brazil. Era general da armada Henri-
que Lone; almirante, Pddro Adrian; 80ta*almi-
rante, JustoTraper; coronel de guerra, Frederlco
ou Theodoro Wandemburg. A todos vai eaperar
esta historic a villa de Olinda^ no seguinte IWro.
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LIVRO II.
SUMMARIO.
1. Tern El Rei ayiso dot intentos do Hollandez; atisa a Diogo Luix
d'Oliveira, governador do Brazil. — 2. Toma porto em Pernaia-
buco Mathias d' Albuquerque. — 3. Chcga a Pernambuco um
patacho de aviso; convoca Malhias d* Albuquerque o conselho.—
4. A armada bollandeza avUla o cabo de Santo Agostinho. —
5. Reparte o governador a gente com que se acha. — 6. Apparece t
armada *obre Pernambuco. — 7. £mbaiiada do general bollan-
dei ; resposla dos nossos. — 8. DA o inimigo uma profiada ba-
teria U forcat da barra; rettra-se do combate ; delta gente no Pao
Amarello. — 9. DA-se rebate na villa de Olinda; coifUsao dot
nossos. —10. Passa o inimigo o rio Doce ; acode Mathias d'AIbu-
qaerque, mas 6 obrigado a retirar-se. — 11. Entra o inimigo na
villa d'Olioda; estragos que abi commette. — 12. Fez-ie senhor
do Arrecife ; animosa resolugao de Andr^ Pereira Temudo. —
13. Desbumanidades executadas pelos berejes, e pclos proprios
naturaes; Matbias d'Albuquerque manda pdr fogo a mullos navioa
nossos. — 14. Saquea o inimigo a villa e Arreeife ; nelle se for-
tifica. — 15. Joao Fernandes Vieira se mette na fortaleza da
terra , que o inimigo intenta tomar por entrepreza ; da qual se
retire castigado. — 16. Commette o inimigo seguoda vei a for-
laieza. 17. Valerosa rcsistencia dos uossos, que se rendem a
partido ; Joao Fernandes Vieira faz com que nao padecao nossas
armas. — 18. Segunda embaixada do inimigo a fortaleza do
mar ; votao os do presidio que se entreguem, contra o parecer do
tenente. — 19* Desaforos executados pelo hereje.
I. A demaziada diligencia de encobrir as cousas
6 o pregao d'ellas : a necessidade de as communicar
6 a que as leva & praca. Em di versos portos do Es-
tado da Hollanda mandou a Gompanhia occidental
preparar e fornecer os vasos , que determinava em*
pregar naconquista do Brazil, para que nao fazendo
em parte alguma rumor o excesso, em todas se ti-
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CASTWOTO LUSITANO. 21
rasse o motivo & curiosidade, e As intelligencias.
Esla cauta disposicao , com que se disfarcava o de-
SJgnio, deo occasiao a que se penetrasse o intento ,
primeiro inferido da suspeita, depois alcancado
danegociacao. Governava por este tempo os Esfados
de Flandes , pela coroa de Castella y a infanta D. Iza-
bel Clara Eugenia ( viuva do archiduque Alberto,
e filha do segundo matrimonio d'El Rei Philippe ,
que cham4rao o Prudente) , cuja vigilancia descobrio
o que encobria a cautella , comprando at^ as mais
escondidas deferminacoes do inimigo. Com toda a
brevidade despachou um correio a Madrid , dando
inteiras noticias a El Rei Philippe o IV de tudo
quanto o Hollandez intentava. — Conhecendo elle
o damno da dilacao , fez logo aviso a Diogo Luiz de
Oliveira , governador do Rrazil , em como o Fla-
mengo armava contra aquelle Estado , com deter-
minacao de ir sobre Pernambuco ; porim que adver-
tisse, que de ordinario punhao os invasores a mira
em uma parte , para darem em outra mais a seu
salvo o tiro. Recebeo Diogo Luiz o aviso, e com a
pressa possivel acudio a reparar e fornecer a Bahia,
que condemnava a suspeira ; e a Pernambuco, que
ameacava a fama. Para este Gm mandou a Pedro
Correa (pessoa experta que tinha medianas noticias
da fortificacao ) que fosse a Pernambuco reparar a
villa e o Arrecife de tudo o que Ihe parecesse ac-
€ommodado i defensa e & bi^vidade. Chegou Pedro
Correa, e com as ordens que levava certificou a
prtftica, que corria, de que o Hollandez intentava
a conquista d'aquella praca. Ati entao nao achava a '
nova mais credilo que de fama vaga; d*alli por
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9> camoto ujUTAMa
diM^t^ achava em algous creduUdad^, em outeoa
^^pffm. Deo Pedro Ck)rrea principio 4 fortifica^
^^^ou cercar a villa de irincheiraa, e a povoa^^o
do Arrecife de palicadas de p4o a pique j Q auppoBto
fl^^ ^ muitoa assaltou o receo , a muUo poucos
^*^^ou o desengano, acudiudo os moradoret
^^^^■^ taula fpouxidao aos reparos, que mais Iraba-
Ih^vio para o efpauto que para a defensa, satufa*
^*^^o i brevidade do tempo, e uao A segurau^a do
P^^igo.
*!• Engplfado andava Pedro Correa uesta obrw
«f^iia, quaodo se divulgou na Tilla que Matbias
d'iVlbuquerque entrcva pela barra com duas embar*
c^^oea, das quaes viuhao por capitiea Joao Alvarea
Barbuda, e Gil Correa de Caetello Brauco; foi re-
cebido com alvoroco , e logo depois com eapanto ,
aat^eodo-seque era mandado por ElRei com soldadoa
e ix»wii9oe& para prover e guamecer a terra ^ i qual
ordenava que em tudo obedecesse As ordens que
trazia de capiiao maior , e governador das armas ,
poor quanto sabia de certo que o Hollander com uma
poderosa armada vinha sobre a villa e seu porto.
Apreseutou Mathiaa d'Albuquerquea&ordeaa; por
elbs foi obedecido, por^m nao festejado* Reudeodo
poalade capitao maior a Audr^ Dia& Ferreira, qut
9 occupava ; via e approvou quauto Pedro Correa
tioba obrado em ordem A fortiCca^ao ; e conCormes
BO porecer derao principio ao reduto pegado A Cortar
leu da tejrra, fiaodo ao zelo d« Diogo Paes a luzi«
iM»nto da fabrica. Qbra sem fructo , porque vim
love im , nem cbegau a ter prestimo.
UI. Gh^)ou enu*etaato a armada hoUafldeu, i
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CASXaiOTO LUSITA^a 33
ilha de Cabo Verde , onde era governador Jodo Pe*
reiraCorte Real. Observou este a cautella e o poder
da frota^ que escondia o designio ao mesmo tempo
que fazia 06tenta9ao da for^a (ardil que dava a en-*
tender a ofiensa); fez diligencias por se assegurar
na sospeita ; e depois que pela derrota conheceo
que buscava aallura do Brazil, se informou d'ai-
guns homens^que o inimigo por varios accidentes
deix&ra em terra , e como todos const an temente
affirmassem que o HoUandez ^ com aquella armada
ia sobre a villa de Olinda e seu porto , para ga-
nkar porto e yilla por entrepreza; eotendidaa via-
gem despachou com toda a pressa um patacho a
PernambucOy fazendo por elle aviso aos moradores
do amea^o , para que prevenidos rebatessem o golpe.
Festejavao estes com grande regozijo o nascimento
do principe Balthazar Carlos Domingos , herdeiro
de tantas coroas j quando chegou a trisle nova do
perigo que os amea<;ava. On fosse por descuido,
pn fosse por razao d'estado, Mathias d' Albuquerque
mo deixou de continuar no festejo, que a occasiao
faaia parecer feiti9o.Nao faltou quern acouselbasse
o successocom afirmar o desvio^ dizendo que se a
armada do Ftamengo viera em direitura a Pemam-
buco, cheg^ra muito antes que o patacho d aviso
( partindo este tantos dias depois della) , que indu-
bitavelmente havia tornado ouiro rumo, pois o
patacho a nao avist^ na costa. — Entre a seguranga
e o receio fluctuava o pareeer de todos : a indiffe*-
renqa nao deixava acudir & importancia. Conti-
nuavao-se as fortiGca96i''S com braqo remisso, que
obrava mais para saiisfazer ao engano que para
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24 CASTRIOrO LUSITANa
dispor o remedio ; julgando-se cada qual tao longe
do damno como se imaginava do perigo. Chamando
€9tava o tempo pelaresoIucao,quandoMathiasd'Al-
buquerque convocou a conselho aquellas pessoas
que nielhor poderiao volar na disposicao da de-
ft^nsa por interessados, ou no credito , ou na fazenda.
Assentou-se que nenhum morador lirasse da villa,
nem pessoa que fosse de sua familia , nem cousa
que pertencesse a sua fazenda. Suppunhao que
sendo igualmente de todos o interesse , seria de
todos igualmente a defensa. Muitos ( cujo animo
servia mais & desconGanca que & resistenciay forao
de contrario parecer, dizendo que cada qual po-
sesse em cobro o mais precioso e o mais estimado
de sua familia e iazenda , para que na occasiao in-
diviso o cuidado assist isse todo o coracao ao braco :
* *
tomavao por fundamento 0 aberto da praca , e a
contingencia do successo , que sendo favoravel ao
inimigo havia de medir a victoria pela riqueza do
despojo , e nao pelo formidavel da batalha , e ali-
mcntaria os insentivos da cobi9a com a riqueza do
saco. MostrarA esta historia quanto neste voto dis-
tava o conselho do animo.
IV. Chegou o dra de quinta feira 1 3 deFevereiro
do anno de l630 (oito dias depois que entrou o
patacho d'aviso), e nelle avistou a armada hollandeza
o cabode Santo Agostinho, tonK)u o panno, e fa-
zendo-se conselho na capitania, nelle se decretou
o lugar, o tempo e a f6rma em que se havia de
investir com nossas fortificacoes , ordenando ao co-
ronel Theodoro Wandemburg, que com dezeseis
fragatas, 2/200 infantes e 700 marinl^eiros se apar-
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GA8TRI0TO LU8ITA1I0. 25
tasse do corpo da armada, quando menos o deixasse
advertir o conflicto, e deitasse a gente na paragem
do Pio Amarello , tres legoas apartado de Pernam-
buco para a parte do norte , que acharia sem
opposicao, acudindo no mesmo tempo b grosso da
nossa gente a onde o cham^ra o engano , ignorante
da parte em que a pedia a necessidade. Sabia o
Flamengo que o *bom successo das empreias pede
acertadas disposiqoes, e que as mais ditosas sao
aquellas que nao deixao interpolacao de tempo entre
over e o investiry dandolugar ao inimigo a que sinta
descarregar o golpe , por^m nao a que veja o braco.
V. Logo que do Cabo de Santo Agostinho se des-
cobrio a armada inimiga com settenta e sette velas,
86 deo rebate em Pernambuco. 0 governador das
armas M athias d' Albuquerque , achando em todos
prompta obediencia , repartio os capitaes pelos
postos, consignou gente para as esiancias , medindo
o numero pela capacidade , e a escoiha pela impor-
taocia y para que chegada a occasiao se visse cada
qual obrigadoa guarnecer o lugar predefinido.
A guarila de Joao d'Albuquerque ( era um reduto
situado no caminho da praia, que faz transito da
villa para o Arrecife)encarregou ao capitao MartiiA
Ferreira com uma companbia paga ; com outra
companhia, de que era capiiao Francisco Tavares ,
guarneceo outro reduto que esf ava entre a Tilla eSao
Francisco y na rereda que guia para o rio Tapado e
rio Doce. A infantaria da ordenanca , tanlo da villa
como do termo (da qual erao coroneis A mbrosio Ma-
ehado de Carvalho, e Pedro da Cunba de Andrada)
dividio por diversos lugares na f(>rma seguinte.
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M GamOTO UISITAIiO.
Para a guarnic«M> dis triacheiras da villa nom^ou <m
capitaes Roque de Barron Rego, e Salvador de
Azevedo, com as suas companhias. Affonso d'Al**
buquerque^ capitao da noln^za (debaixo de cuja
faandeira se alistira Joao Feraandes Vieira com
poucos annosy muUo valor e muila estima^ao), e
Manod da Costa Galheiros (assim mesino capitao
doft nobres) tomirao por sua conta a defensado Ar*
recife, cajo presidio engrossou o governador com
um troco de geote ordinaria, que capitaneavaFraor
cisco MoBteiro^ e outro de soldados bisonhos lo-
vanlados no reino^ seu capitao Andr^ Pereira Te-
mudo. A defensa do rio Tapado deixou a cargo do
capitao Francisco de Freitas« As for^as de mar e
terra, que deiendiao a barra, fiou ao valor dos ca-
pitaes Antouio de Lima , e Manoel Pacbeco com
sua gente. Da palicada do Arrecife fez entrega ao
capitao Bento de Fieitas^ assistido da gente da
mesma povoa^ao^ e de alguoias mangas de mora*
dores da villa« Por cabo de tx>da a infantaria no^
meou Matbias d' Albuquerque a Andrd Dias da
Franca f e por sargento maior a Rai Dias Borges
(em feilta de Manot^l de Sou2a , que o era de pro*
[^riedade). Para governar algumas tropas de ca-
vallaria da terra ficou Matbias d' Albuquerque ,
correado por conta de seu cuidado acudir to partes
oode a neeesaidade mais o pedisse.
Yi. Formidavel e aprazivel appareceo aos ojhos
dos mroradores a armada inimiga em 4 5 de Feve-
reiroi que de mar em fora com todo o panno nave-
gava buscando a terra , assim povoada de bandei*-
n%p flamulasr e galbardeies de tantaa e tao div«rsas
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CASTB20T0 UIglTAIia 37
coreSy concedidas e negadas a beneficio do veatO|
que as viao tremulas os olhos , e coofusamente le-
merosas os juizos. A mnltidao dos clarios, repetida
dos ecbos^ euxia os ouvidos de bellicosa harmooia)
e OS coracoes de formidaveis consequencias. 0 te^
mor e a esperanca, que occupava osaniinos, diver-
sificava os obj^tos; razao por que a mesoia armada
produzia em uns coracoes effeiios tristes , e em
outros alegres ; estes recebidos da esperanca, aquel-
les do temor, enlao dis^imuladoa do artificiOy de-
pois acusados do successo , achatulo ix) Hollandez
agasalho uns, persegol^ao outros. Arribando aobre
o rio Tapado deo mostias o inimigo de querer por
aquella parte £azer a envestida : era o iutento ca-
pear um eugano com oulro engano, para que^ oc-
cupada a atten9ao dos mcH^adores uas partes donde
a chamava a fic^ao, Ihes ficasse seotido para reparar
a iodustria, com que por lugar ditTerente os com*-
mettia a verdade* Aqui se apartou o Wandemburg
com sua esquadra , coberto do fumo e da terra, e
favorecido do eogaoo da armada (que represen-
tava no maior numero dos vasos o maior poder do
inimigo) com que veio caindo sobre Pernambuco^
certificando o assalto , sem individuar a parte do
conflicto.
VU. Surg^> toda a armada a tiro dc canfaao das
Qossaa fortalezas^ era todo o intento do inimigp
lograr a industria com procurar a dtversao ; e por
occultar os desejos de entreter se valeo das apparen-
daa de conquisiar, pava que sc d^sse tempo a que
o coroaelWandemburgy on como Ihe chama o vut-
gp Thwdoro Wandembuiy, deitaase bo Pao Amar
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jg CA8TBH)T0 WSITANO.
reUo a gente que levava, sem opposidiO que a des-
TompoJesse. Da capitania despedio um batel , e
neZum tambor, pSo qual mandou di.er aos pr^
sWios das for<^ da bam e Arrecife, que e\»e v.nha
comaquella armada a senborear a lerra, com or-
dens dosEstados, para a dominar, e nao para a de^
truir, que \b'a entregassem , e a t«dos faria ami-
gaveis partidos, favorecendo a obedienc.a ; porque
havia de castigar a fogo e a ferro a rebeldia ; e que
se nao fiassem em forcas deslituidas de soccorro,
porque se cbegassem a medir as espadas , occupa-
dos OS animos de seus soldados do furor se escu-
sariao de loda a piedade; que acceitassem os offe-
recimentos da clemeocia, antes de os obrigarem os
destrocos da ira, a qual se podiao adiantar, toman-
do o conselho que Ibes dava o excesso do poder ; e
advertindo-lbes que a desproporcao da defensa ta-
ria infallivel a ruina. - A voga arrancada i?mha
o mensageiro em direitura a fortalexa do mar ; e
a seguranca foi para os nossos informaeao do de-
signio, e com uma carga de mosqnetana adianta-
rao a respbsta a embaxada , firmando a resolucao
com OS testemunbos do desprezo, para que enten-
desse o inimigo que tinha muito que veneer a onde
esperava a prevencao e o valor.
VIIF. Indignado o Flamengo com semelhantp
acolhimenio, que reputou provocacao de sua co-
iera, mandou baler a tudo que podia alcancar sua
artelharia com tanta obstinacao e furia , que em
sette horas de combaie metteo dentro do Arrecife
dnas mil balas. Nao faliarao os nossos k devidaco^
'^poadenciB » « com tao ditoso effeito, que sentio
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QASTUOTO voeiTAm. 29
o inimigo a pumtualidade da retorno^ arriscado a
chorar maior a perda^ com o perigo em que vio
uma de suas fragaUs/ a qual no maior fervor de
suabateria tocou nos arrectfes, tao perdida, que
para a salvar se empenhou a iodustria, a forca e a
diligencia. — A' escuta noite, que adiantoua fuma-
ca do conflicto^ succedeoa do tempo; fez-seo inimigo
na voUa do mar, e livres os nossos tiverao occasiao
para adveriir o pouco damno que havia causado a
bateria. Na povoa^ao do Arrecife nenhum outro
fizerao as balas mais que passar as paredes dos edi*-
ficios, sem prejuizodo8^soldado$. Na fortaleza do
mai* iic^rao qualro mortos e sette feridos^ haTendo-
se nelle o Tcnente Pedro Barboza commuito valor e
acordo. Confuso se achou o Hollandez, mostrando-
Ihe a experiencia o erro da opiniao : persuadia-lhe
a presumpcao que sua armada primeiro havia de
veneer com o temor que com a forca ; sem razao
discurria ; com muila descursava , se fazia funda*
mentp em promessas alheias (aillrma-se que se uns
o rebatiao y outros o chamavao ]. Abaieo as vc^ias da
armada e da soberba y e em arvore secca esperou a
fortuna do Wandemburg no assalto fortivo que ia
executar na paragem do ?&o Amarello , de cujo
successo esperava toda a melboria de sua sorte. —
Navegavaentretan to Wandemburg cum asdezeseis
n^os, levando nellas mais infantaria da que temos
dito ; che^ou no mesmo dia y a lao boas boras ^ ao
Pdo Amarello y que favorecido da occasiao e do
tempo poz em terra gente , muai96es , artilbaria,
e manlimentos sem contradiccao que o impedisse y
ou detivesse ; formou-se em, quatjo batalhoes , e
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guarnecco-9e com siifficientes trincheiras. 0 prr-
meiro esquadrao constaTa de algumas mangas de
escolhidos mosqueteiros, que na vanguarda aerTia-
sem de descobrir ^ e assegurar o campo das embo5-
cadas que lemia por junto da praia. 0 segundo se
formava de 934 soldados y que goTemaya Estienca-
lui, ou Esiiencol, tenente coronel. 0 terceiro
govemava o coronel Stens Calolt , ou como ouiros
deziin , Elestz, com 1040 soldados. 0 quarto cons*
lava de 966 infantes As ordens do coronel Juleo
Henechio , tenente do sar^ento maior. Compunha-
se este todo de trinta e seis b:!ndeiras ; lerava quatro
pecas de campanha ; e nesta fdrma passou o iminigo
toda a noite com as armas na mao, presumindo que
nosso descuido era ardiloso cuidado : discurso mui
de hoinem e de soldado.
IX. Com algumas boras d'escuro se diviilgou
na povoacao de Olinda que o inimigo tinba deitado
em terra , no Pto Amarello y muita geiite , com
a qual vinha marcbando para a villa. A distancia
era de tres para quatro legoas ; a nova f6ra de toda
a suspeita ; o tempo coberlo de sombras ; causas
para se augmentar a confusao , que nasceo do re-
bate. — A todos tirou o sobresalto da memoria a
defensa; a muitos facilitou a vontade da fugida ; e
a mui to poucos deixou acordo para a resistencia.
0 molberio, dando credito is persuasoes de fragi-
lidade , despi'ezava as da razao. As lagrimas y e
gritos pubHcavao a dor das feridas , antes de verem
as espadas ; pintando-lbes o medo primeiro o es-
trago que o conflicto ; obrigando com a lastima
WB maridos, irmaos e parentes a faltarem ms
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cuniaio tuuTAvo. ll
briosdebonni por nao desmeQiirem os impulsos do
iangue. A pressa em todos era tanta, que se tro*-
pessava naa mesmas diligBncias ; o desacordo ta-
manho, que de qualquer inovimentD fazia batalha,
de qualquer vista formava coQtrariofi. Com esta
corifusao Ba'irao muitas familiaQ da villa para o
mato , ensinando-lhes o amor da vida a desprezar
o maia precioso da fazenda. Os escraros servirao
i^sta occasiao de serem senhores de seus senhores;
moatrando bera que os tinha feito servos a violencia,
a nao a obri^a^ao ; fallando ao servi90 , quando os
ehamava a liberdade. Todos caminhavao, nenhum
sabia para oude , nem para que ; todos fabrieavao
em sua prapria diligencia sua perdicao , uns na r^
tirada ^ outros no roubo. Maihias d'Albuquerque y
a quern uesta confusao desconhecia a obediencia j
via-ae destituido de poder para sair ao encontro do
inimigo ; acompanhava-o a honra d*alguns valentes
e animosos moradores , mas para a presente ocea*
siao faziao tao pouco numero, que dravao a con^
fianqa & temeridade, quanto mais ao atrevimento.
X. No dia seguinte 16 de Fevereiro se pos^rao
era marcba, levaudo o coronal Wandemburg^ a van-
guarda de seus esquadroes , cujo centro formava o
trem de sua artilharia, dilatandoa circumferencia
at^ as praias do mar^ pelo qusl Ihe faziao compa^
nhia todas suas lanehas^ varejando al6 oude cfursavao
as balas. Nao deixou de ser perseguido o Hollandez
por algnmas mangas nossas que formavao animosos
mancebos chamados do primeiro rebate, cauaando-
Ibe nao menos receiocjue estrago^porque cobertos dos
matos erao tao certos seus tiros como desconhecido
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33 CASTRIOTO LUSITAIia
seu numero. Chegou ao rio Doce, cuja passagem
achou empedida com trincheiras , e presidios de
gente da ordenanca y que governavao os capilaes
Francisco Tavares, e Martim Ferreira, mais para
temer pelo vulio que pela disciplina. A falta d'esU
conheceo o inimigo pelo mat cerrado das cai^gas ; e
nao temendo aos que sem ordem Ihe haviao de I'e-
sistir» cocQiuetleo a passagem com todo o poder,
avancando as tiincheiras , que os nossos desampa*
r^o com aquella desordem, que faz parecer a re-
tirada fugida ; sendo lao poucos os que leve cons-
tantes o valor que podeiao servirpara niostrar a dif-
feren^a , por^m nao para sustenlar a opposicao ; o
que fizerao por algum tempo com damno de mor-
t08 e feridos de uma e outra parte. — Ouvindo os
ultimos golpes do conflicto chegou a avistar aquelle
sitio Mathias d'Albuquerque acompanhado de gente
de p^ e de cavalio com um Iroco que, contado pelo
numero, era de 760 homeus , mas pela disciplina
constava demui poucos soldados, e lodos animosos,
por^m sem exercicio da milicia. Vio o govemador
OS defensores da passagem depois de desbaratados,
descompostoSySem arte que os composesse (primeiro
vencidos da propria impericia que da alheia ror9a)^
Irabalhou por os recollter ao seu esquadrao y em
que conheceo a mesma falta; escusou-s6 ao encontro
com a certeza de pei der a batalha, e se foi retirando
com o intento de esperar o Flamengo na passagem
do rio Tapado , que havia vadear com agua pela
cinta, mas a poucos passes, achando-se desamparado
do maior numero da companhia, e s6 assisiido dos
capitaes eoiBciaes com poucos soldados, vio-seobri-
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GASTRIOTO UmiTAlfO. 33
gado a obedecer a necessidade retirando-se para a
villa.
XI. Fayorecido de nossas omissoes proseguio o
inimigo sua niarcha aerviado-Uie de guia, na reti-
rada, os que nao servirao i defensa. Corria com os
paaaos de sua fortuoa, e para voar Ihe dec azas
nossa deagra^ , porque urn homem nosso se Ihe of-
fereoeo para os guiar para a villa por caminho mais
seguro e de menos rodeio. (Por infamar os mora-
dores escrevem alguns que foi um d'elles ^ por^m a
iorormacao da verdade diz que foi um mulato de
pouca sorte. ) Avistou o inimigo a povoacao, e divi*
dido o poder em trocos, avancou por diflferentes
partes ; nas quaes , se achava homens y nao achava
inimigos. Com o grosso do poder subio a apoderar-
se do alio da villa, achando eoLO coUegio da Com-
panhia alojamento, sem encontro. A um tropel, que
guiou por detraz da cerca de Sao Francisco, deteve
o capitao Salvador d^Azevedo com vinte dous solda-
dos y que favorecidos do sitio sairao de cara a cara
a rebater o Holiandez, mostrando sen valor a todos,
o que iodos deviao fazer. Era o passo estreito y o
animo dos nossos destemido, razao por que o en-
contro foi porfiado ; e nao forao os nossos vencidos
se a virtude se nao vira opprimida da multidao,
que A custa de muitosofficiaesesoldados franqueou
a marcha, com deixar a todos os nossos ou mortos
ou feridos. — Chegou o Flamengo & igreja de Jesus,
onde muitos dos nossos se tinhao fortificado, e ar-
rebalado de diabolico furor contra o sagrado deitou
por terra as portas do templo, ferindo sem pie-
dade os que nelle se acolherao. Um grande tmpel
I. 3
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envestio o reduto que firava A «ntrada da rillk tsbm
tumulto e ousadia; mas nelle achdrao profiada
resistcncia da parte do3 derensores, que com oargas
d'artilfaark e mosquetaria detiv^rao algum tempo
a corrente do orgulho conlrario , e talvez os teriao
rebatido se nao fosse a trai^ao de dons Flamengos,
que estayao entre os nossos > chamado urn Adriao
Franco, outro Cornelio Joao, os quaes temendo os
efFeitos de nossa resolucao, com traidoras intelli-
gencias derao edtrada aos seus , e se deixdrao ficar
com elles no reduto ; do qual salrao rendidos os
nossos. Pelo tempo adiante pag&rao os dous Fla-
mengos esta traicao com outra, que no Arrecife os
levou ao supplicio por servirem d'espias dobles ,
infieis a proprios e a estranhos.
XII. Apoderado o inimigo da villa e de suas fiwrti-
ficacoes (um sabbado pela tarde, 16 de Fevereiro
de 1630) continuou Mathias d* Albuquerque em
obrar o possivel , com trabalho inutil. Como por
destine o levavao as retiradas a guiar o inimigo para
as investidas. Nao ha erro que se nao encadte com
outro erro. 0 nao ter comsigo gente com que de-
fender a villa o tirou para o Arrecife : era de menos
ambito a povoacao, e bastava-lhe menos gente
para a defender ; por6m na retirada desamparou-o
tanta , que se vio com mends do que era necessario
para guamecer sufficientemente a palicada» Quiz re-
mediar com a induslria a falta do poder, e mandou
aos capitaes Joao Paes Barboza, Martim Ferreira ,
Francisco Tavares, que com a gente que tinhao cor-
tassem com uma trincheira o caminho da villa
para o Arrecife, a onde as avancadas do inimigo
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fliSnWTO UaTAMu W
qudbrasaett a in^imdra filria, e detivdSMili a coi^
rente de tanta victoria ; preveneao que o Hollimdes
deixou fruglada ^ guiado d'outra vereda , que Ihe
deixou livre a envestida e aos nosaos franoa a reti-
rada , em que jd obedeciao ao cuatume ( nao sei se
permittido de mais que humana proTidencia)*
O restante d'aquelle infau^to dia gastou o Flamengo
em extor^oes, violencias e roubos, atropellaodo
com a tyrannia as leis da humanidade. — Nao pode
o valor e soffrimento de Andr^ Pereira Temudo
coiB as exorbitantes demazias do sacrilego hereje,
e levado d'um catholico zelo envestio, junto i igreja
da Misericordia, com uma tropa de Flamengos^
abrindo com a espada camioho para a morte e para
a vingan9a» & custa de sua vida^ e da de muitoa
contrarios.
XIII. Referir a calamitosa tribulacao dos aSlic*
tos moradores fora mais representar uma tragedia,
que eacrever uma historia ; basta dizer que o vie-
torioso era Hollaodezy hereje sobre inimigo^ e cos-
sario sobre hereje. Para augmentar o estrago se
valeo a fuiia de proprios e contrarios. Os facino-
rosos que a justi^a depositava nos cai ceres , rom-
pidasasprisoeS) sa'irao com impetuosa correntea
continuar os deUctos, roubando sem medo, ferindo
sem causa , matando sem colera ; pagando a inno-
cencia a prisao, de que fez injuria a malicia. A
mesma diligencia, com que os tristes moradores bus-
cavao o remedio^ os levava i ruina. As mulheres
de todo o estado ^ e as criancas de urn e outro sexo^
que anticipadamente fortavao o corpo i violencia ,
a padec^rao menos soflrivel, porque mais insup-
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S6 GAsnnyio lusitaiio.
portavel se fazia executada pelos proprio6 que pelos
contrarios, despojando-as do que pod^o salvar de
seus rooveis para o servico de seu adomo ou de sua
necessidade. Forao estes aquelles , aos quaes nem a
honra obrigou a defensa, nem a humanidade a com-
paixao. Pelo excesso os distinguia dos herejes o es-
candalo ; porque com maior insolencia nao sabiao
fazer differenca de pessoa a pessoa, de lugar alugar,
de edificio a edificio. Vio-se a fatalidade da perdicao
em se intentar a reserva "por meio do estrago. —
Ao mesmo tempo que o furor dos inimigos
consummia e abrazava na villa honras, vidas e
fazendas, ardiao no mare no Arrecife trinta na-
vios , e lodos os armazens , a que Mathias d' Albu-
querque mandou p6r fogo; e nelle, al^m d'outras
muitas drogas, ard^rao mais de duas mil caixas
d'assucar, em que as chamas consumirao a posse
e a esperanca da riqueza e da cobica. Espectaculo
que OS estraugeiros viao com espanto, os naturaes
com lastima. Fez o successo parecer profecia o que
antes havia sido comminacao evangelica.
XlV.Vendo o Holiandez que os nossos abando-
navao as chamas aquillo que uao podiao guardar
nem defender, Ucenciou aos soldados o Arrecife e a
villa, condemnando todas as casas dos moradores ao
saco.Engolfou-seoroubono permiltido enovedado,
igualando a cobica a hostilidade e o estrago , sem
perdoar aos mesmos editicios. Entre as logeas (que
achou com muito recheio de fazendas, e nellas tudo
o que podia servir ao decoro e a vaidade ) havia al-
gumas bem providas de tudo quanto a natureza e a
arte podem offerecer a gula; nestas se engolfou a in-
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GASTBIOrO LUSITANO. 37
fame dos Flamengos , satisfazendo a sede e ao cus-
tume com preciosos yinhos, e com tanto excesso^
que privados do juizo e dos sentidos, ou o somno
OS deixava insensiveis, ou a carga os fazia immoveis.
Os escravoSy vendo derrotados tao yilmente aos que
respeitavao victoriosos, como senhores do campo se
fizerao arbitros da presa , roubando aos cossarios o
mais precioso dos despojos. Alguns houve, a quern
o roubo nao fez esquecer a fidelidade , que forao
dar conta a Matbias d'Albuquerque, afirmando-
Ihe que, se queria aproveitar-se da opportunidade
passaria o inimigo a espada , certo de que no pre-
sente estado nao ia a buscar homens, seuao odres.
OfFereceo-se um paizano, com alguns companheiros,
para o assalto ; mas desprezou-se a offerta , porque
a calumniou de infiel a suspeita. — Findo o saco
atlendeo o Flamengo a fortificacao da villa e do Ar*-
recife ; nao porque temesse o assalto dos nossos ,
senao por ter sojeitos e disciplinados os seus.
Xy. Davao cuidado ao inimigo as forcas que de-
fendiao a barra (erao duas, a do mar e a da terra) :
queria franquear o porto a armada queesta va no mar,
e reduzir a communicacao dos seus a menor distau-
cia. Preparourse para ganhar por entrepreza a forca
da terra, prevenindo todos os petrecbos necessarios
para o assaho, e todas as cantellas para o segredo.
0 capitao Antonio de Lima, govemador'da for^a,
nao perdia tempo em se fortificar e guamecer de
tudo o que era necessario para a defensa ; mas nao
era em todos os seus igual o valor e a constancia :
pois o abandonarao todos , roenos sete soldados tao
destimidos , que desprez^rao o exemplo dos com-
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18 GiSTUOlO LVSITAlia
panheiros pw imitar a vakutia do capilao. Deo
parte a Mathias d' Albuquerque do que se passava,
em occasiao que estava presente Joao Fernandes
Yieira, yarao a quern o valor e a fortuna fiaerao a
todas as luzes grande^ cujo animo esperava ocoa-
sioes para se adianiar ao numero dos annoa : achou
fiesta o que desejava , e sem dila^ao se offereceo a
morrer em defensa da forca (como oytro Marco
Gurcio em beneficio da patria) ; gentileza que imi-
tarao at^ vinte moradores, ou persuadidos da emo-
la^o^ ou obrtgados do exemplo. Agradeceo Ma*
tbias d' Albuquerque o servi^o y e Antonio de Lima
o ofazequio, conhecendo que, guarnecida a fortaleza
de animoa tao valerosoa , acbaria o inimigo nella
mais causa para o deayio que para o assalto. Do va-
lor mais conhecido fiou o capilao o posto mais ap-
riscado : enoommendou a Joao Fernandes Vieira
que no mais perigoso estivesse de sentinella ; o que
fez sem interpolacao tres dias e tres noitee conti^
nuos, sairindo-se seu animo do ck6vek> como o po-
d^ra fazer do descanco. — Passados cineo dias em
descan^o , di^xn-se o inimigo a atacar a fortaleza,
em que se achava Joao Fernandez Vieira ; no mais
escuro da noite saio da villa com dezeseis escadaa,
e mn numeroso tro^o de combatentes escolhidoa )
e a passo lenlo cbegou a subir pelas escadas , pri-«
meiro qu% fosse sentido das sentinellas, que nao ti-
verao mais lugar que de aoordar os companheiros
com OS golpes , com que rebat^o os inimigoa»
deitaado das muralhas furiosamenle os que as
tinhao avancado ; e a todos os que ousados os ser
guiao opprimirao com golpes^ pedras e travea^ que
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C^STRiOTO LuaiTANa * 59
sobre eUes l^itcavao, com tal de^tpo^o que do$ mea-
inos peda^oi^ das escadas fez o estrago infttrumea-^
toa para a ruinat Para a minorar (com divertir e
ofiEender os cereados) Ihe deiiou o Hollandez dentro
da fbrtaleza successivas nuveos de granada$, e
alcanziaa de fogo ; por^ achou Qelles tanto acordo
este diabolico artiQcio, queapenas dava na forta-
leza o golpe, quando a vigiUacia dos nossos o coo**
duzia pelos ares a executar o incendio entre 06 ini-
luigos. — Crecia o damno i sem cessar o combate :
a resiatencia accepdia o furor de uns $ a porfia aug-
lO^taya o yalor de oulros , al^ que o iuimigo cor->
tado f taato da parda oomo do deaeiigauo^ ie redrou
do oonflicto deixaiKio 150 mortos, e muito maior
numero de fer idos » enlre quantidade d armas e mu«
ui^oaa; que aoa aoasoe servirao para o daapojo , e
para o triompbo com que solemnizarao a victoria;
aqual uao p6de diminuir a perda de quatro mortos
e se^ feiidod; tao mereoedorea de etornos elogios
que 06 eograndeeia a iaveja , sem dar lugar a que
oa eboraaae a dor.
XVf. Deaenganado o Hollandez que nao podia
por eutreptesa tomar a fortaleza , a qual tinhao
eorrido uovoa oombatantes com a noiicia da Tieto*
ria alcaBcada, dispoz-ae a atacal-a em f6nna regular,
huaoaudo modo wm que podeaae offender sem aer
offimdido^ Maudou diaote 660 gaatadores, que
abriaaeai pela areia uma estrada encoberta e tor^
eida , eortando a ponta da reatinga , que divide a
terra do mar^ peb qual deaemboeasae a por aitio a
fortaUza, que logo cercarao de cava e triucheiraa
i^om |»M>pQffeiouadaa pUtaformaa^ em que aaaeutarao
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40 CA8TU0T0 LU81TA190.
muitas pe^as de bater, e entre ellas urn grosdo ca-
nhfto que comecou a desmantellar a fortaleza com a
furia e braveza que alimenta o odio e a Tinganca.
Era o edi6cio, alem de limitado, fabrica sem arte
( consummido do tempo e do descuido), levantado
para intimidar a singeleza, e nao para resistir a pro-
fia ajustada da. arte ; mas por isso mesmo 6 mais glo-
riosa a defensa que os nossos nelle fizerao.
XVII. Demantellados os muros, descavalgadas
as pecas, mais era um monte de ruinas que obra
de forti6cacao aquella fortaleza, em que Joao Fer-
nandes Vieira levantava o primeiro padrao a sua
gloria. Animados por elle, oflTendiao e se defendiao
OS cercados, em quanto houve paredes, que susten-
tassem o impeto dos assaltados. Por fim pelejavao
]& OS nossos a peito descuberio y arrasados os de-
fensivos da forca, abertos os muros, caidos os re-
paros. Nao ousava com tudo o inimigo dar o ultimo
asealto , temendo que dos mesmos fragmentos fa-
bricasse a fortuna para os seus sepulcro , e para os
nossos theatro ; e assim determinava veneer sem
invcslir.— Ja a este tempo se via o valor dos Portu-
gueses rendido ao trabalho e ao destro^o ; inteiros
no animo, porim destituidos das forcas. Sabiao que
o soccorro era impossivel , a resistencia inutil , o
risco irrefragavel,osuccessoconlingente,e tomando
melhor acordo entrarao em conselho, conferindo
entre si quanto melhor acerto seria livrar as vidas
de uma morte inutil, para as aproveitar em uma
occasiao dilosa que entregal-as a espada inimiga
com gloria sem fructo : resolv£rao-se na entr^a,
consultando entre si os partidos. Um estrangeiro^
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CASTBIOTO LUSTTANO. &1
que era oondestavel da artilharia y percebendo esta
resolu^ao adiantou-se a levantar a bandeira branca^
ftzendo com ella chamada para a entrega. Acodio
o inimigo alrorocado y passdrao-se refens de parte
a parte , saio da fortaleza o capitao Gil Correa de
Castello Branco a ajustar as condicoes da entrega ,
que se conced^o como da nossa parte se pedirao.
Com annas e moveis, trazendo corda accesa, e
bala em boca, sairao os Portnguezes, e com Kber-
dade para disporem como quizessem de suas pes-
seas. — Digna de gloriosa memoria (comoac^ao
propria de Joao FernandesVieira) foi uma gene-
rosa adverteucia^ quenesta occasiao teye. Nao se lem-
brarao os rendidos da reputacao que perdiao nossas
armas , deixando as bandeiras d'El Rei e insignias
dos cabos da milicia expostas ao desprezo inimigo;
porimaquellecoracao, animado sempre de gene-
rosos espiritoSy menos ambicioso da vida que da
honra , teve cuidado de mandar a um moco seu
que recolhesse a prata da gineta e enrolasse em si
a bandeira do capitao Afonso d' Albuquerque, que
era um dos rendidos, e cingindo comsigo mesmo
outra, as salvou ambas do oprobrio. Lembran^a
verdadeiramente toda do valor, e nada da com*
modidade, devendo a sua memoria o serrico que
(azia y e nao o risco a que se expunha. Gloria foi de
Lucilio ser nesta gentileza o priraeiro ; por^m mais
se deve gloriar de ser nella Joao Fernandes Yieira
o segundo.
XVIII. *Queria o Hollandez que os nossos juras-
sem de nao tomar armas contra os Estados por tempo
de seis mexes ; por^ como era contra o pactuado
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Mt c4pit\ila9ao reciuavaohse firmemente, preferiudo
antes p^ioso carcere, a queos condemnou a perQdia
ioimiga^ que liberdade afrontoaa. Apellou a pacieor
da para os heneficios do tempo, e depois de paasa-
dos alguQs diaa alcan^ou o que nao pode cou^eguir
a razao. Nestas djligencias e outras meaos decorosag
gastou o iniiqigo todo o mez de Fevereiro, Entrou
0 prioieiro de Mar^Oj e ao segundo dia fez embaixadt
a nossa forlelezado mar que ae entregaase, elhe dar
ria bom qu^rtel, porque se esperasse a que a reu-
desse por arma^, sem distinc^ao de pe$soa os havia
de passar todos a espada. 0 capitao Manoel Pacheco^
que goveniaya a forca, cousultou com os seus sol-r
dados a resposta ; e saio decreUKlo que se entregasse,
pois se yiao faUos de meios para a defender, e sen^
esperan^ de soccorro, para que i presente ne^
cessidade podesse apellar, — Oppdz*« & resolu9ao
o tenente Pedro Barbosa com differente parecer,
dizendo que Matbias d'Albuquerque Ihes tUra
aquella fortal^ia para a defenderem como anio^sos,
^ nao para a entregarem como cobardes ; que em
o fazerem primeiro incorriao a infamia de desleaes
que de medrosos; que faltava a essencia de varao
e de yassaUo, quem entregava ao amea^o o que
devia defender a golpes ; que a bonra dos homens
briosos era re^ulta do soffrimento, e nao da deses-
peracao. c< Que dira de ncis o Hollandez, dizia elle,
i) veodo que nos veqce com palavras, senao que nos
» entrega o medo e nao a necessidade ? Esia forta^
> leza nao mudou o ser depois que nosobrigamos
JO a sustental-a ; pois logo com que apparencia de
JD deiKulpa a hayemos de entregar sem cooeJMte ao
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j^ ii^liKHgo ? Quern vio a valeros^ resisteacia ^n ^pie
» a no^oa olhoa se defei^deo a fortaleza da terra ,
ji> que ha de dizer, sepao que pode m^us coomoaop
» a oobardia que o exemplo ? £»peremos o aitio ;
^ proyemosas forgas com o iuijuigo, e quando qos
M olhe de rev^ a fortuoa, lugar uos fica para pa^
A) tuara intrega, sendo certo que milhore^ parti-r
» dos bavemos de tirar com a espada uua que coqi
» ell^ embainhada. » £&te parecer foi ouvido , cqqi
maistumuUoqueatten9ao; vianseperplexo o c^pjtaoy
e Janfoq mac d'um meio que podia escusal-o da dea-
honra : repoudeo ao enviado, que se Ibe concedea*
sem tre$ dias para eonwltar ueUea ao s^u general
lyfothias d' Albuquerq^e, ou para que o soccorresse^
9u para quese iu^regaase passado este termo* Colheo
o ioimigOy pela modeatia da respoata> a^diapoai*
(oes dos auimos ; e certo. de que sem desembainh^r
aeapada bairia de g^nUar a^ fortale^, toruou logo
a en^iar o meuaageiro com segundo recado, que nao
ooDoediatreadias^oem tresborasparaadeUbera^ao;
que fie logo logo se Ihe uao fizesae a eutrega , 09
coadepmava a todos os ^cesaos da ira. Nao espe-
rou mais Manoel Pacheco para se eatregar^ porqu?
aeu desejo aao esperava mais para o fazer ; e assim
deixou nas maos do inimigo a fortaleza municiada
e inteira , de aorte que se podia presumir entrara
nella para Ih'a guardar, e. nao para Ih'a defender.
XIX. Com o mesmo cabedal, e com a mesma
fortuna se fez o Flameugo senhor do Arrecife, sem
inimigo que temesse, nem temendoque o assaltasse.
Mathias d' Albuquerque com alguns poucos que
o seguiao ^e bavia retirado aos matos , buscando
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&& GA8TRI0T0 LU8ITA1I0.
nelles amparo para a defeDsa , e nao auxilio para
a opposicao. Celebrou o inimigo o gosto da vio
toria com repetir os motivos do escandalo, entre-
gando-se mais licenciosamente aos sacrilegios , aos
roubos e as ^iolencias com tao publico ludibrio
da nacao , e da religiao, que saiao dos templos ves-
tidos DOS parameiitos sagrados, e nas becas das
confrarias, representando sua alegria com nossa in-
juria ; e assim corriao as mas , e entravao nas casas
destinadas para tribunaes de justica e do govemo,
e com desprezo e farsa insultavaoo sagrado e o pro^
fano. Tinhao-se recolhido para o porto todos as
naos da armada, todos os marinheiros tinhao sal-
tado em terra, e tanto crec^rao os inimigos em nu-
mero quanto crec^rao os iosultos no excesso; e para
que em nenhuma parte fosse difTerente nossa for-
tuna ordenarao que uma esquadra de suas fragatas
corresse os mares d'aquella costa, para que Ihe cais-
sem nas maos todos os navios de Portugal, que igno-
rantes do successo buscassem os portos d'aquelle
Estado. Nao forao poucos os que, entre a seguran^a
e a noticia , experiment^rao uma mesma sorie em
tao diversos elementos.
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LIVRO m.
SUMMARIO.
. Chama Mathlas d*AIbiiqaerque ot moradoref a eonsdllo; reiolacaa
que nelle te toma. — 2. Edificao oi nossos nma fortaleia. ^
3. loteDta 0 inimigo ganhdi-a ; foge detbaratado ; yalerosa ou-
sadia de Manoel Diat da Franca. — 4. Joao Fernandes Yieira ea-
pitao d'assegurar o campo. — 5. Fortifiea-«e o inimigo em lodat
af partes; d^ principio a uma trincheira, em que 6 atacado pelot
noMos ; 0 general hoUandex foge a unhas de cavallo. — 5. Diapo-
•icao com que cercamos o inimigo ao largo. — 7. Valerosa refolu*
Cao dos nosaoa.— 8. Aiaalta-se a povoaceo de Sao Antonio: com que
aucceaao. * 9. Ganbou o HoUandex o perdido ; aeautella-fe para
o futuro. —10. Sai com todo poder a ganhar uma trincbeira ; de-
fende-a o capitao Luix Barbalho.— 11. Intenta o Flamengo matar-
Dos a gente : o que Ibe auccede. — 12. Sai o inimigo contra a
estancia do rio Doee : o que Ihe snccede. — 13. Intenta ganbar
uma trincbeira , donde ae retira castigado ; acbou em outraa em-
prezaa a mesma aorte. — 14. Cbegao a Lisboa e a Madrid aa novaa
da entrepreza de Pernambuco ; trata-se a restauracao ; numero e
qualidade do soccorro que se mandon. — 15. Sai o inimigo a malar
a fome : o que Ibe succede. — 16. Levanta o inimigo uma trin-
cbeira no sitio que cbamao a Seca , que os nouos pretendem im-
pedir inutilmente. — 17. Prepara-se o inimigo para inradir a ilba
de Itamaraca : o que Ibe succede.— 18. Fortificao os nosaos a villa
de Iguaracd. — 19. Resolve-se o inimigo a larger a rilla ; em-
baiiada que manda aos nossos ; sua reaposta. — 20. Manda pdr Togo
i villa, e 0 que Ihe succede.— 21. Batalba naval entre Hollandezea
e Hespanhoes; accao memoravel do capitao Cosme de Couto;
perda da capitanea bollandeia, e morte de seu general ; victoria
da armada bespanbola. — 22. Bom Antonio de Oquendo deita
soccorro no rio Grande ; causa da desuniao entre os nossos ; della
se aproveila o inimigo para noa destruir ; a trai^ao d'um Mameluco
fez exemi'lo a muitos. — 23. luteota Sigismundo ganbar a fortaleza
da Paralba ; em que acba dura resistencia. — 24. Assalta o ini-
migo a estancia dos Portugueses ; com que successo. — 35. £spera
aebar melhor sorie na fortaleza de Nazareth ; retira-se destro^do
easualmente.— 20. Persuadido de traidores assalta e assola a villa
de Iguara^ii ; € assaltado na retirada pelos moradores, que eobrao
parte do roubo. — 27. 0 conde de Bauhollo intenta ganbar a
forUleza de Orange ; com leve acordo. — 28. Ganbou o inimigo
por asaalto a nosaa eftaneia doa Afogadoa ; depoia a de Muno de
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&6 GASTRIOIO LU8ITAN0.
Mello ; e com perda de genu e de repuUcio nosst a do MoidoBCt.
— 29. Determina tomar per assalto a Dossa forUleza do Arraial;
retira-se desordenado , e com perda ; valor de Jao Fernandes Vieira.
30. 0 Hollandez assalta e aasola diversas povoa^es e engenhos ;
ganha a ilfaa de Uamaraci. — 31. Empenha-«e em ganhar a noaaa
forialeza do Arraial; os nossos Ihe cortao o paaso; o que faz Ma^
thias d' Albuquerque. — 32. Manda o general hollandez saquear 4
fregueziade Saoimaro , como nossos capitaes os cortao e desbaratao.
33. Chega toccurro do reino , que o inimigo destroe. — 34. Sal o
inimigo com poder sobre a fortaleza do rio Grande, que 6e Ibe
entrega por irai^ao. — 35. Intentou o Qollandez a conquista do
ponial de Nazareth ; entra no porto com perda de duas fragaUs ;
OS nossos entregao ao fogo os navios que nelle tinhao ; o que
obrao em damno do inimigo ; perde-se a victoria p6r desgra^a. —
36. Imagina levar pur entrepreza a nossa fortaleza do Arraial;
sao OS nossos advertidos; retira-se com industrla. — 37. Manda
Mathias d' Albuquerque investir o reduto do Ponial : como Ihe
succede.— 38. Arraza o inimigo a povoagao de Cunhad. — 39. Che-
gou aos nossi^ um soccorro da Bahia. — 40. Salo o Flamengo a
roubar a campanha ; 6 desbaratado pelos nossos ; a mesina sorte
teve no porto do Calvo. — 41. Sai de Hollanda uma grossa armada,
que se dirige sobre a Paralba ; entrega-se a fortaleza e o forte de
Sao Antonio. — 42. Mathias d' Albuquerque manda soccorro i. Pa-
ralba ; 0 que ahi succede. — 43. Rouba o inimigo os contornos da
cidade; marcha Sigismundo a ganhar a campaiiba; Mathias d' Al-
buquerque Ihe manda coriar o passo ; o que succede au Rebellinho
nesia expedicao. — 44. Apresta-se Sigismundo para continuar a
conquista ; os nossos &e prepiiirao para a re&i«tencia. — 45. Manda
0 inimigo recouhccer a fortaleza do Arraial ; assalta, e ganha a
Moribeca ; eitorsoes que execuu. — 46. Luiz Barbalho e Dom
Fernando buscao o inimigo ; com o qual pelejao e perdem a victoria;
. 0 que succede ^quelle. — 47. Largao os nossos ao inimigo a po-
voa^ de Sao Louren^o ; cala|pidades com que a todos igualou a
serte. — 48. Luiz Barbalho assalta o inimigo com bom succesfio ;
retira-ae Mathias d' Albuquerque para Sirinhaem. — 48. Sai o ini-
migo a sitiar a fortaleza do Arraial; prepara-se o governador para
a defensa ; Joao Fernandes Vieira capitao dos aventureiros. —
50. De que modo dispoe o cerco o Holfandez ; dao os siiiados va-
ries atsaltos; profia o inimigo no cerco, e os nossos na defensa.
ttU Entrega-se a fortaleza a partido; vil perfidia do inimigo;
Joao Fernandas Vieira se resgata e a dous criados seus.
L Gafihada pdo Hollander a villa de Oliada e a
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pcm»ww do Arrecifc, mbedas daqurile diMri^tt ^
com todas suas foriiftcacoes , logo »e vio decUnar o
corpo de toda a capitania. Mathias d' Albuquerque
achava^seretiradO) e a&sistido doft moradot^^ acotft^
panhando-o na fuga quem o desemparAra na resis-
tencia. A calamidade, quelhes fazia conhecero erro,
Ihes faria desejar a emeiida. Yeiido estas boas dis-
posicoeS) e satisfazendo ^s importuuacoes com que
sua gente o persuadia a tomar as armas , cbamou
Matbias d' Albuquerque a conselho , e propondo a
todos o quanto convinha descolrir a cara ao inimigo,
consta que Ifaes fajlara na forma seguiute : « 0
M Holiandez uao se empenhou no exce^sivo gasto
» d'esta armada pela reputacao de suas lirmas,
» senao pelo inleresse de nossas drogas. Esta tia^
» como tern mostrado a experiencia, etn tanCo exer^
» cita a milicia em quanto the abre caminho para
» a ambigao ; disfarcao o habito com o de soldadoe)
» nem se arriscao pela victoria^ senao pek riquezat
> Ajudada sua forca de nossa desgraca se fez senhor
> de nossas casas e fazendas ; se viera a saquear,
}) conseguido o roubo largdra a terra. Fortifica*-se
» nella ; quem duvida que i com designio d^ no$
» desfrutar os campos? Se acharopposicao mudard
T> de intento ; pois i certo que para Ihe colher o*
}} fructos, OB ha de cultirar ou nossa sujei^ao^ on
» sua industrial e para o nao conseguir^ basta
» que o nao favoreca nem o soffrimento nem tk
».omi6sao; o que fio de animos que sabem estimar
» a honra, e sentir a perda. Dous meios nos podem
» conduzir a este fim ; ou o da conquisU . casli*
» gando a injuria^ ou a da defensa nao permitiindo
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A8 GAsniaio lusiTAMa
> a iii¥Mao; qual d'estes ae deva escolher por mais
» seguroy diii o parecer de tantos zelosoe e inte-
n ressados quantos se achao neste congresso. » —
Sem controversia se resolveo a guerra defeosiya j
porque com ella se escusava o dispendio e ao ini-
migo se fazia maior damno.
U. GoDCordes neste parecer, saio Mathias d'Al-
buquerque acompanhado de todos , a buscar sitio
regular e conyeniente para nelle fazer uma forta-
leza, que servisse ao iDtento. Por eleicao dos mais
intelligentes foi escolhido um outeiro, que se-
nhoreava toda a circumferencia, posto que pela na-
tureza em tao proporcionada distancia da villa e do
Arrecife, que de uma e outra povoa9ao ficava uma
grande legoa. Deseuhou-se a forca , p6z-se mao &
obra, e ao passo que crecia o edificio, creciao os
soldados e moradores (at^ entao dispersos) ; estes
para viverero & sombra da fortificacaO| aquelles para
serrirem a obra ; dando-se uns e outros tal pressa,
que pondo-lhe a primeira mao muitos dias andados
de Fevereiro, Ihe derao a ultima antes de acabado
Marco. A esta fortaleza , que era ao mesmo tempo
poToa^aOy derao o uome de Arraial.
IILSoberbo com a. victoria, e confiado em sua
fortuna olhava o Hollandez com desprezo aquelles
a quem venc^ra ; mas desde que Ihe constou que se
achavao reunidos, e que levantavao uma fortaleza,
dispoz-se a imped(l-a , mas nao o fez tanto a tempo
que nao a encoutrasse capaz de nos defender. £s-
colheo entre os sens 800 soldados^ e eml4 de niarco
sairao da villa de Olinda com deliberacao de nos
ganharem por assalto a povoacao, e a fortaleza do
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CASTRIOTO LUSITAMO. 49
Arraial, que neste tempo nao havia chegado a sua
uUima perfeicao ; por^m mais defensavel do que
imaginaTa. Tinha assentado comsigo que os Portu-
guezes emhebidos na obra , primeiro conheceriao o
assalto pelos golpes que pelos avisos. Fundava este
discurso ua promessa d'um Flameugo^ chamado
Adriao Franco^ pratico nos caminhos (deque^a
{alUinos)queseoffereceo a guiar os HoUandezes por
veredas occultas e faltas de saitinellas. — S^uindo
OS passos do sobrediio guia se poz o inimigo em
mnrcha muito antes de romper a manha; mas
forao taes os rodeios que fez, que gast^rao muitas
horas em Jornada para a qual bastava uma, dando
largo tempo ao conselho, e & prevencao dos nossos.
Matbias d' Albuquerque, que avisado das senti-
nellas via o informe da povoacao, a imperfeicao da
forCaleza, e o poder com que o HoUandez o buscava,
ordenou aos capitaes Joao de Amorim, Luiz Bar-
balhoy Marlim Fermra, Pedro Manoel Pavao, e
ou(roS) que com os soldados de suas companhias
saissem a ter encontro ao inimigo; o que Gzerao
com taota destreza , ppfidencia e valor, que o Fla-
mengo (que se acliava formado em esquadrao no sitio
chamado Agua Fria) se vio a^ mesmo tempo inves^
lido e destro^ado, nao Ihe deixando o furor mais
remedio que o da fugida. — Seguirao os Portuguezes
0 alcance, por^m como sao mais ligeiras as azas do
medo que as da ira, so Manoel Dias da Franoa, mon-
tado em um ginete seu o foi seguindo , ferindo e
matando, sem haver Flamengo que ousasse virar
a cara para ver que era nm s6 o que os picava ; att^
que o investio um tropel de muitos , a tempo que
I. A
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^^ OASmOTO UIStlAMa
se rompeo a cilha, e com a sella caiodo cavallo entre
elles. Nao desanimou o Taloroso mancebo com este
auccesso, antes cobrando novo esforqo se deaemba-
racou do8 inimigoa com tanta geniileaa, que nem
recebeo ferida nem perdeo honra, ajudando-lhe nesta
occaaiao a ganharmuiia ummulato sea, que oom
uma espada e uma rodela obrou maravilhas. Qua-
renta mortos deixou o inimigo no campo, alguns
no caminho.levando muitos feridos. Recolh^rao^e
OS nossos a oelebrar a victoria, que de todos foi
aclaraada com excessive gosto. Foi o primeiro dia
de bonanca que depois de lao continuada tormenta
DOS concedeo a fortuna , e no descustume trouxe
a estimacao.
IV. Logo que Mathias d' Albuquerque vio a foi^
taleta posta em sua ultima perfeicao (com plata-
formas, terrapleuos, parapeilos, contra-escarpas,
cava, penles, trincbeiras, e estacadas que cingiao
a forca e a povoacao) a guarneceo de refor^ada ar-
tilharia de bronze e ferro, e de sufficiente presidio;
consignou os poslos a particulares cabos ; e para
novos empregos criou novos capilaes. Entre ellea
nomeou a Joao Fernandes Vieira por capitao dos
batedores, que de noite e de dia haviao de assegu-
rar o campo ; achou na pessoa todos os requisitos
que pedia o cargo ; foi sua escolha pronostico de
que o valor, a que enlao fiavao os moradores o se-
guro, despois Ihe havia de metter em casa a liber-
dade. Obrigado d'esta mesma razao deo Mathias
d'Albuquerqne a Henrique Bias a gineta de capi-
tao e cabo de muitos minasecreoulos, que com
animo intrepido e fiel se alistirao para servir
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GA8T1I0TO UmiTAllO* 91
na guerra* Pareoe que com estes inaignes capittot
nod oontrapesou o tempo insigaes perdas; e bem
se pdde affirmair que com elles nos deo mais repa*
taoao do que nos tirou de imperio*
y. Vendo Theodoro Wadderoburg^ govdmadoir
das armas hoUandezas^ que nao pod^ra tomar fw
entrepresa a nossa fortaleza do Arraial i e para im^
pedir que a desordem em que Tieiio seus soldados
fosse em augmento, e acarretasse maior dasrentura^
tratou de se fortifiear^ nao sd por 8eguraii9a^ mas
para oocupar os soldados, e inspirar^lhes mais con*
fian<^« — Leyantou uma grossa iriiicheira por
fdra da poroa^ao de Sancto Antonio eutre os dous
rios e o mar com insupporiavel trabalho dos seus^
pela Haiureia do terreno^ Godi o me^mo cuidado
fortificou a villa, nao se dando por s^uro de nossa
ousadia^ nem ainda onde seus feparos o tinhao
mais guardado. Infc»*mado MathiAs d'Albuquerqua
dos movimentos do inimigo, e de que levantaya
uma trincheira n'um aitio fronceiro ao nosso Ar-»
raial, que chamao a ilha de Marcos Andr^ deoiro
da campina do Taborda, ehamou logo os oapitaesi
deo'lhes as ordens, encareodo^lhes a importanoia ,
e em 18 de Marco saio do Arraial Antonio Ribeiro
de Lacarda com 700 sddados entre Portuguezes ^
Minas, e Indios a desalojio* o Flamengo, e des«
fazar a trincheira. EmbuscoU a gente, emandou
ao capilao Francisco Rebello (illustre pelp diminu**
iiTO de RebeUinho , a quern as prensas fizerao maior
que seu appellido) que com tinte soldados fosse
provocar ao Hollamlez^ a que saisse a pelejar. Deo«*
se o Flamengo por afrontado do atreyimenio, saio
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53 GASTRIOTO LUSlTAlVa
a castigar a demasia fiado nas vantagens de seu
partido. Nao virirao os nossos a cara ao encontro,
antes dissimulando o intento ^ se forao retiraodo,
em ordem a metter o oontrario na emboscada , que
o inimigo suspeitou sobejamente cauto , e fez alto
com a sua gente. 0 Rebellinho , que penetrou a
causa , correo a avancdl-o , lao destemido , que o
Flamengo , cego da colera , perdeo da vista o receio;
e o carregou assim furioso que se metteo no cora-
cao do perigo, conhecendo o erro a tempo que Ihe
fffltaya o remedio. Sem resistencia se pos^rao os
inimigos em fugida, bastando aquella detencai de
que necessitou a escoiha , para deixar cincoenta
mortos no lugar da batalha , nao entrando neste
numero os que perdeo no alcance, pers^^uido dos
nossos por algum espaco^ e at^ a sua trincheira de
oito mancebos de cavallo , alanoeando a todos os
que alcancavao. Nao dizem nossas relacoes em que
poder fic4ra a trincheira; affirmao que nos recolhe-
roos com vinte seis feridos, sem que da nossa parte
houvesse morto. — Nao era senhor o HoUandez de
passar a distancia, que se interpoe entre a villa e o
Arrecife, sem companhias de guarda ; e nem assim
se deferideode nossas embuscadas. Em 26 de Marco
fizerao as sentinellas aviso que o general das armas
hollandezas , acompanhado d'um seu coronel , se
dispunha a passar do Arrecife para a villa com
600 soldados de guarda (ou por dec6ro, ou por
medo); o que entendido por Mathias d' Albuquerque
nomeou por cabo d'algumas companhias a Pascoal
Pereira (soldado de opiniao) ; deo-lhe por ordem
que d emboscada esperasse o inimigo. 0 successo
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GASTRIOTO LUUTAMO. 53
acreditou a escolha. Sairao os nossos de emboscada
com tanta disciplina, e tanto a tempo, que desoi^
denado e roto o HoUandez deo as costas 6& balas;
uao bouye algum.a quem se vissea cara. Oprimeiro
que no conflicto servio ao exempio foi o seu gene-
ral, eandou tao venturoso que encarando neile o
capitao Luiz Barbalho uma clavina, o nao derribou
o tiro, porque nao Ibe tomou fogo ; a unha de cavalio
se pcz em seguro, levemente cortado do nosso ferro
por um bombro , por&m muito roais cfe medo,
debiando os seus no perigo, a que nao pod^rao fugir
quarenta e nove, que ficarao mortos na campanha,
e muitos outros que perec^ao no alcance* Sem
conta foiio os que matirao os Indios^ e as ondas ;
por escaparem ao ferro se deitirao & agua , e nella
Tiao que a morte com dobradas armas Ibe tiraya a
?ida. Recolberao-se os nossos sem mortonem ferido,
com que a victoria se applaudio sem sangue ^ e
sem enterro o triumpho , para cuja pompa nao fal«
tavao captivos.
YL Desde esta occasiao por nenbuma parte saia
de suas fortificacoes que se naoenredasse no la^o que
OS nossos por todas Ibe tinbao armado. Direia fdrma
da situaqao denossasestancias, para que se entenda
como nossas armas o tinbao cingido. Gorrendo da
parte do norte para o sul, em uma bermida de
Sancto Amaro, se aquartellava Matbias d' Albu-
querque Maranbao com gente da Paraiba , que aco-
dio a servir na guerra* Seguiase a estancia do
Padre Manoel de Moraes^ que guarnecia com In-
dios de seu partido igualmente disciplinados na
religiao e nas armas. Logo a do Gamarao com os In-
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6* CAftTRIOTO LWStinO.
dios de teu governo , que erao todos aquelles, com
que uestes priqcipios se veio offerecer para servir.
Pouco dislante (icava a que defendia o capitao Es-
levao Alvares. Junto ao Buraco de San Tiago tinha
ftitu^cio a seguinte, que presidiava o capitao Luiz
Barbalho (era a mais arriscada, e fiou-se ao capitao
mais deatemido). A este modo continuavao os quar-
teia peloa aitios de Bd)eribe e Seca encommendados
a diversoa eapitaes ; dando-se as maos una aos ou-
troa de aorle que com facilidade se podiao soccorrer.
ConsignAraorse tro^s de gente escolhida a dide-
rentes cabos que por turno rondassem e descobris-
•em as distancias, que se entrepunhao entre uns
e outros quarteis. Desta maneira nao podiao deixar
de ser quotidianos os assaltos^ que nao particular!-
eamos pela semelhanca dos suceessos ; e sdmente
faremos mencao d'aquelles encontros, que var^ao
em algumas cfrcumstancias.
VH. Na villa de Olinda fez o inimigo^ em 16 de
Manjo, paga g^ral a todaagenteda milicia. Ao tempo
que em turmas voltavao com o soldo que tinhao
recebido, andavao sessenta Indios nossos^ deque
era cabo Joao Mendes Fiores, trabalhando em uma
trincheira no sitio do Buraco de San Tiago, Dous
soMados Mamelucos, que estavao de posta ao lai^,
fizerao aviso aos Indios da boa occasiao com que
06 rogava a fortuna; e animados com a esperanca
da presa derao sobre os Flamengos com um repen-
tino assalto de vozes e cargas, matando a muitos,
eatordindo a todos, detal maneira que, occupados
do pasmo, nao tinhao liberdade para a fugida,
nem animo para a defensa. Oitenta degolou o ferro ;
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j^auitQS mais os que atou o grilho. Aproveit^rao-se
OB ladios de armas, vestidos, e soldo de todos,
{JTSizepdo diante de si os captives, que seryiiio de
crpdito ^ grandeza da victoria, e a fama do despojo,
VIII. Nao satisfeitos os nossos de inquietarem
oontiauamente o inimigo por todas as paries, re^
solv^rao a bufiedLo deatio de suas fortifica^oes.
Ceroa va uma grossa trincheira a povoa^o de Sancto
Antonio (a que chao)i&rao cidade de Mauricda),
a qual, assim pda fdnna como pela gaamicao, era
o fiador de toda a confiauca inimiga. Esta determi*
Dir^o OS nossos investir e ganhar ; e arraaada con-
duzar-lhe a artelharia , que era muita e grossa,
para o nosso ArraiaL Fiou o general a empresa a
Antonio Ribeiro de Lacerda, o qual aoompaabado
d outros eapitaes e mil soldados, entre Porluguesep
p Indios, saio do Arraial em 25 de Maroo, pela
meia noite. Marchou a gente sem rumor at^ perto
da trindieira, onde a repartio em tres tro^os para
inveslir a um mesmo tempo por tres paries. Dado
signal avancou Luiz Barbalho i trinchetra pela
frente , que ganhou com leve resistencia ; entrou
na povoacao , onde nao fikx>u oasa forte que nao in-
Tesdsse , nem topou contrario que nao rendesse.
0 oapitao Manoel da Franca, que com um segundo
terco commetteo a trincheira por um lado, a subio,
e rompeo a defensa com facilidade. Nao houve
inimigo que o parecesse, nem que esperasse golpe;
todos fugiao ao perigo , tao desatinados que nelle
buscavao o rem^o ; entregavao as vidas ao pego ,
onde juntamente achavao a morte e o sepulcro.
Era c terceiro esquadrao o mais grosso : com elle
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56 GA8TBI0T0 LUSITAHO.
passou Antonio Ribeiro de Lacerda o rio^ e por
fbra da trincheira comroetteo a povoacao , na qual
Ires batalhas form^rao urn conflicto. Nao achava
para onde fugir a vida , porque em toda a parte
encontrava um mesmo ferro ; o escuro da noite
nao deixava distinguir amigos de contrarios, nem
o furor oppostos de rendidos. A nenhum sexo nem
idade perdoa^a a espada ; a muitos matavao junta-
mente a espada e o chumbo ; ja nao achava o nosso
pulso a quem veneer, senao a quern ferir. A bra^os
veio um capitao hoUandez com o Rebellinho, e es«*
pirou apertado de seus bracos o HoUandez. Nas
casaS| e nas ruas achavao os miseraveis rendidos
uma mesma fortuna ; era tanta a confusao, ajudada
do estrondo das armas, das vozes^ e da aflliccao,
que se tinha por bem afortunado o que podia com
a vida dar fim ao medo. A artelharia da trincheira^
asssesiada pelos nossos com pontaria para as casas
da povoacao , foi sen maior estrago. Achavao os
nossos na presenca dos aggressores vivas as memo-
rias da perda e da injuria ; e o desejo da vinganca
OS nao deixava lembrar da clemencia*
IX. Tudo is to se passou antes de ser manha, e
que foi de grande embaraco para os nossos, porque
nao podiao distinguir amigos de inimigos , como
aconteceo aos capitaes Rebellinho e Luiz Barbalho ,
que achando-s^ cada um d'elles na extremidade d'u-
ma mesma rua, e caminhando a topar-se, presu-
mirao que era soccorro que viuha ao Hollandez, e
esfriirao no ataque temendo-se um ao outro. Meste
ponto deo-se rebate do assalto no Arrecife, e assim
d'elle como d'algumas n^os ^ que estavao no porto^
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GA8T110T0 UJSITAlfa 57
86 *disparou muita artelharia sobre a povoa^ao, com
que a nossa genie se confirmou no errado conceito
que 6zera. D'uma e outra parte se appellidou a
gritos a retirada y fugindo todos d'umas mesmas
armas, com aquella confusao e desordem que se vA
em quem foge de sua propria sombra. Cobrou-se o
Flamengo da trincheira ; e as bakis de sua artelharia
nos forao perseguindo ate o ultimo alcance. Nelle
perdeo a vida o tenente general Pedro Femandes
Ferrete ; e uma perna o cabo d'esta empresa Anto-
nio Ribeiro de Lacerda ; goipe de que morreo ao
outro dia. Deix^mos no campo onze mortos , oito
PortuguezeSy e tres Indios , e nos recolhemos com
dez feridos. -— Escarmentado o HoUandez com
este successo, tratou de acautelkr^se para o fu-
turo : engrossou os presidios, dobrou as sentinellas,
mandou com graves penas , que da villa para o
Arrecife, nem do Arrecife para a villa, nao saTsse
pessoa alguma» senao nas occasioes que podesse
ser defendida das companhias que entravao e saiao
de guarda ; e que as taes pessoas passassem encor-
poradas nas fileidas dos soldados. Ordenou que as
ditas companhias se nao movessem de um lugar
para outro, sem primeiro fezerem algum signal ^s
fortalezas para que tivessem a artelharia prompta
a favorecer os sens em toda a oecasiao e tempo.
Util era a preven^ao , se a dor se sujeit^ra ^s leis
da cautella.
X. De uma trincheira nossa^ que escondiao as
matasy fazia o capitaoLuiz Barbalhaconsideravel
damno ao inimigo ; o qual, vindo no conhecimento
da causa, acceso em ira saio em diade SaoLouren^o,
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^t GAiTBiQTO lUaiTAHa
10 d'Agostoy com todo o poder, e det^rmiaado a
arra^ar a trlQcheira, e degolar o presidio sem dar
quart^l a vivente. Paasou o rio na vasante da mar^,
antes de romper a manha marchou sem rumor, e
deo sobi^e a triBcheira, onde Luiz Barbalho, avisado
da9 Sfuatinellas , o esperou com doze companheiros
( succedeo nao ter mais soldados eomsigo ) com
tanto depenfado^ como te tivera igual parddo.
])eoe recebeo cargas, oppondo^se a desigualdade
ila sorte & do numero. -** Temeo Luiz Barbalho j
2^0 o combate, senao adura9ao do conflicto; man-
dou pedir soecorro ao Arraial , e foi-se retirando
cpm oa ^eus para outra trineheira, que tinha Hiais
pelo ipteHor do mato ; mas com tal arte e disci-
ciplina, que nao deo lugar a que o Fiamengo visse
0 Umitado poder que tinha ^ nem que a largava.
Vendo o inimigo desamparada a trineheira, sobio
t ^HjfL y e a arrazou sem demora ; e como receasse
qil9 o soecorro nao podia faltar aos nossos, fez-se
de volta para a outra parte do rio , a onde coberto
doscumuios de area, que por aili faz a praia, deo al-
gumas eargas A notsa gente y que j^ entao vinha
fm seu alcance^ e ^s quaes respondeo a peito des-
coberto, Fazia a distancia inutil a opposieao, e pa-
receo a todos coaveaiente a retirada.
XI, Apertado da necessidade determinou o ini-
migo armar-nos uma cilada , na qual perecesse a
nossa gente. Embuscou a maior parte dos seus;
e oom o restante saio a uma campina que cingiao
algumas estancias nossas ; derao as sentinellas re-
bate nas trincheiras e no Arraial , donde Mathias
d' Albuquerque despedio com incrivel presteza os
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rapitim Stnctos da Costa, Roque de Barron Rego,
Miguel d'Ahreu, e outros em aoceorro daa A066as
efitancias. Marchlrao as companhias a atiatar o
inimiflo, que astuto ti>eou a retirar, para que aeu
•apparente receio noB leyaase de corrida ao laca
Conhec^rao 08 Doaaos o ardil ; mas coaio quiieaaem
moatrar sua ousadia adiantirao^ae dous eapiiaett
naia do que deviao ; uni doa quaes (Barros) ferido
d'uma bala n'uma coixa dec n um lamteal oade
caio , e a6 deveo a Tida ao valor da a^u alferea , e
d'uitt eabo d'esquadra da sua eompauhia ; ^ o outro
(Sanoloa da Ckiata) accoDnpauhado de aeu alferes
fbrao entrogar as vidaa a duas bakis, oem mais
▼alentia que prudancia ^ e aem niais outro fim que
a Yaidade de perd^kta. Nao hou?e da aeasa parte
outra perda ; eou muila de morios e fcaridos sa re-
eolheo o iaimigo.
XII. Pensou o Hollander que mudando de sitio
melfaoraria de for tuna. £m "16 de Outubro deitou
SAn MO inftmtes e quatone batedopea de eatallo, na
iuten^ de gankar-noa a trincheira do rio Doee,
o que Ihe parecia facil por nos fioar longe do soo-
eorro. Estava n dla por eapitao Simao de Figuei-
redo ( que depoia se ordenou de saeerdote, e fez
grandias 6aryi9oa & igreja e^i ootoa , usando coai
igual destresa d'um e d'outro bra^o); saio da triu-
eheira^ ao rebate das seotmdifais, oom quarenta sol-
dados, OS quaes forao bastantas para repellir o Fla-
mengo ; o qual vendo-sa ingauadoem sua esperanca,
virou as coatas sem resiatir, e foi perseguido pelos
Boasos aC^ entrar na vilk com grande perda de
mortoa e feridos*
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•0 €A8TBKm> LUSITANa
XIII • Em 21 do mesmo mez sale o inimigo do
Arrecife com muita copia de soldados ; passou o
rio de baixamar, e marckou sem ser sentido at^
um lugar^ em que alguns capitaes nossos assisliao
i fabrica d'uma Irincheira. Retirou-os da obra o
repentinoassalto. Approveitou-seoFlamengo d*esUi
cii*cum$tancia, e comecou a toda a pressa a arrazar
a irincheira ; mas acudindo logo os nossos, refor-
cados pek) capitao Luiz Barbalho, o ferirao tao for*-
temente , que o obrig^rao a fugir sem outro acordo
mais , que o de levar a rastro grande nuraero de
eorpos mortos. — Ceusas em tudo simiUiantesoccu-
pAiio umas e outras armas todo o restante d'este
anno de 1 630. Em quasi todos osdias havia pelejas,
cujos successos em pouco diversiiic^rao , achando-
nos o inimigo sempre promptos para a defensa e
para a vinganca. Mao houve occasiao em que nos
provocasse atrevido , de que nao saisse castigado.
XIV. Oocupado Pernambuco pdo Hollandez em
16 de Fevereiro, logo no meiado de Marco se es-
palhou um rumor vago, que.o dizia amedo, al^
que no principio d*Abril se confirmou a nova ; e
para crescer a magoa se recebeo a noticia da mao
de quem tinhamos recebido o aggravo. A todos las*
timava o successo, porque a naihum deixou de
ferir o golpe. Os bomens de negocio s^itiao a que-
bra do commercio ; os do governo, a da reputa9ao;
OS do poYO, a do socego ; os da guerra, a do ocio ;
e todos, a do Estado. — Tratou-se do remedlo;
consult^rao^^se os tribunaes; e tomou-se por ex-
pediente que uma guerra lenta era o unico meio
possivel de restaurar aquelie Estado, visto acbar-se
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OAflTUOTO LUMTAMa 01
a monarchia exhausta de tudo o necessario para
intentar outro genero de guerra. Esta resolucao
mais se confirmou quando se soube da opposicao
que OS naturaes come^avao a fazer ao Hollandez.
— Nao fez tanta impressao em Madrid a nova
como (izera em Lisboa , porque nao era tao grande
o interesse que tinhao os Castelhanos na conser-
vacao d'um Estado, que 86 era seu para o util, nao
para o glorioso. Todavia nao pod^rao esquivar-se
a anuir ao8 pareceres que vinhao de Lisboa acorn-
panhados de queixas de clamores. Tinha El Rei
Philippe nomeado oalmirantc real D. Antonio de
Oquendo , para conduzir &$ Indias a frota de gaU
lioes ; e se Ihe ordenou qne de caminho tomasse a
altnra da Bahia, oilde acharia noticias certas do
esiado em qne seachavao as cousas de Pemambuco,
para que confbrmando-se com elle^ deilasse no
porto mais seguro o mestre de campo Joao Vicen-
cio Sao Pheliche com o seu tereo ilaliano, ]e algu-
mas oompanhias de Portuguezes , e aqnellas armas
e muni^oes que parecessem necessarias para a con-
tinuacao dos progressos, que promettiao os ielizes
principios d'aquella gnerra. Tambem se mandou,
que na mesma conserva fosse Duarte d'Albu-
querque, govemador e senhor donatario d'aquella
eapitania ; soccorro de que se e speravao grandes
effeitos , porque se entendia , que com elle se aug-
menlava nossa genie em animo , e em numero ;
mas succedeo bem ao contrario y e ao diante se ver^
como nelle diegou a Pemambuco nossa total ruina.
XV. Em quanto em Portugal e Hespanha se pre-
parava lenCamente o soooorro destinado a Pernam-
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•1 GAimom UMTAM.
bttco; continutTa oHcdlahdez suafcexcursoestinto
mais repetidas quanto mais creacia em seu campo
a fome. A uma legoa da villa de Olinda €8ta aquelk
$ilio a que chaoiao as Olarias ^ terreno abundante
d'unaa fruta conhecida entre o8 naturaes pelonooae
de cajus. Apertados da fome resoW^rao algiina sair
da villa furtivamente a colher algumaa vezes da ao^
bredita fruta ^ por remedio e por refreacOi A boa
sorte dos primeiros augmenlou o numero doa se-
gimdos ^ e estes facilitarao aos terceiroa. Nao ae
pode encobrir a coatinua^ao i yigilaneia de ndaaaa
aentinellas, de que logo fizerao aviso a Maihias d'Al*-
buquerque^ pedindo-lhe genie para tomar ^a maoa
o iuimigo f sem que algum Ihe fugisse d'ellas* l^o
dia 7 de Janeiro de 1G31 despedio o general 300
Portugueses e 80 Indies oom seus capitaes, e por
cabo o capitao Pedro Teixeira , e todos as ordens de
Mathias d'Albuquerque Maranhao ; o qqal em lu«
gares convenientes as mandou embuscar antea
d'aoianbecer* Pelas oito boras do dia chegarao 300
HollaAdezes em duas tropas; largarao as armas
para colberem a fruia , com aquella deaatten^ao a
que OS obrigava a fome ; romp6rao os nossos das
emboscadasy derao sobre elles sem piedade nem re^
sistencia : nao ibea deijtou o assalto , nem cora^ao
para a defensa ^ nem acordo para a fuga. Ficarao
no campo morios 1 48 ; muitos dos feridos busca-
rao no mato a vida y e ^6 aobarao a sepultura. Aos
remanecentesi que era bem pequeno numero^ to*
rao seguindo e matando, at^ as portas da villa, qua*
tro nossoi de cavalb, a onde chegarao tao poucos que
OS vioo inimigo como correioa e nao como soldados.
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QAfTuero UBnmk M
> XVI* Vendo o inimigo a cmtadia e o bom sim^
ce86o dps noaeoB^ tetneroso de que nossas armaa ftw
8ein um dia bater as porlas- de suas fortiGaacoes ^
oao se contentou em cercar ao largo suas jnra^s ^
^{uarteis e trincheiras de robustas eslaoadas de p6o
a pique^ mas resolveo-se a levantar umagrossa trin^
eheira a'uma reatinga d'areia, que ebamao a Seca
por onde temia aer assallado do8 notsos. Em 3 de
Fevereiro saio com todo o cabedal de official, sol-
dados , engenheiros, e gastadores oarregadoa d'arte^
Iharia^ muDicoes^ fachiuas^ madeiras, eiDstramen^
tosservk; pozmao a obra^ e cresoeo de maneira
que primeiro servio aos seus de defeosa que ao9
IIOS808 de rebate^ Ao toque d'este satrao os oapitaea
das estancias yizinhas^ e depois os soldados do Aru
raial com Mathias d' Albuquerque : era seu iutenld
investir denodadamente o inimigo; mas vendo o
general quao arriscada era a impresapela qualidadd
alagadi^a do (erreno, mandou ao capitao Francisco
M onteiro Bezerra que com 60 soldados Ihe tomasse
0 pulso. Avan9ou esle yalorosamente at^ chegar
^s alagadi^os , mas reconbeoendo por expeiiencia
a temeridade da empress j desistio d'ella soffir^ndo
alguma perda de mortos e feridos^ entrando em o
numero d'estes o capitao Monteiro em um braco ,
e o tenente de Luiz Barbalho em uma verilba^ Re-
tirados os nos9os> continuou -o inimigo com a obra^
e naquelle sitio fabricou depois uma das melhores
for9as de sua circumvalla^aot
XYII. Gonvenoido o Hollandez que nao podia
pOr terra esiender o seu dominio^ tentou fazAt-o
por mar^ e foi seu alvo a ilha de Itamarac4 ^ em
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M GASTAlOf 0 LfJSTTAlfO.
cuja oonquista pondeniva que Ihe nao poderia a
fortuna tirar das loaos o roubo , quando Ihe nao
d^sae o senhorio, Dispoz todos os nieios , que en«
teudeo o podiao conduzir a este fim ; saio do Arre-
cife em 22 d'Abril com todos os soldados, que podi^
escusar nos presidios; e embarcados em grande
numero de y^las , descobrio seu intenio mandando
emproar a iiha de Itamaraca^ a qual cercou com to-
das suas embarcacoes ; para que d'ellas a um meamo
tempo saltasse g^ite em terra por diversas partes.
Govemava a ilha o capitao Salvador Pinheiro^ sol->
dado valoroso e pratico, que com sua gente soube
rebater de sorte o Flamengo , que por naihuma
parte buscou alojamento que nao achasse sepulcro.
Retirou-se o Hollandez, sem que da ilha adquirisse
nem saco nem dominio. Satisfez-se com fabricar
na barra uma forea, a que chamou de Orange^
d'onde os seus nao sairao vez alguma a inquietar os
maradores que nao voltassem castigados e arrepen-
didos.
XVIII. Ficava de fronte d'esta fortaleza ^ e pouco
distante (na terra firme) a nossa villa de Iguaracu,
igualmente falta de viziiihos e de defimsa, e porque
a facilidade da entrepresa nao d^sse occasiao a con-
fianca do inimigo vizinho e pirata se mandou for-
liGcar no modo possivel , e guamecer d'algumas
companhias, com ordem aos capitaes que a defen-
dessem , e cortassem o passo ao inimigo , em caso
que intentasse penetrar o certao da terra firme.
XIX. Via o inimigo diminuirem-se todos os
dias suas forcas , cortadas do nosso ferro ; conhecia
a difficuklade de receber soccorro , tinha aviso que
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GAfiTMOIO VnBKOMCk M
D. AjKtofiio de Oquendo era passado com armada
para a fiahia, e a cada hora o imagioaya no porCo ;
e conaiderando em fim que quanto mais eapaUiada
tivesse ma gente, mais facii seria aos: noaaoe vtsa^
4^I-a, deliberou«-se em largar a villa , e incorporar o
poder deatro das fortificacoes do Arrecife. — Gomo
sagaz desejavacapear a necessidadecom o des{Nrezo,
e a fraqueza com a negocia^. Mandou um e(i^
yimIo a Mathias d' Albuquerque, iuatruido no que
havia de faa^r e dizer : signiGcou com destresa a
barbaridade do$ soldados que tumultuosos reque«»
riao ao general boUandez Ibea permittisde por fogo
a villa y e nao deixar nella pedra sobre pedra ;
cousa que elle general por nenhun^ via pod^ra
disuadir, obrigado a estorvar aceao tao Ceia, e a
lastimar-se dever entregar ao fogo tao nobres e an--
tigas fabrica& de t^nplos e casas, como tinha le-
vantado a reUgiao e a grandeza ; e que Ihe affirm
mava desejava ter cabedal para comprar a salva«*
9ao de lugar iao lustroso; que se sua senboria o
quizesse resgatar do incendio, fizesse aos amoiina-
dos um donativo de caixas d'assucar, que elle se
obrigava a roubal-as, e a entregar-lhe pm este meio
a povoa^ao inteira pella escusar de tao lastimosa
ruina. — Ouvio-se a embaixada, e assim como sen
dila9ao se penetrou o artificio, assim sem detensa se
respondeo a tencao. Foi dito que Mathias d' Albu-
querque Ibe fallara nesta forma : « Os Portuguezes
» com as armas na mao nao comprao, conquistao ;
» sabem dar cargas de balas, a nao de caixas; as
«> marciaes os alvoroqao , desprezao as que os em^
)» bara^ao. As ehagas que nelles abre o aggravo nao
I. 5
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I) 66 curio com aMucar, seiiao com polToraj com
D ininiigos em que falta a f^ sao estavcia os cotttr%-
u toi que finna o aaogue : e de ncnhuma firmeza
M oa que affianca a palavra. Aconselbaria eu
»> aoa^hor general Theodora Wandemburg, que
» aao gastaase a roagoa em se doer do eatrago de
i) noaaos ediBoios, porque aei que toda Ihe sera ue*
» cesaaria para se laatimar do destroco de sous soU
a dadoB ; e quando o medo oa adiante a queimar
» a villa, animo e cabedal tem os moradores pwra
» a reedificarem com tantas ventagens, que as me^
D Ikoraa os enainem a julgar por beneficio a ruina^
p porque deaejao deixar na cabe^a d'eata capitauia
n uma memoria em que apezar do tempo leao as
a idades oa caatigoa de HoUanda, e os triumphos de
» Portugal. )}
XX. Nao achou o enviado a reapoata tao dooe
eomo imaginava; voltou com preateza, e com a
mesma mandou o general hollandez p6r fogo 4 villa.
Considerava na presen9a do ameaco a vizinhan^a
do golpe. Ordenou ao presidio , que ateado o fogo
ae retiraase para o Arredfe, porque o rebate do in-
eendio Ihes n&o pravenisae o castigo do damno.
Pordm nao bastou a promptidao da obediencia para
OB livrar da noesa vigilancia. De uma embuscada
oa aasaltirao nossaa armas tatito mais formidaveis,
quanto a occasiao Ih'as representava maiscolericas;
muita gente Ihes matou e ferio o avanco eo alcance;
e muita mais perec^ra, se a maior parte dos nossos
nao acudira a apagar o fogo , que apoderado dos
materiaes que achou dispostos^ pela industria e
pelo tempo^ servio a lastima^ sem dar lugar i diiigen-
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CAStHlorro ttBltATO. t1
cia. Ardeo em breve espaco aquella povoacio tad
celdbrada pelo commercio como ennobrecida pelos
edificios, sem que de todm se isentasse das ichatiiad
mais que uma easa ten ea , que rcserrou a totle
para memoria da penda : succedeo em 25 de No-
▼embro de 1631. Nao andavao menos accesas ad
hostilidades no mar que Da terra ; em uma e xy\x^
tra parte ardia o furor e a vinganca.
XXI. Saira da Bahia D. Antonio Oqutendo Com
a frota deCastella^ que conduzia para as Indian , ^
nella encorporado o soccorro que bavia de enea-^-
minhar a Pernambuco, em cuja altura o achou o
- Septembro d'este mesmo anno , de tiagem para a
Bahia* Nao dormia o Flamengo sobre os avisoA
(multiplicadod e certos) que linha de tudo quantd
em Hespanha se detenhinara. Apresdou sua ar-
mada com o maior numero de r^las , sdldados e
artelharia que Ihe foi possirel ; fiou o gOTcrno e
succeaso d*eUa a um pmtico e valente eabo por
nomtd Adriao Patres^ a quem as victorias ganh6ra6
opiniao de bem afortunado. Acreditou a escolha
com a promesBa de morrer ou veneer, Chegou a oo-
casiaOy investirao as armadas comigual l\iror,apro-
veitando-se de tudo quanto podia a forca , e alcan-
cava a industria. Em breve espaco vestirao os ele^
mentds as cores do conflicto, de sorte que com o
estrondoda artelharia estremeceo o pego; no fumo
da polvora se amortalhou o ar; nao descancava de
fiisillar o fogo ; e de uma e outra vista bebia hor-
rores aterra. Particularidades houve nesta batalha
dignas de se perpetuarem na voz do applauso, que
por restitiiicao aquella idade deve litrar minha
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$g CASTRIOTO WJftlTAlW).
penna do esquecimento. — Atracou a capitania
hespanhola a hoUandeza ; era esU mais alterosa, e
com esta vantagem pelejava com melhor partido.
No mais vivo do combale se vio aquella conheci-
damente arriscada, porque a abordou pelo outro
lado outra nao flamenga. Conheceo o perigo Cosme
do Couto, Portuguez de na^ao, e capitao de mar e
guerra d'um navio de pequena sorte entre todos os
da esquadra hespanhola , buscou a capitania con-
traria,e Ihe lancou dentro toda a gente que tinha,
sem reparar no perigo de seu navio , que sujeito
as proas das duas capitanias o mettftrao a pique.
Salvou-se o valeroso Portuguez a nado com im-
mortal gloria de intentar e conseguir o que de
nenhum outro podera cantar a fama. Esta proeza
Ihe alcancou o posto d'almirante, e tima com-
menda de pequeno lote.— Livre a nossa capitania
da oppressao, ditosamente castigou o atrevimento ;
com uma bala desarvorou a capitania hoUandeza ;
com outra Ihe metteo um panno breado por aquella
parte do costado que correspondia ao paiol da pol-
vora ; deo signal o fumo do lugar onde se ateava o
fogo ;' conheceo o Patres a certeza do perigo, en-
volveo-se no estandarte general dos Eslados , e
amortalhado na honra se sepultou vivo nas ondas.
— Abrazou-se a capitania hoUandeza , e com eUa
quasi toda a guarnicao que trazia.Aalgunsque se
pod^rao deitar k agua recolhferao os nossos com
vida e liberdade. ik neste tempo tinha o Flamengo
perdido tres fragatas, que a nossa artelharia Ihe
metteo a pique ; as restantes , al6m de desMrocadas
^ coin muita gente morta e ferida^ buscarao to-
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GA8TR10T0 LUSITANO.
(ias o amparo do Arrecife, como Ihes foi possivel.
XXII. Grande foi a victoria , e grande o custo :
duas naos de Hespanha , uma d'ellas a almirante ^
consumio o fogo e o mar; muitas desapparelharao
as balas; os feridos forao muitos, e os mortos nao
poucos ; entre elles se fez senlida a perda do ca-
pitao Yalencilha , conhecido de todos pelo nome e
pelas occasioes dos Gastelhanos. Para reparar a ar-
mada tomou D. Antonio de Oquendo o porto que
chamao da Bahia da Traicao , a onde se refez de
tudo o necessario em breve (empo^ e continuou
Bua derroia para as Indias de Castella, como trazia
por regimen to. Com festiyas cargas d'artelharia ce«
kbrarao os nossos capitaes a victoria; com diffe-
rente motivo as deo o Flamengo. Ao tempo que as
duas armadas entrarao no conflicto se desencor-
poro^ da nossa o soccorro destinado para Pemam-
buco, com ordem que tomasse o porto mais conye-
niente e mais seguro d'aquella capitania. Uma e
outra condi^ao acb^rao na barra do Rio Grande^ a
onde desembardirao Duarte d'Albuquerque e o
conde de BanhoUo com toda a infamtaria italiana e
portugueza, armas, muni9oes, artelharia, manti-
mentos , e fazendas que levavao de Portugal por
conta d'El Rei e de particulares ; o que tudo se com-
boiou logo para o nosso Arraial , a onde os cabos
forao recdindos com agasalho de auxiliares, e res-
peitos de superiores. — Alojou-se o conde de Ba-
nhoUo em quartel apartado com a gente de sen terco ;
Duarte d' Albuquerque ^ com sen irmao Matbias
d' Albuquerque. Separa^ao que involveo em si a
doB aiiimos, e apartou de nds toda a felicidade dos
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70 GAsma?o irarrAiia
siicce880$. Favorecia cada qual a geDte de ana oooi*
paahia» lem fazerem caso dos aolclados mora-
^orea^ que com tanto valor e risco linhao servido }
o que Ihes iospiraya graude deacontentamealo e de6-<
Qonfiau9a, e causou graude damno aoa B^soaoa ca-i
pjitaes. Viao desprezada sua fidelidade, eacurecido
aeu valor^ eaqu€cidas suaa empresaa ; e que aois
bjisonlioa e esti>aahos se davao os preoaios de seua
servi^os ; uao podiao ver como amigos am que ae
Ihea adiaatavao enmloa ; e suppo&to que seiE{tf<e a
obediwcia os oouaervou juntos , nunca a occasiao
OS vio coaformea. D'eate principio nasc^ao tantas
de^gra^as e uifortuuios, quaatos baslarao para per*
der a saelhor parte d'aquelleEstado.^Chegara por
^te tempo com copioao socoorro ao Arrecife Sisgta-
ix^uudo Vauscop ^ a quern a oompanhia occidental
havia dado o bastao de general de mar e \erra, e
em que tinba grande eonfian^a pek> seu valor, pra*
tica e induatiua. Tinha este general aprendido naa
escolas da Europa que nas oonquistaa ohra maia a
aagacidade que a foj^Qa ^ principalmenle naquellas
empresas em que a resiateneia 6 maior que o poder
d^ cwquifiAa; e oei:to n'eata ma&ijiia applkou todie
fieu puidado a gai^har animos, que Ihe mostrasseoi
breckaya para esealar praxes. FaTotecido da oocs^
1^ achou entrada para fomentar a desuniao dos
nos30s^ e para ooxiirahir amizade e corre^iondeiicia
com 0 coiauk de Banholk). Com o pretexto de eiii*>
baixadaa^ scriplos emimoa^ se facilitou a commuai-
^)a9ao enlre uma e outra ge&te. — MiUtava entre ee
possoa um soldado mameluco., cbaoiado Domingos
F^ruaudea Calabar^ oAiaado, e livre com
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devia a justicft ; temeo o castigo, e por fogir a prisao
ae paasoti ao Hdiandez. A ooonnnnicacao )he e&^
siBou algunaa palarras flamengaa, e loda a mBde*
lidade das ofaras. Fm recebido de todos com indna*
Iriofio agasalho ; deoejosos que o »enip)o pcrsoa^
disse a rnnitos a intita^ do delido. Nao foi a
sagmidade inCntctifera, poitfoe a rauicos eartAfm
0 ardit^ que deapob senrirao a^ ininrig^ d'anxilMH
MS e guiaa para os aaaakot, torn que desirairao 6'
eonquiBlariio a terra ; a d'edaa oer mars nocitot
aqaelies, que entren^ Tiriao maia dessimBtadm ,
porque ckmbo ermo amliiiettas de dentro, mo haffia
moTioaeBlo de que mm fizessem aviso.
XXIII. InforflMdo SisgiaaniMio do tftdo quavto
»tre nto sepassara , e eevto de qoe 06 Doseos $a^
davae qoaixeeoe e dcstgosladosda povea estnMieacy
que acbavM no concfe de BoBbcdke^ e em Doarte
d'AU>iiqifieFqiie,dieieraumm expenmenti^se na oe*
caa&o ebrrespoBdiw os effeitoa a causa , jalganda
por inapoaaifvel nao at aeompanhar a queoa ckr
ocEo e da vingaii^ : luma de ser a^ima enprera
a pedra de toqjEBe deate&affiseloe^ Heaekeo com ^eiwm
cabtB que (bsee a eowfubta da PavaSha , para oade
OS mais s^itados se ttofaao reCiradov Eadpenhixi o
resio doseu poder ; eom ette navegaa a smr armada
ai^ avislar a nmsa fiortaleKa q«e chamao do Cab^
delioy sttoacb oabarra. DeikMi* genle^ artdharia e
miuMcoes em terra y com toda» a» demoastra^oes
de sitiar a Corca. Sra eapitao maior da viUa:, e §»»•
vemador da capHania, Aatonio' d^AUmquecqiie^ a
qnemo primeira rdiateporiia camfpanha eom todos
OS laradbresy que a bruiWhakdii teoapoeo-tepatite
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7Z GASTRIOTO LU8ITAN0.
do assalto Ihe deixou conduzir. Conservou-se o ca-
pitao maior em observacao com a sua genie i sombra
da fortaleza e it vista do inimigo, em quanto man-
dou aviso ao Arraial para que Ihe acudissem com o
soccorro necessario* Mao se atreveo o Flamengo a
investir os nossos^ admirado de encontrar resoluta
resiatencia onde esperava achar cobarde traicao.
Nao tinha conhecido os primores dos animos por-
tuguezes. 0 valor natural quando se anima de fide-
lidade obra sem vileza. Em todo o tempo que da-
rarao as goerras de Pernambuco obrirao os mora-
dores com esta fidalguia : sempre offendidos na
falta do premio e do favor ; sempre genorosos na
pontualidade da obriga^ao e do servico. Todos os
dias vinhao is maos Flamengos e Portuguezes , e
sempre os nossos levavao a melhor. Em um d'estes
encontros (em que sempre havia d'uma e outra
parte mortos e feridos ) oortou uma bala contraria
a caridade e a vida do P. Fr. Manoel da Piedade ,
religioso de Sao Francisco y que sem medo dos pe^
louros andava entre os nossos exercitando a obri-
gacao de confessor e o oiBcio de soldado.
XXIV- Chegou neste meio tempo D. Aleixo,
Gastelhano de na^ao, com algumas companhias de
Gastelhanos e Portuguezes em soccorro dos nossos;
o qual servio de augmentar o numero, por^m nao o
animo dos combatentes. Nunca a companhia d'esta
na9ao nos servio a victoria^ sempre & perda. Aquelia
providencia , que separou os dominios j os definio
emulos, e nao companheiros. Alojados no posto
eacolhido guardavao a mesma fortaleza j que os de-
fendia. Seguiao as escaramucai o curso dos dias.
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GASTUOTO LVStTAIia 7S
sem mudanca de sorte , at^ que o inimigo se de-
cidio a assaltar a nossa ^tancia ; o que fez com
tao boa. fortuna^ que nao foi sentido senao jd quando
primeiro se enconiravao os bra^os que os olhos^ de
sorte que a batalha parecia luta , ferindo-se tao de
perto que as armas serviao mais ao embaraco que
ao golpe. Largo espaco durou o conflicto e a con-
fusao y com que os nossos mal despertos tocarao a
reiirar para se conhecerem , e distinguirem dos
inimigos. Quarenta mortos nos custou a confianca;
e entre elles acabou o capitao D. Aleixo. Mnitos
dias chorou o ioimigo a victoria j que cousistia
em ficar na campanha. Mas uao se gozou d'ella ,
porque tendo aviso que do nosso Arrial saira o conde
de BanhoUo Qom o seu terco em soccorro da nossa
geute, levantou o cerco, recolheo a artelharia, ar-*
razou OS quarteis ; e embarcada a gente , largou
panno ; e mais corrido que invejado entrou no Ar*
recife, olhado dos emulos com desprezo, e dos
apalxonados com applauso. Festejou-se da nossa
parte o successo como victoria ; dos soldados porque
defend^rao a fortaleza; e dos-moradores, porque
conbec^ao que em quanto quizessem re»stir,
nenhum poder os havia de domiuar.
XXV. Com a entrada do novo anno quiz o gene*
ral boUandez intentar algunm emjMrezaem que suas
armas ganhassem credits e proveito a sua na9ao.
f oz o fito na fortaleza da Nazaretb^ sette legoas dis-
tante do An*ecife para a parle do norte , para que
setahoreando a barra podesse alii estabelecer empo-
rio de commercio e centro de dominacao« Saio do
Arrecife on 14 de Mar^o com mil quinhentos in-^
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3& GASMWit immMu
(aaleft^ e eopiDta ehama de maretnto^ emburca^CMT
am vinU e eualro immm, e g^rwn^ mnltklao 4e kifi-^
cba9» coia odk«luK> de loniar por entreprcia, e tal«
17€Z SMa resi&tencia a fortaleza da Naztfe&. l^m
g^vejTBador da fortakM Befilo Maciel (capitao igual^
vnente oap^rto e pratico), o qual, apoiar de nacy
ter €OKiaigeinaiade$esMfita sokbdosi nao ae ame^
dreniou com a ferca que o inimigo 09ile«tava, e
aMtendeado o sen desenbo^ iMUKfou guarnecer d<$
H)08queleiroti» uma trinddeira , que defendia um
ktgar acoMamodado para ae deitar gente em tora ;
o qw vBto pelo HoUajadez , mudou de iotefita , e
foft coateandM> a terra na distancia de meia tegua
eom leacao de deaeiMbareaF em vmn esteiro, ou ca-^'
Vbala cpue idli &a o Hiar, entraudo algumespaco
pek tonra AemlnK "^ Sem neticia alguma de tat
atmada^ neoi. dos ittte»los d'eila, Ymhao carnal^
ittenta por terra ^linze mosqiiieteires nosses guar-
dasde uma grande pntida de dinheiro^ que merca-
dores da Bahk remetliao a sens correspondenees^
para se empregarem aasiiear. Tanto que yirao a ar-
mada, emboae^urao^^eeno mato^ para observarem a
derreteque leva^o aa kinchas. Advertirao que,
carregadas de infontaria buseavao a terra, tomando
a calhela^ pek q«al oa trazia sua fortuua a metter-
senas bocas dos mosqiietes ; levarao-nos os quinze
soldados a c^pa, ederao has primeiras lanchas uma
e muilas cargas tao hem sortidas, que nao perdi&rao
tko* Cortado o Flamengo do repentino assalto^ e
do inopinado da»lroco, voltou as proas &s lanchas, e
a nda e a i^mo busco« o corpo da armada , mats
Yencido <fo*modoque do Humero. Ifeste successo
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uie^>^rado tirou por (M)iMC|C|uwQi<i o goaor^ que e
gOYeraador ^ fioriaks» « bayia de^g^ar^ecido pftr^i
pr^parar ^ta embuscaita^ e qw camdo de rqtaite
$abre (i iipsaa iriiieheira a ppderia iomar sem
gr^pda reaUteao^iii. Blw^u is hw^M& q^ ^iAim-'
i^fia ao primeiro destioo^ e rt^eomefasseiB o ataque^
Cheg^iio a Uro de maequ^te ; deo a nosaa lrin-i
ol^eura solnre a infacitana, qiie cara aauiu e apiub^,
Miieeea^a&earga^,eoiDpoataria Uw^eeHaqfied'ivm
i^e^ma bala i^ataya dou$ e (9^. CveMao o id^
COB o eHngpf e aam quealgoioa*! afareveiM ii #inr*
pro^ a terra^ Y(4t4i)^ tedas m Im^a de ve^fn
lyrrai^eada a uwF-ae» eem a Ifoia, que arai oaaia
deten^a lavgou pannp ^ e ae fez de y^ia* De ea**
Hiuih0 poz fogo a trea eiftkarwfeaa noaani, que
•ehou aurtaft no rie FenuoM : pequena viagiBtfi^
piura a lee^ida oSeu^a^
XXYI. loduzido, e guiadcioFlameQ^o.daft trait
doires que trauua cea»c;a (eraos^ oaaier parte llalia-r
uoe) aaku do Arrecife pek vaeiaBoite ^ aUfavesaeuai
ruinas da viUa de Qlinda, prosegfuie a MMoroha pdtti
veredas maia oecuUaSi e aeai acr aeulido^ dee mA»t^
a villa de Iguaracu o primeiro dia de Maio ^ a tempo
que OS moradorea aawistiao ua i|pre^ aoa divmos
ofBeioa, pela solemiudade da fcata doa apoatoka
Sao Philippe e San Thiago. Como paamadoa ea
deixott o repentino aaaateoy e e katiDotoao tomuko
do mulheiioL Alguna^ que a eaao ae achirao eom
amnea.aeoppuai^o & (uria doFianaeago ; mas ceno
Ihea MU)ua oofapanbiae orden, atry^rao ad deaaij^
mantar o nuiuere dos movtoa* V^eaQaHoUandas
aeaa oppo(Bii9ao;! aaqueou aeaa iNMayniiiade; daer*
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H CASTRIOTO LUSITANO.
truio sem respeito. Nao perdoou nem a idade , nem
a sexo; nao respeitou a modestia nem o decoro,
despojando as mulheres de suas roupas, arran-
oando-lhe8 com crueldade doa dedos os anneis,
das orelhas ospendentesd ouro. Roubou e destruio
o sagrado por odio , o porfano por vinganca. 0 que
eseapou do roubo foi coDdemnado &s chamas. —
Pouco mais d'uma hora gaatarao neate cruel exer*
cicio , e carregando qnatrooentos uegros, que para
estefim traziao comsigo, do que pod^rao levar,
marchArao com preasa de criminoaos, levando com-
aigo dous religiosoa de Sao Francisco por odio, e o
coadjutor assim revestido como saio do altar por
d^rezo. Fizerao alguns moradores acordo para
oa aeguir e picar na retaguarda, obrigando*oa com
mortoa e feridos a lai^ar. parte do roubo; e por
certo teriao recuperado tudo, e feito n'ellea grande
matanca , ae a marcha f6ra mais comprida ; mas
tinhao perto o mar, e nelle as lanchas que os espe-
ravao , pos^rao terra em meio , navegando para o
Arrecife com salvas de artelharia e vozes, que ser-
virao a sua dita de applause, e ao nosso infortunio
de matraca.
XXVU. At^ ao fkn de Septembro nada se inteo-
tau de parte a parte, conservando-se suspensas as
armas ; da nossa parte por frouxidao e descuido, e
da do inimigo por artificio e malicia. Dos cabos se
ateou a todos os nossos soldadoso ocio, em lal f6rma
que este e o ardil do inimigo forao as duas maos
que mais trabalharao em nossa ruina. 0 conde de
Banhollo (que pareoe levou a fatalidade aquelle
£atado para perdicao d'elie), ou fosse perauadido,
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CA9TR10T0 EimiTAIIO. 17
CHI enganadu, dizia a todos cfue a eautdtta do ini**
migo era medo ; e com e$ta malicia ou singeleza
mandou fazer aprestos para ir sitiar a fortaleza de
Orange^ que o Flameogo fabrieou (como (ica dito)
oa barra da ilha de Itamaradi. Saio do Arraial com
apparato e poder de soldados, arteiharia, mmii^oea
e mantimentos; arialou a fortaleza, escolheo sitio,
planlou a bateria , ooniinuou as cartas sem outro
effieito mais que o de gastar tempo sem fruto ; que
tinha o inimigo a praca tao beu fortifieada de trin-
cheiras, estacadas e reparos, que nao padeceo a
for^a o menos damuo* -^-^ 0 conde^ que em (odas
suas resolucoes era leve , voltou para o Arraial
deixando na iiha aspens de bater^ quehavia tu*ado
da uossa fortaleza, por despojo ao inimigo. D'este
lote erao todas as accoes d'aquelle cabo ; por ellas
se p<kle entender qual era o animo d'aqueUa bo«
mem, ea razao com que os entendidos e zelosoa
tinbaopara si, que peccava mais de combanido, que
defraeo.
XXVIII* Sendo o principal inteoto do HoUandez
assenborear^se da campaoba , julgou (e nao ae en*-
ganava) que se levantasse uma fortaleza no sitio
que cbamao dos Afogados ( porque naquella parte
sobem as aguas do rio, ajudadas da mar^^ com tM
arrebatada furia que afog^ os que colhem na pas*
sagem), com ella cortarta por todos o$ caminbos a
invasao e assalios de nossas armas; razao porque os
nossos o guarneciato de trincbeiras e soldados. £m
1 8 de Marco de 1 633 saio do Arrecife no quarto
da alva com oiioceotos infantes escolbidos y pas-
sou o rio de baxaroar, investio as trincbeiras
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7i G&SrAlOTO VBfSftiM^
skuadasnasttidrgeti^d'elle, eA opportutiidadeiim
BelkA aofaoh poucos e descuidados defemores j t
apoderou*^9e d'ellas sem resistencia. Qulzerao os
noBSod necuperar o perdido, ma« de balde ; porque
OB inimigod mais fortes em numero os opprimirM
de maneira que se virao obrigadoft a retirar para
uma den^a mala ^ que 06 livrou de (beerem com^
panhiaa Tinie mortod, que deix&rao no campo;
entre elles o oapitao Franciaoo Monteiro Bezetra ,
que pagou com a morte o descuido.*— Nao des^
prezou oinimigo o favor da fortuna, antes oseguio.
Guameceo as trincheiras y e marchando pelas ola*
rias^ avisado e condnzido por um traidor, assaltou
a que chamavfto de Nuno de Mello , o qual nena
oecasiao esiava ausente, e seus soldados com menoa
Tigilancia do que deviao. Suprio o valor a falta dts
rebate • primeiro Ihc cobrirao de sangue e de luto
a victoria que Ihe largassem a trincheira. -^ Occu-^
pava-ee o Hoilandee em fortifiear as esiancias ga^^
nhadas , quando o certificarao da opportunldade j
que Ihe offei^cia o desciiido y e a confianca cbm que
na estancia do Mendonca estava o presidio que a
guarnecia y aproveiton a opportuntdade ; furtado
as sentineltos invostio a trincheira^ e tal era o des^
cuido do8 nossoB que primeiro sentlrao as cutillfr*
das do inimigo que vissem os bracos que as des^
carregavao. Perd*rao atS a vida os capitaes Brai
Soares, senhor da ilha de Santa Maria y Manoel de
Sa ) cavalleiro do habilo de Christo, com perto de
trinta soldados, entre elles D. Manoel Deca, a
quemdegolWrao depois de se entregar a bora quarld.
A D» Atlionio Ortit derao a vida, porque Ihc co-
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nheotew) a Uagaa (era Itidiaao) ( kvaWkv^tio com o
seu alfares, e outros presioneirost Para perseguirem
oa Bosaos soklados^ que btisca vao a Balvacao noa ala*
gadicoS) tratiao comstgo caes de fib > que Ihes Ian*-
^trao. Muito perdemM nae diias eetandaa doa
Afogados e de Nunc de Mello> pela importancia do8
iiUos ; pordm nesia do Mendonca muito mais pela
quebra da reputa^.
XXIX. Yendo-fte o general Sisgismundo assim
favorecido da fortuna^ com deliberada oUsadia^
^ reaolveo em envasdr a tiosna fortaleia do At*
raial ^ que distava do Arrecife uma legoa de ca-^
minho. Biapoz os requisitos necessarios para o in*',
teuto com disaimukcao e preeieza; e salo em 24
de Mar^o com todo seu poder.Gom mil qutnheiaU>a
infauies marchou pelos ingeuhoB de Francieoo de
Britoede AmbroBio Mach«ido^ at^ passar o rio Ga>^
Uperibe^ onde fez aho ) dividio sua gente en^ tres e»*
quadroea^ aoa qUaea ordenou que a um tempo
avancasBem por tres partes : o primeiro pela do
engenho de JeronioK) Pies; o segundo pelas coa^
las da f greja da Misericordia ; o terc^iro pc^ um
pequeno riochamado PemamMorim; este ch^
gott primeiro^ e sem ser seutido iuvestio a povoa*
9ao i e chegou aM as p(tf tas da fortaleia. Estava
toda a genie reoolbida ua igreja, porque era n'uma
quinta feira sancta* Achou o inimigo lancada aponte
levadi^) por culpa doe Italiauos, aosquaeaooubea
guarda d'ella naquelle dia* Em defeusa da ponte^
que atrayessava o fosso da circumferencia do
Arraial estava um reduto ^ e nelle de guamicao
dezesette Italianos ; a todos degolou o Iniraigo.
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go GASTtieiO UISITiJU).
Pedirao bom qwrtel, por^ o Flamengo adiou
que o nao mereciao pela vileza da eotrega^ ou a
causa fosse deacuido , ou trai^ao, — Ja a este tem-
po o segundo e terceiro esquadrao do Hollandez se
tinhao mettido debaixo da nossa artelharia; portm
recolhida toda a gente da povoa^ao dentro da forta-
leza, come^^rao os nossos com seus mosquetes a
dar tao repetidas e acerladas cargas nos ioimigos,
que em breve tempo virao as fraldas do Arraial
juncada3 de corpos morlos. Crescia o estrago com
a proiia, e o horror do inimigo com a deteo^a. Tanta
pressa se davao os nossos em ferir e matar , que
cada um dos Flamengos desesperava de Ihe ficar
tempo para fugir ; at^ que desprezada a obediencia,
perdeo seu impa^io a contumacia dos cabos, e forao
todos largando o intento e o campo. De sorte car-
reg4rao os nossos ao Flamengo na retirada, que a
poucos passost o pos^rao em miseravel fugida, dei-
xandQ mais de quatrocentos mortos na campanha^
e maior numero de feridos , e quarenta e* tantos
presioneiros'; eatre estes quatro capitaes mtal feri-
dos, eoutros officiaes menores. Perdemos vinte e
cinco soldados, a saber os dezesete Italianos
sobreditos^ e oito Portuguezes; maior numero
de feridos, entre elles o capitao Joao Yazques,
atrayessado d'uma bala, que morreo ao terceiro
dia com lastima igual ^*perda; Henrique Dias,
governador dos Minas, que neste dia se excedeo a
si mesmo, levemente ferido; e outros de menor
conta , assim na qualidade como na lesao. — Joao
Fernandas Vieira , que apenas tinha vinte annos de
idade, era capilao de descobrir o campo, como
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GA6TRI0T0 LUSITANO. 81
fica dito e neste conflicto foi um dos primeiros que
com seus sbldados deo sobre os inimigos, igualan-
do-se no valor e disciplina aos cabos mais assigna-
hdos. Para obedecer , nenhum mais prompto; para
mandar, nenhmn mais acertado. Era pequena sua
idade, mais grande sua prudencia, e maior seu
valor. Todas as idades teve de varao; nao houve
nolle accao, que buscasse desculpa na mocidade.
Griou-o a Providencia para homem grande, e em
nenhum tempo quiz que parecesse pequeno.
XXX. Com a fortaleza que o inimigo levantou
no sitio dos Afogados Ihe ficou livre o passo para
sair pelo sertao a seu gosio, dando repeddos assaltos
em varias aldeas, muito a seu salvo. Em 1 3 de Abril
de 1 633, no quarto da alva, derao quatrocentos Hol-
landezes, acompanhados de muitos negros, mula-
tos e Indios, sobre a povoacao daMoribeca, que sem
resislencia saque&rao e destruirao, profanando os
templos , e despedacando as imagens. Igual sorte
teve uma aldea que chamavao do engenho de
D. Catharina de Albuberque , a (mde com um
mesmo incendio arddrao edifieios e fazendas. Em
26 de Maio assaltarao duzentos Flamengos ino^
pinad^hoiente os engenhos dos Gararapes : para
carregar assucar iao todos providos de mocbillas,
que ench^rao & sua vontade, mais saio-lhe
amargoso o gosto; porque o capitao Domingos
Dias com vinle soldados, e alguns mancebos da
terra, Ihes seguio o alcance, matou vinte e cinco,
e ferio dobrado numero, captivou um sargento
com mais alguns soldados ; recolheo quanlidade
de mochillas , que aos victoriosos servlrao de re-
I. 6
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fresco e d« triumphoi e aos HoUandeMft o deiwl*
M de ctesembara^o e de remedio. Com pouca dif^
feren^a fet outrag muiUyi ^rtidaa, qua pela ai-«
milbaDf a ae podam ver ttas passadat. ^ Dapoia dt
todoa aatea extragoai diapo^rao^aa oa HoUaDdeftap
a maior ampreia a maia piagua deapojoy poodo o
fito na ilha da ItanaracA. Em graode multidao
de kndifts aoibaroarao toda a sua iuikutaria^ a
oingirao a ilha por mar{ deilarao gaote em terra
por tantaa partea que per todas fez a inyasao um aa-*
aalto contiuuado. 0 capitao Salvador Pinheiro que
a goveroava , intentou valeroaameute deTendSi-a j
porem oomo o corpo de aua gmite nao podia en*
cher o vao do cinto, o[^rimido do cerco eeron^
dec k multidao. Fortificou o Flameugo a ilha com
o roubo d'ella.
XXXI. Um freio era para o inimigo a noaaa
fortalaaa do Arraial^ porque odetinba no desejo da
oorrei* livre pda campanha , e todoa os meioa bm^
cava para deitar fdra o bocado que o reprimia.
£aperou queaporfiayenceaae a-reaisteucia, e em 4
d'Agoato deiiou fora mil iufiaui^s, com o deatiao
de aucarem a noasa fartaleza« Marcbarao at^ ao
engenho de Frauciaco de Brito, oude fuerao alt0|
dando coataa aum tro^o doa aeus, que deixarao
oceupados em levantar uma trincheira, e guarne*
cer umaa oaaas que ach4rao devolutaa oa paaaa*
gem do rio Capebiribe; e a outro que com a mea^
ma preveGtf^ao deixarao naa caaaa de Francisco
Monteiro Bezerra. — Derao as seatinellaa rebate
no Arraial, mandou Maihiai^ d' Albuquerque sair
fdra aquellas compaubiaa^ que o repoite aehoo
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mats prontu; as quaes, guiadas das sentinellasi
derao sobre os que estavao aquartellados nas casas
da passagem do rio^ que volerosaineate desalojarao*
e oonstrang^rao a buscar a salva^o no pego. Em
seguimento dos primeiros mandou o nosso genial
outras companhiaS) que levadas por differente ca«
minhoavancarao as trincheiras e casas do Bezerrai
ferindo e matando com furor tao viyo , que p Hot*
landea com as maos leyautadas pedia bom quarteK
A todos fi^ra Yoar o fogo , se entre os nossos $e
acbAra urn barrii de polvora/ Buscava a ira por
onde entrasse a espada | quando o esquadrao qu^
ficara de posta chegara a soccorrer as seus, dos
quaes achou ja mais de quareota mortos, e
autre elles muiios ofiiciaes de guerra. Obedeceo
o furor a razao, e esta a fbr<;a; retirarao-se os
Bossos levando comsigo muitos iuimigosi que de--
rio aretirada o nooie de victoria. 0 Flameugo re-
parado de suas fortifica^oes contiauou com as trin-
cbeiraS) e com el las deo principio ao cerco, que
intentava por ao largo a nossa forlaleza do Ar^
ratal. — Goujecturou Mathias d'Albuquerque a
teii^ao do inimigo, e como bom capitao tratou de
Ihe obstar por todos os meios possiveis. Maudou
por iQp> aos canayeaes por aquella parte por oude
Ihe podiao sevir de impedimento a yista) em op*
posi9ao do quartel do inimigo mandou levantar
uma trincbeira de grossas vigas, que logo guar*
neceo de gente e d'artelbaria; mandou sair da for-
taleza do Arraial toda a gente ioutil para tomar
armas ; e ao conde de liahhollo, que assist ia a
obra d'uma fortaleza que no pontal de Nazareth
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8& CASTRIOrO LUSITANO.
se fabricava , deo ordem que se recolhesse ao Ar*
raial com o seu ter^o de infantaria, eo mesmo aviso
fez a todos os moradores da circumferencia, para
que o inimigo achasse em toda a parte prevenida a
defensa e cortada a esperan9a. Quaudo andava
nestas diligencias, recebeo aviso dequepelo rio de
Capebiribe subiao a voga siu*da cinco lanchas em
companhiad'um patacho ; e que o Hollaudez man-
dava aos sens soccorro de geute, artelharia, muni-
coes, armas, mantimentos, e retrescos , com or*
dem que , descarregadas as embarcacoes, mettes-
sem nellas os generos que tivesse adquirido o
roubo, para que se conduzissem ao Arrecife sem
dispendio e com seguranca. Guardou o general
para si a noticia; chamou ao governador dos In-
dios D, Antonio Philippe Camarao, communicou-
Ihe o segredo , ordenando-lhe que com seu terco
se fosse embuscar em sitio sobranceiro ao rio ^ que
cliamao o Guardez, com sentinellas ao largo que
vigiassem a navegacao ; a outros capitaes ordenou
que com oitocentos infantes se formassem no sitio
de Pernam-Morim , para todo o successo. Erao
ISd'Agosto quando pelas duas boras da meia
noite derao fi as sentinellas do Camarao das em-
barcacoes do inimigo ; prevenirao-se os embusca-
dos, e tanto que surdirao a emparelhar com o
sitio, empregarao nellas successivas cargas ; cairao
muitos , e o medo obrigou a outros a que se deitas-
sem a agua, adiantado-se a perder a vida. Ao
estrondo da mosquetaria acudio o esquadrao que
08 nossos formarao em Pernam-Morim, e chegan-
do a tiro derao sobre as embarcacoes uma carga
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CASTRIOTO LUSITANO. 85
scrrada. Temeo-se o Flainengo submergido, de-
samparou os vasos; dos quaes os nossos se apode*
rarao e de todo o soccorro , que constava de seis
pecas d'artelharia e bfX)Dze, oito roqueiras, inuita
quantidade de polvora e balas, abundancia de
refresco e de viveres de todo o genero , que logo
conduzirao para o Arraial com algumas bandeiras
inimigas , que (izerao mais plausi^el a Yictoria,
deixando as embarcacoes consumidas do fogo.
Cento e tantos Flameugos perderao nesta occasiao
a vida ; dos que escaparao das balas e das ondas
forao poucos illesos ; os que trabalhavao nas trin-
cheiras , informados do successo , e induzidos do
medo, largarao a obra com os instrumentos d'ella,
(ugindo tao desatinados como se levarao a nossa
espada sobre sua cabe^a. Deixarao arvoradas as
bandeiras y ou por testemunho de sua cobardia, ou
per disfarce de suaretirada, que conhecida de
Mathias d' Albuquerque oa mandou seguir ; mas
sua ligeireza frustrou nossa diligencia. Achou-se
nesta occasiao uma carta do general hollandez
para os sens cabos, em que Ihes ordenava que re-
cebido o socorro passassem o rio, e a todo o risco
investissem a escala a nossa fortaleza do Arraial ;
e que entrada, a nenhum vivente se d^sse vida,
Trocou o Gko as maos a espada; e recebeo a ferida
quern havia de dar o golpe.
XXXII. Mais obrigado da fama que moyido
d'ardor militar deitou fora o Hollandez quatro-
centos infantes no dia 21 d'Outubro, com ordem
d'assaltarem a fregnesia de Saulo Amaro.
Distanle d'esta freguesia havia uma irincbeira,
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86 GASTRIOtO LUSITAMO.
imico reparo dos moradores, na qual se achava o
capiiao Estevao de Tavora com doze soldadod.
Encontrando o inimigo resistencia que nao egpc*
raTa, e vendo-se descoberto pelos nossoa^ que 8up»
poz era maiornumero, guiado d'um negro, mudou
de vereda, e encaminhou-8e para o engenho dc
Jeronimo Luiz. Foi em seu alcance o capiiao
Estevao de Tavora com os seus doze soldados, e
alguns moradores que sc Ihe aggrcgarao; ,ma8
quando chegou ao engenho j4 estava enlregue ^8
chamas. Informado que o Hollandez com o roubo
de assucar, gados e moveis marchava para o en*
genho de Maria Barboza , o seguio a passo largo,
e o avistou a tempo que nao pdde o inimigo fazcft*
mais que p6r-lhe o fogo , e marchar carregado de
pelouros com que os nosso* o serviao sem intcr-
rupcao. — Nesta hora chegou casualmente iquelle
lugar 0 capitao Antonio Andr6 com quarentt
mosqueteiros , e cortou-lhe o pas»o« Vio-se o Hol-
landez por uma parte atalhado, e por ontra perse*
guido, e com desesperado medo determinou rom-
per por uma densa mata , a onde embaracado das
armaa nem podia marchar com ordem , nem re^
sistir com Fdrma. Rompeo o maio ate sair i cam«-
pina de Tigipio , ondc deo de rosto com Liiiz Bar-
balho , que o recebeo com uma carga de qnarenta
mosqueteiros , tao destros na pontaria que derri*
b4rao trinta Flamengos; desacordadoa os mais
forao largando a presa e aa armas, attentos a
conservar as vidas, que miiitos perd^rao norio
d'um rio, e outros o passirao com agua pelos
peitos; correndo todos a emparar-se do engenho
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CA8TU0T0 LqUTAMO. 87
de AntoDio FertiUndes Pesaoa, otide , em vez de
abrigo, acbarao eairago. Acaso cheg4ra aquelk
paragtm o aargento maior do Estado Pedro Gor^
rea da GAma com dusentos motqueteiros ; deo
•obro ot ininiigosi tnatou quarenU etaatos. Qui*
lerao os caboa inimigos fazer alto ^ para eyitarem a
desordem em que Tiohao ; por^ oomo o medo
i inoapaz de diadplma , faliou em todos a obe*
diencia^ fugindo oada qual per onde o guiava a
•orte; e te^e tao pouca sua efei^ao, que os maia
d'eilea oairio oaa mios doe Indioa do Gamarao ,
tao afflictos que Dao reaiatiao aoi golpea, tendo por
melhor fortuna o morrer que o fogir. De quatro*
centos nao escapou o diiimo da motte oti da pri-
eao« Dos nossoa ^ em todoa ob encoiitroa f morrirao
einoo ; um d'ellea aargento de Luiz Barbalho; t
ficmrio alguns fOTidoa^
XXXIII. Neste ineio tempo partio de LiaboA
Fvanciaco de Yasoouaellos pbt cabo de duas tiaos
e algumas Caravelks^ que eonduziao urn socoorro
ami oemsidemTel aMathias d' Albuquerque; maa6
Hollaiidez^ que tinba aviso de Uido que no reino
ie pasaava^ nuyKloubordejar sua armada na altura
da Fariiba^ e em Novembro d'eale anuo Ihe vi^rao
cair Has maoa ot Darios do a(>ficonro. A deaigual«
dade do poder , que oos tirou o partido , fioa aeon-*
selbmi o rtnmiio; derao as caravellaa a ooata i as
duas uaos sorgirw na babia da Trai^o. Franoiaeo
de VlMeomdloi saltou em terra , a kttuou o cami-
nba do Arraial ^ imaginando que deiaava Seguro o
soCGorro que ae p6de sal?ar; mas engatiou^ae cul-^
ty povque a faka do €ak> tave forca de
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88 GASTJilOTO LUSITANO.
exemplo. Abandonarao as naos d'El Rei ^ que pro-
melt^rao defender^ desprezando vergonhosamenle
08 clamores dos marinheiros, que os reprehendiao
com Yozes, e envergonhdrao conn as obras. To-
mArao estes as armas, e com ellas nas mao6 espera*
rao o inimigo, e se defend^o como valorosos em
quanto os nao opprimio a multidao dos coutrarios,
que OS euTestio, rompeo, e saqueou todo t) cabe-
dal que Ihe servio. Com estrondosa festa celebrouo
inimigo sua victoria e nossa injuria , e ounca com
mais f undamento , porque nunca nossas armas na-
quella terra padec&rao nem maior quebra nem
maior perda.
XXXIV. A fraqueza e a infidelidade se unirao
nestes dias para nos magoar. Saio o inimigo no
mez de Dezembro, e com grande poder de gente e
de navios^ sobre a nossa fortaleza de Kio Grande.
A n^ociacao tinha comprado a contingencia da
batalha. Rendeo-a o Flamengo com a vista. Suposto
que o capitao Pedro Mendes, ferido d'uma bala,
deo a vida pela defensa. Com pretexto de cobiarde
a entregou o tenente govemador , que era um
sargento : pareceo^lhe a fraqueza menos feia que a
Iraicao; facilmente cae na villeza quem se delibera
a viver da infamia. 0 primeiro que entrou napraca
foi o Callabar (aquelle mullato de quem fizemos
men^ao em n*»XXII), ou para asegurar o concerto,
ou para se conhecer o autor do contrato. Com
quarenta soldados que a forga tinha de presidio (os
mais tinha licenceado o capitao ) levou o inimigo
preso ao cabo para o Arrecife, Murmurou-se entao
que com esta apparenda quizerao os inimigos en*
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GASmOTO LUSlTANa 89
oobrir a trai^ao da entrega : engaao mais segiiro,
porto menos apparente. Com toda a artelharia
de todas suas fortalezas coroadas de luminarias
publicou o inimigo oseffeitos d'uma traicao, ser-
vindo um mesmo estrondo a sua alegria e a nossa
magoa; o que nos ratificou, a cara descoberta,
remettendo para o nosso Arraial o autorda entre-
ga livre , favorecido e medrado ; o qual mandou
logo Mathias d' Albuquerque prender com griihoes,
e confiscar-lbe os bens , processado o crime pela
confissao do nio. Nenhuma perda foi para nosmais
sensirel , porque nenhum successo foi dos nossos
imaginado. Deo este infausto golpe fim aos suc-
cessos do anno de 1633.
XXXY . Gonvidado o Hollandez da boa for tuna
com que o anno passado se fezsenhor da ilhadelta-
maFacA*e do Rio Grande , se animou a emprehen-
deraconquista do pontal de Nazareth, naoso pela
vizinhanqa , senaopelasconsequeneias : era a porta
por onde nos entravao os soccorros^ e saiao os
generos. Preparou os vasos de sua armada ; saio
do Arrecife em 5 de Fevereiro; eparamelhor
esconder seu intento , mandou a toda a frota que
emproasse aaltura daParaiba. Avistou a fortaleza
doGabeddlo, queguardava a melhor barrad'aquella
eapitania, e da outra parte deilou quatrocentos
homens em terra ^ com ordem que ameaoassem e
nao acommetteas^m a forca de Santo Antonio que
alii estava situada; o que Bzeraocom vagarosas ap-
parencias, dando occasiao e tempo para que a yoz
do rdbate tirasse a gente d'onde a temiao, para a
parte . a onde o enganavao. Persuadido Mathias
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90 QAanioTO imaMMO.
d' Albuquerque oom a viyeu das ipparancias^ det«
(ttdiodoArraialduzontOB aoldados em quatrooom*
pauhiaa que foMem toccorrer a Paraiba, a tempo
que o Hollaudei acautellado e furiiro ^ recolhida a
gente que tioha deitado em terra , Tinha j& arri^
baudo iobre o poutal de Nazareth* -^ Por um m^
teiro deitoa um goipe de grate em terra, que e
•argeuto maior Pedro Gorrea da Gama , governa*
dor d'aquella praca^ maadou rebater oom maii
acordo que effeito. Em quanto durava o conflicto
buscaya a armada inimiga a barra, a qual entrov,
mas nao tanto a salyo oomo eeperaya ^ porque um
reduto nosao dirigio tao bemseus tiros que Ihe me^
tec a pique duas fragatas , que o mar tragou
promptameute em quaato as outrat davao fuudo
uo porlOi a onde em uma poata d'areia fabricou
o HoUandez um fortim, que as abrigaVa* -^ Os
nofisoa que yirio o inimigo ienhor do porto ^ a onde
eelavao muitaa ntos a oarga , e para ella alguna
akmiseas cheioa de faieuda, a uma e a outra causa
poe^rao o fogo ; e em pouco tempo (xmsummio o
iooeiMiio generos de muito valor ^ mas nao inteira^
mente^ porque 'a diligencia do inimigo p6dc ate^
Ibaki a tempo queaindasalvou daa cbamas cabedal
quemerecee a estimacao d'uma boa presa, --^Ded«
•e rebate no Arraial ; Mathias d' Albuquerque e o
conde Banhollo marcharao immediatamente para
Nazareth ^ fizerao alto sobre o oabo de 8anto Agoa»
tinho, queficasobranoeiroA barmi f(nrtifidMo-^ee
com trincheiras^ assenUrao algumas pecas d'al^
canoe ^ e com os pellouros d'elb^ oome^^rao a ser*
vir OS embaroa^oea itriaiig^g com pofttaria lie
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QASmOtO LOMTAKOU 91
certa que largou o porto e as ancorasi e turgirao na
enseada fora do alcance da arteUiaria. Vetido oitao
tm nos$M que o reduto^ que o Hollandet fabrica-
va , ja nao era protegido de luat iiios^ na manha
dodia 7 de Marco deac6rao do moute seKenia sol-
dados escolhidose resoluioS) e com tal ralor oiiiTes-
tirao que immediatameiite o entrarao, e detalojario
o inimigo. -^ Mao noa foi d'utilidade ctia victoria ,
porque ao tempo que Mathiat d'AUmquerquede»-
cia t!om trezentot soldadoapara conaervar o gaohi-
do^ entre osappkusos da yictoria so tevantou uma
iroz ( que se aifirma ter aaido de peito traidor) que
OMiitat Teaes repetio Tir sobre eUea o ioimigo com
todoopodW) e fez tal impressaonosanimoadoTul-
go que Ihes nao deixou tempo para a reflexao ^ e a
confusao seguindoi*se a deac^ediencia todoa fugirao
•em qoealgum Tiete de quem. Protocado 0 inimi-
go de nosia deBordem^ vditou animoeo^ e recupe-
itm o perdido« CuatotMnoe este deaaaire vinte mor-
toi, e luuitoa nais feridoa I uaosendpoMnorado
porto 9 que era por onde recebiamoi ot aoocorroi •
XXXVL Animado com eete aucceeao imagiiKHi o
HoUandea que poderia ofater outro maior. Eu30 de
Mar^ despedio do Arveoife quinhentoa toldados
eacolhidos^ e grande multidao de ^asiadoree^ em
uma copiMa chusaia de lanehas j que favoreeidaB
da eacuridade da noite aofairao pek) rio Capiberibe
a cima at^ junto de Pemam-Morim, a onde deeem-
barc&reo eem serem aeiitideS) e onde letanlarao uma
trincheira que guaniee^rao de geate e artelharia
com tat prompiidao que primeiro noe aviwrao as
Uroa que oa olkoa. -^ Adfvertidoa oeaoBioa eome^a-
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92 GASTRIOTO LUSITANO.
rao nao so a corresponder ao inimigo com os tiros de
nossa artelhria, mas a provocal-ocom alguns solda-
dos que deitarao fora ^ trayassando-se repetidas es-
caramucas que sempre acabavaoa favor dos nossos.
— Vendoo HoUandez fnistradasuaesperanca e sua
ruina eminente j resoWeo-se a levantar o sitio , e
para melbor encobrir seu projecto , maudou urn
tambor com embaixada pedindo a entrega da for-
taleza com promecas e ameacas. Foi o messageiro
despedido com o desprezo que merecia; mas de
que 0 inimigo nao fez caso, porque so queria ga-
nhar tempo e nao obter resposta. Embarcou n*este
meio tempo em suas lanchas feridos , mortos, ar-
telharia e bagagem; e se relirou a vela e aremo,
evitando com este ardil o destroco que temia mais
certo na fogida que na assaltada.
XXXVII. Mathias d'Albuquerque, que assistia
com o grossoda gente em Nazareth , sabendoo que
passava no Arratal , se Ihe re{H?esentou occasiao
opportuna para desalojar o inimigo do reduto, que
tinha fabricado no pontal , e Ihe mandou dar «e-
gundo assalto; mas como a resistencia estava pre-
venida , depois d'uma luta proGosa , sem que a
victoria se inclinasse para alguma das partes, se
aparlarao ambas as nac5es do conflicto , deixando
OS nossos sette mortos, e levaudo maior numero de
feridos, e tendo os inimigos muitos mais d'uns
e outros.
XXXVIIL Deixarao estes dous successos suspen-
sas umas e outras armas por alguns dias , no des-
trito de Pemambuco ; tempo de que o Hollandez
se approveitou para dar urn do a sua espada na
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CASTBIOTO tUSITAHO. 93
capitania doRio Grande. Tinha-se4he offerecklo o
genlio da terra por auxiliar, que i naturalmente
maligno e inconstante j com nativa propensao para
o roubo e para a vinganca.PerauadioaoHoUandez
a entrepreza da povoacao de Cunhau^ com a riqueza
do saco , e a indefensa do lugar. Saio da fortaleza
governando ao mesmo gentio que o conduzia , de-
rao sobre os incautos raoradores tao inopinada-
mente , que a confiisao cortou ao8 misera^eis ve-
zinhos o caminho da resistencia e da fogida. Hor-
rendas e execraveis crueldades exercitou aqui a
barbaridade e o odio , apostados a excederem-se o
herege, e o gentio. Nao perdoou a espada nem
a sexo, nem a idade; nao respeilou a rapacidade
osagrado, nem o profano; e o que nao pode met-
ier a saccO) condemnou as chamas. A ferro e a fogo
perderao a yida perto de cincoenta pessoas^ sendo
d'este numero um religioso do Carmo, e o capi-
tao Fragoso, a quern as injurias tornarao mui cruel
a morte.
XXXIX. Sem movimento, de que se faca lem-
branca, esteve em calma a hostilidade at^ o mez de
Septembro : parecia descanso, e era mina, que arre-
bentou com a violencia que logo se vio. Em o mez
deMaio chegou asalvamentoum soccorrodeduzen-
tos homens, deque eracabo D. Fradique, com mu-
nicoes e mantimentos , que da Bahia mandou Diogo
Luiz d'Oliveira, governador g^ral do Estado;
tomou porto em Nav.areth ; e no mesmo lugar deo
Mathias d'Albuberque alojamen(o aos soldados do
soccorro. Era aquelle posto o de maior importan-
cia; e jielle assistia o maior poder. Poueo tempo
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despoit cbagaifto ao immigo algumti uio% d« Hoi*
laoda com novos caboi e miaittros; e com ellei
novas ordent i ci\io roaultado ao diante veremoa*
XL. Para ob»arvar a fortaleza dog Aflbgar
dos, qua o inimigo tinba por mui aegura, tinba
Luiz Barbalho ( ja eatao noDdeado mestra d^ campo
d'um t(9if 0 por Matbiaa d'Albuberque ) aacolhido
o governador doa negroa Honrique Dias o qual,
embuacaado os aeus nagrog oas matag , pelos lamar
9afia alcancava quanto^ passos elle dava* Succedeo
que em 12deSepteiubrosaiaoquatrocentosI1ollaa«
dezes^ e marcharao pela vargea do rio Capiberibe
eomodestiuo de aasaltarem o engeoho de Antouio
Cavalcantiy a opde o gentio seu parcial Ihe promettia
grande preaa ( e para asaegarar a retirada deixou
o Flamengo uma eroboscada no engeuho de Fraiv-
ciftco de Brilo, Tudo eutead^ao e observarao o$
soldados de Henrique Dias , que sem dilacao tbz
ayiao ao otestrede campo Luiz Barbalbo« — * Ouvio,
neste meio tempo , o Hollandez o rebate que se
deoLO Arraial i suspeitou que era sentido; temeo-
ge cortado } maa quando se poz em retirada , dec
de rosto com o oapitao Antonio Andr^, que com
cem soldadoa se achava na campina do Figueiredo
para o asaaltar de cillada. Deo sobre o inimigo
com desigualdade de numero^ maa com superiorida*-
dadejvalor ; foi d uma e outra gente igual a resia^
tencia e o damno. Acmboscada do inimigo ouvindo
0 egtrondo do conflicto , largou o posto para acudir
aos seug , maa achou-se atalhada por outros cem
homens nossos , que Luis Barbalho despedio do
Arraial para esperarem o Flamengo na passagem
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d'Amluroiio Mtcbado) e ussim earc^ido pelos
ttoaaos, queTalorouoMnite o feriao , buacou o r^
rfaadionafugidai porim^qiimdojaUie pareeia
aar eacapado do maior perigo , deo na embuioada
do Heoriqua Dias, quede todo o darrotou, ma«
tando-lha e ferindo-lhe muita gente, — Quasi ao
OManH) teiDpo eiperimentou igual fortuna no
poito do CaWo, E^va alii ancorada uma fragata
iaimiga ; aajo a tripola^^o a rovbar pelpeertao j
d&o ^bre ellea o gratio guiado por alguna Portu^
goeeoa , e fioi tal o furor com que oa assaltarao,
que OS que esoaparao de mortos ou feridos , forao
presaoB* Dazoito rendidot apregentarao os vioto^
rioaoa a Maihias d'Abuquevquet
XI^L Erao oa HoUapdezea mais solUciloa em
iModar reform do que o governo d'Hegpanha
em acoudir com aoocorro. Apreatarao quarenia e
geia fragaUade g^erracom armaa, muDi^oea, e
mantimentoa em abundaucia t guamecidaa de
geote eacolbida, e chamada de varias oacoeg; para
quetodas as pracas do nosao £a(ado fossem toma*
daa definitivamente pelas armaa da companhia
oecidentaK Lafgou vela a frota nos primeiros diaa
de Dei&embro, e fayorecida do tempo appareceo
com curta viagem sobre o porto da cidade de Fa«*
raiba. Tomou paono , deitou ferro pouco distante
da fortaleMdabarrai que cbamao do Gabedello, e
semimpedimento deitou em terra mil oirocentos in-*
faatea* — Sitiouoinimigoa fortaleza por terra e por
mar 9 sem que a uoasa geote Ibe podesse imped ir,
levantou triocheiras, abrip foaaoSi plaatou arteilia^
ria ^ e bateo a for^a com toda aquella divergidade
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M CASTBIOTO uniTAifa
de tiros^ que para os assedios inyentou a arte e o
furor. Tinhao ob nossos levanUdo uma trincheira
a tiro de pe^a da fortaleza para seguranca da praia ;
ordenou Sisgismundo a um tro90 de sua gente que
a escala a envestisse e ganhasse. Avan^ou com Ta-
lor; foi rebatidocomvalentia. Grecia o furor com
a perfia , de sorte que ja a peleja era mais vin-
ganca que combate; at^ que morta a maior parte
dos defensores a entrou o inimigo , franqueatido-
Ihe a invasao os corpos mortos dos seus , em tanto
numero que sobrepostos uns aos outros igualavao
o alto da trincheira. Nao teve o HoUandez para o
triumpho mais que a prisao do cabo que era o ca-
pitao Ferreira ; porqu^ os soldados , que erao ape-
nas quatorze, primeiro derao a vida que largassem
a victoria. — Dura resistencia achava o Hollandez
na fortaleza ; com reciproco damno continuava a
bateria , sendo maior o dos cercados , porque alim
dos pelouros, granadas, e outros artificios de
fogO) ja as minas tinhao feito voar alguns baluar-
tes, servindo as ruinas a muitos de sepultura. A
guarnicao constava apenas de trezentos soldados,
cujo umero tinha consideravelmente diminuido
com oprofiadoassedio de quatorze dias. As municoes
estavao exhaustas , os mantimentos consummidos,
o perigo certo, o soccorroduvidoso; oque hem cott-
siderado pelos capitaes, com prudente accordo ca-
pitularao a entrega; e deixarao a pra9a, samdo os
cap! laes e officiaes da milicia com as custumadas hon-
ras militares; e em sua companha todos os morado^
res com suas armas, ihoveis, e Uberdade, para
tomarem o caminho que ihes parecesse , e que os
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CASTRIOTO LUSTTAHa 97
soldados pagos ficassem prisiondr os at^ se Ihes dar
passagem para fora do Estado. G>in as rnesmas
coQdicdeSi e muito menos defensa se rendeo a
ibrca de Sao AnConio, sabendo que a fertakza
estava entre^.
XUl. Logo que Mathias d'Alboquerque reee-
beo o aviso de que o Flamengo sitkiTa a fS^rta*
leza do Cal^edello, despedio ao eonde de Banholk)
com o seu terco de Itaiianos , e D, Fernando de
Riba Aguero com algumas companhias de Caste-*
Ifaanos que fossemsoccorrer a praca com a diligen-*
eia que pedia a importancia , e que. a todo o risco
Ihe mettessem soccoiro, qiiaodo nao podessem de-
salojar o inimigo. Erao Castellianos uns^eltalianos
ontros y e jornaldros todos. Doze dias gastarao ua
marcha , que de volta fizerao em tres, so a flm de
ch^rem a tempo que a perda 6s escusasse da ba-
talba. — Esperayao os habitantes afflictosdacidade
que o eonde saisse a campo a fazer opposicao ao
Flamengo , que com insolencia saqueava o con-
torno 9 ou que ao menos os fortifioasse e defen-
desse , mas acbou-se enganado ^ e vio-se assoUado
pbr queraseimaginava defendido. Fermittioaos sens
o saco da miserayel cidade^ que se executou com
estranha exorbitancia : golpe, para os naturaes
lanto mais sensivel quanto menos esperado. Assim
ficou a atribulada povoacao sem cabedal e sem de-
fensa, exposta ao ultimo da calamidade e da extor-
cao. Sem resistencia se apdderou d'ella o Hollan-
der ; nao deixando a fortuna aos tristes moradores
mais que a escolha da tribulacao na sorte de cap*
' lives ou declterrados. Uma parte ^ e foi a maior,
I. 1
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91 QAwmmQ imrkMo.
dfimwft^rw^ nm ftmtiw n- 9e^o o oumfnho dot
lUlJMiQff qm Ih9 levavao ai fazanikis, outra
part#t «iiq^«cid«4ai^f^aiida8, ae d^iiou eatar em
suMcrMW com mala* ooraciio pam aoQrar ioimigfoi
declarados^ que para seguir auxiliaPM folf^M i t
eatoaidjQj^ fjaiinngo paaaapoptoa da vatiallos^
cofii.{roipaaaaa4e o» awtentap en aeui Ibroa > e no
Urn. fmroi^ia da raligiao ditlioUQa nomana.
(MQ4aro«aa ile hosptdat que lago rompeoa tyra**
nia d4 i«phor» ) Gvaadaa fwfto oa trabalhoa doa
cpm aeguiraa oa ItaUaqoa i fiorque una tiraoM m«
UurAipante deapojadoa por oq^M^Ua om qu^m ^pe-
ravao A<»bar ppotaecao ; a outroa , aaguindo a vepeda
4q Arriiftlf YJ^o^^a^ aaaaltadoa da fome e da mn
saria, pRdaceocb liittmoaoa piwaroa na cpuduQao
de soaa familiaa i que a urn maamp tempo vjaq
rampm* a wato wm q torBneotOi a o cap com garni-
doa. Vm taptA affllio^Ao 9 xlaaamparo Ihes era a
coDsarvJi d» Antonio d'Albuqq^rqua , a de muitos
senhoraa d'an§[anhoa» triate aiUvio, poisaem po«
deimm sarvirf3oma socoorroi aarviao ad com o
ewmpk) I a todoa igualiYa a aorta no infortunio,
XLUi Tftnto qya Siagiamiwdo ae vio sanhor
dft eidftd^ 9 foptalaia e barra de Paraiba , re^
partio aw ganta em mangaa da pequano numero
com prdam d# aaqnearam oa angenhoa, aldeaa
e donoAoilioa da todo o diatrioto , aam dirtiacao de
alUadoa a p^baldw j o que ae ei^^ecutou com inaaa^
siaval qobiija , racolbendo 0 Flamengo uma grossa
preaa. -rr- Jntprmado peloa aeua de que na cam**
panha nao bavja sombraa d'oppoaicao nem rebai^
dia, 4mxou a cidade oom limitada guariu^aQ) ^ Qom
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CA9VRI0T0 UmiMO, 99
o groB90 de aeu pod«r sq foi apodenmda dt terra ;
marchou At^ a Goyana i em cuja mareba te Ibe
aggregoQ todo o gentio. eustumado a i^eguira me^
Ibor fortuna , e de que elle ae $ervio para a$ auai
exp^i^oaa. —« Mathiaa d' Albuquerque » que via
nao sem receio o engrandecimeiitq dp iuimigo,
cujo yerdadeifo inteuto era de tomar 0 uoaio Ar-
raial , para a$&im firmar o aeu dominio ^ fn logo
aviso ao reiuo do que era succedidoi pedindo
com grande instaacia soccorro para ooutrabalan^ar
oa reforgoa que elle havia recebido. NaQ oonvii^ia
poi^m estar ocioaoi e para obatar d'algum modo
aos progresaoa do Hollander > ordeuou ao oapitao
Rebelliobo, que com algumaa companhias , tiradaa
da Nazaretb e do Arraial aaisse a cortar-lbe o
passo; e quando a opposicao nao baatasse para o
deter y nao deacausasae de o picar. -^ SutreUuto
que na fortaleza ae CaEiao todos ob preparativoa
para esperar e repeUir o inimigo, chegou o oapitao
Rebellinho com suas compaubias, e as de alguna
moradores que ae Ibe aggreg^rao, a uma ^Jdea
cbamada SaoMigueldeMozupe^ a oudefez alto;
mas tendo aviso qiie Sisgismuudo marcbava com
todo o poder em direitura ao mesmo lugar^ bus*
cou outro mais commodo para r^Uzar o seu
ardil, deitando fogo a aldea, Fassou o iuimigo
$em deter a marcha dirigiado*$e a Mazurepe, eo-
gieubo dos religiosos de Sao fiento^ a onde fez alto
sem a<^ar impedimento , porque religiosos e se^
cularea 0 haviao abaudooado. Estava o Rebellinbo
embuBcado na mala de Joao Leite; assaltou o ini-
migo com noventa soldados com tanta fortuna que
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100 CASTMOTO LUSTTAIia
o ftez retirar duas vezes em grtnde confasao : mu-
dou de sitio para segundar o assalto ; por^m sendo
descoberto par infidelidade , foi acommettido por
todo o poder de Sisgismundo , e depois de se de-*
fender valerosamente , e senda elle meamo atra^
vessado com duas balas.
XLIV. Nao descancou Sisgimmndo nos bra-
cos da victoria; antes aproveitando o favor da
fortuna dispos-se a continiiar a conquista do re-
concavo : o que conhecido pelos nossos, comecarao
a preparar-se para a defensa. — Os dous Albu-
querques, com o conde de Banhollo , que aseistiao
em o monte de Nazareth , deixarao a fortaleza en-
tregue a Pedro Gorrea da Gama, sargento maior
do EstadOy bem guamecida do necessario para
sustentar um lai^ cerco ; e com um grosso de
geiite se aquartellarao na povoacao de Santo Anto-
nio , sitio vantajoso d'onde podiao soccon^r as
pracas vizinha^. Luiz Barbalho , que assistta na
povoacao de Sao Lourenco com o seu (erco, dei-
xoua, pela mesma razao , fortificada o melhor que
pode , e com duzentos soldados de guarnicao ; com
a maisgente .se passou para o sitio, qu^ chamao
OS Curraes de Santa Anna^ e de U despedio duas
companhiasparaos Guararapes,e outras duas para
a Jangada , que assisddas dos moradores pod^rao
rebater o primeiro impeto do inimigo, e dar tempo
a retirada dos vizinhos. Deixou Luiz Barbalho cem
homens comsigo , destros e valentes para soc-
correr a parte donde 6 chamasse a necessidade.
XLV. Dispostas as cousas nesta ffSrma^ deitou
oHollandez ftJra do Arrecife trezentos soldados com
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GASniOTO LDSiTAMO. lOi
ordem que foesem reconheeer a noeea fbrtaleza do
Arraial, e obBervar a situacio d'ella, e os postos
mais covenientes para os quarCeb e batarias, com
que a determmava cercar e oombater ; deligencia
que Ihes nao deixou conseguir o goyemador d'ella
Andr^ Marim , detidos da artelhana lao longe da
fojr9a) quanto alcancavao as balas, at^ que viradas
as cosias se relirarao por aquella parte , que o Ar-
raial olhava para o rio, que se achava deshabitada
do8 moradores^ que nella se nao davao por seguros
e se ibayiao recolhido aos matos. — Sisgismuudo^
que ardia em desejos de ganhar a pra^a, assentou
com OS seus que serkt de grande consequencia fazer-
se senhor de M oribeca , para meibor gaobar a for-
taleza e a campanha. Saio por ianio a 15 deFeve-
reiro ao romper damanbaa commilquinhentos sol*
dadoseduzentoslndios, s^s confederados; maodou
marcbar pela estrada que guia para os Gararapes ;
e depcHs de ter fprmado a gente no moinbo novo,
com caixas, clarins, e baodeiras tendidis, deo
sobre a povoacao , de wrie que a um mesmo tempp
conhec^arao os moradores o assalto e o rebate , os
-quaes , yencidos jMimeiro da confusao que das ar-
mas, deixarito a poyoa9ao liyre ao inimigo, que
ganbou sem golpe o que nao imaginou leyar sem
cuslo. — Depois de se fortificar na Matriz, sa-
qoeou o lugar e a eampanba j que acbou com todo
o recbeo. As violencias , for^as e extor^oes^ que
nesla occasiao padec^ao os miserayeis yizinhos,
forao tantab e taonovas,<]ue excedem toda expres-
sao f ayanlajaiido«se muito a crueldade dos Indi#s
i doaHoUandezes.
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lOS GASTiioio unnAna
XLYL LogD q«e Luis Barbftlho tcvt wiMo
do jMiccesso, mdrchofU com cem homctis que oom^-
ngo tinha ^ e algum moradores que $e Ihe aggre^
g^rao; unio-ee a tWe no caimiiho D* Fernando de
Riba AgUero , que Mathias d' Albuquerque Ihe
mandava com duzentos homenSi com ordem que
encorporados dessem bataiha ao inimigo^ como e
qoando melhor occasiao iivessem. Fizerao con-^
selho OS Talerosos capitaes; e vendo que mo tinhao
foreas sufficientes para atacar o inimigo aberta-^
mente, march^rao para aquella parte que chamao
a eerra da Agoa, a onde s^biao andava urn terco ,
que Siogumuudo mand^ra a saquear os morado^
rea« ->»Embo8carao-se os nossos num sitio, por onde
havia de passar o inimigo. Dio sobre elle com
grande ardor i e j& o levatao de vencida , quando
Sisgismundo, arisado do perigo pelo estrondo da
bataiha^ en?iou um esquadrao de socoorro j o qual
fez mudar a sorte das annas, sendo os nossos obri^'
gados a tomar a fiigida por remedio, tomando ca^
da qual a vcn^eda que Ihe pareoeo mats segura. *-^
Luiz Barbalhoi acompanhado d'alguns Indios,
.seguio o caminho de Supup^na ; mas quando me«
noe o esperaTa , deo de roato com uma partida d^
Hollande<es> queacaso marcbava por aqwUa pttte t
aem detenca o cerc4rao , dando4be Yo^es que se
rendessea bMn quartel ; por^ o femoso capicao^
fiando menus das palavras do inknigo que d'um
fraco cavallo em que ia montadO| chegou-lhe as
esporas a tempo que se romp^rao as eilhas^ e Tcto
ao cbao com a sella. Nao perdeo o animo o brioso
capitao , antes empunhando a espada com graudt
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GAanmro urmiMi lOft
d6Bead]tira9o abria lar^ caminho por-entre Oft
Flaineagos; e rontpeDcb o ra»lo veio dalrM lagir
de Gorjaru, ondc as momdoroft Ihederao noto coi^
Tailo para se ir a Nazareth , e d'ahi oode Mathiaft
d'AlbuqverqiMi aBaiBtia; e o meBmo fiterio a
D4 Fernando e tos luais capilaes.
XLVIL A guarnicao de Sao Loarenco , d» qm
en cabo Afibnsod'Albuqaenque, sabido o des-
troco da notaa genie, lai'g&rao a potoa^o; a qtMl
foi logo occupada pelo coronal Chriaiotad'Attchei^
loAa, qfne goTeroara aa armasr contrarias tio quanel
de Maciape. ~ Aproveitando^e Sisgiifiitiiido do
fiavor da fortuna , deipachou logo varied parddaa a
ronbar oa moradore^das aldeas viiinbas ; 09 quaoii
depcria de roubades , tiverao que soffrer o jugo inU
inigOy OB perdendo cases e fa«etidas» a bweat
patria no d^terro^ onde vterito por fia a experi^
mentar igtial sorte«
KliVlU* Mardbava Sisgimrando 00m o restance
de sua gtnte 9m aleance dos pobres (ugltivof ^ f ou^
bando.e apreuonando ludo que eiicontra?ai
carragado de groisa presa de owoi praia e rou^
pes^ seguia sua marcha encaminhotido-ee para a.
povoacao de Sanlo Antonio do Gabo ; mas quande
elle meaos o eiperava caio nttma emboscada , qw
1am Batbalfao Ibe linba amado, na qiial perdeo
tanta geoie^ que se m^ aU*efeo a passer adtame
sem mandar irir do Arracife quinhentos booMnsi
Refor^ado ee« estes-proseguioseu lUt^nto^ e c«h
segiiio apoderar*ee da pof oa^ seiti re9iilenGia««M»
Ganhada a powa^ deSaaUi Aotoaae 0 occnpou
SisgiioiUDdei tedoseu euididoeaa cortarto^veredas
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1«& cmnjoTO LoanAMa
que guiavfto part a nosaa fortaleaa de Nattretli,
com iQleojU) de a privar de todo o aoocorro. €o-
nbeceo Malhias d*AUmquerque o deeignio; lemeo
o oerco, wpmb pek fome que pdo ferro , eantes que
o obrigasse o perigo , ae relirou para Sirinhaem,
debando a fortaleza bem provida de soldados,
armas, muiii9oe8 e viveres,
XLIX. Tinha o HoUandez reunido toda a forga
doaeu poder napoYoai^ao de SaoLouren^o, £Bizendo
d*aquelle lu{;ar frooLeira a nossa fortaleza do Ar-
iraiai;aUifezaeuftcoii8elho8y decidindo-senellesque
a urn meamo tempo ae deviao aiiiar aa fortakzaa de
Nazareth e do Anraial, a fim de que obrigadoa oa
noaaos a di vidlr aa forfas nao jx>deaaem fazer gran«-
de reaiatencia. En 3 de Mar^o aaio de Sao Lou-
ren^o o inimigo com todo o poder , e eocaminhou
a marcha para a varzea de Capebiribe. Oa mora-
dorea aviaadoa do rebate ae retirarao \ deixando o
mdhor de aeua moveis, abuscar com auaa familias
o abrigo do Arraial; mas^ tendo-M o Flamengo
adiautado a cortar-lhe aa eatradaa,adiarao o infor-
tunio oadie eaperavao eooontrar o aailo. — Andr6
Marim^ goveraadcNr da fortaleza y certo noa inteu-
toe do iuimigo » ae preveaio para a defenaa como
pr^tico e Taleroso aoldado : mandou deepejar a
pra^a de loda a gente iautil para tomar aa armaa;
advertio que ae recolheaaem aqueUea generoa e •
matenaea que podiao aenrir ao auatento e aoa repa-
roa ; ciugio a forlaleaca de cayaa e trindietraa, dei-
undo entre a fortifica^ao externa e oa muroa da
for^a capacidade para ae empartrem oa moradoreai
e ae reccdhcrem oa gadoa da eafflfMiDba; ordaM>u
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GASriiOTO tmiTAlK). ' 105
aos capilaes Antonio Aadr^ ^ Henrique Dias , e
Joito F^nandes Yieira , que ja commandava uma
comfNinhia de aventureiros^ todos mancebos alen-
.tados e nobres, que ficassemf^ii'apara descobrirein
o campo; e d'esta maneirase pfeparava para uma
vigorosa resistencia.
L. Gbegou o exercito ininiigo a avktar a forta-
leza; escolheo sitios para as baterias, edeo prin-
cipio a circumvallacao. Acavalleirodapra^aestava
uma eminencia , a onde , por esta razao , tinha o
conde BanboUo principiado um reduto y que sua
frouxidao ou seu disignio o deixou lao informe que
vierao muitos a dizer fizera nelle , para a conve-
niencia do inimigo o que bastava, e para a de-
fensa da fortaleza o que nao servia. Aproveitou-se
o Hcdlandez do posto, e nelle plantou a mais
grossa de "Sua artelharia , que fortificou de boas
trincheiras. Fez outra bateria naa easas de Jero-
nimo Faes ; e em ouiros sitios diyertas plataformas,
com pecas refor^adas e sufBcientes guaroi^ees ; e
nas partes onde sabia que podiao laborar ccHn mais
eifeito J assentou alguns trabucos e morteiros. Foi
o inimigo fechando as dislancias^ entre bateria e
bateria y de profundas cavas e grossas trincheiras,
em quesem distin^ao trabalbavao gastadores e sol-
dados. De tudo u^cessitava a occupa^o , porqu6
OS continuos asssjtoados sitiados os constrangiao a
defenderem com um bra9o 0 que obravao com o
ouiro. — En 23 de Marco sairao os Portu-^
gueses da fortaleza, em bora tao bem escolhida,
que i^udada sua determinacao do descuido do Hol-
landez y o poserao em contingeneia de se perder ;
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106 ^ Qknumo hvuBumo.
maUrao, feriiioi sacfudtoao o quaitel , • ToltaiM
inuito a Beu salvo para a fortaleau^ antes que o inir
migo ie cobraase do terror em qua o poi^rio* £m
o primeira d' Abril ( que entao foi um domiogo ^
Ra«ioa ) derao oa nodsea aefjunda asaaltada ^ qtmai
com o mesmo successo; e assim coutinuirao varas
veaea ai^ aoa priocipuNide Jiiiiho.-**-yia o Hollau-
d€z veucida aua contumacia de no88a reatateDda,
e deaconfiado daa promessaa de aua eBperan9a,
determinou empefthar na empreza o ultima tte
aeu poder e de suainduatria* Biandou couduzirdo
Arreoife mais arleUiariay e de maior ealibre^ con
que refoTQou suaa bateriaa ; ordenou que de noke
e de dia ae laboraate sem interpolacao de tempo em
todaa as eaUncias^ para que ot oercados nao tivaa^
aem bora de deacan^o nem de aeguro ; cboriao efle^
tivamenta aa bombaa e as granadaa deritro da for«-
taleaa ; ^a quaea attarao oa oosaos tao acuatumadoa^
que com couroa molbldoa aa eaperavao ^ e Ih'oi
deitavao em cima taolo que calao ^ dos quaea aba^
fiidas ae apagavao aem surtirem eflefto. Redobra-
▼ao OS Dosaoa de Talor e de constaucia k proprocao
que o eslrago craacia^ cauaando no inimigo grande
perda; porque oa artilheiro^ bornenyao com tania
deatreza aa pecas^que aonde punliao a mirayahife^
ria a bala; e oa moaqueteiroa aiiravao com poAta*
ria tao eeria^ que nao perdiaa tiro. Confuso 0
Flamengo de yer a nosaa ooustanoia e am eatrago^
reaolveo a levar por assedio o que nao podia con*
aeguir por asaalto« Cortou-^noa todos oa eaminbos
do retnadio; pfirOu»noa de Mdaa M oommunioa*
9dea^ e oonAemootMios a uma penuria lal que
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GAmiOVO ftOOIlIttk 107
OMiB pareciao ^atntuaa que e6r|>o« tiiiiMido» os d^
fenacHres d'onui fortaleza em que, 9lim dos horro^
res da guerra, tado faltara , encepto q aDimo e o
valor.
LL Trea mezea se passarao nesta profiada luta^
9tm que oa cercados liTeaaem a manor sombra dc
lerem soGoorridos. A muitoa pareceoest6 deaam«-
paro artilicio da infiddidade ; outros queriao que
fosse frouxidao do desaso , por^m o c^to i que a
ei&caoia deaemparou o valor. Yendo^se pois oe ai**-
tiadoa destituidoa de todb o humaoo auxilio, e ex^
poaioa a furia da invaaao por fatta de muniooea^
auatento e vigor (esladode que o ioimigo tiBha
todoa OS dias aviso )^ com maduro comelbo se re^
aolvdrao a enlregar a praca , que nao podiao Uvrar
com perderem as vidas. Capitularao aentrega com
as seguintea coudicoes : 1^* Que todoa os caboa a
soklados pagos sairiao com auas anoas at^ o Aire*-
cife^ oiuie ae Ihe daria embarca9ao para as Indiaa
deGasialki.2^« Que deiaariao^ em ceCeos das em^
barca^oes que os levasaem, dous capilaes quaes
elks eacolhessem. 3S Que o aprcsto e forueci**-
mento doa navios eon^ria por conia da Cotnpa*'
nhiaoccideaial^-^Estacapilulac^ao foi feita com a
aaeisteucia^i genetal Siagksmundo VauScop; da
qual se servirao para esoond^ sues vis inten9dea
k cerca dos moradi^raa da fortaleza. EmpenharacMW
08 noasoe capilulaules etn tirar para os moradorea^
que estavao recolhidos na* fortaleza , os partidos
mais favoraveis que ser p()desse , e seni esta con-
dicao recusavao a entrega. Com fingido seutimento
se derao os HoUandezes por offendidos , dizeado
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108 QABtmno LosiTAno.
que OS mortdores pela entrega da forca , passavao
dt inimigos a vassallos , e como laes deireriao ser
iratadoB; e que nao ha via razao |)ara que aos ami-
gos se tratassem nas capitulacoes como a contra-
rios , pois como a subditos deviao defend^l-os , e
^nao oprmil-OB como escravos. Tomirao posse da
forialeza em 10 de Junho de 4635. — Seguros
na promesa ( que apadrinhava a razao e a po-
litica ) quizerao sair os moradoi*es da for-
taleza y quando os embargou uma ordem dos
governadores das armas hollandezas ; e logo nm
decreto passado em nome do Principe de Orange,
pelo qual os condemnaya |)or traidores a perder^n
as vidas. Viao-se os afllictos moradores captivos
sem causa, e oondemnados sem culpa. A confianca
e a innocencia Ihes faziao insoffrivd o golpe : bus-
carao a intercessao e o favor na lastima, e s<5 o
ach^rao na peita, e depois na compra, remindo
as vidas a excessivo preco. — Joao Femandes Y iei-
ra se resgatou, e a dous mocos seus^ pelo preco
em que o Hollandez o estimou ; o mesmo aconte-
ceo a lodos os mais capitaes, sendo alguns d'elles
eondemnados a tratos. Uitimamente nenhum de
quantos recolheo a fortaleza deixou de se resgatar
com maior rigor do que se fora captiM^ em Argel.
Pbr tralo lao infame adquirio o inimigo vinte e
oito mil cruzados; que tantos dizia haviagastado
no sitio y como se o roubo se jostificara com a
Urania.
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LIVRO IV.
SUMMAMO.
1. iBlcMStigtoimiBdto aiMllir ft tHta d€MriiilMm;rade^afo
leza de Ifaiareth.--S.Mftllif«f d'Albuqierque retira-te pan a La^oa;
manda o Flanengo uma etquadra tohrt o porto do Cairo ; ftz-Vha
opposHao o condo BaBliolto; torpe ae^fto que pratica. — 3. Matbiai
d'AIbiiqii«rqiie, infonnado do soecesso , resolTe«te a desalojat o
inimigo; ^ qval fbge desbaraiado, e perde a prime ra e logonda
fortifieacao ; mom Calabar corademnado A fbrea ; Maibias d'Alba-
qnerque prosegne sua marcha para a Lagoa. -«4. Chej^a Sbgia-
mundo ao porto do Caho, e o que neUe faz; edifiea uma fortaleia
na Parapoeira, e om redato no rio Caroaragibe. — 6. Chega ao
Brazil D. FraDCueo de Roxat com am loeeorro ; reaolucao doi mo-
radorea. — 6. 0 Rebellinho desaloja SisgUmuDdo, entra na po-
voacao do porto do Calvo; sai a reoeber D. Luiz de Roxag ; encon-
Ira-ie* com o coronet Chrlitovao Arehitofls. » 7. Ayistao-se ot
eoiereitoa, e anlma D. Lvlz oa iew; tnta-so a pele|a; imia bak
uraidora maUa D. Luiz de Rous; perdem ob Portuguezei a vic-
toria. — 8. Yalerota accao de Manuel Dias de Andrada ; cobardia
dot estrangeirof ; dA-ie tepultnra ao eorpo de D. Luiz. ~ 9. 0
eoode Bafibolio luccede a JD. Luiz ; ditpoMfoea que toma. «-10. 0
Rebellinho peleja com o Flamengo, eretira-se rencido; Yinganca e
craezas que o Hollandez executa nos moradores. ^11. Estrago
que fez o. Camario na eampanlia de Goyaoa; aeode o Hollandei
a rebater-lhe a furia , e elle o deseompoe at^ ae retirar vietorioao.
— 12. 0 capitio Rebellinho talla a campanhadaParalba; encontra-
ae com o inimigo, e soccorrido por Henrique Diaa retira-ae maia
veneedor que Yencido ; faiem-se outras eicunoea. — 13. A Gampa-
nbia occidental maoda de Hollanda novos cabos ao Brazil ; toma
terra o conde de Nassau, e rai sobre o porto do Calvo ; o conde Ba-
nbollo traU da ftigir. — fl. Chega o conde Naif au A vista do por-
lo do Calvo ; aaem oi nosaos a receb61-o ; rompe oi efquadroas. ^
15. Segunda batalha ; valerosa accao de Henrique Dias, e do
cainlio Barbalho. — 16. Bagnollo detempara os sous, e elles o
. posto e a povoacao ; Nassau pde cerco A fortaleta , que ae antrega
a . partido* — 17. Intenla Nassau levar a cidade da Bahia por
entrepreza; retira-se casdgado; fortifica-se para bater a cidade;
manda uma embaixada aoa oercados ; mui resposta : continua a
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410 CASTRIOTO LUSlTAWa
bateria; mas tifaludo peloi nouot, foge comgrande parda.^lS.
RMolve-»e em Madrid a rettaura^io do-EsUdo ; nomea-ie para a
empresa o condc da Torre, fluja aolicia chega ao BrazU. —19.
Sai a armada de LUboa, chega 4 cosla de Pernambuco, e dobra
0 eabo de Santo Agostinho; o conde da Torre dispoe ositjo do
Arrecifepor terra; chega a armada A fiita de Peroambuco; derroU
para as Indias. — ^. Deitou no porlo do Tonro a Luiz Barbalho ;
pratica que elle faz A sua gente; d& principfo 4 marcha : o que
. M« 9uocada.^dl« DAiit mm t% liUft fiiecli^ «» Mm^ e«pii4ea.
qu^ Q «#oda dA T4)rr« fHAitdav A cM>pii»ht de Pen»«mlw«Q, os
quaes »a aneorporao com Luiz 9arbAUiop ^ 7X Umi$ a «^4a de
Naiiaa uma aroN^da a d^truir o recoopafo iM Bato. ^S(3. Chega
4 Pabia o marquei de Blonulvao por YU^M; mAnda infieaur a
campanha de Pernambuoa.^24. I^aiHU nAiula embniuda ao
YiiooRei, 0 qual Iha reaponda com dis«iipuIa«ao«^ 2t(. Heviqua
piai e Paulo da Cunha chegao ao raeopoiiTo d# Paroambuco ; o
qua iiellaobra*^ ^ 30. Morte d« Joao inu»Ui| iniM da conda de
Naasau.
I. Depois que o HoUandeaj 3e acbou seahor da
notfsa foFtalesa do Apraial apertou o oerco a da Na-
zareth , engrossando o poder de um sitio com a
geute que deaocupou o outro. Detxou a fortaleza
guarnecida com seiscentos soldadoB escolhidos e
dnxenlos Indios aUiados, e marchou Sisgismundo
para Nazareth ; e Gado na fortuna de suas armas,
intentou levar de caminho por entrepresa a villa
de Sirinhaem. Mathias d' Albuquerque , que se
havia retirado para esta villa, como dissemos no
livro precedentep posto que havia destacado o con-
de de Banholho com o aeu terco para o sitio da
Lagoa (^ uma povoacaocom rio que faz barraqua-
reota e ciuco legoas do Arreoif*^ para o sul ) , para
qlie nelle 0e fortificaaso e segurasse a retirada y em
caso de necessidade, informado do desenbo do
iuimigo y maiidou*o receber com parte da gente
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que aUi tinbti e com tao bo« fortiioa o fiserao^
qo^ Q fhmwgo veodo-^e atalbad^ e iat 0itido i
^pada^ depois derqahido coiobftte, yoltou a$ wb^
tMf 9 desistio da empreza* Fe]Mi#fi¥H» nasie mi^
CQutro o capitao Autonio Aodr^^ oujll morto foi
9Wtida de tQdoa; oatr^Mi douft cfipitie* Qdim pra*
^ion^iros p^la demaxia com que 9^ empeaharao ; e
Uvcpno$ outro» mortoa e feridpa » nao aeodo meaor
a perda do mimi^* -*^ Apertou Siagiarouodo 09
ataqtu^ & fortalfiza de Nazareth^ de aorte que ji
ueJla erao mais^ aa ruinaa qu^ oii^^mroa ; augmea«
tava a fome, diminuiao aa muniode^ e os defeo-'
9ore9; de soccoiro uao havia uotieia; at^ que reU"
dida a couataneia aos p^ da impoaaibilidade ,
capitularao a entreat seguiodo o examplo da
fortaleza do ArraiaL uas coudi^a e noa mativoa.
Eutrou nella 0 Flameuga em o 1* de Julho
d'eate mno de 1635. 1?esta maneira ae per<r
ddrao duas pra^s, que tanto trabalho, disi**
peudio e aangue custarao. A de Nazareth con^
servou o iuimtgo; a do Arrail mandou arpuzar,
porque talvez a reputava inutil ao aeu deaignio.
II, M athias d' Albuquerque vendo as nossaa duaa
forlale%aa em poder do inimigOy e conhecendd
quanto ae acbava arriacado na villa de Sarinhaem,
safe d'ella com toda a gente, e marohou para a
Lagoa. Chamou a si todosoa moradores que ae
qui»erao retirar ^ 0 que flzerao muitos 00m suaa
familiaii e moveia; para tudo deo oarruagens,
e para todoa provisao , senao como o pedia a
neceasidadf , como o permittia 0 tempo. Buioava o
general conaolar a todos , e auimaWoa com a oertesa
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115 GASTRIOTO tUSlTAHO.
do soccorro esperado em uma armada , que dizta
ser partida do reino em sen favor; mas ponco ef-
feito (aziao suas promessas, e s<i em sua companhia
achava o afflicto povo alguma consdacao. — Entre-
tanro que Mathias d'Albuqerque fez a sua retirada,
apprestou Sisgismundo uma armada de doze fra*
gatasy a qual , navejjando trinta e quatro legoas do
Arrecife para o sul , foi sobre o porto do CbWo
guiada pelb rebelado Domingos Pprnandes Cala-
bar, a cuja persuasao fora preparada. Tomou por-
to na barra grande , cinco legoas do porto do
Calvo; deitou aquella gente em terra que julgou
bastante para seuintento, nao fazendo caso das
fracas trincheiras que os moradores alii haviao
feito. — Chegou logo ao porCo do Calvo a noticia,
ao mesmo tempo que alii tambem chegava .o eonde
de BanhoUo com o seu ter^o de Italianos, e o mestre
de campo D. Fernando de Riba Aguero com parte
de Castelhanos e Portuguezes, de que se formava
o seu terco , os quaes marchavao em um corpo para
a Lagoa : era aquelle seu direito caminho. Pareceo
aos moradores milagroso o succeso ; com toda a
submissao e efiicacia pedirao ao conde nao perdesse
occasiao de tantoservico de Deos, de seu Rei, ede
tanta gloria sua. Nao pode o conde escusar-se ;
concedeo o soccorro com animo sem duvida de
fezer irremediavel a perdicao. Mandou que a car-
niagem seguisse a marcha para a Lagoa , com suf-
Sciente guarda, e metteo-se na povoacao com toda
a gente que tinha de guerra. Gastou aquelle dia
em oercar a igreja matriz de estacadas , para reco-
Ihimento do povo e reparo da sua- gente. No dia
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CASTB1OT0 LUSTTANO* 118
seguinte se virao desenroladas as bandeiras inimi-
gas no outeiro quechamao de Amador Dias^ de-
J>aixo das quaes marchaTao settecenioe HoUahdezea,
corlados jd d'um assalto , qae alguns inancebos na^-
turaes da terra Ihe tinhao dado , com per^ cour
siderayel. DivisArao a nossa gente, e fiserao ako
timidos pelo dan^ino recebido/ e espantados do qu^
nao tinhao imaginado , vendo a forma e o numero
do esquadriio, que os esperava. 0 general inimigo
fez uma faUa aos seus soldados , animando-os i
peleja , e mostrando-lhes quanto seria perigoso
reenar diante da empresa come^a; a qual fee
n'elles tal impressao, que pompendo a [Mradca mar-
ch^rao a buscar a balaiha , que o nosso esquadrao
Ihes offerecia immqyei. — Com igual Marte se d^
rao e reoeb^ao.asprimeiras cargas, pordm com
desigual valentia ter^ou a espada D. Fernando
de Ril>a Agnero , a quern seguirao cincoenla sol*
dados portuguezes e caslelhanos , que rompendo
pelo esquadrao hoHandez j odesGompos^raoeabrf*
rao com estrago e espanto do inimigo , querotose
julgou deslMiratado ; e de todo ficiira perdido^ se o
conde de BanhoUo com os seus Ualianosseguirttao
efficaz exemplo; mas este, ou por eobarde ou por
traidor , em vez de entrar na batatha para vaicer
o plei to ^ deixou os valorosos e fieis soldados com
seu capitao nas garras do Flamengo, das quaes se
li?rArao industriosos e valentes : D. Fernando y^l^
leo-se d'um alagadico que Ihe servio de reparo^
para escapar i morte e A prisao. Ficou o HoUan-*
dez senhor do campo, da povoa9ao, e dos nora-
dores desemparados de todo o faror humano.
L 8
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. |1{« M^r^^vrt Malhia4^ d*Albiiquenqu§ nn forma
-WferWji J a^iwJo Qt paftw» do <?qnd§ B^pboJlo, e
x}i)$ JtiAi#op9t Com* <»i4toO frudeat^ ^ eipepim^a.-
.litfto «a9(iBo<>^«^ do podep f) 9^\qjaintnto do ini^
wigQf dfli|n4io » c«»rwg#fa ^r Ter^» d«su*
M4«ft I 6 «Qni o» soldfidos d^tfo'minou bu3^r o
JHQlbnide^ HWk saus alojaipi^toa* For ord^m i^ua sa
(dimtArto^ capiue^ Fraiiaisco R^hello e As$ei|so
dfi SiWa 2| fi^pevav o iQimi9> d^ am)>o&cada , «ntr9
% pQvfWicio e, o outeiro d^ Amador Alvares. — H
^«»te t0iap# tinim o capitao SquIo parsuadido ao
Mrs^nta JQaiop da» armas hoUanda^ua* chamftdo
Fkar ) aaiiie a eortar o pasao a Mathia^ d'Albu-
quarqiuB, qye marcbavft pwa ft LagM com oa morav
dbniida F^bafiEkbuoooaiTe^osdomaia precioao
daaeua Hio?«is> aiaeguraado4hex>iqittashna presa^
eioayt^ a vi<^0riai poU ia combataroom urn cabo
daiarmado e^saobcMkoido. Damou^aa o HolUndas
hiTar da ctobttgay a aonfiado na aapitao Souto, que
ae oflpsmoeo pava 0 acompanhari aaio a exacuiar 0
pro^oatoi Vipao apeniia ims yiote ioldadoa poiau-t
gMf aaa a iadioa que os doui oapitaaa emboscadoa
iinbao daap^didQ a provocar o Flameago , a mais
aa coofitadinrao ao dito^ ouidando qua eiio foragi^
doa qu^ andajaf) rQubaudo. *«-Piear lavava f6 duas
companbiaa, tando deixado traa da guamigaa em
fen alogameuto ; s^fuio a Sabastiao do Souto , qua
Um aerTia da guia, o qual carragaudo oa vinte 9(A^
dadoa o entranhou na emboaaada, e $a paaaau aos
nossoa^ ipia furoiuptoa a diacipliuadoa daiio uma
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r^oq 4^s)iar«tad9 m diffigo do m^^io <)e mt
forti|i<!a^(^ m^ nal^ o p^ fai«w t^BtQ a t^mpo qii^
j^dQ e$t^> tw4o 4^pa4«, weno* Pwar , <«e qp»
dez coinpai^it^ \mfi acordo para afliaBtar a fu**-
dfsfeu^a (jue de^foapai^iraa na priRi^inr M^Uuai
d'Albuquerq^i cpia do ouieifQ de ApamWi' Alvarez
yio Ipgmdp o ardU 4a eiint¥)6€«dai eganliado o
pript^a <^»rtPjL deiiwo CQm a »m «wtt a eoaarti'
porarrtft^ pf 19 4 dQ«o»flicto, qiie ja se apfvYeitaya
4a $qrt^U»m do inimigo cwtra w^ fortiAc^oao, a
qual vw ppd§ fter UHpada d^ pHH^fira ay^Qqada
por e«tar cing^a d'\uaa e^cada de pi^os a pique
jn^i fprt^« Fa^^ou*^ a Q«i^ em de^truir n est^pada
4 $0|ii4]ira d^ hala« d Vt^^Nria e mosqaetopia que
^^Uftiio gpandit^mpa^tragq np^ e^iftcip^ e p^8oas
da ifilD^igo] e ao aiPftub^cer vendo aate a ou^dia
torn que um oapitao e alguoa soldado^ tiubju) af^lb
c»dp 48 casas oude ^c; df fpndiao muiia ^pia de
leuha para Ibe d^r^ni fogo, repdeor^a a partido,
9^m dar ouvidps a^ impprtuuaa iusuupia^ coqi
q^ie p CaUhar repuguava a ^wtrega. -t« P^p^ttio-
^e ^ 4;abq» e ^d^do^ que e^i^ip com £W*ma» e
inwgi^um^ e^peptap Calatar, que havia 4« ^c^
pfeyq^ e wtregu^ 4 jwU§«^f NpQ fw o Flajpepgo
gir^odadiUgmcia por def!e9d«r 0 M^aidpri ao^qual
jiilgou a justifa que morre^ii^ eu^r^ado^ e que
8i^a cabe^ ^ seu^ qutrtoi f^sieDi pQ^toa up^ luga-
f^ mm pul^IicoB. ^ ^ecutada a eeqtan^a, mau-
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Hi cASTRKyro lositako.
dou Mathias d* Albuquerque inTentariar tudo que
perteucia A fiizenda d'El Ret, e nao podendo trans^
portara artelharia, amandou esconderem lugares
occultoa J e com os despojos de menos embaraco
marchou para a Liagoa acompanhado e seguido de
muitos moradores , que com suas familias e bens
fogiao i tyrania , e & obediencia do Hollandez.
IV. Tres dias depois de partido Mathias d'AU
buquerque, chegou Sisgismundo ao porto do
Calvo; entroti na povoacao , que acfaou herma , e
s6 asslstido dos quartos do Calabar , cuja vista o
aUeroti de sorte^ que cego da colera mandou dei-
tar bando j que todos os moradores fossem pas^
sados & espada , sem excepcao de pessoa nem de
idade ; para cuja execu9ao fez de seus soldados m uitas
partidas , que saissem a comprir o decreto. Grande
foi a affliccao e o desalento dos naturaes quando
soub^rao d'este barliaro decreto ; e nao podendo
resistir-lhe pela forca, recorrfirao a supplica. Vivia
nos contomos urn religioso da ordem de Sao Paulo
'primeiro hermitao , por nome Fr. Manoel do Sal-
vadoi\ lettrado, zeloso e bem procedido, a quern
buscarao os tristes aflKgidos para remedio e ultima
consolacaio. Derao-lhe conta do caso , ficou igual-
mente pasmado e compadecido ; e sem reparar no
risco a que se expunha^ tomou por sua conta ser
o procurador de todos : ftl-o com tanta dili-
gencia, liberdade e efficacia, que convenceo e re-
duzio Sisgismundo a razao, mitigando o primeiro
decreto com mandar passar segundo, pelo qual
condemnava it morte a todos e a qualquer dos mo-
radores, que dentro de tempo determinado nao
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CA&TAIQXO tUSJiJANa 117
viesse comsuaramiUa e moveispata caietye |>edisse
passaporte para »ua seguranca* — Depois de se
demorar doze dias no porto do Galvo^ em que
▼endeo aos moradores o captiveiro por sobido
preco , saio Sbgismundo a campo espalhaodo Tozes
que ia em seguimento de Maihias d'Albuquerque,
e que nao bavia de descancar em quauto o oao
eolhesse i& mao8; 08 excessos fizeraocreroB ditos,
mas erao outros seus intentos. Em um Lugar cha-
mado ParopQeira^ entxe aLagoae Santo Automo,
levantou uma forca capaz d'alojar seiaceutos ho-
mei)s, que nella deixou de guami^^ e por seu
goveraador o corooel Christov jk> Archetofls ;. leyan*
tou outra de medaor fabrica na« margeua do no
Gamaragibe , presidiada de cento e vinte soldadoa,
9eu cabo Jacob Estacour ; corU>u todoa o» cami-
nhos e veredas que poderiao aervir a conunuBiea*
9ao dos rendidos com os da Lagoa ( m^^ nao pode
impedir upa via occulta que os noasoa abrirao
fflo mato^ pela qual se communicayao) ; e assim
dispostas as cousas se redrou para o Arrecife,
publicando que se ia prevenir paravcdtar sobre
Mathias d'Alburquerque.
, V. Cinco mezes ba^ia queMatbias df Albuquer-
que se tinha retirado para a Lagoa com as reli-
ijpiiaa dos ^ol^bdos e moradores que.ae poddrao
JUvrar. da insolencia inimiga , quando a 25 de
Novembro appareceo nos mares . de Peraam-
buco um gro|so soccorro do reino j que oon-
duzia D. Luiz deRoxas e Borja. 0 numero^ e gran«
deza dos vasos fez parecer ao Hollander: formida-
vel o pode^y e ja se preparava para a resistencia
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quando o aHyioii a reptsntina volta que fez k frotl
dirigindcMHie para o CAbo de Santo Agostinho)
aotideos no^sds recebftrao noticias do edtado d'u^
mat e oiitrasliniiaa. No sitio que chatnab a Geroa-
ga salcArao em term dous mil homens, entre Por^*
tugiiezes e Castelhanos j desembardiraoartelharia,
muQi^oett e mantimetito^ j e a afmada se fez a vela
para a Bahia j recebendo primeiro a Mathias d' Al-
buquerque , a quera Sua Mage^tade mandava vir
para o reiao ^ per ordens que D. Luti Ihe remet'^*
t«o logo. Nao se pagao os principes de quern serve
com acerto, nenao de quern obra com dlta. —Com
a nova do soccorro comecArto os Flamengos a
apresiar^se para a defeusa , e os Portugueses pat^ *
a restauracao. D. Luiz deteve viute dias a marcha
para dar tempo a que se abrisse urn caminho nov6
peioeor^eao do mato para cooducicio do trcm, etc.
EntreiatitoChtistovao Arehitofh, que govcmava
o forto do Pampoeira , mandou com pena dc morte
a todot OS vizinhos do poi'to do Calvo que deUtf*
de dea dias se reiinrssem com suas famitias^ gados,
e moveis para o districto 4e Sirinhaem^ cabo dt
Santo Agostinho, IpojucA^ Moribeea, e outroS*
Foi p bdiido obiidecido de muitos, e desprezado
de nao poueoa { eetei ee retidtfao para <>s matos
com iatento de servifem & convMieacia e 4 vtii^
^nca , a qfial logo prindpiarao algu ns maucebos
aventureiros, que ae achavao oom atmaa ^ fogo^
matando em dWersas emboacadas bom numer^
de HoUandezes.
VL Logo que Sisgiammido Van Seopk teve
noii^ia do desembarque do soccoiro que ehegira
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ao8 noMOS^ mIo eom toda a f^resteza do Arrecife,.
acompaohado dosiiokiados qte achdu mais prompt
tod, coiD 6 dcdigtiio 4e sair ao ^ttcontro de Luia
de Roxa^, e enp^tmar o pod«r tid porto 46 Calvo^
Marefaava e&tmtantd sobre ^te mesmo Ingar d
capitao RetelKiiho, o qttal, a meia Itgoa da po^
voaeao, fe^ alto i e ae embudwu Mi quanto proeu*^
raya teir infot*macees do que hdta sa paBdava. Yeio
ealr^lh^ M^ macd 6 t^ecrefari^ de Si^mundo
com seis soldadod; «dte^ perd^o a yida, a^eH«
a propria liberdade. ftla eoiifidMD d'^$t< aloaii^
^oti o ftdbtfllifibo a ^hegada ^ m immiM do gCM^^
ral holkndez^ e eomo por ordem Hta ibra dar
aTisk)"ao cofonel Chriseovio ArehitoflBy que «em
delen^ se vie^M iiH^rporar ooiti a sua fffiHe para
faEeroppo9teaoaopddSr edillrai'iot Daa-^ ririMA
na praca eom a notida da ^mb^oada^ (^moa'
Sisgidmundo a sua g^nM, i daio a campo parare^
bat^r ot no^aOd; iiMia tiao aficofttMddo niagucim, e
reeeodo d'alguma tiota emboftaada^ ¥oliott «9f&>
tan to medo que sem dilacao largQu o atojartittito/
e p6f fei^aa occmltad ^ i^tegou & fiarm Gpitide,
onde thiba Ma aftnada , e ttelia $a entbarcou «oiii
M ^srad; na¥^(m fam o Arfacife, d^iaanda fla poM
iroacao quantidad^ Aft pcrtvora, bala, <»rdat duitn*
ko e AatitimentoS,^ ^ que w aprotcit^rM m aol^
dados de RebclliMi qd* Mlk ekttkiM da Aotia^
deiitri^d ^^tidattaa Ab \a»^. «^ A^ Aift aaguktci
appai'eee^ao'lai^go Dt Ltite de Roitas 'wm todo at
eterdlo , <U(tido. de rt luMtoia ta^^t^ y diA# lO'tte^^
beUbho a in^b^<^ aeK ^rferal> a queai iko coaM
do atKJoedidd^ €^ md quaiii eonoartott-auiodk d»
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120 GASTRiOTO LUSlTAliO.
resisiir ao coronel Architofls no caso que elle se
eoeaminhasse para aquelle sitio. — Com effeito
aquelle coronel hoUandez, informado da marcha
de D. Luiz je do pouco poder com que se achava
Sisgisiiuindo oo porto do Calvo ( ignorando a re-
tirada)^ saio de 8ua fortificacao da Paropoeira com
mil quinbentos infantes em seguimento do nosso
exercitOi para spccorrer os sens em todo o con-
flicto* CertiGcado D. Luiz da marcha do HoUandez,
saio do porto do Calvo com mil duzentos homens,
deixando em guarda da povoacao, bagagem, e
muiii96es a Manoel Dia$ de Andrada com trezentos
cincoenta soldados , com intento de Ibe cortar o
passo no sitio que chamao Mata Redonda. 0 iui-
migOy que de qualquer movimento nosso tinha
avisos I o mandou buscar com uma embuscada,
em a qual nos mat&rao o capitao D. Pedro Mari-
nho e cinco soldados; por^m saio-lhe t|io cara a
sortida que daxou no campo cincoenta morlos , e
OS mais s6 escaplrao largando armas e moxillas, e
valendoHse dos p^.
VII. Em a manha seguinte avistou J). Luiz de
Rous o exercito inimigo, que achou formado e
immovel; loandou ao Rebcllinho e ao Camarao
que o picassem por um e outro lado ; o que logo
executarao com damno conhecido do contrario,
mas sempre (ao fecbado que parecia insensivel.
D. Luiz, que nao temia a for^a, desprezou a arte;
a um mesmo tempo mandou locar a iuvestir; e
animaiMio os sens com energicas palavras , termi-
sou dizendo-lbes : « A elles^ valorosos soldados,
« que a victoria^ dequem a busca, e nao de quern
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CAsnuyro us^taeo. 121
a a espera. r^ — loTestirao os iu>8sos.oom gi*aiKle
valor ; nao resisliao os Uollandezes com inenos
firmeza, conaarvando-ae immoveia na mesma
forniatara, sem i]ue o numero doa que caiao
alterasae a ordem doa que ficavao. Repetiao-ae
aa cargaa^ dizimaTao as balas o numero doa com-
batentes, e nao ^ yia que para nenhuma daa
partes se incUnaase a balan^a; at^ que roto o
eaquadrao inimigo, Ihe comecqu a faltar a d>edien-
oia ; e apezar do eafor^o de seus caboa, foioinimi-
go largando o poaU>. — Fareceo aoa Portu^fiezes
aer o dia aeu^ e em obsequio da eaperan^a accia*
marao a victoria , que a forluna Ihea tiroa daa
maos pelo meip maia aensivel que aer podia, por-
que negando-Ihes a gloria de veneer, Ibea eacon-
deo juntamente a deaculpa de Gcarem vencidoa.
Andava D. Luiz entre os aeus di^pcmdo tudo como
destro general e como valoroso soldado, a tempo
que uma bala com pontaria traidora o paaaou daa
costaa ao peito. Impellido da bala caio o corpo por
terra, por^ o corafao^ maior que ocorpp, o le-
vantou em p^y moatrando a grandeza de seu eapi^
rito nos ultimos alentos de seu peito , com que
formiou estaa-palavras : « Nao i nada; avaute, va-
« lerosos soldados, queqinimigovaivencido; com
(( o fim da batalha se coroa a victoria. » Pedio
que Ihe ch^;assem o cavallo, e ao por o p^ no
estribo caio mprto. — Com pre^sa e cauteUa se
retirou o corpo mprto. da batalba, mas conoo a
falta da pesaoa era maior que toda a diligencia,
em breve tempo se espaUb^ou a aoticia , e aaaim
de^maiou a todoa a nova, que trocoi^.aa.maoa &
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fortUM. Nio Arfia¥a eadu urn dos nossos no peito
mais eomcao, qne paw fugif com «i vida a otide
podes^e qhoraf a perdA. Os cabos, que virao des-
prewar a ordem , ttao tiverao mafa remedio qu^
«!gair a ftiga* S6 os intenciveid capitals Rebdli-
nho e CamarSo ^itiiO formndos , dOd postoa ond«
pelejatAo J A oecitipaP 0 tlmo de urn pequctio
motite) Awdeo qilal tompasso vagoroso march*-
rao prira a povoacao, fa«eiido alto algtimas rwiw,
e virando a cara outras a rebate^ a algtiM poucoa
inimi^^ quf- solios os picavao nA i*etaguaHa*
Deixou o itiimigo no campo duientos moftos, e
se retifOU com toais de qtiatrocentos feridos para
a sua tot^a da Pahtpodra. A perda, que houve
de noaaa parte , nao se sabe ao certo, mas sabe-st
qm tare aquella disparidade que se acha eull^ od
que fewm e OS que se repafao. Alguem houve
qtie aecttsoti D. hmt d^ RoJcat* de iuconsiderado e
de temerario; mas quatido uio bastassem os teste-
munhos doi que forSo s^us companheiros d'ai*mas,
assas titgado flcou seu nome pela honra que Ihe
tributMi SiftU pi^ptiti mimlgo. O conde de PCassau
CollodOtt o retfato de D. L\nt dt Ro5tas (que
achou^dbt^ seu* ossos ) no salao de seu palacio
eittre OS dos femosot capitSes do mundo } vencendd
as palxdes de inlmigo com os argumentos de dis-
creto.
Vni. Manoel Bias de Afidt*ada, a quern D. Lulz
de Roxfiis deix*rsi em guarda da povoadSio e da
bflgagem , vendo etitrar a nossa gente desordcuada
detete-A oom poUc^ e di^cretas rsctb^ ; e tal ^ul-
ma hispifou &os sohlados que voluntaf iameute o
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aoompai^Mrao a b &ier fnenfe M iiiifl|i^i^E§t«
eiempio aao foipdrtm Mguido tte Mfc!»co Afll<wiJo,
filho do conde de BanMIo^ oom lodosMm lulta^
Uaooi, que sem mats consdiho qil« o (;m cUitHfM
Aigio t>ara « Lagoa ) o miMftto izerao digtind on]^
taea castelhanoa^ mi t«qil«cido9 dk Mu pwprio ii#
tural, ott lembradoft d« ndisa amiga atttitmia. Vlo^
ee Matioal Dias atalhado; « sojeioii ^ vator 4 pro^
demna, oetn que atiape^iko a eiii^ima« -^ A4> <»M>
iro dia da bata&a tie cmlenM ao padr« Fr. Maflod
do Salnular e a Hairk|tie Teltei d^ Multo , qtte
hairiao ratiraob do txmflicio « (smotidtdo e^ire ^
mato o (M>rpo da D« Lutt^ que lh# foMMi dar Mm
pultun; o que fitarao com aentidas lagrkuasi
Amonalhlrao o torpo eom a daceMia t^s^i^al^ t
fiado a um loaeo caixao 6 ^fiic^^^o no^ mno^
tima lagoado pdn0 do Calvoi ( pequeno a^curo
lunralo para oinxas deTarlo t&o ^iida a ^^aT«^
ddo I )aia6 aa a tet*i^ flii» tobt^io aau nbus^, nif»
eobfiif^ sua mamoria a da^ uma irateao laa feia
aomo A qua Iha liMU a iriia. •
IX. Pda mafta d« D. Lufeda Rouata^iia
o goremo ( saguudd aa ^rdaog d'K Rai ) oiMi'ta*
leroao GaMelbatto ^ qua ua LagiNt eftta^^gritam^u^
ta anferoiOy cdjo ttotna uoa aaooudea a fUorM, po^
qcia u^ maMio dia etA qua o cbatnou o |»Mt(» Ilia
tirou a rida; paa^ou pm* c<9Usaguihta a€» teroahN)
nofneado , qua era^ d isohdt da Batili<4(e : deiarml^
ua^ iufauMft qua aci^ratdu a tftiimamiiia d'a^-
qualla pra^vintiia. MtitiwA Diaa d'Audrada da»pa^
chou logo UM cattekf ao eouda dettaiiboMoy qua
aatata ua Lagoa, paid qualHie MMaiMa^aa^nrdaua
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t34 cmaMom imisMm.
e a patenle jpot qua £1 Rei Ihe di?ao bitttao» com
pa^iua^dea e proteelos que sem defeoca marchasse
com toda a geute a encorporar^se com a que ti-
uba no porio do Calvo, para que antes que o
inimigo se visse desassombrado se achassetodo o
ooBiO poder unkjb. Nenhum aballo fiserao eaias
dili|;encifts no conde. Parece que nio dera a na-
tureza a eate homem nem sentimento para a injur
lia, nem estimulos para a honra. — Quatro mezes
ae {)as8irao sem que elke tomasse alguma deliberar
9ao y uem mandasse algum socoorro a Manuel Dias
d'Andrada, at^ que finalmente saio da Lagoa, roan-
dando diante seu filho com abuodancia de muni*
coes, e naquelle sitto fez Jevantar uma fortakza
capaz e vislosa , que em brevissimo tempo se aper-
fek^Ui tao h^m artelhada e guamecida que nao
so pareceo seguro para os proprios , senao ainda
terror para os oonirarios. — A {Ncimeira expedicao
que fez o conde foi mandar a Manoel Dias d'An-
drada com trezeutos sokiados para que se alojasse
na poYoacaode Sao Louren9o da Una , e empedisse
ao inimigo as ordiaaitas correrias com que talava
e destjruia a campanha. Este valeroso e habil capi-
tho soube desempenhar tao hem e$ta oommissao,
que nao so resistio a mil quinhentos HoUandezes
commandados por Si^smundo em pessoa; mas
uaando de ardil os desalojou^ obrigando*-os a reti-
rar-ae predpitadameiite para SirinJba^m^ e elle
voltou victorioeo para o porto do Calvo. Despedio
neste mesmo tempo o capitoo Souto a oorrer a
campanba a £avor dps moradores. Kao foi aste tao
feliz em suaexicursao, porque sens sddados nao
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guardaiio ft disciplMia que comphrift , tratando com
dema2ta(h lieenca os proprio§ que iao defender.
X. 0 capitfto Rebellinho foi nesta mesma occa-
siao nomeado pelo eonde para que com trezentos
homerts saisse a campo a cortar por vi das e fiizen^
das de HoUandezes e rebeldes ^ at^ onde podesse
alcancar o braco. Saio em Abril d'este anno j ag-
gregirao*-se-lhe muHos moradores, ou pelo inte-
resse do roubo , ou pelo gosto da vinganca. Che*-
gou a povoacao de Sto'Loutenco, onde se aquar-
tellou; neHa o bnscoa o iniihigo com avanfajado
poder. Resistio corajoso ; com gente de reft^sco
foi cerrando o combate, at* que vendoquenao po-
dia competir com as for^as nmt superiorts do im«
migo J se retirou com boa fortuna e toda a sua
gente , e rompendo pelo ma to ehegou ao porto do
Calvo com novo credito de soldado. — Indignado
Sisgismundo com- este atretimento do Rebellinbo
determinou tomar excess! va Tingan^a, Saio deSi-*-
rinhaem em 2 de Maio com mil soldados e maioi^
numero de Indies Petyguaros e Tapuy6s, mortaes
inimigos dos Portuguezesj encaminhou a mardia
por aquellas povoacoes e fazendss , por onde and^-^
ra o Rebellinho, e declarando traidores a todos os
moradores, por terem agasalhado o sobredito capi-
f ao , e influido nas perdas e damuos dos confede-
rados, levou tudo a ferro e a ft>go, cetando sua
colera na inveiicao de tormentos novos que faziao
gemer a humauidade em longa e cruel morte. No
distrito de Sirinhaem mandou prender a Jerontmo
d' Albuquerque, Francisco Rodrigues Porto, ea
tim filho sen ( homens n6brcs , c dos prindpaes do
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moil 4 nwllpw i J«iuu)tMk^ qu(! fie eMUmm wm
04H>A(lfl4l^vQii«|MUq. for filtl^M HAbiW e» C9rne
tonB«pto pMe<i^o imqvellas p«rt«8 , qu« o attu^
ax«it« «4.p^i de : t<N)<W ( d^poU d^ «» qql»r4|)g» <!•
tap ;f(5for«»d«> %«Q«tit», que q» dwpiri>Q da p^lle ) a
qii4 le fte^io pii^roiVk^iQ^ com alcatriio fprvente ;
a^Q) .quQ o« la»tiiwi«M genidos « horriyei^ vu^po
gfni$ d«ft i9i9«vav«)» IHu|e(s^^t^ moUvMMm a w^
aor ^q^mpaiJiao pos forinos v^rdvigoii aotesjwais
a8ip»hadQ« d4 mo largar«m 9* vida» im mm do9
t9f>fD(«taA. p» . enf^rc^rao, pqrque »« dilAt«««Q %
WiEPf|l40«Acia PM «Kten46««. da poUfiia- jguae^
oriMMftf « ppr vdntur* m^\* bar)»i^ , praticow o
^l^ddM nos l«g»»r««4p Ipqi^ca, «at)o d«SantQ
AfiwUabp, |ilorilMfi4> Qorjau, A^piap^ e Sao
I,pur8Q9o, cIiagaDd^. 4 (al popt^ m^ f^rocidade,
qM« arrai)q4v«o dos t>ra60» .d«l» ii>ai< ipopAfplavei*
fi^ t^nros filboat e QS entr^ga^ap aw splvagww Ta-
pwyas. quf^QS «ppMlt4vao vivo$ «uaq«s eqUanb^s;
fi^f^ndo a Ut poqlp a deahupi^oidado dos Indies,
que coui iua«l«adinha9 abriao peja$ oostaa 03 '\a(e^
l\^^ pad«««ntes para Ibes coin@r«D» as entcanbas :
e <» i'lM^ngps oelebravao wpi ffi8(^Q nojo^ tao
^riv^^ qu« a4 defiCQDbecia a natur^za ! Para
^f^iummar t»Q Defauda roaldad« pubUoQu Sisgis-
WundQ ediiaes, em qw crdenava quCi »ob p^ia d?
jnv«lpifSiv|!l.pf)f>dicaQ de fa»^adas e vidas, ospbum
PQrt.ug««9 ttsawe nem tive#fq ein seu podw aW
gMQigfnwQ d« ariu^s* Alsvq» as ^otregdrfto , ou-
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mimmo mwmw. 41?
ajfiqw^ dmf qm tinfca arma* mmiUsii, qm
Ca|?Q , ^ 4e tAlm^tpair^ imtkiio a fl^n^ 4q oo<^q
d^ ^anhoUp nne ord^iH>u a P* Ai^tpniQ PtUlippi)
Cafparao^ q^9 iqipn ttw growQ de Portpgiiezw #
iBdiM wi^sjB t talar a qawpaal»a» ^ wtr^we a
Qspada e ^ oh^na (qdo qu^nk) pode^s^ doiyiiMu^ 9
mwi» e Q fo^oy 8^0 pipdad^ qw) cobifa de mu«a
qMQ perle«()e««p aqg^tio r^h»ld#4 io4iepa«ap bem
«fep^ida a melbiar ejiefiuted^, $lala o Caipw^Q,
entrado ja o mM 4e JiiJhPf p^notrcHi p ?erUP, ^
dpQ «)bre ofttfwbaldw cte Qpyaw; foi rop^ntinp
^ go^P^ » a tPdo^ 1^ jL tudo ^Iq^qqpi} p I^fp^Q- I^ap
ficdj i?ida qm p fo^^-p nap cqriawp t mw ^rfificip
4IIP.0 fpgo uap ppDsu0m4wfu Txyf^n \^m vedu(p
g3ia?»e€idp d^ floUfrndews > qw *eryia a s§g»rau'*
c|i p ^ ijafepsa 4P goptip; sitipu-^ ^efp dilaj^ ; e
dupoi^fdp #e appderjir d'wtt wcpprroqup Ibp, vinha
dp iiu^tiiiMma^i ai'ma^ e mwvSPP^f wvesUo-rp
pppi fqypr, p (Jpstruio ludo ^i» pUdadpr —^ Che-^
gpu ao \fv^^ a i»ptiaia dpa e^tragp^ q^^ f^zia p
Qiipamo, pgpfi jpl^tar 4pa qua^ salo Ipgp Gbiistoo
vao Architofls pom pitpceplos l}Qll^ndp*fi4, 0 in-?!
tl^do (lasMrap pap d^i^nip^pu ppp[i Q^tik n9ticia,
jW^ap dipipca a Pi4?Prar o jpjjnigo fortiQqapdo-sp
na Goyaoa, M^itpa p wo^fwap pappcofttrps qpp
iiwrap ^fl^jMf a puti;^ ftrnwfc a wrdadau-amen^
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138 cAsnxctro lusirAMa
dtgnoft de particular relacao nesta historia ; por^m
como me chama a snstancia do aaeumpto , ^ forca
passar de corrida por estes prelvdioB do argmnen-
to; baBta saber-se qtie se o Flamengo excedia no
poder, o Camatao o avantejava no valor e na in-
dustria. Hoifve dia , em que nossa espada file de-
golou cincoenta Hollandezes; tao i^eceosos dos
assaltos com que em toda a parte, e a toda a hora
08 envestia, ji em campo raso , ja em carros pon-
tateis , com que igualava as suas fortificaeoes , que
desatSnado o inimigo dizia assombrado, que s<i urn
Indio tivera poder para Ihe cortar a forcuna e
confundir a opiniao. 0 Gamarao , que dos faTores
da sorte nao desconfiava menos que da profia do
tempo, considerada a distancia entre aqtielle
sitk) e o porfo do Calvo para se ajudar do soccorro,
se se ykse em aperto , e a imposibilidade do reme-
dio y se Ihe fiiltasse o sustento , se resolveo em co-
roar as yictorias com a retirada. Recolheo a si os
moradores que o quiz^rao segnir , que com sna0
familias (izerao numero de mil seiscentas pessoas,
muitas das quaes ficarao pelos matos ; abrio cami-
nho pelo sertao em distancia de quarenta legoas,
caminho seguro para a marcha, mas falto de todo
o necessario para a vida; e reio entrar no porto
do Calvo, onde foi recebtdo pelo conde e pelo
presidio com palmas e vivas , iguahnente devidos
ao que destruio e ao que conservou.
XII. Suspensas estiverao umas e outras armas
at^ o mez de Dezembro , em que o conde ordenou
ao capitao Rebellinho, que com a gente que es-
colhessc assaltasse a campanha da Paralba, e nella
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CASTBIOTO LU81TAN0. 129
adsoUasse tudo o que fosse de oontrarios e re*
beldes. Com seu cnstumado valor e diligencia
executon o Taloroso cabo as ordens e os desejos.
Nifiquelle districtoadquirio tanto degloria oomo de
riqueza , deixando ao inimigo a magoa da niais la-
meniavel perda. — Aquartelhou-se ires legoas da
cidade em um sitio chamado Tibiri ^ onde o veio
busear o goTemador da praca que dominava o
Hollandez com todo o poder d'amigos e eonfede-
rados. Nao se negou o Rebellinho & batalha ; ainda
que com muito m^nos poder. Envestirao-se os
esqaadroes ; largo tempo se sustentou o con«-
fficio em iguai balan^a , achara a multidao resis«-
tencia no valor , por^m como era grande o ex-
ceMo do nmnerO) cedeo a virtude a forca ; e (icoQ
0 immigo com a rictoria j mais custosa pela perda,
que a reiirada dosnossos pela diia de chegar neste
ponto Henrkf ne Dias a rebater o inimigo para que
nao seguisse o alcance , e a dar lugar a que se
forraassem os nossos; encorpm*ado com os quaes
se redrou para o porCo do €alvo , abra^ando o (er-
reno da marcba, e de caminho as povoacoes de
Goyana , de Ipojuca , Sirinhaem e outras ; das
qnaes recolb^o uma gix>ssa e rica presa; com
mais circnnstancias de victoriosos que de vencidos;
— r Ontras muitas vezes mandou o conde diversos
eapities a slmilhanles fac^oes> que o Hollandez
vingava com igual ruina ; nao servindo a hosiili*
dade mais que de assolar os subditos de um e de
outro dominio, como se cadaqual aspir^ra a ser
senhor de um imperio d^erto ; o que bem adver-
tido se p($de dizer do conde de Banhollo , que em
I. 9
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ifto 4Mfmmo irarAif.
lodo o tempo de »eu goyernoestudoucoBio Iwrii
,di« <le$truir aquaUe E6tado#
XIII. Nao M de»cuida?a a CoBip«iiliia ooaideiital
4e Quindar soecorros pai^a con^Udar o 8m podar
no BrazU« No fim d'esto anno nomeou noyoa ctpi^
taesi e apre^tou noyaa frotas. Nomeou por gme-
ral ao conde Nassau Jao Mauricio, e para seu ta-
oenle Henrique Vancol, urn do» primeiros mioii^
troa da dita companbia. Sairao da Hollanda com
uma poderosa armada dividida em duaa eaqua*
draa, que govemayao os doua caboa. £m4 de Janei-
xo de 4637 tomou porto no Arrecife a esquadra
de Vancol) ou por mais Ugeira> ou por melhor
Jiavegada ; poueos dias depots a do conde de Nas*
aau. — Com a chegada d'este general ae alterou o
eatado das oousaa. 0 coronel Architofla arraaou a
fortaleza da Parapoeira , e ccnn a gente do 8eu pr^
ttdio se retirou para o Arrecife. Naiaau i depoia de
tomar conhecimento de tudo^ 8e poz brevemenle
em campo com um exercilo de quinhentoa homfins^
aendo grande parte d'elle Indioa ; mandou fomeoer
todas as lanchas e embarca9des de remo que se po*
ddrao ^unlar^ ordenando ao cabo que as commM^
dava que posaeae a proa no porto do Galvo, e elle
marcbou por terra para o meamo lugar , reaoluto
em ganhar a fortaleza e desalojar da poyoa^ao o
conde de BanboUo, •^Chegou esta noticia ao por-
to do Calvo I e causou em os nossos granda assom**
bro* 0 conde de Banhollo^ que na seguran9a de
9ua pessoa e bens tinha mais inleresst; quo na do
Esiado , mandou deitar bando, com pena de mor-»
te e confiscacao de bens, que nenhum morador se
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oMsruxno LunxAro. isi
fetimse neni pesioa idguma de sua faniiUa^ ou fa-
Mnda de sua oasa ; mas elle poE em salvo a projma^
aiandando*a condnzir para a Lagoa cscoUada por
Italianos do seu ler^o; prevenio eseondidamente a
retirada por uma vereda enodberta , e mais por
fermalidade que por outra cousa obamou a oon-
selho todos os oabos 6 officiaes experimentados.
Forao varioa os pareceres; conoordarao em fim na *
defensa » ainda que disoordarao nos meios e no
modo, O oonde , escondendo o mado e suas mas
ten^oes^ assenCou com razoes apparentes que se
asperaase o inimigo dentro das fordficacoes oom
todo o corpo do poder^ dispondo assim a fuga nas
apparenoiaa da defensa. Com len^aode a desempa*
rar guaroeoeo a fortaleaa, como se a qiiizsrade^
fender f nella metleo trezentossoldadosesoolbidos,
com OS melhorea caboe> armas , muni^oes e man-
umentos para trea mazes : nada Uie faliata para a
dAffansa , exeepio antmo e atenoao.
XIV» Chegou entretanio a visla da povoacao o
oonde de Nassau , e com a sua apparkao se accendeo
no coracao dos Portuguezes aquelle animo ati alU
Qunca desmeniido. Quasi como por insiinto sairao
muitos a eaperal-^ govamados pelo lenente gene*
ral D. AfiToDSo Ximenes, asistido dos capitaes
JFrancjsco Rdiello, Joao Lopes Barbalbo, Asseriso
da Silra, Manoel de Souza d'Abreu, e outros que
com a gente de suas companbias > e muitos natu*
raes da terra , faziao um bastante esquadrao , que
subiria a quatrocentos , entrando neste numero os
Indies; em companbia dos quas sa'io o seu gover*
nador g&nl D. Antonio Philippe Camarao ; a seu
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132 GASTBKm) umiTAifa
lado sak) (ambem sua mulher Dona Clam, monta-
da em um cayallo , e tao clara nesta gentileza qat
deixou escuredda a memoria das Zenobias e Siini*
ramiS) com quetanto se illustrou a antiguidade.
Nao ficou atraz dos que mais se adiantarao o go-
vernador dos crioulos Henrique Dias , porque tao
valente como zeloto f(H do3 primeiros que saio a
investir o inimigo com seu teiTio y sempre preto
na sorte; edt admiracao e enveja sempre alvo. 0
conde de BaahoHo^ que estudava na perdicao e
ruina dosnaturaes, depois de lancar fogo a poToa-
cao y recolheo-se a um reduto, que havia manda-
do levantar para segurar a sua retirada , e levou
comsigo constraugidos a Duarte d'Albuquerque e
a Manoel Dias d'Andrada. — Sohre o alco d um
monte se tinha formado o inimigo ; d'elle vio a
resolucao com que os nossos o buscavao ; desceo a
receb£l-os na ladeira, onde se investio nma e outra
gente com igual coragem. A ouzadia e o furor do
combate juDcou em breve tempo o campo do con-
fliclo de corpos mortos e feridos. Largo tempo se
sustentou em equilibrio a batalha, at^ que os
nossos vencidos do cansanco se retirarao do cob^
flicto em boa ordem acolhendo-se debaixo da ar^
telharia da fortaleza.
XV. Na passagem do rio Comendoituba se tra-
vou segunda ^ por^m mais cruel balalha , em que
OS nossos obrarao prodigios de valor. Merecem es-
])ecial mencao os seguinles. Maaoel Dias d'Andra-
da, desprezada a obediencia ao conde de Banholio
per acudir ondeo chamava a necessidade, rom-
|)eo por entre os esquadroes inimigos , fazendo-se
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QAanmmo uiSDrANo. 133
cainiaho com a espada, que em sua mao teve este
dia, mais de raio que de ferro, Antonio Coutinho
imitou a ousadia, e por enire o esquadrao contra*
rio abrio larga estrada, poi*^ nao tao feliz como
aquelle, porque encontrou a morCe, mais depois de
a ter dado a muitos Hollandezes. — Ao governa-
dor dos crioulos Henrique Dias ferio uma bala o
coilo da mao esquerda; suspeitou hervado o chum-*
bo, e por fazer a cura mais breye, e menos perigosa,
a mandou cortar, dizendo, « que na direita Ibe
» ficavao muitas para servir a seu Decs e a seu
» Rei, e que para a vinganca saberia £sizer seu de«
u sejo de cada um dos dedos uma mao. » Atraves-
sado de uma bala^ conlinuou na peleja o capilao
Joao Lopes Barbalho, escondendo a ferida aos
seus, por Ihes moslrar como as dava nos inimi-
gos; retirou-se com os mais^ atravessouo mato,
chegou a Lagoa^ e convaleceo da ferida. Outras
proezas succederao mui dignas de se encommenda<-
rem a memoria ; mas a escaceza da rela9ao as
n^;ou a esta escriptura.
X^Yl. Com ardente cuidado se formdrao e dis-
puxihao ambas as partes para repetirem a batalha
no dia seguinte, e cada uma esperava ganhar a
victoria, sendo para os nossos mais provavei, por*
que haviao de ser commetlidos pelo rio , que Ihes
servia de trincheira. Tudo descoropoz a cobarde
resolucao do conde deBanholio^que no mais escuro
da noite fugio do reduto para a Lagoa, levando
comsigo a Duarte d'Albuquerque , e uma compa-
nhia de soldados. Logo que esta nolicia se espalhou
entre os soldados , comeearao esles a retirar-se em
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<ksordem , e com elles os moradores e raas femi-
liaS) a quern o% cabos nao pod^rao oonler^ aendo
obrigados a seguir inyoluntariamente a vergonho-
aa fuga de sen general. 0 tenente general D* A\^
lonso Xiroenes formou de aeus soldadoB urn pe»
queno eequadrao, que aos miseraveis vizinhos
senrio de relaguarda pelo oaminho da praca, que
era o mais arriacadO) e por isso mais neceditara de
aer protegido. Os trabalhos^ fomes, e discommodo
que pasaArao uns e outros forao tantos , que se
tinha por venUiroso o que mais depressa os ata-
Ihava com a morte. — Achou^-se pela manba o
eonde de Nassau sem inimigos a quern combater ;
passou o rio sem o menor impedimento , pos o si-
tio a fortaleza , que atacou com dnco batarias , e
desmantelou em espaco de tres semanas com innu*
merayeis tiros , recebendo nao 96 igual mas avante^
jado reiomo dos cercados. Ja em (oda a forea nao
havia reparo por arraaar nem baluarte por abrir :
seryiao a defensa mais os animos que as paredes.
Nesle estado , combat idos os defensores da deses*^
peracao do soccorro e dos temorea do assalto, fixe-
rao chamada^ e capilularao a enirega com honroaos
pariidos. Sairaocom auasarmasemoveis, mecha
acesa , bala em boca , e bandeiras tendidas. Entrou
o conde de Nassau na fortaleza , guameceo-a, po»-
Ihe por govemador o capitao Vanduerve , e sem
deten^a foi no alcance de BanhoUo ; o qual aviaa-
do da marcha e do intento do inimigo, antes de
Ihe ver a cara deix6u a Lagoa , e nao parou senao
no rio de Sao Francisco, deixando os moradores e
siias familias entregues a espada hollandeza. Neata
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GASmOTO LI7ilTA]|<K 155
tribuUi^ Ibes valeo o c^foroo e generosicUKlo de*
Manod Dias d'Andrada ^ offerecendo aoa maU ani-
moaoi oompanhia, eaoa desmaiados comelho. A
et tea dim que se ddxasaem ficar j e do mate pe**
diseeiD pasiaportes para se Toltarem para suas C9l*
na e fioendas y t que ae imio expoieaa^xi a pevecer
!!• meio doa matoa de miseria a de priva^oea, ou a
aodarem errant^ como aa fSaras. Muitos segofanio
eate parecer ; algutis poncoa at^tirao sen amparo^
e o Mguirao at^ a Bahia.
XYII* Naaaaa aegtiio o conde de BanhoHo atd
aaiio de Sm Franciaoo, sem tiuiiGa opodereneon*
tnir; aquarteihou-ae d'aquem do rio namaitio que
duHMo oP^iedo; mandou ahi levantar uma for-^
talesa y que dentro de dous mezea eatara aperfei^
9oada ; entregou o govemo della a Siagismundo
Van Scaph ^ oom ordem que passasse o rio e deea-
lo)aaae o coudede Baahollo , que estaTa po^do em
Sergiped'El R« ^ o que (aeilmente cousiguio^ re-
oolkendo-se eale para a Bahia ; e tendo tudo aasim
diaposto voltou para o Arrecife. Animado com to-
doe eatea suoceaaoa, e ambidaao de dominar todo
o Brazil) intantou Nassau atacar a cidade da Bahk,
qoe die eaperava kvar por entrepreza : wa a ca*
bo^a do Eatado, e eutaidia que ao golpe da cabeQa
eairfa todo o eorpo a seud p^ rendido. Saio do
Arrecife em 21 de Mar^o de 1638, com trinta e
inaa ndoa de guetra , e outra multidao de embar->
cafaea de reoao^ tree mil solikdosy copioso numero
de IndioS) petreehoS) muni^oea, e bastimentos
proporciooadoa k empreaa ; e com prospera via-
geiti chafM aoa mares da BaUa. Era gofemador
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136 GASTftlOTO LUSITANO.
g^ral do Estado Pedro da Silva^ por alcunha o
Mole ; o qual , primeiro que Ihe ch^gasse a noticia
do intento^ vio sobre a cidade o poderdo inimigo;
taBto mais formidavel , quanto menos imaginado.
Entrou a armada pela barra, arribou sobre a parte
da Piraja, buscando a praia que hoje chamao d<«
Meninos, deitou em terra gente, artelharia e mu-
nicoes, e sem deten^a se poz em marcha para a;
cidade, que distava meia legoa d'aquelle sitio. —
Sairao os nossos a esperar o inimigo ; e com tal
denodo derao sobre elle , e o carregirao de tao pe-
sados golpes que o fizerao retirar confuso. Esta
prompta resolu^ao, e seu glorioso resultado deveo-
se ao yalor, pratica e viveza do governador doEs-
tado , ao tenente g^ral Pedro Gorrea da Gama, e
a todos 08 capitaes que nao desmintirao de s^is
conhecidos brios, nao cedendo aalgum d'dles o
conde de Banbollo, e tauto, que parecia outro
homem. — Apezar d'este revejt nao diaistio Nas-
sau de seu projecto, propondo-se a levar por forca
o que nao pud^ra conseguir por eotrepreza. Nas
costal do convento do Carmo maudou levantar
iriucheiras, fazer plataformas^ assentar baterias
para pombater a cidade. Nao estiverao os nosaos
ociosos , antes acommettendo os gastadores , e as-
saltando seus quarteis por varias partes e em di-
versos tempos , fizerao lastimoso estrago nos mise-
raveis Hollandezes , e com tanto assombro do$ seus
cabos^ que nem ao conde ficava acordo para man-
dar, nem aos seus para obedecer. Com grande
difficuldade, e com maior perda de sua gente con-
seguiopor fim o conde de Nassau assentar sua arle-
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CASTBIOTO LimiTAl«0. 157
Jharia, e logo mandou romper o fogo sdbre a cidade
nao dtf pela parte de terra, senao pela do mar com
toda a artelharia da armada ^ recebendo por uma e
oufn parte mais perda do que a que causaya. —
Tres dias com suas uoites porfiou a bataria ; no
maior luror d'elk mandou Nassau um tambor por
terra y e um trombeta por mar y com embaixada
ao govemador geral do Estado , na qual com es«
mdadas razoes Ihe aconsdhaTa entregasse a praca,
senao queria experimentar no assalto toda a impie-
dade da ira, e todo o estrago do odio. Conselho e
amea^o a que o govemador respondeo (dizem que
nesta forma ) . « As pra9as d'£l Rei meu senhor,
» sem armas , e so com a reputacao se defendem ;
» e aquellas que se animao com espiritos portu-
M guezes, primeiro suas ruini^ as sepultao que
» sens inimigos as dominem , porque seu natural
» valor OS eosina a morrer honrados, antes que a
» viver reodidos; verdade de que os senhores Hol-
» bndezes sao as mais certas e mais fresca3 teste-
» munhas; e posso eu s61-o de que nesta occasiao
)) me custa menos o animar , que o reprimir mens
» soldados , impacientes de sofirer amea^s , quan-
>/ do podem castigar atrevimentos ( apurada sua
» paciencia com a loucura desta embaixada y cujos
» ministros devem as vidas ao respeito mais que
» a cortezia^ pois o que se me tem os deteve, ) Ao
n Conde aconselbara eu que se aproveitasse do
» tempo para se recolher a sua armada y e nella ao
» porto d'onde saio : temo que sua presistencia d6
» taes fios & colera destes mens soldados y que
n corte por todos os respeitos^ e mc nao valhao
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1S8 GAanvno imnAMo.
n minhasdeligeiioias; e dizei*Uie da minha parlSi
M pelo que teuho de aeu Mnridor, que ja pod^
a ter enCendido, que em nenhama occasiao o ha
M de temer colerico quern agora o nao sefire con*
M fiado« Ji A esta reaposta se seguio a de uma car*
ga de moaqnelaria) earn que ae cortou a replica ^ e
cooseguio a retirada doe enviadoa com a ligeireza
que Ihes empreatou o temor. — Com a indigua^ao
que despertou o aggraro se continuou a bateria de
maior calibre, com tal horror que eatremecia a
terra , e genua o mar. No mais acceso da confu*
iao deitou o govemador g^l do Estado pela porta
da cidade^ que guia para o convento de Sao Bento,
alguna capitiea oom suae companhias, e ord«n
que por aqueUa parte desiem uma asaaltada ao ini^
^i$Pt a quern o rdiate ciicheo de assombrot na
oooakkra^ao de nossa gente busear o oonflieto
quando a imaginaTa cortada do espanto. Greaeeo
o pasmo com a perda , veudo que todoa os aeus
&igiao ao golpe • Na terceira noite de combate re*
oolheo-ae Nassau As embarca^oes que tinha no mar,
deixando toda a sua artelharia, muniQoes^ armasy
e.bastimentoB; com tanto numero de corpoemortos
que cobriao a temu Ciom innumeraveis feridos
dea i vela a armada, e fokou ao porio do Arre-»
cife.
XYUI. Chegarao entretanto a lisboa as nodcias
dos progressoa do inimigo e das miserias do Esta-
do; levantarao^ee clamores e queixas que fiaerao
echo em Madrid. Depots de repetidaa confereneias
do conselho de Portugal, assaatou^se mandar^^e
uma armada real tao uumeroaa e pujaote, que
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Gonmo uwuM. 139
d'dla se cooeebease moral oertaza da rcataurt^ao
de todo o £atado do BraziU — 0 omde da Torre
D. FernaDdo Blascareobas, ctfiitao de granda valor
e pratka, 6 noa^eado para dirigir e^ta grande
empreza. For todas as partes d'Hespaaha ae iiome&-
rao ministros , e applicarao meioa para oa aprea-
tos da aroaada, ecooduoQao doa vasos ao porto de
Liafaoa. Divulgou^se logo com a prepara^ao o iatenb-
lento; voou a nova ao Brazil^ a onde da Flaaftep^
gos e Poriugueaet so ouvio com naior astrondo
qua am Fdrtugal^ causaado tao diversos affaitoa ,
como sao a esperan^a e o reono.
XIX* Saira de Liaboa noa fina d'Ootubro a ar^
mada mui Mumeroaa am gaieoes do Eaiadoi fragar*
taa de guana y naoa groeaas, oapia grande de em^
baroaooca ddinariaa^ ebem pcoiridaa d'inatrumeii*
toa farilicoa, artelharia^ mimiQoea, petrechos e
mantimantoa or^adoapdo numero doa eombatenlea
e pela satisfii^o doa cabos. Bra a froU maia pod^
roaa que atd aquella taaapo auloou oa mares
d'Amarica. Em 10 de Janeiro se aviatou do km*
eife eom ummbro doa inimigos, e aW^rof^ doa
naturaaa. Grande fai o temor doa Hollaodezaa i
Tista de tao grande for^ naval e do pouco qua
ealavao pravenidoa para a raceber^ tendo wa$
forlaleaaadesmantdladasy aua gente e^lhada^ sem
proviaao de mantimetttoa e munifoea preciaa para
amteoiar urn eerco , e naa tendo no mar aenao
etneo naoa, que eaUTM a carga; pelo que Piaaaau
aaa^itava comaigo aer dic^gado o &a do imperio
Hollander em aquella porcao da America. Por^
aaua temorea ae dtaupirao em breve^ porque a ar^
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140 CASTRIOIO SJOUTAm.
mada em vez de arribar sobre Pemambuco, seguio
sua derrota para o sul , dobrou o cabo de Santo
Agostinbo^ e foi deitar ferro na Bahia. Pareceo
entao inexplicavel este procedimento do conde da
Torre, e todos o condemnavao ; mas depois se
publioou que irazia ordem expressa de seu Rei para
nao commetter a empresa sem primeiro tomar a
Bahia. Foi este um grave erro de que resultarao
tristes consequendas. Um anno se deteve a armada
na Babia , tempo mais necessario para se fortificar
e guarnecer um inimigo menos vigilante e indus-
trioso que o Hollandez. — Com acerta(k> conselho
sedeteminouo conde da Torre em preyeniroscapi-
f aes mais d^tros nos caminhos e veredas do recon-
cavode Pernambuco, queserviao na Bahia , para
que com a sua gente penetrassem os matos, e
d'elles assaltassem com subitas armas os quarteis
e habitacoes hoUandezes ; deo-lhe ao mesmo tem-
po por instrucao secreta , que a certo tempo se
chegassem a vista do mar, para que vendonavegar
a frota aseguissem pela costa al^aparagem aonde
tomasse porto , e nelle se incorporassem com a
gente que deitasse em terra , a fim de sitiar o Ar-
recife por uma e outra parte com todo o poder. 0
conde de Nassau , que era informado secretamente
de todas estas disposicoes , guameceo aquelles sur-
gidouros , de soldados escolhidos e cabos de con-
fianca , com ordem que acudissem a aquella parte
que a armada buscasse para deitar gente em terra^
e que lh*o impedissem a todo risco e a cara desco-
berta. — Determinada nesta forma a invasao e a
resistencia, saio o conde da Torre da Bahia no Cm
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GAsmoTo tunriiia 141
do anno 1639 com a frota e flor da milicia, que
enlao se achiiva em todo o Esiado; e d'este esco-
Iheo dois mil homens, destinados para salta-
rem em terra, com os quaes se haviao de incor-
porar os ea{Htaes que nelia andavao esperando
esta occasiaOy comodeixamosreferido; poder mais
que sobejo para romper por toda a opposi^ao con-
traria , e para acnrralar o inimigo dentro de suas
fortificacoes. Com vento em poppa navegou a ar-
mada at^ avislar aBarra Grande; mas quando die-
gou a vista de Tamandar^, dezesete legoas do Ar-
recife, come^ou a expwimentar a vebem^ioia
com que corriao as aguas, que ajudadas da furia
dos T^Qtos fizeraojnuiil todo o goremo do leme
e do panno; aasim arrebatayao os vasos que nem
pod^rao pairar, nem d^tar aneora. 0 inimigo^
que conn destreza se sabia afMroveitar das occasioes,
mandou largar o panno a vinte fragatas e alguns
patachos , que para este fim tinha prevenidos, que
sairao do porto com a yantagem de navegarem a
barlaTento dos nossos; tres fragatas tirerao a ou«
sadia de quererem abalroar a capitanea, mas forao
bem caatigadasy porque uma foi logo mettida a
pique, e as duas se retirarao desarvoradas. Abo*
nancou o vento por e8pa90 de tres horas > tempo
em que os nossos se pod^rao ordeoar para a bata«
Iha , que o contrario evitou desviando-se; porim
levantou*se logo em tao furiosa tempestade j que
a uns e a outros nao deixou mais salvacao que a
de obedecer aos mares* — Levada das ondas des-*
garrou a frota portugueza para as Indias de Cas-
tella , a onde priraeiro alevou o destino que a or-
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143
dan qpe d'Bl Rei tinha o comb da Torre pata
qua oMdttida a emprcsa de Panambooo looiaaae
aa Indiaa^ e oomboiaase os ^aleoea da prata a Sio
Lucas. Ab naot hoUandezas^ favorecidas do rento,
ytMkfio para o Arreeife : vinha a capitauea am«-
bandeirada do negro pelo gmnde nupaero da moiv
%oa^ e entreellas seu generah 0 conde de Naaaau,
mal aatisfeilo do auoceaso , mandou degolar o tau
almirante, com estiloa de fraco e de falso; e a
ciiieo capitaes mandou enforcar por remistos; e a
dous pilotoa por Tagarososy e a todos com a igno^
mink de verem £aixer em pedaoos anas armas,
com o pr^o da culpa e do suplicio.
XX. Nao quiz a fortuna que nem um so ao^
oiNnro enviado porCaatdila foiseproveitoao ao EsCar
do do Brazil. Este que era o mais poderoso, e que
era destinado a restam^alH) em sua integridade,
maiogrou«M desgracadamente, deixando mais amaa-
fada a sua s«guranoa ^ e mormaqte a cidada da
Bahia » em que o Hollandec nao deixara da raalisar
suas vistas amlnciosas, se a tempo nao fora secoor*-
rido* D'este cuidado iao preooupadoa os nossos
caboS) quando se viao arrebatados pela tormenla :
propos^rao ao general da armada a necessidade do
soccorro oom requerimento que os deixasae em
terra cm qualquer porto d'aquella costa , d'onde
podasiem marchar pelo certao para a Bahia. Ins*
tava a iroportancia , e no porto do Touro , catorze
leguas do Rio Grande para o norte ^ deixou a ar-
mada ao mestre de campo Luiz Barbalho com mil
trezentos infantes , e ao Gamarao e Henrique Dias
com a sua gente. Havia de ser a msrcha pelo in-
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tttrioi* da mate, e mn parMi por eatre a barbaric
dade doa Indiot topando egn muitas com aa armaa
doa ooAlimrios; e em todas aam provisiMD, neoi
Mpwanfa de loocorro humano; a diatancia de
ireseniaa legoaa : difficuldadea qua pareoaiiao
impoaiiveis ao maia otisado oora^o; e ad caboa
iao deatemidos pod^raointentar e yenoar empreaa,
que ainda depoia de couaeguida ae fez duvidoaa. -«
Parle d'um deaerto era o porto <mde a armada dei^
Um a Luis Barbalho com a sua ^atite, $6m maia
viFeras que oa que cada suldado podia trazar era
aua mochiUa : eircumataooia e$la capaz de fazer
deaajumar aoamaia daaiemidoa oora^oea. Luia Baiw
IniUeo beaa conhecia quanto era ftameraria » senao
louca^ uma ainulhaute empraaa; mat, auaten**
taudo atmpre aquelle Yak>r que deapraza a vida
paca acudir a patria afflieta, kunQou^ae noa brafoa
da Frovidttteia; e para ui^[urar em seqa soldadoa
oa acDliaMotoa de que estaTii peasoido , foi fama
Ikw fallara d'eata maueira : (c O motivo que aoa
» tirQu da Bahia^ noa deitou agora neata praia;
» d'ella noa tirou a conquiala , a elk noa leva a
M defeuaa; detarmiMcao^ uma o ouira ^ Cao filha
>» de ammoa pprtu^uezea ^ que Uvre de achar noa
M estranboi competeocia , buaoa em ai meama o
m exoesao, tauto maior em conaervar o peaauido,
N que em reeuperaro eatragadoi quauto maior 6
» o perigo da oonduzir eate aeooorro que o de
n perder aqueUa armada : em aeu mio auocesao ti*
>i verao parte oa elemeutos ^ e oao oa inimigoa ; em
» eaia viagem bavemoa de pelejar com os inimigoa
n e com oa elementoa; eatea armadoa dos rigorea
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U4 cAimwo umtuf(^
» do tempo f aquelles tbs coleras do odio. Tudo
H veacoremoSySesoestribadosiia causa alentarmos
)) a confianca, pon i certoquc nao falta Deoaoom
M auxiliot a quern Ihe dedka obsequios : a fiivores
» do oeo se nutre o valor dos homens. Imoa a aoe*
n correr e a livrara patria das leis da infiddidade €
» das extorcoes da tyrannia, e a influir nas espe-
» rancas doe parentes e dos naturaes, que em Pier-
» nambuco Tivem opprimidos do jugo hoUandeE y
M com libertarmos a Bahia de seu imperio. Poddn^
» nos acobardar a falta de mantimentos, se nao
» cuslumarao suprir os frutos agrestce dos matos;
> nelles mais certos e menos custosos que nos
M quarteis do inimigo. A experiencia nos lem en*-
n sinado que mais fiicilmente se yence a felta que
» a resistencia ; mas se a onde se contrasta a maior
» gloria^ sou de parecer que nesta marcha busque-
a mos opoToado, no quel poderemoe conseguir
M reoiedio para a forca e argumento para a fama^
» mais grata a quem venee homens que a quern
» mata feras.Por esia yereda oaminharemos a dous
M fins : amatar a fome, e a refrear a forca; pois i
» certo que oeinimigoSy que agora deixanossobra^
» destruidos, nos bao de faltar depois contrarios.
» £ quando o HoUandez irritado nos bi>sque po^
» deroso , em nossa mao esta a retirada , porque
• Ihe fazemos tanta yantagem no conhecimento
n do certao ^ quanta elle nos p6de (daer no nume-
» ro dos soldados. » — Depois de concluida a ex-*
horta^ao, que por todos foi igualmente applaudida,
formou o general a sua gente j comecou a marcha ^
leyando diante de seu esquadrao descobridores
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para as ciUadas ^ e guias para as^eredat ^ omu or*
dam que todba oa cavallos e bcHa que deaoabriiaem
Oft reeolhessem para o anstettto e para o Mrvi^«
Pro6eg;uio sua marcha buaeaada senpre as paToa*
foes; nas que erao amigas acbava bcm aooUii<»
BueutD, e sens moradores darao TofaHrtariameBte
aos soldados o sustento neoessaria; naa iniwwpi s
entra^a com Tiolenda , tomava o preoiso e qiseip^
raava o reslo. Chegou a Yilla de Groyana^ a oode o
FUoneBgo tinha quinkenlos e trinta bomeKS dq
presidio; envealioo quartel, passoutudoaespada^
estregando i» chamas o que oao pod^ra des^rvir;
e assim foi fezendo em outras amitas povoacoes^
queiodastiverao igual sorte. Cbegou entretanlo
ao Arrecife a uoticia do esirago e da marcha
de Luiz Barbalho, com o que impacieDte o ini-
nigo saio a campo com ires mil soidados , em tres
Iroi^s , a fim de o perseguir e destruir eomple*
tamaile; mas a este tempo }i eUe deixava atrAs o
districto de Pemambuco , e penetrando pelo atiais
espe^o do mato, nao lendo outro suslento que al-*
gum pouco milhoy passou o rio de Sao Fraociacoy
e da parte do sul fez alto para dar desoanco e alivio
i sua g^oUe de tao dilalada e peuosaviagem; k sua
vista parou o inimigo, que o seguia, taaseodo na
passagem o destroy. Goutinuou a marcha^ pas«-
sados algpns dias, com menos oppressao^ e mais
commodidkle; at^que entrou na Bahia, termo de
sua Jornada , que cheia de espanto nao cessou em
muitos dias de eucarecer o que Luiz Barbalho nes-
ta fac^o ganbou de gloria e adquirio de fama. 0
esquadrao hollandez, assim como tIo o escape
I. to
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Mt GiMMom EMrrAiia
da prawe ft inposMfattidhde do ftlcftMo, rokoo a
mwtlia pftn a Ameife^ e a ooteia cmira oi po*
bnmmand(MPm maUMdoedastraiiidb tudoqiMUK
tetapop aid ParMnboGo.
XXU DuiiBM dko am o n^ XIX d'eala Urm
o intaKtft oasi qua o oonde da Terra maiidoiL
ilgilin caaapankias de aoldadoa a eampanlia da
Penwnli^uea^ deatroa no terraso e nas veradas
(fo aaatfu fra cabo da lodas Andrd Vidal de Nd>»
ffmivM^ o qual oom tanta induatria e valor fez ana
obrigteaa que se jtilgou o HoUandaz deatruido sem
remadio. Diridida a noasa ^ente «m pequanoa
trocoa aaaaltao a um mesmo tempo diversos iu(^-
rea aan tanta ligeireza , que diaraado o inimigo
dos tabataa j sdencontrava o sangue e o incendio
semver a espada nam o aggre&sor. Nao baatou a
enlBrposicao do mar para dedviar o rate : feitoa oa
noi^oa em um oorpo ( aproveitaiido-ae da preaa
qua fiterao em trea barcos), paaaarao 4 ilha de Ita-
raaraci; em uma iioite a ganh&rao, sacpiearao e*
deatruirao, oom morte de dous capitiea hoUand^
zea J e bom numero de aoldadoa e Indies^ com ta|
preateza que p6de a manha descobrir o estrago^
poi^m nao oa agentea. AsBim continuaTao oa noasos
em auaa bem suocedidaa exoursoes , quando avia^
tarao ^ armada que navegava da Bahia para Far*
nambuco, e com alvoroco de terem & vista o fim
deae}ado , derao comprimento &s ordensque doge*-
neral tinbao reeebido ; desc^rao 48 praias j e por
terra seguk^o o curse que as embarcacoes levavao
por mar, com a esperanca de se unirem com a
gente que d'eilas havia de salr ; a qual perd^rao
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wade t|m <te miur cm fdft a ofliihiim fpoito «mr
avLtea a«eaUi^ win fti qQQ it d^iao cqnlwillf
o» a^^Qfty ntd €iot«a per Qti«JitiMi4» e ^esficiii
for rmn^io i fi^trai^ que a tqrto alirtM« c^wr
nbo 4 retinda^ ofMrto^ no moo 4f^ mw^taficiiif
^ocedM ohfgap Luis BsyrhaUbe 4 ^u^ destrkto t
cwreo a fama <mn o ciiiroQdo que euatmpa gnter
o espanto ; coDiFeaeiiQ-Mi a« nosaas partidai^ a foir
tjts Q'lim eorpoy aa u»irae oem a aua.g^nt»^ « jun*
to3 f»x)9eipiirao a marcha para a Babia. qft IMm
que temoa referido.
XXII* iogo que e Inimigo ae ^rUficou de qu?
a armada pm^tuguesa eeg-ujra e nuno dfta lediaai
mandou aair a sua eacpiadra de naea de guerra^
entraigue a Carlos Tarlom , oom erdem que palp
maritimo da Bahia ficeasp a danme peaaivel , usasr
do mais vi^ro rigor da hostilidade« Com prea^
pera viagem ohegou a auseada ^ que tem Ires \effm
de ooita, deitou gente am tirra. Oa moraderea,
que primeiro sentirao o far ro que yittem q bra^^^
nao tiwr&o mail lugar que de salrar as vidaa , da{^
xando nas maos dos inimigos as casas e faaendas*
Saqueou todoa os engeBbos , que por rioa nayegar-
veis Ihe fioayao debaixo da espada , enlregandQ iS
chamai o que nao podiao melter a saoco, Peade
que na Bahia se ouvio o grito do estragO| mfindpu
o goyemacbr um grosso de inlantaria oom ea vud^
Ihores oabos do presidiq para rdMttarttn o immigp.
Mardiirao accesot no desejo da vingan^a ; pordm
forao detidoi das vollas do eaminho j e das passar-
gens dos rioa. 0 Hollandez, avisado do nesso ar-
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146 CASTilOM VmfiMk
rebfttido movimento, Msim medio o tempo com
o perigo, que uma mesma hora wrvio k nossa
^iiegada e 6 roa fuga . Lamentavel perda fez o ini-
raigo em seis dia§ <(«e durou a insolencia e o rou-
bo : detxou muHoe engenhoB destniidos, mnitoa
desaparelhadoft ; levou nmitacopia d'asaucar , bob,
canafi, Tasos, roupaa, e tudo o mais que teve
valor e preaiimo, sem deixar cousa de utilidade.
Item pafa o reparo nem para o aerv^.
XXIII. Ainda se ouviao as queixas c corriao as
bgrimaa dos moradores, quando o marquez de
Montalvao Dom Jorge Mascarenhas tomou terra
na Bahia com o titulo de Viso-Rei, e cargo de
govemador gAral de todo o Estado do BrazU, B-
dalgo de relevantes prendas e verdadeiramente
digno da confianca que El Rei Philippe fiizia de
sen talento para sarar as quebras de nossas armas^
e rebateras for9a8 hollandezas- Parece que nesta
eacolha sc prognosticou a ultima labaredadaquellc
govemo , e a toUl mudan^a do Estado, Era o mar-
quez varao de grandes espiritos , noticioao da mi-
licia , e destro na sagacidade ; doAo-se do eatrago
e da injuria , que o chamavao a yinganca com a
Toz da lastima , e quiz mostrar ao inimigo que seu
coracao , nem salna perdoar nem podia so&er ; e
que para a satisfa^ao dos aggravos Ihe sobejava es-
pada, e para a recompensa das cautellas Ibe nao
foltava astucia. — Em breve tempo se fez capaz de
tudo o que era necessario para acertar nas empre-
sas o mode, e nos sujeitos a escolha. Ghamou a si
o capitao Paulo da Gunha , a quern fiou o peito e
o segredo ; ordenou-lhe que escolhesae os soldados
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GASTiioTo umrtino. 149
^ue sua opiaiao aproTaase ^ e com ^es, como a
furto ^ marchasae para a campanha de Pernambu*
CO, e qadmaase sem diatiofao CDgenhos, cana^
veaes , rocas , arvorea , e tudo o mais de que o
inimigo se podia a{nt)yeitar , para que deseoga*
uado de que os interesses nao haviao de chegar aos
gastoSy desamparasse o que sustentaira pelos aTan*
fos , e nao pela reputa^ao. Partido o capilao a des-
filada , o seguio com as mesmas ordois o govema-
dor dos Indios Heurique Dias com o aeu terco.
Feita esta expedicao, despachou o marquez um
prc^rio ao ccmde de Nassau com carta, pcJa qual o
avisara em como alguiis soldados portuguezes mal
disciplmados se haviao remontado temeroeos do
castigo ; que sospeitava se passariao a Portugal;
inteuto que sem duvida os kvaria a buscar o fa-
vor de Sua ExoeUencia, para que Ihes conoedesse
emJMirca^ao, ou para o reino ou para os Estados;
e ae acaso os levasse sua demasia a roubar o recou*
cavo, Ihe pedia que nem sua generosidade os des-
eulpasse, nem sua dmiencia se comp^decesse, pois
para a Uberdade havia griUbos, e para o delito for-
cas. Fuudavarse a confian^a do marquez em que
nunca a diligeacia do inimigo havia de alcancar
a destreza e a perieta dos sens. Licita e discreCa-
menf e se desfor^ou por este modo o Viso^Rei das
perdas e enganos com que o conde dos &zia a
pKrra.
XXIV • Neste tempo tiuha o conde de Nassau
mandado dar ao marquez os parabens da viagem
e da chegada por Mauoel Code , um dos tres de seu
Qonselho supremo^ e por seereiario da embai**
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IM GAfnmro umrtAiia
xa<k a Abnkam Tra^ (mteHigeAte tm lingot por^
tuguera ) com urn prawnte de finimos aasim da
tern como de Hn, A smunda da embfti?(ada j
depoiB das eongratula^oes da pessoa y era , com as
eavilkcoes do officio, pedir suspetifeao d'aitiaa^,
aponlando as convenienciaa de uma trdgoa entre 06
dom goYemoB , coin a dobrez d'amigo e con^ario.
Com esdma^ao e agasalho recebeo o Yiao-Rei 06
eoviados e as offiertas , acompanhando a gratidao
GOBI a magestade^ coai que os tratou os ditis qne
sa detiyeriio; al^ que os despedio satisfeitos e obii^
gados« Eat breve lempo correspondeo ao cofide de
Massau , e aoa do supremo cooselho y com vatita*^
jteo recorno ; e cdm as mesmas artes dUferio istre^
goaa pedid»; negocio que fi^u ao tenente Martim
ferreira^ e ao sai^ento ifitior Pedro de Arena^
OQBi canldosas ioifruccoespara assisdretna propo-
rem os tapitukM d'eUasi porque vm engano se r^
batesse oom outro. Chegarao «d Arrecife ; com
fiesiiTas demonstncoes forao reeebidos do povo e
do govomoy e eom paniculares bourne do conde
de Nassau^ Goacluido o liegocio se voitarao os
nossoe para a Bahia, satisfeites HMds da corteaU
que da verdade bollaudeaa ; a oude M^irao o Y iso-
JRei embebido no caidado de reforfinar as fortified
9fes aiRrukiadas) que brevemente pots em sua ui^
tinia perMcao} e em deiur ao mar duas galeaias
bem obradas j mostrando-se ao inimigo com uma
mioaa paz outra na espada^ com o que a urn mes^
mo tempo sefeda temido e respettadi» de amigose
eontrfflrios.
XXV. EmqiHuito passava o refeiido (iverio
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ajnunmo umsumo. 161
iempD 06 €ft|iitttei Paulo dt Cvm^ « HcMrkpa^ Diti
pua e»eultMni as ordoM da Viio*Aoi« Ck^f^Mio
•adeitficto de Pernambuco com tm de forogidUn^
<|iio fle fes crer ptla pritteira 100900^ e digpas^rio
omodo maiB aegfuro e meUbor €Mft«iinhlKlo M fim
freCeadido; dividkioae em paqucsoa tro^os dr.
dea e ijuinae toMados; a oida urn se consignou o
lugar < a hora pan a iavaaaO| € para o retirtK
Desta iorte eapalhados peha ft^eguesias portrio
iofp a iudo que podia eet materia para o iactndio^
com o que, sem tempo nen distiA^^ ae Tiaoan-
4er Qi engrahos e edificaos^ ea eampoa e o^ Inttos
^m uiM lAesma rhaia, Todoa olhaWb o aabra^t;
AQDhuaa atuMima com a eauaa. IWtiigueaea a Fk«-
Mangas ^faonmo a pei>dai aem qua a algom aobev-
jaaae magaa para, o daamo all^. Em aodas afc
fMTlBi ardia tndo aquifio em que ae podia «ef)tf a
interesse e a esperanca; aa generoa da meDcaooia e
do sustento confundirao as cinzas ; e nao menos
OS discursos, que embaracados com a igualdade
da perda , nao sabiao atinar com 0 principio do
damno. Com diligencia inutil acodiao todos ao re-
medio; porque os nossos soldados assim fugiao do
fogo que punhao, que era o mesmo buscAl-os com
a luz das chamas j que perd^l-os escoudidos entre
as sombras do mato « sem que novos incendios Ihes
dessem tempo para ponderarem as cinzas dos pas-
sados : achava o fogo os materiaes tao dispostos
que o mesmo era correr a atalhal-o y que chegar a
ver tudo consummido. Nao deixou d'obrar em al-
gumas partes mais o interesse que a obediencia;
pordm forao tao poucas , que nao fizerao numero
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453 Cksamto umrrina
em tamaaiu ioiiima. Duron por muitoe diasa
causa e o espanto : na duracao dos estragoe viao os
HoUandezes sua perdicao, reoolhendo igual damuo
da perda e da yiugan^a* Os moradores e naturaes
recebiao d*uma mesma mac a miseria e a eqporan--
ca J porque so achavao em sua calamidade a de
sua redemp^ao. E sem duvida f6ra este o meio
para que o inuiiigo desamparasse a terra, se fatal-
mente o nao atdhAra aquella Providenctai que
cx>m a omissao castiga , deixaudo ohmr os homeos
pdos didames da cegneira.
XXVI. Nada mais se passou de notavd at^ ao
fim d*esCe anno, a nao ser a morle de Joao Ames-
te, irmao do conde de Nasssau, que assistia em
PemamlNioo chamado da oonTenienda e da oo-
bi^a; cujo funeral celd)rou o irmao com grande
solenmidade e magnificencia segundo auso de sua
terra e rito de raa religiao.
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UVRO V.
SUMMARIO.
I. Preseguicao que 08 HolUndezes fiierao A religiao e a seus minis-
tros durtDte o seu dominio em Peraambaco. — 2. Permite o
exereicio das stDigogas , e maodou pr^ar u teitu heretieat^
mas sem fructo; caso que o prova* — 3. Conselhos e iribunaes
que fonnou ; procedimentos Injustos e anibiciosos de seus minis-
iros; exempk que o prora. — 4. Cases em queo HoUaudei obron
■em (6 e sem Yerdade. — 5. Casos particulares que mostrao como
o HoIIandes fazia das leis redes de que poucos escapavao. —
6. Suecesso rolsterioso que o qualifica. -* 7. Maldade que o enca-
rece; indistioecao que o eugera. — 8. Deshumanas cnieldato
que execuUrao os HoUandezes ; novos tormentos que inyenUrao.
— 9. Caso estraubo. — 10. AbomioaYeii torpczas que usavao. —
il» Inueiatel eobi^a eieeotada eom o braco do goTerno ; easo
, que 0 Terifiea. — 12. Desaforados em todo geiiero de vidos. —
* 13. Pond^ao-se os eicesos da oppAssao e do tuffrimento ; prodi-
gioia iddidade dos Portugueies part eom Deoi. — 14. Disposi-
foei d« ditiBt Prondeneia.
Interromperemos per urn pouco o fio da iiossa
historia em quanto se prepirao em Portugal os
grandes acontecimentos, cujo ^o deyia de inEla*
mar o patriotico coraqao do nosso heroe Joao Fer-
nandes Vieira, para nos occuparmos em relatar
neste V livro os attentados e crimes de todo o
genero que os HoUandezes praticarao , durante a
sua domina^ao em Fernambuco , contra a religiao^
contra a justi^a e contra a verdade : qual sua cobi-
ca J quaes suas crueldades , quaes seus desaforos ;
e qual a constancia e soffrimento dos Portuguezes
no meio de (anlos trabalhos e persegui^oes.
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15A GASTRIOTO UJSITANO.
L Quando o FlameDgo entroujoa villa deOlinda
nao so permittio a os seus o sacco e a extor^ao em
toda a demazia de victoriosos , mas , para mostrar
seu aborrecimento a religiao catholica romana,
Ihes aplaudio os horrendos desacatos com ,que
profan^rao o sagrado dos templos e das santas ima-
gens; tao insolenles que, acompanhada a exorbi-
lancia do <ksprcB0 y fiierao em pedacos ^ e pisaiio
aos p& tudo 0 que servia e representava o divino
€ulto« Aqueltes yasos e parameatos que a (6 turiu
dedicado A catholica veneracao , depots de serem
materia ao roubo , o forao a irrisao. Com o mesmo
exoBBO e eecandalo se bouve na villa de Gunhau,
<}ue ganhou por entrepreza, deixando aos mo-
radores fanio que seatir nos desacatos feitos a
Deos e a sens santos ^ que Ihes faltarao lagrimas
para cborar as injurias e perdas tempora6&« Nao
de outra sorte se houv^rao o anae de 1634^ quando
encarregArao aos Gentios Pytiguares e Tapuyas
a execucao das cruezas , por tomarem a sua conta
a 4o6 sacrilegioB* Ob mesoios imultoi Vbio ( nao
com ^Uios enxutoe ) m morador^ de Paraiba t txjm
fok a dor mais intensa , porque fm o desacato
oais horritel* Era umdomingo 6 deOcCubfo, dia
q«ie a devbcao dedieara a solemnidade do Rosam.
A OMcvrrenoia era de todos ; e nao isentou o golpe
a netthum , porque o repentino assalto tAn^ Sao
lu^ar k defenaa nem A vi^anca, (asend^a dese^
jada a oegueira com ^e o$ herejes conveit^aoem
despreso de culto o pomposo da festa. Na oecatiao
em t{«Be o caade de Banbollo , fajg^o de sua tties^
ma sombra ^ ddsou naa garraa do mimigo a fcH^
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QAamOTO UISITILIK>« 156
ialeza e poiFoabao do potato do Gtthro , ficamo 06
TiBinfaos 8ujeitos a lodo o rigor das arniM, e da
tyrannia hereiica. Faltara^lbeo o eoflriiiMttIo e a
paciencia para o escandalo ^ com que o inimigo
f»ro£MMm o sagrado € o honorifico ^ m Ih^s nao
animara a tokrancia o P. M ^ Fr. Manoal do Sat-
▼ador ( Vcja-8e n^ IV do livro IV ) » religioso da
ordem de Sao Paulo y a quem este mno e aqueUe
Eatado ^ deyedor de grandes serri^oS) que Ihes
preaiou expondo-ae mtiitas yeses e em mukas
partes 5 a grandes perigoa pelo servi^ de Deoe e
dai*epuUioa» Nao contente de tantos desacliloa e
profanacoes , prohibio o HoUandei y denlro da Oh-
dade Maurioea e Arrecife , o uso dos sacrameiiioa
oon peoa capital a quem viokssc tao ex^craval
decrelo^ Estendeo-ae a prohibi<;ao por todo o ro-
concavoi aao porque o bando o compreiidesde,
seMo p<HH|ue a insolescia o executava f passando a
obscrvancia do yedado os termoa do probibido; e
foi laiiia a demazia dos berejes ^ que opprimkU^
06 moradores da exacoao abrirao oavas debaiKO da
terra ^ para esoondermi a maligoidade oa exeroi-
cios da virtude. Nao foi menor o furor com que
perseguio os saoerdolea e raligioBoa» A uns des-
terrou y a outroa preitdeo y a muiloa destruio y nao
aendo poucot oa que acabon com Calsas culpas e
afrootesaa mortet. A dous religiosos d'esta reli-
pK> eradendirao a forca^ porque junlamente
padteetaemoEalado e as peasoaa* Na volta que fez
da Bafak o cende de Nassau (ooino deixamos rel^
tado) tomou os religiosoa pot* objecto da vingaat^,
cpK nia pAdeiBxecutar woaaoMadaa* Mandoudeilar
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156 CA8T1I0T0 LUSITAna
bandoy que todo6 dentro d*um mezdeiKassem a ter-
ra, com pena de que a desobediencia se s^airia
a morte , ordenando a todos que se passassem i
iiha de Itamaraca; eporque os religiosoe do pt-
triarcha Sao Bento se nao isentassem , por monges,
do numero dos frades , escreveo particularmaite,
e por sua mao, ao seu prelado, dizendo«lhe, com
simulada perfidia j que se retirasse com seus sub-
ditos & mesma ilha y a onde com os mab religiosos
viveriao livres do eslrondo das armas, desassoce-
gos do commercio, e atrevimento dos soldados.
Depois de enirados na iiha os mandou pr^ider a
todos ( despojados de seus habitos, e de todo des-
pidoS| para que a um mesmo tempo os atormen-
tasse o pejo e a fiaiUa ). Foi fama que a determi*
oacao do hereje era pass^l-os a espada sem deixar
algum com vida. Devia parecer i sua cruddade
breve o martyrio, e para que se dilatasse com o
tempo OS mandou embarcar j e deitar em varios
desertos das Indias de Castella, nds, feridos, e
separados ; o que tiv^rao por milhor sorte : que 6
menos sensivel servir de pasto is feras, que de 9a-
fra a OS tyrannos.
II. Ao mesmo tempo que prosereviao o culto
catholico^equenemainda nos mais secretos retiros
Boffriao o uso de seus sacramentos, permittiao
na cidade Mauricea e no Arrecife as synago-
gas I em que os Judeos com publicidade exercita-
vao seus condemnados ritos. Querendo substituir
a verdadeira religiao denossos pais as falsas doutri-
nas de Luthero e Galvino, inanddrao a seus predi-
cantesque annunciassemao povo suasheresias; mas
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GASTBIOTO LUSITAIIO. 157
forao firustrados seus esfor905, porque os Terdadei-*
ro6 caAdicosolhavao com desprezo para similhantes
ministros , fugiao de suas pregacoes^ e preferiao
as presegui^oes e o exierminio ao arrenegarem dc
sua fe. Atrihuiao os herejes esta constancia dos ca*
tholicosao alheio imptdso, tendo para si que ainda
influia em seus espiritos o poder de ministros
superiores, por meio d'alguns sacerdotes ou dis-
farcadoSy ou escondidos, e para de todo Ihes tirar o
respeito com jurisdic^ao prohibio a todos os mora-
dores de qualquer qualidade que fossem, que nao
podessem recorrer, nem ao bispo da Babia nem ao
Goleitor de Portugal, nem & curia romana^ senao
por via de Hollanda ; confiados em que o desvio e
a dila^ao reduziria a cinzas a viveza d'aquellas bra-
zas. Golpe foi este que penetrou o mais intimo da
alma aquelles fieis; porim nao pode ferir a cons«-
tancia de sua fidelidade. Com razao se pode glo-
riar aqueUa parte da America de que servia a igre-
ja com (6 tao viva, que se apuraya no maior fogo
da persegui^o » pois nem a licenca , nem o vicio,
nem o ferro, nem a conveniencia os pode desviar
de sua firmeza. Referiremos um caso que bem o
prova.— A trez mancebos, soldados e portuguezes^
condemnou o Hollandez a morle de forca , por leve
culpa ; forao-lhes intimar a sentenca a prisao y e com
OS ministros entrou um predicante^ parecendo4he
que a proBssao de soldados, o amor da vida , e o
medo da morte os ajudaria a preverter. Nestes va-
SOS Ihe quiz dar a beber a infernal doutrina de Lu-
thero e Calvino ; ao que um se adiantou a os mais,
e respondeo ( direi as palavras, que mostrao bem
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158 GAMMQvo imRim.
a iateircM , e desenfadado animo de todos ) : a Va^
> 86 d'ahi miniatra infenali predioaote de haiTa««
H ohos; fm ^eitaa do bebadoapodera h^Terquen
n n'eata vida beba » maa iiao quern para a outim
n vi?a : Tiva a (6 catkolioa romana , que pro(eaaa«
>i moa, e em que morreremoa, e love o diabo tanto
H hereje com seu I^uthero e Calvino. >j Deixou a
fiel constanoia asaim cortadot e corridas a todos
OS eircumitaQteSy que furiosos appellarao do dea*
preao para a vinganca, tirando a yida aos trea
fieis mancebos oom varios tormentos ; e padecmdo-
OS maiores os herejes na firmeca com que at^ o
ultimo alento os ouvirao prdgar a lei evangelioa
como a CDSina a igreja romana.
III. Nao com o desejo sincero de administrar
justica, mas com o fim de melhor esconder sua
rapacidade e cobica, estabelecSrao oa Hollandotes
alguns tribunaes e conselhos de que cumpre dar
noticia, bem como dos prooedimentos de sous offi-
ciaes. Formirao um oonselho que cbamavao su--
premo , ao qual subiao as causas por appeliaclio e
aggravo ; oulro que se dizia politico , e conhecia
de causas crimes; o terceiro tinha por officio jul-
gar as causas civeis , composto em forma de ca*
mara; os ministros d'este, que cbamavao esoabi*
nos , erao seis Hollandezes e quatro Portugueses |
assegurando no excesso dos votos o absolute dat
resolucoes. Em todos estes tribunaes se nao admit*
tia peli^ao que nao fosse em lingua flamenga, para
que o escrivao e o interprete fossem hollandeies, e
se pagasse nao so com excesso senao tambem em
dobro. Para ser apresentada e recebida d'um eou«>
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cAflniOTO trmtimk ISf
tto hariio OS Ihig^ntes de offreeer mela patMt y e
a Mte prindf^o correepondiao oe meioe e 08 fias^
ac^biiMlo de scHPte as custas que para um acredor
afroeadar viiite^ gastava quareiila; e se e rio dava
aeia de peita, e absoWiao^ de mais ^urigando o
aslor a pagar as oustas^ e a perder a dlvida. Se
OB quatro juiEes pc^uguezes Tota^ao ajustados por
ntenos ^ fica^ao vencidos; e nas senten^s empor^
tava pouco que assignassem ou nao os juizes por^
tuguezes. F6ra d'estes tribunaes y eujos officiaes
erao aem nummx), crearao dous ministros, um a
que ehamavao escoleto^ e oufro fiscal , que erao
oomo executores das prematieas e baados , que
saiao dos conselhos , com jurisdic^ao pleuaria para
condemnarem a seu arbilrio , sem appellacao nem
aggravo; com pacto de que a melade das condem-
na^oesseria para osconselheiros, e outrametade
para os ditos ministros ; e assim erao as condem->
nacoes sem causa > sem termo, e sem distinccao.
— Vejamos agora a justi^a de seus ministros. Se
algum queria ferir ou furtar , concertava-se pri-
meirocom um official de justica, e pago d'entemao
o delito, o commetia com seguro; e se o dcli-
quenle concertava que havia de furtar dez , e ftir-
tava vinte, o executavao por outro tanto dinheirO|
quanto no roubo excedeo ao concerto. Da mesma
maneira, se o que havia concertado dar uma cuii-
lada dava duas, pagava o excesso; e uao de outra
sorte^ se por menos se fahava ao proiaetido, se
pagava a falta ; e se acaso o roubado , ou ferido
qnerelava , o arguiao por violador das leis , e como
tal o condemnavao & prisao , d'onde nao safa sem
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160 CASTMOTO LCSITANO.
primeiro pagar com excesso a injuria e a injustu^
que padecia. Saiao o esooletee o fiscal pelo re*
Goncavo, quando o interesse os chama?a (que o
zelo nunca os movia) a deva9ar dos concubinarioSy
que condemnavao em subida quantia de dinheiro^
exactamente cobrado; e para que o castigo nao
servisse a emenda Ihes vendiao consentimento ,
pelo pre^o em que se concertavao , convidaudo^os
assim a perseverar no mao estado. De uma mesmt
sorte processavao a culpa pela suspeita, e peh
possibilidade ; pagava o mancebo j so porque podia
peccar; pagava o velhoy porque em sua mocidade
peccou ; e a nenhum livrava a malicia de culpado,
porque igualmenie pagavao os tristes moradores
o facto e o possivel. De nenhuma outra gente se
vio a juslica mais affroniada. Pronunciavao^ pdo
dictame de sua malicia j as mulheres casadas , &xk
que vivia mais clara a honeslidade , e com mais ad-
vertencia o recato. Com fingido respeito buscaya
um d'estes ministros sua casa , quando d'ella fal-
tava o marido^ e Ihe mostrava na devassa provado
o delicto com testimunhos suppostos ; vendia-lhes
o zelo de seu credito , para que nao perecesse sua
&ma. As inocentes matronas d^maiadas e afflic-
tas de verem posta sua opiniao em maos tao infa-
mes y compravao a reputacao a peso de ouro^ sem
reparar no custo, com tan to que se conservasse o
credito , e se nao divulgasse a impostura , ficando
sua honra exposta a cortezia dos tyrannos. For
estes mesmos fios passava a maldade a roubar e a
destruir o estado sacerdotal : aos clerigos de me-
Ihor reputacao e de mais annos envestiao com a
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cAsmsxyto lustaho. I6f
mestna estocada ; erao reformados , e a todo o
pt^ compravao sua estimacao. — Quero referir
um caso, enelle se verao estampados todos. Tinha
mandado o seu conselho supremo , que cada um
dbs Tizinhos plantasse em sua fazenda , quando
meuos^ mil covas de mandioea ( ordinario sustento
d'aquellas partes ) ; vierao os executores do bando
k porta d'um pobre morador, que nao tinha mais
familia que um so negro, e por elle havia mandado
barrer o camtnho e o terreiro da casa , por tirar
tiido o que podesse ser tropeco & malicia d'aquelles
ministros. ChegSrao; recebeo-os o pobre homeii
com a boca cheia de riso, e Ihes disse: a Vossas mer-
» cfis nao tem em que pegar, porque tenho plantado
»nao so as mil covas, a que me obriga a prema-
>^tica» senao de mais a mais quinhentas. » Aqui
levantarao os infemaes ministros as vbzes : « Trai-
»dor, traidor, seja logo preso por violador dos
» supremos decretos, excedendo o numero da pre-
»matica. » Vio-se o miseravel pasmado com a es-
tranheza da malignidade, e por remir sua vexa-
cao e liberdade pagou dez mil reis : furto a que
derao nome de pena.
rV. Este erao estillo d'aquelles ministros, este
o estado d'aquella justica ; nella se funda a dura-
cao dos imperios , sem ella se trabalha a ruina dos
Estados. Nao com menos pressa corriao os Fla-
mengos a sua perdicao pela vereda da perfidia,
faltando. descaradamente & verdade,.sem que nel-
les se achasse palavra certa , nem contracto segu-
ro ; de maneira que se p<$de dizer que trabalhou
mais em sua ruina sua perfidia que nosso poder.
L 11
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16S cMssxufio vonxao.
Citaremo9 alguns casos que o oomprovao^; Capitar
lario tregoas com o marquez de Montalvao; o a
pezar distO| e das pazesqueo SenhorReiDom Joao
rV tinha assentado com 06 Eatadoa de HoUaiMU^
e que se confirmarao com reciproco consentimento
entre o Arrecife e a Bahia^ armarao quatro naoa
no Arrecife com muni9oe8 e soldadoa^ suffioieii^
tes para o intento ; entrarao no porto de Sergipe
d'El Rek , comcerteza de que nossa aeguran^a nao
acodiria a defensa; ganh^rao por entrepreza a cir
dade de Sao Ghristovao, e no porto £abricarao
uma grande fortaleza. Com similhante mascara fo-
lio conquistar o reino d^Angola^ de que se fizerao
senhoreS) aleiyosos e fementidos. Com mortal odio
saquearao e destruirao tudo quanto enoontr^rao.
Com bandeiras de paze aalvas de amigos entrarao
com seis n&os de guerra na costa do Maranhao, e
chegarao a barra; pedirao licenca para entrarem
com pretexto de se proverem de mantimentos, de
que se fingiao faltos. £sc<mdia-«e o fogo da traicao
dentro das apparencias da amizade; descobrio-M
acfura do engano^ quando jA faltaya tempo e modo
para a opposicao : sem ella se fizerao senhores da
cidade e da fortaleza^ perdendo os moradores a (a*
zenda e a liberdade ; e muitos aS honras e as vidas.
Com tao infames artes, comoas referidas, sein^
troduzirao na ilha de Sao Thom^, e na fortaleza
de Sao Jorge da Mina. Outros muitos casos pode*
riamos apontar , em que sua traicao e perfidia ex^
cedeo todos oslimites da credulidade; mas omitti-
mo-las^ para fallar d'outros em que se publidurao
infamemente perjuros e perversos.
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V. Trts vtees por editaes, bandos, e fifm^dos de
•etis magifltrados tomarao as armas os moradores
Mm juramento At que assim convinha & sua con*
servacao ; e cutrtis tre^ vezes Ih'as fizMo cdmprar,
com pretexto de que assim era necessario para sua
defensa, compena de morte a entrega^ com pena
de morte o recibo. Cada dia ( muitas vezes cada
hora ) se fixavao editaes , e se deitavao bandos en-
contrados , que com seguro real promettiao e Uega-
vab aos moradores a mesma cousa ^ para que jun-
tamente peccasse o pontual e o remisso. Fromet*
tiao em nome dos Estados proteccao e defensa dd
ridaB, is honras e ^s fazetidas dos retirados^
para qtie deixando o mato , m viedsem com suaft
fomilias povoar suas casas e engenbos ; e tanto
que OS tinhao dentro da rede j trazidos de sua
singela credulidade, os despojavao de tudo. Nao
siugalarizo as pessoas , os lugares e occasioes, em
que exercltarao tao execravel perfidia, porque
apenas houte pessoa^ occasiao e lugar que a nao
experimentasse. De um successo faremos espelho
em que se representem todos. Com grande nu-
mero de Indios ^elvagens ( mortaes itiimigos dos
Portuguezes ) chegou Jacobo ( um Hollandez , a
quern a similhanca dos costumes fez superior d'a-
quelles bari)aro8 ) & povoacao de Cunbad um sab-
bado de tarde. Nao foi a vinda uem o intento es-
colha, senao obediencia. Tinbao-lhe remettido do
Arrecife os do govemo as ordens e instruccoes de
tudo o que havia de obrar, quaudo e como. Fo-
rao arisados os moradores da marcha e do po-
der; a experiencia os ensinou a sospeitar mal de
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IM CASTUOTO LUSITANa
tudo : poserao-se em cobro. Entrou na poroacao
o inimigo com simulada paz ; mandou deitar bando,
e fixar nas portas da igreja um edital assignado
pelos do conselho supremo , e jurado pelo dito
Jacobo , ordenando aos vizinhos do lugar que de-
baixo de seguro se achassem na igreja ao outro
dia, que era domingo, para que depois da missa
conferissem certo negocio ^ que os senhores Esta-
dos Ihes mandavao communicar , desenganando-
os de que a pessoa alguma se faria o mafior ag-
gravo. Obedeo&rao os moradores , chamados a um
mesmo tempo do preceito da igreja » e do bando do
hereje ; ou porque nao duvid^rao do seguro, ou
pprque nao tem^o o perigo. A maior parte en-
trou para a igreja; outra menos confiada se deixou
ficar nas casas do engenho. Os que entrarao no
templo encostarao as paredes do portico os bordoes
que levavao (armas que Ihes permilia o gOYerno
hoUandez ) • Vestio-se o sacerdote , poz-«e no al-
tar, comecou a missa, e ao tempo, em que che-
gou a levantar a Deos se fizerao os Indios senhores
da porta do templo ; o que advertido dos morado-
res conhec^rao o erro e o perigo a tempo que se
val^rao do ultimo remedio, que foi pedirem
ao ceo perdao de sens peccados, tao faltos de
tempo, que se encontrava nas garganlas de todos
a oragao e a espada, sem que a dos barbaros dei-
xasse pessoa com vida. Pela mesma sorte passarao
OS que se recolh^o nas casas do engenho , senao
que irriiados do sacrilegio e da perfidia , com as
maos e com os dentes avancarao ao gentio, e bus-
cando a vinganca se mettiao pelas armas, a onde
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CASTBI0TO LUSITANO. 165
juntamente achavao a morte e a satisfacao , porque
abracados com os ininfiigos matavao e morriao*
YL Relatarei o que d'esta occasiao acho escrip-
to por pessoa autorizada e fidedigna. Nao approvo
mUagreSy mas refiro estranhezas, que o parecem.
Era osacerdoteque celebravahomemdenoventaan-
Bos, varaode vida exemplar. Temeo que a cruel-
dade 8e seguisse o desacato , e virado para o gen-
tio Ihe disse na sua lingua, em que era peri to,
que toda a pessoa que nelle tocasse^ ou nas imagens
eparamentos do altar, Iheficaria tolhida a parte
com que o fizesse. Temfirao os Indios Tapuyas^
e se retirarao reverentes; outra especie d'clles, a
que chainao Pytiguarfe , ou mais assanhados , ou
menos respeitosos , com crueldade e desprezo Ihe
tirarao a vida. Caso marvilhoso ! todas aquellas
partes de seus corpos , que servirao ao sacrilegio,
Uies ficarao pasmadas e insensiveis , e todos em
brevissimo tempo morrSrao despedacados de seus
proprios dentes ; e para que se nao duvidasse da
causa do castigo, permittio Deos , que na dureza
das portas da igreja, como em branda cera , ficas-
sem impressas asmaos do sacerdote, buscando com
dlas arriino nos ultimos alentos da vida. Verifi-
cou-se 0 prodigio, com se ver naquella igreja ,
muitos mezes depois , o sangue dos padecentes tao
vivo e fresco, como se na mesma bora fora derrar
mado. £ bem pode suspeitar a piedade, que no li-
quido d'aquelle sangue comecou a resvalar a vio-
lencia d'aquelle imperio , pois n*elle se conservarao
vivos OS sinaes da ft, e mortos os da perfidia.
yU, Assim aborreciao a verdade que faziao ne-
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godo publico da mentira^ buscaodo uelU o aiig«-
mento do cabedal , $em fazerem reparo na opiniao
da honra, Viao passar por »uas portas um roorador
bem tratado y retiravao-se , e deziao as auas mu**
Iheres que o chamassem a titulo de negocio ou da
cortezia» e que tanto que o tivessem dentro da casa
gritassem que as solicitavao , pegando d'elles , ati
que as vozes acodisse o marido e a vizinhan^at Aa
testemuuhas que ja estav^o preveuidas , juravaoi q
encareciao todas a culpa para levantarem a peaa;
e uao se livrava o innocente ( quando os achava
luais compadecidos ) com menos de cincoenta, aea«
aenta, cem dobroes; e se tinha por bem afortu-*
oado aquelle que a todo o custo comprava a U*
yraQ9a sem prisao , e sem processo. Succedeo esto
aleive a um homem honrado e de idade, chamado
Thomaz IMi t ao padre Belchior Manoel GarridO|
vigario da reguezia de Santo Antonioy e a outro^
d'este lote » porque nao reparava a malicia iwi ob«
jeccoeada verddde, com tauto que pagasse a aubido
pre^p o eugauo. Audava tao valido este falsificado
tratOi que ja nao havia morador que se atrevesse
a eutrar em logea, tenda^ ou officioa, senao em
tempo que uella se acbasse muito concurso de geoi*
te. Outro caso nos mostrara todo o eucarecimeato
d'esta materia* Deviao os Hollaodezes aoa Judeos^
que assistiao em Fernambuco , a maior parte de
9ua fortuua^ porque uelles acharao sempre ajuda,
avisos e conselhos coatra os Fortuguezes ; £aziaa
d'elles a maior confiao9a j certos do odio que ti^
nhao a lei evangelica^ respeito que sempre osfe;
coufideates e gratos ao? berejeSi achawlo neUes
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CMMfrUMO LOfttTAHO. 167
prestimo e eitima^. Ghamados pok e amstidos
do faror, multipUcaiio de maneira em numero e
em cabedal , qoe nao hayia negocio de justica^ nem
<k fazenda j que nao corresse por suas maos j fi-
Mndo nellaa sempre o melhor do interesse; com
o que ingroasarao de sorte, que os nao soffria a
iaveja e a cobica; e determinou a perfidia hollan-
deza quebpar-lhes o seguro e os foros , com que
Ihea permittio a compra de engenhos , curraes,
terras e officios ; e confiscar-lhes tudo quanto ti-
nhao adquirido. Achou logo pretexto^ urdio tra-
pa^as , poz-se o negocio em pleito : erao as mes-
mas partes OS juizes, haviaode sentenciar eomo
Hiteressados na causa ; nao tiyeiio os miseraveis
Judeoe outro remedio mais que remirem as fa-
feendas a dinhdbro« Successe com que justificamos
o preeente argumento , de que nao tinhao os Fhn
mengpos naquelle dominio lealdade, yerdadcy (i,
nem palavra com amigos e inimigos, eom proprios
e estranhoB^ com ^andes e pequenhos ; em todo
e tempo, em toda a parte, e em toda a materia.
Vni. Jk fallamos em o preeedente livro d'algu*^
mas erueldades praticadas pelos HoUandezes; dir
lemos ainda outras para opprobrio de sua barbari-
dade. Os meios de que se aproveitava o interesse
e o gosto d'aquella gente erao a destrui^ao, a morte
ea injuria; e para que a crueldade servisse mais
ae deleite , inyentarao novos modos de affix>ntas, e
exquisitos generos de tormentos. Condemnavao a
aeoutes; exeeutava-se a pena por taes bra^os^ e
com taes instrumaitos , que nao se dava golpe^
qne nao diirisse lerida. Sentenciavao i morte;
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166 CASTEIOTO LDSITAMa
cumpria-se a sentenga com taes esoameos e mar-
tyrios , que, se fazia duvidar qnal primeiro acar
Jbava a vida do padeceote , se o ferro , se o pejo. —
Fazia credito a deshumanidade de sair com estra-
nhas inventivas de matar. Estendiao os corpos dos
pacientes sobre umas rodas com tal artificio , que
c^m o movimento Ihes moiao os ossos; e sea vida
sobejava ao tormento Ihedavao fim com uma ma^a
de ferro > que Ihes abatia os peitos. Aos homens
que tinbao em opiniao de ricos , e nao appareciao
com o dinheiroy cbamavao os ministros a suas ca-
sas e em cavaletes de pio os atormentayao atd que
feueciao ou o eutregavao. A outros peaduravao ^ e
uogiao com azeite para que a fogo lento acabassem
as tristes vidas. A muitos imprensavao eatre duas
taboas repassadas de agudos pr^os, que juntar
mente os traspassavao e moIao, e por recreio pa&-
seayao sobre elles. A nao poucos amarravao pela
cintura, e r^virados os leyantavao em alto com os
p^ atados^ atravessando entre um e outro um grosso
madeiro; e por entretenimentocavalgavaoemuma
eoutraponta, e se balanceavao; festejando com
gritos e risadas as sentidis vozes, que causa-
vao aos pacientes as terriveis dores. Nos assaltos,
nas entrepresas, e nos saccos era maior a . deshu-
manidade» porque ^a de muitos a fereza. As mo«
Iheres de qualquer estado e qualidade cortavao as
maos , rompiao as orelbas , e feriao as gai^antas,
porque a detenca do tempo os nao atrazasse no rou*
bo dos anneis , dos pendentes , e das gargantilhas
(servindo aomartyrio os instrumentos do adorno);
como se em sua forma^ao ^rrasse a natureza, ou
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GASTiaOIO LUSITAIKK 169
em sua ctpacidade faltasse a noticia do sexo. Ordi-
nariamente sucedia levarem em sua companhia os
Indios selvagens Tapuyas e Pytiguar^ y conheci^-
dospelo nome de Gabocolos, de cujas garrasnao
podia fogir nem o retiro ^ nem o recato , porque
pelo faro oe descobriao e matavao; tao temidos ^rao
estee selvagens dos moradores que os nao espan*-
tava menos uma companhia de Cabocolos que uma
manada de tigres ; e com muita causa , porque f»-
ziibo desenfado de executar as mais horriyeis barlja-
ridades. Esga^vao as crian^s vivas , e com as
maos as faziao em dnas partes. A outras estretavao
Has pedras^ e nos troncos , ou de tiro ou de golpe,
competindo-se na execu9ao a destreza e a forca.
Os oorpos adnltos abriao , ou pelos peitos , ou pe-
hs costas, e Ihes tiravao o coracao e os ^gados,
que a vista de todos comiao; e com o humano san-
gue satisfaziao a sMe : ferocidade que via o hor-
ror com olhos do pasmo.
IX. Forao tantos e tao parecidos os casos que
para os especiGcar falta a escolha , e confunde a
simklhan^a ; mas sera for^a que algum sirva d ori-
ginal a tanta copia. Na occasiao em que D. Anto^
nio Philippe Gamarao se retirou de Goyana com os
moradores que o quizerao seguir ( que foi no anno
de 1636) deo sobre os que ficarao um diabolico
verdugochamadoHypoemy governadordaParaiba,
com uma numerosa partida de Cabocolos , em os
quaes executou tao inauditas crueldades, que pa-
rece os desconhecia a mesma atrocidade. Succedeo
que d'uma casa em que o mortal estrago deixava
despeda^adaa vutte e tres pessoas^ p6de fugir uma
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130 QHmiffiO tlWCiMCu
Biulher casada^ pan se eaocuider no mato^ com
duascrianfas, unut dftpeito, e outra da petiea
maia idade ; andados alguna passos se deteve ( dea-
maiada da propria fragilidade e do filial eator«-
yo) junto 4 eatrada, servindo-lhe o ayuliado troii-
00 d'uma arvore da a ancohrir aoa caminhantea.
Pouco Ihe durou o descanso. Em breve tempo oor
vio um tropel de Gabooolos , que vinhao no alcanee
dos fugidos, e foi tal o temor , que Ihe occupoa o
coia9ao , com a lembran^a daa crueldades que ybnay
que receo^a de que oa filhiuhos ae descohrisaem
pdb cboro, e os alarvea Ihoa comeaaem^ os a£3^
gou com auas proprias maos, pelos nao ver paaaur
a alheias entraahas , eacolhemlo a triate mai para
si e para aeua filhos por melhor sorte uma morte
certai qu^ uma crualdade imaginada; e «mtM>ay»
cida contra si meama rompeo pelo mato quatone
legoaa; chagou i Paraiba, e viveo alguna annofi
depois absorta no espanto e na pena , com qua a
martyrisava a memoria do golpe a do medo.
X. Aquelle natural pudor oom qua a provida
naturaza refrea noa mortaes aa obscenas torpesafi
dos brutoa , rompeo a bestial Ucan^ d'aqudles
abortivoa monstros. Andava a rasao tao prostra^
da a yiata do apetite, que igualmeate daapreuya a
pejo e 0 escandalo. Valia-ae a lascivia da for^a e do
dominio , e ae executava o delito apezar da rqmg-
nancia , em que achava sou bestial gosto no?o in^
aentivo para cometter o estupro, o adulterio^ a
inceatOy etodas as mais especieade bestial luxuria,
aeryindo a yiolencia de unir em um masmo acto a
ftcffpeaa^a vingan<ga> Forao tantaa etap AMaaas
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iteniaftiaii , co» giie ae oomnifttU tste viojo , qm^
disioiula a peuna, porque seqao refrenque o esoan-
dalo. Os magistradoft) qu^ pela razao de eeu cargo hap
viao d^ atalhar o de$aforO| com &eu exemplo anima-
vao o atrevimento. Viao, ou tinhao notic^ia dalguma
mulher bem parecida 9 com o desengano de hon-i-
rada , logo com fi»gido pretexto maodavao pren-f
der aa pessoas que a podiao guardar, e com des^
carada lasciTia Ihe entravao em casai sem que
baata^^m para a defender as lagrima^ e guspiros,
de que sua castidade se armava; antes como era
de brutos a for9a, crescia a violeucia com a de«>
feosa , ceyaudo^se o apetite uos mesmos desyiof
da luxuria, Ouye muitas que com «uas propria!
maos se matarao^ e outras que is dos dggressorea
morr^rao, assim por nao mfamar a yida, como
tambeip por nao offender 0 sangue«
XI* Pjao era mcnos a insaciayel cobi^a d'estes
monstros, £m todo o tempo que durou naquella
parte d'America o imper^o e p govemo hoUande;(
nao houye pessoa que possui^se bens de fortuna,
seoao a merce da tyrannia. 0 mesmo ^ra ter,
que ter o inimigo que roubar ; a joia, a gala, 0
mime em tanto era de seu damno^ em quanto que--
ria o Flamengo* Nao se contentou com furtar^ sem
que o roubo se executasse por lei , e fosse juntas
mente furto do alheio^ e prohibi9ao do proprio,
Adyirta-se como neste paiticular andou a malicia
delgada. Saio decretado de sens conselhos sob gra*
yes penas que nenhum morador podesse yender,
nem matar ( nem ainda para comer em sua casa )
alg^^| genero de res 9 s^ \xomf^ particular, e s^
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172 GASTBIOIO LUSETAlfO.
a occasiao o obrigava a pedil-a| havia de pagar
por cada cabeca de cameiro ou de porco um cur-
zado , e de gado vaccum dez lostoes ; e que se se-
guia a esta prematica ? Comprarem os HoIIandezes
OS gados e rezes em p^ por muito baixo preco , e
depoi8 venderemHias aos arrateis aos mesmos ven*
dedores pelo preco mais alto que queriao. Oulras
muitas extorcdes e vexames pratidirao, executadas
com o bra^o do govemo, que deixo em silencio,
para s6 fallar d'uma mais escandalosa. Os negros
que (ugiao a seus senhoreS| se Ihes nao restituiao,
se de novo os nao compravao; como para este fim
OS recolbiao com boa cara , poucos erao os que nao
fugiaOy dando com este latrocinio occasiao a que
os tristes moradores fossem escravos de seus es-
cravos. Foi tao apertada a oppressao dos amos
neste particular, que nao tinhao mais vida nem
mais fazenda que aquella que o seucaptivo queria;
porque , se com alguma palavra o escandalizavaoi
acusavao-nos deque tinhao armasescondidas; e
sem mais prova nem exame erao condemnados
por traidores. — Chegou a tamanho excesso o uso
d'este modo de roubar , que ja nao havia escravos
que o nao abominassem. Por^m esta falta suprio
aquella maliciosa cobiga : compravao os meios do
vicio, e OS dispunhao para o furto, ou com pro-
messas, ou com ameacas. A um crioulo escravo de
um morador authorizado convidarao com a liber-
dade , e com o interesse se quizesse accusar a seu
senhor de que tinha armas escondidas : para este
jfim mettftrao em um lugarocculto dous mosquetes
e duaa epadas^ & vista do negro | porque infor^
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GASTRKyiO LUSITAIia 173
made do lugar e das armas se animasse a delatar o
crime , seguro na eerteza com que podia fazer a
accusacao. Corrido o escravo de que o fizessem
complice de tao iuorme falsidade , e autor de trai-
cao tao vil , descobrio a seu senhor toda a impos*-
tura. Acudio atribulado ao remedio do eminente
perigo ; buscou um religioso aceito ao conde de
Nassau, que o informoudo caso. Nao se espantou
o conde do infame iiitento senao da fidelidade do
escravo ; roandou fazer exame, saio provado o
trato y e nao sei como, esta vez forao condemnados
06 aggressores a morte ! Devia obrar n'este caso
mais o respeito do conde queo pejo dos ministros,
complices em outros casos similhantes, por elles
approTados, e quando menos consenlidos.
XJI. Digamos tudo por maior, que por extenso
sera impossivel. Trabalhavao quanto podiao os
Hollandezes naquelle Estado, por se inculcarem
senhores intrusos e legitimos tyrannos , dando-se
a conhecer pelo veneno mais que pelo dominio, co-
mo dos Psyllos ( povos que habitavao no interior
da Libya) 9 escreve Plutarco : conheciao aosfilhos,
nao pelo parto, senao pelo pestifero da compleixao,
de cujo Teneno fugiao as mesmas serpentes. Taes
e lantosy como tenlxo dito, forao os sacrilegios, as
injusti^s^ as perfidias, os roubos , as crueldades,
as injurias, e as.insolencias com que qs HoUande-*
zes opprimirao os miseraveis vassallos , que nas
partes do Brazil dominarao , sem respeito algum
ao temor de Deos y nem ao pejo dos homens , fe-
cbados OS olhos e os ouvidos a doutrina e ao escan-
dalo y com que alguns dos seus gritavao nos audi-
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torioft puUicos^ que nem Deod poderia diMimti-
lar y nem oi homens Bofftet tao abominareis
proceditnentos. De um pulpito ( em occasiao que
todoB ouviao ) os desenganou tim predicante sen
com livre reprehensao , que nao havia de faltar
0 castigo merecido a procedimentos tao estragados,
e que estivessem certos que aos moradores op^
primidos havia de tomar a justii^a ditina por ins-
trumento do caatigo que mereciao aeus peccados,
aftsim como para castigar aos moradores mettAra
0 acdute nas maos d'elles Hollandezes. Recebeo^s^
tao mal a doutrina ^ pelo que tere de ameaco e de
prognostico, que nunca mais appareceo o predi^
cante.Omesmo succedeo aumrabino, quepr^ando
na sinagoga do Arrecife , estranhou os escandalo*'
SOS excesBoa d'aquelle gotemo , ^e que inferio sua
breve duracfto; espantando^M de como dominio
tao violento durava tanto : cOnsumio-6 a ditigen-
cia ; porque nunca mais foi visto. Imaginava a ce-
gueira hollandeza que com atalhar o pr^o es^
condia o delito, e desviava o acoute. Parecia-lhe k
devassidao , que tapando a boca aos homens , a nao
deixava aberta is sepulturas , As cinzas , &s pedras,
e aos troncos , que com muda rhetorica a publi-
cavao, e Ihes pediao o castigo que nao tardou,
como diremos em as seguintes relacoes.
XIII- Por*m antes que entremos em o VI livro
d'esta historia , se me ha de permittir uma digrea*
sao, a que se nao sabe negar men dlscurso. Ponde*
radas as insolencias dos Flamengos e a paciencia
dos Portuguezes, nao sei definir qualdeva menos
ao espanto , se a constancia do soflrimento , se a
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QMnWnO LWDTMOi ITS
profia do aggravo ? Esta accusata ao Holllmdefe de
iiracional, aquella ao Portuguez de inaenaiYel; e
neiu a fiiria do bruto quebrava na dureza da pe-
drat 9P^ laslima; nem a dureza da pedra obedecia
a oontinua9ao dos golpes que a quebrao ; e ge me
represeata mysterio escondido em um e outro w-
tremo, parecendo-me que o soffrimento se anima-
va da esperan9ay que Ihe promettia a pouca duracao
da violencia ; e a obstina^ao do esquecimento, que
Ihe tirava da lembraufa o merecimento do castigo:
demonatracoes , com que o ceo enainava a uma e
ouira geute que a constancia de uma outra fortuna
6 puramente negocia9ao dos mortaes ; e ser oondi^ao
do6 Estados do muudo descer o que uao pode maid
subir; eeubiro que nao pode maisdesceri a beneficio
da instabilidade das cousas d'elle. — Com luz maia
dara que a darazao o viao os olhos da (i^ que nunca
pkie escurecer adiligencia da herezia. Seja motivo
do maior assombro durar entre os opprimidosPer-*
nambucauos a peste^ sem que ateasse o contagio.
Nao houve Portuguez que pelo discurso de vinte e
quatro annos preyaricassena (6, assim divina como
bumana ; e se algum houve , primeiro foi descarte
da uacao que membro da infidelidade. A neuhum
Portuguez virao os Hollandezes contaminado, senao
depois de expellido. Quandoparecia que a persegui*
cao OS tinha reduzido a cinza , entao estavao em
seus peitos mais vivas as brasas da fe para com Deos,
e para com seu Rei. Olhava-os eutao com espanto
a America, comoEuropa os viocom assombro o an-
uo de 1 640 na acclama^ao de seu ligitimo priu-
cipe o Senhor Rei Dom Joao VI.
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170 CASniOIO LUUTAlfa
XIV. A onde o humaiio discurso abate maU as
azas i na consideracao da impenetravel Providen-
cia do AltisBimo, pois d'aquelles meios, de que os
homens se aproveitavao para sacudir o jugo , seva-
lia a Providencia para apertar o grilho. Que soc-
corros despedio o reinoem favor dos afflictos Bra-
zilienses ? 0 que levou Dom Antonio de Oquendo;
o que conduzio Francisco de Vasconcellos ; o que
se deo a Dom Luiz de Roxas ; o que entregou Dom
Rodrigo Lobo ; e ultimamente y o que a todos ex-
cedeoy governado pelo conde da Torre (naquella
armada tao memoravel pelo poder como pela des-
graca) ; que efFeito surtirao ? 0 de despertar no
Hollandez a colera , e influir nas tribula^oes dos
moradores; sem que jamais deixassem de receb^
maior danmo das annas auxiliares , que das ini-
migas. Parece verdadeiramente , que com desvios
Ihes despunha o ceo a coroa dos trabalhos , guar-
dando a empresade sua liberdade para sen valor,
porque fosse sua toda a gloria, e so seu o [uremio de
accao tao esclarecida.
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LIVRO VI.
SUMMARK).
. Coma le Ibrmoa loao Fernandes Yieira na escola da adrenidada
e da thrivde durante o dominio bollandez M i acclamacao d*fil
Rci D. Xoao lY. — 2. Breve noticia d'este glorioso icontecimente*
— 3. Chega 0 aYito i Bahia; dispde-se a acclamacao, que € feste-
jada eom grande alyoroco ; cuja nova manda o marqaez ao conde
tfe Ifassaa. — 4. A camara da Bahia prira o marquei do goterno,
e remeite-o prcao para o refno. — tH, Alyoroco com que a nova
foi recebida no Arrecife; e festcjo com que o celebreu o conde de
Nassau; o qaal maoda embafxada A Bahia , e com queinterito. —
0. Geldnrao-«e as tregoas entre am e outro govemo. — 7. A' fom-
bra da paz nos fai o inimigo a maior gue^ra; com traicao nos
ganhoQ a cidade de Sao Christovao. — 8. Chega d Bahia Antonio
Tdies da Silva , para govemador do Estado ; queiias do povo con-
tra 0 Hollandez , comprovadas com o que succedeo a uraa hAo
portugueza. — 9. Intima o govemador ao Hollandez o aggravo ;
que se desculpa da traicaO com frivolas escusas ; o que faz o go-
Tenudor.— IQ. Chega d Bahia um enviado do conde de Nassau; a
a Pernambuco ordem para tirar do governo ao conde de Nassaa.
11. Tona porto no Arrecife uma ndo hollandeza de volta d' An-
gola , que di noticia da akivosia com que o Hollandez se fez
aenbor d'aquella parte, e das hostilidades que alii commetta ;
motivos para Joao Fernandes Yieira apressar sua determinacao.
— 13. Apresta-se o conde Nassau para passar a HoUanda. — •
13. Primeira retolucao de Joao Fernandes Yieira ; que eUe com-
munica aos sens maiores amigos, e ao govemador do Estado. —
14. Pede soccorro a Henrique Dias e ao Camarao ; recebe do go-
vemador resposta e sessenta soldadoi; ed'aquelles dous capitaes
iavbem reoeba raspoata. — IK. Chega a Pernambuco Antonio Dim
Cardoso, e por ordam do Joao Parnaiides Yiefra se aloja « oecnlta*
— id. Assentao entre si revellar o segredo a alguns confidantes;
loao Fernandes faz a todos uma proposta. — 17. Entrevista que
tern eom AnUMiki Cardozo; o ^pial desfit a» difficnldades qua oi
embargavao. — 18. Descobre Joao Fernandes Yieira o Calso trato
d'alguns; de tddo dd conta a Antonio Gardolo; resposta d*este
aoa iraidores.--19. Confere eom Joao Fernandas Yieira o qua se
L 12
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178 GA8TEI0T0 LUSITANO.
dere fazer; ctrta ardilatt ^^a eoDfimdir of iraidom ; qve Jooo
Fernandes Yieira Ihei deo a ler, e com que frustrou seu intento.
— 90. Cbega a resposta dp governador do Estado. — 21. Manda
0 Hpllandet embaixadorei A Bahia; resposta do goTeraador. -^
23. Tbeodoiio Eitratet se offrece ao goYernador, que Ihe agradece
o offerecimeDto com cautella. — 23. Despacha o goTeroadorosen-
Tiadof de Joao Feroandes Viakv, que chegao a Pernambuco com
alguDS foldadof aventureiros. — 24. Joao Feroandei Vielra le re-
solve a sair a campo ; nomea capitaes. — 25. Ardil com que inten-
ta acabar a domioio hoUaodez, ^26. ProTOoa os moradorea a qua
l^uem OM annaii pr^tica que fez a todoi» a que foi appmrada
com applause. -^ 27. . De tudo teve o inimigo inlelra noUcIa;
procura prender a Joao Fernandes Yieira, o que naaooasegue* —
2& As novas da vioda do Camarao e Henrique Bias alegrao os
noasos.— 29. Hous traidores reveUao aos HoUandeses a ooospi-
ra^ao ; com forca descobarta maoda o HoUaodez aualur .as casas
da Joao Fernaodes Yieira; o que resutia do assallo. -*.30» Joao
Fernandes Yieira 6 avisado, muda de sitio, a alaja-u em Caaa-
ragibe. ^ Si. Cresce o temor do inimigo > manda embaiiadores i
))abia, faz ariso aos seus darebelliaoi e commette pariidos a
Joao Fernandes Yi9ira,—3f. PremaUca que manda publkar no
Arrecife ; effeitos que causou. — 33* Estilo traidor de daus Porta-
guezes. ^34. Jo2io Fernandes Yieira faz um edital que.manda fi-
xar nos lugares publicos do Arrecife; o HolJandez promette 4,000
florins a quern' o mate , e Joao Fernandes Yieira dobrado preco a
quem o vingue.~35. 0 que si^ccede neste tempo em Ipojucat ^
quern foi Domingos Fagundesi eoque obrou. — 36. Retira-seJoao
Famandes Yieira para 4 mata de Yaico Pires, e de U para Hai-
cassej capitaes e gente que 0 seguemi e putra que se Ibe reuoe. —
37. Maoda 0 Hollandez embaixada. ^ Bahia , reiposta do gOTecna-
dor. — 38. Tbeodozio Estrates ratifica a palavra de servlr a £1
Beit -» 89^ Cbegao ao Arrecife os embaizadorei.
I. Ainda que Joao Fernandes Yieira nascSra. em
^ ilha da Madeira > comQ deuaaK>6 dito em o lAw. I^
eUe estinava a tem de Pemambneo eomo sua pa-
triai e tomava lanlo interesse em sua liberdade w-
BftO OS que netla haYiao Mscido. Na ctoola da adr
▼ersidade^ e no meio das calamidades que aflfligiao
tua f»uia adopUvai %q formou aquetie gmode
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QAsnioxo umxAKa 470
contfiOf que clepoisha?ia de qoebrar m ferros que
a agrilboavao* Haviarie die distinguido na prima-
vera deaetis annot ^ como temos dito , praikandb
futfw d^annas dignot d'um experimentado eapiiao,
e difipuidia^ee a proseguir a encetada carreira;
ms eonbecendo que a resktencta 66 aema paipa
dar aleittos ao inimigo para a conquisia , largou aa
armaai edbedecee afortaDa, julgando diBcrete
que mttt aprxyveitaria aoe naturaea com a negMia*
QMcpieeoai obra^e, Vako-aedaindattria, ecom
pmdente sagackkde ee iatrodmio com 08 Holkm'^
de^es de aorte que aeadiaatou a tod<»6 na estima*-
if$Oy 0a eottfianga e na oppulencia, haTciido«>se
com aattteia taevettgeobosa^ que era aenhor (lai
mm recatadaa Boticiaa ^ a no segura d'ellaa <)brafa
oauto e ditoso. Su^ ganeroaidade oreacia i prapoi^
^ qiae ee aogmeiitarao aa iBtamaa dea meradoreav
A' emsUk de gnaadea diapeftdios iMHseorreo ftoipre
oan^ceaaitadmi eBuaitaa Ttaea Ubea tomptmx o per^
dao e 0 favor ; eamm oomeatei raligioeda auniioa
feigwrtaya a £&d« mukoa ^ ttrando-'lfaea com o soc^
cptro a deadolpft da ueoBaaidada e da p«^ Com
viyaB rawea e ooBtbliiM dadivas ^aUre a hare»
tka. furiai qua Emilia "vaaea tomon fat expedieiila
aaudw^i >Da eooaarrai^ deaterrar da aeu do4-
vmm Wdaa ae pei^Qas eodraaMkaa i ncgocia^
que aarFia4aairimaa fraqoe:^ da nHtttoa, qua
vaeiUrvM Mieonatancia da fidrilidadfu Repavoapor
eate mei^ quebraaiiahoiira , oodeayimdo a iom^
on deaoieiiluido a mjtim^ e oudlaa yenes «Beoiw>
Umdo a enrfragai faaattdo o Mmedio tttiio nuda
vigfunosoi qiMttto eia oiaia fiaesl oafU^Caaava to»
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189 CA8TUOT0 LDUTiKa
dos OS annos muiias orfis ; em todas regniava o
dote pelo desamparo, e a precedencia pelo perigo:
qualquer infoKunio \he doia oomo proprio. Em
todo o tempo X) aehava oom igual compaixao o grato
e o queixo90/o isento e o agradecid^. Sendo eor*
tre todosos moradores o que mais possuia , e o qtw
m^lhor se tratava , nem achou olhos na inveja,
nem desconfianca na pobreza. Assim c(»itrapexa?a
a gravidade com a benevolencia , qae a eslimacao
inimiga o senria com respeito , e a dos naturaes oom
agrado ; e sendo tudo mats venda qne dadiva , en
tan to maU o que adquiria que o que gastara, que
elaramente se deixava ver <fair o do cento por um
a quem despende em 8em90 de Deos e do proxi-
mo. No xek) do calto divino foi tao exacto que se
excedia a si mesmo. Reformava, 4 cusia de ana fa-
zttida^y todas as igrejas « hermidas que o hereje
roohaya edcatnaa; a« todas melborava noa para-
mentoseaparatossagrados, desejando que em to-
das as partes fossa Deos servido com decencia ; adian-
tou o fervor das confrarias , servindo em todas com
a faienda e com a pessoa. Por aua diligencia e zelo
se cottvert^rao a y«dadeira (i cmco jud^os ; deca-
da um foi padrmho , e de todos j^eanedio. O mes-
mo J e com o mesmo zelo e dispendio , Ihe succ^eo
com dous herejes« Para que os officios divines se
eelebrassem com pompa ^ e se frequentassem os
sacramentos com liberdade, comprava ao hereje
as permissoes , e sustentava em sua casa capella de
musioos escolhidos, e diversos temos de chara-
meHas. Animava os parochos^ para que se esme-
rasscm no comju^imento de sua obriga9ao9 com o
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GASniOTO LDSITAlia. 48t
paftroemio e com o exenplo. Nao Tiio tens oihos
oeoefetUbde em que a preesa de aoccorro ae nao
adUantaaie a anpplieadamiseria. Sua ckarkk^e nao
ae eaiendia so aoamoradores, aenao aos ealranhos.
Ch^no ao Arrectfe muitoa aecalarea e eccieaiasti*
cos que o Flamengo trouxera de Angola como ea-
cravQS; Joao Feraandes Vieiniy vendo que erao
PorCuguezes e desvalidoa, aoconrreo a todoa; ao$
■lais distinetoa levou para sua casa, a oudeoaboa-
pedou ^com grandeza ; aos deoiais mandou vestir
e susCentar a ousta de sua fazenda ; e a todos, ao
tempo dese emlMircarem e daspedirefn, forneceo de
veatidoB e manttoieotos, nao ao para a Tiagem,
senao tambem para sairem em terra quMdo a to-
maaaaod. Quatro mil crazadoa gaslou nesta c^ra
de piedade ; e por aqui se p6de considarar o que
despenderia em tantas ! Aasim vivia no meiodos
inicnigos de sua nai^ este novo Mois^ ^ conser-
vando ilibada a suaf!^^ animando e soecorrendo os
seus cximpalriotas, e meditando os meios de um
Urn Ihes reslitnir a roubada liba^ade. Sem fiar seu
iatento mais que de si proprio , foi chamando a seu
servico aquelles homeus qiie erao intelligentes naa
artes mecaiiicas ; e repartidos por suas {azendas os
ocoipava em seus officios. Para as malas, que
tinha muitas e mui dilatadas, mandava, adesfi*
lada^ armas, municoes, farinhaa e outros gene-
roe , que se reodihiao em lugares seguros ^ fazendo
en tender aos miuistros d'estas conduc^oes, que se
prevenia para as occasioes da falta. Aos homena de
bam assistia com beneficios^ para que na opportu-
mdade Ihes correspondessem gratos; aos popularea
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ttS QMmero twriaa
obHgaTa eoflt laTorts^ para m ter obedientei; Aof
ioIdado9 9 offioiam da milicia poitufuezaioeoorm
com libwaUdadk^ para os adiar ofarigadbs; aba
jybUao^Msa aervia e aaCimaTa, para ob oottservar
sSoCM I e algfuia d'eUea oomprara com exceaaito
itiapQndiOi para ob diapor confidentas, e reoebar
d'ellea oa aviaoa loais uteis , e oa segrados maia im<*
pwtaniea. Em o.maior ferror d^astaa ouidadoa
oaiOucom Dooa Maria Cesar, aenhorado meihor
aaogue do roconeavo , com muita fem>9iira e pou*
fios aDoas ; «por rata meia ae aparentou com o
iBaia eaUmado a maia lustroio d'aquella capitania^
Naoapagau nelleo tbalamo o iooeiidb bellioo; wtt^
taapidMAdocom maia yirexaera aan peito o deiejo
da iavar ao aabo a impnaa madilada da resUmracM
da Parnambyoo, proaegoia oom afiaca a aonataacia
am aau projecto, quando a noaicia da aeclamaeao
do Senhpr Ret D* Joao IV Taio decidiWo em fim
a maUep inaoa k obra, a a axtoular em publico a
que em pardcular ha mmto preparava. Daremoa
uma curta notioia d'aquella faccao^ para voUarmoa
brayemanta ao nosao Joao Fernande^ Yieira , qua
d o AchiUea d'esta argumento.
II. fiem aabida 6 da todaa a parfida politica com
que Caatella pretandia aniquilar Portugal para
meihor o dominar; a como prirando-o pouco a
pouco deaaua f6roa a liberdadas, promatidaa a jii»
radaa ^ praparava o ultimo golpe reduxindo o retno
a provincia. Nao podiao oa Fortuguezes soffrer tao
gramie affironta; meditavao em aeua nobrea oora«*
edas o modo de aocudir um jugo que jk pesara
aobe ailea havia aeaaeuta annoa ; e to eaperafao o
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ii\Qme]>l<> favorarel de levar a offe^to SMt limxifi^
resoli^o. Oppfimidos de igufiee if^psii^^i^ sqbl^
v^rao^ OS. Catalaes; « os Pprtugue^^^ que j4
d'antemao linbao . inleligdndas seor^t^s com o $p^
rwissimo Duqpe de Bi^ogiMa^, en um sabl;>ada
1*" de Dezembro de 1640, peU& noye boras da m^
nhif pos^iao inifiSt & obra^ e acqlamirao no termro
do paco de Lisboa o Senhor Rei D. Joao lY • Qua^
r^ta fidalgOB resolutos. e^ceeutajrao e»ie grands
feijto co^i Unio^ denodo e pi^e^teza, qpe q^aIK(<3(
^ao dez boras estava a lacf^ coos^uida; Migi^el
de y^poofello^ sem vida^ a duquezarpgenta sam
mando; q sg^o r^atituidQ ao novo IW acclama^
do^ e a cprte qpi^a e saUslaita. Bastou a voas do
succqsso p^ra ^er ioiitado em tpdo o reiao^ sem
fielle fiQfu* povoa^iio i^nx aldea,. em que se nao
yjsM obedecido> com admiravel coucardia e alvo^
TifqQ dos aoin^os; mostrando^ eq^ tudo que su?^
penpr JD^puldo o$ mcftia- Em. quanta a .magostado
doSefibor Aei, D. Joao $e dilatou no Alevatejo> que
foraa poucos dias^ elegeo a nobreza per governar
dor aa Arcebispo de Lisboa, D« Rodrigo da Gunbai
que logo despedio porreios a toda^ as cidades e
v^las do reino oom a alegre nova de sua Uberdade«
Em 6 de Dezembro recebeo Sua Magestade a co^
roa e a obediencia y e sem dilacao a mandou dar
jfcoPapa Urbano VUI, que governava a Igre^a,
pelo Bispode Lamego^ P. Miguel de Portugal.
IIL Nas custumadas bosUlidades (quedeix^mos r^
feridas noLivro lY) se passou todo o anno de 1 640^
sem nelle baver cousa digna dememoria; entrou
0 novo anno, e com elle a felu nova 4a acclama-
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186 CASTRtOm lUBITAlfa
6bio gtoiriosa que em Lisboa se fizAra do Senhor
Rei D. 5o&o IV. Nos fins de Janeiro de 1641 to-
mou porto na Bahia o P. Francisco de Vithena,
reKgioso da companhia de Jesus, que de Lisboa
saira em uma embarcacao ligeira , com carta d'El
Rei para o marquez de Monte Alvao, Viso-Rei do
Esiado, eordens secretas para toda acontingencia.
Era o marquez feitura de Gastella , e teve-^se reedo
de que podessecom elle mais a gratidao que o nas-
cimento. Entregou as cartas na mao do marquez
com o defido segredo ; com portugucz alvoroco leo
este a nova, beijou a (irma, e deiloti de si toda a
duvida ; deteve conrsigo o padre , mandou chamar
ao Dom Abbadede Sao Bento, ao prior do Garmo,
gnardiao de Sao Francisco , e ao refior da Com-
}>anhia ; da nobreza os principaes ; da miKcia os
maiores cabos , e os vereadores da camara. Fedia-
dos todos em um salao do Paco leo a ciarta ; man-
dou que faltasse o padre Vilhena. Suspendeo a tOr
dos a estranheza da novidade. Rompeo o marquez
osilencio, dizendo que a gravidade da materia
pedia o parecer de todos, e assim que Ihes rogava
votassem nella por escripto, assignandorse cada
qual ao p^ do seu voto. Fallirao alguns, dizendo
que a resolucao de tamanho negocio nao era para
repentes ; que se d^sse tempo & considerpacao, ara
queo didcurso escoihesseo mais acertado. Atalhoa
o marquez a dila^ao, com advertir a importancia
do segredo; e descnganou a todos que primeiro se
haviao de resolver que snissem d aquetie lugar.
Le?antou-se entao Joanne MendesdcVasconceUos,
e Crmando com uma mao o chapeo , e com a ontra
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oMmiMo amthm. 185
a espada , djase estaa palabras : « Cmnprio o c^ a
» Portugal ifto dilatada promessa ; chegdmos a vei^
n o fimde tao penoea esperanca ; temos o que de-
» aejaaos; e ha quern remisso duride de acceitar
» too grande rnerc^ de Deos ? Viva El Rei Dom Joao
» o Quarto noaso 8enhor; e nao haja qnemo con-
» tradiga, se i verdadeiro Portuguet. » Repetio-
se pelo marquez , e por todos os do cooselho , a
lima yoz a acelamacao dos vivas. Nao 9e permiltio
que do^ao saisse nem pessoa, nem notieia, at^
que 86 nao dnpozesse o modo com que se baria de
acclamar na cidade. Ordenou-se que saisae (oda a
gente da milicia em suas companhias (quasi einco
mil fttfantes tinha a cidade de presidio) com aviso
aos tenentes de mestres de campo que marchassem
a fcntnar-se na pra^ dos Guf ndastes ; e que dos
ler^oa^ um de Gastelhanos , e de Italianos outro^
levassem a vanguarda , e assim como fossem pas^
sando os mais se Qies mandassem arrimar as ar-
mas. De^pedida esta ordem , maiularao todos bus«
oar as roelhores galas, que tinbao em sua casa,
sem dizer a seus criados para que : com a mesma
cauiella s^ mandou vir a bandeira da cidade: 0
povo, que vio ficar a embarcacao ao pego, ao
P. Vilhena mudo, aos maiores da cidade con^
gregados, a infantaria fbrmada, a? galas pedidas,
o segredo observado , sem atinar a causa concorria
em nmnero a esperar a nova. Vestido de festa com
o mai& precioso de suas joias saio o marquez acom-
panhade do» congregados e da camara, com a
bandeira da cidade , levando diante um rei d'ar-
mas; tocarao^eascaixas, clarins e pifonos; e feito
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signal pan xiue ye pofiegfe^ fiai^ %o estroEdp ^ kvmr
i(OU-«Q 0 rei d'arpias, e em voz aita proniwdom
eslaspalavraft : «.Ouyi, ouvi, ouvi^ eetUi aUentoft. •
£ loga 0 marqnez rcfoi^DdQ o grita^ disse aa pahi-
ynui propriaa de siniilhAaie acto i « B^al ^ real,
li real|:por. o S^nhor Dom Jooo a Quarto , Rei da
a ;P<u*tu^. j^ Com minca vUto.alvoro^o e alegria
as r^tjo 0 povo, setfidescao9ar.por muito eBpfL^
de taMHuliuar vivaa* AugmentoiHse o hrado eom
as ropetidas cargasi^que davao oa ter^oa^ a qua
rt^pood^rao os fortalezaa e.naoa cofu toda a arte-
Iharia^ em quaoto o inarqufez com a referida con^
panhia, cabidO| coouBuaidadea, derezia e po¥o
caminbavao para a S£ a dar a Hfm gra^s de tar
iB^oha fnerc^; e nos aeguinte^ diaa ae festejou can
KmM a vari^dade d$ featas, qm na cidade ae po*
d^raoordeaar. i— Daspachoulogoo laarquez a aeu
iilbo n\uxa paU<{ho a dar a seu Rei o parabem da
coroa» a <>bedi^Qia de vassaUo; oom a meama
proipptidao avisou, porcorreioa, a todoaos lugarea
da 8ua juri$dlcQaq para que imitaaseoi o que na ci-
dade se havia pratioado; com o meamo alvorooo
despedio um barco , e nelle o pUoto da Barra Joao
Lopes^com cartas para o coode de Naaaau, a quern
dava conta da acckma^ao , e das circumatanciaa
d'ella. Pedia congratulacoes da felicidade do rei-
UD) e dava parabeos das cony euieacias dos Esla-
dos; tudo redultas d'um animo verdadeiram^Qte
poriuguez. .
(V. Ordenava Sua Magestade a camara da Bahia
qve, no caso que o marquez peccasae em desobe-
dioQPia pu tib^^, q privassem do^ver uo, e para
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cUt ^nolMira. to fiif^ Bosi £e4K> da fiiiritM
vomtee de miii|M> Lute Bwbulbt, e t Lourtth^o 4e
mimir^fti e ji«9Ufi^iuremaa<x)iidii;de9, se executou
6 pci^Qu^ao o Qiegoeio Aa babm^ da m^roAAeuii
samclue a &OMe f>eader a dkfioomposi^ao d0 Mm
tamanbo xainifttrou Com auimo ^oeegiKk) rec^o #
iwrqnez a offepda , porque o mo ^Ifeivaa camia<i
d^eDienfio aqueUe reoeio*quQ (uppuijia p coi>)oi<a^4
pao r«eo3ou o aggravo de o maodarem proso pan
o reiao , p#k d^^encia oom qv^ o r«me4tka<}|
eerto de qoe em F^i^l ee hayia de vemilfu*: a
^uAa ooiB; diflereDte juito, p^ue nao ha via tri*
Umal em qw j»nep4diase a p>i»o« Ch^gou a,Li^
boa , aobou en seu R^^estimaqaa « agrado ; e 110$
post06 que oeQOpeu.a premio de aeus ^rvico^ i»e a
maior Yiiig|u[i9ade.teuS(emulos; aiiida que aioor^
teeida f>ela rebelliao de aeua filbos.
y ; Chegpu enti^etaato iw^ Lope^ ao ArrecUej
deiteu aocora de fro«te do pa^ do conde de Na&^
8Wy e Bern e&perar consetttimento^ saltou em terra
com ageatede sua* eompaohia lufitr^^samente yeir
tida; dirigk>-se ao pa^o, entxegou a carta do maxr
quez aoeoude; o qual » a pwas a leo, Ibe.^
d'alvi^aifaa uma rioa joia. DtyulgoUrse logo ajao\a»
qu0 o povo featf jou com tauto alvor09O e j^epeti-
9ao de y'wMp quasto ae podift espepar da maia
iiel poYoa^o de Portuguezea; €Spalbou^3e por
todo o reconc^vo^ e com igualjuUlo Coi applau*-
dkla. Fa^iao-lbea eompanbia os estraogeiroa , ip
bem q¥e oomdWersojuifco; popque .0 HoJlanda?
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(W CASTUOTO HMTMa
<> formtvade ettabeleeer, por esle otmittbo , mo
imperio; e ot PortagueeeSi de DeoBifaes moMrar
o Diodo como hamo de sacadir de seas faombros
o jugo. — Mandou o coade fixar qitattel de featas
{K>r todas as pi*a^8 de seu domink), para o segnliK»
te met d'Abril , cotividaiido com premios arm a^eo-
tnreiros, e com rogos anobreza principal de ea*
trangeiros e naluraes , sem que faltasaecsn eaorei^er
aes bomens de milhor presttmo, com aviso de que
ae preparassem de caTallos e galas , porque nao
faltassem ao festejo o luzido e o decoroao. Mandou
fezer i sua vista urn largo terreiro eeroado de pa-
lanques, omados e capazes para a quaiidade e para
a multidao : chegon o- dia dealinado j e enirarao
na praca duas qQadrillas, a compeieneia lustroeaa,
uma d'estrangdros que gulava o conde, ouira de
Portuguezes , que seguia a Pedro Marinho Falcao ;
c(Hrr6rao parelhas; juglrao canas e alcanzias; de
tarde houvc sortilha , e nella se julgirao quasi to-
dos OS precos aos Portuguezes; muitos Ihes deo a
justica; muitos mais o favor, porque as damas
estrangeiras, com sua natural coofianca e galhar-
dia, tir&vao ou das ifiaosou do peito esta ou aquelia
joia, e as offerecifto ao cavalleiro que mais Ihe le-
vava OS olhos : gentilleza enti^ elks usada^ e nas
cortes applaudida. Em o segundo dia foi todo o
festejo & flamenga : deo o cotide um magnifico jan«
tar a todas as damas e cavalleiros, com tal condi-
c&o que na ordem dos brindes fosse o mesmo er-
ral-os que repeiil-M : jogo, em que as mulheres
do norte estimao ser vistas, porque se presao de
destras. Em o terceiro dia se continuirao^ featas
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GAsnmto unRAM. 189
de cavaUo ^ que se rratatfrto em umsi frawa e e»»
plendkla ceia, e ndla se dec o ulthno brinde i
che^ada de una oaa de Hollanda , pda c[ttal 06
aenhores Ealados a^iaavao ao ooode da acdamaf*
qio do Senhor Ret Dom Joao lY, e das pazea i»*
sentadas com a coroa de Portugal por dec anaos.
~Logo que se acab4rao as festas, mandou o conde
de Nassau preparar uma fragaia para a Bdiia, na
qual euiFiou a Henrique Code , e por seu seerelario
Abraham Trapes. Era o primeiro otgeeto da em<-
baixada felieitar os novos goveruadores ; o segm^do
( e ^te o mais principal ) representir-Uies a grande
utilidade de uma tregoa uaquelia parte da Ame^
rioa entre Flamengos e Poriuguezes^ a sombra das
pazesqueos Estados tiuhaooelebrado com o reino*
Forao recebidos ccmi alvoro^, providos com lar*
gueea^ e agasalhados com todo o respeito.
VI. Assent^raoHse os priliminares das tregoas^
com a prdmessa de que os noesos goVeruadores
matidariao relirar da campanha de Pernatmlmco ao
capitao Paulo da Cunba e ao goTemador dos Mi-
nas Henrique Dias; o que logo se,oom{»rio» e os
endMixadores hollatideies se retirirao. Passados
alguas dias mandarao os tiossos govemadores ao
tenenle general Pedro Correa da Gama, e ao hceoh
dado Kmao Alral^^ da Penba, para que com suas
lettras asdstisse to capitulacoes das trfgoas> por
quanto para sua Talidade era necessario o serem
conformes ao dereito. 0 Flamengo^ que com a
reiirada do&sobreditos capitaes se achou livre do
que maisoinquietava, com frivolas escusas negou
todaa aqueUaa condifoes que podnio favorecer no$-
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ItD cuaaoiouMia».
iQ pUEtidb* Vkio m wm» tnitkdoi o animo do«*
brido d'a<|cieUa;g€ntef voltirfro. para a BaUa, pit>-
fios^iBO aoa govcmadorea 4^ ^ue tinhao enlmdiclo^
^^aaielDgo fioiriolodoa ocmhaceado aa aiattUijMi
4o BoUamka^ .que hid tatdou a deaaMtcanr-M
MMo vamoa a "viar*
VU. Mao crao auda pasaadoi muiloa diaaquaa-
do ohagouA Bahia aviio oertaqiia oUoUandaa
dospadkA do Aimoife rariaa etquadraa fo^
muniitoca e ^enta para leTarem porantrepreaa 8er-
{^le, Angola ^ MaraBbao^ 6w Thaaui e a Mina;
oqiM facilinMtacooaa|;uirao. ^m iiulividuareinos
oa BQooasaos, porque acontao^raft longe do teitna
de ttoasa faittoriai •<> a entarpreaa de 8^pe iioa
obriga anla^ por aar parte da America, a «air
aa ^pbeia da nosao atailsipto. -^ Sail aituada a
cidade de Sao Cbridtovao em a oi|»laaia do &ar-
giped'JEL Rei| wafinai^te pela parte doaul com a
fiahia# ^ pelo ttona^om o rio de am FraneiMo e
com a bafA (ania 4e Peraand^uco ^ de qti e diaia aele
legoi#t porQa9a(a Umitada, pordm de t^neoo ferv
til ^e porta capa?^ Tanio que o ii^itmgo ae vio dea-
aaMoaahrado d«a tropaaporiygtiasaa^qoecxirriao
e awdU^YJift todoodeatriotodo.PerjiaiilMicop for-
Dooeo quatro oiM.do tvdo o ipj^ the pareoao m^
joea^ario para aconqidMUt e para a reteii9»o« JEttr
tra^ao no poriia com haj^leiraa de paa^ derao aobre
a cidade cqa»eatr^ii»do de guerM; aaquearaoEvrf»>
fizerao-se aeahores ^ aem que algttm doa morado^
rea e viziAboa Iho podesse ifttpodir , porqw oa
obrigftva a ratiiiar a aoguraoQae o pnooeUo; m bom
qua ^oijiiaoiM iM ttorbtiaitiba tMiiiao^MO^
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fiAamoTD uflBTMia Ml
nio criao. Para padiio da infamia kvantoo aHok
Uondei nafiarra uma notavel fonli&ca^ao.
VIIL Tinha aportado na Bahia AntoDH> Tdlei
da Silva, mandado por El Rei D. Joao IV paf«
govemar aqaelfe l&tado. Coiu^iTiao iieste fidalgo
nuitaa e nnii solidas qoalidades, com as quaea
ra&plaadeoia em sua peaaoa y com excesso j o illtia*
Ire sangfue que herdira. EncarregaraJhe £1 Rei
com Unto aperto a obaenraacia daa tregoas com oa
JttoUandeaea^ que encontrando^se a ooaaemi^ao ib
Batado com a observanda da paz, Ihe ordinira
quehrasse pelotloniinioy e nao peta amizade. Aofaou
Antoaio Tdles frescas as feridas j vivaa as qottixas)
e acccao oescatKlalo, com que o povo seiastimava
do aleivoap praccdcr do inimigo ; resolveo-ae em to«-
IMF um eipediente pelo qnal o inimigD enleii*'
deiae y que hobm aoffrimento era praceito e oao
deaanaio, fiuendo-lhe conbeoer a causa de nossa
impadaneia , ea vileaade sea utrtfimeiito. ^ Deo^
Ihe occasiao para ^xaeutar o entrar na Babk uma
oao portugaeul^ que d'etta saira carr^gada de as-^
ancar em direitura para o reino; a eata enoonifott!
DO mar uma fraipta hoUandeza , que viflba d' Aii^
gda pata o Airecife ^o seguroda pas adescaidoui
e aaleiyozk cslraiigeira a Tc^eo. Tirou d'ella o
piloloy e parte da maruja, e pan que a noareassBm
Ihe raetteo quime HoUaodcaea. Contentes com ^
prasa navegsrao para o Arrectfe, quando os Por^
tBguazes quo fio^rao em a nio rendida derao sobre
oe Flamengos ^ ea qeaea^ cortadoa do fenroe do aae^
do^ se deiaariio mvnttar^ pediado bom quar Ce) ; vKt
rareo oanotao^ apma^eem.poucoa.diaseotdirao
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193 CASTBIOn) UJ81TAN0.
na Bahit ; oontarao ao goTemador o case; de cpie
elle mandou fazer um proceasa^ em que tesCemu-
Bhiirao bs mesmos Hollandezea prisioheiros e cul-
pados.
IX. Pelo licenciado Simao Alvares de la Penha
Biandoa o govemador do Estado a inquiri^ao ao
conde de INastau, e aos do consdiho supremo com
luna carta, na qual j depois de ae queixar amar->
gamente do injusto e atraiooado procedimento dos
Hollandezes^ ooncluia, dizeodo : « £m esse processo
» vai proTada a Terdade e a razao da mioha quei-
}) xa pelos mesmos aggressores da maldade. JUko^
» repito o sucoesso , porque me corro de dar duas
M y^es em rosto com proeeder tao fiemeotido. £s-
» p^roa restiiui9ao do roubo j eo caitigo dos cul-
» pados ; e quando fahe a satisfacqiio da parte, que
» 6 obrigada a dal-a , tenho cabedal e valor para
» por em execuqao o eastigo e a vingan^a^ ainda
>» que saiba qoe a de9(^>ediencia me p6de arriscar
n a cabe^. » — ^ Partio o enviado , chegou ao Ar«
recife, deo ao oonde a carta e a embaixada. Esca-
sourse este e os do oonselfao com a fiugida ignoran*
ck; e para se nao moitrarem comfdioes, disserao
quenas tmi^oas usadas nao tiyera parte seu con-
seutimento ^ nem agora o podia ter sen limitado
imperio para a restkni^ao; mas que informariao
aos senhones Estados da injusta retencao das pra-
9as e fazehdas , dando odnta dos aggressores, paiia
que estes fossem castigados , e aquellas restituidas ;
e com demostracoes magoadas despachiirao e des-
pedirao o enviado. Nao esperava o governador nem
outra resposta, nem outra satisfao^; mas quix
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GASIRIOIO LUaiTAKa 19S
justificar com estadiligencia o que delerminava fa-
zer sua yingan^a. — Despcdio para Angola uma
carayella carregada de municoes e mautimentoS)
que aos afflictos despojados foi i*en^dio e vida,
MaDdou a D. Antonio Philippe Gamarao que
com o sea terco de Indios passasse a Sergipe^ e se
alojasse & vista da cidade e da fortaleza, e de ne-
nhum modo permittisse que o ininiigo disfructasse
a terra ; com expressa ordem que saindo alguns,
a primeira e segunda Tez os despojasse do roubo
edas armasy e os largasse, ayisados que & terceir
ra vez haviao de pagar o aCrevimento com as vidas.
Observou o Gamarao pontualniente a ordem; e
d'ahi per diante nao houve inimigo que ousasse
sair de suas foriificacoes ; uem a ellas chegou outro
sustento mais que aquelle que do Arreclfe Ihe en-
trava pela barra«
X. Em quanto o governador do Estado fez estas
expedi^oes^ se occupava o conde de Nassau em des*
pachar um enviado para a Bahia , a onde cbegou
com brevidade. A sustancia de sua embaixada se
resumia em dar o parabem ao goveniador da via**-
gem» e do lugar, com os offerecimeutos da pessoa^
oongratulando-se da vizinhanca ; a que o goverr
nador. respondeo com a polidez que pedia o seu
cargo e nascimenlo. — Nestas e u'outras cousas^
mais importunas que importantes, se gastou o aauo
de 1641, e parte do de 1642^ quaudo tomou por-
to no Arrecife uma .nao de Hollanda, com or-
dem aos do governo , para que ao conde de Nas«
sau ^ Joao Mauricio, se Ibe nao d^sse mais que a
n^tade do seu ordeuado, com car(a para o mesmo
L 13
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(9^ CASTBIOTO LtrafTANO.
conde, em que os da Gompanhia occidental se
desculpavao com a pobreta da bolca. Pela mesma
nto recebeo o conde aviso secreto de que os da
companhia determinavao tirar-ihe o govemo, mal
Bfttisfeitos dc seus procedimentos , capitulados por
algUQS falsos amigos, que o accusavao de frouxo,
absoiuto eambicioso : culpas que formava o ciume
c a inveja. Conheceo logo o conde os autores da
intriga , e para Ihes nio dar o gosto de o verem
priTMlo do governo , resolveo-de em se anticipar
na renuncia do cargo ; e para esle fim dispo2 de
aeus moveis, ou por venda ou por dadiva , reaer-
Tando-^se aquelles que podiao ter pre90 eem ftiier
YulW) para os levar comsigo.
XL Chegira neste tempo uma fragala hollan-
deta , que Tinha d' Angola carregada de (azaftda,
em ella varios religiosos, clerigos e moradores (fue
o HoUandez arranc4ra de suas habitacoes. Por elles
«e soube u perfidia de que us&ra o hereje para com
elles y e como oommett^ra as mtis crueldades n'a^
quella terra. Depois que o Hollander se apossara
da cidade de Loanda , Pedro Cezar , que era o go-
vemador d'aquelle reino , se tinha retirado , por
ordem d'El Rei, a4im sitio junto do mar, onde se
nquartellou^com a, sua gente, e onde nao ofFendia
o inimigo. Gorria fama entre os Hollandeies que
den^ro da nossa fortificacao ee depositatao muitas
nquezas ; e com o fim de as espoliar de tudo at-
sentirao amiga^el commercio com os nossos, e se
trafavao nao como inimigos mas como alliados.
Foi urn dia o govemador boUandez com alguns ca»
fittaes sens i nossa povoa^o ( mais para eipitr
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<iue para yer], onde (brao reoebidoa com agrado,
agavalhados com magnificcacia , e aervidos com
magestoBo apparato e adorao. Occupados oa oUioe
na cobica j perd^rao de vista a gratidao ; e $empre
aleivoso o HoUandez determmoU) com infame
traiQao, malar os posauidores^ para Ihes roubar oa
moveia. Coavidou o govemador Pedro Gezar ca-
pitaes e nobreza para um banquete na cidade de
Loanda, com intencao de que a meza do convite
aeryiaaedetbeatro a morte.Naoacceitaraooanoasos
o (^Qferecimento, ou impedidoa, ou presagos* loQ-
pacieQte o inimigo de se yer atalbado Da traicao
qiie intentaya , nao desiatio da maldade , buacaodo
camiDhoa por onde podease eonaeguir o iotento*
Gonaiderou aos Portoguezes dormindo aobre o se-
giiro da escuaa , e em a noite do dia apontado para
o banquete^ deo adbre eUea, no quarto da alya^
com todo o poder; aem reaiateucia prendeo e rou-
bou a todos. Despojados da liberdade e da fazea4a
com tanto rigor e crueldade , que aem Ibe 4^]xa-
rem OS uauaea yeatidoa^ os embarcarao para o
Arredfe, oode chegKirao sem parecer de homeus,
pelo barbaro trato da viagem , havendo nella dias
em qi^ienao achou sua fomee a^mais queaagua
salgada do mar. Assim yierao en.traQ4o ^ucceaaiya-
mente as noticias de aimilbantes inyasoes, mrdidas
com a meama fallaciai por^m nao kjgradas com a
mesma fortuna. No Maranbao cairao no hqo que
arm&rao; porque engolfados no roubo derao occa-
siao a que os moradores yoltassem sobre elles , e
cobrassem o perdido, i cusla da yida de muitos e
do medo de todos, ^ue fugindo ao hosso ferro
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196 GAsmoio umiTAifa
busdirao no mar o ^guro. Em Sao Thom^ os cas-
tigou o clima , de maneira que a muitos deo a
terra sepulcro, e a poucos aviso para fiigirem a
morte. Em todas as mais partes perd^o por for-
ca tudo quanto adquirirao por engano. — Todas
estas calamidades que pesavaosobre os opprimidos
habitantes da America e da Africa faziao profunda
impressao no grande cora9ao de Joao Fernandes
Vieira, e noite e dia andava absorto em graves
consideracoes sobre a sorte de tantos infelizes.
Considerava que com a ausencia do conde ficava a
miseria de todos sem arrimo, e a tyrannia sem freio ;
ponderava desterrados os sacerdotes , os herejes
com senborio, as ovelbas sem pastores, e (emia que
OS lobos destruissem o rebanbo da igreja, tragan-
do OS innocentes cordeiros » expostos 4 voraddade
da herezia j e aos venenosos denies d'aquellas in-
domitas feras ; e receava que a corrupcao das con-
demnadas seitas inficionasse a pureza do paste
espiritual, e despovoasse os curraes do verdadeiro
pastor ; via que da tardanca do remedio se alimen-
tava a ruina , e que nas doencas agudas se apro-
veitao os medicos de medicinas violentas, e pro^
punba em seu peito nao esperar mais tempo para
atalbar o perigo.
XU. Entrou o anno de 1 643 , tempo em que o
conde se achaya muito adiante nos aprestos de sua
viagem; e quando cbegou a occasiao de se embar-
car deo um banquete a todas as damas, e taver-
neiras do lugar, no qual se brindou at^ faltar a
todos o juizo. Partio-se no seguinte dia , que era
o 1 ** de Maio , acompanbado de muitos Portu-
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CA8TRI0T0 LUSITAlia 197
guezes at^ a Paraiba , a onde se embarcou ddixando
a lodes saadades» nao pelo que deviao, senao
pelo que reoeavao. Tal era aquelle govemo, que
Belle achaTao s6 a diflerenca , que Ihes represeu->
tava a ccmparacao d'um para muitos tyranuos.
Xni. Cresceo j com a partida do coude de Nas-
sau , a miseria dos habiiantes a tal ponto que che-
garao a aborrecer a Tida. Gemia a affliccao com
medrosas queixas, e todos os instantes faUavao ao
coracao de Joao Femaudes Yieira , persuadindo-
Ihe o remedio com as vozes da lastima e do tempo.
Obedeceo a paixao, e deliberado em desembainhar
a espada^ dispoz o goipe, adiantando o intento a
opportuDidade. Com vigilancia e diligencia mau-
dou engrossar o numero de seus gados por todos
OS curraes; recolheo a si todo o genero de armas
e muDifoes que a cautella Ihe p6debuscar ; todos
OS mantimentos que pode haver, comprou; ere-
mettia tudo a seus criados , fazendo dqtosito nas
matas e nos eugenhos. Disfarcavao que podia;
e o que nao era possivel deixava a cortezia da sus-
peita, nao fazendo sua resolucao escrupulo nem
daxMilpa, nem da calumnia; antes com disoreta
manha eoganava a todos com a mesma verdade,
aconselhando-lhesaimita^o. Abominava nas pra-
ticas a sujeicao e o soffrimento y chorando a igno-
minia com que via no Brazil sepultada a reputa-
cao e a valeniia porlugueza, tanto pelo uso , como
pela memoria. Dizia muitas vezes que a peior
sorle da miseria era sujeitar o valor i cobar-
dia ) porqoe nao tinha saida senao para a infamia :
industria de que se valia para accender os animoS|
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ids CASTBKyVO tvtsnAMO.
e para oa deftpertar do somno, wm revelar o se-*
gredo; com mab resulta de gloria nos impnkos
qua agora dissimulou , que no8 ob&tacuk>8 que
depois Tenceo. A todos fallava ; e aos mais atnigo^
com mais receio , porque primeiro os via com oa
olhos da desconGanca , que com oa da alkeia con-
Yasiencia. — Assim procedia cauteloso Joao Fer-
nandes Vieira , at6 que recorrendo um dia a Deos
n*uma fervorosaoracao, recebeo uma especie d'ina-
pira^ao que o incheo dc novo espirito, e determi-
nou a entrar na empreza mais livremente. Para
se asaenhorear dos aoimos , come^ou por dar em
sua casa muitos e repetidos convites; e sobre
meza se praticava no procedimento do HoUandez
seifapre tyranno , da oppressao em que viviao os
Portuguezes, alargando-se com industfia Joao
Fernandes Vieira sobre os desejos da liberdade;
ohegava*se a discorrer sobre os meios necessarios;
e apalpada a penuria, acabava em desmaios a
prdtica : sagacidade com que o discrelo varao, com
a falia do necessario (que simulava), accendia em
todos o desejo do remedio ; e assim se alegrava de
confaecer que tendo da sua parte as vontades, o(}e-
recendo-lhes cabedal e armas^ acharia comsigo
OS bracos de todos. Desembarcdra no Arrecife em
SeUembro de 1644 o tenente gaieral Andr^ Vidal
de Negreiros, em companhia do P. Me«tre Fp.
Ignacioy religioso de Sao Beuto, que vi^rao a Ba-
hia a visitar sens parentes que ahi tinhao« Ck)m
este pretexto, que nao era suspeito ao HoUandez,
obliverao licenca para irem visitar Joao Fernandes
VJeira »o seu engenho ) forao reccbidog com tftnta
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GAiTUOlO lORUMK 199
atogfia e magttificeiicia cono ae forao espei^adoi*
Abri<>-0e com eUes, nio boi se por oonfiatiqa » le
pw obedieocia; ^ que da secreta commimica^iia
reaultou tomarem oa dous hotpedes o pulse aa
«atado da terra^ notando com diaiimula^o e das*
tre$a o poder, a» forlifica^oes, a disdpliua e o
nuiMTo da gento que o ioimigo tinba ; 08 quaei
acharao as fortifica^oes dennanteladas , a discipliua
esquecida^ o uumero dos soldados dumuuto, e a
vigUfiucia adormecida; occastouado tudoda ausen-
cia do conde, da sujetcao dos moradores , da so«
berba dos domioaiites, e dos favores da fortuna.
YoUaiio para a Paraiba o teneuta e o religioso , e
por elles escreyeo Joao Feraandes Yieira ao gQ«
veruador do Estado Antonio Telles da Silva, dan«>
do«lhe eonta das oausas de sua resoluqao , e doa
motivos que o movlao a conuneter uma eiiiprea%
que na estima9ao de todos parecia too didicU ^ mas
que eUe julgava possiyeli uma vez que eUe govei^-*
nador Ihe nao Cultasse com o socoorro; proleatava
dianie de Deos e4os bomens invocar o auxilio exp
tranhoy se tbe faltasse o proprio ; e dava fira i oarta j
pedindo com brevidade a resposta, para que a Uiw
dan^ nao fizesse inutil a diligencia.
XIV. Meste tempo se aquartellava P, Antouia
Philippe Gamarao com os seus Indies na eampa-
nha de Sergipe d'El Rei ( como deixamo* dito), «
quern Joao Fernandes Yieira f por carta sua, pe^
dia o socoorresse^ pois o custumava faxer Quelle*
moradores em todas suas afflicfoes; e nas que oa
amea9avao o devia executarcom mais zelo, porque
de seu auxilio pendia o remedio, eu a perdi^ao
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90a GABTRIOTO ttnTANO.
de todm, A mesma negocia^o tez com o gotw-*
nador doa Minas iknrique Dias; que naquelle
tempo assisiia no sertao com sen terco a castigar
uma rd)eliao do gentio. Nao se e9queeeo de dar
conta de sua valorosa determinacao , e das razoes
d'ella a seu Rei e senhor D. Joao IV, manifes-
tando-lhe por extenso a necessidade que o obri-
gava tao Tiva e tao apertada , que ainda a mesma
calumnia Ihe poderia escurecer a justi^a, nem re-
provar a deliberacao : e que nao podia haver lei
que rompendo os foros da natureza y obrigasse a
elle governador do Estado as observancias da obe-
di^icia. — Recebeo o governador do Estado a
carta de Joao Femandes Vieira , e com a leitura
d'ella ficou indeciso entre a obediencia e a impor-
tancia; entre a justica e a difficuldade; supposto
que se Ihe representavao maiores empresas, que
muitas vezes venc^a a desespera^ao, e que a vio*
lenda da oppressao arma contra si mesma o irrepa-
ravel impeto da liberdade. Se consultava o negocio
com o seu valor , saia decretado o soccorro ; se com
as ordens que tinha de seu Rei , saia definida a es-
cusa. Nesta incerteza the propoz o discnrso um
meio honesto para a observancia^ e util para a
contingencia ; o uso doqual o absolvia da obedien-
cia e da impiedade. Mandou escolher duas iropas
de soldados , de trinta homens cada uma , cujo
valor e disciplina os tiraria a salvo de quakpier
fbrtuna. A cada partida nomeouseu capitao : estes
forao Paulo Velozo, e Antonio Gomes Taborda, e
por cabo de ambos Antonio Diits Cardozo^ a quern
instruio no que devia obrar, regulqndo-ihe as or«
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d«M pelo^€8(ado dag cousts; e com prMeko qoe se
nao podesse disuadir a empreia » seguiMe a obftii*
Bt^o; em tudo sabordinado ao dictame de Joaa
.Fefnandes Yieira , a quern mandou dizer de pala*
vra^ que na balanca do conseUio peaasse sua de-
termina^ao, para que na execu^ao se nao faltasse
ao serri^o de I>eos e d'El Rei , certo de que s6
neste caso o acharia prompto para faTorecer os mo-
radores. — Neste mesmo tempo respondeo D. An«
tonio Philippe Gamarao a Joao Feraandes Yieira,
dizendo-lhe que s^n dilacao se puoha a camiuho
eom o sell (erco , primeiro a obedecer ao gosto que
aempre tivera de o servir; e logo ao interesse que
alcan^ava em o ajudar em tao gloriosa empreza ;
e desde alii Ihe r^idia as gracas da parte que aella
Ihe queria dar. Quasi nos mesmos termos respon-
deo o governador dos Minas Henrique Dias, e logo
se poz em marcha.
XY. No mez de Dezembro d'este anno chegou
Antonio Dias Cardozo ao reeoncavo de Pemain-«
bucoi com ditosa riagem , porque nem foi sentido,
nem Ihe faltou soldado. Fez logo aTiso a Joao Fer-
nandes Yieira, o qual o festejou com alegre alvo-
roco eprudente eautella; com estadeterminoudia
e sitto para se avisiarem , furtados a quaesquer
outros oihos. Conferirao com breridade o peso do
negocio, a importancia do segredo, a ulilidade da
prevencao^ em obzequio da qual mandou Joao
Femandes Yieira aposentar, e prover de todo o
necessario a Antonio Dias Cardozo , com os capi--
lies e soldados de sua obedieneia, num lugar se-
guro e bem aprovisi(Hiado» ContinuArao as entre-
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209L GAflnmO WKUMK
vistaflf e cooriiirio ambos em que se maadMient
quatro 9oldado8 igualmente animosos e ocmGdenlea
ao govemador do Estado^ para que da sua parte
o ioformasaem de tudo, pedindo-Ihe ao oiesmo
tempo que com toda a brevidade os provesae d'ar*
maa e muni^oes, para estaremprevenidoapara todo
o acontecixnento. Acreditarao o recado com carta
simulada e auccinta.
XYI. Estimulado Joao Feruaades Vieira do de-
sejo de ver lifres aqu^Ues poros do imperio hol-
laadeZ) e conhecendo que era neeessario commu-
nicar o segredo a alguns confidentes para dar
come9o & empreza , mandou chamar Antonio Dias
Cardozo para urn iugar occulio, perto de seu en*
genbo de Sao Joao Baptista , e conferio com ello
spbre o modo de o fazer , e se separArao preveni-
do8 para qualquer incidente que aobrcviesae* —
Como Joao Femandes Vieira castumava, como
havemos dito, convidar muitas vezes ajuntar
graade numero de seus amigoa j aproTeitou este
expedieate para Ihes communicar a sua reaolucao.
Sentarao*se & meta oa convidados j bem alheios do
prato que os esperava, e por ultima iguaria se
abrio oom todos descobrindo-lhes seu intento » e
o que de sua nobreza e de seus espiritos queria»
com similhantes razoes : « 0 vinculo do sangue e
» a oonQanQa da amizade noa ajuntou aqui todoa
» OS queestamos presentes; duplicadas razoes para
» me nao enganar em meu conceito : justificado
n para nao desconfiar do segredo ( quando nap bas«
» tira ser a importancia de todos)) nao o faz aUieio
» (juem ao seu wasmo sangue o tia; new o H^
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» iercairo quern o communica ao aoftifo j e teaho
» por certo me nao sai do peito tendo nelk parte
» pfMoaa taato de raeu cora^o ; nelle arde o fogo
» do bem commum, desde o primeiro dia qua o
ii inimigo ae fez eeohor de nossaa fazendas j e de
» ttossas liberdade^; cresceo o inceiidio com as
» oppresaoesy cevando-ae o fogo na continua^o
» das tyraunias, e no exces$o das iojurias feitaa, nao
» 96 aos bomeos , aenao tambem a Deoi y de ma-
D neira que nao pod^ra reprimir tauto tempo as
» labaredas se uao miti^ra a esperan^a de se tro«
» car a fortUDa; nap perdendo de vista as promes^
» sas que me faziao tantoa soccorros e armadas,
y> quantas malogrou nossa desgrafa, mostrando^
» nos a experiencia, o alimentar-se a ruina das
» esperan^as do remedio ; consideraqao que me fa<«
» zia en tender I obrar mais em nosso damno a
» propria culpa, que a alheifi forca^ pois via que
» OS mesmos elemeotoa se punbao da parte dos
» contrarios. Agora t}ue ja o custume da sujei^ao
» nos tem esquecidos do que somos , que nao es«
>i tranhamos a miseria de captivos , e que o Fla-
* men^o nos domina com desprezo ( on porque
» nos Julga mortos para o sentimento y ou porque
>» nos avalia inhabeis para a vinganca ) ; agora qfie
» funda 0 seguro de seu imperio no descuido de
» nossa liberdade^ nao desaUento a conservacao de
» suas forQasy que presume sobejas as armas, inu«
>) teisos presidioa, superfluos os soldados; infe-
» rindo de nojsso abatimento a estabiUdade de aeu
» doounio J agora digo que j4 nao posso dissimu-
D Iftr mais tempo cow ^ cbama <^e mc {ibr^W 9
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20& CAsmoTo umiTAifa
» rtcao ha tentos annos ( digo que nao hateii
» animo portugez a onde por tantas razoes nao
n considere retratado o mesmo desassocego). Bus-
» quemos nas armas as domonstraeoes dos animos,
» se i que cadaum deseja deitar de seu pescoco <ao
» infame jago ; cobremo-nos da afironta com a re-
» solucao ; saiba o mundo que o soffrimento em
» n68 foi ardil, e nao vileza. A paciencia volun-
» taria 6 lustrosa virtude; fbrcada 6 escraTidao
» senril. Nunca nos podera condemnar abatidos
» quern souber que csperamos tempo opportund
J) para bos desforcar vingados.Com lastimoso grito
n chama por nosso bra^o a dor de tantos insult os,
» affinontas e injusti9as , como temos padecido ;
n nao damos passo que nao ponhamos os pfe sobre
» o sangue das feridas , sobre as cinzas dos incen-
» dios, sobre as sepuUuras dos mortos, sobre as
» pedras das minas , e sobre as brasas das inj arias,
» com queainsolenletyrannia d'estes verdugosnos
» tem quasi consummidos. Nao havera parte em
)) que nossos olhos nao vejao vivos os siguaes dos
» aggravos; e nao ha vera hora , em que deixem de
» nos refrescar a memoria das offensas. Nao ha
n entre n6s algum que se possa gabar que a for-
» tuna o isentou da sorte de todos. Qual houve tao
» singular na dila, que nao ou^a em sua casa os
» gemidos da magoa , ou ferido na honra , ou las-
» timado na fazenda ? E qual podera haver , que
» naodeseje destruiros ag^ressores de seu damno?
> Quem a tanta adverteneia se nao der por enlen-
» dido passara de racional a bruto , e de sensitive
» a insensivel; reduzido por sua mesma pusilani*
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GA8T1I0T0 LUSlXAIia 305
» midade ao ultimo esCado da miseria? Que fado
» nos acobarda ? que sombras nos atemorlzao? que
» discursos nos alheiao 7 Uma vil canalba alimen-
» lada de sua mesma perfidia, cuja espada uao
» corta senao com os Cos da traicao ? Pois que re-
» ceamos perder a fazenda ? £ qual de nos deixara
i» de a perder , se com o sen braco a nao libertar ?
» Nao fica mais ganhada, perdida pela honra^ que
9 dada pela infamia ? Que nos ata as maos ? 0
« amor da familia ? Nao estara mais segur a avida
» dos parentes em uma morte fiel, que em uma
» companbia herelica. Abramos os olhos, e da-
D ramente veremos quanto melbor nos esCa o mor-
9) rer pela liberdade da paM^ia, que o viver na pa-
i> tria sem liberdade. A restauracao do reino nos
» provoca com oexemplo ; a doMaranhao nos avisa
» com o sucoesso, a onde tao poucos olH^arao tanto
n que sopeArao a tyrannia de muitos , e que sem
» prevengoes arrisco, quero que teuhao vossas
» mercte entendido o que aobre a maleria t&aho
» cd)rado. Dei conta da minha determina^o i
» Bahia» a Henrique Dias, e a D. Antonio Pbi-
H lippe CamaraOi e entendo que a todos acharei-
» mos favoraveis; e ji eutre nos esta o eapitao
» Antonio Dias C^rdozo com sessenta soldados os
9 mats d elles ofiGk^iaes reformados, tao destros e
» tao Talorosos , que podem ser cabos de gnindes
» eaercitos, e alegrem-se vosas merc^, que nao
» pode haver cousaconcernaite & ezpedl^ao da em*
^ preza que nao tenba prevenido meu cuidado,
» porque ha muitos annos que estudo na direc^o
n d'este negocioy sem outro motiTO mak que o do
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i06 €A8TRIdT0 tOSITANO.
» bem commum; o que nao podera duvidar quern
M sabe o que a dita me favorece , e quanto o ini-
>f migo me respeita ; e que pelas leis da uatureza
» e da fortuna tenho mais resoes para estimar a
H vida que todos quantos a estimao jnais. »
XVII. OuTirao todos eom muita attencao as ra-
Eoes de Jao Fernandes Vieira, mas em cada urn
d'elles produzicao differenles efifeitos, segundo que
cada um estava mais ou menos disposto para tao
arriscada «mprezii; e concluirao em que queriao
ver e fallar com o capitao Antonio Dias Cardoso ;
em quanto porim ao segredo todos o promett^rao
e jur4rao; e a elles Joeo Fernandes Vieira o com-
primento do desejo* assentando com lodoa que
ao outro dia se achassem em o sen curral de Igi-
pto k% nove para as dez horas da manha; mas com
advertencia que fossem separados por nao darem
mottvo a discursos cttriosos^ nem occasiao a sus-
peitas malcTolas de quern os Tiase ir de conserva
para aqudla parte. Dedpedfrao-se cada qual para
sua casa • e Joao Fernamdes Vieira dedpedio um pro-
prio a Antonio Dias Gardozo^ .com aviso de que
em oerto lugar se vissem, porque tinbao quecon-
ferir. Deo^lhe a vista meuda conta do que se hflvk
passado^ e do que tinha entendido ; informou-o do
iugar e da bora em que o bamo de husdir ao ou-
tro dia ; e instroido de como se havia de portar, se
aparlarao, cada qaal para oseu domietlio. Ao ou-
tro dia nao falt&riio os convtdados com animoa tao
diflerentes como erao as pessoas. Cbegouo capitao
Antonio Dias Cardozo , ao qual receMrao cortezes
^artliiiirodMr Logo Ibe pedirio que eom toda a Ter*
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CASTWnO UJtRAHO. 307
dade e com toda a confiail^ deolaraise a causa,
que o ha via traztdo a Bahia, a taa distante lugar,
e com segredo tao estranho. Anionio Dias Cardozo,
qua sobre entendido estava indmtriado , Ihes re»-
pondeo seguro e discrete , que o motivo que o alii
truxera era o servico de Decs e dos moradores
d'aquellacapitania; que a causa que o detinhaera
obediencia que devia as oixiens de seu superior
Antonio TeUes da Silva , govemador do Estado , e
o gosto de servir a Joao Fernandes Vieirai a quein
Ibe ordenara de aBsistir na empresa que intentava ;
exhortou-oseuergicamenCe a que se unissem iiquelle
grande varao part expulsarem o ioimigo que os
opprimiai e ooncluio dizendo : « DesembiiolM^
» mos a espada, advertindo que defender as hon-
» ras e as yidas deairo de nossa mesma t^^a 6
n pdejar oom armas dobradas; que 6 proprio dp
o valor medir as for9as pelas causas. h — Suspen-
80B e arrebatados de dirersos peosamentos ouvirao
todos ao capitao Antonio Dias Cardozo ; e alguns
por mais temerosos ou por menos fieii come^rao
de ponderer as difficuklades que se apresentavao
para execufao de iio grande eaq>reca, insistindo
pftncipaloiente sobre os luccessos passa^os, e os
poucoe Qieios que tinhao para sustenlar a luta^ qu^
Uiesparecia temeraria e por venturalouca* Cortou-
Ibes Antonio Dias Cardozo o discurso, dizendo-lhes
q[ue a fortuna tern suas idades^ e que tambeoi che-
ga a ser vdha : ponderou-^lhes o estado de abondono
era que se adMvao as fortifiea^oes dos HoUande*
aes; oook) sm HuUcia bavia perdido a dtsciplina,
a WBHQ ocoopados de meroaocia nao curavao da
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SOS GASmOlO LUSTTAKa
defimsa ; mostrou-lhes os meios que tinhao para
executar a empreza, dizendo-ihes : « 0 que agora
» importa para conseguirmos este desejado fim i
» dar8e4he logo principio j escolh^ido e nomeando
]> d'eiitre luis pessoa que nos goverae, e caboe que
» nos ajudem a prevenir a gente, e tudo o mais
» necessario para a faccao. Para vossas mercte e
» para os moradores i toda a coDveniencia do ne-
» godo; e para todos nos importante a observancia
» do segredo : com elie asseguramos a empreza;
n sem elie nos ^tregaremos a ruina; eu, e mens
}} soldados com menosreceio, vossas merc^ com
» maior perigo. » Applaudirao todos a disposi^o;
com alvoroco approvarao o conselho; e como se
todos no interior estiverao conformes como no
exterior y em uma voz unidos adamarao a Joao
Femanded Vieira por govertiador e gaieral da em-
preza, jurando-lhe obediencia, (6 e segredo; mui-
tos com animo sincero^ nao poucos com traidor
cora^ao.
XYIII. Ainda nao erao pa3Sftdos tres dias depois
d'esta entrevista, quando leaes e perjuros em urn
corpo e com o mesmo semblanteconcorr^rao a casa
deJoaoFemandesVieira,dizendo-lhecorao o Hol-
landez estava informado de tudo quanto no mato
se tratira, e das pessoas que se ach&rao presentes.
AccusaTao a perfidia do traidor , dando-se o mais
culpado por mais offendido ; sendo o excesso da
queixa a que melhor descubria a cara ao antor da
traicao. Nao se alterou com successo tao novo o
discrelo e animoso varao, tanto porque o tinha
previsto, como porque nenhum caso o sobresal-
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CASTRIOTO LUSITANO. 209
tava. Dissimulou Joao Fernandes Vieira , f^u a
todos com animo firme e resoluto, dissuadiodo-os
do m^o qneaflectavao; e aos que se ofFereciao para
n^ociar com o conselho supremo urn passapbrte,
para que Antonio Dias Gardozo saisse da campa-
nha com toda sua gente, respondeo : « 0 capitao
Antonio Dias Gardozo 6 tao destemido, e lao bem
disciplinado, que primeiro perdera mil vidas que
chegue a faltar no menor ponlo de sua honra ;
nao mando, aconselbo; desistao vossas merces
do intento, ou fa?a cada um o que melhor Ihe
estiver. » Despedio-os isento, e recolheo-se con-
fuso, mas nao atalhado. — No dia seguinte Antonio
Fernandes Vieira fez aviso ao capitao Gardozo de
tudo que se pass^ra na conferencia; e do que pre-
sumia d'alguns, para que a noticia o acauteUasse.
Quasi ao mesmo tempo recei3eo o capitao Gardozo
um correio dos traidores , pelo qual , com dissi-
mulada perfidia, o certtficavao que o Hollandez^
tendo noticia de sua vinda, despedia do Arrecife
numerosas partidas de soldados a buscal-p^ com
ordem de baterem todo o mato do destricto, e de
se nao recolherem sem a entrega de sua pessoa; e
Ihes parecia impossivel o escapar de tantas maos;
que elles por o livrarem de perigo tao certo, se of-
fereciao a pedir-lhe passaporte, e segura passagem
para Hollands , com todo o necessarid para a via-
gem; e Ihe rogavao o quizesse acceitar, pelo que
a todos convinha. — Antonio Dias Gardozo rejei-
tou heroicamentesimilhantespropostas^ dizendo
ao mensageiro : « Dizei aos traidores que a sua
sdeivosia os publica cobardes ; que nao temo
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310 GASTilOtO LUHTAlia
damno que nasce do medo ; e que roaior aggravo
me faiem pela parte do offerecimento que pek da
trai^o; porque com esla me julgao temido, i
com aquelle me suppoem horiradoj que similhan*-
tea paaaaportea podiao swrTir k vilexa de seas ani-
moi, e nao a mim, que tenho eepada para me
defender de traidores e d'inimigos; que a dos
Hollandezes custuma cortar melhor com o amea^o
quecomoferro; e que com igual facilidade me
hei de livrar da fotca de una e da infamria de ou-
tros, dando-uoa o tempo occaaiao para que as
obras definao o ser das pessoas. » Instou o m«i-»
sigriro com desculpas e razoes fundadas no medo;
mas o fiel eapitao a nada cedeo : quiz ainda re*
plicar com amea^as ; mas o eapitao insofrido^ e
comaespada na mao, avan^ou contra elle colerico j
vendo o que o mensageiro , aproTeitou-4^ dos pto,
e nao parou sgmo k yista dos aut(M^ea do recado ;
aos quaes referio o que no oapitM achara , e o
perigo etn que ae vira. Querlaoelles rcfieCir a dili«
geacta; porim o enriado o nao quiz faz^ a todo o
pre90, escusando-ie com acertezadeqoe da espada
havia de ser a resposta.
XIX. Conferfarao osdous amigos entre si o estado
das cousas^ e o renedio d'ettas; e assenlarao que
o mal nao bavia de obedecer a medicamentos Umi^
tivos J que s6 os yioleutos poderiao ter efficaok,
para nao lavrar mais o "v^eneno. Convierao em que
seria aoerto escrever Antonio Dias Gardozo a Joao
Femandes Vieira tima carta , que podesse mostrar
aos HoUandeEes , com as seguintes razoes. « Os
moradores d*esta capitania me oonrtrang^rao com
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CA8TBI0T0 LCSITANO. 211
imporlunacoes a que tiesse ajudil-08 na rebeHiao,
em qut eataTao conjurados donira os HoUandezes.
Fiei-ne em anas palaTras e fimias, e rim com tanto
diaeommodo , como Deos e os meus soldadoa sa*
bem ; acbei que alguna d'elles, ou por cobardes, ou
por tnddores aos seus, hariao revelado ao HdlaD-
dez a se(;redo, de que se tinhao accusado, e
trrependido; sueCesao pretiato de minha advertent
da,, eonsiderando a cautelk com que se g«iai%lft«
▼«o de voasa niepc^^ pois sendo quraci 6 nem Ibo
eommunielrao o designio, uem me consciHirao.oa
tearmos da cortezia, e execucao do gosto com (pne
devo buacar a vosaa.mercd, e ser^il^-o ; qne agora
Bao fit99 por Ibea mo dar occasiao a loTantarem
algum teslemunho a sua fidelidade, & qual de*
▼em 06 Eatadoa tania fineoa. Fa9o esta carta para
reliEcar i Tosaa mereS sken amigo^ e .dap4ha
couta em como me voko para a Bahta com toda
a preaaa, perqtie nao me eBtreguem ao mimig^
oe mesmea que o deterflunarao entregar i minha
eapada; e ae eata me nao poder Inrar de Iraidoreay
direi a gritoa os que sao, e appelarei de mmha de&*
gra^ para o faror de Tossa mercd ^ qi» em todd
e temp^ tsti Hmrecendo a quem Ihe dere, com a
kaklade do trato, o maior reapeitoi e por toda a
parte pvUicarei o quanto tern de disereto quern
aabe b» gralo. Seos guarde a yossa raerc6. v Joao
Feratandea Yieira depois de reeeber eala carta, e
depoia de dar todas as providencias para cpie o
eapilao Cardoso nao fosse surprebendido, teandou
ebamar os eompreh^ididos na traicao, deo*lkes a
ler a eana^ ooaid se cativera alheio do aucccdldo^
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212 CASTRIOTO LUSITANO.
e como espantado da novidade^ perguntou que
causa tivera o capitao Cardozo para tao estranho e
repentino acordo, como era o partir^e para a Ba-
hiasem se despedir d*elie. Emmudec^rao confusos,
e dc todo OS deixou frios verem-se arguidos de
culpados^ dizendo-lhes Joao Fernandes Vieira que
OS lacos que ordtao a si mesmos 03 armavao, pois
sabiao que mais credito havia de dar o Hollandez a
qaalquer palavraque elle Ihe dissesse , que a quan-
tas elles jurassem , porque tioha cabedal e animo
para gaslar mais em uma hora , que todos dies em
toda sua vida, contente de que sua ingratidao d^ssc
por fruto a todos o desengano de sua rileza , pois
tinhao tao abatido coracao ^ que nem obenefieio os
reduzia, nem a honra os obrigava. £ piara os des-
pedir ^ sobre aflrontados temerosos^ Ihes leo elle
mesmo a carta, affirmando que a guardava, para
que d'eila constasse aos Hollandezes quern os ag-
gravava , e quern os swvia. Frustrados ficarao os
mteutos dos traidores com esta energica declara-
9ao de Joao Fernandes Vieira j que nao ousArao
elles proseguir seus maos desejos. Nao fallarao tam-
bem alguns do govemo , ou seguros , ou apaixo«-
nadoSy que hesta oceasiao o avisarao^ tinha nelle
muiios amigos^ enos moradores muitos contrarios
que o calumniavao^ mas sem fruto, porque nunca
prevaleceriao contra a opiniao de sua leaUlade. Nao
se namorou Joko Fernandes Vieira tanto do £avor
que se esquecesse da cautella , porque experimen-
tado e discreto fiava menos da sua fbrtunaque de
sua vigilancia; « assim desde a hora em que en*
tendeo se poderia presumir sua determinacao , vi-
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CASTftlOTO LUS1TA190. 2«
veo iao oirotinspecto , que todas as nohes se reti^
rava aomato; assistindo os dias em sua casa, com
(ieis seatinellas ao largo, com cavallo seUado, e
S6US (^iadoft prevenidos, para que em qualquer
asaalto servissem a resistencia e 4 fuga. Se do Ar-
recife o budcavao^ com pretexto de amizade^ on
denegocio, ou fallava, ou se fingia auseute, s^-
gondo as pessoas que erao. Se os do govemo o
mandavao chamar , se escusara , com promessa de
outro dia, ou coma occupa^ao de muitos^ e nunca
as esciisas faltarao as cortezias; alojando i^qudfe
peito tamanhas causas d'afflicdkoy que poddra a
menor d'ellas sufibcar qualquer outro cora^ae.
XX. Admirarel foi neste varao a prudeucia;
nunca alterada pela variedade dos suceessos : nio
menor o valor e a dissimulaeao com que tudo pi«-
▼k; mas sens receios comecavao a crecer com a
tardanca do Camarao e Henrique Kas. Neste co^
menos chegarao os quatro soldados de volla da
Bahia, que no Janeiro proximo partirao de Feiv-
nambuco , mostrando na pontualidade da negocia-
eao a causa da detenea ; porque o goyernador do
Estado OS onvio , e despachou como se podia dese«
jar; retificando sen animo na resposta das cartaa,
que Joao Femandes Vieira e Antonio Dias Cai^-
dozo Ihe tinhao escripto; e dando«>lhe escusaa
detenea com a assistencia que na Bahia faziao ao
propria tempo os embaixadores flollandezes; dos
quaes daremos razao na seguinte escriptura*
XXI. Comeqarao os Hollandezes a desconfiar
que alguma eousa se tramava contra elles ; em
cuja desconfian^a se confirmai^o com as decUra-
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4jM$ qoe fiiaiio o$ traidores da Miuitflocf a de Anio-
JHO E^a Cardoso e doB iateatoa de Joao Feraandes
Viuni; eoofeHrao eoire ai o eamitibo por omde
ae poderia yir oo eoBbectmeota da c^rteseti t aa*-
Miitafao em mandar ^mbaiimdoFea a Babiat que
jaam daiti«sa e»peculaaaem o que ae di^; e regi-
iiieDto^ e para que ae bouv^sem de maueira que a
aodOftbra da queixa sobreaaiase a lux da ?erdade»
Com esle fim nomearoM) a Guilberme Waodrevol,
um do8 coDselheiroa politkos , e a Tbeodozio 'E^
trater, comqiendor da fortakza de Nauretb^
com carta do supremo para o governador Antonio
Tellea da Silva, cuja sustancia se rewmia em ae^
xitsar a rebetdia dos moradores , fom^oftada ( como
je affirmava ) com o faTor de ana senboria ; o qm
Huo podiao crer d'um vaeaallo d'Ei Rei de Fortu^
gaL -1-0 governador , que tiuha freacas noticiaa
do que ae passavai respoudeo que »e oa moradoi^
res se inquieta vao^ era porque o trato da tyranuia
oa aconselhava ^ e que dado case que oa favors
ceaae , fizera ) que devia ao fienri^ de Deos e de
aeu Rei I D que, violentado daobediencia, uao faaia.
O que so Ibei advertia era que ^ ae nao mudavao
d'estilo, ataihando m exceaaoa, com que apura^
ipao a pacieacia doa naturaeg, os havia de favoreoer,
al^ onde chegaase a poasibilidade de seu bra^o,
perase libertareat de tao insoffrivel domiuio; ainda
que soubeaie que o auKilio Ibe poderia eustar a
cabe^a. Ouvida esla resposta ae despedirao do go«-
▼ernador; e depots d'alguns dies, que tomiraopara
o eiiame da verdade ^ sa voltarao para o Atrecife.
XXll, 0 tempo cjue oa embaixadorea ae detire-
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GAfiTOOtso imirAva 915
rao iia Babk d^ieva tambem o governador o$ qn*-
tro WYiados de Joao Forodndeft Vieira, como fica
ditoy a onde TheodoEio Estrater eapreitou occaiiao
opportuoa para ^eoreU audieneidi que o govafw
nador Ihe deo , na qual Ihe disse que era catboUeo
romano, e eomo tal aborrecia os Hollandezea, que
oa servia por ueeessidade, que o seu desejo fora aem-
pre de servtr um priucipe, que para nenbum tiuha
tauta mcliiia9ao como para o senhor Rei de Portu-
gal Dom Joao lY ; e concluio por dizer que ae elle
gaveruador determinava a recupcara^o dePeraaov-
bucoy que Ib'o declaraaae, porque sendo este aeu
disiguio, elle abriria a melbor porta para a res^
.taura9ao. Eotre perauadido e deicoufiado ouvio o
govemador a Tbeodosio Eatrater, eutendendo que
sua proposta igualmeute podia aer ardil da mali^
cia^ e efimto da deliberacao; e por uao perigar nos
estremoa, redpoodeo que eUe da sua parte estimava
a boiura que fazia a na^ao , e que a sua Magestade
informaria o quauto devia a seu desejo ; mas que
de preaeute uem teuQao, uem ordem alguma tiuha
para fazer guerra ao$ vassalloa de Hcdlandai antea
preceito de conservar a paz; por^m que se por
algum aceidente $e alterasae o estado das cousat,
Ihe faria aviso, eseaproveitariadetaobomamme.
De$pedk)-<fie contente, e navegarao satisfeilos ; um
porcpie se tiuha declarado ; outco pelo que tinha
entendido; ambos cbegaraa ao Arrecife, e uelle
desimagioirao aoa goveniadorea e poYo doe receioa
que tinbao da guerra.
XXIII. Neate tempo despachou o govemador oa
enviados de Joao Fernaudes Vieirai dos quaes ea-
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Vi6 CASTRIOTO LCSlTAieO.
<a^?eino8 ja a chegada a Pernamkico, a que foi
em 10 de Maio de 1645. Pelos ditos enviadosman-
dau o govemador dizer de palavra a Joao Fernaiv-
dee Vieira e Antonio Dias Cardozo, que eslivessCTii
certos de que Ihes havia de assistir , e a todos os
moradores^ com animo e forcas, em case que os
Hollandeies persistissera em oa affligir e tyrannizar ;
e de secreto escreveo a um e outro. O que as cartas
continhao me nao veio a noticia ; e nos referimos,
e nao advinhamos. Com os enviados se partirao al-
gumas tropas d'aventureiros, que voluntariamente
OS quizerao seguir , no que o govemador se liouve
neutral j so mandou vir diante de sios cabos d'elles,
e Ihes encarregou o bom trato e disciplina dos sol-
dados, que levavao furtivos, como genie do Es*
lado ; e dissessem da sua parte a Joao Femandes
Vieira que quando nao pudesse soffrer o daro
jugo dos Flamengos , levasse a diante o intento da
liberdade, e o disposesse com o valor c prudencia,
que d'elle esperava; e que brevemcnte acharia
comsigo o soGCorro , que Ihe tinha pedido. Com
estes recados Ihe chegon tambem aviso cerlo em
como Henrique Dias e o Camarao se tinhao partido
em soccorro dos moradores, havia jA muitos dias,
e que o nao terem chegado era culpa do tempo , e
da marcha , que por causa do dominio hoUandez
forao obrigados a fazer pelo interior do mato, a
fim de se esconderem as noticias doinimigo. Ale-
gres deixdrao a todos os confidentes as boas novas,
e a vinda dos soldados aventureiros , que chegArao
neste Maio , e forao alojados na mata de Joao Fer-
nandes A leira, cam segredo e ordem que eslives-
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CASTRIOTO LUSlTAm. 117
sem it ^bediAeift <te Antonio Dias Cardozo, a qu^n
apertadamente encarregou a Tigilancia e a cautela ;
em quanto elle Joao Femandes Vieira tomaTa por
sua conta os avisos de todos os nio?imentos do
HoUandez.
XXIV. Informado Joao Femandes Vieira das
disposicoes que tomava o Hollandez para mandar
degoHaros mancebos de quinze atrinta e cinco an-
nos, se determinon em nao esperar mais tempo
para se p6r em campo. Conferio a resolucao e os
nieios com aquelles amigos que podiao dar volo na
materia; e assentarao que snppostas as ordens do
governador, se nomeassem capitaes por todas as
freguezias sujeitas ao dominiohollandez, para que
desde logo livessem a gente allistada e prompfa.
Fez-se memoria dos homens nobres , fieis e deste-
midos de cada uma das parroebias , e d*elles esco-
Iheo Joao Fernandes para capitaes os que parecdrao
melbor, temettendo-lbes patentes e ordens do
que haviao de obrar. — Em Ipojuca , criou capi-
taes a Amador de Araujo^ e a Thom^ Teixeira ; no
cabo de Santo Agostinhoa Antonio de Castro, Joao
Paes Cabra)) e Joao Gomes de Mello ; na Moribeca,
a Joao Scares* d' Albuquerque, e a sen irmao Joao
Leitao d* Albuquerque; em Iguaracu, a Joao Lou*
renco Francez, e a Manoel Pereira Corte Real ; em
Sirinhaem, a Alvaro Fragoso d'Albuquerque; na
Goyana ,* a Goncalo Cabral , e a Estevao Feman-
des ; na Paraiba , a Francisco Gomes Muniz , e a
Lopo Curado Garro ,• em Sao Laurence , a Manoel
Scares Robles, a Cosme do Rego, a Joao Nunes
da Mata , e ao l\ Simao de Figueiredo^ qtie de**
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3$8 C^mOftQ UnUTAVO.
ppi« de mititar omitoft annos ^ ondeaou ; na Yai^
^a, a Fraaoisco.Bereqguer de Andrada^ a Antonio
Bez^rra p a Joao Nune3 Victoria ^ a Antonio Bor*-
f^y e a Antonio da Silva por capitao de cavaUoe;
e supposto que na dita Varzea nomeou outros ca-
pitae« (todos neceasarios pra o numero da gente)
fazemos inemoria doa fieis qua a vilaia do.traidor
jgualmente priva do nome e da honra« Na fregua-
zia de Santo Amaro nomeou a Tbom^ da Costa;
na do Porto do Calvo, a Chriatovao Linos; na do
Rocio de Sao Francisco, a Valentim da Rocha. A
. todos^ e a cada um em particular mandou instruct
eoes do quehaviao de fozer j assimem alistar gente,
como no tempo e no modo, que elles observirao
com zelo e acordo, Dentro do Arrecife adquirio e
conservou tres homena^ a poder de dadivas^ que
Ihe davao aviso de tudo o que determinava o Hol-
landei; podendo com ellas mais o interease que o
. perigo.
XXV. Com estas preven^oes ae £8kcilitira o ne-
gocio ( f undada toda a esperan^^a no secreto intento
de Joao Femandes Vieira), se o rigor daa invenuH
das com adila^ao do tempo nao destruira os meios
que tinha escolhido a industria , e approvado a
confianca ; erao aquelles dependentes d*uma occa-
aiao apparente e konesta, que obrigasse a convi-
dar OS principaes Hollandezes para um banqueie,
em sua casa, no qual a abundancia das iguarias e
dos brindesy e a pi even^ao de occultar armas oo-
ca$ionasse ou a morle ou a prisao de todos ; e con-
seguindo-se este priacipio, ficava sem estorvo o
fim , que era senboreai^se do Arrecife; e em todas
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GAfTBiOlO UanAli«» 119
o cmmio dog«ossoft aei proprioa do wimiff>). Este
ardtl oaa c}u^u a pdr^^ em|MraUoa, porque o Hol-
knte foi ayisado^ 6 Joao FerMadaa Yieira ^mou
Hm axpedienta. imn cavalheiro e mais ^ffiMz,
XXVL Com aecreta ntgocia^o foi iaduzindo a
lodoe oamanoeboB da Yanea a qua deftenterras^em
e preTeoisMin as armas com o recato que Uiis
^adrertia o perigo, para que os acbasae armados
uma occasiao t muito da bonra de todos, que eUe
a 8611 tempo lhe$ mauifestaria. Ckimo eutemUrao
que era Joio FerMudes Ykira o einpeobado ^ nao
bouve algfum que 6e uao preparasnei alvoro^ado e
solieito 9 de^jaudo eada quel obrigar com o ^rvi^o
a quern oae sabtafaltar com respeito* Poz o mesmo
euidadoem trasier a ma amizade aquellea bomens,
eom C9 quaes se uao corria ^ o que com facUidade
4> ooneeguio. Medio o tempo de suaesperant^a pe-
las promesaas e pelas noUcias, e pareoeodo-lbe
que nao podiao (altar em qualquer doa dias sc^ain-
tes Henrique Dias e o Gamarao ; e que adisutava o
negocio eom anticipar a preveo^ao a chegada, de-
termiuou deelarar<*se a todos , para o que os cha-
mau a sua caia , e Ibes deo inteira noticia de seu
inlento; o que fez na forma seguiute. « At^ora
n nao dei coata a todos de meu designio, seudo
» que forma a importancia de cada urn, nao por-
» que lemesse quebra no segredo ( porque como
n a conveniencia ^ de todos , de todos deve ser a
» observancia), senao porque a dila^ao poderia es-
» friar aquelle fervor, que nos assegura o successo.
a Mao ^ desigual a conGanca quaudo o nao ^ a es«
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320 ckffmmo LwnAM.
» timticao, e supposto qi^ a a%uns pariieahres
» communiquei meu intento, nao adkntei as
» pessoas^ ainda que adiantei as noticias^ porqne
» a todos p^ em igual Italanca : nas emptesas
» primeiro obrao os minislros das conduo^oes,
» que 08 bracos dos soldados. Agora que o tempo
» chama para a necessidade e para a execncaoi
» a dou a todos; porque Ihe (ique mats honrosa a
» vihganca , tomando por mao propria a satisfa-^
» cao das offensas. As injusticas j roubos, forcas^
» injunas, e desprezos que temos soffndo a esta
» torpe canatha^ foi sempre tolerancta de nossa
» impossibilidade , porim nao obediencia de nosso
» alvedrio ; pois i certo que cada um de nos , se
» deixou de vmgar o aggravo ( todas quantas vo*
J) zes padecto a olfensa ), foi porque cousideravm
» que sua espada primeiro Ihe bavia de serrir de
» verdugo, que aos outros de exemplo; experi-
» mentando que se convocasse companheiros , os
Y> bavia de soffrer inimigos ; consinado da baixeza
» com que muitos , por indignas conveniencias, sao
» mais estraugeiros que natures. Estes receios atro-
» pell^rao minha resolucao alguns annos ; nao
)) que me atalhasse o risco de mhiha pessoa, senao
» que me atava as maos a contingencia de arris**
» car as de vossas merc6s d'esie risco, com as or-
» dens, e com os auxilios , que tenho convocado
D e pedido contra estes mortaes inimigos. Temos
» em nosso favor a justica da causa, e nao durido
» que acbaremos propicio todo o Es<ado giral ; e
» a vinda dos governadores de Indios e M inas com
« sens tercos, que ja espero cadfi bora, a presenca
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CASTRI0IO LUSHAKa 221
» dos capitaes Antonio Dias Gardozo, Paulo Vel-*
» lozOy e Antonio Gomes com sessenta soldados e
» quarenta aventureiros , que 4a Bahia vi^aopor
>^ aeu gostOy os mais d'elles reformados e todos
» valerosos. Em todas as freguezias nomeei cai»<-
^ laeSy pessoas que na occasiao bavemos deachar
» prevenidos com (odoa os moradores de seu dis-
» trito, que ja esperao men aviso para executarem
» nosso intenlo ; este pende da occasiao que tra-
y» zemos eiitre maos, que 6 o dia das yodsts que
i> 66 esperao. Nellas se haade acbar osprincipaes
» Flamengos do Arrecife y rogados para autorizar
» a mesa; e sei eu que o vinho os ha de entr^ar
M primeiro a Tingan^a que a resislencia; porque
» tenbo prevenidos mancebos^ que secretamente
M armados os bao de matar ^ todos ; com deier-
1^ minacao de se tomarem os eaminbos para a Ar-
» recife (a^ onde primeiro ba de cbiegar npssa es-
» pada que a nova de seu casiigo), que £EU2ihBente
n senborearemos destituido de cabe^as e armas
i> (albeos os Hollandezes de defensa pdo somno
» e pelo descuido). No mesmodia e bora^ba
» de obrar o mesmoem todas as partes, a onde o
» inimigo liver fortifica^o e gente; e quando suo-
}> ceda nao ser a conquista por. entrepresa , sera
M por cerco ; para o que tenbo almazens providos
}} de muni^oes^ armas e mantimentos^ a custa de
» minba induslria e da minba fazenda ; porque
II sempre me pareceo infaliivel o acbar em vossas
» mercte valor e promptidao para empreza de
» tanta utilidade, como gloria para cada.um de
» nds;^nao so pelas vidas^ senao tambem polo Rei
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» MturM, a quern 8«nrimo8, epda rdigiao que
n defeiidemos. > Itoiwcieftteg dUiROU aos ouvinles
eirta protengada pritica , porque nao podiao wpri-
mir o alvoroco, com que no &m d'ella gritarM m
uma voz t « Siva El Rei Dom Joao o Quarto nosso
» senhof ! viva a f^ calholica romana que profiw*
w sadios ! e viva Joao Fernandes Vieira, a qnem
» todos acclamamos por noBdO capitao e noBso go*
t vernadof neata empreBa de nossa liberdade! »
CSom tanta sattsfaijao os dcAxou a disposicao, animo
e getiefOMdade do novo governador, que logo Ihe
jurarao obediencia, fidelidade e segredo*
XXVIl. Difficil coudae conservar-»e o wgredo
entre muitos, mtfrmente quando enira eWca ha al-
guns stiapeitos ^ traicao. Come^ou-se a espattiar
o nttnor eiitre oi Hollairfe«68 de que oa Portogue*
zea 8C queriao revoltar; art* oonfirroava-ae todoe
OS dias com as iSariM anonimaa que os traidores
escretiao ao) do conselho, fias quaes relatavao todo
o que 8C tinha determinado^ e rtqoeriao que se
nao fiassem de Joao FernandaB Yieira , porque,
traidof aos Bstados, etmspirava oom ontroe muitos
contra esirangeiros e naturaea : que se acudisse
com tempo a emniekicia do darnno^ poia o mmor
o propunha tio vizhiho. 0» judeos, por natnreza
timktos , gfiiavflfo sem descanso ,• e por sem diivida
affirmavao qtre oaPortuguezaa andavao kvntados,
e tinhio armas e muniooes eaoondidas , com dia
cerfo para darem no Arreetfe^ e paasarem 4 €»pada
quanto achassem com vida ; sendo Joao Fernandes
Yieira a cabeca que os governova, sMbidbso das fa-
iendaa^ todoa; que secaMig^iacopi toda a pr«8a
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GA9IBICmi LIKITAIIO. 23t
e rigor a trti9aOy antes (pieo golpe Impossibililasae
o reparo ; e premiassem com franqueia os leaes, que
tinhao reTelado a contpiracao (mo esi^s deE kii
doze )• Que despertaasein ao brado do Maranhao^
sobejo para oe acordar do inais pesado somno. —
Nao derao ao prmcipio oe Hollandezes grande im--
portancia a eates rumores; mas porfim, vendo
que a queixa 6e augmentaTa e se tornava tumul*
tuoaa^ comecarao a conceber receio ; oonferirao eiH
ire 81 o remedio, esaio decretado, com discrete
politica y que se disaiumk^fte o reoeio , porque se
Dao atreyesse o povo ; e com cauteloda destresa doi-*
tavao 08 do goTerno o^ motivos de queixa as eos^
tas da inveja, qae todoa os moradores tinhao a
Joao Femandes Vieira^ e nao a causas que tive98e
dado parase crer a rdielliao dos naturaes« D^baixo^
desta 8imulada confianca msmdarao oa do conacH-
Ibo rogar a Joao Femandes Yieira que foase •er*'
vido achar-ae ao outro dia no Ari^cife para assi^
gnar alguna papeia iooportantes a Coioipanhia.
Deichou«se adiar do porlador; £iUott->Uie alegre;
reapondeo cortczao, que se nao fosse ao ontro dia
por ocbupacao preeiia , que trazia entre inaos^ se
nao perderia o negocio; e quando a materia nao
permittisse dilagao ^ nulndaria seu basiante proou-
rador^qoe em tudo que fosse senri9o de suas setiho-
rias e da Gdmpanhia suppriria intetramentea falta
de sna peasoa (d'uma e outra parte sa vesCia a
cauteUa da mesma cor). Apertou o menaageiro^
que era necessaria sua mesma presen^a , e que sem
dia nada se poderia concluir ; e porfiou com tel
aperto que deo por terra com toda a dissimola^io
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21ft GASTBIOTO LDSITANa
da eflcusa. Joao Femandes Vieira pelo hileirar que
penetrava o intento , e que pelos mesmos fios Ihe
cortava o U50, Ihe disse que se nao cancasse em
o persuadir , porque sabia mui bem os ioimigos
que tinha no Arrecife; e nao ignoraya o que ma-
quiuavao contra sua pessoa; e que da sua parte
dissesse aos senhores do govemo nao perdessem
tempo em Ihe mandarem seguro real, porque
mais real seguro era o da sua casa. Nao se derao
OS Hollandezes por entcndidos de resposla tao re-
soluta , appellando para o tempo , certos de que
Ihes metteria nas maos a Joao Fernandes Vieira,
ou por entrega de sua confianca , ou por descargo
de sens alliados. Passados poucos dias chegou um
barco de aviso, que mandava o commendor da
Lagoa, pelo qual certificava aos do conselho serem
passados para a campanfaa de Pernambuco o
goremador de lodios e Minas D. Antonio Phi-
lippe Gamarao e Henrique Dias com os sens ter*
90s ; o que soub^ra por pessoas confidentes , que
falUrao com alguns dos sobreditos soldados^ e pelo
trilho da marcha , que elle mesmo vira, muito pelo
interior do sertao; e que de marcharem furti'vos se
colhia intentarem algum novo damno. Com indi-
cios tao evidentes e prova tao certa se resolveo o
HoUandez em fazer toda a diligencia por haver as
maos a Joao Fernandes Vieira; mas este^ avisado
do que se maquinava contra elle, poiemcobro
todo o precioso de sua casa ; fei aviso a todos os
capitaes, que havia nomeado nas fireguezias, de
tudo que era passado ; escreveo uma carta g^ral,
emqoe referia os successos passados, o estadopre-
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4 GASTBIOTO LUSITANO. 225
senle, ea deterininacao futura; concluindo a rela-
cao com justificar seu zelo ^ e a Decessidade que
o constraog^ra a acceitar a obiigacao e o posto de
governador das armas , e cabeca da sublevacao,
da mao dos opprimidosy que uniformes o acclama-
rao libertador da patria j nao porque a ambi^ao o
cegasse^ senao porque o maior servico de Deos e
de sua patria se conseguisse. Assignou a carta
por todos OS confideates, e a remetteo ao gover-
nador do Estado Antonio Telles da Silva^ a quern
jurava obediencia e fidelidade. D'este dia por diante
andou Joao Fernandes Vieira de mata em mata,
sem voltar a sua casa, nem a alguma de suas fazen-
das : nao houve parte a onde o achasse assistente
segunda noite^ porque mudava de sitio cada dia.
Acompanhavao-no seu sogro Francisco Berenger
de Andrada , que nunca se appartou de seu lado,
alguns moradores mais confidentes, e sens fieis es-
cravos, que Ihe serviao de companbia e de defensa.
XXVIII. Em 7 de Junho do presente anno teve
Joao Fernandes Vieira nova carta de que os go*
vernadores de Indios e Minas com os sens soldados
tinbao passado o rio de Sao Francisco. Estas car-
tas , com outras de pessoas confidentes y commu-
nicou Joao Fernandes Yieira aos leaes para os
animar> e aos traidores para os confundir* Com
ellas mandou ao vigario da Varzea Francisco da
Costa Falcao, finissimo Portuguez, que da sua
parte dissesse aos moradores d'ella se declarassem,
para saber se os bavia dc tratar como a fieis , se
como a inimigos , para que na occasiao conhecesse
seu braco a quern havia de amparar, e a quem devia
U 15
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336 GAaraioTO LUSiTAMa
perseguir. Respond^rao todos que erao verdadeiros
Portuguezes, e como taes os acharia proinptos
com fazendas e vidas para ofFerecerem pelo 8«rvico
d'El Rei e fidelidade da patria.
XXIX. Dons traidores, nao podendo por mais
tempo conservar occulta sua perfidia, tomarao o
caminho do Arrecife, suUrao a salla do conselho,
e delatarao Joao Fernandes Vieira como fautor da
rebelliao que se preparava contra os Eslados, di-
sendo que o golpe estava immineate, e que era ne-
oesaario evitil^o quanto antes. Para cumulo de
sua perversidade d^rao os nomes e as moradas dos
conspirados para se tomarem por iista ; nella se
mett&rao os que deo a verdade, os que entregou
o odio J e os que propoz a suspeita , e muitos que
naquella occassiao advertio a cobi^a. — Nao se
descuidou o Fiamengo em applioar ddensivos ao
mal , que ]i temia. Mandou reparar todas suas for-
tificacoes, e oonduzir lodas suas armas, publiean-
do o apresto sem descubrir o motivo« Ghegou a
noiteda vespera de Santo Antonio 12 de Junho^
escura, desabrida e tempestuo^a; no principio
d'ella sairao do Arrecife diversas mangas de solda-
dos , de vinte at^ trinta homens cada uma, com
ordens secretas, que por differentes veredas tomas-
aem todos os caminboa que guiasaem para as ca-
sas de Joao Fernandes Vieira , de sorte que a um
mesmo tempo chegassem a ellas , e as cercassem,
tendo por sem duvida que o seguro do tempo e a
impossibilidade da fuga o entregariao , ou & mor-
te, ouaprisao. Enganou-os o desejo , porque se
tinha adiantado o desvio ao golpe, Entrarao uas
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CASTRIOTO LUSITANO. 227
casasy vjrao e revolverao lodos os aposentos e re-
treles, sem acharem indicios do que buscavao;
quebrarao a furia em roubar e destruir tudo
quanto podia servir a cobica e a vinganca. Para se
Tazerem temer assentarao corpo d'armas naquelle
lugar, donde como de centro despedirao partidas
de soldados a toda a circumferencia; pela qual en-
trarao nas casas d'alguna moradores, mas Dao
acharao nellas viva pessoa ; prevenidos do aviso se
tinhao retirado as matas^ e canaveaes, onde dor*
mirao. Tambem d^rao sobre as casas dos traido-
res f como elles mesmos tinbao pedido para milbor
cobrir sua perfidia, um dos quaes prend^rao, por-
que Ihe convioha deixar-se achar^ e o levarao
para o ArreeifC) mas com tal familiaridade, que o
modo destruio o artificio, e a falta de companhia
publicou a industria. — No dia seguinte, dedicado
a Santo Antonio, se havia de ce(ebrar sua festa na
capella de um engenho de Joao Fernandes Vieira;
pordm o ossalto do inimigo, e o estrondo das armas
converteo em bellica a manha, que havia de ser
festiva. Todos os moradores do contorno tratavao
das armasy nenhum da festa ; assentarao que se
guardasse esta para outra occasiao, e se mudasse
para a igreja da Varzea, a onde poderia assistir a ella
o governador da liberdade, como depois assistio ;
e se f ez a festa com toda a solemnidade e seguro,
por razao das sentinellas que estavao ao largo.
XXX. A' mata, onde Joao Fernandes Vieira
tinha passado aquella noite, cheg^rao , ao romper
da alva^ alguns escravos, seus conGdentes, com
as noticias da assaltadai qve o Flamengo dera em
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228 GASTRIOTO LUSITANO.
sua casa , desejoso de o niatar ou prender ; e da
viblencia com que se roubira e destruira tudo o
que tinha valor eprestimo. Logo que acclarou o dia,
mandou descobrir o campo, e certo na seg^uranca
d'elle » se foi com os de sua companhia ao engenho
de Luiz Braz Bezerra, homem principal, capaz
c fiel , para consuUar com elle o que, conforme ao
estado das cousas, se devia obrar. Acbarao-se
nesta conferencia Francisco Bei^enguer de Andra-
da , Cbistovao Berenguer, Aatonio Bezerra, o ca-
pitao Antonio Borges Uchoa , Francisco de Faria,
Antonio da Silva, capitao dos cavalleiros^ o capitao
Antonio Carneiro Falcao, Bernardim de Carvalho,
Cosme de Castro Pessoa, Manoel Gavalcanti, An-
tonio Cavalcanti ( com dous filhos ) , o capitao
Joao Nunes Vitoria ^ com alguma gente d'armas de
fogo, JoaoCordeiro deMendanha, AlvaroTeixeira,
Amaro Copes Madureira j que depois veio a ser
capitao. Propoz a todos o que desejava ; e quando
esperava o voto de cada um , responderao confor-
mes, que elles o tinhao feito e acclamado governa-
dor das armas; e como tal devia ordenar, e elles
obedecer; e declarado sen parecer, estavao promp-
tos para o seguir. Mostrou o governador o muilo
que convinha fazer p^ de exercito, e marcharem
formados e unidos a buscar alojamento convenien-
te. Seguindo este parecer , deixirao o engenho de
Luiz Bezerra, e se forao aquartelar em um outeiro
situado no interior da mata, que Ihes servia de
atalaia e alojamento. Neste se detiverao tres dias,
e nelles se Ihes aggi'egou toda a gente que se
occupava no servico das fazendas , a quem Joao
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CASTBIOTO LUSITANO, 229
Fernandes Vieira promelleo premio, se nesta
guerra servissem de sorte que o merecesem. Nes-
tes tres dias dispoz o governador os apprestos ne^^
cessarios para a conduccao da genie e dos viveres;
fez rezenha da sua gente , e se contarao cento e
trinta homenSy todos soldados noanimo, muitos
Taltos d'armas , todos de pratica. Com esta compa-
nhia marchou para outro posto , e fez alto meia
legoa da Varzea, em um lugar que a naturcza cer-
cou de alagadicos y chamado Camaragibe , accom-
modado para a faeilidade das inteligencias e da
defensa. Fez aviso a lodas as partes da publicacao
da guerra , para que em todas se pegasse em ar-
mns, e o seguissem. Mandou deitar bando por as
freguezias que os escravos Angolas, Minas, Ardas
e mulatos , que quisessem servir ^ e allistar«$e para
esta guerra debaixo de suas bandeiras, se Ihes
daria paga como a soldados, e gosariao de todos
OS foros da milicia, conseguindo liberdade, e Ihes
promettia, confiado no favor do ceo, resgat^l-os,
e dar por cada um a seu senhor o pre^o , em que
se avaliasse j de sua propria fazenda. Mandou pu«
blicar por todas as partes , que o Flamengo tinha
decretado passar a espada a todos os mancebos de
quinze at(^ trinta annos : industria que apadri-
nhada pela prisao , que se fez de um , obrigou a
muitos a buscarem as bandeiras da liberdade.
XXXI. Por todo 0 contorno do Arrecife se to-
cavaa rebate; ouvia-se o estrondo da guerra com
a formidavel voz do temor e do tumulto, accre-
centado com o grilo do espanto e da sospeitn, cor-
rendo lao agitadas (($ nQticjas^ (jue nada se ipedi^
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230 GASTBIOTO LUSITANO.
pela verdade, tudo pelo receio e pela causa; a
onde a confusao mats avultava era dentro no Ar-
recife : viao os moradores d'elle entre a culpa, e
inferiao que alii se haviao de experimentar mais
rigorosos os castigos. Os superiores, accusados da
propria consciencia, escondiao o medo, e mostra-
vao nas apparencias que nao havia para que lemer
a conjuracao dos tumultuosos f altos de tudo;
por^m nenhum deixava de julgar que a conspira-
cao tinha alicerces profundos ; procurarao com
diligencias occullas descobril-os ; e para socegar
a inquietacao do receio popular mandarao salr
uma embarcacao ligeira , e nella a Theodozio Es-
trater, e a Guilherme Wandrevot (intelligentes na
lingua portugueza , e exercitados em similhantes
negocios ) com ordem secrela que tomassem porto
na Bahia, e espiasseni se nella havia ntos de
guerra, ou levas de gente, em numero que sepo-
desse presumir bastante para fomentar a conspira-
cao dos levantados ; e com regimento publico, que
em nome dos Estados acusassem , diante do go-
t'ernador Antonio Telles da Silva, a rebelliao dos
naturaes, e o favor que Ihes davao os foragidos da
Bahia. Com estas instruccoes sairao do Arrecife
em OS primeiros dias do mez de Julho d'este anno
de 1645. Com a mesma cautella despach^rao
correios secretos a todos os commendores c capi-
taes das pracase quarteis , que tinhao nas terras
de seu dominio , com aviso do que temiao , e ordem
que se fortificassem, e recolhessem todos os sol-
dados a sens presidios, empregando todo cuidado
em tomarem os caminhos , para que a nova do
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'fe&
■^•^"Z^Tt
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GMITIIOVO tmiTANO. 361
leTantemento nao lavrasBe, alterando os animos
dos obedientes. For Jorge Homem Pinto (morador
poderoao da Paraiba, entao asdistenteno Arredfe)
e Anlonio de Oliveira, provedor e ouvidor da ilha
de Ilamaraca, maodarao oQerecer a Joao Femandea.
Yieira duzentos mil cruzados , pagos a onde elle
quizesse , e com as segurancas que apontasse, por-
que desiatisse do intento comecado, e deixasse a
capitania em seu antigo socego : proposta , a que
0 magnanimo Tarao ( depois de indifferentes res-
postas, necessarias para dilaCar o tempo) respond
dec que nao vendia a honra de castigar tyrannos
por tao baixo pre^o. Com diligencia publica man-
darao reformar a fortifica^ao de iodas as forlalezas
do Arrecifey mettendo nellas dobradas guarni^oes,
muni96e8^ armas e mantimentos, tudo obrado
com a industria ^ de que nao era seu temor a causa^
senao o mal fundado receio do vulgo.
XXXII. Yendo os do conselho que nao podiao
ganhar com promessas Joao Fernandes Yieira,
manddrao prender todoa os moradores que julga*
rao fiuspeitos^ para assim diminuirem o numero
dos revoltosos. Tinhao publicado dias antes um
edital, que mandava atodas as pessoas dequalquer
qualidade e estado que fossem^ que do Arrecife,
nem por si , nem por oulrem , podeSsem tirar fa-
zenda^ sustento, ou genero algum por contractor
venda , commutacao ou emprestimo, sem expressa
licen^a dos superiores do governo, com a luesma
pena a reos e authores. Pareciapolitica , em ordem
ao provimento da praca , e foi ardil do lalrocinio;
QopiK) tambem o foi oiitro decreto que se pubji-
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3S2 GA8TR10T0 LUSTTAMO.
cou em o nm de Junho d'este anno, por todas as
partes de sua jurisdiccao, na seguinte forma. <( Os
» muito nobres senhores do supremo conselhodas
» capitanias sujeitas aos mui altos e poderosos
» Estados de Hollanda, pela illustrissima Compa*
» nhia das Indias Occidentaes, etc. Por qoanto
» informados e condoidos d'algims moradores de
» nossa obediencia ( movidos d'um falso rumor,
» divulgado por traidores,. que aifirmarao que
» nossos soldados , com ordem nossa , haviao de
» sair da campanha a malar e a roubar a (odos os
» naturaes que vivem fdra de nossas fortiGcacoes)
» que seausentavao para os matos , deixando suas
B casas e fazendas , com nolavel detrimento de
» suas pessoase famiiias; por este decreto Ihes
» fazemos saber que nossa tencao i defender e
» conservar a todos nossos subditos em sens foros
» e isensoes , com real seguro de seus bens e suas
» pessoas. Em execucao do qual requeremos a
» todos, da parte de Deos e da nossa, que sem re-
» ceio algum setomem as suas vivendas, ainda
» que andem ausentes por crimes, dos quaes desde
» logo Ihes danios plenaria absolvicao; nao isen-
» tando de nosso perdao aos que houverem en-
» corrido em delito de traicao, com tanto que
D nao sejao cabecas da rebeldia , e que dentro de
T» nove dias se venhao appresentar ante nds,
» para fazerem novo termo de Gdelidade, e rece-
» berem novos passaportes de seguranca. E decla-
» ramos que a todos os que faltarem a esia nossa
» ordem , os havemos por rebeldes , e procedere-
)) mos contra elle?, como pontra jqimi^os decla-
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CASTBIOTO LDSlTAIfO. 233
» rados, sem piedade, nem remissao alguma.
> Dado no supremo conselho em 1 8 dias do mei
» de Julho de 1645; sellado com o sello maiorde
M nosso cargo. Joao Bolestrate. Henrique Manoel.
» Pedro Bakte. Joao Balbeques. » — Publicado
este cavilloso decreto, acudirao ao conselho aquel-
les moradores que nao tinhao podido sair de suas
casas , e outros que nao tinhao lido noticia do Ic-
vantamento; fizerao todos novo juramento, rece-
b^rao novos passaportes , e deixarao por cada um
dous dobroes^ que era o iim destas prematicas,
sempre promettidas nunca guardadas. Muitas ou-
tras vei^acoes pralicarao os HoUandezes contra os
moradores^ que seria longo de referir , e que em
tudo se ])arec]ao com outras muitas de que temos
dado noticia.
XXXIII. Nao podemos deixar de referir ( para
dareza da historia ) como entre os presos estaya
no Arrecife o traidor, de que a cima dissemos :
negoceava este com os HoUandezes que simulada-
mente o igualassem na sorte com os malsinados,
para que se nao entendesse fora o autor da trai-
eaQ. Este ( nao merece mais nome quem vive da
infamia), falso em todo o estilo, deixou manifesto,
no do Arrecife , o da perfida. Sua prisao era a casa
do governador das armas hollandezas ; com liber-
dade para faliar com todos j e nao o comprehender
nenhuma pragmatica ; tinha porta franca para
mandar do Arrecife , e receber de fora tudo o que
queria , e para que sua mulher Ihe fosse assistir o
tempo que elle ordenava. Todos os superiores do
govemo 0 visitavciQ com assistencias o mimos; com
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2S& GA8TBI0T0 LtSITAIia
inais continuacao o coronel Mathias Beke, e os ju-
deos mais conhecidos ; dos Portuguezes/ nenhum
fiel ; so outro traidor ( homem de (ao baixa sorte,
que o delicto Ihe nao affrontava o nome) a simi-
Ihanca influia na correspondencia. Occupava-se
este segundo em recolher tudo quanto se pas8ava
entre os nossos , para o referir no Arrecife ao ou-
tro , o qual o communicava aos Hollandezes ; com
o que y nao ha via cousa que se passasse entre n6s,
de que o inimigo nao tivesse inteira noticia. E
d'esta maneira viviao estes dous homens, um da
traicao do outro.
XXXIV. Joao Fernandes Vieira, a quern nada
se escondia, informado dos desprezos com que
estes dous traidores o tratavao diante dos Hollan-
dezes e judeosy desfazendo em sua pessoa , seu
poder e seu intento; e senlido dosaggravos que
padeciao muitos homens de bem por seu respeito^
determinou com um golpe ferir a todos, e mandou
fixar em todos os lugares publicos, dentro e f6ra,
do Arrecife, este edital. « Joao Fernandes Vieira,
>i primeiroacclamador da liberdade, e governador
>» das armas na restauracao e restituicao de Per^
» nambuco a seu legitimo senhor, faco saber a
» toda a pessoa de qualquerestado, qualidade e na-
» ^ao, que quizer tomar armas contra a lyrannia
» e injusta ocoupacao do Holla ndez^ inimigo com-
» mum J para o bem de todas estas capitanias, e
» dos opprimidos moradores d'ellas, assente prafa
» dentro de quatro dias depois da noticia d'este
D nosso edital^ sob pena de o havermos por rebelde^
i) e procedermos contra elle copio contra inimigQ
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GASTBIOTO LUSITAHa 235
» da patria ; e sendo estrangeiro ou judeo , que
» queira (icar em sua casa j e culliyar suas fa«
» zendas debaixo de nosso amparo , o defendere-
» remos como a fiel vassallo da coroa de Portugal,
» e Ihe daremos todo o favor necessario para co*
• brar todas e quaesquer dividas, que com justifi*
» cado titulo Ihe pertencerem ; al^m do que se
H Ihe darA satisfacao ao soldo que constar Ihe fica
>} devendo a Companhia de Hollanda; e em caso
I) que queira passar desla para qualquer outra
» provineia, porrazoes que tenha para uao mili*
>i tar debaixo de nossas bandeiras , Ihe daremos
w livre passagem ; advertindo e requerendo a
D todos que se nao deixem enganar das appa-
» rentes confiancas, e falsas promessas do femen-
• tido Hollandez. Dado desta nossa carnpanha de
>} Pernambucoem 24deJulhode 1645 annos. 0
» govemador, Joao FbrnandesVieira. > Doidos
do golpe , e irritados da injuria, mandarao os Hol-
landezes deitar bando por todas as pracas e forta-
lezas do Arrecife , pelo qual promettiao quatro mil
florins a quem matasse ou prendesse a Joao Fer-
nandes Vieira ; e que sendo o matador escravo
receberia o dinheiro , e ficaria livre ; da mesma
sorte se estivesse comprehendido em qualquer
crime. Por outro bando e publicos editaes pro-
metteo Joao Fernandes Vieira oito mil florins a
qualquer pessoa que Ihe apresentasse a cabe9a
de cada um dos do conselho supremo; aos quaes
escreveo uma carta, cuja sustancia era arguil-os
de femenlidos, herejes e horriveis tyrannos, com
maos so para o roubo^ e linguas so para injuria* e
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236 CASTRIOTO LUSITANO.
para a blasfemia. Que ouvia dizer publicavao
buscal-o ; que se nao cancassem em especular ca-
minhos infames, que elle a cara descoberta os iria
visitar ao Arrecife, para o que tinha quatorze mil
soldados brancos , e yinte e quatro mil moradores
indios , que nesia faccao da liberdade o seguiao :
numero , que primeiro Ihe aggregou o desejo da
vinganca , que o braco de sua diligencia. Grande
pezar e cuidado causou esta carta ao Flamengo,
porque conhecia o caracter de Joao Fernandes
Vieira , e pelo lerreno de seu dominio Ihe nao pa-
recia exagerado o numero de combatentes de que
elle Ihe fallava. Escondeo quanto pode o receio,
occultando-o debaixo de apparente desprezo por
nao allerar os parciaes.
XXXV. Em quanto estas cousas se passavao em
Pcrnambuco , succed^rao outras em Ipojuca, que
mereeem ser referidas. Havia naquella terra um
mancebo valoroso, chamado Domingos Fagundes,
natural da villa de Viana do Lima, o qual pelos
sens alenlados espiritos fora nomeado capitao d'u-
ma companhia paga (com a obrigacao de a levan-
tar). Ja se tinha destinguido varias vezes este
mancebo por varios feitos , que Ihe tinhao gran-
geado grande reputaoao entre os moradores , e so
espcrava a primeira occasiao favoravel para se por
em campo. Aconleceo que em dias de Junho d'este
anno succedeo matar um morador a um judeo ca-
sualmentc. ( Era contratador, e dos ricos do Ar-
recife. ) Acudirao valedores por uma e outra parte;
c na pcndencia ficarao mortos , pelas custas, ou-
tros dous tra (antes, tambem judeo$, Foi a revolw-
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CASTWOTO LUSITAKO. 237
cao do lugar tal que o cabo do presidio hollandcz se
imaginou perdido. Saio a prender os deliDquenles,
mas nao o conseguio, porque ja se tinhao posto a
salvo. 0 capitao Fagundes , que a este tempo se
achava com dezeseis soldados de sua compaDhia,
persuadido da confusao que causai»ao aquellas
mortes, deo sobre algumas casas de Hollandezes,
e nellas nao deixou vida o ferro, nem fazenda o
fogo, que nao consummisse ; e nao fic^ra naquella
parte Flamengo, nem cousa sua, se Ibe nao ataraas
maos a falta d arraas de fogo. Determinou buscal-
as a ousadia a onde as guardava o perigo : assaltou
uma casa forte, na qual se aquartellava uma com-
panhia de soldados hollandezes; com morte de
tresy e fugida dos mais a ganhou, e com as armas
emunicoes dos despojos guaraeceo aseus soldados.
Ja ao valente capitao pareciao pequeno emprego
para sen animo os assaltos fortivos : a cara desco-
berla investio tr^s barcos , que ( no chamado
Porto Salgado ) estavao a carga, com boa quanti-
dade de assucares e farinhas ; e os rendeo , a pezar
da guarda hoUaudeza qlie os defendia. Neste
tempo chegou a nova de que eslava Joao Fernan-
des Vieira posto em campo, com sufficiente pe
d'exercito, e Amador Araujo, que era o principal
capitao d'aquelle distrito, com todos os mais capi-
taes, soldados e moradores se declarirao por par-
ciaes na sublevacao, supprindo a falla das armas
com a grandeza dos animos, que os animava a
lancar mao de cbucos , dardos , facas de monte, e
paos tostados. Fez grande impressao no Arrecife
esla nova J causou espanlo a todos, especialmenle
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358 CASTRIOTO LUSITANa
ao8 judeos^ os quaes sairao pelas ruas appelli-^
dando justica, e persuadindo vinganca; tal foi a
Tozeariajque Bzerao elles e niais habitantes as porta$
dos conselhos e dos ministros, que estes se virao
obrigados a chamar o general das annas Henrique^
dando-Ihe ordemque comseiscentos homens mar-
chasse a Ipojuca casiigar a rebelliao.Em 24 de Ju-
nho saio elle com effeito da cidade Mauricea, es*
condido com as sombras da noite , e com os recatos
do silencio. Em quanto faz a viagem daremos razao
do que succedeo na campanha , onde deixamos
ao governador da liberdade ( neste mesmo dia )
occupado em manifestar a empresa por editaes
publicos, dando por suas ordens o primeiro im-
pulso a restauracao de Pernambuco.
XXXVL Nao dava o governador da liberdade
um passo de que o HoUandez nao tivesse noticia ;
effeito da Tigilanda com que os traidores , que
assistiao entre nos, o inqueriao e delatavao. Ten-
cionava elle dar uma poderosa assaltada no lugar
em que se achava Joao Feroandes Vieira ; mas
este^ que tambem tinha boas espias^ retirou-se
para a mata, que chamao de Vasco Pires Borralho ;
d'alli mandou chamar o capitao Antonio DiasCar-
dozoy que com a sua gente se viesse incorpoi*ar
com elle ; o que logo fez, seguido dos soldados de
sua companhia. Assim como chcgou, Ihe deo Joao
Femandes Vieira pa tente de sargento maior e pree-
minencias de tenente general, ordenando que
todos Ihe obedecessem como a sua propria pessoa.
Ghamou a conselho os homens que o podiao dar^
e nelle ge resolveo que nao convinha esperar alli o
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GA8TEI0T0 iUSlTANO. 239
inimigo com gente bizonlm, falta d armas e de
pratica, e em tao pequeno numero. Approvado esle
parecer, se escolheo por lugar mais conveniente
Q sitio de Maciape, quatro legoas distaote y e por
importante abrir-se novo caminho pela mala, para
86 encobrir a marcha, furtada a espias e traido-
res. — Executou-se o conselho com promptidao;
abrio-se o caminho , marchou o pequeno exercitd
( constava de duzentos cincoenta homens e trinta
segrosroinas); fizerao alto em Maciape, onde se
Ihe aggregarao os capitaes Francisco Ramos, e
Braz de Barros, com quarenta homens hem arma-
dos ; e Joao Barboza, Sebastiao Ferreira, Domingos
da Costa, Joao Nunes da Mota, e Domingos Rai-
mundo, com a gente quepod^rao trazer comsigo.
OrdeDou o governador da liberdade ao ajudante
Amaro Cordeiro e a outros officiaes da milicia
(cabode todos o P. Simao de Figueiredo) que
foasem pelas ribeiras de Gapebiribe, at6 a mata do
Brazil, intimar a todos os moradores, que com
suas armas e escravos se yiessem logo para aquelle
lugar; alias os teria por rebeldes, e como taes se
procederia contra elles. Estavao os animos tao hem
dispostos, e era tal a coolianca que todos linhao
em Joao Fernandes Vieira, que em cinco dias que
^le se deteve em Maciape se Ihe aggregarao oito-
centos homens ) os mais d elles praticos na guerra,
por haverem militado nas occasioes passadas ; po-
r6m so com trinta armas de fogo, poucas para a
gente que era, muitas para o rigor com que o ini-
migo as prohibia. Para supprir esta falta mandou
0 governador alimpar bom numero de espingardas^
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2^0 CA8TRI0T0 LUSITAIia
que para esle fim tinha escondidas ; aos mais fet
armas de chucos e paos tostados^ que suppriaoa
falfa de picas. A esta heroica resolucao dos mora-
dores juntou-se a disciplina ; e em pouco tempo
comecarao os nossos a ser temidos do inimigo peio
numero e pelo denodo, que todos os dias crescia,
e que Joao Fernandes alimentava com o exemplo
e com a fazenda, pois por tempo de ires mezes cor-
reo por sua conla toda a dezpeza do exercito na
campanha. Em quanto o exercito oao muda de alo-
jamento, daremos razao do que passarao os dous
embaixadores j que o Flamengo maudou & Bahia,
por nao tirarmos aos successos seu proprio tempo.
XXXVIL Em o numero XXI dc este sexto li vro
referimos como em os primeiros dias de Julho
d este anno mandarao os do conselho supremo em-
baixadores a Bahia, com ordens que com toda a
diligencia descubrissem o animo do govemador
do Estado Antonio Telles da Silva, e sondassem o
fundo que tinha a sublevacao^ e intento de Joao
Fernandes Vieira. Com ventoem poppachegaraoa
Baliia , tomarao terra e toda a infbrmacao concer-
nente a seu intento. Procurdrao audiencia do go-
vernador, e nella Ihe expuserao as queixas dos
seuhores do conselho supremo contra Joao Fer-
nandes Vieira , e as suspeitas contra elle governa-
dor de ter coadjuvado aquella rebelliao ; e conclui-
rao por proteslar contra similhante procedimento,
fazendo-o responsavcl pelas perdas e damnos que
se seguissem, pois os Estados haviao de tomar vin-
ganca d'uma tao grande offensa. — Ouvio o gover-
nador com attencao os embaixadores^ e com pru-
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CASTllOTO LU51TAM0. 2Ui
dencia Ibes respondro que Joao Feraandes Vieira ,
po&lo que Portugue^ pelo naacimeiito, era HoUaa-
des peio domkilio ; que elk habitava em domiDios
do supremo conselho ; que usassem para com eUe
como enteodesdem ; que die nada tiuba com isso
assim como nada tinha oontribuido j>ara a suble-
vacao; que em quanto As ameacas^ elle nada re*
ceava, porque Portugal, que pod^ra reaisUr" a lodas
as fcNTcas de CasteHa, reconquistandoa sua liberdade,
tambem saberia eastigar as bol^as de Uolla&da. Manr
don logo yir diante d'dles todos oe ^bos, que diziao
tiahao pasaado o rio de Sao Fi^andsco em iavor de
Joao Femandes Vieira^ os quaes reconhecidos pelos
dotfs embaixadores j Uies disse o goveroador : •
(V Digao aos seidiores do ccmeelho, que sobre leatd
» desengano lhe3 quero agora mandar esies capi-
>taes com poddrea e gente, para que me tragao
» preso a Joao Fernandes Vieira (se i certo que
)) tern tao pequeno soquito j como dizem ) , e Ihes
D ordenarei que Cacao todo o poasivel por deixarem
» OS moradores em sen antigo socego ) e deverao o
n seguro a causa de sen receio. » Confinos e ocm-
4eiites se despedirao Oa embaixadores do goyer«
nador.
XXXVIU. Tbeodoxio Estrdler, que era o prin^
cipal embaixador^ nosdias que alii esieve, proou*
rou audiencia particular do goveraadcH* do Esiado;
nella Ihe ratificou o animo que tinba de sehrir a
£1 Rei de Portugal , e daramente cenfesson a Ton-
tade de entregar aos Portugueses a fof^fialeza de
Nazareth, de que era commendor; senrico, que
merecia estknacao grande , pela importanda do
L 16
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>'.
U% GASTtlOTO LOStTiMO.
porlo, pela ulilidtde do eommercio, < pdas coa-
MqiieocUitdo'etieaipk) : deter minano que ^ tinha
praticado a Jeaa Feinandet Vieira por equivocaa
inteUtgencias , reeeoM de que nao livesse effieito
seu intenio ; mat que agora que o Tia poato em
campo 5 tendo por si a ju6ti9a e o aequile, se de*-
clarava com sua Excellencia, e o disporia com Joio
Fertiandeft Vieira; nao deacjando da Majealade
d'E) Rei de Portugal maia premio queoservitot
n^m de a«a Exoelieacia mak fovor que e ialetrilHO
d'eata Terdade. Graioe diacreto Uia respoodeo An-
tonio Telfea da Silve ^ aeooiiando o ofieracimeatay
e km^Bdo a delermiuacao ; que bem moslraTa aer
parlo d'ttfit animo geaoroao e juatifindo ; proi^tr
tettdo-^lhe da parte d'£i Sim sou aenh#r eqtiivalaiite
pnemid a tao x^devante a^rTt^.
XXXiX. Eaibamrao oi embaixaibM, cW^a
riq a Bihia^ velatArio o que virto aa eidaRk, e
quanto com o ^veraador pafwi m» ettgrandkeoeado
aeo vidor, aqa fidalguia e sua eapacidaik; afiir^
marao <]Qeo aeu cora^ao eca altivo, ^akale e eii«
aade, e que eidveasem oertoa que o mo haria de
aobar aefrido o mioimD a{^mTO, »em uagrato a
mais pequeno obsequio ; assim Iho fnandava mgw-
fioaiv aQM6elbaQdoK>6 trataaeem os aobditos com
juati^a e clraaencia pan aa oao tereaa reheUadm ;
e qua pronieUia maii^ar brevemante •cafMti^a e
aoMadoi , que jreduaissem e aquietaasesa aea inora-
derea (para o que, ellea eaviadoa^, Ibe haTtto pro-
HBKKido paaao fraooo em nome doa fistadoa) ; maia
dmerao que do porto da fiabia nao esiavao embar-
oa^oeadegiterrai foradogailtao de Salvador CotTea,
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CASTRIOTO LUSITANO. '2/43
que de verga d'alto esperava tempo para comboiar
a Portugal uma frota de navios mercantes ; e com
seus mesmos olhos Tirao assistentes na Bahia tqdos
aquelles cabos^ que se dizia terem passado o rio de
Sao Francisco^ em soccorro dos rebeldes. Coii>
estas novas respirou o temor do$ HolLaodcges^ e se
eonfiraiartto ftqnelles animos indomitos e periklos
em nao desistirem das tyrannias, e augmentar^m as
semnzQBft e aggravos em toda a parte e em iodo
o tempo. Imaginavao-se vingados por nossa^ mes-
mas» e pela3 suas senhores de (odo o£sUfcdo do
BrazU ; porq«6 w deliberaWio em malar por ti«k€o
a todos OS que o governador Antonio Telles dai Silva
mandate em aeu Mixilie ; e uiitriAO que a falta
d'eUea (he entregaria a Bahia a maos laradas. Para
tudo o que )he propuaha 9u% aleivosia se comeQ^-*
no a |>reparw eom loda a praaaa. Em tudo at tn-
ganou sua maHcia. como se veri em o seguinte livro.
Q^^ di» seua ii&actoa nao ftabom os bQipaM adwr-
ttr o wrado 4e mm Asenrsos. Nao ha eonian^ «ao
nescia como a daquelles que piotao os futuro^ das
eoresAiaeuadMejoay aao podaraada qiia nas maos
doB homens estao os inttntos^ e nas da DeoR os suc^
C^saos; e queoconseguU-os^ ou favoraveis, ou ad-
vaMOi paia aala an para aqmAla 6m y 96 o maamo
fhos op6de saber, que oao espera tempo para veros
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Livfio \n.
SUIULUUO.
. Mandt o Flamengo tsstltar os nossos pelo mu strgento maior
Joao Mtr; pM* avito (Turn Iraidor suspende t marcba—^. Chega
^ifif«e Dim # Ipojvea; o ^iMihiacoAltce; ntrcte t eocMilrar-
•e com Joio Blar. — 3. Joao Fernaodea Vieirt imn aTiao de tudo;
leraDta-M de Sao Loureoco, passa o rio Tapicura 4 vista de Joao
Bkr. -^ 4. louteu doi lrald«rei; perlgo em que poi a emprtM,
▼eacido pela pnidencit do governador. — ft, Pe/lioacia dot trai-
dorei* alalhada pela coosUDcia do governador. »6. Volia Henri'
que Has de Ipojuca , e o qae faz. — 7. Cbegao ao alojamento do
Cofw dgmtflAdiM 4o Cuurm. — 8. Derrtlo com que tafo o
bereje do Arteeife; eflfeitos que ctuta. ~ 9. Ardil de que uia Joio
Fernaodes Yieira em favor dos moradoros da Tanea ; chega-lhe
Modeia da deaira^aode Cuohai; m«da de aloiaroeiito para o
nrante &$m Tabocaa; descripc«> d'eete monte. — io. Alojamento
do noMO exercito ; reduz o governador a um apostate hereje* —
11. Ot traidores persuadem a que le mate A cara descoberta o go-
▼eriador. * 19. 0 ioimtgo marclu para o eigeftho do Covai ; dA*
ae rebate nas Taboeu. — IS. Falla que fes o governador A sua
gente. -— 14. A vizinbanca do ioimigo Ibe corU o fio ; fortificao-
•e oa DOatoi ; o capitao Fagundea deicobre o inimlgo na passagen
4o rio Ta^ieurA, e vai-ae reclraodo M u aoafM emboteadai. —
15* Retire- ae o Hollandez sangrado do noaao ferro; industriacon
que entre os nofsos se esconde a falta das municoes. — 16. Zelo
d'alguM rdlgioaos e aaeardotes, q«e detem o governador quando
arriscava aaa pesaoa. — 17. Ardil do ioimigo atalbado; reiira-ae
yencido; toma a ayancar^ e torna a ser repellido. ~ 18. Forma-
se de novo , e acomette o Tabocal ; o governador anima a resis-
taaeia; ftea o HoUandei deaCnildo. — 1». Feeieiao o» Portogveies
a victoria, e ae prepfrao para novo combate; queoenganode
nossaa espies Ibe fes recear. — 20. Foge o ioimigo do campo, e
ae aproveitooos nosaos doa despojos; dao gracaa a Deoa pela mer-
e4. — 21. Perda do ioimigo, e nossa; eapitaes e peasoas de qua-
lidade que se acli&rao no conQicto. — 22. 0 que faz o Flamengo
em Ipojuca; cbega A Yarzea, eitorsoes que ahi maoda fazer; bar-
bare decreto que manda publicar. — 23. Chega ao governador
a nova do aoceorro que aportara em Tamandar^; delibera-ae em
soceorrer algumas povoacoes. — 24. $ai da Babia Salvador Gor-
rea de Si por general da frota; mette soceorro em Tamandartf;
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GAsmooTo LracTAna 245
accUma-se a liberdade em Siriahatia. — 2tt. loa* d'Albaqvarftta
pede soccorro aos Mestres de campo que tiobao tiodo da Babit j
coraelle eereat fortaleia do inimigo, que le rende t parlldo!
-*30. Maroka Mo Feraandes Yieira a ae^rar oa Maalres deetai.
po, a queixi manda dar as boas yiodas; os quaes Ihe saem ao en*
contro; alojao-se, e mandao soccorro ao Mestre de campo Mar-
tkn Soarea qua ccreava a fSorUlbaa da VazafoUi. — 97. Manda •
gOTernador marchar o eiescilo para Moribeca,^ de U para o rk
de Tigipi6. ~ 28. Decrela o geDeral HoUandez a prisao de todai
as muiberes da Varzea ; determina passar a espada todos os mora-
dores ; arkado do q«e o goTornador, raar^ a iflq»edir aex0M^.
—29. Pasa o rio Capeberibe ; avisia o governador e ui?este oa eequa-
drocshollandczes; chegao Meslre de campo Andr^Vidala reforcar
o combate. — 90. Alenroso eogano de que se yaleo o ioimigo ; re-
aolvem-se os nossos em Ihd pte fogo; pede o inianigo fuartal;
concedem-se-lbes as Tides, exceptos os Indios^ que se mandao pas-
ser d espada. — 31. 0 que passa Henrique Hus na presenca do
gofemadot. -^ 33. Alexia que oaosou a todos a liberdade daa
matroaas ; despojos da batalha ; morios e fericks d'uma e ootra
parte. — 33. Quem era o P. Fr. Joao da Resurreicao. — 34. Vic-
torloso e triumpbanle mareba para • Yarzea Joao Femandes Yiei-
ra; remettemse ot readld^ a Bahia; morte de Joao Biar. —
35. Cbega Salvador Correa eom a froU 4 vista do Arrecife; man-
da embaixador ao Arrecife • com que effeito ; obrigado do tempo
levou aneora, e se fez «> mar. ^ ^. Manda o HaUandez qveiauff
OS navfos que estayao surtos em Taaaandar^; e o qua miia m»-
ccdeo. — 37. Primeiras accoes do capitao Manoel Barboza. —
38. 'Martlm Soares Moreno aperta o sitio a fortaleza da Nazareth ;
bnaea o eommendor eaipinlios para fiicilitar a antrega* — 99* To*
mao OS nossos uma lancba, e com que occasiao; protestao de to-
mara fortaleza a escala; proposta que faz o eommendor aos sens.
— 40. Refolvemaentrega dafbrtaleza; eapitnlao-se u 00B4if5ei;
faz*se aviso a Joao Fernandez Yieira , o quai manda o dinbeiro
para os rendidos ; tomao os nossos posse da fortaleza , e d'uin
barco que Ihe vinha de soccorro.
I. Confiado e altivo desprezaYa o Fiamengo o le«
vantamento doft iiK>radores; aYaliaYa Joao Fer-
nandes Vieira pw cabe^a send esfMritos, porqiie
sem autoridade, sem valor e sem disciplina. Viao
9e<]uito em pequeno munero; imaginava o violenio
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M5 GAftTwm) wmM&.
on engttfnid^ai, sein fftmas, sem ttiulii^s, sent cabos
e sem pritica ; e como sem alma ie lb# repreten-
tava o o9rpo da rebdliao. Erroth4fae a medida ,
e sdlo-lhe curto o remedio. Mandou ao sargenio
maior Joao Blar, que com traieoioa soldackM, ar-
madas de clavinas, saidse do Airecife (cobefto
com OS sombras da noite) e d^se sobre a mala de
Vaato Pires Borralbo^ a onde per ayisot oerlos sabia
que se alojavsl a nossa gente , com ordem que a
Jmo Fernaudes Yieira e a todos 08 que o teguiao
matai8«, ou prendes^ ; e que o nao seguisse sem
engrossar o poder com a genie do governador das
armas hollandezas, Henricpie Hus, que da vdiade
Ipojuca se haria encorporar com elle em o mestno
lugar; ao qual tinbao ordena4o que nao deixasse
rebelde com vida. Marchou Joao Blar aui chegar ao
sitio que chamao o Arfaial Velbo, a onde fez alto ,
avisado d'um traidor nosso que asaialia a Joao
Tet^natidef Vielra : advertia-lhe que se nao mo-
veise at^ segundo aviso , por quanto a nossa gente
tinha mudado de alojamento^ e ainda nao tinha
tomadb {>osto. Obedeceo o Blar, em quanto a sus-
pensao da marcba , porim nao em quanto i sus-
petisao das armas, porque com diversas mangas
lomou (odos OS caminbos da mata^ que guiao para
OS rios Patebiribe e Ju£;aribey e seguio o caminho
de Iguara^u, executando em toda a distancia desta
marcha taes ef tao crueis desacatos e demaxias» que
ainda agora os olha a memoria com espanio* Com
a mesfna yioleitcia rerapia pelo religiose e peto
profano f despedacata as sagi adas imagens com tn-
jtim* t as honestas <lonzo|las com irrisAo; sem
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dMtiMfio.certava pela idade mais Torde, e pela
mais cadociy nao fiuendo disiinc^ao de sexo a sexo,
nam d'eaUiid a eatado ; coln^ia o estrago do ferro
com u Ginzas do fogo , e coon oa golpea da morte
aialhava oa griloa da dor. Nao. indivtduo as atro*
cidadasi porque deamaui a penna com o horror
d'ellaa, S46 direi, que Ibe estraobou Henrique Hui
a ferocidade | ou porque nelle se Tia exceder, ou
porque a uao podia imitar ; seado elle um^jf uellis-
siBio espaolo da natureza humaua.
U* Emouumero XXXV do livro precedeute ae
disse ooroo em 24 de Juuho aaira do Arrecifi^ Hen-
rique Hu8 com aeicento^ soldados a castigar 0 moUm
de Ipojuca ^ agpora diremos eomo , por esconder o
castigo k eulpa^ marchirao furtiyos at^ a uiala de
Tabatioga (uma leguadistiinte de Ipojuca) , a onde
ou o aviao , ou o acaso tioha emboi^cado ao capi-
iao Fagundea com vinle aoldadoa de sua compa*
nhia. Approveitou-se da occasiao , e deo ao Flar-
mengo uma carga, que o deizou eonfuso, mais
pek> sobresalto que pela perda, que nao passou de
tres mortoa e alguna feridos, Temeo o Fagundea
qua 0 ioimigo o cercasse , e muito com tempo se
reiirou a buscar o siiio, onde ae alojava o capiCao
maior Amador de Araujo. 0 general boUandex
apreasou a marcha f por nao diminuir a presa j e
deo sdbrea povoacao, que achou sero resistencia e
aem riqueaa , porque os moradores a tinbap quasi
desemparada , igualmente temerosos xlos judeos
oQendidos, ,e dos Hollandezes escandalizadoa; nao
tiverao os invasores em que cevar nem a cobi^ai
nem a Tingan9a. Mandou 0 general holiaades
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2A8 GAantlOTO UTSTANO.
deitar bando qne assegnrava as vidas e as Isr^endas
aquelles que dentro eni tres dits se recolhessem a
suas casas ; do que se aproTei(4rM algutis Tiei-
nhos por escaparem a morrer de feme no inierior
dos tnatos. Nesie higar mandon o ioimigo enforcar
a Francisco Godinho por se dizer era urn dosicom^
plites iKi consptraoao da liberdade.^^Henrique Hus,
sabendo que Amndor de Araujo.caminhava com
algama gente a untr-se com Joao Fernandee Vieira»
marchou a toda a pressa em seuseguimenio^ deo-
)he alcance, onde chamao a Ponderama, meia legoa
antes da povoacao. Era desigual o partido, e ficou
Amador de Araujo destrocado ; raleo-se da fuga ,
fovorecido da ma (a y def xando cinco raortos , e le-
vando comsigo os fieridos, se fbi unir com Joao Fer-
nandes Vieira , que j^ neste tempo se atojara nas
casas de Balthazar Rodrigufs Govas. Nao ficou o
Holiandez sem recompensa, que mortose feridoe
)he custou o eneontro. Henrique Hus, com as or«
dens qne tinha recebido no Arrecife, marchon
adiante a incorporar*se com seu sargento maior
Jyao Blar; mas com tanto medo das emboscadas,
que o movimento def qualqner ramao sabresaltaTa.
Com esta iitiaginacao mandou matar o hermilao de
Santa Luzia (capellao do engenho de Tabatinga),
porque ouvio tanger o sino da capella, parecendo-
Ihe que tocava a rebate. Proseguio a marcha re-
colhendo os Fiamengos que se alojavao nos des-
trictos de Santo Antonio do Cabo e da Moribeca,
sem deixar cousa dc moradores que nao roubasse e
consummisse. Dez dias o delcve esta diligencia, e a
cresceqle dos fios, ajudnda de sens recejos,
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GA9TIIT0TO LimiTAlfO. 2&9
HI. O go^emi^r da libfvddde, qfie a esie tempo
M alo|t?ft M poTOdcM de Sio Loureiico, oceu^MMlo
em fM'ei'eiiir todo o qm podia set ittit a empresa ^
toi avisado de dentro do Arrecife da^ ordens com
que HeiBpiqiie Hm e Joao Blar tinliao saldo d*elle ,
e que se aeautellasac, porque unidos o haviao deeii-
Tesiir em quatquer sitio que occa passe ; a que sem
d«vida fariao com sobejo pod^r, porque se haviao
de aproveilar da gente dos presidios, que se aquar-
telb^a peles contomos. En^re os confidentes se
leo o aviso^ e resukou da conferencia, que de ne«
Tihoma sorte se esperasse o inimigo naquelle posCo,
por irregular para a defeza e favorarel para a in-
vasao ; que logo se levantassem d*aqudle sitio, e
fte escoIhesBe outro, em que eooeurressem as con-
venienciQS necessartas. — Executou-se a resolueao ;
passirao o rio Capeberibe , que ia de monte a monte
com mais trabalho que perrgo , pelas balsas e jan«-
gadas que se fizerao. Pela margem do rio contina*
Tao a marcha at^ qvie chegarao ao engenho de Sao
Joao, que se dizia de Arnau de HoHanda Barreto,
o qual agasathou a todos (em fres dias que alii
cstivcrao) com benerolenciae abundancia ; e com
dous filhos se aggregou e seguio a Joao Fernandes
Vieira. Pareceo bem a todos que se eontinuasse a
marcha^ dehcando naquelle sitio ao capitao Cosme
do Rego com cincoenta soldados, eomo sentlneRa
para descobrlr a campanha , e dar ao exercito os
avisos necessaries. Sobre este seguro caminhou a
nossa gente com batedores ao largo, levando diante
ao P. Simao de Figueiredo com qnatorze ho-
meiis ligeiros, para guiar e desempedir a vereda
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ott 4ez horoens de oada vet, piisoii todo QfaMcito
o rio Tapicura, i viaU de JoioBUr, quedftoalni
ptrie M <)ceukava eiiire oa matot i eipcMiHlo a
cbtgada de Hearlque Hua , que drde»M afe md
aoveaae d'aquelle lugari e se akjou oaa cataa de
Manoel Fernandes Crua, oade ae deteve s6 a noila
aeguinte, e d'alli o le?ou comaigo o govemaidor da
liberdade, para o aitio de Bdchior Rodriguea Cevaa»
oode a noasa gente fea alto , e se aquarteUou oom
ioiento d'esperar e reoeber alii o inimigo, ae neUe
o buacaaie. Joao Blar, que vio parlido o nosao exer^
citO| e por urn mulalo traidor enteodeo que ne eugd-
nho de Arnau de HoUauda ficaya Goame do Rego,
com cineoenta booMnsdeo aobre eUea no maia idle
da Boitei e facilmente oa desbaratoui porque dea*
cuidados dormiao aobre o fteguro de sua coniiaiiQa*
?Iap deo o asaalto lugar i defeosa ; porim oaa o li-^
rou a fugida. Sabiao o» noaaos as vereda» , e fieitos
n'um corpo rompirao peio malo, e ae forao eacor-
porar com o governadpr da liberdade
4. Ja por vezes temoa dito que a traicao pre-
tendeo deade o principio oaalograr a glorioaa em*
presa come^ada por Joao Fernaodea Yieira ; agora
diremoft que, quauto maia eata ae conaoUdava,
maia aqueUa escogitava meioa de a dealruir« Veodo
oa traidorea que accanpauhavao Joao Fernandas
Vieira mo para Ibe imiiarem os impulaoa, sense
para ibe contai*ein os pasaoa ^ que a sua genie cres^
cia em numero e em animo ^ e que o pod^r iaria
inutets os eaforcoa da trakao, usiirao d'um diaho-
l|co ardil, que cbegou a por em contingen^ia o pro-
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§rm» dm enqpraMU Chimirio a ii os homeiis que
ft piirihBtmidaitoc a tidK)rdina^ tinhao mais dia*
.poaioa para a creduHdailey e com racoeaappareiitoa
oaperwtfKUrao qne o urtcMo de Joao FemaBdea
VSeini oao era do oa liberUr^ aemo de oa dealruir^
tmndo^os d^ atias caaaa com a vox da IHierdade
para os destarrar da pairia ; e a melbor livrar^ leTaU
oa cQRisigo para a ftihia, porque eotre os Hollan*
dezea nao tinha quartel. Fiaerao4het uma pralica,
com que oa quixerao disauadir de aeguir um ambi*
«iMO que ad qoeria gaohar noma a caala de auaa
▼idas e fazeiidaay e ooaclnirao diaeada : « Dizemoa
» Q que palpaflMM « quern ae qaiaer perder, deixe*-
M ae enganar ; quem tiv^r juiao, aaberi teaaer ^ que
n iM> p6de haver maior demencia que ler aoa olkoa
n o praotpieio , e deapeohar-ae por goftio, m -^ Foi
de aoao em imao a praiiea ; impiimio^^se oom ella a
deanoiifiinfia ^n mukas aninooa meuaa firiuea na
raaolufaa, de aorle que dtvklido a exercito em
buidos eaminhaTa a um motiin iiretoediaveK Po*-
rim OS capitaea mais valeroaM, aobrea e fieis uoi*
no-m ao govenMidori ooDtendo oa soldados ; e este
uaando de sua eoaiumada prudeacia f mandou dar
om rebate falao, com voi que apparecia o Fla-
ineogo ; oid^aou ao sargenio maior que repartisse
a gente pelos postos^ e emboscadas mais (^nvor
Biotas, divkUndopor U>das<]«amoUuados#^ A obe-
diedcia de^Mm sem diaourso a maUciai e a repeptie
Mtt% iembrao^ a duTida, ch^arao as uossassenti*-
-oellal, e disaerao que o campo estava aem iuimiga.
Foi ordem a eada um dos ^pilaes que deixaa^c^
-OS poaloS) e se reootbessem com a gaute, e cadar-
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952 cASTBioiD unmiia
qntl com a de sua <K>m{Minbia pasMiie par oiideie
a^java o govemador dt libenbde. Eriio trtnU •
quatro o$ capittes , e assimcomo cada nan prepaa*
tara , o goveroador »grattdecia a obedimcia, valor
e preBteza, com que hayia aaido a defcta da sua li*-
b«rdade, mostrando bem o aangae portuguex que
herdara, e os brios que tinha ; e que se algum aol-
dad0| por Falta de animo ou de zek>y se nao atrevia
a eontinuar a guerra, desde logo o havia deapedido^
porque nat occasioee senria a quididade^ e uao o
numero; e que aa balalhaa se v^ueiao por auimoaos
e nao por cobardes. A diversos raacfaos, que fica*-
vao desviadoa , mandou a goTemador fiu^er, pelo
P. Simao de Figueiredo, a meema pratica, Obroh
o remedio com tauta elBcacia, que ae outio em
todos o brado daaaude, porque a gritosproaieUiao
obediencta e fidelidade a aeu governador Joao Fer-
nandea Vieira ; q qual com a espada deae»faamhada
na m&o, e em tok alta , disee que eatava* prompio
a dar por todos a &zenda e a vida ; e que a qual-
quer que fosse tao inftime e ousado , q«e se atre*
vesse a deariar ou persoadir k menor pesaoa d'a-
quelle exercito a nao pros^^ir na pretensao de
sua liberdade, o hatia de mandar enforcar por
traidor, sem dislmccao de pesaoa , nem quebra de
palavra.
y . Nao pod^rao oa traidorea destruir a Joao Fer-
nandas Vieira por meio da divisao que pretend^rao
introduzir na sua gente ; mas nem por isso deats--
<lrao de suas mis intensoes , que tratarao de Ibe
tirar a vida de palavra e por escrtto. Nao se per-
suadio que bou vesse homeue tao desam parados da
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CA8TBI0T0 LI^SITAIfO. 253
eottsciencia e do juixo que lal inlentassein ; mas
isomo imfMseoi oe atiso^, com sinaes cerlos das
pewoas etks dtligeticias, individuando as chrcums-
Uoda^, tratoo d'atalhar o receio e[o damno pelo
modo roais seguroe menoaescandaloso , matidando
p6r diias aentinellas a porta da cozinha j mo dei-
xando entrar nelia mais que um fiel escravo que
Ihe faita de t^omer, e nomeando nma guarda, que
de dta e de noite acompanbasse sua pessoa; e
d'eale modo eonftindio o odiocom mostrar que des-
presava a trakao.
VI* Malogrados por esie modo os mtenfos da
traicao , proseguio Joao Femandes Vieira na he-
roica enpr^sa que haria comecado com igual zelo
e niiO meiior inleUigeiicia. Tinha elie ja nomeado
capilio maior a Joao Soares d' Albuquerque j com
ordem que lenoitasse geote na freguezia da Marfr-
bett o&m diffiflMitacao e segredo, para a acbar
promj)ta na occasiao ; do alojamenio do Govas Ihe
eacTeveo, ordenando-lheque aeclamasse a liberdade
e togo marehai^e- com a genie a unir-te com
eUe. Em 2 de Julho foi entregue a carta : com
prompta obediencia se executou a ordem. Saio do
sea ^figenho acompauhado de sen irmao Joao Lei-
tea (poi^ eMe elleito capitao) 6 de Tinte homens
de sua casa , mandando a todos os mancebos que
pagasaem em armas , e o seguissem sob pena de os
castigar severamente como rebeldes e remissos.
Nao houve algum que o fosse ; antes com tumul-
tuoso alYoroco sairao no UtmB. do bando, sem sa-
berem os fundam^ntos que tinba a sublevacao,
porque sd se mandata que tomassem as armas
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2M CUXMOfO uwir AM.
contra a iyratum bolltttdeza* Em qtia&io Mm wt
preparavao d^fiie aobre o M^entio iqtiwbatiloa Fla-
mengofif com numeroia partida de badtoa^ i|fia
Tiofaao de Ip<3jttca , (ao inopioadaoiettle , que taCit
o rebaia a o aaaalto le nao entrepox maia tanipa ipK
o neoMaario para a nooaa gente ae rattrar a im
moote, oMia furti^oa ao poder do irtimigo ae Uae
a^[|(itc;araa iodoa oa chanados* Uiudoa n um coFpa
tomiraa a derrou da Goi^au , raoolhcaido de c^
mmho o§ moradorea da fra|[uam de Saato Anaonio
do Gabo. Marchaiio todoa debaixodaalMiadeiffaade
Joao Soara« d'Albuqueaque; a poueaa jorriadaa eo-
cootraracHM com AiMdor de Araiija eaaa ^aBie^
que a^yiiao a laii^t ywada; e fattoa em tii oaape
d^ quatrooemoi hoiMos obegina ao ilijam—ta
do Covaa , oade foiio iveabidoa dotpHraraader a
jMia oajboa wm aqurlla alegiia i^aie a Mdaa daa
oaoocorro^^vese feaiaesUiaar pate qwdidade n pale
nomero^
VXI- Creacap o al^ora^o que tiwiiia oa
com a cbegada da aeUe lodioa ^ amajee de
quetes biacamln^ {antra eUea ttiu daraai qua
oa publicava ) iodoada lefoo da P,.An>naaa Plii«*
lifjpe Caioaiio, do qiial aArnaa^, vuiha eaa mm
^uiioeoi0camo9O?6rmder doa MiaiM HwriqMe
JDias^ e oao podw> tacdfu* selte oia oilo diaa> A mm
seutioeUa oeasa^ que aa admUMi a pedir aMferaa^
deo o govemador doua eaeravoa«
yiU. Te?e o goato d'eata mra o (k^ms^ ^yue
tern u>doa os d'eata vjda. Cb^gav aviao ao geeer^
nador da lil>erdade| qua o Fla»ieay publkaia mm
decratoi peb quaiobr^ara^ tadaa aa mHlhematdia
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9tu dMalnio, dc qualqser cfualkbde e Mtado que
foiveoif que tivitMMa nnrtdos, filhos, ettnhados ou
trmicM BO eMtdlto de Joao Femtndks Vleira , o%
fei»em icemptalur em termo dt cinoo diss , sob
peaa de fiMrCe e eoofiieacao de faMndas ; que er-
ronim^mettle ae execuiarm em todas as que de-
pots do 4onipo consignado foesem aehadas. — Sood
tio iBol essa bairbaro riffjir noa ouridos de todos^
ffm nao Eoou ptasaa 4i quem mo dt>Hiaa9Be a ira, e
odaafjoda Tingaaca ; mae soaa qoehtas krio irapo^
taimv porque o 4e8liumaBO hereje era inexoratel*
Sobra tudo foi na Yarat-a em que o quadro era maia
1. Uma relagao, queeataoeliegou ao noaso
ipaoMBlo, dwa que en todaa ti^pe9ava o
oaa pn%Ms6ea do eoaaaMvo, fiiBiido asobri-*
gpoata 4b «tado aa que smia llie impomMtitaTao
e ioaiidio. AqueUaa^ ^ quaei a notmma fifiN«
aempre noethkka, o enalttiDe 4^ grfttio Ikea im^
podia a fiaga. Aa q^a a^ riao rodeadas de ittioa^ de-
ydas do amor, « jMMngadaa da rmmt^, nao tifihao
aaeollMipwa ft|(ir ou para padeecr. Aa donzaUas,
1^ perdereea a siaia pnoioaa joia , nao sa<^
^dhebar a can, ou^m buaear
> e aa caaa ae Ibe wypcsaa-^
pori^o^ Em tedaa gemia a aflieoao
kmaeia, wm oaitea <eofiaolaoaD mais,
» a ique danM lioiaa iagiiaaaa a oalraa lagritt^
eoccorao, «pia o da mis aMpireaa ou*
fiiirmdn apue neukmtt ihea podia
o 4eaejo da fUU, 4fm aa wm Ummmt a
A%umaa hmawe que iMmeairao o malo ,
piW|M ae Ihaa MpnaauAava m moria aaeima Ma^
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256 GASraiOTO USITiMO.
c^QAsideraodo que nas £era8 tiobfto o loroieDto
G6r to, BOS. bercjes o tormeolo e a iofuria com igual
iinpiedade. OatriA^ com eaperanoa duvidosa, bua-
cavao dila^ao a peQa na extensao do leanpo : por
as casas dos coofidentes soUciUrao a magoa cam
qua as ^acoodiao, e o martyrio a que se coiidem-
luivaot dormiiMlo peloa p^ das arvorea, com o so-
braialto de m buacar a espida a toda a liofa, e de
esteader o caaiigo a quem Ihes permiuiaoamparo ;
e lodas , deaconfiadaa da yida, traUTaa das coiitas
que baviao de dar a Deoa , a qaem offereciao Ia-
manhas iribulacoes. Sxoeasivo foi o peaar, que
eau rek^ causou a iodo o exercilo ^ lasUmaodo
a UM por mteresaadoa, e a oulroa por coiHbidoa;
porfim mais que esoeasivo o que penelrou o cora^
cao de Joao Feroaiidea Vieirai ao qual (eriaQ juAtoa
Oft aeolimeiitos de eada um« Era dewdor a iMiima
de lodoa y oomo causa , e aoouaelhado cava a divida
mlindou fixar por todaa as partes publicaa do Ar^
recife outro edilal do iheor aeguiaie.
iX. « JoIk) Faraaades Yietra, govaraador das
A) armas na emprasa da Uberdade doa movadores
» da PeraambuQO , e das mais capttaniaa atymtas
K as armas hotlaadeaes : Por quanto nos veia i
n noCicia o barbani e crudi decrelOy que a lyraiuiia
» hoUaiideaa fukninou contra aa kis da iwUiCMa
^ e da politica doa homens , eondemBando ao riQor
» de anas anMs aqualle acm que a eoricaia das
» gailea respeita , e a natural li«gittdade escuaa
H da kxk a boaiilidade edeaacato, com mandar as
» mulheres de aossa obrigacao que^ sob peoade
» mono / ae desterrem de suaa ^casaa ( por motive
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CASTRKm) LUaiTANO. 8ST
» em que nao padiao ter parte) violando aifuelle na^
» ttiral foro, que as isenta de (odos os impulsos da
)» ira eda vingaa^a , coDtra o qual s6 cobardespode*
> riao delinqtur. Mandamos a todas e a qualquer
D mulher de qualques qualidade e estado y que de*
» baixo de nosso seguro se deixe estar em sua casa
» (coBdo desohrigada de obedecer a preceito lao bar^
» baro), tomando per nossa conta a vinganca do me*
» nor aggraYo que o Uollandez Ihe fizer ; e juramo9
» tomar delle tao exacla satisfacao , que com ella se
» eternize na memoria das gen tes o crime e o cdstigo,
h e servira a exaccao do estrago de gritar em todas
» as idades a horribilidade do delicto. Dado nesta
M campanha da liberdade rai 1 5 de Julbo de 1645.
n JoAO Fbrnanpes ViBiRA. » 0 Flam«[)go, que leo,
e y\o este edital fixado nas portas de snas mesmas
(brtificacoes, ficou tao atormentado, quesuspendeo
por entao a execucao do bando. — Poucos dias de^
pois cfaegou nova ao nosso alojamento da execrarel
atrocidade que o rnimigo execulou no lugar de Gu^
nbauy em a manha de um domingo 16 de Julho,
como fica referido por extenso em numero V do
lirro V desta historia. Fez esta nova grande aballo
nos coraooes dos combatentes» e accendeo em todos
o fogo da coragem animado com o desejo da vin-
ganca. Todos se dispunhao a rebater denodada-^
mente o inimigo, mas sendo informado o governa^
dor da liberdade que era grande o poder com que
vinha atacal-o , e conhecendo que o sitio nao era
favoravel para a defesa , chamou a conselbo ^ e de-
pois de ponderadas as inconveniencias do (orreno j
se assentou que seria ruina de todos esperar-se o
L 17
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kumiga AtqueUe lugar; e que logo Be fauscasse
outro, em que concorreieein os reqmdUoB que
pedui apratenle ocotsiao. Pdos soldadoB vma intel-
ligeatet mandou o sargento maior &zer esta diii*
gencia* BreTemente voltmo, feita escolha d'um
■onte que chamaviio das Tabocas ^ que Antonio
Diaa Cardoco aq)provou, pdo conbacimento que
tindba d'elle , como Tersado no terreno que sabia a
palmot. Logo mandou o govemador marcbar o
e^emto para aquelle sitio, e ae alojou no mail alto
do outeiro. Deixou o akjamento do Govas (onde es-
teve vkate e doua diaa) em o ultimo de Juttio^ord^
naado ao capitao Antonio Gomes. Taborda fease
preeocupar o angenho de Balthazar Gon^alvea lio-
xeoD (l^oa e mek distante do m(mte daa Taboeas),
part que d'alli previsie todas aa entradas que po-
diao guiar para o posto etoolhido; e ordem que,
ae o inimigo tomaase alguma daa yeredas, o reoe-
beaae com a primeira carga^ e nao deaiatiaae de o
entreter na retirada , faz€»do4be avttoa de tudo o
que Ihe pareoeaae neceasario. — Tabocaa ^ o meamo
que un^ especie de cannas bravaa , mats groaaaa
que 4u9 de Portugal^ rodeadaa de puas tao agudaa e
aolidas,qiieaanao deaponta qualquw of^ioaigao.
Produa a natureaa aaqueUas partes estea cana^eaea
tao denaoa e compUcadoa que oa nao pode romper
a for^a , senao com os yagares da arte. Pela muita
copia d'eatus cannaa, de que aecingia aquellemonte,
U^ chamaTao os naturaes o monle dasTabocaa. Si-
toou a natureza este monte nove fegoaa do Airecife
para a parte do poente, pela qual o cinge um rio ao
largo, chamado Tapkura^ pohre pela fonte, e ao-
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CAfiTRlOTO liCSlTAIfO, 859
berbo no inverno pflas agua^ vertcntes , que en--
gfdssao Ma C6#itente. Entre o no e o monte ^
tttottra trrtra cstmpiina quie'elha para o snl; ter4
«eiaqtiatto de legoa de freilte, corfendo atd o
Tabbcal , tjue cirige o monte por aqnella parte, c6m
ciiicoehta p^ de groteo em todo o precihto. Dentro
d'eaile taboeal esla ontra planicie de menor extensBo
qne a primeira , kdeada tatiabem de 6utr6 6iiito de
tabocal de ihenos grosrara , que ao modo de trin-
cheira corre vlU ao alto do monte, O dmo d'ellesi^
T* cercado^ pela parte db sul, d^uma mata de grossaS
e empinadas arv<W^ sissitn bastas que compunhao
nm forte muro, por aquella parte' orlada d^un^
fao^a de tabocal. Pelalsi costas do monte para o Nas-
cente e^tara um caminho antigo, que senrfra & coh-
duccno dorpio do^Braxil, que se tfrava d'aquelte$ ma*
tos, detodosesquecidopelo deraso.Dmd'legoa e tneM
d'este moAte^ para o norte, existla uma hermida
dedicada a Santa Antao abbade, de cojo fevor e^-
peravao' OS Moment a seguranca de seus'garfos'^
pehs mtiilaj^ feras qiie p(rodu2 o lerteno; e al^-
liMw casas terreas ; que diamatfio cMarde do Btaga-!
Tiome que Hie deo o appelKdo d^ sett lundadoi^.
€omf eafi descripcao do lugar, em que se deb a
fmtfllha^ fiterao claros ao lehor t>s incidentes do
tjonflicto.
X. Ghegou a noesa gente ao Tabocal , e dentro
d'elle se alojou em modo d'arraial. No mais alto
do monte se consignou estancia ao governador ; e
pelas ladeiras se armarSo tendas , e se levant^hrao
barracas para os niais ofiitiacs e soldado* se recc/*
-therem^ em rataa das^ chutas , por ser no-tcmp6do
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340 CiSTBIOXO tOftlTAKa
iiivecDO ; guarnecdrao-se as eniradaa e po»tos ne--
cesaarios dos soldados de nelboir opinio ; deitarao-
se aenlineUas ao largo, e forlifi^u-^ o arraial no
Diodo que o permiitio o iugar e o tempo«-*-NesU
occasiao e.neate silio inostroul^em o governador
Joao Feraande3 Vieira que era seu zelo igual a seu
valor. Teve ceria iuforma^ao de que naquelle des-
tricto vivia o P. Manoel de Moraes, apostata da
fe e de seu Eslado^ rePinado hereje por obediencia
e por observaucia, segiiiudo, pr^gando e defen-
dendo os erros de JLuUiero e de Calvino : nao ardia
uo peilo dp goyernador meuos o ^o da religiao ,
que. o fervor da gueiTa. Mandou bu^car preso o
apostate; chegou este aseus pis banhado em la-
grimas; protesiou emeoda^ e com religioso pejo
pedio ao governador fosse ser vido dirigU-o^ para que
o tribunal a que perlencia o casligQ se houvesse
com eUe com a custumada brandura e piedade.
Abjurou logo a communicaj^ao dos herejes ; pro-
melteo a uniao dos catholicos^ e nesta occasiao nao
deiiou o lado do goveroador^ .animaudo os solda-
dos com qm crucifixo uaB maos« Por feliz aonuncio
d'umagloripsa victoria teve o governador esia coo-
yersao^ esperando da piedade diviua que assim
como llie dera for9as para tirar urn arrependido
d'entre os obstinados, Ihe assistiria poderoso para
castigar aabstina9ao de tantos precitos, premiando
seu zelo com os triumphos de sua fc.
XI. Nao se corregirao os traidores com as sa-
bias e geaerosas disposicoes que tomara o gover-
nador; autes devorados d'emula9ao crimiaosa bus-
carao todos os meios para o destruir. PubUcarao
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CASTBIOTO LCSITAKO. Ml
que ludo quanto o govemador dizia da vinda dos
governadores de Indios e Mioas era fingimento c
engano : com a tardartca persuadiao a descon-
fianea^ assegurando o perigo na falta do soccorro,
e d remedio na morte de Joao Femandes Vieira.
Diziao que a salvacao de todos consistia em malar
k cara descoberia a qiiem os arriscara, e em se en-
tregarem todos ao Hollandez y desculpada a rebel-
litto com o supplicio da cabeca, Avisarao o gover-
nador da praiica dos autores da perfidia, e dos in-
teniod d'ella^ e foi admiraTel a prudencia com que
o magnanhno varao acudio com medicamentos
lenitivos a atalhar o mat, curando a ferida sem
escandalizar a chaga. Dobrou as guardas de sua
pessoa, affastando de si^ com apparentes causas,
aos snspeitos ; ordenou ao sargento maior, que se
alojasse junto & sua estancia ; despedio quarenta
soldados que fossem esperar o Gamarao e Henrique
Dias, e os conduzissem para aquelle sitio (dando
assim a entender que sabia nao estarem muito
distantes); mandou guamecer os postos mais ar-
riscados ; e ao ^rgento maior que os repartisse
pelos cabos e soldados mais confidentes. TRio des-
apaixanado acudia a ludo o que era necessario
para a resislencia e para a defensa, como se o nao
occupara outro cuidado : cobria as causas do receio
particular com a applicacao do bem commum, sem
que sua vigilancia fattasse nem a prudencia de go-
vemador, nem a obrigacao de soldado.
Xn. Ja neste tempo marchava o Hollandez com
disciplina , formado lodo n^um corpo ; a que se
reunirao os tei'cos de Henrique Hus e de Joao Blar,
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aft2 GASTEIOIQ M«Tiaa
9 a {]fei)jl)& tiy^(]a das pre^ios , o que tudo fittia
q n^V^xero de mil e quinhentos s«ldado$ praUeos e
^8coUudo$, bem anjoado^a gi^acnecidos^ mos*^
qv^l^ e chLviaas reforcadas, Avultava p ex^rcUo
mats que outro laito com a gpapd^ luultidao de la*
dio$, a maior parde lAio^qwt/eiros ; frecbeiroa of
oiUro3, e exercUado$ pa milicia^ Com eaie exercito
a^sim avultado em for^a^ a?ira Hemique^ Um di9
povoa^o de Sao Louren^o tao seguro da victoria
que Ibe qao dava cuidado a bataiha : a esperaaca
do$ de$po|09 apre$3ava a n^rcba doa soldados p de
lorte que vexicia o tempo. Tom^rao a vereda que
guiava para o eugeubo do Covas, ooda oa cbamava
o aviso (ainda uao sabiao que a m>3sa gente tiuba
melborado de aU)^meuto)» CbegaraO| e quando
virao tudo desemparado , quebrirao a furia em
qaafidar p6r fogo aos cdiGcios , xjue erao de uobre
fabrica, ^^ D'uma emiueocia yao uma #entinella
no$sa o fumo da9 chama^ e com preateza d/eo couta
ao governador da Uberdade da parte oode ardia o
fogo. Sem d^i^cao maudou o sargento maior o ca**
pitao Joao ISunes da Mata com viate $oldadoa a des*
cobrir o campo, e ordem do que baviao de fazer se
aTistassem o inimigo. Neste tempo cbegou um soU
dado do capilao Ai^tonio Gomes TaU)rda (que por
ordepi do governador ficara no engenho de Bal-
thazar Gcm^alve^ Moreno) com aviso da mar<^a do
immigo , e d'um encontro que tivcra com a sua re-
taguarda , que oonstava de quatro centos Hollan*
dezes, e ^m eoquadrao de Indios, aprovcitando-se
dos matos para esQonder a dcsigualdade do numeroj
(eraoo$no8so8 du^entoa e <juarenu)ecoineinbosca-
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cbt e mtestidos o yinka en&dftiido> e cntreteiido e
Ihe tinlu morto catone HoUaiideies^ smn qoe o
Flamei^ deixasse a marcha^ nem a nossa gente a
opposi^o ai6 ordem de ma senhork. Mandovi o
govemador ao sc^dado , que Toltaase, e disseMe ao
seu capitaoy se retiraase em boa ordenanca para
aqBetle sitio , porque nelle se ha via de esperar o
inimige.
XUL A certexa e viainhanca do conflicto, como
BO¥a cauaa , loflammou novo zelo e alvoro^o no
animo do governador Joao Feraandes V ieira , de
sorte que com p logro de seu desejo galaateava a
moleatia de seu cuidado; o gosto Ihe vesda o sem-
Mante das corea do peito. Mandou fbrmar o exer-
cilo, e se poano coracao deUe» com (ao alegre rosto
que parecia communicava a toda a circumferencia
a viyeza dos espiritos , de que se alimentava seu
animo, e com similhanies palavras o mostrou.
« Chegou^ senhores naturaes, companheiros e
» amigos y para todos a melhor hora ; pois certo
A que melhor hora ^ a da satisfacao que a do de«
>» aejo. Nao sei eu que melhor hora podia desejar
m nossa vingan^a que a de tomar cada qual de nos
» intetra satisfacao de tanta injuria, quanto nao
» podera especificar nosaa memoria. Ategora viao
» nossos olhos disperses os aggressores de nossos
» damnoa com a impossihilidade de nao poder o
H goipe castigar a um j sem ficar sujeito A espada
» de todos. Hoje os trai aqui juntos sua culpa e
» nossa dila , oflferecendo-nos a gloria de ser cada
» um de nos o restaurador de sua honra , e o re-
>> demptor de seu oantiveiro. PiHra tap bri09O8 afw-
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SM CASmOTO UJSITANO*
ji mos, cBcusadas sio exhortacoes, pois sobcga em
n cada um com o sangae portu{;uez o esiimi^o de
w sua obriga^o ; e nao dira o mundo que degenera
» Ha America aqueUe valor que assombrou toda a
>y Aaia J e que se a foma nao divulgou iguaes proezas
M d'um e outro clima , foi porque as occasioes da
» Asia faltarao na America, Nao gasto tempo em
)» dispor o braco , que em toda a parte e em tx)da
» a ocoasiao acbarao os casos disportos, porque me
> 6 necessario para representar a todoB a pedra
» de nosso escandalo : afiadas nella nossas espadas
i) feinrao com melbor corte. Entrou o HolUndez
x> com armas e industrias a faz^r-se senbor de
» nossas fazendas, de nossas vidas, e de nossa U-
n berdade, e em poucos dias experimeotamos na
» sujeicao nossa total ruina, tratando nos subditos
» como a escravos veiididos. Na maior miseria pa*
» decemos a maior aflronta, dominados d'um poder
» que conbece o mundo nao pdo valor, senao
1^ pelo engano ; espantando seus progressos a Eu-
» ropa mais pelas traicoes que pelas conqutstas :
>» aquellas, e nao estas, nos tirarao da mao a es-
» pada que nos primeiros annos corlarao o fio a sua
» fortuna. Ao passo de nossa desgraca creaceo sua
» iudolencia, feriudo-nos sua tyrannia com tao
» deshumano bra^o, que nao pod^o as feridas
» acbar cura, nem na paciencia, nem na queixa.
I) Quentes estao as cinzas das fazendas abrazadas ,
» aberlas as cbagas das injurias padecidas, frescas
n as lagrimas das pessoas atribuladas, e sempre
i) levautado o ferro desles iulmigos para coiHinuar
i> OS golps, sem nos d^ij^ar a menor espera^^a de
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CASTRIOTO LUSITAHa M5
» Tennos abaikk sua exorbitanie soberba que, se
n para a vilesa i kldb^ para a honra como deixari
)» de ser escatidalo ? P6de sua industria fai6r<^iio8^
» SBJeiios ; maa nao pod^o nunca seuB procedv*
» meotos fazerHKis amigos. Alguna o mostrao ger
>) que me oovem , e sei eu que a bastardia de seus
» animos produz eetes effeitos ; porque ha naturaes
» lao malevolos j que se veem arder no fogo que
» ateiao, e se deixArao eonsummir^ porque sua in-
» veja nao deixe de os abraxar ; govemao-se pelos
» diclames da malicia , e tropecao nos erros da
» paixao. IMzem que nos peiNdemos y porque nao
> nos desviamoSy pesando na desigualdade do poder
» a certeza do perigo ; e nao sabem igualar a ba-
» lanca com o peso da razao, nem advertir o poder
j» da juslica. Sao as maos da escolha as que tecem
» a eor6a do triumpho : e em veneer o maior risco
n consiste a maiorldade da victoria. C!om a falta
» do$ soccorros persuadem as ruinas ; e nao aten-
> tao que poderia ser esta todo o bem de nossa for-
» luna ; e que sua lardanca seri disposicao da di-
M vina ProTidenc^. Quantos menos entrarmos na
» batalha , tanto mais honra ganbaranos no con-
> flicio : repartida peios que assisiem a poreao dos
» que faliao^ e forea que tenlia cada qual de n6s
D maior parte na victoria ; della nao p<ide duvidar
» quern tern a Deos em seu favor ; e n<(s sabemos
» que pelejamos com gente, que faz gala de oifen-
» der a Deos* Os pedacos das imagens sagradas ,
» as pedras dos tempios destruidos, os corposdos
D catholicos despedacados, os aggravos dos sacer*
n dotes escamecidos, que sao senao armas^ que o
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» ceo Boa d4 pt» (tetmir e8tes hcwjes ? Pura^
H: imbU viBS^^a catio 60 ascandalosos sacriW^ t
M exwnte-ie iwwo hn^o com aqndle vigor que
jjk hm tconselha noasa {*• Ncste cncontro eonaisla
i» iioaea tihewlwte e uoasa stlvi^; porqoe at a
>i despreziottoa, paaaamoa da fortuiia dc captivoa A
H nj^ria de apoatataa ; que nio deixari o inimigo
j» de introduzir a hjer«zia cm animos que sujeita a
j> vileaa ; c ficarao nosaoa filhoa herdeiroa de noasa
» condeama^ e de nossamiaeria. »
XIV. Aqui chegava a fervoroaa pratica do go-
.vernador, quando Ihe cortou p fio o estrondozo
rumor d'umaicar^ de moaquetaria,.cfaido e rece-
Jido do3 vime aoWadoa com que o capitao Joao
Nunes da Mata fwa deacobrir o campo , seguiido
aa ordena que recebira do governador. Chegario
0$ deaoobridores is Tabocaa, dissmK) o que virto,
e coim) o HoUandex ae yinha chegando para a paa-
si^cm do rio Tapicura. —. Nao se perdeo tempo
entre a notidae a dispoaicao. Guarneceo p aargmito
maior tres emboacadaa que tinha maudado abrir
iw>s Tabooaea da campina, em fdrroa que umas se
cobriao a outr«», com a suffici^icia de aolckdos que
pedia o intaito e o lugar; e comordem a todos que
de noihuma sorte largassem o posto, aprovritando'
se do giro para a coiitinuacao daa cargas. A pri-
meira emboscada eatregou o sargeuto maior aos
capilaes Joao Paes Cabral , e Joao Peasoa ; a segnuda
ao capitao Paulo Yelozo; a terceira ao capitao An-
lonio Borges Ochoa. Os outroa capitaes repariio
com prudente e militar aitencao pelos mais poatos,
m^diodo a aufficiencia pela importancia ck ciid(|
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cAaxuioro iJwixAiia, Sfti
urn* 0 goveraador JoaoEemaudes Vi^irtj oobi um
^rosiM) l)a(albao occupou o xnais alto dp lugar, paia
delle ver ^ acudir cgm soocorro as partes a cmde o
pedisfie 0 confliclo. Ao capitao Doxoingos Faguude^
ordeoiFao, que com aua companhia fosse receber o
inimigo jia passagem dp rto Tapicura, para o ea*
treler, e guiar para as emboscadas.— *£in 3 d'A*
goato cb^gou 0 Flameogo ao rio^ e lemendo qw
por eatre o^ deosos arvoredos de suas margens o
esperassem algumas emboscadas^ maodou empre^
gar oelles luna cai^ serrada de toda sua mosque-
taria, acomponbada d'uma coafusa grita do geniioi
ciijo echo eucbeo todas as coneavidades do coa--
torao. Debaixo da auvem que cau$ou o fumo da
polvora^ epmmeiteo a passagem com animo dester
mido f que o capitao Fagimdes repr^mio j e sobre*
saltou com valentia edeatreza^dandp luaa e muitas
cargas ao iaimi^o de cara a cara , sem quaca a
virar aa re^rada, com que guiava o Flameago
para as emboscadas : iacorporou-se com a aossa
geate da primeira com tal arte^ que presumio p
Hollaadez ser medo^ o que era ordem* Tinba che-
gado aquelle posto o sargeato maior» chamado do
estroado das cargas ^ das algazarras do geatio;
vio que o iuimigo, em esquadrao fechado, costeava
o Tabocal, e ordeaou a primeira emboscada d4-se
a primeira carga ; o que fez com tao bom emprego
que aao perdeo tiro, Eatre os mortos, o ficoud'uma
balla um Flameago > aa oppiaiao dos sens o aiais
valeatC) e como tal escolhido para capitao dos
a¥eatureiros. Coatiauou o iaimigo a avaa^ar sem
£azer caso da perda ; mfis deteve a furia com a carga
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S68 GASTRIOTO LUSITANO.
da s^unda etnboscada , que com maior damtio o
descompoz de sorte que, embaracada do estrago,
deo lugar a que com a cfaegada do segundo esqua-
drao se engroasasse o primeiro , e recebesse com
mator damno a carga da terceira emboscada : no
mais crescido nurmero fei tanto maior impressao ^
que virou o Flamengo a cara ao perigo, dando
muitos passos atfaz^ na marcha e no orgulho.
Quiz entao o governador , que estava impacienle
de nao entrar no conflicto, avancar 6l espada como
soldado valenlc sobrc o inimigo; mas o sargcmo
maior e todos o detiverao, fazendo-lhe ver que
elle era a cabeca daquelle corpo, a quern pertencta
o disp6r, e nao o avancar ; que obedecessem aos
preceitos da miKcia os impulsos do animo, pois
sabia que a seguranca de todos consistia na sua, e
que mais servia & victoria com mandar soccorros i
necessidade que com exemplo de sua valentia;
porque arriscando a pessoa > pelejava com um braco,
e govemando a todos , pelejava com muitos. Obe-
deceo 4 razao, fazendo mais em se venoer a si mesmo
que cm querer investir com todo um exercito.
XV. Advertio neste tempo o sargento maior que
o inimigo fazia da retirada conveniencia, formando-
se por diverso estilo, e que devidia do corpo de
seu exercito um grosso para rebater os nossos capi-
taes Antonio Gomez Taborda, e Joao Paes Cabral,
que com suas companhias Ihe descompunhao os
esquadroes pelos lados , e para prevenir o nao ser
acommettido pela rataguarda no tempo do combate:
com todo 0 mais poder avancava a romper o Tabocal
para nos ganhar o posto, onde estava formadaa
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GASTBIOTO LUSITANO. S69
noesa (^ente. Sem turbacao, nem tardanca acudio o
sargiento tnaior .& resUtencia , medindo a defensa
pelo modo da invasao. Formoo tres esquadroes,
para se opporem a for^a por todas aquellas tr^
paries que o inimigo no8 buscava. *— As poucas
arma8 de foga, com a falta de polvora e balk , que
se comecava a senlir, era o que Ihedaya major cui-
dado. Cobrio a falla com a industria, dizendo aos
soldados que aquelle que nao tivesse municoes se
Cosse a tenda do govemador prover com teR)po ,
porqueocooflic(oonao achasse falto; exortando
a todos com animo tao pacato j que infhiia nelles
noTos alfntos. Continuavao os nossofi a rebater
oom repetidas cargas. quando uma balla conlraria
Serio o capilao da prinoeira emboscada Joao Faes
Gabral ; aao quiz este que o retirassem do eon-^
fficto^ aates se eotranbou na maior profia da ba*
talba, ale que segunda balla Ihe tirou a vida , que
bem cara yendia em prol da liberdade« Igual sorle
teve o alfiares Joao de Matos ^ que uma baila Ihe
deo pelos olhos, e com a vista Ihe levou (ambem a
vida.
XVL Muito louvavel foi o zelo com que alguus
reli^oeos e sacerdoCes desc^rao do monte ao lugar
da batalha, nao (emendoas ballas, para darem conr
forio aos que pelejavao , e absolvi^ao aos que ago^
uizavao.Os que mais se distinguirao foraoos Padres
Fr« Joao de Rasurreicao , Simao de.Figueiredo e
Joao de Araujo ; os quaes uao so se occuparao so^
Uciios em seu piedoso exercicio, mas acudirao a
deter o goveruador, que segunda vez queria preci*
{Nita^-se sobre o inimigo. 0 P. Simao de Figueiredo^
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S7d GASTRlOtd L091TAIfO.
que stibia pela lad^ira no momento que o gover-
nadof ia descer, Jhc r^preh«ideo Ma fViriosa deter-
miodcftOy a(ictisando-a de temeraria, e o (teK obc*
decer aod prcceitos da milicia. Nunca maift se apar^
tou de sua iifaarga , porque bem conhecia qvMt
erko OS pengos a que se expunha a vida do goTer-
nador^ e nao menos o bom exito da lota. Com esta
advertencia ofez occupar o po^toque Ihe convtnha
donde rio como o inhnigo chegado a porta do Ta-
bocal profiaTa em romper a resistdneia , qne Ihe
impedia a inyasao, e foi soceorrendo a defensa ^
despedindo manga» de sold^os a ter o endontro do
Flamengo por aquelles partes, que mostrava me-
Ih6rar-se ganhandio terra.
XVII. Entre umas e outras armaB andava o sar>-
gento lilaior Antonio DiaB Cardoro dispondo tudo
com admiravel talento e valor, quando descobrio
que o inhnigo carregata com mttior poder por uma
parte, ondeos nossosnlal !he podiao resi^tir ; man*
dou logo soccorr«l*o6'pelo P. Simao de Figueiredo
cotn algtimas mangas de soldados. — -Dtirou ocom^
bale por mais de uma bora com igual constanefa>
ainda que nao com ignal numero, at* que vendo o
Flamengo que n^da podia obter peltf forda, st
valeo da industria^ lancahdo pelas ilhargaB do Tin
bocal algumas companhias ^ com ordem que fize9*
sem o possivel por ferirem as castas do» Portu*
guezes ; por^m a vigilancia do govea^ilador o en*
tendeOy e despedio de sua estancia dous trocos de
i£o talerosos soldados , que em JH^ve tempo rebft^
teraoasmangascontrarias, easdestrulraOy segnhKhv
lh€ 0 aleanee b\A se recolherem aos eaquadMei
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doade bayiao saido, mas com tamanho desaUno
que o HoUandez aflfrowxou o combate, poracudir
ao degbarato dos seus, que vio postos em verge-
nboBafugida.Fea&aindanovoa esforgos para ganhar
terra ; maa vendq que a alegria creacia em os nossoa
8oldados , e nos aeus a triateBa e o desalento^ de-
poia de dua9 boras e meia de proGada luta , tocou
a retirar e deixou o combate com grande perda de
aua ^enCe* Carregou o capitao Jeronymo da Silva
Gooa 96 viute aoMadoa, mas com lanta gentille^a,
que Ibe yeodeo a fortuna a gloria deate dia per
duas pelouradaa mortaes. Mao menos barato coib«
prou o capitao M atfaeua Ricardo o eaelarecido itome
queganbou oeste conflicto. Oulros miutos sdkkdos
fioaaos derao neale dia a yida peU liberdade da pa*
tria, qua mereciao agora ser coobeeidos pdo nome
como entao o ibrao pek> bra^o ; mas aeryio*lhe sea
humilde nascimeuto de desculpa it iogratidao doa
yivos.— ^Nao desisUo ainda o inimigo ; antes pondo
em odrdem auaa fileiras^ ae diapiiolia a ioveatir de
aovo^ quando um vatente Flamengo, obainado Ya-
lot> sargenlo maior do terco de Joao Blar, aaio 6^a
d'ella para tot a noasa diq)oaicao , e tentar a parte
per onde melbor aoa poderia inveatir ; como moti-*
tava em um cayalbo» o ptecou facilmeate uma baUa^
tirada com pontaria tao certa , que perdeo junta*
oiBBnte a sella e a viday e pelas aucas do cavallo veio
ao cbao. Com nao menos magpa que perigo o reti-
i^irao OS seus. Cb^va o dia 4i quatro boraa da
tarde^ e como Henrique Bus adverlisse que. as nos-
laa cargaa erao mais remissas , imaginou que era
faUa da aoimoi 0 que foi necessidade de poupar a
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37S CASTRIOTO LXJSITAlia
polvora ; fez da suspeita motivo para animar os seus^
e investio pela quarta vez a entrada do Tabocal,
com aquelle furor que alimenta a desespera^ao.
Aqui se vio a nossa gente em conheddo aperto ,
porque cansados dc malar e ferir sustentavao o
po&to sem poderem morer o bra9o. Nao assim o
Flamengo , que com gente de refreseo repartia as
horas do trabalho por muitos, e tinha sobeja gente
para tudo. Com esta vantagem nos cansou de sorte
a profui do combate, que a muilos retirou a falta
do alento , com que nao podia respirar o animo.
Foi o inimigo ganbando as embo8cadas at^ arros-
tar com a segunda campina , levando diante de si
a nossa gente, que se ia pondo em conhecida reti-«
nda. 0 P. Manoel de Moraes, que cooi fenro-
rosa deprecacao chamou os olhos de todos a uma
devota imagem de Christo crucificado , que trazta
aryorada, assim animou os fids, e confundio os
herejes, que bastou a venara^ao de uns e o pavor
de outros, para que a foriuna se desconhecesse a si
mesma. Em vergonhosa retipada forao os nossos
pondo o inimigo. 0 governador Joao Fernandes
Vieira , vendo que a occasiao o chamava , disse aos
soldados que o aceompanhayao que prometlessem
a Mai de Deoe um templo dedicado ao seu desterro
se Ihes concedesse a victoria dos inimigos da patria ;
e descendo do monte carregou o Hollandez de tao
pesados golpes, que, corlado do ferro e do medo,
perdeo a terra ganhada , e se retirou de todo dc^
composto ao batalhao , que na primeira campina
teve sempre formado. Incitados do furor seguiao
OS nossos 0 alcance do inimigo vencido ^ quando o
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CA3TU0T0 luutaho. ^
governador mandou tocara recolher. Sahia e pru'*
dente resolucao, porque na campanha nao era igual
a npssa vantagem^ e concentrados do Tabocal iguo*
rava o FlameDgo o numero^ e com o brado da ale«
gria que ahi se mamfestou concebia maior terror^ e
parecia-lhe maia formidavel seu estrago. Este con-
flicto cusiou caro aos HollandezeS| que deixarao
o campo juncado de mortos^ e alagada a terra no
sangue dos feridos; naoassim aos Portuguezes, que
s6 tiverao tres morlos e nove escalavrados : suo
cesso que a todos causou a$sombrO; e a muitos
pareceo milagre*
XVIII. Apezar da graude perda que tiverao 08
Hollandezes ainda j^e nao derao por vencidos de
todo^ antes yendo que os nossos se recolhiao ao Ta-
bocal, timao de nossa suspensao motivo para nova
ousadia^ e cpmo desatinados avancirao outra ves
ao Tabocal ; mas ach4rao tao viva opposi^ao dos
Portuguezes, que Ihes pareceo augmentarem-se as
forcas dos moradores com a continua9ao do traba.-<»
Iho* Ji a nenbuma das paries lembrava a viotoria^
porque uns e outros pelejavao por defender a vida.
Embebibosnabatalha, nao ficava sentido livre, nem
para ouvir as vozes dos moribundos, a6 os p^s davao
fe dos mortos, que conheciao pielo embara^Oi nao
pelo vullo. Nao se distinguiao inimigos de amigos
pelos semblantes, senao pelos golpes, com tao hor-
renda confusao que se davao as feridas com os ins^
trumentos do reparo; por^ como o Flamengo
nos fazia tantas vantagens no crescido numero dos^
soldados, que aos feridos, cansados c mortos sue-
cediao outros descancados e saos , forao os nosso*
I. * *8
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i7ft GAamniro litsraiio.
perdendo terra , sem que o fuiVnr tteixhsde ftdteflir
({udes a perdiao, e quaes a ganhavao. — O goter-
nador Joao FemandeiVieira, que, fora do con-
flicto, ficou com os olhos livres para ver a que parte
ie inclinata a victoria , e que para o maior aperto
guardara o melhor soccorro , pondo bs olhos ua
^agrada imageU), queo P. Manoet d^ Moraes trazm
arvorada^ebuscando a intercessao onde esperava o
fevor, disse em voz alta para o^ seas : « Seuhores,
» rezemos de joelhos uma Sahe Regina i Mai de
n Deo^, certos de que ^ua piedade nao fklta em
» buvir a quem a chama. » Tal confianca influio
em aeu auimo esta deTota diligencia , que a todos
assegurou a dita, e persuadio a investida. De cor-
rida com OS $eus se metteo no mais forioso do com-
bate, matando e ferindo inimigos com golpes tao
desusados, que a espada em sua mao tihha menos
de ferro que de raio ; sem differenca cwtava ao
Tfeinho com o fio, e ao dislaute com o medo^ Ser-
Tio o exemplo 4 imita^, com que os Portu-
guezes arraudlrao do campo ao iuimigo descom-
posto e temido ; e sempre carregado die noasos
golpes ate o Bm da campina , a onde o rio, que
buscava para o tranzito y Ibe advertio o pertgo , se
nao esperasse o favor da noite. •^ Deixou o Iiol«-
landei no campo todas as municoes, e grande parte
ditt armas, que na precipftada fogtda mais Ihe
serviao d'embara^o que de defensa. Na prhneira
tigiliada noite, em que a escuridao, a tempMtade
e a creccnte do rio pod^iio embargar a rcsohicao
mais arrojada, o vadeou o floilandez cbm determi*
na^ entendtda. Pareceo4he que se o dia segmnte
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CASTMOTO lUatTAIfO. 275
o achasse tiaqudle sHio, os seus deminutos e afflio-
tos\ OS nossos descahcados e briosos, mo flcaria
pessoa em sen exercito que nao perecesse, ou na
batalha^ ou no alcance ; e que meuos arriscava em
valvar atguns que em perdertodos. Em toda aquellii
uoite nao descancou de camiuhar por veredas in-
<iulta8, matas, lamacaes e asperezas, que a tempes-
tade do vento , e inundacao das aguas fazia pare-
cer mais insoffriveis, com tanta pressa, que em
poucas horas andou cinco leguas de terra,
XIX. Em quanlo o Hollandez, ajtldado do si-
fencio e escuridade da noite , caminhaya dcscoili-
posto , tot*I>ado e vencido , festejavao os nossos as
repetidas rictorias, que Deos Ihes dira neste dia ,
e a esperanca de que com sen favor as multiplioa^
riao no seguinte com aquelle gosto , que i^esulta
do seguro da bonanca, quando se segile ao maiGt
rigor da tormenta. Agrande alegria os nad des-
cuidoii da gratidao e da vigflancia. Mandou o go-
Temador que todos rendessem as gracas ao su^
premo Senhor das Victorias, e que se preparas^em
para cntrar em nora batalha, que sem duvida se
daria ao pfrimciro romper da manha, ou porque o
ittimigo a kavia de csperar, ou porque noB hayia
de acommetter. 6uamecArao-se todos os postos de
«eritinrillaS, para prevenir qualquer assalto repen-
tino ; no Tabocal de chna , que orlara o alto do
monte, se mandou rocar aqueHa terra que bastava
para ndlase emboscar uma partida da nossa geule ;
e na distancia que se entrepunha^ntre um e ottiro
Tabocai se levantirao trincheiras qfue corlavfiocin
tres partes a ktdeira do nwmte. E\vl quanto m tm-
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276 CASTAIOTO LUSlTAlia
balhava nellas^ mandou o govemador retirar toda
a gente para a sua estancia , oonui para lugar maift
seguro e mais defeiisavaj ^ a onde o inimigo nao
podia chegar senao deslruido e cansiado pelas op*
po&i^oes que ja^imeiro havia de veneer. — Tinha
vi8to 0 governador a valeoiia com que nos cofnbates
pelejarao as coiupanhias dos Minas e Qriouloe ; e
certo de sua fidelidade os mandou descobrir o
campo , com ordem que passassem o rio, e da outra
parte picassem a retaguarda dos itiimigas, ohri*
gando-os a que em toda a uoite nao largaasem as
armas das maos. Chegarao ao alojamento do Fla-
mengOi que virao desamparado, e ainda alcan9^U^
a sua retaguarda que ia i)assando o rio. Com mul-
tiplicadas cargas e consideravel damno o pers^gui*
rao, e acobardarao de modo, que imagiDando^se
cojFtados y se emboscirao pelas matas deixando de
seguir o caminho dos seus ; aos quaes nao seguiriio
OS nossos o alcance , por nao excederem as ordens
que iinhao recebido. Voltarao, e derao conta ao
govemador do que virao^ e do que obririio. Com
e$te aviso ordenou Joao Fernandes Vieira ao sar*
gento maipr que mandasse correr a campanba,
duas legoas ao largo, por soldados praticos. No
termo d'ellas ach^rao os nossos cincoenta Hollan-
dezes que davao guaida a mais de quotrooenlos
feridos, que, desmaiados pela falta do sangue e
pelo urabalho da marcha, nao poddrao passar avante
na conserva dos seus. Forao os nossos vistos das
sentinellas inimigas , tocarao a rebate , fogirao os
que poderao ; e os nossos virdrao as costas, enga^
nados do vulto e do rebate^ e o derao em 1101SS9
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CA8IR10T0 wsnao. m
alqjaiBeolo, dizendo que o liollanclez se rrfazia,
efentiava para nos tornar a ^nyestir. Nqq £u5cm
M soinlMns menos impressao nos animos^ quapdo a
kiiaginacao as pinta com as cores do medo^PasBoiu
atMNisagente, enganada do aviso , todas as horas
da noite com as armas na mao : molesiia excessiva
por succeder em uma noite desabrida^ depois d'nm
dia gastado em eondnuada batalba , sem que neile
d^sse lugar a pel^ a se refazerem as foroas^ nem
ccnn o descan^^ nem com o susCento.
XX. Rompeo a Itiz da manha pelas sombras da
noite e da imagina^o, iguaes no horror , e simir
Hiantes nos eff^ tos. Offereeeo--se o capicao Francisco
Ramos adescobrir o campoe a Terdade, evokou com
a cert^za de que em* todo elle nao havia mais que
despojos do iminigo; com esta daridade, e com a do
dUasaio a nossa gente a ter nos instrumentos da
batalba os grAos da victoria j e os pregoes dp trium*
pfao. Todo o campo estava semeado de oorpos moi^
tos y de armas sem conto , de munieoesi como pc^
vora, balla, corda, arcose frecbas sem nuoiero,
que em muitas partes da campina nadavao no
aangne de sens proprios donos. Alguns manti->
mentos assim para a necessidade anno para o re^
galo, que igualmente servirao a festa e a folta. Nao
houve soldado qtie se nao armasse com escolba ;
nem Indio que se nao vestisse com vaidade. Sue-
cedendo ^ repeticao da alegria a das cargas com
que se acdamava a victoria. Pelas nove boras da
manha chegou um morador d'aquelle contomo
com as novas oertas do caminho que tomara o Hoi-
landezy o do grande medo com que marchava,
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STC
deixando pelob.iiiatM oa oanftdot d (^n^M^ que
a iiM podiao fitguir, RepetK) a caott cpie, tmn
a engano cbM MiBts aoinm nferido , e queo g0<«
Mml Henrique Hub maadaya dizer por eUa ao g(H
yemador Joao Femandes Yieira d^sse quartet
aqudles feudoB que , qnw moribuadosi mandaya
l^r em carroft para o Arreeife, oomo a todos o
eteiuayao os preceitoa da imliciai qua nao permitfa
matar a sangue £rio ; porque d'outra parte aeria
maior a vingan^a que a oiTenaa, e nao deixaria sua
eipada morador com yida^ pastaudo pdk>s fios della
a grandes e pequenoa de um e outro seKo* Com
esla rela^ao Be ratificou a ceiteza da yictoria^ qua
outra vee repetirao oi gritoa. 0 gayeruadw , qua
quasi se nao achava a si oi^mo. entre os excessoa
do gostD, se uao di^souidou uas demoiistrafoes d#
grato^com que desajava que todos d^easem^a Dew
gra^aa pbr iaoianho beoeficio* Com seu e^cemplo
obrtgQu a que. lodoft f poacoa de joelhoa f com a9
ndaos leyantadas ao ceo> cooCessaftsem que a eUe
deyiao a mero^ ( fazendo tampio do aiesmoivgar do
oonflicto)» Aoabou este acto d'agradecimeuto com
gtiiar toda oexercito em uma yoz : (( Viya a f ^
» cathdica romasa ! rtya a liberdadel yiya El Rei
» Dom Joao ! yiva, Viya I » £ logo ogoyemador com
benevolo e alegre seaitblautey e o chapeo ua mao ,
ioi abrft^juulo a cada um do8 oapitaes^ c^eiaea «
0oldados« engrandecendo o procedimanto de todoe
com tanta afiabilidade, que os puoha tohre a ca-
beca I quando oom os bra^os os recolhia no peito^
Erao reciprocas as congratuiacdes da diMi » e por-
que fossem eommuus as oonfiancas da liberdade
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( ja entio maia possuida que esperada ) a deo Joao
Feraaudes Vieira a cincoeiUa eacuvos seu3 coia
a boma d^ jsoldadosy mereckia de aeu yalor e Qde-.
Ud^e naquella occasiaa; ^ Ihes {& xn^rc& de q^
podegsero ^seniar piai^, e venjoer soldo em quanta
durasse a guorra^ escolheudo d'eatre elles dous c9r.
pitaes, para duas compauhiaa, em que os repartiOf.
de viute e qji^tro soldadot cada uwa*
XX4* Perdea o UoUaodez neata oecaaiao aa trea
partes de sua gente : f6ra do9 mortos que retirou
e escoudeo a correAte do rjo , se ach^rao uo campa
treKeii tos e aetenia loortos ; uao numeramos os que
na retirada morr^ao daa feridas peloa matos» peloa
camiuboa, e uo Arjiecife ; autre eates os mai$ doa
caho^ e offipiaea da guerra, cujas insiguias Ihes fe^
deixar a morta u^ campo e uaa est?adaa* Nao. fpl
meoior^a mortan^ade dos IinUoar ^»uu parciaf^
coQio auxiliarea, qpe aegmao oe^ercito para te^eu^
par4e.»oa despojoa* Cpuata^ra o todo da nossa geute
de luil e tre^eutos homeua, a Mfaer, uiil e duxentoi^
Poriugueaes eatre sol^iro^ a easados ( todos sol*'
didoa no yalori poueos na pratica) e quasi oem
uaturaeSf autre epcravos e ludioa* As armas de fogo
uao pasaavao da duzeutas eipiugardaa, ieitasmaiit
para a ca^a que para a pelcja i alguiuas espadas que
a porhibi^ao tiuha escoudidas, e coju a ferrugepn
tao gastadat que podiao magoar, mas uao ferir. Af
mais anuas erao cutellos do moota, e paos tostados;
as muuiijoes tao eseassaa que as uegava a peuuria 9
aiuda a maior iiecessidade ; a/i boras do combated
urn. dia todo* As dos cereados uao sa ooniao pelos
^peSfSeuao pelos tiit)s.O uumero dos uossos mpr-
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}8<^ CASTM0T6 LUSltANa
tos nao passon de vinle oito, enlre dies os capitaes
rektados ; os feridos forao trinta e sette, aos quaes
o cuidado da charidade apressou a convalecenca.
Dos escravos^mortos e feridos nao fazem mencao as
relacoes (devia ser esquecimento > c nao desprezo,
que o nao merec6rao negros que tao esclarecida-
mente obrarao.)— Nomeareinos aqui, segundo a or-
dem do alphabeto, e nao do merecimento, os capitaes
e pessoas dequalidade que se achirao no cpnflicto,
para qne seus nomes passem a posleridade. Os ca-
pitaes foriio, Amador de Araujo, Antonio de Crasto,
Antonio Gomes Taborda, Amaro Cordeiro, Anto-
nio Borges Uchoa , Bartholomeo Soares Ganha ,
Braz de Barros, Cosme do Rego, Bomihgos Fagua-
des, Bomingos da Costa, Francisco de Lisboa, Fran-
cisco Gomes, Faustino Pereira , Francisco Ramos,
Firancisco de Figueiredo da SiWa, Francisco Gomes
ik Sllva , Jeronymo da Silva ( noforreo na batalha
com mais iliustre nome), Joao Soares d' Albuquer-
que I Joao Leitao d' Albuquerque seu irmao , Joao
Nunes Victoria , Jeronymo da Cuiiha do Amaral ^
Ignacio Mendes, Joao Barboza, JoSo Pessba Bezerra ,
Joao Nunes da Mata , Joao Gomes de Mello , Joao
Paes Gabral, que nesta batalha, como outro Sansao
coroou as proezas da vida com se exceder a si
mesmo na morte; Maihias Ricardo, que no combate
deo a vida pela patria ; Manoel de Araujo de Mi-
randa, fllho de Amador de Araujo ; Manoel Soares
Robles , Marcos Pires , Paulo Velloso , Pedro Ma-
rinlio Falcao, Pedro Correa, o P. Simao de Fi-
gueiredo, s^cerdotee capitao, igual no zelo de en-
caminhar as almas ao valor de esgrimir as annas;
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CASTWOTO lUSlTANO. J81
Sebastrao Pereira y Simao Metides , e Thom^ Dias
da Costa. As pessoa's particulares^ a que a tiobreza
deo nome, e esta occasfto fama, forao as seguintes.
Arriao de riollanda , com doos ftlhbs ; Antonio
Bczeira, Antonio Carakanti; c6m dods filho^;
Atnao Lopes da Madeira^ Antonio da Silva^ no-
meado capitao de cavallos, Antonio da Costa , A!-
Taro Teixeira d^ Mesquita, Antonio Coelho Serpa,
Antonio Carneiro Falcato, Antonio Gomes, Anto-
nio de Magalhaes de Mello, que montado em nm
cavallo , a todos os combates animava tanto com a
e)thortacao como com a espada ; Antonio da Silva,
AhtonioTftTares, Antonio da Costa/ Bernardino de
Carvalho, Balthazar d'Azevedo, Cosme Soares d'A-
ranjo, ChristoTao Berariguer, cunhado do gover-
nad6r da liberdade; Diogo da Siha. tambem de
sua casa ; Domiif gos Barboza , &€u aifcires ; fVata^
ciMo Berengner de Andrada, sea sobrhihb; FVan*-
cisco Rodrignes Tavares, Francisco ^rretd, Joao
Lourenoo Francez, com dons' filhos; Jerbnymo de
OliVeira Cardo^^ da casa do m^mo governador ;
Joao Dias Leite, c6m dous filhos; Joao Cordeiro^
Mandanba, Luiz da Costa Sepulveda, Lourenco
d'Abreu, com nm filbo; Manoel Garaleami d'Al-
buqaerque , Manoel Alvares de Cai*va)ho , Manoel
Fernandes^ Croz^ com dous fiihos; Manoel Barreto,
Simao Velho Barreto, com d6its Glhos; Thomaz da
Costa; e ontros d*igaal esforco e fidelidade , cujo*
nomes escreveo entao com melhov tinta sua espada,
ainda que agora se nao estampem nesta historia
pornoesa penna. Os sacerdotes, que so ach^rao
nesta oc^a&iao, de que nos informou a noiicia, fo*
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;S3 cj^sxwf^ ufm^»^
i:aaoP. Simao de F^^ueiredoy ja repetido enlre
03 capitaea y e agora nomeado , porque o fizeria
diias vezes conhecido a digaidade e o poato ; o
P. Joao BapUsta Lobato, natural de Usboii^:; •
P. Joao de Araujo^ natural de Poate de Umai
e 0 P, Fr* Joao da Resunei^ao, de quern adiantis
faremos particular memorial devida aos aingudarea
s€rvi<;o$ que no dUcurso d'e&ta guerra fox a DeoSt
a patria e ao reiao*
XXII. Depois de passar o rio, como liavemoa
dito , marehou o HoUandez toda a noite com graude
trabalho; na manha do dux seguinte, 4 d'Agoato,
ch^u apoyoa^ de Sap Louren^o, seUa l^poas dp
moute das Tabocas, d'oude fogira vei^cido; whouo
luga^ de3habitado, cujosmoradores ae retirarao aoa
matos iucertos do suecesso j deteve-^e neste sitio
e^erfndo peloa/eridoa^, e logo ayi90u ao ArreciCe
dfuidQ conta ao$ govemadores do suceedidoi e pe->
diudo mautimentps^ mun^^o^a e soldados ; chegou-
Ihe o aooccuTO ueafie meamo dia^ e depois de inyiap
OS feieidoay e reoolher oa diaperaoa ae mudou
para oa Apupucos^ onde os moradores o receb^
rao como alliados : uao ae tem^rfto offendidos^ com o
seguno dos paaaaportea. No terreiro da igreja (ez
altO| e logo reseuba dageute que tiiiha, e adiou que
de mil e quinh^ntoa aoldados^ com que^ntrou ooe
combatea das Tat^ocas^ perdSra mil e cam, com
a flor doa ofiiciaea daguerra que o acompaubirao*
Da perda fez Henrique Hus motivo para a perfidia,
Pagou aoa triatea moradorea o agaaalho e benevo«
Iqiicia , com que o receb^rao^ eutregando a povoa*-
^ap e oa coutoruoa ao aacco doa aeua^ que oa aol-
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if^ , jndws^ e Ind44>8 e?iecistmyQ biia comQ bo*
mensj satti^ como ,£(^«.Tim1o o qme podia A^nir i
cohica e a, viogaoi^ destruioo odio a o vouboi a
crueldade venceo as op{)06i<;Qes da natitrwi q d|
razjip] acbando iio$ mQtivoa da compfuicao i)Si Iat
ceiitivos da ira, Frostestarao de bruto^ na demaaia
com que a torpeza offemdia a modestia; e na Mjjvria
w^ que atropellava a reti$teiicia* G^niria a nm^
sagradp se irr^tat a ma^^ seu odio^ e i^Oy^ra p iMIti
relig^oR^ 94U poder. D^steuirao, e coatamioaraooa
t^mplo$ ; fizeraa em.p^da^oi^.aft Muti^ imagwsy.a^)
P. Joao Dias, sacendo^e da noveaU apuos, fiaii*
xao a golpas e affiroQtas : aua yirtudo foi para cb de^
pravado^ herf^ ^m jnaior deliqlOy e seu dinbeir^
a^u luaior verdugQ; peadurado ^ urn bra^o acar
bara ja y'ld^, se anao remiraa peso d'auro« Nao se
estoadi^o a mais a crueldade, poFquiQ.to4os os qu^
pod^ao ajaticipdrpQ a fuga ao aggravv). ~ Pela t^rd^
mandou Henrique Hus ooptiauar a saarcha; fe;^
alto na Yarzea^ e se al^jou uo eug^enho de,Do^
Aufi^ Pfes ( pma legpa do Arrecife) ; ao, outro din
piartiQ a ver-se com os do suprwao cousel^xo ;. oqn*
ferirao-entre si o que mais convioha ao estadp daf
cpus;^ pi?esentes$ tompu asseuto no que se devia
faxer ; e despedi4o covn as ordens que M^ de se-
guir se v9.Itou para ps seus no mesmo dia» Mandon
saquear o Arraial yelho^ com as mesnias extor^peSj
e coip toda a s^de da crueldade e da cpbi^a ; nao ficotf
paredcy. telhado, neqn ^otao que nao tenteassem com
espetos, suspeitando acbar rjquezas ent^radas^ou
escoudidas ; na igreja do lugar com mais exorbi-
tancia^ porque com mais indecencia» No engenbo
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lU GJIfiTUOlt) LUflrtAMO.
cte-t^rancisM Monteiro Bezerra execuUm inauditos
desaforos. A senbores e escravos media a crueMade
par Hill mesmo lamanho; com urn inesmo fio cor*
tava o Terro e a injuria peta matrona e pela don-
zc4la. A Dona Brazia^ mulherdocapitaoFedroCa-
%iilcanti d^ Albuquerque, e a sua mai Maiia Pcssoa,
arraitirao como a vis eecravas, porque despre-
zando a perda da ftrz^nda , nao consentirao nem
ainda na mab leva mancha da honra. A poucos
excusou a diaboHca perfidia da espada e da aSrontai
e aod que perdoava sua eolera guardava para maior
castigo sua meilicia. Tinha determinado entregar
a todos a maiores tori^nentos. Deeret&ra seu desa-
tinado conselho que aquelle flamengo, diamado
Jteobo (que acima dissemos vivia entre os selva-
gens), deixasse o sertao, e desceBSedosmontescom
todbs OS Indios de sen partido a correr a campanha
&o no de Sao Francisco, onde oesparavao cento e
sessenta HoHandezes , com ordem que mettessem
tudo a Ferro e ai'fogo, descendo por Goyana at^ A
Varzea, onde esperava Henrique Hus. Horrivel
f5ra o estragOy se a divina ProTidencia o nao ata-»
ihdra 9 confundindo a malicia oom o seu mesmo
decreto, como veremos no decurso d'esla historia.
XXIIL Deixamos ao governador Joao Femandes
Vieira no sitib das Tabocas, onde se deo a batalha,
dando e re^bendo as eongratulacoes da Victoria ;
d'aqui por dianteo veremos (sacrificado um eou«-
tro hombro ao peso do governo ) cnlrar em lanto
m^'or cuidado , quiemto mais se estendia sua obri-
gacaOt Nao achava em si todo o gosto e triumpho
em quanlo os moradores ausentes nao gozavao de
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CASTUOTO IWIXAlia 965
toda a liberd^cie, partidpa^o de aua mftwia fofw
tuna.Muiias freguezia^ tmbpto seguido o seurtxein^
ploy e algumas pediao o seu auxilie (as quenuiis
insiavao erao Iguai^ii e Goyana); diBpuftha^
eUe cm mandar-lbes $occorrO| qutodo the chegou
a nova de que os mestres de campo An4H Vidal
de Negreiros^ e Martim. Scares More&o UdJ^ao to-
rnado terra em Tamandar^ com oiloeeaCo» in*
fantes^ maQdados da Bahia pelogQveraador do £•*-
tado, para que faTorecessem a loais ju^ta eauaa;
esperava aUm disso cada hora os goveiwidoi^es de
Indios e Minas Henrique Dlas e o CaHMtiao; fiado
nestas esperancas se determioou em luandar logo
soccorrp a Iguara^ue a Goyaua. — Um iamlo ia*
conGdente, que teve noticia d'esta deUbeirai^t
metteo valias a Joao Fernandea Vieira para que •
nomeasse cabo d'esta expedicao; coaaKleo-*llie o
go.xernador a Jornada e o posto , fazendo coaSau^
do traidor para o reduzir a fiel ; e pprque affasr
tando de si o falso o nao fizesse alguma occasiao vef <-
dadeiro. Entregou-lhe cento e cincoenla bomeiis,
com ordem que ae incorporasse com a gente para
melhor se defender do ioimigo, e o despedioalgmis
dias antes do engenho de Gorjau , onde Qq(4P te
alojava a nossa genie* Chegou p dito cal)Q a villa
de Iguara^Uy onde se deteve algum tempo ; pasaou
depois a Goyana , onde uma pont^da the tirou z
yida, porque morresse da malignidade d^ que a
iraicao se alimentava em seu peito : sucoesao qoe
adiantamos ao tempo ^ por nao d^ixarinoa a potUa
d'este fio sem no.
XXIV- Tinha saido da Bahia Salvador Correa
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6tSkff» gM«*«it d'uAMi frota de trhkta e sette na-
irimMCKaxitM) que faria tiagem para o reind, e
em Btift e<mserva mandtra o gOTemador do Estado
Amoiiio Telles da Silva dous ter^os d'infantaria
(eeits iMfttres de campo Andrd Vidal de Negreiros,
e Martim Soarte Moreno) em oito embarcacoes , e
-por cabo d'ellas Jeronymo Serrao dePaiva (homem
valoroio e pratico no exercicio militar de mar e
lerrt) em «ati$fac&o de promessa que fizera aos
embikadoi^s do govemo holUndez, com ordem
ipie at idiura de Tamandard tomassetn este porto ,
e ndte ^rdadeira informacao das cansas da suble-
racfto doa naturaes - e se nao fossem jiistas, bs cas-
tifjasSMi como a rebeldes, e composessem as cousas
ckr eon^qne ficasse a terra em paz; porAm se en-
tendesaem) que de tyrannizados e perseguidos da
temfe'uao e insolencta do domihio hoUandez, toma-
Tfto M annas (como se dizia) em defensa de ^as
ridaa , honras e fazendas , os favorecessem e aju-
dwsdtti , eomo erao obrigados por lei natural e di-
vma* Navegou Salvador Corrca ali aquella altura ;
deivou a Jeronymo Serrao de Paiva com os oito na-
tmno porto del^mandar6^ o continuou a viagem
•o reinO) tomando alguns rcfrescos no Arrecife,
eomo adlaate se dira. — Jeronymo Serrao deixou
a gMte d« guerra em Tamandar^, e com a do mar
•&4i«iMou ficar nas embarcacoes, debaixo daqtlelle
•qjtttt) que the promettia a K do contraclo rrferido.
Wsm «uccedido divulgar-se da villa de Sirinhaem
* wja^ttmento de 3oao Femandcs Vieira com a
yoz de lUberdade, e temendo o Holtendez a imitacao
t *> exemplo, mtodAra ddtar bando que todoa
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08 Pbrtuguezes d'aquelle dMrietof em tefin6 de
tk*ed diag naturaed leva^sem i (brtaleza todas as ar-
mas ofiefisivas e deft^sivas que tiTeesem, sob pena
de jnorte irrimissivel. Atemorizados os moradores
obedecirao uns , e disputihao-se outros a obedecer,
quando Joao d'Atbuqiierqtie (fkomem de bem, ze-
Joso e valente) ^onhecendo o^ perfidos ihtentos do
IfoHandez, que erao desarmAl-os para os matar iu-
defeaos , declarou a todos o fihi do bando, e per-
dufitdw)8 k reaisttoci^. R^nio uns quarenta e
nove manoebos, e com dies se adiantou a idmar ad
annas ^os' vizinkos, pa»a que as nao tomassemaos
setw verdu^s; com a mesma ddiberacao melteo a
pique tres barcos que o iftimigo tiuha catregados
de dWersos geueros para o Arrecife ; e appellidando
ISieitfeKfe fez todo 0 mai (foe p6de aos Hottan-
dezes.
XXV. Neste tempo diegou k Shinbaem a'nova
da geute que tomdra terra em Tamandar^. Alvoro-
gado Jotto d'Albuquerqtoe eom a esperanca do soc-
corro , atalkm por milagrosa a oppurtunidade do
auxilio ; saio ao encontro da uossa gente, Mhu
emt OS mestrea de campo/ e da parte de'Deos e
d'Ei Rei VticB requcreo tis Ubertassem da oppressao
e agouia em que estatik), de ttovo condemnados i
siorfe f^h tyraunia hoHiuddeza ; pedio que farrore-
eessem os morsNkrres^ que torn pequeua ajuda se
Ihes eutregaria a lortaleza que naqueile lugar tinba
o inimigo desapercebida. O tnesmo requefimeuto
fiterao os moradofes, que a Vigflancia eontraria tra-
sia desterrados pelos mates. — Era justtficada a
pcti^^ e muho toufbhtie as oi*deiis que traziao;
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2M CASXWXEO UKUXAHa
pd9 que seiQ detf n^ marcbarao para a for^leu
OS capiiaes V^^\o da Cunha e Christovao de Barir?^
com. %x^ cooipaDhias^ cpm jxromessa dos mestres
de caiDpo que os seguiriao cpm os seus tercos.
Uaidos OS soldados com os moradores cercarao. a
fortaleza ao largo ; tomarao a agua , e com ella as
portas e todas suas ^peran^as ; e logo o capitao
Paulo da Cunha mandou.yoi bolalim, que dissesse
da sua parte aos cercados que o goveroador g&al
Antonio Telles du Silva os enviara Aquella capitania
em ordem a soccgar os iQoradores por um de dous
meios : ou castig^udo os que se haviao leyantado,
se o tivessem feito sem justa causa ; ou &vorecenda-
os^ se o dominio holiandez Iha houvesse dado
sem legitimos fundamentos; e que examinados (m$
e outros procedimentos , linhao alcancado q«e
elles dominantes tratavao os moradores, nao como
a yassallos, seoao como a captivos ; pois temorosos
de sua^ crueldades^ roubos e injusticas se condem-r
navao a viver enlre as feras dos matos , por fogi-
rem a tyrannia de seu imperio ; e que, coma a indi-
gno$ de serem obedecidos, os queriao lan^ar de suas
terras^ pelo ([ue sem dila9ao entregassem aquella
fortaleza a bom parlido , quando nao a tomariao i
escaldi sem deixarem pessoa com vida. Tomou esta
embaixada ao Flamengo falto de tudo o que Jhe
podia servir a conservacao e a defensa. Considerou
o perigo certo, o soccorro contingente; e se entrp-
gou com honrosas condicoes, que pontualmente se
Ihe guarddrao. Sairao da fortaleza sessenta e dpus
Hollandezes reudidoSy e quarenta enoyelndios; estes
forao condemnados a forca pelo auditor g^ral Fran-
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GASTRIOTO LUSITANO. 289
Cisco Bravo, cuja seotenca se execulou logo (foi o
lugar do crime o que servio ao supplicio ) ; a todos
colgarao pelos muros da fortiGcacao. A suas mu*
Iberes e fiihos repartirao pela povoacao, nao como
escravos senao por modo de administracao. Para
esta faccao eoncurreo com valor e zelo urn nobre
morador chamado Hypolito Alonso de Vercosa, es-
trangeiro por nascimento, mas natural por affecto.
Assistirao i entrega os dous mestres de campo, ainda
que cheg^rao depois de rendida a forlaleza, e nor
mearao para capitao, e da gente da terra, a Alvaro
Fragoso d 'Albuquerque, digno de toda a coofiaD9a;
e a Francisco de la Frauz^ Fran9ez de na^ao, e ca-
sado com mulher portugueza , fizerao capitao dos
estrangeiros rendidos ( assent^rao praca os mais
d'elles); o qual, por satisfazer a sua obrigacao,
ddxou casa , mulher e filhos , e seguio a marcha
dos nossos , que o mestre de campo Andr^ Vidal
de Negreiros encaminhou para onde estava Joao
Femandes Vieira; Marlim Soares Moreno, com o
seu terco e com mais fleima , tomou o caminho de
Nazareth, e cabo de Santo Agostinho : um e outro
alegres com a nova , que nesle sitio receb^rao da
victoria das Tabocas.
XXVI. Sette dias deo Joao Fernandes Vieira ao
enterro dos mortos e cura dos feridoSi depois da
batalha, e tambem ao descanco dos seus; no ultimo
Ihe chegou a nova do soccorro, que a favor dos
opprimidos moradores mandava da Bahia o gover-
nador do Estado, e que os mestres de campo vinhao
em sua demanda. Logo se dispoz a sair-lhes ao en-
coatro; ao outro dia a passo lento chegou ao en-
1. 19
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190 CASTRIOTO LCSITANO.
genho de Balthazar Goncalves Moreno ; no dia se-
guinte ao lugar de Gorjacu, e se alojou no engenho
dc Antonio Nunes Ximenes. iya(|ui despedio An-
tonio Cavalcanti com o soccorro, que mandava
aos moradores de Goyana e de Ignaracu. Nesta
marcfaa se desencontrarao o governador da Hber-
dade, c os de Minas e Indios que a ligeira o busca-
vao, deixando algumas jornadas atraz os sens tcrcos.
Das Tabocas , onde nao achirao o governador, o
vierao seguindoat^ b alojamentode Gorjacu. Com
alegres parabens se recebfirao, devidos A diegada e
ii victoria ; mas nao foi longa a entrevista, porque
cbegou ao governador o aviso* deque se alojavao
tia povoacao de Santo Agostinho do Cabo cento
c oitenta HoUandezes; mandou o governador
Upressar a marcha ao exercito, mas nao p6de
apanbar &s roaos os Flamengos, porque advertidos
por traicao relirirao-se ligeiramente it fortificacao
de Nazareth. Com o dissabor de Ihe fugir a caca
mandou o governador fazer alto naquelle lugar ,
6ude teve novas que os mestres de campo Andr6
Vidal de Negreiros e Martim Soares Moreno, com
a gente de sens tercos e muitos dos moradores de
terra tinhao chegado a lpojuc4, e estavao com de-
terminacao de buscar Joao Fernandes Vieira em
^alqiier sitio em que se alojasse. Escreveo-lhes o
governador nma carta , em que Ihes dizia que era
excessivo o gosto, com que estava, de saber que os
tinha vizinbos (ha via entre as duas pDvoacoes tres
legoas de disfancia) sem Ihe alterarem o alvoroco,
com que logo os ia buscar, as praticas que ouvia
acerca do fim a que vinhao ; porque sabia de certo
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GASTRIOTO LUSITANO. Ml
ser o qii€ os (razia, soeegara terra » favorrcer op-
primidos, e destruir tyrannos ; e que se um megino
fim OS UQift nas teneoes, nenhuma cousa os pode-
ria separar nos alojatnentos ; que elle se ficava
dispondo para Ihcs ir dar os parabens da vinda, e
offerecer a pessoa a seu servico, ainda que a muitos
parecesse a obrigaigao eneoutro. — Lerao os mes-
tres de campo a carta do governo , e yendo por
ella que a forca da cortezia dominava a da supe-
rioridade, se dividirao; Martim Soares Moreno ficou
no sitio que chamao Algodoaes (uma tegoa do
pontal de Nazareth ) , e Andr^ Vidal marchou ao
lugar onde se alojava a ffovernador. Avist^rao-se
OS dous cabos (postos seus soldados em ala, e pre^
sente innumerayel multidao de povo de toda a con-
dicaoy sexo e idade, que no amparo de nossas ar-
mas Tictoriosas buscavao o seguro da crueldade
inimiga , tanto mais ferina, quantomais irritada);
chegirao a falla, e disse Andr^ Vidal de Negrdros^
em voz que todos podiao perceber : « 0 goveraadar
» g^ral do Estado, Antonio Telles da Silya, me
» manda prender a vossa merc6 , por queixas que
» tern feito os govemadores do Arrecife, e eattigar
» OS cabecas da rebelliao , que tern amotinado este
j> povo. » Ao que respondeo Joao Fernandes Vicirt :
a O governador g^ral do Estado assim como ouvio
» a voz da queixa , i forca que ouvisse o grito da
» oppressao. Eu sei que vossa merc6 traz ordeiis
» condicionaes, paraas executar pelos mericimeatos
» das partes, e dar a cada um o castigo, ou o favor
n mereeido ; c tambem sei xjue chega vossa mercfe
» a tempo em quov* com aens olhoa a uuseravel
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92 CASTRIOTO LCSITANO.
» escravidao, em que a fortuna tern po8(a esta ca-
» pitauiai cujos inoradores desgarrados e afHictos
M andao deslerrados de 8uas proprias casas e fazea-
» das pelos matos de sua mesma pairia y Irazidos
» de sua miseria a buscar o favor de nosso zelo ,
M que sem reparar no risco se arroja a liberUl-os
» da lyrannia j que os sujei(a a padecer (ribulacoes
» que nao pode referir a dar, e injurias que nao
» sabe relatar o pejo, e so se deixao entender com
» a certeza de que na companhia das feras se me-
» Ihorao do que Ihes fazem os homens; e se nesle
» caso a jusii9a nao explicar o preceito , nao achar^
» Yossa mercS o da obediencia , antes provocara
» conlra si o desacato, livre da culpa, de que ab-
» solve a todos a natural defensa, permittindo aos
» morlaes todos os meios para a conservacao da
D vida e da houra. » Ao ^chod'estas palavras se se-
guio um tumuUuoso grito de soldados e morado*-
res ; o qual socegado, tomou a mao um dos solda-
dos de Andr^ Yidal, que em nome dos que vinbao
da Bahia fallou nesta forma : c A iujusCa guerra
» com que o pertido Hollandez ha tantos annos
» (yranni^a csta capitania nos traz a lodos des-
» terradoB de nossas casas ; a uns, porque fogem o
» aggravo ; a outros , porque buscao a vinganca ;
» e a lodos , porque a todos cobre o luto de paren-
» tes, amigos e naturaes, mortos pela crueldade
» flamenga , que com lasdraosa memoria nos esta
» fallando ao cora^ao todas as boras, chamando-
» nos para o desaggravo. Temos a occasiao na mao,
» o exemplo a vista, a fortuna da nossa parte;
') e a censura certa se nao seguirmos a persuasao.
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CASTRIOTO LUSITANa 395
» qutndo no8 estimula a piedade e a inveja^ como
» patricios, e como Portuguezes ; e assim queremos
» offerecer as vidas por servico de Deos e bem de
» nossos naturaes ; e se algum nao for d'este pare*
» eer pide-se vol tar para a Bahia. » 0 mestre de
campo , que enfendeo a justa delibera^io de seus
soldados, cor(ez e discreto se poz da parte da razao,
dizendo, que bem sabia, pela experiencia de muitos
annos, at6 onde chegavao soffrimento dos mora-
dores, e a insolencia dos es(rangeiros ; e uma vez
que na renitencia de seus soldados tinha a escusa
de nao executar as ordens de seu superior, elle o
deixava de ser, e ficava no andar de cada um d elles
obrigadoaseguirseu intento, com ogosto de mili(ar
debaixo da bandeira d'um governador tao valeroso
e Cao amigo como o era elle Joao Fernandes Vieira ,
a cujas ordens ficava subordinado. Derao-se od
bracos ; fizerao-se todos em um corpo , unidos no
esquadraoe noanimby com plausiveis vivas de todos
OS presentes. — Camaradas uns dos outros se aIo«
jArao OS soldados; e d'alli por diante o ficou sendo
Andr^ Vidal do governador Joao Fernandes Vieira.
Gonferirao o eslado das cousas^ e assentarao em
mandar uma partida de soldados com cabos esco-
Ihidos ^s ordens do capitao Amador de Araujo^ a
dar principio ao cerco da fortaleza do ponial de
Nazareth (empresa determinada primeiro pela ne-
goeiacao que pela forca) j^ sitiada ao largo pelos
moradores, assislidos da maior parte dos soldados
do ter^o de Martim Soares Moreno; o qual, ensi-
nado de sua genie (mais prompta para a vinganca
que para a obediencia), se accommodou com a razao
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3M amsmom imcimo.
de sua jUsUeli r ^ Mgaiiido o que iiio podic <
trtr, fei saber a Joao Fernandes Vieira, ene coma
estava aujeito a aoaa<>rdeii9 em tudo o que d elk e
da aeu lerco quizesee di&por; e que D^ia fornaa se
ia incorporar com o grosao da genie que sidava a
fortaleia de Nazareth <
XXVII. DepuU de de«pedir o aocoorro para o
cerco de Nazareth mandou o govemador.da libef^
dade marchar o exercito para a povo(a§ao da M<hi-
beoa ; a sua gente forroava a tauguarda , e a de
Andr^ Vidal a retaguarda. Nesta forma chegarao
i povoa^ao em 16 de Agosto, onde fizerao aUo, e
depois d'algumas boras de repouso, se encamioba-
rao na direc^ao do rio Tigipio, oode chegarao pelaa
aeis horas da tarde, o mestre de campo na vau^
guarda ; e na retaguarda o goyernador^ que sem
dar lugar a que o exercito arrimasse as armas^ e se
alojasse, mandou lomari com gente de guarda,
todas as estradas e veredasi que saiao daquelle sitio
para cortar a diligencia dos traidores , e a noticia
que por aviso seu podia ter o inimigo do nosso alo^
jamento.
XXVIIL 0 general das armas hollandezas Hea<»
rique HuS| que deixamos aquartellado noeogenho
de Dona AnnaPaes, em execucao das ordens, que
tinha recebido dos do governo^ mandou neste mesmo
dia 1 6 de Agosto ao seu sargelito maior Joao Blar,
que com duas companhias de Flamengos e alguna
Indies d^sse sobre as moradas da Varzea, sem
deixar cousa que nao registasse ; e nellas prendes-
sem todas as mulheres d'aquelles homens nobres
que seguiao a Joao Fernandes Yieira , nao so por
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motivo de viugaii9ay senao como e<pecie de r^Ceii^
para qudquer s^cces$o future. Prendeo Joao Biar
a Dona Antooia Bezerra» mulber de FraucUoo Be-^
renguer de Andrada^a Dona Isabel de Goes, mulber
d^ Antonio Bezerra> aLuiza deOUveira, mulher.
de Amaro Lopes^ cijija nobreza daya privilegias dc
couto a cada uma de suas casas , por&m d ellaa a
tirou a violencia para as casas de Dona Anna Paesi
onde se deposilarao para se levarem ao Arrecife«
A Dona Maria Ge^tar, esposa do govemador Joao
Feraaudes Vieira, primeiro fim desta diligenciti
nap pode descobrir o inimigo ^ porque maior oui*
dado a tinha escondida e retirada em bosqu^ oc-
culto a toda a noticia; com if ma mulata de seu Ser-
vian, fiado seu sustento a cautella de um fiel
criado do governadori sempre bem afortunadO|
porque sempre prevenido, Nao salisfeito o HoUan-
dez com este procedimento barbaro , formou pro-
jecto de passar & espada todos os moi^dores , para
cuja execu^ao os mandava reunir na Yai^ea ; mas
avisados estes por um Hollandez catholjco escaparao
ao perigo emboscando-se pelos matos com suas fa-»
miliaSy d^ixando de suas casas s(5 a$ paredes. — As-
sistia na Varzea o Ucenciado Malheus de Souza
Uchoa, capellao que entao era do governador;
soube que com seu exercito tinha chegado ao rio
TigipiiJ^- e pela posta, em companhia de Joao Al^
vares da Guarda, Ihe veio dar aviso de tudo o que
temos referido; e que sabia parlicularmente que o
Hollandez, na seguinte manha, delerminava por
em seguro a presa assim das pessoas , como das
fazendas que tiuba roubado, conduzindo tudo para
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396 CA8TBIOT0 LtJSITANa
o Arrecife. Oavidas eslas novas j deo-se o gover-
nador pressa em acodir com prompto remedto a
tamanho mal. Tocou-se arma, receb^o^se as or*
dens, formou-se a gente, marchou o exereito com
a<{uelle passo que aconsdhava o perigo ; toniou o
governador a vanguarda, e o mestre de campo com
a gente da Bahia o seguio na retaguarda. Adianta-
Tao-se, como descobridores do campo, os capitaes
Ramos e Fagundes, 03 quaes, vencida uma parte
do caminho, derao com duas sentinellas , que o ini-
migo tinha deitado ao largo ; tomadas as maos con*
fess^rao o que sabiao, e pagarao com a vida o exer-
cicio em que andavao. Passarao avante, e Gzerio
pausa a vista do engenho de Pedro da Cunha
Andrada, detidos do rumor que faziao algumas
mangas de Flamengos , que andavao espalhados a
roubar. Neste engano as confirmarao os nossos ca-
pilaes, que sem movimento esperirao que com a
presa se fossem para o alojamento dos seus, ante-*
vendo que, se dessem sobre elles, poderia escapar
algum, cujo rebate levantaria ao Hollandez do sitio
de Dona Anna Paes ; e fogido para o Arrecife noa
deixaria a dor de nao remir as presas, c de nao co--
brar os roubos.
XXIX. A' meia noite acabou de chegar toda a
nossa gente aquelle sitio molestadissima do escuro,
das chuvas, dos lamagaes, e da aspereza dos ca-
minhos. M andou-se fazeraltono sobredito engenho,
e tomadas fres horas de descanco , se continuou
a marcha na mesma forma e ordem que at£ alli
trazia. Chegarao os batedorcs ao engenho chamado
do Meio ( urn dos que o governador possuia na
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GASniiaiO LVStTARa i91
Vai'EM), ottde prend^o sets Hollan<!ezes e Ires In*
diM que andaTao roubando, as quaes largirao as
presas com as vidas ; o mesmo succedeo a dous
Indios e um Flamengo , que no engenho de Santo
Animiio se occupavao no mesmo exercicio. Rom^-
pia no horisonte a primeira luz da manha, quando
a noasa vangnarda chegava As margens do rio Ca-
peberibe, tao crescido cofiti a innundacao das aguas
que por todas as partes tlegaTa \ko k passagem, e
poT nenhuma se descobria barco^ canoa, ou jan-*
gada f em que se podesse passar a outra banda.
Acendia-se no discurso de todos o desejo da pressa
com o estorvo da marcha ; fazendo mais sensivel a
detencaavizinhancadoalojamentocontrariojaquasi
aTista. 0 governador, que vio a suspensao , com o
ankno de Alexandre dcterminou cortar o impedi-
mentOy que nao podia veneer. Seguindo a um mu«
lato seu , grande nadador^ apertou as pemas ao
cavallo, avancou ao rio , e com agua pelo arcao da
sella ^ passou & outra banda. Foi tao poderoso seu
exemplo que o imit^rao sens soldados, lancando-se
ao rio pegados uns aos outros para resistirem ao
rapido da corrente (postas as armas de fogo sobre
as cabecas) ; e em brevissimo tempo se virao todos
da outra banda. — Caminhou a nossa gente at6
descobrir as casas de Dona Anna Paes; e suspen-
dendo eniao o passo , mandou o governador seis
soldados praticos e ligeiros, que por entre as ramas
do mato fossem cortar as sentinellas do inimigo«
A poucos passos torodrao duas as maos, por enjo de-
poimento entendeo o governador, que o Holiandez
estava no terreiro das casas, formado em dous es-
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3M, GASCUOXO umxAiKw
quidrdtg, e piMado ordem que jum pda YiH» d'0«
linda, outro pela Varzea mo deixasse cousa iswto
de fogo e do ferro ; e que o§ caboe estoviko depiro
das casas pdstoT a masa para comereHi^ e marcba*
rem, leyaodo comsigQ a$ laatronas que tiohaa
presas. Coatiauaiio os uossos soldados a desoobrir
o campo com o mewio zelo e cauteUa; tomarao as
niao» mais duaa sentin^livi,,^ sem swem seniido*
se apro2um4rao do eagei^^« Vendo o governador
que a occasiao se Ihe apresentava favoravel march^ii
com a vsCnguarda a sordioa at^ & eutrada do paf o do
engenho, levando diante um lro?o de soldados es-
colhidos (o8 mai^ d'eJles capitaes vivos e reforma-
dos ) com ordem , que dada a primeira e seguuda
carga, seiovestisse i espada. Tinha mandado ao
Camarao, que com os Indios do seu ter^o se adiau*
tasse incoberto a occupar todos os caminhos qua.
guiavao para o Arrecife, para que ueuhum Fla-
mengo podesse fugir. Nas primeiras iileiras da
vanguarda poa^ os capitaes Joao d' Albuquerque ,
Antonio Borges Uchoa, Sebastiao Ferrrira, Anto-
nio Gomes Taborda , e Francisco de Lisboa , com
outros d'igual valor e opioiao ; e como guias de
todoS| OS ajudantes Amaro Gordeiro , e Francisco
Gardozo. Tanto que a nossa gente se descobrio aos
esquadroes inimigos, tocarao arma com tambores,
darinsy gritos e cargas, cujo estrondo fez levantar
da mesa os cabos hoUandezes com tanta turbaqao
e desatino , que derao por t^rra com as iguarias,
frascoSy copos, e tudo o mais que estava em cima
das niesas^ nao Ihes deixando o repenle tempo para
pegar nas armas. Forao os aossos capitaes avail-
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GAaniaio uistrma S9ft
fando aoft eaqnadroes inimigos; cpie sein perderem
a ftSrma nao pnusarao ot tiros , at^ que os nossos
Ihes derao a primeira e segui^da carga. 0 gover-
nador, que tudo tinha disposto (deixando a reta-
guarda ao capilao Paulo da Cunba, e a muitos ca*
pitaes' volantes para inve^tirein por oude primei ro os
chamasse a occasiao e a necessidade) acompanbado
de Henrique Dias^ com os seus soldados, ia na
Tanguarda montado em um formoso ginete, e con^
um clarim diante, desembamhou a espada, e disse
em Yoz alta : « Viva a f<^ e a liberdade ; i espada^
}) soldados. » F^ao forao duas^ senao uma roesma
cousa o preceito e o ayan90| com deliberagao tao
Talente, que nao ha via armas que o nosso fogo nao
cortasse^ nem resistencia inimiga que o nosso braco
nao rompesse. — No maior furor do conflicto che-
gou o meslre de campo Andr^ Yidal , assistido doa
capitaes Assensoda Silva, e Antonio GonsalvesTi^ao
com as suas companhias, os quaes mettidos na ba-
talba coriavao com igual pulso, e nao com desigual
effeiu^. 0 inimigo, primeiro descomposto das car-
gas, e depois sangrado dos golpes, yiroii as costas
ao damnoy buscando nas casas do engenho , senao
seguro , desvio ; estavao guarnecidas e em parte
forlificadas ; e serviao os altos ao reparo dos Fla-
mengos^ e ao de seus Indios auxiliares as paredes
d'uma espacosa casa tei^rea.
XXX. Gorr^rao em desordem os inimigos &%
casas 9 e sobre elles os nossos, que logo Ihes ga-
nhirao uma hermida, e um grande cumulo de
lenha, ealli se travou proGada luta. Vendo-se elles
por toda a parte perseguidos de aossas baliaS| que
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300 GASTEIOTO LtrSITANO.
saindo de reforcados moequetes biscainhos rompiao
portas e paredes, usarao de urn estratagema para
suspenderem o combate. Mandarao por as janellas
das casas aquellas matronas portuguezas, que dis«
semos aprision^rito na Varzea. Pareceo a diligencia
de DOS destruirem demonstracao de os inimigos se
renderem ; e assentou o mestre de campo com o
govemador se mandasse urn (ambor que requeresse
a entrega, eofferecessebom quart el^ com desengano
de que entrados por assalto se nao daria vida a
pessoa alguma. Fundado no direito das geotes ,
saio o nosso enviadb com uma bandeira branca na
mao. Ouvio o Flamengo a embaixada; avaliou a
diligencia por fraqueza ; e perfido por arte , res-
pondeo com uma horrivel carga de mosquetaria ,
saindo lodos repentinamente as janellas e barandas
das casas, das quaees dada a cai^ se retirarao para
dentro, deixando mor(o d'uma ballaao nosso men*
sageiro. — Levantou-sc entre os nossos uma voz :
« Traicao, traicao; morrao os perGdos herejes, w
Como nova causa accendeo o grlto em todos novo
furor, de sorte que com os tiros nao deixarao appa-
recer o inimigo, em quanto muitos dos nossos car-
regavao lenha^ e com ella enchiao os baixos, e cer-
cavao (odas as paredes d ellas; em pouco tempo se
fizerao os soldados senhores do ambito, e baixo das
casas; adianCou-seentretanto o capitao Joao Soares
d*Albuquerque a impedir ao inimigo a serventia
da escada, para todo o incidente ,• seguirao sua v<i-
lerosa determinacao outros muitos capitaes e sol-
dados ; todos pediao fogo ; o qual applicado aos
materiaes se comecava a alear com pavorosa vora^
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GASTRIOTO LUSITANO. SOI
cidade. — Crescia a lavareda ; en Ire nuvens de
fumo entrava ja pelas janellas a chama em com-
panhia de innumeraveis ballas^ que a aiumaTao.
Ci^scia com as chamas a raiva; entregava-se o
hereje ao ferro para escapar ao fogo, e parecia
querer ser victima da desesperacao antes que en-
tregar-se a parlido ; mas por fim vendo que dons
soldudos nossos carregavao dous barris de polvora
por ordem do governador, para fazerem voar as
casas ( sem embargo de que no mesmo incendio
ha viae de acabar innocentes e culpados), Ibe cairao
as armas das maos, e esperancas do animo, pedindo
a gritos bom quarlel. 0 seu general Henrique Hus
mandou arvorar uma bandeira branca, e com duas
pistolas , viradas as bocas para baixo , e o chapeo
na mao^ se mostrou rendido a lodos os nossos. —
Acudio-se a apagar o fogo com diligencia; permit*
tio-se ao general Hus e ao sargento maior Blar o
sairem com suas armas e insignias at^ a presenca
do governador; a mesma honra se permitlio ao
governador dos Indios, sens auxiliares, e que todos
OS mais ofliciaes e soldados sairiao das casas desar-
mados, e a merc^ dos cabos sobrcditos. Recebidas
nesta forma as condicoes da entrega saio Henrique
Hus , e em seu seguimento os ofliciaes maiores ; e
logo lodos OS mais cabos e soldados^ que os nossos
forao desarmando assim como iao saindo. Plejteava-
se sobre se haverem de entender, ou jiao, as con-
dicoes capituladas com os Indios rebeldes; quando
elles mesmos decidirao a diivida contra si proprios,
porque depois de rendidos^ com animo traidor, se
rebellarao, e d'alguns tiros matirao um alferes, e
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302 GASTRIOTO LUSITANO.
um soldado, e ferirao gravemente o capitao Anto-
nio Gomes Taborda : })drbaridade que nos obrigou
a passal-os a espada.
XXXI. Tinfaa o sargento maior formada toda a
nossa infantaria em circulo , que pelo raeio aira-
vesfavao duas alas de mosqueteiros , por entre os
quaes forao passando os rendidos ate a presenca
dos nossos cabos maiores. Vio Joao Femandes
Vieira diante de si a Henrique Hus com as submis-
soes de rendido, e Ibe disse estas palavras, modesto
sobre victorioso : « Mai discursa quern fabrica fu-
» Uiros sobre as ineonstaneias da fortuna ; e muito
)) peior quern nos favores della acha molivos para
» desprezar a razao e para atropellar a justica.
)) Quem dissera (ha muito poucos dias) que a so-
V berba bollandeza , animada de nossa desgraca ,
» se desvelava em Fabricar sua ruina 1 Vezes sao
» do mundo ; e nao se desenganao os mortaes de
» que so o imperio da razao i o que dura, e o da
» tyrannia o que mais de pressa acaba. A maior
» injuria de um governo 6 governar com injuria ;
» e o pronostico mais certo d^ sua queda i o in-
» sassiavel de sua cobica, pois por satisfazer a sMe
» nao repara em secar a fonte : nao dissimula Deos
» com aquelles delictos, de que faz gala a malicia
* c pregho o escandalo. Como bavia de fardar o
1^ castigo a culpas que decretava o poder 7 A Deos
» nosso senhor, de quem esperava nossa fe o re-
>) medio, obriga o sofTrimento dos abatidos tanto,
» como 0 offendem as demazias dos soberbos. A
» V0884 merc6 nao o posirao nesle estado nossas
» armas, senao suas insolencias^ de que eu como
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CASmOTO LUSITANO. 309
» mais ofTendido soil o mais queixoso ; « tinda
» assim me compadeco de «ua forinna, c confesso
» nie occupa todo o cora^ao a piedade dc ana mi-
V seria^ esquecidos dos ameacos de sua arrogancia
» que promettiao prcnder a quern o tern preso, e
» dcslmir a qnem agoi^ o determina favoreccr : a
» conlingencia dos fuluros acautella sesudos, e
M descompoe itidiscretos. » A loda esta pratica nao
rtepondeo Henrique Hus mais que estas determi-
nadas . razoes. «Pois Tossa senhoria me renceo,
» e me tern prisoneiro, pode fazer o que for ser-
I) vido ; e Ihe posso assegurar, qne para render o
» Arrecife Ihe nao falla mais que caminhar e tomar
y> posse jle suas fortalezas; porque a flor de sens
» fioldados e defensores tern Tossa senhoria morta
» e rendida nestas dtias batalfaas. » Foi o gover-
nador correndo com os olhos todas as pessoas Pen-
£das/ edisse para o mestre de campo Andr* Vidal
de Negreiros : « 0 que Tejo me assegura na Terdade
T^ do que ouco. » Tornou Henrique Htis : tr Pois
n Tossms senhorias tern Tenctdo ludo a qoe ae podia
» temer, nao pei>cfto a oecasiao , que wma tw per^
» dida taide se rccupera. »
XXXH. A primeira diHgencia, a que se dedicou
o goveraador depois- da victoria , foi a liberdade
^qtieilas matronas que o tnimigo iinka prisioiKi-
ras, cuj4 redempcao e Tista augmenlou a gtoria do
triumplK), e a toz do apptanso^ com que o cMrcito
acclamava a ipictoria ao som de cakas, dariM j e
tkaiamethm, augmenladocom o esirepkodM kmt^
%aro8 Tttstrmnenioa de Minas e Iftdioe, que^ acoM*
tMoolkado de aena eonfosos gritoe^ ae (am aoa ti-
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504 CASmOTO LUSITANO.
toriosos grato»e aos yencidos importuno. — Lai^oo-
se a casa de Dona Anna Paes aos soldados comtoda
sua bagagem , reservando para £1 Rei ludo o que
erao armas c muni^oes, que se entreg^rao ao pro-
vedoi* do exercilo. Entre mosqueles e claviuas fo-
rao seis cenlas armas as que perdeo o inimigo , e
pass^rao de mil e quinhentas as que nos deixou
uesla e na occasiao das Tabocas ; de todo o mais
genero d'armas offensivas e defensivas foi grande
a copia que se arrecadou. A abuodancia dos mau-
timenlos foi (anta que servio a necessidade dos sol-
dados f e ao suslenlo dfi mui(o povo , que de lodas
as partes concorreo. Aqui se proverao os nossos
officiaes de muilos e bons cavallosi com apparelbos
e jaezes para a vaidade e para o servi^o, parece que
quiz o C^o que not armassem para a liberdade os
mesmos tyrannos que nos armarao de razao para
recusar o jugo. £m quanto os nossos se occupavao
em aproveitar o util , se desvellava o governador
Joao Feroandes Vieira em enlerrar mortos, e curar
feridos, em cujo exercicio tomarao grande parte os
moradores da Varzea e dos Apupucos, uns daado
sepuUura aos defuntos^ outros casas e medicamen-
tos aos enfermos, como devedores a uns e a oulros
de se verem restituidos a suas moradas, das qua^
aadavao desterrados^ havia muilos dias. -^ Deixou
o HoHandez no campo da batalha quatrocenlos
morios e duaeutos prisioneiros ; e dos que poddrao
fugir, raros forao os que deixarao de morrer. Du-
zentos Indios degoUou, logo alli, nosso ferro, e
depots anossa diligenciaacabouosdemais. Da ooasa
gente morr^rao dezoito peasoas, e sairao triaU e
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CASTKIOTO LUSITANO. 305
cmco feridos : cousa que pai^ece incriveli e que s6 se
explica por uma proteccao manifesta do ceo. Qua$i
todos Qossos feridos convalecerao promptamente,
servindo-lhes depois os signaes dos golpes taoto, a
honra das pessoas como ao conliogente da halalha
e formosura da yictoria.
XXXUI. Nesta guerra de liberdade e indepen*
dencia nao s6 liverao, parte os inoradores, seoao
muitos padres e religiosos, como ja temos visU)';
uxa d'elles mui distinto, e que merece especial
lembran9ay foi o P. Fr. Joao da Resurreicao, reli-
gioso benedictino natural do Brazil. Este religioa>
foi «sc(^ido pelo seu provincial , que residia oa
Bahia^ para ir assistir, junto com outro reli-
giosoy ao abbade do engenho de Mazuresse^ em
Pernambuco, Fr. Anselmo da Trindade, que por
sua muita velhice e grande virtude fora respei*
lado pelo Hollandez. Forao os dous religiosos
em companhia dos embaixadores flamengos que
Toltavao para Pernambuco ; desembarcarao no
Arrecife conGados no favor d'estes ; apresenta-
rao-se aos do governo, a quern esposerao lisamente
0 fim de sua viagem ; mas como chegassem justa-
mente no tempo em que comecavao a espalhar-se
OS romores da sublevacao, forao tidos por suspeitos
e at^ como espias; detiverao-os dentro do Arrecife
com a cautela da deseon(ian9a at^ que houvesse
embarcaqao que os levasse para fora da terra. T^r-
don a execu^ao ; e o tempo Ihes abrio caminho a
comprar a licenQa para sairem do Arrecife para o
teu iegenhOy por quatro caixas d'assucar. Succedeo
entretanto a sublevaQao de Joao Fernandes Vieira;
I. 20
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106 CASTRIOTO LU81TAN0.
retirarao-se os religiosod do engenho , que bem de
pressa foi saqueado por Joao Blar, e forao fogindo
de mate em mato at^ se encorporarem com o nosdo
fex^rcito ; onde Joao Fernandes Vieira os recebeo
com agrado e tratou com respefto : favor que o
P. Fr. Joao da Resurreicao Ihe soube merecer com
o acompanhar al^ o ultimo periodo da gucrra. Na
primeira occasiao d ella , que foi na das Tabocas y
diasemos por maioro valor e zelo com que obrou.
Neata segunda, que acabamos de referir, obrou de
BortB que, confessor e soldado despertou a emulacao
de todos, e a inveja de niuitos ; com persuasoes e
^xemplos ensinava a despre^utr os perigos de uma e
outra vida com a applicacao do sacrameuto e com o
¥lgoroso do braco ; e apezar de ser ferido de duas
ballas fi'uma pema e n'um p^> nao se retirou
do campo da batalha, antes com mais ardor e zelo
continuou no exercicio do seu ministerio rdigioso
e patriocico , at^ que a victoria foi proclamada pe-
lo6 nosso^.
XXXI V. Em 17 de Agosto de 1645 se alcancou
esta victoria. Pedia o discommodo de tantos dias
e 0 trabalho de tantas marchas ( com o de duas
batalhas campaes) descanco e alivio para os sol-
dados ; o que Ihes solici(ou , mandando abalar o
exerdlo parai o seu engenho de Sao Joao Baptista ,
rito na Varzca , para onde marchou em f6rma de
triumpfao. Precediao clarins e charamellas com
todos OS instrumentos bellicos ; seguiao-se os Hol-
lahdetes rendidos , entre elles o seu general Hen-
rique Hus , montado em um ginete , privado das
insignias militares e armas bellicas; logo a nossa
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CAOTUOTO L08ITAlfa 907
gente formada em eaquddroe^^ aos quaes seguia o
goTernador com o mestre de campo, acompa-
nhando aqiieUas matronas que o inimigo tinha pre-
sas: dona Anna Bezerra , dona Izabel de Goas, e
Luiza de Oliveira, as quaes $eus maridos levavao
d'ancas j segiiidos da multidao popular, que nao
descancava de louvar a Deos, e abend iqoar os liber-
tadores de sua escravidao. Chegados ao engenho,
forao recebidos com excessiva alegria, e hospedados
com generosa grandeza. — D'este lugar se remet*
tArao para a Bahia os rendidos, a saber, Henrique
Hus, Joao Blar, com lodos os ma is que nao quiz^
rao assentar pra^ debaixo de nossas bandeiras ,
para servirem a coroa nesta guerra ; e porque o
dar Ihes guarda de soldados seria defraudar o exer-
cito, e gasto gem fructo, orden&rao os dous gover-
nadores Joao Fernandes Vieira e Andr^ Vidal que
de povoacao em povoa^ao os fossem guardando e
conduzindo os moradores de uma at^ outra ; e que
nesta forma se entregassem ao govemador do Es-
tado Antonio Telles da Silva , para que d'elles dis-
posesse como bem Ihe parecesse. — Em um dos
povos por que passarao, matirab os vizinhos a Joao
Blar dc um tiro, tirando d'este modo justa vinganca
de um inimigo, que nao respeitava o sagrado nem
o profano, e que naquelles sitios espalhara o tet^
ror e a morte.
XXXV, Em 0 numero XXIV d'estelivro d^mos
conta de como o general da frota , que da Babia
parlira para o reino, melt^ra no porto de Taman-
dar^ as oito embarcacoes em que o governador do
Eitado mandira oa mestres de campo Andri Vidal
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308 CA&TRIOTO LOaiTANO.
e Mai iim Soares com seus tercos para socegai^em
OS tumultos do8 moradores de PeruambuGO^ de que
SCI haviao queixado os do governo hoUaiukiz; refe-
rimos o que succedeo na marcha a estes cabos;
agora relataremos o que Salvador Correa passou ua
viagera, al^ ^quellaaltura que perteince aos termos
d'esla historia. Em 1 2 de Agosto amanheceo a frola
ancorada a vista do Arrecife : constava de trinta
e sette v^ias sorteadas ; sua capitanea , um forte e
magesloso galeao obrado no Brazil , pela industria
do general da frota. 0 Hollandez Qcou de tal mode
perturbado com esta apparicao, que suppondo-a
hostil pela coincidencia com o successo das Tabo-
cas J nao Ihe restou mais acordo que para tratar da
entrega. Nenhuma occasiao se perdeo com mais
desculpa* nem com maior desgra^a.^— Mandou
Salvador Correa dous enviados a terra para que
saudassem os do supremo governo , represenlando-
Ihes que o fim que alii os trazia nao era outro que
dar-lhes a nova de como deixava em Tamandard
oito embarcacoes com dous tercos d'infantaria em
complemento da promessa que o governador geral
do Estado Ihes havia feito; que com brevidade
mandaria socegar os animos dos moradores, e pren-
der as cabers dos conspirados para os castigar
pelos merecimentos das culpas, o que tambem
fazia por obedecer as ordens que tinha do senhor
Rei Dom Joao o Quarto, pelas quaes Ihe mandava
apertadamente que com os HoUandezes se conser-
vasse em todo a boa amizade e correspondencia ;
e que elle Salvador Correa se ofierecia com todos
OS Portuguezes daquelk frota para tudo o em que
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GASTEIOTO LUSITANO. 809
OS podesse servir; e com aqnelle galeao, em que
ievava toda sua casa para o reino^ comboiando
aqufilles navios mercanteSi Ihes pediao Hcenca pa-
ra se Ihcs Tender algum refresco da terra, e para os
poderem visitar osquetiTessem gosto de o fazer; em
9^;uranca do que poderao ficar em refens aqueiles
seus enviados. Desembarcarao entre muita gente do
povo que os esperava para o misterio que poderia
ter a confiahca de tomarem ferra sem licen^ ; acom-
panbados de alguns e seguidos de todos, subfrao ao
conselhO) onde foi ouvida sua embaixada y e orde«
nado que os aposentassem na fdrma devida. Este
Hecado , f odo de paz , tranqutllizou os animos dos
do coDselho, ainda que sempre Uies restava alguma
desconflanca ; pelo que mandafao no mesmo dia
duas lanchas de refresco, e aos remeiros derao or-
dem que examinassem o porte, a carga e a gente,
assim da eapitanea como de todos os mais navios;
o que fiz^rao i sua vontade pela franqueza com
que o Dosso general Ihes permittto o exame. Desen-
ganados os do governo que nada tinhao a recear ,
largarao nb dia seguinte os nossos enriados , que
voltArao para bordo com um barco de refresco que
haviao comprado. — No dia seguinte rompeo o
tempo em tao furiosa tempestade que tem^rao os
pilotos trincassem as amarras, e dessem a eosta os
navios ; levirao ancoras, largArao algum panno , e
forao correndo a vontade dos ventos , fa^endo al*-
gumas Toltas a terra , mas sempre engolfados no
mar. Seis dias os trouxe a tormenta n'eetes bordos
lutando com as ondas, at^ que tornando-se o vento
mais largo pod^rao seguir sua derroia para o reino.
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310 GAimUOTO LUSITAMO*
XXXVL Tanto qye o HoIlaiideiE «e vio Uvro
do temor que a a^sombrava tratou logo de p6r em
esiecu^ao o desejo em que ardia ; e diapoz a mait
lofame traicao que um peiio humano podia &bri-f
oar. Mandou aprestar nove fragatas , que tinba bo
Arreoife e ua Paraiba y e bem guarneddas as en«
tregou ao seu general do mar Joao Lectart, com
axpreaaas ordenaque fos^Q ao porlo de Tamaodar^i
a nelle obra^aase e mettease a pique os oito oaFio)
portugueze^ que alU ae acbavaoi 8em que a pessoa
viva se d^sse quariel< — ^ Nao tinhao os nossos iia<<
Tios mais guarnicao que os homens do mar e du««
zei:ito8 aoldados bi$oainhos \ pw^m uao bastou o
repente e a perfidia para deixarem de rebater o pri**
meiro aa^alto com auimo portuguez ; porque ha«*
vendo Unto eiMi^easo entre poder e poder, igualou
a valeotia do9 poucoa com o aumero dos muito^y
e £6i a poleja tao aanguinolenta e porfiada , que es-
tere por largo cspaoo itidecisa a vigtoria. Assiatia
o oapilao maior Jeror^iipo Serrao d^ Paiva d^ntro
da capitanea , e delJla infundia valor e forQaa em
todoa OS seu«y fazendo cada um o possivel por imi«
tar seu exemplo. Daa primeiras cargas perdeo o ini-
migo a melbpr fragata ^ que passada por ambos os
costados fui mettida a pique, Umnavio nosso, quq
auapeitout a irai^ao com que a armada inimiga hn^
cava 0 porto , deixou a euseada , e no roar largo
brigoU com muitod dos Hollandeze^ com lal va-.
lentia que Ibe desarvorou duaa fragaUs; e desem^
baraQado de todas , com a mesma gentileza se fez
navolta daBahia. Com nao menos valor, ,depoi3
de larga reaistencia, varirao dous navios nossoa em
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GAnuoxo umxAHa Itt
taira, e salUindo aella os homenft do mn$ w d^
fi^Sfio d^ sorte que nuoca txxlo o pod^r qontra^
ru^ Oft p6de randier uem queimar. A outroi dgni
navios^ quq nao poddrap abalroar^lhea d^Ura^ ci
iogOy e ard^ao. Susteatava a nao capilaoea toda o
peso do corobale, defeqdida da opiiuao e do brafa
do capitao maior, ai^ que eutrada por tres partM#.
detendop capiiao a victoria com a pr^^eoi^ e coA
a espada, cai<> np copv^ cortado d^ muitaa feridait
Q rendido ao trabalbo eao deaaleuto^ com tauto ea«
Vr^Qo do FlamepgOf que 1^^ ^ervio a pr^sa da nao ^
do qapitao maid de affronta que de triuiopha. Fer^
demo9 ne^ta occa^iao quasi ceia pesfoaai eotrandoi
aeate aumero oa que morr^rao uapeleja, eicOS qu^
afogarao as oudas com todos aqueiles que depoia
BMioii o Hollander a sav^ue frio. A muitoa feridoft
laoQou ao mar amarr^dP^ dou# a dpus ; a o^troa
deapachou , por Ihes abrir e reuovar aa feridaa coo^
a€|g^odo3 golpea* Pa parte coptraria forao tai^toa
oa mortos e feridps, qi(e se diviilgou 09 Ajrr^^.fi^
Bova da yictona.Qom lagrimaa e lutoa ; e \^ w^
tao Q^ra que de bqa vontade a d^ra o Flamengo pela
CU$tD« .
XXXMI< A* tyramaias e crueldadea dpa Holt
laudei^^ assim como per^eguiao ci atormeatavfk^
coutiuuamente os pohre^ moradoresi tambem 901:^
corrAiao.a formar valences capitaes^, qup un\g
coutribuirao a recouquistar a liberdade da patria^
Deste num^arp d o capitao Mam>el ^Parboza* Vivi4
este morador retirado po mato^ e ^m sua ca9a, qu^
era a uma legaa da cidade Mauricea; deixara mti^
tres irmas, couGado que a fragiUdade do sexo in»r
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313 OACTRIOTO LUSITANO.
pirasse respeito ao Flamengo; mas nao suocedeo
assitny f^orqiie' n'uma noite foi a casa assaltada por
defeeseis'Hollandezes armados, que tratavao de ar-
rombar as portas. Appellidirao ellas favor contra
kdroes , qne as quf rSo matar ; succedeo ourir o
irinao os golpes da violencia e os gritos da afHic-
cao (esUva elle h'um mate vizinho com outros
cinco moi^os amigos seus^ todos de dezoito at^
▼inte annos); animou os conipanheiros a que o
ajudassem a salvar suas irmas; nao hatia mats
armas que duas espingardas^ duas espadas, uma
fouce de rocar e um bordao ferrado. Derao sobne
OS dezeseis Hollnndezes com animo tao destemido,
qut mat^rao a maior parte, e feHrao a muiios dos
que escapak^ao, ficando-lhes nas maos as armas de
todos, que erao mosquetes, clavmas, pistolas. Cres-
ceb com as ai^mas o brio nos seis , e nos outros o
df sejo de se Ihes aggregarem ; formou-ee uma com-
panbia de vinte mancebos , de que foi acclamado
capitao Mahoel Barboza , com os quaes, como filho
de Perrtambucd , vingou os agg;raTos de sua patria
em quanto Ihes foi possivel, saqueando, fe^itido e
matando Hollandezes com emboscadas e assaltos.
Proveo com as armas os mais companheiros que ja
chegavao a trinta, e se foi metier na villa de Oiinda
na tarde de 17 de Agoslo, dia em que os nossos
alcian^drao a Victoria das casas de dona Anna Paes ;
por espaco de quarenta dias defendeo os moradores
da villa assim dos Hollandezes que nelia se aquar-
tellavao, como dos que guameciao a guarita de Joio
d' Albuquerque (um reduto, ou fortaleza vizinha
da povoacao), Avaliou-se sen valor e sen zelo no
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GASTBIOIO LDfinma SIS
grio ^e mereda ^ e o governador Joao Feraaadtas
Vieira iba doo paftente de oapitao de maior nnaicro
de aoldidofl.
XXXYIQ. A fortalesa de Nazareth , que depo»
do Arreeife era a meUior que tinba o Hotlandes^
^ti^ye eereada peloa moradores » eonb a cima dis^
8M)ot 9 e para refor^c o oecco .tbha ttapchado
MariiiaSottFto Moreao^qyando se separou do nica-
tre 4e. campo Andiii Vidal de Ncgrebor. Qiegapdo
a Peitnir^e ao oq)itao Amador de Araujo, achoo
que o cereo eBlavft em boa diapoei^o ; fol^ aper*
tando cada ves maia atd que n'uma ndle leranton
uma trincfaeira donde a nossa masquetaria iMre*
jaaae os aleoa da ftirialesa^ de sorte que d'ellea aao
podeaaeion o$ eercadoa fnerponiaria eerta para os
da fora. £fa a>mmendor da forleleza um valecoto
soldadoy €bamadoTheodoiio£atrater» de quean )a
fiaemos memoria enk al|;umaa partes deMa narra^.
Vio aoamaobeoer a UnDcheira,^ pela obra oonheceo
que asaiatiiio aoscercadores eaixB inteUigentes e
prataoos jsa milicia. Quaudo se oecupaTa' neslaa om-
sideracotey chegou urn mensageiro 4a parte dbica*^
pilao Moreno , que Ihe dhia enlregasse a forlaleBa
e naoesperasae o astalto, porque se nao dat'ia boas
quariet a niuguem. Despedio^ o oommendor cam
publicaaarrogaRcias, e em segredo Ibe disaeqtae ea-
tava prompto para cumprir opromeitido^ maa que
importa'vd mandar reeado aomeaire de eampo An-
dr^ Vidal de Megreiros para que com seu tefc en^
gnossaase o poder, e tauto que diegasse Ihe fi esse
segunda embaixada , a qual re&pooderia em Ibrma
qjiie nem faltasse a sua palavra^ nam ao seu cre^
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tu cMmano unttAm.
dit&^''^MmoicKH§e avita a AndrA Vidal da Het
gftmmf que ta aehava com o goveraador na Varaea;
p6z-«e elle logo a caminlio, chegoa ao campo, e fioi
raaahldo com as saWaa da superior, indmcriosa-
weote repetidas, que reniat4rao em mandar se^
gonda enbaixada aos cercados, a qua) te reaamia
etn que logo eDtiregassem a foKakva a bom parlido
aaleB qnaoassalto fechasaeapoiiaatodooeone^rto.
0 pnaaeiro enviado nao era homtin eovhecado,
pelo qua nao tore rasultado a mtsMo^ porque o
eommendor nao quia aceeitar uenhuma propoata
que nao fosse feita por bomem que tivesse poito
na BOfilicia* Foi eolao esoolbido o capitao FhjlIo rfa
Cunha, que era j4 conhecido do oeaamaidor. -**
Recebeo-ooom todasas oortexias^ eerftnoniaaniili^
taresieonridou-oaoomer^e diante desMS soldadoa
o ouvio. Com sagax desenfado respondea que e)le^
oomo Hieodotio Eatrater, itm sempre ial amigo
dos Port uguetas ; mas que em quanto eomaticaidor
daquella praca tinha s4 por amigo o seu crodito,
que todo4X>nst8tta em hzer boa a opiniao que d'eU«
tinha quern Iba entregira i e que nao dizia elle
raorrar lia defensa, senao dar mil vidas pels menor
pedra de sua foriificacao ; e lerantando-se da m^a
tomou a Paulo da Gunha pela mao , e o veio acorn*
panfaando at6 4 porta, a onde com dissimulacao
ttie disse, que da sua parte aTisas^e ao mesCre de
eampo Andrd Vidai que l6go mandassedar um as*
salto A Ibptaleaa da &inra , ponqae elle a tinha em
fi^rma que sem difficuldade a renderia; e quecom
todara prestezaa rortiGcasse, e guarnecesse de ma-
neira que vissem os seus soldados feehada a porta
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ummmo vsnnao. MS
a todo o soceorro que podeiteiii etperar do Aitra^
ctfo I e que com a mesma Ibe impedisse a foiHe da
quo befa^^ porque a faita d'agoa, e dts esptrancib
d*elki 08 reduzirta a aeu inteoto ; e tm fimque ni*
eBlranhassem as dila^oea, porque todas se enoami-*
nhtvao ao dervi^o d'El Rei de Portugal , cuja en a
fortalaza, e de quern elle era fiel Yasaallo.
XXXIX. Executou*^ o oHiselho ; e e ofieito
mosirou que era nasctdo de animo fiel e verdadeiro«
Sobre este seguro asseotou a confian^ oom que
Andri Vidal eficrereo a Theodozio Estrater eobra
a materiiiy a quam respondeo verificaiido a pro^
meaea com i^ua mesoaa firma. Como experiipentado
capitao comefou logo a usar d'aquellea ardift que
aao ordinarioa em taes ca#Q^) in^piraudo terror uoe
9euSy augm^o^taudo o njumepo e valor doa iioaiPft|
e eni:ar^cendo as difficuldadee e penuria ^, qua $e
yeriao em breye eoud^oomadoa* Succedeo ueMe
eomenoa tom^rem oa.nossos uma laucha d'un ricQ
Hollander Escoleto, dodestricto de Santo.Aatomo '^
que qom muita fa^nda sua e graude ^u(nero. de
pessoa/s^ isaira pela barreta para o Arreqife, £lra este
bomem odiado do% moradores pelas muitas vexa*
90^ que fazia, pelo que foi paasado a espad^ pelog
uo^^s ; o mesmo ^uccedeo aos maia Hollandezeg
que ^Gompanbavao ; por^m a todas as mulbjerea se
deo qu^rte^, e deppif liberdade, ficando nas.mao^
dos ^Idados o barco com todo 0 rechep, e foi cqu^
sideravel presa. £ste acouleqimeuto iuesperado cou^
1 Bm 0 mtm^rt III do lino ? iltwmoi ifidtra • JutUdlecao
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SM cAsmioTo umiTANa
tribuio miritD a aogmebtar os temores dos cer-
oadM, e a reBoIiicio dos sitiantee. — No comeco
de S«ttembro mandoii o mestre de (»mpo o capilao
Panto da Cunfaa, acoMpanhado do auditor g^ral
Franoisco Bravo e do capitao Joao Gomes de Meilo,
com dotemne embaixada aos sitiados, dizendo4hes
que se nao ge rendessem , dar-se-hia o asdalto, e
todos seriao passados 4 espada, se a fortaleza fosse
ganhada por aritias. A esta resolucao tap apertada
respondeo o commendor que nada podia concluir
naquelle dia, por quaMo Ihe era necessario fazSl-o
com o conselho de seus oiBciaes; e em segredo
avisoU que se Ihe nao esperasse nem uma s6 hora
de tempo. Paulo da Cunha repetio com grande dea-
eftgano que, se logo logo se nao rendessem^ se pre-
parassem para a defensa, certos de que a nenhum
perdoaria a espada.j— No breve tempo que o ca-
fikaO Paulo da Cunha gastou em ir com a resposta
e vbltar com a ttistancia, chamou o Estrater todos
OS seus officiaes da milicia , e com destreza Ihes
fallou desta maneira : « Todas as respostas que
» det as efnbahcadas daentrega^ fornoiau o artificio,
» nenhnma a intelligencia. A onde a podia fundar
i» meu discurso , quando todos sabemos que em
D duas batalhas se perdeo aquelle poder em que
» estribava nosso soccorro ? E cjuando no Arrecife
» se empenhasse o ultimo esforco em nos soccor-
» rer, por onde nos havia d'entrar, se por mar e
}y por terra nos tem o inimigo tomadas as vias? A
» omissao on a impossibilidade dos nossos gover-
» nadoires nos reduzio a tal ex(remo, que 6 maior
» o damno da falta do que o perigo da forca. Por
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GASTRIOTO LUSIXAKO* 317
» este caminho d certa a fome, e mfaUifel a sUbj
r> tendo-nos o inimigo tomada a agoa ; o cohrM-a
» por annas 6 impossivel ; o busc^a a fuiio sera
» comprar uma gota tl'ella por muitas de sangue ;
» fioeza tao mal merecida de qnem bos causou
)» esta penuria que oitendo faz mais edtima^ao de
» seus interesses que de nossas vidas. Se per mer*
» cadores as arriscarmos e perdermos, a que pre-
» mios, ou a que honras subimos? Genie <|ue paga
» mal services como ha de saiisfazer finezas ? E se
» a retencao do roobo e crime e infamia, que hom*a
i> ganhamos em defender a usurpacao d^esta forta-^
» leza a seu proprio seuhor, quando com todo o
D direilo da justica e das armas se empenha em a
>) recuperar ? Tenho dito o que sinto, e com tudo
n estou prompto para seguir a resokicao d'este
» conselho. »
XL. Decidio^se o negocio com votos enconira*
dm; a maior parte determinou a entrega. Sem di-
lacao mandou o eommendor a Gasgar Vandrelei,
capilao dos cavalleiros , com outro official da mi-
Ucia, que saissem a capitular a entrega da fortaleza^
cujas condicoes, estendidas em papel, forao as se-
guiiites: Que os cabos sairiao com todas as honras
militares^ que se custumao conceder em aimilbames
casoSy e com todos seus moveis; que a cabos e sol*
dados se pagariao todos os soldos que a Companfaia
Ibes cstiTesse devendo; que todas as muoicoeQ,
armas e artilharia ficariao para £1 &ei ; que a Uydsos
OS que quizessem militar debaiov) das.bandeiras
da liberdade se Ihes assentaria praQa, e daria soldo
como o (odbs os mais do exercito ; que aqudles
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S18 GASTUOTO LUSRAlia
que quitetsem servir nas guerras do reino se Ihes
daria embaroa^o , e que o mesmo ae gnardaria
com aquellea que quizessem passar a raaa terras.
Finuadas as oondicoes referidas d'uma e outra
parte^ mandou dizer o commendor, que die e a for-
taleia^ e todos os seus estavao as ordens de auas
senhorias, para que d'uma e outra consa dispozes-
eem como fosaem servidoa. — Fez-se logo aviso por
am proprioao govcmador Joao Fcrnandes Vieira,
nao s6 a buscar o seu beoeplacito, senao tambem a
pedir^lhe dinheiro para satisfazerem ao segundo
eapitulo das C0Ddi96es relatadas. Era o dia 8 de
Settembro, em que Joao Fernandes Vieira festejava
com grande aokmuidade a Natividade de Nosaa
Seuhom , quando recebeo o correio que Ihe trazia
a Dova da #ntrega da fortaleza de Nazareth. Yio
pela plana dos soldados o que a Gompanhia devia
aos rendidos, e achou que erao necessarios nove
mil cruzados, que logo remetteo pelo meamo pro<*
prio.*~Ghegara o tempo definido para a entrega
da fortaleza, e formada a nossa infantaria^ a entre-
gouTheodozio Estrater, dando as chaTcs ao mestre
d« oampo Audr^ Yidal de Negreiros, com os para*^
beos de posse. Sairao os reudidos^ que erao duaentos
setteala e cinco (nao eutraudo nesia couta um
oumero grande de gente yaga que nella se tiuha re-
^3oUudo)) e eatrarao os nossos a guarnecM-a. Se*-
guio^ae a esta funcao mandar o nosso mestre de
campo armar uma mesa, deilar-se iiella|o dinheiro,
e dar^se a cada uoiados reudidos des crazados* Acs
ctffidaea se pagou conforme 4 divida e ao posto ;
com 0 que lodos se derao por satisfeiios. A'quetteB
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GASTEIOTO LUSITANO. 319
que se offerec^rao a servir com os nossos se Ihes
assentou pra9a com pagamentos pontuaes , e ajus-
tados a seus postoa.^Com^s outros se guardiiio as
capitulacoes inteiramente. Entao se derao univer-
saes e repetidos vivas : a pureza da f(^^ a liberdade
da patria^ e ao alcance da victoria, com aquella
alegria que causava a todos o desejado fim que pro-
metiiao principios l&o ditosos. Para coroar a gloria
d^este dia tom4rao os noMOs um btrco que vinha
carregado de mantimentos , mandado do Arrecife
em soccorro dos cercadqs. Acharao-$e naquella
praca dez pecas de bronze, lodas de alcanee, mos-
quetes de sobejo, polvora, balla, corda em quan-
lidade ; e nao pequeoa copia <le manUoEieaCos. Foi
cste 8Uc<iesso de utilissimas consequencias para
nossos intentos, porquenosdeo porta oapaz para
a entrada daa fazetidks e do9 soi^corros , e para a
sacca dos genero^, com uma fortaleza a ciija som-
bra podlao os navios do commercio eatar seguros
no porto ; peh mesma razao de grande quebra para
as esperaD9as do inimigo. Cinco dias se demorou o
mestre de campo Andr^ Vidal de Negreiros, os
que impregou em compor a forteleza, e prover do
necesaario ; e depois de ordenadaa todas as eousas
se poz em marcha para a Varzea, levando encorpo-
rados no exercito osrendidps, cjTheodoiioEstrater
eom o goTemo de todos 6s que nesta occasiao ass^-*
t4rao praca para servirem entre nds.
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LIVRO VIIL
SUMMARIO.
. 0 que se passou na capilauia de Paralba antes dafubleracoo; oc
de Gojaaa appellidirao primeiro a liberdade. — 2. Diisimula o
PluMBgo ai akoracoai 4a Paraltk; trau de enganar ot inondo-
re$i OS quaes buscao armas para se defeaderem ; alter«o-«e cob a
prisio de Antonio Barbalho.— 8. Dimlga-«e entre os Porlagueies
a ▼iftoria de Joio Pernandes Yteira. — 4. Concede o Hollaiides
aoi motadores armas eonira o semio ; ttnem-se, • fortiftcio«fe mi
sitios mais defeniaveis -, o inimigo os teme, e se retira da etdade.
— STMareha o gentio para Goyana; o que Ibe succede. ^t. Man-
d&o. OS anseos govemadorts soceorro * Paralba ; nome&o para •
govemo da capitania tres moradores ; acdaua-ie a liberdade ea
toda ella. — 7. Preparao-se e armdo-se para a defense ; mudao^de
alojamento. -«8. Manda o Hollandei commetter a cidade e o nosso
alq)aBie«to ; selira-se vencido ; perda i«a e noast.— 9. Par fella
de segredo se nao entregou a fortalf za do inimigo. — 10. Cansa e
Aodo que teve a subleracao no porto do CaWo; ChristOTao Luix
M 0 ptimalro qte appelttdoii a liberdade; poi eereo A fortaleia
do porto do Cdvo. — 11. 0 conunendor persoade aos sens a ea-
trega da praca, e pede que venba um capitio pago para Ih'a eQ<
Iregar; o gOTemador mandov o capitSo Lourenco Carnelro tomar
entrega i% forldesa; repartitao de dinbeiro polos i<endidoa; ar-
rasa-se a fortaleza. — 13. Acelama-se a liberdade no Rio de Sao
Francisco.— 13. Cercao os nossos a fortaleza, e pedem soceorro ao
gatemtdar glrtl do Sstado ; tomio ao inimigo um etraVelao e
uma lancha de muni^es e mantimentos. -^ 14. Cbegt o capiiao
NicoUo Aranha com o soceorro; elhe desTia outros. — 15 Far
lem OS nossos embaiiada requerendo a entrega ; Henrique Hus
Ibe persuade a ei^tr^ga. ^ 16. Capittilao-se u eoadicoes da tm^
trega ; consequenoias que fiierio grande a Tictoria. — 17. Edifice
Joao Pernandes Vieira uma casa de misericordia na Vanea ; cbe-
gao a ella Andr# Vidal e Martim Soares de volu de Nazaretb ; dao
0 posto de mestre de campo dos estrangeiros a Tbeodozio Estrar
ter. — 18. Ganba-se o forte de Sanu Cruz. — 19. Manda o Hol-
landei embaixada ao mestre de campo Andrtf Vidal ; resposU por
escrito. * 20. Conferem os nossos cabos o modo de oontinuar a
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GASTBIOIO UttlTAMa SH
gnem ; ptreotr do goyernador da Uberdade; o q«al te eieeuU*^
21. Escolbe-se o sitio para uma fortaleza, e se poe mao ik obra;
primeiros nrndamentos da povoacao do Arraial dovo. — S3. Joa6
Femaiidea Viefara intanu ganliar a ferulai* du Cioeo Pontaa;
Tbeodozio Ea trater o diiuade , propondo que se ataqae a ilha de
Itamarac^. — 25. Executou-se o seu parecer; chega o nosso exer-
dto a Ignara^Q , passa o no, ^ commette a empresa. — 2#. Ast*^
Dio Diat Cardoso gaoha a priroeira fortifieacao; ao meiiBO iMipo
a rompe o gOTernador pela oi^lra parte; chega Estraler, e o ini-
migo se reiira a fbrlaleza — 25. Combatem os nossos o forte, que
Dtto podem tomar ; retirao-se com iodustria, e marebao para a ilftift
de Iguaracuonde fazem alto. — 26. Di-se coota d'algamas partis
eularidades d'este suecesso. — 27. Doen^a g^ral de todas as capi-
tanias. — 28. Dl-se conta d'vina Informa^o jnridica que os natu*
raes maDd&rao a £1 Rei Dom loao IV. ^ 29. Razoas que adia^tao
08 acoDtecimeotos do Rio Grande; quero Hollandez prirar os ha-
bitantes das annas, os quaes penetrao o intento, e se fortifleao.—
ao. Sao assaHados peloinlmfgo, o qua( se retira yeneido e con**
Also; volta sobre os Portuguezes flngiodo-se auxiliar; osPortub-
guezes entendem o engano e orebatem. — 31 Declara-se o inimigo,
eoteombateoom poder e industrta; reodem^seos nossos a partido^
eom as condi^s que logo quebra o HoUaadei*, e os enirega aos
seWagens; paeiencia comquesoffrem o martyrio. — 32. Igualsorte
tWerao OS que flcArao dentro do cerco ; inauditos tormentos que
padeceo Aoionio Baracbo; piedade com que deo a Tida Matbans
Moreira. — 33. Valerosa consuucia de oito maoceboanurtjfrizados
pela K e pela patria. — 34. Horrendas cruezas que usa o hereje
para com os Teneidos. — 85. Mandou o goremador um soccorro
que Dao ebegou a tempo. — 36. A^olao os nossos a cafflpaoba^ e
sendo atacados pelos Hollandeies saem Tictoriosos; coDtinuao as
bottilidades at^ i chegada do Camarao.
L Deixamos escripto em os livros precedenlea
eomo Joao Femandes Vieira se resolveo a por por
obra a empresa da liberdadej como deo noiicia a
diversas pc^ssoas e a differeates jiartes do seu in-
tento, e do que haviao de executar com o sea aviso ;
ja dissemos como o grito da liberdac^e se espalhou
Ba campanha de Pemambuco : agora diremos o que
succedeo na Faraiba^ em Itamaraca, no Rio Grande
21
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mtA outiw pOToacow sujeitas ao Flamcngo. Vendo
OB Hollandezes o que tiaha succedido na vespera
d« Sanio Antoaio^ e como todoa o6 moradMrea es-
tav&o dispoStos a saeudir o tyranno jugo que os
oppruBia, passarao ordeiis rigorosas para que todos
flmem desarmados , e nomeirw novos governa-
dores para execuiarem as novas disposicoes do go-
vernor Paulo de Unge^ aiembro do conaelbo poli-
tico, !bi mandado como governador de Paraiba e
aeu deatricto com alguma infantaria em guarda de
aua pes9oa . Chfgou i Paraiba, alojou-se noconveeto
de Sao Francisco, melhorou todas as fortifica^oes,
e com boaa patavras e com disaimuladoB obsequtos
quiz fiizer pfersuadir aos habitatites que cstava de-
ierminajdo a obrar mais com afogo que comcaatigo ;
nms no m«smo tempo, com uefenck periidia> dee-
p4chou um proprio com aviso ^ Pero Poty, gover-
Bftdor e cabe^a dos Indios que viviap no ceriao,
Sara que com toda a gente de seu dominio descesse
08 montes para a cidade, para ahi commetierem
aa mesaiaa barbarirtades que n'oulroa destrieios
tinhao praticado. — 3& dissemos o que succedera
em Goyana e Cunhaii, e como o Flamengo alii usara
de todas as crueldad^S iinaginaveis para impedir
a wbleva^o doa moradores contra o seu tyranno
yasgp c ^igom atecresoeDiaremoa que lap^b^M* de aeoa
oafoi^os foi prodamada a liberdade oom grande
yalor « resoiii^m. Tinha o Flamengo mtudado
imnder OS doos capitnea nomeados por Joao FVer^
wandea Vieifa^ e mais alguna Bortuguezes inflnentea^
• j«l9(m por «le modo auffsoor a aubferagefO ; mas
atteprOoeAiiMnio tanrto de rebate aoa Tizkibn da
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GAftTUOTO UniTAHO. 825
Goyatna que 06 acautelkm para o tempo do perigo.
Eiegdrao d'entre ai capitaea e olliciaes que os go^
vernaaaemy recolh^K) todas as armas que pod^rao
baver, e na occasiao mais opporUina ae 6zerao 8d-
nhorea da povoacao appellidando a -liberdade ; e le
deflfeiuMrao Taronilmente a Uxloe os incoraoa do
inimigo pela di8po8i9ao e induatria de Diogo Gar^
TalhO) PaBchoal de Fratas, e Martim Frai^zo ; at^
que per mandado do goTemador Joao Feraandes
Vieira os rend^rao dos poatoa oa capitaea FrauciscD
Lopes de Arosco, e Diogo Vieira Tenrete.
II. Chegou a nova da rebelliao a Paraibaj ou*-
▼io^ o goTeruador coiu apparoite deaprezo, maa
com interior sobresalto. Difsimulou com as priaoes
e com a prematica daa armas , e mou de meios
brandos ; maudou fixar editaea em que , da jwrte
dos Eetadosy concedia p^tlao a todo o genero de
peeaoa que por algum modo tivesse encorrido uo
erime da rebelliao , com taato que , apartidoa. da
aedicao seguisaem o auligo e pacified estilo de. sua
obedieuoia , em qae coosiatia o seguro de auas
vidaa e ftuoendas; e particulaitnente pedio a eada
um dos priucipaes ddadaos , que serTisaem oom
seu exemplo ao sooego da repubiica^ e que elk to-
mava por sua conta o cuidado de as livrar da toda
a vexacao e hostilidadey assim doa soldados eomo
dos Indtos, para que elles moradorea »e podetoem
euts*egar ao governo de auas berdades e familiaa.
— Tinha o falso goveruador mandado Tir, eomo
aeima dissemos, o Indio Pero Poty ; nao podia es-
eonder a sua viuda nem o fim para que, e para
eigaoar os moradores publicou que o maiKUra vir
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y^h GAsmoTo lumtano.
com OS Indios de 8ua jurisdiccao para os ier com
8uas iniilberei e filhos dentro da cidade como em
custodia, para qae mo tiTesseoi occasiao de vexar
OS moradoreft. — Bern conhec^rao os moradores
qual era a maKcia do Flamengo^ e para logo teriao
levantado o grito da liberdade se nao esperasaem
receber um soccorro de Joao Femandes Vieira,
com o qual podessem resistir ao poder do inimigo.
Espalhou-se entretanto a noticia das crueldades pra-
ticadas em Cunhau por aquelle HoUandez Jacobo,
de que j^ d^mos noticia, a qual foi saudavel aviso
aos moradores, e manifestacao clara das barbaras
hiteocoes do governador Linge. Reunidos todos
n'um corpo tratao de buscar armas com cautelia ,
preparao-se para a resisteacia, queixao-se unani-
memente do procedimeuto do go verno, e manifestao
a sua ncsDhiima coofiaoca nas pramessas do gover-
nador. *^ Quiz elle appladd*os, dizendo que o que
succed^ra em Cunhau fora causado pela violencia
de Jacobo e nao ordenado pelo governo, e que elle
daria todas as provideneias para que similbaote
cousa nao acontecesse na Paraiba; e para melhor
tranquillizar os moradores saio do sen quarlel com
gente de guerra a correr o destricto , assegurando
a todos do receio que tinhao ; mas como, apezar de
todas esus promessas mandasse prender Antonio
Bapbalho^ come9Arao os moradores a alterar-se, e
manifestar seu, descontentamento^ e a preparai^-se
para a empresa que haviao meditado*
liL Passados poucos dias depois que o Linge
voUou para a cidade divulgou-se a grande victoria
que Joao Fernandes Yieira alcan9ara nas Tabocas
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GiSTUOTO LOSTTAMO* S35
dasarmas hollandezasy e da chegada dos mestres de
campo Aodr^ Vtdal e Marilm Soares com dous
tercM d'iDfantaria , em soccorro dos moradorea,
com OS quaes fi'cavao ja incorp^rados. Aatevio o
Liiige que o succesao havia de aer para todos ex/&ah
plo ; e a causa j que era urea mesma em toda a
parte, em todas as partes havia de prodimr oa
mesmos efFeitos; certo da efficacia com que oa di^
loses persuadem & imitacao, roandou logo retirar a
todos OS Hollandezes e Indios auxiliarescom suas
familias e moveis para a fortateza , que chamao do
Cabedello^ situadana barra, cinco legoas da cidade,
preveuindo^-se para tudo o que podia succeder.
Assim como o tempo multiplicava os dias d' Agoato^
assim yinha correndo a nova de que duzeatos
Hollandezes clavineiros, acorapanhados dos Ta-
puyas que conduzia o referido Jacobo (asdolado
Cunhad),marchavao a destruir a Goyana^ e a pro-
seguir na execugao do decreto que 06 obrigava a
nao deixarem pessoa viva em toda aquella ctpi-
tania.
ly. Como o governador hoUandez havia dito
aos moradores que os soldados e Indios comman-
dados por Jacobo erao rebeldes e levantados , de
que elle era o chefe, com boa industria Ihe propo-
s^o a yizinhanca do perigo e a elei^o do remedio.
IKziao que o esqiiadrao dos rebeldes marchava
para a villa de Guiana, e que de forca havia de
atravessar pelos confins da Paraiba, e Ihe ficarao os
moradores e engonhos debaixo da espada, indefen-
SOS porque sem armas ; que as permittisse a todos,
em quanto nao passava a necessidade, para que
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326 CASmOTO tOflTAMO;
^rmados podessem resistir aM assaltos ; favor qne
Ihea nso podia negar como bomem e como gorer**
nador^ pois a natnreta e a politica as concedia a
toda k defensa do rides e honras. Ajimtarao a peti«
cao urn donati Yo, e alcan^oii-se despaoho e oonselho }
ditendo-ihea que so aproTeitassem das annas qua
tiTessem (com tanto que nao usaaaem das de fogo),
e se OB HoUaiidezes rebellados e Tapuyaa insolentea
OS inyestissem , que se defendessem. — Com esta
pertnissao fizerao os morador^ seus quartets ; e o
governador hollaadez, com parte de aeus soldados^
se retirou da cidadt para a sua fortaleza do Cabe-*
dello. Un(rao-se os moradores do certao com os da
ctdade, fortificirao os sltio$ que Ihes parecArao mats
defonsaveis, e capaaes para nelles recolfaerem suaa
iamiltasy e o melhor de seua moveis , com todo o
mautimento necessario; proT^ao-se d'armas de
toda a sorie , e oflferecidos a toda a contingencia
esperirao o fim que a sorte Ihes tiveese destinado.
— i4 se aiQrmava que o esquadrao dos HoUandezea
e Tapuyas marchava pelo destricto da Paraiba fa*
zendo todo o damno que podia ; duzentos dos nos-
SOS bem resolutos quizerao ir sair ao contro do
inimigo, mas fbrao disuadidos de seu proposilo
por Francisco Cancello, homiem prudente que
sabia modificar a temeridade com a esperanca, e a
furia com a oppo'rtunidade. Dispunhao«>9e os Hoi-
landezes que guarneciao o quariel da povoacao a
uma retirada total, mad saqueando a cidadepordes-
pedida; pordm como entretantochegassea noticia
de que Joao Fernandes Vieira mandava um soc--
corro a Paraiba, nao se atrev^rao a fez^i«o, antea
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CASnieM ilWTAlO. Ill
torn lodlos 08 aoasMM da cortezia $e opeFOv a f^t^t
rada lam a mtfier desordan.
V. Fbrao marchando oa ^uzenloa HollandfMI A
Tapnyaa 4|ue traiiao em sua eompanhia pak pamn
panha da Paraiba, destnimdo e mataodo ^UMIta
\bm oaia aas maos^ sao se atre?eadQ a eomn^Mcw
as caaiis fortes oode oq nosaos estavao pravenidos )
fii^rao em peda^os alguns maiicdHM pcMoa ( AM
ehcgArao a dei ) que com meooB juizo que ^drguUn)
inveslirio com o numeroso eaquadrao, mais pafft
perdenm a vida qu^ para strviraoi a palna. Mttitoi
Pqrmgutzes com mulherea, fiihoa, eser|¥es a mon
veiaae reoolb^o a urn engenho chamado Inbahim^
do qual era aenhor um Flameugo por Qpmf} Aeainit
que. a todos recol^eo e amparou eom animo &il d
generoso. Chegou o esquadrao dos bartaroa im
engenho da outro estraognro , oode cetiv^ao 4
doua faomens uobsos, a um do^ quaes malariio depots
a aangue frio. Peloa contomos da Guyanai Qude su^
mareha caminhava eiQ direitura > roub4rio tuda
quaulo 08 naturaes nao pod^o retirar. — Cbe^
%ino a vista da povoacao, que estava da outra parte
dfr um no ; eommett^rao a passagem ao eutrar da
noite para fazerem mats horrivel o a»alto, e meaoa
acautelada a defensa e a fuga dos afflictos moran
dores, quando d'entre 08 raeymos barbfivoa 9e le-
vantou uma voz^ que viuba sobre elles lodo 0 noasa
exerdtou Foi tal o medo que Deos iafupdiQ nan
quelles deshumanos cor^c6eSy que Ihea r^rensea^r
tou um e muitos esquadroes formados da eutra
parte do rio^ faaendo o temer pa^[;ecer a todos que
ouTiao rumor de vozes proporciouado 00m a mulr
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SS9 CASmOTO LIMTAliO.
tniao <U gente, que via siu imagtna^io. Tornados
de medo yaltarao as costas , trope9ando em sua
mesma fentasia ; e fogiodo de soas mesmas som*-
biHfl^ deHcarao o caminho semeado d'armas e fa«
t/tnitApy que hayiao ronbado , para correrem mais
M^geiros. Atemorizados chegarao ao rio Goramamei
tres kgoas da Paraiba; e parecendo4hes que na
deten^a da passagem os poderia alcancar nossa es-
plrda, deixarao os Tapuyas a conserva dos HoUaa^
deses/ e a lodo o correr fogirao para o certao, nao
te dahdo per seguros saiao depots que peuetrarao
muiias l^oas de mato. Virao-se os Fiameng^
desemparados dos Indios , e oomo de nova causa
#g invadio novo medo ; guiados de seu desatino ,
Sem saberem per onde, para que, nem porque,
fok^ao dar nos engenhos de Franoisco Camello , de
Jeronimo Cadeua e d'outros moradores, que aeka-
yao com mao armada^ e com uao meuos temordo
que dies levavao > causado da escuridade da noite,
e da subdita chegada ; imaginaudo-se estar assal-
tados dos Tapuyas, e aquelles perseguidos dos
Portuguezes , pass^rao toda a noite , una fiaudo a
salva^ao a ligeireza dos p^, sem pararem senao ua
sua fortaleza do Cabedelb; outros , com as armas
na mao at^ que a luz da manba os liyrou de sobre-
sako. No caminho que os Flamengos fizerao para
ft fortaleza ob aasaltarao alguns mancebos da cidade
que, depois de Ihes fazerem deixar modullas e
armas, os despojarao dos proprios yestidos*
• Vi. Os nossas govemadores, que deiximos alo-
jados na Varzea, depois da segunda victoria nao
laborarao meoos com o cuidado no descan^o, do
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GiSTuno awtJMk m
que com 09> brakes nos conflictos. Sabiio por CQC-
temo tado o que se passava na Paraiba e em 66a
eoatornO) e por imo fkltarem a'neces»dade doe
desmaiados^ nem &s esperancas dos aniniMei'^^
terminarao a mis e a ootros soceorro opportuno e
propcnrcioaado. Nomearao por capitaeedaleva An*
lonio Rodngittft Vidal (sobrinho deAndif. Vidal;
naturaed da Paralba), Simao Soares /Cosine da Ro^
eba^ e Francisco Leiiao, coin alguns i^pitaes e of^
fidaes para no^ie •companhias que haviao de faeH»
vanlar naquella capitania. Do ter9o do Canlarao
Bomeiirao o capitao Ckwcito , com al^ms }ndio8 ,
para que como nataraes daqueUe ceriao persua-^
disscim , e chanassem a si os Indios auxiliares do
inimigo, ofifereoendo-4he8 nossa amizade, e van^
tajosos pariidoBquerendo militar debaixo de nossaa
biindeir2«. Com o metmo intento mandarao a um
soldado do ter^o de Henrique I>ias, por nonne Hen«
rique^e Meodonoa, para capitaoilos Afinaae crioo-
loa, suppondo que muiio3SehaTiao.de alisiar;~*
Bern providos de munieoes e arHiaa os deapacbai*
rao em 08 ultimos dias d'AgostOy remetlendo por
dies paientes de goremadores d'aqueUa capitania
a Lcpo Curado Garra, a Jerommo de Gadena, e a
Franciaco Gomez Mauiz. Mais Ihes ordenar&o que
ao passar por Goyana tomasaem alguma gen6e da
pdvoa9ao j es€olh»do doe moradotes aquettes que
tiyeaeem por si a meUior ofMDiao. Executirao com
cuidado e deligenda as inslruccoea que Moeb^rao ;
ehamarao primeiramente os tre^ govemadores , e
depoia de Ihes communicarem as ordens que tra--
ztao , conferirao entre si o modo de dar comedo i
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IM ciffuora umriM.
oQ^NfMt iMrqitetadt. *-nMo «Ua aegidntey que te^
mnttfftD 2 de Settemhra, po^-M por obm o pljuMi
ootictttAilo^ e a libenlftdfi ibi aeclamiida em toda •
. VIL Foi ooiiaa maravilhosa a brovidade eciM ma»
Be convdcario, ronnirM e araiarao todoa oa menb*
donea; ponque o d«efo de eada urn aaaiaa pagan
daa arautt qua tmha praTanidaa^ qua %&ak tempo m
vimo aa compaBfaiaa fanuadaa e guanaecidas de
aapingardaa, ehucos^ aapadaa, foueoa» paoa toatados
e eutelloa da monte. Aqui ac vie camo o goate i e
melher mattre. Asaim acfaeu a todoa discipiinadoa
a ordem , que pareda lereai mukoa anoos de mi^
licia. Ja nae havta quern visse a oava ao medo ) o
que antes ae notava^de deamaiado era o que ae inn
anlcava maia de^lemido : na alegria do rostro ae
Tia o alTorocD do oora^o de todoa. Os principaaa
oa eatimacae o forao no zelo com que chaHniirito a
at oa manodios de melbor arte, tomaudo oa poatoa
de capitaaSy primeiro da iMo do favor que da elei*
eio ; onjoa nomea Be irao partioularizando pelo dian
eupso deata hioioria. No dia 3 de Sattembro Ca->
lio saiiido as oompanhias com seus oapttaea doa
lugans dude ae fermarao , e oom ordem militav
mfirchafaoii appeaentar*ee a aeus governadorea^ qua
no logtti* da Tibiri as esparavao.-^Befopmamo^aa
algumas companhiaa, para se dar numero suffix
oiente Aa demais, Qeando todna 4 asoolha doa eapi*
taas que vinbao nomeados peloa noaaos govema*
dores* Deitou-se pelos moradores de toda a
oapttania nma contribuicao g^ral para o auatento
da guerra. f Udrao^-se editaes na cidade e seu ooa*»
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cAtfnamo usmMtk Ml
torno pAoft qmm o goveraaddr da UberMIe coikm^
dia a todos 00 €»trangerres / que qniieiMfm fiMr
entM 116^9 a posse e livre tiso de suas fazemlas, nd
fiH*o em que as gozarae ; e que aos que qnteessMi
assentar praca se Ihes Aipiio es paganientoe con^
forme os postos que deixassem : muitos se asseu-*
t4rio. Gondemnou-se o alojameuto de Tibiri por
aberto e irregular, approvando-se o sitk> do eitk^
genko de Santo Andr^ (era de Jorge Homem Pinto),
o qual se fbrtificou ffeatro de oito dtas, em f6nM
que mereceo 0 nome d'Arratal.
Vm. Em um mesmo dfa se acclamou a HlHT^r
dade na cidade e lugares circumTtziuhos de toda a
capicania ; e netle o sotibe 0 goTemador hollande^
Paulo de Linge, o qual logo se dlsper a mandar
atacar o nosso alojamento. Formou um esquadrfto
de trezentos Hollandezes, e dobrado numero de
Indios; estes cohduzidos por seu maioral Fero
Poty, aquelles govemados por um cabo eaeolbtdoi
Sairao do Cabedello em demanda do Arraial, a tempb
que pdo rio da Paraiba mandou seu goi^isruador
subir um sufticiente numero de lanchas, eom ap«
parencia de irem eommelter a cidade. — Persua-
didos OS nossos cabos que por mar e terra vinha 0
inimigo buscar a eidade, a soccorrArao com tode #
poder ; mas bem de pressa conhee^rao queo alaque
se dirigia todo cohtra o Arraial , e que as lanohaa
subiao ardilosam^nte com voga escassa para nos
divertir. Tinha ficado no Arraial pouca gente, que
apenas bastava para as guardas quanto mais para
a deFensa, o que causou grande cuidado aos homos,
que nao podiao acudir-lhe com soccorro ; maa o oil
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lit CASJMMO LOmANO.
fiim FrMtfMCQ Gomect, que alii ficifa, soiibe des-
¥iar o pan^<)ii6 o amcA^vft. S«k> oomoUmitado
podeir que iinhia a Loscar o ioimigo, que enconirou
nt.eampina 46 lahabim; m?esiiFaa-se os esqua^
droes , iguaes no valor, desiguaes no numero , e
muiio oiais nas armas; as do inimigo todas de
Sofpf as dos Poriuguezes nem iodas do ferro. Deo
o FiadieQgo a (Nrimeira carga , quaodo o ceo nos
favoreeeo 0001 uma paocada d'agpa f com que ani-
naadoB os oossos iavestirao a espada, cooi valor tao
destemido e braco tao robusto, que desaiinado dos
g^pes nao sabta o contrario vadvertir o pequeno
numero dos ptessoas : nao falUm ao eoeontro aquella
(HTDfiaquesasf^ta a igualdade da forca. Foi re-
v3lAA» 0 ooiftbaie> mas oao longo, porque o HoUandez
veijdk>^ campo eoberto de mortos^ os nossos com
valop e di^ciplinA 9 e receaodo que nos chegasse
aocooiiro 9 df^ m costas ao combate tao medrosa-*
mt^V^ desprdeoildo , qye os aeus despbedientes a
Sumuiy S6guira0 oa preceitps dp temor, sem para«
rem Flwiengos e Tapuyas senao deotro de sua
foiHaleza do CabedeUo. — Cinco sddados nos ma-
tariio» oitre elles o capitao FraacisQo Iiieiiao : morte
sintida pela occasiao e pela falta* Os feridos nao
IbflM) miiitos, e oa fei parecer meoos a breve con-
valescen^a de todos. Recolhidoa os despojos, se
¥ottarao os nossos. paira o Arraial, dando*se uns a
outros as eongraiuU^oes do sucoesso , e a Deos as
gra^aa de tao inopinada victoria.
; IX. Ainda corria. o aaogue das feridas, que o
kiittigo recebeo nesta occasiao , quando o gover^
jMidor boUaadez mandou enforcer dentro da sua
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fortaleza a nm honrado movador da Paralba^ por
Bome Fernao Rodrigues deButhoes, enviado ( como
escolhido para o negocio , por se fiarem nelle as
partes) a concluir com o Linge a cntr^ da Sot^
taleza j que sua diligencia tinha muito adiantada ,
e que descompoz de todo a falla do segr^do. Al^
caaeou-o, ou por communicacao, ou por mferen-
cia, um sacerdote , fez ariso do negocio a una pre^-
dicante do inimigo. Deseoberto o trato, e ciilpado
o gOTernador, Ihe foi necessario salvar a pe^flioa, a
opiniao, e o cargo com se mostrar intenCo da ca-
linrniia, e ficarseguro do complice; o que conse*
guio com malar o interlocutor. Deade o presente
tempo at^ o fim de Outubro nao dedctmcifao os
nossos cb molestar o inimigo com toda a hostiti^
dade- poasivel , valendo-ae d'emboseadas , rebates ,
assahos sempre faem succedidos^ e ccmu prisoes e
mortes de HoUandezes e Indios, <fue nao especifi^
caraoa por similhantes e continuos. '
Xi rObriga-no8 a bisloria a buscar o tempo em
que ae acotamou a liberdade no poKo do GaJro,
queixoso da detensa que fizemoa na rriacao dob
aconteidimentos da Paraiba« Entre os homens de
qualidade , que a violencia sojeitaTa nff oircumfte-
rencia de seu domimo,<era um d -dies 'GhrisCovao
LinSy nao menos nohre pelo sangue qwi^peios pro^ •
cedimcntOB. A es^ tal mandoo Joao Fe^nandes
Vieira patente de capitao de todo aquelle d^ttieto
do p4H*to do CalTO , onde tioha smt momda> com
aviso e ondem que, eauto e preveoido, esperasse o
dia em que se ha via de aociamara liberdade em
todas as partes sujeitas ao Hollandez. -^ Esperava
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jCbrittovio Lins o iMmento propiek) pari dmr
eMCU^ao 48 ordens que receb^, quaodo , TandD
que o HoUandf z mandaya prender todas aa pewoM
ile qualidadd como^aodo pelo commeodor Rodrigo
de Barroa Pimepteiy e teudo noticia que Joao Fep-
QgDdea Vieira ae pos^ra em campo a favor da liber-
4adey fiez do succeeao ayiao» e sc^indo o odomUu)
xfua Ihe dava a occasiao ao cai|;o, com OS Biocadorea
que o quizeroo seguir appellidoa a Uherdade, e ae
poz em. campo com as poucaa armaa que pod^M
livrar da prohibit holiandeza. Informado o oooa-
meudor dia fortaleza do sucoeMO y e quereudo apa--
§ar o £ogo antes que crescease o ioceodiot deikm
ivra mna <pariida de aoldados com ordem que aaMl-
taaeem as rebelados, e a todos prendeasem oa ma*
tasaam* Mao ae etooodeo a GhiiaioTao Laos* e a
aeua oourederados a riuda e o intento do iaimidO)
e o eiperott d'emboaoada ; e com liuo boa fortuna,
que nella perdteao (ados aa yidaS) e deixarao as
armast cam as quaes ficarao os uoaeos aytis ooaa-
doS| porque me^bor guamecidos. — Tm dm esit-
l^drao em suspauaao as armas d'uma e d'outra
parte I maa oomo acooleeesse terem oa Bosaoa avno
da que peb rio de Maugoaba subia um baroa, que
vinba emaocowiDodosuiimi^^ edaadoaotnvuUe
i>4qniaatym.oam ouirle de mote HoUaudeass^ e ae
*poderas«emde asuilas araus de fogo, mwiiooea e
iMiiUflteukNi^ reouperayao auyo aoifliu); e rafop^
dos par gnwade oumero tb moradones que ae ea«*
Jbreubayao pek»<aialm^ alojatao-ae earn um quartet
4e|eMay#l^ e esteiideiido«*ae em doua im^os eiU'-
giria a fortaku ao largo oade oa qm afeaoftta a
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mmumTn iiiBimii) it6
wtiUMOM df'eUi. AnimeMi com a in«hMio % ocMl
« anBdft> nMid4rio anyi embiiiLada am cercaikM,
^pie n entl^aiseat t bomi pQr(id([> ^ 4sertm do qM
ihes f^iianlamp as bdndicoes lotiaid fkvMreit ,' q«i«
nao de8t)reftaBSem o ofiereciineBlov porqu^ et9L re->
aolu^ia de solckdos^ e tambein eonselbo d'AmigM,
pois Ihes proponhao os meios mais yf^s para a cofi'-
aerva^ao iki himra, daTidbai t da fazenda ; <)tTe tudo
ka^iao de peixter Be esperme^m b aiaalt)^. Ou¥fa> <^
cooMipeiMior a ^embaixada ^ e deapedio <) enviado
aem Mspoaia.
XL Vemfe o o^mme&dor da foneteea qut M
namimmtoa iao faltemdd, e t^ne o^ Msaoa cr^sdib
tti iiuiim*o, t apenavM tada vcfi^inaia o ^serco, pet^
auadb aoa <9M» tmn boas ra^oea qvi^ ae deria en-
Iragar a foraatefca. Cottvi^frao todos no parei^ do
oomnyeitdory o quat matidon nm enriado a C3im^
tffym Lem (tinhfta sidoamigos)^ dizendo por elle
TpBte wA^ OS of&eiaea e soldados vinbao na lentirega *
porttn que era necessario tnandar vir um oapitao
fMgado drarkO) qtie tiuiAttoaem PenMimbl#cO(
para cMa die asaentar aa oa{Mtiilaeoea; o t|iie^AM
luiTia de faeer com algtm Am aiomKtorea , porqiia
se nao tttaaeBae que capitulaTU omu oaanMitoa com
q«e tiTOim aacuaade ) e cpie no entiretant^ o acMV*
eorresse eoin algum refhasoo. HeeebM €hriM(n4k>
Lids a eaabaixada , matMloii o rafneaco pedMe, e
panicipou immediaUineDte ao goreraador Joao
Femsndea VMtra as {mipostaa do cofMnendor, pe^
dindb^lM mMBdaawt lo^ qnam oapitadasfia tonovt*
dioeea da ^ntmga. ^^ConaittDiooii o gpv^rnadwaf
impa « a aupi^Ma aoa saua mestrea de«iiapo ; toM«
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IM Gi«Tii0io umaAao4
iuirio ealirc si sabre a pessoaque hayiao de maA-
dar, e fixemocscoihadocapilaoLouran^Garii^^
de Acaujo, cavalleiro do habilo de Ghristo, que
aaaistia jm pdoltl de Nazareth , o qaal |iaitto loge
a executar a ordem ; chegou ao porta do Cahro, e
asaentou com Christovao Lins que logo se noUfi^
casse sua vioda a Aram Florins (este era o noiae
do couunendor da fortaleia). Capitulou-ee a ea^
trega na fticma seguinte : Que sairia. o inimigo oom
seus officiaa^ e soldados tocaudo caixa, bandeiras
tendidas, mecha calada, balla em boca, e todasua
bagagem Ate o lugar destinado para os desarmarem ;
que a todos se daria embanca9ao para ae irem oode
quizesssAi^ que a todos que tivesseW; voAiade.de
servir o nosso exerdto, se Ihes asseotana pra9a oa
forofMi dQ e^lilo , fosse sokjado ou morador ; que a
una e a /outros se coui^edia a posse e cultura de suss
fai^udas, e lodos os foros com que at^ aqueU^
tempp as.posseeiao. Com estas partidas se apossa-
rao OS nossos da fortaleza em 47 de Setlembro de
1 645, — Repartirao^B^pelos soldadoa readidos sette
omtos mil reis ; guardsoioise^hes pontualmeme
as coodicoes pactuadas, sem que se desse oooasiao a
menor queixa» muita por^m, is admira^oes dos es-
traugeiros. Os officiaes e soldados reodidos faziao
uumero de ceoto dncoenta e seis« — Deixou-nos
o Fiameu^o a fortaleza inteira y com oik) pecas de
bronze, qualrode vinie e quatro, duas de dezar-
selte , e duas de ciuco ; armas e municoes^ nao U
baslauiesi ^as sabejas para sustittlar. um lar^
sitjo* Nao quizerao os moradores que ua fortaleza
iicasse molivo de soflrerem de porem novo sitio ,
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GASTiaOTO LUSITAIU). M7
pelo que arrazarao as muralhas, e o capitao com-
boiou por terra toda a artilharia para a Yarzea ,
onde cbe^u a avistar os nossos govemadores com
applauso de yivas, e despojos da yictoria.
XII • Em quanto estas cousas passavao no porto
do Calvo outras similhantes succediao no lUo de
Sao Francisco, cuja fortaleza em 19 do mesmo mez
se entregou aos nossos. Valenlim da Rocha Pita,
nobre econfidente morador naquella parte , rece*
b&ra paiente de capiiao de todo aquelle destricto,
na forma que se tinhao dado a outros deque temos
fallado ; fora elle advertido pelo govemador da li^
berdade do decreto publicado pelo Hollaodez, e da
trai^ao fue preparava aos moradores ; communicou
tudo aos homens conhecidos para que o Flamengo
OS nao achasse desacauteiados ; os quaes todoa se
disposei*ao para aproveitarem o primeiro momento
favoravel para proclamarem a liberdade^oqualnao
tardou. Mandou o HoUandez prender um morador
principal que residia duas legoas da fortaleza ; pu->
blicou*se o mandado, e com elle o alvoraco dos i^*
zioboSy que saindo ao encontro do preso e dos
ministros, matarao a estes, que erafo um sargento
com dez soldados , e pos^rao em sua liberdade q
preso; Cbegou a nova ao commendor, o qual man-
dou logo um capitao com settenta soldados, que
d^sse sobre os aggressores, e que a elles e a toda a
cousa yiva abrazassem e consummissem ; mas nao
succedeo como elle determinava, porque os nossos
pondo-se d'emboscada, esperarao os settenta, e os
castjgarao com tao boa mao, que nenhum pode
escapar da morte para levar a nova do castigo. For
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tn cASTMOTO Ltrsrr Alfa ^
terceiras Yias chegtni a noticia do cstrago ao com*-
mendor que, magoado da perda, se arrepcndeo da
colera.
XIII. Em todas as idades foi sempre maior o se-
quito da fortuna que o da razao. A muitos viti-
nhos conduzio a tomar as armas o desejo da Hber-
dade, por6m a muitos mais a nova d'csles successoa.
Ja 0 orgulho da muUidao julgava peqnena a op-
posicao do Flaraengo , e Ihes parecia affmnta de
sen braco o fazerem-se senhores da campanha sem
ganharem a fortaleza. Antevio o inimigo a pratica,
e temeroso da ousadia se rec Iheo com todos os
sens dentro da fortaleza, nao Ihe restando mais es-
pcranca que a dos soccorros, que Ihe promctlia.
1]tonsider)iiio os nossos que a dilacao do cerco daria
tempo a disposicao dos soccorros , e se resolvferao
«n mandar dous correios A Bahia , expondo ao go-
Tenrador gdral do Est ado o curso dos snccessos , e
0 motfvo dos receios, pedindo-lhe que Ihes man-
dasse algum soccorro* — No entretanto se occupa-
rao em conduzir armas, municoes e mantimentos,
que a pouco custo Ihe ofFereceo a Tentura em um
caravellao , que o inimigo mandava de soccorro 4
fortaleza : vinha subindo pelo rio, e assaltado dos
Hossos o largarao os Flamengos comas vidas. A
mesma sorte teve uma lancha que navegava com
onze Flamengos , is ordens d'um ajudante : oiio
mancebos Poriuguezes a envesiirao em uma canoa ;
tnatarao da primeira carga seis Hollandezes ; os ou-
trosacabdrao pelo ferro; e a lancha servio aos
nossos de triumphoede soccorro. Entreos C5erca-
ttores « 08 sitiados erao tantos os encoutros como
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CASTBIOro UJSITAIIO* fM
erao as occaeioes, e as occasioes como erao^s diaa,
ftcando as ih>sqoa sempre vencedoreg ; e por aer^m
05 successos todos os mesmos os nao referimos.
XIV. Logo que o governador do Estado reccbeo
06 correios com a participacao do que era passad^
no Rio de Sao Francisco, expedio as ordens ao ca**
pilao NIcolao Aranha, que se alojava no Rio Real,
para que com a sua companhia partisse com 06
douscorreiosem soccorro dos moradores do Rio de
Sao Francisco , o que executou promptamenle che-
gando a avistar os nossos em 40 d'Agosto d'este
mesrno anno; e para informar o inimigo da svm.
ehegada mandou por o fbgo a algumas lancbat que
tinha amparadas deba»xo de sua artilharia, o que
eom bom successo se executou. — Ao outro dia da
sua ehegada mandou Nicolao Aranha apertar o
eerco com a sua gente (erao cento oitenta ho^
mens *bem armados, entre Portuguezes e Indios);
passou o rio, e se fortificou da parte do norte , na
qual a fortaleza estava situada , com o que (ran-
queou a passagem a um grosso de nossa iofantaria,
e com eHa cingio a fortiGcacao hollandeza ; no dia
seguinte mandou occupar todas as entradas e saidas
dapracacom emboscadas e mangas volanCes, que
servissem & Tigia e a occasiao ; ordenou que -algii-
mas companhias por iugares diversos picassem jO
inimigo, no caso que saisse da fortaleza, oqUe se
nao atreveo a fazer. — Foi-se apertando o ceroo
cada vez mais at^ que as nossas ballas ja dhegavio a
fazer estrago nas casas , e com o aperlo do cerco se
Ihe forao tomando todos os soccorros que yinhao
pelo rio , e eyitando por meio de lanchas armadas e
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560 GASTEIOTO LUSITANa
guamecidas de genie rcdolula que oulros man-
dados pelo Arrecife podessem apprpximar-se da
fortaleza.
XV • Yendo o commendor da fortaleza o aperto em
que se achava deitou fcSra um bolatim, e porellc
mandou dizer ao capitao Nicolao Aranha, maiscom
manha que com franqueza, que Ihe bjcijava as maos,
e estimava muito sua yizinhan^a, e muito mais
estimaria o servir-se d'elle, pois sabia como tao
grande soldado que as leis das armas faziao con*-
trarios, por^m nao inimigos. Respondeo-lhe o dis-
creto capitao que, obrigado de sua cortezia; Ihe
aconselhaya entregasse a fortaleza , antes que a oc-
casiao Ihe fizesse inimigos todos os que via contra-
rios. Nao cessarao as hostiiidades^ e continuarao os
recados de ambas as partes ; se hem que de uma
as formava a desespera^ao e da outra o desprezo.
No dia 13 de Settembro ^ em que as armas anda-
yao mais quentes, mandou Nicolao Aranha um
tambor e um official com embaixada ao commendor,
que sens soldados o importunavao , enfadados de
tanta dila9aOy por licen9a para levarem a fortaleza
a escala, o que Ihes nao poderia negar se logo a
lULO entregasse a partidO| para o qiial o achariao
favorayel ; que Ihe advertia serem mui poucas as
palayras onde ha via muitas e boas maos. Queria o
commendor ganhar tempo , esperando que entre-
tanto Ihe chegasse algum soccorro , e sem rejeitar
iuteiramente a nossa proposta, respondeo que pe-
dia tres dias de tregoas para conferir com os mais
eabos , e assentar o que se deyia fazer. Succedeo
nesta mesma bora chegar ao Rio de Sao Francisco
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GASTRIOTO LusirAno. 9fti
Henrique Hus (com aquelle8 rendidosnas casas
de dona Anna Faes ^ que os nossos govemadoresf
mandavao pri^ioueiros para a Bahia), o qual, infoiv
mado da embaixada e da resposta, se entrepoz por
laedianeiro do negocio a beaeficio dos cercados*
Escreveo ao conunendor com licenca nossa, expoz^
Ihe a desgra^a que Ihe linha aconlecido, a perda de
duas batalhas campaes por parte da cQmpanhia ,
a impossibilidade de receber soccorro do Arredfe,
e Ihe aconselhava que entregasse a fortaleza, e que
nao esperasse o assalto. Estas razoes ditascomau-*
toridade , e ouvidas com respeilo poderao tanto ,
que logo o commendor, com iodos os seus^ trata-
no de entregar a fortaleza.
XVI. Feitas as capitula^oes ^ e assignadas pelos
cabos maiores sairao da fortaleza, na forma d'ellas
(em 1 9 de Settembro) duzentos sessenta e seis Hoi-
landezes e Francezes, cinco Indios, yinte e qujUro
mulheres, dezoito meninos e outros tantos escra-
vos; OS officiaes com suas insignias» os soldados
em f6rma de guerra, at^ certos passos onde forao
desarmados. Deixarao na fortaleza dez pecas de
bronze, grande somma de pelouros sorteados, suf-
ficiente polvora e murrao, e abundancia de manti-
mentos. Aos enfermos, mulheres e meninos se deo
embarcacao para passarem a Bahia com seus mo-
veis ; alguns soldados se alisiarao debaixo de nos-
sas bandeiras ; e os mais se passarao a outra parte
do rio para marcharem para a Bahia como rendi-
dos. — Foi a restaura^ao desta fortaleza utilissima
para os progresses de nossas armas ; como foi de
pemicic^issimas coniequencias para o Fiamengo.
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363 CAwnxno ummMOi
Era frontelra^ e chave d'ama e ontrt catupmbt,
porque abria e fechava o transito de Peraamboco
para a Bahia, e ao contrario ; deposito do principal
dustento para os exercilos, porque destaa partes se
condiiziao os gadoa, de que abunda aquelle refreno;
e sem dominar aquelle posio nin^em se podia ser-
tir das rezes quealimeniavao aquellespastos. A uti^
lidade foi a lodas as luzes grande, ou se tome pela
parte da defensa ou peta da cooquista. Nenhuma
Tictoria tnereceo tanto applauso, porque nenhuma
se alcan^ou com menos cusio. Os moradores, fiadoa
na forca de seus bra^os, pediao ao csapitao Artnhn
qtie Ihes manda.^se arrasar a Fortaieza, para que ao
inimigo se coriasse a esperan^a, e aos vizinhos o
recek). £xecutou-se como se pedia; As del pe9as
de bronze se depositarao em iugar seguro para se
passarem a Pernambuco com mais commodidade.
Ordenado tudo o que podia servir A convenicncia
dos rooradores , marchou NicoUo Aranba eom a
sua gente para a Vartea a dar conta aos nossos g<H
veroadores do successo, e do desejo qtie tinha de
servir a liberdade.
XVII. Em quanfo o braco dos moradores das
sobreditas capitanias trabalhava na restauracin) da
sua liberdade , acudia Joao Femandes k da sau^
de todos. Para soccorro e alivio das feridas^ doen«
cas e miserias que sito consequencias cercissimas
das guerras e das campanhas, levaniou uma casa
da Misericordia k iifiitaeao das do reino^ e das qua
havia antes do Hollandez se fazer senhor da terra
(de nenhuma deixou o inimigo merooria em todas
aquellaa capitanias)^ na qual se eiercitasse a pie*
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didechtigta por diveorsas pe$soas addkUs a diffie-
xeates e0i|uregO6* Consignou ordeoado para um ca*
pellaoy que todos os dioa dissesse miasa ao6 en*
£^m0s» e Ihes administras^ os sacramentos, com
c^igpa^ de assistir aos euterros dos mortos ; que
logo proveo em pessoa beaemerita. Determinou.
por^ao para medico, sirurgiao» botica e servos que
assislissem && necessidades e limpeza dos enfermoa*
&epariio os gastos pelos moradores , como o per-
m^tia a possibilidade de cada um, e nomeou para
provedor e roais impregados os homens mais ca«
paae$ e zdosos da terra^ — No maior fenror desta,
OQcupa^aQ chegarao a Varzea os mestres de campo.
Avidri Vidal de Negreiros e Martim Soares Morena
da Tolta da empresa de Nazareth y com todos os.
estrangeiros rendidos. Consult^rao com o governa*
dor o premio qua poderia merecer o servi^o d^
Theodozio Estrater, em quanto a majestade d'El
Rei de Portugal Ihe aao fazia merc& ; e atteudendo
aa desejo que tiuha de servir ao dito senbor na
ampresa da liberdade , Ihe d^rao o posto de mestre
de campo de duzentos e cincoenta estr^ngeiros (que
rendidos oas occasioes referidas asseuUraa pra9a
4e soldadps ) com promessa de que se Ihe aggre*
gariao a s^u terco lodos os mais que pelo tempo
s^dianie quizess^fn servir em o uosso exercilo. No-
me^rao-lhe por sargento maior um Francez, cha**
mado Francisco de la Tour, e deixarao k sua es-
colba a devisao das companhias, e nomea^o doa
of&ciaes d'ellas*
XVUK Susteutava o iniroigo (a liro de mosquete
da villa de Olioda ) uma pequena for^a chamada de
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Shh CASTBIOTO LtSITAHO.
Santa Cruz ; limitada no ambito, grande pelo sMo ;
e inexcusayel transito para a communicacao e aer-
vico do Arrecife para a villa, e della para o cerlao ;
j4 neste tempo cortada pela nossa opposi^o desde
a occasiao em que o capiliio Barboza com os triota
soldados de sua companhia a occupou. Yendo pois
osnossoscabos quanto era importante aquelle ponto
para o progresso de nossas armas, resolv^o que
se levasse por entrepresa. Asdentarao o tempo e o
modo; e com uniForme parecer mandarao algumas
companhias que se passassem da outra parte do rto
por aquelle sitio que chamao o Buraco de Santiago,
e de emboscada cortassem todo o soccorro, que do
Arrecife se podesse intentar pelo yao, que debaixa-
mar da o rio naqueUa parte. Posta por obra esta
diligencia, sairao os mestres de campo Andr^ Vidal
e Theodozio Estrater com o grosso de sens tercos,
resolutos em levar o forte a escala. Adiantou-se o
Estrater, pelo coohecimento que tinha com o com-
mendor HoUandez, a persuadir-lhe a certeza de se
perder^ e a conveniencia da entrega, antes que
contra elle se desembainhasse a espada. Convenceo*
se o Flamengo com as razoes de Estrater^ e se en-
tregou a partido^ que se Ihe fez com aVaniajados
favores. Entregou o forte com seis pecas d artilha*
ria, subejas muni^oes, e sufficientes mantimentos,
necessario tudo para os soldados portuguezes^ que
nella ficarao de guami9ao. 0 cabo r^idido com
todos OS sens assentarao pra^a no ter^o de Estrater,
primeiro convidados de nossa fortuna que de sua
affeicao. Guarnecida a forca com uma companhia
de soldados, para rebaterem o inimigo , se inten-
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cjmwmo umtuno. us
t recitperii*a^ se voh^o os noseoB para o sen
akjamento.
XIX. Os govemadores hollandezes^ que asnstiao
BO Arreeife, cortados de taatos golpes quaniaa
trio as perdas e damnos recebidos, oonsiderayao a
pressa com que as nossas armas caminhayao i ul-*
lima ruina de seu imperio ; mandarao unia em-
tiaixada ao mestre de campo Andre Vidai tie Ne-
greiros, euja substancia em protesios e jusiificacoes,
oom que arguiao e coodemnavao os progressos de
nossoB empresos, a rebel liao de seus subdilos, a
perda de sens exercitos, as mortes e prisoes de
seus cabos, os damnos de sens comaaeraos , ^9
roubos de'BuasfazmidaSy a quebra de sua reputa-
fao, a injuria dos iilustrissimos Estados; que a
•lie mesUre de campo se imputava toda a culpa ,
como total causa de todo» os males, pois quando
o posto, o preceito e a razao o obrigava a solicitar
a paz, ea socegar os tumultos dos moradores le-
yantados, influia na guerra, fomentava a rebeUiao>
era parcial nos insultos, e capilaodos ag^pressores ;
e que ja que syas obras o declaravao mortal ini«
migOy nao se negasse is obriga^oes de soldado na
commuta^ao dos prisioneiros, mandando-4he o seu
general Henrique Hua com os principaes cabos que
Ihe tinha retido, em recompensa do capilao maior
Jeronimo de Silva, que tinhao preso no Arrecife*
*— Andr^ Vidal, que com esta resposta ficara mais
colerico que corrido, nao quiz Gar a resposta & me«
moria ^ e & cortezia do enviado y e tomou por se*
guro expediente o fskz^l-a por escrito; para que
nem a adulacao^ i^m o pqo podesse viciar o que
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itiMeM a pafdi ; BO qual le OQQjiiahM M t
razoes, como eniao se dizia. « Se o espMto nia
» fdrt reaulta da estranh^za, todos nos admiramcis :
» vossaa mercte da miahas rasdu^oes, e eu de seiM
» iratDB; oias como esies em yoasaa mercte aao
» faltos por uso , e aquellas em mim jitstificadas
» por outtume , nenhum fuDdaoiento poderi ter
» nem em mim o espanto, nem em Tosaas merote
» a admira^ao. Mandou-me o senhor Antonio Tel*
n ks da Silvai govemador do Eatado , que Tiesse a
» esia eapiianta soeegar os tumultoa da rebelliao
N por Tossaa mencfts Ibo pedir^m ; dei anas ordena
>i a ezeca^ao ; diegnei a ertes In^ares, nos quaes
» nao aohet desobedienteSy ackei desfiDr^doa ; nao
V adiei rebeldes que castigar, achtt opprimidos
n que fayorecer. A d)ediencia que se deve ao
Ji senhor nao 9e deve ao tyranno ; at leia da po*'
>i litica ciyil obrigio a obedecer ao principe natural^
» e naoao intruto. Vosaaa mffl*cte malao pat olBoioi
» roubio por conveniencia ^ injuriao por goalo«
» Dtgaorme : aao principes, ou piratas? Sao senho-
» rtSj ou lyrannos? A obediencia em tamo i l(*gal
» em quanto serve ao superior legitimo , nao em
a quanto adula o senbor intriiso. Em vosaaa mar-
a cto uao s6 ^ falso o dbminio, senao o iraio* Que
» heran^a , ou que direito Uies deo este imperio ?
a Que engano nao intentao em todas suas accoes?
9 Pois <k>mo jiilgao que a um governo false devem
w OS homens uma fidelidade verdadeira ? A traicao
» mais vil i a que resulta da ingratldao, porque se
)» fabrica com as maos do beneficio. A necessidado
a obrigou a vosaas mercte a que pedisaem ao go«*
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» Ttraador geral do Estado favor pan apazigua-
)» rem os Portuguezes de seu dominlo. Vieinos em
M sea soccorroy eu e os soldados que me assistem,
n e descobrimos o iraidor intento d'esta peticao,
j» sendo todo o fim d'ella introdnzir*-iios oesta capn
;» pilania , para que nella cercados de «uas armas
» no9 consummisse o ferro, a fome e o descerro;
n traicao que todo o mundo vio h luz das chamasi
n em que no porto de Tamandard ard^rao os vasos
>» que DOS c^nduzirao por ordem e mandado de
» sua cavilla^aoy que temerusa de que logo desco-
» brissemos o engano^ nos lirou os meios para o.
» regresso; e seudo eu neste particular o luais
1^ queixosoy oie querem persuadir o mais culpado«
9 Muiio cega a malicia ; a cegueira da natureza
H nao deixa yer aos ouiros ; por^m a da malicia ^
n Bern aos ouiros, uem a si mesmos; aquellacqra-
» se com OS remedios, esta augmenla^se com as
» prosperidades. Ponderem vpssas mercte de que
» parte faUa a verdade, e dessa acharao a traicao.
n A majestade d*El Rei meu senhor Dom Joao o
n Quarto nos ordena que em tudo conserremos a
)) paz^ a amizade e a correspondencia com os Hoi-
» landezes, porque suppoe iguaidadeno trato; poi^
» r^m se nelle i tanta a difleren^a como a distancia
».entre um animo real e um coracao mercantile
jtf como p6de ser que se nao d6 por offendidoi me^
M dindo-se o aggravo pelo excesao dos extremos?
» Maior servi^o Ihe fa^o em me oppor a injuria ,
i) que em obedecer ao mandato ; porque sei que
da falta das nocicias nasce a difibrmidade dos
»
» preceitos* £ quando^ levado d'este dictamen, pe-
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8M GASTUOTO tUSITANO.
T» que na interpreta9ao de suas ordens^ pagarei com
» a cabeca a falta da obediencia, por^m ficarei cmn
» a gloria de a saber dar, por ganhar o perdido na
» reputacao d*um Rei que com fidelidade sirro ; e
» no cullo d'um Deos que fidelissimo adoro. Stf
H morrerei com a inveja de nao ser eu o primeiro
9 que desembainhei a espada para yingar uns e
M outros aggravos ; mas tambem com a dita de ser
» o segundo a respeito d*um varao, que nao tem
» primeiro. Em quanlo ao requerimento de tro-
» car prisioneiros , facil f6ra o despacho , sendo
» todo o interesse nosso, pois nos pedem quatro
» cabos a troco d*um capitao , quatro Flamengos
D por um Portuguezy dando a uns e outros sen
)» inirinseco valor ; por^m o general Henrique Hus
A com todos OS mais rendidos ha dias que forao
» remettidos A Bahia & disposi9ao do govemador
» g^ral do Estado , onde chegou^ menos o sargento
M maior Joao Blar, aquem os moradores d'um lu-
» gar matarao com quatro ballas^ porque ihes de-
» via mais que uma vida ; e ja que os prisioneiros
n reFeridos se nao remettem (por sujeitos* a outra
» jurisdiccao) aconselharei que yossas mercds os
1 mandem pedir a Bahia , que com facilidade se
» darao a todo o barato, por nao ser fazenda da lei.
>} Os que estao em nosso poder nao tem gosto de
» yoltar, porque militao entre nos mais por sua
n conveniencia que por nossa necessidade; que
» nao necessita de rendidos quern os p6de render. »
Com esta resposta despachou Andr6 Vidal o en-
yiado.
XX. Por algum tempo esteve suspenso o exer-*
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GASTBIOXO LUSITAKa ftM
cicio das annas eutre os nossos ; porem os gover-
nadores d'ellas sem interrupcao de tempo laboravao
na disposicao de seus progresses e intentos. Consi-
d^ravao o quaitto importava para o fim da empresa
nao desistir da continua9ao da guerra ; chamarao a
eonselho os priocipaes cabos do exercito ; propo-
serao o negocio, e como os votos erao resulta de
varios affectos, forao diversos os pareceres, aioda
que ditados pelo valor, pela prdtica, pela industria^
e pelo zelo todos. Muitos conviSrao que se refor-
masse o Arraial velho, e que fortificada neUe a uossa
gente saisse a iufestar e reprimir o ioimigo, apro-
yeitando as occasioes que Ibe d^sse o tempo. Alguns
approTarao a voto , e reprovarao o sitio ; outros
tiiihao para si que o mesmo lugar, onde de pre-
sente se alojavao, era o mais conveniente para o fim
que se pretendia ; e todos autorizavao suas opinioes
com OS fundamentos de seus dictames. — 0 gover-
nador Joao Fernandes Vieira com melhor escoiha,
I)orque com mais advertencia> disse, que nao con-
vinha acurralar o poder na circumvalacao d'um
arraial , porque incluso nelle serviria a defensa e
nao a conquista, e seria obrar contra a teucao de
invadir levantar paredes para guardar ; e cortar o
fio as victorias com . a mesma espada com que se
venc^rao as batalhas^ dando a en tender ao Fia-
mengo, ou que nossa ofiensa se satisfazia com tao
pequena vingan^a, ou que o nosso valor, temeroso
da vizinhanca de suas pracas, fazia p^ atraz na cor-
rente de seus progressos. Que seu parecer era, que
o nosso poder cingisse todas as forcas inimigas em
quarteis tao vizinhos que se nao perdessem de vista
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3S0 CA8TEI0T0 UTSTTAlia
nem os inimigos, nem os parciaes, e que na mesma
divisao ficasse o poder unido ; que para guarda
d'armas, municoes e mantimentos se edificasse uma
fortaleza , debaixo de cuja vista e amparo ficasse
toda a cirumrerenciai da qual, como do coracao, se
communicassem espiritos a todo o precinclo do
cerco. Este voto tiverao (ambem o Camai aq e Heur
rique Dias , e logo o seguirao (odos os mais cabos.
— Conformes nesle parecer se applicirao os nossos
cabos a execuqao dVUe. ReparU'rao-se os sitioSi
que escolheo a arte, pelos capitaes que tioliao es-
colhido a opiniao na fdrma seguinte. A paragemi
chamada deSebasliao deCarvaiho, se deo ao Cama-
lio para quartet do seu ter^o por ser entre lodas a
mais arriscada ; a que se chamava de Joao Velho
Barreto,e ficava a tiro de peca da cidade Mauricea,
se entregou a Henrique Dias : servia-lhe de irmr
cheira pela frente o rio Gapeberibe . que por aquetle
sitio se vadea de baixamar; uos sitios das Salinas,
carreira dos Mazembos e villa de Olinda, se consi-
gnarao tres estancias, nas quaes se haviao de forlifi-
car OS capitaes da terra e os da Buhia, para que uns
industriassem os outros no terreno e nas veredi^s
d'elle. Mais se mandarao guarnecer as estancias da
villa ^t^ o rio Doce, por cujos arrabaldes e pela
praia do marse ordenou andassem sempre as tropas
de cavallo que havia com algumas companhias vo-
lantes, que ^ervissem de guarnicao^ e sentiuellas
nas disiancias que nao permittiao quarceis. Do re-
manecente de ofBciaes e soldados se formou um
grossOy que assistisse aos nossos governadores pa-
ra darem soccorro a todas as partes, onde o pediase
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a OMeMdade € a oocasiao, ^iiiados em poMo ^fmre^
niente at^ que tiTessem alojamento cerio na (wUt-
ieza que 8e ha via de fazer.
XXI. Sobre a escolha do lugar para a situacao
da fortaleza houre a mesma diTersidade de pare-
ceres ; mas seguioae igualmente o voto de Joao
Fernandes Vieira , e foi esco(bida uma emiiraicia
que a naiureza levani^a pegada ao engenho j que
86 dizia do Bribao, umakgoa do Arrecife, a qual
tinha lodos os requisites para asseuto da fortaleza^
cuja escoiha nao podia ser suffpeita por parte do
nosso govemador, porque destruia fertiUMonos
canaveaes de tres engenhos seus. Um estnmgeirOi
perito na arte da fbrtinea^ao, deliuiMi a plania do
ediBcio com a grandeeae a capacidade que ttie pior-
tou o desejo; e no fin deSeiiemhro se Ihe poe a
primeira mao.-^Para trabaihar na obra concorroo
o govemador com todos seus cscravos; e k sua
imita^ao os moradores com todos os que tiobio,
que ajudados das companhias por giro d^rao pi<m-
cipio e fim i obra em tres meces, tempo em que pe
fez, c se aperfeicoou com reparos, plata-formas,
esplanadas, coritra-escarpas, pontes, cavas, trinp-
eheiras, palicadas, e tudo o mais concerrienie e
proporcionado com a majestade da pra^; e tao
bem acabada que a oihava a arte com admira9ao,
e o odio com receio. Oilo pecas de bronze, que o
inimigo nos deixou no porio do Calvo, se poadrao
Bella ; com as t]uaes se deo a primmra salva eifl
dia daCircamcizao do anno de 1646, festejando o
tnysterio que Ihe deo o nome de fortaleza de Bom
Jesus; a euja sombra os moradores edifio&iio uma
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353 CA8TRI0T0 tU61TAN0«
povoa^to, para a qual coocorr^rao de muiUs partes
of&ciaes meoanicos de todas as artes de que neces-
sitava o servi^o publico ; e formarao em pequeno
campo um Tistoso lugar, ao qual d^rao nome de
Arraial novo, a differeo^a do antigo.
XXII. Via Joao Fernandes Vieira ociosas as
armas de seus soldados, e desajava achar em que
as empregar; discorria comsigo mesmo sobrc
qual das fortificagoes inimigas poderia cair com
melhor succeso o assalto de nossas armas ; medio
sua memoria a cada uma das fortalezas do Arrecife
oomo versada em todas ; cotejour-lhe os sitios, a ar-
iilharia e os presidios ^ e assentou comsigo que a
fortaleza chamada das Cinco Poutas, situada na
praia do mar sobre a barreta , um tiro de mosqu^
da cidade Maurioea, era a que com menos risco se
podia ganhar, se pelo escuro d'uma noite se ia-
vestisse a escala. Com esta 8upposi9ao mandou fazer
OS apprestos necessarios com tat s^^redo, que nia-
guem desconGou para que fim erao. Posta a geote,
que Ihe pareceo necessaria , junto ao rio Capebe-
ribe^ chamou aos mestres de campo, e Ihes com-
municou sen designio, para o qual nao pedia con-
selho, senao para o modo com que se havia de
obrar, desculpando o recato com o receio de que
se adiantasse aigum aviso traidor a prevenir o ini-
migo. — Era TbeodozioEstratero maismoderno, e
faliou primeiro ; com razoes mui solidas e coriezes
reprovou o projecto do governador, dizendo que elle
melhor que ninguem conbecia o estado da forta-
leza^ as tropas que a guarneciao, e o animo com que
estavao para a defenderem ; ponderou que nao era'
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GASTliOTO LimiTAlK). S5B
impossiTel tom&r^se, mas que haviamos de perder
trezentos ou quatrocentos homens, e entre elles
lalvez alguns cabos, cuja falta seria irreparavel;
que depots d'elta tomada nao teriamos maiiicdes
nem mantimentos para a conservar^ nem exercito
ou esquadra para a proteger, e concluio, dizendo :
<K Advirto a vossas senhorias que o Flamengo a
» esta hora nao possue em toda esta costa mais
» queaspracas do Arrecife, cidade Mauricea, rio
» de Sao Francisco, Paraiba e Rio Grande, e que
» todo o basttmento d'ellas sai da ilha d'ltamaraci
*> de que estao senhores ; nenhum goipe Ihe cor-
» tara mais depressa a vida que o que mais Ibe eu-
» f rar pela garganta , e assim sou de parecer que,
» sem largarmos as armas, aproveitemos o movi-
» mento, e trocando-lhe os 6ns ^ demos sobre a
» ilha dltamaraca, que sem duvida ac^aremos tao
7} falta de resistencia como alheia de nossa reso-
» lucao. »
XXin. 0 parecer de Estrater foi approrrado por
todos OS cabos ; e logo se coroecou a p6r em pratica.
Depois d'entregar a Henrique Dias a defensa do
sitio 9 e dlspostas todas as cousas como convinha ,
marchou o govemador com os mestres de campo
Andr^ Vidal, Theodosio Estrater, e Dom Antdnio
Camarao em direccao & ilha de Itamaraca. — Em
14 de Settembro chegoii a nossa gente a Tilla d'l- .
guaracii, onde nossos governadores mandarao ape-
nar todos os barcos, lanchas, canoas e jangadas,
para que a certa hora estivessem prestes na barra
do rio Catuama ; e sem detenca march^rao por terra
a buscar a ilha pela banda que olha para o norte^
J. 23
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sfift ciimaivo mwmm.
E$*an por aipieUa parte (lifepdida a pr^^mgnin 4^
rio^ que divide a Uba da terra firim» oom uma Aao
flamenga bem artiUiada, e melbor guarowida de
HoUaiideza» e lodiog; e aeio a nio ae randar pao
ae podia a paasagwi franquear. Para aate effaito
jaandarlK) apr^atar urn barco graoda a wn batel
com earn homeaa de guamicao aa ordeos do capitao
Siomd Meaie$f eom praceito de veacer ou inon*er
na demanda* De boga arraocada inveatirao e abal-
roarao a vAop na qual acbarao tao dura resigtaacia,
que rebatidos d'ella vgltarao alraz^ nao para deixa-
rem aempresai ^oao para reforcaremo iinpeto*
InTeitlrao-na ^unda yez com dobrado animo, e
resoltt^ tao firme que a entr^rao e read^o a
^uata de nuiito aaogue bollaudez e aigum uosso.
Deixou a entrepreia da nao a paaaagem franca da
terra para a ilhai a qual pa^a^rao os nossos » nos
vaaos que eatavao prevenidost coin trabalho nao so
por causa do numero de gente senao pela largura
do no, qu« era de quaai meia legoai e ser aiada ne-
oeaaario eaperar a conjupcao da mar^t
XXIV. Fassada tpda a gf nte a outra parte, e for-
mada ua ilba aem ruipor naiaa tiro , aoonteceo dar
naa maoa de uoa^as senUnellas uma Flamenga, que
vinba fugida, a qual ae offereceo aos nossot gorer-
nadorea para guiar os uoasos aoldados. Confiado na
guia mandou o goveroador da liberdade picar a
marcha, daudo a yanguarda a Tbeodozio Estrater,
0 qual foi aeguindo a Hollandeza ; ia a pos elle o
aargento maior Antonio Dias Cardozo com urn ba*
talhao de moradpres; e na relaguarda Joao Feiw
nandes Vieira, e o mestre de campo Andrd Vidal
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(usniOTO uniTiLM. M6
wm o Tt9tMii/t da gaote. Havia^^se il'atraveaaar a
iiha por trea kt^Ma de dtitanoia de aorte a aid para
ie buaoar a yilki onde o inimigo Unha a aua forta^
IfiM 6 o 0eu alojameato. ResolyAraoHie que mediasa
a marcba pelaa boras da noite^ e pela <Ustaiicia da
terra , de sorte que aobre a madrugada te chagMia
a ayistar a |)OYoe9aa. A Flamenga que guiava o Sa^
trater, ou por ignorancia ou por malicia, o leyou
por caminho assim iorddo e desviado, que era
nianha olara , e nao via a que parte ficara o lugar.
O sargento maior, mail pratico no terreno e meiioa
confiado nas promeasas da esiraDgeira^ deavioutad
do &tro^ com deixar de aeguir o deario^ e ao ram**
per da manha ae aohou junto in trincbeintt do
contrario, sem ter Tiata ou noticia nem de sua vann
guarda nem do esquadrao da retaguarda em qua
vinhao Andr^ Vidal e o govemador ; fez oonta da
gente oom que ae achara^ e di8p61-a em forma pro^
longada para dngir a pra^ por aquelia parte. 6uo«
oedeo naquella hora salram da villa algumaa Indiaa,
umas a mareiacar, outraa a busear agoa^ e darem
de roato com a noasa gente ; voltirao todas de oar^
reira para dentro da fortifica^o dando grandea
griioa. Osnossoa que ae virao deacubertoa saguifao
as Indias , augmentando a toz do rebate com o ea^
trcmdo da invaaao, que aervio de oortar o somtib, e'
mtroduEir o sobressito noa ytainhoa e aoldadoa do
presidio. -*- Aquelle mesmo tumuiio que chamou o
inimigo para a defenaa ebamou tambem para o
avanco o govemador e ao meatre de campo que
com o esquadrao da retaguarda chegavao pela outra
parte as trincbeiras da povoa^o , e preaumindo a
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356 G4STBI0T0 LUHTANa
causa do reforido alvoroco tocarao a inyeatir^ e sem
resistencia a ganharao, com os almazens das muni-
coese mantimentos do inimigOy que por acudira
parte, onde o chamava o brado^ desemparou o lugar
onde com mais damno o feria o golpe. 0 sargento
maior, que com 08 seua soldados fora em segui- -
mento das Indias pelas portas das trincheiras, que
esUvao abertas, os repartio em mangas com ordem
que patsassem a espada a todos os Indios que se
alojassem por aquella parte , o que se obrou com o
estrago que permittio o repente e o indefeso« •*
Chamados do estrondo das armas j e da voz do es-
panto yierao acudindo estrangeiros e naturaes a
tomar as bocas das ruas, porque o destro^o nao pe-
netrasse o interior da villa. Com a opposicao se
augmeutou o furor ; e se augment ^rao os golpes
com a chegada de Theodozio Estrater, a quem a
desconfianca da detenca obrigava a mostrar, que
HBO tivera parte nella nem o descuido nem a ma-
licia. Carregado o inimigo do temor e dos golpes
se foi retirando para a sombra da fortaieza, bus-
eando o amparo de sua artilharia, com a qual nos
fez oonsideravel damno ^ porque os nossos embe-
Udos no goBto da victoria desprezavao o perigo das
balas.
XXV. Ganhada a primeira fortifica^ao, se man-
dou fortelecer o interior d'ella, porque o inimigo
perdesse a esperauQa de a recuperar ; o que o sar-
gento maior executou com toda a presteza e arte,
de sorte que, fazendo o Hollandez algumas inves^
tidas para a cobrar, foi sempre rebatido, e casti-
gado tao rjgorosamente, que aconselhado da perda
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GASIEIOTO LUSITAMO. 357
desistio da porfia. Nao desistirao os nossos de con-
tinuar a empresa, proseguiodo no ataque da forta-
leza^ que estava cingida de repetidas estacadas^ e
dilatado fosso. Durou o combate desd'a primeira
bora da manha at6 ^s cineo da tarde. Com incaa-
savel bra^o romp^rao os nossos por todas as oppo-
siloes da resistencia ate porem as maos na porta da
fortaleza^ a tempo que muitos d'elles, metidos nas
casas, procurarao sublr e ganhar os baluartes ; o
que veudo o ioimigo , e ignorando o damno que
sua artilharia nos havia feito^ fez signaes de reudido
pedindo bom quartet. Festejarao os nossos a cba-
mada com o pregao da victoria, e como se a desoiv
dem nao cbam^ra pela ruina , se derao a roubar^
perdendo com o desmancho aquelle valor que Ihes
dava a f6rma. Forao os soldados da Bahia os pri«
meiros que a desobediencia levou ao sacco ; e a
maior parte dos outros, que persuadio o exemplo,
at^ as proprias armas largarao para se applicarem
com todas as maos ao roubo^ dando occasiao a que
obrassea cobi^a o que nao pud^ra a maior desgra^a.
Os Indies, desenganados de que a nenhum se havia
de dar q\iartel, e desejando morrer vingados^ ani-
m^rao com a desordem dos nossos a froxidao dos
Flamengos a nao perderem a occasiao que Ihes diva
0 tempo para melhorarem de fortuna. Sairao de
tropel , derao sobre os desgarrados com tal furor e
animo que foi necessario aos officiaes portuguezes
todo o coracao e todo o bra90 para Ihe sustentarem
o impeto; e seria irreparavel o damno, se o gover-
nador Joao Fernandes Vieira nao tivesse ordenado
ao sarg^ito maior que com algumas companhias
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de^ntcrco guarnecesse as trincheirts ganhachs
prfa parte externa para rebater qtialquer soccorro
que podesse Yir ao inimigo, M qmm servirao de
remedio para nao ftigirem os itossos. — Aquelta
mesma opposfcao que deteve a fiigida dos Portu-
guezes, corfou o fio 4 victoria dos Ftamengoaj
porque julgando ardil o que era necessiikde , e te«
mendo que os nossos commettessem segunda Tec a
escala, se rctirou 4 fortaieza. ConhecSrao os nossos
govemadores pek> effeito a causa, e confirmarao o
inimtgo qa suspeitii com tanto artificio, que o sar-
gento maior^ seguindo as ordens recebi^s , se ibi
retirando na retaguarda do exeircito coin pasao tao
vagaroso, que fexfa crer ao kiimigo nao se deixar a
einpreaa, se nao mudar^se a (6rm9L a investida. Para
melhor assegurar a retirada, mandouo goremador
duas coMpanKias que tomassem a passagem do rio,
e iiTessem fH^les todos os barcos para que naquelkt
noite se posesse toda a genie da outra parte , o que
se executou sem nenhum inconretiiente. Dqiois
d*a!gumas boras de descatieo e refei^ Hiardiarao
OS nossos para Igoaracu , levando comsigo os dcs-
pojos que tirjrao da villa e sens conlornOB, os fo-
ridos, queerao settenta, velame, mantimaitos e
artittiaria que tirAreo da nao que veiidArao (erao
quatro pecas) deixsmdo o casco eonsummido do
fogo. Em IguaracA flzerao aho, e resenha da gente,
e pefas listas vfrao que na batalha fie4i*o settenta
ttortos, sendo trinta e quatro estrangetros do terco
de Estrater, cuja inatencao e custume de roubar nos
tirou a victona dasmaos, com a desordem, ecom
« «MD^plo. Perdeo o inknigo neste ooeaaU^ pw
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cimt de dasentos eDldadot entre Holltndezes e
iiidiot J ^endo muito maior o numero de faridos.
XXVI. Poftto que a victoria neata oocatiao noi
▼iraase as coataa, nam por isao mereoem maiioa
dogio OS eabos e soldadoa que entrirao nesta eiii»-
preza , oa quaes eom o despreao do perigo acredi*
iAno o snbido do valor. Ao goYemador Joao Fer^
nandM Yieira buacon o peito uma bala^ qiae aem o
oflfender caio a seus p^ ; outra Ihe lavou uma ma-
deijui de cafaelloa, sem Ihe offender o roalo« Ao
meatre de eampo Andr^ Vidal deo um peburo noa
feeboa da piatola ; eomo ae forao sobejaa as armaa
onde erao tantaa as forcas. Ficou ferido o govov
nador dos Indioa ; eamollando^^e com aau sangue
o fino onto de sea valor. Duas baUs ferirao o ca^
pitao Assenso da SiWa ; temeroso do braqo o bus<-
cava de eompanhia o perigo* 0 sargento maior Caiv-
dozo foi naste stiocesso o al vo da JDveja e do espanto
d'uma e ootra gente : por eotre dmveiros de balas
andou todo o tempo <k batalha no mats ariscado
d'dla^ com tamanho coracao e presfeeza^ que n&-
ahQBQa o p6de ferir^ porqiie uenhuma o pods asae^
gurar com ponlaria cerCa/Oa mats cabos e officiaas
com a genomlidade daa proexaa impadirao as parw
ticttiaridades da kmbran^.
XXVU. Detave-M a nossa gente em Ignara^u
aquelle tempo que foi neoessario para foriiiiear e
gnameoar a povoacao e os camidios que podiao
aerrir as correrias do inimigo, quando intentasse
aair da ilha a inieslar a terra firme. Pastas as cou-
ass na mdhor forma que foi possivel^ po^^se o
► eouicalD am marcha> e cbqppu ao afejattciilo
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560 cAimKm) LOiixAiia
da Varzea^ onde a presenca dos goveroadores com-
municou novo alento aos soldados que guameciao
as eslancias , para sairem victorioaos dos rebates ,
asaaltos e encontros , em que cada hora se. viao a
bracos com o inimigo, que acurralado nas fbrlalezas
do Arrecife padecia as condicoes de yeaddo^ e as
ffescommodidades de cercado. Com favoraveis suc-
cessos nos encaminhavao as armas ao fim desejado,
mas para que os homens se nao es?aecessem com
as prosperidades , permittio o ceo que oa cidade
da Paraiba desse um mal cootagioso que pelos ef-
feitospareceoramo de peste : ateaya-sesem reparo,
crescia sem tempo i e matava sem remedio. Come-
9ava em cerra9ao do peito, e logo a defluxao se ma-
uifestava em pontadas , e com dores de jdeuriz ; a
alguns matava de r^fimte; a outros em poucas
horas ; aos que menos apertava nao passavao de tres
dias. Os medicos, que nao conheciao a causa do
mal, nao Ihe sabiao applicar remedio , assentando
entre si o ser ar inficionado e corrupto ; e com
mais certeza, quando virao a pressa com quefoi
contaminando uma e outra vizinhan^a at£ chegar
ao nosso alojamento de Pernambuco. Morr^rao em
todas as partes innumeraveispessoas semdistinoqao
de Portuguezes, Flamengos, Indies e escravos ; e
08 que nao morr^rao viviao em grande afflicfao e
tristeza, parecendo a todos que era chegado o ul-
timo fim dos mortaes. Teve este mal principio em
OS ultimos de Settembro, e durou at^ os primeiros
de Dezembro ; foi perdendo a forca com a durafso
' e com a experiencia dos remedies sendo um efficaz
a mais copiosa sangria, com o qual muitos se sal-
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CASTIUOTO LDStTAMa 361
virao. Muito sentirao o& nossos governadores o
golpe, que este mal deo no exercito, que levou a
muitos^ cuja falta a saude sentio » como de compa-
nheiros^ e a occasiao como de soldados.
XXVIIL Por este tempo fizerao os moradores um
manifesto ou instrumento juridico por todos assi-
gnado para enviarem & majestade de seu Rei , des-
culpando*$e de faltarem a obediencia, que deviao a
seus reaes decrelos, com as tyrannias com que os
Uollandezes os obrig^rao a tomar as armas, e com
as razoes que tiverao para acclamarem a Joao Fer-
nandes Vieira por geu governador ; o muito que
Ihe devia a liberdade do Estado, e a reputacao do
reino ; o valor, a fidelidade , a prudencia e a in-
dustria com que sublevados os povos d'aquellas
capitanias da tyranna sujeicao , em que as tinha
posto o HoUandez ; a fazenda que tinha despendido
no sustento dos exercitos ; os riscos a que expps^ra
a yida nas batalhas , devendo-se & sua constancia e a
sua fazenda as victorias, por meio das quaes se
viao aquelles povos, no estado presente, com liber-
dade para o exercicio da religiao , e para as utili-
dades da coroa ; e fechavao o discurso , manifes-
tando a confian^a em que viviao de que sua real
clemencia e magnanimidade os nao ha!via de des-
emparar, quando de sua grandeza esperavao os
soccorros necessarios para levarem ao fim uma em-
presa de tanto servico para Deos, como gloria para
a nacao, em que mais os empenhava o zelo da (i
que a conservacao das fazendas. 0 que todos jurarao
ser assim ; e tomavao a Deos pos testemunha de que
em. tudo diziao verdade , e o firmarao de suas let-
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SM CABTMOtO LOSITANa
(ras c signaes, Fez-se esfc paipel, c se assignoti aos
7 de Outubro de i 645 ( o governador e os tre«
mestres de campo nao assignirao) ; e depois de re-
conhecidas as firmas por um tabcH&o publico, se
remetteo ao govemudor g^ral do Estado Antonio
Telles da Silva , para que o enviasse a Portugal,
se Ihe parecesse. Se a curiosidade do leitor desejar
Ter OS nomes de todos os que assign&rao, e a mate-
ria do manifesto mais i)or exlenso, tudo achar4 no
autor do yaloroso Luzideno , folhas 247, que n6s
deix&mos, por carta de nomes.
XXIX. Temos fallado de todas as capitanias de
Pernambuco onde se appellidou a liberdade, resta-
ttos porim ainda a dar noticia do que succedeo no
Rio Grande, em cuja rela^ao tera mais parte o sen-
timento que o jubilo. Settenta legoas do Arrecife
para o iiorte desagua no mar o Rio Grande, ficando-
Ihe a cidade da Paraiba quarenta e cinco fegoas
para o sul. 0 cabedat da corrente Ibe deo o nome ;
e o tomou de sua vizinhanca uma povoacao de Por-
tugnezes que alii ediBcou a conveniencia da barra
e a fertilidade da terra. Nella fabricou o Hollander
uma fortaleza quando se fez senbor de toda a ca-
pitania ; tanto mais custosa quanto mais longe dos
soccorros pela distancia do Arrecife; razao que o
fazia absoluto e insolente no trato e no imperio ao
governador d'ella, por appellidoGosmao^ ao qual
suas tyrannias fizerao bem conhecido, porque sabia
que em igual distancia iicava aos miseraveis sub*
ditos a Bahia para o remedio, fe o Arrecife para «i
queixa. A todas as mais partes do imperio hoUan-
def. chegou a notteia da subleva^o, on guiada da
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diligenda do avitk), ou dd br ftdo da6 victorias ; p<v
r^ ao Rio Grande por nenhuma via eh«gou, fanto
porque impedida da distancia^ quattto porque con
tada da cautela. Nao delinqtiirao aqtleUes mora^
doted conti^a osdominantes nem com a iinaginai;ao,
porque a ignorancia m escti^va da milicia ; mas
que importa^ se para o tyranno tanto val a culpa
como a iunocencia ! Viviao aquelles moradores so*
cegados : o custume da snjeicao os linha esqae*
ddoa da liberdade, e como nao conhecArao diffe*
renea na ftfrma^ j4 naoeslratihaf fto a de opprimidos.
*— Succedeo em 1 6 de Junho o tragico golpe de
Gonhaid, que ja referimos ; ouvlo-se bo Rio Grande
ami espanCo a craeldade do suceesso , e lodos os
moi^adwes forao efitrados de 8U»to e despanio ; es*-
foroavao^se os Hollandeftes por os eat mar, dizendo
que erao homens rebellados, e que 09 senhorcs do
govemo fari&o diligencia para os prenderem e en-
forcarem todos ; mas os habitantes nao derSo on-
▼idos a estas vozes, pela experiencia que tinhao
das promessas flamengas, e sew receio subio de
ponto quando se espaihou a voz de que os mesmos
HoUaiklezes e Tapuyas que tii!ib&o assoladoGunha&
vinhao marchacido para o Rio Grande , e tinhao
escalado uma casa forte do engenho de Joao Leitao,
onde sonberao que estavao recolhidos alguns Por-
tnguezes, aos quaes matirao com barbara cruel-
dade. Virao que os mesmos que accusavao o crime
cooperatao no delicto, e conhecendo claramente
a ficcao , tiveriio por sem duvida o perigo , e para
a eonfiasao do engano pedirao ao eommendoi' Ihes
desse aoeeorro eentra oi iMfamdecea e l>ipiiyas
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3M caTUOIO iUSITAIiiO.
levanUdos. Descaradaiuente sairao escusos. Con-
sullarao entre si o remedio^ e resolv^o fortificar-
se do modo possivel. Determinarao sitio , e nelle
fizerao um cerco de paos a pique capaz de os re-
colher com familias e escravos (erao os Portu-
guezes settenta); prov6rao-se de mantimentos ,
principalmente de faiinha e agoa. As armas nao
passavao de dezesette espingardas, algumas espadas,
poucos chu^os, e copia grande de pios tostados;
polvora, murrao e pelouro, em tao pequena quan-
lidade que servia mais a opiniao que a defensa.
XXX. Aquelle HoUaudez cbamado Jaoobo , que
com OS Tapuyas de sua fac^ao regou de ianocente
sangue a povoa^ao de Gunhau, como ji dissemos ,
agora desceo noTamente do certao, onde se tiuha
emboscadOi com muito maior copia d' Alarves para
executar nos vizinhos da terra o que nao pod^ra
conseguir no destricto da Paraiba , assistindo-lhe
uma partida de Hollandezes , mandados para este
fim pelo gowmador da fortaleza. A' sua chegada
se adiant^o os moradores , forti(icando-se no so-
bredito posto^ que se chamava do Potogi, na forma
referida. Jacobo com os Hollandezes de sua con-
serva aproximourse dos nossos em som d'amizade
mas com o fim de sondar-lbes o animo e yer o es-
tado de sua fortificacao e sens recursos em armas
e muni9oes ; approvou a sua resolucao, assegurou-
Ibes que dos Hollandezes levantados nao tivessem
receio ; e em fim que elle ia para a fortaleza e delle
OS proveria de muni^oes e armas para se defender
rem ; ^ despedindo^se , marcbou para a fortaleza ,
que deatava seis i^oas pelo correate do rio. Dos
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CASTHIOTO LTOITANO. 365
nossos honve alguns que derko credito a esta pro-
messa; a maior parte por6m teve-a por fementida,
e todos se desenganarao quando virao o mesmo Ja-
cobo capitaneando um grosso de Hollandezes, Ta-
puyas, Pytiguaras, que investindo a palissada com
bellico furor, fez todo o possivel pola romper. Ima-
ginou que o repente e o poder a levasse sem resis-
tencia ; por^m achou nos cercados tao prompta e
valerosa defensa, que se rerirou destrocado e ven-
cido. Aconselhou-se o inimigo com a obstinacao e
com a perda; pedio a for^ja soccorros , a arte in-
dustria, e fabricou sobre carros alguns castelios
de madeira, dos quaes haviao de atirar, com seguro
e pontaria certa, os mosquefeiros com que os guarr
neceo ; a cuja sombra podessem os machados rom-
per as estacadas. Nao tirou o inimigo d'este militar
ariificio outra cousa mais que a dor com que vio
tudo deslruido (mortos e feridos muitos dos sens)
e o applauso, com que os cercados celebr^rao a
victoria; a qual fez mais alegre o nao ficar algum
nem ainda com a mais leve ferida. — Ao outro dia
appareceo o aleivoso Jacobo sobre os sitiados com
todos OS sens (vestidos os intentos da guerra com
festivas demonstracoes de paz), e como se com
aquelle soccorro Ihes vidra a dar os parabens da
victoria, se foi chegando k estacada com pensa-
mento de se introduzir dentrodella, confiado nas
apparencias de amigo. Os Portuguezes , que nao
temiao a forca, Ihe castigarao a manha : com armas
de fogo e de arremeco o fizerao de(er, e aflastar da
circumvalacao ; porque como a tal amigo o queriao
de longe. — Nao desistio o Hollandez do artificio ,
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366 (;i9T«io?o mmwo^
a^tes deitou qoyo Gaidar 4 cavila^o ; maiidou di^er
ao6 cercados , que ^e admirava de como os tinba
cegos o Qxedo, poi^ o nao conheciao por auxiliar e
amigo; que elle por comprir su^ palavra (ouvinda
dizer na fortaleza que e^tavao 4 bataria com o$
Alarves ) pedira ao commeudor aquelle esquadrlo
para 09 yir soccorrer com toda a pressa, e o deuava
su^peaso a uovidade de experimentar iuimigos ao$
mesmos que 0 deviao receber gratoa ; e se o recdo
OS tinha cegos^ que abria^em os olho6 da cooGao^a
e recebessem 0 soccorro antes que seus soldadoa
presumissem do engano que ?ra rebdliao ; porqua
D^tes termos oa mandaria ayau9ai*i e publicaria o
damno, a uns sem culpa , e a outros aem queixa. Os
cercados, que enteud&rao a ficqao e o inteuto, Ibe
i^spQuderap ; Que nenhuma maacara podia cobrir
nem esconder trai^ao too doscarada ; que elle era
0 mesmo que uos dias pps^ados oa quizera euganar
com fingida^ promessas ; e que no^ seguint^s os
pretendera destrqir com repetidos comba(e$| ©.
assim mesmo o que gpoduzia os T^puyas para ^
eippresaf e que ae di^^pg^uas^ que nao ha via de^
repre^ntar no Rio jGrande a cruel tragedia que re-
presentara en) Cunbau, porque advertidos e ma-
goados estavao resolutos^m nao largarcm as annas
sem primeiro perderem a^ vidas, qufe queria tirar a
todos para Ihes ix)ubar as fazendas.
XXXI. Acabou de en tender o inimigo que nada
havia de conseguir a cautela, e remetteo o pcito a
batalha ; investio a estacada com repetidos c por*
Bados combates^ em quauto Ihe nao cbegava a ar*-
tilharia que tinba mand^do vir da fortaleza. Che--
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gou e^i e prqtamda pan jo^ar ei 4istniir m
mifieraveid oercados^ Ihee fes lupa embaixada^
diz^do ) que a yiata oa da^enganava da cerieaa de
ana ruina ; que se eutregaasemi aob-peua ds qua a
todoa OB que toiBas^e com vida, odun malherea»
filbos e eacraroa eQiregaria aoa selvagena para que
06 deapeda^ssem e comeasem vivoa ; e que ae des»
coofiavao deque entregaudo*se oa tiao trataria eomo
a amigosvcapitulasiem a fiirma em que ae queriae
auU^figar, e que em penbor de aua palarra Ihea
daria o$ refena que ellea pedii^em. ^ (k Porta-
guezea, que se viao sem meioa para a defeoaa , sem
auatento para a porfiat e aem esperau^ de soecorro
appelUrao da iucertega do remedio para a contin***
geuoia do perjg^. Eatregarao-ae a piartido, debaixo
de aeguroa pasaaportes, porque dadoa em uome do
priucipe de Orauge e doa JUtadoa de Holbnda^
jurados e (irmadoa de todoa 09 olBciaea da milicia
com promeasa de oa defeuderem a oomervarem
nos furoa em que sempre viy^o ; e para que pare-
<^sem mais firmea Ibea veudeo o iuimigo aa ooadU
^8 mais caras : a peso de euro thea deo depois 09
pasaaportes, e os obrigou a que desaen refens de
^mprirem iuteirameute 0 capitulado, pediDdo4hes
a Estevao Macbado de Miranda ^ Frauciaco MeiMies
Pereira, Simao Correia, Joao de Sitveira, e Vi-
cente de Souza Fereira; aoa quaei levou logo o
inimigo para a aua forUleza, como em penbiM' de
seu diiubeiro. Aoa Hollandezea, que dizia d^ixap
em refeuai deixou por guardas e espiaa doa raqdi**
dos. Quaii trea mezes ae alqiarao aquelles mora«
dorea dentTQ da cerea referida aem que a perfidia
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568 GA9I1II0TO LimiTAIIO.
hollandezA Ihes comprisse os artigos da capitulaciio.
Chegou entre tanto & fortaleza Joao Bolastrater,
um dos ires do conselho supremo , para £azer exe-
cutar no Rio Grande, como ministro, o que no At-
recife decreUra com juiz, isto i : que todos os
Portuguezes de seite annos para cima se passassenTi
a espada sem excepcao de pessoa. Para dar comeco
a esta inaudita crueldade mandou vir i sua pre-
sent todos 08 principaes que se achaTao aicerrados
comorefens, elhesdisse, que a campanha estava
lirre doe Indios selvagens , e nella presidio para
aeguranca de todos os moradores ; que fosaem tra-
tar de suas fazendas, visto estar aquella pra^ falta
de mantimentos ; e para que o executassem com
mais animo, mandava uma companhia de soldados
em sua guarda ; e que para commodidade de todos
Ihe pareceo bem que fossem pelo rio ao outro dia
( que se contaTao 3 d'Outubro ) , e nelle achariao
barcos prerenidos de todo necessario para a viagem.
— Mandirao entretanto os Hollandezes emboscar
duzoitos Indios Alarves nas mataa yizinhas do
porto cbamado Riomeracu , meia legoa distante
do cerco onde assistiao os rendidos, os quaes erao
commandados pelo seu maioral Paroupava , esti-
mado do Flaroengo no grao, em qne estimava a
Pero Poty. No dia e f6rma relatada se embarcarao
todos OS moradores, naveg4rao at6 b porto de Hio-
mara^d, onde os deit4rao em terra, rodeadbs da
companhia hollandeza , cujo capitao os mandou
despir a todos, e que se pozessem de joelhos. Sem
repugnancia obedecfirao todos , postos os olhos no
ceo , ao qual se oifereciao em sacrificio , certos de
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GASTBiOlt) LOSITAlia 369
ser chegada a sua uttima hora. IMrao os barbaroa
Hollande^es signal aos selvagensemboscados ; salrao
eates dos matos com gestos e gritos tao medkmhos
que causariao espanio ao insenstvel , quapio maia
ao6 liuiiiauoa , destmadoa a serem apresad'aqadUes
tigres. Mandou entio o hereje a urn predicaiite
de suas dkbalicas seitas queentrasse a pr^ivlhea
promettendo certezas de gloria e esperan^as de yida
aos que, convertidos a seus erros, apoBtatassem da
verdadeira religiao ; por^m os soldados de GbristO)
com novo espirito veuc^rao a noTa balailia^ e com
palavras e accoes abominirao a c^geira heredoa^
confessando a gritos que morriao na pureui da U
catholica^ que cr£ e ensina a santa igrc^ de Roma;
e que de todo o coracao detestaiFao todos os arti*
culos que se desriavao de seus deeretos y pela oIk
seryancia dos quaes estavao preetos a dar uma €
mil yidas , se as iiverao. — YenCido e despreiadip
o hereje da religiosa constauda, tomou per omla
o desaggraTO da seita, e a yinganca das injunas, e
comecou a atormentar com as maos cfe todos aquelica
fieis seryos de Decs com tai deshumanidade , qne a
cada um desejaya jHrolongar a yida para prolongar
o martyrio. De cancado desfalleeeo o Inrago da he*
retica crueza , por6m n«o o yaior da cathoUca pa*
ciencia. Retirarao-M os HoUandeKes, e cj^raraode
refresco os Alaryes, e nio achando naquellca wt^
pos parte que de noyo podessem atormentar^ os
foiio cortando e diyidindo por todas as juntas,
at^ que neste martyrio d^raoas afanasaieu criador^
euyoltas nas confissoes da ii e nas galas da csf*
paranja. Horri^ia a sua yista deixou a crueldade
L 24
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I JO CA6TB10T0 LOSiTAKO*
aqudles corpos, laDto que oein ainda liobao forma
de troncoB : a muiios abriiio, pai*a Ihes tirtrem as
eutranhas, depois de Ihes cortarem as cabecas^ as
peroas e os braQos ; as cabe^as lirarao as paries
que Ihes dao a f^rma, como olhos, lingua, narizes
e orelhas ; aos bra^os, as maos ; as maos, os dedos ;
e porque tivesse a crueldade de lodos parte no todo,
nao fioou geatio que nao cortaase a sua parte.
XXXIl. £m quanto a indomita ferocidade d'a-
quelles barbaros se dekilava na vista do estrtgo ,
(orko OS Hollaudezes buscar nova materia para doyo
sacrificio. Chegarao a cerca onde tinhao redusos
OS settenta Portuguezes, e seguindo seu aleivoso
trato, Ihes disserao da parte do governador da for-
taleza que tinhao ordem da Compauhia para se
ftizer uma eoneordata necessaria para o bem com-
mum y em a qual se haviao de assignar as partes ;
para o que conviuha que com toda a brevidade
chegaseem & fortaleza , e com elles Hollaudezes se
fbssem embarcar ao porta de Hiomara^ii, oude
tinhao barcos prestes para fazerem o camiuho com
menos molestia. Bem presentirao estes infelizes
qual era a sorte que os esperava ; mas com grande
resignacao e copiosas lagrimas se apartirao de suas
raulheres e filhosi e se entregirao is maos de seus
Terdugos. Ghegirao ao lugar que para a navega^ao
era porio, e para o martyrio theatro ; serviudo-lhes
o espanto do que viao de Ihes pintar as circum-
stancias do supplicio que esperavao. Em voz alta
fizerao todos a [w^testacao da ft, com a moBma
firmeza que a haviao feito as primeirasvictimas; e
foi entao que se unirao h(^ejes e geatioa a ferir, e
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GASTRIOTO LUSriANO. 371
cortar pelos fieis servos de Deos com lauta ira c
deshumaDidade, que se encoDtravao muitos ferros
a abrir uma mesma ferida. Assanhados da confis-
sao da (6 que ouviao, se apressavao a lirar as Tidas
e JiDguas que a pronunciavao, e abriao tantas mais
bocas que a repetiao, quantos erao os golpes j pelos
quaes o fiel sangue a gritava ; em que continuit*ao
at^ que de todo os desamparou o sangue, e os
deixou a \ida. — A um mancebo casado, por
nome Autonio Baracho, ao qual a natureza e a for-
tuna enriquec^rao de aposta , amarrarao a um
tronco, e depois de cruelmente atormentado e es^
carnecidoy Ihe cortarao a lingua e a parte virih
trocando a infame deshumanidade a cada uma das
partes o lugar que Ihes dera a natureza. Ja seu
corpo f pela materia , nao tinha parte sem ferida,
e ainda assim se armou a atrocidade contra a bar-
monia da figura, denegrindo-lbe todo o corpo com
ferros abrazados, e tirando-lbe o cora^ao pelas
costaS) desejosos sem duvida de verem o tamanbo
d'um cora^ao em que coube o soffrimento de tantos
martyrios. — Com Maibeus Moreira usarao a
mesma tyrannia; porque se deleitavao nas repe-
ticoes da maior crueza , at^ que deo os ultimos
alentos na pronunciaqao destas palavras : « Bem-
» dito e louvado seja o santissimo sacramento. )»
E seria permissao divina; para que a um mesmo
tempo visse o bereje , para sua confusao , este di-
vino mysterio no coracao que tirava e na boca por
onde saia. Os tormentos e injurias com que tirarao
a vida ao padre vigario d'aquella freguezia , Am-
brosio Francisco Ferros, forao com tan to mais ex-
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S72 ^ CASTRIOTO LUSITANO.
cesso quanto maior era o odio que tinhao aos sa-
cerdotes, e o desprezo com que olhavao para os
miuistros dos sacramentos^ que nega sua pertmaz
ceguetra. Ainda que a piedade quizera particula-
rixar 08 tormentos que padeceo , o pejo nao deixa
dizer as injurias com que a perfidta o atormentou.
XXXin. Ou de cancados ou de conftindtdos
»
pediiio 08 verdugos ao capitao holhndez d^sse a
vida a oito mancebos^, admirados da fortaleza com
que triumphavao de affW)ntas e martyrios ; conce-
deo o capitao o que se Ihe pedia , por^m com pro-
testo de que a nenhum tempo tomariao armas con-
tra Hollauda , seuao contra Portugal. Ouvida a
condicao d^aquelles invenciveis espiritos, respon-
d^rao que Ihed rendiao as gra9as da nova occasiao
em que os punhao pata accrescentarem uma coroa
a outra coroa , sendo para sua estimacao a maior
dita 0 morrerem por seryir a Deos, a sua patria e
a sen Rei. Vio-se a diligencia desprezada, a inters
cessao corrida ; e estimulado o furor inventou novos
martyrios, com que, aos olhos uns dos outros , foi
despedacando os corpos que animava a invencivel
coDstancia, at^ os deixarem sem figura e sem vida.
A um dos oito mancebos, chamado Jofto MarUns ,
a euja vista martyritarao os sette, persuadiao qat
conservasse a vida a troco da promessa de assentar
pra^a em service da Hollanda. Com alegre e desen-
ganado semblante respondeo que se nao rendia a
lidelidade d'um Portuguez catholico romano a tao
vil partido , quando victorioso de suas instancias
esperava etemizar, com sua morte , a gloria de sen
nome^ conGado na misericordia divina, que levaria
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cksmatQ imam}. 375
sua alma ao }ogro da vida etema. Aqni ae a(;ceiideo
ixiaia a ira^ porque aqui se vio aiais offeadida a
induatria« Martyrizava o odio, a colera e a Tin-
gaii9a ; e nao ficou tormento que nao executaase a
tyrauuia , passando al^m da morte a crueldade |
com que Ihe fizerao em miuda3 paries o corpo.
XXXiy. Depois do referido , andaiio aquelles
deshumanos verdugos fazeudo riso do eslrago, que
as mesm^s feras causara horror. A uma mulher
gasada , que levada do amor conjugal acompanhara
seu marido, e o cborava despeda9ado« cortarao os
p^ e as maos , porque se nao podesse apartar da
oausa de sua magoa, e entre os corpos desanimados
bebesse a morte no sangue das feridas e no horror
da companhia : martyrio em que durou ires dias |^
atii dar a alma a Deos. A uma menina de dous
annos tirarao dos bra^os da mai » e cop^ apostado
tiro a estrelarao no tronco de uma arvore« A outra
criaufa parUrao em duas partes d'alto a baixo com
o golpe d'um alfange, A uma donzella de gentU
fornfia vaid^rao a um Indio por um cao de ca9a.
Nao aobando j^ o bra^o cousa em que ferir largi-
rao ao8 Indios os despojos^ que erao as ultimas cor-
tinas da honestidade, e com estarem hem cortados
dos golpes y deixarao muito mais cortados a todoa
os presentes, quando ao tiral*as virao rodeados de
asperos cilicios e de duras cadeias aquelles ditosos
corpos ; dispondo-os a virtude da penitencia para
a padencia do martyrio que tao heroicamente sof-
fr^o. Coroado o execrando acto com este glorioso
fim^ caminb^rao os Hollandezes e Tapuyas com
espantoso tumulto para o lugar onde estavao as
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37/1 CA5TR10T0 LUSlTANa
mulhei^es, fiihas e parentas dos mortos (recolhidas
dentro da estacada, luctando com as incertezas da
esperam^a e com a vehemencia da suspeiia ) yiva-
mente afflictas com o receio de sua perda e de seu
desamparo. Virao o esquadrao inimigo , e de sua
desordem inferirao o que logo experimentirao ,
porque de Ihes intimarem, na morte dos sens , a
falta da defensa, as invadirao juntamente brutos e
crueis ; porque com accao indistincta satisfiz^rao a
colera e a torpeza^ dando a beber a iodas de urn so
trago a dor e a injuria , sem que a for^a reparasse
na resistencia, nem a briitalidade no estado ; ser-
vindo-se das queixas e das lagrimas como de in*
sentivos para a violencia. Nunca a demazia andou
tao desenfreada , porque nunca se vio mais livre o
desaforo com que a lascivia rompeo pelas ki$ do
pejo e da lasiima. Roubada d'esta maneira a honra
e a estima^ao do fragil sexo, Ihe nao deix^rao que
sentir na perda da fazenda, que Ihes levarao com
tanta vileza, que nem com que podessem cobrir as
partes que a mesma natureza csconde, Ihes deixd-
rao. Com lagrimas inuteis choravao o desam-
paro e a deshonra ; e corridas de si mesmas in-
vejavao o estado dos mortos. Pediiio licenca para
Ihes da rem scpultura; o que nao pod^rao alcancar
senao depois de passados quinze dias ; para que a
corrupeao nao d^e lugar 4 piedade , e as feras o
tivessem de Ihes darem em suas enlranhas horrivel
sepulcro. Mas o ceo, que dos estorvos fez auxilios,
e dos desvios estradas,\no8trou nesta occasiao que
para favorecer a rerdade e Vublicar a victoria de
seus servos permiitio os meios que para a esconder
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CASTWOTO LCSITANa 375
o destruir buscavao seus inimigos ; pois os corpos,
ainda que dirididos , se achdrao intactos , nao se
atrevendoatocal-os nem a cormpcao nem osbichos^
e exhalando suave fragancia. Mararilha foi esta que
nos catholicos causou grande compuncao , e nos
herejes grande assombro, nao se atrevendo a negal-a
por ser observada por tanta genie.
XXXV. Ja dissemos neste livro como tendo os
govemadores noticia do aperto em que estavao os
moradores do Rio Grande (no mesmo tempo em
que despedf rao um soccorro para a Paralba ) en-
commenddrao aos cabos d'elle, principalmente aos
capitae^ Joao Barboza Pinto, e dom Diogo Pinbeiro
Camarao, como mais praticos naquelle terreno,
que da Paraiba passassem ao Rio Grande , para
eximirem os moradores da affliccao e risco em que
estavao ; e unidos com elles fizessem ao ioimigd
toda a hostilidade possivel, conduzindo osgstdos
de (oda a campanha para sustento do exercito de
Pernambuco. Com genie da Paraiba engrossdrao o
soccorro , e com elle partirao depois dos 1 5 d'Ou-
tubro , e pela difficuldade da marcha chegdrao a
campanha do Rio Grande em os primeiros dias de
Novembro, um mez depois do estrago que deixamos
referido ; e supposto qu6 nos adiantamos no tempo
por nao quebrar a ponta d'este fio , diremos aqui
em summa o que obrarao, e ficaremos livres d'este
desvio, para caminharmos sem elle pela estrada da
historia.
XXXVl.Oirvio a nossa gente a lastimosa relacao
do successo, a crueldade dos Hollandezes e Indios,
0 aleivoso tralo d'uns e outros, e irados contra si
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376 GASTRIOTO LUaiTAKO.
mesmos pela lardaa^^ e contra os ininiigos pela
offensa, perdiao a paciencia em eonsiderarem que
Ihes faltara tempo para a vinganyaj e Ihes aobejava
para a injuria; nao podendo aproveitar o soocorro
pant o remedioy senao para o su^ragio. Fizeraoalto
oa poToa^ao daCunliau,; fbrtifidirao-se no engenho
do lugar> porque saisse o castigo do mesmo lugar
onde se executou o aggravo : todas as boras o lem-
brava o siiio, e uao deixava a magoa desean^ a
ira, com que os nossos talavao e abrazavao tudo o
que por aguellas partes tocava aosHollandezes e In-
dioSy nao bavendo dia em que a fortaleza do inimigo
nao chegassem correios da sua perda , e de nossa
vingan^a ; com que irritado, se aprestava com todo
o poder para assaltar os nossos, certo de que a for-
tifica^ao do alojamento os nao poderia defender.
Succedeo que uma noite ouvirao as sentinellas, que
OS nossos tinbao ao largo^ grande (ropel e rumor,
como de gente que marcbava furtiva ; d^rao rebate*
preparou-se a gente para rebater o assalto^ e nesta
forma estiverao at^ que amanbeceo ; descobrio-se
0 campo , e nao se acbou nem indicio nem rasto de
inimigo. Na nolte^seguinte succedeo o mesmo ; con-
cluirao d'aqui os nossos que era aviso do ceo para
que mudassem de alojamento, e tomassem um mais
seguro f escolb^rao por tanto um posto regulado, e
medido para a defensa, onde se fecharao com for-
tificadacircumferencia, Mai tinbao acabadoquando
o inimigo com todo o poder de estrangeiros, naiu-
raes e Tapuyas deo sobre o engenbo de Cunhaii,
que acbou desoccupado ; e entendido o lugar onde
os nossos se alojavao, os buscou e investio com o
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GASTBIOTO LUSITANO. S77
orgulho que recebeo da presump^aode que o temor
de suas armas nos desolajaria com facilidade;
por^m em breve tempo se desenganou muito a sua
custa ; porque vencida a ousadia da iuvasao, do va-
lor e da resistencia j perdeo o assalto e a flor da
SUA gente, deixaudo-nos naa maos uma esobreeida
victoria , que fez mais gloriosa o medo com que
desbaratado fogio, e foi tauto que, sem attender a
ordem nem a honra, entrou em aua fortificacao 96m
muita parte dos soldados , e sem a maior parte das
armas. Senhores da campanha<x)Dtinuario 09 dos-
809 na vinganca, at^ 0 tempo em que chegou 4 Fa-
raiba dom Antonio Philippe Camarao, mandado
pdo8 n08B09 govemadores, movido9 da reto^ re-
ferida e de novas razoes^ como escreveremos a seu
tempo em o seguinte livro.
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LIVRO IX.
SUMHARIO.
. Oi BMMifoverMdonf tptrtto o careo to iolmlgd, qa% fti duu
sortidu, e eotra casUgado ; por douf negros qua Mem do kirteih
le sabem os intentof dos Flamengos , e sao rebatidoi com perda.
~ S. Ootrot fticcesfos em que o inhnlgo i tencido ; em nenhuma
parle vhrk fegnro; temor com que muiioi ae paisario 4 noma
parte.~3.6 iaimigo detconfiado dopoderiequarTaler da tndcao;
como intanta exeeuUl-a, e como nao teve effeito ; sae com todo
o podar, a a DOtM gaota a tar-lba o encontro, e Ihe fav grande
attrago. -> 4. Partieuiaridadet d'etta oocasUo ; mortoi a feridof
d*uma a outra parte.— 5. Os estrangeiroi tratao de fugir reeeosos
de ae manifetiar o delicto ; o seu mettre de campo, que o luspelta
ae aoautda ; Ibgem duas companhias para o Arradilft.— (L Publiea>
le a traicao ; coromettem a Theodozio Estrater e o castigo e o re-
medio ; o qual le execute com moderacao. ^ 7. lotenta o inimigo
ioccorrer a forUleza doa Afogadoi, e perde o aocoorro. — 6. Caio
eitranho. — 9. Chega a Bahia uma carav^la do reioo » que o go-
vemador manda de soccorro a Pernambuco ; nella escrcTerem os
Hollandezei randidos aoa do lupremo conialho. — 10. Pelo aju-
dante Cardoio ae mandarao as cartas ; o qua Ihe suceede oo Arra-
cife. —11. Dous soldados nossos pdem fogo as naos flamengas :
com que effeito. — IS. Mandao os nossos governadores soccorro
ao Camarao ; com etle entra na campanba da Paralba ; o qua Ihe
Sttccade. — 13. Fortifica-se em seu alojamento ; o inimigo o busca;
e se perde. — 14. Circumstancias que fizerao grande a victoria ;
fame que o Camarao mereceo neste dia. — 15. Retir»o-se os bos-
sos para a Paralba ; por via do Arrecife chegou aos nossoa a nova
da victoria. —16. Joao FernandesVieira manda dous enviados ao
reino. — 17. Manda o governador g^ral do Estado cortar os cana-
veaes da campanba, sem ponderer os incanvenientes, que a obe-
diencia venceo com o exeraplo de Joao Femandes Vieira. — 18. No
primeiro dia do anno deo a nova fortaleza a primeira salva. —
19. Partem os nossos governadores para o pontal de Nazareth;
quer o Uollandez levantar um reduto; mu jHeBrique Diaso
impede e desbara^a; voltao os governadores ao Arraial. — 20. Fax
0 inimigo o reduto em uma noite; Joao Femandes Vieira chega
com soeaorro» e desbarata o inimigo. —21. Calamidades que
soffre o inimigo ; dissencoes no Arrecife, e passagem de rauitos
para o nosso arraial, pelos quaes tivemos a primeira nova da vie*
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CASTBIOTO LUSITANO. S79
torU do Rio Grande. ^ 22. Chega lo Arrtial o etplOo loSo da
Magol^ai a ffdb tocoorro para o Rio Grande, o foal lera Ajh
tonio Vidal de Negreiros. — 83. Joao Fernaodes Vieira deiato
iocega o inimigo ; Henrique Dies escala inn reduto qne Itxera o
ininlgo ; o eaplt&o Domlngoo Ferraira o desaUna eaa ofluinfai*
fora. — >24. Henrique Diai ioteota ganhar o reduto fobredito;
communica a empresa a Joao Femandes Vieira e aos cabos do sea
terco , que o approvio com alroro^o ; Paulo Diat Sao Phellcbe
pasaa e rio, e ganba o reduto. —-25. For toda a parte se toca arna
ao inimigo; accao destemida do capitao Sebaitiao Ferreira. -~
25. lotenta o governador hollandex ganhar a Paralba; cliega
Andf« Ytdal» e traU de caatigar o atreYimento. — 27. Sai o Hol-
landex a campo ; damoo que recebe das nossas emboscadas. —
28. Salta o inimigo em Tejucupapo ; o que Ihe luccede. — 29. Per-
tinacia e caitigo dos judeos do Arrecif^. — 30. Faltao em o noiso
arraial maotiiDentos e soldades) Joao Femandes Vieira acode k
falta. — 31. Ardil com que o inimigo nos queria desanimar; co«
nbecem os nossos a chimera.— 32. Carta de Henrique Dias para os
Hollandexes.— 33. 0 Gamarto assola a campanhado Rio Gniide;
totrao mantimentos no nosso arraial. — 34: Apertado da fome sai
0 inimigo a buscar mantimentos ; ardil com que nos engana ;
desembarca em Tejucupapo; Agostlnho Nnnet Ihe pox reststenda.
— 35. Valor das nuHheres partvignevae ; foge o itinigo desatinado.
— 36. Joao Fernandas Vieira sai do Arraial a buscar mantimentos ;
dA principio a fortalexa de Tamandar^, e depois de guarnecida
folta para o Arraial. -^ 91. Chagao ao Arraial dous padres dat
Companhia eom ordens d'El Rei para se deixar a campanha ; re»
plica As ordens Joao Femandes Vieira; neutralidade dos mais
pareceraa. — 3^. Com tret nAoa defende o inimigo as passagens
da iiha de ItaaMraca; os nossos goTemadprea inteotlk) ^mhM-as;
vote de Joao Femandes Vieira. — 39. Com que gente se dispoe e
intenta a empresa ; cinco Portoguezes rendem a primeira ndio ; os
Hoilaodcns desampixdo a aegunda e a lefealra , e se ralirao ^
ilha. — 40. Ganhada a ilha se recolhem os nossos deixando«a
assolada ; um maioral dos Indies se passa com quarenta & nossa
parte. ~ 41. Bntra um soccorro do reino em Raxareth ; mandao-se
relirar os moradofes da Paralba e Goyana ; o capitao FrantiNo
Lopes Estrella rende uma lancba do inimigo ; os soldados de Hen-
rique Dias tomao um comboi do Flamengo. — 42. Assalta o ini-
naigo a aslaoeia dea Narcos , e fofe castlgado. — 43. ConjoracSo
contra Joao Fernandes Vieira, de que foi avisado. —44. AUrao a
espingarda ao gOYcrnador; alteracoo que o successo causou no
Arraial. — 45. Castigo que da aos traidores. — 46. Motives da
tralfao.
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3t0 CASTRIQTO mSITABa
h Em quanto aos nosaos go?enuidore$ iiao die*
gtta a noticia do que era passado no Rio Grande,
e que deixamos escrito no precedente livro, se oc-
oupavao em hostilixar o inimigo o mais que podiao
apcrtando de tal modo o cerco, que tinhao posto
as fortificacoes do Arrecife, que jA nao tinba modo
de aendir k fome e i sAde que o apertava. Saccedeo
que no primeiro domingo de Outubro, em que a
igreja aolemnica a fesia do RoEario, a celehrou
Henrique Dias e os negros de seu ter^o com as
dmnomtraqoes poasivei^; acabada a soleouudade se
reiirou Henrique Dias da vilia de OKnda^ onde se
festejou o dia, para o seu quartel ; e, ou que fosse
por aviso, ou por inferencia, advertio aoa capitaes
das estancias vizinhas que estivessem com vigilan-
cia, porque sem duvida sairia aquella noite o Hol-
lander a dar alguma assaltada, como de facto salo,
ajudado da escuridade da noite, por entre as mar*
gens do rto Beberibe. Dividio o poder em doos
tro^os, e com os dous esquadroes, commelteo as
estancias d'aquella paragem por duas partes, adian-
tando^e a iuTestida os clarins encontmdos , e as
cargas vagas, para que primeiro confundissem do
cpie commettesaem* Nao foi pequena a desordem
que causou em os nossos o rumor encontrado, e o
rebate indiffer^ita, porque sem disoiplina se forao
retirando at* o posto de Joao Soares tf Albuquerque ,
onde, cobrados da confusao , tomarao melhor con-
aelbo, e voitarao sobre o inimigo a tempo que mar-
chavao em seu soccorro trinta Indies do terco do
Camarao, que chamados do estrondo publicavaoo
auxilio com um clarim que seguiao, cujo ^bo
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CASTjaOTO LUSriANO. 581
bastou para espalhar os Hollandezes pelo mato , e
pararetiraros nossos doconflicto, imaginando todos
contranos aos que s6 para o HoIIandez o erao,
mas para os nossos, amigos ; os quaes feitos em um
corpo, se forao esperar o inimigo de emboscada
debaixo de suas mesmas fortalezas , donde os assal-
tarao, ao tempo que se retiravao, com damno seu
e perlgo nosso ; este por razao da artilharia^ aquelle
pelos mortos e feridos que deixiirao e recortiferiio.
Igual sorte teve o inimigo n'outra saida que fez a
buscar agoa de noite ao rio Beberibe. Esperarao-
no de emboscada os capitaes Ramos e Soares Com
suas companhias, d^rao sobre elle com tanto vigor
que deixou no campo oito mortos, e nove escravos
dos que trazia para carregarem agoa. No alcance
perdeo mais que na peleja ; e se recolheo com tantos
feridos, que se nao entrarao carregados d'agoa^
forao bem cobertos de sangue. — Em 1 5 d'Outubro
safrao do Arrecife dous negros, os quaes sendo
apresentados ao governador diss^rao que oFlamen-
go determinava salr a noite seguinte com poder de
soldados e gastadores a fazer lenba na paragem das
Salinas, com tencao de nella fabricarem um forte
com boa guarnicao e artilharia para proteger suas
correrias. Ouvida a informacao mandirao osgover-
nadores cbamar os principaes capitaes. e depois de
concertarem entre si o modo da opposi^ao, os des-
pedirao com as ordens necessarias , que com pott-
tualidade executirao. Descoberto o campo , e dis-
posta a ge&te em emboscada, passarao toda a noite
com dobradas sentinellas, at^ que ao primeiro rom-
per d'alva derao os nossos descobridores aviso de
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M2 cAsmmo vosumsuu
que nas casas de Francisco do Rego eslava uma
grande partida de Hollandezes e negros fonnados
em duas alas^eque seis batedores de cavallo, arma-
dos de clavinas e pislolas, vinhao descobrindo a
campanha pela parte chamada a carreira dos Ma-
zambos. Nao perd^o os nossos a occasiao e o
tempo ; d^rao sobre os seis de cavallo, cairao morlos
doiis, fogirao os quatro & redea solta a dar rebate
aos seus. Sem detenca investio o inimigo por duas
partes, e sem o esperar se acbou mettido nas em-
boscadas ; travou-se um combate renhido, que du-
rou mais de duas boras; mandarao entaoos nossos
capilaes investir a espada, o que os nossos soldados
execularao com tanta rapidez e valor, que so co-
nbeceo o inimigo pela fogida y mas nao pela resis-
teiicia. Seguirao os nossos o alcance do inimigo at^
as portas de suas fortalezas, matando-lhe vinte ho-
mensy e fazendo-^lbe prisioneiros trinta e dous
escravos ; tambem Ihe tomarao algumas armas c
instrumentos que tinhao prestimo para a roca e
para a fabrica, que aos nossos servirao de despojo
e de testemunba, com que se apresentarao aos go-
vemadores sem perda e com muita reputacao.
II. Nao intentava o inimigo sortida que Ihe nao
saisse cara ; por^m a necessidadeo obrigava a fazer
todos OS dias novos esforcos. Com uma partida de
soldados bollandezes e Indies buscou um dia as
casas de Sebastiao de Garvalho, onde os nossos ti-
nhao uma trincheira de presidio, e so assistida de
duas sentioellas , as quaes em vcndo o Flamengo
tocdrao arma e se retirarao. Ouvio o rebate o capi-
laoGosme do R^o, que era o que ficava mais perto;
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CASTRIOTO LUSITANO. I8S
e com a gente que achou prompta saio ao eocon(ro
do iaimigo, que valorosamenle entreleve ale que
de suas eslancias chegarao os capitaes Jerouimo da
Cunha do Amaral, e Sebastiao Ferreira com a gente
de suas companhias , que unidas com os que pe-
lejavao, carregarao de (al sorle o Flamengo, que
por fugir aos golpes largou a trincheira e buscou
o amparo de suas forlalezas. Perdeo o inimigo
quatro mortos, e nos tivemos tres soldados feridos
levemente. — Outros successos e encontros simi-
Ihantes se viao cada dia, que deixamos de refe-
rir, nao por de menos conta, senao porque forao
sem cpnto. Andavao os Porluguezes (ao senhores
da fortuna que faziao do perigo desenfado e da te-
meridade credito. Por muitas vezes Ihes forao rou-
bar os gados e cayallos que apascentavao debaixo
da artilharia das Cinco Ponlas.Os servos e escravos
que saiao das fortalezas a fazer qualquer servi^
logo mudavao de senhor , porque os soldados de
Henrique Dias os capUvaTao , bebendo o inimigo o
espanto na temeridade , e o lemor no desprezo^ de
tal modo que em nenhum lugar se achava seguro.
— A todos se communicava o temor; o qual se
augmentava todos os dias entre os de mais baixa
sorte com a fome e a s6de que padeciao; e com
esta razao fogiao muitos escravos do Arrecife, per-
suadidos que nao poderiao escapar das maos dos
Portuguezes, ou por entrega da penuria* ou por
conquista da espada. Muitos soldados se -apresen-
tavao aos nossos governadores trazidos do mcsmo
motivo, OS quaes repartiao pelos nossos tercos.
Pelo conforme depoimento d'estes, e d'outros mui*
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38& GiATRIOTO LUSTTANO.
to8 de toda a sorte^ se inteirarao os nossos do mi-
seravel estado em que se achava o Flamengo den-
tro das pracas do Arrecife , apertado da fome , da
s4de« do temor em que o punha sua desconfianca.
III. Desenganado o inimigo, pela continuacao
dos successos , de que sua forca nao bastava a de-
fend^l-o de nossa ousadia, apellou para as artes de
sua malicia, e urdio uma trai^ao de ta) qualidade,
que o mesmo fora v61-a lograda,que deixar-nosdes-
truidos. Temos dito como os nossos govemadores
d^rao a Theodozio Estrater o posto de mestre de
campo dos estrangeiros , que formavao um ter^o
de duzentos oitenta homens de nacoes diversas,
mas todas do norte; sobre este fundamento es-
tribou a confianca , com que o Flamengo intentou
corrompM-os : conhecia a natural inconstancia da
gente d'aquelle clima, e a propencao que tern a fal-
tar a fe, por qualquer pequeno accidente. Formoii
o seu conselho supremo um alvard de perdao e
promessas, em nome dos Estados, em que per-
doavao todos os crimes commettidos contra a Com-
panhia, e promettiaorecompensnse melhoramenCos
a todos que, militando deb^ixo de nossas bandei-
ras, se passassem as suas fortalezas, e obrassem
algum feito em utilidade de suas armas e damno
dos rebelde^. — Espathirao-se entrc os nossos mui-
tas copias do akadi do conselho, de que logo tive-
rao nossos governadore^, mas nao pod6rao impedir
que ellas chegassem tambem Ss maos dos cabos c
officiaes estrangeiros. Nao forao estes surdos as
vozes da trai^ao; oomme^4rao logo a corromper
com fecilidade muitos dos soldados ; pos^rao-se em
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GlSTUiyiO LUStTAVO. 365
relaoao com os principaes cabos do Arrecife, cbe-
gando sua perfidia ao exc^sso de passarem algumas
vezes ao Arrecife para raelhor concertar o preco
da venda e da entrega. A^entarao que nos encon-
tros em que se achassem ( anies da occasiao dese*
j«da ) OS do Arrecife nao fariao tiro com pontaria^
nem os que entre n6s militavao com balla, dando-se
a conhecer por urn papel dobrado, que trariao
nas trancas dos chapes, na £firma em que os liti-
games OS trazem no cinto, em quanto nao sncre-
desse a bataiha, em que os estrangeiros que mili-
tavao entre nos levassem a vanguarda ; e unidos
com a do inimigo vira$6em incorporados sobre os
noesos. — Aquella natural inclinacao, se ja nao A
altiva vaidade ,- que os Portuguezes tern a seguir
qualquer novidade no trajar, fez com que todes
OS nossos soldados imitassem os Hollandezes, attri*
bnindo a contra-senha & galanteria, pondo todos
no chapto similhantes papetinhos^ com o que con-
fundida a malicia nao pode distinguir os livres dos
coiKiemnados^ e por este mcio quiz o ceo atalhar
aquelle damno, o qual o governador Joao Fernan-
des Vieira ia enfraqueceudo ^ aconselbado da sus-
p^la^ mas com tal eautela, que nao pod^rao os
estrangeiros inferir a menor desconfianca. Gorton-
Ike parte da for^a , mandando uma companhia de
Hollandezes no soccorro que deo a Paraiba, outra
para o presidio de TejucujKipo ; e certo na rebeldia^
e mcerto na oceasiao, mandou que em nenbum ea-
contro pelejasseterco unido^senao disperso e entre-
meiado com os Portuguezes » em fdrma que nunca
ttvassem occasiao, nem para a fogida, nem para a
L 25
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9M CMDMIO UWUML
offimsa. -*-T- Confiada o inicu^ bo paoto da traiiiio
aaio do Ajrraeife wi 9 4» Nevmbpo, pda parages
do6 Afogadoe^ a ajudaido da^^ senliaeHaa infieia, w
ewbo^ecw de noiM jnoA^ ao c^geaho de AAlooiii
Feraandea P^soa ^ afirQV]MlaflKlo*«e das caaas dm*
eng^Aho,. ^uj8 eala«aoi eroMs depo& de moitaa
tempos , para sair a biiscaMios b^' dia aeguiBtew
dte?a per fronteiro naqmelle siiio Pedro Gavakattli
d*AllMiq«rrqiie, o quail albeio da pemicaosa vizni.**
han^a ^ mandpu a doiis aaldadoa Gom urn alferea^
que ao romper da al^a saiaaam a descobrkr o campai:
o que fizerao diiigaDles, sem enconirarem yesugia^
de iaimigo; n^s passando pdas casas do diio
geiiikO) forao aaaaUadoa doa^ HoUandexea, ^{ue
y$m dAfsearga matarao o alfefts e uoi doa soldadas;
Diaa o outro pdde fugir e tooar a rebate , ao qual
aendirao logo oa capitaea das eateneias viziakaa
oam sBas eooipanhias,, e se oppaa^o valoroaa*
mtente ao esquadrio inimigo, que, coaifiado ma pe^
d^r o no pacto, avan^ira fturioso. Ouvio-se no Aiv
raiai a moaquetaria ; earrerao os goyernadapes ooaa
a soccorro ; a foi antao que o- aai^nto maior Car^
dofto, veftde que aa companhias dos HoUaodeaes
aa fotmovao en. corpo aeparado, e ^mpn^ya^ aa
cargas nos Portuguezea^ mapdott iflOttedialaQieafee
i?e4irar os UoUaBdezes para traz, e aasiuitse ataihou
ai traicao naquella hora ; a qa^ da todo se eyitoat
COM a chegada do capitao Antooio da Sttva y que
com sua tropa e a de oulroa moradoras conoeiv-
v^o J chamados do rebate j cobrirad d« manaiffa
oa traidores , que y sem manifesio risoo de aaram
diegokdoa^ nao podiao bzer a meiior aocao de iai*
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OAISI MOll) LUSflJUNO* SSI
tBff^rm. Vendo o Flanwngo que o phwo da traicao
iiniiu Mh^Nl^, e seirtindo-se san^ado db nosso
fciPrO) ^ ret?iroti, largamto o campo com basfante
perda , porque m nossos o lerario i espada aif
d«iirtre das casfla da fbrtaleza.
IV . FfM e»(ar oecasiao a mai^ arriscada , e a wxy
Hior BoeoedMft de toda» quantae tfe atpefla gtieira,
porque' eras pequew^ c«8lo sc atalhou irreparavcl
damno. Setle homeiis nos matfirao, e ferirao a
tnrniat eckico; mna baila de peca roeoo a copa do
eliap^ ao mettre de campo Andrd Vidal, sem mais
daatio qub urn leve aasombraraento dos oHios ; o
govemador Joao Femattdes Vierra e o sargento
mtttor Antonio Dias Gardozo sairao sem lezao ape-
tarde andareiB poreBtrenuvens de ballas dispondo
eomo capilaes, e termdo<Kymo addados em todo o
tempo do eonflioto ; foi -em todos igiial o Talor, e
aimilhanle a gKn4» : per isso ignat elogto a todos ^
derida. — Derxow o inmrigo no eampo trinta mor-
toa, que nao p6de retirar; oa ferrdos forao aem n»-
vaero. Na retfrada for maibr a perd», porque erao
08 golpes dift espada maia certoa que o do9 petouros ;
cemdellea e grande copia de feridosr aepassarao para
0 Arrecife, omia morrlrtpo tantos das cnraa como
das fcrida^. Na'pasaagem da fortateza dos Afogadoa
para o Arrecife os e«perou Htenrique Dias de em-
maeada, e com oa sens aoldacbs os sangr^m de ma-
tteira, que tev^rao «si»to qac ehorar na despedida
eomo M pel^ja. Aaaim pagou o NoHatidez a traicao
que ordio : (Wuto bem merecido de sua insolente
pOnMlia*
V. ©a estraogeiros complieea Ba ttaicw) receavao
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388 CA97MOTP umX4MK
ser descobertos, e por b3o buscarao meio de enc^
brir o delicto commeltendo novo crime, ou con-
summando o ja come9ad0« 0 capitao Micotao, que
era o mais comprometlido aa traicao, e outro do
niesmo tei co propos^rao ao goveraador que os sol*
dados de suas compai^biasy corridos de que os ti-
vessem arguido de fracos, os perseguiao e impor-
tuDavao a que Ihes procuras^em uma oceasiao tal ,
que na opiniao de todos os restaurasse na hoora
perdida , e que se uao deyia perder a que o teiopo
Ibe dava , porqne sabiao de cerio que o inimigo
havia de sair a prover-se d agoa doce , e deleroii-
nava esperal-o d'emboscada, e uao deixar HolJaa<-
dez com vida y ou perderem-na todos oa pcK^asiao ,
para o que mo queriao de sua8 s^ohorias mais que
a licenca. Os ovestresde campo com a credulidade
Ihes conced^rao a supplica, ainda que contra a von*
tade do governador. < — Suppunha o Esirater que,
se no ter^o bouvesse algnns combanidos , os mais
nao deixariao de ser fieis, e que iazendo elie a es*
coiha dos que haviao de levar ^ dous capiiaes,
Ihes cortava os intentos. Mandou formar o ter^o,
e aberto em duas alas o esqpadrao, noiando os ho-
n^ns que os dous capitaes apontavaOy a todos escu-
sou, e Ibes permittio sessenta e tres esUrangeiros
sorteados, que de todas as companhias^scolbao,
crendo que d'esta sorte Ihes dava soldados fieis para
a ^npreaa , e nao coi;npanbeiros para a trai^ao;
mas foi a supposifao falsa, coiia0 adfante ae vera.
— Pedirao um ajudante portitigoez que Ihes fraii-
queasse o transito pelos presidios de nossaa eatan-
cias ; e marcharao tomando o cuimifiiho do buraco
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de Santiago, no qua) o nosso sgiidante os deixou,
come levava por ordem , e se veto dar coma do
qoe patsava a seus supepiores. EmboBcArao-se
06 Iraidores entre os maiigueg ^ 6q>eraiido pelo
baixa-mary para que netla d^e o rio Beberibe
vao & passageiD ; e tanto que <chegou a bora se po-
Siftrao todos da outra banda, e ferao marchando por
entre as fortalezas do inimigOj, tocatido caixa, e
dando saWas/at^ its portas do Arrecife, saindo
-d'elle OS do supremo consetho a receb6l*o8, para
que o exempio da honra convidasse a imitacao da
perfidia. •
VI. Assim que o governador da Kberdade rece-
beo esta nolicia^ fez as diligiencias possireis para se
certificar nella ; e logo que teve certeza do facto
eofumunioou o successo com o^ mestres de eampo
Andr^ Vidal e Martim Soares , e concordarao em
que se declarasse ao mestre de campo Tbeodozio
Estrater. Incredulo o aehou a nova. Gotitra a ver-
dade da notkia instavao os argumentos da razao, e
parecia-lbe impossivel que se passassem ao inimigo
homens que de proposito ^colb^ra a cautela, com
a fiancadospenhores, deixaudo entre nosmulberes,
filhos, escraTDs e fazendas condemnados a satisfacao
da divida. — Certificarao-no do facto e da opi-
niao errada, dizendo-lhe que o nao chamavao como
a r^, senao como a juiz , a quern pertenda casfi-
gar o delicto ; e Ihes pediao sentenceasse a causa
pek> merecimenlo do proeesso , e quando a piedade
nao p^mittisse castigo adquaido, ao menos se Ihe
d^ase remedio opportunp. Ao que wspondeo Eetra-
itv confiado 6 confuso^ eomo fiel e oarrtdo : <r ]& tao
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3M Qunmn
» abottiiaaveia Ctttpa, ^mt^ tauiwidade devosaas
ii sealwriaa a pode faaer crhffA j e a dovkUirw aa
» oUMk^4MMltt<quandoaykM.maisailmAM..Fei«a
4 >eoai|rfie€a aaaseMa « 4ms 9n\4mim , que caaollH
i> com vidaatriaaaAre m decinwe^wfoatiimjio
% hmsu regiadtttoy io&Uivel i laga Baa iui
j» que ic|a .fiel. A$ laia ila ntlicia cone
» 06 daItiM|iiAates a aoiAe irraaNBaivei, am ^o»-
A ^^pie S€^ fm^ baataaHe, feaaa por<|iia leaadkia
» ainda c|ua aao aaiiifa^ ;. e aaawi julgo qiie lo*-
» doa asorrao |^ ^^kae ^ pois a iodaa eaU pa-
» vado o delicto^ e que nao isente a espada miidMi
4» fu'opia ptfiBoa^ pois accaitet aer cabo de ul
a genie, m -Cveiceo ^a Irisileza earn a pai^Oy e a4ai-
U^ada o diacttrso ae reoolheo para sua caaa eoaa o
sett aangeBto aiator FraBckeo dela Taur, lao ooca-
pado do peaar <}ue ae viv^ffao para o aenlimeDta,
Aao viviio para a coBumuiica^aa. — Sem dtla^
maiMloii Joao FarAandea Vietra fomiar os tercoa de
nossa aailicia, e deoatro d elles o dos estraBgetros, a
todoB 08 quaes se tomarao as armas ; dando-ae mo
£aesmo teoapo escHitiiuH) a snaa caaas , em as quaes
seacbaiao nao «6 claros ladiciMt aanao evideoies
pvovasde<}ue todM^erao complices oa irs^aa* Fve-
raQ-se aidsos a Paraiha, e ouiras paries onde hafia
CQiiipaiibiaa de es4raD§eiros, paira que cohi elloaae
eateouiasae 0 iaewaia , e se-ffemeitesaeBi as armas -e
soldadoa aa ihmao Aiwwiial; «s quaes. birefteaiaBle
cbeg^te^ e eoBi oiuiJbeiiea e iilboa ae iwiAirao
para aSahia a diific#te«Dida,ga^ef3iA4(Mir|^al4lo
Cstada^ iO.«aalra de oampo ThecMloaio £airateRy>e
seu sargoBla Bsaicr iFraAnsQa de k Xoup^ passados
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•Igniift liiae ^ aloan^^rfe iioea^a para 9e'|)ftSBateiB t
mr vir na fiaMa , ond« o goveimador g^al o& r^^be^
€0» a^anUio^ 6 aocoaiibodoa ocfm !h<mi% xkts imb-^
fiiw |Nlstt>8, em qnt imbio sn^rrido, datidb4b66 uitt
Ylii Gom urn wosmo cuidado ae «ta«t6lava «
descobrto o inimigo ; fKMittii a oosadik dos P<irtih»
guetes nompta pek diffiouldad«, taoto tjue Ibe mos-
tMrra a ococifsiao. Pei%ii«dido& per Henrkfiv^ Diaa? 9Pi
detepmmSo M nos^A gotetnadore^ e<fti 'ferir o HoV
laridke; iwi parte maid 'sensiTeL Curtuitla^a sair da
fiMriaieis* dos Afogados a reeeber e <K>mb«ia^ cm
9occorto^ y que do Arrecife ttie maudavio Codbs os
sabbados, para o sustento de foda a semana. Mani^
cUirio^se pre¥67]ir>a^ nodsas estancia^ de gente e de
vigilatickiy para que por qfualqiter parte (Spue o ini^
migo detet^tninasseo soccoi^ro lb*o oortaase a'cspadai,
Disposto j4 o assalto se teve coatax^om a fogida^ a
para coHar esta $e eiBt>08dKra6 m mesmo^ goferna^
dores jtffMo k fortaleEa, com kitMtos de a entrkrem
d'envolta com os Hoilande^es, na occasilo qua ee
recothessem de$trocados« per^oidos. Amaiitieoed
o sabbado eseolhido, e o Flamingo nS^ siio no
tempo ea&tymado^ ou porqfiie cotheid algum indkiei
ou po9^ue algum outromcftdeMe Riealtaraua ham
aeuio cote du» tioras de sol, a miA' auificiaBia
66colta. Deo uaa emliosoadas de Ifeimque Dios ?
p«^eo a ttiaior parta dos viteras ; deixou dMe
mortote ti^ 6apdvoa$ tfdaaaro^ado^cMm leVermat*'
t^ficia fogk>. Mio M 8eg»ido pe(a amiMidio daa
ballad^ que^todaaad fertariittaa iatotigavcrutavtao
0^f. \(Aim Hani^qoe Maa para a SM'eMincia,
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MS GASXilOI^ LOSITinQU
a onde no mesmo tempo chegario o$ govemadorcs
com a sua gente ; os quaes, veodo que o inimige
com a f iiga se desviiira do la^o, deixarao as eml)05*
cadasy e por eutre o mato sairao ao lugar do coa-
flicto , desejosos de desembainhai^m as espadas ;
diligenck que^ se nio chegou a coiicurreDcia do
combate, servio a congratula^ao da victoria.
VIII« Ha 8uecesso8 Lio e^tranbos, que nSo sabe
o juizo humano deixar de os atiender como prodi-
giosos. Muitas vezes se pepetio nesta hisCoria o
nome de Sebastiao de Carvalho, que escond^ramos,
se £5ra possivel; mas como ? As imprensas o tern
divulgado, e outras pennas primeiro que a uossa o
descobrirao; e no que escrevemos seguimos memo-
rias, e iiao fabricamos successos. Nao se fez menos
lembrado o autor da ruina que o da restauracao :
a fama igiialmeate voa com aaazas dageaerosidade
e da vileza. Foi este bomem o que revelou aos Hoi-
landezes a primeira determina^ao da liberdade;
foi o inimigo da patria mais peruicioso que todos
OS inimigos d'ella , porque o inimigo conquista , o
traidor entrega. Deixou o sobredito bomem umas
casas feitas denovo, espacosas e bemobradas, de
pedra, tijolo e oal as paredes e pilars dellas ; es-
cadifi e porUes de pedra lavrada; oi alicerces soU-
dos, OS madeiramentos firmes; o que fazia beliouo
ecUficto, em qae.{>er0ianecia a meiotpria de seu
aatOFf que se cbamavao casas de Sebastiao de Car-
vaUio. Mo tempof.em que succedeo o que esere^e-
moB , se apoaenlsva nellas o capitao Paulo da Cunha,
o'qual, na ocoasjao que.acabamos de referir, qu-
viado o estrondodas cargas;^ artiH^aria, parlio
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QlimMOTO UlSlTiLMO. MS
com a geote daseo preaidio para a parte onde o
chaoiava o combaici; a. di^taocia do caminho Ihe
oao d€o t^mpo a ehegar ao da peleja; e oonteute
com a rela9ao do sueeesso $e voltou logo para o sea
quartel. Tres kovd^s de tempo Ihe poderia gastar a
deten^a ; bufKX>u as casaa pom os olhos^ e so as vio
com a memorial reduzidos os materiaes a um cu-
mulo de carvao e <iuiM, tudo consummido tao sem
tempo I que a estar a materia disposta^ e natural-
mente sujeita ao fogo nao pod^ra conaummir o iiv-
ceadio em tr^^ dias o que gastou em (res horas.
Eatrou a coosidera^ao . a iazer juizo do caso y e
todos o ayali^rao por oastigo do oeo , porque se
nao deixou ver o castigp: senao pelo estrago : mos-
trando este que aqueUe se offende taJDdo d'uma
traicao iugrata^ coma d'uma torpeza infame.
IX. Neste tempo chegou a Bahia uma caravella
de soccorrO) e ueila uma companhia de soldados ,
que trazia do reiup para guarni^ao da mesmi^ pra^a ;
seu capilao de mar e guerra Mauoel Ribeiro« Para
que da Babia fizesse yiagem a Pernambuco a pro-
Teo com abuudancia , e. despachou com iHrevidade
Qgoveruador g^ral do Estado Aatonio TeUes da
Silva , com expressa ordem que, nao podendo to-
mar oporto deN^zareth^ arribasse a Bahia. Largou
panno o capitaQ Manoel Ribciro^ naTegando na
direitura do postp comignado , a^istou tres naos
flamengas, que Ih^ d4rao ea^a tras xlias, oo-fim
dos quaes se aqhw Ba altiyra do poi[te> do Gai^vo ;
arribou a eUe, topiou faUa dps^movadores*; e co*
nhecida app|9[^]^l4Wid«de4a'Sa9eom>» ae deUberou
em faltar ao preceito por jiao faltar a nocessidade.
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Entrou a& barra gran^, ^Aeo reterte de mmi diegMda
com tmwi oarga <le mosquetlnria ; acudirao m mor**
dbrcB tfaqueie <iestrict« , qm jimtoe cmn <» sd^
dadee e com a gen«8 do mar, dekarao em teita tiMit
a earga, e o c»piiiK!^ c s^adiw yiara a comboiarem
al< o Aniiiai. BespaclKm a cmbareft^ ua segukite
fiofee para a BaMa, onde chegou a sailvamen to,
oonio «afliiiem ao Arraial o6 meMimenios, nrnm^
coes e rofipaa da soc»ito ; em mna « oatra ]^rte
foi tetwiada a PcsohicAo. — Enttcgoo d capitao Ma-
nuel Hibeiro o soocairo aos nossos govemadows ,
c c€wi «Ue diwrsas cartas A)S IfoWandfews prisio^
Aeiro» que eataveo na Bahia, escrites e efiFiadaa
com beneptecito 4o go^?«rnador do Estado. Entre
eUas vifuMto outras reme^idas a^^ conaelho so^
premo do Airecife^ mMi d«as quaes era de Hem'ique
HisB , Mtra do capitao mayor des Indios , e outra
de aeu sargento maior. (I-embrado dere estart)-
leilor que forao estors as principaed pessoas que st
pend^o na occasiao de doM Anna Paes. )
X. Descjava Joao Femandes Vieira sabei* o que
no Arrecife ae pffsaa'va , e aprm^ettou esta oecasiao
como mais pmpicia. Maadcm preparar e ajudante
Cardoao^ sujeito em que se achaA^ao 09 requesiios
necesaarioa para o Aegocto -e para e pwtexto;
Chegoa aa Airrecife, foi bcft recebido , ainda qnt
torn a eautete de«nfrar ^»^m olhos cobertos ; entre-
gou as oatM^, e f^edio Itcenca para entrcgar a Ro-
diHg^ de BaitMia^ q^e alH ae teoYiAfk prisioneitt) , o
8O0c<9Prre e rafiKMo qtie sua mulher Ihe mandaTa".
Foi MMiito Ibemliwpedadb pw ordei& dos do eon-^
aclbo maippmib f M viaitkdo pbr todaa as mYitfaered
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do8 pn^oneirM, de euja Ul}erdacle ee tratma nm
oaart«i;'6 foi enltB' ifiie Matrgvita Maleanaes,
amlher flk HBoriqiie Hbs , disse qoe eslava tMi
gwaaAm obrigaoow ao ^ttroader g^al «k> Sslado
•pdad DauiiaB iMvces e £enFei«ea cpie aeu BMnddD
«l'elle irecebk^ «Beareouido o fmcroao'eililo com
({«ie.tMtarva;a todos^oa pnatvnetrosi, o ipe era dsro
f<ytniMiiiho*de saaf^raodesa d'aniiao e d»aKi iUue-
Ire ftaBohnenlOk ^'^ Lidas aa carua-«fla cohisclla^^ e
QOMsferada a mai^m d'eilaa, aebanio qiietiao am-
vioba tufonitt a eUas por enlao ; e *wm am
aoordo BMndaraa d&zar ao eniriadii quea icOflfdi-
ea^ao vie nfgocies, com 4|iie de preaeaile se adMMo,
impcdia a brevidade de eeu despaeho ; n>aa <|ue w
aa CMidesB que trasta Ifae permetliiio a deoeiMai de
Irea diu , esperaase^ e as fevma ; <piaiodo nao , ae
poderia veltar^ por nao <(xceder oa Icrmostda Koeii^,
oepio de que elles^ ao tempo apostado, mm fakai^
riao -com a pontualidade da resposla* iauigiiiavaD
€8 do ooBseUio auprenae que o ajadaate rinksk por
aapia, e por iafio uaarao desta malksia para ae aaaa^
gutavem da suapeila; maaaajwiante, qneconheoeo
aea inftenio^ Ihes reapondeo que oa soldadoa nao
serviao como queriao, senao como Ihes ordeMiWio>;
qua iraaia o pnoo fao eoiMo, que aao paasava d'um
dfaiy e qaeaosiai Uiea pedia licen^a parase vchatCj
e jimtamealtf para poder camprar umaa ptuau» de
caHwabo, por raaau qse deseja^^a aruilo qoaamm
aeahoriaa o oeabecraaem por seu obrigadD' aaa-'oa*-
jtaanea ^iie d^aae o tempo. DiaaimuUi]JM>oa io^^
vefuoa intelUgencia earn oa apfiteaMadamiaadia,
e4teiKAraopaniroa)udMCle;'0 <faal eamprafli Oa
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396 G49TIIHyiO LUBITAna
•pluBias^ e oom ellas no chapeo saio do Arrecife.
Poucos passoB fora da trinchetra vio no caminho
uma carta oom o sobrescrito em.flanieDgo; des-
conheceo a lingua e a letCra , mas nao duvidou que
para ser achada a fieerao perdida. Cfaegoa ao Ar-
iftial , conUm o que Ihe hayia ^oocedido, e o que
tmha d^servado ; entregou a carta, a qoal ae ah^o
publicamente^ e nella se achirao duaa gaselas em
liog^ Aamenga, e uma carta para o meatre de
campo Theodozio Estrater, que eUe leoem toz aha ;
cojo argumento se resumia em o afiBrontarem com
appellidos ignominiosos, dando-lbe em rosto com a
efitr^a da fortaleza de Nazareth, e oom ser traidor
ao8 Estados e a Companhia, servindo sem pejoaos
aiiaugos d'ella, e outras cousas d'eale lote ; por^m
escrito tudo em frase tao barbara, que igualmente
fenfasfiou com o estilo e com o assumpio. Queria o
-Estraler deapicar^-se , como sentido , mas os nossos
Ibe :aoonselharao que ae yiDgasse como discrelo.
For Alberto Gerardo, que servia de lingua, se man-
dirao ler as gazetas ; na parte d' ellas, que nos to-
cava, erao tao evideotes as mentiras, que se julgoii
.oompoai^o da ignorancia todo aquelfe artificio da
malioia.
XL Mo porto do Arrecife estavao surtas nesta
occasiao muitas n^s hollandezas. Dous soldados
nosaoa^ filhos de Pernambuco, se. o(Eereceiio ao go-
yemador. para as queimarem, o que Ihediss^rao
aer4hes muito faciL E sem communicarem a nin-
fj^em o segredo^ se aparelhMo oom loda cautela
.que o oaao pedia e que a licen^arecommandaTa. £m-
barearaa*«e n'uipa jangada, que tom^ao na bar--
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attmsKfto unMTAno. 397
reta , oom todos 06 materiaes necessarios, e fayore*
cidos do escuro da noite, e do surdo do remo^ sem
serem sentidos se acharao entre as ntos mimigas ;
escolh^rao entre todas as doas mais alterosas, em
cada qua I pegaiio um artifieioso composto dos male-
riaes mais obedienies ao fogo^ que ateado nellas, co-
me^arao a arder com tamanhas labarcdas que as Tia*
o espanto Ciim os olhos da perda^ primeiro que se
lembrasse do remedio que pedia o perigo dos mats
navios. Foi grandea confusao dos inimigos asrim
no mar como na terra. Innumeraveis barcas sairao
a atalfaar o damno, que fora irreparavel se hou-*
vera qualquer venlo que soprasse o Togo. A muttas
Baos se cort^rao as amarras deixando-as a vontade
dos mares, appellando da voracidade d'um elemento'
para a eolera do outro ; os que virao de terra o in-
cendio tem^raoque das niospassasse aos edificios,
e fogirao para a cidade Mauricea : nenhum se lem-
brava'de fazenda, cada qual attendia a eomtrvac^
da vida. Siicced^ra o que se receava, se a viveza da
diiigeneia nao venc^ra a do fogo, que no esirago
d'uma s6 nao se consummio , e na menor parte
d^ourtra se atalhou. Os nossos soldados, amparados
da confusao , yararao na praia a jangada , entre a
porta do Arredfe e o forte de Diogo Paes ; sairao
em terra, e earregarado-a as costas a passarao da
outra parte da restinga d'areia ; lancada outra yez
ao rio Beberibe, yogarao para aestancia das salir
nas ; mat como as sentinellas nao estavao perveni-
das 9 e uma d'ellas era soldado btsonho , apezar
d'eHes gritatem que erao amigos Portuguezes, dis-*
patou 0 mosquete^ e quebrou uma pema a um dos
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98M«4oB 9 de cttja feridai ostore hem prostmo 4e
OMprer, mas em fim etcapoii oom ¥idb. O govra^
mdor JoM Fomaades Vieimoe recebm nos bnicoB,
mbiwAB^ nao |HMkr ehegar com a joreono oodr
dN^va a eafimacao do servico. Uapn a fbrtinHi
con «N^s doua soMadoa o qii« cuBtmntt c<mr tados
a» que ofcrao por offidrta, porque nao so Hies ntgou
a satiifadio senao que turftbem Hies escewko o
Xli. Chegiraa nestai eoeastao avisos de Cunhai,
petos quaes entendtrao os nossos gorvemaderes q«e
o- HoIIandez, ajiidado de Pero Poty^ recolh^*a a si
todo o gado que pastava na campenha , para aewh-
dir com elle 4 fome do Arreeife ; e que andava d»
senhor do campo que ronbava e destraia todb a
am vostade, sem que teinesse a menor resbteaeia ;
paasando sua coofianca a aineaear urn so as poroa*
^ees do Rio Grandev senao as da Paraiba. Refi^escou
eMi noTHa dos da passadaohaga, «pelo nao ahrir
oom nova fertda^ despacharau (no principio de De-
Maoibro) a dont Antonto PbHippe Canaraa com o
sen terco^ e eom duz^n^oa Tapvyas auadtiares, oam
ordem que pdos destrictos^dfe €unkad e Rb Graarfe
oastigassem a fierre e a fo^ ifoUandezes e Imtios
seus pareiaeSy e com cxaetadtUgenda procurassaot
seeolher todo o gado , assim rcnsontada como de**
mestioo^ e o concbizissetn para o Anraial. — Parian
sem drniona a nossa gente, chegpu a V^mShetj e
depots de ajostadaa cotn o goremador aa coava*-
niancias da defensa e da mrpedi^^ oontinnou a
HMFcba , lerando cooMigo ciaoaenta konena ex-
pwtoa e pratkos nas Toredaa do terveno, guiadoa
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dos quaes cheg«F«K> a eampaQha do Rio Gnonk.
^ia houve vida a que perdoasae a eapada, nem fii«>
aeaad^ a qi4e aao eiMiaiMwiiaait o fa^, reoeband^w
nmersLYem paciente$ a uia »efine> tempo a m^/im e
o golpe. Oovio-se o golpe do eastigo dettiro d» Smh'
tilezA do cofHram, Kstreoieceo ao prwMiro grtte^
eeobrad^ do medov dfet^roainou satisfezer 4q«eixa
oam raider inaolimcia que* a do aggravo.: pedio
auxilio 4 fortaleza da Paraiba, que aggregftda »
Qm^ ^qtiie tinha feeu xtm grosso de oilo ceniM min
i§if>$ : poder wm que 90 iiDaginava aenbior da vic^
tmifiiy, porque suppiwha debil a peaisleocia do re-*
pnw. Tomou O'pulaa as for^as peb bpa^ d& T«jUo^.
^,MK> pttle do valor ; e pagou a condewaa^ q^B
\L0 dederminoii aeirra.
XIII. ResuAiia'-se o uumero de iK>86a gmte e^a
$ai» cantos hoqoeQ^, duaeoioa ctacoenta Poitutn
guMaa 6 tr^azaoto^ eifieo^nta Indio^, obedieatoa
WIS 9 ottlros ao govevm^^r dom Anioaio Philippe
GftBiarao* Oc(9iipa*ao para quArlsl o ouieiro de uimi
ctmpiua quet atrawefisava uaa pequ^no ria; qiM
pela froiMe Iba aarviacfe cavn^ eo» baa^nta/i»nda»,
e pi^ parte coQtram um deiia» iaboeal. ^m Urmsh
de triiMslwiira ; deniro da labocaJL e ckkcio se alojava
ai^^ssa gwi(Q eoiaecilrada e saida para o none a»
parft a sid. Cevtiiticado o Camavao da restiMufao. ,,
QpBa que o ioknigo se ppeparsiva para o lais^^ar,,
gmuTttoeeo^ o amaiMoio oa forma segiiiAie :. etla
com o&'oapUaes Jom Barbozo Piolo e Joao de Ma«*
g^lhae& com as suas QOiiip0iihiaiS e ^aria de seua
lodios tMaarao a ^ua coala a defeoaa da ejutrada
ptto .parte da wt, oo«io loaia pvoiLiiua a iave&uda.
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400 CASTftlOTO LtrstTAna
do iaimigo ; e ^ dn parte do mnrle deo ao capitao
Jacome Bezerra ^ com aua companhia e a dos mo-
radores que ae (he tinhao aggrcgado ; a frente, que
defendia o rio , gnarneeeo de Indios y como tarn*
bem o (abocal que Ihes defendia as costas. — Mar*
chou o inimigo contra a nosaar fortificacao, avanrou
k trincheira que defendia a entrada pela parte do
nu\j oobrindo com cerradas cargas de mosquetaria
as fileiras de machados e alfangea desiinados para
romperero a eetacadada irincheirQ, e franqwearem
a entrada a sua gente ; por^ ferao repellidos ] ehs
repetidas cargas de nossos soldados depots de am
oonflicto que durou por espacb de tres horas*
Apezar de que o iaimigo perd^ra grande numero
de mortos e feridos, nao desistio com tudo da em-
preza ; fez p^ atraz, e formou^se em trea balalhoes ;
com urn amtentott o combate, com osegundonos
mandou cortar pelo lado direito, por onde nos de*
fendia o rio^ e com o tereeif o nos pretendta aCacar
pelo tabocal, que formava a noasa r^taguarda. Nao
cons^uio o seu intento, porque, em quanto os
Bossos rebatiao os ataquea do primeiro^ rec^bia o
aegundo conaideravel damno dod Indios frechetroe,
que estavao preTcnidos para a defensa^ e o terceiro
c&io era duas emboscadaa, que o esperavao ; e dea-
composto de duas cai^as cerradas e bem succedidas
ftigio desordenado. Magoado 6 Flameugo de tantos
goipes ix)cou a retirar, e achon bem poucos dos
«feu8 que o podessein seguir; o que visto pdos nos-
sos Indios levantarao um barbaro e conftiso grifo ,
locando juntamente sens bellicos instrumentos que
«tre dies i signal de inveatir; enletideo o Hoi-
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landez qua ne disppnhaa a aair do alojameoto e emy
regalH), e se poz em desordenada fuga, oa qua}
todofi obedec^ao ao medo , uenhum advartio a fak
sidadeda causa, que nao conhac^rao aenao dentrq
de aua fortalata ; a on^ o aegui*o Ibea deixou. virat
a cara para verem o engano. Gento e quio^ mortoa
deixou o Flaatengo w> oampo^ e levou quioheotot
&ridQs { da nos^a parte oao houve morte^ nem fe«
rida de consideracao.
XIV. Foi eata viotoria^ em sou taato^i nao so
digna de applause ^ senao tambem de noo^, peU
deaigualdade do niunero ^ pela duraiQaa do cooQictOi
pela qualidade do despojo, e pelo esirago do v&tkr
cido» Erao 08 inimigos a ter^a parte mais que os
vencedorea^ guarnecidos de mais e melhoreaarmasi
poupadofi, e no terreno de seu dominio ; a porfia do
con]A>ate, demuitas boras ; o exoesso da perda^ taato
quanto vai de tudo a nada ; os despojos toda a di&
feren^a de armas e muni9oes , e toda a bagagam e
roupas que trazia o contrario/; o valor doa vjeto^
rbsoB tao advei^UdO| que depoisde featejarem a Yto-
loria ae deixarao estar quatro dias no campo do
combate; os ef&itos de tanta utUidade que bumi*-
Ihom toda a. soberba do inimigOy e assegurou os mo^
radorea de todo o receio. — Em todas as occasioes
pasaadas se tinha moatrado Dom Antonio Philippe
Gamarao digoo de sua fama i por^m nesta exoedeo
tseu merecimento a toda a fama de seu'nome. Em
iodos OS enoontros resplaudeceo aeu yabr ; neste
seu valiM' e sua virtude, porque, segundo todos
m notsoa oonfessarao, foi a victoria mais resuba de
ana oracao que de nosso braco. Primeiro, retirado,
\. 26
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gjrtiou timitJtsv horas com Deos, que saissc a pelejar
com OS inimigos ; e como se da ora^ao trouxera
oertezas da victoria , Ihe l^rao os seus no sembhnte
o soccesso do conflicto. Dispos como experto ca-
pitao, e pelejoQ como valcDte soldado ; assim lou-*
vou e agradeceo a todos os soldados e officiaes o
bem que haviao obrado , como se na occasiao nao
a tivera merecido ; a cada itm em particular attri-
buio a gloria d'aquelle diaj e vetxkdeiramente ,
que se houverao todos neste combate com tanta
geniileza , qi>e nao fioou soldado que podesse in-
vejar os louTores que vira merecer aos compa-
nheiros.
XV. Retirarao-se os nossos para a Paraiba,
c^igados da falta de municoes ; onde os deixou, e
a sua companhia , o capitao Joao de Magalbaes ,
que mnito a ligeira se partio para o nosso arraial
de Pernambuco, a leyar a nova da ^ieloria, e du*-
zentas cabecas de gado ; e em primeiro lugar a
pedir municoes para voltarem sobre a fortaleza do
Rio Grandly onde o inimigo^ corlado do ferro e do
temor, fez a mesma diligencia , inferindo de seu
estado a nossa resolucao. — Embarcou para o Ar*
recife os feridos de mais conia , para testemunho
do estado e do perigo em que licava a forca , des-
tituida de presidio^ d'armas e de municoes, exposia
a cortezia dos Portuguezes victoriosos , vingativos
e senhores da campanha. Esta noticiase transmiltio
confusa aos nossos , por meio d'alguns negros que
se passirao, antes que chegasse o capitao Magalbaes ;
OS quaes, sem saberem especificar outra cousa mais,
di?«erao terem vistoentrar ires baroos carregados
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GAfiTmOIO LVSlTAIia. &0S
de feridos que vinhao do Rio Grande, e davao por
novas que em uma batalba forao mortas tantas^
pessoas y que era geral o pranlo na povoaQao. Da
chegada do capilao Magalhaes^ e do que d'ella re*
sultou, daremos conla a seu tempo » que foi no
Fcvereiro do seguinle anno de 1 646 ; porque nos
i necessario relatar o que nes(e meio tempo succe^
dee nas outras partes.
XVI. Partido Dom Antonio Philippe Camaraa
com o soccorro referido , assentarao os jiossos go-
vemadores, que se alojavao na Varzea, representar
a majestade d'El Rei Dom Joao o Quarto o estado
em que de presente se achaya aquelia e as demais
capitanias da costa , com miuda relacao dos suc-
oessos e das finezas, com que vassallos tao zelosos de
seu seryico Ihe mereciao proteccao e auxilio. Para
negocio de tamanba importancia eleg^rao dous su-
jeitos, em os quaes concorriao os requisites neces-
saries para similhante emprego : forao estes Fran*-
cisco Gomes de Abreu , e Francisco Berenguer de
Andrada; para cuja viagem se mandarao apprestar
duascaravellas, em que,dLvididos, partirao do porte
de Nazareth meadoDezembrod'esteanno. Andava
o inimigo senhor do mar, e a traicao (ao vigilante
na terra^ que nao pode a dissimulacao e o recato es-
cusar o aviso que se deo aes Hollandezes. Ainda as
duas caravellas nao tinhao perdido a terra de vista^
quando a tiverao de duas naos inimigas, que arri--
bando sobre ellas Ihes davao caca ; a de Francisco
Gomes de Abreu , melhor navegada escapou , e
d^gou a Lisboa a salvamento ; a de Francisco Be-
renguer de Andrada vio-se laoacocada, que foi
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fta/i CASthfOtb I.TJWTAlfO.
obrigada a varar em terra no porto de Tamaadai^,
onde se salvou a gente , e oa papeis de maior
importancia. Per falta de soccorro e amparo se
perdeo o vaso; o que sertio de nos advertir da im*
portancia e utilidade que se seguiria de haver bo
porto de Tamandar^ uma fortaleza y para remedio
de similhantes casos, e o muito que convinha for*
tificar-se^a Nazareth, e intupir*-se o fundo da Bar-
reta. Tudo se obrou em bneve tempo, como em
seu lugar se dira.
XVIL Em 03 ultimos dias d este anno chegou
ao nosso Arraial uma apertada ordem do goyemador
g(h*al do Estado Antonio Telles da Silva, pela qual
ordenava aos mestres de campo Andr^ Vidal de
Negreiros e Martim Soares Moreno que obrigasaem
OS moradores a cortar todos os canaveaes do recon-
cavo ; e Se alguns recusassem , Ih'os mandassem
tallar por seus soldados^ sem excep9ao de fazenda,
nem de pessoa. Esta resolucao que pareceo provi-
dencia, foi desatino : assim errao os homens em
seus discursos. Fundou-se o decreto em prejudicar
ao mimigo, tirando-lhe com a materia a esperanca
do lucro, que o sustentava na terra, e por este meio
obrigado a desemparal-a ; e aproveitar aos mora-
dores, encorporando-se com a nossa gente de guerra
tres mil sette centos e cincoenta homens , que se
occupavao na moenda de cento e cincoenta en-
genhos que tinha a capitania de Pernambuco ; e
com 0 grande numero de bois, que ficavao livres
para servirem ao sustento do exercito • por^m o con-
selho nao comprehendeo quanto maior era o damno
que a utilidade, que se nos segnia. Para destruir
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GiSTAIOTQ U^WTANO. 405
OS iuimigos era incerto o meio^ porque ficava con-
tingente o deixarem ou nao deixarem a terra;
para os Portugaezes era infallivel a perda, porque
destruidos os geoeros perdiao todo o cabedal, para
sustentar a vida, e para coutiniiar a guerra. Com
outro maior perigo pod^a por em balajQ9a a fideli-
dade dos moradores , levando-os a desespera^ao a
buscar 00 inimigo a conserTa9ao de que os prlvava
o preceilo ; por^m experimentou nesta occasiao q
maudatOy sem excusa e sem replica ^ a obedieocia
d'aquelles fidelissimos vassaUos : nao houve algum
que esperassq a for^a, seudo eutre todos o primeiro
que medio os incoavenientes do commum , e des^
presou as ooAvenieiicias do particular^ o goverua-
dor da liberdade, cujo exemplo animou o decreto
e desarmou o reparo ; tanta opiuiao tinhao aquelles
moradores d'este homem, que uao dizia^ nem
obrava oousa a que faltassem j n#m com a obe-
dienciai uem com a imilacao.
XyiU. Eatrou o aauo de 4646 para os fieis
ajkigre^ t para os berejes^ iafausto. Tinha ch^ado a
nossa fortaleza a sua ultima perfeicao, sem que em
todo o tempo da obra tivesse o Flameogo a menor
DOtieia; o pd[*imeiro dia do aono e do mez, que com
o mysterio Ihe deo o nome de fortaleza do Bom
Jesus, f^tejirao os nossos com saWas de toda a ar-
tilbaria de que esiava guarnecida. Das mesmas
causas de que os Portuguezes tirarao a razao da
akgria, tirou o HoUandez o motivo do espaato,
fohresaltedo e coaf uso de ouvir tanto na Tizinhanga
do Arrecife» ariiUiaria tao grossa ; d'oode llie nas-
i^ gTMde receioi preveoido quaes sqriao as coo-
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406 CASTRIOTO LUSrrARO.
sequencias. Para a nova fortaleza se passou o nosso
Arraial, deixando o alojamento da Varzea ; e muitos
particulares levantarao casas, concurrendo toda a
diversidade de gente, de que se serve a republica,
tanto da mecanica como da mercancia , de sorle
que em poucos dias se vio no circulo da fortaleza
uma nnmerosa povoacao cingida de cavas , trin-
cheiras o estacadas , que Ihes serviao de mures para
a deFensa, e de termo para a extensao.
XIX. No mais ferveroso da obra chegou nova
ao governador da liberdade de como em o porto
de Nazareth deit^rao ferro uma caravella de mer-
cantes, com algumas municoes e gente que man-
dava e governador giral do Kstado, e um barco seu
que voltava da Bahia , a onde o mandara carregado
de assucar, com ordem que todo o procedido se em-
pregasse cm roupas para cobrir os soldados, que
andavao despidos. Partio logo em companhia de
Andr<i Vidal para a Nazareth, deixando a fortaleza
do Arraial e o governo das annas entregue ao mes-
tre de campo Martim Soares Moreno. — Aprovri-
tou-se o inimigo d*esta ausencia dos nossos gover-
nadores, e intentou levantar um reduto entre as
suas fortalezas dos Aflbgados e das Ginco Pontas ,
em frente da estancia de Henrique Dias , onde sen>-
pre achava castigo para o atrevimento. Saio do
Arrecife com um grosso d'infanlaria, e outro de gas-
tadores , com todas as armas e apprestos necessa-
rios para faciiitar a obra. A esperteza e promptidjk)
das sentinellas deo rebate a Henrique Dias , e este
a Martim Soares Moreno, communicando-lhe pes-
soalmente o inlento do Hollandez^ c pediiKlo-*lhe
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GA6TEI0T0 LUSlTAHa 407
soccorro ao primeiro signal do combate , porqud
com OS seus soldados ia investir o Flamengo ; para
o que levou do Arraial as municoes necessarias.
Chegou Henrique Dias a sua estaneia ; vio que pos*
tos em armas o esperavao os seus soidados^ passou^
se com elles i outra parte do rio , e por Teredas
desusadas , que o mato escondia as fortaleias ini-*
migasy chegou a avistar o contrario sem ser sen-r
tido; o qual (inha formado a infantaria em esqua4>
drao cerrado^ com o qual cobria os gastadores,
occupados em cortar fachina, acarrelar maieriaes
e abrir sanjas para o reduto, que inCentava £abri-*
car. Dividio Henrique Dias a sua gente em ires
partidasv para que a urn mesmo tempo e por di-
versas partes dessem sobre o esquadrao hdJandez
tres cargas cerradas. 0 nao saber o Flamengo a
que parte havia de fazer rosto , com o desatino da
▼fzinhanca e do repente j fez a industria tao beni
sortida , que breremente vio descompostos os sol-*
dados com as ballas, e os gastadopes como estrondo:
de sorte que uns e outros comecarao a deixar o
campo, que de todo Ihes fez largar a segunda carga,
fogindo da terceira para o abrigo de suas fortalezas,
as. quaes despedirao de si um chureiix) de ballas,
de que OS nossos se livrarao com virar as costas ao
perigOy satisfeitos de conseguirem o intenlo, e de
levarem comsigo a maior parte dos instrumentos^
que o inimigo troux^a para a f^brica. A perda
contraria, s6 quern a padeceo a soiibe ; os nossos de
nenbuma se queixarao^ porque a nao tiverao. Com
toda a presteza remelteo IVkirtim Scares o soccorro
pedido ; poi^m desnecessario^ porque chegou i es^
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AM GABTium Lusiiiaa
ttncia de Udnrique Dias, quaiido elle com sent
soMados descansavao do trabalho, referindo as pai^
ttculaiidades do aucoesso. — Ghegou o aviso ace
Bossoa goveraadores ^ qtiando estavao em Nazareth
eompraudo e commulando generoa para o benefiek>
da guerra e dos aoldados, tudo a ouata da fatenda
de Joao Feraandea Vietra ; os quaes ^ dada brevi»*
sima expedkao ao negooio da fazenda^ acudirao ao
da guerra; cheg^rao ao Arraial em 43 dc Janeiro
pek meU noite ; e aem $e apaarem , forito & es«
UDcia de Henrique Diaa j do qual ae informarao do
referido encontro e do bom auncesso da noaaaa
armaa^
XX« Nao desisdo o inimigo da sua prefeni^
de levaatar uin reduto , e aproreilatido-ee da eaca*
ridade 4bb noitos^ em duaa le^aaitou o prelendido
reduto > um tiro de mosquete da sua fortakza das
GinCo Poniat^-escondendo o rumor dos gastadores
dftbaixo do eslro&do da arliUiaria de auas pra^pas^
que aem iifelerpolAQao fez jogar as ditai noiles^ vare*
jando a ciroumfenwcia do sitio oada setoabattiava«
Em 22 de Janeiro mio o HoUandez com um groaao
esquadrao de aoldados, e grande nunero de gaa*^
tadorea a oortar o wMo, que pek iMiMidao nao
deiaaya livre o laborar da artilham^ nem pelaa
emboscadaa aegura a serventia do reduto. Mai
tinhao pegado aa ofara, quando Henrique Dias^
atiaado deauas sentineUas^ pogou das armi», e aer-
Tio de muitas e ooBtinuas cargas de mosquet^ia o
esquadrao inimigo. — O ^cho doe tiros deo rebate
ao Arraial; Joao Fernandas Vieira, em quanto ae
preparavaa otttra gente aaio com a sua companhky
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41000090 uniTAiia 461
mmtio ao cmflioto na umfo em que andava mats
aoo^so, 6 qne^a ftkhade polTora e balla ia ^ixando
fias maos do iiii0iig<^ ^ victoria ; com sua pfettn^a
m8)^rou iiOYx> valor nos aoldados, o6 qua«a crao
igtialmepie ankMdlos pelo P. Fr. Joao da Ae»
earreit^O) c oonaeguto tonter o mimigo atdcpia
ohegasae o «argeiito aoaior Anloiiio Dias Cardoso
'COm trea coavpanfaiBa; Reeobn|rao «atao todoa oa
i»osM&ttovoa lileDtoa, a dapoia de qaatro hoi«t ^
naiMenok arrandirao ^o iauMig^ do cai»po , a o
perseguiraa atd xlabaixo da aitilharia de aitaa forta^
lezas. Mandou entao o goyernador iocar a retirar;
reoolb^raoxae tddoa a aaoa poalot, eaii ti^attoa trea
lAorlM a qvMtM f^idM. 0 eirtn(|o do mim%o fm
^ratide) portor a cnatnmada debgeooia de eaeoadar
sMa xaorlos e faridoa npa impadia^nuaieriiroa.
XXi< A miaeraTd estado aa via radotidao Hal^
landez. Dentro e ttra do Arraetfil wperimentaTk
tuna meMttta forttfia ; %n do Arreeife aiMtilrava
o htrop 4eMrord*elle o persegda a fome* Valia mat
akfuaiMtle fiarinha da terra) que b6s obattAmoa de
p^^ e 08 naluraes maiidioca, deteaeis loatoeai um
pote <l'agua doee^ um loalfto i iittia hraiijay tMte
tinletti; e Vaix> o maia «e aishata tao earo^ V^
para OS ricos ^era diffidl o MslMitO) e impoariiFd
para oa pobrea. Aa wiaada neceaaidade persnadiio
ti^nlrega ; oa do gotpemo falloa do remadio temiao
a rebeiliao j a tadM setn duTida eseolbMK^ anteao
capth^M qoe o fti^nlot^ ; per^ os judeoe^ em
tuao perthiazes, aconaalhatio a eoEs^ncia ^ teme^
roaoa d6 eaaiigo que iMredn itta peridia ; offeree
eirao'^ a auatuattf o povo e a guerMj i^tiria
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eatre si um grosso dooalivo^ qiie.lo^Q enlf«^giiio
aos do supremo conselho ; mas nada se reooediou ,
porque servio a cohi^a de [iouco», e nao sadsfez a
Tome de algum. — Da peuuria reaultou a disaeosao
eatre as iia96es de que se IbrmavaaqueUe presidio*
£iitre a confueao e o medo tiveno alguos ocoaaiao
para se passareai a nossa parle;,d'esles forao os
primeiros einoo negros miiias^ que eiu29 de Janeiro
fbgirao do Arrecife , e derao por jeiiooso as novas
da victoria queoCsaiarao alcao^otLdos HoUandexes
Qo Rio Grande;, de que acima faUanios.
XXII. Cbegoii nesle tempo ao Arraial o eapitao
Joao de Magalbaes com a nova e oircumstane'ias do
sUQMsao do Rio Grande; £oi bem recebtdo e hos-
pedado doe cahos maionespela pessoa, e applau-
dido dos soldados pelo aocoorro das duzentas ca-
begas de gado. Gerlificadob o^Dossos ^vernadores
do soooovro que o inimigo tioba mandado , e do
ealado em que ficavao oa moradores d'aqnella capi-
tania, asaenlarao que se Ihes devia acudir oom iudo
o que fosse neoesaario para snstentar a liberdade
dos moradores e a reputa^o das armas. Offereoeo-
ae o mesire de campo Andr^ Yidai de Negreiros
para ir elie mesmo om pesaoa ; i^os o do con-
•gresso conbecerao que nao. podja a empresa ^^i^*
^tregue a melhores maos. Appresiado em brevis-
simo tempo, se pariio do Arraial em 24 de Feve-
reiro^ levando comaigo qnaUo comfMuibias do
twoo de Joao Fernandes Vieira, e do ter?o de Hen-
rique Dias nma leampdnbia de minaa, e outra de
€i'toul()i9. Da mardia de todo^ nos.havemos de
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CAftTBlOTO LD51TAK0. 611
apartar agora para dannos razaa do que eDtreUiQto
succedeo em Pernambuco*
XXIIL A um meamo tempo saio do Arraial o
scccorro para o Rio Grande ,. e para o Arrecife o
aviso de um traidor j pelo qual inrormava o im^
migo daqiialidade e numero das pessoas, do in-
tento da Jornada, da bora da parlida , e de iodas as
circumslancias necessarias para inculcar a falta
em que ficava o Arraial. Certo Joao Fernandd$
Vieira na traicao^ e incerto no traidor (supposto
que todos o apontavao com o dedo), nao pode deixar
de se doer pela continuacao do mal, vendo que nao
passava occasiao em que a perfidia nao andaase tao
pix)mpta eomo a leaidade. Importava entander o
Flamengo que nao sentiamos a falta do soceorro*
Pes8oalmente visitou todas os estancias, preve-*
nindo-aa de muni^oes, armaa e exorta^oea^ com
99 ordens necessarias para todo o acoQtecimento.
Aos capitaes dos presidios ordenou quese uao d^sse
uma bora de sooego to fortaleaas inimigas, picaudor
as por turno todas as noites ; ganhou com dadivas
algumas espias, que o forao muiios tempos, com
estipendio de doze patacas cada mez ; £oi por euire
OS mates ver com seus olbos as fortalezas do ini*
migo, observando as partes e os poslos, d*oode e
por onde melhor se poderiao assaltar. A primeira
noite se picou o ioimigo com tal viveza que nio
houve praca sua , que por todas as partes se nao
imagiuasse assaltada ; foi tamanbo o tumuUo e o
receio no Arrecife que se ouviao entre os posaos
OS gritos do temor e do espanto ; e assim se couii-
UQOu MB seguiates noites. — * Foi a segunda a que
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Mt Qunsmo vomtAao.
mis M aisombrou^ porque investio tfemique Dits
com OS soldados do sen terco o noro reduto, que w
oobria oom a artilharia da fcrtaleza das Cinco Pon-
iBty goamecidode soldados ede quatro pe^as, que
^nhou sem resktencia, porque osdefensores o lar^
girao tnuiio antes que os obrigasae o ferro. Conio
na empresa se procurava o espanto , despresou^sa
a victoria e o despojo, largando o reduto e a arti-
Iharia. ^ Em um sitio que ficava como oentro das
tfes fortalezas, Afibgados, Seca, e SaKnas , Ihe fes o
eapitao Domingos Ferreira uma pesada lraiF«8sura.
Em OS tronoos das arvores^ que ficavao mais des->
cobertos, mandou atar murroes accesos, e logo dar
uma earga eerrada , com ordem a seus sokkMlos
que dada ella se retirassem a um lado. 0 inimigo,
diamado dos tiros , divison as mtehssy e persnadio-
se que esCaviio nas maos das mosqueteiros ; apoD*
tou para aquella parte toda a artilharia das tres
fortalezas, is quaes aoompanhirao logo a do Ifoam,
a dos Perrexis^ e a plata-forma das portae do Ar^
reeife, nao descancando de repetir os tiros ^ que oa
ttOSSossoldadoBdes^ados do perigo Ihes foziao de^
parar com mais eui^lado, continuando nas cargas
de sells mosquetes. Desatinava o Hollandei da cona-
tancia que via, porque nao suspeitava a cansa,
adisttdo fundamento para temer a esoala na ir*
m«La com que apeear de toda sua artilharia perse*
veraTa a fiSrma. Foi tal a impressao que fez o en-
gatto, que se onria em todas as partes o grito da
pertnrbacao e do rumor com que se dispunha a
reatstencia. Com a claridade do dia conheceo o ioi*
»igo aeo enganoy e Hie fez coofeesar o capitao Do*
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CASTKHnO LUSITAm. 411
noitngos Ferreira que com valor e eng^iho pelejava
com ariuastlobpadas.
XXIV. Eotrou o Mar^ de 1646| com die
Henrique Dias em pen8auieiito& de gaohar e ap*-
rasar o reduto que o inimigo fabricara a 000^
bra da fortalesa das Giuco Poutag^ o qual depoia
que OS nossos o abaodonarao tinha o inimigo forU^
lecido em nova fdrma. Gommunicou o intento ao
governador Joao Fernandes Vieira > duendcnlbei
que nao queria parecer, senao favor, polvcMTt^
balla, uma duzia de madiados, e peroiasao pavf
que s6 os negros de sua obediencia Uvessem parte
na empresa (confian^ bem merecida* po»que gar
nhada a for^a da experieucia )• Era tanta a opiniao
que e govemador tinha da capacidade, valor, e
priiica de £bnrique Dias^ que com um mesm^
con(»ito ouTio a determiua^ , e suppoz 0 facto f
clespedio«*o logo com alegre rosto e liberal despa-
eho ; ordenou a todas as esCancias, que a hora de*-
tinada tocassam atma ao inimigo por todas as
partes ; safo do Arraial com quatro oompanhkis.a
esperar o successo da emboscada , e participar
d'uma e outra fortuna. Cbamou Henrique I)ias
sens officiaes a conselbo , propoz-lhes a empresa ;
todos a approvarao com lauvor, mas conoordarao
que nao convinha de nenhuma sor te enlrar na fiiccao
a pessoa de seu governador, contradizendo-lhe as
iDStancias com tao vivas razoes, que veiiceo o juizo
as repugnancias da vontade. Obedeceo Henrique
Dias aoa seus : nao tern razao para mandar quern
nao sabe obedecer & razao. *-*-Deseobrio-se o campo,
e certo de que nelle nao apparecia inimigo^ esco^
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ftt4 cAfimioro LmitAiiow
Iheo Henrique Dias de todo seu tcrco quatro com-
panhias, as quaes enlrcgou ao commando de seu
sargento maior Paulo Dias Sao Pheliche. Entrou
a noite^ passou o rio com a sua gente, e coberio
do escuro e da bastidao do mato a levou al^ a vista
do reduto, onde chegou pelas onze horas ; divisou-
se o vuUo de duas sentinellas inimigas perto da
estacada, as quaes logo todirao arma. Ghamados do
rebate sad'ao os defensores a receber duas cargas
cierradas , e o espanto da faciiidade com que os
uossos saldirao a cava , e d^rao por terra com um
laneo da estacada , abrindo caminho ao furor com
que OS degol^rao 4 espada. Sem perder tempo avaa-
carao & segunda fortificacao ; e ganhada a trindieira
Investirao a casa forte , onde os vinte e cinco de
*seu presidio se linbao recoihido ; os quaes entrados
pelo lelfaado e pela porta , apezar de toda sua re*
sistencia, forao mortos a excepcao de quatro. Esta
victoria custoo-nos oito soldados mortos e vinte e
quatix> feridosy dos quaes alguns morr^o, sendo
d'este numero tres capitaes e um alferes. Virao-se
OS soldados sem capitaes que os governassem j o
pleito vencido , a detenca inutile o damno certo
(porque as fortalezas cobriao o redulo de ballas )
carregArao as costas os mortos e feridos, e aigum
despojo d'armas, vestidos e alfaias, e se retirarao
para a sua estancia. 0 governador da liberdade ,
que esperava a contingencia do suceesao, saio a re-
ceber OS valorosos soldados , tevando a cada um
nos bracos com os devidos louvores"^ aos feridoe
recolheo , e mandou curar com vigilantissimo cui-
dado.
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• XXV. Os capitaes das estancias , euvimba ar^
tUhaiia 4I0 ioimigo por todas as partes, picarao o
HoUaadez com arma tao quente que llie pa^ecoo
aaaalla o que era diveraao. Ao capitao Sebasiiao
Ferreira, morador na frQg;iiezta de Sio Louren^o^
coube em sorte locar arma ao inimigo pek> forte do
Perrexil ; com trinta soldados escolhidos se metieo
debaixo da artilharia d'elie, dando ao Flamengo
tantas e tao bem sortidas cargas, que com um
noesfoojuizo 8e lepieo assaltadoe readido.-^Vkido
a Jioticia do gaT^mador da liberdade que a inimigo
apaseealava algtuuaa cabe^ de.gado o alguns ca-
vallos debaixo da artilharia de suas fortalezaa^ clia-
mon o capitao Ferreira, cojnmunicou'*-lbe o desejo
que tinha de qoe^o inimigo fosse privado d'aquelles
recursos. 0 capkao , cpie nao aabia recusar neim
temer^obediente eafog^ sedispOi^ paraa,empresa»
Eeperou a iioite;^e aoompanhado de ^eu animo e
tlas aombras d'ella, Coi reoonhecer o sitio. Aohou.o
gado recolhido, e eeroado d'uma truMhcira de
pAo a pique, wexa mais eiMrada que uma porta
unida a da fdrtaleza ; yoUou a dar coata a seus sol*
dados J e ioftindio em (odos o animo destenido de
que era dotado. Entrarao nd currdi ^ deitirao sogas
ao gado, e cortarao as que tinbao presos alguns oa^
vallos ; e fpiando ja buscavao a porta para a saida ^
forao sentidos^ e se deitarao por terra entre o gado,
onde escaparao de muitas cargas, que o presidio
da fortkleut atirou a vulto^ e muito ao largo. De^
pois de algum espaeo se tornou a socegar o Fia^
menga, tendo para si que se inquietara sem fun-*
dainento. Nao.$emovAi»ao os nossos senao depots
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tfoe intefuMrao do aiteiioio que a todos o8 da (brta-
feza oecopaya o deaoanso. AbHrao a porta do oerto,
montarao em sette oav^oa ^ tracendo diante de A
Tmta e oito boia (qae crao todaa as cabe^as ijam
alii pattavao), eBtrArao-palo mato, • €om4rea car**
gas desper tarao o inimigo, que adv^ertido do roubo
aoabeu de eutender que nao podia 6ar de seo se*
guro aanio o que \he permittiaae o noaao atreFi*
mento.
XXVL Aquelles dias, em q«e na campanha
de Pemambuco sueoadeo orefeiido, gaatou Andi^
Vidal de Negmros ua mareba pam 6 Rio Gnade;
sein aoonteeimento i)Ota?el ob^u a Paraiba^ oude
acbou o Camarao oom^o aeu ter^o dc Indios, red*
rado por falia de munii^a^ como* (ka referido*
Chegira pouoo antes a iartalesa do GabadeUo o
80CC0IT0 , que o Hollasdez maiuUra do Arraoife
para o Bio Grande* Jirigando o Flamengo aer a oo-
oaaiao favoravel, com preflieia e oautela ambaraou
em lancbas todo o poder ; aobio o rio , com in-
iento de levar a cidade por entrapreaa : sem aer
aentido a ayistou ; por^aa daacoberto de duaa aentir
liellaa nossat fei atalbado pela geote que acudio ao
rd)ate« Nao lardou o Camarao em foriaar emboa*
oadaa para o de^truir ao detembarcar ; porte eUe,
ou temido, ou aoonselhado virou as proas aa lan^^
ohaa tauto que ae vio sentidO) e wo parau senao
dentro de sua fortalesa do Cabedeik>««*<-Aehou A0-
dr^ Vidal fresca a pratica d'ette aucoesao^ e ao Ca-
mirao seutido do Flamengo nao voltar castigado ;
conbeceo elle em Andr^ Vidal a propria n^agoa, e
kvados d'um meamo mottvoy convidrao em um
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CASTRTOTO LUSITAKO. M7
mesmo pensamento , que , por causa de (raicoes ,
conservarao em segredo. Escolherao uma porcao
de gente bem resoluta, a que mandarao marchar
para o certao; andado caminho de nove legoas
mandarao fazer alto, e d'alli voltarao a marcha
para o mar, tao medida pelo tempo que chegArao
de noite a um sitio perto da hermida de Nossa Se-
nhora da Guia, e pouco distante das fortalezas do
inimigo, Santo Antonio e Gabedelio ; alii formarao
tres emboscadas, ecomecarao a provocar o inimigo
para o atrahir ao laco que Ihe tinhao armado.
XXVII, Vendo-se o Flamengo insultado pop
um tao pequeno numero de Portuguezes, dispoz-se
a sair a campo^ contando ganhar completa victoria.
Saio da fortaieza de Santo Antonio com sessenta
Hollandezes e cento e sessenta Indios, desembarcou
no Arraial, d'onde os nossos o tinhao provocado, e
segurodasua forca descuidou-se da f6rma. Marchava
diantedos Indios uma feiticeira braziliana ^ que
brandindo um alfange , dizia : c Deixai-me chegar
>» com estas unhas a esses caes portuguezes, que
» para Ihes romper os coracoes sou tigre ; ligeira
» onca para Ihes dar alcance ; e sequiosa fera para
» Ihes beber o sangue e despedacar as carnes. »
Ghamavac-lhe osnaturaes Pag^, que em sua lingua
9oa prophetiza, e Anhaguiari, que 6 o mesmo que
senhora dos demonios ; em cujo auxilio punha a
superstitiosa gentilidade daquelles barbaros toda
sua confianca. — Com estudado desprezo esperarao
OS nossos o inimigo, at6 que, chegando a tiro de
mosquete, o receb^rao com duas cargas; fingirao-
se enganados de sua imaginacao, no excesso do
I. 27
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U\^ CA9TU0T0 LUUTAIiO.
numero que os commettia , e porno perlurbadoe ae
pos^rao em desordenado retiro. Ao tempo as8en«»
tado virarao as costas com arrebaiada fugida, para
que o alvoroco da victoria e da cobi^a nao deixasae
ver ao Flamengo o perigo do alcanoe ; levarao oa
sessenta Iloliaiidezea a vanguarda ; e como, se ga^
nhada a victoria forao so a recolher os despojos ,
se mettirao no coraeao das emboscadas , das quaes
recebSrao duas cargas de mosquetaria tanto a
tempOi e tao bem empregadas que cairao em terra
mortos cincoenta e oito HoUandeEes^ e alguns In^
dioSy de cujo numero foi a Teiticeira, que ficou esten-
dida no campo, passada com duas ballas pelos peitos.
Os outros^ cortados do espanto, e certos da morte,
buscavao nasaguasdo mar o sepulchro, onde quasi
todos perecSrao feridos de nossa espada. Perdeo o
Flamengo nesta occasiao 03 sessenta Hollandezes
com que saio ^ e todas as armas ^ e as lanchas em
que se embarcou ; dos Indios nao se pode con tar o
numero dos mortos ; so quinze nos moatrou o
campo ; quasi todos os mais escondeo o mar ; rare
foi o que salvou a fuga , porque a opposiqao do
bra^o e do terreno Ihe nao deixou aberto outro
caminhosenao o da praia. Da nossa parte nao houve
ferido, supppsio que nos enlutou a victoria a morte
do sargcnto maior Francisco Cardozo.
XXVllI. Applaudida a victoria com grandes
demonstracoes de gosto, e recolhidos os despojoSi
se voltarao os nossos a Paraiba » onde forao rece«»
bidos com alegres vivas ; sem descancar no triumpiio
despedio em brevissimo tempo o mestre de campo
Andrd Vidal para o Rio Grande o govemador dos
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G/ISTBK>70 LUSRANO. 419
In4ios eom a sen teroo, aasialido d'algung autros
capitaea ; e depois partio elle mesmo pan a oam-r
panhs^ da Feraambuco, assistido do capitao Antor
nio Gonial ve$ Ti^ao com agente de sua companhia.
Nos dias que gastou a marcba y aairao da ittia de
Itamaraca oitenta soldados inimigos, em lanchas,
que elleg desejavao carregar de mandioca das rocas
de Tejucypapo, ferteis d'este genero, e aocommo*
dadas, pela vi^inhaQ9a^ para a facilidade do rouho
e do remedio. — Desembarc^rao os inimigos a
furto ; com presteza comee^rao a executar seu de^
sejo^ que Ihes atalhou Zenobio Achioli, eabo da
nulicia d'aquelle destricto. Com triuta soldados oa
assaltou ; e com tao boa fortuna , que nao deixou
40S Qontrarios mais acordo , que o de fugirem para
as lancbasy e nellas para a ilha; levarao vinte fe«
ridos, e deixarao no campo trinta mortos, com
todos OS instrumentos e toda a mandioca que
tinhao arrancado, Apertados da fome tent^rao os
HoUandezes segunda expedicao, que dirigfrao a
uma ilheta cbamada Tapessoca ; mas nao forao me^
Uiorsuccedidos, porque Agostinho Nunes, sargento
maior do destricto , acudio com duas companhias,
e o^ poz em fugida^ deixando no campo oitenla
mortos» grande numero de armas e municoes, e le^
vando muito^ feridos, Terceira vez inten^ou o inii-
migo levar a effeito sens projectos, envidando todo
o seu resito. Ordenarao os do conselbo ao sen ge-
neral do mar Joao Cornelim (ou Cornelizenl Chic^
tart) que com cento e cincoenta soldados saisse do
Arreeife, e levasse da ilba de Itamaraca toda a
gi^nte, que podessem escusar ob po^esidios, e com
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430 CASTRIOTO LCSITANO.
este poder saltasse em Tejucupapo, para que d'um
mesiDo goipe vingasse nos moradores a injuria , e
carregasse as lanchas de mantimentos para acudir
a miseria. Executada a ordem, tomou o Flamengo
terra em uma parte onde alguns moradores traziao
escravos arrancando mandioca de suas rocas , oa
quaes y vendo a multidao das lanchas, corrSrao a
dar aviso ao mestre de campo Andr^ Vidal ; despe-
dio elle logo o capitao Goncalves Ticao, para que
com a sua companhia entretesse o inimigo em
quanto elle nao vinha pessoalmente ; ma$ nao po-
dirio OS nossos cabos acudir tanio a tempo que o
inimigo nao executasse o seu projecto, pois quando
chegon o capitao Ticao ja navegava de mar em fiSra
com as lanchas carregadas de mandioca, e de fruta
de espinho em que abunda aquelle terreno. Uma
d*ellas p(»^m, apartando-se da conserva das outras
e costeando a terra, a vista do Pao Amarello, foi
descoberta d'alguns pescadores nossos que andavao
em suas jangadas deitando as redes ao mar; trocarao
08 lancos a pesca, e deixadas as redes envcstirao a
lancha, que logo rend^rao com a morte de tres
HoUandezes, que se deitirao ao mar, e com darem
qnartel a dous e a um mulato e um negro que nella
ficarao captivos. Aproveitarao-se do refresco e da
lancha, que depois Ihes servid para maiores em-
pregos.
XXIX. Gontinuava entre os HoUandezes a feme
e a passagem dos soldados e genie vulgar do Ar-
recifepara o nosso Arraial, e pela mesma razaoas
testemunhas da falta dos mantimentos, que crescia
com o tempo ; e juntamente a impaciencia com que
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CASTRIOTO LUSITANO. 431
0 vulgo e geoie miliiar dizia a cara deseoberta, que
se largasse a praca quando tinhao na inao a conve-
nieocia de se adiantarem nos partidos, antes que
sem elles os enlregasse o rigor da fome e o das ar-
mas. Opiuiao e praiiea que os judeos impuguavao,
cerlos de que os nao esperava menos casligo na
entrega que na escala : viviao sobrados, e a mise-'
ria OS desconhecia compassivos. Forao accusados
de que tinhao recolhido em si todos os mantimen-
toS; e que faziao mercancia da tenacidade. D^rao
em todas suas casas os do governo em uma mesraa ^
hora ; acharao abundancia de tudo ; depositou-se
em maos particulares para soecorro da necessidade
coi^mum , e a todos os obrigarao a comprar pelo
preco que vendiao. Tratarao os judeos de baixo
de mao de amotiuar o povo, inclinado sempre a
mover-se com qualquer novidade ; mas levant^rao
contra si as pedras. D^rao sobre elles os soldados,
matarao selte, e forao tantos os feridos que a occu-
pacao da cura Ihes tirou da memoria a da vin-
ganga.
XXX. 0 mestre de campo Andr^ Vidal de Ne-
greiroSy depois que enlendeo nao sei* d'utilidade
sua assistencia emGoyana, separtiopara o Arraial,
onde chegou em os principios d'Abril ; tempo em
qne nelie secomecava o sentir a falla de mantimen-
tos e de sojdados. Os naturaes e moradores andavao
ja quasi remontados ; e alguns dos soldados, con-
duzidos da JBahia, se tinhao ido para aquella praca.
Conferirao-se os meios para remedear uma e outra
falta, e se defenio por mais etilcaz a auioridade e
agrado do governador Joao Fernandes Yieira, cuja
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&12 GAtmiOtO WUTAm*
pcssoa era «|uem so podia oonduir este negooio.
Acceilou a ditigencia^ prometiendo correr as prin-
cipaes povoa^oes do reconcavo, como erao^ cabo de
Santo Agostinbo, Ipojuca, Siriahaem, Una, Porto
do CalTO , e outros , em quanto & oonduc^ao dos
mantineBtos. Re6ol?6rao-se em queixar-^e ao go-
venaador g^ral do Estado dos soldados que a furto
96 tinhao vdtado, o qual deo energicas providen*-
daa para eviiar este mat. Com sagacidade mandou
tomar a rol os deliqoentes^ e lodos preaos^ castigou
08 prhicipaes com forcas e desierros ^ e oe menos
cttlpados mandou voltar logo para a campattha de
Peroamfonco. A todos os ne^gros^ que achou aerem
dos moradores daquelle capitania, mandou prendter
e depositar para se entregarem a sew senhores, ou
a quern tiyesse pnocuracoes suas : ^pedieme fd
eate de cotisequencias utitidsimas > poixpie para os
escravos foi ^Iho, e para os aoldados fireio.
XXXI • Apre8tou-«e o governador Joao Fwnaii*
deB Vieira para a joriiada» e para de oaminho eve-
cutar o desejo que tinha de assegurar o porto de
Tamandar^ com «ma sufliciente forea , que ignal-
mente aervisse i defensa da terra e ^ da barra ; e
partio do Arraial em 10 de Abril. Em esies poucos
dias quese deteve saio oinimigo com um ardil inal
urdido> e peor l^grado. Deitou fama que de Hoi*
lafnda Ibe ckeg^ra aviso em como ficava pwa fazcr
aTiagem uma grossa armada , que a compankia
mandava para sujeitar os rebeldes^ e conquislar
OS fivres. Na crcdulidade desla ttova fimdArtio toda
a quimera. Fingirao duas carus ; uma d'El Rei Dom
Jo&o IV^ escrila a Francisco de Souca GontiBiio ,
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GAftTAIOTO Jm«lT4M0. Ml
^itio reeideote em Uollanda, e inclusa neila outra^
que dizia 6er do governador do Estado Antonio
Telles da Silva , escrita ao mesmo senhor, em a^
qual repetia por nova a acclama9ao da liberdade
do Brazil^ com todas as circumsiancias do Ssbeio^
e junUmeote o traslado das ordens , que o mesmo
Rei despedio logo ao dilo governador geral^ que nao
iavorecesse a sublevacao, para que sen residente a«
apresenUsse aos Estados^ e por ellas se entendeese
que nmm coosentira , nem favorec^ra a dita sukle-*
¥acao» Public^rao f stas cartas no Arreeifie, e copia-*
das em muitos treslados as mandarao dettar em
partes que facilmente caissem oas maos das nossas
sentin^llas , e d ellas passassem is do goTernador
Jofto Fernandes Vieira. — L^o*se as cartas, e pelos
erros do estilo e impossibilidade do tempo, se co*
nheeeo o engano^ e o intento da fic^to, que era qu&-
brar^nos o animo , e aguarnios o calor com que
nosiaa annae o opprimiao. Communioou o goyer^
nador da liberdade as cartas aos mestres de campo
e gOYeroadores de Minas e Indios ; e assentarao que
9A sepullasae o desprezo. Pai:*eceo^lhe a Henrique
Bias discreto o castigo, porem intoleravel o silencio^
pedio licen^ para responds aos desatinos da in<*-
vencao do HoUandez ; concedeo^ee^lhe que o fieease^
e eacreveo uma carta com as raroes segukites.
XXXU. a Sao tao conbecidos os artiflcios, oom
» que a HoUanda sustenta a reputai9ao de suas ai^
»
masy que s^jl engano nao enreda seaao a quem
I) o fehrioa. Aquelle brado die sua potencia, que no
» priftctpio persuadio a aiogelesa^ despreza ^ boje
a experleMcia. Estea papeia ccon qu^ vosaas mer^
^
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4S4 CASTBIOTO LCSITANa
» cte uos querem intimidar, nas faUas do discurso
» mostrao que sao partos da malicia^ e nao da ver-
» dade. 0 primciro pregao , que publicou a em-
>i presa da liberdade, foi o grilo que deo a batalha
1) das TabocaSy pela victoria que nella alcancarao os
» moradores desta capitaniai , e que a HoUanda es-
» creveo com a tinta de seu saugue em 3 d'Agosto
» de 1645 ; e a data da carta supposta, que dizem
» escreveo £1 Rei de Portugal ao seu assistente
» Francisco de Souza Coutinho , mostra ser de
» 5 de Oulubro do mesmo anno ; intervalo de
» tempo que nao passade sessenta e tres dias, tao
» iimitado para um correio levar a nova de Per-
» nambuco a Bahia , e um navio da Bahia a For-
» tugal^ que escassamente o pod^ra veneer o voo,
» quanto mais as voltas da navegacao e da jomada :
w com mais certeza se ajustao entre vossas mercte
» as partidas da fazenda, que os computos do
» tempo. Os papeis, que assigna a mao real, 6
» com a firma de Key, e nao, Sua Real Majestade,
» como vossas merc^s Grmao estes papeis. Erro 6
» este muito proprio de quern nao tem lei , nem
» rei. Se os fios de sua espada cortao tao mal como
» OS de seu juizo, pouco nos fica que temer; c
» muito menos vendo, que a mao que ha de dar
» o goipe erra movendo a penna. Nesta advertencia
• entendo eu que vossas mercte me hao de avaliar
» amigo , ainda que pelas obras me experimentem
» contrario. Em falso fabricao se tem para si que
3» com embustes se melhorao ; em algum tempo
M 08 fez dissimular a forca ; por^ ja agora mal os
» poder^ soffrer a independencia. Kesulta d'dles
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GA5XR10T0 LUSITAMO. 425
» forao OS aggravos e tyraiiuias que aiiimarao o
» gemido^ com que os Pernanibucanos nos persua-
» dirao i vinganca ^ a mim e ao goveruador dos
» Indios Dom Antouio Philippe Camarao. Faltamos
» a obediencia que nos occupava no serlao da
» Balua, por nao faharmos a& obrigacoes da pa-
» Iria, respeiiando primeiro as leis da natureza
JD que as do imperio. Achamos aos opprimidos vio
« toriosos e desforcados com as annas nas maos,
» tao corlados da tyrannia, que abominavao as
9 memorias da sujeicao. Valia-se a razao da lem-
» branca com que repetia as injurias; e os olhos
> das ruiuas em que permaueciao os eslragos^
» e colli facilidade levaiao o soffrimenlo & ultima
» desesperacao. Aquelle molivo, que nos fez par-
» ciaes no aggravo nos fez tambem auxiliares no
» castigOy com resolucao lao deliberada^ que pri-
» metro nos ha de fahar a vida , que nos caia da
» mac a espada ; mal dJscursao, se imaginao bave-
» mos de crer que nosso Rei e senbor ha de ouTir
» melhor a inimigos insolenles^ que a vas^allos
» queixosos. Em quanto a justica Ibe n«o restituio
j> a coroa pod^ra-nos aasistir s6 com a magoa;
» agora que Be y& restaurado no trono nao p<ide
» deixar de nos assistir com o braco : facao esle
» coDceito, e discorrao polilicos. A onde tropecarao
» mais c^os^ foi em nos quererem persuadir
» que o govemo de HoUanda , tao cosido com as
» razoesd'estado^andasse tao atrevido, que amean
» ^asse com o poder a um Rei de lamanho cora-
» 9ao y que desprezou o da maior mooarchia da
» Europa ; pinUHlhe a imaginacao que Portugal
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4M GA6TRI010 LUSITAKO.
M 66 arma contra a acclamacao de nosta liberdade?
n Como pikle desagradar iniita^o tao generosa a
D quern nos deo o mais justificado exemplo ? Mai
M pinta o retrato quem se desvia das cores do ori-
» ginal : quem para se sustentar se arrima ao en-
» gano cat com o arrimo. Tenhao por oerto que
n d'esse Arrecife, onde nossas armas ob tem accnr-
» ralados, Ihes nao fica mais saida que para Hol-
» latida ; e se atirao a outro alvo y faasiao os meus
» negros para Ihes fazerem errar ; e dado caso que
» pretendao yencer nossa coustancia com sua por-
» 6sij Ihes poremos a terra em estado^ que Ihes nao
» po«sa dar mais que a sepullura ; porque sabe^
» remos queimar-lhe em uma noite tudo quanto
» plan^rem em um aimo ; e para que nao duvi*
% dem d*esta Terdade tenhao entendido que i Hen-
» rique Kas o que escreve, pegando na peona com
» a mesma mao cem que pega na espada • n Mandou
km^ar esta carta em parte , onde logo foi acbada,
e entregue nas maos dos govemadores do Aire*
cjfe , que , corridos dos erros da ficcao e ^sortados
dodesprem da reposta^ se apailarao de stmiihantes
diiigencias, applioando-ae a outros y de que se per-^
s^adiao lirar mais fruto^ ainda que ibsse com mais
risco.
KXXIH. Nesta occasiao chegou ao Arrecjfe um
barco do Rio Grande, pelo qual os Hotlandeees
q«e presfdiavao aquella fortakea pedifio sooecwrro
de mantimentos , referindo como o Camarfk) en«>
tr&ra segimda vez na campauAia, e talira de ma-
tieiiia a ¥fn% de tode o reeon^aro ^ que nao
deixira eidifieio que ttio cMeiiMMisae o fogo,
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petaoa que nSo degoltsse <o fetro > g»do «ie que
se nio nproreitasse o raubo, manlimeiiio que
nfo destruiste o bni^ ; e detttro dai nyeema foria^
kna coraoio qi^ nio mtiinida^fte a ira ; posta em
afmto tM tnanifefllOy que igiiaknente temia o ferro
e a fone^ Ghc^u eeta n^icia to bobso Arratal ,
petos rewlidoa que cada hora ae passatao ; e de«
pois por correios noasos se cerlifieou a nova , aenl
particttkridade que mereca outra memoria. — Aui
^ Faraiba coaduzkrao os capilaes q«ie forao debaixo
das ordcos de CaEMiio o gado> de volta do Rio
Graacte^ d'ondeamaiidmiopara^ Arraial^ a tempo
que oelle tiofaa entrado mm lotie ife dufeenias ca-
be^» tiindas do destricto do Ri6 «!he ^Sao Fran*
eiaco. Com esies peqnenoa 8oeeon*os se anitnou a
Aoasa gettle a eaperar oom botti cora^ aeu maior
rewedio^ deque se encarregira o govemador Joao
Feraandea Vaeira, cuja opioiie tiidia ganbado ta*
naako credito entre w aotdades^ qtte nao bavia na
eatiaiacao de todos xlvliBrenca etttre a promessa e a
cobrama ^ ae nw era aqoelle iBlterTrilo 4e tempo,
preoiaameote neoeasam, pMti igiMtar e repartir :
afiyto da yerdade cam qoe os tralava y e do amor
aoAi q«e os favorecia.
XXXIV. A tttia fib ItaiMiracA, qtire^era o ^Mro
donde te fitma de manlknentos o Arrecife , dbegott
a €8iar tao eidftama que fedh remedio a quern
ocraiuflaaiiia'dar soedorra : abvaogia a todos ^ ttete^*-
mlade^^ todas se confarmavao em ifmgcAr a vMa
pela aalwr da iaam. SeStho com doze lam^bas do
Al'TOoife levaado afiroa naatha dellamap*ca; A6^
Tmxdu^iDo.kvmMf emaa^mAle as
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diizentas cabecas de gado , que do Rio Grande con-
duziao OS capiiaes Paulo da Cunha e Francisco Lo-
pes, cnlrarao os mestres de campo em suspeita de
que o inimigo, informado da marcha, saia a cortar-
Ihe o caminho, e a fazer preza no gado. Despedirao
correios a Tejucu{>apo e a Goyana para prevenir os
dous capitaes do acoutecido; mas a esle tempo ja o
gado tinha parlido para o Arraial com boasguiase
suflficienle escolta ; deixando-se os capitaes Rear
na povoagao de Iguaracu , a titulo de se refrescarem
da fadiga da marcha. — Tomarao porto na ilha as
doze lancbas, onde as esperava outra esquadrilha
d'ellas, ja prevenida para este fim; e por lodas fize-
lio numjsro de vinte sette, com seis centos solda-
dos. Mandou o commandante velejar para uma
paragem que os naturaes chamao porto de Maria
Farinha ; e um tiro de mosquete ao mar , passou
ordem que ancorassem , dando a entender que na-
quelic sitio queria desembarcar; tocimo as nossas
sentinellas a i^ebate; ouvio-se em Iguaracu, onde
d^scan^avao os dous capitaes e as suas companbias,
com as quaes marcbarao a esperar de emboscada o
inimigo, que sem movimento esperou a noite, e
fortado aos olbr>s de (odos se fez a v^. Com a luz
da manha se vio o mar sem embarcaoao algnma ; e
OS no^os capitaes leyantarao a emboscada, e toma-
rao o caminho do Arraial , imaginando que o ini-
migo avisado se voUara para a ilha ; e todos se en-
ganarao ; porque o Flamengo durante a noite se
dirigio sobre o porto de Tejucupapo, deitongente
em terra, com o designio de entrar a poToacao de
Sao Loiu^neo, e passar a espadaos tiabdios^d'ella.
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GASmiOtO LUSITAT90. 419
p»a ficar senhor do campo , e carregar <te manti*
menyys. — Avisados 08 moradores de S«d Lourenco
por duas vigias que vJrao desembarcar o HoUandez,
reoolh^iio-se com soas famiiias em urn meio reduto
eeroadod'umagrossa palissada com lodas as arroas,
fieizendas e mantimentos que a limitaeao do tempo
Ihes permittio. Era sargento maior da gente mill-
eiana Agostinho Nunes, soldado animoso e pratico^
a qiiem esta occasiao subio muiio no ci^edilo. Or-
denou a um valente mancebo chamado Matheus
Fernandesy que com outros irinla deseu lole, des-
trosnas veredas, earmados d'espingardaa, iicaseem
de ftira da eslacada , para que, como soldados vo-
kintes, picassem o inimigo^ oobertos do ma(o, per-
seguindo-o com incessaveis cargas. Mandou urat
correio de cavallo dar aviso ao Arraial ; ordenou
iudo quaDto podia servir a defeza, e esperou o as-*
salto com animo rcsoluto. Marchava entre tanio
o inimigo formado em um so baialhao, guiado por
rnn valent^ Hcdiandez, que tinha o posto de sargento
maior de batalha, o qual, rendo dous Pm*luguezes
que com accellerado passo iao a meUer^se no re-
dulo, com o chapeo na mao Ihes disse a vozes : « Ha,
» senhores Portuguexes, nao fujao que todos somos
» amigos; como de inimigos fogem ? Pois entendao^
» que antes de duas boras os havemos de fazer a
» todos em pedacos. » Uma das nossas sentinetlas,
que por entrc o mato nao deixou nunea a ilbai^ dd
esquadrao inimigo^ ouvindo estas palavras , enea-
rou o mosquete, e passou com duas balas o sargento
bollandez pelos peitos^ de que caio mo^rto. Conti-^'
niK)u o inimigo a marcha sem Bt dH^r^ apejjar de
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$$v in^^ommocMo continuameiile pdas car^ que
o§ BOMQS emboieaclos Ihe <fai?ao; aproxifncm-M ilo
l^tttQy deo iL priiaeirt our^a, dbhaixo de oujia
btlat avancario os i^atadorea oom machados a
carter a eataoada^ que os nosaoa, apexar de infe-
rier^eQi numero, rebal6rio oom vabr e intrepidei.
Rotiron-se o inimigo do primciro asaalto deixando
graiide numero de mortos e feridoa^ e loda a gloria
aosnoaaoa.
XXXY . Nao defliatio por6m inieiramaite, antes
intentou de novo ganhar ajpaliasada, maa eneoa-*
Irou aempre maior resietencia, a qual se aag^
mentou com o valor que as molheres portuguezaa
moatrario neata oecasiao. Huma d'ellaa oom a ima^*
gem de Christo cnioificado naa maoa andava ani^
aaando oa aoMados em todo o tempo do eonQicto;
fiada ua cauaa da peleja promeitia o Senbor, oom
que animava y aoa aeua favoravel , aos herejea ten*
rivel; oom tauio ^e^>reao daa balaa, que pareoia
beber aeu espi|*ito ua oonfiauca da protee^ao, ou
diverse naturesia, ou certissima victoria. Debaixo
de bandeira tao aagrada adpiiuiatravao lodas aa
mals aos soldados as muni9des e aa armas, faiendo*-
se parciaes nos golpes, que se davao , como o sao
o inatrumento e o braQO. As que etcusava o lugar
do cpmbate, iguaes uo auimo, pelajavao oom sn^
periores aroias , porque com os ooraeoes pekrjavao.
Experimtntou o inimigo o quanto eicediao aa for-
9as da resisteucia &% da oonquista, no horror oom
que vio a circumvallacao da estaeada oom segunda
uincheira de eorpos mortos, seado tantos os doe
sma que alii aoabarao ^ que nem oa olhes nem a
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comidcncao 09 podiito conUr sem espuato ; e 00m
elle deixou o combate; mas nao de todo, porque
Mdpenhando todas as suas forcas, rcuaio a ana
geaid n'uju ^squadrao oerrado^ inyeatio lerceira vaa
i estacada, a qual cheg^rao a romper , e que sem
duvida entrarao^ se aquellas malronaa com animo
invencivel se nao opposerao k for^a contraria, que
com varonil pulso rebat^ao, meneaudo as armaa
com braco e animo tao robusto e deslemido > que
nao sabia o Flamengo determinar se o traje dea^
mentia o sexo , x)u se a natureza errara a forma } e
de nenhuma sorie aceriava a causa , que era uni-<
remise em urn coracao portuguez o valor do sangue
e a viveza da {6 contra a perfidia hollandeza. Nao
p6de o inimigo resistir por muiio tempo a tanto
▼alor e denodo. e de tal sorte se deixou tomar dm
medo/que largou o combate, as muuicoes e as
armas; e esquecido de toda a disciplina^ obedeceo
a desordem, tomou as lancbas, fez<-se ao largo , e
ainda se nao dava por seguro. Appellid^o os nos-»
SOS a victoria^ sairao no alcance dos venddos, que
chegarao a ver quando j& navegavao de mar em
ftfra ; voltarao ao reduto^ recoibendo os despojosi
que servirao ao applauso^ com que forao reoebidoa
de suas familias.
XXXVL Deixamos posto a camiuho o govern
nador Joao Femandes Vieira , levando eomsigo a
companhia de sua guarda, com a vagarosa marcfaai
a que o obrigava o ir pelo certao de engenho em eii-r
genhO) e pelas povoacoes de porta em porta , pe^
dindo ) cobrando e conduzindo mantimentos para
o Arraial, at^ que chegou ao porlo deTaroandard^
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ni ciistBnyro lusitano.
mkle o inimigo havia commettido varios estragos,
cuja lembranca excitou o vivodcsejo, em JoaoFer-
nandes Vieira, de (abricar nelle uma forca, em que
as Dossas embarca^oes achassem abrigo, e as conira-
rias receioy que nenhuma outra cousa Ihe oecupava
mais o cuidado. — Deliberado em por por obra esie
pensamentOy mandou notificar e pedir a lodos os
moradores do contoruo que com os carros e genie
de servioo que tinbao acudissem a dar ajuda aos
sokUdos que haviao de trabalhar na fabrica; o que
fizerao com tanta promptidao e boa vontade, que
dentro d'um mcz se Ihe deo a primeira e ultima
mao. Guarnecida d'artilharia, muoicoes e presidio
mais que sufficieate , se voltou o governador da
liberdade para o Arraial j onde foi recebido como
abmento e coracao d'aquelle corpo, pelo que a todos
Gommunicava de espiritos e mantimeDtos.
XXXVII. Chegarao por este tempo ao Arraial
dous padres de companhia, Manoel da Costa e Joao
Femaiides, enviados da Babia pelo governador do
Estado Antonio Telles da Silva, com apertadas
ordens de sua Majestade pelas quaes ordenava aos
mestres de campo Negreiros e Moreno, que sem
diiacaose partissem com os ter^os de sen regimento
para a Babia , alargassem a campanba de Pernam-
buco aos Hollandezes, porque nao convinba a sua
reputacao que o mundo suspeitasse que viola va ,
peia sua parte, a paz e amizade assenlada eatre sua
coroa caqtielles Eslados. — Lidas as ordens, nao
hoiive coracao, que o pasmo nao deixasse indiOe-
renle entre a obediencia e a i8en9ao. Joao Fernandes
yi<»ira, respeitando muito as determinacoes de sua
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GA8TRI0T0 LUSITANO. A3S
Majedtade, disse que elle estava convencido que
EI Rei nao estava bem informado dos progressoe
que nossas armas haviao feito ; que era impossivel
que elle abandonasseaerueldade e tyrannia de seus
inimigos tantos milhares de vassallos; ponderon
que ha via easos, em que os decretos das reis erao
condicionaes 9 e concluio dizendo : « Assim que,
» me parece repliquemos a sua Majestade, com a
» informacao do estado das cousas , e dos inconve-
w nientes que traz comsigo esta resolucao , conti-
» nuando com a guerra na forma presente ati
y> nova ordem sua. E dado caso que confirme seu
» dictame , digo que nao hei de largar empresa ,
» tanto do servico de Deos , e d'um principe tao
» catholico , como i libertar milhares e milhares
» d'almas da morle temporal e eterna, certas , na
» sujeicao ao dominio da herezia e do aborr^-
» mento. Este i o meu voto, e meu parecer ; cada
» qual siga o que Ihe dictar sua razao , e nao sua
» conveniencia. » 0 mestre de campo Andre Vidal
de Negreiros foi do mesmo parecer; mas Martim
Soares Moreno mostrou-se indeciso ; com tudo fez-
se a replica com os fundamentos referidos, a qual
se remetteo a Bahia« para que lerasse a approvacao
do governador g^ral do Estado; por^m elle, ou
fosse persuadido de superior impulso, ou obrigado
de obediente respeito, respondeo que as ordens de
sua Majestade se guardassem. Entao, clara e des-*
cobertamente disse Soares Moreno que se devia
largar a caropanha , e retirar-se a gente : parecer
que nao admittio Joao Fernandes Vieira e Andri
Vidal de Negreiros. Retirou-se aquelle para o reino
L 28
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k^ GABTBiOTO UmiTAXO.
deixaii4o o posto^ e estes continuarao firmed no sea
projficto recebeodo os applausos de todo aqueUe
povo que os ooosiderava coodo seus libertadores.
XXXVUl. Ne6te Dieio tempo forao avisados os
doiia govemadorea que o inimigo , receoso de
noaaa ousadia, tioha novameute fortificado aa paa-
sagens do rio por aquella parte que cerca a ilba
d'ltamaraca, para que se nao podesse atrayessar nas
parageus, em que o permitte a baixamar eiu occa-
siio d'aguas vivas* Levarao a cada qual uma Ddo
(queausteutavao immovel algumas aucoras) todas
guaraecidaa de soldados , e municiadas de pe^as e
mosqueteSy com que ficaya aos aeus franca a saida,
e aoa nossos empedida a entrada. — Recebida a no-
ticia f conferirao entre si os governadores sobre o
que deveria fazer-^se. Martim'Soares Barreto, cujo
posto Ibe dava a primazia no oonselho, foi de pare-
cer que se devia abandonar um tal intento, ponde-
rando razoes tiradas da esporienciai pois ja naquelle
mesmo sitio tinhao o$ nossos encontrado a fortuna
ad versa ) e concluindo que nao era conselho da pru*-
dencia buscar a dita no lugar do infortunio. — Com
animo pacato ouvio Joao Fernandes Vieira os fun-
damentos da opiniao contraria, e conhecendo a
vontade qua se escondia no discurso^ respondeo as
palavras que ouvia, eao animo que fallava, n'eates
termos. (t A intrepreza , que na occasiao passada se
• intentou, foi contra o meu parecer^ porque ante-
» via OS successos, nas inconsidera^oes da occasiao;
p e aqueUe mesmo juizo^ que entao fiz para se nao
1) comelter a ilba, fa^o agora para se intentar a em-
«> presa ; porque o esiado , o tempo e o modo me
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M enwiaiio a que aoomdhe ag^ra o que diasuadia
» entaO| lyucfeda meu parecer da differenca dos mo-
n tiyOB ; que m> mui diversoa oa que conyidao a
» liberdade de adquerir^ daquelled que propoe a
n ueceaMdade de couaervar* 0^ lugarea das baudhas
>i nao sac ceos d'eslreUas para influirem valor om
» cobaitiia« O mesmo baluarte, que muitas yesea
» repreaentou o valor da reatsteucia) se chora ulti^
» mamente rendido ao estrago da conquista. Que
» victoria se alcanc^ra^ ou que praca se rend^ra, de
)> OS exercitos ao primeiro revez da fortuna se re*-
M tirarao dos campos onde o recebSrao ? Se a dou«-
» trina^ que dao oa aucces60s 6 a millior douiriiui,
» quasi todos os da gu^rra nos acooselhao a pre»>
» sente delibera^ao. Impraticaveia forao os cou'^
M flictos ) se uma empresa mal succedida servira a
» desespera^o da todas. A representacao da ofiensa
n intimada ao aggressor acoeude o furor do aggra*-
» vado« A guerra toma as importancias das coute^
n queacias, como toma a justifica^io das causas* 0
» inimigo 96 fortifioa na ilha ^ para assegurar de
II nossas annas os mantittientoa> que elia produz;
» e para poder a seu salvo sair a roubar os do cer^
n tao. Se da mia parte creaceo a resistencia com a
» preveii9ao, da uossa aQgQ)ent»«ie o eiupenho com
» a importancia ; esta oos chama ao perigo ; e se
M algum o teme, fuja^lbe com o corpo , sem querer
» desculpar sua commodidade com nossa dtversao,
» pois sabe que o romper difficuldades nao 6 para
» todos : sabe-as veneer quern tern animo para as
>} oorlar, e juizo para as advertir. n
XXXIX. AchArao eslaa razoes saUsfacao nos
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U6 cAsnioio ivsnAMO.
compatiheiros, e desabrimento nos oppoMos, que
pek> nao pareoerem se derao por vencidos do arga-
mento ; e conformes no voio poserao nas inaos do
govemador a dtspoaicao da empreaa^ que s6 fiou do
mestrede campo Andr^ Vidal de Negreiros, em
quern reconhecia talento para o n^;ocio , e capa-
cidade para o segredo. Em 13 de Janho sak) Joao
FernandesYieira do Arraial com o mestre de campo
Negreiros, e quinh^ilos soldados escolhidos, com
duas pecas d'artilhariade calibre 18 ; efavorecidos
da noite^ que era escura e chuvosa, chegarao a vista
do no sem serem sentidos , em uma paragem cha-
jnada o porto dos Marcos, onde o inimigo guar-
daya o transito com uma nio guarnecida de soldados
e.ariilheiros. — Fizerao os nossos alto , cobertos
dos crescidos mangues que alii produz a natureza ;
fizerao promptamente uma triucheira e plataforma
em que cavalgarao as duas pe^s d'artilharia ; for-
m^rao ao mesmo tempo dous botes e duas jangadas,
e logo guamecerao com doze homens cada um dos
botes, que maia nao podia conter. A um alferes
reformado, por nome Affonso d' Albuquerque, «i-
tregou o governador o primeiro ; e o segundo a
Francisco Martins Cachadas, sargento reformado.
Recommendou-^lbes o bom desempenho d'aquella
faccao, e deo*lhes por ordem que envestissem e
abordassem a nao com deliberacao de a ganharem
ou morrerem na demanda ; e que mandava na es-
teira dos botes as duas jangadas , para soccorro de
qualquer incidente ; e que fossem certos que na
terra os acompanhava sen cuidado , para os faro-
recer com a artilharia no conflicto, e como premio
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CA8TBI0TO LUftlTAIia ftS7
na victoria. Favorecidos com o escuro da noite se
forao 08 botes chegando a nao a voga surda. Nao
dormiao as sentinellas ; descobrirao os yultos , e
pedirao noma. Com o de amigos Ihes respondeo em
sua lingua urn soldado nosso , de nascimento Al-
lemao. Entendre que erao Hollandezes, e respon-
deo que vogassem ao largo. Aperlarao os nossos
0 remo buscando a nao com repetidas cargas , a
qual desenganada do erro, e temerosa do perigo^
borneou as pecas , e com o tiro d'uma fez em pci-
daco6 o bote do Albuquerque, que se tinha adian-
tado ; salvou-se por^ a gente em um^ das janga-
das, sem mais damno que d'um soldado ferido. Ji
neste tempo abordava a gente do seguado bote a
nao pelo outro lado ; cinco soldados com o seu ca-
pitao aobirao pelas taboas do costado e pelas cor-
daSy e a for^a de braco se fizerao senhores do cas-
tello de proa. Um so soldado nosso pereceo n'este
atsalto; ferido d'um golpe d'alfange na cabe^a,
caio ao mar, quando ia a saltar a bordo. Os sette
que ficarao no bote, attentos a soccorrer os corn*
panheiros, nao advertirao na corrente das aguas, e
forao apartados da nao e do intento. Neste tempo
disparou a nossa artilharia de terra ; recolheo-se o
Flamengo sobresaltado ao castello de poppa ; erao
08 inimigos trinta, e vendo-se atacados somente por
cinco J quizerao fazer p6 atraz ; mas os nossos, re-
cobrando animo , avan^arao aos HoUandezes a es-
pada, com tal furor, que matdrao sette, prisiona-
rao qninze, e obrig^rao a que oito se deitassem ao
nar, onde encontrarao o ferro , e o grilho de que
ibgiao» Asaixi ganb^o aquelles cinco Portuguezes
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a nao pela maneira dita^ e a dila por valor inandito.
— Vendo os Flamengoe no dia aeguinte rendida a
nao 9 e receiando que o mesmo acontocesM aos
dous outros navios , posdrao fogo ao que guardava
a paaeagmn , chamada de Tap«aauma , e fc^rao a
nado para terra ; o que riato dos noaaoa govema-
dorfSy ineti6rao«M no baiel da nao rendida, com
oito mosqueleiros, e a Toga arrancada passlrao a
envestir o teroeiro navio ^ que eatava em guarda
do vao J que se die d'mitre dous rioa ^ o qual ran
ddrao com a vista , porque oa Flamengos que o
guameciao nao esperarao aer ataoadoa para o ahan«*
dooarem y salndo em terra com tal medo que por
toda a iiha forao tocando a rebate > e amotinando
OS moradoree. Ganhadas as duas naos com tao pouoo
cuato mandarao oa noaioa govemadorea Urar-Uiea
o velame, enxama^ artilharia^ maalros, munigoes
e mantimentos ; e para que o inimigo se nao apro-
veitaase dos vasoa, os eQtr^;arao ao fogo, que em
breve espaco oa consummia.
XL. Oocupava o ininiigo a fortaleia dhi villa j
temeo-se assaltado , e nao ouaou ataoar oa noaaos^
que espalliando^ae peta ilha, reoDlh^nb o que t'mba
preatimo, quetmirao o que nao tinha servifo, e
deixarao aaaobdoa oa alojamentoa, e akiriaados
Indioa, e tudo o que podia west de utilidadaao ini*
migo. Mandou ogoveraador Joao Feraaadea Vieira
tocar a recolheri passou*M a nossa gente a terra
firme, e com os despojoe daa u&oa, e da iUu mar*
ch4rao todos para o Arraial ^ deixando ordem e
geute para qoe ni praia que ehamao o§ Marcos aft
levantaase tima for^a que fiaeease opf)osioao* ad kga^
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migo. Tendo porim noticia que o Flamengo tinha
desemparado a fortal^a da yilta , a qual tambetn
a fora dos babitante$ ^ mimdarao ordem os goter-^
nadores para que, retirada a anilharia da fortaleza
a desmanteUa^in pela impossibilidade de se con-
servar 9em grande dispendio, e grande risco; o que
assim se executou. — Esta faccao teve tnuito ran-
tajosas consequencias para as nossas armas , sendo
uma d'ellas o paasar^'-se para o nosso Arraial um
maioral dos Brazilianoe , com quarenta Indios de
sua jftrisdiceao, que os nossoa goveraadores remet-
tdrao a D< Antonio PbiKppe Gamario, com recom-
ificsida^ que 09 tratasse bein^ e Dies d^sse aloja*
mento em parte <mde podessem grangear a Tida,
sem sobresako daa armas hoUandezas.
XLI. Tmhao os Hollandezea celebrado com
salvas d'artilharia a chegada de tres natios em que
a Gompai^ia Ibes maudava soccorro de soldados e
muni^oes, e promeasa d'rnna forte armada que de^
veria resaarcir todas as perdas. Nao se aher^rao os
I10S909 com esfas notas, autea recobrirao novo
animo^ porque neste mesmo tempo entroti no porto
de Tamandar^ uma fragata nossa com cento e qua-
renta soldados portugueies ; no pontal de Nazareth
entr4rao trez caratellas^ com mfantaria, armts, e
gmeros queiao para a Bahia, e um nario carrcgado
de Tinbos que ia para o Rio de Janeiro. Todas estas
embarca^oes ae defend^rao A>9 Holtandezes> qtie
no mar Ibe derao caca : ctreumstancia, que com a
do tempo inspirou maior alento aos nossos.— Erao
08 nossos goTemadores mui precatados ; e reccosoa
da cbcgada da es^dra inimiga, depots de ourir 0
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IM CASTRIOrO LUftUAIia
conselbo de pessoas enteodidas, resolv&rao mandar
retirar os moradores da Paraiba e da Goyana para
a vizinban^a do Arraial, porque estando unidos,
perderia o iDiroigo a esperanca de os veneer separar
do8« — Em quanto esta ordeni se executava, teve
aviso o capitao Francisco Lopes Estrella, que guar-
necia com sua gente a estancia que cbamavao da
Barreta, que duas lanchas inimigas i v^la e aremo
sobiao pella corrente dos rios Tigipid e Giguia,
perto da paragem onde se ajuntao para entrar no
mar. Adiantou-se o capitao com o melhor de sua
compax^iia a esperal-as d'emboscada; Ic^oque teve
vista da primeira saltou & agua com trinta soldados;
deo-lbe duas cargas , abordou-a y e com morle de
oito soldados boUandezes a rendeo; e com elles,
e com toda a carga (que Qra de mantimentos) a ma-
reou por entre os arrecifes, a despeito da artiUia-
ria inimiga, at^ lan9ar ferro na Barreta. A a^unda
lancba, assim que- vio a sorte da primeira, a v^la
e a remo fogio para o Arrecife, donde tinha saido.
— Vinbao estas lancbas com soecorro para a forta-
leza dos Affogados , que estava em grande aperto,
e como este se baldasse j despacbarao outro por
terra as costas de negros, mas nao forao mais feli-
zes, porque os soldados de Henrique Dias os espe-
rarao, emboscados entre os mangues d'um lamacal,
d'onde com repentinas cargas os ferirao, e sobre-
saltearao de maneira que escravos e soecorro tudo
ficou nas maos dos nossos.
XLII. Com successos pouco desemelhantes
se foi continuando o exercicio d'umas e outras
armas at^ aos 20 de Julbo, em que o inimigOi fa-
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GA8T1I10T0 IDSlTiJIO. 4&1
vorecido do escuro da noite ^ saio com iodo o poder
para atacar a nossa estaocia que cbamavao dos
Marcos, com determina^ao de a ganhar ; mas saio-
Ihe a conta errada , porque os nossos, advertidos
com o rebate das sentinellas se prevenirao para a
defesa , e receb^rao o inimigo com duas cargas de
mosquetaria. A promptidao da resistencia, e o ino^
pinado da vigiiancia quebrou de sorte o animo do
Flamengo y que descomposto Tirou as costas> e nao
parou senao junto de sua artilbaria , at^ onde o
perseguirao os nossos^ com tao boa foriuua, que
fazendo no inimigo grande estrago , se recolhSrao
com um s6 soldado ferido.
XLIII. Era, Joao Fernandes Vieira o (error
dos inimigos por seu valor e vigiiancia ; crescia
seu credito e reputa^ao y mas crescia tambem a in-%
veja contra elle. Houverao Amnios ( e chegarao ao
uumero de dezanove) que nao contentes de pagar
com ingratidoes os beneficios que d'elle tinbao re-
cebido conspirarao entre si para tirap-lhe a vida*
Esta negra trai^o foi por vezes annundada por
escrito ao governador, e at^ houve pessoa que o
avisou de palavra, indicando-lbe os nomes doa
conspiradores; mas elle nunca quiz dar credito,
atribuindo a malqueren^a o que era dela^ao verda^
deira de crime premeditado. Informado o m^tre de
campo Negreiros do que se passava , buscou o go-
vemador, expoz-lhe o perigo a que se expunha,
e instou com elle para que mandasse prender e pro&»
sessar os eonjurados , cujos nomes erao ja conbe-
cidos ; mas Joao Fernandes Vieira^ dq>ois de ouvir
attento o mestre de campo , mais espantado qu»
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oreddo, rcspoadeo que tndo quanto naquella mt-
leria Ihe tinhao dito, era invencao da malicia , que
a titnlo de Mguranca solicitava a descomposicao de
tantos homens nobres^ como erao oa calamniados.
Todos oa nome<m, e concluio diiendo : Que ae
aquelles, sendo homens de qualidacle, parentes, e
obrigadoa the desejavao a morte , de quern haTia
de fiar a vida ? Que o apurar verdade de tanto peso
nao podia ser sem injuria , e que seria intoleravel
desaoerto criar inimigoa com oa arguir d'infieis.
Fez o roeatre de canpo ootras muitas diligencias
para convencer Joao Feraandes Vieira do perigo
que o ameacava , mas sempre de balde : agradeda
aem|Mre o cui<fado, julgando superflua a diligencia;
mas em breres dias oonbeceo, mnito i sua custa ,
de que parte eaUta o erro«
XLiy. Saira um dk Joao Fernandea Vietra do
aeu engeobo ^ e eomo se adiantasae dgnm tanto da
guarda que o acompanbara^ ao entrar n'um baalo
canavealy trea Mameluoos Ihe encararao aos pei(o&
trei espingfuardas , com tanta dita do go?ernador
que so uma pegou fogo, cujas belas Ihc pasairao um
hombiy>de parte a parte. Metteo o governador mao
a eapada, avancou o caTallo do cerco, que por ne-
Bbuma parte p6de Teacer. Acudirao logooaaolda*
doa ohamadoa do tiro, e informadoa do caso saka*-
rao a oerca, alcanoarao o aggressor, que aan deiDora
fizerao em pedaQOs ; poserao fogo ao cama^eal, para
que morressem queimados os outroa doua Mame-
ktooe; per^ ellea pod^ao sair p<M* outra parte
antea qeie o fogo ateasse. ~ Vohou o governtdDr
para ana oasa^ qoe diatava jneia legoa do Airaial,
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QA^mimQ iivaixMia &43
para se owar da fejri<la; ibsouIoq retinr todos o$
barcos que serviio 4 paBsagem do rio, que entre o
Arraial e aua caaa ae anCr^uoha , atevendo o que
depois succedeo. £gpaIhou-se a nova no Arraial , e
com ella tal alleraQao^ que despresada a obedienoia
oorr^o officiae^ e soldado^ a casa do govemador
pediodo com tumulto o noma dos traidorea para oa
queimarcni. Foi merc^ do ceo nao se lerem divui^
gado 09 nofiiea doa deaanove da ooi\)uracao , que a
mQ aer aaaim » fora o caatigo maia eacandoloso que
a culpa. Nao meoor, o per Teutura maia perigoso
ibi o alvorooo que a aM>U€aa eauaou uaa eatanciaa ,
porque ocoupadoa do aeBtimeiiU) e da eokra es*
queoiao o iuimigo. Ck>rriao todoa para casa de aeu
govemador eoio um meamoaDimo, £stava eUe aaur
grado e de eama; maa teudo uotioiadQ queae paa*
aava, aallou fora da caBaa, bdouIou a cavallo, e fbi
ao eaooutro doa aoldadoa que acbou ua pasaagem
do rk) 9 delidoB pela faUa de bareoa. Com roato
alegre minoroa a opiniao y e ai^io o arrebatado *
daaaUuo de deoaram aaua poatoa arriscadoa a in-
vaaao do imm%o. Com corlesia e brandura os t^
dutio a obediWia e a diicifdina ; e com a pro*
meaaa de que o delicto aeria punido com ledo o
rigor, fiearao aaliafeitoa^ e vollarao a aeua poatoa
e eatanciaay dando provaa que ae amavao o aeu go*
vc^nador como a pai tambem aabiao obedeeer^lhe
Qomo a attperior.
XLY. Socegado o tunuUo^ vc^lou o goveraador
para lua caaa a coatiauar a cura ; logo que ae
achon reaUd)elecido» owmWu obaouur aeua inimigoa
(fe qiMm qwm a eaaaoda^ « na^ a ruiiia* Nao re^
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hkh GASnUfOTO LUSTTAlia
sarao elles vir, certos na clemencia ; e ouvirao com
submissao o que o govemador Ihes disse. Com as-
pereza Ihes afeou a culpa^ accasou a infamia com
a recorda^ao dos beneficios ; exagerou a maldade
com o vinculo do parentesco); provou-lhes a per-
fidia e a villeza d'uma similhante traicao , e por
ultimo Ihes disse, que supposto que como seu go-
vernador, por elles mesmos acclamado, tinha bra^o
para os punir^ o como Joao Fernandes Yieira,
espada para os castigar, nem d'uma nem d'outra
cousa se queria valer, para que conhecesse o mundo
a differenca que vai d'um cora^ao yil a um amigo
generoso ; e que nunca permittisse o ceo que seu
valor se manchasse com a opiuiao de vingativo ,
nem que por sua causa se derramasse sangue de
Portuguezes. Emmudecidos da culpa e do pejo ,
sairao conftindidos da preeenca do govemador, mas
nao sairao outros^ como depois mostrou o tempo.
Condi^ao propria i do ingrato augmentar os ag-
gravos com a present dos beneficios.
XL VI. A causa que tiverao os dezanove conju-
rados para incorrerem em similhantes delictos,
perguntarao os curiosos ? E responder^ a verdade,
que nenhuma outra mais que o verem-se prece-
didos na prosperidade que os sustentava na opiniao
de honrados. Desejara saber o leitor que conve-
niencia , ou que premio esperavao os traidores ,
que OS podesse obrigar a resolucao tao feia. Entao
se escondeo , agora a diremos, porque depois de a
encobrir a politica a puMicou o escandalo. Prati-
cava-se que tinhao assentado com os governadores
do Arrecife entregar^lhe a terra ^ tirando a vida a
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CASniOIO LDSITAlia hU
Joao Femandes Yieira, que Ih'a defendia : verdade
que sedescobrio com sediYulgarem algumas cartas,
que OS nossos cabos maiores tomarao a uma mu-
Iher, que foi a terceira de tratos tao infames ; os
quaes remett^rao ao governador g^ral do Estado
Antonio Telles da Silva , como a juiz competente
de similbante causa. O que d'esta dilig^ficia se
seguio nao pod^mos n6s alcancar, ou porque a
jrazao d'estado o dissimulou, ou porque alguma
diligencia o escondeo ; para claro manifesto de que
foi Joao Fernandes Vieira varao tao grande que
venceo os mais poderosos inimigos e os mais refi-
nados traidores, porque Ihe nao faltasse entre os
capitaes da fama o ser temidoe invejado ; e porque
OS excedesse em sair victorioso da inveja dos pro-
prioSy e do poder dos contrarios.
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UVRO X.
SUMMARIO.
1. Tonid* porto no Afrtdfe botw e^>of, eoMimit potooM i
^ % Aprestao-M ot noifos part t resiitencit ; mandtto retirar 00
moradores da Paralba e Goyana.^S. Sai SisgismuDdo do Anecire
para ganhar a Til la d'Otindt ; r«iiri-fe doseotnpotto. -^ 4. Ilaiida
Sifgifmondo aaiaUar a villa eom dobrtdo podor; fuectdo-lha o
meiiDO. — 5. Inteota ganhar a estaocia do Aguiar ; of nossos go-
vernadores Ihe fazem virar ai costaa . ~ 6. Porfia Siigisnidndo em
tua demandt ; conaogtie aaquaar 0 eDganlio da Sio Barchtlomaa, e
a pofoafao da Jangada. —7. 0 Camarao poo 0 inimigo em mise-
ravel fogida ; Siigismundo se imaginott captiYO. — 8. Manda
saquear 0 Rto de Sdo Francisco ; 6 destrocado pelo Rebellittho. -^
9. Intenta Siagia niindo fonifioar-te junto a IgnarafCi. — 10. An-
dr^ Tidal marcha para a Paratba -, inteota assaltar a Barreta ; o
inimigo soccorre os seus sem effeito ; levantdo as nossos 0 ceroo
e se retirao. — 11. 0 Holiandez sai do Arrecife com toda sua ar-
mada, toma 0 Rio de Sao Francisco ; deita gente em terra e se for-
tiGca. — 12. Resohe-se 0 govemador em desalojar 0 Flamengo.
— 13. Morre 0 RebeUinho ; perda dos nossos. — 14. Nomeia El Rei
0 conde de Villa-Ponca por general d'uma armada que manda ao
Brazil; Sisgismondo larga 0 sitio, e se retira a Peroambuco. —
15. Antonio Dias Cardozo vai a Paratba, e 0 que resulla d*e8ta
yiagem. — 16. Sente-se a falta de mantimentos entre os nossos, e
como se remedea. — 17. Parte Andr6 Vidal para 0 Ceard Morim ;
aproveita-se 0 inimigo de sua ausencia; mas Joao Fernandes
Vieira Ihe refreia os intentos. ^ 18. Chega a Pemambuco a noya
da armada portugueia. — 19. Fazem os nossos a fortaleza da ba-
taria, sem que os inttnigos os sintao ; os quaes atemorizados man-
dao recolher 0 seu general Sisgismundo. — 20. Os nossos assaltao
e saqueao 0 paco do conde de Nassau. — 21. Eotra Sisgismundo
no Arrecife com a sua armada ; layanta uma fortaleza em opposi-
Cao da nossa bataria. — 22. Diyulga-se em Pernambuco ser che-
gada 4 Bahia a armada portugueza. — 23. Marcha Henrique
Dias para 0 Rio Grande ; ganha a fortiOcacao das Guarairas. —
24. Em Cunhaa Ihe entregao os HoUaodezes oulra; Tolta para 0
Arraial Yictorioso e com despojos. — 25. Nomeiou El Rei a Fran-
cisco Barreto de Meneses por meitre de campo da nossa campanha ;
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Qijsmmo una Am. Ml
lit TUgeiB 0 captivao of HolUndezets mag eonMgue fagir do
Arrecife para o Arraial. — 26. Prepdrao-se os dosios goTeniadores
para mistira rnna grande annada qut aalra de Hollaiida; a qaal,
dapoM df aavegar cotn diveria fortuaav chaga «o Arrecife. —
27. Admiravel fidelidade , valor e constaocia dos Pernambacanog.
— 28. Oi nosBos goyemadores mandao rctirar os moradores cir-
eomtttliihoi para t Amial. — H^. PubUeio ot do govetoo oa
perdao g^al , e esererem a og noafot goTernadoreg ; por am en-
viado remettem as cartas ao Arrecife.
L Um anno I menos poucos dias, se tinba pasr
sado despois da batalha das Tabocas^ em que o ini-
noigo come^ou a perder terra e dominio ; quando
em 20 de Julho de 1 646 aporlou na barra do Ar-
recife o general Sisgismundo Vanescoph com uma
poderoaa armada^ e nella quatro mil infantes, que
conduzia Jacob Estacourt , um dos principaes da
companhia occidental « de que ]a temo9 fallado no
terceiro livro d'esta historian Deitarao ferro com
multipUcadas salvas, desembarcarao com muitos
vivaS| forao recebidos com festivo alvoroco : effeitog
nascidos da confianca que a todos prometlia a res^
tauracao do seu imperio. Sisgismundo depois de
reunir todos os cabos, e todos que tinbao posto no
governO) dis8e«4bes em ar de refurehensaoy que se
admirava de qtie taes e tantos soldados se deixas-
sem cercar e opprimir de quatro bizonbos, que
nunca yirao guerra ; tao fracos d'animo que s6 a
voz de seu nome os punha em fugida para os^ma-
losi com menos temor das feras que de suas armas*
Todos ouviraoi e callaraOi esperando castigada sua
jaotancia pelo mesmo engano de seu desprezo*
ilouve com tudo um dos presentes, menos sofirido,
que the censurou ademazia, dizendo a Sisgismundo
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us cAflmMno LtmrrAiia
que nao pesava bem os successes quern nao fazia
differeu^a dos tempos ; que o presente Ihe faria
entender que aquelles xnesmos homens que no pas-
sado fugiao timidos^ ouvindo seu nome^ no pre-
sente, vendo sua pessoa, a haviao d'envestir a es-
pada com desusado valor ; e assim aconteceo como
adiante veremos.
IL Inteirados os nossos governadores do poder
e desenhos do Flamengo^ e que Sisgismundo como
tao experlo soldado havia de por todos os meios
para os levar a efleito, trat^rao de emendar as des-
ordens passadas, como causa dos passados infortu*
nios. Despacharao ordem a D. Antonio Phelippe
Camarao, que assistia na Paraiba, e a todos as
cabos que fizessem retirar todos os moradores, que
por froxidao se nao tinhao retirado da Paraiba ,
Goyana e sens destrictos com todas suas familias,
bens^ gados e roantimentos^ aos quaes comboiassem
at^ OS p6rem em seguro entre o Arraial e a villa
d'lgaaracu^ que destinavao por fronteira, para que
assim reunidos se tomassem mais fortes. Prov^o
aquellas estancias que circumvalavao as fortificacoes
do Arrecife de tudo o que Ihes pareceo necessario
para a resistencia, medindo os aprestos pelo perigo
e a deligencia pela importancia , fazendo-se ver na
boa disposicao de suas ordens a inteireza de sens
animos. — Notificados os moradores, obedec6rao
pontuaes as ordens, certos de que na execu^ao
d'ellas consistia seu remedio. Com prompta dili-
gencia largarao engenhos, casas e fazendas^ carre-
gando tudo que podiao trazer, e escondendo pelos
matos 0 que for^osamente haviao de deixar. Pos^-
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lio^de em. mavdia amstklQft de todia a gefite de
g^terra , e apeear (fe gerem piur ella protegidos ,
nao tiverao pboco a spffrer nas trinta fegoas que
Uyfriko que alravessar, veodcvse obrigados a en*
Wiraf e a esoonder no maio suas allaias e roupas,
porqiie mmlos doa escravos, aproveitando esta oe-^
caaiao a fai^or da noite, fogiiiao abandoiiaiido seiii>
senhores, deixattdo pela eatmda os bens jque tra*
ziao. Cbegipao a villa de Iguara^^^ por eujo des-
tiioU) se ddx4rao ficar algimsy abrigadoa daquefie
presidio ; outro6 se accomixKKUirao pehi Varzea j t
sombra do nosso arraial ; os remaaeoentea padsarao
a Timer nos €ontm*ii08 da fortateza do pontal de
Nazareth.
III. Aos 5 de Agosto saioSisgiamuiidodo Arreeife
com mil dnzentois homena , e com penaamento de
gattiiar Olinda por entrepreza. Fez a marcha pela
praie^ servindo-lhe o rio de trmcheira. 0 capitao
AntoDio da Hocha Daibas^ apezar de nao ter senao
trinta aoldados , com que esCava de guarnioaio n'uma
trmcheira^ saio a receber o inii^fiigo ; foi logo imi«-
tado pelo capitao Braz Soares ; nao tardou tambem
a vir em sooeorpo d'estea o capitao Soares d' Albu«
querqiie 0001 a gente da Moribeca ; os quaes todos
«iirao a praia^ inveatfrao o inimtgo com cargaa tao
repetidas e tao firme deuodo, que o doscomposerao
e conhmdirao de sorte, q«e nem a muhidao dos
Flamengos, nem a dtligem^ doa eabos, nem o res*
peito de Siagiamnodo podArao eaeuaar a deaordem,
com que vir4rao ae ooataa ^ correndo a buacar o
ampajx> da: artilhaiia-'de auas ' forlakzaa. -^ Rece-
beo entretairto Siagnmqndo um gcosso aoceorro do
L 29
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eiCjjWMk^nggitiileBlQttiWipBr o»WiW|w»; nMis#t
balde, pon|ti0 iriM^ao potto dii fdifi, arecefc^iM
ceift a pmn^ra^^i^ft^ e tego 4 eef«da o ipreidvM
e raQftpdrio^ AMdo^abconlMKstr «» geanral S«g|i»^
■oveM i deiigMkkde dos got(iM. Ditpiinkft-M o
iMOii^o faam reMwr tCMeivo tlMpi^, qaaod^eh^-
gQ«i JoMFemodMVMifd, vind^Mle AnMw)> cTond^
adra i prkntigM lom db r«ba«e. Gmmb sot Tizi^
nh^nct tamftc^aalterimiOBmlidilMulcwSyqueas-
cpHcJApa jk fiiiripliM e da vwiyaha fagfefco pwa »
Arrccife, ^eiiftra db ^pial OS nan^le8«n^
IV. Nao se deo Sisgismundo por vencida; anteft
pmadt)a oilii dnft car4n«ti. a saw cabos qae com
4i>)rado poikr c<MWiette»aii a intterfurfaa da Tilla ;
d que fisaiM aaiAdo d» Arractfe en^ f 2 da Agottba^
■Mmcoafiadaa^ ptin^fM cMi 9»ca anwera. -^ Os
ci^itlaet doi pMsidia^ acitta noneadasii. que imo
aabHo pavdar oooaaiao de kMura, a a finiae da a
b«sonr desiroB t prMnptoa,. c«ne aasMadoa no
(dkoque pasiwto^ aaiirao ao cftoaKtm de iMOHgo
eom tattte mbr e fuma €|fua 16a npnedcaa o ar«^
IjuUm^^^ <y>Haraoia paiao, <k sarta qua em sua
aapeaa IbadoqaoateMiMaiatelriMoa^ poccppe hoava
leaapa. ima/ifribe-o aiocpfvoy qitf
kiMs saio am nataa hrtm, gooyasadaainhaenadast
eaaa qwoEhuaaagndntrjwuMWiaaiB^ptfdiy^.a fiatsBt
caaiinhfit d'iMna para anlia ^vklaaia^ ohfietndD o
Hottaadiez, a ifM viaasaa aa( ooflia% « om chipiaiao
aaanpo aaukoi i «i» diala, aaaaapttidabiaaMak
V. Va9db.^«i«iMmdo.qiaii|^ caftt
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tra a vHift , imi^oii de projeeto, e tnancbu aracar
a noM! tmmtma, ^e chtfndT&a de Joao de Agtriar,
mas nio livmo Melhor fortuna que na precedmte
tentaiita. Ao romped do dia acenMo a passar por
aqndlB paHe os noiUm deseobridores do canrpo ;
aemitao aa emtKMcadas do inknigo, todirao anria ;
eavH>«9e na eBtatitia o rebate; a effle f^rfrao com
incrivel presteza os capitaes Antonio Boi^^tJdioa,
e Francisco d'Abreu Lisbon com as 9tfas compa-
iifaias ; poucos em numero j mas tantos mats no
animo, que de cara a cara envesftirao o 1!olland«^z,
e the deliverlio a marcha md qiie se incorporoti
com eHes o Camarao com^ a g^ente de stta estancja,
ekasMKla Ciqut4. — Ja neste tempo se appKcaTa o
Flamengo nwria ao^ reparo qne k offcnua , por6m
sustentaTa o peso ^ batatha com valor e ftirma.
€hegarao outroa capitaes, qae comecfatro a ptcar o
eaqnadrao ittHnigo de tado, e Ihe mandarao tocar
arma pela retagnatida , com que desatinado o Hol^
landez, perdco animo, e comeemr a retirar-se em
e<rdem; forao os noswos segnindo-o, fizerao alio
onde podiao chcgar a6 bales. Chegon entrelanfo
Joao Fernandes Vieira com os ma is goreniadores ,
e nao po<Aeiido soflrer qiie os Holhindf res , prote-
gfdos peki sna artiUiana, mjuriassem os rms^os
como com efifeito faziao, disse, que a artilharia do
itiimigi^ em eapanta^elhacos, e valhat^omo de ti-
nddos; qnesecasttgaBae a fantasdca conlianca d^a^
qfiettetl Ftameogos aCreridos. Mandon que se avan-
caase de corrida, ana forma prolongada, porque as
ialas d& nao podessem tmiscar eem pontam certa;
dMo«siiQM06«}»*tmeiraearga9 ecom a^spada
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k9i GASTftlOTO MBWWH
qa mao iuveslirao o mimigo, o qnal priBMiro £»-
rido do espanto fpi^ do ferro, com iumullo e des*
ordem se lao^ou a cava dt sua fortal^Eia, sem (|ue
o coofuso tropel da Tuga reparaaae nos muitos que
na agya da cava bebiao a morte. Vifw o$ Aoasos
que nada mais podiao obiisr^ toliirao espalhados e
de corrida, sen dano algum, deiiaodo os HoUan-
dezes no aasombro. v
Yl. Coaveocido Sisgismundo que nada podia con*
seguir pela forca, determinou mudar de meios em-
pegrando a arie. Em 15 de Agosto aaio pela meia
noiie do Arrecife com toda a gente que tiulia, pas-
sou o vao dos AfTogados, e fez alto no pa^o que
chamao de Francisco Bairreiros , a meia legoa da
nossa estancia da Barreta, em que aaaistia por fron*
teiro o capitao Francisco Lopes. Foriificou-se o
inimigo^ cobrio*se» plantou artilharia, com deter-*
minacao de sustentar o posto. Logo qOe nossas sen*
tinellas o avisUrao^ derao rebate, e se recolbdrao a
casa forte da estancia. Amanheceo o dia , e nao
appareceo o inimi^ , que se tinha escondido em
diversas emboscadas para melhor surprehder os
nossos. Conheceo o noaso capi4ao o esiratag^ma :
mandou trinta soldados a descobrircampo; o que
fizerao ouzada e ditosamente, porqueconsc^uirao
confaear a forca e intento do inimigo seoo pcrigo*
Com as noticias que derao maudou o qapitao aviso
ao Arraialy d6nde Ibe msvud^o sem daten^a qua*
troceutos soldados de soccorro. Cbego^ este a nossa
estancia, onde en^anado da cautella do iftimigo
se voltou para o Arraial ; tendo para si o cabo
(cujo name nao soubemos) qu^ aua tencao wo pas*
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CJUraOTO LUSITABO. &53
sava da fortlficaoio que se levantava. Vendo isto o
Hollatidez, imandcm dous mil sotdados com duas pe*
cas de caDi{ianhay quefosscfm a^altar a casa forte de
nossa estancia, certo na victoria que Ibe assegurava
6 poder; portot* adiarao os Flamengos tao dura
ifesistencia , em tao desigual partido , que se apar-
Uvno do combate com manifesto damno. — Reti-
rtrao-^Se pela praia at^ junto ao mar, onde forma-
dos estiverao toda a noite com demonstracao de
^gunda enrestida, para encobrirem com similhante
apparencia nova e diversa faccao. Tinhao mandado
uma companhia ao engenho de Sao Bertholomeo a
saquear, e tdmar fifigua ; tudo oons^uirao, e trouxe*
rao presos o senhor do engenho, Femao do Valle,
e Francisco Bezerra, que se hospedava em sua casa,
e que depots no Arrecife primeiro o buscou a morte
que a liberdade. Vendo os nossos governadores
quanto estava exposta a estancia da Barreta, derao
ordem para que se abandonasse, e que a genie se
h*tira«sc para os Guararapes, onde levantassem
uma forlificacao, qi:e servisse de ^eguro aos nossos
e de freio aos inimigos. ConHado o Hoflandez pelo
^uccesso que alcancdra, ?aio do Arrecife eiti t1 de
Setcmbro, e pela praia do mar tomou o caminho
da Jangada, qualro legoas da Ifarteta. Ao romper
da man ha deo sobre a povoacao, que estava des-
aperccbida por descuido ou ma vontade de sen ca-
pitao Francisco Lopes; saqueou o que quiz, des-
truio o que aelioii, e so Ihe fugfrao das maos
alguns soldados de cavallo, que ^esmontados se
galvdrao n'Um batel^ ainda que perseguidos das
bala^ aleao u)iim6 aldanco.
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yiL DecHse e^tretaiilo rebate 00 AnriMl^ amcticH^
capiiap FraocisQO Lopes, laa^ja tajrile^|pfrii«Kiirache^
gpQ .0 Caipaiao, 0 c^ual deounMi ou^ no ioittiga
Uiuto a tem^ q[ue cairao ^norto& quatora^ MoUanr
df z?s. Foi aii^entapdo o e9tr«go^ ^ com o oUraga
a p^xda do inimigo, 0 qual coftcdbeo^tal reoeio^ qw
busCf ndo a aalvacao m fuga, b>i larg9iido a$ annas,
e o royW per aligeirar o paa^o* r- Quqif inab qiM
iQdos se iulgou pel dido foi 0 seu ||paeral Siagisr
muodo. Gomo soldado media o tempo pela di&Uj»cia
do Arraial^ % tMiia que o alc;au9asse o soccorrog
certo que do^t seus ^ao ficaria p^asoa com vida,
Pronietieo grandes pramios a queiu possesse em
salvo^ua pessoa, porqjde Ihe ftlUva a agilidade com
^ue 09 seus sem prdem alguma corriw a m^U^iHS^
^ Ikrretat ^ii que deniro de sua forliiicacfio se
yio Cc>ra de risco , mas pSo do medo. Aaiim que
ealrou aa for^alaza^ sol>io ao filto della, e olbaodo
para 0 Uigar do. conflicio, vio que o mestre de
campo Aadr<i Yidal Ube viuha do eucalce com uai4
gposs^. parlida de soldados^ ^ disse para os seus ;
« De boa escapamos. »
\UI, Vendo Sisgismundo que por terra nao era
feUz^. ^ui% tentar fortuna por. mar. Ordeno^i aoseo
sargcDto jBiiaior^ que se cbamava Andrezon , que
cojna uum esquadra de p^osde.guerra., e muita e
bo9 infa^laria^ fosse sobre a povoa^ao do Rio de
Sao Frapcisco , e nella e todo seu destricto assolesie
t^do 0 que vi$se com vida e com prestiipo, reco-»
ll^exidp tgdos os mantimeqtqs do roubo, e cha-*
mipdo a si todos os gados da campaoha^ Saio An-
drezon do Arrecife; tomou a Barraemos primeirq^
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^reiirirag iodq«(^ ittoq»4or«6,ogf^4ii4o^ue:pfNUr
e^Jciita^ dp.ier«[K> da Shi^j v^Md^op^Xt ph-
yeriM^ g4r4Jl dp £&ia(d9 Aai^iftua TeUoa da ^IvA.
^ |i9doa f ^Ui^ e j^a^ll^€4i ; e feip aua ^tSfmm
4.'<9}idb.^4u^ 4^si^ cgm aiai# iniiitf|>livo n^ fm-
4tta4dau oonduair para a (wi#v^ da Babia^
tou Sifigjrawttdo tfm& vftna vea ^ s^rxe 4a& «raiM.
DiliunA Boiie eacuna d€ QuiulM^o aajc^ omu .iodo e^u
^o4^i e jQoip dQH8RH> de ^;j4^i4>ar .« fo^rlfkUcfM: Uifi
^pMk) ^nUe a.viUa dc ]ff|iara^u d a ilba dJs Ita«Nif-
:raca (aiiio U]a|>ui Ual^ ^ara/ai>i:|ir e aasc^j^ar o ea(-
a^^lv^.por s>«d^ dcysfj^va^ajr a.pgawu^ffir^^Mir
fant^a). f <^ ,aentida.,ds|a posaaa yigijE^T^M^Btiip
i^jde temg^ queo ach^/orti^ado iq i^cd^^rtp,
.fi oiatrM ^^mdiiio ao rebate i com a g^nfa de $iwi
olK3d^^(i9« Na des^guaM^dc do jpartjhdaae vio a dp
^EaJ^mva q}jie os.ncmQa jay^aliraii^ 4 pfpittotd^aeq^
.4(^10, OfGom oa Uxiaiigoa &e defead^iio wHrin^iMtf-
.radoa^ e, fovormdo^ d*al^uiitf^ artUbarM i^iie ^
4l^fho assestada.^ A inH(iIi4ftdi^4a:p?^i^ s^9|»mr
4flo D cbodiut^ cai]^ ig^jialpei^d^, 4iMj^fi4Kvei f9a»/o
tt(iq[iigQ, peb iolere^ae dp £tci|r com q pq§to^i^U|-
tqsa.p^u^ <^ Bo^QSy. 9brj|;ad9^ ^.fy^r-^j^flfOr
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X. Cmtk o sueoesso reftrido se appUcou S^it-
nMmdo ao ajNresto <ie sua armada ; d%o estavao
ealretanlo iiuHivos m ntmoB gavemador^. No
V de NoveMbro marchou o mestre de campo An-
dre Vidai de Negreiros para a campanlia da ParaiKa •
A razao de nossas annas bmcarem iiesta parte sen
Mipr^ «ra pela graiide copia de gados que o
inimigo apaaoentava naqnelle destricto , deaempit**
rado do8 moraderes; e pela noticia de que a aom*
bra de auat fortaletts ae alojayap mais de trezentos
indios, seua auiciliares. Chegou o mestre de eampo
com delibera^ao de assaUar os Indtos , antes que a
noUoia de sua Tinda os acauleliasse ; portm vio-se
eneontrado do parecer dos sens ; e posto que ao
depois ecncordassem na determinacao^ ji nao pdde
p6i>4e &Kk obra, porque os Indios se recolh^rao is
|ira^s do inimigo com todos os gados que pod^o
tefar. Mandou Andr^ Vidal fazer o damno posstvel
6«i loda a capitania ; e mais queixoso dos seus que
dos oontiaipios , se rettrou para o Arraial com aW
guftacaplivos j unico fructo d^e^la jomada. — De^
«ejando o mesire de campo restam^r o credUo que
oria algum tanto perdtdo, assentou comsigo com^
ttoUer a forca que o HoHandez tinha ua Barreta.
-dommunie^u o pensamento a Joao Vemand^
Vittra, o qual ao princtpio o teve por arduo; mas
•depots eonveto neJle, e zti deo a piano para b
^ataque. Bm 2 de Janeiro de 1647 safe AndrS
Tidal de Bfegreiros do nosso Arraial oom mil in*-
HiMytes, doas pe^s d^artilhnria, cestoes, pas^ e mars
perireehos necessarios para asr cavalg^tr ; o tjue fez
nas ruinas da casa forte, que os nossos arra)iiio
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.^pia«do se fitrtirJK) idft^uflla cslaneia p«ra osGua-
r^jnpet. A'fgiuain 4m da MaslM se coimqou a
baAai!ia da.aosta parte , a ifue a arlilhaffia:do mi^
niga^ aio resprndoo $nm m dez boras da manha^
for .etiar iteaaaontach; povdmi a^ndo de maiar
calibre e maps baaii aenrida (fae a m>9aa, mo thoibao
« MNWoa lugar segwo senao nas catas. 0 Gamarao
Mm sua QBoAe IrdbalhaTa por lerar a cava a daa-
anbaear aa porta da farlaleaa) maa niio o pdde
caaaegmr por eactrntrar tinsta agua qae cobria os
joflhos dot 8oldado8«-*« Assm oomo a general hoi-
laadaa tete rebate da perigo eai qae e&tavao oa^eua,
4a^>a<tto aoo^Drro aws' apreaaado que opportuao,
laMgiaando iq«e ae poderia kUroduzir aa foHalesta
pda ilhala do Gbeira Dinheiro, a aode aefaftm a opi-
posicao que AadreVidal Ibe litiha prevraido , e
com o aviso engrottado , de «orte que o Flamnago
njk) so teve coatra si a resistencia , staao taiab^
aeavesUda, quae fez retirar e fugir, a buscar
^alno caniiviho* fatentoa rnetter o soocorro por
auav mandaadiftdobrado podpreni laachas; pordm
Mo Hie nicoedeo eomo imaginiva , porqae a aoasa
Artiiiiaria os fez aportar da fortaleza* Poi^n no
baiaamar desembareirao a genie nos arrecifes;
apoar de qae os nossos oa aiacarao com repetidas
earj^tSy e fiaerao n'elles bastante eslraga, ceaaoi-
-gaiiw com lado aco)faen*se aos imiros da fWtakai^,
e-de 14 forao sabidoa por cordas com a brevidade
que &es fa^ii«w o wiSdo e o perigo. — Pentad o
Flaiiievigo em tnandi(r novo<«occorro>n& scad eai
'doaa^piaaxog. fkirjK^esii^^aeoaBadasrdeaossa artf-
Hkariay 4%ixHm gModea ai^arias vnaris fi>Hio|refitfK
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fRdUv »ieiiii«itedamtoqrro^«iaMHidhraii4l»^i]»i^
•oiilro dia eUe scwa ImjAhii twwwia yir tatq^ , «
dolibapoii^ein.ratirar a iqBipoiff»^'agit>»aiMto Aie
ganha naa pedradas faem sutcedMn^, A' fjtiMnim
notta Iretiroii lodo •tMnai'd'wtilkaiia^ w^iniw
<» ptilTOGbod; emm ttMrikai^odttBb pefotao niaai-
.lial <ie oeroo, deixoai o gttb^.M^j^aiaJu aiMjFohaale
jwi genie com tal aocoffli »awie«y yw-o aio Bb#^
goQ a auapeitar o jkuniigo; jjiMtiwiiofe o^ittUntt)
H^tire BMtlas 6 niite q«rtK> feruba c peifi^^
em^M«»|iar«cao ik qde facabeo onrfiniig^.
XL Kd H«,da Fwet>eiro aaio o i^neral hottio-
ijegprifthagrt do Arracifia oom itMbaua vrmada^ le
Molia toda a fldr «le a«a mfaitarMUf mwiUbmmDM^y
mmmicoa e petrecfaoa^ wo a^fbra Aaaalarga^iM^
goaaaenao tmibefm pan UttaidttatfMia'^MipaHte.
Alaadou vn^r paca o Aio db£ao>Ei«MNeovii osdb
tamou p6rt0 a vi^laa, aem aaiif.a ti^m. AiofatM dhe
¥er^ d'alto foramdaae )Hri^pap«daa ibdaa aaoids
lie gn^rra 4'«qiiaUa eaqpindirav <x>aft cpa^xM AOTeofe
airfaa o Aiidn»on> eooi d nadttMr de a«i mSmtmimj
^uaaawJdaa 4a Awfo o aaoriMno. Sim«6«Qatfl».
^Mli: a Htoihar parlfao de |ua Mteada^ « # Hl^oa
pptMaa AhqueUa. porta o ilMwr taprtdftldballu i«i-
lenlar, pai^ua aa saira do Ahnrnfe aoaa V^yoAb*
JMkiay por 4Jlia Aa bavaa^ auapaMar m tm^tm^^ a
--wrifd. BodiA dMHir mmjIo a ^'^^'^'iimimi id^ nfllifiiH.
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Saio daq,u^lle rio^ ipoaiula^ ifp^ se eip^roa^e %
alUira da Bahia ; viagem que havemos de s^ffow^
por Qao cortara^os duas yez^ a |io da hntovi^, e
no fim da joriuid^ ^ dara coi^daqiy /mop^def
eai Pernainbuco o tepofio que dmrou aquel^a «xu^
presa. — 0 Gm que Sisgyisinuudo levara w&^Si ex-
pedii^o era lomar a prasa, ou pelo ip^os. divcrtir.
OS soccorros que da Bahia podiao vir aPen^^tmbueo«
Avistoii a Bahia, entjgaudo^ua fM^madapda^^soseadq
d'ella ipta forq^da^el uio^tra ide ^u pqderi ttal «
gpe ench^ OS olhos d'espantq e os ouvidos depa,*-
vor^ com as armas pin(adas pas l)andeu'2a,.e.€aia
0 estrondo das salvas ; mas t^mbqm epm alyorpSA
dps soldadosy que confiados na £ortifica^o^.j;vt>pre^
sidlo da cidade, q na eeperanfa da victoria d^rf^
zavao o poder, Ou por aviso ^jou,. por i^fj^epci^
conheceo o Hollandez a disposlqao dos nosso^ ^ a
nao se atrevendo a atacar a cidacje, ,^omou terra a
tres legoas de distaneia^ nUim sitio ehsiof^do Tapa*
rica, convidado d'um posto^a onde levaAtQU uma
forca, capaz de alojamen(,o para os ^dados^.^ d^
muita e boa artilharia para a d^ei^a. Em circula
do forte fabricou quatro reductos «m tal forma qu^
occupavao as eminenciasj| d'onde a £ortaleza,po4iii
receber damno ; e dos vasos de aiaa .axTpada iea^
urn cordao pela parte do mar^ que Ibe se^ia d^
muro. Nao deixou o Inimigo em todo o cjoutof nqcBij
genho^ nem fazenda qi^e nao roubasse a deji^twiwej^
nempor toda a costa embaJCcai^Q.queD^o §^^n
^uisse> ou tomasse, com o. que, ao.pass^ quen^
cidade crescia o numoro dos r€;tira4o3y .p;esci|L
t^mbema fal^ dos. mantimentos; e coqbecimeat^
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Ai desattencio , que deo causa a tao pemiciosos
dacitoSa
Xiff. O goremador g^ral do EsCado Antonio
TcMm da SSta, em cujo animo leria algoma vez
parte a temeridade , porim nnnca o medo , insti-
gado agora da repatacao e da magoa, se determinou
em desalojar a todo o ridco o Flamengo, insoflfrifel
pela Tizmhanca , pela deienca e pelas insolencias.
Para jnstifioar sen inlenfo mandou chamar os mes-
trcs de campo Francisco Kebello, Joao de Araojo,
Theodozio Estrater^ ^ ao sargento maior Assensoda
Silra^ aos quaes dectatou a resoluoao em que estava,
poderando-lhes com energiaf e nobres sentimentos
as razoes que o determinaAao a assim obrar. O
mesire de campo Francisco Rebello , faltando como
eonselheiro prudenfe e como soldado experimen-
tado, foi deparecer di verso do governador, e allegou
fortes razoes para confirmnr o seu dito. Ouvio o
governador o discurso do Rebellinho, e conside-
rando que os mats cabos haviao de seguir seu pa*
recer# atalhou a conferencia, eonfirmando-se em
aeu primeiro inlenlOy do qual se seguirao iri^epa-
raireis damnos. Poz o governador os olhos no Re-
bellittho, a quern encamhihava a piaiica, e disse
qnese haquelle congresso bavia qurm buscara
desvios para fiigir ao cboque , que ^ flcasse em
casa , t nao qntzesse desviar a enipreza ; que as
mats dlllicuHosas erao as que apeleclao os corj»coc5
grandeSi iquestf em fencer os inconvefiipnlescon-
aistia 0 veneer ; e porque conhecia bem os hninjos
dos que tmha presenlcs, Ihes hao queiia dilatir a
6ecasi&o da viclorra ; que ao outro dia se bavia de
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dar o assaUo ; e que se a fortakxa se ynh^ie ^
seria de iodoa a gloria, e qoando-se nao coqm^
guisse, s6 a cUe se havia de p6r a culpa. ProineUeo
a que^ Ih^ a^preseotasse a cabeca de 3iqgi$iaiimlo
premio da £g&enda real^ egratifica^aoda sua. £n«
tendeudo o nieslre de campo Francisco Rebello de
que sobre seu parecer caia a ceusura , respondeo
que uujna tem^ra Hollandezes quern cooio eUe con-
lava as victorias pelas occasioes; porim que apon-
tava OS inconvenientes da impreza^ e as cpnse-
quencias d'uma e d'outra fortuna ; para que sua
senhoria escoliiesse , se couvinha mais ao Estado
veocer sem perda^ ou perder sem fructo. Ma$
supposio que seu zeb e sua experiencia se avaiia^
vao por fraqueza, saberia mostrar que nao poupava
a Tida quem nao temia a morte^ e que o successo
diria o como sabia morrer por saber aconselliar.
XllL InQ^mniado no& eslimulos da honra^ e
cerlo nos perlgos da vida^ saio o Rebellinbo da
junta y e sem demora pariio para a fronteira com
OS mais cabos^ qua se achavao na confereucia^ r^
solulos todos em servirem & temeridade por nao
faitarem a obediencia. Escolii^ao mil e duzentot
soldados, e com elles ao romper da manba seguinte
ayan9arao a fortaloza inimiga, que os recebeo com
nuvens de balas , por entjre as quaes romperao a$
p^iasadas^, e subirao as triocheiras; buscando o$
golpes do ferro dentro dos inoendios do fogo, tao
alvorocados e dest^ondps* que, a Fiamengo oocu-
pado do aasambro , desconheceo ob affectos da in-r
veja, Nao erit metftpr o .valor com que o ioimigo 9^
deifeudiai, ajudaudo^e da forc« , da iudu^tna . e da
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lit MSIUOID VnrtMSKK
ikMspcracMw A temcko do ftimo, a c^trondb A>s
thros, <y ^ca das golpes, o assohfer das balas, o
gffiMT dos fcridos, o Iradar dos cabos, o agdnizar
do9 moribundoSy enchmo de horror ocombate, coni ,
fgiial lastima , porqne com igtra! pcrda. Os nossos
soldados mats cegos, como mars empietihados , nao
sabfto adTerfir sen&o em romo se ksrriao de adian-
tar ; porim a fortnna j on invejosa do esfbrco , ou
lastimada do esftago encaminhoa trni pelouro aos
pritos do mestre de campo RebelKnho, que ffie
tirou a rida , e deo fim a batalha , porqne a um
mesmo tempo cato sen corpo desanhnado, e ficou
o da nossa gente vencido. Os mesmoe que no com-
bate o naoperdwk) de vista, bebendo em sen exem-
plo esptritos para a hnitacao , rendo-o defancto ,
enlrc outra multidao de corpos mortos, recebArao
conselho para a retirada, que pos^o em execucao
com tamanha d6r como risco j era este d^innmne-
raveis balas que os segtrrao ; era aquella por ser
terror dos mimtgos o cabo que deixavao morto. —
Perdemos neste assalto quinhento6 para seiscentos
homens : damno que servio de medida ao desatino.
Nao bastott que sua fama os coroasse de humana glo-
ria, para que sua faka dvixasse de cafosar a todos in-
tensa pena. Oseompaiilietros os ^horarao saudosos,
OS do povo timido0, o govemador conftiso, e todos
arrependidoS) ainda que nao todos eufpordos. Para
fttter a perda tameiifavel sobcffaTS a th mestra dc
campo Francisco Reb^o , cojo none vmn a dimt-
rmiito de Rebellhiho, foi cm todo tempo merece*
dor ^ ma Anna eiitem^^lbor forfmlr. Bra spra valor
fgtial II 9QII indwtriii , e stta drseiptffiai iBtior qtre
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\m> m^«^iiMofi'wumj e.eM sua mfiOali^a ; d^
%4Wics fHNT^Vie 9e i»it«uo« a^MirUa id^ e^m dw
iWMh S4A ftei^iiil^ A inwto de Ajfitaok^jGigo^ah^
sensivel Q;4ami^t e agwa a 2Q#gM. ^ se eseoynder
T^if^ ^em. H09^^ detoUo <l;i terra, que cobria svus
cq^pf^, S^o fofida o sapgenU) iBa^>p Assenso da
Silva^t 9cn qutJCQ» nwikia oiikiaes e soldidoB^ m^^
Q)dl>aDte$ na gloria, dis^meibaDie& oa sorte,
XIV. Ch€g^a a^i&a a Portugal do aperto eiq
que ae ai^ava 4 Babia, ap oi^aio temfx) qu/e de.
U^Uaada Si^ ^^cjrevia pj^r parar-^e nova &o4a parase
ittandaK ao^Bcazil. Froo^pto eiaapplkar re0>edioa
taq gpaadf mal n^iftw^ o 3euhor Bom Joao IV para
g^A^al de wtr aa conde de Villa PcMjyca Ajatoma
T^U^ da SUva ; cQasig<¥>u-4be cabo&, gente^ mun^
gime vafOA, de que sfi.Q(>Q>poa utta grossa armada
par^ ir de$aU)jar a Siagismiiudo-.— Vooaa xkova
aa Arr«ci£a; auspeitarao es do gayemo; em sua ca-^
be^aa gptpQ « a i«ais. i^rtog uo temor que i^a espe*
iim%9k dcspacbMto mn eorreio a Babia^ ordfisaandQ
a SisgUimuido. l^vaase terra e ««ieg^si^ para Per*
uwibuiQO,. porqua a divisap do podt^r Aao oceanic-
uaMe a. pifH^di^ de todoa. Con£6rp^u-3e o aviso
QQKt Qt desiji^ d^vgaueval bolUodiea^i e« sem dib^ao
tlilbacew]ra,wtilbM*ia, pc^ fogo ;^ quarteis., r&-
caU^ea a^irvU^r l^^^W^ P4)^i9i<^» e.tomou a derrota
4e Pe;(aVttbapQt*i^<><^ c^begcoi i\o lau doaoiao de
^^7^ t^fiPfifijdA «fimQ ji'elle saira,uiana Em. $eti
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retebiffieniD Ptte mais parte o faiio qae o alToreco,
porque 8e recebiao os Titos que ehfgavao com as
lagrioias com que os ollioa choravio 09 niortos que
nao Tiao. Eate foi (bretcmente rehlado) o soccesfo
da Jornada que Sisgiamundo fez a Bahia (corao
alheio do nosso assumpto ) ; agora diremoe o que
pasaou na campanha de Pemambuco o tempo que
d*eUa nos apartou a vtagem, estada e Tolta.
XV. Entrefanto que Sisgismundo ia com a sua
armada sobre a Bahia, chegou da Paraiba anso de
que o Hollandez se occupava em grangear e plantar
canna, cultiYando aquelles cannaveaes que impe-
didos da chuva nao acabou de consummir o fogo ,
quando os moradores se retirarao; e que a gran-
gearia ia em augmento muito consideravel , e que
estarao em vesperas de lancar a mo^r o engenho
de CunhaA (dezoito legoas da Paraiba ). Conviiiha
a perseverenca e reputacao de hossas armas cortar
de urn goipe a posse ea esperan^a do inimigo ; para
o que saio de nosso Arraial em 16 de Maio o sar-
gpiito maior Antonio Dias Cardozo com (rezentos
trinta e sete homens. Assim como entrou na-
quella capitania despedio ao capilao Cosme do
Rego Barros com cento e sessenf a soldados, e ordem
que assaltasse e destruisse o engenho de Gunhau ,
e (odo seu destricto. O inimigo, que ae tinha forti*
ficado, fez porfiada resisteneia aos nossos que pre-
tendiao tomar o engenho; mas isto nao impedio
que Ihe largassem fogo, o qual abraz<yu o engenho
com todos OS materiaes da fabrica e do lucro ; tal--
l&rao a campanha ; e com duzentos bbis e maitos
^cravos se voltdrao , para ondc os eqpertTa 0 seu
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GAamOVO LUSFTAIIO. 665
cabo o tempo que pelas outras partes tinha ja tudo
coDsammido o ferro e o foga com similhante es-
trago. Encorporados derao Tolta para o Arraial ,
em o qual entrirao com duzentos prisioneiros y a
maior parte escravos foragidos, e algumas mnlheres
estragadaa, que vi viao entre os Hollandezes e Indios ;
e por cima de trezentas cabecas de gado vaccum :
soccorro para todos opportuno, e para os soldadog
grato.
XVI. Era o Rio de Sao Francisco o ci^rral d'onde
se conduziao as carnes para sustentacao do nosso
Arraial ; e por isso logo que elle foi senhoneado pelo
inimigo comecou a sentir-se falta, assim pelo gado
que recolhia para si e para o Arrecife, como tam-
bem pelo que os moradores retiravao para a parte
da Bahia. 0 governador Joao Femandes Vieira,
sobre cujos hombros carregava a falta e a queixa^
acudio a remedear a fome , com mandar vir todos
OS gados, que' tinha pelas matas de^uas fazendas,
de que se foi dando racao aos soldados. A seu
eicempio acudirao todos os moradores do reconcavo
com OS soccorros que podiao, com o que cessou a
queixa, por^m nao a feme, pelo que preciso foi re-
correr a outro expediente. Conferirao os govema-
dores Joao Fernandes Vieira, e Andre Vidal de Ne-
greiros como se poderia acudir a fome; de sorte que
Ihes nao faltasse a brevidade do remedio ; e assen-
tirao que se buscasse no mar, em quanto faltasse
na terra. Passdrao ordem que todos os pescadores
se obrigassem a pescar naquelles mares que se-
nhorcavao nossas fortalezas, com o seguro de os
guardaremefavorecerem nossas armas. Executou*
I. SO
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AM r.AarnDro lositahoi
se a88im ; daTa^fie a infantaria ra^ de peixe, que
satisfez, em quanto o mestre de campo Aiidr6
Yidal de Negreiros nao punha em execu^o a pro-
messa de conduzir gados, a todo o risoo , para o
sustento do exerdto.
XVII. Ayisoii-se que no Geari Morim^ lugar
situado muito acima do Rio Grande para o norte,
pastava copiosa multidao de gados. Resolveo-se o
meslre de campo Andr6 Vidal de Negreiros em of-
ferecer sua pessoa para viagem e conduc^ao tao
difficultosa. Aprestado de tudo o que Ihe pareoeo
necessario para a Jornada , partio do Arraial em
24 de Agosto com oito centos infantes e noventa
cavallos. Vencidas as difficuldades do caminho e
do tempo , entrou na capitania do Rio Grande ,
tallando e destruindo tudo o que p6de aleanqar o
ferro e o fogo , em quanto nao vollava do Ceara
Morim o capitao Joao Barboza Pinto ^ que por seu
mandado fora conduzir os gados d'aquella parte.
Chegou com os que pode ajuntar^ e encorporadas
as partidas e o poder marchou o mestre de campo
para o Arraial com setenta cabecas ^ muitas mu-
Iheres, que libertou da forca e da injuria, e nao
poucos moradores que buscarao o abrigo de nossas
armas, para fugirem a seu salvo da tyrannia hol^
landeza. — Nao se descuidou o Flamengo de apro-
veitar a occasiao que Ihe dava o tempo. Teve aviso
da Jornada do mestre de campo; considerou nossa
resistencia enfraquecida , e por conseguinte seu
partido avantajado ; provou a sorte em algumas
assaltadas, que fez a ditferentes estancias noasas;
e de todas voltou castigado. Nao deixava com tudo
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GAntmro LusiTAifa M7
de DOS custar mortos e feridos a resistencia ; e por
impedir a continoa^ao do damno, ordenou o goveiw
nador Joao Femandes Vieira que todas as noitea
se tocasse arma pelas fortalezas do inimigo ; o que
86 executou com (al ardor, que pelas horas coutavt
OS rebates , com que se via obrigado a passdUaa
todas com as armas na mao. Em quanto durava
0 dia OS trazia nao menos inquietos, mandando*
Ihes armar cilladas, em que ordinariamente caiao,
ou perdendo a yida ou a liberdade, e juntamente
a lembranca e o atrevimento de virem atacar noa^
sas estancias.
XVIII. Era pratica corrente entre amigos e ini«
migos que no porto de Liiboa estava uma armada
para fazer viagem ao Brazil em soccorro de Per-
nambuco : nova que d'uma e d'outra parte fazia
crer o desejo do remedio, e o temor do castigo. Os
nossos govemadores, como mais empenhados, erao
OS mais credulos ; ftmdavao a oerteia na justica e
na razao com que deviao ser soccorridos de^ um
principe, a quem serviao desinteressados e fieis ;
obrigado por conveniencia a estimar a vida dos sul>«
ditos, que por seu servico as arriscavao constantes,
atropellando pelo defraudo de familias e fazendas y
por restituirem a seu legitimo senhor o dominio
e as terras usurpadas. A alegria com que se ouviao
e davao as novas Ihes tiravao toda a duvida, e as^
sim era tamanho o alvoroco em toda a nossa gente,
que discorriao, e dispunhao ocerco^ o assalto, a
victoria e o iriumpho ; conferiiido as convenien-
cias de se combater primeiro esta ou aquella forca,
esperando na reparticao dos despojos nao a sorte^
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A68 GASTEioTO LuarrAiia
senao a esoolha. Com di verso paisamento enlravio
08 nossos governadores em negocio lao importante;
parecia-lhes que em breve tempo chegaria a froU
esperada a combater o Arrecife pela parte do mar,
e que necessariamente se havia de fazer o mesmo
pela de terra, e desejavaa que as prevencoes se
adianlassem aoccasiao.
XIX. Vizinho da povoacao de Santo Antonio ,
ou cidade Mauricea (como Ihe deo por nome a vai*
dade e a lisonja ) ha um sitio, a que os naturaes
chamaoaSeca; a este tal divide da campanha um
Tio, nao muito largo, nem muito fundo : a bala d'um
mosquete o passa de ribeira a ribeira , e na baixa*
mar se passa com agoa pelo joelho. No dito posCo
tinha o inimigo a Fortaleza que , tomando o nome
do sitio, se dizia Seca. Com elia defendia de nossa
opposi^ao nao s6 a cidade, senao tambem o Arrecife,
por ficarem descobertas uma e outra povoacao a
qualquer bataria , que da nossa parte se Ihe qui^
zesse por : razoes que persuadirao aos nossos mes-
tres de campo Joao Fernandes e Andr^ Vidal a en-
trarem em pensamento de levantarem uma forca,
d'onde varejassem a sobredita fortaleza , e pracas
do inimigo. Resolutos no intento, conferirao entrc
si o tempo, o modo e a parte ; e preparados os
materiaes e inslrumentos necessarios, sairao do
Arraial no 1^ d'Outubro, deixando nelleacompe-
tente guarni^ao as ordens do capitao Albuquerque;
marchirao com a gente a estancia de Henrique
Dias, commuuicarAo-lhe a tencao; approvou o
intento. Escolhida a paragem , derao principio a
obra , e OS governadores ao exemplo, sendo os pri-
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GASTRIOTO LUSITAMO. 669
meiros que pegirao nas enxadas; a cuja imitacao
o fizerao todos os oiBciaes e soldados tao sofregos
do trabalho, que de nenhuma sorte quizerao ad-
mittir a companhia dos escravos, que os morado-
res offereciao para ajndarem no que fosse necessa-
rio. 0 silencio com que se obrava era tao observado,
que nera voz, nem goipe ouvio o inimigo, em todo
o tempo que durou o trabalho ; e para que o Fla-
mengo nao podesse ver o edificio^ que sobresaia
por cima do arvoredo , o cobriao os nossos todas
as manhas de ramos frescos : artiGcio com que des-
mentirao os olhos mais attentos , de sorte que por
nenhum dos sentldos p6de o Hollandez formar a
menor suspeita da fabrica , sendo tanta sua vizi-
nhanca^ que entre os nossos se percebiao as prdti-
cas de suas vigias. Em 30 de Outubro estava a for-
(aleza posta em sua ultima perfeicao^ com todos
OS reparos, cava espa^osa e funda, que enchia
d'agoa o mesmo rio que se interpunha^ e apartava
a nossa da contraria ; estacadas, trincheiras^ plata-
formas, em que jogavao muitas e boas pefas d'ar-
tilharia, e tudo em tal fdrma j que se podia defen-
der a toda a invasao do inimigo por qualquer parte
que o quizesse enveslir. — Na madrugada de 6 de
Novembro mandirao os nossos governadores quei-
mar um patacho, que o Hollandez tinha no rio
como atalaia de nossos movimentos. Pegou o fogo^
e as labaredas do incendio servirao de luminarias &
marcial alvorada, com que a nova fortaleza ao
som de caixas, trombetas e charamellas deo os
bons dias ao Flamengo com (res cargas cerradas
d'artilharia e moaquelaria^ que faziao mais horri-
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670 GASTRIOTO LCSlTAlia
veil at vaias que o confuso grito dos soldados daTa
ao8 moradores da cidade e do Arrecife , que desa-
tinados do estrondo e do sobresallo buscarao abrigo
contra nosaas balas. Foi tal o temor que este iin<»
previsto successo causou nao s(S no povo» mas noa
mesmoa governadores e principaes cabos hollan-*
dezeS) que assentarao por ultima resolu^ao despa-
char uma sumaca ao general Sisgismundo, piolan-
do-lhe o estado em que ficayao, e a perdicao que
temiao ; com ordem que a toda a pressa naT&->
gasse em seu soccorro, antes que chegasse a ar*
mada portugueza^ que por boras se esperava, e que
o successo referido os advertia j que nao tardariao
mais tempo em se renderem aos combates da terra
do que tardassem os Pcurtuguezes em os cercar
por mar. Gonfessavao e arguiao o desatinado erro
de arriscarem o oerto , por ganharem o condn-
gente.
XX. Depots que a nossa fortaleza foi construida,
nao deixavao os nossos de inquietar o inimigo com
continuos assaltos , que se tomavao todos os dias
mais atrevidos. Uma noite mandirao os nossos go*
vernadores a dous cabos que com cem infantes
escolhidos fossem assaltar o paco, em que vivira o
conde de Nassau Joao Mauricio^ situado na en-
trada da cidade Mauricea, edificio Tistoso e de cus-
tola fabrica. Tinha de guarnicao duas companhias
de HoUandezes dentro de boas trincheiras ; seguro
em que descancava sua confian9a. Com destemido
braco as rorap^rao e ganhirao os nossos, e com
leve resistencia do presidio, que aos primeiros
golpes fogio com seus capiiaes a metter*s6 dentro
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GASIBJOIO UJSIXAm. 471
na cidade. Saquearao os nossos o pace ^ e com os
despojos e insignias do8 oiBciaes, que nelle deixa-
rao OS do presidio, se retir^ao a nova fortaleza,
sem receberem o menor damno das balas com que
todas as fortalezas coutrarias os buscavao. Forao
recebidos de todos com festivo alvoro^, que fazia
mais applaudido a tumultuosa coufusao e grita em
que o medo tiaha posto aos moradores da cidade e
do Arrecife : tao certos ^m sua ultima ruina , que
a presumirao como se a experimeutarao.
XXI. Coutiauarao da nossa parte os assaltos
com a mesma fortuoa, e a bataria da noya fortaleza
com o mesmo effeilo^ at^ os ultimos dias de Do-
iembro d'este presente anuo^ quaudo Sisgismundo
oom toda a sua geute e armada tomou porto uo
Arrecife. Ouvio da boca de todos nossos progressos
e aeus infortuuios^ yio com espanto a nossa forta-
hxA, e considerou com atten^ao o como seuhoreava
e descobria tudo quanto suas fortifica^oes guardar
vao. Prouiietteo ^sgismuudo aos do oouselbo su-
preoio que dentro em tres dias havia de castigar
-OS Portugueses com suas aiesmas armas, pwque
ganhada a fortakza^ abriria porto seguro e franco
para Ibes conquistar a campanba. «— Cada dia
veapwava a nossa forca que Sisgismun^ com todo
sea poder a envestisse, ou por sitio, ou por assalto.
Era noloria a todos a promessa, e a todos enganou
a esperaD^# Nao se regulou sua altiveza pelos
preceilos da experiencia : em nenhuma parte nos
buscou a espada ^ que o cortasse ou o ferro ou o
medo. Ma margem do rio, que se oppunba a no^a
fiu>tal^Ka> numdou levantar uma triocbeira, oboa
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kli CASTRIOTO LUMTANO.
com que saio iima noiCe ajudado do escuro e dc
innumeraveis gasC adores ; fjuameceo-a de gro6sa
at tilharia , e dos melhores soldados , com pensa-
mento de nos destrair sem se arriscar. Mandoii
assestar alguns trabucos com que nos lan9ava bom-
bas e gpranadas, e nao des^presou meio naihum
para nos desalojar ; mas forao inuteis sens esfor9oSy
porque nao s6 conservimos a forialeza; mas
delxando^lheum bom presidio, se retirarao muito
a sen salvo para o Arraialos nossos ler^os, deixando
ordem que se regulassem os tiros pela falta de
polvora^ mas com tal artificio que o Flamengo nao
inferisse a falta pela suspensao , fazendo-lhe en-
tender, com as ordinarias cargas ao melter e tirar
as companhias de guarda , que o nao atirar mais
era escolba e nao preceito.
XXII. Em aquelles dias, levados da esperan^a
e do desejo, sobiao os soldados e os moradores ^s
coroas dos montes , d'onde melhor descobriao os
mares, para occuparem os olhos em buscar a ar-
mada que vinha do reino , persuadidos do tempo
edo aviso, que ou seria chegada ou estaria vi-
zinha. Gada qual queria ser o annuncio de nova
tao grata, e todos os primeiros na dita de v^i^m
com sens olhos o soccorro , a que fiavao sua re-
dempcao. Entroa o anno de 1648, e com elle o
desengano de que nao era ch^ado o fim de seus
trabalhos, com a nova que logo se divulgou, de
haver chegado a Bahia a frota esperada, com na-
vega^ao tao alheia de sua esperanca como aparUda
de seus olhos, porque, nem do Arrecife, nem das
espias , que o inimigo trazit pelo mar para ^este
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oAsniono LwiiiHa 673
fim f foi descoberta. Pela derrola inferirao todos
que aquelle poder era mandado a soccorrer a
Bahia, e nao a remir a Pernambuco. Golpe foi este
que a todos 08 soldados e moradores d'aquellas
capitanias pehetrou o intimo do ooracao ; e po*
d^ra acabar com o animo e fidelidade de todos ,
vendo cada um o pouco caso que no reino se fazia
de servi^os que mereciao estar yIyos na memoria
e na esUma^ao de todos. Por^m aquelle valor, a
aquella constancia apurada a golpes de ioforluniot
e desprezosy tao fora esteve de fraquear na lealdade,
que d'esta oonsideracao tomou motivo para se em-
pregar com mais feryor nos servicos que so para
seus bra^os guardava o ceo o fim de tao profiada
guerra, e para sua cabe^aja ooroa de tamaoha vic^
toria , como aquella com que depois derao fim i
empresa.
XXill. Tinha partido do Arraial para a cam-
panba do Rio Grande^ em 23 de Novembro de
1 647, o goyernador dos Minas Henrique Dias com
seu t^o e algumas companhias do terco do Ca-
marao ; e porque no principio de Janeiro de 1 648
entrou naquella capitania, guardamos para este
lugar a narra^ao d'esta expedi^ao, como para
seu proprio tempo. Partio pois Henrique Dias
no tempo referido, com a gente em que no Arraial
se reparava menos^ para que escondida a falta se
nao divulgasse o intento, e entrasse naquella cam-
panba com o partido de ser primeiro descoberto
pelo damno que pelas noticias. — Correo Henrique
Dias o destricto do Rio Grande metlendo tudo a
fierro e a fogo. A^lslou um sitio , que chamao as
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A14 GAffniOlO LOUfAm.
Guarairas , oade o inimigo sustentaya uaia casa
foiie no oentro d^uma lagoa larga e fuiida» dentro
da qual, oomo em ilha, se alojavao todos 06 indios
e escravos que o HoUandez occupava nas rogas e
lavouras daqudle lerreno ; e se reooUiiao os fmo
(OS e OS roubos de queae sustentairao^ guardadoee
defendidof de quarenia HollandeTCs^ que com ou«
tros soldados indios guarneciao a foriificacao : cons*
tava d'esta de casa forte cercada de duas tiincheiras
bem obradaa« Depois de exhortar seus soldados
com palavras de confianca e rosio socegado, diase*
\hes o oaminho e o modo oomo haviao de avao^ar
e ganhar a foriificacao; e nao Ihes interpondo da^
▼ida entre o invefltir e Tencer^ os meUeo no assallo.
Lancarao-se a a^a» e com ella pela canta acoom-
metterao a escala. Defciidteao-se osHoUan^zescom
ardor fa vorecidos da vantagem do sitio; mas nao
poddrao impedir que o6 nossos tomassem terra, e
ganhassem a primeira trineheira. Entre esta e a
aegunda se travou reohido combate; mas o furor
dos nossos levou o inimigo de yencida , e bem de
pressa caio a segunda trineheira em suas maos.
0 cabo hollandez, vendo perdida toda a esperanca,
se m^teo com cinco oompanheiros n'uma canoa,
furtado ace <Jhos dos seus, para salrar as vidas.
Escalarao os nossos a casa forte com tibia rssM*
tencia , e levirao tudo a ponta da espada nao p«^-
doando a sexo nem a idade. Durou o conflicto
desde a prima noite at^ pela manfaa; e foi com a
claridade do dia que se pode conheoer o estrsgo.
Morr^riM) n'esta occasiao todos qoantos HoUaiih-
dexes^ Indios e negros kaviasia fortifioa^ eseepto
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GASTRIOIO LUSITAlia 675
OS cinco que fugirao. Dos nossos perd^rao a vida
ires soldados, e ficarao muitos feridos. Gastou-se
o dia, que foi o de 6 de Janeiro del 648, em recolher
OS despojos, curar os feridos, enterrar os morios,
e tomar refei^ao do trabalbo entre as cougratulacoes
da victoria*
XXIV. Em 7 do mesmo met marchou o gover*
nador Henrique Dias para o engenbo de Cunhau ,
onde achou o Hollandez bem fortificado , com
muila genie de presidio, e nao menos soberbo peia
ditosa resislencia com quese haviadefendidodo mes*
tre de campo Andr^ Yidal, nos dias paasados. F^
alto em frente do inimigo, e & cara descoberta man*
dou por um tr<MEnbe(a umaembaixada ao Flamengo,
dizendo'lhe que sem dik^ao se rendesse, e se Ihe
faria bom partido, antes que os seus chegassem a
desembainhar a espada, porque com ella na mao,
nem a obediencia os obrigava, nem a commisera^ao
OS detinba ; que acbava iestemunha d'esta verdade
no successo do dia antecedente, acontecido nas
Guarairas : exemplo com que desenganadamente
se poderia aconselhar sua deliberafao ; que se apro-
veitasse com prudencia da escolha que em sua mao
punba a fortuna. Ferplexo ficou o Fiamengo com
um tal proposto ; com palavras equivocas respon*
deo ao enviado , pensando ganbar tempo com sa-«
gftcidade ; porim Henrique Dias , que conheceo o
ardil, mandou segunda embaixada ainda mais ter-
minante ; e como tardasse a resposta, sem gastar
mais palavras , mandou a seus soldados que toda
a leifba, que estava junta para o servico do en*
genho, diegassem a icotifica^ao iaimig^em eirculo»
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k16 GASniOTO LUSITARa
Executou-se a ordem com eslranha presleza; e
8em duvida que tudo ard^ra, se ao tempo de se Ihe
por o fogo nao saira de dentro uma mulher portu-
gncza^ casada com Flamengo, pedindo a Henrique
Dias quartel para os cercados. Concedeo-lhe as
vidas^ e Ihe abrfrao as portas. Saquearao os nossos
as fazendas^ mimi^oes e armas; arrasarao a for-
tiGcacao e o engenho ; levarao prisioneiros a todos
os rcndidos ; e assolada a campanha , voltarao
para o Arraial , onde chegarao com prospero sue-
cesso, e fiterao entrega aos governadores dos cap-
tivos e das armas , (icando-se com os mais des-
pojos.
XXV. Tinha succedido que o senhor Rei Dom
Joao IV^ se deliberara em mandar ao Brazil uma
pessoa que com prudencia, valor e. arte conser-
vasse 06 moradores (naquella nobre porcao da
America que continha em si as capitanias suble-
vadas) sem desamparar os naturaes, nem offender
OS f lollandezes , obrigado de reaes estimulos para
nao faUar A amizade dos aliados, nem a conserva-
^ao dos subditos. Concorriao na pessoa de Fran-
cisco Barreto da Menezes todos os requisitos, que
podia desejar a escolba , e que havia mister a im-
portancia do negocio. Deo-lhe EI Rei titulo de
mestre de campo general com subordinacao ao go-
vernador g^ral do Estado (que jaentao«ra Antonio
Telles da Siiva), e por sen tenente Ihe nomeou
Philippe Bandeira de Melio. Saio Francisco Bar-
reto de Menezes da barra de Lisboa com trezentos
soldados^ muni^oes^ armas , e tudo o mais que
pareceo conveniente para o fim pretendido. Nave-
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GASTUOTO LUSITAIIO. &71
gou Bt6 a altura da Paraiba com viagem favoravel,
onde deo nas maos d'uma armada hollandeza^ que
com avisos certos o aguardava. Nao foi a presa sem
batalha, nem a batalha sem sangue d'uma e outra
parte. Ficou Francisco Barreto ferido , e assim o
levarao os HoUandezes para o Arrecife, onde o tra-
tarao com o respeito devido a sua qualidode, a sua
opiniao e ao seu posto, e com o resguardo que Ihes
ensinava a importancia da pessoa y e a esperan^a
do resgate. — Do grilho soube Francisco Barreto
fabricar a liberdade : em.24de Janeiro d'este anno
fogio do Arrecife para o nosso Arraial j ajudado
d'um Flamengo^ que de guarda se fez medianeiro.
Foi recebido de todos com notoria alegria , e dos
mestres de campo Joao Femandes Vieira, e Andr^
Vidal de Negreiros com tanlo goslo e respeito^ que
o agasalharaOy hospedarao e servirao, como se devia
& sua pessoa, e nao & sua fortuna ; o que elle soube
estimar com tal fidalguiaque^ sem lembrancas de
superior, os tratava como companheiros.
XXVI. Corria havia tempos entre HoUandezes
e Portuguezes a nova de t|ue nos portos de Hol-
landa se preparava uma grossa armada para ir ao
Brazil; a qual se confirmou por uma caravella d*a^
viso, mandada de Lisboa, que tomou porto no
pontal de Nazaretli, sem com tudo se saber a que
ponto fazia tiro. Com bom juizo intend^rao os
nossos governadores que a armada yinba em direi-
tura a Pemambuco; e com incansavel cuidado e
presteza se applicaraa a prevenir e dispor tudo o
que pareceo necessarlo e conveniente a opposicao e
a defensa. Virao o muito que seryiria a seu intento
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479 GASmcra tOSITARO.
kdear a fortaleza da bataria de duas plataformas
Gontra o Arrecife ; por^m nao tendo artilharia nem
municoes, despacharao em < 3 de Fevereiro para a
Bahia o capitao Paulo da Gunha com requerimento
e suppKca ao general da armada portugueza ( que
estava surta na enseada da Bahia ) Autonio Telles
conde de Villa-* Pouca j para que Ihe acudisse com
prompto auxilio. Foi Paulo da Gunha recebido
com honra , ouvido com piedade , por^m despa-
chado com esperancas. Fez os mesmos officios com
o senado da Gamara; mas nem ao menos obteve
boas palavras ; e partio sem alcancar outra cousa
mais que patente de sargento maior do lerco de
Andr^ Vidal, como se no titulo d'um posto levara
o soccorro de todos. — Em quanto Paulo da Gunha
se occupava n'esta missao, navegou a armada hoi-
landeza pelos mares do Brazil ; e o tinha feito pelos
do norte com diversa fortuna : saira com oiten(a
e tantas embarcacoes, e nellas nove mil homens de
guerra. Na passagem do canal foi assaltada d'uma
tempesfade que Ihe lancou i costa alguns navios,
e outros desgarrados tomarao diversos portos pelas
costas de Franca e de Portugal ; os que livrtrao
melhor se encorporarao com a sua capitanea, aca-
bada a tempestade, e seguirao sua viagem at^ a al-
tura de Pernambuco, d'onde se descobnrao no
principio de Feyereiro, Tomirao porto no Arrecife
com sessenta ndos, seis mil infantes, e ires mil
homens do mar, Vinha por general da armada um
Flamengo chamado Vangoch , presidente no su-
premo da Companhia ; o qual , tan to que desem-
barcou^ fez entrega do bastao de general das annas
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CASmOTO LUSITAliOii AW
a Siigisnundo Vaneschop, peeRoa muitas vezeft
r^rida no discurso d'esta hiatoria ^ como figurt
principal d'esta tragedia. For muitos dias festejott
o inimigo a grandeza do soccorro, julgando-se
livre da oppressao em que estara, e senhor do im*^
perio que perdfira ; em quanto os nossoe sem outra
e8peran9a que a da protec^ao divina, continuayao
firmes em sua constancia^ esperando na razao e jus^
tiea de sua causa achar o premio de sua fidelidade.
XXVII. Nao sei eu quando a fidelidade portu-
gueza se vio mais apurada, nem quando a pacien**-
cia militar mais soffrida ; nunca o valor dos ho-^
mens sobresaio mais esclarecido que nesta occasiao.
Tudo quanto a antiguidade n'esta materia nos
deixou escripto para assombro chegara, quando
mais, a ser somln^a do que escrevemos. Que vas-
sallos houve no mundo, que em razao de vassallos
se possao comparar com os moradores de Pernam«
buco, que no maior desfavor dos principes^ na
mais dilatada perfia das tribula^oes^ perdessem fa-
zendas, desestimassem patrias, e offerecessem yidas
par nao faltarem & fidelidade de seu monarcha ;
avaliando por menos sensivel a perpetuidade do
perigOy e a continua^ao da perda que a observancia
da iealdade? Digao-me os noticiosos em que idade
tiverao os principes similhantes servos? A que
gente nao alterouoanimo, nem a falta do soccorro^
nem o desprezo do servi^o, nem a desesperacao do
premio para abrir em seu peito a menor brecha ,
por onde podesse entrar o minimo pensamenlo de
infidelidade ? Que coracoes achou a experiencia sem-
pre firmes do servico de sua patria y quando por
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iSO GAsnioio umTAMa
espaco de vinie e qualro annos; umas vezes sujeilos
a tyrannia^ outras i necessidade, constantes nos
inrortunios , vigorosos nos trabalhos , incaocayeis
na tolerancia, desprezados, famiotos e despidos;
rogados da abundancia e da commodidade, sem
que por imaginacao claudicassem na firmeza de
leaes, mais promptos em dar a vida que em resol-
ver a trai^ao? Resolutos em tomar as armas a benefi-
cio de sua liberdade, sem imperio que os obrigasse ;
sem esperanca que os persuadisse ; e sem premio
que 08 atrahisse, continuarao um e muitos annos,
de noite e de dia com as armas as costas, sem recu-
sarem as marchas, sem fugtrem is expedicoes, sem
Cemer^n os perigos; vencendo as opposicoes do
tempo e da fortuna ; iias diias comedidos, nas des-
gra$as animados, nas ordens obedientes, nos tra-
balhos alegres, nos castigos reportados, na disci -
plina observanteSy nas occasioes valentes; nunca
vencidos do medo , sempre vencedores do perigo ;
nos encontros mais arriscados, sem (erem confa
com o numero, a tinhao s<i com a honra, avaliando
o poder inimigo por contrario, mas nao por desi-
gual; olbavao o excesso para o veneer, nunca para
o recear. Que valor foi similhante a seu valor ?
Julgava sua ousadia, que nem as balas dos inimigos
feriao, nem suas espadas cortavao; tao senhoresdo
proprio perigo e do poder alheio, que nunca a des-
graca os achou sem animo , nem o infortunio sem
ordem. Em dm que em todas as idades, e a (odas
as nacoes do mundo podem servir os Pernambu-
canos de exemplo na fidelidade, no valor, na cons*
tancia , na disciplina e no soffrimento ; que nao
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GASmOTO LUSTTAliO. k%\
importa que os antigos fossem primeipos no tempo,
como fiquem excedidos da vantagem ^ poia 6 certo
que nao adiauta a idade seuao o mereGimento.
XXVIII . Vendo-se os uossos governadores deseoH
parados de soccorro , tratiirao de aproveitar todos
OS noeios possiveis para tornar a defeza mais efficaz.
Assentdrao primeiramente que as forcas reuuidas
erao mais fortes, e para esse fim mandarao arrasar
todas as estancias, e tirar d'ellas todos os presidios;
eassim mais a infantaria que se aquartelava em
Iguaracu , Pao-Amarello , Juguaribe , Paratibi , e
villa de Oliada. Decretarao que nenhum morador
passasse os termos da villa de Sirinhaem » e que
eutre ella e a Moribeca se fizesse o alojamento mais
distante. Mandarao que se conservasse a fortaleza
do Arraial e ada Bataria, tirando d'esta a artilharia
de bronze para a fortaleza do pontal de Nazareth ,
que necessitava d'ella. Da Yarzea mandarao retirar
todos OS moradores com sens gados e alfaias, os
quaes unidos ao corpo do exercito dos differentes
presidios se recolherao ao Arraial deixando arrasa-
das as outras estancias. Despedirao os governadores
varios ofliciaes da milicia, com apertadas ordens,
para reconduzirem todos os soldados, que pela
campanha andavao licenciados e fogidos; e para
fazerem recolher ao Arraial todos os moradores do
reconcavo, que podessem tomar armas, com bandos
publicos de perdao geral para os homiziados, e
gravissimas penas para os remissos e reheldes. Exe-
cutarao estes ministros o mandato com tanta saga-
cidade epromptidao, que nos primeiros dias d'Abril
se fez no Arraial mostra de toda a nossa gente, e
L 31
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we acbirio tres mil dinentos bome&s de pd^.
XXIX. OeeuptvA-se entranto o Hollandes em
discrplintPftenssoldados, ea exercitik>»nas annas;
fsia era toda a occupacao de Sisgismando e de aeus
eabos, pafa augmeafarem sua polencia ; a dos coik»
selheiroa do supremo , por outra vereda busetva o
mesmo Am : excogitavao enganos, arteficios^ e apa-
rencias com que defraudar a dos Portuguezes. 8a jreo
com um ardil , proveitoso em outro tempo, porim
no presente despr^sado com a experienoia de cavil-
loso. Form4rao um amplissimo perdao, que copiado
innumerareis vezes mand4rao espalhar por todas
as paries, pelo qual promettiao esqueeimeoto de
culpas e lembranca de premios para todos aquelles
que, reduzidos, fossem ao Arrecife em termo de
dez dias tomar passa-portes de alliados , e jura-
mento de fieis. Entendiao que o temor de sua po-
tencia faria obrar o ardil com efficacia : passou o
tempo, e virao nao ser d'effeito algum a diligencia.
Tiverao para si que fdra desconfian^a , e nao des-
prezo, porque se flzera geral a promessa, e nao fol-
lava com pessoas delerminadas. Mudarao-Ihe a
f6rma, e dentro em cartas, que mand&rao a particu-
lares superiores, remett^rao o perdao, e em termo
cerfo pedirao asrespostas. Transcreveremos aqui,
traduzida do flamengo em portuguez , a que man-
ddrao , por modo d'embaixada , aos nossos gover-
nadores Joao Fernandes Vieira, e Andr^ Vidal dc
Negreiros : conttnha cstas formaes palarras.
« Por ordem particular que tlvemos man-
» dada a nds pelos poderosos Estados geraes, Sua
D Alteza 0 principe d'Orange, e a geral oufrogada
Digitized by VjOOQ IC
OMnmo umnao. Ml
M poderjichegiclo«eoutro<{uee8l«nnta|Mmnd<i
j» para prooeder oon<ra os que se examrM do
M Dosso domkiio, oonforme a dita ordem (ja dutra
» Fez a todos intimada}^ em que inandio oe ditot
a senhorea que a qualqoer peasoa de qnalqser
M n^ao, ( 6tado e condicao que aeja^ outrogu^mos
» em aeu nome perdao geral de rdieiiiao, desobe^t-
M diencia^ conspiracao , e qualquer outro delicto,
)• ainda que seja uma e muitas tezcs cotnmeCtido.
i) Em comprimento do que, o temos aaeini coiice«>
)> dido e pubiicado ; e o uotictamos a Yoaaas Se^
» nhorias com infallivel cfrteza de que ludo da
)) nossa parte sera < omprido exactamente; e sobre
» esta declaracao esperatnos sets dias pela respoeta
)i de YossasSenhorias. — Feita em o nosso conselho
>» do Arrecife em dous de Abril de mil e seiscentoa
D e quarenta e oito. w — Joao Bolertratbr. — * ,
Hbnriqob Hamel. — Pbdro Bokrs. — Ptlo secret
im'io : Joao Balbbkbs.
XXX. Virao os nossos goveroadores a oaria e
o edital do perdao , cuja copia Ihes remetiiao in-
cluBa; communidirRo com Francisco Barreto de
Menezes o que ae devia fazer, e assentoo^se que
deasem conta ao sargento maior Antonio Diaa
Gardozo , e aos governadores de Minas e Indio)
D. Antonio-Philippe Camarao e Henrique Dias; e
discutida a materia, se determinou que Joao Fer^*
nandea Vieira, e Andr^ Vidal de Negreiroa, como
cabecas do exercito e dos morodores, reepondesatm
i carta. Tomarao tempo, e respond^rao nesta r6rma.
« As artes de que Vossas Seuhorias se val6rao
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kSk GASTUOTO LU8ITAN0.
» sempre sao as de que usao agora, com a differenca
I) que no tempo passado serviao ao engano , e no
*) presente ao aviso, porque aquella confianca que
» acfaavao na singeleza destruio ja a caviUacao de
» sua malicia. Ao mais bruto animal ensina a na-
» tureza a conhecer o laoo , que alguma vez Ihe
» tirou a liberdade, abominando o cibo, com que
I) o deseja persuadir a astucia do cacador. 0 pi-
» lolo menos experto sabe fugir do baixo , a onde
» uma yez tocou , por mais que o escondao as
» agoas. Com esta adyertencia se responde a esta
» embaixada , e nelia nos conbecerao Vossas Se-
» nhorias ensinados de sua mesma diligencia. O
» ultimo ponto de seu decreto sera o primeiro de
)» nosso reparo, e o verdugo de sens enganos. Bern
» mostra a pouca i6 que tern com Deos, quern se
» vale de Deos para faltar a f<^. Que credito esperao
» dem a suas palavras aquelles mesmos homens
» aos quaes nunca guarddrao palavra, nem satisfi-
» zerao promessa ? Mai negocea quem imagina que
» com a lembranca das offensas obriga. Quem
» nunca tratou verdade, como ha de persuadir
» que nao foi sempre mendroso ? Se todo o muudo
» sabe o falsi ficado de seu trato, como esperao que
» o mundo os testemunhe verdadeiros ? Em que
» parte d'elle deixou de ser cavilioso seu estilo?
» Em que tempo comprirao o que jurarao ? Di-
» zendo as gentes a gritos, de escandalizadas : Nes-
» tas capiianias com mais crescido brado , porque
» nellas com mais despejado excesso. Com lagri-
M mas de sangue chorao Cunhaii, Rio Grande, Var-
» zea, Ipojuca , e quasi todas as povoacoes d este
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GASTRIOTO LUSITAMO. l^»b
» reconcavo, a singeleza com que cr^o snas pro-
» messas , e o rigor com que pag^rao sua incauta
» credulidade ; e quern a todas as horas ouve o las-
» timoso gemido que aecusa, nao p6de em alguma
» dar assenso ao afago que eugana. Se seus de-
» sejos Ihe persuadem outra cousa , 6 sem duvida
» que assim como nos querem destruir a liberdade,
> nos querem tambem tirar o juizo ; e so tirando*-
» DOS o juizo, nos mudarao a yontade. Tern para
» si que os moradores d'esta capitania sao troncos
» sem sentimento para as chagas, sem juizo para
» as curas? Nao se curao jis feridas com o mesmo
» ferro que as abre. Porque nao podem executar
h a vinganfa, escondem a espada debaixo do per-
» dao ; e para que nos custe mais a pena , nos
querem vender passa-portes do tormenJo. Se
»
y> nos desejao beber o sangue , a que fim nos pro-
» mettem conservar a vida ? Se nos querem rou-
3» bar as fazendas, como se oflerecem a guardar^
» nos OS bens ? Chamao-nos para a injuria com a
» voz da honra? Glemencia cbamao a impiedade?
» Nunca mais cega sua paixao. Que clemencia ou
x> que favor ha de esperar a oOensa, se experi-
» mentou no servi^o exorbitances tyrannias? Quem
)» nos maUratava sujeitos , como nos ha de estimar
» rebellados? Muito ha que passou o tempo em
» que o artificio hoUandez conquistava com pala-
>> vras, porque ha muito que passou o tempo, em
» que a candideza cathohca se iiava dos herejes,
» imagidando homens aos mesmos que a igreja
» em todo tempo intitulou feras.
» Nao achamos meuos disformidades nas amea-
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n €o» que M» pTMieMM^ R«co«litttB»e» o iFsAor €
)i seevk^ p«lft #» merfor opmM0. CerlM 'e9lBiii06
» na polenm 4e Mas* aramdsi ; e mo x mm esH
» com4c a do* 8oecorr<» cpe eoaditzio s (fne i^n
)» e»Ur surla na knpra 4'«96e Arreerfep ; e con tacfo
» rotai»r»o tM loAge* ^ a femer^ qur ehordmoB
» oefB: ignaV haslma o infortnnio q«ie 119 caosl a
>» defraudon, petia gloFiaquen^dimiMrfo. Espe^
»• pm}enl*ado tern os senhores Hoikmc^e^ que a
» espadb peHugneza mo nece$s^ de 9e medir
» para cortar; e qae e kpaco d*e9te» Hioradores
»^ » fHTicte Rao ehe^ com a forca>, eh^a 00m e de^
»* sejo^; yerdlade rektada 9 e ouf ida- per IMtas k>^
» cas, qnantas-'^dao aa fernhis de 9eu9 eanlrariea; e
» q«a»did em alg«Hiaa feke jf[ a ¥oz dio meiigue
;^ para a dk^efeBi , aao ha^era peucaa ^oeo digito
n- pop sinaas. QuaBto meri&, €fue reduzidt) neeso
D' pudev a* um- corpo (eomo e»li hoje) igmdaiMs a
* Vossea Seahoria^ eni omimero da gpenfe, e os
» exeedlsrao» miiito era qvalidade, vsthv e pratiica;
>^ com aquefiadSsparkMle, que se aeha em defen*-
» d^p 0 ppopiw, ou eonquisl!ar oaHieio; em scrvir
> por paga-, ou pdbjar perhofirra* em ctefender a
» vidfe-, on em* veneer o soldo^. No provimento das
»' mimboes', eom* terBfioB menos, estamos-mara so^
»* fcnados-, porcpie usamos maifr espadtaia qtie mos>-
» queiea ,- e-em* Bossas* maos obra mais* o ferro que
» achumiio.
». Em qiianto ao» auxiliares de que* Yt)ssa5C S^
» nhorias fazem tatito cabedal j dte methor pattidb
» estamos com* 09 poucos que temos> db que Tossas
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» Setihoriag ood wuitos que contao; porque a mul-
» tidao do% l3ruiO0 (bx maior carrua^m, mas om
» fiu loaior eMrcko i buteaiio as oocaaioea pan
M o de6po|o , mae mo para a halaiha i e bem m
^ fide descartar d'eUes quern «f t4 tao loii^ da
» ykloria. Esta uoa proaeUe um Deos, a queoi
» aervimos^ cuja ki guafdatnos tern erros ; cuja
«» honra de£endemo6 com zelo ; cujos a^grayoa et^
» peramos castigar^ cqbio minisiroe de sua jiuiica(
» a qual tera em seu favor quern defende o proprio;
» e contra si quern tern roubado e quer roubar o
» alheio. Frivolo i o pretexto de querer cobrar o
» devido. Se Vossas Senhorias disserem, que alguns
» particulares Ihes devem algumas quantias de di-
» nheiro, ponha-se a causa em juizo^ e se Ihes pa-
» gara o julgado. Nunca as armas derao boa razao
» do direito : fugir a senlenca da lei para a esperar
» das armas, 6 extorcao da violencia, nao 6 estilo
» da justi^a. Se Vossas Senhorias quizerem liligar
» o pleito, neste tribunal nos acharao conformes,
» e f6ra d'elle, tao enconlrados, que desde este
)» ponto OS esperamos em campanha com forcas e
» animo para darmos uma e muitas batalhas, e
» nellas as vidas pela causa ; e se nos faltar a vic-
» toria, nao nos ha de faltar terra para as sepultu-
» ras^ nem honorificos epitafios para a memoria ;
» que sabem as idades eternizar o nome de quem
» sabe morrer em defensa da patria. — Arraial em
» sete de Abril de mil seiscentos e quarenta e
» oito. » — Os mestres de campo, governadores
da acclamacao da liberdade. — Joao Fernandes
ViBiRA.— Andre Vidal de Nbgrbiros.
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IhHH CASTRIOTO LU81TAN0.
Nesta mesma substancia, posto que por diflerea-
tes palavraSy escrev^rao D. Antonio Philippe Cama-
rao govemador dos Indios, e Henrique Dias gover-
nador dos Negros; e todas estas respostas foiio
remetddas ao Arrecife por um enviado, que as en-
tregou nas maos dos superiores d'aquelle govemo.
Estiverao alguns dias indecisos, atj4 que se resolve-
rao a sair a canipo a dar oomeco a canipanha^ cujos
i^esultados veremos no segoinle livro.
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CHAPITRE XL
SUMMARIO.
1. Manda El Rei entregar o governo das araias a Francisco Barreto
de Menezes; em que estado o recebeo. — 2. Sai o Hollandez do
Arrecife, e com que poder ; raarcha para os Affogados.— 3. Dd-se
rebate no Arraial ; o mestre de campo general cbama a conselho :
o que nelle se assenta. — 4. Manda o inimigo picar a estancia do
Barreto ; a qua! se perde. — 5. Marcba o nosso exercito contra o
~ inimigo , e em que f6rma.— 6. Descripcao dos monies Guararapes ;
do sitio do nosso alojamento , e tambem da Moribeca.— 7. Aloja-se
a nossa gente ; o inimigo a avista, e furma a sua. — 8. Disposicoes
para a batalha ; tocao os exercitos a envestir; os Portuguezes rom-
pem A espada pelos esquadroes contrarios.— 9. Os inimigos des-
tro^ados largao os montes ; perdem o estandarte real. — 10. Os
Negros e Indios nos arriicao a victoria. — 11. Com a gente de
reserva se cobra o Flamengo no perdido. — 12. Sisgismundo Tai
ganfaando terra; os nossos mestres de campo o recebem e rebatem;
profia do combate. — 13. Casos particulares d'este encontro. —
14. Francisco Barreto manda cortar o passo a Henrique Hus ; re-
tira-0e Sisgismundo , e depots de cinco boras de combate largao
OS inimigos o campo em desordenadt fiigidi. —15. Tomao of
nossos refei^ao e descanco ; foge Sisgismundo para a Barreta. —
16. Celebrao os nossos a victoria. — 17. Perda do inimigo, e
nossa. — 18. Capitaes que se acbdrao no conflicto. — 19. Cfaega a
notida i Babia.— 20. £ntra Sisgismundo no Arrecife, manda
ganbar a villa de Olinda ; occupa a nossa fortaleza da Bataria. —
21. Reeoperao os nossos a villa de Olinda ; o capitao Barros de-
saloja 0 inimigo , e Ibe segue o alcance. — 22. Sirgismundo pede
OS seus prisioneiros ; cbega ao Arrecife um soccorro de HoUanda.
— 93. Os negros de Henrique Dias csstigao o inimigo , que se
retira eonfnso. — 24. Manda Sisgismundo dous mil bomens sobre
a estaocia de Henrique Dias, que se retirao bem castigados ; entra
em nosso Arraial soccorro de gados e gente. — 25. Doenca e
morte do Camarao; suas quaKdades e virtudes. >-26. Faltao os
mantimentos no Arraial e do Arrecife ; d'elle sai Sisgismundo com
a armada, e vai destruir os contornos da Babia. — 27. Forma-se
a nova eompanbia do commercio geral. — 28. Entra o inimigo em
1IOTO0 peBMBi«iit«0 de oonqoUtar a camptnba; aprestoi que Cu
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490 CASTRIOTO LUSITAIfO.
para ella. —90. Preparao-se os nossof para a resistencia.—ao. Sai
o ioimigo do Arrecife; con que gentc, e em que fdrma.— 31. De-
termina-se a bataiha , com parcecer de Joao Fernandes Vieira. *
32. Manda Pranrisco Barreto recoohecer o sitio e fbrma do iDimigo.
— 33. Joao Fernandes Vieira chega primeiro As maos com o inimigo
que desbarata; sua yaloroaa coofian^a. — 34. Andre Vidal rompe
0 inimigo, omesmofazem os autros capitaes, e o poem em fugida;
Joao Fernandes Vieira ganha a artilharia do monte. — 35. Andn$
Vidal se ?^ alalhado d'um esquadrao inimigo, por^m resiste-Jhe ;
e 0 p(>e em i'ugida. — 36. Joao Fernandes Vieira assenhorca-se da
artilharia do inimigo fazendo-lbe grande estrago, em que morreo o
general das armas, e o almirante do mar; com a sua presen^a se
dill firo a balaiha, e consuma a victoria. — 37. Francisco Barreto
abraca e honra todos us cabos e soldados ; festeja-se a Yictoria, e
dao-fse gracas a Decs. — 38. Perda d*uma e outra parte ; pritio-
neiros e despojos que deiiou o Flamengo. — 39. Cabos que se
ach^rao n'esta occa.<iiuo. — 40. Volta a nossa gente para o Arraial ;
d^-se licenca ao Hollandez para enterrar os mortos ; ?ai o capi-
iao bollandei ver o nosso Arraial ; como, e para que- — 41. Sos—
peiisao d'umas e outras armas; sai do reino a primeira firota da
Companhia geral.— 4^. Sisgismundo manda assallar a ettanck do
Mendonca, a do Aguiar e a das Salinas, e em todas € mal succedido ;
manda uma esquadra ao rio de Suo Francisco. — 43. Na estancia
do Mendonga perde o inimigo reputa^do e gente; no Rio Grande
0 casUga Joao Barboza Pinto. ~44. Manda Franciiico Barrelo provo*
car 0 inimigo; com que successo. — 45. Antonio Dias Cardozo vai
ao Ria Grande; o que nelle faz. — 46. Suspensao das arraas inl-
migas« e por que causa ; torna o inimigo a sair ; enconka a estancia
do Aguiar com dobrada guarnicao ; retira-se destrocado.— 47.MMida
Sisi^smundo uma ^squadra ao Rio de Sao Francisco ; o que Ihe
succede. — 48. losiste em ro^r a estancia do Aguiar, e sempre
paga af custas.
I. No mmh vivo emprego das prerettcoes com
tjue o inimigo se dispunha para a conquista, e os
iioMosparaa defensa^ oonio deixamos dito no livro
|)Te'ccdiente, chegou ao Arraial de Pernainbuco (ctm-
tavao^se 1 5 de Abril de 1 648) um caireio mandado
^iteMaf)de'gciMfFerlda«w«^ ¥€«t<0mMhe<de¥ifia-
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BmniNro de IMMMdeiV ^ lh» trbokifceiiftff gomo a sen
wtiitit dr eaflH^frtMrnll^ tkommrim # |mtkb' pc^
Sm»Mag«sladli»^ diwMk^qve iiipfiMld*^ a<ieid«iiteK
Hie Mi9p€»46rao o m%vdmor^ Ma* Hk^ derrogarao a
Uttered Cpe o cKlo seohor Air tmb« fi^a^vaMhr^
tti^nidecf 9erm aquette'twgQ^^ Era* para receiar (fM
eMii* esta mot^^a <!^ c^fe doffretsM a catrai^ (i» t»-
btfdade, e ate se efcegapao * temer sedfcoes ; mm a
prmfeneia e wodesviar cte n«^€^ Hfie^ti^e cte campe
gM^ra) e » SlAn]4sstt<^ dtos amtig^ eemeifiarao de tal
modb an- eovme- qfu« liarveMlb AMNksHieap nas peasoaa
iHmea a hou^e* ii# gat^no*. €omo potem $e faz
rtwiiew da* e«ti»egap do> biteCHio a^Ao^c* govenwwtoif
dka^ arme9, ewmpf^ qwe* dfemos coAta rfeste hig»
^ estado em qwe ella* se atebaPw^. — Tonxm Joat)
FeriaKtes*Vif?iwi'Sdbfe ^tKj hombros a emprtfza d^
liberdade, quando ella se ju^;«rra'cfe t^wfcy pefdida ;
|M>E-9eemcam^ miHt9 todtr ao|l^ifitiae*, rs^assisrido
dot eonfiaficaqiue tit^'em Beo»v do^^o dfeereligiSd
e dfo bemcKeepatriia. Sem aMia^ ^ sidldadoir vettcee
e mimige queo budcava eom 9eldado» e arrmffs M.
bfrtaMia dasTabocas. Depots unid'o com- o mescre dt
cafmpe Andi* Vidai* dc NegveiW)* , ganfiairato' a vio
ttem> qtte perdeo o Flaroengo no engenho de JBkma
Anna Paca; e nove florfadezaB, com outras redutos
c casafs fortes; pertb de ohentSti peeasr d'anilham
dfe^ diversion calibnes^ ap maior parte dfe bronzte ; ar*
mas , munieoes , e- peti^Kos de gtterra em' tant^
quantidkdk, quaitfa basttm para'stisftntara gtierra
TiT^em-eiwe* amrfos'CAiAmibs. ife*dliw:tttwd'cltefe
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yn CASTUOTO LOSlTANa
libertirao da siyei^ao hollandeia oento e oilenU
legoas de campanha que se contao do Seara M orim
at<S o rio de SJio Francisco com morte e prisao de
dezoito para dezanove mil contrarios. Dos morado-
resfizerao soldados tao animosos e destros, que a
8i mesmos se desconheciao. Nao foi menos a diffe-
renca que se vio no recibo e na entrega : para sus-
tento do exercito entreg^rao mantimentos para
dous mezes ; para pagas dos soldados vinte quatro
contos em ser, dezoito mil cruzados em eOeitos, e
em dividas com facil e certa cobran^a. A gente dis-
ciplinada, o inimigo reprimido, os moradores tra-
tados com cortezia, prudencia e af&bilidade. Ulti-
mamente p<ide-se dizer que derao a coroa terras
e yassallos que podesse governar, e sem dispendio
da fazenda real ; e a seu principe derao a gloria de
de o ser de vassallos tao obedientes e leaes , que
podem ser para todos os subditos doutrina, e para
todas as idades modelo.
II. Em quanto os nossos se preparavao para a
resistencia y preparava-se o inimigo para o ataque.
Achava-6e Sisgismundo general d'um exercito nu-
qieroso e luzido; cabos peritos e valerosos, officiaes
praticos e destemidos ; soldados de varias na^oes,
por^m exercitados em uma mesma discipUna ; co-
nhecedor de nossos cabos, de nossos recursos, e do
terreno que pisava ; isto nao obstante differio por
bastante tempo o por-se em campanba : o que ja
excitava murmurios na plebe, e accusa^oes da parte
do governo; al6 que picado d'estes estimultos saio
do Arrecife pela uma bora depois da meia noite
17 d'Abril de 1648^ com sete mil quatro centos
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GASTBIOTO LUSlTANOb 69S
eombatentes , deixando de reserva o ooronel Hen^
rique Hus ( ja livre de nosso poder ) com mil in-
fantes^ e ordem que em tempo certo se fosse iocor-
porar com o exercito nos montes Guararapes, como
depois fez. Soldados auxiliares entre Negros e In*
dios mil e quatrocentos, e sete centos gastadores;
e para que Henrique Hus nao perdesse tempo , Ihe
deixou ordem secrela, que com seu terco fosse sa-
quear e passar a espada toda a gente da Varzea ;
mas foi errado seu projecto, e inutil a ordem, por*
que toda a gente se tinha retirado como ja disse-
mos. Levava seis pecas d'arliiharia com municoes,
armas e mantimentos de sobre-selente, e muita
quantidade d'algemas, grilhos, cadeas, e cordas
para prender e maneatar os captivos. — Com bel-
licosa ostentacao de caixas , clarins , salvas e vozes
se formou, e poz em marcha para a sua fortaleza dos
AfTogados, meia legoa para o certao, para o poente,
onde fez aito ; foi recebido da forlaleza com tantas
salvas e vivas, que parecia adiantar-6e o triumpho
a batalha.
III. Naquelle lugar declardu Sisgismundo a sens
caboso seu intento, que era occupar a Moribeca,
povoaqao situada quasi nas fraidas dos montes Gua-
rarapes, cinco legoas da Nazaretb, e tres do nosso
Arraial; para d'alli continuar as suasoperacoes. De-
rao as nossas sintinellas noticia do inimigo ; tocou-
se arma no Arraiai, pegou a nossa gente em armas ;
e formada esperou as ordens que havi^ de seguir.
Com a claridade do dia , se descobrio um grosso
esquadrao interposto entre a nossa gente e o sitio
em que se alojava o capitao Antonio Borges Uchoa,
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t qoem ftna fvente com deoMNKtMcao At
kiveiCir aquella esUneit : indiMtrift, de qoe fe vaiM
para eneobrar a passagem de mu exerctU pan a
outra parte do no , pelo v4o doa Afibgadoa; o que
eonseguio fartado aoa notaoa olhoa, cnja rista not
cegara o vulto com que o fittgimeoto noa desviava
oa olhoa e a auspeiu. '^ 0 meslre de campo gene*
ral Francisco Barreto dc Meaezea chamou a oon«*
selho OS caboa maiorea, e em sua determinaeao
deixou o que se havia de aeguir na occaaiao pr&*
sente. Nao erao mukos os votos^ e ainda asaim dia^
cordarao noa parecerea. A menor parte foi de opi-
niao que ae nao devia fiar a aalvacao de iodoa i
fortuna d'uma batalha ; que o maia prudence seria
recirar-se para o cabo de Santo Agostinho, terrene
em que^ favorecidos doa mates e do tempo poderia-
mos oonsumir o HoUandez. Nao foi d'esta opiniao
Joao Fernandea Vieira : antee sustentou que se
deTia eaperar o inimigo a p^ firme j porque execu-
tad^ a retirada, era forcoao deixar nas roaoa do
inimigo as fortalezas, as familias, e as fazendas,
unico soccorro das vidas ( que na batalha , ou se
havia de alcancar a victoria j ou perder a Tida ; e
em caso que a fortuna adveraa nos tirasse a sorte
de veneer justificados, nao poderia tirar-nos a gloria
de morrer valorosoa, como fieis a Deos, obrigadoa
i nacao , devedores 4 patria , e leaes ao principe.
Conformou-se o niestre de campo general como pa-
recer de Joao Fernandas Vieira, que tambem foi de
Andr^ Vidal, e etitregou a aeu cuidado a disposicao
da guerra e a fdrma da batalha , redervando para
ai o dominio de ftizer exeeular asordens. Foi a pri-
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npiQira qw se dm aos esquadroefi , qu« ^ib$gn^ m
QQnllicU>» dada a primeira carga se m^tt^s^e mho a
espada, e se inveBtisse o inimigo, Despediiio o sarw
gento inaior Cardozo para a froQteira, para e^piar
Q de$cobrir amarcba do inimigo, Eotretanto oo
ouparaO'-se nos^s cabas em exortar 06 soldados
com razoes yivas e efficazes, refrescandQ-lhefi a lem«
branca das muitas vezes que tiobao vencido of
m^$moft HoUandezes qua agora os buscavao. Che-«-
gou neate tempo o sargento maior Cardozo , eiu^
formou que o iuimigo ia marcbando para a Barreta^
Com eata nova se mandou reeolher toda a nosaa
geute para o Arraiala descancar e a tomar a refeicao
quotidiaua em quanto nao cheg^va aviso do capiteo
Canha do guccedido na Barreta.
IV. Chegou a vanguarda do exercito inimigo
a picar a Barreta, e o capitao d'ella Barthobmeo
Soares Canlia , enganado da imaginacao, que Ibc
pintou ser commettimento de duzeolos Hollaadezes,
que de ordinario o inquietavao, com desejos de o$
easiigar saio a bu8c&l-*os fdra da fortifica^o com
quarenta e seis soldados, deiKando ordem aos doua
idferea seua, que com o restante da gente se nao
movessem do posto que defendiao» aem expresaa
ordem sua ; e conftado nas sentinellas, que deixira
ao largo, de que o inimigo ihe nao poderia cortar
a retirada, ae empenbou com tanta demazia, que o
arrepeudimento o nao pode livrar do perigo. Pri-
meiro se vio cortado que investido. Nao teve o ca^
pitao Canba tempo sonao para metter mao a espada
^ animar os sens com o exemplo ; com ella na mao
m m^teo pdo esquadrao do inimigo com tal ya**
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&96 GASTRIOTO LUSITAMO.
laitia e destreza, que se deo a conhecer a si pelo
estrago e aos seus pela imitacao* Nao houve entre
elles quein nao vendesse uma vida por muitas, de
sorte que primeiro 08 vio o Hollandez mortos que
rendidos. 0 valoroso capilao , cercado de Indios e
Tapuyas « os fazia afastar, ou cair com os golpes de
sua espada, at^ que os rompeo, com espantodos
Hollandezes e assombro dos barbaros : o que me-
receo dar-se-lhe quartel , contra o parecer de mui-
tos. Os que forao investidos ns^estancia sustentarao
o combate com admiravel constancia, at^ que yen-
cidos do excesso se saWdrao nos matos, nao sem perda
d'alguns mortos e feridos. Formado, e com as ar-
mas na mao passou o Hollandez naquelle sitio o res-
tante do dia e toda a seguinte noite; mandou Sis-
gismundo vir do Arrecife a Henrique Hus com o
seu terco, e proseguio a inarcha pelo caminho da
Moribeca.
V. Erao duas horas da tarde (tempo em que a
noftsa gente recolhida ao Arraial come9ava a tomar
racao para acudir a fome ), quando chegou aviso do
que era passado na Barreta. Nao houve soldado
nosso que se nao alvoro^asse ; e sem fazerem caso
da comida tom^rao as armas, e formados marcba-
rao com todo o poder, o qual constava de dous
mil e quinhenlos Portuguezes , negros e Indios.
Commandava a vanguardaomestrede campo Andr^
Vidal , e nclla ia incorporado o mestre de campo
general Francisco Barreto de Menezes ; a retaguarda
foi confiada a Joao Fernandes Vieira. Ghegarao a
um lugar em que havia dous caminhos, e duvidou-
se por qual d'elles se havia de marchar ; houve pa-
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GASTRIOTO LUSITANO. 697
reoeres encontrados ; mandou o mestre de catnpo
general fazer aho , at^ que chegasse Joao Fernan-
dez Vieira ; ouvio-se o seu parecer, o qual , sendo
conforme com o do sargento maior Antonio IHas
Cardozo, foi approyadoe mandadoseguirpelo mes-
tre de campo general. Depois de cortada a ponte
que podia dar passagem ao inimigo, marchou o
nosso exercito para os montes Guararapes^ onde se
experimentarao todas as utilidades do conselho,
sem que se achasse o menor defraudo entre a
promessa e a livranca.
VI. Situou a natureza os montes Guararapes
tres para quatro legoas do Arrecife , caminhando
de norle a sul ; tres do nosso Arraial , quasi para
o poente ; da Barreta duas , correndo do norje ao
poente. Do monte j onde se come^ a empinar a
terra at^ o mar, harera distancia de tres quartos
de legoa de leste a oeste, campina rasa, de muitos
loda^aes e alagadicos. Dos montes para o certao
vao continuando as serranias com mais ou menos
altura; e digo serranias, porque mais o parecem
que montes, pelo subido, agreste e aspero d*elles.
Alguns formao tamanho corpo que parece levantao
a cabeca sobre as nuvens, e pela maior parte sao
de cadencias que espantao a yista, e a consideracao
com o despenho e com o profundo; tanto qu6
suas cavidades querem persuadir que nao parao
senao no centro da terra. Das eminencias d'elles se
descobrem dilatadas e ferteis campinas por grande
distancia de cerlao, que igualmente suspendem e
recreiao ; e olbando para aparte do mar, se vtem
muitas legoas de eosta e golfo, em fdrma, que pri-
t 32
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meiro se acaba a mU que o abj««tQ, 0 Vmmi
<l'esie$ moQleSy em partes 6 saibro. «m part« terra
aolu, como area ; em muitas, pedras desuDulas tM
pcmderQ$a$ e maciwaft, que pela cor e peso querma
parecer fenro, rauo por que aa agma da^ iayamadaa
tem feiio oellea quebradaa, grutas, e barranoM am
tanto Qumero e allura, que se nao olbao sem medo
e sem perigo; o de caminhar por elles de cavallo
6 temeridade ; de pi atrevimento* Todos sao escal-*
yados, e o natural d elles tao escasso, que se criao
alguma arrore, i infructifera e agreste. As fraldaa
d'eslas serranias se cultivso, e acodem com os fnic-
tos, ajudadas da bumidade qqe reoebem das montes.
-p- GuararapeSf na liogua do geutio i i o aieamo
que estrondo, ou estrepito, que causae os iostru^
mentos de golpe^ oomo siuo, lambor, atabale, e ou*
tros ; e o rumor que faiem as aguaa pelas roturaa
e eoDcavidades d elles Ihes deo o uome de Guara*
rapes. 0 ultimo d*estes mantes^ saiudo d'elles pan
o mar^ asseuta o pi sobre um meio circulo de terra
cba pela parte do sul, que tambem o eerca pela do
mar (pela terra Qca unido a outros mcntes)! oin**
gido pela parte da eampina d'um clilaudo alaga-*
difo, oausado d'uma lagoa que Ihe da prineipio^
formando^e uma faxa de terra aolida, que teni de
lai^gura poueo mais df oem passos, entre o alaga<*
di9o e o monte ; para a qual se entra por um bo*
queirao, que formou a naiureza entre a lagoa e
uma lingua de mato, que desce do dito moiite*
Pela dita boca enlrou a nossa genie, e se alojou
naquella faxa de terra oom as eommodidades e for*-
tifica^oes, que Ihes da^a e sitio^ mko aeado a ineftar
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qAinawQ lusitaiio. 4W
0 ficar Qscondida aoa olhoa do Flamengo, porque
ra do9 monte^ nqs podia deioobrip. Fa^a o leitor
ipemoria das particularidados referidaa part en-
tender com mais clareza a$ cireumstanciai da ba*-
talba <{iie logo havemof de relatar • A povoagao da
Aloribeca ( que o iniinigo intentava poatuir, oomo
. fundameoto de seu designio) fica uma l^goa dos
moQtoa Guararapes ( pequena pelo numt^ro daa
casas que a formao, grande pelo dot vizinhot que
a cercao em particulares vivenda«). 0 terreno fei^-
tiliaaimo pela abundancia e bondade dog rruetot e
daa criaa ; retalbado de pequenoa rios, eujaa aguas
l^va ao mar^ o que chamao da Moribeca> que banha
e da Home & povoacao. Tudo requisitos de grande
convenieacia para o intend o de Sisgitmundo.
Yll* A 18 de Abril de 1648 arrostarao os nossos
oa monies Guararape^ j e seguindo a direo^o de
Joao Fernandes Vieira» entr4rao pelo boqueiiio, e
ae alojou a gente em fdrma prolongada. Tom&rao-
ae todaa as precau^oea em taea casoa neeeasarias^
poaerao-se sentinellas^ mandou^se Antonio Dias
Cardozo para observar o inimigo ; quando nesfe
mesmo tempo cbegou o capi(ao Bartholomeu Soarqs
Ganba, o qual pod^ra escapar^i^e da Barreta; re-
ferio o poder e o pensamento do Hollandea com
tudo 0 que at6 aquella bora tinba auceedido ( ii)i
ouvido com aegredo e avizado com preoeito que
nenhuma couaa dissesse diante dot aoldadoa no to-
oante ao exeesao que o exe reito inimigo noa fbala
cm numero. Oa nossos governadorea mandarao ae-
gunda vea o capitao Cardoto com sessenta homens
para &zer frente ao inimigo ; os quaea o reoebArto
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5M CASniOIO CDSTTAlia
com uma carga, e o forao conduzindo, sem yira-
rem a cara nem perderem a ordem, at^ o boqueiiio,
no qual recolhidos , deixon o Flamengo de os se-
guir. Ja nesta hora occupava a nossa infantaria
toda a ladeira do monle em forma de peleja. Pela
frente^ que £ma rosto ao inimigo , se deixaya ver
de seus esquadroes a resolucao e a forma , que Sis-
gismimdo olhava , confundido de seu mesmo en-
gano. Julgava que vinha a yencer sem peleja, e a
triumphar sem batalha, mas yendo a resolucao dos
nossoSy mudou de conceito, e vendo que muitos de
seus soldados perdiao as cores j correo os esqua-
droes animando-os 4 batalha com a exhortacao e
com a ordem.
YIU. Em nove esquadroes formou o mimigo sua
gente, a qual se compunha de Francezes, Allemaes,
Ungaros^ Polacos, Inglezes, Suecos e outras nacoes
da Europa , nao sendo a menor por^ao a dos Hoi-
landezes. A vanguarda compunha-se de dous re-
gimentoSy um de nove centos^ outro de oito centos
soldados praticos , yalerosos e confidentes ; os mais
UmIos erao veteranos tirados dos presidios de suas
pracas, supprindo a falta coia os bizonhos, que
naquelle anno conduzira do norte a sua frota. Os
Indios, que nao tinha disciplinado a arte, como Ta-
puyas e Pytiguares deixou em tro90S soltos e vo-
lantes, para que melhor podessem s^uir seu estilo
de pelejar; entre os quaes se ouviao innumeraveis
bozinas e atabaques, que acompanhavao barbaros
gritos. A nossa gente era menos em numero , mas
de maior conta pelas qualidades de ser toda pratica,
valerosa e portugueza , ^ou por nascimento ou por
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GASTRIOTO LUSITANO. 501
trato ; e armada da justica da sua causa , era me-
Ihor armada. — A nossa vanguarda era comman-
dada pelo mestre de campo Andr^ Yidal , o qual
teve ordem que com o seu ter9o e parte do de Joao
Femandes Vieira commettessem o inimigo pelo
raso, que era o lado esquerdo, e pelo contra lado
D. Antonio Philippe Camarao com seu terco de
Indios. Joao Femandes Vieira foi encarregado de
buscar o inimigo pelo alto dos monies, e por seu
contra lado Henrique Dias com a sua gente. 0 ca-
pitao de cavallos Antonio da Silva teve ordem d'a-
cudir onde a sua assistencia fosse mais necessaria.
0 mestre de campo general , depois de tudo assim
disposto, ordenou que ao primeiro signal se avan-
casse ao inimigo por entre as balas de sua primeira
carga, at^ que ao segundo se disparassem os mos-
quetes da nossa parte em distancia assim propor-
cionada^ que se nao perdesse tiro. Tocou-se a in-
vestir ; mov6rao-se uns e outros esquadroes ; com
mais ligeireza os Portuguezes, porque com menos
corpo e mais espirito. Recebeo-os o inimigo com
valor e disciplina ; mas nao Ihes retardou o passo,
com toda a resistencia, nem com duas cargas d'ar-
tilharia e mosquetaria que nelles disparou. Esque-
cidos do perigo , attentos a invasao , rompiao os
nossos por nuvens de fumo e balas que escureciao
o ar^ sem que algum levasse a arma ao rosto.
Quando ouvirao o signal esperado, que se deo a
tempo que a proporcao da distancia nao deixou
perder tiro , derao conformes uma carga com tal
effeito, que a turba^ao e desordem dos esquadroes
contrarios mostrirao elaramente que pod^ra mais
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SOS GAITtiarO LDftltAltfAi
a pirda que a ordcm* PassoU'-ie {>alavra qtle imre^^
tisaem & espada^ e achou a vot a obediencia Mb
pToropia, e a occasiao (ao opportuna^ que em brere
tempo txmipdrao oe esquadroes itiimigoji , fazeudo
cada urn dot PortogueEM catninho tao htgOj
quauto o media a extensao da e^pada. 0 gentio
alUado oom o Flamengo^ vendo que nada podia re^
^iftlirao furor do6 nosso^, roncebeo tamanho niedd,
que largandUi ot posiOB e as arraas se pot em desa*
tada fiigida ; e ial foi seu espanto^ que no ceulro
doa maios se uad dava por seguro.
IX« Quasi meia hoi^a sustentou o iuimtgo a re»
siatenoia em duvidosa bataiha ; por(^m aquelle tempo
que sua discipiina e seu talor o teve firme, dverao
oa nosaos para os cortar uo raso e no moute, oom
taea e tao pesados golpe$, que primeiro os espantou
o eatrago que o coudicto. Yiao ua resistencia a
mot*te cerlft) e forao largando o campo, e dcsem-
belmcatido os moutes com reiirada mal suecedida,
porque a dis^posicao das ladeiras os submettia de*
baixo das espadas^ que uelles descari^^rao com
tao alentado pulso que se oa6 via distinccao entre
fei'ir e maiar. Itlusti^ ^xemplo davao os mestres dt
campo Jofiio Femandes Yieira e Heurique Dias aos
seus ; ^ nao era menos illustre a imita^ao que o exem^
pte. J4 nesie tempo o Cortaf nao era veneer, senao
de^tfuir ; porque nao ha via Inimigo que o pafe-
c«8se, seuao na reiirada. — Nao anda^o as armaa
menos qiientes na campina, otide os dous toestres
de campo lio ganhando terra ao inimigo, que die
perdia, mas nao a discipliaa nem o animo ; a desi*
guaMade era dos pufsos; e cOme9oa a ser mafor a
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n
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do nutnefo^ porque todos os FlamMigos , que ven-
€ido8 ckixavio ob tnotiies, 6e forao incorporando
<M>ni OS seuB que pelejavio no mso. O inesnre de
eatopo Jok> FeraMMfed Vieira, que Ifoes Tinha ti6
alcAiice) sem nbaixar a ^pada , corrro com os seus
9oidados a unir-se com os de Andr^ Vidal de Ne-
greiros, t assim cafregMo o Flamengo, que co-
nheceo t^s bra^s pelos golpes. Siislbutirao o poste
eofli a obstinacJio , e nao com a esperan^a , porque
•e faziao roHo fto p^igo, ei&o tBonstratigidos das re^
prehenioes e amea^os de seuB eabos, que os obriga-
t&o com a iujutia e torn o exempio ; pdrAm o amor
da vida e o horror dos morios os fez esquecer da «
obriga^o e da ht^iti. Aos poucos que detinfaa a
multidao (que b valor fienhum) (et virar as costas
O capitao Antonio da Silva, que chamado da ocCa-
Biao atudio ao Insar do combate^ rpmpendo pelo
inimtgo com o Irllho, e com a laui^a , de sorte que
feila e alropellaTa rendidos aos que s6 nas armas
pareciao soldados. 3i os nossos achavao nos inimi-
gos desvlt) sem rcparo, macando e ferindo sem dis-
liucc&o de oppostos a redendidos. Cedeo a multidao
ao valor* Nao pod6rao os Holfcmdezes supportar o
peso de nossas armas ; perd^r&o de todo a obedieti-
cia e a discipilna ; rotdS e desbaratados se poseiio
eA desordenada fugtda , deixando-nos no campo a
artilbaria^ a bagagena, e seu estandarte generals
0 qual tirou das Ui&os de f;eu alferes um sargento
do terco de Joao Fernandes Vieira, a quem o apre-
sentou ; chamava-se AfFonso Rodrigues.
X. 0 prazer <iom que os nossos apellidavao a
Tlctoiia foi a causa de que o inimigo se cobrasse
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50/1 GASTRIOTO LUSTTAMO.
no uso de sua artiiharia ; e o houvera de ser de
nossa perdi^ao. A nenhum deixou a alegiia , nem
para retirar, nem para guamecer a artiiharia , de
que no8 fez senhores a batalha, e muito menos para
acudir e atalhar a desordem em que os soldados de
Camarao e de Henrique Dias se engolfaiio em rou-
bar ; e como ua fortifica^ao da plata forma , d'onde
jogavao as pe9aSy estava o recheio do exercito, era o
roubo no mesmo lugar onde se havia de por a
guarda ; e parecia guarda o que era rapina. Roto,
como temos dito, p Flamengo, fiigiao os contrarios
para onde os levava o temor e a esperanca ; uma
grande partida foi^osteando o monte, aqual ata-
Ihadados nossos.se deitou aoalagadico; pordm uma
cargademosquetaria, que os alcan^ou quasisubmer-
gidos fez com que suas Tidas fossem despojo de dous
elementos. Qs de outra partida, que com as azas
do temor fogiao por aquella faxa de terra^ que ficava
entre o alagadi^o e o monte, seguidos^ deixarao as
armas^ e alcancados as vidas , sem haver alguma a
que perdoasse a nossa espada. Forao tantos os mor-
tos em uma e outra parte, que dava seu aangue ou-
tro parecer i terra, e outra c6r a agoa. Ja nao
havia respiracao com alentos para seguir ; ja nao
havia bra^o com for9as para matar. £spantou-se
entao a experiencia , como agora a consideragao ,
do trabalho que support^ao os Portuguezes neste
dia; pois quando o fim do conflicto os convidava
com 0 descan^o, entao o rebate os mettia em nova
batalha.
XI. Escondido aos olhos, e as noticias da nossa
genie, tinha o Flamengo n'um valie, que faziaoas
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GASTRIOTO LUSTTANa 505
fraldas de dous montes, um esquadrao de reserva,
composto de doze companhias, commandado por
Henrique Hus, mandado vir do Arrecife para este
fim^ como ja dissemos; com o qual se encorporarao
todos quantos Hollandezes o conflicto deixou com
vida. Seguia-os o nosso alcance; Henrique Hus,
que vio em uns e outros igual desordem, nao per-
deo a accasiao que Ihe offerecia a fortuna. Saio a
encontrar e a rebater o impeto do alcance ; sobio
o monte, cobrou a artilharia perdida^ e favorecido
d'ella foi carregando de pesados golpes /> ter^o de
Henrique Dias, que Ihe fazia rosto com militar re-
tirada ; foi soccorrido d'algumas companhias y que
a caso o pod^rao fazer^ por^m nao era bastante tao
pequena opposi^ao para tamanho poder ; supposto
que Ihe detinhao o curso ( com que jd descia pelo
monte, dando e recebendo cargas^ com disciplina e
acordo) nao Ihe cortavao o passo.
XII. Os nossos mestres de campo^ que no baixo
ouvirao o estrondo dos tiros , levantarao os olhos ,
virao a peleja^ mas nao pod^rao conhecer (pela dis-
tancia) de que armas era o melhor partido ; antes
que entendessem que os sens erao os que necessita-
vao de soccorro, osavancou pelo raso Sisgismundo,
com toda sua gente novamente formada, e com
nova furia j que brevemente Ihes fez quebrar a va-
lentia com que os nossos o forao receber, e foi tal a
opposi9ao que presumio Sisgismundo que^ ou a
nossa gente beb^ra novos alentos no trabalho de
todo aquelle dia, ou se havia poupado s6 para
aquella bora. — Aos estunulos da occasiao sobe-
javao os do exemplo com que Joao Fernandes Vieira,
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509 CASnKftO LUSIt AN6.
Andri Vidal de Ncgrelr6s, e os soldados de seufe
tercos avanc&rao ao Flanjengo, buscando os poslos
tnais arriscados. Na competencia da ousadia 6e mos-
trava a do valor; ^ todos exortava a visu, a poucos
a inveja, porque nao houve soldado que nao des-
prezasse 6 perigo. Os Uollandezes resolulos etn
morrer on vemer deseslimavao a vida : nas pontes
de nossas espadas os mettla a coIerA ; por ellas bus-
cavao a vinganca, e nellas achavao o castigo. Caiao
OS primeiros, e logo os segundos substituiao o lugar.
SisgismurTdo impaciente dese verbaiido, presagO
de sua desgraca , accusava a fort una » fnas nao
abiii^ava a e.^pada; com ella na mao feria e exor-
tava, animando os seus com ^ lembtanca da honra
e da injuria ; estremos com que os persuadio a que
n*esta occaslao obrassem como valentes ; e certo ,
que nenhum dia mereceo & Tama mais esclarecido
pregao de general e de soldado. — Perfiava o cun-
flicto, desprezando-se o espanto que causava a lodos
o confuso eslrondo dos insCrumentos marciaes. 0
retumbar das pecas, o fiizilar dos tiros, 6 retinir
dos golpes, OS gritos dos cabos (sem o gemer dos
feridos e dos agonizantes ) , causava uma pavorosa
disonancla. 0 fumo da polvora , o p6 da terra nao
deixava distinguir amigos de inimigos, porque ti-
ravao a jurisdiccao aos olhos. Umas com outras se
moslravao as armas, porque s6 com a luz dos tiros
se deixavao ver as espadas ; era tamanha a conFusJio
que pelos golpes e pelos pulsos se conheciao os
bracos, e nao pelas pessoas. A iienhum deixava a
vizinhan^a a escolha, e cada qual se valia da arma
que Ihe permittia a sua distancia ^ e talvez inuteis
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cMfOjan umiMOk 597
aindt tt inais curtos , se tinhto A b#a^9 ; apromt-^
taado-Be o desaiino d'unhai e dfntest A tnuUidao
dos corpoB morlos (que para UM era cdikkulO) para
outroa yallo) a todoi irritata, a nenhutn compdn-
gia. 0 menos numero dos PorttigueM$ Ihes tAo
deixuva cair os bracoa, porque animados do invent
civeis espiritoB se mooCravao inoanaatelSi
XIU. Aoe doua Hercutet portuguetes Joao Fer^
nandes Vieira^ e Andrti Vidal de Negreiroa mo
pode chegar entao^ nem a emulacaO fiem a itiveja:
suaa proesas callou haqu^li« dia a admirA^o, para
agora aa ouvir a incredulidade; pof6m dissimula-as
a.peiinay porque a Hmila^ do vdo njto chega a t6o
alio assutnpto. Quanto obrirao e quanto merec^o
si pen* infereneiaB se po4er4 alcan^r t cotii^id<ire>se
a duracao do perigo , e logo «e ver4 0 muito que
obrou o eaforco. Ao m«aire de eampo Joio Femati^
dea Yieira chegou Urn talente Hollatidet a p^ar
com a mao eaquerda naa redeas do cavalto, e le**
vantatido o braco direito para o matar de urn golpe,
antes que deaae a (vrida recebeo Uttift ctnilada, que
juntamenle o partio e o apartou. Era maid fbr^so
o bra^o, foi mak ligeiro o movimento. Assim o
achou lodo o tempo do coitflicto entre as espadad
eaa balas^ aem quealgum d'estes maieriae^ o feri^ae
<[iie ae o nao temiao , parece que o rcspeitavao. Dm
pelouro Ihe furou a orelha do cavallo, nao pelo
ferir, senao pelo galautear. Etn nada disimilhante
vio a occasiao ao me^fe de campo Andr6 Vidal de
NegreiroB. Ferio-lhe tim* bala o cavallo, em que
nKmtava, passou-se a outro , e deixou o ferido para
o var deapedii^do d'otttm bala^ t nelle o quMitD
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SOS GAfiTUOIO UJSIXAlia
orespeitava a fortuna. A um e outro acertarao
muitos pelouros, que pararao nos vestidos. Unia-
08 a amizade, e nao os sabia distinguir a sorie.
• XIV. 0 mestre de campo general, que pelejava
com OS bra^os de todos , e a todos assistia com os
soccorros e com as ordens , vio que no mais tra-
vado da pendencia vinha Henrique Hus carregando
a Henrique Dias pela ladeira do monte ; conheceo que
o pensamento do Hollandez era lancar-nos fora do
boqueiraOy onde pelejava a maior forcados exercitos;
fez advertencia a Antonio Dias Cardozo do intento
e do perigo ; o qual o atalhou com tal disposicao,
que bem de pressa reprimioaconfian^a hollandeza.
— Sisgismundo, que a ludo attendia, vendo que
pela vaniagem do sitio nao podia veneer pela forga^
determinou empregar a arte. Fez pe atraz, tocando
a retirar; formou de novo os sens, c mandou en-
vestir o boqueirao. Travou-se de novo a luta, e tao
encarni9ada de parte a parte , que mais pareciao
feras que bomens os que defendiao e os que ataca-
vao. Em ganbar e defender o boqueirao consistia a
victoria d'uma e outra gente ; ambas desprezavao
o perigo por conseguir o intento. Cinco boras bavia
que durava a batalba , e nellas se virao os nossos
algumas vezes tao apertados , que se temSrao per-
didos ; por^m aquelles beroes invenciveis Joao Fer-
nandes Vieira e Andr^ Vidal de Negreiros , com a
propriedade de raios , buscavao a resistencia mais
dura para romperem mais viofentos; por tudo rom-
piao sem perderem tempo nem golpe , e aos seus
inspiravao novos alentos , causando aos inimigos
terror o espanto. Ja o inimigo, cortado do ferro e
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GASTRIOrO LUSITANO. 509
do medo, com tibieza tinha perdido a obediencia ;
nem a gritos, nem a golpes podiao Sisgismundo
e seus cabos faz^l-os entrar no conflicto. Sem
tocar a retirar, o fizerao todos os seus a tempo ,
que andavao as annas e os mosquetes tao esquen-
tados , que nem as maos os podiao soffrer, nem os
bracos os podiao sustentar. Com muita difficuldade
pode atalhar o general hoUandez a fuga dos seus.
A proximidade da noite Ihe foi favoravel para for-
mar um batalhao de saos e feridos; e o cancasso
em que se achavao os nossos Ihe deo occasiao para
nao ser de todo destruido no alcance.
XV. A nova forma que Sisgismundo daya aos
seus fazia crer aos nossos que ainda tinhao inimigos
que veneer ; para o que , sem largarem as armas
nem os postos , esperavao o combate. Era no fim
da tarde^ e a continuacao do trabalho e falta de
refeicao os tinha quebrantados e desfallecidos nas
for^as I ainda que inteiros no animos. Acudio-se a
cada um com uma pequena quantidade de assucar
desfeito em agoa^ soccorro mais para refrescar que
para refazer; fraco, mas sufBciente remedio para
corpos que se alimentavao de tamanhos espiritos.
— Em trocos os tinha partidos a ordem dos mes-
tres de campo, com prematica^ que dada a primeira
carga , se rompesse & espada. Acabava-se o dia e a
paciencia dos nossos ; com militares desafios pro-
vocarao ao inimigo uma e muitas ve^es a acceitar
bataiha ; por^m alheio de similhante pensamento ,
como se fora iusensivel , se conservava immovel ,
poitjue furtado a nossos olhos cobria com o corpo
de sua gente a diligencia de retirar os feridos mais
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110 QOTUOIO iOUTAIIO.
p«ri({OiM para * Barrett ; e forio tantos qw oarro-
girno einoo barcaa em repetida» viagen^ da£arr«ta
para o Arreoife, Entrou a noite com tamanha lem-
pealade de agoa , trovow © veoto , qw parecU
repetir-ae epire oa elemeQioa o paatado coaflicto.
Nao per<Jko tempo Si^giamuDdoi maodou mil aol-
dadoa qu^ ae adiantaasem a guarneoer o caminho
de emboscadas, para dafender^m a marcba, em
oaao que oa oosaQS Ibe des^em aloance ; eoberio do
eacuro $ e acompaohado do silencio ae po« em fu-
gida pela meia noite. A caso o piclrao yinte 90U
dados pela retaguarda (que para o oapiar no poato
aairao de noaao alojamento); aoguinio^lbeo trillion e
imagtuando que luaiior poder o oarreg^va^ fogiocom
tal deaatixu>9 que deijLou muitos feridoa, 9 as pou-
oas armaa que levava, para camiohar mais ligeiro.
XVI. Com a iuK da manha aairao 0$ moatres de
campo Joao Fernandas Yifiira e Andre Vidal de Ne-
greiroa a eerufioar^o, ou da fuga. ou da Fdrma do
inimigo. Aehirao a campanha coberCa de despojos
ifim mimigQs^ e deata vea a victoria sem batalha,
Q gosto aem reo^iQ, 0 tnumpho sem contrario. Cor-
r^rao a congratular«ae eom 0 meatre de oampo ge-
neral Franciaoo Barreto da Mene^ea, a quern se
deviao oa primeiros vivaS) pelo que nesta occaaiao
obrara sen valor e aua eomprehensao. Aeclamou*ae
par todo o al(\jamento a victoria , com todaa aa dfh
menalra^oea de alegria, a de gratiOcacao a Deos,
ooafeaaando Fecfbdl**a da mao do Aliiasimo. Correo
a,1[iova por todo aquelle deatricto, e o mesmo aWo-
rooQ que a oria a duvidava (coodi^ao, que trascom-
lige a peaae do que nuito ae deaeja quando maia ae
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duYida), AqiieUes inoradorea, qw poucas hora^
antes W consideravao coudemnado^ & morle e ao
^rilho, vendo-se com Ubefdade certa, eqgrandeciao
a mis^ricordia divipa, qoncqrrendo para wmas raes-
inas lagriipas a compunc^aQ e a alegria, Desceiio
do$ inato3 os mais vizinhos a dar e a receber para^
bem de tamapha dita, que Ibes augiDentava a vista
do perigo na horribilidade do estrago. Nao se via
pelo campo da batalba outra cousa inais que armas
destrofadas, e corpos mortos e digfonn^s, ^avoltos
em aeu mesmo sangue, empo^ado em muitas part^s^
o qual a terra ja nao bebia por congelado ; espec-
taeulo tao borreadO| qm o via a lastima e$queclda
da offensa.
XVII. PeixQU o inimigo no campo mil e du-
zentos morlos, enlre elles dous coronei^ (H\i§ e
Vanelles); cento e oitenta ofliciaes^ sew entrarem
p'e^ta conta os que e^ond^rao os matos. que forao
muitos , e muitos aquelles que nor fajta de ^ura
morr^o na Barreta e no Arrepife, JJao so d4 pu-
naero aos feridos, porque a caufella 05 nao deij^oi)
contar j o§ de maior posto forao o general Sisgis-
mundq por urn artelho , q cpronei Autbim pelo
pe§co90, e owtros olficiaes menqres. Dos soldadog,
a poucos deixou de assignalar Q. no§§o ferro, 0§
desp<]yos nao parecerao de exercito gqerreirp, senao
de cidade pacifica, Quantidade de ouro e prata em
moeda e pecas ; cavallos ajaezadqs com riqueza e
primor; vestidosdeguerra e gala; seda3 d'arlifiqiQ
e valor ; cbapeo^ e plumas d'estima; sedas e olan-
das em roupa e em pe9a| niuita copia; muitos ea-
paduxii peito», eapaldare$> e eapacetes de ]^fii^^ pela
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512 GASTRIOTO LUSITAlta
tempera e pelas guamicoes : doas pecas de bronze,
com annas de fogo e ferro em grande quantidade;
muni9oe8 de toda a sorte, em numero crescido;
mantimentos para o sustento e para o regalo em
muita abundancia*; uma botica de toda a abmi-
dancia de medicamentos ; ultimamente uma somma
grande de varias prisoes para maniatar captivos y
que em sua determinacao haviao de ser os soldados
e moradores^ a que sua vontade concedesse a vida
(^mais alta Providencia trocou as sortes). Entre os
prisioneiros foi o seu coronel Kever o principal.
Gustou-nos a victoria oitenta e quatro mortos, sendo
d'este numero os capitaes Joao Rodrigues, eDomin-
gos da Costa, e o alferes Manoel Ferreira de Lemos,
que viera da-Bahia com um soccorro de polrora.
Os feridos pass^rao de quatro centos, sendo a maior
parte do terco de Joao Femandes Vieira. Concedeo-
nos o ceo esta victoria em o Domingo da Pascoella
19de Abrilde1648.
XYIII. Os mestres de campo, officiaes, soldados
e moradores, que se acharao na batalha, derao
novos empregos a fama ; a todos deve a patria gra-
tas memorias , e a monarchia incorruptiveis esta-
tuas. 0 mestre de campo general Francisco Barreto
de Menezes nada iicou devendo nem a seu sangue ,
nem a nossa esperanca. Joao Femandes Vieira , e
Andr^ Vidal de Negreiros venc^rao nesta oecasiao
o impossivel , de fazerem maiores seus nomes. Os
governadores de Indios e Negros, D. Antonio
Philippe Camaraoy e Henrique Dias fizerao co-
nhecer ao mundo que o valor nao 6 heran^a senao
excellencia. 0 sargento maior Antonio Dias Car-
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CASTRIOTO iDSITiMO. 51S
iJoqoimmDrteUzoa nesta occa»aosua capaeidade a
aeu bia^« Os tenentes generaes Antonio de Freita^
da Silva e Philippe Bandeira de Mello mostxiiio
quanto seu merecimeuto se adiantava a sua opiniaot
Os capitees e officiaes menores ensinarao a todoi
como em uma mesma mao cahiao as armas e as in-^
signias. Os nomes d'algvins deixou entao de public
car o descuido y e agora o tempo ; retiremos os que
nomeou a lembran^a* Do ter^o de Joao Fernandez
Vieira forao os capitaes Antonio de Castro, Amaro
Cordeiroi Antonio de Roeba Damas, Antonio Bor-^
ges Ochoa, Affonso d' Albuquerque^ Antonio Ro^
drigues Yidal, Bertholomeu Soares Ganba, Braz da
Kocha y Braz de Barros Teixeira^ Cosme do Rego^
DomingosFerreira^ Francisco Berenguer, Francisco
de Lisboa, Francisco Barreiros, Gregorio Fragozo^
Joao Soares d' Albuquerque^ Joao de Pontes, Manoel
Moniz, Manoel d'Abreu, Manoel Lopes, Paulo
Teixeira^ Philippe Ferreira^ Sebasliao Ferreira ^
Vicente Curado ; e Domingos da Costa e Joao Ro«
drigues, que morr^rao na batalha. Do ter9o de An*
drd Vidal fqrao os capitaes Antonio Curado Vidal ,
Antonio Rodrigues Franca, Antonio daSilva^ Ama*
dor Rodrigoes, Antonio Dias Santiago, Francisco
daRocha, Joao Barboza Pinto, Joao Lopes, Lou-
renco Carneiro, Manoel de Aguiar, Pedro Caval*-
canti d'Albuquerque ; capitaes de cavallos Antonio
da Silva, e seu tenente Domingos Gomes de Brito .
XIX. Pelas maos da incredulidade se derao e re*
ceb^ao as novas da victM^ia na Bahia ; como sonho
as avaliava quern com maisatten^ao asouvia, at^ que
com certeza as divulgou o conde de Villa-Pouca,
h 33
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Sift • OAdTRlOM LtmitAllO.
que entio gowamava o Estiuh), per cot^isio quetev^
de Zenobio Achioli , a quern asmn a orden^ra o
mestre dd campo general Frandsco Barreto de Me--
nezes, remettendo^lhe por esta via^ com algumaa
handehras hoUandezas, od tnais certos testemimhos
da vefdade. F6ra 6 auccesso Uk> aiheiodaesperan^a
de todod, e do conceito de Antonio Telles, que in-
formado na desigualdade do poder d'umas e outras
armas, tinha assentado comsigo, como por impoa*
sivel deixar de yencer o Flamengo , e tao firme
estaya nesta opiniao^ que mandAra ao cafAtao Pe^
dro de Miranda com duzentos soldados, em cinoo
companhias, que fosse assegurar a passagem do
Rio de Sao Franoidco j para que estivesse franca a
gente que podesse escapar das maos do Flamengo,
e Tiesse f ogindo para a Bahia. Quanto mais inopi«-
nada foi a victoria, tanto maid festejadafoi do conde
general de toda a armada, soldados, e povo; en-
chendo os ares de vivas, as rnns de festas, e os
templos d^ lagritnas, com que gostosos e compun*-
gidos tribute vao a Deos graicas de tamanho bene-
ficio. 0 mesmo eflfeito causou a nova em todas as
povoaeoes do Estado.
XX. Depois de se p6r ^n arrecadacao tudo que
do despojo perlencia ao ftsco , e depois de enterra-
dos OS mortos e curados do modo possivel os fori-
doi, tudo ordenado do melhor modo possivel , e a
gente refrescada, marchou o nosso exercilo para o
EngenboNovo, sittiado dosmontesGuararapespara
o none , no caminbo do Arraial^ onde fizerao alio.
Em 20 de Abril entrou Sisgismundo no Arredfe,
onde se vio livre, mas nao desassombrado de nos*
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^5 Ttrrtii^ e de stia pttd^ j l^tt^ Ihe dofa^bti t wiaA^
menito cotii-os pratitos, que caus6rao as to6rtes e
ferrdas nSKjuelle poi^o, a onde nio houvc pe^oa a
qtienl tnho alcancasse a magoa t tji Idto. Para levio^
tar ds animo^ abatidos e qud!tt)sos fntefitmi Si^a^
mundo, d« accordo com seus cabos, ibniaratllhi
de Olhida; o qu6 ccmsegatrao facilmtote, porqti6 oa
habitantes a havi&o abandcnado , e os p6ueo8 8ol«*
dados que guarueoiao o reduto, que cb^tnavao a gua-^
rita de JoJo d* Albuquerque, vendo a desigualdade
das forcas, ae retirarao. — Logb que esia notidii
chegou ao Etigenho Novo, mandou o mcstre tf*
campo general tocar arma , e n6 mesmo dia tnfcir-
chou 0 exercito para o Arraial ; mas ahl enoontroti
outra nova nJo menos desagradavel que a da pefdA
de Ollnda. Aquella novaforca, ehamadk da B^taria,
em que se fuudava toda a esperanca de se ganhar o
ArreCife, pelo damno irreparavel que d'ella receUtl
tbdas as boras, achirao os nossos perdida, e oceu^
pada do inlmigo, seirt, ai^ aqiieTla bora, se alcancar
o como, nem o quanda, nem saberem atiuaf, se o
cbam^ra o aviso, se o desemparo. Soube-se d^is
que o capit&o , aquem se fidra a resistencia, e que
tinba gente bastante para reslstir ao ataque, se re-'
tirira sem combater. Foi por tanto mettldo em
conselbo de gucrra, e alndi que absolvjdo ha sen-"
tenca, mmea ficou sua culpa bem timada na opi-
niito do vnlgo.
XXI. Magoados os nossos eabos maiores d^ tantd
maisinfelice, quanto menos esperadoacontecittieiiU),
tratarao de empenbar o resto para Ihe cor tar as es-
perancas da dha ; assent4riiaentre si que a villa (to
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Olinda deyia de ser reganluda qaaato antes. Com
e0eito em 22 d' Abril «aio do Arrraial o capitao Bras
de. Barrot com trezenlos soldados, com ordemde
ganhar a pra^aao inimigo do melhor modoque po-
desae. Marcharao os nossot f urtiYamente, e chegarao
j4 de aoite a um sitio, meialegoa da villa, que cfaa-
maYM de Antonio de Sa da Maia ; com boas senli-
nellas e praticos descobridores do campo $e aloj^
xho neUe. Em a seguinte madrugada amanhec^iio
08 noasos sobre a yilla. Mandou o capitao Barros a
dous soldados destros nas. ruas que explorassem o
que na povoafao havia ; suocedeo que na rua de
Sao Pedro derao de rosto com as sentinellas con-
trarias; as quaes vendo-se assaltadas, tocarao a re-
bate com tiros e vozes, e de corrida tomarao a fc-
reda que guia para a igreja de Sao Bento, seguidos
de nossas espias at^ a fortifica^ao de Joao d' Albu-
querque, onde se alojava o capitao NicoUs com seis
centos homeos. — Ouvio 'Bras de Barros os tiros
e vozes do rebate y suspeitou o empenho das sen-
tinellas, apressou a marcha, chegou a vista do ini^
migo, e de passo Ihe deo algumas cargas; metteose
debaixo desua artilaria, cometteoo assalto, dizen-
do aos sens : « Avanca I avan^a ! a espada, filhos. m
Vozes forao estas que assim corlarao o inimigo
comb se fora o mesmo ferro. Os que se alojavao
fora da fortifica^ao fugirao com desordem ; os que
dentro a guarne9iao, com desatino ; deixando-nos
na mao o reduto e a trincheira, como se para este
^ a gqardarao. Entrarao os nossos , e voltarao
sobre os HoUandezes a artilharia do forte, e com
as balas os buscarao e seguirao at^ onde cursavao
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CASTRIOTO LUSTTAMa 511
as pecas. Foi em seu alcance urn troco de soldados
nosdosy e tantos matava o furor quantos akan^ava
o braco ; nao houve inimigo que se lembrasse da
resistencia^ nem do reparo ; assim recebiao o golpe
como se estiverao obrigados a nao defender a vida;
todos pareciao Hollandezes; sem algum mostrar que
era inimigo. Goniinuou o estrago a(^ onde-chegou
o alento; fahos d'elle fizerao os nossos alto no meio
da praia, nao s6 para descan^o^ senao tambem para
desafio. Sairao do Arrecife duas partidas de sol-
dados para soccorrer o Hollandez^ mas nao se atre-
T^rao a provar a mao com os nossos, e se content
tarao em recolher os corpos mortos dos seus> que
cafrao mais perto da fortaleza. Cento e sessenta Fla^
mengos deixou estirados no campo o chumbo e o
ferro ; e a este respeito se podem or9ar os feridos.
Custou*nos este desejado successo sette feridos; o
de mais conta e de mais perigo foi o capitao Ma^
theus Fagundes, passado d'uma bala pelosjoelhos.
Deixou*nos o Flamengo quasi todas as annas ; de
muni^oes, mantimentos e moveis nao levou cousa
alguma; nao porque o cegasse a ira, senao porque
o aconselhou o medo* -^
XXII. Em 28 do Abril mandou Sisgismimdo
pela estancia das Salinas um bolatim e carta, em
que pedia os prisioneiros , deixando em nossa
eleicao os partidos ; com advertenda que as mes^
mas condicoes se acbariao da sua parte, quando se
trocdsse a fortuna. Ordenou-se ao bolatim que en-
tregasse a carta, sem Ihe permiltirem que entrasse
na estancia, e disserao-lhe de piahivra que a sen
tempo 86 re^Hmderia. 0 coronel Kever, que era o
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5I§ oaiaiOTO UMTiJiO.
r$tfi a(4 que t;^>uve om^buiq di w ren>^er a Bahift)
edapoU para o mw>. 0 nais que o UoUaod^ Ihe
pdd^ aloan^, por aataOf foi lioQU^a para que urn
gmtilhomew da wa oa&a o sQrvisie ua prisao. £ra
o coronal pessoa de qualidade, a do eadiWiQao autre
OS saii9.-^£atre aa uaoa da armada hpUaadezai que
ae dervotarao oa canal, tom^rao alguiMs differeutes
ponoii M4a aa rapararao^ e d€|>oift salrao em de-
xxumdA do Bvaiil. £m uiw d'ellaanaYi^a^a um c6-
ropel ^ homem da grandii 4)pituao por dotes da
jiatur^exa e da fortuoa (o desc^ido e o tempo iios
roubpu o name }^ Com a,lguBia9 dw ombarca^oea
de^rradas qua reoolheo aportou ua barra do Ar^
Recife palon idtimos di^s de Abril d'aste pre$eiite
anno* Foi recabido com meaos alvoro^o que das^
maid* Iqlbrpaou^e da cauia , e esquecido da com*-
paixao $ caosurov a fraqueza de todos com e$cs»-
dalaia arroganoia* Chagou a vi^ deSi$giwiuAdO|
gastou poucas palavraa de comprimfeuto , e pa^iou
logo aa da altive^a j dueodo qua nunca imaginara
c&peral^ maior ^rmqnta up porto que oa viagem«
Com modera^ao de entendido Iha respondeo Sisgis-^
Auudo J a depow de Ihe panderar as ciraumstaucias
que tiubaa prodwudo aqualla deea$trat diase4lie
que ae qu^ria conhecer oa «aldadas qua tiolia a omh-
hfttar, qua^^n a chpcar com os jf^groa deBBa*
riqua Jim, daq^udog e descalfos como oa imagiuava
que dapoii o» eslimasse pelo que mwacasigem; e do
qua Ihe raccedef^ iuferissei pelos oagros^ qua h^
mana aeriao oa braacos t daaengano para qua Uie
^QiKiadia b, aicottia a <^ mumei^ d<» loldadoa ^9»
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GA3TBJ01O UmXAMO. 519
quueBse levar; mafi que ^ guardasse nao viesa?
iQ9m 83 mao« amarradaa, levando-as soltas.
XXIU. Ouvio o coronel com desprezo a Siagia^
mnodo; aecaitou o offioreoiiOfmto com altiyeza, e$^
colhoo OS BoMadoB de que tinba maia aaiisfa^ao;
gaatou alguaa <Uaa em os ^x^reitar naa aruias, e
afMrealado de tudo o que the pareoeo naoesaario ^
aaio do Arreeife com dous nul ixifaBtes em 24 de
Maioy e niarcbou paraa eitaocia dettmrique Diaa.
A poucoa pasaoa dep com aa aeotuieUaa^ eas aeguio
at^ se recollusreMi4eiitro das triochairaa, que achou
guaraecidaa com lal for^a e arte, qual nao imagi^
nava. Foi rec^ulo d'uma e auiitaa cargas de moa-
qiietea biacainhoa^ cuja pootaria derribou xmo poo-
COB. Ml a esta bora o coronal bollandez estava
menoa quentef e ficou de todo frio qqaodo vio que
Hemrique IKa9 saia daa trincheiras com todos oa
aeuaa imreatik) na caiopaaha. Furiosa (oi a pdeja,
e contumaz a porfia, sem que nenhuma daa partea
perdesse pabao de terra. Aeudimo entretanlo os
capitaea daa estaneias vkiahaa; cairegurao o iui-
migo pdoa ladoi, e Henrique Biaa pela vauguaida
eom tao pesado f erro, que Ibe fizerao krgar o campo^
m Tirat as^08tas» sem que a pressa Ihe desae lugar
a Detirar oa mortos. Fngio aayevgoidMlo o corouel
paraa Barrata^ oode Feocido e obaiioado eaooadia o
nsdo proprioy coudemaaudo a firaqueaa e pouca
diaetplina doa seua. Logo que fie achou ccdiarto oom
a artiUiaria dafortaleza, deouova f^nna aos seust c
depob de os cstimukr ao oombate , maudou tocar
a eufestir* Hcurr iyd foi o combate pelo eatrago e
pab taundide. A cootiuuacao daa cavgaa^ a urn
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529 GASniOlO iMrTAAO.
menno tempo abria e condmsara os ares com (iimo,
e com o estrondo. Sisgismundo ^ que estava na
cama, inferio o resultado do socoesso pdbi duncao ;
mandou cMrdem ao coronel que logo se r^irasse, e
passasse i outra banda do rio p^ ponte que Ihe
mandava lancar. Ajustou-se o [Hneoeito do general
com o desejo do coronel ; com obedkncia cobruM)
o t^mor, e sem detenoa se poz em salvo. Chegou
n'este meio tempo Joao Femandes Vidra; mas seu
auxilio sobejou a yictoria , porque ji no campo se
nao via mais que o destroy da batalha , e os ap-
plausos do triumphoy com que se reeebeo o soc-
corro. Grandesdiligencias fez Joao FerBandesVieira
para que o inimigo, que ja tinha passado o rio,
tomasse a campanha ; por^m elle se nao deo por
entendido. Passado d'uma bala pela gai^ganta o
carreg4rao os seus maneaCado. Foi castigo do
easo ; e pareceo cumprimento do ameaco de Sisgis-
mundo.
XXIV. Como a estancia de Henrique Dias era
a mais incommoda para o inimigo j resolyeo Sisgts-
mundo em ir atacal-a elle mesmo. Em 1 8 de Agosto
assaltou a sobredita estancia com dous mil soldados,
que a envestirao com desatada furia. Defendeo-se
Henrique Dias com o desenfedo que causa o pelejar
por regalo, e o veneer por custume. No maior em-
penbo do combate cb^^rao os soccorros das estan-
cias vizinhas; deixon o Flamengoa expugna^aO;
deixando mortos no campo cincoenta soWados, c
retirando^se com grande numero de feridos. Da
nossa parte foi a perda tao pequena que a nao es-
timou a lembranca* Oulras muitas vexes iotenlou o
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OASTMOrO LimiTANO. 521
HoUandee omeBDio^ massempre com igual successo.
Adveriknos que em os mezes de Junho e Julho nao
houve successo, mais que o referido, que merecesse
particular lembran^. — - Nao tinha acabado o mez
de Julho ^ quaudo chegarao ao nosso Arraial qui-
afaentas cabecas de gado, tiradasde Sergiped'El Rei ;
e logo em 24 de Agosto, o mestre de campo Fran*
Cisco de Figueiroa com um ter^o de quatrocentos
in&ntes , firucto das diligencias do mestre de campo
geoeral Francisoo Barreto de Menezes^ e soccorro
€)ue mandava o conde gtfieral Antonio Telles. Che-
gArao estes novos combatenCes, lodos soldados do
reino^ ao Arraial a tempo de receber as boas vindas^
e dar os parabens da victoria aos do conflicto^ que
vencido o Hollaudez, se tinhao retirado.
XXV* Enfermou ncstes dias o goTemador dos
Indios D* Antonio Philippe Camarao, varao grande
em na^ao humilde* Gorreio da morte foi a doen9a,
e por ella conheceo o fim de sua vida que soube
immortalizar como o sen nome. Nasceo Indio , po-
r^m entre os Indios o mais nobre. 0 nascimento
Ihe deo o nome de Foty^ que na lingua do gentio
6 o mesmo que Camarao ; o baptismo Ihe deo o de
Antonio. No tempo de Mathias d' Albuquerque era
ji respeitado entre os sens por maioral de muitos ;
e com muitos auxiliares o veio soccorrer, e servir a
na^o quando o nosso poder se alojava no Arraial
velhoy chamado de Pemam-Morim : illustre prova
de fidelidade e amor^ com que servia a na^io e o
prindpe , offerecer-lhe a espada qqando os perse-
guia a fortuna. A mesma adversidade , de que o
mais gentio fez causa para a rdiekUa^ fez o Camarao
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SIS cAvmwm uMiiM.
moUyo pam a \im^. Eiaservir a ignga e a coroa
^Mih<m luzido Gffedito de 8oIdado>6 de religiMo; e
too obMiTante de was €hnffk(joe^ qua nunea o tio
di«Uahido«}uem>aaproo veoerottioldado. Todoe
09 diad ouvia mi^sa, e resava o ofi&cio da Nossa
Seahoraf modoMa .e devoto. Gastava muitaa horns
en craQM^ a que m appUoava aioda enlre 06
maiocea ^ilrondosdaguen^a. Para sair aoa rebates ,
« pS4pa wirar nas l>atalbas» pruneiro ae fortakcia
com 0§ sacraofeeotos que com as armaa. Has oeca*
aioea «iias arriacadas reoorria ao £ayor4iTiDD^ pa^
4indo auxilio a duas imagrgis> do Saahor e da So-
jabora^ qua eotre as roupis Inua de oanliiiuo sohre
p pei(o» £m quaoto soldado , nao baure capitao
mais amadot oam mais d^ecido, porque tmo
houve oapiteo que adbiasse mais imperio na afiabi-
lidada qiK no doaainio^do que aa(« ratoroso capi*-
.taQ« Aa amprasaa o eaperavao seoipraoom as victo-
rlast ^ gaD^u 4aatas, quautaa iorao as occasioas
an que pelejou. Para siiu ^eiiio^ era o acio nartf-
riop a o tralNdbo descaoi^o. Avaliora a pmaUdade
pardekite^ a m ocoaaioes per dita» Ben 00100^
coBia memorial do saas proaaas^ le ouvia aalre oa
noBsaa aom reapeho^ e eotre oa iniou^s oona ci-
panto; edilatoi»K) deaoneaiiQia, quache^aaaaa
lOuvidos did sauRai lao distante^ quanlooapaftavaa
OS dihtados mares que dhridaoi a Aaaariaa da £i]h
ropi^; flam peti^o o despadbou seu nsereoiaunito.
Deo4iie£liWPhilippeohabitodeC;hrisa^ otilula
de Dom , e o posto de goyemador e capilao f/M
da todaa os Indios da America* Zakm a dcooKO j
apia aa diRnai ao poato cpiie oopupava oom tada a di^
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m pesfipMgirtoded » eetnanfaaa e de tespeico Mayt
aempre por iiiterprete (tiiuU que sabift. a lingua
porUigUEQica)^ porqua emteiMlia aw a imprc^iedade
e inculto dfta Yozes fiscal do animo e disos^ito da
pe0ioa» ISa arte da miUcia foi inai^e^ oa do goyetmo
daro. Com oa aeus era facil no trato ; con oa au*-
perioraa^ ^rave oa coavca^sa^ao^ ooia oa estranho3,
^ard no agaaalbo; iaa» tao medido com todos^
que^obrigttva a amor a ra^ereocia^ Em todo o tempo
alugat o aohou q aarvi^o de Df oa prom^itQ e o calto
das $2mU>a liberal. Gomo diaaveto viveo^ porque
ao«bo yivw para J>e«6 e patu os iiiomras ; morreo
coiBio dbriataOi pca;^ua le 9ouim l^fifoveitar de iodos
08 ramedio$ que ^judao a salta^ao* Na vida ad*-
quifio ^orioio ciomei oa m^te mosirou que
p«a$am 4 etaraa vida (como piadoaameute ae p^
orer d'um christao qua morre <om moati^as dW<-
repeftdido e sacrameatado )» Intmio quaai do
idiumbo e do ferro sab da iouumeravais oambataa
;a batalbaa, e entragou o eSfHriio a $euCraador^
poMcoa maaea dapoia.da doa Cruararapa»> am aua
propria cama ; para que K^m laltaate a sua mca^
o pareeer somoow De(va6*4be aapultum iia Jgreja
d<> Arraaal^ com a fuoaral pompa qua custawiaw
a jpiadade a a milicia^ e com aquaUe coiieiirao *
que obrigava o amor e.o reapeito*
XXVL Graude £aika 4a maatimeiitoa se corner
9a[va.a aamir antra os iKMisQ6« Tinba^ae aoabado o
que vi^ra da Sargipa ; faltavao as £ftriubas, polHfue
OS moradores nao podiao plantaip a maudioca* Nao
'Wt aabaiv^ o HoAUndmiiiCTwa femiflHtp en^waa (utt
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53ft GAMBiOXO LDMTAWOi
talezas ; mas remediaya^ee com mtis ficilidade e
menos custo. Com as embarca^oes do reino , que
por aquelles mares tomarao as smas fVagatas previa
OS celeiros e augmentava os thesouros. Applicava-
se a esta guerra como de mais proveito e menos
pcrigo. — O general Sisgismundo, desejando recu-
perar sua repiiiacao , tentou uma enlrepreza sobre
a Bahia. Ajuntou suas nAos, forneceo-as de manti-
menlQS e municoes para muitos dias^ e com boa guar-
nioao de infontaria se embarcou^ e navegou para a
Bahia. Com tempo favoravel entrou naquella en-*
seiada» deitou gente em terra^ e com fortuna de pi-
rata e destreza de soldado ; deo' sobre os engenhos
e casas dos moradores que ficarao mais perto d'a*
gua. (0 repente da invasao os tinha indefensos. )
Encheo as nAos de despojos y sem batalha ; deo 4
T<(la sem detenoa^ e navegou sem contraste. Deixou
tudo o que pdde alcan^r o bra^o, porque foi sem
comparacao maior a perda que o roubo ( vinte e
dous engenhos ficarao do todo arruinados. ) Entrou
pela barra do Arrecife com algomas embarca^oes
que Ihe cafreo nas maos ; foi recebido com applau«-
sos de victorioso e hem aforlunado.
XXYU. Com o principio do anno de 1 649 o teve
a nova companhia g^ral do comtnercio do Brazil,
Havia muito que entre mercadores corria a pralica
de se formar uma companhia portugueta para pro*
teg^ o commercio , e oppor-se 4s phratarias com
que 08 Holiandezes nos tomavao a maior parfe dos
navios. Communioou-se o projecto ao principe^
com a esperanca das consequencias , tanto para o
reino eomo para as conquiatas ; dispuiou«se a ttt»-
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l^ria €^ repetidbs coqgresios de ministros ^ con-
lracta<lores;.levou a approva^ao 4e todos o meio
aponlado. Entrarao a dar^he f^rma, e vencida^ as
dUfiouldades se reduzio a e$pecula^ a pralica ; e
nesle mez de Janeiro se vio formada a companhia
g^ral do commercio do Brazil com toda$ as eon-
dicoes e preceitos que pedi^o a administra9ao dos
cabedaes e o apresto doseomboios, tendo por (lador
de sua verdade e conserva^ao a proteccao do prin-
cipe^ o foyor dos grandes e os interesses do povo.
Fez rapidos progressos, como veremos no deeurso
d'esta narracao, a qual nos chama a fallar dos mo-
Yimentos de Pemambuco.
XXVIII. Chegado que foi Si^gismundo da via--
gem da Bahia, deo causa com sua boa sorte a que
OS do govemo se imaginassem restituidos a suas
antigasprosperidades^ das quaes os successes proxi**
mo6 0$ tinhao privado. Aceeo4co-se entre os parti-
culares o desejo de intentarem segunda ycz a
sujeicao da campauba de Peraambuco , e das ca*
pitanias confinantes; e quern mais fomentou este
des^o foi o corcmd Brine. (Era taaente general, e
governava a$ armas pelo impediment de Sisgis-*
mundo • que o nao dei^ava andar sem arrimo. )
Fundava o coronel a confian^ de melbor successo
na presumpcao de emendar os erros que o general
Sisgismundo commett^ra na occasiao passada, e nao
cessava de exagerar a opportunidade, condemnando
o ocio em que tanto numero de soldados bollan-*
dezes passavao osdias com gasto e sem utilidade.
Os do goyemo, namorados das razoes e da viyeza
do coronel^ Ihe derao poder para que disposesse o
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que dkia e iiitentava. Fy>g09o e attivo 6 etmmd
Brine , con se ter ttb9<4ato na doperioridade do
mando, ae a¥a(iava senhor da mesma fortima.
PasaoQ ordem que recc^esaem todos os naTtos que
andairio a obrcoy para ne aprotvitar da melfaor
gente. Mandou fiuier grande nnmero de pratazatiaa
e chucoB do ponta e cdrte, com que diria se haviSo
de rebater as nosaas espadas ; e todaa as horas do
dia gaatara em exercitar os mais robustos aoldmlos
no menM d'eilas. Antes de stir a campo , fosse por
eort^zia, fosse obrigacao, deo conta de sen intentoao
general Sisgismutido (que ja sabia asnegociaooes e
designios do coronel). Ottvio-o este com dissimth-
kcao, ponderou^^lhe as difficuldades da empreza ,
disiPuadkK) d'ella, e conduio dfeendo : <v Leva V • M,
n 08 mesmoa soldados que jA Ibrao v^eidos a oou^
» tender com bs mesm^s homens que ficirao vl^
» toriosos^ e espera methor sorte? Jnlgo ser pro*
» nostico de nossa perdicao bnscdr V. M. para a
J9 melhor sorte o theatre otidea fortutia represan*
n tou nossa maior desgr«ica ; e tenho por infalKvel
n qUBf refireacada a lembranca do suecesso com
n a ^sta do lugar do eonflieto, influtra em una e
I) outroa oB mesmos espiritbs. 0 cuato nos enaina
» a guerrear com uma nacao que toda a Asia pre-
» sumio inv$nci¥el, que i <»nsummll'a, ajudadoa
A do tempo e nao fiados no braeo; e V. M, se
a desengane que nao ha de tracer a capa donde
» Sisgiamundo a deixon. » Porftm o cooronel, arras*
tado de seu empenho ede sua ambieiosa pretencao^
nao convencido senao protervo , impugnou todo o
discurso de SisgismundOy e reaotreo a ex^^ucao de
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GAimiOW LtSITAMO. 577
«ea dktamen; ao que o sagaz general nfo repHcou,
p(nrqo€ se Ihe nao imputasse a fraqiieza ou a enveja.
86 se affirnm que passou o desengano a tomar
ftrma de galanteo, apostando dinheiro consider
laTel, sobre qua! dos pareceres sairia mais cerlo. '
XXIX. Logo que entrc os uossos se espalhou a
uotida doe novos intentos do Flamengo j mandou o
general Francisco Barreto de Menezes deitar bando
por todas as partes do reconcavo que qualquer sol-
dado ou official que tivesse assentado praca acu-
dis8e4 bandeira debaixo de que militava^ em tempo
determinado. Obedientes e alvorocados concorrfirao
todos com notavel promptidao. Nad contenles os
1K)8S6» generaes com os^ preparativos humahos , re-
eorrfeario tio bera aos divinos. Pedii^o a todos os
parochos que nas suas igrejas fizessem rogativas
ao ceo pelo bom successo de nossas armas ; a todos
OS soldados persuadirao que se chegassem a Decs
por meio do sacramento da penitencia, e se forta-
lecessem com o da communtiao. Ao'Vigario g^ral
Domingos Vieira de Lima pedfrao mandasse expor
o santissimo sacramento em todas as matrizes por
trez dlas, para que se desse honra a Decs naquelle
myaterio em que elle se via oflfendido pela pravi-
dade heretica. Nao se descuiddrao entretanto os
nossos governadores de tudo que pertencia 4s dis-
poslcoes da guerra. Informados de que o Flamengo
se determinava em buscar o mesmo sitio dos Gua-
rarapes , mandarao fortificar e guamecer as trin-
cheiras por onde forcosamente havia de marchar,
e com particular attencao os que chamavao dos Ba-
rachos e do Moinbo Novo } orden&rao aos mora-
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up ciifTBiQ^ uwr Ana
dorcs drcumTeziahos assistisscm aos presidios owi
pessoas e maniimeotos; e nos Guararapes engro^
$arao os presidios e as muni^oes para a defensa de
qualquer invasao ou incideate. Passarao ordem ao
capitao da Moribeca que mandasse guarnecer a
ponte de Sao Bartholomeo de presidio e seotineUas^
e que a qualquer rebate tocasse arma, com tres
peqas d'artilharia , que tinha na poyoacao, para
que sem deten9a acudissem os moradores ^inhos
com annas e bastimentos. Em fim nao ficou cousa
a que nossos cabos nao acudissem com diligencia e
acerto.
XXX. Em 1 8 de Fevereiro de 1 649 saio do Ai^
recife o coronel Brine com cinco mil homeos de
guerra, todos soldados escolhidos por valorosos e
praticos , altendendo mais a qualidade que a mul-
tidao; carregavao a bagagem seUecentosgastadores,
entre ella algumas tendas de campanha para os co-
roneis e cabos maiores. Desprezou a turba dos In-
diosy levou s6 duzeutos escolhidos pelo seu maioral
Pero Poty ; dos homens do mar fbrmou um ter^o
de trezentos soldados, commandados por seu almi-
rante; e duas companhias de negros, homens de
confianca. Reduzio toda esta gente a doze esqua-
droeSy que diyersificavao doze bandeiras* A sua
vanguarda constava dos homens mais corpolentoS|
robustos e destros, armados de pratazanas, alabar-
das e chu^os, para descomporem e rebaterem
OS golpes de nossas espadas ; e de similhanle
gente compoz as frentes de todos os esquadroes.
Deixou suas pra^as guarnecidas com os homens de
menos conta ; nao Ihe esquec^rao seis pecas d'arti-
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GASTRIOTO LU8ITAN0. 529
Iharia de bronze^ cuja conduccao entregou ao almi-
ranle com sua gente do mar. Nesta f6rma, e no dia
referido pela manha, saio do Arrecife, dada ordem
a sua vanguarda que marchasse para a Barreta; o
que fez com todo o exercilo com marcial estrondo
de clarinSy trombetas e tambores.
XXXI. Pelas dez boras do dia 18 de Fevereiro
chegou aviso ao Arraial da marcha do inimigo.
Tocou-se logo arma ; acudirao os soldados a suas
bandeiras ; cbamou o general a conselho y e nelle se
resolveo sem controversia que se seguisse o iuimigo
at^ Ihe dar batalha. Gonstava o nosso poder de dous
mil e seiscentos homens entre Portuguezes, Minas
e Indios ; os quaes se pos^rao logo em marcha com
ligeiro passo pelo caminbo dos monies Guararapes.
Pelas quatro boras da tarde do mesmo dia cbegou a
nossa gente ao primeiro monte^ cbamado Utizeiro^
a tempo que o inimigo ja tinba occupado os monies
vizinbos e as fraldas delles por aquelia parte que
£azia frente ao boqueirao, onde na occasiao passada
carregou a maior for^a da batalba. Estaya fortifi-
cado e situado com escolba ; e ordenada sua gente
em nove esquadroes^ guarnecidos de muitas em-
boscadas , que a arte e a conveniencia repartio
pek>s lugares necessarios. Logo que a nossa yan-
guarda cbegou ao dito monle^ e descobrio a disposi-
cao e forma do inimigo^ mandou o mestre de campo
general fazer alto, para que entre os cabos se defi«
nisse por que parte , como , e quando se bavia de
envestir o Flamengo. Forao os pareceres di versos;
mas todos se reduzirao ao voto dos mestres de campo
Andr<5 Vidal e Francisco de Figueiroa, que era bus-
I. 34
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530 GASTRIOTO LUfTTAIia
car-sc o mimigo pela frentew CommuniooiJkHie t re*
9olu9fto com Joao Femandes Yidra » que cheg&rft
naquelle tetnpOi e fbi de contrario *par«oer, dando
boas raaoefi com que mostrou que se devia ataoar o
inimigo pela retaguarda. Houve quern fieesae al«
guma opposicao a este pareoer) mas pdr fim todos
concordiirao nelle^ e o mestre de campo getieral em
sua exeou^ao virou o exercito para oEngeuho Noto ;
entre elle e o doa Guararapea ae alojou a noaaa
gente aquella nolle com as oommodkladi» que o
sitio permettia. Dadas as prorideucias necessarias
conferio o mestre de campo general como e a que
hora se havia de envesttr o Flamebgo^ e reaolreo-
se que a occasiao diria o quando^ e que o modo
hayia de sei* a peito descoberto.
XXXII* Amanbeceo o dia 19 de Ferereiro, e
mandou Friuiciseo Barreto que os mestrea de campo
com seus sargentos maiores saissem a reoonhecer a
fdrma e situa^ao do inimigo. Subfrao a urn monte
fronteiro) e d'elle virao tudo o que desejavao. De^
pois de tudo bem uotado^ Tolt^rao^ e referiiio ao
mestre de campo general que o Hollander perseve-
rata no sitio e na fdrma que tinha o dia antes ^ e
que o poder^ pelo que parecia^ era por cima de
cinco mil homens^ al^m dos Indios, negros e gas^
tadores; seis pecas d'artilharia ^ algumas tendaa
armadas em varias partes, e um esquadrao separado,
que guardava a agoa, de que bebia o exercito. Con-
ferio-se o que se devia obrar j e resolveo-se que nao
convinha^ rista a situacao e poder contrario^ inreih
tlUo, e muito menos expor-lhe aos olhos a inferior
ridade de nosso exercito, escondido a sua rista
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GASTRiOXO LUSITAlia 5S1
pda interposi^ao dos caoateaes que o cohriao , que
so em caso que se movesse, ou para ir adiante, ou
para voltar atraz ( o que forcosamente havia de
fazer) , se devia envestir ; e que no entretanto im«-
portava^ da nossa parte ^ a Yigilancia^ para que a
negligencia nao fo88^ molivo de perdermos a occa-
siaOi Pelas oito horas da manha se ordenou ao ca-
pitao Antonio Rodrigues Franca que com quatro
companhias fosse picar o inimigo^ que sem duvida
se moTcria provocado de Ihe tocarem arma, e as^
aim succedeo levado do primeiro impeto ; mas tor*
nando sobre si^ conheceo a perten^ao da industrial
e voltou com presteza a occupar os mesmos postos.
Nao desistio o capitao Franca de sua missao , at^
que o Flamengo, impaciente de nossa fleima^ pela
uma bora depois de meio dia, foi desoccupando o
alto dos montes, e descendo ao baixo para se for-
mar em esquadrao serrado* 0 capitao Franca y as-
sim como vio aballar o HoUandez, deo aviso ao
mestre de campo general; o qual aproveitando a
impatiencia e ardor de nossos soldados mandou
tocar a envestir , sinal a que obedec^rao mais de
y6o que de passo. ~ Nao teve o inimigo noticia de
nossa resolu^aO) senao quando Iha deo a vista ^ des-
cobrindo o avan^o a tempo que a envestida o bus*
cava pelas partes definidas. Desejou voltar aos
postos que deixdra ^ por^m atalhado de nossa diii-*
gencia , Ihe servio o arrependimento de castigo ,
por^m nao de emenda.
XXXIII. Foi Joao Fernandes Vieira o primeiro
que chegou a medir o bra^o com o Flamengo, aju-
dado da maior presteza e da menor distancia. Avan*
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532 GA9TRI0T0 LUSITANO.
cou ao boqueirao que achou defendido e fortificado
com seite balalhoes ^ duas pe9as d'artilharia por
frente no raso, e quatro por lado no raonte. Orgu-
Ihoso e destemido o saio a receber o HoUandez ,
imaginando deter-Ihe o passo com a violencia das
cargas, que os nossos foiio recebendo com igual
marcha^ desprecando as balas^ como se desprezArao
as yidas. 0 general contrario , vendo a resolucao
dos nossos, maadoii mais um batalhao para engros-
sar OS sette que defendiao o boqueirao ; aqui car-
regou o raaior peso da batalha , porque na posse
d'este sitio consistia toda a esperanca da vicloria.
£m igual balanca sustenlava o combate de uma
parte o valor, da outra o numero. 0 sangue de
uma e outra gente mostrava o furor de todos , de
nenhum a yantagem, esperando a victoria, os ini-
migosy pela constancia, os nossos, pelo custume.
0 mestre de campo Joao FernandesYieira) posto
diante de sens soldados , Ihes servia de admira^ao
e d'exemplo. 0 inimigo animoso e disciplinado pe-
leijava a p^ quedo, mostrando bem no valor e cons-
tancia da resistencia, que o alentava a lembranca
da honra e a defensa da vida. No mais travado da
pendencia topou uma bala com o nosso mestre de
campo, com damno tao leve, que fez sinal, mas nao
ferida , para que certificasse a nodoa o intento da
bala. Gonheceo no avan9o a fortuna, e na detenca
o perigo, levantou a voz, e mandou envestir & es-
pada. Nao parte mais furioso o penhasco desatado
do monte, do que partirao os nossos a ferir o ini-
migo, assombrado da facilidade com que se vio roto.
Aquelles chucos e pratazanas, de que os batalhoes
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GASTRIOTO JLUSlTANa 555
contraries se armavao para apartarem de si o nosso
ferroy rendidos & destreza de nossa espada^ abrirao
caminho largo para seu destroco, porque rebatidos
ou desviados os primeiros golpes, nao Ihes deixa-
yao lugar nem tempo para os segundos. Muito
sangue e vidas custava ao Flamengo a contumacia
e muito mais a pressa com que se vio desbaratado
e roto, e o boqueirao ganhado, e occupado o posto
da nossa gente, senhoreada do sitio e da artilharia
que o inimigo nos deixou ; por^m nao de todo a
pendencia ja entao inuiil para a reputa^ao e para a
esperan^a. *-*Gom a for^a e com a industria bus-
cava Joao Fernandes Yieira nesta occasiao onde
melhor empregasse a espada e a vista. Advertio
que picando o inimigo pela retaguarda , ficaria de
menor partido ; apartou do corpo de batalha dous
tro^os de soldados, para que um pela retaguarda ,
outro por um lado Ihe tocassem arma ; o que fize-
rao com promptidao e fortuna. Occupado nesta
fac^ao se Ihe metteo o cavallo em o olho d'um la-
macal , de sorte que quasi submergido se nao pode
arrancar d'elle } soltou da sella , e como se nada
faltara a sua pessoa e a seu cargo , tendo comsigo
sua espada e seu bra^o , coberto d uma rodella y
tomou a buscar seu primeiro posto na frente do
poder contrario, que ja o achava menos. Aqui
montado em outro cavallo, tercando a espada> le-
vantou a voz e disse para os inimigos : (c Ah! Fla-
» mengos, rendei-vos a espada de Joao Fernandes
» Vieira, que nasceo para vosso a^oule* » Chama-
dos do grito, e advertidos da pessoa , fizerao pon-
taria n'elle vinte clavinas; desviou a for tuna as
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5S4 GiATaiOTO LUSITAHa
balas ; parece que obrigada da estranha ousadia.
Delia tomou piincipio nossa victoria ^ e o Hollan^-
dez oceasiao para depoit publicar no Arrecife que
Joao Fernande8 Yieira ficara morto na campanhaf
nova, com que oa do govemo contrapeBavao a
magoa de sua perda. Foi de iodo um exeroito, e se
equiparava com a de varao tao grande.
XXXIV. Pop outra parte, com a mesma sorte,
avancou Andr^ Vidal contra o inimigo. Pelo alio
da meia ladeira, em que estava formado, o aivestio,
e o HoUandez o esperou com tal determinacao, que
Ihe deteve o pasao ; perseverou na eonstancia em
quanto nao experimentou os fioa de nossa eepada ,
que a um mesmo tempo o ferio , e rompoo pela
frente, apezar das armas que julgou encontrastaveis.
Da mesma sorte o eort^rao pelo lado esquerdo oa ca-
pitaes Francisco Berenguer, Antonio Borges Uchoa,
Matheus Fagundes e Estevao Femandes, governa*
dores pelo sargento maior Antonio Dias Cardofo ,
a tempo que pelo lado direito o envestio Antonio
da Silva com as duas tropaa de cavallos j que valo-
rosamente com as langaa e tropel romp^rao por ap-
mas e defensores. 0 mestre de campo Francisco de
Figueiroa, com a gente do seu terco, fez nesta oo-
casiao entender ao inimigo que a espada portugueza
corta pelo reparo e pelo perigo. Em todos se via a
emulacao, em nenhum a inveja ; porque em todas
as partes andava igual a valentia^ imitando o co-
racao e o braco de scus eabos, que igualmenle dis-
punhao e cortavao. Ja o inimigo , roto por muitas
partes, nos olhava com medo, e se resolvia confuso,
bebendo o desalento na vista do estrago ; e perdida
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QUITBI0ID LUaiTAHO. 5SS
a di3ciplina dos aeus , largirao o posto , e virario
43 costaSf toftndo sobre ellas os pezados golpes de
noaso ferro, ao qual at sujeitava o terreno, que era
por um monte abaixo, caminho por onde os corpes
de geus mortos Ihes embara^avao os p^s e entorpe*
^iao o lino 9 perigo do qual neuhum podia fugir,
apertado do alcaoce, sem queo desvio o fizesse dea^
p^nbar pelas quebras^ f ragas e roturas do mopte que
ou o detinbao a esperar o golpe, ou o guiarao a
morrer da queda. — Em quanto succedia o referido,
pela parte do monte ganhara e guamec^ra o mea^
tre de campo Joiio Fernandes Vieira o boqueirao, e
ataegur^ra a defensa com duas pe^ d'artilharia
do inimiga, que fic^rao em nosao poder. Subio o
montei onde o Flameugo tinba a bataria das quatro
pe^aS) e um grosso d'ipfantaria, eom seus reparos,
que ipyestio com alentoa d'esfor^ado e rictorioso.
XXXV. Veudiao os HoUandews caras asvidas^ e
caaio tiobao 0 brago poupado prpmettiao vigorosa
reeiatenda* Viuha ideate meio tempo Andr^ Vidal
de Negreiros no alqance dos Hollandezea vencidos e
desbaratados y e daaeobrio no valle lun esquadrao
ittimigOi formadp daa reHqiiias de sen destro^o^
haqu£»|doa os soldados d'elle, por nao serem vistos^
eaperando nosso descuido para executarem sua
ten9ao , que era oarregar sobre Joao Fernandes
Vieira. Andre Vidal^ em eujo ariimo ardeo sempre
n valor sem fumoa de receio ^ eom um mesmo im^
pete empuTibou a espada, e levantou a voz dizendo
aos poucps que achava con^sigo (toda a sua gente
vinha espalhada ^ sem mais tino que o de matar e
£mr) ; (( A! eapada^ soldadoa ; » e para o capitao de
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556 CASTRIOTO LVSITARa
carallos Antonio da Silva : « Avance V. M. a'o ini-
» migo« e nao se de quartel a quern vencido o des-
» preza. » Duvidou o tenente Manoel de Araujo o
avancOy pela disparidade do numero, da forma
e do tempo ; considerou que aos montados haviao
de busear todos os pelouros, e receoso da certeza
do perigo^ olhou para o sen capitao , o qual o en-
tendeo, e o obrigou^ dizendo que na guerra em
nao temer o perigo se verificava o nascer honrado ;
e apertando as pemas ao cavallo, seguido de todos
OS seuS) envestio o esquadrao contrario, que abrio
a for9a de bra^o. Andr^ Vidal, com aquelles sol*
dados que Ihe deo o repente j recebida a primeira
carga do Flamengo, sem Ihe dar tempo a que d^sse
segunda , o envestio , e oortou com tao for^osos
golpes y que por onde nao partiao , destroncavao.
Vinha mais distante Antonio Dias Cardozo, sup-
prio a tardan^a com 'a intelligencia ; cortou pela
fralda do mcmte, que Ihe offerecia caminho mais
curto, e de lado deo uma carga cerrada no esqua-
drao inimigo com tao bom emprego que Ihe fez
virar as costas pela ladeira do monte contrario. A
no8sa[cavallaria^ que por aquella parte fazia frente,
sem poder voltar ^ porque Ih'o empedia uma grande
quebrada do monte, esperdu^ sem movimento, uma
carga do Hollandez com tamanho damno, que d'elle
cairao mortos o sen tenente Manoel d'Araujo, qua-
tro soldados^ seis cavallos e alguns feridos ; porim
OS mais^ seguindo o alcance aos Flamengos, fizerao
tal estrago , que sobej^o mortos a yingan9a. No
tempo que este combate andava mais travado, yinha
um batalhao do inimigo em &vor doa sens , bus*
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GA8TRI0T0 LU8ITA!K>. 587
cando-no6 p6r um lado , e sem duvida nos dera
muito trabalho , sc os outros capitaes , com suas
companhias em um corpo, se nao adiantarao a re-
ceb^l-o com tao furioso encontro, que o fizerao
voltar e fugir. Tinha ainda o Hollandez um esqua-
drao de reserva, o qual, Tigilante em nosso damno,
esperou a occasiao mais opportuna. No mais ba-
ralhado do conflicto corria por um monte a cortar-
DOS pela retaguarda j o que sendo advertido pelo
mestre de campo Francisco de Figueiroa^ subio ao
monte, recebeo na ladeira d'elle com uma carga de
mosquetaria , assim lograda, que sem defensa o fez
mudar d'intento. Fugio desordenado e medroso,
primeiro de nossa espada que de sua perda ; seguio-
Ihe o alcance com uma turma de moradores , que
sem consideracao cortavao por sujeitos e rebeldes.
£m todas as partes achava o Flamengo uma mesma
fortuna , porque em todas se consumava a victoria
com uma mesma crueza . «
XXXYI. Joao Fernandes Yieira, quedeizamos
no monte pelejando a peito descuberto contra o
esquadrao inimigo , que guardava a artilharia, as*-
sistido dos seus obrava de maneira que os nao sabia
ver o inimigo sem pasmo. Longo e encami^ado foi
o combate, at^ que, vencida a multidao pelo valor,
foi rota e ganhada a fortificacao e a gente contraria,
e se fizerao os Portugueses senhores da bagagem e
da artilbaria inimiga, com morte do coronel Brine,
general do Hollandez nesta empreza : andando
montado compondo e ordenando os seus, como va*
loroso capitao e destro soldado, quando uma bala
o matou, e logooutra o cavallo. Ao seu almirante
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i1» Qwvmo mffAiKK
4o niar t\po\x a vida outra bala, bem junto do sua
artUbaria. Pero Potyt maioral do8 Indioa, com sorte
niaii fa vera vd, ficou priaiopeiro. Ganhada a artH*
UiarU , e posta am sua guarda a gepte nacessariat
foi Joao Fernandas Vieira aeguindp a victoria, oom
t^nto estrago do inimigo , que o nao aabia ver a
vingan^a aem Ustima. Engolfado no alcance o vio
perto d« ai um batalbao de HoUandezas^ a sem al^
gum deaembainbar a eapada, ?a Ibe^rend^rap todoSf
pedindo bom quartel, que a gi^eroaa valentia da
Joao Fernandea Vieira Ibea conoedeo. Nao tinba
fio« sua espada para cortar fracos, nem readidoa ;
obstinadoa e rebeldas, sim. -r^ Ainda a esta bora
durava o conflicto naa fraldas doa montes. Com a
pspada na mao faziao maravillaa oa mestres da oampo
finiri Vidal de INagreiros, Francisco de Figueiroa,
e 0 aarganto maior Antc^uo Dias Cardoao» aem que
dfvaiaa ns^ a 9au axemplo a imitaQao do» $aldadoa.
Joao Fernandes Vieira (com a propriedade do raioy
que sem dascaoQar mtn e mi pelaa parades d'um
^teio) r^mpmdch^ 0das, aa foi nnir com oa
ditQs cabo»f a t^mpo que oinimigOy afrouxando no
oombate nos ia deUando a victoria i opprimido da
npsaa yiolanaa^ largou o campo^ e virou aa coataa ,
Qom o que em todaa aa partes se via estrago sem
batalba. Nim bavia oontrario que o qui^ease parei-
cer ; aa armaa, que oa aoousavao inimigoa , deitavao
longe de ai| para que oa nao ^vertissem oppostos.
Os ean^ados a feridos, vestidoa da submisaao, £ar
siao da uaceasidade virtude; os fliais, deaadnados
e peiaeguidoa do borror, da eatragQ, e 4a sombra
do hnOf aoffriaa a pnoipiiarrBe pai^ qi^ehmdaa e
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CASmmO VBfOtAJK^ 5SQ
grutas doa montei , nas quaes ^meiro aefaayao ft
sepultura que a morte. IXestes poucos fovio m
que aoertarao ¥ereda» gem perigo , deixando as art-
mas J que o desejo da vida Ibes fazia largar, oomo
embara^ da fuga. Os uossos, que por toda a parte
aeguiao o alcance , ja captivavao com desprezo, j4
nmtavao sem colera. A cavallaria^ seguida dos mo«-
radores que se achavao mootados , os perseguirao
eom for^as poupadas, at6 is portas de sua fortalesa
da Barreta^ onde o cabo conheoeo os seus, para os
recolber, pela lingua^ mas nao pelas oaras, afeadas
e difformes do sangue e das feridai. Nos Indios e
uegroa do Camarao e de Henrique Diaa experiqaen*
lanio OS tristes vencidos mais viva a perseg^i9a0 e
a crueza, porque a simgue frio matarao ( naquelle
e nos dias seguintes) muitos HoUapd^Mss^ que os
matos esoonderao , e livraiip do primeiro ferro.
Pareoe que nao virao os plhoa e^mpo de batalbfL
em que ( em seu tanto ) se consideriiase tamanho
estrago.
XXXVU. Francisco Barreto de Menazea, a quern
ae deveo em grande parte o bom aucoesso d'este
dia J moitrou nesta ocoasiao o juizo e a destreaa
com que usara do bastao e da espada. A presraoa
o fez testemunba fiel do valor de aeua eabos , e da
valentia de todos ; e a eada \m em particulw fftur
tificava o service com os LjuYoras e com oa brai^,
magoado de poder nao mediri-lhes os premioe peloe
m^recimmios. Ao menor soldadp honraya e en*-
grandeoia oom o favor e com o gabo , fazendo^'lhe
entender que o metiia no cora^. Iguaes todos no
goato, oomo o foriftno perigO| ae davio recipDooos
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5ft0 GASTBIOnO LUSITAlia
parabeDS da Tictoria. — Durou a batalha das duas
at^ is oito horas da noite ; tempo em que os nossos
soldados se recolh^rao a seu alojamento, onde sem
lemhran^a do trabalho festejarao a victoria com
universal confissao de que s6 a Deos se deviao as
gracas de tamanho beneficio. Toda a noite se pas-
sou com desvello que causa a desmaziada alegria.
A relacao do perigo afugentava o somno ; a me-
moria do trabalho nao deixava lembrar o repouso,
e muito menos as vozes e estrondo dos instrumentos
bellicos^.que em toda a noite nao deixarao de pu-
blicar o triumpho. Por ordem do provisor e viga-
rio geral se fizerao accoes de gracas a Deos no do-
mingo seguinte^ comgrande solemnidadeeregozijo,
assistindo as cummunidades religiosas e grande
concarso de povo.
XXXVIII. Com o preco da victoria nao teve com-
paracao o custo^ ainda que fosse muito consideravel
a perda. Quarenta e sette mortos d^mos A terra,
entre elles o sargento maior Paulo da Cunha, o ca-
pitao tenente de cavallos Manoel d'Araujo ; capi-
taes feridos^ Gosme do Rego, que morreo em breves
diasy Manoel d'Abreu, Paulo Teixeira, Joao Soares
d' Albuquerque , Jeronimo da Gunha do Amaral^
Estevao Fernandes, Manoel Antonio de Carvalbo,
Joao Lopes, Henrique Dias; estes com os mais fe-
ridos chegirao a fozer numero de duzentos e sette:
raro foi o que morreo das feridas pelo diligente
cuidado que se poz em sua cura. — Deixou o Fla-
mengo por cima de dous mil homens mortos ; entre
elles o general Brine , e o almirante do mar. Os
feridos se nao forao todos^ ficarao muito poncos
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CAsmuyto lusitano. 5M
por assinaUr. Nao houve quern desse numero certo
aos prisioneiros ; seria porque so de Pedro Poty,
maioral dos Indios^ fez caso a vinganca. Dous
annos e meio viveo preso em duros ferros, depois
dos quaes o embarcdrao para o reino ; viagem que
nao acabou atalhado da morte. Entre todos os des«
pojos forao dez bandeiras , o de maior estima^ao e
0 de maior preco o estandarte general ^ que ficou
em poder de Joao Femandes Y ieira ; os de mais
utilidade seis pecas d'artilharia de bronze ; armas
de toda a sorte, sem numero ; municoes de todo o
generoy mais que muitas ; mantimentos em grande
copia. Os demais gosto, a copiosa multidao de pra-
tasanas, chucos e alabardas^ em que os nossos viao
destro9ada, e rendida a sens p^ toda a confian^a
inimiga.
XXXIX. Acharao-se nesta occasiao o mestre de
campo general Francisco Barreto de Menezes , os
mestres de campo Joao Femandes Yieira^ Andr^
Yidal de Negreiros , e Francisco de Figueiroa ; o
tenente general Philippe Bandeira de Mella; os sar-
gentos maiores Antonio Dias Cardozo^ Paulo da
Gunha , Jeronimo de Inojoza ; os governadores de
Indios e Minas, D. Diogo Pinheiro Camarao^. e
Henrique Dias ; o capitao de cavalios Antonio da
Silvae Manoel d'Araujo; capitaes d'infantaria Joao
Fradique, Francisco Berenguer , Joao Soares d'Al-
buquerque, Antonio de Castro , Jeronimo da Gunha
do Amaral, AfFonsod' Albuquerque, Gosme do Rego
Barros, Francisco de Lisboa, Bertholomeu Soares
Canha, Francisco Barreiros, Antonio Borges Uchoa,
Joao d' Albuquerque , Antonio Rodrigues Yidal ,
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Ml Giiflaon iniiMM.
Mbmoel Monii, Yioente Curtdo Montinho^ Braz de
BiiTOB Teixtira ^ Domingos de Si Barbosa , Paulo
Teixeira, Goncalo Pereira Fidalgo^ Brax da Rooha>
Manoel d'Akureu, Francisco Ramoe, Manoel Lopes,
Amaro Gordeiro^ Domingos Ferreira, Gregorio de
Galdas> Simio Metides, Philippe Ferreira, Estevio
Feinattdes, Oregorio Fragoso d'Albaquerque^ Se^
bastilo Ferreira^ Amonlo da Rocha Damas, Joao
Barboza , Antonio Curado Vidal , Antonio Rodri-
gues Franca , Joao Lopes i Manoel d'Aguiar^ Ma-
noel Antonio de Garvalho, Antonio da 8iWa> Ama-
dor Rodrigues, Fratidsco da Rocha, Antonio
Rodrigues Santiago , Pedro de Miranda , Feraao
de Mello d'Albuqtierctue ^ D. Joao de Souxa^
Amaro Yclho Gerqueira, Frandsoo Goutitihoi Mi^
guel Fernandes, Clemen te da Rocha , Jacintho da
Grue ) e Joao Luit. Fah&rio nas listas os nomes
d'alguns capitaes, ou porque o aWorofo os nao
adTertioy ou porque a fragilidade das memcn^ias os
esqueceo*
XL. No dia 20 de Ferereiro^ depois d'enterrados
OS mortos^ acommodados os feridosi e recolhido
todo o despojo do campo inimigo, marchou o nosso
exeroito para a fortaleza do Arraial^ onde foi rece-
hide com salvas dos presidios, e com tumultuosa
acclama^ao de vivas , que sem descan9o davao os
moradoreSi que seguros na confian^a da victoria
tinhao jk deixado os matos e esperavao os restaura-
dores de sua liberdade para os acclamar por ta^.
--^No seguinte dia mandoU o Hollandez embaixada,
em quepedia suspensao d'armas para dar sepul*
tura aos corpos de seus mortos^ que ficarao sobre a
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terra no campo da batalha. Goncedeo'^e^lhM a li-^
oeti^a pcdidiBi^ e o sargento maior Antonio Diaa Gar-*
dolo foi eiicarregado de assisiir oom a infanlaria
neoeaaaria aos ministros hollandezes, em quanto
durasae o enterro segUndo o eatilo da guerra. «-•
0 capitao hoUandez^ que foi encarregado d'esta
diligencia^ Tinha acompanhado d'um judeo muito
conhecido dos nossos^ que Ihe servia d'interprete.
Pedirao amboa licen^a para yer o noaso Arraial i
oonhecerem e abracarem tao deatinotoi capitaes ^
maa outro era o seu fim. Depois de conoedida a
licencat foi conduzido o oapitao hollandez a preaen^a
de Francisco Barreto de Menezes, que com oa cabos
maiores o esperava em uma sala alia. Subio^ e com
qeremoniaa de aubmiasao o aaudou e aos mais, e
proaeguio com animo doln^ado dando a todoa oa
petamea da morte do sargento maior Paulo da
Gunha i e de Joao Fernandas Yieira , a qual elle
muito sentia como aoldado, posto que no Arrecife
a tiverao por tamanha dita que oa do goyerno se
davao una a outros os parabens. Era o fim da yinda
do capitao hoUandez e do judeo certificar'^se da
morte de noaso governador da liberdade, a qual ae
espalharaentre os inimigos^ comoacima dissemoa;
por issO) Francisco Barreto, depois de Ihes assegu*
rar que Joao Fernandes Yieira nem ao menos fidira
feridoy o mandou chamar ao seU engenho de Sao
Joao (nao muito distante). Chegou Joao Fernandea
Yieira, e depois de ouvir o que a seu respeilo disse
o capitao e o judeo, Ihes respondeo : a Se os se->
9 nhores hoUandezes dizem que dei a vida pela
» victoria y fallao pela boca do seu desejo; se o
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5Uk CA8II1090 LOSTAMw
» crem , i negocia^ao de sens delictos , porque se
» persuadem que acabaria seu castigo com minha
» yida ; mas desenganem-se , que se a%6 agora fiii
n seu a^oute, yivo, d'aqui por diante o serei como
M resuscitado; porque sabe Deos resuscitar mortos
» para castigar soberbos. i> Passou depois a (n^tica
a materias jooosas, com que os nossos cabos os en-
iretiverao ; agasalharao - nos com abundancia e
honra , ati que no outro dia voltarao para o Ar-
recife , onde o desengano fez tanta impreasao bos
do goTemo, que foi maior a tristeza que causou a
▼erdade, que toda a alegria que tinha introduzido
a suspeita^ porque a causa do pezar era carta , e a
do gosto duvidosa.
XLI. Passarao-se alguns mezes em que as arma^
esti^^rao suspensas d'uma e d'outra parte , occu-
pando*se ambas em rq)arar suas perdas, disdpli-
nar seus soldados, e aprestar-se para nova luta. —
Em quanto em Pernambuco succedia o referido,
caminhava no reino & sua execu^ao o assento de que
08 navios mercantes navegassem em frotas , com-
boiados por conta da nova companhia g^ral. £m
4 de Novembro de i 649 saio de Lisboa a primeira
froia, seu general o conde de Castellomelhor Joao
Rodrigues de Vasconcelhos (a quem £1 Rei Dom
Joao IV mandava governar aquelle estado) , e por
seu almirante Pedro Jaques de Magalhaes, cabos ja
entao de fama , e que depois occupirao os maiores
postos de' guerra. Com prospera viagem os virao
naquelles mares naturaes e estrangeiros , colhendo
uns as premissas de suas esperancas n<5 seguro do
commercio , outros confirmando os receios de que
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CASTRIOTO LUSITANa 546
buscavao seus portos com segunda tencao. Este
cuidado servio ao Hollandez de freio para que nao
ousasse levantar o braco os mezes que a frota tar-
dou em voltar para o reino.
XLII. Vio-se Sisgismundo livre da causa que
Ihe tomava a respiracao, e quiz experimentar o
estado de sua fortuna. Em 25 d'Agosto mandou um
grosso d'infantaria, que pela estancia do Mendonca
tomasse o pulso a nossa vigilancia. Saio pela forla
leza dos Affogados, como a maisproxima, epresu-
mia remissao em nosso cuidado pela continuacao
do ocio ; mas achou as vigias despertas, e as armas
promptas. Com ellas na mao saio a recebM-o o ca-
pitao Uchoa com a gente do presidio, a qual, como
innundacao reprimida, rompeo pelo inimigo com
tal violencia, que sem esperar segundo golpe virou
as costas, deixando sette mortos, que Ihe nao per-
mittio retirar a pressa do alcance ; e nos muitos
feridos, com que se recolheo, levou a melhor cura
de seu engano. Em 7 d'Outubro saio para atacar a
estancia que chamavao do Aguiar, mas nao teve
melhor fortuna, porque o capitao e seus soldados o
rebatt^rao com grande perda, Em 1 5 de Dezembro
fez o Hollandez outra sortida sobre a estancia das
Salinas, embuscando-se primeiramente no mato
para melhor lograr seu intento ; mas os nossos tendo
d'isto noticia, com valor o investirao ; e como por
algum tempo rebatesse o encontro, larg^rao os nios-
quetes, e tanto que desembainharao as espadas , os
fizerao virar as costas, perdendomais gente na fuga
do que na resistencia. — Desenganado Sisgismundo
que nada podia obter por terra, mandou unia pe«
L 35
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5i||6 GA5TRI0T0 LUSITANO.
quena esquadra ao no de Sao Francisco, escoiw
dendo a necessidade de mandar buscar mantimen-
tos , de que inuito precizava , com a yoz de que
mandava a destruir os moradores. Em os ultimos
d'este anno de 1650 saio da barra do Arrecife, e
deo a vda para o seu destino, que elle julgava
ignorado dos nossos ; mas Francisco Barreto de
Menezes tendo nolicia da tencao do Flamengo, de-
liberou-se em mandar qiiem impedisse sua pre-
tencao, consultou os meslres do campo, e aprovada
a cautela, nomeou-se o sargento maior Cardozo
para a execucao d'ella. Em 5 de Janeiro saio do
Arraial com quinhenlos soldados, e marcha lao
ligeira que ja aos 15 cstava dentro dos limites
daquella capitania, da qual achou ja retirado o
Flamengo, tao obediente ao aviso que Ihe deo,
que nada conseguio do que intentava. Nao tendo
inimigos que combater, abrazou tudo quanto po-
dia ser de prestimo para o inimigo, recolheo tudo
o que pareceo util para os sens, e se voltou para o
Arraial magoado de obrar so o facil.
XLIII. Continudrao OS nossos em sua vigilancia
armando continuas ciladas ao Flamengo^ com tao
bom successo que quasi se nao atrevia a sair fora
de suas muralhas, aid que se resolveo a sair com
maior poder para nos atacar a estancia do Men-
donca. Saio com etTeilo em a manba do dia 7 de
Abril dc 1651 com trezentos infantes; forao logo
descobcrlos de nossas sentinellas, derao rebate,
saio o capitao da eslancia com a sua gente a rece-
ber 0 inimigo : por largo espaco esteve igual a pen-
dcncia , al^ que mettendo os nossos mao a espada
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GASTBIOTO LUSITAlfO. bill
para logo se indinou a victoria a nossa parte. Vi*-
r^rao as costas, e deix^rao quinze mortos pela$
custas ; maia leves as no^sas , que nao pass^rao de
seis feridos. — Teve neste tempo noticia o mestre
de campo general que o inimigo andava senhor da
campanha do Rio Grande como se a elIa[nao pud^ra
chegar a nossa espada ; com o volo dos mestres de
campo nomebu o capitao Joao Barboza Pinto, valor
roso e pratico, o qual saio do Arraial em 16 de
Julho com trezentos soldados , e ordem que sem
perder tempo marchasse ao Rio Grande, e mos«i^
trasse ao inimigo, que a espada dos Portuguezes a
toda a parte cbega, e por tudo corta. Com a noti-
cia da yinda da nossa gente, recolh6rao-se os Hoi-
landezes e Indios a uma fortificacao, que tinhao no
sitio das Guarairas , onde presumirao a defensa,
mas onde acharao a entrega, porque investida e
ganhada, perdfirao todos a liberdade, e so alcanca*
rao a merc6 da vida. Correo Joao Barboza Pinto toda
o capitania , e como raio abrazou a terra de modo
que nella nao deixou homem rebelde , nem cousa
util. Voltou para Pernambuco com alguns gados e
oitenta e tres captivos flamengos, negros e indios,
A mesma sorte teve o Flamengo n'uma tentativa
que fez contra a nossa estancia do Aguiar, onde corw
tado de nosso ferro , e perseguido de nossos golpes
deixou precipiiadamente o campo, deixandogrande
numero de mortos, e fugio a buscar o abrigo de sua
artilharia.
XLIV. Seis mezes deixou o HoUandez descancar
nossas armas ; estavao os nossos soldados descon-
tentes do ocio, pois nao sabiao viver sera peleiar;
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548 CASTRIOTO LUSITANO.
para Ihes satisfazer a vontade, e para nao deixar
amortecer o espirilo e ardor guerreiro , mandou o
mestre de campo general ao sargento m6r Cardozo
que com quacrocentos soldados se emboscasse entre
as fortalezas dos Afibgados e Barreta , e picasse o
inimigocoTn algumas mangas de soldados. Vio o co-
inendor da Barreta que a occasiao o convidava com
melhor parlido ; saio com alvoroco, inveslio com
orgulho, que os nossos reprimirao com tanta gen-
tileza , que o comendor dos Afibgados soccorreo os
seus com promptidao e poder ; sairao os nossos das
emboscadas , e em esquadrao unido fizerao frentc
a um e outro inimigo ; travou-se a pftleja, accendeo-
se o furor, durou tempo consideravel o choque
com indifierente fortuna: mais de hora e meia pro-
fiou a ira (tao quentes os animos como as armas).
Com a resistencia cresceo o vigor da nossa gente, e
carregou o inimigo de sorte, que obedeceo o maior
numero ao melhor braco. Roto c desordenado o
Flamengo, buscou na fugida o remedio, e nella
acliou o estrago ; levava nas costas os golpes de
nossas espadas : perdeo as armas e o tino , e sem
saberem como, uns se deitdrao ao rio, onde niais
de pressa beberao a morte ; outros correrao a bus-
car o amparo nas suas fortalezas, deixando no
campo quinze mortos, e pelos matos muitos feri-
dos, onde os mais d'elles perecerao. Recolherao-se
OS Portuguezcs ao Arraial alegrescomo victoriosos;
mais agradecidos a occasiao pelos metter no choque,
que por Ihes dar a victoria.
XLV. Tendo o mestre de campo general noticia
de que os HoUandezes tinhao no Rio Grande muito
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GASTRIOTO LUSITANO* 5&9
pao brazil para levarem ao norte , e quereformadas
as rocas, crias e plantas colhiao maQtimentos^ que
mandavao para o Arrecife, se determinou a man-
dar o sargento mdr Gardozo com quinhentos sol-
dados a recolher aquelle genero , e tudo o mais
que tivesse prestimo, e abrazar o que se nao po^
desse conduzir. Parlio do Arraial em 20 de Maio^
entrou na campanha sem ser esperado; rendeo
muitos negros, dos ludios castigou os contrarios,
e fayoreceo os neutraes. Destruio as rocas, lavou-
ras, canaveaes e abeguarias; entregou ao fogo grande
quantidade de pao brazil ; e deixando no sangue
e nas cinzas o mais horrivel pregao de nosso furor
e seu casdgo voUarao os nossos para o Arraial, sem
dilacao, nem perda, onde os soldados festejirao a
restituicao e posse de nao pouparem inimigos.
XL VI. Foi este golpe dos mais sensiveis que re-
cebeo o Flamengo^ porque o ferio na garganta e na
bolca y e nao convaleceo d'elle em todo um anno ,
tempo em que em tudo se negou a toda a occasiao,
que podia dar materia e argumento a nossa historia.
Tinha visto que todas as tentativas Ihes falhavao ;
nao Ihe restava senao um meio para melhorar sua
fortuna , e era ganhar-nos a fortaleza do Arraial.
C!onhecia Sisgismundo a difficuldade da empreza ;
mas por satisfazer ao desejo dos do governo, pro-
poz-se a ganhar primeiro a estapcia do Aguiar,
sem 0 que nada podia intentar com o Arraial. —
Em 1 1 de Marco de 1 653 saio a campo com poder
proporcionado ao intento. Era capitao d'aquella es-
tancia AfTonso d'Albuquerque , herdeiro d'aquelle
valor que fez grande o nome e o appcllido. Assim.
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550 GASTBIOTO LUSTTANa
que descobrio o Flamengo, saio a receb^l^o com o
seu presidio, com tal f6rma e Talor, que apezar de
proBosa resistencia o obrigou a largar o campo^
com perda de nao pouco8 mortos e feridos. Pouco
tempo depots voltou o Flamengo com maior poder,
bem decedido a rocar o mato que cobria a nossa
estancia , para que sua artilharia podesse laborar
contra ella ; mas como o nosso mestre de campo
general tivesse reforcado por prevencao o presidio
da nossa estancia , saio-lhe o conceito errado. —
Tinhao-se os Hollandezes emboscado , e esperavao
que quando nossa genie saisse para os rebater cairia
em suas maos, e logo com facilidade se apoderariao
da estancia ; mas o capitao Paulo Teixeira, que se
achava com muita e boa gente , saio da estancia ,
rompeo as emboscadas , investio o esquadrao ini-^
migo, que assombrado de se ver atacado por muito
tnais gente do que esperava, esfreou na resistencia^
e (bgio cortado de seu espanto e de nossos golpes>
tao vergonhosamente ^ que nao Ibe bastou a causa
para Ihe diminuir a injuria. Determinou restaurar^
ae na honra, e pelas tres boras da tarde voltou com
dobrado poder e arrogante furia ; mas no mesmo
posto encontrou a mesma resistencia. Sustentou
o avan^o em quanto dur^rao as cargas; mas tanto
que sentio o corte de nossa espada, deixou o campo
e a victoria, contente com retirar sens mortos, por
DOS diminuir o triumpho, coroado n'este dia com
dobradas palmas.
XLVH. Crescia entretanto no Arredfe a fome
com a falta de mantimento^ ; era a barra a porta
por onde Ihe podia entrar o sustento ; acabara^^ae
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CASTUOXO LUSlTAMa 551
0 das presas , o da HoUanda nao chegata y e havia
mezes que se nao tinha visto embarcacaa do norte.
For9ado da necessidade aprestou Sisgismundo al-
gumas embarcacoes para mandar ao Rio deSao Fran-
cisco, com gente de guerra, que a seu salvo condu-
zisse OS gados d'aquella campanha as embarcacoes,
e Delias ao Arrecife. For ordem do mestre de campo .
general assistia & defensa d'aquelles moradores o
capitao Francisco Barreiras com a sua companhia ,
com que refreava as correrias do inimigo ; dirao-
Ihe rebate das que fazia o HoUandez , recolhendo
gados e mantimentos ; buscou-o nosso capitao acom-
panhado de sua gente e d'alguns moradores ; avis-
tarao-se na paragem que se diz Santa Izabel. Foi o
encontro profiado ; porem como o inimigo vio que
a resistencia Ihe augmentava o damno , deixou o
campo retirando-se era ordem, mas nao sem perda,
que Ihe ficarao no campo trinta e sete soldados.
Perdemos nesle choque o nosso capitao Barreiras
e tres soldados, e tivemos doze feridos. Ghegou a
nova ao Arraial ; e a morte do capitao enlutou o
gosto da victoria : mereciao suas prendas todo o
sentimento que causou sua falta.
XL VIII. Ainda nao desenganado o Flamengo
com tantos revezes , intentou mais outra vez ro^ar
0 mato que nao deixava descobrir a nossa estancia
do Aguiar. Com trezentos homens saio pela parte
dos AfTogados a intentar o c6rte da mata entreposta.
Gmarnecia a estancia o capitao Francisco Pereira
Guimaraes com sessenta soldados. 0 mesmo foi ver
o destemido capitao o inimigo^ que avancal-o, rom-
pd-o, e destruil-o com perda de tres feridos, um
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552 CA8TEI0T0 LUSTTAIia
capilao, um alferes e um soldado. Em 12 de No-
vembro succedeo o choque ; de que o Flamengo
saio bem sangrado, mas nada convalecido. Em breves
dias voltou com o mesmo intentOy e quinhentos
soldados. Saio-lhe ao caminho o capitao Manoel
d'Aguiar; com leve resistencia o desbaratoi!, e se-
guio, matando e ferindo, sem algum Ihe virar a
cara, que todos levavao no abrigo de sua fortaleza*
Lastimado e confuso o deixou o caso , porem nao
arrependido. A breve duracao de seu imperio mos-
trou nesta contumaciam que luctava j^ com a morte;
deixou de profiar, porque Ibe faltou o tempo, e nao
porque cobrasse juizo , que delirante o levava ao
ultimo passo de seu dominio.
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LIVRO XII.
SUMMARIO.
1. Razoes por que J. F. Vieira desejava dar fim A guerra.— 2. Fran-
cisco Barreto poe a empreza em coDselho. — 3. Pareceres dos mes-
tres de campo. -- 4. Chega & vista de PerDambuco a frota da
compaDhia Tinda de Lisboa. ^ 5. Francisco Barreto manda visitar
o general d'ella; paga esle a vistta saindo a terra; mas escusa-se
a dar auiilio para a empreza pelas ordens que traz. ^ 6. A ins-
tanctas de J. F. Vieira ajuntao-se em conselho os cabos de mar e
terra ^ sens pareceres; 4 approvado o de J. F. Vieira. — 7. D4-se
principio k empreza pela fortaleza do Rego ; dispoe-se a conquista
do Arrecife por mar e por terra. — 8. J. F. ^eira reconbece as
fortalezas ; p5e cerco & fortaleza do Rego. — 9. Formao-se as ba-
tarias e se abrem as cavas ; intenta o inimigo soccorrer a sua for-
taleza; com que successo.— 10. Gontiniia Andr^ Vidal de Negreiros
OS ataques, e se Ihe entrega a fortaleza a partido.— 11. J. F. Vieira
cerca a fortaleza de Altenar. — 12. Manda Sisgismundo largar a
fortaleza da Barreta, de que D. Dipgo Pinbeiro se apossa. —
13. Larga o inimigo a fortaleza do Boraco de Santiago; mudade
alojamento Francisco Barreto. — 14. Continuao os ataques k for-
taleza de Altenar, e se Ihe impedem os soccorros ; amotinao-se os
Hollandezes, e a entregao. — 15. Condicdes com que saem os ren-
didos ; perda d'uma e outra gente.-*16. Preparao-se os nossos para
combater a fortaleza das Cincopontas. — 17. Desamparao os Hol-
landezes a forlaleia dos Affogados. — 18. Ganha Andrd Yidal a
eminencia do Mihou ; Sisgismundo intenta recuper&l-a ; mas retira-
ae. — 19. Continiia J. F. Vieira os aproxes das Ginco Pontas; per-
suadem os judeos a entrega do Arrecife. •— 20. Pede Sisgismundo
suspensao d'armas para tratar da entrega do Arrecife ; com que
limite se Ihe concede. — 21. Pessoas que se nomeao para o aeordo
das capitulacoes ; proposta do HoUandez. — 22. Gapitula-se a en-
trega do Arrecife ; com que partidos e condicoes. — 23. J. F.
Vieira toma possd da fortaleza das Cinco Pontas* da cidade Mau-
ricea , e de todas as fortificacoes e almazens. — 24. 0 mestre de
campo general faz sua entrada no Arrecife. — 25. Numero dos
rendidos, da artilbaria e das annas.— 26. Fementido trato do Hol-
landez. — 27. Francisco de Figueiroa toma posse das mail capi-
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554 CASTRIOTO LUSITANO.
UdIas e forUlezai. — 38. Segae a nossa armada a sua demU
para a Babia ; saem do Arrecife dous avisos para o reino ; de que
S. M. recebe a nova. — 29. Pra^as que o HoUandez deiiou. —
30* O que deve a na^o e o reino a J. F. Vieira.
I. Nos fins de Dezembro de 1653 comecirao os
habitantes a mostrar-se enfastiados de tanta de-
mora, e quasi perdiao a esperanca de verem co-
roados de successo seus heroicos esforcos. Da des-
confianca passavaoa queixa, accusando de frouxidao
o que era prudeDcia. Dizendo que se envestisse
com o Arrecife a todo o risco ; que morrer por
morrer, antes no assalto com gloria, que no Arraial
com miseria ; que as vidasque consummia o tempo
sem fructo melhor se empregariao no combate com
utilidade e honra. Feriao estas queixas o coracao
de Joao Femandes Vieira j porque se considerava
cabo, companheiro , e motivo. Tinha sido causa
para os moradores toraarem armas, influindo em
todos com a persuasao e com o exemplo , o desejo
e esperanca da liberdade : razao, que o fazia autor
da pena e reo da queixa ; estimulos que o obriga-
vao a envestigar com mais cuidado os meios por
onde melhor se poderia conseguir a execucao de
sua promessa. Esta era toda a occupacao de seu
juizo, e de seu desejo. Tinha assentado comsigo
que para a conquista do Arrecife e suas pracas
valia pouco toda a hostilidade de terra , faltando
poder que Ihe impedisse os soccorros do mar; e
como era este o tempo em que as frotas do reino
sulcavao aquelles mares , resolveo-se a pedir o soc-
oorro de teus cabos » os quaes como bons Portu-
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GASTRIOTO LUSITANa 555
guezes, experimentados soldados^ e convidados
pela estimacao dos despojos , nao se recusariao a
tomar parte em tao gloriosa empreza. Propoz ao
mestre de campo general este pensamento, indicou-
Ihe OS meios para este fim , maDifestou-lhe todas
as queixas dos moradores, e quam resolutos esta-
vao a sacriGcar as vidas para acabar o que haviao
come^ado e proseguido com tanCa gloria; e concluio
dizendo : « Ja de hoje por diante poderemos espe-
» rar que navegue por esta altura a frota do reino^
» comboiada pelas embarcacoes, que a companhia
» do commercio geral Ihe tern coiisignado , e que
D for^osamente hao de pairar a nossa vista em
» quanto mettem e recolhem os navios mercantes
» pertencentes aos portos d'esta capitania. SeVossa
n Senhoria com sua autoridade , e os moradores
» d'ella com sua afllic^ao representarem aos cabos
» da armada a miseria, a que estamos expostos^ e
j» Ihesrequererem seu favor, pedindo-lhes se deixem
» estar alguns dias a vista do Arrecife, senao como
» amigos como neutraes ; e n6s por terra avan^a-
» remos com as pra9as do Flamengo; e entendo do
» presente estado das cousas , que ou se render^
» assombrado, ou se defendera tao remisso , que a
)» pouco custo nos restauraremos no dominio usur^
» pado. £ nao faca duvida a Yossa Senhoria a falta
» dos aprestos, porque eu os quero tomar por
» minha conta , assistindo-me Yossa Senhoria com
» as ordens necessarias ; a quem peco , considere
» n'esta materia com a atten^ao que pede a import
tancia d'ella , crendo que me diz o cora9aO) que
))
» tern Deos guardado para Yossa Senhoria o re«-
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556 GASTRIOTO LUSITANa
» mate d'esta empreza , e a ultima coroa d'estas
M victorias. •
11. Com atten^ao e alvoroco ouvio o general ao
mestre de campo , mostrando no semblante a ap-
provacao do intento; mas como prudente general,
disse-lhe que por isso que a empreza era diflScil,
era necessario consult4l-a com os mais cabos que-
n'ella deviao lomar parte. Passarao-se alguns dias,
e como o general nao tomava nenhuma resolucao,
foi segunda vez Joao Fernandes Vieira com o mesmo
requerimento ao mestre de campo general. Recebeo
este com o mesmo agrado, conferio com elle as con-
Iradiccoes , que a seu parecer faziao a execucao im-
possivel ; facilitou-lh'as Joao Fernandes Vieira com
demonstracoes tao claras , que deixdrao a empreza
sem duvida ; e rematou a pralica dizendo que alii
se achavao os tres mestres de campo com sua se-
nhoria, que os chamasse a conselho, e proposesse
o negocio, e se resolveria com o parecer dos mais
votos. Era esta a determinacao do general; pelo
que assenUrao lugar e dia conveniente para a im-
portancia do negocio e do segredo. Algumas legoas
distante de Nazareth , e sette do Arraial , estA uma
hermida da invocacao de Sao Goncalo, em sitio
apartado de toda a communicacao pelo solitario do
lugar, para a qual chamou Francisco Barreto no dia
seguinte aos tres mestres de campo, com pretexto
de romaria. A titulo de passarem a sesta, se reco-
Ih^rao nella , apartando de si os criados com appa-
rentes motives. Pedio silcncio e segredo, propoz a
empreza, conformando-se com a proposta de Joao
fernandes Vieira, e concluio dizendo : « Na frota
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GASTRIOTO LUSITANO. 557
» que por horas esperamos do reino y temos quern
» corte por mar a communicacao aos HoUandezes ;
)) e nos cabos que a commandao, quern nos favo-
» reca por terra . Nesta supposicao quero que Vossas
» Mercys me digao se Ihe parece que nos apreste-
M mos para a conquista da Arrecife e das fortalezas
)) que o guarnecem. »
III. 0 primeiro que votou foi o mestre de campo
Francisco de Figueiroa , e expendeo varias razoes
pelas quaes sustentou que a empreza era nao so
arriscada, mas impossivelj pois nem por sitio, nem
por assalto se poderiao tomar as pracas dos HoUan-
dezes y pela falta de meios que tinhamos para o
ataque. «Que exereito temos para a circuravalacao?
» disse elle; que artilharia para bater tantas pracas?
» Que celleiros para sustentar o assedio ? Que ihe-
» zouros para pagar aos soldados ? Que aprestos
« para os aproxes? Que engenheiro para as minas?
a Que soccorros para as perdas ? E quando nada
» fahara, com que armada o havemos de cingir por
» mar, tao vigilante e poderosa , que sirva de ca-
» deia para impedir os soccorros, e de freio para
» atalhar a opposicao? n Seguia-se o voto do mes-
tre de campo Andre Vidal de Negreiros, o qual foi
de parecer contrario, dizendo que a empreza nao
so nao era impossivel, mas menos difficultosa do
que diziao ; e concluio : w Se hei de dizer o que al-
}} canca meu juizo , posso aflirmar que a empreza
tem menos de perigo que de receio ; e quantas
» mais forem as difficuldades, com que nos espera
» a conquista , tantas mais serao as palmas com
» que nos chamara a victoria. Se vota meu desejo
»
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559 cumioTO LuairAm.
i> digOy que ]& me quizera ver no assalto dta forti*
» ficacoes iniinigas ; e que cada instante de deteuca
» ser^ para mim de penosissima roortiGcacao.
» Nao saberei o que digo, mas digo o que aiato. »
Joao Fernandes Vieira tomou entao a mao, e depois
de enumerar as yictorias alcan^adas contra o mi-*
migo, e depois de ponderar o quaato deviamos con-
fiar na proteccao diviaa, comecou as razoes do pri-
meiro voto^ e fallou nestes termos : « For veniura
» OS muros das fortiiicacoes inimigas sao de dia«*
» roante^ para que se izenlem do ferro e da mina?
D Sao immortaes seus defensores, para que os nao
» offenda o goipe e a bala ? Sao os contrarios innu-
» meraveisy para que os nao diminua a morte e o
» trabalho? Sao invenciveis^ para que os nao renda
>) 0 perigo e o medo? Pois com que razao deixamos
)» em suas maos a escolha da occasiao e do tempo
D para Ihe fezermos guerra? Ha de estar em sen
» querer o movimento de nossas armas? A occa-
» siao nos persuade a que o desalojemos e destrua^
» mos. Que melhor tempo que este , em que se
)) acha falto.de gente e de soccorros ? Que occasiao
» mais favoravel que a presente , em que a frota
» de Portugal , que esperamos , nos pode dar soc-*
» corro e gente ? Todos sabemos que as fragatas
>) contrarias, poucas e mal guarnecidas, como inu^
D teis & defensa andao espancando os mares em
» busca dos roubos ; e quando chamadas da ne-
i> cessidade avistem a nossa frota, que animo terao
» para a envestir, cossarios que so vivem de rou-
» bar? Isto assim, que nos ata as maos ? A imagi-
» nacao de faltarem aprestos ? Essa nao i certa ,
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CASTRIOTO LUSnANa 5S9
» porque quando nao sejao facets, nao aerao impos^
» diveia. £u me obrigo, com averdade que sempre
K se achou em minhas promessas, a prevenir todo
n o neceasario com abundancia e segredo. Nao fie^
>} mos nosso desejo ao tempo , que serA fial^K) ao
» maior inimigo ; poix}ue 86 elle sera poderoso para
» nos consummir ; e fara o que o Flamengo com
» todas 8uas forcas nao pode fazer. Mostre a es^
» pada portugueza que em nenhum tempo perde
» o corte , e que no descanco se aGa para cortar
» melhor na occasiao. Demos o ultimo realce a
» nossa fama , e ficard duas vezes grande o nome
» portuguez ; uma pelo valor com que vence ba*
» talhas, outra com a ousadia com que escala for-*
» talezas. » Approvou o mestre de campo general
o parecer de Joao Fernandes Vieira ; louvou seu
zelo e patriotismo ; prometteo-lhe toda a assisten*
cia e poderes que tinha ; tomou a seu cargo o cui-
dado de espiar a frota^ e a diligencia de obngar ao
general d'ella a sair em terra, e pedir*lhe soccorro
e companhia para o tempo dos assaltos. Gonformes
todos neste parecer se apartarao a prevenir armas,
e a desmentir suspeitas.
IV. Em 20 de Dezembro appareceo a vista de
Pernambuco a frota da companhia gdral do com-
mercio, que saira de Lisboa a 4 de Outubro. Seu
general Pedro Jaques de Magalhaes, almirante Fran-
cisco Brito Freire. Ji Francisco Barreto de Menezes
estava prevenido por um aviso que receb^ra em 7 de
Dezembro , mandado pelo general da frota da ilha
de Cabo Verde, onde aportara para recolher os na-
vios mercantes que alii se Ihe aggregarao. Com os
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560 CASTRIOTO LOSITANO.
olhos do receio a yirao os Hollandezes, e com as
da esperanca os moradores. Os cabos hoUandezes
( alheios de toda a noticia de seu damno , e s6 ac-
cusados dos remorsos da propria consciencia) or-
denarao a uma esquadra que tinhao no mar, que
saisse a reconhecer o numero de vasos, e a forca
d'elles. Comprirao as fragatas inimigas as ordens
ate chegarem a bataria com alguns navios de
guerra, que as fizerao apartararrependidas quando
ja OS navios mercantes estavao surtos na forma
conveniente para o seguro dos que haviao de en-
trar e sair dos portos daquella capitania , e para a
commutacao de generos e fazendas da companhia e
de particulares.
V. Logo Francisco Barreto assentou com os tres
mestres de campo que se devia fazer todo o possivel
para tentear o animo do general da frota, e que
seria muito a proposito para o intento obrig&l-o a
sair em terra. Despedio o mestre de campo general
urn enviado, que da sua parte, e dos officiaes, exer-
cilo e povo Ihe desse os parabens da viagem, e Ihe
pedisse licenca pat*a satisfazer a esta obrigacao pes-
soalmente. 0 general da frola, grato e officioso se
metteo com o seu almirante n'um esquife , e nave-
gou para terra , mandando vogar para o rio Doce,
onde o forao receber Francisco Barreto de Menezes,
Joao Fernandes Vieira, Andr^Vidal de Negreiros
e Francisco de Figueiroa. — Deo-se o primeiro
tempo aos abracos, e ^s saudacoes ; e logo se passou
a pratica do negocio. Fropoz Francisco Barreto a
resolucao que se tinha tomado , os fundamentos
sobre que estribava a confianca, com que todos es-
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CASTRIOTO LUSITANO. 561
rayao o favor e ajuda de sua senhoria, pois o assis-
til-os naquella empreza era service de Deos, utili-
dade do reino y interesse da companhia , e unico
remedio dos PerDambiieanos. Que negal-o sem
risco, e sem dispendio, na presente occasiao, seria
perdel-a , com a reputacao das armas portuguezas,
e o credito de cabos de Ian to nome ; pois quem os
nao visse, na presente miseria, lastimados e com-
padecidos os nao havia de crer valerosos ; e per-
dida a restauracao de captiveiro tao duro, por culpa
de sua senhoria, Ihe nao ficava razao para se dis-
culpar, nem para com Deos, nem para com os ho-
mens. 0 general da armada , indeciso entre a com-
ipiseracao e a homenagem, mostrou que a obediencia
Ihe atava as maos a piedade , e disse que elle nao
trazia ordem de seu Rei para a minima hostilidade,
nem da companhia geral para o menor desvio d'a-
quella frota, obrigado por juramento a conservacao
e breve despacho d'ella; que de fazer o contrario
se poderia seguir exasperar-se o inimigo, e alterar
as pazes com o reino, e pagar elle com a cabeca a
desobediencia e o damno, porque senao havia de
julgar por leve culpa , a que commettesse em
oflPensa de nacao tao bellicosa.
VI. Insistirao os mestres de campo^ e entre elles
com mais efficacia Joao Fernandes Vieira, allegando
tao fortes razoes que o general e almirante , cru-
zando as maos, se rendfirao ao seu parecer, e de
companhia forao todos para a villa de Olinda, onde
convierao em que ao outro dia se chamassem a con-
selho todos os ofTiciaes da primeira plana , como
mestres de campo , tenentes generaes e sargentos
I. 36
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5M GASTRIOIO LOfflTANa
maiores, ptra que multiplicados os requa*iment08
achasse sua desobediencia desculpa na instaucia.
Em 25 de Dezembro acudirao os chamados, e foiio
OS do congresso o general e almiranie da frota, o
mestre de campo general Francisco Barreto de Me-
nezes, os mestres de campo Joao Fernandes Yieira,
Andr^ Vidal de Negreiros, Francisco de Figueiroa;
0 tenente general Philippe Bandeira de Mello; e
os sargenlos maiores Antonio Dias Cardozo , An-
tonio Jacome Bezerra, e Jeronimo de Inojosa. —
Quando da conferencia se esperava a determinacao
applaudida, se desentranharao em dilficuldades os
primeiros volos, ou porque a emulacao os produ-
zia, ou porque a desconiian^a os formava. Com o
parecer dos mestres de campo Andr6 Vidal e Fran-
cisco de Figueiroa Gcou o negocio vencido, e Fran-
cisco Barreto com lagar para esperar a. determi-
nacao do general e almirante da frota ; por^m elles
disserao que nao haviao de resolver cousa alguma
sem primeiro ouvirem o parecer de Joao Fernandes
Vieira , em cujo peito nascera e se alimentara o
processo daquella causa. Fedio-lhe o mestre de
campo general que desse o sen parecer, o que fez
da maneira seguinte. \< Teinos neste couselho os
» ministros maiores, e do maior poder que nossa
» liberdade poderia desejar ; e quando imaginei
» que a razao vencia toda a duvida, vejo fallar na
» materia com tanta variedade, que me persuado
» se desconhece a substancia e as circumstancias
» da empreza. A expugnacao das pracas hollan-
» dezas podia ser volontaria em quanto este con-
» gresso a nao publicou forcosa, Nelle se divulgou
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ja a intento } e publica a conferencia , queip ni\p
» y^ que necessariam^nte se ha de executar a
Jt) delermina^o? Em se recusar cousiste nossa xj-
]» tima perdi^ao. Qu^ conceito ha de fazer de i^os-
» sas arinas o ipimigo^ s^ alcancar que se Ihe n^o
> atreve o nosso in2\ior pocjer ? Desprezara o que
JD teme, conservara q que possue, e conquislara o
jt) que deseja. At^ agora nos atou as inaos a im-
» possibilidade de o cingirera por ipar ,• agora que
n; nossa fortuna nos oflerece o qvie desejavamos
» desppezamos a dita ? Co^)Oy ou quando espera-
» mos cobrar semelhante ocpasjao ? Entendia eu
» que para o que se l^a de o^rar forcosamente ,
>^ nao se votava se ha ou nao ha de ser, senaq por
^ que meios se ha d^ consegujr* Dei^os caso que
)) seja tania nossa desgra^a que nao ganhemos q
M Arrecife ; ganharemos algunjas de suas fortalezas
» e ficara nosso p^rtido melhorado, o podf^r ini-
» migo enfraqueeido, e o mundo certo qi^e 6 nosso
» valor maior que nossa for(una ; e quando menos
» ficara este povo com a esperanca de que o ini-
» migo aiormentado de nossos golpes vira facil-
» mepte em alguma congruencia util. r^
VII. Concord^rao todos na conquista das pracas
inimigas, e passarao os generaes a tratar do modq
e da parte em quQ se bavia de empregar o primeiro
golpe, com moral cerleza de que ferisse e nao res-
valasse. Vot^rap neste particular por sua ordem,
e forao tao diversos os pareceres, como os votantes.
Diflerente de todos fallou Joao Fernandes Vieira :
disse, que para o fim desej^do se deviao arrimar a
forlaieza das Salipas , que chamavao de Francisco
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564 CASTRIOTO LUSITANO.
do Rego , ]K)rque era a de menor foroa , a de me-
Ihor terreno, e a de maiores eonsequencias; com
ella se ganhava a passagem do rio, se desempedia
o caminho da villa, se desquartinavao as fortalezas
do Perrexil, Brum, e Buraco de Santiago; e d ella
se podiao varejar o Arrecife e a Barra ; pela dis-
tancia longe dos sdccorros, e pelo sitio facil para
seimpedirem. Este parecer agradou a todos, efoi
appro vado como o mais acertado. — Conferio-seo
modo, c se resolveo que a primeira diligencia fosse
espalharem-se cartazes em tpdas as linguas d^js na-
coes que militavao com o Flamengo, pelos quaes
se promettesse premio ou castigo aos que fossem ,
ou nao fossem da nossa parcialidade ; o que nao
deixaria de obrar muito, a vista de nosso poder e
resolucao. Ordenou-se que lodas as faluas da ar-
mada e barcos parliculares fizessem todos os dias
demonstracao de frazerem gente da armada para
terra, em repetidas viagens, de sorte que o inimigo
contando as parlidas sommasse um excessivo nu-
mero de combatenles ; c que se tomassera a levar
da terra para as naos , tanto que fosse noite, [)ara
que no outro dia representassem a mesma ficcao, e
que ullimamente aquella infantaria, queescusasse
a guarnicao da armada, ficasse em terra &s ordens
do almirante Francisco de Brito Freire. Advertio-
se que os navios mercantes de menos tonelladas
se mandassem, com sufBciente guarda, para os
portos do sul , para onde era sua direita descarga
( OS quaes todos aportarao a salvamento ) ; que os
de maior vulto e alguma forca , com os de guerra
formassem um precinto , em forma prolongada ,
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GASTRIOTO LUSITANO. 565
que recolhesse dentro em si a barra, e a barreta
do Arrecife ; que no seio d'este meio circulo an-
dassem alguns patachos , e embarcacoes de remo
aos bordos, naquelles fundos em que podessem
boiar ; que preparassem cinco ou seis somacas ar-
tilbadas e guarnecidas, que de noite ao modo de
ronda corressem aquelle mar, que cingisse a cir-
cumferencia da armada; que por seu turno se des-
tinassem duas companhias de infantaria , para
guarda das praias do norte e do sul do Arrecife ;
tudo a fim^de que , nem por mar nem por terra ,
nem de noite, nem de dia, podesse entrar o menor
soccorro ao Fiamengo.
VIII. Pedirao ao mestre de campo Joao Fernan-
des Vieira que na noite seguinte saisse com os ho-
mens que escolhesse a reconhecer as pra9as do
inimigo, com as fortificacoes d'ellas, terreno, en-
iradas, e saidas de cada uma, e tudo o mais neces-
sario para a intelligencia de nossa disposicao, Pedio
dous engenheiros^ escolheo alguns poucossoldados^
e fez tao exactamente a diligencia, que nao houve
estacada de fortaleza contraria que nao tocasse com
suas proprias maos; de algumas foi seutido, e com
se deitar por terra com os sens se livrarao do chu-
veiro de balas que o inimigo disparava y e socegado
o alvoroco continuava na diligencia com tanto
desprezo do risco , que visto foi admiravel , e ou-
Tido, incrivel. Sobre a madrugada se recolheo, e
repetio ao mestre de campo general o que exami-
nou e descobrio ; o que elle agradeceo e iouvou
com as honras e encarecimentos que merecia ta-
manho servico. Fez^se aviso a todos os fronteiros,
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566 GASTIOOTO LVSltANO.
que sem descancar picassem o HoUandez par todas
ks partes, porqtie nao podesse stispeitar a qnal
d'^llas se 6tfcaminhava o primeiro golpe de no^a
espadii. — Etitroti o anno dt 1654, e a 5 <te Ja-
neiro comeco* a manifesta e^cpngnac&o das ft>rta-
lezas iViiinigas. Ne^te e nos segaii!ites xKa^s saira6
das ertbarcacoes', par muiUs vezes , nao poucos
b^rcos carregados de infantam e pe(?re<^KJS d^
guerra, as bandeiras tetidtdas, tocando caixas, e
dando sirlvas de mosquetaria ; uns postos em fehra
voltavao as faluas a bi!iscar outros, seguindo o es-
tratagema ^as ordens dadas. Os "navios da armada
formarao o circulo, e executarao tudo o xpie fidrra
orde^ado. As dezoito fragalas hoHimdezas , que
pefb forma 'dicta reconhecerao a determittacao ,
postas ao la^go soharao as v^las , e se engoMiir&o
de sorte qae desapparec^rao. Segoros com a par-
tfdd d'trma e ^pi'cisenca d outra armada sairao'des
portos de Sirinhaem> Rio Formcfeo, Tamandar^,
eCafmaragibe as embarcacoes, que 'estkvao apres-
tadas para o reino, e todas etftr^rrao lia barra de
Nteardt?h , ottde tambem servMo pot mar k con-
dncc&o dos soldados^ petrechos, 'e generos^reve-
Blldos por*aqtiellas partes, para a occasiao do cerco.
Pas80u-se orde'tti aos fronteiros que se aviirinlias-
sem ^om suas goafrnicoes 6s fcfrtalezas contraa*ias
de maneira que ficassem suas estancias tre^centas
bracas d'ellas em sieios que as cc^brissem os aivo-
redos dos bosques , e iiesta fdrma fizcssem cosltas
a conduccao da artilharia e materiaes necessarios
para as plataformas e reparos, com que se haviao
de bater as fortalezas do Rego e de Altenar. B^esie
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GASTRIOTO UJSITANO. * 567
dia at^ o 4 4 se occupou a nossa gente em levar &&
luaos nove pe^as de bronze, sendo cinco de 24^ e
as mais de 1 8 e 1 4 , sem que o inimigo tivesse o
meoor indicio de zu>sso trabalho, nem da uosso
ijQlento.Porfim veio a ter noticia de nosso projecto,
e SisgLsmujado comecou a preparar-se para a de-
feza. — Aos 13 mandou o mestre decampo ge-
neral ajuntar o exercilo a surdina ; constava elle
de dous mil quinhentos soldados , fora de mil iti"
fanteSy que guarneciao as fortalezas do Arraial,
villa deOlinda^ Pao Amarello, e Barreta. Em 14 de
Janeiro, dia em que tocava a vanguarda ao mestre
de campo Joao Fernandes Vieira, o chamou Fran-
cisco Barreto, e Ibe ordenou que fosse com seu terco
p6r sitio e bataria & fortaleza das Salinas y que se
dizia de Francisco do Rego , condemnada ao pri-
meiro furor de nossas armas, dizendo^lhe que ao
seu braco e sua fortuna fiava o logro de suas es-
peran^as ; e que a este fun escolb^ra aquelle dia
por conhecer o quanlo importava tomar a victoria
0 principio da quella mao da qual o tomara a
guerra. Rendeo-lbe Joao Fernandes Vieira as gra-
cas da estima^ao que d'elle fazia ; deo conta a sens
soldados e ofUciaes da ordem recebida , com tanta
alegria e alvoro9o, como se naquelle servi9o lev^a
o premiode todo seu merecimento. Via conseguido
o que mais desejava, e nao cabia em si mesmo com
o gosto que tinha ; assim como o sentia o manifes-
tava, dando a todos o parabem de sua liberdade, e
da redempcao de sua patria. Exbortou a todos com
animo seguro da victoria, e ao anoitecer se poz em
marcha com o seu ter^o em direiiura ao sitio das
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568 GASTBIOTO LDSITAMO.
Salinas, seguindo-o o mestre decampo general com
todo o exercilo, que se alojou pelo reverse das ba-
tarias.
IX. Protegidos pelas sombras e silencio da noite
carregarao os gastadores oito cesioes feitos por
conta , OS quaes se assentarao , ench^rao , e terra-
plen^rao a tiro de pistola da fortaleza inimiga , e
assim mesmo grande copia de saeos, que se ench^
rao de areia e terra para reparo de quatro meios
canhoes de 24, com que se havia de bater a forca,
todos levados & mao, distancia d'um tiro de mos-
quete (sem rumor, que o Flamengo podesse sentir)
com quinhentos mosqueteiros de guarnicao. Assen-
tou-se a explanada , e nella a artilliaria , e se deo
logo principio a cava, que saia dos lados da plata-
fdrma, na qual se trabalhou com tanto cuidado, que
antes de amanecer a tinhao desembocado no rio ,
de sorte que ficou a fortaleza cercada do ambito
que formavao rio , bataria e cavas , das quaes se
desquartinava a porta da fortaleza a tiro de pedra.
Abrirao-se estradas encobertas para o servico da
gente e commodidade dos soldados ; e foi cousa
incrivel o silencio com que trabalhava a multidao
dos gastadores, tanto^ue nao teve o inimigo indi-
cio de que podesse formar a menor suspeita. Os
tabooes e pranchas de que se fizerao as platas-for-
mas, d'onde haviao de jogar as pecas, se apontarao,
e postos OS pregos nos furos se ordenou que a
cada um estivesse um soldado com um seixo na
mao, e a certo sinal se pregas§6m com tanta uni-
formidade, que o golpe de muitas parecesse d'uma
«o mao. Rompeo a manha de 45, e as nossassen-
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GASTRIOTO LUSITANO. 569
tinellas, que estavao a falla com as do HoUandez,
Ihe derao os bons dias, e a nossa artilharia a pri-
meii^a salva , tudo tanto a um mesmo tempo , que
Ihe pareceo ao inimigo sonho o estrepito que ouvia.
Perdia o juizo, quando vio e experimentou nosso
Irabalho e seu perigo ; e maior fora seu espanto se
vira na portugueza devacao seu castigo e'nossa con-
fiaD9a. Com igual furor coutinuava a bataria d'uma
e outra parte , se hem que com desigual effeito ,
porque os nossos pelouros se armavao das astilhas
de seus reparos , com que matavao e feriao gente ;
nao assim as suas balas que a terra e areia de nossa
fortificacao recebia e sepultava. Mais de seiscentas
balas grossas despararao as suas fortalezas sobre a
nossa bataria. Nesta sua forca se defendiao cento e
tantos soldados com o seu capitao Ugo Maior, cabo
de opiniao entre elles j a qual augmentou neste dia
com duas saidas animosas, ainda que inuteis. Nao
deixava a nos$a mosquetaria apparecer nos altos
da sua fortaleza homens que nao pescasse. No mais
vivo da contenda intentarao cinco Hollandezes en-
trar na fortaleza (mandados sem duvida'com algum
aviso) ; por^m os nossos soldados o impedirao com
morte de quatroe fugidadeum.-rSisgismundo, que
entendia o quanto Ihe importava a conservacao
d'aquella praca, preparou um copioso soccorro
com tanta diligencia que pelas tres boras da tarde
avis^rao as nossas sentinellas que o Flamengo por
mar e terra vinha a soccorrer a fortaleza. Joao Fer-
nandes Vieira, que nas occasioes vira sempre repre-
sentadas as viclorias , avaliou aquella bora pela de
sua melhor fortuna. Vio que por terra marchava
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510 GASTBIOTO LOSITAMa
um esquadrao coberto da artilharia de todas suas
for^asy para franquear a porta da foriakza siciack,
ao soceorro de gente^ municoes, e mantimaitos ,
que em lanchas navegava a elia. Ja vinie Flamen-
cos tinhao saltado em terra, carregados de cunbetes
de polvora e bala, quando os nossos soldados, ani-
mados do preceito e do exemplo, com a espada na
mao descobrindo a um mesmo tempo o peito as
balas e o braco aos golpes^ sairao de seus reparos^
e envestirao o soocorro e a escolta com valor tao
ousado, que os vinte, largando a cai^, se acolh^rao
is landias com agua pelo pescoco ; e ellas ao Arre-
cife, €om deixarem algumas encalhadas^ que pa-
garao por todas. 0 esquadrao da terra ^ como tinba
o caminbo mats desembaracado » assun teve mais
franca a fugida. Desbaratado d'esta sorte o inteoto
e o soceorro, se retirarao os nossos a seus aloja-
luentos, com ianto deseniado, que por baixo das
iriucheiras inimigas fizerao seu caminbo. Nesta
occasiao uos fedrao o capitao Sebastiao Ferreira, e
o seu alferes; nella padeceo o inimigo muito daDmo
de mortos e feridos , -e tauto que nuuca mais se
atreveo a comprar a opiuiao pelo preco.
X. Entrou con) a nolle o mestre de campo An-
dr^ Vidal de Negreiros^ a quem a vanguarda cabia
por turno. Gontinuarao-se os aproxos, sem que
d'uma e outra parte afirouxasse a bataria. 0 ca-
pitao inimigo aconselhado de nosso valor^ e de sua
desconfianca, nao quiz esperar o assalto. Fez cba-
mada, e se rendeo com honestospartidos. Entregon
a fortaleza as tres boras da madrugada de 16 de
Janeiro, da qual saio com oitenta e sette Hollan-
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GASTRIOTO lUUTAHO. SH
tlezes, com seu capitao e dous alferes, una ajudante
€ seis soldados feridos, deixando dentro qualro
tnortoft, quatro pecars d'artilbaria, armas^ muntcoes
e fnanlimentos em bastante copia. Custou-nos a
victoria cinco moitos « quatorze feridos. Tratarao
logo OS Bossos de reparar e guamecer a fortaleza ,
e dispunhao-se a surprehtender o soccorro que pela
manba mandara Sisgismundo; mas esle advertido,
Tetirou-se nas lanchas sem desembarcar, e s6 foi
offendido d'alguns pelouros, que Ibe matarao sette
'soklados. Com a perda d'esta forca ficou o inimigo
4ao quebrado de airimo, pela ver em tao breve
tempo rendida e contraria, que ^deaconfiou de po-
•der conservar o Arrecife.
XI. <laston-se o dia em aprestos para se oercar
ebatera fortaleza, que chamavao de Altenar, qua»i
meio quarto de legua para o sul da fortaleza ren-
dida, situada na frente do Arrecife. Gabia-lhe ae
mestre de campo Joao Feroandes Vieira o entrar
•de guarda , e pelas dez boras da tarde marcbou
com o seu terco para aquelle lugar, com ordem do
mestre de campo general que sitiasse a fortaleza
ipelo estilo que segnira nos ataques da rendida em
qaanto ao tempo, que no mais o deixava A dispo-
sicao de sua escolba. Escureceo a noite , e carre-
garao os gastadores cestoes , sacos , madeiras e ar-
tilbaria ; e como esta fortaleza de Ahenar tinha a
mesma situacao na forma e no terreno que a das
Salinas, teve as mesmas circumstancias no cerco ,
senao que de mais a mais maudou Joao Fernandes
Yieira duzentos mosqueteiros diante dos trabalba-
doresy em razao que haviao de abrir o foaso em dea»
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57i GASTRIOTO LUSITAIfa
coberto ( tinha o iDimigo rocado o mato duzentos
passos em circulo da fortaleza). Abrio-se uma cava
a tiro de pislola da fortificacao contraria, capaz de
alojar dous mil homens , cuja circumferencia de-
sembocava no rio d'uma e outra parte. Fez-se uma
estrada encoberta« que corria da cava para o mato,
onde fenecia, com o que ficava a fortaleza cingida ,
e privada de lodo o soccorro por terra. Formarao-
se as esplanadas com os reparos custumados, ca-
valgarao-8e nella seis meios canhoes, e sendo assim
que trabalhavao mais de nove centos gastadores, e
que o inimigo , avizado do sucego da fortaleza do
Rego, havia de estar com vigilaucia mais attenta ;
primeiro na manha o informou a vista e o damno
do que percebesse algum leve indicio da occupacao
de toda uma noite.
XII. Ja pelos horizon tes clareava o dia, quando
ao Flamengo Ihe chegarao a dar a primeira alvorada
asvozes das sentinellas, e as^balasdaartilharia.Vio-
se cercado antes de o ter entendido , e ardia no
furor com que accusava nossa dissimulacao e pres-
teza, e sua desattencao. No desejo da vinganca
achava satisfacao sua afronta. Balas sem con to, d esta
e de todas as mais pracas inimigas nos buscarao
todo aquelle dia nos alojamentos^ pagando a nossa
bataria a uma o que recebia de todas. Mandara o
general HoUandez largar a sua fortaleza da.Barreta
com ordem aos sens que entregues os quarteis ao
fogo , se retirassem para o Arrecife com a artilha-
ria e municoes. Nao sabemos se por aviso , se a
caso , ordenarao os nossQs a D. Diogo Pinbeiro
Camarao que fosse assaltar, ou impedir a retirada
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CASTRIOTO LUSITANO. 573
do inimigo. Saio com trezentos Indios do seu terco>
seguio o caminho da Barreta , deo de rosto com
uma casa forle, que investio e ganhou sem difficul-
dade, porque a gente que a guarnecia, fogio para
a forca da Barreta, onde seguido dos nossos foi de
novo avancada ; era de noite, e o estrondo das ar-
mas e dos gritos , que usava aquelle gentio , porno
tambem a ordem que tinhao para se retirarem ,
assim os encheo de medo, que em qualquersombra
viao a morle; e imaginando que Ihes fogia, a busca-
vao lancando-se pelas cortinasda forca, para acaba-
rem mais de pressa, uns estropeados do despenho,
outros afFogados no rio. Assim se ganhou aquella
fortaleza, inteira , sem nos cuslar mortenem ferida.
XIII . Sisgismundo, que dos successos fazia avisos,
temendo o curso de nossos progressos, mandou lar-
gar a fortaleza que chamao do Buraco de Santiago,
com ordem ao presidio que, pegando fogo aos alo-
jamentos, se relirasse para o Arrecife com tudo
que nella havia. Obedecerao os sens com sobeja
diligencia , porque a pressa Ihes fez deixar a arti-
Iharia, que erao seis pecas de ferro coado. Nao des-
cansavao as hostilidades no ataque da fortaleza de
Altenar, nem o commendor d Vila Domberguen de
,pedir soccorro ; o qual Ihe entrou por mar no dia
11 de Janeiro pela tarde, sem que toda nossa dili-
gencia Ih'o podesse impedir. Tinha a fortaleza a
porta mettida no rio, com duas estacadas de pio a
pique, que por um e outro lado penetravao at(5 o
largo d elle , e toda a artilharia e mosquetaria do
forte da Boa Vista, que o guardava ; e defendidas
as lanchas por todas as partes , ajudadas do vento
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57& chxswno ivsm^mK
e da nur6 Ihe mett^rao por vexes Baquella tarde
soccorro de gente, muuicoes e refrescc^, — Cha-<
mado d*esta$ noticias e da importancia de se nao di-
latar a conquista, roudou o mestre decampo general
seu quartel para junto da nossa bataria. Gon-
sultou com OS mestres de campo o mode que pode*
ria haver para que aquella communica^ao se cor-
tasse^ e se asseniou que em anoitecendo se formasse
uma plataforma na margem do rio, quatroceQto&t
p^s da fortaleza , oapaz de jogarem neila quatro
pecas de arlilharia de vinte e quatro, coberta e re^
parada com cestoes terraplenados , tanto a respeito
da forca da Boa Vista, como da de Altenar, e em
tal fdrma que servisse para cortar os soocorroa e
para destruir os parapeitos do inimigo. Haviao de
trabalhar os gastadores descobertos as balas init*
migas ; e o perigo Ihes inFundia tal receio, que li-
bios se applicavao a execucao do intento. Joao Fer-
nandes Vieira e Andr^ Vidal , que ejitenderao a
causa do medo, se adiantarao com muitos soldados
a dar principio a obra : exemplo que nao deixou no
coracao dos gastadores a menor lembranca do pe-f
rigo , sendo assim , que em toda a noite choverao
nuvens de balas sobre a parte onde se formava a
bataria, com damno tao pequeno que o nao adver-
tio o cuidado.
XIV. Gontinuavao entre tanto os ataques da for-r
taleza , sustentados principalmente por Henrique
Dias e seus Minas , que incansaveis trabalhavao nos
aproxes, com desejo deque as cavasdesembocassem
na porta da fortaleza, para que se assallasse por eUa
e pelas brcchas, que tinha feitoa nossa arUlharia;
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GASTUorro lusitaiio. 575
e quando nao estivessem capazes se abrissem minas
para as quaes dava lugar o lerreno, por solido e
secco. Continuava a hostilidade por todos aqiielles
meios e modos, de que se podia valer a forca e a
industria dos cercadores e cercados ; com a resis-
tencia crescia a contumacia da expugnacao e da
defensa. A artilharia e mosquetaria de uma e outra
parte laborava sem descan^o , mas com desigual
damno, porque com desigual tino. A portugueza,
reparada e coberta atirava com pontaria ; de outra
maneira a contraria que, falta de reparos, nem
acertava tiro , nem se podia guardar das balas ; a
maior parte de suas estacadas e parapeitos tinhao
voado com a nossa artilbaria , e com elles toda a
esperanca que o inimigo podia ter de soccorro ;
porque descoberla a entrada aos pelouros da nova
bataria^ primeiro as lanchas haviao de servir a
sua lastima que a seu remedio. — Com odia 19 de
Janeiro amanheceo o coracao do inimigo prostrado
aos p^s do medo. Combatidos de nossas armas e de
suas desconfiancas chegarao a amotinar-se os sol-
dados : sem respeilo hem obediencia d superiori-
dade e & razao requeriao a entrega. Tinha lavrado
no animo de todos a imaginacao de que minada a
fortaleza se Ihe havia de dar fogo, e fazel-os voar a
todos, porque os negros de Henrique Dias assim o
tinhao dito na noite antecedente aos Indios auxi-
liares que estavao na fortaleza (gente por natureza
cruel e cobarde, os quaes sem mais razao que seu
medojSe tinhao lancado todos ao rionaquella noite);
ateado a seus coracoes o temor com que os sens
Indios tinhao fugido, de sorte cresceo o motim,
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576 CASTRIOTO LUSITANO.
que apezar dos cabos fizerao chamada , pondo nos
alios da fortaleza uma bandeira branca , que nio
advertida dos nossos se repetio muitas vezes e com
muitas vozes.
XV. Saio a capitular um ajudante chamado Va-
naguen, ao qual derao titulo de capitao para auto-
rizarem a pessoa. Foi levado ao quartel do meslre
de campo general; assentou-se a entrega, e para
se capitularem as condicoes, se mandou em refens
ao HoUandezocapilao Alexandre de Moura. Forao
OS parlidos da entrega, que sairiao da fortaleza
com bandeiras tendidas, armas e bagagens ate
passarem pelo nosso exercito, aonde largariao
as bandeiras, e poderiao vender as armas ao pro-
vedor da fazenda real , que as pagaria sem di-
lacao, e que se Ihes daria passagem para o reino;
que haviao de entregar a fortaleza com toda a ar-
tilharia e municoes que nella tinhao. Pelas noFC
boras da noite sairao o commendor, um sargento
maior, quatro capitaes, um ajudante, quatro alfe-
rcs, o engenheiro principal do Arrecife, e duzentose
vinte sette soldados : os Indios tinhao fugido a nado.
Deixarao-nos a fortaleza (que logo guarnecemos)
com dez pecas d'artilharia, nove de bronze, e uma
de ferro, municoes emanlimentosem grande copia.
— Custou-nos a conquista d'esta forca , que era
rniada de quatro meios baluartes , a vida de Ja-
coim? Rodrigues, alferes do capitao Manoel Lopes,
com nfestis a de quatro soldados, e o sangue de de-
zaseis feiridos. Perdeo o Flamengo em sua defensa
trinta e Vm soldados , que d'entro d'ella deixou
mortos, ^ saio com vinte feridos. 0 melhorde
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GASTRIOTO LDSITANO. . 577
seus despojos forao cinco bandeiras , das quaes era
uma da guarda do general Sisgismundo, e duas do
ler^o do coronel Aulhim. Todos os rendidos se
mand^rao passar a nossa armada, e se distribuirao
pelas embarcacoes d'ella com benevolencia e com-
modidade.
XVI. Com a perda d'esta pra^a se accenderao no
Arrecife as desconfiancas que ardiao entre o povo,
soldados e officiaes da milicia e do governo. Havia
quern assoprasse o fogo, ou por occulta negocia^ao
ou por declarada conveniencia. Dizia-se que os sol-
dados no ultimo aperto haviao de saquear o povo,
e entregar a pra^a ; que o povo se havia de levan-
tar contra os soldados, e abrir as portas aos cerca-
dores ; e que povo e soldados determinavao pren-
der OS officiaes da milicia , e os ministros do
governo , e despois de Ihes roubarem as casas , os
haviao de entregar aos Portuguezes ; tratando ca-
da qual d'estes estados de buscar meios para me-
Ihorar sen partido : sedicoes , que naquella occasiao
pod^rao descorcoar o animo mais destemido ; tanto
assim^que sendo o de Sisgismundo grande, receava
mais sua gente que nossas armas. Occupavao-se
estas em abrir torneiras na fortaleza de Altenar,
para nella virarem toda a artilharia contra a das
Cinco Pontas, que era o coracao onde se conserva-
vao OS espiritos, que se difundiao por todas as mais
pracas do inimigo , por sua grandeza , e por seu
edificio. A este alvo se encaminhavao os aprestos
em que toda a nossa gente trabalhava para a com-
bater. Era situada duzentas bracas do Arrecife para
o suK
L 37
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578 GASTRIOIO LUUTAia
XVII. Em o dia 19 de Janeiro, depois do en*
trada a noite mandou o inimigo largar a sua foiv
taleia dos Affogados, ediiicada um quarto de legoa
do Arrecife para o certao. Retirou parte da artiv
Iharia; ard^rao os quarteis e estacadas, vendo*«e
na luz daquella chamma a corrupcao que tinha
feito a desconfianca em todo aquelle corpo , pois
chegara a ponto , que por conservar a cabeca en-
tregava as mais partes d'elles ao ferro e ao fogo.
Na tarde d'este dia entriira 4e guarda o mestre de
campo Andr^ Yidal de Negreiros, e por sua coota
corria assentar o ceroo i fortaleza das CincoPontas.
Sobre ella estava uma eminencia , que em tempos
passados tivera um reduto, a que chamavao o
Milhou : ficava a cavalleiro da fortaleza , e servia
de estorvar o damno que d'ella podia receber;
agora para o mesmo fim o reedificava o general
Sisgismundo. Deo-se aviso ao general Francisco
Barreto, e elle aos mestres de campo, e se assentou
que Andrd Yidal de Negreiros escolhesse mil ho«*
mens do seu terco, e do de Joao Femandes Vielra,
e com elles fosse ganhar aquelle posto, e desalojar
d'elle o inimigo, a todo o risco ; por ser para nossa
conquista necessario, e para a defensa da fortaleza
importante, em quanto no sitio da forca se ia tra-r
balhando nas cavas , plataformas e mais ataques.
XVIII. Em a noite de 20 para 21 saio Andr^
Yidal de Negreiros com o sargento maior Antonio
Dias Cardozo, e a gente referida ; tomou o caminho
da fortaleza dos Affogados (occupado ja de nossas
armas) a tempo que Ih'o mostrava o fogo, em que
ardiao tres casas fortes , com as quaes o Hollandez
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G4BT|aOTO f.USITA»a 579
f ranqinmv^ s^ serventias do Ar]r^cife p^m o v4o 4os
Affpga4o8, e paw a ilhe^ do Cheira-dinh^iro (q
m^qio Hbllande? 4s iqawdow queifpar nacjiiellsj
nqif^jf Pelo sitia dft fortfileza sotrpdita passofi
Apdr^ Vidal dp Negreirqs 4 cftmpiaa, qwie chamao
do Taborda ; e pela3 nove bora« atr^ve^sop por baixo
da artilharia de Cinco foi^ta^ , par? cair §ol)rp o
reduto do Milbou^ que 0 injn^igo tinha levantadp
naquella di?, com os matppiae^ juntos para as trin-
cheir?^^ e pstsicad^s de que 0 qu^ria cerqar. 0 in-
forme da fortificaQao obrigou a Sisgjsmundo a qup
disposesse, que dpntro do redutq ficasse uma coin-
panbia de guaruicao ; e na distaucia que bavia entrp
eile 9 as Cincq Pontas yipte §014^4^3, dei boUau-
de^ e A^z iudips , cpu)o ^entiuellas YQlantes par?
darem aviso de qualquer noyidade. Esjes assiiu
cpWoseutirao?inos§a geut§ tPc4rao aripa, e fugirao
OS dejt Flameugos para a fortale?a, e os dez Judios
para p reduto, buscando ups e optros o va)hapouto
que Ibes ficaya piais perto, Ipvestiraq ps upssos 0
redptp ? peitp descobei to, que 3e defepdeo valoro-
samante , ajudado de duas pecas d'artilbaria , que
da fprtaleza varejavap 0 campo com puvens dp
bala ipiuda^ Pori^m cpmo 0 valor e a destreza dos
ppsso§ pabos rpmpia com maior impejp pe)a maior
resistepcia, em brevet boras 3ubirao e ganharao p
redutp, Sepbores d'pUp, mostrarpio-se 03 nqsso?
generpsos para com os vppcido^, a quem concpdfir
rao a vida que buQ^ifdemente ppdirao, Acharao-^p
da parte do inimigo cincp mortos e cinco feridos.
Perderoos no assalto, com dous soldados, o capitao
J[oao Barboza Pip to | que deo nesta pccasiao com a
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580 CASTRIOTO LtJSITANO.
vida o ultimo realce a todas as proezas d'ella. —
SisgismundO; que conhecia a importancia d'esta
posicao, intentou desalojar-nos ; quiz tentear nosso
designio , e mandou para este effeito um Indio re-
belado , por nome Antonio Mendes, que nos picasse
com vinte soldados. Ghegdrao a tiro de pistola da
fortificacao , d'onde a mosquetaria os fez voltar de
carreira, deixando cinco mortos, e recolhendo nao
poucos feridos obrigados de-desprezo , com que
pela limitacao do numero os nSo buscou a espada.
Sisgismundo sa(o entao do Arrecife com todo o
poder para nos atacar ; mas chegando a sua forta-
leza das Cinco Pontas, ou aconselhado, ou arrepen-
dido setornou a retirar; era evidente seu destroco,
e julgou discretOy que perdido por perdido, antes
como prudente , que como temerario.
XIX. Em 23 de Janeiro, por Ihe caber a van-
guarda, entrou omestre de campo Joao Femandes
Vieira a continuar os aproxes. Nao era o terreno
capaz d'artilharia ; e assim era necessario adiant^l-
08. Escureceo a noiie^ e mandou o mestre de campo
a cincoenta espingardeiros, que deitados de brucos
fossem diante dos gastadores, e Ihes assegurassem
o campo ; diligencia com que luzio tauto o trabalho
que se adiantarao as cavas duzentos passos, e no
remate d'ellas se fez uma travessa com torneiras
de saccaria, capaz de alojar cem mosque teiros, que
logo a guarnecerao, e com a primeira luz do dia
tirirao todo o meneo da artilharia contraria ; por-
(|ue ainda os artilheiros nao chegavao quando
deixavao a vida : ficavao em descoberto as balas, e
nao se perdia tiro. — Os judeos do Arrecife, ido-
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CASTBIOTO LUSITANO. 581
latras em toda a parte de suas conveniencias e fa-
zendas, timidos e industriosos avultarao as perdas,
e encareciao os damnos ; suppunhao iafalliveis as
ruinas^ e Delias a ira e a Tinganca dos vencedores.
Com estes discursos aconselhavao a entrega. Pode
tanto sua persuasao^ que amotinados os soldados e
o povo a requeriao aos superiores ; obedec^rao a
forca, desenganados do pouco que contra ella podia
obrar a razao; e Gzerao chamada/
XX. Erao tres boras da tarde do dia 23 quando
o [mestre de campo Joao Femandes Yieira , fez
aviso ao general Francisco Barreto de Menezes de
que 0 inimigo pedia suspensao d'armas para man-
dar um enviado. Na eminencia do Milhou estava o
mestre de campo general, occupado em assentar a
batariaafortaleza dasCincoFontas, onde recebeo o
capitao Vouter VanW commendor da dita fortaleza,
mandado pelo general Sisgismundo, e pelos do go-
verno, com carta para Francisco Barreto, cuja sus-
tencia se resumia em Ihe pedirem d^sse audiencia
ao embaixador para Ihe propor o negocio que vinba
a tratar. De p^ o ouvio o mestre de campo general
em parte d'onde se deixava ver a diligencia com
que se continuavao os passos da conquista : maxima
discreta da sagacidade militar ; insinuar os par-
tidos da paz com o estado da guerra. Fallou o en-
viado, e dkse que sua senhoria nomeasse tres de-
putados para virem a falla com outros que sairiao
do Arredfe a proporem conveniencias entre umas
e outras armas, assinando dia, bora e sitio, e con-
cedendo suspensao de toda a bostilidade em todo
o tempo que durasse o negocio. — Tudo concedeo
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582 GAmUOtO LttftltARO.
o meslre de cathpo getieral com KmiUi^io que ces*
dasse o tnovlmfento das armas em todo o tempo
que diihasse a confet^encla, mas h§o tim tbdaa parte,
porque s6 se havta de entetider a fortale^ das Gln^
eo t^ontas at^ a villa de Olinda t e que M seguintd
dia 34 de Janeiro tiomearia os deputadod e o lugar
das vistas.
XXL Ifo mesmo pduto hi aviso a Pedro Jaqiles
de M agalhaes, general da Armada, daildo^he conta
do ^uccedidb, ^ de que a siisp^tisab d'armas se nao
^Stehdia ao mdr, pelas tioliciftB que tinha que o
Holkndei mandava vir ao cbronel Aulhim com
ioda a getite que titiha no Rio Grande e P^LTalba^ e
com ordem que etitrasse no Arrecife a todo o risco ;
fe pofque conhecia bem o caviloso trtto dos Hoi*
landezes , rog^va muild A sua setilioi^ia mundasde
dobhir A prev^ubio e a Vigil^ucid etn toda a armada
p&\6 muito que importav& cortAr aquell^ soccorro;
e nao SUccedesse ao Flamengo desriar com eng^o
n golpe que nao podia teparar com a forca. A Joao
I^mandes Yieira ordenoU que parAsse na oonti-
nuac&o dbs AtaqUes ; por^ que assistisse com toda
a gente i guarntcao d'elles. Aquelle nomeoU para o
congresso u mestre de edmpo Negrelros, o capitao
de cavallos Affonso d'AlbU(|uer(}Ue> e it> outidur
geral FWincisco Altares Moreira, e pdr Secretario
MancJel GoUcilves Corhea ^ que o era da milicia ;
OS quae* no seguinte diA, qufe erftd 24 d* Jaueim,
Torao pAHi o posto destinado, onde j4 os esperin-
vao OS deputados do Hollander ^ Gisberth With,
presidente do conselho politico; o cflpitao oom-
mendordasCincoPontaBVouter Vanltf; o teaente
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GAffTBIOZO iUSITAHO. 58S
general Vander Vant, e por secretario Brest, supe-
rior dos escabinos. — Gongregados os oito, tomou
a mao Gisberth With , e deo principio a confe-
rencia, dizendo que os senhcH^es do supremo con-
selho estaTao certos em que os muito poderosos e
altos Estados Ga^^aes tinbao assistentes na corte do
Senhor Rei de Portugal Dom Joao o Quarto para se
ajustarem conyeniencias sobre as pra^as do Brazil,
coiiquistadas da linha para o sul , que brevemente
se concluiriao , e que parecia razao se esperasse ,
com suspensao d'armas, aquella eonclusao da qual
se poderia seguir uma paz segura , sem as extor-
coes e damnos d'uma guerra riya , a todos eoutin-
gente e nociya. — Os nossos deputados cortirao o
fio a esta pr&tica dizendo que nao traziao com-
missao do seu general para outra cousa mais que
para capitutarem a entrega do Arrecife^ e das mais
pra^as , injustamente usurpadas j e que so na dita
entrega se devia fallar, e concluir sem ambages
nem desyios. Respond^o os Hollandezes que nao
era aquelle negocio que se kayia de definir com
resolucoes tao apressadas, e que o tom&l*as em ma-
teria tao ponderosa nao s6 pedia profunda conside-
ra^ao ^ senao tambem maduro conselho ; al^ de
que, nao podiao elles defirir a ponto tao essencial
sem ordem de sens superiores ; que yoltariao a dar-
Ihes conta; e na segunda feira seguinte> dariao a
resposta que se Ihes ordenasse. Ao que disserao os
nossos deputados que se desenganassem, porque
na mesma bora se hayiao de resolyer na entrega ,
quando nao, que em tempo estayao para tomarem
por for^a o que nao queria targv d yontade , e
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584 CASniOTO LDSITAIIO.
que Ihes lembravao a perda e o estrago ^ a que se
expunliao. Timidos e supensos os deixou a reso-
lucao. A expertencia Ihes tinha ensinado , que
se uao entrepunha tempo entre o ameaco e o golpe
de nossas armas. Sujeitarao a sagacidade & conve*
niencia, e obedieiKes pedirao horas para aTisarem
ao seu governo a grande differen^a , que achavao
cntre a sua proposta e a nossa determinacao. Per-
milUo-se-lhes a dilacao por horas contadas. Foiio
o With e o Brest com a informacao^ e ficarao com
OS nossos deputados o capitao Yanld e o tenente
general Vander Vant. Temiao o effeito que em
nossa impaciencia poderia causar sua detenca, e
com sua presenca deitarao um fiador a tardanca.
XXII. Fouco mais d'uma hora se tinha passado
quando chegou um gentil-homem , que vinha do
Arrecife com recado aos nossos que nao estranhas-
sem a dilacao, se a houvesse, porque a causava o
apontamento das capitulacoes, com que se havia de
fazer a entrega. Pelas tres horas da tarde chegarao
com as capitula^oes^ e dous notarios publicos para
as traduzirem de flamengo em portuguez ; occu-
pacao que durou al£ as dez horas da noite, em que
sairao do congresso, uns para o Arrecife , outros
para o quartel do mestre de campo general, a quern
entregarao partidos e condicoes que o£krecia e
pedia o HoUandez. Para se escolher e reprovar o
que d'ellas nos convinba , ou nao convinha , cha-
mou a conselho os tres mestres de campo com
todos os officiaes maiores ; e por involverem pontos
tocantes ao direito, e alguns artigos i consciencia^
chamou taml)em aquellas pessoas , queaspodiao de-
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GASTBIOrO LDSITANO. 585
cidir^ e na mesma noite se respoadeo a todas as clau-
sulas ofTerecidaSy definidososartigos queserecebiao,
e OS que se regeitavao ; e nesta fiSrma se entregirao
no seguinte dia pela manha aos deputados hollan-
dezes, que com os nossos se ajuntarao no mesmo
lugar, em 25 de Janeiro, quesuccedeo ser domingo.
Neste mesmo dia escreveo Sisgismundo Vanescop,
general das armas hoUandezas, uma carta a Fran-
cisco Barreto com advertencias de discreto e sub-'
missoes de rendido, pela qual Ihe pedia licenca
para que um seu tenente coronel com a pessoa que
sua senhoria nomeasse, conferissem e resolvessem
as conveniencias dos officiaes, e gente da milicia :
peiicao que Francisco Barreto despachou benevolo
e cortez, e nomeou da sua parte ao mestrede campo
Andr^ Vidal de Negreiros, para que na mesma
junta elle e o tenente general Vander Vant, no-
meada pelo Sisgismundo , tratassem o negocio,
como deputados da conferencia g^ral, e d*esta par-
ticular,— Conferirao os capitulos d'uma e outra
parte, e com negar e conceder de ambas se ajusta-
rao. Altercirao-se os pontos de maior duvida, e
Yencidas todas, $e manddrao as condicoes aos supe-
riores , para que com sua approvacao se escreves-
sem e disposessem por capitulos; e resolrendo,
que ao outro dia se assignassem pelos generaes e
deputados, se apartarao todos pelas onze da noite;
e se firmarao aquelles no dia seguinte 26 de Janeiro
nesta fdrma.
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U6 GAilBiOIO WmUM.
ARTI608 POPULARBS.
1 . Que o saihor mestre de campo general Fran-
cisco Barreto de Menezes da por esquecidas todas
as hostilidades executadas por parte dos vassaUos
do6 senhores Estados Geraes das.ProvinciasUnidaSt
e da companhia occidental, ou fossem por mar ou
por terra I e contra a nacao portugueza, as quaes
•e htto de reputar como se nunca fossem commet^
tidas ; e que neste acoordo se comprebendao todas
as na^d^ de qual<)uer estado e religiao que sejao ,
ainda que fossem rebeldes a coroa de Portugal , ou
contra ella oommettessem trai^ao | e que o mesmo
entendem dot judeos que estao no Arrecife , e ni
cidade Mauriceai em quanto podem.
2. Concede a todos os rassallos dos senhores
Estados Geraes, e mais pessoas que estao a sua
obediencia^ todos os bens moveis que actualmente
esdverem possuindo.
3. Concede de todas as embarca^oes ^ que estao
d^itro da barra do Arrectfe^ aquellas que esUTe*
rem sufficientes para passar a linha com aquella
arlilharia que ao senhor mestre de campo g^ieral
parecer bastante para sua defensa^ com tanto que
nao seja de bronze ^ eicepto a que permitte ao
senhor general Sisgismundo.
4. A todos 08 vassallos dos ditos senhores Es-
tados, que forem casados com mulheres portu-
guezas ou pernambucanas, concede as possao levar
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QMMtWnO UMTUfO 6t7
cdffislgo > querendo ella^ , e xp» aa tiies sejao tnh
tadds como se forao eaaadaa com Portugueses*
5. Concede a todos os que quisierem ficar na
terra 9 bbedient^ as armaa e dominio portdgil^z ,
que no tocante a rriigiao TiTitfto pelo estilo que
▼iTem todos os estl^angeiros em Pbrtugali no pre**
sente tempo.
6. Que OS fortes situados na circumferencia do
Arrecife e cidade Mauricea ^ a saber o dad Cinco
Pontas, da Boa Vista , do M osteiro de Santo Anto<-
hio ^ castello da bidade^ for^a das Tres PoAtas ^ do
Brum^ e seu reduto, castello de Sao Jorge , o do
inir> e tddas as mais caAas fortes e batarias sO en-
tregtrao Is ordens do senhor mestre de eampo ge**
Heral Francisco Barreto de Menezes^ tanto que por
uma e outra parte se firmarem estes capitulos,
com toda a artilharia e municoes que nellas estao ;
^ da mesma sortti as pracas do Arrecife e cidade
Matu'iceai
7. Concede que os yassallos dos smhores Esta*
dos GeraeS) moradores no Arrecife e cidade Mau-^
ricea^ podeHio ficar nas ditas pra9as por tempo de
tres mezes, com tanto que enti^egarao as armas ) e
quando se quizerem embarcar (ainda que seja atites
dds tti^s m^zes) Ih'as mandari entiregar pala se
aproreltarem d'ellas na oceasiao i e se concede aos
ditos possao comprar aos Portugueses , nas ditas
pra^as^ todos os mantimentos que Ihes forem nece»-
sarios para seu sustento^ e para a viagem.
8« Em quanto4salheac5es^ commutacoes^ nego^
eeacdes e rendas^ que os ditos yassallok dos sd^
nlMM Estados fiawem tleatro dos tres meaes^
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56$ GASTBIOIO UniTAM.
declara o senhor mestre de campo genentl Fran-
cisco Barreto, que w&cio feilas na fiirma que apcmta
*einoartigo 11.
9. Que o senhw mestre de campo general Fran-
cisco Barrelo de Menezes poderA assbtir com o seu
exercito a onde Ihe parecer mdhor, com tal condi-
^o que 08 vassallos dos senhcM^es Estados Geraes
nao serao vexados, nem molestados de nenhuma
•orte de Fortuguez algum de quakpier ealado,
postOy e qualidade que seja.
1 0. Concede o senhor mestre de campo general
a lodos OS vassallos dos senhores Estados Geraes, e
a todos OS que militao debaixo de suas bandeiras
que possao levar comsigo os papeis que tiverem , e
Ihes pertencerem por qualquer via que seja, o que
se Ihes concede na f6rma em que Ihes serao entre-
gues sens bens moveis.
11. Que poderao deixar os bens moveis e de
raizy que por justo titulo Ihes pertencerem, e de
que estiverem de posse actualmente ( se os nao po-
derem* vender no tempo consignado) a ^eus pro-
curadores, que poderao constituir, de qualquer
nacao que sejao, dos quaes sarao correspondidos
na f6rma do estilo.
12. Item Ihes concede todos os mantimentos
seccos e molhados, que de presente estao recolhir
dos em seus almazens para se servirem d'elles na
terra e na viagem, larg^do aos soldados os de que
necessitarem para seu sustento quotidiano, e para
a navega^o que fizerem. Mas nao Ihes outorga o
dito senhor mestre de campo o massame para os
aprestos dos navios de sua viagem » por quanto se
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GASTIIOTO LCSITAlia 58t
obriga a dar-lh'os apparelhados^ ao tempo de sua
partida para Hollanda.
13. Que no tocante as dividas e preten^oes da
fazenda, que os vassallos dos senhores Estados Ge-
raes querem repetir aos moradores portuguezes,
Ihes concede o direito de os obrigarem para diante
de sua M ajestade o Senhor Rei Dom Joao, em cujos
tribunaes se poderao decidir.
14. Mais concede^ que todas as embarca^oes
pertencentes aos ditos vassallos , que cbegarem a
este porto do Arrecife no termo dos primeiros
quatro mezes depois d'estas capitulacoes ( tempo
em que nao poderao ter noticia d eilas) se poderao
voltar^ sem que padecao reten9ao , nem aggravo
algum.
15. Item concede o senhor mestre de campo
general aos ditos vassallos dos senhores Estados
Geraes, que possao mandar chamar os sens navios^
que trazem pela costa, para que neste porto do Ar-
recife possao embarcar, e levar nelles suas pessoas
e OS bens acima outorgados.
16. Em quanto ao que os sobreditos vassallos
pedem sobre nao prejudicar este contrato as con-
venienciaSy que estiverem ajustadas entre o Senhor
Rei de Portugal, e os senhores Estados de Hollanda
antes de cbegarem a sua noticia estas capitulacoes,
nao concede o mestre de campo general , porque se
nao entremete nos taes acordos, e tem exercito e
poder para conseguir por armas a restauracao das
pracas que se Ihe entregao a partido.
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soo coTiian unurAva
A|lT|fip$ BflJ-ITARES.
1 . Premette o senhor mestre de campo genarftl
eiquecimento de todas as offeosas que os Ppriu-r
guezes e Pernambucaaos hajao recebido das armaa
hoUandezas em qualquer parte y ou por qualqiier
mode que fosse.
2. Concede q mesmo'sdnhor a todos 03 aoldadoi
assistentes no Arpecife^ cidadeMaurioea e fort|deaui3
adjacentesy .<que possao sair d'ellas com tod^ a^
honras militares, que ae cuatumao ooiuseder ao$
rendidos, como sao^ mecha acfiesa, hah f^ bo^ai
bandeiras tendidas, etc. com a limitacao , que aQ
passar pelo exercito poptugufz apagarao logo as
mechas , e tiraraD as pedras i espinguarda^ e cla-
vinas, e entregues as avmas^ se repolherao (sqa al*
mazem particular, qi)al o senhor m^^r^ de caippo
ordenqr, tomando por cont^ de seu ouidado o fr^^Uf-
dar-Ih'a^ entregar, quando se embarparem ; e so
ficarao com suas armas todos os oQieifies 44 iQiljcia
de sargento para cima. E q|ie embarcados um ^
outros seguirao sua direita yiagem i(os poftq; d^
Nantes , Arroohella, ou a qualquer dm ^tadof de
Hoilanda, sem tomaren^ porto algum do reino d^
Portugal : ,para (irmeza do que deixarao, eile^ Yai^
salloa dos senhores Estados Geraes, eni rpfipQ^, t^eB
pessoasy a saber, urn official mator d^ mijipi^, um
dos governadores do supremo , e un^ dos maiorc^
homens do negocio.
3, Que toda a gente de guerra, cabos^ officiaes
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GAS79I0T0 I.UfilTA«0« 9H
e 9oldftdo8 66 embarcarao juntamc^te ooip p aeqbor
general Sisgismundo , e farao viagem em sua coiur
panhia , com tal condicao que primeiro deicbarao
entregues as ordeoB do senhor mestre de campq
general as pracas do Rio Grande , Paraiba , IUt
raaraca, Ceara e ilha de Fernao de Norooba, com
toda a artilbaria; muni^oes e petrechos de guerra,
que tinhao em si, ao tempo que cbegara Aquella
costa a armada de Portugal , que esta no porto, e
no cerco ; e que para flanga de tudo acima dito
entregarao os refens, acima apontados.
4. Concede o senbor mestre de campo general
ao senhor general Sisgismuqdo Vanescop, qua
depois de entregues todas as pragas e forQa$ acima
ditas, com toda a artilbaria , que tinhao ao tempo
referido, yinte pecas d'ella e de bronze de quatro
at^ dezoito libras de balas, al^m das pecas de ferrq,
que forem necessarias para a defensa dos naviod
que levar em §ua companbia, as quaes se Ibe darao
com as carretas e munigoes necessarias* As demais
com todas as armas e munigoes que nellas se acba*^
rem, se entregarao as ordens do senhor mestre de
campo general, como 6ca dito.
5. Que o dito senbor Ibes concede a^ embarea-r
coes necessarias , na conformidade referida.
6. Concede tambem o senbor mestre de campo
general, para toda a gcnte da milicia, os manti-r
mentos necessarios, na fdrma que estao concedidos
a todos 08 vassallos dos senbores flstados Geraes
em o artigo 1 2 ; e declara que nao sendo bastantes,
promette dar-lbes os sulScientes.
7. Concede mais ao senbor general Sisgismundo
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S93 GASTEIOTO LU8ITA1I0.
Yaoescop , que possa ter^ alicnar, embarcar, ou
vender quaesquer bens moveis ou de raiz que seus
forem ; e assim mais todos os eJeravos, que possue
com juste titulo. £ que do mesmo favor gozarao
todos OS oiBciaes vivos da milicia ; e que elles, e o
senhor general Sisgismundo possao morar nas
casas em que vivem, at^ i bora de sua partida.
8. Item concede a todos os soldados enfermos e
feridos se possao curar no bospital, em que de pre-
sente estao, at^ que tenhao saude para se poderem
embarcar.
9. Que em quanto os soldados do senbor gene-
ral Sisgismundo esliverem em terra nao serao mo-
lestados, nem offendidos por pessoa y nem por via
alguma, de gente poftugueza, nem da terra ; e em
caso que algum o seja dara parte ao senhor mestre
de campo general , para mandar castigar os aggres*
sores.
10. No tocante a se embarcarem juntos com os
soldados que de presente estao no Arrecife, oidade
Mauricea, e mais pra9as e forcas rendidas, aos que
se rend^rao antes d'estas capitulacoes nao concede
o senbor mestre de campo, porque tem ja dado
comprimento ao que com elles capitulou sobre a sua
entrega.
11. Que o senbor mestre de campo general
concede perdao a todos os Indios rebelados, assis-
tentes no Arrecife e pracas adjacentes, especial-
mente a Antonio Mendes; e da raesma sorte aos
mulatos, negros e mamelucos; mas nao Ibes con-
cede a honra militar de sairem com armas.
12. Que tanto que forem assignadas estascapi-
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GA8TAI0TO LOSItAHO. 591
tulacdes, se entregarao as ordens do senhor mestre
de campo general as pracas do Arrecife, cidade
Maoricea, e mais fortalezas e redutos d'esta capi-
tania com toda sua artilharia^ muni^oes e petre-
choSy e o dito senhor se obriga a dar guarda ao
senhor general Sisg^mundo para seguranca de sua
pessoa y e dos mais cabos e ministros do governo ,
em qualquer alojamento que escolherem , todo o
tempo concedido nestas capitulacoes.
13. E sobre todos estos capitulos e condicoes
acima referidas se obrigao os senhores do Gonselho
Supremo, residences no Arrecife, a entregar tarn-
bem as ordens do senhor mestre de campo general
Francisco Barreto de Menezes as pracas da iiha de
Itamaraca, da ilha de Femao de Noronha , Ceara y
Rio Grande e Paraiba com suas fortalezas e arti-
Iharia na fdrma dita; mas que o dito senhor mes-
tre de campo general sera (^rigado a mandar ao
Ceara uma nto sufficiente para nella se embarca-
rem os soldados e moraflores^ vassallos dos ditos
senhores Estados Geraes, com os bens permittidos
no segundo artigo d'estas capitulacoes. Mas declara
odito senhor mestre de campo general , que nao
sera obrigado a dar mantimentos para a viagem
das ditas pessoas, que se embarcarem do Ceara
para Pemambuco.
14. Concede o dito senhor aos vassallos dos se-
nhores Estados Geraes todos os navios e embarea-
9oe3 que tiverem pelos portos do Rio Grande , Pa-
raiba e ilha de Itamaraca para sua viagem e con-
duccao de seus bens , sendo capazes de passar a
linha, mas declara que nao levarao arlilharia de
L 38
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5M QAVmmo MWthM^
browe» e de ferrp sq a que pr«Qisameme far nraei-
svia para w«i defe^si, F^a esta ooDocmttla oa
campaitha 4o Tabonk, aegfunda feim^ pabtcoue
da Qoifei ^ 4a Jmeire dk 1654 aimot,
1. Fim<:i«eo lUf^iti) BE MfimRSf mm^^ de ewxpo general.
3. Affonso de Albuquerque , capiUto.
U, Manobl GoRiiRA , capitio seoretario.
5. Francisco Alvaiib Moum^ , oaridor e auditor feral.
1. Sisca&amiDQ VAi!(¥acf r> (;ei^rat.
2. GisbertWit.
3. Vander Vant , tenente general.
4. Yavtir VAUii, capitao e coMmMder.
XXOl* Amaaheoeo a terea feira 37 de Janeiro
grata para oa vencedorea, trUte para os ve&oidos ^
uaa e Qutroamadrugaraoaaquette dia» eatesporque
06 affligio a Tixinlianoa da perda y aque)l^ pcNrqne
06 deapertou a alvoroi^o da posse. Tocava a Joio
Feroandes Vicira a vanguarda naqudle dia ; orde*
noii4he o nqeatre de oampp geBeral que fosse Unnar
posse da ibrtaleia (ktsGinoaPontas, 4t cidadeMau-
ricea e 4o Arreeife. 'Saio do alojamento earn mil
e quinhentes homeos de seu terco, e marehou
diante da sua gente com uma pica ao homhro. Ao
passar pela porta da fortaleza da& CiDCoPantas re^
cebeo a eatrega, deaarsiou o presidio, e o guartie-
ceo com duaa compaBhiaa do seu terco, e uma do6
soldadotde Henrique I>ias. Deixou nella o iaimigo
viale e duas peeaa d'artilbaria^ as desaseis de hronxe
e as seis de ferro. Entrou n'uma ]:^nicie que fas
o terrene entre a fortaleza das Cinco Pentas e a
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GASTitotd itmif Ana IM
ckhde Manriceft; fez alto^ formou a suagaite, e
mandou recado ao governador daqtiella praca, que
SMDdaMe sair a guarni^ao que nelk estava, para
aer desarmada na f<6rma das capitulicoea ; (rf)ede«
o^rao ; e ao entrar pelo nosso eequadrao os foi
deaarmando a todos o sargento maior Antonio
Dias Gardozo. Assim oomo entregtrao as armas se
tcarao entre os Portuguezes com trato tao amigavel,
que nem pareciao estranhos y nem inimigos ; ef^
feitos d'um bandb que o mestre de campo general
mandara lancar com graves penas, etn que encor*-
reria qualquer pessoa que fizesse o mais pequeno
aggravo ao menor estrangeiro. Peneceo o icto e
marchou avante o mestre de campo Joao Fernandes
Vieira, a quern todos os rendidos oUiavao com
admiracao e reyerencia ; passou a ponte, e mandou
assegurar a entrada do Arrecife pela parte de den*^
tro com algumas companhias da ordenanca, e guar*
necer as ruas que |;uiavao a praca maior da po-
Toacao, com soldados pagos, para onde marchou ;
e formado nella desarmou o sargento maior toda
a infantaria contraria, assim paga como auxiliar e
miliciana. AUi entregarao settenta e tres chaves, e
com ellas a posse de todos os lugares fortes, alma*
zens d'armas, bastimentos, generos e velame^*
Po2 guamicao nas partes convenientes, e guardas
nas paragens que as pedlao; e retirados os rendidos a
sens aposentos^ mandou aviso de tudo o que tinha
obrado ao mestre de campo general Franoisco Bar-
reto de Menezes^ pelo sargento maior Antonio Dias
Cardosso, em tx)mo sua senhoria tinha tudo a sua
obediencia socegado e pacifico. Neste mesmo tempo,
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596 QunniOTO usiTAna
porordem do mestre de campo f;eneral, traKm
po3&e Xodri Vidal de Negreiros da foitaleza de
Saoto Antonioy da oidade Maurioea e dos casldlos
de mar e terra, onde metteo guamicao. Da mesma
sorte e ao mesmo tempo marchou Franeidco de
Figueiroa a tomar posse das fortalezas do Brum, e
d'outras de menos porte , que por aqueUa Gorda
tiuha o Flamengo^ 0 que tudo se fez com tao boa
ordem, que se nao deo occasiao nem ao atrev imeuto
oem a queixa ; havendo-% uma e outra gente com
tanta prudencia, que p^t^ecia obrar o estudo e
nao o'acaso.
XXIV. Quasi todo o dia de 27 se gastou
nestas occupa^oes militares; nas ultimas hc»ras
d'eUe recebeo o mestre de campo general o aviso
de Joao Femandes Vieira; forcado do t^npo
dilatou sua ^itrada para o seguinte dia, em que
saio de sen quartel com a autoridade de general,
e com as galas de soldado ; e certo que nesta
occasiao mostrou sua pessoa que nella se via o
bastao autorizado, e a fortuoa merecida. Posto a
cavallo, e assistido dos cabos e da cavallaria que
militava, caminhou para o Arreoife. Na entrada
da cidade Mauricea o saio a receber o general Sis-
gismundo Vanescop a pe, como caido e humilhado
sujeitO) triste como desgracado, vestindo-se seu
semblante das cores de sua fortuna. Apeou-se
Francisco Barreto de Menezes ensinado do successo
a desprezar soberanias a vista das miserias, em que
as converte o menor accidente do tempo. Alii se
viao ambos os generaes em igual pAsso, um por-
que odesmontou a cortezia, outro porque o des*
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GASTBIOTO UJSITANO. 597
montoii a fortuna. A sua mao direita deo Francisco
Barreto a Sisgismundo Vanescop, e nesta forma
caminbarao parao Arrecifepela ponte que o divide
da cidade. No meio d'ella o esperavao os ministros
do conselho supremo e politico , que recebeo com
agrado e cortezia, e os foi levando pelas portas de
suas casasy em que os obrigou a ficar; menos o
presidente do politico, que resistindo ao favor o
acompanhou at6 o palacio principal da povoacao
que o esparava rica e vistosamente adornado. Em
todo o decurso da marcha nao descans^rao as forta-
lezas e companhias de repetir salvas, cujo estrondo
servio nesta occasiao aquelle imperio de repiques
, e desinaes^ porque uns o acompanhavao ao tumulo
outros ao throno. Alii Ihe ofFereceo Joao Femandes
Vieira as chaves, como instrumentos da posse, com,
distincta rela^ao da forma em que as recebera em
seu nome ; e foi correspondido com as gratificacoes
dividas ; e bem se p6de dizer que da mao de Joao
Femandes Vieira recebeo Francisco Barreto aquelle
dominio, e a coroa de Portugal aquelle imperio.
XXV, 0 numero dos rendidos que arrimarao
as armas foi o seguinte : mil e duzentos soldados
pagos, em dezanove companhias , em que entrava6
oitenta e cinco Indios e vinte e dous negros. Mao
forao parte nesta conta mais de trezentos que se
rend^rao na entrega das fortalezas do Rego e de
Altenar ; nem tao pouco oito centos cincoenta e
dous Indios, que se haviao retirado para o Geara,
como nem os moradores, nem os soldados e mora*
dores que depois se renddrao nas ilhas e fortalezas
que se entregarao. Achirao-se no Arrecife cento
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51* CAiniOIO LlWrAM.
¥iiite e tres pe^i d'arlilharia de brome ; de ferro
oeato e setenta ; e para ellaa per oima de sets mil
balas de todo o oalilnre, e a eate reapeito as demais
muni^oea e armaa; grande divemdade de iiistru<*
mentos e petrechos deguerra^ e materiaes para elles,
CQixio ferro, chumbo^ pregaria^ madetraa, feehos,
cronhaS) etc, Assim tambem para aprestoa das an«
bai*cac6es e da artilharia, breu, enxarcias, velamei
mastros, vergas, lemeS) e tudo o mais que podia
ser neceasario para os exercitos da terra e anna*
das do mar; maatimeatoa de toda a sorte, para
mais d'um anno, com abundancia.
XXVi. Os Hotlandezes ( perfidoa por natureza,
que o sao em toda a fortuna), naquelle mesmo
ponto em que se (ko principio a pratiea da entr^
ordenarao ( e quando menos consentirao ) que uttk
seu tenenle coronel Nicolas, de cuja pessoa e tran
cces fiieooos algumas vezea memoria nesta relaeao,
saisae do Arrecife (com titulo e apparencias de fiiga)
em uma jangada^ que sem rumor nem Tulto podiia
escapar facilmente i vigilancia de nossa armada ,
favorecido da escuridade da noite , aportou a ilha
d'ltamaraca ; aviaou o estado das cousas , e p«r-
suadio a muitoa moradores e Indios que se en^>ar-
cassem com todoa seus moveis, e fugissem em duas
fragatas que estavao no pcHto ; o que fizerao levando
c<Mnsigo todoa os escraros que bam na ilba. Foi i
Paraiba, deo o mesmo aviso, e aoonselbou aoa sol*
dados que obrigassem com razoes, quando iiao ecmi
vioksieia, ao ooronel Authim govemador d'aqudk
capitania e fortakza a que fizesse o mesmo; e se
embarcarao com todo o redaeio, moai^ees e armas,
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que poddra^ lerrftr. QtkAsl eoin ^iihilhitite dvlso ^
snoeeMo ckiixarao M Flaiii(^o§ a ft>rtaleza do Rio
Qrat)d^5 o que Be foz sem que nos chegasse a meaor
nolieia.
XXYIL Em 0 pritn^iro dia de Fer^l^dro orde-
nou Franciico Barreio de Menet^ ao mestre de
campo Francisco de Figtieiroa^ que com oitocentoS
e cineoenia sotdados fosse tomar entre^ da ilhsi
de itamat'aea^ Paralba , e Rio Grande. Desarmou
o8 rendidoe da ilha^ que erao quatrdcentos soldado^
e Dumero creseido de moradores ; tomou entregsl
das fortalezas, com tritita e tr^ pecad de artUharia,
quasi todaa de bronze, e oopid grslnde de munieoes,
armas e bastimenios* Guartiecidas aqudlas forcas,
passou a Paralba, onde aehou ^s duas fortalezas
da Barra em poder de cincoenta Portuguezes que
o inimigo tinha prosos , e m soltou j fazendo*mes
entrega deltas^ e ^ os Flumengoa cdsados e herda-
do6 na terra ficarao nella« Guartiecidas as ditas
forcas^ marchou para o Hio Grandey achou a forta-
leza desemparada; e na terra algdtis poucoa Hollan-
dezes caaados, e Po^ugUezes alguris, que a fugat
do Flameugo fez de captiros livres. Cain as me^-
mas cireufiislafiicias se tomou eiltrega da iiha de
Felnao de Koronba. A'capitank do Geara sef man-
doB a nao na fiSraia eapitulada, e neila vierao os
pendidda para o Arrecife.
XXVUL Entreg»e o Ajrrecife, e aposentado
Helle o BMStre de campo nauera) Ff*anciseo Barreto
de Mciiezes, se deapedirao o genera) da armada
Pedro Jaques de Magathaes e Francisco Freire sen
atoiranle oon os mais capitaea da frota , a cujo
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604 cAsmmo waxtsmk
aiuilio deve Portugal a reiat^ra^ao de aaa ooroa,
naquella por^ao de suaa ccmquistas, que se bem
foi outra mao a que pr^>arou e polio aquella pre^-
ciosa pedra, bem se p6de dizer que foi a daquella
anoada a que a engastou. Recoohecidos a esta yfer^
dade nao sabiao Francisco Barreto, Joao Femandes
Vieira , Andr^ Vidal de Negreiros com todos os
maia cabos e moradores palavras com que gratificar
tamanho beneficio. Deo a armada a v^a para a
Bahia seguida de bencaos^ e rogativas de todos os
soldados e vizinhos ; onde entrou com as novas da
victoria » e com todos os vasos da frota; e deo
aquella cidade o melhor dia que teve depois de sua
fundacao. — Em 3 de Fevereiro saio do Arrecife
uma caravella d'aviso para o reino por ordem do
mestre de oampo general, e nella o mestre de campo
Andre Yidal de Negreiros com a alegre nova da re&-
tauracao de todas as capitanias occupadas pelo
Hollandez ; pessoa escolhida para representar k Ma-
jestade d'El Rei Dom Joao o Quarto o successo e a
desculpa> com qve os moradores d'ellas excedendo
a permissao da defensa se movSrao a conquista,
para que Sua Majestade nao ouvisse o successo
sem as causas, e pesasse mais a desobediencia que
o service ; o que nao seria chegando aos ouvidos
d'aquelle principe a nova e a causa da desculpa ;
e como uma e outra cousa tinha passado pda mao
do dito mestre de campo , daria inteira razao dos
motives occiiltos e manifestos que concurrerao
para a determinacao , com a fidelidade de parte e
testemunha. Saio na esteira de Andre Vidal dc
Negreiros outro vase menor , e nelle o padre Frei
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GASTUOtO UJSITANa 601
Joao da Resurrei^ao, rdigio8o de Sao Bento, asais*
tente que havia sido a todo o processo da guerra
desde o primeiro movimento at^ o ultimo passo
d'ella, mandado pelo mestre de campo Joao Fer-
nandea Vieira ^ interessado em que Sua Majestade
premias8e os grandes seiTi9oa de tal religioao, mui-
tas vezes referidos no disourso d'esta hiatoria. —
Navegarao €stas duas embarca96es por differentea
rumosy e tomarao a barra de Lisboa em um mesmo
dia, que foi o de 18 de Mar^o d'aquelle mesmo
anno; Andr^ Yidal pdias seis boras da tarde, e o
padre Fr. Joao uma bora depois. Mandou Andr^
. Yidal deitar ferro com reaolu^o de fiear aquella
noite na carayella y e subir para cima no dia se-
guinte J desembarcando a boras que da caravelia
entrasse no pa^o , e nelle , sem detenca nem com-*
municacao alguma se apresentasse a Sua Majes*
fade. Sem abaixar v^la entrou o padre Fr. Joao, e
subio ; e ao prepassar conheceo a caraTella do mes-
tre de campOy que estava sobre ferro; pareceo^lbe
que o levava diante, e pelo alcancar no pa^o , e
nelle o patrocinio de seu negocio, entrou pelas dez
da noite, fallou com o secretario do expediente, e
nao acbando noticias do mestre de campo Andr^
Yidal de Negreiros, pareceo-lhe crime deter a nova,
e engeitar a dita que Ibe oflTerecia a fortuna. Teve
audiencia de Sua Majestade , deo-lbe a nova , que
elle recebeo como beneficio da mao de Deos. Ao
ontro dia retificou a nova e a alegria o mestre de
campo Andr6 Yidal de Negreiros, que logo se di-
vulgou por toda a corte com tanto alvoroco que a
festejava o gosto de todos, e nao acabava de a crer
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•n Qumixno uMct apoi
^ o fliptnto de nttdtos. Utn dM diAft seg^nMB fbi Sitt
Majeuade em prodssao I S^ a dat as gfa^ d«
meroe tao granda.
XXIX. Etta di o fim qua tare o itilrMO impario
belgioo Mqudla parte da Ammca ; iirila tio )^H>9^
trada am pte da aspada portugaesa 8ua repntacao^
seu podar a sua CDriuna« Mell^rou o FUunengo o
qim no Braait adquirioy e so para o debar mdho-
rado o augtiicBlou : Urn sens esertiputos a fortiraa^
Muito foi o qud HoUatida na conquisla do Bra&il
adquirio por roobo, e muito mais a que deo por
ealrt^a* Paet^rao da Tinte mil homaii 09 que Ihe
aontnmnito a defeusa ( nao ikUamos nos di^pas-*-
dios da oonquUta que nao ti? erao conta ) ; eaa duaa
partidas perdeo oinoo oiil^ que forio as dos Gua-
rarapes. ^oceMi^amaule foi ezpulsado da duzaataa
legoat da oosta , que dcsxou com as forialeaas qua
ueUaa ievaiitott e posauio^ Em uma tarde nos refi-^
da« aa fertalesiaa do Rego, a de Altenar, a dos AA>^
gadoa^ a das Ciaco PbuUs, a de Saato Aatonio , a
da Boa Viala, a do Brum; a da Seca^ a dos Perrexif ,
a do fiUraco de Santiago ; os caatellos do isar e da
terra^ ddada Maurioea , e o Arrecifa com iodoa 0$
fortiM, pfaitaforma9 e batarias^de quo seguarfieciao;
e cortou tao kirgo a aapada portugueaa^ qua junta-^
■Mate FCttdco uma forealeaa no Rio Grande , chus
oa Paraiba y couk m das ilhaa de Itaraaraca^ Ferino
da Nore^ha^ e a capttaRia do Ceara ; tendo-ihe j4
a ts^ tempo aaido dasr maoa as fortalezas de NaMH
reth, do Rk) de Sao Fran€i$cO|» do Porto do CalTo,
de ioao d' Albuquerque com a viUa de Qlinda ; em
todaa ooa daiatHi maia de seiscwiaa peoaa^ iquasi
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Gumoto LmtrAmx. 60S
todas do bronze. Ai annas, muniooes « getierod fb-*
rao em tanta oopia que eiLCedArio d nlimero e a
estimate.
XXX. Aquella potencia^ que o Tulgo no Brazil
julgava insupperaTcly asaistida dos progressos, das
fortifica^oes , daa armadas , do rottbo e do com-
roercio, poz debaixo dos p^s o coracao d'um ho-
mem » porque a excedco a grandessa de seu animo ,
assisUdo do inTencivel espirito que o movia. Foi
e&ie o grande Joao Fernandas Vieiro ^ varao maior
que seu nome. Neste heroe competMo a capaci^
dade e o valor, porque sua eabeca foi ;i medida de
aeu braco, obrando a forca o qu^ deliniava o peti««
samento ; e seu cabedal tudo quatito Ihe propoz 0
desejo. Necessilava de a prestos, pedia^os i sua fa--
aenda ; faltavao-lhe soldados, fiixla-os sua praiica ;
deseja^a leoes; criava^os seu exionpto ; pretendia
victoria, dava-lh'as a fortuoa* Saio it eampanha
acompanhado de si mesmo, e ftai6 com o que inten-
tava. Nao houre oocasiao am que o i^ucesse o po^
der : em lodas despreeou o perigo ; em mui(as soc-
oorreo a faUa; em algumas atalhou cs infortunios.
Mao houve conselho que nao devesse as resolucoes
a seu parecer ; nao houve destroco , em que nSo
inftoisse seu braco, nem tiyemos viotoria que nao
ittustrasse, ou sua espada^ ou sua disposicao. 0
principio daquella guerra resuha foi de seu Im-
pulso ; a continuacao das armas, effeito foi de sua
constancia j o soccorro, que a frota dec para se con-
cluir a empreza , inven^ao foi de sua industria ; o
cercar as forlalceas do ArreeJfe, eleicao foi de sua
e^raii^. Nao faltou a aoa grandcza « emulacao ;
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664 GASTilMO LOfirrAm).
a 8eus progressos, a inveja ; a sua liberdade , a in-
gratidao ; a sua cortezia, o atrevimenfo ; e a sua
fidelidade , a trai^ao. Yerdadeiramnte todo , e em
ludo um vivo retrato daquelleCastrioto tao conhe-
cido por suas obras, que se foi primeiro no tempo
teve em Joao Femandes Vieira segundo no valor
e na fortuna. A este heroe (apuradas bem as causas,
6 melhor as razoes com que o Serenissimo Principe
Dom Pedro , fallando neste varao, o nomeia heroe
de nossa idade,como algumas yezes ihe ouvi : con-
dicao verdadeiramente d'um Principe perfeilo nao
se lembrar do servico sem honrar o merecimenlo)
devem as idades a mais yiva lembranca ; a nacao
porlugueza a maior fama; a America toda, o me-
lhor nome; o reino de PcNrtugal, o commercio mais
utii; a coroa lusitana, a porcao mais rica; as
armas portuguezas , o pregao mais vivo ; os Prin-
cipes lusitanos, o premio mais grato. Os quilates
de seu merecimento relala fielmente esta hisloria ,
que servira a posteridade de manifesto, em que se
veja a razao com que a fama o deve collocar entre
sens capitaes. Com Ihe dar occasioes para o servico
o buscArao os premios ; e soube Joao Femandes
Vieira achar occasioes para fozer dos premios os
maioresservi^os, como diremos na segunda parte
de sua historia que, sendo Deosservido, daremos
& estampa muito brevemente.
P'*o, nem mesmo i certo se elle a com-
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GASTRIOTO LUSITANa 605
poz ; o que e para sentir^ porque (icatnos pmados
cle mais um monumento que attestasse as grandes
virludes e heroicos feitos de Joao Fernandes Vieira.
FIM.
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n
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INDICE.
Advertencia do editor ix
Ao sereniflsimo principe dom Pedro xi
A Joao Fernandes Yieira xiii
Prologo , XVII
Livro I. • • , 1
Uvro II 20
LiyroIII 45
Livro IV.. 109
Livro V 153
Livro VI 1T7
Livro VII 244
Livro VIII '. 320
Livro IX 1 378
Livro X 44«
Livro XI s 489
Livro XII ... tt52
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