CORPO DIPLOIIATICÜ PORTL'GIj'EZ
COJiTENDO
OS ACTOS E RELACOES POLÍTICAS E DIPLOMTICAS
BE PORTUGAL
COM AS DIVERSAS POTENCIAS DO MUNDO
CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGIEZ
CONTEIVDO
os ACTOS 1 WM MITIW i DIPIOKATIW
ti
DE PORTUGAL
COM AS DIVERSAS POTENCIAS DO MUNDO
DESDE O SECULO XYI ATÉ OS NOSSOS DÍAS
PUBLICADO
DE
ORDEM DI ÜCilDEMll REÜL DAS SCMGIÜS DE LISBaí
POR
LUIZ AUGUSTO RESELLO DA SILVil
TOMO II
LISBOA
TYPOGRAPHrA DA ACADEMIA REAL DAS SCIENCIAS
M DCCC.LXV
v><onl¡mía esle segundo Tomo do Corpo Diplomalico Portuguez a pu-
blicacao dos monumentos, que sobrevivem de nossas relacoes com a Cu-
ria Romana no imporlante periodo decorrido desde 4 de marco de 1318
alé lo de agosto de 1533, periodo tao rico de acontecimentos em todo o
mundo, e tao notavel pelo \ulto e significacao das grandes figuras his-
tóricas, que o dominam.
Abraca elle para nos os últimos annos do venturoso reinado de D.
Manuel, e a primeira decada do governo de elrei D. Joao III, menos fa-
vorecido de prodigios, mais trabalhado de cuidados e diíTiculdades, e so-
bre tudo tao enredado de negociacóes por vezes pouco ditosas com as di-
versas potencias da Europa.
Os subsidios que prestara aos estudiosos os documentos, que saem de
nossos prelos pela primeira vez, as feicoes que avivara, os fios secretos que
revelara, e a expressao sincera, e até hoje ignorada por falta de suífi-
ciente informacao, que todos elles concorrem para caraclerisar, mudam
inteiramente, acerca dos homens e das cousas, o juizo incompleto, etalvez
fallivel, formado a respeilo de alguns em muitos casos.
Principiara a apparecer n'este volume, jácom alguma clareza, a^ pa-
— VIII —
ginas, que serviram de prologo ao doloroso^e sombrío drama da inlro-
duccao da inquisicao em Portugal, drama, de que a penna de um histo-
riador eminente, o sr. Alexandre Herculano, descreveu com tao admiradas
cores um dos principaes episodios, testituindo-nos as scenas, que prece-
derán! e acompanharam o famoso tribunal da Fé em seus primeiros pas-
sos, desde que D. Joao III intentou estabeiecel-o até que as supplicas da
raca opprimida arrancaram, nao gratuito, da corte de Roma, o perdao ge-
ral dos christaos novos, consignado na bulla Sempiterno Regí de 7 de
abril de 1532.
As razoes mundanas do principe mal cuberías com o veo transparente
do zélo religioso ; as hesitacóes talvez simuladas, e a proteccao artificiosa
dosCuriaes, que as promessas c dadivas captivavam mais, que os gemi-
dos e tribulacoes dos judeus, compoem, contempladas á sua verdadeira
luz, um espectáculo único e instructivo, ao qual a linguagem singela dos
negociadores, e as vozes magoadas dos queixosos augmentara ainda e en-
carecen! o interesse.
Muitos outros assumptos prendera pela variedade e importancia a
attencao n'eslas meraorias de ura dos aspectos da vida política e reli-
giosa da primeira melado do seculo xvi entre nos, justificando pela noti-
cia e individuacao de pontos pouco sabidos, ou inexactamente aprecia-
dos, a opiniao do erudito historiador allemao Leopoldo Ranke sobre a
valia de tao preciosos e desejados subsidios para a historia moderna dos
Estados.
Do reinado de elrei D. Joao III em dianle os nossos archivos prin-
cipiara a ser menos escassos e confusos ; e se nao encerrara todas as ri-
quezas, que exigirla a curiosidade, pelo raenos já soccorrera as investiga-
coes profundas e pacientes com alguma liberalidade. Faltara muitos do-
cumentos essenciaes, e notara-se por desgraca graves oraissOes, que inter-
rompem, e quebrara de repente a serie, ou a deduccao a negociacOes de
vulto ; restara apenas de alguns diploraas rascunhos sera data, cujas allu-
sües obscuras a fados, ou a pessoas, sao a chave única de suas datas e
collocacao ; mas apesar d'isso as trevas nao se fechara lao espessas, e
grandes claroes illurainara de espaco a espaco o horísonte.
Procurou-se, quanto possivel, observar a ordem chronologica, re-
pondo a data exacta era cada docuraento. Foi o maior trabalho, e o
maior embaraco a vencer n'este volume. Em muitos casos, no meio do
•
— IX —
labyrintho de intrincadas conjecturas, que ameacava enredar ludo em
seus rodeios, consumiram-se em induccoes e confrontacoes, que só ava-
liará devidamenle quem já luclou com eguaes diíticuldades, lempo c vi-
gilias, que aos olhos de muitos mal seriam compensados pelo resultado.
O zélo e applicacao do hábil e laborioso paleographo o sr. Joao Pedro
da Costa Basto sobresahiram n'eslas arduas indagacoes com a vanlagem
coslumada, á qual a sua modestia realca o merecimenlo.
Acerca da orthographia e da ponluacao ocioso fóra repelir o que ex-
posemos ñas linhas, que precedem o Tomo 1 do Corpo Diplomático. Ahi
encontrará o leitor o que julgámos indispensavel inculcar, tanto em refe-
rencia ao plano e ao melhodo da obra, como á sua execucao. O favor
com que o Tomo I foi acolhido no paiz, e fóra delle, devido sómenle a
pura benevolencia, prova, comtudo, a estima e applauso, com que a Eu-
ropa abre hoje toda os bracos a commeltimentos d'esta Índole e se com-
praz em os animar. ,
Lisboa, 30 de maio de 1865.
CORPO DIPLOMÁTICO PORTUCllEZ
RELACOES COM A CURIA ROMANA
REINADO DE D. MANUEL
CORPO DIPMATICO PORTÜfiüEZ
relacOes com a curia romana
Ore ve fio Papa lieáo IL, dirigido a el-Rei.
1519 — Marco 4.
Leo papa x charissime in christo fili nosler salulem et apostolicam
benediclionem.
Cum ex üüeris charissimorum in Christo filiorum nostrorum Maxi-
niiliani eleclí Romanorum Imperatoris semper Angustí, et Francisci Fran-
corum Regis Christianissimi, et Caroli Hispaniarum Regis Catholici, no-
uissime receptis, eximiam eorum ac praestantem in Deum et Dominum
nostrum ciiram et pietatem plañe cognouerimus, qui quidem, tum habitis
super capienda contra fidei m)slrae hostes expedilione maturis consiliis
et deliberalionibus, tum omnes suas vires, opes, seque ipsos ad tam pium
tamque sanctum opus magnis animis illustrique ardore poUicendo, Lum
uero etiam ut inler Christianos Principes pacera induciasue consliluere-
mus nos pie prudenlerque hortando, omnem nostram de illis spem expe-
ctationemque impleuerunt. Egimus Deo gratias quod hoc ipso pene su-
premo (nisi obuiam imminenti periculo eatur) chrislianae reipublicae lem-
pore tantam esse et tam paratam subueniendi communi saluli, quasi quo-
dam celesti beneficio et muñere suae sanclae fidei oblato, eorum uolunta-
TOMO ir. 1
2 CORPO DIPLOMÁTICO POUTUGUEZ
tem propensioncni alacrilaleinque uoluerit ; Speramus cnim propediem
forc ut, adiuncta cum iis lúa eliam diligcnlia, cura, animi ardore, opi-
bus, viribus, in quibus quideni Maieslatis luae ilidcm lilleris, inslructio-
nibus, horlationibusque, oralorisque tui sermonibus máxime crecli mul-
lum spei nostrae posuimus, caelerorumque item Principum, Rcgumque
Chrislianorum auxilüs, qui nobis ea iam poUicenlur, accedenlibus, tctcr-
rimi hostes noslri, qui nos noslris sedibus exlurbare cogilanl, in suis ipsi
sedibus nostra arma vexillaque el crucis sanclissimae signa capli oppres-
sique intuebanlur. Ilaque, cum venerabilibus fralribus noslris sanctae Ro-
manae Ecclesiae Cardinalibus re malure considérala, adhibilis eliam luo
caelerorumque Principum Oraloribus, Primum quod quidcm ad pecunia-
runí cogendarum ralionem perlinet, quae post Dei opcm el Principum
concordiam máxime sunl útiles et necessariae, ex cunclorum consiliis
coUeclam ac praecipue ex Caesareae Maieslalis diligenli et enucleata co-
gitatione confectam sunimam, paucis mutatis ad luam Maiestalem in sce-
dula seorsum his adiuncta luo pariler iudicio mitlimus pensitandam ut
quod abs te fuerit approbatum, id quam celerrime ad nos referatur exe-
cutioni mandandum. Deinde quod attinet ad pacem aut inducias inter
Christianos Principes conslituendas eas nos tua, de qua nobis significasli,
caelerorumque Principum omnium simili, ut ex eorum lilleris instructio-
nibusque perspeximus, in eam rem uoluntate addücli, quinquennales in-
ducias indiximus, casque sumus ad paucos dies supplicationibus publice
habitis, tanquam Deo ipso leste, inter missarum solemnia in publicum
cdiluri, prorsus agnoscentes hanc discensionum.qualencunque intermis-
sjonem primum ac praecipuum esse illius sanclissimi belli fundamentum.
Quo uero hae res expeditiorem deliberationem habeant, et maiori aucto-
ritale diligentiaque tractentur, Legatos de Latere ex venerabilium fralrum
nostrorum numero ad Reges omnes railtere decreuimus, non ulla alia
praeditos facúltate nisi hac una cura meditationeque ut ad eíTcctionem
huius máxime praeclari gloriosique operis noeles et dies, studio, assidui-
tate, vigiliisque intendanl ut, quod Deo inspirante bcne ccptum est, id
nostra, quoad licitum erit, diligentia, luae Maieslalis virtute magnitudi-
neque animi, caelerorum eliam Regum et Principum piis prqmptisque stu-
diis, ad oplalissimum ünem deducalur. In quo, quantum inter homines
celebritalis et gloriae scmpilérnae acquirelur, lanlum in Coelo meriti ad
fruendam immorlalilalem comparabilur.
RELACOES COM A CURIA ROMANA 3
Daluin Romae apud Sanctuní Pelram, sub Annulo piscatoris, dic
iiii Martii MDXViii, Pontificalus nostri Anno Quinlo. — Bemhus ^
Bre^c do Papa liCáo ÜL, flirig;ido a el-Rei.
1518 — Marco 9.
Leo papa x Charissime in christo fili nosler salutem et apostplicaní
benedictionem.
Nuper Monaslerium sancti Tyrsi de Ribadauia, ordinis Sancli Bene-
dicli, cerlo modo uacans Dilecto filio nostro Julio, titiili Sancti Laiirentii
in Dámaso presbítero Cardinali de mediéis, Sánete romane Ecclesie Vice
Cancellario, nostro secundura Carnem fratri Consobrino, Motu proprio
auclorilale apostólica commendauimus ; et deinde Monasterium ipsum, per
cessionem dicti Julii Cardinalis in manibus noslris sponte et libere factam
iterum uacans, Dilecto filio 3Iichaeli de Silua, Maiestatis Tue apud nos
Oratori, motu et auctoritate similibus etiam commendauimus, in quo Ani-
maduertentes prouisioni de uno Monasterio Consistoriali primo uacaturo
Dilecto filio Emanueli Norogna, Camerario et familiari nostro, per nos
faciende non parum preiudicari, duximus opere prelium esse indemnitali
ipsius ea in re opportune prouidere : eidem itaque per alias noslras in
forma breuis litteras ad unum ex Monasteriis uel Prioratibus in Regnis
Tuis primo uacaturum, quod prefatus Emanuel, infra mensem a die illius
uacalionis computandum, per se uel procuratorem acceplandum duxerit
liberum accessum ita concessimus ut illius corporalem possessionem, cum
primum uacauerit, propria auctoritate apprehendere possit, Decernentes
huiusmodi litteras uim ualide et efficacis commende obtinere, eundemque
Emanuelera, absque alia de huiusmodi Monasterio uel Prioratu sibi de nouo
facienda Commenda, libere el licite retiñere posse, prout in dictis litteris
plenius continetur. Cum autem postmodum Maiestati Tue concessimus ut
ad quecumque Monasteria Ditionis Tue cuiusuis ordinis, occurrente illo-
rum uacatione, quasuis personas presentare libere et licite possis, et eadem
* Akch. Nac, Mac. 34 de Bullas, n." 16.
4 COHPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
(lie, ne ab aliquibus dubilarctur an per huiusmodi facullalcm presenlandi
tibí, ul praeferlur, concessam cíTeclus prcdicle gralic prcfalo Emanucli con-
cesse impediretur, per alias noslras, eliam in forma brcuis, lilleras de-
clarauimus menlis el inlcntionis nostre semper fuisse el esse per diclam
facullalem aul alio quouis modo iiullatenus impedid posse, per inde ac si
dicla faciíllas tibi, ul praeferlur, concessa a nobis non emanassel. Quo-
circa Maieslatem Tuam horlamur in domino el cnixe requirimus ul, oc-
currente uacalione alicuius 3Ionaslerii uel Prioralus, quod prefalus Ema-
nuel infra mensem, ul praeferlur, acceplaueril, neminem ad illud presen-
tes ; sed eiusdem possessionem diclo Emanueli, uel cius ad hoc legilimo
procuratori, tradi el assignari mandes el facias cum eíTeclu, quandoqui-
dem eidem Emanueli in huiusmodi Monasterio uel Prioralu, cum primum
illud uacare conligeril, ex nunc proul ex tune ius plcnissime acquisilum
exislat, alque de Tali Monasterio slante concessione noslra acccssus huius-
modi nemo quauis auctorilate disponere poicsl ; Menlis enim noslrc nun-
quara fuit per quasuis regulas siue conslilulioncs noslras in Cancellaria
apostólica publícalas graliam eiusmodi Emanueli concessam modo ullo re-
uocare, aul eam aliqua ex parle abrogare, Sed illa in suo robore conti-
nué ul permanerel. Quod si Maieslas Tua, ul speramus, cíTecoril, erit
iuslum el honeslum, Tu'aque benignilale el amplitudine dignum, nobis
uero quam gralissimum, el in eo ipso prefalum Emanuelem, qui ul tibi
ac Dilecto filio nostro Alfonso Diácono Cardinali Nato luo, ad quem Ga-
lerum Cardinalalus insigne de C-ommissione noslra deferí, diligcnler in-
seruiat lolam pene Europam peragralurus esl, grato cumulabis beneficio.
Expeclabimus ilaquc ul quod Maieslas Tua in premissis factura esl nobis
per suas Hileras significel, ul prefalus Emanuel fore se uoli compolem scire
certo possit.
Dalum Rome apud Sanclum pctrum, sub Annulo Piscaloris, Die viiii
Martii MBXviii, Ponlificalus Nosiri Anno Quinlo. — Bembns '.
» Arch. Nac, Ma^. 29 de Bullas, n." 24.
relacOes com a curia romana
Breve fio Papa lieáo H, dirigido ao 7lrceliiiS|)o
de liiislioa e ao!S Itiispois de I^amego
e do Funclial.
1518— Marco lO»
Leo Papa x Venerabiles fratres salulem el aposlolicam benediclio-
nem.
Cum nuper respicienles ad singularem oplimamque indolem uirlu-
tum el deuolionis erga nos el sanctam aposlolicam sedein Dilecli filii nos-.
tri Alfonsi, Sánele Romane Ecclesie diaconi Cardinalis de Porlugallia,
Charissimi in chrislo filii noslri Emanuelis Porlugallie el Algarbionim Re-
gis illuslñs Nali, ralionibus queque dicle Sedis ita conducere arbitrantes,
tum im primis Rege ipso instante atque intercedente, eundem Alfonsum
licet in Teñera admodum elate conslilulum, de Venerabiliuní fralrum nos-
Irorum Sánele romane ecclesie Cardinalium unanimi consensu, ad Car-
dinalalus honorem el dignilatcm, cum primum Decimum oclauum sue
etalis Annum altigeril, auclore Domino prouexerimus, eorundemque di-
cle Ecclesie Cardinalium Gollegio aggregauerimus : Nos eundem Alfon-
sum Cardinalem, £uius personam paterno atque intimo affeclu charitalis
noslre prosequrmur, Ne quid ad noslri in eum beneficii cumulatam gra-
tiam desit, debilis honoris lilulis atque insignibus decorare uolenles, Pi-
leum huius amplissime dignitatis insigne per Dilectum filium Emanuelem
Norogna, familiarem el Cubicularium nostrum secrelum, ad eum im pre-
sentia Iransmillimus, per uos aul aliquem ex uobis noslro nomine solem-
niler, el qua decel reuerenlia el deuolione, ipsius Capili, cum primum
x\'iii annum, ut praefertur, altigeril, eliam si nos ex hac uita decesisse
conligerit, imponendum. Vt igilur res dum tempus adueneril debita ho-
norificenlia procedal, Volumus el fraíernitati ueslre commitlimus el man-
damus ut uos, seu aliquis ucslrum, aliqua dominica uel alia solemni die,
conuocatis eliam alus prelatis, proceribus el procomilibus ac nobilibus,
quos in Ciuilate, in qua pileum ipsum capili eius imponelis, esse conli-
gerit, Missa in ponlificalibus per aliquem ex uobis, seu alium Anlislileí»
6 GORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
aut presbilerum, quod missam huiusmodi de mandato nostro celebraue-
rit, celébrala, et prestito per eundem Alfonsutn Cardinaiem et per uos
nostro et ipsius romane ccclesie nomine recepto fidelitatis iuramento iuxta
formam presenlibus insertara, eodemque conuenienter premonito ad quam
excellentem dignitatem sit sublimatus, et qualem ipsura esse conueniet,
quid denique designetur per pileum purpureum singularem Cardinalatus
insigne, peractis demum Gerimoniis seruari solitis ad laudem et gloriara
oranipolenlis Dei et ccclesie ipsius incrementura, prefatura -pileum nostro
et apostolice sedis nomine ipsi Alfonso Cardinali, cura, ut prefertur, ad
decimura octauum sue etalis Annura peruenerit, etiara si nos uita functi
fueriraus, assignetis et eius capiti iraponatis. Formam uero Juraraenti pre-
fali prestandi per eura uobis per ipsius patentes litteras sub sigillo signa-
tas per proprium Nunlium stalira destinare curabilis ; Guius Tenor se-
quitur et est talis : — Ego Alfonsus de Portugallia, Sánete Lucie in Se-
ptem solio sánete romane ccclesie Diaconus Cardinalis, promitto et iuro
quod ab hac hora in antea, quaradiu uixero, fideiis et obediens ero Reato
Petro sancteque et apostolice Romane Ecclesie et Domino nostro Domino
Leoni Diuina prouidentia pape deximo, suisque successoribus canonice
intrantibus. Non ero in Consilio aut fado ut uitam perdant, aut mem-
brura, uel capianlur mala captione, aut in eos raanus uiolenter inferan-
tur, uel iniurie alique inferantur, quouis quesito colore. Gonsilium uero
quod mihi credituri sunt per se aut Nuntios suos siue litteras ad eorura
daranum scienter neraini pandara siue manifestabo. Papatum Romanura
et regalía Sancli Petri adiutor eis ero ad relinendum, defendendum et
recuperandura, saluo meo ordine, contra omnem hominera. Ilonorem et
statum eorura quantura in rae fuerit conseruabo, ipsisque adherebo et
pro posse fauebo. Legatos et Nuntios sedis apostolice in Terris eccle-
siarura, Monasteriorum, et aliorum beneficiorum mihi Gommissorum sus-,
cipiam, dirigara et defendam, ipsisque securura Ducatum prestabo, ac
in eundo et stando et redeundo honorifice tractabo, eosdemque in suis
necessitalibus iuuabo, nec in quantum in rae erit permittam cis aliquam
iniuriam inferri uel fieri, et omnes quicumque contra prcmissa uel eorura
aliquod conarentur aliquid tentare quantum potero oppugnabo, cosque
proposse irapediam. Offensiones et darana domini noslri Leonis Pape et
successorum predictorura ac Ecclesie euitabo, eorumque iura conseruare,
augere el defenderé, ac proraoucre curabo. Non ero in Consilio uel facto
relacOes com a curia romana 7
seu tractu, in quibus contra ipsum dominum Papaní, aiit Successores
predictos, ucl eandem Romanam Ecclesiam aliqíia sinislra uel preiudicia-
lia personarum iuris, honoris, status uel potestatis eorum machinentur.
Et si talia a quibuscumque procuran nouero, uel íractari, ea impediam
pro posse, et quantociens polero significabo eidem domino nostro Pape,
uel successoribus predictis ; ubi uero id ore significare non potero, inti-
mabo alteri, per quem possit ad ipsorum notitiam peruenire. Regulas
Sanclorum patrum et decreta, ordinationes, dispensalioncs, reseruationes,
prouisiones et mándala apostólica lotis uiribus obseruabo, et faciam ab
aliis obseruari. Heréticos, Scismaticos, Rebelles eidem domino nostro Pape"
et successoribus predictis pro posse persequar et impugnabo. Vocatus ex
quacumque causa ad eos accedam, nisi prepeditus fuero canónica prepe-
ditione, cisque reucrenüam et obedientiam debitas exhibebo et prestabo,
ac in executione pontificalis oíTicii Coadiutor eis ero. Possessiones et Ec-
clesias, Monasteria, beneficia et loca omnia, quibuscumque nunc presum
quouismodo et in posterum me preesse contigerit pertinentes, non uen-
dam, ñeque donabo, aut oppignorabo, uel de nouo infeudabo, seu aliqua
ratione alienabo, inconsulto Romano pontífice, aut sine Consensum Capi-
lulorum seu Conuentuum Ecclesiarum uel Monasleriorum eorundem. Sic
me deus adiuuet et hec Sánela Dei euangelia.
Datum Rome apud sanctum Petrum, sub Annulo Piscatoris, Die De-
cima Martii MDXMíi, Pontificalus Noslri Anno Quinto. — Bemlf^^ \
fireve do Papa I^eao IL, clirigido a el-Rei.
1518 — Marco 91,
Leo papa x Charissime in christo fili noster salulem et apostolicam
benedictionem.
Cum maiestas tua suis fsic) lilleris non solum expeditionem contra
communem fidei nostrae hostem Turcarum Tirannum per nos indictam, ac
instruclionem super tota gerendi belli ratione, ac pace catholicorum Re-
^ Arch. Nac, Mac. 31 de Bullas. n.'^lS,
8 COUPO DIPLOMÁTICO POKTUGUEZ
gura et Principum firmanda, per nos ad eosdem Reges. et Principes mis-
sam, laudaret, seque eidem Tiranno bellum inferre, et cum alus Princi-
pibus in hoc concordare paratam oslenderet, idemque caeleri Reges et
Principes eorum litteris nobis significarent, alque omnis dilalio perniliosa
esse solet, Cpnsilium non solum expeditissimum sed etiam necessarium
cum venerabilibus fratribus nostris sanctae Romanae ecclesiae Cardinaii-
bus cepimus, constituendas scilicet esse pro hac sánela expéditione ad ali-
quot annos inler charissimum in Chrislo filium nosirum Maximilianum
Imperatorera eleclum, et alios Reges et Principes ac Polentatus Chrislia-
nos, saltem Treugas et Inducias.-Itaque illas de eorundem fralrum con-
silio ad quinquennium in di us^ casque dicto quinquennio per eos
sub certis poenis seruari deberé decreuimus, et eas in ecclesia bealae Ma-
riae de Minerua de vrbe, celebrata per ununí a dictis Cardinalibus missa
spirilus sancti, habilaque oratione per dilectum filium Jacob oletuní
eléctuní Carpentoratensem, Secrelarium nostrum, in qua nos et praefali
Cardinales, facta prius solemni processione, interfuimus, magna Prela-
torura et popull frequentia, per dilectum filium nostrum Alexandrum san-
cti Eustachii Diaconum Cardinalera publican fecimus. Licet autem eas
per omnes Reges et Principes ac Potenlatus ratificari speremus, propler
literas, quas ad nos scribunt, quibus in hanc expeditionem mulla libera-
üter ac ampio animo pollicentur ; tamen per presentes Maiestalem tuam
quanto-ip,,íSuraíis studio cohortamur in Domino et atiente requirimus, et
per ^iseürá Salualoris nostri rogamus, ut iuducias et treugas per nos....
otas ac literas nostras desuper confectas promplo animo ratificare uelil,
ut exemplo suo reliqui Reges et Principes ad hoc ipsum excitentur et in-
ducantur, ut illis ratificatis sine ulla mora et dilalione quae ad bellum
ipsum necessaria sunt executioni demandan possint. Erit hoc no-
bis, qui non solum facúltales omnes nostras sed personam noslram et vi-
tam denique ipsam, si opus sit, pro communi fidelium salute parali su-
mus exponere, iucundissimum, luae uero 31 et chrislianae rei-
publicac sal u tare.
Datum Romae apud Sanclum Petrum, sub Annulo piscaloris, dio
XXI Marlii mdxviii, Ponlificatus nostri anno Sexto. — Bembus.^.
* Os pontos indicam que o original está roto ou illegivel.
* Arch. Nac, Mar. 29 de Bullas, n." 18.
kelacOes com a cuhia romana
Bulla fio Papa l^eáo H, illrig^lcla a el-Rel.
I51S— Malo 3.
Leo episcopus seruus seruorum dei Carissimo in christo filio noslro
Emanueli Porlugalie et Algarbiorum Regi Illustri Salutem et aposlolicam
benedictionem.
üidimus que super Henrici, Garissimi in chrislo filii nostri Johan-
nis in Ethiopia Regis Maninconghi Illuslris nali, in Episcopum promo-
lione ad nos Maieslas lúa scripsit. Etsi ea^ que a nobis et hac sánela
sede pelis, sinl ex numero illorum, que cum difficultale concedi consue-
uerunt, examinalis tamen diligenler causis, quas tuis insinuasti liileris,
Oratorque tuus qui hominem probé nouit nobis etiam retulit, quanta
cum inslanlia pro fidei Galholice exallatione atque Zelo id a nobis postu-
las, considerantes, Tándem, non sine aliqua difficultate, Venerabiles fra-
tres nostros in sententiam nostram Iraximus, ea polissimum ratione, ut
promotionem hanc ad eiusdem fidei noslre propagationem plurimum pro-
fuluram speremus, Cum mores uitam el doctrinam eiusdem promoti tales
esse percipiamus ut^ alios ad agnitionem fidei Irahere el inducere, idque
verbo pariter et opere efficere ualeal, congruum el oporlunum fore cen-
semus, ut aliquos Viros in sacra theologia et Jure Canónico peritos in
solios ei adiungas, ut eius doctrina magis in domino slabilialur el firme-
tur, ad suam et aliorum salutem atque profeclum, Et ila ei de Maiesta-
tis lúe aut Genitoris sui honestis prouenlibus prouidere curabit ut digni-
tatem pontificalem sicut decet retiñere valeat.
Datum Rome apud Sanclum petrum Anno Incarnationis dominice
Millesimo quingentésimo décimo octauo, Quinto Nonas Maii, Pontificalus
nostri Anno Sexto. — la. Sadolelus ^
1 Arch. Nac, Mac. 21 de Bullas, n.° 9.
TOMO n.
10 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
Oespachoü para D. llig;uel da Silva.
1519 — Maio 99.
Dom miguell nos elRey vos emviamos niuito saudar.
Despois que el Rey de caslella etc. meu muito amado e precado ir-
maao e sobrinho foy ém seus reynos, emviaoda nos aluaro da costa noso
camareiro a vesy tallo, se ofereceo Ihe ser iá falado em casamento da liante
dona iianor sua irmaá comnosquo. E por nos parecer pellos impidimen-
tos que avia, o ate agora ha nos casaraentos de meus íilhos, que ysto
serya cousa de que noso senhor podía ser muyto seruido, bem e asese-
guo das cousas d amtre nosos Reynos e os de castella, postoque pera
serem sempre postas em muita conseruacam d amor, amizade, paz e ase-
seguo, ouuese tanta rezara como sem yso ha, quysemos niso entender e
aceitar o quamto da parte de lá nos foy fallado e requerido ; e amdou o
negocio tamto que prouue a noso senhor de se tomar nelle conclusam, e
estamos acertado de casar com ha dita Ifante dona Iianor, e o contrauto
diso fyrmado e asemtado, e pera sermos com ella Recebido por pallauras
de presente com dispensacam do santo padre, que pera ello se Requere e
he necesaria, por bem do diuido e parentesquo que amtre nos ha, e por
bem da capitollacam e asento diso, somos nos obrigado aver a dila dis-
pensacam : pello qual vos encomendamos e mandamos que logue na ora
que esta vos for dada vaades ao samto padre, e de nosa parte Ihe fazee
Relacam deste caso, e Ihe dizee que por vermos que noso senhor serya
disto muyto seruido, e a paz e amizade d amtre nos e o dito Rey meu ir-
maao e sobrinho e nosos Reynos e os seus mais conseruada, mais que
por outro alguum respeito, folgámos de entender neste casamento pera
que fomos Requerido quando pera outras cousas se nos apresentaraní
gramdes impidiraentos, e que estamos acertado e concertado no modo que
dito he. E que pera efeyto diso, por outra cousa nam faJIecer, pidimos
a sua sanlidade muyto por merce que nos queyra comceder e dar a sua
dispensacam em forma diuida, com a qual de todo se concluda e acabe
com a graca de noso senhor, e pera tanto seu seruico como elle sabe
KELACOES COM a GUlilA ROMANA 11
que nos desejamos : a qual dispensacam venha liuremenle por bulla de
sua santidade coni todas as clausullas de derogacam" que em caso seme-
Ihanle se Requere, e de modo que se nom posa ca oferecer inipidimento
allguum, e sem vyr dirigida a nenhuum juiz nem juizes apostólicos, soo-
menle sua santidade liuremenle dispensar pera este casamento d antre nos
e a dita Ifante dona lianor se poder fazer. E se pella ventura de necesi-
dade coni\iese ser pera iso nomeado e decrarado juiz ou juizes, em lall
caso seja o hispo de cyguenca soomenle ; na qual cousa e expidicam vos
encomemdamos e mamdamos que ponhaes a maior diligencia que vos seja
posyvel. e com o maior segredo que se posa, porque se nom posa ofe-
recer impidimento alguum : e como for ávida e espedida a bulla a des-
pachay e emviay por coreo voUante a aluaro da costa noso camareiro e
embaixador á corte delRey de castella meu irmao e sobrinho, pera logo
per vertude da dita dispensacam, e pello poder noso que pera yso lem,
sermos Recebido por pallauras de presente com a dita Ifante : a qual dis-
pensacam emviay por duas vias, porque venha a mais certo Recado, e
ambas por correo volante e que pasem a maior presa que seja posyuel,
com os quaes fazee a despesa que vos bem parecer pera com grandixima
presa pasarem : e para esta expidicam vos emviamos agora crédito de
cruzados posto que nos pareca que muy menos custará ; e
quando pella ventura mais se ouuese mesler, que nam eremos, entam de
qualquer dinheiro noso que lá teuerdes tomares o comprymento do que
se ouuer mester, e nom abastando o que tiuerdes, ho toraay lá em qual-
quer banco onde mais prestes ho poderdes aver o mais com noso ser-
uico que poderdes, e até oito ou dez mili cruzados, se tanto se ouuer
mester despender niso, pera todauya logo a gram presa a dita dispensa-
cam emviardes ao dito aluaro da costa, como dito he, ainda que nos pa-
rece que por muy menos dinheiro se fará a dita expidicam, pero pera
mais abastanca fazemos esta diligencia pera se nom perder nislo lempo
allguum, e por voso asynado mandaremos logo cá pagar o que asy pera
iso mais tomardes. E vos, como sempre nos seruis tanto a noso prazer,
vede se isto se pode fazer gratis, ou ao menos com pouca cousa, porque
aimda que tam larga comisam vos deemos, emtam nos seruirés mais, e
direes a sua santidade que muy certo somos que com as cousas que sam
de noso prazer e contentamento Recebe sempre muyto prazer, e que nom
menos esperamos que asy o Receba desta em que principallmente teue-
2*
12 COllPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
mos e lemos Respeito a ser noso senhor seruido, e as cousas de nosos
Reynos conseruadaá em lantcaseseguo e descanso como dcus sabe, e que
serapre ho procuramos e desejamos, e lambem porque desla, prazemdo a
elle, esperamos que se sygam outras obras, que sejam aínda pera maio-
res seruicos de noso senhor, e descanso e aseseguo d« toda espanha, e
aínda d oulras parles, com que avernos por muyto cerlo que sua santi-
dade Receberá muílo contenlamento ; com todas outras booas pallauras
que vos vyrdes a este proposito, as quaes leixamos a vos : e pera se fa-
zer gralys esla dispemsacam, ou ao menos por pouco, vos aproueitay das
palauras que sua santídade vos díse quando ñas outras díspensacoes Ihe
fallastes, segundo nos spreuestes. Esta cousa importa e Releua tanto a
noso seruico como veedes, nem ha outra cousa que falieca pera de todo
se concludir e acabar, e por tanto fazé o com tall diligencia e cuidado
como ha necesidade do negocio o Requere, e como de vos o confiamos e
com gramde presa o despachay, e emviay as bullas a aluaro da costa e
por duas vías como dizeemos, e beem veedes a sustancia do que este ne-
gocio he e quanto importa, e por tanto fazee o que comveem, pois ne-
nhuum outro Ihe pode ser semelhauel, nem que tanto cumpra a noso
seruico. Sprila
Muito santo yn christo padre e muilo bem aventurado senhor, o voso
denoto e obediente filho dom manuel etc. com toda umildade emvío be-
jar seus santos pees.
Muito santo yn christo padre e muyto bem aventurado senhor, nos
spreueemos a dom miguell da sylua, noso embaixador, que de nosa parte
falle ha vosa santídade allguumas cousas, que muyto nos tocam e relle-
uam, como compridamente Ihe dirá. Sopricamos e pidímos muito por
merce a vosa santídade que ho queyra ouuir e Ihe dar inteira fee e cren-
ca, e nosa sopricacam comceder e mandar despachar com aquele amor
e booa vontade, que pera todas nosas cousas sempre nos mostrou e co-
nhecemos, e em muy syngullar merce ho Receberemos de vosa santídade.
Muyto santo yn christo padre c muyto bem aventurado senhor, noso se-
nhor deus por muylos tempos conserve vosa santídade a seu santo ser-
uico, Sprila *
' Minutas sem data no Arch. Nac, Gav. 15, Mag. 12, n." 12. No verso da ultima
pagina tem a cota seguinte: «que foy a dom miguel sobre a dispensa^am pera o casa-
RFLACOES COM a curia romana 13
Breve <lo Papa Leao IL, dirigiflo ao Biiipo
de Ijaiiieg-ó Ca|ielláo-iiiór.
1519— «Innlio 19.
Leo papa x Venerabilis fraier salulem el apostolicain benedictionem.
Exponi nobis nuper fecit Charissimus in christo filius noster Enia-
nuel, Porlugalie et Algarbiorum Rex Illustris, quod licet ecclesiasticae
censurae aculeus clericis contra laicos, non ad laicorum offensam, sed
ad clericorum a laicis pro tempore oppressorum patrocinium, sit a iure
concessus, Nihilominus tanta in Regno Porlugaliae et Dominiis iili sub-
iectis, ab aliquo tempore citra, personarum ecclesiaslicarum iurisdictio-
neñi habentiura creuit adiiersus laicos licentia et audacia, ut eliam nobi-
les, et Ciuilatum ac Prouinciarum regimini praesidentes, censura huius-
modi pro leuibus et minimis quibusque causis lacessere, cosque illa in-
nodare, et pro talibus publice nunciare ; Sicque eorura iurisdictionis exer-
cilium impediré, cum populorum, quibus illi iustiliae ministrandae curam
gerunt, iaclura, el animarum perturbatione, passim praesumanl, et nisi
per nos de aliquo oportuno remedio prouideatur necesse sit quod tam
frequens, facilis et plerunque iniusta censurarum promulgalio contemptui
habeatur, et quae ad spirilualis salutis medicinara sunt inuenta, ad iilius
palam uerganl interilum, et graue aliquando in populis scandalum sus-
citetur : Quare dictus Emanuel Rex nobis fecit humiliter supplicari ut in
praemissls aliquod oporlunum remedium adhibere de benignitale apostó-
lica dignaremur. Nos igitur, huiusmodi supplicationibus inclinali, Tibi,
el qui pro tempore fuerit in Capella dicti Emanuelis Regis maior capel-
lanus, qui etiam, ut idem Rex asserit, Judex est ordinarius familiarium
et curialium ipsius Emanuelis Regis, de quorum numero pro raaiori parte
Redores, correctores nuncupati prouinciarum et Ciuilatum huiusmodi exis-
mento delRey com a Ifante dona lianor. De lixboa a xxix días de maio 1518.» Parece
comtudo que só foi expedida a 51 de maio. Vide a carta de D. Miguel da Silva de 15 de
junho d'este anno.
ík COHPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
tunl, ín ómnibus causis ad foruin ecclesiasticum perlinenlibus per sedem
aposlolicam deputatus, de ualidilate uel nullitate censurarum el poena-
rum ecclesiaslicarum per quoscumque locoi um ordinarios, Judices et Com-
missarios ín aliquem uel aliquos ex modernis, et pro tempore existenti-
bus Prouinciarum el Ciuilalum Recloribus huiusmodi uel alus Regiis Com-
missariis, Foraneis nuncupatis, seu eorum niinislris pro lempore promul-
gatarum, taní per uiaui appellalionis, quaní simplicis querelae cognoscendi,
et appellalione remola eas si iusle reppereris esse ¡alas obseruari faciendi,
sin minus relaxandi, et dum coram le cognilio pependeril, ne inlerim di-
ctorum Rectorum in iuredicendo el iuslitia minislranda populis eorum
regimini commissis ofíicium cesset, censurarum earundem effeclum rece-
pta in íbrma inris idónea caulione de eius mandalis parendo suspenden-
d¡, et sub similibus censuris el alus etiam pecuniariis poenis quibusuis
Judicibus et personis inhibendi el brachium secutare contra inobedientes
inuocandi, et in praemissis etiam per ediclum publicum constito fsicj tibí et
dicto pro tempore existenli maiori Capellano de non tuto acessu proce-
dendi, ac alia omnia et singula in eisdem praemissis et circa ea quomo-
dolibet oportuna faciendi, gerendi el exequendi, apostólica auclorilale te-
nore presentium plenam et liberam concedimus facultatem : Non obstan-
tibus foelicis recordationis Bonifatii pape vni praedecessoris noslri, qua
cauetur ne aliquis extra suam ciuitalem et diocesem, nisi in cerlis ibi
exceplis casibus, et in illis ultra unam dietam a fine.suae Diócesis ad
iudicium euocetur, seu ne Judices a sede praedicta depulati extra Ciui-
tatem uel Diocesem, in quibus depulati fuerinl, contra quoscunque pro-
cederé, aut ali uel alus uices suas commiltere presumanl, el de duabus
dielis in concilio generali edilis ac alus aposlolicis constilulionibus el or-
dinalionibus, caelerisque conlrariis quibuscumque.
Datum Romae apud Sanclum Pelrum, sub Annulo piscaloris, Die
XII Junii MDXviii, Pontificalus nostri Anno Sexto. — Jo. de fíoma ^
' Ahch. Nac, Mac. 20 de Bullas, n.° 43.
RELACOES COM a curia romana 15
Hulla fio Papa lieao X, cliri^lda a el-Rei.
1519— «innlio 19
Leo episcopus seruus seruorum dei Carissimo in christo filio Enia-
nuel Portugalie el Algarbioriim Regi Illustri Salulem et apostolicam be-
nedictionem.
Exponi nobis nuper fecisti quod ab aliquot citra annis Ethiopes, Indi,
Aífrique, numero satis celebri, in Ciuilate Vlixbonense se conferunt et
in ea diuino aíílati spiritu Baptismi accipiunt sacramenlum, el lúe Ma-
iestaíis opera et cura in Orthodoxe fidei cultu et diuinorum preceplorum
obseruantia instruuntur, Quorum multi adeo in fide constantes, et in
christiano dogmate perili euadunt, \t eorum doctrina et exemplo in pro-
uinliis vnde originem ducunt prodesse alus plurimum possint, Et propte-
rea desideras aliquos ex dictis Elhiopibus, Indis, atque affris, sic ad fidem
conuersis et in ea instructis et doctis, in Ethiopiam et prouintias e qui-
bus sunt oriundi ad predicandum ibi verbum dei et Euangelicam disci-
plinam remitiere, el ut huiusmodi predicationis Officium inter suos maio-
ris dignitalis et aucloritalis exislat, et efficatiores in audilorum ánimos
eíFectus producat, ipsos antequam e dicta Ciuitate discedant, sacerdotio
insigniri ; Quare nobis fecisti humililer supplicari ut luis nolis in hac parte
fauorabiliter annuere de benignilate apostólica dignaremur. Nos igitur,
huiusmodi supplicalionibus inclinati, Venerabili fralri nostro Episcopo La-
macensi moderno, et qui pro tempore fuerit lúe et pro tempore existen-
lis Portugalie et Algarbiorum Regis Capelle Maiori Gapellano, qui ple-
rumque, ut asseris, Archiepiscopus uel Episcopus esse solet, uel alii cui-
cunque Antisliti gratiam el communionem apostolice sedis habenli, quem
tu et pro tempore exislens Rex ad hoc duxeris pro tempore spetialiter
nominandum, cum dictis Elhiopibus atque Affris et Indis, ac alus qui-
buscunque a Mahumetis et celerorum paganorum atque infidelium seotis
ad christiane Religionis cultum conuersis haclenus et in posterum con-
uertendis, et in eadem religione suíficienter instructis el alias idoneis, in
dicta et quauis alia Regni Portugalie Ciuitate pro tempore residentibus
10 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
seu ad eorum Prouinliíls rediré uolenlibus, Non obslanlibus nalalium de-
fectu, siquem palianlur, et quod nullum beneficiiim ecclesiasliciim uel pa-
Irimonium obtineant, ad omncs etiam sacros el presbileratus ordines pro-
moueri ; et poslquam promoU fuerinl in África, Athiopia alque India, aliis-
que parlibus infidcliiini, ubi nulle parochiales existunl ecclesie, personis
ibi ad fidem conuersis el conuerlendis, quandiu propriis caruerint paro-
chianis, Missas celebrare, el ecclesiaslica omnia sacraníjenta minislrare
libere et licite possinl, dispensandi, eisque etiam extra témpora a iure
slalula quibusuis Tribus diebus Dominicis uel fesliuis Ordines conferendi
apostólica auctoritale. lenore presenlium plenam el liberam concedimus
facullalem : Non obslanlibus aposlolicis ac in Prouinlialibus el Sinodali-
bus Consiiiis editis generalibus uel spetialibus Conslilulionibus et ordina-
tionibus, celerisque contrariis quibuscunque.
Dalum Rome apud Sanclum pelrum Anno Incarnationis dominice
Millesimo quingentésimo décimo oclauo, Pridie Idus Junii, Pontificalus
nostri Anno Sexto. — ía. Sadoleíus ^
Carta de H. Miguel da Silva a el-Rei.
151S — «lunlio 15.
Senhor. — Ho correo de xxxi de mayo % que veo sobre a dispensa-
cam, chegou aquy oje, que sam xv de junho, huuma ora ante manhaa,
e em amanhecendo fuy cora o papa e Ihe dey a caria de Vosa Alteza, e
sobre ella Ihe disse ludo o que me mandou e me pareceo que compria
pera mays breuidade do despacho, que esta parecya huuma das cousas
que nesle negocio mays Relcuaua. Sua Sanlidade nam se espanlou nada
porque aula qualro dias ou cynquo que o nuncio Ihe escreuera fumo
disto, mas moslrou tanto prazer que cuydey certo que me auia de des-
pachar tornando me em cyma dynheyro. Eu Ihe disse a pressa que auia,
e presteza que era bem eu per meu oíTicio usar em semelhante caso ; res-
' Arch. Nac, Mac. 29 de Bullas, n." 17.
^ Vide as instrucfoes de 29 de maio.
RELACOES COM a curia romana 17
pondeo me que era contente, e que a dispcnsacam se ñzesse, mas que
aparelhasse muylos mil ducados ; e nysto se passaram tam tongas aller-
cacoes e palauras quantas eu pude dizer pera llie mostrar que crya que
Sua Santidade zomloaua, e me queria fazer eslymar mays a graca : pos se
me Em falar de syso e pidia quinze mil ducados, e tam de syso mos pi-
dia que me fazia medo. He escusado em tamanha pressa do correo dizer
a Vossa Alteza todas as miudezas e dissimulacoes e manyncorias, que
sobre es(a materia passey pera serdes, senhor, milhor seruydo, que bem
creo que crerá Vossa Alteza que desejaria Eu semillo mays como m es-
creueo, que tanto mays o seruiria quanto por menos se fezesse. Per der-
radeyro, pondo se de todo em dez mil, tomey por milhor conselho fazer
em tanto fazer a bulla e despoys tornar ao combate, e assy o íiz, e nam
me party do paco ate que a minuta foy feyta, e fella Sanctiquatro ; e a
bulla escryta e plumbada, e nam me ficando senao auella, e sendo já
noyte, e areceando o que sempre Em tamanhas cousas se hfi d arrecear,
me fuy outra vez ao papa onde, deyxando tudo o que se passou, per
derradeyro deceo a quatro mil, jurando me de verdade que por menos
huum real ha nam auia d auer, e dizendo" me que Ihe mostrasse a carta
de Vossa Alteza e que rae prometya de me quitar dous mil ducados da
comissao que per ella me daua, e que este dynheyro tomaua neslas suas
necessidades que eu sabia como emprestados, e que em gracas os'pagua-
ria, e que sabia certo que Vossa Alteza aueria por bem ysto pollo tempo
em que elle estaua. Eu, senhor, nam Ihe podendo mostrar a carta que me
tanto mays larga comissam daua, e vendo sua deliberacam, e o peso do
negocio, e a pressa que me Vossa Alteza dá em suas cartas, e arrecean-
do os ventos cada momento de íardanca, nam me pareceo deseruico de
Vossa Alteza aceylalla a bulla, e acerca da paga disse que eu nam ty-
nha mays de tres mil ; que aprouuesse a Sua Santidade os mil descon-
tar da diuida que me deuya : foy disso contente, e assy ouue a bulla, a
qual nesle ponto mando haa corte de castella a aluaro da costa, como,
senhor, mandays, com a mayor pressa que he possiuel : se for com ta-
manha presteza como aquy foy despachada e mandada, bem yrá, que
nunqua se vVo em huum mesmo dia auer o correo e despachar bulla,
e despachar outro. He obrigado a passar daquy a caragoca em oyto dias,
que he grande diligencia, e por Ihe fazer fazer milagres Ihe promety por
cada hora dous ducados que aynda que elle pode ganhar muy poucas
TOMO II. 3
18 COKPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
aproueyla muylo pera nam perder nenhuma das obrigalorias. De cara-
goca Ihe mando que seja onde Vossa Alteza esliuer em sele días pera que
seja de ludo yslo auisado e veja como he seruido, de que peco perdao por
nao ser milhor, que nosso senlior, que me em todas as cousas de uosso
seruico ajuda, sabe que nem eu posso mays do que faco, nem posso le-
uar mays pena da 4|ue nao faco da que leuo.
Em amanhecendo despacharey per outra via como manda, e Emtao
direy o que despoys de feytas as araizades da composicam passey com
o papa, e o que me disse, e prazer.que moslra cheo de mil grandes es-
perancas, as quais todas prazerá a nosso senhor que nam seráo menos
verdadeyras do que sam vossos merecymenlos grandes ante elle ; e a elle
por sua misericordia prazerá dar tanta beraauenturanca a este sancto ca-
samento, e tanto assesego, e tam perlongados dias de uida quanto Vossa
Alteza deseja e desojamos os que em vosso bem somos bemauenturados.
Bejo as maos de Vossa Alteza, cuja vida e Real estado nosso Senhor Deus
guarde e prospere infyndo lempo.
De Roma a xv de Junho haa mea noy te 1318. — Dom miguell da
Sylua '.
Dulla do Papa E<eáo IL, dirigida a el-Rei.
151S— JíunliolS.
Leo episcopus seruus seruorum dei Garissimo in christo filio Ema-
nueli, Portugallie el Algarbiorum Regi Uiustri, el dilecte in christo filie
nobili mulieri Leonore, clare memorie Philippi Hispaniarum Regis Galho-
lici nale, Salutem el aposlolicam benedictionem.
Óblate nobis nuper pro parle vestra pelicionis series conlinebal quod
vos, videllcet, in christo fili Emanuel Rex, qui quondam Elisabel el Ma-
nara sórores, el clare memorie Ferdinandi Regis el Elisabel Regine Cas-
leile el Legionis Regnorum filias, vxores iam defunclas ex dispensalione
apostólica habuisli, el in christo fiüa Leonora, que Carissime in christo
' Abch. Nac, CorpoChron., Part. i, Mac. 23, Doc. 62.
RELACOES COM A CURIA ROMANA 19
filie Johanne eorundem Regnorum Regine Galholice, el earundem vxo-
riim sororis nata exisUs, ex certis rationabilibus causis desideralis inui-
cem matriinonialiler copulari ; Sed quia duplici, Terlio, el forsan eliam
duplici Quarto Consanguinilalis, ac siraililer Secundo AíTinilatis, ex eo
prouenienle quod lu in chrislo filia Leonora el Elisabel ac Maria \xores,
dum vixerunt, Secundo Consanguinilalis gradibus eratis coniuncle, inui-
cem estis coniuncli, verum in hac parle desiderium adimplere non poles-
tis dispensalione apostólica supcr hoc non obtenía : Quare pro parle ves-
Ira nobis fuit humililer supplicalum vi vobis super hoc «de oporlune dis-
pensationis gratia prouidere de benignilate apostólica dignaremur. Nos
igitur, premissis el certis alus nobis expositis huiusniodi supplicalionibus
inclinali, vobiscum, si esl ila. Tuque in chrislo filia Leonora propter hoc
rapta non fueris, vi predictis el forsan quibusuis alus consanguinilalis vel
affinitalis, citra lamen Secundum gradum, impedimenlis consanguinilalis
el affinitalis huiusmodi non obslanlibus, Malrimonium inter vos conlra-
here, el in eo, poslquam conlractum fueril, remanere, libere el licite va-
leatis : Constilulionibus etordinalionibusaposlolicis, ac in Prouinlialibus et
Sinodalibus Conciiiis editis generalibus vel specialibus, ceterisque conlra-
riis nequáquam obslanlibus, de specialis donograliedispensamus, Prolem
ex huiusmodi Matrimonio suscipiendam legitimam nunliando.
Datum Rome apud Sanctum petrum Anno Incarnationis dominice
Millesimo quingentésimo décimo oclauo, Décimo séptimo Kalendas Julii,
Pontificatus nostri Anno Sexlo. — la. Sadolelus '.
Breve do Papa l^eao X, clii*ija;iclo a el-Rei.
151« — Setembro 30.
Leo pape x Charissime in chrislo fili noster Salulem el aposlolicam
benedictionem.
Dudum certis ex causis tune expressis motu proprio tol Praecepto-
rias Militiae Jesu christi, cuius Magislratus perpetuus Adminisíralor per
1 Ahch. Nac, Mac. 37 de Bullas, n.° 41.
3 *
20 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
Sedem apostolicam deputatus exislis, quot tu infra Annum ex lunc com-
pulandum duceres exprimendas, perpetuo ereximus, el lanlum a Monas-
teriis el Prioralibus luorum Regnorum el Dominiorum de eorum bonis
quanlum ad summam viginlimilliuin Duoalorum, si iuxta formam ihi Ira-
dilam fieri poteral, Alioquin a parrochialibus Ecclesiis per te nominan-
dis, iisque ad id quod ex dicta summa deesset, separauimus, el id lolum
diclis Praeceploriis pro eorum dolibus perpetuo applicauimus. El deinde,
ralionabilibus suadenlibus causis, sepe rali onem bonorum a Monasleriis el
illorum applicalignem huiusmodi cassauimus el annuilauiínus, et tol fru-
clus, census, iura et emolumenta Parrochialium ecclesiarum in Regnis et
Dominiis praedictis consistenlium, el per te uel dilcctum filium Ministrum
Domus Sanctae Trinitatis Ulixbonensis, etiam infra Annum ex lunc com-
putandum rum el declarandarum pr uel ad quot ascendebant
frucfus, redditus et prouenlus bonorum a diclis Monasleriis, ut prefertur,
seperalorum ab eisdem Parrochialibus Ecclesiis dimembrauimus, et dictis
Praeceploriis pro eorum dolé pariformiter assignauimus ; el successiue,
luis in ea parle supplicationibus inclinati, tol alias in eadem Militia Prae-
ceptorias, quot Maiestali luae infra alium Annum extunc etiam compu-
tandum uiderenlur, etiam perpetuo inslituimus, ac bona et iura íjuin-
quaginla parrochialium Ecclesiarum, quae de tuo iure patronalus exis-
terenl, et quas tu infra eundem Annum specificares, reseruala lamen pro
singulis illarum Rectoribus saltem Sexaginta ducatorum portione annua,
ab eisdem parrochialibus ecclesiis segregauimus, el diclis ultimoereclis
Praeceploriis pro earum dolibus concessimus et appropriauimus; Ac post-
modum porlionem praediclam sub cerlis modo et forma modificauimus,
el alia uoluimus et ordinauimus, prout in diuersis noslris inde confeclis
lilteris plenius continelur. Cum autem, sicul exponi nobis nuper fecit Ma-
iestas lúa, per inaduertentiam aul alias nondum praeceplorias seu earum
numerum expresseris, nec tu nec diclus Minisler parrochiales Ecclesias
prediclas specificaueritis el declarauerilis, el omnes lermini tibi et dicto
Ministro ad expressiones et declarationes huiusmodi respecliue faciendum
praefixi sinl iam elapsi, el proplerea de diclarum erectionum el poste-
riorum dimembrationum el assi , possel mérito dubitari : Nos, quo-
rum inlenlio ab inilio fuit, proul esl, quod erecliones el posteriores di-
membraliones et assignaliones huiusmodi locum uendicent, el iuxta di-
clarum lilterarum lenorem sortianlur eífeclum, Molu simili et ex certa
RELACOES COM A CURIA ROMANA 21
npstra scienlia ac potestatis pleniludine, declaraliones, erecliones, et pos-
teriores dimembrationes el assignaliones praedictas, el alia quaecunqiie
singularum liUerarum praediclarum uigore alias illarum forma seruata
gesla et disposila ualere pl roboris firmilatem obtinere sse et
deberé eíféctum sorliri in ómnibus et per omnia, perinde ac si tu expres-
siones et declaraliones praedictas infra dictos términos fecessis, Dummodo
illas facias infra Biennium tandum. Decern
quaecumque propterea uiribus non euacualas fuisse nec esse, ac ex nunc
irrilum et inane si secus super his a quoquam quauis auclorilale scien-
ter uel ignoranler conligerit \.... celerisque conlrariis
quibuscunque.
Dalum Viterbii, sub Annulo piscatoris, Die vllima Septembris mdxviii,
Pontificatus. Anno Sexto \
DuUa dirigida ao Cardeal Infante O. Affoníso.
1519 — Fevereiro 23.
Leo episcopus seruus seruorum dei Dilecto filio Alfonso, sánete Lu-
cie in Septem Soliis Diácono Cardinali, Salutem et apostolicam benedi-
ctionem.
Romani Pontificis prouidentia circunspecta ecclesiis singulis ut cum
illarum vacalio occurrerit gubernatorum vtilium fulciantur presidio pro-
spicil diligenter, et sánete Romane ecclesie Cardinalibus, quos in partem
solicitudinis euocauit Allissimus pro eis incumbendis oneribus facilius sup-
porlandis, prout decens est et congruum, de subuentionis auxilio proui-
det oportuno. Cum itaque hodie tu, qui alias tune in minoribus el-in
octauo lúe etatis Anno uel circa constitutus, ecclesie Egilaniensi, tune
cerlo modo uacanti, cum priraum Vigesimum primum dicte etatis Annum
attingeres, vsque ad vigesimum seplimum eiusdem etatis Annum, Admi-
nislrator in spiritualibus el temporalibus deputalus, et deinde in Episco-
pum et Paátorem prefeclus ex tune prout cum vigesimum primum el vi-
^ Arch. Nac, Mac. 34 de Bullas, n.° 27.
22 CORPO DIPLOMÁTICO PORTIIGUIÍZ
gesimum seplimum Annos huiusmodi attigisses, el e cojilra, el düecUis
lijius Michael de Silua clericus ülixbonensis, qiii inlerim eidein ecclesie
eliam in eisdem spirilualibus et lemporalibus adminislrator conslilulus,
apostólica -aucloritale fueratis regimini el adminislralioni dicle ecclesie in
raanibus nostris sponte et libere cesseritis, nosque cessiones ipsas lunc
admiltenles ecclesie predicle adhuc eo quo anle depiilalionem et consti-
lutionem easdem vacaueíat modo quem haberi uoluimus pro expresso pas-
toris solatio deslilute, de persona dilecli filii Georgii Elecli Egilaniensis
de Fratrum noslrorum Consilio dicta auctorilate prouiderimus, ipsuraque
illi prefecerinius in Episcopum el Paslorem, curam et administralionem
ipsius ecclesie sibi in spirilualibus el lemporalibus plenarie committendo,
proul in nostris inde confcclis litteris plenius continetur. Nos tibi, qui
Carissimi in christo filii noslri Emanuelis Porlugallie el Algarbiorum Re-
gis Illustris natus, et in vndecimo vel circa dicle elatis Anno constituías
existís, ne ex cessione lúa huiusmodi nimium dispendium paliaris, ac vt
statum luum iuxta Cardinalalus exigentiam sablimitatis decentius tenere,
et onera que te iugiler de necessilale subiré oportel, facilius perferre va-
leas, de alicuius subuentionis auxilio prouidere volentes, Tibi quod dicto
Oeorgio Electo cedenle vel decedente, seu ecclesie predicle alias quomo-
dolibel preesse desinenle, et ipsa ecclesia alias quouismodo vacante, eliam
apud sedem apostolicam, liceal tibi ad dictam ecclesiam lam tuarum prio-
ris ConsUtutionis deputationis et prefeclionis, quam presenlium, quas vim
valide et eíficacis Administrationis obtinere decernimus vigore, liberum
habere regressum accessum et ingressum, illiusque ac Regiminis el ad-
, minislralionis prediclorum, necnon bpnorum eiusdem ecclesie possessio-
nem, uel quasi, per le, vel alium, seu alios, propria aucloritale libere
aprehenderé, et in administralionem in eisdem spirilualibus el lemporali-
bus quoaduixeris, eliam vna cum sánele Lucie in Seplem Soliis que de-
nominatio tu¡ Cardinalalus existit, ac ómnibus el singulis alus ecclesiis,
Monasteriis, Prioratibus, preposituris, preposilatibus, Canonicatibus et
prebendis, dignilalibus, personalibus, adminislralionibus, el oíTioiis, cete-
risque beneficiis ecclesiaslicis cum cura et sine cura, secularibus, el quo-
rumuis ordinum Regularibus, que ex quibusuis concessionibus et dispen-
sationibus apostolicis in litulum, commendam, administralionem, vel alias
oblines el im poslerum oblinebis, ac pensionibus annuis, quas super qui-
busuis ecclesiaslicis prouenlibus tibi assignatas pcrcipis, el percipies in
RELACOES COM A CURÍA ROMANA 23
fulurum, absque alia libi ipsius ecclesie Egitaniensis in adminislrationem
concessione retiñere. Necnon debitis et consuelis Mense Episcopalis Egi-
taniensis supporlniis oneribus, de residuis illius fruclibus rcddilibus el
prouentibus siculi Episcopi Egilanienses, qui pro tempore fuerunl de illis
disponere el ordinare polueriint seu etiam debuerunt, Alienatione lamen
quorumcunque bonorum iminobilium et preliosorum mobilium dicte Mense
libi penitus interdicta, disponere et ordinare aucloritale apostólica prefala
earumdem lenore presenlium de simili Consilio, el specialis dono gralie
Indulgeraus. Quocirca Venerabilibus fralribus noslris Asculanensi et Ca-
serlanensi ac Lamacensi Episcopis per apostólica scripta mandamus quatinus
ipsi, uel Dúo aut Unus eorum, per se, uel alium seu alios, faciantauctorilate
nostra le iure el facúltale regrediendi, accedendi el ingrediendi huiusmo-
di, el in ipsorum regressus, accessus el ingressus euenlum regiminis el
adminislrationis, ac bonorum prediclorum possessione, uel quasi, paci-
fice frui el gaudere, non permitientes te per quoscunque desuper inde-
bile molestari, Contradictores per censuram ecclesiasticam appellalione
postposita compescendo : Non obslantibus Constilutionibus el ordinationi-
bus aposlolicis, ac dicte ecclesie Juramento, confirmatione apostólica, uel
quauis firmitate alia roboralis stalulis el consueludinibus, ceterisque con-
trariis quibuscunque. Aut si aliquibus comrauniter vel diuisim a dicta sit
sede indultum quod interdici, suspendi uel excommunicari non possinl,
per Hileras apostólicas non facientes plenam el expressam ac de verbo ad
verbum de Indulto huiusmodi mentionem. Nulli ergo omnino hominum
liceal hanc paginam noslre voluntalis, decreli, Indulli el mandati infrin-
gere, vel ei ausu temerario conlraire. Siquis aulem hoc allemplare pre-
sumpseril indignalionem omnipotenlis dei, ac beatorum Pelri el Pauli,
Apostolorum eius, se noueril incursurum.
Dalum Rome apud Sanctum peli*um Anno Incarnalionis dominice
Millesimo quingentésimo décimo oclauo, Séptimo Kalendas Martii, Ponlifi-
calus noslri Anno Sexto. — Bal.^^ de piscia ^
* Arch. Nac, Mac. 29 de Bullas, n." 5.
25 CORPO DIPLOMÁTICO PORTIJGUEZ
Bulla do Papa Leáo IL,
1519— Maio ;S9.
Leo episcopus seruus seruorum Dei ad perpeluam rei menioriam.
Pasloralis Officii cura nos admonet vt noslre prouisionis efficiatur
ministerio quod ea, que pro votiua ültimarum Voluntalum executione an-
tiqua el laudabiiis consueludo introduxit, nuUa teniporum intercapedo di-
uertat, sed quibusuis impedimenlis sublatis prislino vsui restituía débitos
perpetuis fuluris lemporibus sortiantur eífectus, presertim vbi id Catho-
ücorum Principura vola deposcunl, el nos rerum qualitatibus mature dis-
cussis cognoscimus in domino salubriter expediré. Sane pro parte Caris-
simi in christo filii nostri Emanuelis, Portugallie el Algarbiorum Regis
lilustris, nobis nuper exhibila petitio continebal quod licet de antiqua el
approbata, et tanto tempore de cuius inilio memoria hominum non exis-
til, obseruata Consuetudine in Regno Portugallia certi Kegii Oíliciales,
Computatores Residuorum nuncupati, per singulas Prouintias pro tem-
pore deputati, vna cum Archiepiscoporum et Episcoporum Prouintiarum
earundem respective vicariis in spiritualibus generalibus, ab heredibus,
vel Executoribus Testalorum in dictis Prouintiis pro tempore defuncto-
rum post Annum et Diem, quo ipsi Testatores decesserint, el non ante,
super Testamentorum et vllimarum voluntalum dictorum Testantium exe-
cutione et implemento rationem et Computum exigere, et super acceplis
ralionibus Quietantias siue ditrinitiones oportunas conficere soliti fuerint,
et ex huiusmodi pia ct laudabili Consuetudine successerit, vi omni fraude
cessante honesta el pia Testantium desideria debito non caruerint efFeclu ;
Nichilominus ab aliquo tempore citra nonnulH diclorum Vicariorum pre-
falis Regiis oíficialibus in aliquo non vocatis solitum tempus preuenienles
Compula el raliones ab heredibus et Testamentariis Executoribus exigere,
el eis non sine ipsorum infamia, et quod cum illis fraudem aliquam ma-
chinentur suspitione, Quietantias et diííiniliones Iradere presumpserunl,
RELACOES GOM a curia romana 25
•
et de presenli presumiint, ex quo in populis, qui rem aliter Conspiciunt
geri quam fueril anliquis lemporibus consuelum, scandalum generatur,
quod profeclo cessaret, et Clericorum fame el honori magis iretur con-
sultum, si dicta v^tus et laudabilis Gonsuetudo in suo prístino robore per-
maneret ; Quare prefatus Emanuel Rex nobis fecil humiliter supplicari vt
in premissis oporlunum adhibere reinedium de benignitale apostólica di-
gnaremur. Nos igitur, attendentes non esse de iure Archiepiscopis uel
Episcopis se de executione volunlatum etiara ad pias causas testanlium
ante Anni lapsum, et in Execulorum negligentiam intromittendi faculla-
tem seu potestatem concessam, huiusmodi supplicalionibus inclinati, Vni-
uersis et singulis Archiepiscoporum el Episcoporum dicli Regni, Vicariis
el Ministris, ac quibusuis alus personis per eosdem Ordinarios deputatis
et depulandis, ne ex niinc de cetero in perpeluum ante dictorum Anni et
diei lapsum, nisi legitima causa subsit, et ñeque etiam tune sine dictis
Regiis Oííicialibus, vel eorum aliquo, ad huiusmodi ralio'num exactionem
etiam volentibus seu requirentibus, eisdem executoribus procederé, ñeque
eosdem executores propterea ad Judicium euocare, nullasque cuiquam de-
super quietanlias tradere sine dictorum Regiorum oíBcialium consensu,
de quibus rogari debeat publicus Nofarius Regia auctoritate creatus, quo-
quomodo presumanl, sub excommunicationis late sentenlie pena, a qua,
non nisi per Romanum Pontificem, preterquam in mortis articulo, absolui
possint, districtius inhibemus. Et exactionem ac redditionem Gomputo-
rum huiusmodi aliter de cetero habendas, ac Quietanlias seu diíTinitiones
aliter desupér conficiendas nullius existere firmilatis, Licereque in casi-
bus, in quibus contra inhihitionem huiusmodi venire contigerit dictis Re-
giis Oííicialibus absque Vicariorum vel Ministrorum prediclorum ea vice
tanlum presentía vel assensu computa petere, et reddentes quietare au-
ctoritate apostólica tenore presentium decernimus et declaramus : Non ob-
stantibus apostolicis ac in Prouincialibus et Sinodalibus Gonciüis edilis^
generaübus et specialibus Gonsütutionibus et ordinationibus, ceterisque
conlrariis quibuscumque. Nulli ergo omnino hominum liceat hanc pagi-
nam nostre inhibitionis, decreti el declaralionis infringere, vel ei ausu te-
merario conlraire. Siquis autem hoc allemplare presumpserit Indignalio-
nem Omnipotentis dei, ac beatorum Petri él Pauli Apostolorum eius, se
nouerit incursurum.
Datum Rome apud Sanctum petrum Anno Incarnationis dominica
TOMO II. 4
26 CORPO DIPLOMÁTICO POIÍTUGÜEZ
Mil'esimo iiuingentesimo décimo nono, Sexto Kalendas Junii, Pontifica-
lus nostri Anno Seplimo. — .i. de Calcaneis '. '
Itre^e fio Papa I^eao X, dirigido ao Iliísiio
ele liaiiicgfO; Capellao-iiiór.
1519 — üetembro 16.
Leo papa x Venerabilis fraler salutem et aposlolicam benediclionera.
Exponi nobis nuper fecit Charissimus ¡n Christo filius noster Ema-
nuel ' Porlugalliae et Algarbiorum Rex illustiis quod licet Maiestas sua
pro suo et filiorum suorum ^ corporali exercilio et inlermissione a ciiris
nonnulla nemora et alia loca venatui accommodala, sub suo temporal!
dominio consistentia, specialiler reseruaiierit, et sub certis etiam pecu-
niariis poenis ne quis ibi sine sua licentia aliquod venationis genus exer-
ceat prohibuerit, Venalionesque et siluatiee fatigationes ómnibus clericis
a sacris sint Canonibus interdicte ; Tamen aliqui clerici, ea forsan confi-
dentia freli quod secularium non arctentur edictis uel per eos nequeant
coerceri aut alias, contra prohibitionem huiusmodi in nemoribus el alus
locis predictis aucupari et venari frequenter presumunt, non in ipsius Re-
gis solum, sed etiam apostolicae auclorilalis contemptum : quare nobis fe-
cit humiliter supplicari vt id eis prohibere, aliasque in premissis opor-
tune prouidere de benignilate apostólica dignaremur. Nos itaque, eiusdem
Emanuelis ^ Regís honeslis desideriis annuentes, Fraternilati tuae commil-
timus et mandamus quatenus ad ipsius Emanuelis omnimodam requisitio-
nem omnes et singulos clericos, etiam in sacris et presbiteratus ordinibus
constituios, sub excommunicationis ac pecuniariis poenis, tuo arbitrio im-
ponendis et moderandis, et per ministros luos exigendis, moneas, quati-
nus in aliquo ex diclis Siluis et alus locis probibilis, sine ipsius .Regís
expressa licentia, venari, aut per illa cum canibus vel accípitríbus, seu
falconibus, aut alio venatorio apparatu vagari presumant : In conlrarium
non obstantibus quibuscumque.
* Abch. Nac, Mac. 22 de Bullas, n." 51.
HELACÜES GOM A CURIA HOMANA 27
Datnm Romae apud Sanctum Pelriim ' sub Annulo piscaloris Die
MI Septembris mdxix Ponlificalus nosíri ' anno Séptimo \ — Euange-
lista ',
Breve do Papa Ijeáo IL, dirigido a el-Rei.
1530— Abril 3.
Leo papa x Charissime ¡n chrislo Pili noster salutem, et apostolicaní
benediclionem.
Dudum pro parte lúa nobis expósito quod licet de antiqíia el appro-
bala, et tanto tempore de cuius inilio memoria hominum non exist^ebat,
obsernata consuetudine in Regno Portugaliae certi Regii OíBciales, Com-
putalores resíduorum nuncupati, per singulas Proiiincias pro tempore de-
putati, vná cum Archiepiscoporum et Episcoporum Prouinciarum eariin-
dem respectiue Vicariis in spiritualibus generalibiis, ad heredibus uel exe-
quiitoribus Teslatonim in dictis Prouinciis pro tempore defunclorum, posl
Anniim et diem, quo ipsi Testatores decessissent, et non antea, super
Testamentorum et ultimarum iioluntatum dictorum Testantium execulione
el implemento rationem el computum exigere, et super acceptis rationi-
bus quietantias siue diífiniliones oportunas conficere, soliti fueranl, et ex
huiusmodi laudabili consuetudine successerat ut omni fraude cessante ho-
nesta et pia testantium desideria debito non caruissenl efíeclu ; Nihilomi-
nus ab aliquo tune tempore cilra nonnulli dictorum vicariorum prefatis
Kegiis Officialibus in aliquo non uocatis, solitum tempus preuenientes,
' Arch. Nac, Mac. 22 de Bullas, n," 20. Estf breve parece ter servido de norma
para outro dirigido a D. Joño ///, ou ter continuado a vigorar com as alteragoes que
n'ellc se notam. Estas alteraQoes consistem em estarem sublinhadas as palavras que pomos
em itálico e substituidas, ora por baixo ora por cima da linha, pelas seguintes :
' Joannes.
^ Apenas sublinhado.
^ Joannes.
* Cesaraguste.
'" XXII Maii MDXxii suscépti a nobis apostolatus.
^ Primo;
\ *
28 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
compula el rationes ab heredibus et Testamentariis execuloribusexigere et
eis, non sine ipsorum infamia, el quod cum illis fraudem aliquam ma-
chinarenlur suspilione quietanlias el diíTiniliones tradere presumpserarít
el tune presumebanl, ex quo in populis, qui rem geri aliler quara fuerat
anliquis temporibus consuelum conspiciebnnl, scandalum generabalur,
quod profeclo cessarel el clericorum famae et honori magis irelur con-
sullum si dicta uetus et laudabilis consuetudo in suo prislino robore per-
maneret. Nos tune, luis in ea parte supplicationibus inclinali, vniuersis
et singulis Archiepiscoporum et Episcoporum dicli Regni, Yicariis et Mi-
nislris, ac quibusuis alus personis per eosdem ordinarios depulatis et de-
putandis, ne ex tune de caetero in perpeluum ante diclorum anni el diei
lapsum, nisi legitima causa subessol, el ñeque etiam tune sine diclis Re-
giis Officialibus uel eorum aliquo abhuiusmodi ralionum exactionem, etiam
uolenlibus seu requirenlibus, eisdem executoribus procederé, ñeque eos-
dem Exequutores proplerea ad iudicium euocari, nullasque cuiquam de-
super quietantias tradere sine diclorum Regiorum OíTicialium consensu,
de quibus rogari deberel publicus Nolarius regia aulhorilate creatus, quo-
quomodo presumerenl, sub excommunicationis lalae sententiae poena, a
qua non nisi per Romanum Pontificem, prelerquam in mortis articulo,
absolui possent, districtius inhibuimus, et exactionem et reddilionem com-
pulorum huiusmodi aliler de caetero habendas et quietantias seu diffini-
liones aliler desuper faciendas nullius existere firmitatis, licerelque in ca-
sibus in quibus contra inhibitionem. huiusmodi uenire contingerel diclis
Regüs Officialibus absque Vicariorum et Minislrorum prediclorum, ea uice
lanlum, presentía uel assensu compula pelere et reddenles quietare de-
creuimus et declarauimus, proul in noslris inde sub plumbo confeclis lit-
teris plenius conlinelur. Cum autem, sicul exponi nobis nuper fecisti,
¡uxta antiquam consuetudinem huiusmodi dicli Ordinarii locorum uel eo-
rum Vicarii ac Regii Officiales in exequutione predicla el cognitione cau-
sarum et litium inde pro tempore motarum, si dicli Teslamentarii Exe-
quutores negligentes sinl. Non simul sed seorsum concurranl, et preuen-
lioni post lemporis a iure uel leslalore prefixi, seu per Regem Portuga-
liae pro tempore exislentem ad id specialiler assignati, lapsum, et non
antea, etiam per citalionem uel modum alium ad dictas ultimas uolunta-
les exequendas locus exislal, ¡la quod Officialibus Regüs post dicli lem-
poris lapsum el non eo cúrrente preuenientibus Ordinarii uel eorum vi-
RELACOES COM A CURIA ROMANA 29
carii, et e contra ipsis ordinariis uel Vicariis simililer praeuenienlibus Re-
gü Oííiciales, se de execulione uel cogniüone huiusmodi ea uice inlro-
millere nullo modo possinl. El, quia in diclis litteris aliter esl narratum,
dubilat Majestas tua lilteras ipsas de surreplionis uilio nolari, et minus
útiles reddi posse tempore precedente : Nos igitur, ne propferea dictae
litlerae reddantur inútiles, prouidere uolentes, dictamque consuetudinem
pro expressa habentes, tuisque in hac parte supplicationibus inclinati, au-
thoritate apostólica tenore presentium quod litterae predictae, cum ómni-
bus et singulis in eis contentis clausulis et inde sequula quaecunque, a
Dala presentium ualeant, plenamque roboris firmitatem obtineant, et suf-
fragentur in ómnibus et per omnia, perinde ac si || illis dicta consue-
tudo uerius enarrata et specificata, ut prefertur, fuisset decernimus et
declaramus. Et si forsan dicta consuetudo super praeuentione ante dicti
temporis lapsum non facienda non uigeat, easdem Hileras ad hoc ut di-
cti Ordinarii siue illorum Vicarii super execulione testamenlorum huius-
modi nihil, nisi post temporis huiusmodi lapsum, agere possinl, alias per
eos pro tempore gesta sint nulla extendimus el ampliamus. Quo circa Ve-
nerabili fratri Episcopo Casertanensi, et dilectis filiis moderno, et pro tem-
pore exislenti Capellano maiori Capellae luae, ac Oííiciali Vlixbonensi per
presentes commilliraus et mandamüs qualinus ipsi, uel Dúo aut vnus eo-
rum, per se uel alium, seu alios, presentes Hileras et in eis contenta
quaecunque, vbi el quando expedieril, el quoliens pro parle dictorum Re-
giorum Officialium, aut aliorum quorum intererit, vel alicuius eorum,
fuerint requisiU, soleraniter publicantes, cisque in praemissis efficacis de-
fensionis presidio assistentes, faciant aulhorilate nostra eos et eorum quem-
libet litteris nostris huiusmodi ac ómnibus el singulis in eis contentis pa-
cifice frui el gaudere, non permitientes eos aut eorum aliquem per quos-
cunque desuper indebite molestan. Contradictores quoslibet et rebelles,
illisque auxilium, consilium, uel fauorem quouis quesilo colore prestan-
tes, cuiuscunque dignitaUs, status, gradus, ordinis et praeeminenliae sint,
per censuran! ecclesiasticam et alias eUam pecuniarias poenas illorum ar-
bitrio imponendas, aliaque iuris oportuna remedia, appellatione postpo-
sita, compescendo, Inuocato eHam ad hoc si opus fuerit auxilio brachii
secularis : Non obslanHbus praemissis, ac felicis recordationis BonifaHi
pape Mil predecessoris nostri, qua cauetur ne quis extra suam Ciuitalem
el Diocesem, nisi in certis exceptis casibus, et in illis ultra unam dietam^
30 COUPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
a lino sue Diócesis ad indiciiim euocelur, Seu ne Judices a Sede apostó-
lica deputali extra Ciuitalem el Diocesem, in quibus depiilati fuerint, con
tra quoscunque procederé, aul alii vei alus uices suas commitlere presii-
maní, et de duabus dielis in concilio generali edilis el alus consfilulioni- *
bus aposloHcis, ac ómnibus illis quae in dielis lilteris uoluimus non ob-
stare, caplerisque contariis quibuscunque.
Datum Romae apud Sanclura Petrum sub Annulo piscatoris Die'xiii
Aprilis MDxx, Ponlificatus noslri anuo oclauo. — Graiia dei ^
Carta fft O. ¡ilig;uel da iiilva a el-Rei.
1520 — Agosto 29.
Senhor. — Ñas cousas do turco, sobre que o papa lornou a escre-
uer outra vez e Vossa Alteza a responder Ihe, já do lempo que Receby
as cartas de mayo tynha dito a sua sanlidade ludo o que mandou que
se Ihe dissesse, e enlao foy lam contente com a reposta de Vossa Alteza
que loguo escreueo a Rhodes, e mandou o Ireslado de sua carta ao grao
mestre ; e aguora o foy o dobro cora estas cartas, e a lodo ho mundo
apregoa esta uossa uonlade e verdade, do que certo, senhor, deueys de
ter conlenlamento, porque como se fala neslas cousas, ou outras seme-
Ihantes, loguo soys no campo por exempro. Ho papa soube haa dias da
armada que, senhor, mandastes ao eslreyto, e ouue a por lam sua pera
as cousas de Rhodes como se pera ysso tora feyla, e de lodo está salis-
feyto e manda a Vossa Alteza duas mil gracas e duas mil bencóes, as
quaes diz que tem por certo que uos abrangem por sayrem de coracam
e vos as merecerdes, e a causa porque se uos mandam ser lam sánela e
tan» justa.
Huum dia d esles^ falando na materia dos collegios, e poendo sua
sanlidade boca em grande composicao, eu Ihe disse que as composicoes
que sua Sanlidade hauia de querer eram quando compria haa christan-
' Abch, NAC.Mac. 22 de Bullns, n " 15.
RELACOES COM A CURIA ROMANA 31
dade e a esta sánela sé apostólica achar esta uonlade e obra, que aguora,
senhor, conhecera eni vos, e que desta maneyra os mil ducados assy
reiideriam ñas grandes necessidades armadas. Disse ysto por ser assy, e
por \er se com estas palauras llie podera homem fazer que facaní o que
deuem ; mas esta gente quer mays mil ducados na míío que guanar vna
ciudad.
Ha armada do turco Yyeram despoys cartas que fóra somente por
medo da fama que y á d estoulra delRey de Romaos, que foy sobre a
¡Iha dos gelbes, e que, como os nauios foram feilos de pressa, e de ma-
deyra lalhada sem sazao, tanto, que vyram o sol que a mayor parte d el-
les abriram, nem seruiram a nauegar : com ysto, e com saber as nouas
certas de qua, o turco desarmou, e assy está tudo seguro por esie anno ;
mas o wal he que estas se^urancas farám que nam se guardará homem
de perigo, e que mais nam seja que poder esperar outro tal rebate cadano
he assaz pena e assaz vergonha. Assy o disse ao papa pedindo Ihe de parte
de Vossa Alteza por merce que, pois seu officio era este, quisesse olhar
huum pouco melhor sobrysío : assy o promelte e praza a deus que assy
o faca.
Serem os gelbes lomados por dom ügo de moneada com partido que
paguam ao emperador tudo o que paguauam a huum senhor que lynham,
e a armada ja tornada a Sicilia, creo que seja cousa muy velha, e aynda
que o nam seja, nella nam ha mays que escreuer que ysto que diguo.
Hos dias passados vinte fustas de turcos deram sobre pucol a par
de Ñapóles, e tomaram mays de 300 almas sem Irabalho.
No ducado de miláo e genoua ha y grandes apercebimenlos, e se
affirma que El Rey de franca vem este anno. Venha ou faca por demos-
tracam ludo he sospeyta da uynda delRey de Romaos.
Ja escreuy como elRey de Romaos se uio em Ingraterra com ElRey
de Ingraterra, quando passou d espanha a frondes: naqucUas uistas nom
ouue grande cousa nenhuuma de festas pera escreuer, somente grande sinal
d alegría em El Rey de Ingraterra, e grande confianca do emperador nelle
que com quatorze comsigo se saio da nao em que ya, e se raeleo em Ierra
de ingreses, e trazendo Ihe as chaues de dobra, que assy se chama onde
desembarcou, elle as nam quis, e disse que o seu e o em que entáo es-
taña lodo era huum mesmo reyno delRey seu tyo. Ysto foy a x.xvi de
mayo : o dia seguinte foi com elRey de ingraterra, o qual veyo aly ter
•
32 COKPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
duas horas passadas de mea noyle a uisitar o corpo de sam Ihomas em
conlurberj : ysto foy domingo de pascoa do spirito sancto. Em conlurberj
esleiieram ambos em feslas e prazeres ordinarios de músicas e baylos e
dancas ale a terca feyra, e ha terca feyra polla menhaa com bom vento
se partyrom ambos, elRey de Romanos pera fradeso, EIRey de ingraterra
pera Cales haas uistas com el Rey de franca ; e porque Vossá Alteza me
manda que Ihas escreua pollo meudo em outra o faco larguamenle.
Acabadas as vistas de franca, Ingraterra (sicj se uio acerca de ca-
les com o emperador, onde nam ouue muytas festas : todo o tempo se
passou em praticas secretas, das quays o que se sabe he que EIRey de
Ingraterra cometeo o emperador pera o concordar com EIRey de franca,
e porque esta concordia traz sempre consiguo tres capítulos em todos tres
Ihe falou ; estes sam a reslituicíio do Reyno de nauarra, a pensam do
reyno de ñapóles com o casamento, a renunciacao do direyto de milao.
Ho emperador se escusou com o prometymento que tem feylo aos eley-
lores de nam fazer nada ñas cousas de Italia sem consentimento delles e
conselho, oulros dizem que alem disto disse que quando elle teuesse fa-
lado com os eleytores cria que sem reslituicao de borgonba nam se po-
derla fazer nada. Paz antre franca e ingraterra se diz, mas nam se sabe
mays que o que se presume pollas grandes festas que se fizeram huum
a outro, e amor que se mostraram ñas uistas, mas nam se ere que seja
tudo mays que demostracoes.
Estas mudancas de Castella aprazem a quem despraz a uynda do
emperador a Italia, e a cheueres dam muy maa fama, que ludo se ve
que nace de seu mao gouerno e cobica desmedida. Aguora se diz em Roma
que o emperador moslra muyto descontentamento de cheueres, oulros di-
zem que he preso, mas ha sse por uaidade do pouo ; he porem verdade
que madama margarita anda por uer se pode concertar este mao gouer-
no que sem ysto nam pode ser.
Papa e francezes parece que pralicam vniam ; porem eu creo que
ludo nam será nada se a outra parte for alguuma cousa : ayuda nam aca-
bo de entender que cousa sam estas vnioes el hirmandades, poys dellas
nam nace senao guerra e mortes de christaos.
Ho duque d albania, que he huum senhor d escolia que pretende
ler direyto ao reyno, e está em franca como desterrado, veyo aguora aquy
e deu obediencia por el Rey d escolia : deram Ihe assento como principe
RELACÜES COM A CUIÍIA ROMANA 33
abaxo do derradeyro Cardeal cm consistorio, ludo procurado por ElRey
de franca pera con) este alguuma hora fazer ceuraes a ingreses.
O primeyro dia d agosto naceo huum filho a ElRey de pollonia desla
molher filha da duqueza de milaoin. Veyo aquy a noua ern xiii dias :
chama sse Casmiro como seu auoo.
Ho papa faz aguora cento e cynquoenla ofíicios, que sam na bolsa
cento e cynquoenla mil ducados : dizem que se chamarán! caualleyros de
sam pedro : fallos pera paguar aynda diuidas da guerra d urbino, que
nam ha quem possa crer que ainda duram as necessidades do papa, nem
quem Ihes ache caminho.
Contra aquelle frade de alemanha martym Luther, que la faz lanías
reuoltas, fez aguora o papa huuma bulla de que se elle muyto Ry, se-
gundo dizem : he esta huuma cousa que lyra o somno porque lodo aquelle
pouo pede concilio e reformacao.
,Bejo as maos de Vossa Alteza, cuja uida e Real estado Nosso senhor
guarde e acrecenté como deseja.
De Roma a xxyiiii d agosto 1520. — Dom miguell da sylua '.
Bulla do Papa lieáo IL, dirigida ao Cardeal
Infante D. AfTonsio.
1590— SetenAliro 14.
Leo episcopus seruus seruorum dei dilecto filio Alfonso sánete Lu-
cie in Septem soliis Diácono Cardinali salutem el apostolicam benediclio-
nem.
Romani Pontificis prouidencia circunspecta ecclesiis el Monasteriis
singulis, que \acationis incommoda deplorare noscuntur, vt gubernato-
rum Ytilium fulciantur presidio prospicit diligenter, ac personis ecclesias-
ticis, presertim Cardinalatus honore fungentibus, "vt in suis oportunitati-
bus aliquod suscipiant releuamen prout decens est et congruum, de sub-
uentionis auxilio prouidet oportuno. Sane Monasterio sancti Johannis de
* Arch. Nac, Corp. Chron., Part. 1, Mac. 26, Doc. 53.
TOMO II. 5
B4 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
Tarouca Cistcrciensis ordinis, Lamacensis diócesis, ciii quondaii) Johan-
nes Claro ipsius Monaslerii Abbas dum \ivcrel prccrat, per obilura eius-
dem Johannis, qui extra Romanam Curiam diem clausit exlremum, va-
cante, Nos tam dicto Monasterio de gubernalore vtili el y doñeo per quem
circunspecte regí et salubriter dirigí \aleat, qiiam Ubi, vi statum tuum
iuxla Cardinalatus dignitatis honorem decentius tencre, et onera que te
iugiter de necessitate subiré oportet, facilius perfcrre \aleas, de alicuius
subuenlionis auxilio prouidere ac speciáiem graliam faceré volentes, Motu
proprio, non ad tuam vel allerius pro te nobis super hoc óblate pelicio-
nis instanliam, sed de nostra mera liberalilate, Monasterium prediclum,
cuius fructus, redditus et prouentus ad Quadringentos et Nouem llórenos
auri in libris Caniere apostolice taxati reperiuntur, siue ut premittitur,
siue adhuc per obitum quondam Aluari de freytas, olim ipsius Monasle-
rii Abbatis, extra dictam Curiam defuncti, aut aliaí quouismodo, quem
etiam si ex eo queuis generalis reseruatio etiam in corpore iuris clausa
resultet presentibus pro expresso haberi volumus, aut ex alterius cuius-
cunque persona, seu per liberam Johannis aut Aluari huiusmodi vel cuius-
uis alterius cessionem, de illius regimine et adminislratione in dicta Cu-
ria ve! extra eam etiam coram Notario publico el teslibus sponle factam
vacet, etiam si tanto tempore vacauerit, quod eius prouisio iuxla Late-
ranensem statuta Coucilii aut alias canónicas sanctiones ad sodcm apos-
tolicam legitime deuoluta existat, el ad sedem eandem ex quauis causa
spelialiler perlineat, ac super eisdem regimine el adminislratione infcr
jiliquos lis, cuius statum presentibus haberi volumus pro expresso, pen-
deal indecisa, dummodo tempore dat. presenlium eidem Monasterio de Ab-
bate prouisum aut illud altcri commendatum canonice non existat, cum
ómnibus iuribus et perlinenliis suis Ubi per te quoaduexeris etiam vna
cum sánete Lucie in Septem soliis, que denominalio tui Cardinalatus exis-
tit, omnibusque el singulis aliis ecclcsiis, Monasleriis, Prioratibus, Pre-
posituris, Prepositatibus, Canonicalibus el prebendis, dignitalibus, perso-
natibus, administrationibus vel oíficiis, ceterisque beneficiis ecclesiasticis
cum cura el sino cura secularibus el predicli seu aliorum quorumuis or-
dinum regularibus, que in lilulum vel commendam siue administratio-
nem aut alias obtines, el imposlerum oblinebis, ac pcnsionibus annuis,
quas super quibusuis fructibus, reddilibus et prouenlibus ecclesiasticis libi
assignatis et assignandis percipis el percipies in íuturura, lencndum, re-
RELAGOES COM A CURIA ROMANA 35
gendum el gubernandum. Ha quod liceat libi debitis el consuelis dicli
Monaslerii sancli Johannis el dilectorum filiorum Conuentus eiusdem sup-
porlalis oneribus, ac Quarta si Abbatialis sepárala seorsum a Conuen-
luali pro sustentalione fabrice, seu pro ornamenlis, veslibus, paramentis
emendis ac pauperum alimonia proul maior exegeril ei suaseril necessi-
tas, si vero Mensa communis fueril Terlia parte omnium frucluum dicli
Monaslerii sancli Johannis pro supradiclis oneribus supporlandis el sus-
lenlalione Monachorum, ómnibus aiiis deductis oneribus, Annis singulis
imparlila, de residuis illius fruclibus, reddilibus el prouenlibus dispo-
nere el ordinare, siculi ipsius Monaslerii sancli Johannis Abbales, qui pro
tempore fuerunt, de illis disponere el ordinare potuerunl, seu eliam de-
buerunl, Alienatione lamen quorumcumque bonorum immobilium el pre-
tiosorum mobilium dicti Monaslerii sancli Johannis tibi penilus interdicta.
Gum Garissimus in chrislo filius nosler Emanuel Portugalie el Algarbio-
rum Rex lllustris, cui alias indultum nominandi personas ecclesiaslicas
ad Monasleria in Regno Portugalie consistentia, de quorum numero di-
clum Monaslerium sancli Johannis exislil, pro tempore vacanlia conces-
sum extilil, le ad Monaslerium ipsum sancli Johannis sic vacans nobis
indulli huiusmodi vigore nominaueril, aposlolica auctoritale commendamus,
curam, régimen el administrationem ipsius Monaslerii sancli Johannis tibi
in spiritualibus el lemporalibus plenarie commillendo. Quocirca venera-
bilibus fralribus nostris Lamacensi el Tagaslensi Episcopis per apostólica
scripta molu simili mandamus qualinus ipsi, vel eorum alter per se, vel
alium seu alios, libi in adipiscenda possessione vel quasi regiminis el ad-
minislralionis, ac bonorum dicli Monaslerii sancli Johannis seu maioris
parlis eorundem assistentes fiíciant auctoritale noslra libi a prefatis Gon-
uentu obedienliam el reuerenliam debitas el denotas, nec non a dilectis
filiis vasallis el subdilis Monaslerii sancli Johannis huiusmodi consueta ser-
uicia el iura ab eis libi debita integre exhiberi, Gonlradiclores per cen-
suram ecclesiasticam appellatione postposita compescendo : Non obslanli-
bus felicis recordalionis Bonifacii viii predecessoris noslri, el alus Con-
stilutionibus el ordinalionibus apostolicis, ac Monaslerii sancti Johannis
el ordinis predictorum iuramento, confirmalione aposlolica, vel quauis fir-
mitate alia roboralis slalulis el consueludinibus, priuilegiis quoque el in-
dullis apostolicis ordini Cislerliensi huiusmodi per sedem prediclam con-
cessis, confirmalis el innoualis, lilis preserlim quibus inler alia caueri
5 *
36 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
dicilur expresse quod sancti Johannis prediclum el alia Monasteria dicti
ordinis nullis, eliam sánete Romane ecclesie Gardinalibus, nisi de con-
sensu dileclorum filiorum Diffinitorum Capituli generalis eiusdem ordinis
et Consislorialiter, ac alias sub cerlis modo el forma inibi expressis, com-
raendari possint, el alias de illis eliam per sedem eandem pro tempore
facle commende nullius sinl roboris vel momenti, quibus eliam si ad illo-
rum derogalionem de illis eorumque tolis lenoribus specialis, specifica,
expressa, indiuidua, ac de \erbo ad verbum non autem per generales clau-
sulas Ídem importantes, raentio, seu queuis alia expressio habenda, aut
aliqua alia exquisita forma seruanda essel, illorum tenores presenlibus pro
sufficienter expressis et inserlis habentes, illis alias in suo robore perman-
suris, hac vice dumtaxat spelialiter et expresse derogamus conlrariis qui-
buscunque. Aut si Conuentui Vassallis el subditis prefatis, vel quibusuis
alus communiter vel diuisim, ab eadem sit sede indultum quod interdici,
suspendí vel excommunicari non possint per Hileras apostólicas non fa-
cienles plenam et expressam, ac de verbo ad verbura, de indulto huius-
modi raenlionem. Volumus autem quod propler commendam huiusmodi
diclum Monaslerium sancti Johannis in spiritualibus el lemporalibus non
ledatur, sed eius et Gonuenlus predictorum congrue supportenlur onera
anledicla. Et insuper ex nunc irritum decernimus el inane si secus su-
per hiis a quoquam quauis aucloritate scienter vel ignoranler contigerit
attemplari.
Dalum Rome apud Sanctum petrum Anno Incarnalionis dominice
Millesimo quingentésimo uicesimo, Décimo octauo kalendas Octobris, Pon-
lificalus nostri Anno Octano '.
' A«CH. Nac, Mag. 29 de Bullas, n.° 23.
RELACOES COM a curia romana 37
Carta de el-Rei a O. Ilifiruel da iiilva.
1590 — Dezembro 1.
Dom miguel amigo nos elRey vos enviamos muyto saudar.
Porque o mosteiro nouo das freirás de samla erara d estremoz, que
mandamos na dita villa fazer, he de lodo acabado pera se nelle recolhe-
rem as freirás do mosteiro velho,e as outras que nelle ham de emtrar,
Folgaryamos muyto de concludirdes e acabardes a sopricacam da refor-
macam do mosteiro dos frades da dita villa, porque sem yso nam ficarya
aqueta casa como comvem a seruico de noso senhor e bem déla e noso
contentamento. Porem vos encomendamos muyto que trabalhés por logo
o concludir e acabar, e nos emviardes cora os primeiros Recados o des-
pacho diso.
Tambera vos lembramos a espidicam sobre que vos temos sprito pera
do mosteiro d allcobaca serem vesytadas pellos padres, que ha yso nelle
forera ordenados, todas as outras casas da dita hordem destes Reynos,
segundo que largamente vos temos sprito, porque o avemos por cousa de
multo seruico de deus e bem da dita ordem ; e muyto vos encomendamos
que trabalhees cora todo cuidado de o mais era breve que poderdes o aca-
bar e nos emviar diso recado.
E asy de todas outras expidicoes que aínda teuerdes por expidir e
acabar, e a todas nos responderdes o que nellas tendes feito e esperaes
que se faca, e como dizeembs cora os primeiros Recados nos spreuerdes
o que era cada huuraa tendes feyto ou esperaes que se faca.
Itera. Pera o filho delRey de raanicongo na expidicara das letras de
seu bispado, que he de vtreensy, ñora veeo bulla de dispensacam de sua
idade, A qual convera que nos emviees na forma que deue ser pera po-
der fazer todos os oficios como hispo, o quall ja tera caratada misa nova e
estaa muy boom latyno e rauyto ensynado ñas cousas da igreja, e que-
ryamos que fose fazer fruyto aos Reyíios de seu pay, o qual cora rauita
ynstancia nolo tem eraviado pedir por ser ja velho e desejar de ho ver
frutificar era seus dias na christandade. Por yso vos enconiendaraos muyto
38 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
que logo nos enviés bulla da dila dispensacam de sua idade com todas
clausulas necesarias, e folgaremos de vyr com os primeiros Recados que
nos enviardes. Sprita '
Carta de el-Rei ao Papa Ijeao H,
15;eO — Dezembro 1.
Muito santo in christo padre e muito bem avemlurado senhor, o voso
denoto e obediente filho dom manuell per graca de deus Rey de portu-
gall e dos allgarues d aaquem e d allera maar em áfrica, senhor de guiñe,
e da conquista, navegacam e comercio de etiopia, arabia, persya e da
india, com toda omilldade emvio bejar seus santos pees.
Muyto santo yn christo padre e muito bem aventurado senhor, nos
spreueemos a dom miguell da sylua do noso conselho e noso embaixador
allguumas cousas que de nossa parte soprique e falle a vosa santidade,
ñas quaaes esperamos della que fo'lgue de nos fazer merce como sempre
folgou era todas nosas cousas, de que nos somos em tam verdadeiro co-
nhecimento como he Rezam, e tambera como he cousa onesla que nos o
speramos pella contynuacam com que, louuores a noso senhor, a elle e
a sua santa see apostólica e a vosa santidade seruimos e sempre avemos
de seruir. Sopricamos e pidiraos por merce a vosa santidade o queyra
ouuir e Ihe dar ynleira fee e crenca, e com aquela booa vontade que sem-
pre nele acharaos fazer o que Ihe soprycamos, e em muy syngullar Re-
ceberemos fsic) de vosa santidade. Muito santo yn christo padre ^
' Rascunho no Arch. Nac, Carlas ^pissivas, Mac. 2 n.° 176. No verso temaseguinte
declarapao : «Pera dom miguel. Do primeiro de dezembro 1520.»
^ Minuta sem data no Aech. Nac, Cartas Missívas, Mac. 2 n." 101. Tcm no verso
a cota seguinte : «Pera dom miguel. Do primeiro dia de dezembro 1520.»
RELACOES COM a curia romana 39
Carta cíe el-Rei para D. lli^iiel cía Sil^a,
e outra para Siia üautlclade.
15!31 — Marco 3.
Dom miguel amigo, nos elRey vos envyamos muilo saiidar.
Vimos a carta que nos spreuestes em cifra, feita a xxxi de Janeiro
passado, sobre o que pasastes com o papa sobre o negocio nella contyu-
do, 6 muyto vos gradecemos lam boom cuidado como leuesles de cousa
que lamto Rellena a nosso seruico, e nos desla callidade sempre veemos
que tall ho lemdes, e o que niso fezesles aveemos por muy beem fcilo e
foy como compria a noso seruico, e nos spreueemos ao santo padre Re-
merceando Ihe o amor e booa vontade que pera aproueitar no negocio
vos mostrou. Dai Ihe nosa carta e com ella, allem do que por ella íhe
spreueemos, Ihe dizee que bejamos os santos pees de sua santidade por sem-
pre nelle acharmos tamto desejo de nos fazer mercee, ao qual sempre
comresponde com obras e merces que cada dia delle Recebemos, as quaes
segundo a obrigacam em que por ellas Ihe somos, e por o amor e booa
vontade que pera lodo o de seu seruico leemos, esperamos cm noso se-
nhor que nos leixará seruir como nos desejamos ; E que nesta agora Ihe
pedimos que folgue de Irabalhar e poer toda sua posybilidade com ho
emperador pera aver efeyto o que Ihe temdes fallado, que por todas as
Rezoes que ha parece que cayria milhor em méu filho do que em oulro
nymguem, e que pella ventura seria bem pera todas as cousas do tempo
d agora, com todas as outras mais Rezoes que vos viirdes, que avemos
por cerlo que muy bem Ihe saberes apresentar.
E amtes de termos ávida esta vosa carta nos vos tynhamos sprilo
sobre esta materia, encomendando uos que tornaseys ao negocio della-
como da primeira vez e asy como de voso, e largamente vos spreuemos
sobre yso, e a conclusam era que trabalhaseis com sua santidade que tra-
balhase com o emperador de isto viir ao cardeall meu filho, e oferece-
seys que a cámara de sua santidade serya seruida asy como era Rezam
que pgr cousa semelhanle se fozese, e que tomaseys por terceiro ao car-
40 CORPO DIPLOMÁTICO POUTUGÜEZ
deall (le medices c Ihe fezeseys o mesmo oferecimento. Trabalhay neste
negocio como em cousa eni que lanío seruico nos farés, e como vedes
nom pode nenhuQia ser em nenhum lempo das desla calidade mais prin-
cipal!, e por ysso poende niso aquela diligencia e cuidado que de vos es-
peramos, que ho amor e vonlade pera nos seruirdes cerlo somos que ha
tendes pera aproueylar e nos seruirdes em cousas muilo raaiores. E do
que achardes e fezerdes nos avisay, e, como por a oulra caria vos sprc-
uyamos, s yslo se ha de negociar pelo papa com o emperador como cousa
pera que elle de seu molo se moue, aveiido a por de muyto seruico de
Deus e seu e de muyto seu conlentamenlo e prazer, e a dilacam do pro-
vymenlo pode muyto aproueitar ao fim de noso desejo como vos spre-
uyamos. E ás outras cartas que vieram com esta vos Respondemos por
oulra. Sprila
Muilo santo yn chrislo padre e muito bem aventurado senhor. O
voso deuoto e obidiente filho dom manuel etc. com toda omildade emvio
bejar seus santos pees.
Muyto santo yn chrislo padre e muyto bem aveenlurado senhor. Dom
miguell da sylua do meu conselho e meu embaixador me spreueo que
fallara a vosa santidade, movido da obrigacam e cuidado que elle deue
ter das cousas de meu seruico, sobre a vagante do arcebispado dé tol-
ledo, E que achara em sua ^ santidade pera follgar d aproueilar naquella
parle que me tocaua aquele amor e booa vontade, que sempre com mer-
ccs tenho achado e acho, pelo que Ihe beijo seus santos pees e o Recebo
em tam syngullar merece como ella he, e que as merces que de vosa san-
tidade tenho recebidas sejam soficienles pera nunca (?) acabar de as ser-
uir : o trabalho que nesla negociacam agora Receber Ihe peco muito por
merce que aja por bem tomado pois se emprega sobre mym e sobre cousa
tanto minha que quantas mais cousas teuermos com que Ihe seruir, lam-
ias deue muyto folgar de termos, pois cora todas e com as pessoas e es-
tado Ihe aveemos de seruir com muy verdadeiro amor e espiciall von-
tade, allem da obrigacam gerall que lodos temos, e soprico e peco muito
' Está viseada a palavra vossa e substituida por sua. Parece que esta tninuta serviu
tamhem para escrever a algum cardeal, talvez ao de Medices, a quem se allude na pri-
meira carta.
RELACOES COM A CURIA ROMANA 41
por merce a sua santidade que nesle negocio Irabalhe como em cousa
propria sua, pois nom pode teer nem lem nenhuuma mais propiia que a
mym e as minhas.
Muito santo yn chrislo padre ele. K
Breve do Papa I^eao X; dirig^ido a el-Rei.
1591— Abril su.
Leo papa x Charissime in christo fili nosler salulem el aposlolicam
benediclionem.
Preclara deuolionis tuae, qua nos el hanc sanclam aposlolicam sc-
dem reuereris, merita promerentur ut pelitionibus luis, illis praeserlim
quae Regiae Celsiludinis luae slalus augmentum el conserualionem, ac
orlhodoxe catholicae fidei propagalionem concernere prospicimus, fauora-
bililer annuamus. Sane nobis nuper exponi fecisti quod cura rerum com-
mercia et mercimonia, quae in parlibus Indiae alque Elhiopiae pro Ma-
iestate lúa cum genlibus et populis illarum parlium perlraclanlur, máxi-
mum imporlanlissimumque pondus suslincant, el quanlo magis parles illae
a finibus Europae distare noscuntur, tanto plus fidelitatis et legalitalis in-
tegrilatisque circa personarum inibi agentium conlraclalionem requiri de-
beat et licet ; proplerea serenilas lúa cupiens fraudibus et dolis, quae in
praemissis coraerciis ac negociationibus el parlicipalionibus hinc inde fieri
possent, obuiare, ac felici statui luo et tuae genlis opporlune consulere,
animoque gereris praedicta commercia ad Dei laudem et catholice fidei
propagalionem in tam remotis el longinquis parlibus et barbarorum na-
tionibus continuare et augmentum suscipere, quamplura leges, pragmá-
ticas, sanctiones, ordinationes et slatuta per dictes agentes et subditos tuos,
aliosque contraclores et negociorum et mercimoniorum commerliorumque
* RascunJios sem data no Arch, Nac, Corp. Chron., Part. I, Mac. 27, Doc. 76.
Ñas costas d'este documento está a cota seguintc : «Pera dom miguel — a ni dias de marco
lo21 — Sobre lolledo.»
TOMO II. 6
42 COUPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
huiusmodi gestores inuiolabilia tencnda ct obscruanda, ac nuUo pacto pre-
tereunda, sub certis ciuilibus et criminalibus poenis, qiias violatores et
transgressores illarum incurrerent, fccerit, ediderit ac promulgauerit, Ni-
hilominus nonulle personae, pro clericis se gerentes, freti immunitale ac
priuilegio clericali penas legum et ordinationum huiusmodi paruipendcn-
les, illasque, quibus iuxta canónicas sanctiones eos minime subesse pre-
tendunt et aíTirmant, non formidanles, contra eas et pragmáticas sanctio-
nes et prohibitiones per Maiestatera tuam factas huiusmodi multotiens ve-
nire ausi fuerunt, et nisi tales transgressores criminosi et delinquentes
aliqua poena mulctentur plectenturque occasione transgressionum et ex-
cessuum suorum in partibus illis scandala iurgia et differentias Ínter agen-
tes praedictos quamplurima in non modicum tui et tuorum Regnorum de-
trimentum in dies suscitarentur. Quare.nobis humiliter suppiicari fecisti
ut luo luorunique Regnorum statui et tranquillitali consulere ac scanda-
lis, iurgiis et diíFerentiis huiusmodi obuiare, aliasque tibi in pracmissis
oportune prouidere de benignitate apostólica dignaremur. Nos igitur, at-
tendentes quod quanto maioribus dispendiis, laboribus et fastigiis a chris-
tianis et cathoücis principibus regna, dominia et prouinciae pnganorum
eorum dictioni sunt subiecta, tanto illa legibus, sanctionibusque Regum,
quorum auspiciis sunt acquisita, ad Dei laudem et calholice fidei exalta-
tionom, fulciri et tueri necesse est, huiusmodi supplicationibus inclinali,
serenitati luacT, ul venerabilis frater Episcopus Lamacensis modernus, ac
pro tempore existens Capellanus maior tuae Capeliae Regiae, quoscunquc
clericos in minoribus ordinibus duntaxat constituios, non tamen beneficia
ccclesiastica obtinentes, quos constilutiones et ordinationes ac sanctiones
tuas, quas (ut prefertur) edidisti, et ad commertiorum et contractionum
huiusmodi conseruationem et ampliationem edideris et promulgaueris in
futurum, dummodo licite et honeste fuerint, et sacris canonibus non sint
contrarié, conlrauenire compertum fuerit, legum constitutionum et san-
clionum huiusmodi poenis ciuilibus, non tamen criminalibus, ac citra
sanguinis eíFusionem aut membri mutilalionem, plectere, muiclare, puniré
et castigare, in personis et bonis immunitate et priuilegio clericali, qui-
bus tales transgressores et delinquentes vti posse minime volumus, li-
bere el licite possit ct valeat, plenam et liberam auctorilate apostólica Ic-
nore presenlium licenciam concedimus et facultatem : Non obslanlibus
praemissis ac conslitutionibus et ordinationibus apostolicis, caeterisque
KELACOES COM A CURIA ROMANA 43
contrariis quibusctinque, Prescnlibus ad vilam Maieslatis tuae duntaxat
dnraluris.
Daliim Romae apud sanclum pelrum, sub Annulo Piscaloris, die
xxYii Aprilis MDXXi, Ponlificalus noslri anno Nono. — Euangelisía \
KreTe do Papa I^eao IL, dirigiilo a cl-Rci.
15S1 — AgO!»to 13.
Leo papa x carissime in christo fili noster salutem ct aposlob'cam
benediclionem.
Esl luae serenilali probé notum qiiae sit inler nos, sánela sede- apos-
tólica adiuncta, ei carissimurn in christo filium nostrum Carolum elecluní
emperalorem seniper auguslum facía coniunclio foederis, societalis, ami-
ciciae, in chrislianae quidem reipublicae ac sedis aposloücae sahitem in
perpeluum, Nunc antera hoc ipso tempore aduersus Franciscum regem
francorum, cuius quolidianas iniurías, hoslilemque plenam insolentiae uo-
lunlatem, nec sedes apostólica amplius ferré, neo Caesaris dignilas pati
potuit nec debuit, Cum ab altera iandudum omne decus ac liberlalem,
postremo etiam urbes et oppida abripere, Alterum quo magis publico ac
priuatim christianorum paci, foris bello aduersus fidei hosles intentum ui-
debat, hoc magis inopinatis armis et fraudibus in omni suo slalu pertur-
bare conaretur. Quam coniunctionem etiam arbitraraur serenitatem tuam
existimare maximis et necessariis de causis esse faclam ab utroque nos-
trum, qui Ubi quidem satis cognili sumus, Nos ut pacis im primis aman-
tissimi, et tranquillitatis studiosissimi, Caesar ut óptimo ingenio, milissima
natura, summa in deum pietate ac religione, el quidem ambo tibi arcti|í,-
sime deuincti, nos singulari et perpetua beniuolentia, ille aífinitate etiam et
sanguino. Sed uicit naturamutriusque nostrum eorum rabies, qui nihil fidei
nihil rationi Iribuentes, omnia ad cupiditalem referunt suam, \'t turpem et
periculosam quietem reiiceremus, et arma communi reipublicae chrislia-
nae bono et huic sanclae sedi salutaria caperemus. Ac quac Caesarem
^ Aucn. Nac, Mac. 22 de Bullas, n.° 18.
44 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGÜEZ
quidein mouerinl causae vi fraudulenlura el impium illalum bellum iuslo
alque pió bello propulsaret, cum aliae mullae manifcslae sunt ul comme-
moratione non egeanl, tum vero una polissima, ñeque adeo uulgaris, quod
ille sibi máxime et suae dignilali debilam, pienam gloriae, el apud deum
merili arbitralus est, sanclae sedis aposlolicae propugnalionem. Nos uero
quol, quanlisque acerbis ad hoc idem agendum iniuriis fuerimus com-
pulsi, vlinara Ubi commemorare lilleris possemus ; Sed quod non possu-
mus sumus horlati dileclum filium Michaelem de Silua oratorem apud nos
tuum, hominem acri ingenio et prudentia, vt copióse te edoceret. Nos
pauca haec scribimus : In ea nuper, quam cum eodem francorum rege ha-
bebamus, socielate cum in eum nostra pene omnis se cíTudisset, el huius
sanclae sedis liberalitas, non fuisse nobis ab eo responsum ñeque in fide,
ñeque in promissis, Cum, quae pro ipso essent conuenta inler nos, ea acer-
rime sibi seruari uellet, idque minaciler arroganler; Quae uero pro libér-
tale ecclesiastica cauta essent oninia contereret, contemneret, infringerel.
Itaque et ómnibus in rebus ab eo uiolala, alque illusa dignilas ecclesiastica,
Et qui ex subieclis ipsius iuxta foederis formara confugere ad hanc sanclam
sedem conali sunt, alii in flumina praecipitali, alii in carceribus ad mor-
lem sunt adacli, laliaque in eos exempla perpétrala, qualia ne ab imma-
nissimis quidem turcis perpeluis noslris hoslibus expcclare poleramus.
Quid de decimis loquemur el de cruciala, ex qua cum ille ingeniera sum-
mam pecuniae recepisset, maximoque sese iuramenlo deo obslrinxissel,
nusquam se pecunias eas nisi aduersus infideles erogalurum hoc biennio
a nobis rogalus, cum imminerel grauis terror classis barbaricae, vi clas-
sis aliquanlum ad defensionera rhodiorum, el slalus ecclesiaslici el lillo-
ris chrislianorura milleret, superbissime respondit : Caeleri, quae.ipsorura
essent, defendercnl, se sua, cum essel opus, defensurum esse. Al ubi fides?
vbi iusiurandum, vbi illa a deo accepla, el eidem deo debita pecunia?
Nihilo haec omnia magis quam amiciciae noslrae fides ab illo habita sunt,
Al quotiens, et quomodo et quibus uerbis? vi facili appareret, nihíl no-
bis, naque sánela sede hac apud aniraum illius despeclius, nihil conlem-
plius esse. Quae omnia haec acerbiora nobis acciderunt, quo memoria te-
neraus, ñeque id nos unquara í)¿iI fides calholica potuit obiiuisci, qua lúa
serenitas animi magniludine quo studio erga deum et classem tune ap-
paraueril, el omnia nobis ac diuinae religión! oblulerit auxilia. Egimus
sepe praecibus, institimus qucrelis, vt animum conuerleret ad ea, quae
RELACOES COM A CURIA ROMANA fin
ipsius fides, et christianissimum nomen requirebat, facienda. Quarum prae-
cum nostrarum hunc exitum habuimus, \l nouissime per siios ministros,
per causam exulum suorum inquirendorum, súbita nianu noslram el san-
clae roraanae ecclesiae ciuilatem Regium Lepidi oppugnaret, el nisi slu-
dium populi el praesidum diligentia affuissel, fueril illam iniquissima frau-
de el iniuria a sedis aposlolicae gremio abreplurus. Hic nobis finis pa-
cientiae fuit, ñeque ullerius expectandum duximus, quin manifestam sta-
tus auctoritalisque ecclesiasticae ruinam deo el caesare adiuuanlibus ful-
ciremus. Quem enim ñeque in foedere el amicicia fides, ñeque in oíTicio
religionis iusiurandum, ñeque in finibus uiolandis alienisque rapiendis
aequitas conlineret, quid sperare potuimus illum in poslerum melius esse
faclurum ? Genera tibi iniuriarum memorauimus, nam iniuriae innume-
rabiles sunt. Sed, per deum immortaiem, nisi nos ad necessaría el sancta
arma contra talem hoslem pro sedis aposlolicae tutela deuenissemus, quis
nos iure aut romanum ponlificem aut christi uicarium arbilrarelur? In
qua uoluntate el animo ita nobis caesar, nosque illi coniuncli sumus, \t
unum sil uelle, vnum nolle, nec alleri nostrum ab altero quicquam sil
aut in honore, aul in salute disiunctum. Ac ille quidem magnifice alque
preciare in causam christianae reipublicae, deo auspice el adiutorc, in-
gressus esl. Nos, quoad possuraus, subsequemur. Sed quod fuit nobis
scribentibus propositum, arbilramur nos ex deo el ex amicicia nostra fa-
cluros, si serenitatem tuam ad huius praeciari operis sociefatem, in quam
caeteri omnes iam reges christiani aut consenserunl, moti indignitale rei
et pacis christianae zelo, cuius hic unus assiduus turbator esl, aduocabi-
mus, \el quod vtrunque nostrum diligere teneris, nam caesar tuus est
et tui obseruantissimus nepos, nos tibi semper amicissimi, \el quod lúa
excellens el eximia in omni genere uiríus poslulal, vi iuslissimam, san-
clissimamque causam, aposlolicae sedis defensionem, quae certc nec in-
ferior est, nec deo minus grata^ quam sil infidelium nalionum expugna-
t¡o>susc¡pias. Siquidem sua et propria tueri, quam aliena appetere, moio-
ris fuit semper el uirtutis, el in laii quidem causa etiam pietatis. Et nunc,
ne ueteres illos Carolos Olhonesque memoremus, clarae memoriae nupcr
Ferdinandus rex catholicus socer tuus, cum paralissimam haberet clas-
sem ad iustissimum belUim in áfrica contra infideles gerendum, vbi sen-
sit huic sanctae sedi ab his eisdem gallis imminere discrimen, non ne
omissis caeteris ómnibus tanquam in iusliorcm el deo acceptiorem cau-
Í6 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
sam ad eam sublcuandam arma conuerlit, cuíus facli et sumniam apud
homincs laudem, el in cáelo máximum esl premium conseculus* Non est
profecto ncc lúa uirlus minor, nec prudenlia inferior. Quare da le caris-
sime fili in causam dei el noslram et caesaris ; El inler quos lanlum et
naturae et amiciciae foedus esl, sil eliam huius honeslissimi muneris so-
cielas. Nec uero te nouo onere nouis impensis praemere uolumus, sed est
parala ralio luac praeslanlis gloriae. Nuplum das filiam dilecto fdio no-
bili \iro Carolo sabaudiae duci, eamque pro tua dignilate inslruclissima
classe comilalam ad marilum millis, Quam rem serenitali tuae bene et fe-
liciter, el cum diuina gratia euenire cupimus. Sed eam classem, si ad du-
ces tuos scripseris vt ad noslram et Caesaris uoluntalem cum vlriusque
noslrum classibus in promptu leneanl, lutandis ilaliae, et status ecclesias-
tici lilloribus, quibus ab hoslibus imminet timor, et quidem paucis bis
. mensibus dum tula est nauigatio, hoc máximum tuae pietalis et erga se
amoris monumenlum habebit sedes apostólica. Hoc ut facías, carissime fili,
magnopere le in domino obsccramus. Nihil nobis opporlunius, nihil cae-
sari ipsi, amico, fratri, nepoli luo gratius, aut utilius efficere potes, ñe-
que adeo tibi ipsi. Etenim queral serenilas tua ex nobilissimo Duce ge-
nero suo, cum quo sumus eliam nos omni societale summi amoris con-
iunclissimi, quo modo ille a Francisco rege traclatus, et quoliens in dis-
crimen slatus et salulis suae adduclus fuerit, quam habeal securitatem,
quam slabilem fidem rerum suarum. Cognosces profecto nihil ab horum
hominum cupidilate et superbia tulum esse posse, Inlelligesque suscipien-
dam tibi causam, si et honoríficas filiae tuae nuptias et dignilalem generi
saluam esse uoles. Sed haec el alia uberius idem tuus oriilor per Hileras
tibi significabil. Nos exlremum hoc ponimus, si serenilas tua hoc tempore
sese nobiscum et cum caesare suo, in dei et saedis aposlolicae et chris-
tianae reipublicae commodum honoremque, coniunxerit, futurum hoc tibi
ad laudem gloriosura, ad sccurilalem tuorum, et memoriam omnium nos-
lrum lui lanli in nos oíücii adque promerendam omnem noslram et Sodis
aposlolicae liberalitatem frucluosum.
Datum Romae apud sanclum petrum, sub annulo piscatoris, Die xif
Augusli MDXXi, Ponlificalus Noslri Anno Nono. — la. Sadoletus *.
/
' ARcn. Nac, Mac. 30 de Bullas, n." 11. Nofimdo breve esíUo as palavras seguin-
tes, que julgamos screm do proprio punho de S. S. llortamur ct ¡nslanter pclimus a
Maicstatc tua ut nullo pacto Nobis ct huic Scdi uclit deesse.
RELACOES COM a curia romana 47
ItrcTC fio Papa licao X, flirigiilo ao Secretario
fie Kistado il.utoiiio Carneiro.
Ia91 — Agosto 12,
Leo papa x Dilecte fili salutem el apostolicam íjenedicUonem.
De lúa prudentia et de ca gratia, quam apud islum clarissimum re-
gem mérito oblines, quaraque libi fidem ipse habeat rex plañe edocli
exislimauimus quibusdam in rebus ad chrisliane reipublice bonum spe-
ctanlibus, quas a rege cupimus impetrare, cum aplam admodum, tum
accommodatam nobis fore operam et personara tuam, Nara et in uirtute
confidimus, et de tua óptima erga nos et hanc sanctissimam sedem uo-
luntate non dubitamus. Commisimus igitur dilecto filio Michaeli de sylua,
regio apud nos oratori, bomini prudentissirao, et quod faciie perspexi-
mus tui amantissimo, ut is ad te consilia noslra, et quid per te fieri
iiellemus, perscriberet, Horlaniur deuolionem tuam in domino ut eius
fidem litteris babeas, tibique ila persuádeos, quicquid nostra et sedes apos-
tolicae causa laboraueris, id nobis ila gralum futurum ut memoriam lanli
tüi officii simus in animo nostro perpetuara conseruaturi.
Datura Romae apud sanclura petrura, sub anulo piscatoris, Die xii
augusti MDXxi, Pontificalus noslri Anno Nono. — la. Sadolctus K
Sreve do Papa lieao H^ dirigido a el-Rei.
15191— Agosto so.
Leo papa x Carissime ia chrislo fili noster salulem et apostolicam
benediclionem.
Etsi cum recle intelligeremus quod studium Maicslalis luac seniper
^ Arch. Nac, Mac. 36 de Bullas, n.° 6i.
48 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
cxlilissel diuinac fidci conscruandao, chrisUanique nominis el Imperii pro-
mouendi, cumquc interiores animi tui sensus, sanólos illos quidem et ad
deum directos abunde notos et perspeclos haberemus/qunsi animo cer-
nebanius qualem praestatura se esset Maiestas tua in publica fidei causa
aduersus Luleranam prauilatem ; Tamen dici non polest quam iucunde
acceperimus eam pro sanctae ecclesiae dei, nostraque et huius Sedis di-
gnitate alque auctoritate conseruanda aduersus immane monslrum omnl
ope sese opposuisse. Quod factum Maiestatis tuae et oportunissiraum et
máxime consenlaneum cum quotidianis suis piis sanctisque actionibus ita
accepimus, ut pro eo eidem Maiestati Tuae ingentes et quantas presentís
temporis ratio poscit, gralias habeamus. Quanquam enim causa ipsa bo-
nilate sua omniumque Christianorum Principum ope et praesidio satis
communita sit, Tamen ex tam illustri propugnatione Maiestatis tuae má-
ximum robur et auctoritatem uidetur accepisse Cum mortales ita inter-
pretentur non posse esse, nisi oplimam et sanctam eam causam, ad quam
defendendam tam optimi et uere Chrislianissimi Regis nomen, uoluntas,
opera, auctoritasque conspirarit. De Lulero quidem nefario homine nihil
postbac timendum esse censeremus, ita est ómnibus tum huraanis tum
diuinis iudiciis aíllictus, ac pene profligatus. Sed cum eiusraodi pestilen-
liae planlae interdum rubusliores renasci soleant, nisi a principio euel-
lanlur, radicitusque exlirpenlur, opere pretium erit in prosequendo mons-
tro nihil de sólita diligcntia remitiere, Sed usque ad extremam eius inter-
nilionem uigilanlissime excubare, in quo nihil uidetur pelendum a Maies-
tate tua nisi ut facial quod praeclare fácil. Caelerum de noua necessitudine
quam scribit Maiestas Tua cum dilecto filio Nobili viro Carolo Duce Sa-
baudie contraxisse Data ei coniuge Nobili mullere Beatricae nata tua sane
mullum gauisi sumus, Matrimoniumque honeslissimura ex nostra et dei
optimi maximi parte largiler benediximus optantes ipsis sponsis omnia,
quemadmodum merenlur et spcrant recle felicilerque succedere. Adiunxit
quidem sibi generum Maiestas tua non solum fortuna et auctoritate sed
etiam dignitate, uirlute el prudentia ornalum, ex quo non dubilamus quin
eos fructus perceplurus sis, Qui ex praeclaris Viris, opLlimisque generis
percipi solent. Nostrum aulem gaudium de rebus luis eo iuslius est, Quod
Maiestas Tua cum eo Principe necessitudinem conlraxit, qui nobis non so-
lum amicitia sed etiam aHinitale est coniunctus, a quo uidemur sperare
posse omnia oííicia uiribus iSobililatis suae presentiquc Icmpori conuenien-
RELACOES COM A CURIA ROMANA 49
lia. Quibus de rebus copióse loCuli sumus cum dilecto filio iMichaele Sil-
uio oratore apud nos tuo, cuiíis litteris Maieslas lúa polerit adhibere omnem
fidem.
Dalum Romae apud sanclum Pclrum sub annulo piscatoris Die xx
Augusli MDxxi, Pontificatus Nostri Anno Nono. — Bembus per Fauonium
de mándalo \
Bulla do Papa licao IL.
15S1— üetembro SO.
Leo episcopus seruus seruorum dei üniuersis et singulis présenles
lilleras inspecluris salulem el aposlolicara benediclionem.
Dudum siquidem ad supplicationem Carissimi in christo filii nostri
Emanuelis Porlugalie el Algarbiorum Regís, pro orlhodoxe fidei exalla-
lione el propagalione, ac Classis eius raaritime feliciori nauigalione el lo-
corum de manibus Infidelium recuperatione, ómnibus el singulis christi
fidelibus in partibus Aífrice, Elhiopie, Arable, Persidis el Indie bellum
gerenlibus, Mediéis, Aromalariis, et tam ligni quam ferri el allerius Me-
talli fabris, suloribus, Machinariis, el cuiusuis Arlis officialibus el ope-
rariis ac seruiloribus el minislris, ad dictas parles de mandato dicli Re-
gis aul eius Prefectorum proficiscentibus, el inibi commoranlibus, vi Con-
fessorem ydoneum presbiterum secularem, vel cuiusuis ordinis regula-
rera, qui eos in articulo mortis a quibusuis peccatis et excessibus, quan-
luncunque grauibus et enormibus, in casibus eliam sedi apostolice reser-
uatis, absolui, ac omni«m peccatorum suorum plenariam indulgentiam et
remissionem impenderé et elargiri posset, necnon si aliquem ex dictis per-
sonis absque confessione aul morte subitánea decedere contingeret, dum-
medo signa deuotionis seu contritionis apparuissenl in eo, eandeni plena-
riam remissionem et absolutionem consequeretur, per alias nostras Hile-
ras facultatem concessimus, prout in illis plenius continetur. Cum au-
tem, sicul Ídem Rex. nobis nuper exponi fecil, ipse postmodum diuino
auspicio quamplurimas ínsulas, Prouintias et loca recuperauerit et ditioni
^ Akch. Nac, Mac. 31 de Bullas, n.° 19.
TOMO II. 7
50 GORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
sue adieceril, el propterea summopere cupial Hileras el facullalem eligendi
Confessorem, el consequendi indulgenliam huiusmodi ad quoscunque chrisli
Fideles in diclis lerris, Insulis, Prouintüs, el alus locis de nouo acquisi-
tis, el pro lenipore per ipsum Regem acquirendis, tam in niari Rubro,
Perside, Malacha, Zamalra, el Sinarum Regionibus exislenles, el lam in
bello quam in nauigalione el expedilione Ierra marique decedentes, dum-
modo ad dictas parles de mandato prefali Regis seu eius Capilaneorum
eant, aut seruitiis ipsius Regis insislant, exlendi el ampliari. Quare pro
parle ipsius Emanuelis Regis nobis fuil humiliter supplicatum \\ eius pió
el honesto desiderio annuere, aliasque in premissis oportune prouidere de
benignilale apostólica dignaremur. Nos, qui piis el honestis Catholicorum
Regum desideriis, presertim fidei orlhodoxe exallalionem concernentibus,
quantum cum deo possumus libenler annuimus, huiusmodi supplicationi-
bus inclinali, litteras prediclas, ac eligendi Confessorem et alias faculta-
tes in diclis litteris, quarum tenores de verbo ad verbum presentibus ha-
beri Volumus pro expressis el inaertis, contentas, cum ómnibus in eis con-
tentis clausulis, ad quoscunque chrisli fideles in diclis terris, Insulis, Pro-
uintüs, et alus locis de nouo acquisitis, et pro tempore per ipsum Ema-
nuelem Regem acquirendis, tam in mari Rubro, Perside, Malacha, Za-
malra, el Sinarum Regionibus existentes, el tam in bello quam in naui-
galione et expedilione térra marique decedentes, dummodo ad dictas parles
de prefali Regis seu eius Capilaneorum mandato eant, aut seruitiis ipsius
Regis inibi insistant, auctoritate apostólica tenore presentium exlendimus
el ampliamus, Presentibus ad ipsius Regis vilam dumlaxat valituris.
Datum Rome apud Sanctum petrum Anno Incarnalionis dominice
Millesimo quingentésimo uigesimo primo. Duodécimo Kalendas Octobris,
Pontificatus nostri Anno Nono. — Bal.^^ de Piscia '.
' Abch. Nac, Mac. 21 de Bullas, n." 4.
HELACOES COM a curia romana .'íl
Bulla do Papa I^eáo IL, dirigida ao Rei
da Etbiopia.
1581 — iSeteiiiliro SO.
Leo Episcopus ele. Charissimo in Chrislo filio David Elhiopie el Ab-
bitie ac Nili Regí illustri salulem.
Cum superioribus annis charissimus in Chrislo filius noster Emanuel
Porliigalie el Algarbiorum Rex illusiris ad nos scripsisset maieslaiem tuam,
cuius potentia iamdiu nobis nota fuerat, summopere desiderare confede-
rationem cum ipso inire, ut iunclis animis ac viribus orthodoxam christi
fidem siniu! propagare ac superstiliosam Maumelhe seclaní exlirpare, san-
clamque Hierusalem et sanclissimum Redemptoris nostri sepulchrum ab
impiis infidelium manibus recuperare posselis, ac proplerea oratorem quem-
dam ad eius maieslaiem destinasse, valde equidem g'avisi sumus, el om-
nipolenlem Deum rogare non cessauimus, ut per suam graliam et mise-
ricordiam nobis concederé dignarelur ut tantorum Regum máximas vi-
res et opes invicem uniri, et contra dictos infideles converli aliquando
videre possemus. Postquam vero nuper idem Emanuel Rex, non minori
desiderio amiciliam el confederationem tuam cupiens, nos certiores fecil
classem suam mare rubrum ingressam, Dei gratia, ad Regna tua inco-
lumen pervenisse, eiusque capilaneum de maiestalis lúe mandato benigne
honorificeque a luis exceptum cum Rernegar Vicerege luo, super hoc ab
eadem maieslate lúa mandatum habenle, nomine prefali Emanuelis Regis
fedus et ligam perpetuara ad eiusdem Christi fidei exallafionem, eiusque
hoslium depressionem fecisse, ac reperisse Regnum tuum amplissimis ci-
vilatibus magnificum, Ecclesiis, ac religiosissimis monasteriis abundare,
in eoque Christifidelem in magno cullu, ac debita veneralione haberi :
incolasque el habitatores ipsos fateri et credere beatum Petrum aposlolo-
rum Principem verum Christi Vicarium in terris fuisse, nosque eius suc-
cessores esse, el sanctara Romanam Ecclesiam lamquam matrera suam
recognoscere, nec ab ea in fidei doctrina, presertim circa substantialia,
discrepare: Nunquam dici nec exprimí posset quo gaudio, quantave le-
7* ..
52 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
tilia cor noslrum in Domino exullavit. El proplerea coosideranles, ac
mente volvenles incomprehensibilia Dei iudiciu, el invesligabiles \¡as eius
esse, el se quandoque liumiles Chrislifidelium preces ac petiliones non
exaudil, non proplerea res respuere, sed in témpora magis opporluna dif-
iere, exslimavimus nullum magis opportunum lempus fuisse, quo pro Uni-
versali chrisliane Reipublice bono sánela hec inler eumdem Emanuelem
Regem, ac maiestatem luam confederalio, el amicitia fieri deberet, cum
hoc ipsum tempus exislil, quo propler Selimum Turcarum Tirannum e me-
dio sublatum, eiiisque exercilum contra Sultanum el Sophi diminulum
magna se oíFert occasio id eíficere, quod ulerque vestrum, et nos magno-
pere semper optavimus, ipsos videlicel Turcas pre ceteris infidelibus chris-
liane Religioni obstantes, ac magnum Christifidelibus lerrorem et pericu-
lum minilanles debellare, ac penilus destruere, illisque viclis ac debella-
tis, efíicere ul prophelicum illud adimpleatur, unus pastor et unum ovile.
Ut ergo nostram el venerabilium fralrum nostrorum sánele Romane Ec-
clesie Cardinalium letitiam et singulare gaudium christiano populo signis
exterioribus manifestaremus, ac ipsi Deo graliarum largilori, et a quo
omne dalum oplimum et omne dalum perfectum provenit, gratias agere-
raus ad ipsius Dei laudem, eiusque fidei exaltalionem, solemncm missam
in Capella noslra coram nobis et sánele Romane Ecclesie Cardinalibus ce-
lebrari fecimu's in die assumptionis Beale Virginis, cuius apud Omnipo-
tentem Deum inlercessione faclum credimus ut cor luum inspiraretur ad
confederationem dicti Emanuelis Regis optandam, et ab eo per nunlium
luum et oratorem pelendam ; ipsius vero Emanuelis Regis animus ac-
cenderetur ad classem istuc mittendam, et confederationem ipsam, q«am
ulerque vestrum pari desiderio optabat, firmandam el concludendam. Ul
vero eadem maiestas lúa rem ipsam inlelligat quo amore eam prosequa-
mur el in visceribus charilatis geramus, el quoscumque honores, ac pri-
vilegia, que cum noslro et huius Sánete sedis honore concedi ^oterunt,
prout ipse E. Rex fraterna charitale tibi devinclus a nobis petit, conce-
deré parati sumus, dumraodo ipsa maiestas lúa ila se disponat, ul non
solum ipsa, sed omnes etiam regnicole sui, ac sacerdotes lam seculares,
quam regulares in iis que fidei sunl Sánete Romane Ecclesie omnium Ec-
clesiarum malris conveniant, el ab ea ne in minimis quicquam discre-
pent. Quod ul facilius fieri possit eundem Emanuelem Regem noslris lil-
teris horlali sumus ut aliquos Regni sui Episcopos el alios sacerdotes
RELACOES COM a curia R03IANA o3
vita et moribus exemplares, ac sacrarurn scriplurarum el iuris canonici
peritos, ad Regnum istud tuum destinare velit, ut videant quas cerimo-
nias, et quos ritus circa divinorum celebrationem servent, quove modo
Patriarciía Ecclesie Alexandrine, eius occurrenle vacatione, eligatur, et
quomodo consacretur, quibusve indumentis ipse Patriarcha et alii dicti
Regni lui presbileri etiam in divinis ulantur. Et propterea sumptum lil-
terarum felicis recordationis Eugenii ini predecessoris in Concilio Flo-
rentinensi editarum, per quas breviter et compendióse ipsius Orthodoxe
fidei veritas, quam Romana tenet et profitelur Ecclesia, armenis populis,
ut ídem per omnia saperent cum Sede apostólica data fuit, ad eundem
Emanuelem Regem misimus per dictos Regni sui Episcopos et nuncios
suos istuc transmitlendos, quo omnes inlelligant, si recle orthodoxam fidem
servare voíunt, ul ipsi Deo, qui per suam ineífabilem clemenliam omnes
vult salvos fieri, sincero corde ac illibato religionis candore serviré de-
beant. Ipsi eliam Patriarche cum ab alma Urbe noslra tam longis Ierre
marisque spaliis distenl, si in premissis nobis et dicte Romane Ecclesie,
prout speramus et oplamus, conformes fuerint, privilegia, el uberes gra-
lias, quibus gregi «sue cure» crédito, in bis que ad salutem animarum
fuerint necessaria, opportune providere valeat, concederé parali erimus.
Cum aulem mulla sinl, que nos de maieslalis lúe circa orthodoxam Christi
fidem devolione, ac debita erga nos el hanc sanclam sedem apostolicam,
in qua permissione divina redemus, obedienlia bene sperare inducunt,
illud profeclo máximum est, quod, ul idem Emanuel Rex nobis signifi-
cat, libi adhuc in teñera etate consliluto, ea quasi divinilus maler dala
est, que sanclissimis moribus ac saluberrimis documentis le, doñee fir-
mior ac maturior advenlabit elas, ila semper monebil, prout hactenus
eam monuisse percepimus, ut in spiritualibus Deo placeré, in lemporali-
bus aulem Regnorum tuorum régimen optime administrare possis, ac ipsi
Deo gratias agere quod genitore defunclo, talem libi reliquerit genitri-
cem, que prudenlissimi palris, simul ac pienlissime matris officium et
munus adimpleant. Quapropler maieslalem luam in Domino hortamur,
el quo possumus affeclu requirimus, ut dicle matri le ad nostram el di-
cte sedls devotionem et obedienliam, ut obsequentem filium, ac veré Ca-
tholicum Principem decel, parere, ac in federe el unione cum dicto Ema-
nuele Rege inila conslanler ac fideliter perseverare^ eiusque nuncios ad
serenitalem luam pro tam Sánelo opere accedentes, pro eo devotionis fer-
U GORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
vore, quem ipse Emanuel Rex te in bealum Petrum el Sedem aposloli-
cam babere scribil luis ómnibus presidiis el favoribus complecti velis, ut
le adiutore el faulore, commissa sibi negolia feliciler exequi valeanl. Hor-
lamur insuper eamdem Serenilalem luam, ut Palriarcham el Glerum, ac
Prelalos predictos, tamquam luos etpopulorum tuorum veros pastores, pro
noslra el apostolice Sedis reverentia omni honoris el favoris auxilio pro-
sequi velis, el a luis eliarn subditis .prosequi facias, ut in ómnibus adió-
nibus el cogitationibus luis, Deo propitio, prosperan, ac demum post vite
tue terminum a relributore omnium bonorum Domino perennis vite pre-
mium consequi merearis.
Dalum Rome ele. anno etc. millesimo quingentésimo vigésimo pri-
mo, duodécimo Kalendas Octobris, Pontificalus nostri anno nono ^
OuUa do Papa Leao X, ilirigida aos Prelados»
da Ethiopia.
1521 — fiíetembro 20.
Leo Episcopus etc. üniversis archiepiscopis, episcopis, abbalibus,
Prepositis, ceterisque prelalis atque principibus, clero, el universo po-
pulo Ethiopie el Abbilie, ac Nili Regnorum salutem.
Cum classis carissimi in Ghristo filii nostri Emanuelis Portugaiie et
Algarbiorum Regis illustris ad Regnum istud. Domino concedente, inco-
lumis perveneril, ipseque Emanuel Rex suorum litteris certior factus ad
nos scripserit, ac per ejus oratorem nobis nuncía veril, vos fidem catho-
licara, quam quicumque vult salvus esse íirmiler credere tenelur, fideli-
fer credere, el bealum Petrum Apostolorum Principen! Ghristi Vicarium
fuisse, nosque ejus successorem el universalem paslorem esse, miro gau-
dio cor noslrum exullavil in Domino el in Jhesu salulari nostro. Paterna
autem consideratione altendentes quod Deus, qui in excelsis habitat, vos
in islis adeo longinquis Regnis in vera fidei unitale perseverasse, gralia
sua vobis desupcr suífragante concessil, Speramus eliam quod ejusdem
' Copia authentica extrahida do archivo do vaticano.
RELACOES COM a curia romana 55
sedis clemenlia vobis condonabilur ul hanc sanctam sedem et beatorum
apostolorum limina libere adire ac revereníer visitare, et oculis videre
que fratres vestri non potuerunt, tempere noslro poleritis, spiritualemque
inde consolationem et mentís refectionem consequemini. Mérito itaque, fra-
tres et filii nostri, postquam hec ex dicti Regis litteris ejusque oratore de
vobis audivimus, Omnipotenti Deo hosliam obtulimus jubilationis et lau-
dis, idque vobis insinuandum duximus ut, nostrorum in Domino gaiidio-
rum participes facti, divine pielali nobiscum gratias referatis. Hortamur
itaque devotionem vestram ut christiane devotionis aífectu et fidei zeio
moti orationes publicas fieri faciatis, partim altissimo gratias referendo de
confederatione inter vestrum et Porlugalie Reges pro fidei catholice exal-
tatione divina permissione inita, partim Iiumilibus ac devotis precibus di-
vinara ejus magestatem orando ut complere dignetur opus suum, quod
per Reges ipsos inchoare non dedignatus est ; hortamur quoque ut veli-
tis sedulo excogitare, que ad honorem veri Dei et hujus Sánete Sedis
Apostolice, et pro honore sedentis in ea spectanl et hiis reverenti ac de-
vota mente perseveretis et subditos vestros ad perseverandum inducatis
in Domino, qui piis operibus favel el in se operantes non deserit, firmam
et validara spem gerentes quod in ómnibus actionibus et cogitationibus
vestris feliciter prosperabais, ac demum post hujus vite términos ab ipso
Deo omniura bonorura retributore perennis vile premium 'consequemini ;
vobisque persuadeatis quod vos tamquara peculiares fratres et dilectos filios
nostros in visceribus charitatis semper habebimus, ac pro vobis et toto
populo christiano nobis crédito continuas preces effundemus ut animas
vestras in ea puritate qua créate et redempte fuerunt, earum creatori et
redemptori tándem reddere possitis ; nosque talem gratiam consequi va-
leamus ut vos aüquando oculis noslris inspicere ac corara benedicere pos-
simus. In divina autem clemenlia speramus quod pium de»ider¡uni nos-
trum aliquando exaudiré, ac nos voti nostri hujusmodi compotes faceré
dignabitur, quam etiam vos toto corde el sine intermissione super hoc
orare atque exorare non omittelis, noslrisque paternis tanquam ab ipso
Deo vobis missis monitionibus alacri et prompto animo parere curabitis.
Datura Rome apud Sanclum Petrum anno millesimo quinge'ntesimo
vigésimo primo, duodécimo kal. Octobris, anno nono '.
^ Copia authentica extrahüa do archivo do vaticano.
oí; cokpo diplomático poktüguez
Bulla cío Papa Lcao IL, flirlg^Ida ao Patriare ha
de Alexaudria.
loSl — Setembro SO.
Leo Episcopus etc. Venerabili fratri Marco Palriarche Alexandrino
salutem.
Magnas Omnipolenti Deo gralias nuper eginius postquam charissi-
mus in Christo filius nosler Emanue! Porlugalie et Algarbiorum Rex
illuslris per suas Hileras nos cerliores fecit classem suam, quaní pro
federe cura carissimo ¡n Chrislo filio noslro David Ethiopie et Abbilie
ac Nili Rege illuslri contra sarracenos el quoscunique alios infideles
ineundo miserat, divina cleaientia salvam el incolumem ad Regna isla
penelrasse, ac perpetuara confederationem el amicitiam inter Emanue-
lera e\ David Reges prefatos ad Omnipolentis Dei laudera christianeque
fidei exaltationera firmatara el conclusam fuisse, ut vinctis animis ac vi-
ribus sanctara contra diclos infideles expeditionem suscipiant, ac terrara
sanctara et venerandura' Ghristi Redemptoris nostri sepulcrura a sarace-
norura raisera caplivitate rediraanl, ac ipsius Ghristi fidera ul in celo ita
oliara in terris Iriumphantem reddanl. Que res raagno gaudio ac spiri-
tuali consolalione animum noslrura raaxirae replevit. lllud etiara sum-
mopere nobis placuit quod idem Eraanuel Rex per easdem Hileras suas
nobis diligenter significavil se ex suoruní litleris ac nunciis cerlum et
exploralum habere Regnorura istorura Íncolas el habilatores tara laicos
quarn ecclesií^ticos circa orthodoxe fidei veritalera, presertini in substan-
lialibus idem tenere quod Roraana tenel el profitetur Ecclesia, credereque
beatum Pelrum Apostolorum Principem verura Ghristi vicariura in terris
fuisse, nosque ejus successorera esse, el Sanctara Romanara Ecclesianí
tamquam raalrera suam recognoscere. Prclerea sacerdotes ac presbíteros
in Ecclesiis suis preces Deo funderc, ac missas et horas canónicas diur-
nas pariler el nocturnas dicere el celebrare, ut mérito sperare ac nobis
ipsis promiltere possiraus, inlra paucos annos chrislianara fidera suos tér-
minos longe lateque propagaluram fore, modo nos tales prestemus et pre-
RELACOES COM a curia romana 57
beamus ul nobis ipsis minime defuisse \ideamur id quod Emanuel el Da-
vid Reges prefali temporalibus presidiis enili, nos vero spiritualibus ora-
tionibus ab Omnipolenti Deo humiliter exorare alque implorare debemus,
et in sánela tidei unione ita perseverare, ac inconsiililem Domini lunicam,
quam miles impius servavit illesam et inviolabilem, custodire, ul in di-
vine majestalis conspeclu graliam invenire mereamur. Cum autem fra-
lernilalem luam lalere non debeal ex illo singularis excellenlie privilegio,
quod unigenitus Dei filius Jhesus Christus Pelro Apostolorum Principi
concessit, procederé ul omnes lam seculares quam ecclesiaslicas dignila-
les oblinenles obedienliam et reverenliam debitas et devolas nobis et huic
Sánete Sedi Apostolice prestare leneanlur, proplerea fralernilatem ipsam
luam in Domino horlamur ac paterna charilate requirimus ul nos el di-
clam Sedem, prout leneris, filiali obedienlia revereri eique in ómnibus
deferre sludeas. Quod si, ul speramus et optamus, feceris, proprie sa-
luli ac eliam honori et commodo tuo et gregi tue cure crédito cónsules ;
nosque, qui Patriarchas et Episcopos omnes fraterna charilate diligimus
et ámamus, ad omnes gratias et privilegia, que cum nostro el dicte Se-
áis honore concedí poterunt, tibi elargienda semper benignos el liberales
invenies ; fraternilas igilur lúa de die in diem in nostra et Sánele Ro-
mane Ecclesie dileclione et obedienlia proficere ac gregem suum in ea
conservare et retiñere curabit. Nos vero pii more patris continuas pre-
ces fundemus ul gralia Dei et Domini noslri Jhesu Christi sil semper vo-
biscum, eademque fraternilas lúa, firmam et solidam de Sede Apostólica
et Petri successore vicario Jhesu Christi spem opinionemque habens, ejus-
dem Sedis Apostolice dogmala, que ipse Emanuel Rex nostro nomine ad
eam mitlil, devole suscipiel ac populis suis fideliter tradet. Ul vero do-
ctrine et sapienlie lumine impleamiríi, quibus possitis et scialis non so-
lum vosmelipsos in recia Domini via conservare, sed eliam popuios et
naílones proximarum genlium et regionum in animarum veslrarum lu-
crum dirigere et una vobiscum ad vitam ducere sempiternam.
Datum Rome ele. anno etc. milésimo quingentésimo vigésimo primo,
duodécimo kalendas Oclobris, anno nono ^
^ Copia authentica extrahida do archivo do vaticano,
TOMO II.
o8 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGLEZ
Carta de el-Rei para D. ilig;iiel da Silva.
15:31 — IVovembro 36.
Dom miguel amiguo nóe elRei vos enviamos muyto saudar.
Os dias pasados, como creemos que seres lembrado, vos sprevemos
e emviámos carta pera o salilo padre sobre a expidicam do capello de
cardeal para o arcebispo de lixboa, e vos mandamos o que a sua santi-
dade niso de nosa parle fallaseis, asy da merce que sua santidade niso
nos farya, e como asy o Receberiamos e yslymariamos, como se pera hum
filho meu Iho sopricasemos, por seus grandes seruicos que delle temos
Recebidos, como por suas verludes e grandes merecimenlos no sprlloall
e temporal] diinos de toda honra e acrecentamento. E nos respondestes
enlam a booa vontade que pera yso achaueis em sua santidade, e como
por follguar de nos fazer merce Ihe prazia o outorgar e niso nos satis-
fazer, pero que a cota dos treze mil ducados, que ho. arcebispo offerecia,
Ihe parecerá pouco, com todo o mais que sobre yso nos entam spreues-
tes ; e de entam ate agora nom ouue lugar pera nisto mais se entender,
porque pella pestinenca pasada o arcebispo esteue sempre alongado de
nos, e amdou por noso mandado acompanhando e seruindo a senhora
Rainha minha irmaa, e tambem porque elle ficou muito gastado do grande
gasto que fez no Recebimento da entrada da Rainha etc. uestes reynos,
em que muy honradamente nos seruio, e por outras causas que nam de-
ram pera esta negociacam lugar. Agora, allera da obrigacam que temos
pera foUgar de Ihe fazer merce, asy da parle de seus boos seruicos como
da parte de sua bondade, virtude, e grande merecimento pera esta onra
e acrecentamento com muita Rezam Ihe caber, se oferece mais elle nos
seruir na ida da Ifante minha filha, com quem a enviamos a saboya, o
que elle aceytou com tam booa vontade como sempre tem pera as cou-
sas de noso seruico, que aínda nos faz mais yslimar o seruico que niso
nos faz, e se aparelha pera yso muyto onradamente e gasta niso muito *
de sua fazenda, pello qual, allem de seus seruicos pasados, este nos obriga
aimda muito mais e desejamos ser concludido este seu negocio, .pello qual
vos encomendamos muito que vos falles logo de nosa parte ao santo pa-
RFXACOES COM a curia romana 59
dre c Ihe dizé que sua sanlidade será lembrado da merce que Ihe man-
damos pidir e sopricar desle capello de cardeal pera o nrcebispo, e do
que niso vos respondeo que folgaua de fazer por nos fazer merce, pello
que Ihe beijamos seus santos pees e de nosa parte llios beijarés. E que
gómenle licou por concludir por parecer a cota que o arcebispo oferecia,
que eram treze mil ducados, pequeña, Ao que despois ale agora se nom
Repricou a sua santidade, nem o tempo deu lugar a niso se entender
pellos impidimentos airas dilos : que pidiimos mullo por merce a sua san-
tidade que por nos fazer grande merce Ihe prazerá conceder e oulorgar
ao dilo arcebispo o dito capello de cardeall por os ditos treze mil cruza-
dos, e que crea que se elle ha mais podera chegar o fizera com muy booa
vonlade. E que por esta cota ho fazer ho Receberemos de sua sanlidade-
em merce, asy como se por menos o fezera a cada hum de meus filhos,
e que,. o que elle agora gas|a e despende por noso $eruico nesla viagem
que faz com a yfanle minha filha, pidimos a sua santidade que Receba
em comía, porque nos como por propria merce que o dilo nos faz o Re-
cebemos, e pera acerqua de todo o que dilo he Ihe fallardes vos enuia-
raos com esla nosa caria de cremca. E vos encomendamos muito que na
conclusam desle negocio, pera se acabar e concludir pella cola dos dilos
treze mil ducados, trabalhés como se pera hum de meus fiThos vos en-
comendásemos esla sopricacam, porque asy voUa encomendamos e Rece-
beremos de vos em seruico o que niso Irabalhardes e fezerdes : e tam-
bera spreuemos sobre yso a carta que com esla vay ao cardeall de sanly
quatro, pella qual muylo aficadamenle esta expidicam Ihe encomendamos
e vos damos crenca pella dila carta, e tambera vos enviaraos cartas de
crenca pera f. e f. pera deles vos aproueytardes nesle negocio e Ihe fal-
larde^ o que vos bera parecer de nosa parle pera toraarera cuidado da
conclusam, e nos eremos que ho arcebispo terá boom cuidado de Ihe fa-
zer seus presentes como seja rezam e que nam vaa o Irabalho diso de
vazio ; e com os priraeiros Recados follgaraos que nos sprevaes o que
niso fazees ; e ruuito vos encomendamos ponhaes nisto todas vosas forcas
pera se acabar e concludir pelos ditos treze rail cruzados, porque asy
nos avoemos niso por seruido de vos como pera cada huum de meus ííiiios
fose, como dizemos. Sprila ^
^ Rascunho sem data no Arch. Nac, Corpo Chron., Part. i, Mac. 27, Doc. 75,
Diz á margem: «Do arcebispo de lixboa — De'xxvi dias de nouembro 1321.»
REINADO
DE
EL-REI D. MO m.
Carta de el-Rei a D. llig^uel da i^ilva.
1581 — Dezembro lO (t).
Dom Miguel amigo nos elRey vos enviamos muylo saudar. Por muy
cerlo aveemos que avees de Receber muylo pesar da noteficacam destas
nouas, que com muyla dor nojo e sentymenlo nom podemos escusar de
vos noteficar, e he asy muyla rezam pella grande obrigacam que pera yso
temdes. El Rey meu senhor e padre, que santa glorya aja, adoeceo de
huumas febres lam agudas que nom vyueo mais de noue días, e no cabo
delles prouue a noso senhor ho leuar pera sy, Recebidos despois de con-
fesado e comungado todos os oulros sanios sacramentos, e com lam yn-
teiro conhecimenlo de sua morte como elle sempre ho teue das cousas de
seruico de noso senhor, a que todas suas obras sempre forara aderemca-
das ; e de seu fallecimento Recebemos tamta dor nojo e sentymenlo como
he a rezam e obrigacam que pera yso temos, pero quanlo em nos he tra-
balhamos por conformar nosa voníade com ha de noso senhor, e Ihe da-
mos gracas e louuores por asy se aver por seruydo, asy como por todas
suas obras todos ho deuemos fazer; e confiamos na sua myserycordia que
pois a eslas cousas nom ha outro mais certo Remedio nom aleuantará a
máo de sobre nos, e nos consollará de modo que o posamos asy seruir
como he a obrigacam que temos e o desejamos. Noleficamos ao santo pa-
dre por nosa carta este fallecimento del Rey meu senhor e padre, que
samta glorya aja, asy como o, deuemos fazer, e por muy cerlo avernos
que sua sanlidade receberá por yso grande sentymenlo por ter nele, al-
lem da obrigacam geral, lam especial seruidor, e que com tamlo amor
desejaua fazer as cousas de seu seruico. Day a sua sanlidade nosa carta,
e dizé Ihe de nosa parte que muylo nos prouuera de poder escusar Ihe
dar noteficacam de laes nouas, mas pela obrigacam que leemos pera yso
nom podemos leixar de ho fazer; que esperamos em noso senhor que asy
64 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
como nelle perdeo filho lam obidiente e lam verdadeiro seruidor, asy co-
brará em nos outro tall, que nisto nom aveemos menos delrabalhar por
allcancar a sua beencam do que em todallas cousas e obras, que como
tam christyanysymo principe sempre fez ; com todas oulras mais pala-
uras, que vos bem parecerem a este proposito, as quaaes ouuemos por
escusadas pera vos que sabemos que tambem ho saberes fazer, e asy como
em tal tempo por noso seruico. Nos fomos logo alleuantado por Rey,
segundo que nos taes tempos se costuma fazer uestes Reynos, por todos
os tres estados, e esperamos em noso senhor que asy teera maao em no-
sas cousas que Ihe prazerá nos dar lugar e tempo pera ho seruirmos como
desejamos. Pareceo nos bem vollo fazer tambem saber pera o poderdes
dizer a sua santidade. Sprita '.
Carta de D. llig;uel da Silva a el-Rei.
15!»»— Maio 9.
Senhor. — Porque vosa alteza me manda que de todallas novas desta
térra Ihe dé larguamente conta, o farey nesta; e porque da morte do papa
liao, e maneira do concraui, e deíFerencas dos cardeais, e deuisao do co-
legio em franceses e inpiriaes, e per derradeiro da milagrosa e santa elei-
cao do papa adriano, e asi da tomada de cornay, e a maneira em que
se a fortaleza deu com toda arlelharia, que era muita, quasi nos olhos d
elRey de Franca, eu tenho escrito com diligencia, e per desvayrados cor-
reos a el Rey vosso padre, que deus tem, mandando por cada correo o
trelado do mesmo, e he inposivel que alguum delles nom seja pasado a
saluamenlo, nam tornarey mais nesla a repricar aquella materia ; soo-
mente direy que na eleicao deste papa ninguem nam se pode gabar que
teue nenhuuma parte, porque deus soo por sua misericordia pera alguum
grande effeyto a guiou por sua mao, que, na maior confusao e menor
esperanca de tam cedo se poder concruir ninhuum bem, huuma manhaá
' Minuta sem data no Abch. Nac. Cartas missivas Mac. 2, n." 341. No verso da
pagina lé-se : «Quinta feira xix días de dezembro 1521 o aleuantamento delRey. »
RELACOES COM A CURIA ROMANA ,65
se acharao amigos e imigos lodos de huum parecer, e consire vossa al-
teza se o milagre he manifestó que sendo toda a diferenca por nam fazerem
papa inpcrial os franceses, que asi se chamam ja mal pecado, e dando
o cardeal de medices aquella manhaa seus votos a este por provar se
por ventura, como se faz ñas eleicóes aas \ezes, outrem por jogatar ti-
uese feyto o mesmo e saise papa e nam sendo porem asi, no ponto que
forao lidos os quinze votos que tinha, todollos oulros cardeais franceses
e nao franceses, e alguuns deiles nao sabendo se este homem era viuo
se morlo, se aleuantarao e como fóra de si a quem iria primeiro Ihe
derao seus votos lodos por aceso, e ouue hi tal dos mais firmes na fée
francesa que, acabado de Iho ter dado e delle ser papa, se vollou aos
que estauao a par delle preguntando Ihes que homem era esle. Desta ma-
neira foy elegido santamente, e bem sem simonía nem sospeita della, pa-
pa adriano aos ix de Janeiro 1522, xiiii dias depois de os cardeaes en-
traren! em conclaui, e quarenta e dous despois da morte de papa liao ; e
se a homens humanamente se ha de atribuir parle desta criacao, primeira-
menle se atribuirá ao cardeal de mediéis, que Ihe deu xv votos, e des-
pois delle ao cardeal da minerva, geral que foy da hordem de sao do-
mingos, que foy o primeiro que se aleuantou e dise qualro palavras era
louuor da pesoa do papa como por exortacao aos outros cardeaes : Iras
ysto todo o que he foy pollo esprito santo manifestamenle.
Esta eleicao por se aver como feyla na propria pesoa do emperador,
sendo esle homem seu mestre e seu governador e em sua casa, sosleue
as cousas de sua alteza em pee, teniendo se todo o conlrairo morrendo
papa liao, per cujo falecimento parecía que falecia lodo o Remedio de
poder manler as cousas de Itailia. E nam soomenle se maníeve o eslado
de millao, mas sempre seu exercito esteve com avantagem no campo ate
que a tardanca do papa e diligencia de alguuns cardeaes franceses, e
principalmenle ao do cardeal soderino pollo grande odio que lem ao car-
deal de mediéis comecou a mover alguuma Revolta pera ver se o podia
deitar fóra de florenca, avendo por ,cerlo que sua pesoa e autoridade
nesta Repubrica he huma grande ajuda das cousas do emperador co-
mo he. Com dinheiros de franca e de alguuns cardeais que ajudao esta
parle, e do mesmo cardeal soderino, o Senhor Renco vrsino com dez
mil homens de pee e quasi mil de cavallo veio a sena pera laucar fora
o cardeal petruchi, que governa aquelle estado, e em sena achou tal
TOMO II. 9
66 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
encontró e asi por -loda a térra de seneses, que nam pode tomar huum
soo pombal, e per derradeiro, viindo aos muros de sena e nam podendo
entrar, deu vergonhosamente a volla perdendo boa parle da gente, e polla
fama os seus falecendo Ihé as biloalhas folgavao de os prenderern por Ihes
darem de comer. E neste mesmo tempo os benliuolhas desterrados de bo-
lonha, filhos de Joham bentiuolha, liranno que fora daquella cidade,
vierao aas portas com acerca de seis mil homens e quinhentos cavallos,
e a cidade se poos em armas, e Yalentemento sayo toda a gente fora e os
desbaratou e prendeo huuma grande parle, e tomou Ihes toda a artelha-
ria que traziao. Em lonbardia os franceses, casi como sendo com cstou-
Ira gente de falla pera em huum mesmo tempo querer provar a fortuna,
forao casi no mesmo dia a poher cerco a pavia, onde estaua o marques
de manlua capitao da igreja, o qual a defendeo tam bem que franceses
aleuantarao o campo e perderao cento e vinte laucas grosas; e \indo já
a elle prospero coluna capitao geeral do emperador soccorrer, e achando
que se aleuantavao e sem muyta ordenanca, Ihes matou huuma boa parte
de soleos. E em todas estas partes venceo a parte imperial estes dias pas-
sados, e o cardeal de mediéis em todos teue muy grande parte e ajudou
grandemente com dinheiros e gente.
Ha dez de feuereiro escreui a vossa alteza como se esperava enlao
que suicos viesem em ajuda de franceses, e asi foy que vierao xvi mil.
Ho emperador mandou o duque com oyto mil alemaes, e antes que elle
achegase erao viindos sete mil outros, de maneira que quando entrou
em millao, onde com grande alegría dos pouos foy Recebido, tinha esta
gente seguinte : alemais xv mil, mi mil espanhois, e pasante de viii mil
italianos, isto gente de pee : de cavallo antre homens darmas da igreja
e do emperador mil homens darmas e mil e quinhentos cavallos ligeiros.
Da gente darmas e como geral capitao prospero coluna : da gente de pee
toda o marques de pescara : da gente do papa ho marques de mantua.
Franceses linhao suicos xti mil seus e de venezeanos, in mil Itallianos,
e outros tres mil que elles pagavao ; tancas grosas seiscentas. Venezeanos
trezentas e outras alguumas de amigos Itallianos. Estes dous exercitos se
esperava cada dia que pelejasem em batalha campal, e prospero colona
por sempre fugir as ocasioes diso nam deixava o mundo de o Reprender
alguum pouquo, até que mostrou que o tinha feyto como boom e sabio
capitao vencendo sem ninhuuma perda de sua gente. E a maneira, se-,
RELACOES COM a curia romana 67
nhor, da vitoria foy esla que cada dia niudava o alogiamento, andando
semprc tirando as biloalhas aos imigos, e poendo seu campo e exercito em
lugares laes, que cumprise aos franceses ou aleuantar o arraial ou ¡r pe-
lejar com elle a sua casa, e os lugares onde se asenlaua erao sempre
muy fortes, e com a muyta arlelharia que Iraz os fazia como fortalezas :
a Ierra era imiga de franceses ; as bitoalhas nam se podiao aver sem pe-
lejar ; de maneira que os poos como bom capilao em tanta necesidade de
tudo que os suicos diserao que se queriao tornar pera suas casas, e os
venezeanos parece que diziao o mesmo. Vendo isto monsenhor de lutre-
che, e o bastardo de saboia grao meslre de franca, que \eio com os sui-
cos e no campo linha a principal autoridade, pareceo Ihes bem, já que
se queriao partir, prouar a fortuna primeyro, e nam com muilo boom
conselho ditirminarao de ir conbater o arraial dos imigos no proprio lu-
gar onde estaua asentado. Ho lugar se chama a bicoca huuma legoa e
mea de millao no caminho direito de monea, que he huum lugarete onde
os franceses estauam alem da bicoca outra legoa e meia, de maneira que
estaua o campo do emperador antre millao e os imigos a meio caminho :
este lugar he lodo cercado de grandes cavas e acequias, como he toda
Lombardia, e estaua de maneira ordenada a artelharia que huuma mosca
nam podía passar sam dar nella. No ponto que a millao veio o aviso que
franceses vinhao em som de querer pelejar, o duque de millao saio com
doze mil milaneses e quinhenlos de cavallo pera se achar na peleja, e já
quando chegou achou a cousa comecada, lodavia sua chegada foy gran-
de ajuda aos do emperador. Franceses Repartirao sua gente em tres par-
les ; A melade dos suicos, com todallas cabecas dos amigos delRey de
Franca, mandarao a dar de pellos na artelharia; os venezeanos polla parte
mais fraca do campo ; elles com a gente d armas por huuma ilharga,
cuydando que sendo daquella parle millao que nam averia cavas, e as
que ouuese os imigos as teriao cheas pera se poderem milhor seruir da
cidade ; e nam era asi que todas as partes estauao a bom Recado. Os
suicos quiserao fazer o que Ihes mandarao e achariío huuma cava que
jiao podiao pasar, e lodavia provando a escopetarla espanholla e alguuns
alemais Ihes matarao no primeiro asalto qualro mil homens : a gente dar-
mas francesa, que passara huuma cava, querendo pasar huuma ponte,
que adianto avia, achou de Roslo a gente do duque de millao e sua pe-
soa e a gente d armas de napolles de huuma parte, e da outra a escope-
9«
68 GORPO DIPLOMÁTICO PORTUGÜEZ
taria Italliana. E no mesmo lempo prospero coluna vendo isto mandou
preslesmenle quinhenlos espingardeyros espanhoes da outra parle, os
quaes o fizeiao de maneira que de quinhenlas lancas que ali erao enlra-
das aamelade ficou eslendida no campo, e era inposivel ser doulra ma-
neira, porque os franceses linhao dianle dos pees muilas e muyto gran-
des acequias, e a gente do emperador com as espingardas fazia ludo a
seu saluo. Com este lamanho daño se parlirao franceses, e ajuntando se
lodos outra vez com os suicos, que já fugiao, se saluaram lodos em huu-
raa bastida em que linhao sua artelharia, e em guarda della lodos os ou-
tros suicos e gente. Venezeanos nam achegaráo tanto auante : dizem que
nam podiao pasar huuma acequia, e outros dizem que nam quiserao.
Morrerao da parle francesa perto de v mil pesoas. A mesma noyte sem
comer nem beber suicos se parlirao e se forao lodos pera sua Ierra ; e
porque dizem que Ihes deue el Rey muitas pagas, levarao presos como
por penhor o bastardo de saboia monsenhor de la paliza, e o eslribeiro
moor delRey de franca: venezeanos se acolheráo as suas Ierras: france-
ses o mesmo a Ierras de venefianos por enlao. Ontem cliegou nova co-
mo seis capitaes da gente d armas francesa se melerao em lodi, que he
huum lugar grande mas fraco perto de millao, e prospero coluna com
os espanhoes Ihes deu o combale e per forca enlrou e matou lodos que
nao escaparao senao vinle pesoas : eram Irezentas e cincoenla lancas, cu-
jos seruidores e archeiros e outra alguuma gente de pee achegavao a qua-
tro rail pesoas : huuma parte morreo a ferro, a outra fugindo se afugou
ao passar de huum Rio. De maneira, senhor, que asi venceo o empera-
dor sem morrer neslas duas pelejas da bicoca e lodi, que he cousa pera
se nao creer, mais que xx espanhoes e quarenta alemaes e acerca de
cem Itallianos, ludo gente de pee, tirando o conde de gulisano neapolita-
no, que morreo de huuma selada na cabeca, que diz que nunqua aquello
dia pode abaixar a viseira do elmele. Com esta nova se deu a fortaleza
de piciguilom e vigeverre que erao de muyla importancia, e agora se
combate a de cramoua ; nem se cree que aja dificuldade nenhuuma em
lomalla, indo as cousas lanío de Rompida como vao. Anlre os suicos mor-
rerao alberlo de la preda, Jorge soprasaso, Jacobo estafen, tres principaes
cabecas da parte que el Rey de franca linha com os suicos, que anlre as
pesoas que cnlendem aquellas cousas ha se a morle destes tres homens
por nam menos dañosa a franca que a principal perda do exercilo. Em
RELACOES COM a curia romana .69
Roma se fezerao grandes feslas por esta nova, e o caslello de sanl angello
descoberlamenle fez fogos. Dizia se que elRey de franca quería \i¡r a
Ilallia ; agora com este tamanho desbarato cumprirá mudar proposito,
porque todo franca nam tornará em qualro annos, segundo dizem, a po-
her em pee outro tal exercito, nem tan) luzido como este era; e com sui-
cos nam se cree que aja por agora maneira de os mover, sendo mortos
os que com elles valiao e podiao, e sendo necesario mais dinheiro pera
pagar Ihes o passado que quanto se despendeo ale agora.
Renco de ceri vrsino tornou outra vez com quatro mil homens a
térra de seneses polla Ribeira do mar, combaleo huum pequeño lugar
que se chama orbitello e nao o pode tomar, e perdeo huum sobrinho
seu, e alguuns de seus principaes que consigo levava : os florentiis e se-
neses fizerao gente e mandao contra elle com ditirminacao de o seguir
ate Roma e destruir alguuns de seus lugares pollo castigar aas direytas.
Com esta imizade do cardeal de mediéis, e com a parte que franca
tem antre os cardeaes, vendo tardar tanto o papa se comecavao a cuy-
dar cousas de muy maa maneira e de grande escándalo na cristindade,
e o cardeal de mediéis ouue cartas aas maos, que eu vy, que tocavao
no mais alto, nam sem pensamento de cisma, de que noso senhor nos
livre por sua misericordia. Daua a islo alguuma ocasiao, juntamente com
a tardanca, nam ter o papa ainda aceptado nem serem de qua idos os
legados com o instrumento da eleicao. Sua santidade como prudente e
letrado, que vio o que isto Relevava e quam fundo ya, por Remediar tudo
aceitou com todas suas cirimonias e mandou qua o instrumento d acey-
tacao, o qual de todoUos cardeaes foy Recebido, e sua santidade ávido
por verdadeiro vigairo de cristo, e com grande solenidade e festa se pu-
bricou em Roma : chama se papa Adriano sexto, que nam quis deixar
seu primeiro nome, e nisto se fez tanbem alguuma cirimonia porque
mandou pidir ao colegio que Ihe fose licito Releer o nome que primeiro
tinha. Sua aceplacao e pubricacao della mando aqui a vossa alteza.
Fala se muito na passada do emperador a Ingraterra e d ahi a es-
panha, todavía eu nam a poso creer, ao menos a espanha por agora, e
podendo o emperador viir a Ilallia sem despesa nem gente, como agora
pode que tudo he seu, nam sey porque o nam fará. Eu vi cartas muy
frescas de Ingraterra por onde se vé craramente que antre o emperador
e el Rey ha hi liga e particolar Inteligencia contra franca, e asi o fazera
70 CORPO DIPLOMÁTICO PORTüGUEZ
saber ao duque de millao e ao exercilo, o que nam pode ser sem casa-
mento antre elles, porque escolia com fauor de franca estes días come-
cou a mover alguuma Revolla, mas he o partido tam desigoall que nam
se vé que posa levar nada adiante, e el Rey de Ingraterra tambem comeca
a ajunlar sua gente e em quanlidade e se vé que he pera pasar o mar.
Praza a noso senhor de poher paz antre elles, que ja seria tempo tras
tantos malíes mortes e Roubos que alguuma das parles cansase.
De Roma sao oje viindas carias como ali era chegado correo por
mar do papa, que ficava em barcelona aos xxix do pasado, e fazia saber
ao colegio como nam podia esperar as gatees do emperador nem as suas,
como estes dias tinha escrito, mas que com aquelles pouquos navios com
que se achava com ajuda de deus se meterla em caminho, de maneira,
Senhor, que segundo os lempos que corremH enlao ate agora S. S. deue
ser muito perlo de Ilallia. Praza a noso Senhor de o'trazer cedo a sal-
vamento que pera aseseguo de seu estado e bem da igreja sua viinda he
bem necesaria. De sua pesoa e letras e tencao virtuosa em todas suas cou-
sas se diz e prega lanío bem que, tendo vista sua milagrosa eleicao, nam
pode ninguem nom estar cheo d esperancas de grandes bens vniversais
da chrislindade.
Por me parecer que poderá muilo Releuar polla ventura a seruico
de vossa alteza ser avisado com diligencia de todas estas cousas, e por-
que nam sey quando acharey outra lal maneira de o avisar, nam ey por
erro despachar esta caravella com estas cartas aa qual Ihe dao 94 di-
nheiros (?). Beijo as maos de vossa alteza, cuja vida e Real eslado noso
senhor guarde e acrecenté como deseja.
De Florenca a noue de maio 1522.
Porque outra tal foy por outra via, e em huum mesmo tempo com-
prio despachar por diversas uias, esta nam pode ser de minha mao.
— Dom miguell da sylua^.
1 Abch. Nac, Corp. Chron., Part. I, Ma§. 28, Doc. 12.
RELACOES tOM A CURIA ROMANA 71
Breve do Papa Adriano 1^1, flirig;ido a el-Rei.
153S — llaio 13.
Adrianus papa vi Charissime in christo fili nosler salulem el apos-
tolicam benedictionem.
Exposuil nobis dilectus filiiis Aries de Soza, Maiestalis luae ad nos
orator, Quae, tam super Magislraluin militiae de chrislo nuncupatae,
qiiam super quarundam ecclesiarum ad presens in Regno luo vacanlium,
et inonasteriorum in eo forsan in futurum vacalurorum, disposilione,
Maieslas tua a nobis et apostólica sede cupit oblinere, cui quidem Maies-
talis luae desiderio nos, pro eius in diclam Sedem meritis el noslra erga
eam affeclione, libenlissimo animo salisfecissemus, nisi id voluntali nos-
Irae obslitissel quod, ul nosce arbitramur Maieslalem luam, non consue-
uerint Romani Pontifices praedecessóres noslri de eiusmodi rebus incon-
sultis Sanctae Romanae Ecclesiae Cardinallbus deliberare, proindeque no-
bis indecens visum est ab eorum inslilulo discedere. Quare Maieslalem
luam in domino^ hortamur el Rogamus ut quod pro noslro et aposlolicae
Sedis, cuius niaiores lui semper obseruanlissimi fuerunl, honore facimus,
in Bonam parlem accipias. Id aulem ad presens nobis visum est posse
nos Maiestati luae concederé, ul doñeo nos ab vrbe absenles erimus et
per dúos vel tres menses post nostrum in eam ingressum, quo lempore
de praediclis Magislralu et Ecclesiis ac monasleriis debita prouisio fieri
et lillerae expedilae ad le milli polerunl, 3Iaiestas lúa suo arbitrio ma-
gislralus quidem dicti fructus per se ipsam administrare, in vacanlibus
vero tam ecclesiis quam monasleriis si quae vacant, aut interea vacaue-
rint, administratores deputare possit, qui ipsorum fructus, redditus et
prouenlus successoribus postea consignandos diligenler recipiant et con-
seruent, super quo Maiestati luae- presenlíum lenore plenam concedimus
facullalem. Non ommillemus autem pro offilii noslri debito, el paterna
in Maieslalem luam charitale, te monere et hortari ut cum deceal eccle-
sias huiusmodi viris commitlere, qui elatis maturilate, lilterarum scienlia,
morum grauilale ornati sint, neo germani tui, pro quibus Maieslas tua
72 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
super diclis vacanlibus ecclesiis ad nos scripsit, qui, ut accepimus, infra
puberlalem constiluli sunt, ob eorum leneram elalem et iuditii, quo aetas
illa carel, defeclum, tales esse valeanl, nec eliam dignum videatur vel
tuae Maieslalis pelilione vel praefatae sedis concessione, vi iis. qui inslru-
clionibus et gubernaloribus indigent, alioruní cura commiltalur, in bis
praeserlira quae animarum salulem concernunt, Maieslati tuae placeal ad
dictas ecclesias nobis aliguos nominare, qui eis el sine conscientiae scru-
pulo el cum praefatae sedis dignilate prefici valeanl, assignata germanis
luis super fructibus ipsarum ecclesiarum congrua pensione, quam iuxta
regalera spiendorem magnifice viuere possinl. Super quo luae Maieslalis
deliberationem cura desyderio expeclamus, Rogantes ut, cum in vrbe fue-
rimus, per aliquem id nobis significel, vt vacanlibus ecclesiis de idóneo
pastore prouidere ualeamus, ne ipsarum longior vacalio, ut plerumque
conlingere solel, eis dispendium el animabus parial detrimenlum.
Datura Caesarauguslae, sub Annulo piscatoris, die xiii Maii mdxxii,
suscepti a nobis oílitii Aposlolatus Anno Primo. — T. Hezius^.
Carta de Ayresi de Sousa a el-Rei.
153S— llaio 14.
Senhor. — Eu cheguey aqui a saragoca segunda feyra, que foram
cynquo días de maio, e detyve me era qualatau era fazer de vyslyr e
mandar tomar pousadas. Fuy Recebydo mui bem, como creo que joam
Rodrigues escreverá, que eslá muito contente porque diz que nam foy
nynguem Recebydo lao bem, nem cora que ho papa tanto folgasse; e certo,
senhor, que pai nam podia quom mais amor e boa vontade Receber sua
vysytacao e cousas, que Ihe de parle de vosalleza dise e Requery, do
que sua santydade moslrou. E porque avya dous ou tres dias que o papa
comecava a entender e fazer despachos, e sua parlyda s afyrmava ir se
mui cedo daqui, loguo ou oulro dia Ihe fui Requerer os negocyos de uos
alteza, e aquele propyo dia chegou o coreo de corao mandava pedir o
* Arch. Nac, Gav. 7, MaQ. 13, n.° 1.
RELACOES COM a curia romana 73
byspado d evora pera o cardeall, e tiido me concedeo fazer quanto ele
aqui pedia, e darya todalas provysoes que podesse ; mas que as cousas
que avyam de ser despedydas quom os quardeaes que em nenhuma ma-
neyra o nam podia fazer ; e que soubesse cerlo que ho que ele nam fe-
zese por uos alloza, ele nam ñirya por nenhum Rei. Pasamos muitas
prategas, que deyxo pera quando for, que sao largas pera escreuer. Fol-
guou muilo quom a sania vera cruz, e que quora nenhuma tanto nam
podera folgar, como creo que escreue a vos alteza ; mas, como diguo,
estas cousas deixo pera por mim contar a vos alteza, polo nam enfadar
com tam grande carta como será dar Ihe conta do que nestas hei de dar.
E posto qiie ho papa esté tydo por omem santo e de muita verdade, nam
quis mais cedo mandar Requado a vos alteza destes despachos até os
nam ter mais certos, e fuy depois duas vezes a sua santydade, e oje me
mandou trazer perante sy a menuta do breue e aly estyue coregendo e
emmendando alguas cousas, que me parecerao necesaryas, e tudo fez
com a quem deseja muito fazer por vosa alteza tudo o que Ihe pedir ; e
asy me disse esta e outras muitas vezes que a nenhum Rey se nam de-
vya tanto como aos Reis de purtugall, por quanto trabalho e despesa ty-
nham levado por seruico de deus e eyxalcamenlo da fe, e que ele tynha
este conhecymento e terya sempre. O papa dá hum breve que uos alteza,
ponha no arcebyspado de lysboa e no byspado d evora, e asy de tan-
gere ; e todas est outras cousas d abadías que forem vagas e avagarem,
ponha pesoa quall Ihe bem parecer, e leve os fruytos e Rendas até ele
ser em Roma, e d ahy a dous ou tres meses mandar despedir suas le-
tras; e o mestrado de cryslos posa por sy aministrar e governar até o
dito tempo ; e asy todalas outras gracas que el Rey seu padre, que santa
grorya aja, tynha concedydas polos papas pasados; e no fazer deste breue
Joam Rodrigues e eu teremos tall cuydado que se falecer £jgum ponto se
tornará a coreger. Certo, senhor, que Joam Rodrigues maosynho tem co-
miguo levado muito trabalho oulhando bem as cousas de seu seruico,
querendo tomar os trabalhos partycolares e fazel os sammente, e he
bem aceyto a papa e quer Ihe grande bem, segundo me nele falou. Oje,
.que foram xiii dias maio, me mandou chamar o papa e me dise que ele
tynha muita necesydade de tres ou quatro quaravelas das de purtugall
armadas, e de hum par de galeoes, e asy Remos pera as suas gales, e
disto tynha muita necesydade, e que querya que fosse á sua cusía, que
TOMO II. 10
74 GORPO DIPLOMÁTICO PORTUGÜEZ
eu ho escreuesse a vos alleza. Eu Ihe Respondy que galeoes crya que
nam eslavao no porto que erao por tryguo, mas que uos alloza farya to-
do posyvell polo seruyr, que tynha rauita \ontade pera iso, e que a iso
me mandara a sua santydade a cerlefyquar Iho ; mas que eu nam sabya
o quom que ho podía seruir polas armadas da yndia e asy do eslreylo,
pera que os galeoes eram feytos, e outras multas que cadya Recrecyao
fazer. Dise me que ele Ihe querya escreuer e despachar hum coreo pera
vos alteza pera que loguo trouxese a Reposta, e que ho byspo de bur-
gos falarya comiguo acerqua destas cousas que avya raester, e ho byspo
me mandou estes ytens que aquí vao do que avyamos ler. Sobr ysto an-
darao todos estes dias falando o conde dom Fernando d andrade, que vai
por capitao d armada do papa, e mosem beryngell capylao das gales,
que he ladrao de quasa, e o byspo de burgos, que me parece que man-
da e ordena ludo, e faz se grande seruidor de vos alteza pola honra que
fezerao a seu irmao afonsequa em purlugall, o quall deyxo pera dizer a
seu lempo. E dizer eu o que me parece do que pede o papa he mui escu-
sado, e leyxar de o dizer errarya a seruíco de vos alteza, que eu raais
estymo que nenhuma outra cousa, e com este desejo tomo este eslrevy-
mento a dizer o que me parece conforme ao de qua. Certo, Senhor, que
vysto os oferecymentos que neste lempo de sua parte Ihe fyz que nam
tao somente a obrygacao gerall que todolos pryncypes crislaos tynhao
pera o seruir, uosalleza a lynha era especyall etc. E visto a muita nece-
sydade que tem d ajuda de vos alteza, a qual ele certo muito quisera
escusar, segundo o que pude alquancar, e quom islo o pode pera sempre
obrygar, que creo que tem mui pouqua ajuda de nynguem, e pois ha pede
e a escusa nam sey que tall pode ser, me parece que se deve de dar,
porque com ela, e o grande amor que mostra como verdadeyramenle fi-
Iho, serám sempre suas cousas eyxalcadas como he Rezao, e estas le-
tras que ao presente eslao pera despedir me parece que as despcderya
gratys que nam podem menos custar que he o menos pera ouihar. To-
dalas outras que ha neste caso pera lembrar deyxo, e diguo que sua
santydade me disse como ele escreuia ao emperador e a elRei de Fran-
ca e el Rey d ygraterra sobre amyzades que esperava em deus faze-.
rem se ; que uosalleza escreuesse ao seu embaixador que lynha em
Franca que falase nysto e o Irabalhase. Aqui está monseor d alaxa, que
já aqui achey, c se parte esta somana pera vytorea aos govcrnadores, e
RELACOES COM A CURIA ROMANA 73
diz que nam fará nenhuma delenca e se parlyrá loguo pera ir a vos al-
teza ; e pera mais asynha ir tem mandado seu filho, que he mui pequeño
a valhadoly, e de vytorea ir em poslas a valhadoly : ele veo aqui de vy-
torea. Taobem está aqui hum embaixador del Rey d yngratera, que
chegou hum dia prymeyro que eu, o quall dizem que deu a obedyencea
ao papa e que em Roma a darya outra vez mais copyosamenle, quom
que papa muito folgou e se muilo fauoreceo. Os quardeaes nam vem
nem ande vyr, polo quall o papa faz ludo o que pode fazer como papa
que he, porem cousas que se Requerem fazer em consystoreo quom os
quardeaes nam faz, e por ysto se deu esta provysao ás cousas de vos al-
teza, a quall yrá abastante pera o lempo e como compre segundo o que
se agora pode prover, e crea vos alteza que eu eslou bem salysfeyto
do . . . lenho feyto ñas cousas de seu seruico, e asy me . . . lodos gran-
des contamenlos da onra que o, papa me ... e do gosto que mostrou em
fazer suas cousas, e parece me que uos alteza pode usar de governador
do meslrado de crystos, pois he já concedydo, e asy das oulras cousas
como lenho dito e eu Irabalharey por ser cedo despachado, mas ho papa
he longueyro porque tem muitos negocyos : tem mui grande amor á Se-
nhora yfanle dona isabell sua irmam : ludo isto deyxo pera quando for.
O emperador he caminho d yngratera, e afyrma se aqui que será lá des
da fym d abryll, que segundo o lempo fez deve de ser pasado. O papa
estaua mui detremynado em parlyr d aqui loguo, e parece me que alar-
gou sua parlyda pola esleriydade que ha em barcelona, e asy dizem que
nam eslá bem, porem nam se deterá mais que lá novydade, e creo que
esperará esle Requado de vos alteza aqui : ele diz que quer escreuer so-
bre os senhores ynfanles seus irmaos dom anryque e dom duarte, sobre
a ydade ser pequeña pera os fazer Relegyosos ; islo por compryr com sua
concyencia, que ele pos muilo pejo na ydade. Aqui está hum gyntyll
omem do duque de saboya, que vai a vos alteza e á d ir por postas. Veo
taobem aqui a despachar quom ho papa, e nam he aynda despachado, po-
rem sel o á logo. Diz que está a senhora yfanle muilo boa, e que Joara lo-
pez e dona lyanor da sylua e sua nela serao aqui antes de qualro dias,
que vera por lera, e que as oulras damas todas fyquao mui bem, e que
ludo fyqua entregue á senhora yfanle do que Ihe era promelydo em seu
contrato, e asy Recebydo ludo o que levaua, somenle ñas joas nam se
concordarao na valya ; e pois ele yrá lao cedo nam diguo mais. Todo o
10*
76 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
mais deyxo pera quando for, que prazendo a deus será cedo. Dom pe-
dro gyrao me pedya muilo que Ihe mandase beyjar as maos de vos al-
teza e Ihe certefycase o desejo que tynha de seruir su alteza aonde quer
que estevesse : anda trabalhando por estar em graca do emperador.
O marques de vylhena chegou agora aqui com sua molher a ver o pa-
pa : está aqui muita gente. Noso senhor a \ida e Reall estado de vosal-
teza sempre guarde e prospere como deseja.
De saragoca xiiii días de maio de quinhentos e "vinte e dous. — Áy-
res de sousa ^
nrevc do Papa Adriano TI, dirig;ido a cl-Rei.
159S— Maio 14.
Adrianus papa vi Charissime in christo fili noster salutem el apos-
tolicam Benedictionem.
Incredibili letitia nos aífecit Maiestas tua dono nobis millendo pre-
ciossissimam illam reliquiam ligni sanclae et verae Crucis, quam, sicut
nouit, Ex mullo tempore, eliam in minoribus constiluli, ardenlissime
concupiuimus. Vnde ei quam máximas gralias agimus, erilque nobis'
ipsa reliquia memoriale perpeluum Maieslalis luae. Celerum cum nihil
magis in hac vita desyderemus quam pacem firmam- inler christianos
principes noslro medio el inleruenlu componere, Miltimus hac de causa
venerabilem fralrem Archiepiscopum Barensem ad charissimum in christo
filiura noslrum francorum Regem chrislianissimum Nunlii seu oraloris
muñere funclurum. Horlamur Maieslalem tuam ac rogamus mandel ora-
tori suo apud eumdem Regem rcsidenli vt, vna cum dicto archiepiscopo,
pro viribus sludeat animum ipsius Regis ad pacem atque concordiam cum
charissimo in christo filio noslro Carolo Rege catholico in ¡mperalorera
electo equis conditionibus ineundam inclinare, vel, si hoc ad presens
commode fieri ncqueal, Sallem ad inducías seu treguas aliquot annorum
illum inducere curenl. Quandoquidem durante Bello inler diclos principes
í Abch. Nac, Corp. Chron., Part. I, Mac. 27, Doc. 120.
RELACOES COM A CURIA ROMANA 77
vix euilari posse videatur quin christiana respublica grane paliatur-ab
hostibus fidei sanguinem nostrum silientibiis iacluram, nobis ex altera
parte curae erit ad ipsum sollicitare apud eleclum imperalorern, eique
persuadere per alium nuutium nostrum episcopum Astoricensem ul ho-
nestas pacis seu induciarum condiliones amplectatur, quod illum pro sua
uirtule faclurum confidimus. Denique exposuimus oratoribus Maiestatis
tune desyderium nostrum circa nonnulla nauigationi nostrae necessaria,
iü quibus a Maieslate tua non parum adiuuari possemus. Accipiat, ro-
gamus, Maiestas tua benigno animo ea quae ab illis super hoc scriben-
lur, et pro sua erga sanctam sedem apostolicam et nostram personam
deuotione, necessitati nostrae, immo vero sanctae ecclesiae sponsae nos-
trae, nostris impensis succurrat, ut iter nostrum in vrbem Romam, cuius
retardatio omnis vehementer damnosa est, sine mora explicare valeamus.
In quo prioribus suis maiorumque suorum erga diclara sedem merilis
non paruum cumulum est adiectura, nosque experietur erga se haud
quaquam ingratos.
Datum Caesarauguslae, sub Annulo piscatoris,, die xiiii Maii mdxxik
Suscepti a nobis offitii Apostulatus Anno Primo. — T. Uezius^.
Breve do Papa iiLdriaiio ¥1, dirigido a el-Rei.
15SS — Maio 39»
Adrianus papa \i Charissime in christo fili nostér salulem et apos-
tolicam benedictionem.
Exponi nobis nuper fecit Maieslas tua quod clare raemorie Emanuel
Rex pater tuus, el posl eius obilum tu nonnullorum maurorum infide-
lium ad dicti Emanuelis Regis el deinde tua contra alios mauros infide-
les stipendia seu seruilia in Aphrica mililanlium opera \si, et ipsorum
fideliler cum chrislianis contra alios infideles militando ductu et solertia
freti pluribus victoriis potili fuislis, Tuque, ut eos in tuis fide et deuo-
tione firmius retiñeres, nunc ad vnum nunc ad alium ex illorum Capi-
1 Arch. Nac, Mac. 37 de Bullas, n.° 2. '
78 GORPO DIPLOMiTlGO PORTÜGÜEZ
tañéis aiit priniatibus diuersa muñera, eliam arma varü generis, proul
vsvs et necessilas exigere videbatur, dono misisti, Quod licuisse libi ha-
clenus et ¡n futurum licere dubitas sine aposloücae sedis licentia spcciali :
Quare fecisli nobis humiliter supplicari ut conscienliae tuae in praemissis
consulere de benignitale apostólica dignaremur. Nos igilur huiusmodi
supplicationibus inclinati dictum Emanueiem Regem palrem tuum, in cu-
ius obitu apparuerunt signa contritionis, et Maiestatem tuam a quibusuis
excoramunicationis aliisque ecclesiaslicis sentenciis censuris et poenis,^si
quas propterea etiam iuxta litleras apostólicas, quas in die Cenae domini
publican solent, quomodolibet incurrislis, auctorilate apostólica tenore
presentium absoluimus; Tibique et successoribus tuis ad praefatos et quos-
uis alios infideles, luis et successorum praedictorum aduersus alios infi-
deles stipendiis seu obsequiis nunc et pro tempore mililanles, arma que-
cunque, el alia cuiuscunque generis muñera, pro illarum personarum
tantummodo vsu quae libi videbuntur, in quo de lúa Maieslate confidi-
mus transmiltendi, absque alicuius censurae incursu, aul conscienliae
scrupulo, plenam et liberam earundem Tenore presentium liccnliam elar-
gimur : Non obslanlibus prcdiclis litleris, et alus conslilutionibus el ordi-
nationibus apostolicis, caeterisque contrariis quibuscunque.
Datum Caesaraugustae, sub Anulo Piscaloris, die xxii Maii mdxxii.
suscepli a nobis aposlolatus oíBcii Anno primo. — T. Ilezius ^
Itreve do Papa Adriano ül, dirigido a cl-Rei.
IStS — Malo 30.
Adrianus papa vi Charissime in christo fili nosler salutem et apos-
tolicam benedictionem.
Diíectum filium Commendalorem Joannem Rodríguez, Maieslalis luae
apud nos oralorem, mullis de causis pcrgratum habemus. Est enim, quan-
tum ex longi lemporis habita cum co conuersalione perspicere potuimus,
\ir probus, prudens, discrelus, modeslus, et Maieslalis luae eiusquc co-
* Arch. Nac, Mac. 3 de Bullas, n." 18.
RELACOES COM A CURIA ROMANA 79
ronae seruitor fidelissimus. Quare, quanuis superfluum Tideri possit nos
illura Maieslali tuae commendare velle, Quippe cui eius egregia seruilia
illum nolissimum et commendalissimum faceré debeant, Non possumus
tamen omitiere quin ante nostrum ab Ilispania discessum peculiarem nos-
tram erga illum beniuolenliam Maieslali luae demonstremus. Ilorlamur
proinde eandem Maieslatcm tuara, et in domino requirimus, iit nostri
contemplalione et intuitu merilorum dicti oraloris sui velit illi de aliqua
>'beri preceploria seu commenda Magislratus chrisli prouidere, cuius ad-
miniculo se ac domum suam sustentare, et Maiestatis tuae seruitiis com-
modius et honorificentius insislere possit. In quo vna opera et rem faciet
regia sua munificenlia dignam, el alios \'assallos ac seruitores suos hoc
exemplo inuilabit ad fidelius ac diligenlius sibi inseruiendum. Nos uero,
vbi desiderio nostro per tuam Maieslatera hac in re salisfactum intellexe-
rimus, uel eandem ad hoc paratam per suas Hileras poluerimus intellige-
re, reputabimus prioribus suis erga nos meritis accessionem nobis per-
gratam factam esse.
Datum Caesarauguslae, sub Annulo Piscatoris, Die xxvi Maii mdxxii.
suscepti a nobis apostolalus oíTicii Anno Primo. — T, HeziusK
Breve do Papa il^driauo TI, dirigido a el-Rei.
1593 — aonlio 3.
Adrianus papa yi Gharissime in christo fili nosler salulem et apos-
lolicam Beuediclionem.
Ex litteris Maiestatis luae, quas hesterna die accepimus, et dilecti
filii Antonii Sarmiento sculiferi noslri, inlelleximus eandem Maieslalem
tuam nostrum desyderium circa ñaues, quas pro ilinere noslro ab ea pe-
tieramus, non solum impleuisse, sed etiam longe superasse, Cum et plu-
res quam poposcimus et suis propriis sumptibus, quod nunquam poseeré
cogitauimus, nobis exhibere liberalissime polliceatur. Qua de re ei ma-
gnas agimus gracias, plurimumque gaudemus et noslro, qui hoc officio
* Arch. Nac, Mac. 36 de Bullas, n.° 21.
80 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGÜEZ
Maiestalis tiiae in nostra et sedis apostolicae necessitale non parum adíu-
uabimur, et eiusdem Maiestalis tuae nomine, quae hac in re pulchre se os-
ten.dit serenissimorum raaiormn suoruní, qui sanclam scdem Apostolicam
religiosissime coluerunt, vesligiis ¡nherere velle, immo spem prebet se
egregiis virtutibus ac gestis suis iilorum gloriara superaturam. Noslrum
erit vicissim ómnibus in rebus laliter lecum agere ul Maieslas lúa re ipsa
senliat, et cunclis palam fíat serenissimum Regcm Porlugalüe eum gra-
tiae locum apud nos et diclara sedera oblinere, quera eius fides, religio,
virtus, nobilitas, suaque ac maiorura suorura praeclara merila expostu-
lant. Tantura rogamus Maieslatem luara ut quoniara omnis mora nostra
in bis Regnis sanclae Roraanae Ecclesiae stalui et loti reipublice chrislia-
nae veheraenler daranosa est, Quas ñaues miltere decreuit, eas iilico rait-
lat siculi pollicetur, ne carura expeclalio nauigalionem nostrara retardet.
Datura Gaesaraugustae, sub Annulo piscatoris, die in iunii mdxxii.
suscepti a nobis oífitii Aposlolatus Anno Prirao. — T. Hezius ^
Insitruccoeis ao doutor Joáo de Faria.
15S!S— «faino 19.
O que vos doutor Joham de faria do nosso conselho e do nosso de-
serabarguo de nossa parte avees de sopricar e pedir ao santo padre, a
que vos ora enviaraos por verlude da carta de crenca, que pera sua san-
lidade levaees, he o seguinte :
Itera : priraeiraraente dirés a sua santidade que nos Ihe enviamos
sopricar e pedir por Aires de sousa do nosso conselho, por quera sua
sanlidade eraviáraos ver e vesitar, que Ihe prouuese de nos conceder a rae-
nistraciío e guovernanca do mestrado de nosso senhof Jesús Ghristo, e
que asi o mcnistraseraos e guouernasemos como ho fazia elRey meu se-
nhor e padre, que santa gloria aja, que dele era amenistrador e gouver-
nador, pera o que leuaua a mcnula era que a bula se avia de expedir.
■ E tarabem que sua santidade provéese ao cardcall meu muyto ama-
* Arch. Nac, Mac. 37 de Bullas, n." 1.
RELACOES COM A CURIA ROMANA 81
(lo e precado Jrmao do Arcebispado de lixboa, que vagou por faíecimenlo
de dora marlinho da costa, e do bispado d evora, que vagou por faíeci-
menlo do bispo dora afomso.
E que do bispado de viseu E asi do priorado de santa cruz de
cojmbra, que teem o Cardeall meu Jrmaao, provéese por sua Renuncia-
cam ao Jfante dom Anrique meu Jrmao ; E da abadia de sam Joham de
tarouca, que o cardeal lambem tem, ao Jfante dom duarle ; e que sobre
o bispado d evora ouueese por bem ficar pensam ao dito Ifante dom duarle
tres mil cruzados. E que estas sopricacóes pera os ditos meus Jrmaaos,
alem de nos parecerem cousa Justa e onesta e dina deles mais do que
de outrem, Ihe faziamos por elRey meu senhor e padre, que santa gloria
aja, os teer oferecidos a nosso senhor pera o seruirem na sua santa Jgreia,
e no Reino aver perladas, que Ihe podia dar, com as Rendas das quaes
poderiam melhor seruir a nosso senhor e ao Reino do que em outra ma-
neira.
E que em quanto os ditos Jfantes meus Jrmaaos nom fosem em yda-
de, nos concédese e outorgase a menistracam das ditas prelacias no espri-
tual e temporal, asy como fora concedido a elRey meu senhor e padre,
como poderá sua santidade ver pelas bulas que leuaees, por que o dito
Cardeal meu Jrmaao foy próvido dos bispados da guarda e de viseu. •
E mais sopricámos a sua santidade que Ihe prouuese nos conceder ,
e outorgar a graca, que foy feita a elRey meu senhor e padre em sua
vida somente, da presentacam de todos os moesteiros destes Reinos e se-
nhorios de quaesquer ordens que fosem consistoriaees e ñora consisto-
riaees, Aos quaees fosem por nos apresen lados a sua santidade pesoas
em que bem coubesem e a nossa apresentacam fosem prouidos, como he
conleudo na bula que diso leuaees.
E asy mesmo que sua santidade nos concédese todas as gracas, que
foram oulorgadas a eIRey meu senhor e padre em sua vida somente, asi
como a ele foram concedidas, e esto aquelas que por seu faíecimenlo ex-
piraram, Asi das gracas da sua cápela, como todas as outras de que ele
lévese bulas e breves dos santos padres, das quaees leuaees a mayor parte
pera a sua santidade as mostrardes se comprir. E que se nesle meio lem-
po atee avermos prouisam de sua santidade vagasem alguuns dos ditos
moesteiros, nos podesemos deles proveer, e a eles apresentar como se a
graca fose já expedida.
TOMO II. 11
82 CORPO D1PL031ATIG0 PORTUGUEZ
A todas estas sopricacoees sua sanlidade nos respondeo por hum seu
breue que leuaees como por ele veres que naní salisfez a nossas soprica-
coees como nos de sua santidade esperauamos, o que creemos que nam
foy por oulra causa somente por sua Sanlidade Ihe parecer que eram
cousas pera serem expedidas em corte de roma e nam em outra parte.
ítem Ihe dirés que nos nam he nosa tencam sopricarraos nem Re-
querermos a sua santidade cousas que sejam pejosas, nem que ele com
carrego seu faca. E que por estas serem tam Justas e onestas, ouueraos
por bem vos enviar a sua sanlidade pera délas Ihe dar toda boa e ver-
dadeira enforraacam, por saberdes muy bem como em corte de roma se
faz muy lenemente a expedicam dellas, por serem cousas acostumadas e
correntes e era que nam haa nenhum pejo, porque quanlo á guouernanca
e amenistracam do meslrado. de Ghrislos nom ha Jmpidimento alguum
nem nunca ho ouue, por nom ser cousa de que se aja de fazer proposi-
cam em consistorio, mas ordinariamente se pasarem as bulas.
E que quanlo ao Arcebispado e bispados pera meus Jrmaaos a nos
nos parecía que sua Santidade muy leuemenle deuera folgar de o fazer
e nos gratificar nisd, por os oferecermos ao seruico da samta see apostó-
lica e de sua Santidade, que pella ventura ha muytos anos que filhos de
tal Rey, como foy elRey meu senhor e padre, e que tanto teem acrecen-
tada nossa santa fee catholica, e por isso tanto gastou de sua fazenda e
com tanto derramamenlo *de sangue de seus vasalos e naturaees, nam fo-
ram vistos no seruico da santa see apostólica; e que o pejo que sua San-
tidade nos aprésenla de suas idades nos Ihe beijamos seus santos pees
pela lembranca que diso nos faz, que aveemos por muy certo que he com
lodo o amor e booa vontade ; mas que o seruico de nosso senhor e das
Jgreias e de todo o bem délas se deue com Rezam raais confiar de nos
do que das pesoas que sua sanlidade diz que netas apresenleemos, nem
se nos faz cousa nova pois Ja muy tas vezes foy feyla, nem esperamos
com ajuda de noso senhor que oulrem milhor do que nos posa milhor
olhar pelas cousas da Jgreia de que teuermos amenistracam ; e que el-
Rey meu senhor e padre o fez em sua vida naquelas que amenislrou e
gouernou, como louuores a deus eslaa visto no priorado de santa cruz
de coymbra, e bispado de vizeu, e abadía do moesteiro dalcobaca, de que
a sua Sanlidade farés Jnteira Relacam, asy das obras que sam feitas e se
fazem, e o seruico dos oficios deuinos, pera as qüaees cousas nom so-
RELACOES COM a curia romana 83
mente abasta a valia das proprias rendas, mais ajnda com os proprios
dinheiros delRey meu senhor foram ajudadas ; e que asy esperamos eni
deiis que nos o facamos no que a nosso carrego esteuer. E que saiba sua
Santidade que a elRey meu senhor foy concedido que podesse vezilar as
perlacias de seus Reinos, non com pouca sabedoria do que elle acerqua
das Jgreias e do culto devino fazia e sempre fez emquanlo viveo, de que
as obras saní tam manifeslas e vistas, do que porem ele a tam larguo
modo nom quis vsar.
Que pedimos e sopricamos muyto por raerce a sua* Santidade que
nos outorgue todas as ditas cousas, asi como Ihas enviamos pedir e so-
pricar, e tenha descanso que asi o faremos, prazendo a nosso senhor que
ele seja muylo seruido e sua Santidade descarregado ; que se esta nom
fose nossa tencam nom Iho sopricariamos, nem sua Santidade deue outra
cousa acerqua de nos cuydar. E porem no que toca á pensam que avia
de ficar ao cardeall no bispado d evora, nem na abadia de som Joham de
tarouca, nom curaros de falar, e sem jso vos trabalharés de fazer e aca-
bar as outras expedicoees.
E se pela ventura sua Santidade teuese pejo em loguo em loguo ex-
pedir as bullas, fique yso a seu prazer, com tanto que por breues nos con-
ceda e outorgue todas as ditas cousas, asi como Ihas pedimos e soprica-
mos, pera despois que ele íor em roma se irem expedir as ditas bullas
asy como se deue fazer, e se pagar lá á cámara apostólica todo aquelo
que for ordenado, e segundo as taixas e o modo em que se costuma fa-
zer ; e que de o fazer asy sua Santidade o Receberemos della em muy
singular merce.
Agora de novo se ofereceo o falecimento do conde prior do cralo,
sobre a qual cousa emviamos sopricar ao santo padre pedindo Ihe por
merce que quizese proveer a cada hum dos Jfantes meos Jrmaaos, que
nos escolhesemos e emlegesemos, do dito priorado, por todas as rezoees
que Ihe mandamos apresentar, e ysto em encomenda ; das quaees rezoees
nom aveemos por necesariq vos fazer aquí larga relacam, porque vos as
sabes tambem e vos correram tantas vezes pelas maaos, que o aveemos
por pouco necesario. Sopricay e pedi de nosa parte a sua Santidade que
asy nolo queira conceder e outorgar, e nom lenha niso Impedimento,
porque nisto nom sopricamos cousa nova, e sempre a sopricacam e Reque-
rimenlos dos Reis nossos antecesores foy próvido, como largamente o en-
• * 11*
84 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
formares e certificares pela bula que leuaees, e pelo que de muytos an-
uos a esta parte se fez, por este priorado ser cousa lam principal, e de
tantas villas e lugares, forlelezas e castelos e renda, como Ihe dirés, que
ludo milhor ha e deue de caber em cada hura dos Jfantes meus Jrmaaos
do que em oulrem ; nem á Religiam e ordem de sam Joham se segué
pouca honra e louuor. E trabalhay por aver de sua Santidade despacho
diso ou por bula ou por breue, qual for mais de seu prazer, comtanto
que logo d agora ho outorgue segundo forma de nosa sopricacam, e co-
meta a raenistracam e gouernanca a nos, emquanto aquele Jfante meu Jr-
raaao na-m for em ydade pera guovernar e menistrar, com tantas facul-
dades como sabes que comveem, que já farieis outra semelhante expedi-
cam, nem vos esquecerám as clausolas necesarias asy derogatoryas como
todas as outras.
E porem, primeiro que falces a sua Santidade neste negocio do prio-
rado, logo como chegardes falarés com Joham rodrigues e saberes dele
o que niso tem feito pelo que Ihe espreuemos, e achando que he o ne-
gocio expedido asi como ho teemos sopricado, nom curaros de niso falar
a sua Santidade ; e nom sendo asi acabado, ou achando que ha niso al-
gara empidimento, emtam falarés ao papa corao voló mandamos, e tra-
balharés por o acabar e niso nos seruir asy como de vos o esperamos.
Itera : se fose caso, que nara esperaraos, que sua Santidade se escu-
sase destas nosas sopricacóes, e ñora quizese pasar do que acerqua del-
tas tera concedido pelos breues que trouxe Aires de sousa, vos Ihe Re-
pricarés sobre yso tudo aquillo que uos bem parecer pera ele o fazer asi
como o sopricamos ; e as Resoes que Ihe apresentarés leixamos a vos que
as saberes rauy bem buscar. E se de todo era todo se escusase, e sua
partida ñora fose tara prestes, e vos parecese que averia lempo pera nos
avisardes e vos ir nosa reposta, avisar nos es de todo o que pasardes
muylo compridaraente, e esperares por noso recado. E quando isto ñora
pódese ser por ele partir loguo, emtam vos espedirás de sua Santidade
mostrando Ihe tanto descontentamenlo como he rezara por de cousas tam
Justas e onestas ele se escusar, e vos vires em boa ora a nos.
Esprito em lixboa a xii dias de Julho, Jorge rodrigues a fez, de 1522.
— Rey (com cinco pontos)*.
^ Arch. Nac, Corp. Chron., Part. I, Mac. 28, Doc. 42. ,
RELACOES COM a curia R03IANA ' 85
Carta de el-Rei para Atanarico
1599— Jullio 12,
Reuerendo alanarico, Nos dom Joham, per graca de deus Rey de
porlugal e dos algarues daquem e daiem mar em áfrica, senhor de gui-
ñee, e da conquista nauegacara e comercio de etiopia, arabia, persia e
da Jndia, vos enviamos muylo saudar. Nos enviamos ao Santo padre o
doutor Joham de faria do nosso conselho e do nosso desembarguo pera
a sua Santidade de nossa parte sopricar e pedir algumas cousas, como
leua por nossas Jnstrucoees. E porque sabeemos quanto em .ludo podes
aproveitar ante sua Santidade, por vossa muyta vertude e prudencia, vos
Rogamos muyto que folgués de em nossas sopricacoes e negocios o fauo-
recer, ajudar e aproveitar quanto possivel vos for, porque nos farés niso
muyto prazer e seruico, e sempre por asy o fazerdes achares vos e vos-
sas cousas em nos aquella honra, merce e fauor, que he rezam que se
faca aas taees pesoas e de tanto merecimento, como sabemos que vos
soees : e nossas sopricacoes sam tam Justas e onestas que nos parece que
sua santidade folgará de com toda booa vontade nelas nos gratificar e fa-
zer merce, como nos della ho esperamos, e de vos que por vossa muyta
vertude o facaes com toda booa vontade.
Esprita em lixboa a xii dias de Julho de 1522. — ElRey (com cinco
pontos)*.
» Arch. Nac, Corp. Chron., Part. I, Mac, 28, Doc. 40.
86 GORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
Carta de cl-Rei para o hispo de Cidade Rodrf g;o.
15»»— «faino 1».
Reverendo bispo, Nos dom Johara, per graca de deus Rey de por-
tugal e dos algarues daquein e dalem mar em áfrica, senhor de guiñee,
e da conquista, nauegacam e comercio de etiopia, arabia, persia e da.
Jndia, vos emviamos muyto saudar. Nos enviamos o doutor Johara de
faria do noso cpnselho e do noso desembargo ao santo padre pera de nosa
parte Ihe sopricar e pedir algumas cousas, que leua por nosa Jnstrucam.
E posto que elas sejam Justas e onestas, pela boa vontade que de vos
conhecemos pera as cousas de noso seruico, voló quisemos encomendar,
e vos rogamos muyto que no que se oferecer acerqua de nosos negocios
ache em vos aquela ajuda e boom encaminhamenlo, que nos esperamos
por vosa muyta vertude; e todo 'o que fezerdes e trabalhardes vos grs^-
deceremos muyto e teremos diso toda boa lerabranca quando se oferecer
cousa em que vos posamos mostrar a boa vontade que vos teemos.
Esprita em lixboa a xii dias de Juiho de 1522. — Elñey (com cinco
pontos) ' .
Carta de el-Rei para i%.tanarico
15»»— Jíullio 13.
Rcuerendo atanariquo, Nos dom Joham, per graca de deus Rey de
purtugall e dos Alguarues daquem e dalem mar em áfrica, senhor de gui-
ñee, e da conquista, navegacam, comercio de etiopia, arabia, persia e da
Jmdia, vos enviamos muyto saudar. Ayres de sonsa do nosso comselho
nos dise quanta booa vontade achara em vos pera nossas cousas, e como
n' Ahch. Nac, Corp. Chron., Part. I~ Mac. 28, Doc. 41.
RELACOES COM a curia romana 87
folgareys quanlo posyvel vos fora de nelas aproveitar, o que rnuyto vos
gradecemos e sempre diso leeremos tall lembranca como por yso, e por
vosa muy la verlude e merecimenlos, he muy la rezam.
Esprila em lisboa a xin días de Julho de 15*22. — ElRey (com cinco
pontos) ' .
Breve do Papa Adriano \1, dirig;ido
ao Arcebiüfio de ltrag;a.
1582 — Agosto 1.
Adrianus papa vi Venerabilis frater salutem et aposlolicam benedi-
Gtionem .
Exposuit nobis dilectus filius Joannes roderici, miles militiae sancti
Jacobi de spala ordinis sancti Augustini, pro parte charissimi in christo
filii nostri Joannis PorlugalÜae et Algarbiorum Regís Illustris apud nos
et sedem apostolicam orator deslinalus, quod dictus Joannes Rex, ob sin-
gularem, quem ad hospitale sancti Joannis Hierosolimilani iiliusque reli-
gionem gerit, deuotionis aíTectum, cupit ut-vnus ex ipsius germanis fra-
tribus vna curn dilectis fiüis Magislro et Conuenlu Rhodi dicti Hospitalis
virtutum domino famuletur. Nos igitur, pium praefati Joannis Regis de-
siderium plurimum in domino commendanles, fraternitali tuae per pre-
sentes committimus et mandamus qualinus illi ex diclis fratribus supra-
dicti Joannis Regis, quem ipse Joannes Rex ad hoc duxerit nominandum,
qui tamen saltem in sexto suae aetatis anno conslitulus existat, si sic no-
minatus habitum per fratres dicti Hospilalis portari solilum suscipere, et
professionem per eos emitli solitam in tuis manibus sponte emitiere volu-
erit, Tuque eum alias ad id idoneum iuxta stabilimenta vsus naturas ac
priuilegia seu indulta dicti Hospitalis esse repereris, habitum, videlicet
quandocunque super hoc requisilus fueris, ei Iradas ; ad professionis au-
tem emissionem quamprimum ad requisitam per stabilimenta vsus na-
turas ac priuilegia praedicta si de ea in ipsis caueatur, Alioquin ad le-
1 AncH. Nac, Corp. Chron., Part. I, Mac. 28, Doc. 43.
88 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGÜEZ
gilimam aelalem perueneril, admittas, si vero legilimae aelatis non fuerit,
nisi similiter incerla alia aelate constitutus existat, quamprimum ad eam
perueneril ad professionis huiíismodi emissionem admitías. Non obstanti-
bus conslilutionibus et ordinalionibus apostolicis, ac slabelimentis vsibus
et naturis, eliam iuramento, confirmatione apostólica, uel quauis firniitate
alia roboralis priuilegüs quoque indultis praefatis Hospilali ac Magislro
et Conuentui sub quibusuis verborum formis et expressionibus, eliam per
sedem praedictam concessis, confirmalis, approbatis et innouatis, preser-
lini illis, quibus inler alia caueri dicilur expresse quod nullus habitum
dicli Hospilalis alibi quam in dicto Gonuentu, aut ab alio quam Magislro
et Gonuentu praefatis et non nisi in certa aetate constitutus existat sus-
cipere, aut professionem regularen! in allerius quam Magistri pro tem-
pore exisienlis dicli Hospilalis manibus emitiere possit, et tara suscipien-
tes habitum, quam emitientes professionem alibi quam in conuenlu, et per
alium quam magistrum et conuenlum praefatos, et anlequam ad dictam
aetatem peruenerint, excommunicalionis senlentias ac alias tune expres-
sas censuras incurrant, quibus tenore illorum, ac si de verbo ad verbum
presenlibus insererentur, pro expressis habentes, illis alias in suo robore
permansuris, hac vice dunlaxat specialiler et expresse derogamos, Gaele-
risque conlrariis quibuscunque.
Datum Terracone, sub Annulo piscatoris, Die prima Augusli mdxxii,
suscepli a nobis apostolalus officii anno primo. — T. Hezius '.
Carta de O. llig;uel da Silva a el-Rei.
1529 — iSetembro S5.
Senhor. — Tendo escrito aos xx desle mes, me vieram ter aas maaos,
por via de napoUes, cartas de vossa alteza pera mim e pera o papa e
pera alguuns cardeais, as quaes, segundo despois soube, vinhao na ar-
mada que avia de acompanhar o papa, e achegando a tarragona, como
ja terá sabido, achou sua santidade partida, e duarte de lemos capitam
' Arch. Nac, MaQ. 23 de Bullas, n.° 19.
RELACOES COM a curia romana 89
moor della mandou estas cartas por Francisco de sonsa, e elle de barcelona
mas enderencou. As dos cardeaes mediéis sanliqualro fsic) mandey logo,
e mediéis Respondeo haa siia e aquí mando siia Reposta ; as do papa te-
nho asi porque me escreue Francisco de sousa que conpre dallas elle :
presumo que sejam soomente sobre a armada, porque com ella vem huu-
ma de duarle de lemos. Francisco de sousa se quis viir a meter por tér-
ra, e ha passanle de quorenla dias que partió de barcelona: praza a noso
senhor que nom Ihe seja acontecido alguum perigo, que me dá muita
sospeila sua tardanca tanta e em taes tempos.
Por estas carias nam me escreue vosa alteza ninhuuma cousa do que
manda que ñas suas se faca, soomente me manda que como o papa qua
for me va a Roma a servillo em meu cargo, e asi o diga a sua santida-
de. Eu, senhor, ho farey loguo asi, mas, como em oulra digo, nam sa-
bendo o que se ha de fazer em seus negocios, nam poderey fazer senam
as cousas geraes, que ñas outras tudo o que locasse sem muy expressa-
menle saber a vontade de vossa alteza errada : por tanto avise o mais
cedo que seja posivel ; e porque o tempo qua he algo mudado, e se faz
grande difficuldade em tudo, compre contrapesar este deíTeito com a dil-
ligencia, e esta, estes dias que qua vos ouuer, senhor, de seruir, que fol-
garia e Réceberia de vossa alteza muy grande merce que fossem os me-
nos que fosse posivel, nam se deminuirá da que atequi foy, mas será tal
que por ella se nam perqua ponto de vosso seruico.
Estando eu doente fui avisado de Roma que era asignada huuma
sopricacao na asignatura sobre o priorado do crato, polla qual o papa
concedía ao amaral chancarel moor, que pera elle pollo papa e polla Re-
legiao eslava abilitado. Deu me esta nova tanta penna e torvacao que,
onde me compria saude pera poder ir pollas postas e acudir a islo, me
dobrou o mal, e vendo que nam avia outro Remedio escreui asi na ca-
ma huuma carta ao papa, na qual Ihe toquey todollos pontos, que nesta
materia me pareceo que compriao, a affeicao de vossa alteza a sua san-
tidade ; as obrigacoes que com elle mais que com nenhuum outro Rey
cristao tinha a see apostólica; o que a Religiao de Rodes deuia a el Rey
vosso padre, que deus tem, e a vossa alteza; e os perigos de que voso
padre tirou a Religiao em portugal ; e deixando todo isto á fee e prome-
timentode sua santidade por seus breves, cujos trelados ouue era liorne
do secretario e Ihos mandey com minha carta, e per derradeiro lembran-
TOMO M. 12 ^
90 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
do a sua santidade que Rodes nam ho deffendia tanto a Renda, quanto as
pessoas e calidade deltas, e que Rodes eslava em tempo que nom linha
de raenos necesidade priol do crato que irmao ou filho del Rey, com
lio mais que me pareceo, pidindo Ihe por merce que logo Remediase ¡s-
to, nem quisese dar tal comeco no que menos o deuia de dar, e tal exem-
pro ao mundo pera ninguera crer em seus breves nem esperar com elle
em seus merecimentos. Esta carta mandey a sua santidade ; e no ponto
que a leo mandou chamar o datarlo, e mostrando que tudo passara sem
seu consentimento fez viir a supricacao e de sua mao a fez em dous pe-
dacos, e asi Rasgada ma mandou, e me escreveo que nunqua de lal sou-
bera e queancona a asignara sem seu consentimento, e que nam esperava
nem queria falcar a vossa alteza em nenhuuma cousa do que por seus
breves prometerá e seus grandes merecimentos Requeriao. E asi se Re-
medión isto do priorado do crato. E aqui mando a Vossa Alteza a supri-
cacao em pedacos pera ser mais certeficado do que passou.
Em outro nenhuum negocio nom ha hi que ncsta escrever, porque
com ser a chegada do papa tam fresca, e sua condicao tal nos negocios,
e a peste em tamanho crecimento, nam se faz nada em nada. Eu me irey
logo a buscar a corte onde quer que estever, e do que mais fezer e ou-
uer que escrever darey aviso pollo primeiro correo a vosa alteza, cujas
maos beijo, e noso senhor sua vida e Real estado guarde e acrecenté co-
mo deseja.
De frorenca a xxvii de Setembro 1522. — Dom miguell da sylua K
Carta de D. llig;uel da i^iKa a el-Rei.
152»— íSetembró ISH,
Senhor. — Porque aos xvi d agosto escreui largamente a vosa al-
teza, e Ihe mandey os trelados de tudo o que ate entao tinha escrito, e
lenho nova de barcelona que aquelle correo a saluamenlo fsicj, nesla nam
Repricarey mais nada do escrito : nam serey muyto longo senam ñas no-
1 Arch. Nac, Corp. Chron., Part. I, Ma^. 28, Doc. 94.
RELACOES COM a curia romana 91
vas que ha hi, porque estas manda vosa alteza que escreva muí amiude
e muytas dellas podem niuylo Relevar a seu seruico.
Ho papa naní achegou a liorne o dia que esperavamos, porque se
deteue em genova mais do que trazia determinado ; todavía o cardeal de
mediéis e o de sena, picolomini, petruchi, cortona, e Redolfo o espera-
ram lá, e eu fiz o mesmo. Ghegou sua sanlidade a liorne aos xxiii d agosto,
e com elle vinhao soomente onze galees que Icouxe d espanha, e de ge-
nova o acompanharao ciuquo da senhoria, e duas da igreja que ali se
acharao, asi que sua armada era de xviii galees sem nenhuuma outra
vella, porque todallas naos ^inhao alto mar, nem tomaram porto até ci-
uita, onde achegaram muito despois. Nestas gallees nem na companhia do
papa nam vinha gente nenhuuma de sustancia, nem pessoa d estima se-
nara o conde dom femando d andrade, ho arcebispo de mon real, que he
ja feito castellao de sant angelo, o hispo de cuenca e o hispo d avilla ; e
estes dous, segundo dizem, vem mais por fugir do emperador que por
acompanharem ho papa. A senhoria de frorenca Ihe fizerao em liorne huum
•muy grande aparato de Recebimento. Do porto até a casa onde avia de
pousar com tapecaria e alguuns pannos de seda era toldado ludo. No ponto
que deitou ancora mandou a térra huum batel e nelle o conde dom Fer-
nando a fazer saber aos cardeaes que elle nam quería saír em térra mas
passar de longo, que Ihes pídia que ouuessem asi por bem, e se estavam
em hordem pera o poderem acompanhar que tambem averia disso pra-
zer : os cardeaes Responderlo que queriam hir Responder a sua santí-
dade e beijar Ihe o pee, e asi o conde os tomou no batel a elles soomente
e a mim, sem querer outra nenhuuma pessoa. Asi entramos na galle de
sua santidade onde os cardeaes Ihe beijarao o pee, dos quaes nam mos-
trou fazer nenhuuma conta, tirando do cardeal de mediéis, a que fez muita
honra e o Recebeo com rauyta graca e alegría. Quando Ihe beijey o pee,
dizendo Ihe o cardeal quem eu era, sua santidade disse Rindo : « he em-
baixador de huum Rey, que nos temos em lugar de pay» e me fez to-
dallas cirimonias d abracar me e beijar me na face que fezera aos car-
deaes, e eu Ihe disse que sua viinda fosse tam boa quanto a desejava
lodo bom cristao ; que eu tynha caria de vossa alteza por que me man-
dava que no ponto- que soubese que sua santidade fosse em Ilallia Ihe
viese beijar o pee e servillo e offerecer Ihe o que já em espanha já Ihe
era oíFerecido ; que vossa alteza era e seria sempre aquelle filho de sua
12»
92 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
sanlidade e da santa see apostólica que seus anlepassados sempre forao,
e tanto mais quanto Yossa pailicollar aífeicao haa pessoa de sua santidade
era muilo maior que as de seus passados, e aos papas passados, porque
haa vossa sabieis que nenhuuma se podia comparar. A islo me respondeo
muy largamente, e com palavras muy cheas de mostras d amor, e an-
tre outras dizendo que em toda cousa que Ihe vossa alteza Requerese, e
elle pódese, faria sempre o que lodo o mundo veria. Eu Repriquey que
por tudo Ihe beijava seus santos pees ; que vossa alteza Ihe 'merecia
aínda muito mais polla espicial aífeicao que tinha a seu servico ; e que
eu aceitava por vossa parle tudo o que sua santidade dezia que faria todo
o que pódese em vosas sopricacoes, e que esperava que ellas seriam sem-
pre laes, que nunqua nelias caberia duuida de nam poder, e que posto
que em alguumas liaa primeira face a ouuesse quando sua santidade fose
bem informado, como o seria das cousas dos Reinos e senhorios de vossa
alteza, e como as cousas ecclesiaslicas e nam ecclesiasticas que passavao
por maos dos Reis erao a muito mais bem comum, que as que se faziam
por vias a que o mundo chamava ordinarias, que nam confiarla nenhuu-
ma jurisdicao nem prouisao de melhor vontade a nenhuura seu legado
nem oíTicial que ao parecer e hordem de vossa alteza. Estas palavras Ihe
quis tocar, ainda que parecesem sobejas, porque viind leí ^ o conde
dom femando me tinha dado alguuma pouqua de conta do que era pas-
sado sobre o priorado do cralo, de que antes eu nam sabia nada, e asi
em alguumas outras cousas, e me pareceo que aquellas palavras « tudo
o que podesse » queriam acennar islo, e que se armava pera negar. A
tudo me Respondeo laes palavras as quaes praza a noso senhor que se-
jao as obras. Gomo acabey de fallar sua sanlidade se voltou aos cardeaes
e Ihes disse que se estavao prestes pera o poderem acompanhar, que elle
queria partir aquella noyle mesma. O cardeal de mediéis Ihe Respondeo
por todos que elles nam vinhao senam pera o seguirem, como era sua
obrigacao, mas que pidiao a sua santidade que nam Ihes fizese tamanho
agravo de nam lomar posissao da Ierra pois nam era menos sua que a
propria da igreja. A islo disse o papa «preces vestre sunt justa» e logo
saio em térra onde ouuio os embaxadores de florenca e o marques de
manlua capitao da Igreja, que era vindo pollas postas, e se encarrou com
' vindo no batel? O original está roto em varias partes.
RELACOES COM a curia romana 93
mediéis, o qual desejava de o fazer ficar nesla térra por alguiins dias, e
nunca ouue Remedio ; e tendo cartas da grande peste que avia em Roma,
e sendo o mais perigoso lempo do anno como se despois vio e se ve cada
dia mais, quis partir em todallas maneiras, e como ceou se tornou a em-
barcar, e nam Ihe fazendo tempo aquella noyte nem o outro dia nunqua
quis sair da gallee. Aos xxv partió e no mesmo dia ctiegou a ciuita ve-
Iha ; ho outro dia a hostia ; e aos xxviii foy dormyr a sam paullo, moes-
teiro de sam bento huuma legoa de Roma. Ho dia seguinte dise missa e
entrou em Roma e foy descavalgar a sam pedro. Ho domingo que foram
iii de setembro se coroou em sam pedro. E todas estas cousas escreuo
^si breuemente e como de corrida, porque da mesma maneira se fizerao
sem nenhuuma cerimonia nem despesa grande nem pequeña, asi pollo
papa ser homem desta condicao e muy dellas, como por estar a
see apostólica tam sem dinheiro que pera isto ainda nom avia Remedio.
Eu embarquey em liorne pera seguir o papa, posto que de tam maa
vontade como todas as outras pessoas que hiao, vendo que hia a tam craro
perigo do lempo e da peste ; todavia nam quis deixar de fazer por mi-
nha seguranca cousa que por alguuma maneira pódese parecer nam ser-
uir com aquella vontade, que siruo, e diligencia. E estando já embar-
cado me tomou a febre e a alguuns criados meus juntamente, e me foy
forcado sair me do mar, e polla Ierra ser de muy maos aares me vim
como pude a frorenca, onde gracas a nosso senhor me deixarao as febres
e eslou ja bem. Dos de minha casa tenho ainda doze em cama e dous me
falecerao, e huum delles foy Joham cru filho de gomez cru, que tambem
lá he hora falecido. Por estas doencas minhas e de toda minha casa nam
pude partir daqui ; e posto que de Roma seja saida toda pessoa, que nam
quer craramenle morrer, todavia no ponto que poder caminhar, e alguuns
destes meus forem sem perigo, me partirey, e irey onde o papa estever
a esperar Recado de vossa alteza do que em seu seruico ey de fazer,
que nam tenho nenhuma carta sua nem Recado, nem com o papa vem
pessoa que de nada me saiba dar conta, e me parece muy grande deser-
uico, senhor, vosso nam saber eu a tempo nada do que ey de fazer,
avendo tantas cousas pera fazer e de tanto peso. E posto que lenha car-
tas de vossa alteza muy velhas de Janeiro, em que manda que acerca
do arcebispado de lixboa e santa cruz e moesteiro de tarouca sigua o que
me tinha mandado elRey vosso padre que santa gloria aja, sendo despois
94 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
vago euora e o crato, nam posso creer que vossa alteza nam tenha mu-
dada a vontade na maueira da dystribuicao deslas prelalifls, e por ¡so
ale nam \¡r caria sua do que nislo manda, e prouisao pera se poder fa-
zer, nam farey nada, soomenle apert firmacao das gracas que
linha el Rey voso padre que neslas nam posso errar, poslo que lam-
bem nesl ey o que posso fazer nam sabendo de vossa alteza o que
quer que em cada cousa se despenda, e d alguumas deslas gracas se
quer os mesmos execulores ou outros, e oulras mil parlicolaridades, sem
que vossa alteza em nenhuuma maneira do mundo pode ser seruydo sem
erro de quem vos serve, em que porem eu lerey muypouqua culpa nam
ficando senam por mingoa de saber vossa vontade.
Ha peste em Roma he muy grande, e com a vünda do papa e gente
nova que veio aa cidade se acendeo em muy grande maneira. Comecou
logo a tocar em casa do papa, e faleceo em xxx horas huum filho do
conde d altamira que se chamava dom diogo, e tras elle deu ao emba-
xador de pelonía e nam durou senao dous dias, e cada dia vay crecendo.
Ha y dia de cento e cinquoenla, e sara muy tos os que se soterrao secre-
tamente, <isi pollo medo de os a que cerrao as casas enfermas, como
pollos trattos dos mercadores e officiaes, que nam querem que a gente
fuja de suas casas : noso senhor ponha em ludo suas maos. He morto o
cardeal suico, mas dizem que nam de maos aares : o cardeal de monte
he doente, e dizem delles nom ha hi dia que nom saia do paaco ou morto
ou doente, e em huum dia falecerao bem á cerca do apousentamento do
papa tres, e cada huum delles com nacidas, nem pasou nenhuum delles
de dous dias, e o papa está ainda em Roma ; porem agora se alTirma
que se sairá antes d oito dias. Tem dada licenca a todollos cardeaes que
se saiam e oíficiaes, e alongadas as audiencias da Rota por lodo oylu-
bro, e nam dá ja audiencia casi a nenhuma pessoa, e essas lam breues
que nam concruy nellas nada. Acerca do Regimentó de Roma nam se
pode ainda saber o que aja de ser : lirou geialmente as armas em Roma
e foy obedecido geralmenle de grandes lem mudado ainda casi ne-
nhuum nem vendido nenhuum officio vago que monta a val
vagos mais de sesenta mil ducados: vesse grande zello de bem e
grande exempro de vida. Se islo abastar pera o Regimentó da corrucao
do mundo, nam haveria mais que desejar, e prazerá a nosso senhor que
o aluraiará de maneira que a igreja seja asi Regida como a necesidade
RELACOES COM a curia romana 95
em que eslá o Requere. Huum micer guilhelmo Incheforte, que procu-
rava suas cousas quando era cardeal, he feilo datarlo e pessoa a que
ama singularmente : nam se fia de nenhuuma oulra. Este parece que go-
vernará tudo sem nenhuuma competencia. Ñas cousas espirituaes sua san-
tidade quer examinar tudo por si mesmo : as dos dinheiros e beneíficios
passam todas por mao do datario : as do estado temporal me parece que
quer que se governem com o parecer e conselho dos ministros do empe-
rador, como he Rezao e sem que sua sanlidade levaría grande fadiga em
ter em aseseguo as cousas de seu estado.
Ho conde dom femando d andrade trazia promessa do papa da ca-
pitania da igreja, e parece me que se Ihe alravessa alguuma detficuldade,
nem sey se estará qua oü se se partirá : sey que nao está muy bem con-
tente. Dou d elle novas a vossa alteza porque me parece huum muy
grande seruydor vosso em estremo, e sua estada qua nam poderla apro-
veitar senam muyto ñas cousas de vosso seruico : todollos seruidores que
vossa alteza tem nesta térra sabem de mim que elle ho he vosso, e o
ajudao em tudo o que podem : praza a noso senhor que aproueyte, É
porque vem aqui a prepósito elle me pidió muito que escrevese a vossa
alteza sobre dous criados seus pera quem quer que Ihe fizeseis merce do
abito de christus, ou licenca que o papa Ihos lance de vosso consenti-
mento, porque com elles Ihes quer dar renda com que viuao e vos sir-
vao quando comprir honradamente segundo suas pescas, e pede a vossa
alteza muy aííicada sta merce, a qual averá por muy
grande obrigacao que tem a estes criados polla Receber de
vossas maos. Cham huum delles J....ome soarez, e outro gonsalo
de lagos. Se Ihe quizer fazer esta merce ha me de mandar carta pera
que me dé licenca pera Ihos tancar em seu nome, ou pera consentir que
o papa Ih os lance.
Com o papa nam se vé que nenhuum cardeal tenha fauor senam
médicos, e parece me que elle por sua pessoa e polla grande parte que
tem em Itallia, e por seu officio de vice canceler, que he de grande au-
toridade, será a pessoa que mais poderá neste papado, que he muy grande
bem pera as cousas de voso seruico, porque he muy grande e muy limpo
vosso servidor ; e por esta causa, e porque será cousa a elle de grande
honrra, lembrey já per vezes a vossa alteza que seria bem mandar Ihe
huuma patente de proteicao em que o faca proteitor na corte de Roma
96 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
de seus Reinos e vassallos, como ho he do emperador, vngria, e Ingra-
terra, porque nisto nam pohem mais que Unta, e obriga o a fazer como
criado por suas cousas. Se nam lembrase semelhanles cousas a vossa al-
teza, de que sem sua despeza nem damno se segué tanto seu seruico e
bom exempro a quem o serve, parecermia que errava muito, e que quasi
fazia treicao.
Has novas que ha hi das outras partes do mundo sao que a forta-
leza de novara se deu ao duque de millao, e he viindo de franca huum
capitao del Rey que se chama bonaval, o qual anda em Irattos secretos
com o duque e com prospero colonna : affirma se serem sobre perdoar
aos desterrados do estado e Restituir Ihe suas fazendas, e que as forta-
lezas de miláo e cramona se renderao ao duque : crese que *ho duque
nam ho faca, nem faria bem porque as fortalezas nam se podem ter se-
nam muy pouquos dias, e a Restituicao dos beens dos desterrados he
cousa de muito prejuizo ao aseseguo daquelle estado e he criar a cobra
no seio.
Ho embaxador do emperador juntamente com o de Ingraterra aper-
tarao com os ven crarasem amigos ou imigos seus elle rarao
alguumas Repostas como soy Inte los que nam
aprouverao aos embaxadores e na aceitando foram forcados a Res-
ponderem que punhao ludo ñas maos del Rey de Ingraterra, e que, de-
crarando elle serem franceses os que Romperao a tregua e liga de lon-
dres, em tal caso sao contentes de se decrararem contra franca. Esta
Reposta he muy boa pera o emperador porque erara cousa he que el Rey
de Ingraterra ha de decrarar isto asy, mas venezeanos a meu juizo a
derao, porque doutra nenhuuma maneira podiao alargar tanto o lempo
de sua decraracao como desla, porque Ingraterra he muy longe, e pre-
sumem que sem se comunicar com ho emperador nam se decrara nada.
Poderia ser que se enganasem porque o capitolio que obriga a comuni-
car ludo huum com o outro nam se entende senam no que nom he ma-
nifestamenle em beneficio da impresa.
Aos XXVII d agosto acabarao de passar em calez xx mil Ingreses,
e se ajuntariío com a gente do emperador. Nam se sabe ainda que seja
feito nada polla banda de picardía, senam que de liao ha hi cartas muy
frescas, que todas dizem que ali avia maas novas contra franceses polla
banda de picardía, mas que nam eram ainda pubricadas. Pollas mesmas
RELACOES COM a curia romana 97
carias avisao que em franca ha y muy grande pesie, e nos povos muito
maior desconlenlamenlo. Alguuma parle dos suicos era contenle de ser-
uir franceses, mas com condicoes que Ihas nam pode ninguem comprir,
principalmente sendo huuma dellas as pagas passadas, e nam avendo em
franca huum soo Real, ho que se eré polio que el Rey agora fez que
' passando por lors, onde jaz o corpo de sam marlinho, desforrou a se-
pullura que era ada de prala e em paris desfez o cruci que
era douro e todollos calizes que deilao fama que monla isto
qualro mil cruzados. Montase o que quisesse escand o mundo
e nam pode aprazer a deus.
Hos escoceses mouem guerra a ingraterra e lem em campo, segundo
escrevem de londres, sessenla mil homens. El Rey de Ingraterra tem ao
estremo outro lamanho exercito, e dizem que faz outro tal que quer ter
dentro na Ilha, o qual nam se moverá senao em caso que o outro fosse
vencido, e com este será sua pessoa.
De Rodes sam viindas novas de dous d agosto como os turcos
nam fazem nada, louuores sejam dados a noso senhor. Derao tres com-
bales e em todos tres perderao muita infinda gente e foram laucados com
grande danno e vergonha ; e tinhao feila huuma mina pera derribarem
os muros da cidade e nam poderao aproveitar se della polla grande quan-
lidade d augua que acharao. No exercito de fora avia grande caristia de
vitoalhas e mullas Infirmidades de maa maneyra, de que morria muyta
gente. O grao turco em pesoa passou na Ilha aos xxiii de Julho, e Ihe
aíFundirao sele gallees e duas galeacas com artelharia, e se espera na
ajuda de nosso senhor que nam os desenparará, e os lempos comecao a
correr taes que será toreado Relirar-se. Tambem escrevem que os de
dentro sairao em abito de turcos e derao nos de fora e fezerao grande
mortindade nelles, que dizem que morrerao mais de tres mil dos turcos,
e dos cavaleiros soomente dez ou doze, e prenderao trinta Janiceros. Com
todas estas boas novas os cavaleiros pedem socorro, e lemem grandemente
que o turco nam comece a ediíficar na Ilha e fazer huiím lugar, ao me-
nos de madeira, em que tenha huum grande exercito, e que aa longa, se
nao sao socorridos, corrao perigo ; todavía lem se por cerlo que se ate
agora o turco que se alevantará com toda sua gente
oulro porto que o da cidade nom soífr elhantes Praza
a noso senhor que ludo seja a bem e v....oria da ndade e confusao
TOMO 11. 13
98 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
dos imigos de sua sania Nam ha hi outra cousa que escrever,
nem o correo quer dar lugar a mais. Beijo as maos de vossa alteza, cuja
vida e Real estado nosso senhor guarde e acrecenté como deseja.
De Florenca a xxvii de setembro 1522. — dom miguell da sylua '.
Carta de D. Miguel da üilva a el-Rei.
15^:3 — üetcmbro IS'9,
Senhor. — Despois de ter escritas todas esoutras cartas vierao no-
vas de yeneza, que conííirmao as de Rodes, que em hüuraa dellas escre-
vo, e se lem por certo que se nam perderá a cidade, posto que venezea-
nos fazem quanlo podem por fazer creer o conlrairo, parecendolhes que
faz a seu proposito voltarem se os principes la, e nam seguir as guerras
de qua, o que nam soomente seria bom pera elles mas pera o mundo
todo, todavía sua tencao dellcs nao he senam muy dañada.
. Ho emperador dá licenca a dom Joham manoel que se vá pera elle,
e ho fez, como lá se deue saber milhor, contador maior e huum dos Re-
gentes, e ao filho Restituio a fortaleza de burgos : fica por embaixador
o duque de sessa, genro do grao capilao gonsalo Fernandes. Yso mesmo
rae escreve o conde dom femando, que se parte, e eu sey que mal sa-
tisfeito do papa. Beijo as maos a vossa alteza, cuja vida e Real estado
noso senhor guarde e acrecenté como deseja.
De frorenca a xwii de setembro 1522. — Dom miguell da stjlua^.
^ Arch. Nac, Corp. Chron., Parí. I, Mac. 28, Doc. 93.
2 Abch. Nac, Corp. Chron., Part.I, Mac. 28. Doc, 92.
RELACOES COM a curia romana 99
Carta de O. ilig^uel da liÜTa a el-Rei.
15S:S — Ontabro 19. <
Senhor. — Porque sey que huum dos principays cuydados que vossa
alteza agora deue íer, como \erdadeyro Rey Chrislao que he, deue ser
o perigo e cerco de Rodes, de que tanlo prejuizo se seguiría vnyuersal-
mente a toda a chrislandade, e em parlicolar has cousas de vossas con-
quistas da india, me parece necessario diu por dia e hora por hora Ihe
dar auiso de ludo o que nesta térra se sabe. Agora sam chegadas cartas
de x\ii de selembro, per que se certefica aos treze ser dado combate haa
cydade, o qual durou huum dia e huuma noyte, e em fym os de dentro
ouveram a milhor, e dos de fora affirmam que sam morios passante de dez
mil homens, e que com ysto o turco aleuanlou o cerco, e sua pessoa se
lornou camynho de constantipoli ; e porem o exercito se assentou tres le-
goas da cydade na ylha, onde por muytas vias ha y auisos que deter-
mina de Invernar. Socorro ate agora nam he ydo nenhum, e algumas car-
raquas de genoa, que yam, sam agora detydas pollos mesraos genoeses,
porque em marsélha franceses Ibes tomarao huuma sobre seguro e con-
cerlo que hauia de se nao tomarem naos de mercadores, e parecendo
que aquella se toma pera fazerem alguum assallo no seu nam se querem
achar sem naos grandes. He muy grande mal que seja vynda a cousa
dos chrislaos a ysto que por tam particulares paxóes s esqueca antes se
impida o bem universal. O Juizo que se faz das cousas de Rodes he que,
se se nao socorre, que todauia se perderá, o que nosso senhor nam quey-
ra ; e do socorro se faz tambem juizo que nam será já qual compre alé es-
las cousas da guerra de franca e do emperador nam tomarem alguum as-
sento, que parece que será muy tarde, segundo cada dia as vonlades se
danao mays. O papa nao faz nada, e parece que esta peste de Roma vem
de cyma pera nam se fazer nada em nada por alguum outro mayor mis-
terio, porque nunqua se vio cousa mays cruel nem papa mays descan-
sado, ^{am ha y dia nenhuum que nam morram cento e cynquoenta e
dozentas pessoas quando menos, e aguora se descobrirao em huum só dia
cem casas alem das que já hauia dañadas, que passam de duas mil, e
13*
100 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
nao se conlam aquy espritays, nem ouira infynda genle que morre sen)
se ler della conta. Despois da vynda do papa se aclia que sam morios
em Roma xvii mil pessoas. O papa se encarrou em huuns pacos de pra-
zer, que estam apegados com os outros, que se cliamao belueder, e des-
pedio cardeays e eaibaxadores, nem dá audienlia a nenhuuma pessoa vi-
ua, nem quer fazer nenhuuma sorle de negocios, senao os que se podem
fazer sem se Ihe falar, e vam as cousas de maneyra que nao ouso de as
escreuer a \ossa alteza. Com tudo ysto me yrey achegando pera lá e
esperando recado de vossa alteza, que aynda nam he vyndo ; tomarey
alguum apousentamento fora da cydade, aynda que tudo he dañado ; e
d aly trabalharey por fazer* o que vossa alteza me mandar, mas aja por
certo que nam se fará ametade do que em todo outro tempo se poderá
fazer : e nam ho digo polla peste, porque se por hay ouuer de ser eu nao
arrecearey nenhuum perigo por fazer o que vyr que he vosso seruico,
mas porque o gouerno está desta maneyra. E se tener lempo e correo se-
guro haa mynha vontade auisarey miudamente do que passa e verá cra-
ramente que a verdade he deyxar correr alguum lempo ate nosso senhor
o remedear, e as cousas do mundo tomarem alguum Rumo, sem que
agora se navega. E alem de me vossa alteza fazer muy grande merce em
rae dar licenca em lempos tam perigosos, compre muyto a seu seruico
ouvyr me, e saber muytas cousas que em carta nam se podem nem de-
uem dizer, é quando despoys meu seruico for necessario ahy me tem,
que nacy vosso criado e vosso hey de morrer e viuer ; e aja por certo
que ha y tempo pera eu yr sem se perder nada do que compre a seu
seruico qua, porque as cousas estam todas cem mil legoas de tudo o que
se cuydaua, nem lá vossa alteza pode cuydar. Se esta ücenca comprisse
sómenle a mym, pedilla ya com menos palauras e menos aííicadamente,
mas porque entra aquy vosso seruico tocando me mays a peco raays a
vossa alteza.
Acerca da obediencia, que he o que agora deue mays lembrar, nam
se agaste porque nenhuum principe a tem dada, nem se fala em se dar,
assy pollo mundo estar muy envollo, como polla peste de que sua san-
tidade nam se quer sayr em nenhuuma maneyra: e ate veneza e froren-
ca, que estao aqui á porta e ha soyem sempre dar em ho papa sendo
feyto, ha nao tem dada. Venezeanos tynham mandados seus embaxado-
res pera ysso e acheguarao alé bolonha, donde nam querem que passem
RELACOES COM a curia romana 101
até se a corle nam sayr de Roma. Esla pesie, senhor, he de muy maa
maneyra, e se apega muylo mays que as oulras que soya hauer em Ro-
ma, por ysso compre q.ue \ossa alteza mande poer grande Recado em
seus porlos de mar, porque nam se caya no mesmo em que se cayo em
lempo de papa Julio.
Todas as sedas e brocados que estauao em frorenca se carregarao
em liorne em tres naos, que leuaua o conde dom femando d andrade,
ñas quays entrou a peste e elle he saydo em \illa franca de nica. Pare-
ceo me necessario anisar disto porque esta roupa nam se receba liure-
mente sem primeiro nam se asoelhar, posto que parte de lugar seguro e
vay muy cerrada, porque o mal das naos poderia penetrar onde homem
nam cuyda, e digo ysto principalmente porque sam brocados de que
vossa alteza poderia querer veslyr se, porque sao pera ysso.
Dom Joam manoel h.e partydo pera caslella : dizem que aynda está
em genoua esperando lempo. Vay sse de muy sesudo que elle he, e o em-
perador Ihe dá licenca porque as cousas e lempos dam lugar a ysso, e
pesa mays a enformacao e noticia que delle hauerá das cousas de qua,
quesua estada qua em lempo que nam se faz nada, nem podem hos ho-
mens falar huuns com oulros sem muy craro perigo. Elle era saydo de
Roma muylos dias hauia, e lornou a despedir se do papa e esleue em
Roma dous dias somenle, nos quays Ihe adoecerao onze criados e nam
escapou nenhuum delles. Desla maneyra vay o mal : nosso Senhor por
sua misericordia o remedee.
Has cousas de italia verá o termo e estado em que eslao por outras
cartas, que atequy tenho escrytas, e das derradeyras que escreuy em se-
tembro torno com esta mandar o Ireslado. Nesles poneos dias que cor-
rerao denlao aleaguora nam ha y novidade, senáo que o Emperador
manda a veneza seu embaxador Hieronymo adorno, irmao do duque de
genova, pera tomar com elles concrusao de paz ou de guerra : nam se
sabe o que faráo, mas eré sse que andarao payrando ho mar ate verem
se suicos seruem franceses de verdade ou nao. Do que mays se souber
darey aniso a vossa alteza, cujas maos beijo e nosso senhor sua vida e
Real estado guarde e acrecenté como deseja. %
De frorenca aos ii de outubro 1522. — Dom miguell da sylua K
^ Arch. Nac, Corp. Chron., Part. I, Mac. 28, Doc. 98.
102 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGÜFZ
Baila do Papa Adriano H^I dirigida ao Infante
O. Henrique.
lo!93 — Fevereiro 18.
Aíjrianus episcopus seruus seruorum dei Dilecto filio Henrico de Por-
tugallia clerico seu scolari Vlixbonensi salulem et apostolicam benedi-
ctionem.
Nobililas generis, necnon laudabilia lúe pueriüs elalis indicia, ex qui-
bus, prout fidedignorum teslimoniis accepimus, verisimiliter concipitur
qiiod succedentibus Annis te in virum debeas producere virluosum, nos
inducunt vi illa Ubi fauorabililer concedamus, que luis commoditalibus
fore conspicimus oportuna. Cum itaque Prioratus Monaslerii per Priorera
gubernari soliti sánete Grucis Colimbriensis, ordinis sancti Angustini, quera
dilectus fdius noster Alfonsus sánete Lucie in Septem soüis Diaconus Car-
diiialis ex concessione el dispensalione apostólica in commendam nuper
obtinebat, commenda huiusmodi ex eo quod dictus Alfonsus Cardinalis
illi hodie per dilectum filiura Michaelem de Sylua, clericum Vlixbonen-
sem, procuratorem suum ad hoc ab eo specialiter conslilutum, in mani-
bus nostris sponte el libere cessit, nosque cessionem ipsam duximus ad-
niiltendam cessante adhuc eo quo ante commendam eandem vacabal modo
vacare noscalur, Nos Ubi, qui, vt asseris, in Octano ve! circa tue elatis
Anno conslilutus, ac Garissimi in chrislo filii noslri Johannis Portugaliie
et Algarbiorum Regis íllustris ac eiusdem Alfonsi Gardinalis fraler ger-
manus existís, vi litterarum studio operara daré, ac coramodius susten-
tari valeas, de alicuius subuentionis auxilio prouidere premissorumque in-
diciorum inluitu specialera gratiam faceré volenles, necnon verum el vl-
limura dicli Prioratus vacationis raodum, aliara si ex illo queuis genera-
lis reserualio etiam in corpore iuris clausa resullet, presenlibus pro ex-
presso habentes, PrioraUím predictum, qui Gonuenlualis est, ac cuiusfru-
clus, reddilus et prouentus ad dúo Milia ducatorum auri in libris Camere
apostolice taxati reperiunlur, quouis modo el ex cuiuscunque persona seu
per liberara resignationem cuiusuis de illo in Romana Guria vel extra
UELACÓES COM A CURIA ROMANA 103
eam, eliam coram Notario publico et leslibus sponte faclam, aul Consli-
lutioneni feücis recordationis Johannis pape xxii predecessoris noslri, que
incipil : Fxecrabilis, \el asseculionem allerius beneficii ecclesiaslici ordi-
naria auctorilale collali \acel, eliam si tanto tempore vacauerit quod eius
collatio iuxla Laleranensis staluta Concilii ad sedem aposlolicam legitime
deuolula, ipseque prioratus dispositioni apostolice specialiter vel ex eo
quod Gonuentualis exislil, vt preferlur, generaliter reseruatus existat, et ad
eum consueuerit quis per electionem assumi, eique cura inimineat ani-
marum super eo quoque inter aliquos lis, cuius stalum presenlibus haberi
volumuspro expresso, pendeat indecisa, dummodo tempore dat. presentium
non sit in eo alicui specialiter ius quesitum, cura ómnibus iuribus el per-
tinentiis suis tibi, si adhuc rite clericali caractere insignilus non existas,
posíquam clericali caractere huiusmodi insignilus fuens per le quoadui-
xeris, eliam vna cum ómnibus elsingulis beneficiis ecclesiasticis cum cura
el sine cura secularibus el quorumuis ordinum regularibus, que eliam ex
quibusuis concessionibus et dispensalionibus apostolicis imposterum obli-
nebis, ac pensionibus annuis, quas super quibusuis fruclibus, redditibus,
et prouentibus ecclesiaslicis tibi pro tempore assignatis percipies in futu-
rum, tenendum regendum et gubernandum, Ita quod liceat tibi debitis et
consuetis ipsius Prioratus supportatis oneribus de residuis illius fruclibus,
redditibus et prouentibus, sicuti illum in titulum pro tempore obtinentes
de lilis disponere et ordinare potuerunl seu etiam debuerunt, Alienatione
tamen quorumcunque bonorum immobilium et pretiosorum mobiiium dicti
Prioratus tibi penitus interdicta, auctorilale apostólica commendamus. Quo-
circa \enerabilibus fralribus noslris Colimbriensi et Caserlanensi Episco-'
pis, ac dilecto filio Officiali Vlixbonensi per apostólica scripta mandamus
quatinus ipsi, vel Dúo aul vnus eorum, per se vel alium seu alios, te, re-
cepto prius a te noslro et Romane ecclesie nomine fidelitatis debite, iuxta
formara quam sub bulla noslra miltimus inlroclusam, sólito iuramento, vel
procuratorem tuum tuo nomine in corporalem prossessionem Prioratus iu-
riümque et pertinentiarum predictorum inducant auctorilale nostra, et de-
fendant inductura, amoló ex inde quolibet illicito detenlore, facienles te
vel pro te procuratorem tuum predictum ad Prioratum huiusmodi, vt est
moris, admitli, tibique de illius fruclibus, redditibus, prouentibus, iuri-
bus el obuenlionibus vniuersis integre responden. Contradictores aucto-
ritate noslra appellatione postposita compescendo. Non obslantibus pie me-
104 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ.
morie Bonifacü pape viií etiam predecessoris nostri, el alus apostoücis
Conslilulionibus et ordinalionibus, ac Monasterii et ordinis predictorum
iuramento, conürmalione aposloüca, ve! quauis firniitate alia roboralis sla-
tutis et consueludinibus, priuilegiis quoque et indullis apostoücis Monas-
terio et ordini predictis forsjan concessis confirmatis el innouatis, quibiis
etiam, si ad illorum derogalionern de iilis eorumque tolis tenoribus spe-
cialis, specifica, expressa, et indiuidua, ac de verbo ad verbum, non an-
tera per generales clausulas idem importantes, menlio, seu queuis alia ex-
pressio habenda, aut aliqua alia exquisita forma seruanda esset, tenores
huiusmodi presentibus pro expressis'habentes, illis alias in suo robore
permansuris, hac vice dumtaxat, specialiter el expresse derogamus, contra-
riis quibuscunque. Aut si aliqui super prouisionibus siue commendis sibi
faciendis de Prioralibus huiusmodi speciales, vel alus beneficiis ecclesias-
licis in illis parlibus generales dicte sedis vel Legatorum eius lilleras im-
petrarint, etiam si per eas ad inhibitionem, reseruationem et decretum,
vel alias quomodolibet ut processum, quibus ómnibus te in assecutione
dicli Prioratus volumus anteferri, sed nullum per^hoc eis quoad assecu-
lionem Prioratuum seu beneficiorum aliorum preiudicium generari. Seu
si venerabili fratri nostro Episcopo Golimbriensi et dileclis filiis Gonuen-
tui dicli Monasterii, vel quibusuis alus communiter vel diuisim, ab eadem
sil sede indultum quod ad receptionem vel prouisionem alicuius minime
teneanlur, el ad id compelli, aut quod interdici, suspendí vel excommu-
nicari non possinl, quodque de Prioralibus huiusmodi, vel alus beneficiis
ecclesiasticis ad eorum collalionem, prouisionem, presentationem, eleclio-
nem seu quamuis aliam disposilionem coniunclim vel separatim speclan-
tibus nulli valeal prouideri seu commenda fieri, per Hileras apostólicas non
facienles plenam el expressam ac de verbo ad verbum de indulto huius-
modi menlionem, et qualibet alia dicte sedis indulgentia generali vel spe-
ciali cuiuscunque tenoris exislal, per quam presentibus non expressam
vel lotaliler non insertara eíTectus huiusraodi gralie impediri valeal quo-
modolibet vel diíTerri, et de qua cuiusque loto lenore habenda sil in nos-
tris lilleris menlio specialis. Prouiso quod propler comraendam huiusmodi
diclus Prioratus debitis non fraudetur obsequiis, el animarum cura in eo
si qua illi iramineal nullalenus negligalur, sed eius congruo supportenlur
enera anledicla; Nos enira ex nunc irritura decerniraus et inane si secus
super hiis a quoquam quauis auctoritale scienler vel ignoranler contige-
RELACOES COM a curia romana 105
rit attemptari. Nulli ergo omnino hominum liceat hanc paginam noslre
commende, mandali, derogalionis, voluntatis et decreli infringere, vel ei
ausu lemerario contraire. Si quis aulem hoc atteniplare presumpseril in-
dignalionem omnipotentis dei, ac beatorum Petri et Pauli Apostolorum eius,
se nouerit incursuruin.
Datum Rome apud Sanctum petrum Anno Incarnationis dominice Mil-
lesimo quingentésimo uigesimo secundo, Duodécimo Kalendas Marlii, Pon-
lificatus nostri Anno Primo '.
Forma juramenti. — Ego Henricus de Porlugallia, clericus seu sco-
laris vlixbonensis, perpetuus Commendalarius Prioratus Monasterii per
Priorem gubernari solili sánete Crucis Colimbriensis, ordinis sancti Au-
guslini, ab hac hora in antea fidelis et obediens ero beato Petro sancte-
que apostolice Romane ecclesie et domino nostro domino Adriano pape
M, ac eius successoribus canonice intrantibus. Non ero in consilio, con-
senso, tractatu vel fado vt vilam aut membrum perdant, seu quod con-
tra alicuius eorum personam, vel in ipsorum aut ecclesie eiusdem siue se-
dis apostolice auctoritalis honoris priuilegiorum iuriura, vel apostolicorum
statulorum, ordinalionum, reseruationum, dispositionum, mandatorum de-
rogalionem vel preiudicium, machinaliones aut conspirationes fiant, et si ac
quotiens aliquod horum Iractari sciuero id pro posse ne fíat impediam,
et quantocius commode polero eidem domino nostro vel alteri, per quem
ad ipsius notitiam peruenire possit, signiíicabo. Consilium vero, quod mi-
chi per se aut Nuntios seu litteras credituri sunt, ad eorum damnum me
sciente nemini pandam. Ad relinendum et defendendum Papatum Roma-
num et Regalia sancti Petri contra omnem hominem adjutor eis ero. Au-
ctorilalem, honorem, priuilegia ac iura, quantum in me fuerit, polius
adaugere el promouere, statuta, ordinationes, reseruationes, dispositiones
et mándala huiusmodi obseruare ac eis intendere curabo. Legatos sedis
eiusdem honorifice tractabo, et in suis necessitatibus adiuuabo. Heréti-
cos, scismaticos, et qui alicui ex domino nostro successoribus predictis
rebelles fuerint, pro viribus persequar et impugnabo, Possessiones vero
ad Prioratum meum pertinentes non vendam, ñeque donabo, ñeque im-
pignorabo, vel aliquo modo alienabo, etiam cum consilio Conuentus di-
* Arch. Nac. Mac. 3 de Bullas, n.° 3.
TOMO II. 14
106 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
cli Monasterü, Inconsulto Romano Ponlifice. Sic me deus adiuvel el hec
sánela dei Euangelia. — A. de Castillo \
Bulla do Papa il^drlano \M. dirigida ao Infante
O. AITonsío.
1593 — Fevereiro IS.
Adrianus episcopus seruus seruoriim dei dilecto filio Alfonso sánele
Lucie in Septem soliis Diácono Cardinali salutem el aposlolicam benedi-
ctionem.
Ad personam tuam, qiiam diuina clemenlia magnis illuslrauit mu-
neribus graliarum, palerne dirigenles consideralionis inluilum, el áltenle
prospicienles quod lu Romanam ecclesiam, cuius honorabile membrum
exislis, luorum honoras plenius magniludine meritorum, dignum quin po-
lius debilum reputamus vt illam tibi reperias in exhibitione graliarum
munificam el in luis oporlunilatibus liberalem. Cum itaque hodie lu, qui
Prioralum Monasterü per Priorem gubernari solili sánele Crucis Colim-
brieusis, ordinis sancti Auguslini, ex concessione el dispensatione apostó-
lica in commendam nuper oblinebas, commende huiusmodi per cerlum
procuratorem tuum ad id a te specialiter conslilulum in nianibus nostris
sponle el libere cesseris, nosque cessionem ipsam admitientes Prioralum
prediclum, tune cerlo modo queni pro expresso haberi volumus vacan-
tem, dilecto filio Henrico de Porlugallia clerico seu scolari Vlixbonensi,
si adhuc clericali caraclere insignilus non essel, postquam clericali ca-
raclcre insignilus forel per eum quoaduiueret tenendum, regendum el gu-
bernandum commendauerimus, prout in nostris inde confeclis litteris ple-
nius conlinelur. Nos tibi, ne propler cessionem huiusmodi nimium dis-
pendium patiaris, ac vi slatum luum iuxta Cardinalalus exigentiam digni-
talis decentius lenere valeas, de alicuius subuentionis auxilio prouidere
ac specialem graliam faceré volentes, necnon omnia el singula ecclesias,
Monasleria, Prioratus, Preposituras, Prepositalus, dignitates, personalus,
' Arch. Nac, Mac. 35 de Bullas, n." 7,
RELACOES COM A CURIA ROMANA 107
administrationes, oíTicia, Ganonicatus el prebendas, ceteraque beneficia
ecclesiastica cum cura et sine cura secularia el quorumuis ordinum re-
gularia, que ex quibusuis concessionibus et dispensalinnibus nposlolicis in
litulum, commendam, adminislralionem seu alias oblines el expeclas, ac
in quibus el ad que ius Ubi quomodolibel compelil, quecunque, quotcun-
que el qualiacunque sint, eorumque frucluum, reddiluum et prouentuum
veros annuos valores, ac huiusmodi concessionum el dispensalionum te-
nores, necnon quarumcumque pensionum annuarum tibi super quorum-
uis ecclesiasticorum beneficiorum prouenlibus assignalarum quantitales
presentibus pro expressis habentes, Ubi quod dicto Henrico cedenle vel
decedenle, seu Prioratum prediclum alias quomodolibel dimitiente vel
amitlenle, seu illo alias quouismodo vacante, eliam apud sedem aposlo-
licam, aut commenda illius cessante, huiusmodi liceal Ubi ad Prioratum
huiusmodi, qui Gonvenlualis est, et cuius fruclus reddilus et prouentus
ad dúo Milia ducatoru'm auri in libris Gamere apostolice taxali reperiun-
tur, eliam si ad illam consueueril quis per eleclionem assumi eique cura
immineal animarum, liberum habere regressum, Illiusque corporalem pos-
sessionem per te, vel alium seu alios, propria aucloritale libere apprehen-
dere, el tam prioris tue commende quam presenlium lilterarum vigore,
absque alia tibi de illo te nouo facienda commenda, vt prius retiñere In
ómnibus et per omnia, perinde ac si cessionem huiusmodi minime fecis-
ses, aucloritale apostólica tenore presenlium de specialis dono gralie in-
dulgemus. Quocirca venerabilibus fratribus noslris Golimbriensi et La-
macensi Episcopis, ac dilecto filio OíTiciali Vlixbonensi per apostólica scri-
pta mandamus quaUnus ipsi, vel dúo aut vnus eorum per se vel alium
seu alios, faciant aucloritale noslra le iure et facúltale regrediendi, el in
euenlum regressus huiusmodi dicti Prioratus pacifica possessione poUri
el gaudere. Non permiltentes le per quoscunque desuper quomodolibel in-
debite molestan. Contradictores per censurara ecclesiasticam appellatione
poslposita compescendo: Non obstantibus ConsUlulionibus el ordinaUoni-
bus apostolicis ac Monasterü et ordinis predictorum iuramento, confirma-
Uone apostólica, vel quauis firmitate alia roboratis staluUs et consuetudi-
nibus conlrariis quibuscunque. Aut si aliquibus communiter vel diuisim
a dicta sil sede indullum quod inlerdici suspendí vel excommunicari non
possinl, per Hileras apostólicas non facientes plenam et expressam ac de
verbo ad verbum de indulto huiusmodi menUonem. Nulli ergo omnino
14*
108
CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
hominum liceal hanc paginara noslrorum indulti et mandati infringere,
vel ei ausu temerario conlraire. Siquis autem hoc altemplare presumpse-
rit indignalionem oranipolentis dei, ac beatorum Pelri et Pauli Aposlolo-
rum eius, se nouerit incursurum.
Dalum Rome apud Sanclum petrum Anno Incarnationis dominice
Millesimo quingentésimo uigesimo secundo, Duodécimo Kalendas Marlii,
Pontificatus noslri Anno Primo. — A. Gratia Dei '.
Bulla do Papa il^drlano \W flirig;lda a el-Rel.
15:^3 — Fevereiro SO.
Adrianus episcopus seruus seruorum dei Carissimo in christo filio
Johanni Portugallie el Algarbiorum Regi Illustri salutem et apostolicam
benediclionem.
Gratie diuine premium et humane laudis preconium acquiritur si per
seculares Principes ecclesiarum Prelatis, preserlim Cardinalalus honore .
fulgentibus, oportuni fauoris presidium et honor debitus impendatur. Ho-
die siquidem dilectum filium nostrum Alfonsum, sánete Lucie in Septem
soliis Diaconum Cardinalem, perpeluum Administratorem ecclesie Elboren-
sis, tune per obilum bone memorie eliam Alfonsi Episcopi Elborensis, qui
extra Romanara Curiara debllum nature persoluit, Pastoris solatio desti-
lule, quoaduiueret in spiritualibus et temporalibus de fratrum nostrorura
consilio auctoritate apostólica constituimus et deputauimus, curara et ad-
minislrationera ipsius ecclesie Elborensis sibi in eisdem spiritualibus et
temporalibus plenarie coramillendo, prout in nostris inde confeclis litteris
plenius conlinelur. Cura itaque, fili Carissime, sil virtutis opus dei mi-
nistros benigno fauore prosequi, ac eos verbis el operibus pro Regis eterni
gloria veneran, Serenitalera tuam Regiara Rogamus el hortamur atiente
qualinus eundera Alfonsura Cardinalera Adniinistralorera, ac prefatara El-
borensera ecclesiara sue cure coraraissam, habens pro nostra el apostolice
sedis reuerenlia propensius coramendatos, in ampliandis et conseruandis
1 Arch. Nac, Mac. 3, n.* 4.
RELACOES COM a curia romana 100
iuribus suis sic eos benigni fauoris auxilio prosequaris, quod idem Alfon-
sus Cardinalis Administrator lúe celsiludinis fultus presidio in commisso
sibi cure Pasloralis oñicio possit deo propicio prosperari, ac tibi ex inde
perenius vite premium et a nobis condigna prouenial actio gratiarum.
Dalum Rome apud Sanclum pelrum Anno Incarnalionis dominice
Millesimo quingentésimo uigesimo secundo, Décimo Kalendas Martii, Pon-
tificatus noslri Anno Primo. — A. Gralia Dei '.
Bulla do Papa Adriano Hl. dirig^ida a el-Rei.
1593 — Fevereiro SO.
Adrianus episcopus seruus seruorum dei Carissimo in christo filio
Johanni Portugallie et Algarbiorum Regi llluslri salutem et apostolicam
benedictionem.
Gratie diuine premium et humane salulis preconium acquiritur si
per seculares Principes Prelatis ecclesiarum, precipue Cathedralium Me-
tropolitanensium regimini presidentibus, oportuni fauoris presidium et ho-
nor debitus impendatur. Hodie siquidem dileclum filium nostrum Alfon-
sum sánete Lucie in Septem soliis Diaconum Cardinalem, in Quarto dé-
cimo sue etatis Anno constitutum, Administratorem in spirilualibus et
temporalibus ecclesie Vlixbonensis, tune per obitum bone memorie Mar-
tini Archiepiscopi Vlixbonensis extra Romanara Guriam defuncti, Pasto-
ris solalio destitute, doñee vigesimum dicte etatis Annum attingeret, de
fratrum nostrorum consilio apostólica auctoritale constituimus et deputa-
uimus, et deinde quamprimura dictum \igesimum Annum attigisset ex
hodie prout ex tune et e conuerso de persona sua eidem ecclesie simili-
bus consilio et auctoritate prouidimus, ipsumque illi in Archiepiscopum
et Pastorem prefecimus, ac de persona sua eidem ecclesie prouisum, ipsum-
que illi in Archiepiscopum et Pastorem prefectum fore decreuimus, cu- /
ram et administrationem eiusdem ecclesie, eliam dicta administralione du-
rante, sibi in spiritualibus et temporalibus plenarie committendo, prout
* Arch. Nac, MaQ. 35 de Bullas, n." 18.
110 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
in noslris inde confectis litteris plenius conlinetur. Gum ¡taque, fili Ga-
rissime, sil virtulis opus dei ministros benigno fauore proseguí, ac eos
verbis el operibus pro Regís eterni gloria venerar!, Serenilatem luam Re-
gíam rogamus et horlamur áltente qualínus eundem Alfonsum Gardína-
lem Adminislratorem et fulurum Archiepiscopum, ac prefatam Vüxbonen-
sem ecclesiam sue cure coinmissam, habens pro nostra el apostolice se-
dis reuerenlia propensius commendalos, in amplíandis et conseruandis iu-
ríbus suis sic eos benigni fauoris auxilio prosequarís, quod idem Alfon-
sus Gardinalis Administrator et fulurus Archiepiscopus lúe celsitudinis
fultus presidio in commisso sibi cure Pastoraüs oííicío possit deo propicio
prosperan, ac tibi exinde a deo perenius vite premium et a nobis con-
digna proueniat adío gratiarum.
Datum Rome apud Sanclum pelrum Anno Incarnalíonis dominice
Millesimo quingentésimo uigesimo secundo, Décimo Kalendas Marlií, Pon-
tificalus nostri Anno Primo. — A Gratia Dei \
Bulla do Papa ii-driano TI dirijs;ida ao Infante
O. Henrique.
15S3 — Marco 2.
Adríanus episcopus seruus seruorum dei Dilecto filio Henríco de Por-
tugallia clerico seu scolari Vlixbonensí Salutem et aposlolicam benedi-
ctionem.
Romani Ponlificis prouidenlia circunspecta singulís ecclesiís et Mo-
nasleriis, que vacationis incommoda deplorare noscuntur, \t ulílium gu-
bernalorum fulcianlur presidio, prospicil diligenter, et personis ecclesias-
ticis quíbuslíbet, presertim generis nobilitale pollenlibus, vt ín suis opor-
lunitalibus alíquod suscipiant releuamen, proul decens esl et congruum,
de subuenlionís auxilio prouidel oportuno. Gum itaque, sicut accepimus,
Monasteríum sancli Grístophori de Lafones et Príoralus Monaslerii per
Priorem gubernari solili sancli Georgíi Cistertíensis el sancli Augustini or-
' Arch. Nac. Mag. 35 de Bullas, n." 21.
RELACOES COM A CURIA ROMANA 111
dinum, Visensis et Golimbriensis diocesium, que quondam Didacus de Ga-
ma clericus ex concessione etdispensalione apostólica iii commendam duní
viueret oblinebal, commenda huiusmodi per obilum dicli Didaci, qui ex-
tra Romanam Curiam diem clausit extrenuim, cessante adhuc eo quo ante
commendam eandem vacabant modo vacauerint et vacent ad presens.
Nos tam eidem Monasterio sancti Cristophori de gubernalore vlili et ydo-
neo, per quem circunspecle regi et saiubriler dirigí valeat, quam tibi,
qui, vi etiam accepimus, in octano ve! circa tue etatis Anno conslitutus,
ac Carissimi in chrislo filii noslri Johannis Porlugallie et Algarbiorum
Regis Iliustris frater germanas existis, apud nos de laudabilibus tue pue-
rilis etatis inditiis, ex quibus, prout fidedignorum testimoniis accepimus,
verisimiliter concipitur quod succedentibus Annis le in virum producere
debeas virluosum, mullipliciler commendalo, horum inluitu vi commo-
dius lilterarum studio operam daré et te sustentare valeas, de alicuius
subuentionis auxilio prouidere ac spelialem gratiam faceré voíentes, leque
a quibusuis excommunicationis, suspensionis, el interdicti aliisque eccle-
siasticis sentenliis, censuris et penis a iure vel ab homine, quauis occa-
sione vel causa lalis, si quibus quomodolibel innodalus existis, ad eíTe-
clum presentium dumlaxal consequendum, harum serie absoluentes et
absolutum fore cénsenles, necnOm verum et vllimum Monaslerii sancti
Crislophori et Prioratus predictorum vacalionis modum, etiam si e^ illo
queuis generalis reserualio, etiam in corpore iuris clausa resultet, pre-
sentibus pro expressis habentes, Molu proprio, non ad luam vel alterius
pro te nobis super hoc óblale pelitioriis instanliam, sed de noslra mera
liberalitale, Monasterium sancti Crislophori, cuius ad sexaginta floreaos
auri cum Duobus Terliis in libris Camere apostolice laxati reperiunlur,
ac qui Conuentualis est, el cuius etiam Quadringentorum ducalorum auri
de Camera secundum communem exlimalionem valorem annuum, vt
etiam accepimus, non excedunt, fruclus redditus et prouentus Prioratum
predicla quouis modo et ex cuiuscunque persona, sen per cessionem de
regimine et administratione Monaslerii sancti Crislofori, vel resignalionera
liberam cuiusuis de Prioratu huiusmodi extra dictam Curiam, etiam co-
ram Notario publico et teslibus sponte facías, aut dictus Prioratus per
Conslitulionem felicis recordalionis Johannis pape xxii predecessoris nos-
tri, .que incipit : Execrabilis, vel assecutionem alterius beneficü ecclesias-
tica ordinaria aucloritate collati vacent, etiam si ille ac Monasterium san-
112 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
cl¡ Cristophori huiíismodi lanío tempore vacaverint quod Monaslerii pro-
uisio el Prioratus huiusmodi collalio iuxla Laleranensis slatuta Concilii
aiit alias canónicas sancliones ad sedem aposloücam- legitime deuoluta,
ipseque Prioratus dispositioni apostolice specialiler reserualus exislat, et
dicli Monaslerii sancli Cristophori prouisio ad sedem eandem ex quauis
causa specialiler vel generaliter pertineal, et Gonsislorialiter fieri debeat,
el ad Prioratum huiusmodi consueuerit quis per electionem assumi, eique
cura immineat animarum super eo quoque ac regimine el administratione
predictis inler aliquos lis cuius slatum presentibus habcri volumus pro
expresso pendeal indecisa, dummodo tempore Dat. presentium in dicto
Prioratu alicui specialiler ius quesilum et eidem Monasterio sancli Cris-
tophori de Abbale prouisum, aut illud commendalum canonice non exis-
lat, cum ómnibus iuribus el perlinenlüs suis tibi, si adhuc clericali ca-
raclere insignilus non sis, poslquam caralere huiusmodi insignitus fueris
per te quoaduixeris, etiam vna cum ómnibus el singulis beneficiis eccle-
siasticis, cum cura et sine cura, secularibus et quorumuis ordinum re-
gularibus, que ex quibusuis concessionibus el dispensalionibus apostolicis
in titulum vel commendam obtines et im poslcrum oblinebis, ac pensioni-
bus annuis, quas super quibusuis fruclibus, redditibus et prouentibus ec-
clesiasticis percipis et percipies in fuluHjm, lenenda, regenda el guber-
nanda. Ita quod liceat tibi, debitis et consuelis Monaslerii sancli Cristo-
phori et Prioratus huiusmodi supportalis oneribus, ac Quarta si Abbatia-
lis seorsum a Conuentuali pro suslenlalione fabrice ac ornamentis vesti-
bus paramenlis emendis ac pauperum alimonia prout maior exegerit et
suaserit necessitas, si vero Mensa communis fuerit Terlia omnium fru-
cluum eiusdcm Monaslerii sancli Cristofori parle pro supradictis oneribus
supporlandis, ac suslenlalione Monachorum ómnibus alus deduclis oneri-
bus Annis singulis imparlita de residuis illorum fruclibus, redditibus et
prouentibus disponere el ordinare, sicul Monaslerii huiusmodi Abbales,
et diclum Prioratum in titulum pro tempore oblinentes de illis disponere
et ordinare potuerunt, seu eliam debuerunt, Alienalione lamen quorum-
cunque bonorum ¡mmobilium et pretiosorum mobilium Monaslerii sancli
Cristophori et Prioratus predictorum tibi penilus interdicta, auctorilate
apostólica commendamus, curam, régimen el adminislrationem dicti Mo-
naslerii sancli Cristophori tibi in spirilualibus et lemporalibus plenarie
commiltendo. Quocirca venerabilibus fratribus noslris Colimbriensi et La-
RELACOES COM A CURIA ROMAiNA 113
macensi Episcopis, ac dilecto filio Officiali Visensi per apostólica scripta
motu simili mandamus qualinus ipsi, vel dúo aiit vnus eorum, per se
vel alium seu alios, tibi in adipiscenda possessione vel quasi regiminis
€t administralionis ac bonorum dicli Monaslerii sancti Cristophori assis-
tentes, teqiie, prestito prius per le iuramento infrascripto, vel procurato-
rem tuum tuo nomine, in corporalem possessionem Prioratus iuriiimque
et perlinentiarum predictorum inducant auctorilate nostra et defendant in-
duclum, amofo. ab eodem Prioratu quolibet illicilo delentore, ac faciant
te vel pro te procuralorem tuunn prediclum ad Prioratum huiusmodi vt
€st morís admitti, libique a dileclis filiis Gonuenlu dicli Monaslerii sancti
Cristophori obedientiam et reuerentiam debitas et deuolas, necnon vas-
sallis et alus subditis dicli Monaslerii sancti Cristophori consueta seruicia
et iura tibi ab eis debila exhiberi, ac de Prioratus huiusmodi fructibus,
redditibus, prouenlibus, iuribus et obuenlionibus uniuersis responden in-
tegre, Contradictores auctorilate nostra appellatione poslposita compes-
cendo : Non obslantibus pie memorie Bonifacii pape viii, etiam predeces-
soris noslri, et alus Constitutionibus et ordinalionibus apostolicis, ac Mo-
nasleriorum el ordinum predictorum iuramento, confirmatione apostólica,
vel quauis firmitate alia roboratis stalulis et consueludinibus, contrariis
quibuscunque. Aut si aliqui super prouisionibus seu commendis sibi facien-
dis de Prioratibus huiusmodi speliales vel alus beneficiis ecclesiaslicis in
illis parlibus generales dicte sedis vel Legatorum eius Hileras impetrarint,
etiam si per eas ad inhibilionem reseruationem etdecretum, vel alias quo-
modolibet sit processum, quibus ómnibus te in asseculione dicli Priora-
tus volumus anleferri, sed nuUum per hoc eis quoad asseculionem Priora-
tuum seu beneficiorum aliorum preiudicium generari. Seu si venerabili
fratri noslro Episcopo Colimbriensi, el dileclis filiis Monasteriorum predi-
ctorum Conuentibus, ac prefalis Vasallis et subditis vel quibusuis alus
communiter vel diuisim ab eadem sit sede indullum quod ad receplionem
vel prouisionem alicuius minirae teneantur, et ad id compelli, aut quod.
interdici suspendí vel excommunicari non possint, quodque de Priorati-
bus huiusmodi vel alus beneficiis ecclesiaslicis ad eorum collationem, pro-
uisionem, presontalionem, eleclionem, seu quamuís aliam disposilionem ,
coniunclim uel separalim spectantibus, nulli valeal prouideri seu com-
menda fieri, per litleras apostólicas non facientes plenara et expressam ac
de verbo ad verbum de indulto huiusmodi mentionem, et qualibet alia
tOMO II. 15
114 COHPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
dicte sedis indulgenlia generali vel speciali cuiuscunque lenoris existat,
per quam presenlibus non expressam vel totaliter non insertam efFectus
huiusmodi gralie impediri valeal quomodolibet vel diíTerri, et de qiia cuius-
que toto tenore habenda sit in noslris lilleris menlio spelialis. Volumus
aulem quod propler commendam huiusmodi in dicto Monasterio sancti
Cristophori diuinus cullus ac solilus Monachorum et Minislrorum nunoe-
rus nullalenus minuatur, ac Prioratus huiusmodi debitis propterea non,
fraudelur obsequüs, el animarum cura in dicto Prioratu, si qua illi im-
mineal, nullatenus negligalur, sed eius ac Monasterii sancti Cristophori
huiusmodi congrue supportentur onera antedicta. Volumus autem quod
antequam in Prioratus possessionem inducaris, ac in aliquo regimini et
administrationi Monasterii sancti Cristophori huiusmodi le immisceas, in
dictorum Colimbriensis et Lamacensis Episcoporum ac Officiaüs, aut ali-
cuius eorum, manibus, nostro et Romane ecclesie fidelitalis debite, iuxta
formam quam sub bulla noslra mittimus inlroclusam, soliium prestes iu-
ramentum, ac formam iuramenti huiusmodi quod preslileris nobis de verbo
ad verbum per lúas patentes litteras luo sigillo sígnalas per proprium Nun-
tium quantotius destinare procures. Et insuper ex nunc irritum decerni-
raus et inane si secus super hiis a quoquam quauis auctorilale scienter
vel ignoranter conligerit altemptari. Nulli ergo omnino hominum liceat
hanc paginam nostre absolutionis, commende, mandali, voluntalis el de-
creti infringere, vel ei ausu temerario conlraire. Siquis autem hoc altem-
ptare presumpseril indignationem omnipotenlis dei, ac beatorum Pelri el
Pauli Apostolorum eius, se noverit incursurum.
Datum Rome apud Sanclum pelrum Anno Incarnalionis dominice
Millesimo quingentésimo uigesimo secundo, Sexto Nonas Martii, Pontifica-
tus noslri Anno Primo. — T. Hezius '.
Forma juramenli. — Ego Henricus de Porlugallia clericus seu sco-
laris vlixbonensis, ac Monasterii sancti Cristophori de Lafones el Priora-
tus Monasterii per Priorem gubernari solili sancti Georgii, Cislerliensis el
sancti Augustini ordinum, Visensis et Colimbriensis diocesium, perpetuus
Commendalarius, ab hac hora in antea fidelis et obediens ero beato Pelro
sancleque apostolice Romane ecclesie el domino nostro domino Adriano
' Arch. Nac, Mac. 3 de Bullas, n.° 6.
RELÁCOES COM a curia romana 115
pape VI ac eius successoribus canonice íntranlibus. Non ero in consilio
aut consensu vel fado vt YÍtam perdant aul membrum, seu capiantur aut
in eos manus violeníer quomodolibet ingerantur, vel iniurie alique infe-
rantur, quouis quesilo colore. Consilium vero quod michi crediluri sunt
per se aulNuntium seu Hileras ad eorum damnum mesciente nemini pau-
dam. Papatum Romanum el Regalía sancli Pelri adiutor eis ero ad reli-
nendum et defendendum conlra omnem hominem. Legalum aposlolice se-
dis in eundo et redeundo honorifice tractabo et in suis necessilalibus adiu-
uabo. Jura, honores, priuilegia et auclorilaleni Romane ecclesie domini
noslri pape et successorum predictorum conseruare, defenderé, augere et
promouere curabo, nec ero in consilio fado seu traclatu, in quibus con-
tra ipsum dominum nostrum vel eandem Romanara ecclesiam aliqua si-
nistra vel preiudicialia personarum iuris, honoris, status et polestatis eorum
machinentur ; et si talia a quibuscunque procuran nouero vel tradari im-
pediam hoc pro posse, et quantocius polero comraode significabo eidem
domino nostro, vel alteri, per quem ad ipsius notitiam peruenire possit.
Regulas sandorum patrum, decreta, ordinaliones, senlentias, dispositio-
nes, reseruationes, prouisiones et mándala apostólica totis viribus obser-
uabo, et faciam ab alus obseruari. Heréticos, scismaticos et rebelles do-
mino nostro et successoribus prediclis proposse persequar et impugnabo,
Vocatus ad Synodum veniam, nisi perpeditus fuero canónica perpedilio-
ne. Possessiones vero ad Monasterium sandi Cristophori et Prioralum
predida pertinentes non vendara nec inipignorabo, vel aliquo modo alie-
nabo, etiam cum consensu Conuentuura Monasterü sancli Cristophori el
Prioratus predidorura, Inconsulto Romano Pontifice. Sic me deus adiuuet
et hec sánela dei Euangelia. — A. de Castillo '.
1 Arch. N4C., Mac. 34 de Bullas, n.» 15.
15
116 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
Breve do Papa Adriano \1, dirig^ido a el-Rei.
15193 — Marco 3.
Adrianus papa vi Charissime in chrislo fili nosler salulem el apos-
tolicam benediclionem.
Nouit ille, in cuius conspectu clara sunt omnia, quod quamprimum
intelleximus diuinae prouidenliae dispositione nos ad summi aposlulalus
apicem, meritis licet imparibus, assumplos fuisse, ac humeris nostris vni-
uersalis ecclesie pondus incumbere, Nos chrisli Redemploris nostri me-
mores, qui in coelum ascensurus Discipulis suis mutuam dilectionem el
pacem testamento reliquit, nihil impensius cogitare, alque animo nostro
traclare coepimus, quam rationes el modos quibus christiani Reges el
Principes inter se dissenlientes, ac nefariis preliis (quod dolenter referi-
mus) christianum sanguinem eíFundenles, fraterna, \t pios ac ueros chris-
lianos decel, pace coniungerentur, vnitisque indissociabili federe animis
ac viribus communem hostem Turcarum Tyrannum aggrederenlur. Quem
cum antea semper, tum máxime postquam Belgrado Regni Ungariae claus-
tro potitus fuerat, nec multo post Insulam Rhodum totis viribus obsidere
coeperat, nihil aliud moliri, alque in animo habere \idebamus, quam vt
duabus illis obicibus, quae impios eius conalus reprimebant, eíTraclis,
vniuersam chrislianitatem presidiis ac propugnaculis ómnibus denudatam,
Ierra, marique inuadere, ac innumerabilibus, quas habet, copiis inundare
ac obruere posset. Quod equidem plurimis christianorum Principum, el
praesertim Hispaniarum, Francorum el Angliae Regibus significare vo-
luimus, cosque validissimos in mutuam perniciem exercitus alentes pa-
terna chántate monuimus, vi arma contra christianos parala deponerenl,
ac de millendo subsidio ad dictam Insulam ab inOdelium exercitu cir-
cumsessam, el christianorum suppetias implorantem cogitare vellenl. Spe-
rabamusque cum lilleris lum specialibus ad eos nunliis noslris ad hoc
vnum deslinalis consequi alque eílicere posse, vi salularibus consiliis, ac
palernis monilionibus nostris prius parerenl, ac necessaria subsidia mil-
terenl, quam dicta ínsula in hoslium poleslalem deuenirel. Sed proh do-
RELACOES COM A CURIA ROMANA 117
lor, ac tolius chrisliani nominis perpeluum dedecus, dum nos consulen-
do, rogando, atque monendo, ipsi uero Reges cunclando el difFerendo,
ac aller allerum spectando, et quod deterius est, eliam bella continuando,
lempus frustra conterimus. Inlerim, sicut nuper non sine multis lachrimis
ac intimo cordis merore accepimus, infclix Rhodus omni desperato au-
xilio ab immanissimis Turcis capitur. Quo nobis nunciato ad predictos
Reges seuere scripsimus, cisque sub interminatione diuinae indignalionis,
ac vitimi iudicii vindicta mandauimus vt si non pacem perpetuara, saltera
aliquot annorura inducias inler se inire, communique incendio, quod prope
adest, occurrere curenl, idque caeteris etiam christianis Regibus ac po-
tentalibus significare, eorumque ánimos eííicacibus litteris excitare non
omisimus. Cum autem Nos minime lateat regiam Serenilatem tuam ex
illo inclyto Rege natam esse, qui turpe ac impium esse censens contra
christianos, fratres nimirum suos, arraa capare, potiusque iniuriam quara-
libel ferendam esse, omnes Regni sui vires el opes contra infideles con-
uertit, ac dexlera Domini sibi assistente propicia tot ex illis victorias re-
portauit, totque popules et Regna Imperio suo subegit, vt eius gloria
nullis unquam saeculis interitura sit, credarausque te paterno exemplo ad
similem gloriara capessendara dies ac noctes incilari, nec alienis hortalio-
nibus multura indigere, Vt nostro tamen fungamur officio, et ne te tan-
tum tamque chrislianissimum Principem, qui máxima presentibus malis
remedia atierre potes, preteriisse uideamur, Maiestatem tuam per christi
raisericordiae viscera hortamur, et in uirlute Sanctae obedientiae, quam
Deo el eius Vicario debes, requirimus vt periculum ingens quod vniuer-
sae christianitati imminet, oculis atque animo suo proponere velit, nec
quantum absit hostis cogitare, Sed quam Iremendis viribus abundet. el
quam facile ac celeriler omni subíalo impedimento, ad quascunque chris-
tianorum Prouincias tara terrestres quam marítimas accederé, ac ex ini-
prouiso adoriri possit, qui nisi celeri apparatu ila preueniatur, vt illi co-
gitandum sil quomodo fines proprios defenderé queat Nulla-iam raaria,
nulleue ad coelum alpes eius impetum reprimere, aut retardare poterunt,
quin (quod Deus auertat) Siciliam, Italiam, Vngariam, Hispaniam, ac
omnes Europae (quae nobis adhuc supersunt) Prouincias infestare, diri-
pere, ac etiam debellare possit, Quodque facile sil illi futurum, si chris-
tianorura contumax desidia perseueraueril. Vtinam ipse non intelligal et
omnipolens Deus per suara clementiam el raisericordiam hoc eura mente
118 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
uoluore prohibeat. Non enim vires eius adeo limendae sunt, vi de chris-
lianorum populorum conslantia dubilandum videlur, quos omnifariam
Principum suorum iniuriis exacérbalos, ac imrnodicis exactionibus ex-
haustos, plerique existimant ad Turcas, licenliam uiuendi sub qua quis-
que velil fide, ac preler modicum Tributum, sumniam immunilalem el
libertalem illis qui se sponle dedunt, oíFerenles, et obseruanles, absque
magna diíBcullale defecluros, nec se vilae ac rerum suaruin pericuiis ex-
posiluros esse. Quamobrem oculos aperiant necesse esl Reges et Princi-
pes chrisliani, alioquin Ve eis si potenliam, quam a Deo acceperunt, non
ad illius nominis gloriam et populi eius electi defensionem Vli, sed in
mutuam perniciera abuti, et sicut pigri serui talentum sibi creditum ocio-
sum tenere voluerint. Quod si (quod Deus auertal) fecerint, vehemenler
eis timendum esl, ne is qui terribilis esl, el auferl spiritum Principum,
quique Regnorum omnium conditor et dalor esl, el in presenti Regna illis
eripial, atque, vi in euangelio legitur, vineam suam locet alus agricolis
qui fruclum suum reddant lempore suo, el ipsi in futuro iudicium eius
non euadanl. Quod superesl, fili noster Charissime, Celsitudinem luam ex
intimis animi el cordis Visceribus iterum atque iterum hortamur, ac ex
parle illius, cuius vices gerimus in lerris, obtestamur vi diclos Reges,
quantum in te fuerit, ad dictam pacera, vel sallem annorum aliquot in-
ducias, viis ac modis ómnibus per oratores tuos, quos apud illos habes,
inducere nilaris, el laraquam christi athleta, eiusque sánete fidei glorio-
sus el semper inuiclus púgil fulurus, potens brachium luum contra infi-
deles Turcas duplici victoria ciatos, ac lotius christianitalis imperio in-
hiantes celeriter el inlrepide armes, et ab isla teñera adhuc aetate lúa me-
ditan incipias quomodo christi fidem in tantum discrimen adduclam tueri,
ac titubantes christianorum ánimos confirmare possis. Exislimesque non
niinus Ubi gloriosum fore si christianae Reipublicae términos hoslis seui-
liae expósitos defenderis, quam predecessoribus luis fuit eos ad inaudi-
tas vsque naílones prolulisse, ac innúmera christi crucis trophea apud
easdem defixisse. Quod si, vi speramus et optamus, feceris, perpetuara
nominis laudem Ubi comparabis, ac Nos et hanc sanclam sedem, cuius
dicti praedecessores lui semper deuoU fuerunl, tanto ac tali mérito Ubi
promereberis, ab omnipolenU aulem Deo, per quem Reges regnanl, el
Principes imperanl, omnia in presenU saeculo secunda et prospera, in fu-
turo aulem aelernae vilae praemia consequeris. Proul ex Dilecto filio Mi-
RELACOES COM A CURIA ROMANA 119
chaele de Sylua tuae Maiestalis hic Oralore cui super his iale loquuti
sumus, plenius inlelliget, cui indubiam fidera adhibebil.
Dalum Romae apud sanctum petrum, sub annulo Piscaloris, Die iii
Marlii MDXxiii, Pontificatus nostri anno primo. — T. Hezius *.
Carta de D. Miguel da Silva a el-Rei.
15!S3 — Marco 4.
Senhor. — As carias de vossa alteza que vierao pollo galeao do se-
nhor de piombino, e asi os dous correos que trouxerao a vagante do bis-
pado d evora, com ho mais do que se avia de fazer em todallas cousas
de vosso seruico, e este derradeiro por que mandou pidir sam Jorge e o
moisteiro d alafOes pera o Infante dom anrique vosso irmao, sam todos
chegados ; mas todos lam tarde que pollos lempos que correm e guerras
de franca que nam se deve vosa alteza d espantar de aver tanto tempo
que nam lem cartas minhas, que tambem eu despois das derradeiras mi-
nhas de vinte e sale de setembro, que diz que lem Recebidas, despachey
dous correos fazendo Ihe saber o que passava pera nam se espantar se
lardavao seus despachos, porque nam era lempo pera negociar, nem avia
quem ousase d entrar em Roma, morrendo cada dia duzentos e trezen-
los de peslenenca. No ponto que este mal deu vao vim logo a Roma, e
no que fiz em cada cousa, e ñas ditüculdades que ha y no que se nom
fez, escrevo largamente por huum correo, que despacharey antes de dez
dias, pollo qual mando as bullas do arcebispado de lixboa e d evora pera
o cardeal, e as de sania cruz e sam jorge e alafóes pera o Infante dom
enrique, e a bulla da administracao do mestrado de chrislos pera vossa
alteza, com ho mais que aallem disto que he ja feilo d aqui ate Ha se
poder fazer. No bispado de viseu e priorado do crato se tomará Reso-
lucao com a Reposta destas cartas que escreverey, em que miudamente
verá o que qua he posyvel aver se, e fico com esperanca de fazer tanto
que sereys seruido, nem neste meio tempo perderey tempo nem deixarey
' Arch. Nac, Mac. 36 de Bullas, n.° 66.
120 CORPO DIPLOMATÍGO POKTUGUEZ
passar occasiao sem lancar miio della : sobre islo descanse porque cu nom
ey de descansar nunqua ate islo nam ser.
Por este correo, que esta leva, nam he posyvel dar Ihe conla disto,
porque vay despachado pollo papa sobre esta triste e desastrada nova da
perda de Rodes, segundo verá por seu breve e por alguumas cartas que
sobre ysso vierao ; e porque este correo passará por franca, e nam me
dá mais que duas horas de tempo, Relevando a cousa tanto a toda cris-
tindade e juntamente a vosso seruico, nom posso despendellas melhor
que em Ihe escrever o que o papa sobre este caso me manda que Ihe es-
creva, e com Razao deseja que se faca, que certo, senhor, se nam se
loma outro caminho ñas cousas da cristindade e defensao de Itallia, muy
raao o levao ellas, e praza a noso senhor por sua misericordia que nam
conhecao turcos quam lomada está esta Ierra cada vez que nelia quise-
rem poher o pee. Eu escreui a vosa alteza pollos dous correos, que ácima
digo, a necesidade em que eslava Rodes se nam Ihe ya socorro, e pollo
segundo Ihe fazia saber o trance que passara na treicao do bom amaral,
e que oulras laes se temiao muyto ; e como as boas novas que vinhao se
criao serem todas Janeadas por v¡a de veneza e meo do turco pera es-
trovar o socorro, e esfriar as pessoas que o aviao de mandar, e saio Ihes
a malicia que nem Rodes pode soster o peso de tamanho exercito, nem
o socorro Ihe foy nunca de nenhuma parle, de maneira que aos xx de
dezembro foy forcado o mestre dar se a partido salvando as vidas e pes-
soas e dinheiros e artelharia, e nam se sabe ainda se Ihe mantiverao os
prometimentos : de ser a cidade perdida, e o grao mestre embarcado com
eatencao de se viir a messina e d ahi a Roma, he cousa certa, e o papa
asi o tem por certo, e asi me manda que o escreva a vossa alteza pe-
dindo Ihe quanto pode pollo de deus e pollo do mundo e pollo seu que
queira, neste tempo de tanta sua necesidade e de tamanho perigo da santa
fee de noso senhor Jesús christo, poellas maos no Remedio como aquelle
principe e chrislao que he, e como filho de quem he e neto de tantos
deífensores da santa fee e acrecentadores della, sem nunqua em vossos
antepassados se achar quem pollo de deus aja arreceado d esparzir seu
sangue cadavez que comprjo muy liberalmente. As cousas dos cristáos
estam de maneira que vossa alteza vé : sam em guerras tres tamanhos
principes sem nenhuum delles, nam digo querer deceer a honestas con-
dicOes de concordia, mas nem soomente querer ouuir noraear paz : os
RELACOES COM A CURIA ROMANA 121
oulros que nesta massa nam entrao sao tam vizinhos ao perigo, e tam
pouquo poderosos pera poherem o peito a tam grande iniigo, que sem
ajudas de fora e muy grandes nam parece posivel que se possao defen-
der huum soo dia ; soo vosa alteza parece que, asi pola amizade que
igualmente tem com franca e emperador, e pollo que pode e principal-
mente por mar com o huum poderá muito aproveitar em se lomar al-
guum meio ao menos de tregua, e com ho outro dar muy grandes es-
paldas ás cousas do papa neste mar de llallia, e com seu exempro, aalem
da honra que seria muy grande, moverla sem nenhuuma duuida todoUos
outros a fazer o que devem a deus e a si mesmos, e principalmente vendo
vollo fazer, senhor, a vos, que nam vos movéis por medo vezinho nem
por particolar injuria Recebida ou que temáis em vosos estados tam cedo,
mas soomenle pollo bem commum da cristindade, e obrigacao de prin-
cipe cristao e deífensao da santa see apostólica e cadeira de sam pedro,
E nam deve com isto pouquo a mover vossa alteza estar ao presente nesta
cadeira Hadriano papa, cuja vida e custumes santísimos merecem par-
ticolarmente amor e ajuda de todo bom cristao, quanto mais dos Reís,
e quanto mais de vossa alteza, que elle tanto ama e tanto mostra de que-
rer comprazer em tudo o que se pode estender sem prejuizo craro de sua
conciencia, como ja comeca a mostrar e prazendo a noso senhor cada dia
amostrará mais e mais craramente. ElRey dom aífonso, tio del Rey voso
padre que santa groria aja, quando o bisavo deste turco velo sobre Ro-
des foy o primeiro que se mandou offerecer a papa sisto, e quando des-
pois os turcos desesperados de poder tomar Rodes vierao a otranto n
apulha elle foy tambem o primeiro que com sua armada de vinte caravel-
las soccorreo a ysso, e certo he, senhor, que com muito menos perigo
estavao entao as cousas, e o poder do turco entao com o d agora tinha
bem pouquo de fazer, que soo ho que o turco ganhou despois fazia en-
tao outro muy grande principe, e que a elle poos em muy grande af-
fronla que he todo o Imperio da siria e asia. Asi, senhor, que se sendo
entao portugal desacompanhado d outras grandezas, que despois noso se-
nhor vos deu, elRey dom aífonso nam olhou senam ao perigo que já en-
tao se comecava a ver muy maior que este que agora vemos, que deve
agora fazer vossa alteza vendo nam soomente o perigo mas o eíFeito : Ro-
des perdido, belgrado em maos do turco, e o turco senhor de toda asia
e Intitulando se senhor de Itallia e de Roma, como emperador que se
TOMO II. 16
122 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
chama, e os principes cristáos, que a isto mais devem acudir, pelejando
sobre o que muy levemente com ho mais em que nam cuidíio Ihes po-
deria levar o terceiro d anlre as maos? Nem digo estas cousas porque vosa
alteza soo tome este peso, lendo, como dise lambem ao papa, haas portas
6 na India tanto a que acudir por bem de seus Reinos e seruico tam-
bem de Deus; mas porque he cousa de tanta importancia, e o papa tem
tamanha necessidade de ajuda que com a metade do que em todo outro
tempo seria se ganharia neste honra dobrada, e se dará exempro, que
por ventura será causa de tudo se Remediar, e o merecimento de ludo
será, senhor, atribuydo a vos, e a allem d isto lancareis, a meu ver, tal
obrigacao ao papa, que poderá Render muito mais ñas cousas de voso
servico, e que por isto nam se deva fazer, nam deixará de seguir o que
digo tras o al se o asy fezerdes ; e se alguuma cousa agora se nega por
nam ser exempro a se fazer outro tanto a outros principes, fazendo vosa
alteza ho que ninguem nam faz polla igreja, a igreja tamliera de sua parte
nam podprá negar vos nada, posto que a mesma cousa se negué aos ou-
tros todos. Ho papa teme grandemente que o turco, ávida esta vitoria de
Rodes, e lendo em sua corle tanto numero de homeens que muy bem sa-
bem as cousas de Itallia e asi as guerras dos chrislaos, que achando se
com as maos na massa que nam quererá perder tempo, e se toma a volta
desta térra, he cousa erara que sem muy boa armada no mar sua san-
tidade nom poderá estar em Roma ; e partindo se, segundo a gente qua
he feita e levidao destes governos, tem por cerlo que nam soomenle se
dariao ao turco os raais, viindo elle poderoso, mas que o mandariao cha-
mar asi por mudar senhor, por que ho mundo de qua he perdido, como
pollas grandes opresoes que estes povos de tempo pera qua tem Recebi-
das, e opiniao que tem do bom governo do turco e aseseguo de suas tér-
ras, o qual em tal caso nam se deve duuidar que prometerá e dirá muito
mais do que despois mantera, e poderá mover por todallas vias a seu
seruico ho que cristáos por todallas vias indinao. Pera Remedio disso, se
tal caso viesse, pede a vossa alteza que lenha em ordem alguum numero
de navios e gente pera, comprindo, Ihe socorrer e se ajuntar com a mais
armada que qua se poder concertar. Compre que vossa alteza Responda
a sua santidade, e com toda diligencia pera sobre sua Reposta se fazer
conta do que se ha d esperar d ella em tal caso. Ñas cousas de vngria
se teme o mesmo, e a pfouisao que a yso se faz he de dinheiro. He feilo
RELACOES COM A CURIA ROMANA 123
legado pera la o cardeal columna : o papa Ihe dará, se poder, cern mil
ducados pera se pagar gente e deffender este primeiro Impeto. Ha see
apostólica está tam prove que certifico a vossa alteza que he muy grande
piadade : nam creo que ate agora sejam juntos quarenta mil ducados, nem
vejo donde ajao de sair os mais. Todollos principes tambem pera isto sao
Requeridos, e o papa fallou com as lagrimas nos olhos a todollos embai-
xadores. Gré se que nam Ihe falecerao em cousa tam justa, principalmente
que nesfe principio dez ou quinze mil ducados cada huum, com ho que
o papa dá, seria muy grande cousa : vosa alteza veja tambem o que
manda que sobre isto se Responda a sua santidade. Bem aíBrmo a vosa
alteza que por pouqua ajuda que ao papa dése neste caso e neste ensejo
seria muy aceita e muy a tempo, e faca conla que o que nislo fizer, aal-
lem do que se faz pollo bem vniversal, será feito ao pr^prio papa e como
dado a elle, de cuja bolsa ha de sair nom Iho dando, e sendo bem e
beneíTicio feito a lodo ho mundo de sua santidade seria Recebido com de
huuma composicao pera em seus negocios fazer cada dia muilo mais. Es-
crevo islo tudo asi polo miudo a vossa alteza porque he seu seruico sa-
ber tudo, e minha obrigacao dizer todo o que he ou pode ser seu ser-
uico. De novas outras de qua tenho mandado expresso do papa que nesla
nam escreva nada porque parece que sua santidade o prometeo asi aos
embaixadores francezes pera que no passar do correo nom pódese aver
Impidimenlo ; e posto que esta nom corra perigo de jse abrir todavía a
fee se ha de guardar, nam pollo perigo de se descubrir o contrairo, mas
por ella mesmo. Beijo as maos de vosa alteza, cuja vida e Real estado
noso senhor guarde e acrecenté como deseja.
De Roma aos qualro dias de marco 1523.
Esta he trelado d outra que neste mesmo dia tenho enviada por ou-
Iro correo. E acerca dos capilolos e condicóes com que se deu Rodes se
ouue por cerleza que Ihos nam guardón o grao turco, e nam sey porem
com que Razao se poderá escusar o grao mestre, que, capitulando com
seus Jmigos, se esqueceo de salvar as Reliquias, das quaes nam fez men-
cao, de maneira que se aíTirma que as comprou de novo. Elle he ja em
candía. E pois, senhor, que as comendas de Rodes e seus previlegios erao
pera deífensao da Ilha, e esta já nam se deíTende, vossa alteza, vagando
alguuma cousa, deve mandar ao papa a pidir Iha que aproveitará pera,
nam a querendo conceder, fazer homem mais forca no priorado como a
16*
124 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
quem se negao outras cousas ; e se'vossa alteza fizer o que largamente
Ihe escrevo pollo outro correo, que tras este irá, espero em noso senhor
que será seruido. E nesta ñora posso dizer mais.
Esta he treslado de outras duas tays que foram por outros correos.
— Dom miguell da sijlua *.
Bulla do Papa Adriano líW.
15193 — Marco 11.
r
t
Adrianus Episcopus seruus seruorum dei ad füturam rei memoriara.
Etsi ad ampleanda ecclesiarum omniura commoda, et cunctorum fi-
delium presertim clericalis ordinis incrementa felicia nostra semper aspi-
ret intentio, nullisque eos incommodis aíBcere uellemus ; urgente tamen
redemploris domini nostri Jesu Christi, et sanctorum omnium contume-
lia, periculo, et irreparabili ruina, quam toli Christiane Reipublice, et
presertim populis Ciuilatum, terrarum, et locorum nobis, et sánete Roma-
ne ecclesie subditorum imminere conspicimus, contra propositum nostrum
compellimur pro sacris dei templis, el sacerdotio ad opprobriorum discri-
mine liberandis, populorumque noslrorum salue fsicj tutanda, a subdilis
nostris oportuna subsidia exquirere, sperantes indubie quod pro defen-
sione uere fidei quam professi sunt, ac suis et Reipublice Christiane pe-
riculis euitandis, de facultatibus eis a deo creditis subuenire curabunt et
ad hec meritoria opera reddent se multipliciter pronos et liberales. Sane
cum perfidissimi Turci Christiane Religionis inimici aduersus ipsam reli-
gionem eamque profitentes, Sathane uexillum improba temeritate erexe-
rint, el tol cruenlissimis stragibus iacturis, et damnis per eos Cristianis
populis retroactis temporibus illatis, ac Regnis, Prouinciis, dominiis, Ciui-
latibus, et locis Christianorum captis et obsessis non contenli, nec sparsi
sanguinis fidelium multitudine saciati, sed, sicut cunctorum fidelium oculi
intueri possunt, fundendi sanguinis illorum ardore continuo estuantes, et
omni connatu reliquas chrislianas Religiones sue tirannidi et spurcissi-
me sede subiicere querenles, superiori anno discordiarum et dissensio-
» Ahch. Nac, Corp. Chron., Part. I, Mac^. 29, Doc. 30.
RELACOES COM a curia romana 125
num Ínter Gatholicos Reges, Principes et polentalus, inter se dissidentes,
exorlarum occasionem nacti, magno el potentissimo paralo exercilu, va-
ria Vngarie Regni Ciuitales et loca diuersis calamitatum generibus aíFe-
cerinl, et tándem Opidum Belgradi dicli Regni munitissimum iii el armis
ceperint, in ibique inauditas Crudelilates perpetrarint ; Ac suum iniquum
proposilum continué feruentius prosequentes et in sua potenlia el feroci-
tate confidentes, ualidissima Classe marítima ínstructa, felícíssimam olim
et totius Christianítatis specimen et decus, nunc uero infelícissimam et
Christianorum impíetalís teslimonium, Insulam Rhodi nouiter occuparint,
ea potissimum intenlione, ut ex non paruipendendis coniecturis colligi-
tur, ut Regnum Sicilie et loca omnia marilima ac Portus Christianorum
liberius occupent, et deinde eis facilius ad sánete Romane ecclesie Tér-
ras, et presertim ad hanc Almam Vrbem nostram, in qua bealissimus Apos-
tolorum Princeps Pelrus sedem suam elegit, et qua (quod deus auertat
pro sua misericordia) expúgnala se totius Orbis imperium facile occupare
posse non dubitant, pateat accessus, facileque cognosci possil, nisi cele-
riter occurratur (prout res postulat), formidandum esse ne ipsi perfidis-
simi Turci uictorie superbia elali maiora el irreparabilia darana Chris-
tianitati inferant, in maximam diuine maieslalis offensam ac nostram et
Calholicorum Regum et Principum aliorumque Chrislifidelium ignominiam
dedecus el iacturam : Nos eiusdem domini nostri Jesu christi, qui pro re-
demptione humani generis ut nos sui Regni eíficeret possessores immolari
non abnuil, uices licel immerili gerentes in terris, premissa et que iure
perlimescimus grauiora, non absque cordis amaritudine, mente reuoluen-
tes, omnia nobis possibilia remedia ad resislendum eisdem Turcis, et ob-
uiandum imminentibus periculis quibus subiicimur, ómnibus mediis pa-
rare sludemus, et eosdem Catholicos Reges Principes et Potcntatus ul pro
reuerenlia ipsius domini nostri Jesu christi, semolis quibusuis descordiis
et emulationibus, Pacem inter se componant, et ad fidei defensionem ac
ad subuersionem et exterminalionem prefatorum Turcorum insurgant, ex-
hortan et requirere non cessamus, parati pro eiusdem fidei defensione
non solum noslras et ipsius Romane ecclesie facúltales exponere et que-
cumque incommoda subiré, Verum etiam si opus fuerit, illius exemplo
cuius Vicarii sumus, proprium sanguinem effundere, Quod quidem ab ipsius
Pontificalus nostri inicio menti nostre resedil, cum ex Hispania, in qua
dum sors eleclionis in personam nostram domino concedenle aduenil re-
126 CORPO DIPLOMÁTICO POílTUGUEZ
sidebamus, mari classe traiecto, ad ilaliam peruenissemus, naualem Clas-
sem miinitaai in subsidium Insule et fidei prediclarum miltere disposue-
ramus, illamque mississemus nisi facúltales Romane ecclesie huiusmodi
oranino exhaustas et consumptas reperissemus. Nótenles aulem propterea
omitiere quin quantum in nobis sil publice utilitali consulalur, huiusmodi
defensionis opus, cum ipsius adiutorio cuius causa agitur, suscipere et pre-
fatorum Regum Principum et potentaluum, nec non populorum fidelium
freli presidiis prosequi et ad eíTeclum perducere, nosKrasque uires omnes
in hoc poneré intendimus et decreuimus. Verum quia ad tante rei mo-
lem preferendam noslre el eiusdem Romane ecclesie facúltales predicte
Parum prouiderenl, uolenles huic sanclissimo operi, ne ipsi immanissimi
Turci passim alia Regna prouintias dominia Ciuitales et loca Ghristiano-
rura eorundem diripiant, et sub suam Tirannidem ducant, et continuis
bellorum turbinibus aílligant etiam alios suíFragiis adesse, Malura super
hoc cum Venerabilibus fratribus nostris sánete Romane ecclesie Gardina-
libus, qui pro eorum pia in Ghrislianam Religionem deuolione ad Con-
Iributionem ¡nfrascriplam faciendam se sponle el liberaliter oblulerunt, de-
liberatione prehabita, de eorundem Gardinalium Gonsilio pariler et assen-
su, Duas ueras et integras decimas omnium el singulorum fructuum red-
dituum el prouenluum secundum uerum ualorem Omnium ecclesiarum
Monasteriorum et beneQciorum ecclesiaslicorum per ipsos Cardinales in
hoc consenlientes, quomodolibet obtentorum ubicunque tam cilra quam
ultra Montes consistenlium, ac pensionum annuarum super quibusuis fru-
ctibus reddftibus et prouentibus ecclesiasticis eis assignatarum, per pre-
sentes hic in Romana Curia, per absenles uero etiam Vltrarnontes exis-
tentes in locis per infrascriptum Nicolaum Golleclorem designandis, nec
non Omnium Officiorum ecclesie Romane ac Vrbis prediclarum, ac Pro-
uintiarum Giuitalum, etiam Rauenatensis, Auinionensis, Ferrariensis, Bo-
noniensis, Placentinensis, Parmensis, Regiensis et Mulinensis ac Gomita-
tus Venaisini, et locorum quorumcunque nobis et Romane ecclesie me-
díale uel inmediate subieclorum, etiam Legatorum, Vicecancellarii Mai6-
ris penitenliarii et Camerarii, ac Gancellarie, Penitentiarie, el Camere
apostolice, et Audientie Rote, el aliorum cuiuscunque qualilatis existen-
tium : necnon omnium Galhedralium etiam Metropolitanarum, el aliarurn
ecclesiarum, Monasteriorum, Prioratuum, Prepositaluum, dignilatum, per-
sonaluum, adminislriilionura, officiorum, Canonicaluum, et prebendarum.
RELACOES COM a curia romana 127
aliorumque beneficiorum ecclesiasticoruin cum cura et sine cura, secu-
larium ; ac eliam sancli Benedicli, sancli Auguslini, Cisterciensis, CIu-
niacensis, Carlusiensis, Camaldulensis, Humilialorum, Premoslatensis,
Vallis Vmbrose, Gruciferorum, Monacorum, Heremitarum sancli H¡e-
ronymi, et aliorum quorumcunque ordinum, ac Congregalionum tam ui-
rorum quam Mulierum eliam mendicanlium ex priuilegio, uel alias Car-
los reddilus habentium ; Necnon Regularum Mililiarum in prouinlüs, nec
non Vrbe, ac alus Ciuilalibus, et diocesibus, Eliam Rauenalensis, Aui-
nionensis, Ferrariensis, Bononicnsis, Placenlinensis, Parmensis, Regien-
sis, el Mulinensis, Necnon Comilatus Venaisini, Terris, Caslris, et lo-
éis nobis et prefate Romane ecclesie niediate uel immediale (ut prefer-
tur) subieclis, consistenlium, Videlicet a Legalis Vicecancellario, Maiori
penitentiario, el Carnerario, acGubernaloribus, Recloribus, Capilaneis Po-
teslalibus, el alus quibuscunque oíTicialibus noslris el ecclesie, ac cu-
rie, Gancellarie, Penilenliarie, camere, Audienlie Role, Prouintiarum Vr-
bis ciuilalum, comilatus, Terrarum, castrorum, el locorum prediclorum,
Reddituum uero, el prouenluum ecclesiaslicorum ab ómnibus et singu-
lis Archiepiscopis, Episcopis, Eleclis, Abbalibus, Abbatissis, Prioribus,
Priorissis, Adminislraloribus, Comendalariis, Gapilulis, Conuentibus, cele-
risque personis ecclesiaslicis secularibus et regularibus ordinum congrega-
lionum Mililiarum quorumlibel, exemplisjel non exemptishuiusmodi fruclus
reddilus, et prouenlus ecclesiasticos in prouinlüs, Vrbe, ciuilalibus, dioc.
comilalu, lerris, caslris, el locis supradiclis percipienlibus, el preceplu-
ris, cuiuscunque preeminenlie, dignilatis, status, gradus; ordinis, uel con-
dilionis existant, quibus aut eorum alicui nulla priuilegia et indulta sub
quecunque uerborum forma seu expressione que quoad hoc nolumus suf-
fragari, Duobus proxime fuluris Annis, Videlicet unam lantum Decimam
quolibet ex ipsis duobus annis, in lerminis per Venerabiiem Fralrem nos-
Irum Nicolaum Episcopum Sabinensem Cardinalem de Fusco nuncupa-
tum, cui curam colligendi et conseruandi pecunias ex huiusmodi Deci-
mis prouenienles, ac facullatem tam in Vrbe quam in alus ciuilalibus ler-
ris el locis prediclis quot quot uolueril ad hoc depulandi per presentes
concediraus, persoluendas, exigendas, et leuandas ac in premissum fidei
tam comuna, tam sanclum, lamque necessarium opus, uidelicet contra
ipsos perfidissimos Turcos, et non in alios usus omnino conuertendas,
aucloritate apostólica et ex certa scientia ac de apostolice poteslatls pie-
128 CORPO DIPLOMÁTICO POKTUGUEZ
nitudine indicimus, el imponimus, et impositas denunciamus, siiniles de-
cimas pro grauitate expensarum Poslquam pax el indulie inter diclos Re-
ges, Principes, et Potenlatus (proul cupimus) et domino concedenle in
breui faceré speramus concluse fuerint, in ómnibus alus prouintiis, Re-
gnis, dominiis et locis tara eisdem Regibus, Principibus, et Potentatibus
subiectis, quam liberis ad hoc ut tam ferocissimo hosli et potenti non so-
lum resisti, sed el sánela expedilio contra Crucis Ghristi hostes tam diu
exoptata fieri possit imponere intendentes ; et ut decime imposite huius-
raodi fideliter conseruentur, ac illarum prouentus in hoc sanclum opus
contra Turcas Christi iniraicos, et non in aliam causam conuertantur,
Volumus quod Rectores, seu deputati Regimini Ciuitatum, Castrorum, et
locorum predictorum in singulis illorum unam Capsam tribus Clauibus,
Vna uidelicet penes Gommissarium a prefalo Nicolao episcopo, et Gardi-
nali ut prefertur deputandum, alus uero duabus penes dúos, Vnum ui-
delicet ecclesiasticum, el alium secularem, probos uiros fides facultatibus
idóneos, de quibus ipsis Rectoribus uidebilur deponendis, Glaudendam, in
qua Decime huiusmodi integraliter el tideliler reponantur, nec inde ex-
Irahantur, nisi in premissam causam, el non alios usus, uere el eíTectua-
liler conuertende. Girca uero collectionem, et exactionem ipsarum Deci-
marum, ac modum illas conuertendi et reponendi, per Nicolaum Episco-
pum et Gardinalera, aut Deputalos predictos sub talibus conditionibus, mo-
dis et formis prouideri curabitur, ut omnes plene intelligere el aperte
uidere possint huiusmodi decimas in hanc sanctam Expeditionem et non
in alios usus erogari. Ceterum cum mora uel dilalio preslationum huius-
modi decimarum pro tam euidentis periculi magnitudine sil plurimum no-
ciua, expediatque ut Ghristiana Religio hoc tam necessario presidio non
destituatur, et premissa metu pene ab ómnibus inuiolabiliter obseruentur,
Contradictores, inobedientes et rebelles, aul scienter defraudantes, priua-
tionis ecclesiarum Monasleriorum, aliorumque beneficiorum ecclesiastico-
rum et Officiorum omnium etiam ut prefertur qualificatorum ila ut illa
ex tune uacare censeanlur, et ut uacantia impetrare et libere conferri pos-
sint, El quominus Decima huiusmodi persolualur et exigatur persuadere,
aul quouis modo direcle uel indirecte operari presumentes, cuiuscunque
status gradus et preeminentie ut prefertur fuerint, etiam si Palriarchali
aut alia quauis perfulgeant dignitale, excommunicationis senlenlie penas
ipso fado incurrere uolumus el declaramus, ad quarum penarura incur-
RELACOES COM A CURIA ROMANA 129
sus declarationeni el alia usque ad execulionem inclusiue per prefatum
Nicolaum Cardinalenri, per se uel alium seu alios, lam in Curia quam ex-
tra respectiue procedí posse decernimus. Statuenles etiam ut omnes et sin-
gule persone, que ob non solulionem uel ob defraudationem decimarum
uel alias quacumque occasione premissorum excommunicalionis senten-
liam innodati fuerint, ab illa nisi per Romanum Ponlificem, prelerquam
in morlis articulo, et nisi prius salisfaclo de eis que tenerentur absolui
nequeant, ñeque absolutionem ipsam lam in foro Conscienlie quam Con-
lenlioso, et impelrationibus beneficiorum uel alus quibuscunque gratiis ob-
linuisse noscantur, nisi de excommunicalionis sentenlia huiusmodi el ob
quam causam incurrerinl specificam et expressam fecerint menlionem,
Alioquin absolutio el lillere ipse ac quecunque concessiones beneficiorum
et gratie, sub quacunque uerborum forma concesse, nullalenus eis suffra-
genlur, nulliusque sint roboris uel momenli. El insuper horlamur el mo-
nemus omnes et singulos Freíalos supradiclos eorumque Vicarios el oíü-
ciales, ao in uirtule sánele obedienlie et sub excommunicalionis sentenlie
pena ipsis dislricle precipiendo mandamus qualenus quilibel ipsorum in-
solidum quamprimum presentes noslre lillere, seu earum Transumpla
manu alicuius Nolarii publici, el sigillo alicuius eorum aul Nicolai Epis-
copi et Cardinalis seu deputalorum prediclorum munita, preséntate seu
preséntala fiíerint, ipsas lilleras ac omnia el singula in eis contenta in suis
et alus ecclesiis seu locis suarum prouinliarum Ciuitatum et diocesium
dominicis et fesliuis diebus, quando et quoliens opporlunum fuerit, solem-
niler publicenl et exponant, et per eos quos ad hoc duxerint deputandos
publicari el exponi facianl : Non obstanlibus Conslitutionibus et ordina-
lionibus apostolicis, ac ecclesiarum, Monasteriorum, ordinum Militiarura,
Congregalionum et oíTiciorum prediclorum, iuramenlo confirmatione apos-
tólica uel quauis firmitale alia roboralis, slalutis et consuetudinibus, slabi-
lihientis, usibus et naturis, ac priuilegiis et indullis apostolicis eis forsan
sub quibusuis uerborum formis, clausulis etiam derogatoriarum deroga-
toriis, eíTicatioribus et insolitis concessis, quibus etiam si de eis eorunque
tenoribus pro illorum sufficienti derogatione specialis, specifica et expressa
mentio habenda foret, et in lilis cauerelur expresse, quod lilis nunquam
censerelur derogatum, nec derogar! posset, nisi sub certis inibi expressis
modo et forma, ac uerborum expressione, uel nullo modo, tenores eorum,
ac si de uerbo ad uerbum insererentur, presentibus pro sufficieuler ex-
TOMO II. 17
130 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
pressis et insertis habentes, illis alias in suo robore permansuris, hac uice
duntaxat specialiter et expresse omnino derogamus, et derogatum esse
uolumus, celerisque contrarüs quibuscunque. Aut si eisdem Archiepisco-
pis, Episcopis, Eleclis, Abbatibus, Abbatissis, Prioribus, Priorissis, Admi-
nistratoribus, Gomendatarüs, Capilulis, Conuentibus, Ordinibus, Militiis,
Oíücialibus et personis, uel quibusuis alus communiler uel diuisim ab
eadem sil sede indultum quod ad solutionem alicujus decime niinime te-
neanlur, et ad id corapelli, aut quod interdici, suspendí uel excommuni-
cari aut proplerea priuari non possint, per lilteras apostólicas non facien-
tes plenam et expressam ac de uerbo ad uerbum de indulto huiusmodi
mentionem, et quibuslibet alus priuilegiis indulgentiis et lilteris apostoli-
cis generalibus uel specialibus quorumcunque tenorum existant, per que
presentibus non expressa, uel lotaliter non inserta effectus earum impediri
ualeat quomodolibet uel deferri, et de quibus quorumque totis tenori-
bus de uerbo ad uerbum habenda sit in nostris lileris mentio specialis.
Verum quia difficile foret presentes litteras ad singula loca in quibus ex-
pediens esset deferre, etiam uolumus, et auctoritate apostojica decernimus
quod earundem litterarura Transuraptis, manu alicuiusNotarii publici inde
Rogalis subscriptis, et sigillo alicuius Prelali ecclesiaslici seu Nicolai Epis-
copi, et Cardinalis predicli munitis, ea prorsus fides indubia in iuditio et
extra illud, ac alias ubilibet in ómnibus et per omnia adUibeatur que
presentibus adhiberelur, si essent exhibite uel óslense. NuUi ergo omnino
hominum liceat hanc paginam nostre indictionis, impositionis, denunlia-
tionis, uoluntatis, declarationis, staluti, horlationis, monitionis, mandali
derogationis et decreti infringere uel ei ausu temerario conlraire. Siquis
aut^m hoc attemptare presumpserit indignationem Omnipotenlis dei, ac
beatorum Pelri et Pauli Aposlolorum eius, se nouerit incursurum.
Datum {lome apud sanctum Pelrum Anno Incarnationis doniinice
Millesimo quigentesimo Vigésimo secundo, Quinto Idus Martii, Pontifica-
tus nostri Anno Primo. — T. Hezius '.
' 4 D/^ o 1^
Arch. Píac, Mac. 37, n." 6, Esta hulla é imprcssa.
ÍIELACOES COM A CURIA ROMANA 131
Carta de D. llig;uel da filloa a el-llei.
1533 — Marco 15.
Senhor. — Dcspoys de muyla fadigua, e quasi que já me parecya
que o papa era de lodo arrependido acerca da bulla da administracao do
niestrado de christos, como escreuerey larguamei)le pollo correo que tras
este Yay, me mandou sua santidade a bulla a casa, e neste ponto, es-
tando já a cauallo o correo que vay era companhia de huum apousenla-
dor do emperador, homem muy honrrado, m a dao ; e parecendo me que
he de muyto peso pera vossa alteza poder prouer das cousas que vaguam,
e fazer o mays que compre da administracao do mestrado, me pareceo
bem a mandar loguo, e pollo outro correo mandarey oulra tal que se es-
pede com sello de ouro, como he costume ñas cousas de tamanha sus-
tancia em pessoas dos mesmos Reys. Da custa que fez, assy esta como
todas as outras, Ihe yrá cora ellas juntamente a conta, que nesla carta
nem pera estas poucas Regras nao tenho tempo, e perder tara boa ocasianí
deste correo e companhia que leua seria erro : abaste somente por aguora
que do que outra tal graca cuslou ao emperador em ho tempo que papa
liara estaua melhoí* com elle, quitou papa adriano a vQSsa alteza as nouc
partes, ficando porem a elle que \ysta a grandeza da graca e necessidade
da Igreja de sua liure liberalidade hja de fazer o que Ihe bem parecer
que tudo se leyxa em liure vontade de vossa alteza.
Ha bulla do moysteyro de alafóes e sam Jorge mando tambera, que
por grande fauor e importunidades se despachou era quatro dias : pare-
ceo me necessario mandalla tambera loguo pera se toraar a posse por
ella. Pollo outro correo yrá o processo autenticado era lugar de dupri-
cada, que nam ouue tempo pera se mandar aguora como eu quisera,
por nwndar a propria bulla por térra, que he via mays segura se de
franca me \em saluo conducto que espero, e por ysto as bullas de lix-
boa euora e sancta cruz, que ja sara quasi espedidas, se nara vyr que os
caminhos sao rauy seguros nam envyarey, c mandarey por emtanlo as-
suntos com breue do papa per que se lome a posse e administre nem
17*
132 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
mays nem menos que se as proprias bullas la fossem. E esperando eu
que vossa alteza me faca a merce, que Ihe tantas vezes tenho pedyda, e
peco, de me dar licenca a o yr la seruyr, faco conta de as leuar com
as mays que ate vyr vossa resposla se poderem espedir, e com ella se
espediráo, que auenturar a se perderem bullas de tanta custa pera na du-
pricacao deüas se hauerem de despender e deylar a longe tres ou quatro
mil ducados, nam he vosso seruico, nao releuando mays huuma cousa
que a outra. O papa, posto que com muita diíTiculdade, tem concedydo
a vossa alteza o poder recolher os fruylos destes beneficios de seus ir-
máos, e assy licenca do nao Rezar ao Cardeal e Ifanle Dom amrique,
com absoluicao pera o cardeal do passado. Os breues com as bullas ha-
uerey ás maos em poneos dias, que nam faco al de noyte nem de dia, e
as cousas vao per estilo tam mudado que o que se espedía em hum dia
ha agora mister dez, com dez tanto de pena e de diligencia ; e porque
dizendo a verdade nam posso correr perigo de parecer que me louvo sem
proposito, compryndo a vosso seruico saberdelo, se tres pessoas que agora
gouernao tudo nao acerlarao de ser muy antigos meus amigos e muy ver-
dadeyros antes que 'o papa sonhasse de ser papa, nem elles de manda-
rem o papado, em todas estas cousas de vosso seruico ouvera alguma
pouca de mays diíficuldade ; e muyto menor a hauerya se a autoridade
com que vossa alteza me diz que sabe que hey de acabar ludo fosse mayor,
o que ha de vyr, senhor, de vos, e de vossa alteza mostrar ao mundo que
meus seruicos passados feytos a elRey seu padre que deus aja e aguora
a elle Ihe sao presentes, que qua, senhor, o criado de que o mundo vé
que seu senhor faz pouca conta, pode muy pouco ñas cousas do seu se-
nhor, e por muitos seruidores que pollo mundo vossa alteza tenha e com
toda sua grandeza nao hauerá quem me crea em cousa, que de vosso ser-
uico e vontade eu disser, se juntamente se nam vyr que estymays de tal
sorte raeu seruico que o que eu diguo nam pode deyxar de sayr de vos,
ou despoys de dito de ser hauydo por bem dito. Isto, senhor, posto que
mal se possa escusar de hos homens naturalmente nam desejarem honra
e merces de seus Reys e senhores a que seruem, eu todauia, assy deus
me ajude e leue diante dos^pes de vossa alteza, como o diguo muyto
mays pollo que compre a vosso seruico que pollo meu.
Estes tres homens que acyma diguo que podem muyto sam guilliel-
mo Inchfort, que aguora he bispo de torlosa, o auditor da cámara Senes,
RELACOES COM A CURIA ROMANA 133
que he bispo de asculi, e o arcebispo de cosenca, que era nuncio em lempo
del Rey dom femando, que deus aja, em castella ; mas o principal he o
de lortosa a que vossa alteza, juntamente com o auditor da cámara, deue
de escreuer, porque no despacho desta administracao elles tomarao as
armas e fizerao quanto eu Ihes pedy. Reijo as maos de vossa alteza, cuja
vida e Real estado nosso senhor deus guarde e acrecenté como deseja.
De Roma aos xv de marco 1523. — Bom miguell da sylua \
Carta de 1>. lli^uel cía f^il^a a el-Rei.
15:33 — ¡narco 16.
Senhor. — Despois destas cartas todas cerradas soube que as cousas
do papa com o emperador sam assentadas todas muito a contentamento
do emperador e assy como sua alteza as desejaua, e concedeo Ihe cru-
zadas e outras dizimas e a terceyra parte da Renda ^ dos creligos pera
suas guerras, que monta ^ muito grande soma. Pareceo me bem fazello
assy saber a vossa alteza porque nam Ihe Tlem ^ a entender outra cousa
que ysto está assy, e nam * se pode ler a uontade de huum ^delles que
nam se tentia a de ambos. Reijo as maos de vossa alteza, cuja vida e Real
estado nosso senhor Deus guarde e acrecenté como deseja.
De Roma aos xvi de marco 1523 — Dom miguell da sylva ^.
' Arch. Nac, Corp. Chron., Part. I, Mac. 29, Doc. 37. O documento n.° 38 do
mesmo mago é a segunda via d'esta carta.
2 Ibid. Doc. 35. O documento n.° 39 é a segunda via d'esta carta, mas com ^í data
de 20 de mavQO e as variantes seguintes :
^ das rendas
~ montam
^ Ihe nam dem
* que esto, asy que nam
^ nenhuum
€ termina: «esta he treslado de outra tal.»
. O documento n.° 4i e'tambem outra via da mesma carta, com a data de 2/ demarQO
e com as variantes ^ ^ ^ e ^ do documento n.° 39; accrescenta pore'm depois da data: «o
que diguo que se concederao as tercas dos creriguos nam foram senao as quartas. »
134 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
Bulla do Papa Adriano WI, dirigida a el-Rei
15133— Marco lO.
Adrianus cpiscopus seruus seruoruní dei Carissimo in chrislo filio
Johanni Porlugallie el Algarbiorum Regí lUustri Salulera et aposlolicam
benedictionem.
Eximio deuotionis affectus et integra fides, quibus nos et apostoli-
cam reuereris ecclesiam, mérito nos inducunt vt illa libi fauorabiliter con-
cedamus, que tuis commoditalibus fore conspicimus oportuna, et per que
eliam domini nostri Jesu christi Mililie Magistratui in Portugallie et Al-
garbiorum Regnis et dominiis tuis, eorumque conserualioni et utilitati
oportuno consuli possit. Cum itaque, sicut accepimus, Magistratus pre-
dictus, quem quondam clare memorie Emanuel Rex genitor tuus dum vi-
ueret, eliam vxorem habens, et absque eo quod frater dicle Mililie esset,
ex concessione et dispensalione apostólica in administralionem oblinebat,
administralione huiusmodi per obitum dicli Emanuelis Regis, qui extra
Romanan! Curiam debilum nature persoluit, cessante adhuc eo quo dura
eidem Emanueli administralio concessa fuerat vacabat modo vacare nos-
calur; Nos, speraíiles quod tu, qui, vt similiter accepimus, predicle Mi-
lilie ex tua pia deuolione plurimum afficeris, tibique magn^animilale ac
polentia plurimum suffragantibus Magistratui predicto eris plurimum vti-
lis el eliam frucluosus, volentesque libi, qui, vt eliam accepimus, in vi-
césimo primo lúe etatis Anno conslitulus existís, vt stalum luum iuxta
Regle exigenliam excellenlie decenlius lenere, vtque sanclissimam per di-
ctum genitorem tuum ceplam el per te continuatam chrislianam nominis
ampliandi promutiam continuare valeas, de alicuius obuentionis auxilio
prouidcre, Nobilitatisque el generositalis, ac egregiorum luorum et dicli
genitoris ac vcslrorum maiorum meritorum intuitu, graliam faceré spe-
tialem, necnon verum el vltimum dicli Magistratus vacalionis modum,
eliam si ex illo queuis generalis reserualio eliam in corpore iuris clausa
resuUet, illiusque qualitales el naturam, necnon frucluum, reddituum et
prouentuum veros annuos valores, presenlibus pro expressis habentes,
RFXACOES COM A CURIA ROMANA 135
Molu proprio, non ad tuam vel allerius pro te nobis super hoc óblale
pelitionis inslantiam, sed de nostra mera liberalilale et ex certa scientia,
Magistratuní predictum, qui in dictis Regnis et dominiis ipsius Mililie d¡-
gnilas principalis ac caput dicte Mililie existit, quouisraodo et ex cuiíis-
cunque persona seu per liberara resignalionem alicuius de illo in dicla
Curia yel extra eam, etiam corara Notario publico et testibus sponte fa-
ctara, vacet, etiara si tanto terapore vacauerit quod eius collatio iuxta La-
teranensis statuta Concilii aut alus canónicas sanctiones ad sedera apos-
tolicam legitime deuoluta, ipseque Magislratus disposilioni apostolice spe-
tialiter, vel ex quauis causa, etiam de necessitate exprimenda, generaliler
reserualus existat, et ad illura consueuerint quis per electionem assumi
super eo quoque inter aliquos lis, cuius statura etiam presentibus haberi
volumus pro expresso, pendeat indecisa, cura ómnibus membris, Castris,
caraeris, iuribus et perline'ntüs suis, tibi per le quoaduixeris, etiam si
frater dicte Mililie non exislas et matrimoniura te conlrahere conligeril,
tenendum, regendum et gubernandum ; Ita quod liceat tibi, debitis et
consuetis dicti Magislratus supportatis oneribus, de residuis illius ac mem-
brorura castrorum et aliorura iuriura predictorura frúctibus redditibus et
prouentibus disponere et ordinare potuerunt, seu etiara debuerunt, Alie-
natione tamen quoruncunquc bonorum immobilium et preliosorum mobi-
liura dicti Magistratus et membrorum suorum tibi penitus interdicta, au-
ctoritate apostólica tenore presentiura in adrainistrationem con'cedimus, te-
que, quandiu \'itara duxeris in humanis, Magistratus et raerabrorura pre-
dictorura* Administratorem et gubernatorem perpetuo et irreuocabiliter
modo preraisso facimus, constitui.mus et depulamus, curara régimen et
adrainistrationem illorum in spirilualibus et temporalibus tibi plenariecom-
millendo, ac omnia et singula in eisdem spirilualibus et temporalibus ge-
rendi et exercendi, que dicte Militie Magistri pro tempore existentes ge-
rere et exercere possunt, plenam liberara et oranimodam harum serie
concedimus facultatem, Mandantes dilectis filiis maiori Preceptori ac Priori
Conuenlus de Tomar, ac vniuersis Prioribus, Preceptoribus, Coraraenda-
toribus, Militibus et fralribus dicte Militie, quocunque nomine censeantur
et quacunque prefulgeant dignitale, necnon eiusdem Magistratus et mem-
brorum \asallis et subditis quatinus te in administralorem el gubernato-
rem dicti Magistratus benigne recipiant et admillant, necnon libi vti vero
Magistro pareant etMntendant, ac debite fidelitatis sólita homagia el iura-
13a CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
menta preslenl, consuetaque seruicia el iura tibi debita studeant exhibe-
re. Quocirca venerabilibus fratribus nostris Bracharensi et Vlixbonensi
Archiepiscopis, ac Episcopo Portugalensi per apostólica scripta molu si-
mili raandamus quatinus ipsi, vel Dúo aut Vnus eorum, per se vel alium,
seu alios sibi et preinissis eíQcacis defensionis presidio assistentes, le, \el
procuralorem tuum tuo nomine, in corporalem possessionem Magislratus,
membrorum, Gaslrorum, Gamerarum, iuriumque el perlinenliarum pre-
diclorum inducant auclorilale noslra el defendanl induclum, amolis qui-
busuis delentoribus ab eodem, facientes te vel pro te procuralorem predi-
clum ad Magistratum et membra huiusmodi vt est moris admilli, libique
de illorum fruclibus, reddilibus, prouenlibus, iuribus et obuenlionibus
vniuersis, integre rcsponderi, necnon a maiore Preceptore Priore de To-
mar, aliisque Prioribus, Preceptoribus, Gommendaloribus, Miiilibus et
fratribus dicte Militie obedienliam et reuerenliam, ac a vassallis el sub-
ditis prefatis consuela seruicia et iura huiusmodi tibi debita integra exhi-
bere, Goniradictores per censuram ecclesiaslicam, appellalione poslposita,
compescendo: Non obslanlibus felicis recordalionis Bonifacii pape viii pre-
decessoris noslri et alus aposlolicis Gonstilulionibus el de exprimendo vero
annuo valore frucluum, reddiluura et preuentuum Magislratus et aliorum
beneficiorum, de quibus pro tempore prouidelur seu prouideri mandalur,
ac slalutis el consueludinibus, stabilimenlis, vsibus et naluris dicte Mili-
tie iuramento, confirmalione apostólica, vel quauis firmilale alia robora-
tis, priuilegiis quoque et indultis aposlolicis dicte xMilitie sub quibusuis
verborum formis et clausulis, etiam derogaloriarum derogatoriis," forliori-
bus, eíTicatioribus et insolilis, etiam molu et scientia similibus concessis,
etiam si forsan in eis cauealur, quod Magislratus predictus non nisi per
fratres dicte Militie, qui-professionem per fralres predictos emitti solilam
emiserint, cxpresse teneri possent, et alias de illis eliam per sedem apos-
tolicam facle concessiones nuUius sint roboris vel momenti, quibus ómni-
bus etiam si de illis eorumque lolis tenoribus pro illorum suiricienti de-
rogatione spetialis el expressa, indiuidua ac de verbo ad verbum, non au-
lem per clausulas generales id importantes menlio, seu queuis alia ex-
pressio habenda forel, tenores huiusmodi presenlibus pro suíücienlcr ex-
pressis el inserlis habenles, illis alias in suo robore permansuris, hac vice
dunlaxat, molu et scientia similibus spelialilcr et cxpresse dcrogamus, et
derogalum esse volumus, quodque te in Vicésimo primo tue elalis Anno
RELACOES COM A CURIA ROMANA 137
tantummodo constitutus existas, \l preferlur, contrariis quibuscunque.
Aut si aliquibus super proüisionibus sen in adminislrationem concessio-
nibus sibi faciendis de Magistralibus huiusmodi spetiales vel alus benefi-
ciis ecclesiasticis in illis parlibus generales, dicte sedis ve! legatorum eius
lilteras impetrarinl, etiam si per eas ad inhibilionem reseruationem et de-
cretum vel alias quomodolibet sit processum, quibus ómnibus le in dicli
Magistratus assecutione volunius ent^erri, sed nullum perhoc eis quod ad
assecutionem MagistVatuun] vel beneficiorum aliorum preiudicium gene-
ran, Seu si maiori Preceptori, Priori de Tomar aut alus Preceploribus,
Commendatoribus, Militibus et fratribus prefalis, vel quibusuis alus com-
muniter vel diuisim ab eadem sit sede indultum quod ad receplionem vel
prouisionem alicuius minime teneantur et ad id compülli, ac eis, necnon
vassallis et subditis prefatis quod inlerdici, suspendí vel excommunicari
non possint, quodque de Magistratu huiusmodi vel alus beneficiis eccle-
siasticis ad eorum collalionem, prouisionem, presenlationem, electionem,
seu quamuis aliam dispositionem coniunclim vel separatim spectantibus,
nulli valeat prouideri, seu concessio in adminislrationem tieri, per Hile-
ras apostólicas non facienles plenam et expressam ac de verbo ad ver-
bum de indulto huiusmodi menlionem, et qualibet alia dicte sedis indul-
gentia generali uel spetiali cuiuscunque tenoris existat, per quam pre-
sentibus non expressam vel lolaliter non insertam effeclus huiusmodi gra-
lie impediri valeat quomodolibet vel diíTerri, et de qua cuiusque' tolo te-
nore habenda sit in noslris lilteris mentio spetialis. Nos enim lecum \t
Magistralum prediclum recipere et retiñere libere et licite valeas, defe-
clibus predictis, ac Lateranensis Concilii, aliisque Conslitutionibus et or-
dinalionibus apostolicis, slatulis quoque et consueludinibus, stabilimen-
tis, vsibus el naturis, priuilegiis el indullis supradictis, celerisque con-
trariis nequáquam obstanlibus, motu auctorilate et scienlia similibus de
spetialis dono gralie dispensamus, Prouiso quod diclus Magistratus debi-
tis propterea non fraudelur obsequiis, sed illius congrue supportentur onera
antedicta, El insuper ex nunc irritum decernimus et inane si secus su-
per hiis a quoquam quauis auctorilate scienter vel ignoranler conligeril
atlemplari. Tu aulem, Carissime fili, onus libi iniunclum sic sollicite fide-
liter et prudenler succedenlibus Annis sludeas exercere quod ex inde op-
tati fruclus succedant quos speramus, tuque non immerilo possis apud
nos et sedem prediclam commendari. Nulli ergo omnino hominum liceat
TOMO II. 18
138 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
hanc paginara noslre concessionis, consUlulionis, mandali, derogalionis
volunlalis, dispensalionis et decreli infringere, vel ei ausu temerario con-
traire. Siquis autem hoc atlemplare presumpserit indignalionem omnipo-
lenlis dei ac beatorum Pelri et Pauli Aposlolorum eius se noueril incur-
surum.
Dalum Rome apud Sanclum pelrum Anno Incarnationis dominice
xMillesimo quingentésimo uigesimo secundo, Quarlodecimo Kalendas Apri-
lis, Pontitkatus nostri Anno Primo. — T. Hezius
1*
Carta de Ó. ilisuel da Silva a cl-Rei.
1593 — Marco SI.
Sentior. — Das cousas de Rhodes nara ha y oulra nenlmuma ' nova
mays que as que nessoulras cartas escreuo, e verá pollos trelados de al-
guumas que vyerao de candia. Ha verdade he que nao Ihe guardarao os
capítulos, posto que se escreua de lia que sy, porque o meslre quer que
se digua por escusar sua pouca diligencia e pouco resgjjardo com que as-
sentou seu parlydo. Elle tem la feyta prouysao do priorado por morte do
amara!, de que largamente ha dias que escreuy a vossa alteza a Ireycao
que quis ou Ihe poserao que queria fazer, e como foy justicado por ysso.
Eu porem tenho ^ fyrme este passo com ho papa pera que tal prouisao
em pouco nem em rauylo possa prejudicar a vossa alteza, nem ho mes-
tre pedia tal fazer, que pollo breue que em saragoca o papa concedeo a
vossa alteza Ihe tyrou tal poder: assy que neste parte esté descansado que
qua nao passará nada em contrayro, e de seu seruico se terá tal cuy-
dado que nao se perderá nada por descuydo ^
Ho castello de milao he Rendydo ha parlydo, saluas as uidas e as
pessoas dos soldados : toda outra pessoa se resgatará segundo dizem. Aos
quatorze * se dará, e ja sam dados arrefeens. Sayrao de dentro quatro-
centos doentes, de que ja dizem que sao morios os dozenlos, tam mal
trautados estauao. Dizem que ha acerca de huum anno que Ihe falece o
» A«CH. Nac, Gav. 7, Ma(j. 12, n.° 21.
RELACOES GOM a curia romana 139
calcado e o vynho, (jue pera franceses nao he cousa pera jogiietar ' fa-
lecer vynho.
Roma ateguora esteue arrezoadamenle, aynda que nam de lodo saam :
aguora torna a ^ estar muy mal, nem ha y dia que nao morram Irynla
e mays de peslenenca, e he cousa muy perigosa, e toda pessoa honrada
se saye, e o papa dizem que assy o quer fazer, aynda que sao framen-
gos e nao lemem nada este mal ; e assy Ihe morrem cada dia os creados
que ja he mayor perigo falar com o papa que entrar em huum esprilal.
Eu nunqua cuydey que hauia d estar em lugar onde de mynha janella
vejo leuar muitos homens ha coua, e de tal enfermidade ; todavya esta-
rey em quanto Yyr que assy cumpre a servico de vossa alteza, cujas maos
beijo, e nosso senhor sua vida e Real estado guarde e acrecenté como de-
seja.
De Roma aos xxi de marco de 1523. — Dom miguell da Sylua '.
Bulla do Papa Adriano ^I dirigida ao Infante
1>. Henrique.
1593 — Abril lO.
Adrianus papa vi Dilecte fili salutem et apostol'icam benedictionem.
Cum charissimus in christo filius nosler Joannes Portugalliae el Al-
garbiorum Rex Illustris, frater tuus germanus, nobis exponi feceril se
cupere vt tu, qui in décimo uel circa luae aetalis anno conslitutus exis-
tís, ac litterarum studio incumbís, in ipso studio perseueres, quoque id
melius faceré possis, lecum, vt doñee vigesimum eiusdem aetalis annum
' Arch. Nac, Corp. Chron., Part. I, Mac. 29, Doc. 40, O documento n.° 42 é a
segunda via d'esta carta, mas com as variantes seguintes :
• nenhuma outra
- eu tenho porem
^ que nam passará nada por descuido
' aos xiiii dias d abril
' joguatar
•^ saam : torna agora a renovar e
18*
140 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
alligeris, ad recilandum diuinum officium et horas canónicas minime le-
nearis, dispensare ; Nos ipsius Joannis Regis volis annuere, vtque lu in
doctrina melius proficere valeas, prouidere volenles, tecum, vt ralione
quoruucunque bonorum ecclesiaslicorum cum cura el sine cura secula-
rium, et quorunuis ordinum regularium per le nunc et pro tempore ob-
lentorum quecunque, quolcunque et qualiacunque sint, quousque diclum
vigesimura annum altingas, dummodo inleriin horas gloriosae virginis Ma-
riae per te ipsum recites, ac per alium clericum aut religiosum horas ca-
nónicas loco tui recilari facias, ad easdem horas canónicas per te recitan-
das minime tenearis, auctoritale apostólica tenore presentium de speciali
gratia dispensamus : Non obslanlibus conslilutionibus et ordinalionibus
apostolicis, ac slatutis et consuetudinibus ecclesiarum uel regularium lo-
corum, in quibus ipsa beneficia forsan fuerint, etiam juramento, confir-
matione apostólica, uel quauis firmitate alia roboratis slatutis et consue-
tudinibus, caeterisque conlrariis quibuscunque.
Datum Romae apud sanctum pelrum, sub annulo piscatoris, die x
Aprilis MDXxiii pontificalus nostrj anno primo. — T. Hezius ^
Breve do Papa JLdriauo 1^1 dirig;ido a el-Rei.
15!83— Abril 11.
Adrianus papa vi Charissime in christo fili noster salutem el apos-
tolicam benedictionem.
Nuper dilectum filium noslrum Alfonsum sánete Luciae in septem
soliis diaconum Cardinalera, in xiirvel circa sue etatis Anno conslilu-
tum, Ecclesiae Vlixbonensis tune certo modo vacanlis administralorem
vsque ad xx eiusdem etatis annum de fralrum nostrorum consilio consti-
tuimus, el cum xx annum atlingeret, de persona sua eidem ecclesiae pro-
uidimus, ipsumque illi prefecimus in Archiepiscopum et pastorem, Eccle-
siam vero Elborensem etiam tune certo modo vacanlcm sibi per eum quo-
ad viueret tenendam, regendam et gubernandam commendauimus, ac prio-
' Aech. Nac, Mac. 36 de Bullas, n." 67.
RELACOES COM a curia romana 141
ratum Monasterii per prioreaí soliti gubernari sánete Grucis ordinis san-
cti Auguslini Colimbriensis, illius commenda per cessionem eiusdem Al-
fonsi Cardinalis in manibus nostris sponle factam et per nos admissam
cessante, eo quo ante commendam ipsam vacabat modo vacantem Dilecto
filio Henrico de Portugallia scolari, ipsius Alfonsi Cardinalis fralri ger-
mano, in octauo \el circa suae etatis anno conslituto, sibi postquam cle-
ricali caractere insignilus foret per eum quoad uiueret tenendum, regen-
dum et gubernandum primo commendauimus; et deinde, eum prioratus
Monasterii sancti Georgii ordinis et diócesis prediclorum, ac Monasterium
de lafontes Cisterciensis ordinis Visensis diócesis extra Romanam curiam
certo modo \acassent, Nos illa sic vacantia eidem Henrico etiam per eum
quoad uiueret tenenda, regenda et gubernanda etiam commendauimus, prout
in litteris apostolicis desuper confectis plenius conlinetur. Cum autem, si-
cut accepimus, felicis recordationis Leo papa x predecessor noster cum
eundem Alfonsum Cardinalem, tuno in minoribus et in octauo dicte sue
etatis anno constilutum, administratorem ecclesiae Egilaniensis ad certum
tempus tune expressum depulasset, ac dictum prioratum sánete erucis tune
vacantem sibi per eum quoad uiveret tenendum, regendum, et gubernan-
dum commendasset clarae memoriae Emanueli Portugaliae et Algarbio-
rum regí, tuo et eorundem Alfonsi Cardinalis et Henrici genitori, ut men-
sae Episcopalis Egitaniensis ae Prioratus sanctae erucis huiusmodi fruetus
redditus et prouentus, doñee idem Alfonsus Cardinalis tune in minoribus
constilutus ad xv dicte etatis annum perueniret, pereipere colligere et le-
nere, ae illos tam in ecclesiae egilaniensis ac prioratus sánete erucis et
Alfonsi Cardinalis huiusmodi necessitatibus, quam in prosecutione belli
contra infideles Aífrieae, prou| magis cognosceret et sibi videretur expe-
diré, super quo suam conscienciam onerauit, eonuerlere valeret licentiam
et faeultatem coneessit. Nos considerantes in quo discrimine sit christiana
respubliea constituta, presertim postquam ciuitas et tota Ínsula Rhodi in
Turcarum Tyranni potestatem redacta fuit, nisi per reges et principes
christianos de opportunis remediis prouideatur, sperantesque Maiestatem
tuam licet quamplures et granes impensas post obitum eiusdem Emanue-
lis Regís genitoris tui subiré coacta fuerit, ipsius genitoris vestigia, qui
pro dicte insule conseruatione tempere eiusdem Leonis predecessoris clas-
sem ad partes illas destinauit, imitando, huie neeessitali non defuturam,
eidem Maiestati tuae ut id eo faeilius eíBeere ae nos iuuare valeat, quod
142 CORPO DIPLOMÁTICO POUTUGUEZ
Vlixbonensis Archiepiscopalis elElborensis Episcopalis Mensarum ac Prio-
raluum et Monaslerii de lafonles fructusreddilus el piouenlus, doñee qui-
libet ex Alfonso Cardinalí et Henrico fratribus luis huiusmodi ad xx eo-
rum elatis annum peruenerit, colligero, illosque, deduclis his quae pro re-
parationc el manulenlione Vlixbonensis elElborensis ccclesiarum ac Prio-
raluum el Monaslerii de lafonles, elAlfonsi Cardinalis ac henrici huius-
modi inlerlentione necessaria fuerinl, in suslenlalionem classis pro rei-
publice chrisliane aduersus infideles necessaria defensione parande, proul
Ubi videbilur expediré, conuerlere possis et valeas, licenliam et facultalem
concedimus per présenles: Non obstanlibus preniissis ac conslitulionibus et
ordinationibus aposlolicis, ceterisque conlrariis quibuscunque.
Datum Rome apud sanclum petrum, sub annulo piscatoris, die xi
Aprilis MDXxiii, Ponlificalus nostri anno Primo. — T. líezius '.
Carta de O. lli^ucl da üilva ao Secretario
de Eistado.
1523 — Abril 15.
Senhor. — Por sayr da obrigacao em que vossa mercé jaz por njym
a ElRey nosso senhor, mando aquy a bulla dos dous moysleyros que man-
dou pedyr pera seu Irmao, os quays fora muy boa e honrada cousa que
valeram ao menos dez mil ducados, mas eu creo que yslo se faz por cu-
rar os homens de cobica, e fazer que se conlenlem com pouco, vendo o
pouco em tara altas mao^ ; e nyslo nam diguo mays. Vossa mercé, poys
diz que he meu Senhor e ho he muyto verdadeyramenle, se lembre do
que lanías vezes Ihe lenho pedido por merce que he lembrar mynhas
cousas a elRey, e pryncij)almenle que me dé licenca pera ho yr seruyr,
que assy deus me ajude (|ue ho procurays pera quem vos ha de seruir
mays do que podeys cuydar nem nynguem vos quererá dizer ; e esta
carta quero que seja obrigacao pera lodo sempre, e assy a guarde pera
me chamar mao homem se assy níio for, mas (jua nao quero que me
' Arch. Nac, Mag. 3 de Bullas, n.° 16, e Mac. 36 n.» 53-
RELACOES COM a curia romana 143
übrigue a nada porque nem qua nao quero nada senao ho de lá. Digua
vossa mercé a sua alteza, que com a pressa me esqueceo de Iho escre-
uer, que o barroso Ihe merece muy pouco qua, porque teue maneyra
como o correo de sua alteza fosse preso acerca de barcelona, como man-
darey os estormentos que ho mesmo correo trouxe; e despachou sobre o
mesmo caso correo, e, se nao fora o que deus sabe, ja elle lynha sua
supricacao na mao, e aprouve a deus, ao papa, e a meussenhores e ami-
gos que tudo tornou debaxo. Nysto direy pollo oulro correo mays lar-
guamente meu parecer, e prazerá a nosso senhor que tras elle muy cedo
o poderey eu fazer em pessoa.. Nao tenho tempo pera mays dizer, e pera
vos, senhor, seruir tenho muito mayores desejos do que vossa merce pode
ter de ser seruido, e assy Ihc beijo as maos.
De Roma, morrendo cada dia de pestenenca trynla e quarenta pes-
soas, e eu acjuy pollo que compre a seruico de sua alteza em tamanho
perigo que nunqua o de mym cuydey, aos xv de abril 1523.
A seruico de vossa mercé. — Dom miyuell da Sylua '.
Carta de D. lliguel da liilva a el-Rei.
1533— Abril SI.
Senhor. — Neste ponto que somos aos xxvii de abril ao sol posto
me chegua nova do paco como he preso o cardeal de^ulterra, e metydo
no castello donde nam se cree que saya nunqua. Este he o imigo do car-
deal de mediéis e qi^e ja quis dar peconha a papa liao, e aguora per der-
radeyro tralaua com el Rey de franca de Ihe dar Sicilia ; e as cartas suas
sobre este caso se tomarao, que yam em cyfras, e forao descyfradas, e
acharao se nellas cousas milagrosas assy contra o emperador como con-
tra o papa. Foy huuma muy grande dita do cardeal de medices, e por
conseguinte do mayor seruydor que vossa alteza lem nesta térra, porque
aguora sem nenhuuma duvida será sua valia sem nenhuuma contradicao.
^ Arch. Nac, Corp. Chron., Part. I, Mac. 29, Doc. 50. Diz no sobrescripto: Ao
muyto prezado senhor o genhor Antonio Carneiro Secretario d elRey nosso Senhor.
144 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
As mays particolaridades deste negocio escreuerey pollo correo que mando,
que cada dia o tcnho a cauallo pera o fazer partir, e ale aguora nam aca-
bey de hauer lodos os despachos has maos.
A pestenenca vay cada dia crjecendo, e a corle desbaratando se, e
creo que o papa se sayrá de Roma e andaremos por aldeas. Obediencia
ale oje de Rey nam he dada nenhuuma, e se yslo assy vay nao se dará
tam cedo, todauia o papa fala na de vossa alteza. O Infante duque de
auslria ha tem dada, e assy as senhorias de italia, todos sem muyla ce-
rimonia pollos lempos serem lays que as nao soíFrem. Com ella poderia
a meu ver vossa alteza acabar muylas cousas de seu seruico e estoruar
muilas de seu deseruico ; todauia nysto nam falo por nao parecer que falo
em mym, poys he certo que vossa alteza enlende ludo milhor que nin-
guem, e a mym nam me passa pella fantesia senao vosso seruico.
Acursio comeca a querer falar em sua demanda antigá de tarouca :
trabalho quanto posso que a bulla de papa liao, que sobre este caso se
despachou, se guarde, todauia as cousas vao tam eslreylamente que he
necessario esperar menos que nunqua e temer ludo. Nesta e em outras
muylas cousas de seruico de vossa alteza falaria mais aíFoulo se acerca
da despesa nao me posesse leys tam limitadas ; e com ludo nam deyxarey
de lembrar a vossa alteza que os Reys ham de querer as cousas, e nam
graca na despesa deltas, porque em fym as cousas se paguam a sy mes-
mas, e o apertar a mao faz que se perdem ocasioes que nunqua lornao.
Beijo as maos de vossa alteza, cuja vyda e Real estado nosso senhor
deus guarde e acrecenté como deseja.
De Roma aos xxvii de abril de lo23. — Dom miguell da St/lua '.
' Abc^. Nac, Corp. Chron., Part. III, Ma^. 4, Doc. 7i.
RELACOES COM a curia romana 143
Bulla do Papa Adriano TI.
1533— Aliril 30.
Adrianus episcopus seruus seruorum dei ad futiiram rei memoriam.
Monet nos neritas ¡n Propheta uigilem paslorem uenientem gladium
ex specula prospicere alque annunliare oporleret, alioquin animarum que
perierint exactam ralionem ab eo requirendam esse : hoc propensius co-
gitantes Romanos Pontífices predecessores noslri, presertim ab eo tem-
pore quo Turcarum eíTrenata rabies Constantinopolim expugnauil, ac pro-
cul intuentes hostiiem gladium christianorum iugulis in dies magis immi-
nentem ad christianos omnes, et presertim Principes qui iuxla Isidorum
a ctiristo ecclesiam tuendam susceperunt, clamare ac eos monere non ces-
sarunt quantum vniuerse christianitali periculum atque excidium immi-
neret, nisi mutuarum inter se dissensionum et discordiarura obliti com-
muni hosti resisterent, atque impetum christianam religionem funditus
euertere molienlis reprime/ent, hactenus lamen malo nostro annuntiata
calamitas non fuit credita ; non fuerunt audite ipsorum Pastorum uoces,
sed útiles eorum admonitiones surda pertransiuere aure christiani Prin-
cipes, quorum culpa immanissimo christi hoste inualescenle christiana
respublica innumeris cladibus ac ruinis uexata alque atllicta fuit, ac tot
iacturas et irreparabilia damna accepit, ut nemo christifidelis absque in-
genti merore et lacrimis ea referre, audire ue possit. Quis enim a lacri-
mis abstineat, audiens sanctam illam Jerusalem ac sacrum Caluarie Mon-
tera salulifere Crucis triumpho inclitum, sacratissimoque christi redem-
ptoris nostri sepulchro uenerandum, sanctissimaque loca illa, que domi-
nus et saluator nosler Jezus christus humana carne uestitus et sancti dis-
cipuli eius incoluere, ab infidelibus Barbaris occupata detineri, nec a nobis
ipsum domini Sepulchrum, nisi precio dominici nominis blasphematori-
bns persoluto, uisitari posse? quis non pie ingeminat animo reputans Pa-
triarchales illas sedes Sanctorum patrum, suauem odorem adhuc redo-
lentes, spurcissimis christi hostibus seruire, Constantinopolim Grecie lu-
men et orientalis Imperii caput, reliquamque Greciam et magnam Europe
TOMO II. 19
Ii6 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGÜEZ
partem, Syriam, Asiam ipsam fere vniuersam, ab infidelibus Turcis, chris-
tianorum Principum culpa, ablala fuisse, miserosque chrislianos illic de-
gentes, nisi chrislum abnegare et Mahumetice impietalis et Salhane Man-
cipia fieri uelint, dira et criideli barbarorum seruilute opprimi? Quis, ut
antiqua et uelera omitlamus, non perterreatur atque exborrescat cogilans
modernum Turcaruin Tyramnum próximo Anno Belgradum, quod lotius
Regni Hungarie clauslruní semper fuil, breuissimo lemporis spacio ce-
pisse, nuper uero Insulam Rhodum, folius orientalis Maris Januam ab
Jerosolimitanis Mililibus per tot Annos defensam, multisque.Turcarum
cladibus nobilitatam, etsi maximis térra Marique copiis obsessam, non
usque adeo tamen coarcíalam, quin si chrisliani Principes inler se vniti,
ac potius que Jesu chrisli quaní que sua cuiusque erant querentes, ma-
ture succurrissent, et Rhodus ipsa ut alias paruo subsidio memoria nos-
Ira factum fuit, liberan, et de hostibus uictoria cum dei adiutorio oblineri
potuisset, in dilionem ac polestalem suam redigisse, et nunc tot et tantis
rerum successibus elatum aperte minari se almam Vrbem Romam san-
ctorum Aposlolorum Petri et Pauli aliorumque Marlirum sanguino con-
secralam, in qua Vicarii sui sedem esse uoluil Allissimus, expugnalurum,
eiusque sanclissima Templa ac sanctorum uenerandas reliquias propha-
nalurum, Demum christianum omne Iraperium et ipsius christi nomen
funditus euersurum? Quocirca nos considerantes quod Saluator nosler
dominus Jezus christus, in excelsis tenens Imperium, gregis sui tulelam
non deserens Romanum Ponliíicem in terris Vicarium suum conslituit,
qui dictum gregem uigilanti cura protegeré, ipsamque ecclesiam ab. óm-
nibus aduersis, quantum in se esset, conseruare, defensare, ac Reges et
Principes ad Imperii fastigia diuina pcrmissione uocatos contra Barbaras
nationes Catholicam fidcm opprimere conantes potissimum inducere alque
animare debeat ; animoque reuoluentes nostri oíDcii esse, hiis preserlim
difficillimis et calamitosis temporibus, inter ipsos chrislianos Reges el Prin-
cipes muluis inter se discordiis et dessensionibus diuisos pacem, quam
christus in celum ascensurus lanquam munus heredilarium discipulis suis
reliquit, seminare ; memoresque nos, postquam de nostra ad Summi Apostu-
latus apicem assumplione in longinquis Ilispaniarum parlibus posili cer-
tiores facti sumus, anlequam ad hanc Vrbem nostram iler arriperemus.
Reges, Principes et Potenlalus chrislianos lilteris ac Nuntiis ad hoc vnum
deslinatis ad perpeluam inter se pacem et concordiam, uel sallem Anno-
RELACOES COM a curia romana 147
rum aliquot Inducías, quam instantissime hortalos fuisse, cosque admo-
nuisse, nullum aliiid rebus noslris remediura contra formidandam Tur-
carum potenliam superesse, quam si illi inler se reconciliati el \nili iun-
ctis uiribus períidorum hostiuní consilia preuerterenl ; el postquain, deo
fauenle, ad vrbem ipsam appulimus, nichil ardenliori sludio el conalu
procurasse quam concordiam seu Jnducias huiusniodi, el lamen ob quo-
rundam dictorum Principum heu nimis inuelerati ¡nler se odia huiusmodi
instantia noslra perparum profecisse, ul Regibus, Principibus, Potenlalibus
ac alus prefatis nulli excusalioni locus ullra relinqualur, omnesque in-
telliganl nos nichil, quod ad pastorale officium aUinel, omisisse, cogimur
ex quo humana admonitio atque aucloritas uti experienlia docuil, ad pre-
missa fruslra lentata esl annorum aliquol Inducías seu Treugas inler ipsos
Reges, Principes ac Potentalus sub ecclesiasticis censuris el penis diuina
auctorilate, qua Jesu chrisli in terris Vicarium licel immeriü agentes fun-
gimur, indicere ul si non zelo fidei ac religionis ipsius chrisli, cuius causa
agilur, sallem diuini Judicii metu ad cor redeanl, el priualis affeclibus
publica commoda anteponant. Habita igilur super hiis cum Venerabilibus
fralribus noslris sánele Romane ecclesie Cardinalibus malura deliberalio-
ne, ac diligenlissimo examine, ad laudem el gloriam omnipolenlis del el
indiuidue Trinilalis patris el filii el spiritus sancli, atque ad reuocandam
sallem ad tempus hereditatem domini, pacem scilicel el concordiam a
christianis finibus tandiu noslris demerilis exulantem, alque ul landem sán-
ela el pernecessaria expedilio vniuersali christianorum damno el dedecore
tandiu procraslinala ulterius non diíFeralur, quorundam predecessorum
noslrorum, preserlim Innocentii iii, Nicolai t, el aliorum uesligiis inhe-
rentes, Triemnales Inducías seu Treugas ínter omnes Reges ac Príncipes,
Communitales, Potentalus, respublicas, celerosque chrisliíideles secula-
res el ecclesíaslicos de omnipotenlis dei ac prefatorum Petri etPauli Apos-
tolorum eius, el ea que nobis ex alto concessa esl auctorilate, ac de eo-
rundem fralrum consilio el assensu indícimus, ac eosdem Reges, Princi-
pes, Communitales, potentalus, respublicas, celerosque chrislifideles om-
nes premissas Inducías seu Treugas, sub excommunicalionis late senlen-
tie, analhemalisque el interdicli ecclesiaslici in terris el dominiis eorum
omnium el singuloruní penis, dicto durante Triemnio, inuiolabililer ser-
uare deberé decernimus, eos nichilominus in uirlute sánele obedienlíe re-
quirenles, ac per uiscera misericordie domini noslri Jesu chrisli per acer-
19*
148 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
bissimam passionem, quam immaculatus et innocens Agnus, ut nos mi-
seros peccatores ab eterna morle redimcret, pali dignatus est, per Judi-
cium extrernunf), in quo omnes stabunt ante Tribunal eius accepturi, vnus-
quisque secundum opera sua per que spem uile eterne, quam repromisit
deus diligenlibus se, palerno aífecUi oblestantes ut in vnilale et charilate
mutua, sine qua nichil deo acceptum esse polest, perseuerantes a mutuis
offensionibus abslineant, armaque bellica christiani contra chrislianos, di-
cto durante Triemnio, amplius non exerceant ; Satis enim superque fra-
terni sanguinis per fratres eíTusum, satis cum grauissima dei offensa inter
uos cliristiani Reges, Principes et Potentalus seuitum est, Velilis ergo In-
iuriarum, que inter uos inuicem illate atque acceple fuerunt, propter chris-
tum redemptorem uestrum saltem ad tempus obliuisci, ut manifesté ruine
uobis et vniuerse christianitati ab immanissimis chrisli liostibus imminenli
vnione et concordia ueslra occurrere, vnilisque animis et armis hostes
ipsos, non lam propriis uiribus suis quam nostris discordiis et dissensio-
nibus confidentes, a uestris, et subditorum uestrorum omniumque chris-
tianorum ceruicibus repeliere, necnon tot Ciuilalibus, Prouinciis et Regnis
uobis ademptis recuperandis, fratribusque uestris crudelissimo seruitutis
lugo tandiai oppressis, opemque ueslram sublalis ad celum manibus ira-
plorantibus a perfidissimi Turcarum Tyramni iugo durissimo eripiendis,
uiam parare possilis. Date Inducias has deo a quo tam amplam in terris
potestatem accepistis, ut eo uobis hoc pacto placato poteslaiem uestram
alioquin, ut certo expeclare potestis, uobis auferendam retiñere mereamini.
Date denique Inducías ipsas christo Saluatori nostro, qui in ligno Grucis
tenso corpore pendens crucifigentibus se pepercil, ac deum patrem pro
illis etiam rogauit, qui nos de nichilo a se créalos et per Primorurn pa-
rentum inobedientiam exules paradisi factos, nullis nostris meritis sed in-
finita sua clementia, precioso suo sanguine redemit, ne si, quod absit,
priuatas inimicitias et commoda uestra eius honori preferentes tam im-
mensis eius beneficiis ingratos uos exhibueritis, sacramque eius religio-
nem a perfidissimis hostibus conculcari, et innumerabiles ipsius christi
sanguine redemptoris animas uel in miserrimam seruitutem abduci, uel
in exilíale infidelitatis baratrum precipitan permiserilis, horrendum etdu-
rissimum ipsius, qui terribilis est et aufert spirilum Principum, Judicium
et in presentí et in futuro contra uos prouocetis. Geterum, quia forte pec-
catis nostris exigentibus Inimicus humaní geueris ubi dicte Inducie per
RELACOES COM a curia romana 149
uos uestris immo diuinis hiis mandalis obedientes acceptale fuerint, qiias
a principio impediré non poluit, lemporis successu perturbare non desi-
net, licet eaní de prudentia magnanimilale et conslanlia uestris in domino
fiduciam habearaus ut nullo modo nos eius malignilali locum daluros ar-
bilremur, vt lamen propterea Inducie ipse non dissoiuantur dubiorum si-
qua super Induciis huiusmodi aul earum dependenlibus emergentibus
annexis uel connexis quoquomodo orianlur, decisionem et declarationera
nobis tanquam Summi pacis aucloris uices in terris gerentibus una cum
prefalis fratribus nostris reseruamus, ipsis Induciis nichilominus iuxla
presentium litterarum tenorem in suo robore permansuris. Nulli ergo
omnino hominum üceat hanc paginam nostre indiclionis, constilulionis,
requisitionis, obtestationis el reserualionis infringere, uel ei ausu teme-
rario contraire. Siquis aulem hoc attemptare presumpserit indignationem
omnipotentis dei, ac bealorum Pelri el Pauli Aposlolorum eius, se noue-
rit incursurum,
Dalum Rome apud Sanclum petrum Anno Incarnationis dominico
Millesimo quingentésimo uicesimo tertio, Pridie Kalendas Maii, Pontifi-
catus nostri Anno Primo. — T. Hezius ^
Breve do Papa Adriano \1, dirigido a el-Rei.
15S3— líalo 1.
Adrianus papa vi Charissime in christo fili nosler salutera el apos-
tolicam benedictionem.
Nouit deus, qui nihil ignorat, quam inuili seueritate ac,rigore Vla-
mur, praeserlim erga calholicos Reges, quos tanquam peculiares filios nos-
Iros in visceribus charitalis continué gerimus, omnique indulgentia et amo-
ris dulcedine tractare desyderamus. Nuper, lamen, considerantes in quam
graui periculo vniuersa christianitas constituía essel propter diuturnas
nonnuUorum Regum ac principum chrislianorum inler se dissensiones at-
que discordias, el quod nullum chrislianis rebus aduersus infidelium Tur-
^ Arch. Nac, Mac. 35 de Bullas, n." 16 e Mac. 4 n." 13.
150 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
carum formidandam potentiam ac rabiem in dies inualescentem, exlre-
raamque ruinam ipsi chrislianilati minilantem, eííicax remedium adhiberi
possel, nisi ipsi Reges ac Principes chrisliani discordiis ac bellis inlesli-
nis finem imponerent, seque inuiceni adiiersus communem hoslem adiu-
uarenl ; Videntesque Nos eosdein Reges ac Principes, propler inuelerala
eorum inter se odia, prope annum inlegrum frustra el sine fruclu ad pa-
cem seu paucorum salleui annorum inducias fuisse adhórtalos, palerna-
que nostra mónita ab eis fuisse plañe o^audita, coacti sumus ad seue-
riora remedia deuenire, ac per poenale monitorium eis ac alus Regibus
Principibus, Polenlalibus, caeterisque chrislianis ómnibus etsingulis trien-
nales inducias indicere, cuius monilorii cum plura exemplaria in diuer-
sas chrislianilalis partes miltcnda fieri mandauerimus, Vnum ex illis ad
Maiestatem tuam destinandum putauimus Quae cum chrislianae Reipubli-
cae (de cuius summa nunc agilur) et pacis chrislianorum inter se more
clarissimorum maiorum suorum studiosissima sil, non poteril non consi-
lium noslrum laudare, ac paternis monilis nostris parendo, ipsas indu-
cias acceptare libenler el inconcusse obseruare. Eam i taque ex parle om-
nipotenlis Dei (in cuius manu caeleslia et terrena sunl omnia) horlamur,
alque requirimus Vt pro eo fidei ac deuolionis zelo, quem dicti maiores
sui erga sacram christi Religionem,.et hanc sanclam sedem, máxime in
periculosis lemporibus qualia nunc imminent, ostendere consueuerunt,
ipsaque Jlaieslas lúa, in quibus haclenus licuit, oslendit, et imposlerum
oslensuram se non semel poUicita esl, \elit dictas inducias non sojum
acceptare atque obseruare, sed etiam omni studio ac diligentia, lam apud
charissimum in christo filium noslrum Carolum Romanorum Regem ca-
tholicum in Imperatorem eleclum (ad quem eliam hac ipsa de re scribi-
mus, el simililer monilorii praedicli exemplar milUmus) quam apud alios
Reges ac Principes cum quibus sibi arclior coniunclio intercedit, el apud
quos plurimum suam valiluram nouil authorilatem, instare, yI te illi idem
faceré, ac lam priualae suae quam publicae saluli inducias huiusmodi ac-
ceptando el obseruando, consulere consentianl. Quo si Maiestas lúa, \t
speramus et optaraus, feceril, non modo singularem sibi graliam apud Nos
el diclam sedem piam malrem suam comparabil, sed eliam apud omnipo-
tentem Deum máximum sibi meritum cumulabit, eiusque potentem dex-
teram in Regni sui conseruatione el ampiialione sccundam alque propi-
ciam senliel, Demumque felicilalis aelernae gaudio perfruclur.
RELACOES COM A CURIA ROMANA 151
Datum Romae aputl sanclum petrum, sub annulo Piscatoris, Die prima
Maii MDXxiii. Ponlificalus nostri anno Primo. T. Hezius ^
Carta de D. lligiicl da üilva ao liecretario
de Eüitado.
1533— Maio 20.
Senhor. — Sendo os caminhos tam incertos, e por lá chegarem as
cartas comprindo dobrallas e tresdobrallas, ha me vossa mercé de per-
doar se todas minhas cartas nam forem de minha míio, porque onde ha
tam Yerdadeiro amor, nam he bem que aja cousa que tenha nem soo-
mente semelhanca de cirimonia : sem passar mais'adiante me ey por per-
doado. Por todoUos correos passados tenho escrito a vossa mercé, e por
este torno a mandar o trelado da derradeira que escreui ; e aínda que es-
creva outras cenlo em todas ellas nam saberla dizer outra cousa senam
que em nenhuma parte deste mundo nam tem vossa mercé nenhuum mals
verdadeiro amigo, nem mals certo seruldor que eu, e como tal me de-
sejo onde vos possa servir, e espero em noso senhor que verá vossa mercé
alguum dia quanto d alma say islo que digo.
Polios correos tenho mandado a sua alteza a bulla do mestrado de
christos, e a dos moesteiros de sam Jorge e alafoes : por esta mando
trellados autenticados de tudo isto e mals de lixboa e evora e santa cruz,
porque se possa fazer tudo o que se faria pollas mesmas bullas, que as
proprias nam ouue por bom conselho mandallas a tamanho perigo : sendo
a expedlcao de tamanho perigo, e esperando eu cada dia llcenca de sua
alteza, fiz conta de as poder levar com hos mals negocios, que alé tor-
nada deste correo se poderem despachar. Bem sey que se nam esquece
vossa merce de mim, mas esquecen.do-se elRey nam poso delxar de Ihe
lembrar que o que faz por mlm faz por si mesmo, e por seu proprio ser-
ulco. Eu nam sey jaque esperar, nem espero senam muito menos do que
ate qui esperey e do que meus serulcos merecem, e porque parte disto
* Arch. Nac, Mac. 36 de Bullas, n.° 24.
152 GORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
que espero he licenca que eu tanto desejo e tanto eslimo, nam quero di-
zer que espero pouquo.
Este correo tornará logo porque asi ciimprc pera a concrusao dos
negocios : beijarey as raaos a vossa merce mandar me por elle alguuma
certeza de mim, e ver o em que o ey de servir antes de minha partida
de qua, que la eu sey bem o que ey de fazer. Beijo senhor vossas raaos.
De Roma aos xx dias do mez de maio 1523.
A servico de vossa merce — T)om migudl da sylua ^
Carta de D. Miguel da Silva a el-Rei.
I
1593— Haio 95.
Senhor. — Ate aguora esperey saluo conducto de franca pera este
correo, que rao tynha prometydo o cardeal Daus ; e posto que tardaua,
hauia por mays seruico de vossa alteza yrem estas bullas seguras, prin-
cipalmente tendo já anisado por outras vias como erara concedidas, que
por dez dias de terapo poellas a Rysco de se hauerem de tornar a expe-
dyr outra vez, principalmente neste tempo que acerca das despesas vay
ludo sera nenhuuraa graca, e na verdade ha Igreja estaa de maneyra que
lera dysso e de rauylo raays necessidade. Socedeo a prisao do cardeal de
vulterra, e por ser a causa por querer dar Sicilia a franceses, e outras
semelhantes cousas, de que darey conta em oulra carta, o papa ordenou
que fossem tomados todos os correos que fossem e vyessem a uia de franca,
por onde se me cerrou toda esperanca de seguramente poder mandar es-
tes despachos por térra, e determinei raandar soomente os Ireslados au-
tenticados pollo auditor da cámara, e de maneyra que por elles se podem
tomar posses e usar da toda Jurdicao, assy como se fazia pollas proprias
bullas.
Aos quatro de marco despachen o papa correo sobre a perda de Re-
des, e por elle escreuy a vossa alteza todo o que sua santidade naquella
materia me mandaua que Ihe escreuesse, e a mym pareceo que compria
* Arch. NAC.,Corp. Chron., Part. I, Mac. 29, Doc. 64.
RELACOES COM A CURIA ROMANA 153
haa necessidade em que a sé apostólica se achaua e perigo manifestó de
toda a christandade, o qual prouvesse a nosso senhor que nam fosse cada
dia mayor como he.
Aos XXI de marco partyo d aqui huum criado do emperador, pes-
soa honrada, com despachos de muyta sustancya, e por elle mandey a
vossa alteza a bulla da adminislracao do meeslrado de christos, e a pro-
uisao dos moysteyros de sam Jorge de coymbra e alafoes de viseu pera
o liante dom amrique vosso Irmao.
Aos XXVII d abril mandey os treslados de todas minhas cartas scri-
las ate aquelle tempo, e juntamente as copias das bullas que o criado
do emperador leuara ; e por todos estes correos torney a escrener sobre
Rodes ho mesmo que quatro de marco escreui, e por ysso por este hey
por escusado tornar a repricar aquella carta, hauendo por cerlo, por auiso
de franca, que passou a saluamento : somente mandarey o treslado das
cartas, que partyrao a xxi de marco e a xxvii de abril.
Ho papa me deu audiencia muytas vezes sobre todos estes negocios
de vossa alteza, e sobre cada huum disputamos longamente, nao, a meu
parecer, porque a sua santidade faleca vonlade de Ihe comprazer, mas
por ser sua lencao muy posta em tornar as cousas a outro eslilo, e vyr a
Roma novo e com muy maa opiniao de quanto pollos papas passados nella
se usaua de conceder, e ajuntando sse com ysto nao ter pralica das cou-
sas de qua ; era ludo poem mays duvida aynda da que tera, e ho mays
certo caminho que ha y pera sua santidade negar huuma cousa he dize-
rem Ihe que he de estilo da corte e concedido por alguns dos papas que
ho passarao. Sua tencao he sanctissima, e sua vida sem nenhuuma re-
prensao em ludo o que se vé: prazerá a nosso Senhor que o merecimento
destas duas parles allumiará o gouerno.
No arcebispado de lixboa e bispado d euora, por serem duas Igre-
jas cathedrays, Ihe desaprazia darem se a huuma so possoa ; todavía, por
ser o caideal Irmao de vossa alteza e filho delRey vosso padre, e pollo
mays que sobr este caso a este proposito se Ihe disse, foy contente e da
propria maneyra que ho eu pedy pera nao hauer embaraco de administra-
dores : e a maneyra, Senhor, he que deu ho arcebispado de lixboa em ad-
minislracao ate idade de xx annos, e de ay por diante era titulo ; o bis-
pado d euora em comenda em sua vida.
Ho priorado de Sánela cruz concedeo liuremente ao Ifanle dom an-
TOMO II. 20
ISl COfiPO DIPLOMÁTICO PORTUGÜEZ
rique, e quanto abispado de uiseu por nenhuumas Rezoes do mundo nem
Rogos nem Roguadores, que nysso nam ficou nenhuum seruidor de vossa
alteza que Ihe nao falasse, quis conceder ao liante ; nem poera outro ¡m-
pidimento feenao ho da ydade que diz que esta he huuma das cousas que
Prometeo a deus quando soube de sua eleicao. Per derradeyro, vendo eu
que nao hauia remedio, Ihe supriquey, que poys nam queria dar o titu-
lo, que elle mesmo desse conselho como ysto se hauia de fazer pera \ossa
alteza ficar seruido em alguuma parte. Respondeo me que \ós, senhor,
posesseys o bispado naquella pessoa que mays vosso seruico fosse, a qual
paguasse aolffante toda aquella pensao que por bem tiuesseys, e que desla
maneyra o proueyto seria ho mesmo e sua concyencia ficaria descarre-
gada, e vossa alteza ante deus merecerla em nao querer delle o que nao
deuia a seu oíBcio, e que de o assy hauer por bem Receberia grande
contentamento : assy, Senhor, que compre que vossa alteza loguo auise
da pessoa e da maneira em que ysto se ha de fazer, porque o bispado
está haa disposiciio de vossa alteza esperando sua reposta, e compryo
porque o cardeal nao podia ficar com tres prelacias, e Picando compria
paguar annata da retencao de viseu, que o papa decrarasse a uacacao ;
e a annata, que sam dous mil e quatrocentos ducados, está depositada
pera quando se espedirem as bullas, a qual se puvera de paguar duas
vezes se o papa nao fizera esla graca.
Ho correo que veyo com a uagante de Sam Jorge e alafóes tardou
tanto que me deu muy grande fadigua em Remediar o que passaua : e
porem a culpa toda, porque a vossa alteza faria treycao era Ihe enco-
bryr a verdade, he do secretario barroso, o qual, segundo parece, pollo
mesmo correo ou no mesmo tempo que vossa alteza escreueo sobre esta
vagante, mandou sobre ho mesmo caso carta da Raynha, e teue maneyra
como em catalunha foy preso o correo que vynha, e detydo tantos dias
quantos Ihe pareceo que compria a seu auiso cheguar qua priraeyro ; e
assy foy que quando eu Receby as cartas hauia cynquo dias que secre-
tamente por carta da raynha, cuydando o papa que vos fazia, Senhor,
graca, tynha dados os moysleyros a Rarroso. No ponto que ho correo
chegou, eu rae fuy a sua santidade, e sendo auisado por pessoa intryn-
seca do que passaua, cora muila pena e multas Rezoes por onde mos-
trey craro o enguano, fiz que a prouisao do Rarroso nao ouve lugar, e
ho dia seguynte sua santidade propos em consistorio os raoysteyros e eu
RELAGOES COM A CURIA ROMANA 155
despachey as bullas. Ha certidao de como este correo foy preso mando
com esta e elle mesmo poderá dizer ho mesmo : a causa se vee pollo
eífeylo : he bem que ho sayba vossa alteza porque esta tomada deste cor-
reo nao sonrente fazia perder os moysteyros, mas ayuda deu muy lo que
dizer ao mundo de qua, parecendo que hauia nysso outro algum grande
misterio, o qual prazerá a nosso senhor que nunqua hauerá senao pera
muylo bem e acrecentamento paz e assessego de vossos Reynos. Fez qua
espanto querer vossa alteza tam pequeños beneficios pera seu Irmao, e
huuma das Rezoes com que o papa se querya escusar era nao Ihe pare-
cer conveniente, e nao me abastando as Rezoes verdadeyras, que eram
as que vossa alteza aponta em suas cartas, confesso que me foy neces-
sariü soccorrer me a huuma, que ho nao era, e disse que estes moys-
teyros eram lugares fortes e de alguum peso, que pollo que Rendiam
vossa alteza os nam pedia : yslo, senhor, foy assy, e posto que aos filhos
dos nobres de vossos Reynos que vos seruem, que por vossa alteza, ter
Irmaos da Igreja nao podem esperar tam cedo os arcebispados, nam possa
deyxar de quebrar muyto os coracóes ver se cerrar as portas ha cousas
tam pequeñas, e seja pouco vosso seruico o exempro que isto dá, e a
mym desta pena me deuesse de tocar parle por muytas Rezoes dos mor-
ios e dos \4uos, lodauia crea que se assy nam passara como diguo eu
ho nao dissera por nenhuum particular respeyto, e sendo assy nao ho
quis calar pollo respeylo de vosso seruico, e obrigacao que neste lugar
tenho de Ihe dizer a verdade.
Aquy mando juntamente huum breue do papa pera vossa alteza co-
Iher as Rendas das prelacyas de seus irmaos e beneficios, e as despen-
der na guerra dos infieys com esperanca que nestas cousas de vngrya,
ou qua em ilalia contra ho turco, vossa alteza ho ajudará como he Re-
zao, e assy me mandou que Iho escreuesse.
Outro sy mando os breues que mandou pedyr acerca do olíicio di-
uino pera o cardeal e Ifante dom anrique. D euora e de lixbooa mando
os treslados autenticados; de sánela cruz o processo que he tambem como
propria bulla ; ysso mesmo os treslados de sam Jorge e alafoes autenti-
cados, e ho da bulla do mestrado.
Na despesa de todas estas expedicóes se usou toda a diligencia pos-
siuel, e alguuma pouca mays da que nos lempos d aguora e necessidades
presentes ha vossa grandeza se convirya : ñas cousas ordinarias nam se
20»
156 COUPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
pode pedir graca, ñas extraordinarias nao he vosso seruico pedyr se, por-
que alguumas se concedem porque hq de sayr dellas dinheyro que des-
poys de concedidas por se pedyr graca do dinheyro haas vezes lornao
debayxo, como me ou\era de acontecer na bulla do meeslrado, que des-
poys de concedida e assenlada com o papa a composicam em mil e qui-
nhenlos ducados, querendo sua sanlidade dez mil, foy lembrado que ou-
tra tal ao emperador em lempo de papa liao cuslara xxiii mil, afora dous
mil que se deerao a Sanliqualro por fauorecer a espedicao, e parecendo
Ihe que fora maa neguociacao Releue a bulla e já comecava a duvidar de
verdade ; todauia com mostrar a caria que a qualro de marco lynha es-
cryta a vossa alteza, na qual desla bulla ser concedida Ihe fazia mencao,
e com alguumas palauras que aqui sam escusadas dizerem se, me man-
darao a bulla a casa, e nunqua me liue sepro ale nao saber que quem
a leuaua era embarcado : assy, senhor, que quando as cousas vao desla
manpyra ho direylo caminho he ñas gracas nao querer oulra nenhuuma
senao ellas mesmas ; comludo o papa a fez muy grande cm todas estas
expedicOes porque se havia de paguar annala d alcobaca polla Relencao
e a quilou, que sam dous mil ducados. As laxas todas que era muy la
soma foram gratis na pessoa do Cardcal, e na bulla do meslrado vossa
alteza vee a graca que se Ihe fez, e desla, porque he cousa lam erara e
monta tanto, he bem que faca ao papa alguuma parte, a qual seruyrá em
huuma via a dous mandados, e com ysso que for se poderá juntamente
cerrarvesta obrigacao e ha de ungria, e tyrar por parlydo sern que pa-
reca parlydo a expedicap do priorado do cralo, na qual, senhor, o que
passa he que sua sanlidade nam quis prouer a nenhuuma oulra pessoa,
nem confirmar a louca prouisao do gram meslre com que aguora saya
de trauesem pessoa de huum pimenta, despoys de ler perdido Rodescomo
deus sabe ; e me proraeteo que este priorado elle ho nao dará senao a
quem vossa alteza for seruido, porem aportando nysso, e querendo eu
alguuma mays crareza desle promely mentó, vay dey lando a cousa haa
longa e defende sse me com esperar cada dia o gram meslre aquy, cujos
priuilegios diz que nao confirmará se elle nao for contente do que vossa
alteza for seruydo : disto parle he assy e parte se ve craro que he espe-
rar por esta graca alguuma ajuda em suas necessidades, o que nam quer
dizer porem senao por esta via ; e com quanlo ysto he craro de enten-
der, muylo mays craro mo dizem alguumas pessoas das que entrao no
RELACOES COM a curia romana 157
conselho de sua sanlidade. Quanlo haa particularidade de niio tomar ho
Ifante ho habito nnm tenho vyndo porque he-^ousa que faz difficuldade
na materia antes de ser concedyda, e despoys tenho por cerlo conceder
se : no outro ponto de nao nomear vossa alteza a qual de seus Irmaos
quer que yenha o priorado me parece que nam hauerá nenhuum Reme-
dio, e compre que venha loguo nomeado de la, porque, alem de ser cousa
que nunqua se fez, o papa está nella posto e decrarado.
As annatas, senhor, e bulla do meslrado somente passao de treze
mil ducados, entrando aquy os dous mil e quatrocentos que ficam depo-
sitados por \iseu, e mil e tantos das proposicoes de todas estas cousas,
as quays em tempo dos outros papas se soyam de dar aos cardeays que
propunham em consistorio : aguora se dao ao papa proprio porque sua
santidade propoem todas as cousas consistoriays, porque se achou que
Rendia yslo passante de frynta mil ducados cada anno, e flca ja, nam em
cousa arbitraria como foy ale quy, mas em diuida obrigatoria como qual-
quer outra despesa das bullas. O dinheyro que faleceo se tomou no banco
de Joam francisco, segundo usanca : a conta pollo miudo tenho em meus
liuros com toda a outra de vossa fazenda que qua tenho despesa, a qual
tanto desejo dar a vossa alteza,' quanlo he Rezao que a deseje quem sabe
cerlo que ha pode dar boa.
Ñas gracas que espirarao por falecimento d elRey vosso padre, que
deus tem, tenho falado e n alguumas hauido boa palaura de sua santi-
dade, e ñas outras yrey tomando tempo, e de tudo o que se íizer darey
auiso pollo primeyro correo ; e neste memorial que vossa alteza manda
das gracas que se haam de pedyr vem muylas em que nao cumpre falar.
Ha bulla do padroado dos meeslrados foy concedyda ad perpetuam rei
memoriam, e neste nao ha y que falar senao vossa alteza e todos seus
socessores sam verdadeyros padroeyros destes tres meeslrados, e vagando
pode nomear pessoa idónea e o papa haa de confirmar ; e polla confir-
macao nao se Ihe deue mays que certa quantidade de dinheyro pequeña,
que na mesma bulla está decrarada, e nao sendo a pessoa ahile por def-
feyto de idade ou por nao querer lomar ho abito a poder ser mestre se-
guundo t»s estatutos da Religiao, em tal caso compre vyr ao papa, como
aguora comprio por vossa alteza querer ser administrador e nao meslre.
A graca de poder contrautar com os mouros foy concedida por papa
liao a El Rey vosso padre, que deus tem, e a todos seus socessores, do
m COKPO DIPLOMÁTICO PORTÜGÜEZ
que se achara breue seu que eu mandey ; e pera mays seguranca pera
se la fosse perdido tornarey a mandar o assunlo. Nao será necessario
despender nysso mays dinheyro.
A graca pera os capellaes tem o papa concedida de palaura : ando
em hauer a espedicao : como se ouver a mandarey.
Toda a diíBculdade me parece que será na nomeacao dos moysley-
ros, porque ja tenho falado nella no papa qualro ou cynquo vezes com
muyta eíTicacia, e sempre me pedio lempo pera se Resoluer nem se Re-
solue. Prcguntou me o que se paguara por ella a papa liao : disse Iho
porque assy como assy o havia de achar nos lluros que foríio dous mil
e quinhenlos ducados. Apertarey quanlo poder por hauer a resolucao, e
certo, senhor, que esta graca he lam necessarla a vossa alleza que ne-
nhuuma ho pode ser mays, assy por poder fazer merce a seus criados
em cousas que sejam alguuma cousa, como por escusar despesa de cor-
reos nem poer em dlsposicao da dlligenlla ou negrigenlia delles cousas
de lamanho peso.
No caso de Ruy de mello e antredito de lamego espero -que se to-
mará concrusao como ho papa coniecar a negociar, porque esteue estes
dias mal senlydo, e aprouve a nosso Senhor que nao foy nada, que cerlo
fora todo seu mal, aynda que nam fora mays mal que durar grande lor-
uacao haa christindade. Eu requeyro ao papa nesle caso por escusar ha
vynda qua de Ruy de mello que o torne a ouvir de juslica, aleuantando
o antredito e socrestando as Rendas do moysleyro na maneyra que Ihe
parecer; e se ysto se acaba, acabar se ha ludo o que compre a seruico de
vossa alleza polla merce que quer fazer a Ruy de mello, porque os cri-
mes desle Joao Ferrao sam lam enormes que nao somenle será julgado
indino do moysleyro, prouando se Ihe, mas aynda que Ihe darao tal cas-
liguo que seja exempro a oulros de nao se poerem a contradizer o de
que seu Rey huuma vez he seruydo. E nao ha y cousa que vossa alleza
tanto deua castigar como a descortesía e desacalamento de alguuns portu-
gueses nesla corte que somenle com fiuza de huuma' bulla alexandrina,
que tyra o direyto a quem olTende pessoa com que traz demanda, fazem
todas as descorlesias do mundo sem hauer nenhum respeylo a quem as
fazem, nem como as fazem, nem aos inconvenientes que dellas podem
nacer a vosso seruico. Joao Ferrao escomungua Ruy de mello com a
cruz de christos pintada por todalas pracas de Roma. Aluaro Teyxeyra,
RELACOES COM A CURIA ROMANA 159
no mesmo tempo em que qiia se diz que huum \osso Irmao toma por
molher a filha do conde de marialua, pinta o conde por escomungado,
e o pubrica por toda a cidade por demanda que contra elle comprou como
he sabido. Nem lia y preylo em que aquy ja muy ousadamenle nao deem
artigos que vossa alteza nao obedece a mandados apostólicos, e que em-
pede a execucao das bullas do papa ; outros pubricamente dizem que a
graca das comendas lie reuogada, e estudao por fazer dizer ysto a huuma
Regra de chancelaria como por vencerera huuma demanda, e lembríío ao
papa por estas vias indirectas e cora queyxumes do que la ñas execucoes
disto se faz, o que doutra maneyra Ihe nao lembraria, poendo em pe-
rigo cousas de tamanho peso ; e como huum homem quer ser mao ho-
mem e anichilar afoulo assy prouisoes de vossa alteza, como quaysquer
outras que a vossa alteza aprazer, vem se a Roma e aquy «omem e be-
uem e andam polla cidade sem ninguem Ihes dizer nada. Ha culpa, Se-
nhor, disto tudo seria minha se eu fosse leygo ou assi crerigo como sao
se vossa alteza me desse authoridade pera castigar semelhantes cousas,
que ao menos se hauiam de casliguar com desnaturar os que nao mere-
cessem ser portugueses, e os que vossa alteza nao quisesse desnaturar
fazer Ihes merce em hos fazer yr viuer a seu Reyno e despender la, suas
rendas, e nao em Roma vexando muyta gente proue e deshonrrando a
nacao : e ja nacem castelhanos que, porque dizem que tem cartas de
naturaleza de vossa alteza, nao ha y demanda nenhuuma desses Reynos
em que nao entendió e nao queyrao ter sua parte, impetrando por cer-
tos modos e vexando muylo mays que os proprios naturays, e antre es-
tes he o principal huum gomez de Rincao escrytor irmao do Rincao ty-
soureyro que foy da Raynha, e o que he pyor neste caso que os mesmos
portugueses Ihes mandao de la os auisos e os de qua Ihos dao e peylao
pensoes e dinheyros que, se ysto assy vay, em muy pouco lempo nao ha-
uerá la beneficio que nao esté embaracado per uia d eslrangeyros. Em
vyda dclRey vosso padre, que deus tem, muytas destas cousas se Reme-
deauao porque o que eu nellas fazia sua alteza ho hauia por bem feyto,
e as prouisoes de la eram tam conformes ha minhas ameacas qua que as
temiam muylo : aguora, nem vossa alteza me dá autoridade, nem eu a
quero tomar, principalmente que nao faleceria quem dissesse que, por-
que todas estas cousas nacem e se criao principalmente na pousada d
aluaro teyxeyra, e que por elle andar comigo em demanda, Eu ende-
160 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
renco yslo ludo aaquella via, e por isso deyxarey a vossa alteza, e a
quem tras mym a este lugar vyer, o querer saber como ysto passa e re-
medeallo segundo compre a yosso seruico ; e quanto a aluaro Teyxeyra,
posto que seu desacatamenlo e descorlezia, estando eu em cujo nome es-
tou e tendo de mym Recebydo muito do meu, me mereca lodo castiguo,
eu lodauia direy o que ouvy dizer que disse Ramiro nunez de guzmao
em castella sendo injuriado sobre seguro da Raynha dona Isabel vossa
tya, que santa groria aja, que a dor elle a vyngaria, a deshonrra que a
uyngasse sua alteza. Com a demanda, Senhor, poys por demanda haa
de passar, eu me darey a milhor manha que souber, o desacatamenlo
seu, que he muy grande e de muyta ousadia pera outros tays, vossa al-
teza o castigue ou agualardoe como vyr que he seu seruico.
Ho papa me pregunta muytas vezes como estao as cousas de vossa
alteza com ho emperador, como quem deseja que esleem tam bem quam
bem he Rezao que ellas esteem : assy mesmo me tem muytas vezes per-
gunlado a que era ydo Joao da sylueyra a Franca : na huuma cousa
ñera na outra eu nao posso Responder nada porque vossa alteza nam me
auisa disso, nem, caso que o eu soubesse por outra via, o ousaria de ho
dizer sem seu mandado. Todos os outros principes avisao seus embaxa-
dores que tem em Roma do porque mandao os outros a outras partes,
ou ao menos do que querem que respondao ao papa ou a outrem pre-
guntando Iho, ou digam sem Ihe ser perguntado : ysto, senhor, compre
muyto, assy pera apaguar alguumas cousas quando se dizem sem serem,
como pera fazer crer outras que sam haas vezes seruico dos principes
se creao, e juntamente dara auloridade aos embajadores, com a qual
podem seruir milhor e se Ihe negao menos cousas. Todas estas cousas
lembro a vossa alteza com aquelle amor e obrigacao que herdey de meus
pays, e tanto mays affouto quanto menos se pode cuydar que me aja de
aproueytar a mym, porque esperando com a Reposta desta licenca de
vossa alteza, a qual sey certo que por meus seruicos com outras mayo-
res merces Ihe mereco, craramente se vé que peco aulhoridade pera quem
neste lugar partyndo me eu vos ouver de seruir, e pollo que compre a
vosso seruico, e nao por nenhuum meu interesse particular.
Ho duque de sessa cmbaxador do emperador vosso Irmao se mos-
Ira muy grande seruidor de vossa alteza : he bem que se Ihe agradeca
por carta, ao menos pera que sayba que testimunho eu do que vejo ; e
RELACOES C03I A CURIA ROMANA 161
comprindo sua ajuda em alguuma cousa aproueytará muyto com ho papa,
estando as cousas de sua santidade e do emperador de maneyra que se
podem chamar huumas mesmas. Beyjo as maos de vossa alteza, cuja vida
e Real estado nosso senhor Deus guarde e acrecenté como deseja.
De Roma aos xxv de mayo 1523. — Dom miguell da sylua ^
Carta de D. Misuel da S^ilva a el-Rei.
1533— Malo ;S5.
Senhor. — Despois da perda de Rodes nam se sabe oulra nenhuuma
nova do turco senam que tem dous grandes exercitos pola banda de
vngria e Croacia ; e segundo parece por aquella parle faz fundamento de
entrar, e elRey de vngria o escreve asi ao papa, e a mim escreveo huuma
carta dando me diso aviso e agradecendo me o que em seu seruico aqui
fiz, que na verdade o fiz por me parecer servico de Deus e de vosa al-
teza. E aqui mando amballas cartas, asy a minha como a que escreve a
vosa alteza : pede ajuda, e nam Iha dando ameaca com nam se poder
escusar de se concordar com o turco, que, sendo asy, seria tamanho mal
que perder Rodes e belgrado esqueceria de todo. Sem nenhuuma duuyda
toda austria e tras ella ale ílallia e ate Roma nam se poderla dcffender
nada, principalmente estando as cousas do emperador e delRey de franca
da maneira que eslao : praza a noso senhor de poher nisto suas maos.
Ho papa tinha feito o cardeal columna legado pera la : despois se mu-
dou e fez o cardeal da minerva, que foy geral dos frades de sam domin-
gos, o qual dizem que partirá dentro de pouquos dias, e que levará cin-
quoenta mil ducados, do que eu, segundo o que vejo, muito duuydo. Ho
papa cada dia falla aos embaixadores dos principes, e pede ajuda pera
estas cousas: veja vosa alteza o que manda que se Ihe Responda. Creo
que seria muy a prepósito fazer de multas cousas huuma massa, e de-
baixo desle titollo, que he tam santo e devido, de ajudar o papa em def-
^ Arch. Nac, Corp. Chron., Part. I, Mac. 29, Doc. 67. O documento n ° 69 d'esU
mesmo mago é a ter cetra via d'esta carta,
TOMO II. 21
161 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
fensao da cristindade contra Infieis, negociar estas cousas que ha y pera
fazer de voso servico, que asy como asy sem dinheiro e boa quantidade
nam se poderao concruir ; e porque aqui me lembra o que ñas outras
cartas me esqueceo, será bem vagando alguuma comenda de sam Joham
ter vossa alteza a posse pera dar que cuidar ao meestre, e fazer mais
chao o caminho das cousas do priorado do cralo.
Ho mestre he chegado a micina : cada dia escreve que vem. Nam
se sabe que assenlo se tomará ñas cousas da Religiao : elies pidiao tri-
poli a principio : agora se diz que o emperador Ihe dará a Ilha de malta,
que na verdade seria cousa muy conveniente pera a seguranca de Ital-
lia ; porem temo, senhor, que ser este meestre francés, asi como ja o foy
de Rodes, asi seja a perdicao de toda a Religiao. He necessario que tam-
ben! sobre estas cousas vosa alteza aconselhe ao papa, e mande o que se
Ihe ha de dizer, porque viindo ho mestre serey diso preguntado ; e o con-
selho será vosso servico que seja enderencado haa seguranca de Itallia e
aseseguo do papa em Roma, porque isto he o que sua santidade mais
deseja e mais folga de ouuir, e, a meu juizo, no presente mais compre
ao mundo.
Neste ponto me dizem que he viinda huuma carta do archiduque d
auslria que marlim lutcr, aquele frade de santo agustinho que tanta tor-
vacao tem dada haa cristindade e á fee, he preso com muitos dos de sua
seita : praza a deus que seja verdade porque he pesoa de grande escán-
dalo no mundo, ainda que está ja por nosos pecados tam arreigada sua
opiniao em toda alemanha que pola ventura nam abastará ser elle preso,
como nam abastou em bohemia a morte de Jerónimo huus, a qual mais
acendeo que apagou o foguo.
Ho caso de vulterra pasou desta maneira : ñas cousas do papado
elle se lancou haa parte francesa de todo, tendo Recebidas multas merces
do emperador, e em seu desterro passado nam tendo achado nenhuuma
seguranca senam em seus Reinos, porem ludo venceo o mal que queria
ao cardeal de medices, contra quem nom deixou ninhuuma cousa por fa-
zer que possa fazer huum imigo mortal. Vendo por derradciro que nada
Ihe aproveilaua, como homcm que tem mao Joguo quillo baralhar, e co-
mecou a tractar com elRey de franca de Ihe dar sicillia per via de huuns
sicilianos seus amigos intrinsicos de palermo, onde era hordenado que
fosse o primeiro assallo. Ouue quem avisou ho duque de sessa das pra-
RELACOES COM a curia romana 163
tiquas secretas destes sicilianos, e pidió ao papa que Ihos deixasse pren-
der : sua sanlidade foy conlenle e foy preso huum, o quai hia pera franca
com cartas de vullerra em ciífras. Tomadas as cartas ouue quem as de-
cifrou e achou se nellas lodo este tracto decraradamenle, com alguumas
palavras ainda de muy maa maneira contra ho papa. Sua sanlidade, visto
ho caso de quamanho perjuizo era a toda crislindade, e o que se podera
seguir se franceses meteráo o pee em Sicilia, e conhecida a incrinacao
deste homem, e mostrando se Ihe que soo o que ñas cartas se conlinha
merecía cem mortes, se determinen a prendello ; e pera as cousas irem
mais iiordenadamente mandou logo chamar ho cardeal de mediéis a fro-
renca, o qual veio, e despois de Recibido com lodallas honrras que a
huum homem sem ser papa se podiao fazer em Roma, foy chamado ao
paaco, e com elle juntamente o cardeal de vulterra com titollo de os que-
rer fazer amigos ; e antes que se viese a outra cousa o papa Ihes falou
a ambos tam de siso ñas imizades, como se verdadeiramente nam os cha-
mara pera outra cousa, e despois que Ihe pareceo lempo, e que os cria-
dos de vulterra, que tambem aviao de ser presos, estariao ja a Recado,
dise ao cardeal de v ulterra : «outras cousas temos de mais sustancia pera
que vos mandamos chamar» ; e comecou a entrar na materia com aquel-
las palavras que se convinhao. Vulterra comecou a negar, e o papa
Ihe amostrou suas cartas preguntando Ihe se conhecia aquella cifra, e elle
dizendo que nao negava com tanta eílicacia que caisi o papa duuidava
do que sabia certo. Quis noso senhor que a verdade se manifestase logo
ali, e sendo o cardeal de vulterra ho mais astuto homem desta térra e
criado sempre em manhas della, dando Ihe o papa na niao huuma de
suas cartas em ciífra, que na verdade cuidava que Ihe daua huum tres-
lado descifrado, vulterra se Irovou de maneira que, sem se lembiar que
tinha negadas as cifras, nem presente quem eslava, comecou a leer pollas
ciffras adianle como se a carta fora escrita em huuma muilo gentil letra,
como aquelle que a sabia de coor. Quando o papa isio vio ficou fora de
sy, e sem mais esperar outras Rezoes se alevanlou e mandou que fose
levado ao castello, onde jaz ha mullos dias, e vai se fazendo ho processo
de suas cousas pera se del le fazer juslica, no qual no menos que se acha
he islo porque o prenderao He certo que sendo o papa ausente provou
de fazer novo papa com ajuda de franca, e ninhuuma outra cousa pro-
curava senáo a destroicao desle estado, sera aver Respeito nem a sua
21*
\U CORPO DIPLOMÁTICO POKTÜGUEZ
idade, que passa de setenta e cinquo annos, nem a outra nintiuunia cousa
senam a sua paixáo particolar. O menos mal que se espera que aveiá
será privacao do capello e beneíTicios com desterro conveniente ao mal
que queria fazer. Sao juizes de seu caso os cardeaes santa cruz, ancona,
e cesis. Fica agora a pessoa do cardeal de mediéis declarada por aquella
que he, e com hos erros de seu imigo se descobrem e pubricao suas vir-
tudes, pollas quais o papa o honrra tanto que ninhuuma pesoa ante elle
agora he de maior preco e autoridade. Elle foy sempre o maior servidor
que elRey vosso padre que deus tem nunca teve em Itallia, e he o maior
que vosa alteza nella tem, e aalem de ser tal pode mais que ninguem :
vosa alteza nam devia delle fazer tam pouqua conla porque seu servico
Ihe ha de valler mais em suas cousas do que pode cuidar. Por vezes Ihe
tenho escrito que todollos Reis sempre nesta corle teverao e tem cardeais
a que chamao proteitores de seus Reinos, os quais ajudao no consistorio
por si e per seus amigos todollos seus negocios, e se isto n alguum tempo
foy necesario agora o he porque nam se determina ninhuuma cousa na
cámara, como se sempre fez em tempo dos outros papas, mas ludo passa
por vozes dos cardeais ; e crea vosa alteza que quem tiver a do cardeal
de mediéis que tem tam certa a de xvj cardeaes como a sua. Esto nam
cusía dinheiro e he grandissimo voso servico, e casi divida ao muito
que do cardeal elRey voso padre e vosa alteza tem Recebido. Esto es-
creui por vezes : nam pode ser senam que pareca la particolar Respeito
mo faz dizer e nam puro desejo de voso servico como he : erro he que
em mim nunca coube nem cabera, como vosa alteza quando se de mais
perto servir de mim mais craramente poderá conhecer.
A peste de que noso senhor nos guarde vae em muito crecimenlo,
e he tam espalhada por toda a cidade que ñora ha lugar nem pessoa com
que sem grande perigo se possa praticar, e dentro no paaco adoecem e
morrem cada dia. Se nam diminuir será forcado o papa a se sair de
Roma, porque nam quererá tornar a malar oulras xx mil pessoas ou
passanle dellas, que seu querer estar por forca em Roma malou ho anno
passado. Muila parle da gente honrada he ja fora, e eu folgaria de ser
honrado nesta parte tanto como em outras ; porem lera me aqui o que-
rer ver o fim a estes negocios de vosa alteza que ha i antre maos ; e como
viir o que se pode fazer ante da Resposta desla, ou eslarey em Roma aas
portas jarradas, como ja comecamos a estar, ou era alguuma quinlaam
RELACOES COM a curia romana 165
perlo dos muros de Roma, nam deixando porem de ver ho papa amiu-
de, nem perdendo ponto nem ora ñas cousas de voso servico.
Na hobediencia me aponlou ja por alguumas vezes, e eu Respondo
o que vossa alleza me lem mandado. Sua sanlidade deseja mais a cousa
em sy que grandes cirimonias. Ate agora nam he dada nenhuuma de n¡-
nhuum Rey, e a causa he esla peste e ser necessario dalla pollos mon-
tes, como creo que comprirá : de qualquer maneira Releva multo pera
bem destes negocios que ha i, e confirmacao dos de papa liao, sobre que
nam se pode dormir seguro. Beijo as maos de vosa alteza, cuja vida e
Real estado noso senhor guarde e acrecenté como deseja.
De Roma aos xxv dias de maio 1323. — Dom miguell da Sylva ^
Carta de D. llig;uel da Sil^a a el-Rei.
1583 — Malo Z5,
Senhor. — A derradeira merce que pidi a el Rey voso padre que
deus tem, e a primeira que lambem pidi a vossa alteza, foy que me qui-
sesem dar licenca para o ir servir a portugal, onde, dando Ihe conta de
sua fazenda, das cousas de qua, e de meus seruicos, esperava de o non
servir nada menos do que o fiz no passado. Estas duas calidades de ser
a derradeira a elle e a primeira a vossa alteza, quando me lodallas ou-
Iras falecesem, aínda mereceriáo alguuma cousa pera se me outorgar esla
merce, quanto mais, senhor, pidindo se despois de servico de dez annos,
e feitas as cousas del Rey voso padre que deus tem e de vossa coroa da
maneira e com a fieldade, que a todo ho mundo he pubrica, e a vossa
alteza o deve ser muito mais. E quando tambem a pidira ou pera ir Re-
pousar, ou tendo de mim voso servico muita necessidade, ouuera Rezao
pera rae ser alongada e eu aver paciencia, a qual, senhor, eu ouue ate
agora, posto que nam ouuesse ninhuuma destas causas, porque asy como
nam ha peco senam pera vos mais servir, asi nam quis eu ser o Juiz
do que mais compria a voso servico, principalmente avendo qua estes
^ Abch. Nac, Corp. Chron., Part, I, Mac. 29, Doc. 70.
166 COUPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
seus negocios, que parecía que Requeriao de necesidade pesoa que os fe-
zese. Agora, senhor, a maior parle delles, como vosa alteza vé, he feila,
e os que ficao por fazer da maneira em que he posyvel fazerem se com
a Reposta deste correo se farao, prazendo a nosso senhor ; e asy feitos
elles poderey eu ser o correo e Picará o campo seguro por muilos dias,
e quando o nam fosse, lendo vossa alteza em seus Reinos lantas pessoas
que ho lambem podem servir, e a que fará muy grande merce mandan-
do as qua viir, pois a mym ni a faz tam grande em me mandar ir, e
tam grande agravo me faria em me negar a licenca, alcancando huuma
raesma merce a quem vay e a quem vem, nam deve de aver nenhuuma
Rezao que a estorve. E porque polla ventura pollo mundo ser feyto asy
poderla parecer esta minha piticao outra cousa, e nam meu "verdadeiro
desejo de me ser oulorgado, protesto a vosa alteza que antre as merces
que espero em salisfacao de meus servicos esta tem o principal lugar, asi
como antre os agravos, que nam espero, ser me esta negada seria o prin-
cipal ; pollas quais Rezóes todas peco a vosa alteza quanto posso por
merce que cora a Reposta deste correo me queira mandar a desta carta,
e na maneira em que Ih a peco e vé que tanto a desejo e Ihe mereco.
E pera que a licenca seja merce da sorte que as os tam grandes e tam
virtuosos principes acustumao fazer aos que bem e lealmente o servem,
ha de ser pubrico ao mundo ou com salisfacao de meus servicos ou com
certeza della me mandaes, tanto pera me galardoar o servido ate qui,
quanto pera servir d aquí adiante ; e se ante vossa alteza o Relatar os
servicos Ibes acrecentase preco, eu puderia Relatar tantos que, posto que
de muitos me nam quisese pagar o trabalho e diligencia e modo com que
hos fiz, em alguumas me nam poderia negar grande sompia de dinheiro,
de que poso'dizer ousadamente que fiz servico a elRey voso padre que
deus tem em negocios de grande calidade, e pera os quaes, tendo eu as
comisoes tam largas quam largas as elles Requeriao, com ludo nunca rae
veio correo que nam tornase com despachos e cora dynheiro ; raas des-
tas . cousas todas tenho ellas mesmas por lestimunhas e vossa alteza por
Juiz, de cujas infindas virtudes conílio tanto que fico muy descansado
do despacho que ha de dar a minha tam justa piticao ; e soomenle Ihe
peco por merce que me nam alongue mais esta bemauenturanca de o ir
servir em presenca e dar Ihe conta de sua fazenda, e de multas cousas
que nam se podem escrever, e sabcllas compre muito a seu servico, e
RELACOES COM a curia romana 167
de mim, senhor, que ale vos nam beijar a mao Rey e comecar a servir
vos no oíTicio com que casi naci votado a voso servico, e que el Rei voso
padre que sania gloria aja me deu antes que vossa alteza nácese, nam
me parecerá nunca que meu seruico llie he aceito, nem eu serey aceito
a mim mesmo. Reijo as maos a vosa alteza, cuja vida e Real estado noso
senhor guarde e acrecenté como dcseja.
De Roma aos xxv de maio 1323. — Dom miguell da sylua V
Carta de D. llig;uel da liilva ao Secretario
de Ejstado.
15S3 (t) — Junlio 6.
Senhor — Nam ha de yr correo sem carta minha e sempre sobre o
mesmo que he pedir uos por merce que me ocupeys em alguuma cousa
de vosso seruico, nem me tenhays de vago ; e demo será que nam possa
eu com tantas cartas acabar ysto. Por em tanto vossa merce sayba o que
ja sabe e ayuda saberá muyto milhor, se deus me dá uida, que nam ten-
des em nenhuuma parte do mundo mays seruidor que eu, nem mays co-
nhecydo de vossa vonlade e merces que lenho Recebydas e Recebo cada
dia nella e ñas obras ; e ysto que cuydo que, senhor, conheceys me des-
cansa em alguuma maneyra o cansaco do repouso em que me leudes.
Praza a nosso senhor que sempre o nam auerdes mester de qua nada
seja por sobejar la ludo, poys sobeja merecer se ysto. Minha honra e
uida, senhor, ja nam vos encomendó, porque confio que no que tendes
tanta parte e tanto ludo tereys tambem lembranca. Este correo vay so-
bre Rodes e turco, e já como de verdade por ysso nam posso dizer mays.
Reijo senhor vossas maos. Joanne mendez que d aquy adiante fará al-
guura negocio meu, por Fernam de sa ler seus que fazer, dará conta de
mym e de ludo a vossa merce : Aja o por seruidor e encomendado.
A seruico de uossa merce — Dom migudl da sylua ^.
1 Arch. NAc.,Corp. Chron., Part. I, Mac. 29, Doc. 68.
2 Ibi. Cartas Missivas, Mac. 3, n.° 190. Lé-se no sobrescripto: Ao muyto prezado
senhor o senhor Antonio Carneiro Secretario dellRey nosso senhor; e á margem por
letra do secretario: De dom miguell pera mym. De vi dias de junho.
168 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
Carta de O. Mig^uel da Silva a el-Rei.
1593— Junlto lO.
Senhor. — Todallas cartas que vao por este correo sam idas por ou-
tros, mas pollos caminhos serein tam incertos nain pode tiomem descan-
sar de Ha acheguarem senao desta nianeira. Nesta nom ha i de novo que
dizer senara que el Rey de dynamarcha he desposto do Reino, e elegido
por Rey huum seu tio. A causa foy sua maa vida e crueldades grandes
que usava, por onde os povos se a^evantarao e fezerao o que a igreja
Romana era obrigada de fazer pollo que este Rey tinha feito ; mas tudo
ate agora esteve em calma polo parentesco do emperador \osso irmao, a
que os povos parece que nam ouuerao ora tanto Respeito. Elle he vün-
do a envis com sua molher e filhos, e ja ay aqui pesoa que o deixou ali
e muy desapasionado, como se viera a ver a feira.
Ho duque de moscovia he morto : este era o grande contrairo del-
Rey de polonia ñas cousas de Ilaa, e aquele com quem continoamente ti-
nha guerra. He feito duque huum seu irmao, que diz que he grande
amigo del Rey, e que será grande bem pera que el Rey de apolonia possa
voltar todas suas forcas contra as causas do turco.
Ho emperador dos tártaros, que bg chamava emperador precopien-
se, he tambera morto, e el Rey de vngria Irabalha por meter no signo-
rio huum seu párente a que dizem que vera de direito, o qual he dester-
rado em vngria, e el Rey Ihe deu estado onde ate agora viveo como prin-
cipe, pollo que se lera por certo, se entrar em tartaria e os povos o Re-
ceberera, que asi corao o morto era grande imigo de vngaros, asi esle
será amigo e fauorecedor por estas Rezoes que dise.
Ho legado pera vngria nom he ainda partido por mingua de dinhei-
ro, de que o papa e a igreja está em lamanha necesidade que ho nam
pode crer senara quera o vé.
Marlim luter ñora he preso como em oulra dise que avia cartas,
mas era huum hulera grande lutcriano e pesoa de alguuma conta era
aleraanha. -
RELACOES COM a curia romana 169
Ha ¡ carias per via de venezeanos que o grao turco passa em pes-
soa, e que em todallas maneiras quer fazer a empresa de Ilallia, onde
nam veJQ oulro aparelho de guerra senam o que se faz contra elRey de
franca. Se alguum Rebate vier, ver se ha esta térra e principalmente ho
papa em grande pressa : nosso senhor por sua misericordia o queira re-
mediar.
Ho duque de veneza he morto, que era o grimano. He feito duque'
misser Andrea grite, que era provedor e como capitao da gente d armas
de venezeanos, e segundo dizem muy aífeicoado a francezes : agora que
he duque pode ser que o será mais a sua térra, e sendo asy tomará logo
assento com ho emperador, ho que ate agora se nam fez por falecer o
poder do Infante dom femando pera juntamente conííirmar o feito como
archiduque d austria, o qual agora he viindo, e nom ha mais escusas
pera venezeanos esfarem asy sem decrararem de que ley querem ser.
A peste vay em muito crecimento, e o papa se pohem em ordem
pera se sair de Roma : eu o siguirey prazendo a noso senhor ate ver
Recado de vosa alteza do que manda que faca ; e este ja seria tempo que
fose viindo pera o que compre a voso servico, que de minha penna eu
averia levemente paciencia. Beijo as maos de vossa alteza, cuja vida e
Real estado noso senhor guarde e acrecenté como deseja.
De Roma aos x dias de Junho 1523. — Dom miguell da sylua K
Carta de D. llig;uel da üilva a el-Rei.
1533 — aunlio lO.
Senhor. — Despois de escrito todo o que ñas outras minhas cartas
verá, me mandou chamar o papa e me dise que escrevese a vossa alteza
como naquelle ponto recebera cartas de sen nuncio de franca, das quais
via que ell rei de franca nam queria nenhuum asesego na cristindade,
nam consintindo nem querendo oumr fallar em pas nem em tregua sem
Ihe ser restituido o ducado de millaom, a qual condicao, aalem de ser
1 Arch. Nac, Corp. Cliron., Part. I, Mac. 29, Doc. 80.
TOMO II. 22
170 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
Imposyvel de se comprir sem a mesma güera com que se perdeo e milito
mais cruell, he poiiquo honesta por ser em lempo que parece que a cris-
timdade tem necesidade de breve concertó anlre os crisldos e nam de
nona güera ver. O aljófar que saiba islo vosa alllesa, asy porque Yendo
mais necesidade de milhor vonlade ajudará as cousas da igreja e suas,
como lambem por fazer huuma mea prolestacao do que ueste caso deve
de íer determinado faser, que creio que seja declarar se ahertamente con-
tra cobre em defensdo das cousas de ilallia, que cerlo, nam fazendo, nam
se pode esperar aseseguo nella, nem deixar de se esperar muila tribuía-
cao no mundo, porque desta guerra dos cristaos e principallmente da
cobica que tem de senhorear em italHa, nace lodo o malí que vemos.
Em quanto eslava com ho papa achegou huum criado do emperador, em
cuja companhia vem dous correos e muilas cartas : nam se dao aínda :
deve de viir anlre ellas alguum Recado de vosa alteza, que muilo de-
sejo.
Sua sanlidade por comprir com ha obrigacao que lera do seu offi-
cío de vigario de cristo, e por ver lambem se o que nam fazem os Ro-
gos fará Q temor de deus, pubricou huuma bulla de treguas gerais por
tres anuos anlre todollos principes cristaos, e aqui a mando a vosa alteza
com huum breue de sua santidade sobre o mesmo : ha de Responder con-
forme a yso ao menos que pareca que estima estas cousas, nam como os
Gutros principes as estimao, mas como ellas pollo de deus merecem ser
eslimadas.
Esqueceo me d escrever como ho papa canonizou dia da Irindade
dous santos solenemente, cujos processos ficarao ordenados ja do lempo
de papa liao que santa groria aja, e forao santo antonio arcebispo de fro-
renca, e sam benao bispo de misna e irmao de huum duque de saxo-
nia : pregou o papa ao povo. Sobre santo Anlonino escreveo elRey voso
padre que deus tem muy encarregadamenle, e asi eu me achey na ciri-
monia em nome de vosa alteza. Prazerá a nosso senhor por sua miseri-
cordia, e inlercesao desles santos, acrecentar a vida e estado de vosa al-
teza como deseja, cujas maos beijo.
De Roma aos dez dias de Junho de 1523. — Dom miguell da sylua '.
• Arch. Nac, Corp. Chron., Part. I, Mac. 29, Doc. 79. yl* palavras em itálico
estao em cyfra no original.
RELACOES COM A CURIA ROMANA 171
Breve do l*a|ia Jiilriano \W, dirigido a el-Rei.
1593— tVanlio 30.
Adrianus papa vi Charissime in chrislo fili nosler salutem et apos-
tolicam benediclionem.
Rhodo ínsula, quae velut anlemurale chrisliani orbis ad repellendos
Ímpetus ¡nfensissimorum hoslium orlhodoxae fidei semper presto eral, ab
eisdem hoslibus diu vehementissime obsessa el ab illis landem, non sine
lamen ingenli ipsorum caede, magno scilicet magislro et conventu Relí-
gionis Hierosolimitane ibidem se ac dictam Insulam, Doñee eis res neces-
sariae suppeterent, yalidissime defendenlibus, expúgnala et capta, cuius
reí memoria animum nostrum vehemenler exulceral, arbitramur omnipo-
lentem Deum (cuius suprema prouidentia nihil vnquam frustra operalur)
tantam nostram calamitatem, partim ad puniendum peccata noslra, par-
tim cliam ad hoc permisisse \t chrisliani Principes inuicem dissidentes
ad pacem, concordiam el vnionem necessilate compulsi omnino deueniant,
quo scilicet vnilis animis et viribus, rem communem communi studio,
hoc esl christianam Rempublicam aíílictam quidem, et in exlremum fere
discrimen adduclam, ac sanctam et diuinam Religionem nostram, in qua
omnes spem nostrae sempilernae salulis repositam habemus, acerrime de-
fendant. El cum prefatus magnus magister militesque Hierosolimitani, ci-
tra humanam ralionem el expectalionem omnem, ex tanto bellorum tur-
bine, ingentibusque periculis, numerosissima ac validissiraa Tyranni po-
tenlissimi classe dictam Insulam oppugnante, incólumes euaserint, consi-
deramus profecto id nutu atque ope Redemploris noslri Jesu chrisli, in cuius
seruicio ipsa Hierosolimitana Religio fúndala exislil, eíFeclum esse, el pro-
plerea duximus opere precium esse, immo ex pastorali officio nobis in-
cumbere, vt quicquid in nobis esl studii, atque consilii, quicquid bene-
ficio omnipotenlis Dci, atque hac poteslate, aucloritate pontificia, vna cum
hoc sacro cardinalium collegio possumus, id omne ad laudem et gloriam
Dei pro conseruanda atque amplificanda Religione huiusmodi promptis-
sime polliceamur, atque deferamus. Ad quod pium sanclumque opus, au-
xilium eliam luae Maieslalis atque opem el operam inuocare non ab re
22*
172 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ ,
exislimamus, Quam diuersis experimenlis, el propriis eliam proteslalio-
nibus nouimus, more chrislianissimorum, deque República chrisliana opli-
nie merilorum, progenilorum suorum christianis rebus semper libenlissime
fauere. Quamobreni eandeni Maieslalem tuam ex animo horlamur, atque
in Domino obteslaraur, Vt procellas, quae orihodoxam fidem vndique im-
pellunt, pro tua virlute et prudenlia prospicias, alque adeo ad conser-
uandam ac tuendam aucloritatem, slabiümenlaque et priuilegia magni ma-
gistri et Religionis praediclorura te propicium ac studiosus exhibeas, neue
eorum iura in Regno Dominiisque luis a quoquam infringi, aut eos su-
per illis quoquomodo molestan patiaris, Quandoquidem illi in tantis eorum
necessitatibus, alque in hac et rerum et lemporum acerbitate, a quocun-
que calholico Principe confoueri, protegí, et subleuari debent. Et quo-
niam eidem magno magistro el Conuenlui de aliquo loco opportuno chris-
lianae Reipublicae seruiliis, ac strenuitali illius mililiae congruo prouiden-
dum est, horlamur eliam alque eliam in Domino Maieslalem tuam, ac
sludiose requirimus, vt circa eleclionem loci huiusmodi, in quo magnus
raagisler et Conuenlus praedicli residere habeanl, iudicium tuum et opi-
nionem nobis significes, el demum cum illi suis fortunis atque substan-
lia adeo spoliali el exhausti sint, vt praeler ipsorum virtulem inuictumque
in aduersis aniraum ac spem, quam in auxilio el presidio noslro christia-
norumque Principum fixerunt alque locarunl, parum sil reliquum, opere
precium eliam esse arbilramur, vt quisquís ex dictis Principibus de loco
opportuno prouidere non poterll, sallem ad muniendum locum huiusmo-
di, poslquam de eo prouisum fueril, quod el nos pro uirili noslra faceré
intendimus, cum aliqua subuenlione concurral. Quod te, fili charissime,
amore Redemploris noslri Jesu christi, qui ex immensa sua in humanum
genus clementia ac pietate saeuissimam morlem pro te subiré non dubi-
tauit, et impeliente chrisliana charitate, quae fratrum ac proximorum ne-
cessitales suas ducit, illisque non minus quam propriis subuenire nili-
lur, per hoc supremum iudicem sibi propicium reddens, omnino faclu-
rura confidimus: Et vi facias le eliam alque eliam in Domino horlamur,
et cum quanta possumus inslanlia palerne requirimus.
Datum Romae apud sanclum pelrum, sub annulo Piscaloris, Die vl«
lima Junii mdxxiu, Pontificatus noslri anno Primo. — 7'. Ilezius \
» Arch. Nac. Mar. 36 de Bullas, ri." 12.
RELACOES COM A CURIA ROMANA 173
Carta de D. Miguel da üilva ao Secretario
de Eistado.
1593— «VnlliolO.
Senhor. — Por esle correo mando somenle os Ireslados de carias,
que ja por duas ou tres vezes tenho mandadas. Expidicao ninhuma nam
mando porque, ate TÜr Reposta de sua alteza do que Ihe lenho escrito,
nam se pode fazer cousa ninhuuma, e n alguumas que espcrava boa Re-
solucao acho dificuldade : creo que ludo naca de quererem de lá pri-
meiro ^ér alguum sinal era suas necesidades, o qual nam de\e de lardar
em ninhuuma maneira do mundo. Este correo despacho cora loda dili-
gencia sobre as cousas da Reiigiao de sam Joham, porque o grao meslre
vem aqui, e o papa quer dar assento em suas cousas, e dar novas leis
em sua \ida e governo, e me mandou expresamente que com a maior
diligencia que fose posyvel o escrevese asi a sua alteza, pera que junta-
mente com ho conselho mandase poder e Instrucao pera em seu nome se
tratar nesta materia, e aver por bem o que a igreja hordenase a benef-
ficio da Riligiao e da cristindade : por tanto vosa merce polo que com-
pre a seryico de sua alteza faca que a Reposta seja muy prestes, porque
seria muy grande prejuizo a seu servico, e muy grande confusao pera
mim, tratarem se estas materias, ñas quais tanto Releva a bem do Reino
fazer se huuma cousa ou outra, e nam saber a vonlade de sua alteza. E
porque esto compre tanto ao de lia nam me alargo mais porqu*^ sey que
onde está vosa merce nam ficará nada por fazer.
Acerca de mim e de minhas cousas nam digo nada a vosa merce
de novo, porque ja tenho dito tanto que, se desoja de me fazer merce,
já sabe largamente em que e como, e asi Ihe peco muito por merce, e
pollo grande amor que sey que me lem e meus desejos Ihe merecem, que
em minha ida e licenca queira fazer o que Ihe tanto tenho pidido, e creo
que he nem mais nem menos como Remir me de cativo ; e esta carta
com minha fee, que Ihe em outras lenho dada e nesta dou, seja instro-
mento pubrico que minha presenca la ha de ser tanto a voso servico quanta
174 GORPO DIPLOMÁTICO POKTÜGUEZ
o possa ser a de ninhuuma outra pesoa dése Reyno, nam porque cu possa
nem valha nem saiba mais, mas porque desojo de servir yos mais que
ninguem.
Ho papa me fez merce do priorado de landim, de que ouue o aviso
sem no eu saber, e sem no eu saber me mandou a supricacao a casa,
como qua he pubrico e lá poderá saber vosa merce pollos que de qua
forem : e nam soomenle deste priorado me linha feilo merce, mas de to-
doUos beneficios de Francisco Jusarte, se fora morlo, como ca diserao a
sua sanlidade. As bullas de Landim mando por esle correo, e a el Rey
noso senhor peco por merce que, porque o papa veja que as merces que
me faz Ihe sao aceitas, Iho agradeca por huuma carta sua. Vossa merce
por ma fazer muy grande lomará cargo de mandar esla carta, e pois que
nam peco nella senam palavras, sem Razao seria negarem se me as boas ;
e se acerca da posse comprise segundo o estillo de lia alguuma prouisao,
tambera sey que vossa merce ma averá lam boa como foy a de santo
tiso, que foy posse e dinheiro. Nesta nem nisto nam digo mais senam
que beijo as maos de vossa merce.
De Roma aos dez de Julho 1S23.
Encomendó a vossa merce muito o negocio do bacharel Joao Fou-
bert d aquelle conserto de sua alteza. Far me ha grande merce em tudo
o que nisso fizer.
Este correo parte aos x de Julho em anoytecendo. lia de fazer o
caminho de Ierra em xii dias, e leuar certidao do que se detiver por mar,
a que nam se pode poer ley.
A seruico de vossa merce. — Dom miguell da sylua K
Carta de D. iligucl da ^ilva a cl-Rei.
15f3 — fSetcmbro 14.
Senhor. — Aprouve a noso senhor de levar pera si papa adriano :
faleceo oje que sao quatorze de setembro : acabou santamente com lo-
» Arch. Nac, Corp. Chron., Part. I, Mar. 29, Doc. 93.
RELACOES COM a curia romana 175
dollos sacramentos e com fim conforme a sua \¡da : deixa feito- cardeal
guilhelmo Inquiforle, que era seu dalario ; testamenleiros o cardeal me-
diéis e o cardeal sanliqualro. A seu falecimenlo, que foy a meo día, cha-
mou qua-lro cardeaes, santa cruz, ílisco, monte, e campegio, os quaes
ainda eslao no paaco, nem se sabe oulra cousa senao que foy pera Ihe
dar conta desa fazenda que ficava, que segundo o que vejo deve ser de
pouqua imporlancia. O cardeal de vultcrra fiqua preso no caslello, e co-
meca a nacer grande duvida se ha de entrar na eleicao ou nao. Releva
multo que nam entre aa parle imperial, e pollo contrairo aa francesa :
praza a noso senhor que nam naca d aqui alguum grande escandallo. Di-
zem que ho direilo he contra elle, e sendo tambem o emperador, cuja
autoridade agora está tanto adianle, creo que nam sairá. Por estes luga-
res de Redor de Roma, despois que ho papa comecou a estar sem espe-
ranca, se alevantarao as partes de que todo o estado da igreja he per-
dido, e a vrsina em vilerbo lomou a fortaleza : aqui está toda a cidade
era armas e cada huum chama a mais gente que pode de fora : prazerá
a noso senhor que nam será pera mais que pera estar huuma banda e a
outra segura.
Em outra carta minha escrevi a vossa alteza o que tinha sabido per
via de veneza : despois veio aqui ho prolonotario caracholla, grande meu
amigo antigo, e por cuja prudencia e autoridade principalmenle se fez esta
paz antre o emperador e venezeanos, e delle soube alguumas parlicola-
ridades secretas da capilolacao ; e a que mais me aprouve e que he bem
que vosa alteza saiba, se por outra via a nom lera sabida, he que por
mandado do emperador vosa alteza enlra na dita paz, e affirma que por
tres dias ho emperador Iho mandou que decraradamente nomease vossa
alteza. Isto bem sey que deue nacer da muita prudencia de vossa alte-
za, todavia nam ouue por escusado escrevel o. Se me for posivel aver a
dita capilolacao aa máo a mandarey pollo primeiro correo.
Com esta nova do falecimenlo de papa adriano, que deus tem, des-
pachara correo proprio, se nam parlira esle que vai ao emperador.
Da nova eleicao, a qual praza a noso senhor que seja tal qual com-
pre a seu servico, a bem da crislindade, e a que as presentes necesida-
des Requerem, darey aviso a vossa alteza com toda diligencia. Ha tanto
lempo que nom ha qua cartas nem Recado nenhuum de vosa alteza que
parece que de todo se esquece de raeu servico neslas parles.
176 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGÜEZ
Eu lenho escrito por muitas vias, e vUimamenle a dez desle mes
que creo que esta ainda alcancará aquelle correo. A mais fresca carta
que ha i de vossa alteza he do derradeiro de maio, que quando nam es-
crevese senao pera que a voso embaxador nam cumpra andar pregun-
tando as novas de vosa saude a mercadores, o devia de fazer, quanto
mais que, por nom ser avisado amiude, se podem fazer grandes erros
em voso servico, e se poderam tambem fazer grandes servicos sabendo
os mundos que la correm e vossa vontade em cada cousa. Beijo as maos
de vossa alteza, cuja vida e Real estado noso senhor guarde e acrecenté
como por elle he desejado.
De Roma aos xiiii dias de setembro de 1523. — Dom miguell da
sylua ^
Carta de D. Miguel da Silva ao liecretario
de Esitado.
1533 — Novembro IS.
Senhor. — A nova da eleicao do senhor cardeal de mediéis he tam
grande pera lá e pera qua, que nam he bem deter se este correio huum
soo momento, pera que nom perdáis lempo da alegría que com Rezao
vos deve dar. Neste ponto he feila que he ja de noite : em amanhecendo
se publicará : chama se papa clemente séptimo. Como eu devo de ficar
vossa mercó o consire. Prazerá a noso senhor que se verá craramente
que a morte do papa liao lam sem tempo, e a de adriano tam arrebatada,
foram craramente pera bem da crislandade, e pera que viese huum papa,
o qual juntamente sabe e quer e pode o bem da igreja \ Vossa mercé
sabe muy bem a conta que elRey que deus aja fazia d este homem, e
quanto eu trabalhey que a fizeseis vos delle com ho que nam vos cus-
tava nada % e agora vedes o que podera aproveitar, porque bem via eu
pera onde deus guiava sua grandeza. Eu peco a el Rey noso senhor que
me acabe de fazer alguuma merce, e quando nam fose polos servicos
1 Arch. Nac, Corp. Chron., Parí. í, Mac. 28, Doc. 81.
RELACOES COM a curia romana 177
pasados seja por al\isaras que buuma tal nova tambem merece, e meus
servicos d aqui em diante ^ tambem merecerao. Eu la nom vejo quem
de minhas cousas tenba milhor cuidado que vossa mercé : far ma ha muito
grande, e mui conforme ao que Ihe eu mereco e merecerey, de lembrar
a sua alteza que ho faca, porque juntamente com ser ho que deve tal Rey
a quem bem o serve, fará muito servico ao papa, e mostrará que estima
a nova, e quem sua santidade estima ; e eu a vossa mercé deverey todo,
cujas raaos beijo *.
De Roma aos xviii dias de novembro 1323.
A seruico de vossa mercé. — Dom miguell da sylua '.
Carta de D. Miguel da Silva a el-Rei.
1523 — IVoirembro 18.
Senhor. — Neste ponto que somos a xviii dias de nouembro, á huma
hora da noyte, he adorado por papa de todollos cardeaes o R.""** e llus-
trisimo cardeal de mediéis. Em amanhecendo será pubricada ao povo e
se faram todallas outras solenidades. Da pesoa sua e grandeza, e do que
se deve esperar desta santa eleicao, creo que seja vosa alteza asaz bem
Informado pola fama : este he o raais prudente e o mais justicoso ho-
niem, que de dozentos annos a esta parte se vio asentado nesta cadeira *
de sam pedro. Oje, dia da dedicacao de sua igreja, cumprem quarenla
e nove dias que entrarao em conclaui, elle com dezaseis cardeais seus
amigos ditirminados de o nam desempararem em nenhuum tempo, e vinte
e tres cardeais com a mesma ditirminacao contra elle : aprouve a noso
senhor que a muita constancia dos dezaseis, e a muita prudencia com
que os elle governava, venceo a dureza e multidao dos contrairos. E o
1 Arch. Nac, Corp. Chron., Part. I, Mac. 30, Doc. 59. O documento n.° 63 do
mesmo mapo é outra via d'esta carta, com as variantes seguintes:
* o bem da cristindade e da igreja
^ nada vos custava
' a diante
* beijo cem mil vezes
TOMO II. 23
178 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
cardeal columna foy ho primeiro que por bem da cristindade e dos lem-
pos ^ présenles, e servico do emperador voso irmao, dilirminou de o
ajudar, e, esquecendo-se da contrariedade que Ihe fez na eleicao d adria-
no, se Reconciliou com elle e llou de maneira que seguio esle sanio ef-
feito ; porque ' a aulorldade de coluna levou tras sy lanía parle dos imi-
gos de mediéis que, vendo os outros que abaslavao com os xvi a fazello
papa sera elles, por mais honra da eleicao, e porque cada huum quis ler
parle nella, se concerlarao todos, e neste ponto como digo acabao de o
eleger papa ^ e adorar. Chama se clemente séptimo, e de seu nome deu
logo lestimunho, que perdoou ao cardeal de Vulterra, seu lam grande
imigo e que tantas vezes procurou contra sua pessoa e vida ^ ; e nam
soomente a elle mas a lodos seus párenles e casa Resliluiu beens que li-
nham perdidos, que passao de cento e cinquoenla mil ducados. Se por
alguuma nova ou pode " pidir alvisaras a seu Rey, por esta as poso eu
pidir a vosa alteza, e maiores que se Ihe mandase novas d acrecentamento
de duas cidades em seu Reino, porque, ' aallem de esle papa ser aquella
pesoa que mais agora compria haa cristindade, é o que mais amou el-
Rey voso pay^que deus lem, e mais ama vosa alteza. Se nam fosem es-
tas cousas tara ^ pubricas como sao, eu seria mui suspeito em fallar nel-
las pollo que o lenho servido sendo cardeal, e o amor que me mostra,
e o que em sua eleicao, por ver quanto niso servia a deus e a vossa al-
teza, lenho feito ; mas prazerá a noso senhor que, asi como ludo isto
he verdade, asi se alegrará vossa alteza com este tamanho bem do mundo.
E o servico, que ao papa eu lenho feito sendo cardeal e nesta sua santa
eleicao, nam será menos aceito a vossa alteza que a sua santidade, nem
menos Remunerado de huuma parte que da oulra; e asi peco por merce
a vossa alteza que, pois Ihe mando esta nova que tanto compre a seus
Reinos e a bem de todo ' seu servico, que o que eu por outros muitos
íeilos a el Rey seu pay que deus lem e a vossa alteza Ihe mereco, pera
que juntamente fazendo me a mim merce mostré ao papa ho prazer que
ouue de sua eleicao, como por alvisaras, se queira lembrar de mim; e
prazerá a noso senhor que os servicos que eu nesta corte com sua san-
lidade farey a vossa alteza Ihe merecerao nam soomente a merce que me
fizer agora, mas '" ainda oulras ao dianle maiores. Por esta nova ser tam
grande, e ser bem que vossa alteza a saiba o mais cedo que seja posy-
vel, nam direy nesta mais, senam que neste raesmo lempo " ay aquí
P.ELACOES COM A CURIA ROMANA 179
novas que o exercito de franceses, que eslava sobre millao, como per
outras muitas escreui a vossa alteza, he alevantado, asi como pola ^^ muita
necesidade de viloalhas em que eslava, como por ser chamado del Rey
de franca pera acudir aas cousas do duque de borbom, as quais, sendo
mal de casa, o fazem esquecer ^ das guerras de fora. A genle do em-
perador e do duque e da igreja e de venecianos se tem por certo que Ihe
irao ^* no alcanco, nem se eré que posam sair de Itallia franceses lodos
inteiros. Esta viloria com a eleicao de papa clemenle pode creer vosa
alteza que mete o cravo aa fortuna do emperador voso irmao e asegura
as cousas ^^ pera longos dias. Beijo as maos a vossa alteza, cuja vida
e Real eslado noso senhor guarde e acrecenté como deseja *^
De Roma aos xviii dias de novembro 1523. — Dom miguell da
sylua '.
í Arch. Nac, Corp. Chron., Part. I, Mac. 30, Doc. 62. O documento n.° 64 do
mesmo mafo é a segunda via d'esta carta, e tem as seguintes variantes:
* na cadeira
2 cristindade e necesidade que via dos tempos
^ e porque *
* de o elleger por papa
^ contra sua honra pesoa e vida
** se deve ou pode
■^ de duas grandes cidades, porque
^ estas cousas todas tam
^ tanto compre a bem de seus Reinos e a todo
*° nam soomente a que me agora fizer mas
1* mesmo ponto
'2 asi pola
^^ fazem com Rezáo esquecer
** irá
*^ suas cousas
^^ como por elle he desejado
23*
180 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGÜEZ
Carta de D. Miguel da Silva a el-Rel.
15S3 — IVovembro 18.
Senhor. — Despois de aver duas horas que tinlia despachado o cor-
reo, que leva a nova desta santa eleicao do papa clemente séptimo em
pesoa do R.™° cardeal de mediéis, me mandou sua santidade chamar ;
e porque o conclaui nam se pode abrir senam pola manham, despois de
ser feita a pubricacao ao pouo, me mandou meter por huuma muy pe-
quena Janelinha por onde se dá de comer, e esta vez ouue por mui grande
dita ser tam pequeño como sou pera milhor poder Receber este tamanho
favor, que me sua santidade fez, o qual ey que he polo fazer ao lugar
que tenho de vosa alteza que a mim fsicj, e nam se fez a outra ninhuuma
pesoa, e por iso he bem que o saiba por saber que tem mais causa de
se alegrar por esta eleicao que por outra ninhuuma neste tempo se po-
dera fazer, e do grande amor que o papa sendo cardeal tinha a el Rey
voso padre que deus tem, e do que agora de Rezao terá a vossa alteza,
deve esperar que, asi como nam Ihe ha de Requerer nenhuuma cousa
que nam seja Justa, que asi nenhuuma justa sua santidade Ihe negará.
No ponto que entrey no conclaui fui beijar ho pee a sua santidade, o que
nam consintió nem a mim nem a ninhuuma outra pesoa ate este ponto,
que sam tres horas ante manhaam, nem me parece que ho consentirá ate
que nam seja vestido como papa, que ainda está em habito de cardeal,
nem tem outra deferenca salvo que nam tira o barrete a ninguem. Da ma-
neira era que pasou esta sua eleicao, porque na outra nam tiue tempo de
o fazer, darey nesla parlicolar conta. Despois que o cardeal coluna se des-
cobrio em favor de mediéis, e com elle tantos cardeaes que abaslavao a
fazello papa com seus xvi votos, porque a cousa se fizesse com mais au-
toridade e vniao, se fez toda diligencia por ganhar os que ficavao, e avendo
em alguuns dificuldade se fez huuma congregacao de xxiii cardeaes, em
que nam entrou ninhuum dos dezaseis da banda de mediéis. Nesta con-
gregacao falou coluna ho primeiro mostrando a necesidade da igreja e
dos tempos presentes, e quanto compria ao mundo ser mediéis papa ; pi-
RELAGOES COM a curia romana 181
dindo Ihes a todos que, pois a cousa era tanto avante que sem muitos
delles se podía fazer, que nam quisesem dar causa a poder parecer ao
mundo que em cousa tam santa paixóes particolares faziao discordia em
huum tal colegio, e que todos deviao juntamente alevantar se a ir bus-
car ho cardeal de mediéis e alevantallo por papa. Avendo sobre isto al-
guum debate, e nam podendo a parle francesa acabar comsiguo isto, ho
cardeal columna se alevantou e dise : quem quer a salvacao da see ap-
poslolica e bem da cristandade sigua me. Alevantarao se tras elle tantos
cardeais que nam ouue quem mais ousase de fazer Resistencia, e asi
mandarao logo seis que Iho fosem fazer saber que elles o queriao por
papa, e o trouxesem haa capelia pera Ihe darem hobediencia. Estes seis
acharao o cardeal em huuma salla do conclaui acompanhado dos seus xv
cardeais, que esperava a Resolucao dos xxiii, e dando Ihe a nova o to-
marao antre si e o levarao a huuma capella, que se chama a capelia de
nicolla, e aqui juntamente todo ho colegio por via do esprito santo, que
asi se chama este modo d eleger, ho fizerao papa e Ihe derao hobedien-
cia, e ho asentarao na cadeira, e Ihe fizerao asinar os capitolos do con-
claui, e forao chamados os meslres das cirimonias e notairos, e se fez
solenemente o Instromenlo da eleicao, Reservando a pubricacao, por ser
tam tarde, pera a manhaa. Despois disto o acompanharao juntamente ate
sua cámara, onde o achey quando entrey, e onde está asinando multas
supricacoes e acompantiado de muitos cardeais, posto que o lugar he tam
estreito que cabem nelle mui pouquos ; e eu, por ver se esta poderá al-
cancar ainda o correo, eslou escrevendo de tras das corlinas de sua cama,
e nom tenho que mais dizer por agora nem ha tempo pera mais. Beijo
as maos de vossa alteza, cuja vida e Real estado noso senhor guarde e
acrecenté como deseja.
De Roma aos xvín días de novembro, tres horas ante manhaa,de 1523.
— Dom miguel da sylua '.
^ Arch. Nac, Corp. Chron., Part. 1, Mac. 30, Doc. 62 bis.
182 CORPO DIPLOMÁTICO POUTIJGUEZ
Oeispachois para D. llig^ucl da fiilva.
1583 — ^Vovembro (I) SI.
Dora Miguel amigo nos el Rey vos emviamos muylo saudar. lee-
mos ávidas carias vosas de dous de marco desle anno, e de xv e xvi e
de XXI do dito mes, e de xxvii e xxviii d abril, e de xxv de maio, e
de dez dias de Julho, e a todas vos fazemos por esta reposta. E quanto
ás primeiras de dous de marco, ñas quaees nos dizyes que nos emvya-
veys d hy a x dias as bulas de lixboa e d euora e de samta cruz e de
sam jorge e lafoes, e a bulla d amenistracao do meslrado, e que na do
bispado de viseu e priorado se farya como fosemos seruido, nom he a
yslo necesaria resposla, porque a faremos á carta com que Recebemos o
que das ditas cousas nos temdes emviado. E do que por esta carta nos
fezestes saber da perdicam de rodes, nam poderamos ouuyr cousa de que
mayor nojo e senlymenlo Receberamos : noso senhor, que asy o ouue por
seu seruico, o tornará em prazer aqueles que tamta rezam tem de o sen-
tyr, e se lembrará da sua Religiam christam, e dará caminho aos que
lem obrigacara de por ella olharera e acodirem, porque o siruam asy como
ante elle e ante o mundo sam obrigados, e poherá sua maao na paz dos
chrislaos, pera que com ella acerqua da sua fee o posamos todos seruir
como somos obrigados. E ao breue que sobre esta materya da perdicam
de rodes o santo padre nos emviou Ihe respomdemos como veres pelo
trellado delle, que vos emviamos, e conforme a yso Ihe dirés de nosa
parte o que mais vos parecer, porque pera vos, que lam bem e com tanto
noso seruico o avees de saber fazer, escusamos mais vos dizer.
E acerqua do dinheiro de dez ate quinze mil cruzados, que nos spre-
uyes que vos parecerá que deuiamos mandar ao papa pera ajuda do que
elle querya mandar a vmgria, e tambera armada que querya fazer, e asy
mesmo porque vos parece que aproueylarya muyto ao despacho das cou-
sas que ainda estauam por expidir, gradecemos vos muito a lembranca
que diso nos fazees. E se pella veemlura nos parecerá que esta nosa ajuda
e seruico ao santo padre fora tam soficienle, que com ella se podera dar
RELACOES COM A CURIA ROMANA 183
alguum remedio ao perdido e á esperanca que se tem dos oulros males
mayores, folgaramos de com muy boa vontade o fazer ; mas, veemdo que
he lam pouco, e que pode em lam pouco aproueytar, e nam sabendo o que
o sanio padre faz em cousas sobre que sua sanlidade tanto e com tam
grande presa deuya prouer, como creemos que terá feito, e com quanta
posybiiidade nele fose, nem tambem o que fazem os oulros principes
chrislaos, que por obrigacam gerall e pella especial, pello muito que Ihe
toca fsicj, nam nos pareceo que era bera nem noso seruico agora acerqua diso
fazer o que nos spreués. E pera vermos o que será seruico de déos e
noso que facamos, yos encomendamos muylo que nos sprevaes mui de-
craradamente o que ho papa proué, asy acerqua da perdicam de rodes,^
como da de vngrya, e o que fazem acerqua d ambas estas cousas os ou-
lros principes christíios a que sua sanlidade deue ter requerido, e espy-
cialmenle aos que sam mais \ezinhos da necesidade, e que todas oulras
cousas deuyam pospoer por a estas acodir, de que tam vnyuersall daño
se deue com rezam esperar, e mais de tam duro imigo, e que da vyto-
ria se am tanto aproveilar como parece por suas obras, porque com sa-
bermos yslo posamos milhor acertar no que deuemos fazer, que, como sa-
bes, todos os dias nam nos falcce despesa contynua na guerra dos mou-
ros em tantas cidades e \iilas como leemos em áfrica, e ainda agora ñora
pasa de huum mes el Rey de feez em pesoa \eeo corer aos lugares d alem
daquela parle do estreyto, e em arzilia se perdeo o capilam que nela es-
taña em lugar do comde dom Joam coulinho, que era \ymdo a nosa corle,
e com elle bem cento de caualo, que fez ficar aquela villa com muy grande
Risquo, e a mandamos socorer com muy grande despesa de gente e man-
limentos e arlelharias, que allem da muyta que lem he aimda necesaria
pera o poder de lamanho rey como he ho de fez : do que \os encomen-
damos e mandamos que dees conta a sua sanlidade pera que saiba que
coutynuadamente temos muitos rodes sobre que acodir, e que dam causa,
allem das despesas hordenadas, a oulras exlraordinaryas de muy gran-
des somas pera segurar aqueles lugares, que quasy sam muro e defen-
sam de toda costa d andaluzia, alem das armadas que sempre em vida
delRey meu senhor e padre, que sania glorya aja, se faziam, e tambem
nos mandamos fazer pera a guarda do eslreyto, em que andam muy gran-
des armadas dos mouros, e que cada dia na cosía de caslella fazem muy
grandes catyueiros, que agora juntamente leuaram pasante de trezerntas»
184 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
almas, afora os estragos e roubos que mais fezeram. E de ludo yslo fol-
garemos que dees conta a sua sanlidade.
ítem. A bulla d adminislracam do meslrado de chrislos, e as bullas
de sam Jorge e de sam Chrislouam de lafóes, Recebemos com a caria
de XV de marco e vollas gradecemos muylo. E porque nesla caria di-
zeis que nos avees de emviar outra bulla do meslrado aselada com seello
d ouro, nom sabemos qual he a causa desle selo d ouro, e folgaramos
de nolla spreuerdes, e se ho nom lemdes feilo fazey o ; e lambem porque
dizés que oulra lall graca cuslou ao emperador muylo, e do que cuslou
ao emperador em lempo do papa león o papa adryano nos quilou as ix
parles, ficando porem a nos, vista a grandeza da graca e a necesydade
da igreja, fazermos o que nos bem parecer de nosa vonlade e liberalida-
de, porque ludo se leixa a nosa vonlade. Nos esta expldicam d amenls-
Iracara e governanca do meslrado avemos, segundo o que diso temos sa-
bido, por cousa muylo córenle e acoslumada se fazer, e que lera suas
taixas e ditos acoslumados por quanlas vezes já asy foy feyla, como vos
sabées ; neem veemos cousa porque agora mais aja de custar, nem se
leixar a nos que niso facamos mais do que he acoslumado, e que sem-
pre se pagou, e vos sabees que temos bula desle e dos oulros mostrados
pera serem de nosos padroados, e que desle se ha de pagar sementé Ire-
zenlos ducados. Pello qual vos encomendamos e mandamos que nos spre-
vaes que graca foy a que ho papa león fez ao emperador, e o que por
ella ouue, e de quanla soma foy as ix partes que dizés que agora o papa
nos quilou, e as rezoes e causa porque nesla expidicam nos dizés que
se leixa a nosa liberalidade o que mais ajamos de fazer, porque sem sa-
bermos yslo nom poderyamos niso responder uos cousa alguma, e folga-
remos que com os primeiros recados nolo spreuaes. E asy mesmo o que
he ordenado se pagar d anlygamenle d amenislracam e gouernamca desle
meslrado, que lamias vezes se fez, e o que na expidicam d esta agora
despendesles myudamenle, porque o queremos ver. E lambem folgare-
mos que nos sprevaes raiudamenle o que se despemdeo ordinariamente, e
em qualquer oulra cousa que extraordinaria fose, ñas bullas do arcebis-
pado de lixboa e bispado d evora e priorado de santa cruz, e moesleiro
de llafoes e de sam Jorje, do dinheiro que pera estas cousas vos era em-
viado por letras em vida del Rey meu senhor e padre, que santa glorya
aja, e nos despois vos emviámos ; e se destas letras ou d oulras d amles
RELACOES COM A CUHIA ROMANA 185
lemdes aimda allgiuini dinheiro, e o que vos falece pera comprymento
de todas estas expidicoes, se allguum vos falecer ; e tambem o que se
mais averá mesler ordinaryamente pera o que aimda esliuer por despa-
char das cousas que nam sam aimda acaioadas.
ítem. Quanlo á licenca pera vosa vynda, que por esta carta nos
pedüs, porque por outras tambem nolla pediis vos responderemos por ou-
tra carta. E de vosos seruicos pasados nos temos inleira enformacam e
sabemos que íorom sempre muy boos, e de tam fiel e boom seruidor como
vos soes, e sempre diso aveemos de ter tall lembranca como he rezam, e
asy de lerdes tamto crédito e autoridade como por noso seruico e por vosa
pesoa deués ter, nem aveemos de folgar que em outra maneira nos sirvaaes.
As pesoas que nos dizés que achaes nosos seruidores spreuemos
asy como vos parece que ho deuemos fazer, e alem de nosas cartas vos
day nosos gradecimentos com todas booas palauras e asy como confiamos
que ho saberes fazer. '
A peynlura de rodes que nos emviastes folgámos de ver, mas foy
causa de recebermos mayor senlymento da perda delle.
Na outra carta de xvi de marco nos dizés a conformidade do papa
com ho emperador, e folgámos de asy o fazerdes : prazerá a noso senhor
que será pera muito seu seruico e tamto bem da religiam christam como
ella ha mester. E aos breues que vieram do caso de rodes, asy do papa
como do sagrado colegio, réspondeemos como atrás fica dito, e tambem
responde o eardeall meu irmao.
O trelado da bulla das dizimas, que com esta carta veyo, vos gra-
decemos.
Quanto ao da obediencia, sobre que nesta carta e em outra nos to-
caes, vimos todo o que niso dizés, e como nom era ainda dada de ne-
nhuum rey, e por yso, e porque os lempos estam da maneira que vedes,
nom vos respondemos agora sobre o que fareemos. Esperamos em noso
senhor que dará lugar pera ho fazermos asy bem como desejamos, e como
he o muy syngular amor que temos a sua santidade, allem da obriga-
cam geral ; nem eremos que por yso sua santidade leixe de fazer em
nosas cousas o que deue e nos de sua santidade esperamos, que sem-
pre Ihe aveemos de ser filho tam obediente como foram os Reis nosos
antecesores e nos Ihe desejamos ser.
Acerqua da demanda d acursyo gradecemos vos todo o que acerqua
TOMO II. 21
186 GORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
diso nos dizees ; e em cousa que tem o cardeall meu Irmaao, e por tam
justo lilollo como vos sabees, nom creemos que ho papa faca cousa em
seu prejuizo, nem de que se sygua Recebermos nos desconlenlamenlo.
E omde vos eslaaes, que pellas cousas de noso seruico avee's d olhar
com lam boom cuidado como sempre fazos, nom he necesario vos dizer-
mos mais, senom que olhees e facaes o que niso cumpre a noso seruico.
Os Irelados em Raso da bulla do meslrado e de lafoes e de sam
jorge vos gradecemos, e asy o natural do papa que nos emviastes. E
com esta meesma carta vieram oulras taes cartas como as que nos eram
vymdas d outra via : prouymento he com que nos prouue e que sempre
se deue fazer, em espicial quamdo os caminhos eslam tam pouco certos
e seguros como agora eslam.
A carta de sanlyquatro, que veo com esta via, respondemos pella
carta que com esta vay, a qual Ihe darees; e allem della Ihe dizee de
nosa parte que pollo amor que sabemos que el Rey meu senhor e padre,
que samta glorya aja, Ihe tynha, sempre o asy o achara em nos, e toda
booa vontade pera o que comprir a elle e a suas cousas. E folgaremos
que nos sprevaaes o crédito e autoridade em que elle estaa com o papa.
Em outra carta de xxv dias de maio nos dizees que, por causa de
nam serem os caminhos e pasagem seguros, nos nom emviaueys as pro-
prias bulas de lixboa e evora e samta cruz, e nos emviaueys os trellados
autenticados pera por elles se poder tomar a pose e usar de toda jurdi-
cam, asy como se farya pelas propias: e pois asy vos pareceo mais se-
guro e noso seruico, asy o aveemos por bem ; e nos as Recebemos asy
autenticadas como noUas emviastes.
E ao que nesta carta nos dizós sobre ho que loca a rodes fica atrás
nesta carta respondido, por omde nom he necesario acerqua diso mais
vos dizer. E ao desta carta nom convem outra reposta.
Com outra carta de xxvii d abril nos emviastes outra via de todas
as cartas que ate entam nos lynheys spritas, que vos gradecemos muyto.
E nesta nos dizés as audiencias, que ho santo padre vos deu sobre os
negocios, c seu maao prepósito acerqua da expidicam deles, como larga-
mente nolo aponlaaes; e que no arcebispado de lixboa e bispado d euo-
ra, por serem duas ygrejas catedraaes, mostrara desprazer darem se a
huuma soo pesoa,. e que todauya, por ser o cardeall meu irmaao e por
as rezoes que nos apomtaes, foy contente, e da maneira em que o pe-
HELACOESCOM A CURIA ROMANA 187
distes por nom aver embarace d aministradores, e como ñas bullas vem
decrarado. E cerlo que nos parece que lynha pouca rezam de mostrar
desprazer em cousa tam acostumada e corrente, e mais semdo pera o
cardeall meu irmao, e nos as a\eremos d amenistrar e gouernar em quanto
elle nom leuer ydade, que com ajuda de noso senhor se fará tam bem
que elle seja seruido e sua santidade descarregado ; e nom esperauamos
que tam pesadamente ouuese de fazer cousa tam acostumada, e que se
ha milhor de fazer por nos, até o cardeall ser em ydade, do que por ou-
trem, que nam aneemos de ter niso outro Respeyto senam seruir a Déos,
e as perllacias serem asy aproueytadas que nunca em outro tempo o fo-
sem milhor.
ítem. Que ho priorado de santa cruz concederá lyuremente ao yfante
dom amrique. E quanto ao bispado de viseu por nenhumas rezoes do
mundo nem roguos quis comceder ao Ifante ; nem poem outro impidi-
mento senam ho da idade, que dizés que diz que esta he huuma das cou-
sas, que prometeo a Déos quando soube de sua enleicam. E que por de-
radeiro, quamdo vistes que nam auia remedio, Ihe sopricastes que, pois
nom querya dar o tilolo, que elle meesmo dése o conselho como se avia
de fazer; e que vos respondeo que posesemos o bispado naquella pesoa
que mais noso seruico fose, a qual pagase ao Ifante toda aqueta pemsam
que por bem teuesemos, e que desta maneira o proueyto serya o mesmo
e sua conciencia ficarya descarregada ; e que compria avisarmos logo da
pesoa e da maneira em que se ysto avia de fazer, porque o bispado es-
taa ha nosa disposycam esperando por nosa reposta, e que comprio por-
que o cardeal nom podía ficar com tres perllacias, e ficando compria pa-
gar anata da retencam de viseu, que ho papa decrarase a vacacam fsic), e
anata, que sam dous mil e quatrocentos cruzados, ficase deposytada pera
quando se espidirem as bullas, a qual se ouuera de pagar duas vezes se
o papa nom fezera esta graca. A ysto respondemos que vos digaes ao
santo padre que o Ifante meu irmaao nom he agora de menos idade da
que lynha ho cardeall quamdo foy prouido do bispado da guarda e de
viseu e d alcobaca, nem tem menos merecimentos agora do que tynha
em vida d elRey meu senhor e padre, que samta glorya aja ; e que de
menos idade se concedeo sempre a outros muytos, que nam eram das
calidades que he meu irmaao, nem aviam de ter tall amenistrador e go-
uernador qual nos, louuores a deus, somos, e sobre quem sua santidade
2i*
Iá8 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
bem deuera descansar em cousas mayores, ñas quaes, prazendo a deus,
sempre aveemos de fazer como elle seja seruido ; e que cerlo esperaua-
mos que sua sanlidade leuese de nos outro milhor conceilo e coníianca,
e nom ler pejo em cousa em que com rezam o nom deuya ler ; e que
nom podemos crer que Isto sua sanlidade o mouese sem oulro mouy-
mento que Ihe fose feylo, pois lam pouca rezam avia pera se nos negar
cousa tam acostumada e córenle de fazer : que pedimos por merce a sua
sanlidade que nom queyra nislo comnosquo fazer nouydade, e nos queyra
conceder nosa sopricacam pera o Ifanle meu irmaao, em que yslo e em
oulras perlacias mayores cabem, e que, em quanlo elle nom leuer idade,
nos aveemos por elle de fazer de maneira que sua sanlidade faca poneos
provymenlos com que seja mais descaregado, e que asy Iho afyrmamos.
E quamdo lodauya ¡nsyslyse no que lem dilo, que nam esperamos, pois
niso lam claramenle nos agrauarya, emlam fique o bispado com lio car-
deall meu irmao asy como ho tinha, que nam he ynconvenyemle leer
tres perlacias que ham de ser Regidas e gouernadas, e mais he seruico
de noso senhor do que he huuma em muylas pesoas que ha pollo mun-
do, e que dyslo seja sua sanlidade muylo cerlo, e pague se anala e ludo
o que de direilo se deuer pagar. E marauilhámo nos de vos lerdes lal
modo de negociacam em ficar renuciado e vago o bispado, sem terdes
primeiro seguro o que nos comprya e vos mandamos que sopricaseys,
pois nom se corya mais Risquo que ho dinheiro da anala, ficando lodas
tres perlacias com o cardeal ; e encomendamos vos muylo que yslo se
faca e acabe de maneira que nos nom pareca que se fez yslo com oulra
tencam e a outro fim : e dizemos yslo pelo que cá de vosa parle sobre
este bispado nos foy requerido, aimda que nam creemos que faryes nislo
senom ludo o que deués a noso seruico e á confianca que de vos temos ;
porem ha sem rezam e agrauo que ho santo padre nislo nos faz, nos
fará pasar a cuidar cousa que de vos nom esperamos, ca de vos e de
vosos seruicos nos lemos e avemos sempre de ter sempre aquela lem-
branca que he rezara, e como de quem tem seruido a el Rey meu se-
nhor e padre, que santa gloria aja, asy bem como ho lendes feilo, e lem
por yso muilo merecimento ante nos. E muyto vos encomendamos que de
qualquer deslas maneiras se acabe e nos emviés as bullas, aínda que mais
nos prazerya se acabar no Ifanle meu irmao como ho lemos sopricado.
O que dizés que fez o secretario baroso na prisam do coreo que
RELACOES COM A CURIA ROMANA Í89
emviaramos com a vagante dos moesleiros, e estromenlos que diso nos
emviastes, vos gradeceraos muyto ; e nos proueremos niso como nos pa-
recer noso seruico.
E quanlo ao espanto que dizees que lá fez quererraos tam pequeños
beneficios pera meu irmaao, vimos tudo o que sobre yso nos spreuees,
e quem fóra ca presente e soubera o fundamento de nosa sopricacam nara
Ihe parecerá tam mal. E tambem a nos nom pareceo bem terdes vos nosa
sopricacam e requerimento dos moesleiros de nosos Reynos que tynha el
Rey meu senhor e padre, que samta glorya aja, per^ noUo conceder o
santo padre como elle ho tynha, e com declaracam que logo vos fizemos
que vagando alguuns no meo tempo em quanto a sopricacam nom fose
expidida ficasem pera serem prouidos a nosa apresentacam, vos vos pro-
uerdes por cima disto do mosteiro de landym sem esperardes por noso
recadOj e sobre que vos linhamos sprito e mandamos que o coreo pasase
em xn dias, a que nom abasta dizerdes que nam leuestes diso aviso, mas
que ho santo padre vollo emviou a casa como emviou a vagante de Fran-
cisco Jusarte. E isto poderá muy bem ser, mas vos nom ho deuereys ace-
ptar, nem eremos que ho santo padre voló julgara senom a muyta ver-
tude, e fora aimda causa pera mais folgar de nos conceder nosa sopri-
cacam, veendo uos guardar niso o que deuees a nos e a voso louuor. E
de tardar tanto a expidicam disto estamos descontente porque o papa nom
deue ter respeito a outros requerimentos semelhanles, que Ihe facam ou-
tros reis e principes, pois, sem nos ser feylo por sua santidade muy grande
agrauo, nos ñora deue negar o que foy concedido a el Rey meu senhor
e padre, e vos sabees bem como estes moesleiros estauam metidos ñas
comendas e como tornaram a ficar. E muyto vos encomendamos que aper-
tees sua santidade que nos queyra conceder o que niso ha tantos dias
que Ihe sopricamos, e pera que elle nos pasou breue que mandásemos
tomar a pose dos que vagasem quamdo a elle emviámos ayres de sousa.
ítem. Os breues que nos emviastes pera mandarmos colher as rem-
das das perladas de meus irmaos, e as podermos mandar despender como
neles he contyudo, vos gradecemos muyto. E a esperanca que o santo
padre tem de ñas cousas de vmgrya, e ñas outras d ytalya em que ho
turco entender, o ajudarmos como he rezam, Respondemos pello que vos
dizemos airas no capilolo que nesta materya falla de vermos o que se
faz niso por elle e pelos principes christaos. E asy vos gradecemos os
190 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
breues pera o resar do cardeall e do Ifanle dom amrique. E a cenia de
lodo o que he despeso nestas expidieses de lixboa, euora, santa cruz,
moesleiros de lafoes e sam jorge, e meslrado, e todas as outras cousas
que sam expididas e nos tendes eni\iadas, e tambem o que se auerá ines-
ter pera viseu e priorado do cralo, nos emvyay muyto declaradamente
pera sabermos o que mais compre emviarmos. E gradecemos vos muyto
a lembranca que nos fazees de ajudarmos ao papa pellos respeilos de noso
seruico que nos aponlaaes, e principalmente pela expidicam do priorado
do crato, e por bem certo avernos que o fazés com aqueta booa vontade
que tendes pera em tudo sermos inteyramente seruido.
Quanto ao negocio do priorado, na qual dizees que ho que pasa he
que ho papa nam quis prouer nenhuma pesoa, nem confirmar a louca
prouisam do gram meslre com que saya de traués em pesoa de frey gon-
salo pymenta, despois de fer perdido rodes, e vos promeleo que ho prio-
rado o nom darya senom a quem fosemos seruido ; porem que aportando
vos niso, 6 queremdo delle alguuma mais clareza deste prometymento,
uay descontando a cousa á lomga e se defemde com esperar cada dia o
gram mestre em Roma, cujos privilegios diz que nom confirmará se elle
nom for contente do que nos formos seruido ; e que disto parte he asy,
e parte se vee claro que he esperar por esta graca alguuma ajuda em
suas necesydades o que nam quer dizer senom por esta vya ; e que acer-
qua de nom tomar o Ifante o avito nom tendes ainda chegado por vos
parecer que fará deficuldade na materia antes de ser concedido, e que
despois tendes por certo conceder se, e que no outro ponto de nam no-
mearmos qual de nosos Irmaos queremos que seja prouido vos parece
que nom averá remedio e que compre que ho nomeemos e declaremos
logo, porque nom se ha de fazer d outra maneira : Respomdemos que
nos parece que vos nom temdes lenbranca do que o santo padre nos com-
cedeo estando elle em caslella, de que nos deu breue de que vos temos
emviado ho Irellado e agora vos emviamos outro, e asy do trelado da
carta que spreveo ao gram mestre pela qual ouue por Reuogada qual-
quer prouisam que o gram mestre pasase, e mandou que nos mandáse-
mos tomar a posse pella santa see apostólica, e parece nos que sua san-
lidade nam tornará atrás do que nos tem concedido ; nem ncsla materya
ficaua mais pera fazer que comceder sua sanlidade o provymento pera
cada huum de meus irmaaos, qual nos nomeasemos, que aimda nollo de-
RELACOES COM A CURIA ROMANA 191
uya gradecer por nos ficar lugar pera escolhernios qual mais aulo nos
parecese pera seruir a noso senhor e á religiam ; c nam veemos cousa
por que sua sanlidade faca tanta deficuldade eni nosa sopricacam pera cada
huum de meus irmaaos, fazemdo a tam pouca o gram meslre em dar o
priorado do crato em nosos rey nos a frey goncalo pymenta, e no tempo
em que Iho deu. Pollo qual vos encoraemdamos e mamdamos que com
estas rezoes, e com quaesquer oulras que vos a vos bem parecer, tornes
a fallar ao santo padre e Ihe dizee como nos avisastes de sua Reposta, e
que nos marauilhámos de sua santidade ter pejo em cousa tara Justa como
he aver de dar o priorado do crato em nosos reynos a cada huum de
meus irmaaos que nos nomearmos : que Ihe pidymos muito por merce que
o queyra sua santidade fazer lam graciosamente como nos esta e todas
as outras merces delle esperamos, e que ho receberemos em muy sym-
gullar mercó e asy de com breuidade o querer despachar, porque d ou-
1ra maneira nos farya muy grande agrauo que delle nom esperamos ; e
aquele irmao meu que nomearmos ha de ser em encomenda, como \ollo
temos sprito : e a vos encomemdamos muito que nam dees lugar a mais
dilacam e que ymsyslaes nesta expedicam as^ beem como de vos con-
fiamos, porque bem sabeemos que ha d aproveitar muyto \oso boom cui-
dado e dyligencia ; e folgaremos, muyto que apresenteis com grande Ins-
tancia ao santo padre tardar sua santidade com despacho de cousa pera
que foy enleyto pello meslre de rodes frey goncalo pimenta, requerendo
nos a meesma cousa pera cada huum dos Ifantes meus irmáos, a que
nom deuem contrariar priuyiegios da Religiam por muy fortes que fosem,
e em tall tempo em que pera ha mesma religiam e comservacam della
se deuya fazer a nos mais com liberalidade do que com importunacam,
nem eremos que ha o gram meslre e a todos os caualeiros da ordem pa-
reca agora nem nunca oulra cousa millior.
ítem. Se pella \eentura o papa se nom Resoluese em logo satisfa-
zer a nosa sopricacam, aveemos por bem que sem embargo disso vos
sempre insystaes no requerimento, e o nom aíloxés nem leixés, e nos fazé
saber o que vos respondeo, e ho em que ficou pera averdes nosa reposta
do que nos avisares em toda diligencia. E asy meesmo se ho mestre he
já nesa corte, e da maneira em que foy recebido do santo padre, e a conta
que daa de sy na perda de rodes. E tambera se os principes sara reque-
ridos pera emviarem a entender ñas cousas da religiam, asy acerqua do>
ni COUPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
ásenlo (?) della e lugar omde se fará, como d armadas em que os ca-
ualeiros da religiam andem pelo mar ; e no que o emperador insysle acer-
qua diso, e asy el Rey de franca e d yngraterra e os oulros principes,
e o em que vos parece que aseratará : do que nos avisarees em loda di-
ligencia, como dizeemos, porque alee aveermos diso este voso recado
nom nos pareceo que deuyamos emuiar uos procuracam como nos spre-
ués, nem outra comisara do que nislo facaes, fazendo fundamento que
com sabermos ysto que vos preguntamos poderemos milhor mandar uos
o que facaes por noso seruico. E rauyto vos gradecemos voso parecer
que nos emviastes sobre esta materya, que he como quem sempre tem
tanto cuidado das cousas que nos tocam e que sam de noso seruico. E
porera ueste meo lempo sempre vigiay de maneira que no que loca ao
priorado nam pase nem se faca cousa que seja comtra noso seruico e
contentamento, mostrando como de vosso, honde e como vos bem pare-
cer, que nam aveemos de consentyr cousa que seja apartada do que leemos
sopricado a sua santidade, e que com lamia rezam se nos deve conceder.
Quanlo á conta dos dinhéiros, que lendes Recebidos e despesos des
que la eslaaes, que dizées que tendes em vosos liuros, nos vos temos
por tall que, pois tam booa conta nos daes de todas nosas cousas, asy
ho farés do dinheiro que nellas se despemde, e que asy o farés que seja
aimda causa de termos de vos mayor contentamento,
A todas as cousas de vosas cartas que temos ávidas do lempo aquí
decrarado vos fazemos por esta reposta ; e aquetas de que nos pareceo
que nam avia necesidade de vos responder o escusamos. As novas vos
gradecemos muyto ; e vos encomendamos muylo que todas as oulras cou-
sas, que aimda leuerdes por expidir e acabar, as especaes e acabees asy
bera e preslesmente como de vos confyamos ; e amlre lodas vos lembra-
mos a expidicam dos raoesleiros, que he cousa que tanto Releua e in-
porla a noso seruico.
ítem. Ho breue pera contratar com os mouros nom se acha ca ;
pella ventura se perderya : manday oulro tal por maior seguridade.
ítem. Á cerqua do caso de Ruy de meló vos gradecemos muylo o
que sobre yso nos dizés, e nos parece muy bem o que agora nos dizés
que querés fazer e requerer que se torne a ouuyr de juslica Ruy de
meló, aleuanlando se porem o amlredito e secrestando se as reemdas do
mosleiro. E muylo vos encomemdamos que Irabalhees de asy o conclu-
RELACOES COM a curia romana 193.
dir e acabar, e nos eraviees diso com a mayor breuidade que poderdes
a prouisam, porque aquele bispado naní eslee asy mais lempo a causa
de Joham ferram fsicj. E muyto vos gradeceremos de o trabaihardes
quanto posyuel vos for.
Acerca do mao ensyno dos portugueses, e da auloridade que noso
embaixador deue de ter pera castigar os que ñora forem aqueles que de-
uem ñas cousas de noso seruico, e que tocarem a nosos reynos, a nos
nos parece que asy tic rezam ; e folgaremos que nos sprevaaees a ma-
neira que nosso embaixador deue ler com os taaes, e que prouisam Itie
deuemos dar pera vermos sobre yso voso parecer e vos respondermos o
que acerqua diso ouuermos por noso seruico.
Acerqua do que dizés que vos preguntou o papa por muylas vézes
de como eslauam as cousas d antre nos e o emperador meu primo, como
quem deseja que estem bem ; e asy meesmo como vos preguntón do ha
que era ido Joam da sylueira a franca, e como nom teuestes que Ihe res-
ponder por nam saberdes d ambas estas cousas nada, lodo o que sobre
Isto nos lembraes e dizés vos gradecemos muyto, e neslas cousas nom
cuidauamos que se podía oferecer seordes preguntado por sua sanlidade,
a quem poderos dizer que as cousas d amtre nos e o emperador eslam
cora tanto amor e conformidade como deue seer amtre lam conjunto di-
uido e obrigacam como leemos, e que da nosa parle asy esperamos que
seja sempre e o esperamos da sua, e que de lodo boom sobcedimento de
suas cousas nos ha sempre muilo de prazer, e asy o esperamos delie
acerqua das nosas. E que Joham da sylueira temos emviado a franca a
requerer resliluycam de muylas lomadias que os armados franceses {sicj
tem feilas em nosos naluraes e vassallos, e tambera era nosa fazenda de-
pois desta guerra d amtre castella e franca.
Ao duque de sasa embaixador do enperador spreuemos gradecimen-
los, como nos spreuesles que ho deuyamos fazer, e alem de nosa carta
Ihe dizee todas ouíras boas palauras que vos bem parecerem da booa
vonlade que Ihe leraos, e com que sempre folgaremos de fazer o que de
nos ihe compryr.
O que nos lembraes das poses das comendas da ordem de Sam Joam
vos gradecemos muito.
Acerqua da proteiloria do cardeal de medices a nos nos parece que
omde vos estaaes se pode escusar. Nos Ihe temos amor e booa vonlade,
TOMO 11. 23
194 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
como sabemos que Iha lynha el Rey meu senhor, e como he rezam por
sua pesoa e muilos merecimenlos, e nesa corle nom fazemos d oulro car-
deall maior fundamento ; e asy Iho podees dizer e o vesy4ay de nosa parle,
e dizé Ihe que receberemos delle em symgullar prazer nos fazer saber
de sua saude e disposysam, que sempre folgaremos ouuyr que he muy
booa e lall como elle deseja.
Á bulla que nos emviasles do samlo padre, pella qual poem tregoas
de tres annos anlre os principes chrislaos, e breue que sobre yso sua
santidade nos spreueo, respondemos pella carta que pera sua sanlidade
vos emviamos, que Ihe dóreos, e de que com esta vos emviamos o tre-
lado ; e segundo ella Ihe direes mais de nosa parte o que vos bem pare-
cer porque a vos ho leixamos. E por via do seu nuncio, que estaa na
corte do emperador meu mullo amado e precado primo, ouucmos outra
tal! bulla e breve. Sprita....
Dom miguel amigo nos el Rey vos emviamos muyto saudar. Vymos
todas vosas carias que nos temdes spritas, pellas quaes muy aficadamenle
nos pediis que vos deemos licenca pera vosa viimda a nos seruir, e de
tanto desejo como nos moslraes pera o fazerdes em nosa presenca rece-
bemos muyto conlemlamento e asy vollo gradeccmos. E cerlo que vos
nos seruis lá tanto, que nom sabeemos parte em que mais ho posaaes
fazer, e mais em especial nos lempos d agora em que se podem ofere-
cer cousas em que muyto nos poderes e saberes seruir, e milhor do que
outrem, asy pelo grande conhecimento que tendes desa corle, como por
vosa pesoa, crédito e autoridade com que tanto podes aproucylar ñas
cousas de noso seruico como sempre fezestes. Pero, porque per lamias
vias e tam aperladamente nos pediis esta licenca, nam nos pareceo rezam
mais vola dilatar, postoque pera yso ouuese as rezoes que dizeemos. E
por tamto aveemos por bem que tendo vos didos e acabados os
negocios que locam ao bispado de viseu e ao priorado do crato e aos
mosteiros de nosos reynos, no modo era que ho leemos sopricado e a vos
sprito, e as bullas e prouysoes diso ávidas em vosa maao, e asy todos os
outros negocios que alegora vos leemos emviados, e que tenhaes por ex-
pidir e acabar, vos veenhaes em booa ora, e nos Iragaes ludo. E esta
carta pera vosa vymda como dizemos poderes mostrar ao samlo padre,
e Ihe pedimos por raerce que aja por bem vosa vymda e vos lance sua
RELACOES C03I A CURIA ROMANA 195
bemcam com que bem veenhaaes, e nos, como em booa ora ca fordes,
hordenareinos pesoa que nesa corle aja de Resydyr naquele modo em
que vyrmos que compre a noso seruico. Sprita
Dora Miguel amiguo nos el Rey vos enviamos muylo saudar. Por
nosa vymda a esta villa de Ihomar soubeemos que dom prior do con-
venio della, que he cabeca do meslrado de noso senhor Jesu chrislo nom
era de bago e mylra ; E porque he beneficio lam omrrado e de asaz
remda, e o primcipal! da ordem, folgaryamos de seer prouido de baguo
e mylra, com todas as perogatyuas, gracas, faculdadeS, priuylegyos de
que vsam os abades beemlos e que lem mylras e baguos. Porem vos en-
comendamos e mandamos que ho sopr(iqués) de nosa parte ao samlo pa-
dre, e Ihe dizee que Ihe leremos em merce nollo conceder e outorgar
asy pera este dom prior, como pera todos os oulros dom priores que
pellos lempos ao dianle forem. E porem saberes primeiro do cusió que
se fará, e nam espidirés a bulla nem prouisam sem primeiro nos fazer-
des saber o cusió, pera sobre yso vos mandarmos o que ouuermos por
noso seruico que facaes : e porem, se ale duzemtos cruzados vollo feze-
rem, espedy a bulla diso, nam pasamdo da dita conlia, sem nollo fazer-
des saber.
ítem. El Rey meu senhor e padre, que sania glorya aja, linha graca
expidida pello cardeall de porlugall vyue vocis oráculo de quando pro-
uese alguma pesoa de comcmda ou lenca da ordem do meslrado de noso
senhor Jesu chrislo, ou d alguuma remda da dita ordem, Ihe pódese ti-
rar lencas, ora fosem da mesma ordem, ora de qualquer oulra calidade
que fose, moradias e casamentos, sem por yso encorer em cousa de que
se syguyse careguo de conciencia ; E porque queremos aver a mesma gra-
ca que tynha el rey meu senhor, que he como ácima dizemos, vos era-
comendamos muylo que ho sopriqués de nosa parle ao samlo padre, e.
Ihe dizee que Receberemos em symgullar merce nollo conceder e man-
dar diso pasar bulla, ou qualquer oulra provisam que abaste, e com lo-
das as clausuüas que sejam necesarias, e asy como vos viirdes que com-
pre, e gradecer nos emos de com os primeiros despachos nolla emviardes,
ede viir com clausulla que ho que niso leuermos sua sanlidade o
aja por bem, como se a propria graca teñéramos, e nos descarregue de
qualquer obrygacam, que niso posamos ler por o fazermds sem a dita graca.
25*
196 CORPO DIPLOMÁTICO POBTUGÜEZ
ítem. El Rey meu senhor e padre, que sania glorya aja, linha bula
per que Ihe era comcedido e outorgado que pódese vnyr e ajuntar ñas
cidades \ilas e lugares de seus reynos lodos os sprilaes, que nelles ou-
uese, a huum soo, pera serem milhor prouidos e agasalhados os proues
em huum soo com Remdas de lodos junios ; e parecendo Ihe que podía
tambem apropriar as Reñidas d allguuas confraryas e de vodos que fo-
rara ordenadas pellas devacoes dos homens, e asy d allguumas capcellas
ás confraryas das misericordias, que elle hordenou em lodo o reyno,
como sabees, e de que lanío seruico de noso senhor se segué, e em que
lanía caridade se faz acerqua dos viuos e dos morios, e agora se acha
que o nam podía fazer por verlude da dila bula, a qual soomenle se ex-
temde aos sprilaes, sopricay de nosa parle ao sanio padre asoluicam pera
el Rey meu senhor do que níslo fez, pera que nom tynha auloridade e
prouísam do sanio padre, e porem que fique valioso por ser cousa de
muyto seruico de noso senhor, e emviay nos a prouísam diso, a qual
venha asy soficienle e abaslanle e com lodas as clausullas que forem ne-
cesarias pera huuma cousa e pera oulra bem como sabes que com-
pr lall caso se Requere. Sprila
PERA o BISPO DE TORTOSA .
Reverendo hispo nos dom Joao ele. vos emviamos muylo saudar.
Dom raiguel da sylua do noso conselho e noso embaixador nos spreueo
com quamla booa vontade folgauees de fazer as cousas de noso seruico,
e como em lodas aproveylaueys quamto vos era posyuel. E de asy o fa....
por vosa muyla verlude, pois pera ha oulra obrígacam, Re-
cebemos muilo e asy voló gradecemos e por y vos compriir
e a vosas cousas a em nos lamia booa vonlade co e
como em nos acham aqueles que folg nos seruir como vos o fa-
zees. Sprila
Oulra tal pera o hispo de asculy audilor da cámara.
RELACOES COM a curia romana 197
PER\ SANTYQUATOR.
Reuerendissimo yn chrislo padre que como irmaao muito amamos,
nos dom Joham eic. vos emvyamos muylo saudar. Por vosas cartas sou-
beemos todas booas nouas de vosa saude e booa disposysam, e recebe-
mos com yso tanto prazer como he o muyto amor que vos temos, e es-
peramos em noso senhor que sempre laees as oucamos, e com nenhuu-
mas oulras poderemos receber mayor contentamento. Vosas profertas e
oferecimentos ysiymnmos muyto, como he rezam, e por yso pera todo o
que de nos vos compryr acharees em nos aquella booa vontade, que me-
recem vosas grandes vertudes e merecimenlos. E de nosas cousas nam
aveemos por necesario vos fazer nova recomendacam, porque avemos por
certo que no que se oferecer avees de folgar de fazer o que sempre fe-
zesles ñas del Rey meu senhor e padre, que samta glorya, e asy nos
spreue dom migue! da silua noso embaixador que ho acha em vos...
Recebemos de vos em muy symgular prazer. Reverendissimo etc.
PERA o DUQUE DE SASA EMBAXADOR DO ENPERADOR.
Multo homrrado e manifiquo duque nos dom Joao etc. vos emviamos
muyto saudar como aquele que muyto amamos e precamos. Dom miguel
da sylua do noso conselho e noso embaixador nos spreueo que pera no-
sas cousas acha em amor e booa vontade e que pro-
ferys pera nelas aprouey se fosem propias do emperador
amado e precado primo. E certo que por as suas ystymarmos como pro-
prias nosas, e aver tamta rezara e obrigacam pera asy deuer ser amtre
nos, os seus seruidores no que nos locar e os nosos no seu asy ho de-
ueera fazer, e nos ystymamos muylo de vos asy ho fazerdes ; e por iso
e por vosos grandes merecimenlos sempre pera o que vos compryr acha-
rees em nos toda booa vontade. Sprita *
^ Rascunhos em muito máo estado no Abch. Nac, Gav. IS, Mac. 19 n." 15. No verso
tem urna cota, de que apenas se pode ler: Reposta. . . . miguell. . . . a xxi días de
132. . — O anno a que estes rascunhos pertencem descobre-se fácilmente pelas referencias
198 COKPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
Carta de D. llisacl da fitina a el-Rci.
1523 — IVovembro 96.
Senhor. — No ponto que ho R.""** cardeal de mediéis foi eligido papa,
despachei correo a vossa alteza com toda diligencia, por me parecer nova
de tanta importancia, asi pera bem \niversal da crisfandade como pera
servico de vossa alteza, que era bem saber della com a mais presteza
que fose posivel. Esta escrevo no ponto que se acabou de fazer a coroa-
cao em sam pedro, e com ella mando o treslado de outras duas que te-
nho escritas, por onde vossa alteza verá como pasou esta santa elcicao
parlicolarmente ; e a segunda nao sey se alcancou ha primeira, por iso
a torno a mandar tambera aqui. E ho que se fez despois de a ler escrito
foy que, em se fazendt» dia quinta feira xviiii de novembro, o papa com
todollos cardeaes entrou no escrotinio em habito de cardeal, e se ascntou
no lugar em que sendo cardeal se asentava, sem ninbuuma cirimonia,
salvo aquella que per erro Ijie faziao os que sabiao que era já papa, e
nam cuidavao em mais. Os outros escrolinios se fazem secretos : este se
fez que eu e outros conclauistas vimos ho que pasava. Anles que se co-
mecase a misa foi lido publicamente huum protesto do papa, no qual
proteslava que elle vinha ao escrotinio sem prejuizo alguura da passada
eleicao, e que protestava que no que entao se avia de fazer nam se pó-
dese diminuir cousa aiguuma do pasado, e que o escrutinio so fazia soo-
mente por conservar o costume anligo. Feito islo se dise a misa do es-
prito santo, e acabada cada cardeal, segundo a hordem, meteo seu voto
no calix, e ho papa ho seu lambem como os outros, os quaes se lerao
pubricamente e todos de huuma raesma maneira diziao ; eu foao ciego
por papa ao Reverendissimo senhor meu ho cardeal de mediéis. O do
que fazem ás cartas de D. Miguel da Silva; c quanto ao mez, posto que mais difficil de
determinar, entendemos comtudo ser o de novembro, excluindo os anteriores porque aín-
da no dia 26 d'este o embaixador se queixa de nao receber cartas del-Rei, e o ultimo do
anno porque nao apparece allusao nenhuma ao novo Papa Clemente rn.
RELACOES COM A CURIA ROMANA 190
papa dizia : eu o cardeal de mediéis elego eiii papa o Reverendissimo car-
dea) sania cruz, e o Reverendissimo cardeal de monle. A sania cruz fez
ho papa esta honra de Ihe dar seu voto por ser adaiam dos cardeaes ; a
monte por Iho pidir por merce, segundo sua santidade proprio me disse
despois. No ponto que os votos forao acabados de leer, todos hos car-
deaes tomarao lio papa polla mao e ho vestirao, e Ihe poscrao ho anel
no dedo, e ho pubricarao ao povo com a cruz, como he costumc. Daqui
em pontifica) o ¡evarao a sam pedro, e se fezerao todalas outras cirimo-
nias, das quaes a piincipal e a derradeira he a da coroacao, que oje se
fez : prazerá a noso senhor que será pera niuilos annos e muito bem da
igreja e de toda a crislandade. Nam poderia vosa alteza creer a geral
alegría que esta eleicao deu ao povo, e o aseseguo em que íem postas
lodallas cousas de qua. Creio que por esle mesmo correo mandarey a
vossa alteza breves de sua santidade, que me dise que Ihe quería escre-
ver logo. Hos capitolios do conclaui mandarey a vossa alteza por outro
correo : huum delles he que os beneficios, que ho papa linha sendo car-
deal, se Reparlao igualmente por lodollos cardeaes, e era tanta a Renda
que, sendo xxxviii, vem a cada huum mil e Irezentos ducados de Renda
cada anno ; e isto se faz tam igualmente que nam ha i ninhuuma deffe-
renca de qucm servio bem aos outros. E crea vosa alteza que ha cem
annos que nam se fez eleicao tam limpa como esta, que nam ha i pesoa
que possa dizer que Ihe foy prometida ninhuuma sorte de cousa, e tanto
mühor se conhecerá a virtude e conhecimento de sua santidade aos que
ho bem servirao. Nesta nom ha hi mais que escrever senao que ha seis
meses, e pasa delles, que nam tenho carta de vosa alteza, nem Recado
alguum, avendo tantas cousas de seu servico sobre que Ihe tantas vezes
Ihe tenho escrito, em que sem sua Reposta nam se pode tomar concru-
sao. He bem que com toda diligencia escreva ao papa, e faca aqueta de-
. moslracao d alegría, que huuma tam santa eleicao merece; e juntamente
me escreva a Resolucao que quer que se tome ñas cousas do priorado do
crato e bispado de viseu. E porque na bulla das comendas avia alguu-
ma duvida se era derrogada por papa adriano por huuma Regra de chan-
celaria, a qual por nam ser muilo erara, como escreui a vossa alteza,
ouue por mais voso ser>ico disimular, que mostrar que vossa alteza avia
sua graca por derrogada, nam cieo que agora seja bem deixar isto asi
em pendente ; e pera seguranca de ludo em todo lempo será bem expi-
200 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGÜEZ
dir nova bulla, com a qual se posa durmir Repousado que em ninhuum
tempo posa aver mudanca na graca de papa liao.
Ho grao mestre aporlaiá Hijo cni suas causas, e, nain avendo Re-
posta de vosa alteza do que sobre ellas ey de fazer, eslou em grande con-
fusao. Trabalharey quanto for em mim com ho papa que, quanto aa parte
que loca ou pode tocar a servico de vossa alteza, detenha tanto a Reso-
lucao ale que eu posa aver Reposta de minhas carias ; e asi nislo como
em todalias outras cousas Irabalharey que vossa alteza será de mim tam
bertt servido ao diante, como vossa alteza e el Rey voso padre, que deus
tem, o foy polo pasado ; e aja por certo que os muitos servicos, que le-
nho feitos ao papa, e grande amor que sua sanlidade me moslra, se des-
penderá todo em voso servico, sem alguum pensamenlo de meu bem par-
licolar, ho qual eu poherey sempre em servir bem vosa alteza, e de suas
maos e nam de outras ninhuumas o Receberey ; e espero em noso senhor
de mostrar esta fee, principalmente neste tempo, tam inteiramenle que
vosa alteza soo fará ho que em todolas outras pesoas do mundo eu po-
deria esperar por mais que tivese servido nem servise. Beijo as maos de
vosa alteza, cuja vida e Real estado noso senhor guarde e acrecenté como
deseja.
De Roma aos xxvi dias de novembro 1323, — Dom miguell da
sijlua ^
Dreve do Papa Clemeiite Til, dirig^ido a el-Rei.
1533 — Dezembro 1Í,
Clemens papa vii Garissime in Christo fili noster salulem el apos-
lülicam benedictionem.
Singularis Lusitaniae Regum in hanc sanctam sedem obseruanlia ac
pielas lot iam saeculis perspecta, maiorumque tuorum erga familiam nos-
tram non obscura beneuolenlia, feceranl ul el ingens tuae Maieslalis ob
assumptionem noslram futurum gaudium tanquam praesens inlueremur,
' Abch. NAC.,Corp. Chron., Part. I, Mac. 30, Doc. 66.
RELACOES COM A CURIA ROMANA 201
et de Maiestalis luae in nos uoluntate omnia, quae oplari a nobis et a
te proficisci possent, polliceremur. Quod prioribus per eundem lamen
tabellarium literis abunde significaiiimus, ñeque has fuisset opus adiicere,
si tanlum illa uetera, de quibus prioribus iliis lileris egimus, inter nos
intercessissent ; Verum lam magna, atque illustria sunt haec recentia tuae
Maiestalis beneficia per dilectum filium Michaelem Syiuium oratorem luum
proximis Ponlificiis comiliis in nos collala, ut omnino ingrati nobis esse
uideamur, nisi huius rei quamprimum aliquam non uulgarem animi nos-
tri significalionem proferamus. Has ilaque alteras non admodum usitale
seorsum millere uoluimus, quasi familiarem atque inlimum quendam nun-
cium, quo Maieslatem luam redderemus certiorem luum oratorem tan-
tum nos luo nomine atque aulhorilale iuuisse, ut non modo nihil prae-
termissum ab eo sit, quod ad dignilatem nostram pertinere uiderelur, sed
longe consueta in his rebus studia praetergressus nostros pene omnes
amore, diügenlia ac fide superarit. Nos quid a Maieslate tua erga nos
amicius, quid honorificentius fieri potuerit, non uidemus. Reslat ilaque
ut Maieslas tua, cuius nos operam tam beneuolam tanta in re experli su-
mus, omnia ea de nobis sibi polliceatur, quae ab animo grato et maxi-
mis meritis obslriclo proficisci par est.
Dalum Romae apud Sanctum Petrum, sub Annulo piscatoris, die
secundo Decembris mdxxiii, Pontificatus Nostri Anno Primo. — Be. El.
Cremonensis V
Carta de D. llig^uel da i^ilva a el-Rei.
15:33 — Dezembro 9.
Senhor. — Po.r outros correios escreui a vosa alteza, e Ihe mandey o
breue ordinario do papa de sua eleicao; e porque o papa me deu neste ponto
de sua mao estoutro breve, que aqui mando a vosa alteza, dizendo me
que, asi como os servicos, que eu em nome de vosa alteza e per voso
mandado Ihe tinha feilos, erao fora de lodo custume, que asi queria dar
^ Abch. Nac, Mac. 37 de Bullas, n." 14.
TOMO u. 26
202 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
as gracas delles per carta apartada, e nara na forma em que aos outros
principes se escrevia, pareceo me necesario escrever a vossa alteza estas
pouquas Regras, porque nom tomasem este breve que Ihe escreve por
cousa hordinaria, porque o que ordinariamente se escreve a lodollos ou-
tros principes, e asi a vosa alteza pola oulra via, he muito diferente disto,
segundo pode ver; e he bem que asi a Reposta seja mui diíTereule do
que aos outros papas se escreve, porque o grande amor que papa cle-
mente sempre teve a el Rey voso padre, que deus tera, e este que agora
mostra a vosa alteza, he fora de todo custume. E da muila honra que
me o papa faz, e grande Amor que me mostra, me aproveitarey, nara
em cousa alguuma minha, mas ñas de voso servico, que, asi como to-
dollos servicos, que ao papa fiz em sua eleicao, que forao grandes e que
elle muito estima, se íizerao em nome de vosa alteza, e como por ex-
presso mandado vosso, asi forao Recebidos ; e asi o fruito delles nam ha
de ser senam em puro servico vosso, no qual espero de o fazer de ma-
neira que me deva vosa alteza e faca muito maiores merces, que as que
me o papa faria, quando tudo o que tenho feito em seu servico ouuese
de pagar a mim e nam a vosa alteza, em cujo nome se todo fez. Por
huum correo, que tras este vai, mando a vosa alteza as bullas d evora
lixboa e santa cruz origináis, cujos trcslados tenho mandados ha dias.
Beijo as maos de vossa alteza, cuja vida e Real estado noso senhor guarde
e acrecenté como deseja.
De Roma dous dias de dezembro 1523. — Dom miguell da sylua '.
Bulla do Papa Clemente l^ll, dirig^ida a el-Rei.
15^4 — Janeiro S.
Clemens episcopus seruus seruorum dei Carissimo in christo filio
Johanni Portugallie Regí Illuslri salutem et aposlolicam benedictionera.
Probata conslantis fidei sinceritas ac eximie deuotionis alTectus, quos
ad nos et Romanara gerere comprobaris ecclesiam, promerelur vt illa,
* Arch. Nac, Corp. Chron., Part. I, Ma^. 30, Doc. 55.
RELACOES COM a curia romana 203
que in lui ac tibi gratarum el in diuinis obsequentium personarum per
predecessores nostros concessa comperimus, apostólico munimine robore-
mus, aliaque de nouo concedamus, prout in domino expediré conspici-
mus. Dudum siquidem felicis recordationis Leo papa x predecessor nos-
ter ad siipplicalionem clare memorie Emanuelis Porlugallie el Algarbio-
rum Regis geniloris lui, lunc in humanis agenlis, omnes el singulas cau-
sas, conlrouersias, liles el quesliones beneficiales el prophanas ac Ciuiles
conlra Capellanos ac Canlores el scolares Capelle ipsius Emanuelis Re-
gis, seu eorum aliquem in ea actu seruienles, exlra Romanam Curiam
coram quibusuis Judicibus el Commissariis indecise pendenles, ad se ad-
uocauit, el illas diieclo filio Capellano maiori dicte Capelle per eum in
slatu debito reassumendas, audiendas, cognoscendas, fineque debito ler-
minandas, commisit, ipsumque Capellanum maiorem, qui pro témpora
foret, Judicem Ordinarium, coram quo et nullo alio dicti Capellani Can-
tores el scolares in quibusuis causis valerenl conueniri, consliluit et de-
putauil; necnon quod ordinarii locorum, vel aüi quicunque Judices in
maiore vel alios Capellanos Cantores et scolares, ac tum in dicta Capella
deseruientes el solila ibi slipendia percipientes, nuUam penilus superiori-
tatem, dominium, potestalem, et iurisdictionem valerenl exercere, sed es-
senl ab alus prorsus exempti, et inferiores Capellani Cantores el scolares
prefali dicto maiori Capellano eiusque iurisdidioni superioritali el domi-
nio immediate subiacerent, lenerenturque coram eodem Capellano maiori,
aut Legalis vel delegatis sedis apostolice dumtaxat, de se querelanlibus
de iusücia responderé ; quodque idem Capellanus maior vel eius locum-
tenens inferiores Capellanos Cantores el scolares prediclos, qui pro tem-
pore proplcr manuum violenlarum in se ipsos iniectionem, dummodo mem-
brorum mulilatio seu enormis lesio exinde non procederet, senteutiam ex-
communicalionis incurrerenl, seu eorum quilibet incurrerel, ab huius-
modi excommunicationis sententia iniuncta excedentibus pro modo.culpe
penilentia salutari absoluere, et cum eis super irregularilate si quam hu-
iusmodi excommunicationis sententia ligali Missas el alia diuina officia,
non lamen in contemptum clauium, celebrando, et illis se immiscendo
contraherenl, dispensare, el ab eis omnem inbabililalis et infamie macu-
lara siue nolam per eos inde contraclam penilus abolere. Infantes quo-
que el Judeos ac Sarracenos id sponte pétenles in eiusdem Emanuelis Re-
gis presentía debitis solemnitalibus adhibilis Baptizare, ac ipsi Emanueli
26*
20 i CORPO DIPLOMÁTICO POUTUGUEZ
Regí ac Inferioribus Capellanis, Canloribus, scolaribus, omnibusque alus
et singulis in dicta Capella pro tempore aclu seruienlibus et residentibus,
Penilenlie Eucharislie etalia ecclesiaslica sacramenta, quotiens foret opor-
tunum, ministrare; et tam Emanueiem quam Inferiores Capellanos Can-
toros, scolares et semientes huiusmodi, etiam in casibus Episcopalibus,
absoluere, et illorum decedentium corpora ecclesiastice sepulture Iradere,
eisdemque Inferioribus Capellanis Cantoribus et scolaribus deseruienlibus,
qui ad ecclesiaslicos ordines promoueri vellent, vt quilibet eorum a quo-
cumque mallet Calholico Antistite gratiam et communionem dicte sedis
habenle huiusmodi ordines statutis a iure temporibus successiue recipere,
ac ipsi Antisliti quod illos eis si alias ad id ydonei reperti forent impen-
deré. Quodque Capellani Cantores et scolares prefali, etiam si Religiosi
essent, horas canónicas et diuina officia iuxta vsum dicte Romane eccle-
sie dicere et recitare, necnon ipse Capellanus maior pro se et alus Ca-
pellanis prediclis oblaliones, que de manu ipsius Emanuelis Regis et si-
milis memorie Marie Carissime in christo filie nostre, tune ipsius prede-
cessoris Coniugis, Portugallie et Algarbiorum Regine lUustris, ac eorun-
dem Emanuelis et Marie Regine filiorum et filiarum, etiam in quacunque
ecclesia, etiam domus fratrum ordinis Mendicantium, ad quam Regem el
Reginam eorumque liberos pro tempore declinare contingeret, dummodo
ipsi Capellani diuina officia inibi celebrarent et cantarent, quemadmodum
in eadem Capella recipere consueuerat, recipere. Idemque Capellanus
raaior vel eius locum lenens matrimonium quaruncunque Nobilium per-
sonarum contracta et contrahenda in ipsorum Regis et Regine presentía
solemnizare et publice benedicere, cuiusuis licentia super eo minime re-
quisita. Et quolienscunqne et vbicunque in Missarura solemniis predica-
lionis ministerium in Regis et Regine huiusmodi presentía per eundem
Capellanum maiorem uel aliura publice proponi contingeret, verbum dei
illud yroponens. Ómnibus veré penitentibus et confessis ibidem presenti-
bus ducentos dies de iniunctis eis penitentiis in domino relaxare. El de-
mum ipse maior el alii Capellani Cantores et scolares actu seruienles in
dicta Capella, domo seu Curia Regia ipsius Regis residendo, omnes et
singulos fructus, redditus et prouentus oranium et singulorum beneficio-
rum ecclesiaslicorum cum cura el sine cura, que in quibusuis ecclesüs
siue loéis obtinebant et imposterum obtinerenl, etiam si parrochiales ec-
clesie ve! earum perpetué Vicarie aul Canonicalus et prebende dignitales,
RELACOES COM a curia romana 205
personatus administraliones vel oflQcia, ¡n Cathedralibus eliam Melropoli-
tanis vel collegiatis, et dignilales ipse in Cathedralibus eliam Metropoli-
tanis post Ponüficales maiores seu Collegiatis ecclesiis huiusmodi princi-
pales forent, et ad dignitates, personatus, administraliones vel offieia huius-
modi consueuissent, qui per eleclionem assumi eisque cura immineret ani-
marum cum ea inlegrifate, quolidianis dislributionibus dumtaxat exceptis,
cum qua illos perciperent, si in eisdem ecclesiis siue locis personaliter
residerent, Ha vt ad residendum interim in eisdem minime tenerentur,
nec ad id a quoquam inuiti valerent coarctari percipere libere el licite
possent, apostólica aucloritate Emanueli Regi indulsit, ac maiori et alus
Capellanis Cantoribus et scolaribus, necnon Antisliü ac Prédicatori et lo-
cumtenentibus predictis, plenam et liberara ad premissa licenliam conces-
sit et eliam facultatem per quasdam. Et deinde pro eiusdem Emanuelis
Regis parte ipsi predecessori expósito quod cum a nonnullis nimium cu-
riosis hesilari diceretur an familiares el Curiales clerici in libris familia-
rium et Curialium eiusdem Regis descripli, propler senium vel aliud im-
pedimentum extra Curiara Regis huiusmodi illius slipendiis viuentes uel
aliquod officium de mandato eius exercentes, ac eorundem familiariura
et Curialiura clericorura familiares clerici benificio earundem lilterarum
gaudere deberent ; et proplerea ipse Emanucl litteras ipsas ad illos ac
eliam Curiara ipsius Regis, dura de loco ad locura ibat, sequenles, et ad
prefale Marie Regine familiares et Curiales clericos, extendi, illosque sub
eisdem lilteris comprehendi, ac quod Capellanus maior dicte Capelle Re-
gis, cum esset Episcopus, de causis matrimonialibus Curialium el fami-
liariura eiusdem Regis cognoscere posset cupiebat, idem Leo predecessor
per alias suas priraodictas litteras, quoad id \t illarura beneficio fami-
liares et Curiales clerici in libris familiariura et Curialiura eiusdem Re-
gis descripli, propler senium uel aliud impedimenlum slipendiis lamen
eiusdera Regis extra eius Curiara \iuenles, uel aliquod officium de ipsius
Regis mandato exercentes, ac eorundem familiariura et Curialiura cleri-
corura durataxat farailiares clerici gauderenl, Ulasque etiara ad clericos
Curiara ipsius Regis, dura de loco ad locura se conferret et in illa dege-
rent, sequenles, ac farailiares et Curiales eliara in minoribus ordinibus
constituli dicte Regine, Quodque Capellanus raaior dicte Capelle pro
tempore exislens, qui Episcopus foret, de causis matrimonialibus earun-
dem personarum in diclis lilteris comprehensarum cognoscere^ ac aliis
208 COKPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
Judicibus inhibere, el alia ¡n priniodiclis lilteris contenía exequi posset,
exlendit, declarauil, el ampliauit, prout in singulis lilleris prediclis ple-
nius conlinetur. Gum aulem, sicul exhibila nobis nuper pro parle lúa
pelilio continebal, lu cupias singulis lilleris prediclis pro illarum firmiori
subsislenlia aposlolice conlirmalionis robur adiici, pro parle lúa nobis fuit
humiiiler supplicalum vt lilleris eisdcm robur aposlolice confirmalionis
adiicere, aliasque in premissis oporlune prouidere de benignilale aposlo-
lica dignaremur. Nos igilur, luis honeslis desideriis annuere cupienles,
huiusmodi supplicalionibus inclinali, singulas Hileras prediclas, ac om-
nia el singula in lilis contenía, auclorilate apostólica lenore presenliura
approbamus et innouamus, supplemusque oranes el singulos lam iuris
quam facti defeclus, si qui forsan interuenerint in eisdem, Ac singulas
Hileras easdem in ómnibus el per omnia tibi suffragari deberé decerni-
mus, ac si tibi direcle et nominatim concesse forent : Non obstanlibus
Gonslilulionibus el ordinationibus apostolicis, necnon ómnibus illis, que
in singulis lilleris prediclis concessum est non obstare, ceterisque con-
trariis quibuscunque. Nulli ergo omnino hominum liceat hanc paginam
noslre approbalionis, confirmalionis, innoualionis, suppletionis et decreli
infringere, vel ei ausu temerario conlraire. Siquis aulem hoc atteraptare
presumpseril indignationem omnipolentis dei ac bealorum Petri et Pauli
apostolorum eius se noueril incursurum.
Dalum Rome apud Sanclum petrum Anno Incarnalionis dominica
Millesimo quingentésimo uigesimo tertio, Sexto Idus Januarum, Ponlifica-
lus noslri Anno Primo. — A. Gralia Dei '.
Breve do Papa Clemente l^II, flirig^ido a el-Rei.
151^4 — Marco 3.
Clemens papa vii Carissime in Ghristo fili noster salulem el apos-
lolicam benediclioncm.
Nouit ille, qui nichil ignoral, quo animi sludio, el quam singulari
• Abch. Nac, Mac. 11 de Bullas, n.' 19.
RELACOES COM a curia romana 207
fide opera et diligenlia, dura in minoribus eramus, clarae memoriae Ema-
nueli Genilori tuo, tune in humanis agenli, apud felicis recordalionis
Leonera papara x, praedecessorem et secundum camera fralrera patrue-
lem nostrura, in oranibus desiderüs suis inseruire conali seraper fueri-
mus, id quod Maiestas lúa nouisse polest neo oblita esse debct, nos non
minori anirai affeclu ei apud piae memoriae Adrianum papara yi, etiara
praedecessorem nostrura, quantum in nobis fuit, morera gerere desideras-
se, in eo praeserlira ut ecclesia visensis per dileclura filium nostrum Alfon-
sum sanclae Luciae in sepiera soliis üiaconura Cardinalera, fralrera gcrma-
num tuura, iilius Adrainistralorem, cui praefatus Adrianus praedecessor
TÜxbonensis et elborensis ecclesiarura adminislralionera concesseral, di-
mitlenda, dilecto filio Henrico eliara fratri tuo in nono aetatis suae anno
uel circa constiluto in similem adminislralionera concederetur ; quod cura
idera Adrianus praedecessor concederé pluriraura-grauarelur, Nos, ut d¡-
lectus filius Michael de Sylua orator tuus, vir suramae prudenliae et fidei,
nobisque raullis de causis acceplissimus, locuplelissimus leslis esl, con-
tinuis persuasionibus et obnixis praecibus ab eo tandera, non sine suni-
ma difficullale, obtinuimus ut eidera Henrico dictae ecclesiae visensis fru-
ctus concederentur, litulus uero personae per eandera Maieslatera luam
nominandae daretur, in quo ipsi Maieslali luae ac nobis pro ea procuran-
tibus maguara et uberriraam graliam se fecisse pulauit, cura ob alia, tura
maxirae ob malara lemporura condilionera, quibus nefandissirai homines
huius sanclae sedis reclae gesta sacrilego ore damnare praesuraunl, ao
omnia ad Principura secularium nulum alque libidinera fieri calumnian-
tur, Quibus et alus ralionibus nos ac praefalus Michael oralor, qui no-
biscura tale negocium pari fide ac diligenlia procurabal, acquieuimus ac
graliam, quara idera Adrianus praedecessor se conccssurura fore promi-
serat, pro tali accepimus. Postquara uero, praefalo Adriano praedessore
uita fundo, ad summi aposlolalus apicera diuina fauenle clemeniia assum-
pli fuimus, idemque Michael oralor graliam, quam simul a dicto Adriano
praedecessore oblinere conali fueramus, a nobis eo maiore inslanlia alque
fiducia peleret, quo nos ad eam ab ipso Adriano praedecessore conse-
quendam promplos alque solícitos cognoueral, ac iisdera ralionibus, qui-
bus apud eundem Adrianura praedecessorem nos nixi fueramus, ipse quo-
que apud nos nileretur, praeserlira quod Romani Ponlifices consueuissenl
orones gratias in sui Ponlificalus initio Regibus concederé, et quod ipse
208 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
Leo praedecessor maiorem graliam eidem genitori tuo non dcnegasset ipsi
Alfonso Cardinali lunc in minori aelale constilulo egilaniensem ecclesiam
in adminislralionem concedendo, nec deberé nos graliam, quam pro Ma-
ieslate tua ab eodem Adriano praedecessore tam instanler supplicauera-
mus, eam nunc sibi a nobis supplicanti denegare. Nos considerantes illas
raliones, quae praefalum Adrianum praedecessorem a dicta gratia con-
cedenda dissuaserant, minime cessasse, témpora uero, quae máxime tuno
obslabant, mullo nunc deteriora esse, inter alia ipsi Michaeli oratori res-
pondimus multa per nos, dum pars eramus, sub aliquo honeslalis prae-
textu peli potuisse, quae nunc, postquam Judex facti sumus, iuste con-
cedi non possunt, el multo diligentiores nunc esse deberé in concedendo,
quam tune eramus in petendo, proraisimusque nos diclae ecclesiae \i-
sensi de persona idónea per Maiestatem tuaní nominanda prouisuros fore,
reseruatis fruclibus ipsi Henrico, uel alteri, quem Maiestas tua nominan-
dum duxerit. Consideret igilur serenitas tua nos, qui ex ómnibus Cris-
tianis Principibus eam surama cordis sinceritate diligimus atqúe amamus,
ipsiusque honorem non minus quam proprium noslrum cordi habemus,
non libenter ei quicquam denegare ; Sed cum pasloralis officii nostri sit
praesertim Cathedralibus ecclesiis de personis idoneis el in legitima uel
saltem adulta aefate constitutis prouidere, cogimur oíTicii nostri huius-
modi memores esse, nec tam quid Reges homines uelint, quam quid Rex
Deus iubeat attendere. Quare Maiestalem tuam hortamur ul cum plures
, in Regno luo praelatos babeas mullís virtulibus atque animí dotibus in-
signes, ac de praefalo genitore luo ipsaque Maiestale tua beneméritos,
in aliquem eorum oculos dirigas, quem nobis nominandum existimes; spe-
ramus enim Deum Maieslalis luae cor illuminalurum fore ad personara
aüquam nominandam, ob cuius promolionem per nos faclam successu tem-
poris adeo gaudebil atque laetabitur, ut máximas nobis gratias aclura
sit quod illi tale consilium dederimus, quod in dies magis utile ac sa-
piens fuisse sentiet. Quod si Maiestas tua dictara ecclesiam visensem ei-
dem Antonio Cardinali (sicj potius restituí uellet, quam alium nominare, id
quod praefatus Michael oralor tuo nomine saepius a nobis petiit, et quo-
tidie pelere non cessat, quanuis tot ecclesias uni concedi non debeant,
luis tamen in nos el hanc sanctam sedera meritis adducli, promitlimus
accepla super hoc uoluntate tua ipsi Maieslati luae nos satisfacluros fore.
Datura Romae apud Sanclura Petrum, sub Annulo piscaloris, die ni
RELACOES COM A CURIA ROMANA 209
Marlü MDXXiiH, Pontificalus Nostri Anno Primo. — Be. EL Cremonen-
sis '.
Breve do Papa Clemente Til, dirigido a el-Rei.
1594— Marco 9.
Clemens papa vii" Filho nosso In christo muyto amado saude e apos-
tólica bencam.
Os dias passados Leo papa x° da benauenturada memoria nosso primo
e predecessor, Sendo Ihe dicto por parle de teu padre Manuel da clara
memoria Illuslre Rey de portugal e dos algarues que asy elle, como
Joanne da clara memoria Rey seu predecessor sendo viuo, lendo em
áfrica algus mouros a seu seruico e soldó, com seu deligenle e fiel ser-
uico com ajuda do Senhor muytas victorias contra os Imigos ouueram e
estenderam seu poder e Reyno, E por ter esses mouros mais seguros
acustumaram enuiar aos capitaes dos dictes mouros alguas raerces e ar-
mas com que Ihes parecía que elles folgariam ; E ainda que o dicto Rey
Manuel cria que asy a elle, como ao dicto Joanne seu predecessor, era
licito Isto fazer sem scrupulo de consciencia, porem por mor clareza de
consciencia elle deseiasse aver da See apostólica absolucam e licenca ao
deanle, o mesmo liara em esta parte Inclinado á suplicacam do dicto Ma-
nuel Rey, per suas letras em forma de breue per apostólica auctoridade
asolueo os diclos Joanne e Manuel Reys de quaesquer Sentencas censu-
ras e penas d escomunham, e d outras quaesquer ecclesiaslicas penas, se
por razara do que dicto he em alguas ouuessem encorrido, segundo as
bullas apostólicas que se custumara pubricar na cea do Senhor, E deu
ao dicto Manuel Rey e a seus socessores comprida licenca e faculdade
liure de sera receo de alguma censura e sem scrupulo de consciencia en-
uiar aos dictos mouros e a quaesquer outros Infieis, que entam ou por os
lempos andassera em guerra contra outros Infieis, pelleiando a seu soldó
ou cusía, quaesquer armas que quisesem, e quaesquer merces que fos-
* Abch. Nac, Mac. 19 de Bullas, n.» 9.
TOMO II. 27
210 COUPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
sem somenle pera vso de suas pesoas, em o que de sua mageslade con-
fiaua, segundo em o breue do diclo Leo nosso predecessor sobre o dicto
caso feylo mais largamenle se conlynha. Porem, poslo que lúa mages-
lade crea por razam desla licenca e faculdade concedida ser a elle a mes-
nia licenca e faculdade concedida, por ser socessor em o Heyno do diclo
Manuel Rey, com lodo por mor seguridade deseia as dictas letras de con-
cessam e licenca e faculdade sobredicla serem aprouadas e confirmadas
per nos e per esta Sánela See apostólica. Pollo qual nos, o qual, quanlo
com Deus podemos, de boa vontade as supricacoes de lodos os Reys,
mormenie dos deuotos desla Sánela See, concedemos, Inclinados a lúas
sopricacoes, per apostólica aucloridade per o leor das presentes aproua-
mos e confirmamos as dictas letras e licenca e faculdade, E por mais se-
gura cautela per a dicta aucloridade e leor damos a lúa mageslade li-
cenca e faculdade enteyra e liure de enuiar quaesquer merces e armas
aos dictos mouros, e a outros Infieis, que, como he diclo, andarem na
guerra a leu soldó ou cusía, ou Em outra maneira quando a ly parecer
que conuem, e esto sem medo de alguma censura ou scrupolo de cons-
ciencia sobre o qual nos a lúa encarregamos : Nam obslante quaesquer
Constituicoes, ordenacoes apostólicas, e todas aquellas que o dicto nosso
predecessor derogou, e outros quaesquer contrairos etc. a vii de marco
de 1524 K
Breve do Papa Clemente \ñW, dirigido a el-Rei.
1K34— Abril 9.
Clemens papa vii Carissime in chrlsto fili nosler salutem el Apos-
lolicam benediclionera.
Nisi honoris el norainis lui eam curam gereremus, quam nosler pa-
lernus in luam Serenilalem amor postula!, que ad nos delata sunl el quo-
• Arch. Nac, Mac. 15 de Bullas, n." 5. Tem no verso a cota .seguinte: Trelado do
breue do papa clemente pera elRey noso senhor da licenca pera poder mandar dar ar-
mas aos mouros. Nao encontramos o breve original.
RELACOES COM A CURIA ROMANA 2ill
lidie deferuntur non ila mouissenl animum noslrum, siciil nioiierunl, ut
hac de re primum cum Serenitate lúa agendum pularemus. Cum enim
ab initio iilorum lemporum, quibus clarae memoriae Emanuel genitor tuus
a regionibus orienlis omnium fere genera aromalum ad nosíras parles af-
ierre coepit, in omnium animis spes el laelilia exorla fuisset quod iilo-
rum el uberiorem copiara et faciliorem comparationem omnes fore arbi-
Irabanlur, res in conlrarium ila conuersa est ut ad nos et ad sedera a'pos-
tolicam quolidie ueniant querelae, nec iam singulatim, sed populariter im-
ploranlium auctoritatera nostrara et obsecranlium ut huic tanto totius Ita-
liae, ac fere reliquae Chrislianilalis incommodo sucurrere uelimus, quo- ~
rum nos preces ¡usías presertim non possumus negligere. llaque ad Se-
renitatem tuam scribendum duximus illam, in domino plurimum borlan-
tes ut re diligenter considérala remedium aliquod adhibere uelit, quo lan-
tum populorum ac genlium hoc inlolerabili onere leuelur, preter enim
aequum et debitum, cui tu salisfacere imprimís debes, Deoque esse gra-
lus, qui le ad reglara euexit dignilalem ut esses populis ómnibus profi-
cuus et salularis. i\os praelerea ad ueram ulililatem tuam et ad ueram
laudem perlinere arbilramur diminuere aliquantum de huiusmodi lucro, el
raullura iusti honoris acquirere. Ac de re mullí loculi sumus cora dile-
cto filio Michaele Silua oralore apud nos luo, qui uir prudens el admo-
dum probus audire poluit huiusmodi querelas et presens intelligere quan-
tum ob eam causara de serenitalis luae fama et gloria, si in eo persiste-
res, delraheretur, cui eliam conraisimus ut ad te scriberet. Nos, si tu,
queraadraodum quidem decet et fas est auctoritatera et gratiara nostrara
in re hac ualere, apud animum luura perraiseris, adhibuerisque operara
et diligenliara ut horum incomraodorura leuatio fiat, efficies rem Ubi, ut
uere iudicaraus, et ulilem et honestara, gratura ipsi quidera et raaxinie
acceplura a lúa Serenitate habituri sumus.
Datura Romae apud Sanclura Pelruní, sub annulo piscatoris, die ix
Aprilis MDXxiiii, Ponlificatus nostri anno Prirao. — la. Sadoktus '.
* Arch, Nac, Mac. 20 de Bullas, n.° 8.
27*
212 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
Carta patente do Cardeal Sautiquatro.
15«4— Abril lO.
Nos Laurentius, Miseratione diuina liluli sanctorum Quaüuor Coro-
natorum Sanclae Romanae Ecclesiae presbiter Cardinalis, ac Maior Poe-
nitentiarius, IJniuersis et singulis presentes liUeras nostras patentes ins-
pecturis fidem facimus et altestamur quatinus sanctissiinus in christo Pa-
ler et Dominus noster Dominus Clemens, diuina prouidentia Papa sepli-
mus, accepto quod alias a Sede apostólica clarae memoriae Emanueli Por-
tugalliae et Algarbiorum Regi, \t absque aliquo conscientiae scrupulo
aliquibus de Regia corona sua benemerilis aul alias sibi gratis in recom-
pensara seruitiorum et obsequiorura eidem Regi prestilorum, aut cassa-
tionem seu exlinctionem pensionum, uulgo tenzas nuncupatas, aut alio-
rum annuorum reddiluum, quos quandoque ^uper Regiis redditibus et
nonnunquam super preceptoriis seu coramendis aut mensa magislrali Mi-
litiae Jesu chrisli, cuius administrator perpetuus per sedem eandem de-
putatus erat, daré et assignare consueueral, Preceptorias seu commendas
ipsas dictae militiae libere et licite daré et conferre possel, viuae uocis
oráculo bonae memoriae Georgio Cardinali Portugallensi desuper facto,
concessum et indultum extitit, Ipseque emanuel Rex dicta facúltate vs-
que ad obilura suum libere semper vsus fuit, Serenissimo Domino Do-
mino Joanni moderno Regi eandem licentiam confirmauit seu de nouo
concessit. Necnon, vt símiles recompensas Preceptoriarum aut reddiluum
dictae uel cuiuscunque alterius militiae, pro dolibus diclarura persona-
rum elargiri, condonare et libere compensare possit et ualeat, ampliauil
et concessit; ac tara prefalum Emanuelem, quam ipsum Joannem Reges
de Preceptoriis seu commendis huiusmodi, absque licenlia sedis apostoli-
cae, per eos antea forsan concessis facto nobis desuper viuae vocis ora-
culo absoluit, In contrarium facienlibus non obstanlibus quibuscunque.
In quorum fidem dictas patentes lilteras fieri, ac magni sigiili noslri ap-
pensione per infrascriptum Secrelarium noslrum communiri fecimus ma-
nuque nostra propria subscripsimus.
RELACOES COM a curia romana 213
Dalum Romae in Palalio Apostólico, in camera noslrae solilae resi-
denliae, anno ab incarnatione Domini millesimo quingenlesimo vigésimo
quarlo, die \ero decima mensis Aprilis, Ponlificalus prefali Sanclissimi
Domini Noslri anno primo. — Ita est Laurentius liluli Sanctorum qua-
tuor Coronalorum presbiíer cardinalis manu propria subscripsi. — P.
Bombasius scripsil. ^
JBre^e do Papa Clemente ^11, dirigido a el-Rei.
1594— Malo 14.
^ Clemens papa vii Carissiirte in christo fili noster salulem et Apos-
lolicam benediclionem.
Habentes fidem eam in Serenitale lúa, qiiam tua et maiorum luo-
rum uirlus poslulat, nec dubilantes quin in omni re communem dei cau-
sam et slalum Chrislianae Religionis concernente Tu nobis sis et amo-
re et auxilio et diiigenlia affulurus, comraunicauimus nonnulla cum di-
lecto filio Michaele Silua oratore apud nos Tuo, quae is ad le noslro
nomine perscribere deberel, cuius lilleris ut fidem babeas tuam Sereni-
tatem magnopere in domino hortamur. Ac si inlelliges in tanto fidei christi
detrimenlo, ac chrislianarum plebium animarum exilio, nobis esse pro
paslorali oíficio ómnibus sollicitudinibus et sludiis elaborandum, ut ali-
quid afferre remedii tanlae labi possimus, erit proprium eius eximiae uir^
tutis, ac singularis erga deum religionis, quam Serenilas tua in omni re
ostendere solila est, suscipere parlem nobiscum tam pii operis, et tam
sancti ac necessarii laboris, quam Tibi non solum regni, sed eliam chris-
tianissime uolunlalis hereditalem maiores tui, et precipua clarae memo-
riae Emanuel Paler tuus, reliquerunt.
Dalum Romae apud Sanclura Pelrum, sub annulo piscatoris, die
xiiii Maii MDXxiiii, Ponlificalus noslri anno Primo. — la. Sadolelus ^.
^ Arch. Nac, Mac. 33 de Bullas, n." 10.
2 Ibi, Mac. 19 de Bullas, n.° 19.
214 GOaPO DIPLOMÁTICO POliTUGUKZ
Breve do Papa Cleineate ¥11, dirigido a el-Rei.
15^4 — díullio 1.
Clemens Papa vii Garissime in chrislo fili nosler salulem el Apos-
lolicaiíi benediclionem.
Accidit nobis perincommode in ipso prope inilio consiliorum nos-
trorum, quae pro summi dei honore, et Galholica fide, quae uel corru-
ptis moribus uel prauis opinionibus multuní labefactala est, in anliquum
decus reslituenda quolidie Iractamus, ul Serenilas tua per dileclum filium
Michaelem Syluam oratorem suum fsicJn\oh\s supplicarel tam uehemen-
ter ul nuper in luo regno uacanlis Visensis Ecclesiae adininislralionem
dilecto iiem filio Henrico infanli el fratri tuo germano concedereraus,
cui iampridem quoque esset altera similis ecclesia commendata. Nos enim
Ínter primas deliberationes nostras, quibus, si dominus opem lulerit, ue-
rae religionis saluti consulere cogitamus, hoc consUluimus nemini, qui
extra collegium Venerabilium fratrum nostrorum Sanclae Romanae Ec-
clesiae Gardinalium exisleret, duas ecclesias ulla omnino ralione esse com-
miltendas, Non quod hoc quoque de Gardinalibus exceptum ualde probe-
mus, sed quia nec possuraus omnia repetente, el illi tamen iure quodam
inueteratae consuetudinis in hac possessione sunt ; Alicui uero alleri hoc
Ídem si concedamus, patefaciendum nobis iter sil ad innumerabilem tur-
bara in simiiem cupiditatem uocandam. Decreuimus igitur, deo inspiran-
te, nemini omnino duas ecclesias committere, etsi enim faclitalum hoc
fuisse scimus et proximis et superioribus temporibus, quanto id lamen
populi christiani detrimento, quanta cum labe religionis faclum fuerit
etiam inlelligimus. Antiquis porro illis temporibus, quibus sanctissimi
Pontífices praedecessores nostri omnia ad deum et ad populorum salulem,
non ad graliara atque ambitum hominum referebant, seleris loco habitum
est duas uni ecclesias regendas mandare, semel fortassis, aut iterum le-
gitur faclum fuisse secus Sed ila ut si recle interprelari uelimus, quae
ralio efficil ut una uni dumtaxat ecclesia Iradenda sil eadem tune eíTe-
ceril Yt duae in una persona essent collocandae, uel enim exhauslis clade
RELACOES COM A CURIA ROMANA 215
aliqua populis propler raritatem eorum, qu¡ superfuerunt, duae in unum
plebes commixlae prope necessaiio sunt, iiel in finilimis et uicinis dua-
bus ecclesüs ita expetente et flagitante populo insignis et prudens el
religiosiis Episcopus duplici curae pracfeclus cst. Sed nos admoniti nimis
magno damno lolius chrislianae reipublicae qiiam non alia magis de causa
quam bonorum Episcoporum inopia laborantem, et ob id in máximas cul-
pas et uitia prulapsam grauis dei ira, ut manifestó cernimus, insequitur,
slaluimus, quantum nobis dominus opem dederil, non solum alia multa,
quae confusa sunt in debilum ordinem redigere, Sed huic quoque Epis-
copalis gradus incommodo subuenire ; neo tantum ut eos praeficiamus
huic honori, qui saluis sanclorum Patrum regulis praefici rile poterunt,
sed ut eos eliam, qui nunc sunt, et a uia et tramite aberrant honesta-
tis, ad memoriam ac cullum et dei et sui honoris omni cum cura reuo-
cemus. Itaque memores etiam sumus quid ad Serenilatem tuam proximis
scripsimus diebus, idemque nunc repetimus, tuain Serenilatem in domi-
no plurimum obleslanles, ul et quae tune per nos in eis litteris decreta sunt
ea executioni tradantur, et huius nostri salularis consilii decrelum tua
quoque uolunlale ob reucrenliam dei et inslauralionem immaculalac re-
ligionis possit manere saluum ; Nam si omisso dei omnipolenlis respectu
hominis alicuius habenda ralio esse, falemur Serenilatem Tuam omni pre-
mio honoris et liberaütalis noslrae dignissimam esso. Quid enim abest
Tibi, quod si adesset plus erga Te beniuolenliae gerere deberemus? Vir-
lus tua, et maiorum tuorum, palrisque tui precipue clara, et praeslans
recordatio, acliones ueslri generis semper ad chrislianilalis commodum
paratae, amor in Nos, et in hanc sanclam sedem singularis obseruanlia,
omnia denique eiusrnodi, ut nihil tantum sit quod non Tibi ac luis esse
debitum uideatur. Sed illud quoque a te deo ipsi, a quo tot dona adeplus
es, debelur ul per tuam aequanimitatem alque uirlulem, quae ad illius
honorem perlinent, et fidelium ipsius salulem continent, nostra cara et
solliciludine recle adminislrentur. Quamobrem da hoc nobis, el dei no-
mine et noslro postulanlibus, ut nostram hanc recusalionem pelitionis tuae
in optimam parlem accipias, alque hoc principium salubcrrimae delibe-
rationis lanti regis, nobisque ac sedi aposlolicae coniunclissimi repulsa
patiaris sanciri. Non enim propler hoc clausa Tibi erit liberalilas nostra,
multa euenient, in quibus reponemus quod nunc non csl dalum, el lanío
maiore studio compensabimus, quanlo maiore nunc doleré negamus Tibi,
216 CORPO DIPLOMÁTICO POKTÜGÜEZ
quod omnipotenli deo daré potius decreuimus. Tu uero si le respeclus
dei, id quod semper fecit, nunc eliam commouel, quando de hac Eccle-
sia ad luam poslulalionem prouidere nunc inslituimus, eüge honiinem a
cupidilale alienum, qui deum limeat, el uilae ac conlinentiae salularc
cunclis praebeal exemplum, in quem nos libenlissime huno honorem con-
feremus. Talibus enim profeclo inlermedüs el Ponlificibus apud deum qui
pro populorum peccalis salisfaciunt, el exorabiles fundanl preces, el tua
Serenilas el orbis chrislianus ¡ndigel uniuersus, cuius assidue calamila-
les, clades, ruinae el nos el Te el unumquenque admonenl, ul eum al¡-
quando propiliare sludeamus, qui unus spes noslra esl recuperandae sa-
lulis, qui allissimum posuit refugium suum, ad quod non acccdil malum.
In qua el uolunlate etsentenlia Serenilatem luam non dubüamus pro ma-
ximis in eam a deo collalis beneficüs esse nobiscum conuenluram.
Dalum Romae apud Sanclum Petruní, sub annulo piscaloris, die pri-
ma Julii MDXxiiii, Ponlificatus noslri anno Primo. — la. Sadolelus '.
Carta de el-Rei ao Papa demente ¥11.
1524— Jumo ...
Muylo Samto in chrislo padre e muylo beem aventurado Sennor o
Tosso deuoto e obediemte filho dom Joam, per graca de deus Rey de por-
lugal e dos algarues d aaqueem e d aleem mar em áfrica, Sennor de
guiñee, e da comquisla e navegacam e comercio de eliopia, arabia, per-
sya e da Imdia, com toda omildade emvio beijar seus Samtos pees.
Muylo Samlo In chrislo padre e muylo beem aveenlurado Sennor,
eu spreuo a dom miguel da Sylua, do meu comselho e meu embaixador,
que fale a vossa Sanlidade alguumas cousas tocamtes a meu casamento
com a lilustrissima e muy eixcelenle princesa Ifante dona Caíerina, Ir-
maa do emperador meu muylo amado e precado primo, que com a graca
de nosso Senhor eslaa comcerlado e acabado, e sobre a dispensacam que
soprico e peco muylo por mercee a vossa Santidade que conceda pera
^ Abch. Nac, Mac. 26 de Bullas, n.° 20.
RELACOES COM a curia romana 217
nos casarinos por palauras de preseemte como manda a madre samta
Igreja, segundo que compridamente o dito meu embaixador Iho falará.
Soprico e peco muylo por mercee a vosa Samtidade que em ludo o queyra
ouuyr e Ihe dee Inteira fee e crenca, e em muy Symgular mercee ho
Receberey.
3Iuyto Samto In christo padre e muyto beem aventurado Senñor,
Noso Senñor comserue vosa Sanlidade por niuytos teempos a seu Samto
seruico.
Sprita em evora a .... dias de Julho de 1524 ^
Breve do Papa Clemente l^II, dirigiflo a el-Rei.
1524— «rnllio S9.
Clemens papa vii Carissime in Christo fili noster salutera et Aposlo-
licam benedictionem.
Tuae Serénitatis litteras, Calendis Maii datas, libentissime legimus
plenas oíTicii, anioris, obsoruantiae, quae nobis plañe ante oculos posue-
runt id, quod niinime fucrat dubium, singularem te ex nostrae amplifi-
catione dignitatis caepisse uoluptatem, quod etsi mérito iureque facis,
proptorea quidem, quae nostrae perpetuae et muluae beniuo'.entiae con-
iunctio omnia ¡nter nos iubet esse comniunia, et utrumque nostrum uult al-
terum alterius commodis lanquam suis laetari, Tamen clarissimi regis omne
officium ipsius teslatum litleris uberem et iucundam nobis attulit sui opti-
nii animi erga nos significationem, oíficia quidem tuorum, ac dilecti fdü
Michaelis syluae oratoris tui in ipso incremento dignitatis nostrae, ut an-
tea etiam scripsimus, eiusmodi extiterunt, ut facile appareret nihil iilum
existimare faceré posse Tibi gratius, quam si ómnibus studiis declararet
laetissimam Tibi fore et optalissimam hanc assumptionem ad Pontifica-
luní noslram. Quod quando diuino incredibili beneficio Tuae Serenitati
ex sententia, Nobis supra merita el supra uires nostras, accidit, primum
quidem perfugium spei nostrae benegerendi tanti honoris in ipso deo om-
* Minuta no Arch. Nac, Gav. 13, Mac. 8, n.° 26.
TOMO U. 28
218 GORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
nipolenle collocauimus, Deinde uero in eis regibus ac principibus, qui
multorum ac miignorum munerum, quae deo referunl accepla, eidem deo
grati esse cupiunl. In qua pia et praestanli uolunlate Serenilalem tuam
certi sumus non postremas apperiluram parles, Nam el uirlu\is tuae su-
mus conscii, el clarae memoriae patris, maiorumque tuorum heredilariam
in Te pietalem agnoscimus. Qua propler, sicuti nos ambos dominus deus
uno lempore suorum fidelium populorum regendorum administralores esse
uoluil, ¡la ad nos perlinet pro coniunclione animorum el beniuolenliae
nostrae in hac praeclara socielale tanli muneris ad illius nomen el glo-
riara, qui omnium bonorum auclor ómnibus est, tuendam alque amplifi-
candam esse concordes. Quod de nobis polliceri, de Te expeclare certo
possumus.
Dalum Romae apud sanclum Pelrum, sub annulo Piscaloris, die xxix
Julii MDXxmi, Ponlificalus noslri anno Primo. — la. Sadolelus^ .
Bulla do Papa Clemente \WM, dirig^ida a el-Rei.
15194— Ag^osto 25.
Clemens episcopus seruus seruorum dei Charissimo in chrislo fiüo
Johanni Porlugallie el Algarbiorum Regi Illuslri, ac dilecte in chrislo filie
nobili Mulieri Calherine, clare memorie Philippi Gaslelle et Legionis Re-
gnorum Regís Gatholici nate, Salulem et apostolicam benediclionem.
Exponi nobis nuper fecisli per dileclum filium nobilem virum M¡-
chaelem de Sylua, luum, fili charissime Johannes Rex, apud nos el se-
dem apostolicam Oratorem, quod vos pro conseruandis inler vos veslros-
que consanguíneos el affines pacis el amicilie federibus, sicut et inler ues-
tros etiam predecessores simili modo seruala fuerunl, desideralis inuicem
malrimonialiter cupulari ; sed quia secundo ex eo prouenienle quod dua-
rum Sororum filii eslis, ac alias Secundo el Terlio ac duplici quarlo, et
forsan alus de quibus notitiam non habetis, infra lamen secundum con-
sanguinitatis gradura, gradibus inuicem eslis coniuncti, vestrum in hac
> Ahch. Nac, Ma?. 19 de Bullas, n.° 13.
RELACOES COM a CUíUA romana 219
parle desiderium adimplere non poteslis dispensalione apostólica super hoc
non óblenla ; Quare idem Michael Oralor pro parle veslra nobis humili-
ler supplicauit ut Vobis super hoc de oporlune dispensationis gratia pro-
uidere de benignitale aposlolica dignaremiir. Nos ¡gitiir, si qua alia im-
pedimenla ralione consanguinitatis uel affinilatis huiusmodi, quorum non
recordamini el forsan nolitiam non habetis, dummodo citra Secundum
gradum Consanguinilalis et aííinilalis huiusmodi fuerinl, presenlibus pro
expressis habenles ex premissis ac cerlis aliis causis nobis expositis, hu-
iusmodi supplicalionibus inclinali, Vobiscum, dummodo Tu in chrislo filia
Catherina propler hoc rapta non fueris, ut predictis et aliis forsan pro
expressis habilis impedimentis Consanguinitatis et aííinitatis huiusmodi
non obslantibus, malrimonium inler vos conlrahere, et in eo postquam
contraclum fuerit remanere, libere et licite ualeatis, apostolicis ac in pro-
uintialibus etsynodalibus Conciliis editis, generalibus uel specialibus, Cons-
titulionibus et ordinationibus, ceterisque contrariis nequáquam obslanti-
bus, auctoritate apostólica tenore presentium dispensamus, ac prolem ex
huiusmodi matrimonio suscipiendam legitimam nunciamus.
Dalum Rome apud Sanctum petrum Anno Incarnalionis dominice
Millesimo quingentésimo uigesimo quarto, Octano Kalendas Septembris,
Pontifieatus noslri Anno primo \
nreve do Papa Clemente l^II, dirigido a el-Rei.
1594— Agosto 99.
Clemens papa vii Garissimi in chrislo fili noster salulem et aposlo-
iicam benediclionem.
Cepimus magnam animi laetitiam ex eo nuncio, quem de noua tuae
serenitatis cum Serenissimo Caesare aíTmilalis coniunctione et litlerae tuae
et dilecli filii Michaelis Syluae oratoris lui sermo nobis altulerunt, pro-
pler eximium quidem ac palernum nostrum in ulrunque ueslrum amorem
alque animum, Nam cum Caesaris ipsius causa omnia cupimus, lum lúa
^ Arch. Nac, Mar. 37 de Bullas n." 11 e Gav. 9, Mac. 4 n." 6.
28*
220 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGÜEZ
et patris, maiorumque luorum in hanc sanclam sedem oííicia, nobis sunt
cordi. Gaudemus igitur et gratulamur in domino vlrique uestruní, ,\'ete-
remque uestram consanguinilatem hac quoque necessitudine inslaurari et
corroborari máxime laetamur, Cumque ambos summe deligamus, mutuam
quoque inter uos beneuolentiam, bis quoque uinculis illigatam, et perpe-
tuam esse et felices exitus habere desideramus, Quod eliam confidimus
diuina bonitale freli certo fulurum esse. Nos, quao noslrac parles fue-
runt, fecimus lihentissime \t quod ad dispensalionem pcrlinebat propin-
quitatem graduum impedimento esse non deberé decernercmus. Ñeque
hac dispensatione, quae ad pacom et ad concordiam chrislianaeque rei-
publicae commodum spoctat, sanclius et salularius existimamus esse, quic-
quam Benignilatem uero noslram, quam libi semper uolunius esse para-
tam, ita temperauimus, \t tuam quoque serenitalem ueünuis in bohara
partera accipere aliquid maximis necessilatibus sedis apostolicae a nobis
fuisse datura. Deum omnipotcntcm supplices deprecamur vt ueslrae nunc
mentes coniunctae inter se ad dei honorem ac nomen propagandum, tran-
quillitatemque et pacen» christianitalis couriciendam, tendant atque con-
sentiant. Idquc cum uestra laude et peremni vtililate ita fíat vt christiana
respublica bonam partera salutis suae vtrisque nobis referat acceptam.
Quae omnia ab eodem oratore tuo nostris uerbis latius intelliges, cui íidem
habebis.
Datura Romae apud sanctum Petrum, sub annulo piscatoris, Die xxvii
Augusti MDXXiiií, Pontificatus Nostri Anno Primo. — la. Sadoletus '.
* Arch. Nac, Ma?. 20 de Bullas, n." 22, O documento n.° 6 d'este mafo e outro
breve do mesmo theor, havendo tambem urna versáo d'elle emportuguez no Corp. Chron.,
Part. I, Mac. 31, Doc. 51.
RELACOES COM a curia romana 221
Bulla do Papa Clemente TU, dirigida a el-Rei.
15;S4 — Setembro O.
Clemens episcopus seriuis seruoriim dei Carissimo in christo filio
Johani Portugalie et Algarbiorum Regi lllustri Salulem et apostoücam be-
nediclionem.
Gratie diuine premium et humane laudis preconiíiin acquiritiir si
seculares Principes ecclesiariim Prelatus, presertim Pontificali dignitate
predilos, diuine propiliationis intuitu oportuni fauoris gratia prosoqiian-
tur. Hodie siquidem ecclesie Visensis, tune certo modo, qiiom oliam si
ex illo queuis generalis reserualio etiam in corpore iuris clausa rosulta-
ret tiaberi voluimus pro expresso, Pastoris solacio destitule, de persona
dilecti filii Johannis Electi Visensis, nobis et fratribus nostris oh suorum.
exigentiam meritorum accepta, de fratrum eorundem consilio, apostólica
auctoritate prouidimus, ipsumque illi prefecimus in Episcopiiui el Pasto-
rem, curam et administrationem ipsius ecclesie sibi in spiritualibus et
temporalibus plenarie committendo, prout in nostris inde confectis litte-
ris plenius continetur. Cuní igitur, fili carissime, sil virlutis opiis dei mi-
nistros benigno fauore prosequi, cosque verbis et operibus pro Regis eterni
gloria veneran, Serenitatem tuam rogamus et horlamur atiente quatinus
eundem Johannem Electum, et prefatam ecclesiam sue cure eommissam,
habens pro nostra et apostolice sedis reuerentia propensius commendatos,
ipsos benigüi fauoris auxilio prosequaris, Ha quod idem Johannes Eleclus
celsiludinis tue fultus presidio in commisso sibi cure Pastoralis oíficio pos-
sit deo propicio prosperan, ac libi exinde a deo perenius vite premium
et a nobis condigna proueniat graliarum aclio.
Datum Rome apud Sanclum pelrum Anno Incarnationis dominice
Millesimo quingentésimo vigésimo quarto, Quinto Idus Septembris, Pon-
tificatus nostri Anno Primo — A. de Castillo '.
^ Abch. Nac, Mac. 18 de Bullas. n.° 45.
222 CORPO DIPL(3MATIG0 PORTUGÜEZ
Bulla do Papa Clemeutc \11, dirigida
ao Blispo eleito de \íxeu,
15^4 — Setembro 9.
Clemens episcopus seruus seruorum dei dilecto filio Johanni Eleclo
Visensi Salulem et apostolicam benedictionem.
Aposlolatus officiiim, quamquam insiiííicienlibus meritis nobis ex alto
comrnissum, quo ecclesiarum omnium regimini presidemus, vlililer exe-
qui coadiuuanle domino cupientes, solliciti corde reddimur et solertes vt,
cum de ipsorura regiminibus agitur commiltendis, tales eis in Pastores
preficere studeamus, qui populum sue cure creditum sciant non solum
doctrina verbi sed eliam exenoplo boni operis informare, commissasque
sibi ecclesias in statii pacifico el tranquillo velint et valeanl, duce domi-
no, salubriter regere et feliciler gubernare. Sane ecclesia Visensis ad pre-
sens certo modo Pastoris regimine destituta. Nos verum vltime dicte ec-
clesie vacationis modum, etiam si ex illo queuis generalis reserualio, etiam
in corpore iuris clausa, resultet, presentibus pro expresso habentes, ac
ad prouisionem ipsius ecclesie celerem et felicem, ne ipsa ecclesia longe
vacationis exponatur incommodis, paternis et sollicilis studiis intendentes,
Post deliberationem quam de preficiendo eidem ecclesie personam vlilem
et etiam fructuosam cum fratribus nostris habuimus diligenlem, Demum
ad te ordinis fratrum minorum et Theologie Professorem, ac in sacerdo-
lio et etate legitima conslitulum, cui apud nos de Religionis zelo, vile
mundicia, honéstate, morum spirilualium prouidentia, et temporalium cir-
cunspectione, aliisque multiplicum virlulum donis fidedigna testimonia
perhibentur, direximus oculos nostre mentis, quibus ómnibus debita me-
dilatione pensatis, de persona tua nobis et eisdem fratribus ob luorum
exigentiam meritorum accepta eidem ecclesie de ipsorum fratrum consi-
Üo auctoritale apostólica prouidemus, teque illi preficimus in Episcopum
el Pastorem, curam et adminislralionem ipsius ecclesie libi in spiriluali-
bus et lemporalibus plenarie commitlendo, In illo qui dat gralias et lar-
gitur premia confidentes quod dirigente domino actus luos prefala eccle-
RELACOES COM a curia romana 223
sia sub tuo felici regimine, gralia Ubi assislente diuina, regeluv vtililer
et prospere dirigetur, ac grata in eisdem spiritualibus et temporalibus sus-
cipiet incrementa. Jugum igiliir domini luis impositum humeris prompla
deuotione suscipiens, curam et administrationem prediclas sic exercere
studeas soUicite fideliter et prudenler, qiiod ipsa ecclesia gubernalori pro-
uido et fructuoso administratori gaudeat se commissam, tuque preter eter-
ne retributionis premium nostram et apostollice sedis benedictionem et
gratiam ex inde vberius consequi merearis.
Datum Reme apud sanclum petrum Anno Incarnationis dominice
Millesimo quingentésimo uigesimo quarlo, Quinto Idus Seplembris, Pon-
tificatus nostri Anno Primo — A. de Castillo ^
Bulla do Papa Clemente Tu, dirlg;ida
ao Biispo eleito de Tizeu.
1594 — ¡Setembro 9.
Clemens episcopus seruus seruorum dei Dilecto filio Johanni de Gha-
ues, ordinis fratrum minorum et Theologie professori, Salutem et apos-
tolicam benedictionem.
Romani Pontificis copiosa benignitas de slatu personarum ecclesias-
licarum quarumiibet, presertim litterarum scienlia preditarum, et at Pon-
lificalem dignilatem assumendarum quas oporlet omni carere macula, ne
tanti culminis censeantur inhábiles, sollicite considerans, ad ea libenter
infendit per que persone assumende predicte ecclesiis sibi commissis sin-
cero corde et pura conscientia valeant salubriter presidere. Gum ilaque
nos hodie ecclesie Visensi, certo modo Pastoris solatio destilute, de per-
sona tua nobis et fratribus nostris ob tuorum exigentiam meritorum ac-
cepta, de dictorum fratrum consilio prouidere, leque illi in Episcopum
et Pastorem preficere intendamus, Nos, ne prouisio et prefectio predicte,
si forsan aliquibus sententiis et censuris ecclesiasticis ligatus sis, valeant
propterea inualide reputari, prouidere volenles, te a quibusuis excommu-
' Akch. Nac, Mac. 18 de Bullas, n." 30.
224 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
nicationis suspensionis el inlerdicli, alüsque ecclesiaslicis sententiis cen-
siiris el penis a ¡are uel ab homine quauis occasione vel causa lalis, si
quibus quomodolibel iiinodahis existís, ad hoc dumtaxat vt prouisio el
prefeclio predicle ac sifigule ütlere apostolice desuper conficiende suum
consequanlur' eííeclum, auclorilate aposlolica tenore presentium absolui-
mus el absolulum fore nunliamus : Non obsfanlibus Gonsliluiionibus el
ordinalionibus apostolicis, ac dicle ecclesie necnon ordinis fralrum niino-
rum iuramenlo, confirmalione aposlolica, vel quauis firmilate alia robo-
ralis, slalulis el consuetudinibus, quodque dicli ordinis professor exislis,
celerisque conlrariis quibuscunque. Nulli ergo omnino hominum liceal
hanc paginam noslre absolulionis infringere, vel ei ausu temerario con-
traire. Siquis aulem hoc allemplare presumpseril indignalionem omnipo-
lenlis dei, ac bealorum Pelri el Pauli Aposlolorum eius, se noueril in-
cursurum.
Datura Rome apud Sanclum pelrum Anno Incarnalionis dominice
Millesirao quingentésimo uigesimo quarlo, Quinto Idus Seplembris, Pon-
tificatus noslri Anno Primo '.
Bulla do Papa Clciueiite l^II, dirigida
ao il.rceblsipo de Braga.
15S<i — iSetembro 9.
Clemens episcopus seruus seruorura dei Venerabili fralri Archiepis-
copo Bracharensi Salulem el aposlolicam benedictionem.
Ad cumulum lúe cedil salulis el fame si personas ecclesiasticas, pre-
serlim Ponlificali dignilale preditas, diuine propitiationis inluilu oportuni
presidii ac fauoris gralia prosequaris. Hodie siquidom ecclesie Visensis,
tune cerlo modo, quem eliam si ex illo queuis generalis reseruatio eliam
in corpore iuris clausa resullarel, haberi voluimus pro expresso, pasto-
ris solacio deslilute, de persona dilecli filii Johannis Elecli Visensis, no-
bis el fralribus noslris ob suorum exigentiam meritorum accepla, de fra-
' Abch. Nac, Ma?. 18 de Bullas, n.» 46.
RELACOES COM a curia romana 255
Irum eorundem consilio, apostólica aucloritale prouidiraus, ipsumque illi
prefecimus in Episcopum el Pastorem, curam el adminislralionem ipsius
ecclesie sibi in spirilualibus el temporalibus plenarie commiüendo, prout
in noslris inde confeclis lilleris plenius continelur. Cum igilur, yI idem
Johannes Eleclus in comraissa sibi dicte ecclesie cura facilius proficere
valeat, tuus fauor sibi noscatur plurimiim oporlunus, fralernitatem tuam
rogamus monemus el hortamur atiente per apostólica scripta sibi man-
dantes quatinus eundem Johannem Electura el diclam ecclesiam sibi com-
niissam, suffraganeam luam, habens pro nostra el apostolice sedis reue-
renlia propensius commendalos, in ampliandis el conseruandis eiusdem
ecclesie iuribus Sic eos tui fauoris presidio prosequaris, quod ipse Jo-
hannes Eleclus luo fullus auxilio in commisso sibi eiusdem ecclesie re-
gimine se possil \lilius exercere, tuque diuinam misericordiam ac nos-
tram el eiusdem sedis benedictionem el graliam valeas ex inde \berius
promereri.
Datura Rome apud Sanclum pelrum Anno Incarnalionis dominice
Millesimo quingentésimo uigesimo quarto, Quinto Idus Seplembris, Pon-
tificalus nostri Anno Primo. — Á. de Castillo^.
Bulla do Papa Clemente HÍI, dirig;ida ao clero
de Vizeu.
1584 — jSetembro O.
Clemens episcopus seruus seruorum del Dileclis filiis Clero ciuilalis
et diócesis Visensis Salutem el apostolicam benedictionem.
Hodie ecclesie Visensis, tuno cerlo modo, quem etiam si ex illo que-
uis generalis reserualio etiam in corpore iuris clausa resullarel, haberi
volumus pro expresso, Pastoris solalio destilute, de persona dilecti filii
Johannis Elecli Visensis, nobis el fratribus noslris ob suorum exigenliam
meritorum accepta, de fratrura eorundem consilio apostólica aucloritale
prouidiraus, ipsumque illi prefecimus in Episcopum et Pastorem, curam
* Arch. Nac. Mac. 18 de Bullas, n.° 24.
TOMO II. 29
2f6 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGÜEZ
et administralionem ipsius ecclesie sibi in spirilualibus el temporalibus ple-
narie commiltendo, prout in nostris inde confeclis lilleris plenius coüli-
nelur. Quocirca discretioni vestre per apostólica scripla mandamus qua-
tinus eidem Johanni Electo, tanquam patri et pastori animarum \estra-
rum humiliter intendentes, ac exhibentes sibi obedienliam et reuerentiam
debitas et deuolas, eius salubria mónita et mándala suscipialis humiliter,
et eílicaciter adimplere curelis. Alioquin senlenliam, quam idem Johan-
nes Electus rite tulerit in rebelles, ratam habcbimus, et faciemus auclore
domino vsque ad satisfactionem condignam inuiolabilitcr obseruari.
Datum Rome apud Sanctum petrum Anno Incarnationis dominice
Millesimo quingentésimo uigesimo quarto, Quinto Idus Septembris, Pon-
tificatus nostri Anno Primo. — A. de Castilho ^
Bulla do Papa Clemente ^11, dirigida ao 11 ij§|>o
de l^izeu.
15:^4 — ¡Setembro IS.
Clemens episcopus seruus seruorum dei Dilecto filio Johanni Electo
Visensi Salutem et apostolicam benedictionem.
Cum nos pridem ecclesie Visensis, tune certo modo, quera etiam si
ex illo queuis generalis reseruatio resultaret, habéri voluimus pro ex-
presso, Pastoris solatio destitute, de persona tua nobis et fratribus nos-
tris ob tuorum exigentiam meritorum accepta, de fratrum eorundem con-
silio auctoritate apostólica duxerimus prouidendum, preficiendo te illi in
Episcopum el Pastorera, prout in nostris inde confectis lilleris plenius
continelur, Nos ad ea, que ad tue commodilatis augmentum cederé va-
leant, fauorabiliter intendentes, luis in hac parte supplicationibus incli-
nati, libi vi a quocunque malueris catholico Anlislile graliam et commu-
nionem apostolice sedis habente, accilis et in hoc sibi assislenlibus duo-
bus vel Tribus Gatholicis Episcopis similem graliam et communionem ha-
' Arch. Nac, M.1C. 18 de Bullas, n," 15. Idénticas mutatis miitandis aos vassal-
los d'esta iyreja (Mac. 18 n." 10), eaopovo da mesma diocesc (Mai;. 19 u." 35).
RELACOES COM A CURIA ROMANA 227
benlibus, munus consecrationis recipere valeas, ac eidem Anlislili vt, re-
cepto prius per eurn nostro et Romane ecclesie nomine a te fidelilatis de-
bite sólito iuramento iuxia formam presentibus annotatara, munus predi-
clum auctorilate nostra impenderé libere tibi possit, plenam et liberara
concedimus earundem presentium tenore facultatem. Volumus autem el
dicta aucloritate statuimus et decernimus quod si, non recepto a te per
ipsum Episcopum dicto iuramento, idem Episcopus munus ipsum tibi im-
penderé et tu illud suscipere presumpseritis, dictus Antistes a Pontiíicalis
officü exercitio, et tam ipse quam tu ab administratione tam spiritualium
quam temporalium ecclesiarum Yestrarum suspensi sitis eo ipso. Prete-
rea volumus quod formam huiusmodi a te nunc presliti iuramenti nobis
de verbo ad verbum per tuas patentes litteras, tuo sigillo signatas, per
proprium Nunlium quam tolius destinare procures. Quodque per hoc ve-
nerabiii fratri nostro Archiepiscopo Bracharensi, cui prefata ecclesia Me-
tropolitico iure subesse dinoscitur, nullum imposterum preiudicium ge-
neretur : forma autem iuramenti quod prestabis hec est — Ego Johannes
Electus Visensis ab hac hora in antea fidelis et obediens ero beato Petro
sancteque apostolice Romane ecclesie, et domino nostro domino Clemenli
Pape VI, suisque successoribus canonice intrantibus. Non ero in consilio
aut consensu \el facto vt vitam perdant aut membrum, seu capianlur aut
in eos manus violenter quomodolibet ingeranlur, vel iniurie alique infe-
rantur, quouis quesito colore. Consilium vero, quod michi credituri sunt,
per se aut Nuntium seu litteras ad eorum damnum, me sciente, nemini
pandara. Papalum Romanum et Regalia sancti Petri adiulor eis ero ad
relinendum et defendendura contra oranem hominem. Legatura apostolice
sedis in cundo et redeundo honorifice Iractabo, et in suis necessitatibus
adiuuabo. Jura honores priuilegia et auctoritatem Romane ecclesie do-
mini nostri pape et successorum predictorum conseruare, defenderé, au-
gere et promouere curabo. Nec ero in consilio facto seu tractatu, in qui-
bus contra ipsum dominum nostrum vel eandera Romanara ecclesiam ali-
qua sinistra vel preiudicialia personarurá iuris honoris status et potesta-
tis eorura machinelur ; et si talia a quibuscumque procuran nouero vel
traclari impediam hoc pro posse, et quanlotius commode potero signifi-
cabo eidem domino nostro, vel alteri per quem ad ipsius notitiara perue-
nire possit. Regulas sanclorum patrum, decreta, ordinationes, sententias,
dispositiones, reserualiones, prouisiones et mandata apostólica lotis viri-
29*
228 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
bus obseruabo, et faciara ab alus obseruari. Heréticos, scismalicos et re-
belles domino nostro et successoribus prediclis pro posse persequar et
impugnabo. Vocatus ad Synodum veniam, nisi prepedilus fuero canónica
prepedilione. Apostolorum limina Romana Curia existente cilra singulis
Annis, \ltra vero Montes singulis Bienniis, visilabo aut per me aul per
meum Nuntium, nisi apostólica absoluar licentia. Possessiones vero ad
Mensam meam pertinentes non vendam nec donabo ñeque impignorabo
ñeque de nouo infeudabo, vel aliquo modo alienabo, eliam cum consensu
Capituli ecclesie mee, Inconsulto Romano Pontífice. Sic me deus adiuuel
el hec sánela dei Euangelia.
Datum Rome apud Sanctum petrum Anno Incarnationis dominice
Millesimo quingentésimo uigesimo quarlo, Pridie Idus Seplembris, Pon-
tificalus noslri Anno Primo \.
Bulla do Papa Cleineiite ^11.
15:34 — TVovembro (t).
Clemente bispo seruo dos seruos de deus ad perpetuara rei memoriam.
O Romano pontifice na térra vigario de christo, o quall lem o Re-
gymento da militante Igreja, a quall todas as Igrejas do uniuerso mun-
do abraca, o quall Romano Ponlifice com madura deliberacam todas as
cousas oulhando tem hum especial Respeito e naturall cuidado das Igre-
jas de Roma, a quall mais que todas as outras como filha he delle ama-
da, E principalmente tem este proprio cuidado daquellas Igrejas, das quaes
os Cardeaes da sancta Igreja de Roma tem seu titulo ou nomeacam, na
fabrica e Reformacam das quaes tanto com mor cuidado enlcnde, quanto
a dicta cydade nara somente he cabeca do mundo, mas ainda tem o prin-
cipado da Religiam christaa, e na quall cidade o Senhor ordenou que
fosse a Sancta See de seu vigario, á quall See de todas as partes do mun-
do os fiéis chrislaos concorrem. Em verdade esses Cnrdeaes da dicta See
sam chamados membros honrados, E por tanto aquelle, que por diuina
• Arch. Nac, Mac. 19 de Bullas, n.° 33.
RELACOES COM a curia romana 229
prouidencia em a dicta See eslá assentado, acostumou oulhar por as di-
ctas Igrejas, e dellas despoer e ordenar segundo que "vé no Senhor que
saudauellmenle Ihes pertence. E certamenle como quer que no tempo pas-
sado o papa leo x da felice recordacam, nosso predecessor e primo, Re-
cebesse na honra do Cardealadego nosso amado filho affonso, filho de Ma-
nuell da Clara memoria llluslre Rey de Portugall e dos algarues, E Ihe
desse por nomeacam de seu Cardealadego a Igreja de sancta luzia In se-
ptem soliis de Roma, Nos, fauorecente a diuina clemencia eleyto ao sánelo
Pontificado, Consyderando que no tempo passado Sixto papa mi, oulrosy
nosso predecessor, com maduro conselho oulhando a dicta Igreja ser sy-
tuada em huma vinha junto do mosteiro de sam gregorio de Roma, e ser
priuada de todos os bens asy moues como immoues, e desfallecida de ren-
das, e em seus edeficios tam consumida e quasi destroida de maneira que
parecía que tolallmenle cayria em térra, querendo elle prouer por tall
que multas antigás e grandes colunas e muy grandes marmores com a
queda nam quebrassem, Como muy tas vezes se faz, e por se nam perde-
rem, mandou derribar a dicta Igreja, e goardar as dictas colunas e mar-
mores pera em Repairo de outras Igrejas da dicta cidade serem conuer-
lidas, E deu lugar que o assentamento da dita Igreja asy deserto de to-
das as partes asy como profano ou lugar nam sagrado podesse ser laura-
do, E trespasou seu titulo e denomeacam de Cardealadego á Igreja de
sánela luzia junio do libere, no bayrro da ponte. E oulhando nos que
Julio II da sancta memoria, deseiando alargar a dicta cidade, mandou
fazer algumas rúas publicas tongas e largas, e ncilas magnificas casas
edificar, e anlre as outras comecou de mandar fazer hum paco no bayrro
da ponte junto da Igreja de sam bras, de grande obra e magnifica do di-
nheiro da cámara apostólica, o quall paco por Rezam de sua morle nam
foy acabado, E a dicta cámara por causa das mullas diuidas da See apos-
tólica o nam pode acabar, e muilo menos agora o pode fazer ; E consi-
derando nos que, se se ordenasse a dicta Igreja de sam bras ser em ti-
tulo de presbitero, ou em diaconia de diácono Cardeall, e se ao dito af-
fonso Cardeall se concedesse juntamente com o paco comecado a edefi-
car, E o dicto afl'onso Cardeall á sua cusía acabasse a dita Igreja e paco,
Isto sem duuida- seria ornamento e fermosura da dicta cidade, e proueyto
do dito afi'onso Cardeall quando nella resydir quisesse, e oulrosy seria
honra e louuor do dicto manuell Rey, o quall era sua \ida desejou man-
230 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
dar fazer algum edificio semelhanle, deliberamos resgoardar asy á honra
do dicto manuel Rey como ao proueyto do dito affonso, e tambem á for-
mosura e ornamento perpetuo da dicta cidade de Roma : pollo quall,
ávida sobre ysso madura deliberacam, do nosso moto proprio e certa
sciencia, e de comprido poder apostólico e auctoridade apostólica, sla-
luimos e ordenamos que d aquy por diante a dicta Igreja de sam bras
deiia ser diaconia do dito afi'onso Cardeall, e d ahy avante pera sempre
seja titulo de presbitero ou diaconia de diácono cardeall, segundo acon-
tecer ser o Cardeall que por os tempos a teuer. E concedemos ao dito
affonso Cardeall por denomeacam de seu Cardealadego a dita Igreja de
sam bras, juntamente com o dicto paco a ella junto, com todos seus di-
reitos e pertencas, pera que á sua propria custa, segundo esperamos e
no senhor o orlamos, possa acabar a obra da dita igreja e paco : nara
obstante etc '.
BreTe do Papa Clemente ¥11, dirigiido ao Cardeal
D. Affouiso.
1594 — ]Voi;'einl)ro 99 .
Clemens papa vii Dilecte fili noster salulem et apostolicam benedi-
ctionem .
Dudum siquidera felicis recordationis Leo papa x praedecessor nos-
ter nonnulla ecclesiastica beneficia, etiam dignitates, in elborensl et alus
ecclesiis, etiam generaliler reseruata, usque ad certum expressum ualo-
rem, primo etiam cessantibus commendis uacalura, specialiter suae et se-
dis apostolicae dispositioni reseruando, ac ordinariis et alus ne de illis se
inlromitterent inhibendo, dilecto filio Michaeli de Silua, clerico vlixbo-
* Abch. Nac, Mac. 37 de Bullas, n," 76. Nao encontramos a bulla original, nem
outra iraducQao complecta que nos indicasse a data; comtudo, nao obstante estar a se-
gunda folha deste documento collada a urna outra, ainda se le por transparencia o se-
guinte, escripto no verso: Trelado da bula do lilollo nouo de sam bras que o papa deu
ao senhor cardeal, a qual foy dada em euora a el Rey noso senhor no anno de 1525 no
propio dia de sam bras cm que se celebra a festa do dito santo na dita cidade. Vidé a
nota no fim do breve de 217 de novembro.
RELACOES COM a curia romana 231
nensi, Carissimi in Christo filii noslri Portugalliae Regis Illuslris apud
eum tune, et nunc apud nos el dictara Sedera orafori, motu proprio et
ex certa scientia ac de apostolicae potestalis plenitudine ad eius uitara
coraraendauit, illaque ex tune sibi commendata, ac omnes et singulas col-
lationes, prouisiones et commendas, et alias dispositiones de eis eatenus
eideinceps, eliam per eum et dictara sedera pro quibuscunque, etiam Gar-
dinalibus, quouis raodo et ex quibuscunque causis factas et faciendas, ñut-
ías, irritas, et inanes existere nec lilulum eliara coloratuTii alicui Iribuere
possidendi, eundemque Michaelem in ipsorura beneficiorura asseculione
cunctis eliam Cardinalibus anleferri deberé, ae sibi plenum ius in illis
esse quesitura, ita quod solara possessionera et fructuura et reddituura
percepliouera expectare deberel, aliasque et alia decreuit, cerlis desuper
executoribus deputalis, Quibus mandauit qualenus eundem Michaelem,
seu eius procuratorem, in corporalera diclorum beneficiorura possessio-
nera inducerent, amotis quibusuis detentoribus ab eisdem, quos ipse prae-
decessor tanquara alieni raptores amouit, amotosque et propterea nec de
spolio aut attentatis contra eundem Michaelem agi posse nunciauit, prout
in litteris aposlolicis desuper in forma breiiis expeditis plenius continetur.
El deinde, sicut accepimus, scolaslria diclae ecclesiae elborensis, quae inibi
dignilas non lamen maior posl pontificalem exislil, per obilum bonae rae-
moriae Francisci Fernandez episcopi Fecensis, illius dura uiueret ullimi
possessoris, extra Romanara Curiara tempere recolendae memoriae Adriani
papae .vi, etiam praedecessoris nostri, et ante illius coronalionem, uide-
lieet ante diera ultimara mensis Augusli anni a naliuitate Domini raille-
sirai quingentesimi \igesimi secundi, defuncli, uacanle, et ad praefalum
Michaelem uigore diclarum liüerarura, ex eo etiam quod nos per quan-
dara Conslitutionem siue regulara Cancellariae nuper editara eíFeclura et
uigorem constitulionis, siue regulae reuocaloriae per praefalura Adrianum
praedecessorera anle dictara uacalionera edilae, ad diera diclam coronalio-
nem sequenlera reduxiraus, reslrinximus, seu retraxiraus, pertinente, dile-
clus filius Anlonius Didaci, pro clerico se gerens ex ordinaria seu apostó-
lica collalione uigore, certae gratiae expeclaliuae sibi concessae, et per di-
ctara reseruationem eidera Michaeli concessam suspensae, in illa se inlrusit
et intrusus exislit, in praefali Michaelís preiudicium non modicura et ia-
cturam. Nos igilur allendenles dictara Scolaslriam diclae reseruationis ui-
gore eidem Michaeli, el nulli alleri, deberi et ad ipsura dunlaxat specta-
232 CORPO DIPLOMÁTICO POUTUGUEZ
re, Motu proprio, non ad dicli Michaelis uel alterius pro eo nobis super
hoc oblalae pelitionis instantiam, sed ex nostra mera deliberalione ac ex
caria scienlia et aposlolicae poteslalis pleniludine, Circunspectionem luam,
qui eiusdem ecclesiae elborensis perpeluus adminislralor exislis, liorla-
mur in Domino ac requirimus ut, si rem gralam nobis faceré desideras,
eundem Michaelera, seu eius legilimum procuralorem, ¡n diclae scolas-
triae, iuriumque el perlinenliarum omnium iilius, realem el aclualem pos-
sessionem inducífe, et per dileclos filios capitulum eiusdem ecclesiae elbo-
rensis, quibus eliam per alias noslras liUeras mandamus ul ipsum ad di-
ctara Scolastriam recipianl el admillant, induci facias, el defendas indu-
clum, dicto Antonio et quouis alio delenlore amoló, proul eliam nos ex
nunc per présenles amouemus el amolum esse, eumque de spolio ac ui-
lio altentali minime agere posse decernimus, sed si ius habere praelen-
dat eum de iure suo uia petilorii duntaxat experiri posse, sicque ubique
eliam in auditorio Rolae iudicari deberé uolumus. Non obslanlibus prae-
missis, necnon conslilulionibus el ordinalionibus apostolicis, slalutisque
el cousueludinibus diclae ecclesiae elborensis, iuramenlo, quod dicto Mi-
chaeli ad eíFeclum premissorum, quatenus opus sil, relaxamus, confir-
malione apostólica, ac quauis alia firmitate roboralis, priuilegiis quoque
et indullis, ac lilleris apostolicis praefatis Capitulo el quibusuis alus quo-
raodolibet concessis, confirmalis, et innoualis, quibus illorum tenores pro
suííicienler expressis habentes, illis alias in suo robore permansuris, hac
uice duntaxat, specialiter el expresse derogamus, caeterisque contrariis
quibuscunque. El de bis quae Circumspeclio lúa in praemissis fecerit
quamtotius per lúas litteras nobis significare curabis.
Datum Romae apud Sanclum Pelrum, sub Annulo piscatoris, die
XXVII Nouembris mdxxiui, Ponlificalus Nostri Anno Segundo. — Be. El.
Rauennensis \
1 Abch. Nac, Mac. 20 de Bullas, n.° 2. IJ-se no sobrescripto: Dilecto filio nos-
tro Alfonso Sancti Blasii Diácono Cardinali. O Documento numero 24 do- Mac. 26 de
Bullas é outro breve do mesmo teor.
RELAQOES GOM a curia romana 233
Breve do Papa Clemente Til, dirigido a el-Rei.
15:35 — Janeiro 99,
Clemens papa vii Garissime in christo fili noster salulem el apos-
tolicam benedictionem.
Guin dilectus filius Michael de Sylua Orator apud nos tuus, vene-
rabili fratri Joanni mallheo episcopo veronensi Datario nostro et noslro
nomine recepienti, solueril summam sex milliurn ducatorum auri in auro
de camera pro compositione dispensationis Serenitali tuae per nos con-
cessae de contrahendo matrimonium cum carissima in christo filia nos-
Ira Caterina Hispaniarum infante Gesareaeque Maiestatis sorore, non ob-
stante impedimento inter te et illam in secundo et alus inferioribus etiam
multiplicibus gradibus consanguinitatis et affinitatis intercedente, Nos ad
eiusdera oratoris lui preces, ne te in posterum supei* hoc molestan con-
tingat, te de summa sex millium ducatorum predicta,,quae in similibus
longe maior esse consueuit ac debuit, et quam in tolum serenitati tuae
remisissemus, nisi sedes apostólica hoc lempore aere alieno grauiter op-
pressa esset, tenore presentium quietaraus et liberamus, contrariis non
obstantibus quibuscunque.
Datum Romae apud sanctum Petrum, sub annulo piscatoris, die
xxviiii Januarii mdxxv, Pontificatus Nostri Anno secundo. — Be. EL Ra-
uennensis ^
1 Arch. Nac, Mac. 20 de Bullas, n.° 3.
TOMO II. 30
234 GORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
Bulla do Papa Clemente l^II, dirig;lfla a el-Rel
e á Rainlia.
15S5 — Feveretro 5.
Glemens Episcopus seruus seniorum dei Carissimo in christo filio
Joanni Portugallie et Algarbiorum Regi, et Garissime in christo filie Ca-
Iherine Regine Iliustribus Salulem et Apostolicam Benedictionem.
Sincera feruensque deuotio, quam ad nos et Romanam geritis ecclc-
siam, mérito nos inducunt yI illa vobis et cuilibet veslrum fauorabiliter
concedamus, per que conscientie pacem et animarum vestrarun? salutem
Deo propitio consequi possitis, ac pelilionibus vestris, illis presertin) qiias
ex deuotionis feruore prodire conspicimus, quantum cum deo possumus
fauorabiliter annuamus. Ilinc est quod nos, vestris deuotis supplicationi-
bus inclinali, vobis el filiis ac filiabus vestris ex vobis nascituris, fratri-
busque luis, fili Joannes Rex, et cuilibet eorum, vt aliquem presbiterum
ydoneunx secularem, etiam Prelatum aut cuiusuis ordinis regularem, in
vestrum possitis eligere Gonfessorem, qui vita vobis comité in casibus
e'iiam sedi apostolice reserualis, hiis dumtaxat exceptis, videlicet, crimi-
num heresis, rebellionis aul conspiralionis in personam Romani Ponlifi-
cis aut apostolice sedis, et oíFense personalis in aliquem sánete Romane
ecclesie Gardinalem, quibus uos nec illaqueatos nec illaqueari deberé cre-
dimus, semel lantum quolibet Anno, et in morlis articulo etiam ab ex-
ceptis huiusmodi, in alus vero quotiens fueril opporlunum, confessioni-
bus vestris diligenter audilis, pro commissis vobis debitam absolutionem
impendat et iniungat penilentiam salutarem, Ac vota quecunque vllra-
marino visilationis liminum Apostolorum Pelri et Pauli de Urbe ac san-
cti Jacobi in Gompostella, necnon Gastilalis et Religionis votis dumtaxat
exceptis, in alia pietatis opera commutare, Ac iuramenta quecunque sine
iuris alieni prejudicio relaxare valeat, necnon omnium peccalorum ves-
Irorum, de quibus corde contriti el ore confessi fueritis seu de quibus vo-
luntatem confitendi et intentionem habueritis vobis semel singulis Annis,
alus .vero semel in vita el in morlis articulo, etiam si mors tune non se-
UELACOES COM a curia romana 233
qualiir, plenariam remissionem et absolutionem vobis in sinceritale fidei
et Ynitale sánete Romane ecclesie, ac obedienlia et deuotione nostra et
successoriim noslrorum Romanoruní Pontificum canonice inlrantium per-
sislentibus, auctorilale apostólica concederé possit. Quodqne liceal vobis
et filiis vestris ac fratribus tuis, fiü Joannes Rex, et vestrum ac eorum
cuilibet, habere Altare porlatile cum debilis reuerentia et honore, super
quo in capellis seu oratoriis vestris, et alus locis congruenlibus et hones-
tis, et cum qualitas negotiorum pro tempore ingriientium id exegerit, etianí
anlequam ellucescal Dies, circa tamen diurnam lucem ac etiam circa me-
ridiem, et si ad loca ecclesiastico interdicto auctoritate apostólica dum-
modo non stet per vos quominus huiusmodi seruetur inlerdictum, aul
executioni demandelur id propler quod fuerat appositum inlerdictum sup-
posita vos declinare contigerit in illis, clausis januis excommunicatis el
iulerdictis exclusis, non pulsaüs campanis, etiam cum cantu et voce exal-
tationum, seu sine cantu alta et inlelligibili uoce, per proprium Capella-
num seu alium sacerdotem ydoneum Missas et alia diuina officia, sine iu-
ris alieni preiudicio, in vestra et cuiuslibet vestrum familiarium domes-
ticorum ac personarum per vos et quemlibet vestrum eligendarum predi-
clarum presentía, íta quod vobis, aut Capellano seu alio sacerdoti sic ce-
lebranti, ad culpam nequeat imputan, dummodo vos vel familiares aut
alie persone predicle causam non dederilis interdicto, nec id vobis vel
illis contigerit specialifer interdici, celebran faceré, ac eodem inlerdicti et
alio quocumtiue tempore, etiam in die Paschalis, vos ac familiares et per-
sone predicle Eucharistiam el alia sacramenta ecclesiastica a Capellano ves-
tro, seu alio sacerdote, absque licentia Rectorum parrochialium ecclesia-
rum, in quarum parrochiis vos el personas predictas pro tempore resi-
dere contigerit, sine tamen illorum preiuditio, recipere ; et si vos aut fa-
miliares seu personas prefatos, interdicto huiusmodi durante, decedere
contigerit, vestra et illorum corpora siue cadañera, etiam cum funerali
pompa, ecclesiastice tradi possint sepullure. Prelerea quod vos, el quili-
bel vestrum ac familiares predicti, ac alie quinquaginla persone per di-
clum Confessorem de consensu veslro, fili Joannes Rex, el in chrislo fi-
lia Catherina Regina, eligende, Quadragesimalibus et alus Anni diebus
et temporibus, quibus stationes et indulgentie ecclesiarum vrbis, eliam ex-
tra illius muros, celebrantur, Unum Altare in Capella seu oratorio ves-
tro, aul alia ecclesia consislens per vos et vestrum quemlibet pro tem-
30*
236 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
pore eligeudum deuote visitando, tot el similes indulgenlias el peccalo-
rum remissiones consequamini, quas consequeremini el consequi posse-
lis si singulis diebus prediclis easdem singulas vrbis Rome el extra eam
ecclesias, que a chrislifidelibus propter stationes huiusmodi visitan solent,
personaliter visitarelis. El si forsan senes aul raulieres pregnanles el va-
litudinarii, aul aliqua infirmilale oppressc aut impedimento detente, Al-
tare huiusmodi visitare nequiueritis, tune ekmosinam aliquam elargien-
do, aut suíFragia aliqua erogando, seu Ter orationem dorainicam el to-
tiens salutalionem Angelicam ante ymaginem aliquam recitando, easdem
indulgenlias el peccatorum remissiones consequamini. Ac quod Qadrage-
simalibus, et alus Anni diebus et temporibus prefatis, quibus esus lacli-
ciniorum, ouorum et carnium est a jure prohibilus, butiro, ouis, cáseo
et alus lacticiniis, ac de vtriusque Medici consilio carnibus, absque con-
scientie scrupulo, vesci et vti libere et licite valeatis. Postremo vero mo-
derno, et pro tempore existenti per te, íili Joannes Rex, eligeudo Con-
fessori, etiara si sil Prelatus in sua ecclesia diócesi aut Monasterio seu
Conuentu sui ordinis, minime residere valeat, nec ad id per quempiam
compelli possit dicta auctoritate indulgemus, ipsumque Confessorera ab omni
iurisdilione, visitatione, correctione, superioritate, dominio et potestate
sui, ac aliorum ordinariorum et superiorum quorumcunque, necnon vica-
riorum et oíBcialium eorundem auctoritate et tenore prediclis prorsus exi-
mimus et liberamus, Ac sub nostra et beati Pelri proteclione suscipimus.
Non obstantibus Constitutionibus et ordinalionibus aposlolicis, necnon simi^
lium indulgenliarum, etiam presentis Anni Jubilei, reuocationibus el sus-
pensionibus, etiam durante fabrica Basilice Principis Aposlolorum de Urbe,
ac Cruciate ralione expeditionis contra Infideles, per nos et sedem aposto-
licam sub quibusuis verborum formis et clausulis factis et concessis, ce-
terisque conlrariis quibuscunque. Volumus autem quod Confessor predi-
ctus de hiis, de quibus fuerit alteri satisfactio impendenda, eam vobis,
per vos si superuixeritis, vel per alios si forsan tune transierilis, facien-
dam iniungat, quam vos, vel illi omnino faceré teneamiui. Et ne quod
absit vos, propter facultalem eligendi Confessorem huiusmodi reddamini
procliuiores ad illicita imposterum commitlenda, quod si a sinceritate fi-
dei ac obedientia et deuotione nostra vel successorum noslrorum predi-
ctorum destiteritis, aut ex dicte facultalis confidentia aliqua forsan com-
raiserilis, facultas, concessio et remissio predicte ac quoad eas presentes
RELACOES COM A CURIA ROxMANA 237
Htlere nulÜus sint roboris uel momenli ; quodque indulto celebran fa-
ciendi ante diem parce \lamini, nam cum in Altaris ministerio immole-
tur Dominus noster Jesús christus Dei filius, qui candor esl lucis eterne,
congruit hoc non noctis lenebris fieri, sed in luce ; quodque transumptís
manu publici Nolarii subscriptis et sigillo alicuius Prelatis munitis, eadem
prorsus fides adhibeatur ac si essent exhibite vel ostense. Nulli ergo om-
nino hominum liceat hanc paginam noslrorum indulti, liberalionis, sus-
ceplionis et voluntalis infringere, vel ei ausu temerario contraire. Siquis
autem hoc allemplare presunipserit indignationem omnipotentis Dei ac bea-
torum Petri el Pauli Apostolorum eius se noueril incursurum.
Datum Rome apud Sanctum pelrum Anno Incarnationis dominice
Milésimo quingentésimo uigesimo quarto, Nonis februarum, Pontiíicatus
noslri Anno Secundo. — Jo. M. Episcopus Veronensis^.
Carta de D. Miguel da liilva ao Cardeal
Infante.
15S5 — Fevereiro 6.
Senhor. — Sendo eu criado de vosa alteza como del Rey voso ir-
mao, e sempre ate agora e agora nam estando menos em voso seruico
que no seu, no que me compre muito nam poso nem devo socorrer me
a ninguem com mais Rezao que a elle, e principalmente ñas cousas em
que sera seu mandado e vontade nam se poderla asi alcancar juslica. Ho
mestrescolado, senhor, desa vosa see d evora cayo debaxo de minha Re-
serva, e polla derrogacao que papa adriano fez em espanha eu cesey de
nelle entender ale ver se durava a sem Rezao que vniversalmente se fazia
a todo ho mundo niso. Vindo despois a decraracao de papa clemente pera
tornar ho seu a seus donos, ditirminey de mandar logo a vosa alteza,
que, aalem do zello que tem e deve ter de fazer justica a todos, neste
caso a mim, que sam seu, hade folgar de fazer muito mais, asy por iha
eu merecer e aver de servir sempre, como por nam ser seu seruico nemi
* Arch. Nac, Mac. 1 de Bullas n." 2.
238 COKPO DIPLOMÁTICO POHTUGUEZ
honra de sen cabido estar liuuma lam principal dinidade em maos de
huum homem, que nem sabe latim nem escreuer senam muy Roimente,
sendo ha hobrigacao da dinidade parlicularmcnle letras pera poder fazer
seu oíílcio, e estas que em niim nam aja muytíis á hi alguumas mais que
nelle, e outras tantas Rezoes de voso criado e criado delRey voso irmíio,
que fiquo muy seguro que por voso mandado me será feita inteyramente
justica, no que, aiem da merce que se a mim faz, faria vosa alteza muito
asinado seruico ao papa, que Ihe sobre ¡so escreue como verá, e pede
que Ihe Responda. Ao cabido escreve tambem sua santidade e manda sob
aquellas pennas, que a see apostólica acustuma poher em semelhantes ca-
sos, que me dera logo a pose, ho que nam pode negar de direito nem ne-
gará se vosa alteza jaa me nam quisese fazer huum muy grande agrauo,
que eu n^m espero, e ao papa nam satisfazer como sua santidade espe-
ra. Joanne raendez dará deste caso mais larga enformacao a vosa alte-
za, ho que eu nam faco pollo nam enfadar. Beijar Ih ey as máos ouuillo
e crello, e a mim fazer merce e justica, que com isto e cóm quanlo le-
nho, e com a vida, aqui e onde quer que estiuer, servirey sempre. Beijo
as maos de vosa alteza, cuja vida e estado noso senhor deus guarde e
acrecenté como deseja.
De Roma aos seis dias de fevereiro 1525.
Criado de vossa alteza. — Dom myguel da Sijlva '.
Carta d'el-Stei a D. llig^iiiel da Silva.
15SS — Fevereiro 23.
Dom miguel amiguo, Eu elRey vos emvio muylo saudar. Esguar-
dando eu ao muyto e muy continuado seruico, que dom ?iiartinho de por-
lugall, filho do hispo dom aífonso que foy d evora, fez a elRey meu se-
nhor e padre, que santa gloria aja, asi no lempo em que o seruyo de
dayam de sua capella, como dantes, e como a mym teem servido e ser-
' Arch. Nac, Corp. Chron., Part. í, Mac. 31, Doc. 143. Lé-se no sobrescripto:
Ao Cardeal Infante de Portugal meu senhor.
RELACOES COM a curia romana 239
ue muy conlinuatlamenle, e com muyla despesa de sua Remda, e pelo
grande contenlamenlo que lenho de sua pessoa e merecimentos, e por yso
desejar muy(o de Ihe fazer merce e acrecentamento, me prouue o pro-
uer e Ihe fazer merce do moesleiro de sam Jorge da ordem de santo
agoslinho,.da diocesy do bispado de Goimbra, que tinha o líTante dom
Anrique meu muyto amado e precado Irmaao, o qual o Renunciou pera
em seu fauor, como veres por sua Renunciacam. E soprico e peco muyto
por merce ao santo padre por minha sopricacam, que com esta vos em-
vio, que o queira prouer a minha sopricacam do dito moesleiro em em-
comenda. E porque Keceberey muyto prazer de aver minha sopricacam
eíFeito, vos emcomendo muyto e mando que loguo apresentés a sua san-
tidade minha sopricacam, e Ihe facaes relacam de cujo filho he o dito
dom martinho, e da Rezam que teuho pera folgar de Ihe fazer merce e
acrecentamento, asy pelo muy conjunto diuedo que seu pay comigo ti-
nha, como pella pessoa e merecimentos do dito dom martinho, que sam
dinos pera Receber toda merce e acrecentamento ; e que soprico e peco
por merce a sua santidade que o queira proveer do dito moesleiro em
emcomenda e Ihe mandar dar suas bulas e prouisoees necessarias, e que
o Receberey de sua santidade em muy singular merce. E a vos emco-
mendo muyto em espiciall que Irabalhés quanto posiuel vos for que lo-
guo esta expedicam se faca e cora todo fauor que seja possiuel, porque
pelo muyto amor e booa vontade que lenho ao dito dom martinho, nom
poderes nisto fazer cousa com que nom Receba muyto prazer e comten-
tamento. E ele vos emviará as provisoes necesarias pera o custo e des-
pesa da expedicam das bullas, e de todo o que pera ela comprir.
Scripta em evora a xxiii dias de fevereiro, Jorge Rodrigues a fez,
de 13'2S. — Rey (com cinco pontos) \
*■ Arch. Nac, Corp. Chron., Part. I, Mac. 31, Doc. 97. Diz o sobrescripto: Por
elRey a dom miguell da silua do seu conselho e seu embaixador em corte de Roma.
■#
240 GORPO DIPLOMÁTICO PORTIIGUEZ
Breve do Papa Cleniente líMM, dirig^ido a el-Rei.
15:^5 — aunlio IS.
Clemens papa vii Carissime in chrislo fili nosler salulem et aposto-
licam Benedictionem.
Cura elegissemus dileclum filium Anloniuoj Ribeyrura camerarium
nostrum Serenitalis luae subditum, quera cum Rosa áurea el Sancli Ju-
bilei ¡ndulgenliis ad te railteremus, eumque iudicareraus idoneura, cui ob
üdem ipsius erga utruraque nostrum omnia quae uellemus tuto credi pos-
senl, non dubitauimus ea quae nobis pro communi nostro honore, uni-
uersalique omniura chrislianorura salute, ueniebant in menlem, tuae Se-
renitati per ipsura Anloniura aperire ut siraul pastorali officio nostro, si-
mul necessitali praesentiura rerura ac lemporum salisfaceremus. Nunc
enira, fili nosler carissime, ut uides, res chrisliana si unquam alias in
discrimen adducta esl, inde ui externa ¡nfideliura Turcarum, hinc domes-
ticis nostrorum sedilionibus calamitate insuper addila, potenlissimi Regis
ac Regni, uiribusque noslris siquae supereranl mullipliciter comminutis.
Quibus malis etsi diuina polius eaque sola mederi polesl clemenlia, la-
men noslri muneris tuacíiue pietatis arbiírali sumus fore ut coniunctis ani-
mis alque officiis incuraberemus una ambo in eam piara curara christia-
nilatis vniuersae, si non in eum quera cuperemus, al in raeliorera aliquera
statura uendicandae. Quare, coramunicalis prius bis cura dilecto filio No-
bili Viro Michaele de Sylua, oratore apud nos tuo, quera nos mérito araa-
mus et magnifacimus, iiloque honore tuoque in eum amore dignissimum
iudicaraus, cuius erga te et clarae memoriae patrem tuum eximia fides
et merita omnera a te beneuolentiae significationem nobis semper gralis-
simara futurara exposlulant, mandauiraus ei ut haec, et quaedara alia ec-
clesiasticara libertatem concernenlia, ipse per litteras, ídem uero Anlo-
nius ut uerbis corara tuae Serenitati explicaret. Ilorlamur igilur el orani
sludio requiriraus Serenitatem tuam ut, illorum scriplis et verbis circa
lioc Gdem adhibens, pro sua raaioruraque suorum gloria et pietale in id
RELACOES COM a curia romana 241
quod oplamus incumbat, quodque vniuersis chrislifidelibus ad salulem,
Tuae uero Serenilati ad gloriam perennem, eliam in coelis adipescendam,
redundabit.
Datum Romae apud sanclum Petrum, sub Annulo Piscatoris, die
XVIII Junii MDXxv, Pontificalus Nostri Anno Segundo. — Be. El. Rauen-
nensis '.
Breve do Papa Clemente Til, dirigido á Rainlia
D. Catliarina.
15S5— aunlio 18.
Clemens papa vii Carissima in christo filia nostra salulem el apos-
tolicam benedictionem.
Cum Rosam auream solemni a nobis more dicalam, ac sancti jubi-
lei Indulgenlias per dilectum filium Antonium Ribeyrum, camerarium nos-
trum, Serenissimo illi Regi consorli tuo milleremus, non arbitrali sumus
a nostro officio palernoque in te amore et singularibus merilis luis alie-
num Ubi eliam id munus Indulgentiarum millere, Teque, quam carissi-
mae in chrislo filiae loco et amore habemus, per liüeras et diclum An-
tonium paterne inuisere. Tua enim tanta pietas in Deum et in hanc san-
clam sedem reuerenlia, quanlam esse audimus el cum Domino laela-
mur, eiusmodi spiriluale munus de Thesauro ecclesiae sumplum a nobis
requirebal, qui nihil Ubi mundanorum munerum, aut preciosius hoc,
aut gralius millere poluissemus. Ac nos quidem, qui Reginas christia-
ni nominis omnes paterna charilale in chrislo diligere debemus, Sere-
nitalem luam eo specialioris in eodem christo amoris praerogaliua pro-
sequimur, quo tu non solum lali Regi nupla, sed Serenissimi Cesaris só-
ror, chrislianisque Principibus fere ómnibus consanguinitate uel affini-
tate luneta, in mullís pus ac sancUs operibus ad chrisUanae Reipublicae
salulem et commodum exequendis, opporluna esse nobis potes. Nosque
eam de te'spem concepimus iam inde cum felicem hanc copulam audiui-
^ Arch. Nac, Mac. 19 de Bullas, n.° 39. '
TOMO II. 31
2i2 CORPO DIPLOMÁTICO POUTUGUEZ
mus, gratulatique vobis sumus fore vt lúa opera alque auctorilale (Deo
coadiuuante) ad maximarum alque optimarum rerum confectionem ali-
quando vleremur. Quod nos equidein nunc primum agere cum Dei no-
mine insliluimus, alque eidem Anlonio raandauimus vli cum Serenilalem
luam a nobis palerne alque officiose salulassel, benediclionemque ad le
noslram cura sancli Jubilei muñere alluüssel, lum aperiret Ubi cogilalio-
nes nostras ad vniuersale bonum communemque salulem omnium chris-
tianorum direclas, super bis quae ipsum Anlonium cum luo viro Rege
noslro nomine agere voluimus, quae ue etiam bine ad vos per dileclum
filium nobilem virum Michaelem de Sylua, oralorem apud nos veslrum,
tuae serenitalis deuolum el cullorem praecipuum scribentur. Horlamur
ilaque le, filia in cbristo carissima, vt noslra pia desideria apud eundem
virum luum Regem el quos deinde opus erit coadiuuare ac fouere, gra-
liamque in bis el auclorilalera luam nobis accomraodare Dei causa uelis,
A quo deinde Ubi ea erunl prompta ac parala premia, quae lanlae tuae
pielali alque effeclui opUmorum operum per le secuto erunl cousenlanea.
Quemadmodum idem Anlonius, cui vi nobis valde acceplo, veslrique no-
minis el nalura el volúntate obseruanUssimo, non modo in bis fidem, sed
benignum audilura a le preberi cupimus, lalius Serenilali tuae explicabil.
Datura Roraae apud sanclum Petrum, sub annulo piscaloris, die xviii
Junii MDXxv, PonUficalus Nostri Anno Secundo. ^Be. El. Rauennensis ^
Carta de D. Martinho de Portug^al a el-ReK
15S5— díullio 6.
Senhor. — Tanto que cbeguei esta cidade fiz como me Vossa Alteza
mandou. O papa com alguma pesadonbre se delerminou na uontade de
Vossa Alleza. O certo foi por Iho dora Miguel tambera requerer, e Ihe di-
zer que nao faria em nenhuraa maneira senao o que Vossa Alleza Ihe man-
daua, e ainda que Ihe desera lodo o mundo, nao o lom.aria seniío por sua
Maáo. Pon se em ordem pera se parlir loguo, e asi mo lem dicto e asen-
^ Abch. Nac, Ma?. 19 de Bullas n." 46.
RELACOES COM A CURIA ROMANA 243
fado cominiguo : manda esle correo a o fazer saber a Vossa Alteza, e tam-
bera pera Ihe trazer algum dinheiro que qua deue. O mais de minha che-
gada, e do modo que o papa teue, e quam difícil fo¡, scriuirei a Vossa
Alteza por antonio homem, que fiz esperar, he irá por as postas d aquí
a cinco ou seis dias.
De roma aos vi dias de Julho l^tú. — Dom Marlinho de Portu-
gal K
Breve do Papa Clemente l^II, dirig^ido a el-Rei.
15:35 — «ulbo 9.
Clemens papa vii Carissime in chrislo fili noster salutem et aposto-
licam benedictionem.
Omnis qui tuas Hileras aut tuum nomen et Yicem nobis oífert, uel
representa!, carissimus nobis ueniat necesse est propler singularem, quam
habemus de Serenilale lúa spem el beniuolenliam, qua libi sumus miri-
fice aíTecti. Itaque dilectum filium Martinura de Porlugallo, consiliarium
tuum et ad nos oralorem, libenter uidimus, trinasque ab eo accepiraus
litleras, quae testimonium illuslre amoris tui et erga nos obseruanliae de-
ferentes, in reliquis quae ab ipso Martino nobis uerbis luis exponerentur,
significabant tI credere ea illi plañe uellemus : ergo sermone inter nos
multarum rerum ad te et coniunclionem noslram perlinenlium habito, se-
cuta est poslulatio lilleris luis congruens vt quamprimum dilectum filium
Michaelem Sylua, oralorem tuum, ab nobis dimitiere et ad te iter capera
curaremus, Quod nobis non paruae admirationi fuit, praesertim cum ipse
Martinus causara nobis huius tanlae tuae festinalionis aperuisset, ac quia
serenilas tua essel verita si amplificare insliluissemus dicli Michaelis di-
gnitatera ne ea res dignilali tuae et tuorura oíficeret iccirco illum abs le
tanlopere reuocari affirmasset. Quam rem nos sane non adraodum aequis
auribus accepimus, non quia de tui consilii et prudenliae opinione quic-
quam habearaus in animo noslro diminutum, sed quod inlelligimus (id
* Arch. Nac, Corp. Chron., Parí. I, Mac. 32, Doc. 56.
31*
244 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGÜEZ
quod fere ómnibus ¡n locis euenit) esse apud Serenitalem luam, qui alio-
rum virtulibus obtrectanles prauis interpretalionibus cunda in parlem de-
teriorem delorqueant. Sed etsi non parum moleslus est nobis huius ho-
minis discessus, tamen id quod necesse esl, el ipse fidem erga le, quam
semper diligenlissime sanctissimeque conseruauit, hac quoque in parle ex-
hibilurus est, ac rebus ómnibus omissis ad te reuersurus, el nos hanc
virtutem el syncerilalem illius non sumus impediluri, illud lanlum feci-
mus vi obstaremus quominus se in iter hoc tempore lam approperalum
daret, lum quia sine cerlo pene morlis periculo bis lantis caloribus ab vr-
bano aere in longinquas regiones \ix licet proficisci, tum quia eum vo-
lumus ómnibus nostris consiliis el cogitalionibus instniclum el opUme pa-
ratum ad te peruenire quae certe omnia libenler el libere eum illo com-
municaluri sumus, sicut eliam cernimus serenitalem luam optare. De tola
aulem re, quantum ad illum perlinet, sane ingrali simus si non illius plu-
rimis el maximis in nos ipsos officiis, iniusli si non eiusdem Tirtuti el pru-
denliae teslimonium debilum perhibeamus, eum hoc nos apud serenitalem
tuam el verius et rectius simus facluri, quam qui si forsilan raaliuolen-
tia ducli de illo oblocuti sunl. Certe enim hic vir is est, qui, eum egre-
gie nossel qua nos tibi beniuolenlia essemus deuincli, cumque illam sin-
gularem animorum coniunclionem, quae inter felicis recordalionis Leo-
nera praedecessorem ac fralrem nostrum ac clarae memoriae Emanuelem
palrem luum interuenit, in memoria haberel, in omni varielate rerum
et temporum nostrorum aíFuit nobis semper et fide et constanlia singu-
lari, satisque perspectum babens quicquid in nos officii atque amoris
conlulisset facturum se Ubi in eo rem gralissiraam in omni incremento
noslrae dignitatis nihil omnino praelermissit nec studii, nec laboris, nec
diligenliae, nec uero aliud omisil quicquam quod ab homine amanlissi-
mo atque oñiciosissimo posset expectari, eum ila uere et recle iudicaret
omnem auclionem honoris el aucloritatis noslrae ad serenitalem quoque
tuam pro mutua nostra beniuolenlia perlinere. Qui ceteris eliam orna-
menlis eximie praeditus el ingenii el humanitalis el doctrinae in luis pa-
trisque tui negociis, ila nobis uidetur aple fidelilerque uersatus, vi nequá-
quam te possil, ñeque adeo ipsum tuum palrem eius fidei obsequii, \ir-
lulisque penilere. His pro officiis tol atque lantis quae el nobis in amore
el tibi in fidelilale praeslitit, si cogilauissemus eum ornare maiore digni-
tale fecissemus profeclo quod óptimo Ponlifici conueniebal. Quibus enim
RELACOES COM'A curia romana 2i5
alus honorem deferri par est nisi illis qui ob virtutem digni sunt el suis
officiis promerent? sed quod uerissime possumus affirmare ñeque uerbum
ullum unquam omnino ea de re aut nobiscum faclum est, aut ex noslro
ore excidit, per quod uel cupidilas aliqua ipsius, uel noslra eius reí vo-
luntas posset oslendi, a qua lamen volúntate eius ornandi nos non alie-
nos esse confitemur, el nosmel memoria tenemus cum a supradicto pie
memorie leone x honor illi el gradus cardinalatus, quae est amplissima
in omni sacerdolio dignitas, nobis ipsis offerentibus ullro delalus essel,
recusasse illum, el nullum sibi honorem sine Regis sui consensu uel po-
lius Imperio acceplum esse posse respondisse, quara eius insolilam el
prope inaudilam integrilatem' temperantiamque animi, qui nunc in ini-
quam inuidiam vocant quam aganl recte el sincere, tuae Serenilalis est
pro sua prudentia considerare. Nam quod libi forte a maliuolis sugges-
tum est subdilorum dignitalem officere el impedimento esse dignilati prin-
cipum suorum, nobis multo uidetur secus; Non enim ullus honos factu-
rus fuit quin Michael in lúa esset, vt semper fuit, potestate, Tu enim illi
semper Dominus, tu patronus futurus es, Neo uspiam imperii splendor et
dignitas magis elucescit quam si ornamento et honoribus praedili fuerint
quibus imperatur. Quae quidem cunda vnaque fidem hanc testimonii nos-
tri Serenitas tua, vt melius el diligenlius examinare velit, ac reiectis ma-
liuolorum calumniis expenderé ueritafem, illam magnopere in Domino-
hortamur. Hoc quidem in discessu hominis nobis gralissimi molestiam
quam ex eo capimus consolatur, quia vocalur a te ad fungendum mu-
nus sui oííicii, quod scribam puritatis uos appellatis, qui magistratus el
honorem habel in se et locum fidei el virlutis apud Regem suum exer^
eendae, sic enim et a te nobis scriplum, ac prope Pide regia confirmalum
est, el luus recens oralor nobis expressit, nihil illum diminuturum apud
te ñeque condilionis ñeque graliae, quam quantum nunc apud nos el in
alma vrbe oblineal, in qua etiam nobis et toti curiae ob praeslanlis suas
animi dotes prorsus esl carissimus, hac nos sub fide et tua et oratoris^lui
facilius acquieuimus, \t rediret quod alias aegre aut vix fuissemus factu^
ri. Grauiter enim passuii eramus tam prudenfem el aptum, nobisque in
omni re alque aclione plurimum satisfacieniem hominem a nobis diuelli.
Sed quoniam et de tuo amore ac iudicio erga illum pignora habemus fi-
dei et voluntatis luae certissima, el non dubilamus q^in ingenio dexle-
ritate omnique virtute tibi plurimum salisfacturus sil, ac graliam et be-
246 GORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
niuolentiam luam cumulalurus, fuimus eius dimiltendi magis liberales,
quem cum inlelligemus accaeplum esse a le vt suum fidelissimum nosiri
amantissimum hominem, el causam ipsius uocandi iusliorem, el beniuo-
lenliam luam erga nos senliemus vberiorem, idque vt Serenilas lúa eíli-
ciat in hoc homine, inque eo ornando el diligendo nostro quoque amori
aliquanlura plus Iribual, siquis apud te respeclus nostri residet, el peti-
mus ab ea uehemenlcr et expectamus ac vt illi plenam in ómnibus fidem
adhibeas, quaecunque nostro nomine tibi dixeril eliam requirimus. Nos
hic Marlinum oratorem. tuum, sicut lúa voluntas fert, gralum et acceptum
sumus habituri, nec quicquam praeíerituri quod te velle a nobis alque
expeleré inlellexerimus, Quemadmodum amor mutuus inter nos el lúa vir-
tus poslulanl.
Datum Romae apud sanctum Petrum, sub annulo piscaloris, die vii
Julii MDXXV, Ponlificalus Nosiri Anno Secundo. — la. Sadolelus \
Carta de D. Miguel da Silva a el-Rei.
15:35— Jalbo H,
Senhor. — Ho desejo de yr a seruir vossa alteza em presenca, e
obedecer seu mandado, me lem acendydo tanto que, posto que n estou-
tra carta minha digua que quero esperar a reposta deste correo, tenho
determinado de yr logo tras elle, com muy grande perda de minha fa-
zenda e desarranjo de minha casa : cora ludo peco muito por merce a
vossa alteza que acerca do dinheyro se lembre de me fazer a merce que
Ihe peco, porque deyxo aquy em penhor muylos criados meus, os quais
nam se partirao sera vyr de lá esta prouisao, e por ysso dou ordera a
este correo que torne, mas nSo por querer esperar sua tornada, o que
nao farey, antes me quero partir dentro de oyto ou dez dias. Em todo-
las maneyras beyjo as maos de vossa alteza, cuja vida e Real estado
nosso senhor guarde e acrecenté como deseja.
De Roma a viii de juglio 1ü2o. — Dom myguel da Sylua *.
1 Arch. Nac, Mac. 18 de Bullas, n.° 5. E' do mesmo teor o documento n." ^1 do
mafo 26.
2 Ibi, Corp. Chron., Part. I, Ma^. 32, Doc. 60.
RELACOES COM a curia romana 247
RuUa do Papa Clemente l^II, dirigida a el-Rei
e á Rainha.
15^5— «lulllO Z3,
Clemens episcopus seruus seruorum dei Carissimo in Chrislo filio
Johanni Regí, et Carissime in Chrislo filie Catherine Regine Porlugallie
et Algarbiorum Illusiribus SaJutem et aposlolicam benedictionem.
Dudum siquidem per cerlum tuum, fili Carissime Johannes Rex,
tune apud nos et sedera aposlolicam Oralorem pro parle tua nobis expó-
sito quod vos, pro conseruandis inler vos vestrosque Consanguineos et
Affines pacis et amicicie federibus, sicut et inler veslros eliam predeces-
sores seruata fuerant, desiderabalis inuicem Malrimonialiler copulari ; sed
quia Secundo ex eo proueniente quod Duarum Sororum filiis eralis, ac
alias Secundo elTerlio ac duplici Quarlo, ac forsan alus de quibus noli-
ciara non habebalis, infra lamen Secundura Consanguinilalis gradum, gra-
dibus inuicem eralis coniuncli, veslrura in ea parle desiderium adimplere
non poleralis dispensalione apostólica desuper non obtenía, Nos, si qua
alia impedimenta ralione Consanguinilalis uel aífinilalis huiusmodi, quo-
rum non recordabamini et forsan noliciam non habebalis, dummodo non
esselis in arcliori gradu, expressis Consanguinilalis et Affinitalis pro ex-
pressis habenles ex premissis, ac certis alus causis tune exposilis, ves-
tris in ea parle supplicalionibus inclinali, Uobiscum, dummodo tu in
chrislo filia Calherina propler hoc rapta non fores ut prediclis et alus
forsan pro expressis habilis impedimenlis Consanguinilalis et Affinitalis
huiusmodi non obslanlibus, Malrimonium inler vos conlrahere, et in eo
poslquam conlraclum foret remanere libere et licite valerelis, per alias
noslras dispensauiraus, ac prolcm ex huiusmodi Matrimonio suscipiendam
legitimara nunciauimus, prout in eisdem liUeris plenins conlinelur. Et,
sicut exhibila nobis nuper pro parle veslra pelilio conlinebat, vos post-
modum lillerarum ac dispensaüonis huiusmodi vigore Malrimonium inler
vos per verba legitime de presentí conlraxislis illiidque carnali copula
consumaslis. Cum aulem, sicut eadem pelilio subiungebat, vos tempore
248 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGÜEZ
dal. dictarum lillerarura de alus irapedimenlis ralione Consanguinitalis
uel Affinitalis, infra Secundum Consanguinitalis gradum, forsan recordati
fuerilis, el noliciam habueritis, et propterca ab aliquibus de viribus lit-
terarum et dispensalionis et illarum \igore contradi Malrimonii huiusrao-
d¡, ac indeseculorum quoruncunque dubilari possit tempore procedente
nobis per dileclum filium Marlinum de Portugallia, Nepolem et apud nos
et dictara sedera Oratorera tuum, fili Carissime Joannes Rex, humiiiter
supplicari fecislis \l in premissis oportune prouidere de benignilate apos-
tólica dignaremur. Nos igitur, huiusmodi supplicationibus inclinati, volu-
mus et apostólica auctorilate tenore presentium decernimus et declaramus
quod dispensatio et littere predicte ab earura dat., necnon Matrimoniura
et alia inde secuta quecunque valeant, et vobis suíFragari debeant, vosque
iü Matrimonio predicto libere et licite permanere possilis, et proles ex inde
suscepla uel suscipienda legitima sit et esse censeatur, eliam si de alus
irapedimenlis predictis infra Secundum gradum Consanguinitalis tempore
dat. dictarum litterarum recordati fuissetis et noliciam plenam habuissetis.
Non obstantibus premissis ae in Prouincialibus et SinodaÜbus Conciliis
edilis generalibus uel specialibus Constitutionibus et ordinalionibus apos-
tolicis, necnon ómnibus illis, que in dictis lilleris volumus non obstare,
ceterisque contrariis quibuscunque. Nulli ergo omnino hominum liceat
hanc paginara nostre voluntatis decreti et declaralionis infringere, vel ei
ausu temerario contraire. Si quis autem hoc altemplare presumpserit in-
dignationera omnipotentis dei ac beatorura Pelri et Pauli Apostolorura eius
se nouerit incursurum.
Datura Rome apud Sanctura pelrura Anno Incarnationis Dorainice
Millesimo quingentésimo uigesimo quinto, Décimo Kalendas Augusli, Pon-
iificatus nostri Anno Secundo. — lo. M, Episcopus Veronensis K
^ Arch. Nac, Ma^. 31 de Bullas Doc. 6.
HELACOES COM a curia romana 249
Dre\^e do Papa Clemente ¥^11.
1595— «Viillio 99.
Clemens papa vii ad fuluram rei memoriam.
Etsi Monasteriorüm ac beneficiorum ecclesiasticorum omnium plena
ac omnimoda disposilio ad Romanum Pontificem pertinere noscatur, non-
nunquam lamen idem Pontifex aliqua ex eis priusquam vacent, certissua-
dentibus el sibi nolis causis, suae el apostolicae sedis disposilioni specia-
üter el expresse reserual, vi illis cum vacauerint per eum diclaeque se-
dis prouidenliam de personis idoneis ac sibi gralis el acceplis prouideri
seu alias disponi possit. Hinc esl quod nos cupientes duobus Blonasleriis
quorumuis ordinum exislant, in Regno Portugalliae consislenlibus, quae
primo per decessum illa quomodolibel oblinentium vacare seu comnien-
das aul administrationes cessare uel vniones dissolui conligerit, de perso-
na seu personis idoneis ac nobis gralis el accaeptis, per quas circunspe-
cte regi el salubriler dirigi valeanl, prouidere, seu alias de illis dispone-
re, Molu proprio, non ad alicuius nobis super hoc óblate petilionis ins-
tanliara, sed de noslra mera liberalitate, el ex certa scienlia ac de apos-
tolicae polestalis pleniludine, Dúo Monasteria, quoruncunque ordinum
exislant, in dicto Regno consistenlia, quae primo per decessum illa res-
pecliue quomodolibel oblinentium simul uel successiue vacare, seu illo-
rum commendas cessare, aul vniones dissolui conligerit, etiam apud se-
dem praedictam, eliam si illorum disposilio ad sedem praedictam specialiter
uel generaliter pertineal, ac de illis non nisi consistorialiter disponi con-
sueuerit eldebeal, nostrae et eiusdem sedis disposilioni auctoritale apostó-
lica lenore praesenlium specialiter el expresse reseruamus, Dislriclius in-
hibenles dileclis filiis conuentibus dictorum Monasteriorüm ne, illorum res-
pectiue occurrenle uacatione, aliquem seu aliquos in eorum el dictorum
Monasteriorüm respecliue Abbates eligere uel postulare, ac cuicunque seu
quibuscunque ordinum eorundem superiori seu superioribus ne eleclionem
confirmare seu postulationem aliquam admitiere, etiam quoruncunque pri-
uilegiorum, indultorum el lillerarum aposlolicorum, etiam cum quibus-
TOMO II. • 32
2S0 GORPO DIPLOMÁTICO POliTUGUEZ
uis derogaloriis ac fortioribus cíTicacioribus el insolitis clausulis irritan-
tibusque decrelis, nunc el pro tempore, etiam per nos seu sedem prae-
diclam concessorum, praelextu, necnon quibusuis alus personis cuiíis-
cunque status, gradus, ordinis uel conditionis fuerint, etiam quacunque
Archiepiscopali, Episcopali, aut alia maiori dignitate, seu cardinalatus
honore fungeutibus, quascunque alias speciales uel generales etiam men-
tales reseruationes, gratias, priuilegia, indulta aut litteras quocunque no-
mine nuncupentur per nos uel sedem praedictam, etiam consislorialiter
ac motu scientia et potestatis plenitudine, similibus etiam cum quibusuis
etiam derogatoriarum derogatoriis, alüsque fortioribus, eíficatíoribus et
insolitis clausulis, etiam talibus quod illis per alia priuilegia litteras seu
indulta derogan, aut illorum eífectus suspendi non possint, aut suspendi
posse non uidealur, quauis etiam Imperaforis Regum Reginarum Ducum
et aliorura Principum uel ecclesiasticorum praelatorum, etiam Sanctae
Romanae Ecclesiae GardinaliuFn seu iuriura cessorum uel ablatorum con-
sideratione, aut ob remuneralionem laborum et obsequiorum nobis et di-
ctae sedi impensorum, seu quocunque alio intuilu uel respectu in genere
uel in specie ad Monasteria dicti Regni se extendentia concessa hacte-
nus, seu in posterum forsan concedenda pro tempore prosequentibus, ne
illorum praetextu Monasteria per praesontes reseruata huiusmodi acce-
plare, aut illa sibi comendari, uel illis de personis suis prouideri, aut se
ad illa postulan uel eligi faceré, seu pro tempore facfis commendis, pro-
uisionibus, electionibus electionum, coníirmationibus seu postulationibus,
aut alus disposilionibus vti, uel alias de Monasteriis per praesentes reser-
uatis huiusmodi se inlromittere quoquomodo praesumant ; ac decernentes
quasclinque prouisiones, commendas seu electiones aut postulalionum con-
íirmationes, ac quasuis alias dispositiones per nos et sedem praedictam
de diclis Monasteriis, etiam consislorialiter ac molu scientia et potestatis
plenitudine similibus, quomodolibet faciendas, nisi in eis de Data ac te-
nore praesentium specialis, specifica, expressa et indiuidua menlio habita
fuerit, nullius esse roboris uel momenti, sicque per quoscunquc Júdices
et commissarios, etiam quauis auctoritate fungentes, et causarum palatii
apostolici Auditores, ac dictos Cardinales, subíala eis et eorum cuilibet
aliter judicandi, difliniendi et interpretandi facúltale et auctoritate, indi-
can, diíTinin et interprelari deberé, ac irritum el inane quicquid secus
super his a quoquam quauis auctoritate, etiam per nos, scienler uel igno-
RELACOES COM A CURIA ROMANA 251
ranler, contigerit alleniplari. Et nihilominus ne Monasleria per praesen-
tes reseruatn huiusmodi illorum respecliue pro tempore occurrentibus va-
calionibus, doñee per nos seu sedem eandem ülis de persona seu perso-
nis idoneis vt praeferlur prouidealur, seu de illis alias disponatur. diu-
lurne vacalionis eAponantur incomraodis, iüaque lemere occupenlur, seu
in diuinis ac spirilualibus et temporalibus detrimenla sustineant illorum-
que fructus redditus et prouentus dislrahantur, prouidere \olentes, dile-
cto filio magistro Michaeli de Sylua, scriptori el familiari noslro, quem
ad infrascripta íconomum el nuncium specialem ad noslrum et diclae se-
dis beneplacilum specialiter et expresse auctoritale el tenore praenfíissis
constiluirnus el depulamus, per haec scripta in virlule sanclae obedien-
tiae inotu sirnili commiltimus el mandamus qualenus per se, uel alium
seu alios, Monasferioruní per praesenles reseruatorum praediclorum, il-
loruní respecliue pro tempore occurrenle vacalione, regiminis et adminis-
trationis, ac bonorum necnon iurium el perlinenliarum omnium corpora-
lem possessionem, seu quasi, amotis quibuslibel ülicilis delenloribus ab
eisdem, nostro et camerae aposlolicae nonaine apprehendat, illamque ac
ipsorum Monasleriorum curam, régimen et administralionem in eisdem
spirilualibus el temporalibus geral el exerceal, fruclusque redditus el pro-
uentus eorundem recipiát elconseruet doñee aliud a nobis seu sede prae-
dicta desuper habueril in mandalis. Non obslanlibus praemissis ac cons-
lilutionibus et ordinationibus aposlolicis, necnon Monasleriorum et quo-
rum illa extiíerinl ordinum huiusmodi juramento, conQrmalione apostó-
lica, uel quauis firmitale alia roboralis stalutis el consueludinibus, priui-
legiis quoque indullis ol lüleris aposlolicis praediclis, quibus ómnibus et
singulis illorum tenores praesenlibus pro suíBcienler expressis habenles,
hac uice dunlaxat, illis alias in suo robore permansuris, harum serie spe-
cialiter et expresse pari molu deroganius, illaque in Monasleriorum hu-
iusmodi vacalione etTectum sorliri non posse ñeque deberé decernimus,
celerisque contrariis quibuscunque.
Dalum Romae apud sanclum Pelrum, sub annulo piscaloris, die xxvii
Julii MDXXV, Püntificatus nostri Anno Secundo. — Be. EL Rauennensis ^
» Arch. Nac, Mac. 20 de Bullas, n." 23.
32
252 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGÜEZ
Breve do Papa Clemente ¥^11, dirigido a el-ReÍ.
15S5 — Jumo 99,
Clemens papavii Carissime ¡n cliristo fili nosler salutem el Aposlo-
licam benediclionem.
Elsi proximis diebus in ipso aduentu dilecti filii Marlini de Portu-
gallo, oraloris lui ad nos, lilleras ad Serenitalem tuam dedimus, quibus
el aduenlum ipsiiis ex lúa uoluntate el senlenlia nobis acceplum el gra-
Uim, el lilleras lúas a nobis ledas significauimus, teslimoniumque nos-
Irum praelerea, el sensum animi nostri omnem in illis explicauimus, ut
per eas ad le perferrelur ; Tamen, ul ipsi Martino hoc a nobis pelenli
gereremus morera, el primas Hileras illas eodem exemplo el has quoque
seorsum insliluimus ad serenitalem luam scribere ilerum libi nuncianles
probatara esse nobis huius hominis induslriam, Nam el in sermonibus
prudens, el in omni aclione lui honoris ac dignitalis studiosus nobis ui-
sus esl, cum quo libenter sumus omnia communicaluri, quae iiiler nos
el serenilatem luam Iraclanda agendaque inciderinl. Ac de rebus quidem
publicis el de omni slalu sanclae sedis Aposlolicae ac noslro, sicul lu
in luis lilteris expeleré uidebare, loculi sumus libere el largiler cum di-
leclo filio Michaele Sylua, ul ipse, qui iam ad iler paralus esl el pro-
pediem in uiam se dalurus, omnia ad le perferat. Quem hominem non
desislimus libi commendare, omnem enim eius erga nos amorem, el om-
nem fidem in maximis noslris rebus cum lúa non mediocri dignitale su-
mus experti ; Sed quoniam eum celeriler audilurus es consilia noslra libi
explicanlem, non erimus in scribendo longiores, Teque ad sermones il-
lius reiiciemus. lUud nunc ascribimus excubare apud nos cum memoriam
clarae memoriae Palris lui, tum spem illam le non fore in sedis Aposlo-
licae dignitale ac noslra colenda ipso Párenle luo Rege praestanlissimo
inferiorem. Nos quidem cerle summam, quam erga illum gessimus, eliam
in Serenitalem tuam beniuolenliam sumus perseculuri. Quem animum nos-
trum, atque amorem ipse iam Marlinus plene nosse atque intelligere po
RKLACOES COM a curia romana 233
luit, el in his quae accidenl re ipsa esl experlurus, sicut ipse per lille-
ras Serenilali tuae poleril faceré nolum.
Datum Roniae apud sanclum Pelrum, sub anniilo Piscaloris, die xxíx
Julü MDXXv, Ponlificatus noslri anno secundo. — la. Sadoletus ^
Breve do Papa Clemente "¥11, dirigido a el-Rei.
1535— JTalbo 31.
Clemens papa yii Carissime in chrislo fili noster salulem et aposlo-
licam benedictionem.
His paucis diebus, cum in ea volúntate essemus vt Dilectum filium
Michaelem Sylua non pularemus hoc tempore esse dimittendum, atque
huius volunlatis nostre litteris ad serenilatem tuam datis rallones adscri-
psissemus, lum a veritate ipsa, tum a nostra erga eum beniuolentia sin-
gulari profectas, nec dubitaremus illas te admissurum esse et in optimam
partera accepturum ; Tamen, cum statim postea Michael ipse ad nos sup-
plex adiisset summopereque esset precalus vt nostra bona cum venia iter
sibi capere ad te liceret, cum se nec vitae illo periculo nec alia ratione
quauis contineri posse diceret, quin Regis sui el Domini mandatis conti-
nuo esset audiens, cumque in hanc rem instaret et urgeret, nec nobis con-
Iratendenlibus pateretur ullo modo sibi aliler persuaderi, Nos hanc quo-
que fidem tanlam ac virlutem in hoc homine admirali, ratique non eam
impediri a nobis sed adiuuari potius deberé, ad summum illi concessi-
mus vt in hac re animo suo obsequeretur, ñeque id admodum libenter
fecimus, sed fuit necessario properalioni eius et studio concedendum : pau-
cos tanlum dies excepimus, per quos possemus instruere eum de iis quae
ad serenilatem luam perferri et esset opus et nos cuperemus, sicut etiam
tu a nobis per lilteras postulasti. Ac nos quidem facimus libentissime vt
tecum, cum quo propter lúa et patris tui merila praeclara nobis et san-
clae sedi apostolicae amor et coniunclissima necessitudo constituía esl,
omnia plañe et libere conferamus, multumque confidamus opem et beni-
1 Abch. Nac, Mac. 20 de Bullas n." 10.
2o4 GÜÍIPO DIPLOMÁTICO POKTUGUEZ
uolenliain luam nostris consiliis conlendenlibus ad chrislianae rcpublicae
bonum nullo loco defuluram : per quem aulem commodius et melius nos-
trae interiores curae cogilalionesque ;id te deferrenlur, quam per Michae-
lem Sylua? ne deügere quidem ex onini numero apliorem quemquam po-
tuissemus vi si haec fueral nobis ex illiiis discessu subeunda molestia, si-
cut prefecto aegre ferimus aplum el prudentem, el in amore lideque fir-
missimum, florenlem praelerea in tota vrbe el curia hac primorum ho-
minura et clarissimorum amicitiis, in onini parte uitae spiendidum et gra-
tiosum a nobis diueili, ipsum nostrum animi dolorem hac commoditate
compensemos, quod el eo interprete sumusin magnis nóslriset sedis apos-
tolicae negociis apud serenilatem luam vsuri, el ipse locum apud te ob-
lenlurus esl dignissimae graliae alque auclorilatis, hanc enim fidem et
lilterae luae el oralor nobis praebuerunt, quae quanquam fides maximi
momenti esl, lamen cerlo scimus dexterilatem el prudenliam et penilus a
te perspeclam ipsius Michaelis fidem efTecturam vi el oplimum in eo cla-
rae memoriae palris tui iudicium, el beniuolenliam nostram iuslissimis et
maximis de causis conflalam sis cognilurus. Sed cuní in eis, quae illi íe-
cum comraunicanda nostro nomine mandauimus, el ¡n quibus uolumus
abs te ei summam haberi fidem, aliqua sint secreliora, quae nolimus in
aliorum scienliam ullo modo dimanare, non quin eorum omnium quorum
tu credis fidei nos quoque credamus, sed quia talia.sunl vt, si íleri po-
tuissel, ne cuiquara quidem praeter quam nobismelipsis tecum loquen-
tibus fuerimus credituri. De bis horlanmr serenilatem luam in Domino et
uehemenler ab ea conlendimus ne quodcumquo fuerit animi sui ac sen-
tentiae vilo alio interprete nobis- signiíicel quam Michaele ; sumus enim
in bis temporum fluctibus arle moderandis graui solliciludine animi et
laboribus dislracti, el quanquam consilio occurrere periculis contenda-
mus, vicit adliuc lamen omnem artem tempestas, cuius aliquando scden-
dae el componendae prima et máxima in Deo spes esl secunda in Sere-
nissimo Caesare, alque in eis deinde Principibus, quorum exlat egregia
in chrislianam rompublicam uoluntas, inter quos de le spem tantam con-
cepimus, quanlam virlus et Índoles lúa, luorum maiorum in fidem christi
pietas, in nobis excitarunt. Ilaec quam accuratis consiliis administranda
sint profeclo Serenilatem luam non lalet quae tibi sunt per diclum Mi-
chaelom exponenda, quem ut libenter etsliidiose audias, desque le in eam
curam M nobiscum et cum publico chrislianilatis bono, lúa uelis coniun-
HELACOES COM a CUKIA romana 255
da esse consüia, magnopere Serenilalem luam in Domino adhorlaimir,
nobisque hoc etiam gralissimum facías vt qui virlule íidelitate, suis pro-
priis el egregiis animi dolibus, quas cum seruitio quod Tibi et Palri tuo
raerifice praeslilit, cumque patris sui meritis et generis nubililale coniun-
xil, fulurus est apud le Michaol ipse ornatus el graliosus, is etiam causa
nostra el contemplalionc noslrae in eum singularis beniuolenliae sil orna-
tior. De quo ad altiores tionorum gradus exlollendo si quando cogitare
incipiemus existimabimus id qaoque, vt superioribus diebus scripsimus,
ad tuam amplitudinem hoc est Regis et Domini sui gloriam perünere.
Quod cupimus serenilalem tuam apud animum suum diligenlius cogilan-
tem cum recle ratione et cum ueritate melius perpendere.
Dalum Romae apud sanclum Pelrum die vltima Juiii mdxxv, Pon-
tificalus noslri Anno Secundo. — la. Sadoletus '.
Ferremus grauimme priuari nos consuetudine gratissimi ac pro-
batissimi nobis hominis dilecli filii michaelis oraloris lui, nisi Utlerae
ac nouus orator tuus nobis pollicerenlur apud se:remtatem luam summo
in honore futurum esse^ adeo ul speremus cognitis eius uirtutibus nobis-
cum cerlaturam esse in illo amando et beneficiis ornando — J —
Bre^e do Papa Clemente Til, dirig^ido a el-Rei.
15:35 — iSetembro 5.
Clemens papa vii Cafissime in christo fili nosfer salutem et aposto-
licam benedictionem.
Cum nuper dileclum filium Michaelem Sylua, oratorem apud nos
luum, aegre quidem et cum summa, vt par fuit, animi noslri molestia a
nol3Ís dimilteremus, nec sludium et celeritatem eius parendi tibi alque ad
te aduolandi voluissemus impediré, dedimus amori in ilium noslro et sin-
gularibus merilis erga nos eius, vt (qualis vbique in Legalis dimiltendis
mos esset) si non cum muñere, al cum spe aliqua muneris eum dimitle-
^ Arch. Nac, Mac. 26 de Bullas. n.° 22. Estas linhas foram escripias no fundo
do breve pela propria mao de S. S.
236 GORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGÜEZ
remus. Ilaque et abeunli ei in verbo ac fide noslra dúo Monasleria ¡n
tuo Regno primo vacatura promisimus, et (quod ex noslris lilleris Se-
renitas lúa perspiciel) ipsuní Michaelem, cum prinjum dicta Monasteria
vacarent, Iconomum nostrum el Gamerae apdstolicae ad capiendam eorum
possessionem depulauimus. Qua in re, etsi effeclui noslro seruiebamus,
lamen rem haud indecoram nec ingralam Ubi nos faceré arbilrati sumus,
in tuo oratore praesertim lali viro sacerdoliis, quae ad nos máxime per-
tinerent, ornando. Secuta est mox duorum Monasteriorum et \nius Prio-
ratus per obilum bonae memoriae Didaci episcopi Funchaldensis uacalio,
quam nobis primus nunciauit yenerabilis fraler Anlonius Puccius episco-
pus Pisloriensis, aliquot antea diebus quam luae super hoc litterae ad
nos peruenissenl, cui quidem Monasteria et Prioralum praedicta a nobis pe-
tenti, quanquam et in tempore potior et meritis erga nos magnis praedi-
tus esset, lamen aperte tune recusauimus, propler eam quam dicto M¡-
chaeli spoponderaraus fidem ne ue eius iuri atque expectalioni quoquo-
modo per hoc officeremus. Tuis uero postea subsecutis lilleris, quibus
eadem Monasteria el Prioralum fralri tuo concedi poslulasli, hic aliquanto
eliam magis hesilauimus, Nam, etsi tibi yI debemus praesertim in fratris
tul persona placeré summe cupiamus, nec studium placendi tibi nostrum
aut Fratris lui aetas aut Monasteriorum numerus retardaret, lamen dis-
tracli necessario fuimus bine lúa auclorilale quam maximam ducimus,
inde constantia et fide noslra nos in diuersum trábente. ínter quae ali-
quandiu ambigentes, delibérala mox re in eam cogilalionem deuenimus
vt simul luae auctorilalis noslraeque fidci rationem habenles pinguius qui-
dem atque vberius tuo fralri, Michaeli aulem ipsi reliqua dúo ita tamen
concedamus vi, si lúa Serenilas quo plures beneficio alüget, eliam dicto
Antonio episcopo gratificari in eorum altero nos maluerit, hoc noslra eliam
cum volúntate faceré possil. Gum aulem postea dileclus filius Marlinus de
Porlugallo oralor luus nos requisierit m[ hanc rem landiu vellemus dif-
ferre, quoad ij)se et haec ad te scribere el responsuní super bis a te ac-
cipere posset, nos ei hoc perlibenler annuimus. Nam praeterquam quod
tule, vt speramus, voluntatem nostram lúa volúntale el aequitale confo-
uebis, eliam diclum Michaelem, quem ad le hoc ipso tempore peruentu-
rum esse aut peruenisse iam credimus, tuae quoque Serenilali id accae-
plum referre cupimus, quam eliam confidimus dexleritate el prudentia ho-
minis perspecla, multorumque eius meritorum recordalam, non haec modo
RELACOES COM a curia romana 257
quae nos Iribuimus habituram grata, sed alia eliam pro Regia animi tui
magniludine esse cumulaturam.
Datum Roniac apud sanclum Petrum, sub annulo piscatoris, die v
Septembris mdxxv, Ponlificalus noslri anno secundo. — Be. El. liauen-
nensis '.
Breve do Papa Clemente Til, dirigido ao» lBl»po»
de Ijaiiieg;o e de Tizeu.
15!85 — Ontubro 4.
Clemens papa vii VenerabÜes fralres et Dilecti filii salulem et apos-
toÜcam benediclionem.
Cum nuper pro bono pacis et anfractibus litium, quae inter Dile-
ctum filium nostrura Alfonsum lituli sanctae Luciae in seplem soliis dia-
conum Cardinalem, monaslerii sancti Joannis de Tarrouca Gisterciensis or-
dinis Lauacensis fsicj diócesis perpetuum commendalanum, et dileclum
filium Magislrum Franciscum Accursium, canonicum Basilice Principis
apostolorum de vrbe, scriptorem el famiiiarem noslrum, super dicto mo-
nasterio ac illius regimine et administratione, quae dictus Franciscus etiam
ad se de iure spectare asserebat, el super quibus idem Franciscus in Ro-
mana Curia coram diuersis causarum palatii aposlolici Auditioribus contra
cerlum aduersarium tune in illo intrusum diulius Üligauit, ortae fuerant
seu oriri formidabantur, euilandis, per Dileclum filium Marlinum a Por-
tugalia, carissimi in christo filii nostri Joannis Portugaliae Regis llluslris
Nepotem, el suum apud nos el sedem apostolicam oratorem, pro diclo Al-
fonso Cardinale agentem et praefatum Franciscum certa concordia inita
fueril, per quam praefalus Martinus se infra certum tempus mandatum
ab eo Alfonso Cardinale ad consentiendum reseruationi pensionis annuae
Tertiae partis frucfuum dicti Monaslerii, deduclis expensiis necessaris et
consuetis, praefalo Francisco reseruande habilurum astrinxil, el in huius-
^ Arch. Nac, Mac. 18 de Bullas, n.° 8. O documento lo d'este ma^o é outro breve
do mesmo teor.
TOMO U. 33
258 COHPO DIPLOMÁTICO POHTÜGÜEZ
niodi euenlum diclus Accursius liti, et cause huiusmodi, ac omni iuri sibi
in monasterio, ac illius regimine, et administralione prefalis, seu ad illa
quomodoübel coinpelenti cessurus sit, el cum verus valor annuus fru-
cluum monasterii huiusmodi, deductis expensis praediclis, hic ignorelur
concordia huiusmodi non habita, ipsius veri valoris certa notitia debitum
effeclum sorliri non possit. Nos, quorum est quae concordie sunl fauore
prosequi beniuolo, vt concordia ipsa debito eíFectui demandetur prouidere
volenles, Fralernitatibus et Discretionibus vestris in virtute sanctae obe-
dientiae vobis Fralres Episcopi, necnon excommunicalionis per vos filii
vicarii : nisi parueritis incurrenda poena, per praesentes committimus et
mandamus quatenus de vero annuo valore dicti monasterii, deductis ex-
pensis veris* necessariis, et consuetis, eliam disposiliue de illarum dis-
tribulione debite fideliter et diiigcnter inquiratis, et vos diligenter infor-
metis, ac lestes fidedignos recipiatis, et eorum desuper attestationes in pu-
blicara formara redigi faciatis, et sub inde informationem per vos habi-
tara, ac processum desuper formalura et teslium deponen, sub vestris pa-
tenlibus lilleris clausis, el vestris sigiilis munitis, ac manibus nolariorum
publicorura subscriptis, ad nos per propriura, seu aliura nuncium, fide-
liter transmitiere curetis, vi habita de vero valore praediclo certa notitia
concordia huiusmodi terminetur, nec plus aul minus, quam lerlia pars
frucluum praedictorum eidem Francisco assignetur : in conlrarium facien-
tibus non obstantibus quibuscunque.
Datura Romee apud sanctura Petrura, sub annulo piscaloris, die un
Octobris MDXxv, Pontificalus nostri anno secundo. — ía. Sadolelus '.
' Arch. Nac, Mac. 37 de Bullas, n." 16.
HELACOES COW A CURIA ROMANA 259
Breve do Papa Clemente ^11; clirig;ido ao Cardeal
Infante O. Henrique.
1525 — Outubro 6.
Clemens episcopus seruus seruorum dei dilecto filio Henrico ex Re-
gibus Portugalie clerico vlixbonensi salulem et aposlolicam benediclionem.
Alti sanguinis clarissinia prosapia, necnon uite ac morum honestas
aliaque laudabilia probilalis et uirlulum merila, super quibus apud nos fi-
dedigno commendaris testimonio, nos inducunt \t illa tibi fauorabiliter con-
cedamus, que tuis commodilalibus fore conspicimus oportuna. Cum itaque
hodie tu, qui Prioralum Monaslerii per Priorem gubernari soliti sancti
Georgii ordinis sancti Auguslini, Golimbriensis diócesis, ex concessione
apostólica in commendam nuper obtinebas, commende huiusmodi per cer-
tum procuralorem suum ad id a te sgecialiter constilutum in nianibus nos-
tris sponte et libere cesseris, nosque cessionem ipsam admitientes Prioratum
prediclum, tune cerlo modo quem pro expresso haberi voluimus vacan-
tem, dilecto filio Martino a portugalia clerico Elborensi, familiari nostro,
per alias noslras lilleras commendari mandauerimus prout in illis plenius
conlinetur. Nos tibi, qui ut asseris in Quartodecimo uel circa tue elatis
Anno conslitulus, ac charissimi in christo filii noslri Johannis Porlugalie
Regis IHustris frater germanus exislis, ne ex cessione huiusmodi nimium
dispendium patiaris, de alicuius subuentionis auxilio prouidere, premis-
sorumque merilorum tuorum inluitu spelialem gratiam faceré volentes,
teque a quibusuis excommunicalionis, suspensionis et inlerdicti, aliisque
ecclesiasticis sententiis, censuris et penis a iure uel ab homine quauis
occasione uel causa lalis, si quibus quomodolibel innodatus exislis, ad
effectum presenlium dunlaxat consequendum, harum serie absoluentes et
absolutum foro cénsenles, necnon omnia et singula beneficia ecclesiaslica
cura et sine cura, que eliam ex quibusuis dispensalionibus aposlolicis ob-
lines el expeclas, necnon in quibus et ad que ius tibi quomodolibel com-
petit, quecunque, quotcunque et qualiacunque sint, eorumque fructuum,
reddituum el prouentuum \eros annuos ualores ac huiusmodi dispensa-
33 *
260 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
tionum tenores presenlibus pro expressis habentes, Tibi quod dicto Mar-
tino cedente uel decedente seu prioratum predictum alias quomodolibet
dimitiente uel amiltente el illo quouis modo vacante, etiam apud sedem"
apostolicam, liceat tibi ad prioratum predictum liberum habere regres-
sum, illiusque corporalem possessionem per te, uel alium seu alios, pro-
pria auctoritate libere apprehendere, et tam tue prioris commende, quam
presentium litterarum uigore, absque alia tibi desuper facienda commenda,
in eandem commendam vt prius retiñere in ómnibus et per omnia per
inde ac si commende huiusmodi minime cessisses conslitutionibus et or-
dinationibus apostolicis, necnon Monasterii et ordinis predictorum iura-
mento, confirmatione apostólica, uel quauis firmitate alia roboratis sla-
tulis et consuetudinibus, celerisque contrariis nequáquam obslantibus, au-
ctoritate apostólica tenore presentium de speciali gratia indulgemus, de-
cernentes ex nunc irritum el inane si secus super hiis a quoquam qua-
uis auctoritate, scienter uel ignoranter, contigerit atlemptari. Nulli ergo
omnino hominum liceat hanc paginam nostre absolutionis, indulti et de-
creti infringere, uel e¡ ausu temerario contraire. Siquis autem hoc attem-
ptare presumpserit indignationem omnipotentis dei, ac beatorum Petri et
Pauli Apostolorum eius, se nouerit incursurum.
Datum Rome apud Sanctum petrum Anno Incarnationis dominice
Millesimo quingentésimo uigesimo quinto, Pridie Nonas Octobris, Ponti-
ficatus nostri Anno secundo. — Hie. Vasionensis ^
Bre^e do Papa Clemente l^II, dirig;ido aoís Biispos
de Casitellaiuare e d'Alghero.
1525 — Oatabro 6.
Clemens episcopus seruus seruorum dei Venerabílibus fratribus Cas-
tellimaris et Algarensis Episcopis ac dilecto filio Ofiiciali Colimbriensi.
Hodie cum dilectus filius Henricus ex Regibus Portugalie clericus
Ylixbonensis, qui Prioratum Monasterii per Priorem gubernari soliti san-
» Abch. Nac, Mac. 2 de Bullas, n.° 11.
RELACOES COM a curia romana 261
cti Georgii ordinis sancti Auguslini, Colimbriensis diócesis, ex conces-
sione apostólica in commendam nuper obtinebat, commende huiusniodi,
per cerlum procuralorem suum ad id ab eo specialiter constilulum, in
manibus noslris sponle el libere cessissel, nosque cessionem ipsaní ad-
raillenles Prioratum prediclum, tune certo modo quem pro expresso ha-
ber! voluimus vacanlem, dilecto filio Martino A portugalia, clerico Elbo-
rensi, familiari noslro, per qiiasdam commendari mandauissemus, nos
eidem Henrico quod prefalo Martino cedente uel decedente, seu priora-
tum predictum alias quomodolibet dimitiente uel amillente el illo quouis
modo vacante, etiam apud sedem apostolicam, liceret sibi ad diclum prio-
ratum liberum habere regressum per alias nostras litleras indulsimus,
prout in singulis lilleris prediclis plenius conlinelur. Quocirca discrelioni
ueslre per apostólica scripta mandamus qualinus vos, uel dúo aut vnus
uestrura, si el postquam dicte posteriores liltere nobis preséntale fuerint,
per vos uel alium seu alios faciatis auctoritate nostra eundem Henricum,
uel procuralorem suum eius nomine, iure et facúltate regrediendi et in
euenlum regressus huiusnwdi possessione dicti Prioralus pacifice gaudere,
non permitientes eum per quoscunque desuper quomodolibet indebite mo-
lestan, contradictores per censuram ecclesiasticam appellalione postposita
compescendo : Non obstantibus ómnibus que in dictis posterioribus lille-
ris voluimus non obstare, Seu si aliquibus communiter uel diuisim ab
eadem sit sede indultum quod inlerdici, suspendí uel excommunicari non
possint, per litleras apostólicas non facientes plenam et expressam ac de
uerbo ad uerbum de indulto huiusmodi mentionem.
Datum Rome apud Sanclum petrum Anno íncarnationis dominice
Millesimo quingentésimo uigesimo quinto, Pridie Nonas Oclobris, Ponli-
ficatus noslri Anno Secundo. — Hie. Vasionensis *.
* Arch. Nac, Mac. 19 de Bullas, n." 26.
262 CORPO DIPL03IATIG0 PORTUGUEZ
Breve do Papa Clemente ^11, dirigido aois Reiis
de Heispanlia D. Carloü e 1>. Izabel.
15S5 — IVovembro 13.
Clemens papa vii Carissime in chrislo fili noster el Dilecta in chrislo
íilia salulem el apostoücam benediclionem.
Exponi nobis nuper fecisli per dilectum filium Nobilera virum Du-
cem suessanensem, tuum, fili Carissime Carole Rex Romanorum el His-
paniarum in Imperatorem elecle, apud nos el sedem apostolicarn orato-
rem, quod vos pro conseruandis inler yos veslrosque consanguineos et
aífines praeserlim ex sanguine regio descendentes, pacis el amiciliae foe-
deribus, sicut et ínter vestros eliam praedecessores etiam simili modo pro
regnorum suorum conseruatione seruata fuerunt, desideratis inuicem ma-
trimonialiter copulari. Sed quia, secundo ex eo q^uod duarum filii estis,
ac alias lerlio et quarlo ex eo quod clare memorie Emanuel portugallie
et algarbiorum Rex, luus in christo filia Isabella genitor, et clare memo-
rie Ilelisabel Hispaniarum Regina, tua fili Carole Auia, filii duarum so-
rorum, et sic secundo consanguinitatis, Tuque in christo filia Isabella, et
charissima in chrislo filia Joanna Hispaniarum Regina calholica, et ma-
ter tua, fili Carole, Tertio equali, sic que fili Carole et in christo filia Joan-
na terfio et quarto vt praefertur, ac etiam alio tertio et quarlo ex eo quod
praefatus emanuel Rex genitor tuus in christo filia isabella, et clare me-
morie Maximilianus Romanorum Rex in Imperalorem cleclus Genitor clare
memorie Philippi Hispaniarum Regis Genitoris tui, fili Carole, in secun-
do aequali gradu erant cum essent filii ex fratre et sorore, el praefatus
Philippus Rex el tu in chrislo filia Isabella in lerlio gradu equali ; Sic-
que vos, fili Carole et in christo filia Isabella, lerlio et quarlo aequali vi
praefertur, ac eliam alio quarlo consanguinitatis equali, ex eo quod quon-
dam Ferdinandus Infans Genitor praefali Emanuelis Regis et clare memo-
rie Ferdinandus aragonum Rex auus tuus, fili Carole, secundo consan-
guinitatis cuní essent nati ex fralre el sorore. Insuper Rex ipse Emanuel
et praefata Joanna Regina Genilrix tua, fili Carole, in tertio consanguini-
RELACÓES COM A CURIA ROMANA 263
lalis gradibus respective eranl coniuncli, Ex quorum personis vos, fili
Carole el in chrislo filia Isabelia, in quarto consanguinilalis equali gra-
dibus huiusmodi el forsam alus prouenienlibus, de quibus nolitiam non
habelis, infra lamen secundum consanguinilalis gradum, gradibus huius-
modi inuicem eslis coniuncli, veslrum in hac parle desiderium adimplere
non poleslis, dispensalione super hoc non óblenla, Quare idein Ludovi-
cus Dux el oralor pro parle veslra nobis humiliter supplicauit, \[ yobis
super hoc de opporlunae dispensalionis gralia prouidere de benignilale
aposlolica dignaremur. Nos igilur, siqua alia impedimenta ralione con-
sanguinilalis ve! aíTinilatis huiusmodi, quorum forsan non recordamini,
el forsan eliam nolitiam non habelis, dummodo infra secundum gradum
consanguinilalis el aííinilatis huiusmodi fuerinl, presentibus pro expressis
habenles ex praemissis ac certis alus causis nobis exposilis, huiusmodi
supplicalionibus inclinali, vobiscum, quando eliam Tu in christo filia Isa-
bella voluntarle huic rei accedis, vi praediclis el alus forsan pro expres-
sis habitis impedimenlis consanguinilalis el aílinitalis huiusmodi non ob-
stanlibus, malrimonium inter vos contrahere, el in eo poslquam coniun-
clum fueril remanere, libere et licite uaieatis, litteris noslris alias per nos
süper hoc in contrarium editis ac aposlolicis, necnon in prouincialibus
et synodalibus conciliis eliam editis, generalibus uel specialibus, consti-
tulionibus el ordinalionibus, caelerisque contrariis nequáquam obstanti-
bus, aucloritate aposlolica lenore presenlium dispensamus, ac prolem ex
huiusmodi Matrimonio suscipiéndam legilimam nunciamus.
Datum Romae apud sanclum Petrum, sub Annulo Piscaloris, die xiii
Nouembris mdxxv, Pontificalus nostri Anno Secundo. — la. Sadoletus '.
* Arch, Nac, Mac. 18 de Bullas, n." 7. Diz o sobrescripto: Carissimo in christo fi-
lio nostro Carolo electo Imperatori Hispaniarum ac Regi catholico, et Dilectae in christo
filiae Nobili mulieri Isabellae clarae meraoriae Emanuclis Portugalliae et Algarbiorum
Regis Natae.
264 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
Breve do Papa Clemente 1^11, dirig^ido a el-Rei.
1526— Marco Z3,
Clemens papa vii Carissime in christo fili nosler salutem et aposto-
licam Benediclionem.
Intelleximus ex dilecti filii Michaeüs de Sylua, olim oratoris apud
nos tui, ac preterea legati in Hispania noslri, litleris lui quoque oratoris,
et omnium fere sermone, nuper ipsum Michaeleni luo muñere ac beni-
gnitate ad ecclesiam Visensem fuisse uocatum ; quod quanto nos gan-
dió aífecerit haud satis possumus explicare, siue enim illius honor ac di-
gnitas nobis semper óptala, siue tuum de homine iudicium et declaratio
uoluntatis, siue etiam ipsius ecclesiae Visensis commodum el honestamen-
tum, se nobis offerebant, omnia eranl tiuiusmodi ut mirifice nobis essent
iucunda el grata, Cum non solum ex pastoraii oíficio atque persona rera
probaremus, uerum etiam priuato aífectu ac letitia susciperemus, Facit
enim ipsius Michaelis uirlus, ac fides, multorum annorum usu muitis-
que in rebus perspecla a nobis et cognita, ul eius amplificatione, qui in
nostram tolus incubuit, iure leteraur. Veruní in his ómnibus siculi apud
illum, ita el apud Nos facile eminel luae in eum beniuolentiae et uolun-
tatis declaratio, quae lili ac nobis muñere quoque ipso charior est cui
cum accesserit etiam gratia celerilatis, neo potueris benignitatem luam
diutius in hominem de te benemeritum diíFere aliquanto ille magis luae
Serenitati debet, et nos id iucundum accepimus, Q^' í^cc illud quoque
obliuisci possumus quod ad tuam in illum paratam liberalitatem nostrae
commendalionis cumulum uisus es libenter adiecisse, Quare hoc tuum
munus et iudicium animi noslri letitia et affeclu comprobantes, sumus li-
benter nominationem ipsam, quae Tibi honori, nobis gaudio, et illi eccle-
siae futura est ornamento, admissuri, id quod cupide expectamus. Inte-
rea quidem ita erga Serenitatem luam ex hac re aíTecti el animati, ul
quam iudicio el gralitudine summe in hoc usam intelligimus, eliam huius
Sanclae Sedis nomine de hoc commendemus, et priuato nomine gratias
e¡ agamus, sperantes eliam Serenilalem tuam his initiis suae liberalitatis
RELACOES COM a curia romana 26S
el Regiae celsiludinis exorsam contexluram cum primis caelera et ipsius
Michaeüs uirlule ac fide in dies magis perspecta, amorem quoque et be-
nignitatem suam in illum aiicturam esse, nec permissiiram vt is plus me-
ruisse quam tua sercnilas grala in eum fuisse uidealur.
Dalum Romae apud sanctum Petrum, sub Annulo Piscaloris, die
XXIII Marlii mdxxvi, Pontificatus Noslri Anno Terlio. — Be. EL Raiien-
nensis ^
Breve do Papa Clemente Til, dirig;ido a el-Rei.
15S6— Uarco 97.
Clemens papa vii Charissime in christo fili nosler salulem el apos-
tolicam benediclionem.
Inducli nuper merilis et \irlutibus dilecti filii Anlonii Tellez, cubi-
cularii noslri secreti, Prioralum Monasterii Sanclae Mariae de Cosía, or-
dinis Sancli Auguslini, Bracharensis diócesis, commenda eius per obilum
bone memorie Johannis Episcopi Visensis, extra Romanam Curiam de-
funcli, cessante, per alias noslras sub plumbo confeclas lilleras ei com-
mendauimus, firma eliam spe freli gratiam hanc noslram in personara
dicli Anlonii (cuius el eius geniloris praeciaram fidem el deuolionem erga
Serenilalem luam esse audiebamus) collalam, eliam Serenilali luae acce-
plum fore. Quam licet pro suo officio singularique bonilale eisdem iille-
ris noslris solilam execulionem ac debilum fauorem non denegaluram spe-
remus, lamen palerne el sludiose horlamur ac requiriraus in domino vt
lilleras aposlolicas commendae huiusmodi dicto Antonio per nos conces-
sas oporlunis fauoribus prosequi, el execulioni demandari faceré, Ac de-
inceps ipsi Antonio, qui luae Serenilatis natura el \olunlale deuolissimus
esl, ómnibus in negolüs et rebus suis honestis gratiam et benignilatem
tuam accomodare velis. Id luae Regiae celsitudini et in luos gratitudini
congruens, el nobis erit gralum.
Dalum Romae apud sanctum Pelrum, sub annulo piscaloris, die xxvii
Marlii MDxxvi, Ponlificatus noslri anno terlio. — Be. El. Rauennensis *.
' Arch. Nac, Mac. 26 de Bullas, n.° 23.
2 Ibi, Mac. 19 de Bullas, n.° 6.
TOMO II. 34
266 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGÜEZ
Carta de D. Martiuho de Portug;al a el-Rei.
15ZG — jranbo ...
Senhor. — Beijo as maos de Vossa alteza polla merce que me fez em
me mandar trazer minha pobreza. Francisco eanes chegou a ciuila no
comeco de Junho : se elle nao fora, o seu recado, segundo os lempos,
nao chegara qua. Foi Ihe necesario pelejar com huas duas gales d andré
doria, a que malou xiii homes. Ouue se asi bem que quis o papa uelo polla
emformacao que Ihe dele deu o raesmo andré doria, que agora hee capilao
geral do mar da egreja. Des que o vio Ihe dixe alguas cousas que dixese
de sua parte a Vosa alteza. Hee boa teslemunha desta güera, que, se-
gundo os aparelhos, nem a de Julio nem de liao a quiserao aremedar,
porque carta nem homem pode sair desta cidade. Nela ha gente feita, e
face cada dia. Pareceo me rezao, e a elle pollo que uio, deixar me cinco
bercos dos que trazia no nauio. Como esta furia pasar os mandarei : aja
o Vosa alteza, por me fazer merce, por seo seruico. Nao ha cardeal nem
homem que se nao faca forte, e que nao recé ser saqueiado. Agradeca
Vosa alteza, por me fazer merce, ao dicto francisco eanes seu seruico,
porque e pollos laes nao poso leixar de desejar de Ihe uer bem : qua ao
menos, des o papa ate lodos que o uiao, Ihe chamauao o caualeiro, por-
que o foi naquelle dia.
De roma aos de junho de 1526. — Dom Marlinho de Portu-
gal \
•Arch. Nac, Gar. 15, Mac. 2, n.° 27.
RELACOES COM a curia romana 267
fireve do Papa Clemente Til, dirija;icio a el-Rei.
15Se— annlio 9H.
Clemens papa yii Carissime in christo fili nosler salulem et aposlo-
licam benediclionem.
Egre quidem et non sine magno animi nosiri dolore, sed necessario
tamen ad ea armorum consilia confugere coacli sumus, ad quae ne ue-
niremus hucusque semper sluduimus Si enim, vt officium boni pastoris
ct communis palris poslulat, communem quoque tolius chrislianilatis pa-
cem, et Iranquillitalem, si libertatem Italiae, si nostram, et sanctae huius
sedis dignitalem auctoritalemque procurare et tueri uelimus, postea quam
quibusuis milioribus remediis nihil adhuc proficere potuimus, ad extre-
mara hanc deliberationem descenderé necesse nobis fuit, non quidem of-
fendendi cuiusquam causa, sed defendendae iusliliae, et nosiri officii ac
debili praestandi. De quo nostro consilio et deliberalione cum copióse cum
dilecto filio Marlino de portugal, oralore tuo, loculi simus, eique iniun-
xerimus vt ea oninia particularius diffusiusque ad serenilalem tuam scri-
beret, quo ipsa raentem et voluntalem nostram clarius cognosceret. Hor-
tamur eam in Domino \t illi de bis rebus ad le scribenti fidem praeslare
velit. Deinde \t tu quoque pro ea \irtute et propensa ad omne bonum
mente, qua serenilatem tuam plurimum ornalam Deus esse voluil, apud
eos Principes, ad quos praecipue spectat, quo idem vniuersale christia-
nitatis commodum, reliclis aliquanlisper priualis cupiditalibus amplectan-
tur procures. Quod erit nobis quam gratissimum, Deo aulem ipsi perac-
ceptum.
Datum Romae apud sanctum Petrum, sub annulo piscatoris, die xxvm
Junii MDXxvi, Pontificaíus nostri anno terlio. — la. Sadoletus ^
I Arch. Nac, Gav. 15, Mac. 2 n." 25.
3i*
268 GORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
Caria de cl-Rci D. Joáo III ao Papa Clcniente ^11.
15»e— Junlio SS.
Sanclissimo in Christo Patri ac Beatissimo Domino Domino nostro
Eius Sanctitalis devolissimus filius Joannes, De¡ gralia Rex Porlugalliae
et Algarbiorum citra ullraque mare ¡n África, Dominus Guineae, el ex-
pedilionis, navigalionis, ac commercii Aelhiopiae, Arabiae, Persidis, atque
Indiae, humillima bealorum pedum oscula.
In quanlo discrimine Res Ungarica sil, quanlique afferanlur terro-
res a Turéis, ut non solum paralum, \erum eliam illalum beilum, pene
iam esse videalur, lum ex lileris Beatitudinis tuae, exemplisque aliarum
literarum, ac ipsius quoque Ungariae Regís significatione, tum ex lis,
quae Míchael Sylvius consiliarius et scriba nosler ab archanis nobis tuo
nomine miserabililer retullit, cum summo animi nostri dolore intellexi-
mus. Quara, nos calamitalem forlissimae nationis, Regisque non solum
Christiani, sed eliam amici et pernecessarii dum ad lanías rerum omnium
diíficultates animum adverlimus, cum praeserlim videamus a nobis sub-
sidium alienissimo lempore peli, cum sponle noslra per nos ipsi vehe-
menter dolemus, tu his lileris Bealiludinis lúe, el commemoralione mise-
riarum et periculorum, magna accessio facía esl dolori noslro. iNam haec
veluli quaedam sanies iamdiu collecta, cum landem in ulcus eruperil, re-
crudescere dolorem meum fuit necesse. Qui enim fieri polesl, cum hoc
lanlum malum Iam late serpat, ul lolum chrisliane Reipublice corpus brevi
(ni Deus prohibeal) pervasurum esse videalur, ul mihi per inde, atque
ipsius membro res communi omnium causa non máximum dolorem af-
ierre dcbeal? Sed in his malis, tanlaque desperalione rerum, hanc tuam
vigilantiam et liberalilalem, quam praestas, Deus ipse lanquam signum
aüquod ad non penilus desperandum de República chrisliana subslulisse
mihi videtur, quam nos salulifcram curam tuam, elsi ex oíTicio pasto-
rali, Ubi peculiariler incumbal, non possumus non valde admirari, sum-
misque laudibus in coelum ferré. Deinde a le eliam vehemenler conten-
dimus ul quod adhuc fecisli, el nunc facis conslanlissime perficias ut quam-
RELACOES COM a curia romana 269
plurimorum subsidia primo quoque lempore illuc miUantur et conlrahan-
tur, nc haec calamitas latius pervagetur. Cui eo diligenlior cura adhi-
benda est, quo nostra esl negligenlia et culpa maior : Sed quando ea sunt
témpora ut magis facto quam consilio opus sil. Venio iam ad id quod
scribis de subsidio pecuniario : vellem profeclo (Deus mihi testis esl) eam
in presenli mihi facultatem contingere ut publicis Christiani nominis hos-
iibus non solum Boemum milifem, aut aliumquemvis mea conductum pe-
cunia, qui illorum impelum substinerel, quod tu Rexque ipse a rae pe-
titis, \erum etiara me, meumque pectus pro salute Christiani Regis ac
Religionis dignilate liceret opponere, Quod utique mihi gralissimum non
sine máximo praemio mihi faceré viderer. Quod enim per Deum immor-
lalem Chrisliano Principi maius ullum praemium quam in Deum pietas?
Cuius amor, tuisque paternis ac sanclissimis cohortationibus oblemperandi
\oluntas et quasi heredilarum mihi et veluti per manus Iradilum Chris-
lianae Religionis propagandae desiderium, quantum per aerarii nostri
inopiam licuil, reliquas omnes difficullates, quas ubi cunctisque mortali-
bus notissimas esse iulelligo, facile superayit. Itaque summa cum diligen-
lia in Ungariam mitlimus Leonellura de Brito nobilem ex aula nostra, ho-
minem diligentem el fidei perspectae, qui maximis ilineribus illuc advo-
let, cui literas ad Regem ipsum et ad nuntium itcm tuae Beatitudinis de-
dimus, alteras ul Regem magnum animum, optimamqüe spem liabere hor-
taremur, el quibus verbis possemus, ad se Regniimque suum defendendum
confirmaremus, alteras ut illic communi consilio luo nostroque res ipsa
peragatur, Pecuniae insuper tantum mitlimus, quantum in praesentia pos-
sumus, summam certe mininam tanlo bello gerendo at magni aestiman-
dam, vel ob hoc unum quod animo desiderioque meo longo intervallo mi-
nor quam sil esse videatur. Quo ego etiam onere ul me levarem potui
commemorare tot urbes in África partim frelo hercúleo, parlim océano
inleriecto, tot in India citra et ultra Gangem in Perside, ultiaque auream
Chersonessum non mari solum, verum etiam alio veluti orbe a nobis dis-
sitas ad quas fidem chrisli classes meae preciosissimam \eluli mercera
quotidie important, contra tot hostes meo milite meisque sumptibus subs-
tentatas Quarum genlium coramcrciis non imus inficias diliores nostros
fiere, illud taraen veiim libi persuadeas, earum di\iliarum m«ngnam par-
tera lum classes ingentes, tura stipendia milüum meorum absorbere, plus-
que ib! sanguinis lusitani pro fide Chrisli effundi, quam lucri ad roe re-
270 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
porlari. Adde ad haec amplissimam dotem, qua sororem niiper meam Ca-
rolo Imperalore collocavi, quae quamlibet magnum aerarium exhaurire
poluerit. Haec alque alia sexcenta posseni comniemorare, nisi el ad le
haec ipsa nimis multa essent, el mihi slatulum in' animo esset, nuUum
publicum onus pro fide Chrisli privala ulla causa sublerfugere. Tu vero,
Paler Bealissime, incumbe per Deum immorlalem in eam curam el cogi-
lalionem, ul caepisli, quae libi, populoque Chrisliano summam dignila-
tem el gloriara afferet, nec quicquara de diligenlia remillere debes : his
enim lemporibus difficillimis Reipublicae, el praecipue posl lanlam Prin-
cipura discordiam, quando cum máxime credebamus in mulla sécula Chris-
tianum populum moelu el calamitale liberalum, novi hi limores relexunt
superiora, quibuscumque rebus polest occurri hoslibus occurras, nec de-
sislas eliam nobis in\ilis, lamquam aegro corpori bonus medicus, omnem
medicinam adhibere, immo magis quicquid enim sic subveneris id erit
tolum el proprium tuum. Vale.
Datura in Oppido noslro Sanctaren., décimo quarlo Kalendas Julias,
anno nalalis Dominici mdxxvi. — Jo el Reye fsicj — M. Sylvius ^
Bulla do Papa Clemente Til, dirigida a O. llanuel
de Moronha.
1526 — Oatabro 5.
Clemens episcopus seruus seruorura dei dilecto filio Emanueli No-
rogna, clerico funchalensi familiari noslro, salutera el aposlolicam bene-
diclionem.
Grata familiaritalis obsequia, que nobis haclenus impendisti el ad-
huc sollicilis studiis impenderé non desistís, necnon vite ac morum ho-
nestas, aliaque laudabilia probitalis el virtutum merita, quibus personara
luam tara familiari experientia quara eliam fide dignorura leslimoniis in-
uari percepimus, Nos inducunt \l le specialibus fauoribus el graliis pro-
* Copia aulhenlica extrahida do Archivo do Vaticano.
RELACOES COM A CURIA ROMANA 271
sequamur. Dudum siquidem cum tu asserens Ubi alias de parrochiali ec-
clesia sancli Christophori de Nogueira, Lamacensis diócesis, tune certo
modo vacante, apostólica auctoritate prouisum fuisse, omni iuri libi in
eadem ecclesia vel ad illam quomodolibet competenli illius possessione
per te non habita, in manibus felicis recordalionis Leonis pape x prede-
cessoris noslri sponte et libere cessisses, el dicfus predecessor cessionem
huiusmodi admiltens de cadem ecclesia, tune certo modo vacante, quon-
dara Johanni Brauo, olim dicte ecclesie Rectori tune in humanis agenti,
per quasdam prouidisset idem predecessor tibi quod, dicto Johanne ce-
dente vel decedenle, et in certos alios tune expressos euenlus, iiceret tibi
ad dictara ccclesiam liberum habere regressum seu accessum, per alias
suas litleras indulsit, proul in singulis litteris prediclis plenius contine-
tur. Cum aulem, sicut exhibila nobis nuper pro parte tua pelilio conti-
nebat, post concessum tibi indullum prediclum, et ante obilum prefali Jo-
hannis, in dicta ecclesia vna Preceptoria Mililie Jesu christi in Regno Por-
tugalie instituía apostólica auctoritate erecta fuerit, ila quod erectio hu-
iusmodi, cedente vel decedenle dicto Johanne, eífectum sorlita esset et esse
censeretur, et ab aliquibus hesitetur an propler erectionem predictam in-
dulto tibi concesso huiusmodi preiudicalum exislal. Nos libi, qui eliam
Cubicularius secretus ac continuus commensalis noster, el, vi asseris, de
Robili genere procroatus exislis, ac indulti huiusmodi vigore regressum
seu accessum ad diclam ecclesiam habuisti, ac illius possessioncm forsan
assecutus fuisli, ne proplerea induUi huiusmodi fruslreris eífectu proui-
dere leque premissorum obsequiorum et meritorum tuorum intuitu gra-
tioso fauore prosequi volentes, et a quibusuis excommunicationis, suspen-
sionis el interdicli, aliisque ecclesiasticis sententiis, censuris et penis a
iure vel ab homine, quauis occasione vel causa latís, si quibus quomo-
dolibet innodalus exislis, ad effectum presenlium dumlaxat consequen-
dum, harum serie absoluenles et absolutum fore cénsenles, necnon om-
nia et singula beneficia ecclesiastica, cum cura el sine cura, que eliam ex
quibusuis dispensalionibus apostolicis obtines et expectas, ac in quibus et
ad que ius libi quomodolibet compelit, quecunque, quolcunque et qua-
liacunque sinl, eorumque frucluum, reddiluum el prouenluum veros an-
nuos valores, el huiusmodi dispensalionum tenores, presenlibus pro ex-
pressis habentes, luis el Carissimi in chrislo fiüi noslri Juhannis Porlu-
galie et Algaruiorura Regis illustris, qui etiam prefale Mililie Magister
272 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
exislil, in hac parte supplicationibus inclinali, per ereclionem prediclam
indullo Ubi concesso huiusmodi mininie preiudicalum fuisse, ila tamen
quod le decedenle el ecclesia predicla per obitum luum vacante, eliam
apud sedern aposlolicam, el non alias, ereclio predicla suum plenarium
eíFeclum sorliri debeal in ómnibus et per omnia, per inde ac si regressui
seu accessui huiusmodi locus non fuisset, licealque dicto Magislro de ea
disponere vi prius, aucloritale apostólica tenore presenlium decernimus
el declaramus : Non obstanlibus premissis, ac Conslilutionibus et ordina-
lionibus apostolicis, necnon dicte Militie iuramcnlo, confirmalione apos-
tólica vel quauis firmitate alia roboralis, statutis, stabilimentis, vsibus
el naturis, ceterisque conlrariis quibuscunque. Nulli ergo omnino homi-
num llceal hanc paginara nostre absolutionis decreti el declarationis in-
fringcre, vel ei ausu temerario contraire. Siquis autem hoc attemplare
presumpserit indignalionem omnipolenlis dei, ac beatorum Petri el Pauli
Aposlolorum eius, se nouerit incursurum.
Dalum Rome apud Sanclum petrum Anno Incarnationis dominica
Millesimo quingentésimo uigesimo sexto, tertio nonas Oetobris, Ponlifica-
lus nostri anno lertio ^
Breve do Papa Clemente l^II, dirigido a el-Rei.
15:36— Outubro IS.
Clemens papa vii Carissime in Christo fili noster Salutem el Apos-
lolicam benedictionem.
Credimus non ignorare Serenitatem tuam quo in statu nunc sint
christianitatis res, ancipiti uidelicet et periculoso, nam, et bellis inter nos
impliciti, et Turcharum Rege occupala prorsus Ungharia, Ilaliae tam ira-
minenle, quid nobis bonae spei ad praesidia noslrae reliquiae salutis os-
lendalur (?) plañe nil uidemus. Quamquam nos illi Regno misero, atque
infelici, quibus poluimus auxiliis opitulali sumus, atque, ut conslat et
Ubi constabit lestimoniis eorum, qui illas res bene nouerunt, nostra prae-
^ Arch. Nac, Mac. 2 de Bullas, n." 3.
RELACOES COM a curia romana 273
sidia, nostrae cnpiae, noslri Mililes, aul impedimenlum Turcis non me-
diocre fuerunt, aul illorum cerle Ímpetus sua clade el sanguine sunl re-
morali, sed siue ob hostium inenarrabiiem polenliam, siue quod Deus id
quod polius limemus nosiris peccalis aduersus esl, viclis el confractis re-
pagulis ómnibus, iilud esl Regnum in hostium Infidelium poleslalem re-
daclum ; accidil iliud nobis illa Regna seruare el defenderé cupienlibus
incommodum, quod bello eramus in Italia implicati, non lam quidem con-
tra Caesaris Serenitalem, nihil enim ab ipso certi malí aul pernicie Ila-
liae parari putamus, quam aduersus illius Exercitum el Duces, qui slatu
Mediolani occupalo ómnibus caeleris simiiem lerrorem suae nimie cupi-
dilalis insciebant, cuius belli per nos suscepli, si tibi reddenda essel a
nobis ralio, aul si tu clades, rapiñas, direpliones, delrimenla miserae Ita-
liae perspicere poluisses, non dubilamus quin iuslissimam, vel polius ne-
cessariam causam noslram judicaturus fueris. Exercitum quidem Caesa-
ris sine slipendio landiu relenlum omnium bonis el fortunis illi in prae-
dam oblatis, qua licentia, quolque iniuriis in imbecilles populos usum
fuisse putandum, sic potesl per se lúa Serenitas cogitare. Nos igilur ad
liberalionem aflliclae Kaliae arma sumpsimus, ul sumus arbitrali pia el
justa, nec quidquam nos aliud spectasse quam salutem, el communis om-
nium genlium Patriae Ilaliae, testimonio esl quod nihil in victoria ad nos
emolumenti perveniri pacli sumus, sed lanlum Pasloris el defensoris Jus-
lilae OíBcio fungi voluimus, contra autem ipsum Caesarem, eiusque res
legitimas, alque proprias ila nihil vnquam sumus damni machinali. Ul
cum superioribus diebus columnensibus subdilis nostris quidem, sed no-
bis parum fidis arma in manibus ad Portas Urbis nostrae lenenlibus nos
quoquo firmam manum mililum comparuissemus, qua illis facile supe-
riores in Neapolitanum Regnum inlrare, el omnia turbare, ac labefaclare
potuissemus, simulataque fides esl nobis per columnenses dala eos arma
esse deposiluros, nihilque contra nos, el stalum noslrum tentaturos sla-
lim omnia ármala praesidia dimisimus ; quoque in parte si inimico ani-
mo fuissemus in Caesarem bellum flagrare el \igere oporlebal ea ex parte
summam paceni fecimus ; ergo in hoc slatu Res nostrae erant, cum est
ad nos de Regís Ungaríae morle, el eius exercílu cesso, ac de Turcarum
Victoria allalum, quo nunlio perculsi cum cerneremus, nisi apta reme-
dia quererentur, omnia in unam ruinam procubitura, statim caepimus con-
silium inspirante Domino quacumque ralione arma noslra dcponendi, ac
TOMO II. 33
27 i CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
jusso accersivi Ugoni do Moneada Caesaris Capilaneo induciarum tempus
consliluendi. Quo inlcrea nos melipsi ad Carissimos ¡n Christo íilios nos-
tros Caesarem, el Chrislianissimurn Regem accederé, el eíQagitarc inter
¡líos pacem auxilium labanli Chrisüanae Reipublicae pelere, alque obse-
crare ¡ram Dei denunciare omnia denique tenlare, el agere, quae ad pcr-
feclum pacis necessaria essenl Valeremus non noslro incommodo, non po-
pulorum noslrorum, non pcnculis uUis, aut Maris, aul Terrae noslram
piam volunlalem delerrenlibus. Hac re sic delibérala postero die mane.
Advócalo venerabilium frairum noslrorum Sancíae Romanae Ecclcsiae Car-
dinalium Consistorio, significavimus ¡[lis huius suscipicndi ilincris menlem
noslram, quae cum ab ómnibus fuisset approbala süenlium lunc ¡llis in-
diximus. Vespere aulem eiusdem diei, Vocalis Oraloribus omnium Prin-
cipum, qui apud nos eranl, eamdem volunlalem noslram illis aperuimus,
Ínter quos dileclus filius Marlinus de Porlugaüia Serenilalis Tuae ncpos,
cuius virios, industria, prudenlia nobis cum saepe alias lum máxime in
hoc omnium periculosissimo lempore salisfecit, oplimus potesl sibi esse
Testis, qui in Consiiiis periculisquc noslris ómnibus labore, diiigenlia,
Consilio assiduus inlervenit, el hactenus, quae Dei eranl. Cum ecce pos-
Iridie summa mane4umuItuosissimus nuntius ad nos venil Columnenses
oblilos fidei, quam nobis dederant, iniquissima mente et volúntate Duce
iam diclo Ugo de Moneada Caesaris Capilaneo cum magna manu esse ad
vrbis Portas, iamque ingressos menia ad personam noslram vel nccan-
dam ve! caplivandam praeproperos advolare. Quo molu subacli continuo
ad Arcem Sancti Angelí nos recepimus, atque illí noctu longissimo con-
feclo, cum ¡n palalium venissent, atque ibi personam noslram non inve-
nisscnl, ad caedes, direplionesque conversi sunl. Quo in speclaculo acer-
bo, el lugubri, quid esl quo pro calamilate tanli mali scribcre aple pos-
simus cum oculis nostris videremus Irahi, rapí, ferri omnia tam sacra
quam prophana quamque ín eiusmodi loco, quid polius esse prophnnum,
cum lemplum illud sanclum el Venerabile Beati Petri, quod capul, quod
domicilium, quod fundamentum Christianae Religionis scniper habitum
esl, Hispanorum aliorumque, qui cum illis eranl manibus crucnlis vi-
deremus diripi, aras sanguine foedarí, omnia sacrorum mislcria dislrahí
el dilaniari, necnon anliquum sacrarium in Palalio, in quo rem divinam
perpetuo Romani Ponüfices celebrare solíli eranl, ila cullu, el apparali-
bus ornalum, ul lamen in eo plus reverenliae el sanclílalis quam divilía-
RELACOES COM a curia romana 275
rum esset ómnibus ornamenlis, nullo sacramcnlo Religionis cupidilalem
rclanlanto vidinuis spoltalum. Qnibusque lemplis ct sacris rebus, ñeque
Gülhorum quondam uimis ferae mentes, ñeque Vandalorum Chrislo non
parenlium infidelilas, cum in hace cadem loca barbarae illae gentes per
vim invasisscnl, ullam iniuriam, ullum delrimentum propler reverenliam
sanclilatis attulcrunl Domini Chrisli nomen, et Caracterem preferentes nul-
lam in pariem peporcere cis ducenlibus, atque horlanlibus, quos máxime
aegreferre tam atrox deliclum el facinus oporlebat. Nec hic illorum im-
nianilas conslilil sed discussionibus faclis cum p'urimae Domus praedae
fuissent dalae, cumque aüas plures idem incommodi sensuras cernere-
mus, ifa dolore victi et aíiliclae Urbis misericordias affecli fuimus, ut po-
Uus ad Gondiíiones (?) devenire quam tam acerbura speclaculum diulius
inlueri suslineremus, magna quidem noslra et Sanctae Sedis Aposlolicae
indignifaíe, sed de duobus maximis malis quod minus maium luit duxi-
mus eligendum. Ilaque ad pacliones descendimus, ul ulrinque arma in
Italia suspenderenlur, quod nos quidem iam velie faceré, fueramus pro-
fessi, sed magnus tamen in eo dolor, quod uolunlale faciebus (sicj id per
\im faceré \ideri, ul eis ómnibus, qui in eo insullu contra nos el Sedem
Aposloücam ignosceremus, quod eliam concessimus condilione apposita,
quam lamen condilionem, nec lili servaverunl, ñeque ul apparel sunt ser-
valuri. His paclis condilionibus illa procella summi periculi tura a nobis
dcpulsa esl, sed tam súbito et insuperato incommodo consilium nostrae
profeclionis sublatum videbatur dissuadenlibus fere ómnibus, ul ab ilinere
desis!ercmus, quod iam nuilam habituram esseldignitatem, nec optali exi-
lus pacis conciliandae gratiam, Stetimus igilur ancipiles, el vehementer
dubii quid nobis essel agendum. Hace linquere uli eranl sic túrbala pa-
rum caulum ad conficiendam pacem, non accederé parum pium videba-
lur, Cum re denuo cum Venerabilibus fralribus noslris communicala hoc
consilium captura esl,. ul millerenius ad omnes Reges Unghariae, el ne-
ccssitalera pacis, el nosirum, et quoque casum significarent, ac
si coerenlibus corum ad pacem et sludiura Concordiae voluntalibus ali-
quis eligerelur locus, in quo fieri Commune Regum colloquium inler ipsos
possel vosmet denunliarenl ad illud colloquium esse \enluros, ac alii ad
alios dcsiinali sunt, ad le vero fili Carissime non habuimus dexieriorem
prudcntiorem nuncium, quera milleremus, quam tuum ipsius Oralorem,
cüius omni hoc lempore summa erga nos, et hanc sanclam sedem OíDcia
35*
276 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
exlilerunt, ille enim nuilo labore recúsalo saepe inter nos et Ugonem iam
diclum cuín nec gladiorum, nec licentiae mililaris periculun) quod lilis a
cupidis praedae el sanguinis mililibus ¡mmiuebal illius pielalem, el ope-
ram relardaret omni sollicitudine, oníni sludio el opera conalus esl, ut
el illorum crudelem uim miligare, el nos ad composiUonem cum illis ad-
ducerel, cui quanlum debeamus vix possumus explicare; cerle, nisi eius
induslria el auclorilas intercessisset, aliquod maius malum illo die fuisset
palralum cura igitur el teslis fidelis el prudens expliciler, el oplima menle
alque animo in Ghrisli rem praediclus a nobis essel iudicalus eum in se-
creto Consislorio iussimus inlroduci, ac illum obtestali sumus, el iler hoc
necessarium ad le pro chrisUana república, el Dei oplimi maximi fide,
ac pro noslra dignilate susciperel, quam pelitionem noslram omnium Ve-
nerabilium fratrum noslrorum preces sunl subsequulae, alque ipsi ul esl
in omni labore promplissimus, el si durius aliquanlum ducebal sine luo
jussu a sua legalione discerere, lamen, tanlo consensu noslro el senalus
Aposlolici viclus, ac oplime exislimans serenilali luae pro luo eximio ani-
mo in rem Ghrisli el publicara id non solura probatura, sed gralura eliam
fulurum, concessit noslrae \olunlali, alque hunc quoquo posl alios mul-
los laborera ad le proficiscendi, el ad serenissiraum queque Gaesarem sus-
cepil, ad quera quaraquam ea per alios curavimus proferri noslra desi-
deria ; lamen in ipso suo Oralore máximum momenlum ülius movendi
el suadendi posuimus. Quae aulem a lúa serenilate requirimus el haec
sunl Primum ul quod ad pacera comniunem, el remedium adversus cru-
delissimum hoslem parandura perlinel in eo velis oranera vira adhibere,
el virlulis el auclorilalis el polenliae luae. Deinde, si alia ralio negolii
conficiendi expedilior non occurral, diera el locura el raedura velis cons-
liluendum curare suadendo hoc Gaesari, el si eliam Ubi videalur Chris-
tianissimo Regi, ul colloquium sanclura el salulare fieri possil, sicul nos
queque arabos, eosdem Reges non solura horlaraur per nuncios noslros
verura el obsecraraus nos enira serenilali luae polliccmur, si huius oplali
colloquii data eril facultas nos prontissirao el libentissimo animo illuc ac-
cessuros, personaraque noslram ómnibus periculis pro Dei el fidei Ghrisli
vlililale, el causa obiecturos Quod ita máxime fieri cupimus ul eliam in-
lervenial si possel fieri serenilas tua, vel OratrixGoncordiae, vel con-
dilionura confirraalrix quod lúa máxime aucloritate poleril eíTici ; nec la-
men arbitramur factura ullum praeclarius aul gloriosius posse a le hoc
RELACÓES COM A CURIA ROMANA 277
lempore suscipi dignum tua et parentis lui gloria, qui quidem luus Pa-
ler cum omnem aetalem suam in re Chrisli et Religionis Chrislianae pro-
pagalione consumpseril, tanlaeque laudis haeredilalem libi reliqueril. Ad-
\enil nunc tempus non optabile illiid quidem, sed tanien libi quid accom-
niodum, quo brevi spatio uno máximo, el opporlunissimo pacis opere el
consilio illius perpeluam et eximiam laudem ex mullis pielalis opeiibus
acquisilam possis adaequare, debes aulem hoc adeo, et eis divinis mune-
ribus, ac beneficiis, quae sibi ab iilo collala mulla et magna sunl. In
quem si parum gralus reperire timenda illius ira indignalioque esset :
Porro res Chrislianae in eum locura adduclae sunl ut aut celeri remedio
maximis vrgenlissimis non iam periculis sed cladibus occurrendum sil
aut nullum, posthac fulurum sil remedium, cuius remedii inveniendi nos
summam quandam spem el opinionem in lúa serenilale ponimus, quae
ne nos fallal eliam alque etiam le per viscera misericordiae Dei nostri ob-
testamur. Sed de bis copiosiora mándala ipsi luo Oralori ad le perferen-
dum dedimus, cui Serenilas lúa circa hoc referenli fidem summam ha-
bebit.
Dalum Romae apud sanclum Pelrum, sub annulo Piscaloris, die xviii
Oclobris MDXXYI, Ponlificatus nostri anno Primo fsicj K
Bulla do Papa Clemente l^II, dirigida a el-Rei.
152G — IVo^embro 21.
Cleraens episcopus seruus seruorum dei Carissimo in chrislo filio
Johanni Porlugalie et Algarbiorum Rcgi Illustrí Salulem el apostolicam
benediclionem.
Gralie diuine premium el humane laudis preconium acquiritur, si
per seculares Principes ecclesiarura prelalis, preserlim Ponlificali dignilale
predilis, opporluni fauoris presidium el honor debilus impendalur. Hodie
• Bibliolheca da Ajuda — Symmicta — Tora. 39 f. 18. Nao encontramos o breve ori-
ginal, nem transumpío algum correcto: preferimos, comtudo, publicar esta copia, ape-
xar de todos os seus defeitos, que nao tentamos corrigir, a omittir um documento inte-
ressante para a historia d'esta época.
278 COUPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
siquideni ecclesie Visensis, lunc per obilum bone meniorie Johannis,.oI¡m
Episcopi Visensis, exlra Homanam Curiain defuncli, pastoris solalio des-
Ululc, do persona di'ocli filii Michaelis elecli Visensis, nobis el fraliibus
noslris ob suoriim cxigenliam merilorum accepla, de fralrum eorundcm
consilio aposlolica auclorilale prouidimus, ipsumque illi in Episcopum pre-
fecimus el paslorem, curam el adminislralionem ipsius ecclesie sibi in spi-
rilualibus el lemporalibus plcnarie commillendo, proul in noslris inde con-
feclis lilteris plenius conlinetur. Cum ilaque, fili Carissinie, sil virluUs
opus dei minislros benigno fauore proseqni, ac eos verbis el operibus pro
Regis clerni gloria \enerari, Maieslalem luam Regiam rogamus el horla-
tnur alíenle qualenus eundem Michaelem elecluní, ac ecclesiam prcdi-
clam sue cure commissam, habcns pro noslra el aposlolice sedis reue-
renlia propensius conimcndalos, in ampliandis el conseruandis iuribus
suis sic eos tui fauoris presidio proscquaris, quod ideni Micliael eleclus
lili fauoris fullus auxiüam in commisso sibi dicle ecclesie regimine possil
deo propilio prosperan, ac libi cxinde a deo perennius vile premium el
a nobis condigno prouenial aclio graliarum.
Datun) Romc apud Sanclum peirum Anno Incarnalionis dominice
Millcsimo qningcnlesimo uicesimo sexlo, Undécimo Kalendas Decembris,
Ponlificalus noslri Anao Terlio. — A. Gralia Dei '.
Drevc do Papa Clciiicntc "VH, dirigido a cl-Rel.
152G — Dexembro O.
Clemens papa vii Charissime in chrislo flli nosler saUílem el apos-
tolicam bencdidionem.
Cum nuper nos consyderalione Maiestalis liiao regiae nobis snper co
sludiose siipplicnnliá ecclesiae Visensis, lunc per obilum bonae' memoriac
Joannis olim Episcopi Visensis, exlra romanam curiam defuncli, pasloris
solalio dcslilulae, de persona dilecli filii Michaelis Elecli Visensis de fra-
lrum noslrorum consilio aposlolica auclorilale prouiderimus, praeficiendo
• Abch. Nac, Mac. 18 de Bullas, n." 44.
RELACOES COM a curia romana 279
ipsum illi ¡n Episcopiim ct paslorem, oc secum ct omnia el singiila mo-
naslcria el hcncficia ccclosiaslica, quae lunc oblincbal vi priiis quoad \i-
ueret obünere, ac pensiones annuas quas percipiebal percipcrc >a!erel, Ín-
ter aüa dispensando sihique per quasdam in forma Brcuis ¡¡lleras vi cliam
lilleris aposlüiicis super prouisione el praefeclione praedicüs non confc-
clis, possessioncm sen quasi rcgiminis ac bonorum diclae ccclesiae ap-
prchendere, ac fnictus, reddilus el prouenUis mcnse Episcopaüs Visensis
percrpere, el quae jurisdiclionis Episcopaüs sunt cxercere valcrel, indul-
serinius. Nos, qui banc luae Serenitalis in ipsum Michaclcm graliludincm
el benigiiilalcm cum eisdem fralribus noslris summe gralam habuimus,
\l nosira Uiaquc voluntas suum celerius sorlianlur cíToclum, candem luam
Sereniialem liorlamur in domino el sUidiose requiíimus vi pro sua in hanc
sanclam sedcm obseruanlia el deuolione, ac ob ipsius Michaelis Ubi ac
clarae memoiiae genüori luo dedilissimi benemcrüa, benigno aíTectu am-
plius commendalum suscipiens in assequenda possessione regiminis el ad-
minislralionis ac bonorum ecclesie buiusmodi eidcm Michaeü Eleclo, el
eius circa boc nogoliorum gcstori, fauorem el auxilium oportuna exbi-
beas. In quo eadem lúa Serenilas rem se dignara el nobis admodum gra-
tara eíiiciel.
Dalum Romae apud sanclum Pelrum, sub Annulo piscaforis, Dio
viiii Dcccmbris mdxxvi, Ponliíicalus noslri anno quarlo. — Be. El. Ra-
Bre^c do Papa Clemente ¥11, dirig^iilo ao Bispo
tle l^ixeu D. llig;uel da Silva.
ISSO — Dezemliro 9.
Clemcns papa vii Dilccle fili salulem el apostolicam bcncdiclioncm,
Cum nos nuper ecclesiae Viser.sis, lunc certo modo pasloiis soiatio
deslilulae, de persona lúa nobis el fralribus noslris ob luorum exigenlii-m
^ AncH. Nac, Mag. 20 de Bullas, n." 7. E' do mesmo tccr o documento n.° 22 do
ma^o 19.
280 CORPO DIPLOMATÍGO PORTÜGÜEZ
merilorum acccpla de frairum eorundem consilio apostólica auctorilale pro-
uideriinus, teqiie illi in Episcopum praefecerimus el paslorcm, ciirnm el
adminislralionem ipsius ecclesiae libi in spirilualibus el temporalibiis ple-
narie commillendo ; ac lecum, vi omnia el singula monasleria el benefi-
cia ecclesiaslica secularia el regularla quae lunc oblinebas vi prius quoad
uiueros retiñere, el pensiones ac fructus ecclesiaslicos quos percipiebas
percipere, nccnon regressus, accessus, el ingressus, priuilegia qiioque In-
dulta el lideras apostólicas libi eliam circa collationem beneficioruní ec-
clesiasticoium quomodolibet concessa eliam retiñere, el illis vti valeres Ín-
ter alia dispensando. Nos, ne interim dum litterae apostolicae super proui-
sione el praefeclione ac dlspensatione praedictis expedientur dicta ecclesia
in eisdem spirilualibus el icmporalibus detrimenta paliatur, prouidere ac
luis commodis palerne consulere volentes. Tibí vt eliam litteris huiusmodi
super diclis prouisione el praefeclione ac dispensatione non confeclis vigo-
re presentium possessionem seu quasi regiminis el administrationis ac bo-
noruní diclae ecclesiae Visensis per le vel alium seu alios libere apprehen-
derc, ac fruclus redditus el prouenfus mensae Episcopalis Visensis exigere,
percipere el leuare, necnon quae jurisdiclionis per te vel alium seu alios,
quae vero ordinis Episcopalis exislunl per aliquem Episcopum exercere li-
bere el licite valeas in ómnibus el per omnia per inde ac si super ¡Mis lit-
terae praediclae expedilae fuissent, auctorilale praedicta earundem tenore
presentium concedimus el indulgemus. Mandantes dileclis filiis capitulo et
vassallis diclac ecclesiae, uecnon clero el populo ciuitatis el diócesis Vi-
sensis vi libi tanquam patri et pastori animarum suarum humiliter obe-
dientes, lúa salubria mónita et mándala suscipere, elefficaciler adimplere,
ipsique vassalji consuela seruitia el jura libi ab eis debita exhibere procu-
renl, alioquin sententiam siue poenam, quam rile tuleris in rebelles, ra-
tam babebimus et faciemus aulore domino vsque ad satisfaclionem condi-
gnam inuiolabiliter obseruari : Non obslanlibus praemissis, necnon consli-
lutionibus el ordinationibus apostolicis, ac diclae ecclesiae iuramento con-
firmalione apostólica et quauis firmitale alia roboralis statulis etconsuelu-
dinibus, celerisque conlrariis quibuscunque. Volumus autem quod infra
sex menses a dala presentium compulandos Hileras apostólicas super pro-
uisione et pvaefaclione ac dispensatione praedictis sub plumbo in totum
cum eíFectu expediré, el iura carneree apostolicae debila persoluere om-
nino lenearis, alioquin tempore huiusmodi elapso, prouisio, et praefactio
RELACÓES COM A CURIA ROMANA 281
ac dispensatio praedictae nullius sint roboris iiel raomenli. — Datum Ro-
mae apud sanclum Petrum, sub Annulo piscatoris, Die viiii Decembris
MDXwi, Pontiíicatus nostri anno quarlo. — Be. El. Uauennensis ^ .
Carta de D. Martinlio de Portug^al
ao Secretario de Eistado.
1596 — Dezembro 30.
Senhor. — Screui alguas vezes mui iargo a vossa nierce em que,
anlre muilas que delle recebo, Ihe pedia por mor me quisese auisar se,
ei de ler outra maneira, cu se esta que alequi leuo desapraz a sua al-
teza. Eu faco todo o que entendo : quería saber se para aprazer ei de ter
outro enlendimento. A uer o lempo que haa que de Ha partí ate gora
nao uer nhenhum recado, naí) poso cuidar senao que eu sou o culpado
laa. Se asi hee, beijarei as maos de vossa merce uer a culpa : á mester
que saja muito solil o que m a deu, porque eu, pera m a nom darem,
cuido muito no que ei de fazer. Gogneco diogo ortiz : outros que qua es-
liueráo como ladroes de cassa dirao de mim e erao (sicj an me de cul-
par no caminho grande e chaom per que eu ando.
Se uós, senhor, m achardes screuei mo: dar Ih ei minha rezao : se
for má, emendar me ei e cognecel a ei ; se tambem me justificar nao a
quero mais que para nos soo.
Na carta de sua alteza uao os negocios : por vosa nierce nao ler
duas vezes hua mesma cousa Ihos nao sereno. Parece me que se perde
lempo pera o dos mosteiros e priorado, e pera os que ficarao do bispo
do funchaL
Acerca da despensacao daquelle matrimonio mando hum breue pera
Juizes : hee o capelao mor ou seu oficial, e o priol do meu sao Jorge.
Fiz estes por se nao saber. Com o breue uai a copia do que am de res-
' Arch. Nac, Mac. 18 de Bullas, n.° 3, e n.° 6
TOMO 11. 36
f
282 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGÜEZ
ponder. Faca se em publico por hum notario cognicydo, ásele se do selo
do Juiz, e em chegando qua irá a despensacao. Mais fazlsto o papa pera
exemplo que pera al ; por tanto e¡ por muy necesario o que screui sobre
isto a vossa merce e a sua alteza. Parece me que pidirao Irezentos cru-
zados, porque asi pasou agora oulra de porlugal ; mas era que casarao
antes da bula ser pubricada : por islo pasou bem. Sei que se ade leuar
o menos que for posivel : diguo porque me pondes na istrucao que Gus-
tará casi nada por os lempos pasados.
Por se nao achar qua anexacao da egreja da trindade, se nao man-
dou breue mais forte. Senpre Yossa merce me mande as datas das bulas
que forem necesarias.
A do conde de tarouca do priolado se achou : as tres da derogacao
dos priuilegios se nao podem auer. Será bom uir o Irelado em pubrica
forma.
Vossa merce se serue lao pouco de. raim, desejando eu tanto, que
o ponho a nao me ler pera iso, porque rae nao mandaes prouisao pera
ter o uoso mosteiro noso titulo. Far se á com todos os regresos, reserua-
cao de fruitos : ao menos parecer me á que faco cousa uosa. A uolta do
priorado e mosleiros cuslará menos, nao se gastando mais do d elrei. He
cuslume, quando se fazem humas expidicoes grandes, fazerem graca ñas
pequeñas.
Este banco de Joara Francisco nao lem comisao nem pera dar di-
nheiro, nem pera dar boas moedas. Dom miguel tinha crédito, e eu nao
o tenho : deue ser ou por o ler vossa merce pouco de mim, ou pera mo
o banqueiro nao ter. Tomei dele este dinheiro que uai nesta conta, de que
Ihe dei pólices pera as vossa merce mandar pagar. Foi com a mor fa-
diga do mundo e com Ihe dar fianoas. Mande vossa merce, por raa l'a-
zer, a Joam Francisco que o raesmo crédito de dora miguel me mande.
Vossa merce se lenbra bem das merces que el rei, que aja gloria,
fazia a Joam de íaria, a Dom miguel, sua alteza a Joam da Silueira, a
todos d ajuda de cusía : a myjiha uinda e chcgada certo podia merecer
mais as diuidas que la diuia e o pouco que senpre liuc nada que me
nunca derao fsicj.
Este correo foi por amor de mim por tao pouco. Sua alteza Ihe faca
alguma merce se for no lempo. Ha de ir em xvii dias. Des que vossa
merce uir ao que uai cora esta presa, se Ihe parecer que nao sao as taes
RELACOES COM a curia romana 283
cousas pera se apresar tanto, ou que as nao deuo de lembrar, screua mo
e nao o farei.
O conde meu irmao Ihe dará huma cousa niinha, que auerá mes-
ler. Na carta que sereno ao dito conde uay onde se achara.
Screuo esta cyfra desta maneira : asi queria que as cousas de im-
portancia, se socedesem, uiesem, scritas as regras tao largas pera se po-
der por cyma descyfrar.
De roma aos xxx dezembro 1526. — Dom Marlinho de Portugal '.
Breve do Papa Clemente \n, dirigido a D. ilig;ael
da Silva, Bijspo eleito de Hlxeu.
15S1— Marco 15.
Clemens Papa vii Dilecte fili salutem et apostolicam Benediclionem.
Exigentibus meritis tuae deuotionis, quam ad nos et sedem aposto-
licam gerere comprobaris inducimur, \i illa Ubi fauorabiliter conceda-
mus quae tuis cbmmodilatibus fore conspicimus oportuna ; Cum ilaque,
sicut nobis nuper exponi fecisti, Tu, de cuius persona alias ecclesiae \i-
sensis tune certo modo vacantis auctoritate apostólica prouidimus, curam,
régimen et administrationem illius Tibi in spirilualibus et temporalibus ple-
narie committendo, ex certis causis intra lempus de consecrandis Epis-
copis a canonibus diffinitum munus consecrationis suscipere commode
posse non speres : Nos personam tuam gratioso fauore prosequi uolen-
les, Tuisque in hac parte supplicationibus inclinati, Tecum ut ratione ec-
clesie visensis praedictae usque ad sex menses a fine temporis de con-
secrandis Episcopis a canonibus praefixi huiusmodi computandos, siue in
eo existas siue non, diclura consecrationis munus suscipere minime te-
nearis, nec ad id a quoquam inuitus compelli possis apostólica auctori-
tate tenore presenlium dispensamus. Non obstanlibus apostolicis ac in
^ Arch. Nac. Gav. 20, Mac. 2, n." 30. Nao enfontrámos a cyfra, a que aUude.
36 «
284 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
prouincialibus el synodalibus concilüs aedilis generalibus uel specialibus,
conslilulionibus el ordinalionibus ac dictae ecclesiae eliam juramento,
confirmatione apostólica, vel quauis firmitale alia roboratis, statutis et
consuetudinibus, priuilegüs quoque et indullis, ac litleris apostolicis el-
dem ecclesiae ac Metropolitan, quomodoübet concessis, confirraatis et in-
nouatis, quibus tenores illorum, ac si de verbo ad Terbum insererentur,
presentibus pro suíTicienter expressis habentes, illis alias in suo robore
permansuris hac vice dumlaxat haruin serie specialiter et expresse dero-
garaus, caeterisque contrariis quibuscunque.
Datura Roniae apud Sanclum Pelrum, sub annulo piscatoris, Die xv
Martii MDXxvii, Ponlificatus nostri Apno Quarto. — E. Scutarius^
Hulla do Papa Clemente Wí, dirig^lda a el-Rel.
15S9— Junlio 93.
Clemens Episcopus seruus seruorum dei Carissimo in christo filio
Porlugallie et Algarbiorum Hegi Illuslri salulem et apostolicam benedi-
ctionem.
Cum ad preclaram eximiaraque fidei conslantiam ac deuolionis sin-
ceritatem, quibus erga nos et sedem apostolicam clarere dignosceris, nos-
tre dirigimus considerationis inluitum, duximus non inmérito illa tibi fa-
uorabiliter concederé, per que tue mageslati honor accrescat, ac eius sla-
tui, necnon ecclesiis et monasteriis tuorum lemporalium dominiorum, de
personis ecclesiasticis tibí gratis el acceplis valeat salubriíer prouideri.
Sane cum dudum felicis recordationis leo papa x predecessor noster clare
memorie Emanueli porlugalie Regi genitori luo, tune in homanis agenti,
' Arch. Nac, Mac. 20 de Bullas, n.° 2. Ha outro breve prorogando o prazo por
mais seis mezes, de 5 de Setembro do mesmo anno (Mac, 20, n.° 18); outro por egual
tempo, de 12 de Marfo de 1^28. (Ma§. 18, n." 4); outro por oito mezes improrogaveis,
de 6 de Setembro do mesmo anno (Mac. 2, n.° 20) ; e ainda outro por quatro mezes, de
5 de Bfaio de 1529 (Mac. 18, n." 1).
REUCOES COM a curia romana 285
pro siatus Regni siii porlugallie ac monasteriorum ipsiiis regni conserua-
lione motu proprio, quoad uiueret dumlaxal, facultalem nominandi ei-
dem predecessori et Romano ponlifici pro tempore exislenli personas ydo-
neas ad quecunque monasleria ordinum quoruncunque, eliam de quibus
consislorialiler disponi consueuerat, in dicto Regno consislenlia, el quo-
rum fruclus eíiam in libris camere apostolice taxati reperiebanlur, per
decessum seu alias quomodolibet, preterquam apud sedeni prediclam,
pro tempore vacantia per predecessorem et pro tempore existenlem Ro-
manum ponlificera prefalum ad denominationem huiusmodi monasteriis
predictis preficiendas, per suas lilteras ex certa eius scientia reseruaue-
rit, concesserit et assignauerit, proul in eisdem litteris plenius contine-
tur, Nos uolentes le, qui dicto Emanueli poslmodum uita functo in Re-
gno predicto successisse dignosceris, preclaris tuis de nobis et sede pre-
dicta exigenlibus benemerilis, non minori prerogatiua quam dictus pre-
decessor prefatum Emanueiem proseculus fuit prosequi, motu proprio,
non ad tuam uel alferius pro te nobis super hoc óblate petitionis inslan-
tiam, sed de nostra mera liberalitale ac eliam intuitu et consideralione
dilecli filii martini a porlugallia, nepotis lui et apud nos et sedem eau-
dem oratoris, cuius eximia sludia erga status ecclesiaslici conserualionem
et ecclesie defensionem hoc lam calamitoso et erumpnoso ^ tempore et
alias probé nouimus, et cum non módica eius laude experti sumus, qui
hanc vnam solam retributionem et remunerationem a nobis pro lot va-
sorum argenlorum ac aliorum omnium bonorum suorum el familie sue
in huius misere vrbis depredatione, qua nuper ab imperiali cxercitu af-
ílicta fuit, amissione, ac ob ingentes cum magno sue vite periculo inibi
exanclatos labores, humiliter petiit el efflagüauit, ac a nobis obtinere de-
siderauit, eidem mageslali lúe, quoad uixerit dumlaxal, facultalem no-
minandi et prcsentandi nobis et Romano ponlifici pro tempore exislenli
personas ydoneas ad quecunque monasleria, eliam de quibus consisloria-
liler disponi consueuil, et quorum fruclus reddilus et prouentus in libris
dicte camere taxati reperiunlur, ac prioralus conuentuales ordinum quo-
rumcumque in Regno predicto et alus dominiis luis consistentes, etianí
de tui iure palronalus ex fundalione \el dotatione seu alias fuerint, per
cessum uel decessum seu alias quomodolibet, preterquam apud sedem
' Léase «lerumnoso.
286 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
predictam, nunc et pro tempore vacantia, per nos el pro tempore exis-
lentem Ronianuin ponlificem ad nominationem et presenlationem huiusmodi
moiíasleriis prediclis preficiendas el quibus Prioratus huiusmodi conferan-
tur, Ha ut ad monasleria et prioratus huiusmodi Religiosos, ut ipsi mo-
nasteriis preficiaulur seu illis de prioralibus huiusmodi prouidealur, el
eliam seculares clericos ac prelalos, quibus illa comendari possint, no-
minare et presentare maleas; sic lamen quod personas y doñeas huiusmodi
infra sex menses a die vacalionis ipsorum monasleriorum el prioraluum
computandos nobis et pro tempore exislenti Romano Ponliíici nominare
et presentare tenearis, Nosque, et Romani pontifices pro tempore existen-
tes, personis sic nominalis aut presentalis prouidere seu illa eis commen-
dare debeamus, Et si infra diclos Sex menses nulla nominatio seu pre-
sentatio per le facía fueril, ex tuno ea vice de monasleriis et prioralibus
prediclis per nos et sedem predictam libere disponi possit, ex certa nos-
tra scientia auclorilale apostólica lenore presentium reseruamus, concedi-
mus et assignamus, decernentes ex nunc quascunque elecliones, postula-
liones, prouisiones, prefecliones, commendas, uniones et coadiutorum,
eliam de consensu deputaliones ac regressus seu accessus, eliam de con-
sensu et alias quascunque dispositiones, de monasleriis et prioralibus pre-
diclis alias quam de seu pro personis per le infra tempus Sex mensium
huiusmodi pro tempore nominandis et presenlandis, etiam per nos el pro
tempore existentem Romanum pontiíicem quomodolibet pro tempore fa-
cías el faciendas, nullius Roboris vel momenli foro el exislere. Et sic
per quoscunque judices et commissarios, etiam sanie Romane ecclesie
Cardinales, subíala eis et eorum cuilibet quauis aliler iudicandi et inter-
prelandi facúltate et auclorilale, in quacunque instancia judicari, senlen-
tiari et difiniri deberé, irrilum quoijue el inane si secus super hiis a quo-
quam quauis auclorilale scienler \el ignoranler conligerit altemptari. Et
insuper venerabilibus fratribus noslris Archiepiscopo bracharensi el Epis-
copo colimbriensi ac dilecto filio Canlore ecclesie Elborensis, ut ipsi, vel
dúo aut vnus eorum pro se vel alium seu alios, de vero annuo valore
monasleriorum et prioratuum prediclorum secundum communem exlima-
tionem, anno fertili cum sterili compénsalo, se diligenler informen!, el
lestes desuper recipiant, ac ipsorum leslium deposiliones el attestationes
in publicara formara Reddigi faciañt, et sub inde deposiliones et attesta-
tiones huiusmodi seu processum desuper forraalura sub eorura lilleris
RELACOES COM a curia romana 287
clausis, eorumque sigillis munilis ad nos et sedem anlediclam per pro-
prium nuntiiim fideliter, infra annum a data presentium compulandum,
transmiltere procurent. Et si aliqua monasleria seu prioralus vacenl ad
presens antequam huiusmodi informatio sumpta et ad cameram predictam
transmissa ac in illius libris descripta fuerit, quo pendente nulla presen-
talio ad illa per raageslatem luam, ñeque dispositio aliqua de lilis per
nos aut Romanum pontificem pro tempore existentem fieri possil, sed ipsi
Archiepiscopus seu episcopus aul Cantor illorum tune vacantium posses-
sionem nostro et camere predicte nomine apprehendanl et fruclus seques-
trent, et postmodum personis per le nominandis et presentandis et per
nos seu pro tempore existentem Romanum pontificem prefatum preficien-
dis, seu quibus de ipsis prioratibus prouideri ac monasleria et prioralus
huiusmodi comraendari conligerit integre consignent, necnon dileclis fi-
liis Camerario nostro ac presidenlibus et clericis dicte camere, ut, post-
quam deposiliones el allestationes huiusmodi ad diclam Cameram Irans-
misse fuerint, laxara ipsorum monasteriorum de libris eiusdem Camere,
in quibus reperli fuerint, deleant, et aboleanl, ac loco antiquarum taxa-
rum valorem anuum illorum, secundum communem exlimalionem iuxla
deposiliones et attestaliones huiusmodi describant el annolent, ac nostro
et pro tempore existentls Romani pontificis datarlo, vi Hileras apostólicas
prouisionum el comendarum monasteriorum et prioratuum prediclorum,
de quibus pro tempore disponi conligerit omni conlradiclione cessante ex-
pedial, el expediré mandel, ac soluta eidera dalario solumnodo annata
vnius anni, litleras in lotum desuper absque alia solulione persones de
quibus monasteriis prouisim, et quibus prioralus huiusmodi collati seu
illi ac monasleria predicla commendata fuerint, seu eorum sollicilalori
Iradat, seu per clericos camere eidem camere iuribus iuxla presentium
formara et lenorem debilis persolutis, Iradi et consignari facial, nec ab
eis solulionera allerius annale laxe regalium aut aliorum quorumuis iu-
rium in similibus prouisionibus et commendis solui consuelorura exigal,
seu exigi facial aut perrailtat, exceplis cédula minulis el scriptura bul-
larura, pro quibus officialibus solilum solualur mandaraus, decernenles
personas huiusraodi ad aliara solulionera quara dicte integre annale, se-
cundum communem exlimalionem el valorem annuum in diclis lilteris
annotandum, minime leneri, nec ad id cogi seu compelli posse : non ob-
slanlibus premissis, ac quibusuis de monasteriis et prioratibus predicti.^
288 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
per nos et sedem eandem pro lempore faclis et faciendis reseruationibus,
seu affeclionibiis generalibus uel specialibus, necnon cancellarie apostolice
pro lempore edilis et edendis, et quibusuis alus constitutionibus el ordi-
nalionibus aposlolicis, necnon monasteriorum et prioraluum et illorum
ordinum predictorum iuramenlo, confirmatione apostólica, vel quauis ür-
rnilale alia roboratis slalulis et consuetudinibus, priuilegiis quoque, in-
dullis et lilleris apostolicis illis ac diclc camere et illius, necnon can-
cellarie apostolice officialibus, sub quibuscunque lenoribus et formis, ac
cum quibusuis clausulis et -decrelis concessis, approbatis et innoualis,
quibus ómnibus ac dicto iure palronalus tenores illorum, ac si de verbo
ad verbum inserti forent, presenlibus pro suííicienler expressis habentes,
illis alias in suo robore permansuris, hac vice dutitaxat specialiler el ex-
presse ad eíTectum presentium derogamus, celerisque contrariis quibuscun-
que, Nulli ergo omnino hominum liceat banc paginam nostre reserualio-
nis, conccssionis, assignalionis, decreli, mandali, voluntalis el derogalio-
nis infringere, uel ei ausu temerario contraire. Siquis auleni hoc atlem-
ptare presumpserit indignalionem omnipotenlis dei, ac beatorum petri et
pauii apostolorum eius, se nouerit incursurum.
Datum Rome in castro sancti angeli anno incarnationis dominice
niillesimo quingentésimo \igesimo séptimo, nono Kalendas Julii, pontifi-
calus nostri anno quarlo'.
Rreve do Papa Clemente \1M.^ dirigido a el-Rei.
1&S9— «lallioll.
Clemens papa vii Charissime in chrislo fili noster salutem et apos-
tolicam benediclionem.
Polesl lúa Serenitas meminisse cum alias felicis rccordalionis Leo
papa X, praedecessor nosler, dilecto filio Emanueli Noronio, camerario
' Inserta em um auto de apresentapao, no Arch. Nac, Mac. 37 de Bullas n.» 18.
RELACOES COM A CURIA ROMANA 289
noslro, íunc suo, accessum ad primo uacaturura tui regni monaslerium
concessissel, nos tuae Serenitali significasse cupcre nos quidem in ea re
diclo Emanueli ila gralificari, vi lamen is non minus hoc noslrum bene-
ficium a lúa Serenilale quam a nobis recognoscerel. Cumque nunc in ea-
dem simus volunlale, eo magis quo ipsum Emanuelem ad le reuertenlem
hoc muñere loliens sibi promisso prosequi vellemus, speremusque Sere-
nitalem luam el memoriae dicli Leonis el noslrae volunlalis el luae in
omnes luos bcnignílalis ralionem in hoc esse habiluram, lanlum illam
scire voluimus hanc ipsam luam beneficenliam, quam in hunc el nalura
el volúntale Ubi dedilissimum spcramus esse paralam, nobis quoque ob
premissas raliones el quod ipsum Emanuelem palerne diiigimus gralam
el acceptam fuluram.
Dalum Romae in arce Sancli Angelí, sub Annulo piscaloris, Die xi
Julii MDXXvii, Ponlificalus noslri anno quario. ^—Blosius^
Sulla do Papa Clcitientc l^H, dirig^ida
a D. ilartiuho de Portug^al (*),
15S9 — «iullio 12.
Clemens episcopus seruus seruorum del Dilcclo íilio Marlino a por-
tugaliia, ad Carissimum in chrislo (iüum noslium Joanneiii Purlugallie
el Algarbiorum Regem Illuslrem ^ noslro el aposlolice sedis cuín p!ena
1 AttCH. Nac, Mac. 37 de Bullas, n.° 12.
(*) Por nos parecer interessante publicamos aquí a seguinte carta do Duque de
Braganga escripia a el-Rei.
Senhor — Beijo as maos de vosa alteza pollas novas que me dá do boom avia-
mento dos neguotios que dom martinho trouxe, porque a meu veer eu os hei por
muí boons, porque quanto aos moesteiros eu nom vejo dificuldade que Vosa alteza
deva de poher por paguarem a añada emteira, nem do verdadeiro vallor, qua pois o
.papa se dece de seus trozo e vos dá o que nom deu a ninguem, senom soo o papa liao
a voso pai custando Ihe muitos cruzados, deve vosa alteza de aver se por beem ser-
TOMO II. 37
290 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
poíeslale legali de laleie nuncio et Oralori, Salulem el aposlolicam bene-
diclionern.
Cum nobis^ hodie te ad ^ Carissirauní ¡n chrislo filium noslrum
Joannem, Portugallie et Algarbiorum Regem Illuslrem, eiusque Regna
ciuitales et* loca sibi medíate et immediale ^ subiecla, pro nonnullis nos-
tris et Sánete Romane ecclesie arduis negotiis, nostrum et apostolice se-
dis nuncium et oratorem cum plena potestale legali de latere duxerimus
deslinandum, Nos cupientes*^ \t erga personas in ciuilalibus lerris locis
el Regnis predictis residentes ac familiares Continuos commensales luos
quos Iccum ducis te possis reddere gratiosum discrelioni lúe, de qua in
hüs et aliis speciaiem in domino fiduciam oblinemus, libi officium Ta-
bellionalus quibuscunque personis Idoneis, Receplo ab eis Juramento in
forma solila, concedendi \ illosque tabelliones creandi ac de dicto oíTicio
inuesliendi: necnon legillimandi spurios naturales bastardos manseres no-
thos ^ incestuosos copulaliue uel disiuncliue, ex quoruncunque' iiiicito et
damnato coilu procréalos, viuenlibus \el ''* eliam mortuis, eorumque pa-
renlibus, Ha ut ad paternam ^^ et alias successiones quoruncunque bono-
rum admití! et in illis succedere valeant, absque lamen prejudicio illo-
uido de se acabar esta neguotiagao, e folguar que o papa tambem Receba diso pro-
veito aa custa daquelles a que derdes os moesteiros. Nom acho outro impidimento
.senom poher a comcientia de vosa alteza em mais périguo de verdes como os avees de
apresentar, segumdo de dereito e de comcientia devees ; e se vos quiserdes seguir por
a comcientia, poderees fazer muito fructo e desfazer muitas ladroeiras e burdees que
ha por vosos Regnos debaixo da capa da igreja de déos e de sua Religiao. E parece me
que o neguotio devia de seer arduo de acabar, pois dom miguel, que era tao privado
do papa, o nom pode acabar, saluo se creesemos a mal dizentes, que queriáo dizer
que, por os aveer todos ou a mor parte delles do papa, os nom queria aveer pera vosa
alteza.
Do priorado pera o senhor Infante veem asy muito beem, mas parece me que já
dias ha que estaua concedido a vosa alteza, se me bem lembro. Folguara de saber, pera
milhor poder dizer a vosa alteza o que me manda pregumtar, se tinha dom martinho
la outros neguotios de importancia de vosa alteza, que deixou por acabar, e asy me
nom lembra se Ihe escreueo vosa alteza este invernó pasado, quando elle escreueo que
o papa o quisera qua mandar, que nom se viese sem voso spetial mandado, porque,
se estas cousas nom concorrem, nom sei que culpa se Ihe pode dar a huum homem
tao bem desposto como elle, que tao aginha poderia tornar la, se cumprise em tal tem-
pe viir a vosa alteza com mcnsajees daquelle mesmo, a que o vos mandastes, trazendo
vos vosos neguotios bem aviados.
RELACOES COM A CURIA ROMANA 291
rum, qui ad prediclas successiones ¡n persone quibus succederent ab in-
leslalo de jure admilli deberent, el eliam ad honores dignilates gradus el
olíjcia seciilaria publica el priuala rccipi el assummi, Illaque gerere el
exercere possint ac si de legitimo matrimonio procreati essent, Illosque
ad jura nalure el quoslibet aclus legítimos resliluendi el reinlegrandi :
Ac eliam quoruncunque beneficiorum ecclesiaslicorum cum cura el sine
cura secularium el quorumuis ordinum regularium, eliam que dicte sedi
ex quauis causa prelerquam ratione officialium sedis predicle el Romane
Curie aclu officia sua exercentium generaliter reseruala fuerint, resigna-
liones simpliciter uel ex causa permutalionisaut comendalorum; Ac eliam
letigiosorum extra Romanam Curiam cessiones lilis el juris recipiendi el
admillendi, ac causas desuper pendentes aduocandi, el liles huiusmodi
penilus exlinguendi, dictaque beneficia lam simpliciter quam ex eadem
causa el alia quecunque el qualiacunque infra limites diclorum Regnorum
el locorum existenlia quomodocunque vacantia el vacatura, eliam si de
jure palronalus laicorum, el etiam prelerquam \t supra aut Ratione va-
calionis illorum apud sedem predictam, vel familiarilatis continué com-
mensalilatis nostre seu dicte Sánete Romane ecclesie alicorum ^^ Cardi-
naliura viuenlium reseruala uel affecta fuerint, quorum beneficiorum sin-
E quanto ao vsar do oficio da leguatia, nom lie cousa nova, pois pollo papa era
enviado a vosa alteza, vsar desas gragas, amtes a outrem se podera fazer, que o aguar-
deeera ao papa e o Recebera por honrra fazer elle esa honrra a voso embaixador, por
que todollos nuncios que andao em castella, aínda que sejao naturaes do Regno, sem-
pre teem alguumas gragas e poderes de papa, e dora bernardino pimenlel foi nuncio
estes anos pasados sem seer d espanba, e Ibe faziao honrra de nuncio, e asy Ihe cha-
mavao, e era casado e leiguo. Nisto me perdoe voso agente deste voso Regno, que nom
sei se porque me criei em castella e vi multas cousas destas, se porque o emtenderei
pior ou milbor que elles, ou porque tenho minha comdicom fora de emveja, nom me
pesa de veer honrra a ninguem, senom quando me parece que se pode seguir de hi
alguum mal ; e porque eu nom vejo mal que disto se posa seguir, porque segundo vi
que o trellado dos poderes que traz dom martinho nom Ihos vejo tao grandes que po-
sao fazer prejuizo, senom se for a alguuns prelados em Ihe tomar suas dadas de igre-
jas; mas nem isto nem al, ainda qua o mal quisese fazer, nom pode seer que nom
seja milbor do que se faz em Roma, poisque se ha de fazer diamte de vosos olhos, e
aimda, pois ha de estar era vosa corte, a mor parte das vaguantes poderao estar aa
desposygao de vosa alteza. Asy que tudo me parece que pemde de duas cousas, a huu-
ma se traz os neguotios feitos aa vosa vomtade nom deixamdo alguns de muita inpor-
tancia por fazer, e se vosa alteza Ihe nom tinha defendido que nom viese sem voso
37 *
292 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGÜEZ
gnlorum huiusmodi fructus rcdüilus et prouenlus Duccnlorum diicalo-
ruin auri de Camera secundum communem exlimationem valorcm an-
nuum non excedant, ac dummodo inter ipsa omni'a per obilum vacan-
lia plura quam quinquaginla reseruata uel affecla non sint, personis ido-
neis, eliam quecunque quotcunque et qualiacunque beneficia ecclesiaslica
cum cura et sine cura oblinenlibus et expeclantibus, conferendi, Regula-
ria tanlum ad uilam uel ad tempus commendandi, illaque seu sccuiaria
beneficia ad uilam uel ad lempus viuendi ; ac super resignalorum '^ seu
alias dimissorum beneficiorum fruclibus reddillibus et prouenlibus quas-
cunquc pensiones annuas, non lamen lerliam parlem fructuum reddilluum
et prouentuum huiusmodi excedentes, predictis Resigoanlibus uel ccden-
libus quoad uixerint per beneficia huiusmodi pro tempore ablincntes an-
nis singulis in lerminis et locis concordandis seu staluendis, etiam sub
priuationis et alus penis sentenliis et censuris in lalibus apponi soliti '%
persoluendas de consensu illorum qui dictas pensiones soluere habebunl,
reseruandi constituendi et assignandi, necnon stalutis et consueludinibus
ecclesiarum in quibus singula beneficia huiusmodi forsan fuerint, eliam
juramento confirmatione apostólica uel quauis firmitate alia roboratis de-
speiiaí mandado ; e se estas nom interveem, parecer m ya Razao fázer Ihe vosa alteza
Dierce e honrra e folguardes de o papa honrrar voso embaixador.
Tambem me dizem que traz huum poder, que me parece muito voso seruigo, que
he que traz poder pera poder tirar alguumas Igrejas de coraendas e metter outras,
porque sey ha dias que se fezerom muitas falsydades a el Rey meu senhorque déos
teem, e Ihe escomderom a vallia de Igrejas grosas, e Ihe meterom outras muito pe-
quenas, e nisto pederá tambem intervür, Remediar se as duvidas das igrejas que os
prelados vos derom, que nom podiao dar, e tambem alguuma que eu sei que vos teem
furtado enteiramente : e nom me mande vosa alteza que vollo escreua,. porem eu vollo
direi de mym a vos, se me déos dá saude.
Ganha se tambem en teer dom martinho estes poderes Remediarem se muitas
cousas aguora qua, que se nom podem Remediar por Roma com estas embrulhadas
que la vaáo. Beem deve vosa alteza de creer que nisto nom som sospeito, pois sabe
becm que pera as cousas de voso scruico nom no som a ningucm, e tambem quao
pouqua comfianga devo teer de paremtes, pois atee aguora ninhuum deixou de me des-
agradecer o que por elles fiz. Noso senhor a vida e Real estado de vosa alteza guarde
e acrecenté.
De vila uicosa a xii dias de novembro de 1527.
As Reaes maos de vosa alteza beijo — O duque.
(Arch. Nac. Corp. Chron. Parí. 1, Mag. 12, üoc. 28)
RELACOES COM A CURIA ROMANA 293
rogandi : Ac cum quibusuis personis ¡n diclis Regnis el dominüs consli-
tulis tune in lerlio el quarlo el quarlo simul consanguinilalis vel aííini-
lalis gradibus irapedilis el inler se matrimonialiler copulalis, ac in con-
Iraclis per eos malrimonüs eliam scienter eosdem conlrahenles, ab huius-
modi excessu ac censuris el penis quas propterea incurrcrint absoluendi,
renianere possinl, prolem susceptam el suscipiendam ^^ ex inde legilimain
decernendo; necnon cum quibusuis personis super quibusuis nalalium def-
fectibus et irregularilalibus quas aliqui censuris ecclesiaslicis ligali Mis-
sas el alia diuina oíficia celebrando^ aul alias se illis immiscendo quo-
modolibet, non lamen in contemplum clauium, conlraxerinl ut ad ordi-
nes eliara sacros et presbileralus proraoueri, ac in illis el per eos susce-
plis el suscipiendis ordinibus eliam in allaris ministerio ministrare, ac
quecunque quotcunque beneficia '" eeclesiaslica cum cura et sine cura se
inuicem compatienlia *\ eliam si dignilates personalus adminislraliones ucl
oíTicia in diclis ecclesiis el huiusmodi dignilates cúrale el elecliue fuerint,
si eis canonice conferanlur aul cliganlur presenlentur uel alias assumman-
tur ad illa el instiluantur, in eis recipe re el quoad uixerint retiñere libere
el licite valeant : Et insuper cum quibusuis personis in vigessimo etalis
eorum Anno conslilulis ad oblinendum vnum beneficium ecclesiasticum
cum cura eliam si parrochialis ecclesia, uel eius perpetua vicaria aut
alias, ul preferlur, calificatum fueril'^ dispensandi : Necnon duodecim
Comités palatinos et totidem Acólitos et Capellanos creandi, ac eliam
Duodecim in noslros et apostolice sedis Notarios auclorilate apostólica re-
cipiendi, ac aliorum noslrorum et dicte sedis Nolariorum et accolitorum
Capellanorum el aule noslre Lateranen. Comilum palalinorum numero et
consortio respective fauorabililer aggregandi, Ita quod ómnibus et singu-
lis priiiilegiis prerrogaliuis honoribus exemplionibus gratiis libertatibus
immunitaiibus et indultis gaudeant et vtanlur, quibus alii noslri et dicte
sedis nolarii et Accoliti Capellani ac aule noslre Lateranen. Comités pa-
latini vtunlur poliuntur el gaudent, ac vli poliri et gaudere poterunt
quomodolibet in fulurum, exhibendique el exhiberi faciendi eis insignia
Notarialus huiusmodi, recepto prius lamen ab eis solilo juramento : et
decem milites aurealos et poetas lauréalos^ ac quascunque personas suf-
íicientes el ydoneos volenles se ad docloratus seu licenciature et Bacha-
lariatus in vtroque vel altero jurium, et ad Magislerii (am in Theologia
quam in Artibus et Medicina, uel alios gradus preuio examine rigoroso
29i COHPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
el diligenli, ac serualis conslitulione *' Uiennen. el alus solemnitalibus ¡n
lalibus adhiberi solilis, promoiiendi scu promoueri, alque gradus huius-
modi el insignia solila at debila conferendi ac exhibendi, seu exiberi el
confcrri faciendi, cisque quod ómnibus el singulis graliis priuilegiis li-
berlalibus el indullis, quibus alii Milites aureati ac Poete Laureali per
nos et sedem apostolicam creali el instiluli, necnon ad huiusmodi gra-
dus in Vniversilalibus sludiorum generalium juxta illorum rilus el mores
ac serualis seruandis promoti vtunlur poliunlur et gaudenl, seu yIí potiri
el gaudere polerunl quomodolibel in fulurum, \t¡ potiri el gaudpre libere
€l licite possinl el debeanl indulgendi : Ac cum triginla personis vt que-
cunque dúo cúrala seu alias inuicem incompalibilia beneficia ecclesias-
tica, etiam in parrochiales ecclesie uel earum perpetué Ticarie aul digni-
tates personalus adminislraliones vel oíficia in Cathedralibus, etiam Me-
tropolitanis, uel collegialis el dignilales ipse in Cathedralibus etiam Me-
tropolilanis post pontificales maiores seu collegialis ecclesiis huiusmodi
principales scu talia mixlim fuerint, el ad dignilales personalus adminis-
lraliones uel oíTicia huiusmodi consueuerunt, qui per electionem assummi
€¡sque cura ¡mmineal'^'' animarum, si alias canonice conferanlur aut elí-
ganlur presententur uel alias assummanlur ad illa et instituantur, in eis
recipere et insimul quoad uixerint retiñere, illaque simul uel successiue
simpliciler vel ex causa permutationis quotiens eis placuerit dimitiere, et
loco dimissi uel dimissorum aliud uel alia simile vel dissimile aul simi-
lia uel dissimilia beneficium seu beneficia ecclesiasticum vel ecclesiaslica
Dúo''' dumlaxat cúrala seu alias inuicem incompalibilia similiter reci-
pere el insimul etiam quoad uixerint retiñere libere et licite valeant, dis-
pensandi, ac slatulis el consueludinibus, etiam juramento confirmatione
apostólica uel quauis firmitate alia roboratis, necnon fundalionibus ac ju-
re" patronalus ciericorum et laicorum mixlim aut laicorum tantum, el
si laicorum tantum et illis ex fundalione uel dolatione competat pro me-
dietate alioquin uel si mixlim in totum derogandi: Et^^ clericos, etiam ^*
in afTricam im perpeluam uel ad tempus propter excessus et crimina per
eos perpétrala ab ordinariis suis relegatos, ab exilio el ad patriam reuo-
candi, et cum condemnatis^^ ad exilium yI^* ad illud iré non teneantur
dispensandi, el penam huiusmodi " in aliam penam etiam pecuniariam
commutandi : Ac loco nonnuUarum parrochialium ecclesiarum, que in
nonnullis locis insignibus in preceptoriis mililie Jesu christi erecle fue-
RELACOES COM a curia romana 293
ranl, Preceplorüs^* ipsis in eis suppressis et exiinctis alias símiles pre-
ceplorias iu alus parrochialibus ecclesüs aliorum locorum de ipsius Re-
gis consensu, eligendi et surrogandi : Necnon quibusuis mulieribus ho-
neslis vlquecunque monasleiia el domos monialiura quoruncunque, eliam
obseruanlie clauslralis excmpta et non exempla, quomodocunque'^^ re-
clusa cum tribus matronis etiam honestis de '." concensu earum que di-
ctis Monasleriis et domibus prefuerunt'S dummodo ibi non pernoclent,
deuolionis causa qualer ¡n Anno ingredi \aleant : Necnon singulis Qua-
dragessimalibus et aliis Anni diebus et teraporibus, quibus esus carnium
buliri ouorum et aliorum lacliciniorum et jure prohibilus'^ butiro ouis
cáseo el tempore necessilatis, ac de vlriusque Medici consilio, carnibus
vtendi uescendi et fruendi'^; Quodquc Visitando vnam uel duas eccle-
sias, seu \num uel dúo aut tria seu plura allaria ciuitatum seu locorum,
in quibus Slationes pétenles ^* moram trahere contigerit que '' duxcrint
eligenda, eisdem quadragessimalibus et aliis anni diebus et^^ temporibus,
quibus Slationes in Urbe et extra muros eius^^ celebrantur, omncs et
singulas indulgenlias et peccalorum Remissiones quas visitantes singulas
dicte vrbis et exlra eam existentes ecclesias pro Slationibus huiusmodi
\isilari sólitas consequunlur ^', consequendi ; ac inleresentibus Duabus
Missas per le in ecclesüs Coram Rege seu Regina aut aliis quibuscunque
personis solemniler celebrandis, seu saltira ^' illis qui benediclioni per te
super**' populum post Missas huiusmodi elargiendi inlerfuerint, plena-
riam indulgenliam relaxandi et consequendi ; et prediclis facullatibus el
graliis concessionibus el indultis erga familiares tuos continuos commen-
sales, eliam si de Regnis et dominiis prediclis non fuerint, vtendi ; ac
omnes et singulos, quibus gralia el indulto huiusmodi juxta facultalem
tibi concessam concesseris, Seu erga quos huiusmodi vteris facullatibus
a quibuscunque excommunicalionis suspensionis^^ et interdicti, aliisque
ecclesiaslicis senlenliis censuris el penis a jure uel ab homine, quavis
occasione uel causa latis, quibus^* quomodolibet innodati erunt, eliam
si forsan in illis infra Annum insorduerinl ^^ aut pro re judicata ex-
communicali fuerint ^\ ad effectum graliarum per le eis concedendarum
dumlaxat absoluendi et absolutos fore censendi : necnon omnia et singula
beneficia ecclesiaslica cum cura et sine cura que singuli predicti, eliam
ex quibusuis dispensalionibus aposlolicis obtinebunt et expeclabunl, ac
in quibus el ad que ius eis quomodolibet competit, quecunque quolcun-
296 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGÜEZ
que el qualiaciinque fucrinl, eorumque fi'ucluum rediluum el prouenluum
veros annuos valores, ac huiusmodi dispensalionum tenores simililer ad
cíTeclum huiusmodi graliarum el liUerarum luarum desuper conficienda-
rum validilatc pro expressis habendi, irrilum quoque el inane si secus
sup(!r liiis a quoquam quauis auclorilate scienler uel ignoranler aleraplari
(onügeril decernendi, premissis ac quibusuis lilleris felicis Recordalionis
SixU pape quarli, quibus inler alia caueri dicilur expresse quod Nuncii
Sedis predicle pro tempore depulati, etiam cum poleslale legati de ialere,
eorum facullale^* lam quoad beneficia conferenda, quaní dispensaliones
el alias gralias per eos concedendas vli non possinl el queuis clausule in
facullalibus huiusmodi Nuncii apposile ^^ aduersus diclas Hileras vnquam *'
nullalenus suíTragenlur, ac similt noslra, necnon quibuscunque speciali-
bus uel generaübus reserualionibus beneficiorum pro lempore faclis, nec-
non deffeclibus predictis ac de vnionibus conimillendis ad parles el de
surrogandis colliliganlibus el de annali possessore quoad primam par-
lem", necnon Viennensis Piclauiensis Laleranensis el generalis concilio-
rum coBslilulionibus el ordinalionibus aposlolicis, ac Gancellarie regulis,
el ecclesiarum Monasleriorum locorum ac ordinum quorumcunque, eliara
Juramento confirmalione apostólica uel quauis firmilale alia Roboralis sla-
tulis el consueludinibus, priuilegiis quoque el indullis ac lilleris aposlo-
licis per sedem prediclam el eius legatos ordinibus el Monasleriis predi-
ctis concessis lalissime derogandi : Necnon graliis expeclatiuis quibusuis
personis, eliam familiaribus conlinuis commensalibus nostris, uel alus
concessis vel concedendis vi concessis sibi^' facullalibus el aucloritali-
bus '° vli valeas derogandi, illasque suspendendi quoad vacatura benefi-
cia per le vigore presenlium conferenda, ceterisque nequáquam obslanti-
bus conlrariis ^' auclorilate apostólica lenore presenlium concedimus fa-
cullatem. Volumus antera quod illi, quibus beneficia reseruata el alia
quecunque, quorum fructus reddiltus el prouenlus viginli quatuor duca-
lorum aun de Camera Secundum extimationem -'^ prediclam excesserint,
Infra Sex Mcnses Nouam prouisionem a sede apostólica impetrare et lil-
teras desuper expediré, ac omnia jura Camera apostolice debita persol-
ucre leneanlur, Alioquin beneficia ipsa eo ipso vacent el vacare censean-
tur. Nos enim ^^ tibi vi in lilleris quas super premissis graliis per le con-
cedí et expediri contigeril ^'* Hileras facultatum huiusmodi inseri faceré
ininimc Icnearis, Quodque tua asserlio in ómnibus el per omnia suíliciat
relacOes com a curia romana
297
per inde ac si lillere facultalum prediclarum in liüeris per le expedien-
dis et concedendis predictis de uerbo ad verbum inserte forent " auclo-
lorilate et tenore predictis de specialis dono gratie indulgemus, Non ob-
slanlibus ómnibus supradictis.
Datum Rome in arce Sancli Angeli Anno Incarnalionis dominice Mil-
lessimo Quingentessimo Vigessimo Séptimo, Quarto *'' Idus Julii, Ponli-
ficatus noslri Anno Quarto*.
1 Inserta no documento n." 4 da Gav. 7, Mag. 11 no Arch. Nac. No Mac. 11 de
Bullas, n.° 20 ha outro transumpto com as variantes seguintes :
Illustrissimum
nos
apud
térras et
inmediate et medíate
Nos nuper
concedendum
natos
quocumque
Deest
primara
aliquorum
resignatione
solitis
susceptam suscipiendi
quotcunque et qualiacunque beneficia
incompatientia
qualificata fuerint
seruato Constitutionibus
immineret •
Deest
juris
mixtim £t
Deest
condemnatus
uel
ex huiusmodi
in preceptoriis
TOMO II.
''^^ quecunque
30 el de
^^ prefuerint
^2 etiam juris prohibitorum
3^ vtendis, vescendis et fruendis
34 Deest
'5 quo
36 jn
3^ cum
38 consequerentur
39 sed saltera
40 seu per
*^ excommunicationibus, suspensionibus
42 si quibus
43 insorduerunt
44 fuerunt
4^ facultatera
46 appositis
4'' nunquam
48 Deest
49 tibi
^0 gratiis
" Deest
^2 secundara communem extimationeña
^3 autem
^4 contigeret
^^ fuerint
^^ Quinto
38
Í9H CORPO DIPLOMÁTICO POinUGüKZ
Breve do Papa Clemente Til, dirigido a O. lli^^uel
da üilva, lIiis|io de Tizeu.
153Y— «ralho 1!^.
Clemens papa yii dilecle fili salutem et aposlolicam benedíclionem.
Nostram calamilalem et notam libi pro eius acerbilale ac ucluslale
et deflelam iam fuisse pro tua pielale et in nos beniuolenlia arbilramur;
nec refugissemus ipsi noslris etiam litteris noslros casus ad le perferre,
si modo id licuisset, ciim uere amantium, qualem te semper iudicauimus,
üdem aífeclus animorum esse consueuerint, decealque non minus aduer-
soruno, quam secundorum inter se íieri participes. Sed haclenus uel ipsis
nostris maüs, uel isluc uenientium rarilale impedili, nunc, cum ad uos re-
diret dileclus filius Martinus de Portugallo, nequáquam occasionem hanc
ommitlere uoluimus per eum ad le scribendi, Qu¡ cum sil uobis omnia
uberrime explicalurus, omnium ipse leslis et particeps, ne nunc quidem
libi recensebimus aerumnas noslras uel priualas quibus modice, uel pu-
blicas quibus máxime angimur, ne ea retractando dolor in nobis acerbis-
simus recrudescat. Tantum fili le admonitum uoluimus cum nos spes má-
ximas omnis nostrae subleuationis primum in Deo omnipotente, post in
bonitatc Caesaris luique Serenissimi Regis, et dilecti filii noslri A. Car-
dinalis Vlixbonensis apud illum opera et autorilate reponamus, nonnul-
laque super bis eidem Martino mandauerimus \l tu quoque, quacunquc
in re poteris apud eundem Regem nos iuuare, eumque ad suscipiendum
hoc pium Sanclae Ecclesiae diuinique honoris palrocinium hortari uelis ;
Non enim maior eius gloria fueril Apostolicjim nomen foris ad ignotas
protulisse Ierras, quam domi indigne oppressum conseruasse. Quamquam
in hac ipsa re tam iusta ac pia satis habemus exploratum ñeque le nos-
Ira, ñeque illum tua, aut cuiusquam hortalione indigere ; Nos inlcrim
quicunquc nos casus exceperint persistemus in ea beniuolenlia, qua te
semper prosecuti sumus, Tuque ut idem erga nos sis tam cupimus, quam
fulurum confidimus, Tua enim praelerila oíBcia ac sludia nobis in omni
uarietale nostrae forlunae exhibita nobis eundem lui animi lenorcm atque
RELAC.OES COM A CURIA ROMANA 299
amorem pollicenlur. Qiiod quoniam nobis est futurum gralissimum ad id
te horlari pro nosiro niagis desiderio uoluimus quam quod lecum hoc ne-
cessarium pularemus.
Dalum Romae in arce Sancti Angeli, sub Annulo Piscatoris, die xii
Jiilii MDxxvii, Ponlificalus Noslri Anno Quarlo. — Blosms\
Bre^e do Papa Clemente l^II, dirig;ido a el-Rei.
1599— «Vallio i;^.
Clemens papa vii Charissime in chrislo fili noster salulem et aposlo-
iicam benediclionem.
Cum, sicut Maiestas tua, quae mililiae Jesu Chrisli cisterciensis or-
dinis perpetuusadminislralor per sedem Apostolicam depulata exislit, no-
bis nuper expon! fecil licet alias postquam dilecto filio Emanueli de No-
rogna, clerico fu^nchalensi cubiculario ac familiari continuo commensali
nostro, quod quondam Joanne Brauo olim Redore Parrochialis Ecclesiae
sancti christofori de Nugera Lamazensis diócesis decedenle, liceret eidem
Emanueli ad diclam Ecclesiam, quam ipse Joannes tune in humanis agens
obtinebat, liberum habere regressum apostólica auloritate Indultum, et
deinde dicta Ecclesia in Praeceploria praefatae mililiae eadem auclorilate
erecta fuerat ita ut, eliam dicto Joanne cedenle \el decedenle et Ecclesia
prefala quouismodo uacante, et erectio Praeceptoriae huiusmodi suum ple-
narium sorliretur eífeclum cum dictus Joannes uila functus fuisset, et a
nonnullis haesilarelur an erectio Praeceptoriae huiusmodi prius eíTectum
sorliri deberet, Nos per alias noslras litteras declarauerimus quod regres-
sus huiusmodi prius locum haberet, sic tamen quod dito eraanuele dece-
denle et dicla Ecclesia per eius obilum uacante eliam apud sedem apos-
tolicam et non alias Erectio Praeceptoriae huiusmodi suum sorliretur eíFe-
ctum in ómnibus et per omnia, perinde ac si regressus huiusmodi locum
non habuisset, prout in dictis litleris plenius continelur. Cum tamen con-
lingere posset quod dictus Emanuel ecclesiam praedictam resignaret, sic-
^ Arch. Nac, Mar. 19 de Bullas, u." 17.
88 «
300 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
que ereclio huiusmodi suum de facili non posset sortiri eíTeclum in ipsius
mililiae praeiudicium, Nobis humiliter supplicari fecit eadem Maiestas lúa
vi cum eliam eidem Emanueli regressus ad nonnullas alias Parrochiales
Ecclesias de consensu illas oblinenlium dicta auclorilale concessus fueril,
el illae eliam in Praeceplorias dictae mililiae ereclae fuerint, super his op-
porlune prouidere de benignilate aposlolica dignaremur. Nos igitur, ne
propterea miiilia ipsa ereclionum huiusmodi eífeclu carere possit proui-
dere \olentes, huiusmodi supplicationibus inclinali primo dicla ereclione
Praeceploriae Ecclesiae sancli Chrislofori, eliam diclo Emanuele cedenle
eliam ex causa permulalionis eo ipso, nisi Maieslas lúa aliler uolueril el
consenseril, quo casu ereclio Praeceploriae sancli Chrislofori huiusmodi
non sorlialur eífeclum, nisi per cessum uel decessum illius in cuius fa-
uorem eundem Emanuelem simpliciter uel ex causa permulalionis resi-
gnare conligeril, suum plenarium sorliri efleclum. Necnon regressum eidem
Emanueli ad alias Parrochiales Ecclesias, quarum inuocaliones el silua-
tiones haberi uolumus pro expressis, concessum prius el deinde ereclio-
nes de illis faclae per cessum uel decessum ipsius Emanuelis aul eius im-
medialorum successorum, si dictum Emanuelem de luo consensu resignare
conligeril, in ómnibus el per omnia perinde ac si regressum pro dicto Ema-
nuele locus non fuissel, suum plenarium eíFectum sorliri cum ad id eliam
eiusdem Emanuelis pro sua in le obseruantia expressas accedat consen-
sus, el sic per quoscunque Judices, subíala eis quauis aliler iudicandi et
inlerprelandi facullale el auclorilale, iudicari el diííiniri deberé, ac quic-
quid secus allenlari conligeril, irrilum el inane decernimus : Non obslan-
libus praemissis, ac conslilulionibus el ordinalionibus aposlolicis, caele-
risque conlrarüs quibuscunque.
Dalum -Romae in Arce Sancli Angeli, sub Annulo Piscaloris, die xii
Julii MDXxvii, Ponlificalus Nostri Anno Quarto. — Euangelista '.
• Arch. Nac, Mac. 20 <lc Bullas, ii." i3.
RELACOES COM a curia romana 301
Breve do Papa Clemeiite ¥11.
(1)
Clemens papa vii dilecli filü salutem el aposlolicam benedictionem.
Dudum nobis pro parle dilecti filii nobilis viri Francisci Colhigno Co-
milis de Marialua el Loule in Regno Portugallie expósito quod licel ipse
dilectam in christo filiam Guiomaram eliam Colhigno, \nicam eiusdem
Francisci Comilis filiam el vniuersalem heredera, dileclo filio Illuslri viro
Ferdinando, Carissimi in chrislo filii noslri Johannis Porlugallie el Algar-
biorum Regis illustris fralri germano, despondere cura clare memorie Ema-
nuele olim Porlugallie el Algarbiorum rege, ipsoruin Johanis Regis el fer-
dinandi fralris genilore, Iraclasset, ac Emanuel Rex el Franciscus Comes
prefali conlraclus desuper necessarios sen opportunos ipsius Emanuelis
Regis manii subscriptos fecissent, el prefaclus Johannes Rex posl eiusdem
Emanuelis Regis obitum, malrimonium huiusmodi ralum habuissel, prout
habebal ; quia lamen dileclus filius nobilis vir Johannes marchio de tor-
res nouas in Regno prediclo, qui, eo quod prefale Guiomare lerlio con-
sanguinitatis gradu coniunclus existebal, eidem Guiomare matrimonio co-
pulan nullalenus poterat, iaclabal se malrimonium cum ea Iraxisse quo-
rainus malrimonium inler Fernandum Regis filium el Guiomaram prefa-
tos ad debitum perducerelur effeclum impediré nilebalur el presumebat,
Nos tune dicli Francisci Comilis, lam sui quam vxoris sue el dicte eius
filie nominibus tune supplicanlis, supplicalionibus inclinali, quascumque
causas coram ordinario loci, seu eius officialibus aut vicariis, desuper
(i) Como nao encontramos o original d'este Breve, e a copia nao tem data, c-nos
impossivel marcar ao certo o anno em que foi passado. Vemos pela carta de D. Miguel
da Silva, a pag. 4o9 d'este volume, que já em 4525 se fallara no casamento do Infante;
mas pela opposigao que Ihe fez o Márquez de Torres Novas protrahiu-se este negocio por
muitos annos, e só veiu a realisar-se em 4530, segundo a opiniáo do A. da Hist. Geneal.
(Tom. 111, pag. 406 e seg.) Sendo assim, o Breve deve ser pouco anterior.
É possivel tambem que seja este o despacho do ynfante, a que se refere Braz Neto
na carta de 44 de julho de 4530.
302 COIIPO DIPLOMÁTICO POKTUGUEZ
forsan pendentes, earum slalus el raerila pro expressis habenles, ad nos pc-
nilus ct omnino qualenus insfrucle non exislerenl aduocando, illam el il-
las, ac ciiiuscuinqiie pro ipsius Francisci parle lam a quouis grauamine,
quam forsan' diíliniliua senlenlia inlerposile appellalionis, si qua essel,
necnon quam el quas idem Franciscus Comes conlra prefalum Johannem
marchionem, omnesque alios el singulos sua communiler vel diuisim in-
teresse púlanles super jaclalionibus el impedimenlis huiusmodi, \na cura
lolo negolio principali rebusque alus in aclis cause el causarum huius-
modi lalius deducendis el illorum occasione habebal el mouebal, habere-
que el mouere volebal el inlendebal, venerabilibus fralribus Egilaniensi el
Bibliensi seu Blionensi Episcopis eorum propriis nominibus non expressis,
el eorum cuilibel in solidum commisimus audiendas, cognoscendas, deci-
dendas, fineque debilo terminandas, cum ómnibus el singulis earum inciden-
libus, dependenlibus, emergenlibus, annexis el connexis, ac poleslale pre-
falum Johannem marchionem el alios supradiclos cilandi, ac ordinario of-
ficialibus, Vicariis, Judicibus el personis, el alus quibus inhibendum fo-
re, inhibendi, eliam sub censuris el penis, casque aggrauandi reaggrauandi
ac inlerdicendi, el auxilium brachii secularis inuocandi, elsi quod ma-
Irimonium per dictara Guiomarara cura diclo Johanne raarchione contra-
ctum exislerel, illud impediraenlo consanguinilalis huiusraodi obstante nul-
lura el inualidum, nulliusque momenli exisleret, proul juris (?) forel de-
clarandi, el quascunque lilteras dispensationis pro ipsius Johanis marchio-
nis parte desuper, sine consensu seu supplicatione dicli francisci, ac eorum
omnium, quorum inlereral, ab apostólica sede seu sacra penilentiaria for-
san impétralas seu extortas surreptilias et obreplitias, ac nullas el inualidas
nulliusque roboris ycI moraenti fuisse el esse proul iuslura forel decernendi
el declarandi, el nonnulla alia tune expressa faciendi, proul in noslris in
forraa breuis desuper confeclis litteris plenius continelur. Cum antera, sicut
idem Franciscus Comes nobis nuper exponi fecil, licel littere predicle diclis
Episcopis, vel eorum alleri pro ipsius Francisci Corailis parte preséntate
fuerinl, ipsique, vel alter eorura, ad inhibitionem aduersus alios judices,
a quibus causa eral aduocata, et forsan aliquos alios aclus in causa hu-
iusraodi procederé inceperinl, Quia tamen nonnuUe cause suspilionis ad-
uersus judices pro parle dicli Francisci impétralos prediclos licel forsan
friuole fuerinl ex aduerso allégale, et idem Johannes marchio judices eos-
dem sibi niinus suspeclos fore, et conlra eos juslilie complementum con-
RELACOES COM a curia romana 303
sequi posse non sperare asserebal, ne propterea causa huiusmodi inde-
cisa remaneret, el dictus Joannes marchio, qui níialiliose el non alio quam
hereditatem et bona dicU Francisci ¡nhiahs malrimonium ipsum, quod
nunquam ve) si est nulliler conlracliim exlitit, per diclam Guiomaram
cum eo conlractum fuisse asseril, de huiusmodi nullo malrimonio se iacla-
re, et diu prefaclum Franciscum Gomilem iam seneni et infirmum ac in
decrepita fere elate constilulum in sue seneclulis tedium vexare et moles-
tare habeat, idem Franciscus Comes, Iam suo quam vxoris et Guiomare
filie suarum predictarum nominibus, nobis supplicari fecit \'t in premissis
opporlune prouidere de benignilalc apostólica dignaremur : Nos igilur,
huiusmodi supplicationibus inclinali, cause et causarum huiusmodi status
et merila ac processus et circa premissa gestorum quorumcumque teno-
res et conlinenlias pro sufficienler expressis et hic de verbo ad \erbum
inserlis habenles, quascunque causam et causas super premissis pro parte
dicti Joannis marchionis quibusuis judicibus et personis eidem Francisco
comiti suspeclis, cum quibus litigare sibi suspectum esse ipse Franciscus
Comes juraueril, per nos et sedem apostolicam etiam cum cause et cau-
sarum pro parle ipsius Francisci Comitis committi obtentarum aduocalio-
ne, ac quibusuis etiam fortissimis clausulis et decrelis in eis appositis com-
missas, etiam earum tenores conlinenlias et status pro expressis habendo,
ad nos penitus et omnino harum serie aduocantes, discrelioni veslre, Cum,
sicut dictus Franciscus Comes asserit, copia Episcoporum, qui vtriquc
vel alteri parliura predictarum suspecti non sint, in Regno predicto coni-
mode haberi non possit, commitlimus et mandamus qualenus sub excom-
municationis late sententie pena per vos, si hoc faceré recusaueritis aut
vos excusaueritis, eo ipso incurrenda, vos adiunclis vobiscum Egilanien-
si et Bibliensi Episcopis predictis causam et causas easdem, necnon cu-
iuscunque appellationis et quarumcunque appellationum Iam a quouis gra-
uamine quam a diffiniliua senlentia super premissis vel aliquo promisso-
rum, tam pro Francisci Comitis et vxoris seu filie prediclorum parte,
quam exaduerso forsan interposile vel inlerpositarum, jaclalionumque mo-
leslalionura et perturbationum toliusque negolii principalis, ac atlempla-
torum et innoualorum quorumcumque, cum ómnibus et singulis suis in-
Qidenlibus, dependentibus, emergenlibus, annexis et connexis, aucloritale
nostra de nouo audiatis seu in slalu in quo forsan exislunt assumalis,
etsi Francisco Comiti, aut filie vel vxori predictis videbitur etiam suma-
304 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGÜEZ
rie simpliciler el de plano sine slrepilu el figura judicii facli vcrilale ins-
pccla cognoscatis, decidalis, fineque debito terminelis. Nos enim \obis et
cuilibel vestrum prefatum Johannem marchionem, oranesque aüos et sin-
gulos sua communiter vel diuisim interesse púlanles, citandi eliam per
ediclum publicum conslilo vobis summarie de non tuto accessu, cisque
et quibusuis alus judicibus et personis, eliam pro parle aduersa impetra-
lis, cuiuscumque gradus, ordinis, condilionis exlilerinl, et quacumque
fungantur auclorilale, inhibendi, eliam sub ecclesiaslicis ac pecuniariis ar-
bitrio veslro ¡Q)ponendis et applicandis, aliisque grauissimis penis inhi-
bendi, ipsasque censuras el penas aggrauandi el reaggrauandi, ac inler-
diclum ecclesiaslicum apponendi, elsi quod contra Franciscum et vxorem
aul filiam prefalas personale vel vocale ad dicli Johannis marchionis ins-
lanliam inlerdiclum apposilum exislat, illud proul justum fueril relaxan-
di, ipsosque Franciscum et vxorem et filiam simpliciler vel ad caulelam,
eliam proul justum fueril, ac a quibusuis senlenliis censuris el penis ec-
clesiaslicis, eliam si in illis per annum el vltra insorduerint, absoluendi,
ac eandem Guiomaram in domo eiusdem Francisci Corailis sui genitoris
manulenendam et eam ex inde exlrahi et alibi quam in dicta domo sui
genitoris ipso inuilo deponi, cum, sicul idem Franciscus eliam asserit,
si illa a domo genitoris huiusmodi exiret et alibi deponerelur inneatur
eundem Johannem marchionem, qui máxima inibi polenlia poUet, ean-
dem Guiomaram a quocumque alio loco eliam religioso quam a domo sui
patris, in qua eliam propler polenliam sui palris lulam et securam se cre-
dit existere, non absque maximis hominum clade et scandalo per vim et
violenliam raplurum nullalenus permitlendi, et quoscumque atlemptalo-
res et contradictores censuris ecclesiaslicis et alus grauissimis penis inno-
dandi, ac malriraonium cum eodem Johanne marchione conlractum si quod
sil impedimento cum sanguinilatis huiusmodi obstante nuUum et inuali-
dum nulliusque roboris vel momenti fuisse el esse proul de jure decer-
nendi el declarandi ; Et quascumque Hileras dispensalionis pro ipsius Jo-
haunrs marchionis parte desuper, sine consensu seu supplicalione ipsius
oratoris el eorura omnium quorum inlererat, a sede seu penitenliaria pre-
falis forsan impétralas seu extorlas, surreptitias el obreptilias, ac nul-
las el inualidas nulliusque roboris vel momenti fuisse et esse proul jus-
tum fueril eliam declarandi, Celeraque in premissis el circa ea necessa-
ria seu quomodolibet opportuna prout juris ordo postulat el requiril fa-
RELACOES COM a curia romana 305
ciendi el exequendi, ac vnum ex vobis seu ipsis Episcopis, qui solus in
premissis ómnibus el singiilis procederé habeat, dummodo omnes quatuor
simul aut supersliles veslrum, si aliquis ex Yobis inlerim ab humahis de-
cesserit, diffiniliuam senlenliam desuper ferendam proferatis inter vos de-
putandi, plenam el liberam facultatem el auclorilatem concediinus : Non
obstantibus premissis ac felicis recordalionis Bonifacii pape viii predeces-
soris noslri de vna el de duabus dielis in concilio general! edita, dum-
modo vHra Qualuor dietas a fine sue diócesis aliquis auctoritale presen-
tium non Irahalur, el alus conslilulionibus el ordinationibus aposlolicis,
necnon legibus Regalibus el slalutis municipalibus, priuilegiis quoque in-
dullis el lilteris aposlolicis, tam dicto Johanni marchioni quam eliam super
judicibus exlra Regnum prediclum non eligendis, ac alias per sedem pre-
diclam concessis confirmalis el eliam itteralis vicibus innoualis, necnon
quibusuis alus cause el causarum buiusmodi commissionibus super pre-
missis pro dicli Joannis marchionis parle a sede predicla forsan impelra-
tis, quarum tenores pro hic sufficienter expressis el de verbo ad verbum
insertis haberi volumus, etiam si in eis cauealur quod quecumque alie cau-
sarum commissiones contra illas resignande aliter quam manu nostra el
pro Johannis marchionis predicli parle impetralis commissionibus in illis
proinsertis nuUius essent roboris vel momenli, quibus ómnibus eliam si
ad eorum suíEcientem derogationem de illis eorumque totis tenoribus spe-
cialis specifica expressa el indiuidua, ac de verbo ad verbum, non aulem
per clausulas generales idem importantes menlio, seu queuis alia expres-
sio habenda forel, tenores buiusmodi pro suíficienler expressis ac de ver-
bo ad verbum insertis habentes, hac vice duntaxat harum serie speciali-
ter el expresse derogamus, Celerisque contrariis quibuscumque. Aut si
dicto Joanne marchione, vel quibusuis alus comuniter vel diuisim a pre-
fala sil sede indullum quod interdici suspendí vel excommunicari non
possint, per litteras apostólicas non facientes plenam el expressam ac de
verbo ad verbum de indulto buiusmodi mentionem.
Dalum .... *.
* Akch. Nac, Mac. 12 de Bullas n.° 16. — Le-se no sobrescripto: Dilectis filüs
Francisco de Gata Archidiácono et Francisco Gomes Canónico ecclesie Ciuitatensis, —
Copia.
TOMO II. 39
306 COUPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
Breve do Papa Clemente ^11, dirigido a el-Rei.
1530 — Harco !85.
Clemens Episcopus etc. Garissimo in Christo filio nosiro Joanni Por-
tugallie el Algarbiorum Regi illuslri. — Carissirai in Christo fili nosler,
salutem et Apostolicatn Benedictionem.
Post captara ab immanissimis fidei noslre hostibus Rhoduin, quod
nuuquam sine summo animi dolore commemorare possumus, antiquissi-
mum et nobilissimum Sancli Johannis Hierosolymitani ordinem adeo illinc
misere expulsum ita excepimus et complexi sumus ut et coramunis nostra
in omnes Christifideles paterna charitas, etprivala in eos benivolenlia pos-
tulare in primis videbatur. Atque ut ammissa illa totius ordinis veluti coni-
munis patria, illoque propugnáculo fortissimo, in quo non se ipsos modo,
sed universam pene christianilatem ab hostibus eisdem tutissimam redde-
bat, aliquem illis locum procuraremus, quo suo ipsorum more convenire
possent, ibidemque consistere, indeque térra aut mari, sicuti semper fe-
cerunt, adversus eosdem hostes se exercere, cumque nil in praesenlia ha-
beremus quod magis opportunum videretur, civitatem noslram Viterbii
illis commodavinius. Secuta deinde alme Urbis expugnatione, eiusque
atque omnium fere propinquorum locorum direplione vasta tioneque, com-
raodius sibi futurum sunt arbilrali se Nicaeam conferre, ut, appro-
bantibus nobis, se conlulerunt ibi quandiu fuerunt. Nos elsi magnis an-
gustiis et rerum diíücuUatibus oppressi, non tamen unquam deslitimus
quin operara omnem et opera cura nostrara prestaremus, tura Christia-
norum Principura procurareraus, quam vel commodo illis, vel honori fu-
turam arbitraremur. Ac cura illa praeterea ex Orientis parlibus spes il-
luxisset Rhodura ipsara aliquando recuperandi, esselque ab ipsius ordinis
prudentissirais viris mullis rationibus nobis confirraata; cumque quanti
res moraenti esset videremus, quantique non illorum tantura, sed oraniura
christianorura interesset, nec talem occasionera praetermittendam esse exis-
tiraaviraus, oranemque diligentianí adhibuimus ut Chrislianis principibus
re communicala, auxilioque cura nosiro ab iis impétralo sanlissima su*-
RELACOES COM a curia romana 307
ciperelur expiditio, atque ad oplalum finem perduceretur Quo per dile-
ctum filium Antonium Rosium fado, hominem ex eodem ordine suni-
mae cum sedulitatis lum prudenlie, summiqíie ¡n ipsum ordinem amoris,
reque ab eodem ipso in oplimum slatum redacta, siciiti tibi is poluit de-
clarare cum eadem de re ad te aliosqiie principes non semel est missus.
Jam ordo ipse Melitam erat profeclus iit res inde occullius fieri posset,
iamque classis inslructa et omnia parata erant, nihilque ad soivendum,
remque aggrediendam expectabalur, praeter Antonium ipsum reí pera-
gendae modum aliaturum, quando incerti primum ex Venetiis et Genua,
tum deinde ex nonnullis qui ad nos de illis locis confugerunt, veri al-
lati sunl nuntii, rem omnem hostibus proditam et detectam esse ; quod
quanto nos dolore percusseril, facile lúa Serenitas potest considerare. Hoc
nuncio Melitam allato, dilectus filius Pliilippus Villiers la leadam ^ Or-
dinis ipsius magister et qui cum eo parati expecfabant, cum suae anti-
quae sedis hoc tempore recuperandae omnem sibi spem ereptam, frus-
traque tantum laboris susceptum, tantumque impensae factum esse intel-
ligerent, iam defessi huc illuc per aliorum loca divagari, idque ñeque ex
ipsius ordinis, nec adeo e christianorum aut re aut dignitate esse arbi-
trantes, Habito Ínter se de rebus suis conventu, Syracusis oratores mise-
runt, qui nomine totius ordinis carissimo in Christo filio nostro Carolo
Romanorum Imperatori semper augusto tuae Serenitatis sororio, quem ve-
nire in Italiam audiebant, Melitam et Gaudisium denuo, atque etiam si-
mul Tripolim peterent, etenim loca illa ut apposita sunt et mari et ter-
rae, sic sibi rebusque suis agendis exercendisque adversus Christi hostes
\'iribus, máxime accommodata ixistimarunt. Cumque ul mediis nobis in
80 uterentur miserint, nos eorum consilium ex Oratoribus ipsis, necnon
dilecto filio Rernardo Sal\iato Urbis Priore nostro secundum carnem ne-
pote, generalique ordinis procuratore percipientes, et valde approbavi-
mus, atque pro etiam nos et operam noslram interposuimus, ipsique quod
petebant impetrarunt. In quo sane ut ómnibus in rebus ad Dei honorem
spectantibus, idem Senenissimus Caesar sororius tuus solitam suam pie-
tatem, et praestantissimam animi \irtulem plañe ostendit. Et quoniam ordo
ipse nihil a se recte factum esse existimat, nisi Principibus ómnibus chris-
tianis in eo satisfaciat, haec nos ad Serenilalem tuam scripsimus, ut et
1 Léase : de l'Ile-Adam.
39*
308 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGÜEZ
rem omnem intelligat, et eara ut pro rerum ac temporura occasione non
nisi recle factam, sicuti et nos fecimus comprobare velit; quod te factu-
rum confldimus, alque ordini eidem quantum res ipsa postulal gralula-
turum. Nam ad eum praeterea et res eius omnes tua prolectione ample-
otendum, et quoties opus fuerit iuvandum, ex eo quod tua serenilas ¡n
ipsa expedilione et in caeteris rebus adhuc fecit facile perspicere possu-
mus nulla te egere nec nostra, nec ullius alterius liortatione. Verum illud
in Domino speramus, ipsum eundem ordinem si paulum respirare illi, ac
sistere pedem licuerit, prislinum decus et robur adversus hostes ipsos re-
cuperaturum, ostensurumque ómnibus non tanlum in amissi loci oppor-
tunitate posilum spei antea fuisse, quantum in sua ipsorum fide atque
virtute, Deo coadiuvante, est ponendum. Quae nostra ne inanis sit spes,
et ut Deus ipse faciat precamur, et nos quantum cum eo unquam pote-
rimus semper facturi sumus. Quod vero ad Serenitatem tuam pertinet,
etsi pro ipso ordine nihil factura est quod ab ea sit nobis non expecla-
tum, id tamen quam gratissimum nobis est futurum, nec minus nos quara
ordinem Ubi in eo perpetuo devincturum.
Datum Bononiae, sub annulo Piscatoris, die xxv Martii mdxxx, anno
séptimo '.
Breve do Papa Clemente ¥11.
1530— Halo 13.
Clemens papa vii Ad perpetuara rei memoriam.
Juxta Pastoralis oííicii debitum circa ecciesiarum quarumlibet, prae-
sertim curam animarum habentium, et personarum earundem stalum,
dante Domino salubriter dirigendarum sollicite vigilantes, in iis per quae
earum incommoda propulsentur, ac indemnitatibus prouidealur, libenter
eis assistimus, et quae in earum uergunt preiudicium, ne conleuliones et
scandala oriantur, ad statum debitum sublato desuper omni ambiguitatis
velamine quantum possumus reducere studemus. Dudum siquidem felicis
recordalionis Leo papa x, praedecessor noster, Molu proprio tot Praece-
plorias militiae Jesu Christi Cistertiensis ordinis, quot infra lerminum
* Copia autentica extrahida do Archivo do Vaticano.
RELACOES COM A CURIA ROMANA 309
vnius anni ex tune computandum et sub inuocalionibus, quae clarae me-
moriae Emanueli Porlugalliae et Algarbiorum Regi, tune in humanis agen-
li, el diclae militiae Regni Porlugalliae adminislralori depulalo \ideren-
tur, in Monasterio conuenlu seu mililia huiusmodi per quasdam erexil,
ac tol bona el jura Monasteriorum et Prioratuum vsque ad summam vi-
ginti milium ducatorum, si tol iuxta forníiam tune expressam dismerabrari
poterat, Alioquin pro eo quod in dicta summa deessel ex Parrochiaiibus ec-
clesiis per eundem Emanuelem Regem exprimendis el declarandis vsque
ad dictaníi summam Vigintimilium ducatorum, Saltem pro singulis earun-
dem eeclesiarum Recloribus portione sexaginta ducatorum reseruata, dis-
membrauit et separauit. Illaque sic separata el dismémbrala Praecepto-
rüs sic ereetis proporlionabililer pro earum dolibus perpetuo applicauit,
ac dicto Emanueli ac pro lempore existenti Porlugalliae el Algarbiorum
Regi nominandi ad singulas Praeceptorias singulos milites, qui contra in-
fideles militassenl, et post nominationem huiusmodi per tempus per ipsos
Reges staluendura contra ipsos infideles militarent, vel alias benemerili
forenl, facullalem concessil. Necnon erectiones, dismembraliones, separa-
tiones, appropriationes ac nominationes per Emanuelem el alios Reges prae-
fatos faciendas ex tune proul ex ea die, non fíete sed veré, suum verum
el plenarium in ómnibus el tolalem efl'eclum sortitas esse, diclasque no-
minationes vim ualidarum perfectarum et eíTicacium apostólica rum pro-
uisionum habere. lia quod liceret ipsis militibus ad Praeceptorias erectas
per Regem praefatum nomínalas cedentibus vel decedenlibus tune Monas-
teriorum Abbatibus el Prioratuum Prioribus ac Parrochialium eeclesiarum,
a quibus bona dismembrauerat el Praeceptoriis huiusmodi applieauerat
Recloribus siue Monasteria Prioratus et ecclesias huiusmodi quomodolibet
dimittentibus, el illis quibusuis modis, eliam apud sedem aposlolicam va-
cantibus, bonorum dismembratorum et applieatorum et pro dolibus assi-
gnatorum huiusmodi corporalem el aelualem possessionem per se \el alium
seu alios propria auctoritale libere apprehendere, illorumque frucUis red-
dilus et prouentus in suos el Praeceptoriarum huiusmodi vsus el vlilita-
lem conuertere, Ordinariorum locorum licenlia super hoc uiinime requisita,
Mandans Episeopo Septiensis el Ministro Domus Sanetae Trinifatis Vlix-
bonensis pro tempore existenlibus, eorum conscienlias super hoc eneran-
do, qualenus ipsi vel eorum alter per se vel alium fructus, reddilus, pro-
uentus, census, obuentiones, el emolumenta a dictis Monasleriis Priorati-
310 CORPO DIPLOMÁTICO POHTÜGUEZ
bus el Parrochialibus ecclesüs separata et dismémbrala pro dolibus huius-
modi, saluis modificalionibus et reserualionibus praefatis, designarent,
nominarent et assignarenl. Ipsumque Regem el milites nomínalos ad Prae-
ceplorias in earum et ad bonorum praedictorum possessionem indiicerent
et inducios defenderent, amolis ab cis cedenlibus ve! decedenlibus tune
Abbatibus Prioribus seu Monasleriis Prioralibus seu Parrochialibus eccle-
süs huiusmodi alias quouismodo, eliam apud sedem praediclam vacanli-
bus, quibuslibet illicilis detenloribus, facerenlque de ipsorum bonorum pro
dolibus applicalorum fruclibus, reddilibus, prouentibus, juribus el obuen-
tionibus vniuersis integre responden. El doñee idem praedecessor, cupiens
ne quisquam in asseculione bonorum separalorum pro dolé Praeceptoria-
rum huiusmodi jure conqueri possit, per alias lunc in dicto Regno Nun-
cio suo commisit el mandauil vt diligenter adhibila cura in tali discus-
sione per eum habita vi Monasleria Prioralus el Parrochiales ecclesiae \1-
Ira debitum in assignalione bonorum pro dolé personarum separalarum
huiusmodi non grauarenlur seu onerarenlur : ac poslmodum pro parte
eiusdera Emanuelis Regis dicto praedecessori expósito Quod licel praefa-
tus Nuncius posleriorum lillerarum huiusmodi uigore in iis, quae ralione
bonorum in diclis Monasleriis dismembralorum ex Praeceploriis pro illa-
rum dote assignatorum Monasleria ipsa non grauarenlur, Tamen dismem-
bralio et separalio bonorum a diclis Monasleriis non fuerat recepta a per-
sonis dicti Regis grato animo diminulis fruclibus eorundem Monaslerio-
rum illorum Abbatis dignitalem suam Abbatialem talem vt decebat lene-
re, ac onera incumbenlia ex reliquis fruclibus commode perferre el jura
Camerae Apostolicae ex illorum \acatione debita commode persoluere non
poterant; Et quod si separalio frucluum, reddiluum et prouentuum, cen-
suura, jurium et emoluraenlorum praedictorum a diclis Monasleriis pro
illorum dote applicalio cassarenlur et annullarenlur, el eadem quantilas
frucluum, reddituum, censuum, prouentuum, jurium et emolumentorum
aliarum Parrochialium ecclesiarum in Regno et Dominio eiusdem Ema-
nuelis Regis consislentium, et ad collationem presenlalionem seu quamuis
aliam dispositionem Archiepiscoporum, Episcoporum, Abbatum el aliarum
personarum saecularium et quorumuis ordinum regularium spectantia ab
illis, reseruata lamen illorum Recloribus simili Porlione sexaginta duca-
lorum, separarelur et dismembrarelur, Et diclis Praeceploriis, quibus fru-
clus redditus et prouentus, ac census jura el emolumenta diclorum Mo-
RELACOES COM A CURIA ROMANA 311
nasleriorum applicata eranl, eorum loco pro earum dolé applicarentur,
ex eo Monasleriorum indeninitali illorumque Monachorum el personarum
necessilalibus, ac eorum quieli plurimum consulerelur, Diclus praedeces-
sor per alias fructuum, reddiluum, prouenluum, censuum, juriumelemo-
lumenloriim Monasleriorum huiusmodi separalionem el dismembralionem,
ac illorum Praeceploriis pro illarum dolé applicalionem el per Nuncium
illorum designaliones el assignationes facías, huiusmodi dunlaxat reuoca-
uil, cassauil el annullauit, ac omnino viribus euacuauil, casque nuUius
roboris vel momenli fore decreuil ; ac tol alia fruclus, reddilus, prouen-
tus, census, jura el emolumenla aliarum Parrochialium ecclesiarum in
Regno el Dominio huiusmodi consislenlium, el per Episcopum seu Minis-
trum huiusmodi infra lerminum vnius anni a Dal. priorum lillerarum com-
pulandi exprimendarum, vsque ad summam ad quam ascendebanl fru-
clus, reddilus, Prouenlus, census, jura el obueuliones, quae a diclis Mo-
nasleriis eranl sepárala el diclis Praeceploriis pro illarum dolé applicala,
el quorum separalionem el applicalionem lunc cassaueral el ab eisdem
Parrochialibus ecclesiis dismembraueral el separaueral, Reseruala lamen
illarum Recloribus simili Porlione sexaginta ducalorum huiusmodi, ac fru-
clus, reddilus el prouenlus, census, jura el emolumenla a diclis parro-
chialibus ecclesiis sic dismémbrala eisdem Praeceploriis pro earum dolé
applicauit el appropriauil, lia quod licerel ipsis mililibus ad Praeceplo-
rias sic ereclas per Emanueiem el alios Reges praefalos nominalis, ceden-
libus vel decedenlibus lam diclarum specificatarum Parrochialium eccle-
siarum, seu Ecclesias ipsas quomodolibel dimillenlibus, el illis quouis-
modo vacanlibus, bonorum lunc dismembratorum applicatorum el pro do-
libus assignatorum huiusmodi corporalem possessionem, per se vel alium
seu alios, propria auclorilale libere appraehendere, illorumque fruclus,
reddilus el prouenlus in suos ac Praeceploriarum huiusmodi vsus el uli-
litalem conuertere, Ordinariorum locorum el quorumuis aliorum licenlia
minime requisila, Episcopo el Ministro praefalis executoribus desuper de-
pulalis. El demum pro parle eiusdem Emanuelis Regis praefalo praedeces-
sori eliam exposilo quod fruclus, reddilus el prouenlus Parrochialium ec-
clesiarum expressarum huiusmodi non eranl aequales, el aliquarum ex eis
adeo tenues quod, si ex fruclibus cuiuslibel parrochialis ecclesiae Porlio
sexaginla ducalorum pro Redore reseruari deberel, Praeceploriae ereclae
praediclae ex ipsarum Parrochialium Ecclesiarum fruclibus non haberent
312 COHPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
summam ad quam ascendebant fruclus, census, jura el emolumenla quae a
diclis Monasleriis fuerunt separata et eisdem Praeceplorüs pro illarum
dolé applicala el poslmodum cassata; Verum si ex fruclibus reddilibus et
prouenlibus quarlae parlis omnium et singularum ecclesiarum expressa-
rum huiusmodi vna Trigintaquinque et alia Quadraginla, ac vna ex re-
liquis Tribus, et alia Quinquaginta ducalorum auri de Camera Portiones
pro singulis Recloribus singularum ecclesiarum praediclarum ex reliquis
Tribus partibus ecclesiarum omnium expressarum huiusmodi fruclibus red-
dilibus el prouenlibus dunlaxal reseruarenlur, Reliqui aulem fruclus
earundem ecclesiarum eisdem ereclis Praeceplorüs pro illarum dolibus loco
frucluum el emolumenlorum Monasleriorum antea applicalorum huius-
modi assignarenlur, ex hoc profeclo Praeceptoriarum erectarum dolibus
huiusmodi celerius prouiderelur, Ipsique milites ex dolibus Praeceptoria-
rum huiusmodi onera eis in África contra mauros pugnando incumben-
lia commodius perferre possent, diclus praedecessor per reliquas suas
litteras portionem sexaginla ducalorum ex fruclibus Parrochialium ec-
clesiarum per Episcopum seu Minislrum expressarum huiusmodi pro
illarum Recloribus reserualam, vi praeferlur, moderans, Vnam Trigin-
taquinque ex quarla, et aliam quadraginla ex vnius ex reliquis tribus
partibus ecclesiarum praediclarum, ac reliquam Quinquaginta ducalorum
similium portiones pro singulis ipsarum ecclesiarum Recloribus ex reli-
quis tribus partibus omnium parrochialium ecclesiarum per Episcopum
seu Minislrum expressarum huiusmodi ex ecclesiarum earundem frucli-
bus reddilibus el prouenlibus reseruauit, el moderationem ac taxalionem
pro Portionibus ecclesiarum earundem pro lempore exislenlium ex sin-
gularum ipsarum fruclibus per posteriores litteras facías huiusmodi de
caelero perpeluis fuluris temporibus inuiolabililer obseruari deberé decre-
uil el raandauil, prout in eisdem lilleris plenius dicitur conlineri. Cum
aulem, sicut Dilecti filii moderni Rectores el perpetui Vicarii Parrochia-
lium Ecclesiarum praediclarum, quarum fruclus, redditus el prouenlus
diclis ereclis Praeceplorüs applicala fuerunt, nobis nuper exponi fecerunl
vigore diclarum lillcrarum plures Praeceptoriae mililiae prediclae in prae-
falo Regno ereclae, el deinde mililibus ipsius müitiae collatae fuerint, Et
adhuc aüquae remaneanl conferendae, Ac nonnulli Praeceplores mililiae
huiusmodi, quibus de diclis ereclis Praeceplorüs prouisum extilil obla-
tiones, quae in ipsis ecclesüs fiunl, ac Anniuersariorum in illís instituto-
RELAgOES COM A CURIA R03IANA 313
rum prouenlus tenent, Necnon domos ipsarum ecclesiarum pro illarum
Recloribus deputatas occupant, et ipsi Redores ac vicarü ex oíFertoriis
earuiidem ecclesiarum nihil percipianl, Rectores et vicarü praedicli nobis
humiliter supplicari fecerunt vt ne propter tenuem portionem eis assignatara
in opprobrium clericalis ordinis raendicare coganlur, eorum ac diclarum
ecclesiarum slalui et indemnitati super iisopportuneprouidere de benigni-
tate apostólica dignaremur : Nos igitur, qui omnem ab ecclesiis et eccle-
siaslicis personis dispendii materiam libenler submouemus, et earum pro-
fectui ac quieli, prout possumus, annuiraus, Altendentes non conuenire
vt layci oblaliones el defunctorum pia legata percipiant, ac volenles prout
tenemur jurium dictarum ecclesiarum conserualioni consulere et futuris
scandalis obuiare, huiusmodi supplicalionibus inclinati auctorilate apos-
tólica tenore presentium decernimus et declaramus oífertoria el oblationes,
quae in dictis ecclesiis pro \iuis et defunctis per osculum manus illa-
rum Reclorura seu vicariorum eroganlur, ac prouenlus Anniuersariorum
el funeralium in illis pro lempore celebratorura, Necnon domos earun-
dem ecclesiarum in dismembralione, separalione, et applicalione prediclis
minime corapraehensas esse, nec comprehendi posse aul deberé, ñeque il-
larum ralione ereclionis et instilutionis Praeceptoriarum eliam conferen-
darum praediclarum praetexlu Recloribus et vicariis praefalis quominus
oíferloria el oblationes viuorum et defunctorum, ac prouenlus anniuersa-
riorum et funeralium seu niortuarium yI prius percipianl el domos hu-
iusmodi teneant el possideanl, nullatenus praeiudicatum fuisse el esse ; Sed
ipsos Rectores el Vicarios oblaliones prouenlus el oíTertoria huiusmodi \t
prius integre percipere el leuare, ac omnes et singulas domos ecclesiarum
huiusmodi tenere possidere et inhabitare libere et licite posse, el sic per
quoscunque judices, eliam causarum Palatii Aposlolici Auditores, subíala
eis el eorum cuilibel quauis aliler judicandi el interpretandi facúltale et
auctorilate, judicari et diííiniri deberé, Dislrictius inhibentes eisdem Prae-
eeploribus, sub excommunicationis lalae sentenliae, ac duorum milium
ducalorum, Necnon priualionis Praeceptoriarum huiusmodi penis, ne Re-
clores el Vicarios praefatos super oblalionibus, oíFertoriis, mortuariis, an-
niuersariis el ómnibus domibus huiusmodi et illarum perceptione ysu et
habitalione molestare vel perturbare quoquomodo praesumant, Sed eos et
eorum singulos oblaliones et anniuersaria morluaria et oíferloria percipere
€l leuare, ac domos huiusmodi habitare tenereque el possidere libere per-
TOMO II. iO
314 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
millant, ac Decernenles ex nunc irrilum el inane si secus super iis a quo-
quaní quauis auctorilale scienler lel ignoranler conligerit allentari. Quo-
circa Yenerabilibiis Fratribus Archiepiscopo Bracharensi, et Porlugallensi
ac Casertanensi Episcopis, ac eorundem Archiepiscopi Bracharensi et Epis-
copi Portugallensis oíScialibus per praesenles conimitlimus et mandamus
quatenus ipsi, vel dúo aut vnus eorum per se "vel alium seu alios, prae-
senles litteras et in eis contenta quaecunque, vbi et quando opus fuerit
ac quotiens pro parle Rectorum et vicarioruin praediclorum seu alicuius
eorum desuper fuerint requisiti solemniter publicantes, Eisque in prac-
niissis eíBcacis defensionis praesidio assistentes, faciant auctorilale nostra
decretum, declarationem et inhibitionem nostra huiusmodi firmiter obser-
uari, ac singulos quos ipse praesenles concernunt, illis pacifice gaudere,
Non permitientes eos desuper contra presenlium tenorem quomodolibet
moleslari, Contradictores quoslibet et rebelles per censuras et poenas ec-
clesiaslicas appellalione poslposila compescendo, Inuocalo eliam ad hoc
si opus fuerit auxilio brachii saeculari : Non obstanlibus piae memoriae
Bonifacii papae viii, eliam praedecessoris noslri, qua cauelur ne quis ex-
tra suam Ciuitalera Yel Diocesem, nisi in certis tune exceptis casibus, el
in eis vltra vnam dietam a fine suae Diócesis ad judicium euocetur, Seu
ne judices a Sede praefala deputali extra Ciuilatem vel Diocesem, in qui-
bus deputali fuerint, contra quoscunque procederé, aul alii vel alus \i-
ces suas commillere praesumant, Et de duabus dielis in concilio generali
edita, dummodo infra tres dietas aliquis auctorilale praesenliam non tra-
hatur, et alus apostolicis conslilulionibus ac militiae el ordinis praediclo-
rum juramento, confirmalione apostólica, vel quauis firmitale alia robora-
tis slatutis etconsuetudinibus, slabiliraentis, vsibusetNaturis, Necnon pri-
uilegiis et indultis apostolicis eidem militiae ac illius Magistro seu Admi-
nistratori et Praeccploribus pro tempore existentibus, sub quibuscunque
tenoribus et formis ac cum quibusuis eliam derogaloriarum derogaloriis,
aliisque eííicacioribus el insolilis clausulis, irritantibusque et alus decre-
tis concessis approbatis et innoualis, quibus ómnibus tenores illorum ac
si de verbo ad verbum insererentur praesenlibus pro suííicienler expres-
sis habenles, illis alias in suo robore pcrmansuris hac vice duntaxat spe-
cialiter et expresse derogamus, Conlrariis quibuscunque. Aul si praefa-
lis Praeceploribus, vel quibusuis alus communiler \cl diuisim, ab eadem
sil sede indultum quod inlerdici suspendí vel excommunicari non pos-
RELAGOES GOM a GURIA romana 315-
sint per Mlleras apostólicas non facientes plenam et expressam ac de verbo
ad verbuní de indulto huiusmodi menlionem.
Dalum Romae apud Sancíum Petrum, sub annulo piscatoris, Die xiii
Maii MDXXx, Pontificalus Nostri Anno séptimo. — Euangelista ^ .
Carta de Itraz Meto ao isccrctario de e&itado.
1530— «Pnllio 14.
Senhor. — Agora tenho pouco que Ihe escreuer, Somenle auisar vosa
merca que, se quer que faca e requeyra o despacho do raoesteyro, que
me mande o trelado de sua prouisao, e parece me que com ella se fará
o que vosa merce quer. Isto Ihe escreuy por vezes e nunca ouue sua re-
posta. Jaa me contentara se me escreuera se estaa sao e em boa despo-
sicam, que isto he o quero saber mais que tudo. Nom sey porque me
nom fez esta merce e me nom responde a quantas cartas Ihe tenho escri-
tas, e se nam pode mandar a hum moco de casa que m escreua como está
e em que desposycam de seus ryns, e queiando se acha com a mezinha
que Ihe mandey, se os mestres o leyxaram vsar della, que bem creo que
o auyam de contrariar segundo seu costume.
Beijarey as maos de vosa merce lembrar se de mim, e fazer de mim
lembranca a elrey, e dizer Ihe quam pouco tenho, e quam mal me posso
qua soster se sua alteza me nom ajuda ou dé renda com que possa sos-
ter esta carega e nom me tome o que tenho. O despacho do ynfante vay
muí bem despachado e como compre a seruico de deus e del rey nosso
senhor e seu, e sem qua vir outrem estaua jaa asy feyto e eu asy o ti-
nha escrito a el rey, e que nom quería atentar este caminho porque Gus-
tarla dinheiro, e asy se despachou o negocio das comendas e eu faley ao
papa e a elle prouue de o fazer : e posto que de lia nom m escreuessem
sobre iso cousa alguma eu o fiz pello que sao obrigado, e fiz leuar era
conta os dous mil ducados que jaa estauam como perdydos que paguey
em bologna em vao. Tudo isto fyz e fizera sem qua vir outrem estando eu
^ Arch. Nac, Mac. 18 de Bullas, n.° 20.
40
*
316 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
qua, e agora que auia de fallar callo e nom vou mais auanle. O doctor
ruy lopez nom leua a bulla como el rey noso senhor mandou porque diz
que se nom estrene a hir por postas : leyxou o negocio das comendas na
mao, e nom \ay agora pera o entretanto pasar pella chancelaria. E por
sobre iso rae nom escreuerem nom pude mais meter nisso a mao que o
poer nos termos em que está ; mas, como vosa merce sabe, sao manhas
de físicos, que multas vezes alongara as curas por raais seu proueyto.
Beijo as raaos de vosa raerce cora tara verdadeyro e grande deseio de a
ver quanto nunca cuydey que fosse.
De roma 14 dias de Julho de 1330 annos.
Nouas ñora haa que escreuer senam que florenca está como estaua,
ainda que dizera que o mantimento Ihe falta, e voltera se defendeo va-
lentemente d alguma parte do campo que sobre ella estaua, de modo que
com mortes de rauytos delles se leuantaram e se tornaram ao campo de
florenca.
Verdadeyro seruidor de vosa raerce. — Braz neto ^
ItrcTc do Papa Clemente ^II, dirig^iclo
ao biüpo de ^izeu.
1530— Outubro 131.
Cleraens papa vii Venerabilis Fraler salutem et apostolicam bencdi-
ctionem.
Tuae deuolionis praecibus benignum impartientes aífeclum Ea Ubi
libenter concediraus, quae tuae quielis coraraodum respicere dinoscuntur.
Tuis itaque in hac parte nobis porrectis supplicalionibus inclinati Tibi,
qui literarum apostolicarum scriptor existís, et in partibus Regni Portu-
galiae nimis a Romana Curia distantibus resides, et curara signaturarum
per carissiraum in christo filiura nostrura Joannera Portugaliae Regcm II-
lustrera faciendarura habes, Tibique valde diíTicile esset ad Curiara Ro-
manara ad visitandum limina Beatorum Apostolorum Petri el Pauli, prout
* Abch. wlc, Corp. Chron., Part. 111, Mac. 11, n." 13.
RELACOES COM a curia romana 317
ralione juramenli per te in tua promotione ad ecclesiam Visensem praes-
lili teneris accederé, vt usque ad sex annos limina praedicta per le uel aliura
visitare minime tenearis, Nec ad id a quoquam iniíitus compelli possis,
aucloritate apostólica lenore presentiura concedimus et indulgemus, el ju-
ramentum per le, vt praeinittitur, praestitum tibi quoad hoc relaxamus.
Non obstanlibus praemissis, ac constitutionibus el ordinalionibus aposto-
licis, Necnon praedictae Ecclesiae visensis, etiam juramento, confirma-
tione apostólica, vel quauis firmitate alia roboratis, slalulis el consuetu-
dinibus, caeterisque contrariis quibuscunque.
Datum Romae apud sanclum Petrum, sub annulo piscatoris, Die
XXI Oclobris mdxxx, Ponlificatus Nostri Anno Séptimo. — Balthazar de
piscia ^
Breve do Papa Clemente l^II, dirig^ido a el-Rei.
1531 — Fevereiro »8.
Clemens papa vii Charissime in chrislo fili noster salulem et apos-
toíicara benediclionem.
Exponi nobis nuper fecisti quod dudum pro parte clare memoriae
Emanuelis Regis Porlugalliae geniloris lui felicis recordalionis Leoni pape
x.™", predecessori et secundum carnem fratri patrueli nostro, expósito
quod in regnis et dominiis sibi subiectis adeo clericorum precipue coniu-
gatorum ob impunitatis audaciara creueral licentia delinquendi, ut pauca
ibi preserlim furti et falsi crimina commilterentur, quorum aliqui ex eis-
dem clericis fado consilio uel fauore non essenl participes, clericali pri-
uilegio nequiter abulentes, ídem predecessor, attendens ecclesiasticam li-
bertatem non malorum tutelara sed bonorum duntaxat esse deberé presi-
dium, et aequitali conuenire ut quos Dei timor a malo non reuocabat,
temporalis coerceret seuerilas disciplinae, ipsius Emanuelis Regis suppli-
cationibus inclinali, Tune Episcopo lamacensi et dicti Regis maiori Capel-
lano, doñee ipse Rex ageret in humanis, quoscunque clericos in minori-
bus ordinibus constituios nullum beneficium ecclesiaslicum oblinentes furti
^ Arch. Nac, Mac. 18 de Bullas, n.° 48.
318 CORPO DIPL03IATIC0 PORTUGÜEZ
uel falsi criminis reos lanquam clericaü priuilegio indignos capiendi el se-
cularis iusUtiae ministris per eos, proul cxigeret deliclorum qualilas, pu-
niendos tradendi per suas litteras licentian) concessit el facullalem, prout
in illis plenius continelur. Cum aulem, sicul eadem exposilio tua subiun-
gebat, facultas eidem Capellano maiori per obilum prcfali Regís Emauue-
lis expiraueril, causaeque per quas predecessor ipse facullatem praedi-
clam concessit durare noscantur, Nobis humiliter supplicari fecisti ut eidem
Capellano maiori eandem licenliam et facullalem ad \itam tuam concederé
dignaremur. Nos itaque huiusmodi supplicationibus inclinali eidem Capel-
lano tuo maiori quoad uixeris clericos in ordinibus minoríbus constilutos
nuUum beneficium ecclesiasticum obtinenles, non solum ralione furli et
falsi, sed etiam ralione false monete, et balista et sagilla homines inlerfi-
cientium criminum dunlaxat, capiendi et iudicibus secularibus per eos
debite puniendos tradendi auctoritate apostólica lenore presenlium licen-
liam et facullalem concedimus : Non obstantibus conslilutionibus et ordi-
nationibus apostolicis, necnon ómnibus illis, que praefactus praedecessor
ia dictis suis litteris uoluit non obstare, celerisque contrariis quibuscun-
que.
Dalum Rome apud sanctum Petrum, sub annulo piscatoris, die vl-
lima februari mdxxxi, Pontificalus nostri Anno oclauo. — Euangelista.
In nomine sanctae et indiuiduae Irinilatis Patris et filii et spiritus
sancti Amen. Nouerint uniuersi et singuli presentes Hileras transumpli
uisuri lecturi pariler et audituri Quod ego Michael Syluius, Dei et apos-
tolice sedis gralia Episcopus Visensis, serenissimi atque Polentissimi Do-
mini Domini Joannis lertii Regis Porlugalliae etc. Domini nostri consilia-
rius, eiusque purilatis scriba, uidi, habui et diligenler inspexi sanctissi-
mi domini nostri Clemenlis Diuina prouidentia pape septimi Hileras in
forma breuis, sannas siquidem et integras, non uicialas, non cancellalas,
impressas quidem in cera rúbea annulo Piscatoris more romano, mihi
pro parle el iussu eiusdem serenissimi Regis Domini mei supradicli pre-
séntalas, cum ea qua decuit reuerenlia recepi tenoris retroscripli. Et quia
easdem Hileras in forma breuis sicul premittilur mihi preséntalas uicio et
suspicione carentes, per earum diligentera inspectionem el sanas el inte-
gras inueni, Idcirco predicli Regis nostri requisilioni el iussui licito an-
Duens, ipsas de uerbo ad verbum nil addendo mulando ucl minuendo, ut
RELACOES COM A CURIA ROMANA 319
dictum cst, retroscribi et inserí feci, el in leslimonium uisionis huiusmodi
alque omnium premissorum présenles lilteras dedi, meamque auclorita-
tem el decretum eisdem litleris ut supra Iransumptis alque presenli Iran-
sumplo inlerposui, et ad ampliorem euidenliam premissorum sigilli mei
iussi impressione communiri.
Datum in monle maiori nouo die quarla Mensis Maü Anno domini
MDXxxi, Ponlificalus domini nostri Pape Anno oclauo. — Michael Syluius
E¡nsco]ms Visensis. — (Logar do sello do bispo) — Gaspar luisius Viegas
Ñola r i US *.
Insitruc^oeis a Braz Meto.
(1531).
Doclor braz neto amigo Eu el Rei vos emuio muilo saudar.
Eu determino ora por asi ho auer por seruico de deus e meu que
em meus regnos e senhorios aia oficio de inquisicam geral e inquisido-
res depulados contra has heresias, e pera ipso vos encomendó e mando
que, o mais em breue que poderdes, com muita diligencia e segredo pe-
cáis de minha parte ao santo padre os poderes e faculdades que pera este
caso sam necesarios ; e vos enformai dos poderes e faculdades que sam
dados per os papas aos inquisidores de caslela e d oulros regnos, e com
as mesmas faculdades e poderes, e mais se ser poder, pediréis a dicta
inquisicam : e pera este caso com esta vos mando pera sua santidade mi-
nha carta de crenca e esta enformacam, e do modo em que quería que
se concedesse, e alguuns dos poderes que se dessem pera que este nego-
cio se faca como cumpre a seruico de deus e meu e bem do pouo.
ítem : pediréis esta inquisicam perpetua, e que eu e os Reís que de-
poís de mim forem possamos eleger e deputar inquisidores e outros ofi-
ciaes necessaríos pera a dicla inquisicam, pessoas que nos parecerem au-
clas e quantas nos bem parecer, e posamos eleger pessoas ecclesiasticas
así clérigos seculares como religiosos de quaesquer ordees, posloque se-
^ Arch. Nac, Mac. 12 n." 3. — Diz no sobrescripto: Ao corregedor da estrema-
d ti ra ,
320 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
iam das ordees mendigantes e obseruancia, e sua santidade mande ás
pessoas ecclesiaslicas que acccptem os oficios pera que per mim e meus
subcessores forem nomeados e depulados, sem mais ser aos religiosos li-
cenca de seus maiores e prelados necesaria, e se comprir se deroguem
quanlo a este caso os priuilegios das dictas ordees ; e porque nestes re-
gnos se nom acharara tantas pesoas ecclesiasticas juristas do crédito e sa-
ber que o negocio requere, pediréis que cora as pessoas ecclesiaslicas iun-
laraente se possa deputar alguuns iuristas leigos casados sendo d ordees
menores, que tenham o mesmo poder e iurisdicam que os ecclesiasticos,
comtanto que os leigos exercitem ha iurisdicam juntamente com os ec-
clesiasticos: e se caso for que sua santidade este capitulo dos juristas lei-
gos nom conceder, expedir se ha sem esta faculdade. E asi se pedirá
que possa, quando quer que me bem parecer, tirar huuns inquisidores e
meter outros, e substituir era lugar dos absentes e impididos.
ítem : que, se bem e necesario parecer, possamos deputar huum in-
quisidor mor, que seia presidente da inquisicam e possa presidir aos ou-
tros inquisidores e oficiaes da inquisicam, e os constranger quefacam seus
oficios como deuem, e castigue os que o mal fezerem, e ordene os luga-
res e lempos em que se faca o dicto negocio ; e este inquisidor mor que
asi for depulado per nos o possamos tirar quando nos bem parecer e poer
oulro, ou sustituir sendo elle absenté ou impidido.
ítem : que possa deputar as pesoas pera inquisidor mor e pera os
outros inquisidores, posto que nom cheguem a idade de quorenta annos,
sendo pessoas anclas pera ipso.
ítem : que os inquisidores asi depulados tenham poder ¡n solido pera
conhecer proceder e condenar, e poer quaesquer penas, e exercitar todo
oficio da inquisicam, e priuar de quaesquer dignidades, e denunciar por
priuados quaesquer pesoas asi ecclesiasticas como seculares que acharem'
culpados, sem os ordinarios bispos e seus vigairos, nem serem obligados
a Ihe dar parle nem conla de cousa alguma do que fezerem, nem Ihe pe-
dir seus pareceres ; e se derogue nesle passo a disposicam da ele. p.^ ^
de hereticis, e d outra qualquer disposicam do direito.
ítem : se peca que, lanío que os diclos inquisidores comecarem de
se entrometer om qualquer mancira de qualquer causa de hercsia contra
' Refere-se provavelmente á Clcmcntin. Lib. v, Til. iii.
relacOes com a curia romana tn
qualquer pessoa, nom se possam mais os ordinarios em o lai caso entro-
meter nern conhecer em modo alguum, e se derogue nesle passo o ca-
pitulo per hoc de herelicis in vi.° ^ E porem aos inquisidores fique o
poder que o direito Ihe dá ñas causas de que os ordinarios primeiro se
enlrometerera e tomarem conhecimento nesle caso.
llem : que os inquisidores possam chamar huum bispo qual Ihe pa-
recer, posto que nom seia o proprio bispo ordinario da diócesi do con-
denado, pera depoer e degradar \erbalmente e auctualmenle os clérigos
de quaesquer ordens, posto seiam sacras, condenados de heresia, cha-
mando pera ipso as pesoas religiosas que Ihe bem parecer ; e os inquisi-
dores possam conslranger o bispo que asi chamarem, nom o querendo
elle fazer, porque poderá auer muitos hereies d ordees, e seria cousa
muilo deficullosa requerer sempre pera ipso o proprio bispo.
Ítem : que possam os inquisidores inquirir e proceder contra quaes-
quer sortiligos, feiticeiros, adiuinhadores, encantadores e blasfamadores,
postoque os taes dilitos e crimes nom toquem a heresia, os possam con-
denar ñas penas que per direito Ihe parecer que deuam ser condenados,
e tenham nestes casos poderes que Ihe forem dados contra os hereies.
ítem : que os dictos inquisidores possam absoluer de quaesquer ex-
communhoes que per estes casos se encorerem, postoque seiam reser-
uadas á see apostólica, e asi dispensar nos casos que Ihe bem parecer com
as penas que o direito daa e eles poserem per suas sentencas ; e asi pos-
sam admitir os que pedirem reconciliacam, e posam fazer receber recon-
ciliacoes publicas e priuadas segundo os casos forem e per direito se de-
uem receber e admitir as abjuracoes, e fazer os auclos e solenidades ñas
taes absoluicoes e reconciliacoes, sem interuirem nos taes os bispos ordi-
narios nem serem pera ipso necesarios.
^ Concede que o Inquisidor geral nomeado posa depular huum e
dous e muitos inquisidores nos bispados cidades que Ihe bem parecer, e
reuogar los quando quiser, e criar notario, procuradores, promotores,
consiliarios e oulros oficiaes necesarios e ministros, e pedir Ihe conta, e
visítalos, e punir hos delinquentes em seus oficios, e remitir Ihe as pe-
nas.
^ Vicie: Sexti Decret. lib. v, til. ii, cap. xvii.
~ A ultima pagina deste rascunho cometa assim abruptamente.
TOMO I!. 41
322 GORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
Ilem : que posa resumir quaesquer causas herelice prauilalis pen-
dentes in quocunque statu coram quibuscunque judicibus, eliam delega-
tis et audiloribus sacri palatii, el cum polestate inhibendi diclis judici-
bus, et cura poteslale cilandi vllra vnara et duas dietas, derogans cons-
titutiones in concilio.
Gom todos os poderes que de direilo e costume.
E com hos poderes e priminencias que ho foy o mesmo adriano. Tem
clausulas pro quocunque reuocata iteralis Yicibis concedit.
Et cum derogalione jurium vitra certuní nuraerum ad judicium non
vocandi.
ítem : cura clausula appellatione remota ab interlucutoriis ^
Carta de Draz I^eto a el-Rei.
1531— «lunlio 11.
Senhor. — A 22 días de raayo pasado Receby as cartas que Vosa
Alteza me mandou de palmella e de raonte mor o nouo, e aquelle dia fa-
ley ao papa e Ihe dey a noua d adera e dos outros logares, e do venci-
mento que ouueram os capitaes de Vosa Alteza, cora que muito folgou e
todos os Gardeaes e ainda toda esta corte, e deu por isso muitos louuo-
res a nosso Senhor, pedindo Ihe que sempre asy fosse de bera era me-
Ihor ; e certo que cora prazer Ihe vieram as lagrimas aos olhos. Despois
disto Ihe faley nos negocios sobre que me Vosa Alteza escreueo : man-
dou que se fizessem as supplicacocs, e que as dése a sanctiquatro, e que
logo as despachada ; e porque nesta corte nom ha senara hura abreuya-
dor que estas supplicacoes de sustancia faca, que se chama laraberto, cora
o qual eu sempre faco todos os negocios, fuy Ihe falar, e Ihe pedy que
logo ao menos a supplicacam do negocio principal e a de tomar, polla
* Rascunho sem data, muito incorrecto, cheio de interlinhas c emendas, no Arch.
Nac, Gav. 2, Mac. 2, n." 39.
RELACOES COM a curia romana 323
necesydade que avia pera o despacho ser laa ale Sao Joham, porque me
pareceo que o mais se poderia de vagar despachar ; e por ter muilos ne-
gocios nunca tanto pude nem com rogos nem com dadiuas que me fizesse
logo cousa alguma ate o dia d oje, que sao dez dias de Junho, e diz me
que se nao vir a bulla que os Reys vossos avoos ouueram, que nom s es-
treuya a fazer como convinha. E por se nom saber nem presumir que
eu a mandaua buscar no Registo, Ihe pedy que mandasse a hum seu cria-
do que a buscasse por seu mandado, e que eu o pagaria muy bem, e
pera logo mandar fazer Ihe mandey dar dez escudos d ouro ; e d aly
(despois de muylo importunado de mym) a seis ou sete dias mandou-me
dizer que elle mandara buscar o registro do tempo de Innocencio pera
qua, e que se nom achara cousa alguma : que era necesario auer a co-
pia da que ouueram vossos auoos. E por me parecer que seu criado nom
faria a deligencia que devia, que por isso se nom achaua, me descobry
a hum solicitador francés e Ihe dey juramento nos euangelhos que a ne-
nhuma pesoa dissese que eu Ihe mandaua buscar esta bulla, e mandey
Ihe que a buscase, o qual ate o dia d oje a nom achou. Faz toda deli-
gencia, e se fará quanto for posyuel, porem, se se per laa secretamente
podesse auer dos inquisydores de castella o trellado, seria muy bem : eu
nom leyxarey de fazer qua quanta deligencia for posyuel.
Eu, Senhor, estudando huma vez em hum liuro, vy huma bulla quasi
como esta do papa Innocencio pera se por ella inquirir contra alguns he-
reges em alemanha, e mandey por todos os liureyros desía cidade bus-
car este liuro, e acharam no e busquey a bulla e acheya nelle, ainda
que nom he tam copiosa que abaste segundo Vosa Alteza quer e a mym
parece que compre, mayormente porque he adicam feyta a outra que jaa
era passada sobre o mesmo caso, porem porque della se podiam tirar
muitas clausullas que fazem ao proposylo Ihe mandey amostrar o liuro.
Agora que a vyo me mandou dizer que a faria e logo e oje me prome-
teo de ma dar feyla : nom sey se será asy, porque por ser tam bom of-
ficial tem tanta custura que nom pode as vezes leyxar de falecer do que
promete. Tanto que ouuer as supplicncoes á mao farey por auer o des-
pacho e o mandar Vosa Alteza com o de tomar, e o mais se fará des-
pois. E todavya nom leyxe Vosa AKcza de mandar o trelado da bulla
de castella porque, se esla nom for tam larga, amplíala ham mays do
que esla for; e isto se devya fnzer com grande caulella e desymulacam
41 *
324 GORPO DIPLOMÁTICO PORTUGÜEZ
porque se nom synta, poslo que eu Icnha por certo que logo antes que
as carias pera qua parlissem se soube laa.
Eu, Senhor, quando faley a sanUqualro nislo achey o hum pouco
áspero, e disse me que islo pareep que se ordenaua pera proueylo e
aqueryr as fazendas desla genle, como diziam da de caslella. Eu Ihe disse
que a tencao de Vosa Alteza era lam sancta como sempre fora em todas
as oulras que fazia, e quanlo ao proueylo que disso se podia auer que o
nom lynha em conta de nada senam olhar ao seruico de nosso Senhor,
e aumento e louuor de sua sancta fee. Disse-me que seria melhor que
quem quisese tornar á vida e coslumes anligos que o podesse fazer, e
quem quisese ficar que ficasse e estes esfollassem se fizessem o que nom
deuessem, auendo respeyto ao comeco parecer hum pouco forcoso. Disse
Ihe que isto faria grande escandallo ao pouo e seria grande mal tal cousa
se fazer : lodavia eslaua poslo nislo. Areceo que lenham jaa qua feyla a
deligencia com algum seu sobrinho ou camareyro, e asy com algum do
papa, e que tenham ludo feylo como Ihe compre e á sua vonlade, por-
que aquy está hum portugués, que quando laa se traclaua como chris-
taS se chamaua dioguo pirez, e seruio o officio de fragoso d escriuam
dante os ouuidores da casa da supplicacam, o qual se veo declarar por
judeu a turquya dizendo que fora feyto christáo por forca, e que nunca
o fora, e por esta emformacam ouue hum breue do papa, per que manda
que nenhuma pessoa per isso Ihe dee molestya, nem faca mal algum, e
manda á justica ecclesiaslica que nisso nom enlenda ; e agora publica-
mente está aqui judeu e pregua aos judeus, e crem nelle, e quasy ten no
por sánelo. Este falla com cardeaes e com o papa, e ey raedo que de laa
Ihe escreuam alguns seus amigos, e Ihe mandem dlnheyro pera peytar e
loruar ; porem se eu ey a copia da bulla á mao, por muylo que faca,
espero em noso Senhor que se acabará como Vosa Alteza deseja, no que
noso Senhor poerá a mao vendo que a ¡nclinacaó de Vosa Alteza he tam
sánela e lam justa como he.
Quanlo, Senhor, á diuisao das prouincias o da obseruancia dos claus-
tays tambem faley ao papa. Disse me que se fizesse supplicacam, e que
elle a despacharía. Aínda nom he feyla por causa do vagar do abrcuya-
dor : far se á com a mayor breuidade que possa ser.
Com esla mando a Vosa Alteza o despacho dos frades do carmo. Vse
Vosa A'teza de qual quiser que pera iso manda o geral duas. E asy man-
UELACOES GOM a curia romana 325
do absolucam que mandón podir meslre ballesar, pasada por Sancliqua-
Iro proteilor da ordeni: parece me que vay ludo como compre. Nom man-
dey a carta de Vosa Alteza ao gcral por ser escusada porque jaa linlia
aquy as prouisoes, e quando escreuy as cartas pasadas a Vosa Alteza,
posto que nellas dissese que mandaua com ellas estas prouisoes, nom fo-
ram porque nom pude emtao auer a absolucam pera hir tudo junto, e por-
que me fizeram duas e nom foram á minha vonlade, e foy necesario fa-
zer se outra, e o coreo nom deu lugar nem lempo pera se acabar de
emendar pera a leuar e se auer da maó de sancly quatro.
Quanto ás reliquyas de sam Sabasliam vieram de milao duas cartas
per duas vezes em que afirma hum, a quem de qua escreueo hum ho-
mem de hem corlesao natura! de laa, em que diz que pergunlou fregue-
ses velhos e antigos e hum clérigo anlygo da igrcja de sam sabasliam de
milao, e que dizem que nunca tal ouuiram nem de tal sabem parte. Agora
mandey pyntar o braco asy como de laa veo pera me ficar este que qua
lenho pera mandar fazer outra deligencia e mandar saber se ha oulro
Sam Sabasliam em milao, e se o ouuer fazer outra tal deligencia com a
mesma pintura, e o que adiar escreuerey a Vosa Alteza. E verdadeyra-
menle que a reliquya, segundo está e a eu vy em coymbra, parece me
que deue de ser verdadeyra, e será doutra igreja e nom de sam sabas-
tyam de mylam. E cerlo, Senhor, que eu nom curarla de mays inquirir
islo, e leí a hia em veneracam por honra de sam sabastyam, segundo Iha
o papa concede ; que mullos lenhos ha hy, que dizem que sao do lenho
da vera cruz e o nom sao, e asy os crauos e lambem a lanca que aquy
está em roma, que dizem que he a com que foy dada a lancada a nosso
Senhor Jesu chrislo, e nom ha outra proua disso senam dizerem que o
foram e sao verdadeyros, e posto que nom aja outra proua disso pella
mayor parte que fama, nom se leyxa de se Ihe fazer mui grande vene-
racam. Eu, Senhor, comludo nom leyxarei de hir ao cabo com a deli-
gencia e inquisicam pera ver se posso achar aigum raslo.
Seria necesario dinheyro pera estes despachos, porque, ainda que
me Vosa Alteza escreueo que lomasse pera isso se fosem mester qua a
caymbo ale quinhenlos ducados, e que logo os mandaría laa pagar tanto
que mostrassem minha certidao de como os linha recebydos, nunca achey
quem m os quisese dar, pollo que farey por ler as supplicacoes asyna-
das pera quando me Vosa Alteza mandar prouisao fazer expedir as bul-
326 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
las. Eu, Senhor, se o liuera folgara muyto de o despender em vosso ser-
uico, mas juro a Vosa Alteza que estou lam necesitado e com tam pouco
crédito que nunca pude achar quem me empreslasse dinheiro, nem mo
desse a caymbo pera lixboa ou pera castella, aínda que disese que era
pera vosso seruico e que por mandado de Vossa Alteza o tomaua, o que
nunca despois que roma he roma se vyo, e por isso conuem que quem
qua ouuer d estar que lenha sempre no banco crédito como qua tem to-
dos os embaixadores, mormente quando nom fizer despesas desordena-
das do que Vosa Alteza se muí bem pode sempre emformar. Eu, Senhor,
jaa non sey que faca, que certo, Senhor, se teuera renda pera sofrer esta
carega, nunca nisto tocaua a Vosa Alteza, e por isso, Senhor, seria mais
vosso seruico mandar quem leuesse mais que despender do que eu, Se-
nhor, tenho.
Beijarey as maos a Vosa Alteza acerqua dessa graca que me o papa
fez querer me fauorecer e fazer mercé, pois isso que ouuer nom he se-
nam pera ler com que melhor possa seruir Vosa Alteza.
Agora, Senhor, nom ha qua nouas que escreuer, porque com a Ire-
goa do turco nom se falla nada. O papa está doenle de corimentos que
Ihe vieram a hum pee, e por isso nom foy na procicam do corpo de deus.
Ja escreuy a Vosa Alteza como o cardeal grandy monte \ que foy'em-
bayxador d el rei de franca, que o papa fez cardeal, que despois que se
tornou a franca veo aquí por postas, e elle e o duque d albania, que
aínda aquí está, Irazem grandes requerimentos com o papa. E o embai-
xador do emperador me disse que crya que huma das causas da sua vín-
da era vir esloruar o dereyto da raynha de ingratera vossa tya e fauo-
recerem quanto podesse a el rey, e requer fsicj e importunar o papa so-
bre isso. E verdadcyramente creo que elles trazem materea de que ao
papa nom apraz muyto, porque, estando eu hum día destes pasados com
o papa dando Ihe conta de Vosa Alteza e de suas Vitorias, e asy em cou-
sas de voso seruico, esliue com elle acerca de tres oras respondendo Ihe
a algumas cousas que me perguntaua ; e porque o duque e o cardeal que-
riam falar ao papa, e viam que eu tanto tardaua, e elles quasy vieram
quando eu enlrey, e por uentura por se agastarem por eu estar tanto,
Ihe mandaram dizer que estauam aly pera Ihe falar, e elle respondeo me-
' Léase Grandmont.
RELACOES COM A CURIA ROMANA 327
nencorio e disse que esperasem se quisesem, e despoys do camareiro par-
tido dysse me — «estes todo o dia querem estar comygo, e nom querem
que despache cousa nenhuma senam a sua, e nom abasta polla menha
senam á tarde: vaam se e leyxem me» — e tudo islo com desconlenta-
mento e má vonlade. Isto, senhor, como he cousa que disse a mim, bei-
jarey as maos a Vosa Alteza ser pera elle soo. Asy que por estas pala-
uras de tal vontade dictas me parece que a materya em que Ihe queriam
falar nom era de seu gosto, mormente porque me deleue, e nom me es-
pedio despois fsicj de hy a hum pedaco sem ter necesydade de me fa-
lar. Folgou muyto com a caria que Vosa Alteza Ihe escreueo acerca do
concilio, e, se nom estiuera achacado agora das dores dos corymentos,
elle responderá a Vosa Alteza : pollo primeyro que for creo que respon-
derá. O nuncio nom hyrá tam cedo : se for será pera setembro : aínda
que o papa me dysse que cedo o auya de mandar, nom ho crerey jaa
senam despois que for partido.
Está aqui hum mercador homem de bem, que tem dous irmaos hum
em veneza e oulro em constantinopoly, e o de constantinopoly escreueo
ao de veneza, e o de veneza escreueo a este d aquy, e huma verba da
carta que Ih escreueo diz estas palauras :
« De nouas de turquya nom ha cousa nenhuma por este anno, saluo
pera o anno vindoyro que se fazem grandes preparamentos pera mandar
á indya, e o mesmo contra portugueses : e pollas deradeyras he vinda
noua que he ido comandamento do gram turco pera arestar e empalear
ou espetar andre moresym, que he o primeyro homem dos venezeanos
que sao em alepo, ho que certo he gram danno que era grande homem :
dize se por causa de ceumes d estado por auer dado pasajem a alguns
embayxadores de portugal polla persya, o que nom creyó, porem hora
maa nom tem repayro. Oulra cousa nom ha de nouo que seja de sus-
tancia. »
Estas sao as palauras da carta de verbo a verbo tiradas de sua lin-
gua em portugués. O embayxador de veneza que aquy está me disse que
era verdade que este andre moresym fora justicado, mas que fora por
fazer concertó em prejuizo do turco com o sofy de persya, e nom quis
dizer que nem como, e disse que era mercador de pouca sustancia e de
qualidade bayxa.
O papa declarou o bispo de burgos Cardeal a instancia do empera-
328 CORPO DIPI.OMATICO PORTüGUEZ
dor, o que Ihe jaa liiiha concedido ein bollonha, pera hum qual elle no-
measse. Oiilras nonas nom ha agora ^ seiam. O campo de empera-
dor he ar a romanha e a destruí e a darem causa pera serem
em hois mais auorecidos do que odio que Ihe lem que me ma-
raui aleuantam hum dia e nos nom mayormente aquí em ro-
ma, onde do lempo do saco pera qua nos querem mal e nos lem odio
mortal : e cerlo que se o papa falecese creo que todos andaríamos a fio
d espada, tanto mal nos querem e tanto Ihcs avorecemos, e cerlo, se-
nhor, que lem rezao.
Beijarey as maos de Vosa Alteza lembrar se de mym, e nom me
querer tomar o que lenho pera o seruir e o dar ao criado do arcebispo
de braga. Isto digo porque Vosa Alteza me diz que eu faca a demanda
e que dcspois seia com lembranca pera Vosa Alteza fazer do beneficio o
que quizer. Se este que quiser he pera despoer delle como pode despocr
de lodo o mais que lenho e dallo a quem quiser, fez me Vosa Alteza merce
em o asy dize se he pera todavía Ihe delle fazer que o eu te-
ner vencido e lirallo Ihe parecer que elle he rezao que o isto
me faz Vosa Alteza agrauo e por mandar me que nom falle mais
ludo que fazer demanda e despen e por deradeyro ficar Ihe hum be-
neficio que val oyla fsicj mil reis cadanno com jurisdicam, sem cura
d almas nem encarego nenhum, cerlo, Senhor, eu o poderey bem contar
no numero e contó d agrauo. Se o Vosa Alteza asy quer fazer, e se he
esta sua vontade, beijarey as maos a Vosa Alteza mandar me que mais
nisso nom fale, e farey asy como fyz no moesleyro de lafoes. Eu, Se-
nhor, esperaua que, auendo Vosa Alteza de fazer merce a alguem d al-
gum beneficio agora nesle tempo onde lenho lanía necesidade de renda
pera vos seruir, que devya de ser a mym, e Vosa Alteza quer que essa
pouquidade que lenho que solté pera oulrem que o lam bem nom merece/
Seia como Vosa Alteza for seruido que nunca deus queyra que eu des-
crepe no pensa vontade d aquyllo em que V muito bem sey
que entra que farya rezao pagar riado com o seu e nao com
o que Vosa Alteza o que vir que he scu seruico dizer o que
hoy de fazer. Eu Senhor Icnha laa alguns conlrayros por parte do
' o trrigivttl está nila.
KELACÜES COM A CUHIA KOMANA 329
arcebispo mas bem sey que Vosa Alteza nom fará nislo senain o que for
rezao. Das oulras minhas cousas bey por escusado fazer mais dellas rnen-
cam, nem lembralas a Vosa Alteza: faca nisso o que vyr que mais he
seu seruico que eu nom deseio outra cousa. Beijo as reaes maos de Vosa
Alteza, cuia vida e real estado nosso Senhor acrecenté com longos annos
de vida em seu seruico.
De Roma onze dias de junho de 1531 annos.
Feytu '.
ISrevc iliri^iclo ao biiSipo de Wizeu
O. iligiiicl da i^ilva.
1531 — Jumo 9.
Clemens papa vii Vcnerabilis fraler salulem el apostolicam benedi-
ctionem.
Singularis deuolionis affectus, qucm ad nos elaposlolicam sedem ge-
rere comprobaris, et alia tua de eadem sede benemérita promerentur ut
illa Ubi graüose concedamus, per quae Ubi obsequenUbus el deuoUs ac
alus personis te possis reddere liberalem. Hinc esl qiiod nos, volenles le
fauore prosequi gratioso, Molu proprio etex certa scientia fraternitaU tuae
ut ad Biennium et deinde ad uestrum beneplacitum per le, uel uicarium
tuum generalem ad id a te poleslatem habentem, quaecunque, quotcum-
que el qualiacunque beneficia ecclesiaslica cum cura et sine cura secu-
laria et quorumuis ordinum regularla, eUam si secularia canonicatus et
prebendae dignitates personalus el adminislraUones uel officia, eUam cu-
rata el elecUua, regularía uero monasleria non lamen consistorialia, prae-
positurae, praepositatus, dignitates, personalus, administraliones, uel of-
ficia, etiam claustraba, etiam cúrala et electiua fuerinl, ad collationem,
prouisionem, presentalionem, electionem el quamuis aliam disposilionem
tuam de iure, consuetudine aut alias speclanlia et pertinenlia per obitum
extra curiam romanam vacantia, etiam si beneficia huiusmodi nostrae el
1 Arch. Nac, Corp. Chron., Part. I, Mac. 46, n." 102.
TOMO II. i 2
330 CORPO DIPLOxMATICO POKTUGUEZ
sedis aposlolicae disposilioni specialiler uel ex quauis causa, prelcrquam
ralione uacalionis apud sedem praediclam, aul familiarilalis conlinuae com-
niensaülalis noslrae seu alicuius Cardinalis uiuenlis, cuius consensus re-
quirendus essel, generaliler reseruata, aul ex general! reserualione aíTecla
fuerinl, personis idoneis eliam quaecunque quolcunque el qualiacunque be-
neficia ecclesiastica, quorum qualilales el ualores presenlibus haberi uo-
lumus pro expressis, eliam ex quibusuis aposlolicis dispensalionibus ob-
tinenlibus el expeclanlibus prouidere el illa eis conferre, ac de illis alias
disponere libere el licile ualeas, per inde ac si expeclatiuae graliac, spe-
ciales uel generales reseruationes, mándala de uniendo, el quaeuis aliae
disposiliones, eliam Sanclae Romanae Ecclesiae Cardinalibus, eliam molu
simili uel ad eorum instanliam haclenus concessa el in poslerum conce-
denda, lam per nos seu Romanum Ponlificem pro lempore existenlem,
quam légalos de lalere, eliam cardinales quoscunque, eliam molu simili
el ex cerla scienlia ac cum quibusuis pregnanlibus el forlissimis ac inso-
lilis clausulis non emanassenl seu emanarenl, ac regulae cancellariae apos-
lolicae, beneficiorum prediclorum, seu diclae sedis oíBcialium, aul alias
quasuis reseruationes generales siue speciales continentes siue inducenles
conslilutiones, aul alias quomodolibel affecta facienles, ad monasteria ca-
nonicalus el prebendas, aliaque beneficia huiusmodi nullatenus se exlen-
derenl nec apparerenl, plenam el liberam facullatem el auclarilatcm con-
cedimus, decernentes reseruationes, affecliones, conslilutiones, ordinalio-
ncs, collationes, mulationes, reualidaliones, extensiones, facúltales, vnio-
ncs el níandala ac decreta in illis contenta quoad impediendum le quomi-
nus in premissis concessis tibi per presentes facúltale el aucloritate uti ua-
leas, nullatenus se extendere, el per quoscunque, eliam sedis prediclae
legatos eliam de latere, ac Nunlios nunc el pro lempore deputalos quauis
eliam speciali facúltale fulgentes, de beneficiis predictis nullatenus proui-
deri el disponi posse, ac irrilum el inane si secus super premissis ómni-
bus a quoquam quauis aucloritate scicnler uel ignoranter conljgerilallem-
plari : Non obstanlibus premissis ac constitulionibus el ordinalionibus apos-
lolicis, celcrisquc contrariis quibuscunque. Volumus autem quod hii, qui-
bus beneficia generaliler reseruata uel affecta huiusmodi, quorum fructus
redditus el prouenlus Viginli quatluor ducatorum auri de camera ualo-
rem annuum excedant, per le uel alium contuleris infra ocio mcnses a die
faclae collulionis corundcm computandos nouns prouisiones super bcnefi-
RELACOES COM a CUHíA líOMANA 331
cus ipsis collalis a sede predicta impetrare, el liUeras apostólicas desuper
tolaüter expediré, ac annalam proplerea camerae aposlolicae et alus ro-
manae curiae oíTicialibus debitam cum cíFectu soluere teneanlur, alioquin
elapsis dictis mensibus beneficia ipsa uacare censeanlur eo ipso, nisi legi-
timo impedimento detenti fuerinf, uel ipsis pelenlibus huiusmodi nouas
prouisiones, et prptestanlibus quod per eos non stat, conligerit eis dene-
gar!.
Datum Romae apud sanclum Petrum, sub annulo piscaloris, die viiii
Julii MDxxxi, Pontificalus noslri Anno octauo. — Blosiiis \
Cavtsi «le ISraz Meto a el-Rei.
1531 — Agosto 1.
Senhor. — Poucos dias ha que escreuy a Vosa Alteza e Ihe dey conta
dos despachos, asy do que loca a tomar, como de sánela cruz, como dos
frades de sam francisco, e asy do oulro negocio, e dos termos em que
todos eslauam, e como se nom podyam expedir saluo se Vosa Alteza man-
dase dinheiro pera o fazer, e isto (?) asy dos outros negocios ; e porque
isto escreuy a Vosa Alteza por duas \ias, e sao auisado de valhadadolid
que as cartas foram a bom recado a Vosa Alleza, e lambem por nom sa-
ber desle coreo senam agora, e que está pera partir, e lambem por nom
ocorer cous de nouo que seia (?) pera escreuer a Vosa Alleza, nom es-
creuo oulraa \ez o que jaa lenho escrito pellas outras vias. Mande Vosa
Alteza a prouisao pera se estas prouisoes fazerem, porque qua nom ha
homem que queyra dar dinheyro a pagar laa, como jaa lenho escrito a
Vosa Alleza. O oulro nuncio, que o papa disse que auya de mandar,
ainda se nom tem determinado em quem será, posloque se diga que he
hum Joham malheo, bispo de santo Seuerino; porem eu ainda agora nom
o tenho por certo, porque o papa ainda o nom tem assentado : ñas pri-
meyras cartas auysarey a Vosa Alteza mais certo disto. Alguns negocios
e supplicacoes foram mais auante, mas muylo grande impedimento faz a
* Abch. Nac, Mac. 19 de Bullas, n." 7, c Mao. 20, n.° 24.
42*
nn COKPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
doenca de sancli qualro, que está doenle de quartans, pello que está em
grande perigo por ser velho : praza a deus que Ihe dee saude, porque se
more será huma grande perda e fará mui grande myngoa era esta corte ;
6 nom creo que o papa ache outro lal official d aquy a muylos días. Ou-
Ira cousa nom socedeo de nouo ale ora despois desoulras cartas que pera
escreuer seia... Somente beijarey as raaos de Vosa Alteza responder rae
o que ha por bem que faca acerca de uiinha estada qua, e lembrar se que
nom tenho renda nem fazenda cora que possa sofrir esta carega, e por
isso me dar licenca pera me hir por me nom ver em tanta vergonha. Beijo
as reaes raaos de Vosa Alteza, cuja vida e estado real nosso Senhor acre-
centé cora longos días de vida em seu seruico.
De roma o primeyro dia d agosto de 1531 annos.
Feylura de Vosa Alteza. — Braz neto *.
Breve do Papa Clemente Til, clii*ig;¡cIo a el-Rei.
1531 — Agosto is.
Clemens papa vii charissinie in christo íili noster salutera et apos-
lolicam benediclionera.
Elsi scimus tuam Maieslatem pro sua pietate et boni Principis oíTi-
cio egregie esse aniraatara ad communem salutera el religionera a cora-
muni hoste Turca defendendam, id quod ex eius lilteris el sui eliara ora-
toris saepius intellexiraus ; Taraera cura nuperrime allalura liuc sil, sicut
el ad luara serenitatera esse crediraus, ipsura Turcara, non obstanlibus in-
duliis, ea loca Dalmatiae inuasisse, el coraraunire quae sibi ad bcllum
mari Terraque gerendura vsui esse possint, el preterea multa alia appa-
ratus raaximi signa dedisse et in dies daré in ver proximura eruptura :
Nos, uocati a Deo in huius sollicitudinis principaliorera parlera, el ad
agendura ipsi pro uirili noslra el ad caeleros in idera cohortandum, optan-
tesque vt prae hoslis uigilantia el niraia cunctalione noslra Tcrapesliuum
.esse possil quodcunque parabilur, sumus loculi super his latius cura ipso
* Arch. Nac, Corp. Chron,, Part. I, Mac. 47, Doc. 2.
RELACOES COM a curia romana 333
oralore apud nos tuo vt ad luam serenitalem scriberet, omniaque quae
nobis in commune conferenda et agenda uiderenlur ei declararel. Te igi-
tur, fili charissime, horlamur in deo domino vt ipsius dei, a quo regnum
et omnia es adeptus, communisque fidei et salulis memor eiusdem Dei ho-
nori luorumque subditorum et aliorum chrislum colentium securilati et
saluti prospicere pro lúa virili uelis, sicut tua dignum est celsitudine, et a te
luisque maioribus fieri consueuit : Quemadmodum haec ipsa copiosius ex
ipsius oratoris lilteris intelliges, cui fidem solitam in his habere uelis.
Datum Romae apud Sanctum petrum, sub Annulo piscatoris, die
XYiii Augusti Müxxxi, Ponlificatus noslri Anno octano. — Blosius K
Breve do Papa Clemente ^11, dirigido a el-Rei.
1531 — Agosto 19.
Clemens papa vii Charissime in christo fili noster salulera et apos-
tolicam benedictionem.
3Iagna nos sollicitudine aíFecerunt lilerae ac Nuncius dilecti filii no-
bilis viri Caroli Sabaudiae Ducis, noslri tuique affinis, qui, post mullas
alias octo Cantonum Eluetiorum lutheranam heresim fouenlium in se et
suum Ducatum minas, a tua Maieslate, ut credimus, audilas, nouissime
se ab illis sollicilatum ad certum fedus cum eis ineundum, per quod om-
nem eius Ducatum sua heresi conantur inficere et, nisi id fecerit, bellum
sibi haud obscure comminatos esse, nobis significauit, ila ut uel sanctae
fidei iacturam illis consentiendo, uel rerum suarum certissimum pericu-
lum recusando subiré cogatur, elegisse aulem se pro sua et maiorum suo-
rum pielate quiduis potius subiré periculi, et rerum temporalium delri-
menti, quam fidem sanctam a patribus acceptam cum diuini honoris di-
minutione et animarum sibi subieclarum perditione, yicinorumque chris-
lifidelium contagione uiolare. Nullam uero resistendi tam numerosae el
efferae multiludini se din consultando inuenire expeditiorem uiam, quam
communiendis in confinio eius gentis quatuor locis et cum presidio cus-
* Arch. Nac, Mac. 20 de Bullas, n." 14.
334 COP.PO DIPUJMATICO PORTÜGÜEZ
lodiendis, quorum óbice illi ab iiicursibus et populalione coherceri pos-
sint, Ac se quidem ad hanc conimunilionem sua pecunia conlenlum esse,
ñeque nos aut quenquam chrislianorum Principum in hoc faligalurum.
Sed cum uereatur id quod ab ipsis Eluelüs contra se earn munitionem
fieri cernenlibus, cerlo limendum esl ne inter ipsam munitionem lolis
agniinibus irruant et loca munila occupent in hunc solum euenlum ad illis
quoad munitio perficialur obsislendum, quibus ipse per se obsislere non
posset, noslra et caeterorum Principum subsidia implorauit. Quae si in
hunc casum e¡ promillantur et ducentorum millium aureorum summa,
quanlam ad hoc ultra alias suas impensas et belli onera necessariam esse
cognoscit, inler omnes conficialur, preparataque tenealur non nisi adue-
nienle casu et per cuiusquam principis ministros persoluenda, tum ipsum
Ducem dicta loca omni cum celeritate communiturum esse. Quod si huius
auxilii spe deficiatur nequáquam cepturum earn munitionem, quae ab hos-
tibus interrumpí cisque beneficio esse posset, foreque ut postea ingens pe-
riculum subiré cogatur sui Ducatus a dicta haeresi inficiendi. Nec, fili
charissime, a nobis, quibus principaliter hoc onus pro pastorali persona
ingruit, cum cura et anxietate animi nostri sunt audita reputanlibus quo
et quam uicino periculo interior christianitalis pars esset laboratura si la-
lis Ducatus, quasi murus ab illa parle lutheranis oppositus, eis aperiretur
ad caetera christianitalis inuadenda. Quamobrem quod erat pielatis chri-
stianae et partium nostrarum non deesse causae fidei et vniuersali saluti
statuimus et in animo noslro decreuimus dicto Duci in talem casum et
polliceri ipsi auxiliuní et ceteros Principes in idem hortari, cum enim
causa communis communeque periculum agatur, silque ómnibus honor
diuinus et sánela fides pro uirili defendenda nobis et caeleris hanc opcni
conlributionis omnino non defugiendam iudicauimus. Ilaque elsi tanluní
a noslris calamitatibus eramus atlenuati, quantum omnes nosse et tuam
Maiestalem scimus non ignorare, Tamen, ut reliquos non modo uerbis
sed etiam rebus horlemur, Nobis ac venerabilibus fratribus noslris San-
clae Romanae Ecclesiae Cardinaiibus summam quadraginla millium duca-
lorum imposuimus, a tua uero Maiestate si ita e¡ uideretur viginti mil-
lia aureorum summam pro uiribus et benignitate sua non incommode sus-
cipi posse sperabamus. Te igilur, fili charissime, cuius probilas in omnj
excellenti ac pia actione uersari sólita est, in Deo Domino hortamur ut
pro ipsius Dci honore et uerac fidei defensione, si necessilas tulerit, nolis
RELACOES COM a curia romana 335
in participalione huius pii oneris pro lúa uirili deesse, sed prediclaní v¡-
ginli millium aureorum summam in eum casum benigno polliceri el al¡-
quo ¡n loco próximo reponi faceré, unde ad subilam defensionem sumi pos-
sil, lum de lúa in hoc uoluntale, quam non dubilamus le dignam esse fu-
luram, nos quamprimum cerliores reddere. Aut enim ipsi herelici usu
huius pecuniae reprimenlur, aut eliam, quod euenire possel, sola eius fa-
ma delerrebunlur, fielque forsilan cum Dei adiutorio ut ipsi Duci solo
nomine subuenialur, el ipsa pecunia finila ea communilione luae Maieslali
inlacla reslilualur. Tua uero Maieslas, que semper oplimum et calholi-
cum egil Principem, prelerquam quod officio suo salisíaciel et maiorum
suorum consueludini respondebil, eliam diclum Ducem pro hac opilula-
lione in lanío suo discrimine exhibila perpetuo sibi deuinciel. Deo aulem
omnipolenli a quo lot Regna adepta est grali et amanlis filii aííeclum in
sánela Religione defendenda, sicut faceré consueuit, exhibebil ab eo post
lerrenam felicitalem eliam celeste regnum, apud homines uero immoria-
lem gloriara adeptura : sicut hec eliam oralor tuus pienius ad luam Ma-
ieslalem prescribet.
Dalum Romae apud Sanclum Petrum, sub Annulo piscatoris, Die
XIX Augusti MDXxxi, Ponlificalus noslri Anno octano, — Blosius^.
Hulla do Papa Clciiieiite \H, ilirigida
a Fr. Diogo da ^ilva.
1531 — Desscmbro 19.
Clemens episcopus seruus seruorum dei Dilecto filio Didaco de Sil-
ua, ordinis Minorum sancli Francisci de Paula Profcssori, Salulem el
aposlolicam benedictionem.
Cum ad nichil magis noslra aspiret inlenlio quam \t fides Calholi-
ca, noslris polissime temporibus, vbique floreat et augealur, et omnis he-
relica prauilas a chrislifidelibus noslra diligencia procul pellalur, ac ipso-
rum fidelium animas deo lucri faciaraus, libenler operara vigilem impen-
* Abch. Nac, Mac. 19 de Bullas, n." 32, e Mac. 12, n." 29.
336 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
dimus vi diabólica fraude decepli ad aulam dominicam reuerlanlur, ac
cunclis erroribus extirpatis eiusdem fidei zelus et obseruanlia in ¡psorum
corda fidelium forlius ¡mprimaliir, el si qui animorum peruersilale ducli
in eorum damnato proposito perseuerare maluerint, laliter in ¡llis adni-
niaduerlalur qiiod eorum pena alus sil in exemplum. Cum itaque, \t ex
fidedignorum relalione plurimorum nobis displicenler innoluit, in pleris-
que parlibus Regni Porlugalie el dominiis Carissimi in christo filii noslri
Johannis, Porlugalie et Algarbiorum Regis Illuslris, nonnulli ex hebraica
perfidia ad chrislianam fidem conuersi, chrisliani noui nuncupali, ad ri-
tuní Judeorum a quo discesseranl rediré, et alii, qui hebraicam sectam
nunquam professi sunt, sed ex christianis parenlibus sunl procreali, ri-
tum Judeorum huiusmodi obseruare, ac alii Lulheranam et celeras dam-
nalas hereses el errores sequi, ac sortilegia heresim manifesté sapientia
insliganle humani generis inimico commillere non vereanlur, in grauissi-
mam diuine Maiestalis oífensam etorthodoxe fidei scandalum, necnon ani-
marum salulis perniliem ac irreparabile delrimenlum : Nos, ne huiusmodi
pestes in perniliem aliorum sua venena diffundant, oportunis remediis,
prout noslro incumbit oííitio, prouidere volenles. Te, de cuius prouiden-
lia reclitudine experienlia el doctrina idem Johannes Rex per Oralorem
suum nobis fidem fecit, et de quo propterea plurimum confidimus, in nos-
trum el apostolice sedis Commissarium ac super premissis Inquisitorum
in Regno et dominiis predictis auclorilate apostólica lenore presenlium
conslituimus et depulamus. Ac libi contra eos, qui ad chrislianam fidem
conuersi ad rilum Judeorum redierunl, el contra ex christianis parenli-
bus procréalos rilum Judeorum seruantes, ac alios Lulherane et aliarum
hcresum seclalores, necnon sorlilegia manifeslam heresim sapientia com-
millenles, illorumque sequaces fautores et defensores, ac illis auxilium
consilium vcl fauorem, directe vel indirecle, publice vel occulle, pres-
tantes, cuiuscunque status gradus ordinisconditionis vel preeminenlie fue-
rint, vna cum locorum Ordinariis in casibus in quibus de iure interue-
nire debenl, si legitime requisiti interuenire voluerinl, Alioquin sine eis,
iuxla lamen canónicas sanctiones, inquirendi, precedenlibus sufficientibus
indiliis ad capluram procedendi et eos carceribus mancipandi, el finaiem
senlentiam contra eos proferendi, ac delinquentes iuxla canónicas san-
ctiones et sanctorum palrum instituía, prout qualilas excessuum exegeril,
penis debitis aíücicndi, el si ipsi Ordinarii prius incepcrint nichilominus
RELACOES COM a curia romana 337
eliam tu cuno eis te inlromillere et procederé possis, omnesque Officia-
les, videlicet, Procuratorem fiscalem ac Notarios públicos et alios ad pre-
missa necessarios, etiam clericos siue religiosos cuiuscunque ordinis fue-
rint, vna cum locorum Ordinariis vel sine eis, prout ordo iuris postulal
et \lilitas exegerit, adhibendi, ac eos vt onus inquirendi et alia premissa
prout ad eorura offitium respectiue spectauerit faciendi, etiam superiorum
suorum liceutia super hoc minime requisita, acceptent et subeant in vir-
lute sánete obedientie precipiendi, Et si necesse fuerit aliquem clericum
propter premissa degradari, Episcopos, \t degradationi huiusmodi \na
cum Ordinariis interueniant, in virtute sánete obedientie monendi, ac Con-
tradictores quoslibet et rebelles iuris remediis compescendi, ac auxilium
brachii secularis inuocandi : necnon ad veritalis lumen rediré aut huius-
modi hereses et errores abiurare volentes, si alias relapsi non fuerint, re-
cepta prius ab eis heresis et errorum huiusmodi abiuratione, publice fa-
ciendi, prestandoque per eos desuper iuramento quod talia deinceps non
commiltent, nec talia vel alia hiis similia commitlentibus seu illis adhe-
renlibus auxilium consilium vel fauorem per se vel alium seu alios pres-
tabunl, et alias in forma ecclesie consueta ab hiis et quibusuis censuris
et penis ecclesiaslicis, quas propterea incurrissent, etiam si videbitur in-
iuncta eis publica penitentia absoluendi, ac ad ecclesie gremium ac vni-
tatem restituendi et reponendi, necnon ad nostram et dicte sedis gratiam
et benedictionem recipiendi, ac penas iuris limitandi, omniaque alia el
singula, que ad huiusmodi hereses et errores ac sortilegia refrenanda et
radicitus extirpanda oportuna esse quomodolibet cognoueris, et ad offi-
ciura inquisitionis huiusmodi tam de iure quam consueludine perlincnt
faciendi gerendi ordinandi exercendi et exequendi; necnon alias ecclesias-
licas personas ydoneas Iliteratas et deum timentes, dummodo sinl in Theo-
logia Magistri, seu in altero Jurium Doctores seu Licentiati, aut eccle-
siarum Cathedralium Canonici, aut alias in ecclesiastica dignilate consti-
tule, quotiens opus esse cognoueris, assumendi et surrogandi, et assum-
ptas amouendi, ac alias similiter qualificatas earum loco surrogandi, que
pari iurisdictione facúltale el auctoritate quibus tu fungeris funganlur,
plenam liberam et omnimodam facultalem concedimus : Non obstantibus
felicis recordationis Bonifacii pape viii predecessoris nostri, qua cauetur
ne quis extra suam Ciuitalem vel diocesem, nisi in cerlis exceplis casi-
bus, et in illis non nisi vltra vnam dielam, a fine sue diócesis ad iudi-
TOMO II. 43
338 GORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
tium euocetur, Seu ne Judices a sede predicla deputali extra Ciuitalem
vel diocesem in quibus deputali fuerinl contra quoscunque procederé, aut
alii vel alus vices suas committere presumant, Et de Duabus dielis in
Concilio generali edita, ac alus Constitutionibus et ordinationibus aposto-
licis conlrariis quibuscunque. Aut si personis predictis Yel quibusuis alus
communiter vel diuisim a dicta sit sede indultum quod interdici suspendí
vel excomraunicari, aut extra vel vltra certa loca ad iudicium euocari
non possint per litteras apostólicas non facientes plenam et expressam ac
de verbo ad verbum de indulto huiusmodi raentionem^ et quibuslibet alus
priuüegiis indulgentiis et lilteris apostolicis, sub quibuscunque tenoribus
et formis concessis, per que presentiura litterarum et vestre iurisdictionis
in premissis executio quomodolibet impedid vel diíferri possit, que quoad
hoc ipsis aut alicui eorum nullatenus suffragari posse vel deberé decer-
nimus.
Datum Rome apud Sanctum petrum Anno Incarnationis Dominice
Millesimo quingentésimo trigésimo primo, Sexto décimo Kalendas Janua-
rura, Pontiíicatus nostri Anno Nono. — Euangelista ^
Breve do Papa Cleitieiite VII, dirigido
a Fr. Diogo da liilva.
158:9 — Janeiro 13.
Clemens papa vii Dilecte fili salulem el apostolicam benedictionem.
Cum nuper le ex causis tune expressis, procurante Charissimo in
chrislo filio nostro Joanne Portugallie et Algarbiorum Rege illustre, le in
nostrum et apostolice Sedis commissarium, ac su per lulherana et alus
damnatis hcresibus Inquisitorem in Regno Portugallie el dominiis prefali
Regis per quasdam nostras litteras constituerimus et deputauerimus, ac
Ubi contra eos, qui ex judaismo ad christianam fidem conuersi ad rilum
Judeorum redirenl, el contra ex christianis parentibus procréalos rilum
hebreorum seruanles, ac alios lutherane el aliarum damnalarum heresum
1 Arch. Nac, MaQ. 2 de Bullas, n.^* 6.
RELACOES COM a curia romana 339
seclatores, necnon sacrilegia manifeslam heresim sapienlia commitlenles,
illorumque sequaces, fautores, ac illis auxilium, consilium iiel fauorem
directe uel indirecle publice uel occulle prestantes, cuiuscunque gradus,
ordinis, condicionis uel preeminenlie fuerint, una cum locorum ordina-
riis, in casibus in quibus de iure inleruenire debebanl, si legitime requi-r
siti interuenire uellent, alioquin illis, iuxla tamen canónicas sancliones,
inquirendi, precedenlibus sufficientibus indiciis ad capturam procedendi
et eos carceribus mancipandi, et finalem senlenliam contra eos proferen-
d¡, ac delinquentes iuxla easdem canónicas sancliones et sanclorum Pa-
trum inslilula, prout qualilas excessuum exegerit, afficiendi, et alia tune
expressa faciendi, plenam et liberam facullalem concesserimus, prout in
eisdem litleris plenius conlinentur : Nos, intendentes litteras predictas ad
orthodoxe fidei conseruationera et augumentum débitos sortiri eíFectus, ac
propterea ne contingat illarum executionem excusatione intermitli, seu
plus debito differi prouidere uolentes, Deuotioni tue in Yirtute sánele obe-
dienlie et sub excommunicalionis pena precipimus et mandamus Quale-
nus ad diuini nominis exaltalionem omni excusatione et mora cessante
onus tibi facte commissionis predicte prompla deuotione suscipias, nec te
ab illo quouis pretextu exonerare procures, Sed oíficium inquisitionis hu-
iusmodi iuxla litterarum prediclarum lenorem et datam tibi a Domino pru-
denliam iusle et fideliter sic exercere sludeas, quod gratia suíFragante di-
uina oplati fruclus quos speramus ex inde succedant, et apud Deum bo-
norum operum retributorem premium, el apud nos commendalionem con-
sequi merearis : Non obstantibus quibusuis priuilegiis, indultis et litleris
apostolicis ordini minimorum Sancli Francisci de Paula, cuius professor
existís, sub quibuscunque tenoribus et formis, ac cum quibusuis clausu-
lis et decrelis concessis et approbalis, que tibi aduersus premissa nulla-
tenus suffragari posse uolumus, celerisque contrariis quibuscunque.
Dalum Rome apud Sanclum Petrum, sub annulo Piscaloris, die xiii
Januarii mdxxxii, Ponlificatus nostri Anno Nono. — EuangelislaK
1 Arch. Nac, Mac. 2 de Bullas, n.° 18.
43
340 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
Breve do Papa Clemente Til, dirig^ido a el-Rei.
153S —Abril 15.
Clemens papa yii Charissime in chrislo fili noster salulem el apos-
tolicam benedictionera.
Dudum postquam felicis recordationis Leo papa x, predecessor nos-
1er, Motu proprio lol preceptorias mililie Jesu chrisli Cisterciensis ordi-
nis quot infra terminum unius anni ex tune compulandi, et sub inuoca-
tionibus, que clare memorie Emanueli Porlugallie et Algarbiorum Regí,
tune in humanis agenli et dicte militie Regni Porlugallie administralori de-
putato, viderenlur, in militia huiusmodi perquasdam erexerat, ac tot bona
et iura monasleriorum et Prioratuum dicte mililie, usque ad summam vi-
ginti millium lot iuxta formam tune expressam disraerabrari peleret, Alio-
quin pro eo quod in dicta summa deesset ex parrochialibus ecclesiis
per eundem Emanuelem Regem exprimendis et declarandis, usque ad di-
clam summam viginti millium ducalorum, saltem pro singulis earundem
ecclesiarum Rectoribus portione sexaginla ducalorum reseruala, dismem-
brauerat el separauerat, illaque sic separata el dismémbrala preceploriis
sic ereclis proportionaliter pro earum dolibus perpetuo applicauerat ; ac
dicto Emanueli pro tempere existenli Porlugallie el Algarbiorum Regi no-
minandi ad singulas preceptorias singulos milites, qui contra infideles mi-
litassent, et post nominalionem huiusmodi per lempus per ipsos Reges sla-
luendum contra ipsos infideles militarenl uel alias benemeriti forenl, fa-
cullatem concesserat ; necnon episcopo Geptensi el ministro Sánele Trini-
talis vlixbonensis pro tempere exislenlibus, ac eorum cuilibet, vt fruclus,
redditus, prouentus, ceusus, obuenliones et emolumenta a dictis monas-
teriis, prioratibus et parrochialibus ecclesiis separata et dismémbrala pro
dolibus huiusmodi, saluis modificalionibus el reseruationibus prefatis de-
signarent el assignarent mandaueral : et deinde ex certis causis per alias
fruclus, redditus, prouentus, iura et obuenliones monasleriorum, separa-
RELACOES COM a curia romana 341
tionem el dismembrationem, ac illorurn preceptoriis pro earura dote ap-
plicationem, ac per minislrum illarum designaliones et assígnationes fa-
cías, huiusmodi reuocans et annuUans, tot alia fructus, reddilus, prouen-
tus, census, iura et emolumenta aliarum parrochialium ecclesiarum in
Regno et dominio huiusmodi consistentium, et episcopum seu ministrum
prefatos, infra terminum vnius anni a data priorum litlerarum compu-
landum, exprimendarum, usque ad summam ad quam ascendebant fru-
ctus, redditus, prouenlus, census, iura et obuentiones, que a dictis monas-
teriis erant separata, et a dictis preceptoriis pro illarum dote applicata, et
quorum separationem et applicationem tune cassauerat et ab eisdem par-
rochialibus ecclesiis dismembrauerat et separauerat, reseruata lamen illa-
rum Recloribus simili portione sexaginta ducatorum huiusmodi, ac fru-
ctus, reddilus, prouenlus, census, iura et emolumenta a diclis parrochia-
libus ecclesiis sic dismémbrala eisdem preceptoriis pro earum dolé appli-
cauerat et appropriauerat: ac demum, ex alus sibi tune parte ipsius Ema-
nuelis Regís exposilis causis, per reliquas suas Hileras portionem sexa-
ginta ducatorum ex fructibus parrochialium ecclesiarum per episcopum
seu ministrum expressarum prefatum pro illarum Recloribus reserualam,
vt preferlur, moderans, vnam Iriginta quinqué ex quarla el aliam sexa-
ginta ex vnius ex reliquis tribus partibus omnium parrochialium eccle-
siarum per episcopum seu minislrum expressarum huiusmodi ex eccle-
siarum earundem fructibus, reddilibus el prouentibus reseruauerat, el rao-
deralionem ac laxalionem pro porlionibus ecclesiarum earundem pro lem-
pore exislenlium ex singularum ipsarum fructibus per posteriores lilleras
facías huiusmodi ex tune de celero perpeluis fuluris temporibus inuiola-
biliter obseruari deberé decreuerat ; pro parle tune Rectorum perpetuo-
rumque vicariorum parrochialium ecclesiarum prediclarum, quarum fru-
ctus, reddilus et prouenlus diclis erectis preceptoriis applicata fuerunt,
nobis expósito quod vigore diclarum litlerarum plures preceplorie mililie
predicte in prefalo Regno erecle et deinde militibus ipsius mililie collale
fuerint, et adhuc alique remanebant conferen. ac nonnulli preceptores mi-
lilie huiusmodi, quibus de diclis erectis preceptoriis prouisum extiterat,
oblationes que in ipsis ecclesiis fiebanl, ac anniuersariorum in illis ins-
tilutorum prouenlus lenebanl, necnon domos ipsarum ecclesiarum pro il-
larum Recloribus depulatas occupabanl, el ipsi Rectores ac vicarii ex of-
fertoriis earundem ecclesiarum nihil percipiebant : Nos per alias noslras
342 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
in forma breuis Hileras decreuimus el declarauimus oíTerloria et oblatio-
nes, que in dictis ecclesiis pro uiuis el defunclis per osculum manus il-
larura dalorum seu vicariorum erogabantur, ac prouenlus anniuersario-
rum seu Capellarum et funeralium ¡n illis fundalorum ac per ipsos cele-
bratorum, necnon domos earundem ecclesiarum in dismembralione sepa-
ralione et applicatione prediclis rainime comprehensas esse nec compre-
hendi posse aut deberé, necque illarum ratione et insliluliones preceplo-
riarum eliam conferende prediclarum prelextu Recloribus el vicariis pre-
falis quominus oífertoria el oblaliones uiuorum et defunclorum, ac pro-
uenlus anniuersariorum et funeralium seu morluarium vt prius percipe-
rent, et domos huiusmodi tenerent et possiderent, nullalenus preiudica-
lum fuisse aut esse, sed ipsos Rectores et Vicarios oblaliones prouenlus
et oífertoria huiusmodi vt prius integre percipere el leuare, ac omnes et
singulas domos ecclesiarum huiusmodi lenere possidere inhabilare posse
indicare deberé, ac quicquid secus atlenlari conlingeret irritum et inane
decreuimus cum inhibilione et alus decrelis et clausulis tune expressis,
prout in eisdem lilleris plenius conlinetur. Cum autem, sicut Maieslas tua
nobis nuper exponi fecit, lillere noslre predicle le prefali Emanuelis Regis
nato, ac in Regno et minislratu mililie huiusmodi successore eiusdem mi-
ütie in dicto Regno perpetuo adminislratore in spirilualibus et lemporali-
bus per sedem aposlolicam deputato, seu luo apud nos oralore aut pro-
curalore non vocalo a nobis emanauerint, ac per illas effectus dismembra-
tionis separationis et applicationis prediclarum diuersimode impediri di-
noscatur, nobis humililer supplicari fecisli \í easdem Hileras nostras ad
statum debilum reducere, ac alias super his apostólica aucloritale proui-
dere de benignilate apostólica dignaremur : Nos igilur de premissis cer-
tam noliliam habentes, ac in his debilis modis procederé, ac volis luis,
quantum cum deo el huius sánele sedis honore fieri possit, salisfacere, et
ne alicui iniuria fieri noscatur prouidere cupienles, luis in hac parte sup-
plicationibus inclinali, Hileras nostras prediclas ac illarum effectum in eo
slatu in quo nunc existunt ad annum a dat. presentium compulandum,
infra quem oralorem seu procuratorem Maieslatis tue super proponendis
per eum contra premissa malure et plañe audire, et desuper qnod iuslum el
equum fuerit deccrnere parali sumus, auctorilate apostólica lenore pre-
sentium suspendimus et suspensas esse, ac quicquid contra huiusmodi sus-
pensionem et illa durante atientan conligeril irritum ct inane decernimus:
RELACOES GOM a curia romana 343
Nos obslanlibus premissis, necnon ómnibus illis, que in singulis predi-
clis concessum fuit non obstare, ceterisque contrariis quibuscunque.
Datum Rome apud sanctum Pelrum, sub Annulo Piscatoris, die xv
Aprilis MDxxxii, Ponlificatus noslri anno nono. — Euangelisía^.
Breve do Papa Clemente Til, dirig^ido a el-Rei.
153S— Abril 94«
Clemens papa vii Charissime in chrislo fili noster salulem et apos-
lolicam benedictionem.
Conluliraus nuper dileclo filio Slefano Ribeyro d almeida, dilecti filii
et secundum camera nepotis noslri Hippoliti sanctae Práxedis Diaconi
Cardinalis de Mediéis nuncupati seruiliis insistendo, familiari continuo
commensali nostro, Prioratum secularis et coUegiatae ecclesiae sancti spi-
rilus oppidi ciuitalis nuncupati de Azamor, Zaphiensis diócesis, tune per
obitum bonae memoriae Gundissalui, olim episcopi Calamensis, extra ro-
manara curiara defuncti vacantem, ad quem tua Maiestas, sicut accepi-
mus, eundem Stefanum presenlauerat, prout ex alus noslris litteris sub
plumbo expeditis plenius eidem tuae Maiestati constabit. Hortaraur igitur
Serenitatem tuam in Domino ut dicti Stefani, qui tuae Maiestatis fidelis-
simus subditus est, procuratoribus in execulione dictarum et assequenda
eiusdem Prioratus possessione oportunos fauores preberi faceré velis, iuxta
dictarum sub plumbo litlerarum tenorem et continentiam.
Datura Romae apud sanctum Petrura, sub annulo piscatoris, die xxiiii
Aprilis MDXxxii, Pontificatus noslri anno nono. — Blosius ^
* Arch. Nac. Mac. 2 de Bullas, n.° 13, e em vulgar no Mac. 19, n." 11.
* Ibi. Mac. 19 de Bullas, n." 30.
344 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
lustriicc^deís a Braz Meto.
(153«1).
Doulor bras nelo amigo Eu el Rey vos emvio muyto saudar.
Veemdo eu como em alguumas das cidades, villas e lugares, que
pellos Reis meus antecesores, e por el Rey meu senhor e padre que santa
gloria aja, foram ganhados e lomados em áfrica por forca d armas aos
mouros ymiguos de nosa sania fee, E de que ale agora Ihe he feyta muy
contynua guerra, com grandes despesas e gastos que se faz na manlemca
delles com os fidalguos caualleiros e gemte darmas, que estam em sua
garda e defemsam, e que a dita guerra conlynuadamente fazem como ao
mundo he notorio e vos muy bem sabees, e que diso poderes e saberes
dar muy ynteira enformacam ab sanio padre e em toda oulra parte que
compryr, nam ha aqueta disposisam que nos lempos pasados avia pera a
dita guerra se fazer aos mouros por a térra se despovoar delles por muy
gramdes estreüdades que na Ierra ouue ; E asy porque allguuns delles
tem os porlos da desembarcacam muy periguosos e taes que se nom pode
neles desembarcar senom com lempos muyto feytos e bonancosos, de que
se Ihe ja seguyo muy gramde necesydade e Risquo dos mesmos lugares
e da gente que neles estaa, por os mouros os virem cerquar em lempo
que nom se Ihes pode meter o socorro necessario asy de gemte como de
mantimentos e artelharyas, postoque de ludo estem prouydos como Ihe
he necesario, porque quamdo os mouros os vem cerquar vem com muy
grande poder, e lodauya he necesario socoreellos a que ha os inconve-
nyentes sobreditos ; dizee ao santo padre de minha parte que por estes
respeitos, e por outros a que de necesidade se deuem proueer com aquele
conselho e seguridade que conveem por seruico de deus e meu descanso,
consiradas e olhadas muy bem todas as cousas, e como de se soslerem
alguuns dos ditos lugares estam vistos a olho os Risquos e danos que Ihe
podem sobrevyr, e como pera se fazer delles a guerra nom ha aquele lu-
gar que soya pella Rezam airas dita, Eu eslou em detryminacam de de
todo leíxar allguuns delles, c outros alalhar pera íicarem mais seguros o
RELACOES COM a curia romana 345
sem Receo dos cerques que Ihe os mouros venham poer, asy como he a
cidade dazamor, que foy tomada em lempo delRey meu senhor e padre
que santa gloria aja, a quall se nom pode socorer nem fornecer de gente,
mantimenlos, artelharia, nem de nenhuuma outra cousa, saluo pella barra
e entrada de huura Rio sobre que ela estaa asentada, que quasy lodo ho
anno asy d ynverno como de veraao, por ser agoa muy baixa e os ma-
res corerem aly muyto e fazerem tam gramdes vagadias, que muy Rara-
mente podem os nauyos entrar, e ainda muy escasamente os muyto pe-
queños, de que se pode facylmenle seguir se perder a cidade e a toma-
rem os mouros, e se perderem os christaaos que nella vyuem, como já
por muytas YCzes semdo cerquados coreram muy gramde Risquo e ven-
tura ; e que esta por estes ynconvenyentes, a que nom ha nenhum Reme-
dio, estou em detryminacam de mandar de todo leixar, e se derribar loda
por pee de maneira que nom posa ficar aos' mouros nella nenhum aco-
Ihymento. E oulro tanto a cidade de cafy, que asy foy ganhada em lempo
delRey meu senhor e padre, a qual estaa asentada sobre a costa do mar
sem ter porto nenhuum em que os nauyos ancorem e se acolham, e como
veem o lempo contrario loguo se desamaram e aleuanlam sem terem ou-
lro Remedio, pello que core aqueta cidade muy grande Risquo por muy
amyude os mouros a \irem cerquar com muy grande poder, e fiqua a
beneficio do lempo sem se poder socorer nem Remediar. E asy meesmo
a villa d alcacer, que foy tomada aos mouros em lempo delRey dom afonso
o quynto, o qual entam se lomou por seer o prymeiro lugar em que na-
quele lempo se entemdeo e de que se podia fazer a guerra, o qual he
tam pequeño que se nom pode nelle agasalhar a gente que convem pera
delle agora se fazer, nem a Ierra lem disposisam pera a gente sayr, por
ser muy fraguosa e periguosa, e muytas vezes se perderam os propios ca-
pitaes e muyla gente com eles, por a disposisam da Ierra ser tal que muy
poneos mouros de pee podem fazer muyto daño a nossa gente sem elles
se poderem valler nem Remediar. E na cidade de cepla, que foy tomada
por elRey dom Joham da louuada memoria, por ser muy grande a po-
uoracam em que vyuem os christaos, e della já agora se poder fazer pouca
guerra, estou em detryminacam de mandar fazer atalho mais pequeño, em
que caiba a gente que soomenle ha posa defender e segurar dos cerquos
que Ihe os mouros vierem poer, que muy amyude se Ihe poe, e muytas
vezes por el Rey de Fez em pesoa e com todo seu poder, a quall, ainda
TOMO II. 44
346 GORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
que tenha portos pera se Ihe poder socorer, sam tara grandes as arma-
das que os mouros aly trazem, por lerem muy tos portos a que se aco-
Iher e em que ynvernam, e aimda turquos que se com os mouros da
tera vem aj untar, que se socore com muy grosas armadas, e com que se
fazem muy grandisymas despesas, sera diso Resultar nenhum dos prouey-
tos que da guerra daquella cidade nos lempos pasados se seguyam, por as
cousas serem mudadas, e toda a guerra daquelas partes pemder e se fa-
zer da minha cidade de tamger e da minha villa d arzilla, que sam mais
conjuntas ao reyno de fez, á qual cidade de tanger e villa d arzilla estou
em detryminacam de mandar pasar toda a gente d armas destes oulros lu-
gares que asy detrymyno de leixar no modo sobredito, com a qual e com
a gente ordenada que eles tem se fará a guerra a elRey de fez com mais
gente e mais contynuamente, a qual espero em noso senhor que se Ihe
faca- mais apertadamente e em tal modo que elle a semta melhor do que
estar a gente espalhada pellos outros lugares sem proveilo e com muy
grandes gastos e despesas, e mais em especial no tempo d agora em que,
louuores a noso senhor, sam os anos lam exteriliis que de fora, a saber,
de cizilia e de dynamarca mando viir o pam pera a mantenca dos ditos
lugares, que nam soomente se ha a precos muy grandes, mas aimda por a
navegacam ser lam longe se perde muylo no mar, asy pellas tormentas
como por apodrecer e se perder na viagem. E direz a sua santidade que
o anno pasado esleue ordenado o Ifante dom Luis meu irmao pera se pa-
sar a tanger e arzilla com a gente destes lugares que quero leixar por os
respeitos sobredilos, e com a propia dos ditos lugares de tanger e arzila,
e outra que consiguo avia de leuar do Reyno, que serya toda em lamia
soma que com ella farya muy «aperladamente a guerra a el Rey de fez e
o poerya em muy grande necesydade, que se leixou de fazer por ha pes-
tenenca que sobreveyo a este Reyno, e pella gramde estrelidade que nelle
ouúe e ha, e asy em castella de que grande parle de pam se avia ; mas
que espero em noso senhor que tornará os annos de maneira que se posa
asy fazer como eu desejo, e que desla mudanca se sygua lamto seu ser-
uico que nam posa ser em nenhuum outro modo mayor.
ítem : Direes a sua santidade que por nestes lugares, que asy quero
leixar no modo sobredito e com os fundamentos acyma declarados, aveer
sees catredaes e Igrejas parrochiaes, moesteiros e capeellas, que de ne-
cesidade ham^ de ser derribados, porque nom venham em poder dos yn-
RELACOES COM a curia romana 347
fyes e sejam feitas profanas contra seruico de deus e em oupobryo de
nosa fee, e tambera por nom ficarem aos ditos ymyguos por forlallezas
contra os christaos, soprico e peco por mercé a sua santidade que me ou-
torgue e conceda autoridade por sua bulla pera mandar derribar as ditas
Igrejas dos ditos lugares, postoque allguma seja see catedral, e moestei-
ros e cápelas quamdo e quaes me parecer necesario, ficando reseruados
e saluos aos cleriguos, que ora sam próvidos em ellas de beneficios, seos
fruytos e Remdas em suas vidas, e seruirám em oulras ygrejas nos ou-
tros lugares das ditas partes, segundo seu bispo ordynaryo ordenar com
meu consentymento ; E com todas as crausullas necesarias convenyentes
e acostumadas ñas semelhantes expidicoés, no que sua santidade me fará
syngular merce por com todo meu descarego o poder mandar fazer, e se
tirarem os inconvenyentes, que, fazemdo se sem sua autoridade, poderya
aver.
E dirés a sua santidade que, se compryr pera efeito disto declarar
juizes, que Ihe peco por mercee que sejam os bispos de lameguo meu ca-
pellam mor e o de viseu meu sprivam de poridade, que Resydem conty-
nuadamente em minha corte, E o vigairo geeral do arcebispado de lix-
boa, com clausulla de todos juntamente ou cada buum deles o poder fa-
zer, e com'todas as oulras crausulas necesarias, e com derogacam da
constetuycam de huuma dieta, e do concilio de duas, as quaes dyetas yn-
distyntamente se deroguem por as-Igrejas serem ñas ditas partes d áfrica,
e os Juizes e eixecutores uestes reynos.
ítem : Vos encomendó que facaes que as bulas e prouisoes necesa-
rias pera efeyto do que dito he especaes de cada lugar por sy, porque
asy o averey por melhor e mais meu seruico do que virem todas juntas
em huuma bulla, porque quamdo se ouuese de fazer a obra em quall-
quer dos sobredüos lugares se vise por sy soo a bulla delle : e parece me
que por asy se fazer nom se farya maior despesa.
E averey muyto prazer de logo como esta vos for dada fazerdes esta
sopricacam a sua santidade, e Ihe apresentardes todas as causas e Re-
zoes que me mouem, e asy bem como ey por certo que ho saberes fazer,
E asy as exprimirdes e declarardes na sopricacam que fezerdes, a qual
\os nom emvio feyta de cá porque me pareceo que nam era necesario, e
que lá a ordenaryes milhor com o abrevyador.
Lembro uos que o que vos diguo atrás da Ida do Ifante dom luis
44 *
348 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
meu Irmao seja soomente pera asy o dizerdes ao sanio padre, e sua san-
tidade saber niso minha temcam, e quainto ey por mais proueyloso es-
tar a gente d aqueles lugares, que asy quero leixar, com a outra de lan-
ger e arzilla, do que asy espalhada pera mais grosamente me fazer a
guerra ao reyno de fez, mas nom porque se meta por clausulla d obriga-
cam ñas bullas que expedirdes. E muyto vos gradecerey de com a mayor
breuidade que poderdes me eraviardes as bulas e prouysoes, com todas
as clausulas necesarias pera ynteiro efeyto, e asy de derogacam onde com-
pryr emlrarem derogatoryas, e tara abastantes e soficienles como viirdes
que he necesario, e confyo de vos que o saberes fazer. E avendo alguum
ympidimento pera logo nom acabardes esta expidicam e emviardes as bu-
las della, sprevée mo muy compridamente com voso parecer do que niso
vos parece que se deue fazer. E lembro uos tambem que trabalhés por
que se faca com o meenos custo e despesa que for posyuel. Sprita.... '.
Breve do Papa Clemente Til, clirig;iclo a el-Rei.
1539— Malo 15.
Clemens papa vii Charissime in christo fili nosler salutem et aposto-
licam benedictionem.
Etsi in presentía nos vrgebant priualae aliquae causae nostrae et Ca-
merae apostolicae ad mitlendum ad serenitatem tuam legatum seu Nun-
tium nostrum pro Annatis el alus iuribus eidem Camerae debilis, el dua-
bus decimis máxima ratione seu potius necessilate noslra super fructibus
ecclesiarum et beneficiorum tui Regni per nos impositis exigendis ; lamen
ut hoc maturaremus faceré multo plus nos adegerunt publicae causae mi-
serae christianilatis, quae a potentissimo et intensissimo Dei et nostro hoste
turca in dies periculum metuit aut instans aut cerle ita proximum, vt la-
xamentum si quod forte ab illo nobis praebetur quin imparatos et incau-
tos opprimat, non nostrae prouidentiae quae nulla est, sed Dei misericor-
diae assignandum sil. Haec itaque cum serenitate tua, sicul el cum alus
* Minuta sem data no Abch. Nac. Cartas missivas Ma?. 2, n.° 138.
RELACOES COM a curia romana 349
Principibus per lilleras et oratores egimus, pro noslro oíücio acturi ele-
giinus ex numero praelalorum nostrorum domeslicorum \enerabilem fra-
trem Marcum episcopum senogalliensem, exhibitorem presenlium, virum
doctrina et raoribus nobis probatura et gratum, quera ad serenitatera tuam
et pro publicis et priuatis causis nostris, tara supradictis quam alus per
eura plenius tuae serenilati explicandis, mitteremus. Erit igilur solilae in
nos beniuolentiae, et in hanc sanclam sedera obseruantiae tuae ipsum Mar-
cura episcopura Nuntiura nostrura benigno excipere, et excipi in tuo Re-
gno vbique curare, ac in cunctis per eura tuae serenitati nostro nomine
nunc et deinceps explicandis, eum indubiam et plenara fidem tura beni-
gnura fauorera et graliara tuara accomraodare Yt is iura nostra el deciraas
praedictas exigere, ac nostras coraraissiones sibi demándalas facile ac ce-
leriler exequi, vt ad nos qui honiinis opera assidue vli intendimus cito
reuerti possit. Quod cura erit dignura inclyta pietate lúa, tum nos eliam
recipiemus a serenitate tua gratissiraura.
Datura Roraae apud sanctum Petrura, sub Annulo piscatoris, die xv
Maii MDXXxii, Pontificalus nostri Anno Nono. — Blosius \
Deispachois que levou O. llartinho de Portug;al
1533 — Maio !80.
O que \ós Dora Martinho meu rauito amado sobrinho aueis de di-
zer de minha parte ao Santo Padre, a que vos enuio por raeu embaxa-
dor pela crenca que pera elle leuaes, e fazer ñas cousas que agora ei por
meu seruico que facaes, he o seguinte :
llera : diréis a Sua Santidade que eu uos enuio a elle por meu eni-
baxador pera rezidirdes e estardes era sua corte, e rae auizardes de toda
a cousa que socceda do seruico de Déos e de Sua Santidade, pera era to-
das o eu seruir como dezejo, segundo o muy grande amor e muy inteira
* Arch. Nac, Mac. 19 de Bullas, n.° 20. Na mesma data recommenda S. S. o Bispo
de Sinigaglia ao Infante D . Luiz (Mac. 37, n° 58), e a D. Miguel da Silva (Mac. 18,
n.° 12).
^ Sahiu de Lisboa no dia 47 de Junho, como se vé da carta de í7 de Novembro.
350 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
vontade, que pera todas as cousas de seu seruico e da Sania See Apos-
tólica tenho, e pera lambem muy araeude me enuiardes muy boas nouas
de Sua Sanlidade, que eu quería saber pelo mais ameude que fose posi-
uel pelo grande contentamento que disso sempre ei de receber ; e que re-
ceberel de Sua Sanlidade em muy singular merce de agora e sempre vol
as querer dar pera mas enuiardes.
E Ihe dizey que vos viestes a mim com aquellas couzas que de sua
parle vos mandou que me diseseis, as quaes eu recebi pera nellas o ser-
uir com tanto amor como sempre tiue e ei de ler pera todo o que for de
seu seruico e comtenlamenlo, e em todas o seruirei com muito boa von-
tade se me fora posiuel fazel o como dezejaua, e sempre esperei que o
lempo me dése lugar pera em cada huma deltas o poder seruir, por se
nunca oíFerecer podel lo fazer, nem trazia nenhum fruto dar a sua Sanli-
dade as rezoes que mo impediam, e tras o nao fis nem faco, e mais que
Ihe peco por merce que crea que por minha vontade nao ficará fazer ludo
o que a seu seruico cumpra quanto posiuel me for ; e porque por vos
ade ser esta resposta assi como Iha nao mandei a vos tornar a Sua San-
lidade ale agora.
ítem : eu oüue por meu seruico de inuiar comvosco Francisco Al-
uarez, o clérigo que el Rei meu senhor e padre que santa gloria aja en-
uiou em companhia de Duarle Galuao, que foi por embaxador ao Preste
Joao, o qual apresenlareis de minha parle ao Santo Padre pera por elle
ser Sua Sanlidade informado e certificado do que vio do Preste Joao, e
da sua chrislandade, e da grandeza de seu regno, do seu grande poder,
e modo em que observao e guardao a nossa santa Fee Catholica, e os er-
res que nella lem, e quao fácilmente se podem emmendar, o muy parti-
cularmente de todas as cousas de aquellas gentes, que he de dar mullos
louuores a nosso senhor por abrir caminho pera tanto seu seruico, pelo
qual por acrecenlamenlo de sua santa Fee tanto trabalhou el Rey meu
senhor e padre, em que taó grandissimas despezas fez, e em que morre-
raí) tantos de seus vasallos e naturaes : e ainda que pelo dito Francisco
Aluarez o santo Padre seja de ludo bem informado e certificado, como
pessoa que ludo viu e passou, parecen me bem de uos dizer o que de mi-
nha parle digaes por isso a Sua Sanlidade.
ítem : Ihe diréis que a principal couza porque el Rey meu senhor
e padre que santa gloria aja tanto trabalhou no descubrimenlo da India
RELACOES COM a curia romana 351
e de todas aquellas parles do Oriente, em que tao grandissimas despezas
fes, e tantos seus vasallos e naturaes sao morios, fidalgos e caualeiros e
seus criados d outras multas serles, foi porque fizese ñas gentes de aquel-
las partes a conuercao que elle dezejaua, foscm trazidos á nossa sancta
fee catholica, e nella se fizese tao grande acrecentamento como louuores
a nosso Senhor he feito ; e que nao somenle trabalhou de o fazer naquel-
las partes da India, onde he ja tao grande numero de gente conuertida,
e onde louuores a Déos sao feilas muilas Igrejas e mosteiros em algumas
cidades, assi como o he na cidade de Goa, e na cidade de Malaca, e na
de Orrauz, que por forca de armas foraó ganhadas e tomadas aos Mou-
ros, e assi em outras partes outras multas, mas per este mesmo fructo
fazer nos regnos e Ierras do Preste Joaó, que vem confinar multo perto do
mar roxo, o qual mar roxo mandou entrar e descubrir por seus capitaes
com suas armadas, e por multas vezes o entrarao e fizerao multa guerra
aos mouros e Cidades e Villas de dentro do dito mar roxo e entrada delle.
assi como a Ilha de Cotorao S que Tristao da Gunha por forca de armas
tomou aos gentios de que he abitada, e aos gentíos que nella estauao, e
da Cidade de Adem, cidade de grande poder e de Rey multo poderoso,
a qual louuores a noso senhor agora ouue nouas de meu Capitao mor da
India ñas naos desla armada que se fes meu vasallo, e está asentado em
meu seruico, e me paga parlas e tributo, estando sobre ella e tendo a cer-
cada por tempo de seis mezes Rey Salamao capitao do Turco com mulla
gente e grande armada, a qual de sobre ella fizeram aleuantar minhas ar-
madas, e gentes, e Cidade de Ceilao ^ e a de Barbera e outras de dentro
do dito mar roxo, e forao á vista de Judaa e estiuerao bem perlo della,
pelos lempos e municoes Ihe nao seruirem e se poderem sahir do estrello
a lelxarao, a qual espero em nosso senhor que muy sedo seja asentada
em meu seruico ; e que pela Informacáo que destas vezes se tomou pe-
los capitaes das armadas del Rey meu senhor e Padre se soube que as
térras do Preste Joao e suas gentes erao muí perto do dito mar roxo, e
se podia d alli fazer caminho, postoque com muy grande risco e ventura
por auerem de passar por Ierras e senhorios de Mouros, que aínda que
em alguma maneira Ihe obedecessem pera se por ellas os mercadores com
* Socotorá.
2 Zeyla.
352 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
suas mercadurías pera as térras do Preste Joao, as nossas nao podiao pas-
sar sem grande risco e ventura, ao que el Rey meu senhor e Padre, es-
perando na misericordia de nosso senhor que suas gentes encamintiaria,
pois era obra de seu seruico, quis auenturar, e inuiou a Duarte Galuao,
homem fidalgo e do seu conselho, e ja de dias muito insprimenlado ñas
couzas de seu seruico, e que com grande deuacao e por seruir nosso se-
nlior e a elle o aseitou, por seu embaxador ao dito Preste Joao cora em-
baxada do muito contentamento que tinha recebido de nosso senhor des-
cubrir caminho pera entre elles auer grande amizade e prestanca, pois era
Rei christaó se ajuntassem suas gentes com as suas e se fazer guerra aos
enemigos de nossa santa fee, e com outras multas palauras do modo em
que se poderla fazer, e Ihe inuiou grandes presentes de todas as cousas
que Ihc pareceo que folgaria, a saber, muitos ornamentos pera as Igre-
jas muí ricos, tapicarlas e brocados e lluros dos officlos diuinos, e outras
cousas pera o seruico das Igrejas, e outras multas de outras qualidades
com que Ihe a elle pareceo que elle poderla folgar, e instrucao verdadeira
de nossa sania fee, e de como sua Santldade posto na cadeira de Sam Pe-
dro he vigairo de Jesu Chrlsto, e como todos os Reys christaós viuemos
sob sua obediencia xpo fsicj por onde se poderla fazer o caminho pera
Roma poderlao passar sua Sanlidade seus recados, alem dos que por ca
por meus Regnos poderlao Inuiar, e como suas gentes se poderlas aj un-
tar com as nossas e d ally pasarem a ganhar a casa santa, pera que elle
era enformado e certiñcado que nao somente tinha grande poder mas
muito dezejo, com outras enformacoes do que conuinha pera bem da chris-
tandade, e palauras de muito amor e boa vontade que sempre nelle acha-
ria e em prestanca de suas boas obras.
Lhe diréis que indo o dito embaxador em companhia de seu Capitaó
mor e gouernador da India, que aquelle lempo era e en-
trado com a armada no mar roxo e passado a porta do dito mar, que os
mouros chamao Belmendebel *, prouue a nosso senhor que adoeceo de
doenca de que o leuou pera si, e foi sepultado na ilha de samara ^
Falecendo o dito embaxador o dito Capltao mor e Governador da
India, por se nao perder o fim dezejado por el Rey meu senhor e padre,
* Bab-cl-mandeb.
^ Camarao.
RELACOES COM a curia romana 353
enlegeo per embaxador hum Dom Rodrigo de Lima, fidalgo de sua caza,
o qual fes seu caminho pera o Presle Joao, e perlo de Odemar ^ achou
hum seu vasallo que se chamaua Barnagar, que he nome de Gouernador
da leíTa, o qual o recebeo muilo bem sabendo que era embaxador del
Rey meu senhor e padre, e Ihe fes todo o bom Iratamenlo, e os adere-
sou pera o caminho e pera os pasarem eom seguranca ; e pelo caminho
que fizerao forao ter a hum mosleiro de frades chamado Archequiquo ^, em
que auia numero de frades, no qual faleceo 3íalheus, aquelle que a el
Rey meu senhor e padre inuiou o Presle Joao e Ihe trouxe o lenho da
Vera Cruz, e daqui fizerao seu caminho como o dirá a Sua Sanlidade
muilo inteiramenle o dito Francisco Aluarez ; e assi como chegarao ao
Presle e onde o acharad, e como delle foraó recebidos, e o que virao ñas
térras por donde caminharao de Igrejas e de edeficios e de religiosos, e
a maneira de sua chrislandade, e modo de justica, e de todas as outras
cousas que síío de grande marauilha e pera Sua Sanlidade muito folgar
de ouuir, de que fez liuro que leua, pelo qual sua sanlidade será inteira-
menle informado de todas as couzas.
ítem : Ihe dirá o dito Francisco Aluares o tempo que esliuerao em
sua corte, e o bom Iratamenlo e gazalhado que delle receberao, e as fes-
tas que Ihe forao feitas, e alegría que recebeo de sua ida, e as pregun-
tas que Ihe mandou fazer por seus letrados acerca da nossa fee, porque
a pessoa do Preste se \ee poucas vezes assi pelos naluraes como pelos
eslrangeiros, e a reposta que a ludo elle deu, que ludo alem de o elle
dizer de palauras a sua sanlidade, que Iho saberá bem apresenlar, verá
pelo dito liuro compridamente.
E como passados rauitos dias de sua estada na corle do Presle Joao
elle os despachou com merces que Ihe fez, e com mostranca de mui gran-
des contenlamenlos, e enuiou com elles hum seu embaxador, que fica em
minha corte, pelo que escreueo e enuiou cartas pera el Rey meu senhor
e padre do muito prazer que recebera com sua embaxada, de que vos
kuais os Ireslados pera os mostrardes a sua sanlidade, porque as pro-
' Quereria dizer Macuá?
^ Xea-se Arqu ico (ou Arkiko), mas advirta-se que o mosteiro nao eraahi. Paraare-
ctificaQao dos fados vejase: Francisco Alvares, verdadeira informacao das terrasdo Preste
Joao, Liv. i, e Gaspar Correa, Leudas da India, Tom. ii, pag. 583, c Tom. ui, pag. 26.
TOMO II. 45
334 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
prias nao quis que se auenturasem ao caminho ; e fareis fce a sua sanli-
dade que vistes as proprias e a maneira em que Yierao metidas em sacos
de Brocado e aseladas.
E que assi inuiou cartas pera Sua Santidade, as quais leuais pera
Ihe dar juntamente com o dito Francisco Aluarez que a sua santidade
aueis de apresenlar, e assi Ihe apresentareis a Cruz de Ouro que a Sua
Santidade inuia em sinal de obediencia que Ihe faz e á santa See Apostó-
lica, e se comete a ella como Vigairo de Jesu Christo, de que elles la tera
verdadeira informacao, e dizem que ja em outros lempos os Reys de aquel-
las partes assi o fizerao, e que se perdeo fazerem no assi pelas rezóes que
dará o dito Francisco Alvarez, o qual dirá a Sua Santidade o que diz
que Ihe disse o Patriarcha que tem por sua anliguidade que nelle se auia
de acabar as praticas de aquellas partes, que diz que ate entao erao cento
por se fazer a obediencia ao Santo Padre e á Santa See Apostólica.
Ítem : diréis a Sua Santidade que, posloque o dito embaxador aja
alguns aunos que he em meus regnos, e eu muito dezejase de enuiar a
Sua Santidade o dito Francisco Aluarez como agora inuio comvosco cora
as cartas que leuais a dita Cruz e sua obediencia, foi a cauza de mais
cedo o nao inuiar os lempos passados, e a pouca seguranca que assi pelos
caminhos da Ierra como do mar ouue pera seguranca pera poder passar
com a dita obediencia a sua santidade e á santa Seo Apostólica de Rey
tao grande, e lao longe da cadeira de Sam Pedro, e de anos apar-
tado da obediencia da Santa See Apostólica ; e que por uir no lempo de
seu Pontificado crea Sua Santidade que recebi muy grande prazer, e que
o quis deixar pera o inuiar em vossa companhia e com vossos, e com
vos ser com quem me pareceo que poderla (ir) melhor e mais seguro : e
primeiro que o apresenleis e franeis (sic) Ihe daréis as Cartas do Preste JoaO
das suas obediencias, e pela Cruz de ouro que Ihe enuia diréis por vos
ludo o que e sabereis delle a maneira que quer que tenhaes, e Ihe
aprezentay o dito Francisco Aluarez, e Ihe darees as cartas da obedien-
cia e cruz pera, segundo o que Sua Santidade ordenar e a maneira que
quizer que nisso tenhais, o fazerdes, e Ihe diréis que eu vos mandey que
assi o fizeseis pera nisso guardardes e fazerdes o que Sua Santidade vos
ordenasse, pelo que me parece que de lao grande nouidade como he a
de esta obediencia elle deue de receber muy grande contenlamento, por
ser couza a que nosso senhor abriu caminho de tanto seu feito pera tanto
RELACOES COM A CURIA ROMANA 355
acrecenlamenlo de sua fee, e por ver em seu lempo ; e como de yosso o
persuadiréis a fazer demonstracao de muilo prazer e alegria, sem nisso in-
lercederdes nem Ihe poder parecer que o fazeis por \olo eu mandar ; e no
modo que Sua Santidade ordenar que o facaes assi o fareis.
Despois de aprezenlardes a Sua Sanlidade o dito Francisco Aluares,
e de Ihe dardes as cartas da obediencia do Preste Joao e a "Cruz no modo
que elle ordenar, diréis a Sua Santidade que eu nao quiz suplicar Ihe ñera
lembrarlhe couza alguma acerca do modo em que aja de responder a sua
obediencia, nem de nenhuma oulra de que em couza lao noua aja de fa-
zer, assi pera Ihe mostrar alegria com sua obediencia e Ihe gratificar, como
no que se deua fazer acerca da emmenda dos erros, que lem elle em seus
pouos no que toca á fee, que me parece que serao lenes de emmendar,
nenhuma outra couza desta materia porque nesle Ihe ei por melhor e mais
proueitoso que sua santidade em ludo mandar fazer ; e somente Ihc su-
prico e peco muilo por merce que deste caminho de tantos annos nao
sabido, e pela merce de nosso senhor descuberto com laníos trabalhos e
grandissiraas despezas, mortes de fidalgos caualeiros e criados del Rey
meu senhor e padre e meus, e de tantos nossos Vassallos e naluraes, e
de tantos annos trabalhado e pacificado por mares nao conhecidos nem
nunca nauegados, se queira sua Santidade lembrar pera o effeito de tao
grandissimo acrecenlamenlo de nossa fee como eslá aparelhado, e nislo fa-
zer o que de vigairo de Jesu Chrislo se deue esperar, e eu de Sua Santidade
espero em obra tao sánela e de tanta sua obrigacao, da qual se Ihe siguirára
ante Deus grande merecimento e no mundo muilo louuor. E que receberey
em muy singular merce de Sua Sanlidade o que nisso Ihe parecer bem de
fazer o querer com breuidade expedir e despachar pera logo mo inuiardes
em as primeiras armadas (e) despachar o embaxador do dito Preste com as
pessoas que com elle quero inuiar, e assi com as cousas que por elle me
inviou pedir d aquellas que foi informado que á y em meus Reinos.
E do que Sua Santidade vos responder e quizer fazer me auizareis
com deligencia, de maneira que eu vos possa responder e auizar do que me
parecer necessario, se ouuer necessidade pe^^a isso ; e assi me escreuereis
a demostracao que o Papa fes no recebimento da obediencia, cumprida-
mente todo o que nisso passou.
Ítem : diréis a Sua Santidade que eu recebi por vos as gracas que
me fez do Priorado do Grato pera o Infante Dom Luiz, meu muilo amado
45 *
3o6 COnPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
c prczado ¡rmíío, c a Hulla da aprezenlacao dos Mostoiros de meus re-
gnos em minha vida, e a Bulla das Igrcjas da Capella do Conde de Ma-
rialua, que Déos perdoe, pera o Cardeal meu yrmao ; e que por ludo Ihe
bejo seus sánelos pees, e o reccheo de Sua Sanlidade em muy singular
merce, e muy principalmenle a graca da aprezenlacao dos mosleiros que
eu mullo eslimo.
E que pois acerca da graca que Sua Sanlidade me concedeo da apre-
senlacao dos mosleiros de meus regnos em minha vida, com a laxa que
nelles ennouou e declarou em sua Bulla pera ficar pera sempre em sua
chancelaria, a mim me parece que Sua Sanlidade nao seria lembrado como
o Papa Leao da gloriosa memoria, a supricacam del Rey meu senhor e pa-
dre, anexou em perpeluo os ditos mosleiros á ordem do mestrado de nosso
senhor Jezus Ghristo pera encomendas delle, e como el Bey meu senhor (e pa-
dre) por alguns respeilos o deixoii, com lanío que a ualia das rendas delles
se Ihe salisfizesse em Igrejas pera encomendas da dila ordem, o que se
nao fes em lanía somma como elles valiao, e perdeu nisso El Rey meu se-
nhor 6 padre pasante de seis mil cruzados de renda cada anno, e junla-
menle enlao Ihe fes graca da apresentacao dos ditos mosleiros em sua
vida ; e que em lempo que Sua Sanlidade láo liuremenle concedeo a mesma
graca ao Emperador meu muilo amado e prezado irmao, e a el Rey de
Franca, dos moesleiros de seus regnos, e em perpeluo e pera lodo sem-
pre, e que ainda que mui bei¡n merecerao a elle e á Sania See Apostólica
esta e oulras mayores gracas, eu nao espero que Sua Sanlidade o faca
menos a mim, pois na guerra dos Mouros em África e na India, e na
suslenlacao dos fidalgos caualeiros e meus vassallos e naluraes, com que
os suslenho, faco tao grandissimas despezas, e nisso tanto Irabalho como
no mundo he notorio, pelo que espero que Sua Sanlidade lenha em mi-
nhas couzas muy especial respeito, e nellas obre com lanía virlude como
em todas as cousas o fas, e nesla o deue fazer por eu ler nella lanía re-
zao, por todas as rezoes que aponto pera a Sua Sanlidade dizerdes no
caso das dizimas, como adianle no capitulo deltas vos declaro, e nesle
capitulo dos mosleiros inleiramente Ihe diréis, porque aquy ei por escu-
sado as declarar, Ihe diréis que suprico e peco mullo por merce a Sua
Sanlidade que, pois acerca de lodos os Principes chrislaos sempre con-
sira com tanta virlude seus seruicos e merecimentos, queira olhar os ser-
uicos del Rey meu Senhor e padre feilos á Sania See Apostólica na guerra
RELACOES COM a curia romana 357
dos Mouros em África e na India, lao longe e apartada de seus rcgnos,
e com tam grandissimas despezas e com tantas morles de seus vassallos
e naturaes, como eu proseguindo aquella mesma obra o nao faso menos,
nem nunca disso cessei nem cesso ncm espero cessar pera, alem do que
ate aquy ei feito e aproueitado no acrecentamento de nossa santa fee, se
acrecentar e aproueitar aínda muilo mais, como vé que nosso senhor por
sua misericordia por meu raeyo a ordena nos pouos do Preste Joáo, e de
todos os oulros de aquellas partes orientaes ; e que por todas as rezoes
ditas no capitulo das dizimas, que nao sao escondidas mas muito mani-
festas, que Sua Santidade me conceda e faca graca da aprcsentacao de
todos os moesteiros de meus regnos pera mim e meus successores pera
sempre por Sua Santidade deltas prouer a quem Ihe aprezenlarmos, que
serao pessoas taes que as gouernem em lodo o seruico de nosso senhor,
e pera que sejao assy bem seruidos no spiritua! e temporal que Sua San-
tidade seja descarregado e eu asi mesmo, que com essa tencao suprico e
peco a Sua Santidade que, sem innouacao de taxa nem de oulra cousa,
somente naquella propria forma e maneira que o santo Padre da gloriosa
memoria o concedeo e oulorgou a el Rey meu senhor e padre em sua
vida, como Sua Santidade poderá ver pelo treslado que leuaes da Rulla
que Ihe concedeo, insistindo vos quanto poderdes pelas rezoes sobreditas,
e quaesquer oulras que se uos oíTerecerem pera Sua Santidade esta graca
assi me conceder e outorgar, pois com tanta rezao o deue de fazer.
Despois de emsistirdes quanto posiuel vos for pera Sua Santidade
esta graca me conceder assi em perpetuo pera sempre, quando de todo
se escuzar, que eu delle nao espero, vos Ihe diréis que me queréis fazer
saber a reposta que Sua Santidade vos dá pera eu sobre ella Ihe repri-
car o que ouuer por meu seruico, porque vos esperaueis que elle me res-
pondesse a cousa tao justa como esta, porque, alem das rezoes que le^
nho, Ihe aprezenlo os exemplos, de maneira que eu me satisfizese, e que
por enlao ate verdes minha reposta nao fareis nisso importunacao a Sua
Santidade, da qual esperareis que se ella quando bem o quizer consirar
vos responda assi graciosamente como elle era todas minhas cousas o
deue fazer.
E se uos parecer que pera conceder a dita graca assi em perpetuo como
Ihe peco alguma conlia de dinheiro, e auerey por meu seruico que apre-
senleis pera assi se fazer ate des mil cruzados, e daqui pera baixo quanto
358 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
menos puderdes quanto mais me seruireis, e com esla cola fareis a ex-
pedicíio disso, sem a inouacao da laxa que Sua Santidade dizia na Bulla
que Irouxesles pera em minha vida, e somenle assi em perpetuo ficará,
assi como he conlheudo na Bulla del Rey meu senhor e padre que sania
gloría aja.
E nao vindo nisso pela dila cola, e ficaseis em me escreuer sua re-
posta e esperardes por meu recado, tercis maneira como que o moueis
de Yosso, e sem poder parecer que he com minha comissao e per os
meyos que vos melhor parecer que tornéis ao negocio pera o Santo padre
me conceder a graca da apresenlacao dos ditos mosteiros em minha vida
somenle, sem a nouidade da dila taxa, e assi como se concedeo a el Rey
meu Senhor e Padre e he conlheudo na sua Bulla ; e por se fazer neslc
modo ei por bem que soltéis e deis ate tres mil cruzados, e quanto d aquy
pera baixo menos poder ser quanto mais me seruireis : e se nesle modo
e pela dita colla fose concedido assi quero que especais a bulla e as pro-
uisóes necessarias, sem mais esperardes pera isso por oulro meu recado.
Do que nislo e em qualquer das maneiras sobredilas fizerdes e aca-
bardes me auizay na deügencia em que vos parecer que conuem, pera
Yos mandar prouizao pera vos ser dado o dinheiro. Em qualquer das so-
bredilas maneiras trabalhay por o acabar, e o fazey assi bem como de vos
confio.
ítem : diréis a Sua Santidade que vos me falastes de sua parte ñas
dizimas da clerezia de meus regnos pelos fundamentos que pera isso Sua
Santidade tomou, e que, ainda que em todas as couzas aja muilo de fol-
gar sempre de o seruir, nesla me espantei de Sua Sanlidade me mandar
falar, porque, quando por outros Reys se fizesse, Sua Santidade deuera
de folgar de eu ser disso releuado, e lenho por muy cerlo que assy o
faría, se fosse bem informado das muitas rezoes que pera isso ha, porque,
sabendo as grandes despezas que lenho na guerra da India e em África,
ñas quaes continuadamente pago doze quinze mil homens de soldó, com
tomar a despeza e Irabalho da nauegacao, que cada homem que d aquy
parte pera a India me custa de soldó e mantimento trínla e seis cruzados,
dos quaes mullos morrem prímeiro que lá cheguem, de maneira que, alem
dos que continuamente lá pago, se perde muila despeza naquelles que d
aquy partem e lá níio chegao, e ainda esta nao he a principal parle da
despeza, porque a gente de meus regnos, com que esta guerra faco, ha
RELACOES COM a curia romana 3S9
muita della que he fidalga e onrada, e grande parte da oulra muy co-
nhecida, de maneira que o amparo dos filhos e mulheres dos que lá mop-
rem ou muito tempo seruem, e as merces que por isso Ihe faco sao de
lamanha cusía e despeza que muitas vezes sempre com mui grande ne-
cessidade, e assi mesmo a continua despeza e gasto de África, que se
pode bem ver camanha será pois que manlenho naquelles lugares cada
anno cinco mil homens de guerra, nos quaes enlrao tres mil de cauallo,
pera os quaes de muitos annos pera ca mando Irazer o pao de Alemanha
e de Fraudes e de outras muitas partes de fora pelo nao auer, de onde,
alem do muito que custa, se perde muita parte no mar e outra nos na-
uios que o trazem, que por cauza das tongas viagens se daña e apodrece
nelles, que sao despezas inumeraueis. Estas guerras trabalhos e despezas
deilas sao tanto de seruico de nosso Senhor, que todas se emprcgao em
fazer guerra a infléis, e a muitos delles conuertem á nossa santa fee, por-
que certo que ainda que da India pareca que se me seguem grandes pro-
ueitos a despeza de alguns annos pera ca quasi o fundamento del Rey
meu senhor e padre que Deus tem fora do muito proueito, e nao muito
principalmente querer fructo da conuercao das gentes de aquella térra,
e tambem folgar de fazer guerra aos mouros della, os proueitos da India
que nestas despezas se consumem se poderao todos auer, que fora muy
grande riqueza, e nao se despenderao desta maneira de que se despendem,
das quaes despezas eu, por ser lao seruico de nosso Senhor e seguir a
tencao del Rey meu senhor e padre, fui e sam mais contente que de todo
o proueito que se pudesse siguir de a incurtar, e ainda sao ñas cousas
vindas ja a taes termos, que me poderla mal tirar deilas antes se ofere-
cem auel as cada dia muito de acrecentar, Sua Santidade melhor pode
Ter pelas nouas da grossa armada que o Turco faz contra mi, segundo
Sua Santidade dise ao meu embaxador que mo escreuese e tenho sabido
por oulras partes, pera as quaes cousas eu confio que Sua Santidade Ihe
parecerá mais rezao eu ser ajudado que auerem meus \asallos de fazer
despeza em huma e outra couza, porque, ainda que os prelados e cle-
resia de meus regnos se quería dizer que nao entrao na conta desles tra-
balhos e despezas por serem clérigos, he muito pelo contrario, porque
com seus pais e irmaos e partes e criados fazem nisso muy grosas des-
pezas, de maneira que suas rendas e fazendas sao muy grande parle pera
poder sustentar esta guerra : pelo que peco muito por merce a Sua San-
360 CORPÜ DIPLOMÁTICO POIITUGÜEZ
liílatle que queira fazer mais parlicularnienle eslas cousas que breuemente
Ihe digo, e aueria mister muito lempo pera se todas dizerem, pelas quaes
conhecerá quao justo e dcuido he de auer por bcm de me releuar desle
requerimenlo e nesla folgar de me fazer toda a outra graca e merce que
elle poder, e de lodo o sobredilo Sua Sanlidade saiba, poslo que estes
regnos em nenhum lempo liuesem lao justas necessidades e cauzas, nunca
em oulros lempos passados islo de nenhum Papa ihe foi requerido, an-
tes ás vezes eslas dizimas foram concedidas aos mesmos Heis.
Dora Marlinho sobrinho amigo.
Alem das oulras ¡nstruccoes minhas que leuaes, ouue por meu ser-
uico leuardes esta de couzas e negocios particulares, (e) em lodo o que por
ella e¡ por meu seruico fazerdes, vos encomendó muito e mando que facaes
e cumpraes com aquelle bom cuidado que de vos confio ; e sao as seguintes :
ítem : creo que sabéis o que he requerido ao Santo Padre pelos rei-
lores e Vigairos das Igrejas, que sao anexadas em comendas á ordem do
mestrado do nosso senhor Jesu Chrislo, acerca dos aniuersarios. Eu man-
de! sobre isso falar ao santo Padre pelo Doutor Bras Nelto meu emba-
jador, o qual me tem escrito que falara ao Santo Padre, e que Ihe res-
pondera que, poslo que Ihe fose dito que os reitores e vigairos linhao
nisso direito, elle nao prouera nisso cousa alguma, nem o faria sem pri-
meiro Iho dizer ao dito Bras Nelto. Despois pareceo qua hum breue que
o Santo Padre sobre isso passou, que nao sey se o linha já passado quando
responde© a Bras Nelto o sobredilo, se despois, o qual breue me ueo ler
á mao por huma cerla maneira, e mandey ao secretario que voló moslrasse
elle de Sua Sanlidade fsicj passar tal ceusa sem ser ouuido por minha
parle pessoa alguma, e parece que Sua Sanlidade nao mandou nisso guar-
dar o que se me deue. Logo como chegardes pralicay nesle negocio com
o Doutor Braz Nelto e sabey delle se despois daquclla reposta que o Sanio
Padre deu passou mais alguma couza, e o ponto em que está ; e prali-
cai ambos o que nisso se deue fazer, e aquillo que vos acordardes fa-
reis : e se uos parecer que conuirá dizerdes ao Santo Padre do dilo Breue
que tem passado, ou o calardes, fareis nisso o que a ambos vos bcm pa-
recer, e do que nisso fizerdes me auizareis depois de terdes falado ao
Papa e terdes delle sabido a maneira que elle quer ler : e insistiréis em
que Sua Sanlidade nao passe nisso cousa alguma, e proseguiréis o que
RELACOES COM A CURIA ROMANA 361
acerca desla maleria linha mandado a Braz Nelto que fizese, ao qual
mando por este capitulo que \os moslrc o que acerca disto !he linlia
mandado.
ítem : Bem sabéis a clausula que veio na Bulla das Comendas, que
anexarao á ordem do mestrado de nosso Senhor Jesús Christo, de dentro
em oulo mezes auerem de ir a Roma a expedir suas prouizoes, o que se
nao fes desde a expedicao da dita Bulla ate agora por todos os Comen-
dadores que das ditas comendas forao prouidos, e foi a causa por nao
ser em lembranca a clauzula da dita Bulla, nem os commendadores que
forao prouidos o saberem : que suprico e peco muito a Sua Santidade
que queira releuar os comendadores, que sejao prouidos desde a Bulla
até agora, da pena que nisso encorrerao, assi por cauza dos fructos que
ouuerao sem lerem as prouisoes de Sua Santidade, que ouuerao de ex-
pedir segundo a condicao da Bulla, e assi de toda a outra pena em que
encorresem ; e aja por bem que somente aja por bem paguem os direi-
tos á See Apostólica, que ouuerao de pagar indo a Roma a expedir suas
prouisoes dentro no tempo declarado na Bulla ; e que de assi o conceder
o receberey de sua Santidade em merce, e a vos encomendó muito que
trabalheis como assi o conceda : e de tudo o que nisso fizerdes me aui-
zay pera os Commendadores saberem o que ande fazer. E porem por este
capitulo nao fareis obra alguma sem auerdes pera isso outro meu recado
do que ouuer por meu seruico que nislo facaes.
Diréis ao Santo Padre que por parte de Christouao de Barrozo me foi
aprezentado hum breue de Sua Santidade, por que me encomendaua que
mandase dar fauor á execucao de huma Sentenca que elle ouue acerca
do mosteiro de Sao Jorge, da Ordem de Santo Agostinho, da Diócesi do
Bispado de Coimbra, junto da dita Cidade ; e que por o dito Christouao
de Barrozo me ler muito deseruido, estando por embaxador do Empera-
dor em minha corte, em couzas falsas, e por que a elle deuera ser dado
grande e rigoroso castigo, e pelo qual o Emperador mandou prender e
meter em suas gales, e despois o mandou de lá sair e o desterrou fora
de seus regnos, da qual couza daréis conta a Sua Santidade porque nao
quis que a leuaseis em escrito ; e tambem por elle acerca do dito mos-
teiro fazer diligencia indiuida, e pelo pouco acatamento a meu seruico,
estando prouido delle o Infante Dom Henrique meu yrmao, de que Ihe da-
réis assi mesmo conta ; e porque tambem vagando o Bispado de Euora
TOMO II. 46
362 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGÜEZ
ouue carias da Rainha Dona Leonor, minha senhora madre, estando ella
já em Castella, pera o Sanio Padre, por que Ihe pedia que prouese de
huma certa vagante, sem Ihe dizer que era o dito Rispado, que he o
principal de meus regnos, e por ella fez a supricacam delle, no que nao
somenle errou acerca de meu seruico, mas fez falsidade : por estas cou-
zas, e por outras muitas desta qualidade, eu nao somenle tenho rezao de
nao consentir que elle aja de ter nenhuma couza em meus regnos, mas
procurar como Sua Sanlidade castigase com rigoroso castigo, e tal como
elle pela malicia de seus erros merece ; mas que nao ei por necessario
dar a Sua Sanlidade nisso fadiga, com quanlo fora couza muito justa fa-
zelo, porque elle fora castigado e ficara exempro pera oulros nao come-
lerem semelhanles maldades : que suprico e peco muito por merce a Sua
Sanlidade que aja por bem de elle em meus regnos e senhorios nao ter
beneíBcio, nem delle o prouer nem d outra couza, e o priue do Reneficio do
dito mosleiro pera delle prouer no modo que eu Ihe supricar, porque pelo
bom comeco que está feito na reformacao da ordem de Santo Agostinho em
meus regnos, em especial no mosleiro de Santa Cruz de Coimbra, de que
a Sua Sanlidade daréis conta do modo em que está, nesle de Sao Jorge
queria que se fizesse a mesma reformacao, de que nosso Senhor será mais
seruido do que estar em poder de Rarrozo, que tao pouco merecimento tem
pera elle, nem pera «outra nenhuma couza em toda a parte, quanlo mais
nos (meus) regnos : e que de Sua Sanlidade o auer assi por bem, como
creio que auerá por auer pera isso tantas rezoes, o receberey em singu-
lar merce. E pera sobre esta materia Ihe falardes leuaes caria minha de
crenca pera Sua Sanlidade, que Ihe daréis ; e quando Iha derdes Ihe di-
zei logo que, por nao irem em escrito a lao largo modo as malicias e
maldades cometidas pelo dito Rarrozo, ouue por bem leuardes a dita crenca
pera por a uirtude della Ihe fazerdes inteira relacao das couzas, por que
tenho rezao de procurar antes seu castigo, do que permitir eu nem que-
rer que em meus regnos receba merce nem fauor. E quando ao Santo
Padre lodo o que dito he ouuerdes de falar leñareis comvosco o Doutor
Rras Nelto meu embaxador, e ambos juntamente Ihe diréis todo o que
dito he; e eu Ihe escreuo a Garla que pera elle leuaes, por que Ihe mando
que se ajunte comvosco pera isso.
ítem : leuaes tres supricac5es, huma do Prouincial e Frades da or-
dem da Santa Trindade sobre humas duas Igrejas de que el les prouem,
RELACOES COM A CURIA ROMANA 363
e que muitas \ezes ou quasi todas se fas o prouimenlo como nao deue
e com muito carrego de conciencia delles, e dos que sao prouidos, as
quaes querem anexar a hum clérigo ^ da dita ordem, que ordeno que
se faca em Euora em que se faca mais seruico a nosso Senhor do que
se faz estando como agora eslao, ou em qualquer outra parte do Reino
onde melhor me parecer de se fazer.
Em oulra que loca aos frades de Sao Francisco.
E outra que toca á ordem de Sao Hieronimo, a que o Santo Padre
concedeo certas indulgencias, de que uzao em Castella os frades
da dita ordem, das quaes he huma a quem diser certos pater nostres pela
alma de hum Márquez, que jaz em hum mosteiro da dita ordem ; e suprico
e peco a Sua Santidade que conceda que, dizendo se os ditos Pater nostres
no mosteiro de Belem junto de Lisboa, onde jaz el Rey meu senhor e
padre que santa gloria aja, por sua alma, se ganhe a dita indulgencia,
como se ganhara dizendo se pela alma do dito Márquez; e assy como
cumpridamente vai decrarado em a supricacam.
E estas tres supricacoes vos encomendó muito que logo aprezenteis
a Sua Sanlidade, e trabalheis pela concessao dellas assi como nellas se
declara ; e dizei a Sua Sanlidade que Ihe terey muito em merce me con-
ceder e oulorgar o que por ellas se suprica, porque ma fará niso muito
grande por todas serem de muito meu contenlamento, e de seruico de
nosso Senhor.
ítem : o Rispo de Lamego meu capelao mor me disse que leuaueis
cuidado de fazer a expidicao que toca ao mosteiro de Francisco de Pa-
ria, pela premudacao que com elle fiz, como sabéis, e rae pediu que vos
mandase por em minha inslrucao lembranca disso pera a dita expedicao
logo fazerdes. Mu ¡lo vos encomendó que logo o facais, que, alem de uos
descarregardes da obrigacao que nislo tendes, me fareis nisso prazer e
seruico que vos muito agradecerey ; e assy de com os primeiros recados
enuiardes as Rullas e prouisoes disso.
Ítem : tambera vos encomendó rauito os despachos e negocios que
leuaes de Dora Aluaro da Costa, que tocao a Dora Manoel da Costa seu
filho, e muito vos gradecerey de os fazerdes o melhor que for posiuel
pela muifa vontade que tenho a Dom Aluaro. E porera se nestes despa-
' Collegio?
4(> *
36 í CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
chos entrar a Igreja de Almeirim, nao fareis acerca desta Tgreja couza al-
guma, e me auizareis do que nella se requere.
Ilem : o Gardeal sobrinho de Sanliqualro me fes saber por sua carta
sua eleicao, e me fez por ella grandes oíTerecimenlos pera me seruir.
Leuaes pera elle huma minha carta de Crenca, que Ihe daréis, e por
vertude della Ihe dizey que de sua criacao e acrecenlamento recebi muilo
prazer e contenlamento, assy pelo muito amor e boa vontade que sey que
el Rey meu senhor e padre, que santa gloria aja, tinha ao Cardeal San-
tiquatro seu tio e a elle, como pelos grandes merecimentos de sua pes-
soa ; e que creia que, assi como el Rey meu senhor e padre eslimaua a
seu tio a elle e a todas suas couzas, assi serao por mim sempre olhadas
e estimadas, e que recebo delle em muy singular prazer seus oíTereci-
menlos e estimo muito ; e que para elle e todas as suas couzas achara
sempre em mi muito amor e boa vontade, e assi as obras como elle o
merece, e em tal maneira que elle conheca que Ihe sam tao bom amigo
como eu dezejo de o ser e o mostrar em todo o que de mim Ihe cum-
prir.
ítem : porque quero saber o modo em que o Emperador meu muito
amado e prezado irmao, e assi el Rey de Franca, e o de Inglaterra, e el
Rey dos Romaos escreuem aos Cardeaes, a saber, a cada hum por si, e
assi ao Colegio dos Cardeaes juntamente, vos encomendó que vos certifi-
quéis disso como de vos, e sem parecer que o fazeis por meu mandado ;
e o que nisso achardes me escreuey declaradamente pera ver se he con-
forme ao modo de que Ihe eu escreuo, ou a diferenca que nisso ha, e
com os primeiros recados folgarey de esto me enuiardes que seja muilo
no serto.
ítem : de Dom Antonio de Taide leuaes huns apontamentos pera se
desanexarem da Comenda de Santa Maria de Pouos, que elle agora tem,
em que el Rey meu Senhor e Padre que santa gloria aja meteu as Igre-
jas de- seus padroados na Castanheira e Pouos, que sao de juro e her-
dade do dilo Dom Antonio, como sabéis, e cumpridamenle leuaes pelos
ditos apontamentos o que sobre isso aueis de sopricar a Sua Santidade,
que áde ser logo de agora se desanexarem da dita Comenda e as Igre-
jas da dita Villa da Castanheira e Pouos com seus limites, e ficar a Co-
menda em Santa Maria de Pouos com o limite de Villa franca, o que eu
folgo que se faca por folgar de fazer nisso merce a Dom Anlonio. Muilo
RELACOES COM a curia romana 365
vos encomendó que de minha parte o sopriqueis ao Santo Padre que Ihe
lerey muilo em merce querelo assi conceder e otorgar, no que Sua San-
tidade nao deue ler pejo pelas Igrejas dos ditos lugares serem de meus
padroados e aprezentacao, e a Gomenda será agora de Dom Antonio e
se nao seguir perjuizo a ninguem : e Dom Antonio vos dará ou enuiará
o traslado da maneira que se liuer em se fazer a dita Comenda pera sa-
berdes como passou e se criou. Muito vos encomendó que toméis disso
grande e especial cuidado, porque auerey muilo prazer de se concluir e
acabar : e isto que digo se áde entender somenle ñas Igrejas da Casta-
nheira e Pouos com seus lemiles, porque todas as outras rendas ficarao
na comenda em que agora estao, a saber, na Igreja de Villa franca, que
áde ficar por cabeca da dita Comenda.
ítem : pela Bulla do Colegio, que el Rey meu senhor e padre que
Santa gloria aja fes no mosteiro de Sao Domingos de Lisboa, que em
sua vida se manleue á sua custa, e assi se manlem agora á minha, foi
concedido a el Rey meu senhor e Padre que todas as couzas e instrucoes
ou ordenacoes do dito Colegio, por acrecentamento e bom regimentó delle
e dos frades colegiaes, elle pudesse reformar, correger, anular, rendar, e
quaesquer couzas de nouo fazer, que fosem licitas, honestas, e nao contra-
rias aos sanctos Cañones ; e porque esta graca espirou por falecimento
(del Rey meu senhor) e Padre, supricareis de minha parte ao Sancto Pa-
dre que Sua Santidade mo conceda assi a my e a meus successores se-
gundo he conlheudo e declarado na Bulla do dito Colegio, porque, pois
foi creado por el Rey meu Senhor e Padre e por elle manteudo, e assi
o he agora e áde ser por meus successores, rezao que he que tenhamos
a qual graca que com multa rezao foi concedida a el Rey meu Senhor
e Padre, que nao auemos de querer senao o que for mais proueitoso e
necessario á milhor conseruacao do dito Colegio : e trabalhae quanto for
posiuel por esta concecao, porque auerei disto muito prazer. Neste capi-
tulo nao falareis sem outro recado meu do que nisso ouuer por meu ser-
uico que facaes.
Ítem : pelo muilo grande desconcertó que ha na religiao dos frades
da ordem de Sao Domingos da prouincia destes Reinos, e porque Ihe
falece muy pouco pera de todo ser decaída, dezejo muito que seja refor-
mada e lodo o seruico de nosso Senhor e mayor conseruacao da dita or-
dem. E a maneira em que auereys por seruico de nosso senhor e bem
366 CORPO DIPLOMÁTICO POKTÜGÜEZ
da dita religiao leuaes lá huns aponlamentos, que vos deu o secretario
do meu coiisellio, os quaes vos encomendó e mando que aprezenleis a
Sua Sanlidade, e de minlia parle Ihe supricay pelo theor delles mande
passar as Bullas (e) prouizoes declaradas, pelas quaes se fará a dita re-
formacao ; e de minha parte ihe afirmay que se Sua Santidade o nao
proué assi pera se a dita reformacao fazer como he contheudo nos ditos
aponlamentos, que a prouincia dos frades de cssa ordem nesles Reinos
se acabará de todo de perder, segundo o estado em que ja agora está -,
e que de sua Sanlidade assi o conceder e otorgar crea que fará muito
seruico a nosso Senhor, e eu o receberey em muita merce por muito de-
zejar que esta religiao nao acabe de cair de todo. E muito vos enco-
mendó que trabalheis quanto possiuel vos for por esta expedicao se aca-
bar como nos ditos aponlamentos he contheudo, porque o receberey de
vos em muyto seruico, e quanto com mais brcuidade quanto mais me
seruireis. E com os primeiros recados auerei muito prazer com me fa-
zerdes saber o que Sua Sanlidade nisso quer fazer ou fas, o qual deue
crer que nao he nislo oulra minha lencao senao nao se acabar de per-
der de todo esta religiao.
ítem : leuaes assi mesmo oulra supricacao, afora as tres airas de-
craradas, que loca ao conuenlo de Tomar, das couzas que por ella ve-
réis, das quaes cumpre que se faca logo a expedicao pela necessidadc
que nisso ha. Mullo vos encomendó que, logo como em boa ora chcgar-
des, apresenteis de minha parte ao Santo Padre, e Ihe supricay e pedi
que todas as couzas declaradas e conlheudas na dita peticíio me conceda
e oulorgue Sua Sanlidade por de todas auer neccssidade naquelle con-
uenlo ; (e) Ihe day conta de como eslá reformado, e como nosso Senhor he
nelle seruido, e das obras que nelle mando fazer pera parecer caza do
Religiao, c nao estarem os freires como nos lempos passados, posloque
el Rey meu senhor e padre que Santa gloria aja em muilas couzas o re-
formase c o métese em loda a boa ordem, e no dito conuenlo fizóse mui-
las e boas obras, em que muilas somas de dinheiro gaslou, com loda a
oulra informacao que Ihe fareis do dito Conuenlo, que mui bem leudes
sabido e visto ; e porque frey Antonio de Lisboa, que agora he Gouer-
nador do dito convento, eslá com grande escrúpulo de sua consciencia
por respeito de sua baslardia, como vay declarado na dita supricacao,
vos encomendó que das primeiras couzas em que entendacs scja esta su-
RELACOES COM A CURIA ROMANA 367
pricacao do conucnlo, e que com os primeiros recados me enuieis a Bulla
e prouizao disto, e tende grande e especial cuidado de assi o fazerdes, e
niuilo vol o agradecerey.
Ítem : diréis a Sua Santidade que ja em vida del Rey Dom Joao
mcu tio, e despois em vida del Rey mcu senhor e Padre, que santa glo-
ria aja, hum Rey de Guiñe que se chamaua Rey de Gongo, Rey muilo
poderoso de senhorio de Ierra e de muita gente chamada do mato, com
a mais parle de seus senhorios se conuerlerao á nossa Sania fee calholi-
ca, e receberao a agua do sánelo baplismo ; e prouue a nosso Senhor,
pelo muilo que trabalhou nisso el Rey meu senhor e padre, enuiando mul-
los sacerdotes letrados seculares e religiosos e pessoas virtuosas pera os
cnsinarem e doutrinarem acerca das couzas da fee, que he feita muy
grande conuersam e cada dia mais se fas, e espero em nosso senhor que
se faca muy grande fructo, e tanto como eu por seu seruico dezejo, a
quem sempre fauoreco e ajudo e espero de fauorecer e ajudar ; e que
porem, por a gente de aquella parte de Guiñe ser muy inclinada a Ido-
latrías e ler mullas molheres, e se cazao com párenlas muy chegadas,
afora irmas em que guardao o que deuem, ainda que com a graca de
nosso senhor vao deixando a Idolatría, e se Irabalha pelos sacerdotes e
pregado res que invio pelos por em que nao lenhao mais que huma mo-
Iher, no que ha feito grande emmenda, porem sam duros de deixar de
cazar dentro nos graos de parentesco defezos pela Igreja ; e por serem
nouos na conuercam, e apertando muilo com elles se deue muilo recear
que sendo muilo aperlados nao somente se perca o fructo que he feilo,
mas que de lodo se afaslem, supricareis e pediréis de minha parle ao
Sanio Padre que, auendo respeilo a estas gentes serem nouas na fee, e
com rezíio deuerem ser fauorecidos da Santa See Apostólica com fauo-
res e gracas com que sejao animados, e porque, sendo aperlados a sol-
larem as molheres que Ihe locao e giaao a que a Igreja pode fsicj, pela
ventura se auenturaria a se perder o grande e bom comeco que está feito,
Sua Santidade dispense com o dito Rey Dom Alfonso, e com todas as gen-
tes de seus Regnos, que, assi elle como os que forem casados com mo-
lheres dentro no terceiro grao, assi de consanguinidade como de aíTini-
dade, possam ficar com as ditas suas mulheres que assi agora lem, a sa-
ber, huma so, e ainda o querer Sua Santidade conceder pera sempre no dito
grao de parentesco somente, no que Sua Santidade fará muilo seruico a nosso
368 CÜRPO DIPLOMÁTICO POUTÜGÜEZ
Senhor, o será coiiza de muy grande acrecenlamento de sua Santa feo,
e a my fará nisso singular merce. E que pera Sua Sanlidade esta graca
conceder he muila rezao por muilo o fauorecer o capitulo gaudemus ^ e
o capitulo des" que heccesiao luao dedi voreis % que fala dos cazamenlos
(los pagaos e infieis conuerlidos á fee.
Diréis a Sua Sanlidade que por esto ser pera tao \niuersal proueito
do acrecenlamento da fee o deue conceder gratis, e que peco a Sua San-
tidade assi o queira fazer. E insistiréis nisso quanto poderdes, e quándo
assi se nao puder acabar, ao menos seja por mui pequeña cota, pois esto
eu assi eide mandar por seruico de nosso senhor, e do que Sua Sanli-
dade vos responder me auizareis. E fazendo Sua Sanlidade gratis, como
deue e eu espero por ser em couza de tao grande seruico de nosso se-
nhor e acrecenlamento de sua sánela fee, expediréis logo a Bulla assi
suficiente e abastante como conuem, e me enuiareis com os primeiros re-
cados que me inuiardes ; e auerey muilo prazer de trabalhardes quanto
posiuel vos for por Sua Sanlidade o conceder.
Itera : \ós Icuaes huma supricacao de Sedaño meu cantor, e por-
que sao delle encarregado por me ter bem seruido e seruir, auerey muilo
prazer de acerca da dita supricacam Ihe aproueitardes em quanto puder-
des ; e muilo vol o incomendo.
Acerca do que loca ao negocio dos moesteiros, de que está prouido
Dom Manuel de Souza, a que se oífereceram os impedimentos que sa-
béis, tenho escrito e supricado ao Sánelo Padre pedindo Ihe muilo por
merce que mande que aquellas prouizoes que assenlarao os Cardeaes que
sabéis nao ajao eífeclo, e que Dom iManoel esté em sua posse pacifico assi
como a tem, cora outras algumas couzas que me pareceo que sobre isso
Ihe deuia escreuer, do que compridamente vos escreuerá o dito Dom Ma-
noel. Muilo vos encomendó que Irabalheis com o Sánelo Padre salisfaca
a minha supricacao, pois ha tanta rezao pera o fazer ; e este negocio muilo
em especial vol o encomendó pelo muilo que nisso vay a meu seruico e
conlenlamenlo que diso receberey, e tambera pelo que loca ao descanco
de Dom Manoel.
^ Vide: Decretal. Greg. Liv. iv, Tit. xvii, Cap. xv e Til. xix, Cap. viii.
* Leitura absurda. Refere-se talvez ao capitulo: Deus, qu¡ ccclesiam snam, das
Decretal. Greg. Liv. iii, Tit. i, e Liv. iv, Tit. xix.
RELACÓES COM A CUHIA ROMANA 369
Diréis ao Sánelo Padre que o Meslre de Sam Tiago (e) d Auis, mcu
muilo amado e prezado primo, me cerleficou que alguns comendadores
das dilas ordens nao oulhao nem guardíío o que se deue olhar e guardar
assi pelo que toca a suas conciencias, como pelo que deuem a suas or-
dens, lem inuiado supricar a Sua Sanlidade, e oulros eslao em prepósito
do fazer, que, renunciando as comendas que agora lem, Sua Sanlidade
proueja dellas a seus filhos, que pera isso nomeao, o que he em grande
prejuizo nao somenle do Meslre, mas do que toca aos dilos Meslrados
por muilas rezóes, e de que se seguirá muilo escándalo e deseruico de
nosso senhor, e grande perjuizo ao bem das ditas ordens, me pediu que
inuiasse supricar a Sua Sanlidade que, sendo Ihe agora ao dianle feilas
semelhantes supricacoes, Sua Sanlidade as nao conceda, nem acerca del-
las proueja em maneira alguma ; e que por eu ver e saber que islo se-
ria grande prejuizo ao dilo Meslre meu primo, e se seguiao grandes scan-
dalos e daño ao bem das couzas dos dilos Meslrados, suprico e peco muilo
por merce a Sua Sanlidade que semelhantes supricacoes nao queira ou-
uir, nem acerca dellas fazer obra alguma, e passada a reuogue (e) aja
por nenhuma, no que fará muilo seruico a nosso Senhor, e a mi e ao
Meslre meu primo rauila merce. E porque pela Yenlura ao diante Sua
Sanlidade podia passar alguma, por nao ter lembranca dcsla minha su-
pricacam e concepcao, que espero que della me faca seu breue ou Bulla
que pasando alguma prouizao a algum comendador das dilas ordens da
maneira sobredita, porque seria por nao ser em lembranca desta minha
supricacam e concepcao, a reuogue e aja por nenhuma. E vos encomendó
muilo que trabalheis quanlo vos for posiuel por Sua Sanlidade em lodo
assi o conceder, e assi vos agradecerey o que nisso trabalhardes, como
se o negocio fose meu proprio.
O que vos Dom Martinho meu muilo amado sobrinho, que ora inuio
por meu embaxador ao Santo Padre, de minha parte diréis a Sua San-
lidade sobre a noua criacao do Arcebispado do Funchal, e dos Rispados
das llhas Terceiras, e da Ilha de Sam Tiago de Cabo Verde, e da cidade
de Sao Jorge da Mina ñas parles de Guiñé, e da cidade de Goa na India,
he o seguinle :
Diréis a Sua Sanlidade que desde o lempo do Infante Dom Ilenri-
TOMO II. 47
370 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGIIEZ
que, que comccou a fazer o descobrimenlo do mar occeano, c que cm
scu lempo fes uisso grande fructo, e tanto que foi comeco do que ludo
o que agora he feilo, que he ao mundo tanto notorio, logo pelos Sánelos
Padres foi concedido a jurdicao spiritual e temporal de todo o descuberlo
e por descubrir ao Vigario de Tomar, por elle ser Mestre da ordem do
Mostrado de nosso Senhor Jesu Chrislo, e por sua deuacao assi o supri-
car, o que deixou alee que el Rey meu Senhor e Padre que Sania glo-
ria aja, Tendo o grande descubrí mcnlo que era feito, supricou ao Santo
Padre Leáo da groriosa memoria que criase de nouo Rispo da Cidade do
Funchal na Illia da iMadcira, por ser huma cidade muy nobre e pouoada
de muilos fidalgos e caualeiros, de mullos mercadores pela grandeza de
seus tratos; e que assi se fez e foi Rispo do dito Rispado o Doulor Diogo
Pinheiro, homem fidalgo e de grandes letras e de todas boas qualidades,
que ao tal lempo era Vigairo de Tomar, Picando pera sempre anexada
ao dito Bispo a jurdicao spiritual da dita Vigairaria, como leudes bem
sabido e porque escuzo de uos fazer mais larga informacao, a qual cum-
pridamenle daréis a Sua Santidade, o qual Bispado vagou por falecimenlo
do dito Bispo, como ainda alé agora está vago.
Diréis a Sua Santidade que, pelo muito grande acrecenlamenlo que
he feilo ñas Ilhas Terceiras, que sao tantas e (a) tantas legoas de meus re-
gnos, e pouoadas de muilos fidalgos e caualeiros e escudeiros, de muito
grandes fazendas e mercadores de grande riqueza, e lanío pelo muy grande
que tem as ditas Ilhas, ñas quaes ha pasante de moradores,
que poderá auer tantas mil almas, e assi d alli por diante nos descobri-
menlos que sao fcitos por todo o mar Occeano em Guiñé e em a India,
e me parecer que seria muy grande seruico de nosso Senhor e melhor
remedio das almas dos fiéis Chrislaos, e mayor azo da conuercao dos In-
fléis de aquellas parles assi de Guiñé como da India, em que tanto he
aproucilado como Sua Santidade sabe e he notorio, criar se hum nouo
Arcebispado, e laníos Rispados como parece necessarLos, que a elle fica-
sem sofraganhos, pera curar das almas e pera melhor e mais liuremenlc
se poder prouer no spiritual e temporal, porque estando assi como eslá
nao he posiuel se poder lao (bem) fazer como o seruico de Deus deue ser
feilo, o que Sua Santidade bem poderá ver por de meus Reinos á India
auer passanle de tantas mil legoas, que pelo caminho e nauegacao que
se faz se dobra ainda, segundo os lempos que mullas vczes achao no
RELACOES COM a curia romana 371
mar, muilas mais com grandes riscos e venluras pelas lormenlas gran-
dissimas e lempos fortuilos que achao e com que nauegao, e em que mui-
las vezes se perderam e perdem muilas naos e nauios, e com perda de
outras muilas genles e muilas couzas.
E que com este fundamento, vendo que he cousa lao necessaria e
que de necessidade se deue prouer, suprico c peco muilo a Sua Santidade
que no dito Rispado do Funchal queira criar nouo Arcebispado, e fique
metropolitano dos ditos nouos Rispados que adiante declararei (?), os quaes
ficam sofraganhos ao dito Arcebispado do Funchal, e que Ihe fique por
Diocese toda a llha da Madeira, e a liha do Porto Sánelo, e as desertas
e seluagens, que sao adjasenles á dita llha da Madeira, e pela térra fir-
me de Guiñé do fim do Rispado de Cafim ate que serao pela
Ierra ja descuberla legoas, com todas as rendas que agora ñas
ditas libas e Ierras tem o dito Rispado do Funchal, e com o dote que
Ihe foi apricado por el Rey meu Senhor e padre que Santa Gloria aja,
que valerá por anno pasante de mil reis, e d outras couzas que
Ihe uem dos direitos episcopaes e penas, que nao sao certas como as ren-
das do dote, porque ora valem a mais e (ora) a menos por
anno, em maneira que por ludo será aualiada a renda pouco mais ou
menos reis por anno ; e que a See da Cidade do Funchal fique
com aquelles ministros e beneficiados (e) com todas as outras couzas
que tinha sendo episcopal.
E que na ílha de Sao Miguel, que he huma das libas terceiras e
a mais grande e de mayor pouoacao, se faca See Calhedral da Igreja
Parrochial que agora ha, que he da vocacao de e se crie nella
Rispo e dignidade episcopal e dignidades Conegos e capelaes (?), e isto
lodos beneficiados que agora ahi ha, que sao e que dos mais
antigos se facao as primeiras dignidades ao modo que se fes na See do
Funchal ; e Ihe seja dado por Diocese a dita liba de Sao Miguel, e as ou-
tras libas a ella adjacentes, a saber, a Terceira, e a de Sao Jorge, e a
Graciosa, e a do Pico, e a do Fayal, e das Flores, e do Coruo, as quaes
libas todas sao pouoadas, (e) em a mayor parte dellas ha igrejas paroquial
e moesteiros da ordem de Sao Francisco, que creo que sao qualro ou
cinco, de que vos mais sertificadamente vos informay pera o leuardes
bem sabido ; e valerao os proueitos e interesses de direilo episcopal e pe-
nas por anno, porque todas as outras rendas sao do Mestrado
47*
372 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGIIEZ
de Chrislo ; e pera ser njudado o Bispodesle Bispado, e melhor poder
acudir ás couzas de suas obrigacoes, a mini praz de Ihe dolar renda apar-
tada e certa da que lenho cu das ditas Ilhas de valia de duzenlos cru-
zados por auno ale Ihe dar e anexar em beneficios que valhao a dita renda,
(e) quando Ihos der niío auer mais a dita cola que Ihe agora assino.
E que na Ilha de Sao Tiago no cabo verde na Igrcja da dita Ilha
da uocacíio de na pouoacao della na parle da ribeira grande
se fizese calhedral e dignidade episcopal pela mesma maneira das Ilhas
Terceiras, á qual seja dado por Diocese da dita Ilha e as oulras Ilhas a
ella adjacenles, a saber, a Ilha de Sanio Anlao, e a de Sao Vicente, a de
Santa Luzia, e a de Sao Nicolao, e a de Maio, e a do Fogo, e a da Boa
Vista, e a do Sal, e a Braua, de que a mayor parte deltas sao pouoa-
das ate de Igrejas, e da Ierra firme de Guiñé do rio em que
acaba a Diocese do Funchal, até o rio de que serao Irezentas e
\inte legoas, e \alerao os direilos do Bispo de pouos e chancelarias ses-
senta e tres cruzados, porque toda a oulra mais renda he da ordem do
Mostrado de Chrislo ; (e) porque o Bispo tem pouca renda e conuem de ser
ajudado pera melhor se poder sustentar, suprico e peco a Sua Sanlidade
que anexe em perpetuo á dita dignidade e meza episcopal o mosleiro de
Sao Pedro das Aguias, que he da Ordem de Cistel da Diocese do Bispado
de Lamego, o qual agora tem o Doulor Braz Netto em encomenda, que o
cederá e renunciará pera em fauor da dita anexacao e esta em a taixa,
ficando gouernando o conuento do dito mosleiro em lodos os oulros car-
regos delle ; e se pela ventura o Santo Padre tiuer pejo na anexacao do
dito moesleiro a este Bispado, que nao deue ter por ser pera cousa de
tanto seruico de nosso Scnhor, me praz Ihe dar outro dote de oulros du-
zenlos cruzados de renda cada anno no modo que airas o faco no Bis-
pado das Ilhas Terceiras.
E que na Ilha de Sao Thomé, na Igreja Parrochial da dila Ilha,
que he muy solemne da enuocacao de se faca See Calhedral,
e se crie ñoñamente dignidade episcopal, como se áde fazer ñas oulras
ditas, e Ihe seja dado por Diocese da Ierra firme onde está edificada a
cidade de Sao Jorge da Mina do tal em que se acaba o Bispado da Ilha
de Sao Tiago até o cabo de Boa Esperanca, em que entra q Reino de
Manicongo, onde el Rey he ja christao com muy grande parte do Reino,
e os filhos do dito Rey e muilos seus párenles foríio criados e doulrina-
RELACOES COM A CURIA ROMANA 373
dos no ensino da fee, e hum dos ditos seus filhos he Rispo de e
auerá nesla Diocese nouecenlas e cincoenla legoas e mais, e a ilha de
Sanio Anlao, que ja he pouoada de chrislaos, e ha nella Igreja e sao
nellas conuerlidas á nossa Sania fee e recebido agua do baulismo muila
gente dos ethiopios, de que sao nascidos muilos filhos que sao chrislaos,
a Ilha de Fernao do Po, e de Sania Elena, e do Anno bom, valeráo os
direitos episcopaes de Igrejas e penas cento e sessenla cruzados, posto
que lodas as mais rendas sao da caualeria de Ghrislos ; e porque nesla
Diocese entra o dito Reino de Manicongo e as Ilhas de Sao Thomé e
Santo Antao e as outras ácima ditas, a dita Ilha de Sao Thomé vay em
grande crecimenlo de pouoacao, pelos grandes tratos da dita Ilha e ássi
das outras Ilhas a ella adjacenles, e ha mester que o Rispo della lenha
conuenienle manlenca pera as vezilar e proner, suprico e peco a Sua San-
lidade que anexe perpetuamente á dila dignidade episcopal o mosleiro de
Sao Joao de Tarouca da ordem de Sao Rernardo, da Diocese do Ris-
pado de Lamego, o qual o lem em encomenda Diogo Orliz, Deam da mi-
nha Capella, que o cederá e renunciará pera em fauor da dila anexacao
o qual tal laxa, ficando gouernando o conuento do dito mosleiro e lodos
os outros encarregos delle. E lendo o Sanio Padre nisso pejo, que nao
deue ler pois he cousa de tanto seruico de nosso Senhor pelo muilo fru-
clo que se espera da conuercao dos infieis e gentes que ha nesla Dio-
cese, me praz Ihe dar dote do na dila Ilha de Sao Thomé no modo que
atraz o faco no Rispado das Ilhas Terceiras, e com aquella condicao, e
querendo o Santo Padre fazer anexacao do dilo mosleiro ao dito Rispo, e
alem disso ei por bem de Ihe dar os ditos cruzados dados
pera o dito mosleiro e dote, e auer no dote será ale Ihe dar Reneficios
que valha como dito he.
E porque na Ilha da Cidade de Goa, que he na India, a qual foi
ganhada e lomada por forca de armas no lempo d el Rey meu Senhor e
padre por seu Capitao mor e gente que na India Irazia aos mouros ymi-
gos de nossa fee, que della erao senhores, á grande pouoacao de chris-
laos porluguezes cazados com suas molheres christas, que he Ierra pro-
pria minha, e auer a Igreja parrochial de grande edeficio, que el Rey meu
Senhor e Padre nella mandou fazer da vocacao de Santa Calherina, em
cujo dia se enlrou e ganhou, e hum sumptuoso mosleiro da ordem de
Sao Francisco da obseruancia, em que rezide conuenlo pasante de vinle
37i. COUPO DIPLOMÁTICO POUTUGUEZ
frades que de ca do Reino forao enuiados por seu minislro, e assi naquel-
las partes da India oulras Cidadcs sojeilas a mim e a minha obediencia,
assi como Ormuz, que he cabeca de todo o Reino de Ormuz, que he
grande Reino, e de oulras muitas cidades e villas que eslao em minha
obediencia e seruico, e me he tributario em cem mil cruzados cada anno,
sendo o senhorio de mouros ymigos de nossa fee, e na dita Cidade de
Ormuz fortaleza minha com muila gente de chrislaos porluguezes e ou-
tros muitos christaos da mesma térra, que nouamenle se conuerterao e
recébenlo agua do sanio bautismo ; e assi a cidade de Malaca, assi mes-
mo tomada e ganhada aos mouros por forca de armas, em que he a for-
taleza minha com meu Capitao, e a muita gente de chrislaos portugueses,
e oulros muitos que síío nouamenle conuertidos neslas parles, oulras mul-
las cidades e Ierras que sao já fora dos limites da India, de que multas
deltas me sao sojeitas e obedientes, Suprico e peco a Sua Sanlidade que
na dita Igreja Parrochial da minha cidade de Goa se faca See e digni-
dade episcopal, en a maneira ñas oulras airas, que se chame Rispo da
cidade de Goa, e se Ihe dé por Diocese a cidade de Goa e todas as Ilhas
a ella adjacenles desde o Cabo da Roa Speranca, donde se acaba a Dió-
cesi do Rispado da Ilha de Sao Thomé, com todo o que ha do dito cabo
ale á India e d ally da India alé á China, com todas as Ilhas e Ierras
que agora sao descubertas e ao diante se descubrirem na minha conquis-
ta ; e valerao os direitos das penas e Chancellarlas pertencentes ao Ris-
pado cenlo e oilenta cruzados, porque todas as oulras rendas sao da ca-
ualaria (de) Chrislos, e pera ser ajudado o Rispo deste Rispado e melhor
poder acudir ás couzas de sua obrigacao a mim pras de Ihc dar dote de
renda apartada e certa da que lenho na dita cidade de valia de duzenlos
cruzados por anno, alé Ihe dar e anexar beneficios que valhao a dita
renda, e quando Ih as der nao auerá mais o dito dote que Ihe agora as-
sino.
Diréis a Sua Sanlidade que Ihe suprico e peco por merce que con-
ceda e otorgue que o Arcebispo do Funchal fique e seja Metropolitano de
todos estes Rispados airas nomeados, e sejao seus sofraganhos como o
sao os oulros Rispos do Reino a seus metropolitanos.
Diréis a Sua Sanlidade que, por quanlo lodos estes Rispados sao li-
rados do Rispado do Funchal, que he do meu padroado, e me mouo no-
uamenle screm criados por seruico de nosso Senhor e mais proucito das
RELACOES COM A CURIA ROMANA 375
almas dos fiéis christaos, e da conuersao das genios d aquellas parles,
que espero que se faca muy grande, e pera muy grandissimo acrecenla-
menlo de nossa fee, suprico e peco a Sua Sanlidade que assi fique o dito
Arcebispado e Rispados de meu padroado e apresenlacao, e assi em aquella
propria forma modo e maneira que o era o Rispado do Funchal, porque
nelles ha a mesma rezao que auia quando se concedeo o dito Rispado do
Funchal, porque os Reis meus antecessores e el Rey meu Senhor e padre
com que adquerirao as Ilhas e Ierras e edificarao as Igrejas e as pouoa-
rao, e que osReneficiados dellas fiquem de aprezenlacao doMeslre de Chris-
to, e assi e pela maneira que agora sao e sempre forao : e com esla le-
uaes o treslado da Rulla da creacao da Igreja do Funchal, e da reser-
iiacao do Padroado em pubrico por notario apostólico, e segundo o teor
delta expediréis todas as oulras do Arcebispado e Rispados.
ítem : diréis a Sua Sanlidade que, olhando eu as pessoas que deuiao
ser prouidas (no Arce) bispado e Rispados, e considerando as qualidades
que deuiao ter de letras, virtudes e bom exemplo de uida, e lambem de
seus merecimentos e seruicos, escolhi a vos pera vos aprezenlar como
aprésenlo a Sua Sanlidade pera a minha apresenlacao e como por forca (?)
de meu padroado pelas rezoes sobreditas vos prouer do dilo Arcebispado ;
e que ouue por escusado a Ihe dizer mais os merecimentos de vossa pes-
soa, e do sangue que vindes e parentesco que comigo tendes, e da grande
confianca que deuo ter de vos pera nosso Senhor nesla Perlasia seruir-
des, do que Sua Sanlidade tem de vos sabido pela experiencia de vosso
seruico ; e que Ihe peco por merce que me aja por isto por releuado de
larga informacao que disso Ihe podera dar, no que me fará muy grande
merce de uos prouer do dilo Arcebispado, e mandar passar as Rullas e
Prouisóes necessarias conformes a minha supricacam.
E que pera o Rispado das Ilhas Terceiras aprezento a Sua Sanlidade
Manoel de Ñoronha, fidalgo de minha casa, lelrado e pessoa de muila
virtude e bom exempro de vida, e de cujo seruico sou muito conlenle, e
em que por estes respeitos cabe toda a honra merce e acrecentamento ; e
que alem destas couzas muito folguei de o fazer por saber que Sua San-
lidade tinha de sua pessoa muito conlenlamento, (e) acerca de suas couzas
me escreuer e muito mo encomendar, e que por estes respeitos suprico
e peco muito por merce a Sua Sanlidade que o queira prouer do dilo
Rispado no modo airas decrarado.
376 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
E pera o Rispado de Sao Tiago aprésenlo a Sua Sanlidade o Dou-
tor Braz Nello, do meu conselho e meu desembargador do Paco, e agora
meu embaxador em sua corle, no qual ha todas as qualidades que deue
ter quem ha de ser prouido de Prelacia, e que Sua Sanlidade o lempo
que esleue em sua corle lomaría alguraa experiencia assi de suas lelras
como de sua pessoa e bondade; (e) que me moueo a folgar de Ihe fazer esla
merce, aiem das boas qualidades que elle lem, ter elle muy bem seruido
a el Rey meu Senhor e Padre que Deus lem, e me lem dado assi loda
a boa conla, que por isso suprico e peco muilo por merce a Sua Sanli-
dade que o queira prouer do dilo Rispado no modo sobredilo.
E pera o Rispado da Ilha de Sao Thomé aprésenlo a Sua Sanlidade
Diogo Orliz, fidalgo de minha casa e Adayaó de minha capella, de que
sao muy encarregado por ser pessoa de muila \irlude e bondade, e ler
muy boas lelras na sagrada Theologia, e lodas as oulras qualidades que
pera Prelado se requerem, e despois dislo ler me muilo e muy continua-
damenle seruido, pelo que lem merecimento pera folgar de Ihe fazer merce
e acrecenlamenlo. E Ihe fareis inleira informacao da virlude, bondade e
bom exempro de \ida do Adayao, e de suas lelras, e que peco por merce
a Sua Sanlidade que o queira prouer do dito Rispado no modo que Ihe
suprico e peco.
E pera o Rispado da cidade de Goa aprésenlo a Sua Sanlidade Fran-
cisco de Mello, fidalgo de minha caza, que descende de fidalguia muy
anliga nesles Reinos, e que aos Reys meus antecessores sempre seruirao
muy honradamente, assi na guerra dos mouros de África, como em ou-
tros muilos seruicos por que merecerao os de que elle decende mais hon-
ras e acrecentamenlos que Ihe foraó feitos, e muy principalmente pela
honestidade de sua vida e bom exempro della, e per as boas letras que
tem na sagrada Theologia. E inteiramenle fareis a Sua Sanlidade de ludo
informacao, que, por saberdes muy bem todas as qualidades que Fran-
cisco de Mello tem, e o merecimenlo de sua pessoa, escuzo de mais lar-
gamente voló dizer : e que peco muilo a Sua Sanlidade que o queira pro-
uer do dilo Rispado no modo sobredilo.
ítem : os sobrcditos me enuiarao suas prouisoes pera expedicao de
suas Bullas e lelras, e as leuareis delles pera á sua cusía se expedirem,
e isto somenle das Rullas e Prouisoes que se ouuercm de expedir dos di-
tos, porque o que se ouuer de pagar da noua criacao dos Rispados, que
RELACOES COM a curia romana 377
suprico a Sua Sanlidade que faca, se áde pagar alguma couza \ o que
TOS trabalhareis por ser o menos que ser possa.
Acerca dos dotes que nesla instrucao asino pera os Rispados o que
suprico e peco ao Santo Padre que anexe aos mosteiros em cada Rispado
nonieados, em que vos digo que quando Sua Sanlidade tiuesse pejo na ane-
xacao dos ditos mosteiros, que entao darey os dotes que em cada um as-
sino, como no capitulo de cada hum \ay decrarado, e vos faco lembranca
que nos ditos dotes nao fajareis, nem se saberá que leuaes comissam pera
ellas, saluo depois de muito insistirdes que Sua Sanlidade anexe os ditos
mosteiros aos ditos Rispados pera sem dote os criar; e despois de terdes
nisso trabalhado e feilo quanlo possiuel vos for, e nao podendo acabar as
anexacoes dos ditos mosteiros nem terdes disso esperanca, em tal cazo en-
tao decrarareis os ditos dotes per*a com elles Sua Sanlidade conceder a
minha supricacam acerca da noua criacao daquelles Rispados, a que su-
prico sejaó anexados os ditos mosteiros.
E se pela ventura o Sanio Padre vos mostrase algum impedimento
na concecaó dos ditos Rispados, e nao concedesse nelles minhas suprica-
coes, que nao espero, neste caso e¡ por meu seruico e vos mando que vos
nao vos prouejaes por modo algum do Arcebispado do Funchal, que pera
vos suprico ; e me fareis saber ludo o que acerca da noua criacao dos
ditos Rispados pasar, pera acerca disso vos responder o que ouuer por
meu seruico que facaes : e isto compri e guarday inteiramenle assi como
por este capitulo vol o mando, porque assi o ei por muito meu seruico.
Dom Martinho sobrinho amigo.
Alguns apontamenlos que me fizesles de couzas pera que me pedi-
réis que vos désse minha determinacao pera melhor me poderdes seruir,
e assi bem como em ludo o desejaueis fazer, vos respondo aquellas de
que me pareceo meu seruico serdes anisado, e sao as seguintes :
Ao que queréis saber de que parcialidade seréis amigo, vos respondo
que, quando se oferecer couza em que aja diferenca de alguns Principes,
mo fareis saber, e quaes sao as couzas, pera eu vos auizar do que fa-
caes, e entretanto nao vos mostréis por hum nem por outro ; porem no
^ Cremos ser erro do copista, e dever lér-se : á minha custa.
TOMO II. 48
378 GORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
que toca ao Emperador, raeu muito amado e prezado yrmao, sempre te-
reis especial respeilo pera moslrardes que entre nos ha aquelle amor e
amizade, que requerem as muitas rezoes que pera isso ha, e com seus
Embaxadores sempre seréis muito correnle com niostra de muito amor e
grande amizade ; e segundo que Yirdes os negocios entre os Principes em
que se mouer alguma diferenca, assi m o fareis saber muito depressa ou
de vagar, como virdes que a necessidade o requer, e esta mesma maneira
tereis com os Embaxadores do Rey dos Romaos meu muito prezado e
amado irmSo.
E o que queréis saber que fareis ñas couzas que succederem entre
os Principes, se uos meteréis nellas ou se uos quizerem meter o que fa-
reis, nao vos meteréis nellas, e querendo uos elles meter vos escusareis
disso per as melhores palauras que v(Ts poderdes, nao mostrando que o
fazeis por meu mandado ; e me fareis saber as couzas mouidas de entre
elles, e qual vos requere pera em seus negocios vos melerdes, e com que
fundamento, tudo muy decraradamente pera em ludo eu uos mandar o
que ouuer por meu seruico que facaes.
Acerca de vos fazerdes familiar do Papa, nao ei por meu seruico
que o facaes em mais que Ihe mostrardes que sabéis que lenho muito
amor e boa vontade pera o seruir e á Santa Sé Apostólica ; e trabalha-
reis por sempre estar de vos muito contente e de Ihe serdes muito con-
tente : e nisto se uos nao pode dar regra serta : Vos o fareis de maneira
que eu me aja de vos por bem seruido : nao aceitareis de Sua Santidade
nenhum officio, ainda que elle voló queria dar, sem primeiro mo fazer-
des saber e auerdes meu recado do que ei por meu seruico que nisso
facaes.
Acerca da eleicao do Papa, se se oíferece fazer, nao se vos pode dar
regra do que nisto facaes. O que acerca disso mais vos posso dizer he
que, auendo necessidade de eleicao do Papa, m o facaes saber em grande
diligencia pera eu vos auizar acerca disso do que me parecer meu ser-
uico, e entre tanto no que vos couber trabalhareis porque se eleja aquelle
de que virdes que nosso senhor pode ser melhor seruido, e que a sua
Santa Igreja posa e saiba melhor governar.
Acerca do Concilio me fareis saber o porque se moue e porque cau-
za, e os pareceres que o querera, e sobre que cauzas nelle se ha de en-
tender, e muito cumpridamente o que disso souberdes ; e o recado disso
RELACOES COM a curia romana 379
me inuiareis naquella diligencia que virdes que a necessidade o requere.
A mi muito me prazeria que ouuesse Concilio, sa nelle se ouuesse de
tratar das couzas que tocao ás eresias, era que tanto se deue de olhar e
prouer e com tanta deligencia como requere a necessidade que ha, e assi
em oulras muilas que deue ser muito prouido, e ao Santo Padre quando
me escreueo sobre o Concilio muito Ihe louuey seu mouimento e zello
pera isso, e Ihe pedi muito por merce que o quizesse fazer, por me pare-
cer que seria muito seruico de nosso Senhor e bem da Santa Igreja Apos-
tólica e muito louuor de Sua Sanlidade, e aínda assi m o parece, com
tanto que se prouesse nelle as couzas de que ha tanta necessidade de se-
rem prouidas.
E que queréis saber da rezao que daréis acerca da guerra do Tur-
co, do que podereis muy bem dizer que o Papa deue nella prouer quanto
nelle for he de crer aos Principes christaos que acerca della podem apro-
ueitar, e de mim dizer a guerra que continuadamente tenho em África,
e com o mesmo Turco na India, o exercito que nella continuadamente
trago, e pelas nouas que Sua Santidade me enuiou da grossa armada que
faz contra a India verá o que me cumpre prouer ; e que nesla armada
que agora parliu mandei dous mil homens sobreselentes pera o exercito
que la tenho, e que nao se podérao mais alojar por estarem as naos ja
carregadas e de todo prestes com o ordinario de cada anno, e que, (se)
as nouas mais dobrarem da armada do Turco, pera a moncao de setem-
bro prouerey do mais que me parecer que cumpre, e assi como a ne-
cessidade o mostrar ; e que na India tenho pasante de des mil homens a
que pago soldó, em que entrao muitos fidalgos e caualleiros meus cria-
dos com que se fas muy grande despeza continua, afora os galardoes de
seus seruicos, em que mui grande despeza se fas de minha fazenda.
As festas das parcialidades fareis como e em a maneira que vos
nielhor parecer, nao as fazendo por yicloria que se aja contra christaos.
Ñas armas que lereis em vossas cazas, me parece que nao deueis ter
outras senaó as rainhas, quando se oferecer couza por que as deuaes poer
e ter; e assi ey por meu seruico que o facaes, e nao em outra maneira.
Acerca do que queréis saber indo o Emperador a Roma, ei por meu
seruico que vades pera elle o mais longe que poderdes, e se fordes o pri-
meiro que a elle chegardes, assi o auerey por mais meu seruico.
Acerca de anexar á coroa estes mestrados e aprezentacao do Prio-
48*
380 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
rado do Crato, sentiréis disso como de vosso, o que se poderá fazer sem
parecer que leuaes pera isso comissam nem mandado meu ; e do que nisso
achardes e do cusió com que se fará me auisareis cumpridamenle, e nao
melaes islo em negocio.
Acerca do procedimenlo dos embaxadores, guardar uos eis do que
toca a Ingralerra, pera nao vos achardes nem verdes em couza de que
se pode seguir meu deseruico, e lende disso aquelle bom cuidado que de
vos confio, porque nunca vos possa nisso acontecer couza de inconue-
niente nem de meu desseruico ; e muilo vos encommendo que tenhaes
nisso grande resguardo e caulella, por tal que se uos nao possa oíTerecer
couza de que se possa seguir inconuenienles a meu seruico.
ítem : a maneira que queréis saber que tereis em me enuiar vossas
cartas, sempre pelos correos ordinarios de cada mes me escreuey o que
entao ouuer pera me escreuerdes, e quando ouuer necessidade fazerdes
correo proprio, porque cumpre assi a meu seruico, o fareis, e aderessa-
reis vossos macos das cartas pera mi a quem vos parecer que m as po-
derá dar com aquella diligencia que cumprir a meu seruico.
Acerca da maneira que tereis no fazer os negocios das pessoas do
Reino por que vos escreuer, e assi d aquelles porque vos naquelles por-
que vos escreuer, fareis o que virdes por minhas cartas, e nos oulros
porque vos nao escreuer o que virdes qut nao he contra meu seruico ;
tende maneira de saber de todos os auizos que a Roma se fizerem de
vagantes de meus regnos, e daquellas em que ouuerdes meus auizos fa-
reis o que vos mandar, e das outras que souberdes por outras vias, a sa-
ber, que forem de mosteiros e d outros Beneficios grandes e da assisten-
cia e consciencias e dignidades, Arcebispado de Lisboa, Bispado de Euora
e de Goimbra, supricareis ao Papa de minha parte que nao proueja, e
espere por minhas supricacoes pera Sua Santidade prouer a quem for
mais seruico de nosso Senhor, de quem deue confiar que eu Ihe farey
supricacam verdadeira, e pera com muilo seu louuor o poder fazer; e tra-
balhareis que se nao faca nenhumaexpedicao das sobreditas couzas, saluo
sendo primeiro o Santo Padre informado por mim das pessoas que lem
merecimenlo, e da necessidade que ha nos Beneficios pera serem melhor
prouidos e gouernados : e insistiréis nisso quanlo virdes que cumpre.
ítem : acerca dos portugueses que residem em Roma, e me fazem
couzas mal feitas acerca dos beneficios de meus Reinos, logo como em
RELACOES COM a CURíA romana 381
boa ora chegardes vos cerlificai de lodos os que la ha, que facao couzas
indignas e mal feitas, e que nao deuo consentir que la eslém, e me en-
uiay delles hum rol era que me decrareis os beneficios que cada hum
(tem) e em que Rispado, e as culpas e modo que tem de fazer, e m o
enuiay pera vos mandar o que acerca dos quaes facaes e a maneira que
tenhaes com elles.
Acerca de escreuerdes por vossa mao ou máo alhea, por vossa mao
escreuey aquellas couzas que forao assi secretas que nao as deuaes de
confiar de ninguem, e as outras que nao forem desta qualidade auerey
por bem que me escreuaes por mao d outrem ; e ao que cumprir resposla
vos mandarey responder assi como \'ir que cumpre a meu seruico.
E pera a expedicaó e cusios dos negocios nao leuaes agora crédito
pera o dinheiro por nao parecer necessario ; segundo os negocios forem
assi vos mandarey prouer, e vos sempre me auizareis do que será ne-
cessario segundo os negocios forem, pera assi vos ser enuiada a prouisao,
e tambera pera a paga de vosso ordenado cada anno : e do que gaslar-
des na expedicaó dos negocios fareis liuro da vossa despeza, em que de-
crareis o dinheiro que recebesles e de quem e por cuja letra, pera por
elle dardes vossa conta ; e sempre na despeza fareis a mayor prouisao
que poderdes por meu seruico, e assi bera como de vos confio.
A todas as oulras couzas de vossos apontamentos rae pareceo que
nao auia necessidade de agora vos dar regra certa : segundo o que se of-
ferecer me auizareis e uos responderey o que ouuer por meu seruico.
Pela cifra que vos dará o Secretario me escreuereis (as) cousas que
vos parecer que por cifra me deueis escreuer. Sprita....
Dora Martinho sobrinho amigo.
No Rispado de Coimbra, como sabéis, ha dous mosteiros de freirás,
a saber, hum da ordem de Sao Rento da vocacao de nossa Senhora
cituado duas leguas da dita Cidade, que é da visitacao e con-
firmacao do Rispado da dita Cidade, o qual está em despouoado, de que
se segué muy grandes inconuenientes e de muy grande desseruico de
nosso Senhor e de grandes carregos de consciencias. Este tem de renda
cada anno outocentos cruzados, pouco mais ou menos.
E outro he da vocacao de Santa Ana junto da dita cidade, que he da
382 GOUPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
ordem de Santo Agostinho, o qual he da visilacao e confirmacaO do dito
Bispado de Coimbra, (e) tem de renda por anno seiscenlos cruzados, pouco
niais 011 menos. Este mosleiro está situado tao cerca do rio do mondego
que passa por junto da Cidade, e creciíío tantas áreas no dito rio por
cauza das grandes cheas, que quasi todos os annos com as cheas do dito
Rio, ainda que nao sejao grandes, se alaga de todo a Igreja, e todas as
cazas baixas do dito mosteiro estao quasi todo o inuerno alagadas, e ainda
algumas das alias, por cuja cauza o dito mosleiro em todos os edificios
delle está em grande decaimento e pera de todo se arruinar, e as freirás
correm grande risco, c muitas vezes se sahem em baléis, por nao pode-
rem sofrer estar dentro, de cuja cauza se segué muito grande desseruico
de Deus e grandes inconuenientes á onestidade e bom exemplo das freirás.
Por estes respeitos eu dezejo muito por seruico de nosso Senhor, e
por se euitarem muitos inconuenientes e de grandes prejuizos das con-
ciencias, de mandar que estes mosteiros ambos se ajuntem em hum, e
que de nouo se faca em algum lugar conueniente junto da dita Cidade,
e que ambos ficasem da ordem de Santo Agostinho, porque no Reino nao
ha outro da dita ordem, somente de Santa Ana e de Sao Rento assi ou-
tros muitos, por onde nao será inconueniente o dito mosteiro da ordem
de Sao Rento se mudar e ajuntar ao de Santa Ana, que he da ordem de
Santo Agostinho.
Encomendónos c mandónos que facaes de todo o que dito he de
minha parle relacao ao Santo Padre, e Ihe supricay e pedi que Sua San-
lidade conceda este ajuntamento d ambos os ditos mosteiros a hum, que
se faca junto da dita cidade em lugar conueniente, pera ambos ficarem
da ordem de Santo Agostinho, e que receberey de Sua Sanlidade em muy
grande merce ; e afirmai Ihe de minha parte que fará muito seruico a nosso
Senhor em assi o conceder, e que eu nao tenho nisso outro respeito senao
este : em todo o mais da ynformacaO que (a) Sua Sanlidade facaes, por-
que se deue mouer a esta concecao, me remeto a vos pera inteiraraente
Ihe dizerdes, porque leuardel o particularmente em escrito ouue por es-
cuzado ; e todo o que trabalhardes por Sua Sanlidade o conceder vos
agradecerey muito, e assi de com os primeiros recados me escreuerdes
se Sua Sanlidade o quer fazer, e o custo que fará a expedirán, pera vos
responder.
E se o Santo Padre pela ventura tiuer impedimento da noua cria-
RELACOES COM a curia romana 383
cao do Rispado da llha de Sao Thomé, com a anexacao do mosteiro de
Sao Joao de Tarouca, e somente e todavía quizer que Ihe seja dado dote,
neste caso concederéis o dito dote dos ditos duzentos cruzados do modo
que vai na vossa instituicao no capitulo do Rispado, com decraracao da
Rulla delle que o dito Adayao nao haja dauer o dito dote em sua vida
por eu Ihe fazer agora merce do mosteiro de Carquere, de que suprico
a Sua Santidade que o proueja, e por seu falecimento auerá o dito dote
o bispo que do dito Rispado for prouido, e assi os outros que pelos tem-
pos adiante forem prouidos do dito Rispado, em quanto Ihe nao der e ane-
xar Reneficios que valhao a dita contia de duzentos cruzados, e quando
Ihos der nao auerá mais o dito dote que Ihe agora assino, como vay de-
crarado nos outros Rispados : e isto que agora digo que venha decrarado
na Rulla, assi no que toca ao Dayao pera nao auer dote em sua vida,
como aos outros Rispos que pelos tempos forera do dito Rispado, aueraa
se bem decrarado e com taes clausulas, quaes conuem pera seguranca de
meu seruico ; e tende disso aquelle bom cuidado que de uós confio.
Acerca do que toca a Sao Joao de Tarouca, em que aueis de aca-
bar o concertó com Acurcio pelo que toca a Diogo Ortiz Dayao de minha
capella, conuem a saber, da pencao que auia de auer Acurcio delle, e
sobre o dito mosteiro e renunciacao della pera que o Rispo de lamego,
meu muito amado primo e meu capellao mor, fes por o breue do Papa
as aualiacoes da renda do dito mosteiro, que vistes, e eu tomei nisso ou-
tra determinacao, a saber, prouue me de fazer merce ao dito Dayao do
dito mosteiro de Carquere da ordem de Sao da Diócesi do Ris-
pado de que vagou por falecimento de e suprico ao Santo
Padre que o proueja delle a minha supricacao ; e quanto ao concertó
danlre o dito Dayao e Acurcio vos o fareis o melhor que vos poderdes,
assi na cota da pencao como da remissao della, e assi vos gradecerey o
fazerdes bem, como se propriamente eu ouuesse de mandar fazer á minha
custa a remissao da dita pencao, porque assi me auerey por seruido de
vos. Muito em special vos encomendó que nisto me siruaes o melhor que
vos for possiuel, e se o poderdes fazer e acabar por menos dos dous mil
cruzados, por que me disestes que vos parecía o acabañéis, me fareis muilo
seruico ; e o Dayao vos dará ou inuiará a prouizaó pera auerdes por ella
o dinheiro, que ouuerdes de pagar a Acurcio pela remissao da dita pen-
cas ; e as ditas aualiacoes que fes o Rispo de Lamego leuaes.
384 CORPO DIPLOMÁTICO PORTüGUEZ
Dom Marlinho sobrinho amigo.
A Rainha minha sobre todas amada mulher uos deu inslrucao e su-
pricacaó pera o Santo Padre acerca do Indulto, que pede a Sua Sanli-
dade que Ihe conceda ; e posto que abaste pera terdes nisso bom cuidado
encarregar uos ella disso, porque me prazerá muito que Sua Santidade
iho conceder, vol o quis encomendar e uos rogo muito que, anlre todas
as couzas que logo aueis de fazer, esta seja muito principal pera logo a
expedirdes com os primeiros recados, e enuiardes a prouizao disso, e com
os primeiros recados todo o que nisso trabalhardes, e muito vos agarde-
cerey enuiardes prouizao disso : e pera se melhor poder fazer, ey por bem
que de minha parte faleis a Sua Santidade, e Ihe digaes que receberey
delle em muy singular merce fazer a concecao do dito indulto á Rainha,
e assi como o ella requer; e pera Ihe falardes de minha parte leuaes carta
de crenca minha que Ihe daréis, e por virtude della Ihe falay.
Dom Martinho sobrinho amigo.
Diréis de minha parte ao Santo Padre que pelo conjunto deuido que
comigo tem Dom Fernando de Vasconsellos, meu muito amado sobrinho,
Rispo de Lamego, meu Capellao mor, e pelos muitos e muy continuados
seruicos que sempre fez a el Rey meu senhor e padre, que santa gloria
aja, dignos de muito merecimento, que pelos que fez e faz a mim com
muito gasto de sua fazenda, e por eu saber que elle tem multas obriga-
coes a que nao pode satisfazer por \ia ordinaria, do que por estes res-
peitos, e por eu ser serto que no carrego de seu Rispado elle tem dada
e dá de si tal conta que desencarrega bem nisso a conciencia de Sua San-
tidade e minha: Por estes respeitos, e pelos grandes merecimentos de sua
pessoa, eu sao em muito carrego de nao somente Ihe fazer mcrce, mas
ante Sua Santidade Ihe aproueitar quanto me for possiuel, e que por isso
suprico e peco muito por merce a Sua Santidade que Ihe praza por me
fazer (merce) conceder ao dito Rispo que por cinco annos, que comeca-
rao a correr da data da Rulla em diante, elle proueja e possa dar todos
os Beneficios que vagarem no dito seu Rispado que na See da dita cidade
dignidades e prebendas, salua a primeira posse Pontifical em todos os me-
zes seus e de Sua Santidade, ainda que sejao reseruados assi por vaga-
rem de prolonotarios como de familiares de Sua Santidade ou acólitos na
RELACOES COM A CURIA ROMANA 385
See Aposlolica, que nestes cinco anuos a posse dada da graca nam aja
lugar na dita See, E no dito Rispado nenhuma reserua nem indulto nem
espectaliua, nem outra alguma graca concedida ante nem durante os di-
tos cinco annos, reseruando indulto meu ou da Rainha minha sobre todas
muito amada e prezada mulher, se de Sua Santidade o liuermos, assi mes-
mo a graca que Sua Santidade lem concedida ao Doutor Rras Nello na-
quella colla em que della aja de auer defeito, e assi as alternaliuas e pro-
iiisoiis que tiueráo o Arcebispo de Rraga, e o Rispo de Coimbra e de Vi-
zeu, que em lodo se guardarao e comprirao como nellas for conlheudo, e
com que os prouidos pelo dito Rispo nos ditos cinco annos nos mezes de
Sua Santidade ou nos do dito Rispo, sendo os Reneficios reseruados, se-
jao obrigados a dentro em oulo mezes irem em corte expedir nouas pro-
iiizoes de Sua Santidade e pagarem suas meas anatas, e a expedicao das
Rullas á Cámara Aposlolica, no que Sua Santidade me fará muy grande
merce, e a eslimarey tanto que nenhuma outra graca afora poderey mais
estimar ; e que assi a receberey muito grande em a fazer gratis, porque
o Rispo nao lem possibilidade, por seus grandes gastos e conlinuacaó em
minha corte, de em outra maneira, ainda que pouca oantidade fosse, a
expedir.
Diréis a Sua Santidade que, alem das razoes airas ditas por que sao
mouido a esta merce supricar e pedir a Sua Santidade, seja cerlo que
auendo dezenove annos que ha que o Rispo lem o dito Rispado nao tem
prouido mais de ale seis Reneficios, assi por nao ter alternaliuas como
pelas muilas reseruas concedidas no dito Rispado, e tambem por serem a
mayor parle dos Reneficios de padroeiros leigos e de moesteiros, e que
por todas estas couzas Ihe suprico e peco muito por merce a Sua Santi-
dade que esta graca e merce queira fazer ao dito Rispo assi gratis, que
aja por serto que assi o eslimarey como se propriamenle a fizesse a mim ;
e a uós encomendó muito que toméis grande e especial cuidado de com
grande instancia fazerdes esta supricacao a Sua Santidade, e guardardes
pera com fee della, e assi vos guardarey tudo o que nisso Irabalhardes
e fizerdes, como se o negocio fose meu proprio, e de com os primeiros
recados me enuiardes as prouisoes da concecao, que eu espero que Sua
Santidade folgará de fazer por ser couza de que eu receberey muy gram
conlentamenlo.
TOMO II. 49
386 COKPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
Dom Marlinho sobrinho amigo.
Como sabéis, por falecimenlo de Francisco Jusarle se proueo Dom
Joao, filho do Conde de Vimioso \osso yrmao, das Igrejas que elle linha
e vagarao, conuem a saber, Sania María da Maya no Paul, na Diócesi
de Lisboa, de que eslá de posse pacifica, e de Sao Pedro de Peneda, na
Diócesi de Lamego, e de Sao Marlinho no Coulo de Sima, no Bispado de
Vizeu, e de Sao Marlinho e de Sanguineda, no Bispado deCoimbra, que
he litigiosa, e de Sao Malheus da Erra, da Diocese do Arcebispado de Lis-
boa, que lambem he litigiosa, e depois de seu prouimenlo se offereceo o
impedimento do Cardeal Farnesi, que lambem se proueo, como cumprida-
menle tendes sabido. Muilo vos encomendó que logo como chegardes fa-
leis de minha parte ao Cardeal, e Ihe digaes que por Dom Joaó ser filho
do Conde \osso yrmao, e elle ser ordenado pera seruir nosso Senhor pela
Igreja, que eu Ihe peco com junto diuido que comigo tem o Conde, e
por seus grandes seruicos e merecimentos desejo muilo de acrecentar e
fazer merce a seus filhos, Ihe rogo muilo elle nao queira dar fadiga e ve-
xacao a Dom Joíio acerca deste seu prouimenlo, e liuremenle Ihe deixe
os ditos Beneficios, crendo que de assi o fazer receberey delle muila gra-
ca, e que sempre pera o que tocar a suas couzas terey disso lembranca ;
e pela carta de crenca minha, que pera elle leuaes que Ihe daréis, Ihe d¡-
zey ludo o que dito he, e quaesquer outras paiauras que vos parecer que
podem aproueilar, nao sendo de mais obrigacaó que as sobreditas. E se
uos parecer que he necessario falardes nisso ao Santo Padre, fazeio na-
queUa maneira que vos parecer.
Dom Marlinho sobrinho amigo.
A merce que fiz a Diogo Ortiz, Dayao da minha Capella, do Mosteiro
de Cerquare, sobre quersuprico ao Santo Padre pedindo a Sua Sanlidade
que o proueja delle, pera que leuaes minha supricacao, foi com prazi-
mento e consenlimenlo do dito Dayaó, e Ihe auer de dar cada anno de
pencao a Dom Christovao de Castro, fidalgo da minha casa e meu Ca-
pellao, cento vinte c cinco cruzados de ouro pela obrigacaó que lenho de
Ihe fazer mercé por seus seruicos e merecimentos, do qual daréis infor-
macaó ao Santo Padre pera saber quem elle he e quanto ha que serue,
e como pela qualidade de sua pessoa e pelos merecimentos de seus ser-
RELACOES COM a curia romana 387
uicos merece esla e oulras merces mayores : muilo vos encomendó que
supriqueis a Sua Sanlidade de minha parte, que conceda esla pencao pera
o Dayao pagar ao dilo Dom Chrislovaó cada anno, e o Dayao consenle
nella pela prouizao sua que pera isso passou, os quaes vinte e seis fsicj
cruzados se ande descontar de serla conta que Ihe eu dou cada anno, alé
o prouer de Beneficios que a ualhao, e na sua prouizao faca disso ex-
pressa mencao se for necessario : muito uos agradecerey terdes lembranca
desla expedicao pera logo a expedirdes, e Dom Chrislovaó mandará pro-
uizao pera que lá vos seja dado o dinheiro que pera a dita expedicao se
ouuer misler, e rauito em especial vos recomendó este despacho. Sprila...
PERA o PAPA.
Muilo Sanio em Chrislo Padre e muilo bem auenturado senhor, o
uosso deuoto e obediente filho Joao etc.
Porque eu enuio a Dom Martinho, meu muito amado sobrinho, por
embaixador a Vossa Sanlidade, pera em sua corle residir e o seruir em
todas as couzas que se offerecerem em seruico de nosso Senhor e de Vossa
Sanlidade e da Santa See Apostólica, como per outra caria Ihe faco sa-
ber, escreuo e mando ao Doulor Bras Nello, do meu Gonselho e meu em-
baxador, que se venha a mim, e leixe ao dito Dora Marlinho meu emba-
xador lodos os negocios que ainda nao liuer expedidos á sua partida, pera
elle os expedir e acabar como a elle tinha mandado ; e pareceu me bem
o fazer saber a Vosa Sanlidade pera saber a cauza de sua vinda, e Ihe
suprico, e peco muito por merce que aquellas couzas que Ihe tenho su-
pricadas que ainda nao forem expedidas, e que se poderem despachar alé
sua partida, as queira concluir pera elle mas trazer, o que recebeyey de
Vossa Sanlidade em muy singular merce, e assi de por elle me mandar
todas as boas nouas suas e de sua desposicaó, e saude, que pelo muilo
grande amor que tenho pera todas as suas couzas de seu seruico, rece-
berey muy grande contentamenlo de saber que he lam boa como Vossa
Sanlidade dezeja ; e de toda a merce que fizer ao dilo Doulor meu Emba-
xador na expedicao do nouo Bispado a que o aprezento a Vossa Sanli-
dade, como Iho supricará de minha parle Dom Marlinho meu Embaxa-
(ior, receberey muy singular merce.
Muito santo em chrislo padre.
49*
388 COlíPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
PERA O PAPA SOBRE OS RISPADOS.
Muilo Sanio cm Ghrislo ele.
Eu faley a Doin Martinho, mcu muilo amado sobrinho meu embaxa-
dor, o que de minha parle Ihe dirá sobre a noua criacao do Arcebispado
do Funchal, e dalguns Bispados que por seruico de nosso Senhor, e me-
Ihor cura das almas dos fiéis cbrislaos e melhor azo pera a conuersao dos
infieis, me parece que de nouo se deuem criar ñas Ilhas Terceiras, e no
Cabo Verde, e na Ilha de Sao Thomé, e na Cidade de Goa, pera fica-
rem os dilos Bispados sufraganhos ao dito Arcebispado do Funchal, de
que o Vigairo de Thomar d anliguamenle linha jurdicao, e depois se mu-
dou ao Bispado do Funchal criado de nouo em vida del Rey meu se-
nhor e padre que santa gloria aja, segundo que a Vossa Sanlidade de
tudo fará larga informacaO e supricacam o dito meu Embaxador per meus
apontamentos que disso leua. Suprico e peco muilo por merce a Vossa
Sanlidade que o queira ouuir, e Ihe dar inleira fee e crenca em ludo o
que acerca disso de minha parle Ihe disser, e me conceder a noua cria-
cao do dito Arcebispado e Bispado no modo que Iho suprico e peco, no
que aja por serlo que fará muilo seruico a nosso Senhor, e se seguirá
serem as almas dos fiéis chrislaós muilo melhoradas, e melhor azo pera
a conuersao dos infieis daquellas parles assi genlios como Mouros, e a
my fará muy singular merce.
Muilo santo em chrislo padre....
PERA o PAPA SOBRE A RAINIIA PERA QUE LHE CONCEDA ÜÜM INDULTO.
Muilo Sánelo in chrislo Padre ele.
A Rainha minha sobre todas muilo amada e prezada mulher enuia
supricar a Vossa Sanlidade que Ihe conceda o indulto c oulras gracas,
segundo de sua parte vol o ade falar e supricar Dom Martinho, meu muilo
amado sobrinho do meu Conselho e meu embaxador ; c porque eu rece-
bcrey muy particular merce na concessao do dito indulto e gracas que
Ihe suprica, mandei a Dom Martinho que nisso Ihe falc de minha parte,
- RELACOES COM a curia romana 389
e supnco e peco por merce a Vossa Sanliclade que no que sobre isso Ihe
(lisser de minha parle Ihe dé inleira fce e crenca.
Muito sanio em Ghrislo Padre e muilo bem auenlurado ele.
CARTA PERA OS CARDEAES.
Reuerendissimo em Ghrislo Padre ele.
' Por a muy grande confianca que lenho de Dom Marlinho, meu muilo
amado sobrinho, que me sirua em ludo o que o encarregar com lanía
fieldade cuidado e deligencia, como elle deue pela razao e obrigacao que
pera isso tem, e de modo que receba de seu seruico inleiro conlenla-
mento, o enuio ao Santo Padre por meu Embaxador pera em sua corle
residir, e o seruir em lodo o que se oferecer que seja de seu seruico e
bem das couzas da Sánela See Apostólica, e muy principalmente pera
(me dar) muy ameude, como dezejo, todas as boas nouas da disposi-
cao da saude de Sua Santidade, e de lodo o bom socedimenlo de suas
couzas, que eslimo e sempre ei de eslimar como quem em todas o queira
muilo seruir, e Ihe mostrar o muito amor que pera isso tenho : e ouue
por bem de voló (fazer) saber pelo muito amor e boa vontade que ei por
certo que leudes pera todas as minhas couzas, que muilo estimo. E vos
rogo muilo que, em todo o que acerca disto o dito Dom Marlinho meu
embaxador de minha parte vos disser, Ihe dees inleira fee e crenca, e
assi que no que me tocar e cumprir ache em vos o que eu espero pelo
muito amor e boa vontade que vos tenho, e em singular prazer o re-
ceberey de vos.
Reuerendissimo etc.
Ao Cardeal de monte.
Ao Campegio.
A Triuulcio.
Ao Cesis.
Ao Mediéis sobrinho do Papa.
Ao Santa Cruz Casi." fsicj.
A domu ^ que foi confesor do Emperador.
* Léase : Luna (Francisco Quiñones de).
390 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
Ao Egidio.
Ao Colona \ice canceller.
Ao Perosa camaralengo.
Doulor Bras Nello Amigo ele.
Eu ouue por muy meu seruico enuiar Dom Marlinho, meu muilo
amado sobrinho, por Embaxador ao Sanio Padre pera em sua corle re-
zidir e seruir a Sua Sanlidade em ludo o que se oíTerecer, assi inleira-
menle como eu dezejo fazel o, e quería que lodas minhas couzas o fize-
sem, o que espero e confio delle que fará assi bem como o elle deue
fazer, e de maneira que receba de seu seruico muilo conlenlamenlo e
prouuese de se oferecer agora logo o enuiar por vos poderdes mais azi-
nha vir e virdes descansar de vossos trabalhos. E escreuo a Sua Sanli-
dade como vos mando vir, e Ihe suprico e peco por merce que aquellas
couzas, que aínda nao liuerdes despachadas e que ate a vossa parlida
poderdes despachar, as queira Sua Sanlidade concluir pera vos m as Ira-
zerdes. Muilo vos encomendó e mando que vos especaes de Sua Sanli-
dade, e vos parlaes o mais depressa que vos seja possiuel, e vos vinde
a my e me Irazei todas as couzas que ale vossa parlida se poderem des-
pachar e despedir, nao vos delendo por ¡sso mais días que aquelles em
que breuemente se possa fazer e acabar ; e todas as oulras couzas e ne-
gocios que vos linha cometidos que supricaseis ao Santo Padre, e que
liuerdes por concluir, os leixay todos ao dito Dom Marlinho meu Em-
baxador, e Ihe day inleira informacao de todo o que mais liuerdes co-
mecado e feilo, e assi as cartas e papéis que a isso tocarem pera elle o
requerer ao Santo Padre e onde mais cumprir e o expedir e acabar se-
gundo minhas supricacües. E diréis de minha parle a Sua Sanlidade que
Ihe suprico e peco muilo por merce que de sua disposicao e saude me
queira fazer saber por vos, que de me trazerdes disso todas as boas no-
uas e taes como elle deseja, pelo muilo grande amor que lenho a lodas
as couzas de seu seruico, eide receber muí grande conlenlamenlo.
Eu mando por Dom Marlinho supricar ao Sanio Padre a noua cria-
cao dos Bispados, que sabéis que por seruico de nosso Senhor delermi-
ney que ouuesse, no conlo dos quaes vay o Bispado da Ilha de Sao Tiago
e das oulras Ilhas de que uos lenho feilo merce ; e quando o dito Dom
RELACÜES COM A CURIA ROMANA 391
Marlinho o falar a Sua Sanlidade vos seréis prezenle, porque ass¡ o e¡
por meu seruico e assi Ihe inandei, e nao sómenle nislo, mas em todas
as outras couzas que ouuer de falar ao Papa de noeus negocios cm quanlo
la estiuerdes. E uos Irabalhay por a uossa expedicao se fazer com a mor
breuidade que seja possiuel, e de modo que nao seja causa de vossa de-
lenca, porque, quanlo mais azinha vos parlirdes e \ierdes, lanío mais
me prazerá. E porque ao uoso Bispado suprico e peco ao Sanio Padre
que se anexe o Mosleiro de Sam Pedro das Igrejas * Irabalhay \ós por
\osa parle quanlo puderdes que assi se faca : e quando o Papa Uuesse
nisso pejo, que nao deue ler, eu doto ao dito Bispado de dois mil cru-
zados cada anno de renda por folgar de uos fazer merce, segundo que
Dom Marlinho leua pera sua inslrucao. Sprila....
Doulor Bras Netto Amigo etc.
Eu sao certificado que a christouao de Barroso fazeis acolhimento
em Yosa casa, e o aproueitaes e Ihe fauoreceis em suas couzas ; e se leu-
des feilo e fazeis creo que será por nao lerdes sabido que eu lenho delle
muilo descontentamento, e por couzas da qualidade porque elle lem me-
recido riguroso castigo. Porem vos mando que d aquy por dianle Ihe n3o
deis acolhimento em vosa caza, nem preslanca de amizade, nem fauore-
caes nem Ihe aproueiteis em nenhuma couza, porque assi o ei por meu
seruico. E escreuei me o que nisso passou alé agora, e que cauza Hues-
tes de Ihe fazer alguma boa obra, pera eu saber o que vos moveo : e muy
inteiramenle guarday d aquy em dianle o que por esta vos mando. Sprila...
Doulor Bras Netto amigo etc.
O Sánelo Padre me escreueo por hum seu breue encomendando me
que mandasse dar fauor á execucao de huma senlenca, que ouue Chris-
touao de Barroso acerca do mosleiro de Sao Jorge de junto de Coimbra,
que elle empelrou, sobre que respondo a Sua Santidade como he con-
theudo em hum capitulo, que Dom Marlinho meu muilo amado sobrinho
leua em huma de suas inslrueóes, o qual Ihe mando que vos mostré : e
e¡ por bem e muilo meu seruico que, quando Dom Marlinho ouuer de yr
dar minha reposta ao Santo Padre, sobre o que me escreueo acerca do
* Léase: das Aíruias.
392 COUPO DIPLOMÁTICO PORTUGÜEZ
dito ChrislouSo de Barroso no caso do dilo mosteiro, vades ambos jun-
lamenle pera ambos dizerdes a Sua Sanlidade de minha parle lodo o con-
leudo no dilo capitulo ; e que muy singular merce recebercy dclle auer por
bem ludo o que acerca do dito Ghrislouao de Barroso llie suprico, por
auer tanta rezao pera Sua Santidade assi folgar de o fazer, pois será pera
este castigo, ainda que seja muy menos do que elle merece, e pera ou-
tros exempro. E Dom Martinho vos dirá parlicularmenle as couzas que
eu nao ouue por meu seruico irem no capitulo de sua inslrucao, pera o
saberdes e dizerdes tudo ao Santo Padre : e vos, quando fordes junta-
mente com Dom Martinho a falar ao Papa desta materia de Barroso, le-
uay na mao o treslado do dito capitulo da instruccao de Dom Martinho
pera dizerdes ao Santo Padre como outro tanto vos escrevi e raandey, e
insistiréis por vosa parte quanto possiuel vos for pera o Sánelo Padre
fazer o que nisso Ihe requeiro, e me auizareis do que Sua Santidade nisso
vos responder com os primeiros recados que pera ca vierem, se logo nao
ouuerdes de partir. Sprita etc. ^
Carta de cl-Rei ao Papa Clemente ^11.
153S — llaio 1ÍH,
Sanctissimo in Christo Patri, atque beatissimo domino, D. Clemente
Pontífice VII Diuina prouidentia vniuersae ecclesiae Dei prouidenti, S.
Sanctissimo in Christo Patri, atque beatissimo domino, eiusdem san-
' Estes despachos foram extrahidos de um códice da Academia Real das Sciencias,
intitulado: Relacoes de Pero de Alcacoua carneiro, conde da Idanha, do tempe em que
elle e seu pai scrviram de secretarios. Parece ser urna copia de varios apontamentos e
minutas originaes dos dois secretarios, mas fcita muitos annos depois, e por pessoa a
tal ponto inhábil que muitas vezes nao intendeu o texto, e nao raro baralhou as pala-
vras de modo, que nao o/ferecem sentido algum. Na falta do original, que em vao bus-
camos, foi forzoso aproveitar esta parte do códice, na qual apenas emendamos urna ou
outra passagem, quando o erro era táo evidente que com urna pequeña alteracao ortho-
graphica se restabelecia o sentido. Accrescentámos tambem entre parenthesis algumas
palavras que, a nosso ver, o copista omittiu por descuido; e Icmbrámos em nota algu-
mas outra» que nos parece terem sido totalmente deturpadas.
RELACOES COM A CURIA ROMANA 393
clüalis deuotissimus, filius Joannes Dei gratia Rex Porlugalliae, et Algar-
biorum cilra vllraque mare in África : Dominus Guineae, expugnalionis,
nauigalionis, commercii TElhiopiae, Arabiae, Persidis, atque Indiae, post
humillima sanclorum pedum oscula. Sanctissime in Chrislo Paler, et fe-
licissime domine, Rex dominus, et pater meus, cum animaduerteret,
quam graliim Deo esset futurum, si jElhiopiae, atque Indiae remolissimae
regiones, quae fama tanlum, atque ea quidem ambigua audilae fuerant,
solerli nauigatione Ghristianorum classibus adirentur : statini ab ipso sus-
cepli- regni initio complures duces et subditos suos ad perscrulanda co-
gnoscendaque earum lerrarum liltora, instructis validissimis classibus mi-
sit : scilicet vi Mauri et gentiles, earum regionum populi, veritatem Ghris-
tianae religionis agnoscerent, atque obiter patefaclo itinere, alii etiam po-
puli reperirentur, qui Deura Christum colerent, sicut opinione hominum
eos inueniri posse ferebatur. ¡taque volenle Deo tota Guineae regio feli-
citer peragrata est, in qua Rex de Manicongo cum ingenlib. populis ipsi
subditis, qui se ad eius autoritatem ac obedientiam contulerat, sacro ba-
ptismate suscepto, Ghristianus eífeclus est, et complures aliae gentes ex
regionibus Indiae, Persidis et Arabiae, ad Ghristianam fidem nostroruní
pietate et diligenlia sunt perductae, et quotidie aliae atque aliae nationes,
quae tardius veritatem agnouerunt, exemplo aliarum ad Christum con-
uertuntur : et quanquam in bis expedilionibus grauissima amissarum na-
uium et ducum, item nobilium equitum et subditorum suorum detrimenta
recepisset. Tamen ab hoc exiraiae pietatis consilio non destitit, vli pium
et Ghristianum Regeni decebat. Itaque eodem cursu mare Rubrum pene-
trante classe nostra, repertum est, nunquam antea Ghristianorum classi-
bus nauigatum : nam fere totum in poteslate Turcarum erat. Et demum
post diuturna atque áspera bella inuentum est iter, quod ad (vulgo Pre-
legyam nuncupatum) iSthiopiae Regem potentissimum ducit, qui cum vni-
uersis regnorum suorum populis Christum colit. Ad hunc exlemplo Rex
pater meus legatum destinat, vt ad obedientiam sanctae sedis apostolicae
perlraheretur, opportunaque narrando et aperiendo certior redderelur,
tuam sanctitatem in sede Petri residere, et vnicum esse in terris Chrisli
vicariura, cui omnes Christiani Reges obedientiam cum summa venera-
tione praeslare consueuissent. Nec multo post, idem Jíthiopiae Rex cum
legatum remitteret, suum eliam proprium et indigenam, qui ad eum cum
mandatis veniret, adiunxit. Sed interim Deus ad se patris mei animam
TOMO II. 50
394 CORPO DIPL03IATIC0 POUTUGUEZ
ad sanclae gloriae parlicipalionem in coelum recepil. Ncc mora quum nos
in eius successisseoius locum, operam dedimus cum ducibus noslris, qui
erant in India, vi idem Rex ^Ethiopiae de Regís patiis mei morle cerlius
redderelur : Cum ea, quae pater meus praeclare pro fide Ghrisliana in-
ceperat, omnino persequenda et perficienda curaremus. Quod ipse Rex
VEthiopiae magnifaciens, suum Oralorem ad nos misil (qui in aula noslra
adhuc commoratur) el simul Franciscum Aluarez Cappelianum noslrum,
qui est vnus ex his, quos paler meus ad eum miserat. Hunc Franciscum
Aluarez idem iElhiopiae Rex Romam mitlil vt suo el singulorum regno-
rum suorum nomine, luae sanclilali obedienliam praestel : quem haclenus
remoran fecimus quod muUis de causis, eum proficisci volebamus, vna
cum Marlino a Porlugallia nepote charissimo el consiliario, ac Oralore
nostro ad T. S. Cui commisimus, vt eundem Franciscum Aluarez dicli
Regis iElhiopiae Oralorem sanclilali luae ad praeslandam obedienliam
praesenlaret. Ilem \l cunda ea quae oralor eiusdem Regis iEthiopiae ad
nos missus deferebal aperirel, exemplaque iilerarum eiusdem Regis ad
nos T. S. ostenderel. Proplerea nobís rem gratissimam S. T. faciel, si
eidem Marlino Oralori nostro plenissimam fidem in his rebus habueril, et
cerle Deo Óptimo Máximo, summae graliae sunl mérito referendae, quod
Ponlificalus luae sanclilalis lempore, hanc insignem a Deo graliam S. T.
relulerit, vt alleram Chrisliani populi portionem, hac noslra nihil ampli-
tudine lerrarum minorem consentiré cum fide calholica, el sánela Romana
Ecclesia et obedienliam praeslare videamus. Nos vel ob id ingentes Deo
gratias agimus, quod in hac tanta accessione huius Regis noslra opera
vti volueril. Nihil enim ad laudem verae pietatis poleril esse praeclarius,
quam iEthiopiam in vnitate Chrislianae professionis noslrae Europae con-
iunclissimam conspexisse. Deus el Dominus nosler ad mullos anuos luam
sanclilalem felicissime conseruare el augere ad votum dignelur.
Dalum ¡n Selluual vigésima oclaua Maii mdxxxii \
' Impressa na Hisp. ¡llustr. t. ii p 1287, d'ondc a copiamos fielmente.
RELACOES COM a curia romana 39o
Carta fie Braz Meto a cl-Rci.
153;3 — «Vonlio 3.
Senhor. — Por este coreo nom escreuo largamente a Vosa Alteza,
porque d aqui a poucos días parle outro por quem me alargarey mais,
posloque nom será muito, porque ha poucos dias que Ihe lenho escrito
por hum esteuam Rybeyro, que ha pouco que d aquy partyo por postas ;
6 por largamente dar conta a vosa Alteza dos negocios por elle, nom tor-
nare! a repetir, mayormente por ter por certo que estas cartas hiryam á mao
de Vosa Alteza. Agora, Senhor, mando por este a Vosa Alteza o breue
que o papa escreue ao nuncio, que jaa ha dias que pera laa partyo, pera
fazer o que Vosa Alteza quer das Igrejas e moesteyros dos logares d
áfrica.
Ouue os dias passados huma carta de Vosa Alteza sobre a igreja
que tem Ruy gomez pinheyro, per que me mandaua que falasse com Sis-
Ios Cordeyro, e que Ihe dissese da parte de Vosa Alteza que Ihe rogaua
e encomendaua que nom fosse mais polla demanda em diante, e que da
reposta que desse anisase Vosa Alteza, e que Ihe amostrase a carta. Eu,
Senhor, o fiz logo asy : elle me disse que a Igreja era sua, e que nom
crya que Vosa Alteza Iha quisese tomar ; porem que até elle hir ou man-
dar dar rezao de sy a Vosa Alteza e fazer Ihe saber quanta justica niso
linha, que nom farya mais nada e sobreestarya na causa. E despois de
isto passado fuy auisado que elle dera artigos e nomeara testemunhas.
Mandey o chamar e disse Ihe que como ousara elle de fazer na causa
cousa alguma, pois tinha dicto que o nom faria ate nom dizer a Vosa
Alteza per extenso quanta justica tinha nesta igreja? disse que era ver-
dade que elle o fezera pera fazer oferecer em Juizo a procuracam de ruy
gomez, que qua estaua em máo de dom antonio da costa, e que porque
jaa estaua oíFerecida que nom farya mais nada. Eu, Senhor, o reprendy
muito por nisto fazer nouidade alguma contra uontade de Vosa Alteza
de Ihe ter publicada sua carta: nom me respondeo oulra cousa
senam que nom farya mais. Hey receo que o nom faca.
50*
396 COHPO DIPLOMÁTICO POUTUGUF.Z
Oulra caria ouue de Vosa Alloza, de tres de mayo pasado, sobre o
bacliarcl ...mam diaz pera o papa fazer hispo. Eu, senhor, faley logo ao
papa elle ...me disse que fora boom pedillo o cardeal pera Ihe fazer os
oíTicios em seus bispados, e que elle tinha que por esla via se faria me-
Ihor, porque os cardeaes linham este priuilegio. Eu Ihe dise que mayor
era o de Vosa Alteza, e que nislo nom deuya d auer duuida, pois linha
este pera quem Vosa Alteza islo requería pasante de dozentos ducados de
renda. Dise me per deradeyro que era rezao que se fizesse a requerimento
de Vosa Alteza, postoque elle tiuesse determinado de nom fazer estes
bispos titulares. Agora se proporá no primeyro consistorio, e se expedi-
rám as bullas, e as mandarei tanto que expedidas forem a Vosa Alteza.
Senhor, Vosa Alteza me tem feylo mercé de sam pedro das aguias
liure e sem pagar pensao, e asy Iho sollou o bispo de vizeu. Despois
soube que era pensyonario em cem ducados cad anno, que consentyo o
bispo quando Iho papa deu, e asy o escreui a Vosa Alteza e Ihe pedy
por mercé que Ihe mandasse que me lirasse esla carega das costas, e nunca
ouue reposta de Vosa Alteza por ser tara desemparado que nom tenho
huma pessoa que o lembre a Vosa Alteza, porque nom posso crer que
se o alguem fizesse que Vosa Alteza nom prouesse a islo, mayormente
ora, que me publicaram a bulla e requerem me que pague os annos atrás,
nom tendo com que possa pagar ; e sao tao ditoso que, alem de minhas
necesidades e miserias com que yíuo, me recreceo agora esla oulra. Bei-
jarey as maos de Vosa Alteza, pois nom lenho pessoa que por mim seia,
que se queira lembrar de mim, e mande que logo ordene
como me tire desla obrigacam, porque eu nom lenho caminho pera pa-
gar isto ; e se Vossa Alteza nislo nom ouuer por bem que eu seia pro-
nido, faca me mercé que me dee licenca pera renunciar este moesteyro
era fauor de quem Vosa Alteza mandar, por me, Senhor, tirar de exco-
munhoes e fadygas.
Eu, Senhor, receby huma carta de Vosa Alteza sobre a minha graca
de que me o papa fez mercé, a qual linha aceytada sem mandar citar
pesoa alguma, parecendo me, pois me nom tinha defeso que o nom fizes-
se, que niso nom deseruya Vosa Alteza, antes crya que, por ser cousa
que se jaa fez, que nisso se nam podya erar : e depois com este pensa-
mento ouue oulra, que em nenhuma cousa prejudicaua aos prelados. Sao
avisado que Vosa Alteza esloutra segunda nom quer se execute nem ajaa
RELACOeS COM a curia romana 397
eíTecto. Nom creo, Senhor, que seia, se asy he, senam por Vosa Alteza
nom ser bem emformado de niim, que nem por auer a primeyra ñera
esta segunda, como disse, nom crya que o Vosa Alteza ouuese por mal,
antes cuydaua que por eu buscar caminho pera ter com que seruisse
Vosa Alteza, sem cada dia Ihe pedir que me fizesse mercó pera me sus-
tentar, Ihe fazia niso seruico ; e aínda pera quando Vosa Alteza quizera
fazer merco a alguma pesoa de cada hum dos beneficios, que cayram era
cada huma destas gracas, o podera fazer, pois de todo isso que tenho
Vosa Alteza pode despoer como \ir que he seu seruico. Agora, Senhor,
que conheco e vejo por sua carta que Vosa Alteza nom quer que
asy Senhor o farey, e asy escreuo aos meus procuradores
que o facam. E posto que nunca Ihe leuesse mandado que citasem pe-
soa alguma, nem se achara tal cousa, agora Ihe torno a escreuer, e tam-
bera que nom aceytem beneficio algum senam se o Vosa Alteza ouuer por
bem, nem Vosa Alteza nom querer bem creo que por eu pedir lycenca
a Vosa Alteza que pudesse vsar da graca que nom erey em auer es-
toulra, postoque Vosa Alteza me respondesse que despois me mandarla
disso a reposta, porque eu nom vso de huma nem da oulra senam se
Vosa Alteza quer. E se Vosa Alteza quer saber se he isto asy, mande ver
o meu regimentó feyto por minha mao que mandei a meus procuradores,
e dem juramento se, quando Ihe mandei a bulla, se Ihe mandey o mesmo
regimentó, e achara Vosa Alteza que Ihes tenho mandado que nom vsera
deltas sem licenca de Vosa Alteza, nem jaamais se achara outra cousa.
E se asy he, que culpa tenho eu pedir ao papa, pois nisso nom faco de-
seruico a Vosa Alteza nem mo lem defeso, huma e muilas gracas se m as
elle quer fazer, que gram deferenca parece de vsar eu deltas contra uon-
tade de Vosa Alteza a pedillas e auellas do papa, poys Vosa Alteza
me nom tem deífeso que as peca : mas como eu, senhor, nom tenha pe-
soa que por mym falle a Vossa Alteza e me desculpe, e aja mullos que
facam o contrayro e emformem mal Vosa Alteza contra mym, certo, se-
nhor, que Vosa Alteza estará de mira muito descontente, como me tem
escrito. Prazerá a noso Senhor que meterá em coracam de Vosa Alteza,
pois em sua mao está, que me mandará de qua hir cedo, pois vem dora
martinho, segundo aquy ha noua, e Vosa Alteza por me fazer mercé me
ouuirá e saberá quam pouca culpa nislo tenho e em outras cousas,
que os que qua estao escreuem aos que laa o representao a Vosa Alteza.
398 CORPO DIPL03ÍATIG0 PORTUGUEZ
Beijo as reaes maos de Vosa Alteza, cuia \¡da e real eslado noso Senhor
acrecenté per muitos annos em seu seruico.
De roma tres días de Junho de 1532. — Feylura de Vosa Alteza
— Bras neto '.
Itulla cío Papa Clemcutc IIVL,
153% — dnnlio 14.
Clemens Episcopus Seruus Seruorum Dei ad fulurara re¡ memoriam.
Miserator Dominus, qui su¡ preciosissirni sanguinis aspersione ¡n ara
Crucis gemís tiumanum protho plauslri ^ preiiaricatione deperdilum a ba-
ratri faucibus eripere dignatus est, ad hoc nos elherei clauigerl succes-
sores conslituere, nobisque licet immeritis uices suas in terris ac ligandi
et soluendi potestatem pia miseralione commiltere uoluil, ul pro gregis
Dominici salute apostólicos cogilatus ¡ugitcr eíTundamus, el ut christifide-
les ab oppressionibus lueantur, ac quibusuis periculis ab eis ademplis in
confessione uere fidei preseruenlur, et qui ab equitatis el iuslitie limiti-
bus deuii facti fuerint ad uiam ueritatis reducantur, iuxta rerum el lem-
porum qualitates assiduas nostre sollicitudinis meditationes propensius di-
riganius. Vnde nos, aliente conspicientes quod nefandus perfidorum Tur-
carum Tyramnus fidei calholice perpetuas hoslis pluribus elalus uicforiis
tanlis calamitatum gcneribus, quibus quamplurima christianorum dominia,
non solum anlecessorum nostrorum, sed etiam noslris temporibus, do-
mino forsan propler christifidelium dejicfa permitiente, hactenus aíFecil,
non contentus, ñeque sparsi sanguinis fidelium multiludine satialus, má-
ximum terrestrem exercitum ac copiosam classem marilimam parauit, ut
reliquas christianorum regiones Ierra marique in miserabilem reducat ser-
uitutem, ac in sua potentia et ferocitale confisus iam ad parles Regni Hun-
garie se conlulit, et ad Italiam el alias christianorum regiones inuaden-
^ Arch. Nac, Corp. Chron., Parí. I, Mac. 49, Doc. 10.
- Léase: proloplasti.
RELACOES COM a curia romana 399
das accinclus chrislianum nomen omni conalu exlinguere niolilur ; Et dc-
siderantes huic morbo lanlum inualescenti et virus suum eífundenti con-
gruum anlidolum exhiben, et hanc diuine iuslilie ultionem propler mul-
litudinern peccatorum et plurium cor impenilens inslanlem euilari, ac illius
qui paler misericordiarum est graliam inueniri, cum per flagella, quibus
nos paler ipse celestis ad se reuocare nililur, non solum ad penitenlie
lamenta recurratur, sed licenlius obslanliusque ^ maiestas allissimi oíTen-
datur : decreuimus predecessorum nostrorum uesligüs inherendo singulos
gregis eiusdera, cuius ralionem in extremo iudilio reddituri sumus, ad
sincerilatis deuolionem et excessuum suorum deteslalionem noslris exor-
lationibus incitare, ut diuinam clemenliam, quam multifarie peccando pro-
uocauimus, flendo et penitendo placemus, de domino nostro iesu christo
conGdenles, qui penitentes non deseret in lempore necessitatis. Quapro-
pler aucloritale apostólica nobis desuper commissa, et per uiscera mise-
ricordie dei noslri, ac ex parte omnipolentis dci, omnes et singulos vtrius-
que sexus christifideles, tam religiosos quam seculares, cuiuscunque sta-
tus gradus ordinis dignilatis et preeminenlie existant, tam in Alma Vrbe
nostra, quam in quibuscunque alus Ciuitatibus et diocesibus ac locis per
uniuersum orbem constitutos, in uirlute sánete obedientie monemus re-
quirimus et hortamur in domino ut Secunda feria post publicationem pre-
sentium in Vrbe et aliis ciuitatibus et diocesibus huiusmodi factam, uel
postquam hec nostre littere ad eorum aures peruenerint, vnusquisque
conscienliam suam diligenti studeat examinatione discutere, et ad puris-
simam omnium peccatorum suorum confessionem se parare, quam infra
Triduum postea faciat. Deinde feria Quarla, Sexta et Sabbato post publi-
cationem prediclam in Vrbe Ciuitatibus et diocesibus predictis factam, uel
notitiam presentium ut prefertur habitam, inmediate sequentibus, ieiunent
omnes in etale legitima constiluti, nisi iusto impedimento teneantur, assi-
duis interim et deuotis precibus omnes pariter incumbentes ut diuine rai-
sericordie remedia ad ipsorum Turcarum rabiem et conatus reprimendos,
ac quietem consequendam percipere ualeamus. Et ut etficatiora sinl nos-
tra ieiunia et oratio acceptior, si celeste illud uiaticum et uere pañis nile
qui de celo descendit nostris langoribus medealur, Dominica immediate
sequenli sacralissimam Eucharistie Goinmunionem omnes reuerenter et de-
^ Léase: obstinatiusque.
400 COnPO DIPLOMÁTICO POUTÜGUEZ
uote percipiant. El insuper de bonis vnicuique a deo collalis, qu¡ ea pos-
sidenl, non ex Irislia • aul ex necessilale sed uoluntale, proul cuiusque
facultas aut animus tulerit, sludeanl in chrisli pauperes aliquid erogare,
memores illius vidue, cuius non muneris quanlitas sed animus laudalur
a domino, Et scienles iuxla eiusdem domini sententiam quod quicunque
polum dederil vni ex minimis eius, lanlum Galicem aque frigide, non
perdet mercedem suam. El ut nemo excusaliones habeat in peccalis, sed
magis vnusquisque ad querendum misericordiam domini apostolice sedis
largilione et spiritualibus beneficiis prouocelur, Ómnibus et singulis chris-
tifidelibus supradiclis, pro hac uice lanlum, ut confessores sibi eligere
ualeant presbileros seculares, uel cuiusuis ordinis regulares, qui confes-
sionibus eorum diligenter audilis eos et eorum quemlibel a quibuscun-
que peccalis, quanlumcunque grauibus et enormibus, eliam sedi aposto-
lice reseruatis, eliam in Bulla Cene domini contenlis, iniuncla sibi peni-
lenlia salutari absoluere, ac uola quecunque per eos emissa, Jerosolimi-
lan. ac caslitatis et religionis uolis dumlaxal exceptis, commulare possint
et ualeant, dicta auctorilale apostólica concedimus et indulgemus, Ómni-
bus nichilominus supradiclis christifidelibus pro particularis penilenlie sa-
lisfaclione in remissionem peccalorum suorum specialiler iniungentes ut
lam ipsa die dominica percipiende communionis, quam in Triduo ieiunii
supradicli, singulis diebus oralionem dominicam et salulationem angeli-
cam Quinquies dicere teneantur, diuinam clemenliam lacrimosis uocibus
implorantes ut non in delicia noslra uel ignoranlias noslras, sed in uni-
genili sui redemploris nostri uulnera, que pro nobis ille perlulil, dignelur
aspicere qui uulneralus est propler iniquilales noslras, ut omnes langores
nostros, si lamen in eius dileclione manserimus, sui preciosissimi corpo-
ris liuore sanaret ut qui quondam niniuitarum preces in Triduana illa
penitenlia exaudiuit, qui lalroni in ipso morlis articulo uitam regnumque
donauil, nostros quoque non spernet gemilus, Et quamuis mulla pecca-
uimus, omnia lamen nostra crimina sui sacralissimi sanguinis aspersione
delergat. Nos enim ómnibus el singulis chrislifidelibus predictis, qui pre-
missa impleuerint, de omnipolentis dei misericordia, ac bealorum Petri
el Pauli Aposlolorum eius auctorilale, confisi plenissimam peccalorum suo-
rum remissionem, et que chrislifidelibus ecclesias dicte Vrbis et extra
* Léa-$e : Irístitia.
RELACOES COM a curia romana 401
eam ad id depulalus Anno Jubilei concessa est in domino elargimur. Et
ul hec omnia ad multorum ulilüatem peruenire ualeant simul ut miseri-
cors dominus a pluribus exoretur, Ómnibus palriarchis, Archiepiscopis,
Episcopis, et alus ecclesiarum prelatis, ul has presentes lilteras, siue ea-
rum transumplum manu alicuius prelati seu persone in dignitate eccle-
siastica constitute subscriptum, ubique per eorum prouintias dioceses uel
ecclesias gratis publicari faciant, absque ulla fraude uel queslu, cum gra-
tiis, concessionibus, facultalibus et indulgentiis suis concedimus et indul-
gemus, el cum ad eos isla peruenerint eliam in uirtule sánete obedienlie
percipiendo mandamus : Constitutionibus et ordinalionibus apostolicis et
alus contrariis non obslanlibus quibuscunque, Presenlibus post Quarlam
et Sextam ferias ac Sabbati et Dominice sequentium dies seu presenlium
in Vrbe ac ciuitalibus el diocesibus huiusmodi publicalionem, aut cum
primum ad aures eorum peruenerunl minime ualituris.
Dalum Rome apud Sanclum pelrum, Anno Incarnationis Dominice
Millesimo quingentésimo trigésimo secundo, Décimo oclauo Kalendas Ju-
lii, Pontificalus noslri Anno Nono. — Eiiangehsta K
Carta de Braz Meto ao Secretario de Eistado.
1532 — Jullio S.
Senhor — De quantas vezes tenho escrito a vossa mercé, nunca deus
por meus pequados quis que por humas regras me respondesse o que manda
que faca do vemyeyro, porque, se quer que liuremente o renuncie em
fauor de seu sobrinho, pois jaa deue de saber o seruico que nisso Ihe
faco, mande mo dizer e fallo ey com aquella vontade que sempre tiue de
vosso seruico; e melhor será fazello em quanto qua estou, que despois
que laa for, porque, segundo enlendo, dom martinho vem jaa por ca-
minho ou nam lardará que nom parla. Acerca de mim Ihe nom quero
dar importunacam, pois sey e conheco quam pouco Yalho dianle vossa mer-
^ Arch. Nac, Mac. 2 de Bullas, n.» 5.
TOMO II. 51
402 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
cé. Encomendó minhas cousas a deus, pois sao lam desemparado que ñora
tenho quera de raira se lembre. Pésame porque, por emformacoes falsas
6 mintirosas do mais Roym e preuerso horaem que deus cryou, me to-
masles odyo, nom no merecendo a vossa raercé ; mas como eu sey cerlo
que a verdade como o oleo sempre vera aciraa espero era nosso Se-
nhor que cedo me leuará pera minha casa, e saberá quam pouca culpa
Ihe lenho, e quanla mentira Ihe tem escrita o mais tredor e minliroso ho-
mem e falso, que deus anlre todos os homens cryou. Seia como vossa
raercé quiser e voltese pera outra parte, que eu por isso nom hey de ley-
xar de ser seu amigo e seruidor, como sempre fuy despois que o con-
uersey até o dia de oje. Beijo as raaos de vossa raercé, a quera deus dé
tanta vida e descanso quanta elle deseia, e eu seu seruidor Ihe desejo e
pera mim quería.
De roma dous días de Julho de 1332.
Seruidor de vossa raercé — Bras neto ^ '
Carta de Hraz Meto a elRei.
153%— «rallio 6.
Senhor. — Bera creyó que Vosa Alteza terá noua per uya de dora pe-
dro, da corte do emperador, da partida do turco pera üngrya, e asy de
todas as outras cousas que socederam despois de quinze (?) vinte e cin-
quo d abril pera diante ; e posto que asy o tenha por certo, todauya nom
leyxarey descreuer o que qua pude saber per uya do erabayxador de
veneza. Elle, senhor, rae disse que tinha carta do vltirao d abril de cons-
tantinopoly, era que Ihe afirraauam que o turco era partido aos vinte e
cinquo pera vngrya, e que sayra de constantinopoly acorapanhado de toda
a cidade, e que hya vya de andrinopoly, e que se dezia que estarya aly
dez dias pera ouuir os erabaixadores del rey dos romanos, e que despois
se hyrya carainho de belgrado.
» Abch. Nac, Corp. Chron. Parí. I, MaQ. 49, Doc. 36.
RELAgÓES COM A CUIÜA ROMANA 403
Qiianlo á armada, que a punha em ordem de modo que poderya sayr
alé XV de mayo, e que fazia grande fundamento ñas Yellas dos corsaryos.
O numero das vellas era setenta gales sotys e \inte bastardas, tirando as
dos corsayros. Dezia mais que o embayxador do Sofy era espedido coni
boa paz, e com salisfacam de toda a corle.
Dezya mais que auya outra carta de constanlinopoly, de doze de mayo,
que se ajunlaua jaa a gente pera hir na armada de dya em dia : que say-
rya do estreyto o deradeyro dia do dicto mes de mayo, e hya \ia de mo-
dom, pera se aly aj untar com barba Roxa, e aly Ihe serya dado o Re-
gimentó, que auyam de gardar em sua Yiajem.
Tambem auya carta d andrinopoly, onde o turco era aribado quando
partyo de constanlinopoly, de 15 dias de mayo, que, \endo o turco que
os embayxadores del rey dos romaos tardauam, que expedirá tres coreos,
hum airas o outro, pera solicitarem com grande deligencia a sua ida a
elle, e que logo se afirmaua que partía pera filipopuly, e que jaa aquella
menha fizera leuar a sua lenda deante ; e que pollo caminho de constan-
linopoly pera andrinopolly era tanta a jente que se nom poderya crer.
Isto (?) me disse o embayxador de veneza ; e posto que eu creya
que vosa alteza lera estas nouas mais certas e mays por extenso de ale-
manha, da corte do emperador, por dom pedro de mazquarenhas seu em-
bayxador, todavía Iho quis escreuer porque asy mo lera Vosa Alteza man-
dado. O papa busqua por lodos os modos e vias quanlo dinheyro pode,
com achaque da vynda do turco, pera defensao da lera, porque se teme
de armada dar em anchona, ou em oulros logares portos de mar que a
igreja lem : e se a armada he tam grosa como dizem, nom será muito say-
rem em hostia em Ierra, e corerem alé ás portas desla cidade, e ainda en-
trarem dentro, porque eu nom veijo quem Iho possa defender, porque
nom ha aquy jente pera isso, e o que pior he que ain se falecerya
o melhor, que he vontade e coracam ; e nom somenle islo he aquy, mas
asy he em napoUe e em a mayor parte de Italya ; e certo tenho que vin-
do, se deus nom nos guarde, a defesa da gente será muy fraca.
Agora veo noua aquy que o cardeal coluna, viso rei de napolle, he
morlo, e que moreo em tres dias, huns dizem de cólica, oulros de peco-
nha. Dizem que o papa daa a vice chancelaria, e quasy lodo o que li-
nha, a medices.
A gente que se aquy fez pera hir a napoly, que foy mui pouca, que
51*
404 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
nom pasaram de trezentos homens, tornaram airas, e dizem que o mar-
ques del gaslo Ihe escreueo que se fosem aiuntar com elle pera hirem ca-
minho de Ungria.
Despois de ler esta até aquy escrita, deu o papa a mediéis lodo o
que Ihe podia dar, que vagou por falecimenlo do cardeal coluna, com a
vice chancelaria ; e manda o por legado pera hir com o emperador onde
quer que for. He fama que Ihe ordenou pera sua despesa.... mil e qui-
nhentos ducados cada mes. Leua muila genle, e vay mui acompanhado.
Afirmase que parlirá segunda feira que vem, que serám deste mes de
Julho oyto dias.
Qua temos noua que barba roxa he morto, segundo me o papa dis-
se ; e que o matara hum espanhol arenegado. Laa o deue vosa Alteza sa-
ber melhor se asy he.
E asy me disse que tinha carta de como o turco auya de ser em
belgrado dia de Sao Joham, com tanta presa fazia esta jornada. Outra
cousa de nouo nom ha por ora que escreuer a Vossa Alteza, senam que
o papa dá indulgencia per toda a christindade a todos aquelles que ieiua-
rem tres dias e comungarem, segundo vosa Alteza laa verá polla bulla
que diso Ihe mando com estas cartas ; e asy Ihe mando dez outras em
forma, pera as Vosa Alteza mandar pellos bispados de seus reynos.
De roma 6 dias de Julho de 1532 — Jiras neto ^
Carta de Pedro de Sousia a elRei.
1532 — jSetembro 9.
Senhor. — Os dias passadps me foy dada huma de Vossa Alteza, em
que me mandaua que, em absentia do Doutor bras neto ou sendo elle
ocupado, eu desse algumas cartas ao papa e Gardeaes farnesio e trane,
e Ihes fallasse sobre cousas de Dom manuel de sousa. E antes desta re-
* Abch. Nac, Corp. Chron., Part. I, Uac,. 49, Doc. 39.
RELACOES COM a curia romana 405
cebi tambera oulras de Vossa Alteza de semelhantes negocios e com as
mesmas condicoes. E como quer que a hum e oulro tempo aquy se le-
nha achado bras neto sem ocupacoes que ho empedissem, nao foy neces-
sario ocuparme eu nisso, nem lao pouco em screuer as nouas que qua
correm, que he de creer que o mesmo bras neto com a deligenlia que
faz ho al as screua a Vossa Alteza de raao em mao. Com tudo me pa-
receo agora que deuia responder, ao menos pera que Vossa Alteza sayba
que as suas me sao dadas, e asy as causas porque eu leixo de me enlre-
poer no que nellas me manda.
E a uoltas disto, por esta nao ser de todo desutil, direy as nouas co-
mues de qua, e tras ellas em parte o que me parece que toca a seu ser-
uico, como sao obrigado.
E ñas nouas comecarey pollo fim do Cardeal Colona, que de tan-
tos males foy principio e o fora de mores se mais viuera, mas nao quis
deus sostentar sobre a térra quem debaixo della muito tempo ha que es-
leuera milhor : o qual nesle mes de Julio passado, em espaco de dous ou
tres días, falleceo em ñapóles de peconha que Ihe derom, ou, segundo al-
guns dizem, elle a tomou vendo descuberto hum tratado que linha ordido
pera matar ho papa, e elle por forca ho ser, e dar ho reyno de ñapóles,
que Ihe o emperador tinha confiado, a franceses. Sobre a qual trama, asy
aquy como em ñapóles, he presa infinda gente que se diz ser participan-
te. O papa deu a seu sobrinho ho Cardeal de mediéis por morle do Co-
lona a cancelarla apostólica, e o emperador ho Arcebispado de monreal,
que he em Sicilia ; e o mesmo Mediéis foy logo feyto legado pera esta em-
presa contra ho turco, á qual se partyo e he ja aribado ao emperador.
As nouas do aparato do turco Vosa Alteza as deue saber mais fres-
cas e ameude polla uia de fraudes e alemanha, donde ellas qua uem ;
porem as que aquy se dizem sao as destas stampas, que aquy enuio a
Vossa Alteza, em que asy mesmo verá ho aparelho do emperador por
térra.
Por mar ha ja dias que he hido André doria com cinquoenta gal-
les, antre suas e do papa e da religiom de sam Johao, e multas naos de
biscainhos, e outros lenhos, de maneira que será a gente que leua xvi
mil homens, afora os que estauam presos no reyno de ñapóles e sicilia,
a que se perdoou pera que vao ajudar, que se diz que serám bem qua-
tro mil.
406 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
Pedióse a venezeanos algumas gallees emprestadas pera esla viagem,
e seescusarom disso ; porem esla armada Yay mui apercebida e poderosa,
e asy nella como na boa fortuna do capitao se tem grande esperanca da
Vitoria, e já aquy ha noua certa que armada do turco, que era virada a
modom, como soube da dandré doria se retyrou a Conslanlinopra, onde
estao com gram temor e tem cerrado ho porto.
O marques del guasto com oito mil spanhoes que tinha em Lombar-
dia, e XII mil italianos que se fizerom, he tambem partido para Alema-
nha. E na marca de ancona está ho senhor Luys de gonzaga por capi-
tán d aquellas parles. E no reyno de ñapóles ho Senhor Alarcon. E agora
he aquy chegado de Alemanha ho marques de villa franca, filho do Du-
que dalua, o qual vem por viso rey a ñapóles.
Asy mesmo alguñs senhores mancebos italianos sao partidos daquy
com gente á sua custa a seruir ho emperador e achar se nesta jornada,
e ha aquy nouas que houtro tanto fazem muitos senhores de castella e
doutras partes ; e os que nao podem ir, enuiaó. E o duque de raantua,
antre outras cousas, manda apresentar ao emperador quatrocentos caua-
los de gram preco, e antre elles huum, que val tanto como todos, de que
se dizem raarauilhas.
Aquy se disse que Vossa Alteza com todas suas guerras e gastos nao
se esquecera, neste tao necessario tempo, de ajudar a christandade, de que
he tao sinalado raembro ; e eu sao huum dos que desejao que Vossa Al-
teza nao perca esta ocasión e aparelho de tanta gloria e louuor a seu no-
me, que, postoque com muy justificadas razoes se possa escusar disso,
tanto com muito moeres será louuado ajudando a esta empresa tao santa,
que será sello e sinal perpetuo de seu alto animo. E islo mandando a es-
tas partes huma armada contra ho turco, qualquer que seja, pera andar
per sy ou juntamente com a do emperador, o que dará a Vossa Alteza
nao menos nome, que todalas outras Vitorias suas e de seus anlepassados.
E toda espesa pera isto se nao deue arrccear, quanto mais que a raeu
ver nao será muita, porque com xv ou vintc carauellas e algumas naos
de compagnia bem armadas se satisfará, segundo a repulacao qua tem as
de Portugal. E pera islo creo eu que de boamente conlribuyrao asy os
leigos como a crerizia.
E com isto se poderla asaz justificadamente empcdir ao papa as de-
cimas e outras demandas, a que la he hido huum nuntio, que, se ihe
RELACOES COM a curia romana 407
conceden! o a que dizem que vay, nao se segué dyso algum nome a Vossa
Alteza nem a seus reynos, senao fazellos quaisi como trybularios aos pa-
pas cada uez que tyuerem necessidade, do que creo que Vossa Alteza,
polla grande prudencia que em suas cousas vsa, se guardará, e quererá
antes seguir esl oulra via como mays conforme a sua reputacao e estado,
enviando, como digo, huma boa armada.
E comprirá com isto a muitas partes, com o que deue á religioni
christaa, com ho papa, com ho parentesco e amizade do emperador, e
oflenderá ao turco nao soomente como imigo dos christaos, mas de Vossa
Alteza em particular.
E o que vallera mais que tudo será a presteza disto, porque, se se
poe em rauitos conselhos e se buscaO diííiculdades, será leixar passar a
sazao em que se estimará mais ho pouco com tempo, que ho muito fora
delle.
E verdadeiramente creo que nao menos fama Ihe dará esta, que to-
das as outras empresas suas juntas, ainda que sao muito grandes. E a
isto me mouem, alem das outras muitas razoes, principalmente ver que
as mais custosas e continuas guerras e trato que Vossa Alteza tem, he
ñas Indias onde, postoque tenha ávidas muitas e grandes Vitorias, e taes
que nao soomente chegaó, mas passao muito adiante as famosas dos an-
tiigos, todauia nao sao qua conhecidas das mil partes ha huma, e nisso
fallao como em sonhos e patranhas ; e tem crudo que, se as Vossa Al-
teza segué, he mais pollo interesse que por outro respeito, o que nesta
ajuda contra o turco fallecerá, porque se verá nesta prasa do mundo lodo
que nem proueito nem outros respeitos alguuns mouerom a Vossa Alte-
za, senao ho puro zello da religiao e mera sua bondade. Ver se ha tam-
bem parte de sua grandeza, que estes qua nunca virom nem creem. E,
como ácima disse, se fugiraó com isto mil inconuenientes, asy das de-
mandas do papa, como outros, e comprirá se com muitos e a menos cus-
ía, e com mais reputacao e autoridade de Vossa Alteza, e satisfacao de
seus vassallos.
E se eu como huum delles me mouy de tao longe a lembrar ysto,
beyjarey as maos de Vossa Alteza atribuyl o mais á boa vontade com que
o ho digo, que a outro algum respeito, porque nenhuura ha em mym
mais que desejar que a fama de Vossa Alteza seja em todalas parle co-
nhecida por lao grande, como eu sey que ho he seu animó. E se fuy
408 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
prolixo Vossa Alteza me perdoe, que o desejo e zello de seu seruico me
trasporlou de pouco em poiico mais ionge do que a principio cuydey.
De Roma a ix de selembro 1532.
As reaes maos de Vossa Alteza beija seu seruidor — Pero de Sonsa '.
Carta do Bisípo de Siiii^ag;lia a el-Rei.
153;S— Sctembi'o V^,
Serenissimo e inuiclissimo Re e signore potenlissimo. — La santita
di Nostro Signore papa Clemente mi manda ala Maesta vostra Nuntio a
traltare con quella come con \no de principali, anzi principale, membro
déla christianita alcune cose importanti al bene publico, e toccanti in
questi tempi molto particularmente a tutta la república christiana, a che
sua Beatitudine é tenuta per la dignita sua et oíficio, e non meno per lo
ardentissimo desiderio che ha de la quiete de essa República : imposemi
oltre ale altre cose che io, entrato che fusse ne Regni e paesi déla Maesta
vostra, la auisasse súbito déla uenuta mia, il che io fo per questo mió a
posta, facendole intendere che, oltre al comandamento di sua Santita, io
uengo desiderosissimo di far cose che siano in bene uniuersale, e molto
peculiarmente di seruire la Maesta vostra, non altrimenti ch el padrone
mió, che cossi mi parra doppiamente seruir a lui. Sonó arriuato hogi che
siamo ali dodece del presente mese, ad hore uintidue, in Ronces, e spero
con 1 aiuto de Dio far questo poco uiaggío che mi resta, e Martidi próxi-
mo che uiene trouarmi in Aldea galliega : in questo meso ala Maesta vos-
tra di continuo con tutto il Core humilmente mi racomando, pregando
Nostro Signore Dio il suo felicissimo stato e persona Regia guardi e ac-
creschi sempre come essa desidera.
Di Ronces ali xii di Settembre mdxxxii.
Di vostra inuittissiraa Maesta — Humil seruitore // vescouo di Se-
nogallia Nuntio de Sua Sanlita ^
1 Arch. Nac, Corp. Chron., Parí. I, Mac. 49, Doc. 98.
2 Ihidem, Ma^. 49, Doc. 101.
RELAGOES COM A CURIA ROMAiNA 409
Breve do Papa Cleitieiite Til dirigitlo
ao Ifiisiiio de Sini^ag;lia.
153% — Outubro 19.
Venerabilis frater, nuper Fidei Calholicae zelo et Animarum Deo lu-
crifaciendarum studio ducU, filii Didaci de Sylva Ordinis 3Iinimorum S.
Francisci de Paula professoris doctrina, prudenlia, etc. ipsum Didacum
noslrum, et Apostolicae Sedis Gommissarium, ac super extirpatione hae-
resum, et aliorum lunc expressorum errorum in Regno Portugalliae, et
Dominiis Inquisitorem autorilale Apostólica consliluimus, et deputamus,
plena sibi, etc. cum autem licet in eodem Sancto opere perseveran, il-
ludque ad eíFectum produci faceré siio teiupore Yelim, tamen nonnullae
rationabiles causae nobis, vel aliud, quae Animarunfi salutem, et Regni
buius prosperitalem curantibus in praesens suadeant, huiusmodi Inquisi-
tionis negotium in dictis Regno, et Dominiis eidem Didaco per nos de-
mandatum aliquantis perdiíferamus, et in boc dum quid nobis optime fa-
clum Yisum fuerit statuerimus, propterea per incertas alias quascunque
literas Apostólicas facultates, et commissiones, ac in forma Rrevis hacle-
nus concessas, et Mlarum vigore predictas, et alias quascunque eidem Di-
dico, ac quibusvis alus etiam locorum Ordinarii autoritate Apostólica le-
nore pracsentium ad nostrum beneplacitum suspendimus, inhibenles, etc. \
* Extracto publicadopor Fr. Manuel de S. Dámaso na Verdade Elucidada, pag. 23.
TOMO 11. 5*2
410 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
Caria de Iluarte cía Paz a el-Rc¡.
1&3!S — iVovcinliro 4.
Senhor. — Eu cscreuo ao Conde muito verdadeirameníe quam poií-
qua culpa tenho em nenhuma das cousas que ma dam, e que sempre es-
tou, como eslava nese Reino, presles a seruico de Vosa Alteza. E porque,
ainda que som pouquo e inorante, porque tenho este amor e desejo aas
cousas de seu seruico, o poso deslas parles avisar de cousas, que muilo
importan! ; e aimda nom seriam maos seis omens conslamtes, verdadei-
ros, desejosos d omrra, e que amasem voso seruico, e enlremelidos e
avisados, lamcados per Vosa Alteza com muilo segredo nesles Reinos de
chrislaos, e ainda nos do turquo, que nom se fizese neles cousa que Vosa
Alteza ñora soubese. E de qua poderla por eics saber, nom somenle o que
ora se faz ou ordena contra voso seruico, mas aimda o que jeralmente
se diz das que se fazem la e demtro nesa corle de Vosa Alteza : porque
eu nislo me quero ocupar, emuio a Vosa Alteza este a be de cifras, que
Vosa Alteza mande guardar, porque as cousas desla calidade por elas Ihe
escreverey, por me nom suceder algum perigo aa pesoa lomando alguma
minha lelra. E porque cifras ha mullas pesoas que as lem o fiz de lam-
ias letras, porque qamdo se seruem de lamias mal se enlemde. Vosa Al-
teza nom me escreva nem responda nunca, e se alguma vez for per forca
seja per elas ; e porem logo me avise se esta Ihe foy dada, pera o que
basta na primeira que Vosa Alteza escrever a dom marlinho mandar Ihe
que me diga que mande entregar o cartorio que tinha ao procurador de
Vosa Alteza : e lá ha Vosa Alteza de mostrar no pubrico e secreto que
está de mim muilo descomtenle, porque, aimda que asy o seja em ver-
dade, sempre o ey de seruir e morrer seruindo o, sem nunca Ihe pedir
merce. Beyjo as maOs de Vosa Alteza, cujo estado e vida o senhor deu&
guarde e prospere. A ida do papa a ver se cora o emperador eslava asen-
tada pera día de sam marlinho : oje mi'* de novembro em consistorio se
dilalou. O papa dizem que a deseja a fim de nesta viajera fazer em flo-
RELACOES COM a curia romana 411
renca hum castello pera ler aquele estado seguro, mas todo o Resto desta
Corle nom quería sair delia '.
Esta caria do duque furtei a meu pai ; mande a Vosa Alteza quei-
inar. E nam me culpe de vyr a Roma, aínda que nela Requeira que per-
doem ese pouo, porque o faco cuidando que sirvo níso Vosa Alteza. —
Duarle da Paz ^.
Breve fio Papa Clemente ^11, clirigido a el-Rei.
15313 — TVovembro 16
Clemens papa vii Charissíme in christo filí noster salutem et apos-
lolícam benediclíonem.
Redil ad Serenílatem Tuam Dilectus filius Blasius Nieto, oralor tuus,
tolo hoc lempore quo apud nos fuil ila in tuis negociís fideliter apte pru-
denlerque versatus, \l, cum fide erga Te obseruanlíam erga nos coníun-
gens, el laudem et beníuolentíam a nobis non vulgarcm promeruít. Quam-
obrem serenítalís tue in hoc homine dilecto non modo probauímus iu-
dicium sed gratias eliam eí agímus, Cum ením Serenítatí Tuae arela be-
níuolentia connexí semper esse cupíamus, íllos mérito amamus plurimum,
Quorum opera cum in tuis negociís fidelis et fructuosa, lum in nostro
erga tuam serenílatem amore, eiusque erga nos filialí aíFectu conseruando
et augendo, sicut ipsius Blasius studiosa ac dilígens fuit. Itaque priraum
fidei probílati et diligentie eisdem Blasií in tuis rebus praeslita testimo-
nium pro verítale prohibemus, ac deínde pro nostro officio virtutí debito
eum Tue Serenítatí ex animo commendamus, Dígnus est ením tuo pecu-
liari amore, qui honori commodo et dignitalí tue sedulo ac strenue in
hac legatione inseruiuit. Nos cerle quicquid Tua Maiestas amorí erga
* Segué a cyfra, composta de quatro signaes differentes para cada letra, dos quaes
já se serviu para formar a assignatura.
2 Arch. Nac, Corp. Chron., Part. I, Mac. 49, Doc. 20. No verso tcm a cota se-
guinte: De duarte de paz que mandou Aluaro mendez que trouxe gaspar do couto cm
evora a xix dezembro de 1532. O sobrescripto diz: A el Rei noso Senhor — De muito
seu seruico pera a sua Alteza abrir.
ü2*
412 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
hunc suo nostrae huius commendationis causa adieceril, siimus ab ca
lanquam in homineui noslrum nobis gralum et acceplum collatum valde
gralum habiluri.
Datura Romae apud sanclum pelrum, sub annulo piscatoris, Die xvi
Nouembris mdxxxii, Ponlificalus noslri Anno Nono. — Blosius ^
Carta de D. Ilariinho de Portiig;al a el-Rei.
1532— IVovemliro lY.
Senhor. — Parli de raalagua aos xi de selembro, como tenho scrila
a vosa alloza, neslas gales que Iras dora aluaro de bacao, que vinhao
com quinhenlos mil cruzados pera o enperador ; e, polla necessidade que
linha dalles e a presa que daua, me pareceo que nao auia postas perqué
pudese chegar mais asinha. Foráo os lempos táo contrairos que as liue-
rao em portos, e os mais delles ermos, sem poder ir por mar nem por
térra. Pasadas agoas morías coreráo as gales tromenla, que durou oito
oras, em que o mar Ihes quebrou casi lodos os remos, e o uenlo todas
as uelas. Screuo a vosa alteza porque todos os marinheiros desta arma-
da, que toda sua uida se criarao neste mar, afirmao nunca a tal uerem,
e aínda que eu uinha na milhor galé, e que menos daño recebeo, lodauia
foi tanto que, se nao fora a boa uenlura de vosa alteza, a que eu uinha
seruir e tao verdadeiramente seruir, nao creo que déos fizera tamanho
milagre como fez en nos saluar.
Cheguei esla cidade onlem, e oge fez cinco mezes que partí de lis-
boa : soi a ser larga uiagcm pera os que uaom á india. Achei aquí noua
que o enperador ha casi dez dias que está era mantua : ha se de uer
com o papa : diz se que ha de ser en bollonha, e loguo estando o papa
pera partir se afirma que cnlendeo nos que negoceao pollo enperador que
elle folgaua de ir a roma pera se uerem, e as razOes porque pera pasar
a espanha ha de uir ñas gales do principe andrea dorea, e porque elle
está na morea e parece que ha hai de inuernar, quererá neste meio lempo
* Arch. Nac, Mac. 20 de Bullas, n.» 11.
RELACOES COM A CURIA ROMANA 413
uisitar ñapóles, e a meu parecer tirar aquella opiniao de se coroar em
bolonha. Hum correo dos ordinarios chegou oge aqui de roma, que trouxe
esta noua, e esles papéis que aqui mando a vosa alteza, que lomei ao
embaxador que aqui está do enperador. Nao liue lempo pera os acabar
de uer.
Eslarei aqui oge e amanha, esoulro dia me partirei com aiuda de
noso senhor : do que soceder auisarei loguo vosa alteza.
De genoa aos xvii de nouerabro 1533. — Dom Marlinho de Por-
tugal ^
Caria de cl-Rci ao Papa Clciiiciite l^II.
1533
Muito Sánelo in chrislo padre e Muito benauenturado Senhor, o
uosso deuoto e obidienle filho Dom Joham per graca de deus Rey de por-
lugual e dos alguarues d aquem e d alem mar, em áfrica Senhor de gui-
ñee, e da Goniquisla nauegacam e Comercio de elhiopia, arabia, persia e
da India, com toda humildade enuio beiiar seus Sánelos pees.
Muito Sánelo in chrislo padre e Muilo benauenturado senhor : ainda
que per uezes tenha sopricado e pedido muyto por merce a uosa Sancli-
dade que concedesse ao Cardeal meu muyto amado e precado Irmaao ou-
Iro tal indulto, como foy concedido ao Cardeal dom Jorge, e Ihe tenha
scripto os grandes merecimentos de sua pesoa, pelos quaes merece ou-
tras mores merces a uosa Sanctidade, nam quis deixar de Ih o tornar
agora por esta minha carta a sopricar e pedir muyto por merce que Ih o
queira conceder, anlre estas outras merces, que pera ele muy particu-
larmente Ihe peco, pois ha tantas Rezoes pera Ih as uosa Santidade de-
uer de fazer, as quaes sam que ele posa conferir e prouer todos e quaaes
quer beneficios, que em suas prelacias uagarem, postoque por qualquer
* Arcii. Nac, Corp. Chron., Part. I, Mac. 50, n." 38. Lé-se no verso do docu-
mento: De dom martinbo que mandou aluaro mendez que trouxe gaspar do couto cm
evora a \i\ dias de dezembro 1532.
414 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
maneira perlencaní a colacam e qualquer oulra prouisam dos inferiores.
E que ñas mesmas Suas prelacias posa prouer todos e quaesquer benefi-
cios que uagarem per falecimenlo de quaesquer criados de uosa Sancli-
dade, que nom esliuerem em seu conlino seruico. E asy mesmo que posa
segundo forma de seus indultos prouer e conferir todos e quaesquer be-
neficios onde e como quer que uagarem per falecimento, ou de qualquer
outra maneira de seus criados, ou officiaes, os quaes se entenderám ser
seus uerdadeiros familiares e continos comensaes, quando quer que por ele
forem filhados e asentados em seus liuros, e Receberem suas moradias
em lugar de linello, E porque eu cy por muy certo que pera Ihe uosa
Sanclidade fazer estas merces nam será necesario lembrar Ihe as muylas
Rezoes, que ha pera Ih as deuer fazer, por as ler sabidas muy bem, me
nom alargo mais, soomenle que Ihe soprico e peco muilo por n>erce que
Iho queira conceder da maneira de que o pede a uosa sanclidade, e asy
em lodos os mais negocios que de sua parle dom antonio da costa ihe
supricar, e em muy singular merce o Receberey de uosa sanclidade.
Muilo sánelo in chrislo padre e Muylo benauenlurado Senhor, noso
senhor por muylos lempos conserue uosa Sanclidade a seu sánelo ser-
uico.
Sprita em euora a dias de de 1533 ^
Carta d'el-Rei ao Papa Clemente Til.
1533 —
Muito Sánelo in chrislo padre e Muilo benauenlurado senhor, o uoso
denoto e obediente filho dom joham per graca de deus Rey de portugal
e dos algarues d aquem e d alem mar, em áfrica Senhor de guiñee, e
da conquista, nauegacam e comercio de elhiopia, arabia, persia e da in-
dia, com toda humildade emuio beiiar seus sánelos pees.
Muito sánelo in chrislo padre e Muilo benauenlurado senhor : eu
* Documento incompleto, scm data de dia c mez, nem assignatura, no Arco. Nac,
Corp. Chron., Part. I, Mac. 52, Doc. 7.
RELACOES COM A CURIA ROMANA 415
spreuo a doni niarlinho, elelo arcebispo do funchal, primas das ludias,
nieu milito amado sobrinho, do meu conselho e meu enbaixador, sobre
huum indulto pera o Gardeal meu muito amado e prccado Irmaao, sobre
que ia spreuy a uosa sanctidade os dias pasados e asy sobre outras cou-
sas suas. Suprico e peco muylo por merce a uosa sanctidade que em
lodo o que de minha parte sobre isfo Ihe diser Ihe queira dar inteira fee
e crenca, e niso queira fazer aqueta merce ao Cardeal meu Irmaao, que
ele por sua pesoa e grandes merecimentos merece. E em muy singular
merce o Receberey de uosa Sanctidade.
Muylo sánelo in chrislo padre e Muylo benauenturado senhor, Noso
senhor por muytos lempos Conserue uosa Sanctidade a seu sánelo ser-
uico.
Sprita em euora a dias de de 1533 *.
Hulla do Papa Clemente l^II, clirig;icla a el-Rei.
1533 — Janeiro 31.
Clemens episcopus seruus seruorum dei Carissimo in chrislo filio
Jolianni Porlugallie el Algarbiorum Regi Illustri Salutem el apostolicam
benedictionem.
Gralie diuine premium el humane laudis preconium acquirilur, si
per seculares Principes ecclesiarum Prelalis, preserlim Ponlificali digni-
tale predilis, opportuna fauoris presidium el honor debilis impendalur.
Hodie siquidem ecclesie sancli Jacobi, certo lunc expresso modo Pastoris
solatio deslitule, de persona dilecti filii Blasii Elecli sancli Jacobi, nobis
el fratribus noslris ob suorum exigenliam merilorum accepta, de ipsorum
fralrum consilio apostólica aucloritate prouidimus, ipsumque illi prefeci-
mus in Episcopum el Paslorem, curam el adminislralionem ipsius ecclesie
sibi in spirilualibus el lemporalibus plenarie commiltendo, proul in nos-
lris inde confeclis lilteris plenius conlinelur. Cum itaque, fili Garissirae,
^ Documento no mesmo estado do antecedente, no Arch. Nac, Parf. I, Mac. 32,
Doc. 6.
416 COKPO DIPLOMÁTICO POUTUGUEZ
sit virlulis opus dei .Ministros benigno fauore prosequi, ac eos verbis et
opperibus pro Regis elerni gloria veneran, Serenilatem luam Regiam ro-
gamus el hortamur alíenle qualenus eundem Blasium Eleclum ac diclam
ecclesiam sue cure commissam habens pro noslra et apostolice sedis re-
uerenlia propensius commendalos, in ampliandis et conseruandis iuribus
suis, sic eos benigni fauoris auxilio prosequaris, quod ipse Blasius Ele-
clus tue celsiludinis fullus presidio in commisso sibi cure Pastoralis oííi-
cio possit, deo propitio, prosperari ; ac Ubi ex inde a deo perenmis vite
premium et a nobls condigna proueniat aclio gratiarum.
Datum Bononie Anno Incarnationis dominica Miliesimo quingentési-
mo trigésimo secundo, Pridie Kalendas februarum, Pontificalus noslri
anno décimo ^
Cédula cousis^torial.
1533 — Janeiro 31.
Reuerendissime et Illuslrissime domine Domine mi Collendissime.
Hodie Sanctissimus in christo pater et dominus noster dominus Clemens
diuina prouidenlia papa víi in suo consistorio secreto, yt moris est, ad
relationem meam, cum sanctitas sua in lerris et insulis olim per clare
memorie Reges Portugalie et Algarbiorum, tune in humanis agentes, e ma-
nibus infidelium ereptis, ac de nouo inhabüatis (?) et eorum Icmporali do-
minio subieclis, sancti Jacobi et sancli Thome ac de Goa, necnon sancti
Michaelis ecclesias Cathedrales ac ciuitales et dioceses pro quatuor epis-
copis, qui fidelibus partium illarura preessent, de Reverendissimorum Do-
minorura meorum sánete romane ecclesie Cardinalium consilio, apostólica
auctoritale erexisset et instiluisset, et in eisdem insulis, aul parlibus illic
vicinis aliqua sedes melropolitica, ad quam ipsi christifideles, cum me-
tropolitana oíTicio opus foret, recurrere possent, non exisleret, \i ecclesie
ipse sic de nouo erecle perfectius dirigentur, et iidem episcopi eo res ec-
clesiasticas cum maiori malurilale tractarent ad diuini nominis laudem et
' Abch. N.VC., Mac. 11 de Bullas, n.° 5,
RELACOES COM a curia romana 417
gloriara el christifidelium animarum salutem, Serenissimo principe Joan-
ne Porlugalie et Algarbiorum rege illuslre humiüter supplicante, ecclcsiam
funchalensem, olim per felicis recordationis Leonera papara x in Galhedra-
lem dicta aucloritale erectara, que de iure patronatos ipsius Johannis re-
gis exislit, tune per obitum bone raemorie Didaci episcopi funchalensis,
extra romanara curiara defuncti, pastoris solatio destilutam, de simili con-
silio el apostolice potestatis plenitudine in raetropolitanara cura Archiepis-
copale dignitate, jurisdiclione et superiorilale, ac crucis delatione et alus
metropoliticis insigniis, dicta aucloritale erexit el instituil, ac illi ciuita-
tes et dioceses predictas pro prouincia, el ipsarum sancti Jacobi et sancti
Thorae ac de Goa, necnon sancti raichaelis ecclesiarura capitulo, ac cle-
rura et populura ciuitalura el diocesium earundera pro suis prouisioni-
bus, clero et populo, Ha quod ipsi, quoad orania raelropolilica et Archie-
piscopalia jura, necnon superioritatera el jurisdiclionera pro terapore exis-
tenti Archiepiscopo Funchalensi subiecli exislerenl, et tanquara raembra
capili obsequenles illi obedire, Et de eisdera Archiepiscopalibus iuribus
responderé tenerentur, concessit el assignauit ; Necnon Archiepiscopo fun-
chalensi pro terapore exislenti vi in dicta sibi data prouintia orania et sin-
gula, que alii archiepiscopi in eorura prouinliis faceré et exercere con-
sueuerunt, faceré et exercere, illeque et dicta ecclesia funchalensis ómni-
bus et singulis priuilegiis, Iraraunitatibus, exeraptionibus, fauoribus, gra-
tiis, concessionibus el indullis, quibus alii Archiepiscopi et ecclesie Ar-
chiepiscopales de jure, vel consueludine ac alias quoraodolibet vluntur,
poliunlur et gaudenl, ac vti, poliri et gaudere poterunt quoraodolibet in
futurura, Yli poliri el gaudere libere el licite valerent indulsit: Non obstan-
tibus conslilulionibus el ordinalionibus apostolicis, Celerisque contrariis
quibuscunque. In quorura fidera presentera cedulara fieri el noslri parui
sigilli jussimus et fecimus irapressione rauniri fecinius fsicj eamque manu
propria subscripsimus.
Datura Bononie in edibus noslre solite residenlie, Anno a natiuilate
Doraini millesirao quingentesirao trigésimo lerlio, die vero vltima raensis
Januarii, ponlificalus prelibati Doraini noslri pape anno decirao. — A. Car-
dinalis Sanctorum qualuor ^
^ Arch. Nac. Mac. 13 de Bullas, n." 30. ]^o verso do documento lé-se: Copia ce-
dule consistorialis erectionis ecclesie funchalensis in metropolitanam ac erectionis qua-
tuor parrochialium in cathedrales.
TOMO ii. o3
418 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGÜEZ
Bulla do Papa Clemente l^II.
1533 — Janeiro 31.
Clemens episcopus seruus seruorura dei ad perpetua m rei memo-
riam.
Pro excellenti preerainentia sedis apostolice, in qua posl bealum Pe-
trum Apostolorum Principem, imparibus licet meritis, pari taraen auclo-
ritale constituli sumus, in irrigue railitantis ecclesie agro Romanum Pon-
lificem nouas Episcopales sedes ecclesiasque plantare dignum arbitramur,
vt per huiusmodi nouam planlationera populorum augeatur deuotio, diui-
nus cultus floreat, animarum salus eueniat, et loca ad id apta digniori-
bus tilulis et condignis fauoribus illustrentur, ac propagatione noue sedis
honoratique presulis assistentia et regiraine curn apostolice auctoritatis am-
plitudine ac ortodoxe fidei profectu et exaltalione populi ipsi propositum
eis elerne felicilatis premium facilius valeant adipisci, dignaque eorum re-
Iributio cederé possit alus in exemplum. Sane cum Nos nuper Cathedra-
lem ecclesiam Funchalensem in ínsula Madere Regni Portugallie consis-
tenlem, eideni sedi immediate subiectam, ac de Jure patronatus Carissimi
in christo filii nostri Johannis, moderni Portugallie et Algarbiorum Regis
Illustris, ex priuilegio apostólico, cui non est hactenus in aliquo deroga-
tum, existentem, tune per obitum bone memorie Didaci, olim Episcopi
Funchalensis, extra Romanam Curiara defuncti, Pastoris regimine destitu-
tam, in Metropolitanam erexerimus ; Et ínsula santi Jacobi eiusdem Re-
gni satis competenter habitetur et frequentelur, ac in ea Oppidum de Ri-
beira grande satis celebre el in eo vna parrochialis ecclesia satis insignis
existant, Nos, habita super hiis cura fratribus nostris deliboratione ma-
lura, de illorum Consilio et apostolice poteslatis plenitudine, ad omnipo-
tentis dei laudem et gloriara, ac totius Curie celeslis iubilationem, aucto-
ritate apostólica tenore presentiura, cura Johannis Regis predicti ac dile-
cti filii Martini A portugallia moderni Electi Funchalensis ad hoc respe-
ctiue expressus accedat assensus, Insulam sancti Jacobi et Oppidum ac
parrochialem ecclesiam predicta, illorumque districtus, Territoria, Villas,
RELACOES COM a curia romana 419
Loca, íncolas vtriiisque sexiis nunc et pro tempore existentes, ac eccle-
sias, Clerum, Populum, personas seculares et ordinum quorumcunque re-
gulares, Monasleria, Hospitalia el pia loca, ac beneficia ecclesiastica secu-
cularia et ordinum quorumcunque regularia, a diócesi Funchalense, cuius
antea erant, ac ab onini iurisdilione, superioritate, correclione, visitatio-
ne, dominio et polestate Archiepiscopi Funchalensis nunc et pro tempore
existentis, necnon a Mensa Archiepiscopali Funchalensi fructus incertos
dicte parrochialis ecclesie, iura Episcopalia nuncupatos, qui per Episco-
pum Funchalensem pro tempore exisíentem percipi consueuerant, Sexa-
ginta sex ducatorum auri de Cámara secundum communem extimationem
valorem annuum non excedentes, perpetuo separamus, dimenibramus, exi-
mimus ac totaliler liberamus; necnon Oppidum prediclum in Ciuitatem,
que sancti Jacobi nuncupetur, ac parrochialem ecclesiam prediclam in
Cathedraiem sub eadem inuocalione sancti Jacobi, ac in ea Episcopalem
dignitatem pro vno Episcopo sancti Jacobi nuncupando, qui eidem eccle-
sie sancti Jacobi presit, ac illius edificia ampliari el ad formam Cathedra-
lis ecclesie redigi procuret et facial, ac in ea illiusque Ciuitate ac diócesi
dignitates, Canonicatus et prebendas, ecclesias, aliaque beneficia ecclesias-
tica cum cura et sine cura erigat et instituat, ac alia spiritualia conferat et
seminet, prout diuini cultus augmento et animarum saluti cognouerit ex-
pediré, cum sede ac Mensa Episcopali el alus insigniis ac iurisdictionibus
Episcopalibus, necnon priuilegiis, immunilatibus, facultatibusetgraliis, qui-
bus alie Calhedrales ecclesie el earum presules in Regno Portugallie pre-
dicto quomodolibet vtuntur, potiuntur et gaudent, ac vti, potiri el gau-
dere poterunt in futurum, perpetuo erigimus et instituiínus ; ac eidem ec-
clesie sancti Jacobi Oppidum in Ciuitatem erectum pro Ciuitate, ac sancti
Jacobi prediclam et de Sanl antaom ac de San vincente et de sancta Lu-
zia ac de sánelo Nicolao et de Mayo ac do fogo et do sal ac de Boa uista
et a braua ínsulas, ac spacium Tricentarum Quinquaginta leucarum Ierre
firme incipiendo a flumine Cambia prope promontorium seu locum Cabo
uerde, et continuando vsque ad promontorium seu locum Cabo de pal-
mas, nuncupata, et flumen sancti Andree dicli Regni illorumque distri-
clus ac lerritoria pro diócesi, illorumque Íncolas et habitatores pro clero
et populo, *ita vt in illis Episcopus sancti Jacobi, qui pro tempore fuerit,
Episcopalem iurisditionem, aucloritatem et poteslatem exercere ac omnia
el singula, que alii quicunque Episcopi in suis ecclesiis, Ciuilatibus ac
53 *
420 GORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
diocesibus faceré quomodolibet possunt, faceré libere et licite valeat; ac
Mense Episcopali sancli Jacobi huiusmodi pro eíus dote fructus, redditus
et prouentus incertos prediclos, necon redditus annuos Quingentorum auri
in auro largorum ex annuis redditibus ad ipsura Johannem Regem spe-
ctantibus, el per eum ad hoc liberaliter assignatos, perpetuo concedimus,
assignamus, applicamus et apropriamus, ipsamque ecclesiam sancli Ja-
cobi el illius pro tempore presulera eidem ecclesie Funchalensi ac illius
pro tempore Archiepiscopo iure Metropolitico subiicimus, ac in Suífraga-
neam et SuíFraganeum respectiue assignamus ; necnon ius patronatus et pre-
sentandi infra annum, propter loci distantiam, nobis et Romano Ponlifici
pro tempore existenti personam idoneam ad ipsam ecclesiam sancli Ja-
cobi, quoties illius vacatio, hac prima vice excepta, occurrerit, per Nos
el Romanum Pontificem pro tempore existentem in eiusdem ecclesie san-
cli Jacobi Episcopum et Pastorem ad presentationem huiusmodi preficien-
dum eidem Johanni ac pro tempore existenti Regi Portugallie perpetuo
reseruamus et concedimus : Non obstantibus constitutionibus et ordinatio-
nibus apostolicis, ac dicte ecclesie Funchalensis eliam iuramenlo confir-
matione apostólica, vel quauis firmitate alia roboratis, statutis et consue-
tudinibus, ceterisque contrariis quibuscunque. Nulli ergo omnino homi-
num liceai hanc paginara nostre separalionis, dimembrationis, exemptio-
nis, liberationis, erectionis, institutionis, applicationis, apropriationis, as-
signationis, reseruationis et concessionis infringere, uel ei ausu temerario
contrarié. Siquis autem hoc atlemptare presumpserit, indignationem om-
nipotentis dei, ac beatorum Petri et Pauli Apostolorum eius, se nouerit in-
cursurum.
Datum Bononie Anno Incarnationis dorainice Millesimo quingentési-
mo trigésimo secundo, Pridie Kalendas Februarura, Ponlificalus nostri
Anno Décimo \
' Arch. Nac, JMaQ. 18 de Bullas, n.*' 18.
RELACOES COM a curia romana 421
Cédula con^iistorial.
1533 — Janeiro 31.
Reuerendissirne et illustrissime domine domine mi Colendissime.
Hodie Sanclissimus in chrislo paler et dominiis noster dominus Cle-
mens diuina prouidenlia papa yii, in suo consistorio secreto, vt moris
est, ad relationem raeam, Cum sanctilas sua ecclesiam funchalensem in
Ínsula madere regni porlugallie consistentem, olim per felicis recordalio-
nis leonem papam x in calhedralem erectam et sedi apostolice immediate
subiectam, que de iure patronatus Serenissimi domini Joannis Portugallie
et Algarbiorura Regis ex priuilegio apostólico, cui non est hactenus in
aliquo derogatum, existit, Tune per obitum bone memorie Didaci, olim
Episcopi funchalensis, extra romanam curiam defuncti, vacantem, in me-
tropolitanam ecclesiam cum archiepiscopali dignitate, de Reuerendissimo-
rum dominorum meorum sánete romane ecclesie Cardinalium consilio,
apostólica auctoritate erexisset et instituisset, ac parrochialis ecclesia san-
cti michaelis, seu alias in literis exprimenda, in Ínsula sancti michaelis
eiusdem regni, cui per vicarium perpetuum in diuinis deseruiri consue-
uerat, insignis et nobilis ac cathedrali honore digna censeretur, ad om-
ni poten tis dei laudem et gloriam et honorem beatissime et gloriosissime
semper virginis marie eius genitricis, Necnon totius curie celeslis iubila-
lionem, prefato Joanne Rege hoc eidem sanctitati sue supplicante, de si-
mili eorundem Reuerendissimorum dominorum meorum consilio, et apos-
tolice potestatis plenitudine, oppidum, seu pagum, in quo dicta ecclesia
sancti michaelis, siue alias nuncupata, consistit, ciuitatis titulo insigni-
uit, illudque in Ciuitatem, que Sancti Michaelis nuncupetur, ac dictam
ecclesiam Sancti michaelis in Cathedralem sub eadem inuocatione pro vno
episcopo sancti michaelis nuncupando, qui illi presit ac illius edificia am-
pliari et ad formam cathedratis ecclesie redigi faciat et procuret, necnon
in ea ac illius Ciuitate et diocese dignitates, Canonicatus et prebendas,
aliaque beneficia ecclesiastica cum cura et sine cura erigat et instituat,
et alia spiritualia conferat atque seminet, prout pro diuini cultus augmento
422 GOHPO DIPLOMÁTICO POUTÜGUEZ
el animarum salutc cognoueril expediré, cum sede el alus insigniis ac iu-
risdiclionibus episcopalibus, necnon priuilegiis, ¡mmunilalibus el graciis,
quibus alie Calhedraies ecclesie el alii presules dicli regni de iure, \el con-
suetudine Ylunlur, potiuntur el gaudenl, ac vli potiri el gaudere polerunt
quomodolibet in futurum, aposlolica aucloritale erexil el inslituit, ac per-
peluam vicariam ipsius créele ecclesie dignilalem Inibi posl ponlificalem
maiorem esse, el modernuin ipsius ecclesie perpeluum vicarium illam abs-
que alia prouisione sibi desuper facienda relinerc posse voluil ; Necnon in-
sulam sancli michaelis, ac lerritorium seu dislriclum oppidi seu pagi huius-
niodi, pro diocese illorumque íncolas el habitalores pro clero el populo,
lia ul episcopus sancli michaelis, qui pro lerapore fueril, in illisepiscopalera
jurisdiclionem auclorilalem el polestalem libere exerceal, ac fruclus eliara
incerlos dicle erecto ecclesie, iura episcopalia nuncupatos, qui per episco-
pum funchalensem pro lempore exislenlem, lanquam diclarum insularum
ordinarium, percipi consueueranl, valore cgclx ducalorum auri de cá-
mara secundum coramunem exlimalionem non excedenle ; Necnon annuos
reddilus ducalorum ducenlorum auri in auro largorum ex annuis reddili-
bus ad ipsura Joannem regem in dicla Ínsula sancli michaelis spectanli-
bus, de ipsius Joannis regís consensu, mense episcopali dicle ecclesie per-
petuo concessit el assignauil el applicauil, ipsamque ereclam ecclesiam
Ínter alias Archiepiscopo funchalensi pro lempore exislenti subiecil, el il-
lius presulem pro suffraganeo concessit el assignauil ; ac jus palronatus
el presenlandí infra annum, propler loci dislantiam, personara idoncam
ad diclam ereclam ecclesiam quoliens illíus vacatio, hac prima vice ex-
cepta, pro lempore occurreril, romano ponlificí pro lempore exislenti per
eum eiusdem ecclesie Episcopum el Pastorem ad presentalionem huius-
modi preficiendam prefalo Joanni el pro lempore exislenti Portugalie el
Algarbíorum Regí perpetuo reseruauít el concessit. El ínsuper prcfate
erecle ecclesie síc ab eadem primeua ereclione vacanti de persona dominí
Emanuelis de noronha clericí in lileris exprimendi, In presbiteralus ordinc
conslituli, de simili consílio dicta aucloritale prouídil, ipsumque illi in
episcopum prefecil el pastorem, curam el administralíonem eiusdem créete
ecclesie sibi in spirítualibus el temporalibus plenarie commillendo; ac cum
codera Emanuclc, vt slalum suum iuxta ponlificalis dignitatis exigentiam
decentíus tenere valeat, quod cliam poslquam in vira prouisíonis el pre-
feclíonis prcdiclc pacificara possessionem seu quasi regimínis el adminis-
RELACOES COM a CUKIA ROMANA 423
Irationis dicte créele ecclcsie ac Illius bonorum seu maioris parlis eorum
asseculus fueril, Et munus consecralionis suscepeiit, omnia el singula be-
neficia ecclesiaslica, cum cura el sine cura, secularia, el quorumuis ordi-
num regularía, que etiam ex quibusuis concessionibus et dispensalionibus
apostolicis in lilulum el commendam ac vi inuicem seu alus etiam ad tem-
pus vnila el alias oblinel ; Necnon in quibus el ad que ius sibi quomo-
dolibet compelil quecumque quodcumque el qualiacumque sint, etiam si
secularia, Canonicatus et prebendas, dignitales etiam maiores el principa-
les, personatus, administraliones vel oíficia, etiam cúrala et electiua in Ca-
thedralibus, etiam metropolitanis, vel collegiatis ecclesiis, Regularia vero
beneficia huiusmodi, monasteria, prioratus, prepositure, prepositatus, di-
gnitales, etiam conuentuales, personatus, administraliones, vel oííicia,
etiam cúrala et electiua, et tam illa quam secularia beneficia huiusmodi
de iure palronalus laicorum, ac inter eum el quoscumque alios litigiosa
existant, vi prius quoaduixcrit, etiam vna cum dicta erecta ecclesia quan-
diu illi prefueril, retiñere, ac in litigionis jus suum prosequi, consequi el
habere, et non deductum deduccre ; necnon quibusuis reseruationibus,
mandalis, graliis, dispensalionibus, indultis, regressibus, el accessibus,
ac regrediendi et accedendi ad beneficia quecunque, etiam, vi prefertur,
qualificala, et alus facultalibus sibi quomodolibel concessis, vli, et bene-
ficia sub illis comprehensa acceplare, et illa sibi conferri seu commendari
faceré, illaque, necnon si illa emineat beneficia litigiosa huiusmodi conse-
qui, ac in lilulum et commendam vi prius quoaduixcrit retiñere, ac quas-
cunque pensiones annuas sibi super quibusuis fructibus, redditibus et pro-
uentibus ecclesiasticis assignatas, etiam ut prius quoad uixerit percipere li-
bere et licite valeat, motu proprio dicta auctorilate dispensauit; decernens
beneficia óblenla el jus propterea non vacare, et commendas non cessare,
ac vniones dissolutas non esse, necnon reseruationes, gratias, mándala, dis-
pensationes, indulta, regressus et accessus, ac facúltales non expirare, el
pensiones huiusmodi extinctas non esse, ¡rritum quoque etc. Ac voluit et
concessit sanctilas sua beneficia per ipsum emanuelem obtenía, ac in qui-
bus, el ad que jus sibi competit, illorumque qualitates, inuocationes, de-
nominationes, ecclesias, situationes, Ciuitates, dioceses, ordines, depen-
dentias, ac veros annuos valores, necnon pensionum predictarum quanli-
tates, tam coniunctim, quam diuisim, el beneficiorum litigiosorum status
litium, Necnon tenores graliarum predictarum, si opus fueril, exprimí,
424 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
sen in loto vel in parle pro expressis haberi posse, in literis absolueris
eundem dominum Emanuelem a censuris ad elTectum. In quorum fidem
prcsenteni cedulam fieri, el mei parui solili sigilli jussi el feci impressione
niuniri, eamque manu propria subscripsi.
Dalum Rononie in edibus noslre solile residenlie Anno domini a na-
liuitale eiusdem millesimo quingentésimo Irigesimo lerlio, die vero vlti-
ma mensis Januarü, Ponlificatus prelibati Sanclissimi domini noslri pape
anno décimo. — A. Cardinalis Sanclorum quatuor '.
Cédula coiifitiistorial.
1533 — Feverciro lO.
Reuerendissime el illuslrissime domine domine mi Colendissime.
Hodie Sanclissimus in chrislo pater et dominus nosler dominus Cle-
mens diuina prouidenlia papa \ii, In suo consistorio secreto, vi moris
esl, ad relalionem meam, ecclesie funchalensis, que de iure palronalus
serenissimi domini Joannis Portugallie et Algarbiorum Regis llluslris ex
priuilegio apostólico, cui non esl hactenus in aliquo derogatum, fore di-
gnoscilur, et quam nuper, tune per obitum bone memorie Didaci episcopi
funchalensis, extra romanam curiam defuncli, vacantem, ipso Joanne rege
id supplicante, sanclitas sua, de Reuerendissimorum dominorum meorum
sánele romane ecclesie Cardinalium consilio, el apostolice potestalis ple-
niludine, in Archiepiscopalem ecclesiam erexit et inslituit, a primeua eius
ereclione vacanli de persona Reuerendi patris domini marlini a portugal-
lia, presbileri Elborensis, ipsius Joannis Regis nepolis, el apud sanclita-
tem suam el sedem aposlolicam destinali oratoris, quem idem Joannes
Rex ad hoc sanctitati sue per suas Hileras nominauil, de simili consilio,
dicta auclorilale prouidit, ipsumque illi in archiepiscopum prefecit et
paslorera, primalum predictarum insularum, prout antea episcopi funcha-
' Arch. iNac, Mac, 12 de Bullas, n." 4. Lé-sc no verso do dorumcnto . Copia ce-
diile consistorialis de prefectione ecclesie Insulc sancti niichaeiis pro D. Emaniiele de
Noronha.
RELACOES COM A CURIA ROMANA 425
lenses pro tempore exislenles appellabanlur, dici el esse voliiil, curam et
administrationein ipsius ecclesie funchalensis sibi in spirilualibus et teni-
poralibus plenarie commitlendo, ac cum eodem marlino, yI eliam post-
quam in vim prouisionis el prefeclionis predictc pacificam possessionem,
seu quasi regiminis et adminislrationis dicte ecclesie funchalensis, aclllius
bonorum seu niaioris parlis eoruní asseculus fuerit, et munus conserua-
lionis susceperil, oninia et singula beneficia ecclesiaslica, cum cura et
sine cura, secutaría et quorumuis ordinum regularía, que etiam ex qui-
busuis concessionibus et dispensationibus aposlolicis in tilulum et com-
mendam, ac vt inuicem seu alus ad lempus vnila el alias oblinet, nec-
non in quibus et ad que jus sibi quomodolibet competit, quecunque, quot-
cunque et qualiacunque sint, eliam si secularia Canonicalus et prebende,
dignilales eliam niaiores et principales, personalus, adminislraliones, vel
oíTitia, eliam cúrala et electiua, in Calhedralibus et metropolilanis, vel
collegiatis ecclesiis ; Regularla vero beneficia huiusmodi, monasleria, prio-
ralus, prepositure, preposltalus, dignilales, eliam conuenluales, persona-
lus, adminislraliones, vel oíBcla, etiam cúrala et electiua, et tam illa
quam secularia beneficia huiusmodi de iure palronalus lalcorum, ac inter
eum el quoscunque alios litigiosa existanl, vi prius quoaduixeril, etiam
una cum dicta erecta ecclesla, quamdiu 1111 prefueril, retiñere, ac in 11-
tigiosls jus suum prosequi, consequl et habere, et non deductum dedu-
cere ; necnon qulbusuis reseruatlonibus, mandalis, grallis, dcspensatlonl-
bus, Indultis, regressis et accessis, ac regrediendi et accedendi ad bene-
ficia quecumque, etiam vt preferlur quallficala, et allis facultallbus sibi
quomodolibet concessis, vti, et beneficia sub lilis comprehensa acceplare,
el illa sibi conferri seu commendari faceré, illaque, necnon si illa emi-
neat beneficia litigiosa huiusmodi consequl, ac in tilulum et commendam
vt prius quoaduixeril rellnere, ac quoscunque fruclus, reditus et prouen-
tus eccleslaslicos loco pensionum annuarum, Necnon quasuis pensiones
annuas sibi super similibus fructlbus redditibus et prouentibus reserualos
et assignatos, eliam vi prius quoad uixerit percipere libere et licile va-
leat, molu proprio dicta auctorilale dispensauit, decernens beneficia ob-
tenía et jus proplerea non vacare, el commendas non cessare, ac vnio-
nes dissolulas non esse, necnon reseruationes, gralias, mándala, dispen-
sallojies, indulta, regressus et accessus, ac facúltales non expirare, et
reseruationes frucluum el pensiones huiusmodi extinclas non esse, irri-
TOMO II. 54
i26 CORPO DIPLOMÁTICO POHTUGUKZ
turíi quoque etc. Ac voluil et concessit sanclilas sua Beneficia per ipsum
martinum óblenla, ac in quibus et ad que jus sibi compelil, iJiorumque
qualitates, inuocaliones, denominaliones, ecclesias, situaliones, ciuilates,
dioceses, ordines, dependentias, ac veros annuos valores ; Necnon fru-
cluum reserualorum, el pensionum predictarum quanlilales, tam coniun-
ctira quam diuisim, et beneficiorum liligiosorum status litium, Necnon
tenores gratiarum predictarum, si opus fuerit, exprimi, seu in loto ve!
in parte pro expressis haberi posse in literis, absolueris eundom domi-
num Martinum a censuris ad eífectum. In quorum fidem presentera Ce-
dulam fieri el nostri parui sigilli impressione rauniri fecimus, eamque
manu propria subscripsimus.
Datum Bononie in edibus nostre solite residentie, anno a natiuilate
domini millesimo quingentésimo trigésimo tertio, die vero decima mensis
februarii, Ponlificalus prelibati Sanctissimi domini noslri pape anno dé-
cimo.— A. Cardinalis Sanclorum quatuor \
Moto proprio do Papa Cleiiientc l^II.
1583 — Feverelro 16.
Molu proprio etc. Venerabili fralri Henrrico Archiepiscopo Elboren-
si, Charissími in christo filii nostri Johannis Portugallie et Algarbiorum
Regís Illustris fralri germano, vi slalum suum iuxta ponlificalis dignila-
tis exigentiam deccntius lenere valeal, de alicuius subuenlionis auxilio
prouidere volenles, sancli Johannis de larouca, cuius ad cccc et mouem,
ac sancti michaelis de Refoyos, cuius ad cccc, necnon beale marie de
ceica, cuius ad lxvi cum duobus lerliis allerius similis floreni, el cuius
ad quinquaginla llórenos auri de camera in libris camere apostolice la-
xali reperiuntur, sancli Johannis de longovares monastcria, ac cuius su-
per quibus ponsio annua Cenlum ducalorum auri de ciimera dilecto filio
noslro marcello liluli sánele Crucis in hierusalem, presbilero Cardinali
* Abch. Nac, Ma(j. 13 de Bullas, n." 8. Diz no verso: Copia cedule consístoriali.s
de prefectione ecclesie metrópoli lañe funchalcnsis pro D. Marlino a porlugalia.
UELACOES COM a curia HOMANA 427
Cernino nuncupalo, illain annuatim percipienli apostólica aucloritate, \t
accepimus, reseruata exislit, cccc ducatorum similium fruclus ele. secun-
duDí communem extimationem valorem annuura non excedunl ; priora-
tum monasterii per priorem gubernari soliti de Carquere, Gislerciensis el
sancti Benedicli ac sancti auguslini canonicorum regularium seu aliorum
ordinum, Lamacensis et Bracharensis ac Colimbriensis et forsan, seu alias,
seplensis, vel aliarum diocesium, que quondam Eduardus eleclus Bracha-
rensis ex concessione el dispensalione apostólica in commendam, dum
viuerel, obtinebat, commenda huiusmodi per obitum dicli Eduardi elecli
extra Romanam Curiara in nouembris proxiine pretérito, seu alio in lit-
leris exprimendo mense, defuncli cessanle, adhuc eo quo, dum eidem
Eduardo electo comraendata fuerunl, vacabanl modo vacantia quibusuis
modis, quos, etiam si ex illis queuis generalis reseruatio eliam in corpore
iuris clausula resultel, haberi volumus pro expressis, et ex quorumuis
pcrsonis seu per liberas quorumuis cessiones de regimine el administra-
lione monasteriorum, aut resignationem de prioralu huiusmodi in dicta
curia et nostris seu alicuius predecessoris nostri manibus, ac apud se-
dera apostolicam vel extra eam, eliam corara notario publico et teslibus
spontefactis, aut prioratus huiusmodi per conslitutionem execrabilis vel
assecutionem etc. vacent, etiara si deuoluta, el diclus prioratus aíFectus
specialiter vel ex quauis causa in litleris etiam dispositione exprimen,
generaliter reseruatus, curatus, elecliuus, Conuentualis, et tara ille quam
monasleria huiusmodi litigiosa, cuius litis statum etc. exislant, el ex quauis
causa prouisio diclorura monasteriorum ad dictara sedera specialiter, vel
generaliter pertineat, ac de illis consislorialiter disponi consueueril seu
debeat, eidem Henrrico Archiepiscopo per eura quoaduixerit, etiara vna
cura ecclesia Elborensi, cui preesse dinoscitur, ac ómnibus et singulis
alus monasteriis el beneficiis ecclesiaslicis, cura cura el sine cura, secula-
ribus el regularibus, que in titulum el Commendam ac alias oblinet el
imposlerum oblinebit, ac fruclibus etc. ecclesiaslicis; necnon pensionibus
annuis etc. tenenda etc., Ha quod liceat sibi de fruclibus etc., Commen-
damus. Ac persone seu personis per nos norainande seu norainandis, vt
commodius sustentan valeant, de alicuius subuentionis auxilio prouidere
volentes, vnam seu duas aut plures pensionera annuara seu pensiones
annuas mille ducalorum auri similium super de tarouca et de Refoios ac
de ceica el de longovares monasteriorum, necnon prioratus predictorum
55 *
428 GORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
fruclibus, ele. eliam s¡ supor illis alie pensiones annue alus assignale sint,
el omnes pensiones Iiuiusniodi insimui mediclalem eorundem frucluum
ele. respecliue excedant, seu omnes illos absorbeant, persone seu perso-
nis huiusmodi, quoad uixerint, ve! eorum procuraloribus legilimis per di-
clum Henrricum Archiepiscopum et successores suos de larouca el de Re-
foios ac de ceica et de longovares monasleria, necnon prioratum huius-
modi in tilulum vel commendam, aul alias pro lempore oblinenles in Ro-
mana curia, et terminis in littcris slaluendis, annis singulis sub senten-
lüs, censuris et penis in similibus apponi solitis, integre persoluendam
seu persoluendas, reseruamus, constituimus et assignamus de gratia spe-
ciali, non obslanlibus nostra de non expediendis litteris alicuius pensio-
nis annue nisi de consensu illam soluere habentis, et lateranensis conci-
lii nouissime celebrati pensiones annuas super fruclibus etc. monaslerio-
rum assignari prohibentis, ac quibusuis alus conslilutionibus et ordina-
tlonibus aposloHcis slalutis ele. necnon priuilegiis, indullis el litteris apos-
lolicis sub quibuscumque tenoribus el formis, ac cum quibusuis clausulis
et decretis, eliam contra commendas quomodolibel concessis etc. quibus
ómnibus in iiüeris lalissimo extcndeñ. eliam si de eis etc. illorum teno-
res etc. hac uice dumlaxat specialiter et expresse derogamus et suííicien-
ler derogatum esse decernimus, Celerisque conlrariis quibuscumque, cum
clausulis opporlunis et consuelis. — Fiaí vt pelitur. A.
El cum absolutione a censuris ad eífectum etc. tam pro Henrrico
Archiepiscopo, quam personis vt preferlur nominandis, eliam in casibus
regulie de insordesceñ. cum opporluna illius derogalioue el ob-
slantie beneficiales Henrrici Archiepiscopi ac personarum nominandarum,
necnon veri et vltimi monasleriorum et prioratus predictorum vacationum
modi, eliam si ex illis queuis generalis reseruatio eliam in corpore iuris
clausula resullet, habeanlur pro expressis, seu in loto, vel in parle ex-
primí possinl, El cum clausula generalem reserualionem importan, qua-
liscunque sil et ex quauis causa resullet, eliam dispositione exprimen. Et
de monasteriis ac prioralu predictis in commendam ad vilam pro eodem
Henrrico Archiepiscopo, eliam vna cum ccclesia Elborensi ac alus oblen-
tis et oblinendis, ac fruclibus etc. ecclesiasticis, necnon pensionibus annuis
etc. lia quod liceat sibi de fruclibus, Et litlere in forma simplicis, vel
RELACOES COM A CURIA ROMANA 429
noue coinmende perinde el eliam valere gralie, si neulri, si iiiilli, si al-
leri surrogalionis etiam quoad possessionem cum derogalione regule de
non surrogandis, non collitigañ. aut alias, proul \'l¡Iius videbitur, expri-
men, seu pro expressis habendo stalum el nierila lilium el causarum de-
super forsan pendentium, ac nomina el cognomina judicum el coililigan-
lium, ac jus et lilulos eliam infecliuos eorum simul, vel separalim expe-
diri possint ; Et cum gralificalione opporluna pro eodem Henrrico Ar-
chiepiscopo qualenus illi locus sil, eliam contra pariler vel magis gratifí-
calos el qualificalos latissime extenden. ; El de vna seu duabus aut pluri-
bus pensionibus annuis insimul mille ducalorum similium, que Iranseant
ad successores, et quouis pretextu, etiam ad successorum prediclorum ins-
tantiam, ad minorem sumam reduci, aut anullari, vel inualidari non pos-
sint, cum decreto desuper opporluno latissime exlendeií. pro persona, seu
personis per nos vi preferlur nominandis, el cum derogalione regule de
consensu in pensionibus prestando, et dicli lateranensis concilii ac slatu-
torum etc. necnon priuilegiorum, indullorum el lilterarum aposlolicorum
forsan contrariorura, quorum omnium tenores latissime exprimí possint;
adeo vt omnia tollanlur et in aliquo non obslenl, El quod premissorum
omnium et singulorum etiam qualitalum, inuocalionum, denominalionum
annexorum etfrucluum, eliam secundum communem extimalionem expri-
mendo, ac augendo, vel minuendo, quantum opus fuerit, regula non ob-
stante, necnon cognominum ordinum, dependenliarum, aliorumque neces-
sariorum maior el verior specificacio fieri possit in lilteris super vnoquo-
que premissorum, in vna non facía menlione de alus, proul videbitur ad
partem expediendis ^ fA' margemj Fiat. A.
Comenda monasteriorum ad supplicationem Serenissimi Domini Re-
gis porlugallie cura pensione mille ducalorum pro persona seu personis
per Sanctitatem veslram nominandis ^
Roma apud Sanclum petrum xiiii. Kalendas Martii anno x. \
^ Esta segunda parte do documento está escripta em Hnhas mais curtas.
^ No fundo da pagina, e por outra letra.
' Arch. Nac, Mac. 14 de Bullas, n." 22, Noversodo documento lé-se: Pera el-Rcy
nosso Senhor. — Treslado da suppricacao assinhada por Sua Sanctidade sobre os mos-
teiros que vagarom por falecimento do Senhor Dom Duarte que déos them.
430 COiiPO DÍPLOVIATICÜ POUTIIGUEZ
Hulla fio l*apa Clciiieiile Wll.
1533— Abril 9.
Glemens episcopus servus servorum dei ad futuram rei memoriam.
Sempiterno Regi, qui gregem suum nobis licet immerilis sua cle-
nienlia el pietale commisil, eiusdem nobis credili gregis in extremo judi-
cio ralioneni reddituri, summis sludiis, quos ab cquitalis (et) justicie li-
niitibus humani generis emuius suis suggestionibus sepe diuerlit, salua-
lori nostro, qui non mortem sed penitenliam dcsiderat peccatorum, ul in
ipsa ralione rcddenda diuinac justiciae possimus euadere ullionem, recon-
ciliare studemus ; el qui suos detestari uoluerint errores, (ul) sorde mun-
dali, illius, qui misericordiarum paler csl, gratiam consequi mereantur,
ac juris mitigando rigorem apostolicis fauoribus et gralüs confouemus,
eorumque saluli prouidemus, prout personarum et lemporum qualitate
pensata, conspicimus salubriter expediré. Dudum siquidem per nos acce-
pto quod in plcrisque partibus Regni Porlugalliae el Dominiis Cbarissimi
in christo íilii nostri Johannis, Porlugalliae et Algarbiorum Regis Illus-
tris, NonnuUi ex hebraica perfidia ad chrislianam fidem conuersi, chris-
liani noui nuncupati, ad ritum Judeorum a quo discesserant rediré, et
alii, qui nunquam hebraicam sectam professi crant, sed chrislianis paren-
libus procrcnti, ritum eundem obscruare, el alii luthcranam ac alias de-
prauatas heieses el errores sequi, ac sortilegia hcrcsim, manifesté sapien-
lia instigante humani generis inimico, committere non uerebantur, in gra-
uissimam diuinae maieslalis oífensam et orlhodoxe fidei scandalum : Nos,
ne huiusmodi pestes in perniciem aliorum fidclium sua uenena diflunde-
rent, Dileclum filium Didacum de Sylua, ordinis fratrum minimorun)
Sancti Francisci de Paula professorem, in nostrum et apostolicae sedis
commissarium, ac super premissis inquisitorem in Rcgno el dominiis pre-
dictis, cum plena facúltale contra de huiusmodi Criminibus reos aut sus-
pectos inquirendi, cosque carcerandi puniendi el corrigendi, per quas-
dam constituimus ct dcpulauimus, Et deinde, ex certis rationabilibus cau-
sis, prcdiclas el quascunquc alias lillcras noslras, ac |»cr illas oalenus
HELACOES COM A CURIA ROMANA m
eidem Didaco, ct quibusuis alus, etiam locorum ordinarüs super preinis-
sis concessas facúltales el commissiones, per alias nostras Hileras ad nos-
trum beneplacilum suspendimus, Venerabili fralri Marco Episcopo Seno-
galliensi, apud eundem Regem nostro et dictae sedis Nuncio, inter alia
danles in mandalis ul Didaco el ordinarüs predicUs, ac aliis inquisilori-
bus posteriores litteras predictas inlimaret, et suspensionem ipsam inuio-
labiliter obseruari faceret, prout in singulis litteris prediclis plenius con-
tinetur. Nos aulem, qui non sine graui menlis noslrae perturbalione ac-
cepimus quod nonnulli ex suspeclis de criminibus prediclis a quadraginla
annis, uel circa, ex judaismo el mahomética, ac aliis sectis, quibus tune
obcecati erant, ad íidem chrisli el illius sacrum baplisma suscipiendum
coacti fuerunt ; alii uero, licel sponte sua conuersi seu de parenlibus
chrislianis procreali fuerunt, lamen ob predictorum indiscreta commer-
cia, uel alias diabólica instigatione persuasi, etiam in predictas et alias
diuersas hereses et errores eodem insligante inimico lapsi fuerunt, alii-
que quaraplurima crimina conimiserunt et ¡n dies labantur, Volentes ad
premissorum extirpationera, circa quam máxima diligentia et perscrutatio
necessariae existunt, Ha prouidere ut ñeque illi, qui de nouo conuersi
sunt quod diligentia nostra, quam in illis ab erroribus preseruandis et in
calholica fide confirmandis adhibere debemus, sibi dcfuerit, noque hii qui
inter ecclesiae membra, propterea quod uiolenter baptizati fuerunt nume-
rari non dcbent, quod contra omnem equilalem et juslitiam ab ecclesia
tanquam chrisliani corrigantur et castigentur, juste conqueri possint, et
circa reos antequam seuerae inquisitionis uim sentiant, lia prouidealur
ut inexcusabiliter in fulurum se peccaturos esse ¡ntelligant ; et interea boni
a malis segregali diuinis laudibus deuotius insistere ualeant, Ac ipsi con-
uersi ob eorum conuersionem huiusmodi, propter quam honorari et fa-
uoribus amplecti merentur, absque eorum culpa uituperari atque con-
lemni a nobis non uideanlur ; nec ipsi aut alii predicti prius ecclesiasli-
cae disciplinae gladium sentiant, quam chrislianae mansuetudinis linita-
tem et prouidentiam experti fuerint, et ex eisdem cecitalibus ad uerum
lumen huiusmodi conucrti uolentes, aduersus seueritates el rigores juris
huiusmodi aliquali benignilalc et misericordia, ac spacio ad resipescen-
dum gaudere ualeanl, singularum prcdiclarum, el aliarum quarumcunque
per nos, ac etiam quoscunque aüos Romanos Pontifices predecessores nos-
tros super premissis, concessarum lillerarum, ac sententiarum, proces-
432 COHPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
suuní el alioriim quorumcunque aclorum liaclonus contra eosdom suspe-
clos et culpabiies lalariim el formalorum Icnores, ac omnium el singulo-
rum lam nouiler conuersoium, quam üliorum vln'usque sexus super pre-
niissis culpabiiium aul suspeclorum, ac judicum quorumcumque nomina
el cognomina, necnon heresum huiusmodi qiialilales, quanlilales, circun-
slanlias el lilium, ac causarum huiusmodi slalus el merila, ac alia for-
san de necessilale exprimenda, presenlibus pro expressis habenles, cau-
sasque ipsas, prelerquam quoad relapsos, ad nos aduocanles, el liles hu-
iusmodi penilus exlinguenles, Molu proprio, non ad ipsorum suspeclorum
el culpabiiium, uel quorumuis aüorum nobis super hoc óblale pelilionis
inslanliam, sed de noslra mera deliberalione ac cerla scienlia, ac de apos-
toücae poleslalis pleniludine, omnes et singulos utriusque sexus, lam no-
uiler conuersos quam alios quoscunque de premissis culpabiies aul sus-
pectos ex diclis regnis el dominiis oriundos, ac in eis degenles, forenses
el alienígenas undecunque uenerinl, qui pro tempore publicalionis pre-
senlium lillerarum per eundem Marcum Episcopum et Nuncium, uel ab
eo deputatos seu depulandos in singulis Giuitalibus et diócesis regnorum
et dominiorum huiusmodi faciende, in illis domicilium uel habilationem
habuerinl, ac etiam ¡llorum filios, nepotes el descendentes, lam presentes
quam absentes, seu qui ab eisdem regnis et dominiis alias recesserunt,
etiam si exules el bannili fuerin!, qui eidem Marco Episcopo uel alicui
altcri ex sacerdolibus et confessoribus per eum ad id depulandis, presen-
tes \idelicet in Regnis et dominiis prediclis infra tres, a die eiusdem pu-
blicalionis, absentes uero ab eis, infra quatuor, seu plures aul pauciores,
qui arbitrio Nuncii videbunlur esse necessarii, a die earundem presen-
lium per eos habendae nolitiae, compulandos menses, predicta et alia que-
cunque, quotcunque el qualiacunque sua Crimina, excessus, delicia et
peccata, confessi fuerinl, ac quorum nomina et cognomina in aliquo li-
bro uel mcmoriali per eosdem confessores descripta fuerinl, etiam si illi
ecclesiaslici seculares, aul quorumuis ordinum regulares, et militiarum
milites, ac in quibusuis gradibus, dignilatibus, et ordinibus consliluli, et
lam illi quam alii laici, el utriusque sexus personae cuiusuis status et
condilionis exislanl, etiam si illi haclenus et in futurum diclis mensibus
durantibus in Hegnis et dominiis prediclis, uel extra illa tanquam here-
lici senlentialiler condemnali, el ul tales ipsi el illorum bona publícala,
aul pro lalibus accusali, inquisili, publice uel occulle difTamati, el ul la-
RELACOES COM A CURIA ROMANA 433
les habili, reconciliati, el contra eos sententiae desuper lalae el execiilae,
uel illi propterea carcerali exliterint, ab ómnibus el singulis per eos eate-
nus perpetratis, eliam hereses, el ab eadem fide aposlasias, blasphemias,
el alios quoscunque, eliam máximos errores sapienlibus, eliam quanlum-
cunque grauibus el qualificalis peccalis, criminibus, excessibus, delicUs,
eliam sub generali expressione de jure uel alias non uenienlibus el spe-
cialem nolam requirenlibus ; necnon excommunicationum, suspensionum,
interdictorum el alus ecclesiasticis, ac lemporalibus, corporalibus el eliam
capilalibus senlentüs, censuris, el penis, a jure uel ab homine, eliam a
prefatis el qui pro lempore fuerinl inquisiloribus herelicae prauitalis hu-
iusmodi, premissorum, el alia occasione uel causa lalis el promulgalis,
eliam si in illis ab eisdem quadraginta, el ullerioribus annis insordue-
rinl, ac ülorum absolulio nobis el pro lempore exislenli Romano ponli-
fici, el eidem sedi, eliam juxta illarum, quae in die Goenae Domini legi
consueuerunt, ac aliarum lillerarum el processuum aposlolicorum teno-
rem, el alias quomodolibel reseruala exislant, quorum omnium qualita-
les, quanlilales, el circunstanlias presenlibus eliam haberi uolumus pro
expressis, a prauilalis uidelicet herelicae huiusmodi in ulroque foro ciui-
li, criminali, conlencioso, conscienliae, el animae penilus el plenarie, a
reliquis uero criminibus, prauilatem huiusmodi non sapienlibus, in foro
conscienliae duntaxal, ex nunc proul ex lunc, el e conlra, preuia quo
ad forum conscienliae cordis conlrilione, el oris confessione, auclorilale
apostólica lenore presenlium absoluimus ; Ac eosdem carceralos uel alias
delenlos, el exules, eliam a carceribus, exiliis, el bannis, quibus occa-
sione criminum heresis el aposlasiae, ac blasphemiae huiusmodi detenli
el condemnali existunl, relaxamus el liberamus, ac relaxari el liberari
mandamus ; el tam illis quam alus alia occasione uel causa delenlis, uel
exulibus, doñee ab eis a quibus delinentur relaxenlur, el ab eis ad quos
id spectal saluus conduclus ac aliae necessariae securilales eis concedan-
lur, dicti menses currere non incipianl, dummodo lamen ipsi a die no-
tiliae presenlium lillerarum in aliquam heresim cecidisse, uel in ueleri
errore preslilisse non conuincanlur, concedimus. Necnon cum eis tam
presenlibus quam quomodolibel absentibus, ac eliam cum clericis, el alus
secularibus, elquorumuisordinum regularibus ecclesiasticis personis, eliam
quecunque, quolcunque el qualiacunque beneficia ecclesiaslica, secutada,
el quorumuis ordinum regularla, eliam si secularia Ganonicalus et pre-
TOMO 11. 5S
434 CORPO DlPLOxMATICO PORTUGUEZ
bendae, dignitates, eliam maiores posl Pontificales, el principales, ac Con-
uenluales personalus, adminislraliones el officia, eliam cúrala el elecliua
in Galhedralibus, eliam Metropolilanis, el collegialis ecclesiis, Regulada
vero beneficia huiusmodi Monasleria, eliam dignilales conuenluales, pre-
ceploriae, eliam cúrale el elecliue, el alias cuiuscunque qualilalis fuerint,
oblinenlibus, eliam si Archiepiscopali, Episcopali, Abbatiali, Magislrali,
el alia quacunque dignilale prefulgeanl, super irregularilale per eos pre-
missorum heresum el aposlasiae, uel blasphemiae criminum occasione uel
causa, ac eliam qui sic ligali missas el alia diuina officia forsan, non la-
men in contemplum clauium, celebrauerint, aut alias illis se immiscue-
rinl, contracla ; El cum hüs qui promoli non sunl, ul ad omnes, eliam
sacros el presbiteratus ordines promoueri, el in illis tain illi quam qui
tune eliam posl dicta crimina perpétrala el absolulionem huiusmodi pro-
moli erunt, eliam in allaris ministerio ministrare, ac beneficia ecclesias-
tica, eliam ut premillitur, el alias qualitercunque qualificala eis canonice
conferenda recipere, illaque el alia per eos tune obtenía retiñere, ac eliam
tam ipsi ecclesiaslici et regulares ac Milites, quam laici el mulleres, eorum-
que filii, nepotes el descendentes, ad gradus, honores, ordines, officia,
el alias qualilates assummi, illaque suscipere et exercerc, ac illis et
alus similibus et dissimilibus iam susceptis uti ; Necnon uestes sericeas
et panni cuiuscunque, eliam rubei colorís, ac aurum, argentum, gem-
mas, et alia jocalia, necnon ensem et arma eorum slalui condecentia de-
ferre, super equos et muías equilare, ac ómnibus el singulis alus priui-
legiis, ex.emplionibus, fauoribus, gratüs, imraunitatibus, liberlalibus, et
concessionibus, quibus alii christifideles, eorumque filii el nepotes, ac ab
eis descendentes \1untur, poliunlur, el gaudent, ac vli, potiri, el gau-
dere poterunl quomodolibet in fulurum, vli, potiri et gaudere libere et
licite ualeant in ómnibus, el per omnia, per inde ac si ipsi, eorumque
aui, proaui, párenles, et alii genitores ueri chrisliani fuissent, el nunquam
a fide calholica deuiassenl, de specialis dono gratiae dispensamus, cisque
pariter indulgemus, omnemque inhabilitalis el infamiae maculara siue no-
tara circa eos, preraissorum occasione, tara ex propriis, quam illorum pa-
rentum, consanguineorum, el atíinium culpis, et senlentiis, earuraque exe-
culionibus, et alias quomodolibet insurgentes, ab eis penilus el omnino
aboleraus, ac confiscationes bonorum, si quae eatenus faclae fuerint, quo-
rum lamen possessio pro eodem fisco apprehensa non fuerint, necnon
RELACOES COM A CURIA ROMANA 435
processus contra eos et eorum singulos formatos, sententiasque latas, ac
dictis mensibus durantibus formandos et ferendas, necnon informaliones,
el alia quecunque acia el gesta ordinaria, el extraordinaria, in judilio,
et extra, contra eos haclenus facía, ac ex nunc proul ex tune, el e con-
tra eisdem mensibus durantibus facienda. Quorum omnium tenores, sta-
tus, et merila, etiam presentibus haberi uolumus pro expressis, cassa-
mus, irritamus, delemus, et annullamus, Ac cassala, irrita, delela, et
annullata fore decernimus ; Ipsaque bona sic confíscala el confiscanda,
eis a quibus ablata fuerint, si eidem fisco incorpórala non sint, remitli-
mus, donamus, reslituimus, cosque el illa in prislinum et eum, in quo
ante premissa, el tempore quo baptizali fuerunt, erant, slatum reslituimus,
reponimus, el plenarie reintegramus. El insuper auctoritate el tenore su-
pradiclis statuimus el ordinamus quod Nuncius et singuli confessores pre-
dicti quibusuis eis durantibus mensibus supradictis confessis, eliam de
dictis criminibus non culpabilibus, nec suspectis in dicto libro describen-
dis, si id petierinl, pro illorum super premissis tutiori cautela, aliquam
cedulam uel scripluram authenlicam manu propria subscriplam, uel ipsius
Nuncii sigillo munitam, in lestimonium premissorum gratis, el absque ali-
qua exaclione, concederé possint et debeant ; qua perpetuis fuluris lem-
poribus per eos exhibita uel ostensa, illam habenles uel eliam absque
illa in dicto libro descripti et annolali, luli el securi permaneanl, el de
predictis criminibus heresim et Apostasiam ac blasphemiam sapienlibus
per ipsos culpabiles uel suspectos perpetratis, usque ad diem datae eius-
dem cedulae, uel leslimonii, seu in eodem libro annolationis el descriptionis
nullalenus inquiri possil: Ac quod premissorum occasione ipsis describen-
dis, uel suas cédulas predictas habiluris, et illorum filiis et descendenlibus
in nullo preiudicari, nec preiudicium aíferri, nec reconciliati censeri, eliam
ex eo quod diclorum deliclorum seu aliquorum ex eis ueniam petierinl,
uel ab eis absoluti fuerint, nec etiam, qui forsan in aliquem predictorum
errorum in poslerum reinciderint, uel alias quomodolibel deprehensi ex-
titerint, relapsi uideanlur, nec aliquod indicium, eliam mínimum contra
eos oriri, allegari, uel deduci posse in judicio uel extra, indulgentia, re-
missio, et alia in damnum, iniuriam, uel aliud incommodura illorum re-
lorqueri nequeant. Quodque, si aliqui iam sint condemnati de crimini-
bus heresis huiusmodi, uel eorum crimina iam sint in judicio ómnibus
notorio probata, ipsi secundum ecclesie slatula errores suos abiurare, il-
436 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
lisque publice renunciare debeanl, quibus abiuralis el renuncialis Ídem
Nuncius eius arbitrio penilentias eis iniungeodas uel iniunclas, non la-
men in alias publicas sed secretas penilentias coniniutare, ac recoñcilia-
tis, quibus aliqua publica penilenlia per quoscunque judices el inquisilo-
res fuerit ¡niuncla, etiam illam ueluli ipsi inquisitores eam commutare
possenl uel consueuerunl, in alia pielalis opera commutare, el cum iliis
dispensare ualeat : ac quod si ex supradictis condemnatis, uel inquisilis,
accusatis, aul reconciliatis, seu relapsis fuerinl aliqui, qui se contra jus-
tiliam grauatos esse asseruerint, ac proplerea cupianl ul ilerum eorum cau-
sae audiantur, liceat eis ad dictum Nunciura recurrere, el personaliler
corara eo comparere, el se ipsos in eo statu, quo tune esse reperienlur,
de integro defenderé, Sic lamen quod si ilerum in defensione sua ipsos
succurabere contingat, tune ob causara delictorura huiusraodi relapsi legi-
tima pena punianlur; Ceteri uero secretara penitenliam suscipianl, que loco
legitimae el canonicae penae, quam pali deberenl, ipsius Nuncii arbitrio
ipsis iraponalur; Et nihilominus hii, qui relapsi non fuerint, presenlibus
lilteris el illarum eíTeclu gaudeanl : Ac quod dicti condemnati, uel inqui-
sili, accusati uel reconciliati, si, quod absit, ilerum in heresis crimen re-
labi eos contingat, pro relapsis puniri possinl, habita lamen diligenli de-
liberatione : quod si ex ipsis aliqui fuerint, qui se uiolenter ad fidei sa-
craraentum suscipiendum pertractos esse docuerint, illis non ila impu-
tentur culpae, ul in posterura relapsorum pena teneanlur : Quodque hii,
qui publice de criraine heresis diífamati, non lamen conuicli, seu accu-
sati fuerinl, quorum perfidia ex publica uoce el fama ad aures ipsius Nun-
cii perueneril, proprio iuramento, et duobus uel tribus leslibus compur-
gatoribus fidedignis per eundera diffamatum eligendis, se ipsos secrete, et
extrajudicialiler, corara Nuncio, uel ab eo deputandis predictis, seu eorura
aliquo, purgare, seu criraina huiusraodi, de quibus diffaraati fuerint, sua
sponte, et cura iuramento secrete ac etiam extrajudicialiler corara eodem
Nuncio, seu deputalo aliquo, in presentía duorura testiura, uel proprii sa-
cerdolis, loco eorum, abiurare possinl ; qui omnes accusati, inquisiti, con-
demnati, reconciliati, el publice diífamali, modo et forraa premissis, Ce-
teri vero premissa lantura confessione, et absque aliqua publica peniten-
cia eis iniungenda, plenariam el lolalera ueniara, el alia supradicta conse-
qui el obtinere, Ipseque Nuncius orania el singula supradicta, el quecun-
que alia, quae alii inquisitores, comraissarii quicunquo per quascunque
RELACOES COM a curia romana 437
noslras el dicte sedis lilleras, ac etiam de jure uel consueludine faceré,
gerere, et exercere, libere el licite ualeal : Ac quod si aliqui ex. prediclis
ómnibus tam nouiter conuersis, quam alus presenlibus el absenlibus re-
perienlur, qui presenlem graliam modis premissis durantibus diclis men-
sibus suscipere noluerinl, lapsis eisdem mensibus, graliis per presentes con-
cessis nullo modo gaudere possinl ; Qui lamen si ad sui excusalionem ali-
quid afferre uoluerint, benigne el secundum chrislianam mansueludinem
audianlur, el eorum jura el defensiones ad nos per eundem Nuncium suo
sub sigillo clausae miílanlur : Quodque contra nouiter conuersos, ac filios
et descendentes eorum confessos uel non confessos, quorum lamen excu-
saliones per Nuncium aul depulalos prefalos, siue eorum aliquem rece-
ptae, et ad nos Iransmissae fuerinl, in negotio inquisitionis uel uisilalio-
nis ordinariae vel exlraordinariae, super criminibus prediclis iuxla for-
mam posleriorum lilterarum prediclarum usque ad annum a die publica-
tionis presenlium lilterarum supersedeatur : quia interim nos tam super
eodem negolio, quam eliam super illorum futura m \ilam oporlune pro-
uidere inlendimus : districlius inhibenles ómnibus el singulis eliam judi-
cibus ecclesiaslicis el secularibus, ac prelalis, inquisiloribus, ordinariis,
seu delegalis, quacunque auctoritale, polestate, el dignilale, eliam ponli-
ficali, Archiepiscopali, primaliali, el patriarcbali, ac slatu, gradu, condi-
lione, elpreeminenlia, eliam Cardinalalus honore fulgenlibus, ac lali qua-
lilate, de qua expressa menlio fieri deberel, pollenlibus, a nobis seu sede
predicla, etiam ad instanliam eiusdem Regis deputalis, sub excommuni-
calionis, suspensionis, el inlerdicli senlenliis, et beneficiorum ac officio-
rum per eos oblenlorum priuationis penis, eo ipso, nisi paruerint, incur-
rendis, ne aliquos de premissis heresi, Apostasia, aul Rlasphemia culpa-
biles aul suspectos, qui graliis prediclis juxta presenlium tenorera gau-
dere debenl, si quos sub aliqua custodia, uel carceribus teneant, aul in
exilia miserint, amplius detineanl, aul contra eos ad ulteriora procedan!,
Immo caplos relaxent, et exules ad patriam secure reddire permiltant,
Ac in eodem stalu, in quo fuerunl ante accusalionem. condemnationes,
carceraliones, exilia el bannimenla huiusmodi exislebant, reponant ; Accu-
satoribus uero, denunciatoribus, leslibus, inquisiloribus, judicibus, pro-
moloribus, et alus personis quibusuis, sub similibus censuris et penis, ne
contra supradiclos, eliam non culpabiles, nec suspectos, premissorum oc-
casione se inlromitlere, nec aliquos ad lestificandum uel accusandum, seu
438 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
denunciandum inducere, uel alias ¡líos siiper premissis uel illorum occa-
sione molestare quoquomodo presumant. Ac decernenles omnes et singu-
los in premissis inobedientes, uel contrauenluros, easdem senlenlias, cen-
suras et penas eo ipso incurrere, el beneficia per eos tune óblenla eo
ipso uacare, el a nobis, ac quibusuis illorum ordinariis collatoribus im-
petrari el conferri posse, Ipsasque impelraliones el collationes, ac alias
dispositiones alias legitime facías ualere, plenamque roboris firmilalem ob-
linere: ac easdem presentes lilteras de subreptionis uel obreptionis uitio, seu
intenlionis nostre defeclu nolari uel impugnan non posse, nec sub qui-
busuis reuocalionibus, modifioalionibus, limilalionibus, el suspensionibus,
quarumcunque similium uel dissimilium lillerarum, eliam per nos el se-
dera eandem faclis el faciendis nullalenus comprehensas, sed ab illis sem-
pcr exceptas esse, el quotiens reuocatae uel limitalae fuerint, loliens in
prislinum el eum, in quo ad presens exislunl, slalum restituías, el rein-
tégralas exislere : necnon illanim Iransumplis nianu Nolarii publici sub-
scriptis, et sigillo eiusdem Nuncii munilis, eandem prorsus lam in judi-
lio quam extra illud fidem adhiberi deberé, que ipsis presentibus adhibe-
relur, si forent exhibite uel óslense; Sicque in premissis ómnibus per pre-
falos, el quoscunque alios inquisilores et judices, eliam sanclae Romanae
Ecclesiae Cardinales, in quacunque instancia siue judicio, coram eis eliam
nunc el in futurum pendente judicari, sentenliari, ac diíTmiri deberé, su-
bíala eis et eorum cuilibel quauis alia aliter judicandi, senlentiandi, el
diíTiniendi facúltate ; ac irritum et inane quicquid secus super hiis a quo-
quam quauis aucloritate, eliam per nos soienter uel ignoranter conligerit
atlemplari. Quocirca prefalo Nuncio per hec scripla mandamus vi per
se, uel alium seu alios, easdem presentes et in eis contenta quecunque,
ubi et quando ac quotiens opus fuerit solemniter publicans, ac in pre-
missis efficaciler assislens, facial presentes et in eis contenta quecunque,
vbi, et quando, ac quotiens opus fuerit, firmiler obseruari : ac singulos,
quos ipsae presentes concernunt, illis pacifice gaudere, non permillens
eos desuper per inquisilores el judices prefalos, seu quoscunque alios quo-
modolibet impediri, molestari uel perlurbari ; Contradictores quoslibet et
rebelles per censuras et penas ccclesiasticas, ac alia juris oportuna reme-
dia, appellatione postposila, compescendo, inuocato eliam ad hoc, si opus
fuerit, auxilio brachii secularis. Johannem uero Regem prefalum per eas-
dem presentes rogamus et horlamur in Domino vt, pro sua in hanc san-
RELAGOES COM a curia romana 439
ctam Sedeni deuolione et obseruantia, ipsi Marco Nuncio suis auctorilale
et fauore assislens, non permiltat ipsum Marcum Nuncium circa premis-
sorum execuUonem, autillos, qui sub presentibuscomprehenduntur, quo-
minus iuxta ipsarum litterarum lenorem gaudere possint, quomodolibet
turban aut impediri. Non obslantibus premissis, ac eliam felicis recordalio-
nis Bonifacii papae vni, et aliorum Romanorum Ponlificum predecessorum
nostrorum, ac alus apostolicis, necnon in generalibus ac prouincialibus et
sinodalibus conciliis edilis generalibus, uel specialibus conslitutionibus, et
ordinationibus, etiam abeisdem uel a nobis, eliam pluries emanatis, legibus
imperialibus, necnon eliam juramento, confirmalione apostólica, uel qua-
uis firmitate alia roboralis, officii inquisitionis, el ecclesiarum, ac regno-
rum et dominiorum predictorum, illorumque Ciuilalum et locorum, etiam
municipalibus statulis, et consueludinibus, priuilegiis quoque, indultis,
etiam in corpore juris clausulis, ac eliam in forma Breuis lilleris, etiam
per nos et predecessores noslros, et sedem huiusraodi, eliam inquisilori-
bus predictis, etiam ad instantiam eiusdem Johannis, et aliorum quorum-
cunque Regum et Reginarum, aul eliam Molu proprio, et de Sanctae Ro-
manae Ecclesiae Cardinalium consilio, eliam apostolicae poteslalis pleni-
tudine, ac cum quibusuis, etiam derogaloriarum derogaloriis, aliisque ef-
ficacioribus et insolitis clausulis, irritanlibusque et alus decrelis conces-
sis, approbatis et innouatis, eliam si in eis caueatur expresse quod illis
nuUatenus, aut non nisi sub certis in ibi expressis modis et formis dero-
gan possit : quibus ómnibus, etiam si pro illorum suíBcienli derogalione
de illis, eorumque totis tenoribus specialis, specifica, expressa et indiui-
dua, non lamen per generales clausulas idem importantes mentio, seu
queuis alia expressio habenda, aut aliqua alia exquisita forma ad hoc ser-
uanda foret, tenores huiusmodi, ac si de verbo ad verbum ac forma in
illis Iradila obseruata inserti forent, pro sufficienler expressis habenles,
illis alias in suo robore permansuris, hac \ice duntaxat, harum serie
molu, scienlia, et poteslalis pleniludine predictis, specialiter et expresse
derogaraus, contrariis quibuscunque : Seu si Inquisitoribus el judicibus pre-
dictis, uel quibusuis alus communiter uel diuisim, ab eadem sil sede iu-
dultum quod interdici, suspendi, uel excommunicari non possint per lil-
teras apostólicas non facienles plenam et expressam, ac de verbo ad ver-
bum de indulto huiusmodi menlionem. Nulli ergo omnino hominum li-
ceat hanc paginam nostrae uoluntatis, aduocalionis, exlinclionis, absolu-
440 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
tionis, relaxationis, liberationis, mandati, concessionis, dispensalionis, in-
dulli, abolitionis, cassationis, ¡rritalionis, delelionis, annuUationis, de-
creti, reraissionis, donationis, restitutionis, reposilionis, reintegralionis,
slatuli, ordinationis, inhibilionis, mandati, decreli, requisilionis, horlalio-
nis, mandati et derogationis, infringere, vel ei ausu temerario contraire.
Siquis aulem hoc attemplare prcsumpserit, indignalionem omnipotentis Dei,
ac beatorum Petri el Pauli Apostolorum eius, se nouerit incursurum.
Dalum Romae apud sanctum Pelrum, Anno Incarnationis dominice
Millesimo quingentésimo trigésimo lertio, séptimo Idus Aprilis, Pontifica-
tus nostri Anno Décimo '.
Bulla do Papa Clemente ¥^11, cllrig^lfla a el-Rei.
1533 — Abril 30.
Clemens episcopus seruus seruorum Dei Carissimo in christo filio Jo-
hanni Portugallie el Algarbiorum Regi Illustri Salutem et apostolicam be-
nedictionem.
Gratie diuine premium el humane laudis preconium acquiritur, si
per seculares Principes ecclesiarum Prelatis, preserlim pontificali digni-
late predilis, opporluni fauoris presidium et honor debitus impendatur.
Hodie siquidem dilectum fiiium Henricum, Eleclum Bracharensem, in vi-
gésimo primo sue etatis Anno constitutum, Administratorem in spiritua-
libus el temporalibus ecclesie Bracharensis, tune per obitum bone memo-
rie Didaci, olim Archiepiscopi Bracharensis, extra Romanam Curiam de-
functi, pasloris solalio destitute, doñee vigesimum septimum dicle etatis
Annum attingeret, de fratruní noslrorum consilio apostólica auctorilate
constituimus el deputauimus; el deinde, cum dictum vigesimum septimum
annum attingeret, ex tune, proul ex ea die, el e contra de persona sua, no-
bis et eisdem fratribus ob suorum exigenliam meritorum accepta, eidem
ecclesie de simili consilio dicta auctoritale prouidimus, ipsumque ¡lli in
Archiepiscopum prefecimus et pastorem, ac de eadem persona sua eidem
* Copia authentica no Abch. Nac, Gav. 2, Mac. 2, n." 11.
RELACOES COM a curia romana 441
ecclesie prouisum, ipsumque illi in Archiepiscopum prefeclum fore decre-
uimus, curam et administralionem eiusdem ecclesie, etiam huiusmodi ad-
minislratione durante, in eisdem spirilualibus et temporalibus plenarie
commiltendo, prout in noslris indo confectis lilteris plenius conlinetur.
Cum itaque, fili carissime, sit virtutis opus del ministros benigno fauore
prosequi, ac eos verbis et operibus pro Regis eterni gloria veneran, Ma-
iestalem tuam regiam rogamusiBt hortamur atiente quatenus eundem Hen-
ricum Administratorem et Electum, et ecclesiam predictam sue cure com-
missam, habens pro nostra et apostolice sedis reuerentia propensius com-
mendatos, in ampliandis et conseruandis iuribus suis sic eos benigni fa-
uoris auxilio prosequaris, quod ipse Henricus Adininistralor et Electus
tue Gelsitudinis fultus presidio in commisso sibi cure pasloralis officio
possit deo propicio prosperan, ac tibi ex inde a deo perennis vite pre-
mium et a nobis condigna proueniat actio gratiarura.
Datura Rome apud Sanctum pelrum, Anno Incarnationis dominica
raillesimo quingentésimo trigésimo tertio, Pridie Kalendas Maii, Ponlifi-
catus nostri Anno Décimo \
RuUa do Papa Clemente ^11; dirig^ida
ao Infante O. Henrique.
1533— Abril 30.
Clemens episcopus seruus seruorum dei dilecto filio Henrico Infanti
Portugallie Electo Bracharensi salutem et apostolicam benediclionem.
Diuina disponente clementia, cuius inscrutabili prouidentia ordina-
íionem suscipiunt vniuersa, in apostolice dignitatis specula meritis licet
imparibus constituli, ad vniuersas orbis ecclesias aciem nostre considera-
tionis extendimus, et pro eorum statu salubriler dirigendo apostolici fa-
uoris auxilium adhibemus. Sed de illis propensius cogitare nos conuenit,
quas propriis carere pastoribus intuemur, vt eis iuxta cor nostrum viri
preficiantur idonei, qui commissos sibi populos per suam circumspectio-
i Arch. Nac, Mac. 18, n." 27.
TOMO 11. 56
442 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
nem prouidain et prouidentiam circumspeclam salubriter diriganl ct in-
formeut, ac bona ipsaruní ecclesiarum non solum gubernenl vtililer, sed
etiam multimodis efferanl incremenlis. Dudum siquidem, bone memorie
Didaco Archiepiscopo Bracharensi regimini eccicsie Bracharensis presi-
dente, Nos cupientes eidem ecclesie, oum vacaret, per apostolice sedis
prouidentiam vtilem el ¡doneam presidere personam, prouisionem eiusdem
ecclesie ordinalioni el disposilioni noslre jja vice duximus specialiter re-
seruandam, decernentes ex tune irrilum el inane si secus super hiis per
quoscunque quauis auctorilale scienter vel ignoranter contingerel altem-
plari. Postmodum vero, prefata ecclesia per obitum dicli Didaci Archiepis-
copi, qui exlra Romanam Curiam debitum nalure persoluil, pastoris solatio
destituía, Nos vacalione huiusmodi fidedignis relatibus inlellecla ad prouisio-
nem eiusdem ecclesie celerem et felicem, de qua nullus preler nos hac vice
se intromitlere poluil siue polest, reseruatione et decreto obsistenlibus su-
pradictis, Ne ecclesia ipsa longe vacationis exponatur incommodis, paler-
nis et sollicitis sludiis intendentes, posl deliberationem quam de preficiendo
eidem ecclesie personam vlilem el eliam fructuosam cum fralribus nostris
habuiraus diligentem. Demum ad te clericum Vlixbonensem, clericali ca-
raclere duntaxat insignitum, in vigésimo primo lúe elatis Anno constitu-
tum, el clare memorie Emanuelis, olim Porlugallie el Algarbiorum Regis
dum viueret, nalum, ac Garissimi in christo filii noslri Johannis, moderni
Porlugallie el Algarbiorum Regis illustris, fratrem germanum, el pro quo
Ídem Johannes Rex nobis super hoc per suas Hileras humiliter supplica-
uil, ac cui apud nos de litterarum scientia, vite munditia, honéstate mo-
rum, spiritualium prouidenlia et temporalium circumspectione, aliisque
multiplicum virtutum donis fidedigna testimonia perhibenlur, direximus
oculos noslre mentís, Quibus ómnibus debita meditalione pensalis, te pre-
fale ecclesie adminislralorem in spiritualibus et lemporalibus, doñee v¡-
gesimum seplimum dicte elatis Annum atligeris, de fratrum eorundem con-
silio auctorilale apostólica constituimus el depulamus, Et deinde, cum di-
ctum vigesimum seplimum Annum atligeris, ex nunc proul ex tune, et
e contra, de persona lúa, nobis et fralribus ipsis ob luorura exigcntiam
meritorum accepla, eidem ecclesie de simili consilio dicta auctorilale pro-
uidimus, teque illi in Archiepiscopum preficiraus el pastorem, ac de eadem
persona tua ipsi ecclesie prouisum, teque illi in Archiepiscopum el pas-
torem prefectum fore decernimus, curam et administrationem eiusdem ec-
RELACOES COM a CIRIA ROMANA 453
clesie, eliam huiusniodi administraüone durante, libi in eisdem spiritua-
libus et lemporalibus plenarie commillendo, In illo qu¡ dat gratias et lar-
gilur premia confidentes quod, dirigente domino, actus tuos prefata ec-
clesia sub luo felici regimine regelur vtiliter, el prospere dirigelur, ac
grata in eisdem spiritualibus et temporalibus suscipiel incrementa. Volu-
mus autem quod, durante huiusmodi administratione, debitis et consuetis
mense Archiepiscopalis Bracharensis supportatis oneribus, de residuis il-
lius fructibus redditibus et prouentibus disponere et ordinare libere el li-
cite valeas, sicuti Archiepiscopi Bracharenses, qui pro lempore fuerunl,
de illis disponere el ordinare potuerunt, seu etiam debuerunt, Alienatione
lamen quorumcunque bonorum immobilium, el preciosorum mobilium,
dicte Mense tibi penitus interdicta, Et quod, antequam regimini et admí-
nislralioni dicte ecclesie ralione Constitutionis et deputationis earundera
le in aliquo immisceas, in manibus Venerabilium fratrum nostrorum Ei-
borensis et Lamacensis Episcoporum, seu alterius eorum, fidelitalis debite
solilum prestes iuramentum, iuxta formam, quam sub bulla nostra mit-
limus introclusam, Quibus, et eorum cuilibet, per alias noslras lilleras
mandamus vi ipsi vel alter eorum a te noslro el Romane ecclesie nomine
ralione, Constitutionis et deputationis predictarum' huiusmodi recipiant,
seu recipiat, iuramentum. Jugum igitur domini luis imposilum humeris
prompla deuolione suscipiens, curam el adminislralionem predictas sic
exercere studeas sollicite fideliter et prudenter, quod ecclesie ipsa guber-
natori prouido et fructuoso administratori gaudeal se commissam, tuque,
preter eterne retribulionis premium, nostram et dicte sedis benediclionem
el graliam ex inde vberius consequi merearis.
Datum Reme apud Sanctum pelrum, Anno Incarnalionis Dominice
Millesimo quingentésimo trigésimo terlio, Pridie Kalendas Maii, Ponlifica-
tus nostri Anno Décimo ^
* Arch. Nac, Mac. 18 de Bullas, n." 33.
56
i44 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
Bulla do Papa Clemente l^II, dirig^ida
ao Infante D. Henrique.
1533— Abril 30.
Clemens episcopus Seruus Seruorum dei Dilecto filio Henrico Eleclo
Bracharensi Salutem et apostolicam benediclionem.
Personara luam nobis el apostolice sedi deuotam, luis exigen tibus
meritis, paterna beniuolentia prosequentes, illa tibi fauorabiliter concedi-
mus, que tuis commoditatibus fore conspicimus opportuna. Cura itaque
nos hodie te in vigésimo primo lúe etalis Anno constitutum Administra-
torera in spiritualibus et teraporalibus ecclesie Bracharensis, tune cerlo
modo pastoris solatio deslilute, doñee vigesimum seplimum Annum etalis
huiusmodi atligeris, de fralrum nostrorum consilio apostólica auctoritate
constiluerimus et deputauerimus, ac ex tune, prout ex ea die, et e con-
tra, cura dictum vigesimum seplimum Annum atligeris, de persona lúa,
nobis el eisdem fralribus ob luorum exigenliam merilorum accepla, eidera
ecclesie de simili consilio dicta auctoritate prouideriraus, preficiendo te
illi in Archiepiscopum et pastorera ; Necnon tecum vi, cura vigesimum
seplimum Annum huiusmodi atligeris, prefate ecclesie in Archiepiscopum
preesse, illamque in eisdem spiritualibus et teraporalibus rcgere et guber-
nare, ac munus consecralionis suscipere el illo vti valeres, molu proprio,
eadem auctoritate dispensauerimus, prout ¡n diuersis noslris inde confe-
ctis litleris plenius continelur ; Et, sicul accepiraus, tu tempore Conslitu-
tionis et depulalionis ac prouisionis et prefectionis predictarum Monasle-
riura sánele Crucis Golimbriensis, ordinis sancti Augustini, ex concessione
apostólica in comraendara obtineres, prout obtines, Ubique vi in cerlos
euentus liceret tibi ad Monasterium sancti Georgii dicli ordinis Golimbriensis
diócesis, quod venerabilis fraler noster Martinus Archiepiscopus Funcha-
lensis ex concessione apostólica in comraendara oblinel, libcrum regres-
sura seu accessura habere, et illud in comraendara, quod viueres, reti-
RELACOES COM a CUUIA HOMANA 445
nere dicta auclorilate indullura fuissel, proul existil : Nos libi, vi slaluin
tuuní iuxta ponlificalis dignitalis exigentiara decenlius tenere valeas, de
alicuius subuentionis auxilio prouidere ac le premissorum merilorum luo-
rum intuitu gralioso fauore prosequi \olenles, el a quibusuis exconimu-
nicalionis, suspensionis el interdicli, aliisque ecclesiaslicis senlentiis, cen-
suris el penis a iure vel ab homine, quauis occasione vel causa latis, si
quibus quomodolibel innodalus exislis, ad eíFeclum presenlium dunta-
xal coosequendum, harum serie absoluenles el absolulum fore cénsenles;
Necnon frucluum, reddituum el prouenluum dicli Monasterii sánete Gru-
cis Yerum annuum valorem presentibus pro expresso habentes, molu si-
mili, non ad tuam, vel allerius pro le nobis super hoc óblale pelilionis
instanliam, sed de nostra mera liberalilale, Tecum, \l etiam, poslquam in
vira prouisionis el prefeclionis predictarum pacificara possessionera, seu
quasi regirainis el adminislralionis dicte ecclesie, seu raaioris parlis eorum
esseculus fueris, ac munus consecralionis susceperis, Monaslerium sánele
Crucis prediclura, vi prius quoad uixeris, eliam vna cura dicta ecclesia
quandiu illi prefueris, retiñere ; Necnon regressu, seu accessu predicto vli
el in illius eueulum Monaslerium ipsura sancli Georgii, cuius fruclus, red-
dilus el prouenlus Oclingentorum ducatorura auri de Camera secundum
communem exlimalionem valorem annuum, vi eliam accepimus, non ex-
cedunt, in eamdem conimendara similiter, quoad vixeris, eliam vna cum
ecclesia el Monasterio sánete Crucis predictis, vi preferlur, retiñere li-
bere el licite valeas, generalis Concilii el quibusuis alus Constilulionibus
el ordinalionibus apostolicis, ac Monasleriorum el ordinis prediclorum iu-
ramenlo, confirmalione apostólica, vel quauis firmitate alia roboratis, sta-.
lutis el consueludinibus, ceterisque contrariis nequáquam obstantibus, di-
cta auclorilate apostólica lenore presenlium de specialis dono gratie dis-
pensamus, Decernentes commendam Monasterii sánete Crucis propterea
non cessare, ac regressum seu accessum huiusmodi non expirare, Irri-
lura quoque el inane, si secus super hiis a quoquara, quauis auclorilate,
scienter vel ignoranter conligeril atteraptari, Prouiso quod propterea in
dictis Monasleriis diuinus cullus, ac solilus Canonicorura el Minislrorum
nuraerus nullatenus minualur, sed illorura ac dilectorum filiorura Con-
uentuum eorundem congrue supportentur onera consueta. NuUi ergo om-
nino horainum liceat hanc paginara nostre absolulionis, dispensationis el
decreli infringere, vel ei ausu temerario contraire. Siquis autem hoc al-
i'i6 COliPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
templare presumpserit, indignationem omnipolentis dei, ac bealorum Pelri
el Pauli Apostolorum eius, se nouerit incursurum.
Dalum Rome apud sanclum pelrum Anno Incarnalioiiis Dominice
Milessimo quingentésimo trigésimo terlio, Pridic Kalendas Maii, Ponlifi-
calus noslri Anno Décimo ^
Bulla do Papa Cletiieiitc Wll, iliri^lda
ao luíante D. Hcurique.
1533 — Abril 30.
Uiemens episcopus seruus seruorum dei dilecto filio Hcnrico Infanli
Porlugallie clerico Vlixbonensi salulem el apostolicam benediclionem.
Apostolice sedis consueta clementia, ne disposiliones per eam de Me-
tropolilanis el alus Calhedralibus ecclesiis pro tempore facle valeanl quo-
modolibel impugnan, sed persone ad eas proraouende illis puro corde el
sincera conscienlia presidere possint, remedia, prout conuenit, adhibet
opporluna. Cum ilaque nos hodie te, qui, vt acccpimus, in vigésimo pri-
mo tue etatis Anno constitutus existís, administratorem in spirilualibus et
temporalibus ecclesie Rracharensis, ad presens certo modo pastoris sola-
lio deslilule, doñee vigesimum seplimum dicte elatis Annum attigeris, de
fratrum noslrorum consilio apostólica aucloritate constituere et deputa-
re ; Et deinde, cum diclum vigesimum seplimum Annum attigeris, ex
lunc, prout ex ea Die et e contra, de persona lúa nobis et eisdem fratri-
bus ob tuorum exhigentiam meritorum accepta eidem ecclesie de simili
consilio dicta auctoritale prouidcre, toque illi in Archiepiscopum el pas-
lorem preficere inlendamus : Nos, ne, si forsan aüquibus senlentüs cen-
suris et penis ecclesiasticis ligatus sis, Conslitulio el deputatio, necnon
prouisio el prefeclio predicle possint propterca quomodolibet impugnan,
prouidere volentes, le a quibusuis excommunicationis, suspensionis et in-
' Abch. Nac, Mac. 19 de Bullas, n." 41.
KELACOES COM a CUUIA romana 447
lerdicti, aliisque ecclesiasticis senlcnliis, censuris el penis a iure vel ab
homine quauis occasione vel causo lalis, si quibus quomodolibel innoda-
tus existís, ad hoc duntaxat, \t conslilulio el depulalio, necnon prouisio
el prefeclio predicle, ac singule lillere aposlolice desuper conficiende suum
sorliantur eíFectum, aiictorilale predicla tenore presentium absoluimus, el
absolulum fore nunliamus : Non obslantibus Gonslilulionibus el ordinalio-
nibus aposlolicis, ac dicte ecclesie iuramento, confirmatione apostólica, vel
quauis firmilate alia roboratis, stalutis el consuetudinibus, celerisque con-
Irariis quibuscunque. Nulli ergo oninino hominum iiceal hanc paginam
nostre absolulionis el nunliaiionis infringere, vel ei ausu temerario con-
Iraire. Siquis aulem hoc alteraplare presumpseril, indignationem omnipo-
lenlis dei, ac bealorum Pelri el Pauli Apostolorum eius, se nouerit incur-
surum.
Dalum Rome apud Sanctum petrum Anno Incarnationis dominice
millesimo quingentésimo trigésimo lerlio, Pridie Kalendas Maii, Pontifica-
tus noslri, anno décimo '.
Bulla do Papa Clemeutc TU, dirig^ida
ño» BiispoiS de Evora e de Lameg^o.
1S33— Abril 30.
Clemens episcopus seruus seruorum dei venerabilibus fralribus El-
borensi el Lamacensi Episcopis Salulem el apostolicam benedictionem.
Dum nos hódie dileclum filium Henricum Electum Bracharensem, in
vigésimo primo sue elatis anno conslilulum, adminislralorem in spiritua-
libus el temporalibus ecclesie Bracharensis, tune certo modo pastoris so-
lalio deslilute, doñee vigesimum septimum Annum etalis huiusmodi atlin-
geret, de fralrum noslrorura consilio apostólica auctoritate consliluerimus
el depulauerimus ; El deinde, cum dictum vigesimum septimum Annum
1 Arch. Nac, Mac. 18 de Bullas, n.° 31.
S48 COKPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
allingerel, ex lunc, prout ex ea die, el e contra, de persona sua nobis et
eisdem fratribus ob suorum exigentiam meritorum accepla eidem ecclesie
de simili consilio dicta auclorilate prouiderimus, preficiendo ipsum illi in
Archiepiscopum et pastorem, ac secum, vt cum vigesimum seplimum
Annum attingeret, preíate ecclesie in Archiepiscopum preesse, iilamque
in eisdem spiritualibus el lemporalibus regere et gubernare valeret, mota
proprio cadera auctoritate dispensauerimus, prout in diuersis noslris inde
confeclis litteris plenius continelur : Nos, ipsius Henrici Electi in parli-
bus illis degenlis, ne propler hoc ad sedera apostolicam accedendo per-
sonaliter laborare cogatur, Fraternitali veslre per apostólica scripta man-
damus, quatenus vos, vel alter veslrura ab codera Henrico Electo ralione
Conslilutionis et deputalionis predictarura nostro et Romane ecclesie no-
mine fidelitalis debite solitura recipialis, seu recipiat iuramentum, iuxla
forraam in litteris super muñere consecralionis sibi impcndendo conficien-
dis annotatam; Ac formara iuramenti huiusmodi, quod prestabit nobis,
de uerbo ad uerbum per eius patentes litteras suo sigillo munitas per pro-
prium Nuntium quantolius destinare curetis.
Datura Rome apud Sanctum petrum, Anno Incarnationis Dorainice
millesirao quingentésimo trigésimo tertio, Pridie Kalendas Maii, Pontifi-
catus nostri Anno Décimo ^
Bulla do Papa Clemente l^II, cliri^ida
ao Cabido da lié de Bra^a.
1533 — Abril 30.
Cleraens episcopus seruus seruorura dei dilectis filiis Capitulo eccle-
sie Bracharensis salutem et apostolicam benedictionem.
Ifodie dilectum filiura Henricura Eleclura Bracharensem, in vigésimo
primo sue elalis anno constitulum, administralorem in spiritualibus et tera-
' Arch. Nac, Mac. 18 de Bullas, n.^ST.
RELACOES COM a curia romana » 449
poralibus ecclesie veslre Bracharensis, tune per obitum bone memorie D¡-
daci, olim Archiepiscopi Bracharensis, extra Romanam Curiam defuncli,pas-
loris solatio deslilule, doñee vigesimum septimum dicte etatis annum at-
tingeret, de fratrum nostrorum consilio apostólica auctoritale constituimus
et depulauimus ; Et deinde ciim dictum vigesimum septimum annum at-
lingeret, ex tune, prout ex ea die, et e contra, de persona sua nobis et
eisdem fratribus ab suorum exigentiam meritorum accepta eidem ecclesie
de siraili consilio dicta auctoritate prouidimus, ipsumque illi in Archie-
piscopum prefecimus, et pastorem ; ac de eadem persona sua eidem ec-
clesie prouisum, ipsumque illi in Archiepiscopum prefectum fore decre-
uimus, curam el administrationem eiusdem ecclesie, etiam huiusmodi ad-
ministratione durante, in eisdem spiritualibus et lemporalibus plenarie com-
mittendo, prout in nostris inde confectis litteris plenius continetur. Quo-
circa discretioni uestre per apostólica scripla mandamus, quatenus eidem
Henrico administratori et Electo, tanquam patri et pastori animarum ycs-
trarum, humiliter intendentes ac exhibentes sibi obedientiam et reueren-
liam debitas et deuotas, eius salubria mónita et mándala suscipiatis hu-
militer, et efficaciter adimplere curetis: Alioquin sententiam, quam idem
Henricus administrator et Electus rite tulerit in rebelles, ratam habebi-
mus et faciemus, auctore domino, vsque ad satisfactionem condignam in-
uiolabiter obseruari.
Datum Rome apud Sanctum petrum Anno Incarnationis dominice
millesimo quingentésimo trigésimo tertio, Pridie Kalendas Maii, Pontifi-
catus nostri Anno décimo ^
1 Arch. Nac, Mac. 18 de Bullas, n." 13.
TOMO II. ''>'7
450 * CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
Oulla do Papa Cleitientc ^11, dirigida
ao clero da Oioceise de Rraga.
1533 — Abril 30.
Clemens episcopus seruus seruorum Dei dilectis filüs Clero Ciuitalis
et diócesis Bracharensis Salutem et apostolicam benediclionem.
Hodie dilectum fiiium Henricum Electum Bracharensem, in vigésimo
primo sue etalis Anno conslilulum, administratorem in spiritualibus et
temporalibus ecclesie Bracharensis, tune per obitum bone memorie Di-
daci olim Archiepiscopi Bracharensis, extra Romanam Curiamdefuncti, pas-
loris solatio destitute, doñee vigesimum septimum dicte elatis Annum at-
tingeret, de fratrura nostrorum consilio apostólica auctoritale conslituimus
et deputauimus ; Et deinde, cum in dicto vigésimo séptimo Anno esset,
ex tune, prout ex ea ule, et e contra, de persona sua nobis et eisdem
fratribus ob suorum exigenliam meritorum accepla eidem ecclesie de si-
mili consilio dicta auctoritate prouidimus, ipsumque in Archiepiscopum
prefecimus, el pastorem ; ac de eadem persona sua eidem ecclesie pro-
uisum, ipsumque illi in Archiepiscopum prefectum fore decreuimus, cu-
ram et administrationem eiusdem ecclesie, eliam huiusmodi administra-
tione durante, in eisdem spiritualibus et temporalibus plenarie commit-
tendo, prout in noslris inde confectis litteris plenius continetur. Quocirca
discretioni vestre per apostólica scripta mandaraus, quatenus eundem Hen-
ricum administratorem et Electum, tanquam patrem et pastorem anima-
rum vestrarum grato admitientes honore, ac exhibentes sibi obedientiam
et reuerentiam, debitas et denotas eius salubria mónita et mándala sus-
cipialis humiliter et efficaciter adimplere curetis ; Alioquin senlentiam,
quam ídem Henricus adminislrator et Eleclus rite tulerit in rebelles, ra-
tam habebimus et faciemus, auclore domino, vsque ad satisfactionem con-
dignam inuiolabiliter obseruari.
Datura Rome apud Sanctum pelrum Anno Incarnationis dominico
RELACOES COM a curia romana 451
millesimo quingentésimo Irigesimo lerlio, Pridie Kalendas Maii, Ponlifi-
catus nostri Anno décimo \
Bulla do Papa Clemente l^II, cllri^ida
ao» TaíSjsalloü da Ué de 0i*ag;a.
1533— Abril 30.
Gleraens episcopus seruus seruorum dei dilectis filiis vniuersis vas-
sallis ecclesie Bracharensis salutem et apostolicam benediclionem.
Hodie dileclum filium Henricum Electum Bracharensem, in \igesimo
primo sue etalis anno constilulum, administratorem in spirilualibus el tem-
poralibus ecclesie Bracharensis, tune per obitum bone memorie Didaci
olim Archiepiscopi Bracharensis, extra Romanara Curiara defuncti, pasto-
ris solalio deslitute, doñee vigesimura seplimum dicte etatis Annura attin-
geret, de fratrum nostrorum consilio apostólica auctoritate constituimus
et deputauiraus ; et deinde cura diclum \igesimura septimum Annura at-
tingeret, ex tune, prout ex ea die, et e contra, de persona sua nobis et
eisdem fratribus ob suorum exigentiara merilorum accepla eidera ecclesie
de siraili consilio dicta auctoritate prouidiraus, ipsumque illi in Archie-
piscopum prefeciraus et pastorem ; Ae de eadem persona sua eidem ec-
clesie prouisum, ipsuraque illi in Archiepiscopum prefectura fore decre-
uimus, curara et adrainistrationera eiusdeni ecclesie, etiara huiusmodi ad-
ministralione durante, in eisdera spirilualibus et leraporalibus plenarie com-
raitlendo, prout in nostris inde confectis litteris plenius contineíur. Quo-
circa vniuersilati vestre per apostólica scripta raandaraus, quatenus eun-
dera Henricura adrainistralorem et Electura, lanquara palrera el pastorem
animarura vestrarura denote suscipientes, et debita honorificenlia prose-
quenles ei fidelitatera solitam, necnon consueta seruitia el iura sibi a vo-
bis debita exhibere integre studeatis ; Alioquin sententiara, siue penara,
quam idera Henricus adrainistrator el Eleclus rite tulerit siue statuerit in
1 Arch. Nac, Mac. 18 de Bullas, n." 41.
452 CORPO DIPLOMÁTICO POUTUGUEZ
rebelles, ralam habebimus el faciemus, auctore domino, vsque ad salis-
faclionem condignam inuiolabililer obseruari.
Datum Reme apud Sanclum petrum Anuo Incarnalionis dominice
millesimo quingentésimo trigésimo tertio, Pridie Kalendas Maii Ponlifica-
tus nostri anno décimo '.
Enforniacam pera »e fazei* a ¡suplicacaní
ao papa ^
(1533).
Bealissimo Padre, Por parle de dom Joham Rei de portugal e dos
algarues etc. Muy deuoto filho vosso.
Foy vossa santidade emformado como em seu Reino e térras de seu
senhorio auia muitos christaós nouos, que, sendo judeus, foram de có-
renla annos ^ a esta parte tornados chrislaos, Alguuns per forca, outros
per suas vontades, e outros que depois nacendo dos sobreditos foram bau-
tizados em sua emfancia segundo o costume da santa madre Igreja ; E
que a mayor parte de todos estes eram tam sospeitos e emfamados de
eresias e apostasias da fé, que todo o Reino estaua mui escandalizado de
"verem receber e ministrar os sacramentos da Igreia, mayormente o san-
tissimo Sacramento, haqueles e per aqueles que crem e lem por mui certo
serem erejes e judeus. E por remediar tam grandes emcouuenienles e da-
nos das almas e ofensas de deus pedio a vossa Santidade que mandasse
fazer enquisicam no dito Reino, pelo qual vossa Santidade, sendo assi
enformado a instancia e piticam del Rey, Comcedeo huma bula, per que
fez enquisidor no dito Reino e Senhorios dele a frey diego da Silua, seu
confesor e frade menor da ordem de sam francisco ; e os ditos chrislaos
' Abch. Nac, Mac. 18 de Bullas, n." 21,
^ Este titulo é do original.
' Nao part'fa extranho dizer quarenta annos, porque segué nisto o calculo da Hulla
Sempiterno Regí, publicada a pag. 450 d'este volume.
BELACOES COM a curia romana 453
nonos foram tam solicilos e sagazes que, como ¡slo souberam, logo en-
pelraram oulras letras apostólicas em contrairo, per que \ossa Santidade
sospendeo a dita bula, e mandón que se nom fizesse obra alguma per
ella ate yosso beneplácito. E nom contentes disto os ditos christaos no-
uos, por se mais segurarem e conseruarem em seu judaysmo e eresias,
ouueram agora outra bulla de perdam da sé apostólica, em a qual vossa
santidade diz que, sendo enformado que muitos destes sospeitos foram
de córenla annos ha esta parte de seu judaysmo e da seila mayomctica
e d outras seitas conslrangidos, c tornados contra suas vonladcs á fé ca-
tólica, e que alguns destes foram bautizados per forca violenta, c outros
per suas \ontades, e outros que naceram de párenles christaos e depois
per conuersacam emdiscreta e diabólica persuasam cairam nos ditos erro-
res de eresia e apostasia. E querendo vossa Santidade prover como os
que foram nouamente conuerlidos se nom possam justamente queixar que
Ibes desfaleceo vossa diligencia em os prescruar dos ditos errores e con-
firmar na fé católica, nem os que foram constrangidos e violentamente
bautizados, os quaes vossa santidade diz que se nom deuem contar por
membros da Igreia, se nam possam tambem justamente queixar que sam
contra toda justica e equidade pola Igreia como christaos corrigidos e
castigados : polo qual diz vossa Santidade que de seu moto proprio, e nam
ha instancia dos culpados nem d outra pessoa, mas de sua certa ciencia
e plenario poder da Sé apostólica perdoa e absolue plenariamente todos
os culpados dos ditos crimes de irisias e apostasias no foro ciuil criminal
e contencioso e d alma e conciencia, e dos outros crimes os absolue quanto
ao foro da conciencia somente precedendo conlricam e confisam ; E co-
mete vossa Santidade a eixecucam, comprimento e publicacam desla bula
ao bispo marco seu nuncio, Ao qual manda que nomce e asine os con-
fesores com que se estes christaos nouos am de confessar, e aos que fo-
rem presentes no Reino assine tempo de tres meses do dia da publicacao
da bula, e os ausentes que esteuerem fora do Reino qualro meses, ou
mais ou menos, segundo o que ao dito nuncio parecer necesario, e manda
que se faca liuro memorial deslas confisoes asinado e aselado polo nun-
cio, e que se ponham os nomes e cónhomes de todos os que se confesa-
rem no dito liuro. E manda vosa Santidade que todos os que tiuerem
abitacam no Reino de portugal ou Senhorios dele, asi machos como fe-
meas, ora seiam naturaes da térra ora viessem d outro Reino ; e tambem
4í)i CORPO DiPLOiMATICO PORTÜGUEZ
os que foram desterrados por suas eresias e dilitos, e os que se foram e
auseutarara per suas vonlades que se confesarem ao dito nuncio, ou a
cada hura dos confesores per elle ordenados e se espreuerem no dito li-
uro das confissoes dentro no lempo ácima asinado, o qual tempo manda
que se conté aos ausentes do dia que ouuerem noticia desta bula em diante,
seiam perdoados de todas suas eresias apostasias crimes e excesos, por
grandes inormes e calificados que seiam. E este perdam concede \ossa
Sanlidade a todos os ditos christaos nouos de qualquer calidade e condi-
cam que sejam, com tanto que depois das ditas confissoes se emendem e
nom tornera a cometer mais os ditos errores e eresias. E manda que os
que sam constituidos em oficio sacerdotal ou dinidades ecclesiasticas sir-
uam seus oficios e suas dinidades e estera nelas quietamente, E os que
nom sara sacerdotes ho posara ser, e auer beneficios e dinidades se ca-
nónicamente Ihe forera dados, E seiam auidos assi como se elles e seus
pais auos e bisauos foram sempre chrislaos e nunca desuiarara da fee, E
gozem de todos os privilegios onras e prerogatiuas, com plenissima abi-
lilacara no spiritual e temporal, que gozara os outros christaos anligos, e
nunca em nenhura tempo posara ser acusados denunciados nem inquiri-
dos das eresias, blasfemias e apostasias cometidas ante da publicacam desla
bula, e ante de se confesarera ao dito nuncio ou aos confesores per ele
ordenados, E todo o pasado Ihe vossa Santidade perdoa, asy quanto ao
foro judicial, crirainal e contencioso, corao da conciencia e alma, e dis-
pensa cora elles e absolve os de lodalas excomunhoes, inlerditos, yrregu-
laridades e censuras, em que ouuessem encorrido por causa dos ditos ex-
cesos erisias e apostasias. O qual perdara se ere e lera por mui corto que
uosa Santidade era nenhuraa maneira concederá na forma e modo em que
o concedeo, se fora bera e fielraente emformado dos enconuenientes e da-
nos das almas, e grandes escandolos e ofensas de deus que deles se se-
guem, porque cerlo he que estes sam judeus, pois foram bautizados per
forca violenta segundo vossa santidade foy enformado, e diz que nom de-
uem ser noracados antre os christaos nem corrigidos pola Igreia ; e pois
he verdade que sam judeus, e nom sara capazes de receber sacramento
algum, certo he que nara Ihe concederá vossa Sanlidade as cousas aciraa
ditas, se fora bera enformado, e por tanto se eré que foram tara solícitos
e sagazes que liuerara raéos e maneiras pera engañar vossa sanlidade, e
per falaces e falsas emformacoes erapetraram e alcancaraní da sé aposto-
RELACOES COM a curia ROMAíNA 435
lica perdam e dispensacam, e priuilegio lam escamdaloso e pernicioso de
error entolerabile, que sendo judeus seiam Sacerdotes e posam ter toda
dinidade eclesiástica, posto que seia abacial episcopal e archiepiscopal, e
ministrar e Receber todos os sacramentos da Igreja, Sem se poder nunca
em nenhum tempo fazer contra eles \isitacam nem enquisicam alguma do
pasado, nem se poderem os prelados enformar nem enquirir quais foram
bautizados per forca, e quais per suas vontades, porque a bula tudo de-
fende, e quer que elles gozem do perdam e perrogatiuas ácima ditas,
confesando se e espreuendo se no liuro das confisoes segundo a forma da
bula, sem se poder mais acerca deles fazer outra alguma diligencia.
E o mesmo perdam ácima dito concede vossa santidade aos outros
que foram bautizados de córenla anuos a esta parte per suas vontades,
e aos que depois delles naceram e foram bautizados em sua infancia se-
gundo a forma da Igreia, dos quaes vossa Santidade foy enformado que
per indiscretas e engañosas conuersacoes e diabólicas persuasoes se tor-
naram muitos delles ao judaysmo, e nom se pode entender e he espan-
toso de ouuir que, enformando elles vossa Santidade como sam ereies,
Ihes perdoa nom somente no foro da conciencia, mas tambem quanto ao
foro judicial e contencioso, e dispensa com elles que seiam sacerdotes e
possam ter todalas dinidades eclesiastisas, e ministrar e Receber todolos
sacramentos, Sem se poder contra elles fazer nunca inquisicam das ere-
sias passadas e cometidas até o tempo da dita confisam ; e assi Ihe con-
cede vossa santidade o dito perdam e dispensacam quanto ao foro judi-
cial, sem Ihe constar nem saber que se querem emendar, e posto que os
mande confesar a confisam sacramental he secreta, e nom faz fé quanto
á igreia no foro judicial, e mayormente esta que he forcada e feita per
medo, porque ñora se confesando nom podem gozar da bula, e ficarám
obrigados as penas que merecem per suas erisias, E por tanto Ihe he for-
cado confesarem se como a bula manda ; e se de corenta anuos a esta
parte se confesaram sempre maliciosa e falsamente per suas vontades,
como quer vossa santidade que Ihe cream a esta confisam feita forcada-
mente sem poderem al fazer?
E diz mais vossa Santidade que os que foram acusados e encacera-
dos, e Ihe forem ja prouadas suas eresias en juizo, ou forem condenados
e seus bens confiscados, ou reconciliados e penitenciados, ou per suas
erisias desterrados, que, abjurando eles e renunciando as ditas eresias,
456 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
seiam logo sollos das prisoes e degredos, e postos em sua liberdade, e
Ihe lornem e restituam seus bens e fazendas, se ja o procurador fiscal
del Rey nom estiuer de posse dellas, e que sejam remitidos ao nuncio ;
e querendo se elles confesar, e confesando se e esprevendo se no liuro
das confisoes, segundo a forma da bula, vossa Sanlidade extingue e an-
nula os ditos processos e sentencas e autos contra elles formados, e ad-
uoca ludo á sé apostólica, e manda que elles seiam tornados e restitui-
dos ao estado que dantes estauam, e dispensa com elles e absolue os de
lodalas excomunhoes, interdictos, irregularidades e censuras, em que ou-
uesem encorrido por causa das ditas erisias, apostasias e errores, e tira
Ihe toda magoa de infamia que tinham, e quer que os que eram sacerdo-
tes ou tinham dinidades ecclesiasticas, fiquem em seu oficio sacerdotal e
dinidades pacificamente como d antes estauam, e gozem de todolos priui-
lejos onras e prerogatiuas ao espiritual e temporal, que gozam os outros
christaos antigos, e seiam tidos e auidos em todalas cousas asi como se
elles e todos seus antecessores foram sempre christaos, e nunca disuia-
ram da fe : e estas cousas Ihe concede vossa Santidade, E manda que go-
zem dellas, posto que se proue claramente e conste que eram erejes, e que
o foram sempre, e que perseuerarara e estiueram em suas apostasias e
errores e eresias de córenla annos ha esta parte. Pois veja Vossa Santi-
dade e consire como se poderá tolerar tam grande e abominavel escán-
dalo que os que vemos e sabemos que foram sempre erejes, e por taes
auidos e condenados, que saindo dos caceres prisoes e desterros os veja-
mos logo prelados e húsar de hoficio Sacerdotal, ministrar os Sacramen-
tos, e Reger ha Igreja. Nom se eré que Vossa Santidade tal cousa man-
dara nem permitirá, se fora bem e fielmente enformado, sem ao menos
Ihe constar e saber primeiro elles serem emmendados, Porque comtra toda
rezam e direito he elles serem perdoados, e com tam plenissima abilita-
cam dispensados, sem constar nem se saber que sam emendados ; e posto
que se confessem segundo a bula manda, a tal confissam nom faz fe quanto
á Igreja no foro judicial onde as eresias foram prouadas, porque he sacra-
mental e secreta, feita per medo e sospeita, segundo ja ácima fica dito.
E manda mais Vossa Santidade que os que forem infamados sem se-
rem acusados, se sua infamia vier ás orelhas do nuncio, se possam com-
purgar exlrajudicialmenlc e secretamente peranle o nuncio, ou seus de-
putados, per seu juramento com duas ou tres lestemunhas fidedignas, que
RELACOES COM a curia romana 4o7
o mesmo infamado escolher e hapresentar ; e nam se querendo conipur-
gar, estes infamados poderam abjurar e renunciar secretamente seus er-
rores, de que sam difamados, perante o nuncio, ou seu deputado, com duas
testemunhas, ou com seu proprio sacerdote : E com esta purgacam ou
abjuracam Ihe tira vosa Santidade toda infamia, E manda que gozem de
todolos beneficios desla bula, com plenissima abililacam no espiritual e
temporal, e que sciam auidos em tedas as ccusas como os outros chris-
taos anligos, e como se nunca foram difamados, e sempre foram chris-
taos elles e seus antecessores. O qual perdam e abililacam causará mui
grande escándalo, porque em todalas partes do Reino ha h¡ muilos mui
difamados, e tidos comummente por erejes, e nom se pode tirar nem ce-
sar o tal escándalo com a dita purgacam ou abiuracam extrajudicial, que
foi feila oculta e secretamente, segundo a bula manda ; nem se pode crer
que, sendo vosa santidade fielmente enformado, permita e aja por bem
que os que sam publicamente infamados, e tidos comummente dos que
hos conhecem por erejes, gozem de tantos beneficios, priuilegios, onras,
prerogaliuas, abililacoés e dispensacoes, como esta bula concede com tanto
escándalo de todo reino.
Manda mais Vosa Santidade que os que forem acusados em porlu-
gal, ou em outras parles fora do Reino, posloque nos processos contra
elles formados Ihe seiam prouadas suas heresias, ou seiam ja condenados
por erejes, e se quiserem mostrar por sem culpa e liurar se perante o nun-
cio, que os ouca bcninamente de nouo, e Ihe receba suas defesas e proua
délas ; e se outra vez sucumbirem e forem conuencidos perante o nun-
cio, e nom forem achados relasos, que ihe mude as penas jurídicas que
por suas eresias mereciam, e as em que foram condenados, em peniten-
cias arbitrarias e secretas, e com as ditas penitencias extrajudiciaes e se-
cretas fiquem abilitados absoltos e dispensados pera poderem gozar de to-
dolos beneficios da bula, asi como os outros ácima ditos. Do que se se-
guem grandes inconuenientes, porque nom somente em portugal, mas tam-
bera no reino de castela, foram muitos acusados e depois de Ihe serem
suas eresias provadas, e alguuns depois de condenados e os bens confis-
cados, fugirara pera portugal, e sam suas estatuas queimadas em caste-
la ; e loriAndo se agora a liurar e amostrar por sem culpa ante o nun-
cio, per ventura com testemunhas, fundamentos e Rezoes falsas, sem parte
e em ausencia dos inquesidores e prelados, que os condenaran!, redun-
TOMO II. 08
458 CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
dará em obprobrio infamia e desonra dos dilos inquisidores e prelados,
que contra elles procederam, e os acharam culpados e os condenaran), e
eles, sendo culpados e ereges, cora huma penitencia pecuniaria e secreta
ficarám liures, e gozarám de todolos beneficios da bula, ho que he cousa
tam abominauel e asurda como as pasadas. E postoque o fundamento e
entencam de uosa Santidade seia comcederlhe este perdam coni tanto fa-
uor polos preseruar das eresias e confirmar na fe, elles ho tomarám pollo
contrairo, e Ihes parecerá que porque tem a verdade permite deus e quer
que seiam' fauorecidos e defendidos, e confirmar se am mais huns aos ou-
tros em seus errores, e perverterám os filhos com mais eficacia e mayor
pertinacia, e farseara mais firmes e constantes em suas irisias, porque
cerlo he que o mal conseruado e fauorecido mais se acrecenta. E todos
os que tem conhecimento e experiencia de seu modo de uiver dizem e
tem por certo que, sendo asi fauorecidos de uossa Santidade como vem
ordenado na bula, que se confirmarám muito mais em seu judaismo, e
as erisias crecerám cada vez mais.
E por tanto el Rei por cuitar tam grande perigo e daño das almas
e ofensas de deus, e escandolo do reino e de toda a christindade, pede
a uossa Santidade que, lembrando se da entencam rezoes e fundamen-
tos, cora que concedeo a bula da ínquisicam ácima dita, aja por bem de
conceder oulra em que faca inquisidor a pesoa natural do reino, que el
Rey nomear, porque os naturaes tem mais conhecimento e experiencia
das cousas do Reino que os estrangeiros, e, reuocando e anulando esta
bula de perdam, conceda a inquisicam na forma da bulla ácima dita, per
que Vossa Santidade fez inquisidor ao dito frei diego da silua. E pois pa-
rece bem a vosa Santidade de dar algura fauor a esta gente, conceda a
dita bula da Inquisicam com as limitacoes seguintes:
A primeira que os que forera condenados por erejes, e nom forera
reconciliados, ñora seiara entregues ha justica secular, porque seiam li-
urados da morte natural, e seiam desterrados do Reino pera térra onde
nom possara dañar, e se era algura terapo Ihe nosso Senhor quisor dar
graca pera se conuerterera, la Iha dará onde estiuerem.
A segunda que os seus bens e fazendas ñora se confisquera, raas
seiara pera os filhos e erdeiros que forera achados católicos e Bons chris-
laos, e ñora tendo taes erdeiros pera obras pias noraeadas per el rei cora
parecer do inquisidor.
RELACOES COM a curia romana iH9
A terceira que os que forem reconciliados nom Ihe dem cacere per-
petuo segundo a determinacam do direito comuní, nem se confisquem seus
bens, e lirem Ihe os filhos de seu poder, se os tiuerera, e ponham nos onde
seiam insinados na fe católica e virtudes necessarias e' proueilosas pera
sua saluacam. E os bens e fazendas seiam pera os ditos filhos, e nom
tendo filhos, pera os outros erdeiros que forem bons christaos sem infa-
mia de eresia, e nom tendo taes erdeiros, pera obras pias, que el Rei
com parecer do inquisidor nomear ; e os ditos reconciliados fiquem ina-
bilitados e incapazes dos autos ligitimos e oficios públicos, segundo a or-
denanca e disposicam do direito comum, e nom posam mais ter nem hú-
sar de nenhum oficio de comprar e vender, nem laucar em rendas, mas
viuam per seu trabalho mecánico, e esta penitencia Ihe dem em lugar do
cacer perpetuo que Ihe o direito dá.
A quarta limitacam he que vossa Santidade dispense com os filhos
e netos dos condenados em que nom for achada sospeita nem enfamia de
eresia, e os faca abeles e capazes de todolos autos ligitimos no espiritual
e temporal, e de todolos oficios pubricos e dinidades no estado ecclesias-
tico e secular, e todo o mais mande vossa Santidade, que se faca segundo
a ordenanca e disposicam do direito comum e conciencia do Inquisidor \
Bulla do Papa Clemente 1^11, dirigida
ao Infante D. Henrique.
1533 — AgOHto 9.
Clemens episcopus seruus seruorum dei dilecto filio Henrico Electo
Bracharensi salutem et apostolicam benedictionem.
Cum nuper nos te, tune in vigésimo primo tue etatis anno constitu-
lum, administratorem in spiritualibus el ternporalibus ecclesie Bracharen-
' Copia muito incorrecta no Arch. Nac, Gav. 2, Mac. 2, n.° 29. Vejase o que
acerca d'este documento diz o sr. A. Herculano na sua obra — Da origem e estabeleci-
menlo da inquisicáo — Totn. ii, pag. 46 e 17.
58*
460 CORPO DIPLOMÁTICO PORTÜGUEZ
sis, lunc cerlo modo pastoris solatio deslitule, doñee vigesimum septimum
Annum etatis huiusmodi attingeres, de fralrum noslrorurn consilio apos-
tólica auctoritatc constituerimus et deputauerimus, ac ex tune, prout ex
ea die, et e confra, eum diclum vigesimum septimum Annum attingeres,
de persona tua nobis et eisdem fratribus ob tuorum exigentiam merilo-
rum accepla eidem ecclesie de simili consilio dicta auctoritate prouideri-
raus, prefieiendo te illi in Archiepiscopum et pastorem, Ac tecum vt, cum
vigesimum septimum Annum huiusmodi attigeres, prefale ecclesie in Ar-
chiepiscopum preesse, illamque in eisdem spiritualibus et lemporalibus re-
gere et gubernare valeres, motu proprio dicta auctoritate dispensaueri-
mus, prout in diuersis nostris inde eonfeclis lilteris plenius continetur;
Ac postmodum Pallium insigne, videlicet plenitudinis pontificalis oííicii,
ex parte tua fuerit a nobis per dilectum filiura Petrum Domenech, cleri-
cumTerrachonensem, Scutiferum de numero participantium, et familiarem
eontinuum commensalem nostrum, Nuntium tuum, cum ea qua decuit ins-
tantia postulatum : Nos tuis supplicationibus annuentes Pallium ipsum de
corpore beali Petri sumptum, per venerabiles fratres nostros Elborensem
et Lamacensem Episcopos libi assignandum, per prefatum Nuncium tuum
duximus destinandum, Ut iidem Episcopi, vel eorum alter, illud tibi post-
quam munus consecralionis susceperis assignent, et a te nostro et Romane
ecclesie nomine sub forma, quara eis sub bulla nostra mitlimus introclu-
sam, fidelitatis debite solitum recipiant iuramentum. Tu autem illo intra
ecclesiam tuam illis diebus dunlaxat vtaris, qui expressi in ipsius eccle-
sie priuilegiis continentur. Ut igitur Signum non discrepet a signatu, sed
quod geris exterius interius serues in mente, Discretionem tuam monemus
et hortamur áltente libi per apostólica scripta mandantes quatenus humi-
litatem et iuslitiam dante domino, qui dat premia et muñera elargilur,
obseruare studeas, que suum seruant et promouent seruatorem, Et Bra-
charensem ecclesiam sponsam tuam cure sollicite auctore domino spiri-.
lualiter et temporaliter augmentare.
Dalum Rome apud Sanctum petrum, Anno Incarnationis dominice
Millesimo quigentesimo trigésimo tertio. Séptimo Idus Augusti, Pontifica-
tus nostri Anno Décimo \
> AiCH. Nac, Mac. 19 de Bullas, n.° 24.
KELACOES GOM a curia romana 461
Forma ¡uramenti ralione Pallü. — Ego Henricus Archiepiscopus Bra-
charensis ad hac hora in antea fidclis et obediens ero beato Pelro sancte-
que apostolice Romane ecclesie, et domino meo domino Giemenli pape vii,
suisque successoribus canonice intrantibüs. Non ero in consilio aut con-
sensu vel fado \t vitam perdant aut membrum, sen capianlur mala ca-
plione. Consilium vero quod mihi creditnri sunl per se, aut nunlios seu
litteras, ad eorum damnum me sciente nemini pandam. Papalum Roma-
num et regaba sancti Petri adiutor eis ero ad retinendum et defenden-
dum, saluo meo ordine, contra omnem hominem. Legatum apostolice se-
dis in euudo et redeundo honorifice trattabo, et in suis necessitatibus ad-
iuuabo. Vocatus ad Synodum veniam, nisi prepeditus fuero canónica pre-
peditione. Apostolorum limina Romana Curia existente, citra singulis An-
nis, \itra vero montes singulis Bienniis, visitabo aut per me aut meum
Nuntium, nisi apostólica absoluar licentia. Possessiones vero ad mensam
mei Archiepiscopatus pertinentes non vendam, ñeque donabo, ñeque im-
pignorabo, ñeque de nouo infeudabo, vel aliquo modo alienabo, incon-
sulto Romano Pontifice. Sic me deus adiuuet et hec sancta dei euangelia '.
Bulla diri^icla aoü Biüpoü d'Evora e de Ijame^o.
1533— Agosto Y.
Clemens episcopus seruus seruorum Dei venerabilibusfratribus Elbo-
rensis el Lamacensis Episcopis Salutem et apostolicam benedictionem.
Cum Pallium insigne, videlicet plenitudinis pontificalis officii, ex
parte dilecti filii Henrici, Electi Bracharensis, quem nuper, tune in vi-
gésimo primo sue etatis Anno constilutum, Administratorem in spirilua-
libus et temporalibus ecclesie Bracharensis., tune certo modo pastoris so-
latio destitute, doñee vigesimum septimum Annum etatis huiusmodi attin-
geret, de fratrura nostrorum consilio apostólica auctoritale constituimus et
deputauimus, ac ex tune, prout ex ea die, et e contra, cura diclum vi-
^ Arch. Nac. Mac. 12 de Bullas, n." 25.
i 62 COKPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
gesimum seplimum Annum atlingeret, (Je persona sua, nobis el eisdem fra-
Iribus ob suorum exigenliam merilorum accepla, eidem ecclesie de simili
consilio dicta aucloritale prouidimus, prcficiendo ipsum illi in Archiepis-
copum el paslorem, Ac secum vt, cum vigesiraum seplimum Annum hu-
jusmodi attigerit, prefate ecclesie in Archiepiscopum preesse, illamque in
eisdem spiritualibus el temporalibus regere el gubernare valerel, molu
proprio dicla aucloritale dispensauimus, prout in diuersis noslris inde con-
fectis lilleris plenius conlinctur, per dileclum filium Pelrum Domenech,
clericum Terrachonensem, Scutiferum de numero parlicipanlium, el fa-
miliarem conlinuum commensalem noslrum, Nuncium suum fuerit a no-
bis cum ea qua decuit inslanlia poslulatum, Nos ipsius Henrici Elecli pre-
cibus Annuenles pallium ipsum de corpore beali Pelri sumptum per vos
vel altorum veslrum assignandum eidem, secundum formam quam vobis
sub bulla noslra millimus introclusam, per prefalum Nuncium duximus
deslinandum. Quocirca fraternitali vestre per apostólica scripla manda-
mus quatenus vos, vel aller veslrum, Pallium ipsum iuxta premissam for-
mam sibi assignare curetis, el ab ipso nostro el Romane ecclesie nomine,
sub forma quam vobis sub eadem bulla dirigimus, fidelitatis debite soli-
lum recipialis, seu aller veslrum recipial iuramentum ; formam aulem iu-
ramenti, quod diclus Henricus Eleclus preslabit nobis, de verbo ad ver-
bum per eius patentes litteras suo sigillo munitas per proprium Nuntium
quanlotius destinare curetis.
Datum Rome apud Sanctum pelrum, Anno Incarnationis dominico
Millesimo quingentésimo trigésimo lertio, séptimo Idus Augusti, Ponlifi-
catus noslri Anno Décimo ^
Forma dandi Pallium. — Ad honorem dei omnipotentis el beate Ma-
rie virginis, ac beatorum Apostolorum Pelri el Pauli, el domini noslri
domini Clementis vii, et sánete Romane ecclesie, Necnon Rracharensis ec-
clesie Ubi commisse, Ubi Iradimus Pallium de corpore beaU Pelri sum-
ptum, plenitudinis videlicet ponUficalis officü, vi eo vtaris infra eccle-
siam luam certis diebus, qui exprimuntur in priuilegiis c¡ ab apostólica
sede concessis ^
» Arch. Nac, Mac. 18 de Bullal, n." 40.
2 Ibilem, Mac. 18, n.° 29.
RFLACOKS COM a CURíA HOMAiNA ' 403
Caria il'cl-Rci a(» Papa Cleinciitc WII.
1533 — AgOMto 15.
Sanclissime in chrislo Pater ac beatissime Domine.
Joannes Dei gratia Rex Portugalliae et Algarbiorum cilra el ultra
raare, in África Dominus Guineae, alque expedilionis et nauigationis et
commercii Aethiopiae, Arabiae, Persiae, alque indiae, vt filius pienlissi-
raus post humillima pedum Oscula. Quanquam hoc mihi cum reliquis
christianis regibus est commune, vi omnes Sanctilatem Vestram, tanquam
Dei vicariura in terris, ac Reipublicae Chrislianae paslorem, pie sancteque
colamus ; ego lamen in hac communi omnium obligatione praecipuum me
semper oíficii ac pietatis debitorem putaui, Nam praeter ipsam religionis
causam, quae ómnibus .... quo communis est, tanta semper ueslrae flo-
rentissimae Mediceae Gentis familiae, iam inde ab ipso Leone Décimo cum
Paire meo Aemanuele rege foelicissimo, familiaritas fuit, ut haereditarium
habeam Sanctilatem Vestram hoc nomine uel priuatim demereri. Sed, et
praeter apostolicam dignilatem et clarissimi generis commendationem, cum
res christiana hac nostra tempeslate in eas calamitates inciderit, quae su-
periorum temporum mala praetergrediantur, ea sanctitatis vestrae uigilan-
tissima prudenlia atque ea virtus extitit, ut omnium indicio quantum in
se fuerit res fessas ope et consilio iuuerit, atque aegris partibus medicata
sil, Quamobrem sibi eam famam atque id nomen ueri ac clementissimi
Patris adepta est, ut nemo iam sit ex christianis Principibus, qui se in
rebus praecipue aduersis suae fidei atque suo patrocinio committere ac
eredere non debeat. Quae ego benefacta in nostram Rempublicam Chris-
lianam cum perspectissima ac cognitissima habeam, ad sacros Sanctitatis
vestrae pedes supplex accedo opem atque auxilium meis rebus petens,
quod ea flducia fació vt sperem Sanctilatem Vestram pientissimi íilii ius-
tissimas preces spreturam non esse. Sed antequam ea exponunlur, quae
mihi donari ac concedí opto, pauca de rerum mearum statu habita prae-
teriti alqu3 praesenlis temporis consideralione declarabo, Rera ómnibus
464 • CORPO DIPLOMÁTICO PORTUGÜEZ
nolissimam esse pulo Aemanuclem Regem, foelicissimum patrera nieum,
inilio sui regni classem ex Lusilania misisse, quae uastissinii atque an-
tea incognili Oceani tiaclus emensa, tándem ad indicum mare perlala est,
unde indicis mercibus onusta in Lusitaniam remeauil ; Quod elsi tune pro
miraculo, ul par eral, habitum essel, quoniam res foeliciter cesseral, ite-
rum teníala priore fortuna cum lulius ac commodius in dies nauigare-
lur, solemnes quolannis stalis lemporibus classes milti caeperunl, Aucla-
que nauigandi fiducia cum se noslrae ñaues in omnes parles sparsissent,
non solum Aelhiopici, Arabici, Persici, alque indici el Scythici maris
omnes sinus, el terrae omnia ilumina penelrarunl, sed elianí alium con-
Unentium lerrarum nouum orbem nostris honiinibus haclenus incognilum,
alque raagnarum insularum infinilum prope numerum, ¡nuenerunl. Qui-
bus rebus in ómnibus illis regionibus adeo Lusilanorum polenlia creuil,
ut mullae ciuilales, nalioncs alque integra regna, aul melu nostrorum
coacta, aul doctrina instructa, euangelium Chrisli receperinl ; aliquoi etiam
insulae indicis lilloribus obieclae reperlae sunt, Quas qui incolunl chris-
lianos se esse profitenlur, cum alioqui mullum a Romanae Ecclesiae ri-
libus abscedanl. Quin etiam hac noslra nauigalione apcrlum est iler ad
eos cbristianos, qui intra Aelhiopcs supra Aegyplum undique ethnicis cir-
cundali sunl, Qui se nunc per eum legalum, qui cum oralore nostro ad
Sanclitalem Veslram profectus est, Romanae Ecclesiae adiungi uelle aífir-
manl, vi sil, quemadmodum Chrislus Deus nosler iussil, unus pastor el
unum ouile. Tanta ilaque authoritas hac nostra nauigalione Ghrisliano no-
mini accessil, lanlum gloriae adieclum est, ul ausim diccre tanlum per
Aethiopicum, alque Indicum mare mea hac nauigalione Chrislianismo ac-
creuisse, quantum in Europa nostris lemporibus amissum esl ; alque etiam
summe gloriae duci deberé arbitror in his partibus Indici maris, ubi Ma-
chomelicus error plurimum pullulal, altolli manibus Lusilanorum uictri-
cia Chrisli signa, el mullos suae gcnlis Reges nostris legibus uiuere et
graue tributum quolannis penderé; mullasque esse per omnes Arabici,
Persici, alque Indici littoris oras, perqué ínsulas deducías colonias nos-
trorum Lusilanorum ubi rite chrisli nomen Quolidie inuocalur. Quin etiam
diuiliae ¡psae, quae quidem huic regno huiusmodi nauigalione amplissimae
accreuerunl, semper ct a me, el ab Aemanuele paire meo isti sanclae sedi
apostolicae, alque ómnibus Christianis regibus, qui se nostris opibus au-
geri uoluerunt, alque ómnibus deniquc ordinibus, ac collegiis sacris fue-
RELACOES COM a curia romana 465
runt liberalissime communicatae ; Quae ideo citra inanis gloriae suspicio-
nem dicta uidcri debent, quia elsi minime dicanlur, ómnibus lamen no-
tissima sunt. Sed cum haec omnia diulius prosperum fortunae cursum
sentirent, nec ulla re aduersa premerentur, paulalim aliquibus diííiculla-
tibus implican caeperunt, Nam, cum antea nostrae ñaues nuUa nisi ma-
ris pericula, quae in tam longo itinere omnino máxima contingere solent,
paterentur, postquam nonnullorum cupiditas, qui aliena sludiosius appe-
tunt quam sua tutantur, ita incensa esl ut pirático more nostris nauibus in-
sidiaretur, necesse habuimus aliam quotannis classem instruere, quae nos-
tras onustas ñaues ad médium mare uenientes excipcret, ac tutas domum
reduceret. Quin etiam ipsi Indi, qui facile a principio parua nostrorum
manu in oíBcio continebantur, nostris assiduis praeliis repugnare edocti,
"vix iusto exercitu nunc leneri possunt, ipsumque indicum mare, quod
tuto prius nauigabatur, iam nisi munitissimis classibus a nostris nauigari
non potest ; Quippe Indi, etsi saepe in ipso mari a nostris praelio supe-
rati ac fracli discedunt, non tamen animo deüciunlur, nec reficcre uires,
ac tentare cessant si possint se in libertatem semel asserere. Quibus in
rebus dum singula prouideo tot mihi impensae iamdiu crcuerunt, isque
praeterea numerus nobiliura Lusitanorum, atque ueteranorum militum as-
siduis praeliis desyderatus est ut nullis commodis damna pensari ualeant :
Verum haec omnia propriis interim facultatibus refici atque sustineri
poterant : nunc Christiani nominis hoslis turcarum imperator multis uicto-
riis elatus, Quas aduersus Soldanum et Xeque Ismaelem, deinde aduer-
sus Magistrum Hierosolymitanum atque Pannoniae Regem adeptus est, in
Indiam quoque imperium suum proferre cupiens, maximis in mari rubro
instructis classibus. Copias in Indicum mare primo quoque íempore trans-
missurus dicitur ; Id quod Sanctitati Vestrae nolissimum esse scio, ut quae
anno superiore de ómnibus huiusmodi rebus me suis literis certiorem fe-
cerit ; Quod ipse quorundam Indicorum Regum fidera secutus facit, qui
•se illi uniuersam indiam tradituros pollicentur si semel nostram classem
profligauerit, Eiusque copias Indorum reges maiore ipsi nauium numero
expectant vt coniunctis uiribus nostros adoriantur. Quae res etsi dictu
facilis est, aestimare tamen licet quo in discrimine res nostrae illis in
partibus positae sint. Quo mihi ad properandum magis est ut.....
auxilia submittam quo nostri, fauente diuino auxilio, tot tamque instru-
ctis hostfüm superiores esse possint. Quapropter hoc Sep-
TOMO II. o 9
466 CÜRPO DIPLOMÁTICO PORTUGUEZ
tembri mcnse, quanuis propter anni témpora alienus sit a consueta naui-
gationc, coactus tamen ea, quam dixi, necessilale, non paruam classem
subsidio millam, missurus slalim aliam multo maiorem inilio insequcntis
Marlii, quod tempus venlorum causa slatum ac solemne millendis habetur.
Quae ambae classes eo milltum numero atque bellicorum instruinenlo-
rum copia onustae dimilluntur, \t, si Dcus Oplimus Maximus eas incó-
lumes ad indicum mare perlulerit, sperem pro bellica mililum nostro-
rum \irtute omnes Turcarum, atque indorum si comminus
rem gerere sustinuerint, suo damno pugnandi periculum facturas. His re-
bus posilis, satis constare arbilror quis lolius mei regni et armorura et
nauium el uirorum et pecuniarum status sit, Quam rem si Chrisliani
reges diligentius animaduerterent, intelligerent prefecto non minus to-
tius Christianae Rcipublicae, quam mei regni, hoc uno Turcarum aduer-
sus me in India bello, periculum uerti, el rae pro communi omnium for-
tuna dimicantem opibus suis adiuuarent. Nam si Turcarum Princeps ea
polentia, quam in Aegypto, Asia, Europa habet, rem Chrislianam lia in-
festat ut omnium Chrislianorum auxilia in unum coacta uix eum ne per-
rumpat sustinere possint, quid precor futurum arbitramur si suis copiis
ac diuitiis indicas opes addideiit, quibus cerle multis parlibus maiorem
Gxercitum, quam modo in Pannoniam adduxit, quot annos continuos uo-
luerit aduersus chrislianos alere poterit? Sed et praeler Turcarum bellum,
ea pars Aphricae, quae Ilispaniae lilloribus obtenditur, dcduclis ocio Lu-
sitanorum coloniis, distinetur ne bellum Hispaniae inferat, Quod si aliquo
in India detrimento acceplo earum praesidia minus alere ac reficcre quo-
tannis possem, nulli dubium habetur quin ipsam Hispaniam statim bello
inuasura esset. Quare, beatissime ac sanctissime Pater, ex his quae dixi
Sanclitas Vestra manifestó coniicere poterit Quanlae mihi nunc, quam-
quc in dies maiores impcnsac et nauium et virorum et pecuniarum im-
pendeant, quin eliam christianum nomen, quod meis armis in India longo
lateque florel, quanto nunc ne súbito concidat in periculo uerselur, pos-
tremo quanla occasio aperialur ut Turcarum Princeps eo armorum ui-
riumque crescat, ut nemo ei deinceps resislere audeat, nisi meis armis
in India uictus fuerit, quam cgo spcm et oplimam in virtute nicoriim
mililum, et certissimam in Deo habco. Sed quoniam reuerendo viro Mar-
tino, Electo Archiepiscopo Funchalensi, consanguíneo meo charissimo,
atque oratori meo apud Sanclitalcm Vcslram, mandaui ut meo nomine
RELAgOES COM A CURIA ROMANA 467
eidem Exponcret Quid ego ah ipsa impetrare cupercm, reliquum est ut
ab cadcm Sanclilate Vestra suppliciler pelam ul ipsi integram fidem adhi-
bere, meque sua sólita benignilate prosequi dignetur. Hoc si, \t spero, ab
ipsa impelrauero, erit raihi loco summae gratiae ; dabo autem operam di-
ligenlissime ne me unquam Sanctitas Vestra immemorem dicat, omniaque
semper exequar, proul famulum deuotissimum decet, quae ad ipsius ac
islius sanclae sedis obsequium spectare intellexero. Sanclissime in christo
Pater ac bealissime Domine, Deus omnipotens Sanclilatem Veslram diu-
tissime et foelicissime augere et conseruare dignetur ad sui sancti obse-
quii bonum et utilitatem.
Datae Eborae Die xv Augusti mdxxxiii. — El Rey *.
* Arch. Nac, Gav. 2, Mac. 11, n.° 14. Tem o sello respectivo e o sobrescripto:
Sanctissimo in Christo Patri ac beatissimo Domino Clementi diuina prouidentia Papae
in ecclesia Dei presidenti.
Deviam seguirse agora as seguintes bullas, citadas por Fr. Manuel de S. Dama-'
so: Ex litteris Nuntii, de 19 de Outubro pedindo a B. Joao iii que consentisse na pu~
blicaQÜo da bulla do perdao geral: Licet superioribus, de 18 de Dezcmbro, mandando
ao nuncio que suspendesse por dous meses a publicagao d' aquella bulla; e Quod opta-
vit, da mesma data, communicando a elrci esta determindíao (Verdade Elucid. Argum.
VIH e ix). Nao conseguimos, porém, encontrar nenhuma d'ellas.
FIM DO TOMO SEGUNDO.
59*
índice
1S18 PAG.
Marco 4. Breve Cum ex litteris, pelo qual o papa Lcao x convida el-rei
D. Manuel a unir-se aos outros principes christaos na guerra con-
tra os turcos 1
Marco 9. Breve Nuper Monasterium maniendo a promessa, que tinha feito
a D. Manuel de Noronhá de o prover no primeiro mosteiro ou
priorado que vagasse 3
Marco 10. Breve Cum nuper nomeando o arcebispo de Lisboa e os bispos
de Lamego e do Funchal para imporena o barrete de cardeal no
infante D. Aífonso quando chegasse á idade de 18 annos : . 5
Marco 21 . Breve Cum majestas tua pedindo a el-rei que ratificasse as tre-
goas entre os principes christaos, que S. S. mandava intimar de-
baixo de certas penas 7
Maio 3, Breve Vidimus quae super acerca da elevacáo de D. Henrique,
filho do rei de Congo, ao episcopado 9
Maio 29. Despachos para D. Miguel da Silva encarregando-o de obter de
S. S. a dispensa necessaria para o casamento d'el-rei com a infanta
D. Leonor, filha do rei de Castella 10
Junho 12. Breve Exponi nolis nuper auctorisando o bispo de Lamego, ca-
pellao mor, a conhecer da validade das censuras e penas ecclesias-
ticas impostas pelos ordinarios 13
Junho 11. Breve Exponi nolis nuper concedendo ao mcsmo capellao mor
faculdade para dar ordens aos indios c africanos, que cstivessem
no caso de as receber 15
470
índice
1518
Junho 15.
Junho 15.
Setembro 30.
1519
Fcvcreiro 23.
Maio 27.
Setembro 16.
1520
Abril 3.
Agosto 29.
Setembro 14.
Dezemtro 1.
Dczcmbro 1.
1521
Marco 3.
Abril 27.
Agosto 12.
PAG.
Carta de D. Miguel da Silva participando a el-rei que remettia
ao embaixador em Castella a bulla de dispensa, desta mcsma data,
que obtivera depois de algumas diíBculdades a respeito da somma
que devia'custar 16
Bulla OUatae nohis nuper concedendo a dispensa necessaria para
o casamento d'el-rei com a infanta D. Leonor 18
Breve Dudum certis ex causis ratificando a auctorisacao que
dera para a creacáo de algumas novas commendas da ordem de
Christo 19
Bulla Romani Pontificis providentia concedendo ao cardeal in-
fante D. Affonso o regresso do bispado da Guarda, por morte ou
cessao do bispo D. Jorge 21
Bulla Pastoralis offícn mandando aos prelados ordinarios que
nao procedam na execucao dos testamentos antes de anno e dia
sem o consentimento dos officiaes d'el-rei 24
Breve Exponi nolis nuper auctorisando o capellao mor a casti-
gar os clérigos, que cacassem sem licenca ñas coutadas reaes .... 26
Breve Dudum pro parte prohibindo aos vigarios geraes toma-
rem contas aos testamenteiros, visto que essa inspeccao pertencia,
pelo costume do reino, aos officiaes d'el-rei 27
Carta de D. Miguel da Silva a el-rei acerca da guerra do Turco,
e do que se passava em varios reinos da Europa. Termina dizendo
que S. S. publicara uma bulla contra Luthero 30
Bulla Romani Pontificis providentia concedendo a administra-
cao do mosteiro de S. Joao de Tarouca ao cardeal infante D. Af-
fonso 33
Carta d'el-rei a D. Miguel da Silva recommendando-lhe alguns
negocios pendentes na curia, e encarregando-o de obter dispensa
de idade para o filho do rei de Manicongo poder exercer as suas
funccocs de bispo 37
Outra de crenca para S. S 38
Carla d'el-rei a D. Miguel da Silva recommendando-lhe qne
fizessc todas as diligencias para o cardeal infante D. Alfonso ser
próvido do arcebispado de Toledo, graca que pedia a S. S. n'uma
carta, que elle embaixador dcvia entregar 39
Breve Praeclara dcvotionis auctorisando o capellao mor a punir
os clérigos de ordcns menores, que transgrcdissem as leis relati-
vas ao commorcio da India c da Ethiopia 41
Breve Est tuae scrcnitati rcí'erindo os aggravos que rccebéra do
rei (le Franca, e pcdindo a elrei que, entrando na liga feita com
ÍNDICE
471
o imperador, mandasse cm auxilio da Santa Sé a armada, cm que
¡a a infanta para Saboia 43
Agosto 12. Breve De tua prudcntia pedindo ao secretario de estado que
désse inteiro crédito ao que Ihc escrevessc D. Miguel da Silva. . . 47
Agosto 20. Breve Etsi cum recle louvando el-rei pelas medidas que tinha
tomado contra aseita lutherana, edando-lheo parabcm pelo casa-
mento da infanta D. Beatriz com o duque de Saboia 47
Setcmbro 20. Breve Dudum siquidem permiltindo ás pessoas, que servissem
no ultramar, escolher confessor, que as ouvisse e absolvesse, mes-
mo nos casos reservados 49
Setcmbro 20. Bulla Cum superioribus annis felicitando o rei de Elhiopia pela
sua allianra com o de Portugal, c promettendo conccder-lhe todas
as gracas que D. Manuel pedirá para elle, com tanto que seguisse
todas as doutrinas da igreja catholica ; 51
Setcmbro 20. Bulla Cum classis exhortando os prelados da Ethiopia a perse-
verarem na fé, e a darem gracas pela allianca do seu soberano com
o de Portugal 54
Setcmbro 20. Bulla Magnas Omnipotenti Leo manifestando ao patriarcha de
Alexandria a alegria que teve com a allianca feita entré o rei de
Portugal e o da Ethiopia, e pedindo-lhe que respeite a Santa Se
e Ihe obcdeca como fdho 56
Novembro 26. Carta d'el-rei recommendando a D. Miguel da Silva que procure
obter de S. S. o cardcalado para o infante arcebispo de Lisboa pe-
los quinze mil ducados que este offerccia 58
Dczcmbro 19. Carta d'el-rei D. Joao m participando a D. Miguel da Silva o
fallecimento de D. Manuel 63
1522
Maio 9. Carta de D. Miguel da Silva acerca da eleicao do papa Adriano
VI, e relatando as vantagens obtidas pelas forcas da Santa Se con-
tra as d'el-rei de Franca 61
Maio 13. Breve Exposuit nolis concedendo a el-rei auctorisacao para ar-
recadar provisoriamente as rendas do mestrado de Christo e de va-
rios mosteiros vagos 71
Maio 14. Carta de Ayres de Souza participando a el-rei ter sido muito
bem recebido de S. S., que fizera quanto da parte de S. A. Ihe
pedirá ; e declarando que julgava muito conveniente conceder-se
ao papa o auxilio marítimo que pertendia * 72
Maio 14. Breve Incredibili laetitia pedindo a el-rei que recommcnde ao
seu embaixador na corte de Franca que una os seus esforcos aos
do nuncio para se conseguir a paz com o imperador, ou ao menos
treguas de alguns anuos 76
Maio 22, Breve Exponi nolis nuper auctorisando el-rei a mandar armas
aos mouros, que Ihe faziam servicos em África 77
472
índice
lo22
Maio 2G.
Junho 3.
Juiho 12.
Jalho 12.
Julho 12.
Julho 13.
Agosto 1.
Setembro 25.
Setembro 27.
Setembro 27.
Outubro 2.
1523
Fevereiro 18.
Fcvcrciro 18.
Fevereiro 20.
PAG.
Breve Dilectum filium recommendando a el-rei o embaixador
Joao Rodrigues Mousinho, e pedindo-lhe que o proveja cm algu-
ma prcceptoria ou commenda da ordcm de Christo 78
Breve Ex litterismajestatis íwae agradecendo a el-rei a promessa
de alguns navios, e pedindo-lhe que os mandasse sem demora para
seguir nelles para Italia 79
Instruccoes ao dr. Joao de Faria para pedir a S. S. que conce-
desse a el-rei a administracao da ordem de Christo, como a tivera
D. Manuel, e bem assim a aprescntacáo de todos os mostciros dos
seus estados; ao cardcal infante D. AíTonso o arccbispado de Lis-
boa c o bispado de Evora; ao infante D. Henriquc o bispado de
Vizeu; 6 ao infante D. Duarte a abbadia de S. Joao de Tarouca
e urna pensáo no bispado de Evora 80
Carta d'el-rei ao reverendo Atanarico recommcndando-lhe o em-
baixador portuguez e os negocios, que tinha a tratar com S. S. . . 85
Outra no mcsmo sentido ao hispo de cidadc Rodrigo 86
Outra agradecendo ao reverendo Atanarico o interesse que to-
mava pelos negocios de Portugal 86
Breve Ea;2)osMií no6¿s auctorisando oarcebispo de Braga a laucar
o habito da ordem do Hospital áquelle dos infantes, que el-rci no-
meassc 87
Carta de D. Miguel da Silva pedindo a el-rei que Ihe mandasse
instruccoes acerca dos negocios que devia tratar quando S. S. che-
gasse a Roma, e dizendo que obtivcra a revogacao do provimento do
priorado do Crato feito ao chanccllcr Amaral 88
Outra relatando a viagcm do papa para Roma; o modo por que
tinha sido rccebido por S. S. ; o estado da curia; as noticias poli-
ticas de que tinha conhecimento, etc 90
Outra accrescentando que tinham chegado mais noticias acerca
de Rhodcs, e dizendo que o imperador nomeára novo embaixador. 98
Outra dizendo que os turcos tinham alargado o cerco de Rhodes,
mas que todavia se pcrdcria se nao fosse soccorrida. Falla depois
na grande peste que havia em Roma, pedindo liccnca para reco-
Iher ao reino. Diz que ainda ncnhum principe tinha dado obe-
diencia a S. S., etc 99
Bulla Nobilitas gcncris concedendo ao infante D. Henrique o
priorado de Santa Cruz de Coimbra 102
Bulla Ad pcrsonam tuam garanlindo ao cardcal infante D. Af-
fonso o regresso do priorado de Santa Cruz quando por qualqucr
modo vagassc 106
Bulla Gratiae Divinac praemium concedendo a administracao
do bispado de Evora ao cardcal infante D. AíTonso 108
índice
478
1523 PAG.
Fevereiro 20. Bulla Gratiae Divinae praemium concedendo ao mesmo infante
a adminislracao do arcebispado de Lisboa 109
Marco 2. Bulla Romani Pontificis provideníia provendo o infante D. Hen-
rique nos mosteiros de S, Christovao de Lafoes c de S. Jorge de
Coimbra 110
Marco 3. Breve Novit Ule lamenlando a perda de Rhodes e Belgrado, e
pedindo a cl-rei que cmpregue todos os seus esforcos para se res-
tabelecer a paz entre os principes christaos 116
Marco 4. Carla de D. Miguel da Silva dando parte a el-rei dos negocios
que tinha resolvido, e mostrando quanto convinha soccorr^ com
alguns navios a Santa Sé, visto o pcrigo em que estava depois das
victorias alcancadas pelo sultao ottomano 119
Marco 11. Bulla Etsi ad ampleanda laucando duas decimas nos rcndimen-
tos ecclesiasticos para serem applicadas á guerra contra os turcos. 124
Marco 15. Carta de D. Miguel da Silva a el-rei acerca das bullas da admi-
nistracao do mcstrado da ordem de Christo, e dos mosteiros de La-
foes e de S. Jorge etc., e indicando as tres pessoas, que suppu-
nha terem maior influencia no animo de S. S. : 131
Marco 16. Carta de D. Miguel da Silva participando a el-rei que os nego-
cios do imperador com o papa tinham sido resolvidos a contento
d'aquelle, e conforme os desejos de S. A 133
Marco 19. Bulla Eximiae dcvotionis concedendo a el-rei a adminislracao do
mestrado da ordem de Christo 134
Marco 21. Carta de D. Miguel da Silva a el-rei alludindo á perda de Rho-
des, dizendo que o castello de Milao se entregara, e relatando os
estragos que a peste fazia em Roma 138
Abril 10. Breve Cum carissimus dispensando o infante D. Hcnrique de re-
zar as horas canónicas, fazendo-o em seu logar algum ecclesiastico . 139
Abril 11. Breve Nuper dilectum auctorisando el-rei a applicar á guerra
d'Africa o rendimento do arcebispado de Lisboa e do bispado de
Evora, em quanto os infantes D. Affonso e D. Henrique nao che-
gassem á idade de 20 annos 140
Abril 15. Carta de D. Miguel da Silva ao secretario de estado remettendo-
Ihe a bulla, que provia o irmáo do mesmo secretario em dois mos-
teiros, e pedindo-lhe que o recommendasse a cl-rei, sobre ludo
na preíencao de voltar ao reino 142
Abril 27. Carta de D. Miguel da Silva dizendo a el-rei que ocardeal Vul-
terra tinha sido preso ; que a peste recrudescia em Roma ; que con-
vinha mandar a obediencia a S. S. ; e que Accurcio comecava a fal-
lar na antiga demanda de Tarouca 143
Abril 30. Bulla Monet nos ventas intimando os principes christaos a fa-
zerem treguas por tres annos ^ 14S
Maio 1 . Breve Novit Deus participando a el-rei ter publicado a bulla an-
TOMO II 60
474 índice
1523 PAG.
tecedente, e ped¡ndo-lhe que usasse da sua ¡nílucncia ante o im-
perador e mais principes seus párenles para aquella providencia
surtir o desejado effeito 149
Maio 20. Carta de D. Miguel da Silva ao secretario d' estado dizendo-lhe
que tinha já mandado a cl-rei varias bullas, e agora remcltia tras-
lados auténticos tanto dessas como das relativas a Lisboa, Evora,
e Santa Cruz, cujos originaes lencionava trazer pessoalmente .... 151
Maio 25. Carta de D. Miguel da Silva a el-rei tratando largamente de to-
dos os negocios, que Ihe tinham sido commettidos 152
Maio 25. Outra acerca do perigo em que eslava a chrislandade depois das
victorias de Soleimáo n ; da prizao do cardeal Vul térra; da con-
veniencia de ter em Roma um cardeal protector, etc 161
Maio 25. Outra pedindo licenca'para se retirar d'aquella corte 165
Junho 6. Outra de cumprimento ao secretario de estado 167
Junho 10. Outra a el-rei participando-lhe a deposicíio do rei de Dinamar-
ca ; a morte do duque de Moscovia, do khan da Tartaria, e do du-
que de Veneza; o recelo que havia dos turcos, etc 168
Junho 10. Outra dizendo a el-rei que o papa Ihe pedirá que participasse a
S. A. que o rei de Franca nao quería de modo algum suspender
as hostilidades 1 69
Junho 30. Breve Rhodo ínsula pedindo a el-rei que desse lambem o seu
voto a respeito do logar em que se devia eslabelecer o mestrado
da ordem do Hospital, e que concorresse com algum auxilio pecu-
niario para o fortificar 171
Julho 10. Carta de D. Miguel da Silva ao secretario de estado dizendo que
S. S. Ihe pedirá que participasse a el-rei que, tencionando refor-
mar a ordem do Hospital eestabeleccl-aem logar conveniente, con-
vinha haver pessoa com poderes sufficientes para representar S. A.
n'aquelle negocio. Diz lambem que o papa o agraciara com o mos-
teiro de Landim e com todos os beneficios de Francisco Tuzarte. 173
Setembro 14. Outra participando a el-rei o fallecimento do papa Adriano vi,
e relatando algumas particularidades acerca da paz entre o impe-
rador e os venezianos 174
Novembro 18. Outra ao secretario de estado annunciando-lhe a eleicao do papa
Clemente vii, e pedindo alguma mercé pela boa nova 176
Novembro 18. Outra a el-rei sobre omesmo assumpto, e participando-lhe que
os francezes tinham levantado o cerco de Milao 177
Novembro 18. Outra com mais particularidades a respeito da eleicáo do novo
papa 180
Novembro 21. Despachos para D. Miguel da Silva respondendo desenvolvida-
mente ás suas cartas, e tratando de todos os negocios que prcci-
savam resolucáo da curia 182
Novembro 26. Carta de D. Miguel da Silva dando mais pormenores acerca da
índice
47{>
1523 p^(¡,
eleicao de Clemente vii, e prometiendo mandar os capítulos do
conclave 198
Dczembro 2. Breve de Clemente vii Singularis Lusitaniae regnum agrade-
cendo a el-re¡ os parabens que Ihe mandara pela sua eleva^ao ao
pontificado 200
Dezembro 2. Carta de D. Miguel da Silva remettendo a el-re¡ o breve ante-
cedente, e prometiendo aproveitar em servico de S. A. o favor e
amizade com que o papa o tratava 201
1524
Janeiro 8. Bulla Probata constantis fidei concedendo varias gracas e facul-
dades ao capellao mor 202
Marco 3. Breve Novit Ule pedindo a el-rei que nomeasse pessoa que go-
vernasse o bispado de Vizeu com reserva dos fructos para o infante
D. Henrique 206
Marco 7. Breve, traduzido em vulgar, auctorisando el-rei a mandar ar-
mas aos mouros, que Ihe faziam servicos em África 209
Abril 9. Breve Nisi honoris aconselhando el-rei a reduzir o preco das es-
peciarías e drogas da India, contra cujo monopolio havia grandes
queixas 210
•Abril 10. Carta patente do cardeal Santiquatro declarando que S. S. au-
clorisára el-rei, vivae vocis oráculo, a dar commendas da ordem
de Christo em logar de tencas 212
Maío 14. Breve Habentes fidem pedindo a el-rei que desse crédito a tudo
o que da parte de S. S. Ihe escrevesse D. Miguel da Silva 213
Julho 1. Breve Accidit nobis explicando a el-rei as razoes que moveram
S. S. a prohibir a accumulacao de duas igrejas em urna só pessoa. 214
Julho . . . Carta d' el-rei pedindo a S. S. a dispensa necessaria para poder
casar com a infanta D. Catharina 216
Julho 29. Breve Tuae serenitatis agradecendo as felicitacoes que recebara
d'eVrei pela sua elevacao ao pontificado 217
Agosto 25. Breve Exponi nobis nuper dispensando o parentesco que havia
entre el-rei e a infanta D. Catharina 218
Agosto 27. Breve Cepimus magnam no qual S. S. se congratula pelo casa-
mento d'el-rei com a infanta de Casteíla 219
Seteml)ro 9. Bulla Gratiae Divinae praemium communicando a el-rei ler
confirmado D. Joao no bispado de Vizeu 221
Setcmbro 9. Outra Apostolatus officium confirmando o bispo de Vizeu D. Joao . 222
Setembro 9. Outra Romani Pontificis absolvendo o mesmo D. Joao de quaes-
quer censuras canónicas 223
Setembro 9. Outra Ad cumulum participando aoarcebispo de Braga ter pró-
vido em D. Joao a igreja de Vizeu sua suífraganea 224
Setembro 9. Outra Hodie ecclesiae Visensis para o clero de Vizeu prestar
obediencia ao novo bispo 225
60 *
i7G
liNDICE
1524
Selembro 12.
Novembro . .
Novembro 27,
1525
Janeiro 29.
Fevereiro 5.
Fevereiro 6.
Fevereiro 23.
Junho 18.
Junho 18.
Julho 6.
Julho 7.
Julho 8.
Julho 23.
Julho 27.
Julho 29.
Julho 31.
PAG.
Oulra Cum nos pridie auctorisando o bispo de Vizeu a cscolher
os prelados que o haviam de sagrar 226
Traduccao da bulla, pela qual o papa mudou o titulo de cardeal
de Santa Luzia, que tinha o infante D. Affonso, no de cardeal de
S. Braz 228
Breve Dudum siquidem pedindo ao cardeal D. AíTonso que désse
posse do mestrescolado da Sé de Evora a D. Miguel da Silva, ou a
seu procurador 230
Breve Cum düectus filius declarando ter recebido seis mil du-
cados de composicao pela dispensa do casamento d'el-rei 233
Bulla Sincera fervensque concedendo a el-rei.c á familia real po-
derem escolher confessor, que os absolvesse mesmo nos casos re-
servados 234
Carta de D. Miguel da Silva ao cardeal D. Afifonso acerca do
mestrescolado de Evora 237
Carta d'el-rei a D. Miguel da Silva participando-lhe ter dado o
mosteiro de S. Jorge a D. Martinho de Portugal, e encarregan-
do-o de obter de S. S. a confirmacáo, que Ihe pedia 238
Breve Cum elegissemus rogando a el-rei que desse crédito a tudo
que da parte de S. S. Ihe dissesse Antonio Ribeiro, portador da
roza áurea 240
Breve Cum rosam auream pedindo á rainha que auxiliasse An-
tonio Ribeiro nos negocios que tinha a tratar com el-rei 241
Carta de D. Martinho de Portugal participando a el-rei que logo
que chegára a Roma fallara a S. S. e conseguirá o que S. A. dc-
sejava. Promette escrever mais desenvolvidamente, e diz que D.
Miguel da Silva se preparava para partir 242
Breve Omnis qui tuas acensando a recepcao de tres cartas d'el-
rei, que D. Martinho de Portugal Ihe entregara, e lamentando
muito a retirada de D. Miguel da Silva-, cujas qualidades elogia.. 243
Carta de D. Miguel da Silva participando a el-rei a sua imme-
diata partida para o reino, e pedindo-lhe que mandasse pagar as
dividas, que deixava em Roma 246
Bulla Dudum siquidem revalidando a dispensa que dera para o
casamento d'el-rei com a rainha D. Catharina 247
Breve Etsi monasterium ^-eservando dous dos primeiros mostei-
ros que vagassem, e mandando tomar posse d'elles a D. Miguel
da Silva, que os conservaría á disposicáo da Santa Sé 249
Breve Etsi proximis no qual S. S. se mostra satisfeito com a no-
meacao do novo embaixador D. Martinho de Portugal 252
Breve Ilis paucis dicbus rccommendando muito D. Miguel da
Silva, que voltava ao reino ,253
índice
477
1^^^ , PAG.
Setembro 5. Breve Cum nuper dilectum adiando o provimenlo dos dois mos-
tciros. que promettcra a D. Miguel da Silva, até receber cartas
d'el-rei, ,*. 255
Outubro 4. Breve Cum nuper pro bono commettendo aos bispos de Lamego
e de Vizeu a averiguacao do verdadeiro rendimento do mosteiro
de S. Joao de Tarouca, para, á vista do resultado, se poder avallar
a composicao feita entre o cardeal D. Affonso e Francisco Accursio . . 257
Outubro 6. Breve Alti sanguinis conccdendo ao infante D. Henrique o re-
grcsso do mosteiro de S. Jorge, vagando por morte ou renuncia
de D. Martinho de Portugal 259
Outubro 6. Breve Hodie cum dilectus encarregando os bispos de Castellamare
e d'Alghero da execucao do breve antecedente 260
Novembrp 13. Breve Exponi wofew conccdendo a dispensa necessaria para o ca-
samento da infanta D. Isabel, fdha d'el-rei D. Manuel, com o im-
perador Carlos v 262
1526
Marco 23. Breve Intelleximus ex dilccti, no qual S. S. manifesta a el-rei
a alegría que sentiu com a noticia de ter sido eleito para bispo de
Vizeu D. Miguel da Silva 264
Marco 27. Breve Inducti nuper meritis pedindo a el-rei que faca executar
as bullas do provimento do priorado de Santa Maria da Costa em
Antonio Telles 265
Junbo . . . Carta de D. Martinho de Portugal a el-rei recommendando Fran-
cisco Eannes, que se tinha defendido muito bem pelejando com
duas gales de André Doria 266
Junho 28. Breve Aegre quidem dando parte a el-rei que se via forcado a
tomar as armas em defensa da Santa Sé, como mais largamente Ihe
escreveria o embaixador portuguez 267
Junho 28. Carta d'el-rei a SvS. dando as razoes porque naopodia soccor-
rer pecuniariamente o rei de Ungria 268
Outubro 5. Bulla Grata familiaritatis mantendo a D. Manuel de Noronha
o regresso na igreja de S. Christovao de Nogueira 270
Outubro 18. Breve Credimus non ignorare narrando as hostilidades do impe-
rador, a entrada e sacco de Roma, etc 272
Novembro 21 . Bulla Gratiae Divinae praemium recommendando a el-rei o novo
bispo áe Vizeu D. Miguel da Silva, e a sua igreja 277
Dezembro 9. Breve Cum nuper pedindo a el-rei que désse a D. Miguel da Silva
o auxiliO' e favor nccessario para tomar posse do bispado de Vizeu 278
Dezembro 9. Breve Cum nos nuper concedendo a D. Miguel da Silva a adrai-
nistracao do bispado de Vizeu durante seis mezes, para n'esse in-
tervallo promover a expedicao das bullas competentes 279
Dezembro 30. Carta de D. Martinho de Portugal ao secretario de estado quei-
xando-se de nao receber cartas d'el-rei ; dando-lhe conta de varios
478
índice
1526
152:
Marco 15.
Junho 23.
Juiho 11.
Julho 12.
Julho 12.
Julho 12.
1530
Marco 25.
Maio 13.
Julho 14.
Outubro 21.
1531
Fevereiro 28.
Junho 11.
negocios; c pedindo algum subsidio para occorrer ás suas despc-
zas .' 281
Breve Exigentihus meritis prorogando por mais seis mezes o
prazo para a sagracáo do hispo de Vizeu D. Miguel da Silva . . . . 283
Bulla Cum ad praeclaram concedendo a el-rei anomeacáo e apre-
sentaráo de todos os mosteiros do reino 284
Breve Potest tua serenitas pedindo a el-rei o primeiro mosleiro
que vagasse para D. Manuel de Noronha ^ 288
Bulla Cum nobis hodie nomeando nuncio na corte de Lisboa D.
Marlinho de Portugal 289
Breve Nostram calamitatem pedindo aD. Miguel da Silva que in-
terpozesse o seu valimento para que el-rei auxiliasse a Santa
Sé 298
Breve Cum sicut declarando que a ereccao da commenda de S.
Christováo de Nogueira só poderla verificar-se na pessoa em que
D. Manuel de Noronha a resignasse 299
Breve Dudum nobis nomeando juizes ecclesiasticos para julga-
rem diffinitivamente os impedimentos, que o marquez de Torres
Novas punha ao caáamento do infante D. Fernando com D. Guio-
mar Coutinho 301
Breve Post captam participando a el-rei o mallogro de urna ten-
tativa para recuperar a ilha de Rhodes, e as diligencias que se fa-
ziam para rehabilitar a ordem do Hospital 306
Breve Juxta pastoralis declarando que os novos commendado-
res da ordem de Christo nao tinham direito ás oíTertas e legados
pios feitos aos reitores ou vigarios das igrejas desmembradas .... 308
Carta de BrazNeto ao secretario de estado pedindo que Ihe ob-
tivesse de el-rei algum subsidio para occorrer ás suas despezas, e
alludindo a alguns negocios de que tinha tratado. 315
Breve Tuae dcvotionis dispensando por seis annos o hispo de Vi-
zeu D. Miguel da Silva da visita ad limina apostolorum 316
Breve Exponi'nobisldsindo poderes ao capcUao mor para pren-
der e entregar ás justicas seculares os clérigos de ordens menores,
reos de certos crimes 317
Instruccocs a Braz Neto para pedir a S. S. o estabclecimento da
inquisicáo em Portugal 319
Carta de Braz Neto pedindo a el-rei que Ihe mandasse o trasla-
do da bulla, que estabelcceu a inquisicáo em Castella, para por
ella se fazer a que S. A. descjava; dando parte de alguns negocios
que tinha a seu cargo, etc 322
índice
470
lí>31 PAG.
Julho 9. Breve Singularis devotionis concedendo ao hispo de Vizeu D.
Miguel da Silva a faculdade de provér certos beneficios 329
Agosto 1. Carta de Braz Neto dizendo a el-rei que o papa ainda nao tinha
nomeado o novo nuncio; lamentando a doenra do cardeal Santi-
quatro; e pedindo licenca para se retirar d'aquella corte ou meios
para occorrer ás suas despezas 331
Agosto 18. Breve Etsi scimus participando a el-rei que o Turco quebrara a
tregua entrando na Dalmacia, e fazia grandes apercebimentos por
mar e por térra 332
Agosto 19. Breve Magna nos pedindo a el-rei que concorresse com vinte mil
ducados era auxilio do duque de Saboia 333
Dezembro 17. Bulla Cum ad nihil magis nomeando fr. Diogo da Silva inquisi-
dor geral em Portugal 335
1532
Janeiro 13. Breve Cum nuper te mandando a fr. Diogo da Silva que aceitasse
o cargo para que tinha sido nomeado pela bulla antecedente 338
Abril 15. Breve Dudum postquam suspendcndo por um anno o breve de
13 de malo de 1530 340
Abril 2í. Breve Contulimus nuper pedindo ad-rei que cumprisse a bulla,
pela qual S. S. concederá a Estevao Ribeiro d'Almeida o priorado
da igreja do Espirito Sancto de Azamor 343
'. . Instruccoes a Braz Neto encarregando-o de pedir a S. S. aucto-
risacao para supprimir as igrejas emosteiros dos logares d'Africa,
que el-rei tencionava abandonar 344
Maio 25. Breve Etsi in praesentia recommendando a el-rei o novo nuncio
bispo de Sinigaglia 348
Maio 20. Instruccoes e despachos que levou D. Martinho de Portugal vol-
tando de novo a Roma 349
Maio 28. Carta de el-rei ao papa dando-lhe parte da chegada do embai-
xador da Ethiopia, e da partida de Francisco Alvares para Roma
na companhia de D. Martinho de Portugal 392
Junho 3. Carta de Braz Neto a el-rei acerca de varios negocios, e princi-
palmente domosteiro de S. Pedro das Aguias, do qual S. S. tinha
feito graca a elle embaixador 395
Junho 14. Ballai Miserator Dominus concedendo indulgencias a quem fizer
certas devocoes pedindo a Deus que livre a igreja da oppressao dos
turcos 398
Jnlho 2. Carta de Braz Neto ao secretario de estado queixando-se da frie-
za, que notava n'elle, e que só podia attribuir a intrigas dos seus
inimigos 401
Julho 6. Carta de Braz Neto a el-rei communicando-lhe o que sabia a res-
peito do Turco, e dando parte do fallecimento do cardeal Colum-
na, etc 402
480 ÍNDICE
1532 PAG.
Setembro 9. Carla de Pedro de Sousa a cl-rei dando-lhe varias noticias c
lerabrando a conveniencia de S. A. mandar urna armada cm auxi-
lio da Santa Sé 404
Setembro 12. Carta do bispo de Sinigaglia, nomcado nuncio para Portugal,
participando a el-re¡ a sua próxima chegada a Lisboa 408
Outubro 17. Breve Venerabilis frater suspendendo a bulla de 17 de dezcm-
bro, que estabelecéra a inquisicao 409
Novembro 4. Carta de Duartc da Paz, procurador dos christaos novos, offcrc-
cendo os seus serviros a el-rci 410
Novembro 16. Breve Redit ad sercnitatem recommendando a el-re¡ o embaixa-
dor Braz Neto, que rccolhia ao reino 411
Novembro 17. Carta de D. Martinho de Portugal participando a cl-rei a sua
chegada a Genova, e próxima partida para Roma 412
1533
Carla de el-rei a S. S. pedindo para o cardeal infante D. AíTonso
certas merccs, em que Ihe havia de fallar D. Antonio da Costa . . 413
Outra pedindo que altendesse ao que D. Martinho de Portugal
Ihc dissesse ao mesmo respeito 414
Janeiro 31. Bulla Gratiae divinae praemium recommendando a el-rei o novo
bispo de Sant'Iago de Cabo Verde, Braz Neto 415
Janeiro 31. Cédula consistorial declarando tcr S. S. elevado a arcebispado o
bispado do Funchal 416
Janeiro 31. Bulla Pro éxcellenti crigindo o bispado de Sant'Iago de Cabo
Verde 418
Janeiro 31. Cédula consistorial noticiando ter sido nomeado primeiro bispo
de S. Miguel, D. Manuel de Noronha , .• 421
Fevereiro 10. Outra declarando ter sido nomeado primeiro arcebispo do Fun-
chal, D. Martinho de Portugal 42Í.
Fevereiro 16. Motu proprio do papa Clemente vii concedendo ao infante D.
Henrique certos mosteiros vagos por morte de D. Duarle arcebis-
po de Braga 426
Abril 7. Bulla Sempiterno Regí concedendo perdao geral aos christaos
novos 430
Abril 30. Bulla Gratiae divinae praemium recommendando a el-rei o in-
fante D. Henrique como administrador do arcebispado de Braga . 440
Abril 30. Bulla Divina disponente concedendo ao infante D. Henrique a
administracao do arcebispado de Braga 441
Abril 30. Bulla Personara tuam maniendo ao infante D. Henrique a admi- ♦
nistracáo do mosteiro de Santa Cruz de Coirabra, c o regresso do
de S. Jorge 444
Abril 30. Bulla Apostolicae scdis absolvendo o infante D. Henrique de
quaesquer penas canónicas, em que tivesse incorrido 446
Abril 30. Bulla Dum nos hodie dando commissáo aos bispos de Evora e de
1533
Abril 30.
Abril 30.
Abril 30.
Agosto 7.
Agosto 7.
Agosto 15.
índice 481
■\
PAG.
Lamcgo para tomarcm ao infante D. Ilcnriquc o juramento de (1-
delidadc 447
Bulla Ilodie dilectum mandando ao cabido da Sé de Braga que
preste ol)cdiencia ao infante D. Henrique 418
Bulla Ilodie dilectum no mesmo sentido dirigida ao clero da mcs-
ma diocesc 450
Bulla nodie dilectum ao mesmo respeito dirigida aos vassallos
' d'csta igrcja 45I
Memorial em nomc de el-rei allegando os inconvenientes do per-
dáo gcral concedido aos christaos novos, e pedindo o restabeleci-
mento da inquisicao com certas modificacoes 452
Bulla Cum nuper conccdendo o Pallio ao infante D. Henrique,'
como arcebispo de Braga 45;)
Bulla Cum Pallium dando commissiío aos bispos de Evora e de
Lamego para darem o Pallio ao infante D. Henrique, c reccbercm
d'clle o competente juramento 4(;i
Carta de el-rci a S. S. fazcndo urna rescnha das forcas que era
obrigado a tcr na India c em África em defeza da christandade, e •
pedindo que Ihe conccdessc certa graca, que o embaixador D. Mar-
tinho de Portugal eslava encarrcgado do requerer 463
TOMO lí.
(jI
ERRATAS
PAG. LIN. EM LOGAR DE LEA-SE
20 4 ihi ibi
34 27 cjuoaducxeris. . . quoad uixeris
52 S exstimavimus . . existimavimus
53 22 redemus sedemus
36 14 vinctis viuclis (sic). Deve
lér-se iunctis
66 4 fama fame
70 23e24dinheiros (?). . . ducados
72 7 aliguos aliquos
92 32 justa jussa
113 5> e 6 paudam pandara
136 19 preuentuum . . . prouentuum
223 19 at ad
254 1 rcpublicae. . . . reipublicae
2o7 27 expensiis neces- expensisnecessa-
saris rus
259 28 cura et sine cura cuín cura et sino
cura
263 3 forsam forsan
267 8 ct . . et
269 14 hereditarum . . . bereditarium
PAG.
LIN
270
27
273
22
278
15
284
24
287
23
»
24
299
»
307
25
»
31
308
27
331
20
365
4
380
22
411
20
412
22
413
8
416
8
420
3
449
ult
456 14
EM LOGAR DE LEA-SB
in- ¡U-
titac titiao
auxilian! auxilia
bomanis humanis
solumnodo. . . . solummodo
persones personis
dito dicto
ixistimarunt . . . existimarunt
senenissiraus. . . serenissimus
conteutiones. . . contentiones
cous cousa
será agora . . . ser agora
tende e tendc
Blasius Blasii
fez faz
1533 1532
perenmis .... perennis
necon necnon
13 43
ao. DO
N. B. Nao corrigimos. os erros de pontuacao.
JX
821
M
t.2
Academia das Soler
Lisboa
Corpo diplomático
portugués
PLEASE DO NOT REMOVE
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