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Full text of "Corpo diplomático portugues, contendo os actos e relações políticas e diplomáticas de Portugal com as diversas potências do mundo desde o século 16 até os nossos dias"

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CORPO  DIPLOIIATICÜ  PORTL'GIj'EZ 

COJiTENDO 

OS  ACTOS  E  RELACOES  POLÍTICAS  E  DIPLOMTICAS 

BE  PORTUGAL 

COM  AS  DIVERSAS  POTENCIAS  DO  MUNDO 


CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGIEZ 

CONTEIVDO 

os  ACTOS  1 WM  MITIW  i  DIPIOKATIW 

ti 

DE  PORTUGAL 

COM  AS  DIVERSAS  POTENCIAS  DO  MUNDO 
DESDE  O  SECULO  XYI  ATÉ  OS  NOSSOS  DÍAS 

PUBLICADO 


DE 


ORDEM  DI  ÜCilDEMll  REÜL  DAS  SCMGIÜS  DE  LISBaí 


POR 


LUIZ  AUGUSTO  RESELLO  DA  SILVil 


TOMO   II 


LISBOA 

TYPOGRAPHrA  DA  ACADEMIA  REAL  DAS  SCIENCIAS 
M  DCCC.LXV 


v><onl¡mía  esle  segundo  Tomo  do  Corpo  Diplomalico  Portuguez  a  pu- 
blicacao  dos  monumentos,  que  sobrevivem  de  nossas  relacoes  com  a  Cu- 
ria Romana  no  imporlante  periodo  decorrido  desde  4  de  marco  de  1318 
alé  lo  de  agosto  de  1533,  periodo  tao  rico  de  acontecimentos  em  todo  o 
mundo,  e  tao  notavel  pelo  \ulto  e  significacao  das  grandes  figuras  his- 
tóricas, que  o  dominam. 

Abraca  elle  para  nos  os  últimos  annos  do  venturoso  reinado  de  D. 
Manuel,  e  a  primeira  decada  do  governo  de  elrei  D.  Joao  III,  menos  fa- 
vorecido de  prodigios,  mais  trabalhado  de  cuidados  e  diíTiculdades,  e  so- 
bre tudo  tao  enredado  de  negociacóes  por  vezes  pouco  ditosas  com  as  di- 
versas potencias  da  Europa. 

Os  subsidios  que  prestara  aos  estudiosos  os  documentos,  que  saem  de 
nossos  prelos  pela  primeira  vez,  as  feicoes  que  avivara,  os  fios  secretos  que 
revelara,  e  a  expressao  sincera,  e  até  hoje  ignorada  por  falta  de  suífi- 
ciente  informacao,  que  todos  elles  concorrem  para  caraclerisar,  mudam 
inteiramente,  acerca  dos  homens  e  das  cousas,  o  juizo  incompleto,  etalvez 
fallivel,  formado  a  respeilo  de  alguns  em  muitos  casos. 

Principiara  a  apparecer  n'este  volume,  jácom  alguma  clareza,  a^  pa- 


—  VIII  — 

ginas,  que  serviram  de  prologo  ao  doloroso^e  sombrío  drama  da  inlro- 
duccao  da  inquisicao  em  Portugal,  drama,  de  que  a  penna  de  um  histo- 
riador eminente,  o  sr.  Alexandre  Herculano,  descreveu  com  tao  admiradas 
cores  um  dos  principaes  episodios,  testituindo-nos  as  scenas,  que  prece- 
derán! e  acompanharam  o  famoso  tribunal  da  Fé  em  seus  primeiros  pas- 
sos,  desde  que  D.  Joao  III  intentou  estabeiecel-o  até  que  as  supplicas  da 
raca  opprimida  arrancaram,  nao  gratuito,  da  corte  de  Roma,  o  perdao  ge- 
ral  dos  christaos  novos,  consignado  na  bulla  Sempiterno  Regí  de  7  de 
abril  de  1532. 

As  razoes  mundanas  do  principe  mal  cuberías  com  o  veo  transparente 
do  zélo  religioso ;  as  hesitacóes  talvez  simuladas,  e  a  proteccao  artificiosa 
dosCuriaes,  que  as  promessas  c  dadivas  captivavam  mais,  que  os  gemi- 
dos e  tribulacoes  dos  judeus,  compoem,  contempladas  á  sua  verdadeira 
luz,  um  espectáculo  único  e  instructivo,  ao  qual  a  linguagem  singela  dos 
negociadores,  e  as  vozes  magoadas  dos  queixosos  augmentara  ainda  e  en- 
carecen! o  interesse. 

Muitos  outros  assumptos  prendera  pela  variedade  e  importancia  a 
attencao  n'eslas  meraorias  de  ura  dos  aspectos  da  vida  política  e  reli- 
giosa da  primeira  melado  do  seculo  xvi  entre  nos,  justificando  pela  noti- 
cia e  individuacao  de  pontos  pouco  sabidos,  ou  inexactamente  aprecia- 
dos, a  opiniao  do  erudito  historiador  allemao  Leopoldo  Ranke  sobre  a 
valia  de  tao  preciosos  e  desejados  subsidios  para  a  historia  moderna  dos 
Estados. 

Do  reinado  de  elrei  D.  Joao  III  em  dianle  os  nossos  archivos  prin- 
cipiara a  ser  menos  escassos  e  confusos ;  e  se  nao  encerrara  todas  as  ri- 
quezas, que  exigirla  a  curiosidade,  pelo  raenos  já  soccorrera  as  investiga- 
coes  profundas  e  pacientes  com  alguma  liberalidade.  Faltara  muitos  do- 
cumentos essenciaes,  e  notara-se  por  desgraca  graves  oraissOes,  que  inter- 
rompem,  e  quebrara  de  repente  a  serie,  ou  a  deduccao  a  negociacOes  de 
vulto ;  restara  apenas  de  alguns  diploraas  rascunhos  sera  data,  cujas  allu- 
sües  obscuras  a  fados,  ou  a  pessoas,  sao  a  chave  única  de  suas  datas  e 
collocacao ;  mas  apesar  d'isso  as  trevas  nao  se  fechara  lao  espessas,  e 
grandes  claroes  illurainara  de  espaco  a  espaco  o  horísonte. 

Procurou-se,  quanto  possivel,  observar  a  ordem  chronologica,  re- 
pondo  a  data  exacta  era  cada  docuraento.  Foi  o  maior  trabalho,  e  o 
maior  embaraco  a  vencer  n'este  volume.  Em  muitos  casos,  no  meio  do 


• 


—  IX  — 

labyrintho  de  intrincadas  conjecturas,  que  ameacava  enredar  ludo  em 
seus  rodeios,  consumiram-se  em  induccoes  e  confrontacoes,  que  só  ava- 
liará  devidamenle  quem  já  luclou  com  eguaes  diíticuldades,  lempo  c  vi- 
gilias, que  aos  olhos  de  muitos  mal  seriam  compensados  pelo  resultado. 
O  zélo  e  applicacao  do  hábil  e  laborioso  paleographo  o  sr.  Joao  Pedro 
da  Costa  Basto  sobresahiram  n'eslas  arduas  indagacoes  com  a  vanlagem 
coslumada,  á  qual  a  sua  modestia  realca  o  merecimenlo. 

Acerca  da  orthographia  e  da  ponluacao  ocioso  fóra  repelir  o  que  ex- 
posemos ñas  linhas,  que  precedem  o  Tomo  1  do  Corpo  Diplomático.  Ahi 
encontrará  o  leitor  o  que  julgámos  indispensavel  inculcar,  tanto  em  refe- 
rencia ao  plano  e  ao  melhodo  da  obra,  como  á  sua  execucao.  O  favor 
com  que  o  Tomo  I  foi  acolhido  no  paiz,  e  fóra  delle,  devido  sómenle  a 
pura  benevolencia,  prova,  comtudo,  a  estima  e  applauso,  com  que  a  Eu- 
ropa abre  hoje  toda  os  bracos  a  commeltimentos  d'esta  Índole  e  se  com- 
praz  em  os  animar.  , 

Lisboa,  30  de  maio  de  1865. 


CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUCllEZ 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA 


REINADO  DE  D.  MANUEL 


CORPO  DIPMATICO  PORTÜfiüEZ 

relacOes  com  a  curia  romana 


Ore  ve  fio  Papa  lieáo  IL,  dirigido  a  el-Rei. 


1519  — Marco  4. 


Leo  papa  x  charissime  in  christo  fili  nosler  salulem  et  apostolicam 
benediclionem. 

Cum  ex  üüeris  charissimorum  in  Christo  filiorum  nostrorum  Maxi- 
niiliani  eleclí  Romanorum  Imperatoris  semper  Angustí,  et  Francisci  Fran- 
corum  Regis  Christianissimi,  et  Caroli  Hispaniarum  Regis  Catholici,  no- 
uissime  receptis,  eximiam  eorum  ac  praestantem  in  Deum  et  Dominum 
nostrum  ciiram  et  pietatem  plañe  cognouerimus,  qui  quidem,  tum  habitis 
super  capienda  contra  fidei  m)slrae  hostes  expedilione  maturis  consiliis 
et  deliberalionibus,  tum  omnes  suas  vires,  opes,  seque  ipsos  ad  tam  pium 
tamque  sanctum  opus  magnis  animis  illustrique  ardore  poUicendo,  Lum 
uero  etiam  ut  inler  Christianos  Principes  pacera  induciasue  consliluere- 
mus  nos  pie  prudenlerque  hortando,  omnem  nostram  de  illis  spem  expe- 
ctationemque  impleuerunt.  Egimus  Deo  gratias  quod  hoc  ipso  pene  su- 
premo (nisi  obuiam  imminenti  periculo  eatur)  chrislianae  reipublicae  lem- 
pore  tantam  esse  et  tam  paratam  subueniendi  communi  saluli,  quasi  quo- 
dam  celesti  beneficio  et  muñere  suae  sanclae  fidei  oblato,  eorum  uolunta- 

TOMO  ir.  1 


2  CORPO  DIPLOMÁTICO  POUTUGUEZ 

tem  propensioncni  alacrilaleinque  uoluerit ;  Speramus  cnim  propediem 
forc  ut,  adiuncta  cum  iis  lúa  eliam  diligcnlia,  cura,  animi  ardore,  opi- 
bus,  viribus,  in  quibus  quideni  Maieslatis  luae  ilidcm  lilleris,  inslructio- 
nibus,  horlationibusque,  oralorisque  tui  sermonibus  máxime  crecli  mul- 
lum  spei  nostrae  posuimus,  caelerorumque  item  Principum,  Rcgumque 
Chrislianorum  auxilüs,  qui  nobis  ea  iam  poUicenlur,  accedenlibus,  tctcr- 
rimi  hostes  noslri,  qui  nos  noslris  sedibus  exlurbare  cogilanl,  in  suis  ipsi 
sedibus  nostra  arma  vexillaque  el  crucis  sanclissimae  signa  capli  oppres- 
sique  intuebanlur.  Ilaque,  cum  venerabilibus  fralribus  noslris  sanctae  Ro- 
manae  Ecclesiae  Cardinalibus  re  malure  considérala,  adhibilis  eliam  luo 
caelerorumque  Principum  Oraloribus,  Primum  quod  quidcm  ad  pecunia- 
runí  cogendarum  ralionem  perlinet,  quae  post  Dei  opcm  el  Principum 
concordiam  máxime  sunl  útiles  et  necessariae,  ex  cunclorum  consiliis 
coUeclam  ac  praecipue  ex  Caesareae  Maieslalis  diligenli  et  enucleata  co- 
gitatione  confectam  sunimam,  paucis  mutatis  ad  luam  Maiestalem  in  sce- 
dula  seorsum  his  adiuncta  luo  pariler  iudicio  mitlimus  pensitandam  ut 
quod  abs  te  fuerit  approbatum,  id  quam  celerrime  ad  nos  referatur  exe- 
cutioni  mandandum.  Deinde  quod  attinet  ad  pacem  aut  inducias  inter 
Christianos  Principes  conslituendas  eas  nos  tua,  de  qua  nobis  significasli, 
caelerorumque  Principum  omnium  simili,  ut  ex  eorum  lilleris  instructio- 
nibusque  perspeximus,  in  eam  rem  uoluntate  addücli,  quinquennales  in- 
ducias indiximus,  casque  sumus  ad  paucos  dies  supplicationibus  publice 
habitis,  tanquam  Deo  ipso  leste,  inter  missarum  solemnia  in  publicum 
cdiluri,  prorsus  agnoscentes  hanc  discensionum.qualencunque  intermis- 
sjonem  primum  ac  praecipuum  esse  illius  sanclissimi  belli  fundamentum. 
Quo  uero  hae  res  expeditiorem  deliberationem  habeant,  et  maiori  aucto- 
ritale  diligentiaque  tractentur,  Legatos  de  Latere  ex  venerabilium  fralrum 
nostrorum  numero  ad  Reges  omnes  railtere  decreuimus,  non  ulla  alia 
praeditos  facúltate  nisi  hac  una  cura  meditationeque  ut  ad  eíTcctionem 
huius  máxime  praeclari  gloriosique  operis  noeles  et  dies,  studio,  assidui- 
tate,  vigiliisque  intendanl  ut,  quod  Deo  inspirante  bcne  ccptum  est,  id 
nostra,  quoad  licitum  erit,  diligentia,  luae  Maieslalis  virtute  magnitudi- 
neque  animi,  caelerorum  eliam  Regum  et  Principum  piis  prqmptisque  stu- 
diis,  ad  oplalissimum  ünem  deducalur.  In  quo,  quantum  inter  homines 
celebritalis  et  gloriae  scmpilérnae  acquirelur,  lanlum  in  Coelo  meriti  ad 
fruendam  immorlalilalem  comparabilur. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  3 

Daluin  Romae  apud  Sanctuní  Pelram,  sub  Annulo  piscatoris,  dic 
iiii  Martii  MDXViii,  Pontificalus  nostri  Anno  Quinlo.  —  Bemhus  ^ 


Bre^c  do  Papa  liCáo  ÜL,  flirig;ido  a  el-Rei. 


1518 — Marco  9. 


Leo  papa  x  Charissime  in  christo  fili  nosler  salutem  et  apostplicaní 
benedictionem. 

Nuper  Monaslerium  sancti  Tyrsi  de  Ribadauia,  ordinis  Sancli  Bene- 
dicli,  cerlo  modo  uacans  Dilecto  filio  nostro  Julio,  titiili  Sancti  Laiirentii 
in  Dámaso  presbítero  Cardinali  de  mediéis,  Sánete  romane  Ecclesie  Vice 
Cancellario,  nostro  secundura  Carnem  fratri  Consobrino,  Motu  proprio 
auclorilale  apostólica  commendauimus  ;  et  deinde  Monasterium  ipsum,  per 
cessionem  dicti  Julii  Cardinalis  in  manibus  noslris  sponte  et  libere  factam 
iterum  uacans,  Dilecto  filio  3Iichaeli  de  Silua,  Maiestatis  Tue  apud  nos 
Oratori,  motu  et  auctoritate  similibus  etiam  commendauimus,  in  quo  Ani- 
maduertentes  prouisioni  de  uno  Monasterio  Consistoriali  primo  uacaturo 
Dilecto  filio  Emanueli  Norogna,  Camerario  et  familiari  nostro,  per  nos 
faciende  non  parum  preiudicari,  duximus  opere  prelium  esse  indemnitali 
ipsius  ea  in  re  opportune  prouidere :  eidem  itaque  per  alias  noslras  in 
forma  breuis  litteras  ad  unum  ex  Monasteriis  uel  Prioratibus  in  Regnis 
Tuis  primo  uacaturum,  quod  prefatus  Emanuel,  infra  mensem  a  die  illius 
uacalionis  computandum,  per  se  uel  procuratorem  acceplandum  duxerit 
liberum  accessum  ita  concessimus  ut  illius  corporalem  possessionem,  cum 
primum  uacauerit,  propria  auctoritate  apprehendere  possit,  Decernentes 
huiusmodi  litteras  uim  ualide  et  efficacis  commende  obtinere,  eundemque 
Emanuelera,  absque  alia  de  huiusmodi  Monasterio  uel  Prioratu  sibi  de  nouo 
facienda  Commenda,  libere  el  licite  retiñere  posse,  prout  in  dictis  litteris 
plenius  continetur.  Cum  autem  postmodum  Maiestati  Tue  concessimus  ut 
ad  quecumque  Monasteria  Ditionis  Tue  cuiusuis  ordinis,  occurrente  illo- 
rum  uacatione,  quasuis  personas  presentare  libere  et  licite  possis,  et  eadem 

*  Akch.  Nac,  Mac.  34  de  Bullas,  n."  16. 


4  COHPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

(lie,  ne  ab  aliquibus  dubilarctur  an  per  huiusmodi  facullalcm  presenlandi 
tibí,  ul  praeferlur,  concessam  cíTeclus  prcdicle  gralic  prcfalo  Emanucli  con- 
cesse  impediretur,  per  alias  noslras,  eliam  in  forma  brcuis,  lilleras  de- 
clarauimus  menlis  el  inlcntionis  nostre  semper  fuisse  el  esse  per  diclam 
facullalem  aul  alio  quouis  modo  iiullatenus  impedid  posse,  per  inde  ac  si 
dicla  faciíllas  tibi,  ul  praeferlur,  concessa  a  nobis  non  emanassel.  Quo- 
circa  Maieslatem  Tuam  horlamur  in  domino  el  cnixe  requirimus  ul,  oc- 
currente  uacalione  alicuius  3Ionaslerii  uel  Prioralus,  quod  prefalus  Ema- 
nuel  infra  mensem,  ul  praeferlur,  acceplaueril,  neminem  ad  illud  presen- 
tes ;  sed  eiusdem  possessionem  diclo  Emanueli,  uel  cius  ad  hoc  legilimo 
procuratori,  tradi  el  assignari  mandes  el  facias  cum  eíTeclu,  quandoqui- 
dem  eidem  Emanueli  in  huiusmodi  Monasterio  uel  Prioralu,  cum  primum 
illud  uacare  conligeril,  ex  nunc  proul  ex  tune  ius  plcnissime  acquisilum 
exislat,  alque  de  Tali  Monasterio  slante  concessione  noslra  acccssus  huius- 
modi nemo  quauis  auctorilate  disponere  poicsl ;  Menlis  enim  noslrc  nun- 
quara  fuit  per  quasuis  regulas  siue  conslilulioncs  noslras  in  Cancellaria 
apostólica  publícalas  graliam  eiusmodi  Emanueli  concessam  modo  ullo  re- 
uocare,  aul  eam  aliqua  ex  parle  abrogare,  Sed  illa  in  suo  robore  conti- 
nué ul  permanerel.  Quod  si  Maieslas  Tua,  ul  speramus,  cíTecoril,  erit 
iuslum  el  honeslum,  Tu'aque  benignilale  el  amplitudine  dignum,  nobis 
uero  quam  gralissimum,  el  in  eo  ipso  prefalum  Emanuelem,  qui  ul  tibi 
ac  Dilecto  filio  nostro  Alfonso  Diácono  Cardinali  Nato  luo,  ad  quem  Ga- 
lerum  Cardinalalus  insigne  de  C-ommissione  noslra  deferí,  diligcnler  in- 
seruiat  lolam  pene  Europam  peragralurus  esl,  grato  cumulabis  beneficio. 
Expeclabimus  ilaquc  ul  quod  Maieslas  Tua  in  premissis  factura  esl  nobis 
per  suas  Hileras  significel,  ul  prefalus  Emanuel  fore  se  uoli  compolem  scire 
certo  possit. 

Dalum  Rome  apud  Sanclum  pctrum,  sub  Annulo  Piscaloris,  Die  viiii 
Martii  MBXviii,  Ponlificalus  Nosiri  Anno  Quinlo. — Bembns  '. 


»  Arch.  Nac,  Ma^.  29  de  Bullas,  n."  24. 


relacOes  com  a  curia  romana 


Breve  fio  Papa  lieáo  H,  dirigido  ao  7lrceliiiS|)o 

de  liiislioa  e  ao!S  Itiispois  de  I^amego 

e  do  Funclial. 

1518— Marco  lO» 


Leo  Papa  x  Venerabiles  fratres  salulem  el  aposlolicam  benediclio- 
nem. 

Cum  nuper  respicienles  ad  singularem  oplimamque  indolem  uirlu- 
tum  el  deuolionis  erga  nos  el  sanctam  aposlolicam  sedein  Dilecli  filii  nos-. 
tri  Alfonsi,  Sánele  Romane  Ecclesie  diaconi  Cardinalis  de  Porlugallia, 
Charissimi  in  chrislo  filii  noslri  Emanuelis  Porlugallie  el  Algarbionim  Re- 
gis  illuslñs  Nali,  ralionibus  queque  dicle  Sedis  ita  conducere  arbitrantes, 
tum  im  primis  Rege  ipso  instante  atque  intercedente,  eundem  Alfonsum 
licet  in  Teñera  admodum  elate  conslilulum,  de  Venerabiliuní  fralrum  nos- 
Irorum  Sánele  romane  ecclesie  Cardinalium  unanimi  consensu,  ad  Car- 
dinalalus  honorem  el  dignilatcm,  cum  primum  Decimum  oclauum  sue 
etalis  Annum  altigeril,  auclore  Domino  prouexerimus,  eorundemque  di- 
cle Ecclesie  Cardinalium  Gollegio  aggregauerimus :  Nos  eundem  Alfon- 
sum Cardinalem,  £uius  personam  paterno  atque  intimo  affeclu  charitalis 
noslre  prosequrmur,  Ne  quid  ad  noslri  in  eum  beneficii  cumulatam  gra- 
tiam  desit,  debilis  honoris  lilulis  atque  insignibus  decorare  uolenles,  Pi- 
leum  huius  amplissime  dignitatis  insigne  per  Dilectum  filium  Emanuelem 
Norogna,  familiarem  el  Cubicularium  nostrum  secrelum,  ad  eum  im  pre- 
sentia  Iransmillimus,  per  uos  aul  aliquem  ex  uobis  noslro  nomine  solem- 
niler,  el  qua  decel  reuerenlia  el  deuolione,  ipsius  Capili,  cum  primum 
x\'iii  annum,  ut  praefertur,  altigeril,  eliam  si  nos  ex  hac  uita  decesisse 
conligerit,  imponendum.  Vt  igilur  res  dum  tempus  adueneril  debita  ho- 
norificenlia  procedal,  Volumus  el  fraíernitati  ueslre  commitlimus  el  man- 
damus  ut  uos,  seu  aliquis  ucslrum,  aliqua  dominica  uel  alia  solemni  die, 
conuocatis  eliam  alus  prelatis,  proceribus  el  procomilibus  ac  nobilibus, 
quos  in  Ciuilate,  in  qua  pileum  ipsum  capili  eius  imponelis,  esse  conli- 
gerit, Missa  in  ponlificalibus  per  aliquem  ex  uobis,  seu  alium  Anlislileí» 


6  GORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

aut  presbilerum,  quod  missam  huiusmodi  de  mandato  nostro  celebraue- 
rit,  celébrala,  et  prestito  per  eundem  Alfonsutn  Cardinaiem  et  per  uos 
nostro  et  ipsius  romane  ccclesie  nomine  recepto  fidelitatis  iuramento  iuxta 
formam  presenlibus  insertara,  eodemque  conuenienter  premonito  ad  quam 
excellentem  dignitatem  sit  sublimatus,  et  qualem  ipsura  esse  conueniet, 
quid  denique  designetur  per  pileum  purpureum  singularem  Cardinalatus 
insigne,  peractis  demum  Gerimoniis  seruari  solitis  ad  laudem  et  gloriara 
oranipolenlis  Dei  et  ccclesie  ipsius  incrementura,  prefatura  -pileum  nostro 
et  apostolice  sedis  nomine  ipsi  Alfonso  Cardinali,  cura,  ut  prefertur,  ad 
decimura  octauum  sue  etalis  Annura  peruenerit,  etiara  si  nos  uita  functi 
fueriraus,  assignetis  et  eius  capiti  iraponatis.  Formam  uero  Juraraenti  pre- 
fali  prestandi  per  eura  uobis  per  ipsius  patentes  litteras  sub  sigillo  signa- 
tas  per  proprium  Nunlium  stalira  destinare  curabilis ;  Guius  Tenor  se- 
quitur  et  est  talis  :  — Ego  Alfonsus  de  Portugallia,  Sánete  Lucie  in  Se- 
ptem  solio  sánete  romane  ccclesie  Diaconus  Cardinalis,  promitto  et  iuro 
quod  ab  hac  hora  in  antea,  quaradiu  uixero,  fideiis  et  obediens  ero  Reato 
Petro  sancteque  et  apostolice  Romane  Ecclesie  et  Domino  nostro  Domino 
Leoni  Diuina  prouidentia  pape  deximo,  suisque  successoribus  canonice 
intrantibus.  Non  ero  in  Consilio  aut  fado  ut  uitam  perdant,  aut  mem- 
brura,  uel  capianlur  mala  captione,  aut  in  eos  raanus  uiolenter  inferan- 
tur,  uel  iniurie  alique  inferantur,  quouis  quesito  colore.  Gonsilium  uero 
quod  mihi  credituri  sunt  per  se  aut  Nuntios  suos  siue  litteras  ad  eorura 
daranum  scienter  neraini  pandara  siue  manifestabo.  Papatum  Romanura 
et  regalía  Sancli  Petri  adiutor  eis  ero  ad  relinendum,  defendendum  et 
recuperandura,  saluo  meo  ordine,  contra  omnem  hominera.  Ilonorem  et 
statum  eorura  quantura  in  rae  fuerit  conseruabo,  ipsisque  adherebo  et 
pro  posse  fauebo.  Legatos  et  Nuntios  sedis  apostolice  in  Terris  eccle- 
siarura,  Monasteriorum,  et  aliorum  beneficiorum  mihi  Gommissorum  sus-, 
cipiam,  dirigara  et  defendam,  ipsisque  securura  Ducatum  prestabo,  ac 
in  eundo  et  stando  et  redeundo  honorifice  tractabo,  eosdemque  in  suis 
necessitalibus  iuuabo,  nec  in  quantum  in  rae  erit  permittam  cis  aliquam 
iniuriam  inferri  uel  fieri,  et  omnes  quicumque  contra  prcmissa  uel  eorura 
aliquod  conarentur  aliquid  tentare  quantum  potero  oppugnabo,  cosque 
proposse  irapediam.  Offensiones  et  darana  domini  noslri  Leonis  Pape  et 
successorum  predictorura  ac  Ecclesie  euitabo,  eorumque  iura  conseruare, 
augere  el  defenderé,  ac  proraoucre  curabo.  Non  ero  in  Consilio  uel  facto 


relacOes  com  a  curia  romana  7 

seu  tractu,  in  quibus  contra  ipsum  dominum  Papaní,  aiit  Successores 
predictos,  ucl  eandem  Romanam  Ecclesiam  aliqíia  sinislra  uel  preiudicia- 
lia  personarum  iuris,  honoris,  status  uel  potestatis  eorum  machinentur. 
Et  si  talia  a  quibuscumque  procuran  nouero,  uel  íractari,  ea  impediam 
pro  posse,  et  quantociens  polero  significabo  eidem  domino  nostro  Pape, 
uel  successoribus  predictis ;  ubi  uero  id  ore  significare  non  potero,  inti- 
mabo  alteri,  per  quem  possit  ad  ipsorum  notitiam  peruenire.  Regulas 
Sanclorum  patrum  et  decreta,  ordinationes,  dispensalioncs,  reseruationes, 
prouisiones  et  mándala  apostólica  lotis  uiribus  obseruabo,  et  faciam  ab 
aliis  obseruari.  Heréticos,  Scismaticos,  Rebelles  eidem  domino  nostro  Pape" 
et  successoribus  predictis  pro  posse  persequar  et  impugnabo.  Vocatus  ex 
quacumque  causa  ad  eos  accedam,  nisi  prepeditus  fuero  canónica  prepe- 
ditione,  cisque  reucrenüam  et  obedientiam  debitas  exhibebo  et  prestabo, 
ac  in  executione  pontificalis  oíTicii  Coadiutor  eis  ero.  Possessiones  et  Ec- 
clesias,  Monasteria,  beneficia  et  loca  omnia,  quibuscumque  nunc  presum 
quouismodo  et  in  posterum  me  preesse  contigerit  pertinentes,  non  uen- 
dam,  ñeque  donabo,  aut  oppignorabo,  uel  de  nouo  infeudabo,  seu  aliqua 
ratione  alienabo,  inconsulto  Romano  pontífice,  aut  sine  Consensum  Capi- 
lulorum  seu  Conuentuum  Ecclesiarum  uel  Monasleriorum  eorundem.  Sic 
me  deus  adiuuet  et  hec  Sánela  Dei  euangelia. 

Datum  Rome  apud  sanctum  Petrum,  sub  Annulo  Piscatoris,  Die  De- 
cima Martii  MDXMíi,  Pontificalus  Noslri  Anno  Quinto.  —  Bemlf^^  \ 


fireve  do  Papa  I^eao  IL,  clirigido  a  el-Rei. 


1518 — Marco  91, 


Leo  papa  x  Charissime  in  christo  fili  noster  salulem  et  apostolicam 
benedictionem. 

Cum  maiestas  tua  suis  fsic)  lilleris  non  solum  expeditionem  contra 
communem  fidei  nostrae  hostem  Turcarum  Tirannum  per  nos  indictam,  ac 
instruclionem  super  tota  gerendi  belli  ratione,  ac  pace  catholicorum  Re- 

^  Arch.  Nac,  Mac.  31  de  Bullas.  n.'^lS, 


8  COUPO  DIPLOMÁTICO  POKTUGUEZ 

gura  et  Principum  firmanda,  per  nos  ad  eosdem  Reges. et  Principes  mis- 
sam,  laudaret,  seque  eidem  Tiranno  bellum  inferre,  et  cum  alus  Princi- 
pibus  in  hoc  concordare  paratam  oslenderet,  idemque  caeleri  Reges  et 
Principes  eorum  litteris  nobis  significarent,  alque  omnis  dilalio  perniliosa 
esse  solet,  Cpnsilium  non  solum  expeditissimum  sed  etiam  necessarium 
cum  venerabilibus  fratribus  nostris  sanctae  Romanae  ecclesiae  Cardinaii- 
bus  cepimus,  constituendas  scilicet  esse  pro  hac  sánela  expéditione  ad  ali- 
quot  annos  inler  charissimum  in  Chrislo  filium  nosirum  Maximilianum 
Imperatorera  eleclum,  et  alios  Reges  et  Principes  ac  Polentatus  Chrislia- 
nos,  saltem  Treugas  et  Inducias.-Itaque  illas  de  eorundem  fralrum  con- 

silio  ad  quinquennium  in  di us^  casque  dicto  quinquennio  per  eos 

sub  certis  poenis  seruari  deberé  decreuimus,  et  eas  in  ecclesia  bealae  Ma- 
riae  de  Minerua  de  vrbe,  celebrata  per  ununí  a  dictis  Cardinalibus  missa 

spirilus  sancti,  habilaque  oratione  per  dilectum  filium  Jacob oletuní 

eléctuní  Carpentoratensem,  Secrelarium  nostrum,  in  qua  nos  et  praefali 
Cardinales,  facta  prius  solemni  processione,  interfuimus,  magna  Prela- 
torura  et  popull  frequentia,  per  dilectum  filium  nostrum  Alexandrum  san- 
cti Eustachii  Diaconum  Cardinalera  publican  fecimus.  Licet  autem  eas 
per  omnes  Reges  et  Principes  ac  Potenlatus  ratificari  speremus,  propler 
literas,  quas  ad  nos  scribunt,  quibus  in  hanc  expeditionem  mulla  libera- 
üter  ac  ampio  animo  pollicentur ;  tamen  per  presentes  Maiestalem  tuam 
quanto-ip,,íSuraíis  studio  cohortamur  in  Domino  et  atiente  requirimus,  et 
per  ^iseürá  Salualoris  nostri  rogamus,  ut  iuducias  et  treugas  per  nos.... 
otas  ac  literas  nostras  desuper  confectas  promplo  animo  ratificare  uelil, 
ut  exemplo  suo  reliqui  Reges  et  Principes  ad  hoc  ipsum  excitentur  et  in- 
ducantur,  ut  illis  ratificatis  sine  ulla  mora  et  dilalione  quae  ad  bellum 
ipsum  necessaria  sunt executioni  demandan  possint.  Erit  hoc  no- 
bis, qui  non  solum  facúltales  omnes  nostras  sed  personam  noslram  et  vi- 
tam  denique  ipsam,  si  opus  sit,  pro  communi  fidelium  salute  parali  su- 

mus  exponere,  iucundissimum,  luae  uero  31 et  chrislianae  rei- 

publicac  sal u tare. 

Datum  Romae  apud  Sanclum  Petrum,  sub  Annulo  piscaloris,  dio 
XXI  Marlii  mdxviii,  Ponlificatus  nostri  anno  Sexto.  —  Bembus.^. 

*  Os  pontos  indicam  que  o  original  está  roto  ou  illegivel. 

*  Arch.  Nac,  Mar.  29  de  Bullas,  n."  18. 


kelacOes  com  a  cuhia  romana 

Bulla  fio  Papa  l^eáo  H,  illrig^lcla  a  el-Rel. 

I51S— Malo  3. 


Leo  episcopus  seruus  seruorum  dei  Carissimo  in  christo  filio  noslro 
Emanueli  Porlugalie  et  Algarbiorum  Regi  Illustri  Salutem  et  aposlolicam 
benedictionem. 

üidimus  que  super  Henrici,  Garissimi  in  chrislo  filii  nostri  Johan- 
nis  in  Ethiopia  Regis  Maninconghi  Illuslris  nali,  in  Episcopum  promo- 
lione  ad  nos  Maieslas  lúa  scripsit.  Etsi  ea^  que  a  nobis  et  hac  sánela 
sede  pelis,  sinl  ex  numero  illorum,  que  cum  difficultale  concedi  consue- 
uerunt,  examinalis  tamen  diligenler  causis,  quas  tuis  insinuasti  liileris, 
Oratorque  tuus  qui  hominem  probé  nouit  nobis  etiam  retulit,  quanta 
cum  inslanlia  pro  fidei  Galholice  exallatione  atque  Zelo  id  a  nobis  postu- 
las, considerantes,  Tándem,  non  sine  aliqua  difficultate,  Venerabiles  fra- 
tres  nostros  in  sententiam  nostram  Iraximus,  ea  polissimum  ratione,  ut 
promotionem  hanc  ad  eiusdem  fidei  noslre  propagationem  plurimum  pro- 
fuluram  speremus,  Cum  mores  uitam  el  doctrinam  eiusdem  promoti  tales 
esse  percipiamus  ut^  alios  ad  agnitionem  fidei  Irahere  el  inducere,  idque 
verbo  pariter  et  opere  efficere  ualeal,  congruum  el  oporlunum  fore  cen- 
semus,  ut  aliquos  Viros  in  sacra  theologia  et  Jure  Canónico  peritos  in 
solios  ei  adiungas,  ut  eius  doctrina  magis  in  domino  slabilialur  el  firme- 
tur,  ad  suam  et  aliorum  salutem  atque  profeclum,  Et  ila  ei  de  Maiesta- 
tis  lúe  aut  Genitoris  sui  honestis  prouenlibus  prouidere  curabit  ut  digni- 
tatem  pontificalem  sicut  decet  retiñere  valeat. 

Datum  Rome  apud  Sanclum  petrum  Anno  Incarnationis  dominice 
Millesimo  quingentésimo  décimo  octauo,  Quinto  Nonas  Maii,  Pontificalus 
nostri  Anno  Sexto.  —  la.  Sadolelus  ^ 


1  Arch.  Nac,  Mac.  21  de  Bullas,  n.°  9. 
TOMO  n. 


10  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 


Oespachoü  para  D.  llig;uel  da  Silva. 


1519  — Maio  99. 


Dom  miguell  nos  elRey  vos  emviamos  niuito  saudar. 

Despois  que  el  Rey  de  caslella  etc.  meu  muito  amado  e  precado  ir- 
maao  e  sobrinho  foy  ém  seus  reynos,  emviaoda  nos  aluaro  da  costa  noso 
camareiro  a  vesy tallo,  se  ofereceo  Ihe  ser  iá  falado  em  casamento  da  liante 
dona  iianor  sua  irmaá  comnosquo.  E  por  nos  parecer  pellos  impidimen- 
tos  que  avia,  o  ate  agora  ha  nos  casaraentos  de  meus  íilhos,  que  ysto 
serya  cousa  de  que  noso  senhor  podía  ser  muyto  seruido,  bem  e  asese- 
guo  das  cousas  d  amtre  nosos  Reynos  e  os  de  castella,  postoque  pera 
serem  sempre  postas  em  muita  conseruacam  d  amor,  amizade,  paz  e  ase- 
seguo,  ouuese  tanta  rezara  como  sem  yso  ha,  quysemos  niso  entender  e 
aceitar  o  quamto  da  parte  de  lá  nos  foy  fallado  e  requerido ;  e  amdou  o 
negocio  tamto  que  prouue  a  noso  senhor  de  se  tomar  nelle  conclusam,  e 
estamos  acertado  de  casar  com  ha  dita  Ifante  dona  Iianor,  e  o  contrauto 
diso  fyrmado  e  asemtado,  e  pera  sermos  com  ella  Recebido  por  pallauras 
de  presente  com  dispensacam  do  santo  padre,  que  pera  ello  se  Requere  e 
he  necesaria,  por  bem  do  diuido  e  parentesquo  que  amtre  nos  ha,  e  por 
bem  da  capitollacam  e  asento  diso,  somos  nos  obrigado  aver  a  dila  dis- 
pensacam :  pello  qual  vos  encomendamos  e  mandamos  que  logue  na  ora 
que  esta  vos  for  dada  vaades  ao  samto  padre,  e  de  nosa  parte  Ihe  fazee 
Relacam  deste  caso,  e  Ihe  dizee  que  por  vermos  que  noso  senhor  serya 
disto  muyto  seruido,  e  a  paz  e  amizade  d  amtre  nos  e  o  dito  Rey  meu  ir- 
maao  e  sobrinho  e  nosos  Reynos  e  os  seus  mais  conseruada,  mais  que 
por  outro  alguum  respeito,  folgámos  de  entender  neste  casamento  pera 
que  fomos  Requerido  quando  pera  outras  cousas  se  nos  apresentaraní 
gramdes  impidiraentos,  e  que  estamos  acertado  e  concertado  no  modo  que 
dito  he.  E  que  pera  efeyto  diso,  por  outra  cousa  nam  faJIecer,  pidimos 
a  sua  sanlidade  muyto  por  merce  que  nos  queyra  comceder  e  dar  a  sua 
dispensacam  em  forma  diuida,  com  a  qual  de  todo  se  concluda  e  acabe 
com  a  graca  de  noso  senhor,  e  pera  tanto  seu  seruico  como  elle  sabe 


KELACOES  COM  a  GUlilA  ROMANA  11 

que  nos  desejamos :  a  qual  dispensacam  venha  liuremenle  por  bulla  de 
sua  santidade  coni  todas  as  clausullas  de  derogacam"  que  em  caso  seme- 
Ihanle  se  Requere,  e  de  modo  que  se  nom  posa  ca  oferecer  inipidimento 
allguum,  e  sem  vyr  dirigida  a  nenhuum  juiz  nem  juizes  apostólicos,  soo- 
menle  sua  santidade  liuremenle  dispensar  pera  este  casamento  d  antre  nos 
e  a  dita  Ifante  dona  lianor  se  poder  fazer.  E  se  pella  ventura  de  necesi- 
dade  coni\iese  ser  pera  iso  nomeado  e  decrarado  juiz  ou  juizes,  em  lall 
caso  seja  o  hispo  de  cyguenca  soomenle ;  na  qual  cousa  e  expidicam  vos 
encomemdamos  e  mamdamos  que  ponhaes  a  maior  diligencia  que  vos  seja 
posyvel.  e  com  o  maior  segredo  que  se  posa,  porque  se  nom  posa  ofe- 
recer impidimento  alguum  :  e  como  for  ávida  e  espedida  a  bulla  a  des- 
pachay  e  emviay  por  coreo  voUante  a  aluaro  da  costa  noso  camareiro  e 
embaixador  á  corte  delRey  de  castella  meu  irmao  e  sobrinho,  pera  logo 
per  vertude  da  dita  dispensacam,  e  pello  poder  noso  que  pera  yso  lem, 
sermos  Recebido  por  pallauras  de  presente  com  a  dita  Ifante :  a  qual  dis- 
pensacam emviay  por  duas  vias,  porque  venha  a  mais  certo  Recado,  e 
ambas  por  correo  volante  e  que  pasem  a  maior  presa  que  seja  posyuel, 
com  os  quaes  fazee  a  despesa  que  vos  bem  parecer  pera  com  grandixima 
presa  pasarem  :  e  para  esta  expidicam  vos  emviamos  agora  crédito  de 
cruzados  posto  que  nos  pareca  que  muy  menos  custará ;  e 
quando  pella  ventura  mais  se  ouuese  mesler,  que  nam  eremos,  entam  de 
qualquer  dinheiro  noso  que  lá  teuerdes  tomares  o  comprymento  do  que 
se  ouuer  mester,  e  nom  abastando  o  que  tiuerdes,  ho  toraay  lá  em  qual- 
quer banco  onde  mais  prestes  ho  poderdes  aver  o  mais  com  noso  ser- 
uico  que  poderdes,  e  até  oito  ou  dez  mili  cruzados,  se  tanto  se  ouuer 
mester  despender  niso,  pera  todauya  logo  a  gram  presa  a  dita  dispensa- 
cam emviardes  ao  dito  aluaro  da  costa,  como  dito  he,  ainda  que  nos  pa- 
rece que  por  muy  menos  dinheiro  se  fará  a  dita  expidicam,  pero  pera 
mais  abastanca  fazemos  esta  diligencia  pera  se  nom  perder  nislo  lempo 
allguum,  e  por  voso  asynado  mandaremos  logo  cá  pagar  o  que  asy  pera 
iso  mais  tomardes.  E  vos,  como  sempre  nos  seruis  tanto  a  noso  prazer, 
vede  se  isto  se  pode  fazer  gratis,  ou  ao  menos  com  pouca  cousa,  porque 
aimda  que  tam  larga  comisam  vos  deemos,  emtam  nos  seruirés  mais,  e 
direes  a  sua  santidade  que  muy  certo  somos  que  com  as  cousas  que  sam 
de  noso  prazer  e  contentamento  Recebe  sempre  muyto  prazer,  e  que  nom 
menos  esperamos  que  asy  o  Receba  desta  em  que  principallmente  teue- 

2* 


12  COllPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

mos  e  lemos  Respeito  a  ser  noso  senhor  seruido,  e  as  cousas  de  nosos 
Reynos  conseruadaá  em  lantcaseseguo  e  descanso  como  dcus  sabe,  e  que 
serapre  ho  procuramos  e  desejamos,  e  lambem  porque  desla,  prazemdo  a 
elle,  esperamos  que  se  sygam  outras  obras,  que  sejam  aínda  pera  maio- 
res  seruicos  de  noso  senhor,  e  descanso  e  aseseguo  d«  toda  espanha,  e 
aínda  d  oulras  parles,  com  que  avernos  por  muyto  cerlo  que  sua  santi- 
dade  Receberá  muílo  contenlamento ;  com  todas  outras  booas  pallauras 
que  vos  vyrdes  a  este  proposito,  as  quaes  leixamos  a  vos  :  e  pera  se  fa- 
zer  gralys  esla  dispemsacam,  ou  ao  menos  por  pouco,  vos  aproueitay  das 
palauras  que  sua  santídade  vos  díse  quando  ñas  outras  díspensacoes  Ihe 
fallastes,  segundo  nos  spreuestes.  Esta  cousa  importa  e  Releua  tanto  a 
noso  seruico  como  veedes,  nem  ha  outra  cousa  que  falieca  pera  de  todo 
se  concludir  e  acabar,  e  por  tanto  fazé  o  com  tall  diligencia  e  cuidado 
como  ha  necesidade  do  negocio  o  Requere,  e  como  de  vos  o  confiamos  e 
com  gramde  presa  o  despachay,  e  emviay  as  bullas  a  aluaro  da  costa  e 
por  duas  vías  como  dizeemos,  e  beem  veedes  a  sustancia  do  que  este  ne- 
gocio he  e  quanto  importa,  e  por  tanto  fazee  o  que  comveem,  pois  ne- 
nhuum  outro  Ihe  pode  ser  semelhauel,  nem  que  tanto  cumpra  a  noso 
seruico.  Sprila 

Muito  santo  yn  christo  padre  e  muilo  bem  aventurado  senhor,  o  voso 
denoto  e  obediente  filho  dom  manuel  etc.  com  toda  umildade  emvío  be- 
jar  seus  santos  pees. 

Muito  santo  yn  christo  padre  e  muyto  bem  aventurado  senhor,  nos 
spreueemos  a  dom  miguell  da  sylua,  noso  embaixador,  que  de  nosa  parte 
falle  ha  vosa  santídade  allguumas  cousas,  que  muyto  nos  tocam  e  relle- 
uam,  como  compridamente  Ihe  dirá.  Sopricamos  e  pidímos  muito  por 
merce  a  vosa  santídade  que  ho  queyra  ouuir  e  Ihe  dar  inteira  fee  e  cren- 
ca,  e  nosa  sopricacam  comceder  e  mandar  despachar  com  aquele  amor 
e  booa  vontade,  que  pera  todas  nosas  cousas  sempre  nos  mostrou  e  co- 
nhecemos,  e  em  muy  syngullar  merce  ho  Receberemos  de  vosa  santídade. 
Muyto  santo  yn  christo  padre  c  muyto  bem  aventurado  senhor,  noso  se- 
nhor deus  por  muylos  tempos  conserve  vosa  santídade  a  seu  santo  ser- 
uico, Sprila * 

'  Minutas  sem  data  no  Arch.  Nac,  Gav.  15,  Mag.  12,  n."  12.  No  verso  da  ultima 
pagina  tem  a  cota  seguinte:  «que  foy  a  dom  miguel  sobre  a  dispensa^am  pera  o  casa- 


RFLACOES  COM  a  curia  romana  13 


Breve  <lo  Papa  Leao  IL,  dirigiflo  ao  Biiipo 
de  Ijaiiieg-ó  Ca|ielláo-iiiór. 

1519— «Innlio  19. 


Leo  papa  x  Venerabilis  fraier  salulem  el  apostolicain  benedictionem. 

Exponi  nobis  nuper  fecit  Charissimus  in  christo  filius  noster  Enia- 
nuel,  Porlugalie  et  Algarbiorum  Rex  Illustris,  quod  licet  ecclesiasticae 
censurae  aculeus  clericis  contra  laicos,  non  ad  laicorum  offensam,  sed 
ad  clericorum  a  laicis  pro  tempore  oppressorum  patrocinium,  sit  a  iure 
concessus,  Nihilominus  tanta  in  Regno  Porlugaliae  et  Dominiis  iili  sub- 
iectis,  ab  aliquo  tempore  citra,  personarum  ecclesiaslicarum  iurisdictio- 
neñi  habentiura  creuit  adiiersus  laicos  licentia  et  audacia,  ut  eliam  nobi- 
les,  et  Ciuilatum  ac  Prouinciarum  regimini  praesidentes,  censura  huius- 
modi  pro  leuibus  et  minimis  quibusque  causis  lacessere,  cosque  illa  in- 
nodare,  et  pro  talibus  publice  nunciare  ;  Sicque  eorura  iurisdictionis  exer- 
cilium  impediré,  cum  populorum,  quibus  illi  iustiliae  ministrandae  curam 
gerunt,  iaclura,  el  animarum  perturbatione,  passim  praesumanl,  et  nisi 
per  nos  de  aliquo  oportuno  remedio  prouideatur  necesse  sit  quod  tam 
frequens,  facilis  et  plerunque  iniusta  censurarum  promulgalio  contemptui 
habeatur,  et  quae  ad  spirilualis  salutis  medicinara  sunt  inuenta,  ad  iilius 
palam  uerganl  interilum,  et  graue  aliquando  in  populis  scandalum  sus- 
citetur :  Quare  dictus  Emanuel  Rex  nobis  fecit  humiliter  supplicari  ut  in 
praemissls  aliquod  oporlunum  remedium  adhibere  de  benignitale  apostó- 
lica dignaremur.  Nos  igitur,  huiusmodi  supplicationibus  inclinali,  Tibi, 
el  qui  pro  tempore  fuerit  in  Capella  dicti  Emanuelis  Regis  maior  capel- 
lanus,  qui  etiam,  ut  idem  Rex  asserit,  Judex  est  ordinarius  familiarium 
et  curialium  ipsius  Emanuelis  Regis,  de  quorum  numero  pro  raaiori  parte 
Redores,  correctores  nuncupati  prouinciarum  et  Ciuilatum  huiusmodi  exis- 


mento  delRey  com  a  Ifante  dona  lianor.  De  lixboa  a  xxix  días  de  maio  1518.»  Parece 
comtudo  que  só  foi  expedida  a  51  de  maio.  Vide  a  carta  de  D.  Miguel  da  Silva  de  15  de 
junho  d'este  anno. 


ík  COHPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

tunl,  ín  ómnibus  causis  ad  foruin  ecclesiasticum  perlinenlibus  per  sedem 
aposlolicam  deputatus,  de  ualidilate  uel  nullitate  censurarum  el  poena- 
rum  ecclesiaslicarum  per  quoscumque  locoi  um  ordinarios,  Judices  et  Com- 
missarios  ín  aliquem  uel  aliquos  ex  modernis,  et  pro  tempore  existenti- 
bus  Prouinciarum  el  Ciuilalum  Recloribus  huiusmodi  uel  alus  Regiis  Com- 
missariis,  Foraneis  nuncupatis,  seu  eorum  niinislris  pro  lempore  promul- 
gatarum,  taní  per  uiaui  appellalionis,  quaní  simplicis  querelae  cognoscendi, 
et  appellalione  remola  eas  si  iusle  reppereris  esse  ¡alas  obseruari  faciendi, 
sin  minus  relaxandi,  et  dum  coram  le  cognilio  pependeril,  ne  inlerim  di- 
ctorum  Rectorum  in  iuredicendo  el  iuslitia  minislranda  populis  eorum 
regimini  commissis  ofíicium  cesset,  censurarum  earundem  effeclum  rece- 
pta in  íbrma  inris  idónea  caulione  de  eius  mandalis  parendo  suspenden- 
d¡,  et  sub  similibus  censuris  el  alus  etiam  pecuniariis  poenis  quibusuis 
Judicibus  et  personis  inhibendi  el  brachium  secutare  contra  inobedientes 
inuocandi,  et  in  praemissis  etiam  per  ediclum  publicum  constito  fsicj  tibí  et 
dicto  pro  tempore  existenli  maiori  Capellano  de  non  tuto  acessu  proce- 
dendi,  ac  alia  omnia  et  singula  in  eisdem  praemissis  et  circa  ea  quomo- 
dolibet  oportuna  faciendi,  gerendi  el  exequendi,  apostólica  auclorilale  te- 
nore  presentium  plenam  et  liberam  concedimus  facultatem  :  Non  obstan- 
tibus  foelicis  recordationis  Bonifatii  pape  vni  praedecessoris  noslri,  qua 
cauetur  ne  aliquis  extra  suam  ciuitalem  et  diocesem,  nisi  in  cerlis  ibi 
exceplis  casibus,  et  in  illis  ultra  unam  dietam  a  fine.suae  Diócesis  ad 
iudicium  euocetur,  seu  ne  Judices  a  sede  praedicta  depulati  extra  Ciui- 
tatem  uel  Diocesem,  in  quibus  depulati  fuerinl,  contra  quoscunque  pro- 
cederé, aut  ali  uel  alus  uices  suas  commiltere  presumanl,  el  de  duabus 
dielis  in  concilio  generali  edilis  ac  alus  aposlolicis  constilulionibus  el  or- 
dinalionibus,  caelerisque  conlrariis  quibuscumque. 

Datum  Romae  apud  Sanclum  Pelrum,  sub  Annulo  piscaloris,  Die 
XII  Junii  MDXviii,  Pontificalus  nostri  Anno  Sexto. — Jo.  de  fíoma  ^ 


'  Ahch.  Nac,  Mac.  20  de  Bullas,  n.°  43. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  15 


Hulla  fio  Papa  lieao  X,  cliri^lda  a  el-Rei. 


1519— «innlio  19 


Leo  episcopus  seruus  seruorum  dei  Carissimo  in  christo  filio  Enia- 
nuel  Portugalie  el  Algarbioriim  Regi  Illustri  Salulem  et  apostolicam  be- 
nedictionem. 

Exponi  nobis  nuper  fecisti  quod  ab  aliquot  citra  annis  Ethiopes,  Indi, 
Aífrique,  numero  satis  celebri,  in  Ciuilate  Vlixbonense  se  conferunt  et 
in  ea  diuino  aíílati  spiritu  Baptismi  accipiunt  sacramenlum,  el  lúe  Ma- 
iestaíis  opera  et  cura  in  Orthodoxe  fidei  cultu  et  diuinorum  preceplorum 
obseruantia  instruuntur,  Quorum  multi  adeo  in  fide  constantes,  et  in 
christiano  dogmate  perili  euadunt,  \t  eorum  doctrina  et  exemplo  in  pro- 
uinliis  vnde  originem  ducunt  prodesse  alus  plurimum  possint,  Et  propte- 
rea  desideras  aliquos  ex  dictis  Elhiopibus,  Indis,  atque  affris,  sic  ad  fidem 
conuersis  et  in  ea  instructis  et  doctis,  in  Ethiopiam  et  prouintias  e  qui- 
bus  sunt  oriundi  ad  predicandum  ibi  verbum  dei  et  Euangelicam  disci- 
plinam  remitiere,  el  ut  huiusmodi  predicationis  Officium  inter  suos  maio- 
ris  dignitalis  et  aucloritalis  exislat,  et  efficatiores  in  audilorum  ánimos 
eíFectus  producat,  ipsos  antequam  e  dicta  Ciuitate  discedant,  sacerdotio 
insigniri ;  Quare  nobis  fecisti  humililer  supplicari  ut  luis  nolis  in  hac  parte 
fauorabiliter  annuere  de  benignilate  apostólica  dignaremur.  Nos  igitur, 
huiusmodi  supplicalionibus  inclinati,  Venerabili  fralri  nostro  Episcopo  La- 
macensi  moderno,  et  qui  pro  tempore  fuerit  lúe  et  pro  tempore  existen- 
lis  Portugalie  et  Algarbiorum  Regis  Capelle  Maiori  Gapellano,  qui  ple- 
rumque,  ut  asseris,  Archiepiscopus  uel  Episcopus  esse  solet,  uel  alii  cui- 
cunque  Antisliti  gratiam  el  communionem  apostolice  sedis  habenli,  quem 
tu  et  pro  tempore  exislens  Rex  ad  hoc  duxeris  pro  tempore  spetialiter 
nominandum,  cum  dictis  Elhiopibus  atque  Affris  et  Indis,  ac  alus  qui- 
buscunque  a  Mahumetis  et  celerorum  paganorum  atque  infidelium  seotis 
ad  christiane  Religionis  cultum  conuersis  haclenus  et  in  posterum  con- 
uertendis,  et  in  eadem  religione  suíficienter  instructis  el  alias  idoneis,  in 
dicta  et  quauis  alia  Regni  Portugalie  Ciuitate  pro  tempore  residentibus 


10  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

seu  ad  eorum  Prouinliíls  rediré  uolenlibus,  Non  obslanlibus  nalalium  de- 
fectu,  siquem  palianlur,  et  quod  nullum  beneficiiim  ecclesiasliciim  uel  pa- 
Irimonium  obtineant,  ad  omncs  etiam  sacros  el  presbileratus  ordines  pro- 
moueri  ;  et  poslquam  promoU  fuerinl  in  África,  Athiopia  alque  India,  aliis- 
que  parlibus  infidcliiini,  ubi  nulle  parochiales  existunl  ecclesie,  personis 
ibi  ad  fidem  conuersis  el  conuerlendis,  quandiu  propriis  caruerint  paro- 
chianis,  Missas  celebrare,  el  ecclesiaslica  omnia  sacraníjenta  minislrare 
libere  et  licite  possinl,  dispensandi,  eisque  etiam  extra  témpora  a  iure 
slalula  quibusuis  Tribus  diebus  Dominicis  uel  fesliuis  Ordines  conferendi 
apostólica  auctoritale.  lenore  presenlium  plenam  el  liberam  concedimus 
facullalem  :  Non  obslanlibus  aposlolicis  ac  in  Prouinlialibus  el  Sinodali- 
bus  Consiiiis  editis  generalibus  uel  spetialibus  Conslilulionibus  et  ordina- 
tionibus,  celerisque  contrariis  quibuscunque. 

Dalum  Rome  apud  Sanclum  pelrum  Anno  Incarnationis  dominice 
Millesimo  quingentésimo  décimo  oclauo,  Pridie  Idus  Junii,  Pontificalus 
nostri  Anno  Sexto.  —  ía.  Sadoleíus  ^ 


Carta  de  H.  Miguel  da  Silva  a  el-Rei. 


151S  —  «lunlio  15. 


Senhor.  —  Ho  correo  de  xxxi  de  mayo  %  que  veo  sobre  a  dispensa- 
cam,  chegou  aquy  oje,  que  sam  xv  de  junho,  huuma  ora  ante  manhaa, 
e  em  amanhecendo  fuy  cora  o  papa  e  Ihe  dey  a  caria  de  Vosa  Alteza,  e 
sobre  ella  Ihe  disse  ludo  o  que  me  mandou  e  me  pareceo  que  compria 
pera  mays  breuidade  do  despacho,  que  esta  parecya  huuma  das  cousas 
que  nesle  negocio  mays  Relcuaua.  Sua  Sanlidade  nam  se  espanlou  nada 
porque  aula  qualro  dias  ou  cynquo  que  o  nuncio  Ihe  escreuera  fumo 
disto,  mas  moslrou  tanto  prazer  que  cuydey  certo  que  me  auia  de  des- 
pachar tornando  me  em  cyma  dynheyro.  Eu  Ihe  disse  a  pressa  que  auia, 
e  presteza  que  era  bem  eu  per  meu  oíTicio  usar  em  semelhante  caso  ;  res- 


'  Arch.  Nac,  Mac.  29  de  Bullas,  n."  17. 
^  Vide  as  instrucfoes  de  29  de  maio. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  17 

pondeo  me  que  era  contente,  e  que  a  dispcnsacam  se  ñzesse,  mas  que 
aparelhasse  muylos  mil  ducados ;  e  nysto  se  passaram  tam  tongas  aller- 
cacoes  e  palauras  quantas  eu  pude  dizer  pera  llie  mostrar  que  crya  que 
Sua  Santidade  zomloaua,  e  me  queria  fazer  eslymar  mays  a  graca  :  pos  se 
me  Em  falar  de  syso  e  pidia  quinze  mil  ducados,  e  tam  de  syso  mos  pi- 
dia  que  me  fazia  medo.  He  escusado  em  tamanha  pressa  do  correo  dizer 
a  Vossa  Alteza  todas  as  miudezas  e  dissimulacoes  e  manyncorias,  que 
sobre  es(a  materia  passey  pera  serdes,  senhor,  milhor  seruydo,  que  bem 
creo  que  crerá  Vossa  Alteza  que  desejaria  Eu  semillo  mays  como  m  es- 
creueo,  que  tanto  mays  o  seruiria  quanto  por  menos  se  fezesse.  Per  der- 
radeyro,  pondo  se  de  todo  em  dez  mil,  tomey  por  milhor  conselho  fazer 
em  tanto  fazer  a  bulla  e  despoys  tornar  ao  combate,  e  assy  o  íiz,  e  nam 
me  party  do  paco  ate  que  a  minuta  foy  feyta,  e  fella  Sanctiquatro ;  e  a 
bulla  escryta  e  plumbada,  e  nam  me  ficando  senao  auella,  e  sendo  já 
noyte,  e  areceando  o  que  sempre  Em  tamanhas  cousas  se  hfi  d  arrecear, 
me  fuy  outra  vez  ao  papa  onde,  deyxando  tudo  o  que  se  passou,  per 
derradeyro  deceo  a  quatro  mil,  jurando  me  de  verdade  que  por  menos 
huum  real  ha  nam  auia  d  auer,  e  dizendo"  me  que  Ihe  mostrasse  a  carta 
de  Vossa  Alteza  e  que  rae  prometya  de  me  quitar  dous  mil  ducados  da 
comissao  que  per  ella  me  daua,  e  que  este  dynheyro  tomaua  neslas  suas 
necessidades  que  eu  sabia  como  emprestados,  e  que  em  gracas  os'pagua- 
ria,  e  que  sabia  certo  que  Vossa  Alteza  aueria  por  bem  ysto  pollo  tempo 
em  que  elle  estaua.  Eu,  senhor,  nam  Ihe  podendo  mostrar  a  carta  que  me 
tanto  mays  larga  comissam  daua,  e  vendo  sua  deliberacam,  e  o  peso  do 
negocio,  e  a  pressa  que  me  Vossa  Alteza  dá  em  suas  cartas,  e  arrecean- 
do  os  ventos  cada  momento  de  íardanca,  nam  me  pareceo  deseruico  de 
Vossa  Alteza  aceylalla  a  bulla,  e  acerca  da  paga  disse  que  eu  nam  ty- 
nha  mays  de  tres  mil ;  que  aprouuesse  a  Sua  Santidade  os  mil  descon- 
tar da  diuida  que  me  deuya :  foy  disso  contente,  e  assy  ouue  a  bulla,  a 
qual  nesle  ponto  mando  haa  corte  de  castella  a  aluaro  da  costa,  como, 
senhor,  mandays,  com  a  mayor  pressa  que  he  possiuel :  se  for  com  ta- 
manha presteza  como  aquy  foy  despachada  e  mandada,  bem  yrá,  que 
nunqua  se  vVo  em  huum  mesmo  dia  auer  o  correo  e  despachar  bulla, 
e  despachar  outro.  He  obrigado  a  passar  daquy  a  caragoca  em  oyto  dias, 
que  he  grande  diligencia,  e  por  Ihe  fazer  fazer  milagres  Ihe  promety  por 
cada  hora  dous  ducados  que  aynda  que  elle  pode  ganhar  muy  poucas 

TOMO  II.  3 


18  COKPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

aproueyla  muylo  pera  nam  perder  nenhuma  das  obrigalorias.  De  cara- 
goca  Ihe  mando  que  seja  onde  Vossa  Alteza  esliuer  em  sele  días  pera  que 
seja  de  ludo  yslo  auisado  e  veja  como  he  seruido,  de  que  peco  perdao  por 
nao  ser  milhor,  que  nosso  senlior,  que  me  em  todas  as  cousas  de  uosso 
seruico  ajuda,  sabe  que  nem  eu  posso  mays  do  que  faco,  nem  posso  le- 
uar  mays  pena  da  4|ue  nao  faco  da  que  leuo. 

Em  amanhecendo  despacharey  per  outra  via  como  manda,  e  Emtao 
direy  o  que  despoys  de  feytas  as  araizades  da  composicam  passey  com 
o  papa,  e  o  que  me  disse,  e  prazer.que  moslra  cheo  de  mil  grandes  es- 
perancas,  as  quais  todas  prazerá  a  nosso  senhor  que  nam  seráo  menos 
verdadeyras  do  que  sam  vossos  merecymenlos  grandes  ante  elle ;  e  a  elle 
por  sua  misericordia  prazerá  dar  tanta  beraauenturanca  a  este  sancto  ca- 
samento, e  tanto  assesego,  e  tam  perlongados  dias  de  uida  quanto  Vossa 
Alteza  deseja  e  desojamos  os  que  em  vosso  bem  somos  bemauenturados. 
Bejo  as  maos  de  Vossa  Alteza,  cuja  vida  e  Real  estado  nosso  Senhor  Deus 
guarde  e  prospere  infyndo  lempo. 

De  Roma  a  xv  de  Junho  haa  mea  noy  te  1318.  — Dom  miguell  da 
Sylua  '. 


Dulla  do  Papa  E<eáo  IL,  dirigida  a  el-Rei. 


151S— JíunliolS. 


Leo  episcopus  seruus  seruorum  dei  Garissimo  in  christo  filio  Ema- 
nueli,  Portugallie  el  Algarbiorum  Regi  Uiustri,  el  dilecte  in  christo  filie 
nobili  mulieri  Leonore,  clare  memorie  Philippi  Hispaniarum  Regis  Galho- 
lici  nale,  Salutem  el  aposlolicam  benedictionem. 

Óblate  nobis  nuper  pro  parle  vestra  pelicionis  series  conlinebal  quod 
vos,  videllcet,  in  christo  fili  Emanuel  Rex,  qui  quondam  Elisabel  el  Ma- 
nara sórores,  el  clare  memorie  Ferdinandi  Regis  el  Elisabel  Regine  Cas- 
leile  el  Legionis  Regnorum  filias,  vxores  iam  defunclas  ex  dispensalione 
apostólica  habuisli,  el  in  christo  fiüa  Leonora,  que  Carissime  in  christo 

'  Abch.  Nac,  CorpoChron.,  Part.  i,  Mac.  23,  Doc.  62. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  19 

filie  Johanne  eorundem  Regnorum  Regine  Galholice,  el  earundem  vxo- 
riim  sororis  nata  exisUs,  ex  certis  rationabilibus  causis  desideralis  inui- 
cem  matriinonialiler  copulari ;  Sed  quia  duplici,  Terlio,  el  forsan  eliam 
duplici  Quarto  Consanguinilalis,  ac  siraililer  Secundo  AíTinilatis,  ex  eo 
prouenienle  quod  lu  in  chrislo  filia  Leonora  el  Elisabel  ac  Maria  \xores, 
dum  vixerunt,  Secundo  Consanguinilalis  gradibus  eratis  coniuncle,  inui- 
cem  estis  coniuncli,  verum  in  hac  parle  desiderium  adimplere  non  poles- 
tis  dispensalione  apostólica  supcr  hoc  non  obtenía  :  Quare  pro  parle  ves- 
Ira  nobis  fuit  humililer  supplicalum  vi  vobis  super  hoc  «de  oporlune  dis- 
pensationis  gratia  prouidere  de  benignilate  apostólica  dignaremur.  Nos 
igitur,  premissis  el  certis  alus  nobis  expositis  huiusniodi  supplicalionibus 
inclinali,  vobiscum,  si  esl  ila.  Tuque  in  chrislo  filia  Leonora  propter  hoc 
rapta  non  fueris,  vi  predictis  el  forsan  quibusuis  alus  consanguinilalis  vel 
affinitalis,  citra  lamen  Secundum  gradum,  impedimenlis  consanguinilalis 
el  affinitalis  huiusmodi  non  obslanlibus,  Malrimonium  inter  vos  conlra- 
here,  el  in  eo,  poslquam  conlractum  fueril,  remanere,  libere  el  licite  va- 
leatis  :  Constilulionibus  etordinalionibusaposlolicis,  ac  in  Prouinlialibus  et 
Sinodalibus  Conciiiis  editis  generalibus  vel  specialibus,  ceterisque  conlra- 
riis  nequáquam  obslanlibus,  de  specialis  donograliedispensamus,  Prolem 
ex  huiusmodi  Matrimonio  suscipiendam  legitimam  nunliando. 

Datum  Rome  apud  Sanctum  petrum  Anno  Incarnationis  dominice 
Millesimo  quingentésimo  décimo  oclauo,  Décimo  séptimo  Kalendas  Julii, 
Pontificatus  nostri  Anno  Sexlo. — la.  Sadolelus  '. 


Breve  do  Papa  l^eao  X,  clii*ija;iclo  a  el-Rei. 


151« — Setembro  30. 


Leo  pape  x  Charissime  in  chrislo  fili  noster  Salulem  el  aposlolicam 
benedictionem. 

Dudum  certis  ex  causis  tune  expressis  motu  proprio  tol  Praecepto- 
rias  Militiae  Jesu  christi,  cuius  Magislratus  perpetuus  Adminisíralor  per 

1  Ahch.  Nac,  Mac.  37  de  Bullas,  n.°  41. 

3  * 


20  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

Sedem  apostolicam  deputatus  exislis,  quot  tu  infra  Annum  ex  lunc  com- 
pulandum  duceres  exprimendas,  perpetuo  ereximus,  el  lanlum  a  Monas- 
teriis  el  Prioralibus  luorum  Regnorum  el  Dominiorum  de  eorum  bonis 
quanlum  ad  summam  viginlimilliuin  Duoalorum,  si  iuxta  formam  ihi  Ira- 
dilam  fieri  poteral,  Alioquin  a  parrochialibus  Ecclesiis  per  te  nominan- 
dis,  iisque  ad  id  quod  ex  dicta  summa  deesset,  separauimus,  el  id  lolum 
diclis  Praeceploriis  pro  eorum  dolibus  perpetuo  applicauimus.  El  deinde, 
ralionabilibus  suadenlibus  causis,  sepe  rali  onem  bonorum  a  Monasleriis  el 
illorum  applicalignem  huiusmodi  cassauimus  el  annuilauiínus,  et  tol  fru- 
clus,  census,  iura  et  emolumenta  Parrochialium  ecclesiarum  in  Regnis  et 
Dominiis  praedictis  consistenlium,  el  per  te  uel  dilcctum  filium  Ministrum 
Domus  Sanctae  Trinitatis  Ulixbonensis,  etiam  infra  Annum  ex  lunc  com- 

putandum rum  el  declarandarum  pr uel  ad  quot  ascendebant 

frucfus,  redditus  et  prouenlus  bonorum  a  diclis  Monasleriis,  ut  prefertur, 
seperalorum  ab  eisdem  Parrochialibus  Ecclesiis  dimembrauimus,  et  dictis 
Praeceploriis  pro  eorum  dolé  pariformiter  assignauimus ;  el  successiue, 
luis  in  ea  parle  supplicationibus  inclinati,  tol  alias  in  eadem  Militia  Prae- 
ceptorias,  quot  Maiestali  luae  infra  alium  Annum  extunc  etiam  compu- 
tandum  uiderenlur,  etiam  perpetuo  inslituimus,  ac  bona  et  iura  íjuin- 
quaginla  parrochialium  Ecclesiarum,  quae  de  tuo  iure  patronalus  exis- 
terenl,  et  quas  tu  infra  eundem  Annum  specificares,  reseruala  lamen  pro 
singulis  illarum  Rectoribus  saltem  Sexaginta  ducatorum  portione  annua, 
ab  eisdem  parrochialibus  ecclesiis  segregauimus,  el  diclis  ultimoereclis 
Praeceploriis  pro  earum  dolibus  concessimus  et  appropriauimus;  Ac  post- 
modum  porlionem  praediclam  sub  cerlis  modo  et  forma  modificauimus, 
el  alia  uoluimus  et  ordinauimus,  prout  in  diuersis  noslris  inde  confeclis 
lilteris  plenius  continelur.  Cum  autem,  sicul  exponi  nobis  nuper  fecit  Ma- 
iestas  lúa,  per  inaduertentiam  aul  alias  nondum  praeceplorias  seu  earum 
numerum  expresseris,  nec  tu  nec  diclus  Minisler  parrochiales  Ecclesias 
prediclas  specificaueritis  el  declarauerilis,  el  omnes  lermini  tibi  et  dicto 
Ministro  ad  expressiones  et  declarationes  huiusmodi  respecliue  faciendum 
praefixi  sinl  iam  elapsi,  el  proplerea  de  diclarum  erectionum  el  poste- 
riorum  dimembrationum  el  assi ,  possel  mérito  dubitari :  Nos,  quo- 
rum inlenlio  ab  inilio  fuit,  proul  esl,  quod  erecliones  el  posteriores  di- 
membraliones  et  assignaliones  huiusmodi  locum  uendicent,  el  iuxta  di- 
clarum lilterarum  lenorem  sortianlur  eífeclum,  Molu  simili  et  ex  certa 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  21 

npstra  scienlia  ac  potestatis  pleniludine,  declaraliones,  erecliones,  et  pos- 
teriores dimembrationes  el  assignaliones  praedictas,  el  alia  quaecunqiie 
singularum  liUerarum  praediclarum  uigore  alias  illarum  forma  seruata 

gesla  et  disposila  ualere  pl roboris  firmilatem  obtinere  sse  et 

deberé  eíféctum  sorliri  in  ómnibus  et  per  omnia,  perinde  ac  si  tu  expres- 
siones  et  declaraliones  praedictas  infra  dictos  términos  fecessis,  Dummodo 

illas  facias  infra  Biennium tandum.  Decern 

quaecumque  propterea  uiribus  non  euacualas  fuisse  nec  esse,  ac  ex  nunc 
irrilum  et  inane  si  secus  super  his  a  quoquam  quauis  auclorilale  scien- 

ter  uel  ignoranler  conligerit \.... celerisque  conlrariis 

quibuscunque. 

Dalum  Viterbii,  sub  Annulo  piscatoris,  Die  vllima  Septembris  mdxviii, 
Pontificatus. Anno  Sexto  \ 


DuUa  dirigida  ao  Cardeal  Infante  O.  Affoníso. 


1519 — Fevereiro  23. 


Leo  episcopus  seruus  seruorum  dei  Dilecto  filio  Alfonso,  sánete  Lu- 
cie  in  Septem  Soliis  Diácono  Cardinali,  Salutem  et  apostolicam  benedi- 
ctionem. 

Romani  Pontificis  prouidentia  circunspecta  ecclesiis  singulis  ut  cum 
illarum  vacalio  occurrerit  gubernatorum  vtilium  fulciantur  presidio  pro- 
spicil  diligenter,  et  sánete  Romane  ecclesie  Cardinalibus,  quos  in  partem 
solicitudinis  euocauit  Allissimus  pro  eis  incumbendis  oneribus  facilius  sup- 
porlandis,  prout  decens  est  et  congruum,  de  subuentionis  auxilio  proui- 
det  oportuno.  Cum  itaque  hodie  tu,  qui  alias  tune  in  minoribus  el-in 
octauo  lúe  etatis  Anno  uel  circa  constitutus,  ecclesie  Egilaniensi,  tune 
cerlo  modo  uacanti,  cum  priraum  Vigesimum  primum  dicte  etatis  Annum 
attingeres,  vsque  ad  vigesimum  seplimum  eiusdem  etatis  Annum,  Admi- 
nislrator  in  spiritualibus  el  temporalibus  deputalus,  et  deinde  in  Episco- 
pum  et  Paátorem  prefeclus  ex  tune  prout  cum  vigesimum  primum  el  vi- 

^  Arch.  Nac,  Mac.  34  de  Bullas,  n.°  27. 


22  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTIIGUIÍZ 

gesimum  seplimum  Annos  huiusmodi  attigisses,  el  e  cojilra,  el  düecUis 
lijius  Michael  de  Silua  clericus  ülixbonensis,  qiii  inlerim  eidein  ecclesie 
eliam  in  eisdem  spirilualibus  et  lemporalibus  adminislrator  conslilulus, 
apostólica -aucloritale  fueratis  regimini  el  adminislralioni  dicle  ecclesie  in 
raanibus  nostris  sponte  et  libere  cesseritis,  nosque  cessiones  ipsas  lunc 
admiltenles  ecclesie  predicle  adhuc  eo  quo  anle  depiilalionem  et  consti- 
lutionem  easdem  vacaueíat  modo  quem  haberi  uoluimus  pro  expresso  pas- 
toris  solatio  deslilute,  de  persona  dilecli  filii  Georgii  Elecli  Egilaniensis 
de  Fratrum  noslrorum  Consilio  dicta  auctorilate  prouiderimus,  ipsuraque 
illi  prefecerinius  in  Episcopum  el  Paslorem,  curam  et  administralionem 
ipsius  ecclesie  sibi  in  spirilualibus  el  lemporalibus  plenarie  committendo, 
proul  in  nostris  inde  confcclis  litteris  plenius  continetur.  Nos  tibi,  qui 
Carissimi  in  christo  filii  noslri  Emanuelis  Porlugallie  el  Algarbiorum  Re- 
gis  Illustris  natus,  et  in  vndecimo  vel  circa  dicle  elatis  Anno  constituías 
existís,  ne  ex  cessione  lúa  huiusmodi  nimium  dispendium  paliaris,  ac  vt 
statum  luum  iuxta  Cardinalalus  exigentiam  sablimitatis  decentius  tenere, 
et  onera  que  te  iugiler  de  necessilale  subiré  oportel,  facilius  perferre  va- 
leas,  de  alicuius  subuentionis  auxilio  prouidere  volentes,  Tibi  quod  dicto 
Oeorgio  Electo  cedenle  vel  decedente,  seu  ecclesie  predicle  alias  quomo- 
dolibel  preesse  desinenle,  et  ipsa  ecclesia  alias  quouismodo  vacante,  eliam 
apud  sedem  apostolicam,  liceal  tibi  ad  dictam  ecclesiam  lam  tuarum  prio- 
ris  ConsUtutionis  deputationis  et  prefeclionis,  quam  presenlium,  quas  vim 
valide  et  eíficacis  Administrationis  obtinere  decernimus  vigore,  liberum 
habere  regressum  accessum  et  ingressum,  illiusque  ac  Regiminis  el  ad- 
, minislralionis  prediclorum,  necnon  bpnorum  eiusdem  ecclesie  possessio- 
nem,  uel  quasi,  per  le,  vel  alium,  seu  alios,  propria  aucloritale  libere 
aprehenderé,  et  in  administralionem  in  eisdem  spirilualibus  el  lemporali- 
bus quoaduixeris,  eliam  vna  cum  sánele  Lucie  in  Seplem  Soliis  que  de- 
nominatio  tu¡  Cardinalalus  existit,  ac  ómnibus  el  singulis  alus  ecclesiis, 
Monasteriis,   Prioratibus,   preposituris,   preposilatibus,   Canonicatibus  et 
prebendis,  dignilalibus,  personalibus,  adminislralionibus,  el  oíTioiis,  cete- 
risque  beneficiis  ecclesiaslicis  cum  cura  et  sine  cura,  secularibus,  el  quo- 
rumuis  ordinum  Regularibus,  que  ex  quibusuis  concessionibus  et  dispen- 
sationibus  apostolicis  in  litulum,  commendam,  administralionem,  vel  alias 
oblines  el  im  poslerum  oblinebis,  ac  pensionibus  annuis,  quas  super  qui- 
busuis ecclesiaslicis  prouenlibus  tibi  assignatas  pcrcipis,  el  percipies  in 


RELACOES  COM  A  CURÍA  ROMANA  23 

fulurum,  absque  alia  libi  ipsius  ecclesie  Egitaniensis  in  adminislrationem 
concessione  retiñere.  Necnon  debitis  et  consuelis  Mense  Episcopalis  Egi- 
taniensis supporlniis  oneribus,  de  residuis  illius  fruclibus  rcddilibus  el 
prouentibus  siculi  Episcopi  Egilanienses,  qui  pro  tempore  fuerunl  de  illis 
disponere  el  ordinare  polueriint  seu  etiam  debuerunt,  Alienatione  lamen 
quorumcunque  bonorum  iminobilium  et  preliosorum  mobilium  dicte  Mense 
libi  penitus  interdicta,  disponere  et  ordinare  aucloritale  apostólica  prefala 
earumdem  lenore  presenlium  de  simili  Consilio,  el  specialis  dono  gralie 
Indulgeraus.  Quocirca  Venerabilibus  fralribus  noslris  Asculanensi  et  Ca- 
serlanensi  ac  Lamacensi  Episcopis  per  apostólica  scripta  mandamus  quatinus 
ipsi,  uel  Dúo  aut  Unus  eorum,  per  se,  uel  alium  seu  alios,  faciantauctorilate 
nostra  le  iure  el  facúltale  regrediendi,  accedendi  el  ingrediendi  huiusmo- 
di,  el  in  ipsorum  regressus,  accessus  el  ingressus  euenlum  regiminis  el 
adminislrationis,  ac  bonorum  prediclorum  possessione,  uel  quasi,  paci- 
fice  frui  el  gaudere,  non  permitientes  te  per  quoscunque  desuper  inde- 
bile  molestari,  Contradictores  per  censuram  ecclesiasticam  appellalione 
postposita  compescendo  :  Non  obslantibus  Constilutionibus  el  ordinationi- 
bus  aposlolicis,  ac  dicte  ecclesie  Juramento,  confirmatione  apostólica,  uel 
quauis  firmitate  alia  roboralis  stalulis  el  consueludinibus,  ceterisque  con- 
trariis  quibuscunque.  Aut  si  aliquibus  comrauniter  vel  diuisim  a  dicta  sit 
sede  indultum  quod  interdici,  suspendi  uel  excommunicari  non  possinl, 
per  Hileras  apostólicas  non  facientes  plenam  el  expressam  ac  de  verbo  ad 
verbum  de  Indulto  huiusmodi  mentionem.  Nulli  ergo  omnino  hominum 
liceal  hanc  paginam  noslre  voluntalis,  decreli,  Indulli  el  mandati  infrin- 
gere,  vel  ei  ausu  temerario  conlraire.  Siquis  aulem  hoc  allemplare  pre- 
sumpseril  indignalionem  omnipotenlis  dei,  ac  beatorum  Pelri  el  Pauli, 
Apostolorum  eius,  se  noueril  incursurum. 

Dalum  Rome  apud  Sanctum  peli*um  Anno  Incarnalionis  dominice 
Millesimo  quingentésimo  décimo  oclauo,  Séptimo  Kalendas  Martii,  Ponlifi- 
calus  noslri  Anno  Sexto.  —  Bal.^^  de  piscia  ^ 


*  Arch.  Nac,  Mac.  29  de  Bullas,  n."  5. 


25  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTIJGUEZ 


Bulla  do  Papa  Leáo  IL, 


1519— Maio  ;S9. 


Leo  episcopus  seruus  seruorum  Dei  ad  perpeluam  rei  menioriam. 

Pasloralis  Officii  cura  nos  admonet  vt  noslre  prouisionis  efficiatur 
ministerio  quod  ea,  que  pro  votiua  ültimarum  Voluntalum  executione  an- 
tiqua  el  laudabiiis  consueludo  introduxit,  nuUa  teniporum  intercapedo  di- 
uertat,  sed  quibusuis  impedimenlis  sublatis  prislino  vsui  restituía  débitos 
perpetuis  fuluris  lemporibus  sortiantur  eífectus,  presertim  vbi  id  Catho- 
ücorum  Principura  vola  deposcunl,  el  nos  rerum  qualitatibus  mature  dis- 
cussis  cognoscimus  in  domino  salubriter  expediré.  Sane  pro  parte  Caris- 
simi  in  christo  filii  nostri  Emanuelis,  Portugallie  el  Algarbiorum  Regis 
lilustris,  nobis  nuper  exhibila  petitio  continebal  quod  licet  de  antiqua  el 
approbata,  et  tanto  tempore  de  cuius  inilio  memoria  hominum  non  exis- 
til,  obseruata  Consuetudine  in  Regno  Portugallia  certi  Kegii  Oíliciales, 
Computatores  Residuorum  nuncupati,  per  singulas  Prouintias  pro  tem- 
pore deputati,  vna  cum  Archiepiscoporum  et  Episcoporum  Prouintiarum 
earundem  respective  vicariis  in  spiritualibus  generalibus,  ab  heredibus, 
vel  Executoribus  Testalorum  in  dictis  Prouintiis  pro  tempore  defuncto- 
rum  post  Annum  et  Diem,  quo  ipsi  Testatores  decesserint,  el  non  ante, 
super  Testamentorum  et  vllimarum  voluntalum  dictorum  Testantium  exe- 
cutione et  implemento  rationem  et  Computum  exigere,  et  super  acceplis 
ralionibus  Quietantias  siue  ditrinitiones  oportunas  conficere  soliti  fuerint, 
et  ex  huiusmodi  pia  ct  laudabili  Consuetudine  successerit,  vi  omni  fraude 
cessante  honesta  el  pia  Testantium  desideria  debito  non  caruerint  efFeclu  ; 
Nichilominus  ab  aliquo  tempore  citra  nonnulH  diclorum  Vicariorum  pre- 
falis  Regiis  oíficialibus  in  aliquo  non  vocatis  solitum  tempus  preuenienles 
Compula  el  raliones  ab  heredibus  et  Testamentariis  Executoribus  exigere, 
el  eis  non  sine  ipsorum  infamia,  et  quod  cum  illis  fraudem  aliquam  ma- 
chinentur  suspitione,  Quietantias  et  diííiniliones  Iradere  presumpserunl, 


RELACOES  GOM  a  curia  romana  25 

• 

et  de  presenli  presumiint,  ex  quo  in  populis,  qui  rem  aliter  Conspiciunt 
geri  quam  fueril  anliquis  lemporibus  consuelum,  scandalum  generatur, 
quod  profeclo  cessaret,  et  Clericorum  fame  el  honori  magis  iretur  con- 
sultum,  si  dicta  v^tus  et  laudabilis  Gonsuetudo  in  suo  prístino  robore  per- 
maneret ;  Quare  prefatus  Emanuel  Rex  nobis  fecil  humiliter  supplicari  vt 
in  premissis  oporlunum  adhibere  reinedium  de  benignitale  apostólica  di- 
gnaremur.  Nos  igitur,  attendentes  non  esse  de  iure  Archiepiscopis  uel 
Episcopis  se  de  executione  volunlatum  etiara  ad  pias  causas  testanlium 
ante  Anni  lapsum,  et  in  Execulorum  negligentiam  intromittendi  faculla- 
tem  seu  potestatem  concessam,  huiusmodi  supplicalionibus  inclinati,  Vni- 
uersis  et  singulis  Archiepiscoporum  el  Episcoporum  dicli  Regni,  Vicariis 
el  Ministris,  ac  quibusuis  alus  personis  per  eosdem  Ordinarios  deputatis 
et  depulandis,  ne  ex  niinc  de  cetero  in  perpeluum  ante  dictorum  Anni  et 
diei  lapsum,  nisi  legitima  causa  subsit,  et  ñeque  etiam  tune  sine  dictis 
Regiis  Oííicialibus,  vel  eorum  aliquo,  ad  huiusmodi  ralio'num  exactionem 
etiam  volentibus  seu  requirentibus,  eisdem  executoribus  procederé,  ñeque 
eosdem  executores  propterea  ad  Judicium  euocare,  nullasque  cuiquam  de- 
super  quietanlias  tradere  sine  dictorum  Regiorum  oíBcialium  consensu, 
de  quibus  rogari  debeat  publicus  Nofarius  Regia  auctoritate  creatus,  quo- 
quomodo  presumanl,  sub  excommunicationis  late  sentenlie  pena,  a  qua, 
non  nisi  per  Romanum  Pontificem,  preterquam  in  mortis  articulo,  absolui 
possint,  districtius  inhibemus.  Et  exactionem  ac  redditionem  Gomputo- 
rum  huiusmodi  aliter  de  cetero  habendas,  ac  Quietanlias  seu  diíTinitiones 
aliter  desupér  conficiendas  nullius  existere  firmilatis,  Licereque  in  casi- 
bus,  in  quibus  contra  inhihitionem  huiusmodi  venire  contigerit  dictis  Re- 
giis Oííicialibus  absque  Vicariorum  vel  Ministrorum  prediclorum  ea  vice 
tanlum  presentía  vel  assensu  computa  petere,  et  reddentes  quietare  au- 
ctoritate apostólica  tenore  presentium  decernimus  et  declaramus  :  Non  ob- 
stantibus  apostolicis  ac  in  Prouincialibus  et  Sinodalibus  Gonciüis  edilis^ 
generaübus  et  specialibus  Gonsütutionibus  et  ordinationibus,  ceterisque 
conlrariis  quibuscumque.  Nulli  ergo  omnino  hominum  liceat  hanc  pagi- 
nam  nostre  inhibitionis,  decreti  el  declaralionis  infringere,  vel  ei  ausu  te- 
merario conlraire.  Siquis  autem  hoc  allemplare  presumpserit  Indignalio- 
nem  Omnipotentis  dei,  ac  beatorum  Petri  él  Pauli  Apostolorum  eius,  se 
nouerit  incursurum. 

Datum  Rome  apud  Sanctum  petrum  Anno  Incarnationis  dominica 

TOMO  II.  4 


26  CORPO  DIPLOMÁTICO  POIÍTUGÜEZ 

Mil'esimo  iiuingentesimo  décimo  nono,  Sexto  Kalendas  Junii,  Pontifica- 
lus  nostri  Anno  Seplimo.  —  .i.  de  Calcaneis  '.  ' 


Itre^e  fio  Papa  I^eao  X,  dirigido  ao  Iliísiio 
ele  liaiiicgfO;  Capellao-iiiór. 

1519 — üetembro  16. 


Leo  papa  x  Venerabilis  fraler  salutem  et  aposlolicam  benediclionera. 

Exponi  nobis  nuper  fecit  Charissimus  ¡n  Christo  filius  noster  Ema- 
nuel  '  Porlugalliae  et  Algarbiorum  Rex  illustiis  quod  licet  Maiestas  sua 
pro  suo  et  filiorum  suorum  ^  corporali  exercilio  et  inlermissione  a  ciiris 
nonnulla  nemora  et  alia  loca  venatui  accommodala,  sub  suo  temporal! 
dominio  consistentia,  specialiler  reseruaiierit,  et  sub  certis  etiam  pecu- 
niariis  poenis  ne  quis  ibi  sine  sua  licentia  aliquod  venationis  genus  exer- 
ceat  prohibuerit,  Venalionesque  et  siluatiee  fatigationes  ómnibus  clericis 
a  sacris  sint  Canonibus  interdicte  ;  Tamen  aliqui  clerici,  ea  forsan  confi- 
dentia  freli  quod  secularium  non  arctentur  edictis  uel  per  eos  nequeant 
coerceri  aut  alias,  contra  prohibitionem  huiusmodi  in  nemoribus  el  alus 
locis  predictis  aucupari  et  venari  frequenter  presumunt,  non  in  ipsius  Re- 
gis  solum,  sed  etiam  apostolicae  auclorilalis  contemptum  :  quare  nobis  fe- 
cit humiliter  supplicari  vt  id  eis  prohibere,  aliasque  in  premissis  opor- 
tune  prouidere  de  benignilate  apostólica  dignaremur.  Nos  itaque,  eiusdem 
Emanuelis  ^  Regís  honeslis  desideriis  annuentes,  Fraternilati  tuae  commil- 
timus  et  mandamus  quatenus  ad  ipsius  Emanuelis  omnimodam  requisitio- 
nem  omnes  et  singulos  clericos,  etiam  in  sacris  et  presbiteratus  ordinibus 
constituios,  sub  excommunicationis  ac  pecuniariis  poenis,  tuo  arbitrio  im- 
ponendis  et  moderandis,  et  per  ministros  luos  exigendis,  moneas,  quati- 
nus  in  aliquo  ex  diclis  Siluis  et  alus  locis  probibilis,  sine  ipsius  .Regís 
expressa  licentia,  venari,  aut  per  illa  cum  canibus  vel  accípitríbus,  seu 
falconibus,  aut  alio  venatorio  apparatu  vagari  presumant :  In  conlrarium 
non  obstantibus  quibuscumque. 

*  Abch.  Nac,  Mac.  22  de  Bullas,  n."  51. 


HELACÜES  GOM  A  CURIA  HOMANA  27 

Datnm  Romae  apud  Sanctum  Pelriim  '  sub  Annulo  piscaloris  Die 
MI  Septembris  mdxix  Ponlificalus  nosíri  '  anno  Séptimo  \  —  Euange- 
lista  ', 


Breve  do  Papa  Ijeáo  IL,  dirigido  a  el-Rei. 


1530— Abril  3. 


Leo  papa  x  Charissime  ¡n  chrislo  Pili  noster  salutem,  et  apostolicaní 
benediclionem. 

Dudum  pro  parte  lúa  nobis  expósito  quod  licet  de  antiqíia  el  appro- 
bala,  et  tanto  tempore  de  cuius  inilio  memoria  hominum  non  exist^ebat, 
obsernata  consuetudine  in  Regno  Portugaliae  certi  Regii  OíBciales,  Com- 
putalores  resíduorum  nuncupati,  per  singulas  Proiiincias  pro  tempore  de- 
putati,  vná  cum  Archiepiscoporum  et  Episcoporum  Prouinciarum  eariin- 
dem  respectiue  Vicariis  in  spiritualibus  generalibiis,  ad  heredibus  uel  exe- 
quiitoribus  Teslatonim  in  dictis  Prouinciis  pro  tempore  defunclorum,  posl 
Anniim  et  diem,  quo  ipsi  Testatores  decessissent,  et  non  antea,  super 
Testamentorum  et  ultimarum  iioluntatum  dictorum  Testantium  execulione 
el  implemento  rationem  el  computum  exigere,  et  super  acceptis  rationi- 
bus  quietantias  siue  diífiniliones  oportunas  conficere,  soliti  fueranl,  et  ex 
huiusmodi  laudabili  consuetudine  successerat  ut  omni  fraude  cessante  ho- 
nesta et  pia  testantium  desideria  debito  non  caruissenl  efíeclu  ;  Nihilomi- 
nus  ab  aliquo  tune  tempore  cilra  nonnulli  dictorum  vicariorum  prefatis 
Kegiis  Officialibus  in  aliquo  non  uocatis,  solitum  tempus  preuenientes, 

'  Arch.  Nac,  Mac.  22  de  Bullas,  n,"  20.  Estf  breve  parece  ter  servido  de  norma 
para  outro  dirigido  a  D.  Joño  ///,  ou  ter  continuado  a  vigorar  com  as  alteragoes  que 
n'ellc  se  notam.  Estas  alteraQoes  consistem  em  estarem  sublinhadas  as  palavras  que  pomos 
em  itálico  e  substituidas,  ora  por  baixo  ora  por  cima  da  linha,  pelas  seguintes : 

'  Joannes. 

^  Apenas  sublinhado. 

^  Joannes. 

*  Cesaraguste. 

'"  XXII  Maii  MDXxii  suscépti  a  nobis  apostolatus. 

^  Primo; 

\  * 


28  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

compula  el  rationes  ab  heredibus  et  Testamentariis  execuloribusexigere  et 
eis,  non  sine  ipsorum  infamia,  el  quod  cum  illis  fraudem  aliquam  ma- 
chinarenlur  suspilione  quietanlias  el  diíTiniliones  tradere  presumpserarít 
el  tune  presumebanl,  ex  quo  in  populis,  qui  rem  geri  aliler  quara  fuerat 
anliquis   temporibus  consuelum    conspiciebnnl,   scandalum   generabalur, 
quod  profeclo  cessarel  el  clericorum  famae  et  honori  magis  irelur  con- 
sullum  si  dicta  uetus  et  laudabilis  consuetudo  in  suo  prislino  robore  per- 
maneret.  Nos  tune,  luis  in  ea  parte  supplicationibus  inclinali,  vniuersis 
et  singulis  Archiepiscoporum  et  Episcoporum  dicli  Regni,  Yicariis  et  Mi- 
nislris,  ac  quibusuis  alus  personis  per  eosdem  ordinarios  depulatis  et  de- 
putandis,  ne  ex  tune  de  caetero  in  perpeluum  ante  diclorum  anni  el  diei 
lapsum,  nisi  legitima  causa  subessol,  el  ñeque  etiam  tune  sine  diclis  Re- 
giis  Officialibus  uel  eorum  aliquo  abhuiusmodi  ralionum  exactionem,  etiam 
uolenlibus  seu  requirenlibus,  eisdem  executoribus  procederé,  ñeque  eos- 
dem Exequutores  proplerea  ad  iudicium  euocari,  nullasque  cuiquam  de- 
super  quietantias  tradere  sine  diclorum  Regiorum  OíTicialium  consensu, 
de  quibus  rogari  deberel  publicus  Nolarius  regia  aulhorilate  creatus,  quo- 
quomodo  presumerenl,  sub  excommunicationis  lalae  sententiae  poena,  a 
qua  non  nisi  per  Romanum  Pontificem,  prelerquam  in  mortis  articulo, 
absolui  possent,  districtius  inhibuimus,  et  exactionem  et  reddilionem  com- 
pulorum  huiusmodi  aliler  de  caetero  habendas  et  quietantias  seu  diffini- 
liones  aliler  desuper  faciendas  nullius  existere  firmitatis,  licerelque  in  ca- 
sibus  in  quibus  contra  inhibitionem.  huiusmodi  uenire  contingerel  diclis 
Regüs  Officialibus  absque  Vicariorum  et  Minislrorum  prediclorum,  ea  uice 
lanlum,  presentía  uel  assensu  compula  pelere  et  reddenles  quietare  de- 
creuimus  et  declarauimus,  proul  in  noslris  inde  sub  plumbo  confeclis  lit- 
teris  plenius  conlinelur.  Cum  autem,  sicul  exponi  nobis  nuper  fecisti, 
¡uxta  antiquam  consuetudinem  huiusmodi  dicli  Ordinarii  locorum  uel  eo- 
rum Vicarii  ac  Regii  Officiales  in  exequutione  predicla  el  cognitione  cau- 
sarum  et  litium  inde  pro  tempore  motarum,  si  dicli  Teslamentarii  Exe- 
quutores negligentes  sinl.  Non  simul  sed  seorsum  concurranl,  et  preuen- 
lioni  post  lemporis  a  iure  uel  leslalore  prefixi,  seu  per  Regem  Portuga- 
liae  pro  tempore  exislentem  ad  id  specialiler  assignati,  lapsum,  et  non 
antea,  etiam  per  citalionem  uel  modum  alium  ad  dictas  ultimas  uolunta- 
les  exequendas  locus  exislal,  ¡la  quod  Officialibus  Regüs  post  dicli  lem- 
poris lapsum  el  non  eo  cúrrente  preuenientibus  Ordinarii  uel  eorum  vi- 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  29 

carii,  et  e  contra  ipsis  ordinariis  uel  Vicariis  simililer  praeuenienlibus  Re- 
gü  Oííiciales,  se  de  execulione  uel  cogniüone  huiusmodi  ea  uice  inlro- 
millere  nullo  modo  possinl.  El,  quia  in  diclis  litteris  aliter  esl  narratum, 
dubilat  Majestas  tua  lilteras  ipsas  de  surreplionis  uilio  nolari,  et  minus 
útiles  reddi  posse  tempore  precedente  :  Nos  igitur,  ne  propferea  dictae 
litlerae  reddantur  inútiles,  prouidere  uolentes,  dictamque  consuetudinem 
pro  expressa  habentes,  tuisque  in  hac  parte  supplicationibus  inclinati,  au- 
thoritate  apostólica  tenore  presentium  quod  litterae  predictae,  cum  ómni- 
bus et  singulis  in  eis  contentis  clausulis  et  inde  sequula  quaecunque,  a 
Dala  presentium  ualeant,  plenamque  roboris  firmitatem  obtineant,  et  suf- 
fragentur  in  ómnibus  et  per  omnia,  perinde  ac  si  ||  illis  dicta  consue- 
tudo  uerius  enarrata  et  specificata,  ut  prefertur,  fuisset  decernimus  et 
declaramus.  Et  si  forsan  dicta  consuetudo  super  praeuentione  ante  dicti 
temporis  lapsum  non  facienda  non  uigeat,  easdem  Hileras  ad  hoc  ut  di- 
cti Ordinarii  siue  illorum  Vicarii  super  execulione  testamenlorum  huius- 
modi nihil,  nisi  post  temporis  huiusmodi  lapsum,  agere  possinl,  alias  per 
eos  pro  tempore  gesta  sint  nulla  extendimus  el  ampliamus.  Quo  circa  Ve- 
nerabili  fratri  Episcopo  Casertanensi,  et  dilectis  filiis  moderno,  et  pro  tem- 
pore exislenti  Capellano  maiori  Capellae  luae,  ac  Oííiciali  Vlixbonensi  per 
presentes  commilliraus  et  mandamüs  qualinus  ipsi,  uel  Dúo  aut  vnus  eo- 
rum,  per  se  uel  alium,  seu  alios,  presentes  Hileras  et  in  eis  contenta 
quaecunque,  vbi  el  quando  expedieril,  el  quoliens  pro  parle  dictorum  Re- 
giorum  Officialium,  aut  aliorum  quorum  intererit,  vel  alicuius  eorum, 
fuerint  requisiU,  soleraniter  publicantes,  cisque  in  praemissis  efficacis  de- 
fensionis  presidio  assistentes,  faciant  aulhorilate  nostra  eos  et  eorum  quem- 
libet  litteris  nostris  huiusmodi  ac  ómnibus  el  singulis  in  eis  contentis  pa- 
cifice  frui  el  gaudere,  non  permitientes  eos  aut  eorum  aliquem  per  quos- 
cunque  desuper  indebite  molestan.  Contradictores  quoslibet  et  rebelles, 
illisque  auxilium,  consilium,  uel  fauorem  quouis  quesilo  colore  prestan- 
tes, cuiuscunque  dignitaUs,  status,  gradus,  ordinis  et  praeeminenliae  sint, 
per  censuran!  ecclesiasticam  et  alias  eUam  pecuniarias  poenas  illorum  ar- 
bitrio imponendas,  aliaque  iuris  oportuna  remedia,  appellatione  postpo- 
sita,  compescendo,  Inuocato  eHam  ad  hoc  si  opus  fuerit  auxilio  brachii 
secularis :  Non  obslanHbus  praemissis,  ac  felicis  recordationis  BonifaHi 
pape  Mil  predecessoris  nostri,  qua  cauetur  ne  quis  extra  suam  Ciuitalem 
el  Diocesem,  nisi  in  certis  exceptis  casibus,  et  in  illis  ultra  unam  dietam^ 


30  COUPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

a  lino  sue  Diócesis  ad  indiciiim  euocelur,  Seu  ne  Judices  a  Sede  apostó- 
lica deputali  extra  Ciuitalem  el  Diocesem,  in  quibus  depiilati  fuerint,  con 
tra  quoscunque  procederé,  aul  alii  vei  alus  uices  suas  commitlere  presii- 
maní,  et  de  duabus  dielis  in  concilio  generali  edilis  el  alus  consfilulioni-  * 
bus  aposloHcis,  ac  ómnibus  illis  quae  in  dielis  lilteris  uoluimus  non  ob- 
stare, caplerisque  contariis  quibuscunque. 

Datum  Romae  apud  Sanclura  Petrum  sub  Annulo  piscatoris  Die'xiii 
Aprilis  MDxx,  Ponlificatus  noslri  anuo  oclauo. — Graiia  dei  ^ 


Carta  fft  O.  ¡ilig;uel  da  iiilva  a  el-Rei. 


1520  —  Agosto  29. 


Senhor.  —  Ñas  cousas  do  turco,  sobre  que  o  papa  lornou  a  escre- 
uer  outra  vez  e  Vossa  Alteza  a  responder  Ihe,  já  do  lempo  que  Receby 
as  cartas  de  mayo  tynha  dito  a  sua  sanlidade  ludo  o  que  mandou  que 
se  Ihe  dissesse,  e  enlao  foy  lam  contente  com  a  reposta  de  Vossa  Alteza 
que  loguo  escreueo  a  Rhodes,  e  mandou  o  Ireslado  de  sua  carta  ao  grao 
mestre ;  e  aguora  o  foy  o  dobro  cora  estas  cartas,  e  a  lodo  ho  mundo 
apregoa  esta  uossa  uonlade  e  verdade,  do  que  certo,  senhor,  deueys  de 
ter  conlenlamento,  porque  como  se  fala  neslas  cousas,  ou  outras  seme- 
Ihantes,  loguo  soys  no  campo  por  exempro.  Ho  papa  soube  haa  dias  da 
armada  que,  senhor,  mandastes  ao  eslreyto,  e  ouue  a  por  lam  sua  pera 
as  cousas  de  Rhodes  como  se  pera  ysso  tora  feyla,  e  de  lodo  está  salis- 
feyto  e  manda  a  Vossa  Alteza  duas  mil  gracas  e  duas  mil  bencóes,  as 
quaes  diz  que  tem  por  certo  que  uos  abrangem  por  sayrem  de  coracam 
e  vos  as  merecerdes,  e  a  causa  porque  se  uos  mandam  ser  lam  sánela  e 
tan»  justa. 

Huum  dia  d  esles^  falando  na  materia  dos  collegios,  e  poendo  sua 
sanlidade  boca  em  grande  composicao,  eu  Ihe  disse  que  as  composicoes 
que  sua  Sanlidade  hauia  de  querer  eram  quando  compria  haa  christan- 

'  Abch,  NAC.Mac.  22  de  Bullns,  n  "  15. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  31 

dade  e  a  esta  sánela  sé  apostólica  achar  esta  uonlade  e  obra,  que  aguora, 
senhor,  conhecera  eni  vos,  e  que  desta  maneyra  os  mil  ducados  assy 
reiideriam  ñas  grandes  necessidades  armadas.  Disse  ysto  por  ser  assy,  e 
por  \er  se  com  estas  palauras  llie  podera  homem  fazer  que  facaní  o  que 
deuem  ;  mas  esta  gente  quer  mays  mil  ducados  na  míío  que  guanar  vna 
ciudad. 

Ha  armada  do  turco  Yyeram  despoys  cartas  que  fóra  somente  por 
medo  da  fama  que  y  á  d  estoulra  delRey  de  Romaos,  que  foy  sobre  a 
¡Iha  dos  gelbes,  e  que,  como  os  nauios  foram  feilos  de  pressa,  e  de  ma- 
deyra  lalhada  sem  sazao,  tanto,  que  vyram  o  sol  que  a  mayor  parte  d  el- 
les  abriram,  nem  seruiram  a  nauegar :  com  ysto,  e  com  saber  as  nouas 
certas  de  qua,  o  turco  desarmou,  e  assy  está  tudo  seguro  por  esie  anno ; 
mas  o  wal  he  que  estas  se^urancas  farám  que  nam  se  guardará  homem 
de  perigo,  e  que  mais  nam  seja  que  poder  esperar  outro  tal  rebate  cadano 
he  assaz  pena  e  assaz  vergonha.  Assy  o  disse  ao  papa  pedindo  Ihe  de  parte 
de  Vossa  Alteza  por  merce  que,  pois  seu  officio  era  este,  quisesse  olhar 
huum  pouco  melhor  sobrysío  :  assy  o  promelte  e  praza  a  deus  que  assy 
o  faca. 

Serem  os  gelbes  lomados  por  dom  ügo  de  moneada  com  partido  que 
paguam  ao  emperador  tudo  o  que  paguauam  a  huum  senhor  que  lynham, 
e  a  armada  ja  tornada  a  Sicilia,  creo  que  seja  cousa  muy  velha,  e  aynda 
que  o  nam  seja,  nella  nam  ha  mays  que  escreuer  que  ysto  que  diguo. 

Hos  dias  passados  vinte  fustas  de  turcos  deram  sobre  pucol  a  par 
de  Ñapóles,  e  tomaram  mays  de  300  almas  sem  Irabalho. 

No  ducado  de  miláo  e  genoua  ha  y  grandes  apercebimenlos,  e  se 
affirma  que  El  Rey  de  franca  vem  este  anno.  Venha  ou  faca  por  demos- 
tracam  ludo  he  sospeyta  da  uynda  delRey  de  Romaos. 

Ja  escreuy  como  elRey  de  Romaos  se  uio  em  Ingraterra  com  ElRey 
de  Ingraterra,  quando  passou  d  espanha  a  frondes:  naqucUas  uistas  nom 
ouue  grande  cousa  nenhuuma  de  festas  pera  escreuer,  somente  grande  sinal 
d  alegría  em  El  Rey  de  Ingraterra,  e  grande  confianca  do  emperador  nelle 
que  com  quatorze  comsigo  se  saio  da  nao  em  que  ya,  e  se  raeleo  em  Ierra 
de  ingreses,  e  trazendo  Ihe  as  chaues  de  dobra,  que  assy  se  chama  onde 
desembarcou,  elle  as  nam  quis,  e  disse  que  o  seu  e  o  em  que  entáo  es- 
taña lodo  era  huum  mesmo  reyno  delRey  seu  tyo.  Ysto  foy  a  x.xvi  de 
mayo  :  o  dia  seguinte  foi  com  elRey  de  ingraterra,  o  qual  veyo  aly  ter 

• 


32  COKPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

duas  horas  passadas  de  mea  noyle  a  uisitar  o  corpo  de  sam  Ihomas  em 
conlurberj  :  ysto  foy  domingo  de  pascoa  do  spirito  sancto.  Em  conlurberj 
esleiieram  ambos  em  feslas  e  prazeres  ordinarios  de  músicas  e  baylos  e 
dancas  ale  a  terca  feyra,  e  ha  terca  feyra  polla  menhaa  com  bom  vento 
se  partyrom  ambos,  elRey  de  Romanos  pera  fradeso,  EIRey  de  ingraterra 
pera  Cales  haas  uistas  com  el  Rey  de  franca  ;  e  porque  Vossá  Alteza  me 
manda  que  Ihas  escreua  pollo  meudo  em  outra  o  faco  larguamenle. 

Acabadas  as  vistas  de  franca,  Ingraterra  (sicj  se  uio  acerca  de  ca- 
les com  o  emperador,  onde  nam  ouue  muytas  festas :  todo  o  tempo  se 
passou  em  praticas  secretas,  das  quays  o  que  se  sabe  he  que  EIRey  de 
Ingraterra  cometeo  o  emperador  pera  o  concordar  com  EIRey  de  franca, 
e  porque  esta  concordia  traz  sempre  consiguo  tres  capítulos  em  todos  tres 
Ihe  falou ;  estes  sam  a  reslituicíio  do  Reyno  de  nauarra,  a  pensam  do 
reyno  de  ñapóles  com  o  casamento,  a  renunciacao  do  direyto  de  milao. 
Ho  emperador  se  escusou  com  o  prometymento  que  tem  feylo  aos  eley- 
lores  de  nam  fazer  nada  ñas  cousas  de  Italia  sem  consentimento  delles  e 
conselho,  oulros  dizem  que  alem  disto  disse  que  quando  elle  teuesse  fa- 
lado  com  os  eleytores  cria  que  sem  reslituicao  de  borgonba  nam  se  po- 
derla fazer  nada.  Paz  antre  franca  e  ingraterra  se  diz,  mas  nam  se  sabe 
mays  que  o  que  se  presume  pollas  grandes  festas  que  se  fizeram  huum 
a  outro,  e  amor  que  se  mostraram  ñas  uistas,  mas  nam  se  ere  que  seja 
tudo  mays  que  demostracoes. 

Estas  mudancas  de  Castella  aprazem  a  quem  despraz  a  uynda  do 
emperador  a  Italia,  e  a  cheueres  dam  muy  maa  fama,  que  ludo  se  ve 
que  nace  de  seu  mao  gouerno  e  cobica  desmedida.  Aguora  se  diz  em  Roma 
que  o  emperador  moslra  muyto  descontentamento  de  cheueres,  oulros  di- 
zem que  he  preso,  mas  ha  sse  por  uaidade  do  pouo ;  he  porem  verdade 
que  madama  margarita  anda  por  uer  se  pode  concertar  este  mao  gouer- 
no que  sem  ysto  nam  pode  ser. 

Papa  e  francezes  parece  que  pralicam  vniam  ;  porem  eu  creo  que 
ludo  nam  será  nada  se  a  outra  parte  for  alguuma  cousa :  ayuda  nam  aca- 
bo de  entender  que  cousa  sam  estas  vnioes  el  hirmandades,  poys  dellas 
nam  nace  senao  guerra  e  mortes  de  christaos. 

Ho  duque  d  albania,  que  he  huum  senhor  d  escolia  que  pretende 
ler  direyto  ao  reyno,  e  está  em  franca  como  desterrado,  veyo  aguora  aquy 
e  deu  obediencia  por  el  Rey  d  escolia  :  deram  Ihe  assento  como  principe 


RELACÜES  COM  A  CUIÍIA  ROMANA  33 

abaxo  do  derradeyro  Cardeal  cm  consistorio,  ludo  procurado  por  ElRey 
de  franca  pera  con)  este  alguuma  hora  fazer  ceuraes  a  ingreses. 

O  primeyro  dia  d  agosto  naceo  huum  filho  a  ElRey  de  pollonia  desla 
molher  filha  da  duqueza  de  milaoin.  Veyo  aquy  a  noua  ern  xiii  dias : 
chama  sse  Casmiro  como  seu  auoo. 

Ho  papa  faz  aguora  cento  e  cynquoenla  ofíicios,  que  sam  na  bolsa 
cento  e  cynquoenla  mil  ducados  :  dizem  que  se  chamarán!  caualleyros  de 
sam  pedro :  fallos  pera  paguar  aynda  diuidas  da  guerra  d  urbino,  que 
nam  ha  quem  possa  crer  que  ainda  duram  as  necessidades  do  papa,  nem 
quem  Ihes  ache  caminho. 

Contra  aquelle  frade  de  alemanha  martym  Luther,  que  la  faz  lanías 
reuoltas,  fez  aguora  o  papa  huuma  bulla  de  que  se  elle  muyto  Ry,  se- 
gundo dizem  :  he  esta  huuma  cousa  que  lyra  o  somno  porque  lodo  aquelle 
pouo  pede  concilio  e  reformacao. 

,Bejo  as  maos  de  Vossa  Alteza,  cuja  uida  e  Real  estado  Nosso  senhor 
guarde  e  acrecenté  como  deseja. 

De  Roma  a  xxyiiii  d  agosto  1520.  — Dom  miguell  da  sylua  '. 


Bulla  do  Papa  lieáo  IL,  dirigida  ao  Cardeal 
Infante  D.  AfTonsio. 

1590— SetenAliro  14. 


Leo  episcopus  seruus  seruorum  dei  dilecto  filio  Alfonso  sánete  Lu- 
cie  in  Septem  soliis  Diácono  Cardinali  salutem  el  apostolicam  benediclio- 
nem. 

Romani  Pontificis  prouidencia  circunspecta  ecclesiis  el  Monasteriis 
singulis,  que  \acationis  incommoda  deplorare  noscuntur,  vt  gubernato- 
rum  Ytilium  fulciantur  presidio  prospicit  diligenter,  ac  personis  ecclesias- 
ticis,  presertim  Cardinalatus  honore  fungentibus,  "vt  in  suis  oportunitati- 
bus  aliquod  suscipiant  releuamen  prout  decens  est  et  congruum,  de  sub- 
uentionis  auxilio  prouidet  oportuno.  Sane  Monasterio  sancti  Johannis  de 

*  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  1,  Mac.  26,  Doc.  53. 
TOMO  II.  5 


B4  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

Tarouca  Cistcrciensis  ordinis,  Lamacensis  diócesis,  ciii  quondaii)  Johan- 
nes  Claro  ipsius  Monaslerii  Abbas  dum  \ivcrel  prccrat,  per  obilura  eius- 
dem  Johannis,  qui  extra  Romanam  Curiam  diem  clausit  exlremum,  va- 
cante, Nos  tam  dicto  Monasterio  de  gubernalore  vtili  el  y  doñeo  per  quem 
circunspecte  regí  et  salubriter  dirigí  \aleat,  qiiam  Ubi,  vi  statum  tuum 
iuxla  Cardinalatus  dignitatis  honorem  decentius  tencre,  et  onera  que  te 
iugiter  de  necessitate  subiré  oportet,  facilius  perfcrre  \aleas,  de  alicuius 
subuenlionis  auxilio  prouidere  ac  speciáiem  graliam  faceré  volentes,  Motu 
proprio,  non  ad  tuam  vel  allerius  pro  te  nobis  super  hoc  óblate  pelicio- 
nis  instanliam,  sed  de  nostra  mera  liberalilate,  Monasterium  prediclum, 
cuius  fructus,  redditus  et  prouentus  ad  Quadringentos  et  Nouem  llórenos 
auri  in  libris  Caniere  apostolice  taxati  reperiuntur,  siue  ut  premittitur, 
siue  adhuc  per  obitum  quondam  Aluari  de  freytas,  olim  ipsius  Monasle- 
rii Abbatis,  extra  dictam  Curiam  defuncti,  aut  aliaí  quouismodo,  quem 
etiam  si  ex  eo  queuis  generalis  reseruatio  etiam  in  corpore  iuris  clausa 
resultet  presentibus  pro  expresso  haberi  volumus,  aut  ex  alterius  cuius- 
cunque  persona,  seu  per  liberam  Johannis  aut  Aluari  huiusmodi  vel  cuius- 
uis  alterius  cessionem,  de  illius  regimine  et  adminislratione  in  dicta  Cu- 
ria ve!  extra  eam  etiam  coram  Notario  publico  el  teslibus  sponle  factam 
vacet,  etiam  si  tanto  tempore  vacauerit,  quod  eius  prouisio  iuxla  Late- 
ranensem  statuta  Coucilii  aut  alias  canónicas  sanctiones  ad  sodcm  apos- 
tolicam  legitime  deuoluta  existat,  el  ad  sedem  eandem  ex  quauis  causa 
spelialiler  perlineat,  ac  super  eisdem  regimine  el  adminislratione  infcr 
jiliquos  lis,  cuius  statum  presentibus  haberi  volumus  pro  expresso,  pen- 
deal  indecisa,  dummodo  tempore  dat.  presenlium  eidem  Monasterio  de  Ab- 
bate  prouisum  aut  illud  altcri  commendatum  canonice  non  existat,  cum 
ómnibus  iuribus  et  perlinenliis  suis  Ubi  per  te  quoaduexeris  etiam  vna 
cum  sánete  Lucie  in  Septem  soliis,  que  denominalio  tui  Cardinalatus  exis- 
tit,  omnibusque  el  singulis  aliis  ecclcsiis,  Monasleriis,  Prioratibus,  Pre- 
posituris,  Prepositatibus,  Canonicalibus  el  prebendis,  dignitalibus,  perso- 
natibus,  administrationibus  vel  oíficiis,  ceterisque  beneficiis  ecclesiasticis 
cum  cura  el  sino  cura  secularibus  el  predicli  seu  aliorum  quorumuis  or- 
dinum  regularibus,  que  in  lilulum  vel  commendam  siue  administratio- 
nem  aut  alias  obtines,  el  imposlerum  oblinebis,  ac  pcnsionibus  annuis, 
quas  super  quibusuis  fructibus,  reddilibus  et  prouenlibus  ecclesiasticis  libi 
assignatis  et  assignandis  percipis  el  percipies  in  íuturura,  lencndum,  re- 


RELAGOES  COM  A  CURIA  ROMANA  35 

gendum  el  gubernandum.  Ha  quod  liceat  libi  debitis  el  consuelis  dicli 
Monaslerii  sancli  Johannis  el  dilectorum  filiorum  Conuentus  eiusdem  sup- 
porlalis  oneribus,  ac  Quarta  si  Abbatialis  sepárala  seorsum  a  Conuen- 
luali  pro  sustentalione  fabrice,  seu  pro  ornamenlis,  veslibus,  paramentis 
emendis  ac  pauperum  alimonia  proul  maior  exegeril  ei  suaseril  necessi- 
tas,  si  vero  Mensa  communis  fueril  Terlia  parte  omnium  frucluum  dicli 
Monaslerii  sancli  Johannis  pro  supradiclis  oneribus  supporlandis  el  sus- 
lenlalione  Monachorum,  ómnibus  aiiis  deductis  oneribus,  Annis  singulis 
imparlila,  de  residuis  illius  fruclibus,  reddilibus  el  prouenlibus  dispo- 
nere  el  ordinare,  siculi  ipsius  Monaslerii  sancli  Johannis  Abbales,  qui  pro 
tempore  fuerunt,  de  illis  disponere  el  ordinare  potuerunl,  seu  eliam  de- 
buerunl,  Alienatione  lamen  quorumcumque  bonorum  immobilium  el  pre- 
tiosorum  mobilium  dicti  Monaslerii  sancli  Johannis  tibi  penilus  interdicta. 
Gum  Garissimus  in  chrislo  filius  nosler  Emanuel  Portugalie  el  Algarbio- 
rum  Rex  lllustris,  cui  alias  indultum  nominandi  personas  ecclesiaslicas 
ad  Monasleria  in  Regno  Portugalie  consistentia,  de  quorum  numero  di- 
clum  Monaslerium  sancli  Johannis  exislil,  pro  tempore  vacanlia  conces- 
sum  extilil,  le  ad  Monaslerium  ipsum  sancli  Johannis  sic  vacans  nobis 
indulli  huiusmodi  vigore  nominaueril,  aposlolica  auctoritale  commendamus, 
curam,  régimen  el  administrationem  ipsius  Monaslerii  sancli  Johannis  tibi 
in  spiritualibus  el  lemporalibus  plenarie  commillendo.  Quocirca  venera- 
bilibus  fralribus  nostris  Lamacensi  el  Tagaslensi  Episcopis  per  apostólica 
scripta  molu  simili  mandamus  qualinus  ipsi,  vel  eorum  alter  per  se,  vel 
alium  seu  alios,  libi  in  adipiscenda  possessione  vel  quasi  regiminis  el  ad- 
minislralionis,  ac  bonorum  dicli  Monaslerii  sancli  Johannis  seu  maioris 
parlis  eorundem  assistentes  fiíciant  auctoritale  noslra  libi  a  prefatis  Gon- 
uentu  obedienliam  el  reuerenliam  debitas  el  denotas,  nec  non  a  dilectis 
filiis  vasallis  el  subdilis  Monaslerii  sancli  Johannis  huiusmodi  consueta  ser- 
uicia  el  iura  ab  eis  libi  debita  integre  exhiberi,  Gonlradiclores  per  cen- 
suram  ecclesiasticam  appellatione  postposita  compescendo :  Non  obslanli- 
bus  felicis  recordalionis  Bonifacii  viii  predecessoris  noslri,  el  alus  Con- 
stilutionibus  el  ordinalionibus  apostolicis,  ac  Monaslerii  sancti  Johannis 
el  ordinis  predictorum  iuramento,  confirmalione  aposlolica,  vel  quauis  fir- 
mitate  alia  roboralis  slalulis  el  consueludinibus,  priuilegiis  quoque  el  in- 
dullis  apostolicis  ordini  Cislerliensi  huiusmodi  per  sedem  prediclam  con- 
cessis,  confirmalis  el  innoualis,  lilis  preserlim  quibus  inler  alia  caueri 

5  * 


36  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

dicilur  expresse  quod  sancti  Johannis  prediclum  el  alia  Monasteria  dicti 
ordinis  nullis,  eliam  sánete  Romane  ecclesie  Gardinalibus,  nisi  de  con- 
sensu  dileclorum  filiorum  Diffinitorum  Capituli  generalis  eiusdem  ordinis 
et  Consislorialiter,  ac  alias  sub  cerlis  modo  el  forma  inibi  expressis,  com- 
raendari  possint,  el  alias  de  illis  eliam  per  sedem  eandem  pro  tempore 
facle  commende  nullius  sinl  roboris  vel  momenti,  quibus  eliam  si  ad  illo- 
rum  derogalionem  de  illis  eorumque  tolis  lenoribus  specialis,  specifica, 
expressa,  indiuidua,  ac  de  \erbo  ad  verbum  non  autem  per  generales  clau- 
sulas Ídem  importantes,  raentio,  seu  queuis  alia  expressio  habenda,  aut 
aliqua  alia  exquisita  forma  seruanda  essel,  illorum  tenores  presenlibus  pro 
sufficienter  expressis  et  inserlis  habentes,  illis  alias  in  suo  robore  perman- 
suris,  hac  vice  dumtaxat  spelialiter  et  expresse  derogamus  conlrariis  qui- 
buscunque.  Aut  si  Conuentui  Vassallis  el  subditis  prefatis,  vel  quibusuis 
alus  communiter  vel  diuisim,  ab  eadem  sit  sede  indultum  quod  interdici, 
suspendí  vel  excommunicari  non  possint  per  Hileras  apostólicas  non  fa- 
cienles  plenam  et  expressam,  ac  de  verbo  ad  verbura,  de  indulto  huius- 
modi  raenlionem.  Volumus  autem  quod  propler  commendam  huiusmodi 
diclum  Monaslerium  sancti  Johannis  in  spiritualibus  el  lemporalibus  non 
ledatur,  sed  eius  et  Gonuenlus  predictorum  congrue  supportenlur  onera 
anledicla.  Et  insuper  ex  nunc  irritum  decernimus  el  inane  si  secus  su- 
per  hiis  a  quoquam  quauis  aucloritate  scienter  vel  ignoranler  contigerit 
attemplari. 

Dalum  Rome  apud  Sanctum  petrum  Anno  Incarnalionis  dominice 
Millesimo  quingentésimo  uicesimo,  Décimo  octauo  kalendas  Octobris,  Pon- 
lificalus  nostri  Anno  Octano  '. 


'  A«CH.  Nac,  Mag.  29  de  Bullas,  n.°  23. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  37 


Carta  de  el-Rei  a  O.  Ilifiruel  da  iiilva. 


1590 — Dezembro  1. 


Dom  miguel  amigo  nos  elRey  vos  enviamos  muyto  saudar. 

Porque  o  mosteiro  nouo  das  freirás  de  samla  erara  d  estremoz,  que 
mandamos  na  dita  villa  fazer,  he  de  lodo  acabado  pera  se  nelle  recolhe- 
rem  as  freirás  do  mosteiro  velho,e  as  outras  que  nelle  ham  de  emtrar, 
Folgaryamos  muyto  de  concludirdes  e  acabardes  a  sopricacam  da  refor- 
macam  do  mosteiro  dos  frades  da  dita  villa,  porque  sem  yso  nam  ficarya 
aqueta  casa  como  comvem  a  seruico  de  noso  senhor  e  bem  déla  e  noso 
contentamento.  Porem  vos  encomendamos  muyto  que  trabalhés  por  logo 
o  concludir  e  acabar,  e  nos  emviardes  cora  os  primeiros  Recados  o  des- 
pacho diso. 

Tambera  vos  lembramos  a  espidicam  sobre  que  vos  temos  sprito  pera 
do  mosteiro  d  allcobaca  serem  vesytadas  pellos  padres,  que  ha  yso  nelle 
forera  ordenados,  todas  as  outras  casas  da  dita  hordem  destes  Reynos, 
segundo  que  largamente  vos  temos  sprito,  porque  o  avemos  por  cousa  de 
multo  seruico  de  deus  e  bem  da  dita  ordem  ;  e  muyto  vos  encomendamos 
que  trabalhees  cora  todo  cuidado  de  o  mais  era  breve  que  poderdes  o  aca- 
bar e  nos  emviar  diso  recado. 

E  asy  de  todas  outras  expidicoes  que  aínda  teuerdes  por  expidir  e 
acabar,  e  a  todas  nos  responderdes  o  que  nellas  tendes  feito  e  esperaes 
que  se  faca,  e  como  dizeembs  cora  os  primeiros  Recados  nos  spreuerdes 
o  que  era  cada  huuraa  tendes  feyto  ou  esperaes  que  se  faca. 

Itera.  Pera  o  filho  delRey  de  raanicongo  na  expidicara  das  letras  de 
seu  bispado,  que  he  de  vtreensy,  ñora  veeo  bulla  de  dispensacam  de  sua 
idade,  A  qual  convera  que  nos  emviees  na  forma  que  deue  ser  pera  po- 
der fazer  todos  os  oficios  como  hispo,  o  quall  ja  tera  caratada  misa  nova  e 
estaa  muy  boom  latyno  e  rauyto  ensynado  ñas  cousas  da  igreja,  e  que- 
ryamos  que  fose  fazer  fruyto  aos  Reyíios  de  seu  pay,  o  qual  cora  rauita 
ynstancia  nolo  tem  eraviado  pedir  por  ser  ja  velho  e  desejar  de  ho  ver 
frutificar  era  seus  dias  na  christandade.  Por  yso  vos  enconiendaraos  muyto 


38  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

que  logo  nos  enviés  bulla  da  dila  dispensacam  de  sua  idade  com  todas 
clausulas  necesarias,  e  folgaremos  de  vyr  com  os  primeiros  Recados  que 
nos  enviardes.  Sprita ' 

Carta  de  el-Rei  ao  Papa  Ijeao  H, 

15;eO — Dezembro  1. 


Muito  santo  in  christo  padre  e  muito  bem  avemlurado  senhor,  o  voso 
denoto  e  obediente  filho  dom  manuell  per  graca  de  deus  Rey  de  portu- 
gall  e  dos  allgarues  d  aaquem  e  d  allera  maar  em  áfrica,  senhor  de  guiñe, 
e  da  conquista,  navegacam  e  comercio  de  etiopia,  arabia,  persya  e  da 
india,  com  toda  omilldade  emvio  bejar  seus  santos  pees. 

Muyto  santo  yn  christo  padre  e  muito  bem  aventurado  senhor,  nos 
spreueemos  a  dom  miguell  da  sylua  do  noso  conselho  e  noso  embaixador 
allguumas  cousas  que  de  nossa  parte  soprique  e  falle  a  vosa  santidade, 
ñas  quaaes  esperamos  della  que  fo'lgue  de  nos  fazer  merce  como  sempre 
folgou  era  todas  nosas  cousas,  de  que  nos  somos  em  tam  verdadeiro  co- 
nhecimento  como  he  Rezam,  e  tambera  como  he  cousa  onesla  que  nos  o 
speramos  pella  contynuacam  com  que,  louuores  a  noso  senhor,  a  elle  e 
a  sua  santa  see  apostólica  e  a  vosa  santidade  seruimos  e  sempre  avemos 
de  seruir.  Sopricamos  e  pidiraos  por  merce  a  vosa  santidade  o  queyra 
ouuir  e  Ihe  dar  ynleira  fee  e  crenca,  e  com  aquela  booa  vontade  que  sem- 
pre nele  acharaos  fazer  o  que  Ihe  soprycamos,  e  em  muy  syngullar  Re- 
ceberemos  fsic)  de  vosa  santidade.  Muito  santo  yn  christo  padre ^ 


'  Rascunho  no  Arch.  Nac,  Carlas  ^pissivas,  Mac.  2  n.°  176.  No  verso  temaseguinte 
declarapao :  «Pera  dom  miguel.  Do  primeiro  de  dezembro  1520.» 

^  Minuta  sem  data  no  Aech.  Nac,  Cartas  Missívas,  Mac.  2  n."  101.  Tcm  no  verso 
a  cota  seguinte :  «Pera  dom  miguel.  Do  primeiro  dia  de  dezembro  1520.» 


RELACOES  COM  a  curia  romana  39 


Carta  cíe  el-Rei  para  D.  lli^iiel  cía  Sil^a, 
e  outra  para  Siia  üautlclade. 

15!31  — Marco  3. 


Dom  miguel  amigo,  nos  elRey  vos  envyamos  muilo  saiidar. 

Vimos  a  carta  que  nos  spreuestes  em  cifra,  feita  a  xxxi  de  Janeiro 
passado,  sobre  o  que  pasastes  com  o  papa  sobre  o  negocio  nella  contyu- 
do,  6  muyto  vos  gradecemos  lam  boom  cuidado  como  leuesles  de  cousa 
que  lamto  Rellena  a  nosso  seruico,  e  nos  desla  callidade  sempre  veemos 
que  tall  ho  lemdes,  e  o  que  niso  fezesles  aveemos  por  muy  beem  fcilo  e 
foy  como  compria  a  noso  seruico,  e  nos  spreueemos  ao  santo  padre  Re- 
merceando  Ihe  o  amor  e  booa  vontade  que  pera  aproueitar  no  negocio 
vos  mostrou.  Dai  Ihe  nosa  carta  e  com  ella,  allem  do  que  por  ella  íhe 
spreueemos,  Ihe  dizee  que  bejamos  os  santos  pees  de  sua  santidade  por  sem- 
pre nelle  acharmos  tamto  desejo  de  nos  fazer  mercee,  ao  qual  sempre 
comresponde  com  obras  e  merces  que  cada  dia  delle  Recebemos,  as  quaes 
segundo  a  obrigacam  em  que  por  ellas  Ihe  somos,  e  por  o  amor  e  booa 
vontade  que  pera  lodo  o  de  seu  seruico  leemos,  esperamos  cm  noso  se- 
nhor  que  nos  leixará  seruir  como  nos  desejamos ;  E  que  nesta  agora  Ihe 
pedimos  que  folgue  de  Irabalhar  e  poer  toda  sua  posybilidade  com  ho 
emperador  pera  aver  efeyto  o  que  Ihe  temdes  fallado,  que  por  todas  as 
Rezoes  que  ha  parece  que  cayria  milhor  em  méu  filho  do  que  em  oulro 
nymguem,  e  que  pella  ventura  seria  bem  pera  todas  as  cousas  do  tempo 
d  agora,  com  todas  as  outras  mais  Rezoes  que  vos  viirdes,  que  avemos 
por  cerlo  que  muy  bem  Ihe  saberes  apresentar. 

E  amtes  de  termos  ávida  esta  vosa  carta  nos  vos  tynhamos  sprilo 
sobre  esta  materia,  encomendando  uos  que  tornaseys  ao  negocio  della- 
como  da  primeira  vez  e  asy  como  de  voso,  e  largamente  vos  spreuemos 
sobre  yso,  e  a  conclusam  era  que  trabalhaseis  com  sua  santidade  que  tra- 
balhase  com  o  emperador  de  isto  viir  ao  cardeall  meu  filho,  e  oferece- 
seys  que  a  cámara  de  sua  santidade  serya  seruida  asy  como  era  Rezam 
que  pgr  cousa  semelhanle  se  fozese,  e  que  tomaseys  por  terceiro  ao  car- 


40  CORPO  DIPLOMÁTICO  POUTUGÜEZ 

deall  (le  medices  c  Ihe  fezeseys  o  mesmo  oferecimento.  Trabalhay  neste 
negocio  como  em  cousa  eni  que  lanío  seruico  nos  farés,  e  como  vedes 
nom  pode  nenhuQia  ser  em  nenhum  lempo  das  desla  calidade  mais  prin- 
cipal!, e  por  ysso  poende  niso  aquela  diligencia  e  cuidado  que  de  vos  es- 
peramos, que  ho  amor  e  vonlade  pera  nos  seruirdes  cerlo  somos  que  ha 
tendes  pera  aproueylar  e  nos  seruirdes  em  cousas  muilo  raaiores.  E  do 
que  achardes  e  fezerdes  nos  avisay,  e,  como  por  a  oulra  caria  vos  sprc- 
uyamos,  s  yslo  se  ha  de  negociar  pelo  papa  com  o  emperador  como  cousa 
pera  que  elle  de  seu  molo  se  moue,  aveiido  a  por  de  muyto  seruico  de 
Deus  e  seu  e  de  muyto  seu  conlentamenlo  e  prazer,  e  a  dilacam  do  pro- 
vymenlo  pode  muyto  aproueitar  ao  fim  de  noso  desejo  como  vos  spre- 
uyamos.  E  ás  outras  cartas  que  vieram  com  esta  vos  Respondemos  por 
oulra.  Sprila 

Muilo  santo  yn  chrislo  padre  e  muito  bem  aventurado  senhor.  O 
voso  deuoto  e  obidiente  filho  dom  manuel  etc.  com  toda  omildade  emvio 
bejar  seus  santos  pees. 

Muyto  santo  yn  chrislo  padre  e  muyto  bem  aveenlurado  senhor.  Dom 
miguell  da  sylua  do  meu  conselho  e  meu  embaixador  me  spreueo  que 
fallara  a  vosa  santidade,  movido  da  obrigacam  e  cuidado  que  elle  deue 
ter  das  cousas  de  meu  seruico,  sobre  a  vagante  do  arcebispado  dé  tol- 
ledo,  E  que  achara  em  sua  ^  santidade  pera  follgar  d  aproueilar  naquella 
parle  que  me  tocaua  aquele  amor  e  booa  vontade,  que  sempre  com  mer- 
ccs  tenho  achado  e  acho,  pelo  que  Ihe  beijo  seus  santos  pees  e  o  Recebo 
em  tam  syngullar  merece  como  ella  he,  e  que  as  merces  que  de  vosa  san- 
tidade tenho  recebidas  sejam  soficienles  pera  nunca  (?)  acabar  de  as  ser- 
uir :  o  trabalho  que  nesla  negociacam  agora  Receber  Ihe  peco  muito  por 
merce  que  aja  por  bem  tomado  pois  se  emprega  sobre  mym  e  sobre  cousa 
tanto  minha  que  quantas  mais  cousas  teuermos  com  que  Ihe  seruir,  lam- 
ias deue  muyto  folgar  de  termos,  pois  cora  todas  e  com  as  pessoas  e  es- 
tado Ihe  aveemos  de  seruir  com  muy  verdadeiro  amor  e  espiciall  von- 
tade, allem  da  obrigacam  gerall  que  lodos  temos,  e  soprico  e  peco  muito 


'  Está  viseada  a  palavra  vossa  e  substituida  por  sua.  Parece  que  esta  tninuta  serviu 
tamhem  para  escrever  a  algum  cardeal,  talvez  ao  de  Medices,  a  quem  se  allude  na  pri- 
meira  carta. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  41 

por  merce  a  sua  santidade  que  nesle  negocio  Irabalhe  como  em  cousa 
propria  sua,  pois  nom  pode  teer  nem  lem  nenhuuma  mais  propiia  que  a 
mym  e  as  minhas. 

Muito  santo  yn  chrislo  padre  ele.  K 


Breve  do  Papa  I^eao  X;  dirig^ido  a  el-Rei. 


1591— Abril  su. 


Leo  papa  x  Charissime  in  christo  fili  nosler  salulem  el  aposlolicam 
benediclionem. 

Preclara  deuolionis  tuae,  qua  nos  el  hanc  sanclam  aposlolicam  sc- 
dem  reuereris,  merita  promerentur  ut  pelitionibus  luis,  illis  praeserlim 
quae  Regiae  Celsiludinis  luae  slalus  augmentum  el  conserualionem,  ac 
orlhodoxe  catholicae  fidei  propagalionem  concernere  prospicimus,  fauora- 
bililer  annuamus.  Sane  nobis  nuper  exponi  fecisti  quod  cura  rerum  com- 
mercia  et  mercimonia,  quae  in  parlibus  Indiae  alque  Elhiopiae  pro  Ma- 
iestate  lúa  cum  genlibus  et  populis  illarum  parlium  perlraclanlur,  máxi- 
mum imporlanlissimumque  pondus  suslincant,  el  quanlo  magis  parles  illae 
a  finibus  Europae  distare  noscuntur,  tanto  plus  fidelitatis  et  legalitalis  in- 
tegrilatisque  circa  personarum  inibi  agentium  conlraclalionem  requiri  de- 
beat  et  licet ;  proplerea  serenilas  lúa  cupiens  fraudibus  et  dolis,  quae  in 
praemissis  coraerciis  ac  negociationibus  el  parlicipalionibus  hinc  inde  fieri 
possent,  obuiare,  ac  felici  statui  luo  et  tuae  genlis  opporlune  consulere, 
animoque  gereris  praedicta  commercia  ad  Dei  laudem  et  catholice  fidei 
propagalionem  in  tam  remotis  el  longinquis  parlibus  et  barbarorum  na- 
tionibus  continuare  et  augmentum  suscipere,  quamplura  leges,  pragmá- 
ticas, sanctiones,  ordinationes  et  slatuta  per  dictes  agentes  et  subditos  tuos, 
aliosque  contraclores  et  negociorum  et  mercimoniorum  commerliorumque 


*  RascunJios  sem  data  no  Arch,  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  27,  Doc.  76. 
Ñas  costas  d'este  documento  está  a  cota  seguintc :  «Pera  dom  miguel — a  ni  dias  de  marco 
lo21  —  Sobre  lolledo.» 

TOMO  II.  6 


42  COUPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

huiusmodi  gestores  inuiolabilia  tencnda  ct  obscruanda,  ac  nuUo  pacto  pre- 
tereunda,  sub  certis  ciuilibus  et  criminalibus  poenis,  qiias  violatores  et 
transgressores  illarum  incurrerent,  fccerit,  ediderit  ac  promulgauerit,  Ni- 
hilominus  nonulle  personae,  pro  clericis  se  gerentes,  freti  immunitale  ac 
priuilegio  clericali  penas  legum  et  ordinationum  huiusmodi  paruipendcn- 
les,  illasque,  quibus  iuxta  canónicas  sanctiones  eos  minime  subesse  pre- 
tendunt  et  aíTirmant,  non  formidanles,  contra  eas  et  pragmáticas  sanctio- 
nes et  prohibitiones  per  Maiestatera  tuam  factas  huiusmodi  multotiens  ve- 
nire  ausi  fuerunt,  et  nisi  tales  transgressores  criminosi  et  delinquentes 
aliqua  poena  mulctentur  plectenturque  occasione  transgressionum  et  ex- 
cessuum  suorum  in  partibus  illis  scandala  iurgia  et  differentias  Ínter  agen- 
tes praedictos  quamplurima  in  non  modicum  tui  et  tuorum  Regnorum  de- 
trimentum  in  dies  suscitarentur.  Quare.nobis  humiliter  suppiicari  fecisti 
ut  luo  luorunique  Regnorum  statui  et  tranquillitali  consulere  ac  scanda- 
lis,  iurgiis  et  diíFerentiis  huiusmodi  obuiare,  aliasque  tibi  in  pracmissis 
oportune  prouidere  de  benignitate  apostólica  dignaremur.  Nos  igitur,  at- 
tendentes  quod  quanto  maioribus  dispendiis,  laboribus  et  fastigiis  a  chris- 
tianis  et  cathoücis  principibus  regna,  dominia  et  prouinciae  pnganorum 
eorum  dictioni  sunt  subiecta,  tanto  illa  legibus,  sanctionibusque  Regum, 
quorum  auspiciis  sunt  acquisita,  ad  Dei  laudem  et  calholice  fidei  exalta- 
tionom,  fulciri  et  tueri  necesse  est,  huiusmodi  supplicationibus  inclinali, 
serenitati  luacT,  ul  venerabilis  frater  Episcopus  Lamacensis  modernus,  ac 
pro  tempore  existens  Capellanus  maior  tuae  Capeliae  Regiae,  quoscunquc 
clericos  in  minoribus  ordinibus  duntaxat  constituios,  non  tamen  beneficia 
ccclesiastica  obtinentes,  quos  constilutiones  et  ordinationes  ac  sanctiones 
tuas,  quas  (ut  prefertur)  edidisti,  et  ad  commertiorum  et  contractionum 
huiusmodi  conseruationem  et  ampliationem  edideris  et  promulgaueris  in 
futurum,  dummodo  licite  et  honeste  fuerint,  et  sacris  canonibus  non  sint 
contrarié,  conlrauenire  compertum  fuerit,  legum  constitutionum  et  san- 
clionum  huiusmodi  poenis  ciuilibus,  non  tamen  criminalibus,  ac  citra 
sanguinis  eíFusionem  aut  membri  mutilalionem,  plectere,  muiclare,  puniré 
et  castigare,  in  personis  et  bonis  immunitate  et  priuilegio  clericali,  qui- 
bus tales  transgressores  et  delinquentes  vti  posse  minime  volumus,  li- 
bere el  licite  possit  ct  valeat,  plenam  et  liberam  auctorilate  apostólica  Ic- 
nore  presenlium  licenciam  concedimus  et  facultatem  :  Non  obslanlibus 
praemissis  ac  conslitutionibus  et  ordinationibus  apostolicis,  caeterisque 


KELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  43 

contrariis  quibusctinque,  Prescnlibus  ad  vilam  Maieslatis  tuae  duntaxat 
dnraluris. 

Daliim  Romae  apud  sanclum  pelrum,  sub  Annulo  Piscaloris,  die 
xxYii  Aprilis  MDXXi,  Ponlificalus  noslri  anno  Nono.  —  Euangelisía  \ 


KreTe  do  Papa  I^eao  IL,  dirigiilo  a  cl-Rci. 

15S1 — AgO!»to  13. 


Leo  papa  x  carissime  in  christo  fili  noster  salutem  ct  aposlob'cam 
benediclionem. 

Esl  luae  serenilali  probé  notum  qiiae  sit  inler  nos,  sánela  sede-  apos- 
tólica adiuncta,  ei  carissimurn  in  christo  filium  nostrum  Carolum  elecluní 
emperalorem  seniper  auguslum  facía  coniunclio  foederis,  societalis,  ami- 
ciciae,  in  chrislianae  quidem  reipublicae  ac  sedis  aposloücae  sahitem  in 
perpeluum,  Nunc  antera  hoc  ipso  tempore  aduersus  Franciscum  regem 
francorum,  cuius  quolidianas  iniurías,  hoslilemque  plenam  insolentiae  uo- 
lunlatem,  nec  sedes  apostólica  amplius  ferré,  neo  Caesaris  dignilas  pati 
potuit  nec  debuit,  Cum  ab  altera  iandudum  omne  decus  ac  liberlalem, 
postremo  etiam  urbes  et  oppida  abripere,  Alterum  quo  magis  publico  ac 
priuatim  christianorum  paci,  foris  bello  aduersus  fidei  hosles  intentum  ui- 
debat,  hoc  magis  inopinatis  armis  et  fraudibus  in  omni  suo  slalu  pertur- 
bare conaretur.  Quam  coniunctionem  etiam  arbitraraur  serenitatem  tuam 
existimare  maximis  et  necessariis  de  causis  esse  faclam  ab  utroque  nos- 
trum, qui  Ubi  quidem  satis  cognili  sumus,  Nos  ut  pacis  im  primis  aman- 
tissimi,  et  tranquillitatis  studiosissimi,  Caesar  ut  óptimo  ingenio,  milissima 
natura,  summa  in  deum  pietate  ac  religione,  el  quidem  ambo  tibi  arcti|í,- 
sime  deuincti,  nos  singulari  et  perpetua  beniuolentia,  ille  aífinitate  etiam  et 
sanguino.  Sed  uicit  naturamutriusque  nostrum  eorum  rabies,  qui  nihil  fidei 
nihil  rationi  Iribuentes,  omnia  ad  cupiditalem  referunt  suam,  \'t  turpem  et 
periculosam  quietem  reiiceremus,  et  arma  communi  reipublicae  chrislia- 
nae bono  et  huic  sanclae  sedi  salutaria  caperemus.  Ac  quac  Caesarem 

^  Aucn.  Nac,  Mac.  22  de  Bullas,  n.°  18. 


44  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGÜEZ 

quidein  mouerinl  causae  vi  fraudulenlura  el  impium  illalum  bellum  iuslo 
alque  pió  bello  propulsaret,  cum  aliae  mullae  manifcslae  sunt  ul  comme- 
moratione  non  egeanl,  tum  vero  una  polissima,  ñeque  adeo  uulgaris,  quod 
ille  sibi  máxime  et  suae  dignilali  debilam,  pienam  gloriae,  el  apud  deum 
merili  arbitralus  est,  sanclae  sedis  aposlolicae  propugnalionem.  Nos  uero 
quol,  quanlisque  acerbis  ad  hoc  idem  agendum  iniuriis  fuerimus  com- 
pulsi,  vlinara  Ubi  commemorare  lilleris  possemus ;  Sed  quod  non  possu- 
mus  sumus  horlati  dileclum  filium  Michaelem  de  Silua  oratorem  apud  nos 
tuum,  hominem  acri  ingenio  et  prudentia,  vt  copióse  te  edoceret.  Nos 
pauca  haec  scribimus  :  In  ea  nuper,  quam  cum  eodem  francorum  rege  ha- 
bebamus,  socielate  cum  in  eum  nostra  pene  omnis  se  cíTudisset,  el  huius 
sanclae  sedis  liberalitas,  non  fuisse  nobis  ab  eo  responsum  ñeque  in  fide, 
ñeque  in  promissis,  Cum,  quae  pro  ipso  essent  conuenta  inler  nos,  ea  acer- 
rime  sibi  seruari  uellet,  idque  minaciler  arroganler;  Quae  uero  pro  libér- 
tale ecclesiastica  cauta  essent  oninia  contereret,  contemneret,  infringerel. 
Itaque  et  ómnibus  in  rebus  ab  eo  uiolala,  alque  illusa  dignilas  ecclesiastica, 
Et  qui  ex  subieclis  ipsius  iuxta  foederis  formara  confugere  ad  hanc  sanclam 
sedem  conali  sunt,  alii  in  flumina  praecipitali,  alii  in  carceribus  ad  mor- 
lem  sunt  adacli,  laliaque  in  eos  exempla  perpétrala,  qualia  ne  ab  imma- 
nissimis  quidem  turcis  perpeluis  noslris  hoslibus  expcclare  poleramus. 
Quid  de  decimis  loquemur  el  de  cruciala,  ex  qua  cum  ille  ingeniera  sum- 
mam  pecuniae  recepisset,  maximoque  sese  iuramenlo  deo  obslrinxissel, 
nusquam  se  pecunias  eas  nisi  aduersus  infideles  erogalurum  hoc  biennio 
a  nobis  rogalus,  cum  imminerel  grauis  terror  classis  barbaricae,  vi  clas- 
sis  aliquanlum  ad  defensionera  rhodiorum,  el  slalus  ecclesiaslici  el  lillo- 
ris  chrislianorura  milleret,  superbissime  respondit :  Caeleri,  quae.ipsorura 
essent,  defendercnl,  se  sua,  cum  essel  opus,  defensurum  esse.  Al  ubi  fides? 
vbi  iusiurandum,  vbi  illa  a  deo  accepla,  el  eidem  deo  debita  pecunia? 
Nihilo  haec  omnia  magis  quam  amiciciae  noslrae  fides  ab  illo  habita  sunt, 
Al  quotiens,  et  quomodo  et  quibus  uerbis?  vi  facili  appareret,  nihíl  no- 
bis, naque  sánela  sede  hac  apud  aniraum  illius  despeclius,  nihil  conlem- 
plius  esse.  Quae  omnia  haec  acerbiora  nobis  acciderunt,  quo  memoria  te- 
neraus,  ñeque  id  nos  unquara  í)¿iI  fides  calholica  potuit  obiiuisci,  qua  lúa 
serenitas  animi  magniludine  quo  studio  erga  deum  et  classem  tune  ap- 
paraueril,  el  omnia  nobis  ac  diuinae  religión!  oblulerit  auxilia.  Egimus 
sepe  praecibus,  institimus  qucrelis,  vt  animum  conuerleret  ad  ea,  quae 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  fin 

ipsius  fides,  et  christianissimum  nomen  requirebat,  facienda.  Quarum  prae- 
cum  nostrarum  hunc  exitum  habuimus,  \l  nouissime  per  siios  ministros, 
per  causam  exulum  suorum  inquirendorum,  súbita  nianu  noslram  el  san- 
clae  roraanae  ecclesiae  ciuilatem  Regium  Lepidi  oppugnaret,  el  nisi  slu- 
dium  populi  el  praesidum  diligentia  affuissel,  fueril  illam  iniquissima  frau- 
de el  iniuria  a  sedis  aposlolicae  gremio  abreplurus.  Hic  nobis  finis  pa- 
cientiae  fuit,  ñeque  ullerius  expectandum  duximus,  quin  manifestam  sta- 
tus auctoritalisque  ecclesiasticae  ruinam  deo  el  caesare  adiuuanlibus  ful- 
ciremus.  Quem  enim  ñeque  in  foedere  el  amicicia  fides,  ñeque  in  oíTicio 
religionis  iusiurandum,  ñeque  in  finibus  uiolandis  alienisque  rapiendis 
aequitas  conlineret,  quid  sperare  potuimus  illum  in  poslerum  melius  esse 
faclurum  ?  Genera  tibi  iniuriarum  memorauimus,  nam  iniuriae  innume- 
rabiles  sunt.  Sed,  per  deum  immortaiem,  nisi  nos  ad  necessaría  el  sancta 
arma  contra  talem  hoslem  pro  sedis  aposlolicae  tutela  deuenissemus,  quis 
nos  iure  aut  romanum  ponlificem  aut  christi  uicarium  arbilrarelur?  In 
qua  uoluntate  el  animo  ita  nobis  caesar,  nosque  illi  coniuncli  sumus,  \t 
unum  sil  uelle,  vnum  nolle,  nec  alleri  nostrum  ab  altero  quicquam  sil 
aut  in  honore,  aul  in  salute  disiunctum.  Ac  ille  quidem  magnifice  alque 
preciare  in  causam  christianae  reipublicae,  deo  auspice  el  adiutorc,  in- 
gressus  esl.  Nos,  quoad  possuraus,  subsequemur.  Sed  quod  fuit  nobis 
scribentibus  propositum,  arbilramur  nos  ex  deo  el  ex  amicicia  nostra  fa- 
cluros,  si  serenitatem  tuam  ad  huius  praeciari  operis  sociefatem,  in  quam 
caeteri  omnes  iam  reges  christiani  aut  consenserunl,  moti  indignitale  rei 
et  pacis  christianae  zelo,  cuius  hic  unus  assiduus  turbator  esl,  aduocabi- 
mus,  \el  quod  vtrunque  nostrum  diligere  teneris,  nam  caesar  tuus  est 
et  tui  obseruantissimus  nepos,  nos  tibi  semper  amicissimi,  \el  quod  lúa 
excellens  el  eximia  in  omni  genere  uiríus  poslulal,  vi  iuslissimam,  san- 
clissimamque  causam,  aposlolicae  sedis  defensionem,  quae  certc  nec  in- 
ferior est,  nec  deo  minus  grata^  quam  sil  infidelium  nalionum  expugna- 
t¡o>susc¡pias.  Siquidem  sua  et  propria  tueri,  quam  aliena  appetere,  moio- 
ris  fuit  semper  el  uirtutis,  el  in  laii  quidem  causa  etiam  pietatis.  Et  nunc, 
ne  ueteres  illos  Carolos  Olhonesque  memoremus,  clarae  memoriae  nupcr 
Ferdinandus  rex  catholicus  socer  tuus,  cum  paralissimam  haberet  clas- 
sem  ad  iustissimum  belUim  in  áfrica  contra  infideles  gerendum,  vbi  sen- 
sit  huic  sanctae  sedi  ab  his  eisdem  gallis  imminere  discrimen,  non  ne 
omissis   caeteris  ómnibus  tanquam  in  iusliorcm  el  deo  acceptiorem  cau- 


Í6  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

sam  ad  eam  sublcuandam  arma  conuerlit,  cuíus  facli  et  sumniam  apud 
homincs  laudem,  el  in  cáelo  máximum  esl  premium  conseculus*  Non  est 
profecto  ncc  lúa  uirlus  minor,  nec  prudenlia  inferior.  Quare  da  le  caris- 
sime  fili  in  causam  dei  el  noslram  et  caesaris ;  El  inler  quos  lanlum  et 
naturae  et  amiciciae  foedus  esl,  sil  eliam  huius  honeslissimi  muneris  so- 
cielas.  Nec  uero  te  nouo  onere  nouis  impensis  praemere  uolumus,  sed  est 
parala  ralio  luac  praeslanlis  gloriae.  Nuplum  das  filiam  dilecto  fdio  no- 
bili  \iro  Carolo  sabaudiae  duci,  eamque  pro  tua  dignilate  inslruclissima 
classe  comilalam  ad  marilum  millis,  Quam  rem  serenitali  tuae  bene  et  fe- 
liciter,  el  cum  diuina  gratia  euenire  cupimus.  Sed  eam  classem,  si  ad  du- 
ces  tuos  scripseris  vt  ad  noslram  et  Caesaris  uoluntalem  cum  vlriusque 
noslrum  classibus  in  promptu  leneanl,  lutandis  ilaliae,  et  status  ecclesias- 
tici  lilloribus,  quibus  ab  hoslibus  imminet  timor,  et  quidem  paucis  bis 
.  mensibus  dum  tula  est  nauigatio,  hoc  máximum  tuae  pietalis  et  erga  se 
amoris  monumenlum  habebit  sedes  apostólica.  Hoc  ut  facías,  carissime  fili, 
magnopere  le  in  domino  obsccramus.  Nihil  nobis  opporlunius,  nihil  cae- 
sari  ipsi,  amico,  fratri,  nepoli  luo  gratius,  aut  utilius  efficere  potes,  ñe- 
que adeo  tibi  ipsi.  Etenim  queral  serenilas  tua  ex  nobilissimo  Duce  ge- 
nero suo,  cum  quo  sumus  eliam  nos  omni  societale  summi  amoris  con- 
iunclissimi,  quo  modo  ille  a  Francisco  rege  traclatus,  et  quoliens  in  dis- 
crimen slatus  et  salulis  suae  adduclus  fuerit,  quam  habeal  securitatem, 
quam  slabilem  fidem  rerum  suarum.  Cognosces  profecto  nihil  ab  horum 
hominum  cupidilate  et  superbia  tulum  esse  posse,  Inlelligesque  suscipien- 
dam  tibi  causam,  si  et  honoríficas  filiae  tuae  nuptias  et  dignilalem  generi 
saluam  esse  uoles.  Sed  haec  el  alia  uberius  idem  tuus  oriilor  per  Hileras 
tibi  significabil.  Nos  exlremum  hoc  ponimus,  si  serenilas  tua  hoc  tempore 
sese  nobiscum  et  cum  caesare  suo,  in  dei  et  saedis  aposlolicae  et  chris- 
tianae  reipublicae  commodum  honoremque,  coniunxerit,  futurum  hoc  tibi 
ad  laudem  gloriosura,  ad  sccurilalem  tuorum,  et  memoriam  omnium  nos- 
lrum lui  lanli  in  nos  oíücii  adque  promerendam  omnem  noslram  et  Sodis 
aposlolicae  liberalitatem  frucluosum. 

Datum  Romae  apud  sanclum  petrum,  sub  annulo  piscatoris,  Die  xif 

Augusli  MDXXi,  Ponlificalus  Noslri  Anno  Nono. — la.  Sadoletus  *. 

/ 

'  ARcn.  Nac,  Mac.  30  de  Bullas,  n."  11.  Nofimdo  breve  esíUo  as palavras  seguin- 
tes,  que  julgamos  screm  do  proprio  punho  de  S.  S.  llortamur  ct  ¡nslanter  pclimus  a 
Maicstatc  tua  ut  nullo  pacto  Nobis  ct  huic  Scdi  uclit  deesse. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  47 


ItrcTC  fio  Papa  licao  X,  flirigiilo  ao  Secretario 
fie  Kistado  il.utoiiio  Carneiro. 

Ia91  —  Agosto  12, 


Leo  papa  x  Dilecte  fili  salutem  el  apostolicam  íjenedicUonem. 

De  lúa  prudentia  et  de  ca  gratia,  quam  apud  islum  clarissimum  re- 
gem  mérito  oblines,  quaraque  libi  fidem  ipse  habeat  rex  plañe  edocli 
exislimauimus  quibusdam  in  rebus  ad  chrisliane  reipublice  bonum  spe- 
ctanlibus,  quas  a  rege  cupimus  impetrare,  cum  aplam  admodum,  tum 
accommodatam  nobis  fore  operam  et  personara  tuam,  Nara  et  in  uirtute 
confidimus,  et  de  tua  óptima  erga  nos  et  hanc  sanctissimam  sedem  uo- 
luntate  non  dubitamus.  Commisimus  igitur  dilecto  filio  Michaeli  de  sylua, 
regio  apud  nos  oratori,  bomini  prudentissirao,  et  quod  faciie  perspexi- 
mus  tui  amantissimo,  ut  is  ad  te  consilia  noslra,  et  quid  per  te  fieri 
iiellemus,  perscriberet,  Horlaniur  deuolionem  tuam  in  domino  ut  eius 
fidem  litteris  babeas,  tibique  ila  persuádeos,  quicquid  nostra  et  sedes  apos- 
tolicae  causa  laboraueris,  id  nobis  ila  gralum  futurum  ut  memoriam  lanli 
tüi  officii  simus  in  animo  nostro  perpetuara  conseruaturi. 

Datura  Romae  apud  sanclura  petrura,  sub  anulo  piscatoris,  Die  xii 
augusti  MDXxi,  Pontificalus  noslri  Anno  Nono.  —  la.  Sadolctus  K 


Sreve  do  Papa  lieao  H^  dirigido  a  el-Rei. 

15191— Agosto  so. 


Leo  papa  x  Carissime  ia  chrislo  fili  noster  salulem  et  apostolicam 
benediclionem. 

Etsi  cum  recle  intelligeremus  quod  studium  Maicslalis  luac  seniper 

^  Arch.  Nac,  Mac.  36  de  Bullas,  n.°  6i. 


48  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

cxlilissel  diuinac  fidci  conscruandao,  chrisUanique  nominis  el  Imperii  pro- 
mouendi,  cumquc  interiores  animi  tui  sensus,  sanólos  illos  quidem  et  ad 
deum  directos  abunde  notos  et  perspeclos  haberemus/qunsi  animo  cer- 
nebanius  qualem  praestatura  se  esset  Maiestas  tua  in  publica  fidei  causa 
aduersus  Luleranam  prauilatem  ;  Tamen  dici  non  polest  quam  iucunde 
acceperimus  eam  pro  sanctae  ecclesiae  dei,  nostraque  et  huius  Sedis  di- 
gnitate  alque  auctoritate  conseruanda  aduersus  immane  monslrum  omnl 
ope  sese  opposuisse.  Quod  factum  Maiestatis  tuae  et  oportunissiraum  et 
máxime  consenlaneum  cum  quotidianis  suis  piis  sanctisque  actionibus  ita 
accepimus,  ut  pro  eo  eidem  Maiestati  Tuae  ingentes  et  quantas  presentís 
temporis  ratio  poscit,  gralias  habeamus.  Quanquam  enim  causa  ipsa  bo- 
nilate  sua  omniumque  Christianorum  Principum  ope  et  praesidio  satis 
communita  sit,  Tamen  ex  tam  illustri  propugnatione  Maiestatis  tuae  má- 
ximum robur  et  auctoritatem  uidetur  accepisse  Cum  mortales  ita  inter- 
pretentur  non  posse  esse,  nisi  oplimam  et  sanctam  eam  causam,  ad  quam 
defendendam  tam  optimi  et  uere  Chrislianissimi  Regis  nomen,  uoluntas, 
opera,  auctoritasque  conspirarit.  De  Lulero  quidem  nefario  homine  nihil 
postbac  timendum  esse  censeremus,  ita  est  ómnibus  tum  huraanis  tum 
diuinis  iudiciis  aíllictus,  ac  pene  profligatus.  Sed  cum  eiusraodi  pestilen- 
liae  planlae  interdum  rubusliores  renasci  soleant,  nisi  a  principio  euel- 
lanlur,  radicitusque  exlirpenlur,  opere  pretium  erit  in  prosequendo  mons- 
tro  nihil  de  sólita  diligcntia  remitiere,  Sed  usque  ad  extremam  eius  inter- 
nilionem  uigilanlissime  excubare,  in  quo  nihil  uidetur  pelendum  a  Maies- 
tate  tua  nisi  ut  facial  quod  praeclare  fácil.  Caelerum  de  noua  necessitudine 
quam  scribit  Maiestas  Tua  cum  dilecto  filio  Nobili  viro  Carolo  Duce  Sa- 
baudie  contraxisse  Data  ei  coniuge  Nobili  mullere  Beatricae  nata  tua  sane 
mullum  gauisi  sumus,  Matrimoniumque  honeslissimura  ex  nostra  et  dei 
optimi  maximi  parte  largiler  benediximus  optantes  ipsis  sponsis  omnia, 
quemadmodum  merenlur  et  spcrant  recle  felicilerque  succedere.  Adiunxit 
quidem  sibi  generum  Maiestas  tua  non  solum  fortuna  et  auctoritate  sed 
etiam  dignitate,  uirlute  el  prudentia  ornalum,  ex  quo  non  dubilamus  quin 
eos  fructus  perceplurus  sis,  Qui  ex  praeclaris  Viris,  opLlimisque  generis 
percipi  solent.  Nostrum  aulem  gaudium  de  rebus  luis  eo  iuslius  est,  Quod 
Maiestas  Tua  cum  eo  Principe  necessitudinem  conlraxit,  qui  nobis  non  so- 
lum amicitia  sed  etiam  aHinitale  est  coniunctus,  a  quo  uidemur  sperare 
posse  omnia  oííicia  uiribus  iSobililatis  suae  presentiquc  Icmpori  conuenien- 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  49 

lia.  Quibus  de  rebus  copióse  loCuli  sumus  cum  dilecto  filio  iMichaele  Sil- 
uio  oratore  apud  nos  tuo,  cuiíis  litteris  Maieslas  lúa  polerit  adhibere  omnem 
fidem. 

Dalum  Romae  apud  sanclum  Pclrum  sub  annulo  piscatoris  Die  xx 
Augusli  MDxxi,  Pontificatus  Nostri  Anno  Nono.  —  Bembus  per  Fauonium 
de  mándalo  \ 

Bulla  do  Papa  licao  IL. 


15S1— üetembro  SO. 


Leo  episcopus  seruus  seruorum  dei  üniuersis  et  singulis  présenles 
lilleras  inspecluris  salulem  el  aposlolicara  benediclionem. 

Dudum  siquidem  ad  supplicationem  Carissimi  in  christo  filii  nostri 
Emanuelis  Porlugalie  el  Algarbiorum  Regís,  pro  orlhodoxe  fidei  exalla- 
lione  el  propagalione,  ac  Classis  eius  raaritime  feliciori  nauigalione  el  lo- 
corum  de  manibus  Infidelium  recuperatione,  ómnibus  el  singulis  christi 
fidelibus  in  partibus  Aífrice,  Elhiopie,  Arable,  Persidis  el  Indie  bellum 
gerenlibus,  Mediéis,  Aromalariis,  et  tam  ligni  quam  ferri  el  allerius  Me- 
talli  fabris,  suloribus,  Machinariis,  el  cuiusuis  Arlis  officialibus  el  ope- 
rariis  ac  seruiloribus  el  minislris,  ad  dictas  parles  de  mandato  dicli  Re- 
gis  aul  eius  Prefectorum  proficiscentibus,  el  inibi  commoranlibus,  vi  Con- 
fessorem  ydoneum  presbiterum  secularem,  vel  cuiusuis  ordinis  regula- 
rera,  qui  eos  in  articulo  mortis  a  quibusuis  peccatis  et  excessibus,  quan- 
luncunque  grauibus  et  enormibus,  in  casibus  eliam  sedi  apostolice  reser- 
uatis,  absolui,  ac  omni«m  peccatorum  suorum  plenariam  indulgentiam  et 
remissionem  impenderé  et  elargiri  posset,  necnon  si  aliquem  ex  dictis  per- 
sonis  absque  confessione  aul  morte  subitánea  decedere  contingeret,  dum- 
medo  signa  deuotionis  seu  contritionis  apparuissenl  in  eo,  eandeni  plena- 
riam remissionem  et  absolutionem  consequeretur,  per  alias  nostras  Hile- 
ras facultatem  concessimus,  prout  in  illis  plenius  continetur.  Cum  au- 
tem,  sicul  Ídem  Rex.  nobis  nuper  exponi  fecil,  ipse  postmodum  diuino 
auspicio  quamplurimas  ínsulas,  Prouintias  et  loca  recuperauerit  et  ditioni 

^   Akch.  Nac,  Mac.  31  de  Bullas,  n.°  19. 
TOMO  II.  7 


50  GORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

sue  adieceril,  el  propterea  summopere  cupial  Hileras  el  facullalem  eligendi 
Confessorem,  el  consequendi  indulgenliam  huiusmodi  ad  quoscunque  chrisli 
Fideles  in  diclis  lerris,  Insulis,  Prouintüs,  el  alus  locis  de  nouo  acquisi- 
tis,  el  pro  lenipore  per  ipsum  Regem  acquirendis,  tam  in  niari  Rubro, 
Perside,  Malacha,  Zamalra,  el  Sinarum  Regionibus  exislenles,  el  lam  in 
bello  quam  in  nauigalione  el  expedilione  Ierra  marique  decedentes,  dum- 
modo  ad  dictas  parles  de  mandato  prefali  Regis  seu  eius  Capilaneorum 
eant,  aut  seruitiis  ipsius  Regis  insislant,  exlendi  el  ampliari.  Quare  pro 
parle  ipsius  Emanuelis  Regis  nobis  fuil  humiliter  supplicatum  \\  eius  pió 
el  honesto  desiderio  annuere,  aliasque  in  premissis  oportune  prouidere  de 
benignilale  apostólica  dignaremur.  Nos,  qui  piis  el  honestis  Catholicorum 
Regum  desideriis,  presertim  fidei  orlhodoxe  exallalionem  concernentibus, 
quantum  cum  deo  possumus  libenler  annuimus,  huiusmodi  supplicationi- 
bus  inclinali,  litteras  prediclas,  ac  eligendi  Confessorem  et  alias  faculta- 
tes  in  diclis  litteris,  quarum  tenores  de  verbo  ad  verbum  presentibus  ha- 
beri  Volumus  pro  expressis  el  inaertis,  contentas,  cum  ómnibus  in  eis  con- 
tentis  clausulis,  ad  quoscunque  chrisli  fideles  in  diclis  terris,  Insulis,  Pro- 
uintüs, et  alus  locis  de  nouo  acquisitis,  et  pro  tempore  per  ipsum  Ema- 
nuelem  Regem  acquirendis,  tam  in  mari  Rubro,  Perside,  Malacha,  Za- 
malra, el  Sinarum  Regionibus  existentes,  el  tam  in  bello  quam  in  naui- 
galione et  expedilione  térra  marique  decedentes,  dummodo  ad  dictas  parles 
de  prefali  Regis  seu  eius  Capilaneorum  mandato  eant,  aut  seruitiis  ipsius 
Regis  inibi  insistant,  auctoritate  apostólica  tenore  presentium  exlendimus 
el  ampliamus,  Presentibus  ad  ipsius  Regis  vilam  dumlaxat  valituris. 

Datum  Rome  apud  Sanctum  petrum  Anno  Incarnalionis  dominice 
Millesimo  quingentésimo  uigesimo  primo.  Duodécimo  Kalendas  Octobris, 
Pontificatus  nostri  Anno  Nono.  —  Bal.^^  de  Piscia  '. 


'  Abch.  Nac,  Mac.  21  de  Bullas,  n."  4. 


HELACOES  COM  a  curia  romana  .'íl 


Bulla  do  Papa  I^eáo  IL,  dirigida  ao  Rei 
da  Etbiopia. 

1581 — iSeteiiiliro  SO. 


Leo  Episcopus  ele.  Charissimo  in  Chrislo  filio  David  Elhiopie  el  Ab- 
bitie  ac  Nili  Regí  illustri  salulem. 

Cum  superioribus  annis  charissimus  in  Chrislo  filius  noster  Emanuel 
Porliigalie  el  Algarbiorum  Rex  illusiris  ad  nos  scripsisset  maieslaiem  tuam, 
cuius  potentia  iamdiu  nobis  nota  fuerat,  summopere  desiderare  confede- 
rationem  cum  ipso  inire,  ut  iunclis  animis  ac  viribus  orthodoxam  christi 
fidem  siniu!  propagare  ac  superstiliosam  Maumelhe  seclaní  exlirpare,  san- 
clamque  Hierusalem  et  sanclissimum  Redemptoris  nostri  sepulchrum  ab 
impiis  infidelium  manibus  recuperare  posselis,  ac  proplerea  oratorem  quem- 
dam  ad  eius  maieslaiem  destinasse,  valde  equidem  g'avisi  sumus,  el  om- 
nipolenlem  Deum  rogare  non  cessauimus,  ut  per  suam  graliam  et  mise- 
ricordiam  nobis  concederé  dignarelur  ut  tantorum  Regum  máximas  vi- 
res et  opes  invicem  uniri,  et  contra  dictos  infideles  converli  aliquando 
videre  possemus.  Postquam  vero  nuper  idem  Emanuel  Rex,  non  minori 
desiderio  amiciliam  el  confederationem  tuam  cupiens,  nos  certiores  fecil 
classem  suam  mare  rubrum  ingressam,  Dei  gratia,  ad  Regna  tua  inco- 
lumen  pervenisse,  eiusque  capilaneum  de  maiestalis  lúe  mandato  benigne 
honorificeque  a  luis  exceptum  cum  Rernegar  Vicerege  luo,  super  hoc  ab 
eadem  maieslate  lúa  mandatum  habenle,  nomine  prefali  Emanuelis  Regis 
fedus  et  ligam  perpetuara  ad  eiusdem  Christi  fidei  exallafionem,  eiusque 
hoslium  depressionem  fecisse,  ac  reperisse  Regnum  tuum  amplissimis  ci- 
vilatibus  magnificum,  Ecclesiis,  ac  religiosissimis  monasteriis  abundare, 
in  eoque  Christifidelem  in  magno  cullu,  ac  debita  veneralione  haberi : 
incolasque  el  habitatores  ipsos  fateri  et  credere  beatum  Petrum  aposlolo- 
rum  Principem  verum  Christi  Vicarium  in  terris  fuisse,  nosque  eius  suc- 
cessores  esse,  el  sanctara  Romanam  Ecclesiam  lamquam  matrera  suam 
recognoscere,  nec  ab  ea  in  fidei  doctrina,  presertim  circa  substantialia, 
discrepare:  Nunquam  dici  nec  exprimí  posset  quo  gaudio,  quantave  le- 

7*    .. 


52  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

tilia  cor  noslrum  in  Domino  exullavit.  El  proplerea  coosideranles,  ac 
mente  volvenles  incomprehensibilia  Dei  iudiciu,  el  invesligabiles  \¡as  eius 
esse,  el  se  quandoque  liumiles  Chrislifidelium  preces  ac  petiliones  non 
exaudil,  non  proplerea  res  respuere,  sed  in  témpora  magis  opporluna  dif- 
iere, exslimavimus  nullum  magis  opportunum  lempus  fuisse,  quo  pro  Uni- 
versali  chrisliane  Reipublice  bono  sánela  hec  inler  eumdem  Emanuelem 
Regem,  ac  maiestatem  luam  confederalio,  el  amicitia  fieri  deberet,  cum 
hoc  ipsum  tempus  exislil,  quo  propler  Selimum  Turcarum  Tirannum  e  me- 
dio sublatum,  eiiisque  exercilum  contra  Sultanum  el  Sophi  diminulum 
magna  se  oíFert  occasio  id  eíficere,  quod  ulerque  vestrum,  et  nos  magno- 
pere  semper  optavimus,  ipsos  videlicel  Turcas  pre  ceteris  infidelibus  chris- 
liane Religioni  obstantes,  ac  magnum  Christifidelibus  lerrorem  et  pericu- 
lum  minilanles  debellare,  ac  penilus  destruere,  illisque  viclis  ac  debella- 
tis,  efíicere  ul  prophelicum  illud  adimpleatur,  unus  pastor  et  unum  ovile. 
Ut  ergo  nostram  el  venerabilium  fralrum  nostrorum  sánele  Romane  Ec- 
clesie  Cardinalium  letitiam  et  singulare  gaudium  christiano  populo  signis 
exterioribus  manifestaremus,  ac  ipsi  Deo  graliarum  largilori,  et  a  quo 
omne  dalum  oplimum  et  omne  dalum  perfectum  provenit,  gratias  agere- 
raus  ad  ipsius  Dei  laudem,  eiusque  fidei  exaltalionem,  solemncm  missam 
in  Capella  noslra  coram  nobis  et  sánele  Romane  Ecclesie  Cardinalibus  ce- 
lebrari  fecimu's  in  die  assumptionis  Beale  Virginis,  cuius  apud  Omnipo- 
tentem  Deum  inlercessione  faclum  credimus  ut  cor  luum  inspiraretur  ad 
confederationem  dicti  Emanuelis  Regis  optandam,  et  ab  eo  per  nunlium 
luum  et  oratorem  pelendam  ;  ipsius  vero  Emanuelis  Regis  animus  ac- 
cenderetur  ad  classem  istuc  mittendam,  et  confederationem  ipsam,  q«am 
ulerque  vestrum  pari  desiderio  optabat,  firmandam  el  concludendam.  Ul 
vero  eadem  maiestas  lúa  rem  ipsam  inlelligat  quo  amore  eam  prosequa- 
mur  el  in  visceribus  charilatis  geramus,  el  quoscumque  honores,  ac  pri- 
vilegia, que  cum  noslro  et  huius  Sánete  sedis  honore  concedi  ^oterunt, 
prout  ipse  E.  Rex  fraterna  charitale  tibi  devinclus  a  nobis  petit,  conce- 
deré parati  sumus,  dumraodo  ipsa  maiestas  lúa  ila  se  disponat,  ul  non 
solum  ipsa,  sed  omnes  etiam  regnicole  sui,  ac  sacerdotes  lam  seculares, 
quam  regulares  in  iis  que  fidei  sunl  Sánete  Romane  Ecclesie  omnium  Ec- 
clesiarum  malris  conveniant,  el  ab  ea  ne  in  minimis  quicquam  discre- 
pent.  Quod  ul  facilius  fieri  possit  eundem  Emanuelem  Regem  noslris  lil- 
teris  horlali  sumus  ut  aliquos  Regni  sui  Episcopos  el  alios  sacerdotes 


RELACOES  COM  a  curia  R03IANA  o3 

vita  et  moribus  exemplares,  ac  sacrarurn  scriplurarum  el  iuris  canonici 
peritos,  ad  Regnum  istud  tuum  destinare  velit,  ut  videant  quas  cerimo- 
nias,  et  quos  ritus  circa  divinorum  celebrationem  servent,  quove  modo 
Patriarciía  Ecclesie  Alexandrine,  eius  occurrenle  vacatione,  eligatur,  et 
quomodo  consacretur,  quibusve  indumentis  ipse  Patriarcha  et  alii  dicti 
Regni  lui  presbileri  etiam  in  divinis  ulantur.  Et  propterea  sumptum  lil- 
terarum  felicis  recordationis  Eugenii  ini  predecessoris  in  Concilio  Flo- 
rentinensi  editarum,  per  quas  breviter  et  compendióse  ipsius  Orthodoxe 
fidei  veritas,  quam  Romana  tenet  et  profitelur  Ecclesia,  armenis  populis, 
ut  ídem  per  omnia  saperent  cum  Sede  apostólica  data  fuit,  ad  eundem 
Emanuelem  Regem  misimus  per  dictos  Regni  sui  Episcopos  et  nuncios 
suos  istuc  transmitlendos,  quo  omnes  inlelligant,  si  recle  orthodoxam  fidem 
servare  voíunt,  ul  ipsi  Deo,  qui  per  suam  ineífabilem  clemenliam  omnes 
vult  salvos  fieri,  sincero  corde  ac  illibato  religionis  candore  serviré  de- 
beant.  Ipsi  eliam  Patriarche  cum  ab  alma  Urbe  noslra  tam  longis  Ierre 
marisque  spaliis  distenl,  si  in  premissis  nobis  et  dicte  Romane  Ecclesie, 
prout  speramus  et  oplamus,  conformes  fuerint,  privilegia,  el  uberes  gra- 
lias,  quibus  gregi  «sue  cure»  crédito,  in  bis  que  ad  salutem  animarum 
fuerint  necessaria,  opportune  providere  valeat,  concederé  parali  erimus. 
Cum  aulem  mulla  sinl,  que  nos  de  maieslalis  lúe  circa  orthodoxam  Christi 
fidem  devolione,  ac  debita  erga  nos  el  hanc  sanclam  sedem  apostolicam, 
in  qua  permissione  divina  redemus,  obedienlia  bene  sperare  inducunt, 
illud  profeclo  máximum  est,  quod,  ul  idem  Emanuel  Rex  nobis  signifi- 
cat,  libi  adhuc  in  teñera  etate  consliluto,  ea  quasi  divinilus  maler  dala 
est,  que  sanclissimis  moribus  ac  saluberrimis  documentis  le,  doñee  fir- 
mior  ac  maturior  advenlabit  elas,  ila  semper  monebil,  prout  hactenus 
eam  monuisse  percepimus,  ut  in  spiritualibus  Deo  placeré,  in  lemporali- 
bus  aulem  Regnorum  tuorum  régimen  optime  administrare  possis,  ac  ipsi 
Deo  gratias  agere  quod  genitore  defunclo,  talem  libi  reliquerit  genitri- 
cem,  que  prudenlissimi  palris,  simul  ac  pienlissime  matris  officium  et 
munus  adimpleant.  Quapropler  maieslalem  luam  in  Domino  hortamur, 
el  quo  possumus  affeclu  requirimus,  ut  dicle  matri  le  ad  nostram  el  di- 
cte sedls  devotionem  et  obedienliam,  ut  obsequentem  filium,  ac  veré  Ca- 
tholicum  Principem  decel,  parere,  ac  in  federe  el  unione  cum  dicto  Ema- 
nuele  Rege  inila  conslanler  ac  fideliter  perseverare^  eiusque  nuncios  ad 
serenitalem  luam  pro  tam  Sánelo  opere  accedentes,  pro  eo  devotionis  fer- 


U  GORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

vore,  quem  ipse  Emanuel  Rex  te  in  bealum  Petrum  el  Sedem  aposloli- 
cam  babere  scribil  luis  ómnibus  presidiis  el  favoribus  complecti  velis,  ut 
le  adiutore  el  faulore,  commissa  sibi  negolia  feliciler  exequi  valeanl.  Hor- 
lamur  insuper  eamdem  Serenilalem  luam,  ut  Palriarcham  el  Glerum,  ac 
Prelalos  predictos,  tamquam  luos  etpopulorum  tuorum  veros  pastores,  pro 
noslra  el  apostolice  Sedis  reverentia  omni  honoris  el  favoris  auxilio  pro- 
sequi  velis,  el  a  luis  eliarn  subditis  .prosequi  facias,  ut  in  ómnibus  adió- 
nibus  el  cogitationibus  luis,  Deo  propitio,  prosperan,  ac  demum  post  vite 
tue  terminum  a  relributore  omnium  bonorum  Domino  perennis  vite  pre- 
mium  consequi  merearis. 

Dalum  Rome  ele.  anno  etc.  millesimo  quingentésimo  vigésimo  pri- 
mo, duodécimo  Kalendas  Octobris,  Pontificalus  nostri  anno  nono  ^ 


OuUa  do  Papa  Leao  X,  ilirigida  aos  Prelados» 

da  Ethiopia. 

1521 — fiíetembro  20. 


Leo  Episcopus  etc.  üniversis  archiepiscopis,  episcopis,  abbalibus, 
Prepositis,  ceterisque  prelalis  atque  principibus,  clero,  el  universo  po- 
pulo Ethiopie  el  Abbilie,  ac  Nili  Regnorum  salutem. 

Cum  classis  carissimi  in  Ghristo  filii  nostri  Emanuelis  Portugaiie  et 
Algarbiorum  Regis  illustris  ad  Regnum  istud.  Domino  concedente,  inco- 
lumis  perveneril,  ipseque  Emanuel  Rex  suorum  litteris  certior  factus  ad 
nos  scripserit,  ac  per  ejus  oratorem  nobis  nuncía veril,  vos  fidem  catho- 
licara,  quam  quicumque  vult  salvus  esse  íirmiler  credere  tenelur,  fideli- 
fer  credere,  el  bealum  Petrum  Apostolorum  Principen!  Ghristi  Vicarium 
fuisse,  nosque  ejus  successorem  el  universalem  paslorem  esse,  miro  gau- 
dio  cor  noslrum  exullavil  in  Domino  el  in  Jhesu  salulari  nostro.  Paterna 
autem  consideratione  altendentes  quod  Deus,  qui  in  excelsis  habitat,  vos 
in  islis  adeo  longinquis  Regnis  in  vera  fidei  unitale  perseverasse,  gralia 
sua  vobis  desupcr  suífragante  concessil,  Speramus  eliam  quod  ejusdem 

'  Copia  authentica  extrahida  do  archivo  do  vaticano. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  55 

sedis  clemenlia  vobis  condonabilur  ul  hanc  sanctam  sedem  et  beatorum 
apostolorum  limina  libere  adire  ac  revereníer  visitare,  et  oculis  videre 
que  fratres  vestri  non  potuerunt,  tempere  noslro  poleritis,  spiritualemque 
inde  consolationem  et  mentís  refectionem  consequemini.  Mérito  itaque,  fra- 
tres et  filii  nostri,  postquam  hec  ex  dicti  Regis  litteris  ejusque  oratore  de 
vobis  audivimus,  Omnipotenti  Deo  hosliam  obtulimus  jubilationis  et  lau- 
dis,  idque  vobis  insinuandum  duximus  ut,  nostrorum  in  Domino  gaiidio- 
rum  participes  facti,  divine  pielali  nobiscum  gratias  referatis.  Hortamur 
itaque  devotionem  vestram  ut  christiane  devotionis  aífectu  et  fidei  zeio 
moti  orationes  publicas  fieri  faciatis,  partim  altissimo  gratias  referendo  de 
confederatione  inter  vestrum  et  Porlugalie  Reges  pro  fidei  catholice  exal- 
tatione  divina  permissione  inita,  partim  Iiumilibus  ac  devotis  precibus  di- 
vinara ejus  magestatem  orando  ut  complere  dignetur  opus  suum,  quod 
per  Reges  ipsos  inchoare  non  dedignatus  est ;  hortamur  quoque  ut  veli- 
tis  sedulo  excogitare,  que  ad  honorem  veri  Dei  et  hujus  Sánete  Sedis 
Apostolice,  et  pro  honore  sedentis  in  ea  spectanl  et  hiis  reverenti  ac  de- 
vota mente  perseveretis  et  subditos  vestros  ad  perseverandum  inducatis 
in  Domino,  qui  piis  operibus  favel  el  in  se  operantes  non  deserit,  firmam 
et  validara  spem  gerentes  quod  in  ómnibus  actionibus  et  cogitationibus 
vestris  feliciter  prosperabais,  ac  demum  post  hujus  vite  términos  ab  ipso 
Deo  omniura  bonorura  retributore  perennis  vile  premium  'consequemini ; 
vobisque  persuadeatis  quod  vos  tamquara  peculiares  fratres  et  dilectos  filios 
nostros  in  visceribus  charitatis  semper  habebimus,  ac  pro  vobis  et  toto 
populo  christiano  nobis  crédito  continuas  preces  effundemus  ut  animas 
vestras  in  ea  puritate  qua  créate  et  redempte  fuerunt,  earum  creatori  et 
redemptori  tándem  reddere  possitis ;  nosque  talem  gratiam  consequi  va- 
leamus  ut  vos  aüquando  oculis  noslris  inspicere  ac  corara  benedicere  pos- 
simus.  In  divina  autem  clemenlia  speramus  quod  pium  de»ider¡uni  nos- 
trum  aliquando  exaudiré,  ac  nos  voti  nostri  hujusmodi  compotes  faceré 
dignabitur,  quam  etiam  vos  toto  corde  el  sine  intermissione  super  hoc 
orare  atque  exorare  non  omittelis,  noslrisque  paternis  tanquam  ab  ipso 
Deo  vobis  missis  monitionibus  alacri  et  prompto  animo  parere  curabitis. 
Datura  Rome  apud  Sanclum  Petrum  anno  millesimo  quinge'ntesimo 
vigésimo  primo,  duodécimo  kal.  Octobris,  anno  nono  '. 

^  Copia  authentica  extrahüa  do  archivo  do  vaticano. 


oí;  cokpo  diplomático  poktüguez 


Bulla  cío  Papa  Lcao  IL,  flirlg^Ida  ao  Patriare  ha 
de  Alexaudria. 

loSl  —  Setembro  SO. 


Leo  Episcopus  etc.  Venerabili  fratri  Marco  Palriarche  Alexandrino 
salutem. 

Magnas  Omnipolenti  Deo  gralias  nuper  eginius  postquam  charissi- 
mus  in  Christo  filius  nosler  Emanue!  Porlugalie  et  Algarbiorum  Rex 
illuslris  per  suas  Hileras  nos  cerliores  fecit  classem  suam,  quaní  pro 
federe  cura  carissimo  ¡n  Chrislo  filio  noslro  David  Ethiopie  et  Abbilie 
ac  Nili  Rege  illuslri  contra  sarracenos  el  quoscunique  alios  infideles 
ineundo  miserat,  divina  cleaientia  salvam  el  incolumem  ad  Regna  isla 
penelrasse,  ac  perpetuara  confederationem  el  amicitiam  inter  Emanue- 
lera  e\  David  Reges  prefatos  ad  Omnipolentis  Dei  laudera  christianeque 
fidei  exaltationera  firmatara  el  conclusam  fuisse,  ut  vinctis  animis  ac  vi- 
ribus  sanctara  contra  diclos  infideles  expeditionem  suscipiant,  ac  terrara 
sanctara  et  venerandura'  Ghristi  Redemptoris  nostri  sepulcrura  a  sarace- 
norura  raisera  caplivitate  rediraanl,  ac  ipsius  Ghristi  fidera  ul  in  celo  ita 
oliara  in  terris  Iriumphantem  reddanl.  Que  res  raagno  gaudio  ac  spiri- 
tuali  consolalione  animum  noslrura  raaxirae  replevit.  lllud  etiara  sum- 
mopere  nobis  placuit  quod  idem  Eraanuel  Rex  per  easdem  Hileras  suas 
nobis  diligenter  significavil  se  ex  suoruní  litleris  ac  nunciis  cerlum  et 
exploralum  habere  Regnorura  istorura  Íncolas  el  habilatores  tara  laicos 
quarn  ecclesií^ticos  circa  orthodoxe  fidei  veritalera,  presertini  in  substan- 
lialibus  idem  tenere  quod  Roraana  tenel  el  profitetur  Ecclesia,  credereque 
beatum  Pelrum  Apostolorum  Principem  verura  Ghristi  vicariura  in  terris 
fuisse,  nosque  ejus  successorera  esse,  el  Sanctara  Romanara  Ecclesianí 
tamquam  raalrera  suam  recognoscere.  Prclerea  sacerdotes  ac  presbíteros 
in  Ecclesiis  suis  preces  Deo  funderc,  ac  missas  et  horas  canónicas  diur- 
nas pariler  el  nocturnas  dicere  el  celebrare,  ut  mérito  sperare  ac  nobis 
ipsis  promiltere  possiraus,  inlra  paucos  annos  chrislianara  fidera  suos  tér- 
minos longe  lateque  propagaluram  fore,  modo  nos  tales  prestemus  et  pre- 


RELACOES  COM  a  curia  romana  57 

beamus  ul  nobis  ipsis  minime  defuisse  \ideamur  id  quod  Emanuel  el  Da- 
vid Reges  prefali  temporalibus  presidiis  enili,  nos  vero  spiritualibus  ora- 
tionibus  ab  Omnipolenti  Deo  humiliter  exorare  alque  implorare  debemus, 
et  in  sánela  tidei  unione  ita  perseverare,  ac  inconsiililem  Domini  lunicam, 
quam  miles  impius  servavit  illesam  et  inviolabilem,  custodire,  ul  in  di- 
vine majestalis  conspeclu  graliam  invenire  mereamur.  Cum  autem  fra- 
lernilalem  luam  lalere  non  debeal  ex  illo  singularis  excellenlie  privilegio, 
quod  unigenitus  Dei  filius  Jhesus  Christus  Pelro  Apostolorum  Principi 
concessit,  procederé  ul  omnes  lam  seculares  quam  ecclesiaslicas  dignila- 
les  oblinenles  obedienliam  et  reverenliam  debitas  et  devolas  nobis  et  huic 
Sánete  Sedi  Apostolice  prestare  leneanlur,  proplerea  fralernilatem  ipsam 
luam  in  Domino  horlamur  ac  paterna  charilate  requirimus  ul  nos  el  di- 
clam  Sedem,  prout  leneris,  filiali  obedienlia  revereri  eique  in  ómnibus 
deferre  sludeas.  Quod  si,  ul  speramus  et  optamus,  feceris,  proprie  sa- 
luli  ac  eliam  honori  et  commodo  tuo  et  gregi  tue  cure  crédito  cónsules ; 
nosque,  qui  Patriarchas  et  Episcopos  omnes  fraterna  charilate  diligimus 
et  ámamus,  ad  omnes  gratias  et  privilegia,  que  cum  nostro  el  dicte  Se- 
áis honore  concedí  poterunt,  tibi  elargienda  semper  benignos  el  liberales 
invenies ;  fraternilas  igilur  lúa  de  die  in  diem  in  nostra  et  Sánele  Ro- 
mane Ecclesie  dileclione  et  obedienlia  proficere  ac  gregem  suum  in  ea 
conservare  et  retiñere  curabit.  Nos  vero  pii  more  patris  continuas  pre- 
ces fundemus  ul  gralia  Dei  et  Domini  noslri  Jhesu  Christi  sil  semper  vo- 
biscum,  eademque  fraternilas  lúa,  firmam  et  solidam  de  Sede  Apostólica 
et  Petri  successore  vicario  Jhesu  Christi  spem  opinionemque  habens,  ejus- 
dem  Sedis  Apostolice  dogmala,  que  ipse  Emanuel  Rex  nostro  nomine  ad 
eam  mitlil,  devole  suscipiel  ac  populis  suis  fideliter  tradet.  Ul  vero  do- 
ctrine et  sapienlie  lumine  impleamiríi,  quibus  possitis  et  scialis  non  so- 
lum  vosmelipsos  in  recia  Domini  via  conservare,  sed  eliam  popuios  et 
naílones  proximarum  genlium  et  regionum  in  animarum  veslrarum  lu- 
crum  dirigere  et  una  vobiscum  ad  vitam  ducere  sempiternam. 

Datum  Rome  ele.  anno  etc.  milésimo  quingentésimo  vigésimo  primo, 
duodécimo  kalendas  Oclobris,  anno  nono  ^ 


^  Copia  authentica  extrahida  do  archivo  do  vaticano, 
TOMO  II. 


o8  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGLEZ 

Carta  de  el-Rei  para  D.  ilig;iiel  da  Silva. 

15:31 — IVovembro  36. 

Dom  miguel  amiguo  nóe  elRei  vos  enviamos  muyto  saudar. 

Os  dias  pasados,  como  creemos  que  seres  lembrado,  vos  sprevemos 
e  emviámos  carta  pera  o  salilo  padre  sobre  a  expidicam  do  capello  de 
cardeal  para  o  arcebispo  de  lixboa,  e  vos  mandamos  o  que  a  sua  santi- 
dade  niso  de  nosa  parle  fallaseis,  asy  da  merce  que  sua  santidade  niso 
nos  farya,  e  como  asy  o  Receberiamos  e  yslymariamos,  como  se  pera  hum 
filho  meu  Iho  sopricasemos,  por  seus  grandes  seruicos  que  delle  temos 
Recebidos,  como  por  suas  verludes  e  grandes  merecimenlos  no  sprlloall 
e  temporal]  diinos  de  toda  honra  e  acrecentamento.  E  nos  respondestes 
enlam  a  booa  vontade  que  pera  yso  achaueis  em  sua  santidade,  e  como 
por  follguar  de  nos  fazer  merce  Ihe  prazia  o  outorgar  e  niso  nos  satis- 
fazer,  pero  que  a  cota  dos  treze  mil  ducados,  que  ho.  arcebispo  offerecia, 
Ihe  parecerá  pouco,  com  todo  o  mais  que  sobre  yso  nos  entam  spreues- 
tes ;  e  de  entam  ate  agora  nom  ouue  lugar  pera  nisto  mais  se  entender, 
porque  pella  pestinenca  pasada  o  arcebispo  esteue  sempre  alongado  de 
nos,  e  amdou  por  noso  mandado  acompanhando  e  seruindo  a  senhora 
Rainha  minha  irmaa,  e  tambem  porque  elle  ficou  muito  gastado  do  grande 
gasto  que  fez  no  Recebimento  da  entrada  da  Rainha  etc.  uestes  reynos, 
em  que  muy  honradamente  nos  seruio,  e  por  outras  causas  que  nam  de- 
ram  pera  esta  negociacam  lugar.  Agora,  allera  da  obrigacam  que  temos 
pera  foUgar  de  Ihe  fazer  merce,  asy  da  parle  de  seus  boos  seruicos  como 
da  parte  de  sua  bondade,  virtude,  e  grande  merecimento  pera  esta  onra 
e  acrecentamento  com  muita  Rezam  Ihe  caber,  se  oferece  mais  elle  nos 
seruir  na  ida  da  Ifante  minha  filha,  com  quem  a  enviamos  a  saboya,  o 
que  elle  aceytou  com  tam  booa  vontade  como  sempre  tem  pera  as  cou- 
sas de  noso  seruico,  que  aínda  nos  faz  mais  yslimar  o  seruico  que  niso 
nos  faz,  e  se  aparelha  pera  yso  muyto  onradamente  e  gasta  niso  muito  * 
de  sua  fazenda,  pello  qual,  allem  de  seus  seruicos  pasados,  este  nos  obriga 
aimda  muito  mais  e  desejamos  ser  concludido  este  seu  negocio,  .pello  qual 
vos  encomendamos  muito  que  vos  falles  logo  de  nosa  parte  ao  santo  pa- 


RFXACOES  COM  a  curia  romana  59 

dre  c  Ihe  dizé  que  sua  sanlidade  será  lembrado  da  merce  que  Ihe  man- 
damos pidir  e  sopricar  desle  capello  de  cardeal  pera  o  nrcebispo,  e  do 
que  niso  vos  respondeo  que  folgaua  de  fazer  por  nos  fazer  merce,  pello 
que  Ihe  beijamos  seus  santos  pees  e  de  nosa  parte  llios  beijarés.  E  que 
gómenle  licou  por  concludir  por  parecer  a  cota  que  o  arcebispo  oferecia, 
que  eram  treze  mil  ducados,  pequeña,  Ao  que  despois  ale  agora  se  nom 
Repricou  a  sua  santidade,  nem  o  tempo  deu  lugar  a  niso  se  entender 
pellos  impidimentos  airas  dilos  :  que  pidiimos  mullo  por  merce  a  sua  san- 
tidade que  por  nos  fazer  grande  merce  Ihe  prazerá  conceder  e  oulorgar 
ao  dilo  arcebispo  o  dito  capello  de  cardeall  por  os  ditos  treze  mil  cruza- 
dos, e  que  crea  que  se  elle  ha  mais  podera  chegar  o  fizera  com  muy  booa 
vonlade.  E  que  por  esta  cota  ho  fazer  ho  Receberemos  de  sua  sanlidade- 
em  merce,  asy  como  se  por  menos  o  fezera  a  cada  hum  de  meus  filhos, 
e  que,. o  que  elle  agora  gas|a  e  despende  por  noso  $eruico  nesla  viagem 
que  faz  com  a  yfanle  minha  filha,  pidimos  a  sua  santidade  que  Receba 
em  comía,  porque  nos  como  por  propria  merce  que  o  dilo  nos  faz  o  Re- 
cebemos, e  pera  acerqua  de  todo  o  que  dilo  he  Ihe  fallardes  vos  enuia- 
raos  com  esla  nosa  caria  de  cremca.  E  vos  encomendamos  muito  que  na 
conclusam  desle  negocio,  pera  se  acabar  e  concludir  pella  cola  dos  dilos 
treze  mil  ducados,  trabalhés  como  se  pera  hum  de  meus  fiThos  vos  en- 
comendásemos esla  sopricacam,  porque  asy  voUa  encomendamos  e  Rece- 
beremos de  vos  em  seruico  o  que  niso  Irabalhardes  e  fezerdes :  e  tam- 
bera spreuemos  sobre  yso  a  carta  que  com  esla  vay  ao  cardeall  de  sanly 
quatro,  pella  qual  muylo  aficadamenle  esta  expidicam  Ihe  encomendamos 
e  vos  damos  crenca  pella  dila  carta,  e  tambera  vos  enviaraos  cartas  de 
crenca  pera  f.  e  f.  pera  deles  vos  aproueytardes  nesle  negocio  e  Ihe  fal- 
larde^  o  que  vos  bera  parecer  de  nosa  parle  pera  toraarera  cuidado  da 
conclusam,  e  nos  eremos  que  ho  arcebispo  terá  boom  cuidado  de  Ihe  fa- 
zer seus  presentes  como  seja  rezam  e  que  nam  vaa  o  Irabalho  diso  de 
vazio ;  e  com  os  priraeiros  Recados  follgaraos  que  nos  sprevaes  o  que 
niso  fazees ;  e  ruuito  vos  encomendamos  ponhaes  nisto  todas  vosas  forcas 
pera  se  acabar  e  concludir  pelos  ditos  treze  rail  cruzados,  porque  asy 
nos  avoemos  niso  por  seruido  de  vos  como  pera  cada  huum  de  meus  ííiiios 
fose,  como  dizemos.  Sprila ^ 

^  Rascunho  sem  data  no  Arch.  Nac,  Corpo  Chron.,  Part.  i,  Mac.   27,  Doc.  75, 
Diz  á  margem:  «Do  arcebispo  de  lixboa — De'xxvi  dias  de  nouembro  1321.» 


REINADO 

DE 

EL-REI D.  MO  m. 


Carta  de  el-Rei  a  D.  llig^uel  da  i^ilva. 

1581 — Dezembro  lO  (t). 


Dom  Miguel  amigo  nos  elRey  vos  enviamos  muylo  saudar.  Por  muy 
cerlo  aveemos  que  avees  de  Receber  muylo  pesar  da  noteficacam  destas 
nouas,  que  com  muyla  dor  nojo  e  sentymenlo  nom  podemos  escusar  de 
vos  noteficar,  e  he  asy  muyla  rezam  pella  grande  obrigacam  que  pera  yso 
temdes.  El  Rey  meu  senhor  e  padre,  que  santa  glorya  aja,  adoeceo  de 
huumas  febres  lam  agudas  que  nom  vyueo  mais  de  noue  días,  e  no  cabo 
delles  prouue  a  noso  senhor  ho  leuar  pera  sy,  Recebidos  despois  de  con- 
fesado e  comungado  todos  os  oulros  sanios  sacramentos,  e  com  lam  yn- 
teiro  conhecimenlo  de  sua  morte  como  elle  sempre  ho  teue  das  cousas  de 
seruico  de  noso  senhor,  a  que  todas  suas  obras  sempre  forara  aderemca- 
das ;  e  de  seu  fallecimento  Recebemos  tamta  dor  nojo  e  sentymenlo  como 
he  a  rezam  e  obrigacam  que  pera  yso  temos,  pero  quanlo  em  nos  he  tra- 
balhamos  por  conformar  nosa  voníade  com  ha  de  noso  senhor,  e  Ihe  da- 
mos gracas  e  louuores  por  asy  se  aver  por  seruydo,  asy  como  por  todas 
suas  obras  todos  ho  deuemos  fazer;  e  confiamos  na  sua  myserycordia  que 
pois  a  eslas  cousas  nom  ha  outro  mais  certo  Remedio  nom  aleuantará  a 
máo  de  sobre  nos,  e  nos  consollará  de  modo  que  o  posamos  asy  seruir 
como  he  a  obrigacam  que  temos  e  o  desejamos.  Noleficamos  ao  santo  pa- 
dre por  nosa  carta  este  fallecimento  del  Rey  meu  senhor  e  padre,  que 
samta  glorya  aja,  asy  como  o,  deuemos  fazer,  e  por  muy  cerlo  avernos 
que  sua  sanlidade  receberá  por  yso  grande  sentymenlo  por  ter  nele,  al- 
lem  da  obrigacam  geral,  lam  especial  seruidor,  e  que  com  tamlo  amor 
desejaua  fazer  as  cousas  de  seu  seruico.  Day  a  sua  sanlidade  nosa  carta, 
e  dizé  Ihe  de  nosa  parte  que  muylo  nos  prouuera  de  poder  escusar  Ihe 
dar  noteficacam  de  laes  nouas,  mas  pela  obrigacam  que  leemos  pera  yso 
nom  podemos  leixar  de  ho  fazer;  que  esperamos  em  noso  senhor  que  asy 


64  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

como  nelle  perdeo  filho  lam  obidiente  e  lam  verdadeiro  seruidor,  asy  co- 
brará em  nos  outro  tall,  que  nisto  nom  aveemos  menos  delrabalhar  por 
allcancar  a  sua  beencam  do  que  em  todallas  cousas  e  obras,  que  como 
tam  christyanysymo  principe  sempre  fez ;  com  todas  oulras  mais  pala- 
uras,  que  vos  bem  parecerem  a  este  proposito,  as  quaaes  ouuemos  por 
escusadas  pera  vos  que  sabemos  que  tambem  ho  saberes  fazer,  e  asy  como 

em  tal  tempo por  noso  seruico.  Nos  fomos  logo  alleuantado  por  Rey, 

segundo  que  nos  taes  tempos  se  costuma  fazer  uestes  Reynos,  por  todos 
os  tres  estados,  e  esperamos  em  noso  senhor  que  asy  teera  maao  em  no- 
sas  cousas  que  Ihe  prazerá  nos  dar  lugar  e  tempo  pera  ho  seruirmos  como 
desejamos.  Pareceo  nos  bem  vollo  fazer  tambem  saber  pera  o  poderdes 
dizer  a  sua  santidade.  Sprita '. 


Carta  de  D.  llig;uel  da  Silva  a  el-Rei. 


15!»»— Maio  9. 


Senhor.  —  Porque  vosa  alteza  me  manda  que  de  todallas  novas  desta 
térra  Ihe  dé  larguamente  conta,  o  farey  nesta;  e  porque  da  morte  do  papa 
liao,  e  maneira  do  concraui,  e  deíFerencas  dos  cardeais,  e  deuisao  do  co- 
legio em  franceses  e  inpiriaes,  e  per  derradeiro  da  milagrosa  e  santa  elei- 
cao  do  papa  adriano,  e  asi  da  tomada  de  cornay,  e  a  maneira  em  que 
se  a  fortaleza  deu  com  toda  arlelharia,  que  era  muita,  quasi  nos  olhos  d 
elRey  de  Franca,  eu  tenho  escrito  com  diligencia,  e  per  desvayrados  cor- 
reos a  el  Rey  vosso  padre,  que  deus  tem,  mandando  por  cada  correo  o 
trelado  do  mesmo,  e  he  inposivel  que  alguum  delles  nom  seja  pasado  a 
saluamenlo,  nam  tornarey  mais  nesla  a  repricar  aquella  materia ;  soo- 
mente  direy  que  na  eleicao  deste  papa  ninguem  nam  se  pode  gabar  que 
teue  nenhuuma  parte,  porque  deus  soo  por  sua  misericordia  pera  alguum 
grande  effeyto  a  guiou  por  sua  mao,  que,  na  maior  confusao  e  menor 
esperanca  de  tam  cedo  se  poder  concruir  ninhuum  bem,  huuma  manhaá 

'  Minuta  sem  data  no  Abch.  Nac.  Cartas  missivas  Mac.  2,  n."  341.  No  verso  da 
pagina  lé-se :  «Quinta  feira  xix  días  de  dezembro  1521  o  aleuantamento  delRey.  » 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  ,65 

se  acharao  amigos  e  imigos  lodos  de  huum  parecer,  e  consire  vossa  al- 
teza se  o  milagre  he  manifestó  que  sendo  toda  a  diferenca  por  nam  fazerem 
papa  inpcrial  os  franceses,  que  asi  se  chamam  ja  mal  pecado,  e  dando 
o  cardeal  de  medices  aquella  manhaa  seus  votos  a  este  por  provar  se 
por  ventura,  como  se  faz  ñas  eleicóes  aas  \ezes,  outrem  por  jogatar  ti- 
uese  feyto  o  mesmo  e  saise  papa  e  nam  sendo  porem  asi,  no  ponto  que 
forao  lidos  os  quinze  votos  que  tinha,  todollos  oulros  cardeais  franceses 
e  nao  franceses,  e  alguuns  deiles  nao  sabendo  se  este  homem  era  viuo 
se  morlo,  se  aleuantarao  e  como  fóra  de  si  a  quem  iria  primeiro  Ihe 
derao  seus  votos  lodos  por  aceso,  e  ouue  hi  tal  dos  mais  firmes  na  fée 
francesa  que,  acabado  de  Iho  ter  dado  e  delle  ser  papa,  se  vollou  aos 
que  estauao  a  par  delle  preguntando  Ihes  que  homem  era  esle.  Desta  ma- 
neira  foy  elegido  santamente,  e  bem  sem  simonía  nem  sospeita  della,  pa- 
pa adriano  aos  ix  de  Janeiro  1522,  xiiii  dias  depois  de  os  cardeaes  en- 
traren! em  conclaui,  e  quarenta  e  dous  despois  da  morte  de  papa  liao ;  e 
se  a  homens  humanamente  se  ha  de  atribuir  parle  desta  criacao,  primeira- 
menle  se  atribuirá  ao  cardeal  de  mediéis,  que  Ihe  deu  xv  votos,  e  des- 
pois delle  ao  cardeal  da  minerva,  geral  que  foy  da  hordem  de  sao  do- 
mingos, que  foy  o  primeiro  que  se  aleuantou  e  dise  qualro  palavras  era 
louuor  da  pesoa  do  papa  como  por  exortacao  aos  outros  cardeaes :  Iras 
ysto  todo  o  que  he  foy  pollo  esprito  santo  manifestamenle. 

Esta  eleicao  por  se  aver  como  feyla  na  propria  pesoa  do  emperador, 
sendo  esle  homem  seu  mestre  e  seu  governador  e  em  sua  casa,  sosleue 
as  cousas  de  sua  alteza  em  pee,  teniendo  se  todo  o  conlrairo  morrendo 
papa  liao,  per  cujo  falecimento  parecía  que  falecia  lodo  o  Remedio  de 
poder  manler  as  cousas  de  Itailia.  E  nam  soomenle  se  maníeve  o  eslado 
de  millao,  mas  sempre  seu  exercito  esteve  com  avantagem  no  campo  ate 
que  a  tardanca  do  papa  e  diligencia  de  alguuns  cardeaes  franceses,  e 
principalmenle  ao  do  cardeal  soderino  pollo  grande  odio  que  lem  ao  car- 
deal de  mediéis  comecou  a  mover  alguuma  Revolta  pera  ver  se  o  podia 
deitar  fóra  de  florenca,  avendo  por  ,cerlo  que  sua  pesoa  e  autoridade 
nesta  Repubrica  he  huma  grande  ajuda  das  cousas  do  emperador  co- 
mo he.  Com  dinheiros  de  franca  e  de  alguuns  cardeais  que  ajudao  esta 
parle,  e  do  mesmo  cardeal  soderino,  o  Senhor  Renco  vrsino  com  dez 
mil  homens  de  pee  e  quasi  mil  de  cavallo  veio  a  sena  pera  laucar  fora 
o  cardeal  petruchi,  que  governa  aquelle  estado,  e  em  sena  achou  tal 

TOMO  II.  9 


66  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

encontró  e  asi  por  -loda  a  térra  de  seneses,  que  nam  pode  tomar  huum 
soo  pombal,  e  per  derradeiro,  viindo  aos  muros  de  sena  e  nam  podendo 
entrar,  deu  vergonhosamente  a  volla  perdendo  boa  parle  da  gente,  e  polla 
fama  os  seus  falecendo  Ihé  as  biloalhas  folgavao  de  os  prenderern  por  Ihes 
darem  de  comer.  E  neste  mesmo  tempo  os  benliuolhas  desterrados  de  bo- 
lonha,  filhos  de  Joham  bentiuolha,  liranno  que  fora  daquella  cidade, 
vierao  aas  portas  com  acerca  de  seis  mil  homens  e  quinhentos  cavallos, 
e  a  cidade  se  poos  em  armas,  e  Yalentemento  sayo  toda  a  gente  fora  e  os 
desbaratou  e  prendeo  huuma  grande  parle,  e  tomou  Ihes  toda  a  artelha- 
ria  que  traziao.  Em  lonbardia  os  franceses,  casi  como  sendo  com  cstou- 
Ira  gente  de  falla  pera  em  huum  mesmo  tempo  querer  provar  a  fortuna, 
forao  casi  no  mesmo  dia  a  poher  cerco  a  pavia,  onde  estaua  o  marques 
de  manlua  capitao  da  igreja,  o  qual  a  defendeo  tam  bem  que  franceses 
aleuantarao  o  campo  e  perderao  cento  e  vinte  laucas  grosas;  e  \indo  já 
a  elle  prospero  coluna  capitao  geeral  do  emperador  soccorrer,  e  achando 
que  se  aleuantavao  e  sem  muyta  ordenanca,  Ihes  matou  huuma  boa  parte 
de  soleos.  E  em  todas  estas  partes  venceo  a  parte  imperial  estes  dias  pas- 
sados,  e  o  cardeal  de  mediéis  em  todos  teue  muy  grande  parte  e  ajudou 
grandemente  com  dinheiros  e  gente. 

Ha  dez  de  feuereiro  escreui  a  vossa  alteza  como  se  esperava  enlao 
que  suicos  viesem  em  ajuda  de  franceses,  e  asi  foy  que  vierao  xvi  mil. 
Ho  emperador  mandou  o  duque  com  oyto  mil  alemaes,  e  antes  que  elle 
achegase  erao  viindos  sete  mil  outros,  de  maneira  que  quando  entrou 
em  millao,  onde  com  grande  alegría  dos  pouos  foy  Recebido,  tinha  esta 
gente  seguinte :  alemais  xv  mil,  mi  mil  espanhois,  e  pasante  de  viii  mil 
italianos,  isto  gente  de  pee :  de  cavallo  antre  homens  darmas  da  igreja 
e  do  emperador  mil  homens  darmas  e  mil  e  quinhentos  cavallos  ligeiros. 
Da  gente  darmas  e  como  geral  capitao  prospero  coluna  :  da  gente  de  pee 
toda  o  marques  de  pescara :  da  gente  do  papa  ho  marques  de  mantua. 
Franceses  linhao  suicos  xti  mil  seus  e  de  venezeanos,  in  mil  Itallianos, 
e  outros  tres  mil  que  elles  pagavao ;  tancas  grosas  seiscentas.  Venezeanos 
trezentas  e  outras  alguumas  de  amigos  Itallianos.  Estes  dous  exercitos  se 
esperava  cada  dia  que  pelejasem  em  batalha  campal,  e  prospero  colona 
por  sempre  fugir  as  ocasioes  diso  nam  deixava  o  mundo  de  o  Reprender 
alguum  pouquo,  até  que  mostrou  que  o  tinha  feyto  como  boom  e  sabio 
capitao  vencendo  sem  ninhuuma  perda  de  sua  gente.  E  a  maneira,  se-, 


RELACOES  COM  a  curia  romana  67 

nhor,  da  vitoria  foy  esla  que  cada  dia  niudava  o  alogiamento,  andando 
semprc  tirando  as  biloalhas  aos  imigos,  e  poendo  seu  campo  e  exercito  em 
lugares  laes,  que  cumprise  aos  franceses  ou  aleuantar  o  arraial  ou  ¡r  pe- 
lejar  com  elle  a  sua  casa,  e  os  lugares  onde  se  asenlaua  erao  sempre 
muy  fortes,  e  com  a  muyta  arlelharia  que  Iraz  os  fazia  como  fortalezas : 
a  Ierra  era  imiga  de  franceses ;  as  bitoalhas  nam  se  podiao  aver  sem  pe- 
lejar ;  de  maneira  que  os  poos  como  bom  capilao  em  tanta  necesidade  de 
tudo  que  os  suicos  diserao  que  se  queriao  tornar  pera  suas  casas,  e  os 
venezeanos  parece  que  diziao  o  mesmo.  Vendo  isto  monsenhor  de  lutre- 
che,  e  o  bastardo  de  saboia  grao  meslre  de  franca,  que  \eio  com  os  sui- 
cos e  no  campo  linha  a  principal  autoridade,  pareceo  Ihes  bem,  já  que 
se  queriao  partir,  prouar  a  fortuna  primeyro,  e  nam  com  muilo  boom 
conselho  ditirminarao  de  ir  conbater  o  arraial  dos  imigos  no  proprio  lu- 
gar onde  estaua  asentado.  Ho  lugar  se  chama  a  bicoca  huuma  legoa  e 
mea  de  millao  no  caminho  direito  de  monea,  que  he  huum  lugarete  onde 
os  franceses  estauam  alem  da  bicoca  outra  legoa  e  meia,  de  maneira  que 
estaua  o  campo  do  emperador  antre  millao  e  os  imigos  a  meio  caminho : 
este  lugar  he  lodo  cercado  de  grandes  cavas  e  acequias,  como  he  toda 
Lombardia,  e  estaua  de  maneira  ordenada  a  artelharia  que  huuma  mosca 
nam  podía  passar  sam  dar  nella.  No  ponto  que  a  millao  veio  o  aviso  que 
franceses  vinhao  em  som  de  querer  pelejar,  o  duque  de  millao  saio  com 
doze  mil  milaneses  e  quinhenlos  de  cavallo  pera  se  achar  na  peleja,  e  já 
quando  chegou  achou  a  cousa  comecada,  lodavia  sua  chegada  foy  gran- 
de ajuda  aos  do  emperador.  Franceses  Repartirao  sua  gente  em  tres  par- 
les ;  A  melade  dos  suicos,  com  todallas  cabecas  dos  amigos  delRey  de 
Franca,  mandarao  a  dar  de  pellos  na  artelharia;  os  venezeanos  polla  parte 
mais  fraca  do  campo ;  elles  com  a  gente  d  armas  por  huuma  ilharga, 
cuydando  que  sendo  daquella  parle  millao  que  nam  averia  cavas,  e  as 
que  ouuese  os  imigos  as  teriao  cheas  pera  se  poderem  milhor  seruir  da 
cidade ;  e  nam  era  asi  que  todas  as  partes  estauao  a  bom  Recado.  Os 
suicos  quiserao  fazer  o  que  Ihes  mandarao  e  achariío  huuma  cava  que 
jiao  podiao  pasar,  e  lodavia  provando  a  escopetarla  espanholla  e  alguuns 
alemais  Ihes  matarao  no  primeiro  asalto  qualro  mil  homens :  a  gente  dar- 
mas  francesa,  que  passara  huuma  cava,  querendo  pasar  huuma  ponte, 
que  adianto  avia,  achou  de  Roslo  a  gente  do  duque  de  millao  e  sua  pe- 
soa  e  a  gente  d  armas  de  napolles  de  huuma  parte,  e  da  outra  a  escope- 

9« 


68  GORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGÜEZ 

taria  Italliana.  E  no  mesmo  lempo  prospero  coluna  vendo  isto  mandou 
preslesmenle  quinhenlos  espingardeyros  espanhoes  da  outra  parle,  os 
quaes  o  fizeiao  de  maneira  que  de  quinhenlas  lancas  que  ali  erao  enlra- 
das  aamelade  ficou  eslendida  no  campo,  e  era  inposivel  ser  doulra  ma- 
neira, porque  os  franceses  linhao  dianle  dos  pees  muilas  e  muyto  gran- 
des acequias,  e  a  gente  do  emperador  com  as  espingardas  fazia  ludo  a 
seu  saluo.  Com  este  lamanho  daño  se  parlirao  franceses,  e  ajuntando  se 
lodos  outra  vez  com  os  suicos,  que  já  fugiao,  se  saluaram  lodos  em  huu- 
raa  bastida  em  que  linhao  sua  artelharia,  e  em  guarda  della  lodos  os  ou- 
tros  suicos  e  gente.  Venezeanos  nam  achegaráo  tanto  auante :  dizem  que 
nam  podiao  pasar  huuma  acequia,  e  outros  dizem  que  nam  quiserao. 
Morrerao  da  parle  francesa  perto  de  v  mil  pesoas.  A  mesma  noyte  sem 
comer  nem  beber  suicos  se  parlirao  e  se  forao  lodos  pera  sua  Ierra ;  e 
porque  dizem  que  Ihes  deue  el  Rey  muitas  pagas,  levarao  presos  como 
por  penhor  o  bastardo  de  saboia  monsenhor  de  la  paliza,  e  o  eslribeiro 
moor  delRey  de  franca:  venezeanos  se  acolheráo  as  suas  Ierras:  france- 
ses o  mesmo  a  Ierras  de  venefianos  por  enlao.  Ontem  cliegou  nova  co- 
mo seis  capitaes  da  gente  d  armas  francesa  se  melerao  em  lodi,  que  he 
huum  lugar  grande  mas  fraco  perto  de  millao,  e  prospero  coluna  com 
os  espanhoes  Ihes  deu  o  combale  e  per  forca  enlrou  e  matou  lodos  que 
nao  escaparao  senao  vinle  pesoas :  eram  Irezentas  e  cincoenla  lancas,  cu- 
jos  seruidores  e  archeiros  e  outra  alguuma  gente  de  pee  achegavao  a  qua- 
tro  rail  pesoas :  huuma  parte  morreo  a  ferro,  a  outra  fugindo  se  afugou 
ao  passar  de  huum  Rio.  De  maneira,  senhor,  que  asi  venceo  o  empera- 
dor sem  morrer  neslas  duas  pelejas  da  bicoca  e  lodi,  que  he  cousa  pera 
se  nao  creer,  mais  que  xx  espanhoes  e  quarenta  alemaes  e  acerca  de 
cem  Itallianos,  ludo  gente  de  pee,  tirando  o  conde  de  gulisano  neapolita- 
no,  que  morreo  de  huuma  selada  na  cabeca,  que  diz  que  nunqua  aquello 
dia  pode  abaixar  a  viseira  do  elmele.  Com  esta  nova  se  deu  a  fortaleza 
de  piciguilom  e  vigeverre  que  erao  de  muyla  importancia,  e  agora  se 
combate  a  de  cramoua ;  nem  se  cree  que  aja  dificuldade  nenhuuma  em 
lomalla,  indo  as  cousas  lanío  de  Rompida  como  vao.  Anlre  os  suicos  mor- 
rerao alberlo  de  la  preda,  Jorge  soprasaso,  Jacobo  estafen,  tres  principaes 
cabecas  da  parte  que  el  Rey  de  franca  linha  com  os  suicos,  que  anlre  as 
pesoas  que  cnlendem  aquellas  cousas  ha  se  a  morle  destes  tres  homens 
por  nam  menos  dañosa  a  franca  que  a  principal  perda  do  exercilo.  Em 


RELACOES  COM  a  curia  romana  .69 

Roma  se  fezerao  grandes  feslas  por  esta  nova,  e  o  caslello  de  sanl  angello 
descoberlamenle  fez  fogos.  Dizia  se  que  elRey  de  franca  quería  \i¡r  a 
Ilallia ;  agora  com  este  tamanho  desbarato  cumprirá  mudar  proposito, 
porque  todo  franca  nam  tornará  em  qualro  annos,  segundo  dizem,  a  po- 
her  em  pee  outro  tal  exercito,  nem  tan)  luzido  como  este  era;  e  com  sui- 
cos  nam  se  cree  que  aja  por  agora  maneira  de  os  mover,  sendo  mortos 
os  que  com  elles  valiao  e  podiao,  e  sendo  necesario  mais  dinheiro  pera 
pagar  Ihes  o  passado  que  quanto  se  despendeo  ale  agora. 

Renco  de  ceri  vrsino  tornou  outra  vez  com  quatro  mil  homens  a 
térra  de  seneses  polla  Ribeira  do  mar,  combaleo  huum  pequeño  lugar 
que  se  chama  orbitello  e  nao  o  pode  tomar,  e  perdeo  huum  sobrinho 
seu,  e  alguuns  de  seus  principaes  que  consigo  levava  :  os  florentiis  e  se- 
neses fizerao  gente  e  mandao  contra  elle  com  ditirminacao  de  o  seguir 
ate  Roma  e  destruir  alguuns  de  seus  lugares  pollo  castigar  aas  direytas. 

Com  esta  imizade  do  cardeal  de  mediéis,  e  com  a  parte  que  franca 
tem  antre  os  cardeaes,  vendo  tardar  tanto  o  papa  se  comecavao  a  cuy- 
dar  cousas  de  muy  maa  maneira  e  de  grande  escándalo  na  cristindade, 
e  o  cardeal  de  mediéis  ouue  cartas  aas  maos,  que  eu  vy,  que  tocavao 
no  mais  alto,  nam  sem  pensamento  de  cisma,  de  que  noso  senhor  nos 
livre  por  sua  misericordia.  Daua  a  islo  alguuma  ocasiao,  juntamente  com 
a  tardanca,  nam  ter  o  papa  ainda  aceptado  nem  serem  de  qua  idos  os 
legados  com  o  instrumento  da  eleicao.  Sua  santidade  como  prudente  e 
letrado,  que  vio  o  que  isto  Relevava  e  quam  fundo  ya,  por  Remediar  tudo 
aceitou  com  todas  suas  cirimonias  e  mandou  qua  o  instrumento  d  acey- 
tacao,  o  qual  de  todoUos  cardeaes  foy  Recebido,  e  sua  santidade  ávido 
por  verdadeiro  vigairo  de  cristo,  e  com  grande  solenidade  e  festa  se  pu- 
bricou  em  Roma  :  chama  se  papa  Adriano  sexto,  que  nam  quis  deixar 
seu  primeiro  nome,  e  nisto  se  fez  tanbem  alguuma  cirimonia  porque 
mandou  pidir  ao  colegio  que  Ihe  fose  licito  Releer  o  nome  que  primeiro 
tinha.  Sua  aceplacao  e  pubricacao  della  mando  aqui  a  vossa  alteza. 

Fala  se  muito  na  passada  do  emperador  a  Ingraterra  e  d  ahi  a  es- 
panha,  todavía  eu  nam  a  poso  creer,  ao  menos  a  espanha  por  agora,  e 
podendo  o  emperador  viir  a  Ilallia  sem  despesa  nem  gente,  como  agora 
pode  que  tudo  he  seu,  nam  sey  porque  o  nam  fará.  Eu  vi  cartas  muy 
frescas  de  Ingraterra  por  onde  se  vé  craramente  que  antre  o  emperador 
e  el  Rey  ha  hi  liga  e  particolar  Inteligencia  contra  franca,  e  asi  o  fazera 


70  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTüGUEZ 

saber  ao  duque  de  millao  e  ao  exercilo,  o  que  nam  pode  ser  sem  casa- 
mento antre  elles,  porque  escolia  com  fauor  de  franca  estes  días  come- 
cou  a  mover  alguuma  Revolla,  mas  he  o  partido  tam  desigoall  que  nam 
se  vé  que  posa  levar  nada  adiante,  e  el  Rey  de  Ingraterra  tambem  comeca 
a  ajunlar  sua  gente  e  em  quanlidade  e  se  vé  que  he  pera  pasar  o  mar. 
Praza  a  noso  senhor  de  poher  paz  antre  elles,  que  ja  seria  tempo  tras 
tantos  malíes  mortes  e  Roubos  que  alguuma  das  parles  cansase. 

De  Roma  sao  oje  viindas  carias  como  ali  era  chegado  correo  por 
mar  do  papa,  que  ficava  em  barcelona  aos  xxix  do  pasado,  e  fazia  saber 
ao  colegio  como  nam  podia  esperar  as  gatees  do  emperador  nem  as  suas, 
como  estes  dias  tinha  escrito,  mas  que  com  aquelles  pouquos  navios  com 
que  se  achava  com  ajuda  de  deus  se  meterla  em  caminho,  de  maneira, 
Senhor,  que  segundo  os  lempos  que  corremH  enlao  ate  agora  S.  S.  deue 
ser  muito  perlo  de  Ilallia.  Praza  a  noso  Senhor  de  o'trazer  cedo  a  sal- 
vamento que  pera  aseseguo  de  seu  estado  e  bem  da  igreja  sua  viinda  he 
bem  necesaria.  De  sua  pesoa  e  letras  e  tencao  virtuosa  em  todas  suas  cou- 
sas se  diz  e  prega  lanío  bem  que,  tendo  vista  sua  milagrosa  eleicao,  nam 
pode  ninguem  nom  estar  cheo  d  esperancas  de  grandes  bens  vniversais 
da  chrislindade. 

Por  me  parecer  que  poderá  muilo  Releuar  polla  ventura  a  seruico 
de  vossa  alteza  ser  avisado  com  diligencia  de  todas  estas  cousas,  e  por- 
que nam  sey  quando  acharey  outra  lal  maneira  de  o  avisar,  nam  ey  por 
erro  despachar  esta  caravella  com  estas  cartas  aa  qual  Ihe  dao  94  di- 
nheiros  (?).  Beijo  as  maos  de  vossa  alteza,  cuja  vida  e  Real  eslado  noso 
senhor  guarde  e  acrecenté  como  deseja. 

De  Florenca  a  noue  de  maio  1522. 

Porque  outra  tal  foy  por  outra  via,  e  em  huum  mesmo  tempo  com- 
prio  despachar  por  diversas  uias,  esta  nam  pode  ser  de  minha  mao. 
—  Dom  miguell  da  sylua^. 


1  Abch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Ma§.  28,  Doc.  12. 


RELACOES  tOM  A  CURIA  ROMANA  71 


Breve  do  Papa  Adriano  1^1,  flirig;ido  a  el-Rei. 


153S  — llaio  13. 


Adrianus  papa  vi  Charissime  in  christo  fili  nosler  salulem  el  apos- 
tolicam  benedictionem. 

Exposuil  nobis  dilectus  filiiis  Aries  de  Soza,  Maiestalis  luae  ad  nos 
orator,  Quae,  tam  super  Magislraluin  militiae  de  chrislo  nuncupatae, 
qiiam  super  quarundam  ecclesiarum  ad  presens  in  Regno  luo  vacanlium, 
et  inonasteriorum  in  eo  forsan  in  futurum  vacalurorum,  disposilione, 
Maieslas  tua  a  nobis  et  apostólica  sede  cupit  oblinere,  cui  quidem  Maies- 
talis luae  desiderio  nos,  pro  eius  in  diclam  Sedem  meritis  el  noslra  erga 
eam  affeclione,  libenlissimo  animo  salisfecissemus,  nisi  id  voluntali  nos- 
Irae  obslitissel  quod,  ul  nosce  arbitramur  Maieslalem  luam,  non  consue- 
uerint  Romani  Pontifices  praedecessóres  noslri  de  eiusmodi  rebus  incon- 
sultis  Sanctae  Romanae  Ecclesiae  Cardinallbus  deliberare,  proindeque  no- 
bis indecens  visum  est  ab  eorum  inslilulo  discedere.  Quare  Maieslalem 
luam  in  domino^  hortamur  el  Rogamus  ut  quod  pro  noslro  et  aposlolicae 
Sedis,  cuius  niaiores  lui  semper  obseruanlissimi  fuerunl,  honore  facimus, 
in  Bonam  parlem  accipias.  Id  aulem  ad  presens  nobis  visum  est  posse 
nos  Maiestati  luae  concederé,  ul  doñeo  nos  ab  vrbe  absenles  erimus  et 
per  dúos  vel  tres  menses  post  nostrum  in  eam  ingressum,  quo  lempore 
de  praediclis  Magislralu  et  Ecclesiis  ac  monasleriis  debita  prouisio  fieri 
et  lillerae  expedilae  ad  le  milli  polerunl,  3Iaiestas  lúa  suo  arbitrio  ma- 
gislralus  quidem  dicti  fructus  per  se  ipsam  administrare,  in  vacanlibus 
vero  tam  ecclesiis  quam  monasleriis  si  quae  vacant,  aut  interea  vacaue- 
rint,  administratores  deputare  possit,  qui  ipsorum  fructus,  redditus  et 
prouenlus  successoribus  postea  consignandos  diligenler  recipiant  et  con- 
seruent,  super  quo  Maiestati  luae-  presenlíum  lenore  plenam  concedimus 
facullalem.  Non  ommillemus  autem  pro  offilii  noslri  debito,  el  paterna 
in  Maieslalem  luam  charitale,  te  monere  et  hortari  ut  cum  deceal  eccle- 
sias  huiusmodi  viris  commitlere,  qui  elatis  maturilate,  lilterarum  scienlia, 
morum  grauilale  ornati  sint,  neo  germani  tui,  pro  quibus  Maieslas  tua 


72  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

super  diclis  vacanlibus  ecclesiis  ad  nos  scripsit,  qui,  ut  accepimus,  infra 
puberlalem  constiluli  sunt,  ob  eorum  leneram  elalem  et  iuditii,  quo  aetas 
illa  carel,  defeclum,  tales  esse  valeanl,  nec  eliam  dignum  videatur  vel 
tuae  Maieslalis  pelilione  vel  praefatae  sedis  concessione,  vi  iis.  qui  inslru- 
clionibus  et  gubernaloribus  indigent,  alioruní  cura  commiltalur,  in  bis 
praeserlira  quae  animarum  salulem  concernunt,  Maieslati  tuae  placeal  ad 
dictas  ecclesias  nobis  aliguos  nominare,  qui  eis  el  sine  conscientiae  scru- 
pulo  el  cum  praefatae  sedis  dignilate  prefici  valeanl,  assignata  germanis 
luis  super  fructibus  ipsarum  ecclesiarum  congrua  pensione,  quam  iuxta 
regalera  spiendorem  magnifice  viuere  possinl.  Super  quo  luae  Maieslalis 
deliberationem  cura  desyderio  expeclamus,  Rogantes  ut,  cum  in  vrbe  fue- 
rimus,  per  aliquem  id  nobis  significel,  vt  vacanlibus  ecclesiis  de  idóneo 
pastore  prouidere  ualeamus,  ne  ipsarum  longior  vacalio,  ut  plerumque 
conlingere  solel,  eis  dispendium  el  animabus  parial  detrimenlum. 

Datura  Caesarauguslae,  sub  Annulo  piscatoris,  die  xiii  Maii  mdxxii, 
suscepti  a  nobis  oílitii  Aposlolatus  Anno  Primo.  —  T.  Hezius^. 


Carta  de  Ayresi  de  Sousa  a  el-Rei. 


153S— llaio  14. 


Senhor.  —  Eu  cheguey  aqui  a  saragoca  segunda  feyra,  que  foram 
cynquo  días  de  maio,  e  detyve  me  era  qualatau  era  fazer  de  vyslyr  e 
mandar  tomar  pousadas.  Fuy  Recebydo  mui  bem,  como  creo  que  joam 
Rodrigues  escreverá,  que  eslá  muito  contente  porque  diz  que  nam  foy 
nynguem  Recebydo  lao  bem,  nem  cora  que  ho  papa  tanto  folgasse;  e  certo, 
senhor,  que  pai  nam  podia  quom  mais  amor  e  boa  vontade  Receber  sua 
vysytacao  e  cousas,  que  Ihe  de  parle  de  vosalleza  dise  e  Requery,  do 
que  sua  santydade  moslrou.  E  porque  avya  dous  ou  tres  dias  que  o  papa 
comecava  a  entender  e  fazer  despachos,  e  sua  parlyda  s  afyrmava  ir  se 
mui  cedo  daqui,  loguo  ou  oulro  dia  Ihe  fui  Requerer  os  negocyos  de  uos 
alteza,  e  aquele  propyo  dia  chegou  o  coreo  de  corao  mandava  pedir  o 

*  Arch.  Nac,  Gav.  7,  MaQ.  13,  n.°  1. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  73 

byspado  d  evora  pera  o  cardeall,  e  tiido  me  concedeo  fazer  quanto  ele 
aqui  pedia,  e  darya  todalas  provysoes  que  podesse ;  mas  que  as  cousas 
que  avyam  de  ser  despedydas  quom  os  quardeaes  que  em  nenhuma  ma- 
neyra  o  nam  podia  fazer ;  e  que  soubesse  cerlo  que  ho  que  ele  nam  fe- 
zese  por  uos  alloza,  ele  nam  ñirya  por  nenhum  Rei.  Pasamos  muitas 
prategas,  que  deyxo  pera  quando  for,  que  sao  largas  pera  escreuer.  Fol- 
guou  muilo  quom  a  sania  vera  cruz,  e  que  quora  nenhuma  tanto  nam 
podera  folgar,  como  creo  que  escreue  a  vos  alteza ;  mas,  como  diguo, 
estas  cousas  deixo  pera  por  mim  contar  a  vos  alteza,  polo  nam  enfadar 
com  tam  grande  carta  como  será  dar  Ihe  conta  do  que  nestas  hei  de  dar. 
E  posto  qiie  ho  papa  esté  tydo  por  omem  santo  e  de  muita  verdade,  nam 
quis  mais  cedo  mandar  Requado  a  vos  alteza  destes  despachos  até  os 
nam  ter  mais  certos,  e  fuy  depois  duas  vezes  a  sua  santydade,  e  oje  me 
mandou  trazer  perante  sy  a  menuta  do  breue  e  aly  estyue  coregendo  e 
emmendando  alguas  cousas,  que  me  parecerao  necesaryas,  e  tudo  fez 
com  a  quem  deseja  muito  fazer  por  vosa  alteza  tudo  o  que  Ihe  pedir ;  e 
asy  me  disse  esta  e  outras  muitas  vezes  que  a  nenhum  Rey  se  nam  de- 
vya  tanto  como  aos  Reis  de  purtugall,  por  quanto  trabalho  e  despesa  ty- 
nham  levado  por  seruico  de  deus  e  eyxalcamenlo  da  fe,  e  que  ele  tynha 
este  conhecymento  e  terya  sempre.  O  papa  dá  hum  breve  que  uos  alteza, 
ponha  no  arcebyspado  de  lysboa  e  no  byspado  d  evora,  e  asy  de  tan- 
gere ;  e  todas  est  outras  cousas  d  abadías  que  forem  vagas  e  avagarem, 
ponha  pesoa  quall  Ihe  bem  parecer,  e  leve  os  fruytos  e  Rendas  até  ele 
ser  em  Roma,  e  d  ahy  a  dous  ou  tres  meses  mandar  despedir  suas  le- 
tras; e  o  mestrado  de  cryslos  posa  por  sy  aministrar  e  governar  até  o 
dito  tempo ;  e  asy  todalas  outras  gracas  que  el  Rey  seu  padre,  que  santa 
grorya  aja,  tynha  concedydas  polos  papas  pasados;  e  no  fazer  deste  breue 
Joam  Rodrigues  e  eu  teremos  tall  cuydado  que  se  falecer  £jgum  ponto  se 
tornará  a  coreger.  Certo,  senhor,  que  Joam  Rodrigues  maosynho  tem  co- 
miguo  levado  muito  trabalho  oulhando  bem  as  cousas  de  seu  seruico, 
querendo  tomar  os  trabalhos  partycolares  e  fazel  os  sammente,  e  he 
bem  aceyto  a  papa  e  quer  Ihe  grande  bem,  segundo  me  nele  falou.  Oje, 
.que  foram  xiii  dias  maio,  me  mandou  chamar  o  papa  e  me  dise  que  ele 
tynha  muita  necesydade  de  tres  ou  quatro  quaravelas  das  de  purtugall 
armadas,  e  de  hum  par  de  galeoes,  e  asy  Remos  pera  as  suas  gales,  e 
disto  tynha  muita  necesydade,  e  que  querya  que  fosse  á  sua  cusía,  que 

TOMO  II.  10 


74  GORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGÜEZ 

eu  ho  escreuesse  a  vos  alleza.  Eu  Ihe  Respondy  que  galeoes  crya  que 
nam  eslavao  no  porto  que  erao  por  tryguo,  mas  que  uos  alloza  farya  to- 
do posyvell  polo  seruyr,  que  tynha  rauita  \ontade  pera  iso,  e  que  a  iso 
me  mandara  a  sua  santydade  a  cerlefyquar  Iho ;  mas  que  eu  nam  sabya 
o  quom  que  ho  podía  seruir  polas  armadas  da  yndia  e  asy  do  eslreylo, 
pera  que  os  galeoes  eram  feytos,  e  outras  multas  que  cadya  Recrecyao 
fazer.  Dise  me  que  ele  Ihe  querya  escreuer  e  despachar  hum  coreo  pera 
vos  alteza  pera  que  loguo  trouxese  a  Reposta,  e  que  ho  byspo  de  bur- 
gos falarya  comiguo  acerqua  destas  cousas  que  avya  raester,  e  ho  byspo 
me  mandou  estes  ytens  que  aquí  vao  do  que  avyamos  ler.  Sobr  ysto  an- 
darao  todos  estes  dias  falando  o  conde  dom  Fernando  d  andrade,  que  vai 
por  capitao  d  armada  do  papa,  e  mosem  beryngell  capylao  das  gales, 
que  he  ladrao  de  quasa,  e  o  byspo  de  burgos,  que  me  parece  que  man- 
da e  ordena  ludo,  e  faz  se  grande  seruidor  de  vos  alteza  pola  honra  que 
fezerao  a  seu  irmao  afonsequa  em  purlugall,  o  quall  deyxo  pera  dizer  a 
seu  lempo.  E  dizer  eu  o  que  me  parece  do  que  pede  o  papa  he  mui  escu- 
sado,  e  leyxar  de  o  dizer  errarya  a  seruíco  de  vos  alteza,  que  eu  raais 
estymo  que  nenhuma  outra  cousa,  e  com  este  desejo  tomo  este  eslrevy- 
mento  a  dizer  o  que  me  parece  conforme  ao  de  qua.  Certo,  Senhor,  que 
vysto  os  oferecymentos  que  neste  lempo  de  sua  parte  Ihe  fyz  que  nam 
tao  somente  a  obrygacao  gerall  que  todolos  pryncypes  crislaos  tynhao 
pera  o  seruir,  uosalleza  a  lynha  era  especyall  etc.  E  visto  a  muita  nece- 
sydade  que  tem  d  ajuda  de  vos  alteza,  a  qual  ele  certo  muito  quisera 
escusar,  segundo  o  que  pude  alquancar,  e  quom  islo  o  pode  pera  sempre 
obrygar,  que  creo  que  tem  mui  pouqua  ajuda  de  nynguem,  e  pois  ha  pede 
e  a  escusa  nam  sey  que  tall  pode  ser,  me  parece  que  se  deve  de  dar, 
porque  com  ela,  e  o  grande  amor  que  mostra  como  verdadeyramenle  fi- 
Iho,  serám  sempre  suas  cousas  eyxalcadas  como  he  Rezao,  e  estas  le- 
tras que  ao  presente  eslao  pera  despedir  me  parece  que  as  despcderya 
gratys  que  nam  podem  menos  custar  que  he  o  menos  pera  ouihar.  To- 
dalas  outras  que  ha  neste  caso  pera  lembrar  deyxo,  e  diguo  que  sua 
santydade  me  disse  como  ele  escreuia  ao  emperador  e  a  elRei  de  Fran- 
ca e  el  Rey  d  ygraterra  sobre  amyzades  que  esperava  em  deus  faze-. 
rem  se ;  que  uosalleza  escreuesse  ao  seu  embaixador  que  lynha  em 
Franca  que  falase  nysto  e  o  Irabalhase.  Aqui  está  monseor  d  alaxa,  que 
já  aqui  achey,  c  se  parte  esta  somana  pera  vytorea  aos  govcrnadores,  e 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  73 

diz  que  nam  fará  nenhuma  delenca  e  se  parlyrá  loguo  pera  ir  a  vos  al- 
teza ;  e  pera  mais  asynha  ir  tem  mandado  seu  filho,  que  he  mui  pequeño 
a  valhadoly,  e  de  vytorea  ir  em  poslas  a  valhadoly  :  ele  veo  aqui  de  vy- 
torea.  Taobem  está  aqui  hum  embaixador  del  Rey  d  yngratera,  que 
chegou  hum  dia  prymeyro  que  eu,  o  quall  dizem  que  deu  a  obedyencea 
ao  papa  e  que  em  Roma  a  darya  outra  vez  mais  copyosamenle,  quom 
que  papa  muito  folgou  e  se  muilo  fauoreceo.  Os  quardeaes  nam  vem 
nem  ande  vyr,  polo  quall  o  papa  faz  ludo  o  que  pode  fazer  como  papa 
que  he,  porem  cousas  que  se  Requerem  fazer  em  consystoreo  quom  os 
quardeaes  nam  faz,  e  por  ysto  se  deu  esta  provysao  ás  cousas  de  vos  al- 
teza, a  quall  yrá  abastante  pera  o  lempo  e  como  compre  segundo  o  que 
se  agora  pode  prover,  e  crea  vos  alteza  que  eu  eslou  bem  salysfeyto 
do .  .  .  lenho  feyto  ñas  cousas  de  seu  seruico,  e  asy  me  .  .  .  lodos  gran- 
des contamenlos  da  onra  que  o, papa  me ...  e  do  gosto  que  mostrou  em 
fazer  suas  cousas,  e  parece  me  que  uos  alteza  pode  usar  de  governador 
do  meslrado  de  crystos,  pois  he  já  concedydo,  e  asy  das  oulras  cousas 
como  lenho  dito  e  eu  Irabalharey  por  ser  cedo  despachado,  mas  ho  papa 
he  longueyro  porque  tem  muitos  negocyos :  tem  mui  grande  amor  á  Se- 
nhora  yfanle  dona  isabell  sua  irmam :  ludo  isto  deyxo  pera  quando  for. 
O  emperador  he  caminho  d  yngratera,  e  afyrma  se  aqui  que  será  lá  des 
da  fym  d  abryll,  que  segundo  o  lempo  fez  deve  de  ser  pasado.  O  papa 
estaua  mui  detremynado  em  parlyr  d  aqui  loguo,  e  parece  me  que  alar- 
gou  sua  parlyda  pola  esleriydade  que  ha  em  barcelona,  e  asy  dizem  que 
nam  eslá  bem,  porem  nam  se  deterá  mais  que  lá  novydade,  e  creo  que 
esperará  esle  Requado  de  vos  alteza  aqui :  ele  diz  que  quer  escreuer  so- 
bre os  senhores  ynfanles  seus  irmaos  dom  anryque  e  dom  duarte,  sobre 
a  ydade  ser  pequeña  pera  os  fazer  Relegyosos ;  islo  por  compryr  com  sua 
concyencia,  que  ele  pos  muilo  pejo  na  ydade.  Aqui  está  hum  gyntyll 
omem  do  duque  de  saboya,  que  vai  a  vos  alteza  e  á  d  ir  por  postas.  Veo 
taobem  aqui  a  despachar  quom  ho  papa,  e  nam  he  aynda  despachado,  po- 
rem sel  o  á  logo.  Diz  que  está  a  senhora  yfanle  muilo  boa,  e  que  Joara  lo- 
pez  e  dona  lyanor  da  sylua  e  sua  nela  serao  aqui  antes  de  qualro  dias, 
que  vera  por  lera,  e  que  as  oulras  damas  todas  fyquao  mui  bem,  e  que 
ludo  fyqua  entregue  á  senhora  yfanle  do  que  Ihe  era  promelydo  em  seu 
contrato,  e  asy  Recebydo  ludo  o  que  levaua,  somenle  ñas  joas  nam  se 
concordarao  na  valya ;  e  pois  ele  yrá  lao  cedo  nam  diguo  mais.  Todo  o 

10* 


76  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

mais  deyxo  pera  quando  for,  que  prazendo  a  deus  será  cedo.  Dom  pe- 
dro  gyrao  me  pedya  muilo  que  Ihe  mandase  beyjar  as  maos  de  vos  al- 
teza e  Ihe  certefycase  o  desejo  que  tynha  de  seruir  su  alteza  aonde  quer 
que  estevesse :  anda  trabalhando  por  estar  em  graca  do  emperador. 
O  marques  de  vylhena  chegou  agora  aqui  com  sua  molher  a  ver  o  pa- 
pa :  está  aqui  muita  gente.  Noso  senhor  a  \ida  e  Reall  estado  de  vosal- 
teza  sempre  guarde  e  prospere  como  deseja. 

De  saragoca  xiiii  días  de  maio  de  quinhentos  e  "vinte  e  dous.  —  Áy- 
res  de  sousa  ^ 


nrevc  do  Papa  Adriano  TI,  dirig;ido  a  cl-Rei. 


159S— Maio  14. 


Adrianus  papa  vi  Charissime  in  christo  fili  noster  salutem  el  apos- 
tolicam  Benedictionem. 

Incredibili  letitia  nos  aífecit  Maiestas  tua  dono  nobis  millendo  pre- 
ciossissimam  illam  reliquiam  ligni  sanclae  et  verae  Crucis,  quam,  sicut 
nouit,  Ex  mullo  tempore,  eliam  in  minoribus  constiluli,  ardenlissime 
concupiuimus.  Vnde  ei  quam  máximas  gralias  agimus,  erilque  nobis' 
ipsa  reliquia  memoriale  perpeluum  Maieslalis  luae.  Celerum  cum  nihil 
magis  in  hac  vita  desyderemus  quam  pacem  firmam-  inler  christianos 
principes  noslro  medio  el  inleruenlu  componere,  Miltimus  hac  de  causa 
venerabilem  fralrem  Archiepiscopum  Barensem  ad  charissimum  in  christo 
filiura  noslrum  francorum  Regem  chrislianissimum  Nunlii  seu  oraloris 
muñere  funclurum.  Horlamur  Maieslalem  tuam  ac  rogamus  mandel  ora- 
tori  suo  apud  eumdem  Regem  rcsidenli  vt,  vna  cum  dicto  archiepiscopo, 
pro  viribus  sludeat  animum  ipsius  Regis  ad  pacem  atque  concordiam  cum 
charissimo  in  christo  filio  noslro  Carolo  Rege  catholico  in  ¡mperalorera 
electo  equis  conditionibus  ineundam  inclinare,  vel,  si  hoc  ad  presens 
commode  fieri  ncqueal,  Sallem  ad  inducías  seu  treguas  aliquot  annorum 
illum  inducere  curenl.  Quandoquidem  durante  Bello  inler  diclos  principes 

í  Abch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  27,  Doc.  120. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  77 

vix  euilari  posse  videatur  quin  christiana  respublica  grane  paliatur-ab 
hostibus  fidei  sanguinem  nostrum  silientibiis  iacluram,  nobis  ex  altera 
parte  curae  erit  ad  ipsum  sollicitare  apud  eleclum  imperalorern,  eique 
persuadere  per  alium  nuutium  nostrum  episcopum  Astoricensem  ul  ho- 
nestas pacis  seu  induciarum  condiliones  amplectatur,  quod  illum  pro  sua 
uirtule  faclurum  confidimus.  Denique  exposuimus  oratoribus  Maiestatis 
tune  desyderium  nostrum  circa  nonnulla  nauigationi  nostrae  necessaria, 
iü  quibus  a  Maieslate  tua  non  parum  adiuuari  possemus.  Accipiat,  ro- 
gamus,  Maiestas  tua  benigno  animo  ea  quae  ab  illis  super  hoc  scriben- 
lur,  et  pro  sua  erga  sanctam  sedem  apostolicam  et  nostram  personam 
deuotione,  necessitati  nostrae,  immo  vero  sanctae  ecclesiae  sponsae  nos- 
trae,  nostris  impensis  succurrat,  ut  iter  nostrum  in  vrbem  Romam,  cuius 
retardatio  omnis  vehementer  damnosa  est,  sine  mora  explicare  valeamus. 
In  quo  prioribus  suis  maiorumque  suorum  erga  diclara  sedem  merilis 
non  paruum  cumulum  est  adiectura,  nosque  experietur  erga  se  haud 
quaquam  ingratos. 

Datum  Caesarauguslae,  sub  Annulo  piscatoris,,  die  xiiii  Maii  mdxxik 
Suscepti  a  nobis  offitii  Apostulatus  Anno  Primo.  —  T.  Uezius^. 


Breve  do  Papa  iiLdriaiio  ¥1,  dirigido  a  el-Rei. 


15SS  —  Maio  39» 


Adrianus  papa  \i  Charissime  in  christo  fili  nostér  salulem  et  apos- 
tolicam benedictionem. 

Exponi  nobis  nuper  fecit  Maieslas  tua  quod  clare  raemorie  Emanuel 
Rex  pater  tuus,  el  posl  eius  obilum  tu  nonnullorum  maurorum  infide- 
lium  ad  dicti  Emanuelis  Regis  el  deinde  tua  contra  alios  mauros  infide- 
les stipendia  seu  seruilia  in  Aphrica  mililanlium  opera  \si,  et  ipsorum 
fideliler  cum  chrislianis  contra  alios  infideles  militando  ductu  et  solertia 
freti  pluribus  victoriis  potili  fuislis,  Tuque,  ut  eos  in  tuis  fide  et  deuo- 
tione firmius  retiñeres,  nunc  ad  vnum  nunc  ad  alium  ex  illorum  Capi- 

1  Arch.  Nac,  Mac.  37  de  Bullas,  n.°  2.       ' 


78  GORPO  DIPLOMiTlGO  PORTÜGÜEZ 

tañéis  aiit  priniatibus  diuersa  muñera,  eliam  arma  varü  generis,  proul 
vsvs  et  necessilas  exigere  videbatur,  dono  misisti,  Quod  licuisse  libi  ha- 
clenus  et  ¡n  futurum  licere  dubitas  sine  aposloücae  sedis  licentia  spcciali : 
Quare  fecisli  nobis  humiliter  supplicari  ut  conscienliae  tuae  in  praemissis 
consulere  de  benignitale  apostólica  dignaremur.  Nos  igilur  huiusmodi 
supplicationibus  inclinati  dictum  Emanueiem  Regem  palrem  tuum,  in  cu- 
ius  obitu  apparuerunt  signa  contritionis,  et  Maiestatem  tuam  a  quibusuis 
excoramunicationis  aliisque  ecclesiaslicis  sentenciis  censuris  et  poenis,^si 
quas  propterea  etiam  iuxta  litleras  apostólicas,  quas  in  die  Cenae  domini 
publican  solent,  quomodolibet  incurrislis,  auctorilate  apostólica  tenore 
presentium  absoluimus;  Tibique  et  successoribus  tuis  ad  praefatos  et  quos- 
uis  alios  infideles,  luis  et  successorum  praedictorum  aduersus  alios  infi- 
deles stipendiis  seu  obsequiis  nunc  et  pro  tempore  mililanles,  arma  que- 
cunque,  el  alia  cuiuscunque  generis  muñera,  pro  illarum  personarum 
tantummodo  vsu  quae  libi  videbuntur,  in  quo  de  lúa  Maieslate  confidi- 
mus  transmiltendi,  absque  alicuius  censurae  incursu,  aul  conscienliae 
scrupulo,  plenam  et  liberam  earundem  Tenore  presentium  liccnliam  elar- 
gimur :  Non  obslanlibus  prcdiclis  litleris,  et  alus  conslilutionibus  el  ordi- 
nationibus  apostolicis,  caeterisque  contrariis  quibuscunque. 

Datum  Caesaraugustae,  sub  Anulo  Piscaloris,  die  xxii  Maii  mdxxii. 
suscepli  a  nobis  aposlolatus  oíBcii  Anno  primo.  —  T.  Ilezius  ^ 


Itreve  do  Papa  Adriano  ül,  dirigido  a  cl-Rei. 


IStS — Malo  30. 


Adrianus  papa  vi  Charissime  in  christo  fili  nosler  salutem  et  apos- 
tolicam  benedictionem. 

Diíectum  filium  Commendalorem  Joannem  Rodríguez,  Maieslalis  luae 
apud  nos  oralorem,  mullis  de  causis  pcrgratum  habemus.  Est  enim,  quan- 
tum ex  longi  lemporis  habita  cum  co  conuersalione  perspicere  potuimus, 
\ir  probus,  prudens,  discrelus,  modeslus,  et  Maieslalis  luae  eiusquc  co- 

*  Arch.  Nac,  Mac.  3  de  Bullas,  n."  18. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  79 

ronae  seruitor  fidelissimus.  Quare,  quanuis  superfluum  Tideri  possit  nos 
illura  Maieslali  tuae  commendare  velle,  Quippe  cui  eius  egregia  seruilia 
illum  nolissimum  et  commendalissimum  faceré  debeant,  Non  possumus 
tamen  omitiere  quin  ante  nostrum  ab  Ilispania  discessum  peculiarem  nos- 
tram  erga  illum  beniuolenliam  Maieslali  luae  demonstremus.  Ilorlamur 
proinde  eandem  Maieslatcm  tuara,  et  in  domino  requirimus,  iit  nostri 
contemplalione  et  intuitu  merilorum  dicti  oraloris  sui  velit  illi  de  aliqua 
>'beri  preceploria  seu  commenda  Magislratus  chrisli  prouidere,  cuius  ad- 
miniculo se  ac  domum  suam  sustentare,  et  Maiestatis  tuae  seruitiis  com- 
modius  et  honorificentius  insislere  possit.  In  quo  vna  opera  et  rem  faciet 
regia  sua  munificenlia  dignam,  el  alios  \'assallos  ac  seruitores  suos  hoc 
exemplo  inuilabit  ad  fidelius  ac  diligenlius  sibi  inseruiendum.  Nos  uero, 
vbi  desiderio  nostro  per  tuam  Maieslatera  hac  in  re  salisfactum  intellexe- 
rimus,  uel  eandem  ad  hoc  paratam  per  suas  Hileras  poluerimus  intellige- 
re,  reputabimus  prioribus  suis  erga  nos  meritis  accessionem  nobis  per- 
gratam  factam  esse. 

Datum  Caesarauguslae,  sub  Annulo  Piscatoris,  Die  xxvi  Maii  mdxxii. 
suscepti  a  nobis  apostolalus  oíTicii  Anno  Primo.  —  T,  HeziusK 


Breve  do  Papa  il^driauo  TI,  dirigido  a  el-Rei. 


1593 — aonlio  3. 


Adrianus  papa  yi  Gharissime  in  christo  fili  nosler  salulem  et  apos- 
lolicam  Beuediclionem. 

Ex  litteris  Maiestatis  luae,  quas  hesterna  die  accepimus,  et  dilecti 
filii  Antonii  Sarmiento  sculiferi  noslri,  inlelleximus  eandem  Maieslalem 
tuam  nostrum  desyderium  circa  ñaues,  quas  pro  ilinere  noslro  ab  ea  pe- 
tieramus,  non  solum  impleuisse,  sed  etiam  longe  superasse,  Cum  et  plu- 
res  quam  poposcimus  et  suis  propriis  sumptibus,  quod  nunquam  poseeré 
cogitauimus,  nobis  exhibere  liberalissime  polliceatur.  Qua  de  re  ei  ma- 
gnas agimus  gracias,  plurimumque  gaudemus  et  noslro,  qui  hoc  officio 

*  Arch.  Nac,  Mac.  36  de  Bullas,  n.°  21. 


80  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGÜEZ 

Maiestalis  tiiae  in  nostra  et  sedis  apostolicae  necessitale  non  parum  adíu- 
uabimur,  et  eiusdem  Maiestalis  tuae  nomine,  quae  hac  in  re  pulchre  se  os- 
ten.dit  serenissimorum  raaiormn  suoruní,  qui  sanclam  scdem  Apostolicam 
religiosissime  coluerunt,  vesligiis  ¡nherere  velle,  immo  spem  prebet  se 
egregiis  virtutibus  ac  gestis  suis  iilorum  gloriara  superaturam.  Noslrum 
erit  vicissim  ómnibus  in  rebus  laliter  lecum  agere  ul  Maieslas  lúa  re  ipsa 
senliat,  et  cunclis  palam  fíat  serenissimum  Regcm  Porlugalüe  eum  gra- 
tiae  locum  apud  nos  et  diclara  sedera  oblinere,  quera  eius  fides,  religio, 
virtus,  nobilitas,  suaque  ac  maiorura  suorura  praeclara  merila  expostu- 
lant.  Tantura  rogamus  Maieslatem  luara  ut  quoniara  omnis  mora  nostra 
in  bis  Regnis  sanclae  Roraanae  Ecclesiae  stalui  et  loti  reipublice  chrislia- 
nae  veheraenler  daranosa  est,  Quas  ñaues  miltere  decreuit,  eas  iilico  rait- 
lat  siculi  pollicetur,  ne  carura  expeclalio  nauigalionem  nostrara  retardet. 
Datura  Gaesaraugustae,  sub  Annulo  piscatoris,  die  in  iunii  mdxxii. 
suscepti  a  nobis  oífitii  Aposlolatus  Anno  Prirao.  —  T.  Hezius  ^ 


Insitruccoeis  ao  doutor  Joáo  de  Faria. 


15S!S— «faino  19. 


O  que  vos  doutor  Joham  de  faria  do  nosso  conselho  e  do  nosso  de- 
serabarguo  de  nossa  parte  avees  de  sopricar  e  pedir  ao  santo  padre,  a 
que  vos  ora  enviaraos  por  verlude  da  carta  de  crenca,  que  pera  sua  san- 
lidade  levaees,  he  o  seguinte : 

Itera  :  priraeiraraente  dirés  a  sua  santidade  que  nos  Ihe  enviamos 
sopricar  e  pedir  por  Aires  de  sousa  do  nosso  conselho,  por  quera  sua 
sanlidade  eraviáraos  ver  e  vesitar,  que  Ihe  prouuese  de  nos  conceder  a  rae- 
nistraciío  e  guovernanca  do  mestrado  de  nosso  senhof  Jesús  Ghristo,  e 
que  asi  o  mcnistraseraos  e  guouernasemos  como  ho  fazia  elRey  meu  se- 
nhor  e  padre,  que  santa  gloria  aja,  que  dele  era  amenistrador  e  gouver- 
nador,  pera  o  que  leuaua  a  mcnula  era  que  a  bula  se  avia  de  expedir. 
■  E  tarabem  que  sua  santidade  provéese  ao  cardcall  meu  muyto  ama- 

*  Arch.  Nac,  Mac.  37  de  Bullas,  n."  1. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  81 

(lo  e  precado  Jrmao  do  Arcebispado  de  lixboa,  que  vagou  por  faíecimenlo 
de  dora  marlinho  da  costa,  e  do  bispado  d  evora,  que  vagou  por  faíeci- 
menlo do  bispo  dora  afomso. 

E  que  do  bispado  de  viseu  E  asi  do  priorado  de  santa  cruz  de 
cojmbra,  que  teem  o  Cardeall  meu  Jrmaao,  provéese  por  sua  Renuncia- 
cam  ao  Jfante  dom  Anrique  meu  Jrmao  ;  E  da  abadia  de  sam  Joham  de 
tarouca,  que  o  cardeal  lambem  tem,  ao  Jfante  dom  duarle ;  e  que  sobre 
o  bispado  d  evora  ouueese  por  bem  ficar  pensam  ao  dito  Ifante  dom  duarle 
tres  mil  cruzados.  E  que  estas  sopricacóes  pera  os  ditos  meus  Jrmaaos, 
alem  de  nos  parecerem  cousa  Justa  e  onesta  e  dina  deles  mais  do  que 
de  outrem,  Ihe  faziamos  por  elRey  meu  senhor  e  padre,  que  santa  gloria 
aja,  os  teer  oferecidos  a  nosso  senhor  pera  o  seruirem  na  sua  santa  Jgreia, 
e  no  Reino  aver  perladas,  que  Ihe  podia  dar,  com  as  Rendas  das  quaes 
poderiam  melhor  seruir  a  nosso  senhor  e  ao  Reino  do  que  em  outra  ma- 
neira. 

E  que  em  quanto  os  ditos  Jfantes  meus  Jrmaaos  nom  fosem  em  yda- 
de,  nos  concédese  e  outorgase  a  menistracam  das  ditas  prelacias  no  espri- 
tual  e  temporal,  asy  como  fora  concedido  a  elRey  meu  senhor  e  padre, 
como  poderá  sua  santidade  ver  pelas  bulas  que  leuaees,  por  que  o  dito 
Cardeal  meu  Jrmaao  foy  próvido  dos  bispados  da  guarda  e  de  viseu.  • 

E  mais  sopricámos  a  sua  santidade  que  Ihe  prouuese  nos  conceder  , 
e  outorgar  a  graca,  que  foy  feita  a  elRey  meu  senhor  e  padre  em  sua 
vida  somente,  da  presentacam  de  todos  os  moesteiros  destes  Reinos  e  se- 
nhorios  de  quaesquer  ordens  que  fosem  consistoriaees  e  ñora  consisto- 
riaees,  Aos  quaees  fosem  por  nos  apresen  lados  a  sua  santidade  pesoas 
em  que  bem  coubesem  e  a  nossa  apresentacam  fosem  prouidos,  como  he 
conleudo  na  bula  que  diso  leuaees. 

E  asy  mesmo  que  sua  santidade  nos  concédese  todas  as  gracas,  que 
foram  oulorgadas  a  eIRey  meu  senhor  e  padre  em  sua  vida  somente,  asi 
como  a  ele  foram  concedidas,  e  esto  aquelas  que  por  seu  faíecimenlo  ex- 
piraram,  Asi  das  gracas  da  sua  cápela,  como  todas  as  outras  de  que  ele 
lévese  bulas  e  breves  dos  santos  padres,  das  quaees  leuaees  a  mayor  parte 
pera  a  sua  santidade  as  mostrardes  se  comprir.  E  que  se  nesle  meio  lem- 
po atee  avermos  prouisam  de  sua  santidade  vagasem  alguuns  dos  ditos 
moesteiros,  nos  podesemos  deles  proveer,  e  a  eles  apresentar  como  se  a 
graca  fose  já  expedida. 

TOMO  II.  11 


82  CORPO  D1PL031ATIG0  PORTUGUEZ 

A  todas  estas  sopricacoees  sua  sanlidade  nos  respondeo  por  hum  seu 
breue  que  leuaees  como  por  ele  veres  que  naní  salisfez  a  nossas  soprica- 
coees como  nos  de  sua  santidade  esperauamos,  o  que  creemos  que  nam 
foy  por  oulra  causa  somente  por  sua  Sanlidade  Ihe  parecer  que  eram 
cousas  pera  serem  expedidas  em  corte  de  roma  e  nam  em  outra  parte. 

ítem  Ihe  dirés  que  nos  nam  he  nosa  tencam  sopricarraos  nem  Re- 
querermos  a  sua  santidade  cousas  que  sejam  pejosas,  nem  que  ele  com 
carrego  seu  faca.  E  que  por  estas  serem  tam  Justas  e  onestas,  ouueraos 
por  bem  vos  enviar  a  sua  sanlidade  pera  délas  Ihe  dar  toda  boa  e  ver- 
dadeira  enforraacam,  por  saberdes  muy  bem  como  em  corte  de  roma  se 
faz  muy  lenemente  a  expedicam  dellas,  por  serem  cousas  acostumadas  e 
correntes  e  era  que  nam  haa  nenhum  pejo,  porque  quanlo  á  guouernanca 
e  amenistracam  do  meslrado.  de  Ghrislos  nom  ha  Jmpidimento  alguum 
nem  nunca  ho  ouue,  por  nom  ser  cousa  de  que  se  aja  de  fazer  proposi- 
cam  em  consistorio,  mas  ordinariamente  se  pasarem  as  bulas. 

E  que  quanlo  ao  Arcebispado  e  bispados  pera  meus  Jrmaaos  a  nos 
nos  parecía  que  sua  Santidade  muy  leuemenle  deuera  folgar  de  o  fazer 
e  nos  gratificar  nisd,  por  os  oferecermos  ao  seruico  da  samta  see  apostó- 
lica e  de  sua  Santidade,  que  pella  ventura  ha  muytos  anos  que  filhos  de 
tal  Rey,  como  foy  elRey  meu  senhor  e  padre,  e  que  tanto  teem  acrecen- 
tada nossa  santa  fee  catholica,  e  por  isso  tanto  gastou  de  sua  fazenda  e 
com  tanto  derramamenlo  *de  sangue  de  seus  vasalos  e  naturaees,  nam  fo- 
ram  vistos  no  seruico  da  santa  see  apostólica;  e  que  o  pejo  que  sua  San- 
tidade nos  aprésenla  de  suas  idades  nos  Ihe  beijamos  seus  santos  pees 
pela  lembranca  que  diso  nos  faz,  que  aveemos  por  muy  certo  que  he  com 
lodo  o  amor  e  booa  vontade ;  mas  que  o  seruico  de  nosso  senhor  e  das 
Jgreias  e  de  todo  o  bem  délas  se  deue  com  Rezam  raais  confiar  de  nos 
do  que  das  pesoas  que  sua  sanlidade  diz  que  netas  apresenleemos,  nem 
se  nos  faz  cousa  nova  pois  Ja  muy  tas  vezes  foy  feyla,  nem  esperamos 
com  ajuda  de  noso  senhor  que  oulrem  milhor  do  que  nos  posa  milhor 
olhar  pelas  cousas  da  Jgreia  de  que  teuermos  amenistracam ;  e  que  el- 
Rey meu  senhor  e  padre  o  fez  em  sua  vida  naquelas  que  amenislrou  e 
gouernou,  como  louuores  a  deus  eslaa  visto  no  priorado  de  santa  cruz 
de  coymbra,  e  bispado  de  vizeu,  e  abadía  do  moesteiro  dalcobaca,  de  que 
a  sua  Sanlidade  farés  Jnteira  Relacam,  asy  das  obras  que  sam  feitas  e  se 
fazem,  e  o  seruico  dos  oficios  deuinos,  pera  as  qüaees  cousas  nom  so- 


RELACOES  COM  a  curia  romana  83 

mente  abasta  a  valia  das  proprias  rendas,  mais  ajnda  com  os  proprios 
dinheiros  delRey  meu  senhor  foram  ajudadas ;  e  que  asy  esperamos  eni 
deiis  que  nos  o  facamos  no  que  a  nosso  carrego  esteuer.  E  que  saiba  sua 
Santidade  que  a  elRey  meu  senhor  foy  concedido  que  podesse  vezilar  as 
perlacias  de  seus  Reinos,  non  com  pouca  sabedoria  do  que  elle  acerqua 
das  Jgreias  e  do  culto  devino  fazia  e  sempre  fez  emquanlo  viveo,  de  que 
as  obras  saní  tam  manifeslas  e  vistas,  do  que  porem  ele  a  tam  larguo 
modo  nom  quis  vsar. 

Que  pedimos  e  sopricamos  muyto  por  raerce  a  sua*  Santidade  que 
nos  outorgue  todas  as  ditas  cousas,  asi  como  Ihas  enviamos  pedir  e  so- 
pricar,  e  tenha  descanso  que  asi  o  faremos,  prazendo  a  nosso  senhor  que 
ele  seja  muylo  seruido  e  sua  Santidade  descarregado ;  que  se  esta  nom 
fose  nossa  tencam  nom  Iho  sopricariamos,  nem  sua  Santidade  deue  outra 
cousa  acerqua  de  nos  cuydar.  E  porem  no  que  toca  á  pensam  que  avia 
de  ficar  ao  cardeall  no  bispado  d  evora,  nem  na  abadia  de  som  Joham  de 
tarouca,  nom  curaros  de  falar,  e  sem  jso  vos  trabalharés  de  fazer  e  aca- 
bar as  outras  expedicoees. 

E  se  pela  ventura  sua  Santidade  teuese  pejo  em  loguo  em  loguo  ex- 
pedir as  bullas,  fique  yso  a  seu  prazer,  com  tanto  que  por  breues  nos  con- 
ceda e  outorgue  todas  as  ditas  cousas,  asi  como  Ihas  pedimos  e  soprica- 
mos, pera  despois  que  ele  íor  em  roma  se  irem  expedir  as  ditas  bullas 
asy  como  se  deue  fazer,  e  se  pagar  lá  á  cámara  apostólica  todo  aquelo 
que  for  ordenado,  e  segundo  as  taixas  e  o  modo  em  que  se  costuma  fa- 
zer ;  e  que  de  o  fazer  asy  sua  Santidade  o  Receberemos  della  em  muy 
singular  merce. 

Agora  de  novo  se  ofereceo  o  falecimento  do  conde  prior  do  cralo, 
sobre  a  qual  cousa  emviamos  sopricar  ao  santo  padre  pedindo  Ihe  por 
merce  que  quizese  proveer  a  cada  hum  dos  Jfantes  meos  Jrmaaos,  que 
nos  escolhesemos  e  emlegesemos,  do  dito  priorado,  por  todas  as  rezoees 
que  Ihe  mandamos  apresentar,  e  ysto  em  encomenda ;  das  quaees  rezoees 
nom  aveemos  por  necesariq  vos  fazer  aquí  larga  relacam,  porque  vos  as 
sabes  tambem  e  vos  correram  tantas  vezes  pelas  maaos,  que  o  aveemos 
por  pouco  necesario.  Sopricay  e  pedi  de  nosa  parte  a  sua  Santidade  que 
asy  nolo  queira  conceder  e  outorgar,  e  nom  lenha  niso  Impedimento, 
porque  nisto  nom  sopricamos  cousa  nova,  e  sempre  a  sopricacam  e  Reque- 
rimenlos  dos  Reis  nossos  antecesores  foy  próvido,  como  largamente  o  en- 
•  *  11* 


84  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

formares  e  certificares  pela  bula  que  leuaees,  e  pelo  que  de  muytos  an- 
uos a  esta  parte  se  fez,  por  este  priorado  ser  cousa  lam  principal,  e  de 
tantas  villas  e  lugares,  forlelezas  e  castelos  e  renda,  como  Ihe  dirés,  que 
ludo  milhor  ha  e  deue  de  caber  em  cada  hura  dos  Jfantes  meus  Jrmaaos 
do  que  em  oulrem  ;  nem  á  Religiam  e  ordem  de  sam  Joham  se  segué 
pouca  honra  e  louuor.  E  trabalhay  por  aver  de  sua  Santidade  despacho 
diso  ou  por  bula  ou  por  breue,  qual  for  mais  de  seu  prazer,  comtanto 
que  logo  d  agora  ho  outorgue  segundo  forma  de  nosa  sopricacam,  e  co- 
meta a  raenistracam  e  gouernanca  a  nos,  emquanto  aquele  Jfante  meu  Jr- 
raaao  na-m  for  em  ydade  pera  guovernar  e  menistrar,  com  tantas  facul- 
dades  como  sabes  que  comveem,  que  já  farieis  outra  semelhante  expedi- 
cam,  nem  vos  esquecerám  as  clausolas  necesarias  asy  derogatoryas  como 
todas  as  outras. 

E  porem,  primeiro  que  falces  a  sua  Santidade  neste  negocio  do  prio- 
rado, logo  como  chegardes  falarés  com  Joham  rodrigues  e  saberes  dele 
o  que  niso  tem  feito  pelo  que  Ihe  espreuemos,  e  achando  que  he  o  ne- 
gocio expedido  asi  como  ho  teemos  sopricado,  nom  curaros  de  niso  falar 
a  sua  Santidade ;  e  nom  sendo  asi  acabado,  ou  achando  que  ha  niso  al- 
gara empidimento,  emtam  falarés  ao  papa  corao  voló  mandamos,  e  tra- 
balharés  por  o  acabar  e  niso  nos  seruir  asy  como  de  vos  o  esperamos. 

Itera :  se  fose  caso,  que  nara  esperaraos,  que  sua  Santidade  se  escu- 
sase  destas  nosas  sopricacóes,  e  ñora  quizese  pasar  do  que  acerqua  del- 
tas tera  concedido  pelos  breues  que  trouxe  Aires  de  sousa,  vos  Ihe  Re- 
pricarés  sobre  yso  tudo  aquillo  que  uos  bem  parecer  pera  ele  o  fazer  asi 
como  o  sopricamos ;  e  as  Resoes  que  Ihe  apresentarés  leixamos  a  vos  que 
as  saberes  rauy  bem  buscar.  E  se  de  todo  era  todo  se  escusase,  e  sua 
partida  ñora  fose  tara  prestes,  e  vos  parecese  que  averia  lempo  pera  nos 
avisardes  e  vos  ir  nosa  reposta,  avisar  nos  es  de  todo  o  que  pasardes 
muylo  compridaraente,  e  esperares  por  noso  recado.  E  quando  isto  ñora 
pódese  ser  por  ele  partir  loguo,  emtam  vos  espedirás  de  sua  Santidade 
mostrando  Ihe  tanto  descontentamenlo  como  he  rezara  por  de  cousas  tam 
Justas  e  onestas  ele  se  escusar,  e  vos  vires  em  boa  ora  a  nos. 

Esprito  em  lixboa  a  xii  dias  de  Julho,  Jorge  rodrigues  a  fez,  de  1522. 
—  Rey  (com  cinco  pontos)*. 

^  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  28,  Doc.  42.  , 


RELACOES  COM  a  curia  R03IANA         '  85 


Carta  de  el-Rei  para  Atanarico 

1599— Jullio  12, 


Reuerendo  alanarico,  Nos  dom  Joham,  per  graca  de  deus  Rey  de 
porlugal  e  dos  algarues  daquem  e  daiem  mar  em  áfrica,  senhor  de  gui- 
ñee, e  da  conquista  nauegacara  e  comercio  de  etiopia,  arabia,  persia  e 
da  Jndia,  vos  enviamos  muylo  saudar.  Nos  enviamos  ao  Santo  padre  o 
doutor  Joham  de  faria  do  nosso  conselho  e  do  nosso  desembarguo  pera 
a  sua  Santidade  de  nossa  parte  sopricar  e  pedir  algumas  cousas,  como 
leua  por  nossas  Jnstrucoees.  E  porque  sabeemos  quanto  em  .ludo  podes 
aproveitar  ante  sua  Santidade,  por  vossa  muyta  vertude  e  prudencia,  vos 
Rogamos  muyto  que  folgués  de  em  nossas  sopricacoes  e  negocios  o  fauo- 
recer,  ajudar  e  aproveitar  quanto  possivel  vos  for,  porque  nos  farés  niso 
muyto  prazer  e  seruico,  e  sempre  por  asy  o  fazerdes  achares  vos  e  vos- 
sas  cousas  em  nos  aquella  honra,  merce  e  fauor,  que  he  rezam  que  se 
faca  aas  taees  pesoas  e  de  tanto  merecimento,  como  sabemos  que  vos 
soees :  e  nossas  sopricacoes  sam  tam  Justas  e  onestas  que  nos  parece  que 
sua  santidade  folgará  de  com  toda  booa  vontade  nelas  nos  gratificar  e  fa- 
zer  merce,  como  nos  della  ho  esperamos,  e  de  vos  que  por  vossa  muyta 
vertude  o  facaes  com  toda  booa  vontade. 

Esprita  em  lixboa  a  xii  dias  de  Julho  de  1522.  —  ElRey  (com  cinco 
pontos)*. 


»  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac,  28,  Doc.  40. 


86  GORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 


Carta  de  cl-Rei  para  o  hispo  de  Cidade  Rodrf  g;o. 


15»»— «faino  1». 


Reverendo  bispo,  Nos  dom  Johara,  per  graca  de  deus  Rey  de  por- 
tugal  e  dos  algarues  daquein  e  dalem  mar  em  áfrica,  senhor  de  guiñee, 
e  da  conquista,  nauegacam  e  comercio  de  etiopia,  arabia,  persia  e  da. 
Jndia,  vos  emviamos  muyto  saudar.  Nos  enviamos  o  doutor  Johara  de 
faria  do  noso  cpnselho  e  do  noso  desembargo  ao  santo  padre  pera  de  nosa 
parte  Ihe  sopricar  e  pedir  algumas  cousas,  que  leua  por  nosa  Jnstrucam. 
E  posto  que  elas  sejam  Justas  e  onestas,  pela  boa  vontade  que  de  vos 
conhecemos  pera  as  cousas  de  noso  seruico,  voló  quisemos  encomendar, 
e  vos  rogamos  muyto  que  no  que  se  oferecer  acerqua  de  nosos  negocios 
ache  em  vos  aquela  ajuda  e  boom  encaminhamenlo,  que  nos  esperamos 
por  vosa  muyta  vertude;  e  todo 'o  que  fezerdes  e  trabalhardes  vos  grs^- 
deceremos  muyto  e  teremos  diso  toda  boa  lerabranca  quando  se  oferecer 
cousa  em  que  vos  posamos  mostrar  a  boa  vontade  que  vos  teemos. 

Esprita  em  lixboa  a  xii  dias  de  Juiho  de  1522.  —  Elñey  (com  cinco 
pontos) ' . 


Carta  de  el-Rei  para  i%.tanarico 


15»»— Jíullio  13. 


Rcuerendo  atanariquo,  Nos  dom  Joham,  per  graca  de  deus  Rey  de 
purtugall  e  dos  Alguarues  daquem  e  dalem  mar  em  áfrica,  senhor  de  gui- 
ñee, e  da  conquista,  navegacam,  comercio  de  etiopia,  arabia,  persia  e  da 
Jmdia,  vos  enviamos  muyto  saudar.  Ayres  de  sonsa  do  nosso  comselho 
nos  dise  quanta  booa  vontade  achara  em  vos  pera  nossas  cousas,  e  como 

n'  Ahch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I~  Mac.  28,  Doc.  41. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  87 

folgareys  quanlo  posyvel  vos  fora  de  nelas  aproveitar,  o  que  rnuyto  vos 
gradecemos  e  sempre  diso  leeremos  tall  lembranca  como  por  yso,  e  por 
vosa  muy  la  verlude  e  merecimenlos,  he  muy  la  rezam. 

Esprila  em  lisboa  a  xin  días  de  Julho  de  15*22.  —  ElRey  (com  cinco 
pontos) ' . 


Breve  do  Papa  Adriano  \1,  dirig;ido 
ao  Arcebiüfio  de  ltrag;a. 

1582 — Agosto  1. 


Adrianus  papa  vi  Venerabilis  frater  salutem  et  aposlolicam  benedi- 
Gtionem . 

Exposuit  nobis  dilectus  filius  Joannes  roderici,  miles  militiae  sancti 
Jacobi  de  spala  ordinis  sancti  Augustini,  pro  parte  charissimi  in  christo 
filii  nostri  Joannis  PorlugalÜae  et  Algarbiorum  Regís  Illustris  apud  nos 
et  sedem  apostolicam  orator  deslinalus,  quod  dictus  Joannes  Rex,  ob  sin- 
gularem,  quem  ad  hospitale  sancti  Joannis  Hierosolimilani  iiliusque  reli- 
gionem  gerit,  deuotionis  aíTectum,  cupit  ut-vnus  ex  ipsius  germanis  fra- 
tribus  vna  curn  dilectis  fiüis  Magislro  et  Conuenlu  Rhodi  dicti  Hospitalis 
virtutum  domino  famuletur.  Nos  igitur,  pium  praefati  Joannis  Regis  de- 
siderium  plurimum  in  domino  commendanles,  fraternitali  tuae  per  pre- 
sentes committimus  et  mandamus  qualinus  illi  ex  diclis  fratribus  supra- 
dicti  Joannis  Regis,  quem  ipse  Joannes  Rex  ad  hoc  duxerit  nominandum, 
qui  tamen  saltem  in  sexto  suae  aetatis  anno  conslitulus  existat,  si  sic  no- 
minatus  habitum  per  fratres  dicti  Hospilalis  portari  solilum  suscipere,  et 
professionem  per  eos  emitli  solitam  in  tuis  manibus  sponte  emitiere  volu- 
erit,  Tuque  eum  alias  ad  id  idoneum  iuxta  stabilimenta  vsus  naturas  ac 
priuilegia  seu  indulta  dicti  Hospitalis  esse  repereris,  habitum,  videlicet 
quandocunque  super  hoc  requisilus  fueris,  ei  Iradas ;  ad  professionis  au- 
tem  emissionem  quamprimum  ad  requisitam  per  stabilimenta  vsus  na- 
turas ac  priuilegia  praedicta  si  de  ea  in  ipsis  caueatur,  Alioquin  ad  le- 

1  AncH.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  28,  Doc.  43. 


88  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGÜEZ 

gilimam  aelalem  perueneril,  admittas,  si  vero  legilimae  aelatis  non  fuerit, 
nisi  similiter  incerla  alia  aelate  constitutus  existat,  quamprimum  ad  eam 
perueneril  ad  professionis  huiíismodi  emissionem  admitías.  Non  obstanti- 
bus  conslilutionibus  et  ordinalionibus  apostolicis,  ac  slabelimentis  vsibus 
et  naturis,  eliam  iuramento,  confirmatione  apostólica,  uel  quauis  firniitate 
alia  roboralis  priuilegüs  quoque  indultis  praefatis  Hospilali  ac  Magislro 
et  Conuentui  sub  quibusuis  verborum  formis  et  expressionibus,  eliam  per 
sedem  praedictam  concessis,  confirmalis,  approbatis  et  innouatis,  preser- 
lini  illis,  quibus  inler  alia  caueri  dicilur  expresse  quod  nullus  habitum 
dicli  Hospilalis  alibi  quam  in  dicto  Gonuentu,  aut  ab  alio  quam  Magislro 
et  Gonuentu  praefatis  et  non  nisi  in  certa  aetate  constitutus  existat  sus- 
cipere,  aut  professionem  regularen!  in  allerius  quam  Magistri  pro  tem- 
pore  exisienlis  dicli  Hospilalis  manibus  emitiere  possit,  et  tara  suscipien- 
tes  habitum,  quam  emitientes  professionem  alibi  quam  in  conuenlu,  et  per 
alium  quam  magistrum  et  conuenlum  praefatos,  et  anlequam  ad  dictam 
aetatem  peruenerint,  excommunicalionis  senlentias  ac  alias  tune  expres- 
sas  censuras  incurrant,  quibus  tenore  illorum,  ac  si  de  verbo  ad  verbum 
presenlibus  insererentur,  pro  expressis  habentes,  illis  alias  in  suo  robore 
permansuris,  hac  vice  dunlaxat  specialiler  et  expresse  derogamos,  Gaele- 
risque  conlrariis  quibuscunque. 

Datum  Terracone,  sub  Annulo  piscatoris,  Die  prima  Augusli  mdxxii, 
suscepli  a  nobis  apostolalus  officii  anno  primo.  —  T.  Hezius '. 


Carta  de  O.  llig;uel  da  Silva  a  el-Rei. 


1529  —  iSetembro  S5. 


Senhor.  —  Tendo  escrito  aos  xx  desle  mes,  me  vieram  ter  aas  maaos, 
por  via  de  napoUes,  cartas  de  vossa  alteza  pera  mim  e  pera  o  papa  e 
pera  alguuns  cardeais,  as  quaes,  segundo  despois  soube,  vinhao  na  ar- 
mada que  avia  de  acompanhar  o  papa,  e  achegando  a  tarragona,  como 
ja  terá  sabido,  achou  sua  santidade  partida,  e  duarte  de  lemos  capitam 

'  Arch.  Nac,  MaQ.  23  de  Bullas,  n.°  19. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  89 

moor  della  mandou  estas  cartas  por  Francisco  de  sonsa,  e  elle  de  barcelona 
mas  enderencou.  As  dos  cardeaes  mediéis  sanliqualro  fsic)  mandey  logo, 
e  mediéis  Respondeo  haa  siia  e  aquí  mando  siia  Reposta ;  as  do  papa  te- 
nho  asi  porque  me  escreue  Francisco  de  sousa  que  conpre  dallas  elle  : 
presumo  que  sejam  soomente  sobre  a  armada,  porque  com  ella  vem  huu- 
ma  de  duarle  de  lemos.  Francisco  de  sousa  se  quis  viir  a  meter  por  tér- 
ra, e  ha  passanle  de  quorenla  dias  que  partió  de  barcelona:  praza  a  noso 
senhor  que  nom  Ihe  seja  acontecido  alguum  perigo,  que  me  dá  muita 
sospeila  sua  tardanca  tanta  e  em  taes  tempos. 

Por  estas  carias  nam  me  escreue  vosa  alteza  ninhuuma  cousa  do  que 
manda  que  ñas  suas  se  faca,  soomente  me  manda  que  como  o  papa  qua 
for  me  va  a  Roma  a  servillo  em  meu  cargo,  e  asi  o  diga  a  sua  santida- 
de.  Eu,  senhor,  ho  farey  loguo  asi,  mas,  como  em  oulra  digo,  nam  sa- 
bendo  o  que  se  ha  de  fazer  em  seus  negocios,  nam  poderey  fazer  senam 
as  cousas  geraes,  que  ñas  outras  tudo  o  que  locasse  sem  muy  expressa- 
menle  saber  a  vontade  de  vossa  alteza  errada  :  por  tanto  avise  o  mais 
cedo  que  seja  posivel ;  e  porque  o  tempo  qua  he  algo  mudado,  e  se  faz 
grande  difficuldade  em  tudo,  compre  contrapesar  este  deíTeito  com  a  dil- 
ligencia,  e  esta,  estes  dias  que  qua  vos  ouuer,  senhor,  de  seruir,  que  fol- 
garia  e  Réceberia  de  vossa  alteza  muy  grande  merce  que  fossem  os  me- 
nos que  fosse  posivel,  nam  se  deminuirá  da  que  atequi  foy,  mas  será  tal 
que  por  ella  se  nam  perqua  ponto  de  vosso  seruico. 

Estando  eu  doente  fui  avisado  de  Roma  que  era  asignada  huuma 
sopricacao  na  asignatura  sobre  o  priorado  do  crato,  polla  qual  o  papa 
concedía  ao  amaral  chancarel  moor,  que  pera  elle  pollo  papa  e  polla  Re- 
legiao  eslava  abilitado.  Deu  me  esta  nova  tanta  penna  e  torvacao  que, 
onde  me  compria  saude  pera  poder  ir  pollas  postas  e  acudir  a  islo,  me 
dobrou  o  mal,  e  vendo  que  nam  avia  outro  Remedio  escreui  asi  na  ca- 
ma huuma  carta  ao  papa,  na  qual  Ihe  toquey  todollos  pontos,  que  nesta 
materia  me  pareceo  que  compriao,  a  affeicao  de  vossa  alteza  a  sua  san- 
tidade ;  as  obrigacoes  que  com  elle  mais  que  com  nenhuum  outro  Rey 
cristao  tinha  a  see  apostólica;  o  que  a  Religiao  de  Rodes  deuia  a  el  Rey 
vosso  padre,  que  deus  tem,  e  a  vossa  alteza;  e  os  perigos  de  que  voso 
padre  tirou  a  Religiao  em  portugal ;  e  deixando  todo  isto  á  fee  e  prome- 
timentode  sua  santidade  por  seus  breves,  cujos  trelados  ouue  era  liorne 
do  secretario  e  Ihos  mandey  com  minha  carta,  e  per  derradeiro  lembran- 

TOMO  M.  12  ^ 


90  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

do  a  sua  santidade  que  Rodes  nam  ho  deffendia  tanto  a  Renda,  quanto  as 
pessoas  e  calidade  deltas,  e  que  Rodes  eslava  em  tempo  que  nom  linha 
de  raenos  necesidade  priol  do  crato  que  irmao  ou  filho  del  Rey,  com 
lio  mais  que  me  pareceo,  pidindo  Ihe  por  merce  que  logo  Remediase  ¡s- 
to,  nem  quisese  dar  tal  comeco  no  que  menos  o  deuia  de  dar,  e  tal  exem- 
pro  ao  mundo  pera  ninguera  crer  em  seus  breves  nem  esperar  com  elle 
em  seus  merecimentos.  Esta  carta  mandey  a  sua  santidade ;  e  no  ponto 
que  a  leo  mandou  chamar  o  datarlo,  e  mostrando  que  tudo  passara  sem 
seu  consentimento  fez  viir  a  supricacao  e  de  sua  mao  a  fez  em  dous  pe- 
dacos,  e  asi  Rasgada  ma  mandou,  e  me  escreveo  que  nunqua  de  lal  sou- 
bera  e  queancona  a  asignara  sem  seu  consentimento,  e  que  nam  esperava 
nem  queria  falcar  a  vossa  alteza  em  nenhuuma  cousa  do  que  por  seus 
breves  prometerá  e  seus  grandes  merecimentos  Requeriao.  E  asi  se  Re- 
medión isto  do  priorado  do  crato.  E  aqui  mando  a  Vossa  Alteza  a  supri- 
cacao em  pedacos  pera  ser  mais  certeficado  do  que  passou. 

Em  outro  nenhuum  negocio  nom  ha  hi  que  ncsta  escrever,  porque 
com  ser  a  chegada  do  papa  tam  fresca,  e  sua  condicao  tal  nos  negocios, 
e  a  peste  em  tamanho  crecimento,  nam  se  faz  nada  em  nada.  Eu  me  irey 
logo  a  buscar  a  corte  onde  quer  que  estever,  e  do  que  mais  fezer  e  ou- 
uer  que  escrever  darey  aviso  pollo  primeiro  correo  a  vosa  alteza,  cujas 
maos  beijo,  e  noso  senhor  sua  vida  e  Real  estado  guarde  e  acrecenté  co- 
mo deseja. 

De  frorenca  a  xxvii  de  Setembro  1522.  —  Dom  miguell  da  sylua  K 


Carta  de  D.  llig;uel  da  i^iKa  a  el-Rei. 

152»— íSetembró  ISH, 


Senhor.  —  Porque  aos  xvi  d  agosto  escreui  largamente  a  vosa  al- 
teza, e  Ihe  mandey  os  trelados  de  tudo  o  que  ate  entao  tinha  escrito,  e 
lenho  nova  de  barcelona  que  aquelle  correo  a  saluamenlo  fsicj,  nesla  nam 
Repricarey  mais  nada  do  escrito :  nam  serey  muyto  longo  senam  ñas  no- 

1  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Ma^.  28,  Doc.  94. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  91 

vas  que  ha  hi,  porque  estas  manda  vosa  alteza  que  escreva  muí  amiude 
e  muytas  dellas  podem  niuylo  Relevar  a  seu  seruico. 

Ho  papa  naní  achegou  a  liorne  o  dia  que  esperavamos,  porque  se 
deteue  em  genova  mais  do  que  trazia  determinado ;  todavía  o  cardeal  de 
mediéis  e  o  de  sena,  picolomini,  petruchi,  cortona,  e  Redolfo  o  espera- 
ram  lá,  e  eu  fiz  o  mesmo.  Ghegou  sua  sanlidade  a  liorne  aos  xxiii  d  agosto, 
e  com  elle  vinhao  soomente  onze  galees  que  Icouxe  d  espanha,  e  de  ge- 
nova  o  acompanharao  ciuquo  da  senhoria,  e  duas  da  igreja  que  ali  se 
acharao,  asi  que  sua  armada  era  de  xviii  galees  sem  nenhuuma  outra 
vella,  porque  todallas  naos  ^inhao  alto  mar,  nem  tomaram  porto  até  ci- 
uita,  onde  achegaram  muito  despois.  Nestas  gallees  nem  na  companhia  do 
papa  nam  vinha  gente  nenhuuma  de  sustancia,  nem  pessoa  d  estima  se- 
nara o  conde  dom  femando  d  andrade,  ho  arcebispo  de  mon  real,  que  he 
ja  feito  castellao  de  sant  angelo,  o  hispo  de  cuenca  e  o  hispo  d  avilla ;  e 
estes  dous,  segundo  dizem,  vem  mais  por  fugir  do  emperador  que  por 
acompanharem  ho  papa.  A  senhoria  de  frorenca  Ihe  fizerao  em  liorne  huum 
•muy  grande  aparato  de  Recebimento.  Do  porto  até  a  casa  onde  avia  de 
pousar  com  tapecaria  e  alguuns  pannos  de  seda  era  toldado  ludo.  No  ponto 
que  deitou  ancora  mandou  a  térra  huum  batel  e  nelle  o  conde  dom  Fer- 
nando a  fazer  saber  aos  cardeaes  que  elle  nam  quería  saír  em  térra  mas 
passar  de  longo,  que  Ihes  pídia  que  ouuessem  asi  por  bem,  e  se  estavam 
em  hordem  pera  o  poderem  acompanhar  que  tambem  averia  disso  pra- 
zer :  os  cardeaes  Responderlo  que  queriam  hir  Responder  a  sua  santí- 
dade  e  beijar  Ihe  o  pee,  e  asi  o  conde  os  tomou  no  batel  a  elles  soomente 
e  a  mim,  sem  querer  outra  nenhuuma  pessoa.  Asi  entramos  na  galle  de 
sua  santidade  onde  os  cardeaes  Ihe  beijarao  o  pee,  dos  quaes  nam  mos- 
trou  fazer  nenhuuma  conta,  tirando  do  cardeal  de  mediéis,  a  que  fez  muita 
honra  e  o  Recebeo  com  rauyta  graca  e  alegría.  Quando  Ihe  beijey  o  pee, 
dizendo  Ihe  o  cardeal  quem  eu  era,  sua  santidade  disse  Rindo :  «  he  em- 
baixador  de  huum  Rey,  que  nos  temos  em  lugar  de  pay»  e  me  fez  to- 
dallas cirimonias  d  abracar  me  e  beijar  me  na  face  que  fezera  aos  car- 
deaes, e  eu  Ihe  disse  que  sua  viinda  fosse  tam  boa  quanto  a  desejava 
lodo  bom  cristao ;  que  eu  tynha  caria  de  vossa  alteza  por  que  me  man- 
dava  que  no  ponto-  que  soubese  que  sua  santidade  fosse  em  Ilallia  Ihe 
viese  beijar  o  pee  e  servillo  e  offerecer  Ihe  o  que  já  em  espanha  já  Ihe 
era  oíFerecido ;  que  vossa  alteza  era  e  seria  sempre  aquelle  filho  de  sua 

12» 


92  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

sanlidade  e  da  santa  see  apostólica  que  seus  anlepassados  sempre  forao, 
e  tanto  mais  quanto  Yossa  pailicollar  aífeicao  haa  pessoa  de  sua  santidade 
era  muilo  maior  que  as  de  seus  passados,  e  aos  papas  passados,  porque 
haa  vossa  sabieis  que  nenhuuma  se  podia  comparar.  A  islo  me  respondeo 
muy  largamente,  e  com  palavras  muy  cheas  de  mostras  d  amor,  e  an- 
tre  outras  dizendo  que  em  toda  cousa  que  Ihe  vossa  alteza  Requerese,  e 
elle  pódese,  faria  sempre  o  que  lodo  o  mundo  veria.  Eu  Repriquey  que 
por  tudo  Ihe  beijava  seus  santos  pees  ;  que  vossa  alteza  Ihe  'merecia 
aínda  muito  mais  polla  espicial  aífeicao  que  tinha  a  seu  servico ;  e  que 
eu  aceitava  por  vossa  parle  tudo  o  que  sua  santidade  dezia  que  faria  todo 
o  que  pódese  em  vosas  sopricacoes,  e  que  esperava  que  ellas  seriam  sem- 
pre laes,  que  nunqua  nelias  caberia  duuida  de  nam  poder,  e  que  posto 
que  em  alguumas  liaa  primeira  face  a  ouuesse  quando  sua  santidade  fose 
bem  informado,  como  o  seria  das  cousas  dos  Reinos  e  senhorios  de  vossa 
alteza,  e  como  as  cousas  ecclesiaslicas  e  nam  ecclesiasticas  que  passavao 
por  maos  dos  Reis  erao  a  muito  mais  bem  comum,  que  as  que  se  faziam 
por  vias  a  que  o  mundo  chamava  ordinarias,  que  nam  confiarla  nenhuu- 
ma jurisdicao  nem  prouisao  de  melhor  vontade  a  nenhuura  seu  legado 
nem  oíTicial  que  ao  parecer  e  hordem  de  vossa  alteza.  Estas  palavras  Ihe 

quis  tocar,  ainda  que  parecesem  sobejas,  porque  viind leí  ^  o  conde 

dom  femando  me  tinha  dado  alguuma  pouqua  de  conta  do  que  era  pas- 
sado  sobre  o  priorado  do  cralo,  de  que  antes  eu  nam  sabia  nada,  e  asi 
em  alguumas  outras  cousas,  e  me  pareceo  que  aquellas  palavras  « tudo 
o  que  podesse  »  queriam  acennar  islo,  e  que  se  armava  pera  negar.  A 
tudo  me  Respondeo  laes  palavras  as  quaes  praza  a  noso  senhor  que  se- 
jao  as  obras.  Gomo  acabey  de  fallar  sua  sanlidade  se  voltou  aos  cardeaes 
e  Ihes  disse  que  se  estavao  prestes  pera  o  poderem  acompanhar,  que  elle 
queria  partir  aquella  noyle  mesma.  O  cardeal  de  mediéis  Ihe  Respondeo 
por  todos  que  elles  nam  vinhao  senam  pera  o  seguirem,  como  era  sua 
obrigacao,  mas  que  pidiao  a  sua  santidade  que  nam  Ihes  fizese  tamanho 
agravo  de  nam  lomar  posissao  da  Ierra  pois  nam  era  menos  sua  que  a 
propria  da  igreja.  A  islo  disse  o  papa  «preces  vestre  sunt  justa»  e  logo 
saio  em  térra  onde  ouuio  os  embaxadores  de  florenca  e  o  marques  de 
manlua  capitao  da  Igreja,  que  era  vindo  pollas  postas,  e  se  encarrou  com 

'  vindo  no  batel?  O  original  está  roto  em  varias  partes. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  93 

mediéis,  o  qual  desejava  de  o  fazer  ficar  nesla  térra  por  alguiins  dias,  e 
nunca  ouue  Remedio ;  e  tendo  cartas  da  grande  peste  que  avia  em  Roma, 
e  sendo  o  mais  perigoso  lempo  do  anno  como  se  despois  vio  e  se  ve  cada 
dia  mais,  quis  partir  em  todallas  maneiras,  e  como  ceou  se  tornou  a  em- 
barcar, e  nam  Ihe  fazendo  tempo  aquella  noyte  nem  o  outro  dia  nunqua 
quis  sair  da  gallee.  Aos  xxv  partió  e  no  mesmo  dia  ctiegou  a  ciuita  ve- 
Iha  ;  ho  outro  dia  a  hostia ;  e  aos  xxviii  foy  dormyr  a  sam  paullo,  moes- 
teiro  de  sam  bento  huuma  legoa  de  Roma.  Ho  dia  seguinte  dise  missa  e 
entrou  em  Roma  e  foy  descavalgar  a  sam  pedro.  Ho  domingo  que  foram 
iii  de  setembro  se  coroou  em  sam  pedro.  E  todas  estas  cousas  escreuo 
^si  breuemente  e  como  de  corrida,  porque  da  mesma  maneira  se  fizerao 
sem  nenhuuma  cerimonia  nem  despesa  grande  nem  pequeña,  asi  pollo 

papa  ser  homem  desta  condicao  e  muy dellas,  como  por  estar  a 

see  apostólica  tam  sem  dinheiro  que  pera  isto  ainda  nom  avia  Remedio. 
Eu  embarquey  em  liorne  pera  seguir  o  papa,  posto  que  de  tam  maa 
vontade  como  todas  as  outras  pessoas  que  hiao,  vendo  que  hia  a  tam  craro 
perigo  do  lempo  e  da  peste ;  todavia  nam  quis  deixar  de  fazer  por  mi- 
nha  seguranca  cousa  que  por  alguuma  maneira  pódese  parecer  nam  ser- 
uir  com  aquella  vontade,  que  siruo,  e  diligencia.  E  estando  já  embar- 
cado me  tomou  a  febre  e  a  alguuns  criados  meus  juntamente,  e  me  foy 
forcado  sair  me  do  mar,  e  polla  Ierra  ser  de  muy  maos  aares  me  vim 
como  pude  a  frorenca,  onde  gracas  a  nosso  senhor  me  deixarao  as  febres 
e  eslou  ja  bem.  Dos  de  minha  casa  tenho  ainda  doze  em  cama  e  dous  me 
falecerao,  e  huum  delles  foy  Joham  cru  filho  de  gomez  cru,  que  tambem 
lá  he  hora  falecido.  Por  estas  doencas  minhas  e  de  toda  minha  casa  nam 
pude  partir  daqui ;  e  posto  que  de  Roma  seja  saida  toda  pessoa,  que  nam 
quer  craramenle  morrer,  todavia  no  ponto  que  poder  caminhar,  e  alguuns 
destes  meus  forem  sem  perigo,  me  partirey,  e  irey  onde  o  papa  estever 
a  esperar  Recado  de  vossa  alteza  do  que  em  seu  seruico  ey  de  fazer, 
que  nam  tenho  nenhuma  carta  sua  nem  Recado,  nem  com  o  papa  vem 
pessoa  que  de  nada  me  saiba  dar  conta,  e  me  parece  muy  grande  deser- 
uico,  senhor,  vosso  nam  saber  eu  a  tempo  nada  do  que  ey  de  fazer, 
avendo  tantas  cousas  pera  fazer  e  de  tanto  peso.  E  posto  que  lenha  car- 
tas de  vossa  alteza  muy  velhas  de  Janeiro,  em  que  manda  que  acerca 
do  arcebispado  de  lixboa  e  santa  cruz  e  moesteiro  de  tarouca  sigua  o  que 
me  tinha  mandado  elRey  vosso  padre  que  santa  gloria  aja,  sendo  despois 


94  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

vago  euora  e  o  crato,  nam  posso  creer  que  vossa  alteza  nam  tenha  mu- 
dada a  vontade  na  maueira  da  dystribuicao  deslas  prelalifls,  e  por  ¡so 
ale  nam  \¡r  caria  sua  do  que  nislo  manda,  e  prouisao  pera  se  poder  fa- 

zer,  nam  farey  nada,  soomenle  apert firmacao  das  gracas  que 

linha  el  Rey  voso  padre que  neslas  nam  posso  errar,  poslo  que  lam- 

bem  nesl ey  o  que  posso  fazer  nam  sabendo  de  vossa  alteza  o  que 

quer  que  em  cada  cousa  se  despenda,  e  d  alguumas  deslas  gracas  se 
quer  os  mesmos  execulores  ou  outros,  e  oulras  mil  parlicolaridades,  sem 
que  vossa  alteza  em  nenhuuma  maneira  do  mundo  pode  ser  seruydo  sem 
erro  de  quem  vos  serve,  em  que  porem  eu  lerey  muypouqua  culpa  nam 
ficando  senam  por  mingoa  de  saber  vossa  vontade. 

Ha  peste  em  Roma  he  muy  grande,  e  com  a  vünda  do  papa  e  gente 
nova  que  veio  aa  cidade  se  acendeo  em  muy  grande  maneira.  Comecou 
logo  a  tocar  em  casa  do  papa,  e  faleceo  em  xxx  horas  huum  filho  do 
conde  d  altamira  que  se  chamava  dom  diogo,  e  tras  elle  deu  ao  emba- 
xador  de  pelonía  e  nam  durou  senao  dous  dias,  e  cada  dia  vay  crecendo. 
Ha  y  dia  de  cento  e  cinquoenla,  e  sara  muy  tos  os  que  se  soterrao  secre- 
tamente, <isi  pollo  medo  de  os  a  que  cerrao  as  casas  enfermas,  como 
pollos  trattos  dos  mercadores  e  officiaes,  que  nam  querem  que  a  gente 
fuja  de  suas  casas :  noso  senhor  ponha  em  ludo  suas  maos.  He  morto  o 
cardeal  suico,  mas  dizem  que  nam  de  maos  aares :  o  cardeal  de  monte 
he  doente,  e  dizem  delles  nom  ha  hi  dia  que  nom  saia  do  paaco  ou  morto 
ou  doente,  e  em  huum  dia  falecerao  bem  á  cerca  do  apousentamento  do 
papa  tres,  e  cada  huum  delles  com  nacidas,  nem  pasou  nenhuum  delles 
de  dous  dias,  e  o  papa  está  ainda  em  Roma ;  porem  agora  se  alTirma 
que  se  sairá  antes  d  oito  dias.  Tem  dada  licenca  a  todollos  cardeaes  que 
se  saiam  e  oíficiaes,  e  alongadas  as  audiencias  da  Rota  por  lodo  oylu- 
bro,  e  nam  dá  ja  audiencia  casi  a  nenhuma  pessoa,  e  essas  lam  breues 
que  nam  concruy  nellas  nada.  Acerca  do  Regimentó  de  Roma  nam  se 
pode  ainda  saber  o  que  aja  de  ser :  lirou  geialmente  as  armas  em  Roma 
e  foy  obedecido  geralmenle  de  grandes lem  mudado  ainda  casi  ne- 
nhuum   nem  vendido  nenhuum  officio  vago  que  monta  a  val 

vagos  mais  de  sesenta  mil  ducados:  vesse grande  zello  de  bem  e 

grande  exempro  de  vida.  Se  islo  abastar  pera  o  Regimentó  da  corrucao 
do  mundo,  nam  haveria  mais  que  desejar,  e  prazerá  a  nosso  senhor  que 
o  aluraiará  de  maneira  que  a  igreja  seja  asi  Regida  como  a  necesidade 


RELACOES  COM  a  curia  romana  95 

em  que  eslá  o  Requere.  Huum  micer  guilhelmo  Incheforte,  que  procu- 
rava  suas  cousas  quando  era  cardeal,  he  feilo  datarlo  e  pessoa  a  que 
ama  singularmente :  nam  se  fia  de  nenhuuma  oulra.  Este  parece  que  go- 
vernará  tudo  sem  nenhuuma  competencia.  Ñas  cousas  espirituaes  sua  san- 
tidade  quer  examinar  tudo  por  si  mesmo  :  as  dos  dinheiros  e  beneíficios 
passam  todas  por  mao  do  datario :  as  do  estado  temporal  me  parece  que 
quer  que  se  governem  com  o  parecer  e  conselho  dos  ministros  do  empe- 
rador, como  he  Rezao  e  sem  que  sua  sanlidade  levaría  grande  fadiga  em 
ter  em  aseseguo  as  cousas  de  seu  estado. 

Ho  conde  dom  femando  d  andrade  trazia  promessa  do  papa  da  ca- 
pitania  da  igreja,  e  parece  me  que  se  Ihe  alravessa  alguuma  detficuldade, 
nem  sey  se  estará  qua  oü  se  se  partirá :  sey  que  nao  está  muy  bem  con- 
tente. Dou  d  elle  novas  a  vossa  alteza  porque  me  parece  huum  muy 
grande  seruydor  vosso  em  estremo,  e  sua  estada  qua  nam  poderla  apro- 
veitar  senam  muyto  ñas  cousas  de  vosso  seruico  :  todollos  seruidores  que 
vossa  alteza  tem  nesta  térra  sabem  de  mim  que  elle  ho  he  vosso,  e  o 
ajudao  em  tudo  o  que  podem  :  praza  a  noso  senhor  que  aproueyte,  É 
porque  vem  aqui  a  prepósito  elle  me  pidió  muito  que  escrevese  a  vossa 
alteza  sobre  dous  criados  seus  pera  quem  quer  que  Ihe  fizeseis  merce  do 
abito  de  christus,  ou  licenca  que  o  papa  Ihos  lance  de  vosso  consenti- 
mento,  porque  com  elles  Ihes  quer  dar  renda  com  que  viuao  e  vos  sir- 
vao  quando  comprir  honradamente  segundo  suas  pescas,  e  pede  a  vossa 

alteza  muy  aííicada sta  merce,  a  qual  averá  por  muy 

grande  obrigacao  que  tem  a  estes criados polla  Receber  de 

vossas  maos.  Cham huum  delles  J....ome  soarez,  e  outro  gonsalo 

de  lagos.  Se  Ihe  quizer  fazer  esta  merce  ha  me  de  mandar  carta  pera 
que  me  dé  licenca  pera  Ihos  tancar  em  seu  nome,  ou  pera  consentir  que 
o  papa  Ih  os  lance. 

Com  o  papa  nam  se  vé  que  nenhuum  cardeal  tenha  fauor  senam 
médicos,  e  parece  me  que  elle  por  sua  pessoa  e  polla  grande  parte  que 
tem  em  Itallia,  e  por  seu  officio  de  vice  canceler,  que  he  de  grande  au- 
toridade,  será  a  pessoa  que  mais  poderá  neste  papado,  que  he  muy  grande 
bem  pera  as  cousas  de  voso  seruico,  porque  he  muy  grande  e  muy  limpo 
vosso  servidor ;  e  por  esta  causa,  e  porque  será  cousa  a  elle  de  grande 
honrra,  lembrey  já  per  vezes  a  vossa  alteza  que  seria  bem  mandar  Ihe 
huuma  patente  de  proteicao  em  que  o  faca  proteitor  na  corte  de  Roma 


96  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

de  seus  Reinos  e  vassallos,  como  ho  he  do  emperador,  vngria,  e  Ingra- 
terra,  porque  nisto  nam  pohem  mais  que  Unta,  e  obriga  o  a  fazer  como 
criado  por  suas  cousas.  Se  nam  lembrase  semelhanles  cousas  a  vossa  al- 
teza, de  que  sem  sua  despeza  nem  damno  se  segué  tanto  seu  seruico  e 
bom  exempro  a  quem  o  serve,  parecermia  que  errava  muito,  e  que  quasi 
fazia  treicao. 

Has  novas  que  ha  hi  das  outras  partes  do  mundo  sao  que  a  forta- 
leza de  novara  se  deu  ao  duque  de  millao,  e  he  viindo  de  franca  huum 
capitao  del  Rey  que  se  chama  bonaval,  o  qual  anda  em  Irattos  secretos 
com  o  duque  e  com  prospero  colonna :  affirma  se  serem  sobre  perdoar 
aos  desterrados  do  estado  e  Restituir  Ihe  suas  fazendas,  e  que  as  forta- 
lezas de  miláo  e  cramona  se  renderao  ao  duque :  crese  que  *ho  duque 
nam  ho  faca,  nem  faria  bem  porque  as  fortalezas  nam  se  podem  ter  se- 
nam  muy  pouquos  dias,  e  a  Restituicao  dos  beens  dos  desterrados  he 
cousa  de  muito  prejuizo  ao  aseseguo  daquelle  estado  e  he  criar  a  cobra 
no  seio. 

Ho  embaxador  do  emperador  juntamente  com  o  de  Ingraterra  aper- 

tarao  com  os  ven crarasem  amigos  ou  imigos  seus  elle rarao 

alguumas  Repostas  como  soy Inte los  que  nam 

aprouverao  aos  embaxadores  e  na aceitando  foram  forcados  a  Res- 

ponderem  que  punhao  ludo  ñas  maos  del  Rey  de  Ingraterra,  e  que,  de- 
crarando  elle  serem  franceses  os  que  Romperao  a  tregua  e  liga  de  lon- 
dres,  em  tal  caso  sao  contentes  de  se  decrararem  contra  franca.  Esta 
Reposta  he  muy  boa  pera  o  emperador  porque  erara  cousa  he  que  el  Rey 
de  Ingraterra  ha  de  decrarar  isto  asy,  mas  venezeanos  a  meu  juizo  a 
derao,  porque  doutra  nenhuuma  maneira  podiao  alargar  tanto  o  lempo 
de  sua  decraracao  como  desla,  porque  Ingraterra  he  muy  longe,  e  pre- 
sumem  que  sem  se  comunicar  com  ho  emperador  nam  se  decrara  nada. 
Poderia  ser  que  se  enganasem  porque  o  capitolio  que  obriga  a  comuni- 
car ludo  huum  com  o  outro  nam  se  entende  senam  no  que  nom  he  ma- 
nifestamenle  em  beneficio  da  impresa. 

Aos  XXVII  d  agosto  acabarao  de  passar  em  calez  xx  mil  Ingreses, 
e  se  ajuntariío  com  a  gente  do  emperador.  Nam  se  sabe  ainda  que  seja 
feito  nada  polla  banda  de  picardía,  senam  que  de  liao  ha  hi  cartas  muy 
frescas,  que  todas  dizem  que  ali  avia  maas  novas  contra  franceses  polla 
banda  de  picardía,  mas  que  nam  eram  ainda  pubricadas.  Pollas  mesmas 


RELACOES  COM  a  curia  romana  97 

carias  avisao  que  em  franca  ha  y  muy  grande  pesie,  e  nos  povos  muito 
maior  desconlenlamenlo.  Alguuma  parle  dos  suicos  era  contenle  de  ser- 
uir  franceses,  mas  com  condicoes  que  Ihas  nam  pode  ninguem  comprir, 
principalmente  sendo  huuma  dellas  as  pagas  passadas,  e  nam  avendo  em 
franca  huum  soo  Real,  ho  que  se  eré  polio  que  el  Rey  agora  fez  que 
'  passando  por  lors,  onde  jaz  o  corpo  de  sam  marlinho,  desforrou  a  se- 

pullura  que  era  ada  de  prala  e  em  paris  desfez  o  cruci que 

era  douro  e  todollos  calizes que deilao  fama  que  monla  isto 

qualro mil  cruzados.  Montase  o  que  quisesse  escand o  mundo 

e  nam  pode  aprazer  a  deus. 

Hos  escoceses  mouem  guerra  a  ingraterra  e  lem  em  campo,  segundo 
escrevem  de  londres,  sessenla  mil  homens.  El  Rey  de  Ingraterra  tem  ao 
estremo  outro  lamanho  exercito,  e  dizem  que  faz  outro  tal  que  quer  ter 
dentro  na  Ilha,  o  qual  nam  se  moverá  senao  em  caso  que  o  outro  fosse 
vencido,  e  com  este  será  sua  pessoa. 

De  Rodes  sam  viindas  novas  de  dous  d  agosto  como  os  turcos 
nam  fazem  nada,  louuores  sejam  dados  a  noso  senhor.  Derao  tres  com- 
bales e  em  todos  tres  perderao  muita  infinda  gente  e  foram  laucados  com 
grande  danno  e  vergonha ;  e  tinhao  feila  huuma  mina  pera  derribarem 
os  muros  da  cidade  e  nam  poderao  aproveitar  se  della  polla  grande  quan- 
lidade  d  augua  que  acharao.  No  exercito  de  fora  avia  grande  caristia  de 
vitoalhas  e  mullas  Infirmidades  de  maa  maneyra,  de  que  morria  muyta 
gente.  O  grao  turco  em  pesoa  passou  na  Ilha  aos  xxiii  de  Julho,  e  Ihe 
aíFundirao  sele  gallees  e  duas  galeacas  com  artelharia,  e  se  espera  na 
ajuda  de  nosso  senhor  que  nam  os  desenparará,  e  os  lempos  comecao  a 
correr  taes  que  será  toreado  Relirar-se.  Tambem  escrevem  que  os  de 
dentro  sairao  em  abito  de  turcos  e  derao  nos  de  fora  e  fezerao  grande 
mortindade  nelles,  que  dizem  que  morrerao  mais  de  tres  mil  dos  turcos, 
e  dos  cavaleiros  soomente  dez  ou  doze,  e  prenderao  trinta  Janiceros.  Com 
todas  estas  boas  novas  os  cavaleiros  pedem  socorro,  e  lemem  grandemente 
que  o  turco  nam  comece  a  ediíficar  na  Ilha  e  fazer  huiím  lugar,  ao  me- 
nos de  madeira,  em  que  tenha  huum  grande  exercito,  e  que  aa  longa,  se 
nao  sao  socorridos,  corrao  perigo  ;  todavía  lem  se  por  cerlo  que  se  ate 

agora  o  turco que  se  alevantará  com  toda  sua  gente 

oulro  porto  que  o  da  cidade  nom  soífr elhantes Praza 

a  noso  senhor  que  ludo  seja  a  bem  e  v....oria  da ndade  e  confusao 

TOMO  11.  13 


98  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

dos  imigos  de  sua  sania Nam  ha  hi  outra  cousa  que  escrever, 

nem  o  correo  quer  dar  lugar  a  mais.  Beijo  as  maos  de  vossa  alteza,  cuja 
vida  e  Real  estado  nosso  senhor  guarde  e  acrecenté  como  deseja. 

De  Florenca  a  xxvii  de  setembro  1522.  —  dom  miguell  da  sylua  '. 


Carta  de  D.  Miguel  da  üilva  a  el-Rei. 


15^:3  — üetcmbro  IS'9, 


Senhor.  —  Despois  de  ter  escritas  todas  esoutras  cartas  vierao  no- 
vas de  yeneza,  que  conííirmao  as  de  Rodes,  que  em  hüuraa  dellas  escre- 
vo,  e  se  lem  por  certo  que  se  nam  perderá  a  cidade,  posto  que  venezea- 
nos  fazem  quanlo  podem  por  fazer  creer  o  conlrairo,  parecendolhes  que 
faz  a  seu  proposito  voltarem  se  os  principes  la,  e  nam  seguir  as  guerras 
de  qua,  o  que  nam  soomente  seria  bom  pera  elles  mas  pera  o  mundo 
todo,  todavía  sua  tencao  dellcs  nao  he  senam  muy  dañada. 

.  Ho  emperador  dá  licenca  a  dom  Joham  manoel  que  se  vá  pera  elle, 
e  ho  fez,  como  lá  se  deue  saber  milhor,  contador  maior  e  huum  dos  Re- 
gentes, e  ao  filho  Restituio  a  fortaleza  de  burgos :  fica  por  embaixador 
o  duque  de  sessa,  genro  do  grao  capilao  gonsalo  Fernandes.  Yso  mesmo 
rae  escreve  o  conde  dom  femando,  que  se  parte,  e  eu  sey  que  mal  sa- 
tisfeito  do  papa.  Beijo  as  maos  a  vossa  alteza,  cuja  vida  e  Real  estado 
noso  senhor  guarde  e  acrecenté  como  deseja. 

De  frorenca  a  xwii  de  setembro  1522.  — Dom  miguell  da  stjlua^. 


^  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Parí.  I,  Mac.  28,  Doc.  93. 
2  Abch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.I,  Mac.  28.  Doc,  92. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  99 

Carta  de  O.  ilig^uel  da  liÜTa  a  el-Rei. 

15S:S — Ontabro  19.  < 

Senhor.  —  Porque  sey  que  huum  dos  principays  cuydados  que  vossa 
alteza  agora  deue  íer,  como  \erdadeyro  Rey  Chrislao  que  he,  deue  ser 
o  perigo  e  cerco  de  Rodes,  de  que  tanlo  prejuizo  se  seguiría  vnyuersal- 
mente  a  toda  a  chrislandade,  e  em  parlicolar  has  cousas  de  vossas  con- 
quistas da  india,  me  parece  necessario  diu  por  dia  e  hora  por  hora  Ihe 
dar  auiso  de  ludo  o  que  nesta  térra  se  sabe.  Agora  sam  chegadas  cartas 
de  x\ii  de  selembro,  per  que  se  certefica  aos  treze  ser  dado  combate  haa 
cydade,  o  qual  durou  huum  dia  e  huuma  noyte,  e  em  fym  os  de  dentro 
ouveram  a  milhor,  e  dos  de  fora  affirmam  que  sam  morios  passante  de  dez 
mil  homens,  e  que  com  ysto  o  turco  aleuanlou  o  cerco,  e  sua  pessoa  se 
lornou  camynho  de  constantipoli ;  e  porem  o  exercito  se  assentou  tres  le- 
goas  da  cydade  na  ylha,  onde  por  muytas  vias  ha  y  auisos  que  deter- 
mina de  Invernar.  Socorro  ate  agora  nam  he  ydo  nenhum,  e  algumas  car- 
raquas  de  genoa,  que  yam,  sam  agora  detydas  pollos  mesraos  genoeses, 
porque  em  marsélha  franceses  Ibes  tomarao  huuma  sobre  seguro  e  con- 
cerlo  que  hauia  de  se  nao  tomarem  naos  de  mercadores,  e  parecendo 
que  aquella  se  toma  pera  fazerem  alguum  assallo  no  seu  nam  se  querem 
achar  sem  naos  grandes.  He  muy  grande  mal  que  seja  vynda  a  cousa 
dos  chrislaos  a  ysto  que  por  tam  particulares  paxóes  s  esqueca  antes  se 
impida  o  bem  universal.  O  Juizo  que  se  faz  das  cousas  de  Rodes  he  que, 
se  se  nao  socorre,  que  todauia  se  perderá,  o  que  nosso  senhor  nam  quey- 
ra ;  e  do  socorro  se  faz  tambem  juizo  que  nam  será  já  qual  compre  alé  es- 
las  cousas  da  guerra  de  franca  e  do  emperador  nam  tomarem  alguum  as- 
sento,  que  parece  que  será  muy  tarde,  segundo  cada  dia  as  vonlades  se 
danao  mays.  O  papa  nao  faz  nada,  e  parece  que  esta  peste  de  Roma  vem 
de  cyma  pera  nam  se  fazer  nada  em  nada  por  alguum  outro  mayor  mis- 
terio, porque  nunqua  se  vio  cousa  mays  cruel  nem  papa  mays  descan- 
sado, ^{am  ha  y  dia  nenhuum  que  nam  morram  cento  e  cynquoenta  e 
dozentas  pessoas  quando  menos,  e  aguora  se  descobrirao  em  huum  só  dia 
cem  casas  alem  das  que  já  hauia  dañadas,  que  passam  de  duas  mil,  e 

13* 


100  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

nao  se  conlam  aquy  espritays,  nem  ouira  infynda  genle  que  morre  sen) 
se  ler  della  conta.  Despois  da  vynda  do  papa  se  aclia  que  sam  morios 
em  Roma  xvii  mil  pessoas.  O  papa  se  encarrou  em  huuns  pacos  de  pra- 
zer,  que  estam  apegados  com  os  outros,  que  se  cliamao  belueder,  e  des- 
pedio  cardeays  e  eaibaxadores,  nem  dá  audienlia  a  nenhuuma  pessoa  vi- 
ua,  nem  quer  fazer  nenhuuma  sorle  de  negocios,  senao  os  que  se  podem 
fazer  sem  se  Ihe  falar,  e  vam  as  cousas  de  maneyra  que  nao  ouso  de  as 
escreuer  a  \ossa  alteza.  Com  tudo  ysto  me  yrey  achegando  pera  lá  e 
esperando  recado  de  vossa  alteza,  que  aynda  nam  he  vyndo ;  tomarey 
alguum  apousentamento  fora  da  cydade,  aynda  que  tudo  he  dañado ;  e 
d  aly  trabalharey  por  fazer*  o  que  vossa  alteza  me  mandar,  mas  aja  por 
certo  que  nam  se  fará  ametade  do  que  em  todo  outro  tempo  se  poderá 
fazer :  e  nam  ho  digo  polla  peste,  porque  se  por  hay  ouuer  de  ser  eu  nao 
arrecearey  nenhuum  perigo  por  fazer  o  que  vyr  que  he  vosso  seruico, 
mas  porque  o  gouerno  está  desta  maneyra.  E  se  tener  lempo  e  correo  se- 
guro haa  mynha  vontade  auisarey  miudamente  do  que  passa  e  verá  cra- 
ramente  que  a  verdade  he  deyxar  correr  alguum  lempo  ate  nosso  senhor 
o  remedear,  e  as  cousas  do  mundo  tomarem  alguum  Rumo,  sem  que 
agora  se  navega.  E  alem  de  me  vossa  alteza  fazer  muy  grande  merce  em 
rae  dar  licenca  em  lempos  tam  perigosos,  compre  muyto  a  seu  seruico 
ouvyr  me,  e  saber  muytas  cousas  que  em  carta  nam  se  podem  nem  de- 
uem  dizer,  é  quando  despoys  meu  seruico  for  necessario  ahy  me  tem, 
que  nacy  vosso  criado  e  vosso  hey  de  morrer  e  viuer ;  e  aja  por  certo 
que  ha  y  tempo  pera  eu  yr  sem  se  perder  nada  do  que  compre  a  seu 
seruico  qua,  porque  as  cousas  estam  todas  cem  mil  legoas  de  tudo  o  que 
se  cuydaua,  nem  lá  vossa  alteza  pode  cuydar.  Se  esta  ücenca  comprisse 
sómenle  a  mym,  pedilla  ya  com  menos  palauras  e  menos  aííicadamente, 
mas  porque  entra  aquy  vosso  seruico  tocando  me  mays  a  peco  raays  a 
vossa  alteza. 

Acerca  da  obediencia,  que  he  o  que  agora  deue  mays  lembrar,  nam 
se  agaste  porque  nenhuum  principe  a  tem  dada,  nem  se  fala  em  se  dar, 
assy  pollo  mundo  estar  muy  envollo,  como  polla  peste  de  que  sua  san- 
tidade  nam  se  quer  sayr  em  nenhuuma  maneyra:  e  ate  veneza  e  froren- 
ca,  que  estao  aqui  á  porta  e  ha  soyem  sempre  dar  em  ho  papa  sendo 
feyto,  ha  nao  tem  dada.  Venezeanos  tynham  mandados  seus  embaxado- 
res  pera  ysso  e  acheguarao  alé  bolonha,  donde  nam  querem  que  passem 


RELACOES  COM  a  curia  romana  101 

até  se  a  corle  nam  sayr  de  Roma.  Esla  pesie,  senhor,  he  de  muy  maa 
maneyra,  e  se  apega  muylo  mays  que  as  oulras  que  soya  hauer  em  Ro- 
ma, por  ysso  compre  q.ue  \ossa  alteza  mande  poer  grande  Recado  em 
seus  porlos  de  mar,  porque  nam  se  caya  no  mesmo  em  que  se  cayo  em 
lempo  de  papa  Julio. 

Todas  as  sedas  e  brocados  que  estauao  em  frorenca  se  carregarao 
em  liorne  em  tres  naos,  que  leuaua  o  conde  dom  femando  d  andrade, 
ñas  quays  entrou  a  peste  e  elle  he  saydo  em  \illa  franca  de  nica.  Pare- 
ceo  me  necessario  anisar  disto  porque  esta  roupa  nam  se  receba  liure- 
mente  sem  primeiro  nam  se  asoelhar,  posto  que  parte  de  lugar  seguro  e 
vay  muy  cerrada,  porque  o  mal  das  naos  poderia  penetrar  onde  homem 
nam  cuyda,  e  digo  ysto  principalmente  porque  sam  brocados  de  que 
vossa  alteza  poderia  querer  veslyr  se,  porque  sao  pera  ysso. 

Dom  Joam  manoel  h.e  partydo  pera  caslella :  dizem  que  aynda  está 
em  genoua  esperando  lempo.  Vay  sse  de  muy  sesudo  que  elle  he,  e  o  em- 
perador Ihe  dá  licenca  porque  as  cousas  e  lempos  dam  lugar  a  ysso,  e 
pesa  mays  a  enformacao  e  noticia  que  delle  hauerá  das  cousas  de  qua, 
quesua  estada  qua  em  lempo  que  nam  se  faz  nada,  nem  podem  hos  ho- 
mens  falar  huuns  com  oulros  sem  muy  craro  perigo.  Elle  era  saydo  de 
Roma  muylos  dias  hauia,  e  lornou  a  despedir  se  do  papa  e  esleue  em 
Roma  dous  dias  somenle,  nos  quays  Ihe  adoecerao  onze  criados  e  nam 
escapou  nenhuum  delles.  Desla  maneyra  vay  o  mal :  nosso  Senhor  por 
sua  misericordia  o  remedee. 

Has  cousas  de  italia  verá  o  termo  e  estado  em  que  eslao  por  outras 
cartas,  que  atequy  tenho  escrytas,  e  das  derradeyras  que  escreuy  em  se- 
tembro  torno  com  esta  mandar  o  Ireslado.  Nesles  poneos  dias  que  cor- 
rerao  denlao  aleaguora  nam  ha  y  novidade,  senáo  que  o  Emperador 
manda  a  veneza  seu  embaxador  Hieronymo  adorno,  irmao  do  duque  de 
genova,  pera  tomar  com  elles  concrusao  de  paz  ou  de  guerra :  nam  se 
sabe  o  que  faráo,  mas  eré  sse  que  andarao  payrando  ho  mar  ate  verem 
se  suicos  seruem  franceses  de  verdade  ou  nao.  Do  que  mays  se  souber 
darey  aniso  a  vossa  alteza,  cujas  maos  beijo  e  nosso  senhor  sua  vida  e 
Real  estado  guarde  e  acrecenté  como  deseja.      % 

De  frorenca  aos  ii  de  outubro  1522.  — Dom  miguell  da  sylua  K 

^  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  28,  Doc.  98. 


102  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGÜFZ 


Baila  do  Papa  Adriano  H^I  dirigida  ao  Infante 

O.  Henrique. 

lo!93  —  Fevereiro  18. 


Aíjrianus  episcopus  seruus  seruorum  dei  Dilecto  filio  Henrico  de  Por- 
tugallia  clerico  seu  scolari  Vlixbonensi  salulem  et  apostolicam  benedi- 
ctionem. 

Nobililas  generis,  necnon  laudabilia  lúe  pueriüs  elalis  indicia,  ex  qui- 
bus,  prout  fidedignorum  teslimoniis  accepimus,  verisimiliter  concipitur 
qiiod  succedentibus  Annis  te  in  virum  debeas  producere  virluosum,  nos 
inducunt  vi  illa  Ubi  fauorabililer  concedamus,  que  luis  commoditalibus 
fore  conspicimus  oportuna.  Cum  itaque  Prioratus  Monaslerii  per  Priorera 
gubernari  soliti  sánete  Grucis  Colimbriensis,  ordinis  sancti  Angustini,  quera 
dilectus  fdius  noster  Alfonsus  sánete  Lucie  in  Septem  soüis  Diaconus  Car- 
diiialis  ex  concessione  el  dispensalione  apostólica  in  commendam  nuper 
obtinebat,  commenda  huiusmodi  ex  eo  quod  dictus  Alfonsus  Cardinalis 
illi  hodie  per  dilectum  filiura  Michaelem  de  Sylua,  clericum  Vlixbonen- 
sem,  procuratorem  suum  ad  hoc  ab  eo  specialiter  conslilutum,  in  mani- 
bus  nostris  sponte  el  libere  cessit,  nosque  cessionem  ipsam  duximus  ad- 
niiltendam  cessante  adhuc  eo  quo  ante  commendam  eandem  vacabal  modo 
vacare  noscalur,  Nos  Ubi,  qui,  vt  asseris,  in  Octano  ve!  circa  tue  elatis 
Anno  conslilutus,  ac  Garissimi  in  chrislo  filii  noslri  Johannis  Portugaliie 
et  Algarbiorum  Regis  íllustris  ac  eiusdem  Alfonsi  Gardinalis  fraler  ger- 
manus  existís,  vi  litterarum  studio  operara  daré,  ac  coramodius  susten- 
tari  valeas,  de  alicuius  subuentionis  auxilio  prouidere  premissorumque  in- 
diciorum  inluitu  specialera  gratiam  faceré  volenles,  necnon  verum  el  vl- 
limura  dicli  Prioratus  vacationis  raodum,  aliara  si  ex  illo  queuis  genera- 
lis  reserualio  etiam  in  corpore  iuris  clausa  resullet,  presenlibus  pro  ex- 
presso  habentes,  PrioraUím  predictum,  qui  Gonuenlualis  est,  ac  cuiusfru- 
clus,  reddilus  et  prouentus  ad  dúo  Milia  ducatorum  auri  in  libris  Camere 
apostolice  taxati  reperiunlur,  quouis  modo  el  ex  cuiuscunque  persona  seu 
per  liberara  resignationem  cuiusuis  de  illo  in  Romana  Guria  vel  extra 


UELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  103 

eam,  eliam  coram  Notario  publico  et  leslibus  sponte  faclam,  aul  Consli- 
lutioneni  feücis  recordationis  Johannis  pape  xxii  predecessoris  noslri,  que 
incipil :  Fxecrabilis,  \el  asseculionem  allerius  beneficii  ecclesiaslici  ordi- 
naria auctorilale  collali  \acel,  eliam  si  tanto  tempore  vacauerit  quod  eius 
collatio  iuxla  Laleranensis  staluta  Concilii  ad  sedem  aposlolicam  legitime 
deuolula,  ipseque  prioratus  dispositioni  apostolice  specialiter  vel  ex  eo 
quod  Gonuentualis  exislil,  vt  preferlur,  generaliter  reseruatus  existat,  et  ad 
eum  consueuerit  quis  per  electionem  assumi,  eique  cura  inimineat  ani- 
marum  super  eo  quoque  inter  aliquos  lis,  cuius  stalum  presenlibus  haberi 
volumuspro  expresso,  pendeat  indecisa,  dummodo  tempore  dat.  presentium 
non  sit  in  eo  alicui  specialiter  ius  quesitum,  cura  ómnibus  iuribus  el  per- 
tinentiis  suis  tibi,  si  adhuc  rite  clericali  caractere  insignilus  non  existas, 
posíquam  clericali  caractere  huiusmodi  insignilus  fuens  per  le  quoadui- 
xeris,  eliam  vna  cum  ómnibus  elsingulis  beneficiis  ecclesiasticis  cum  cura 
el  sine  cura  secularibus  el  quorumuis  ordinum  regularibus,  que  eliam  ex 
quibusuis  concessionibus  et  dispensalionibus  apostolicis  imposterum  obli- 
nebis,  ac  pensionibus  annuis,  quas  super  quibusuis  fruclibus,  redditibus, 
et  prouentibus  ecclesiaslicis  tibi  pro  tempore  assignatis  percipies  in  futu- 
rum,  tenendum  regendum  et  gubernandum,  Ita  quod  liceat  tibi  debitis  et 
consuetis  ipsius  Prioratus  supportatis  oneribus  de  residuis  illius  fruclibus, 
redditibus  et  prouentibus,  sicuti  illum  in  titulum  pro  tempore  obtinentes 
de  lilis  disponere  et  ordinare  potuerunl  seu  etiam  debuerunt,  Alienatione 
tamen  quorumcunque  bonorum  immobilium  et  pretiosorum  mobiiium  dicti 
Prioratus  tibi  penitus  interdicta,  auctorilale  apostólica  commendamus.  Quo- 
circa  \enerabilibus  fralribus  noslris  Colimbriensi  et  Caserlanensi  Episco-' 
pis,  ac  dilecto  filio  Officiali  Vlixbonensi  per  apostólica  scripta  mandamus 
quatinus  ipsi,  vel  Dúo  aul  vnus  eorum,  per  se  vel  alium  seu  alios,  te,  re- 
cepto prius  a  te  noslro  et  Romane  ecclesie  nomine  fidelitatis  debite,  iuxta 
formara  quam  sub  bulla  noslra  miltimus  inlroclusam,  sólito  iuramento,  vel 
procuratorem  tuum  tuo  nomine  in  corporalem  prossessionem  Prioratus  iu- 
riümque  et  pertinentiarum  predictorum  inducant  auctorilale  nostra,  et  de- 
fendant  inductura,  amoló  ex  inde  quolibet  illicito  detenlore,  facienles  te 
vel  pro  te  procuratorem  tuum  predictum  ad  Prioratum  huiusmodi,  vt  est 
moris,  admitli,  tibique  de  illius  fruclibus,  redditibus,  prouentibus,  iuri- 
bus el  obuenlionibus  vniuersis  integre  responden.  Contradictores  aucto- 
ritate  noslra  appellatione  postposita  compescendo.  Non  obslantibus  pie  me- 


104  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ. 

morie  Bonifacü  pape  viií  etiam  predecessoris  nostri,  el  alus  apostoücis 
Conslilulionibus  et  ordinalionibus,  ac  Monasterii  et  ordinis  predictorum 
iuramento,  conürmalione  aposloüca,  ve!  quauis  firniitate  alia  roboralis  sla- 
tutis  et  consueludinibus,  priuilegiis  quoque  et  indullis  apostoücis  Monas- 
terio et  ordini  predictis  forsjan  concessis  confirmatis  el  innouatis,  quibiis 
etiam,  si  ad  illorum  derogalionern  de  iilis  eorumque  tolis  tenoribus  spe- 
cialis,  specifica,  expressa,  et  indiuidua,  ac  de  verbo  ad  verbum,  non  an- 
tera per  generales  clausulas  idem  importantes,  menlio,  seu  queuis  alia  ex- 
pressio  habenda,  aut  aliqua  alia  exquisita  forma  seruanda  esset,  tenores 
huiusmodi  presentibus  pro  expressis'habentes,  illis  alias  in  suo  robore 
permansuris,  hac  vice  dumtaxat,  specialiter  el  expresse  derogamus,  contra- 
riis  quibuscunque.  Aut  si  aliqui  super  prouisionibus  siue  commendis  sibi 
faciendis  de  Prioralibus  huiusmodi  speciales,  vel  alus  beneficiis  ecclesias- 
licis  in  illis  parlibus  generales  dicte  sedis  vel  Legatorum  eius  lilleras  im- 
petrarint,  etiam  si  per  eas  ad  inhibitionem,  reseruationem  et  decretum, 
vel  alias  quomodolibet  ut  processum,  quibus  ómnibus  te  in  assecutione 
dicli  Prioratus  volumus  anteferri,  sed  nullum  per^hoc  eis  quoad  assecu- 
lionem  Prioratuum  seu  beneficiorum  aliorum  preiudicium  generari.  Seu 
si  venerabili  fratri  nostro  Episcopo  Golimbriensi  et  dileclis  filiis  Gonuen- 
tui  dicli  Monasterii,  vel  quibusuis  alus  communiter  vel  diuisim,  ab  eadem 
sil  sede  indultum  quod  ad  receptionem  vel  prouisionem  alicuius  minime 
teneanlur,  el  ad  id  compelli,  aut  quod  interdici,  suspendí  vel  excommu- 
nicari  non  possinl,  quodque  de  Prioralibus  huiusmodi,  vel  alus  beneficiis 
ecclesiasticis  ad  eorum  collalionem,  prouisionem,  presentationem,  eleclio- 
nem  seu  quamuis  aliam  disposilionem  coniunclim  vel  separatim  speclan- 
tibus  nulli  valeal  prouideri  seu  commenda  fieri,  per  Hileras  apostólicas  non 
facienles  plenam  el  expressam  ac  de  verbo  ad  verbum  de  indulto  huius- 
modi menlionem,  et  qualibet  alia  dicte  sedis  indulgentia  generali  vel  spe- 
ciali  cuiuscunque  tenoris  exislal,  per  quam  presentibus  non  expressam 
vel  lotaliler  non  insertara  eíTectus  huiusraodi  gralie  impediri  valeal  quo- 
modolibet vel  diíTerri,  et  de  qua  cuiusque  loto  lenore  habenda  sil  in  nos- 
tris  lilleris  menlio  specialis.  Prouiso  quod  propler  comraendam  huiusmodi 
diclus  Prioratus  debitis  non  fraudetur  obsequiis,  el  animarum  cura  in  eo 
si  qua  illi  iramineal  nullalenus  negligalur,  sed  eius  congruo  supportenlur 
enera  anledicla;  Nos  enira  ex  nunc  irritura  decerniraus  et  inane  si  secus 
super  hiis  a  quoquam  quauis  auctoritale  scienler  vel  ignoranler  contige- 


RELACOES  COM  a  curia  romana  105 

rit  attemptari.  Nulli  ergo  omnino  hominum  liceat  hanc  paginam  noslre 
commende,  mandali,  derogalionis,  voluntatis  et  decreli  infringere,  vel  ei 
ausu  lemerario  contraire.  Si  quis  aulem  hoc  atteniplare  presumpseril  in- 
dignalionem  omnipotentis  dei,  ac  beatorum  Petri  et  Pauli  Apostolorum  eius, 
se  nouerit  incursuruin. 

Datum  Rome  apud  Sanctum  petrum  Anno  Incarnationis  dominice  Mil- 
lesimo  quingentésimo  uigesimo  secundo,  Duodécimo  Kalendas  Marlii,  Pon- 
lificatus  nostri  Anno  Primo  '. 

Forma  juramenti.  —  Ego  Henricus  de  Porlugallia,  clericus  seu  sco- 
laris  vlixbonensis,  perpetuus  Commendalarius  Prioratus  Monasterii  per 
Priorem  gubernari  solili  sánete  Crucis  Colimbriensis,  ordinis  sancti  Au- 
guslini,  ab  hac  hora  in  antea  fidelis  et  obediens  ero  beato  Petro  sancte- 
que  apostolice  Romane  ecclesie  et  domino  nostro  domino  Adriano  pape 
M,  ac  eius  successoribus  canonice  intrantibus.  Non  ero  in  consilio,  con- 
senso, tractatu  vel  fado  vt  vilam  aut  membrum  perdant,  seu  quod  con- 
tra alicuius  eorum  personam,  vel  in  ipsorum  aut  ecclesie  eiusdem  siue  se- 
dis  apostolice  auctoritalis  honoris  priuilegiorum  iuriura,  vel  apostolicorum 
statulorum,  ordinalionum,  reseruationum,  dispositionum,  mandatorum  de- 
rogalionem  vel  preiudicium,  machinaliones  aut  conspirationes  fiant,  et  si  ac 
quotiens  aliquod  horum  Iractari  sciuero  id  pro  posse  ne  fíat  impediam, 
et  quantocius  commode  polero  eidem  domino  nostro  vel  alteri,  per  quem 
ad  ipsius  notitiam  peruenire  possit,  signiíicabo.  Consilium  vero,  quod  mi- 
chi  per  se  aut  Nuntios  seu  litteras  credituri  sunt,  ad  eorum  damnum  me 
sciente  nemini  pandam.  Ad  relinendum  et  defendendum  Papatum  Roma- 
num  et  Regalia  sancti  Petri  contra  omnem  hominem  adjutor  eis  ero.  Au- 
ctorilalem,  honorem,  priuilegia  ac  iura,  quantum  in  me  fuerit,  polius 
adaugere  el  promouere,  statuta,  ordinationes,  reseruationes,  dispositiones 
et  mándala  huiusmodi  obseruare  ac  eis  intendere  curabo.  Legatos  sedis 
eiusdem  honorifice  tractabo,  et  in  suis  necessitatibus  adiuuabo.  Heréti- 
cos, scismaticos,  et  qui  alicui  ex  domino  nostro  successoribus  predictis 
rebelles  fuerint,  pro  viribus  persequar  et  impugnabo,  Possessiones  vero 
ad  Prioratum  meum  pertinentes  non  vendam,  ñeque  donabo,  ñeque  im- 
pignorabo,  vel  aliquo  modo  alienabo,  etiam  cum  consilio  Conuentus  di- 

*  Arch.  Nac.  Mac.  3    de  Bullas,  n.°  3. 
TOMO  II.  14 


106  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

cli  Monasterü,  Inconsulto  Romano  Ponlifice.  Sic  me  deus  adiuvel  el  hec 
sánela  dei  Euangelia.  —  A.  de  Castillo  \ 


Bulla  do  Papa  il^drlano  \M.  dirigida  ao  Infante 

O.  AITonsío. 

1593  —  Fevereiro  IS. 


Adrianus  episcopus  seruus  seruoriim  dei  dilecto  filio  Alfonso  sánele 
Lucie  in  Septem  soliis  Diácono  Cardinali  salutem  el  aposlolicam  benedi- 
ctionem. 

Ad  personam  tuam,  qiiam  diuina  clemenlia  magnis  illuslrauit  mu- 
neribus  graliarum,  palerne  dirigenles  consideralionis  inluilum,  el  áltenle 
prospicienles  quod  lu  Romanam  ecclesiam,  cuius  honorabile  membrum 
exislis,  luorum  honoras  plenius  magniludine  meritorum,  dignum  quin  po- 
lius  debilum  reputamus  vt  illam  tibi  reperias  in  exhibitione  graliarum 
munificam  el  in  luis  oporlunilatibus  liberalem.  Cum  itaque  hodie  lu,  qui 
Prioralum  Monasterü  per  Priorem  gubernari  solili  sánele  Crucis  Colim- 
brieusis,  ordinis  sancti  Auguslini,  ex  concessione  el  dispensatione  apostó- 
lica in  commendam  nuper  oblinebas,  commende  huiusmodi  per  cerlum 
procuratorem  tuum  ad  id  a  te  specialiter  conslilulum  in  nianibus  nostris 
sponle  el  libere  cesseris,  nosque  cessionem  ipsam  admitientes  Prioralum 
prediclum,  tune  cerlo  modo  queni  pro  expresso  haberi  volumus  vacan- 
tem,  dilecto  filio  Henrico  de  Porlugallia  clerico  seu  scolari  Vlixbonensi, 
si  adhuc  clericali  caraclere  insignilus  non  essel,  postquam  clericali  ca- 
raclcre  insignilus  forel  per  eum  quoaduiueret  tenendum,  regendum  el  gu- 
bernandum  commendauerimus,  prout  in  nostris  inde  confeclis  litteris  ple- 
nius conlinelur.  Nos  tibi,  ne  propler  cessionem  huiusmodi  nimium  dis- 
pendium  patiaris,  ac  vi  slatum  luum  iuxta  Cardinalalus  exigentiam  digni- 
talis  decentius  lenere  valeas,  de  alicuius  subuentionis  auxilio  prouidere 
ac  specialem  graliam  faceré  volentes,  necnon  omnia  el  singula  ecclesias, 
Monasleria,  Prioratus,  Preposituras,  Prepositalus,  dignitates,  personalus, 

'  Arch.  Nac,  Mac.  35  de  Bullas,  n."  7, 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  107 

administrationes,  oíTicia,  Ganonicatus  el  prebendas,  ceteraque  beneficia 
ecclesiastica  cum  cura  et  sine  cura  secularia  el  quorumuis  ordinum  re- 
gularia,  que  ex  quibusuis  concessionibus  et  dispensalinnibus  nposlolicis  in 
litulum,  commendam,  adminislralionem  seu  alias  oblines  el  expeclas,  ac 
in  quibus  el  ad  que  ius  Ubi  quomodolibel  compelil,  quecunque,  quotcun- 
que  el  qualiacunque  sint,  eorumque  frucluum,  reddiluum  et  prouentuum 
veros  annuos  valores,  ac  huiusmodi  concessionum  el  dispensalionum  te- 
nores, necnon  quarumcumque  pensionum  annuarum  tibi  super  quorum- 
uis ecclesiasticorum  beneficiorum  prouenlibus  assignalarum  quantitales 
presentibus  pro  expressis  habentes,  Ubi  quod  dicto  Henrico  cedenle  vel 
decedenle,  seu  Prioratum  prediclum  alias  quomodolibel  dimitiente  vel 
amitlenle,  seu  illo  alias  quouismodo  vacante,  eliam  apud  sedem  aposlo- 
licam,  aut  commenda  illius  cessante,  huiusmodi  liceal  Ubi  ad  Prioratum 
huiusmodi,  qui  Gonvenlualis  est,  et  cuius  fruclus  reddilus  et  prouentus 
ad  dúo  Milia  ducatoru'm  auri  in  libris  Gamere  apostolice  taxali  reperiun- 
tur,  eliam  si  ad  illam  consueueril  quis  per  eleclionem  assumi  eique  cura 
immineal  animarum,  liberum  habere  regressum,  Illiusque  corporalem  pos- 
sessionem  per  te,  vel  alium  seu  alios,  propria  aucloritale  libere  apprehen- 
dere,  el  tam  prioris  tue  commende  quam  presenlium  lilterarum  vigore, 
absque  alia  tibi  de  illo  te  nouo  facienda  commenda,  vt  prius  retiñere  In 
ómnibus  et  per  omnia,  perinde  ac  si  cessionem  huiusmodi  minime  fecis- 
ses,  aucloritale  apostólica  tenore  presenlium  de  specialis  dono  gralie  in- 
dulgemus.  Quocirca  venerabilibus  fratribus  noslris  Golimbriensi  et  La- 
macensi  Episcopis,  ac  dilecto  filio  OíTiciali  Vlixbonensi  per  apostólica  scri- 
pta  mandamus  quaUnus  ipsi,  vel  dúo  aut  vnus  eorum  per  se  vel  alium 
seu  alios,  faciant  aucloritale  noslra  le  iure  et  facúltale  regrediendi,  el  in 
euenlum  regressus  huiusmodi  dicti  Prioratus  pacifica  possessione  poUri 
el  gaudere.  Non  permiltentes  le  per  quoscunque  desuper  quomodolibel  in- 
debite  molestan.  Contradictores  per  censurara  ecclesiasticam  appellatione 
poslposita  compescendo:  Non  obstantibus  ConsUlulionibus  el  ordinaUoni- 
bus  apostolicis  ac  Monasterü  et  ordinis  predictorum  iuramento,  confirma- 
Uone  apostólica,  vel  quauis  firmitate  alia  roboratis  staluUs  et  consuetudi- 
nibus  conlrariis  quibuscunque.  Aut  si  aliquibus  communiter  vel  diuisim 
a  dicta  sil  sede  indullum  quod  inlerdici  suspendí  vel  excommunicari  non 
possinl,  per  Hileras  apostólicas  non  facientes  plenam  et  expressam  ac  de 
verbo  ad  verbum  de  indulto  huiusmodi  menUonem.  Nulli  ergo  omnino 

14* 


108 


CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 


hominum  liceal  hanc  paginara  noslrorum  indulti  et  mandati  infringere, 
vel  ei  ausu  temerario  conlraire.  Siquis  autem  hoc  altemplare  presumpse- 
rit  indignalionem  oranipolentis  dei,  ac  beatorum  Pelri  et  Pauli  Aposlolo- 
rum  eius,  se  nouerit  incursurum. 

Dalum  Rome  apud  Sanclum  petrum  Anno  Incarnationis  dominice 
Millesimo  quingentésimo  uigesimo  secundo,  Duodécimo  Kalendas  Marlii, 
Pontificatus  noslri  Anno  Primo. — A.  Gratia  Dei  '. 


Bulla  do  Papa  il^drlano  \W  flirig;lda  a  el-Rel. 


15:^3 — Fevereiro  SO. 


Adrianus  episcopus  seruus  seruorum  dei  Carissimo  in  christo  filio 
Johanni  Portugallie  el  Algarbiorum  Regi  Illustri  salutem  et  apostolicam 
benediclionem. 

Gratie  diuine  premium  et  humane  laudis  preconium  acquiritur  si  per 
seculares  Principes  ecclesiarum  Prelatis,  preserlim  Cardinalalus  honore  . 
fulgentibus,  oportuni  fauoris  presidium  et  honor  debitus  impendatur.  Ho- 
die  siquidem  dilectum  filium  nostrum  Alfonsum,  sánete  Lucie  in  Septem 
soliis  Diaconum  Cardinalem,  perpeluum  Administratorem  ecclesie  Elboren- 
sis,  tune  per  obilum  bone  memorie  eliam  Alfonsi  Episcopi  Elborensis,  qui 
extra  Romanara  Curiara  debllum  nature  persoluit,  Pastoris  solatio  desti- 
lule,  quoaduiueret  in  spiritualibus  et  temporalibus  de  fratrum  nostrorura 
consilio  auctoritate  apostólica  constituimus  et  deputauimus,  curara  et  ad- 
minislrationera  ipsius  ecclesie  Elborensis  sibi  in  eisdem  spiritualibus  et 
temporalibus  plenarie  coramillendo,  prout  in  nostris  inde  confeclis  litteris 
plenius  conlinelur.  Cura  itaque,  fili  Carissime,  sil  virtutis  opus  dei  mi- 
nistros benigno  fauore  prosequi,  ac  eos  verbis  el  operibus  pro  Regis  eterni 
gloria  veneran,  Serenitalera  tuam  Regiara  Rogamus  el  hortamur  atiente 
qualinus  eundera  Alfonsura  Cardinalera  Adniinistralorera,  ac  prefatara  El- 
borensera  ecclesiara  sue  cure  coraraissam,  habens  pro  nostra  el  apostolice 
sedis  reuerenlia  propensius  coramendatos,  in  ampliandis  et  conseruandis 


1  Arch.  Nac,  Mac.  3,  n.*  4. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  100 

iuribus  suis  sic  eos  benigni  fauoris  auxilio  prosequaris,  quod  idem  Alfon- 
sus  Cardinalis  Administrator  lúe  celsiludinis  fultus  presidio  in  commisso 
sibi  cure  Pasloralis  oñicio  possit  deo  propicio  prosperari,  ac  tibi  ex  inde 
perenius  vite  premium  et  a  nobis  condigna  prouenial  actio  gratiarum. 

Dalum  Rome  apud  Sanclum  pelrum  Anno  Incarnalionis  dominice 
Millesimo  quingentésimo  uigesimo  secundo,  Décimo  Kalendas  Martii,  Pon- 
tificatus  noslri  Anno  Primo.  —  A.  Gralia  Dei  '. 


Bulla  do  Papa  Adriano  Hl.  dirig^ida  a  el-Rei. 


1593 — Fevereiro  SO. 


Adrianus  episcopus  seruus  seruorum  dei  Carissimo  in  christo  filio 
Johanni  Portugallie  et  Algarbiorum  Regi  llluslri  salutem  et  apostolicam 
benedictionem. 

Gratie  diuine  premium  et  humane  salulis  preconium  acquiritur  si 
per  seculares  Principes  Prelatis  ecclesiarum,  precipue  Cathedralium  Me- 
tropolitanensium  regimini  presidentibus,  oportuni  fauoris  presidium  et  ho- 
nor debitus  impendatur.  Hodie  siquidem  dileclum  filium  nostrum  Alfon- 
sum  sánete  Lucie  in  Septem  soliis  Diaconum  Cardinalem,  in  Quarto  dé- 
cimo sue  etatis  Anno  constitutum,  Administratorem  in  spirilualibus  et 
temporalibus  ecclesie  Vlixbonensis,  tune  per  obitum  bone  memorie  Mar- 
tini  Archiepiscopi  Vlixbonensis  extra  Romanara  Guriam  defuncti,  Pasto- 
ris  solalio  destitute,  doñee  vigesimum  dicte  etatis  Annum  attingeret,  de 
fratrum  nostrorum  consilio  apostólica  auctoritale  constituimus  et  deputa- 
uimus,  et  deinde  quamprimura  dictum  \igesimum  Annum  attigisset  ex 
hodie  prout  ex  tune  et  e  conuerso  de  persona  sua  eidem  ecclesie  simili- 
bus  consilio  et  auctoritate  prouidimus,  ipsumque  illi  in  Archiepiscopum 
et  Pastorem  prefecimus,  ac  de  persona  sua  eidem  ecclesie  prouisum,  ipsum- 
que illi  in  Archiepiscopum  et  Pastorem  prefectum  fore  decreuimus,  cu-  / 
ram  et  administrationem  eiusdem  ecclesie,  eliam  dicta  administralione  du- 
rante, sibi  in  spiritualibus  et  temporalibus  plenarie  committendo,  prout 

*  Arch.  Nac,  MaQ.  35  de  Bullas,  n."  18. 


110  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

in  noslris  inde  confectis  litteris  plenius  conlinetur.  Gum  ¡taque,  fili  Ga- 
rissime,  sil  virtulis  opus  dei  ministros  benigno  fauore  proseguí,  ac  eos 
verbis  el  operibus  pro  Regís  eterni  gloria  venerar!,  Serenilatem  luam  Re- 
gíam  rogamus  et  horlamur  áltente  qualínus  eundem  Alfonsum  Gardína- 
lem  Adminislratorem  et  fulurum  Archiepiscopum,  ac  prefatam  Vüxbonen- 
sem  ecclesiam  sue  cure  coinmissam,  habens  pro  nostra  el  apostolice  se- 
dis  reuerenlia  propensius  commendalos,  in  amplíandis  et  conseruandis  iu- 
ríbus  suis  sic  eos  benigni  fauoris  auxilio  prosequarís,  quod  idem  Alfon- 
sus  Gardinalis  Administrator  et  fulurus  Archiepiscopus  lúe  celsitudinis 
fultus  presidio  in  commisso  sibi  cure  Pastoraüs  oííicío  possit  deo  propicio 
prosperan,  ac  tibi  exinde  a  deo  perenius  vite  premium  et  a  nobis  con- 
digna proueniat  adío  gratiarum. 

Datum  Rome  apud  Sanclum  pelrum  Anno  Incarnalíonis  dominice 
Millesimo  quingentésimo  uigesimo  secundo,  Décimo  Kalendas  Marlií,  Pon- 
tificalus  nostri  Anno  Primo.  —  A  Gratia  Dei  \ 


Bulla  do  Papa  ii-driano  TI  dirijs;ida  ao  Infante 

O.  Henrique. 

15S3 — Marco  2. 


Adríanus  episcopus  seruus  seruorum  dei  Dilecto  filio  Henríco  de  Por- 
tugallia  clerico  seu  scolari  Vlixbonensí  Salutem  et  aposlolicam  benedi- 
ctionem. 

Romani  Ponlificis  prouidenlia  circunspecta  singulís  ecclesiís  et  Mo- 
nasleriis,  que  vacationis  incommoda  deplorare  noscuntur,  \t  ulílium  gu- 
bernalorum  fulcianlur  presidio,  prospicil  diligenter,  et  personis  ecclesias- 
ticis  quíbuslíbet,  presertim  generis  nobilitale  pollenlibus,  vt  ín  suis  opor- 
lunitalibus  alíquod  suscipiant  releuamen,  proul  decens  esl  et  congruum, 
de  subuenlionís  auxilio  prouidel  oportuno.  Gum  itaque,  sicut  accepimus, 
Monasteríum  sancli  Grístophori  de  Lafones  et  Príoralus  Monaslerii  per 
Priorem  gubernari  solili  sancli  Georgíi  Cistertíensis  el  sancli  Augustini  or- 

'  Arch.  Nac.  Mag.  35  de  Bullas,  n."  21. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  111 

dinum,  Visensis  et  Golimbriensis  diocesium,  que  quondam  Didacus  de  Ga- 
ma clericus  ex  concessione  etdispensalione  apostólica  iii  commendam  duní 
viueret  oblinebal,  commenda  huiusmodi  per  obilum  dicli  Didaci,  qui  ex- 
tra Romanam  Curiam  diem  clausit  extrenuim,  cessante  adhuc  eo  quo  ante 
commendam  eandem  vacabant  modo  vacauerint  et  vacent  ad  presens. 
Nos  tam  eidem  Monasterio  sancti  Cristophori  de  gubernalore  vlili  et  ydo- 
neo,  per  quem  circunspecle  regi  et  saiubriler  dirigí  valeat,  quam  tibi, 
qui,  vi  etiam  accepimus,  in  octano  ve!  circa  tue  etatis  Anno  conslitutus, 
ac  Carissimi  in  chrislo  filii  noslri  Johannis  Porlugallie  et  Algarbiorum 
Regis  Iliustris  frater  germanas  existis,  apud  nos  de  laudabilibus  tue  pue- 
rilis  etatis  inditiis,  ex  quibus,  prout  fidedignorum  testimoniis  accepimus, 
verisimiliter  concipitur  quod  succedentibus  Annis  le  in  virum  producere 
debeas  virluosum,  mullipliciler  commendalo,  horum  inluitu  vi  commo- 
dius  lilterarum  studio  operam  daré  et  te  sustentare  valeas,  de  alicuius 
subuentionis  auxilio  prouidere  ac  spelialem  gratiam  faceré  voíentes,  leque 
a  quibusuis  excommunicationis,  suspensionis,  el  interdicti  aliisque  eccle- 
siasticis  sentenliis,  censuris  et  penis  a  iure  vel  ab  homine,  quauis  occa- 
sione  vel  causa  lalis,  si  quibus  quomodolibel  innodalus  existis,  ad  eíTe- 
clum  presentium  dumlaxal  consequendum,  harum  serie  absoluentes  et 
absolutum  fore  cénsenles,  necnOm  verum  et  vllimum  Monaslerii  sancti 
Crislophori  et  Prioratus  predictorum  vacalionis  modum,  etiam  si  e^  illo 
queuis  generalis  reserualio,  etiam  in  corpore  iuris  clausa  resultet,  pre- 
sentibus  pro  expressis  habentes,  Molu  proprio,  non  ad  luam  vel  alterius 
pro  te  nobis  super  hoc  óblale  pelitioriis  instanliam,  sed  de  noslra  mera 
liberalitale,  Monasterium  sancti  Crislophori,  cuius  ad  sexaginta  floreaos 
auri  cum  Duobus  Terliis  in  libris  Camere  apostolice  laxati  reperiunlur, 
ac  qui  Conuentualis  est,  el  cuius  etiam  Quadringentorum  ducalorum  auri 
de  Camera  secundum  communem  exlimalionem  valorem  annuum,  vt 
etiam  accepimus,  non  excedunt,  fruclus  redditus  et  prouentus  Prioratum 
predicla  quouis  modo  et  ex  cuiuscunque  persona,  sen  per  cessionem  de 
regimine  et  administratione  Monaslerii  sancti  Crislofori,  vel  resignalionera 
liberam  cuiusuis  de  Prioratu  huiusmodi  extra  dictam  Curiam,  etiam  co- 
ram  Notario  publico  et  teslibus  sponte  facías,  aut  dictus  Prioratus  per 
Conslitulionem  felicis  recordalionis  Johannis  pape  xxii  predecessoris  nos- 
tri,  .que  incipit :  Execrabilis,  vel  assecutionem  alterius  beneficü  ecclesias- 
tica  ordinaria  aucloritate  collati  vacent,  etiam  si  ille  ac  Monasterium  san- 


112  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

cl¡  Cristophori  huiíismodi  lanío  tempore  vacaverint  quod  Monaslerii  pro- 
uisio  el  Prioratus  huiusmodi  collalio  iuxla  Laleranensis  slatuta  Concilii 
aiit  alias  canónicas  sancliones  ad  sedem  aposloücam-  legitime  deuoluta, 
ipseque  Prioratus  dispositioni  apostolice  specialiler  reserualus  exislat,  et 
dicli  Monaslerii  sancli  Cristophori  prouisio  ad  sedem  eandem  ex  quauis 
causa  specialiler  vel  generaliter  pertineal,  et  Gonsislorialiter  fieri  debeat, 
el  ad  Prioratum  huiusmodi  consueuerit  quis  per  electionem  assumi,  eique 
cura  immineat  animarum  super  eo  quoque  ac  regimine  el  administratione 
predictis  inler  aliquos  lis  cuius  slatum  presentibus  habcri  volumus  pro 
expresso  pendeal  indecisa,  dummodo  tempore  Dat.  presentium  in  dicto 
Prioratu  alicui  specialiler  ius  quesilum  et  eidem  Monasterio  sancli  Cris- 
tophori de  Abbale  prouisum,  aut  illud  commendalum  canonice  non  exis- 
lat, cum  ómnibus  iuribus  el  perlinenlüs  suis  tibi,  si  adhuc  clericali  ca- 
raclere  insignilus  non  sis,  poslquam  caralere  huiusmodi  insignitus  fueris 
per  te  quoaduixeris,  etiam  vna  cum  ómnibus  el  singulis  beneficiis  eccle- 
siasticis,  cum  cura  et  sine  cura,  secularibus  et  quorumuis  ordinum  re- 
gularibus,  que  ex  quibusuis  concessionibus  el  dispensalionibus  apostolicis 
in  titulum  vel  commendam  obtines  et  im  poslcrum  oblinebis,  ac  pensioni- 
bus  annuis,  quas  super  quibusuis  fruclibus,  redditibus  et  prouentibus  ec- 
clesiasticis  percipis  et  percipies  in  fuluHjm,  lenenda,  regenda  el  guber- 
nanda.  Ita  quod  liceat  tibi,  debitis  et  consuelis  Monaslerii  sancli  Cristo- 
phori et  Prioratus  huiusmodi  supportalis  oneribus,  ac  Quarta  si  Abbatia- 
lis  seorsum  a  Conuentuali  pro  suslenlalione  fabrice  ac  ornamentis  vesti- 
bus  paramenlis  emendis  ac  pauperum  alimonia  prout  maior  exegerit  et 
suaserit  necessitas,  si  vero  Mensa  communis  fuerit  Terlia  omnium  fru- 
cluum  eiusdcm  Monaslerii  sancli  Cristofori  parle  pro  supradictis  oneribus 
supporlandis,  ac  suslenlalione  Monachorum  ómnibus  alus  deduclis  oneri- 
bus Annis  singulis  imparlita  de  residuis  illorum  fruclibus,  redditibus  et 
prouentibus  disponere  el  ordinare,  sicul  Monaslerii  huiusmodi  Abbales, 
et  diclum  Prioratum  in  titulum  pro  tempore  oblinentes  de  illis  disponere 
et  ordinare  potuerunt,  seu  eliam  debuerunt,  Alienalione  lamen  quorum- 
cunque  bonorum  ¡mmobilium  et  pretiosorum  mobilium  Monaslerii  sancli 
Cristophori  et  Prioratus  predictorum  tibi  penilus  interdicta,  auctorilate 
apostólica  commendamus,  curam,  régimen  el  adminislrationem  dicti  Mo- 
naslerii sancli  Cristophori  tibi  in  spirilualibus  et  lemporalibus  plenarie 
commiltendo.  Quocirca  venerabilibus  fratribus  noslris  Colimbriensi  et  La- 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMAiNA  113 

macensi  Episcopis,  ac  dilecto  filio  Officiali  Visensi  per  apostólica  scripta 
motu  simili  mandamus  qualinus  ipsi,  vel  dúo  aiit  vnus  eorum,  per  se 
vel  alium  seu  alios,  tibi  in  adipiscenda  possessione  vel  quasi  regiminis 
€t  administralionis  ac  bonorum  dicli  Monaslerii  sancti  Cristophori  assis- 
tentes,  teqiie,  prestito  prius  per  le  iuramento  infrascripto,  vel  procurato- 
rem  tuum  tuo  nomine,  in  corporalem  possessionem  Prioratus  iuriiimque 
et  perlinentiarum  predictorum  inducant  auctorilate  nostra  et  defendant  in- 
duclum,  amofo.  ab  eodem  Prioratu  quolibet  illicilo  delentore,  ac  faciant 
te  vel  pro  te  procuralorem  tuunn  prediclum  ad  Prioratum  huiusmodi  vt 
€st  morís  admitti,  libique  a  dileclis  filiis  Gonuenlu  dicli  Monaslerii  sancti 
Cristophori  obedientiam  et  reuerentiam  debitas  et  deuolas,  necnon  vas- 
sallis  et  alus  subditis  dicli  Monaslerii  sancti  Cristophori  consueta  seruicia 
et  iura  tibi  ab  eis  debila  exhiberi,  ac  de  Prioratus  huiusmodi  fructibus, 
redditibus,  prouenlibus,  iuribus  et  obuenlionibus  uniuersis  responden  in- 
tegre, Contradictores  auctorilate  nostra  appellatione  poslposita  compes- 
cendo :  Non  obslantibus  pie  memorie  Bonifacii  pape  viii,  etiam  predeces- 
soris  noslri,  et  alus  Constitutionibus  et  ordinalionibus  apostolicis,  ac  Mo- 
nasleriorum  el  ordinum  predictorum  iuramento,  confirmatione  apostólica, 
vel  quauis  firmitate  alia  roboratis  stalulis  et  consueludinibus,  contrariis 
quibuscunque.  Aut  si  aliqui  super  prouisionibus  seu  commendis  sibi  facien- 
dis  de  Prioratibus  huiusmodi  speliales  vel  alus  beneficiis  ecclesiaslicis  in 
illis  parlibus  generales  dicte  sedis  vel  Legatorum  eius  Hileras  impetrarint, 
etiam  si  per  eas  ad  inhibilionem  reseruationem  etdecretum,  vel  alias  quo- 
modolibet  sit  processum,  quibus  ómnibus  te  in  asseculione  dicli  Priora- 
tus volumus  anleferri,  sed  nuUum  per  hoc  eis  quoad  asseculionem  Priora- 
tuum  seu  beneficiorum  aliorum  preiudicium  generari.  Seu  si  venerabili 
fratri  noslro  Episcopo  Colimbriensi,  el  dileclis  filiis  Monasteriorum  predi- 
ctorum Conuentibus,  ac  prefalis  Vasallis  et  subditis  vel  quibusuis  alus 
communiter  vel  diuisim  ab  eadem  sit  sede  indullum  quod  ad  receplionem 
vel  prouisionem  alicuius  minirae  teneantur,  et  ad  id  compelli,  aut  quod. 
interdici  suspendí  vel  excommunicari  non  possint,  quodque  de  Priorati- 
bus huiusmodi  vel  alus  beneficiis  ecclesiaslicis  ad  eorum  collationem,  pro- 
uisionem, presontalionem,  eleclionem,  seu  quamuís  aliam  disposilionem  , 
coniunclim  uel  separalim  spectantibus,  nulli  valeal  prouideri  seu  com- 
menda  fieri,  per  litleras  apostólicas  non  facientes  plenara  et  expressam  ac 
de  verbo  ad  verbum  de  indulto  huiusmodi  mentionem,  et  qualibet  alia 

tOMO  II.  15 


114  COHPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

dicte  sedis  indulgenlia  generali  vel  speciali  cuiuscunque  lenoris  existat, 
per  quam  presenlibus  non  expressam  vel  totaliter  non  insertam  efFectus 
huiusmodi  gralie  impediri  valeal  quomodolibet  vel  diíTerri,  et  de  qiia  cuius- 
que  toto  tenore  habenda  sit  in  noslris  lilleris  menlio  spelialis.  Volumus 
aulem  quod  propler  commendam  huiusmodi  in  dicto  Monasterio  sancti 
Cristophori  diuinus  cullus  ac  solilus  Monachorum  et  Minislrorum  nunoe- 
rus  nullalenus  minuatur,  ac  Prioratus  huiusmodi  debitis  propterea  non, 
fraudelur  obsequüs,  el  animarum  cura  in  dicto  Prioratu,  si  qua  illi  im- 
mineal,  nullatenus  negligalur,  sed  eius  ac  Monasterii  sancti  Cristophori 
huiusmodi  congrue  supportentur  onera  antedicta.  Volumus  autem  quod 
antequam  in  Prioratus  possessionem  inducaris,  ac  in  aliquo  regimini  et 
administrationi  Monasterii  sancti  Cristophori  huiusmodi  le  immisceas,  in 
dictorum  Colimbriensis  et  Lamacensis  Episcoporum  ac  Officiaüs,  aut  ali- 
cuius  eorum,  manibus,  nostro  et  Romane  ecclesie  fidelitalis  debite,  iuxta 
formam  quam  sub  bulla  noslra  mittimus  inlroclusam,  soliium  prestes  iu- 
ramentum,  ac  formam  iuramenti  huiusmodi  quod  preslileris  nobis  de  verbo 
ad  verbum  per  lúas  patentes  litteras  luo  sigillo  sígnalas  per  proprium  Nun- 
tium  quantotius  destinare  procures.  Et  insuper  ex  nunc  irritum  decerni- 
raus  et  inane  si  secus  super  hiis  a  quoquam  quauis  auctorilale  scienter 
vel  ignoranter  conligerit  altemptari.  Nulli  ergo  omnino  hominum  liceat 
hanc  paginam  nostre  absolutionis,  commende,  mandali,  voluntalis  el  de- 
creti  infringere,  vel  ei  ausu  temerario  conlraire.  Siquis  autem  hoc  altem- 
ptare  presumpseril  indignationem  omnipotenlis  dei,  ac  beatorum  Pelri  el 
Pauli  Apostolorum  eius,  se  noverit  incursurum. 

Datum  Rome  apud  Sanclum  pelrum  Anno  Incarnalionis  dominice 
Millesimo  quingentésimo  uigesimo  secundo,  Sexto  Nonas  Martii,  Pontifica- 
tus  noslri  Anno  Primo.  —  T.  Hezius  '. 

Forma  juramenli.  —  Ego  Henricus  de  Porlugallia  clericus  seu  sco- 
laris  vlixbonensis,  ac  Monasterii  sancti  Cristophori  de  Lafones  el  Priora- 
tus Monasterii  per  Priorem  gubernari  solili  sancti  Georgii,  Cislerliensis  el 
sancti  Augustini  ordinum,  Visensis  et  Colimbriensis  diocesium,  perpetuus 
Commendalarius,  ab  hac  hora  in  antea  fidelis  et  obediens  ero  beato  Pelro 
sancleque  apostolice  Romane  ecclesie  el  domino  nostro  domino  Adriano 

'  Arch.  Nac,  Mac.  3  de  Bullas,  n.°  6. 


RELÁCOES  COM  a  curia  romana  115 

pape  VI  ac  eius  successoribus  canonice  íntranlibus.  Non  ero  in  consilio 
aut  consensu  vel  fado  vt  YÍtam  perdant  aul  membrum,  seu  capiantur  aut 
in  eos  manus  violeníer  quomodolibet  ingerantur,  vel  iniurie  alique  infe- 
rantur,  quouis  quesilo  colore.  Consilium  vero  quod  michi  crediluri  sunt 
per  se  aulNuntium  seu  Hileras  ad  eorum  damnum  mesciente  nemini  pau- 
dam.  Papatum  Romanum  el  Regalía  sancli  Pelri  adiutor  eis  ero  ad  reli- 
nendum  et  defendendum  conlra  omnem  hominem.  Legalum  aposlolice  se- 
dis  in  eundo  et  redeundo  honorifice  tractabo  et  in  suis  necessilalibus  adiu- 
uabo.  Jura,  honores,  priuilegia  et  auclorilaleni  Romane  ecclesie  domini 
noslri  pape  et  successorum  predictorum  conseruare,  defenderé,  augere  et 
promouere  curabo,  nec  ero  in  consilio  fado  seu  traclatu,  in  quibus  con- 
tra ipsum  dominum  nostrum  vel  eandem  Romanara  ecclesiam  aliqua  si- 
nistra  vel  preiudicialia  personarum  iuris,  honoris,  status  et  polestatis  eorum 
machinentur ;  et  si  talia  a  quibuscunque  procuran  nouero  vel  tradari  im- 
pediam  hoc  pro  posse,  et  quantocius  polero  comraode  significabo  eidem 
domino  nostro,  vel  alteri,  per  quem  ad  ipsius  notitiam  peruenire  possit. 
Regulas  sandorum  patrum,  decreta,  ordinaliones,  senlentias,  dispositio- 
nes,  reseruationes,  prouisiones  et  mándala  apostólica  totis  viribus  obser- 
uabo,  et  faciam  ab  alus  obseruari.  Heréticos,  scismaticos  et  rebelles  do- 
mino nostro  et  successoribus  prediclis  proposse  persequar  et  impugnabo, 
Vocatus  ad  Synodum  veniam,  nisi  perpeditus  fuero  canónica  perpedilio- 
ne.  Possessiones  vero  ad  Monasterium  sandi  Cristophori  et  Prioralum 
predida  pertinentes  non  vendara  nec  inipignorabo,  vel  aliquo  modo  alie- 
nabo,  etiam  cum  consensu  Conuentuura  Monasterü  sancli  Cristophori  el 
Prioratus  predidorura,  Inconsulto  Romano  Pontifice.  Sic  me  deus  adiuuet 
et  hec  sánela  dei  Euangelia.  —  A.  de  Castillo  '. 


1  Arch.  N4C.,  Mac.  34  de  Bullas,  n.»  15. 

15 


116  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

Breve  do  Papa  Adriano  \1,  dirig^ido  a  el-Rei. 

15193 — Marco  3. 


Adrianus  papa  vi  Charissime  in  chrislo  fili  nosler  salulem  el  apos- 
tolicam  benediclionem. 

Nouit  ille,  in  cuius  conspectu  clara  sunt  omnia,  quod  quamprimum 
intelleximus  diuinae  prouidenliae  dispositione  nos  ad  summi  aposlulalus 
apicem,  meritis  licet  imparibus,  assumplos  fuisse,  ac  humeris  nostris  vni- 
uersalis  ecclesie  pondus  incumbere,  Nos  chrisli  Redemploris  nostri  me- 
mores, qui  in  coelum  ascensurus  Discipulis  suis  mutuam  dilectionem  el 
pacem  testamento  reliquit,  nihil  impensius  cogitare,  alque  animo  nostro 
traclare  coepimus,  quam  rationes  el  modos  quibus  christiani  Reges  el 
Principes  inter  se  dissenlientes,  ac  nefariis  preliis  (quod  dolenter  referi- 
mus)  christianum  sanguinem  eíFundenles,  fraterna,  \t  pios  ac  ueros  chris- 
lianos  decel,  pace  coniungerentur,  vnitisque  indissociabili  federe  animis 
ac  viribus  communem  hostem  Turcarum  Tyrannum  aggrederenlur.  Quem 
cum  antea  semper,  tum  máxime  postquam  Belgrado  Regni  Ungariae  claus- 
tro potitus  fuerat,  nec  multo  post  Insulam  Rhodum  totis  viribus  obsidere 
coeperat,  nihil  aliud  moliri,  alque  in  animo  habere  \idebamus,  quam  vt 
duabus  illis  obicibus,  quae  impios  eius  conalus  reprimebant,  eíTraclis, 
vniuersam  chrislianitatem  presidiis  ac  propugnaculis  ómnibus  denudatam, 
Ierra,  marique  inuadere,  ac  innumerabilibus,  quas  habet,  copiis  inundare 
ac  obruere  posset.  Quod  equidem  plurimis  christianorum  Principum,  el 
praesertim  Hispaniarum,  Francorum  el  Angliae  Regibus  significare  vo- 
luimus,  cosque  validissimos  in  mutuam  perniciem  exercitus  alentes  pa- 
terna chántate  monuimus,  vi  arma  contra  christianos  parala  deponerenl, 
ac  de  millendo  subsidio  ad  dictam  Insulam  ab  inOdelium  exercitu  cir- 
cumsessam,  el  christianorum  suppetias  implorantem  cogitare  vellenl.  Spe- 
rabamusque  cum  lilleris  lum  specialibus  ad  eos  nunliis  noslris  ad  hoc 
vnum  deslinalis  consequi  alque  eílicere  posse,  vi  salularibus  consiliis,  ac 
palernis  monilionibus  nostris  prius  parerenl,  ac  necessaria  subsidia  mil- 
terenl,  quam  dicta  ínsula  in  hoslium  poleslalem  deuenirel.  Sed  proh  do- 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  117 

lor,  ac  tolius  chrisliani  nominis  perpeluum  dedecus,  dum  nos  consulen- 
do,  rogando,  atque  monendo,  ipsi  uero  Reges  cunclando  el  difFerendo, 
ac  aller  allerum  spectando,  et  quod  deterius  est,  eliam  bella  continuando, 
lempus  frustra  conterimus.  Inlerim,  sicut  nuper  non  sine  multis  lachrimis 
ac  intimo  cordis  merore  accepimus,  infclix  Rhodus  omni  desperato  au- 
xilio ab  immanissimis  Turcis  capitur.  Quo  nobis  nunciato  ad  predictos 
Reges  seuere  scripsimus,  cisque  sub  interminatione  diuinae  indignalionis, 
ac  vitimi  iudicii  vindicta  mandauimus  vt  si  non  pacem  perpetuara,  saltera 
aliquot  annorura  inducias  inler  se  inire,  communique  incendio,  quod  prope 
adest,  occurrere  curenl,  idque  caeteris  etiam  christianis  Regibus  ac  po- 
tentalibus  significare,  eorumque  ánimos  eííicacibus  litteris  excitare  non 
omisimus.  Cum  autem  Nos  minime  lateat  regiam  Serenilatem  tuam  ex 
illo  inclyto  Rege  natam  esse,  qui  turpe  ac  impium  esse  censens  contra 
christianos,  fratres  nimirum  suos,  arraa  capare,  potiusque  iniuriam  quara- 
libel  ferendam  esse,  omnes  Regni  sui  vires  el  opes  contra  infideles  con- 
uertit,  ac  dexlera  Domini  sibi  assistente  propicia  tot  ex  illis  victorias  re- 
portauit,  totque  popules  et  Regna  Imperio  suo  subegit,  vt  eius  gloria 
nullis  unquam  saeculis  interitura  sit,  credarausque  te  paterno  exemplo  ad 
similem  gloriara  capessendara  dies  ac  noctes  incilari,  nec  alienis  hortalio- 
nibus  multura  indigere,  Vt  nostro  tamen  fungamur  officio,  et  ne  te  tan- 
tum  tamque  chrislianissimum  Principem,  qui  máxima  presentibus  malis 
remedia  atierre  potes,  preteriisse  uideamur,  Maiestatem  tuam  per  christi 
raisericordiae  viscera  hortamur,  et  in  uirlute  Sanctae  obedientiae,  quam 
Deo  el  eius  Vicario  debes,  requirimus  vt  periculum  ingens  quod  vniuer- 
sae  christianitati  imminet,  oculis  atque  animo  suo  proponere  velit,  nec 
quantum  absit  hostis  cogitare,  Sed  quam  Iremendis  viribus  abundet.  el 
quam  facile  ac  celeriler  omni  subíalo  impedimento,  ad  quascunque  chris- 
tianorum  Prouincias  tara  terrestres  quam  marítimas  accederé,  ac  ex  ini- 
prouiso  adoriri  possit,  qui  nisi  celeri  apparatu  ila  preueniatur,  vt  illi  co- 
gitandum  sil  quomodo  fines  proprios  defenderé  queat  Nulla-iam  raaria, 
nulleue  ad  coelum  alpes  eius  impetum  reprimere,  aut  retardare  poterunt, 
quin  (quod  Deus  auertat)  Siciliam,  Italiam,  Vngariam,  Hispaniam,  ac 
omnes  Europae  (quae  nobis  adhuc  supersunt)  Prouincias  infestare,  diri- 
pere,  ac  etiam  debellare  possit,  Quodque  facile  sil  illi  futurum,  si  chris- 
tianorura  contumax  desidia  perseueraueril.  Vtinam  ipse  non  intelligal  et 
omnipolens  Deus  per  suara  clementiam  el  raisericordiam  hoc  eura  mente 


118  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

uoluore  prohibeat.  Non  enim  vires  eius  adeo  limendae  sunt,  vi  de  chris- 
lianorum  populorum  conslantia  dubilandum  videlur,  quos  omnifariam 
Principum  suorum  iniuriis  exacérbalos,  ac  imrnodicis  exactionibus  ex- 
haustos, plerique  existimant  ad  Turcas,  licenliam  uiuendi  sub  qua  quis- 
que velil  fide,  ac  preler  modicum  Tributum,  sumniam  immunilalem  el 
libertalem  illis  qui  se  sponle  dedunt,  oíFerenles,  et  obseruanles,  absque 
magna  diíBcullale  defecluros,  nec  se  vilae  ac  rerum  suaruin  pericuiis  ex- 
posiluros  esse.  Quamobrem  oculos  aperiant  necesse  esl  Reges  et  Princi- 
pes chrisliani,  alioquin  Ve  eis  si  potenliam,  quam  a  Deo  acceperunt,  non 
ad  illius  nominis  gloriam  et  populi  eius  electi  defensionem  Vli,  sed  in 
mutuam  perniciera  abuti,  et  sicut  pigri  serui  talentum  sibi  creditum  ocio- 
sum  tenere  voluerint.  Quod  si  (quod  Deus  auertal)  fecerint,  vehemenler 
eis  timendum  esl,  ne  is  qui  terribilis  esl,  el  auferl  spiritum  Principum, 
quique  Regnorum  omnium  conditor  et  dalor  esl,  el  in  presenti  Regna  illis 
eripial,  atque,  vi  in  euangelio  legitur,  vineam  suam  locet  alus  agricolis 
qui  fruclum  suum  reddant  lempore  suo,  el  ipsi  in  futuro  iudicium  eius 
non  euadanl.  Quod  superesl,  fili  noster  Charissime,  Celsitudinem  luam  ex 
intimis  animi  el  cordis  Visceribus  iterum  atque  iterum  hortamur,  ac  ex 
parle  illius,  cuius  vices  gerimus  in  lerris,  obtestamur  vi  diclos  Reges, 
quantum  in  te  fuerit,  ad  dictam  pacera,  vel  sallem  annorum  aliquot  in- 
ducias,  viis  ac  modis  ómnibus  per  oratores  tuos,  quos  apud  illos  habes, 
inducere  nilaris,  el  laraquam  christi  athleta,  eiusque  sánete  fidei  glorio- 
sus  el  semper  inuiclus  púgil  fulurus,  potens  brachium  luum  contra  infi- 
deles Turcas  duplici  victoria  ciatos,  ac  lotius  christianitalis  imperio  in- 
hiantes  celeriter  el  inlrepide  armes,  et  ab  isla  teñera  adhuc  aetate  lúa  me- 
ditan incipias  quomodo  christi  fidem  in  tantum  discrimen  adduclam  tueri, 
ac  titubantes  christianorum  ánimos  confirmare  possis.  Exislimesque  non 
niinus  Ubi  gloriosum  fore  si  christianae  Reipublicae  términos  hoslis  seui- 
liae  expósitos  defenderis,  quam  predecessoribus  luis  fuit  eos  ad  inaudi- 
tas vsque  naílones  prolulisse,  ac  innúmera  christi  crucis  trophea  apud 
easdem  defixisse.  Quod  si,  vi  speramus  et  optamus,  feceris,  perpetuara 
nominis  laudem  Ubi  comparabis,  ac  Nos  et  hanc  sanclam  sedem,  cuius 
dicti  praedecessores  lui  semper  deuoU  fuerunl,  tanto  ac  tali  mérito  Ubi 
promereberis,  ab  omnipolenU  aulem  Deo,  per  quem  Reges  regnanl,  el 
Principes  imperanl,  omnia  in  presenU  saeculo  secunda  et  prospera,  in  fu- 
turo aulem  aelernae  vilae  praemia  consequeris.  Proul  ex  Dilecto  filio  Mi- 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  119 

chaele  de  Sylua  tuae  Maiestalis  hic  Oralore  cui  super  his  iale  loquuti 
sumus,  plenius  inlelliget,  cui  indubiam  fidera  adhibebil. 

Dalum  Romae  apud  sanctum  petrum,  sub  annulo  Piscaloris,  Die  iii 
Marlii  MDXxiii,  Pontificatus  nostri  anno  primo.  —  T.  Hezius  *. 


Carta  de  D.  Miguel  da  Silva  a  el-Rei. 


15!S3 — Marco  4. 


Senhor.  —  As  carias  de  vossa  alteza  que  vierao  pollo  galeao  do  se- 
nhor  de  piombino,  e  asi  os  dous  correos  que  trouxerao  a  vagante  do  bis- 
pado  d  evora,  com  ho  mais  do  que  se  avia  de  fazer  em  todallas  cousas 
de  vosso  seruico,  e  este  derradeiro  por  que  mandou  pidir  sam  Jorge  e  o 
moisteiro  d  alafOes  pera  o  Infante  dom  anrique  vosso  irmao,  sam  todos 
chegados ;  mas  todos  lam  tarde  que  pollos  lempos  que  correm  e  guerras 
de  franca  que  nam  se  deve  vosa  alteza  d  espantar  de  aver  tanto  tempo 
que  nam  lem  cartas  minhas,  que  tambem  eu  despois  das  derradeiras  mi- 
nhas  de  vinte  e  sale  de  setembro,  que  diz  que  lem  Recebidas,  despachey 
dous  correos  fazendo  Ihe  saber  o  que  passava  pera  nam  se  espantar  se 
lardavao  seus  despachos,  porque  nam  era  lempo  pera  negociar,  nem  avia 
quem  ousase  d  entrar  em  Roma,  morrendo  cada  dia  duzentos  e  trezen- 
los  de  peslenenca.  No  ponto  que  este  mal  deu  vao  vim  logo  a  Roma,  e 
no  que  fiz  em  cada  cousa,  e  ñas  ditüculdades  que  ha  y  no  que  se  nom 
fez,  escrevo  largamente  por  huum  correo,  que  despacharey  antes  de  dez 
dias,  pollo  qual  mando  as  bullas  do  arcebispado  de  lixboa  e  d  evora  pera 
o  cardeal,  e  as  de  sania  cruz  e  sam  jorge  e  alafóes  pera  o  Infante  dom 
enrique,  e  a  bulla  da  administracao  do  mestrado  de  chrislos  pera  vossa 
alteza,  com  ho  mais  que  aallem  disto  que  he  ja  feilo  d  aqui  ate  Ha  se 
poder  fazer.  No  bispado  de  viseu  e  priorado  do  crato  se  tomará  Reso- 
lucao  com  a  Reposta  destas  cartas  que  escreverey,  em  que  miudamente 
verá  o  que  qua  he  posyvel  aver  se,  e  fico  com  esperanca  de  fazer  tanto 
que  sereys  seruido,  nem  neste  meio  tempo  perderey  tempo  nem  deixarey 

'  Arch.  Nac,  Mac.  36  de  Bullas,  n.°  66. 


120  CORPO  DIPLOMATÍGO  POKTUGUEZ 

passar  occasiao  sem  lancar  miio  della  :  sobre  islo  descanse  porque  cu  nom 
ey  de  descansar  nunqua  ate  islo  nam  ser. 

Por  este  correo,  que  esta  leva,  nam  he  posyvel  dar  Ihe  conla  disto, 
porque  vay  despachado  pollo  papa  sobre  esta  triste  e  desastrada  nova  da 
perda  de  Rodes,  segundo  verá  por  seu  breve  e  por  alguumas  cartas  que 
sobre  ysso  vierao ;  e  porque  este  correo  passará  por  franca,  e  nam  me 
dá  mais  que  duas  horas  de  tempo,  Relevando  a  cousa  tanto  a  toda  cris- 
tindade  e  juntamente  a  vosso  seruico,  nom  posso  despendellas  melhor 
que  em  Ihe  escrever  o  que  o  papa  sobre  este  caso  me  manda  que  Ihe  es- 
creva,  e  com  Razao  deseja  que  se  faca,  que  certo,  senhor,  se  nam  se 
loma  outro  caminho  ñas  cousas  da  cristindade  e  defensao  de  Itallia,  muy 
raao  o  levao  ellas,  e  praza  a  noso  senhor  por  sua  misericordia  que  nam 
conhecao  turcos  quam  lomada  está  esta  Ierra  cada  vez  que  nelia  quise- 
rem  poher  o  pee.  Eu  escreui  a  vosa  alteza  pollos  dous  correos,  que  ácima 
digo,  a  necesidade  em  que  eslava  Rodes  se  nam  Ihe  ya  socorro,  e  pollo 
segundo  Ihe  fazia  saber  o  trance  que  passara  na  treicao  do  bom  amaral, 
e  que  oulras  laes  se  temiao  muyto ;  e  como  as  boas  novas  que  vinhao  se 
criao  serem  todas  Janeadas  por  v¡a  de  veneza  e  meo  do  turco  pera  es- 
trovar o  socorro,  e  esfriar  as  pessoas  que  o  aviao  de  mandar,  e  saio  Ihes 
a  malicia  que  nem  Rodes  pode  soster  o  peso  de  tamanho  exercito,  nem 
o  socorro  Ihe  foy  nunca  de  nenhuma  parle,  de  maneira  que  aos  xx  de 
dezembro  foy  forcado  o  mestre  dar  se  a  partido  salvando  as  vidas  e  pes- 
soas e  dinheiros  e  artelharia,  e  nam  se  sabe  ainda  se  Ihe  mantiverao  os 
prometimentos :  de  ser  a  cidade  perdida,  e  o  grao  mestre  embarcado  com 
eatencao  de  se  viir  a  messina  e  d  ahi  a  Roma,  he  cousa  certa,  e  o  papa 
asi  o  tem  por  certo,  e  asi  me  manda  que  o  escreva  a  vossa  alteza  pe- 
dindo  Ihe  quanto  pode  pollo  de  deus  e  pollo  do  mundo  e  pollo  seu  que 
queira,  neste  tempo  de  tanta  sua  necesidade  e  de  tamanho  perigo  da  santa 
fee  de  noso  senhor  Jesús  christo,  poellas  maos  no  Remedio  como  aquelle 
principe  e  chrislao  que  he,  e  como  filho  de  quem  he  e  neto  de  tantos 
deífensores  da  santa  fee  e  acrecentadores  della,  sem  nunqua  em  vossos 
antepassados  se  achar  quem  pollo  de  deus  aja  arreceado  d  esparzir  seu 
sangue  cadavez  que  comprjo  muy  liberalmente.  As  cousas  dos  cristáos 
estam  de  maneira  que  vossa  alteza  vé :  sam  em  guerras  tres  tamanhos 
principes  sem  nenhuum  delles,  nam  digo  querer  deceer  a  honestas  con- 
dicOes  de  concordia,  mas  nem  soomente  querer  ouuir  noraear  paz :  os 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  121 

oulros  que  nesta  massa  nam  entrao  sao  tam  vizinhos  ao  perigo,  e  tam 
pouquo  poderosos  pera  poherem  o  peito  a  tam  grande  iniigo,  que  sem 
ajudas  de  fora  e  muy  grandes  nam  parece  posivel  que  se  possao  defen- 
der huum  soo  dia ;  soo  vosa  alteza  parece  que,  asi  pola  amizade  que 
igualmente  tem  com  franca  e  emperador,  e  pollo  que  pode  e  principal- 
mente por  mar  com  o  huum  poderá  muito  aproveitar  em  se  lomar  al- 
guum  meio  ao  menos  de  tregua,  e  com  ho  outro  dar  muy  grandes  es- 
paldas ás  cousas  do  papa  neste  mar  de  llallia,  e  com  seu  exempro,  aalem 
da  honra  que  seria  muy  grande,  moverla  sem  nenhuuma  duuida  todoUos 
outros  a  fazer  o  que  devem  a  deus  e  a  si  mesmos,  e  principalmente  vendo 
vollo  fazer,  senhor,  a  vos,  que  nam  vos  movéis  por  medo  vezinho  nem 
por  particolar  injuria  Recebida  ou  que  temáis  em  vosos  estados  tam  cedo, 
mas  soomenle  pollo  bem  commum  da  cristindade,  e  obrigacao  de  prin- 
cipe cristao  e  deífensao  da  santa  see  apostólica  e  cadeira  de  sam  pedro, 
E  nam  deve  com  isto  pouquo  a  mover  vossa  alteza  estar  ao  presente  nesta 
cadeira  Hadriano  papa,  cuja  vida  e  custumes  santísimos  merecem  par- 
ticolarmente  amor  e  ajuda  de  todo  bom  cristao,  quanto  mais  dos  Reís, 
e  quanto  mais  de  vossa  alteza,  que  elle  tanto  ama  e  tanto  mostra  de  que- 
rer comprazer  em  tudo  o  que  se  pode  estender  sem  prejuizo  craro  de  sua 
conciencia,  como  ja  comeca  a  mostrar  e  prazendo  a  noso  senhor  cada  dia 
amostrará  mais  e  mais  craramente.  ElRey  dom  aífonso,  tio  del  Rey  voso 
padre  que  santa  groria  aja,  quando  o  bisavo  deste  turco  velo  sobre  Ro- 
des  foy  o  primeiro  que  se  mandou  offerecer  a  papa  sisto,  e  quando  des- 
pois  os  turcos  desesperados  de  poder  tomar  Rodes  vierao  a  otranto  n 
apulha  elle  foy  tambem  o  primeiro  que  com  sua  armada  de  vinte  caravel- 
las  soccorreo  a  ysso,  e  certo  he,  senhor,  que  com  muito  menos  perigo 
estavao  entao  as  cousas,  e  o  poder  do  turco  entao  com  o  d  agora  tinha 
bem  pouquo  de  fazer,  que  soo  ho  que  o  turco  ganhou  despois  fazia  en- 
tao outro  muy  grande  principe,  e  que  a  elle  poos  em  muy  grande  af- 
fronla  que  he  todo  o  Imperio  da  siria  e  asia.  Asi,  senhor,  que  se  sendo 
entao  portugal  desacompanhado  d  outras  grandezas,  que  despois  noso  se- 
nhor vos  deu,  elRey  dom  aífonso  nam  olhou  senam  ao  perigo  que  já  en- 
tao se  comecava  a  ver  muy  maior  que  este  que  agora  vemos,  que  deve 
agora  fazer  vossa  alteza  vendo  nam  soomente  o  perigo  mas  o  eíFeito  :  Ro- 
des perdido,  belgrado  em  maos  do  turco,  e  o  turco  senhor  de  toda  asia 
e  Intitulando  se  senhor  de  Itallia  e  de  Roma,  como  emperador  que  se 

TOMO  II.  16 


122  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

chama,  e  os  principes  cristáos,  que  a  isto  mais  devem  acudir,  pelejando 
sobre  o  que  muy  levemente  com  ho  mais  em  que  nam  cuidíio  Ihes  po- 
deria  levar  o  terceiro  d  anlre  as  maos?  Nem  digo  estas  cousas  porque  vosa 
alteza  soo  tome  este  peso,  lendo,  como  dise  lambem  ao  papa,  haas  portas 
6  na  India  tanto  a  que  acudir  por  bem  de  seus  Reinos  e  seruico  tam- 
bem  de  Deus;  mas  porque  he  cousa  de  tanta  importancia,  e  o  papa  tem 
tamanha  necessidade  de  ajuda  que  com  a  metade  do  que  em  todo  outro 
tempo  seria  se  ganharia  neste  honra  dobrada,  e  se  dará  exempro,  que 
por  ventura  será  causa  de  tudo  se  Remediar,  e  o  merecimento  de  ludo 
será,  senhor,  atribuydo  a  vos,  e  a  allem  d  isto  lancareis,  a  meu  ver,  tal 
obrigacao  ao  papa,  que  poderá  Render  muito  mais  ñas  cousas  de  voso 
servico,  e  que  por  isto  nam  se  deva  fazer,  nam  deixará  de  seguir  o  que 
digo  tras  o  al  se  o  asy  fezerdes ;  e  se  alguuma  cousa  agora  se  nega  por 
nam  ser  exempro  a  se  fazer  outro  tanto  a  outros  principes,  fazendo  vosa 
alteza  ho  que  ninguem  nam  faz  polla  igreja,  a  igreja  tamliera  de  sua  parte 
nam  podprá  negar  vos  nada,  posto  que  a  mesma  cousa  se  negué  aos  ou- 
tros todos.  Ho  papa  teme  grandemente  que  o  turco,  ávida  esta  vitoria  de 
Rodes,  e  lendo  em  sua  corle  tanto  numero  de  homeens  que  muy  bem  sa- 
bem  as  cousas  de  Itallia  e  asi  as  guerras  dos  chrislaos,  que  achando  se 
com  as  maos  na  massa  que  nam  quererá  perder  tempo,  e  se  toma  a  volta 
desta  térra,  he  cousa  erara  que  sem  muy  boa  armada  no  mar  sua  san- 
tidade  nom  poderá  estar  em  Roma ;  e  partindo  se,  segundo  a  gente  qua 
he  feita  e  levidao  destes  governos,  tem  por  cerlo  que  nam  soomenle  se 
dariao  ao  turco  os  raais,  viindo  elle  poderoso,  mas  que  o  mandariao  cha- 
mar asi  por  mudar  senhor,  por  que  ho  mundo  de  qua  he  perdido,  como 
pollas  grandes  opresoes  que  estes  povos  de  tempo  pera  qua  tem  Recebi- 
das,  e  opiniao  que  tem  do  bom  governo  do  turco  e  aseseguo  de  suas  tér- 
ras, o  qual  em  tal  caso  nam  se  deve  duuidar  que  prometerá  e  dirá  muito 
mais  do  que  despois  mantera,  e  poderá  mover  por  todallas  vias  a  seu 
seruico  ho  que  cristáos  por  todallas  vias  indinao.  Pera  Remedio  disso,  se 
tal  caso  viesse,  pede  a  vossa  alteza  que  lenha  em  ordem  alguum  numero 
de  navios  e  gente  pera,  comprindo,  Ihe  socorrer  e  se  ajuntar  com  a  mais 
armada  que  qua  se  poder  concertar.  Compre  que  vossa  alteza  Responda 
a  sua  santidade,  e  com  toda  diligencia  pera  sobre  sua  Reposta  se  fazer 
conta  do  que  se  ha  d  esperar  d  ella  em  tal  caso.  Ñas  cousas  de  vngria 
se  teme  o  mesmo,  e  a  pfouisao  que  a  yso  se  faz  he  de  dinheiro.  He  feilo 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  123 

legado  pera  la  o  cardeal  columna  :  o  papa  Ihe  dará,  se  poder,  cern  mil 
ducados  pera  se  pagar  gente  e  deffender  este  primeiro  Impeto.  Ha  see 
apostólica  está  tam  prove  que  certifico  a  vossa  alteza  que  he  muy  grande 
piadade  :  nam  creo  que  ate  agora  sejam  juntos  quarenta  mil  ducados,  nem 
vejo  donde  ajao  de  sair  os  mais.  Todollos  principes  tambem  pera  isto  sao 
Requeridos,  e  o  papa  fallou  com  as  lagrimas  nos  olhos  a  todollos  embai- 
xadores.  Gré  se  que  nam  Ihe  falecerao  em  cousa  tam  justa,  principalmente 
que  nesfe  principio  dez  ou  quinze  mil  ducados  cada  huum,  com  ho  que 
o  papa  dá,  seria  muy  grande  cousa :  vosa  alteza  veja  tambem  o  que 
manda  que  sobre  isto  se  Responda  a  sua  santidade.  Bem  aíBrmo  a  vosa 
alteza  que  por  pouqua  ajuda  que  ao  papa  dése  neste  caso  e  neste  ensejo 
seria  muy  aceita  e  muy  a  tempo,  e  faca  conla  que  o  que  nislo  fizer,  aal- 
lem  do  que  se  faz  pollo  bem  vniversal,  será  feito  ao  pr^prio  papa  e  como 
dado  a  elle,  de  cuja  bolsa  ha  de  sair  nom  Iho  dando,  e  sendo  bem  e 
beneíTicio  feito  a  lodo  ho  mundo  de  sua  santidade  seria  Recebido  com  de 
huuma  composicao  pera  em  seus  negocios  fazer  cada  dia  muilo  mais.  Es- 
crevo  islo  tudo  asi  polo  miudo  a  vossa  alteza  porque  he  seu  seruico  sa- 
ber tudo,  e  minha  obrigacao  dizer  todo  o  que  he  ou  pode  ser  seu  ser- 
uico. De  novas  outras  de  qua  tenho  mandado  expresso  do  papa  que  nesla 
nam  escreva  nada  porque  parece  que  sua  santidade  o  prometeo  asi  aos 
embaixadores  francezes  pera  que  no  passar  do  correo  nom  pódese  aver 
Impidimenlo ;  e  posto  que  esta  nom  corra  perigo  de  jse  abrir  todavía  a 
fee  se  ha  de  guardar,  nam  pollo  perigo  de  se  descubrir  o  contrairo,  mas 
por  ella  mesmo.  Beijo  as  maos  de  vosa  alteza,  cuja  vida  e  Real  estado 
noso  senhor  guarde  e  acrecenté  como  deseja. 

De  Roma  aos  qualro  dias  de  marco  1523. 

Esta  he  trelado  d  outra  que  neste  mesmo  dia  tenho  enviada  por  ou- 
Iro  correo.  E  acerca  dos  capilolos  e  condicóes  com  que  se  deu  Rodes  se 
ouue  por  cerleza  que  Ihos  nam  guardón  o  grao  turco,  e  nam  sey  porem 
com  que  Razao  se  poderá  escusar  o  grao  mestre,  que,  capitulando  com 
seus  Jmigos,  se  esqueceo  de  salvar  as  Reliquias,  das  quaes  nam  fez  men- 
cao,  de  maneira  que  se  aíTirma  que  as  comprou  de  novo.  Elle  he  ja  em 
candía.  E  pois,  senhor,  que  as  comendas  de  Rodes  e  seus  previlegios  erao 
pera  deífensao  da  Ilha,  e  esta  já  nam  se  deíTende,  vossa  alteza,  vagando 
alguuma  cousa,  deve  mandar  ao  papa  a  pidir  Iha  que  aproveitará  pera, 
nam  a  querendo  conceder,  fazer  homem  mais  forca  no  priorado  como  a 

16* 


124  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

quem  se  negao  outras  cousas ;  e  se'vossa  alteza  fizer  o  que  largamente 
Ihe  escrevo  pollo  outro  correo,  que  tras  este  irá,  espero  em  noso  senhor 
que  será  seruido.  E  nesta  ñora  posso  dizer  mais. 

Esta  he  treslado  de  outras  duas  tays  que  foram  por  outros  correos. 
—  Dom  miguell  da  sijlua  *. 


Bulla  do  Papa  Adriano  líW. 

15193 — Marco  11. 

r 

t 

Adrianus  Episcopus  seruus  seruorum  dei  ad  füturam  rei  memoriara. 

Etsi  ad  ampleanda  ecclesiarum  omniura  commoda,  et  cunctorum  fi- 
delium  presertim  clericalis  ordinis  incrementa  felicia  nostra  semper  aspi- 
ret  intentio,  nullisque  eos  incommodis  aíBcere  uellemus ;  urgente  tamen 
redemploris  domini  nostri  Jesu  Christi,  et  sanctorum  omnium  contume- 
lia, periculo,  et  irreparabili  ruina,  quam  toli  Christiane  Reipublice,  et 
presertim  populis  Ciuilatum,  terrarum,  et  locorum  nobis,  et  sánete  Roma- 
ne ecclesie  subditorum  imminere  conspicimus,  contra  propositum  nostrum 
compellimur  pro  sacris  dei  templis,  el  sacerdotio  ad  opprobriorum  discri- 
mine liberandis,  populorumque  noslrorum  salue  fsicj  tutanda,  a  subdilis 
nostris  oportuna  subsidia  exquirere,  sperantes  indubie  quod  pro  defen- 
sione  uere  fidei  quam  professi  sunt,  ac  suis  et  Reipublice  Christiane  pe- 
riculis  euitandis,  de  facultatibus  eis  a  deo  creditis  subuenire  curabunt  et 
ad  hec  meritoria  opera  reddent  se  multipliciter  pronos  et  liberales.  Sane 
cum  perfidissimi  Turci  Christiane  Religionis  inimici  aduersus  ipsam  reli- 
gionem  eamque  profitentes,  Sathane  uexillum  improba  temeritate  erexe- 
rint,  el  tol  cruenlissimis  stragibus  iacturis,  et  damnis  per  eos  Cristianis 
populis  retroactis  temporibus  illatis,  ac  Regnis,  Prouinciis,  dominiis,  Ciui- 
latibus,  et  locis  Christianorum  captis  et  obsessis  non  contenli,  nec  sparsi 
sanguinis  fidelium  multitudine  saciati,  sed,  sicut  cunctorum  fidelium  oculi 
intueri  possunt,  fundendi  sanguinis  illorum  ardore  continuo  estuantes,  et 
omni  connatu  reliquas  chrislianas  Religiones  sue  tirannidi  et  spurcissi- 
me  sede  subiicere  querenles,  superiori  anno  discordiarum  et  dissensio- 

»  Ahch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac^.  29,  Doc.  30. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  125 

num  Ínter  Gatholicos  Reges,  Principes  et  polentalus,  inter  se  dissidentes, 
exorlarum  occasionem  nacti,  magno  el  potentissimo  paralo  exercilu,  va- 
ria Vngarie  Regni  Ciuitales  et  loca  diuersis  calamitatum  generibus  aíFe- 
cerinl,  et  tándem  Opidum  Belgradi  dicli  Regni  munitissimum  iii  el  armis 
ceperint,  in  ibique  inauditas  Crudelilates  perpetrarint ;  Ac  suum  iniquum 
proposilum  continué  feruentius  prosequentes  et  in  sua  potenlia  el  feroci- 
tate  confidentes,  ualidissima  Classe  marítima  ínstructa,  felícíssimam  olim 
et  totius  Christianítatis  specimen  et  decus,  nunc  uero  infelícissimam  et 
Christianorum  impíetalís  teslimonium,  Insulam  Rhodi  nouiter  occuparint, 
ea  potissimum  intenlione,  ut  ex  non  paruipendendis  coniecturis  colligi- 
tur,  ut  Regnum  Sicilie  et  loca  omnia  marilima  ac  Portus  Christianorum 
liberius  occupent,  et  deinde  eis  facilius  ad  sánete  Romane  ecclesie  Tér- 
ras, et  presertim  ad  hanc  Almam  Vrbem  nostram,  in  qua  bealissimus  Apos- 
tolorum  Princeps  Pelrus  sedem  suam  elegit,  et  qua  (quod  deus  auertat 
pro  sua  misericordia)  expúgnala  se  totius  Orbis  imperium  facile  occupare 
posse  non  dubitant,  pateat  accessus,  facileque  cognosci  possil,  nisi  cele- 
riter  occurratur  (prout  res  postulat),  formidandum  esse  ne  ipsi  perfidis- 
simi  Turci  uictorie  superbia  elali  maiora  el  irreparabilia  darana  Chris- 
tianitati  inferant,  in  maximam  diuine  maieslalis  offensam  ac  nostram  et 
Calholicorum  Regum  et  Principum  aliorumque  Chrislifidelium  ignominiam 
dedecus  el  iacturam  :  Nos  eiusdem  domini  nostri  Jesu  christi,  qui  pro  re- 
demptione  humani  generis  ut  nos  sui  Regni  eíficeret  possessores  immolari 
non  abnuil,  uices  licel  immerili  gerentes  in  terris,  premissa  et  que  iure 
perlimescimus  grauiora,  non  absque  cordis  amaritudine,  mente  reuoluen- 
tes,  omnia  nobis  possibilia  remedia  ad  resislendum  eisdem  Turcis,  et  ob- 
uiandum  imminentibus  periculis  quibus  subiicimur,  ómnibus  mediis  pa- 
rare sludemus,  et  eosdem  Catholicos  Reges  Principes  et  Potcntatus  ul  pro 
reuerenlia  ipsius  domini  nostri  Jesu  christi,  semolis  quibusuis  descordiis 
et  emulationibus,  Pacem  inter  se  componant,  et  ad  fidei  defensionem  ac 
ad  subuersionem  et  exterminalionem  prefatorum  Turcorum  insurgant,  ex- 
hortan et  requirere  non  cessamus,  parati  pro  eiusdem  fidei  defensione 
non  solum  noslras  et  ipsius  Romane  ecclesie  facúltales  exponere  et  que- 
cumque  incommoda  subiré,  Verum  etiam  si  opus  fuerit,  illius  exemplo 
cuius  Vicarii  sumus,  proprium  sanguinem  effundere,  Quod  quidem  ab  ipsius 
Pontificalus  nostri  inicio  menti  nostre  resedil,  cum  ex  Hispania,  in  qua 
dum  sors  eleclionis  in  personam  nostram  domino  concedenle  aduenil  re- 


126  CORPO  DIPLOMÁTICO  POílTUGUEZ 

sidebamus,  mari  classe  traiecto,  ad  ilaliam  peruenissemus,  naualem  Clas- 
sem  miinitaai  in  subsidium  Insule  et  fidei  prediclarum  miltere  disposue- 
ramus,  illamque  mississemus  nisi  facúltales  Romane  ecclesie  huiusmodi 
oranino  exhaustas  et  consumptas  reperissemus.  Nótenles  aulem  propterea 
omitiere  quin  quantum  in  nobis  sil  publice  utilitali  consulalur,  huiusmodi 
defensionis  opus,  cum  ipsius  adiutorio  cuius  causa  agitur,  suscipere  et  pre- 
fatorum  Regum  Principum  et  potentaluum,  nec  non  populorum  fidelium 
freli  presidiis  prosequi  et  ad  eíTeclum  perducere,  nosKrasque  uires  omnes 
in  hoc  poneré  intendimus  et  decreuimus.  Verum  quia  ad  tante  rei  mo- 
lem  preferendam  noslre  el  eiusdem  Romane  ecclesie  facúltales  predicte 
Parum  prouiderenl,  uolenles  huic  sanclissimo  operi,  ne  ipsi  immanissimi 
Turci  passim  alia  Regna  prouintias  dominia  Ciuitales  et  loca  Ghristiano- 
rura  eorundem  diripiant,  et  sub  suam  Tirannidem  ducant,  et  continuis 
bellorum  turbinibus  aílligant  etiam  alios  suíFragiis  adesse,  Malura  super 
hoc  cum  Venerabilibus  fratribus  nostris  sánete  Romane  ecclesie  Gardina- 
libus,  qui  pro  eorum  pia  in  Ghrislianam  Religionem  deuolione  ad  Con- 
Iributionem  ¡nfrascriplam  faciendam  se  sponle  el  liberaliter  oblulerunt,  de- 
liberatione  prehabita,  de  eorundem  Gardinalium  Gonsilio  pariler  et  assen- 
su,  Duas  ueras  et  integras  decimas  omnium  el  singulorum  fructuum  red- 
dituum  el  prouenluum  secundum  uerum  ualorem  Omnium  ecclesiarum 
Monasteriorum  et  beneQciorum  ecclesiaslicorum  per  ipsos  Cardinales  in 
hoc  consenlientes,  quomodolibet  obtentorum  ubicunque  tam  cilra  quam 
ultra  Montes  consistenlium,  ac  pensionum  annuarum  super  quibusuis  fru- 
ctibus  reddftibus  et  prouentibus  ecclesiasticis  eis  assignatarum,  per  pre- 
sentes hic  in  Romana  Curia,  per  absenles  uero  etiam  Vltrarnontes  exis- 
tentes in  locis  per  infrascriptum  Nicolaum  Golleclorem  designandis,  nec 
non  Omnium  Officiorum  ecclesie  Romane  ac  Vrbis  prediclarum,  ac  Pro- 
uintiarum  Giuitalum,  etiam  Rauenatensis,  Auinionensis,  Ferrariensis,  Bo- 
noniensis,  Placentinensis,  Parmensis,  Regiensis  et  Mulinensis  ac  Gomita- 
tus  Venaisini,  et  locorum  quorumcunque  nobis  et  Romane  ecclesie  me- 
díale uel  inmediate  subieclorum,  etiam  Legatorum,  Vicecancellarii  Mai6- 
ris  penitenliarii  et  Camerarii,  ac  Gancellarie,  Penitentiarie,  el  Camere 
apostolice,  et  Audientie  Rote,  el  aliorum  cuiuscunque  qualilatis  existen- 
tium  :  necnon  omnium  Galhedralium  etiam  Metropolitanarum,  el  aliarurn 
ecclesiarum,  Monasteriorum,  Prioratuum,  Prepositaluum,  dignilatum,  per- 
sonaluum,  adminislriilionura,  officiorum,  Canonicaluum,  et  prebendarum. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  127 

aliorumque  beneficiorum  ecclesiasticoruin  cum  cura  et  sine  cura,  secu- 
larium  ;  ac  eliam  sancli  Benedicli,  sancli  Auguslini,  Cisterciensis,  CIu- 
niacensis,  Carlusiensis,  Camaldulensis,  Humilialorum,  Premoslatensis, 
Vallis  Vmbrose,  Gruciferorum,  Monacorum,  Heremitarum  sancli  H¡e- 
ronymi,  et  aliorum  quorumcunque  ordinum,  ac  Congregalionum  tam  ui- 
rorum  quam  Mulierum  eliam  mendicanlium  ex  priuilegio,  uel  alias  Car- 
los reddilus  habentium  ;  Necnon  Regularum  Mililiarum  in  prouinlüs,  nec 
non  Vrbe,  ac  alus  Ciuilalibus,  et  diocesibus,  Eliam  Rauenalensis,  Aui- 
nionensis,  Ferrariensis,  Bononicnsis,  Placenlinensis,  Parmensis,  Regien- 
sis,  el  Mulinensis,  Necnon  Comilatus  Venaisini,  Terris,  Caslris,  et  lo- 
éis nobis  et  prefate  Romane  ecclesie  niediate  uel  immediale  (ut  prefer- 
tur)  subieclis,  consistenlium,  Videlicet  a  Legalis  Vicecancellario,  Maiori 
penitentiario,  el  Carnerario,  acGubernaloribus,  Recloribus,  Capilaneis  Po- 
teslalibus,  el  alus  quibuscunque  oíTicialibus  noslris  el  ecclesie,  ac  cu- 
rie, Gancellarie,  Penilenliarie,  camere,  Audienlie  Role,  Prouintiarum  Vr- 
bis  ciuilalum,  comilatus,  Terrarum,  castrorum,  el  locorum  prediclorum, 
Reddituum  uero,  el  prouenluum  ecclesiaslicorum  ab  ómnibus  et  singu- 
lis  Archiepiscopis,  Episcopis,  Eleclis,  Abbalibus,  Abbatissis,  Prioribus, 
Priorissis,  Adminislraloribus,  Comendalariis,  Gapilulis,  Conuentibus,  cele- 
risque  personis  ecclesiaslicis  secularibus  et  regularibus  ordinum  congrega- 
lionum Mililiarum  quorumlibel,  exemplisjel  non  exemptishuiusmodi  fruclus 
reddilus,  et  prouenlus  ecclesiasticos  in  prouinlüs,  Vrbe,  ciuilalibus,  dioc. 
comilalu,  lerris,  caslris,  el  locis  supradiclis  percipienlibus,  el  preceplu- 
ris,  cuiuscunque  preeminenlie,  dignilatis,  status,  gradus;  ordinis,  uel  con- 
dilionis  existant,  quibus  aut  eorum  alicui  nulla  priuilegia  et  indulta  sub 
quecunque  uerborum  forma  seu  expressione  que  quoad  hoc  nolumus  suf- 
fragari,  Duobus  proxime  fuluris  Annis,  Videlicet  unam  lantum  Decimam 
quolibet  ex  ipsis  duobus  annis,  in  lerminis  per  Venerabiiem  Fralrem  nos- 
Irum  Nicolaum  Episcopum  Sabinensem  Cardinalem  de  Fusco  nuncupa- 
tum,  cui  curam  colligendi  et  conseruandi  pecunias  ex  huiusmodi  Deci- 
mis  prouenienles,  ac  facullatem  tam  in  Vrbe  quam  in  alus  ciuilalibus  ler- 
ris el  locis  prediclis  quot  quot  uolueril  ad  hoc  depulandi  per  presentes 
concediraus,  persoluendas,  exigendas,  et  leuandas  ac  in  premissum  fidei 
tam  comuna,  tam  sanclum,  lamque  necessarium  opus,  uidelicet  contra 
ipsos  perfidissimos  Turcos,  et  non  in  alios  usus  omnino  conuertendas, 
aucloritate  apostólica  et  ex  certa  scientia  ac  de  apostolice  poteslatls  pie- 


128  CORPO  DIPLOMÁTICO  POKTUGUEZ 

nitudine  indicimus,  el  imponimus,  et  impositas  denunciamus,  siiniles  de- 
cimas pro  grauitate  expensarum  Poslquam  pax  el  indulie  inter  diclos  Re- 
ges, Principes,  et  Potenlatus  (proul  cupimus)  et  domino  concedenle  in 
breui  faceré  speramus  concluse  fuerint,  in  ómnibus  alus  prouintiis,  Re- 
gnis,  dominiis  et  locis  tara  eisdem  Regibus,  Principibus,  et  Potentatibus 
subiectis,  quam  liberis  ad  hoc  ut  tam  ferocissimo  hosli  et  potenti  non  so- 
lum  resisti,  sed  el  sánela  expedilio  contra  Crucis  Ghristi  hostes  tam  diu 
exoptata  fieri  possit  imponere  intendentes ;  et  ut  decime  imposite  huius- 
raodi  fideliter  conseruentur,  ac  illarum  prouentus  in  hoc  sanclum  opus 
contra  Turcas  Christi  iniraicos,  et  non  in  aliam  causam  conuertantur, 
Volumus  quod  Rectores,  seu  deputati  Regimini  Ciuitatum,  Castrorum,  et 
locorum  predictorum  in  singulis  illorum  unam  Capsam  tribus  Clauibus, 
Vna  uidelicet  penes  Gommissarium  a  prefalo  Nicolao  episcopo,  et  Gardi- 
nali  ut  prefertur  deputandum,  alus  uero  duabus  penes  dúos,  Vnum  ui- 
delicet ecclesiasticum,  el  alium  secularem,  probos  uiros  fides  facultatibus 
idóneos,  de  quibus  ipsis  Rectoribus  uidebilur  deponendis,  Glaudendam,  in 
qua  Decime  huiusmodi  integraliter  el  tideliler  reponantur,  nec  inde  ex- 
Irahantur,  nisi  in  premissam  causam,  el  non  alios  usus,  uere  el  eíTectua- 
liler  conuertende.  Girca  uero  collectionem,  et  exactionem  ipsarum  Deci- 
marum,  ac  modum  illas  conuertendi  et  reponendi,  per  Nicolaum  Episco- 
pum  et  Gardinalera,  aut  Deputalos  predictos  sub  talibus  conditionibus,  mo- 
dis  et  formis  prouideri  curabitur,  ut  omnes  plene  intelligere  el  aperte 
uidere  possint  huiusmodi  decimas  in  hanc  sanctam  Expeditionem  et  non 
in  alios  usus  erogari.  Ceterum  cum  mora  uel  dilalio  preslationum  huius- 
modi decimarum  pro  tam  euidentis  periculi  magnitudine  sil  plurimum  no- 
ciua,  expediatque  ut  Ghristiana  Religio  hoc  tam  necessario  presidio  non 
destituatur,  et  premissa  metu  pene  ab  ómnibus  inuiolabiliter  obseruentur, 
Contradictores,  inobedientes  et  rebelles,  aul  scienter  defraudantes,  priua- 
tionis  ecclesiarum  Monasleriorum,  aliorumque  beneficiorum  ecclesiastico- 
rum  et  Officiorum  omnium  etiam  ut  prefertur  qualificatorum  ila  ut  illa 
ex  tune  uacare  censeanlur,  et  ut  uacantia  impetrare  et  libere  conferri  pos- 
sint, El  quominus  Decima  huiusmodi  persolualur  et  exigatur  persuadere, 
aul  quouis  modo  direcle  uel  indirecte  operari  presumentes,  cuiuscunque 
status  gradus  et  preeminentie  ut  prefertur  fuerint,  etiam  si  Palriarchali 
aut  alia  quauis  perfulgeant  dignitale,  excommunicationis  senlenlie  penas 
ipso  fado  incurrere  uolumus  el  declaramus,  ad  quarum  penarura  incur- 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  129 

sus  declarationeni  el  alia  usque  ad  execulionem  inclusiue  per  prefatum 
Nicolaum  Cardinalenri,  per  se  uel  alium  seu  alios,  lam  in  Curia  quam  ex- 
tra respectiue  procedí  posse  decernimus.  Statuenles  etiam  ut  omnes  et  sin- 
gule  persone,  que  ob  non  solulionem  uel  ob  defraudationem  decimarum 
uel  alias  quacumque  occasione  premissorum  excommunicalionis  senten- 
liam  innodati  fuerint,  ab  illa  nisi  per  Romanum  Ponlificem,  prelerquam 
in  morlis  articulo,  et  nisi  prius  salisfaclo  de  eis  que  tenerentur  absolui 
nequeant,  ñeque  absolutionem  ipsam  lam  in  foro  Conscienlie  quam  Con- 
lenlioso,  et  impelrationibus  beneficiorum  uel  alus  quibuscunque  gratiis  ob- 
linuisse  noscantur,  nisi  de  excommunicalionis  sentenlia  huiusmodi  el  ob 
quam  causam  incurrerinl  specificam  et  expressam  fecerint  menlionem, 
Alioquin  absolutio  el  lillere  ipse  ac  quecunque  concessiones  beneficiorum 
et  gratie,  sub  quacunque  uerborum  forma  concesse,  nullalenus  eis  suffra- 
genlur,  nulliusque  sint  roboris  uel  momenli.  El  insuper  horlamur  el  mo- 
nemus  omnes  et  singulos  Freíalos  supradiclos  eorumque  Vicarios  el  oíü- 
ciales,  ao  in  uirtule  sánele  obedienlie  et  sub  excommunicalionis  sentenlie 
pena  ipsis  dislricle  precipiendo  mandamus  qualenus  quilibel  ipsorum  in- 
solidum  quamprimum  presentes  noslre  lillere,  seu  earum  Transumpla 
manu  alicuius  Nolarii  publici,  el  sigillo  alicuius  eorum  aul  Nicolai  Epis- 
copi  et  Cardinalis  seu  deputalorum  prediclorum  munita,  preséntate  seu 
preséntala  fiíerint,  ipsas  lilleras  ac  omnia  el  singula  in  eis  contenta  in  suis 
et  alus  ecclesiis  seu  locis  suarum  prouinliarum  Ciuitatum  et  diocesium 
dominicis  et  fesliuis  diebus,  quando  et  quoliens  opporlunum  fuerit,  solem- 
niler  publicenl  et  exponant,  et  per  eos  quos  ad  hoc  duxerint  deputandos 
publicari  el  exponi  facianl :  Non  obstanlibus  Conslitutionibus  et  ordina- 
lionibus  apostolicis,  ac  ecclesiarum,  Monasteriorum,  ordinum  Militiarura, 
Congregalionum  et  oíTiciorum  prediclorum,  iuramenlo  confirmatione  apos- 
tólica uel  quauis  firmitale  alia  roboralis,  slalutis  et  consuetudinibus,  slabi- 
lihientis,  usibus  et  naturis,  ac  priuilegiis  et  indullis  apostolicis  eis  forsan 
sub  quibusuis  uerborum  formis,  clausulis  etiam  derogatoriarum  deroga- 
toriis,  eíTicatioribus  et  insolitis  concessis,  quibus  etiam  si  de  eis  eorunque 
tenoribus  pro  illorum  sufficienti  derogatione  specialis,  specifica  et  expressa 
mentio  habenda  foret,  et  in  lilis  cauerelur  expresse,  quod  lilis  nunquam 
censerelur  derogatum,  nec  derogar!  posset,  nisi  sub  certis  inibi  expressis 
modo  et  forma,  ac  uerborum  expressione,  uel  nullo  modo,  tenores  eorum, 
ac  si  de  uerbo  ad  uerbum  insererentur,  presentibus  pro  sufficieuler  ex- 

TOMO  II.  17 


130  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

pressis  et  insertis  habentes,  illis  alias  in  suo  robore  permansuris,  hac  uice 
duntaxat  specialiter  et  expresse  omnino  derogamus,  et  derogatum  esse 
uolumus,  celerisque  contrarüs  quibuscunque.  Aut  si  eisdem  Archiepisco- 
pis,  Episcopis,  Eleclis,  Abbatibus,  Abbatissis,  Prioribus,  Priorissis,  Admi- 
nistratoribus,  Gomendatarüs,  Capilulis,  Conuentibus,  Ordinibus,  Militiis, 
Oíücialibus  et  personis,  uel  quibusuis  alus  communiler  uel  diuisim  ab 
eadem  sil  sede  indultum  quod  ad  solutionem  alicujus  decime  niinime  te- 
neanlur,  et  ad  id  corapelli,  aut  quod  interdici,  suspendí  uel  excommuni- 
cari  aut  proplerea  priuari  non  possint,  per  lilteras  apostólicas  non  facien- 
tes  plenam  et  expressam  ac  de  uerbo  ad  uerbum  de  indulto  huiusmodi 
mentionem,  et  quibuslibet  alus  priuilegiis  indulgentiis  et  lilteris  apostoli- 
cis  generalibus  uel  specialibus  quorumcunque  tenorum  existant,  per  que 
presentibus  non  expressa,  uel  lotaliter  non  inserta  effectus  earum  impediri 
ualeat  quomodolibet  uel  deferri,  et  de  quibus  quorumque  totis  tenori- 
bus  de  uerbo  ad  uerbum  habenda  sit  in  nostris  lileris  mentio  specialis. 
Verum  quia  difficile  foret  presentes  litteras  ad  singula  loca  in  quibus  ex- 
pediens  esset  deferre,  etiam  uolumus,  et  auctoritate  apostojica  decernimus 
quod  earundem  litterarura  Transuraptis,  manu  alicuiusNotarii  publici  inde 
Rogalis  subscriptis,  et  sigillo  alicuius  Prelali  ecclesiaslici  seu  Nicolai  Epis- 
copi,  et  Cardinalis  predicli  munitis,  ea  prorsus  fides  indubia  in  iuditio  et 
extra  illud,  ac  alias  ubilibet  in  ómnibus  et  per  omnia  adUibeatur  que 
presentibus  adhiberelur,  si  essent  exhibite  uel  óslense.  NuUi  ergo  omnino 
hominum  liceat  hanc  paginam  nostre  indictionis,  impositionis,  denunlia- 
tionis,  uoluntatis,  declarationis,  staluti,  horlationis,  monitionis,  mandali 
derogationis  et  decreti  infringere  uel  ei  ausu  temerario  conlraire.  Siquis 
aut^m  hoc  attemptare  presumpserit  indignationem  Omnipotenlis  dei,  ac 
beatorum  Pelri  et  Pauli  Aposlolorum  eius,  se  nouerit  incursurum. 

Datum  {lome  apud  sanctum  Pelrum  Anno  Incarnationis  doniinice 
Millesimo  quigentesimo  Vigésimo  secundo,  Quinto  Idus  Martii,  Pontifica- 
tus  nostri  Anno  Primo.  —  T.  Hezius  '. 


'       4  D/^  o  1^ 


Arch.  Píac,  Mac.  37,  n."  6,  Esta  hulla  é  imprcssa. 


ÍIELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  131 


Carta  de  D.  llig;uel  da  filloa  a  el-llei. 


1533 — Marco  15. 


Senhor.  —  Dcspoys  de  muyla  fadigua,  e  quasi  que  já  me  parecya 
que  o  papa  era  de  lodo  arrependido  acerca  da  bulla  da  administracao  do 
niestrado  de  christos,  como  escreuerey  larguamei)le  pollo  correo  que  tras 
este  Yay,  me  mandou  sua  santidade  a  bulla  a  casa,  e  neste  ponto,  es- 
tando já  a  cauallo  o  correo  que  vay  era  companhia  de  huum  apousenla- 
dor  do  emperador,  homem  muy  honrrado,  m  a  dao ;  e  parecendo  me  que 
he  de  muyto  peso  pera  vossa  alteza  poder  prouer  das  cousas  que  vaguam, 
e  fazer  o  mays  que  compre  da  administracao  do  mestrado,  me  pareceo 
bem  a  mandar  loguo,  e  pollo  outro  correo  mandarey  oulra  tal  que  se  es- 
pede com  sello  de  ouro,  como  he  costume  ñas  cousas  de  tamanha  sus- 
tancia em  pessoas  dos  mesmos  Reys.  Da  custa  que  fez,  assy  esta  como 
todas  as  outras,  Ihe  yrá  cora  ellas  juntamente  a  conta,  que  nesla  carta 
nem  pera  estas  poucas  Regras  nao  tenho  tempo,  e  perder  tara  boa  ocasianí 
deste  correo  e  companhia  que  leua  seria  erro  :  abaste  somente  por  aguora 
que  do  que  outra  tal  graca  cuslou  ao  emperador  em  ho  tempo  que  papa 
liara  estaua  melhoí*  com  elle,  quitou  papa  adriano  a  vQSsa  alteza  as  nouc 
partes,  ficando  porem  a  elle  que  \ysta  a  grandeza  da  graca  e  necessidade 
da  Igreja  de  sua  liure  liberalidade  hja  de  fazer  o  que  Ihe  bem  parecer 
que  tudo  se  leyxa  em  liure  vontade  de  vossa  alteza. 

Ha  bulla  do  moysteyro  de  alafóes  e  sam  Jorge  mando  tambera,  que 
por  grande  fauor  e  importunidades  se  despachou  era  quatro  dias :  pare- 
ceo me  necessario  mandalla  tambera  loguo  pera  se  toraar  a  posse  por 
ella.  Pollo  outro  correo  yrá  o  processo  autenticado  era  lugar  de  dupri- 
cada,  que  nam  ouue  tempo  pera  se  mandar  aguora  como  eu  quisera, 
por  nwndar  a  propria  bulla  por  térra,  que  he  via  mays  segura  se  de 
franca  me  \em  saluo  conducto  que  espero,  e  por  ysto  as  bullas  de  lix- 
boa  euora  e  sancta  cruz,  que  ja  sara  quasi  espedidas,  se  nara  vyr  que  os 
caminhos  sao  rauy  seguros  nam  envyarey,  c  mandarey  por  emtanlo  as- 
suntos  com  breue  do  papa  per  que  se  lome  a  posse  e  administre  nem 

17* 


132  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

mays  nem  menos  que  se  as  proprias  bullas  la  fossem.  E  esperando  eu 
que  vossa  alteza  me  faca  a  merce,  que  Ihe  tantas  vezes  tenho  pedyda,  e 
peco,  de  me  dar  licenca  a  o  yr  la  seruyr,  faco  conta  de  as  leuar  com 
as  mays  que  ate  vyr  vossa  resposla  se  poderem  espedir,  e  com  ella  se 
espediráo,  que  auenturar  a  se  perderem  bullas  de  tanta  custa  pera  na  du- 
pricacao  deüas  se  hauerem  de  despender  e  deylar  a  longe  tres  ou  quatro 
mil  ducados,  nam  he  vosso  seruico,  nao  releuando  mays  huuma  cousa 
que  a  outra.  O  papa,  posto  que  com  muita  diíTiculdade,  tem  concedydo 
a  vossa  alteza  o  poder  recolher  os  fruylos  destes  beneficios  de  seus  ir- 
máos,  e  assy  licenca  do  nao  Rezar  ao  Cardeal  e  Ifanle  Dom  amrique, 
com  absoluicao  pera  o  cardeal  do  passado.  Os  breues  com  as  bullas  ha- 
uerey  ás  maos  em  poneos  dias,  que  nam  faco  al  de  noyte  nem  de  dia,  e 
as  cousas  vao  per  estilo  tam  mudado  que  o  que  se  espedía  em  hum  dia 
ha  agora  mister  dez,  com  dez  tanto  de  pena  e  de  diligencia ;  e  porque 
dizendo  a  verdade  nam  posso  correr  perigo  de  parecer  que  me  louvo  sem 
proposito,  compryndo  a  vosso  seruico  saberdelo,  se  tres  pessoas  que  agora 
gouernao  tudo  nao  acerlarao  de  ser  muy  antigos  meus  amigos  e  muy  ver- 
dadeyros  antes  que 'o  papa  sonhasse  de  ser  papa,  nem  elles  de  manda- 
rem  o  papado,  em  todas  estas  cousas  de  vosso  seruico  ouvera  alguma 
pouca  de  mays  diíficuldade ;  e  muyto  menor  a  hauerya  se  a  autoridade 
com  que  vossa  alteza  me  diz  que  sabe  que  hey  de  acabar  ludo  fosse  mayor, 
o  que  ha  de  vyr,  senhor,  de  vos,  e  de  vossa  alteza  mostrar  ao  mundo  que 
meus  seruicos  passados  feytos  a  elRey  seu  padre  que  deus  aja  e  aguora 
a  elle  Ihe  sao  presentes,  que  qua,  senhor,  o  criado  de  que  o  mundo  vé 
que  seu  senhor  faz  pouca  conta,  pode  muy  pouco  ñas  cousas  do  seu  se- 
nhor, e  por  muitos  seruidores  que  pollo  mundo  vossa  alteza  tenha  e  com 
toda  sua  grandeza  nao  hauerá  quem  me  crea  em  cousa,  que  de  vosso  ser- 
uico e  vontade  eu  disser,  se  juntamente  se  nam  vyr  que  estymays  de  tal 
sorte  raeu  seruico  que  o  que  eu  diguo  nam  pode  deyxar  de  sayr  de  vos, 
ou  despoys  de  dito  de  ser  hauydo  por  bem  dito.  Isto,  senhor,  posto  que 
mal  se  possa  escusar  de  hos  homens  naturalmente  nam  desejarem  honra 
e  merces  de  seus  Reys  e  senhores  a  que  seruem,  eu  todauia,  assy  deus 
me  ajude  e  leue  diante  dos^pes  de  vossa  alteza,  como  o  diguo  muyto 
mays  pollo  que  compre  a  vosso  seruico  que  pollo  meu. 

Estes  tres  homens  que  acyma  diguo  que  podem  muyto  sam  guilliel- 
mo  Inchfort,  que  aguora  he  bispo  de  torlosa,  o  auditor  da  cámara  Senes, 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  133 

que  he  bispo  de  asculi,  e  o  arcebispo  de  cosenca,  que  era  nuncio  em  lempo 
del  Rey  dom  femando,  que  deus  aja,  em  castella ;  mas  o  principal  he  o 
de  lortosa  a  que  vossa  alteza,  juntamente  com  o  auditor  da  cámara,  deue 
de  escreuer,  porque  no  despacho  desta  administracao  elles  tomarao  as 
armas  e  fizerao  quanto  eu  Ihes  pedy.  Reijo  as  maos  de  vossa  alteza,  cuja 
vida  e  Real  estado  nosso  senhor  deus  guarde  e  acrecenté  como  deseja. 
De  Roma  aos  xv  de  marco  1523.  — Bom  miguell  da  sylua  \ 


Carta  de  1>.  lli^uel  cía  f^il^a  a  el-Rei. 


15:33 — ¡narco  16. 


Senhor.  —  Despois  destas  cartas  todas  cerradas  soube  que  as  cousas 
do  papa  com  o  emperador  sam  assentadas  todas  muito  a  contentamento 
do  emperador  e  assy  como  sua  alteza  as  desejaua,  e  concedeo  Ihe  cru- 
zadas e  outras  dizimas  e  a  terceyra  parte  da  Renda  ^  dos  creligos  pera 
suas  guerras,  que  monta  ^  muito  grande  soma.  Pareceo  me  bem  fazello 
assy  saber  a  vossa  alteza  porque  nam  Ihe  Tlem  ^  a  entender  outra  cousa 
que  ysto  está  assy,  e  nam  *  se  pode  ler  a  uontade  de  huum  ^delles  que 
nam  se  tentia  a  de  ambos.  Reijo  as  maos  de  vossa  alteza,  cuja  vida  e  Real 
estado  nosso  senhor  Deus  guarde  e  acrecenté  como  deseja. 

De  Roma  aos  xvi  de  marco  1523  —  Dom  miguell  da  sylva  ^. 

'  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  29,  Doc.  37.  O  documento  n.°  38  do 
mesmo  mago  é  a  segunda  via  d'esta  carta. 

2  Ibid.  Doc.  35.  O  documento  n.°  39  é  a  segunda  via  d'esta  carta,  mas  com ^í  data 
de  20  de  mavQO  e  as  variantes  seguintes : 

^  das  rendas 

~  montam 

^  Ihe  nam  dem 

*  que  esto,  asy  que  nam 

^  nenhuum 
€  termina:  «esta  he  treslado  de  outra  tal.» 

.  O  documento  n.°  4i  e'tambem  outra  via  da  mesma  carta,  com  a  data  de  2/  demarQO 
e  com  as  variantes  ^  ^  ^  e  ^  do  documento  n.°  39;  accrescenta  pore'm  depois  da  data:  «o 
que  diguo  que  se  concederao  as  tercas  dos  creriguos  nam  foram  senao  as  quartas.  » 


134  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 


Bulla  do  Papa  Adriano  WI,  dirigida  a  el-Rei 


15133— Marco  lO. 


Adrianus  cpiscopus  seruus  seruoruní  dei  Carissimo  in  chrislo  filio 
Johanni  Porlugallie  el  Algarbiorum  Regí  lUustri  Salulera  et  aposlolicam 
benedictionem. 

Eximio  deuotionis  affectus  et  integra  fides,  quibus  nos  et  apostoli- 
cam  reuereris  ecclesiam,  mérito  nos  inducunt  vt  illa  libi  fauorabiliter  con- 
cedamus,  que  tuis  commoditalibus  fore  conspicimus  oportuna,  et  per  que 
eliam  domini  nostri  Jesu  christi  Mililie  Magistratui  in  Portugallie  et  Al- 
garbiorum Regnis  et  dominiis  tuis,  eorumque  conserualioni  et  utilitati 
oportuno  consuli  possit.  Cum  itaque,  sicut  accepimus,  Magistratus  pre- 
dictus,  quem  quondam  clare  memorie  Emanuel  Rex  genitor  tuus  dum  vi- 
ueret,  eliam  vxorem  habens,  et  absque  eo  quod  frater  dicle  Mililie  esset, 
ex  concessione  et  dispensalione  apostólica  in  administralionem  oblinebat, 
administralione  huiusmodi  per  obitum  dicli  Emanuelis  Regis,  qui  extra 
Romanan!  Curiam  debilum  nature  persoluit,  cessante  adhuc  eo  quo  dura 
eidem  Emanueli  administralio  concessa  fuerat  vacabat  modo  vacare  nos- 
calur;  Nos,  speraíiles  quod  tu,  qui,  vt  similiter  accepimus,  predicle  Mi- 
lilie ex  tua  pia  deuolione  plurimum  afficeris,  tibique  magn^animilale  ac 
polentia  plurimum  suffragantibus  Magistratui  predicto  eris  plurimum  vti- 
lis  el  eliam  frucluosus,  volentesque  libi,  qui,  vt  eliam  accepimus,  in  vi- 
césimo primo  lúe  etatis  Anno  conslitulus  existís,  vt  stalum  luum  iuxta 
Regle  exigenliam  excellenlie  decenlius  lenere,  vtque  sanclissimam  per  di- 
ctum  genitorem  tuum  ceplam  el  per  te  continuatam  chrislianam  nominis 
ampliandi  promutiam  continuare  valeas,  de  alicuius  obuentionis  auxilio 
prouidcre,  Nobilitatisque  el  generositalis,  ac  egregiorum  luorum  et  dicli 
genitoris  ac  vcslrorum  maiorum  meritorum  intuitu,  graliam  faceré  spe- 
tialem,  necnon  verum  el  vltimum  dicli  Magistratus  vacalionis  modum, 
eliam  si  ex  illo  queuis  generalis  reserualio  eliam  in  corpore  iuris  clausa 
resuUet,  illiusque  qualitales  el  naturam,  necnon  frucluum,  reddituum  et 
prouentuum  veros  annuos  valores,  presenlibus  pro  expressis  habentes, 


RFXACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  135 

Molu  proprio,  non  ad  tuam  vel  allerius  pro  te  nobis  super  hoc  óblale 
pelitionis  inslantiam,  sed  de  nostra  mera  liberalilale  et  ex  certa  scientia, 
Magistratuní  predictum,  qui  in  dictis  Regnis  et  dominiis  ipsius  Mililie  d¡- 
gnilas  principalis  ac  caput  dicte  Mililie  existit,  quouisraodo  et  ex  cuiíis- 
cunque  persona  seu  per  liberara  resignalionem  alicuius  de  illo  in  dicla 
Curia  yel  extra  eam,  etiam  corara  Notario  publico  et  testibus  sponte  fa- 
ctara,  vacet,  etiara  si  tanto  terapore  vacauerit  quod  eius  collatio  iuxta  La- 
teranensis  statuta  Concilii  aut  alus  canónicas  sanctiones  ad  sedera  apos- 
tolicam  legitime  deuoluta,  ipseque  Magislratus  disposilioni  apostolice  spe- 
tialiter,  vel  ex  quauis  causa,  etiam  de  necessitate  exprimenda,  generaliler 
reserualus  existat,  et  ad  illura  consueuerint  quis  per  electionem  assumi 
super  eo  quoque  inter  aliquos  lis,  cuius  statura  etiam  presentibus  haberi 
volumus  pro  expresso,  pendeat  indecisa,  cura  ómnibus  membris,  Castris, 
caraeris,  iuribus  et  perline'ntüs  suis,  tibi  per  le  quoaduixeris,  etiam  si 
frater  dicte  Mililie  non  exislas  et  matrimoniura  te  conlrahere  conligeril, 
tenendum,  regendum  et  gubernandum  ;  Ita  quod  liceat  tibi,  debitis  et 
consuetis  dicti  Magislratus  supportatis  oneribus,  de  residuis  illius  ac  mem- 
brorura  castrorum  et  aliorura  iuriura  predictorura  frúctibus  redditibus  et 
prouentibus  disponere  et  ordinare  potuerunt,  seu  etiara  debuerunt,  Alie- 
natione  tamen  quoruncunquc  bonorum  immobilium  et  preliosorum  mobi- 
liura  dicti  Magistratus  et  membrorum  suorum  tibi  penitus  interdicta,  au- 
ctoritate  apostólica  tenore  presentiura  in  adrainistrationem  con'cedimus,  te- 
que,  quandiu  \'itara  duxeris  in  humanis,  Magistratus  et  raerabrorura  pre- 
dictorura* Administratorem  et  gubernatorem  perpetuo  et  irreuocabiliter 
modo  preraisso  facimus,  constitui.mus  et  depulamus,  curara  régimen  et 
adrainistrationem  illorum  in  spirilualibus  et  temporalibus  tibi  plenariecom- 
millendo,  ac  omnia  et  singula  in  eisdem  spirilualibus  et  temporalibus  ge- 
rendi  et  exercendi,  que  dicte  Militie  Magistri  pro  tempore  existentes  ge- 
rere  et  exercere  possunt,  plenam  liberara  et  oranimodam  harum  serie 
concedimus  facultatem,  Mandantes  dilectis  filiis  maiori  Preceptori  ac  Priori 
Conuenlus  de  Tomar,  ac  vniuersis  Prioribus,  Preceptoribus,  Coraraenda- 
toribus,  Militibus  et  fralribus  dicte  Militie,  quocunque  nomine  censeantur 
et  quacunque  prefulgeant  dignitale,  necnon  eiusdem  Magistratus  et  mem- 
brorum \asallis  et  subditis  quatinus  te  in  administralorem  el  gubernato- 
rem dicti  Magistratus  benigne  recipiant  et  admillant,  necnon  libi  vti  vero 
Magistro  pareant  etMntendant,  ac  debite  fidelitatis  sólita  homagia  el  iura- 


13a  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

menta  preslenl,  consuetaque  seruicia  el  iura  tibi  debita  studeant  exhibe- 
re.  Quocirca  venerabilibus  fratribus  nostris  Bracharensi  et  Vlixbonensi 
Archiepiscopis,  ac  Episcopo  Portugalensi  per  apostólica  scripta  molu  si- 
mili  raandamus  quatinus  ipsi,  vel  Dúo  aut  Vnus  eorum,  per  se  vel  alium, 
seu  alios  sibi  et  preinissis  eíQcacis  defensionis  presidio  assistentes,  le,  \el 
procuralorem  tuum  tuo  nomine,  in  corporalem  possessionem  Magislratus, 
membrorum,  Gaslrorum,  Gamerarum,  iuriumque  el  perlinenliarum  pre- 
diclorum  inducant  auclorilale  noslra  el  defendanl  induclum,  amolis  qui- 
busuis  delentoribus  ab  eodem,  facientes  te  vel  pro  te  procuralorem  predi- 
clum  ad  Magistratum  et  membra  huiusmodi  vt  est  moris  admilli,  libique 
de  illorum  fruclibus,  reddilibus,  prouenlibus,  iuribus  et  obuenlionibus 
vniuersis,  integre  rcsponderi,  necnon  a  maiore  Preceptore  Priore  de  To- 
mar, aliisque  Prioribus,  Preceptoribus,  Gommendaloribus,  Miiilibus  et 
fratribus  dicte  Militie  obedienliam  et  reuerenliam,  ac  a  vassallis  el  sub- 
ditis  prefatis  consuela  seruicia  et  iura  huiusmodi  tibi  debita  integra  exhi- 
bere,  Goniradictores  per  censuram  ecclesiaslicam,  appellalione  poslposita, 
compescendo:  Non  obslanlibus  felicis  recordalionis  Bonifacii  pape  viii  pre- 
decessoris  noslri  et  alus  aposlolicis  Gonstilulionibus  el  de  exprimendo  vero 
annuo  valore  frucluum,  reddiluura  et  preuentuum  Magislratus  et  aliorum 
beneficiorum,  de  quibus  pro  tempore  prouidelur  seu  prouideri  mandalur, 
ac  slalutis  el  consueludinibus,  stabilimenlis,  vsibus  et  naluris  dicte  Mili- 
tie iuramento,  confirmalione  apostólica,  vel  quauis  firmilale  alia  robora- 
tis,  priuilegiis  quoque  et  indultis  aposlolicis  dicte  xMilitie  sub  quibusuis 
verborum  formis  et  clausulis,  etiam  derogaloriarum  derogatoriis,"  forliori- 
bus,  eíTicatioribus  et  insolilis,  etiam  molu  et  scientia  similibus  concessis, 
etiam  si  forsan  in  eis  cauealur,  quod  Magislratus  predictus  non  nisi  per 
fratres  dicte  Militie,  qui-professionem  per  fralres  predictos  emitti  solilam 
emiserint,  cxpresse  teneri  possent,  et  alias  de  illis  eliam  per  sedem  apos- 
tolicam  facle  concessiones  nuUius  sint  roboris  vel  momenti,  quibus  ómni- 
bus etiam  si  de  illis  eorumque  lolis  tenoribus  pro  illorum  suiricienti  de- 
rogatione  spetialis  el  expressa,  indiuidua  ac  de  verbo  ad  verbum,  non  au- 
lem  per  clausulas  generales  id  importantes  menlio,  seu  queuis  alia  ex- 
pressio  habenda  forel,  tenores  huiusmodi  presenlibus  pro  suíücienlcr  ex- 
pressis  el  inserlis  habenles,  illis  alias  in  suo  robore  permansuris,  hac  vice 
dunlaxat,  molu  et  scientia  similibus  spelialilcr  et  cxpresse  dcrogamus,  et 
derogalum  esse  volumus,  quodque  te  in  Vicésimo  primo  tue  elalis  Anno 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  137 

tantummodo  constitutus  existas,  \l  preferlur,  contrariis  quibuscunque. 
Aut  si  aliquibus  super  proüisionibus  sen  in  adminislrationem  concessio- 
nibus  sibi  faciendis  de  Magistralibus  huiusmodi  spetiales  vel  alus  benefi- 
ciis  ecclesiasticis  in  illis  parlibus  generales,  dicte  sedis  ve!  legatorum  eius 
lilteras  impetrarinl,  etiam  si  per  eas  ad  inhibilionem  reseruationem  et  de- 
cretum  vel  alias  quomodolibet  sit  processum,  quibus  ómnibus  le  in  dicli 
Magistratus  assecutione  volunius  ent^erri,  sed  nullum  perhoc  eis  quod  ad 
assecutionem  MagistVatuun]  vel  beneficiorum  aliorum  preiudicium  gene- 
ran, Seu  si  maiori  Preceptori,  Priori  de  Tomar  aut  alus  Preceploribus, 
Commendatoribus,  Militibus  et  fratribus  prefalis,  vel  quibusuis  alus  com- 
muniter  vel  diuisim  ab  eadem  sit  sede  indultum  quod  ad  receplionem  vel 
prouisionem  alicuius  minime  teneantur  et  ad  id  compülli,  ac  eis,  necnon 
vassallis  et  subditis  prefatis  quod  inlerdici,  suspendí  vel  excommunicari 
non  possint,  quodque  de  Magistratu  huiusmodi  vel  alus  beneficiis  eccle- 
siasticis ad  eorum  collalionem,  prouisionem,  presenlationem,  electionem, 
seu  quamuis  aliam  dispositionem  coniunclim  vel  separatim  spectantibus, 
nulli  valeat  prouideri,  seu  concessio  in  adminislrationem  tieri,  per  Hile- 
ras apostólicas  non  facienles  plenam  et  expressam  ac  de  verbo  ad  ver- 
bum  de  indulto  huiusmodi  menlionem,  et  qualibet  alia  dicte  sedis  indul- 
gentia  generali  uel  spetiali  cuiuscunque  tenoris  existat,  per  quam  pre- 
sentibus  non  expressam  vel  lolaliter  non  insertam  effeclus  huiusmodi  gra- 
lie  impediri  valeat  quomodolibet  vel  diíTerri,  et  de  qua  cuiusque' tolo  te- 
nore  habenda  sit  in  noslris  lilteris  mentio  spetialis.  Nos  enim  lecum  \t 
Magistralum  prediclum  recipere  et  retiñere  libere  et  licite  valeas,  defe- 
clibus  predictis,  ac  Lateranensis  Concilii,  aliisque  Conslitutionibus  et  or- 
dinalionibus  apostolicis,  slatulis  quoque  et  consueludinibus,  stabilimen- 
tis,  vsibus  el  naturis,  priuilegiis  el  indullis  supradictis,  celerisque  con- 
trariis nequáquam  obstanlibus,  motu  auctorilate  et  scienlia  similibus  de 
spetialis  dono  gralie  dispensamus,  Prouiso  quod  diclus  Magistratus  debi- 
tis  propterea  non  fraudelur  obsequiis,  sed  illius  congrue  supportentur  onera 
antedicta,  El  insuper  ex  nunc  irritum  decernimus  et  inane  si  secus  su- 
per hiis  a  quoquam  quauis  auctorilate  scienter  vel  ignoranler  conligeril 
atlemplari.  Tu  aulem,  Carissime  fili,  onus  libi  iniunclum  sic  sollicite  fide- 
liter  et  prudenler  succedenlibus  Annis  sludeas  exercere  quod  ex  inde  op- 
tati  fruclus  succedant  quos  speramus,  tuque  non  immerilo  possis  apud 
nos  et  sedem  prediclam  commendari.  Nulli  ergo  omnino  hominum  liceat 

TOMO  II.  18 


138  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

hanc  paginara  noslre  concessionis,  consUlulionis,  mandali,  derogalionis 
volunlalis,  dispensalionis  et  decreli  infringere,  vel  ei  ausu  temerario  con- 
traire.  Siquis  autem  hoc  atlemplare  presumpserit  indignalionem  omnipo- 
lenlis  dei  ac  beatorum  Pelri  et  Pauli  Aposlolorum  eius  se  noueril  incur- 
surum. 

Dalum  Rome  apud  Sanclum  pelrum  Anno  Incarnationis  dominice 
xMillesimo  quingentésimo  uigesimo  secundo,  Quarlodecimo  Kalendas  Apri- 
lis,  Pontitkatus  nostri  Anno  Primo.  —  T.  Hezius 


1* 


Carta  de  Ó.  ilisuel  da  Silva  a  cl-Rei. 


1593 — Marco  SI. 


Sentior.  —  Das  cousas  de  Rhodes  nara  ha  y  oulra  nenlmuma  '  nova 
mays  que  as  que  nessoulras  cartas  escreuo,  e  verá  pollos  trelados  de  al- 
guumas  que  vyerao  de  candia.  Ha  verdade  he  que  nao  Ihe  guardarao  os 
capítulos,  posto  que  se  escreua  de  lia  que  sy,  porque  o  meslre  quer  que 
se  digua  por  escusar  sua  pouca  diligencia  e  pouco  resgjjardo  com  que  as- 
sentou  seu  parlydo.  Elle  tem  la  feyta  prouysao  do  priorado  por  morte  do 
amara!,  de  que  largamente  ha  dias  que  escreuy  a  vossa  alteza  a  Ireycao 
que  quis  ou  Ihe  poserao  que  queria  fazer,  e  como  foy  justicado  por  ysso. 
Eu  porem  tenho  ^  fyrme  este  passo  com  ho  papa  pera  que  tal  prouisao 
em  pouco  nem  em  rauylo  possa  prejudicar  a  vossa  alteza,  nem  ho  mes- 
tre  pedia  tal  fazer,  que  pollo  breue  que  em  saragoca  o  papa  concedeo  a 
vossa  alteza  Ihe  tyrou  tal  poder:  assy  que  neste  parte  esté  descansado  que 
qua  nao  passará  nada  em  contrayro,  e  de  seu  seruico  se  terá  tal  cuy- 
dado  que  nao  se  perderá  nada  por  descuydo  ^ 

Ho  castello  de  milao  he  Rendydo  ha  parlydo,  saluas  as  uidas  e  as 
pessoas  dos  soldados :  toda  outra  pessoa  se  resgatará  segundo  dizem.  Aos 
quatorze  *  se  dará,  e  ja  sam  dados  arrefeens.  Sayrao  de  dentro  quatro- 
centos  doentes,  de  que  ja  dizem  que  sao  morios  os  dozenlos,  tam  mal 
trautados  estauao.  Dizem  que  ha  acerca  de  huum  anno  que  Ihe  falece  o 

»  A«CH.  Nac,  Gav.  7,  Ma(j.  12,  n.°  21. 


RELACOES  GOM  a  curia  romana  139 

calcado  e  o  vynho,  (jue  pera  franceses  nao  he  cousa  pera  jogiietar  '  fa- 
lecer  vynho. 

Roma  ateguora  esteue  arrezoadamenle,  aynda  que  nam  de  lodo  saam  : 
aguora  torna  a  ^  estar  muy  mal,  nem  ha  y  dia  que  nao  morram  Irynla 
e  mays  de  peslenenca,  e  he  cousa  muy  perigosa,  e  toda  pessoa  honrada 
se  saye,  e  o  papa  dizem  que  assy  o  quer  fazer,  aynda  que  sao  framen- 
gos  e  nao  lemem  nada  este  mal ;  e  assy  Ihe  morrem  cada  dia  os  creados 
que  ja  he  mayor  perigo  falar  com  o  papa  que  entrar  em  huum  esprilal. 
Eu  nunqua  cuydey  que  hauia  d  estar  em  lugar  onde  de  mynha  janella 
vejo  leuar  muitos  homens  ha  coua,  e  de  tal  enfermidade  ;  todavya  esta- 
rey  em  quanto  Yyr  que  assy  cumpre  a  servico  de  vossa  alteza,  cujas  maos 
beijo,  e  nosso  senhor  sua  vida  e  Real  estado  guarde  e  acrecenté  como  de- 
seja. 

De  Roma  aos  xxi  de  marco  de  1523.  —  Dom  miguell  da  Sylua  '. 


Bulla  do  Papa  Adriano  ^I  dirigida  ao  Infante 

1>.  Henrique. 

1593  — Abril  lO. 


Adrianus  papa  vi  Dilecte  fili  salutem  et  apostol'icam  benedictionem. 

Cum  charissimus  in  christo  filius  nosler  Joannes  Portugalliae  el  Al- 
garbiorum  Rex  Illustris,  frater  tuus  germanus,  nobis  exponi  feceril  se 
cupere  vt  tu,  qui  in  décimo  uel  circa  luae  aetalis  anno  conslitutus  exis- 
tís, ac  litterarum  studio  incumbís,  in  ipso  studio  perseueres,  quoque  id 
melius  faceré  possis,  lecum,  vt  doñee  vigesimum  eiusdem  aetalis  annum 

'  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  29,  Doc.  40,  O  documento  n.°  42  é  a 
segunda  via  d'esta  carta,  mas  com  as  variantes  seguintes  : 
•  nenhuma  outra 
-  eu  tenho  porem 

^  que  nam  passará  nada  por  descuido 
'  aos  xiiii  dias  d  abril 
'  joguatar 
•^  saam :  torna  agora  a  renovar  e 

18* 


140  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

alligeris,  ad  recilandum  diuinum  officium  et  horas  canónicas  minime  le- 
nearis,  dispensare ;  Nos  ipsius  Joannis  Regis  volis  annuere,  vtque  lu  in 
doctrina  melius  proficere  valeas,  prouidere  volenles,  tecum,  vt  ralione 
quoruucunque  bonorum  ecclesiaslicorum  cum  cura  el  sine  cura  secula- 
rium,  et  quorunuis  ordinum  regularium  per  le  nunc  et  pro  tempore  ob- 
lentorum  quecunque,  quolcunque  et  qualiacunque  sint,  quousque  diclum 
vigesimura  annum  altingas,  dummodo  inleriin  horas  gloriosae  virginis  Ma- 
riae  per  te  ipsum  recites,  ac  per  alium  clericum  aut  religiosum  horas  ca- 
nónicas loco  tui  recilari  facias,  ad  easdem  horas  canónicas  per  te  recitan- 
das  minime  tenearis,  auctoritale  apostólica  tenore  presentium  de  speciali 
gratia  dispensamus :  Non  obslanlibus  conslilutionibus  et  ordinalionibus 
apostolicis,  ac  slatutis  et  consuetudinibus  ecclesiarum  uel  regularium  lo- 
corum,  in  quibus  ipsa  beneficia  forsan  fuerint,  etiam  juramento,  confir- 
matione  apostólica,  uel  quauis  firmitate  alia  roboratis  slatutis  et  consue- 
tudinibus, caeterisque  conlrariis  quibuscunque. 

Datum  Romae  apud  sanctum  pelrum,  sub  annulo  piscatoris,  die  x 
Aprilis  MDXxiii  pontificalus  nostrj  anno  primo.  —  T.  Hezius  ^ 


Breve  do  Papa  JLdriauo  1^1  dirig;ido  a  el-Rei. 


15!83— Abril  11. 


Adrianus  papa  vi  Charissime  in  christo  fili  noster  salutem  el  apos- 
tolicam  benedictionem. 

Nuper  dilectum  filium  noslrum  Alfonsum  sánete  Luciae  in  septem 
soliis  diaconum  Cardinalera,  in  xiirvel  circa  sue  etatis  Anno  conslilu- 
tum,  Ecclesiae  Vlixbonensis  tune  certo  modo  vacanlis  administralorem 
vsque  ad  xx  eiusdem  etatis  annum  de  fralrum  nostrorum  consilio  consti- 
tuimus,  el  cum  xx  annum  atlingeret,  de  persona  sua  eidem  ecclesiae  pro- 
uidimus,  ipsumque  illi  prefecimus  in  Archiepiscopum  et  pastorem,  Eccle- 
siam  vero  Elborensem  etiam  tune  certo  modo  vacanlcm  sibi  per  eum  quo- 
ad  viueret  tenendam,  regendam  et  gubernandam  commendauimus,  ac  prio- 

'  Aech.  Nac,  Mac.  36  de  Bullas,  n."  67. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  141 

ratum  Monasterii  per  prioreaí  soliti  gubernari  sánete  Grucis  ordinis  san- 
cti  Auguslini  Colimbriensis,  illius  commenda  per  cessionem  eiusdem  Al- 
fonsi  Cardinalis  in  manibus  nostris  sponle  factam  et  per  nos  admissam 
cessante,  eo  quo  ante  commendam  ipsam  vacabat  modo  vacantem  Dilecto 
filio  Henrico  de  Portugallia  scolari,  ipsius  Alfonsi  Cardinalis  fralri  ger- 
mano, in  octauo  \el  circa  suae  etatis  anno  conslituto,  sibi  postquam  cle- 
ricali  caractere  insignilus  foret  per  eum  quoad  uiueret  tenendum,  regen- 
dum  et  gubernandum  primo  commendauimus;  et  deinde,  eum  prioratus 
Monasterii  sancti  Georgii  ordinis  et  diócesis  prediclorum,  ac  Monasterium 
de  lafontes  Cisterciensis  ordinis  Visensis  diócesis  extra  Romanam  curiam 
certo  modo  \acassent,  Nos  illa  sic  vacantia  eidem  Henrico  etiam  per  eum 
quoad  uiueret  tenenda,  regenda  et  gubernanda  etiam  commendauimus,  prout 
in  litteris  apostolicis  desuper  confectis  plenius  conlinetur.  Cum  autem,  si- 
cut  accepimus,  felicis  recordationis  Leo  papa  x  predecessor  noster  cum 
eundem  Alfonsum  Cardinalem,  tuno  in  minoribus  et  in  octauo  dicte  sue 
etatis  anno  constilutum,  administratorem  ecclesiae  Egilaniensis  ad  certum 
tempus  tune  expressum  depulasset,  ac  dictum  prioratum  sánete  erucis  tune 
vacantem  sibi  per  eum  quoad  uiveret  tenendum,  regendum,  et  gubernan- 
dum commendasset  clarae  memoriae  Emanueli  Portugaliae  et  Algarbio- 
rum  regí,  tuo  et  eorundem  Alfonsi  Cardinalis  et  Henrici  genitori,  ut  men- 
sae  Episcopalis  Egitaniensis  ae  Prioratus  sanctae  erucis  huiusmodi  fruetus 
redditus  et  prouentus,  doñee  idem  Alfonsus  Cardinalis  tune  in  minoribus 
constilutus  ad  xv  dicte  etatis  annum  perueniret,  pereipere  colligere  et  le- 
nere,  ae  illos  tam  in  ecclesiae  egilaniensis  ac  prioratus  sánete  erucis  et 
Alfonsi  Cardinalis  huiusmodi  necessitatibus,  quam  in  prosecutione  belli 
contra  infideles  Aífrieae,  prou|  magis  cognosceret  et  sibi  videretur  expe- 
diré, super  quo  suam  conscienciam  onerauit,  eonuerlere  valeret  licentiam 
et  faeultatem  coneessit.  Nos  considerantes  in  quo  discrimine  sit  christiana 
respubliea  constituta,  presertim  postquam  ciuitas  et  tota  Ínsula  Rhodi  in 
Turcarum  Tyranni  potestatem  redacta  fuit,  nisi  per  reges  et  principes 
christianos  de  opportunis  remediis  prouideatur,  sperantesque  Maiestatem 
tuam  licet  quamplures  et  granes  impensas  post  obitum  eiusdem  Emanue- 
lis  Regís  genitoris  tui  subiré  coacta  fuerit,  ipsius  genitoris  vestigia,  qui 
pro  dicte  insule  conseruatione  tempere  eiusdem  Leonis  predecessoris  clas- 
sem  ad  partes  illas  destinauit,  imitando,  huie  neeessitali  non  defuturam, 
eidem  Maiestati  tuae  ut  id  eo  faeilius  eíBeere  ae  nos  iuuare  valeat,  quod 


142  CORPO  DIPLOMÁTICO  POUTUGUEZ 

Vlixbonensis  Archiepiscopalis  elElborensis  Episcopalis  Mensarum  ac  Prio- 
raluum  et  Monaslerii  de  lafonles  fructusreddilus  el  piouenlus,  doñee  qui- 
libet  ex  Alfonso  Cardinalí  et  Henrico  fratribus  luis  huiusmodi  ad  xx  eo- 
rum  elatis  annum  peruenerit,  colligero,  illosque,  deduclis  his  quae  pro  re- 
parationc  el  manulenlione  Vlixbonensis  elElborensis  ccclesiarum  ac  Prio- 
raluum  el  Monaslerii  de  lafonles,  elAlfonsi  Cardinalis  ac  henrici  huius- 
modi inlerlentione  necessaria  fuerinl,  in  suslenlalionem  classis  pro  rei- 
publice  chrisliane  aduersus  infideles  necessaria  defensione  parande,  proul 
Ubi  videbilur  expediré,  conuerlere  possis  et  valeas,  licenliam  et  facultalem 
concedimus  per  présenles:  Non  obstanlibus  preniissis  ac  conslitulionibus  et 
ordinationibus  aposlolicis,  ceterisque  conlrariis  quibuscunque. 

Datum  Rome  apud  sanclum  petrum,  sub  annulo  piscatoris,  die  xi 
Aprilis  MDXxiii,  Ponlificalus  nostri  anno  Primo.  —  T.  líezius  '. 


Carta  de  O.  lli^ucl  da  üilva  ao  Secretario 
de  Eistado. 

1523  — Abril  15. 


Senhor.  —  Por  sayr  da  obrigacao  em  que  vossa  mercé  jaz  por  njym 
a  ElRey  nosso  senhor,  mando  aquy  a  bulla  dos  dous  moysleyros  que  man- 
dou  pedyr  pera  seu  Irmao,  os  quays  fora  muy  boa  e  honrada  cousa  que 
valeram  ao  menos  dez  mil  ducados,  mas  eu  creo  que  yslo  se  faz  por  cu- 
rar os  homens  de  cobica,  e  fazer  que  se  conlenlem  com  pouco,  vendo  o 
pouco  em  tara  altas  mao^ ;  e  nyslo  nam  diguo  mays.  Vossa  mercé,  poys 
diz  que  he  meu  Senhor  e  ho  he  muyto  verdadeyramenle,  se  lembre  do 
que  lanías  vezes  Ihe  lenho  pedido  por  merce  que  he  lembrar  mynhas 
cousas  a  elRey,  e  pryncij)almenle  que  me  dé  licenca  pera  ho  yr  seruyr, 
que  assy  deus  me  ajude  (|ue  ho  procurays  pera  quem  vos  ha  de  seruir 
mays  do  que  podeys  cuydar  nem  nynguem  vos  quererá  dizer ;  e  esta 
carta  quero  que  seja  obrigacao  pera  lodo  sempre,  e  assy  a  guarde  pera 
me  chamar  mao  homem  se  assy  níio  for,  mas  (jua  nao  quero  que  me 

'  Arch.  Nac,  Mag.  3  de  Bullas,  n.°  16,  e  Mac.  36  n.»  53- 


RELACOES  COM  a  curia  romana  143 

übrigue  a  nada  porque  nem  qua  nao  quero  nada  senao  ho  de  lá.  Digua 
vossa  mercé  a  sua  alteza,  que  com  a  pressa  me  esqueceo  de  Iho  escre- 
uer,  que  o  barroso  Ihe  merece  muy  pouco  qua,  porque  teue  maneyra 
como  o  correo  de  sua  alteza  fosse  preso  acerca  de  barcelona,  como  man- 
darey  os  estormentos  que  ho  mesmo  correo  trouxe;  e  despachou  sobre  o 
mesmo  caso  correo,  e,  se  nao  fora  o  que  deus  sabe,  ja  elle  lynha  sua 
supricacao  na  mao,  e  aprouve  a  deus,  ao  papa,  e  a  meussenhores  e  ami- 
gos que  tudo  tornou  debaxo.  Nysto  direy  pollo  oulro  correo  mays  lar- 
guamente  meu  parecer,  e  prazerá  a  nosso  senhor  que  tras  elle  muy  cedo 
o  poderey  eu  fazer  em  pessoa..  Nao  tenho  tempo  pera  mays  dizer,  e  pera 
vos,  senhor,  seruir  tenho  muito  mayores  desejos  do  que  vossa  merce  pode 
ter  de  ser  seruido,  e  assy  Ihc  beijo  as  maos. 

De  Roma,  morrendo  cada  dia  de  pestenenca  trynla  e  quarenta  pes- 
soas,  e  eu  acjuy  pollo  que  compre  a  seruico  de  sua  alteza  em  tamanho 
perigo  que  nunqua  o  de  mym  cuydey,  aos  xv  de  abril  1523. 

A  seruico  de  vossa  mercé.  —  Dom  miyuell  da  Sylua  '. 


Carta  de  D.  lliguel  da  liilva  a  el-Rei. 


1533— Abril  SI. 


Senhor.  —  Neste  ponto  que  somos  aos  xxvii  de  abril  ao  sol  posto 
me  chegua  nova  do  paco  como  he  preso  o  cardeal  de^ulterra,  e  metydo 
no  castello  donde  nam  se  cree  que  saya  nunqua.  Este  he  o  imigo  do  car- 
deal de  mediéis  e  qi^e  ja  quis  dar  peconha  a  papa  liao,  e  aguora  per  der- 
radeyro  tralaua  com  el  Rey  de  franca  de  Ihe  dar  Sicilia  ;  e  as  cartas  suas 
sobre  este  caso  se  tomarao,  que  yam  em  cyfras,  e  forao  descyfradas,  e 
acharao  se  nellas  cousas  milagrosas  assy  contra  o  emperador  como  con- 
tra o  papa.  Foy  huuma  muy  grande  dita  do  cardeal  de  medices,  e  por 
conseguinte  do  mayor  seruydor  que  vossa  alteza  lem  nesta  térra,  porque 
aguora  sem  nenhuuma  duvida  será  sua  valia  sem  nenhuuma  contradicao. 


^  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  29,  Doc.  50.  Diz  no  sobrescripto:  Ao 
muyto  prezado  senhor  o  genhor  Antonio  Carneiro  Secretario  d  elRey  nosso  Senhor. 


144  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

As  mays  particolaridades  deste  negocio  escreuerey  pollo  correo  que  mando, 
que  cada  dia  o  tcnho  a  cauallo  pera  o  fazer  partir,  e  ale  aguora  nam  aca- 
bey  de  hauer  lodos  os  despachos  has  maos. 

A  pestenenca  vay  cada  dia  crjecendo,  e  a  corle  desbaratando  se,  e 
creo  que  o  papa  se  sayrá  de  Roma  e  andaremos  por  aldeas.  Obediencia 
ale  oje  de  Rey  nam  he  dada  nenhuuma,  e  se  yslo  assy  vay  nao  se  dará 
tam  cedo,  todauia  o  papa  fala  na  de  vossa  alteza.  O  Infante  duque  de 
auslria  ha  tem  dada,  e  assy  as  senhorias  de  italia,  todos  sem  muyla  ce- 
rimonia  pollos  lempos  serem  lays  que  as  nao  soíFrem.  Com  ella  poderia 
a  meu  ver  vossa  alteza  acabar  muylas  cousas  de  seu  seruico  e  estoruar 
muilas  de  seu  deseruico  ;  todauia  nysto  nam  falo  por  nao  parecer  que  falo 
em  mym,  poys  he  certo  que  vossa  alteza  enlende  ludo  milhor  que  nin- 
guem,  e  a  mym  nam  me  passa  pella  fantesia  senao  vosso  seruico. 

Acursio  comeca  a  querer  falar  em  sua  demanda  antigá  de  tarouca  : 
trabalho  quanto  posso  que  a  bulla  de  papa  liao,  que  sobre  este  caso  se 
despachou,  se  guarde,  todauia  as  cousas  vao  tam  eslreylamente  que  he 
necessario  esperar  menos  que  nunqua  e  temer  ludo.  Nesta  e  em  outras 
muylas  cousas  de  seruico  de  vossa  alteza  falaria  mais  aíFoulo  se  acerca 
da  despesa  nao  me  posesse  leys  tam  limitadas  ;  e  com  ludo  nam  deyxarey 
de  lembrar  a  vossa  alteza  que  os  Reys  ham  de  querer  as  cousas,  e  nam 
graca  na  despesa  deltas,  porque  em  fym  as  cousas  se  paguam  a  sy  mes- 
mas,  e  o  apertar  a  mao  faz  que  se  perdem  ocasioes  que  nunqua  lornao. 

Beijo  as  maos  de  vossa  alteza,  cuja  vyda  e  Real  estado  nosso  senhor 
deus  guarde  e  acrecenté  como  deseja. 

De  Roma  aos  xxvii  de  abril  de  lo23.  —  Dom  miguell  da  St/lua  '. 


'  Abc^.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  III,  Ma^.  4,  Doc.  7i. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  143 


Bulla  do  Papa  Adriano  TI. 


1533— Aliril  30. 


Adrianus  episcopus  seruus  seruorum  dei  ad  futiiram  rei  memoriam. 

Monet  nos  neritas  ¡n  Propheta  uigilem  paslorem  uenientem  gladium 
ex  specula  prospicere  alque  annunliare  oporleret,  alioquin  animarum  que 
perierint  exactam  ralionem  ab  eo  requirendam  esse :  hoc  propensius  co- 
gitantes Romanos  Pontífices  predecessores  noslri,  presertim  ab  eo  tem- 
pore  quo  Turcarum  eíTrenata  rabies  Constantinopolim  expugnauil,  ac  pro- 
cul  intuentes  hostiiem  gladium  christianorum  iugulis  in  dies  magis  immi- 
nentem  ad  christianos  omnes,  et  presertim  Principes  qui  iuxla  Isidorum 
a  ctiristo  ecclesiam  tuendam  susceperunt,  clamare  ac  eos  monere  non  ces- 
sarunt  quantum  vniuerse  christianitali  periculum  atque  excidium  immi- 
neret,  nisi  mutuarum  inter  se  dissensionum  et  discordiarura  obliti  com- 
muni  hosti  resisterent,  atque  impetum  christianam  religionem  funditus 
euertere  molienlis  reprime/ent,  hactenus  lamen  malo  nostro  annuntiata 
calamitas  non  fuit  credita ;  non  fuerunt  audite  ipsorum  Pastorum  uoces, 
sed  útiles  eorum  admonitiones  surda  pertransiuere  aure  christiani  Prin- 
cipes, quorum  culpa  immanissimo  christi  hoste  inualescenle  christiana 
respublica  innumeris  cladibus  ac  ruinis  uexata  alque  atllicta  fuit,  ac  tot 
iacturas  et  irreparabilia  damna  accepit,  ut  nemo  christifidelis  absque  in- 
genti  merore  et  lacrimis  ea  referre,  audire  ue  possit.  Quis  enim  a  lacri- 
mis  abstineat,  audiens  sanctam  illam  Jerusalem  ac  sacrum  Caluarie  Mon- 
tera salulifere  Crucis  triumpho  inclitum,  sacratissimoque  christi  redem- 
ptoris  nostri  sepulchro  uenerandum,  sanctissimaque  loca  illa,  que  domi- 
nus  et  saluator  nosler  Jezus  christus  humana  carne  uestitus  et  sancti  dis- 
cipuli  eius  incoluere,  ab  infidelibus  Barbaris  occupata  detineri,  nec  a  nobis 
ipsum  domini  Sepulchrum,  nisi  precio  dominici  nominis  blasphematori- 
bns  persoluto,  uisitari  posse?  quis  non  pie  ingeminat  animo  reputans  Pa- 
triarchales  illas  sedes  Sanctorum  patrum,  suauem  odorem  adhuc  redo- 
lentes, spurcissimis  christi  hostibus  seruire,  Constantinopolim  Grecie  lu- 
men et  orientalis  Imperii  caput,  reliquamque  Greciam  et  magnam  Europe 

TOMO  II.  19 


Ii6  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGÜEZ 

partem,  Syriam,  Asiam  ipsam  fere  vniuersam,  ab  infidelibus  Turcis,  chris- 
tianorum  Principum  culpa,  ablala  fuisse,  miserosque  chrislianos  illic  de- 
gentes,  nisi  chrislum  abnegare  et  Mahumetice  impietalis  et  Salhane  Man- 
cipia  fieri  uelint,  dira  et  criideli  barbarorum  seruilute  opprimi?  Quis,  ut 
antiqua  et  uelera  omitlamus,  non  perterreatur  atque  exborrescat  cogilans 
modernum  Turcaruin  Tyramnum  próximo  Anno  Belgradum,  quod  lotius 
Regni  Hungarie  clauslruní  semper  fuil,  breuissimo  lemporis  spacio  ce- 
pisse,  nuper  uero  Insulam  Rhodum,  folius  orientalis  Maris  Januam  ab 
Jerosolimitanis  Mililibus  per  tot  Annos  defensam,  multisque.Turcarum 
cladibus  nobilitatam,  etsi  maximis  térra  Marique  copiis  obsessam,  non 
usque  adeo  tamen  coarcíalam,  quin  si  chrisliani  Principes  inler  se  vniti, 
ac  potius  que  Jesu  chrisli  quaní  que  sua  cuiusque  erant  querentes,  ma- 
ture  succurrissent,  et  Rhodus  ipsa  ut  alias  paruo  subsidio  memoria  nos- 
Ira  factum  fuit,  liberan,  et  de  hostibus  uictoria  cum  dei  adiutorio  oblineri 
potuisset,  in  dilionem  ac  polestalem  suam  redigisse,  et  nunc  tot  et  tantis 
rerum  successibus  elatum  aperte  minari  se  almam  Vrbem  Romam  san- 
ctorum  Aposlolorum  Petri  et  Pauli  aliorumque  Marlirum  sanguino  con- 
secralam,  in  qua  Vicarii  sui  sedem  esse  uoluil  Allissimus,  expugnalurum, 
eiusque  sanclissima  Templa  ac  sanctorum  uenerandas  reliquias  propha- 
nalurum,  Demum  christianum  omne  Iraperium  et  ipsius  christi  nomen 
funditus  euersurum?  Quocirca  nos  considerantes  quod  Saluator  nosler 
dominus  Jezus  christus,  in  excelsis  tenens  Imperium,  gregis  sui  tulelam 
non  deserens  Romanum  Ponliíicem  in  terris  Vicarium  suum  conslituit, 
qui  dictum  gregem  uigilanti  cura  protegeré,  ipsamque  ecclesiam  ab. óm- 
nibus aduersis,  quantum  in  se  esset,  conseruare,  defensare,  ac  Reges  et 
Principes  ad  Imperii  fastigia  diuina  pcrmissione  uocatos  contra  Barbaras 
nationes  Catholicam  fidcm  opprimere  conantes  potissimum  inducere  alque 
animare  debeat ;  animoque  reuoluentes  nostri  oíDcii  esse,  hiis  preserlim 
difficillimis  et  calamitosis  temporibus,  inter  ipsos  chrislianos  Reges  el  Prin- 
cipes muluis  inter  se  discordiis  et  dessensionibus  diuisos  pacem,  quam 
christus  in  celum  ascensurus  lanquam  munus  heredilarium  discipulis  suis 
reliquit,  seminare ;  memoresque  nos,  postquam  de  nostra  ad  Summi  Apostu- 
latus  apicem  assumplione  in  longinquis  Ilispaniarum  parlibus  posili  cer- 
tiores  facti  sumus,  anlequam  ad  hanc  Vrbem  nostram  iler  arriperemus. 
Reges,  Principes  et  Potenlalus  chrislianos  lilteris  ac  Nuntiis  ad  hoc  vnum 
deslinatis  ad  perpeluam  inter  se  pacem  et  concordiam,  uel  sallem  Anno- 


RELACOES  COM  a  curia  romana  147 

rum  aliquot  Inducías,  quam  instantissime  hortalos  fuisse,  cosque  admo- 
nuisse,  nullum  aliiid  rebus  noslris  remediura  contra  formidandam  Tur- 
carum  potenliam  superesse,  quam  si  illi  inler  se  reconciliati  el  \nili  iun- 
ctis  uiribus  períidorum  hostiuní  consilia  preuerterenl ;  el  postquain,  deo 
fauenle,  ad  vrbem  ipsam  appulimus,  nichil  ardenliori  sludio  el  conalu 
procurasse  quam  concordiam  seu  Jnducias  huiusniodi,  el  lamen  ob  quo- 
rundam  dictorum  Principum  heu  nimis  inuelerati  ¡nler  se  odia  huiusmodi 
instantia  noslra  perparum  profecisse,  ul  Regibus,  Principibus,  Potenlalibus 
ac  alus  prefatis  nulli  excusalioni  locus  ullra  relinqualur,  omnesque  in- 
telliganl  nos  nichil,  quod  ad  pastorale  officium  aUinel,  omisisse,  cogimur 
ex  quo  humana  admonitio  atque  aucloritas  uti  experienlia  docuil,  ad  pre- 
missa  fruslra  lentata  esl  annorum  aliquol  Inducías  seu  Treugas  inler  ipsos 
Reges,  Principes  ac  Potentalus  sub  ecclesiasticis  censuris  el  penis  diuina 
auctorilate,  qua  Jesu  chrisli  in  terris  Vicarium  licel  immeriü  agentes  fun- 
gimur,  indicere  ul  si  non  zelo  fidei  ac  religionis  ipsius  chrisli,  cuius  causa 
agilur,  sallem  diuini  Judicii  metu  ad  cor  redeanl,  el  priualis  affeclibus 
publica  commoda  anteponant.  Habita  igilur  super  hiis  cum  Venerabilibus 
fralribus  noslris  sánele  Romane  ecclesie  Cardinalibus  malura  deliberalio- 
ne,  ac  diligenlissimo  examine,  ad  laudem  el  gloriam  omnipolenlis  del  el 
indiuidue  Trinilalis  patris  el  filii  el  spiritus  sancli,  atque  ad  reuocandam 
sallem  ad  tempus  hereditatem  domini,  pacem  scilicel  el  concordiam  a 
christianis  finibus  tandiu  noslris  demerilis  exulantem,  alque  ul  landem  sán- 
ela el  pernecessaria  expedilio  vniuersali  christianorum  damno  el  dedecore 
tandiu  procraslinala  ulterius  non  diíFeralur,  quorundam  predecessorum 
noslrorum,  preserlim  Innocentii  iii,  Nicolai  t,  el  aliorum  uesligiis  inhe- 
rentes, Triemnales  Inducías  seu  Treugas  ínter  omnes  Reges  ac  Príncipes, 
Communitales,  Potentalus,  respublicas,  celerosque  chrisliíideles  secula- 
res el  ecclesíaslicos  de  omnipotenlis  dei  ac  prefatorum  Petri  etPauli  Apos- 
tolorum  eius,  el  ea  que  nobis  ex  alto  concessa  esl  auctorilate,  ac  de  eo- 
rundem  fralrum  consilio  el  assensu  indícimus,  ac  eosdem  Reges,  Princi- 
pes, Communitales,  potentalus,  respublicas,  celerosque  chrislifideles  om- 
nes premissas  Inducías  seu  Treugas,  sub  excommunicalionis  late  senlen- 
tie,  analhemalisque  el  interdicli  ecclesiaslici  in  terris  el  dominiis  eorum 
omnium  el  singuloruní  penis,  dicto  durante  Triemnio,  inuiolabililer  ser- 
uare  deberé  decernimus,  eos  nichilominus  in  uirlute  sánele  obedienlíe  re- 
quirenles,  ac  per  uiscera  misericordie  domini  noslri  Jesu  chrisli  per  acer- 

19* 


148  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

bissimam  passionem,  quam  immaculatus  et  innocens  Agnus,  ut  nos  mi- 
seros peccatores  ab  eterna  morle  redimcret,  pali  dignatus  est,  per  Judi- 
cium  extrernunf),  in  quo  omnes  stabunt  ante  Tribunal  eius  accepturi,  vnus- 
quisque  secundum  opera  sua  per  que  spem  uile  eterne,  quam  repromisit 
deus  diligenlibus  se,  palerno  aífecUi  oblestantes  ut  in  vnilale  et  charilate 
mutua,  sine  qua  nichil  deo  acceptum  esse  polest,  perseuerantes  a  mutuis 
offensionibus  abslineant,  armaque  bellica  christiani  contra  chrislianos,  di- 
cto durante  Triemnio,  amplius  non  exerceant ;  Satis  enim  superque  fra- 
terni  sanguinis  per  fratres  eíTusum,  satis  cum  grauissima  dei  offensa  inter 
uos  cliristiani  Reges,  Principes  et  Potentalus  seuitum  est,  Velilis  ergo  In- 
iuriarum,  que  inter  uos  inuicem  illate  atque  acceple  fuerunt,  propter  chris- 
tum  redemptorem  uestrum  saltem  ad  tempus  obliuisci,  ut  manifesté  ruine 
uobis  et  vniuerse  christianitati  ab  immanissimis  chrisli  liostibus  imminenli 
vnione  et  concordia  ueslra  occurrere,  vnilisque  animis  et  armis  hostes 
ipsos,  non  lam  propriis  uiribus  suis  quam  nostris  discordiis  et  dissensio- 
nibus  confidentes,  a  uestris,  et  subditorum  uestrorum  omniumque  chris- 
tianorum  ceruicibus  repeliere,  necnon  tot  Ciuilalibus,  Prouinciis  et  Regnis 
uobis  ademptis  recuperandis,  fratribusque  uestris  crudelissimo  seruitutis 
lugo  tandiai  oppressis,  opemque  ueslram  sublalis  ad  celum  manibus  ira- 
plorantibus  a  perfidissimi  Turcarum  Tyramni  iugo  durissimo  eripiendis, 
uiam  parare  possilis.  Date  Inducias  has  deo  a  quo  tam  amplam  in  terris 
potestatem  accepistis,  ut  eo  uobis  hoc  pacto  placato  poteslaiem  uestram 
alioquin,  ut  certo  expeclare  potestis,  uobis  auferendam  retiñere  mereamini. 
Date  denique  Inducías  ipsas  christo  Saluatori  nostro,  qui  in  ligno  Grucis 
tenso  corpore  pendens  crucifigentibus  se  pepercil,  ac  deum  patrem  pro 
illis  etiam  rogauit,  qui  nos  de  nichilo  a  se  créalos  et  per  Primorurn  pa- 
rentum  inobedientiam  exules  paradisi  factos,  nullis  nostris  meritis  sed  in- 
finita sua  clementia,  precioso  suo  sanguine  redemit,  ne  si,  quod  absit, 
priuatas  inimicitias  et  commoda  uestra  eius  honori  preferentes  tam  im- 
mensis  eius  beneficiis  ingratos  uos  exhibueritis,  sacramque  eius  religio- 
nem  a  perfidissimis  hostibus  conculcari,  et  innumerabiles  ipsius  christi 
sanguine  redemptoris  animas  uel  in  miserrimam  seruitutem  abduci,  uel 
in  exilíale  infidelitatis  baratrum  precipitan  permiserilis,  horrendum  etdu- 
rissimum  ipsius,  qui  terribilis  est  et  aufert  spirilum  Principum,  Judicium 
et  in  presentí  et  in  futuro  contra  uos  prouocetis.  Geterum,  quia  forte  pec- 
catis  nostris  exigentibus  Inimicus  humaní  geueris  ubi  dicte  Inducie  per 


RELACOES  COM  a  curia  romana  149 

uos  uestris  immo  diuinis  hiis  mandalis  obedientes  acceptale  fuerint,  qiias 
a  principio  impediré  non  poluit,  lemporis  successu  perturbare  non  desi- 
net,  licet  eaní  de  prudentia  magnanimilale  et  conslanlia  uestris  in  domino 
fiduciam  habearaus  ut  nullo  modo  nos  eius  malignilali  locum  daluros  ar- 
bilremur,  vt  lamen  propterea  Inducie  ipse  non  dissoiuantur  dubiorum  si- 
qua  super  Induciis  huiusmodi  aul  earum  dependenlibus  emergentibus 
annexis  uel  connexis  quoquomodo  orianlur,  decisionem  et  declarationera 
nobis  tanquam  Summi  pacis  aucloris  uices  in  terris  gerentibus  una  cum 
prefalis  fratribus  nostris  reseruamus,  ipsis  Induciis  nichilominus  iuxla 
presentium  litterarum  tenorem  in  suo  robore  permansuris.  Nulli  ergo 
omnino  hominum  üceat  hanc  paginam  nostre  indiclionis,  constilulionis, 
requisitionis,  obtestationis  el  reserualionis  infringere,  uel  ei  ausu  teme- 
rario contraire.  Siquis  aulem  hoc  attemptare  presumpserit  indignationem 
omnipotentis  dei,  ac  bealorum  Pelri  el  Pauli  Aposlolorum  eius,  se  noue- 
rit  incursurum, 

Dalum  Rome  apud  Sanclum  petrum  Anno  Incarnationis  dominico 
Millesimo  quingentésimo  uicesimo  tertio,  Pridie  Kalendas  Maii,  Pontifi- 
catus  nostri  Anno  Primo.  —  T.  Hezius  ^ 


Breve  do  Papa  Adriano  \1,  dirigido  a  el-Rei. 


15S3— líalo  1. 


Adrianus  papa  vi  Charissime  in  christo  fili  nosler  salutera  el  apos- 
tolicam  benedictionem. 

Nouit  deus,  qui  nihil  ignorat,  quam  inuili  seueritate  ac,rigore  Vla- 
mur,  praeserlim  erga  calholicos  Reges,  quos  tanquam  peculiares  filios  nos- 
Iros  in  visceribus  charitalis  continué  gerimus,  omnique  indulgentia  et  amo- 
ris  dulcedine  tractare  desyderamus.  Nuper,  lamen,  considerantes  in  quam 
graui  periculo  vniuersa  christianitas  constituía  essel  propter  diuturnas 
nonnuUorum  Regum  ac  principum  chrislianorum  inler  se  dissensiones  at- 
que  discordias,  el  quod  nullum  chrislianis  rebus  aduersus  infidelium  Tur- 

^  Arch.  Nac,  Mac.  35  de  Bullas,  n."  16  e  Mac.  4  n."  13. 


150  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

carum  formidandam  potentiam  ac  rabiem  in  dies  inualescentem,  exlre- 
raamque  ruinam  ipsi  chrislianilati  minilantem,  eííicax  remedium  adhiberi 
possel,  nisi  ipsi  Reges  ac  Principes  chrisliani  discordiis  ac  bellis  inlesli- 
nis  finem  imponerent,  seque  inuiceni  adiiersus  communem  hoslem  adiu- 
uarenl ;  Videntesque  Nos  eosdein  Reges  ac  Principes,  propler  inuelerala 
eorum  inter  se  odia,  prope  annum  inlegrum  frustra  el  sine  fruclu  ad  pa- 
cem  seu  paucorum  salleui  annorum  inducias  fuisse  adhórtalos,  palerna- 
que  nostra  mónita  ab  eis  fuisse  plañe  o^audita,  coacti  sumus  ad  seue- 
riora  remedia  deuenire,  ac  per  poenale  monitorium  eis  ac  alus  Regibus 
Principibus,  Polenlalibus,  caeterisque  chrislianis  ómnibus  etsingulis  trien- 
nales  inducias  indicere,  cuius  monilorii  cum  plura  exemplaria  in  diuer- 
sas  chrislianilalis  partes  miltcnda  fieri  mandauerimus,  Vnum  ex  illis  ad 
Maiestatem  tuam  destinandum  putauimus  Quae  cum  chrislianae  Reipubli- 
cae  (de  cuius  summa  nunc  agilur)  et  pacis  chrislianorum  inter  se  more 
clarissimorum  maiorum  suorum  studiosissima  sil,  non  poteril  non  consi- 
lium  noslrum  laudare,  ac  paternis  monilis  nostris  parendo,  ipsas  indu- 
cias acceptare  libenler  el  inconcusse  obseruare.  Eam  i  taque  ex  parle  om- 
nipotenlis  Dei  (in  cuius  manu  caeleslia  et  terrena  sunl  omnia)  horlamur, 
alque  requirimus  Vt  pro  eo  fidei  ac  deuolionis  zelo,  quem  dicti  maiores 
sui  erga  sacram  christi  Religionem,.et  hanc  sanclam  sedem,  máxime  in 
periculosis  lemporibus  qualia  nunc  imminent,  ostendere  consueuerunt, 
ipsaque  Jlaieslas  lúa,  in  quibus  haclenus  licuit,  oslendit,  et  imposlerum 
oslensuram  se  non  semel  poUicita  esl,  \elit  dictas  inducias  non  sojum 
acceptare  atque  obseruare,  sed  etiam  omni  studio  ac  diligentia,  lam  apud 
charissimum  in  christo  filium  noslrum  Carolum  Romanorum  Regem  ca- 
tholicum  in  Imperatorem  eleclum  (ad  quem  eliam  hac  ipsa  de  re  scribi- 
mus,  el  simililer  monilorii  praedicli  exemplar  milUmus)  quam  apud  alios 
Reges  ac  Principes  cum  quibus  sibi  arclior  coniunclio  intercedit,  el  apud 
quos  plurimum  suam  valiluram  nouil  authorilatem,  instare,  yI  te  illi  idem 
faceré,  ac  lam  priualae  suae  quam  publicae  saluli  inducias  huiusmodi  ac- 
ceptando  el  obseruando,  consulere  consentianl.  Quo  si  Maiestas  lúa,  \t 
speramus  et  optaraus,  feceril,  non  modo  singularem  sibi  graliam  apud  Nos 
el  diclam  sedem  piam  malrem  suam  comparabil,  sed  eliam  apud  omnipo- 
tentem  Deum  máximum  sibi  meritum  cumulabit,  eiusque  potentem  dex- 
teram  in  Regni  sui  conseruatione  el  ampiialione  sccundam  alque  propi- 
ciam  senliel,  Demumque  felicilalis  aelernae  gaudio  perfruclur. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  151 

Datum  Romae  aputl  sanclum  petrum,  sub  annulo  Piscatoris,  Die  prima 
Maii  MDXxiii.  Ponlificalus  nostri  anno  Primo.   T.  Hezius  ^ 


Carta  de  D.  lligiicl  da  üilva  ao  liecretario 
de  Eüitado. 

1533— Maio  20. 


Senhor.  —  Sendo  os  caminhos  tam  incertos,  e  por  lá  chegarem  as 
cartas  comprindo  dobrallas  e  tresdobrallas,  ha  me  vossa  mercé  de  per- 
doar  se  todas  minhas  cartas  nam  forem  de  minha  míio,  porque  onde  ha 
tam  Yerdadeiro  amor,  nam  he  bem  que  aja  cousa  que  tenha  nem  soo- 
mente  semelhanca  de  cirimonia  :  sem  passar  mais'adiante  me  ey  por  per- 
doado.  Por  todoUos  correos  passados  tenho  escrito  a  vossa  mercé,  e  por 
este  torno  a  mandar  o  trelado  da  derradeira  que  escreui ;  e  aínda  que  es- 
creva  outras  cenlo  em  todas  ellas  nam  saberla  dizer  outra  cousa  senam 
que  em  nenhuma  parte  deste  mundo  nam  tem  vossa  mercé  nenhuum  mals 
verdadeiro  amigo,  nem  mals  certo  seruldor  que  eu,  e  como  tal  me  de- 
sejo  onde  vos  possa  servir,  e  espero  em  noso  senhor  que  verá  vossa  mercé 
alguum  dia  quanto  d  alma  say  islo  que  digo. 

Polios  correos  tenho  mandado  a  sua  alteza  a  bulla  do  mestrado  de 
christos,  e  a  dos  moesteiros  de  sam  Jorge  e  alafoes  :  por  esta  mando 
trellados  autenticados  de  tudo  isto  e  mals  de  lixboa  e  evora  e  santa  cruz, 
porque  se  possa  fazer  tudo  o  que  se  faria  pollas  mesmas  bullas,  que  as 
proprias  nam  ouue  por  bom  conselho  mandallas  a  tamanho  perigo :  sendo 
a  expedlcao  de  tamanho  perigo,  e  esperando  eu  cada  dia  llcenca  de  sua 
alteza,  fiz  conta  de  as  poder  levar  com  hos  mals  negocios,  que  alé  tor- 
nada deste  correo  se  poderem  despachar.  Bem  sey  que  se  nam  esquece 
vossa  merce  de  mim,  mas  esquecen.do-se  elRey  nam  poso  delxar  de  Ihe 
lembrar  que  o  que  faz  por  mlm  faz  por  si  mesmo,  e  por  seu  proprio  ser- 
ulco.  Eu  nam  sey  jaque  esperar,  nem  espero  senam  muito  menos  do  que 
ate  qui  esperey  e  do  que  meus  serulcos  merecem,  e  porque  parte  disto 

*  Arch.  Nac,  Mac.  36  de  Bullas,  n.°  24. 


152  GORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

que  espero  he  licenca  que  eu  tanto  desejo  e  tanto  eslimo,  nam  quero  di- 
zer  que  espero  pouquo. 

Este  correo  tornará  logo  porque  asi  ciimprc  pera  a  concrusao  dos 
negocios :  beijarey  as  raaos  a  vossa  merce  mandar  me  por  elle  alguuma 
certeza  de  mim,  e  ver  o  em  que  o  ey  de  servir  antes  de  minha  partida 
de  qua,  que  la  eu  sey  bem  o  que  ey  de  fazer.  Beijo  senhor  vossas  raaos. 

De  Roma  aos  xx  dias  do  mez  de  maio  1523. 

A  servico  de  vossa  merce  —  T)om  migudl  da  sylua  ^ 


Carta  de  D.  Miguel  da  Silva  a  el-Rei. 

I 

1593— Haio  95. 


Senhor. — Ate  aguora  esperey  saluo  conducto  de  franca  pera  este 
correo,  que  rao  tynha  prometydo  o  cardeal  Daus ;  e  posto  que  tardaua, 
hauia  por  mays  seruico  de  vossa  alteza  yrem  estas  bullas  seguras,  prin- 
cipalmente tendo  já  anisado  por  outras  vias  como  erara  concedidas,  que 
por  dez  dias  de  terapo  poellas  a  Rysco  de  se  hauerem  de  tornar  a  expe- 
dyr  outra  vez,  principalmente  neste  tempo  que  acerca  das  despesas  vay 
ludo  sera  nenhuuraa  graca,  e  na  verdade  ha  Igreja  estaa  de  maneyra  que 
lera  dysso  e  de  rauylo  raays  necessidade.  Socedeo  a  prisao  do  cardeal  de 
vulterra,  e  por  ser  a  causa  por  querer  dar  Sicilia  a  franceses,  e  outras 
semelhantes  cousas,  de  que  darey  conta  em  oulra  carta,  o  papa  ordenou 
que  fossem  tomados  todos  os  correos  que  fossem  e  vyessem  a  uia  de  franca, 
por  onde  se  me  cerrou  toda  esperanca  de  seguramente  poder  mandar  es- 
tes despachos  por  térra,  e  determinei  raandar  soomente  os  Ireslados  au- 
tenticados pollo  auditor  da  cámara,  e  de  maneyra  que  por  elles  se  podem 
tomar  posses  e  usar  da  toda  Jurdicao,  assy  como  se  fazia  pollas  proprias 
bullas. 

Aos  quatro  de  marco  despachen  o  papa  correo  sobre  a  perda  de  Re- 
des, e  por  elle  escreuy  a  vossa  alteza  todo  o  que  sua  santidade  naquella 
materia  me  mandaua  que  Ihe  escreuesse,  e  a  mym  pareceo  que  compria 

*  Arch.  NAC.,Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  29,  Doc.  64. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  153 

haa  necessidade  em  que  a  sé  apostólica  se  achaua  e  perigo  manifestó  de 
toda  a  christandade,  o  qual  prouvesse  a  nosso  senhor  que  nam  fosse  cada 
dia  mayor  como  he. 

Aos  XXI  de  marco  partyo  d  aqui  huum  criado  do  emperador,  pes- 
soa  honrada,  com  despachos  de  muyta  sustancya,  e  por  elle  mandey  a 
vossa  alteza  a  bulla  da  adminislracao  do  meeslrado  de  christos,  e  a  pro- 
uisao  dos  moysteyros  de  sam  Jorge  de  coymbra  e  alafoes  de  viseu  pera 
o  liante  dom  amrique  vosso  Irmao. 

Aos  XXVII  d  abril  mandey  os  treslados  de  todas  minhas  cartas  scri- 
las  ate  aquelle  tempo,  e  juntamente  as  copias  das  bullas  que  o  criado 
do  emperador  leuara ;  e  por  todos  estes  correos  torney  a  escrener  sobre 
Rodes  ho  mesmo  que  quatro  de  marco  escreui,  e  por  ysso  por  este  hey 
por  escusado  tornar  a  repricar  aquella  carta,  hauendo  por  cerlo,  por  auiso 
de  franca,  que  passou  a  saluamento  :  somente  mandarey  o  treslado  das 
cartas,  que  partyrao  a  xxi  de  marco  e  a  xxvii  de  abril. 

Ho  papa  me  deu  audiencia  muytas  vezes  sobre  todos  estes  negocios 
de  vossa  alteza,  e  sobre  cada  huum  disputamos  longamente,  nao,  a  meu 
parecer,  porque  a  sua  santidade  faleca  vonlade  de  Ihe  comprazer,  mas 
por  ser  sua  lencao  muy  posta  em  tornar  as  cousas  a  outro  eslilo,  e  vyr  a 
Roma  novo  e  com  muy  maa  opiniao  de  quanto  pollos  papas  passados  nella 
se  usaua  de  conceder,  e  ajuntando  sse  com  ysto  nao  ter  pralica  das  cou- 
sas de  qua  ;  era  ludo  poem  mays  duvida  aynda  da  que  tera,  e  ho  mays 
certo  caminho  que  ha  y  pera  sua  santidade  negar  huuma  cousa  he  dize- 
rem  Ihe  que  he  de  estilo  da  corte  e  concedido  por  alguns  dos  papas  que 
ho  passarao.  Sua  tencao  he  sanctissima,  e  sua  vida  sem  nenhuuma  re- 
prensao  em  ludo  o  que  se  vé:  prazerá  a  nosso  Senhor  que  o  merecimento 
destas  duas  parles  allumiará  o  gouerno. 

No  arcebispado  de  lixboa  e  bispado  d  euora,  por  serem  duas  Igre- 
jas  cathedrays,  Ihe  desaprazia  darem  se  a  huuma  so  possoa  ;  todavía,  por 
ser  o  caideal  Irmao  de  vossa  alteza  e  filho  delRey  vosso  padre,  e  pollo 
mays  que  sobr  este  caso  a  este  proposito  se  Ihe  disse,  foy  contente  e  da 
propria  maneyra  que  ho  eu  pedy  pera  nao  hauer  embaraco  de  administra- 
dores :  e  a  maneyra,  Senhor,  he  que  deu  ho  arcebispado  de  lixboa  em  ad- 
minislracao ate  idade  de  xx  annos,  e  de  ay  por  diante  era  titulo ;  o  bis- 
pado d  euora  em  comenda  em  sua  vida. 

Ho  priorado  de  Sánela  cruz  concedeo  liuremente  ao  Ifanle  dom  an- 

TOMO  II.  20 


ISl  COfiPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGÜEZ 

rique,  e  quanto  abispado  de  uiseu  por  nenhuumas  Rezoes  do  mundo  nem 
Rogos  nem  Roguadores,  que  nysso  nam  ficou  nenhuum  seruidor  de  vossa 
alteza  que  Ihe  nao  falasse,  quis  conceder  ao  liante  ;  nem  poera  outro  ¡m- 
pidimento  feenao  ho  da  ydade  que  diz  que  esta  he  huuma  das  cousas  que 
Prometeo  a  deus  quando  soube  de  sua  eleicao.  Per  derradeyro,  vendo  eu 
que  nao  hauia  remedio,  Ihe  supriquey,  que  poys  nam  queria  dar  o  titu- 
lo, que  elle  mesmo  desse  conselho  como  ysto  se  hauia  de  fazer  pera  \ossa 
alteza  ficar  seruido  em  alguuma  parte.  Respondeo  me  que  \ós,  senhor, 
posesseys  o  bispado  naquella  pessoa  que  mays  vosso  seruico  fosse,  a  qual 
paguasse  aolffante  toda  aquella  pensao  que  por  bem  tiuesseys,  e  que  desla 
maneyra  o  proueyto  seria  ho  mesmo  e  sua  concyencia  ficaria  descarre- 
gada,  e  vossa  alteza  ante  deus  merecerla  em  nao  querer  delle  o  que  nao 
deuia  a  seu  oíBcio,  e  que  de  o  assy  hauer  por  bem  Receberia  grande 
contentamento :  assy,  Senhor,  que  compre  que  vossa  alteza  loguo  auise 
da  pessoa  e  da  maneira  em  que  ysto  se  ha  de  fazer,  porque  o  bispado 
está  haa  disposiciio  de  vossa  alteza  esperando  sua  reposta,  e  compryo 
porque  o  cardeal  nao  podia  ficar  com  tres  prelacias,  e  Picando  compria 
paguar  annata  da  retencao  de  viseu,  que  o  papa  decrarasse  a  uacacao ; 
e  a  annata,  que  sam  dous  mil  e  quatrocentos  ducados,  está  depositada 
pera  quando  se  espedirem  as  bullas,  a  qual  se  puvera  de  paguar  duas 
vezes  se  o  papa  nao  fizera  esla  graca. 

Ho  correo  que  veyo  com  a  uagante  de  Sam  Jorge  e  alafóes  tardou 
tanto  que  me  deu  muy  grande  fadigua  em  Remediar  o  que  passaua  :  e 
porem  a  culpa  toda,  porque  a  vossa  alteza  faria  treycao  era  Ihe  enco- 
bryr  a  verdade,  he  do  secretario  barroso,  o  qual,  segundo  parece,  pollo 
mesmo  correo  ou  no  mesmo  tempo  que  vossa  alteza  escreueo  sobre  esta 
vagante,  mandou  sobre  ho  mesmo  caso  carta  da  Raynha,  e  teue  maneyra 
como  em  catalunha  foy  preso  o  correo  que  vynha,  e  detydo  tantos  dias 
quantos  Ihe  pareceo  que  compria  a  seu  auiso  cheguar  qua  priraeyro ;  e 
assy  foy  que  quando  eu  Receby  as  cartas  hauia  cynquo  dias  que  secre- 
tamente por  carta  da  raynha,  cuydando  o  papa  que  vos  fazia,  Senhor, 
graca,  tynha  dados  os  moysleyros  a  Rarroso.  No  ponto  que  ho  correo 
chegou,  eu  rae  fuy  a  sua  santidade,  e  sendo  auisado  por  pessoa  intryn- 
seca  do  que  passaua,  cora  muila  pena  e  multas  Rezoes  por  onde  mos- 
trey  craro  o  enguano,  fiz  que  a  prouisao  do  Rarroso  nao  ouve  lugar,  e 
ho  dia  seguynte  sua  santidade  propos  em  consistorio  os  raoysteyros  e  eu 


RELAGOES  COM  A  CURIA  ROMANA  155 

despachey  as  bullas.  Ha  certidao  de  como  este  correo  foy  preso  mando 
com  esta  e  elle  mesmo  poderá  dizer  ho  mesmo :  a  causa  se  vee  pollo 
eífeylo :  he  bem  que  ho  sayba  vossa  alteza  porque  esta  tomada  deste  cor- 
reo nao  sonrente  fazia  perder  os  moysteyros,  mas  ayuda  deu  muy  lo  que 
dizer  ao  mundo  de  qua,  parecendo  que  hauia  nysso  outro  algum  grande 
misterio,  o  qual  prazerá  a  nosso  senhor  que  nunqua  hauerá  senao  pera 
muylo  bem  e  acrecentamento  paz  e  assessego  de  vossos  Reynos.  Fez  qua 
espanto  querer  vossa  alteza  tam  pequeños  beneficios  pera  seu  Irmao,  e 
huuma  das  Rezoes  com  que  o  papa  se  querya  escusar  era  nao  Ihe  pare- 
cer conveniente,  e  nao  me  abastando  as  Rezoes  verdadeyras,  que  eram 
as  que  vossa  alteza  aponta  em  suas  cartas,  confesso  que  me  foy  neces- 
sariü  soccorrer  me  a  huuma,  que  ho  nao  era,  e  disse  que  estes  moys- 
teyros eram  lugares  fortes  e  de  alguum  peso,  que  pollo  que  Rendiam 
vossa  alteza  os  nam  pedia :  yslo,  senhor,  foy  assy,  e  posto  que  aos  filhos 
dos  nobres  de  vossos  Reynos  que  vos  seruem,  que  por  vossa  alteza,  ter 
Irmaos  da  Igreja  nao  podem  esperar  tam  cedo  os  arcebispados,  nam  possa 
deyxar  de  quebrar  muyto  os  coracóes  ver  se  cerrar  as  portas  ha  cousas 
tam  pequeñas,  e  seja  pouco  vosso  seruico  o  exempro  que  isto  dá,  e  a 
mym  desta  pena  me  deuesse  de  tocar  parle  por  muytas  Rezoes  dos  mor- 
ios e  dos  \4uos,  lodauia  crea  que  se  assy  nam  passara  como  diguo  eu 
ho  nao  dissera  por  nenhuum  particular  respeyto,  e  sendo  assy  nao  ho 
quis  calar  pollo  respeylo  de  vosso  seruico,  e  obrigacao  que  neste  lugar 
tenho  de  Ihe  dizer  a  verdade. 

Aquy  mando  juntamente  huum  breue  do  papa  pera  vossa  alteza  co- 
Iher  as  Rendas  das  prelacyas  de  seus  irmaos  e  beneficios,  e  as  despen- 
der na  guerra  dos  infieys  com  esperanca  que  nestas  cousas  de  vngrya, 
ou  qua  em  ilalia  contra  ho  turco,  vossa  alteza  ho  ajudará  como  he  Re- 
zao,  e  assy  me  mandou  que  Iho  escreuesse. 

Outro  sy  mando  os  breues  que  mandou  pedyr  acerca  do  olíicio  di- 
uino  pera  o  cardeal  e  Ifante  dom  anrique.  D  euora  e  de  lixbooa  mando 
os  treslados  autenticados;  de  sánela  cruz  o  processo  que  he  tambem  como 
propria  bulla ;  ysso  mesmo  os  treslados  de  sam  Jorge  e  alafoes  autenti- 
cados, e  ho  da  bulla  do  mestrado. 

Na  despesa  de  todas  estas  expedicóes  se  usou  toda  a  diligencia  pos- 
siuel,  e  alguuma  pouca  mays  da  que  nos  lempos  d  aguora  e  necessidades 
presentes  ha  vossa  grandeza  se  convirya :  ñas  cousas  ordinarias  nam  se 

20» 


156  COUPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

pode  pedir  graca,  ñas  extraordinarias  nao  he  vosso  seruico  pedyr  se,  por- 
que alguumas  se  concedem  porque  hq  de  sayr  dellas  dinheyro  que  des- 
poys  de  concedidas  por  se  pedyr  graca  do  dinheyro  haas  vezes  lornao 
debayxo,  como  me  ou\era  de  acontecer  na  bulla  do  meeslrado,  que  des- 
poys  de  concedida  e  assenlada  com  o  papa  a  composicam  em  mil  e  qui- 
nhenlos  ducados,  querendo  sua  sanlidade  dez  mil,  foy  lembrado  que  ou- 
tra  tal  ao  emperador  em  lempo  de  papa  liao  cuslara  xxiii  mil,  afora  dous 
mil  que  se  deerao  a  Sanliqualro  por  fauorecer  a  espedicao,  e  parecendo 
Ihe  que  fora  maa  neguociacao  Releue  a  bulla  e  já  comecava  a  duvidar  de 
verdade ;  todauia  com  mostrar  a  caria  que  a  qualro  de  marco  lynha  es- 
cryta  a  vossa  alteza,  na  qual  desla  bulla  ser  concedida  Ihe  fazia  mencao, 
e  com  alguumas  palauras  que  aqui  sam  escusadas  dizerem  se,  me  man- 
darao  a  bulla  a  casa,  e  nunqua  me  liue  sepro  ale  nao  saber  que  quem 
a  leuaua  era  embarcado :  assy,  senhor,  que  quando  as  cousas  vao  desla 
manpyra  ho  direylo  caminho  he  ñas  gracas  nao  querer  oulra  nenhuuma 
senao  ellas  mesmas ;  comludo  o  papa  a  fez  muy  grande  cm  todas  estas 
expedicOes  porque  se  havia  de  paguar  annala  d  alcobaca  polla  Relencao 
e  a  quilou,  que  sam  dous  mil  ducados.  As  laxas  todas  que  era  muy  la 
soma  foram  gratis  na  pessoa  do  Cardcal,  e  na  bulla  do  meslrado  vossa 
alteza  vee  a  graca  que  se  Ihe  fez,  e  desla,  porque  he  cousa  lam  erara  e 
monta  tanto,  he  bem  que  faca  ao  papa  alguuma  parte,  a  qual  seruyrá  em 
huuma  via  a  dous  mandados,  e  com  ysso  que  for  se  poderá  juntamente 
cerrarvesta  obrigacao  e  ha  de  ungria,  e  tyrar  por  parlydo  sern  que  pa- 
reca  parlydo  a  expedicap  do  priorado  do  cralo,  na  qual,  senhor,  o  que 
passa  he  que  sua  sanlidade  nam  quis  prouer  a  nenhuuma  oulra  pessoa, 
nem  confirmar  a  louca  prouisao  do  gram  meslre  com  que  aguora  saya 
de  trauesem  pessoa  de  huum  pimenta,  despoys  de  ler  perdido  Rodescomo 
deus  sabe ;  e  me  proraeteo  que  este  priorado  elle  ho  nao  dará  senao  a 
quem  vossa  alteza  for  seruido,  porem  aportando  nysso,  e  querendo  eu 
alguuma  mays  crareza  desle  promely mentó,  vay  dey lando  a  cousa  haa 
longa  e  defende  sse  me  com  esperar  cada  dia  o  gram  meslre  aquy,  cujos 
priuilegios  diz  que  nao  confirmará  se  elle  nao  for  contente  do  que  vossa 
alteza  for  seruydo :  disto  parle  he  assy  e  parte  se  ve  craro  que  he  espe- 
rar por  esta  graca  alguuma  ajuda  em  suas  necessidades,  o  que  nam  quer 
dizer  porem  senao  por  esta  via ;  e  com  quanlo  ysto  he  craro  de  enten- 
der, muylo  mays  craro  mo  dizem  alguumas  pessoas  das  que  entrao  no 


RELACOES  COM  a  curia  romana  157 

conselho  de  sua  sanlidade.  Quanlo  haa  particularidade  de  niio  tomar  ho 
Ifante  ho  habito  nnm  tenho  vyndo  porque  he-^ousa  que  faz  difficuldade 
na  materia  antes  de  ser  concedyda,  e  despoys  tenho  por  cerlo  conceder 
se  :  no  outro  ponto  de  nao  nomear  vossa  alteza  a  qual  de  seus  Irmaos 
quer  que  yenha  o  priorado  me  parece  que  nam  hauerá  nenhuum  Reme- 
dio, e  compre  que  venha  loguo  nomeado  de  la,  porque,  alem  de  ser  cousa 
que  nunqua  se  fez,  o  papa  está  nella  posto  e  decrarado. 

As  annatas,  senhor,  e  bulla  do  meslrado  somente  passao  de  treze 
mil  ducados,  entrando  aquy  os  dous  mil  e  quatrocentos  que  ficam  depo- 
sitados por  \iseu,  e  mil  e  tantos  das  proposicoes  de  todas  estas  cousas, 
as  quays  em  tempo  dos  outros  papas  se  soyam  de  dar  aos  cardeays  que 
propunham  em  consistorio  :  aguora  se  dao  ao  papa  proprio  porque  sua 
santidade  propoem  todas  as  cousas  consistoriays,  porque  se  achou  que 
Rendia  yslo  passante  de  frynta  mil  ducados  cada  anno,  e  flca  ja,  nam  em 
cousa  arbitraria  como  foy  ale  quy,  mas  em  diuida  obrigatoria  como  qual- 
quer  outra  despesa  das  bullas.  O  dinheyro  que  faleceo  se  tomou  no  banco 
de  Joam  francisco,  segundo  usanca  :  a  conta  pollo  miudo  tenho  em  meus 
liuros  com  toda  a  outra  de  vossa  fazenda  que  qua  tenho  despesa,  a  qual 
tanto  desejo  dar  a  vossa  alteza,'  quanlo  he  Rezao  que  a  deseje  quem  sabe 
cerlo  que  ha  pode  dar  boa. 

Ñas  gracas  que  espirarao  por  falecimento  d  elRey  vosso  padre,  que 
deus  tem,  tenho  falado  e  n  alguumas  hauido  boa  palaura  de  sua  santi- 
dade, e  ñas  outras  yrey  tomando  tempo,  e  de  tudo  o  que  se  íizer  darey 
auiso  pollo  primeyro  correo ;  e  neste  memorial  que  vossa  alteza  manda 
das  gracas  que  se  haam  de  pedyr  vem  muylas  em  que  nao  cumpre  falar. 
Ha  bulla  do  padroado  dos  meeslrados  foy  concedyda  ad  perpetuam  rei 
memoriam,  e  neste  nao  ha  y  que  falar  senao  vossa  alteza  e  todos  seus 
socessores  sam  verdadeyros  padroeyros  destes  tres  meeslrados,  e  vagando 
pode  nomear  pessoa  idónea  e  o  papa  haa  de  confirmar ;  e  polla  confir- 
macao  nao  se  Ihe  deue  mays  que  certa  quantidade  de  dinheyro  pequeña, 
que  na  mesma  bulla  está  decrarada,  e  nao  sendo  a  pessoa  ahile  por  def- 
feyto  de  idade  ou  por  nao  querer  lomar  ho  abito  a  poder  ser  mestre  se- 
guundo  t»s  estatutos  da  Religiao,  em  tal  caso  compre  vyr  ao  papa,  como 
aguora  comprio  por  vossa  alteza  querer  ser  administrador  e  nao  meslre. 

A  graca  de  poder  contrautar  com  os  mouros  foy  concedida  por  papa 
liao  a  El  Rey  vosso  padre,  que  deus  tem,  e  a  todos  seus  socessores,  do 


m  COKPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGÜEZ 

que  se  achara  breue  seu  que  eu  mandey ;  e  pera  mays  seguranca  pera 
se  la  fosse  perdido  tornarey  a  mandar  o  assunlo.  Nao  será  necessario 
despender  nysso  mays  dinheyro. 

A  graca  pera  os  capellaes  tem  o  papa  concedida  de  palaura :  ando 
em  hauer  a  espedicao  :  como  se  ouver  a  mandarey. 

Toda  a  diíBculdade  me  parece  que  será  na  nomeacao  dos  moysley- 
ros,  porque  ja  tenho  falado  nella  no  papa  qualro  ou  cynquo  vezes  com 
muyta  eíTicacia,  e  sempre  me  pedio  lempo  pera  se  Resoluer  nem  se  Re- 
solue.  Prcguntou  me  o  que  se  paguara  por  ella  a  papa  liao  :  disse  Iho 
porque  assy  como  assy  o  havia  de  achar  nos  lluros  que  foríio  dous  mil 
e  quinhenlos  ducados.  Apertarey  quanlo  poder  por  hauer  a  resolucao,  e 
certo,  senhor,  que  esta  graca  he  lam  necessarla  a  vossa  alleza  que  ne- 
nhuuma  ho  pode  ser  mays,  assy  por  poder  fazer  merce  a  seus  criados 
em  cousas  que  sejam  alguuma  cousa,  como  por  escusar  despesa  de  cor- 
reos nem  poer  em  dlsposicao  da  dlligenlla  ou  negrigenlia  delles  cousas 
de  lamanho  peso. 

No  caso  de  Ruy  de  mello  e  antredito  de  lamego  espero  -que  se  to- 
mará concrusao  como  ho  papa  coniecar  a  negociar,  porque  esteue  estes 
dias  mal  senlydo,  e  aprouve  a  nosso  Senhor  que  nao  foy  nada,  que  cerlo 
fora  todo  seu  mal,  aynda  que  nam  fora  mays  mal  que  durar  grande  lor- 
uacao  haa  christindade.  Eu  requeyro  ao  papa  nesle  caso  por  escusar  ha 
vynda  qua  de  Ruy  de  mello  que  o  torne  a  ouvir  de  juslica,  aleuantando 
o  antredito  e  socrestando  as  Rendas  do  moysleyro  na  maneyra  que  Ihe 
parecer;  e  se  ysto  se  acaba,  acabar  se  ha  ludo  o  que  compre  a  seruico  de 
vossa  alleza  polla  merce  que  quer  fazer  a  Ruy  de  mello,  porque  os  cri- 
mes  desle  Joao  Ferrao  sam  lam  enormes  que  nao  somenle  será  julgado 
indino  do  moysleyro,  prouando  se  Ihe,  mas  aynda  que  Ihe  darao  tal  cas- 
liguo  que  seja  exempro  a  oulros  de  nao  se  poerem  a  contradizer  o  de 
que  seu  Rey  huuma  vez  he  seruydo.  E  nao  ha  y  cousa  que  vossa  alleza 
tanto  deua  castigar  como  a  descortesía  e  desacalamento  de  alguuns  portu- 
gueses nesla  corte  que  somenle  com  fiuza  de  huuma'  bulla  alexandrina, 
que  tyra  o  direyto  a  quem  olTende  pessoa  com  que  traz  demanda,  fazem 
todas  as  descorlesias  do  mundo  sem  hauer  nenhum  respeylo  a  quem  as 
fazem,  nem  como  as  fazem,  nem  aos  inconvenientes  que  dellas  podem 
nacer  a  vosso  seruico.  Joao  Ferrao  escomungua  Ruy  de  mello  com  a 
cruz  de  christos  pintada  por  todalas  pracas  de  Roma.  Aluaro  Teyxeyra, 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  159 

no  mesmo  tempo  em  que  qiia  se  diz  que  huum  \osso  Irmao  toma  por 
molher  a  filha  do  conde  de  marialua,  pinta  o  conde  por  escomungado, 
e  o  pubrica  por  toda  a  cidade  por  demanda  que  contra  elle  comprou  como 
he  sabido.  Nem  lia  y  preylo  em  que  aquy  ja  muy  ousadamenle  nao  deem 
artigos  que  vossa  alteza  nao  obedece  a  mandados  apostólicos,  e  que  em- 
pede  a  execucao  das  bullas  do  papa  ;  outros  pubricamente  dizem  que  a 
graca  das  comendas  lie  reuogada,  e  estudao  por  fazer  dizer  ysto  a  huuma 
Regra  de  chancelaria  como  por  vencerera  huuma  demanda,  e  lembríío  ao 
papa  por  estas  vias  indirectas  e  cora  queyxumes  do  que  la  ñas  execucoes 
disto  se  faz,  o  que  doutra  maneyra  Ihe  nao  lembraria,  poendo  em  pe- 
rigo  cousas  de  tamanho  peso ;  e  como  huum  homem  quer  ser  mao  ho- 
mem  e  anichilar  afoulo  assy  prouisoes  de  vossa  alteza,  como  quaysquer 
outras  que  a  vossa  alteza  aprazer,  vem  se  a  Roma  e  aquy  «omem  e  be- 
uem  e  andam  polla  cidade  sem  ninguem  Ihes  dizer  nada.  Ha  culpa,  Se- 
nhor,  disto  tudo  seria  minha  se  eu  fosse  leygo  ou  assi  crerigo  como  sao 
se  vossa  alteza  me  desse  authoridade  pera  castigar  semelhantes  cousas, 
que  ao  menos  se  hauiam  de  casliguar  com  desnaturar  os  que  nao  mere- 
cessem  ser  portugueses,  e  os  que  vossa  alteza  nao  quisesse  desnaturar 
fazer  Ihes  merce  em  hos  fazer  yr  viuer  a  seu  Reyno  e  despender  la,  suas 
rendas,  e  nao  em  Roma  vexando  muyta  gente  proue  e  deshonrrando  a 
nacao  :  e  ja  nacem  castelhanos  que,  porque  dizem  que  tem  cartas  de 
naturaleza  de  vossa  alteza,  nao  ha  y  demanda  nenhuuma  desses  Reynos 
em  que  nao  entendió  e  nao  queyrao  ter  sua  parte,  impetrando  por  cer- 
tos  modos  e  vexando  muylo  mays  que  os  proprios  naturays,  e  antre  es- 
tes he  o  principal  huum  gomez  de  Rincao  escrytor  irmao  do  Rincao  ty- 
soureyro  que  foy  da  Raynha,  e  o  que  he  pyor  neste  caso  que  os  mesmos 
portugueses  Ihes  mandao  de  la  os  auisos  e  os  de  qua  Ihos  dao  e  peylao 
pensoes  e  dinheyros  que,  se  ysto  assy  vay,  em  muy  pouco  lempo  nao  ha- 
uerá  la  beneficio  que  nao  esté  embaracado  per  uia  d  eslrangeyros.  Em 
vyda  dclRey  vosso  padre,  que  deus  tem,  muytas  destas  cousas  se  Reme- 
deauao  porque  o  que  eu  nellas  fazia  sua  alteza  ho  hauia  por  bem  feyto, 
e  as  prouisoes  de  la  eram  tam  conformes  ha  minhas  ameacas  qua  que  as 
temiam  muylo :  aguora,  nem  vossa  alteza  me  dá  autoridade,  nem  eu  a 
quero  tomar,  principalmente  que  nao  faleceria  quem  dissesse  que,  por- 
que todas  estas  cousas  nacem  e  se  criao  principalmente  na  pousada  d 
aluaro  teyxeyra,  e  que  por  elle  andar  comigo  em  demanda,  Eu  ende- 


160  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

renco  yslo  ludo  aaquella  via,  e  por  isso  deyxarey  a  vossa  alteza,  e  a 
quem  tras  mym  a  este  lugar  vyer,  o  querer  saber  como  ysto  passa  e  re- 
medeallo  segundo  compre  a  yosso  seruico ;  e  quanto  a  aluaro  Teyxeyra, 
posto  que  seu  desacatamenlo  e  descorlezia,  estando  eu  em  cujo  nome  es- 
tou  e  tendo  de  mym  Recebydo  muito  do  meu,  me  mereca  lodo  castiguo, 
eu  lodauia  direy  o  que  ouvy  dizer  que  disse  Ramiro  nunez  de  guzmao 
em  castella  sendo  injuriado  sobre  seguro  da  Raynha  dona  Isabel  vossa 
tya,  que  santa  groria  aja,  que  a  dor  elle  a  vyngaria,  a  deshonrra  que  a 
uyngasse  sua  alteza.  Com  a  demanda,  Senhor,  poys  por  demanda  haa 
de  passar,  eu  me  darey  a  milhor  manha  que  souber,  o  desacatamenlo 
seu,  que  he  muy  grande  e  de  muyta  ousadia  pera  outros  tays,  vossa  al- 
teza o  castigue  ou  agualardoe  como  vyr  que  he  seu  seruico. 

Ho  papa  me  pregunta  muytas  vezes  como  estao  as  cousas  de  vossa 
alteza  com  ho  emperador,  como  quem  deseja  que  esleem  tam  bem  quam 
bem  he  Rezao  que  ellas  esteem :  assy  mesmo  me  tem  muytas  vezes  per- 
gunlado  a  que  era  ydo  Joao  da  sylueyra  a  Franca  :  na  huuma  cousa 
ñera  na  outra  eu  nao  posso  Responder  nada  porque  vossa  alteza  nam  me 
auisa  disso,  nem,  caso  que  o  eu  soubesse  por  outra  via,  o  ousaria  de  ho 
dizer  sem  seu  mandado.  Todos  os  outros  principes  avisao  seus  embaxa- 
dores  que  tem  em  Roma  do  porque  mandao  os  outros  a  outras  partes, 
ou  ao  menos  do  que  querem  que  respondao  ao  papa  ou  a  outrem  pre- 
guntando Iho,  ou  digam  sem  Ihe  ser  perguntado  :  ysto,  senhor,  compre 
muyto,  assy  pera  apaguar  alguumas  cousas  quando  se  dizem  sem  serem, 
como  pera  fazer  crer  outras  que  sam  haas  vezes  seruico  dos  principes 
se  creao,  e  juntamente  dara  auloridade  aos  embajadores,  com  a  qual 
podem  seruir  milhor  e  se  Ihe  negao  menos  cousas.  Todas  estas  cousas 
lembro  a  vossa  alteza  com  aquelle  amor  e  obrigacao  que  herdey  de  meus 
pays,  e  tanto  mays  affouto  quanto  menos  se  pode  cuydar  que  me  aja  de 
aproueytar  a  mym,  porque  esperando  com  a  Reposta  desta  licenca  de 
vossa  alteza,  a  qual  sey  certo  que  por  meus  seruicos  com  outras  mayo- 
res merces  Ihe  mereco,  craramente  se  vé  que  peco  aulhoridade  pera  quem 
neste  lugar  partyndo  me  eu  vos  ouver  de  seruir,  e  pollo  que  compre  a 
vosso  seruico,  e  nao  por  nenhuum  meu  interesse  particular. 

Ho  duque  de  sessa  cmbaxador  do  emperador  vosso  Irmao  se  mos- 
Ira  muy  grande  seruidor  de  vossa  alteza :  he  bem  que  se  Ihe  agradeca 
por  carta,  ao  menos  pera  que  sayba  que  testimunho  eu  do  que  vejo ;  e 


RELACOES  C03I  A  CURIA  ROMANA  161 

comprindo  sua  ajuda  em  alguuma  cousa  aproueytará  muyto  com  ho  papa, 
estando  as  cousas  de  sua  santidade  e  do  emperador  de  maneyra  que  se 
podem  chamar  huumas  mesmas.  Beyjo  as  maos  de  vossa  alteza,  cuja  vida 
e  Real  estado  nosso  senhor  Deus  guarde  e  acrecenté  como  deseja. 
De  Roma  aos  xxv  de  mayo  1523.  — Dom  miguell  da  sylua  ^ 


Carta  de  D.  Misuel  da  S^ilva  a  el-Rei. 


1533— Malo  ;S5. 


Senhor.  —  Despois  da  perda  de  Rodes  nam  se  sabe  oulra  nenhuuma 
nova  do  turco  senam  que  tem  dous  grandes  exercitos  pola  banda  de 
vngria  e  Croacia ;  e  segundo  parece  por  aquella  parle  faz  fundamento  de 
entrar,  e  elRey  de  vngria  o  escreve  asi  ao  papa,  e  a  mim  escreveo  huuma 
carta  dando  me  diso  aviso  e  agradecendo  me  o  que  em  seu  seruico  aqui 
fiz,  que  na  verdade  o  fiz  por  me  parecer  servico  de  Deus  e  de  vosa  al- 
teza. E  aqui  mando  amballas  cartas,  asy  a  minha  como  a  que  escreve  a 
vosa  alteza  :  pede  ajuda,  e  nam  Iha  dando  ameaca  com  nam  se  poder 
escusar  de  se  concordar  com  o  turco,  que,  sendo  asy,  seria  tamanho  mal 
que  perder  Rodes  e  belgrado  esqueceria  de  todo.  Sem  nenhuuma  duuyda 
toda  austria  e  tras  ella  ale  ílallia  e  ate  Roma  nam  se  poderla  dcffender 
nada,  principalmente  estando  as  cousas  do  emperador  e  delRey  de  franca 
da  maneira  que  eslao :  praza  a  noso  senhor  de  poher  nisto  suas  maos. 
Ho  papa  tinha  feito  o  cardeal  columna  legado  pera  la :  despois  se  mu- 
dou  e  fez  o  cardeal  da  minerva,  que  foy  geral  dos  frades  de  sam  domin- 
gos, o  qual  dizem  que  partirá  dentro  de  pouquos  dias,  e  que  levará  cin- 
quoenta  mil  ducados,  do  que  eu,  segundo  o  que  vejo,  muito  duuydo.  Ho 
papa  cada  dia  falla  aos  embaixadores  dos  principes,  e  pede  ajuda  pera 
estas  cousas:  veja  vosa  alteza  o  que  manda  que  se  Ihe  Responda.  Creo 
que  seria  muy  a  prepósito  fazer  de  multas  cousas  huuma  massa,  e  de- 
baixo  desle  titollo,  que  he  tam  santo  e  devido,  de  ajudar  o  papa  em  def- 

^  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  29,  Doc.  67.  O  documento  n  ° 69 d'esU 
mesmo  mago  é  a  ter cetra  via  d'esta  carta, 

TOMO  II.  21 


161  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

fensao  da  cristindade  contra  Infieis,  negociar  estas  cousas  que  ha  y  pera 
fazer  de  voso  servico,  que  asy  como  asy  sem  dinheiro  e  boa  quantidade 
nam  se  poderao  concruir ;  e  porque  aqui  me  lembra  o  que  ñas  outras 
cartas  me  esqueceo,  será  bem  vagando  alguuma  comenda  de  sam  Joham 
ter  vossa  alteza  a  posse  pera  dar  que  cuidar  ao  meestre,  e  fazer  mais 
chao  o  caminho  das  cousas  do  priorado  do  cralo. 

Ho  mestre  he  chegado  a  micina  :  cada  dia  escreve  que  vem.  Nam 
se  sabe  que  assenlo  se  tomará  ñas  cousas  da  Religiao :  elies  pidiao  tri- 
poli  a  principio :  agora  se  diz  que  o  emperador  Ihe  dará  a  Ilha  de  malta, 
que  na  verdade  seria  cousa  muy  conveniente  pera  a  seguranca  de  Ital- 
lia ;  porem  temo,  senhor,  que  ser  este  meestre  francés,  asi  como  ja  o  foy 
de  Rodes,  asi  seja  a  perdicao  de  toda  a  Religiao.  He  necessario  que  tam- 
ben! sobre  estas  cousas  vosa  alteza  aconselhe  ao  papa,  e  mande  o  que  se 
Ihe  ha  de  dizer,  porque  viindo  ho  mestre  serey  diso  preguntado ;  e  o  con- 
selho  será  vosso  servico  que  seja  enderencado  haa  seguranca  de  Itallia  e 
aseseguo  do  papa  em  Roma,  porque  isto  he  o  que  sua  santidade  mais 
deseja  e  mais  folga  de  ouuir,  e,  a  meu  juizo,  no  presente  mais  compre 
ao  mundo. 

Neste  ponto  me  dizem  que  he  viinda  huuma  carta  do  archiduque  d 
auslria  que  marlim  lutcr,  aquele  frade  de  santo  agustinho  que  tanta  tor- 
vacao  tem  dada  haa  cristindade  e  á  fee,  he  preso  com  muitos  dos  de  sua 
seita :  praza  a  deus  que  seja  verdade  porque  he  pesoa  de  grande  escán- 
dalo no  mundo,  ainda  que  está  ja  por  nosos  pecados  tam  arreigada  sua 
opiniao  em  toda  alemanha  que  pola  ventura  nam  abastará  ser  elle  preso, 
como  nam  abastou  em  bohemia  a  morte  de  Jerónimo  huus,  a  qual  mais 
acendeo  que  apagou  o  foguo. 

Ho  caso  de  vulterra  pasou  desta  maneira  :  ñas  cousas  do  papado 
elle  se  lancou  haa  parte  francesa  de  todo,  tendo  Recebidas  multas  merces 
do  emperador,  e  em  seu  desterro  passado  nam  tendo  achado  nenhuuma 
seguranca  senam  em  seus  Reinos,  porem  ludo  venceo  o  mal  que  queria 
ao  cardeal  de  medices,  contra  quem  nom  deixou  ninhuuma  cousa  por  fa- 
zer que  possa  fazer  huum  imigo  mortal.  Vendo  por  derradciro  que  nada 
Ihe  aproveilaua,  como  homcm  que  tem  mao  Joguo  quillo  baralhar,  e  co- 
mecou  a  tractar  com  elRey  de  franca  de  Ihe  dar  sicillia  per  via  de  huuns 
sicilianos  seus  amigos  intrinsicos  de  palermo,  onde  era  hordenado  que 
fosse  o  primeiro  assallo.  Ouue  quem  avisou  ho  duque  de  sessa  das  pra- 


RELACOES  COM  a  curia  romana  163 

tiquas  secretas  destes  sicilianos,  e  pidió  ao  papa  que  Ihos  deixasse  pren- 
der :  sua  sanlidade  foy  conlenle  e  foy  preso  huum,  o  quai  hia  pera  franca 
com  cartas  de  vullerra  em  ciífras.  Tomadas  as  cartas  ouue  quem  as  de- 
cifrou  e  achou  se  nellas  lodo  este  tracto  decraradamenle,  com  alguumas 
palavras  ainda  de  muy  maa  maneira  contra  ho  papa.  Sua  sanlidade,  visto 
ho  caso  de  quamanho  perjuizo  era  a  toda  crislindade,  e  o  que  se  podera 
seguir  se  franceses  meteráo  o  pee  em  Sicilia,  e  conhecida  a  incrinacao 
deste  homem,  e  mostrando  se  Ihe  que  soo  o  que  ñas  cartas  se  conlinha 
merecía  cem  mortes,  se  determinen  a  prendello  ;  e  pera  as  cousas  irem 
mais  iiordenadamente  mandou  logo  chamar  ho  cardeal  de  mediéis  a  fro- 
renca,  o  qual  veio,  e  despois  de  Recibido  com  lodallas  honrras  que  a 
huum  homem  sem  ser  papa  se  podiao  fazer  em  Roma,  foy  chamado  ao 
paaco,  e  com  elle  juntamente  o  cardeal  de  vulterra  com  titollo  de  os  que- 
rer fazer  amigos ;  e  antes  que  se  viese  a  outra  cousa  o  papa  Ihes  falou 
a  ambos  tam  de  siso  ñas  imizades,  como  se  verdadeiramente  nam  os  cha- 
mara pera  outra  cousa,  e  despois  que  Ihe  pareceo  lempo,  e  que  os  cria- 
dos de  vulterra,  que  tambem  aviao  de  ser  presos,  estariao  ja  a  Recado, 
dise  ao  cardeal  de  v  ulterra  :  «outras  cousas  temos  de  mais  sustancia  pera 
que  vos  mandamos  chamar» ;  e  comecou  a  entrar  na  materia  com  aquel- 
las palavras  que  se  convinhao.  Vulterra  comecou  a  negar,  e  o  papa 
Ihe  amostrou  suas  cartas  preguntando  Ihe  se  conhecia  aquella  cifra,  e  elle 
dizendo  que  nao  negava  com  tanta  eílicacia  que  caisi  o  papa  duuidava 
do  que  sabia  certo.  Quis  noso  senhor  que  a  verdade  se  manifestase  logo 
ali,  e  sendo  o  cardeal  de  vulterra  ho  mais  astuto  homem  desta  térra  e 
criado  sempre  em  manhas  della,  dando  Ihe  o  papa  na  niao  huuma  de 
suas  cartas  em  ciífra,  que  na  verdade  cuidava  que  Ihe  daua  huum  tres- 
lado  descifrado,  vulterra  se  Irovou  de  maneira  que,  sem  se  lembiar  que 
tinha  negadas  as  cifras,  nem  presente  quem  eslava,  comecou  a  leer  pollas 
ciffras  adianle  como  se  a  carta  fora  escrita  em  huuma  muilo  gentil  letra, 
como  aquelle  que  a  sabia  de  coor.  Quando  o  papa  isio  vio  ficou  fora  de 
sy,  e  sem  mais  esperar  outras  Rezoes  se  alevanlou  e  mandou  que  fose 
levado  ao  castello,  onde  jaz  ha  mullos  dias,  e  vai  se  fazendo  ho  processo 
de  suas  cousas  pera  se  del  le  fazer  juslica,  no  qual  no  menos  que  se  acha 
he  islo  porque  o  prenderao  He  certo  que  sendo  o  papa  ausente  provou 
de  fazer  novo  papa  com  ajuda  de  franca,  e  ninhuuma  outra  cousa  pro- 
curava  senáo  a  destroicao  desle  estado,  sera  aver  Respeito  nem  a  sua 

21* 


\U  CORPO  DIPLOMÁTICO  POKTÜGUEZ 

idade,  que  passa  de  setenta  e  cinquo  annos,  nem  a  outra  nintiuunia  cousa 
senam  a  sua  paixáo  particolar.  O  menos  mal  que  se  espera  que  aveiá 
será  privacao  do  capello  e  beneíTicios  com  desterro  conveniente  ao  mal 
que  queria  fazer.  Sao  juizes  de  seu  caso  os  cardeaes  santa  cruz,  ancona, 
e  cesis.  Fica  agora  a  pessoa  do  cardeal  de  mediéis  declarada  por  aquella 
que  he,  e  com  hos  erros  de  seu  imigo  se  descobrem  e  pubricao  suas  vir- 
tudes, pollas  quais  o  papa  o  honrra  tanto  que  ninhuuma  pesoa  ante  elle 
agora  he  de  maior  preco  e  autoridade.  Elle  foy  sempre  o  maior  servidor 
que  elRey  vosso  padre  que  deus  tem  nunca  teve  em  Itallia,  e  he  o  maior 
que  vosa  alteza  nella  tem,  e  aalem  de  ser  tal  pode  mais  que  ninguem  : 
vosa  alteza  nam  devia  delle  fazer  tam  pouqua  conla  porque  seu  servico 
Ihe  ha  de  valler  mais  em  suas  cousas  do  que  pode  cuidar.  Por  vezes  Ihe 
tenho  escrito  que  todollos  Reis  sempre  nesta  corle  teverao  e  tem  cardeais 
a  que  chamao  proteitores  de  seus  Reinos,  os  quais  ajudao  no  consistorio 
por  si  e  per  seus  amigos  todollos  seus  negocios,  e  se  isto  n  alguum  tempo 
foy  necesario  agora  o  he  porque  nam  se  determina  ninhuuma  cousa  na 
cámara,  como  se  sempre  fez  em  tempo  dos  outros  papas,  mas  ludo  passa 
por  vozes  dos  cardeais ;  e  crea  vosa  alteza  que  quem  tiver  a  do  cardeal 
de  mediéis  que  tem  tam  certa  a  de  xvj  cardeaes  como  a  sua.  Esto  nam 
cusía  dinheiro  e  he  grandissimo  voso  servico,  e  casi  divida  ao  muito 
que  do  cardeal  elRey  voso  padre  e  vosa  alteza  tem  Recebido.  Esto  es- 
creui  por  vezes :  nam  pode  ser  senam  que  pareca  la  particolar  Respeito 
mo  faz  dizer  e  nam  puro  desejo  de  voso  servico  como  he :  erro  he  que 
em  mim  nunca  coube  nem  cabera,  como  vosa  alteza  quando  se  de  mais 
perto  servir  de  mim  mais  craramente  poderá  conhecer. 

A  peste  de  que  noso  senhor  nos  guarde  vae  em  muito  crecimenlo, 
e  he  tam  espalhada  por  toda  a  cidade  que  ñora  ha  lugar  nem  pessoa  com 
que  sem  grande  perigo  se  possa  praticar,  e  dentro  no  paaco  adoecem  e 
morrem  cada  dia.  Se  nam  diminuir  será  forcado  o  papa  a  se  sair  de 
Roma,  porque  nam  quererá  tornar  a  malar  oulras  xx  mil  pessoas  ou 
passanle  dellas,  que  seu  querer  estar  por  forca  em  Roma  malou  ho  anno 
passado.  Muila  parle  da  gente  honrada  he  ja  fora,  e  eu  folgaria  de  ser 
honrado  nesta  parte  tanto  como  em  outras ;  porem  lera  me  aqui  o  que- 
rer ver  o  fim  a  estes  negocios  de  vosa  alteza  que  ha  i  antre  maos ;  e  como 
viir  o  que  se  pode  fazer  ante  da  Resposta  desla,  ou  eslarey  em  Roma  aas 
portas  jarradas,  como  ja  comecamos  a  estar,  ou  era  alguuma  quinlaam 


RELACOES  COM  a  curia  romana  165 

perlo  dos  muros  de  Roma,  nam  deixando  porem  de  ver  ho  papa  amiu- 
de,  nem  perdendo  ponto  nem  ora  ñas  cousas  de  voso  servico. 

Na  hobediencia  me  aponlou  ja  por  alguumas  vezes,  e  eu  Respondo 
o  que  vossa  alleza  me  lem  mandado.  Sua  sanlidade  deseja  mais  a  cousa 
em  sy  que  grandes  cirimonias.  Ate  agora  nam  he  dada  nenhuuma  de  n¡- 
nhuum  Rey,  e  a  causa  he  esla  peste  e  ser  necessario  dalla  pollos  mon- 
tes, como  creo  que  comprirá :  de  qualquer  maneira  Releva  multo  pera 
bem  destes  negocios  que  ha  i,  e  confirmacao  dos  de  papa  liao,  sobre  que 
nam  se  pode  dormir  seguro.  Beijo  as  maos  de  vosa  alteza,  cuja  vida  e 
Real  estado  noso  senhor  guarde  e  acrecenté  como  deseja. 

De  Roma  aos  xxv  dias  de  maio  1323.  —  Dom  miguell  da  Sylva  ^ 


Carta  de  D.  llig;uel  da  Sil^a  a  el-Rei. 


1583 — Malo  Z5, 


Senhor.  —  A  derradeira  merce  que  pidi  a  el  Rey  voso  padre  que 
deus  tem,  e  a  primeira  que  lambem  pidi  a  vossa  alteza,  foy  que  me  qui- 
sesem  dar  licenca  para  o  ir  servir  a  portugal,  onde,  dando  Ihe  conta  de 
sua  fazenda,  das  cousas  de  qua,  e  de  meus  seruicos,  esperava  de  o  non 
servir  nada  menos  do  que  o  fiz  no  passado.  Estas  duas  calidades  de  ser 
a  derradeira  a  elle  e  a  primeira  a  vossa  alteza,  quando  me  lodallas  ou- 
Iras  falecesem,  aínda  mereceriáo  alguuma  cousa  pera  se  me  outorgar  esla 
merce,  quanto  mais,  senhor,  pidindo  se  despois  de  servico  de  dez  annos, 
e  feitas  as  cousas  del  Rey  voso  padre  que  deus  tem  e  de  vossa  coroa  da 
maneira  e  com  a  fieldade,  que  a  todo  ho  mundo  he  pubrica,  e  a  vossa 
alteza  o  deve  ser  muito  mais.  E  quando  tambem  a  pidira  ou  pera  ir  Re- 
pousar,  ou  tendo  de  mim  voso  servico  muita  necessidade,  ouuera  Rezao 
pera  rae  ser  alongada  e  eu  aver  paciencia,  a  qual,  senhor,  eu  ouue  ate 
agora,  posto  que  nam  ouuesse  ninhuuma  destas  causas,  porque  asy  como 
nam  ha  peco  senam  pera  vos  mais  servir,  asi  nam  quis  eu  ser  o  Juiz 
do  que  mais  compria  a  voso  servico,  principalmente  avendo  qua  estes 

^  Abch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part,  I,  Mac.  29,  Doc.  70. 


166  COUPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

seus  negocios,  que  parecía  que  Requeriao  de  necesidade  pesoa  que  os  fe- 
zese.  Agora,  senhor,  a  maior  parle  delles,  como  vosa  alteza  vé,  he  feila, 
e  os  que  ficao  por  fazer  da  maneira  em  que  he  posyvel  fazerem  se  com 
a  Reposta  deste  correo  se  farao,  prazendo  a  nosso  senhor ;  e  asy  feitos 
elles  poderey  eu  ser  o  correo  e  Picará  o  campo  seguro  por  muilos  dias, 
e  quando  o  nam  fosse,  lendo  vossa  alteza  em  seus  Reinos  lantas  pessoas 
que  ho  lambem  podem  servir,  e  a  que  fará  muy  grande  merce  mandan- 
do as  qua  viir,  pois  a  mym  ni  a  faz  tam  grande  em  me  mandar  ir,  e 
tam  grande  agravo  me  faria  em  me  negar  a  licenca,  alcancando  huuma 
raesma  merce  a  quem  vay  e  a  quem  vem,  nam  deve  de  aver  nenhuuma 
Rezao  que  a  estorve.  E  porque  polla  ventura  pollo  mundo  ser  feyto  asy 
poderla  parecer  esta  minha  piticao  outra  cousa,  e  nam  meu  "verdadeiro 
desejo  de  me  ser  oulorgado,  protesto  a  vosa  alteza  que  antre  as  merces 
que  espero  em  salisfacao  de  meus  servicos  esta  tem  o  principal  lugar,  asi 
como  antre  os  agravos,  que  nam  espero,  ser  me  esta  negada  seria  o  prin- 
cipal ;  pollas  quais  Rezóes  todas  peco  a  vosa  alteza  quanto  posso  por 
merce  que  cora  a  Reposta  deste  correo  me  queira  mandar  a  desta  carta, 
e  na  maneira  em  que  Ih  a  peco  e  vé  que  tanto  a  desejo  e  Ihe  mereco. 
E  pera  que  a  licenca  seja  merce  da  sorte  que  as  os  tam  grandes  e  tam 
virtuosos  principes  acustumao  fazer  aos  que  bem  e  lealmente  o  servem, 
ha  de  ser  pubrico  ao  mundo  ou  com  salisfacao  de  meus  servicos  ou  com 
certeza  della  me  mandaes,  tanto  pera  me  galardoar  o  servido  ate  qui, 
quanto  pera  servir  d  aquí  adiante ;  e  se  ante  vossa  alteza  o  Relatar  os 
servicos  Ibes  acrecentase  preco,  eu  puderia  Relatar  tantos  que,  posto  que 
de  muitos  me  nam  quisese  pagar  o  trabalho  e  diligencia  e  modo  com  que 
hos  fiz,  em  alguumas  me  nam  poderia  negar  grande  sompia  de  dinheiro, 
de  que  poso'dizer  ousadamente  que  fiz  servico  a  elRey  voso  padre  que 
deus  tem  em  negocios  de  grande  calidade,  e  pera  os  quaes,  tendo  eu  as 
comisoes  tam  largas  quam  largas  as  elles  Requeriao,  com  ludo  nunca  rae 
veio  correo  que  nam  tornase  com  despachos  e  cora  dynheiro ;  raas  des- 
tas .  cousas  todas  tenho  ellas  mesmas  por  lestimunhas  e  vossa  alteza  por 
Juiz,  de  cujas  infindas  virtudes  conílio  tanto  que  fico  muy  descansado 
do  despacho  que  ha  de  dar  a  minha  tam  justa  piticao  ;  e  soomenle  Ihe 
peco  por  merce  que  me  nam  alongue  mais  esta  bemauenturanca  de  o  ir 
servir  em  presenca  e  dar  Ihe  conta  de  sua  fazenda,  e  de  multas  cousas 
que  nam  se  podem  escrever,  e  sabcllas  compre  muito  a  seu  servico,  e 


RELACOES  COM  a  curia  romana  167 

de  mim,  senhor,  que  ale  vos  nam  beijar  a  mao  Rey  e  comecar  a  servir 
vos  no  oíTicio  com  que  casi  naci  votado  a  voso  servico,  e  que  el  Rei  voso 
padre  que  sania  gloria  aja  me  deu  antes  que  vossa  alteza  nácese,  nam 
me  parecerá  nunca  que  meu  seruico  llie  he  aceito,  nem  eu  serey  aceito 
a  mim  mesmo.  Reijo  as  maos  a  vosa  alteza,  cuja  vida  e  Real  estado  noso 
senhor  guarde  e  acrecenté  como  dcseja. 

De  Roma  aos  xxv  de  maio  1323.  —  Dom  miguell  da  sylua  V 

Carta  de  D.  llig;uel  da  liilva  ao  Secretario 
de  Ejstado. 

15S3  (t)  — Junlio  6. 

Senhor  —  Nam  ha  de  yr  correo  sem  carta  minha  e  sempre  sobre  o 
mesmo  que  he  pedir  uos  por  merce  que  me  ocupeys  em  alguuma  cousa 
de  vosso  seruico,  nem  me  tenhays  de  vago ;  e  demo  será  que  nam  possa 
eu  com  tantas  cartas  acabar  ysto.  Por  em  tanto  vossa  merce  sayba  o  que 
ja  sabe  e  ayuda  saberá  muyto  milhor,  se  deus  me  dá  uida,  que  nam  ten- 
des  em  nenhuuma  parte  do  mundo  mays  seruidor  que  eu,  nem  mays  co- 
nhecydo  de  vossa  vonlade  e  merces  que  lenho  Recebydas  e  Recebo  cada 
dia  nella  e  ñas  obras ;  e  ysto  que  cuydo  que,  senhor,  conheceys  me  des- 
cansa em  alguuma  maneyra  o  cansaco  do  repouso  em  que  me  leudes. 
Praza  a  nosso  senhor  que  sempre  o  nam  auerdes  mester  de  qua  nada 
seja  por  sobejar  la  ludo,  poys  sobeja  merecer  se  ysto.  Minha  honra  e 
uida,  senhor,  ja  nam  vos  encomendó,  porque  confio  que  no  que  tendes 
tanta  parte  e  tanto  ludo  tereys  tambem  lembranca.  Este  correo  vay  so- 
bre Rodes  e  turco,  e  já  como  de  verdade  por  ysso  nam  posso  dizer  mays. 
Reijo  senhor  vossas  maos.  Joanne  mendez  que  d  aquy  adiante  fará  al- 
guura  negocio  meu,  por  Fernam  de  sa  ler  seus  que  fazer,  dará  conta  de 
mym  e  de  ludo  a  vossa  merce :  Aja  o  por  seruidor  e  encomendado. 

A  seruico  de  uossa  merce  —  Dom  migudl  da  sylua  ^. 

1  Arch.  NAc.,Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  29,  Doc.  68. 

2  Ibi.  Cartas  Missivas,  Mac.  3,  n.°  190.  Lé-se  no  sobrescripto:  Ao  muyto  prezado 
senhor  o  senhor  Antonio  Carneiro  Secretario  dellRey  nosso  senhor;  e  á  margem  por 
letra  do  secretario:  De  dom  miguell  pera  mym.  De  vi  dias  de  junho. 


168  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 


Carta  de  O.  Mig^uel  da  Silva  a  el-Rei. 


1593— Junlto  lO. 


Senhor.  —  Todallas  cartas  que  vao  por  este  correo  sam  idas  por  ou- 
tros,  mas  pollos  caminhos  serein  tam  incertos  nain  pode  tiomem  descan- 
sar de  Ha  acheguarem  senao  desta  nianeira.  Nesta  nom  ha  i  de  novo  que 
dizer  senara  que  el  Rey  de  dynamarcha  he  desposto  do  Reino,  e  elegido 
por  Rey  huum  seu  tio.  A  causa  foy  sua  maa  vida  e  crueldades  grandes 
que  usava,  por  onde  os  povos  se  a^evantarao  e  fezerao  o  que  a  igreja 
Romana  era  obrigada  de  fazer  pollo  que  este  Rey  tinha  feito ;  mas  tudo 
ate  agora  esteve  em  calma  polo  parentesco  do  emperador  \osso  irmao,  a 
que  os  povos  parece  que  nam  ouuerao  ora  tanto  Respeito.  Elle  he  vün- 
do  a  envis  com  sua  molher  e  filhos,  e  ja  ay  aqui  pesoa  que  o  deixou  ali 
e  muy  desapasionado,  como  se  viera  a  ver  a  feira. 

Ho  duque  de  moscovia  he  morto :  este  era  o  grande  contrairo  del- 
Rey  de  polonia  ñas  cousas  de  Ilaa,  e  aquele  com  quem  continoamente  ti- 
nha guerra.  He  feito  duque  huum  seu  irmao,  que  diz  que  he  grande 
amigo  del  Rey,  e  que  será  grande  bem  pera  que  el  Rey  de  apolonia  possa 
voltar  todas  suas  forcas  contra  as  causas  do  turco. 

Ho  emperador  dos  tártaros,  que  bg  chamava  emperador  precopien- 
se,  he  tambera  morto,  e  el  Rey  de  vngria  Irabalha  por  meter  no  signo- 
rio  huum  seu  párente  a  que  dizem  que  vera  de  direito,  o  qual  he  dester- 
rado em  vngria,  e  el  Rey  Ihe  deu  estado  onde  ate  agora  viveo  como  prin- 
cipe, pollo  que  se  lera  por  certo,  se  entrar  em  tartaria  e  os  povos  o  Re- 
ceberera,  que  asi  corao  o  morto  era  grande  imigo  de  vngaros,  asi  esle 
será  amigo  e  fauorecedor  por  estas  Rezoes  que  dise. 

Ho  legado  pera  vngria  nom  he  ainda  partido  por  mingua  de  dinhei- 
ro,  de  que  o  papa  e  a  igreja  está  em  lamanha  necesidade  que  ho  nam 
pode  crer  senara  quera  o  vé. 

Marlim  luter  ñora  he  preso  como  em  oulra  dise  que  avia  cartas, 
mas  era  huum  hulera  grande  lutcriano  e  pesoa  de  alguuma  conta  era 
aleraanha.   - 


RELACOES  COM  a  curia  romana  169 

Ha  ¡  carias  per  via  de  venezeanos  que  o  grao  turco  passa  em  pes- 
soa,  e  que  em  todallas  maneiras  quer  fazer  a  empresa  de  Ilallia,  onde 
nam  veJQ  oulro  aparelho  de  guerra  senam  o  que  se  faz  contra  elRey  de 
franca.  Se  alguum  Rebate  vier,  ver  se  ha  esta  térra  e  principalmente  ho 
papa  em  grande  pressa :  nosso  senhor  por  sua  misericordia  o  queira  re- 
mediar. 

Ho  duque  de  veneza  he  morto,  que  era  o  grimano.  He  feito  duque' 
misser  Andrea  grite,  que  era  provedor  e  como  capitao  da  gente  d  armas 
de  venezeanos,  e  segundo  dizem  muy  aífeicoado  a  francezes :  agora  que 
he  duque  pode  ser  que  o  será  mais  a  sua  térra,  e  sendo  asy  tomará  logo 
assento  com  ho  emperador,  ho  que  ate  agora  se  nam  fez  por  falecer  o 
poder  do  Infante  dom  femando  pera  juntamente  conííirmar  o  feito  como 
archiduque  d  austria,  o  qual  agora  he  viindo,  e  nom  ha  mais  escusas 
pera  venezeanos  esfarem  asy  sem  decrararem  de  que  ley  querem  ser. 

A  peste  vay  em  muito  crecimento,  e  o  papa  se  pohem  em  ordem 
pera  se  sair  de  Roma :  eu  o  siguirey  prazendo  a  noso  senhor  ate  ver 
Recado  de  vosa  alteza  do  que  manda  que  faca ;  e  este  ja  seria  tempo  que 
fose  viindo  pera  o  que  compre  a  voso  servico,  que  de  minha  penna  eu 
averia  levemente  paciencia.  Beijo  as  maos  de  vossa  alteza,  cuja  vida  e 
Real  estado  noso  senhor  guarde  e  acrecenté  como  deseja. 

De  Roma  aos  x  dias  de  Junho  1523.  —  Dom  miguell  da  sylua  K 


Carta  de  D.  llig;uel  da  üilva  a  el-Rei. 

1533 — aunlio  lO. 

Senhor.  —  Despois  de  escrito  todo  o  que  ñas  outras  minhas  cartas 
verá,  me  mandou  chamar  o  papa  e  me  dise  que  escrevese  a  vossa  alteza 
como  naquelle  ponto  recebera  cartas  de  sen  nuncio  de  franca,  das  quais 
via  que  ell  rei  de  franca  nam  queria  nenhuum  asesego  na  cristindade, 
nam  consintindo  nem  querendo  oumr  fallar  em  pas  nem  em  tregua  sem 
Ihe  ser  restituido  o  ducado  de  millaom,  a  qual  condicao,  aalem  de  ser 

1  Arch.  Nac,  Corp.  Cliron.,  Part.  I,  Mac.  29,  Doc.  80. 
TOMO  II.  22 


170  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

Imposyvel  de  se  comprir  sem  a  mesma  güera  com  que  se  perdeo  e  milito 
mais  cruell,  he  poiiquo  honesta  por  ser  em  lempo  que  parece  que  a  cris- 
timdade  tem  necesidade  de  breve  concertó  anlre  os  crisldos  e  nam  de 
nona  güera  ver.  O  aljófar  que  saiba  islo  vosa  alllesa,  asy  porque  Yendo 
mais  necesidade  de  milhor  vonlade  ajudará  as  cousas  da  igreja  e  suas, 
como  lambem  por  fazer  huuma  mea  prolestacao  do  que  ueste  caso  deve 
de  íer  determinado  faser,  que  creio  que  seja  declarar  se  ahertamente  con- 
tra cobre  em  defensdo  das  cousas  de  ilallia,  que  cerlo,  nam  fazendo,  nam 
se  pode  esperar  aseseguo  nella,  nem  deixar  de  se  esperar  muila  tribuía- 
cao  no  mundo,  porque  desta  guerra  dos  cristaos  e  principallmente  da 
cobica  que  tem  de  senhorear  em  italHa,  nace  lodo  o  malí  que  vemos. 
Em  quanto  eslava  com  ho  papa  achegou  huum  criado  do  emperador,  em 
cuja  companhia  vem  dous  correos  e  muilas  cartas :  nam  se  dao  aínda : 
deve  de  viir  anlre  ellas  alguum  Recado  de  vosa  alteza,  que  muilo  de- 
sejo. 

Sua  sanlidade  por  comprir  com  ha  obrigacao  que  lera  do  seu  offi- 
cío  de  vigario  de  cristo,  e  por  ver  lambem  se  o  que  nam  fazem  os  Ro- 
gos fará  Q  temor  de  deus,  pubricou  huuma  bulla  de  treguas  gerais  por 
tres  anuos  anlre  todollos  principes  cristaos,  e  aqui  a  mando  a  vosa  alteza 
com  huum  breue  de  sua  santidade  sobre  o  mesmo  :  ha  de  Responder  con- 
forme a  yso  ao  menos  que  pareca  que  estima  estas  cousas,  nam  como  os 
Gutros  principes  as  estimao,  mas  como  ellas  pollo  de  deus  merecem  ser 
eslimadas. 

Esqueceo  me  d  escrever  como  ho  papa  canonizou  dia  da  Irindade 
dous  santos  solenemente,  cujos  processos  ficarao  ordenados  ja  do  lempo 
de  papa  liao  que  santa  groria  aja,  e  forao  santo  antonio  arcebispo  de  fro- 
renca,  e  sam  benao  bispo  de  misna  e  irmao  de  huum  duque  de  saxo- 
nia :  pregou  o  papa  ao  povo.  Sobre  santo  Anlonino  escreveo  elRey  voso 
padre  que  deus  tem  muy  encarregadamenle,  e  asi  eu  me  achey  na  ciri- 
monia  em  nome  de  vosa  alteza.  Prazerá  a  nosso  senhor  por  sua  miseri- 
cordia, e  inlercesao  desles  santos,  acrecentar  a  vida  e  estado  de  vosa  al- 
teza como  deseja,  cujas  maos  beijo. 

De  Roma  aos  dez  dias  de  Junho  de  1523.  —  Dom  miguell  da  sylua  '. 

•  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  29,  Doc.  79.  yl*  palavras  em  itálico 
estao  em  cyfra  no  original. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  171 

Breve  do  l*a|ia  Jiilriano  \W,  dirigido  a  el-Rei. 

1593— tVanlio  30. 

Adrianus  papa  vi  Charissime  in  chrislo  fili  nosler  salutem  et  apos- 
tolicam  benediclionem. 

Rhodo  ínsula,  quae  velut  anlemurale  chrisliani  orbis  ad  repellendos 
Ímpetus  ¡nfensissimorum  hoslium  orlhodoxae  fidei  semper  presto  eral,  ab 
eisdem  hoslibus  diu  vehementissime  obsessa  el  ab  illis  landem,  non  sine 
lamen  ingenli  ipsorum  caede,  magno  scilicet  magislro  et  conventu  Relí- 
gionis  Hierosolimitane  ibidem  se  ac  dictam  Insulam,  Doñee  eis  res  neces- 
sariae  suppeterent,  yalidissime  defendenlibus,  expúgnala  et  capta,  cuius 
reí  memoria  animum  nostrum  vehemenler  exulceral,  arbitramur  omnipo- 
lentem  Deum  (cuius  suprema  prouidentia  nihil  vnquam  frustra  operalur) 
tantam  nostram  calamitatem,  partim  ad  puniendum  peccata  noslra,  par- 
tim  cliam  ad  hoc  permisisse  \t  chrisliani  Principes  inuicem  dissidentes 
ad  pacem,  concordiam  el  vnionem  necessilate  compulsi  omnino  deueniant, 
quo  scilicet  vnilis  animis  et  viribus,  rem  communem  communi  studio, 
hoc  esl  christianam  Rempublicam  aíílictam  quidem,  et  in  exlremum  fere 
discrimen  adduclam,  ac  sanctam  et  diuinam  Religionem  nostram,  in  qua 
omnes  spem  nostrae  sempilernae  salulis  repositam  habemus,  acerrime  de- 
fendant.  El  cum  prefatus  magnus  magister  militesque  Hierosolimitani,  ci- 
tra  humanam  ralionem  el  expectalionem  omnem,  ex  tanto  bellorum  tur- 
bine,  ingentibusque  periculis,  numerosissima  ac  validissiraa  Tyranni  po- 
tenlissimi  classe  dictam  Insulam  oppugnante,  incólumes  euaserint,  consi- 
deramus  profecto  id  nutu  atque  ope  Redemploris  noslri  Jesu  chrisli,  in  cuius 
seruicio  ipsa  Hierosolimitana  Religio  fúndala  exislil,  eíFeclum  esse,  el  pro- 
plerea  duximus  opere  precium  esse,  immo  ex  pastorali  officio  nobis  in- 
cumbere,  vt  quicquid  in  nobis  esl  studii,  atque  consilii,  quicquid  bene- 
ficio omnipotenlis  Dci,  atque  hac  poteslate,  aucloritate  pontificia,  vna  cum 
hoc  sacro  cardinalium  collegio  possumus,  id  omne  ad  laudem  et  gloriam 
Dei  pro  conseruanda  atque  amplificanda  Religione  huiusmodi  promptis- 
sime  polliceamur,  atque  deferamus.  Ad  quod  pium  sanclumque  opus,  au- 
xilium  eliam  luae  Maieslalis  atque  opem  el  operam  inuocare  non  ab  re 

22* 


172  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ     , 

exislimamus,  Quam  diuersis  experimenlis,  el  propriis  eliam  proteslalio- 
nibus  nouimus,  more  chrislianissimorum,  deque  República  chrisliana  opli- 
nie  merilorum,  progenilorum  suorum  christianis  rebus  semper  libenlissime 
fauere.  Quamobreni  eandeni  Maieslalem  tuam  ex  animo  horlamur,  atque 
in  Domino  obteslaraur,  Vt  procellas,  quae  orihodoxam  fidem  vndique  im- 
pellunt,  pro  tua  virlute  et  prudenlia  prospicias,  alque  adeo  ad  conser- 
uandam  ac  tuendam  aucloritatem,  slabiümenlaque  et  priuilegia  magni  ma- 
gistri  et  Religionis  praediclorura  te  propicium  ac  studiosus  exhibeas,  neue 
eorum  iura  in  Regno  Dominiisque  luis  a  quoquam  infringi,  aut  eos  su- 
per  illis  quoquomodo  molestan  patiaris,  Quandoquidem  illi  in  tantis  eorum 
necessitatibus,  alque  in  hac  et  rerum  et  lemporum  acerbitate,  a  quocun- 
que  calholico  Principe  confoueri,  protegí,  et  subleuari  debent.  Et  quo- 
niam  eidem  magno  magistro  el  Conuenlui  de  aliquo  loco  opportuno  chris- 
lianae  Reipublicae  seruiliis,  ac  strenuitali  illius  mililiae  congruo  prouiden- 
dum  est,  horlamur  eliam  alque  eliam  in  Domino  Maieslalem  tuam,  ac 
sludiose  requirimus,  vt  circa  eleclionem  loci  huiusmodi,  in  quo  magnus 
raagisler  et  Conuenlus  praedicli  residere  habeanl,  iudicium  tuum  et  opi- 
nionem  nobis  significes,  el  demum  cum  illi  suis  fortunis  atque  substan- 
lia  adeo  spoliali  el  exhausti  sint,  vt  praeler  ipsorum  virtulem  inuictumque 
in  aduersis  aniraum  ac  spem,  quam  in  auxilio  el  presidio  noslro  christia- 
norumque  Principum  fixerunt  alque  locarunl,  parum  sil  reliquum,  opere 
precium  eliam  esse  arbilramur,  vt  quisquís  ex  dictis  Principibus  de  loco 
opportuno  prouidere  non  poterll,  sallem  ad  muniendum  locum  huiusmo- 
di, poslquam  de  eo  prouisum  fueril,  quod  el  nos  pro  uirili  noslra  faceré 
intendimus,  cum  aliqua  subuenlione  concurral.  Quod  te,  fili  charissime, 
amore  Redemploris  noslri  Jesu  christi,  qui  ex  immensa  sua  in  humanum 
genus  clementia  ac  pietate  saeuissimam  morlem  pro  te  subiré  non  dubi- 
tauit,  et  impeliente  chrisliana  charitate,  quae  fratrum  ac  proximorum  ne- 
cessitales  suas  ducit,  illisque  non  minus  quam  propriis  subuenire  nili- 
lur,  per  hoc  supremum  iudicem  sibi  propicium  reddens,  omnino  faclu- 
rura  confidimus:  Et  vi  facias  le  eliam  alque  eliam  in  Domino  horlamur, 
et  cum  quanta  possumus  inslanlia  palerne  requirimus. 

Datum  Romae  apud  sanclum  pelrum,  sub  annulo  Piscaloris,  Die  vl« 
lima  Junii  mdxxiu,  Pontificatus  noslri  anno  Primo.  —  7'.  Ilezius  \ 

»  Arch.  Nac.  Mar.  36  de  Bullas,  ri."  12. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  173 


Carta  de  D.  Miguel  da  üilva  ao  Secretario 
de  Eistado. 

1593— «VnlliolO. 


Senhor.  —  Por  esle  correo  mando  somenle  os  Ireslados  de  carias, 
que  ja  por  duas  ou  tres  vezes  tenho  mandadas.  Expidicao  ninhuma  nam 
mando  porque,  ate  TÜr  Reposta  de  sua  alteza  do  que  Ihe  lenho  escrito, 
nam  se  pode  fazer  cousa  ninhuuma,  e  n  alguumas  que  espcrava  boa  Re- 
solucao  acho  dificuldade  :  creo  que  ludo  naca  de  quererem  de  lá  pri- 
meiro  ^ér  alguum  sinal  era  suas  necesidades,  o  qual  nam  de\e  de  lardar 
em  ninhuuma  maneira  do  mundo.  Este  correo  despacho  cora  loda  dili- 
gencia sobre  as  cousas  da  Reiigiao  de  sam  Joham,  porque  o  grao  meslre 
vem  aqui,  e  o  papa  quer  dar  assento  em  suas  cousas,  e  dar  novas  leis 
em  sua  \ida  e  governo,  e  me  mandou  expresamente  que  com  a  maior 
diligencia  que  fose  posyvel  o  escrevese  asi  a  sua  alteza,  pera  que  junta- 
mente com  ho  conselho  mandase  poder  e  Instrucao  pera  em  seu  nome  se 
tratar  nesta  materia,  e  aver  por  bem  o  que  a  igreja  hordenase  a  benef- 
ficio  da  Riligiao  e  da  cristindade :  por  tanto  vosa  merce  polo  que  com- 
pre a  seryico  de  sua  alteza  faca  que  a  Reposta  seja  muy  prestes,  porque 
seria  muy  grande  prejuizo  a  seu  servico,  e  muy  grande  confusao  pera 
mim,  tratarem  se  estas  materias,  ñas  quais  tanto  Releva  a  bem  do  Reino 
fazer  se  huuma  cousa  ou  outra,  e  nam  saber  a  vonlade  de  sua  alteza.  E 
porque  esto  compre  tanto  ao  de  lia  nam  me  alargo  mais  porqu*^  sey  que 
onde  está  vosa  merce  nam  ficará  nada  por  fazer. 

Acerca  de  mim  e  de  minhas  cousas  nam  digo  nada  a  vosa  merce 
de  novo,  porque  ja  tenho  dito  tanto  que,  se  desoja  de  me  fazer  merce, 
já  sabe  largamente  em  que  e  como,  e  asi  Ihe  peco  muito  por  merce,  e 
pollo  grande  amor  que  sey  que  me  lem  e  meus  desejos  Ihe  merecem,  que 
em  minha  ida  e  licenca  queira  fazer  o  que  Ihe  tanto  tenho  pidido,  e  creo 
que  he  nem  mais  nem  menos  como  Remir  me  de  cativo ;  e  esta  carta 
com  minha  fee,  que  Ihe  em  outras  lenho  dada  e  nesta  dou,  seja  instro- 
mento  pubrico  que  minha  presenca  la  ha  de  ser  tanto  a  voso  servico  quanta 


174  GORPO  DIPLOMÁTICO  POKTÜGUEZ 

o  possa  ser  a  de  ninhuuma  outra  pesoa  dése  Reyno,  nam  porque  cu  possa 
nem  valha  nem  saiba  mais,  mas  porque  desojo  de  servir  yos  mais  que 
ninguem. 

Ho  papa  me  fez  merce  do  priorado  de  landim,  de  que  ouue  o  aviso 
sem  no  eu  saber,  e  sem  no  eu  saber  me  mandou  a  supricacao  a  casa, 
como  qua  he  pubrico  e  lá  poderá  saber  vosa  merce  pollos  que  de  qua 
forem  :  e  nam  soomenle  deste  priorado  me  linha  feilo  merce,  mas  de  to- 
doUos  beneficios  de  Francisco  Jusarte,  se  fora  morlo,  como  ca  diserao  a 
sua  sanlidade.  As  bullas  de  Landim  mando  por  esle  correo,  e  a  el  Rey 
noso  senhor  peco  por  merce  que,  porque  o  papa  veja  que  as  merces  que 
me  faz  Ihe  sao  aceitas,  Iho  agradeca  por  huuma  carta  sua.  Vossa  merce 
por  ma  fazer  muy  grande  lomará  cargo  de  mandar  esla  carta,  e  pois  que 
nam  peco  nella  senam  palavras,  sem  Razao  seria  negarem  se  me  as  boas ; 
e  se  acerca  da  posse  comprise  segundo  o  estillo  de  lia  alguuma  prouisao, 
tambera  sey  que  vossa  merce  ma  averá  lam  boa  como  foy  a  de  santo 
tiso,  que  foy  posse  e  dinheiro.  Nesta  nem  nisto  nam  digo  mais  senam 
que  beijo  as  maos  de  vossa  merce. 

De  Roma  aos  dez  de  Julho  1S23. 

Encomendó  a  vossa  merce  muito  o  negocio  do  bacharel  Joao  Fou- 
bert  d  aquelle  conserto  de  sua  alteza.  Far  me  ha  grande  merce  em  tudo 
o  que  nisso  fizer. 

Este  correo  parte  aos  x  de  Julho  em  anoytecendo.  lia  de  fazer  o 
caminho  de  Ierra  em  xii  dias,  e  leuar  certidao  do  que  se  detiver  por  mar, 
a  que  nam  se  pode  poer  ley. 

A  seruico  de  vossa  merce.  — Dom  miguell  da  sylua  K 


Carta  de  D.  iligucl  da  ^ilva  a  cl-Rei. 

15f3 — fSetcmbro  14. 


Senhor.  —  Aprouve  a  noso  senhor  de  levar  pera  si  papa  adriano : 
faleceo  oje  que  sao  quatorze  de  setembro :  acabou  santamente  com  lo- 


»  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mar.  29,  Doc.  93. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  175 

dollos  sacramentos  e  com  fim  conforme  a  sua  \¡da :  deixa  feito-  cardeal 
guilhelmo  Inquiforle,  que  era  seu  dalario ;  testamenleiros  o  cardeal  me- 
diéis e  o  cardeal  sanliqualro.  A  seu  falecimenlo,  que  foy  a  meo  día,  cha- 
mou  qua-lro  cardeaes,  santa  cruz,  ílisco,  monte,  e  campegio,  os  quaes 
ainda  eslao  no  paaco,  nem  se  sabe  oulra  cousa  senao  que  foy  pera  Ihe 
dar  conta  desa  fazenda  que  ficava,  que  segundo  o  que  vejo  deve  ser  de 
pouqua  imporlancia.  O  cardeal  de  vultcrra  fiqua  preso  no  caslello,  e  co- 
meca  a  nacer  grande  duvida  se  ha  de  entrar  na  eleicao  ou  nao.  Releva 
multo  que  nam  entre  aa  parle  imperial,  e  pollo  contrairo  aa  francesa : 
praza  a  noso  senhor  que  nam  naca  d  aqui  alguum  grande  escandallo.  Di- 
zem  que  ho  direilo  he  contra  elle,  e  sendo  tambem  o  emperador,  cuja 
autoridade  agora  está  tanto  adianle,  creo  que  nam  sairá.  Por  estes  luga- 
res de  Redor  de  Roma,  despois  que  ho  papa  comecou  a  estar  sem  espe- 
ranca,  se  alevantarao  as  partes  de  que  todo  o  estado  da  igreja  he  per- 
dido, e  a  vrsina  em  vilerbo  lomou  a  fortaleza :  aqui  está  toda  a  cidade 
era  armas  e  cada  huum  chama  a  mais  gente  que  pode  de  fora :  prazerá 
a  noso  senhor  que  nam  será  pera  mais  que  pera  estar  huuma  banda  e  a 
outra  segura. 

Em  outra  carta  minha  escrevi  a  vossa  alteza  o  que  tinha  sabido  per 
via  de  veneza :  despois  veio  aqui  ho  prolonotario  caracholla,  grande  meu 
amigo  antigo,  e  por  cuja  prudencia  e  autoridade  principalmenle  se  fez  esta 
paz  antre  o  emperador  e  venezeanos,  e  delle  soube  alguumas  parlicola- 
ridades  secretas  da  capilolacao ;  e  a  que  mais  me  aprouve  e  que  he  bem 
que  vosa  alteza  saiba,  se  por  outra  via  a  nom  lera  sabida,  he  que  por 
mandado  do  emperador  vosa  alteza  enlra  na  dita  paz,  e  affirma  que  por 
tres  dias  ho  emperador  Iho  mandou  que  decraradamente  nomease  vossa 
alteza.  Isto  bem  sey  que  deue  nacer  da  muita  prudencia  de  vossa  alte- 
za, todavia  nam  ouue  por  escusado  escrevel  o.  Se  me  for  posivel  aver  a 
dita  capilolacao  aa  máo  a  mandarey  pollo  primeiro  correo. 

Com  esta  nova  do  falecimenlo  de  papa  adriano,  que  deus  tem,  des- 
pachara correo  proprio,  se  nam  parlira  esle  que  vai  ao  emperador. 

Da  nova  eleicao,  a  qual  praza  a  noso  senhor  que  seja  tal  qual  com- 
pre a  seu  servico,  a  bem  da  crislindade,  e  a  que  as  presentes  necesida- 
des Requerem,  darey  aviso  a  vossa  alteza  com  toda  diligencia.  Ha  tanto 
lempo  que  nom  ha  qua  cartas  nem  Recado  nenhuum  de  vosa  alteza  que 
parece  que  de  todo  se  esquece  de  raeu  servico  neslas  parles. 


176  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGÜEZ 

Eu  lenho  escrito  por  muitas  vias,  e  vUimamenle  a  dez  desle  mes 
que  creo  que  esta  ainda  alcancará  aquelle  correo.  A  mais  fresca  carta 
que  ha  i  de  vossa  alteza  he  do  derradeiro  de  maio,  que  quando  nam  es- 
crevese  senao  pera  que  a  voso  embaxador  nam  cumpra  andar  pregun- 
tando as  novas  de  vosa  saude  a  mercadores,  o  devia  de  fazer,  quanto 
mais  que,  por  nom  ser  avisado  amiude,  se  podem  fazer  grandes  erros 
em  voso  servico,  e  se  poderam  tambem  fazer  grandes  servicos  sabendo 
os  mundos  que  la  correm  e  vossa  vontade  em  cada  cousa.  Beijo  as  maos 
de  vossa  alteza,  cuja  vida  e  Real  estado  noso  senhor  guarde  e  acrecenté 
como  por  elle  he  desejado. 

De  Roma  aos  xiiii  dias  de  setembro  de  1523.  —  Dom  miguell  da 
sylua  ^ 


Carta  de  D.  Miguel  da  Silva  ao  liecretario 

de  Esitado. 

1533 — Novembro  IS. 


Senhor.  —  A  nova  da  eleicao  do  senhor  cardeal  de  mediéis  he  tam 
grande  pera  lá  e  pera  qua,  que  nam  he  bem  deter  se  este  correio  huum 
soo  momento,  pera  que  nom  perdáis  lempo  da  alegría  que  com  Rezao 
vos  deve  dar.  Neste  ponto  he  feila  que  he  ja  de  noite :  em  amanhecendo 
se  publicará :  chama  se  papa  clemente  séptimo.  Como  eu  devo  de  ficar 
vossa  mercó  o  consire.  Prazerá  a  noso  senhor  que  se  verá  craramente 
que  a  morte  do  papa  liao  lam  sem  tempo,  e  a  de  adriano  tam  arrebatada, 
foram  craramente  pera  bem  da  crislandade,  e  pera  que  viese  huum  papa, 
o  qual  juntamente  sabe  e  quer  e  pode  o  bem  da  igreja  \  Vossa  mercé 
sabe  muy  bem  a  conta  que  elRey  que  deus  aja  fazia  d  este  homem,  e 
quanto  eu  trabalhey  que  a  fizeseis  vos  delle  com  ho  que  nam  vos  cus- 
tava  nada  %  e  agora  vedes  o  que  podera  aproveitar,  porque  bem  via  eu 
pera  onde  deus  guiava  sua  grandeza.  Eu  peco  a  el  Rey  noso  senhor  que 
me  acabe  de  fazer  alguuma  merce,  e  quando  nam  fose  polos  servicos 

1  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Parí.  í,  Mac.  28,  Doc.  81. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  177 

pasados  seja  por  al\isaras  que  buuma  tal  nova  tambem  merece,  e  meus 
servicos  d  aqui  em  diante  ^  tambem  merecerao.  Eu  la  nom  vejo  quem 
de  minhas  cousas  tenba  milhor  cuidado  que  vossa  mercé  :  far  ma  ha  muito 
grande,  e  mui  conforme  ao  que  Ihe  eu  mereco  e  merecerey,  de  lembrar 
a  sua  alteza  que  ho  faca,  porque  juntamente  com  ser  ho  que  deve  tal  Rey 
a  quem  bem  o  serve,  fará  muito  servico  ao  papa,  e  mostrará  que  estima 
a  nova,  e  quem  sua  santidade  estima ;  e  eu  a  vossa  mercé  deverey  todo, 
cujas  raaos  beijo  *. 

De  Roma  aos  xviii  dias  de  novembro  1323. 

A  seruico  de  vossa  mercé. — Dom  miguell  da  sylua  '. 


Carta  de  D.  Miguel  da  Silva  a  el-Rei. 


1523 — IVoirembro  18. 


Senhor.  —  Neste  ponto  que  somos  a  xviii  dias  de  nouembro,  á  huma 
hora  da  noyte,  he  adorado  por  papa  de  todollos  cardeaes  o  R.""**  e  llus- 
trisimo  cardeal  de  mediéis.  Em  amanhecendo  será  pubricada  ao  povo  e 
se  faram  todallas  outras  solenidades.  Da  pesoa  sua  e  grandeza,  e  do  que 
se  deve  esperar  desta  santa  eleicao,  creo  que  seja  vosa  alteza  asaz  bem 
Informado  pola  fama :  este  he  o  raais  prudente  e  o  mais  justicoso  ho- 
niem,  que  de  dozentos  annos  a  esta  parte  se  vio  asentado  nesta  cadeira  * 
de  sam  pedro.  Oje,  dia  da  dedicacao  de  sua  igreja,  cumprem  quarenla 
e  nove  dias  que  entrarao  em  conclaui,  elle  com  dezaseis  cardeais  seus 
amigos  ditirminados  de  o  nam  desempararem  em  nenhuum  tempo,  e  vinte 
e  tres  cardeais  com  a  mesma  ditirminacao  contra  elle :  aprouve  a  noso 
senhor  que  a  muita  constancia  dos  dezaseis,  e  a  muita  prudencia  com 
que  os  elle  governava,  venceo  a  dureza  e  multidao  dos  contrairos.  E  o 

1  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  30,  Doc.  59.  O  documento  n.°  63  do 
mesmo  mapo  é  outra  via  d'esta  carta,  com  as  variantes  seguintes: 

*  o  bem  da  cristindade  e  da  igreja 
^  nada  vos  custava 

'  a  diante 

*  beijo  cem  mil  vezes 

TOMO  II.  23 


178  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

cardeal  columna  foy  ho  primeiro  que  por  bem  da  cristindade  e  dos  lem- 
pos ^  présenles,  e  servico  do  emperador  voso  irmao,  dilirminou  de  o 
ajudar,  e,  esquecendo-se  da  contrariedade  que  Ihe  fez  na  eleicao  d  adria- 
no,  se  Reconciliou  com  elle  e  llou  de  maneira  que  seguio  esle  sanio  ef- 
feito ;  porque  '  a  aulorldade  de  coluna  levou  tras  sy  lanía  parle  dos  imi- 
gos  de  mediéis  que,  vendo  os  outros  que  abaslavao  com  os  xvi  a  fazello 
papa  sera  elles,  por  mais  honra  da  eleicao,  e  porque  cada  huum  quis  ler 
parle  nella,  se  concerlarao  todos,  e  neste  ponto  como  digo  acabao  de  o 
eleger  papa  ^  e  adorar.  Chama  se  clemente  séptimo,  e  de  seu  nome  deu 
logo  lestimunho,  que  perdoou  ao  cardeal  de  Vulterra,  seu  lam  grande 
imigo  e  que  tantas  vezes  procurou  contra  sua  pessoa  e  vida  ^ ;  e  nam 
soomente  a  elle  mas  a  lodos  seus  párenles  e  casa  Resliluiu  beens  que  li- 
nham  perdidos,  que  passao  de  cento  e  cinquoenla  mil  ducados.  Se  por 
alguuma  nova  ou  pode  "  pidir  alvisaras  a  seu  Rey,  por  esta  as  poso  eu 
pidir  a  vosa  alteza,  e  maiores  que  se  Ihe  mandase  novas  d  acrecentamento 
de  duas  cidades  em  seu  Reino,  porque,  '  aallem  de  esle  papa  ser  aquella 
pesoa  que  mais  agora  compria  haa  cristindade,  é  o  que  mais  amou  el- 
Rey  voso  pay^que  deus  lem,  e  mais  ama  vosa  alteza.  Se  nam  fosem  es- 
tas cousas  tara  ^  pubricas  como  sao,  eu  seria  mui  suspeito  em  fallar  nel- 
las  pollo  que  o  lenho  servido  sendo  cardeal,  e  o  amor  que  me  mostra, 
e  o  que  em  sua  eleicao,  por  ver  quanto  niso  servia  a  deus  e  a  vossa  al- 
teza, lenho  feito ;  mas  prazerá  a  noso  senhor  que,  asi  como  ludo  isto 
he  verdade,  asi  se  alegrará  vossa  alteza  com  este  tamanho  bem  do  mundo. 
E  o  servico,  que  ao  papa  eu  lenho  feito  sendo  cardeal  e  nesta  sua  santa 
eleicao,  nam  será  menos  aceito  a  vossa  alteza  que  a  sua  santidade,  nem 
menos  Remunerado  de  huuma  parte  que  da  oulra;  e  asi  peco  por  merce 
a  vossa  alteza  que,  pois  Ihe  mando  esta  nova  que  tanto  compre  a  seus 
Reinos  e  a  bem  de  todo  '  seu  servico,  que  o  que  eu  por  outros  muitos 
íeilos  a  el  Rey  seu  pay  que  deus  lem  e  a  vossa  alteza  Ihe  mereco,  pera 
que  juntamente  fazendo  me  a  mim  merce  mostré  ao  papa  ho  prazer  que 
ouue  de  sua  eleicao,  como  por  alvisaras,  se  queira  lembrar  de  mim;  e 
prazerá  a  noso  senhor  que  os  servicos  que  eu  nesta  corte  com  sua  san- 
lidade  farey  a  vossa  alteza  Ihe  merecerao  nam  soomente  a  merce  que  me 
fizer  agora,  mas  '"  ainda  oulras  ao  dianle  maiores.  Por  esta  nova  ser  tam 
grande,  e  ser  bem  que  vossa  alteza  a  saiba  o  mais  cedo  que  seja  posy- 
vel,  nam  direy  nesta  mais,  senam  que  neste  raesmo  lempo  "  ay  aquí 


P.ELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  179 

novas  que  o  exercito  de  franceses,  que  eslava  sobre  millao,  como  per 
outras  muitas  escreui  a  vossa  alteza,  he  alevantado,  asi  como  pola  ^^  muita 
necesidade  de  viloalhas  em  que  eslava,  como  por  ser  chamado  del  Rey 
de  franca  pera  acudir  aas  cousas  do  duque  de  borbom,  as  quais,  sendo 
mal  de  casa,  o  fazem  esquecer  ^  das  guerras  de  fora.  A  genle  do  em- 
perador e  do  duque  e  da  igreja  e  de  venecianos  se  tem  por  certo  que  Ihe 
irao  ^*  no  alcanco,  nem  se  eré  que  posam  sair  de  Itallia  franceses  lodos 
inteiros.  Esta  viloria  com  a  eleicao  de  papa  clemenle  pode  creer  vosa 
alteza  que  mete  o  cravo  aa  fortuna  do  emperador  voso  irmao  e  asegura 
as  cousas  ^^  pera  longos  dias.  Beijo  as  maos  a  vossa  alteza,  cuja  vida 
e  Real  eslado  noso  senhor  guarde  e  acrecenté  como  deseja  *^ 

De  Roma  aos  xviii  dias  de  novembro  1523.  — Dom  miguell  da 
sylua  '. 


í  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  30,  Doc.  62.  O  documento  n.°  64  do 
mesmo  mafo  é  a  segunda  via  d'esta  carta,  e  tem  as  seguintes  variantes: 

*  na  cadeira 

2  cristindade  e  necesidade  que  via  dos  tempos 
^  e  porque  * 

*  de  o  elleger  por  papa 

^  contra  sua  honra  pesoa  e  vida 

**  se  deve  ou  pode 

■^  de  duas  grandes  cidades,  porque 

^  estas  cousas  todas  tam 

^  tanto  compre  a  bem  de  seus  Reinos  e  a  todo 
*°  nam  soomente  a  que  me  agora  fizer  mas 
1*  mesmo  ponto 
'2  asi  pola 

^^  fazem  com  Rezáo  esquecer 
**  irá 

*^  suas  cousas 
^^  como  por  elle  he  desejado 

23* 


180  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGÜEZ 


Carta  de  D.  Miguel  da  Silva  a  el-Rel. 


15S3 — IVovembro  18. 


Senhor.  —  Despois  de  aver  duas  horas  que  tinlia  despachado  o  cor- 
reo, que  leva  a  nova  desta  santa  eleicao  do  papa  clemente  séptimo  em 
pesoa  do  R.™°  cardeal  de  mediéis,  me  mandou  sua  santidade  chamar ; 
e  porque  o  conclaui  nam  se  pode  abrir  senam  pola  manham,  despois  de 
ser  feita  a  pubricacao  ao  pouo,  me  mandou  meter  por  huuma  muy  pe- 
quena  Janelinha  por  onde  se  dá  de  comer,  e  esta  vez  ouue  por  mui  grande 
dita  ser  tam  pequeño  como  sou  pera  milhor  poder  Receber  este  tamanho 
favor,  que  me  sua  santidade  fez,  o  qual  ey  que  he  polo  fazer  ao  lugar 
que  tenho  de  vosa  alteza  que  a  mim  fsicj,  e  nam  se  fez  a  outra  ninhuuma 
pesoa,  e  por  iso  he  bem  que  o  saiba  por  saber  que  tem  mais  causa  de 
se  alegrar  por  esta  eleicao  que  por  outra  ninhuuma  neste  tempo  se  po- 
dera  fazer,  e  do  grande  amor  que  o  papa  sendo  cardeal  tinha  a  el  Rey 
voso  padre  que  deus  tem,  e  do  que  agora  de  Rezao  terá  a  vossa  alteza, 
deve  esperar  que,  asi  como  nam  Ihe  ha  de  Requerer  nenhuuma  cousa 
que  nam  seja  Justa,  que  asi  nenhuuma  justa  sua  santidade  Ihe  negará. 
No  ponto  que  entrey  no  conclaui  fui  beijar  ho  pee  a  sua  santidade,  o  que 
nam  consintió  nem  a  mim  nem  a  ninhuuma  outra  pesoa  ate  este  ponto, 
que  sam  tres  horas  ante  manhaam,  nem  me  parece  que  ho  consentirá  ate 
que  nam  seja  vestido  como  papa,  que  ainda  está  em  habito  de  cardeal, 
nem  tem  outra  deferenca  salvo  que  nam  tira  o  barrete  a  ninguem.  Da  ma- 
neira  era  que  pasou  esta  sua  eleicao,  porque  na  outra  nam  tiue  tempo  de 
o  fazer,  darey  nesla  parlicolar  conta.  Despois  que  o  cardeal  coluna  se  des- 
cobrio  em  favor  de  mediéis,  e  com  elle  tantos  cardeaes  que  abaslavao  a 
fazello  papa  com  seus  xvi  votos,  porque  a  cousa  se  fizesse  com  mais  au- 
toridade  e  vniao,  se  fez  toda  diligencia  por  ganhar  os  que  ficavao,  e  avendo 
em  alguuns  dificuldade  se  fez  huuma  congregacao  de  xxiii  cardeaes,  em 
que  nam  entrou  ninhuum  dos  dezaseis  da  banda  de  mediéis.  Nesta  con- 
gregacao falou  coluna  ho  primeiro  mostrando  a  necesidade  da  igreja  e 
dos  tempos  presentes,  e  quanto  compria  ao  mundo  ser  mediéis  papa ;  pi- 


RELAGOES  COM  a  curia  romana  181 

dindo  Ihes  a  todos  que,  pois  a  cousa  era  tanto  avante  que  sem  muitos 
delles  se  podía  fazer,  que  nam  quisesem  dar  causa  a  poder  parecer  ao 
mundo  que  em  cousa  tam  santa  paixóes  particolares  faziao  discordia  em 
huum  tal  colegio,  e  que  todos  deviao  juntamente  alevantar  se  a  ir  bus- 
car ho  cardeal  de  mediéis  e  alevantallo  por  papa.  Avendo  sobre  isto  al- 
guum  debate,  e  nam  podendo  a  parle  francesa  acabar  comsiguo  isto,  ho 
cardeal  columna  se  alevantou  e  dise :  quem  quer  a  salvacao  da  see  ap- 
poslolica  e  bem  da  cristandade  sigua  me.  Alevantarao  se  tras  elle  tantos 
cardeais  que  nam  ouue  quem  mais  ousase  de  fazer  Resistencia,  e  asi 
mandarao  logo  seis  que  Iho  fosem  fazer  saber  que  elles  o  queriao  por 
papa,  e  o  trouxesem  haa  capelia  pera  Ihe  darem  hobediencia.  Estes  seis 
acharao  o  cardeal  em  huuma  salla  do  conclaui  acompanhado  dos  seus  xv 
cardeais,  que  esperava  a  Resolucao  dos  xxiii,  e  dando  Ihe  a  nova  o  to- 
marao  antre  si  e  o  levarao  a  huuma  capella,  que  se  chama  a  capelia  de 
nicolla,  e  aqui  juntamente  todo  ho  colegio  por  via  do  esprito  santo,  que 
asi  se  chama  este  modo  d  eleger,  ho  fizerao  papa  e  Ihe  derao  hobedien- 
cia, e  ho  asentarao  na  cadeira,  e  Ihe  fizerao  asinar  os  capitolos  do  con- 
claui, e  forao  chamados  os  meslres  das  cirimonias  e  notairos,  e  se  fez 
solenemente  o  Instromenlo  da  eleicao,  Reservando  a  pubricacao,  por  ser 
tam  tarde,  pera  a  manhaa.  Despois  disto  o  acompanharao  juntamente  ate 
sua  cámara,  onde  o  achey  quando  entrey,  e  onde  está  asinando  multas 
supricacoes  e  acompantiado  de  muitos  cardeais,  posto  que  o  lugar  he  tam 
estreito  que  cabem  nelle  mui  pouquos ;  e  eu,  por  ver  se  esta  poderá  al- 
cancar  ainda  o  correo,  eslou  escrevendo  de  tras  das  corlinas  de  sua  cama, 
e  nom  tenho  que  mais  dizer  por  agora  nem  ha  tempo  pera  mais.  Beijo 
as  maos  de  vossa  alteza,  cuja  vida  e  Real  estado  noso  senhor  guarde  e 
acrecenté  como  deseja. 

De  Roma  aos  xvín  días  de  novembro,  tres  horas  ante  manhaa,de  1523. 
—  Dom  miguel  da  sylua  '. 


^  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  1,  Mac.  30,  Doc.  62  bis. 


182  CORPO  DIPLOMÁTICO  POUTIJGUEZ 

Oeispachois  para  D.  llig^ucl  da  fiilva. 

1583  — ^Vovembro  (I)  SI. 


Dora  Miguel  amigo  nos  el  Rey  vos  emviamos  muylo  saudar.  lee- 
mos ávidas  carias  vosas  de  dous  de  marco  desle  anno,  e  de  xv  e  xvi  e 
de  XXI  do  dito  mes,  e  de  xxvii  e  xxviii  d  abril,  e  de  xxv  de  maio,  e 
de  dez  dias  de  Julho,  e  a  todas  vos  fazemos  por  esta  reposta.  E  quanto 
ás  primeiras  de  dous  de  marco,  ñas  quaees  nos  dizyes  que  nos  emvya- 
veys  d  hy  a  x  dias  as  bulas  de  lixboa  e  d  euora  e  de  samta  cruz  e  de 
sam  jorge  e  lafoes,  e  a  bulla  d  amenistracao  do  meslrado,  e  que  na  do 
bispado  de  viseu  e  priorado  se  farya  como  fosemos  seruido,  nom  he  a 
yslo  necesaria  resposla,  porque  a  faremos  á  carta  com  que  Recebemos  o 
que  das  ditas  cousas  nos  temdes  emviado.  E  do  que  por  esta  carta  nos 
fezestes  saber  da  perdicam  de  rodes,  nam  poderamos  ouuyr  cousa  de  que 
mayor  nojo  e  senlymenlo  Receberamos :  noso  senhor,  que  asy  o  ouue  por 
seu  seruico,  o  tornará  em  prazer  aqueles  que  tamta  rezam  tem  de  o  sen- 
tyr,  e  se  lembrará  da  sua  Religiam  christam,  e  dará  caminho  aos  que 
lem  obrigacara  de  por  ella  olharera  e  acodirem,  porque  o  siruam  asy  como 
ante  elle  e  ante  o  mundo  sam  obrigados,  e  poherá  sua  maao  na  paz  dos 
chrislaos,  pera  que  com  ella  acerqua  da  sua  fee  o  posamos  todos  seruir 
como  somos  obrigados.  E  ao  breue  que  sobre  esta  materya  da  perdicam 
de  rodes  o  santo  padre  nos  emviou  Ihe  respomdemos  como  veres  pelo 
trellado  delle,  que  vos  emviamos,  e  conforme  a  yso  Ihe  dirés  de  nosa 
parte  o  que  mais  vos  parecer,  porque  pera  vos,  que  lam  bem  e  com  tanto 
noso  seruico  o  avees  de  saber  fazer,  escusamos  mais  vos  dizer. 

E  acerqua  do  dinheiro  de  dez  ate  quinze  mil  cruzados,  que  nos  spre- 
uyes  que  vos  parecerá  que  deuiamos  mandar  ao  papa  pera  ajuda  do  que 
elle  querya  mandar  a  vmgria,  e  tambera  armada  que  querya  fazer,  e  asy 
mesmo  porque  vos  parece  que  aproueylarya  muyto  ao  despacho  das  cou- 
sas que  ainda  estauam  por  expidir,  gradecemos  vos  muito  a  lembranca 
que  diso  nos  fazees.  E  se  pella  veemlura  nos  parecerá  que  esta  nosa  ajuda 
e  seruico  ao  santo  padre  fora  tam  soficienle,  que  com  ella  se  podera  dar 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  183 

alguum  remedio  ao  perdido  e  á  esperanca  que  se  tem  dos  oulros  males 
mayores,  folgaramos  de  com  muy  boa  vontade  o  fazer ;  mas,  veemdo  que 
he  lam  pouco,  e  que  pode  em  lam  pouco  aproueytar,  e  nam  sabendo  o  que 
o  sanio  padre  faz  em  cousas  sobre  que  sua  sanlidade  tanto  e  com  tam 
grande  presa  deuya  prouer,  como  creemos  que  terá  feito,  e  com  quanta 
posybiiidade  nele  fose,  nem  tambem  o  que  fazem  os  oulros  principes 
chrislaos,  que  por  obrigacam  gerall  e  pella  especial,  pello  muito  que  Ihe 
toca  fsicj,  nam  nos  pareceo  que  era  bera  nem  noso  seruico  agora  acerqua  diso 
fazer  o  que  nos  spreués.  E  pera  vermos  o  que  será  seruico  de  déos  e 
noso  que  facamos,  yos  encomendamos  muylo  que  nos  sprevaes  mui  de- 
craradamente  o  que  ho  papa  proué,  asy  acerqua  da  perdicam  de  rodes,^ 
como  da  de  vngrya,  e  o  que  fazem  acerqua  d  ambas  estas  cousas  os  ou- 
lros principes  christíios  a  que  sua  sanlidade  deue  ter  requerido,  e  espy- 
cialmenle  aos  que  sam  mais  \ezinhos  da  necesidade,  e  que  todas  oulras 
cousas  deuyam  pospoer  por  a  estas  acodir,  de  que  tam  vnyuersall  daño 
se  deue  com  rezam  esperar,  e  mais  de  tam  duro  imigo,  e  que  da  vyto- 
ria  se  am  tanto  aproveilar  como  parece  por  suas  obras,  porque  com  sa- 
bermos  yslo  posamos  milhor  acertar  no  que  deuemos  fazer,  que,  como  sa- 
bes, todos  os  dias  nam  nos  falcce  despesa  contynua  na  guerra  dos  mou- 
ros  em  tantas  cidades  e  \iilas  como  leemos  em  áfrica,  e  ainda  agora  ñora 
pasa  de  huum  mes  el  Rey  de  feez  em  pesoa  \eeo  corer  aos  lugares  d  alem 
daquela  parle  do  estreyto,  e  em  arzilia  se  perdeo  o  capilam  que  nela  es- 
taña em  lugar  do  comde  dom  Joam  coulinho,  que  era  \ymdo  a  nosa  corle, 
e  com  elle  bem  cento  de  caualo,  que  fez  ficar  aquela  villa  com  muy  grande 
Risquo,  e  a  mandamos  socorer  com  muy  grande  despesa  de  gente  e  man- 
limentos  e  arlelharias,  que  allem  da  muyta  que  lem  he  aimda  necesaria 
pera  o  poder  de  lamanho  rey  como  he  ho  de  fez :  do  que  \os  encomen- 
damos e  mandamos  que  dees  conta  a  sua  sanlidade  pera  que  saiba  que 
coutynuadamente  temos  muitos  rodes  sobre  que  acodir,  e  que  dam  causa, 
allem  das  despesas  hordenadas,  a  oulras  exlraordinaryas  de  muy  gran- 
des somas  pera  segurar  aqueles  lugares,  que  quasy  sam  muro  e  defen- 
sam  de  toda  costa  d  andaluzia,  alem  das  armadas  que  sempre  em  vida 
delRey  meu  senhor  e  padre,  que  sania  glorya  aja,  se  faziam,  e  tambem 
nos  mandamos  fazer  pera  a  guarda  do  eslreyto,  em  que  andam  muy  gran- 
des armadas  dos  mouros,  e  que  cada  dia  na  cosía  de  caslella  fazem  muy 
grandes  catyueiros,  que  agora  juntamente  leuaram  pasante  de  trezerntas» 


184  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

almas,  afora  os  estragos  e  roubos  que  mais  fezeram.  E  de  ludo  yslo  fol- 
garemos  que  dees  conta  a  sua  sanlidade. 

ítem.  A  bulla  d  adminislracam  do  meslrado  de  chrislos,  e  as  bullas 
de  sam  Jorge  e  de  sam  Chrislouam  de  lafóes,  Recebemos  com  a  caria 
de  XV  de  marco  e  vollas  gradecemos  muylo.  E  porque  nesla  caria  di- 
zeis  que  nos  avees  de  emviar  outra  bulla  do  meslrado  aselada  com  seello 
d  ouro,  nom  sabemos  qual  he  a  causa  desle  selo  d  ouro,  e  folgaramos 
de  nolla  spreuerdes,  e  se  ho  nom  lemdes  feilo  fazey  o ;  e  lambem  porque 
dizés  que  oulra  lall  graca  cuslou  ao  emperador  muylo,  e  do  que  cuslou 
ao  emperador  em  lempo  do  papa  león  o  papa  adryano  nos  quilou  as  ix 
parles,  ficando  porem  a  nos,  vista  a  grandeza  da  graca  e  a  necesydade 
da  igreja,  fazermos  o  que  nos  bem  parecer  de  nosa  vonlade  e  liberalida- 
de,  porque  ludo  se  leixa  a  nosa  vonlade.  Nos  esta  expldicam  d  amenls- 
Iracara  e  governanca  do  meslrado  avemos,  segundo  o  que  diso  temos  sa- 
bido, por  cousa  muylo  córenle  e  acoslumada  se  fazer,  e  que  lera  suas 
taixas  e  ditos  acoslumados  por  quanlas  vezes  já  asy  foy  feyla,  como  vos 
sabées ;  neem  veemos  cousa  porque  agora  mais  aja  de  custar,  nem  se 
leixar  a  nos  que  niso  facamos  mais  do  que  he  acoslumado,  e  que  sem- 
pre  se  pagou,  e  vos  sabees  que  temos  bula  desle  e  dos  oulros  mostrados 
pera  serem  de  nosos  padroados,  e  que  desle  se  ha  de  pagar  sementé  Ire- 
zenlos  ducados.  Pello  qual  vos  encomendamos  e  mandamos  que  nos  spre- 
vaes  que  graca  foy  a  que  ho  papa  león  fez  ao  emperador,  e  o  que  por 
ella  ouue,  e  de  quanla  soma  foy  as  ix  partes  que  dizés  que  agora  o  papa 
nos  quilou,  e  as  rezoes  e  causa  porque  nesla  expidicam  nos  dizés  que 
se  leixa  a  nosa  liberalidade  o  que  mais  ajamos  de  fazer,  porque  sem  sa- 
bermos  yslo  nom  poderyamos  niso  responder  uos  cousa  alguma,  e  folga- 
remos  que  com  os  primeiros  recados  nolo  spreuaes.  E  asy  mesmo  o  que 
he  ordenado  se  pagar  d  anlygamenle  d  amenislracam  e  gouernamca  desle 
meslrado,  que  lamias  vezes  se  fez,  e  o  que  na  expidicam  d  esta  agora 
despendesles  myudamenle,  porque  o  queremos  ver.  E  lambem  folgare- 
mos  que  nos  sprevaes  raiudamenle  o  que  se  despemdeo  ordinariamente,  e 
em  qualquer  oulra  cousa  que  extraordinaria  fose,  ñas  bullas  do  arcebis- 
pado  de  lixboa  e  bispado  d  evora  e  priorado  de  santa  cruz,  e  moesleiro 
de  llafoes  e  de  sam  Jorje,  do  dinheiro  que  pera  estas  cousas  vos  era  em- 
viado  por  letras  em  vida  del  Rey  meu  senhor  e  padre,  que  santa  glorya 
aja,  e  nos  despois  vos  emviámos ;  e  se  destas  letras  ou  d  oulras  d  amles 


RELACOES  COM  A  CUHIA  ROMANA  185 

lemdes  aimda  allgiuini  dinheiro,  e  o  que  vos  falece  pera  comprymento 
de  todas  estas  expidicoes,  se  allguum  vos  falecer ;  e  tambem  o  que  se 
mais  averá  mesler  ordinaryamente  pera  o  que  aimda  esliuer  por  despa- 
char das  cousas  que  nam  sam  aimda  acaioadas. 

ítem.  Quanlo  á  licenca  pera  vosa  vynda,  que  por  esta  carta  nos 
pedüs,  porque  por  outras  tambem  nolla  pediis  vos  responderemos  por  ou- 
tra  carta.  E  de  vosos  seruicos  pasados  nos  temos  inleira  enformacam  e 
sabemos  que  íorom  sempre  muy  boos,  e  de  tam  fiel  e  boom  seruidor  como 
vos  soes,  e  sempre  diso  aveemos  de  ter  tall  lembranca  como  he  rezam,  e 
asy  de  lerdes  tamto  crédito  e  autoridade  como  por  noso  seruico  e  por  vosa 
pesoa  deués  ter,  nem  aveemos  de  folgar  que  em  outra  maneira  nos  sirvaaes. 

As  pesoas  que  nos  dizés  que  achaes  nosos  seruidores  spreuemos 
asy  como  vos  parece  que  ho  deuemos  fazer,  e  alem  de  nosas  cartas  vos 
day  nosos  gradecimentos  com  todas  booas  palauras  e  asy  como  confiamos 
que  ho  saberes  fazer.  ' 

A  peynlura  de  rodes  que  nos  emviastes  folgámos  de  ver,  mas  foy 
causa  de  recebermos  mayor  senlymento  da  perda  delle. 

Na  outra  carta  de  xvi  de  marco  nos  dizés  a  conformidade  do  papa 
com  ho  emperador,  e  folgámos  de  asy  o  fazerdes :  prazerá  a  noso  senhor 
que  será  pera  muito  seu  seruico  e  tamto  bem  da  religiam  christam  como 
ella  ha  mester.  E  aos  breues  que  vieram  do  caso  de  rodes,  asy  do  papa 
como  do  sagrado  colegio,  réspondeemos  como  atrás  fica  dito,  e  tambem 
responde  o  eardeall  meu  irmao. 

O  trelado  da  bulla  das  dizimas,  que  com  esta  carta  veyo,  vos  gra- 
decemos. 

Quanto  ao  da  obediencia,  sobre  que  nesta  carta  e  em  outra  nos  to- 
caes,  vimos  todo  o  que  niso  dizés,  e  como  nom  era  ainda  dada  de  ne- 
nhuum  rey,  e  por  yso,  e  porque  os  lempos  estam  da  maneira  que  vedes, 
nom  vos  respondemos  agora  sobre  o  que  fareemos.  Esperamos  em  noso 
senhor  que  dará  lugar  pera  ho  fazermos  asy  bem  como  desejamos,  e  como 
he  o  muy  syngular  amor  que  temos  a  sua  santidade,  allem  da  obriga- 
cam  geral ;  nem  eremos  que  por  yso  sua  santidade  leixe  de  fazer  em 
nosas  cousas  o  que  deue  e  nos  de  sua  santidade  esperamos,  que  sem- 
pre Ihe  aveemos  de  ser  filho  tam  obediente  como  foram  os  Reis  nosos 
antecesores  e  nos  Ihe  desejamos  ser. 

Acerqua  da  demanda  d  acursyo  gradecemos  vos  todo  o  que  acerqua 

TOMO  II.  21 


186  GORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

diso  nos  dizees ;  e  em  cousa  que  tem  o  cardeall  meu  Irmaao,  e  por  tam 
justo  lilollo  como  vos  sabees,  nom  creemos  que  ho  papa  faca  cousa  em 
seu  prejuizo,  nem  de  que  se  sygua  Recebermos  nos  desconlenlamenlo. 
E  omde  vos  eslaaes,  que  pellas  cousas  de  noso  seruico  avee's  d  olhar 
com  lam  boom  cuidado  como  sempre  fazos,  nom  he  necesario  vos  dizer- 
mos  mais,  senom  que  olhees  e  facaes  o  que  niso  cumpre  a  noso  seruico. 

Os  Irelados  em  Raso  da  bulla  do  meslrado  e  de  lafoes  e  de  sam 
jorge  vos  gradecemos,  e  asy  o  natural  do  papa  que  nos  emviastes.  E 
com  esta  meesma  carta  vieram  oulras  taes  cartas  como  as  que  nos  eram 
vymdas  d  outra  via :  prouymento  he  com  que  nos  prouue  e  que  sempre 
se  deue  fazer,  em  espicial  quamdo  os  caminhos  eslam  tam  pouco  certos 
e  seguros  como  agora  eslam. 

A  carta  de  sanlyquatro,  que  veo  com  esta  via,  respondemos  pella 
carta  que  com  esta  vay,  a  qual  Ihe  darees;  e  allem  della  Ihe  dizee  de 
nosa  parte  que  pollo  amor  que  sabemos  que  el  Rey  meu  senhor  e  padre, 
que  samta  glorya  aja,  Ihe  tynha,  sempre  o  asy  o  achara  em  nos,  e  toda 
booa  vontade  pera  o  que  comprir  a  elle  e  a  suas  cousas.  E  folgaremos 
que  nos  sprevaaes  o  crédito  e  autoridade  em  que  elle  estaa  com  o  papa. 

Em  outra  carta  de  xxv  dias  de  maio  nos  dizees  que,  por  causa  de 
nam  serem  os  caminhos  e  pasagem  seguros,  nos  nom  emviaueys  as  pro- 
prias  bulas  de  lixboa  e  evora  e  samta  cruz,  e  nos  emviaueys  os  trellados 
autenticados  pera  por  elles  se  poder  tomar  a  pose  e  usar  de  toda  jurdi- 
cam,  asy  como  se  farya  pelas  propias:  e  pois  asy  vos  pareceo  mais  se- 
guro e  noso  seruico,  asy  o  aveemos  por  bem  ;  e  nos  as  Recebemos  asy 
autenticadas  como  noUas  emviastes. 

E  ao  que  nesta  carta  nos  dizós  sobre  ho  que  loca  a  rodes  fica  atrás 
nesta  carta  respondido,  por  omde  nom  he  necesario  acerqua  diso  mais 
vos  dizer.  E  ao  desta  carta  nom  convem  outra  reposta. 

Com  outra  carta  de  xxvii  d  abril  nos  emviastes  outra  via  de  todas 
as  cartas  que  ate  entam  nos  lynheys  spritas,  que  vos  gradecemos  muyto. 
E  nesta  nos  dizés  as  audiencias,  que  ho  santo  padre  vos  deu  sobre  os 
negocios,  c  seu  maao  prepósito  acerqua  da  expidicam  deles,  como  larga- 
mente nolo  aponlaaes;  e  que  no  arcebispado  de  lixboa  e  bispado  d  euo- 
ra,  por  serem  duas  ygrejas  catedraaes,  mostrara  desprazer  darem  se  a 
huuma  soo  pesoa,.  e  que  todauya,  por  ser  o  cardeall  meu  irmaao  e  por 
as  rezoes  que  nos  apomtaes,  foy  contente,  e  da  maneira  em  que  o  pe- 


HELACOESCOM  A  CURIA  ROMANA  187 

distes  por  nom  aver  embarace  d  aministradores,  e  como  ñas  bullas  vem 
decrarado.  E  cerlo  que  nos  parece  que  lynha  pouca  rezam  de  mostrar 
desprazer  em  cousa  tam  acostumada  e  corrente,  e  mais  semdo  pera  o 
cardeall  meu  irmao,  e  nos  as  a\eremos  d  amenistrar  e  gouernar  em  quanto 
elle  nom  leuer  ydade,  que  com  ajuda  de  noso  senhor  se  fará  tam  bem 
que  elle  seja  seruido  e  sua  santidade  descarregado ;  e  nom  esperauamos 
que  tam  pesadamente  ouuese  de  fazer  cousa  tam  acostumada,  e  que  se 
ha  milhor  de  fazer  por  nos,  até  o  cardeall  ser  em  ydade,  do  que  por  ou- 
trem,  que  nam  aneemos  de  ter  niso  outro  Respeyto  senam  seruir  a  Déos, 
e  as  perllacias  serem  asy  aproueytadas  que  nunca  em  outro  tempo  o  fo- 
sem  milhor. 

ítem.  Que  ho  priorado  de  santa  cruz  concederá  lyuremente  ao  yfante 
dom  amrique.  E  quanto  ao  bispado  de  viseu  por  nenhumas  rezoes  do 
mundo  nem  roguos  quis  comceder  ao  Ifante ;  nem  poem  outro  impidi- 
mento  senam  ho  da  idade,  que  dizés  que  diz  que  esta  he  huuma  das  cou- 
sas, que  prometeo  a  Déos  quando  soube  de  sua  enleicam.  E  que  por  de- 
radeiro,  quamdo  vistes  que  nam  auia  remedio,  Ihe  sopricastes  que,  pois 
nom  querya  dar  o  tilolo,  que  elle  meesmo  dése  o  conselho  como  se  avia 
de  fazer;  e  que  vos  respondeo  que  posesemos  o  bispado  naquella  pesoa 
que  mais  noso  seruico  fose,  a  qual  pagase  ao  Ifante  toda  aqueta  pemsam 
que  por  bem  teuesemos,  e  que  desta  maneira  o  proueyto  serya  o  mesmo 
e  sua  conciencia  ficarya  descarregada ;  e  que  compria  avisarmos  logo  da 
pesoa  e  da  maneira  em  que  se  ysto  avia  de  fazer,  porque  o  bispado  es- 
taa  ha  nosa  disposycam  esperando  por  nosa  reposta,  e  que  comprio  por- 
que o  cardeal  nom  podía  ficar  com  tres  perllacias,  e  ficando  compria  pa- 
gar anata  da  retencam  de  viseu,  que  ho  papa  decrarase  a  vacacam  fsic),  e 
anata,  que  sam  dous  mil  e  quatrocentos  cruzados,  ficase  deposytada  pera 
quando  se  espidirem  as  bullas,  a  qual  se  ouuera  de  pagar  duas  vezes  se 
o  papa  nom  fezera  esta  graca.  A  ysto  respondemos  que  vos  digaes  ao 
santo  padre  que  o  Ifante  meu  irmaao  nom  he  agora  de  menos  idade  da 
que  lynha  ho  cardeall  quamdo  foy  prouido  do  bispado  da  guarda  e  de 
viseu  e  d  alcobaca,  nem  tem  menos  merecimentos  agora  do  que  tynha 
em  vida  d  elRey  meu  senhor  e  padre,  que  samta  glorya  aja  ;  e  que  de 
menos  idade  se  concedeo  sempre  a  outros  muytos,  que  nam  eram  das 
calidades  que  he  meu  irmaao,  nem  aviam  de  ter  tall  amenistrador  e  go- 
uernador  qual  nos,  louuores  a  deus,  somos,  e  sobre  quem  sua  santidade 

2i* 


Iá8  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

bem  deuera  descansar  em  cousas  mayores,  ñas  quaes,  prazendo  a  deus, 
sempre  aveemos  de  fazer  como  elle  seja  seruido ;  e  que  cerlo  esperaua- 
mos  que  sua  sanlidade  leuese  de  nos  outro  milhor  conceilo  e  coníianca, 
e  nom  ler  pejo  em  cousa  em  que  com  rezam  o  nom  deuya  ler ;  e  que 
nom  podemos  crer  que  Isto  sua  sanlidade  o  mouese  sem  oulro  mouy- 
mento  que  Ihe  fose  feylo,  pois  lam  pouca  rezam  avia  pera  se  nos  negar 
cousa  tam  acostumada  e  córenle  de  fazer :  que  pedimos  por  merce  a  sua 
sanlidade  que  nom  queyra  nislo  comnosquo  fazer  nouydade,  e  nos  queyra 
conceder  nosa  sopricacam  pera  o  Ifanle  meu  irmaao,  em  que  yslo  e  em 
oulras  perlacias  mayores  cabem,  e  que,  em  quanlo  elle  nom  leuer  idade, 
nos  aveemos  por  elle  de  fazer  de  maneira  que  sua  sanlidade  faca  poneos 
provymenlos  com  que  seja  mais  descaregado,  e  que  asy  Iho  afyrmamos. 
E  quamdo  lodauya  ¡nsyslyse  no  que  lem  dilo,  que  nam  esperamos,  pois 
niso  lam  claramenle  nos  agrauarya,  emlam  fique  o  bispado  com  lio  car- 
deall  meu  irmao  asy  como  ho  tinha,  que  nam  he  ynconvenyemle  leer 
tres  perlacias  que  ham  de  ser  Regidas  e  gouernadas,  e  mais  he  seruico 
de  noso  senhor  do  que  he  huuma  em  muylas  pesoas  que  ha  pollo  mun- 
do, e  que  dyslo  seja  sua  sanlidade  muylo  cerlo,  e  pague  se  anala  e  ludo 
o  que  de  direilo  se  deuer  pagar.  E  marauilhámo  nos  de  vos  lerdes  lal 
modo  de  negociacam  em  ficar  renuciado  e  vago  o  bispado,  sem  terdes 
primeiro  seguro  o  que  nos  comprya  e  vos  mandamos  que  sopricaseys, 
pois  nom  se  corya  mais  Risquo  que  ho  dinheiro  da  anala,  ficando  lodas 
tres  perlacias  com  o  cardeal ;  e  encomendamos  vos  muylo  que  yslo  se 
faca  e  acabe  de  maneira  que  nos  nom  pareca  que  se  fez  yslo  com  oulra 
tencam  e  a  outro  fim :  e  dizemos  yslo  pelo  que  cá  de  vosa  parle  sobre 
este  bispado  nos  foy  requerido,  aimda  que  nam  creemos  que  faryes  nislo 
senom  ludo  o  que  deués  a  noso  seruico  e  á  confianca  que  de  vos  temos ; 
porem  ha  sem  rezam  e  agrauo  que  ho  santo  padre  nislo  nos  faz,  nos 
fará  pasar  a  cuidar  cousa  que  de  vos  nom  esperamos,  ca  de  vos  e  de 
vosos  seruicos  nos  lemos  e  avemos  sempre  de  ter  sempre  aquela  lem- 
branca  que  he  rezara,  e  como  de  quem  tem  seruido  a  el  Rey  meu  se- 
nhor e  padre,  que  santa  gloria  aja,  asy  bem  como  ho  lendes  feilo,  e  lem 
por  yso  muilo  merecimento  ante  nos.  E  muyto  vos  encomendamos  que  de 
qualquer  deslas  maneiras  se  acabe  e  nos  emviés  as  bullas,  aínda  que  mais 
nos  prazerya  se  acabar  no  Ifanle  meu  irmao  como  ho  lemos  sopricado. 
O  que  dizés  que  fez  o  secretario  baroso  na  prisam  do  coreo  que 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  Í89 

emviaramos  com  a  vagante  dos  moesleiros,  e  estromenlos  que  diso  nos 
emviastes,  vos  gradeceraos  muyto ;  e  nos  proueremos  niso  como  nos  pa- 
recer noso  seruico. 

E  quanlo  ao  espanto  que  dizees  que  lá  fez  quererraos  tam  pequeños 
beneficios  pera  meu  irmaao,  vimos  tudo  o  que  sobre  yso  nos  spreuees, 
e  quem  fóra  ca  presente  e  soubera  o  fundamento  de  nosa  sopricacam  nara 
Ihe  parecerá  tam  mal.  E  tambem  a  nos  nom  pareceo  bem  terdes  vos  nosa 
sopricacam  e  requerimento  dos  moesleiros  de  nosos  Reynos  que  tynha  el 
Rey  meu  senhor  e  padre,  que  samta  glorya  aja,  per^  noUo  conceder  o 
santo  padre  como  elle  ho  tynha,  e  com  declaracam  que  logo  vos  fizemos 
que  vagando  alguuns  no  meo  tempo  em  quanto  a  sopricacam  nom  fose 
expidida  ficasem  pera  serem  prouidos  a  nosa  apresentacam,  vos  vos  pro- 
uerdes  por  cima  disto  do  mosteiro  de  landym  sem  esperardes  por  noso 
recadOj  e  sobre  que  vos  linhamos  sprito  e  mandamos  que  o  coreo  pasase 
em  xn  dias,  a  que  nom  abasta  dizerdes  que  nam  leuestes  diso  aviso,  mas 
que  ho  santo  padre  vollo  emviou  a  casa  como  emviou  a  vagante  de  Fran- 
cisco Jusarte.  E  isto  poderá  muy  bem  ser,  mas  vos  nom  ho  deuereys  ace- 
ptar, nem  eremos  que  ho  santo  padre  voló  julgara  senom  a  muyta  ver- 
tude,  e  fora  aimda  causa  pera  mais  folgar  de  nos  conceder  nosa  sopri- 
cacam, veendo  uos  guardar  niso  o  que  deuees  a  nos  e  a  voso  louuor.  E 
de  tardar  tanto  a  expidicam  disto  estamos  descontente  porque  o  papa  nom 
deue  ter  respeito  a  outros  requerimentos  semelhanles,  que  Ihe  facam  ou- 
tros  reis  e  principes,  pois,  sem  nos  ser  feylo  por  sua  santidade  muy  grande 
agrauo,  nos  ñora  deue  negar  o  que  foy  concedido  a  el  Rey  meu  senhor 
e  padre,  e  vos  sabees  bem  como  estes  moesleiros  estauam  metidos  ñas 
comendas  e  como  tornaram  a  ficar.  E  muyto  vos  encomendamos  que  aper- 
tees  sua  santidade  que  nos  queyra  conceder  o  que  niso  ha  tantos  dias 
que  Ihe  sopricamos,  e  pera  que  elle  nos  pasou  breue  que  mandásemos 
tomar  a  pose  dos  que  vagasem  quamdo  a  elle  emviámos  ayres  de  sousa. 
ítem.  Os  breues  que  nos  emviastes  pera  mandarmos  colher  as  rem- 
das  das  perladas  de  meus  irmaos,  e  as  podermos  mandar  despender  como 
neles  he  contyudo,  vos  gradecemos  muyto.  E  a  esperanca  que  o  santo 
padre  tem  de  ñas  cousas  de  vmgrya,  e  ñas  outras  d  ytalya  em  que  ho 
turco  entender,  o  ajudarmos  como  he  rezam,  Respondemos  pello  que  vos 
dizemos  airas  no  capilolo  que  nesta  materya  falla  de  vermos  o  que  se 
faz  niso  por  elle  e  pelos  principes  christaos.  E  asy  vos  gradecemos  os 


190  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

breues  pera  o  resar  do  cardeall  e  do  Ifanle  dom  amrique.  E  a  cenia  de 
lodo  o  que  he  despeso  nestas  expidieses  de  lixboa,  euora,  santa  cruz, 
moesleiros  de  lafoes  e  sam  jorge,  e  meslrado,  e  todas  as  outras  cousas 
que  sam  expididas  e  nos  tendes  eni\iadas,  e  tambem  o  que  se  auerá  ines- 
ter  pera  viseu  e  priorado  do  cralo,  nos  emvyay  muyto  declaradamente 
pera  sabermos  o  que  mais  compre  emviarmos.  E  gradecemos  vos  muyto 
a  lembranca  que  nos  fazees  de  ajudarmos  ao  papa  pellos  respeilos  de  noso 
seruico  que  nos  aponlaaes,  e  principalmente  pela  expidicam  do  priorado 
do  crato,  e  por  bem  certo  avernos  que  o  fazés  com  aqueta  booa  vontade 
que  tendes  pera  em  tudo  sermos  inteyramente  seruido. 

Quanto  ao  negocio  do  priorado,  na  qual  dizees  que  ho  que  pasa  he 
que  ho  papa  nam  quis  prouer  nenhuma  pesoa,  nem  confirmar  a  louca 
prouisam  do  gram  meslre  com  que  saya  de  traués  em  pesoa  de  frey  gon- 
salo  pymenta,  despois  de  fer  perdido  rodes,  e  vos  promeleo  que  ho  prio- 
rado o  nom  darya  senom  a  quem  fosemos  seruido ;  porem  que  aportando 
vos  niso,  6  queremdo  delle  alguuma  mais  clareza  deste  prometymento, 
uay  descontando  a  cousa  á  lomga  e  se  defemde  com  esperar  cada  dia  o 
gram  mestre  em  Roma,  cujos  privilegios  diz  que  nom  confirmará  se  elle 
nom  for  contente  do  que  nos  formos  seruido ;  e  que  disto  parte  he  asy, 
e  parte  se  vee  claro  que  he  esperar  por  esta  graca  alguuma  ajuda  em 
suas  necesydades  o  que  nam  quer  dizer  senom  por  esta  vya ;  e  que  acer- 
qua  de  nom  tomar  o  Ifante  o  avito  nom  tendes  ainda  chegado  por  vos 
parecer  que  fará  deficuldade  na  materia  antes  de  ser  concedido,  e  que 
despois  tendes  por  certo  conceder  se,  e  que  no  outro  ponto  de  nam  no- 
mearmos  qual  de  nosos  Irmaos  queremos  que  seja  prouido  vos  parece 
que  nom  averá  remedio  e  que  compre  que  ho  nomeemos  e  declaremos 
logo,  porque  nom  se  ha  de  fazer  d  outra  maneira  :  Respomdemos  que 
nos  parece  que  vos  nom  temdes  lenbranca  do  que  o  santo  padre  nos  com- 
cedeo  estando  elle  em  caslella,  de  que  nos  deu  breue  de  que  vos  temos 
emviado  ho  Irellado  e  agora  vos  emviamos  outro,  e  asy  do  trelado  da 
carta  que  spreveo  ao  gram  mestre  pela  qual  ouue  por  Reuogada  qual- 
quer  prouisam  que  o  gram  mestre  pasase,  e  mandou  que  nos  mandáse- 
mos tomar  a  posse  pella  santa  see  apostólica,  e  parece  nos  que  sua  san- 
lidade  nam  tornará  atrás  do  que  nos  tem  concedido ;  nem  ncsla  materya 
ficaua  mais  pera  fazer  que  comceder  sua  sanlidade  o  provymento  pera 
cada  huum  de  meus  irmaaos,  qual  nos  nomeasemos,  que  aimda  nollo  de- 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  191 

uya  gradecer  por  nos  ficar  lugar  pera  escolhernios  qual  mais  aulo  nos 
parecese  pera  seruir  a  noso  senhor  e  á  religiam  ;  c  nam  veemos  cousa 
por  que  sua  sanlidade  faca  tanta  deficuldade  eni  nosa  sopricacam  pera  cada 
huum  de  meus  irmaaos,  fazemdo  a  tam  pouca  o  gram  meslre  em  dar  o 
priorado  do  crato  em  nosos  rey  nos  a  frey  goncalo  pymenta,  e  no  tempo 
em  que  Iho  deu.  Pollo  qual  vos  encoraemdamos  e  mamdamos  que  com 
estas  rezoes,  e  com  quaesquer  oulras  que  vos  a  vos  bem  parecer,  tornes 
a  fallar  ao  santo  padre  e  Ihe  dizee  como  nos  avisastes  de  sua  Reposta,  e 
que  nos  marauilhámos  de  sua  santidade  ter  pejo  em  cousa  tara  Justa  como 
he  aver  de  dar  o  priorado  do  crato  em  nosos  reynos  a  cada  huum  de 
meus  irmaaos  que  nos  nomearmos :  que  Ihe  pidymos  muito  por  merce  que 
o  queyra  sua  santidade  fazer  lam  graciosamente  como  nos  esta  e  todas 
as  outras  merces  delle  esperamos,  e  que  ho  receberemos  em  muy  sym- 
gullar  mercó  e  asy  de  com  breuidade  o  querer  despachar,  porque  d  ou- 
1ra  maneira  nos  farya  muy  grande  agrauo  que  delle  nom  esperamos ;  e 
aquele  irmao  meu  que  nomearmos  ha  de  ser  em  encomenda,  como  \ollo 
temos  sprito :  e  a  vos  encomemdamos  muito  que  nam  dees  lugar  a  mais 
dilacam  e  que  ymsyslaes  nesta  expedicam  as^  beem  como  de  vos  con- 
fiamos, porque  bem  sabeemos  que  ha  d  aproveitar  muyto  \oso  boom  cui- 
dado e  dyligencia ;  e  folgaremos,  muyto  que  apresenteis  com  grande  Ins- 
tancia ao  santo  padre  tardar  sua  santidade  com  despacho  de  cousa  pera 
que  foy  enleyto  pello  meslre  de  rodes  frey  goncalo  pimenta,  requerendo 
nos  a  meesma  cousa  pera  cada  huum  dos  Ifantes  meus  irmáos,  a  que 
nom  deuem  contrariar  priuyiegios  da  Religiam  por  muy  fortes  que  fosem, 
e  em  tall  tempo  em  que  pera  ha  mesma  religiam  e  comservacam  della 
se  deuya  fazer  a  nos  mais  com  liberalidade  do  que  com  importunacam, 
nem  eremos  que  ha  o  gram  meslre  e  a  todos  os  caualeiros  da  ordem  pa- 
reca  agora  nem  nunca  oulra  cousa  millior. 

ítem.  Se  pella  \eentura  o  papa  se  nom  Resoluese  em  logo  satisfa- 
zer  a  nosa  sopricacam,  aveemos  por  bem  que  sem  embargo  disso  vos 
sempre  insystaes  no  requerimento,  e  o  nom  aíloxés  nem  leixés,  e  nos  fazé 
saber  o  que  vos  respondeo,  e  ho  em  que  ficou  pera  averdes  nosa  reposta 
do  que  nos  avisares  em  toda  diligencia.  E  asy  meesmo  se  ho  mestre  he 
já  nesa  corte,  e  da  maneira  em  que  foy  recebido  do  santo  padre,  e  a  conta 
que  daa  de  sy  na  perda  de  rodes.  E  tambera  se  os  principes  sara  reque- 
ridos pera  emviarem  a  entender  ñas  cousas  da  religiam,  asy  acerqua  do> 


ni  COUPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

ásenlo  (?)  della  e  lugar  omde  se  fará,  como  d  armadas  em  que  os  ca- 
ualeiros  da  religiam  andem  pelo  mar ;  e  no  que  o  emperador  insysle  acer- 
qua  diso,  e  asy  el  Rey  de  franca  e  d  yngraterra  e  os  oulros  principes, 
e  o  em  que  vos  parece  que  aseratará :  do  que  nos  avisarees  em  loda  di- 
ligencia, como  dizeemos,  porque  alee  aveermos  diso  este  voso  recado 
nom  nos  pareceo  que  deuyamos  emuiar  uos  procuracam  como  nos  spre- 
ués,  nem  outra  comisara  do  que  nislo  facaes,  fazendo  fundamento  que 
com  sabermos  ysto  que  vos  preguntamos  poderemos  milhor  mandar  uos 
o  que  facaes  por  noso  seruico.  E  rauyto  vos  gradecemos  voso  parecer 
que  nos  emviastes  sobre  esta  materya,  que  he  como  quem  sempre  tem 
tanto  cuidado  das  cousas  que  nos  tocam  e  que  sam  de  noso  seruico.  E 
porera  ueste  meo  lempo  sempre  vigiay  de  maneira  que  no  que  loca  ao 
priorado  nam  pase  nem  se  faca  cousa  que  seja  comtra  noso  seruico  e 
contentamento,  mostrando  como  de  vosso,  honde  e  como  vos  bem  pare- 
cer, que  nam  aveemos  de  consentyr  cousa  que  seja  apartada  do  que  leemos 
sopricado  a  sua  santidade,  e  que  com  lamia  rezam  se  nos  deve  conceder. 

Quanlo  á  conta  dos  dinhéiros,  que  lendes  Recebidos  e  despesos  des 
que  la  eslaaes,  que  dizées  que  tendes  em  vosos  liuros,  nos  vos  temos 
por  tall  que,  pois  tam  booa  conta  nos  daes  de  todas  nosas  cousas,  asy 
ho  farés  do  dinheiro  que  nellas  se  despemde,  e  que  asy  o  farés  que  seja 
aimda  causa  de  termos  de  vos  mayor  contentamento, 

A  todas  as  cousas  de  vosas  cartas  que  temos  ávidas  do  lempo  aquí 
decrarado  vos  fazemos  por  esta  reposta ;  e  aquetas  de  que  nos  pareceo 
que  nam  avia  necesidade  de  vos  responder  o  escusamos.  As  novas  vos 
gradecemos  muyto  ;  e  vos  encomendamos  muylo  que  todas  as  oulras  cou- 
sas, que  aimda  leuerdes  por  expidir  e  acabar,  as  especaes  e  acabees  asy 
bera  e  preslesmente  como  de  vos  confyamos ;  e  amlre  lodas  vos  lembra- 
mos  a  expidicam  dos  raoesleiros,  que  he  cousa  que  tanto  Releua  e  in- 
porla  a  noso  seruico. 

ítem.  Ho  breue  pera  contratar  com  os  mouros  nom  se  acha  ca ; 
pella  ventura  se  perderya :  manday  oulro  tal  por  maior  seguridade. 

ítem.  Á  cerqua  do  caso  de  Ruy  de  meló  vos  gradecemos  muylo  o 
que  sobre  yso  nos  dizés,  e  nos  parece  muy  bem  o  que  agora  nos  dizés 
que  querés  fazer  e  requerer  que  se  torne  a  ouuyr  de  juslica  Ruy  de 
meló,  aleuanlando  se  porem  o  amlredito  e  secrestando  se  as  reemdas  do 
mosleiro.  E  muylo  vos  encomemdamos  que  Irabalhees  de  asy  o  conclu- 


RELACOES  COM  a  curia  romana  193. 

dir  e  acabar,  e  nos  eraviees  diso  com  a  mayor  breuidade  que  poderdes 
a  prouisam,  porque  aquele  bispado  naní  eslee  asy  mais  lempo  a  causa 
de  Joham  ferram  fsicj.  E  muyto  vos  gradeceremos  de  o  trabaihardes 
quanto  posyuel  vos  for. 

Acerca  do  mao  ensyno  dos  portugueses,  e  da  auloridade  que  noso 
embaixador  deue  de  ter  pera  castigar  os  que  ñora  forem  aqueles  que  de- 
uem  ñas  cousas  de  noso  seruico,  e  que  tocarem  a  nosos  reynos,  a  nos 
nos  parece  que  asy  tic  rezam  ;  e  folgaremos  que  nos  sprevaaees  a  ma- 
neira  que  nosso  embaixador  deue  ler  com  os  taaes,  e  que  prouisam  Itie 
deuemos  dar  pera  vermos  sobre  yso  voso  parecer  e  vos  respondermos  o 
que  acerqua  diso  ouuermos  por  noso  seruico. 

Acerqua  do  que  dizés  que  vos  preguntou  o  papa  por  muylas  vézes 
de  como  eslauam  as  cousas  d  antre  nos  e  o  emperador  meu  primo,  como 
quem  deseja  que  estem  bem  ;  e  asy  meesmo  como  vos  preguntón  do  ha 
que  era  ido  Joam  da  sylueira  a  franca,  e  como  nom  teuestes  que  Ihe  res- 
ponder por  nam  saberdes  d  ambas  estas  cousas  nada,  lodo  o  que  sobre 
Isto  nos  lembraes  e  dizés  vos  gradecemos  muyto,  e  neslas  cousas  nom 
cuidauamos  que  se  podía  oferecer  seordes  preguntado  por  sua  sanlidade, 
a  quem  poderos  dizer  que  as  cousas  d  amtre  nos  e  o  emperador  eslam 
cora  tanto  amor  e  conformidade  como  deue  seer  amtre  lam  conjunto  di- 
uido  e  obrigacam  como  leemos,  e  que  da  nosa  parle  asy  esperamos  que 
seja  sempre  e  o  esperamos  da  sua,  e  que  de  lodo  boom  sobcedimento  de 
suas  cousas  nos  ha  sempre  muilo  de  prazer,  e  asy  o  esperamos  delie 
acerqua  das  nosas.  E  que  Joham  da  sylueira  temos  emviado  a  franca  a 
requerer  resliluycam  de  muylas  lomadias  que  os  armados  franceses  {sicj 
tem  feilas  em  nosos  naluraes  e  vassallos,  e  tambera  era  nosa  fazenda  de- 
pois  desta  guerra  d  amtre  castella  e  franca. 

Ao  duque  de  sasa  embaixador  do  enperador  spreuemos  gradecimen- 
los,  como  nos  spreuesles  que  ho  deuyamos  fazer,  e  alem  de  nosa  carta 
Ihe  dizee  todas  ouíras  boas  palauras  que  vos  bem  parecerem  da  booa 
vonlade  que  Ihe  leraos,  e  com  que  sempre  folgaremos  de  fazer  o  que  de 
nos  ihe  compryr. 

O  que  nos  lembraes  das  poses  das  comendas  da  ordem  de  Sam  Joam 
vos  gradecemos  muito. 

Acerqua  da  proteiloria  do  cardeal  de  medices  a  nos  nos  parece  que 
omde  vos  estaaes  se  pode  escusar.  Nos  Ihe  temos  amor  e  booa  vonlade, 

TOMO   11.  23 


194  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

como  sabemos  que  Iha  lynha  el  Rey  meu  senhor,  e  como  he  rezam  por 
sua  pesoa  e  muilos  merecimenlos,  e  nesa  corle  nom  fazemos  d  oulro  car- 
deall  maior  fundamento ;  e  asy  Iho  podees  dizer  e  o  vesy4ay  de  nosa  parle, 
e  dizé  Ihe  que  receberemos  delle  em  symgullar  prazer  nos  fazer  saber 
de  sua  saude  e  disposysam,  que  sempre  folgaremos  ouuyr  que  he  muy 
booa  e  lall  como  elle  deseja. 

Á  bulla  que  nos  emviasles  do  samlo  padre,  pella  qual  poem  tregoas 
de  tres  annos  anlre  os  principes  chrislaos,  e  breue  que  sobre  yso  sua 
santidade  nos  spreueo,  respondemos  pella  carta  que  pera  sua  sanlidade 
vos  emviamos,  que  Ihe  dóreos,  e  de  que  com  esta  vos  emviamos  o  tre- 
lado ;  e  segundo  ella  Ihe  direes  mais  de  nosa  parte  o  que  vos  bem  pare- 
cer porque  a  vos  ho  leixamos.  E  por  via  do  seu  nuncio,  que  estaa  na 
corte  do  emperador  meu  mullo  amado  e  precado  primo,  ouucmos  outra 
tal!  bulla  e  breve.  Sprita.... 

Dom  miguel  amigo  nos  el  Rey  vos  emviamos  muyto  saudar.  Vymos 
todas  vosas  carias  que  nos  temdes  spritas,  pellas  quaes  muy  aficadamenle 
nos  pediis  que  vos  deemos  licenca  pera  vosa  viimda  a  nos  seruir,  e  de 
tanto  desejo  como  nos  moslraes  pera  o  fazerdes  em  nosa  presenca  rece- 
bemos muyto  conlemlamento  e  asy  vollo  gradeccmos.  E  cerlo  que  vos 
nos  seruis  lá  tanto,  que  nom  sabeemos  parte  em  que  mais  ho  posaaes 
fazer,  e  mais  em  especial  nos  lempos  d  agora  em  que  se  podem  ofere- 
cer  cousas  em  que  muyto  nos  poderes  e  saberes  seruir,  e  milhor  do  que 
outrem,  asy  pelo  grande  conhecimento  que  tendes  desa  corle,  como  por 
vosa  pesoa,  crédito  e  autoridade  com  que  tanto  podes  aproucylar  ñas 
cousas  de  noso  seruico  como  sempre  fezestes.  Pero,  porque  per  lamias 
vias  e  tam  aperladamente  nos  pediis  esta  licenca,  nam  nos  pareceo  rezam 
mais  vola  dilatar,  postoque  pera  yso  ouuese  as  rezoes  que  dizeemos.  E 

por  tamto  aveemos  por  bem  que  tendo  vos didos  e  acabados  os 

negocios  que  locam  ao  bispado  de  viseu  e  ao  priorado  do  crato  e  aos 
mosteiros  de  nosos  reynos,  no  modo  era  que  ho  leemos  sopricado  e  a  vos 
sprito,  e  as  bullas  e  prouysoes  diso  ávidas  em  vosa  maao,  e  asy  todos  os 
outros  negocios  que  alegora  vos  leemos  emviados,  e  que  tenhaes  por  ex- 
pidir  e  acabar,  vos  veenhaes  em  booa  ora,  e  nos  Iragaes  ludo.  E  esta 
carta  pera  vosa  vymda  como  dizemos  poderes  mostrar  ao  samlo  padre, 
e  Ihe  pedimos  por  raerce  que  aja  por  bem  vosa  vymda  e  vos  lance  sua 


RELACOES  C03I  A  CURIA  ROMANA  195 

bemcam  com  que  bem  veenhaaes,  e  nos,  como  em  booa  ora  ca  fordes, 
hordenareinos  pesoa  que  nesa  corle  aja  de  Resydyr  naquele  modo  em 
que  vyrmos  que  compre  a  noso  seruico.  Sprita 

Dora  Miguel  amiguo  nos  el  Rey  vos  enviamos  muylo  saudar.  Por 
nosa  vymda  a  esta  villa  de  Ihomar  soubeemos  que  dom  prior  do  con- 
venio della,  que  he  cabeca  do  meslrado  de  noso  senhor  Jesu  chrislo  nom 
era  de  bago  e  mylra  ;  E  porque  he  beneficio  lam  omrrado  e  de  asaz 
remda,  e  o  primcipal!  da  ordem,  folgaryamos  de  seer  prouido  de  baguo 
e  mylra,  com  todas  as  perogatyuas,  gracas,  faculdadeS,  priuylegyos  de 
que  vsam  os  abades  beemlos  e  que  lem  mylras  e  baguos.  Porem  vos  en- 
comendamos e  mandamos  que  ho  sopr(iqués)  de  nosa  parte  ao  samlo  pa- 
dre, e  Ihe  dizee  que  Ihe  leremos  em  merce  nollo  conceder  e  outorgar 
asy  pera  este  dom  prior,  como  pera  todos  os  oulros  dom  priores  que 
pellos  lempos  ao  dianle  forem.  E  porem  saberes  primeiro  do  cusió  que 
se  fará,  e  nam  espidirés  a  bulla  nem  prouisam  sem  primeiro  nos  fazer- 
des  saber  o  cusió,  pera  sobre  yso  vos  mandarmos  o  que  ouuermos  por 
noso  seruico  que  facaes :  e  porem,  se  ale  duzemtos  cruzados  vollo  feze- 
rem,  espedy  a  bulla  diso,  nam  pasamdo  da  dita  conlia,  sem  nollo  fazer- 
des  saber. 

ítem.  El  Rey  meu  senhor  e  padre,  que  sania  glorya  aja,  linha  graca 
expidida  pello  cardeall  de  porlugall  vyue  vocis  oráculo  de  quando  pro- 
uese  alguma  pesoa  de  comcmda  ou  lenca  da  ordem  do  meslrado  de  noso 
senhor  Jesu  chrislo,  ou  d  alguuma  remda  da  dita  ordem,  Ihe  pódese  ti- 
rar lencas,  ora  fosem  da  mesma  ordem,  ora  de  qualquer  oulra  calidade 
que  fose,  moradias  e  casamentos,  sem  por  yso  encorer  em  cousa  de  que 
se  syguyse  careguo  de  conciencia  ;  E  porque  queremos  aver  a  mesma  gra- 
ca que  tynha  el  rey  meu  senhor,  que  he  como  ácima  dizemos,  vos  era- 
comendamos  muylo  que  ho  sopriqués  de  nosa  parle  ao  samlo  padre,  e. 
Ihe  dizee  que  Receberemos  em  symgullar  merce  nollo  conceder  e  man- 
dar diso  pasar  bulla,  ou  qualquer  oulra  provisam  que  abaste,  e  com  lo- 
das  as  clausuüas  que  sejam  necesarias,  e  asy  como  vos  viirdes  que  com- 
pre, e  gradecer  nos  emos  de  com  os  primeiros  despachos  nolla  emviardes, 

ede  viir  com  clausulla  que  ho  que  niso  leuermos sua  sanlidade  o 

aja  por  bem,  como  se  a  propria  graca  teñéramos,  e  nos  descarregue  de 
qualquer  obrygacam,  que  niso  posamos  ler  por  o  fazermds  sem  a  dita  graca. 

25* 


196  CORPO  DIPLOMÁTICO  POBTUGÜEZ 

ítem.  El  Rey  meu  senhor  e  padre,  que  sania  glorya  aja,  linha  bula 
per  que  Ihe  era  comcedido  e  outorgado  que  pódese  vnyr  e  ajuntar  ñas 
cidades  \ilas  e  lugares  de  seus  reynos  lodos  os  sprilaes,  que  nelles  ou- 
uese,  a  huum  soo,  pera  serem  milhor  prouidos  e  agasalhados  os  proues 
em  huum  soo  com  Remdas  de  lodos  junios ;  e  parecendo  Ihe  que  podía 
tambem  apropriar  as  Reñidas  d  allguuas  confraryas  e  de  vodos  que  fo- 
rara  ordenadas  pellas  devacoes  dos  homens,  e  asy  d  allguumas  capcellas 
ás  confraryas  das  misericordias,  que  elle  hordenou  em  lodo  o  reyno, 
como  sabees,  e  de  que  lanío  seruico  de  noso  senhor  se  segué,  e  em  que 
lanía  caridade  se  faz  acerqua  dos  viuos  e  dos  morios,  e  agora  se  acha 
que  o  nam  podía  fazer  por  verlude  da  dila  bula,  a  qual  soomenle  se  ex- 
temde  aos  sprilaes,  sopricay  de  nosa  parle  ao  sanio  padre  asoluicam  pera 
el  Rey  meu  senhor  do  que  níslo  fez,  pera  que  nom  tynha  auloridade  e 
prouísam  do  sanio  padre,  e  porem  que  fique  valioso  por  ser  cousa  de 
muyto  seruico  de  noso  senhor,  e  emviay  nos  a  prouísam  diso,  a  qual 
venha  asy  soficienle  e  abaslanle  e  com  lodas  as  clausullas  que  forem  ne- 
cesarias pera  huuma  cousa  e  pera  oulra bem  como  sabes  que  com- 

pr lall  caso  se  Requere.  Sprila 


PERA  o  BISPO  DE  TORTOSA . 

Reverendo  hispo  nos  dom  Joao  ele.  vos  emviamos  muylo  saudar. 
Dom  raiguel  da  sylua  do  noso  conselho  e  noso  embaixador  nos  spreueo 
com  quamla  booa  vontade  folgauees  de  fazer  as  cousas  de  noso  seruico, 
e  como  em  lodas  aproveylaueys  quamto  vos  era  posyuel.  E  de  asy  o  fa.... 
por  vosa  muyla  verlude,  pois  pera ha  oulra  obrígacam,  Re- 
cebemos muilo e  asy  voló  gradecemos  e  por  y vos  compriir 

e  a  vosas  cousas  a  em  nos  lamia  booa  vonlade  co e 

como  em  nos  acham  aqueles  que  folg nos  seruir  como  vos  o  fa- 

zees.  Sprila 

Oulra  tal  pera  o  hispo  de  asculy  audilor  da  cámara. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  197 


PER\  SANTYQUATOR. 

Reuerendissimo  yn  chrislo  padre  que  como  irmaao  muito  amamos, 
nos  dom  Joham  eic.  vos  emvyamos  muylo  saudar.  Por  vosas  cartas  sou- 
beemos  todas  booas  nouas  de  vosa  saude  e  booa  disposysam,  e  recebe- 
mos com  yso  tanto  prazer  como  he  o  muyto  amor  que  vos  temos,  e  es- 
peramos em  noso  senhor  que  sempre  laees  as  oucamos,  e  com  nenhuu- 
mas  oulras  poderemos  receber  mayor  contentamento.  Vosas  profertas  e 
oferecimentos  ysiymnmos  muyto,  como  he  rezam,  e  por  yso  pera  todo  o 
que  de  nos  vos  compryr  acharees  em  nos  aquella  booa  vontade,  que  me- 
recem  vosas  grandes  vertudes  e  merecimenlos.  E  de  nosas  cousas  nam 
aveemos  por  necesario  vos  fazer  nova  recomendacam,  porque  avemos  por 
certo  que  no  que  se  oferecer  avees  de  folgar  de  fazer  o  que  sempre  fe- 
zesles  ñas  del  Rey  meu  senhor  e  padre,  que  samta  glorya,  e  asy  nos 
spreue  dom  migue!  da  silua  noso  embaixador  que  ho  acha  em  vos... 
Recebemos  de  vos  em  muy  symgular  prazer.  Reverendissimo  etc. 


PERA  o  DUQUE    DE  SASA   EMBAXADOR  DO  ENPERADOR. 

Multo  homrrado  e  manifiquo  duque  nos  dom  Joao  etc.  vos  emviamos 
muyto  saudar  como  aquele  que  muyto  amamos  e  precamos.  Dom  miguel 
da  sylua  do  noso  conselho  e  noso  embaixador  nos  spreueo  que  pera  no- 
sas cousas  acha  em  amor  e  booa  vontade  e  que  pro- 

ferys  pera  nelas  aprouey se  fosem  propias  do  emperador 

amado  e  precado  primo.  E  certo  que  por  as  suas  ystymarmos  como  pro- 
prias  nosas,  e  aver  tamta  rezara  e  obrigacam  pera  asy  deuer  ser  amtre 
nos,  os  seus  seruidores  no  que  nos  locar  e  os  nosos  no  seu  asy  ho  de- 
ueera  fazer,  e  nos  ystymamos  muylo  de  vos  asy  ho  fazerdes ;  e  por  iso 
e  por  vosos  grandes  merecimenlos  sempre  pera  o  que  vos  compryr  acha- 
rees em  nos  toda  booa  vontade.  Sprita * 


^  Rascunhos  em  muito  máo  estado  no  Abch.  Nac,  Gav.  IS,  Mac.  19  n."  15.  No  verso 

tem  urna  cota,  de  que  apenas  se  pode  ler:  Reposta. . .  .  miguell.  .  .  .  a  xxi  días  de 

132.  .  —  O  anno  a  que  estes  rascunhos  pertencem  descobre-se  fácilmente  pelas  referencias 


198  COKPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 


Carta  de  D.  llisacl  da  fitina  a  el-Rci. 


1523 — IVovembro  96. 


Senhor.  —  No  ponto  que  ho  R.""**  cardeal  de  mediéis  foi  eligido  papa, 
despachei  correo  a  vossa  alteza  com  toda  diligencia,  por  me  parecer  nova 
de  tanta  importancia,  asi  pera  bem  \niversal  da  crisfandade  como  pera 
servico  de  vossa  alteza,  que  era  bem  saber  della  com  a  mais  presteza 
que  fose  posivel.  Esta  escrevo  no  ponto  que  se  acabou  de  fazer  a  coroa- 
cao  em  sam  pedro,  e  com  ella  mando  o  treslado  de  outras  duas  que  te- 
nho  escritas,  por  onde  vossa  alteza  verá  como  pasou  esta  santa  elcicao 
parlicolarmente ;  e  a  segunda  nao  sey  se  alcancou  ha  primeira,  por  iso 
a  torno  a  mandar  tambera  aqui.  E  ho  que  se  fez  despois  de  a  ler  escrito 
foy  que,  em  se  fazendt»  dia  quinta  feira  xviiii  de  novembro,  o  papa  com 
todollos  cardeaes  entrou  no  escrotinio  em  habito  de  cardeal,  e  se  ascntou 
no  lugar  em  que  sendo  cardeal  se  asentava,  sem  ninbuuma  cirimonia, 
salvo  aquella  que  per  erro  Ijie  faziao  os  que  sabiao  que  era  já  papa,  e 
nam  cuidavao  em  mais.  Os  outros  escrolinios  se  fazem  secretos :  este  se 
fez  que  eu  e  outros  conclauistas  vimos  ho  que  pasava.  Anles  que  se  co- 
mecase  a  misa  foi  lido  publicamente  huum  protesto  do  papa,  no  qual 
proteslava  que  elle  vinha  ao  escrotinio  sem  prejuizo  alguura  da  passada 
eleicao,  e  que  protestava  que  no  que  entao  se  avia  de  fazer  nam  se  pó- 
dese diminuir  cousa  aiguuma  do  pasado,  e  que  o  escrutinio  so  fazia  soo- 
mente  por  conservar  o  costume  anligo.  Feito  islo  se  dise  a  misa  do  es- 
prito  santo,  e  acabada  cada  cardeal,  segundo  a  hordem,  meteo  seu  voto 
no  calix,  e  ho  papa  ho  seu  lambem  como  os  outros,  os  quaes  se  lerao 
pubricamente  e  todos  de  huuma  raesma  maneira  diziao ;  eu  foao  ciego 
por  papa  ao  Reverendissimo  senhor  meu  ho  cardeal  de  mediéis.  O  do 


que  fazem  ás  cartas  de  D.  Miguel  da  Silva;  c  quanto  ao  mez,  posto  que  mais  difficil  de 
determinar,  entendemos  comtudo  ser  o  de  novembro,  excluindo  os  anteriores  porque  aín- 
da no  dia  26  d'este  o  embaixador  se  queixa  de  nao  receber  cartas  del-Rei,  e  o  ultimo  do 
anno  porque  nao  apparece  allusao  nenhuma  ao  novo  Papa  Clemente  rn. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  190 

papa  dizia  :  eu  o  cardeal  de  mediéis  elego  eiii  papa  o  Reverendissimo  car- 
dea)  sania  cruz,  e  o  Reverendissimo  cardeal  de  monle.  A  sania  cruz  fez 
ho  papa  esta  honra  de  Ihe  dar  seu  voto  por  ser  adaiam  dos  cardeaes ;  a 
monte  por  Iho  pidir  por  merce,  segundo  sua  santidade  proprio  me  disse 
despois.  No  ponto  que  os  votos  forao  acabados  de  leer,  todos  hos  car- 
deaes tomarao  lio  papa  polla  mao  e  ho  vestirao,  e  Ihe  poscrao  ho  anel 
no  dedo,  e  ho  pubricarao  ao  povo  com  a  cruz,  como  he  costumc.  Daqui 
em  pontifica)  o  ¡evarao  a  sam  pedro,  e  se  fezerao  todalas  outras  cirimo- 
nias,  das  quaes  a  piincipal  e  a  derradeira  he  a  da  coroacao,  que  oje  se 
fez  :  prazerá  a  noso  senhor  que  será  pera  niuilos  annos  e  muito  bem  da 
igreja  e  de  toda  a  crislandade.  Nam  poderia  vosa  alteza  creer  a  geral 
alegría  que  esta  eleicao  deu  ao  povo,  e  o  aseseguo  em  que  íem  postas 
lodallas  cousas  de  qua.  Creio  que  por  esle  mesmo  correo  mandarey  a 
vossa  alteza  breves  de  sua  santidade,  que  me  dise  que  Ihe  quería  escre- 
ver  logo.  Hos  capitolios  do  conclaui  mandarey  a  vossa  alteza  por  outro 
correo :  huum  delles  he  que  os  beneficios,  que  ho  papa  linha  sendo  car- 
deal, se  Reparlao  igualmente  por  lodollos  cardeaes,  e  era  tanta  a  Renda 
que,  sendo  xxxviii,  vem  a  cada  huum  mil  e  Irezentos  ducados  de  Renda 
cada  anno ;  e  isto  se  faz  tam  igualmente  que  nam  ha  i  ninhuuma  deffe- 
renca  de  qucm  servio  bem  aos  outros.  E  crea  vosa  alteza  que  ha  cem 
annos  que  nam  se  fez  eleicao  tam  limpa  como  esta,  que  nam  ha  i  pesoa 
que  possa  dizer  que  Ihe  foy  prometida  ninhuuma  sorte  de  cousa,  e  tanto 
mühor  se  conhecerá  a  virtude  e  conhecimento  de  sua  santidade  aos  que 
ho  bem  servirao.  Nesta  nom  ha  hi  mais  que  escrever  senao  que  ha  seis 
meses,  e  pasa  delles,  que  nam  tenho  carta  de  vosa  alteza,  nem  Recado 
alguum,  avendo  tantas  cousas  de  seu  servico  sobre  que  Ihe  tantas  vezes 
Ihe  tenho  escrito,  em  que  sem  sua  Reposta  nam  se  pode  tomar  concru- 
sao.  He  bem  que  com  toda  diligencia  escreva  ao  papa,  e  faca  aqueta  de- 
.  moslracao  d  alegría,  que  huuma  tam  santa  eleicao  merece;  e  juntamente 
me  escreva  a  Resolucao  que  quer  que  se  tome  ñas  cousas  do  priorado  do 
crato  e  bispado  de  viseu.  E  porque  na  bulla  das  comendas  avia  alguu- 
ma  duvida  se  era  derrogada  por  papa  adriano  por  huuma  Regra  de  chan- 
celaria,  a  qual  por  nam  ser  muilo  erara,  como  escreui  a  vossa  alteza, 
ouue  por  mais  voso  ser>ico  disimular,  que  mostrar  que  vossa  alteza  avia 
sua  graca  por  derrogada,  nam  cieo  que  agora  seja  bem  deixar  isto  asi 
em  pendente  ;  e  pera  seguranca  de  ludo  em  todo  lempo  será  bem  expi- 


200  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGÜEZ 

dir  nova  bulla,  com  a  qual  se  posa  durmir  Repousado  que  em  ninhuum 
tempo  posa  aver  mudanca  na  graca  de  papa  liao. 

Ho  grao  mestre  aporlaiá  Hijo  cni  suas  causas,  e,  nain  avendo  Re- 
posta de  vosa  alteza  do  que  sobre  ellas  ey  de  fazer,  eslou  em  grande  con- 
fusao.  Trabalharey  quanto  for  em  mim  com  ho  papa  que,  quanto  aa  parte 
que  loca  ou  pode  tocar  a  servico  de  vossa  alteza,  detenha  tanto  a  Reso- 
lucao  ale  que  eu  posa  aver  Reposta  de  minhas  carias ;  e  asi  nislo  como 
em  todalias  outras  cousas  Irabalharey  que  vossa  alteza  será  de  mim  tam 
bertt  servido  ao  diante,  como  vossa  alteza  e  el  Rey  voso  padre,  que  deus 
tem,  o  foy  polo  pasado ;  e  aja  por  certo  que  os  muitos  servicos,  que  le- 
nho  feitos  ao  papa,  e  grande  amor  que  sua  sanlidade  me  moslra,  se  des- 
penderá todo  em  voso  servico,  sem  alguum  pensamenlo  de  meu  bem  par- 
licolar,  ho  qual  eu  poherey  sempre  em  servir  bem  vosa  alteza,  e  de  suas 
maos  e  nam  de  outras  ninhuumas  o  Receberey  ;  e  espero  em  noso  senhor 
de  mostrar  esta  fee,  principalmente  neste  tempo,  tam  inteiramenle  que 
vosa  alteza  soo  fará  ho  que  em  todolas  outras  pesoas  do  mundo  eu  po- 
deria  esperar  por  mais  que  tivese  servido  nem  servise.  Beijo  as  maos  de 
vosa  alteza,  cuja  vida  e  Real  estado  noso  senhor  guarde  e  acrecenté  como 
deseja. 

De  Roma  aos  xxvi  dias  de  novembro  1323,  —  Dom  miguell  da 
sijlua  ^ 


Dreve  do  Papa  Clemeiite  Til,  dirig^ido  a  el-Rei. 


1533 — Dezembro  1Í, 


Clemens  papa  vii  Garissime  in  Christo  fili  noster  salulem  el  apos- 
lülicam  benedictionem. 

Singularis  Lusitaniae  Regum  in  hanc  sanctam  sedem  obseruanlia  ac 
pielas  lot  iam  saeculis  perspecta,  maiorumque  tuorum  erga  familiam  nos- 
tram  non  obscura  beneuolenlia,  feceranl  ul  el  ingens  tuae  Maieslalis  ob 
assumptionem  noslram  futurum  gaudium  tanquam  praesens  inlueremur, 

'  Abch.  NAC.,Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  30,  Doc.  66. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  201 

et  de  Maiestalis  luae  in  nos  uoluntate  omnia,  quae  oplari  a  nobis  et  a 
te  proficisci  possent,  polliceremur.  Quod  prioribus  per  eundem  lamen 
tabellarium  literis  abunde  significaiiimus,  ñeque  has  fuisset  opus  adiicere, 
si  tanlum  illa  uetera,  de  quibus  prioribus  iliis  lileris  egimus,  inter  nos 
intercessissent ;  Verum  lam  magna,  atque  illustria  sunt  haec  recentia  tuae 
Maiestalis  beneficia  per  dilectum  filium  Michaelem  Syiuium  oratorem  luum 
proximis  Ponlificiis  comiliis  in  nos  collala,  ut  omnino  ingrati  nobis  esse 
uideamur,  nisi  huius  rei  quamprimum  aliquam  non  uulgarem  animi  nos- 
tri  significalionem  proferamus.  Has  ilaque  alteras  non  admodum  usitale 
seorsum  millere  uoluimus,  quasi  familiarem  atque  inlimum  quendam  nun- 
cium,  quo  Maieslatem  luam  redderemus  certiorem  luum  oratorem  tan- 
tum  nos  luo  nomine  atque  aulhorilale  iuuisse,  ut  non  modo  nihil  prae- 
termissum  ab  eo  sit,  quod  ad  dignilatem  nostram  pertinere  uiderelur,  sed 
longe  consueta  in  his  rebus  studia  praetergressus  nostros  pene  omnes 
amore,  diügenlia  ac  fide  superarit.  Nos  quid  a  Maieslate  tua  erga  nos 
amicius,  quid  honorificentius  fieri  potuerit,  non  uidemus.  Reslat  ilaque 
ut  Maieslas  tua,  cuius  nos  operam  tam  beneuolam  tanta  in  re  experli  su- 
mus,  omnia  ea  de  nobis  sibi  polliceatur,  quae  ab  animo  grato  et  maxi- 
mis  meritis  obslriclo  proficisci  par  est. 

Dalum  Romae  apud  Sanctum  Petrum,  sub  Annulo  piscatoris,  die 
secundo  Decembris  mdxxiii,  Pontificatus  Nostri  Anno  Primo. — Be.  El. 
Cremonensis  V 


Carta  de  D.  llig^uel  da  i^ilva  a  el-Rei. 

15:33 — Dezembro  9. 


Senhor.  — Po.r  outros  correios  escreui  a  vosa  alteza,  e  Ihe  mandey  o 
breue  ordinario  do  papa  de  sua  eleicao;  e  porque  o  papa  me  deu  neste  ponto 
de  sua  mao  estoutro  breve,  que  aqui  mando  a  vosa  alteza,  dizendo  me 
que,  asi  como  os  servicos,  que  eu  em  nome  de  vosa  alteza  e  per  voso 
mandado  Ihe  tinha  feilos,  erao  fora  de  lodo  custume,  que  asi  queria  dar 

^  Abch.  Nac,  Mac.  37  de  Bullas,  n."  14. 
TOMO  u.  26 


202  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

as  gracas  delles  per  carta  apartada,  e  nara  na  forma  em  que  aos  outros 
principes  se  escrevia,  pareceo  me  necesario  escrever  a  vossa  alteza  estas 
pouquas  Regras,  porque  nom  tomasem  este  breve  que  Ihe  escreve  por 
cousa  hordinaria,  porque  o  que  ordinariamente  se  escreve  a  lodollos  ou- 
tros principes,  e  asi  a  vosa  alteza  pola  oulra  via,  he  muito  diferente  disto, 
segundo  pode  ver;  e  he  bem  que  asi  a  Reposta  seja  mui  diíTereule  do 
que  aos  outros  papas  se  escreve,  porque  o  grande  amor  que  papa  cle- 
mente sempre  teve  a  el  Rey  voso  padre,  que  deus  tera,  e  este  que  agora 
mostra  a  vosa  alteza,  he  fora  de  todo  custume.  E  da  muila  honra  que 
me  o  papa  faz,  e  grande  Amor  que  me  mostra,  me  aproveitarey,  nara 
em  cousa  alguuma  minha,  mas  ñas  de  voso  servico,  que,  asi  como  to- 
dollos  servicos,  que  ao  papa  fiz  em  sua  eleicao,  que  forao  grandes  e  que 
elle  muito  estima,  se  íizerao  em  nome  de  vosa  alteza,  e  como  por  ex- 
presso  mandado  vosso,  asi  forao  Recebidos ;  e  asi  o  fruito  delles  nam  ha 
de  ser  senam  em  puro  servico  vosso,  no  qual  espero  de  o  fazer  de  ma- 
neira  que  me  deva  vosa  alteza  e  faca  muito  maiores  merces,  que  as  que 
me  o  papa  faria,  quando  tudo  o  que  tenho  feito  em  seu  servico  ouuese 
de  pagar  a  mim  e  nam  a  vosa  alteza,  em  cujo  nome  se  todo  fez.  Por 
huum  correo,  que  tras  este  vai,  mando  a  vosa  alteza  as  bullas  d  evora 
lixboa  e  santa  cruz  origináis,  cujos  trcslados  tenho  mandados  ha  dias. 
Beijo  as  maos  de  vossa  alteza,  cuja  vida  e  Real  estado  noso  senhor  guarde 
e  acrecenté  como  deseja. 

De  Roma  dous  dias  de  dezembro  1523.  —  Dom  miguell  da  sylua  '. 


Bulla  do  Papa  Clemente  l^ll,  dirig^ida  a  el-Rei. 


15^4 — Janeiro  S. 


Clemens  episcopus  seruus  seruorum  dei  Carissimo  in  christo  filio 
Johanni  Portugallie  Regí  Illuslri  salutem  et  aposlolicam  benedictionera. 

Probata  conslantis  fidei  sinceritas  ac  eximie  deuotionis  alTectus,  quos 
ad  nos  et  Romanara  gerere  comprobaris  ecclesiam,  promerelur  vt  illa, 

*  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Ma^.  30,  Doc.  55. 


RELACOES  COM  a  curia   romana  203 

que  in  lui  ac  tibi  gratarum  el  in  diuinis  obsequentium  personarum  per 
predecessores  nostros  concessa  comperimus,  apostólico  munimine  robore- 
mus,  aliaque  de  nouo  concedamus,  prout  in  domino  expediré  conspici- 
mus.  Dudum  siquidem  felicis  recordationis  Leo  papa  x  predecessor  nos- 
ter  ad  siipplicalionem  clare  memorie  Emanuelis  Porlugallie  el  Algarbio- 
rum  Regis  geniloris  lui,  lunc  in  humanis  agenlis,  omnes  el  singulas  cau- 
sas, conlrouersias,  liles  el  quesliones  beneficiales  el  prophanas  ac  Ciuiles 
conlra  Capellanos  ac  Canlores  el  scolares  Capelle  ipsius  Emanuelis  Re- 
gis,  seu  eorum  aliquem  in  ea  actu  seruienles,  exlra  Romanam  Curiam 
coram  quibusuis  Judicibus  el  Commissariis  indecise  pendenles,  ad  se  ad- 
uocauit,  el  illas  diieclo  filio  Capellano  maiori  dicte  Capelle  per  eum  in 
slatu  debito  reassumendas,  audiendas,  cognoscendas,  fineque  debito  ler- 
minandas,  commisit,  ipsumque  Capellanum  maiorem,  qui  pro  témpora 
foret,  Judicem  Ordinarium,  coram  quo  et  nullo  alio  dicti  Capellani  Can- 
tores el  scolares  in  quibusuis  causis  valerenl  conueniri,  consliluit  et  de- 
putauil;  necnon  quod  ordinarii  locorum,  vel  aüi  quicunque  Judices  in 
maiore  vel  alios  Capellanos  Cantores  et  scolares,  ac  tum  in  dicta  Capella 
deseruientes  el  solila  ibi  slipendia  percipientes,  nuUam  penilus  superiori- 
tatem,  dominium,  potestalem,  et  iurisdictionem  valerenl  exercere,  sed  es- 
senl  ab  alus  prorsus  exempti,  et  inferiores  Capellani  Cantores  el  scolares 
prefali  dicto  maiori  Capellano  eiusque  iurisdidioni  superioritali  el  domi- 
nio immediate  subiacerent,  lenerenturque  coram  eodem  Capellano  maiori, 
aut  Legalis  vel  delegatis  sedis  apostolice  dumtaxat,  de  se  querelanlibus 
de  iusücia  responderé ;  quodque  idem  Capellanus  maior  vel  eius  locum- 
tenens  inferiores  Capellanos  Cantores  el  scolares  prediclos,  qui  pro  tem- 
pore  proplcr  manuum  violenlarum  in  se  ipsos  iniectionem,  dummodo  mem- 
brorum  mulilatio  seu  enormis  lesio  exinde  non  procederet,  senteutiam  ex- 
communicalionis  incurrerenl,  seu  eorum  quilibet  incurrerel,  ab  huius- 
modi  excommunicationis  sententia  iniuncta  excedentibus  pro  modo.culpe 
penilentia  salutari  absoluere,  et  cum  eis  super  irregularilate  si  quam  hu- 
iusmodi  excommunicationis  sententia  ligali  Missas  el  alia  diuina  officia, 
non  lamen  in  contemptum  clauium,  celebrando,  et  illis  se  immiscendo 
contraherenl,  dispensare,  el  ab  eis  omnem  inbabililalis  et  infamie  macu- 
lara siue  nolam  per  eos  inde  contraclam  penilus  abolere.  Infantes  quo- 
que  el  Judeos  ac  Sarracenos  id  sponte  pétenles  in  eiusdem  Emanuelis  Re- 
gis  presentía  debitis  solemnitalibus  adhibilis  Baptizare,  ac  ipsi  Emanueli 

26* 


20  i  CORPO  DIPLOMÁTICO  POUTUGUEZ 

Regí  ac  Inferioribus  Capellanis,  Canloribus,  scolaribus,  omnibusque  alus 
et  singulis  in  dicta  Capella  pro  tempore  aclu  seruienlibus  et  residentibus, 
Penilenlie  Eucharislie  etalia  ecclesiaslica  sacramenta,  quotiens  foret  opor- 
tunum,  ministrare;  et  tam  Emanueiem  quam  Inferiores  Capellanos  Can- 
toros,  scolares  et  semientes  huiusmodi,  etiam  in  casibus  Episcopalibus, 
absoluere,  et  illorum  decedentium  corpora  ecclesiastice  sepulture  Iradere, 
eisdemque  Inferioribus  Capellanis  Cantoribus  et  scolaribus  deseruienlibus, 
qui  ad  ecclesiaslicos  ordines  promoueri  vellent,  vt  quilibet  eorum  a  quo- 
cumque  mallet  Calholico  Antistite  gratiam  et  communionem  dicte  sedis 
habenle  huiusmodi  ordines  statutis  a  iure  temporibus  successiue  recipere, 
ac  ipsi  Antisliti  quod  illos  eis  si  alias  ad  id  ydonei  reperti  forent  impen- 
deré. Quodque  Capellani  Cantores  et  scolares  prefali,  etiam  si  Religiosi 
essent,  horas  canónicas  et  diuina  officia  iuxta  vsum  dicte  Romane  eccle- 
sie  dicere  et  recitare,  necnon  ipse  Capellanus  maior  pro  se  et  alus  Ca- 
pellanis prediclis  oblaliones,  que  de  manu  ipsius  Emanuelis  Regis  et  si- 
milis  memorie  Marie  Carissime  in  christo  filie  nostre,  tune  ipsius  prede- 
cessoris  Coniugis,  Portugallie  et  Algarbiorum  Regine  lUustris,  ac  eorun- 
dem  Emanuelis  et  Marie  Regine  filiorum  et  filiarum,  etiam  in  quacunque 
ecclesia,  etiam  domus  fratrum  ordinis  Mendicantium,  ad  quam  Regem  el 
Reginam  eorumque  liberos  pro  tempore  declinare  contingeret,  dummodo 
ipsi  Capellani  diuina  officia  inibi  celebrarent  et  cantarent,  quemadmodum 
in  eadem  Capella  recipere  consueuerat,  recipere.  Idemque  Capellanus 
raaior  vel  eius  locum  lenens  matrimonium  quaruncunque  Nobilium  per- 
sonarum  contracta  et  contrahenda  in  ipsorum  Regis  et  Regine  presentía 
solemnizare  et  publice  benedicere,  cuiusuis  licentia  super  eo  minime  re- 
quisita. Et  quolienscunqne  et  vbicunque  in  Missarura  solemniis  predica- 
lionis  ministerium  in  Regis  et  Regine  huiusmodi  presentía  per  eundem 
Capellanum  maiorem  uel  aliura  publice  proponi  contingeret,  verbum  dei 
illud  yroponens.  Ómnibus  veré  penitentibus  et  confessis  ibidem  presenti- 
bus  ducentos  dies  de  iniunctis  eis  penitentiis  in  domino  relaxare.  El  de- 
mum  ipse  maior  el  alii  Capellani  Cantores  et  scolares  actu  seruienles  in 
dicta  Capella,  domo  seu  Curia  Regia  ipsius  Regis  residendo,  omnes  et 
singulos  fructus,  redditus  et  prouentus  oranium  et  singulorum  beneficio- 
rum  ecclesiaslicorum  cum  cura  el  sine  cura,  que  in  quibusuis  ecclesüs 
siue  loéis  obtinebant  et  imposterum  obtinerenl,  etiam  si  parrochiales  ec- 
clesie  ve!  earum  perpetué  Vicarie  aul  Canonicalus  et  prebende  dignitales, 


RELACOES  COM  a  curia  romana  205 

personatus  administraliones  vel  oflQcia,  ¡n  Cathedralibus  eliam  Melropoli- 
tanis  vel  collegiatis,  et  dignilales  ipse  in  Cathedralibus  eliam  Metropoli- 
tanis  post  Ponüficales  maiores  seu  Collegiatis  ecclesiis  huiusmodi  princi- 
pales forent,  et  ad  dignitates,  personatus,  administraliones  vel  offieia  huius- 
modi consueuissent,  qui  per  eleclionem  assumi  eisque  cura  immineret  ani- 
marum  cum  ea  inlegrifate,  quolidianis  dislributionibus  dumtaxat  exceptis, 
cum  qua  illos  perciperent,  si  in  eisdem  ecclesiis  siue  locis  personaliter 
residerent,  Ha  vt  ad  residendum  interim  in  eisdem  minime  tenerentur, 
nec  ad  id  a  quoquam  inuiti  valerent  coarctari  percipere  libere  el  licite 
possent,  apostólica  aucloritate  Emanueli  Regi  indulsit,  ac  maiori  et  alus 
Capellanis  Cantoribus  et  scolaribus,  necnon  Antisliü  ac  Prédicatori  et  lo- 
cumtenentibus  predictis,  plenam  et  liberara  ad  premissa  licenliam  conces- 
sit  et  eliam  facultatem  per  quasdam.  Et  deinde  pro  eiusdem  Emanuelis 
Regis  parte  ipsi  predecessori  expósito  quod  cum  a  nonnullis  nimium  cu- 
riosis  hesilari  diceretur  an  familiares  el  Curiales  clerici  in  libris  familia- 
rium  et  Curialium  eiusdem  Regis  descripli,  propler  senium  vel  aliud  im- 
pedimentum  extra  Curiara  Regis  huiusmodi  illius  slipendiis  viuentes  uel 
aliquod  officium  de  mandato  eius  exercentes,  ac  eorundem  familiariura 
et  Curialiura  clericorura  familiares  clerici  benificio  earundem  lilterarum 
gaudere  deberent ;  et  proplerea  ipse  Emanucl  litteras  ipsas  ad  illos  ac 
eliam  Curiara  ipsius  Regis,  dura  de  loco  ad  locura  ibat,  sequenles,  et  ad 
prefale  Marie  Regine  familiares  et  Curiales  clericos,  extendi,  illosque  sub 
eisdem  lilteris  comprehendi,  ac  quod  Capellanus  maior  dicte  Capelle  Re- 
gis, cum  esset  Episcopus,  de  causis  matrimonialibus  Curialium  el  fami- 
liariura eiusdem  Regis  cognoscere  posset  cupiebat,  idem  Leo  predecessor 
per  alias  suas  priraodictas  litteras,  quoad  id  \t  illarura  beneficio  fami- 
liares et  Curiales  clerici  in  libris  familiariura  et  Curialiura  eiusdem  Re- 
gis descripli,  propler  senium  uel  aliud  impedimenlum  slipendiis  lamen 
eiusdera  Regis  extra  eius  Curiara  \iuenles,  uel  aliquod  officium  de  ipsius 
Regis  mandato  exercentes,  ac  eorundem  familiariura  et  Curialiura  cleri- 
corura durataxat  farailiares  clerici  gauderenl,  Ulasque  etiara  ad  clericos 
Curiara  ipsius  Regis,  dura  de  loco  ad  locura  se  conferret  et  in  illa  dege- 
rent,  sequenles,  ac  farailiares  et  Curiales  eliara  in  minoribus  ordinibus 
constituli  dicte  Regine,  Quodque  Capellanus  raaior  dicte  Capelle  pro 
tempore  exislens,  qui  Episcopus  foret,  de  causis  matrimonialibus  earun- 
dem personarum  in  diclis  lilteris  comprehensarum  cognoscere^  ac  aliis 


208  COKPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

Judicibus  inhibere,  el  alia  ¡n  priniodiclis  lilteris  contenía  exequi  posset, 
exlendit,  declarauil,  el  ampliauit,  prout  in  singulis  lilleris  prediclis  ple- 
nius  conlinetur.  Gum  aulem,  sicul  exhibila  nobis  nuper  pro  parle  lúa 
pelilio  continebal,  lu  cupias  singulis  lilleris  prediclis  pro  illarum  firmiori 
subsislenlia  aposlolice  conlirmalionis  robur  adiici,  pro  parle  lúa  nobis  fuit 
humiiiler  supplicalum  vt  lilleris  eisdcm  robur  aposlolice  confirmalionis 
adiicere,  aliasque  in  premissis  oporlune  prouidere  de  benignilale  aposlo- 
lica  dignaremur.  Nos  igilur,  luis  honeslis  desideriis  annuere  cupienles, 
huiusmodi  supplicalionibus  inclinali,  singulas  Hileras  prediclas,  ac  om- 
nia  el  singula  in  lilis  contenía,  auclorilate  apostólica  lenore  presenliura 
approbamus  et  innouamus,  supplemusque  oranes  el  singulos  lam  iuris 
quam  facti  defeclus,  si  qui  forsan  interuenerint  in  eisdem,  Ac  singulas 
Hileras  easdem  in  ómnibus  el  per  omnia  tibi  suffragari  deberé  decerni- 
mus,  ac  si  tibi  direcle  et  nominatim  concesse  forent :  Non  obstanlibus 
Gonslilulionibus  el  ordinationibus  apostolicis,  necnon  ómnibus  illis,  que 
in  singulis  lilleris  prediclis  concessum  est  non  obstare,  ceterisque  con- 
trariis  quibuscunque.  Nulli  ergo  omnino  hominum  liceat  hanc  paginam 
noslre  approbalionis,  confirmalionis,  innoualionis,  suppletionis  et  decreli 
infringere,  vel  ei  ausu  temerario  conlraire.  Siquis  aulem  hoc  atteraptare 
presumpseril  indignationem  omnipolentis  dei  ac  bealorum  Petri  et  Pauli 
apostolorum  eius  se  noueril  incursurum. 

Dalum  Rome  apud  Sanclum  petrum  Anno  Incarnalionis  dominica 
Millesimo  quingentésimo  uigesimo  tertio,  Sexto  Idus  Januarum,  Ponlifica- 
lus  noslri  Anno  Primo. — A.  Gralia  Dei  '. 


Breve  do  Papa  Clemente  l^II,  flirig^ido  a  el-Rei. 


151^4 — Marco  3. 


Clemens  papa  vii  Carissime  in  Ghristo  fili  noster  salulem  el  apos- 
lolicam  benediclioncm. 

Nouit  ille,  qui  nichil  ignoral,  quo  animi  sludio,  el  quam  singulari 

•  Abch.  Nac,  Mac.  11  de  Bullas,  n.'  19. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  207 

fide  opera  et  diligenlia,  dura  in  minoribus  eramus,  clarae  memoriae  Ema- 
nueli  Genilori  tuo,  tune  in  humanis  agenli,  apud  felicis  recordalionis 
Leonera  papara  x,  praedecessorem  et  secundum  camera  fralrera  patrue- 
lem  nostrura,  in  oranibus  desiderüs  suis  inseruire  conali  seraper  fueri- 
mus,  id  quod  Maiestas  lúa  nouisse  polest  neo  oblita  esse  debct,  nos  non 
minori  anirai  affeclu  ei  apud  piae  memoriae  Adrianum  papara  yi,  etiara 
praedecessorem  nostrura,  quantum  in  nobis  fuit,  morera  gerere  desideras- 
se,  in  eo  praeserlira  ut  ecclesia  visensis  per  dileclura  filium  nostrum  Alfon- 
sum  sanclae  Luciae  in  sepiera  soliis  üiaconura  Cardinalera,  fralrera  gcrma- 
num  tuura,  iilius  Adrainistralorem,  cui  praefatus  Adrianus  praedecessor 
TÜxbonensis  et  elborensis  ecclesiarura  adminislralionera  concesseral,  di- 
mitlenda,  dilecto  filio  Henrico  eliara  fratri  tuo  in  nono  aetatis  suae  anno 
uel  circa  constiluto  in  similem  adminislralionera  concederetur ;  quod  cura 
idera  Adrianus  praedecessor  concederé  pluriraura-grauarelur,  Nos,  ut  d¡- 
lectus  filius  Michael  de  Sylua  orator  tuus,  vir  suramae  prudenliae  et  fidei, 
nobisque  raullis  de  causis  acceplissimus,  locuplelissimus  leslis  esl,  con- 
tinuis  persuasionibus  et  obnixis  praecibus  ab  eo  tandera,  non  sine  suni- 
ma  difficullale,  obtinuimus  ut  eidera  Henrico  dictae  ecclesiae  visensis  fru- 
ctus  concederentur,  litulus  uero  personae  per  eandera  Maieslatera  luam 
nominandae  daretur,  in  quo  ipsi  Maieslali  luae  ac  nobis  pro  ea  procuran- 
tibus  maguara  et  uberriraam  graliam  se  fecisse  pulauit,  cura  ob  alia,  tura 
maxirae  ob  malara  lemporura  condilionera,  quibus  nefandissirai  homines 
huius  sanclae  sedis  reclae  gesta  sacrilego  ore  damnare  praesuraunl,  ao 
omnia  ad  Principura  secularium  nulum  alque  libidinera  fieri  calumnian- 
tur,  Quibus  et  alus  ralionibus  nos  ac  praefalus  Michael  oralor,  qui  no- 
biscura  tale  negocium  pari  fide  ac  diligenlia  procurabal,  acquieuimus  ac 
graliam,  quara  idera  Adrianus  praedecessor  se  conccssurura  fore  promi- 
serat,  pro  tali  accepimus.  Postquara  uero,  praefalo  Adriano  praedessore 
uita  fundo,  ad  summi  aposlolalus  apicera  diuina  fauenle  clemeniia  assum- 
pli  fuimus,  idemque  Michael  oralor  graliam,  quam  simul  a  dicto  Adriano 
praedecessore  oblinere  conali  fueramus,  a  nobis  eo  maiore  inslanlia  alque 
fiducia  peleret,  quo  nos  ad  eam  ab  ipso  Adriano  praedecessore  conse- 
quendam  promplos  alque  solícitos  cognoueral,  ac  iisdera  ralionibus,  qui- 
bus apud  eundem  Adrianura  praedecessorem  nos  nixi  fueramus,  ipse  quo- 
que  apud  nos  nileretur,  praeserlira  quod  Romani  Ponlifices  consueuissenl 
orones  gratias  in  sui  Ponlificalus  initio  Regibus  concederé,  et  quod  ipse 


208  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

Leo  praedecessor  maiorem  graliam  eidem  genitori  tuo  non  dcnegasset  ipsi 
Alfonso  Cardinali  lunc  in  minori  aelale  constilulo  egilaniensem  ecclesiam 
in  adminislralionem  concedendo,  nec  deberé  nos  graliam,  quam  pro  Ma- 
ieslate  tua  ab  eodem  Adriano  praedecessore  tam  instanler  supplicauera- 
mus,  eam  nunc  sibi  a  nobis  supplicanti  denegare.  Nos  considerantes  illas 
raliones,  quae  praefalum  Adrianum  praedecessorem  a  dicta  gratia  con- 
cedenda  dissuaserant,  minime  cessasse,  témpora  uero,  quae  máxime  tuno 
obslabant,  mullo  nunc  deteriora  esse,  inter  alia  ipsi  Michaeli  oratori  res- 
pondimus  multa  per  nos,  dum  pars  eramus,  sub  aliquo  honeslalis  prae- 
textu  peli  potuisse,  quae  nunc,  postquam  Judex  facti  sumus,  iuste  con- 
cedi  non  possunt,  el  multo  diligentiores  nunc  esse  deberé  in  concedendo, 
quam  tune  eramus  in  petendo,  proraisimusque  nos  diclae  ecclesiae  \i- 
sensi  de  persona  idónea  per  Maiestatem  tuaní  nominanda  prouisuros  fore, 
reseruatis  fruclibus  ipsi  Henrico,  uel  alteri,  quem  Maiestas  tua  nominan- 
dum  duxerit.  Consideret  igilur  serenitas  tua  nos,  qui  ex  ómnibus  Cris- 
tianis  Principibus  eam  surama  cordis  sinceritate  diligimus  atqúe  amamus, 
ipsiusque  honorem  non  minus  quam  proprium  noslrum  cordi  habemus, 
non  libenter  ei  quicquam  denegare ;  Sed  cum  pasloralis  officii  nostri  sit 
praesertim  Cathedralibus  ecclesiis  de  personis  idoneis  el  in  legitima  uel 
saltem  adulta  aefate  constitutis  prouidere,  cogimur  oíTicii  nostri  huius- 
modi  memores  esse,  nec  tam  quid  Reges  homines  uelint,  quam  quid  Rex 
Deus  iubeat  attendere.  Quare  Maiestalem  tuam  hortamur  ul  cum  plures 
,  in  Regno  luo  praelatos  babeas  mullís  virtulibus  atque  animí  dotibus  in- 
signes, ac  de  praefalo  genitore  luo  ipsaque  Maiestale  tua  beneméritos, 
in  aliquem  eorum  oculos  dirigas,  quem  nobis  nominandum  existimes;  spe- 
ramus  enim  Deum  Maieslalis  luae  cor  illuminalurum  fore  ad  personara 
aüquam  nominandam,  ob  cuius  promolionem  per  nos  faclam  successu  tem- 
poris  adeo  gaudebil  atque  laetabitur,  ut  máximas  nobis  gratias  aclura 
sit  quod  illi  tale  consilium  dederimus,  quod  in  dies  magis  utile  ac  sa- 
piens fuisse  sentiet.  Quod  si  Maiestas  tua  dictara  ecclesiam  visensem  ei- 
dem Antonio  Cardinali  (sicj  potius  restituí  uellet,  quam  alium  nominare,  id 
quod  praefatus  Michael  oralor  tuo  nomine  saepius  a  nobis  petiit,  et  quo- 
tidie  pelere  non  cessat,  quanuis  tot  ecclesias  uni  concedi  non  debeant, 
luis  tamen  in  nos  el  hanc  sanctam  sedera  meritis  adducli,  promitlimus 
accepla  super  hoc  uoluntate  tua  ipsi  Maieslati  luae  nos  satisfacluros  fore. 
Datura  Romae  apud  Sanclura  Petrum,  sub  Annulo  piscaloris,  die  ni 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  209 

Marlü  MDXXiiH,  Pontificalus  Nostri  Anno  Primo.  — Be.   EL  Cremonen- 
sis  '. 


Breve  do  Papa  Clemente  Til,  dirigido  a  el-Rei. 


1594— Marco  9. 


Clemens  papa  vii"  Filho  nosso  In  christo  muyto  amado  saude  e  apos- 
tólica bencam. 

Os  dias  passados  Leo  papa  x°  da  benauenturada  memoria  nosso  primo 
e  predecessor,  Sendo  Ihe  dicto  por  parle  de  teu  padre  Manuel  da  clara 
memoria  Illuslre  Rey  de  portugal  e  dos  algarues  que  asy  elle,  como 
Joanne  da  clara  memoria  Rey  seu  predecessor  sendo  viuo,  lendo  em 
áfrica  algus  mouros  a  seu  seruico  e  soldó,  com  seu  deligenle  e  fiel  ser- 
uico  com  ajuda  do  Senhor  muytas  victorias  contra  os  Imigos  ouueram  e 
estenderam  seu  poder  e  Reyno,  E  por  ter  esses  mouros  mais  seguros 
acustumaram  enuiar  aos  capitaes  dos  dictes  mouros  alguas  raerces  e  ar- 
mas com  que  Ihes  parecía  que  elles  folgariam ;  E  ainda  que  o  dicto  Rey 
Manuel  cria  que  asy  a  elle,  como  ao  dicto  Joanne  seu  predecessor,  era 
licito  Isto  fazer  sem  scrupulo  de  consciencia,  porem  por  mor  clareza  de 
consciencia  elle  deseiasse  aver  da  See  apostólica  absolucam  e  licenca  ao 
deanle,  o  mesmo  liara  em  esta  parte  Inclinado  á  suplicacam  do  dicto  Ma- 
nuel Rey,  per  suas  letras  em  forma  de  breue  per  apostólica  auctoridade 
asolueo  os  diclos  Joanne  e  Manuel  Reys  de  quaesquer  Sentencas  censu- 
ras e  penas  d  escomunham,  e  d  outras  quaesquer  ecclesiaslicas  penas,  se 
por  razara  do  que  dicto  he  em  alguas  ouuessem  encorrido,  segundo  as 
bullas  apostólicas  que  se  custumara  pubricar  na  cea  do  Senhor,  E  deu 
ao  dicto  Manuel  Rey  e  a  seus  socessores  comprida  licenca  e  faculdade 
liure  de  sera  receo  de  alguma  censura  e  sem  scrupulo  de  consciencia  en- 
uiar aos  dictos  mouros  e  a  quaesquer  outros  Infieis,  que  entam  ou  por  os 
lempos  andassera  em  guerra  contra  outros  Infieis,  pelleiando  a  seu  soldó 
ou  cusía,  quaesquer  armas  que  quisesem,  e  quaesquer  merces  que  fos- 

*  Abch.  Nac,  Mac.  19  de  Bullas,  n.»  9. 
TOMO  II.  27 


210  COUPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

sem  somenle  pera  vso  de  suas  pesoas,  em  o  que  de  sua  mageslade  con- 
fiaua,  segundo  em  o  breue  do  diclo  Leo  nosso  predecessor  sobre  o  dicto 
caso  feylo  mais  largamenle  se  conlynha.  Porem,  poslo  que  lúa  mages- 
lade crea  por  razam  desla  licenca  e  faculdade  concedida  ser  a  elle  a  mes- 
nia  licenca  e  faculdade  concedida,  por  ser  socessor  em  o  Heyno  do  diclo 
Manuel  Rey,  com  lodo  por  mor  seguridade  deseia  as  dictas  letras  de  con- 
cessam  e  licenca  e  faculdade  sobredicla  serem  aprouadas  e  confirmadas 
per  nos  e  per  esta  Sánela  See  apostólica.  Pollo  qual  nos,  o  qual,  quanlo 
com  Deus  podemos,  de  boa  vontade  as  supricacoes  de  lodos  os  Reys, 
mormenie  dos  deuotos  desla  Sánela  See,  concedemos,  Inclinados  a  lúas 
sopricacoes,  per  apostólica  aucloridade  per  o  leor  das  presentes  aproua- 
mos  e  confirmamos  as  dictas  letras  e  licenca  e  faculdade,  E  por  mais  se- 
gura cautela  per  a  dicta  aucloridade  e  leor  damos  a  lúa  mageslade  li- 
cenca e  faculdade  enteyra  e  liure  de  enuiar  quaesquer  merces  e  armas 
aos  dictos  mouros,  e  a  outros  Infieis,  que,  como  he  diclo,  andarem  na 
guerra  a  leu  soldó  ou  cusía,  ou  Em  outra  maneira  quando  a  ly  parecer 
que  conuem,  e  esto  sem  medo  de  alguma  censura  ou  scrupolo  de  cons- 
ciencia  sobre  o  qual  nos  a  lúa  encarregamos :  Nam  obslante  quaesquer 
Constituicoes,  ordenacoes  apostólicas,  e  todas  aquellas  que  o  dicto  nosso 
predecessor  derogou,  e  outros  quaesquer  contrairos  etc.  a  vii  de  marco 
de  1524  K 


Breve  do  Papa  Clemente  \ñW,  dirigido  a  el-Rei. 


1K34— Abril  9. 


Clemens  papa  vii  Carissime  in  chrlsto  fili  nosler  salutem  el  Apos- 
lolicam  benediclionera. 

Nisi  honoris  el  norainis  lui  eam  curam  gereremus,  quam  nosler  pa- 
lernus  in  luam  Serenilalem  amor  postula!,  que  ad  nos  delata  sunl  el  quo- 

•  Arch.  Nac,  Mac.  15  de  Bullas,  n."  5.  Tem  no  verso  a  cota  .seguinte:  Trelado  do 
breue  do  papa  clemente  pera  elRey  noso  senhor  da  licenca  pera  poder  mandar  dar  ar- 
mas aos  mouros.  Nao  encontramos  o  breve  original. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  2ill 

lidie  deferuntur  non  ila  mouissenl  animum  noslrum,  siciil  nioiierunl,  ut 
hac  de  re  primum  cum  Serenitate  lúa  agendum  pularemus.  Cum  enim 
ab  initio  iilorum  lemporum,  quibus  clarae  memoriae  Emanuel  genitor  tuus 
a  regionibus  orienlis  omnium  fere  genera  aromalum  ad  nosíras  parles  af- 
ierre coepit,  in  omnium  animis  spes  el  laelilia  exorla  fuisset  quod  iilo- 
rum el  uberiorem  copiara  et  faciliorem  comparationem  omnes  fore  arbi- 
Irabanlur,  res  in  conlrarium  ila  conuersa  est  ut  ad  nos  et  ad  sedera  a'pos- 
tolicam  quolidie  ueniant  querelae,  nec  iam  singulatim,  sed  populariter  im- 
ploranlium  auctoritatera  nostrara  et  obsecranlium  ut  huic  tanto  totius  Ita- 
liae,  ac  fere  reliquae  Chrislianilalis  incommodo  sucurrere  uelimus,  quo-  ~ 
rum  nos  preces  ¡usías  presertim  non  possumus  negligere.  llaque  ad  Se- 
renitatem  tuam  scribendum  duximus  illam,  in  domino  plurimum  borlan- 
tes ut  re  diligenter  considérala  remedium  aliquod  adhibere  uelit,  quo  lan- 
tum  populorum  ac  genlium  hoc  inlolerabili  onere  leuelur,  preter  enim 
aequum  et  debitum,  cui  tu  salisfacere  imprimís  debes,  Deoque  esse  gra- 
lus,  qui  le  ad  reglara  euexit  dignilalem  ut  esses  populis  ómnibus  profi- 
cuus  et  salularis.  i\os  praelerea  ad  ueram  ulililatem  tuam  et  ad  ueram 
laudem  perlinere  arbilramur  diminuere  aliquantum  de  huiusmodi  lucro,  el 
raullura  iusti  honoris  acquirere.  Ac  de  re  mullí  loculi  sumus  cora  dile- 
cto filio  Michaele  Silua  oralore  apud  nos  luo,  qui  uir  prudens  el  admo- 
dum  probus  audire  poluit  huiusmodi  querelas  et  presens  intelligere  quan- 
tum ob  eam  causara  de  serenitalis  luae  fama  et  gloria,  si  in  eo  persiste- 
res,  delraheretur,  cui  eliam  conraisimus  ut  ad  te  scriberet.  Nos,  si  tu, 
queraadraodum  quidem  decet  et  fas  est  auctoritatera  et  gratiara  nostrara 
in  re  hac  ualere,  apud  animum  luura  perraiseris,  adhibuerisque  operara 
et  diligenliara  ut  horum  incomraodorura  leuatio  fiat,  efficies  rem  Ubi,  ut 
uere  iudicaraus,  et  ulilem  et  honestara,  gratura  ipsi  quidera  et  raaxinie 
acceplura  a  lúa  Serenitate  habituri  sumus. 

Datura  Romae  apud  Sanclura  Pelruní,  sub  annulo  piscatoris,  die  ix 
Aprilis  MDXxiiii,  Ponlificatus  nostri  anno  Prirao.  —  la.  Sadoktus  '. 


*  Arch,  Nac,  Mac.  20  de  Bullas,  n.°  8. 

27* 


212  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 


Carta  patente  do  Cardeal  Sautiquatro. 


15«4— Abril  lO. 


Nos  Laurentius,  Miseratione  diuina  liluli  sanctorum  Quaüuor  Coro- 
natorum  Sanclae  Romanae  Ecclesiae  presbiter  Cardinalis,  ac  Maior  Poe- 
nitentiarius,  IJniuersis  et  singulis  presentes  liUeras  nostras  patentes  ins- 
pecturis  fidem  facimus  et  altestamur  quatinus  sanctissiinus  in  christo  Pa- 
ler  et  Dominus  noster  Dominus  Clemens,  diuina  prouidentia  Papa  sepli- 
mus,  accepto  quod  alias  a  Sede  apostólica  clarae  memoriae  Emanueli  Por- 
tugalliae  et  Algarbiorum  Regi,  \t  absque  aliquo  conscientiae  scrupulo 
aliquibus  de  Regia  corona  sua  benemerilis  aul  alias  sibi  gratis  in  recom- 
pensara seruitiorum  et  obsequiorura  eidem  Regi  prestilorum,  aut  cassa- 
tionem  seu  exlinctionem  pensionum,  uulgo  tenzas  nuncupatas,  aut  alio- 
rum  annuorum  reddiluum,  quos  quandoque  ^uper  Regiis  redditibus  et 
nonnunquam  super  preceptoriis  seu  coramendis  aut  mensa  magislrali  Mi- 
litiae  Jesu  chrisli,  cuius  administrator  perpetuus  per  sedem  eandem  de- 
putatus  erat,  daré  et  assignare  consueueral,  Preceptorias  seu  commendas 
ipsas  dictae  militiae  libere  et  licite  daré  et  conferre  possel,  viuae  uocis 
oráculo  bonae  memoriae  Georgio  Cardinali  Portugallensi  desuper  facto, 
concessum  et  indultum  extitit,  Ipseque  emanuel  Rex  dicta  facúltate  vs- 
que  ad  obilura  suum  libere  semper  vsus  fuit,  Serenissimo  Domino  Do- 
mino Joanni  moderno  Regi  eandem  licentiam  confirmauit  seu  de  nouo 
concessit.  Necnon,  vt  símiles  recompensas  Preceptoriarum  aut  reddiluum 
dictae  uel  cuiuscunque  alterius  militiae,  pro  dolibus  diclarura  persona- 
rum  elargiri,  condonare  et  libere  compensare  possit  et  ualeat,  ampliauil 
et  concessit;  ac  tara  prefalum  Emanuelem,  quam  ipsum  Joannem  Reges 
de  Preceptoriis  seu  commendis  huiusmodi,  absque  licenlia  sedis  apostoli- 
cae,  per  eos  antea  forsan  concessis  facto  nobis  desuper  viuae  vocis  ora- 
culo  absoluit,  In  contrarium  facienlibus  non  obstanlibus  quibuscunque. 
In  quorum  fidem  dictas  patentes  lilteras  fieri,  ac  magni  sigiili  noslri  ap- 
pensione  per  infrascriptum  Secrelarium  noslrum  communiri  fecimus  ma- 
nuque  nostra  propria  subscripsimus. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  213 

Dalum  Romae  in  Palalio  Apostólico,  in  camera  noslrae  solilae  resi- 
denliae,  anno  ab  incarnatione  Domini  millesimo  quingenlesimo  vigésimo 
quarlo,  die  \ero  decima  mensis  Aprilis,  Ponlificalus  prefali  Sanclissimi 
Domini  Noslri  anno  primo.  —  Ita  est  Laurentius  liluli  Sanctorum  qua- 
tuor  Coronalorum  presbiíer  cardinalis  manu  propria  subscripsi.  —  P. 
Bombasius  scripsil.  ^ 


JBre^e  do  Papa  Clemente  ^11,  dirigido  a  el-Rei. 


1594— Malo  14. 


^   Clemens  papa  vii  Carissiirte  in  christo  fili  noster  salulem  et  Apos- 
lolicam  benediclionem. 

Habentes  fidem  eam  in  Serenitale  lúa,  qiiam  tua  et  maiorum  luo- 
rum  uirlus  poslulat,  nec  dubilantes  quin  in  omni  re  communem  dei  cau- 
sam  et  slalum  Chrislianae  Religionis  concernente  Tu  nobis  sis  et  amo- 
re  et  auxilio  et  diiigenlia  affulurus,  comraunicauimus  nonnulla  cum  di- 
lecto filio  Michaele  Silua  oratore  apud  nos  Tuo,  quae  is  ad  le  noslro 
nomine  perscribere  deberel,  cuius  lilleris  ut  fidem  babeas  tuam  Sereni- 
tatem  magnopere  in  domino  hortamur.  Ac  si  inlelliges  in  tanto  fidei  christi 
detrimenlo,  ac  chrislianarum  plebium  animarum  exilio,  nobis  esse  pro 
paslorali  oíficio  ómnibus  sollicitudinibus  et  sludiis  elaborandum,  ut  ali- 
quid  afferre  remedii  tanlae  labi  possimus,  erit  proprium  eius  eximiae  uir^ 
tutis,  ac  singularis  erga  deum  religionis,  quam  Serenilas  tua  in  omni  re 
ostendere  solila  est,  suscipere  parlem  nobiscum  tam  pii  operis,  et  tam 
sancti  ac  necessarii  laboris,  quam  Tibi  non  solum  regni,  sed  eliam  chris- 
tianissime  uolunlalis  hereditalem  maiores  tui,  et  precipua  clarae  memo- 
riae  Emanuel  Paler  tuus,  reliquerunt. 

Dalum  Romae  apud  Sanclura  Pelrum,  sub  annulo  piscatoris,  die 
xiiii  Maii  MDXxiiii,  Ponlificalus  noslri  anno  Primo.  —  la.  Sadolelus  ^. 


^  Arch.  Nac,  Mac.  33  de  Bullas,  n."  10. 
2  Ibi,  Mac.  19  de  Bullas,  n.°  19. 


214  GOaPO  DIPLOMÁTICO  POliTUGUKZ 


Breve  do  Papa  Cleineate  ¥11,  dirigido  a  el-Rei. 


15^4  —  díullio  1. 


Clemens  Papa  vii  Garissime  in  chrislo  fili  nosler  salulem  el  Apos- 
lolicaiíi  benediclionem. 

Accidit  nobis  perincommode  in  ipso  prope  inilio  consiliorum  nos- 
trorum,  quae  pro  summi  dei  honore,  et  Galholica  fide,  quae  uel  corru- 
ptis  moribus  uel  prauis  opinionibus  multuní  labefactala  est,  in  anliquum 
decus  reslituenda  quolidie  Iractamus,  ul  Serenilas  tua  per  dileclum  filium 
Michaelem  Syluam  oratorem  suum  fsicJn\oh\s  supplicarel  tam  uehemen- 
ter  ul  nuper  in  luo  regno  uacanlis  Visensis  Ecclesiae  adininislralionem 
dilecto  iiem  filio  Henrico  infanli  el  fratri  tuo  germano  concedereraus, 
cui  iampridem  quoque  esset  altera  similis  ecclesia  commendata.  Nos  enim 
Ínter  primas  deliberationes  nostras,  quibus,  si  dominus  opem  lulerit,  ue- 
rae  religionis  saluti  consulere  cogitamus,  hoc  consUluimus  nemini,  qui 
extra  collegium  Venerabilium  fratrum  nostrorum  Sanclae  Romanae  Ec- 
clesiae Gardinalium  exisleret,  duas  ecclesias  ulla  omnino  ralione  esse  com- 
miltendas,  Non  quod  hoc  quoque  de  Gardinalibus  exceptum  ualde  probe- 
mus,  sed  quia  nec  possuraus  omnia  repetente,  el  illi  tamen  iure  quodam 
inueteratae  consuetudinis  in  hac  possessione  sunt ;  Alicui  uero  alleri  hoc 
Ídem  si  concedamus,  patefaciendum  nobis  iter  sil  ad  innumerabilem  tur- 
bara in  simiiem  cupiditatem  uocandam.  Decreuimus  igitur,  deo  inspiran- 
te, nemini  omnino  duas  ecclesias  committere,  etsi  enim  faclitalum  hoc 
fuisse  scimus  et  proximis  et  superioribus  temporibus,  quanto  id  lamen 
populi  christiani  detrimento,  quanta  cum  labe  religionis  faclum  fuerit 
etiam  inlelligimus.  Antiquis  porro  illis  temporibus,  quibus  sanctissimi 
Pontífices  praedecessores  nostri  omnia  ad  deum  et  ad  populorum  salulem, 
non  ad  graliara  atque  ambitum  hominum  referebant,  seleris  loco  habitum 
est  duas  uni  ecclesias  regendas  mandare,  semel  fortassis,  aut  iterum  le- 
gitur  faclum  fuisse  secus  Sed  ila  ut  si  recle  interprelari  uelimus,  quae 
ralio  efficil  ut  una  uni  dumtaxat  ecclesia  Iradenda  sil  eadem  tune  eíTe- 
ceril  Yt  duae  in  una  persona  essent  collocandae,  uel  enim  exhauslis  clade 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  215 

aliqua  populis  propler  raritatem  eorum,  qu¡  superfuerunt,  duae  in  unum 
plebes  commixlae  prope  necessaiio  sunt,  iiel  in  finilimis  et  uicinis  dua- 
bus  ecclesüs  ita  expetente  et  flagitante  populo  insignis  et  prudens  el 
religiosiis  Episcopus  duplici  curae  pracfeclus  cst.  Sed  nos  admoniti  nimis 
magno  damno  lolius  chrislianae  reipublicae  qiiam  non  alia  magis  de  causa 
quam  bonorum  Episcoporum  inopia  laborantem,  et  ob  id  in  máximas  cul- 
pas et  uitia  prulapsam  grauis  dei  ira,  ut  manifestó  cernimus,  insequitur, 
slaluimus,  quantum  nobis  dominus  opem  dederil,  non  solum  alia  multa, 
quae  confusa  sunt  in  debilum  ordinem  redigere,  Sed  huic  quoque  Epis- 
copalis  gradus  incommodo  subuenire ;  neo  tantum  ut  eos  praeficiamus 
huic  honori,  qui  saluis  sanclorum  Patrum  regulis  praefici  rile  poterunt, 
sed  ut  eos  eliam,  qui  nunc  sunt,  et  a  uia  et  tramite  aberrant  honesta- 
tis,  ad  memoriam  ac  cullum  et  dei  et  sui  honoris  omni  cum  cura  reuo- 
cemus.  Itaque  memores  etiam  sumus  quid  ad  Serenilatem  tuam  proximis 
scripsimus  diebus,  idemque  nunc  repetimus,  tuain  Serenilatem  in  domi- 
no plurimum  obleslanles,  ul  et  quae  tune  per  nos  in  eis  litteris  decreta  sunt 
ea  executioni  tradantur,  et  huius  nostri  salularis  consilii  decrelum  tua 
quoque  uolunlale  ob  reucrenliam  dei  et  inslauralionem  immaculalac  re- 
ligionis  possit  manere  saluum  ;  Nam  si  omisso  dei  omnipolenlis  respectu 
hominis  alicuius  habenda  ralio  esse,  falemur  Serenilatem  Tuam  omni  pre- 
mio honoris  et  liberaütalis  noslrae  dignissimam  esso.  Quid  enim  abest 
Tibi,  quod  si  adesset  plus  erga  Te  beniuolenliae  gerere  deberemus?  Vir- 
lus  tua,  et  maiorum  tuorum,  palrisque  tui  precipue  clara,  et  praeslans 
recordatio,  acliones  ueslri  generis  semper  ad  chrislianilalis  commodum 
paratae,  amor  in  Nos,  et  in  hanc  sanclam  sedem  singularis  obseruanlia, 
omnia  denique  eiusrnodi,  ut  nihil  tantum  sit  quod  non  Tibi  ac  luis  esse 
debitum  uideatur.  Sed  illud  quoque  a  te  deo  ipsi,  a  quo  tot  dona  adeplus 
es,  debelur  ul  per  tuam  aequanimitatem  alque  uirlulem,  quae  ad  illius 
honorem  perlinent,  et  fidelium  ipsius  salulem  continent,  nostra  cara  et 
solliciludine  recle  adminislrentur.  Quamobrem  da  hoc  nobis,  el  dei  no- 
mine et  noslro  postulanlibus,  ut  nostram  hanc  recusalionem  pelitionis  tuae 
in  optimam  parlem  accipias,  alque  hoc  principium  salubcrrimae  delibe- 
rationis  lanti  regis,  nobisque  ac  sedi  aposlolicae  coniunclissimi  repulsa 
patiaris  sanciri.  Non  enim  propler  hoc  clausa  Tibi  erit  liberalilas  nostra, 
multa  euenient,  in  quibus  reponemus  quod  nunc  non  csl  dalum,  el  lanío 
maiore  studio  compensabimus,  quanlo  maiore  nunc  doleré  negamus  Tibi, 


216  CORPO  DIPLOMÁTICO  POKTÜGÜEZ 

quod  omnipotenli  deo  daré  potius  decreuimus.  Tu  uero  si  le  respeclus 
dei,  id  quod  semper  fecit,  nunc  eliam  commouel,  quando  de  hac  Eccle- 
sia  ad  luam  poslulalionem  prouidere  nunc  inslituimus,  eüge  honiinem  a 
cupidilale  alienum,  qui  deum  limeat,  el  uilae  ac  conlinentiae  salularc 
cunclis  praebeal  exemplum,  in  quem  nos  libenlissime  huno  honorem  con- 
feremus.  Talibus  enim  profeclo  inlermedüs  el  Ponlificibus  apud  deum  qui 
pro  populorum  peccalis  salisfaciunt,  el  exorabiles  fundanl  preces,  el  tua 
Serenilas  el  orbis  chrislianus  ¡ndigel  uniuersus,  cuius  assidue  calamila- 
les,  clades,  ruinae  el  nos  el  Te  el  unumquenque  admonenl,  ul  eum  al¡- 
quando  propiliare  sludeamus,  qui  unus  spes  noslra  esl  recuperandae  sa- 
lulis,  qui  allissimum  posuit  refugium  suum,  ad  quod  non  acccdil  malum. 
In  qua  el  uolunlate  etsentenlia  Serenilatem  luam  non  dubüamus  pro  ma- 
ximis  in  eam  a  deo  collalis  beneficüs  esse  nobiscum  conuenluram. 

Dalum  Romae  apud  Sanclum  Petruní,  sub  annulo  piscaloris,  die  pri- 
ma Julii  MDXxiiii,  Ponlificatus  noslri  anno  Primo.  —  la.  Sadolelus  '. 


Carta  de  el-Rei  ao  Papa  demente  ¥11. 


1524— Jumo  ... 


Muylo  Samto  in  chrislo  padre  e  muylo  beem  aventurado  Sennor  o 
Tosso  deuoto  e  obediemte  filho  dom  Joam,  per  graca  de  deus  Rey  de  por- 
lugal  e  dos  algarues  d  aaqueem  e  d  aleem  mar  em  áfrica,  Sennor  de 
guiñee,  e  da  comquisla  e  navegacam  e  comercio  de  eliopia,  arabia,  per- 
sya  e  da  Imdia,  com  toda  omildade  emvio  beijar  seus  Samtos  pees. 

Muylo  Samlo  In  chrislo  padre  e  muylo  beem  aveenlurado  Sennor, 
eu  spreuo  a  dom  miguel  da  Sylua,  do  meu  comselho  e  meu  embaixador, 
que  fale  a  vossa  Sanlidade  alguumas  cousas  tocamtes  a  meu  casamento 
com  a  lilustrissima  e  muy  eixcelenle  princesa  Ifante  dona  Caíerina,  Ir- 
maa  do  emperador  meu  muylo  amado  e  precado  primo,  que  com  a  graca 
de  nosso  Senhor  eslaa  comcerlado  e  acabado,  e  sobre  a  dispensacam  que 
soprico  e  peco  muylo  por  mercee  a  vossa  Santidade  que  conceda  pera 

^  Abch.  Nac,  Mac.  26  de  Bullas,  n.°  20. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  217 

nos  casarinos  por  palauras  de  preseemte  como  manda  a  madre  samta 
Igreja,  segundo  que  compridamente  o  dito  meu  embaixador  Iho  falará. 
Soprico  e  peco  muylo  por  mercee  a  vosa  Samtidade  que  em  ludo  o  queyra 
ouuyr  e  Ihe  dee  Inteira  fee  e  crenca,  e  em  muy  Symgular  mercee  ho 
Receberey. 

3Iuyto  Samto  In  christo  padre  e  muyto  beem  aventurado  Senñor, 
Noso  Senñor  comserue  vosa  Sanlidade  por  niuytos  teempos  a  seu  Samto 
seruico. 

Sprita  em  evora  a  ....  dias  de  Julho  de  1524  ^ 


Breve  do  Papa  Clemente  l^II,  dirigiflo  a  el-Rei. 


1524— «rnllio  S9. 


Clemens  papa  vii  Carissime  in  Christo  fili  noster  salutera  et  Aposlo- 
licam  benedictionem. 

Tuae  Serénitatis  litteras,  Calendis  Maii  datas,  libentissime  legimus 
plenas  oíTicii,  anioris,  obsoruantiae,  quae  nobis  plañe  ante  oculos  posue- 
runt  id,  quod  niinime  fucrat  dubium,  singularem  te  ex  nostrae  amplifi- 
catione  dignitatis  caepisse  uoluptatem,  quod  etsi  mérito  iureque  facis, 
proptorea  quidem,  quae  nostrae  perpetuae  et  muluae  beniuo'.entiae  con- 
iunctio  omnia  ¡nter  nos  iubet  esse  comniunia,  et  utrumque  nostrum  uult  al- 
terum  alterius  commodis  lanquam  suis  laetari,  Tamen  clarissimi  regis  omne 
officium  ipsius  teslatum  litleris  uberem  et  iucundam  nobis  attulit  sui  opti- 
nii  animi  erga  nos  significationem,  oíficia  quidem  tuorum,  ac  dilecti  fdü 
Michaelis  syluae  oratoris  tui  in  ipso  incremento  dignitatis  nostrae,  ut  an- 
tea etiam  scripsimus,  eiusmodi  extiterunt,  ut  facile  appareret  nihil  iilum 
existimare  faceré  posse  Tibi  gratius,  quam  si  ómnibus  studiis  declararet 
laetissimam  Tibi  fore  et  optalissimam  hanc  assumptionem  ad  Pontifica- 
luní  noslram.  Quod  quando  diuino  incredibili  beneficio  Tuae  Serenitati 
ex  sententia,  Nobis  supra  merita  el  supra  uires  nostras,  accidit,  primum 
quidem  perfugium  spei  nostrae  benegerendi  tanti  honoris  in  ipso  deo  om- 

*  Minuta  no  Arch.  Nac,  Gav.  13,  Mac.  8,  n.°  26. 
TOMO  U.  28 


218  GORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

nipolenle  collocauimus,  Deinde  uero  in  eis  regibus  ac  principibus,  qui 
multorum  ac  miignorum  munerum,  quae  deo  referunl  accepla,  eidem  deo 
grati  esse  cupiunl.  In  qua  pia  et  praestanli  uolunlate  Serenilalem  tuam 
certi  sumus  non  postremas  apperiluram  parles,  Nam  el  uirlu\is  tuae  su- 
mus  conscii,  el  clarae  memoriae  patris,  maiorumque  tuorum  heredilariam 
in  Te  pietalem  agnoscimus.  Qua  propler,  sicuti  nos  ambos  dominus  deus 
uno  lempore  suorum  fidelium  populorum  regendorum  administralores  esse 
uoluil,  ¡la  ad  nos  perlinet  pro  coniunclione  animorum  el  beniuolenliae 
nostrae  in  hac  praeclara  socielale  tanli  muneris  ad  illius  nomen  el  glo- 
riara, qui  omnium  bonorum  auclor  ómnibus  est,  tuendam  alque  amplifi- 
candam  esse  concordes.  Quod  de  nobis  polliceri,  de  Te  expeclare  certo 
possumus. 

Dalum  Romae  apud  sanclum  Pelrum,  sub  annulo  Piscaloris,  die  xxix 
Julii  MDXxmi,  Ponlificalus  noslri  anno  Primo. — la.  Sadolelus^  . 


Bulla  do  Papa  Clemente  \WM,  dirig^ida  a  el-Rei. 

15194— Ag^osto  25. 


Clemens  episcopus  seruus  seruorum  dei  Charissimo  in  chrislo  fiüo 
Johanni  Porlugallie  el  Algarbiorum  Regi  Illuslri,  ac  dilecte  in  chrislo  filie 
nobili  Mulieri  Calherine,  clare  memorie  Philippi  Gaslelle  et  Legionis  Re- 
gnorum  Regís  Gatholici  nate,  Salulem  et  apostolicam  benediclionem. 

Exponi  nobis  nuper  fecisli  per  dileclum  filium  nobilem  virum  M¡- 
chaelem  de  Sylua,  luum,  fili  charissime  Johannes  Rex,  apud  nos  el  se- 
dem  apostolicam  Oratorem,  quod  vos  pro  conseruandis  inler  vos  veslros- 
que  consanguíneos  el  affines  pacis  el  amicilie  federibus,  sicut  et  inler  ues- 
tros  etiam  predecessores  simili  modo  seruala  fuerunl,  desideralis  inuicem 
malrimonialiter  cupulari ;  sed  quia  secundo  ex  eo  prouenienle  quod  dua- 
rum  Sororum  filii  eslis,  ac  alias  Secundo  el  Terlio  ac  duplici  quarlo,  et 
forsan  alus  de  quibus  notitiam  non  habetis,  infra  lamen  secundum  con- 
sanguinitatis  gradura,  gradibus  inuicem  eslis  coniuncti,  vestrum  in  hac 

>  Ahch.  Nac,  Ma?.  19  de  Bullas,  n.°  13. 


RELACOES  COM  a  CUíUA  romana  219 

parle  desiderium  adimplere  non  poteslis  dispensalione  apostólica  super  hoc 
non  óblenla ;  Quare  idem  Michael  Oralor  pro  parle  veslra  nobis  humili- 
ler  supplicauit  ut  Vobis  super  hoc  de  oporlune  dispensationis  gratia  pro- 
uidere  de  benignitale  aposlolica  dignaremiir.  Nos  ¡gitiir,  si  qua  alia  im- 
pedimenla  ralione  consanguinitatis  uel  affinilatis  huiusmodi,  quorum  non 
recordamini  el  forsan  nolitiam  non  habetis,  dummodo  citra  Secundum 
gradum  Consanguinilalis  et  aííinilalis  huiusmodi  fuerinl,  presenlibus  pro 
expressis  habenles  ex  premissis  ac  cerlis  aliis  causis  nobis  expositis,  hu- 
iusmodi supplicalionibus  inclinali,  Vobiscum,  dummodo  Tu  in  chrislo  filia 
Catherina  propler  hoc  rapta  non  fueris,  ut  predictis  et  aliis  forsan  pro 
expressis  habilis  impedimentis  Consanguinitatis  et  aííinitatis  huiusmodi 
non  obslantibus,  malrimonium  inler  vos  conlrahere,  et  in  eo  postquam 
contraclum  fuerit  remanere,  libere  et  licite  ualeatis,  apostolicis  ac  in  pro- 
uintialibus  etsynodalibus  Conciliis  editis,  generalibus  uel  specialibus,  Cons- 
titulionibus  et  ordinationibus,  ceterisque  contrariis  nequáquam  obslanti- 
bus, auctoritate  apostólica  tenore  presentium  dispensamus,  ac  prolem  ex 
huiusmodi  matrimonio  suscipiendam  legitimam  nunciamus. 

Dalum  Rome  apud  Sanctum  petrum  Anno  Incarnalionis  dominice 
Millesimo  quingentésimo  uigesimo  quarto,  Octano  Kalendas  Septembris, 
Pontifieatus  noslri  Anno  primo  \ 


nreve  do  Papa  Clemente  l^II,  dirigido  a  el-Rei. 

1594— Agosto  99. 


Clemens  papa  vii  Garissimi  in  chrislo  fili  noster  salulem  et  aposlo- 
iicam  benediclionem. 

Cepimus  magnam  animi  laetitiam  ex  eo  nuncio,  quem  de  noua  tuae 
serenitatis  cum  Serenissimo  Caesare  aíTmilalis  coniunctione  et  litlerae  tuae 
et  dilecli  filii  Michaelis  Syluae  oratoris  lui  sermo  nobis  altulerunt,  pro- 
pler eximium  quidem  ac  palernum  nostrum  in  ulrunque  ueslrum  amorem 
alque  animum,  Nam  cum  Caesaris  ipsius  causa  omnia  cupimus,  lum  lúa 

^  Arch.  Nac,  Mar.  37  de  Bullas  n."  11  e  Gav.  9,  Mac.  4  n."  6. 

28* 


220  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGÜEZ 

et  patris,  maiorumque  luorum  in  hanc  sanclam  sedem  oííicia,  nobis  sunt 
cordi.  Gaudemus  igitur  et  gratulamur  in  domino  vlrique  uestruní,  ,\'ete- 
remque  uestram  consanguinilatem  hac  quoque  necessitudine  inslaurari  et 
corroborari  máxime  laetamur,  Cumque  ambos  summe  deligamus,  mutuam 
quoque  inter  uos  beneuolentiam,  bis  quoque  uinculis  illigatam,  et  perpe- 
tuam  esse  et  felices  exitus  habere  desideramus,  Quod  eliam  confidimus 
diuina  bonitale  freli  certo  fulurum  esse.  Nos,  quao  noslrac  parles  fue- 
runt,  fecimus  lihentissime  \t  quod  ad  dispensalionem  pcrlinebat  propin- 
quitatem  graduum  impedimento  esse  non  deberé  decernercmus.  Ñeque 
hac  dispensatione,  quae  ad  pacom  et  ad  concordiam  chrislianaeque  rei- 
publicae  commodum  spoctat,  sanclius  et  salularius  existimamus  esse,  quic- 
quam  Benignilatem  uero  noslram,  quam  libi  semper  uolunius  esse  para- 
tam,  ita  temperauimus,  \t  tuam  quoque  serenitalem  ueünuis  in  bohara 
partera  accipere  aliquid  maximis  necessilatibus  sedis  apostolicae  a  nobis 
fuisse  datura.  Deum  omnipotcntcm  supplices  deprecamur  vt  ueslrae  nunc 
mentes  coniunctae  inter  se  ad  dei  honorem  ac  nomen  propagandum,  tran- 
quillitatemque  et  pacen»  christianitalis  couriciendam,  tendant  atque  con- 
sentiant.  Idquc  cum  uestra  laude  et  peremni  vtililate  ita  fíat  vt  christiana 
respublica  bonam  partera  salutis  suae  vtrisque  nobis  referat  acceptam. 
Quae  omnia  ab  eodem  oratore  tuo  nostris  uerbis  latius  intelliges,  cui  íidem 
habebis. 

Datura  Romae  apud  sanctum  Petrum,  sub  annulo  piscatoris,  Die  xxvii 
Augusti  MDXXiiií,  Pontificatus  Nostri  Anno  Primo.  —  la.  Sadoletus  '. 


*  Arch.  Nac,  Ma?.  20  de  Bullas,  n."  22,  O  documento  n.°  6  d'este  mafo  e  outro 
breve  do  mesmo  theor,  havendo  tambem  urna  versáo  d'elle  emportuguez  no  Corp.  Chron., 
Part.  I,  Mac.  31,  Doc.  51. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  221 


Bulla  do  Papa  Clemente  TU,  dirigida  a  el-Rei. 


15;S4  —  Setembro  O. 


Clemens  episcopus  seriuis  seruoriim  dei  Carissimo  in  christo  filio 
Johani  Portugalie  et  Algarbiorum  Regi  lllustri  Salulem  et  apostoücam  be- 
nediclionem. 

Gratie  diuine  premium  et  humane  laudis  preconiíiin  acquiritiir  si 
seculares  Principes  ecclesiariim  Prelatus,  presertim  Pontificali  dignitate 
predilos,  diuine  propiliationis  intuitu  oportuni  fauoris  gratia  prosoqiian- 
tur.  Hodie  siquidem  ecclesie  Visensis,  tune  certo  modo,  qiiom  oliam  si 
ex  illo  queuis  generalis  reserualio  etiam  in  corpore  iuris  clausa  rosulta- 
ret  tiaberi  voluimus  pro  expresso,  Pastoris  solacio  destitule,  de  persona 
dilecti  filii  Johannis  Electi  Visensis,  nobis  et  fratribus  nostris  oh  suorum. 
exigentiam  meritorum  accepta,  de  fratrum  eorundem  consilio,  apostólica 
auctoritate  prouidimus,  ipsumque  illi  prefecimus  in  Episcopiiui  el  Pasto- 
rem,  curam  et  administrationem  ipsius  ecclesie  sibi  in  spiritualibus  et 
temporalibus  plenarie  committendo,  prout  in  nostris  inde  confectis  litte- 
ris  plenius  continetur.  Cuní  igitur,  fili  carissime,  sil  virlutis  opiis  dei  mi- 
nistros benigno  fauore  prosequi,  cosque  verbis  et  operibus  pro  Regis  eterni 
gloria  veneran,  Serenitatem  tuam  rogamus  et  horlamur  atiente  quatinus 
eundem  Johannem  Electum,  et  prefatam  ecclesiam  sue  cure  eommissam, 
habens  pro  nostra  et  apostolice  sedis  reuerentia  propensius  commendatos, 
ipsos  benigüi  fauoris  auxilio  prosequaris,  Ha  quod  idem  Johannes  Eleclus 
celsiludinis  tue  fultus  presidio  in  commisso  sibi  cure  Pastoralis  oíficio  pos- 
sit  deo  propicio  prosperan,  ac  libi  exinde  a  deo  perenius  vite  premium 
et  a  nobis  condigna  proueniat  graliarum  aclio. 

Datum  Rome  apud  Sanclum  pelrum  Anno  Incarnationis  dominice 
Millesimo  quingentésimo  vigésimo  quarto,  Quinto  Idus  Septembris,  Pon- 
tificatus  nostri  Anno  Primo  — A.  de  Castillo  '. 


^  Abch.  Nac,  Mac.  18  de  Bullas.  n.°  45. 


222  CORPO  DIPL(3MATIG0  PORTUGÜEZ 


Bulla  do  Papa  Clemeutc  \11,  dirigida 
ao  Blispo  eleito  de  \íxeu, 

15^4 — Setembro  9. 


Clemens  episcopus  seruus  seruorum  dei  dilecto  filio  Johanni  Eleclo 
Visensi  Salulem  et  apostolicam  benedictionem. 

Aposlolatus  officiiim,  quamquam  insiiííicienlibus  meritis  nobis  ex  alto 
comrnissum,  quo  ecclesiarum  omnium  regimini  presidemus,  vlililer  exe- 
qui  coadiuuanle  domino  cupientes,  solliciti  corde  reddimur  et  solertes  vt, 
cum  de  ipsorura  regiminibus  agitur  commiltendis,  tales  eis  in  Pastores 
preficere  studeamus,  qui  populum  sue  cure  creditum  sciant  non  solum 
doctrina  verbi  sed  eliam  exenoplo  boni  operis  informare,  commissasque 
sibi  ecclesias  in  statii  pacifico  el  tranquillo  velint  et  valeanl,  duce  domi- 
no, salubriter  regere  et  feliciler  gubernare.  Sane  ecclesia  Visensis  ad  pre- 
sens  certo  modo  Pastoris  regimine  destituta.  Nos  verum  vltime  dicte  ec- 
clesie  vacationis  modum,  etiam  si  ex  illo  queuis  generalis  reserualio,  etiam 
in  corpore  iuris  clausa,  resultet,  presentibus  pro  expresso  habentes,  ac 
ad  prouisionem  ipsius  ecclesie  celerem  et  felicem,  ne  ipsa  ecclesia  longe 
vacationis  exponatur  incommodis,  paternis  et  sollicilis  studiis  intendentes, 
Post  deliberationem  quam  de  preficiendo  eidem  ecclesie  personam  vlilem 
et  etiam  fructuosam  cum  fratribus  nostris  habuimus  diligenlem,  Demum 
ad  te  ordinis  fratrum  minorum  et  Theologie  Professorem,  ac  in  sacerdo- 
lio  et  etate  legitima  conslitulum,  cui  apud  nos  de  Religionis  zelo,  vile 
mundicia,  honéstate,  morum  spirilualium  prouidentia,  et  temporalium  cir- 
cunspectione,  aliisque  multiplicum  virlulum  donis  fidedigna  testimonia 
perhibentur,  direximus  oculos  nostre  mentis,  quibus  ómnibus  debita  me- 
dilatione  pensatis,  de  persona  tua  nobis  et  eisdem  fratribus  ob  luorum 
exigentiam  meritorum  accepta  eidem  ecclesie  de  ipsorum  fratrum  consi- 
Üo  auctoritale  apostólica  prouidemus,  teque  illi  preficimus  in  Episcopum 
el  Pastorem,  curam  et  adminislralionem  ipsius  ecclesie  libi  in  spiriluali- 
bus  et  lemporalibus  plenarie  commitlendo,  In  illo  qui  dat  gralias  et  lar- 
gitur  premia  confidentes  quod  dirigente  domino  actus  luos  prefala  eccle- 


RELACOES  COM  a  curia  romana  223 

sia  sub  tuo  felici  regimine,  gralia  Ubi  assislente  diuina,  regeluv  vtililer 
et  prospere  dirigetur,  ac  grata  in  eisdem  spiritualibus  et  temporalibus  sus- 
cipiet  incrementa.  Jugum  igiliir  domini  luis  impositum  humeris  prompla 
deuotione  suscipiens,  curam  et  administrationem  prediclas  sic  exercere 
studeas  soUicite  fideliter  et  prudenler,  qiiod  ipsa  ecclesia  gubernalori  pro- 
uido  et  fructuoso  administratori  gaudeat  se  commissam,  tuque  preter  eter- 
ne  retributionis  premium  nostram  et  apostollice  sedis  benedictionem  et 
gratiam  ex  inde  vberius  consequi  merearis. 

Datum  Reme  apud  sanclum  petrum  Anno  Incarnationis  dominice 
Millesimo  quingentésimo  uigesimo  quarlo,  Quinto  Idus  Seplembris,  Pon- 
tificatus  nostri  Anno  Primo  —  A.  de  Castillo  ^ 


Bulla  do  Papa  Clemente  Tu,  dirlg;ida 
ao  Biispo  eleito  de  Tizeu. 

1594 — ¡Setembro  9. 


Clemens  episcopus  seruus  seruorum  dei  Dilecto  filio  Johanni  de  Gha- 
ues,  ordinis  fratrum  minorum  et  Theologie  professori,  Salutem  et  apos- 
tolicam  benedictionem. 

Romani  Pontificis  copiosa  benignitas  de  slatu  personarum  ecclesias- 
licarum  quarumiibet,  presertim  litterarum  scienlia  preditarum,  et  at  Pon- 
lificalem  dignilatem  assumendarum  quas  oporlet  omni  carere  macula,  ne 
tanti  culminis  censeantur  inhábiles,  sollicite  considerans,  ad  ea  libenter 
infendit  per  que  persone  assumende  predicte  ecclesiis  sibi  commissis  sin- 
cero corde  et  pura  conscientia  valeant  salubriter  presidere.  Gum  ilaque 
nos  hodie  ecclesie  Visensi,  certo  modo  Pastoris  solatio  destilute,  de  per- 
sona tua  nobis  et  fratribus  nostris  ob  tuorum  exigentiam  meritorum  ac- 
cepta,  de  dictorum  fratrum  consilio  prouidere,  leque  illi  in  Episcopum 
et  Pastorem  preficere  intendamus,  Nos,  ne  prouisio  et  prefectio  predicte, 
si  forsan  aliquibus  sententiis  et  censuris  ecclesiasticis  ligatus  sis,  valeant 
propterea  inualide  reputari,  prouidere  volenles,  te  a  quibusuis  excommu- 

'  Akch.  Nac,  Mac.  18  de  Bullas,  n."  30. 


224  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

nicationis  suspensionis  el  inlerdicli,  alüsque  ecclesiaslicis  sententiis  cen- 
siiris  el  penis  a  ¡are  uel  ab  homine  quauis  occasione  vel  causa  lalis,  si 
quibus  quomodolibel  iiinodahis  existís,  ad  hoc  dumtaxat  vt  prouisio  el 
prefeclio  predicle  ac  sifigule  ütlere  apostolice  desuper  conficiende  suum 
consequanlur' eííeclum,  auclorilate  aposlolica  tenore  presentium  absolui- 
mus  el  absolulum  fore  nunliamus :  Non  obsfanlibus  Gonsliluiionibus  el 
ordinalionibus  apostolicis,  ac  dicle  ecclesie  necnon  ordinis  fralrum  niino- 
rum  iuramenlo,  confirmalione  aposlolica,  vel  quauis  firmilate  alia  robo- 
ralis,  slalulis  el  consuetudinibus,  quodque  dicli  ordinis  professor  exislis, 
celerisque  conlrariis  quibuscunque.  Nulli  ergo  omnino  hominum  liceal 
hanc  paginam  noslre  absolulionis  infringere,  vel  ei  ausu  temerario  con- 
traire.  Siquis  aulem  hoc  allemplare  presumpseril  indignalionem  omnipo- 
lenlis  dei,  ac  bealorum  Pelri  el  Pauli  Aposlolorum  eius,  se  noueril  in- 
cursurum. 

Datura  Rome  apud  Sanclum  pelrum  Anno  Incarnalionis  dominice 
Millesirao  quingentésimo  uigesimo  quarlo,  Quinto  Idus  Seplembris,  Pon- 
tificatus  noslri  Anno  Primo  '. 


Bulla  do  Papa  Clciueiite  l^II,  dirigida 
ao  il.rceblsipo  de  Braga. 

15S<i — iSetembro  9. 


Clemens  episcopus  seruus  seruorura  dei  Venerabili  fralri  Archiepis- 
copo  Bracharensi  Salulem  el  aposlolicam  benedictionem. 

Ad  cumulum  lúe  cedil  salulis  el  fame  si  personas  ecclesiasticas,  pre- 
serlim  Ponlificali  dignilale  preditas,  diuine  propitiationis  inluilu  oportuni 
presidii  ac  fauoris  gralia  prosequaris.  Hodie  siquidom  ecclesie  Visensis, 
tune  cerlo  modo,  quem  eliam  si  ex  illo  queuis  generalis  reseruatio  eliam 
in  corpore  iuris  clausa  resullarel,  haberi  voluimus  pro  expresso,  pasto- 
ris  solacio  deslilute,  de  persona  dilecli  filii  Johannis  Elecli  Visensis,  no- 
bis  el  fralribus  noslris  ob  suorum  exigentiam  meritorum  accepla,  de  fra- 


'  Abch.  Nac,  Ma?.  18  de  Bullas,  n.»  46. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  255 

Irum  eorundem  consilio,  apostólica  aucloritale  prouidiraus,  ipsumque  illi 
prefecimus  in  Episcopum  el  Pastorem,  curam  el  adminislralionem  ipsius 
ecclesie  sibi  in  spirilualibus  el  temporalibus  plenarie  commiüendo,  prout 
in  noslris  inde  confeclis  lilleris  plenius  continelur.  Cum  igilur,  yI  idem 
Johannes  Eleclus  in  comraissa  sibi  dicte  ecclesie  cura  facilius  proficere 
valeat,  tuus  fauor  sibi  noscatur  plurimiim  oporlunus,  fralernitatem  tuam 
rogamus  monemus  el  hortamur  atiente  per  apostólica  scripta  sibi  man- 
dantes quatinus  eundem  Johannem  Electura  el  diclam  ecclesiam  sibi  com- 
niissam,  suffraganeam  luam,  habens  pro  nostra  el  apostolice  sedis  reue- 
renlia  propensius  commendalos,  in  ampliandis  el  conseruandis  eiusdem 
ecclesie  iuribus  Sic  eos  tui  fauoris  presidio  prosequaris,  quod  ipse  Jo- 
hannes Eleclus  luo  fullus  auxilio  in  commisso  sibi  eiusdem  ecclesie  re- 
gimine  se  possil  \lilius  exercere,  tuque  diuinam  misericordiam  ac  nos- 
tram  el  eiusdem  sedis  benedictionem  el  graliam  valeas  ex  inde  \berius 
promereri. 

Datura  Rome  apud  Sanclum  pelrum  Anno  Incarnalionis  dominice 
Millesimo  quingentésimo  uigesimo  quarto,  Quinto  Idus  Seplembris,  Pon- 
tificalus  nostri  Anno  Primo.  —  Á.  de  Castillo^. 


Bulla  do  Papa  Clemente  HÍI,  dirig;ida  ao  clero 

de  Vizeu. 

1584 — jSetembro  O. 


Clemens  episcopus  seruus  seruorum  del  Dileclis  filiis  Clero  ciuilalis 
et  diócesis  Visensis  Salutem  el  apostolicam  benedictionem. 

Hodie  ecclesie  Visensis,  tuno  cerlo  modo,  quem  etiam  si  ex  illo  que- 
uis  generalis  reserualio  etiam  in  corpore  iuris  clausa  resullarel,  haberi 
volumus  pro  expresso,  Pastoris  solalio  destilute,  de  persona  dilecti  filii 
Johannis  Elecli  Visensis,  nobis  el  fratribus  noslris  ob  suorum  exigenliam 
meritorum  accepta,  de  fratrura  eorundem  consilio  apostólica  aucloritale 
prouidiraus,  ipsumque  illi  prefecimus  in  Episcopum  et  Pastorem,  curam 

*  Arch.  Nac.  Mac.  18   de  Bullas,  n.°  24. 
TOMO  II.  29 


2f6  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGÜEZ 

et  administralionem  ipsius  ecclesie  sibi  in  spirilualibus  el  temporalibus  ple- 
narie  commiltendo,  prout  in  nostris  inde  confeclis  lilleris  plenius  coüli- 
nelur.  Quocirca  discretioni  vestre  per  apostólica  scripla  mandamus  qua- 
tinus  eidem  Johanni  Electo,  tanquam  patri  et  pastori  animarum  \estra- 
rum  humiliter  intendentes,  ac  exhibentes  sibi  obedienliam  et  reuerentiam 
debitas  et  deuolas,  eius  salubria  mónita  et  mándala  suscipialis  humiliter, 
et  eílicaciter  adimplere  curelis.  Alioquin  senlenliam,  quam  idem  Johan- 
nes  Electus  rite  tulerit  in  rebelles,  ratam  habcbimus,  et  faciemus  auclore 
domino  vsque  ad  satisfactionem  condignam  inuiolabilitcr  obseruari. 

Datum  Rome  apud  Sanctum  petrum  Anno  Incarnationis  dominice 
Millesimo  quingentésimo  uigesimo  quarto,  Quinto  Idus  Septembris,  Pon- 
tificatus  nostri  Anno  Primo.  —  A.  de  Castilho  ^ 


Bulla  do  Papa  Clemente  ^11,  dirigida  ao  11  ij§|>o 

de  l^izeu. 

15:^4  —  ¡Setembro  IS. 


Clemens  episcopus  seruus  seruorum  dei  Dilecto  filio  Johanni  Electo 
Visensi  Salutem  et  apostolicam  benedictionem. 

Cum  nos  pridem  ecclesie  Visensis,  tune  certo  modo,  quera  etiam  si 
ex  illo  queuis  generalis  reseruatio  resultaret,  habéri  voluimus  pro  ex- 
presso,  Pastoris  solatio  destitute,  de  persona  tua  nobis  et  fratribus  nos- 
tris  ob  tuorum  exigentiam  meritorum  accepta,  de  fratrum  eorundem  con- 
silio  auctoritate  apostólica  duxerimus  prouidendum,  preficiendo  te  illi  in 
Episcopum  el  Pastorera,  prout  in  nostris  inde  confectis  lilleris  plenius 
continelur,  Nos  ad  ea,  que  ad  tue  commodilatis  augmentum  cederé  va- 
leant,  fauorabiliter  intendentes,  luis  in  hac  parte  supplicationibus  incli- 
nati,  libi  vi  a  quocunque  malueris  catholico  Anlislile  graliam  et  commu- 
nionem  apostolice  sedis  habente,  accilis  et  in  hoc  sibi  assislenlibus  duo- 
bus  vel  Tribus  Gatholicis  Episcopis  similem  graliam  et  communionem  ha- 


'  Arch.  Nac,  M.1C.  18  de  Bullas,  n,"  15.  Idénticas  mutatis  miitandis  aos  vassal- 
los  d'esta  iyreja  (Mac.  18  n."  10),  eaopovo  da  mesma  diocesc  (Mai;.  19  u."  35). 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  227 

benlibus,  munus  consecrationis  recipere  valeas,  ac  eidem  Anlislili  vt,  re- 
cepto prius  per  eurn  nostro  et  Romane  ecclesie  nomine  a  te  fidelilatis  de- 
bite sólito  iuramento  iuxia  formam  presentibus  annotatara,  munus  predi- 
clum  auctorilate  nostra  impenderé  libere  tibi  possit,  plenam  et  liberara 
concedimus  earundem  presentium  tenore  facultatem.  Volumus  autem  el 
dicta  aucloritate  statuimus  et  decernimus  quod  si,  non  recepto  a  te  per 
ipsum  Episcopum  dicto  iuramento,  idem  Episcopus  munus  ipsum  tibi  im- 
penderé et  tu  illud  suscipere  presumpseritis,  dictus  Antistes  a  Pontiíicalis 
officü  exercitio,  et  tam  ipse  quam  tu  ab  administratione  tam  spiritualium 
quam  temporalium  ecclesiarum  Yestrarum  suspensi  sitis  eo  ipso.  Prete- 
rea  volumus  quod  formam  huiusmodi  a  te  nunc  presliti  iuramenti  nobis 
de  verbo  ad  verbum  per  tuas  patentes  litteras,  tuo  sigillo  signatas,  per 
proprium  Nunlium  quam  tolius  destinare  procures.  Quodque  per  hoc  ve- 
nerabiii  fratri  nostro  Archiepiscopo  Bracharensi,  cui  prefata  ecclesia  Me- 
tropolitico  iure  subesse  dinoscitur,  nullum  imposterum  preiudicium  ge- 
neretur :  forma  autem  iuramenti  quod  prestabis  hec  est  —  Ego  Johannes 
Electus  Visensis  ab  hac  hora  in  antea  fidelis  et  obediens  ero  beato  Petro 
sancteque  apostolice  Romane  ecclesie,  et  domino  nostro  domino  Clemenli 
Pape  VI,  suisque  successoribus  canonice  intrantibus.  Non  ero  in  consilio 
aut  consensu  \el  facto  vt  vitam  perdant  aut  membrum,  seu  capianlur  aut 
in  eos  manus  violenter  quomodolibet  ingeranlur,  vel  iniurie  alique  infe- 
rantur,  quouis  quesito  colore.  Consilium  vero,  quod  michi  credituri  sunt, 
per  se  aut  Nuntium  seu  litteras  ad  eorum  damnum,  me  sciente,  nemini 
pandara.  Papalum  Romanum  et  Regalia  sancti  Petri  adiulor  eis  ero  ad 
relinendum  et  defendendura  contra  oranem  hominem.  Legatura  apostolice 
sedis  in  cundo  et  redeundo  honorifice  Iractabo,  et  in  suis  necessitatibus 
adiuuabo.  Jura  honores  priuilegia  et  auctoritatem  Romane  ecclesie  do- 
mini  nostri  pape  et  successorum  predictorum  conseruare,  defenderé,  au- 
gere  et  promouere  curabo.  Nec  ero  in  consilio  facto  seu  tractatu,  in  qui- 
bus  contra  ipsum  dominum  nostrum  vel  eandera  Romanara  ecclesiam  ali- 
qua  sinistra  vel  preiudicialia  personarurá  iuris  honoris  status  et  potesta- 
tis  eorura  machinelur ;  et  si  talia  a  quibuscumque  procuran  nouero  vel 
traclari  impediam  hoc  pro  posse,  et  quanlotius  commode  potero  signifi- 
cabo  eidem  domino  nostro,  vel  alteri  per  quem  ad  ipsius  notitiara  perue- 
nire  possit.  Regulas  sanclorum  patrum,  decreta,  ordinationes,  sententias, 
dispositiones,  reserualiones,  prouisiones  et  mandata  apostólica  lotis  viri- 

29* 


228  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

bus  obseruabo,  et  faciara  ab  alus  obseruari.  Heréticos,  scismalicos  et  re- 
belles  domino  nostro  et  successoribus  prediclis  pro  posse  persequar  et 
impugnabo.  Vocatus  ad  Synodum  veniam,  nisi  prepedilus  fuero  canónica 
prepedilione.  Apostolorum  limina  Romana  Curia  existente  cilra  singulis 
Annis,  \ltra  vero  Montes  singulis  Bienniis,  visilabo  aut  per  me  aul  per 
meum  Nuntium,  nisi  apostólica  absoluar  licentia.  Possessiones  vero  ad 
Mensam  meam  pertinentes  non  vendam  nec  donabo  ñeque  impignorabo 
ñeque  de  nouo  infeudabo,  vel  aliquo  modo  alienabo,  eliam  cum  consensu 
Capituli  ecclesie  mee,  Inconsulto  Romano  Pontífice.  Sic  me  deus  adiuuel 
el  hec  sánela  dei  Euangelia. 

Datum  Rome  apud  Sanctum  petrum  Anno  Incarnationis  dominice 
Millesimo  quingentésimo  uigesimo  quarlo,  Pridie  Idus  Seplembris,  Pon- 
tificalus  noslri  Anno  Primo  \. 


Bulla  do  Papa  Cleineiite  ^11. 

15:34 — TVovembro  (t). 


Clemente  bispo  seruo  dos  seruos  de  deus  ad  perpetuara  rei  memoriam. 

O  Romano  pontifice  na  térra  vigario  de  christo,  o  quall  lem  o  Re- 
gymento  da  militante  Igreja,  a  quall  todas  as  Igrejas  do  uniuerso  mun- 
do abraca,  o  quall  Romano  Ponlifice  com  madura  deliberacam  todas  as 
cousas  oulhando  tem  hum  especial  Respeito  e  naturall  cuidado  das  Igre- 
jas de  Roma,  a  quall  mais  que  todas  as  outras  como  filha  he  delle  ama- 
da, E  principalmente  tem  este  proprio  cuidado  daquellas  Igrejas,  das  quaes 
os  Cardeaes  da  sancta  Igreja  de  Roma  tem  seu  titulo  ou  nomeacam,  na 
fabrica  e  Reformacam  das  quaes  tanto  com  mor  cuidado  enlcnde,  quanto 
a  dicta  cydade  nara  somente  he  cabeca  do  mundo,  mas  ainda  tem  o  prin- 
cipado da  Religiam  christaa,  e  na  quall  cidade  o  Senhor  ordenou  que 
fosse  a  Sancta  See  de  seu  vigario,  á  quall  See  de  todas  as  partes  do  mun- 
do os  fiéis  chrislaos  concorrem.  Em  verdade  esses  Cnrdeaes  da  dicta  See 
sam  chamados  membros  honrados,  E  por  tanto  aquelle,  que  por  diuina 

•  Arch.  Nac,  Mac.  19  de  Bullas,  n.°  33. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  229 

prouidencia  em  a  dicta  See  eslá  assentado,  acostumou  oulhar  por  as  di- 
ctas Igrejas,  e  dellas  despoer  e  ordenar  segundo  que  "vé  no  Senhor  que 
saudauellmenle  Ihes  pertence.  E  certamenle  como  quer  que  no  tempo  pas- 
sado  o  papa  leo  x  da  felice  recordacam,  nosso  predecessor  e  primo,  Re- 
cebesse  na  honra  do  Cardealadego  nosso  amado  filho  affonso,  filho  de  Ma- 
nuell  da  Clara  memoria  llluslre  Rey  de  Portugall  e  dos  algarues,  E  Ihe 
desse  por  nomeacam  de  seu  Cardealadego  a  Igreja  de  sancta  luzia  In  se- 
ptem  soliis  de  Roma,  Nos,  fauorecente  a  diuina  clemencia  eleyto  ao  sánelo 
Pontificado,  Consyderando  que  no  tempo  passado  Sixto  papa  mi,  oulrosy 
nosso  predecessor,  com  maduro  conselho  oulhando  a  dicta  Igreja  ser  sy- 
tuada  em  huma  vinha  junto  do  mosteiro  de  sam  gregorio  de  Roma,  e  ser 
priuada  de  todos  os  bens  asy  moues  como  immoues,  e  desfallecida  de  ren- 
das, e  em  seus  edeficios  tam  consumida  e  quasi  destroida  de  maneira  que 
parecía  que  tolallmenle  cayria  em  térra,  querendo  elle  prouer  por  tall 
que  multas  antigás  e  grandes  colunas  e  muy  grandes  marmores  com  a 
queda  nam  quebrassem,  Como  muy  tas  vezes  se  faz,  e  por  se  nam  perde- 
rem,  mandou  derribar  a  dicta  Igreja,  e  goardar  as  dictas  colunas  e  mar- 
mores  pera  em  Repairo  de  outras  Igrejas  da  dicta  cidade  serem  conuer- 
lidas,  E  deu  lugar  que  o  assentamento  da  dita  Igreja  asy  deserto  de  to- 
das as  partes  asy  como  profano  ou  lugar  nam  sagrado  podesse  ser  laura- 
do,  E  trespasou  seu  titulo  e  denomeacam  de  Cardealadego  á  Igreja  de 
sánela  luzia  junio  do  libere,  no  bayrro  da  ponte.  E  oulhando  nos  que 
Julio  II  da  sancta  memoria,  deseiando  alargar  a  dicta  cidade,  mandou 
fazer  algumas  rúas  publicas  tongas  e  largas,  e  ncilas  magnificas  casas 
edificar,  e  anlre  as  outras  comecou  de  mandar  fazer  hum  paco  no  bayrro 
da  ponte  junto  da  Igreja  de  sam  bras,  de  grande  obra  e  magnifica  do  di- 
nheiro  da  cámara  apostólica,  o  quall  paco  por  Rezam  de  sua  morle  nam 
foy  acabado,  E  a  dicta  cámara  por  causa  das  mullas  diuidas  da  See  apos- 
tólica o  nam  pode  acabar,  e  muilo  menos  agora  o  pode  fazer ;  E  consi- 
derando nos  que,  se  se  ordenasse  a  dicta  Igreja  de  sam  bras  ser  em  ti- 
tulo de  presbitero,  ou  em  diaconia  de  diácono  Cardeall,  e  se  ao  dito  af- 
fonso Cardeall  se  concedesse  juntamente  com  o  paco  comecado  a  edefi- 
car,  E  o  dicto  afl'onso  Cardeall  á  sua  cusía  acabasse  a  dita  Igreja  e  paco, 
Isto  sem  duuida- seria  ornamento  e  fermosura  da  dicta  cidade,  e  proueyto 
do  dito  afi'onso  Cardeall  quando  nella  resydir  quisesse,  e  oulrosy  seria 
honra  e  louuor  do  dicto  manuell  Rey,  o  quall  era  sua  \ida  desejou  man- 


230  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

dar  fazer  algum  edificio  semelhanle,  deliberamos  resgoardar  asy  á  honra 
do  dicto  manuel  Rey  como  ao  proueyto  do  dito  affonso,  e  tambem  á  for- 
mosura  e  ornamento  perpetuo  da  dicta  cidade  de  Roma  :  pollo  quall, 
ávida  sobre  ysso  madura  deliberacam,  do  nosso  moto  proprio  e  certa 
sciencia,  e  de  comprido  poder  apostólico  e  auctoridade  apostólica,  sla- 
luimos  e  ordenamos  que  d  aquy  por  diante  a  dicta  Igreja  de  sam  bras 
deiia  ser  diaconia  do  dito  afi'onso  Cardeall,  e  d  ahy  avante  pera  sempre 
seja  titulo  de  presbitero  ou  diaconia  de  diácono  cardeall,  segundo  acon- 
tecer ser  o  Cardeall  que  por  os  tempos  a  teuer.  E  concedemos  ao  dito 
affonso  Cardeall  por  denomeacam  de  seu  Cardealadego  a  dita  Igreja  de 
sam  bras,  juntamente  com  o  dicto  paco  a  ella  junto,  com  todos  seus  di- 
reitos  e  pertencas,  pera  que  á  sua  propria  custa,  segundo  esperamos  e 
no  senhor  o  orlamos,  possa  acabar  a  obra  da  dita  igreja  e  paco :  nara 
obstante  etc '. 


BreTe  do  Papa  Clemente  ¥11,  dirigiido  ao  Cardeal 

D.  Affouiso. 

1594 — ]Voi;'einl)ro  99 . 


Clemens  papa  vii  Dilecte  fili  noster  salulem  et  apostolicam  benedi- 
ctionem . 

Dudum  siquidera  felicis  recordationis  Leo  papa  x  praedecessor  nos- 
ter nonnulla  ecclesiastica  beneficia,  etiam  dignitates,  in  elborensl  et  alus 
ecclesiis,  etiam  generaliler  reseruata,  usque  ad  certum  expressum  ualo- 
rem,  primo  etiam  cessantibus  commendis  uacalura,  specialiter  suae  et  se- 
dis  apostolicae  dispositioni  reseruando,  ac  ordinariis  et  alus  ne  de  illis  se 
inlromitterent  inhibendo,  dilecto  filio  Michaeli  de  Silua,  clerico  vlixbo- 

*  Abch.  Nac,  Mac.  37  de  Bullas,  n,"  76.  Nao  encontramos  a  bulla  original,  nem 
outra  iraducQao  complecta  que  nos  indicasse  a  data;  comtudo,  nao  obstante  estar  a  se- 
gunda folha  deste  documento  collada  a  urna  outra,  ainda  se  le  por  transparencia  o  se- 
guinte,  escripto  no  verso:  Trelado  da  bula  do  lilollo  nouo  de  sam  bras  que  o  papa  deu 
ao  senhor  cardeal,  a  qual  foy  dada  em  euora  a  el  Rey  noso  senhor  no  anno  de  1525  no 
propio  dia  de  sam  bras  cm  que  se  celebra  a  festa  do  dito  santo  na  dita  cidade.  Vidé  a 
nota  no  fim  do  breve  de  217  de  novembro. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  231 

nensi,  Carissimi  in  Christo  filii  noslri  Portugalliae  Regis  Illuslris  apud 
eum  tune,  et  nunc  apud  nos  el  dictara  Sedera  orafori,  motu  proprio  et 
ex  certa  scientia  ac  de  apostolicae  potestalis  plenitudine  ad  eius  uitara 
coraraendauit,  illaque  ex  tune  sibi  commendata,  ac  omnes  et  singulas  col- 
lationes,  prouisiones  et  commendas,  et  alias  dispositiones  de  eis  eatenus 
eideinceps,  eliam  per  eum  et  dictara  sedera  pro  quibuscunque,  etiam  Gar- 
dinalibus,  quouis  raodo  et  ex  quibuscunque  causis  factas  et  faciendas,  ñut- 
ías, irritas,  et  inanes  existere  nec  lilulum  eliara  coloratuTii  alicui  Iribuere 
possidendi,  eundemque  Michaelem  in  ipsorura  beneficiorura  asseculione 
cunctis  eliam  Cardinalibus  anleferri  deberé,  ae  sibi  plenum  ius  in  illis 
esse  quesitura,  ita  quod  solara  possessionera  et  fructuura  et  reddituura 
percepliouera  expectare  deberel,  aliasque  et  alia  decreuit,  cerlis  desuper 
executoribus  deputalis,  Quibus  mandauit  qualenus  eundem  Michaelem, 
seu  eius  procuratorem,  in  corporalera  diclorum  beneficiorura  possessio- 
nera inducerent,  amotis  quibusuis  detentoribus  ab  eisdem,  quos  ipse  prae- 
decessor  tanquara  alieni  raptores  amouit,  amotosque  et  propterea  nec  de 
spolio  aut  attentatis  contra  eundem  Michaelem  agi  posse  nunciauit,  prout 
in  litteris  aposlolicis  desuper  in  forma  breiiis  expeditis  plenius  continetur. 
El  deinde,  sicut  accepimus,  scolaslria  diclae  ecclesiae  elborensis,  quae  inibi 
dignilas  non  lamen  maior  posl  pontificalem  exislil,  per  obilum  bonae  rae- 
moriae  Francisci  Fernandez  episcopi  Fecensis,  illius  dura  uiueret  ullimi 
possessoris,  extra  Romanara  Curiara  tempere  recolendae  memoriae  Adriani 
papae  .vi,  etiam  praedecessoris  nostri,  et  ante  illius  coronalionem,  uide- 
lieet  ante  diera  ultimara  mensis  Augusli  anni  a  naliuitate  Domini  raille- 
sirai  quingentesimi  \igesimi  secundi,  defuncli,  uacanle,  et  ad  praefalum 
Michaelem  uigore  diclarum  liüerarura,  ex  eo  etiam  quod  nos  per  quan- 
dara  Conslitutionem  siue  regulara  Cancellariae  nuper  editara  eíFeclura  et 
uigorem  constitulionis,  siue  regulae  reuocaloriae  per  praefalura  Adrianum 
praedecessorera  anle  dictara  uacalionera  edilae,  ad  diera  diclam  coronalio- 
nem sequenlera  reduxiraus,  reslrinximus,  seu  retraxiraus,  pertinente,  dile- 
clus  filius  Anlonius  Didaci,  pro  clerico  se  gerens  ex  ordinaria  seu  apostó- 
lica collalione  uigore,  certae  gratiae  expeclaliuae  sibi  concessae,  et  per  di- 
ctara reseruationem  eidera  Michaeli  concessam  suspensae,  in  illa  se  inlrusit 
et  intrusus  exislit,  in  praefali  Michaelís  preiudicium  non  modicura  et  ia- 
cturam.  Nos  igilur  allendenles  dictara  Scolaslriam  diclae  reseruationis  ui- 
gore eidem  Michaeli,  el  nulli  alleri,  deberi  et  ad  ipsura  dunlaxat  specta- 


232  CORPO  DIPLOMÁTICO  POUTUGUEZ 

re,  Motu  proprio,  non  ad  dicli  Michaelis  uel  alterius  pro  eo  nobis  super 
hoc  oblalae  pelitionis  instantiam,  sed  ex  nostra  mera  deliberalione  ac  ex 
caria  scienlia  et  aposlolicae  poteslalis  pleniludine,  Circunspectionem  luam, 
qui  eiusdem  ecclesiae  elborensis  perpeluus  adminislralor  exislis,  liorla- 
mur  in  Domino  ac  requirimus  ut,  si  rem  gralam  nobis  faceré  desideras, 
eundem  Michaelera,  seu  eius  legilimum  procuralorem,  ¡n  diclae  scolas- 
triae,  iuriumque  el  perlinenliarum  omnium  iilius,  realem  el  aclualem  pos- 
sessionem  inducífe,  et  per  dileclos  filios  capitulum  eiusdem  ecclesiae  elbo- 
rensis, quibus  eliam  per  alias  noslras  liUeras  mandamus  ul  ipsum  ad  di- 
ctara Scolastriam  recipianl  el  admillant,  induci  facias,  el  defendas  indu- 
clum,  dicto  Antonio  et  quouis  alio  delenlore  amoló,  proul  eliam  nos  ex 
nunc  per  présenles  amouemus  el  amolum  esse,  eumque  de  spolio  ac  ui- 
lio  altentali  minime  agere  posse  decernimus,  sed  si  ius  habere  praelen- 
dat  eum  de  iure  suo  uia  petilorii  duntaxat  experiri  posse,  sicque  ubique 
eliam  in  auditorio  Rolae  iudicari  deberé  uolumus.  Non  obslanlibus  prae- 
missis,  necnon  conslilulionibus  el  ordinalionibus  apostolicis,  slalutisque 
el  cousueludinibus  diclae  ecclesiae  elborensis,  iuramenlo,  quod  dicto  Mi- 
chaeli  ad  eíFeclum  premissorum,  quatenus  opus  sil,  relaxamus,  confir- 
malione  apostólica,  ac  quauis  alia  firmitate  roboralis,  priuilegiis  quoque 
et  indullis,  ac  lilleris  apostolicis  praefatis  Capitulo  el  quibusuis  alus  quo- 
raodolibet  concessis,  confirmalis,  et  innoualis,  quibus  illorum  tenores  pro 
suííicienler  expressis  habentes,  illis  alias  in  suo  robore  permansuris,  hac 
uice  duntaxat,  specialiter  el  expresse  derogamus,  caeterisque  contrariis 
quibuscunque.  El  de  bis  quae  Circumspeclio  lúa  in  praemissis  fecerit 
quamtotius  per  lúas  litteras  nobis  significare  curabis. 

Datum  Romae  apud  Sanclum  Pelrum,  sub  Annulo  piscatoris,  die 
XXVII  Nouembris  mdxxiui,  Ponlificalus  Nostri  Anno  Segundo.  —  Be.  El. 
Rauennensis  \ 


1  Abch.  Nac,  Mac.  20  de  Bullas,  n.°  2.  IJ-se  no  sobrescripto:  Dilecto  filio  nos- 
tro  Alfonso  Sancti  Blasii  Diácono  Cardinali.  O  Documento  numero  24  do- Mac.  26  de 
Bullas  é  outro  breve  do  mesmo  teor. 


RELAQOES  GOM  a  curia  romana  233 

Breve  do  Papa  Clemente  Til,  dirigido  a  el-Rei. 

15:35 — Janeiro  99, 


Clemens  papa  vii  Garissime  in  christo  fili  noster  salulem  el  apos- 
tolicam  benedictionem. 

Guin  dilectus  filius  Michael  de  Sylua  Orator  apud  nos  tuus,  vene- 
rabili  fratri  Joanni  mallheo  episcopo  veronensi  Datario  nostro  et  noslro 
nomine  recepienti,  solueril  summam  sex  milliurn  ducatorum  auri  in  auro 
de  camera  pro  compositione  dispensationis  Serenitali  tuae  per  nos  con- 
cessae  de  contrahendo  matrimonium  cum  carissima  in  christo  filia  nos- 
Ira  Caterina  Hispaniarum  infante  Gesareaeque  Maiestatis  sorore,  non  ob- 
stante impedimento  inter  te  et  illam  in  secundo  et  alus  inferioribus  etiam 
multiplicibus  gradibus  consanguinitatis  et  affinitatis  intercedente,  Nos  ad 
eiusdera  oratoris  lui  preces,  ne  te  in  posterum  supei*  hoc  molestan  con- 
tingat,  te  de  summa  sex  millium  ducatorum  predicta,,quae  in  similibus 
longe  maior  esse  consueuit  ac  debuit,  et  quam  in  tolum  serenitati  tuae 
remisissemus,  nisi  sedes  apostólica  hoc  lempore  aere  alieno  grauiter  op- 
pressa  esset,  tenore  presentium  quietaraus  et  liberamus,  contrariis  non 
obstantibus  quibuscunque. 

Datum  Romae  apud  sanctum  Petrum,  sub  annulo  piscatoris,  die 
xxviiii  Januarii  mdxxv,  Pontificatus  Nostri  Anno  secundo.  —  Be.  EL  Ra- 
uennensis  ^ 


1  Arch.  Nac,  Mac.  20  de  Bullas,  n.°  3. 
TOMO  II.  30 


234  GORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 


Bulla  do  Papa  Clemente  l^II,  dirig;lfla  a  el-Rel 

e  á  Rainlia. 

15S5 — Feveretro  5. 


Glemens  Episcopus  seruus  seniorum  dei  Carissimo  in  christo  filio 
Joanni  Portugallie  et  Algarbiorum  Regi,  et  Garissime  in  christo  filie  Ca- 
Iherine  Regine  Iliustribus  Salulem  et  Apostolicam  Benedictionem. 

Sincera  feruensque  deuotio,  quam  ad  nos  et  Romanam  geritis  ecclc- 
siam,  mérito  nos  inducunt  yI  illa  vobis  et  cuilibet  veslrum  fauorabiliter 
concedamus,  per  que  conscientie  pacem  et  animarum  vestrarun?  salutem 
Deo  propitio  consequi  possitis,  ac  pelilionibus  vestris,  illis  presertin)  qiias 
ex  deuotionis  feruore  prodire  conspicimus,  quantum  cum  deo  possumus 
fauorabiliter  annuamus.  Ilinc  est  quod  nos,  vestris  deuotis  supplicationi- 
bus  inclinali,  vobis  el  filiis  ac  filiabus  vestris  ex  vobis  nascituris,  fratri- 
busque  luis,  fili  Joannes  Rex,  et  cuilibet  eorum,  vt  aliquem  presbiterum 
ydoneunx  secularem,  etiam  Prelatum  aut  cuiusuis  ordinis  regularem,  in 
vestrum  possitis  eligere  Gonfessorem,  qui  vita  vobis  comité  in  casibus 
e'iiam  sedi  apostolice  reserualis,  hiis  dumtaxat  exceptis,  videlicet,  crimi- 
num  heresis,  rebellionis  aul  conspiralionis  in  personam  Romani  Ponlifi- 
cis  aut  apostolice  sedis,  et  oíFense  personalis  in  aliquem  sánete  Romane 
ecclesie  Gardinalem,  quibus  uos  nec  illaqueatos  nec  illaqueari  deberé  cre- 
dimus,  semel  lantum  quolibet  Anno,  et  in  morlis  articulo  etiam  ab  ex- 
ceptis huiusmodi,  in  alus  vero  quotiens  fueril  opporlunum,  confessioni- 
bus  vestris  diligenter  audilis,  pro  commissis  vobis  debitam  absolutionem 
impendat  et  iniungat  penilentiam  salutarem,  Ac  vota  quecunque  vllra- 
marino  visilationis  liminum  Apostolorum  Pelri  et  Pauli  de  Urbe  ac  san- 
cti  Jacobi  in  Gompostella,  necnon  Gastilalis  et  Religionis  votis  dumtaxat 
exceptis,  in  alia  pietatis  opera  commutare,  Ac  iuramenta  quecunque  sine 
iuris  alieni  prejudicio  relaxare  valeat,  necnon  omnium  peccalorum  ves- 
Irorum,  de  quibus  corde  contriti  el  ore  confessi  fueritis  seu  de  quibus  vo- 
luntatem  confitendi  et  intentionem  habueritis  vobis  semel  singulis  Annis, 
alus  .vero  semel  in  vita  el  in  morlis  articulo,  etiam  si  mors  tune  non  se- 


UELACOES  COM  a  curia  romana  233 

qualiir,  plenariam  remissionem  et  absolutionem  vobis  in  sinceritale  fidei 
et  Ynitale  sánete  Romane  ecclesie,  ac  obedienlia  et  deuotione  nostra  et 
successoriim  noslrorum  Romanoruní  Pontificum  canonice  inlrantium  per- 
sislentibus,  auctorilale  apostólica  concederé  possit.  Quodqne  liceal  vobis 
et  filiis  vestris  ac  fratribus  tuis,  fiü  Joannes  Rex,  et  vestrum  ac  eorum 
cuilibet,  habere  Altare  porlatile  cum  debilis  reuerentia  et  honore,  super 
quo  in  capellis  seu  oratoriis  vestris,  et  alus  locis  congruenlibus  et  hones- 
tis,  et  cum  qualitas  negotiorum  pro  tempore  ingriientium  id  exegerit,  etianí 
anlequam  ellucescal  Dies,  circa  tamen  diurnam  lucem  ac  etiam  circa  me- 
ridiem,  et  si  ad  loca  ecclesiastico  interdicto  auctoritate  apostólica  dum- 
modo  non  stet  per  vos  quominus  huiusmodi  seruetur  inlerdictum,  aul 
executioni  demandelur  id  propler  quod  fuerat  appositum  inlerdictum  sup- 
posita  vos  declinare  contigerit  in  illis,  clausis  januis  excommunicatis  el 
iulerdictis  exclusis,  non  pulsaüs  campanis,  etiam  cum  cantu  et  voce  exal- 
tationum,  seu  sine  cantu  alta  et  inlelligibili  uoce,  per  proprium  Capella- 
num  seu  alium  sacerdotem  ydoneum  Missas  et  alia  diuina  officia,  sine  iu- 
ris  alieni  preiudicio,  in  vestra  et  cuiuslibet  vestrum  familiarium  domes- 
ticorum  ac  personarum  per  vos  et  quemlibet  vestrum  eligendarum  predi- 
clarum  presentía,  íta  quod  vobis,  aut  Capellano  seu  alio  sacerdoti  sic  ce- 
lebranti,  ad  culpam  nequeat  imputan,  dummodo  vos  vel  familiares  aut 
alie  persone  predicle  causam  non  dederilis  interdicto,  nec  id  vobis  vel 
illis  contigerit  specialifer  interdici,  celebran  faceré,  ac  eodem  inlerdicti  et 
alio  quocumtiue  tempore,  etiam  in  die  Paschalis,  vos  ac  familiares  et  per- 
sone predicle  Eucharistiam  el  alia  sacramenta  ecclesiastica  a  Capellano  ves- 
tro,  seu  alio  sacerdote,  absque  licentia  Rectorum  parrochialium  ecclesia- 
rum,  in  quarum  parrochiis  vos  el  personas  predictas  pro  tempore  resi- 
dere  contigerit,  sine  tamen  illorum  preiuditio,  recipere ;  et  si  vos  aut  fa- 
miliares seu  personas  prefatos,  interdicto  huiusmodi  durante,  decedere 
contigerit,  vestra  et  illorum  corpora  siue  cadañera,  etiam  cum  funerali 
pompa,  ecclesiastice  tradi  possint  sepullure.  Prelerea  quod  vos,  el  quili- 
bel  vestrum  ac  familiares  predicti,  ac  alie  quinquaginla  persone  per  di- 
clum  Confessorem  de  consensu  veslro,  fili  Joannes  Rex,  el  in  chrislo  fi- 
lia Catherina  Regina,  eligende,  Quadragesimalibus  et  alus  Anni  diebus 
et  temporibus,  quibus  stationes  et  indulgentie  ecclesiarum  vrbis,  eliam  ex- 
tra illius  muros,  celebrantur,  Unum  Altare  in  Capella  seu  oratorio  ves- 
tro,  aul  alia  ecclesia  consislens  per  vos  et  vestrum  quemlibet  pro  tem- 

30* 


236  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

pore  eligeudum  deuote  visitando,  tot  el  similes  indulgenlias  el  peccalo- 
rum  remissiones  consequamini,  quas  consequeremini  el  consequi  posse- 
lis  si  singulis  diebus  prediclis  easdem  singulas  vrbis  Rome  el  extra  eam 
ecclesias,  que  a  chrislifidelibus  propter  stationes  huiusmodi  visitan  solent, 
personaliter  visitarelis.  El  si  forsan  senes  aul  raulieres  pregnanles  el  va- 
litudinarii,  aul  aliqua  infirmilale  oppressc  aut  impedimento  detente,  Al- 
tare huiusmodi  visitare  nequiueritis,  tune  ekmosinam  aliquam  elargien- 
do,  aut  suíFragia  aliqua  erogando,  seu  Ter  orationem  dorainicam  el  to- 
tiens  salutalionem  Angelicam  ante  ymaginem  aliquam  recitando,  easdem 
indulgenlias  el  peccatorum  remissiones  consequamini.  Ac  quod  Qadrage- 
simalibus,  et  alus  Anni  diebus  et  temporibus  prefatis,  quibus  esus  lacli- 
ciniorum,  ouorum  et  carnium  est  a  jure  prohibilus,  butiro,  ouis,  cáseo 
et  alus  lacticiniis,  ac  de  vtriusque  Medici  consilio  carnibus,  absque  con- 
scientie  scrupulo,  vesci  et  vti  libere  et  licite  valeatis.  Postremo  vero  mo- 
derno, et  pro  tempore  existenti  per  te,  íili  Joannes  Rex,  eligeudo  Con- 
fessori,  etiara  si  sil  Prelatus  in  sua  ecclesia  diócesi  aut  Monasterio  seu 
Conuentu  sui  ordinis,  minime  residere  valeat,  nec  ad  id  per  quempiam 
compelli  possit  dicta  auctoritate  indulgemus,  ipsumque  Confessorera  ab  omni 
iurisdilione,  visitatione,  correctione,  superioritate,  dominio  et  potestate 
sui,  ac  aliorum  ordinariorum  et  superiorum  quorumcunque,  necnon  vica- 
riorum  et  oíBcialium  eorundem  auctoritate  et  tenore  prediclis  prorsus  exi- 
mimus  et  liberamus,  Ac  sub  nostra  et  beati  Pelri  proteclione  suscipimus. 
Non  obstantibus  Constitutionibus  et  ordinalionibus  aposlolicis,  necnon  simi^ 
lium  indulgenliarum,  etiam  presentis  Anni  Jubilei,  reuocationibus  el  sus- 
pensionibus,  etiam  durante  fabrica  Basilice  Principis  Aposlolorum  de  Urbe, 
ac  Cruciate  ralione  expeditionis  contra  Infideles,  per  nos  et  sedem  aposto- 
licam  sub  quibusuis  verborum  formis  et  clausulis  factis  et  concessis,  ce- 
terisque  conlrariis  quibuscunque.  Volumus  autem  quod  Confessor  predi- 
ctus  de  hiis,  de  quibus  fuerit  alteri  satisfactio  impendenda,  eam  vobis, 
per  vos  si  superuixeritis,  vel  per  alios  si  forsan  tune  transierilis,  facien- 
dam  iniungat,  quam  vos,  vel  illi  omnino  faceré  teneamiui.  Et  ne  quod 
absit  vos,  propter  facultalem  eligendi  Confessorem  huiusmodi  reddamini 
procliuiores  ad  illicita  imposterum  commitlenda,  quod  si  a  sinceritate  fi- 
dei  ac  obedientia  et  deuotione  nostra  vel  successorum  noslrorum  predi- 
ctorum  destiteritis,  aut  ex  dicte  facultalis  confidentia  aliqua  forsan  com- 
raiserilis,  facultas,  concessio  et  remissio  predicte  ac  quoad  eas  presentes 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROxMANA  237 

Htlere  nulÜus  sint  roboris  uel  momenli ;  quodque  indulto  celebran  fa- 
ciendi  ante  diem  parce  \lamini,  nam  cum  in  Altaris  ministerio  immole- 
tur  Dominus  noster  Jesús  christus  Dei  filius,  qui  candor  esl  lucis  eterne, 
congruit  hoc  non  noctis  lenebris  fieri,  sed  in  luce ;  quodque  transumptís 
manu  publici  Nolarii  subscriptis  et  sigillo  alicuius  Prelatis  munitis,  eadem 
prorsus  fides  adhibeatur  ac  si  essent  exhibite  vel  ostense.  Nulli  ergo  om- 
nino  hominum  liceat  hanc  paginam  noslrorum  indulti,  liberalionis,  sus- 
ceplionis  et  voluntalis  infringere,  vel  ei  ausu  temerario  contraire.  Siquis 
autem  hoc  allemplare  presunipserit  indignationem  omnipotentis  Dei  ac  bea- 
torum  Petri  el  Pauli  Apostolorum  eius  se  noueril  incursurum. 

Datum  Rome  apud  Sanctum  pelrum  Anno  Incarnationis  dominice 
Milésimo  quingentésimo  uigesimo  quarto,  Nonis  februarum,  Pontiíicatus 
noslri  Anno  Secundo. — Jo.  M.  Episcopus  Veronensis^. 


Carta  de  D.  Miguel  da  liilva  ao  Cardeal 
Infante. 

15S5 — Fevereiro  6. 


Senhor.  —  Sendo  eu  criado  de  vosa  alteza  como  del  Rey  voso  ir- 
mao,  e  sempre  ate  agora  e  agora  nam  estando  menos  em  voso  seruico 
que  no  seu,  no  que  me  compre  muito  nam  poso  nem  devo  socorrer  me 
a  ninguem  com  mais  Rezao  que  a  elle,  e  principalmente  ñas  cousas  em 
que  sera  seu  mandado  e  vontade  nam  se  poderla  asi  alcancar  juslica.  Ho 
mestrescolado,  senhor,  desa  vosa  see  d  evora  cayo  debaxo  de  minha  Re- 
serva, e  polla  derrogacao  que  papa  adriano  fez  em  espanha  eu  cesey  de 
nelle  entender  ale  ver  se  durava  a  sem  Rezao  que  vniversalmente  se  fazia 
a  todo  ho  mundo  niso.  Vindo  despois  a  decraracao  de  papa  clemente  pera 
tornar  ho  seu  a  seus  donos,  ditirminey  de  mandar  logo  a  vosa  alteza, 
que,  aalem  do  zello  que  tem  e  deve  ter  de  fazer  justica  a  todos,  neste 
caso  a  mim,  que  sam  seu,  hade  folgar  de  fazer  muito  mais,  asy  por  iha 
eu  merecer  e  aver  de  servir  sempre,  como  por  nam  ser  seu  seruico  nemi 

*  Arch.  Nac,  Mac.  1  de  Bullas  n."  2. 


238  COKPO  DIPLOMÁTICO  POHTUGUEZ 

honra  de  sen  cabido  estar  liuuma  lam  principal  dinidade  em  maos  de 
huum  homem,  que  nem  sabe  latim  nem  escreuer  senam  muy  Roimente, 
sendo  ha  hobrigacao  da  dinidade  parlicularmcnle  letras  pera  poder  fazer 
seu  oíílcio,  e  estas  que  em  niim  nam  aja  muytíis  á  hi  alguumas  mais  que 
nelle,  e  outras  tantas  Rezoes  de  voso  criado  e  criado  delRey  voso  irmíio, 
que  fiquo  muy  seguro  que  por  voso  mandado  me  será  feita  inteyramente 
justica,  no  que,  aiem  da  merce  que  se  a  mim  faz,  faria  vosa  alteza  muito 
asinado  seruico  ao  papa,  que  Ihe  sobre  ¡so  escreue  como  verá,  e  pede 
que  Ihe  Responda.  Ao  cabido  escreve  tambem  sua  santidade  e  manda  sob 
aquellas  pennas,  que  a  see  apostólica  acustuma  poher  em  semelhantes  ca- 
sos, que  me  dera  logo  a  pose,  ho  que  nam  pode  negar  de  direito  nem  ne- 
gará se  vosa  alteza  jaa  me  nam  quisese  fazer  huum  muy  grande  agrauo, 
que  eu  n^m  espero,  e  ao  papa  nam  satisfazer  como  sua  santidade  espe- 
ra. Joanne  raendez  dará  deste  caso  mais  larga  enformacao  a  vosa  alte- 
za, ho  que  eu  nam  faco  pollo  nam  enfadar.  Beijar  Ih  ey  as  máos  ouuillo 
e  crello,  e  a  mim  fazer  merce  e  justica,  que  com  isto  e  cóm  quanlo  le- 
nho,  e  com  a  vida,  aqui  e  onde  quer  que  estiuer,  servirey  sempre.  Beijo 
as  maos  de  vosa  alteza,  cuja  vida  e  estado  noso  senhor  deus  guarde  e 
acrecenté  como  deseja. 

De  Roma  aos  seis  dias  de  fevereiro  1525. 

Criado  de  vossa  alteza.  —  Dom  myguel  da  Sijlva  '. 


Carta  d'el-Stei  a  D.  llig^iiiel  da  Silva. 


15SS — Fevereiro  23. 


Dom  miguel  amiguo,  Eu  elRey  vos  emvio  muylo  saudar.  Esguar- 
dando eu  ao  muyto  e  muy  continuado  seruico,  que  dom  ?iiartinho  de  por- 
lugall,  filho  do  hispo  dom  aífonso  que  foy  d  evora,  fez  a  elRey  meu  se- 
nhor e  padre,  que  santa  gloria  aja,  asi  no  lempo  em  que  o  seruyo  de 
dayam  de  sua  capella,  como  dantes,  e  como  a  mym  teem  servido  e  ser- 


'  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  í,  Mac.  31,  Doc.  143.  Lé-se  no  sobrescripto: 
Ao  Cardeal  Infante  de  Portugal  meu  senhor. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  239 

ue  muy  conlinuatlamenle,  e  com  muyla  despesa  de  sua  Remda,  e  pelo 
grande  contenlamenlo  que  lenho  de  sua  pessoa  e  merecimentos,  e  por  yso 
desejar  muy(o  de  Ihe  fazer  merce  e  acrecentamento,  me  prouue  o  pro- 
uer  e  Ihe  fazer  merce  do  moesleiro  de  sam  Jorge  da  ordem  de  santo 
agoslinho,.da  diocesy  do  bispado  de  Goimbra,  que  tinha  o  líTante  dom 
Anrique  meu  muyto  amado  e  precado  Irmaao,  o  qual  o  Renunciou  pera 
em  seu  fauor,  como  veres  por  sua  Renunciacam.  E  soprico  e  peco  muyto 
por  merce  ao  santo  padre  por  minha  sopricacam,  que  com  esta  vos  em- 
vio,  que  o  queira  prouer  a  minha  sopricacam  do  dito  moesleiro  em  em- 
comenda.  E  porque  Keceberey  muyto  prazer  de  aver  minha  sopricacam 
eíFeito,  vos  emcomendo  muyto  e  mando  que  loguo  apresentés  a  sua  san- 
tidade  minha  sopricacam,  e  Ihe  facaes  relacam  de  cujo  filho  he  o  dito 
dom  martinho,  e  da  Rezam  que  teuho  pera  folgar  de  Ihe  fazer  merce  e 
acrecentamento,  asy  pelo  muy  conjunto  diuedo  que  seu  pay  comigo  ti- 
nha, como  pella  pessoa  e  merecimentos  do  dito  dom  martinho,  que  sam 
dinos  pera  Receber  toda  merce  e  acrecentamento ;  e  que  soprico  e  peco 
por  merce  a  sua  santidade  que  o  queira  proveer  do  dito  moesleiro  em 
emcomenda  e  Ihe  mandar  dar  suas  bulas  e  prouisoees  necessarias,  e  que 
o  Receberey  de  sua  santidade  em  muy  singular  merce.  E  a  vos  emco- 
mendo muyto  em  espiciall  que  Irabalhés  quanto  posiuel  vos  for  que  lo- 
guo esta  expedicam  se  faca  e  cora  todo  fauor  que  seja  possiuel,  porque 
pelo  muyto  amor  e  booa  vontade  que  lenho  ao  dito  dom  martinho,  nom 
poderes  nisto  fazer  cousa  com  que  nom  Receba  muyto  prazer  e  comten- 
tamento.  E  ele  vos  emviará  as  provisoes  necesarias  pera  o  custo  e  des- 
pesa da  expedicam  das  bullas,  e  de  todo  o  que  pera  ela  comprir. 

Scripta  em  evora  a  xxiii  dias  de  fevereiro,  Jorge  Rodrigues  a  fez, 
de  13'2S. — Rey  (com  cinco  pontos)  \ 


*■  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  31,  Doc.  97.  Diz  o  sobrescripto:  Por 
elRey  a  dom  miguell  da  silua  do  seu  conselho  e  seu  embaixador  em  corte  de  Roma. 


■# 


240  GORPO  DIPLOMÁTICO  PORTIIGUEZ 


Breve  do  Papa  Cleniente  líMM,  dirig^ido  a  el-Rei. 


15:^5 — aunlio  IS. 


Clemens  papa  vii  Carissime  in  chrislo  fili  nosler  salulem  et  aposto- 
licam  Benedictionem. 

Cura  elegissemus  dileclum  filium  Anloniuoj  Ribeyrura  camerarium 
nostrum  Serenitalis  luae  subditum,  quera  cum  Rosa  áurea  el  Sancli  Ju- 
bilei  ¡ndulgenliis  ad  te  railteremus,  eumque  iudicareraus  idoneura,  cui  ob 
üdem  ipsius  erga  utruraque  nostrum  omnia  quae  uellemus  tuto  credi  pos- 
senl,  non  dubitauimus  ea  quae  nobis  pro  communi  nostro  honore,  uni- 
uersalique  omniura  chrislianorura  salute,  ueniebant  in  menlem,  tuae  Se- 
renitati  per  ipsura  Anloniura  aperire  ut  siraul  pastorali  officio  nostro,  si- 
mul  necessitali  praesentiura  rerura  ac  lemporum  salisfaceremus.  Nunc 
enira,  fili  nosler  carissime,  ut  uides,  res  chrisliana  si  unquam  alias  in 
discrimen  adducta  esl,  inde  ui  externa  ¡nfideliura  Turcarum,  hinc  domes- 
ticis  nostrorum  sedilionibus  calamitate  insuper  addila,  potenlissimi  Regis 
ac  Regni,  uiribusque  noslris  siquae  supereranl  mullipliciter  comminutis. 
Quibus  malis  etsi  diuina  polius  eaque  sola  mederi  polesl  clemenlia,  la- 
men noslri  muneris  tuacíiue  pietatis  arbiírali  sumus  fore  ut  coniunctis  ani- 
mis  alque  officiis  incuraberemus  una  ambo  in  eam  piara  curara  christia- 
nilatis  vniuersae,  si  non  in  eum  quera  cuperemus,  al  in  raeliorera  aliquera 
statura  uendicandae.  Quare,  coramunicalis  prius  bis  cura  dilecto  filio  No- 
bili  Viro  Michaele  de  Sylua,  oratore  apud  nos  tuo,  quera  nos  mérito  araa- 
mus  et  magnifacimus,  iiloque  honore  tuoque  in  eum  amore  dignissimum 
iudicaraus,  cuius  erga  te  et  clarae  memoriae  patrem  tuum  eximia  fides 
et  merita  omnera  a  te  beneuolentiae  significationem  nobis  semper  gralis- 
simara  futurara  exposlulant,  mandauiraus  ei  ut  haec,  et  quaedara  alia  ec- 
clesiasticara  libertatem  concernenlia,  ipse  per  litteras,  ídem  uero  Anlo- 
nius  ut  uerbis  corara  tuae  Serenitati  explicaret.  Ilorlamur  igilur  el  orani 
sludio  requiriraus  Serenitatem  tuam  ut,  illorum  scriplis  et  verbis  circa 
lioc  Gdem  adhibens,  pro  sua  raaioruraque  suorum  gloria  et  pietale  in  id 


RELACOES  COM  a  curia  romana  241 

quod  oplamus  incumbat,  quodque  vniuersis  chrislifidelibus  ad  salulem, 
Tuae  uero  Serenilati  ad  gloriam  perennem,  eliam  in  coelis  adipescendam, 
redundabit. 

Datum  Romae  apud  sanclum  Petrum,  sub  Annulo  Piscatoris,  die 
XVIII  Junii  MDXxv,  Pontificalus  Nostri  Anno  Segundo.  —  Be.  El.  Rauen- 
nensis  '. 


Breve  do  Papa  Clemente  Til,  dirigido  á  Rainlia 

D.  Catliarina. 

15S5— aunlio  18. 


Clemens  papa  vii  Carissima  in  christo  filia  nostra  salulem  el  apos- 
tolicam  benedictionem. 

Cum  Rosam  auream  solemni  a  nobis  more  dicalam,  ac  sancti  jubi- 
lei  Indulgenlias  per  dilectum  filium  Antonium  Ribeyrum,  camerarium  nos- 
trum,  Serenissimo  illi  Regi  consorli  tuo  milleremus,  non  arbitrali  sumus 
a  nostro  officio  palernoque  in  te  amore  et  singularibus  merilis  luis  alie- 
num  Ubi  eliam  id  munus  Indulgentiarum  millere,  Teque,  quam  carissi- 
mae  in  chrislo  filiae  loco  et  amore  habemus,  per  liüeras  et  diclum  An- 
tonium paterne  inuisere.  Tua  enim  tanta  pietas  in  Deum  et  in  hanc  san- 
clam  sedem  reuerenlia,  quanlam  esse  audimus  el  cum  Domino  laela- 
mur,  eiusmodi  spiriluale  munus  de  Thesauro  ecclesiae  sumplum  a  nobis 
requirebal,  qui  nihil  Ubi  mundanorum  munerum,  aut  preciosius  hoc, 
aut  gralius  millere  poluissemus.  Ac  nos  quidem,  qui  Reginas  christia- 
ni  nominis  omnes  paterna  charilale  in  chrislo  diligere  debemus,  Sere- 
nitalem  luam  eo  specialioris  in  eodem  christo  amoris  praerogaliua  pro- 
sequimur,  quo  tu  non  solum  lali  Regi  nupla,  sed  Serenissimi  Cesaris  só- 
ror, chrislianisque  Principibus  fere  ómnibus  consanguinitate  uel  affini- 
tate  luneta,  in  mullís  pus  ac  sancUs  operibus  ad  chrisUanae  Reipublicae 
salulem  et  commodum  exequendis,  opporluna  esse  nobis  potes.  Nosque 
eam  de  te'spem  concepimus  iam  inde  cum  felicem  hanc  copulam  audiui- 

^  Arch.  Nac,  Mac.  19  de  Bullas,  n.°  39.    ' 
TOMO  II.  31 


2i2  CORPO  DIPLOMÁTICO  POUTUGUEZ 

mus,  gratulatique  vobis  sumus  fore  vt  lúa  opera  alque  auctorilale  (Deo 
coadiuuante)  ad  maximarum  alque  optimarum  rerum  confectionem  ali- 
quando  vleremur.  Quod  nos  equidein  nunc  primum  agere  cum  Dei  no- 
mine insliluimus,  alque  eidem  Anlonio  raandauimus  vli  cum  Serenilalem 
luam  a  nobis  palerne  alque  officiose  salulassel,  benediclionemque  ad  le 
noslram  cura  sancli  Jubilei  muñere  alluüssel,  lum  aperiret  Ubi  cogilalio- 
nes  nostras  ad  vniuersale  bonum  communemque  salulem  omnium  chris- 
tianorum  direclas,  super  bis  quae  ipsum  Anlonium  cum  luo  viro  Rege 
noslro  nomine  agere  voluimus,  quae  ue  etiam  bine  ad  vos  per  dileclum 
filium  nobilem  virum  Michaelem  de  Sylua,  oralorem  apud  nos  veslrum, 
tuae  serenitalis  deuolum  el  cullorem  praecipuum  scribentur.  Horlamur 
ilaque  le,  filia  in  cbristo  carissima,  vt  noslra  pia  desideria  apud  eundem 
virum  luum  Regem  el  quos  deinde  opus  erit  coadiuuare  ac  fouere,  gra- 
liamque  in  bis  el  auclorilalera  luam  nobis  accomraodare  Dei  causa  uelis, 
A  quo  deinde  Ubi  ea  erunl  prompta  ac  parala  premia,  quae  lanlae  tuae 
pielali  alque  effeclui  opUmorum  operum  per  le  secuto  erunl  cousenlanea. 
Quemadmodum  idem  Anlonius,  cui  vi  nobis  valde  acceplo,  veslrique  no- 
minis  el  nalura  el  volúntate  obseruanUssimo,  non  modo  in  bis  fidem,  sed 
benignum  audilura  a  le  preberi  cupimus,  lalius  Serenilali  tuae  explicabil. 
Datura  Roraae  apud  sanclum  Petrum,  sub  annulo  piscaloris,  die  xviii 
Junii  MDXxv,  PonUficalus  Nostri  Anno  Secundo.  ^Be.  El.  Rauennensis  ^ 


Carta  de  D.  Martinho  de  Portug^al  a  el-ReK 


15S5— díullio  6. 


Senhor.  —  Tanto  que  cbeguei  esta  cidade  fiz  como  me  Vossa  Alteza 
mandou.  O  papa  com  alguma  pesadonbre  se  delerminou  na  uontade  de 
Vossa  Alleza.  O  certo  foi  por  Iho  dora  Miguel  tambera  requerer,  e  Ihe  di- 
zer  que  nao  faria  em  nenhuraa  maneira  senao  o  que  Vossa  Alleza  Ihe  man- 
daua,  e  ainda  que  Ihe  desera  lodo  o  mundo,  nao  o  lom.aria  seniío  por  sua 
Maáo.  Pon  se  em  ordem  pera  se  parlir  loguo,  e  asi  mo  lem  dicto  e  asen- 

^  Abch.  Nac,  Ma?.  19  de  Bullas  n."  46. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  243 

fado  cominiguo  :  manda  esle  correo  a  o  fazer  saber  a  Vossa  Alteza,  e  tam- 
bera pera  Ihe  trazer  algum  dinheiro  que  qua  deue.  O  mais  de  minha  che- 
gada,  e  do  modo  que  o  papa  teue,  e  quam  difícil  fo¡,  scriuirei  a  Vossa 
Alteza  por  antonio  homem,  que  fiz  esperar,  he  irá  por  as  postas  d  aquí 
a  cinco  ou  seis  dias. 

De  roma  aos  vi  dias  de  Julho  l^tú.  —  Dom  Marlinho  de  Portu- 
gal K 


Breve  do  Papa  Clemente  l^II,  dirig^ido  a  el-Rei. 


15:35  — «ulbo  9. 


Clemens  papa  vii  Carissime  in  chrislo  fili  noster  salutem  et  aposto- 
licam  benedictionem. 

Omnis  qui  tuas  Hileras  aut  tuum  nomen  et  Yicem  nobis  oífert,  uel 
representa!,  carissimus  nobis  ueniat  necesse  est  propler  singularem,  quam 
habemus  de  Serenilale  lúa  spem  el  beniuolenliam,  qua  libi  sumus  miri- 
fice  aíTecti.  Itaque  dilectum  filium  Martinura  de  Porlugallo,  consiliarium 
tuum  et  ad  nos  oralorem,  libenter  uidimus,  trinasque  ab  eo  accepiraus 
litleras,  quae  testimonium  illuslre  amoris  tui  et  erga  nos  obseruanliae  de- 
ferentes, in  reliquis  quae  ab  ipso  Martino  nobis  uerbis  luis  exponerentur, 
significabant  tI  credere  ea  illi  plañe  uellemus :  ergo  sermone  inter  nos 
multarum  rerum  ad  te  et  coniunclionem  noslram  perlinenlium  habito,  se- 
cuta est  poslulatio  lilleris  luis  congruens  vt  quamprimum  dilectum  filium 
Michaelem  Sylua,  oralorem  tuum,  ab  nobis  dimitiere  et  ad  te  iter  capera 
curaremus,  Quod  nobis  non  paruae  admirationi  fuit,  praesertim  cum  ipse 
Martinus  causara  nobis  huius  tanlae  tuae  festinalionis  aperuisset,  ac  quia 
serenilas  tua  essel  verita  si  amplificare  insliluissemus  dicli  Michaelis  di- 
gnitatera  ne  ea  res  dignilali  tuae  et  tuorura  oíficeret  iccirco  illum  abs  le 
tanlopere  reuocari  affirmasset.  Quam  rem  nos  sane  non  adraodum  aequis 
auribus  accepimus,  non  quia  de  tui  consilii  et  prudenliae  opinione  quic- 
quam  habearaus  in  animo  noslro  diminutum,  sed  quod  inlelligimus  (id 

*  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Parí.  I,  Mac.  32,  Doc.  56. 

31* 


244  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGÜEZ 

quod  fere  ómnibus  ¡n  locis  euenit)  esse  apud  Serenitalem  luam,  qui  alio- 
rum  virtulibus  obtrectanles  prauis  interpretalionibus  cunda  in  parlem  de- 
teriorem  delorqueant.  Sed  etsi  non  parum  moleslus  est  nobis  huius  ho- 
minis  discessus,  tamen  id  quod  necesse  esl,  el  ipse  fidem  erga  le,  quam 
semper  diligenlissime  sanctissimeque  conseruauit,  hac  quoque  in  parle  ex- 
hibilurus  est,  ac  rebus  ómnibus  omissis  ad  te  reuersurus,  el  nos  hanc 
virtutem  el  syncerilalem  illius  non  sumus  impediluri,  illud  lanlum  feci- 
mus  vi  obstaremus  quominus  se  in  iter  hoc  tempore  lam  approperalum 
daret,  lum  quia  sine  cerlo  pene  morlis  periculo  bis  lantis  caloribus  ab  vr- 
bano  aere  in  longinquas  regiones  \ix  licet  proficisci,  tum  quia  eum  vo- 
lumus  ómnibus  nostris  consiliis  el  cogitalionibus  instniclum  el  opUme  pa- 
ratum  ad  te  peruenire  quae  certe  omnia  libenler  el  libere  eum  illo  com- 
municaluri  sumus,  sicut  eliam  cernimus  serenitalem  luam  optare.  De  tola 
aulem  re,  quantum  ad  illum  perlinet,  sane  ingrali  simus  si  non  illius  plu- 
rimis  el  maximis  in  nos  ipsos  officiis,  iniusli  si  non  eiusdem  Tirtuti  el  pru- 
denliae  teslimonium  debilum  perhibeamus,  eum  hoc  nos  apud  serenitalem 
tuam  el  verius  et  rectius  simus  facluri,  quam  qui  si  forsilan  raaliuolen- 
tia  ducli  de  illo  oblocuti  sunl.  Certe  enim  hic  vir  is  est,  qui,  eum  egre- 
gie  nossel  qua  nos  tibi  beniuolenlia  essemus  deuincli,  cumque  illam  sin- 
gularem  animorum  coniunclionem,  quae  inter  felicis  recordalionis  Leo- 
nera praedecessorem  ac  fralrem  nostrum  ac  clarae  memoriae  Emanuelem 
palrem  luum  interuenit,  in  memoria  haberel,  in  omni  varielate  rerum 
et  temporum  nostrorum  aíFuit  nobis  semper  et  fide  et  constanlia  singu- 
lari,  satisque  perspectum  babens  quicquid  in  nos  officii  atque  amoris 
conlulisset  facturum  se  Ubi  in  eo  rem  gralissiraam  in  omni  incremento 
noslrae  dignitatis  nihil  omnino  praelermissit  nec  studii,  nec  laboris,  nec 
diligenliae,  nec  uero  aliud  omisil  quicquam  quod  ab  homine  amanlissi- 
mo  atque  oñiciosissimo  posset  expectari,  eum  ila  uere  et  recle  iudicaret 
omnem  auclionem  honoris  el  aucloritatis  noslrae  ad  serenitalem  quoque 
tuam  pro  mutua  nostra  beniuolenlia  perlinere.  Qui  ceteris  eliam  orna- 
menlis  eximie  praeditus  el  ingenii  el  humanitalis  el  doctrinae  in  luis  pa- 
trisque  tui  negociis,  ila  nobis  uidetur  aple  fidelilerque  uersatus,  vi  nequá- 
quam te  possil,  ñeque  adeo  ipsum  tuum  palrem  eius  fidei  obsequii,  \ir- 
lulisque  penilere.  His  pro  officiis  tol  atque  lantis  quae  el  nobis  in  amore 
el  tibi  in  fidelilale  praeslitit,  si  cogilauissemus  eum  ornare  maiore  digni- 
tale  fecissemus  profeclo  quod  óptimo  Ponlifici  conueniebal.  Quibus  enim 


RELACOES  COM'A  curia  romana  2i5 

alus  honorem  deferri  par  est  nisi  illis  qui  ob  virtutem  digni  sunt  el  suis 
officiis  promerent?  sed  quod  uerissime  possumus  affirmare  ñeque  uerbum 
ullum  unquam  omnino  ea  de  re  aut  nobiscum  faclum  est,  aut  ex  noslro 
ore  excidit,  per  quod  uel  cupidilas  aliqua  ipsius,  uel  noslra  eius  reí  vo- 
luntas posset  oslendi,  a  qua  lamen  volúntate  eius  ornandi  nos  non  alie- 
nos  esse  confitemur,  el  nosmel  memoria  tenemus  cum  a  supradicto  pie 
memorie  leone  x  honor  illi  el  gradus  cardinalatus,  quae  est  amplissima 
in  omni  sacerdolio  dignitas,  nobis  ipsis  offerentibus  ullro  delalus  essel, 
recusasse  illum,  el  nullum  sibi  honorem  sine  Regis  sui  consensu  uel  po- 
lius  Imperio  acceplum  esse  posse  respondisse,  quara  eius  insolilam  el 
prope  inaudilam  integrilatem' temperantiamque  animi,  qui  nunc  in  ini- 
quam  inuidiam  vocant  quam  aganl  recte  el  sincere,  tuae  Serenilalis  est 
pro  sua  prudentia  considerare.  Nam  quod  libi  forte  a  maliuolis  sugges- 
tum  est  subdilorum  dignitalem  officere  el  impedimento  esse  dignilati  prin- 
cipum  suorum,  nobis  multo  uidetur  secus;  Non  enim  ullus  honos  factu- 
rus  fuit  quin  Michael  in  lúa  esset,  vt  semper  fuit,  potestate,  Tu  enim  illi 
semper  Dominus,  tu  patronus  futurus  es,  Neo  uspiam  imperii  splendor  et 
dignitas  magis  elucescit  quam  si  ornamento  et  honoribus  praedili  fuerint 
quibus  imperatur.  Quae  quidem  cunda  vnaque  fidem  hanc  testimonii  nos- 
tri  Serenitas  tua,  vt  melius  el  diligenlius  examinare  velit,  ac  reiectis  ma- 
liuolorum  calumniis  expenderé  ueritafem,  illam  magnopere  in  Domino- 
hortamur.  Hoc  quidem  in  discessu  hominis  nobis  gralissimi  molestiam 
quam  ex  eo  capimus  consolatur,  quia  vocalur  a  te  ad  fungendum  mu- 
nus  sui  oííicii,  quod  scribam  puritatis  uos  appellatis,  qui  magistratus  el 
honorem  habel  in  se  et  locum  fidei  el  virlutis  apud  Regem  suum  exer^ 
eendae,  sic  enim  et  a  te  nobis  scriplum,  ac  prope  Pide  regia  confirmalum 
est,  el  luus  recens  oralor  nobis  expressit,  nihil  illum  diminuturum  apud 
te  ñeque  condilionis  ñeque  graliae,  quam  quantum  nunc  apud  nos  el  in 
alma  vrbe  oblineal,  in  qua  etiam  nobis  et  toti  curiae  ob  praeslanlis  suas 
animi  dotes  prorsus  esl  carissimus,  hac  nos  sub  fide  et  tua  et  oratoris^lui 
facilius  acquieuimus,  \t  rediret  quod  alias  aegre  aut  vix  fuissemus  factu^ 
ri.  Grauiter  enim  passuii  eramus  tam  prudenfem  el  aptum,  nobisque  in 
omni  re  alque  aclione  plurimum  satisfacieniem  hominem  a  nobis  diuelli. 
Sed  quoniam  et  de  tuo  amore  ac  iudicio  erga  illum  pignora  habemus  fi- 
dei et  voluntatis  luae  certissima,  el  non  dubilamus  q^in  ingenio  dexle- 
ritate  omnique  virtute  tibi  plurimum  salisfacturus  sil,  ac  graliam  et  be- 


246  GORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

niuolentiam  luam  cumulalurus,  fuimus  eius  dimiltendi  magis  liberales, 
quem  cum  inlelligemus  accaeplum  esse  a  le  vt  suum  fidelissimum  nosiri 
amantissimum  hominem,  el  causam  ipsius  uocandi  iusliorem,  el  beniuo- 
lenliam  luam  erga  nos  senliemus  vberiorem,  idque  vt  Serenilas  lúa  eíli- 
ciat  in  hoc  homine,  inque  eo  ornando  el  diligendo  nostro  quoque  amori 
aliquanlura  plus  Iribual,  siquis  apud  te  respeclus  nostri  residet,  el  peti- 
mus  ab  ea  uehemenlcr  et  expectamus  ac  vt  illi  plenam  in  ómnibus  fidem 
adhibeas,  quaecunque  nostro  nomine  tibi  dixeril  eliam  requirimus.  Nos 
hic  Marlinum  oratorem.  tuum,  sicut  lúa  voluntas  fert,  gralum  et  acceptum 
sumus  habituri,  nec  quicquam  praeíerituri  quod  te  velle  a  nobis  alque 
expeleré  inlellexerimus,  Quemadmodum  amor  mutuus  inter  nos  el  lúa  vir- 
tus  poslulanl. 

Datum  Romae  apud  sanctum  Petrum,  sub  annulo  piscaloris,  die  vii 
Julii  MDXXV,  Ponlificalus  Nosiri  Anno  Secundo.  —  la.  Sadolelus  \ 


Carta  de  D.  Miguel  da  Silva  a  el-Rei. 

15:35— Jalbo  H, 

Senhor.  —  Ho  desejo  de  yr  a  seruir  vossa  alteza  em  presenca,  e 
obedecer  seu  mandado,  me  lem  acendydo  tanto  que,  posto  que  n  estou- 
tra  carta  minha  digua  que  quero  esperar  a  reposta  deste  correo,  tenho 
determinado  de  yr  logo  tras  elle,  com  muy  grande  perda  de  minha  fa- 
zenda  e  desarranjo  de  minha  casa :  cora  ludo  peco  muito  por  merce  a 
vossa  alteza  que  acerca  do  dinheyro  se  lembre  de  me  fazer  a  merce  que 
Ihe  peco,  porque  deyxo  aquy  em  penhor  muylos  criados  meus,  os  quais 
nam  se  partirao  sera  vyr  de  lá  esta  prouisao,  e  por  ysso  dou  ordera  a 
este  correo  que  torne,  mas  nSo  por  querer  esperar  sua  tornada,  o  que 
nao  farey,  antes  me  quero  partir  dentro  de  oyto  ou  dez  dias.  Em  todo- 
las  maneyras  beyjo  as  maos  de  vossa  alteza,  cuja  vida  e  Real  estado 
nosso  senhor  guarde  e  acrecenté  como  deseja. 

De  Roma  a  viii  de  juglio  1ü2o. — Dom  myguel  da  Sylua  *. 

1  Arch.  Nac,  Mac.  18  de  Bullas,  n.°  5.  E'  do  mesmo  teor  o  documento  n."  ^1  do 
mafo  26. 

2  Ibi,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Ma^.  32,  Doc.  60. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  247 


RuUa  do  Papa  Clemente  l^II,  dirigida  a  el-Rei 

e  á  Rainha. 

15^5— «lulllO  Z3, 


Clemens  episcopus  seruus  seruorum  dei  Carissimo  in  Chrislo  filio 
Johanni  Regí,  et  Carissime  in  Chrislo  filie  Catherine  Regine  Porlugallie 
et  Algarbiorum  Illusiribus  SaJutem  et  aposlolicam  benedictionem. 

Dudum  siquidem  per  cerlum  tuum,  fili  Carissime  Johannes  Rex, 
tune  apud  nos  et  sedera  aposlolicam  Oralorem  pro  parle  tua  nobis  expó- 
sito quod  vos,  pro  conseruandis  inler  vos  vestrosque  Consanguineos  et 
Affines  pacis  et  amicicie  federibus,  sicut  et  inler  veslros  eliam  predeces- 
sores  seruata  fuerant,  desiderabalis  inuicem  Malrimonialiler  copulari ;  sed 
quia  Secundo  ex  eo  proueniente  quod  Duarum  Sororum  filiis  eralis,  ac 
alias  Secundo  elTerlio  ac  duplici  Quarlo,  ac  forsan  alus  de  quibus  noli- 
ciara  non  habebalis,  infra  lamen  Secundura  Consanguinilalis  gradum,  gra- 
dibus  inuicem  eralis  coniuncli,  veslrura  in  ea  parle  desiderium  adimplere 
non  poleralis  dispensalione  apostólica  desuper  non  obtenía,  Nos,  si  qua 
alia  impedimenta  ralione  Consanguinilalis  uel  aífinilalis  huiusmodi,  quo- 
rum non  recordabamini  et  forsan  noliciam  non  habebalis,  dummodo  non 
esselis  in  arcliori  gradu,  expressis  Consanguinilalis  et  Affinitalis  pro  ex- 
pressis  habenles  ex  premissis,  ac  certis  alus  causis  tune  exposilis,  ves- 
tris  in  ea  parle  supplicalionibus  inclinali,  Uobiscum,   dummodo  tu  in 
chrislo  filia  Calherina  propler  hoc  rapta  non  fores  ut  prediclis  et  alus 
forsan  pro  expressis  habilis  impedimenlis  Consanguinilalis  et  Affinitalis 
huiusmodi  non  obslanlibus,  Malrimonium  inler  vos  conlrahere,  et  in  eo 
poslquam  conlraclum  foret  remanere  libere  et  licite  valerelis,  per  alias 
noslras  dispensauiraus,  ac  prolcm  ex  huiusmodi  Matrimonio  suscipiendam 
legitimara  nunciauimus,  prout  in  eisdem  liUeris  plenins  conlinelur.  Et, 
sicut  exhibila  nobis  nuper  pro  parle  veslra  pelilio  conlinebat,  vos  post- 
modum  lillerarum  ac  dispensaüonis  huiusmodi  vigore  Malrimonium  inler 
vos  per  verba  legitime  de  presentí  conlraxislis  illiidque  carnali  copula 
consumaslis.  Cum  aulem,  sicut  eadem  pelilio  subiungebat,  vos  tempore 


248  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGÜEZ 

dal.  dictarum  lillerarura  de  alus  irapedimenlis  ralione  Consanguinitalis 
uel  Affinitalis,  infra  Secundum  Consanguinitalis  gradum,  forsan  recordati 
fuerilis,  el  noliciam  habueritis,  et  propterca  ab  aliquibus  de  viribus  lit- 
terarum  et  dispensalionis  et  illarum  \igore  contradi  Malrimonii  huiusrao- 
d¡,  ac  indeseculorum  quoruncunque  dubilari  possit  tempore  procedente 
nobis  per  dileclum  filium  Marlinum  de  Portugallia,  Nepolem  et  apud  nos 
et  dictara  sedera  Oratorera  tuum,  fili  Carissime  Joannes  Rex,  humiiiter 
supplicari  fecislis  \l  in  premissis  oportune  prouidere  de  benignilate  apos- 
tólica dignaremur.  Nos  igitur,  huiusmodi  supplicationibus  inclinati,  volu- 
mus  et  apostólica  auctorilate  tenore  presentium  decernimus  et  declaramus 
quod  dispensatio  et  littere  predicte  ab  earura  dat.,  necnon  Matrimoniura 
et  alia  inde  secuta  quecunque  valeant,  et  vobis  suíFragari  debeant,  vosque 
iü  Matrimonio  predicto  libere  et  licite  permanere  possilis,  et  proles  ex  inde 
suscepla  uel  suscipienda  legitima  sit  et  esse  censeatur,  eliam  si  de  alus 
irapedimenlis  predictis  infra  Secundum  gradum  Consanguinitalis  tempore 
dat.  dictarum  litterarum  recordati  fuissetis  et  noliciam  plenam  habuissetis. 
Non  obstantibus  premissis  ae  in  Prouincialibus  et  SinodaÜbus  Conciliis 
edilis  generalibus  uel  specialibus  Constitutionibus  et  ordinalionibus  apos- 
tolicis,  necnon  ómnibus  illis,  que  in  dictis  lilleris  volumus  non  obstare, 
ceterisque  contrariis  quibuscunque.  Nulli  ergo  omnino  hominum  liceat 
hanc  paginara  nostre  voluntatis  decreti  et  declaralionis  infringere,  vel  ei 
ausu  temerario  contraire.  Si  quis  autem  hoc  altemplare  presumpserit  in- 
dignationera  omnipotentis  dei  ac  beatorura  Pelri  et  Pauli  Apostolorura  eius 
se  nouerit  incursurum. 

Datura  Rome  apud  Sanctura  pelrura  Anno  Incarnationis  Dorainice 
Millesimo  quingentésimo  uigesimo  quinto,  Décimo  Kalendas  Augusli,  Pon- 
iificatus  nostri  Anno  Secundo.  —  lo.  M,  Episcopus  Veronensis  K 


^  Arch.  Nac,  Ma^.  31  de  Bullas  Doc.  6. 


HELACOES  COM  a  curia  romana  249 


Dre\^e  do  Papa  Clemente  ¥^11. 


1595— «Viillio  99. 


Clemens  papa  vii  ad  fuluram  rei  memoriam. 

Etsi  Monasteriorüm  ac  beneficiorum  ecclesiasticorum  omnium  plena 
ac  omnimoda  disposilio  ad  Romanum  Pontificem  pertinere  noscatur,  non- 
nunquam  lamen  idem  Pontifex  aliqua  ex  eis  priusquam  vacent,  certissua- 
dentibus  el  sibi  nolis  causis,  suae  el  apostolicae  sedis  disposilioni  specia- 
üter  el  expresse  reserual,  vi  illis  cum  vacauerint  per  eum  diclaeque  se- 
dis prouidenliam  de  personis  idoneis  ac  sibi  gralis  el  acceplis  prouideri 
seu  alias  disponi  possit.  Hinc  esl  quod  nos  cupientes  duobus  Blonasleriis 
quorumuis  ordinum  exislant,  in  Regno  Portugalliae  consislenlibus,  quae 
primo  per  decessum  illa  quomodolibel  oblinentium  vacare  seu  comnien- 
das  aul  administrationes  cessare  uel  vniones  dissolui  conligerit,  de  perso- 
na seu  personis  idoneis  ac  nobis  gralis  el  accaeptis,  per  quas  circunspe- 
cte  regi  el  salubriler  dirigi  valeanl,  prouidere,  seu  alias  de  illis  dispone- 
re,  Molu  proprio,  non  ad  alicuius  nobis  super  hoc  óblate  petilionis  ins- 
tanliara,  sed  de  noslra  mera  liberalitate,  el  ex  certa  scienlia  ac  de  apos- 
tolicae polestalis  pleniludine,  Dúo  Monasteria,  quoruncunque  ordinum 
exislant,  in  dicto  Regno  consistenlia,  quae  primo  per  decessum  illa  res- 
pecliue  quomodolibel  oblinentium  simul  uel  successiue  vacare,  seu  illo- 
rum  commendas  cessare,  aul  vniones  dissolui  conligerit,  etiam  apud  se- 
dem  praedictam,  eliam  si  illorum  disposilio  ad  sedem  praedictam  specialiter 
uel  generaliter  pertineal,  ac  de  illis  non  nisi  consistorialiter  disponi  con- 
sueuerit  eldebeal,  nostrae  et  eiusdem  sedis  disposilioni  auctoritale  apostó- 
lica lenore  praesenlium  specialiter  el  expresse  reseruamus,  Dislriclius  in- 
hibenles  dileclis  filiis  conuentibus  dictorum  Monasteriorüm  ne,  illorum  res- 
pectiue  occurrenle  uacatione,  aliquem  seu  aliquos  in  eorum  el  dictorum 
Monasteriorüm  respecliue  Abbates  eligere  uel  postulare,  ac  cuicunque  seu 
quibuscunque  ordinum  eorundem  superiori  seu  superioribus  ne  eleclionem 
confirmare  seu  postulationem  aliquam  admitiere,  etiam  quoruncunque  pri- 
uilegiorum,  indultorum  el  lillerarum  aposlolicorum,  etiam  cum  quibus- 

TOMO  II.  •  32 


2S0  GORPO  DIPLOMÁTICO  POliTUGUEZ 

uis  derogaloriis  ac  fortioribus  cíTicacioribus  el  insolitis  clausulis  irritan- 
tibusque  decrelis,  nunc  el  pro  tempore,  etiam  per  nos  seu  sedem  prae- 
diclam  concessorum,  praelextu,  necnon  quibusuis  alus  personis  cuiíis- 
cunque  status,  gradus,  ordinis  uel  conditionis  fuerint,  etiam  quacunque 
Archiepiscopali,  Episcopali,  aut  alia  maiori  dignitate,  seu  cardinalatus 
honore  fungeutibus,  quascunque  alias  speciales  uel  generales  etiam  men- 
tales reseruationes,  gratias,  priuilegia,  indulta  aut  litteras  quocunque  no- 
mine nuncupentur  per  nos  uel  sedem  praedictam,  etiam  consislorialiter 
ac  motu  scientia  et  potestatis  plenitudine,  similibus  etiam  cum  quibusuis 
etiam  derogatoriarum  derogatoriis,  alüsque  fortioribus,  eíficatíoribus  et 
insolitis  clausulis,  etiam  talibus  quod  illis  per  alia  priuilegia  litteras  seu 
indulta  derogan,  aut  illorum  eífectus  suspendi  non  possint,  aut  suspendi 
posse  non  uidealur,  quauis  etiam  Imperaforis  Regum  Reginarum  Ducum 
et  aliorura  Principum  uel  ecclesiasticorum  praelatorum,  etiam  Sanctae 
Romanae  Ecclesiae  GardinaliuFn  seu  iuriura  cessorum  uel  ablatorum  con- 
sideratione,  aut  ob  remuneralionem  laborum  et  obsequiorum  nobis  et  di- 
ctae  sedi  impensorum,  seu  quocunque  alio  intuilu  uel  respectu  in  genere 
uel  in  specie  ad  Monasteria  dicti  Regni  se  extendentia  concessa  hacte- 
nus,  seu  in  posterum  forsan  concedenda  pro  tempore  prosequentibus,  ne 
illorum  praetextu  Monasteria  per  praesontes  reseruata  huiusmodi  acce- 
plare,  aut  illa  sibi  comendari,  uel  illis  de  personis  suis  prouideri,  aut  se 
ad  illa  postulan  uel  eligi  faceré,  seu  pro  tempore  facfis  commendis,  pro- 
uisionibus,  electionibus  electionum,  coníirmationibus  seu  postulationibus, 
aut  alus  disposilionibus  vti,  uel  alias  de  Monasteriis  per  praesentes  reser- 
uatis  huiusmodi  se  inlromittere  quoquomodo  praesumant ;  ac  decernentes 
quasclinque  prouisiones,  commendas  seu  electiones  aut  postulalionum  con- 
íirmationes,  ac  quasuis  alias  dispositiones  per  nos  et  sedem  praedictam 
de  diclis  Monasteriis,  etiam  consislorialiter  ac  molu  scientia  et  potestatis 
plenitudine  similibus,  quomodolibet  faciendas,  nisi  in  eis  de  Data  ac  te- 
nore  praesentium  specialis,  specifica,  expressa  et  indiuidua  menlio  habita 
fuerit,  nullius  esse  roboris  uel  momenti,  sicque  per  quoscunquc  Júdices 
et  commissarios,  etiam  quauis  auctoritate  fungentes,  et  causarum  palatii 
apostolici  Auditores,  ac  dictos  Cardinales,  subíala  eis  et  eorum  cuilibet 
aliter  judicandi,  difliniendi  et  interpretandi  facúltale  et  auctoritate,  indi- 
can, diíTinin  et  interprelari  deberé,  ac  irritum  el  inane  quicquid  secus 
super  his  a  quoquam  quauis  auctoritate,  etiam  per  nos,  scienler  uel  igno- 


RELACOES  COM  A  CURIA   ROMANA  251 

ranler,  contigerit  alleniplari.  Et  nihilominus  ne  Monasleria  per  praesen- 
tes  reseruatn  huiusmodi  illorum  respecliue  pro  tempore  occurrentibus  va- 
calionibus,  doñee  per  nos  seu  sedem  eandem  ülis  de  persona  seu  perso- 
nis  idoneis  vt  praeferlur  prouidealur,  seu  de  illis  alias  disponatur.  diu- 
lurne  vacalionis  eAponantur  incomraodis,  iüaque  lemere  occupenlur,  seu 
in  diuinis  ac  spirilualibus  et  temporalibus  detrimenla  sustineant  illorum- 
que  fructus  redditus  et  prouentus  dislrahantur,  prouidere  \olentes,  dile- 
cto filio  magistro  Michaeli  de  Sylua,  scriptori  el  familiari  noslro,  quem 
ad  infrascripta  íconomum  el  nuncium  specialem  ad  noslrum  et  diclae  se- 
dis  beneplacilum  specialiter  et  expresse  auctoritale  el  tenore  praenfíissis 
constiluirnus  el  depulamus,  per  haec  scripta  in  virlule  sanclae  obedien- 
tiae  inotu  sirnili  commiltimus  el  mandamus  qualenus  per  se,  uel  alium 
seu  alios,  Monasferioruní  per  praesenles  reseruatorum  praediclorum,  il- 
loruní  respecliue  pro  tempore  occurrenle  vacalione,  regiminis  et  adminis- 
trationis,  ac  bonorum  necnon  iurium  el  perlinenliarum  omnium  corpora- 
lem  possessionem,  seu  quasi,  amotis  quibuslibel  ülicilis  delenloribus  ab 
eisdem,  nostro  et  camerae  aposlolicae  nonaine  apprehendat,  illamque  ac 
ipsorum  Monasleriorum  curam,  régimen  et  administralionem  in  eisdem 
spirilualibus  el  temporalibus  geral  el  exerceal,  fruclusque  redditus  el  pro- 
uentus eorundem  recipiát  elconseruet  doñee  aliud  a  nobis  seu  sede  prae- 
dicta  desuper  habueril  in  mandalis.  Non  obslanlibus  praemissis  ac  cons- 
lilutionibus  et  ordinationibus  aposlolicis,  necnon  Monasleriorum  et  quo- 
rum illa  extiíerinl  ordinum  huiusmodi  juramento,  conQrmalione  apostó- 
lica, uel  quauis  firmitale  alia  roboralis  stalutis  el  consueludinibus,  priui- 
legiis  quoque  indullis  ol  lüleris  aposlolicis  praediclis,  quibus  ómnibus  et 
singulis  illorum  tenores  praesenlibus  pro  suíBcienler  expressis  habenles, 
hac  uice  dunlaxat,  illis  alias  in  suo  robore  permansuris,  harum  serie  spe- 
cialiter et  expresse  pari  molu  deroganius,  illaque  in  Monasleriorum  hu- 
iusmodi vacalione  etTectum  sorliri  non  posse  ñeque  deberé  decernimus, 
celerisque  contrariis  quibuscunque. 

Dalum  Romae  apud  sanclum  Pelrum,  sub  annulo  piscaloris,  die  xxvii 
Julii  MDXXV,  Püntificatus  nostri  Anno  Secundo. — Be.  EL  Rauennensis  ^ 


»  Arch.  Nac,  Mac.  20  de  Bullas,  n."  23. 

32 


252  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGÜEZ 


Breve  do  Papa  Clemente  ¥^11,  dirigido  a  el-ReÍ. 


15S5  — Jumo  99, 


Clemens  papavii  Carissime  ¡n  cliristo  fili  nosler  salutem  el  Aposlo- 
licam  benediclionem. 

Elsi  proximis  diebus  in  ipso  aduentu  dilecti  filii  Marlini  de  Portu- 
gallo,  oraloris  lui  ad  nos,  lilleras  ad  Serenitalem  tuam  dedimus,  quibus 
el  aduenlum  ipsiiis  ex  lúa  uoluntate  el  senlenlia  nobis  acceplum  el  gra- 
Uim,  el  lilleras  lúas  a  nobis  ledas  significauimus,  teslimoniumque  nos- 
Irum  praelerea,  el  sensum  animi  nostri  omnem  in  illis  explicauimus,  ut 
per  eas  ad  le  perferrelur ;  Tamen,  ul  ipsi  Martino  hoc  a  nobis  pelenli 
gereremus  morera,  el  primas  Hileras  illas  eodem  exemplo  el  has  quoque 
seorsum  insliluimus  ad  serenitalem  luam  scribere  ilerum  libi  nuncianles 
probatara  esse  nobis  huius  hominis  induslriam,  Nam  el  in  sermonibus 
prudens,  el  in  omni  aclione  lui  honoris  ac  dignitalis  studiosus  nobis  ui- 
sus  esl,  cum  quo  libenter  sumus  omnia  communicaluri,  quae  iiiler  nos 
el  serenilatem  luam  Iraclanda  agendaque  inciderinl.  Ac  de  rebus  quidem 
publicis  el  de  omni  slalu  sanclae  sedis  Aposlolicae  ac  noslro,  sicul  lu 
in  luis  lilteris  expeleré  uidebare,  loculi  sumus  libere  el  largiler  cum  di- 
leclo  filio  Michaele  Sylua,  ul  ipse,  qui  iam  ad  iler  paralus  esl  el  pro- 
pediem  in  uiam  se  dalurus,  omnia  ad  le  perferat.  Quem  hominem  non 
desislimus  libi  commendare,  omnem  enim  eius  erga  nos  amorem,  el  om- 
nem fidem  in  maximis  noslris  rebus  cum  lúa  non  mediocri  dignitale  su- 
mus experti ;  Sed  quoniam  eum  celeriler  audilurus  es  consilia  noslra  libi 
explicanlem,  non  erimus  in  scribendo  longiores,  Teque  ad  sermones  il- 
lius  reiiciemus.  lUud  nunc  ascribimus  excubare  apud  nos  cum  memoriam 
clarae  memoriae  Palris  lui,  tum  spem  illam  le  non  fore  in  sedis  Aposlo- 
licae dignitale  ac  noslra  colenda  ipso  Párenle  luo  Rege  praestanlissimo 
inferiorem.  Nos  quidem  cerle  summam,  quam  erga  illum  gessimus,  eliam 
in  Serenitalem  tuam  beniuolenliam  sumus  perseculuri.  Quem  animum  nos- 
trum,  atque  amorem  ipse  iam  Marlinus  plene  nosse  atque  intelligere  po 


RKLACOES  COM  a  curia  romana  233 

luit,  el  in  his  quae  accidenl  re  ipsa  esl  experlurus,  sicut  ipse  per  lille- 
ras  Serenilali  tuae  poleril  faceré  nolum. 

Datum  Roniae  apud  sanclum  Pelrum,  sub  anniilo  Piscaloris,  die  xxíx 
Julü  MDXXv,  Ponlificatus  noslri  anno  secundo. — la.  Sadoletus  ^ 


Breve  do  Papa  Clemente  "¥11,  dirigido  a  el-Rei. 


1535— JTalbo  31. 


Clemens  papa  yii  Carissime  in  chrislo  fili  noster  salulem  et  aposlo- 
licam  benedictionem. 

His  paucis  diebus,  cum  in  ea  volúntate  essemus  vt  Dilectum  filium 
Michaelem  Sylua  non  pularemus  hoc  tempore  esse  dimittendum,  atque 
huius  volunlatis  nostre  litteris  ad  serenilatem  tuam  datis  rallones  adscri- 
psissemus,  lum  a  veritate  ipsa,  tum  a  nostra  erga  eum  beniuolentia  sin- 
gulari  profectas,  nec  dubitaremus  illas  te  admissurum  esse  et  in  optimam 
partera  accepturum  ;  Tamen,  cum  statim  postea  Michael  ipse  ad  nos  sup- 
plex  adiisset  summopereque  esset  precalus  vt  nostra  bona  cum  venia  iter 
sibi  capere  ad  te  liceret,  cum  se  nec  vitae  illo  periculo  nec  alia  ratione 
quauis  contineri  posse  diceret,  quin  Regis  sui  el  Domini  mandatis  conti- 
nuo esset  audiens,  cumque  in  hanc  rem  instaret  et  urgeret,  nec  nobis  con- 
Iratendenlibus  pateretur  ullo  modo  sibi  aliler  persuaderi,  Nos  hanc  quo- 
que  fidem  tanlam  ac  virlutem  in  hoc  homine  admirali,  ratique  non  eam 
impediri  a  nobis  sed  adiuuari  potius  deberé,  ad  summum  illi  concessi- 
mus  vt  in  hac  re  animo  suo  obsequeretur,  ñeque  id  admodum  libenter 
fecimus,  sed  fuit  necessario  properalioni  eius  et  studio  concedendum  :  pau- 
cos  tanlum  dies  excepimus,  per  quos  possemus  instruere  eum  de  iis  quae 
ad  serenilatem  luam  perferri  et  esset  opus  et  nos  cuperemus,  sicut  etiam 
tu  a  nobis  per  lilteras  postulasti.  Ac  nos  quidem  facimus  libentissime  vt 
tecum,  cum  quo  propter  lúa  et  patris  tui  merila  praeclara  nobis  et  san- 
clae  sedi  apostolicae  amor  et  coniunclissima  necessitudo  constituía  esl, 
omnia  plañe  et  libere  conferamus,  multumque  confidamus  opem  et  beni- 

1  Abch.  Nac,  Mac.  20  de  Bullas  n."  10. 


2o4  GÜÍIPO  DIPLOMÁTICO  POKTUGUEZ 

uolenliain  luam  nostris  consiliis  conlendenlibus  ad  chrislianae  rcpublicae 
bonum  nullo  loco  defuluram  :  per  quem  aulem  commodius  et  melius  nos- 
trae  interiores  curae  cogilalionesque  ;id  te  deferrenlur,  quam  per  Michae- 
lem  Sylua?  ne  deügere  quidem  ex  onini  numero  apliorem  quemquam  po- 
tuissemus  vi  si  haec  fueral  nobis  ex  illiiis  discessu  subeunda  molestia,  si- 
cut  prefecto  aegre  ferimus  aplum  el  prudentem,  el  in  amore  lideque  fir- 
missimum,  florenlem  praelerea  in  tota  vrbe  el  curia  hac  primorum  ho- 
minura  et  clarissimorum  amicitiis,  in  onini  parte  uitae  spiendidum  et  gra- 
tiosum  a  nobis  diueili,  ipsum  nostrum  animi  dolorem  hac  commoditate 
compensemos,  quod  el  eo  interprete  sumusin  magnis  nóslriset  sedis  apos- 
tolicae  negociis  apud  serenilatem  luam  vsuri,  el  ipse  locum  apud  te  ob- 
lenlurus  esl  dignissimae  graliae  alque  auclorilatis,  hanc  enim  fidem  et 
lilterae  luae  el  oralor  nobis  praebuerunt,  quae  quanquam  fides  maximi 
momenti  esl,  lamen  cerlo  scimus  dexterilatem  el  prudenliam  et  penilus  a 
te  perspeclam  ipsius  Michaelis  fidem  efTecturam  vi  el  oplimum  in  eo  cla- 
rae  memoriae  palris  tui  iudicium,  el  beniuolenliam  nostram  iuslissimis  et 
maximis  de  causis  conflalam  sis  cognilurus.  Sed  cuní  in  eis,  quae  illi  íe- 
cum  comraunicanda  nostro  nomine  mandauimus,  el  ¡n  quibus  uolumus 
abs  te  ei  summam  haberi  fidem,  aliqua  sint  secreliora,  quae  nolimus  in 
aliorum  scienliam  ullo  modo  dimanare,  non  quin  eorum  omnium  quorum 
tu  credis  fidei  nos  quoque  credamus,  sed  quia  talia.sunl  vt,  si  íleri  po- 
tuissel,  ne  cuiquara  quidem  praeter  quam  nobismelipsis  tecum  loquen- 
tibus  fuerimus  credituri.  De  bis  horlanmr  serenilatem  luam  in  Domino  et 
uehemenler  ab  ea  conlendimus  ne  quodcumquo  fuerit  animi  sui  ac  sen- 
tentiae  vilo  alio  interprete  nobis- signiíicel  quam  Michaele ;  sumus  enim 
in  bis  temporum  fluctibus  arle  moderandis  graui  solliciludine  animi  et 
laboribus  dislracti,  el  quanquam  consilio  occurrere  periculis  contenda- 
mus,  vicit  adliuc  lamen  omnem  artem  tempestas,  cuius  aliquando  scden- 
dae  el  componendae  prima  et  máxima  in  Deo  spes  esl  secunda  in  Sere- 
nissimo  Caesare,  alque  in  eis  deinde  Principibus,  quorum  exlat  egregia 
in  chrislianam  rompublicam  uoluntas,  inter  quos  de  le  spem  tantam  con- 
cepimus,  quanlam  virlus  et  Índoles  lúa,  luorum  maiorum  in  fidem  christi 
pietas,  in  nobis  excitarunt.  Ilaec  quam  accuratis  consiliis  administranda 
sint  profeclo  Serenilatem  luam  non  lalet  quae  tibi  sunt  per  diclum  Mi- 
chaelom  exponenda,  quem  ut  libenter  etsliidiose  audias,  desque  le  in  eam 
curam  M  nobiscum  et  cum  publico  chrislianilatis  bono,  lúa  uelis  coniun- 


HELACOES  COM  a  CUKIA  romana  255 

da  esse  consüia,  magnopere  Serenilalem  luam  in  Domino  adhorlaimir, 
nobisque  hoc  etiam  gralissimum  facías  vt  qui  virlule  íidelitate,  suis  pro- 
priis  el  egregiis  animi  dolibus,  quas  cum  seruitio  quod  Tibi  et  Palri  tuo 
raerifice  praeslilit,  cumque  patris  sui  meritis  et  generis  nubililale  coniun- 
xil,  fulurus  est  apud  le  Michaol  ipse  ornatus  el  graliosus,  is  etiam  causa 
nostra  el  contemplalionc  noslrae  in  eum  singularis  beniuolenliae  sil  orna- 
tior.  De  quo  ad  altiores  tionorum  gradus  exlollendo  si  quando  cogitare 
incipiemus  existimabimus  id  qaoque,  vt  superioribus  diebus  scripsimus, 
ad  tuam  amplitudinem  hoc  est  Regis  et  Domini  sui  gloriam  perünere. 
Quod  cupimus  serenilalem  tuam  apud  animum  suum  diligenlius  cogilan- 
tem  cum  recle  ratione  et  cum  ueritate  melius  perpendere. 

Dalum  Romae  apud  sanclum  Pelrum  die  vltima  Juiii  mdxxv,  Pon- 
tificalus  noslri  Anno  Secundo.  — la.  Sadoletus  '. 

Ferremus  grauimme  priuari  nos  consuetudine  gratissimi  ac  pro- 
batissimi  nobis  hominis  dilecli  filii  michaelis  oraloris  lui,  nisi  Utlerae 
ac  nouus  orator  tuus  nobis  pollicerenlur  apud  se:remtatem  luam  summo 
in  honore  futurum  esse^  adeo  ul  speremus  cognitis  eius  uirtutibus  nobis- 
cum  cerlaturam  esse  in  illo  amando  et  beneficiis  ornando  —  J  — 


Bre^e  do  Papa  Clemente  Til,  dirig^ido  a  el-Rei. 


15:35 — iSetembro  5. 


Clemens  papa  vii  Cafissime  in  christo  fili  nosfer  salutem  et  aposto- 
licam  benedictionem. 

Cum  nuper  dileclum  filium  Michaelem  Sylua,  oratorem  apud  nos 
luum,  aegre  quidem  et  cum  summa,  vt  par  fuit,  animi  noslri  molestia  a 
nol3Ís  dimilteremus,  nec  sludium  et  celeritatem  eius  parendi  tibi  alque  ad 
te  aduolandi  voluissemus  impediré,  dedimus  amori  in  ilium  noslro  et  sin- 
gularibus  merilis  erga  nos  eius,  vt  (qualis  vbique  in  Legalis  dimiltendis 
mos  esset)  si  non  cum  muñere,  al  cum  spe  aliqua  muneris  eum  dimitle- 

^  Arch.  Nac,  Mac.  26  de  Bullas.  n.°  22.  Estas  linhas  foram  escripias  no  fundo 
do  breve  pela  propria  mao  de  S.  S. 


236  GORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGÜEZ 

remus.   Ilaque  et  abeunli  ei  in  verbo  ac  fide  noslra  dúo  Monasleria  ¡n 
tuo  Regno  primo  vacatura  promisimus,  et  (quod  ex  noslris  lilleris  Se- 
renitas  lúa  perspiciel)  ipsuní  Michaelem,  cum  prinjum  dicta  Monasteria 
vacarent,  Iconomum  nostrum  el  Gamerae  apdstolicae  ad  capiendam  eorum 
possessionem  depulauimus.  Qua  in  re,  etsi  effeclui  noslro  seruiebamus, 
lamen  rem  haud  indecoram  nec  ingralam  Ubi  nos  faceré  arbilrati  sumus, 
in  tuo  oratore  praesertim  lali  viro  sacerdoliis,  quae  ad  nos  máxime  per- 
tinerent,  ornando.  Secuta  est  mox  duorum  Monasteriorum  et  \nius  Prio- 
ratus  per  obilum  bonae  memoriae  Didaci  episcopi  Funchaldensis  uacalio, 
quam  nobis  primus  nunciauit  yenerabilis  fraler  Anlonius  Puccius  episco- 
pus  Pisloriensis,  aliquot  antea  diebus  quam  luae  super  hoc  litterae  ad 
nos  peruenissenl,  cui  quidem  Monasteria  et  Prioralum  praedicta  a  nobis  pe- 
tenti,  quanquam  et  in  tempore  potior  et  meritis  erga  nos  magnis  praedi- 
tus  esset,  lamen  aperte  tune  recusauimus,  propler  eam  quam  dicto  M¡- 
chaeli  spoponderaraus  fidem  ne  ue  eius  iuri  atque  expectalioni  quoquo- 
modo  per  hoc  officeremus.  Tuis  uero  postea  subsecutis  lilleris,  quibus 
eadem  Monasteria  el  Prioralum  fralri  tuo  concedi  poslulasli,  hic  aliquanto 
eliam  magis  hesilauimus,  Nam,  etsi  tibi  yI  debemus  praesertim  in  fratris 
tul  persona  placeré  summe  cupiamus,  nec  studium  placendi  tibi  nostrum 
aut  Fratris  lui  aetas  aut  Monasteriorum  numerus  retardaret,  lamen  dis- 
tracli  necessario  fuimus  bine  lúa  auclorilale  quam  maximam  ducimus, 
inde  constantia  et  fide  noslra  nos  in  diuersum  trábente.  ínter  quae  ali- 
quandiu  ambigentes,  delibérala  mox  re  in  eam  cogilalionem  deuenimus 
vt  simul  luae  auctorilalis  noslraeque  fidci  rationem  habenles  pinguius  qui- 
dem atque  vberius  tuo  fralri,  Michaeli  aulem  ipsi  reliqua  dúo  ita  tamen 
concedamus  vi,  si  lúa  Serenilas  quo  plures  beneficio  alüget,  eliam  dicto 
Antonio  episcopo  gratificari  in  eorum  altero  nos  maluerit,  hoc  noslra  eliam 
cum  volúntate  faceré  possil.  Gum  aulem  postea  dileclus  filius  Marlinus  de 
Porlugallo  oralor  luus  nos  requisierit  m[  hanc  rem  landiu  vellemus  dif- 
ferre,  quoad  ij)se  et  haec  ad  te  scribere  el  responsuní  super  bis  a  te  ac- 
cipere  posset,  nos  ei  hoc  perlibenler  annuimus.  Nam  praeterquam  quod 
tule,  vt  speramus,  voluntatem  nostram  lúa  volúntale  el  aequitale  confo- 
uebis,  eliam  diclum  Michaelem,  quem  ad  le  hoc  ipso  tempore  peruentu- 
rum  esse  aut  peruenisse  iam  credimus,  tuae  quoque  Serenilali  id  accae- 
plum  referre  cupimus,  quam  eliam  confidimus  dexleritate  el  prudentia  ho- 
minis  perspecla,  multorumque  eius  meritorum  recordalam,  non  haec  modo 


RELACOES  COM  a  curia  romana  257 

quae  nos  Iribuimus  habituram  grata,  sed  alia  eliam  pro  Regia  animi  tui 
magniludine  esse  cumulaturam. 

Datum  Roniac  apud  sanclum  Petrum,  sub  annulo  piscatoris,  die  v 
Septembris  mdxxv,  Ponlificalus  noslri  anno  secundo.  —  Be.  El.  liauen- 
nensis  '. 


Breve  do  Papa  Clemente  Til,  dirigido  ao»  lBl»po» 
de  Ijaiiieg;o  e  de  Tizeu. 

15!85 — Ontubro  4. 


Clemens  papa  vii  VenerabÜes  fralres  et  Dilecti  filii  salulem  et  apos- 
toÜcam  benediclionem. 

Cum  nuper  pro  bono  pacis  et  anfractibus  litium,  quae  inter  Dile- 
ctum  filium  nostrura  Alfonsum  lituli  sanctae  Luciae  in  seplem  soliis  dia- 
conum  Cardinalem,  monaslerii  sancti  Joannis  de  Tarrouca  Gisterciensis  or- 
dinis  Lauacensis  fsicj  diócesis  perpetuum  commendalanum,  et  dileclum 
filium  Magislrum  Franciscum  Accursium,  canonicum  Basilice  Principis 
apostolorum  de  vrbe,  scriptorem  el  famiiiarem  noslrum,  super  dicto  mo- 
nasterio ac  illius  regimine  et  administratione,  quae  dictus  Franciscus  etiam 
ad  se  de  iure  spectare  asserebat,  el  super  quibus  idem  Franciscus  in  Ro- 
mana Curia  coram  diuersis  causarum  palatii  aposlolici  Auditioribus  contra 
cerlum  aduersarium  tune  in  illo  intrusum  diulius  Üligauit,  ortae  fuerant 
seu  oriri  formidabantur,  euilandis,  per  Dileclum  filium  Marlinum  a  Por- 
tugalia,  carissimi  in  christo  filii  nostri  Joannis  Portugaliae  Regis  llluslris 
Nepotem,  el  suum  apud  nos  el  sedem  apostolicam  oratorem,  pro  diclo  Al- 
fonso Cardinale  agentem  et  praefatum  Franciscum  certa  concordia  inita 
fueril,  per  quam  praefalus  Martinus  se  infra  certum  tempus  mandatum 
ab  eo  Alfonso  Cardinale  ad  consentiendum  reseruationi  pensionis  annuae 
Tertiae  partis  frucfuum  dicti  Monaslerii,  deduclis  expensiis  necessaris  et 
consuetis,  praefalo  Francisco  reseruande  habilurum  astrinxil,  el  in  huius- 

^  Arch.  Nac,  Mac.  18  de  Bullas,  n.°  8.  O  documento  lo  d'este  ma^o  é  outro  breve 
do  mesmo  teor. 

TOMO   U.  33 


258  COHPO  DIPLOMÁTICO  POHTÜGÜEZ 

niodi  euenlum  diclus  Accursius  liti,  et  cause  huiusmodi,  ac  omni  iuri  sibi 
in  monasterio,  ac  illius  regimine,  et  administralione  prefalis,  seu  ad  illa 
quomodoübel  coinpelenti  cessurus  sit,  el  cum  verus  valor  annuus  fru- 
cluum  monasterii  huiusmodi,  deductis  expensis  praediclis,  hic  ignorelur 
concordia  huiusmodi  non  habita,  ipsius  veri  valoris  certa  notitia  debitum 
effeclum  sorliri  non  possit.  Nos,  quorum  est  quae  concordie  sunl  fauore 
prosequi  beniuolo,  vt  concordia  ipsa  debito  eíFectui  demandetur  prouidere 
volenles,  Fralernitatibus  et  Discretionibus  vestris  in  virtute  sanctae  obe- 
dientiae  vobis  Fralres  Episcopi,  necnon  excommunicalionis  per  vos  filii 
vicarii :  nisi  parueritis  incurrenda  poena,  per  praesentes  committimus  et 
mandamus  quatenus  de  vero  annuo  valore  dicti  monasterii,  deductis  ex- 
pensis veris*  necessariis,  et  consuetis,  eliam  disposiliue  de  illarum  dis- 
tribulione  debite  fideliter  et  diiigcnter  inquiratis,  et  vos  diligenter  infor- 
metis,  ac  lestes  fidedignos  recipiatis,  et  eorum  desuper  attestationes  in  pu- 
blicara formara  redigi  faciatis,  et  sub  inde  informationem  per  vos  habi- 
tara, ac  processum  desuper  formalura  et  teslium  deponen,  sub  vestris  pa- 
tenlibus  lilleris  clausis,  el  vestris  sigiilis  munitis,  ac  manibus  nolariorum 
publicorura  subscriptis,  ad  nos  per  propriura,  seu  aliura  nuncium,  fide- 
liter transmitiere  curetis,  vi  habita  de  vero  valore  praediclo  certa  notitia 
concordia  huiusmodi  terminetur,  nec  plus  aul  minus,  quam  lerlia  pars 
frucluum  praedictorum  eidem  Francisco  assignetur  :  in  conlrarium  facien- 
tibus  non  obstantibus  quibuscunque. 

Datura  Romee  apud  sanctura  Petrura,  sub  annulo  piscaloris,  die  un 
Octobris  MDXxv,  Pontificalus  nostri  anno  secundo.  —  ía.  Sadolelus  '. 


'  Arch.  Nac,  Mac.  37  de  Bullas,  n."  16. 


HELACOES  COW  A  CURIA  ROMANA  259 


Breve  do  Papa  Clemente  ^11;  clirig;ido  ao  Cardeal 
Infante  O.  Henrique. 

1525 — Outubro  6. 


Clemens  episcopus  seruus  seruorum  dei  dilecto  filio  Henrico  ex  Re- 
gibus  Portugalie  clerico  vlixbonensi  salulem  et  aposlolicam  benediclionem. 

Alti  sanguinis  clarissinia  prosapia,  necnon  uite  ac  morum  honestas 
aliaque  laudabilia  probilalis  et  uirlulum  merila,  super  quibus  apud  nos  fi- 
dedigno commendaris  testimonio,  nos  inducunt  \t  illa  tibi  fauorabiliter  con- 
cedamus,  que  tuis  commodilalibus  fore  conspicimus  oportuna.  Cum  itaque 
hodie  tu,  qui  Prioralum  Monaslerii  per  Priorem  gubernari  soliti  sancti 
Georgii  ordinis  sancti  Auguslini,  Golimbriensis  diócesis,  ex  concessione 
apostólica  in  commendam  nuper  obtinebas,  commende  huiusmodi  per  cer- 
tum  procuralorem  suum  ad  id  a  te  sgecialiter  constilutum  in  nianibus  nos- 
tris  sponte  et  libere  cesseris,  nosque  cessionem  ipsam  admitientes  Prioratum 
prediclum,  tune  cerlo  modo  quem  pro  expresso  haberi  voluimus  vacan- 
tem,  dilecto  filio  Martino  a  portugalia  clerico  Elborensi,  familiari  nostro, 
per  alias  noslras  lilleras  commendari  mandauerimus  prout  in  illis  plenius 
conlinetur.  Nos  tibi,  qui  ut  asseris  in  Quartodecimo  uel  circa  tue  elatis 
Anno  conslitulus,  ac  charissimi  in  christo  filii  noslri  Johannis  Porlugalie 
Regis  IHustris  frater  germanus  exislis,  ne  ex  cessione  huiusmodi  nimium 
dispendium  patiaris,  de  alicuius  subuentionis  auxilio  prouidere,  premis- 
sorumque  merilorum  tuorum  inluitu  spelialem  gratiam  faceré  volentes, 
teque  a  quibusuis  excommunicalionis,  suspensionis  et  inlerdicti,  aliisque 
ecclesiasticis  sententiis,  censuris  et  penis  a  iure  uel  ab  homine  quauis 
occasione  uel  causa  lalis,  si  quibus  quomodolibel  innodatus  exislis,  ad 
effectum  presenlium  dunlaxat  consequendum,  harum  serie  absoluentes  et 
absolutum  foro  cénsenles,  necnon  omnia  et  singula  beneficia  ecclesiaslica 
cura  et  sine  cura,  que  eliam  ex  quibusuis  dispensalionibus  aposlolicis  ob- 
lines  el  expeclas,  necnon  in  quibus  et  ad  que  ius  tibi  quomodolibel  com- 
petit,  quecunque,  quotcunque  et  qualiacunque  sint,  eorumque  fructuum, 
reddituum  el  prouentuum  \eros  annuos  ualores  ac  huiusmodi  dispensa- 

33  * 


260  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

tionum  tenores  presenlibus  pro  expressis  habentes,  Tibi  quod  dicto  Mar- 
tino  cedente  uel  decedente  seu  prioratum  predictum  alias  quomodolibet 
dimitiente  uel  amiltente  el  illo  quouis  modo  vacante,  etiam  apud  sedem" 
apostolicam,  liceat  tibi  ad  prioratum  predictum  liberum  habere  regres- 
sum,  illiusque  corporalem  possessionem  per  te,  uel  alium  seu  alios,  pro- 
pria  auctoritate  libere  apprehendere,  et  tam  tue  prioris  commende,  quam 
presentium  litterarum  uigore,  absque  alia  tibi  desuper  facienda  commenda, 
in  eandem  commendam  vt  prius  retiñere  in  ómnibus  et  per  omnia  per 
inde  ac  si  commende  huiusmodi  minime  cessisses  conslitutionibus  et  or- 
dinationibus  apostolicis,  necnon  Monasterii  et  ordinis  predictorum  iura- 
mento,  confirmatione  apostólica,  uel  quauis  firmitate  alia  roboratis  sla- 
tulis  et  consuetudinibus,  celerisque  contrariis  nequáquam  obslantibus,  au- 
ctoritate apostólica  tenore  presentium  de  speciali  gratia  indulgemus,  de- 
cernentes  ex  nunc  irritum  el  inane  si  secus  super  hiis  a  quoquam  qua- 
uis auctoritate,  scienter  uel  ignoranter,  contigerit  atlemptari.  Nulli  ergo 
omnino  hominum  liceat  hanc  paginam  nostre  absolutionis,  indulti  et  de- 
creti  infringere,  uel  e¡  ausu  temerario  contraire.  Siquis  autem  hoc  attem- 
ptare  presumpserit  indignationem  omnipotentis  dei,  ac  beatorum  Petri  et 
Pauli  Apostolorum  eius,  se  nouerit  incursurum. 

Datum  Rome  apud  Sanctum  petrum  Anno  Incarnationis  dominice 
Millesimo  quingentésimo  uigesimo  quinto,  Pridie  Nonas  Octobris,  Ponti- 
ficatus  nostri  Anno  secundo.  —  Hie.  Vasionensis  ^ 


Bre^e  do  Papa  Clemente  l^II,  dirig;ido  aoís  Biispos 
de  Casitellaiuare  e  d'Alghero. 

1525 — Oatabro  6. 


Clemens  episcopus  seruus  seruorum  dei  Venerabílibus  fratribus  Cas- 
tellimaris  et  Algarensis  Episcopis  ac  dilecto  filio  Ofiiciali  Colimbriensi. 

Hodie  cum  dilectus  filius  Henricus  ex  Regibus  Portugalie  clericus 
Ylixbonensis,  qui  Prioratum  Monasterii  per  Priorem  gubernari  soliti  san- 

»  Abch.  Nac,  Mac.  2  de  Bullas,  n.°  11. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  261 

cti  Georgii  ordinis  sancti  Auguslini,  Colimbriensis  diócesis,  ex  conces- 
sione  apostólica  in  commendam  nuper  obtinebat,  commende  huiusniodi, 
per  cerlum  procuralorem  suum  ad  id  ab  eo  specialiter  constilulum,  in 
manibus  noslris  sponle  el  libere  cessissel,  nosque  cessionem  ipsaní  ad- 
raillenles  Prioratum  prediclum,  tune  certo  modo  quem  pro  expresso  ha- 
ber! voluimus  vacanlem,  dilecto  filio  Martino  A  portugalia,  clerico  Elbo- 
rensi,  familiari  noslro,  per  qiiasdam  commendari  mandauissemus,  nos 
eidem  Henrico  quod  prefalo  Martino  cedente  uel  decedente,  seu  priora- 
tum predictum  alias  quomodolibet  dimitiente  uel  amillente  el  illo  quouis 
modo  vacante,  etiam  apud  sedem  apostolicam,  liceret  sibi  ad  diclum  prio- 
ratum liberum  habere  regressum  per  alias  nostras  litleras  indulsimus, 
prout  in  singulis  lilleris  prediclis  plenius  conlinelur.  Quocirca  discrelioni 
ueslre  per  apostólica  scripta  mandamus  qualinus  vos,  uel  dúo  aut  vnus 
uestrura,  si  el  postquam  dicte  posteriores  liltere  nobis  preséntale  fuerint, 
per  vos  uel  alium  seu  alios  faciatis  auctoritate  nostra  eundem  Henricum, 
uel  procuralorem  suum  eius  nomine,  iure  et  facúltate  regrediendi  et  in 
euenlum  regressus  huiusnwdi  possessione  dicti  Prioralus  pacifice  gaudere, 
non  permitientes  eum  per  quoscunque  desuper  quomodolibet  indebite  mo- 
lestan, contradictores  per  censuram  ecclesiasticam  appellalione  postposita 
compescendo :  Non  obstantibus  ómnibus  que  in  dictis  posterioribus  lille- 
ris voluimus  non  obstare,  Seu  si  aliquibus  communiter  uel  diuisim  ab 
eadem  sit  sede  indultum  quod  inlerdici,  suspendí  uel  excommunicari  non 
possint,  per  litleras  apostólicas  non  facientes  plenam  et  expressam  ac  de 
uerbo  ad  uerbum  de  indulto  huiusmodi  mentionem. 

Datum  Rome  apud  Sanclum  petrum  Anno  íncarnationis  dominice 
Millesimo  quingentésimo  uigesimo  quinto,  Pridie  Nonas  Oclobris,  Ponli- 
ficatus  noslri  Anno  Secundo. — Hie.  Vasionensis  *. 


*  Arch.  Nac,  Mac.  19  de  Bullas,  n."  26. 


262  CORPO  DIPL03IATIG0  PORTUGUEZ 


Breve  do  Papa  Clemente  ^11,  dirigido  aois  Reiis 
de  Heispanlia  D.  Carloü  e  1>.  Izabel. 

15S5 — IVovembro  13. 


Clemens  papa  vii  Carissime  in  chrislo  fili  noster  el  Dilecta  in  chrislo 
íilia  salulem  el  apostoücam  benediclionem. 

Exponi  nobis  nuper  fecisli  per  dilectum  filium  Nobilera  virum  Du- 
cem  suessanensem,  tuum,  fili  Carissime  Carole  Rex  Romanorum  el  His- 
paniarum  in  Imperatorem  elecle,  apud  nos  el  sedem  apostolicarn  orato- 
rem,  quod  vos  pro  conseruandis  inler  yos  veslrosque  consanguineos  et 
aífines  praeserlim  ex  sanguine  regio  descendentes,  pacis  el  amiciliae  foe- 
deribus,  sicut  et  ínter  vestros  eliam  praedecessores  etiam  simili  modo  pro 
regnorum  suorum  conseruatione  seruata  fuerunt,  desideratis  inuicem  ma- 
trimonialiter  copulari.  Sed  quia,  secundo  ex  eo  q^uod  duarum  filii  estis, 
ac  alias  lerlio  et  quarlo  ex  eo  quod  clare  memorie  Emanuel  portugallie 
et  algarbiorum  Rex,  luus  in  christo  filia  Isabella  genitor,  et  clare  memo- 
rie Ilelisabel  Hispaniarum  Regina,  tua  fili  Carole  Auia,  filii  duarum  so- 
rorum,  et  sic  secundo  consanguinitatis,  Tuque  in  christo  filia  Isabella,  et 
charissima  in  chrislo  filia  Joanna  Hispaniarum  Regina  calholica,  et  ma- 
ter  tua,  fili  Carole,  Tertio  equali,  sic  que  fili  Carole  et  in  christo  filia  Joan- 
na terfio  et  quarto  vt  praefertur,  ac  etiam  alio  tertio  et  quarlo  ex  eo  quod 
praefatus  emanuel  Rex  genitor  tuus  in  christo  filia  isabella,  et  clare  me- 
morie Maximilianus  Romanorum  Rex  in  Imperalorem  cleclus  Genitor  clare 
memorie  Philippi  Hispaniarum  Regis  Genitoris  tui,  fili  Carole,  in  secun- 
do aequali  gradu  erant  cum  essent  filii  ex  fratre  et  sorore,  el  praefatus 
Philippus  Rex  el  tu  in  chrislo  filia  Isabella  in  lerlio  gradu  equali ;  Sic- 
que  vos,  fili  Carole  et  in  christo  filia  Isabella,  lerlio  et  quarlo  aequali  vi 
praefertur,  ac  eliam  alio  quarlo  consanguinitatis  equali,  ex  eo  quod  quon- 
dam  Ferdinandus  Infans  Genitor  praefali  Emanuelis  Regis  et  clare  memo- 
rie Ferdinandus  aragonum  Rex  auus  tuus,  fili  Carole,  secundo  consan- 
guinitatis cuní  essent  nati  ex  fralre  el  sorore.  Insuper  Rex  ipse  Emanuel 
et  praefata  Joanna  Regina  Genilrix  tua,  fili  Carole,  in  tertio  consanguini- 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  263 

lalis  gradibus  respective  eranl  coniuncli,  Ex  quorum  personis  vos,  fili 
Carole  el  in  chrislo  filia  Isabelia,  in  quarto  consanguinilalis  equali  gra- 
dibus huiusmodi  el  forsam  alus  prouenienlibus,  de  quibus  nolitiam  non 
habelis,  infra  lamen  secundum  consanguinilalis  gradum,  gradibus  huius- 
modi inuicem  eslis  coniuncli,  veslrum  in  hac  parle  desiderium  adimplere 
non  poleslis,  dispensalione  super  hoc  non  óblenla,  Quare  idein  Ludovi- 
cus  Dux  el  oralor  pro  parle  veslra  nobis  humiliter  supplicauit,  \[  yobis 
super  hoc  de  opporlunae  dispensalionis  gralia  prouidere  de  benignilale 
aposlolica  dignaremur.  Nos  igilur,  siqua  alia  impedimenta  ralione  con- 
sanguinilalis ve!  aíTinilatis  huiusmodi,  quorum  forsan  non  recordamini, 
el  forsan  eliam  nolitiam  non  habelis,  dummodo  infra  secundum  gradum 
consanguinilalis  el  aííinilatis  huiusmodi  fuerinl,  presentibus  pro  expressis 
habenles  ex  praemissis  ac  certis  alus  causis  nobis  exposilis,  huiusmodi 
supplicalionibus  inclinali,  vobiscum,  quando  eliam  Tu  in  christo  filia  Isa- 
bella  voluntarle  huic  rei  accedis,  vi  praediclis  el  alus  forsan  pro  expres- 
sis habitis  impedimenlis  consanguinilalis  el  aílinitalis  huiusmodi  non  ob- 
stanlibus,  malrimonium  inter  vos  contrahere,  el  in  eo  poslquam  coniun- 
clum  fueril  remanere,  libere  et  licite  uaieatis,  litteris  noslris  alias  per  nos 
süper  hoc  in  contrarium  editis  ac  aposlolicis,  necnon  in  prouincialibus 
et  synodalibus  conciliis  eliam  editis,  generalibus  uel  specialibus,  consti- 
tulionibus  el  ordinalionibus,  caelerisque  contrariis  nequáquam  obstanti- 
bus,  aucloritate  aposlolica  lenore  presenlium  dispensamus,  ac  prolem  ex 
huiusmodi  Matrimonio  suscipiéndam  legilimam  nunciamus. 

Datum  Romae  apud  sanclum  Petrum,  sub  Annulo  Piscaloris,  die  xiii 
Nouembris  mdxxv,  Pontificalus  nostri  Anno  Secundo.  —  la.  Sadoletus  '. 


*  Arch,  Nac,  Mac.  18  de  Bullas,  n."  7.  Diz  o  sobrescripto:  Carissimo  in  christo  fi- 
lio nostro  Carolo  electo  Imperatori  Hispaniarum  ac  Regi  catholico,  et  Dilectae  in  christo 
filiae  Nobili  mulieri  Isabellae  clarae  meraoriae  Emanuclis  Portugalliae  et  Algarbiorum 
Regis  Natae. 


264  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 


Breve  do  Papa  Clemente  1^11,  dirig^ido  a  el-Rei. 


1526— Marco  Z3, 


Clemens  papa  vii  Carissime  in  christo  fili  nosler  salutem  et  aposto- 
licam  Benediclionem. 

Intelleximus  ex  dilecti  filii  Michaeüs  de  Sylua,  olim  oratoris  apud 
nos  tui,  ac  preterea  legati  in  Hispania  noslri,  litleris  lui  quoque  oratoris, 
et  omnium  fere  sermone,  nuper  ipsum  Michaeleni  luo  muñere  ac  beni- 
gnitate  ad  ecclesiam  Visensem  fuisse  uocatum ;  quod  quanto  nos  gan- 
dió aífecerit  haud  satis  possumus  explicare,  siue  enim  illius  honor  ac  di- 
gnitas  nobis  semper  óptala,  siue  tuum  de  homine  iudicium  et  declaratio 
uoluntatis,  siue  etiam  ipsius  ecclesiae  Visensis  commodum  el  honestamen- 
tum,  se  nobis  offerebant,  omnia  eranl  tiuiusmodi  ut  mirifice  nobis  essent 
iucunda  el  grata,  Cum  non  solum  ex  pastoraii  oíficio  atque  persona  rera 
probaremus,  uerum  etiam  priuato  aífectu  ac  letitia  susciperemus,  Facit 
enim  ipsius  Michaelis  uirlus,  ac  fides,  multorum  annorum  usu  muitis- 
que  in  rebus  perspecla  a  nobis  et  cognita,  ul  eius  amplificatione,  qui  in 
nostram  tolus  incubuit,  iure  leteraur.  Veruní  in  his  ómnibus  siculi  apud 
illum,  ita  el  apud  Nos  facile  eminel  luae  in  eum  beniuolentiae  et  uolun- 
tatis declaratio,  quae  lili  ac  nobis  muñere  quoque  ipso  charior  est  cui 
cum  accesserit  etiam  gratia  celerilatis,  neo  potueris  benignitatem  luam 
diutius  in  hominem  de  te  benemeritum  diíFere  aliquanto  ille  magis  luae 
Serenitati  debet,  et  nos  id  iucundum  accepimus,  Q^'  í^cc  illud  quoque 
obliuisci  possumus  quod  ad  tuam  in  illum  paratam  liberalitatem  nostrae 
commendalionis  cumulum  uisus  es  libenter  adiecisse,  Quare  hoc  tuum 
munus  et  iudicium  animi  noslri  letitia  et  affeclu  comprobantes,  sumus  li- 
benter nominationem  ipsam,  quae  Tibi  honori,  nobis  gaudio,  et  illi  eccle- 
siae futura  est  ornamento,  admissuri,  id  quod  cupide  expectamus.  Inte- 
rea  quidem  ita  erga  Serenitatem  luam  ex  hac  re  aíTecti  el  animati,  ul 
quam  iudicio  el  gralitudine  summe  in  hoc  usam  intelligimus,  eliam  huius 
Sanclae  Sedis  nomine  de  hoc  commendemus,  et  priuato  nomine  gratias 
e¡  agamus,  sperantes  eliam  Serenilalem  tuam  his  initiis  suae  liberalitatis 


RELACOES  COM  a  curia  romana  26S 

el  Regiae  celsiludinis  exorsam  contexluram  cum  primis  caelera  et  ipsius 
Michaeüs  uirlule  ac  fide  in  dies  magis  perspecta,  amorem  quoque  et  be- 
nignitatem  suam  in  illum  aiicturam  esse,  nec  permissiiram  vt  is  plus  me- 
ruisse  quam  tua  sercnilas  grala  in  eum  fuisse  uidealur. 

Dalum  Romae  apud  sanctum  Petrum,  sub  Annulo  Piscaloris,  die 
XXIII  Marlii  mdxxvi,  Pontificatus  Noslri  Anno  Terlio.  —  Be.  EL  Raiien- 
nensis  ^ 


Breve  do  Papa  Clemente  Til,  dirig;ido  a  el-Rei. 

15S6— Uarco  97. 

Clemens  papa  vii  Charissime  in  christo  fili  nosler  salulem  el  apos- 
tolicam  benediclionem. 

Inducli  nuper  merilis  et  \irlutibus  dilecti  filii  Anlonii  Tellez,  cubi- 
cularii  noslri  secreti,  Prioralum  Monasterii  Sanclae  Mariae  de  Cosía,  or- 
dinis  Sancli  Auguslini,  Bracharensis  diócesis,  commenda  eius  per  obilum 
bone  memorie  Johannis  Episcopi  Visensis,  extra  Romanam  Curiam  de- 
funcli,  cessante,  per  alias  noslras  sub  plumbo  confeclas  lilleras  ei  com- 
mendauimus,  firma  eliam  spe  freli  gratiam  hanc  noslram  in  personara 
dicli  Anlonii  (cuius  el  eius  geniloris  praeciaram  fidem  el  deuolionem  erga 
Serenilalem  luam  esse  audiebamus)  collalam,  eliam  Serenilali  luae  acce- 
plum  fore.  Quam  licet  pro  suo  officio  singularique  bonilale  eisdem  iille- 
ris  noslris  solilam  execulionem  ac  debilum  fauorem  non  denegaluram  spe- 
remus,  lamen  palerne  el  sludiose  horlamur  ac  requiriraus  in  domino  vt 
lilleras  aposlolicas  commendae  huiusmodi  dicto  Antonio  per  nos  conces- 
sas  oporlunis  fauoribus  prosequi,  el  execulioni  demandari  faceré,  Ac  de- 
inceps  ipsi  Antonio,  qui  luae  Serenilatis  natura  el  \olunlale  deuolissimus 
esl,  ómnibus  in  negolüs  et  rebus  suis  honestis  gratiam  et  benignilatem 
tuam  accomodare  velis.  Id  luae  Regiae  celsitudini  et  in  luos  gratitudini 
congruens,  el  nobis  erit  gralum. 

Dalum  Romae  apud  sanctum  Pelrum,  sub  annulo  piscaloris,  die  xxvii 
Marlii  MDxxvi,  Ponlificatus  noslri  anno  terlio.  —  Be.  El.  Rauennensis  *. 

'  Arch.  Nac,  Mac.  26  de  Bullas,  n.°  23. 
2  Ibi,  Mac.  19  de  Bullas,  n.°  6. 

TOMO  II.  34 


266  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGÜEZ 


Carta  de  D.  Martiuho  de  Portug;al  a  el-Rei. 


15ZG — jranbo  ... 


Senhor.  —  Beijo  as  maos  de  Vossa  alteza  polla  merce  que  me  fez  em 
me  mandar  trazer  minha  pobreza.  Francisco  eanes  chegou  a  ciuila  no 
comeco  de  Junho :  se  elle  nao  fora,  o  seu  recado,  segundo  os  lempos, 
nao  chegara  qua.  Foi  Ihe  necesario  pelejar  com  huas  duas  gales  d  andré 
doria,  a  que  malou  xiii  homes.  Ouue  se  asi  bem  que  quis  o  papa  uelo  polla 
emformacao  que  Ihe  dele  deu  o  raesmo  andré  doria,  que  agora  hee  capilao 
geral  do  mar  da  egreja.  Des  que  o  vio  Ihe  dixe  alguas  cousas  que  dixese 
de  sua  parte  a  Vosa  alteza.  Hee  boa  teslemunha  desta  güera,  que,  se- 
gundo os  aparelhos,  nem  a  de  Julio  nem  de  liao  a  quiserao  aremedar, 
porque  carta  nem  homem  pode  sair  desta  cidade.  Nela  ha  gente  feita,  e 
face  cada  dia.  Pareceo  me  rezao,  e  a  elle  pollo  que  uio,  deixar  me  cinco 
bercos  dos  que  trazia  no  nauio.  Como  esta  furia  pasar  os  mandarei :  aja 
o  Vosa  alteza,  por  me  fazer  merce,  por  seo  seruico.  Nao  ha  cardeal  nem 
homem  que  se  nao  faca  forte,  e  que  nao  recé  ser  saqueiado.  Agradeca 
Vosa  alteza,  por  me  fazer  merce,  ao  dicto  francisco  eanes  seu  seruico, 
porque  e  pollos  laes  nao  poso  leixar  de  desejar  de  Ihe  uer  bem  :  qua  ao 
menos,  des  o  papa  ate  lodos  que  o  uiao,  Ihe  chamauao  o  caualeiro,  por- 
que o  foi  naquelle  dia. 

De  roma  aos  de  junho  de  1526.  —  Dom  Marlinho  de  Portu- 
gal \ 


•Arch.  Nac,  Gar.  15,  Mac.  2,  n.°  27. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  267 


fireve  do  Papa  Clemente  Til,  dirija;icio  a  el-Rei. 


15Se—  annlio  9H. 


Clemens  papa  yii  Carissime  in  christo  fili  nosler  salulem  et  aposlo- 
licam  benediclionem. 

Egre  quidem  et  non  sine  magno  animi  nosiri  dolore,  sed  necessario 
tamen  ad  ea  armorum  consilia  confugere  coacli  sumus,  ad  quae  ne  ue- 
niremus  hucusque  semper  sluduimus  Si  enim,  vt  officium  boni  pastoris 
ct  communis  palris  poslulat,  communem  quoque  tolius  chrislianilatis  pa- 
cem,  et  Iranquillitalem,  si  libertatem  Italiae,  si  nostram,  et  sanctae  huius 
sedis  dignitalem  auctoritalemque  procurare  et  tueri  uelimus,  postea  quam 
quibusuis  milioribus  remediis  nihil  adhuc  proficere  potuimus,  ad  extre- 
mara hanc  deliberationem  descenderé  necesse  nobis  fuit,  non  quidem  of- 
fendendi  cuiusquam  causa,  sed  defendendae  iusliliae,  et  nosiri  officii  ac 
debili  praestandi.  De  quo  nostro  consilio  et  deliberalione  cum  copióse  cum 
dilecto  filio  Marlino  de  portugal,  oralore  tuo,  loculi  simus,  eique  iniun- 
xerimus  vt  ea  oninia  particularius  diffusiusque  ad  serenilalem  tuam  scri- 
beret,  quo  ipsa  raentem  et  voluntalem  nostram  clarius  cognosceret.  Hor- 
tamur  eam  in  Domino  \t  illi  de  bis  rebus  ad  le  scribenti  fidem  praeslare 
velit.  Deinde  \t  tu  quoque  pro  ea  \irtute  et  propensa  ad  omne  bonum 
mente,  qua  serenilatem  tuam  plurimum  ornalam  Deus  esse  voluil,  apud 
eos  Principes,  ad  quos  praecipue  spectat,  quo  idem  vniuersale  christia- 
nitatis  commodum,  reliclis  aliquanlisper  priualis  cupiditalibus  amplectan- 
tur  procures.  Quod  erit  nobis  quam  gratissimum,  Deo  aulem  ipsi  perac- 
ceptum. 

Datum  Romae  apud  sanctum  Petrum,  sub  annulo  piscatoris,  die  xxvm 
Junii  MDXxvi,  Pontificaíus  nostri  anno  terlio.  —  la.  Sadoletus  ^ 


I  Arch.  Nac,  Gav.  15,  Mac.  2  n."  25. 

3i* 


268  GORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 


Caria  de  cl-Rci  D.  Joáo  III  ao  Papa  Clcniente  ^11. 


15»e— Junlio  SS. 


Sanclissimo  in  Christo  Patri  ac  Beatissimo  Domino  Domino  nostro 
Eius  Sanctitalis  devolissimus  filius  Joannes,  De¡  gralia  Rex  Porlugalliae 
et  Algarbiorum  citra  ullraque  mare  ¡n  África,  Dominus  Guineae,  el  ex- 
pedilionis,  navigalionis,  ac  commercii  Aelhiopiae,  Arabiae,  Persidis,  atque 
Indiae,  humillima  bealorum  pedum  oscula. 

In  quanlo  discrimine  Res  Ungarica  sil,  quanlique  afferanlur  terro- 
res a  Turéis,  ut  non  solum  paralum,  \erum  eliam  illalum  beilum,  pene 
iam  esse  videalur,  lum  ex  lileris  Beatitudinis  tuae,  exemplisque  aliarum 
literarum,  ac  ipsius  quoque  Ungariae  Regís  significatione,  tum  ex  lis, 
quae  Míchael  Sylvius  consiliarius  et  scriba  nosler  ab  archanis  nobis  tuo 
nomine  miserabililer  retullit,  cum  summo  animi  nostri  dolore  intellexi- 
mus.  Quara,  nos  calamitalem  forlissimae  nationis,  Regisque  non  solum 
Christiani,  sed  eliam  amici  et  pernecessarii  dum  ad  lanías  rerum  omnium 
diíficultates  animum  adverlimus,  cum  praeserlim  videamus  a  nobis  sub- 
sidium  alienissimo  lempore  peli,  cum  sponle  noslra  per  nos  ipsi  vehe- 
menter  dolemus,  tu  his  lileris  Bealiludinis  lúe,  el  commemoralione  mise- 
riarum  et  periculorum,  magna  accessio  facía  esl  dolori  noslro.  iNam  haec 
veluli  quaedam  sanies  iamdiu  collecta,  cum  landem  in  ulcus  eruperil,  re- 
crudescere  dolorem  meum  fuit  necesse.  Qui  enim  fieri  polesl,  cum  hoc 
lanlum  malum  Iam  late  serpat,  ul  lolum  chrisliane  Reipublice  corpus  brevi 
(ni  Deus  prohibeal)  pervasurum  esse  videalur,  ul  mihi  per  inde,  atque 
ipsius  membro  res  communi  omnium  causa  non  máximum  dolorem  af- 
ierre dcbeal?  Sed  in  his  malis,  tanlaque  desperalione  rerum,  hanc  tuam 
vigilantiam  et  liberalilalem,  quam  praestas,  Deus  ipse  lanquam  signum 
aüquod  ad  non  penilus  desperandum  de  República  chrisliana  subslulisse 
mihi  videtur,  quam  nos  salulifcram  curam  tuam,  elsi  ex  oíTicio  pasto- 
rali,  Ubi  peculiariler  incumbal,  non  possumus  non  valde  admirari,  sum- 
misque  laudibus  in  coelum  ferré.  Deinde  a  le  eliam  vehemenler  conten- 
dimus  ul  quod  adhuc  fecisli,  el  nunc  facis  conslanlissime  perficias  ut  quam- 


RELACOES  COM  a  curia  romana  269 

plurimorum  subsidia  primo  quoque  lempore  illuc  miUantur  et  conlrahan- 
tur,  nc  haec  calamitas  latius  pervagetur.  Cui  eo  diligenlior  cura  adhi- 
benda  est,  quo  nostra  esl  negligenlia  et  culpa  maior :  Sed  quando  ea  sunt 
témpora  ut  magis  facto  quam  consilio  opus  sil.  Venio  iam  ad  id  quod 
scribis  de  subsidio  pecuniario  :  vellem  profeclo  (Deus  mihi  testis  esl)  eam 
in  presenli  mihi  facultatem  contingere  ut  publicis  Christiani  nominis  hos- 
iibus  non  solum  Boemum  milifem,  aut  aliumquemvis  mea  conductum  pe- 
cunia, qui  illorum  impelum  substinerel,  quod  tu  Rexque  ipse  a  rae  pe- 
titis,  \erum  etiara  me,  meumque  pectus  pro  salute  Christiani  Regis  ac 
Religionis  dignilate  liceret  opponere,  Quod  utique  mihi  gralissimum  non 
sine  máximo  praemio  mihi  faceré  viderer.  Quod  enim  per  Deum  immor- 
lalem  Chrisliano  Principi  maius  ullum  praemium  quam  in  Deum  pietas? 
Cuius  amor,  tuisque  paternis  ac  sanclissimis  cohortationibus  oblemperandi 
\oluntas  et  quasi  heredilarum  mihi  et  veluti  per  manus  Iradilum  Chris- 
lianae  Religionis  propagandae  desiderium,   quantum  per  aerarii   nostri 
inopiam  licuil,  reliquas  omnes  difficullates,  quas  ubi  cunctisque  mortali- 
bus  notissimas  esse  iulelligo,  facile  superayit.  Itaque  summa  cum  diligen- 
lia  in  Ungariam  mitlimus  Leonellura  de  Brito  nobilem  ex  aula  nostra,  ho- 
minem  diligentem  el  fidei  perspectae,  qui  maximis  ilineribus  illuc  advo- 
let,  cui  literas  ad  Regem  ipsum  et  ad  nuntium  itcm  tuae  Beatitudinis  de- 
dimus,  alteras  ul  Regem  magnum  animum,  optimamqüe  spem  liabere  hor- 
taremur,  el  quibus  verbis  possemus,  ad  se  Regniimque  suum  defendendum 
confirmaremus,  alteras  ut  illic  communi  consilio  luo  nostroque  res  ipsa 
peragatur,  Pecuniae  insuper  tantum  mitlimus,  quantum  in  praesentia  pos- 
sumus,  summam  certe  mininam  tanlo  bello  gerendo  at  magni  aestiman- 
dam,  vel  ob  hoc  unum  quod  animo  desiderioque  meo  longo  intervallo  mi- 
nor  quam  sil  esse  videatur.  Quo  ego  etiam  onere  ul  me  levarem  potui 
commemorare  tot  urbes  in  África  partim  frelo  hercúleo,  parlim  océano 
inleriecto,  tot  in  India  citra  et  ultra  Gangem  in  Perside,  ultiaque  auream 
Chersonessum  non  mari  solum,  verum  etiam  alio  veluti  orbe  a  nobis  dis- 
sitas ad  quas  fidem  chrisli  classes  meae  preciosissimam  \eluli  mercera 
quotidie  important,  contra  tot  hostes  meo  milite  meisque  sumptibus  subs- 
tentatas  Quarum  genlium  coramcrciis  non  imus  inficias  diliores  nostros 
fiere,  illud  taraen  veiim  libi  persuadeas,  earum  di\iliarum  m«ngnam  par- 
tera lum  classes  ingentes,  tura  stipendia  milüum  meorum  absorbere,  plus- 
que  ib!  sanguinis  lusitani  pro  fide  Chrisli  effundi,  quam  lucri  ad  roe  re- 


270  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

porlari.  Adde  ad  haec  amplissimam  dotem,  qua  sororem  niiper  meam  Ca- 
rolo Imperalore  collocavi,  quae  quamlibet  magnum  aerarium  exhaurire 
poluerit.  Haec  alque  alia  sexcenta  posseni  comniemorare,  nisi  el  ad  le 
haec  ipsa  nimis  multa  essent,  el  mihi  slatulum  in'  animo  esset,  nuUum 
publicum  onus  pro  fide  Chrisli  privala  ulla  causa  sublerfugere.  Tu  vero, 
Paler  Bealissime,  incumbe  per  Deum  immorlalem  in  eam  curam  el  cogi- 
lalionem,  ul  caepisli,  quae  libi,  populoque  Chrisliano  summam  dignila- 
tem  el  gloriara  afferet,  nec  quicquara  de  diligenlia  remillere  debes :  his 
enim  lemporibus  difficillimis  Reipublicae,  el  praecipue  posl  lanlam  Prin- 
cipura  discordiam,  quando  cum  máxime  credebamus  in  mulla  sécula  Chris- 
tianum  populum  moelu  el  calamitale  liberalum,  novi  hi  limores  relexunt 
superiora,  quibuscumque  rebus  polest  occurri  hoslibus  occurras,  nec  de- 
sislas eliam  nobis  in\ilis,  lamquam  aegro  corpori  bonus  medicus,  omnem 
medicinam  adhibere,  immo  magis  quicquid  enim  sic  subveneris  id  erit 
tolum  el  proprium  tuum.  Vale. 

Datura  in  Oppido  noslro  Sanctaren.,  décimo  quarlo  Kalendas  Julias, 
anno  nalalis  Dominici  mdxxvi. — Jo  el  Reye  fsicj  —  M.  Sylvius  ^ 


Bulla  do  Papa  Clemente  Til,  dirigida  a  O.  llanuel 

de  Moronha. 

1526 — Oatabro  5. 


Clemens  episcopus  seruus  seruorura  dei  dilecto  filio  Emanueli  No- 
rogna,  clerico  funchalensi  familiari  noslro,  salutera  el  aposlolicam  bene- 
diclionem. 

Grata  familiaritalis  obsequia,  que  nobis  haclenus  impendisti  el  ad- 
huc  sollicilis  studiis  impenderé  non  desistís,  necnon  vite  ac  morum  ho- 
nestas, aliaque  laudabilia  probitalis  el  virtutum  merita,  quibus  personara 
luam  tara  familiari  experientia  quara  eliam  fide  dignorura  leslimoniis  in- 
uari  percepimus,  Nos  inducunt  \l  le  specialibus  fauoribus  el  graliis  pro- 

*  Copia  aulhenlica  extrahida  do  Archivo  do  Vaticano. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  271 

sequamur.  Dudum  siquidem  cum  tu  asserens  Ubi  alias  de  parrochiali  ec- 
clesia  sancli  Christophori  de  Nogueira,  Lamacensis  diócesis,  tune  certo 
modo  vacante,  apostólica  auctoritate  prouisum  fuisse,  omni  iuri  libi  in 
eadem  ecclesia  vel  ad  illam  quomodolibet  competenli  illius  possessione 
per  te  non  habita,  in  manibus  felicis  recordalionis  Leonis  pape  x  prede- 
cessoris  noslri  sponte  et  libere  cessisses,  el  dicfus  predecessor  cessionem 
huiusmodi  admiltens  de  cadem  ecclesia,  tune  certo  modo  vacante,  quon- 
dara  Johanni  Brauo,  olim  dicte  ecclesie  Rectori  tune  in  humanis  agenti, 
per  quasdam  prouidisset  idem  predecessor  tibi  quod,  dicto  Johanne  ce- 
dente  vel  decedenle,  et  in  certos  alios  tune  expressos  euenlus,  iiceret  tibi 
ad  dictara  ccclesiam  liberum  habere  regressum  seu  accessum,  per  alias 
suas  litleras  indulsit,  proul  in  singulis  litteris  prediclis  plenius  contine- 
tur.  Cum  aulem,  sicut  exhibila  nobis  nuper  pro  parte  tua  pelilio  conti- 
nebat,  post  concessum  tibi  indullum  prediclum,  et  ante  obilum  prefali  Jo- 
hannis,  in  dicta  ecclesia  vna  Preceptoria  Mililie  Jesu  christi  in  Regno  Por- 
tugalie  instituía  apostólica  auctoritate  erecta  fuerit,  ila  quod  erectio  hu- 
iusmodi, cedente  vel  decedenle  dicto  Johanne,  eífectum  sorlita  esset  et  esse 
censeretur,  et  ab  aliquibus  hesitetur  an  propler  erectionem  predictam  in- 
dulto tibi  concesso  huiusmodi  preiudicalum  exislal.  Nos  libi,  qui  eliam 
Cubicularius  secretus  ac  continuus  commensalis  noster,  el,  vi  asseris,  de 
Robili  genere  procroatus  exislis,  ac  indulti  huiusmodi  vigore  regressum 
seu  accessum  ad  diclam  ecclesiam  habuisti,  ac  illius  possessioncm  forsan 
assecutus  fuisli,  ne  proplerea  induUi  huiusmodi  fruslreris  eífectu  proui- 
dere  leque  premissorum  obsequiorum  et  meritorum  tuorum  intuitu  gra- 
tioso  fauore  prosequi  volentes,  et  a  quibusuis  excommunicationis,  suspen- 
sionis  el  interdicli,  aliisque  ecclesiasticis  sententiis,  censuris  et  penis  a 
iure  vel  ab  homine,  quauis  occasione  vel  causa  latís,  si  quibus  quomo- 
dolibet innodalus  exislis,  ad  effectum  presenlium  dumlaxat  consequen- 
dum,  harum  serie  absoluenles  et  absolutum  fore  cénsenles,  necnon  om- 
nia  et  singula  beneficia  ecclesiastica,  cum  cura  el  sine  cura,  que  eliam  ex 
quibusuis  dispensalionibus  apostolicis  obtines  et  expectas,  ac  in  quibus  et 
ad  que  ius  libi  quomodolibet  compelit,  quecunque,  quolcunque  et  qua- 
liacunque  sinl,  eorumque  frucluum,  reddiluum  el  prouenluum  veros  an- 
nuos  valores,  el  huiusmodi  dispensalionum  tenores,  presenlibus  pro  ex- 
pressis  habentes,  luis  el  Carissimi  in  chrislo  fiüi  noslri  Juhannis  Porlu- 
galie  et  Algaruiorura  Regis  illustris,  qui  etiam  prefale  Mililie  Magister 


272  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

exislil,  in  hac  parte  supplicationibus  inclinali,  per  ereclionem  prediclam 
indullo  Ubi  concesso  huiusmodi  mininie  preiudicalum  fuisse,  ila  tamen 
quod  le  decedenle  el  ecclesia  predicla  per  obitum  luum  vacante,  eliam 
apud  sedern  aposlolicam,  el  non  alias,  ereclio  predicla  suum  plenarium 
eíFeclum  sorliri  debeal  in  ómnibus  et  per  omnia,  per  inde  ac  si  regressui 
seu  accessui  huiusmodi  locus  non  fuisset,  licealque  dicto  Magislro  de  ea 
disponere  vi  prius,  aucloritale  apostólica  tenore  presenlium  decernimus 
el  declaramus :  Non  obstanlibus  premissis,  ac  Conslilutionibus  et  ordina- 
lionibus  apostolicis,  necnon  dicte  Militie  iuramcnlo,  confirmalione  apos- 
tólica vel  quauis  firmitate  alia  roboralis,  statutis,  stabilimentis,  vsibus 
el  naturis,  ceterisque  conlrariis  quibuscunque.  Nulli  ergo  omnino  homi- 
num  llceal  hanc  paginara  nostre  absolutionis  decreti  el  declarationis  in- 
fringcre,  vel  ei  ausu  temerario  contraire.  Siquis  autem  hoc  attemplare 
presumpserit  indignalionem  omnipolenlis  dei,  ac  beatorum  Petri  el  Pauli 
Aposlolorum  eius,  se  nouerit  incursurum. 

Dalum  Rome  apud  Sanclum  petrum  Anno  Incarnationis  dominica 
Millesimo  quingentésimo  uigesimo  sexto,  tertio  nonas  Oetobris,  Ponlifica- 
lus  nostri  anno  lertio  ^ 


Breve  do  Papa  Clemente  l^II,  dirigido  a  el-Rei. 


15:36— Outubro  IS. 


Clemens  papa  vii  Carissime  in  Christo  fili  noster  Salutem  el  Apos- 
lolicam benedictionem. 

Credimus  non  ignorare  Serenitatem  tuam  quo  in  statu  nunc  sint 
christianitatis  res,  ancipiti  uidelicet  et  periculoso,  nam,  et  bellis  inter  nos 
impliciti,  et  Turcharum  Rege  occupala  prorsus  Ungharia,  Ilaliae  tam  ira- 
minenle,  quid  nobis  bonae  spei  ad  praesidia  noslrae  reliquiae  salutis  os- 
lendalur  (?)  plañe  nil  uidemus.  Quamquam  nos  illi  Regno  misero,  atque 
infelici,  quibus  poluimus  auxiliis  opitulali  sumus,  atque,  ut  conslat  et 
Ubi  constabit  lestimoniis  eorum,  qui  illas  res  bene  nouerunt,  nostra  prae- 

^  Arch.  Nac,  Mac.  2  de  Bullas,  n."  3. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  273 

sidia,  nostrae  cnpiae,  noslri  Mililes,  aul  impedimenlum  Turcis  non  me- 
diocre fuerunt,  aul  illorum  cerle  Ímpetus  sua  clade  el  sanguine  sunl  re- 
morali,  sed  siue  ob  hostium  inenarrabiiem  polenliam,  siue  quod  Deus  id 
quod  polius  limemus  nosiris  peccalis  aduersus  esl,  viclis  el  confractis  re- 
pagulis  ómnibus,  iilud  esl  Regnum  in  hostium  Infidelium  poleslalem  re- 
daclum  ;  accidil  iliud  nobis  illa  Regna  seruare  el  defenderé  cupienlibus 
incommodum,  quod  bello  eramus  in  Italia  implicati,  non  lam  quidem  con- 
tra Caesaris  Serenitalem,  nihil  enim  ab  ipso  certi  malí  aul  pernicie  Ila- 
liae  parari  putamus,  quam  aduersus  illius  Exercitum  el  Duces,  qui  slatu 
Mediolani  occupalo  ómnibus  caeleris  simiiem  lerrorem  suae  nimie  cupi- 
dilalis  insciebant,  cuius  belli  per  nos  suscepli,  si  tibi  reddenda  essel  a 
nobis  ralio,  aul  si  tu  clades,  rapiñas,  direpliones,  delrimenla  miserae  Ita- 
liae  perspicere  poluisses,  non  dubilamus  quin  iuslissimam,  vel  polius  ne- 
cessariam  causam  noslram  judicaturus  fueris.  Exercitum  quidem  Caesa- 
ris sine  slipendio  landiu  relenlum  omnium  bonis  el  fortunis  illi  in  prae- 
dam  oblatis,  qua  licentia,  quolque  iniuriis  in  imbecilles  populos  usum 
fuisse  putandum,  sic  potesl  per  se  lúa  Serenitas  cogitare.  Nos  igilur  ad 
liberalionem  aflliclae  Kaliae  arma  sumpsimus,  ul  sumus  arbitrali  pia  el 
justa,  nec  quidquam  nos  aliud  spectasse  quam  salutem,  el  communis  om- 
nium genlium  Patriae  Ilaliae,  testimonio  esl  quod  nihil  in  victoria  ad  nos 
emolumenti  perveniri  pacli  sumus,  sed  lanlum  Pasloris  el  defensoris  Jus- 
lilae  OíBcio  fungi  voluimus,  contra  autem  ipsum  Caesarem,  eiusque  res 
legitimas,  alque  proprias  ila  nihil  vnquam  sumus  damni  machinali.  Ul 
cum  superioribus  diebus  columnensibus  subdilis  nostris  quidem,  sed  no- 
bis parum  fidis  arma  in  manibus  ad  Portas  Urbis  nostrae  lenenlibus  nos 
quoquo  firmam  manum  mililum  comparuissemus,  qua  illis  facile  supe- 
riores in  Neapolitanum  Regnum  inlrare,  el  omnia  turbare,  ac  labefaclare 
potuissemus,  simulataque  fides  esl  nobis  per  columnenses  dala  eos  arma 
esse  deposiluros,  nihilque  contra  nos,  el  stalum  noslrum  tentaturos  sla- 
lim  omnia  ármala  praesidia  dimisimus ;  quoque  in  parte  si  inimico  ani- 
mo fuissemus  in  Caesarem  bellum  flagrare  el  \igere  oporlebal  ea  ex  parte 
summam  paceni  fecimus ;  ergo  in  hoc  slatu  Res  nostrae  erant,  cum  est 
ad  nos  de  Regís  Ungaríae  morle,  el  eius  exercílu  cesso,  ac  de  Turcarum 
Victoria  allalum,  quo  nunlio  perculsi  cum  cerneremus,  nisi  apta  reme- 
dia quererentur,  omnia  in  unam  ruinam  procubitura,  statim  caepimus  con- 
silium  inspirante  Domino  quacumque  ralione  arma  noslra  dcponendi,  ac 

TOMO   II.  33 


27 i  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

jusso  accersivi  Ugoni  do  Moneada  Caesaris  Capilaneo  induciarum  tempus 
consliluendi.  Quo  inlcrea  nos  melipsi  ad  Carissimos  ¡n  Christo  íilios  nos- 
tros  Caesarem,  el  Chrislianissimurn  Regem  accederé,  el  eíQagitarc  inter 
¡líos  pacem  auxilium  labanli  Chrisüanae  Reipublicae  pelere,  alque  obse- 
crare ¡ram  Dei  denunciare  omnia  denique  tenlare,  el  agere,  quae  ad  pcr- 
feclum  pacis  necessaria  essenl  Valeremus  non  noslro  incommodo,  non  po- 
pulorum  noslrorum,  non  pcnculis  uUis,  aut  Maris,  aul  Terrae  noslram 
piam  volunlalem  delerrenlibus.  Hac  re  sic  delibérala  postero  die  mane. 
Advócalo  venerabilium  frairum  noslrorum  Sancíae  Romanae  Ecclcsiae  Car- 
dinalium  Consistorio,  significavimus  ¡[lis  huius  suscipicndi  ilincris  menlem 
noslram,  quae  cum  ab  ómnibus  fuisset  approbala  süenlium  lunc  ¡llis  in- 
diximus.  Vespere  aulem  eiusdem  diei,  Vocalis  Oraloribus  omnium  Prin- 
cipum,  qui  apud  nos  eranl,  eamdem  volunlalem  noslram  illis  aperuimus, 
Ínter  quos  dileclus  filius  Marlinus  de  Porlugaüia  Serenilalis  Tuae  ncpos, 
cuius  virios,  industria,  prudenlia  nobis  cum  saepe  alias  lum  máxime  in 
hoc  omnium  periculosissimo  lempore  salisfecit,  oplimus  potesl  sibi  esse 
Testis,  qui  in  Consiiiis  periculisquc  noslris  ómnibus  labore,  diiigenlia, 
Consilio  assiduus  inlervenit,  el  hactenus,  quae  Dei  eranl.  Cum  ecce  pos- 
Iridie  summa  mane4umuItuosissimus  nuntius  ad  nos  venil  Columnenses 
oblilos  fidei,  quam  nobis  dederant,  iniquissima  mente  et  volúntate  Duce 
iam  diclo  Ugo  de  Moneada  Caesaris  Capilaneo  cum  magna  manu  esse  ad 
vrbis  Portas,  iamque  ingressos  menia  ad  personam  noslram  vel  nccan- 
dam  ve!  caplivandam  praeproperos  advolare.  Quo  molu  subacli  continuo 
ad  Arcem  Sancti  Angelí  nos  recepimus,  atque  illí  noctu  longissimo  con- 
feclo,  cum  ¡n  palalium  venissent,  atque  ibi  personam  noslram  non  inve- 
nisscnl,  ad  caedes,  direplionesque  conversi  sunl.  Quo  in  speclaculo  acer- 
bo, el  lugubri,  quid  esl  quo  pro  calamilate  tanli  mali  scribcre  aple  pos- 
simus  cum  oculis  nostris  videremus  Irahi,  rapí,  ferri  omnia  tam  sacra 
quam  prophana  quamque  ín  eiusmodi  loco,  quid  polius  esse  prophnnum, 
cum  lemplum  illud  sanclum  el  Venerabile  Beati  Petri,  quod  capul,  quod 
domicilium,   quod  fundamentum  Christianae  Religionis  scniper  habitum 
esl,  Hispanorum  aliorumque,  qui  cum  illis  eranl  manibus  crucnlis  vi- 
deremus diripi,  aras  sanguine  foedarí,  omnia  sacrorum  mislcria  dislrahí 
el  dilaniari,  necnon  anliquum  sacrarium  in  Palalio,  in  quo  rem  divinam 
perpetuo  Romani  Ponüfices  celebrare  solíli  eranl,  ila  cullu,  el  apparali- 
bus  ornalum,  ul  lamen  in  eo  plus  reverenliae  el  sanclílalis  quam  divilía- 


RELACOES  COM  a  curia  romana  275 

rum  esset  ómnibus  ornamenlis,  nullo  sacramcnlo  Religionis  cupidilalem 
rclanlanto  vidinuis  spoltalum.  Qnibusque  lemplis  ct  sacris  rebus,  ñeque 
Gülhorum  quondam  uimis  ferae  mentes,  ñeque  Vandalorum  Chrislo  non 
parenlium  infidelilas,  cum  in  hace  cadem  loca  barbarae  illae  gentes  per 
vim  invasisscnl,  ullam  iniuriam,  ullum  delrimentum  propler  reverenliam 
sanclilatis  attulcrunl  Domini  Chrisli  nomen,  et  Caracterem  preferentes  nul- 
lam  in  pariem  peporcere  cis  ducenlibus,  atque  horlanlibus,  quos  máxime 
aegreferre  tam  atrox  deliclum  el  facinus  oporlebat.  Nec  hic  illorum  im- 
nianilas  conslilil  sed  discussionibus  faclis  cum  p'urimae  Domus  praedae 
fuissent  dalae,  cumque  aüas  plures  idem  incommodi  sensuras  cernere- 
mus,  ifa  dolore  victi  et  aíiliclae  Urbis  misericordias  affecli  fuimus,  ut  po- 
Uus  ad  Gondiíiones  (?)  devenire  quam  tam  acerbura  speclaculum  diulius 
inlueri  suslineremus,  magna  quidem  noslra  et  Sanctae  Sedis  Aposlolicae 
indignifaíe,  sed  de  duobus  maximis  malis  quod  minus  maium  luit  duxi- 
mus  eligendum.  Ilaque  ad  pacliones  descendimus,  ul  ulrinque  arma  in 
Italia  suspenderenlur,  quod  nos  quidem  iam  velie  faceré,  fueramus  pro- 
fessi,  sed  magnus  tamen  in  eo  dolor,  quod  uolunlale  faciebus  (sicj  id  per 
\im  faceré  \ideri,  ul  eis  ómnibus,  qui  in  eo  insullu  contra  nos  el  Sedem 
Aposloücam  ignosceremus,  quod  eliam  concessimus  condilione  apposita, 
quam  lamen  condilionem,  nec  lili  servaverunl,  ñeque  ul  apparel  sunt  ser- 
valuri.  His  paclis  condilionibus  illa  procella  summi  periculi  tura  a  nobis 
dcpulsa  esl,  sed  tam  súbito  et  insuperato  incommodo  consilium  nostrae 
profeclionis  sublatum  videbatur  dissuadenlibus  fere  ómnibus,  ul  ab  ilinere 
desis!ercmus,  quod  iam  nuilam  habituram  esseldignitatem,  nec  optali  exi- 
lus  pacis  conciliandae  gratiam,  Stetimus  igilur  ancipiles,  el  vehementer 
dubii  quid  nobis  essel  agendum.  Hace  linquere  uli  eranl  sic  túrbala  pa- 
rum  caulum  ad  conficiendam  pacem,  non  accederé  parum  pium  videba- 
lur,  Cum  re  denuo  cum  Venerabilibus  fralribus  noslris  communicala  hoc 
consilium  captura  esl,.  ul  millerenius  ad  omnes  Reges  Unghariae,  el  ne- 
ccssitalera  pacis,  el  nosirum,  et  quoque  casum  significarent,  ac 

si  coerenlibus  corum  ad  pacem  et  sludiura  Concordiae  voluntalibus  ali- 
quis  eligerelur  locus,  in  quo  fieri  Commune  Regum  colloquium  inler  ipsos 
possel  vosmet  denunliarenl  ad  illud  colloquium  esse  \enluros,  ac  alii  ad 
alios  dcsiinali  sunt,  ad  le  vero  fili  Carissime  non  habuimus  dexieriorem 
prudcntiorem  nuncium,  quera  milleremus,  quam  tuum  ipsius  Oralorem, 
cüius  omni  hoc  lempore  summa  erga  nos,  et  hanc  sanclam  sedem  OíDcia 

35* 


276  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

exlilerunt,  ille  enim  nuilo  labore  recúsalo  saepe  inter  nos  et  Ugonem  iam 
diclum  cuín  nec  gladiorum,  nec  licentiae  mililaris  periculun)  quod  lilis  a 
cupidis  praedae  el  sanguinis  mililibus  ¡mmiuebal  illius  pielalem,  el  ope- 
ram  relardaret  omni  sollicitudine,  oníni  sludio  el  opera  conalus  esl,  ut 
el  illorum  crudelem  uim  miligare,  el  nos  ad  composiUonem  cum  illis  ad- 
ducerel,  cui  quanlum  debeamus  vix  possumus  explicare;  cerle,  nisi  eius 
induslria  el  auclorilas  intercessisset,  aliquod  maius  malum  illo  die  fuisset 
palralum  cura  igitur  el  teslis  fidelis  el  prudens  expliciler,  el  oplima  menle 
alque  animo  in  Ghrisli  rem  praediclus  a  nobis  essel  iudicalus  eum  in  se- 
creto Consislorio  iussimus  inlroduci,  ac  illum  obtestali  sumus,  el  iler  hoc 
necessarium  ad  le  pro  chrisUana  república,  el  Dei  oplimi  maximi  fide, 
ac  pro  noslra  dignilate  susciperel,  quam  pelitionem  noslram  omnium  Ve- 
nerabilium  fratrum  noslrorum  preces  sunl  subsequulae,  alque  ipsi  ul  esl 
in  omni  labore  promplissimus,  el  si  durius  aliquanlum  ducebal  sine  luo 
jussu  a  sua  legalione  discerere,  lamen,  tanlo  consensu  noslro  el  senalus 
Aposlolici  viclus,  ac  oplime  exislimans  serenilali  luae  pro  luo  eximio  ani- 
mo in  rem  Ghrisli  el  publicara  id  non  solura  probatura,  sed  gralura  eliam 
fulurum,  concessit  noslrae  \olunlali,  alque  hunc  quoquo  posl  alios  mul- 
los laborera  ad  le  proficiscendi,  el  ad  serenissiraum  queque  Gaesarem  sus- 
cepil,  ad  quera  quaraquam  ea  per  alios  curavimus  proferri  noslra  desi- 
deria  ;  lamen  in  ipso  suo  Oralore  máximum  momenlum  ülius  movendi 
el  suadendi  posuimus.  Quae  aulem  a  lúa  serenilate  requirimus  el  haec 
sunl  Primum  ul  quod  ad  pacera  comniunem,  el  remedium  adversus  cru- 
delissimum  hoslem  parandura  perlinel  in  eo  velis  oranera  vira  adhibere, 
el  virlulis  el  auclorilalis  el  polenliae  luae.  Deinde,  si  alia  ralio  negolii 
conficiendi  expedilior  non  occurral,  diera  el  locura  el  raedura  velis  cons- 
liluendum  curare  suadendo  hoc  Gaesari,  el  si  eliam  Ubi  videalur  Chris- 
tianissimo  Regi,  ul  colloquium  sanclura  el  salulare  fieri  possil,  sicul  nos 
queque  arabos,  eosdem  Reges  non  solura  horlaraur  per  nuncios  noslros 
verura  el  obsecraraus  nos  enira  serenilali  luae  polliccmur,  si  huius  oplali 
colloquii  data  eril  facultas  nos  prontissirao  el  libentissimo  animo  illuc  ac- 
cessuros,  personaraque  noslram  ómnibus  periculis  pro  Dei  el  fidei  Ghrisli 
vlililale,  el  causa  obiecturos  Quod  ita  máxime  fieri  cupimus  ul  eliam  in- 
lervenial  si  possel  fieri  serenilas  tua,  vel  OratrixGoncordiae,  vel  con- 
dilionura  confirraalrix  quod  lúa  máxime  aucloritate  poleril  eíTici ;  nec  la- 
men arbitramur  factura  ullum  praeclarius  aul  gloriosius  posse  a  le  hoc 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  277 

lempore  suscipi  dignum  tua  et  parentis  lui  gloria,  qui  quidem  luus  Pa- 
ler  cum  omnem  aetalem  suam  in  re  Chrisli  et  Religionis  Chrislianae  pro- 
pagalione  consumpseril,  tanlaeque  laudis  haeredilalem  libi  reliqueril.  Ad- 
\enil  nunc  tempus  non  optabile  illiid  quidem,  sed  tanien  libi  quid  accom- 
niodum,  quo  brevi  spatio  uno  máximo,  el  opporlunissimo  pacis  opere  el 
consilio  illius  perpeluam  et  eximiam  laudem  ex  mullis  pielalis  opeiibus 
acquisilam  possis  adaequare,  debes  aulem  hoc  adeo,  et  eis  divinis  mune- 
ribus,  ac  beneficiis,  quae  sibi  ab  iilo  collala  mulla  et  magna  sunl.  In 
quem  si  parum  gralus  reperire  timenda  illius  ira  indignalioque  esset : 
Porro  res  Chrislianae  in  eum  locura  adduclae  sunl  ut  aut  celeri  remedio 
maximis  vrgenlissimis  non  iam  periculis  sed  cladibus  occurrendum  sil 
aut  nullum,  posthac  fulurum  sil  remedium,  cuius  remedii  inveniendi  nos 
summam  quandam  spem  el  opinionem  in  lúa  serenilale  ponimus,  quae 
ne  nos  fallal  eliam  alque  etiam  le  per  viscera  misericordiae  Dei  nostri  ob- 
testamur.  Sed  de  bis  copiosiora  mándala  ipsi  luo  Oralori  ad  le  perferen- 
dum  dedimus,  cui  Serenilas  lúa  circa  hoc  referenli  fidem  summam  ha- 
bebit. 

Dalum  Romae  apud  sanclum  Pelrum,  sub  annulo  Piscaloris,  die  xviii 
Oclobris  MDXXYI,  Ponlificatus  nostri  anno  Primo  fsicj  K 


Bulla  do  Papa  Clemente  l^II,  dirigida  a  el-Rei. 


152G — IVo^embro  21. 


Cleraens  episcopus  seruus  seruorum  dei  Carissimo  in  chrislo  filio 
Johanni  Porlugalie  et  Algarbiorum  Rcgi  Illustrí  Salulem  el  apostolicam 
benediclionem. 

Gralie  diuine  premium  el  humane  laudis  preconium  acquiritur,  si 
per  seculares  Principes  ecclesiarura  prelalis,  preserlim  Ponlificali  dignilale 
predilis,  opporluni  fauoris  presidium  el  honor  debilus  impendalur.  Hodie 

•  Bibliolheca  da  Ajuda — Symmicta — Tora.  39  f.  18.  Nao  encontramos  o  breve  ori- 
ginal, nem  transumpío  algum  correcto:  preferimos,  comtudo,  publicar  esta  copia,  ape- 
xar  de  todos  os  seus  defeitos,  que  nao  tentamos  corrigir,  a  omittir  um  documento  inte- 
ressante  para  a  historia  d'esta  época. 


278  COUPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

siquideni  ecclesie  Visensis,  lunc  per  obilum  bone  meniorie  Johannis,.oI¡m 
Episcopi  Visensis,  exlra  Homanam  Curiain  defuncli,  pastoris  solalio  des- 
Ululc,  do  persona  di'ocli  filii  Michaelis  elecli  Visensis,  nobis  el  fraliibus 
noslris  ob  suoriim  cxigenliam  merilorum  accepla,  de  fralrum  eorundcm 
consilio  aposlolica  auclorilale  prouidimus,  ipsumque  illi  in  Episcopum  pre- 
fecimus  el  paslorem,  curam  el  adminislralionem  ipsius  ecclesie  sibi  in  spi- 
rilualibus  el  lemporalibus  plcnarie  commillendo,  proul  in  noslris  inde  con- 
feclis  lilteris  plenius  conlinetur.  Cum  ilaque,  fili  Carissinie,  sil  virluUs 
opus  dei  minislros  benigno  fauore  proseqni,  ac  eos  verbis  el  operibus  pro 
Regis  clerni  gloria  \enerari,  Maieslalem  luam  Regiam  rogamus  el  horla- 
tnur  alíenle  qualenus  eundem  Michaelem  elecluní,  ac  ecclesiam  prcdi- 
clam  sue  cure  commissam,  habcns  pro  noslra  el  aposlolice  sedis  reue- 
renlia  propensius  conimcndalos,  in  ampliandis  el  conseruandis  iuribus 
suis  sic  eos  tui  fauoris  presidio  proscquaris,  quod  ideni  Micliael  eleclus 
lili  fauoris  fullus  auxiüam  in  commisso  sibi  dicle  ecclesie  regimine  possil 
deo  propilio  prosperan,  ac  libi  cxinde  a  deo  perennius  vile  premium  el 
a  nobis  condigno  prouenial  aclio  graliarum. 

Datun)  Romc  apud  Sanclum  peirum  Anno  Incarnalionis  dominice 
Millcsimo  qningcnlesimo  uicesimo  sexlo,  Undécimo  Kalendas  Decembris, 
Ponlificalus  noslri  Anao  Terlio.  — A.  Gralia  Dei  '. 


Drevc  do  Papa  Clciiicntc  "VH,  dirigido  a  cl-Rel. 


152G — Dexembro  O. 


Clemens  papa  vii  Charissime  in  chrislo  flli  nosler  saUílem  el  apos- 
tolicam  bencdidionem. 

Cum  nuper  nos  consyderalione  Maiestalis  liiao  regiae  nobis  snper  co 
sludiose  siipplicnnliá  ecclesiae  Visensis,  lunc  per  obilum  bonae'  memoriac 
Joannis  olim  Episcopi  Visensis,  exlra  romanam  curiam  defuncli,  pasloris 
solalio  dcslilulae,  de  persona  dilecli  filii  Michaelis  Elecli  Visensis  de  fra- 
lrum noslrorum  consilio  aposlolica  auclorilale  prouiderimus,  praeficiendo 

•  Abch.  Nac,  Mac.  18  de  Bullas,  n."  44. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  279 

ipsum  illi  ¡n  Episcopiim  ct  paslorem,  oc  secum  ct  omnia  el  singiila  mo- 
naslcria  el  hcncficia  ccclosiaslica,  quae  lunc  oblincbal  vi  priiis  quoad  \i- 
ueret  obünere,  ac  pensiones  annuas  quas  percipiebal  percipcrc  >a!erel,  Ín- 
ter aüa  dispensando  sihique  per  quasdam  in  forma  Brcuis  ¡¡lleras  vi  cliam 
lilleris  aposlüiicis  super  prouisione  el  praefeclione  praedicüs  non  confc- 
clis,  possessioncm  sen  quasi  rcgiminis  ac  bonorum  diclae  ccclesiae  ap- 
prchendere,  ac  fnictus,  reddilus  el  prouenUis  mcnse  Episcopaüs  Visensis 
percrpere,  el  quae  jurisdiclionis  Episcopaüs  sunt  cxercere  valcrel,  indul- 
serinius.  Nos,  qui  banc  luae  Serenitalis  in  ipsum  Michaclcm  graliludincm 
el  benigiiilalcm  cum  eisdem  fralribus  noslris  summe  gralam  habuimus, 
\l  nosira  Uiaquc  voluntas  suum  celerius  sorlianlur  cíToclum,  candem  luam 
Sereniialem  liorlamur  in  domino  el  sUidiose  requiíimus  vi  pro  sua  in  hanc 
sanclam  sedcm  obseruanlia  el  deuolione,  ac  ob  ipsius  Michaelis  Ubi  ac 
clarae  memoiiae  genüori  luo  dedilissimi  benemcrüa,  benigno  aíTectu  am- 
plius  commendalum  suscipiens  in  assequenda  possessione  regiminis  el  ad- 
minislralionis  ac  bonorum  ecclesie  buiusmodi  eidcm  Michaeü  Eleclo,  el 
eius  circa  boc  nogoliorum  gcstori,  fauorem  el  auxilium  oportuna  exbi- 
beas.  In  quo  eadem  lúa  Serenilas  rem  se  dignara  el  nobis  admodum  gra- 
tara eíiiciel. 

Dalum  Romae  apud  sanclum  Pelrum,  sub  Annulo  piscaforis,  Dio 
viiii  Dcccmbris  mdxxvi,  Ponliíicalus  noslri  anno  quarlo.  —  Be.  El.  Ra- 


Bre^c  do  Papa  Clemente  ¥11,  dirig^iilo  ao  Bispo 
tle  l^ixeu  D.  llig;uel  da  Silva. 

ISSO — Dezemliro  9. 


Clemcns  papa  vii  Dilccle  fili  salulem  el  apostolicam  bcncdiclioncm, 

Cum  nos  nuper  ecclesiae  Viser.sis,  lunc  certo  modo  pasloiis  soiatio 

deslilulae,  de  persona  lúa  nobis  el  fralribus  noslris  ob  luorum  exigenlii-m 

^  AncH.  Nac,  Mag.  20  de  Bullas,  n."  7.  E'  do  mesmo  tccr  o  documento  n.°  22  do 
ma^o  19. 


280  CORPO  DIPLOMATÍGO  PORTÜGÜEZ 

merilorum  acccpla  de  frairum  eorundem  consilio  apostólica  auctorilale  pro- 
uideriinus,  teqiie  illi  in  Episcopum  praefecerimus  el  paslorcm,  ciirnm  el 
adminislralionem  ipsius  ecclesiae  libi  in  spirilualibus  el  temporalibiis  ple- 
narie  commillendo ;  ac  lecum,  vi  omnia  el  singula  monasleria  el  benefi- 
cia ecclesiaslica  secularia  el  regularla  quae  lunc  oblinebas  vi  prius  quoad 
uiueros  retiñere,  el  pensiones  ac  fructus  ecclesiaslicos  quos  percipiebas 
percipere,  nccnon  regressus,  accessus,  el  ingressus,  priuilegia  qiioque  In- 
dulta el  lideras  apostólicas  libi  eliam  circa  collationem  beneficioruní  ec- 
clesiasticoium  quomodolibet  concessa  eliam  retiñere,  el  illis  vti  valeres  Ín- 
ter alia  dispensando.  Nos,  ne  interim  dum  litterae  apostolicae  super  proui- 
sione  el  praefeclione  ac  dlspensatione  praedictis  expedientur  dicta  ecclesia 
in  eisdem  spirilualibus  el  icmporalibus  detrimenta  paliatur,  prouidere  ac 
luis  commodis  palerne  consulere  volentes.  Tibí  vt  eliam  litteris  huiusmodi 
super  diclis  prouisione  el  praefeclione  ac  dispensatione  non  confeclis  vigo- 
re presentium  possessionem  seu  quasi  regiminis  el  administrationis  ac  bo- 
noruní  diclae  ecclesiae  Visensis  per  le  vel  alium  seu  alios  libere  apprehen- 
derc,  ac  fruclus  redditus  el  prouenfus  mensae  Episcopalis  Visensis  exigere, 
percipere  el  leuare,  necnon  quae  jurisdiclionis  per  te  vel  alium  seu  alios, 
quae  vero  ordinis  Episcopalis  exislunl  per  aliquem  Episcopum  exercere  li- 
bere el  licite  valeas  in  ómnibus  el  per  omnia  per  inde  ac  si  super  ¡Mis  lit- 
terae praediclae  expedilae  fuissent,  auctorilale  praedicta  earundem  tenore 
presentium  concedimus  el  indulgemus.  Mandantes  dileclis  filiis  capitulo  et 
vassallis  diclac  ecclesiae,  uecnon  clero  el  populo  ciuitatis  el  diócesis  Vi- 
sensis vi  libi  tanquam  patri  et  pastori  animarum  suarum  humiliter  obe- 
dientes, lúa  salubria  mónita  et  mándala  suscipere,  elefficaciler  adimplere, 
ipsique  vassalji  consuela  seruitia  el  jura  libi  ab  eis  debita  exhibere  procu- 
renl,  alioquin  sententiam  siue  poenam,  quam  rile  tuleris  in  rebelles,  ra- 
tam  babebimus  et  faciemus  aulore  domino  vsque  ad  satisfaclionem  condi- 
gnam  inuiolabiliter  obseruari :  Non  obslanlibus  praemissis,  necnon  consli- 
lutionibus  el  ordinationibus  apostolicis,  ac  diclae  ecclesiae  iuramento  con- 
firmalione  apostólica  et  quauis  firmitale  alia  roboralis  statulis  etconsuelu- 
dinibus,  celerisque  conlrariis  quibuscunque.  Volumus  autem  quod  infra 
sex  menses  a  dala  presentium  compulandos  Hileras  apostólicas  super  pro- 
uisione et  pvaefaclione  ac  dispensatione  praedictis  sub  plumbo  in  totum 
cum  eíFectu  expediré,  el  iura  carneree  apostolicae  debila  persoluere  om- 
nino  lenearis,  alioquin  tempore  huiusmodi  elapso,  prouisio,  et  praefactio 


RELACÓES  COM  A  CURIA  ROMANA  281 

ac  dispensatio  praedictae  nullius  sint  roboris  iiel  raomenli.  —  Datum  Ro- 
mae  apud  sanclum  Petrum,  sub  Annulo  piscatoris,  Die  viiii  Decembris 
MDXwi,  Pontiíicatus  nostri  anno  quarlo.  —  Be.  El.  Uauennensis  ^ . 


Carta  de  D.  Martinlio  de  Portug^al 
ao  Secretario  de  Eistado. 


1596 — Dezembro  30. 


Senhor.  —  Screui  alguas  vezes  mui  iargo  a  vossa  nierce  em  que, 
anlre  muilas  que  delle  recebo,  Ihe  pedia  por  mor  me  quisese  auisar  se, 
ei  de  ler  outra  maneira,  cu  se  esta  que  alequi  leuo  desapraz  a  sua  al- 
teza. Eu  faco  todo  o  que  entendo  :  quería  saber  se  para  aprazer  ei  de  ter 
outro  enlendimento.  A  uer  o  lempo  que  haa  que  de  Ha  partí  ate  gora 
nao  uer  nhenhum  recado,  naí)  poso  cuidar  senao  que  eu  sou  o  culpado 
laa.  Se  asi  hee,  beijarei  as  maos  de  vossa  merce  uer  a  culpa  :  á  mester 
que  saja  muito  solil  o  que  m  a  deu,  porque  eu,  pera  m  a  nom  darem, 
cuido  muito  no  que  ei  de  fazer.  Gogneco  diogo  ortiz :  outros  que  qua  es- 
liueráo  como  ladroes  de  cassa  dirao  de  mim  e  erao  (sicj  an  me  de  cul- 
par no  caminho  grande  e  chaom  per  que  eu  ando. 

Se  uós,  senhor,  m  achardes  screuei  mo:  dar  Ih  ei  minha  rezao  :  se 
for  má,  emendar  me  ei  e  cognecel  a  ei ;  se  tambem  me  justificar  nao  a 
quero  mais  que  para  nos  soo. 

Na  carta  de  sua  alteza  uao  os  negocios :  por  vosa  nierce  nao  ler 
duas  vezes  hua  mesma  cousa  Ihos  nao  sereno.  Parece  me  que  se  perde 
lempo  pera  o  dos  mosteiros  e  priorado,  e  pera  os  que  ficarao  do  bispo 
do  funchaL 

Acerca  da  despensacao  daquelle  matrimonio  mando  hum  breue  pera 
Juizes :  hee  o  capelao  mor  ou  seu  oficial,  e  o  priol  do  meu  sao  Jorge. 
Fiz  estes  por  se  nao  saber.  Com  o  breue  uai  a  copia  do  que  am  de  res- 

'  Arch.  Nac,  Mac.  18  de  Bullas,  n.°  3,  e  n.°  6 
TOMO  11.  36 


f 


282  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGÜEZ 

ponder.  Faca  se  em  publico  por  hum  notario  cognicydo,  ásele  se  do  selo 
do  Juiz,  e  em  chegando  qua  irá  a  despensacao.  Mais  fazlsto  o  papa  pera 
exemplo  que  pera  al ;  por  tanto  e¡  por  muy  necesario  o  que  screui  sobre 
isto  a  vossa  merce  e  a  sua  alteza.  Parece  me  que  pidirao  Irezentos  cru- 
zados, porque  asi  pasou  agora  oulra  de  porlugal ;  mas  era  que  casarao 
antes  da  bula  ser  pubricada :  por  islo  pasou  bem.  Sei  que  se  ade  leuar 
o  menos  que  for  posivel :  diguo  porque  me  pondes  na  istrucao  que  Gus- 
tará casi  nada  por  os  lempos  pasados. 

Por  se  nao  achar  qua  anexacao  da  egreja  da  trindade,  se  nao  man- 
dou  breue  mais  forte.  Senpre  Yossa  merce  me  mande  as  datas  das  bulas 
que  forem  necesarias. 

A  do  conde  de  tarouca  do  priolado  se  achou  :  as  tres  da  derogacao 
dos  priuilegios  se  nao  podem  auer.  Será  bom  uir  o  Irelado  em  pubrica 
forma. 

Vossa  merce  se  serue  lao  pouco  de.  raim,  desejando  eu  tanto,  que 
o  ponho  a  nao  me  ler  pera  iso,  porque  rae  nao  mandaes  prouisao  pera 
ter  o  uoso  mosteiro  noso  titulo.  Far  se  á  com  todos  os  regresos,  reserua- 
cao  de  fruitos :  ao  menos  parecer  me  á  que  faco  cousa  uosa.  A  uolta  do 
priorado  e  mosleiros  cuslará  menos,  nao  se  gastando  mais  do  d  elrei.  He 
cuslume,  quando  se  fazem  humas  expidicoes  grandes,  fazerem  graca  ñas 
pequeñas. 

Este  banco  de  Joara  Francisco  nao  lem  comisao  nem  pera  dar  di- 
nheiro,  nem  pera  dar  boas  moedas.  Dom  miguel  tinha  crédito,  e  eu  nao 
o  tenho :  deue  ser  ou  por  o  ler  vossa  merce  pouco  de  mim,  ou  pera  mo 
o  banqueiro  nao  ter.  Tomei  dele  este  dinheiro  que  uai  nesta  conta,  de  que 
Ihe  dei  pólices  pera  as  vossa  merce  mandar  pagar.  Foi  com  a  mor  fa- 
diga  do  mundo  e  com  Ihe  dar  fianoas.  Mande  vossa  merce,  por  raa  l'a- 
zer,  a  Joam  Francisco  que  o  raesmo  crédito  de  dora  miguel  me  mande. 

Vossa  merce  se  lenbra  bem  das  merces  que  el  rei,  que  aja  gloria, 
fazia  a  Joam  de  íaria,  a  Dom  miguel,  sua  alteza  a  Joam  da  Silueira,  a 
todos  d  ajuda  de  cusía :  a  myjiha  uinda  e  chcgada  certo  podia  merecer 
mais  as  diuidas  que  la  diuia  e  o  pouco  que  senpre  liuc  nada  que  me 
nunca  derao  fsicj. 

Este  correo  foi  por  amor  de  mim  por  tao  pouco.  Sua  alteza  Ihe  faca 
alguma  merce  se  for  no  lempo.  Ha  de  ir  em  xvii  dias.  Des  que  vossa 
merce  uir  ao  que  uai  cora  esta  presa,  se  Ihe  parecer  que  nao  sao  as  taes 


RELACOES  COM  a  curia  romana  283 

cousas  pera  se  apresar  tanto,  ou  que  as  nao  deuo  de  lembrar,  screua  mo 
e  nao  o  farei. 

O  conde  meu  irmao  Ihe  dará  huma  cousa  niinha,  que  auerá  mes- 
ler.  Na  carta  que  sereno  ao  dito  conde  uay  onde  se  achara. 

Screuo  esta  cyfra  desta  maneira :  asi  queria  que  as  cousas  de  im- 
portancia, se  socedesem,  uiesem,  scritas  as  regras  tao  largas  pera  se  po- 
der por  cyma  descyfrar. 

De  roma  aos  xxx  dezembro  1526.  —  Dom  Marlinho  de  Portugal '. 


Breve  do  Papa  Clemente  \n,  dirigido  a  D.  ilig;ael 
da  Silva,  Bijspo  eleito  de  Hlxeu. 


15S1— Marco  15. 


Clemens  Papa  vii  Dilecte  fili  salutem  et  apostolicam  Benediclionem. 

Exigentibus  meritis  tuae  deuotionis,  quam  ad  nos  et  sedem  aposto- 
licam gerere  comprobaris  inducimur,  \i  illa  Ubi  fauorabiliter  conceda- 
mus  quae  tuis  cbmmodilatibus  fore  conspicimus  oportuna ;  Cum  ilaque, 
sicut  nobis  nuper  exponi  fecisti,  Tu,  de  cuius  persona  alias  ecclesiae  \i- 
sensis  tune  certo  modo  vacantis  auctoritate  apostólica  prouidimus,  curam, 
régimen  et  administrationem  illius  Tibi  in  spirilualibus  et  temporalibus  ple- 
narie  committendo,  ex  certis  causis  intra  lempus  de  consecrandis  Epis- 
copis  a  canonibus  diffinitum  munus  consecrationis  suscipere  commode 
posse  non  speres :  Nos  personam  tuam  gratioso  fauore  prosequi  uolen- 
les,  Tuisque  in  hac  parte  supplicationibus  inclinati,  Tecum  ut  ratione  ec- 
clesie  visensis  praedictae  usque  ad  sex  menses  a  fine  temporis  de  con- 
secrandis Episcopis  a  canonibus  praefixi  huiusmodi  computandos,  siue  in 
eo  existas  siue  non,  diclura  consecrationis  munus  suscipere  minime  te- 
nearis,  nec  ad  id  a  quoquam  inuitus  compelli  possis  apostólica  auctori- 
tate tenore  presenlium  dispensamus.  Non  obstanlibus  apostolicis  ac  in 

^  Arch.  Nac.  Gav.  20,  Mac.  2,  n."  30.  Nao  enfontrámos  a  cyfra,  a  que  aUude. 

36  « 


284  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

prouincialibus  el  synodalibus  concilüs  aedilis  generalibus  uel  specialibus, 
conslilulionibus  el  ordinalionibus  ac  dictae  ecclesiae  eliam  juramento, 
confirmatione  apostólica,  vel  quauis  firmitale  alia  roboratis,  statutis  et 
consuetudinibus,  priuilegüs  quoque  et  indullis,  ac  litleris  apostolicis  el- 
dem  ecclesiae  ac  Metropolitan,  quomodoübet  concessis,  confirraatis  et  in- 
nouatis,  quibus  tenores  illorum,  ac  si  de  verbo  ad  Terbum  insererentur, 
presentibus  pro  suíTicienter  expressis  habentes,  illis  alias  in  suo  robore 
permansuris  hac  vice  dumlaxat  haruin  serie  specialiter  et  expresse  dero- 
garaus,  caeterisque  contrariis  quibuscunque. 

Datura  Roniae  apud  Sanclum  Pelrum,  sub  annulo  piscatoris,  Die  xv 
Martii  MDXxvii,  Ponlificatus  nostri  Apno  Quarto.  —  E.  Scutarius^ 


Hulla  do  Papa  Clemente  Wí,  dirig^lda  a  el-Rel. 


15S9— Junlio  93. 


Clemens  Episcopus  seruus  seruorum  dei  Carissimo  in  christo  filio 
Porlugallie  et  Algarbiorum  Hegi  Illuslri  salulem  et  apostolicam  benedi- 
ctionem. 

Cum  ad  preclaram  eximiaraque  fidei  conslantiam  ac  deuolionis  sin- 
ceritatem,  quibus  erga  nos  et  sedem  apostolicam  clarere  dignosceris,  nos- 
tre  dirigimus  considerationis  inluitum,  duximus  non  inmérito  illa  tibi  fa- 
uorabiliter  concederé,  per  que  tue  mageslati  honor  accrescat,  ac  eius  sla- 
tui,  necnon  ecclesiis  et  monasteriis  tuorum  lemporalium  dominiorum,  de 
personis  ecclesiasticis  tibí  gratis  el  acceplis  valeat  salubriíer  prouideri. 
Sane  cum  dudum  felicis  recordationis  leo  papa  x  predecessor  noster  clare 
memorie  Emanueli  porlugalie  Regi  genitori  luo,  tune  in  homanis  agenti, 

'  Arch.  Nac,  Mac.  20  de  Bullas,  n.°  2.  Ha  outro  breve  prorogando  o  prazo  por 
mais  seis  mezes,  de  5  de  Setembro  do  mesmo  anno  (Mac,  20,  n.°  18);  outro  por  egual 
tempo,  de  12  de  Marfo  de  1^28.  (Ma§.  18,  n."  4);  outro  por  oito  mezes  improrogaveis, 
de  6  de  Setembro  do  mesmo  anno  (Mac.  2,  n.°  20) ;  e  ainda  outro  por  quatro  mezes,  de 
5  de  Bfaio  de  1529  (Mac.  18,  n."  1). 


REUCOES  COM  a  curia  romana  285 

pro  siatus  Regni  siii  porlugallie  ac  monasteriorum  ipsiiis  regni  conserua- 
lione  motu  proprio,  quoad  uiueret  dumlaxal,  facultalem  nominandi  ei- 
dem  predecessori  et  Romano  ponlifici  pro  tempore  exislenli  personas  ydo- 
neas  ad  quecunque  monasleria  ordinum  quoruncunque,  eliam  de  quibus 
consislorialiler  disponi  consueuerat,  in  dicto  Regno  consislenlia,  el  quo- 
rum fruclus  eíiam  in  libris  camere  apostolice  taxati  reperiebanlur,  per 
decessum  seu  alias  quomodolibet,  preterquam  apud  sedeni  prediclam, 
pro  tempore  vacantia  per  predecessorem  et  pro  tempore  existenlem  Ro- 
manum  ponlificera  prefalum  ad  denominationem  huiusmodi  monasteriis 
predictis  preficiendas,  per  suas  lilteras  ex  certa  eius  scientia  reseruaue- 
rit,  concesserit  et  assignauerit,  proul  in  eisdem  litteris  plenius  contine- 
tur,  Nos  uolentes  le,  qui  dicto  Emanueli  poslmodum  uita  functo  in  Re- 
gno predicto  successisse  dignosceris,  preclaris  tuis  de  nobis  et  sede  pre- 
dicta  exigenlibus  benemerilis,  non  minori  prerogatiua  quam  dictus  pre- 
decessor  prefatum  Emanueiem  proseculus  fuit  prosequi,  motu  proprio, 
non  ad  tuam  uel  alferius  pro  te  nobis  super  hoc  óblate  petitionis  inslan- 
tiam,  sed  de  nostra  mera  liberalitale  ac  eliam  intuitu  et  consideralione 
dilecli  filii  martini  a  porlugallia,  nepotis  lui  et  apud  nos  et  sedem  eau- 
dem  oratoris,  cuius  eximia  sludia  erga  status  ecclesiaslici  conserualionem 
et  ecclesie  defensionem  hoc  lam  calamitoso  et  erumpnoso  ^  tempore  et 
alias  probé  nouimus,  et  cum  non  módica  eius  laude  experti  sumus,  qui 
hanc  vnam  solam  retributionem  et  remunerationem  a  nobis  pro  lot  va- 
sorum  argenlorum  ac  aliorum  omnium  bonorum  suorum  el  familie  sue 
in  huius  misere  vrbis  depredatione,  qua  nuper  ab  imperiali  cxercitu  af- 
ílicta  fuit,  amissione,  ac  ob  ingentes  cum  magno  sue  vite  periculo  inibi 
exanclatos  labores,  humiliter  petiit  el  efflagüauit,  ac  a  nobis  obtinere  de- 
siderauit,  eidem  mageslali  lúe,  quoad  uixerit  dumlaxal,  facultalem  no- 
minandi et  prcsentandi  nobis  et  Romano  ponlifici  pro  tempore  exislenli 
personas  ydoneas  ad  quecunque  monasleria,  eliam  de  quibus  consisloria- 
liler disponi  consueuil,  et  quorum  fruclus  reddilus  et  prouentus  in  libris 
dicte  camere  taxati  reperiunlur,  ac  prioralus  conuentuales  ordinum  quo- 
rumcumque  in  Regno  predicto  et  alus  dominiis  luis  consistentes,  etianí 
de  tui  iure  palronalus  ex  fundalione  \el  dotatione  seu  alias  fuerint,  per 
cessum  uel  decessum   seu  alias  quomodolibet,  preterquam  apud  sedem 

'  Léase  «lerumnoso. 


286  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

predictam,  nunc  et  pro  tempore  vacantia,  per  nos  el  pro  tempore  exis- 
lentem  Ronianuin  ponlificem  ad  nominationem  et  presenlationem  huiusmodi 
moiíasleriis  prediclis  preficiendas  el  quibus  Prioratus  huiusmodi  conferan- 
tur,  Ha  ut  ad  monasleria  et  prioratus  huiusmodi  Religiosos,  ut  ipsi  mo- 
nasteriis  preficiaulur  seu  illis  de  prioralibus  huiusmodi  prouidealur,  el 
eliam  seculares  clericos  ac  prelalos,  quibus  illa  comendari  possint,  no- 
minare et  presentare  maleas;  sic  lamen  quod  personas  y  doñeas  huiusmodi 
infra  sex  menses  a  die  vacalionis  ipsorum  monasleriorum  el  prioraluum 
computandos  nobis  et  pro  tempore  exislenti  Romano  Ponliíici  nominare 
et  presentare  tenearis,  Nosque,  et  Romani  pontifices  pro  tempore  existen- 
tes, personis  sic  nominalis  aut  presentalis  prouidere  seu  illa  eis  commen- 
dare  debeamus,  Et  si  infra  diclos  Sex  menses  nulla  nominatio  seu  pre- 
sentatio  per  le  facía  fueril,  ex  tuno  ea  vice  de  monasleriis  et  prioralibus 
prediclis  per  nos  et  sedem  predictam  libere  disponi  possit,  ex  certa  nos- 
tra  scientia  auclorilale  apostólica  lenore  presentium  reseruamus,  concedi- 
mus  et  assignamus,  decernentes  ex  nunc  quascunque  elecliones,  postula- 
liones,  prouisiones,  prefecliones,  commendas,  uniones  et  coadiutorum, 
eliam  de  consensu  deputaliones  ac  regressus  seu  accessus,  eliam  de  con- 
sensu  et  alias  quascunque  dispositiones,  de  monasleriis  et  prioralibus  pre- 
diclis alias  quam  de  seu  pro  personis  per  le  infra  tempus  Sex  mensium 
huiusmodi  pro  tempore  nominandis  et  presenlandis,  etiam  per  nos  el  pro 
tempore  existentem  Romanum  pontiíicem  quomodolibet  pro  tempore  fa- 
cías el  faciendas,  nullius  Roboris  vel  momenli  foro  el  exislere.  Et  sic 
per  quoscunque  judices  et  commissarios,  etiam  sanie  Romane  ecclesie 
Cardinales,  subíala  eis  et  eorum  cuilibet  quauis  aliler  iudicandi  et  inter- 
prelandi  facúltate  et  auclorilale,  in  quacunque  instancia  judicari,  senlen- 
tiari  et  difiniri  deberé,  irrilum  quoijue  el  inane  si  secus  super  hiis  a  quo- 
quam  quauis  auclorilale  scienler  \el  ignoranler  conligerit  altemptari.  Et 
insuper  venerabilibus  fratribus  noslris  Archiepiscopo  bracharensi  el  Epis- 
copo  colimbriensi  ac  dilecto  filio  Canlore  ecclesie  Elborensis,  ut  ipsi,  vel 
dúo  aut  vnus  eorum  pro  se  vel  alium  seu  alios,  de  vero  annuo  valore 
monasleriorum  et  prioratuum  prediclorum  secundum  communem  exlima- 
tionem,  anno  fertili  cum  sterili  compénsalo,  se  diligenler  informen!,  el 
lestes  desuper  recipiant,  ac  ipsorum  leslium  deposiliones  el  attestationes 
in  publicara  formara  Reddigi  faciañt,  et  sub  inde  deposiliones  et  attesta- 
tiones huiusmodi  seu  processum  desuper  forraalura  sub  eorura  lilleris 


RELACOES  COM  a  curia  romana  287 

clausis,  eorumque  sigillis  munilis  ad  nos  et  sedem  anlediclam  per  pro- 
prium  nuntiiim  fideliter,  infra  annum  a  data  presentium  compulandum, 
transmiltere  procurent.  Et  si  aliqua  monasleria  seu  prioralus  vacenl  ad 
presens  antequam  huiusmodi  informatio  sumpta  et  ad  cameram  predictam 
transmissa  ac  in  illius  libris  descripta  fuerit,  quo  pendente  nulla  presen- 
talio  ad  illa  per  raageslatem  luam,  ñeque  dispositio  aliqua  de  lilis  per 
nos  aut  Romanum  pontificem  pro  tempore  existentem  fieri  possil,  sed  ipsi 
Archiepiscopus  seu  episcopus  aul  Cantor  illorum  tune  vacantium  posses- 
sionem  nostro  et  camere  predicte  nomine  apprehendanl  et  fruclus  seques- 
trent,  et  postmodum  personis  per  le  nominandis  et  presentandis  et  per 
nos  seu  pro  tempore  existentem  Romanum  pontificem  prefatum  preficien- 
dis,  seu  quibus  de  ipsis  prioratibus  prouideri  ac  monasleria  et  prioralus 
huiusmodi  comraendari  conligerit  integre  consignent,  necnon  dileclis  fi- 
liis  Camerario  nostro  ac  presidenlibus  et  clericis  dicte  camere,  ut,  post- 
quam  deposiliones  el  allestationes  huiusmodi  ad  diclam  Cameram  Irans- 
misse  fuerint,  laxara  ipsorum  monasteriorum  de  libris  eiusdem  Camere, 
in  quibus  reperli  fuerint,  deleant,  et  aboleanl,  ac  loco  antiquarum  taxa- 
rum  valorem  anuum  illorum,  secundum  communem  exlimalionem  iuxla 
deposiliones  et  attestaliones  huiusmodi  describant  el  annolent,  ac  nostro 
et  pro  tempore  existentls  Romani  pontificis  datarlo,  vi  Hileras  apostólicas 
prouisionum  el  comendarum  monasteriorum  et  prioratuum  prediclorum, 
de  quibus  pro  tempore  disponi  conligerit  omni  conlradiclione  cessante  ex- 
pedial,  el  expediré  mandel,  ac  soluta  eidera  dalario  solumnodo  annata 
vnius  anni,  litleras  in  lotum  desuper  absque  alia  solulione  persones  de 
quibus  monasteriis  prouisim,  et  quibus  prioralus  huiusmodi  collati  seu 
illi  ac  monasleria  predicla  commendata  fuerint,  seu  eorum  sollicilalori 
Iradat,  seu  per  clericos  camere  eidem  camere  iuribus  iuxla  presentium 
formara  et  lenorem  debilis  persolutis,  Iradi  et  consignari  facial,  nec  ab 
eis  solulionera  allerius  annale  laxe  regalium  aut  aliorum  quorumuis  iu- 
rium  in  similibus  prouisionibus  et  commendis  solui  consuelorura  exigal, 
seu  exigi  facial  aut  perrailtat,  exceplis  cédula  minulis  el  scriptura  bul- 
larura,  pro  quibus  officialibus  solilum  solualur  mandaraus,  decernenles 
personas  huiusraodi  ad  aliara  solulionera  quara  dicte  integre  annale,  se- 
cundum communem  exlimalionem  el  valorem  annuum  in  diclis  lilteris 
annotandum,  minime  leneri,  nec  ad  id  cogi  seu  compelli  posse :  non  ob- 
slanlibus  premissis,  ac  quibusuis  de  monasteriis  et  prioratibus  predicti.^ 


288  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

per  nos  et  sedem  eandem  pro  lempore  faclis  et  faciendis  reseruationibus, 
seu  affeclionibiis  generalibus  uel  specialibus,  necnon  cancellarie  apostolice 
pro  lempore  edilis  et  edendis,  et  quibusuis  alus  constitutionibus  el  ordi- 
nalionibus  aposlolicis,  necnon  monasteriorum  et  prioraluum  et  illorum 
ordinum  predictorum  iuramenlo,  confirmatione  apostólica,  vel  quauis  ür- 
rnilale  alia  roboratis  slalulis  et  consuetudinibus,  priuilegiis  quoque,  in- 
dullis  et  lilleris  apostolicis  illis  ac  diclc  camere  et  illius,  necnon  can- 
cellarie apostolice  officialibus,  sub  quibuscunque  lenoribus  et  formis,  ac 
cum  quibusuis  clausulis  et  -decrelis  concessis,  approbatis  et  innoualis, 
quibus  ómnibus  ac  dicto  iure  palronalus  tenores  illorum,  ac  si  de  verbo 
ad  verbum  inserti  forent,  presenlibus  pro  suííicienler  expressis  habentes, 
illis  alias  in  suo  robore  permansuris,  hac  vice  dutitaxat  specialiler  el  ex- 
presse  ad  eíTectum  presentium  derogamus,  celerisque  contrariis  quibuscun- 
que, Nulli  ergo  omnino  hominum  liceat  banc  paginam  nostre  reserualio- 
nis,  conccssionis,  assignalionis,  decreli,  mandali,  voluntalis  el  derogalio- 
nis  infringere,  uel  ei  ausu  temerario  contraire.  Siquis  auleni  hoc  atlem- 
ptare  presumpserit  indignalionem  omnipotenlis  dei,  ac  beatorum  petri  et 
pauii  apostolorum  eius,  se  nouerit  incursurum. 

Datum  Rome  in  castro  sancti  angeli  anno  incarnationis  dominice 
niillesimo  quingentésimo  \igesimo  séptimo,  nono  Kalendas  Julii,  pontifi- 
calus  nostri  anno  quarlo'. 


Rreve  do  Papa  Clemente  \1M.^  dirigido  a  el-Rei. 


1&S9— «lallioll. 


Clemens  papa  vii  Charissime  in  chrislo  fili  noster  salutem  et  apos- 
tolicam  benediclionem. 

Polesl  lúa  Serenitas  meminisse  cum  alias  felicis  rccordalionis  Leo 
papa  X,  praedecessor  nosler,  dilecto  filio  Emanueli  Noronio,  camerario 

'  Inserta  em  um  auto  de  apresentapao,  no  Arch.  Nac,  Mac.  37  de  Bullas  n.»  18. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  289 

noslro,  íunc  suo,  accessum  ad  primo  uacaturura  tui  regni  monaslerium 
concessissel,  nos  tuae  Serenitali  significasse  cupcre  nos  quidem  in  ea  re 
diclo  Emanueli  ila  gralificari,  vi  lamen  is  non  minus  hoc  noslrum  bene- 
ficium  a  lúa  Serenilale  quam  a  nobis  recognoscerel.  Cumque  nunc  in  ea- 
dem  simus  volunlale,  eo  magis  quo  ipsum  Emanuelem  ad  le  reuertenlem 
hoc  muñere  loliens  sibi  promisso  prosequi  vellemus,  speremusque  Sere- 
nitalem  luam  el  memoriae  dicli  Leonis  el  noslrae  volunlalis  el  luae  in 
omnes  luos  bcnignílalis  ralionem  in  hoc  esse  habiluram,  lanlum  illam 
scire  voluimus  hanc  ipsam  luam  beneficenliam,  quam  in  hunc  el  nalura 
el  volúntale  Ubi  dedilissimum  spcramus  esse  paralam,  nobis  quoque  ob 
premissas  raliones  el  quod  ipsum  Emanuelem  palerne  diiigimus  gralam 
el  acceptam  fuluram. 

Dalum  Romae  in  arce  Sancli  Angelí,  sub  Annulo  piscaloris,  Die  xi 
Julii  MDXXvii,  Ponlificalus  noslri  anno  quario.  ^—Blosius^ 


Sulla  do  Papa  Clcitientc  l^H,  dirig^ida 
a  D.  ilartiuho  de  Portug^al  (*), 


15S9  — «iullio  12. 


Clemens  episcopus  seruus  seruorum  del  Dilcclo  íilio  Marlino  a  por- 
tugaliia,  ad  Carissimum  in  chrislo  (iüum  noslium  Joanneiii  Purlugallie 
el  Algarbiorum  Regem  Illuslrem  ^  noslro  el  aposlolice  sedis  cuín  p!ena 

1  AttCH.  Nac,  Mac.  37  de  Bullas,  n.°  12. 

(*)  Por  nos  parecer  interessante  publicamos  aquí  a  seguinte  carta  do  Duque  de 
Braganga  escripia  a  el-Rei. 

Senhor  — Beijo  as  maos  de  vosa  alteza  pollas  novas  que  me  dá  do  boom  avia- 
mento  dos  neguotios  que  dom  martinho  trouxe,  porque  a  meu  veer  eu  os  hei  por 
muí  boons,  porque  quanto  aos  moesteiros  eu  nom  vejo  dificuldade  que  Vosa  alteza 
deva  de  poher  por  paguarem  a  añada  emteira,  nem  do  verdadeiro  vallor,  qua  pois  o 
.papa  se  dece  de  seus  trozo  e  vos  dá  o  que  nom  deu  a  ninguem,  senom  soo  o  papa  liao 
a  voso  pai  custando  Ihe  muitos  cruzados,  deve  vosa  alteza  de  aver  se  por  beem  ser- 
TOMO  II.  37 


290  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

poíeslale  legali  de  laleie  nuncio  et  Oralori,  Salulem  el  aposlolicam  bene- 
diclionern. 

Cum  nobis^  hodie  te  ad  ^  Carissirauní  ¡n  chrislo  filium  noslrum 
Joannem,  Portugallie  et  Algarbiorum  Regem  Illuslrem,  eiusque  Regna 
ciuitales  et*  loca  sibi  medíate  et  immediale  ^  subiecla,  pro  nonnullis  nos- 
tris  et  Sánete  Romane  ecclesie  arduis  negotiis,  nostrum  et  apostolice  se- 
dis  nuncium  et  oratorem  cum  plena  potestale  legali  de  latere  duxerimus 
deslinandum,  Nos  cupientes*^  \t  erga  personas  in  ciuilalibus  lerris  locis 
el  Regnis  predictis  residentes  ac  familiares  Continuos  commensales  luos 
quos  Iccum  ducis  te  possis  reddere  gratiosum  discrelioni  lúe,  de  qua  in 
hüs  et  aliis  speciaiem  in  domino  fiduciam  oblinemus,  libi  officium  Ta- 
bellionalus  quibuscunque  personis  Idoneis,  Receplo  ab  eis  Juramento  in 
forma  solila,  concedendi  \  illosque  tabelliones  creandi  ac  de  dicto  oíTicio 
inuesliendi:  necnon  legillimandi  spurios  naturales  bastardos  manseres  no- 
thos  ^  incestuosos  copulaliue  uel  disiuncliue,  ex  quoruncunque'  iiiicito  et 
damnato  coilu  procréalos,  viuenlibus  \el  ''*  eliam  mortuis,  eorumque  pa- 
renlibus,  Ha  ut  ad  paternam  ^^  et  alias  successiones  quoruncunque  bono- 
rum  admití!  et  in  illis  succedere  valeant,  absque  lamen  prejudicio  illo- 


uido  de  se  acabar  esta  neguotiagao,  e  folguar  que  o  papa  tambem  Receba  diso  pro- 
veito  aa  custa  daquelles  a  que  derdes  os  moesteiros.  Nom  acho  outro  impidimento 
.senom  poher  a  comcientia  de  vosa  alteza  em  mais  périguo  de  verdes  como  os  avees  de 
apresentar,  segumdo  de  dereito  e  de  comcientia  devees ;  e  se  vos  quiserdes  seguir  por 
a  comcientia,  poderees  fazer  muito  fructo  e  desfazer  muitas  ladroeiras  e  burdees  que 
ha  por  vosos  Regnos  debaixo  da  capa  da  igreja  de  déos  e  de  sua  Religiao.  E  parece  me 
que  o  neguotio  devia  de  seer  arduo  de  acabar,  pois  dom  miguel,  que  era  tao  privado 
do  papa,  o  nom  pode  acabar,  saluo  se  creesemos  a  mal  dizentes,  que  queriáo  dizer 
que,  por  os  aveer  todos  ou  a  mor  parte  delles  do  papa,  os  nom  queria  aveer  pera  vosa 
alteza. 

Do  priorado  pera  o  senhor  Infante  veem  asy  muito  beem,  mas  parece  me  que  já 
dias  ha  que  estaua  concedido  a  vosa  alteza,  se  me  bem  lembro.  Folguara  de  saber,  pera 
milhor  poder  dizer  a  vosa  alteza  o  que  me  manda  pregumtar,  se  tinha  dom  martinho 
la  outros  neguotios  de  importancia  de  vosa  alteza,  que  deixou  por  acabar,  e  asy  me 
nom  lembra  se  Ihe  escreueo  vosa  alteza  este  invernó  pasado,  quando  elle  escreueo  que 
o  papa  o  quisera  qua  mandar,  que  nom  se  viese  sem  voso  spetial  mandado,  porque, 
se  estas  cousas  nom  concorrem,  nom  sei  que  culpa  se  Ihe  pode  dar  a  huum  homem 
tao  bem  desposto  como  elle,  que  tao  aginha  poderia  tornar  la,  se  cumprise  em  tal  tem- 
pe viir  a  vosa  alteza  com  mcnsajees  daquelle  mesmo,  a  que  o  vos  mandastes,  trazendo 
vos  vosos  neguotios  bem  aviados. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  291 

rum,  qui  ad  prediclas  successiones  ¡n  persone  quibus  succederent  ab  in- 
leslalo  de  jure  admilli  deberent,  el  eliam  ad  honores  dignilates  gradus  el 
olíjcia  seciilaria  publica  el  priuala  rccipi  el  assummi,  Illaque  gerere  el 
exercere  possint  ac  si  de  legitimo  matrimonio  procreati  essent,  Illosque 
ad  jura  nalure  el  quoslibet  aclus  legítimos  resliluendi  el  reinlegrandi : 
Ac  eliam  quoruncunque  beneficiorum  ecclesiaslicorum  cum  cura  el  sine 
cura  secularium  el  quorumuis  ordinum  regularium,  eliam  que  dicte  sedi 
ex  quauis  causa  prelerquam  ratione  officialium  sedis  predicle  el  Romane 
Curie  aclu  officia  sua  exercentium  generaliter  reseruala  fuerint,  resigna- 
liones  simpliciter  uel  ex  causa  permutalionisaut  comendalorum;  Ac  eliam 
letigiosorum  extra  Romanam  Curiam  cessiones  lilis  el  juris  recipiendi  el 
admillendi,  ac  causas  desuper  pendentes  aduocandi,  el  liles  huiusmodi 
penilus  exlinguendi,  dictaque  beneficia  lam  simpliciter  quam  ex  eadem 
causa  el  alia  quecunque  el  qualiacunque  infra  limites  diclorum  Regnorum 
el  locorum  existenlia  quomodocunque  vacantia  el  vacatura,  eliam  si  de 
jure  palronalus  laicorum,  el  etiam  prelerquam  \t  supra  aut  Ratione  va- 
calionis  illorum  apud  sedem  predictam,  vel  familiarilatis  continué  com- 
mensalilatis  nostre  seu  dicte  Sánete  Romane  ecclesie  alicorum  ^^  Cardi- 
naliura  viuenlium  reseruala  uel  affecta  fuerint,  quorum  beneficiorum  sin- 


E  quanto  ao  vsar  do  oficio  da  leguatia,  nom  lie  cousa  nova,  pois  pollo  papa  era 
enviado  a  vosa  alteza,  vsar  desas  gragas,  amtes  a  outrem  se  podera  fazer,  que  o  aguar- 
deeera  ao  papa  e  o  Recebera  por  honrra  fazer  elle  esa  honrra  a  voso  embaixador,  por 
que  todollos  nuncios  que  andao  em  castella,  aínda  que  sejao  naturaes  do  Regno,  sem- 
pre  teem  alguumas  gragas  e  poderes  de  papa,  e  dora  bernardino  pimenlel  foi  nuncio 
estes  anos  pasados  sem  seer  d  espanba,  e  Ibe  faziao  honrra  de  nuncio,  e  asy  Ihe  cha- 
mavao,  e  era  casado  e  leiguo.  Nisto  me  perdoe  voso  agente  deste  voso  Regno,  que  nom 
sei  se  porque  me  criei  em  castella  e  vi  multas  cousas  destas,  se  porque  o  emtenderei 
pior  ou  milbor  que  elles,  ou  porque  tenho  minha  comdicom  fora  de  emveja,  nom  me 
pesa  de  veer  honrra  a  ninguem,  senom  quando  me  parece  que  se  pode  seguir  de  hi 
alguum  mal ;  e  porque  eu  nom  vejo  mal  que  disto  se  posa  seguir,  porque  segundo  vi 
que  o  trellado  dos  poderes  que  traz  dom  martinho  nom  Ihos  vejo  tao  grandes  que  po- 
sao  fazer  prejuizo,  senom  se  for  a  alguuns  prelados  em  Ihe  tomar  suas  dadas  de  igre- 
jas;  mas  nem  isto  nem  al,  ainda  qua  o  mal  quisese  fazer,  nom  pode  seer  que  nom 
seja  milbor  do  que  se  faz  em  Roma,  poisque  se  ha  de  fazer  diamte  de  vosos  olhos,  e 
aimda,  pois  ha  de  estar  era  vosa  corte,  a  mor  parte  das  vaguantes  poderao  estar  aa 
desposygao  de  vosa  alteza.  Asy  que  tudo  me  parece  que  pemde  de  duas  cousas,  a  huu- 
ma  se  traz  os  neguotios  feitos  aa  vosa  vomtade  nom  deixamdo  alguns  de  muita  inpor- 
tancia  por  fazer,  e  se  vosa  alteza  Ihe  nom  tinha  defendido  que  nom  viese  sem  voso 

37  * 


292  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGÜEZ 

gnlorum  huiusmodi  fructus  rcdüilus  et  prouenlus  Duccnlorum  diicalo- 
ruin  auri  de  Camera  secundum  communem  exlimationem  valorcm  an- 
nuum  non  excedant,  ac  dummodo  inter  ipsa  omni'a  per  obilum  vacan- 
lia  plura  quam  quinquaginla  reseruata  uel  affecla  non  sint,  personis  ido- 
neis,  eliam  quecunque  quotcunque  et  qualiacunque  beneficia  ecclesiaslica 
cum  cura  et  sine  cura  oblinenlibus  et  expeclantibus,  conferendi,  Regula- 
ria  tanlum  ad  uilam  uel  ad  tempus  commendandi,  illaque  seu  sccuiaria 
beneficia  ad  uilam  uel  ad  lempus  viuendi ;  ac  super  resignalorum  '^  seu 
alias  dimissorum  beneficiorum  fruclibus  reddillibus  et  prouenlibus  quas- 
cunquc  pensiones  annuas,  non  lamen  lerliam  parlem  fructuum  reddilluum 
et  prouentuum  huiusmodi  excedentes,  predictis  Resigoanlibus  uel  ccden- 
libus  quoad  uixerint  per  beneficia  huiusmodi  pro  tempore  ablincntes  an- 
nis  singulis  in  lerminis  et  locis  concordandis  seu  staluendis,  etiam  sub 
priuationis  et  alus  penis  sentenliis  et  censuris  in  lalibus  apponi  soliti '% 
persoluendas  de  consensu  illorum  qui  dictas  pensiones  soluere  habebunl, 
reseruandi  constituendi  et  assignandi,  necnon  stalutis  et  consueludinibus 
ecclesiarum  in  quibus  singula  beneficia  huiusmodi  forsan  fuerint,  eliam 
juramento  confirmatione  apostólica  uel  quauis  firmitate  alia  roboratis  de- 


speiiaí  mandado ;  e  se  estas  nom  interveem,  parecer  m  ya  Razao  fázer  Ihe  vosa  alteza 
Dierce  e  honrra  e  folguardes  de  o  papa  honrrar  voso  embaixador. 

Tambem  me  dizem  que  traz  huum  poder,  que  me  parece  muito  voso  seruigo,  que 
he  que  traz  poder  pera  poder  tirar  alguumas  Igrejas  de  coraendas  e  metter  outras, 
porque  sey  ha  dias  que  se  fezerom  muitas  falsydades  a  el  Rey  meu  senhorque  déos 
teem,  e  Ihe  escomderom  a  vallia  de  Igrejas  grosas,  e  Ihe  meterom  outras  muito  pe- 
quenas,  e  nisto  pederá  tambem  intervür,  Remediar  se  as  duvidas  das  igrejas  que  os 
prelados  vos  derom,  que  nom  podiao  dar,  e  tambem  alguuma  que  eu  sei  que  vos  teem 
furtado  enteiramente :  e  nom  me  mande  vosa  alteza  que  vollo  escreua,.  porem  eu  vollo 
direi  de  mym  a  vos,  se  me  déos  dá  saude. 

Ganha  se  tambem  en  teer  dom  martinho  estes  poderes  Remediarem  se  muitas 
cousas  aguora  qua,  que  se  nom  podem  Remediar  por  Roma  com  estas  embrulhadas 
que  la  vaáo.  Beem  deve  vosa  alteza  de  creer  que  nisto  nom  som  sospeito,  pois  sabe 
becm  que  pera  as  cousas  de  voso  scruico  nom  no  som  a  ningucm,  e  tambem  quao 
pouqua  comfianga  devo  teer  de  paremtes,  pois  atee  aguora  ninhuum  deixou  de  me  des- 
agradecer o  que  por  elles  fiz.  Noso  senhor  a  vida  e  Real  estado  de  vosa  alteza  guarde 
e  acrecenté. 

De  vila  uicosa  a  xii  dias  de  novembro  de  1527. 

As  Reaes  maos  de  vosa  alteza  beijo  —  O  duque. 

(Arch.  Nac.  Corp.  Chron.  Parí.  1,  Mag.  12,  üoc.  28) 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  293 

rogandi :  Ac  cum  quibusuis  personis  ¡n  diclis  Regnis  el  dominüs  consli- 
tulis  tune  in  lerlio  el  quarlo  el  quarlo  simul  consanguinilalis  vel  aííini- 
lalis  gradibus  irapedilis  el  inler  se  matrimonialiler  copulalis,  ac  in  con- 
Iraclis  per  eos  malrimonüs  eliam  scienter  eosdem  conlrahenles,  ab  huius- 
modi  excessu  ac  censuris  el  penis  quas  propterea  incurrcrint  absoluendi, 
renianere  possinl,  prolem  susceptam  el  suscipiendam  ^^  ex  inde  legilimain 
decernendo;  necnon  cum  quibusuis  personis  super  quibusuis  nalalium  def- 
fectibus  et  irregularilalibus  quas  aliqui  censuris  ecclesiaslicis  ligali  Mis- 
sas  el  alia  diuina  oíficia  celebrando^  aul  alias  se  illis  immiscendo  quo- 
modolibet,  non  lamen  in  contemplum  clauium,  conlraxerinl  ut  ad  ordi- 
nes  eliara  sacros  et  presbileralus  proraoueri,  ac  in  illis  el  per  eos  susce- 
plis  el  suscipiendis  ordinibus  eliam  in  allaris  ministerio  ministrare,  ac 
quecunque  quotcunque  beneficia '"  eeclesiaslica  cum  cura  et  sine  cura  se 
inuicem  compatienlia  *\  eliam  si  dignilates  personalus  adminislraliones  ucl 
oíTicia  in  diclis  ecclesiis  el  huiusmodi  dignilates  cúrale  el  elecliue  fuerint, 
si  eis  canonice  conferanlur  aul  cliganlur  presenlentur  uel  alias  assumman- 
tur  ad  illa  el  instiluantur,  in  eis  recipe  re  el  quoad  uixerint  retiñere  libere 
el  licite  valeant :  Et  insuper  cum  quibusuis  personis  in  vigessimo  etalis 
eorum  Anno  conslilulis  ad  oblinendum  vnum  beneficium  ecclesiasticum 
cum  cura  eliam  si  parrochialis  ecclesia,  uel  eius  perpetua  vicaria  aut 
alias,  ul  preferlur,  calificatum  fueril'^  dispensandi :  Necnon  duodecim 
Comités  palatinos  et  totidem  Acólitos  et  Capellanos  creandi,  ac  eliam 
Duodecim  in  noslros  et  apostolice  sedis  Notarios  auclorilate  apostólica  re- 
cipiendi,  ac  aliorum  noslrorum  et  dicte  sedis  Nolariorum  et  accolitorum 
Capellanorum  el  aule  noslre  Lateranen.  Comilum  palalinorum  numero  et 
consortio  respective  fauorabililer  aggregandi,  Ita  quod  ómnibus  et  singu- 
lis  priiiilegiis  prerrogaliuis  honoribus  exemplionibus  gratiis  libertatibus 
immunitaiibus  et  indultis  gaudeant  et  vtanlur,  quibus  alii  noslri  et  dicte 
sedis  nolarii  et  Accoliti  Capellani  ac  aule  noslre  Lateranen.  Comités  pa- 
latini  vtunlur  poliuntur  el  gaudent,  ac  vli  poliri  et  gaudere  poterunt 
quomodolibet  in  fulurum,  exhibendique  el  exhiberi  faciendi  eis  insignia 
Notarialus  huiusmodi,  recepto  prius  lamen  ab  eis  solilo  juramento :  et 
decem  milites  aurealos  et  poetas  lauréalos^  ac  quascunque  personas  suf- 
íicientes  el  ydoneos  volenles  se  ad  docloratus  seu  licenciature  et  Bacha- 
lariatus  in  vtroque  vel  altero  jurium,  et  ad  Magislerii  (am  in  Theologia 
quam  in  Artibus  et  Medicina,  uel  alios  gradus  preuio  examine  rigoroso 


29i  COHPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

el  diligenli,  ac  serualis  conslitulione  *'  Uiennen.  el  alus  solemnitalibus  ¡n 
lalibus  adhiberi  solilis,  promoiiendi  scu  promoueri,  alque  gradus  huius- 
modi  el  insignia  solila  at  debila  conferendi  ac  exhibendi,  seu  exiberi  el 
confcrri  faciendi,  cisque  quod  ómnibus  el  singulis  graliis  priuilegiis  li- 
berlalibus  el  indullis,  quibus  alii  Milites  aureati  ac  Poete  Laureali  per 
nos  et  sedem  apostolicam  creali  el  instiluli,  necnon  ad  huiusmodi  gra- 
dus in  Vniversilalibus  sludiorum  generalium  juxta  illorum  rilus  el  mores 
ac  serualis  seruandis  promoti  vtunlur  poliunlur  et  gaudenl,  seu  yIí  potiri 
el  gaudere  polerunl  quomodolibel  in  fulurum,  \t¡  potiri  el  gaudpre  libere 
€l  licite  possinl  el  debeanl  indulgendi :  Ac  cum  triginla  personis  vt  que- 
cunque  dúo  cúrala  seu  alias  inuicem  incompalibilia  beneficia  ecclesias- 
tica,  etiam  in  parrochiales  ecclesie  uel  earum  perpetué  Ticarie  aul  digni- 
tates  personalus  adminislraliones  vel  oíficia  in  Cathedralibus,  etiam  Me- 
tropolitanis,  uel  collegialis  el  dignilales  ipse  in  Cathedralibus  etiam  Me- 
tropolilanis  post  pontificales  maiores  seu  collegialis  ecclesiis  huiusmodi 
principales  scu  talia  mixlim  fuerint,  el  ad  dignilales  personalus  adminis- 
lraliones uel  oíTicia  huiusmodi  consueuerunt,  qui  per  electionem  assummi 
€¡sque  cura  ¡mmineal'^''  animarum,  si  alias  canonice  conferanlur  aut  elí- 
ganlur  presententur  uel  alias  assummanlur  ad  illa  et  instituantur,  in  eis 
recipere  et  insimul  quoad  uixerint  retiñere,  illaque  simul  uel  successiue 
simpliciler  vel  ex  causa  permutationis  quotiens  eis  placuerit  dimitiere,  et 
loco  dimissi  uel  dimissorum  aliud  uel  alia  simile  vel  dissimile  aul  simi- 
lia  uel  dissimilia  beneficium  seu  beneficia  ecclesiasticum  vel  ecclesiaslica 
Dúo'''  dumlaxat  cúrala  seu  alias  inuicem  incompalibilia  similiter  reci- 
pere el  insimul  etiam  quoad  uixerint  retiñere  libere  et  licite  valeant,  dis- 
pensandi,  ac  slatulis  el  consueludinibus,  etiam  juramento  confirmatione 
apostólica  uel  quauis  firmitate  alia  roboratis,  necnon  fundalionibus  ac  ju- 
re" patronalus  ciericorum  et  laicorum  mixlim  aut  laicorum  tantum,  el 
si  laicorum  tantum  et  illis  ex  fundalione  uel  dolatione  competat  pro  me- 
dietate  alioquin  uel  si  mixlim  in  totum  derogandi:  Et^^  clericos,  etiam  ^* 
in  afTricam  im  perpeluam  uel  ad  tempus  propter  excessus  et  crimina  per 
eos  perpétrala  ab  ordinariis  suis  relegatos,  ab  exilio  el  ad  patriam  reuo- 
candi,  et  cum  condemnatis^^  ad  exilium  yI^*  ad  illud  iré  non  teneantur 
dispensandi,  el  penam  huiusmodi "  in  aliam  penam  etiam  pecuniariam 
commutandi :  Ac  loco  nonnuUarum  parrochialium  ecclesiarum,  que  in 
nonnullis  locis  insignibus  in  preceptoriis  mililie  Jesu  christi  erecle  fue- 


RELACOES  COM  a  curia  romana  293 

ranl,  Preceplorüs^*  ipsis  in  eis  suppressis  et  exiinctis  alias  símiles  pre- 
ceplorias  iu  alus  parrochialibus  ecclesüs  aliorum  locorum  de  ipsius  Re- 
gis  consensu,  eligendi  et  surrogandi :  Necnon  quibusuis  mulieribus  ho- 
neslis  vlquecunque  monasleiia  el  domos  monialiura  quoruncunque,  eliam 
obseruanlie  clauslralis  excmpta  et  non  exempla,  quomodocunque'^^  re- 
clusa  cum  tribus  matronis  etiam  honestis  de '."  concensu  earum  que  di- 
ctis  Monasleriis  et  domibus  prefuerunt'S  dummodo  ibi  non  pernoclent, 
deuolionis  causa  qualer  ¡n  Anno  ingredi  \aleant :  Necnon  singulis  Qua- 
dragessimalibus  et  aliis  Anni  diebus  et  teraporibus,  quibus  esus  carnium 
buliri  ouorum  et  aliorum  lacliciniorum  et  jure  prohibilus'^  butiro  ouis 
cáseo  el  tempore  necessilatis,  ac  de  vlriusque  Medici  consilio,  carnibus 
vtendi  uescendi  et  fruendi'^;  Quodquc  Visitando  vnam  uel  duas  eccle- 
sias,  seu  \num  uel  dúo  aut  tria  seu  plura  allaria  ciuitatum  seu  locorum, 
in  quibus  Slationes  pétenles  ^*  moram  trahere  contigerit  que ''  duxcrint 
eligenda,  eisdem  quadragessimalibus  et  aliis  anni  diebus  et^^  temporibus, 
quibus  Slationes  in  Urbe  et  extra  muros  eius^^  celebrantur,  omncs  et 
singulas  indulgenlias  et  peccalorum  Remissiones  quas  visitantes  singulas 
dicte  vrbis  et  exlra  eam  existentes  ecclesias  pro  Slationibus  huiusmodi 
\isilari  sólitas  consequunlur  ^',  consequendi ;  ac  inleresentibus  Duabus 
Missas  per  le  in  ecclesüs  Coram  Rege  seu  Regina  aut  aliis  quibuscunque 
personis  solemniler  celebrandis,  seu  saltira  ^'  illis  qui  benediclioni  per  te 
super**'  populum  post  Missas  huiusmodi  elargiendi  inlerfuerint,  plena- 
riam  indulgenliam  relaxandi  et  consequendi ;  et  prediclis  facullatibus  el 
graliis  concessionibus  el  indultis  erga  familiares  tuos  continuos  commen- 
sales,  eliam  si  de  Regnis  et  dominiis  prediclis  non  fuerint,  vtendi ;  ac 
omnes  et  singulos,  quibus  gralia  el  indulto  huiusmodi  juxta  facultalem 
tibi  concessam  concesseris,  Seu  erga  quos  huiusmodi  vteris  facullatibus 
a  quibuscunque  excommunicalionis  suspensionis^^  et  interdicti,  aliisque 
ecclesiaslicis  senlenliis  censuris  el  penis  a  jure  uel  ab  homine,  quavis 
occasione  uel  causa  latis,  quibus^*  quomodolibet  innodati  erunt,  eliam 
si  forsan  in  illis  infra  Annum  insorduerinl  ^^  aut  pro  re  judicata  ex- 
communicali  fuerint  ^\  ad  effectum  graliarum  per  le  eis  concedendarum 
dumlaxat  absoluendi  et  absolutos  fore  censendi :  necnon  omnia  et  singula 
beneficia  ecclesiaslica  cum  cura  et  sine  cura  que  singuli  predicti,  eliam 
ex  quibusuis  dispensalionibus  aposlolicis  obtinebunt  et  expeclabunl,  ac 
in  quibus  el  ad  que  ius  eis  quomodolibet  competit,  quecunque  quolcun- 


296  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGÜEZ 

que  el  qualiaciinque  fucrinl,  eorumque  fi'ucluum  rediluum  el  prouenluum 
veros  annuos  valores,  ac  huiusmodi  dispensalionum  tenores  simililer  ad 
cíTeclum  huiusmodi  graliarum  el  liUerarum  luarum  desuper  conficienda- 
rum  validilatc  pro  expressis  habendi,  irrilum  quoque  el  inane  si  secus 
sup(!r  liiis  a  quoquam  quauis  auclorilate  scienler  uel  ignoranler  aleraplari 
(onügeril  decernendi,  premissis  ac  quibusuis  lilleris  felicis  Recordalionis 
SixU  pape  quarli,  quibus  inler  alia  caueri  dicilur  expresse  quod  Nuncii 
Sedis  predicle  pro  tempore  depulati,  etiam  cum  poleslale  legati  de  ialere, 
eorum  facullale^*  lam  quoad  beneficia  conferenda,  quaní  dispensaliones 
el  alias  gralias  per  eos  concedendas  vli  non  possinl  el  queuis  clausule  in 
facullalibus  huiusmodi  Nuncii  apposile  ^^  aduersus  diclas  Hileras  vnquam  *' 
nullalenus  suíTragenlur,  ac  similt  noslra,  necnon  quibuscunque  speciali- 
bus  uel  generaübus  reserualionibus  beneficiorum  pro  lempore  faclis,  nec- 
non deffeclibus  predictis  ac  de  vnionibus  conimillendis  ad  parles  el  de 
surrogandis  colliliganlibus  el  de  annali  possessore  quoad  primam  par- 
lem",  necnon  Viennensis  Piclauiensis  Laleranensis  el  generalis  concilio- 
rum  coBslilulionibus  el  ordinalionibus  aposlolicis,  ac  Gancellarie  regulis, 
el  ecclesiarum  Monasleriorum  locorum  ac  ordinum  quorumcunque,  eliara 
Juramento  confirmalione  apostólica  uel  quauis  firmilale  alia  Roboralis  sla- 
tulis  el  consueludinibus,  priuilegiis  quoque  el  indullis  ac  lilleris  aposlo- 
licis per  sedem  prediclam  el  eius  legatos  ordinibus  el  Monasleriis  predi- 
ctis concessis  lalissime  derogandi :  Necnon  graliis  expeclatiuis  quibusuis 
personis,  eliam  familiaribus  conlinuis  commensalibus  nostris,  uel  alus 
concessis  vel  concedendis  vi  concessis  sibi^'  facullalibus  el  aucloritali- 
bus '°  vli  valeas  derogandi,  illasque  suspendendi  quoad  vacatura  benefi- 
cia per  le  vigore  presenlium  conferenda,  ceterisque  nequáquam  obslanti- 
bus  conlrariis  ^'  auclorilate  apostólica  lenore  presenlium  concedimus  fa- 
cullatem.  Volumus  antera  quod  illi,  quibus  beneficia  reseruata  el  alia 
quecunque,  quorum  fructus  reddiltus  el  prouenlus  viginli  quatuor  duca- 
lorum  aun  de  Camera  Secundum  extimationem  -'^  prediclam  excesserint, 
Infra  Sex  Mcnses  Nouam  prouisionem  a  sede  apostólica  impetrare  et  lil- 
teras  desuper  expediré,  ac  omnia  jura  Camera  apostolice  debita  persol- 
ucre  leneanlur,  Alioquin  beneficia  ipsa  eo  ipso  vacent  el  vacare  censean- 
tur.  Nos  enim  ^^  tibi  vi  in  lilleris  quas  super  premissis  graliis  per  le  con- 
cedí et  expediri  contigeril  ^'*  Hileras  facultatum  huiusmodi  inseri  faceré 
ininimc  Icnearis,  Quodque  tua  asserlio  in  ómnibus  el  per  omnia  suíliciat 


relacOes  com  a  curia  romana 


297 


per  inde  ac  si  lillere  facultalum  prediclarum  in  liüeris  per  le  expedien- 
dis  et  concedendis  predictis  de  uerbo  ad  verbum  inserte  forent "  auclo- 
lorilate  et  tenore  predictis  de  specialis  dono  gratie  indulgemus,  Non  ob- 
slanlibus  ómnibus  supradictis. 

Datum  Rome  in  arce  Sancli  Angeli  Anno  Incarnalionis  dominice  Mil- 
lessimo  Quingentessimo  Vigessimo  Séptimo,  Quarto  *''  Idus  Julii,  Ponli- 
ficatus  noslri  Anno  Quarto*. 


1  Inserta  no  documento  n."  4  da  Gav.  7,  Mag.  11  no  Arch.  Nac.  No  Mac.  11  de 
Bullas,  n.°  20  ha  outro  transumpto  com  as  variantes  seguintes : 


Illustrissimum 
nos 
apud 
térras  et 

inmediate  et  medíate 
Nos  nuper 
concedendum 
natos 

quocumque 
Deest 
primara 
aliquorum 
resignatione 
solitis 

susceptam  suscipiendi 
quotcunque  et  qualiacunque  beneficia 
incompatientia 
qualificata  fuerint 
seruato  Constitutionibus 
immineret  • 

Deest 
juris 

mixtim  £t 
Deest 

condemnatus 
uel 

ex  huiusmodi 
in  preceptoriis 
TOMO  II. 


''^^  quecunque 

30  el  de 

^^  prefuerint 

^2  etiam  juris  prohibitorum 

3^  vtendis,  vescendis  et  fruendis 

34  Deest 

'5  quo 

36  jn 

3^  cum 

38  consequerentur 

39  sed  saltera 

40  seu  per 

*^  excommunicationibus,  suspensionibus 

42  si  quibus 

43  insorduerunt 

44  fuerunt 

4^  facultatera 
46  appositis 
4''  nunquam 

48  Deest 

49  tibi 

^0  gratiis 

"  Deest 

^2  secundara  communem  extimationeña 

^3  autem 

^4  contigeret 

^^  fuerint 

^^  Quinto 

38 


Í9H  CORPO  DIPLOMÁTICO  POinUGüKZ 


Breve  do  Papa  Clemente  Til,  dirigido  a  O.  lli^^uel 
da  üilva,  lIiis|io  de  Tizeu. 

153Y— «ralho  1!^. 


Clemens  papa  yii  dilecle  fili  salutem  et  aposlolicam  benedíclionem. 

Nostram  calamilalem  et  notam  libi  pro  eius  acerbilale  ac  ucluslale 
et  deflelam  iam  fuisse  pro  tua  pielale  et  in  nos  beniuolenlia  arbilramur; 
nec  refugissemus  ipsi  noslris  etiam  litteris  noslros  casus  ad  le  perferre, 
si  modo  id  licuisset,  ciim  uere  amantium,  qualem  te  semper  iudicauimus, 
üdem  aífeclus  animorum  esse  consueuerint,  decealque  non  minus  aduer- 
soruno,  quam  secundorum  inter  se  íieri  participes.  Sed  haclenus  uel  ipsis 
nostris  maüs,  uel  isluc  uenientium  rarilale  impedili,  nunc,  cum  ad  uos  re- 
diret  dileclus  filius  Martinus  de  Portugallo,  nequáquam  occasionem  hanc 
ommitlere  uoluimus  per  eum  ad  le  scribendi,  Qu¡  cum  sil  uobis  omnia 
uberrime  explicalurus,  omnium  ipse  leslis  et  particeps,  ne  nunc  quidem 
libi  recensebimus  aerumnas  noslras  uel  priualas  quibus  modice,  uel  pu- 
blicas quibus  máxime  angimur,  ne  ea  retractando  dolor  in  nobis  acerbis- 
simus  recrudescat.  Tantum  fili  le  admonitum  uoluimus  cum  nos  spes  má- 
ximas omnis  nostrae  subleuationis  primum  in  Deo  omnipotente,  post  in 
bonitatc  Caesaris  luique  Serenissimi  Regis,  et  dilecti  filii  noslri  A.  Car- 
dinalis  Vlixbonensis  apud  illum  opera  et  autorilate  reponamus,  nonnul- 
laque  super  bis  eidem  Martino  mandauerimus  \l  tu  quoque,  quacunquc 
in  re  poteris  apud  eundem  Regem  nos  iuuare,  eumque  ad  suscipiendum 
hoc  pium  Sanclae  Ecclesiae  diuinique  honoris  palrocinium  hortari  uelis ; 
Non  enim  maior  eius  gloria  fueril  Apostolicjim  nomen  foris  ad  ignotas 
protulisse  Ierras,  quam  domi  indigne  oppressum  conseruasse.  Quamquam 
in  hac  ipsa  re  tam  iusta  ac  pia  satis  habemus  exploratum  ñeque  le  nos- 
Ira,  ñeque  illum  tua,  aut  cuiusquam  hortalione  indigere ;  Nos  inlcrim 
quicunquc  nos  casus  exceperint  persistemus  in  ea  beniuolenlia,  qua  te 
semper  prosecuti  sumus,  Tuque  ut  idem  erga  nos  sis  tam  cupimus,  quam 
fulurum  confidimus,  Tua  enim  praelerila  oíBcia  ac  sludia  nobis  in  omni 
uarietale  nostrae  forlunae  exhibita  nobis  eundem  lui  animi  lenorcm  atque 


RELAC.OES  COM  A  CURIA  ROMANA  299 

amorem  pollicenlur.  Qiiod  quoniam  nobis  est  futurum  gralissimum  ad  id 
te  horlari  pro  nosiro  niagis  desiderio  uoluimus  quam  quod  lecum  hoc  ne- 
cessarium  pularemus. 

Dalum  Romae  in  arce  Sancti  Angeli,  sub  Annulo  Piscatoris,  die  xii 
Jiilii  MDxxvii,  Ponlificalus  Noslri  Anno  Quarlo.  — Blosms\ 


Bre^e  do  Papa  Clemente  l^II,  dirig;ido  a  el-Rei. 

1599— «Vallio  i;^. 


Clemens  papa  vii  Charissime  in  chrislo  fili  noster  salulem  et  aposlo- 
iicam  benediclionem. 

Cum,  sicut  Maiestas  tua,  quae  mililiae  Jesu  Chrisli  cisterciensis  or- 
dinis  perpetuusadminislralor  per  sedem  Apostolicam  depulata  exislit,  no- 
bis nuper  expon!  fecil  licet  alias  postquam  dilecto  filio  Emanueli  de  No- 
rogna,  clerico  fu^nchalensi  cubiculario  ac  familiari  continuo  commensali 
nostro,  quod  quondam  Joanne  Brauo  olim  Redore  Parrochialis  Ecclesiae 
sancti  christofori  de  Nugera  Lamazensis  diócesis  decedenle,  liceret  eidem 
Emanueli  ad  diclam  Ecclesiam,  quam  ipse  Joannes  tune  in  humanis  agens 
obtinebat,  liberum  habere  regressum  apostólica  auloritate  Indultum,  et 
deinde  dicta  Ecclesia  in  Praeceploria  praefatae  mililiae  eadem  auclorilate 
erecta  fuerat  ita  ut,  eliam  dicto  Joanne  cedenle  \el  decedenle  et  Ecclesia 
prefala  quouismodo  uacante,  et  erectio  Praeceptoriae  huiusmodi  suum  ple- 
narium  sorliretur  eífeclum  cum  dictus  Joannes  uila  functus  fuisset,  et  a 
nonnullis  haesilarelur  an  erectio  Praeceptoriae  huiusmodi  prius  eíTectum 
sorliri  deberet,  Nos  per  alias  noslras  litteras  declarauerimus  quod  regres- 
sus  huiusmodi  prius  locum  haberet,  sic  tamen  quod  dito  eraanuele  dece- 
denle et  dicla  Ecclesia  per  eius  obilum  uacante  eliam  apud  sedem  apos- 
tolicam et  non  alias  Erectio  Praeceptoriae  huiusmodi  suum  sorliretur  eíFe- 
ctum  in  ómnibus  et  per  omnia,  perinde  ac  si  regressus  huiusmodi  locum 
non  habuisset,  prout  in  dictis  litleris  plenius  continelur.  Cum  tamen  con- 
lingere  posset  quod  dictus  Emanuel  ecclesiam  praedictam  resignaret,  sic- 

^  Arch.  Nac,  Mar.  19  de  Bullas,  u."  17. 

88  « 


300  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

que  ereclio  huiusmodi  suum  de  facili  non  posset  sortiri  eíTeclum  in  ipsius 
mililiae  praeiudicium,  Nobis  humiliter  supplicari  fecit  eadem  Maiestas  lúa 
vi  cum  eliam  eidem  Emanueli  regressus  ad  nonnullas  alias  Parrochiales 
Ecclesias  de  consensu  illas  oblinenlium  dicta  auclorilale  concessus  fueril, 
el  illae  eliam  in  Praeceplorias  dictae  mililiae  ereclae  fuerint,  super  his  op- 
porlune  prouidere  de  benignilate  aposlolica  dignaremur.  Nos  igitur,  ne 
propterea  miiilia  ipsa  ereclionum  huiusmodi  eífeclu  carere  possit  proui- 
dere \olentes,  huiusmodi  supplicationibus  inclinali  primo  dicla  ereclione 
Praeceploriae  Ecclesiae  sancli  Chrislofori,  eliam  diclo  Emanuele  cedenle 
eliam  ex  causa  permulalionis  eo  ipso,  nisi  Maieslas  lúa  aliler  uolueril  el 
consenseril,  quo  casu  ereclio  Praeceploriae  sancli  Chrislofori  huiusmodi 
non  sorlialur  eífeclum,  nisi  per  cessum  uel  decessum  illius  in  cuius  fa- 
uorem  eundem  Emanuelem  simpliciter  uel  ex  causa  permulalionis  resi- 
gnare conligeril,  suum  plenarium  sorliri  efleclum.  Necnon  regressum  eidem 
Emanueli  ad  alias  Parrochiales  Ecclesias,  quarum  inuocaliones  el  silua- 
tiones  haberi  uolumus  pro  expressis,  concessum  prius  el  deinde  ereclio- 
nes  de  illis  faclae  per  cessum  uel  decessum  ipsius  Emanuelis  aul  eius  im- 
medialorum  successorum,  si  dictum  Emanuelem  de  luo  consensu  resignare 
conligeril,  in  ómnibus  el  per  omnia  perinde  ac  si  regressum  pro  dicto  Ema- 
nuele locus  non  fuissel,  suum  plenarium  eíFectum  sorliri  cum  ad  id  eliam 
eiusdem  Emanuelis  pro  sua  in  le  obseruantia  expressas  accedat  consen- 
sus,  el  sic  per  quoscunque  Judices,  subíala  eis  quauis  aliler  iudicandi  et 
inlerprelandi  facullale  el  auclorilale,  iudicari  el  diííiniri  deberé,  ac  quic- 
quid  secus  allenlari  conligeril,  irrilum  el  inane  decernimus :  Non  obslan- 
libus  praemissis,  ac  conslilulionibus  el  ordinalionibus  aposlolicis,  caele- 
risque  conlrarüs  quibuscunque. 

Dalum  -Romae  in  Arce  Sancli  Angeli,  sub  Annulo  Piscaloris,  die  xii 
Julii  MDXxvii,  Ponlificalus  Nostri  Anno  Quarto.  —  Euangelista  '. 


•  Arch.  Nac,  Mac.  20  <lc  Bullas,  ii."  i3. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  301 

Breve  do  Papa  Clemeiite  ¥11. 

(1) 


Clemens  papa  vii  dilecli  filü  salutem  el  aposlolicam  benedictionem. 

Dudum  nobis  pro  parle  dilecti  filii  nobilis  viri  Francisci  Colhigno  Co- 
milis  de  Marialua  el  Loule  in  Regno  Portugallie  expósito  quod  licel  ipse 
dilectam  in  christo  filiam  Guiomaram  eliam  Colhigno,  \nicam  eiusdem 
Francisci  Comilis  filiam  el  vniuersalem  heredera,  dileclo  filio  Illuslri  viro 
Ferdinando,  Carissimi  in  chrislo  filii  noslri  Johannis  Porlugallie  el  Algar- 
biorum  Regis  illustris  fralri  germano,  despondere  cura  clare  memorie  Ema- 
nuele  olim  Porlugallie  el  Algarbiorum  rege,  ipsoruin  Johanis  Regis  el  fer- 
dinandi  fralris  genilore,  Iraclasset,  ac  Emanuel  Rex  el  Franciscus  Comes 
prefali  conlraclus  desuper  necessarios  sen  opportunos  ipsius  Emanuelis 
Regis  manii  subscriptos  fecissent,  el  prefaclus  Johannes  Rex  posl  eiusdem 
Emanuelis  Regis  obitum,  malrimonium  huiusmodi  ralum  habuissel,  prout 
habebal ;  quia  lamen  dileclus  filius  nobilis  vir  Johannes  marchio  de  tor- 
res nouas  in  Regno  prediclo,  qui,  eo  quod  prefale  Guiomare  lerlio  con- 
sanguinitatis  gradu  coniunclus  existebal,  eidem  Guiomare  matrimonio  co- 
pulan nullalenus  poterat,  iaclabal  se  malrimonium  cum  ea  Iraxisse  quo- 
rainus  malrimonium  inler  Fernandum  Regis  filium  el  Guiomaram  prefa- 
tos  ad  debitum  perducerelur  effeclum  impediré  nilebalur  el  presumebat, 
Nos  tune  dicli  Francisci  Comilis,  lam  sui  quam  vxoris  sue  el  dicte  eius 
filie  nominibus  tune  supplicanlis,  supplicalionibus  inclinali,  quascumque 
causas  coram  ordinario  loci,  seu  eius  officialibus  aut  vicariis,  desuper 


(i)  Como  nao  encontramos  o  original  d'este  Breve,  e  a  copia  nao  tem  data,  c-nos 
impossivel  marcar  ao  certo  o  anno  em  que  foi  passado.  Vemos  pela  carta  de  D.  Miguel 
da  Silva,  a  pag.  4o9  d'este  volume,  que  já  em  4525  se  fallara  no  casamento  do  Infante; 
mas  pela  opposigao  que  Ihe  fez  o  Márquez  de  Torres  Novas  protrahiu-se  este  negocio  por 
muitos  annos,  e  só  veiu  a  realisar-se  em  4530,  segundo  a  opiniáo  do  A.  da  Hist.  Geneal. 
(Tom.  111,  pag.  406  e  seg.)  Sendo  assim,  o  Breve  deve  ser  pouco  anterior. 

É  possivel  tambem  que  seja  este  o  despacho  do  ynfante,  a  que  se  refere  Braz  Neto 
na  carta  de  44  de  julho  de  4530. 


302  COIIPO  DIPLOMÁTICO  POKTUGUEZ 

forsan  pendentes,  earum  slalus  el  raerila  pro  expressis  habenles,  ad  nos  pc- 
nilus  ct  omnino  qualenus  insfrucle  non  exislerenl  aduocando,  illam  el  il- 
las, ac  ciiiuscuinqiie  pro  ipsius  Francisci  parle  lam  a  quouis  grauamine, 
quam  forsan'  diíliniliua  senlenlia  inlerposile  appellalionis,  si  qua  essel, 
necnon  quam  el  quas  idem  Franciscus  Comes  conlra  prefalum  Johannem 
marchionem,  omnesque  alios  el  singulos  sua  communiler  vel  diuisim  in- 
teresse  púlanles  super  jaclalionibus  el  impedimenlis  huiusmodi,  \na  cura 
lolo  negolio  principali  rebusque  alus  in  aclis  cause  el  causarum  huius- 
modi lalius  deducendis  el  illorum  occasione  habebal  el  mouebal,  habere- 
que  el  mouere  volebal  el  inlendebal,  venerabilibus  fralribus  Egilaniensi  el 
Bibliensi  seu  Blionensi  Episcopis  eorum  propriis  nominibus  non  expressis, 
el  eorum  cuilibel  in  solidum  commisimus  audiendas,  cognoscendas,  deci- 
dendas,  fineque  debilo  terminandas,  cum  ómnibus  el  singulis  earum  inciden- 
libus,  dependenlibus,  emergenlibus,  annexis  el  connexis,  ac  poleslale  pre- 
falum Johannem  marchionem  el  alios  supradiclos  cilandi,  ac  ordinario  of- 
ficialibus,  Vicariis,  Judicibus  el  personis,  el  alus  quibus  inhibendum  fo- 
re,  inhibendi,  eliam  sub  censuris  el  penis,  casque  aggrauandi  reaggrauandi 
ac  inlerdicendi,  el  auxilium  brachii  secularis  inuocandi,  elsi  quod  ma- 
Irimonium  per  dictara  Guiomarara  cura  diclo  Johanne  raarchione  contra- 
ctum  exislerel,  illud  impediraenlo  consanguinilalis  huiusraodi  obstante  nul- 
lura  el  inualidum,  nulliusque  momenli  exisleret,  proul  juris  (?)  forel  de- 
clarandi,  el  quascunque  lilteras  dispensationis  pro  ipsius  Johanis  marchio- 
nis  parte  desuper,  sine  consensu  seu  supplicatione  dicli  francisci,  ac  eorum 
omnium,  quorum  inlereral,  ab  apostólica  sede  seu  sacra  penilentiaria  for- 
san impétralas  seu  extortas  surreptilias  et  obreplitias,  ac  nullas  el  inualidas 
nulliusque  roboris  ycI  moraenti  fuisse  el  esse  proul  iuslura  forel  decernendi 
el  declarandi,  el  nonnulla  alia  tune  expressa  faciendi,  proul  in  noslris  in 
forraa  breuis  desuper  confeclis  litteris  plenius  continelur.  Cum  antera,  sicut 
idem  Franciscus  Comes  nobis  nuper  exponi  fecil,  licel  littere  predicle  diclis 
Episcopis,  vel  eorum  alleri  pro  ipsius  Francisci  Corailis  parte  preséntate 
fuerinl,  ipsique,  vel  alter  eorura,  ad  inhibitionem  aduersus  alios  judices, 
a  quibus  causa  eral  aduocata,  et  forsan  aliquos  alios  aclus  in  causa  hu- 
iusraodi procederé  inceperinl,  Quia  tamen  nonnuUe  cause  suspilionis  ad- 
uersus judices  pro  parle  dicli  Francisci  impétralos  prediclos  licel  forsan 
friuole  fuerinl  ex  aduerso  allégale,  et  idem  Johannes  marchio  judices  eos- 
dem  sibi  niinus  suspeclos  fore,  et  conlra  eos  juslilie  complementum  con- 


RELACOES  COM  a  curia  romana  303 

sequi  posse  non  sperare  asserebal,  ne  propterea  causa  huiusmodi  inde- 
cisa remaneret,  el  dictus  Joannes  marchio,  qui  níialiliose  el  non  alio  quam 
hereditatem  et  bona  dicU  Francisci  ¡nhiahs  malrimonium  ipsum,  quod 
nunquam  ve)  si  est  nulliler  conlracliim  exlitit,  per  diclam  Guiomaram 
cum  eo  conlractum  fuisse  asseril,  de  huiusmodi  nullo  malrimonio  se  iacla- 
re,  et  diu  prefaclum  Franciscum  Gomilem  iam  seneni  et  infirmum  ac  in 
decrepita  fere  elate  constilulum  in  sue  seneclulis  tedium  vexare  et  moles- 
tare habeat,  idem  Franciscus  Comes,  Iam  suo  quam  vxoris  et  Guiomare 
filie  suarum  predictarum  nominibus,  nobis  supplicari  fecit  \'t  in  premissis 
opporlune  prouidere  de  benignilalc  apostólica  dignaremur :  Nos  igilur, 
huiusmodi  supplicationibus  inclinali,  cause  et  causarum  huiusmodi  status 
et  merila  ac  processus  et  circa  premissa  gestorum  quorumcumque  teno- 
res et  conlinenlias  pro  sufficienler  expressis  et  hic  de  verbo  ad  \erbum 
inserlis  habenles,  quascunque  causam  et  causas  super  premissis  pro  parte 
dicti  Joannis  marchionis  quibusuis  judicibus  et  personis  eidem  Francisco 
comiti  suspeclis,  cum  quibus  litigare  sibi  suspectum  esse  ipse  Franciscus 
Comes  juraueril,  per  nos  et  sedem  apostolicam  etiam  cum  cause  et  cau- 
sarum pro  parle  ipsius  Francisci  Comitis  committi  obtentarum  aduocalio- 
ne,  ac  quibusuis  etiam  fortissimis  clausulis  et  decrelis  in  eis  appositis  com- 
missas,  etiam  earum  tenores  conlinenlias  et  status  pro  expressis  habendo, 
ad  nos  penitus  et  omnino  harum  serie  aduocantes,  discrelioni  veslre,  Cum, 
sicut  dictus  Franciscus  Comes  asserit,  copia  Episcoporum,  qui  vtriquc 
vel  alteri  parliura  predictarum  suspecti  non  sint,  in  Regno  predicto  coni- 
mode  haberi  non  possit,  commitlimus  et  mandamus  qualenus  sub  excom- 
municationis  late  sententie  pena  per  vos,  si  hoc  faceré  recusaueritis  aut 
vos  excusaueritis,  eo  ipso  incurrenda,  vos  adiunclis  vobiscum  Egilanien- 
si  et  Bibliensi  Episcopis  predictis  causam  et  causas  easdem,  necnon  cu- 
iuscunque  appellationis  et  quarumcunque  appellationum  Iam  a  quouis  gra- 
uamine  quam  a  diffiniliua  senlentia  super  premissis  vel  aliquo  promisso- 
rum,  tam  pro  Francisci  Comitis  et  vxoris  seu  filie  prediclorum  parte, 
quam  exaduerso  forsan  interposile  vel  inlerpositarum,  jaclalionumque  mo- 
leslalionura  et  perturbationum  toliusque  negolii  principalis,  ac  atlempla- 
torum  et  innoualorum  quorumcumque,  cum  ómnibus  et  singulis  suis  in- 
Qidenlibus,  dependentibus,  emergenlibus,  annexis  et  connexis,  aucloritale 
nostra  de  nouo  audiatis  seu  in  slalu  in  quo  forsan  exislunt  assumalis, 
etsi  Francisco  Comiti,  aut  filie  vel  vxori  predictis  videbitur  etiam  suma- 


304  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGÜEZ 

rie  simpliciler  el  de  plano  sine  slrepilu  el  figura  judicii  facli  vcrilale  ins- 
pccla  cognoscatis,  decidalis,  fineque  debito  terminelis.  Nos  enim  \obis  et 
cuilibel  vestrum  prefatum  Johannem  marchionem,  oranesque  aüos  et  sin- 
gulos  sua  communiter  vel  diuisim  interesse  púlanles,  citandi  eliam  per 
ediclum  publicum  conslilo  vobis  summarie  de  non  tuto  accessu,  cisque 
et  quibusuis  alus  judicibus  et  personis,  eliam  pro  parle  aduersa  impetra- 
lis,  cuiuscumque  gradus,  ordinis,  condilionis  exlilerinl,  et  quacumque 
fungantur  auclorilale,  inhibendi,  eliam  sub  ecclesiaslicis  ac  pecuniariis  ar- 
bitrio veslro  ¡Q)ponendis  et  applicandis,  aliisque  grauissimis  penis  inhi- 
bendi, ipsasque  censuras  el  penas  aggrauandi  el  reaggrauandi,  ac  inler- 
diclum  ecclesiaslicum  apponendi,  elsi  quod  contra  Franciscum  et  vxorem 
aul  filiam  prefalas  personale  vel  vocale  ad  dicli  Johannis  marchionis  ins- 
lanliam  inlerdiclum  apposilum  exislat,  illud  proul  justum  fueril  relaxan- 
di,  ipsosque  Franciscum  et  vxorem  et  filiam  simpliciler  vel  ad  caulelam, 
eliam  proul  justum  fueril,  ac  a  quibusuis  senlenliis  censuris  el  penis  ec- 
clesiaslicis, eliam  si  in  illis  per  annum  el  vltra  insorduerint,  absoluendi, 
ac  eandem  Guiomaram  in  domo  eiusdem  Francisci  Corailis  sui  genitoris 
manulenendam  et  eam  ex  inde  exlrahi  et  alibi  quam  in  dicta  domo  sui 
genitoris  ipso  inuilo  deponi,  cum,  sicul  idem  Franciscus  eliam  asserit, 
si  illa  a  domo  genitoris  huiusmodi  exiret  et  alibi  deponerelur  inneatur 
eundem  Johannem  marchionem,  qui  máxima  inibi  polenlia  poUet,  ean- 
dem Guiomaram  a  quocumque  alio  loco  eliam  religioso  quam  a  domo  sui 
patris,  in  qua  eliam  propler  polenliam  sui  palris  lulam  et  securam  se  cre- 
dit  existere,  non  absque  maximis  hominum  clade  et  scandalo  per  vim  et 
violenliam  raplurum  nullalenus  permitlendi,  et  quoscumque  atlemptalo- 
res  et  contradictores  censuris  ecclesiaslicis  et  alus  grauissimis  penis  inno- 
dandi,  ac  malriraonium  cum  eodem  Johanne  marchione  conlractum  si  quod 
sil  impedimento  cum  sanguinilatis  huiusmodi  obstante  nuUum  et  inuali- 
dum  nulliusque  roboris  vel  momenti  fuisse  el  esse  proul  de  jure  decer- 
nendi  el  declarandi ;  Et  quascumque  Hileras  dispensalionis  pro  ipsius  Jo- 
haunrs  marchionis  parte  desuper,  sine  consensu  seu  supplicalione  ipsius 
oratoris  el  eorura  omnium  quorum  inlererat,  a  sede  seu  penitenliaria  pre- 
falis  forsan  impétralas  seu  extorlas,  surreptitias  el  obreptilias,  ac  nul- 
las  el  inualidas  nulliusque  roboris  vel  momenti  fuisse  et  esse  proul  jus- 
tum fueril  eliam  declarandi,  Celeraque  in  premissis  el  circa  ea  necessa- 
ria  seu  quomodolibet  opportuna  prout  juris  ordo  postulat  el  requiril  fa- 


RELACOES  COM  a  curia  romana  305 

ciendi  el  exequendi,  ac  vnum  ex  vobis  seu  ipsis  Episcopis,  qui  solus  in 
premissis  ómnibus  el  singiilis  procederé  habeat,  dummodo  omnes  quatuor 
simul  aut  supersliles  veslrum,  si  aliquis  ex  Yobis  inlerim  ab  humahis  de- 
cesserit,  diffiniliuam  senlenliam  desuper  ferendam  proferatis  inter  vos  de- 
putandi,  plenam  el  liberam  facultatem  el  auclorilatem  concediinus :  Non 
obstantibus  premissis  ac  felicis  recordalionis  Bonifacii  pape  viii  predeces- 
soris  noslri  de  vna  el  de  duabus  dielis  in  concilio  general!  edita,  dum- 
modo vHra  Qualuor  dietas  a  fine  sue  diócesis  aliquis  auctoritale  presen- 
tium  non  Irahalur,  el  alus  conslilulionibus  el  ordinationibus  aposlolicis, 
necnon  legibus  Regalibus  el  slalutis  municipalibus,  priuilegiis  quoque  in- 
dullis  el  lilteris  aposlolicis,  tam  dicto  Johanni  marchioni  quam  eliam  super 
judicibus  exlra  Regnum  prediclum  non  eligendis,  ac  alias  per  sedem  pre- 
diclam  concessis  confirmalis  el  eliam  itteralis  vicibus  innoualis,  necnon 
quibusuis  alus  cause  el  causarum  buiusmodi  commissionibus  super  pre- 
missis pro  dicli  Joannis  marchionis  parle  a  sede  predicla  forsan  impelra- 
tis,  quarum  tenores  pro  hic  sufficienter  expressis  el  de  verbo  ad  verbum 
insertis  haberi  volumus,  etiam  si  in  eis  cauealur  quod  quecumque  alie  cau- 
sarum commissiones  contra  illas  resignande  aliter  quam  manu  nostra  el 
pro  Johannis  marchionis  predicli  parle  impetralis  commissionibus  in  illis 
proinsertis  nuUius  essent  roboris  vel  momenli,  quibus  ómnibus  eliam  si 
ad  eorum  suíEcientem  derogationem  de  illis  eorumque  totis  tenoribus  spe- 
cialis  specifica  expressa  el  indiuidua,  ac  de  verbo  ad  verbum,  non  aulem 
per  clausulas  generales  idem  importantes  menlio,  seu  queuis  alia  expres- 
sio  habenda  forel,  tenores  buiusmodi  pro  suíficienler  expressis  ac  de  ver- 
bo ad  verbum  insertis  habentes,  hac  vice  duntaxat  harum  serie  speciali- 
ter  el  expresse  derogamus,  Celerisque  contrariis  quibuscumque.  Aut  si 
dicto  Joanne  marchione,  vel  quibusuis  alus  comuniter  vel  diuisim  a  pre- 
fala  sil  sede  indullum  quod  interdici  suspendí  vel  excommunicari  non 
possint,  per  litteras  apostólicas  non  facientes  plenam  el  expressam  ac  de 
verbo  ad  verbum  de  indulto  buiusmodi  mentionem. 
Dalum  ....  *. 


*  Akch.  Nac,  Mac.  12  de  Bullas  n.°  16. — Le-se  no  sobrescripto:  Dilectis  filüs 
Francisco  de  Gata  Archidiácono  et  Francisco  Gomes  Canónico  ecclesie  Ciuitatensis, — 
Copia. 

TOMO  II.  39 


306  COUPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 


Breve  do  Papa  Clemente  ^11,  dirigido  a  el-Rei. 


1530 — Harco  !85. 


Clemens  Episcopus  etc.  Garissimo  in  Christo  filio  nosiro  Joanni  Por- 
tugallie  el  Algarbiorum  Regi  illuslri.  —  Carissirai  in  Christo  fili  nosler, 
salutem  et  Apostolicatn  Benedictionem. 

Post  captara  ab  immanissimis  fidei  noslre  hostibus  Rhoduin,  quod 
nuuquam  sine  summo  animi  dolore  commemorare  possumus,  antiquissi- 
mum  et  nobilissimum  Sancli  Johannis  Hierosolymitani  ordinem  adeo  illinc 
misere  expulsum  ita  excepimus  et  complexi  sumus  ut  et  coramunis  nostra 
in  omnes  Christifideles  paterna  charitas,  etprivala  in  eos  benivolenlia  pos- 
tulare in  primis  videbatur.  Atque  ut  ammissa  illa  totius  ordinis  veluti  coni- 
munis  patria,  illoque  propugnáculo  fortissimo,  in  quo  non  se  ipsos  modo, 
sed  universam  pene  christianilatem  ab  hostibus  eisdem  tutissimam  redde- 
bat,  aliquem  illis  locum  procuraremus,  quo  suo  ipsorum  more  convenire 
possent,  ibidemque  consistere,  indeque  térra  aut  mari,  sicuti  semper  fe- 
cerunt,  adversus  eosdem  hostes  se  exercere,  cumque  nil  in  praesenlia  ha- 
beremus  quod  magis  opportunum  videretur,  civitatem  noslram  Viterbii 
illis  commodavinius.  Secuta  deinde  alme  Urbis  expugnatione,  eiusque 
atque  omnium  fere  propinquorum  locorum  direplione  vasta tioneque,  com- 
raodius  sibi  futurum  sunt  arbilrali  se  Nicaeam  conferre,  ut,  appro- 
bantibus  nobis,  se  conlulerunt  ibi  quandiu  fuerunt.  Nos  elsi  magnis  an- 
gustiis  et  rerum  diíücuUatibus  oppressi,  non  tamen  unquam  deslitimus 
quin  operara  omnem  et  opera  cura  nostrara  prestaremus,  tura  Christia- 
norum  Principura  procurareraus,  quam  vel  commodo  illis,  vel  honori  fu- 
turam  arbitraremur.  Ac  cura  illa  praeterea  ex  Orientis  parlibus  spes  il- 
luxisset  Rhodura  ipsara  aliquando  recuperandi,  esselque  ab  ipsius  ordinis 
prudentissirais  viris  mullis  rationibus  nobis  confirraata;  cumque  quanti 
res  moraenti  esset  videremus,  quantique  non  illorum  tantura,  sed  oraniura 
christianorura  interesset,  nec  talem  occasionera  praetermittendam  esse  exis- 
tiraaviraus,  oranemque  diligentianí  adhibuimus  ut  Chrislianis  principibus 
re  communicala,  auxilioque  cura  nosiro  ab  iis  impétralo  sanlissima  su*- 


RELACOES  COM  a  curia  romana  307 

ciperelur  expiditio,  atque  ad  oplalum  finem  perduceretur  Quo  per  dile- 
ctum  filium  Antonium  Rosium  fado,  hominem  ex  eodem  ordine  suni- 
mae  cum  sedulitatis  lum  prudenlie,  summiqíie  ¡n  ipsum  ordinem  amoris, 
reque  ab  eodem  ipso  in  oplimum  slatum  redacta,  siciiti  tibi  is  poluit  de- 
clarare cum  eadem  de  re  ad  te  aliosqiie  principes  non  semel  est  missus. 
Jam  ordo  ipse  Melitam  erat  profeclus  iit  res  inde  occullius  fieri  posset, 
iamque  classis  inslructa  et  omnia  parata  erant,  nihilque  ad  soivendum, 
remque  aggrediendam  expectabalur,  praeter  Antonium  ipsum  reí  pera- 
gendae  modum  aliaturum,  quando  incerti  primum  ex  Venetiis  et  Genua, 
tum  deinde  ex  nonnullis  qui  ad  nos  de  illis  locis  confugerunt,  veri  al- 
lati  sunl  nuntii,  rem  omnem  hostibus  proditam  et  detectam  esse ;  quod 
quanto  nos  dolore  percusseril,  facile  lúa  Serenitas  potest  considerare.  Hoc 
nuncio  Melitam  allato,  dilectus  filius  Pliilippus  Villiers  la  leadam  ^  Or- 
dinis  ipsius  magister  et  qui  cum  eo  parati  expecfabant,  cum  suae  anti- 
quae  sedis  hoc  tempore  recuperandae  omnem  sibi  spem  ereptam,  frus- 
traque  tantum  laboris  susceptum,  tantumque  impensae  factum  esse  intel- 
ligerent,  iam  defessi  huc  illuc  per  aliorum  loca  divagari,  idque  ñeque  ex 
ipsius  ordinis,  nec  adeo  e  christianorum  aut  re  aut  dignitate  esse  arbi- 
trantes, Habito  Ínter  se  de  rebus  suis  conventu,  Syracusis  oratores  mise- 
runt,  qui  nomine  totius  ordinis  carissimo  in  Christo  filio  nostro  Carolo 
Romanorum  Imperatori  semper  augusto  tuae  Serenitatis  sororio,  quem  ve- 
nire  in  Italiam  audiebant,  Melitam  et  Gaudisium  denuo,  atque  etiam  si- 
mul  Tripolim  peterent,  etenim  loca  illa  ut  apposita  sunt  et  mari  et  ter- 
rae,  sic  sibi  rebusque  suis  agendis  exercendisque  adversus  Christi  hostes 
\'iribus,  máxime  accommodata  ixistimarunt.  Cumque  ul  mediis  nobis  in 
80  uterentur  miserint,  nos  eorum  consilium  ex  Oratoribus  ipsis,  necnon 
dilecto  filio  Rernardo  Sal\iato  Urbis  Priore  nostro  secundum  carnem  ne- 
pote,  generalique  ordinis  procuratore  percipientes,  et  valde  approbavi- 
mus,  atque  pro  etiam  nos  et  operam  noslram  interposuimus,  ipsique  quod 
petebant  impetrarunt.  In  quo  sane  ut  ómnibus  in  rebus  ad  Dei  honorem 
spectantibus,  idem  Senenissimus  Caesar  sororius  tuus  solitam  suam  pie- 
tatem,  et  praestantissimam  animi  \irtulem  plañe  ostendit.  Et  quoniam  ordo 
ipse  nihil  a  se  recte  factum  esse  existimat,  nisi  Principibus  ómnibus  chris- 
tianis  in  eo  satisfaciat,  haec  nos  ad  Serenilalem  tuam  scripsimus,  ut  et 

1  Léase :  de  l'Ile-Adam. 

39* 


308  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGÜEZ 

rem  omnem  intelligat,  et  eara  ut  pro  rerum  ac  temporura  occasione  non 
nisi  recle  factam,  sicuti  et  nos  fecimus  comprobare  velit;  quod  te  factu- 
rum  confldimus,  alque  ordini  eidem  quantum  res  ipsa  postulal  gralula- 
turum.  Nam  ad  eum  praeterea  et  res  eius  omnes  tua  prolectione  ample- 
otendum,  et  quoties  opus  fuerit  iuvandum,  ex  eo  quod  tua  serenilas  ¡n 
ipsa  expedilione  et  in  caeteris  rebus  adhuc  fecit  facile  perspicere  possu- 
mus  nulla  te  egere  nec  nostra,  nec  ullius  alterius  liortatione.  Verum  illud 
in  Domino  speramus,  ipsum  eundem  ordinem  si  paulum  respirare  illi,  ac 
sistere  pedem  licuerit,  prislinum  decus  et  robur  adversus  hostes  ipsos  re- 
cuperaturum,  ostensurumque  ómnibus  non  tanlum  in  amissi  loci  oppor- 
tunitate  posilum  spei  antea  fuisse,  quantum  in  sua  ipsorum  fide  atque 
virtute,  Deo  coadiuvante,  est  ponendum.  Quae  nostra  ne  inanis  sit  spes, 
et  ut  Deus  ipse  faciat  precamur,  et  nos  quantum  cum  eo  unquam  pote- 
rimus  semper  facturi  sumus.  Quod  vero  ad  Serenitatem  tuam  pertinet, 
etsi  pro  ipso  ordine  nihil  factura  est  quod  ab  ea  sit  nobis  non  expecla- 
tum,  id  tamen  quam  gratissimum  nobis  est  futurum,  nec  minus  nos  quara 
ordinem  Ubi  in  eo  perpetuo  devincturum. 

Datum  Bononiae,  sub  annulo  Piscatoris,  die  xxv  Martii  mdxxx,  anno 
séptimo  '. 

Breve  do  Papa  Clemente  ¥11. 

1530— Halo  13. 

Clemens  papa  vii  Ad  perpetuara  rei  memoriam. 

Juxta  Pastoralis  oííicii  debitum  circa  ecciesiarum  quarumlibet,  prae- 
sertim  curam  animarum  habentium,  et  personarum  earundem  stalum, 
dante  Domino  salubriter  dirigendarum  sollicite  vigilantes,  in  iis  per  quae 
earum  incommoda  propulsentur,  ac  indemnitatibus  prouidealur,  libenter 
eis  assistimus,  et  quae  in  earum  uergunt  preiudicium,  ne  conleuliones  et 
scandala  oriantur,  ad  statum  debitum  sublato  desuper  omni  ambiguitatis 
velamine  quantum  possumus  reducere  studemus.  Dudum  siquidem  felicis 
recordalionis  Leo  papa  x,  praedecessor  noster,  Molu  proprio  tot  Praece- 
plorias  militiae  Jesu  Christi  Cistertiensis  ordinis,  quot  infra  lerminum 

*  Copia  autentica  extrahida  do  Archivo  do  Vaticano. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  309 

vnius  anni  ex  tune  computandum  et  sub  inuocalionibus,  quae  clarae  me- 
moriae  Emanueli  Porlugalliae  et  Algarbiorum  Regi,  tune  in  humanis  agen- 
li,  el  diclae  militiae  Regni  Porlugalliae  adminislralori  depulalo  \ideren- 
tur,  in  Monasterio  conuenlu  seu  mililia  huiusmodi  per  quasdam  erexil, 
ac  tol  bona  el  jura  Monasteriorum  et  Prioratuum  vsque  ad  summam  vi- 
ginti  milium  ducatorum,  si  tol  iuxta  forníiam  tune  expressam  dismerabrari 
poterat,  Alioquin  pro  eo  quod  in  dicta  summa  deessel  ex  Parrochiaiibus  ec- 
clesiis  per  eundem  Emanuelem  Regem  exprimendis  el  declarandis  vsque 
ad  dictaníi  summam  Vigintimilium  ducatorum,  Saltem  pro  singulis  earun- 
dem  eeclesiarum  Recloribus  portione  sexaginta  ducatorum  reseruata,  dis- 
membrauit  et  separauit.  Illaque  sic  separata  el  dismémbrala  Praecepto- 
rüs  sic  ereetis  proporlionabililer  pro  earum  dolibus  perpetuo  applicauit, 
ac  dicto  Emanueli  ac  pro  lempore  existenti  Porlugalliae  el  Algarbiorum 
Regi  nominandi  ad  singulas  Praeceptorias  singulos  milites,  qui  contra  in- 
fideles militassenl,  et  post  nominationem  huiusmodi  per  tempus  per  ipsos 
Reges  staluendura  contra  ipsos  infideles  militarent,  vel  alias  benemerili 
forenl,  facullalem  concessil.  Necnon  erectiones,  dismembraliones,  separa- 
tiones,  appropriationes  ac  nominationes  per  Emanuelem  el  alios  Reges  prae- 
fatos  faciendas  ex  tune  proul  ex  ea  die,  non  fíete  sed  veré,  suum  verum 
el  plenarium  in  ómnibus  el  tolalem  efl'eclum  sortitas  esse,  diclasque  no- 
minationes vim  ualidarum  perfectarum  et  eíTicacium  apostólica rum  pro- 
uisionum  habere.  lia  quod  liceret  ipsis  militibus  ad  Praeceptorias  erectas 
per  Regem  praefatum  nomínalas  cedentibus  vel  decedenlibus  tune  Monas- 
teriorum Abbatibus  el  Prioratuum  Prioribus  ac  Parrochialium  eeclesiarum, 
a  quibus  bona  dismembrauerat  el  Praeceptoriis  huiusmodi  applieauerat 
Recloribus  siue  Monasteria  Prioratus  et  ecclesias  huiusmodi  quomodolibet 
dimittentibus,  el  illis  quibusuis  modis,  eliam  apud  sedem  aposlolicam  va- 
cantibus,  bonorum  dismembratorum  et  applieatorum  et  pro  dolibus  assi- 
gnatorum  huiusmodi  corporalem  el  aelualem  possessionem  per  se  \el  alium 
seu  alios  propria  auctoritale  libere  apprehendere,  illorumque  frucUis  red- 
dilus  et  prouentus  in  suos  el  Praeceptoriarum  huiusmodi  vsus  el  vlilita- 
lem  conuertere,  Ordinariorum  locorum  licenlia  super  hoc  uiinime  requisita, 
Mandans  Episeopo  Septiensis  el  Ministro  Domus  Sanetae  Trinifatis  Vlix- 
bonensis  pro  tempore  existenlibus,  eorum  conscienlias  super  hoc  eneran- 
do, qualenus  ipsi  vel  eorum  alter  per  se  vel  alium  fructus,  reddilus,  pro- 
uentus, census,  obuentiones,  el  emolumenta  a  dictis  Monasleriis  Priorati- 


310  CORPO  DIPLOMÁTICO  POHTÜGUEZ 

bus  el  Parrochialibus  ecclesüs  separata  et  dismémbrala  pro  dolibus  huius- 
modi,  saluis  modificalionibus  et  reserualionibus  praefatis,  designarent, 
nominarent  et  assignarenl.  Ipsumque  Regem  el  milites  nomínalos  ad  Prae- 
ceplorias  in  earum  et  ad  bonorum  praedictorum  possessionem  indiicerent 
et  inducios  defenderent,  amolis  ab  cis  cedenlibus  ve!  decedenlibus  tune 
Abbatibus  Prioribus  seu  Monasleriis  Prioralibus  seu  Parrochialibus  eccle- 
süs huiusmodi  alias  quouismodo,  eliam  apud  sedem  praediclam  vacanli- 
bus,  quibuslibet  illicilis  detenloribus,  facerenlque  de  ipsorum  bonorum  pro 
dolibus  applicalorum  fruclibus,  reddilibus,  prouentibus,  juribus  el  obuen- 
tionibus  vniuersis  integre  responden.  El  doñee  idem  praedecessor,  cupiens 
ne  quisquam  in  asseculione  bonorum  separalorum  pro  dolé  Praeceptoria- 
rum  huiusmodi  jure  conqueri  possit,  per  alias  lunc  in  dicto  Regno  Nun- 
cio suo  commisit  el  mandauil  vt  diligenter  adhibila  cura  in  tali  discus- 
sione  per  eum  habita  vi  Monasleria  Prioralus  el  Parrochiales  ecclesiae  \1- 
Ira  debitum  in  assignalione  bonorum  pro  dolé  personarum  separalarum 
huiusmodi  non  grauarenlur  seu  onerarenlur :  ac  poslmodum  pro  parte 
eiusdera  Emanuelis  Regis  dicto  praedecessori  expósito  Quod  licel  praefa- 
tus  Nuncius  posleriorum  lillerarum  huiusmodi  uigore  in  iis,  quae  ralione 
bonorum  in  diclis  Monasleriis  dismembralorum  ex  Praeceploriis  pro  illa- 
rum  dote  assignatorum  Monasleria  ipsa  non  grauarenlur,  Tamen  dismem- 
bralio  et  separalio  bonorum  a  diclis  Monasleriis  non  fuerat  recepta  a  per- 
sonis  dicti  Regis  grato  animo  diminulis  fruclibus  eorundem  Monaslerio- 
rum  illorum  Abbatis  dignitalem  suam  Abbatialem  talem  vt  decebat  lene- 
re,  ac  onera  incumbenlia  ex  reliquis  fruclibus  commode  perferre  el  jura 
Camerae  Apostolicae  ex  illorum  \acatione  debita  commode  persoluere  non 
poterant;  Et  quod  si  separalio  frucluum,  reddiluum  et  prouentuum,  cen- 
suura,  jurium  et  emoluraenlorum  praedictorum  a  diclis  Monasleriis  pro 
illorum  dote  applicalio  cassarenlur  et  annullarenlur,  el  eadem  quantilas 
frucluum,  reddituum,  censuum,  prouentuum,  jurium  et  emolumentorum 
aliarum  Parrochialium  ecclesiarum  in  Regno  et  Dominio  eiusdem  Ema- 
nuelis Regis  consislentium,  et  ad  collationem  presenlalionem  seu  quamuis 
aliam  dispositionem  Archiepiscoporum,  Episcoporum,  Abbatum  el  aliarum 
personarum  saecularium  et  quorumuis  ordinum  regularium  spectantia  ab 
illis,  reseruata  lamen  illorum  Recloribus  simili  Porlione  sexaginta  duca- 
lorum,  separarelur  et  dismembrarelur,  Et  diclis  Praeceploriis,  quibus  fru- 
clus  redditus  et  prouentus,  ac  census  jura  el  emolumenta  diclorum  Mo- 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  311 

nasleriorum  applicata  eranl,  eorum  loco  pro  earum  dolé  applicarentur, 
ex  eo  Monasleriorum  indeninitali  illorumque  Monachorum  el  personarum 
necessilalibus,  ac  eorum  quieli  plurimum  consulerelur,  Diclus  praedeces- 
sor  per  alias  fructuum,  reddiluum,  prouenluum,  censuum,  juriumelemo- 
lumenloriim  Monasleriorum  huiusmodi  separalionem  el  dismembralionem, 
ac  illorum  Praeceploriis  pro  illarum  dolé  applicalionem  el  per  Nuncium 
illorum  designaliones  el  assignationes  facías,  huiusmodi  dunlaxat  reuoca- 
uil,  cassauil  el  annullauit,  ac  omnino  viribus  euacuauil,  casque  nuUius 
roboris  vel  momenli  fore  decreuil ;  ac  tol  alia  fruclus,  reddilus,  prouen- 
tus,  census,  jura  el  emolumenla  aliarum  Parrochialium  ecclesiarum  in 
Regno  el  Dominio  huiusmodi  consislenlium,  el  per  Episcopum  seu  Minis- 
trum  huiusmodi  infra  lerminum  vnius  anni  a  Dal.  priorum  lillerarum  com- 
pulandi  exprimendarum,  vsque  ad  summam  ad  quam  ascendebanl  fru- 
clus, reddilus,  Prouenlus,  census,  jura  el  obueuliones,  quae  a  diclis  Mo- 
nasleriis  eranl  sepárala  el  diclis  Praeceploriis  pro  illarum  dolé  applicala, 
el  quorum  separalionem  el  applicalionem  lunc  cassaueral  el  ab  eisdem 
Parrochialibus  ecclesiis  dismembraueral  el  separaueral,  Reseruala  lamen 
illarum  Recloribus  simili  Porlione  sexaginta  ducalorum  huiusmodi,  ac  fru- 
clus, reddilus  el  prouenlus,  census,  jura  el  emolumenla  a  diclis  parro- 
chialibus ecclesiis  sic  dismémbrala  eisdem  Praeceploriis  pro  earum  dolé 
applicauit  el  appropriauil,  lia  quod  licerel  ipsis  mililibus  ad  Praeceplo- 
rias  sic  ereclas  per  Emanueiem  el  alios  Reges  praefalos  nominalis,  ceden- 
libus  vel  decedenlibus  lam  diclarum  specificatarum  Parrochialium  eccle- 
siarum, seu  Ecclesias  ipsas  quomodolibel  dimillenlibus,  el  illis  quouis- 
modo  vacanlibus,  bonorum  lunc  dismembratorum  applicatorum  el  pro  do- 
libus  assignatorum  huiusmodi  corporalem  possessionem,  per  se  vel  alium 
seu  alios,  propria  auclorilale  libere  appraehendere,  illorumque  fruclus, 
reddilus  el  prouenlus  in  suos  ac  Praeceploriarum  huiusmodi  vsus  el  uli- 
litalem  conuertere,  Ordinariorum  locorum  el  quorumuis  aliorum  licenlia 
minime  requisila,  Episcopo  el  Ministro  praefalis  executoribus  desuper  de- 
pulalis.  El  demum  pro  parle  eiusdem  Emanuelis  Regis  praefalo  praedeces- 
sori  eliam  exposilo  quod  fruclus,  reddilus  el  prouenlus  Parrochialium  ec- 
clesiarum expressarum  huiusmodi  non  eranl  aequales,  el  aliquarum  ex  eis 
adeo  tenues  quod,  si  ex  fruclibus  cuiuslibel  parrochialis  ecclesiae  Porlio 
sexaginla  ducalorum  pro  Redore  reseruari  deberel,  Praeceploriae  ereclae 
praediclae  ex  ipsarum  Parrochialium  Ecclesiarum  fruclibus  non  haberent 


312  COHPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

summam  ad  quam  ascendebant  fruclus,  census,  jura  el  emolumenla  quae  a 
diclis  Monasleriis  fuerunt  separata  et  eisdem  Praeceplorüs  pro  illarum 
dolé  applicala  el  poslmodum  cassata;  Verum  si  ex  fruclibus  reddilibus  et 
prouenlibus  quarlae  parlis  omnium  et  singularum  ecclesiarum  expressa- 
rum  huiusmodi  vna  Trigintaquinque  et  alia  Quadraginla,  ac  vna  ex  re- 
liquis  Tribus,  et  alia  Quinquaginta  ducalorum  auri  de  Camera  Portiones 
pro  singulis  Recloribus  singularum  ecclesiarum  praediclarum  ex  reliquis 
Tribus  partibus  ecclesiarum  omnium  expressarum  huiusmodi  fruclibus  red- 
dilibus el  prouenlibus  dunlaxal  reseruarenlur,  Reliqui  aulem  fruclus 
earundem  ecclesiarum  eisdem  ereclis  Praeceplorüs  pro  illarum  dolibus  loco 
frucluum  el  emolumenlorum  Monasleriorum  antea  applicalorum  huius- 
modi assignarenlur,  ex  hoc  profeclo  Praeceptoriarum  erectarum  dolibus 
huiusmodi  celerius  prouiderelur,  Ipsique  milites  ex  dolibus  Praeceptoria- 
rum huiusmodi  onera  eis  in  África  contra  mauros  pugnando  incumben- 
lia  commodius  perferre  possent,  diclus  praedecessor  per  reliquas  suas 
litteras  portionem  sexaginla  ducalorum  ex  fruclibus  Parrochialium  ec- 
clesiarum per  Episcopum  seu  Minislrum  expressarum  huiusmodi  pro 
illarum  Recloribus  reserualam,  vi  praeferlur,  moderans,  Vnam  Trigin- 
taquinque ex  quarla,  et  aliam  quadraginla  ex  vnius  ex  reliquis  tribus 
partibus  ecclesiarum  praediclarum,  ac  reliquam  Quinquaginta  ducalorum 
similium  portiones  pro  singulis  ipsarum  ecclesiarum  Recloribus  ex  reli- 
quis tribus  partibus  omnium  parrochialium  ecclesiarum  per  Episcopum 
seu  Minislrum  expressarum  huiusmodi  ex  ecclesiarum  earundem  frucli- 
bus reddilibus  el  prouenlibus  reseruauit,  el  moderationem  ac  taxalionem 
pro  Portionibus  ecclesiarum  earundem  pro  lempore  exislenlium  ex  sin- 
gularum ipsarum  fruclibus  per  posteriores  litteras  facías  huiusmodi  de 
caelero  perpeluis  fuluris  temporibus  inuiolabililer  obseruari  deberé  decre- 
uil  el  raandauil,  prout  in  eisdem  lilleris  plenius  dicitur  conlineri.  Cum 
aulem,  sicut  Dilecti  filii  moderni  Rectores  el  perpetui  Vicarii  Parrochia- 
lium Ecclesiarum  praediclarum,  quarum  fruclus,  redditus  el  prouenlus 
diclis  ereclis  Praeceplorüs  applicala  fuerunt,  nobis  nuper  exponi  fecerunl 
vigore  diclarum  lillcrarum  plures  Praeceptoriae  mililiae  prediclae  in  prae- 
falo  Regno  ereclae,  el  deinde  mililibus  ipsius  müitiae  collatae  fuerint,  Et 
adhuc  aüquae  remaneanl  conferendae,  Ac  nonnulli  Praeceplores  mililiae 
huiusmodi,  quibus  de  diclis  ereclis  Praeceplorüs  prouisum  extilil  obla- 
tiones,  quae  in  ipsis  ecclesüs  fiunl,  ac  Anniuersariorum  in  illís  instituto- 


RELAgOES  COM  A  CURIA  R03IANA  313 

rum  prouenlus  tenent,  Necnon  domos  ipsarum  ecclesiarum  pro  illarum 
Recloribus  deputatas  occupant,  et  ipsi  Redores  ac  vicarü  ex  oíFertoriis 
earuiidem  ecclesiarum  nihil  percipianl,  Rectores  et  vicarü  praedicli  nobis 
humiliter  supplicari  fecerunt  vt  ne  propter  tenuem  portionem  eis  assignatara 
in  opprobrium  clericalis  ordinis  raendicare  coganlur,  eorum  ac  diclarum 
ecclesiarum  slalui  et  indemnitati  super  iisopportuneprouidere  de  benigni- 
tate  apostólica  dignaremur :  Nos  igitur,  qui  omnem  ab  ecclesiis  et  eccle- 
siaslicis  personis  dispendii  materiam  libenler  submouemus,  et  earum  pro- 
fectui  ac  quieli,  prout  possumus,  annuiraus,  Altendentes  non  conuenire 
vt  layci  oblaliones  el  defunctorum  pia  legata  percipiant,  ac  volenles  prout 
tenemur  jurium  dictarum  ecclesiarum  conserualioni  consulere  et  futuris 
scandalis  obuiare,  huiusmodi  supplicalionibus  inclinati  auctorilate  apos- 
tólica tenore  presentium  decernimus  et  declaramus  oífertoria  el  oblationes, 
quae  in  dictis  ecclesiis  pro  \iuis  et  defunctis  per  osculum  manus  illa- 
rum Reclorura  seu  vicariorum  eroganlur,  ac  prouenlus  Anniuersariorum 
el  funeralium  in  illis  pro  lempore  celebratorura,  Necnon  domos  earun- 
dem  ecclesiarum  in  dismembralione,  separalione,  et  applicalione  prediclis 
minime  corapraehensas  esse,  nec  comprehendi  posse  aul  deberé,  ñeque  il- 
larum ralione  ereclionis  et  instilutionis  Praeceptoriarum  eliam  conferen- 
darum  praediclarum  praetexlu  Recloribus  et  vicariis  praefalis  quominus 
oíferloria  el  oblationes  viuorum  et  defunctorum,  ac  prouenlus  anniuersa- 
riorum et  funeralium  seu  niortuarium  yI  prius  percipianl  el  domos  hu- 
iusmodi teneant  el  possideanl,  nullatenus  praeiudicatum  fuisse  el  esse  ;  Sed 
ipsos  Rectores  el  Vicarios  oblaliones  prouenlus  el  oíTertoria  huiusmodi  \t 
prius  integre  percipere  el  leuare,  ac  omnes  et  singulas  domos  ecclesiarum 
huiusmodi  tenere  possidere  et  inhabitare  libere  et  licite  posse,  el  sic  per 
quoscunque  judices,  eliam  causarum  Palatii  Aposlolici  Auditores,  subíala 
eis  el  eorum  cuilibel  quauis  aliler  judicandi  el  interpretandi  facúltale  et 
auctorilate,  judicari  et  diííiniri  deberé,  Dislrictius  inhibentes  eisdem  Prae- 
eeploribus,  sub  excommunicationis  lalae  sentenliae,  ac  duorum  milium 
ducalorum,  Necnon  priualionis  Praeceptoriarum  huiusmodi  penis,  ne  Re- 
clores  el  Vicarios  praefatos  super  oblalionibus,  oíFertoriis,  mortuariis,  an- 
niuersariis  el  ómnibus  domibus  huiusmodi  et  illarum  perceptione  ysu  et 
habitalione  molestare  vel  perturbare  quoquomodo  praesumant,  Sed  eos  et 
eorum  singulos  oblaliones  et  anniuersaria  morluaria  et  oíferloria  percipere 
€l  leuare,  ac  domos  huiusmodi  habitare  tenereque  el  possidere  libere  per- 

TOMO  II.  iO 


314  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

millant,  ac  Decernenles  ex  nunc  irrilum  el  inane  si  secus  super  iis  a  quo- 
quaní  quauis  auctorilale  scienler  lel  ignoranler  conligerit  allentari.  Quo- 
circa  Yenerabilibiis  Fratribus  Archiepiscopo  Bracharensi,  et  Porlugallensi 
ac  Casertanensi  Episcopis,  ac  eorundem  Archiepiscopi  Bracharensi  et  Epis- 
copi  Portugallensis  oíScialibus  per  praesenles  conimitlimus  et  mandamus 
quatenus  ipsi,  vel  dúo  aut  vnus  eorum  per  se  "vel  alium  seu  alios,  prae- 
senles litteras  et  in  eis  contenta  quaecunque,  vbi  et  quando  opus  fuerit 
ac  quotiens  pro  parle  Rectorum  et  vicarioruin  praediclorum  seu  alicuius 
eorum  desuper  fuerint  requisiti  solemniter  publicantes,  Eisque  in  prac- 
niissis  eíBcacis  defensionis  praesidio  assistentes,  faciant  auctorilale  nostra 
decretum,  declarationem  et  inhibitionem  nostra  huiusmodi  firmiter  obser- 
uari,  ac  singulos  quos  ipse  praesenles  concernunt,  illis  pacifice  gaudere, 
Non  permitientes  eos  desuper  contra  presenlium  tenorem  quomodolibet 
moleslari,  Contradictores  quoslibet  et  rebelles  per  censuras  et  poenas  ec- 
clesiaslicas  appellalione  poslposila  compescendo,  Inuocalo  eliam  ad  hoc 
si  opus  fuerit  auxilio  brachii  saeculari :  Non  obstanlibus  piae  memoriae 
Bonifacii  papae  viii,  eliam  praedecessoris  noslri,  qua  cauelur  ne  quis  ex- 
tra suam  Ciuitalera  Yel  Diocesem,  nisi  in  certis  tune  exceptis  casibus,  el 
in  eis  vltra  vnam  dietam  a  fine  suae  Diócesis  ad  judicium  euocetur,  Seu 
ne  judices  a  Sede  praefala  deputali  extra  Ciuilatem  vel  Diocesem,  in  qui- 
bus  deputali  fuerint,  contra  quoscunque  procederé,  aul  alii  vel  alus  \i- 
ces  suas  commillere  praesumant,  Et  de  duabus  dielis  in  concilio  generali 
edita,  dummodo  infra  tres  dietas  aliquis  auctorilale  praesenliam  non  tra- 
hatur,  et  alus  apostolicis  conslilulionibus  ac  militiae  el  ordinis  praediclo- 
rum juramento,  confirmalione  apostólica,  vel  quauis  firmitale  alia  robora- 
tis  slatutis  etconsuetudinibus,  slabiliraentis,  vsibusetNaturis,  Necnon  pri- 
uilegiis  et  indultis  apostolicis  eidem  militiae  ac  illius  Magistro  seu  Admi- 
nistratori  et  Praeccploribus  pro  tempore  existentibus,  sub  quibuscunque 
tenoribus  et  formis  ac  cum  quibusuis  eliam  derogaloriarum  derogaloriis, 
aliisque  eííicacioribus  el  insolilis  clausulis,  irritantibusque  et  alus  decre- 
tis  concessis  approbatis  et  innoualis,  quibus  ómnibus  tenores  illorum  ac 
si  de  verbo  ad  verbum  insererentur  praesenlibus  pro  suííicienler  expres- 
sis  habenles,  illis  alias  in  suo  robore  pcrmansuris  hac  vice  duntaxat  spe- 
cialiter  et  expresse  derogamus,  Conlrariis  quibuscunque.  Aul  si  praefa- 
lis  Praeceploribus,  vel  quibusuis  alus  communiler  \cl  diuisim,  ab  eadem 
sil  sede  indultum  quod  inlerdici  suspendí  vel  excommunicari  non  pos- 


RELAGOES  GOM  a  GURIA  romana  315- 

sint  per  Mlleras  apostólicas  non  facientes  plenam  et  expressam  ac  de  verbo 
ad  verbuní  de  indulto  huiusmodi  menlionem. 

Dalum  Romae  apud  Sancíum  Petrum,  sub  annulo  piscatoris,  Die  xiii 
Maii  MDXXx,  Pontificalus  Nostri  Anno  séptimo.  —  Euangelista  ^ . 


Carta  de  Itraz  Meto  ao  isccrctario  de  e&itado. 


1530— «Pnllio  14. 


Senhor. — Agora  tenho  pouco  que  Ihe  escreuer,  Somenle  auisar  vosa 
merca  que,  se  quer  que  faca  e  requeyra  o  despacho  do  raoesteyro,  que 
me  mande  o  trelado  de  sua  prouisao,  e  parece  me  que  com  ella  se  fará 
o  que  vosa  merce  quer.  Isto  Ihe  escreuy  por  vezes  e  nunca  ouue  sua  re- 
posta. Jaa  me  contentara  se  me  escreuera  se  estaa  sao  e  em  boa  despo- 
sicam,  que  isto  he  o  quero  saber  mais  que  tudo.  Nom  sey  porque  me 
nom  fez  esta  merce  e  me  nom  responde  a  quantas  cartas  Ihe  tenho  escri- 
tas, e  se  nam  pode  mandar  a  hum  moco  de  casa  que  m  escreua  como  está 
e  em  que  desposycam  de  seus  ryns,  e  queiando  se  acha  com  a  mezinha 
que  Ihe  mandey,  se  os  mestres  o  leyxaram  vsar  della,  que  bem  creo  que 
o  auyam  de  contrariar  segundo  seu  costume. 

Beijarey  as  maos  de  vosa  merce  lembrar  se  de  mim,  e  fazer  de  mim 
lembranca  a  elrey,  e  dizer  Ihe  quam  pouco  tenho,  e  quam  mal  me  posso 
qua  soster  se  sua  alteza  me  nom  ajuda  ou  dé  renda  com  que  possa  sos- 
ter  esta  carega  e  nom  me  tome  o  que  tenho.  O  despacho  do  ynfante  vay 
muí  bem  despachado  e  como  compre  a  seruico  de  deus  e  del  rey  nosso 
senhor  e  seu,  e  sem  qua  vir  outrem  estaua  jaa  asy  feyto  e  eu  asy  o  ti- 
nha  escrito  a  el  rey,  e  que  nom  quería  atentar  este  caminho  porque  Gus- 
tarla dinheiro,  e  asy  se  despachou  o  negocio  das  comendas  e  eu  faley  ao 
papa  e  a  elle  prouue  de  o  fazer :  e  posto  que  de  lia  nom  m  escreuessem 
sobre  iso  cousa  alguma  eu  o  fiz  pello  que  sao  obrigado,  e  fiz  leuar  era 
conta  os  dous  mil  ducados  que  jaa  estauam  como  perdydos  que  paguey 
em  bologna  em  vao.  Tudo  isto  fyz  e  fizera  sem  qua  vir  outrem  estando  eu 

^  Arch.  Nac,  Mac.  18  de  Bullas,  n.°  20. 


40 


* 


316  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

qua,  e  agora  que  auia  de  fallar  callo  e  nom  vou  mais  auanle.  O  doctor 
ruy  lopez  nom  leua  a  bulla  como  el  rey  noso  senhor  mandou  porque  diz 
que  se  nom  estrene  a  hir  por  postas :  leyxou  o  negocio  das  comendas  na 
mao,  e  nom  \ay  agora  pera  o  entretanto  pasar  pella  chancelaria.  E  por 
sobre  iso  rae  nom  escreuerem  nom  pude  mais  meter  nisso  a  mao  que  o 
poer  nos  termos  em  que  está ;  mas,  como  vosa  merce  sabe,  sao  manhas 
de  físicos,  que  multas  vezes  alongara  as  curas  por  raais  seu  proueyto. 
Beijo  as  raaos  de  vosa  raerce  cora  tara  verdadeyro  e  grande  deseio  de  a 
ver  quanto  nunca  cuydey  que  fosse. 

De  roma  14  dias  de  Julho  de  1330  annos. 

Nouas  ñora  haa  que  escreuer  senam  que  florenca  está  como  estaua, 
ainda  que  dizera  que  o  mantimento  Ihe  falta,  e  voltera  se  defendeo  va- 
lentemente  d  alguma  parte  do  campo  que  sobre  ella  estaua,  de  modo  que 
com  mortes  de  rauytos  delles  se  leuantaram  e  se  tornaram  ao  campo  de 
florenca. 

Verdadeyro  seruidor  de  vosa  raerce. — Braz  neto  ^ 


ItrcTc  do  Papa  Clemente  ^II,  dirig^iclo 
ao  biüpo  de  ^izeu. 

1530— Outubro  131. 


Cleraens  papa  vii  Venerabilis  Fraler  salutem  et  apostolicam  bencdi- 
ctionem. 

Tuae  deuolionis  praecibus  benignum  impartientes  aífeclum  Ea  Ubi 
libenter  concediraus,  quae  tuae  quielis  coraraodum  respicere  dinoscuntur. 
Tuis  itaque  in  hac  parte  nobis  porrectis  supplicalionibus  inclinati  Tibi, 
qui  literarum  apostolicarum  scriptor  existís,  et  in  partibus  Regni  Portu- 
galiae  nimis  a  Romana  Curia  distantibus  resides,  et  curara  signaturarum 
per  carissiraum  in  christo  filiura  nostrura  Joannera  Portugaliae  Regcm  II- 
lustrera  faciendarura  habes,  Tibique  valde  diíTicile  esset  ad  Curiara  Ro- 
manara ad  visitandum  limina  Beatorum  Apostolorum  Petri  el  Pauli,  prout 


*  Abch.  wlc,  Corp.  Chron.,  Part.  111,  Mac.  11,  n."  13. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  317 

ralione  juramenli  per  te  in  tua  promotione  ad  ecclesiam  Visensem  praes- 
lili  teneris  accederé,  vt  usque  ad  sex  annos  limina  praedicta  per  le  uel  aliura 
visitare  minime  tenearis,  Nec  ad  id  a  quoquam  iniíitus  compelli  possis, 
aucloritate  apostólica  lenore  presentiura  concedimus  et  indulgemus,  el  ju- 
ramentum  per  le,  vt  praeinittitur,  praestitum  tibi  quoad  hoc  relaxamus. 
Non  obstanlibus  praemissis,  ac  constitutionibus  el  ordinalionibus  aposto- 
licis,  Necnon  praedictae  Ecclesiae  visensis,  etiam  juramento,  confirma- 
tione  apostólica,  vel  quauis  firmitate  alia  roboratis,  slalulis  el  consuetu- 
dinibus,  caeterisque  contrariis  quibuscunque. 

Datum  Romae  apud  sanclum  Petrum,  sub  annulo  piscatoris,  Die 
XXI  Oclobris  mdxxx,  Ponlificatus  Nostri  Anno  Séptimo.  —  Balthazar  de 
piscia  ^ 

Breve  do  Papa  Clemente  l^II,  dirig^ido  a  el-Rei. 

1531 — Fevereiro  »8. 

Clemens  papa  vii  Charissime  in  chrislo  fili  noster  salulem  et  apos- 
toíicara  benediclionem. 

Exponi  nobis  nuper  fecisti  quod  dudum  pro  parte  clare  memoriae 
Emanuelis  Regis  Porlugalliae  geniloris  lui  felicis  recordalionis  Leoni  pape 
x.™",  predecessori  et  secundum  carnem  fratri  patrueli  nostro,  expósito 
quod  in  regnis  et  dominiis  sibi  subiectis  adeo  clericorum  precipue  coniu- 
gatorum  ob  impunitatis  audaciara  creueral  licentia  delinquendi,  ut  pauca 
ibi  preserlim  furti  et  falsi  crimina  commilterentur,  quorum  aliqui  ex  eis- 
dem  clericis  fado  consilio  uel  fauore  non  essenl  participes,  clericali  pri- 
uilegio  nequiter  abulentes,  ídem  predecessor,  attendens  ecclesiasticam  li- 
bertatem  non  malorum  tutelara  sed  bonorum  duntaxat  esse  deberé  presi- 
dium, et  aequitali  conuenire  ut  quos  Dei  timor  a  malo  non  reuocabat, 
temporalis  coerceret  seuerilas  disciplinae,  ipsius  Emanuelis  Regis  suppli- 
cationibus  inclinali,  Tune  Episcopo  lamacensi  et  dicti  Regis  maiori  Capel- 
lano,  doñee  ipse  Rex  ageret  in  humanis,  quoscunque  clericos  in  minori- 
bus  ordinibus  constituios  nullum  beneficium  ecclesiaslicum  oblinentes  furti 

^  Arch.  Nac,  Mac.  18  de  Bullas,  n.°  48. 


318  CORPO  DIPL03IATIC0  PORTUGÜEZ 

uel  falsi  criminis  reos  lanquam  clericaü  priuilegio  indignos  capiendi  el  se- 
cularis  iusUtiae  ministris  per  eos,  proul  cxigeret  deliclorum  qualilas,  pu- 
niendos  tradendi  per  suas  litteras  licentian)  concessit  el  facullalem,  prout 
in  illis  plenius  continelur.  Cum  aulem,  sicul  eadem  exposilio  tua  subiun- 
gebat,  facultas  eidem  Capellano  maiori  per  obilum  prcfali  Regís  Emauue- 
lis  expiraueril,  causaeque  per  quas  predecessor  ipse  facullatem  praedi- 
clam  concessit  durare  noscantur,  Nobis  humiliter  supplicari  fecisti  ut  eidem 
Capellano  maiori  eandem  licenliam  et  facullalem  ad  \itam  tuam  concederé 
dignaremur.  Nos  itaque  huiusmodi  supplicationibus  inclinali  eidem  Capel- 
lano tuo  maiori  quoad  uixeris  clericos  in  ordinibus  minoríbus  constilutos 
nuUum  beneficium  ecclesiasticum  obtinenles,  non  solum  ralione  furli  et 
falsi,  sed  etiam  ralione  false  monete,  et  balista  et  sagilla  homines  inlerfi- 
cientium  criminum  dunlaxat,  capiendi  et  iudicibus  secularibus  per  eos 
debite  puniendos  tradendi  auctoritate  apostólica  lenore  presenlium  licen- 
liam et  facullalem  concedimus :  Non  obstantibus  conslilutionibus  et  ordi- 
nationibus  apostolicis,  necnon  ómnibus  illis,  que  praefactus  praedecessor 
ia  dictis  suis  litteris  uoluit  non  obstare,  celerisque  contrariis  quibuscun- 
que. 

Dalum  Rome  apud  sanctum  Petrum,  sub  annulo  piscatoris,  die  vl- 
lima  februari  mdxxxi,  Pontificalus  nostri  Anno  oclauo. — Euangelista. 

In  nomine  sanctae  et  indiuiduae  Irinilatis  Patris  et  filii  et  spiritus 
sancti  Amen.  Nouerint  uniuersi  et  singuli  presentes  Hileras  transumpli 
uisuri  lecturi  pariler  et  audituri  Quod  ego  Michael  Syluius,  Dei  et  apos- 
tolice sedis  gralia  Episcopus  Visensis,  serenissimi  atque  Polentissimi  Do- 
mini  Domini  Joannis  lertii  Regis  Porlugalliae  etc.  Domini  nostri  consilia- 
rius,  eiusque  purilatis  scriba,  uidi,  habui  et  diligenler  inspexi  sanctissi- 
mi  domini  nostri  Clemenlis  Diuina  prouidentia  pape  septimi  Hileras  in 
forma  breuis,  sannas  siquidem  et  integras,  non  uicialas,  non  cancellalas, 
impressas  quidem  in  cera  rúbea  annulo  Piscatoris  more  romano,  mihi 
pro  parle  el  iussu  eiusdem  serenissimi  Regis  Domini  mei  supradicli  pre- 
séntalas, cum  ea  qua  decuit  reuerenlia  recepi  tenoris  retroscripli.  Et  quia 
easdem  Hileras  in  forma  breuis  sicul  premittilur  mihi  preséntalas  uicio  et 
suspicione  carentes,  per  earum  diligentera  inspectionem  el  sanas  el  inte- 
gras inueni,  Idcirco  predicli  Regis  nostri  requisilioni  el  iussui  licito  an- 
Duens,  ipsas  de  uerbo  ad  verbum  nil  addendo  mulando  ucl  minuendo,  ut 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  319 

dictum  cst,  retroscribi  et  inserí  feci,  el  in  leslimonium  uisionis  huiusmodi 
alque  omnium  premissorum  présenles  lilteras  dedi,  meamque  auclorita- 
tem  el  decretum  eisdem  litleris  ut  supra  Iransumptis  alque  presenli  Iran- 
sumplo  inlerposui,  et  ad  ampliorem  euidenliam  premissorum  sigilli  mei 
iussi  impressione  communiri. 

Datum  in  monle  maiori  nouo  die  quarla  Mensis  Maü  Anno  domini 
MDXxxi,  Ponlificalus  domini  nostri  Pape  Anno  oclauo. — Michael  Syluius 
E¡nsco]ms  Visensis.  —  (Logar  do  sello  do  bispo)  —  Gaspar  luisius  Viegas 
Ñola  r  i  US  *. 

Insitruc^oeis  a  Braz  Meto. 

(1531). 


Doclor  braz  neto  amigo  Eu  el  Rei  vos  emuio  muilo  saudar. 

Eu  determino  ora  por  asi  ho  auer  por  seruico  de  deus  e  meu  que 
em  meus  regnos  e  senhorios  aia  oficio  de  inquisicam  geral  e  inquisido- 
res depulados  contra  has  heresias,  e  pera  ipso  vos  encomendó  e  mando 
que,  o  mais  em  breue  que  poderdes,  com  muita  diligencia  e  segredo  pe- 
cáis de  minha  parte  ao  santo  padre  os  poderes  e  faculdades  que  pera  este 
caso  sam  necesarios ;  e  vos  enformai  dos  poderes  e  faculdades  que  sam 
dados  per  os  papas  aos  inquisidores  de  caslela  e  d  oulros  regnos,  e  com 
as  mesmas  faculdades  e  poderes,  e  mais  se  ser  poder,  pediréis  a  dicta 
inquisicam  :  e  pera  este  caso  com  esta  vos  mando  pera  sua  santidade  mi- 
nha carta  de  crenca  e  esta  enformacam,  e  do  modo  em  que  quería  que 
se  concedesse,  e  alguuns  dos  poderes  que  se  dessem  pera  que  este  nego- 
cio se  faca  como  cumpre  a  seruico  de  deus  e  meu  e  bem  do  pouo. 

ítem  :  pediréis  esta  inquisicam  perpetua,  e  que  eu  e  os  Reís  que  de- 
poís  de  mim  forem  possamos  eleger  e  deputar  inquisidores  e  outros  ofi- 
ciaes  necessaríos  pera  a  dicla  inquisicam,  pessoas  que  nos  parecerem  au- 
clas  e  quantas  nos  bem  parecer,  e  posamos  eleger  pessoas  ecclesiasticas 
así  clérigos  seculares  como  religiosos  de  quaesquer  ordees,  posloque  se- 


^  Arch.  Nac,  Mac.  12  n."  3. — Diz  no  sobrescripto:  Ao  corregedor  da  estrema- 
d  ti  ra , 


320  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

iam  das  ordees  mendigantes  e  obseruancia,  e  sua  santidade  mande  ás 
pessoas  ecclesiaslicas  que  acccptem  os  oficios  pera  que  per  mim  e  meus 
subcessores  forem  nomeados  e  depulados,  sem  mais  ser  aos  religiosos  li- 
cenca  de  seus  maiores  e  prelados  necesaria,  e  se  comprir  se  deroguem 
quanlo  a  este  caso  os  priuilegios  das  dictas  ordees ;  e  porque  nestes  re- 
gnos  se  nom  acharara  tantas  pesoas  ecclesiasticas  juristas  do  crédito  e  sa- 
ber que  o  negocio  requere,  pediréis  que  cora  as  pessoas  ecclesiaslicas  iun- 
laraente  se  possa  deputar  alguuns  iuristas  leigos  casados  sendo  d  ordees 
menores,  que  tenham  o  mesmo  poder  e  iurisdicam  que  os  ecclesiasticos, 
comtanto  que  os  leigos  exercitem  ha  iurisdicam  juntamente  com  os  ec- 
clesiasticos:  e  se  caso  for  que  sua  santidade  este  capitulo  dos  juristas  lei- 
gos nom  conceder,  expedir  se  ha  sem  esta  faculdade.  E  asi  se  pedirá 
que  possa,  quando  quer  que  me  bem  parecer,  tirar  huuns  inquisidores  e 
meter  outros,  e  substituir  era  lugar  dos  absentes  e  impididos. 

ítem  :  que,  se  bem  e  necesario  parecer,  possamos  deputar  huum  in- 
quisidor mor,  que  seia  presidente  da  inquisicam  e  possa  presidir  aos  ou- 
tros inquisidores  e  oficiaes  da  inquisicam,  e  os  constranger  quefacam  seus 
oficios  como  deuem,  e  castigue  os  que  o  mal  fezerem,  e  ordene  os  luga- 
res e  lempos  em  que  se  faca  o  dicto  negocio ;  e  este  inquisidor  mor  que 
asi  for  depulado  per  nos  o  possamos  tirar  quando  nos  bem  parecer  e  poer 
oulro,  ou  sustituir  sendo  elle  absenté  ou  impidido. 

ítem :  que  possa  deputar  as  pesoas  pera  inquisidor  mor  e  pera  os 
outros  inquisidores,  posto  que  nom  cheguem  a  idade  de  quorenta  annos, 
sendo  pessoas  anclas  pera  ipso. 

ítem  :  que  os  inquisidores  asi  depulados  tenham  poder  ¡n  solido  pera 
conhecer  proceder  e  condenar,  e  poer  quaesquer  penas,  e  exercitar  todo 
oficio  da  inquisicam,  e  priuar  de  quaesquer  dignidades,  e  denunciar  por 
priuados  quaesquer  pesoas  asi  ecclesiasticas  como  seculares  que  acharem' 
culpados,  sem  os  ordinarios  bispos  e  seus  vigairos,  nem  serem  obligados 
a  Ihe  dar  parle  nem  conla  de  cousa  alguma  do  que  fezerem,  nem  Ihe  pe- 
dir seus  pareceres ;  e  se  derogue  nesle  passo  a  disposicam  da  ele.  p.^  ^ 
de  hereticis,  e  d  outra  qualquer  disposicam  do  direito. 

ítem  :  se  peca  que,  lanío  que  os  diclos  inquisidores  comecarem  de 
se  entrometer  om  qualquer  mancira  de  qualquer  causa  de  hercsia  contra 

'  Refere-se  provavelmente  á  Clcmcntin.  Lib.  v,  Til.  iii. 


relacOes  com  a  curia  romana  tn 

qualquer  pessoa,  nom  se  possam  mais  os  ordinarios  em  o  lai  caso  entro- 
meter  nern  conhecer  em  modo  alguum,  e  se  derogue  nesle  passo  o  ca- 
pitulo per  hoc  de  herelicis  in  vi.°  ^  E  porem  aos  inquisidores  fique  o 
poder  que  o  direito  Ihe  dá  ñas  causas  de  que  os  ordinarios  primeiro  se 
enlrometerera  e  tomarem  conhecimento  nesle  caso. 

llem  :  que  os  inquisidores  possam  chamar  huum  bispo  qual  Ihe  pa- 
recer, posto  que  nom  seia  o  proprio  bispo  ordinario  da  diócesi  do  con- 
denado, pera  depoer  e  degradar  \erbalmente  e  auctualmenle  os  clérigos 
de  quaesquer  ordens,  posto  seiam  sacras,  condenados  de  heresia,  cha- 
mando pera  ipso  as  pesoas  religiosas  que  Ihe  bem  parecer ;  e  os  inquisi- 
dores possam  conslranger  o  bispo  que  asi  chamarem,  nom  o  querendo 
elle  fazer,  porque  poderá  auer  muitos  hereies  d  ordees,  e  seria  cousa 
muilo  deficullosa  requerer  sempre  pera  ipso  o  proprio  bispo. 

Ítem  :  que  possam  os  inquisidores  inquirir  e  proceder  contra  quaes- 
quer sortiligos,  feiticeiros,  adiuinhadores,  encantadores  e  blasfamadores, 
postoque  os  taes  dilitos  e  crimes  nom  toquem  a  heresia,  os  possam  con- 
denar ñas  penas  que  per  direito  Ihe  parecer  que  deuam  ser  condenados, 
e  tenham  nestes  casos  poderes  que  Ihe  forem  dados  contra  os  hereies. 

ítem  :  que  os  dictos  inquisidores  possam  absoluer  de  quaesquer  ex- 
communhoes  que  per  estes  casos  se  encorerem,  postoque  seiam  reser- 
uadas  á  see  apostólica,  e  asi  dispensar  nos  casos  que  Ihe  bem  parecer  com 
as  penas  que  o  direito  daa  e  eles  poserem  per  suas  sentencas ;  e  asi  pos- 
sam admitir  os  que  pedirem  reconciliacam,  e  posam  fazer  receber  recon- 
ciliacoes  publicas  e  priuadas  segundo  os  casos  forem  e  per  direito  se  de- 
uem  receber  e  admitir  as  abjuracoes,  e  fazer  os  auclos  e  solenidades  ñas 
taes  absoluicoes  e  reconciliacoes,  sem  interuirem  nos  taes  os  bispos  ordi- 
narios nem  serem  pera  ipso  necesarios. 

^  Concede  que  o  Inquisidor  geral  nomeado  posa  depular  huum  e 
dous  e  muitos  inquisidores  nos  bispados  cidades  que  Ihe  bem  parecer,  e 
reuogar  los  quando  quiser,  e  criar  notario,  procuradores,  promotores, 
consiliarios  e  oulros  oficiaes  necesarios  e  ministros,  e  pedir  Ihe  conta,  e 
visítalos,  e  punir  hos  delinquentes  em  seus  oficios,  e  remitir  Ihe  as  pe- 
nas. 

^  Vicie:  Sexti  Decret.  lib.  v,  til.  ii,  cap.  xvii. 
~  A  ultima  pagina  deste  rascunho  cometa  assim  abruptamente. 
TOMO   I!.  41 


322  GORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

Ilem :  que  posa  resumir  quaesquer  causas  herelice  prauilalis  pen- 
dentes in  quocunque  statu  coram  quibuscunque  judicibus,  eliam  delega- 
tis  et  audiloribus  sacri  palatii,  el  cum  polestate  inhibendi  diclis  judici- 
bus, et  cura  poteslale  cilandi  vllra  vnara  et  duas  dietas,  derogans  cons- 
titutiones  in  concilio. 

Gom  todos  os  poderes  que  de  direilo  e  costume. 

E  com  hos  poderes  e  priminencias  que  ho  foy  o  mesmo  adriano.  Tem 
clausulas  pro  quocunque  reuocata  iteralis  Yicibis  concedit. 

Et  cum  derogalione  jurium  vitra  certuní  nuraerum  ad  judicium  non 
vocandi. 

ítem :  cura  clausula  appellatione  remota  ab  interlucutoriis  ^ 


Carta  de  Draz  I^eto  a  el-Rei. 


1531— «lunlio  11. 


Senhor.  —  A  22  días  de  raayo  pasado  Receby  as  cartas  que  Vosa 
Alteza  me  mandou  de  palmella  e  de  raonte  mor  o  nouo,  e  aquelle  dia  fa- 
ley  ao  papa  e  Ihe  dey  a  noua  d  adera  e  dos  outros  logares,  e  do  venci- 
mento  que  ouueram  os  capitaes  de  Vosa  Alteza,  cora  que  muito  folgou  e 
todos  os  Gardeaes  e  ainda  toda  esta  corte,  e  deu  por  isso  muitos  louuo- 
res  a  nosso  Senhor,  pedindo  Ihe  que  sempre  asy  fosse  de  bera  era  me- 
Ihor ;  e  certo  que  cora  prazer  Ihe  vieram  as  lagrimas  aos  olhos.  Despois 
disto  Ihe  faley  nos  negocios  sobre  que  me  Vosa  Alteza  escreueo  :  man- 
dou que  se  fizessem  as  supplicacocs,  e  que  as  dése  a  sanctiquatro,  e  que 
logo  as  despachada ;  e  porque  nesta  corte  nom  ha  senara  hura  abreuya- 
dor  que  estas  supplicacoes  de  sustancia  faca,  que  se  chama  laraberto,  cora 
o  qual  eu  sempre  faco  todos  os  negocios,  fuy  Ihe  falar,  e  Ihe  pedy  que 
logo  ao  menos  a  supplicacam  do  negocio  principal  e  a  de  tomar,  polla 


*  Rascunho  sem  data,  muito  incorrecto,  cheio  de  interlinhas  c  emendas,  no  Arch. 
Nac,  Gav.  2,  Mac.  2,  n."  39. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  323 

necesydade  que  avia  pera  o  despacho  ser  laa  ale  Sao  Joham,  porque  me 
pareceo  que  o  mais  se  poderia  de  vagar  despachar ;  e  por  ter  muilos  ne- 
gocios nunca  tanto  pude  nem  com  rogos  nem  com  dadiuas  que  me  fizesse 
logo  cousa  alguma  ate  o  dia  d  oje,  que  sao  dez  dias  de  Junho,  e  diz  me 
que  se  nao  vir  a  bulla  que  os  Reys  vossos  avoos  ouueram,  que  nom  s  es- 
treuya  a  fazer  como  convinha.  E  por  se  nom  saber  nem  presumir  que 
eu  a  mandaua  buscar  no  Registo,  Ihe  pedy  que  mandasse  a  hum  seu  cria- 
do que  a  buscasse  por  seu  mandado,  e  que  eu  o  pagaria  muy  bem,  e 
pera  logo  mandar  fazer  Ihe  mandey  dar  dez  escudos  d  ouro ;  e  d  aly 
(despois  de  muylo  importunado  de  mym)  a  seis  ou  sete  dias  mandou-me 
dizer  que  elle  mandara  buscar  o  registro  do  tempo  de  Innocencio  pera 
qua,  e  que  se  nom  achara  cousa  alguma  :  que  era  necesario  auer  a  co- 
pia da  que  ouueram  vossos  auoos.  E  por  me  parecer  que  seu  criado  nom 
faria  a  deligencia  que  devia,  que  por  isso  se  nom  achaua,  me  descobry 
a  hum  solicitador  francés  e  Ihe  dey  juramento  nos  euangelhos  que  a  ne- 
nhuma  pesoa  dissese  que  eu  Ihe  mandaua  buscar  esta  bulla,  e  mandey 
Ihe  que  a  buscase,  o  qual  ate  o  dia  d  oje  a  nom  achou.  Faz  toda  deli- 
gencia, e  se  fará  quanto  for  posyuel,  porem,  se  se  per  laa  secretamente 
podesse  auer  dos  inquisydores  de  castella  o  trellado,  seria  muy  bem :  eu 
nom  leyxarey  de  fazer  qua  quanta  deligencia  for  posyuel. 

Eu,  Senhor,  estudando  huma  vez  em  hum  liuro,  vy  huma  bulla  quasi 
como  esta  do  papa  Innocencio  pera  se  por  ella  inquirir  contra  alguns  he- 
reges  em  alemanha,  e  mandey  por  todos  os  liureyros  desía  cidade  bus- 
car este  liuro,  e  acharam  no  e  busquey  a  bulla  e  acheya  nelle,  ainda 
que  nom  he  tam  copiosa  que  abaste  segundo  Vosa  Alteza  quer  e  a  mym 
parece  que  compre,  mayormente  porque  he  adicam  feyta  a  outra  que  jaa 
era  passada  sobre  o  mesmo  caso,  porem  porque  della  se  podiam  tirar 
muitas  clausullas  que  fazem  ao  proposylo  Ihe  mandey  amostrar  o  liuro. 
Agora  que  a  vyo  me  mandou  dizer  que  a  faria  e  logo  e  oje  me  prome- 
teo  de  ma  dar  feyla  :  nom  sey  se  será  asy,  porque  por  ser  tam  bom  of- 
ficial  tem  tanta  custura  que  nom  pode  as  vezes  leyxar  de  falecer  do  que 
promete.  Tanto  que  ouuer  as  supplicncoes  á  mao  farey  por  auer  o  des- 
pacho e  o  mandar  Vosa  Alteza  com  o  de  tomar,  e  o  mais  se  fará  des- 
pois. E  todavya  nom  leyxe  Vosa  AKcza  de  mandar  o  trelado  da  bulla 
de  castella  porque,  se  esla  nom  for  tam  larga,  amplíala  ham  mays  do 
que  esla  for;  e  isto  se  devya  fnzer  com  grande  caulella  e  desymulacam 

41  * 


324  GORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGÜEZ 

porque  se  nom  synta,  poslo  que  eu  Icnha  por  certo  que  logo  antes  que 
as  carias  pera  qua  parlissem  se  soube  laa. 

Eu,  Senhor,  quando  faley  a  sanUqualro  nislo  achey  o  hum  pouco 
áspero,  e  disse  me  que  islo  pareep  que  se  ordenaua  pera  proueylo  e 
aqueryr  as  fazendas  desla  genle,  como  diziam  da  de  caslella.  Eu  Ihe  disse 
que  a  tencao  de  Vosa  Alteza  era  lam  sancta  como  sempre  fora  em  todas 
as  oulras  que  fazia,  e  quanlo  ao  proueylo  que  disso  se  podia  auer  que  o 
nom  lynha  em  conta  de  nada  senam  olhar  ao  seruico  de  nosso  Senhor, 
e  aumento  e  louuor  de  sua  sancta  fee.  Disse-me  que  seria  melhor  que 
quem  quisese  tornar  á  vida  e  coslumes  anligos  que  o  podesse  fazer,  e 
quem  quisese  ficar  que  ficasse  e  estes  esfollassem  se  fizessem  o  que  nom 
deuessem,  auendo  respeyto  ao  comeco  parecer  hum  pouco  forcoso.  Disse 
Ihe  que  isto  faria  grande  escandallo  ao  pouo  e  seria  grande  mal  tal  cousa 
se  fazer :  lodavia  eslaua  poslo  nislo.  Areceo  que  lenham  jaa  qua  feyla  a 
deligencia  com  algum  seu  sobrinho  ou  camareyro,  e  asy  com  algum  do 
papa,  e  que  tenham  ludo  feylo  como  Ihe  compre  e  á  sua  vonlade,  por- 
que aquy  está  hum  portugués,  que  quando  laa  se  traclaua  como  chris- 
taS  se  chamaua  dioguo  pirez,  e  seruio  o  officio  de  fragoso  d  escriuam 
dante  os  ouuidores  da  casa  da  supplicacam,  o  qual  se  veo  declarar  por 
judeu  a  turquya  dizendo  que  fora  feyto  christáo  por  forca,  e  que  nunca 
o  fora,  e  por  esta  emformacam  ouue  hum  breue  do  papa,  per  que  manda 
que  nenhuma  pessoa  per  isso  Ihe  dee  molestya,  nem  faca  mal  algum,  e 
manda  á  justica  ecclesiaslica  que  nisso  nom  enlenda ;  e  agora  publica- 
mente está  aqui  judeu  e  pregua  aos  judeus,  e  crem  nelle,  e  quasy  ten  no 
por  sánelo.  Este  falla  com  cardeaes  e  com  o  papa,  e  ey  raedo  que  de  laa 
Ihe  escreuam  alguns  seus  amigos,  e  Ihe  mandem  dlnheyro  pera  peytar  e 
loruar ;  porem  se  eu  ey  a  copia  da  bulla  á  mao,  por  muylo  que  faca, 
espero  em  noso  Senhor  que  se  acabará  como  Vosa  Alteza  deseja,  no  que 
noso  Senhor  poerá  a  mao  vendo  que  a  ¡nclinacaó  de  Vosa  Alteza  he  tam 
sánela  e  lam  justa  como  he. 

Quanlo,  Senhor,  á  diuisao  das  prouincias  o  da  obseruancia  dos  claus- 
tays  tambem  faley  ao  papa.  Disse  me  que  se  fizesse  supplicacam,  e  que 
elle  a  despacharía.  Aínda  nom  he  feyla  por  causa  do  vagar  do  abrcuya- 
dor :  far  se  á  com  a  mayor  breuidade  que  possa  ser. 

Com  esla  mando  a  Vosa  Alteza  o  despacho  dos  frades  do  carmo.  Vse 
Vosa  A'teza  de  qual  quiser  que  pera  iso  manda  o  geral  duas.  E  asy  man- 


UELACOES  GOM  a  curia  romana  325 

do  absolucam  que  mandón  podir  meslre  ballesar,  pasada  por  Sancliqua- 
Iro  proteilor  da  ordeni:  parece  me  que  vay  ludo  como  compre.  Nom  man- 
dey  a  carta  de  Vosa  Alteza  ao  gcral  por  ser  escusada  porque  jaa  linlia 
aquy  as  prouisoes,  e  quando  escreuy  as  cartas  pasadas  a  Vosa  Alteza, 
posto  que  nellas  dissese  que  mandaua  com  ellas  estas  prouisoes,  nom  fo- 
ram  porque  nom  pude  emtao  auer  a  absolucam  pera  hir  tudo  junto,  e  por- 
que me  fizeram  duas  e  nom  foram  á  minha  vonlade,  e  foy  necesario  fa- 
zer  se  outra,  e  o  coreo  nom  deu  lugar  nem  lempo  pera  se  acabar  de 
emendar  pera  a  leuar  e  se  auer  da  maó  de  sancly  quatro. 

Quanto  ás  reliquyas  de  sam  Sabasliam  vieram  de  milao  duas  cartas 
per  duas  vezes  em  que  afirma  hum,  a  quem  de  qua  escreueo  hum  ho- 
mem  de  hem  corlesao  natura!  de  laa,  em  que  diz  que  pergunlou  fregue- 
ses velhos  e  antigos  e  hum  clérigo  anlygo  da  igrcja  de  sam  sabasliam  de 
milao,  e  que  dizem  que  nunca  tal  ouuiram  nem  de  tal  sabem  parte.  Agora 
mandey  pyntar  o  braco  asy  como  de  laa  veo  pera  me  ficar  este  que  qua 
lenho  pera  mandar  fazer  outra  deligencia  e  mandar  saber  se  ha  oulro 
Sam  Sabasliam  em  milao,  e  se  o  ouuer  fazer  outra  tal  deligencia  com  a 
mesma  pintura,  e  o  que  adiar  escreuerey  a  Vosa  Alteza.  E  verdadeyra- 
menle  que  a  reliquya,  segundo  está  e  a  eu  vy  em  coymbra,  parece  me 
que  deue  de  ser  verdadeyra,  e  será  doutra  igreja  e  nom  de  sam  sabas- 
tyam  de  mylam.  E  cerlo,  Senhor,  que  eu  nom  curarla  de  mays  inquirir 
islo,  e  leí  a  hia  em  veneracam  por  honra  de  sam  sabastyam,  segundo  Iha 
o  papa  concede ;  que  mullos  lenhos  ha  hy,  que  dizem  que  sao  do  lenho 
da  vera  cruz  e  o  nom  sao,  e  asy  os  crauos  e  lambem  a  lanca  que  aquy 
está  em  roma,  que  dizem  que  he  a  com  que  foy  dada  a  lancada  a  nosso 
Senhor  Jesu  chrislo,  e  nom  ha  outra  proua  disso  senam  dizerem  que  o 
foram  e  sao  verdadeyros,  e  posto  que  nom  aja  outra  proua  disso  pella 
mayor  parte  que  fama,  nom  se  leyxa  de  se  Ihe  fazer  mui  grande  vene- 
racam. Eu,  Senhor,  comludo  nom  leyxarei  de  hir  ao  cabo  com  a  deli- 
gencia e  inquisicam  pera  ver  se  posso  achar  aigum  raslo. 

Seria  necesario  dinheyro  pera  estes  despachos,  porque,  ainda  que 
me  Vosa  Alteza  escreueo  que  lomasse  pera  isso  se  fosem  mester  qua  a 
caymbo  ale  quinhenlos  ducados,  e  que  logo  os  mandaría  laa  pagar  tanto 
que  mostrassem  minha  certidao  de  como  os  linha  recebydos,  nunca  achey 
quem  m  os  quisese  dar,  pollo  que  farey  por  ler  as  supplicacoes  asyna- 
das  pera  quando  me  Vosa  Alteza  mandar  prouisao  fazer  expedir  as  bul- 


326  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

las.  Eu,  Senhor,  se  o  liuera  folgara  muyto  de  o  despender  em  vosso  ser- 
uico,  mas  juro  a  Vosa  Alteza  que  estou  lam  necesitado  e  com  tam  pouco 
crédito  que  nunca  pude  achar  quem  me  empreslasse  dinheiro,  nem  mo 
desse  a  caymbo  pera  lixboa  ou  pera  castella,  aínda  que  disese  que  era 
pera  vosso  seruico  e  que  por  mandado  de  Vossa  Alteza  o  tomaua,  o  que 
nunca  despois  que  roma  he  roma  se  vyo,  e  por  isso  conuem  que  quem 
qua  ouuer  d  estar  que  lenha  sempre  no  banco  crédito  como  qua  tem  to- 
dos os  embaixadores,  mormente  quando  nom  fizer  despesas  desordena- 
das do  que  Vosa  Alteza  se  muí  bem  pode  sempre  emformar.  Eu,  Senhor, 
jaa  non  sey  que  faca,  que  certo,  Senhor,  se  teuera  renda  pera  sofrer  esta 
carega,  nunca  nisto  tocaua  a  Vosa  Alteza,  e  por  isso,  Senhor,  seria  mais 
vosso  seruico  mandar  quem  leuesse  mais  que  despender  do  que  eu,  Se- 
nhor, tenho. 

Beijarey  as  maos  a  Vosa  Alteza  acerqua  dessa  graca  que  me  o  papa 
fez  querer  me  fauorecer  e  fazer  mercé,  pois  isso  que  ouuer  nom  he  se- 
nam  pera  ler  com  que  melhor  possa  seruir  Vosa  Alteza. 

Agora,  Senhor,  nom  ha  qua  nouas  que  escreuer,  porque  com  a  Ire- 
goa  do  turco  nom  se  falla  nada.  O  papa  está  doenle  de  corimentos  que 
Ihe  vieram  a  hum  pee,  e  por  isso  nom  foy  na  procicam  do  corpo  de  deus. 
Ja  escreuy  a  Vosa  Alteza  como  o  cardeal  grandy  monte  \  que  foy'em- 
bayxador  d  el  rei  de  franca,  que  o  papa  fez  cardeal,  que  despois  que  se 
tornou  a  franca  veo  aquí  por  postas,  e  elle  e  o  duque  d  albania,  que 
aínda  aquí  está,  Irazem  grandes  requerimentos  com  o  papa.  E  o  embai- 
xador  do  emperador  me  disse  que  crya  que  huma  das  causas  da  sua  vín- 
da  era  vir  esloruar  o  dereyto  da  raynha  de  ingratera  vossa  tya  e  fauo- 
recerem  quanto  podesse  a  el  rey,  e  requer  fsicj  e  importunar  o  papa  so- 
bre isso.  E  verdadcyramente  creo  que  elles  trazem  materea  de  que  ao 
papa  nom  apraz  muyto,  porque,  estando  eu  hum  día  destes  pasados  com 
o  papa  dando  Ihe  conta  de  Vosa  Alteza  e  de  suas  Vitorias,  e  asy  em  cou- 
sas de  voso  seruico,  esliue  com  elle  acerca  de  tres  oras  respondendo  Ihe 
a  algumas  cousas  que  me  perguntaua  ;  e  porque  o  duque  e  o  cardeal  que- 
riam  falar  ao  papa,  e  viam  que  eu  tanto  tardaua,  e  elles  quasy  vieram 
quando  eu  enlrey,  e  por  uentura  por  se  agastarem  por  eu  estar  tanto, 
Ihe  mandaram  dizer  que  estauam  aly  pera  Ihe  falar,  e  elle  respondeo  me- 

'  Léase  Grandmont. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  327 

nencorio  e  disse  que  esperasem  se  quisesem,  e  despoys  do  camareiro  par- 
tido dysse  me  —  «estes  todo  o  dia  querem  estar  comygo,  e  nom  querem 
que  despache  cousa  nenhuma  senam  a  sua,  e  nom  abasta  polla  menha 
senam  á  tarde:  vaam  se  e  leyxem  me»  —  e  tudo  islo  com  desconlenta- 
mento  e  má  vonlade.  Isto,  senhor,  como  he  cousa  que  disse  a  mim,  bei- 
jarey  as  maos  a  Vosa  Alteza  ser  pera  elle  soo.  Asy  que  por  estas  pala- 
uras  de  tal  vontade  dictas  me  parece  que  a  materya  em  que  Ihe  queriam 
falar  nom  era  de  seu  gosto,  mormente  porque  me  deleue,  e  nom  me  es- 
pedio  despois  fsicj  de  hy  a  hum  pedaco  sem  ter  necesydade  de  me  fa- 
lar. Folgou  muyto  com  a  caria  que  Vosa  Alteza  Ihe  escreueo  acerca  do 
concilio,  e,  se  nom  estiuera  achacado  agora  das  dores  dos  corymentos, 
elle  responderá  a  Vosa  Alteza :  pollo  primeyro  que  for  creo  que  respon- 
derá. O  nuncio  nom  hyrá  tam  cedo :  se  for  será  pera  setembro :  aínda 
que  o  papa  me  dysse  que  cedo  o  auya  de  mandar,  nom  ho  crerey  jaa 
senam  despois  que  for  partido. 

Está  aqui  hum  mercador  homem  de  bem,  que  tem  dous  irmaos  hum 
em  veneza  e  oulro  em  constantinopoly,  e  o  de  constantinopoly  escreueo 
ao  de  veneza,  e  o  de  veneza  escreueo  a  este  d  aquy,  e  huma  verba  da 
carta  que  Ih  escreueo  diz  estas  palauras : 

«  De  nouas  de  turquya  nom  ha  cousa  nenhuma  por  este  anno,  saluo 
pera  o  anno  vindoyro  que  se  fazem  grandes  preparamentos  pera  mandar 
á  indya,  e  o  mesmo  contra  portugueses  :  e  pollas  deradeyras  he  vinda 
noua  que  he  ido  comandamento  do  gram  turco  pera  arestar  e  empalear 
ou  espetar  andre  moresym,  que  he  o  primeyro  homem  dos  venezeanos 
que  sao  em  alepo,  ho  que  certo  he  gram  danno  que  era  grande  homem  : 
dize  se  por  causa  de  ceumes  d  estado  por  auer  dado  pasajem  a  alguns 
embayxadores  de  portugal  polla  persya,  o  que  nom  creyó,  porem  hora 
maa  nom  tem  repayro.  Oulra  cousa  nom  ha  de  nouo  que  seja  de  sus- 
tancia. » 

Estas  sao  as  palauras  da  carta  de  verbo  a  verbo  tiradas  de  sua  lin- 
gua  em  portugués.  O  embayxador  de  veneza  que  aquy  está  me  disse  que 
era  verdade  que  este  andre  moresym  fora  justicado,  mas  que  fora  por 
fazer  concertó  em  prejuizo  do  turco  com  o  sofy  de  persya,  e  nom  quis 
dizer  que  nem  como,  e  disse  que  era  mercador  de  pouca  sustancia  e  de 
qualidade  bayxa. 

O  papa  declarou  o  bispo  de  burgos  Cardeal  a  instancia  do  empera- 


328  CORPO  DIPI.OMATICO  PORTüGUEZ 

dor,  o  que  Ihe  jaa  liiiha  concedido  ein  bollonha,  pera  hum  qual  elle  no- 
measse.  Oiilras  nonas  nom  ha  agora ^  seiam.  O  campo  de  empera- 
dor he ar  a  romanha  e  a  destruí e  a  darem  causa  pera  serem 

em hois  mais  auorecidos  do  que odio  que  Ihe  lem  que  me  ma- 

raui aleuantam  hum  dia  e  nos  nom mayormente  aquí  em  ro- 
ma, onde  do  lempo  do  saco  pera  qua  nos  querem  mal  e  nos  lem  odio 
mortal :  e  cerlo  que  se  o  papa  falecese  creo  que  todos  andaríamos  a  fio 
d  espada,  tanto  mal  nos  querem  e  tanto  Ihcs  avorecemos,  e  cerlo,  se- 
nhor,  que  lem  rezao. 

Beijarey  as  maos  de  Vosa  Alteza  lembrar  se  de  mym,  e  nom  me 
querer  tomar  o  que  lenho  pera  o  seruir  e  o  dar  ao  criado  do  arcebispo 
de  braga.  Isto  digo  porque  Vosa  Alteza  me  diz  que  eu  faca  a  demanda 
e  que  dcspois  seia  com  lembranca  pera  Vosa  Alteza  fazer  do  beneficio  o 
que  quizer.  Se  este  que  quiser  he  pera  despoer  delle  como  pode  despocr 
de  lodo  o  mais  que  lenho  e  dallo  a  quem  quiser,  fez  me  Vosa  Alteza  merce 
em  o  asy  dize se  he  pera  todavía  Ihe  delle  fazer que  o  eu  te- 
ner vencido  e  lirallo Ihe  parecer  que  elle  he  rezao  que  o isto 

me  faz  Vosa  Alteza  agrauo  e  por mandar  me  que  nom  falle  mais 

ludo  que  fazer  demanda  e  despen e  por  deradeyro  ficar  Ihe  hum  be- 
neficio que  val  oyla  fsicj  mil  reis  cadanno  com  jurisdicam,  sem  cura 
d  almas  nem  encarego  nenhum,  cerlo,  Senhor,  eu  o  poderey  bem  contar 
no  numero  e  contó  d  agrauo.  Se  o  Vosa  Alteza  asy  quer  fazer,  e  se  he 
esta  sua  vontade,  beijarey  as  maos  a  Vosa  Alteza  mandar  me  que  mais 
nisso  nom  fale,  e  farey  asy  como  fyz  no  moesleyro  de  lafoes.  Eu,  Se- 
nhor, esperaua  que,  auendo  Vosa  Alteza  de  fazer  merce  a  alguem  d  al- 
gum  beneficio  agora  nesle  tempo  onde  lenho  lanía  necesidade  de  renda 
pera  vos  seruir,  que  devya  de  ser  a  mym,  e  Vosa  Alteza  quer  que  essa 
pouquidade  que  lenho  que  solté  pera  oulrem  que  o  lam  bem  nom  merece/ 
Seia  como  Vosa  Alteza  for  seruido  que  nunca  deus  queyra  que  eu  des- 

crepe  no  pensa vontade  d  aquyllo  em  que  V muito  bem  sey 

que  entra que  farya  rezao  pagar riado  com  o  seu  e  nao  com 

o  que Vosa  Alteza  o  que  vir  que  he  scu  seruico dizer  o  que 

hoy  de  fazer.  Eu  Senhor Icnha  laa  alguns  conlrayros  por  parte  do 


'  o  trrigivttl  está  nila. 


KELACÜES  COM  A  CUHIA  KOMANA  329 

arcebispo  mas  bem  sey  que  Vosa  Alteza  nom  fará  nislo  senain  o  que  for 
rezao.  Das  oulras  minhas  cousas  bey  por  escusado  fazer  mais  dellas  rnen- 
cam,  nem  lembralas  a  Vosa  Alteza:  faca  nisso  o  que  vyr  que  mais  he 
seu  seruico  que  eu  nom  deseio  outra  cousa.  Beijo  as  reaes  maos  de  Vosa 
Alteza,  cuia  vida  e  real  estado  nosso  Senhor  acrecenté  com  longos  annos 
de  vida  em  seu  seruico. 

De  Roma  onze  dias  de  junho  de  1531  annos. 

Feytu '. 


ISrevc  iliri^iclo  ao  biiSipo  de  Wizeu 
O.  iligiiicl  da  i^ilva. 

1531  — Jumo  9. 


Clemens  papa  vii  Vcnerabilis  fraler  salulem  el  apostolicam  benedi- 
ctionem. 

Singularis  deuolionis  affectus,  qucm  ad  nos  elaposlolicam  sedem  ge- 
rere  comprobaris,  et  alia  tua  de  eadem  sede  benemérita  promerentur  ut 
illa  Ubi  graüose  concedamus,  per  quae  Ubi  obsequenUbus  el  deuoUs  ac 
alus  personis  te  possis  reddere  liberalem.  Hinc  esl  qiiod  nos,  volenles  le 
fauore  prosequi  gratioso,  Molu  proprio  etex  certa  scientia  fraternitaU  tuae 
ut  ad  Biennium  et  deinde  ad  uestrum  beneplacitum  per  le,  uel  uicarium 
tuum  generalem  ad  id  a  te  poleslatem  habentem,  quaecunque,  quotcum- 
que  el  qualiacunque  beneficia  ecclesiaslica  cum  cura  et  sine  cura  secu- 
laria  et  quorumuis  ordinum  regularla,  eUam  si  secularia  canonicatus  et 
prebendae  dignitates  personalus  el  adminislraUones  uel  officia,  eUam  cu- 
rata  el  elecUua,  regularía  uero  monasleria  non  lamen  consistorialia,  prae- 
positurae,  praepositatus,  dignitates,  personalus,  administraliones,  uel  of- 
ficia, etiam  claustraba,  etiam  cúrala  et  electiua  fuerinl,  ad  collationem, 
prouisionem,  presentalionem,  electionem  el  quamuis  aliam  disposilionem 
tuam  de  iure,  consuetudine  aut  alias  speclanlia  et  pertinenlia  per  obitum 
extra  curiam  romanam  vacantia,  etiam  si  beneficia  huiusmodi  nostrae  el 

1  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  46,  n."  102. 
TOMO  II.  i 2 


330  CORPO  DIPLOxMATICO  POKTUGUEZ 

sedis  aposlolicae  disposilioni  specialiler  uel  ex  quauis  causa,  prelcrquam 
ralione  uacalionis  apud  sedem  praediclam,  aul  familiarilalis  conlinuae  com- 
niensaülalis  noslrae  seu  alicuius  Cardinalis  uiuenlis,  cuius  consensus  re- 
quirendus  essel,  generaliler  reseruata,  aul  ex  general!  reserualione  aíTecla 
fuerinl,  personis  idoneis  eliam  quaecunque  quolcunque  el  qualiacunque  be- 
neficia ecclesiastica,  quorum  qualilales  el  ualores  presenlibus  haberi  uo- 
lumus  pro  expressis,  eliam  ex  quibusuis  aposlolicis  dispensalionibus  ob- 
tinenlibus  el  expeclanlibus  prouidere  el  illa  eis  conferre,  ac  de  illis  alias 
disponere  libere  el  licile  ualeas,  per  inde  ac  si  expeclatiuae  graliac,  spe- 
ciales  uel  generales  reseruationes,  mándala  de  uniendo,  el  quaeuis  aliae 
disposiliones,  eliam  Sanclae  Romanae  Ecclesiae  Cardinalibus,  eliam  molu 
simili  uel  ad  eorum  instanliam  haclenus  concessa  el  in  poslerum  conce- 
denda,  lam  per  nos  seu  Romanum  Ponlificem  pro  lempore  existenlem, 
quam  légalos  de  lalere,  eliam  cardinales  quoscunque,  eliam  molu  simili 
el  ex  cerla  scienlia  ac  cum  quibusuis  pregnanlibus  el  forlissimis  ac  inso- 
lilis  clausulis  non  emanassenl  seu  emanarenl,  ac  regulae  cancellariae  apos- 
lolicae, beneficiorum  prediclorum,  seu  diclae  sedis  oíBcialium,  aul  alias 
quasuis  reseruationes  generales  siue  speciales  continentes  siue  inducenles 
conslilutiones,  aul  alias  quomodolibel  affecta  facienles,  ad  monasteria  ca- 
nonicalus  el  prebendas,  aliaque  beneficia  huiusmodi  nullatenus  se  exlen- 
derenl  nec  apparerenl,  plenam  el  liberam  facullatem  el  auclarilatcm  con- 
cedimus,  decernentes  reseruationes,  affecliones,  conslilutiones,  ordinalio- 
ncs,  collationes,  mulationes,  reualidaliones,  extensiones,  facúltales,  vnio- 
ncs  el  níandala  ac  decreta  in  illis  contenta  quoad  impediendum  le  quomi- 
nus  in  premissis  concessis  tibi  per  presentes  facúltale  el  aucloritate  uti  ua- 
leas, nullatenus  se  extendere,  el  per  quoscunque,  eliam  sedis  prediclae 
legatos  eliam  de  latere,  ac  Nunlios  nunc  el  pro  lempore  deputalos  quauis 
eliam  speciali  facúltale  fulgentes,  de  beneficiis  predictis  nullatenus  proui- 
deri  el  disponi  posse,  ac  irrilum  el  inane  si  secus  super  premissis  ómni- 
bus a  quoquam  quauis  aucloritate  scicnler  uel  ignoranter  conljgerilallem- 
plari :  Non  obstanlibus  premissis  ac  constitulionibus  el  ordinalionibus  apos- 
lolicis, celcrisquc  contrariis  quibuscunque.  Volumus  autem  quod  hii,  qui- 
bus  beneficia  generaliler  reseruata  uel  affecta  huiusmodi,  quorum  fructus 
redditus  el  prouenlus  Viginli  quatluor  ducatorum  auri  de  camera  ualo- 
rem  annuum  excedant,  per  le  uel  alium  contuleris  infra  ocio  mcnses  a  die 
faclae  collulionis  corundcm  computandos  nouns  prouisiones  super  bcnefi- 


RELACOES  COM  a  CUHíA  líOMANA  331 

cus  ipsis  collalis  a  sede  predicta  impetrare,  el  liUeras  apostólicas  desuper 
tolaüter  expediré,  ac  annalam  proplerea  camerae  aposlolicae  et  alus  ro- 
manae  curiae  oíTicialibus  debitam  cum  cíFectu  soluere  teneanlur,  alioquin 
elapsis  dictis  mensibus  beneficia  ipsa  uacare  censeanlur  eo  ipso,  nisi  legi- 
timo impedimento  detenti  fuerinf,  uel  ipsis  pelenlibus  huiusmodi  nouas 
prouisiones,  et  prptestanlibus  quod  per  eos  non  stat,  conligerit  eis  dene- 
gar!. 

Datum  Romae  apud  sanclum  Petrum,  sub  annulo  piscaloris,  die  viiii 
Julii  MDxxxi,  Pontificalus  noslri  Anno  octauo. — Blosiiis  \ 


Cavtsi  «le  ISraz  Meto  a  el-Rei. 

1531  — Agosto  1. 


Senhor.  —  Poucos  dias  ha  que  escreuy  a  Vosa  Alteza  e  Ihe  dey  conta 
dos  despachos,  asy  do  que  loca  a  tomar,  como  de  sánela  cruz,  como  dos 
frades  de  sam  francisco,  e  asy  do  oulro  negocio,  e  dos  termos  em  que 
todos  eslauam,  e  como  se  nom  podyam  expedir  saluo  se  Vosa  Alteza  man- 
dase dinheiro  pera  o  fazer,  e  isto  (?)  asy  dos  outros  negocios ;  e  porque 
isto  escreuy  a  Vosa  Alteza  por  duas  \ias,  e  sao  auisado  de  valhadadolid 
que  as  cartas  foram  a  bom  recado  a  Vosa  Alleza,  e  lambem  por  nom  sa- 
ber desle  coreo  senam  agora,  e  que  está  pera  partir,  e  lambem  por  nom 
ocorer  cous  de  nouo  que  seia  (?)  pera  escreuer  a  Vosa  Alleza,  nom  es- 
creuo  oulraa  \ez  o  que  jaa  lenho  escrito  pellas  outras  vias.  Mande  Vosa 
Alteza  a  prouisao  pera  se  estas  prouisoes  fazerem,  porque  qua  nom  ha 
homem  que  queyra  dar  dinheyro  a  pagar  laa,  como  jaa  lenho  escrito  a 
Vosa  Alleza.  O  oulro  nuncio,  que  o  papa  disse  que  auya  de  mandar, 
ainda  se  nom  tem  determinado  em  quem  será,  posloque  se  diga  que  he 
hum  Joham  malheo,  bispo  de  santo  Seuerino;  porem  eu  ainda  agora  nom 
o  tenho  por  certo,  porque  o  papa  ainda  o  nom  tem  assentado :  ñas  pri- 
meyras  cartas  auysarey  a  Vosa  Alteza  mais  certo  disto.  Alguns  negocios 
e  supplicacoes  foram  mais  auante,  mas  muylo  grande  impedimento  faz  a 

*  Abch.  Nac,  Mac.  19  de  Bullas,  n."  7,  c  Mao.  20,  n.°  24. 

42* 


nn  COKPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

doenca  de  sancli  qualro,  que  está  doenle  de  quartans,  pello  que  está  em 
grande  perigo  por  ser  velho :  praza  a  deus  que  Ihe  dee  saude,  porque  se 
more  será  huma  grande  perda  e  fará  mui  grande  myngoa  era  esta  corte ; 
6  nom  creo  que  o  papa  ache  outro  lal  official  d  aquy  a  muylos  días.  Ou- 
Ira  cousa  nom  socedeo  de  nouo  ale  ora  despois  desoulras  cartas  que  pera 
escreuer  seia...  Somente  beijarey  as  raaos  de  Vosa  Alteza  responder  rae 
o  que  ha  por  bem  que  faca  acerca  de  uiinha  estada  qua,  e  lembrar  se  que 
nom  tenho  renda  nem  fazenda  cora  que  possa  sofrir  esta  carega,  e  por 
isso  me  dar  licenca  pera  me  hir  por  me  nom  ver  em  tanta  vergonha.  Beijo 
as  reaes  raaos  de  Vosa  Alteza,  cuja  vida  e  estado  real  nosso  Senhor  acre- 
centé cora  longos  días  de  vida  em  seu  seruico. 

De  roma  o  primeyro  dia  d  agosto  de  1531  annos. 

Feylura  de  Vosa  Alteza.  —  Braz  neto  *. 


Breve  do  Papa  Clemente  Til,  clii*ig;¡cIo  a  el-Rei. 

1531  — Agosto  is. 


Clemens  papa  vii  charissinie  in  christo  íili  noster  salutera  et  apos- 
lolicam  benediclionera. 

Elsi  scimus  tuam  Maieslatem  pro  sua  pietate  et  boni  Principis  oíTi- 
cio  egregie  esse  aniraatara  ad  communem  salutera  el  religionera  a  cora- 
muni  hoste  Turca  defendendam,  id  quod  ex  eius  lilteris  el  sui  eliara  ora- 
toris  saepius  intellexiraus ;  Taraera  cura  nuperrime  allalura  liuc  sil,  sicut 
el  ad  luara  serenitatera  esse  crediraus,  ipsura  Turcara,  non  obstanlibus  in- 
duliis,  ea  loca  Dalmatiae  inuasisse,  el  coraraunire  quae  sibi  ad  bcllum 
mari  Terraque  gerendura  vsui  esse  possint,  el  preterea  multa  alia  appa- 
ratus  raaximi  signa  dedisse  et  in  dies  daré  in  ver  proximura  eruptura : 
Nos,  uocati  a  Deo  in  huius  sollicitudinis  principaliorera  parlera,  el  ad 
agendura  ipsi  pro  uirili  noslra  el  ad  caeleros  in  idera  cohortandum,  optan- 
tesque  vt  prae  hoslis  uigilantia  el  niraia  cunctalione  noslra  Tcrapesliuum 
.esse  possil  quodcunque  parabilur,  sumus  loculi  super  his  latius  cura  ipso 

*  Arch.  Nac,  Corp.  Chron,,  Part.  I,  Mac.  47,  Doc.  2. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  333 

oralore  apud  nos  tuo  vt  ad  luam  serenitalem  scriberet,  omniaque  quae 
nobis  in  commune  conferenda  et  agenda  uiderenlur  ei  declararel.  Te  igi- 
tur,  fili  charissime,  horlamur  in  deo  domino  vt  ipsius  dei,  a  quo  regnum 
et  omnia  es  adeptus,  communisque  fidei  et  salulis  memor  eiusdem  Dei  ho- 
nori  luorumque  subditorum  et  aliorum  chrislum  colentium  securilati  et 
saluti  prospicere  pro  lúa  virili  uelis,  sicut  tua  dignum  est  celsitudine,  et  a  te 
luisque  maioribus  fieri  consueuit :  Quemadmodum  haec  ipsa  copiosius  ex 
ipsius  oratoris  lilteris  intelliges,  cui  fidem  solitam  in  his  habere  uelis. 

Datum  Romae  apud  Sanctum  petrum,  sub  Annulo  piscatoris,   die 
XYiii  Augusti  Müxxxi,  Ponlificatus  noslri  Anno  octano. — Blosius  K 


Breve  do  Papa  Clemente  ^11,  dirigido  a  el-Rei. 

1531  —  Agosto  19. 


Clemens  papa  vii  Charissime  in  christo  fili  noster  salulera  et  apos- 
tolicam  benedictionem. 

3Iagna  nos  sollicitudine  aíFecerunt  lilerae  ac  Nuncius  dilecti  filii  no- 
bilis  viri  Caroli  Sabaudiae  Ducis,  noslri  tuique  affinis,  qui,  post  mullas 
alias  octo  Cantonum  Eluetiorum  lutheranam  heresim  fouenlium  in  se  et 
suum  Ducatum  minas,  a  tua  Maieslate,  ut  credimus,  audilas,  nouissime 
se  ab  illis  sollicilatum  ad  certum  fedus  cum  eis  ineundum,  per  quod  om- 
nem  eius  Ducatum  sua  heresi  conantur  inficere  et,  nisi  id  fecerit,  bellum 
sibi  haud  obscure  comminatos  esse,  nobis  significauit,  ila  ut  uel  sanctae 
fidei  iacturam  illis  consentiendo,  uel  rerum  suarum  certissimum  pericu- 
lum  recusando  subiré  cogatur,  elegisse  aulem  se  pro  sua  et  maiorum  suo- 
rum  pielate  quiduis  potius  subiré  periculi,  et  rerum  temporalium  delri- 
menti,  quam  fidem  sanctam  a  patribus  acceptam  cum  diuini  honoris  di- 
minutione  et  animarum  sibi  subieclarum  perditione,  yicinorumque  chris- 
lifidelium  contagione  uiolare.  Nullam  uero  resistendi  tam  numerosae  el 
efferae  multiludini  se  din  consultando  inuenire  expeditiorem  uiam,  quam 
communiendis  in  confinio  eius  gentis  quatuor  locis  et  cum  presidio  cus- 

*  Arch.  Nac,  Mac.  20  de  Bullas,  n."  14. 


334  COP.PO  DIPUJMATICO  PORTÜGÜEZ 

lodiendis,  quorum  óbice  illi  ab  iiicursibus  et  populalione  coherceri  pos- 
sint,  Ac  se  quidem  ad  hanc  conimunilionem  sua  pecunia  conlenlum  esse, 
ñeque  nos  aut  quenquam  chrislianorum  Principum  in  hoc  faligalurum. 
Sed  cum  uereatur  id  quod  ab  ipsis  Eluelüs  contra  se  earn  munitionem 
fieri  cernenlibus,  cerlo  limendum  esl  ne  inter  ipsam  munitionem  lolis 
agniinibus  irruant  et  loca  munila  occupent  in  hunc  solum  euenlum  ad  illis 
quoad  munitio  perficialur  obsislendum,  quibus  ipse  per  se  obsislere  non 
posset,  noslra  et  caeterorum  Principum  subsidia  implorauit.  Quae  si  in 
hunc  casum  e¡  promillantur  et  ducentorum  millium  aureorum  summa, 
quanlam  ad  hoc  ultra  alias  suas  impensas  et  belli  onera  necessariam  esse 
cognoscit,  inler  omnes  conficialur,  preparataque  tenealur  non  nisi  adue- 
nienle  casu  et  per  cuiusquam  principis  ministros  persoluenda,  tum  ipsum 
Ducem  dicta  loca  omni  cum  celeritate  communiturum  esse.  Quod  si  huius 
auxilii  spe  deficiatur  nequáquam  cepturum  earn  munitionem,  quae  ab  hos- 
tibus  interrumpí  cisque  beneficio  esse  posset,  foreque  ut  postea  ingens  pe- 
riculum  subiré  cogatur  sui  Ducatus  a  dicta  haeresi  inficiendi.  Nec,  fili 
charissime,  a  nobis,  quibus  principaliter  hoc  onus  pro  pastorali  persona 
ingruit,  cum  cura  et  anxietate  animi  nostri  sunt  audita  reputanlibus  quo 
et  quam  uicino  periculo  interior  christianitalis  pars  esset  laboratura  si  la- 
lis  Ducatus,  quasi  murus  ab  illa  parle  lutheranis  oppositus,  eis  aperiretur 
ad  caetera  christianitalis  inuadenda.  Quamobrem  quod  erat  pielatis  chri- 
stianae  et  partium  nostrarum  non  deesse  causae  fidei  et  vniuersali  saluti 
statuimus  et  in  animo  noslro  decreuimus  dicto  Duci  in  talem  casum  et 
polliceri  ipsi  auxiliuní  et  ceteros  Principes  in  idem  hortari,  cum  enim 
causa  communis  communeque  periculum  agatur,  silque  ómnibus  honor 
diuinus  et  sánela  fides  pro  uirili  defendenda  nobis  et  caeleris  hanc  opcni 
conlributionis  omnino  non  defugiendam  iudicauimus.  Ilaque  elsi  tanluní 
a  noslris  calamitatibus  eramus  atlenuati,  quantum  omnes  nosse  et  tuam 
Maiestalem  scimus  non  ignorare,  Tamen,  ut  reliquos  non  modo  uerbis 
sed  etiam  rebus  horlemur,  Nobis  ac  venerabilibus  fratribus  noslris  San- 
clae  Romanae  Ecclesiae  Cardinaiibus  summam  quadraginla  millium  duca- 
lorum  imposuimus,  a  tua  uero  Maiestate  si  ita  e¡  uideretur  viginti  mil- 
lia  aureorum  summam  pro  uiribus  et  benignitate  sua  non  incommode  sus- 
cipi  posse  sperabamus.  Te  igilur,  fili  charissime,  cuius  probilas  in  omnj 
excellenti  ac  pia  actione  uersari  sólita  est,  in  Deo  Domino  hortamur  ut 
pro  ipsius  Dci  honore  et  uerac  fidei  defensione,  si  necessilas  tulerit,  nolis 


RELACOES  COM  a  curia  romana  335 

in  participalione  huius  pii  oneris  pro  lúa  uirili  deesse,  sed  prediclaní  v¡- 
ginli  millium  aureorum  summam  in  eum  casum  benigno  polliceri  el  al¡- 
quo  ¡n  loco  próximo  reponi  faceré,  unde  ad  subilam  defensionem  sumi  pos- 
sil,  lum  de  lúa  in  hoc  uoluntale,  quam  non  dubilamus  le  dignam  esse  fu- 
luram,  nos  quamprimum  cerliores  reddere.  Aut  enim  ipsi  herelici  usu 
huius  pecuniae  reprimenlur,  aut  eliam,  quod  euenire  possel,  sola  eius  fa- 
ma delerrebunlur,  fielque  forsilan  cum  Dei  adiutorio  ut  ipsi  Duci  solo 
nomine  subuenialur,  el  ipsa  pecunia  finila  ea  communilione  luae  Maieslali 
inlacla  reslilualur.  Tua  uero  Maieslas,  que  semper  oplimum  et  calholi- 
cum  egil  Principem,  prelerquam  quod  officio  suo  salisíaciel  et  maiorum 
suorum  consueludini  respondebil,  eliam  diclum  Ducem  pro  hac  opilula- 
lione  in  lanío  suo  discrimine  exhibila  perpetuo  sibi  deuinciel.  Deo  aulem 
omnipolenli  a  quo  lot  Regna  adepta  est  grali  et  amanlis  filii  aííeclum  in 
sánela  Religione  defendenda,  sicut  faceré  consueuit,  exhibebil  ab  eo  post 
lerrenam  felicitalem  eliam  celeste  regnum,  apud  homines  uero  immoria- 
lem  gloriara  adeptura :  sicut  hec  eliam  oralor  tuus  pienius  ad  luam  Ma- 
ieslalem  prescribet. 

Dalum  Romae  apud  Sanclum  Petrum,  sub  Annulo  piscatoris,  Die 
XIX  Augusti  MDXxxi,  Ponlificalus  noslri  Anno  octano,  —  Blosius^. 


Hulla  do  Papa  Clciiieiite  \H,  ilirigida 
a  Fr.  Diogo  da  ^ilva. 

1531  —  Desscmbro  19. 


Clemens  episcopus  seruus  seruorum  dei  Dilecto  filio  Didaco  de  Sil- 
ua,  ordinis  Minorum  sancli  Francisci  de  Paula  Profcssori,  Salulem  el 
aposlolicam  benedictionem. 

Cum  ad  nichil  magis  noslra  aspiret  inlenlio  quam  \t  fides  Calholi- 
ca,  noslris  polissime  temporibus,  vbique  floreat  et  augealur,  et  omnis  he- 
relica  prauilas  a  chrislifidelibus  noslra  diligencia  procul  pellalur,  ac  ipso- 
rum  fidelium  animas  deo  lucri  faciaraus,  libenler  operara  vigilem  impen- 

*  Abch.  Nac,  Mac.  19  de  Bullas,  n."  32,  e  Mac.  12,  n."  29. 


336  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

dimus  vi  diabólica  fraude  decepli  ad  aulam  dominicam  reuerlanlur,  ac 
cunclis  erroribus  extirpatis  eiusdem  fidei  zelus  et  obseruanlia  in  ¡psorum 
corda  fidelium  forlius  ¡mprimaliir,  el  si  qui  animorum  peruersilale  ducli 
in  eorum  damnato  proposito  perseuerare  maluerint,  laliter  in  ¡llis  adni- 
niaduerlalur  qiiod  eorum  pena  alus  sil  in  exemplum.  Cum  itaque,  \t  ex 
fidedignorum  relalione  plurimorum  nobis  displicenler  innoluit,  in  pleris- 
que  parlibus  Regni  Porlugalie  el  dominiis  Carissimi  in  christo  filii  noslri 
Johannis,  Porlugalie  et  Algarbiorum  Regis  Illuslris,  nonnulli  ex  hebraica 
perfidia  ad  chrislianam  fidem  conuersi,  chrisliani  noui  nuncupali,  ad  ri- 
tuní  Judeorum  a  quo  discesseranl  rediré,  et  alii,  qui  hebraicam  sectam 
nunquam  professi  sunt,  sed  ex  christianis  parenlibus  sunl  procreali,  ri- 
tum  Judeorum  huiusmodi  obseruare,  ac  alii  Lulheranam  et  celeras  dam- 
nalas  hereses  el  errores  sequi,  ac  sortilegia  heresim  manifesté  sapientia 
insliganle  humani  generis  inimico  commillere  non  vereanlur,  in  grauissi- 
mam  diuine  Maiestalis  oífensam  etorthodoxe  fidei  scandalum,  necnon  ani- 
marum  salulis  perniliem  ac  irreparabile  delrimenlum  :  Nos,  ne  huiusmodi 
pestes  in  perniliem  aliorum  sua  venena  diffundant,  oportunis  remediis, 
prout  noslro  incumbit  oííitio,  prouidere  volenles.  Te,  de  cuius  prouiden- 
lia  reclitudine  experienlia  el  doctrina  idem  Johannes  Rex  per  Oralorem 
suum  nobis  fidem  fecit,  et  de  quo  propterea  plurimum  confidimus,  in  nos- 
trum  el  apostolice  sedis  Commissarium  ac  super  premissis  Inquisitorum 
in  Regno  et  dominiis  predictis  auclorilate  apostólica  lenore  presenlium 
conslituimus  et  depulamus.  Ac  libi  contra  eos,  qui  ad  chrislianam  fidem 
conuersi  ad  rilum  Judeorum  redierunl,  el  contra  ex  christianis  parenli- 
bus procréalos  rilum  Judeorum  seruantes,  ac  alios  Lulherane  et  aliarum 
hcresum  seclalores,  necnon  sorlilegia  manifeslam  heresim  sapientia  com- 
millenles,  illorumque  sequaces  fautores  et  defensores,  ac  illis  auxilium 
consilium  vcl  fauorem,  directe  vel  indirecle,  publice  vel  occulle,  pres- 
tantes, cuiuscunque  status  gradus  ordinisconditionis  vel  preeminenlie  fue- 
rint,  vna  cum  locorum  Ordinariis  in  casibus  in  quibus  de  iure  interue- 
nire  debenl,  si  legitime  requisiti  interuenire  voluerinl,  Alioquin  sine  eis, 
iuxla  lamen  canónicas  sanctiones,  inquirendi,  precedenlibus  sufficientibus 
indiliis  ad  capluram  procedendi  et  eos  carceribus  mancipandi,  el  finaiem 
senlentiam  contra  eos  proferendi,  ac  delinquentes  iuxla  canónicas  san- 
ctiones et  sanctorum  palrum  instituía,  prout  qualilas  excessuum  exegeril, 
penis  debitis  aíücicndi,  el  si  ipsi  Ordinarii  prius  incepcrint  nichilominus 


RELACOES  COM  a  curia  romana  337 

eliam  tu  cuno  eis  te  inlromillere  et  procederé  possis,  omnesque  Officia- 
les,  videlicet,  Procuratorem  fiscalem  ac  Notarios  públicos  et  alios  ad  pre- 
missa  necessarios,  etiam  clericos  siue  religiosos  cuiuscunque  ordinis  fue- 
rint,  vna  cum  locorum  Ordinariis  vel  sine  eis,  prout  ordo  iuris  postulal 
et  \lilitas  exegerit,  adhibendi,  ac  eos  vt  onus  inquirendi  et  alia  premissa 
prout  ad  eorura  offitium  respectiue  spectauerit  faciendi,  etiam  superiorum 
suorum  liceutia  super  hoc  minime  requisita,  acceptent  et  subeant  in  vir- 
lute  sánete  obedientie  precipiendi,  Et  si  necesse  fuerit  aliquem  clericum 
propter  premissa  degradari,  Episcopos,  \t  degradationi  huiusmodi  \na 
cum  Ordinariis  interueniant,  in  virtute  sánete  obedientie  monendi,  ac  Con- 
tradictores quoslibet  et  rebelles  iuris  remediis  compescendi,  ac  auxilium 
brachii  secularis  inuocandi :  necnon  ad  veritalis  lumen  rediré  aut  huius- 
modi hereses  et  errores  abiurare  volentes,  si  alias  relapsi  non  fuerint,  re- 
cepta prius  ab  eis  heresis  et  errorum  huiusmodi  abiuratione,  publice  fa- 
ciendi, prestandoque  per  eos  desuper  iuramento  quod  talia  deinceps  non 
commiltent,  nec  talia  vel  alia  hiis  similia  commitlentibus  seu  illis  adhe- 
renlibus  auxilium  consilium  vel  fauorem  per  se  vel  alium  seu  alios  pres- 
tabunl,  et  alias  in  forma  ecclesie  consueta  ab  hiis  et  quibusuis  censuris 
et  penis  ecclesiaslicis,  quas  propterea  incurrissent,  etiam  si  videbitur  in- 
iuncta  eis  publica  penitentia  absoluendi,  ac  ad  ecclesie  gremium  ac  vni- 
tatem  restituendi  et  reponendi,  necnon  ad  nostram  et  dicte  sedis  gratiam 
et  benedictionem  recipiendi,  ac  penas  iuris  limitandi,  omniaque  alia  el 
singula,  que  ad  huiusmodi  hereses  et  errores  ac  sortilegia  refrenanda  et 
radicitus  extirpanda  oportuna  esse  quomodolibet  cognoueris,  et  ad  offi- 
ciura  inquisitionis  huiusmodi  tam  de  iure  quam  consueludine  perlincnt 
faciendi  gerendi  ordinandi  exercendi  et  exequendi;  necnon  alias  ecclesias- 
licas  personas  ydoneas  Iliteratas  et  deum  timentes,  dummodo  sinl  in  Theo- 
logia  Magistri,  seu  in  altero  Jurium  Doctores  seu  Licentiati,  aut  eccle- 
siarum  Cathedralium  Canonici,  aut  alias  in  ecclesiastica  dignilate  consti- 
tule,  quotiens  opus  esse  cognoueris,  assumendi  et  surrogandi,  et  assum- 
ptas  amouendi,  ac  alias  similiter  qualificatas  earum  loco  surrogandi,  que 
pari  iurisdictione  facúltale  el  auctoritate  quibus  tu  fungeris  funganlur, 
plenam  liberam  et  omnimodam  facultalem  concedimus :  Non  obstantibus 
felicis  recordationis  Bonifacii  pape  viii  predecessoris  nostri,  qua  cauetur 
ne  quis  extra  suam  Ciuitalem  vel  diocesem,  nisi  in  cerlis  exceplis  casi- 
bus,  et  in  illis  non  nisi  vltra  vnam  dielam,  a  fine  sue  diócesis  ad  iudi- 

TOMO  II.  43 


338  GORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

tium  euocetur,  Seu  ne  Judices  a  sede  predicla  deputali  extra  Ciuitalem 
vel  diocesem  in  quibus  deputali  fuerinl  contra  quoscunque  procederé,  aut 
alii  vel  alus  vices  suas  committere  presumant,  Et  de  Duabus  dielis  in 
Concilio  generali  edita,  ac  alus  Constitutionibus  et  ordinationibus  aposto- 
licis  conlrariis  quibuscunque.  Aut  si  personis  predictis  Yel  quibusuis  alus 
communiter  vel  diuisim  a  dicta  sit  sede  indultum  quod  interdici  suspendí 
vel  excomraunicari,  aut  extra  vel  vltra  certa  loca  ad  iudicium  euocari 
non  possint  per  litteras  apostólicas  non  facientes  plenam  et  expressam  ac 
de  verbo  ad  verbum  de  indulto  huiusmodi  raentionem^  et  quibuslibet  alus 
priuüegiis  indulgentiis  et  lilteris  apostolicis,  sub  quibuscunque  tenoribus 
et  formis  concessis,  per  que  presentiura  litterarum  et  vestre  iurisdictionis 
in  premissis  executio  quomodolibet  impedid  vel  diíferri  possit,  que  quoad 
hoc  ipsis  aut  alicui  eorum  nullatenus  suffragari  posse  vel  deberé  decer- 
nimus. 

Datum  Rome  apud  Sanctum  petrum  Anno  Incarnationis  Dominice 
Millesimo  quingentésimo  trigésimo  primo,  Sexto  décimo  Kalendas  Janua- 
rura,  Pontiíicatus  nostri  Anno  Nono. — Euangelista  ^ 


Breve  do  Papa  Cleitieiite  VII,  dirigido 
a  Fr.  Diogo  da  liilva. 

158:9 — Janeiro  13. 


Clemens  papa  vii  Dilecte  fili  salulem  el  apostolicam  benedictionem. 

Cum  nuper  le  ex  causis  tune  expressis,  procurante  Charissimo  in 
chrislo  filio  nostro  Joanne  Portugallie  et  Algarbiorum  Rege  illustre,  le  in 
nostrum  et  apostolice  Sedis  commissarium,  ac  su  per  lulherana  et  alus 
damnatis  hcresibus  Inquisitorem  in  Regno  Portugallie  el  dominiis  prefali 
Regis  per  quasdam  nostras  litteras  constituerimus  et  deputauerimus,  ac 
Ubi  contra  eos,  qui  ex  judaismo  ad  christianam  fidem  conuersi  ad  rilum 
Judeorum  redirenl,  el  contra  ex  christianis  parentibus  procréalos  rilum 
hebreorum  seruanles,  ac  alios  lutherane  el  aliarum  damnalarum  heresum 

1  Arch.  Nac,  MaQ.  2  de  Bullas,  n.^*  6. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  339 

seclatores,  necnon  sacrilegia  manifeslam  heresim  sapienlia  commitlenles, 
illorumque  sequaces,  fautores,  ac  illis  auxilium,  consilium  iiel  fauorem 
directe  uel  indirecle  publice  uel  occulle  prestantes,  cuiuscunque  gradus, 
ordinis,  condicionis  uel  preeminenlie  fuerint,  una  cum  locorum  ordina- 
riis,  in  casibus  in  quibus  de  iure  inleruenire  debebanl,  si  legitime  requi-r 
siti  interuenire  uellent,  alioquin  illis,  iuxla  tamen  canónicas  sancliones, 
inquirendi,  precedenlibus  sufficientibus  indiciis  ad  capturam  procedendi 
et  eos  carceribus  mancipandi,  et  finalem  senlenliam  contra  eos  proferen- 
d¡,  ac  delinquentes  iuxla  easdem  canónicas  sancliones  et  sanclorum  Pa- 
trum  inslilula,  prout  qualilas  excessuum  exegerit,  afficiendi,  et  alia  tune 
expressa  faciendi,  plenam  et  liberam  facullalem  concesserimus,  prout  in 
eisdem  litleris  plenius  conlinentur :  Nos,  intendentes  litteras  predictas  ad 
orthodoxe  fidei  conseruationera  et  augumentum  débitos  sortiri  eíFectus,  ac 
propterea  ne  contingat  illarum  executionem  excusatione  intermitli,  seu 
plus  debito  differi  prouidere  uolentes,  Deuotioni  tue  in  Yirtute  sánele  obe- 
dienlie  et  sub  excommunicalionis  pena  precipimus  et  mandamus  Quale- 
nus  ad  diuini  nominis  exaltalionem  omni  excusatione  et  mora  cessante 
onus  tibi  facte  commissionis  predicte  prompla  deuotione  suscipias,  nec  te 
ab  illo  quouis  pretextu  exonerare  procures,  Sed  oíficium  inquisitionis  hu- 
iusmodi  iuxla  litterarum  prediclarum  lenorem  et  datam  tibi  a  Domino  pru- 
denliam  iusle  et  fideliter  sic  exercere  sludeas,  quod  gratia  suíFragante  di- 
uina  oplati  fruclus  quos  speramus  ex  inde  succedant,  et  apud  Deum  bo- 
norum  operum  retributorem  premium,  el  apud  nos  commendalionem  con- 
sequi  merearis :  Non  obstantibus  quibusuis  priuilegiis,  indultis  et  litleris 
apostolicis  ordini  minimorum  Sancli  Francisci  de  Paula,  cuius  professor 
existís,  sub  quibuscunque  tenoribus  et  formis,  ac  cum  quibusuis  clausu- 
lis  et  decrelis  concessis  et  approbalis,  que  tibi  aduersus  premissa  nulla- 
tenus  suffragari  posse  uolumus,  celerisque  contrariis  quibuscunque. 

Dalum  Rome  apud  Sanclum  Petrum,  sub  annulo  Piscaloris,  die  xiii 
Januarii  mdxxxii,  Ponlificatus  nostri  Anno  Nono.  —  EuangelislaK 


1  Arch.  Nac,  Mac.  2  de  Bullas,  n.°  18. 

43 


340  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 


Breve  do  Papa  Clemente  Til,  dirig^ido  a  el-Rei. 


153S  —Abril  15. 


Clemens  papa  yii  Charissime  in  chrislo  fili  noster  salulem  el  apos- 
tolicam  benedictionera. 

Dudum  postquam  felicis  recordationis  Leo  papa  x,  predecessor  nos- 

1er,  Motu  proprio  lol  preceptorias  mililie  Jesu  chrisli  Cisterciensis  ordi- 

nis  quot  infra  terminum  unius  anni  ex  tune  compulandi,  et  sub  inuoca- 

tionibus,  que  clare  memorie  Emanueli  Porlugallie  et  Algarbiorum  Regí, 

tune  in  humanis  agenli  et  dicte  militie  Regni  Porlugallie  administralori  de- 

putato,  viderenlur,  in  militia  huiusmodi  perquasdam  erexerat,  ac  tot  bona 

et  iura  monasleriorum  et  Prioratuum  dicte  mililie,  usque  ad  summam  vi- 

ginti  millium  lot  iuxta  formam  tune  expressam  disraerabrari  peleret,  Alio- 

quin  pro  eo  quod  in  dicta  summa  deesset  ex  parrochialibus  ecclesiis 

per  eundem  Emanuelem  Regem  exprimendis  et  declarandis,  usque  ad  di- 

clam  summam  viginti  millium  ducalorum,  saltem  pro  singulis  earundem 

ecclesiarum  Rectoribus  portione  sexaginla  ducalorum  reseruala,  dismem- 

brauerat  el  separauerat,  illaque  sic  separata  el  dismémbrala  preceploriis 

sic  ereclis  proportionaliter  pro  earum  dolibus  perpetuo  applicauerat ;  ac 

dicto  Emanueli  pro  tempere  existenli  Porlugallie  el  Algarbiorum  Regi  no- 

minandi  ad  singulas  preceptorias  singulos  milites,  qui  contra  infideles  mi- 

litassent,  et  post  nominalionem  huiusmodi  per  lempus  per  ipsos  Reges  sla- 

luendum  contra  ipsos  infideles  militarenl  uel  alias  benemeriti  forenl,  fa- 

cullatem  concesserat ;  necnon  episcopo  Geptensi  el  ministro  Sánele  Trini- 

talis  vlixbonensis  pro  tempere  exislenlibus,  ac  eorum  cuilibet,  vt  fruclus, 

redditus,  prouentus,  ceusus,  obuenliones  et  emolumenta  a  dictis  monas- 

teriis,  prioratibus  et  parrochialibus  ecclesiis  separata  et  dismémbrala  pro 

dolibus  huiusmodi,  saluis  modificalionibus  el  reseruationibus  prefatis  de- 

signarent  el  assignarent  mandaueral :  et  deinde  ex  certis  causis  per  alias 

fruclus,  redditus,  prouentus,  iura  et  obuenliones  monasleriorum,  separa- 


RELACOES  COM  a  curia  romana  341 

tionem  el  dismembrationem,  ac  illorurn  preceptoriis  pro  earura  dote  ap- 
plicationem,  ac  per  minislrum  illarum  designaliones  et  assígnationes  fa- 
cías, huiusmodi  reuocans  et  annuUans,  tot  alia  fructus,  reddilus,  prouen- 
tus,  census,  iura  et  emolumenta  aliarum  parrochialium  ecclesiarum  in 
Regno  et  dominio  huiusmodi  consistentium,  et  episcopum  seu  ministrum 
prefatos,  infra  terminum  vnius  anni  a  data  priorum  litlerarum  compu- 
landum,  exprimendarum,  usque  ad  summam  ad  quam  ascendebant  fru- 
ctus, redditus,  prouenlus,  census,  iura  et  obuentiones,  que  a  dictis  monas- 
teriis  erant  separata,  et  a  dictis  preceptoriis  pro  illarum  dote  applicata,  et 
quorum  separationem  et  applicationem  tune  cassauerat  et  ab  eisdem  par- 
rochialibus  ecclesiis  dismembrauerat  et  separauerat,  reseruata  lamen  illa- 
rum Recloribus  simili  portione  sexaginta  ducatorum  huiusmodi,  ac  fru- 
ctus, reddilus,  prouenlus,  census,  iura  et  emolumenta  a  diclis  parrochia- 
libus  ecclesiis  sic  dismémbrala  eisdem  preceptoriis  pro  earum  dolé  appli- 
cauerat  et  appropriauerat:  ac  demum,  ex  alus  sibi  tune  parte  ipsius  Ema- 
nuelis  Regís  exposilis  causis,  per  reliquas  suas  Hileras  portionem  sexa- 
ginta ducatorum  ex  fructibus  parrochialium  ecclesiarum  per  episcopum 
seu  ministrum  expressarum  prefatum  pro  illarum  Recloribus  reserualam, 
vt  preferlur,  moderans,  vnam  Iriginta  quinqué  ex  quarla  el  aliam  sexa- 
ginta ex  vnius  ex  reliquis  tribus  partibus  omnium  parrochialium  eccle- 
siarum per  episcopum  seu  minislrum  expressarum  huiusmodi  ex  eccle- 
siarum earundem  fructibus,  reddilibus  el  prouentibus  reseruauerat,  el  rao- 
deralionem  ac  laxalionem  pro  porlionibus  ecclesiarum  earundem  pro  lem- 
pore  exislenlium  ex  singularum  ipsarum  fructibus  per  posteriores  lilleras 
facías  huiusmodi  ex  tune  de  celero  perpeluis  fuluris  temporibus  inuiola- 
biliter  obseruari  deberé  decreuerat ;  pro  parle  tune  Rectorum  perpetuo- 
rumque  vicariorum  parrochialium  ecclesiarum  prediclarum,  quarum  fru- 
ctus, reddilus  et  prouenlus  diclis  erectis  preceptoriis  applicata  fuerunt, 
nobis  expósito  quod  vigore  diclarum  litlerarum  plures  preceplorie  mililie 
predicte  in  prefalo  Regno  erecle  et  deinde  militibus  ipsius  mililie  collale 
fuerint,  et  adhuc  alique  remanebant  conferen.  ac  nonnulli  preceptores  mi- 
lilie huiusmodi,  quibus  de  diclis  erectis  preceptoriis  prouisum  extiterat, 
oblationes  que  in  ipsis  ecclesiis  fiebanl,  ac  anniuersariorum  in  illis  ins- 
tilutorum  prouenlus  lenebanl,  necnon  domos  ipsarum  ecclesiarum  pro  il- 
larum Recloribus  depulatas  occupabanl,  el  ipsi  Rectores  ac  vicarii  ex  of- 
fertoriis  earundem  ecclesiarum  nihil  percipiebant :  Nos  per  alias  noslras 


342  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

in  forma  breuis  Hileras  decreuimus  el  declarauimus  oíTerloria  et  oblatio- 
nes,  que  in  dictis  ecclesiis  pro  uiuis  el  defunclis  per  osculum  manus  il- 
larura  dalorum  seu  vicariorum  erogabantur,  ac  prouenlus  anniuersario- 
rum  seu  Capellarum  et  funeralium  ¡n  illis  fundalorum  ac  per  ipsos  cele- 
bratorum,  necnon  domos  earundem  ecclesiarum  in  dismembralione  sepa- 
ralione  et  applicatione  prediclis  rainime  comprehensas  esse  nec  compre- 
hendi  posse  aut  deberé,  necque  illarum  ratione  et  insliluliones  preceplo- 
riarum  eliam  conferende  prediclarum  prelextu  Recloribus  el  vicariis  pre- 
falis  quominus  oífertoria  el  oblaliones  uiuorum  et  defunclorum,  ac  pro- 
uenlus anniuersariorum  et  funeralium  seu  morluarium  vt  prius  percipe- 
rent,  et  domos  huiusmodi  tenerent  et  possiderent,  nullalenus  preiudica- 
lum  fuisse  aut  esse,  sed  ipsos  Rectores  et  Vicarios  oblaliones  prouenlus 
et  oífertoria  huiusmodi  vt  prius  integre  percipere  el  leuare,  ac  omnes  et 
singulas  domos  ecclesiarum  huiusmodi  lenere  possidere  inhabilare  posse 
indicare  deberé,  ac  quicquid  secus  atlenlari  conlingeret  irritum  et  inane 
decreuimus  cum  inhibilione  et  alus  decrelis  et  clausulis  tune  expressis, 
prout  in  eisdem  lilleris  plenius  conlinetur.  Cum  autem,  sicut  Maieslas  tua 
nobis  nuper  exponi  fecit,  lillere  noslre  predicle  le  prefali  Emanuelis  Regis 
nato,  ac  in  Regno  et  minislratu  mililie  huiusmodi  successore  eiusdem  mi- 
ütie  in  dicto  Regno  perpetuo  adminislratore  in  spirilualibus  et  lemporali- 
bus  per  sedem  aposlolicam  deputato,  seu  luo  apud  nos  oralore  aut  pro- 
curalore  non  vocalo  a  nobis  emanauerint,  ac  per  illas  effectus  dismembra- 
tionis  separationis  et  applicationis  prediclarum  diuersimode  impediri  di- 
noscatur,  nobis  humililer  supplicari  fecisli  \í  easdem  Hileras  nostras  ad 
statum  debilum  reducere,  ac  alias  super  his  apostólica  aucloritale  proui- 
dere  de  benignilate  apostólica  dignaremur :  Nos  igilur  de  premissis  cer- 
tam  noliliam  habentes,  ac  in  his  debilis  modis  procederé,  ac  volis  luis, 
quantum  cum  deo  el  huius  sánele  sedis  honore  fieri  possit,  salisfacere,  et 
ne  alicui  iniuria  fieri  noscatur  prouidere  cupienles,  luis  in  hac  parte  sup- 
plicationibus  inclinali,  Hileras  nostras  prediclas  ac  illarum  effectum  in  eo 
slatu  in  quo  nunc  existunt  ad  annum  a  dat.  presentium  compulandum, 
infra  quem  oralorem  seu  procuratorem  Maieslatis  tue  super  proponendis 
per  eum  contra  premissa  malure  et  plañe  audire,  et  desuper  qnod  iuslum  el 
equum  fuerit  deccrnere  parali  sumus,  auctorilate  apostólica  lenore  pre- 
sentium suspendimus  et  suspensas  esse,  ac  quicquid  contra  huiusmodi  sus- 
pensionem  et  illa  durante  atientan  conligeril  irritum  ct  inane  decernimus: 


RELACOES  GOM  a  curia  romana  343 

Nos  obslanlibus  premissis,  necnon  ómnibus  illis,  que  in  singulis  predi- 
clis  concessum  fuit  non  obstare,  ceterisque  contrariis  quibuscunque. 

Datum  Rome  apud  sanctum  Pelrum,  sub  Annulo  Piscatoris,  die  xv 
Aprilis  MDxxxii,  Ponlificatus  noslri  anno  nono.  —  Euangelisía^. 


Breve  do  Papa  Clemente  Til,  dirig^ido  a  el-Rei. 

153S— Abril  94« 


Clemens  papa  vii  Charissime  in  chrislo  fili  noster  salulem  et  apos- 
lolicam  benedictionem. 

Conluliraus  nuper  dileclo  filio  Slefano  Ribeyro  d  almeida,  dilecti  filii 
et  secundum  camera  nepotis  noslri  Hippoliti  sanctae  Práxedis  Diaconi 
Cardinalis  de  Mediéis  nuncupati  seruiliis  insistendo,  familiari  continuo 
commensali  nostro,  Prioratum  secularis  et  coUegiatae  ecclesiae  sancti  spi- 
rilus  oppidi  ciuitalis  nuncupati  de  Azamor,  Zaphiensis  diócesis,  tune  per 
obitum  bonae  memoriae  Gundissalui,  olim  episcopi  Calamensis,  extra  ro- 
manara curiara  defuncti  vacantem,  ad  quem  tua  Maiestas,  sicut  accepi- 
mus,  eundem  Stefanum  presenlauerat,  prout  ex  alus  noslris  litteris  sub 
plumbo  expeditis  plenius  eidem  tuae  Maiestati  constabit.  Hortaraur  igitur 
Serenitatem  tuam  in  Domino  ut  dicti  Stefani,  qui  tuae  Maiestatis  fidelis- 
simus  subditus  est,  procuratoribus  in  execulione  dictarum  et  assequenda 
eiusdem  Prioratus  possessione  oportunos  fauores  preberi  faceré  velis,  iuxta 
dictarum  sub  plumbo  litlerarum  tenorem  et  continentiam. 

Datura  Romae  apud  sanctum  Petrura,  sub  annulo  piscatoris,  die  xxiiii 
Aprilis  MDXxxii,  Pontificatus  noslri  anno  nono.  — Blosius  ^ 


*  Arch.  Nac.  Mac.  2  de  Bullas,  n.°  13,  e  em  vulgar  no  Mac.  19,  n."  11. 

*  Ibi.  Mac.  19  de  Bullas,  n."  30. 


344  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

lustriicc^deís  a  Braz  Meto. 

(153«1). 


Doulor  bras  nelo  amigo  Eu  el  Rey  vos  emvio  muyto  saudar. 

Veemdo  eu  como  em  alguumas  das  cidades,  villas  e  lugares,  que 
pellos  Reis  meus  antecesores,  e  por  el  Rey  meu  senhor  e  padre  que  santa 
gloria  aja,  foram  ganhados  e  lomados  em  áfrica  por  forca  d  armas  aos 
mouros  ymiguos  de  nosa  sania  fee,  E  de  que  ale  agora  Ihe  he  feyta  muy 
contynua  guerra,  com  grandes  despesas  e  gastos  que  se  faz  na  manlemca 
delles  com  os  fidalguos  caualleiros  e  gemte  darmas,  que  estam  em  sua 
garda  e  defemsam,  e  que  a  dita  guerra  conlynuadamente  fazem  como  ao 
mundo  he  notorio  e  vos  muy  bem  sabees,  e  que  diso  poderes  e  saberes 
dar  muy  ynteira  enformacam  ab  sanio  padre  e  em  toda  oulra  parte  que 
compryr,  nam  ha  aqueta  disposisam  que  nos  lempos  pasados  avia  pera  a 
dita  guerra  se  fazer  aos  mouros  por  a  térra  se  despovoar  delles  por  muy 
gramdes  estreüdades  que  na  Ierra  ouue ;  E  asy  porque  allguuns  delles 
tem  os  porlos  da  desembarcacam  muy  periguosos  e  taes  que  se  nom  pode 
neles  desembarcar  senom  com  lempos  muyto  feytos  e  bonancosos,  de  que 
se  Ihe  ja  seguyo  muy  gramde  necesydade  e  Risquo  dos  mesmos  lugares 
e  da  gente  que  neles  estaa,  por  os  mouros  os  virem  cerquar  em  lempo 
que  nom  se  Ihes  pode  meter  o  socorro  necessario  asy  de  gemte  como  de 
mantimentos  e  artelharyas,  postoque  de  ludo  estem  prouydos  como  Ihe 
he  necesario,  porque  quamdo  os  mouros  os  vem  cerquar  vem  com  muy 
grande  poder,  e  lodauya  he  necesario  socoreellos  a  que  ha  os  inconve- 
nyentes  sobreditos ;  dizee  ao  santo  padre  de  minha  parte  que  por  estes 
respeitos,  e  por  outros  a  que  de  necesidade  se  deuem  proueer  com  aquele 
conselho  e  seguridade  que  conveem  por  seruico  de  deus  e  meu  descanso, 
consiradas  e  olhadas  muy  bem  todas  as  cousas,  e  como  de  se  soslerem 
alguuns  dos  ditos  lugares  estam  vistos  a  olho  os  Risquos  e  danos  que  Ihe 
podem  sobrevyr,  e  como  pera  se  fazer  delles  a  guerra  nom  ha  aquele  lu- 
gar que  soya  pella  Rezam  airas  dita,  Eu  eslou  em  detryminacam  de  de 
todo  leíxar  allguuns  delles,  c  outros  alalhar  pera  íicarem  mais  seguros  o 


RELACOES  COM  a  curia  romana  345 

sem  Receo  dos  cerques  que  Ihe  os  mouros  venham  poer,  asy  como  he  a 
cidade  dazamor,  que  foy  tomada  em  lempo  delRey  meu  senhor  e  padre 
que  santa  gloria  aja,  a  quall  se  nom  pode  socorer  nem  fornecer  de  gente, 
mantimenlos,  artelharia,  nem  de  nenhuuma  outra  cousa,  saluo  pella  barra 
e  entrada  de  huura  Rio  sobre  que  ela  estaa  asentada,  que  quasy  lodo  ho 
anno  asy  d  ynverno  como  de  veraao,  por  ser  agoa  muy  baixa  e  os  ma- 
res corerem  aly  muyto  e  fazerem  tam  gramdes  vagadias,  que  muy  Rara- 
mente podem  os  nauyos  entrar,  e  ainda  muy  escasamente  os  muyto  pe- 
queños, de  que  se  pode  facylmenle  seguir  se  perder  a  cidade  e  a  toma- 
rem  os  mouros,  e  se  perderem  os  christaaos  que  nella  vyuem,  como  já 
por  muytas  YCzes  semdo  cerquados  coreram  muy  gramde  Risquo  e  ven- 
tura ;  e  que  esta  por  estes  ynconvenyentes,  a  que  nom  ha  nenhum  Reme- 
dio, estou  em  detryminacam  de  mandar  de  todo  leixar,  e  se  derribar  loda 
por  pee  de  maneira  que  nom  posa  ficar  aos' mouros  nella  nenhum  aco- 
Ihymento.  E  oulro  tanto  a  cidade  de  cafy,  que  asy  foy  ganhada  em  lempo 
delRey  meu  senhor  e  padre,  a  qual  estaa  asentada  sobre  a  costa  do  mar 
sem  ter  porto  nenhuum  em  que  os  nauyos  ancorem  e  se  acolham,  e  como 
veem  o  lempo  contrario  loguo  se  desamaram  e  aleuanlam  sem  terem  ou- 
lro Remedio,  pello  que  core  aqueta  cidade  muy  grande  Risquo  por  muy 
amyude  os  mouros  a  \irem  cerquar  com  muy  grande  poder,  e  fiqua  a 
beneficio  do  lempo  sem  se  poder  socorer  nem  Remediar.  E  asy  meesmo 
a  villa  d  alcacer,  que  foy  tomada  aos  mouros  em  lempo  delRey  dom  afonso 
o  quynto,  o  qual  entam  se  lomou  por  seer  o  prymeiro  lugar  em  que  na- 
quele  lempo  se  entemdeo  e  de  que  se  podia  fazer  a  guerra,  o  qual  he 
tam  pequeño  que  se  nom  pode  nelle  agasalhar  a  gente  que  convem  pera 
delle  agora  se  fazer,  nem  a  Ierra  lem  disposisam  pera  a  gente  sayr,  por 
ser  muy  fraguosa  e  periguosa,  e  muytas  vezes  se  perderam  os  propios  ca- 
pitaes  e  muyla  gente  com  eles,  por  a  disposisam  da  Ierra  ser  tal  que  muy 
poneos  mouros  de  pee  podem  fazer  muyto  daño  a  nossa  gente  sem  elles 
se  poderem  valler  nem  Remediar.  E  na  cidade  de  cepla,  que  foy  tomada 
por  elRey  dom  Joham  da  louuada  memoria,  por  ser  muy  grande  a  po- 
uoracam  em  que  vyuem  os  christaos,  e  della  já  agora  se  poder  fazer  pouca 
guerra,  estou  em  detryminacam  de  mandar  fazer  atalho  mais  pequeño,  em 
que  caiba  a  gente  que  soomenle  ha  posa  defender  e  segurar  dos  cerquos 
que  Ihe  os  mouros  vierem  poer,  que  muy  amyude  se  Ihe  poe,  e  muytas 
vezes  por  el  Rey  de  Fez  em  pesoa  e  com  todo  seu  poder,  a  quall,  ainda 

TOMO  II.  44 


346  GORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

que  tenha  portos  pera  se  Ihe  poder  socorer,  sam  tara  grandes  as  arma- 
das que  os  mouros  aly  trazem,  por  lerem  muy  tos  portos  a  que  se  aco- 
Iher  e  em  que  ynvernam,  e  aimda  turquos  que  se  com  os  mouros  da 
tera  vem  aj untar,  que  se  socore  com  muy  grosas  armadas,  e  com  que  se 
fazem  muy  grandisymas  despesas,  sera  diso  Resultar  nenhum  dos  prouey- 
tos  que  da  guerra  daquella  cidade  nos  lempos  pasados  se  seguyam,  por  as 
cousas  serem  mudadas,  e  toda  a  guerra  daquelas  partes  pemder  e  se  fa- 
zer  da  minha  cidade  de  tamger  e  da  minha  villa  d  arzilla,  que  sam  mais 
conjuntas  ao  reyno  de  fez,  á  qual  cidade  de  tanger  e  villa  d  arzilla  estou 
em  detryminacam  de  mandar  pasar  toda  a  gente  d  armas  destes  oulros  lu- 
gares que  asy  detrymyno  de  leixar  no  modo  sobredito,  com  a  qual  e  com 
a  gente  ordenada  que  eles  tem  se  fará  a  guerra  a  elRey  de  fez  com  mais 
gente  e  mais  contynuamente,  a  qual  espero  em  noso  senhor  que  se  Ihe 
faca-  mais  apertadamente  e  em  tal  modo  que  elle  a  semta  melhor  do  que 
estar  a  gente  espalhada  pellos  outros  lugares  sem  proveilo  e  com  muy 
grandes  gastos  e  despesas,  e  mais  em  especial  no  tempo  d  agora  em  que, 
louuores  a  noso  senhor,  sam  os  anos  lam  exteriliis  que  de  fora,  a  saber, 
de  cizilia  e  de  dynamarca  mando  viir  o  pam  pera  a  mantenca  dos  ditos 
lugares,  que  nam  soomente  se  ha  a  precos  muy  grandes,  mas  aimda  por  a 
navegacam  ser  lam  longe  se  perde  muylo  no  mar,  asy  pellas  tormentas 
como  por  apodrecer  e  se  perder  na  viagem.  E  direz  a  sua  santidade  que 
o  anno  pasado  esleue  ordenado  o  Ifante  dom  Luis  meu  irmao  pera  se  pa- 
sar a  tanger  e  arzilla  com  a  gente  destes  lugares  que  quero  leixar  por  os 
respeitos  sobredilos,  e  com  a  propia  dos  ditos  lugares  de  tanger  e  arzila, 
e  outra  que  consiguo  avia  de  leuar  do  Reyno,  que  serya  toda  em  lamia 
soma  que  com  ella  farya  muy  «aperladamente  a  guerra  a  el  Rey  de  fez  e 
o  poerya  em  muy  grande  necesydade,  que  se  leixou  de  fazer  por  ha  pes- 
tenenca  que  sobreveyo  a  este  Reyno,  e  pella  gramde  estrelidade  que  nelle 
ouúe  e  ha,  e  asy  em  castella  de  que  grande  parle  de  pam  se  avia ;  mas 
que  espero  em  noso  senhor  que  tornará  os  annos  de  maneira  que  se  posa 
asy  fazer  como  eu  desejo,  e  que  desla  mudanca  se  sygua  lamto  seu  ser- 
uico  que  nam  posa  ser  em  nenhuum  outro  modo  mayor. 

ítem :  Direes  a  sua  santidade  que  por  nestes  lugares,  que  asy  quero 
leixar  no  modo  sobredito  e  com  os  fundamentos  acyma  declarados,  aveer 
sees  catredaes  e  Igrejas  parrochiaes,  moesteiros  e  capeellas,  que  de  ne- 
cesidade  ham^  de  ser  derribados,  porque  nom  venham  em  poder  dos  yn- 


RELACOES  COM  a  curia  romana  347 

fyes  e  sejam  feitas  profanas  contra  seruico  de  deus  e  em  oupobryo  de 
nosa  fee,  e  tambera  por  nom  ficarem  aos  ditos  ymyguos  por  forlallezas 
contra  os  christaos,  soprico  e  peco  por  mercé  a  sua  santidade  que  me  ou- 
torgue  e  conceda  autoridade  por  sua  bulla  pera  mandar  derribar  as  ditas 
Igrejas  dos  ditos  lugares,  postoque  allguma  seja  see  catedral,  e  moestei- 
ros  e  cápelas  quamdo  e  quaes  me  parecer  necesario,  ficando  reseruados 
e  saluos  aos  cleriguos,  que  ora  sam  próvidos  em  ellas  de  beneficios,  seos 
fruytos  e  Remdas  em  suas  vidas,  e  seruirám  em  oulras  ygrejas  nos  ou- 
tros  lugares  das  ditas  partes,  segundo  seu  bispo  ordynaryo  ordenar  com 
meu  consentymento ;  E  com  todas  as  crausullas  necesarias  convenyentes 
e  acostumadas  ñas  semelhantes  expidicoés,  no  que  sua  santidade  me  fará 
syngular  merce  por  com  todo  meu  descarego  o  poder  mandar  fazer,  e  se 
tirarem  os  inconvenyentes,  que,  fazemdo  se  sem  sua  autoridade,  poderya 
aver. 

E  dirés  a  sua  santidade  que,  se  compryr  pera  efeito  disto  declarar 
juizes,  que  Ihe  peco  por  mercee  que  sejam  os  bispos  de  lameguo  meu  ca- 
pellam  mor  e  o  de  viseu  meu  sprivam  de  poridade,  que  Resydem  conty- 
nuadamente  em  minha  corte,  E  o  vigairo  geeral  do  arcebispado  de  lix- 
boa,  com  clausulla  de  todos  juntamente  ou  cada  buum  deles  o  poder  fa- 
zer, e  com'todas  as  oulras  crausulas  necesarias,  e  com  derogacam  da 
constetuycam  de  huuma  dieta,  e  do  concilio  de  duas,  as  quaes  dyetas  yn- 
distyntamente  se  deroguem  por  as-Igrejas  serem  ñas  ditas  partes  d  áfrica, 
e  os  Juizes  e  eixecutores  uestes  reynos. 

ítem  :  Vos  encomendó  que  facaes  que  as  bulas  e  prouisoes  necesa- 
rias pera  efeyto  do  que  dito  he  especaes  de  cada  lugar  por  sy,  porque 
asy  o  averey  por  melhor  e  mais  meu  seruico  do  que  virem  todas  juntas 
em  huuma  bulla,  porque  quamdo  se  ouuese  de  fazer  a  obra  em  quall- 
quer  dos  sobredüos  lugares  se  vise  por  sy  soo  a  bulla  delle  :  e  parece  me 
que  por  asy  se  fazer  nom  se  farya  maior  despesa. 

E  averey  muyto  prazer  de  logo  como  esta  vos  for  dada  fazerdes  esta 
sopricacam  a  sua  santidade,  e  Ihe  apresentardes  todas  as  causas  e  Re- 
zoes  que  me  mouem,  e  asy  bem  como  ey  por  certo  que  ho  saberes  fazer, 
E  asy  as  exprimirdes  e  declarardes  na  sopricacam  que  fezerdes,  a  qual 
\os  nom  emvio  feyta  de  cá  porque  me  pareceo  que  nam  era  necesario,  e 
que  lá  a  ordenaryes  milhor  com  o  abrevyador. 

Lembro  uos  que  o  que  vos  diguo  atrás  da  Ida  do  Ifante  dom  luis 

44  * 


348  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

meu  Irmao  seja  soomente  pera  asy  o  dizerdes  ao  sanio  padre,  e  sua  san- 
tidade  saber  niso  minha  temcam,  e  quainto  ey  por  mais  proueyloso  es- 
tar a  gente  d  aqueles  lugares,  que  asy  quero  leixar,  com  a  outra  de  lan- 
ger  e  arzilla,  do  que  asy  espalhada  pera  mais  grosamente  me  fazer  a 
guerra  ao  reyno  de  fez,  mas  nom  porque  se  meta  por  clausulla  d  obriga- 
cam  ñas  bullas  que  expedirdes.  E  muyto  vos  gradecerey  de  com  a  mayor 
breuidade  que  poderdes  me  eraviardes  as  bulas  e  prouysoes,  com  todas 
as  clausulas  necesarias  pera  ynteiro  efeyto,  e  asy  de  derogacam  onde  com- 
pryr  emlrarem  derogatoryas,  e  tara  abastantes  e  soficienles  como  viirdes 
que  he  necesario,  e  confyo  de  vos  que  o  saberes  fazer.  E  avendo  alguum 
ympidimento  pera  logo  nom  acabardes  esta  expidicam  e  emviardes  as  bu- 
las della,  sprevée  mo  muy  compridamente  com  voso  parecer  do  que  niso 
vos  parece  que  se  deue  fazer.  E  lembro  uos  tambem  que  trabalhés  por 
que  se  faca  com  o  meenos  custo  e  despesa  que  for  posyuel.  Sprita....  '. 


Breve  do  Papa  Clemente  Til,  clirig;iclo  a  el-Rei. 


1539— Malo  15. 


Clemens  papa  vii  Charissime  in  christo  fili  nosler  salutem  et  aposto- 
licam  benedictionem. 

Etsi  in  presentía  nos  vrgebant  priualae  aliquae  causae  nostrae  et  Ca- 
merae  apostolicae  ad  mitlendum  ad  serenitatem  tuam  legatum  seu  Nun- 
tium  nostrum  pro  Annatis  el  alus  iuribus  eidem  Camerae  debilis,  el  dua- 
bus  decimis  máxima  ratione  seu  potius  necessilate  noslra  super  fructibus 
ecclesiarum  et  beneficiorum  tui  Regni  per  nos  impositis  exigendis ;  lamen 
ut  hoc  maturaremus  faceré  multo  plus  nos  adegerunt  publicae  causae  mi- 
serae  christianilatis,  quae  a  potentissimo  et  intensissimo  Dei  et  nostro  hoste 
turca  in  dies  periculum  metuit  aut  instans  aut  cerle  ita  proximum,  vt  la- 
xamentum  si  quod  forte  ab  illo  nobis  praebetur  quin  imparatos  et  incau- 
tos opprimat,  non  nostrae  prouidentiae  quae  nulla  est,  sed  Dei  misericor- 
diae  assignandum  sil.  Haec  itaque  cum  serenitate  tua,  sicul  el  cum  alus 

*  Minuta  sem  data  no  Abch.  Nac.  Cartas  missivas  Ma?.  2,  n.°  138. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  349 

Principibus  per  lilleras  et  oratores  egimus,  pro  noslro  oíücio  acturi  ele- 
giinus  ex  numero  praelalorum  nostrorum  domeslicorum  \enerabilem  fra- 
trem  Marcum  episcopum  senogalliensem,  exhibitorem  presenlium,  virum 
doctrina  et  raoribus  nobis  probatura  et  gratum,  quera  ad  serenitatera  tuam 
et  pro  publicis  et  priuatis  causis  nostris,  tara  supradictis  quam  alus  per 
eura  plenius  tuae  serenilati  explicandis,  mitteremus.  Erit  igilur  solilae  in 
nos  beniuolentiae,  et  in  hanc  sanclam  sedera  obseruantiae  tuae  ipsum  Mar- 
cura  episcopura  Nuntiura  nostrura  benigno  excipere,  et  excipi  in  tuo  Re- 
gno  vbique  curare,  ac  in  cunctis  per  eura  tuae  serenitati  nostro  nomine 
nunc  et  deinceps  explicandis,  eum  indubiam  et  plenara  fidem  tura  beni- 
gnura  fauorera  et  graliara  tuara  accomraodare  Yt  is  iura  nostra  el  deciraas 
praedictas  exigere,  ac  nostras  coraraissiones  sibi  demándalas  facile  ac  ce- 
leriler  exequi,  vt  ad  nos  qui  honiinis  opera  assidue  vli  intendimus  cito 
reuerti  possit.  Quod  cura  erit  dignura  inclyta  pietate  lúa,  tum  nos  eliam 
recipiemus  a  serenitate  tua  gratissiraura. 

Datura  Roraae  apud  sanctum  Petrura,  sub  Annulo  piscatoris,  die  xv 
Maii  MDXXxii,  Pontificalus  nostri  Anno  Nono.  — Blosius  \ 


Deispachois  que  levou  O.  llartinho  de  Portug;al 


1533 — Maio  !80. 


O  que  \ós  Dora  Martinho  meu  rauito  amado  sobrinho  aueis  de  di- 
zer  de  minha  parte  ao  Santo  Padre,  a  que  vos  enuio  por  raeu  embaxa- 
dor  pela  crenca  que  pera  elle  leuaes,  e  fazer  ñas  cousas  que  agora  ei  por 
meu  seruico  que  facaes,  he  o  seguinte  : 

llera  :  diréis  a  Sua  Santidade  que  eu  uos  enuio  a  elle  por  meu  eni- 
baxador  pera  rezidirdes  e  estardes  era  sua  corte,  e  rae  auizardes  de  toda 
a  cousa  que  socceda  do  seruico  de  Déos  e  de  Sua  Santidade,  pera  era  to- 
das o  eu  seruir  como  dezejo,  segundo  o  muy  grande  amor  e  muy  inteira 

*  Arch.  Nac,  Mac.  19  de  Bullas,  n.°  20.  Na  mesma  data  recommenda  S.  S.  o  Bispo 
de  Sinigaglia  ao  Infante  D .  Luiz  (Mac.  37,  n°  58),  e  a  D.  Miguel  da  Silva  (Mac.  18, 
n.°  12). 

^  Sahiu  de  Lisboa  no  dia  47  de  Junho,  como  se  vé  da  carta  de  í7  de  Novembro. 


350  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

vontade,  que  pera  todas  as  cousas  de  seu  seruico  e  da  Sania  See  Apos- 
tólica tenho,  e  pera  lambem  muy  araeude  me  enuiardes  muy  boas  nouas 
de  Sua  Sanlidade,  que  eu  quería  saber  pelo  mais  ameude  que  fose  posi- 
uel  pelo  grande  contentamento  que  disso  sempre  ei  de  receber ;  e  que  re- 
ceberel  de  Sua  Sanlidade  em  muy  singular  merce  de  agora  e  sempre  vol 
as  querer  dar  pera  mas  enuiardes. 

E  Ihe  dizey  que  vos  viestes  a  mim  com  aquellas  couzas  que  de  sua 
parle  vos  mandou  que  me  diseseis,  as  quaes  eu  recebi  pera  nellas  o  ser- 
uir  com  tanto  amor  como  sempre  tiue  e  ei  de  ler  pera  todo  o  que  for  de 
seu  seruico  e  comtenlamenlo,  e  em  todas  o  seruirei  com  muito  boa  von- 
tade se  me  fora  posiuel  fazel  o  como  dezejaua,  e  sempre  esperei  que  o 
lempo  me  dése  lugar  pera  em  cada  huma  deltas  o  poder  seruir,  por  se 
nunca  oíFerecer  podel  lo  fazer,  nem  trazia  nenhum  fruto  dar  a  sua  Sanli- 
dade as  rezoes  que  mo  impediam,  e  tras  o  nao  fis  nem  faco,  e  mais  que 
Ihe  peco  por  merce  que  crea  que  por  minha  vontade  nao  ficará  fazer  ludo 
o  que  a  seu  seruico  cumpra  quanto  posiuel  me  for ;  e  porque  por  vos 
ade  ser  esta  resposta  assi  como  Iha  nao  mandei  a  vos  tornar  a  Sua  San- 
lidade ale  agora. 

ítem  :  eu  oüue  por  meu  seruico  de  inuiar  comvosco  Francisco  Al- 
uarez,  o  clérigo  que  el  Rei  meu  senhor  e  padre  que  santa  gloria  aja  en- 
uiou  em  companhia  de  Duarle  Galuao,  que  foi  por  embaxador  ao  Preste 
Joao,  o  qual  apresenlareis  de  minha  parle  ao  Santo  Padre  pera  por  elle 
ser  Sua  Sanlidade  informado  e  certificado  do  que  vio  do  Preste  Joao,  e 
da  sua  chrislandade,  e  da  grandeza  de  seu  regno,  do  seu  grande  poder, 
e  modo  em  que  observao  e  guardao  a  nossa  santa  Fee  Catholica,  e  os  er- 
res que  nella  lem,  e  quao  fácilmente  se  podem  emmendar,  o  muy  parti- 
cularmente de  todas  as  cousas  de  aquellas  gentes,  que  he  de  dar  mullos 
louuores  a  nosso  senhor  por  abrir  caminho  pera  tanto  seu  seruico,  pelo 
qual  por  acrecenlamenlo  de  sua  santa  Fee  tanto  trabalhou  el  Rey  meu 
senhor  e  padre,  em  que  taó  grandissimas  despezas  fez,  e  em  que  morre- 
raí)  tantos  de  seus  vasallos  e  naturaes :  e  ainda  que  pelo  dito  Francisco 
Aluarez  o  santo  Padre  seja  de  ludo  bem  informado  e  certificado,  como 
pessoa  que  ludo  viu  e  passou,  parecen  me  bem  de  uos  dizer  o  que  de  mi- 
nha parle  digaes  por  isso  a  Sua  Sanlidade. 

ítem :  Ihe  diréis  que  a  principal  couza  porque  el  Rey  meu  senhor 
e  padre  que  santa  gloria  aja  tanto  trabalhou  no  descubrimenlo  da  India 


RELACOES  COM  a  curia  romana  351 

e  de  todas  aquellas  parles  do  Oriente,  em  que  tao  grandissimas  despezas 
fes,  e  tantos  seus  vasallos  e  naturaes  sao  morios,  fidalgos  e  caualeiros  e 
seus  criados  d  outras  multas  serles,  foi  porque  fizese  ñas  gentes  de  aquel- 
las partes  a  conuercao  que  elle  dezejaua,  foscm  trazidos  á  nossa  sancta 
fee  catholica,  e  nella  se  fizese  tao  grande  acrecentamento  como  louuores 
a  nosso  Senhor  he  feito ;  e  que  nao  somenle  trabalhou  de  o  fazer  naquel- 
las  partes  da  India,  onde  he  ja  tao  grande  numero  de  gente  conuertida, 
e  onde  louuores  a  Déos  sao  feilas  muilas  Igrejas  e  mosteiros  em  algumas 
cidades,  assi  como  o  he  na  cidade  de  Goa,  e  na  cidade  de  Malaca,  e  na 
de  Orrauz,  que  por  forca  de  armas  foraó  ganhadas  e  tomadas  aos  Mou- 
ros,  e  assi  em  outras  partes  outras  multas,  mas  per  este  mesmo  fructo 
fazer  nos  regnos  e  Ierras  do  Preste  Joaó,  que  vem  confinar  multo  perto  do 
mar  roxo,  o  qual  mar  roxo  mandou  entrar  e  descubrir  por  seus  capitaes 
com  suas  armadas,  e  por  multas  vezes  o  entrarao  e  fizerao  multa  guerra 
aos  mouros  e  Cidades  e  Villas  de  dentro  do  dito  mar  roxo  e  entrada  delle. 
assi  como  a  Ilha  de  Cotorao  S  que  Tristao  da  Gunha  por  forca  de  armas 
tomou  aos  gentios  de  que  he  abitada,  e  aos  gentíos  que  nella  estauao,  e 
da  Cidade  de  Adem,  cidade  de  grande  poder  e  de  Rey  multo  poderoso, 
a  qual  louuores  a  noso  senhor  agora  ouue  nouas  de  meu  Capitao  mor  da 
India  ñas  naos  desla  armada  que  se  fes  meu  vasallo,  e  está  asentado  em 
meu  seruico,  e  me  paga  parlas  e  tributo,  estando  sobre  ella  e  tendo  a  cer- 
cada por  tempo  de  seis  mezes  Rey  Salamao  capitao  do  Turco  com  mulla 
gente  e  grande  armada,  a  qual  de  sobre  ella  fizeram  aleuantar  minhas  ar- 
madas, e  gentes,  e  Cidade  de  Ceilao  ^  e  a  de  Barbera  e  outras  de  dentro 
do  dito  mar  roxo,  e  forao  á  vista  de  Judaa  e  estiuerao  bem  perlo  della, 
pelos  lempos  e  municoes  Ihe  nao  seruirem  e  se  poderem  sahir  do  estrello 
a  lelxarao,  a  qual  espero  em  nosso  senhor  que  muy  sedo  seja  asentada 
em  meu  seruico ;  e  que  pela  Informacáo  que  destas  vezes  se  tomou  pe- 
los capitaes  das  armadas  del  Rey  meu  senhor  e  Padre  se  soube  que  as 
térras  do  Preste  Joao  e  suas  gentes  erao  muí  perto  do  dito  mar  roxo,  e 
se  podia  d  alli  fazer  caminho,  postoque  com  muy  grande  risco  e  ventura 
por  auerem  de  passar  por  Ierras  e  senhorios  de  Mouros,  que  aínda  que 
em  alguma  maneira  Ihe  obedecessem  pera  se  por  ellas  os  mercadores  com 

*  Socotorá. 
2  Zeyla. 


352  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

suas  mercadurías  pera  as  térras  do  Preste  Joao,  as  nossas  nao  podiao  pas- 
sar  sem  grande  risco  e  ventura,  ao  que  el  Rey  meu  senhor  e  Padre,  es- 
perando na  misericordia  de  nosso  senhor  que  suas  gentes  encamintiaria, 
pois  era  obra  de  seu  seruico,  quis  auenturar,  e  inuiou  a  Duarte  Galuao, 
homem  fidalgo  e  do  seu  conselho,  e  ja  de  dias  muito  insprimenlado  ñas 
couzas  de  seu  seruico,  e  que  com  grande  deuacao  e  por  seruir  nosso  se- 
nlior  e  a  elle  o  aseitou,  por  seu  embaxador  ao  dito  Preste  Joao  cora  em- 
baxada  do  muito  contentamento  que  tinha  recebido  de  nosso  senhor  des- 
cubrir caminho  pera  entre  elles  auer  grande  amizade  e  prestanca,  pois  era 
Rei  christaó  se  ajuntassem  suas  gentes  com  as  suas  e  se  fazer  guerra  aos 
enemigos  de  nossa  santa  fee,  e  com  outras  multas  palauras  do  modo  em 
que  se  poderla  fazer,  e  Ihe  inuiou  grandes  presentes  de  todas  as  cousas 
que  Ihc  pareceo  que  folgaria,  a  saber,  muitos  ornamentos  pera  as  Igre- 
jas  muí  ricos,  tapicarlas  e  brocados  e  lluros  dos  officlos  diuinos,  e  outras 
cousas  pera  o  seruico  das  Igrejas,  e  outras  multas  de  outras  qualidades 
com  que  Ihe  a  elle  pareceo  que  elle  poderla  folgar,  e  instrucao  verdadeira 
de  nossa  sania  fee,  e  de  como  sua  Santldade  posto  na  cadeira  de  Sam  Pe- 
dro he  vigairo  de  Jesu  Chrlsto,  e  como  todos  os  Reys  christaós  viuemos 
sob  sua  obediencia  xpo  fsicj  por  onde  se  poderla  fazer  o  caminho  pera 
Roma  poderlao  passar  sua  Sanlidade  seus  recados,  alem  dos  que  por  ca 
por  meus  Regnos  poderlao  Inuiar,  e  como  suas  gentes  se  poderlas  aj un- 
tar com  as  nossas  e  d  ally  pasarem  a  ganhar  a  casa  santa,  pera  que  elle 
era  enformado  e  certiñcado  que  nao  somente  tinha  grande  poder  mas 
muito  dezejo,  com  outras  enformacoes  do  que  conuinha  pera  bem  da  chris- 
tandade,  e  palauras  de  muito  amor  e  boa  vontade  que  sempre  nelle  acha- 
ria  e  em  prestanca  de  suas  boas  obras. 

Lhe  diréis  que  indo  o  dito  embaxador  em  companhia  de  seu  Capitaó 
mor  e  gouernador  da  India,  que  aquelle  lempo  era  e  en- 

trado com  a  armada  no  mar  roxo  e  passado  a  porta  do  dito  mar,  que  os 
mouros  chamao  Belmendebel  *,  prouue  a  nosso  senhor  que  adoeceo  de 
doenca  de  que  o  leuou  pera  si,  e  foi  sepultado  na  ilha  de  samara  ^ 

Falecendo  o  dito  embaxador  o  dito  Capltao  mor  e  Governador  da 
India,  por  se  nao  perder  o  fim  dezejado  por  el  Rey  meu  senhor  e  padre, 

*  Bab-cl-mandeb. 

^  Camarao. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  353 

enlegeo  per  embaxador  hum  Dom  Rodrigo  de  Lima,  fidalgo  de  sua  caza, 
o  qual  fes  seu  caminho  pera  o  Presle  Joao,  e  perlo  de  Odemar  ^  achou 
hum  seu  vasallo  que  se  chamaua  Barnagar,  que  he  nome  de  Gouernador 
da  leíTa,  o  qual  o  recebeo  muilo  bem  sabendo  que  era  embaxador  del 
Rey  meu  senhor  e  padre,  e  Ihe  fes  todo  o  bom  Iratamenlo,  e  os  adere- 
sou  pera  o  caminho  e  pera  os  pasarem  eom  seguranca ;  e  pelo  caminho 
que  fizerao  forao  ter  a  hum  mosleiro  de  frades  chamado  Archequiquo  ^,  em 
que  auia  numero  de  frades,  no  qual  faleceo  3íalheus,  aquelle  que  a  el 
Rey  meu  senhor  e  padre  inuiou  o  Presle  Joao  e  Ihe  trouxe  o  lenho  da 
Vera  Cruz,  e  daqui  fizerao  seu  caminho  como  o  dirá  a  Sua  Sanlidade 
muilo  inteiramenle  o  dito  Francisco  Aluarez ;  e  assi  como  chegarao  ao 
Presle  e  onde  o  acharad,  e  como  delle  foraó  recebidos,  e  o  que  virao  ñas 
térras  por  donde  caminharao  de  Igrejas  e  de  edeficios  e  de  religiosos,  e 
a  maneira  de  sua  chrislandade,  e  modo  de  justica,  e  de  todas  as  outras 
cousas  que  síío  de  grande  marauilha  e  pera  Sua  Sanlidade  muito  folgar 
de  ouuir,  de  que  fez  liuro  que  leua,  pelo  qual  sua  sanlidade  será  inteira- 
menle informado  de  todas  as  couzas. 

ítem :  Ihe  dirá  o  dito  Francisco  Aluares  o  tempo  que  esliuerao  em 
sua  corte,  e  o  bom  Iratamenlo  e  gazalhado  que  delle  receberao,  e  as  fes- 
tas  que  Ihe  forao  feitas,  e  alegría  que  recebeo  de  sua  ida,  e  as  pregun- 
tas que  Ihe  mandou  fazer  por  seus  letrados  acerca  da  nossa  fee,  porque 
a  pessoa  do  Preste  se  \ee  poucas  vezes  assi  pelos  naluraes  como  pelos 
eslrangeiros,  e  a  reposta  que  a  ludo  elle  deu,  que  ludo  alem  de  o  elle 
dizer  de  palauras  a  sua  sanlidade,  que  Iho  saberá  bem  apresenlar,  verá 
pelo  dito  liuro  compridamente. 

E  como  passados  rauitos  dias  de  sua  estada  na  corle  do  Presle  Joao 
elle  os  despachou  com  merces  que  Ihe  fez,  e  com  mostranca  de  mui  gran- 
des contenlamenlos,  e  enuiou  com  elles  hum  seu  embaxador,  que  fica  em 
minha  corte,  pelo  que  escreueo  e  enuiou  cartas  pera  el  Rey  meu  senhor 
e  padre  do  muito  prazer  que  recebera  com  sua  embaxada,  de  que  vos 
kuais  os  Ireslados  pera  os  mostrardes  a  sua  sanlidade,  porque  as  pro- 


'  Quereria  dizer  Macuá? 

^  Xea-se  Arqu ico  (ou  Arkiko),  mas  advirta-se  que  o  mosteiro  nao  eraahi.  Paraare- 
ctificaQao  dos  fados  vejase:  Francisco  Alvares,  verdadeira  informacao  das  terrasdo  Preste 
Joao,  Liv.  i,  e  Gaspar  Correa,  Leudas  da  India,  Tom.  ii,  pag.  583,  c  Tom.  ui,  pag.  26. 
TOMO  II.  45 


334  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

prias  nao  quis  que  se  auenturasem  ao  caminho ;  e  fareis  fce  a  sua  sanli- 
dade  que  vistes  as  proprias  e  a  maneira  em  que  Yierao  metidas  em  sacos 
de  Brocado  e  aseladas. 

E  que  assi  inuiou  cartas  pera  Sua  Santidade,  as  quais  leuais  pera 
Ihe  dar  juntamente  com  o  dito  Francisco  Aluarez  que  a  sua  santidade 
aueis  de  apresenlar,  e  assi  Ihe  apresentareis  a  Cruz  de  Ouro  que  a  Sua 
Santidade  inuia  em  sinal  de  obediencia  que  Ihe  faz  e  á  santa  See  Apostó- 
lica, e  se  comete  a  ella  como  Vigairo  de  Jesu  Christo,  de  que  elles  la  tera 
verdadeira  informacao,  e  dizem  que  ja  em  outros  lempos  os  Reys  de  aquel- 
las partes  assi  o  fizerao,  e  que  se  perdeo  fazerem  no  assi  pelas  rezóes  que 
dará  o  dito  Francisco  Alvarez,  o  qual  dirá  a  Sua  Santidade  o  que  diz 
que  Ihe  disse  o  Patriarcha  que  tem  por  sua  anliguidade  que  nelle  se  auia 
de  acabar  as  praticas  de  aquellas  partes,  que  diz  que  ate  entao  erao  cento 
por  se  fazer  a  obediencia  ao  Santo  Padre  e  á  Santa  See  Apostólica. 

Ítem  :  diréis  a  Sua  Santidade  que,  posloque  o  dito  embaxador  aja 
alguns  aunos  que  he  em  meus  regnos,  e  eu  muito  dezejase  de  enuiar  a 
Sua  Santidade  o  dito  Francisco  Aluarez  como  agora  inuio  comvosco  cora 
as  cartas  que  leuais  a  dita  Cruz  e  sua  obediencia,  foi  a  cauza  de  mais 
cedo  o  nao  inuiar  os  lempos  passados,  e  a  pouca  seguranca  que  assi  pelos 
caminhos  da  Ierra  como  do  mar  ouue  pera  seguranca  pera  poder  passar 
com  a  dita  obediencia  a  sua  santidade  e  á  santa  Seo  Apostólica  de  Rey 
tao  grande,  e  lao  longe  da  cadeira  de  Sam  Pedro,  e  de  anos  apar- 

tado da  obediencia  da  Santa  See  Apostólica ;  e  que  por  uir  no  lempo  de 
seu  Pontificado  crea  Sua  Santidade  que  recebi  muy  grande  prazer,  e  que 
o  quis  deixar  pera  o  inuiar  em  vossa  companhia  e  com  vossos,  e  com 
vos  ser  com  quem  me  pareceo  que  poderla  (ir)  melhor  e  mais  seguro :  e 
primeiro  que  o  apresenleis  e  franeis  (sic)  Ihe  daréis  as  Cartas  do  Preste  JoaO 
das  suas  obediencias,  e  pela  Cruz  de  ouro  que  Ihe  enuia  diréis  por  vos 
ludo  o  que  e  sabereis  delle  a  maneira  que  quer  que  tenhaes,  e  Ihe 

aprezentay  o  dito  Francisco  Aluarez,  e  Ihe  darees  as  cartas  da  obedien- 
cia e  cruz  pera,  segundo  o  que  Sua  Santidade  ordenar  e  a  maneira  que 
quizer  que  nisso  tenhais,  o  fazerdes,  e  Ihe  diréis  que  eu  vos  mandey  que 
assi  o  fizeseis  pera  nisso  guardardes  e  fazerdes  o  que  Sua  Santidade  vos 
ordenasse,  pelo  que  me  parece  que  de  lao  grande  nouidade  como  he  a 
de  esta  obediencia  elle  deue  de  receber  muy  grande  contenlamento,  por 
ser  couza  a  que  nosso  senhor  abriu  caminho  de  tanto  seu  feito  pera  tanto 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  355 

acrecenlamenlo  de  sua  fee,  e  por  ver  em  seu  lempo ;  e  como  de  yosso  o 
persuadiréis  a  fazer  demonstracao  de  muilo  prazer  e  alegria,  sem  nisso  in- 
lercederdes  nem  Ihe  poder  parecer  que  o  fazeis  por  \olo  eu  mandar ;  e  no 
modo  que  Sua  Santidade  ordenar  que  o  facaes  assi  o  fareis. 

Despois  de  aprezenlardes  a  Sua  Sanlidade  o  dito  Francisco  Aluares, 
e  de  Ihe  dardes  as  cartas  da  obediencia  do  Preste  Joao  e  a  "Cruz  no  modo 
que  elle  ordenar,  diréis  a  Sua  Santidade  que  eu  nao  quiz  suplicar  Ihe  ñera 
lembrarlhe  couza  alguma  acerca  do  modo  em  que  aja  de  responder  a  sua 
obediencia,  nem  de  nenhuma  oulra  de  que  em  couza  lao  noua  aja  de  fa- 
zer, assi  pera  Ihe  mostrar  alegria  com  sua  obediencia  e  Ihe  gratificar,  como 
no  que  se  deua  fazer  acerca  da  emmenda  dos  erros,  que  lem  elle  em  seus 
pouos  no  que  toca  á  fee,  que  me  parece  que  serao  lenes  de  emmendar, 
nenhuma  outra  couza  desta  materia  porque  nesle  Ihe  ei  por  melhor  e  mais 
proueitoso  que  sua  santidade  em  ludo  mandar  fazer ;  e  somente  Ihc  su- 
prico  e  peco  muilo  por  merce  que  deste  caminho  de  tantos  annos  nao 
sabido,  e  pela  merce  de  nosso  senhor  descuberto  com  laníos  trabalhos  e 
grandissiraas  despezas,  mortes  de  fidalgos  caualeiros  e  criados  del  Rey 
meu  senhor  e  padre  e  meus,  e  de  tantos  nossos  Vassallos  e  naluraes,  e 
de  tantos  annos  trabalhado  e  pacificado  por  mares  nao  conhecidos  nem 
nunca  nauegados,  se  queira  sua  Santidade  lembrar  pera  o  effeito  de  tao 
grandissimo  acrecenlamenlo  de  nossa  fee  como  eslá  aparelhado,  e  nislo  fa- 
zer o  que  de  vigairo  de  Jesu  Chrislo  se  deue  esperar,  e  eu  de  Sua  Santidade 
espero  em  obra  tao  sánela  e  de  tanta  sua  obrigacao,  da  qual  se  Ihe  siguirára 
ante  Deus  grande  merecimento  e  no  mundo  muilo  louuor.  E  que  receberey 
em  muy  singular  merce  de  Sua  Sanlidade  o  que  nisso  Ihe  parecer  bem  de 
fazer  o  querer  com  breuidade  expedir  e  despachar  pera  logo  mo  inuiardes 
em  as  primeiras  armadas  (e)  despachar  o  embaxador  do  dito  Preste  com  as 
pessoas  que  com  elle  quero  inuiar,  e  assi  com  as  cousas  que  por  elle  me 
inviou  pedir  d  aquellas  que  foi  informado  que  á  y  em  meus  Reinos. 

E  do  que  Sua  Santidade  vos  responder  e  quizer  fazer  me  auizareis 
com  deligencia,  de  maneira  que  eu  vos  possa  responder  e  auizar  do  que  me 
parecer  necessario,  se  ouuer  necessidade  pe^^a  isso ;  e  assi  me  escreuereis 
a  demostracao  que  o  Papa  fes  no  recebimento  da  obediencia,  cumprida- 
mente  todo  o  que  nisso  passou. 

Ítem  :  diréis  a  Sua  Santidade  que  eu  recebi  por  vos  as  gracas  que 
me  fez  do  Priorado  do  Grato  pera  o  Infante  Dom  Luiz,  meu  muilo  amado 

45  * 


3o6  COnPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

c  prczado  ¡rmíío,  c  a  Hulla  da  aprezenlacao  dos  Mostoiros  de  meus  re- 
gnos  em  minha  vida,  e  a  Bulla  das  Igrcjas  da  Capella  do  Conde  de  Ma- 
rialua,  que  Déos  perdoe,  pera  o  Cardeal  meu  yrmao ;  e  que  por  ludo  Ihe 
bejo  seus  sánelos  pees,  e  o  reccheo  de  Sua  Sanlidade  em  muy  singular 
merce,  e  muy  principalmenle  a  graca  da  aprezenlacao  dos  mosleiros  que 
eu  mullo  eslimo. 

E  que  pois  acerca  da  graca  que  Sua  Sanlidade  me  concedeo  da  apre- 
senlacao  dos  mosleiros  de  meus  regnos  em  minha  vida,  com  a  laxa  que 
nelles  ennouou  e  declarou  em  sua  Bulla  pera  ficar  pera  sempre  em  sua 
chancelaria,  a  mim  me  parece  que  Sua  Sanlidade  nao  seria  lembrado  como 
o  Papa  Leao  da  gloriosa  memoria,  a  supricacam  del  Rey  meu  senhor  e  pa- 
dre, anexou  em  perpeluo  os  ditos  mosleiros  á  ordem  do  mestrado  de  nosso 
senhor  Jezus  Ghristo  pera  encomendas  delle,  e  como  el  Bey  meu  senhor  (e  pa- 
dre) por  alguns  respeilos  o  deixoii,  com  lanío  que  a  ualia  das  rendas  delles 
se  Ihe  salisfizesse  em  Igrejas  pera  encomendas  da  dila  ordem,  o  que  se 
nao  fes  em  lanía  somma  como  elles  valiao,  e  perdeu  nisso  El  Rey  meu  se- 
nhor 6  padre  pasante  de  seis  mil  cruzados  de  renda  cada  anno,  e  junla- 
menle  enlao  Ihe  fes  graca  da  apresentacao  dos  ditos  mosleiros  em  sua 
vida  ;  e  que  em  lempo  que  Sua  Sanlidade  láo  liuremenle  concedeo  a  mesma 
graca  ao  Emperador  meu  muilo  amado  e  prezado  irmao,  e  a  el  Rey  de 
Franca,  dos  moesleiros  de  seus  regnos,  e  em  perpeluo  e  pera  lodo  sem- 
pre, e  que  ainda  que  mui  bei¡n  merecerao  a  elle  e  á  Sania  See  Apostólica 
esta  e  oulras  mayores  gracas,  eu  nao  espero  que  Sua  Sanlidade  o  faca 
menos  a  mim,  pois  na  guerra  dos  Mouros  em  África  e  na  India,  e  na 
suslenlacao  dos  fidalgos  caualeiros  e  meus  vassallos  e  naluraes,  com  que 
os  suslenho,  faco  tao  grandissimas  despezas,  e  nisso  tanto  Irabalho  como 
no  mundo  he  notorio,  pelo  que  espero  que  Sua  Sanlidade  lenha  em  mi- 
nhas  couzas  muy  especial  respeito,  e  nellas  obre  com  lanía  virlude  como 
em  todas  as  cousas  o  fas,  e  nesla  o  deue  fazer  por  eu  ler  nella  lanía  re- 
zao,  por  todas  as  rezoes  que  aponto  pera  a  Sua  Sanlidade  dizerdes  no 
caso  das  dizimas,  como  adianle  no  capitulo  deltas  vos  declaro,  e  nesle 
capitulo  dos  mosleiros  inleiramente  Ihe  diréis,  porque  aquy  ei  por  escu- 
sado  as  declarar,  Ihe  diréis  que  suprico  e  peco  mullo  por  merce  a  Sua 
Sanlidade  que,  pois  acerca  de  lodos  os  Principes  chrislaos  sempre  con- 
sira  com  tanta  virlude  seus  seruicos  e  merecimentos,  queira  olhar  os  ser- 
uicos  del  Rey  meu  Senhor  e  padre  feilos  á  Sania  See  Apostólica  na  guerra 


RELACOES  COM  a  curia  romana  357 

dos  Mouros  em  África  e  na  India,  lao  longe  e  apartada  de  seus  rcgnos, 
e  com  tam  grandissimas  despezas  e  com  tantas  morles  de  seus  vassallos 
e  naturaes,  como  eu  proseguindo  aquella  mesma  obra  o  nao  faso  menos, 
nem  nunca  disso  cessei  nem  cesso  ncm  espero  cessar  pera,  alem  do  que 
ate  aquy  ei  feito  e  aproueitado  no  acrecentamento  de  nossa  santa  fee,  se 
acrecentar  e  aproueitar  aínda  muilo  mais,  como  vé  que  nosso  senhor  por 
sua  misericordia  por  meu  raeyo  a  ordena  nos  pouos  do  Preste  Joáo,  e  de 
todos  os  oulros  de  aquellas  partes  orientaes ;  e  que  por  todas  as  rezoes 
ditas  no  capitulo  das  dizimas,  que  nao  sao  escondidas  mas  muito  mani- 
festas,  que  Sua  Santidade  me  conceda  e  faca  graca  da  aprcsentacao  de 
todos  os  moesteiros  de  meus  regnos  pera  mim  e  meus  successores  pera 
sempre  por  Sua  Santidade  deltas  prouer  a  quem  Ihe  aprezenlarmos,  que 
serao  pessoas  taes  que  as  gouernem  em  lodo  o  seruico  de  nosso  senhor, 
e  pera  que  sejao  assy  bem  seruidos  no  spiritua!  e  temporal  que  Sua  San- 
tidade seja  descarregado  e  eu  asi  mesmo,  que  com  essa  tencao  suprico  e 
peco  a  Sua  Santidade  que,  sem  innouacao  de  taxa  nem  de  oulra  cousa, 
somente  naquella  propria  forma  e  maneira  que  o  santo  Padre  da  gloriosa 
memoria  o  concedeo  e  oulorgou  a  el  Rey  meu  senhor  e  padre  em  sua 
vida,  como  Sua  Santidade  poderá  ver  pelo  treslado  que  leuaes  da  Rulla 
que  Ihe  concedeo,  insistindo  vos  quanto  poderdes  pelas  rezoes  sobreditas, 
e  quaesquer  oulras  que  se  uos  oíTerecerem  pera  Sua  Santidade  esta  graca 
assi  me  conceder  e  outorgar,  pois  com  tanta  rezao  o  deue  de  fazer. 

Despois  de  emsistirdes  quanto  posiuel  vos  for  pera  Sua  Santidade 
esta  graca  me  conceder  assi  em  perpetuo  pera  sempre,  quando  de  todo 
se  escuzar,  que  eu  delle  nao  espero,  vos  Ihe  diréis  que  me  queréis  fazer 
saber  a  reposta  que  Sua  Santidade  vos  dá  pera  eu  sobre  ella  Ihe  repri- 
car  o  que  ouuer  por  meu  seruico,  porque  vos  esperaueis  que  elle  me  res- 
pondesse  a  cousa  tao  justa  como  esta,  porque,  alem  das  rezoes  que  le^ 
nho,  Ihe  aprezenlo  os  exemplos,  de  maneira  que  eu  me  satisfizese,  e  que 
por  enlao  ate  verdes  minha  reposta  nao  fareis  nisso  importunacao  a  Sua 
Santidade,  da  qual  esperareis  que  se  ella  quando  bem  o  quizer  consirar 
vos  responda  assi  graciosamente  como  elle  era  todas  minhas  cousas  o 
deue  fazer. 

E  se  uos  parecer  que  pera  conceder  a  dita  graca  assi  em  perpetuo  como 
Ihe  peco  alguma  conlia  de  dinheiro,  e  auerey  por  meu  seruico  que  apre- 
senleis  pera  assi  se  fazer  ate  des  mil  cruzados,  e  daqui  pera  baixo  quanto 


358  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

menos  puderdes  quanto  mais  me  seruireis,  e  com  esla  cola  fareis  a  ex- 
pedicíio  disso,  sem  a  inouacao  da  laxa  que  Sua  Santidade  dizia  na  Bulla 
que  Irouxesles  pera  em  minha  vida,  e  somenle  assi  em  perpetuo  ficará, 
assi  como  he  conlheudo  na  Bulla  del  Rey  meu  senhor  e  padre  que  sania 
gloría  aja. 

E  nao  vindo  nisso  pela  dila  cola,  e  ficaseis  em  me  escreuer  sua  re- 
posta e  esperardes  por  meu  recado,  tercis  maneira  como  que  o  moueis 
de  Yosso,  e  sem  poder  parecer  que  he  com  minha  comissao  e  per  os 
meyos  que  vos  melhor  parecer  que  tornéis  ao  negocio  pera  o  Santo  padre 
me  conceder  a  graca  da  apresenlacao  dos  ditos  mosteiros  em  minha  vida 
somenle,  sem  a  nouidade  da  dila  taxa,  e  assi  como  se  concedeo  a  el  Rey 
meu  Senhor  e  Padre  e  he  conlheudo  na  sua  Bulla ;  e  por  se  fazer  neslc 
modo  ei  por  bem  que  soltéis  e  deis  ate  tres  mil  cruzados,  e  quanto  d  aquy 
pera  baixo  menos  poder  ser  quanto  mais  me  seruireis :  e  se  nesle  modo 
e  pela  dita  colla  fose  concedido  assi  quero  que  especais  a  bulla  e  as  pro- 
uisóes  necessarias,  sem  mais  esperardes  pera  isso  por  oulro  meu  recado. 

Do  que  nislo  e  em  qualquer  das  maneiras  sobredilas  fizerdes  e  aca- 
bardes  me  auizay  na  deügencia  em  que  vos  parecer  que  conuem,  pera 
Yos  mandar  prouizao  pera  vos  ser  dado  o  dinheiro.  Em  qualquer  das  so- 
bredilas maneiras  trabalhay  por  o  acabar,  e  o  fazey  assi  bem  como  de  vos 
confio. 

ítem  :  diréis  a  Sua  Santidade  que  vos  me  falastes  de  sua  parte  ñas 
dizimas  da  clerezia  de  meus  regnos  pelos  fundamentos  que  pera  isso  Sua 
Santidade  tomou,  e  que,  ainda  que  em  todas  as  couzas  aja  muilo  de  fol- 
gar  sempre  de  o  seruir,  nesla  me  espantei  de  Sua  Sanlidade  me  mandar 
falar,  porque,  quando  por  outros  Reys  se  fizesse,  Sua  Santidade  deuera 
de  folgar  de  eu  ser  disso  releuado,  e  lenho  por  muy  cerlo  que  assy  o 
faría,  se  fosse  bem  informado  das  muitas  rezoes  que  pera  isso  ha,  porque, 
sabendo  as  grandes  despezas  que  lenho  na  guerra  da  India  e  em  África, 
ñas  quaes  continuadamente  pago  doze  quinze  mil  homens  de  soldó,  com 
tomar  a  despeza  e  Irabalho  da  nauegacao,  que  cada  homem  que  d  aquy 
parte  pera  a  India  me  custa  de  soldó  e  mantimento  trínla  e  seis  cruzados, 
dos  quaes  mullos  morrem  prímeiro  que  lá  cheguem,  de  maneira  que,  alem 
dos  que  continuamente  lá  pago,  se  perde  muila  despeza  naquelles  que  d 
aquy  partem  e  lá  níio  chegao,  e  ainda  esta  nao  he  a  principal  parle  da 
despeza,  porque  a  gente  de  meus  regnos,  com  que  esta  guerra  faco,  ha 


RELACOES  COM  a  curia  romana  3S9 

muita  della  que  he  fidalga  e  onrada,  e  grande  parte  da  oulra  muy  co- 
nhecida,  de  maneira  que  o  amparo  dos  filhos  e  mulheres  dos  que  lá  mop- 
rem  ou  muito  tempo  seruem,  e  as  merces  que  por  isso  Ihe  faco  sao  de 
lamanha  cusía  e  despeza  que  muitas  vezes  sempre  com  mui  grande  ne- 
cessidade,  e  assi  mesmo  a  continua  despeza  e  gasto  de  África,  que  se 
pode  bem  ver  camanha  será  pois  que  manlenho  naquelles  lugares  cada 
anno  cinco  mil  homens  de  guerra,  nos  quaes  enlrao  tres  mil  de  cauallo, 
pera  os  quaes  de  muitos  annos  pera  ca  mando  Irazer  o  pao  de  Alemanha 
e  de  Fraudes  e  de  outras  muitas  partes  de  fora  pelo  nao  auer,  de  onde, 
alem  do  muito  que  custa,  se  perde  muita  parte  no  mar  e  outra  nos  na- 
uios  que  o  trazem,  que  por  cauza  das  tongas  viagens  se  daña  e  apodrece 
nelles,  que  sao  despezas  inumeraueis.  Estas  guerras  trabalhos  e  despezas 
deilas  sao  tanto  de  seruico  de  nosso  Senhor,  que  todas  se  emprcgao  em 
fazer  guerra  a  infléis,  e  a  muitos  delles  conuertem  á  nossa  santa  fee,  por- 
que certo  que  ainda  que  da  India  pareca  que  se  me  seguem  grandes  pro- 
ueitos  a  despeza  de  alguns  annos  pera  ca  quasi  o  fundamento  del  Rey 
meu  senhor  e  padre  que  Deus  tem  fora  do  muito  proueito,  e  nao  muito 
principalmente  querer  fructo  da  conuercao  das  gentes  de  aquella  térra, 
e  tambem  folgar  de  fazer  guerra  aos  mouros  della,  os  proueitos  da  India 
que  nestas  despezas  se  consumem  se  poderao  todos  auer,  que  fora  muy 
grande  riqueza,  e  nao  se  despenderao  desta  maneira  de  que  se  despendem, 
das  quaes  despezas  eu,  por  ser  lao  seruico  de  nosso  Senhor  e  seguir  a 
tencao  del  Rey  meu  senhor  e  padre,  fui  e  sam  mais  contente  que  de  todo 
o  proueito  que  se  pudesse  siguir  de  a  incurtar,  e  ainda  sao  ñas  cousas 
vindas  ja  a  taes  termos,  que  me  poderla  mal  tirar  deilas  antes  se  ofere- 
cem  auel  as  cada  dia  muito  de  acrecentar,  Sua  Santidade  melhor  pode 
Ter  pelas  nouas  da  grossa  armada  que  o  Turco  faz  contra  mi,  segundo 
Sua  Santidade  dise  ao  meu  embaxador  que  mo  escreuese  e  tenho  sabido 
por  oulras  partes,  pera  as  quaes  cousas  eu  confio  que  Sua  Santidade  Ihe 
parecerá  mais  rezao  eu  ser  ajudado  que  auerem  meus  \asallos  de  fazer 
despeza  em  huma  e  outra  couza,  porque,  ainda  que  os  prelados  e  cle- 
resia  de  meus  regnos  se  quería  dizer  que  nao  entrao  na  conta  desles  tra- 
balhos e  despezas  por  serem  clérigos,  he  muito  pelo  contrario,  porque 
com  seus  pais  e  irmaos  e  partes  e  criados  fazem  nisso  muy  grosas  des- 
pezas, de  maneira  que  suas  rendas  e  fazendas  sao  muy  grande  parle  pera 
poder  sustentar  esta  guerra :  pelo  que  peco  muito  por  merce  a  Sua  San- 


360  CORPÜ  DIPLOMÁTICO  POIITUGÜEZ 

liílatle  que  queira  fazer  mais  parlicularnienle  eslas  cousas  que  breuemente 
Ihe  digo,  e  aueria  mister  muito  lempo  pera  se  todas  dizerem,  pelas  quaes 
conhecerá  quao  justo  e  dcuido  he  de  auer  por  bcm  de  me  releuar  desle 
requerimenlo  e  nesla  folgar  de  me  fazer  toda  a  outra  graca  e  merce  que 
elle  poder,  e  de  lodo  o  sobredilo  Sua  Sanlidade  saiba,  poslo  que  estes 
regnos  em  nenhum  lempo  liuesem  lao  justas  necessidades  e  cauzas,  nunca 
em  oulros  lempos  passados  islo  de  nenhum  Papa  ihe  foi  requerido,  an- 
tes ás  vezes  eslas  dizimas  foram  concedidas  aos  mesmos  Heis. 

Dora  Marlinho  sobrinho  amigo. 

Alem  das  oulras  ¡nstruccoes  minhas  que  leuaes,  ouue  por  meu  ser- 
uico  leuardes  esta  de  couzas  e  negocios  particulares,  (e)  em  lodo  o  que  por 
ella  e¡  por  meu  seruico  fazerdes,  vos  encomendó  muito  e  mando  que  facaes 
e  cumpraes  com  aquelle  bom  cuidado  que  de  vos  confio  ;  e  sao  as  seguintes : 

ítem  :  creo  que  sabéis  o  que  he  requerido  ao  Santo  Padre  pelos  rei- 
lores  e  Vigairos  das  Igrejas,  que  sao  anexadas  em  comendas  á  ordem  do 
mestrado  do  nosso  senhor  Jesu  Chrislo,  acerca  dos  aniuersarios.  Eu  man- 
de! sobre  isso  falar  ao  santo  Padre  pelo  Doutor  Bras  Nelto  meu  emba- 
jador, o  qual  me  tem  escrito  que  falara  ao  Santo  Padre,  e  que  Ihe  res- 
pondera  que,  poslo  que  Ihe  fose  dito  que  os  reitores  e  vigairos  linhao 
nisso  direito,  elle  nao  prouera  nisso  cousa  alguma,  nem  o  faria  sem  pri- 
meiro  Iho  dizer  ao  dito  Bras  Nelto.  Despois  pareceo  qua  hum  breue  que 
o  Santo  Padre  sobre  isso  passou,  que  nao  sey  se  o  linha  já  passado  quando 
responde©  a  Bras  Nelto  o  sobredilo,  se  despois,  o  qual  breue  me  ueo  ler 
á  mao  por  huma  cerla  maneira,  e  mandey  ao  secretario  que  voló  moslrasse 
elle  de  Sua  Sanlidade  fsicj  passar  tal  ceusa  sem  ser  ouuido  por  minha 
parle  pessoa  alguma,  e  parece  que  Sua  Sanlidade  nao  mandou  nisso  guar- 
dar o  que  se  me  deue.  Logo  como  chegardes  pralicay  nesle  negocio  com 
o  Doutor  Braz  Nelto  e  sabey  delle  se  despois  daquclla  reposta  que  o  Sanio 
Padre  deu  passou  mais  alguma  couza,  e  o  ponto  em  que  está ;  e  prali- 
cai  ambos  o  que  nisso  se  deue  fazer,  e  aquillo  que  vos  acordardes  fa- 
reis :  e  se  uos  parecer  que  conuirá  dizerdes  ao  Santo  Padre  do  dilo  Breue 
que  tem  passado,  ou  o  calardes,  fareis  nisso  o  que  a  ambos  vos  bcm  pa- 
recer, e  do  que  nisso  fizerdes  me  auizareis  depois  de  terdes  falado  ao 
Papa  e  terdes  delle  sabido  a  maneira  que  elle  quer  ler :  e  insistiréis  em 
que  Sua  Sanlidade  nao  passe  nisso  cousa  alguma,  e  proseguiréis  o  que 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  361 

acerca  desla  maleria  linha  mandado  a  Braz  Nelto  que  fizese,  ao  qual 
mando  por  este  capitulo  que  \os  moslrc  o  que  acerca  disto  !he  linlia 
mandado. 

ítem  :  Bem  sabéis  a  clausula  que  veio  na  Bulla  das  Comendas,  que 
anexarao  á  ordem  do  mestrado  de  nosso  Senhor  Jesús  Christo,  de  dentro 
em  oulo  mezes  auerem  de  ir  a  Roma  a  expedir  suas  prouizoes,  o  que  se 
nao  fes  desde  a  expedicao  da  dita  Bulla  ate  agora  por  todos  os  Comen- 
dadores que  das  ditas  comendas  forao  prouidos,  e  foi  a  causa  por  nao 
ser  em  lembranca  a  clauzula  da  dita  Bulla,  nem  os  commendadores  que 
forao  prouidos  o  saberem  :  que  suprico  e  peco  muito  a  Sua  Santidade 
que  queira  releuar  os  comendadores,  que  sejao  prouidos  desde  a  Bulla 
até  agora,  da  pena  que  nisso  encorrerao,  assi  por  cauza  dos  fructos  que 
ouuerao  sem  lerem  as  prouisoes  de  Sua  Santidade,  que  ouuerao  de  ex- 
pedir segundo  a  condicao  da  Bulla,  e  assi  de  toda  a  outra  pena  em  que 
encorresem  ;  e  aja  por  bem  que  somente  aja  por  bem  paguem  os  direi- 
tos  á  See  Apostólica,  que  ouuerao  de  pagar  indo  a  Roma  a  expedir  suas 
prouisoes  dentro  no  tempo  declarado  na  Bulla  ;  e  que  de  assi  o  conceder 
o  receberey  de  sua  Santidade  em  merce,  e  a  vos  encomendó  muito  que 
trabalheis  como  assi  o  conceda  :  e  de  tudo  o  que  nisso  fizerdes  me  aui- 
zay  pera  os  Commendadores  saberem  o  que  ande  fazer.  E  porem  por  este 
capitulo  nao  fareis  obra  alguma  sem  auerdes  pera  isso  outro  meu  recado 
do  que  ouuer  por  meu  seruico  que  nislo  facaes. 

Diréis  ao  Santo  Padre  que  por  parte  de  Christouao  de  Barrozo  me  foi 
aprezentado  hum  breue  de  Sua  Santidade,  por  que  me  encomendaua  que 
mandase  dar  fauor  á  execucao  de  huma  Sentenca  que  elle  ouue  acerca 
do  mosteiro  de  Sao  Jorge,  da  Ordem  de  Santo  Agostinho,  da  Diócesi  do 
Bispado  de  Coimbra,  junto  da  dita  Cidade  ;  e  que  por  o  dito  Christouao 
de  Barrozo  me  ler  muito  deseruido,  estando  por  embaxador  do  Empera- 
dor em  minha  corte,  em  couzas  falsas,  e  por  que  a  elle  deuera  ser  dado 
grande  e  rigoroso  castigo,  e  pelo  qual  o  Emperador  mandou  prender  e 
meter  em  suas  gales,  e  despois  o  mandou  de  lá  sair  e  o  desterrou  fora 
de  seus  regnos,  da  qual  couza  daréis  conta  a  Sua  Santidade  porque  nao 
quis  que  a  leuaseis  em  escrito  ;  e  tambem  por  elle  acerca  do  dito  mos- 
teiro fazer  diligencia  indiuida,  e  pelo  pouco  acatamento  a  meu  seruico, 
estando  prouido  delle  o  Infante  Dom  Henrique  meu  yrmao,  de  que  Ihe  da- 
réis assi  mesmo  conta  ;  e  porque  tambem  vagando  o  Bispado  de  Euora 

TOMO  II.  46 


362  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGÜEZ 

ouue  carias  da  Rainha  Dona  Leonor,  minha  senhora  madre,  estando  ella 
já  em  Castella,  pera  o  Sanio  Padre,  por  que  Ihe  pedia  que  prouese  de 
huma  certa  vagante,  sem  Ihe  dizer  que  era  o  dito  Rispado,  que  he  o 
principal  de  meus  regnos,  e  por  ella  fez  a  supricacam  delle,  no  que  nao 
somenle  errou  acerca  de  meu  seruico,  mas  fez  falsidade :  por  estas  cou- 
zas,  e  por  outras  muitas  desta  qualidade,  eu  nao  somenle  tenho  rezao  de 
nao  consentir  que  elle  aja  de  ter  nenhuma  couza  em  meus  regnos,  mas 
procurar  como  Sua  Sanlidade  castigase  com  rigoroso  castigo,  e  tal  como 
elle  pela  malicia  de  seus  erros  merece ;  mas  que  nao  ei  por  necessario 
dar  a  Sua  Sanlidade  nisso  fadiga,  com  quanlo  fora  couza  muito  justa  fa- 
zelo,  porque  elle  fora  castigado  e  ficara  exempro  pera  oulros  nao  come- 
lerem  semelhanles  maldades :  que  suprico  e  peco  muito  por  merce  a  Sua 
Sanlidade  que  aja  por  bem  de  elle  em  meus  regnos  e  senhorios  nao  ter 
beneíBcio,  nem  delle  o  prouer  nem  d  outra  couza,  e  o  priue  do  Reneficio  do 
dito  mosleiro  pera  delle  prouer  no  modo  que  eu  Ihe  supricar,  porque  pelo 
bom  comeco  que  está  feito  na  reformacao  da  ordem  de  Santo  Agostinho  em 
meus  regnos,  em  especial  no  mosleiro  de  Santa  Cruz  de  Coimbra,  de  que 
a  Sua  Sanlidade  daréis  conta  do  modo  em  que  está,  nesle  de  Sao  Jorge 
queria  que  se  fizesse  a  mesma  reformacao,  de  que  nosso  Senhor  será  mais 
seruido  do  que  estar  em  poder  de  Rarrozo,  que  tao  pouco  merecimento  tem 
pera  elle,  nem  pera  «outra  nenhuma  couza  em  toda  a  parte,  quanlo  mais 
nos  (meus)  regnos :  e  que  de  Sua  Sanlidade  o  auer  assi  por  bem,  como 
creio  que  auerá  por  auer  pera  isso  tantas  rezoes,  o  receberey  em  singu- 
lar merce.  E  pera  sobre  esta  materia  Ihe  falardes  leuaes  caria  minha  de 
crenca  pera  Sua  Sanlidade,  que  Ihe  daréis ;  e  quando  Iha  derdes  Ihe  di- 
zei  logo  que,  por  nao  irem  em  escrito  a  lao  largo  modo  as  malicias  e 
maldades  cometidas  pelo  dito  Rarrozo,  ouue  por  bem  leuardes  a  dita  crenca 
pera  por  a  uirtude  della  Ihe  fazerdes  inteira  relacao  das  couzas,  por  que 
tenho  rezao  de  procurar  antes  seu  castigo,  do  que  permitir  eu  nem  que- 
rer que  em  meus  regnos  receba  merce  nem  fauor.  E  quando  ao  Santo 
Padre  lodo  o  que  dito  he  ouuerdes  de  falar  leñareis  comvosco  o  Doutor 
Rras  Nelto  meu  embaxador,  e  ambos  juntamente  Ihe  diréis  todo  o  que 
dito  he;  e  eu  Ihe  escreuo  a  Garla  que  pera  elle  leuaes,  por  que  Ihe  mando 
que  se  ajunte  comvosco  pera  isso. 

ítem  :  leuaes  tres  supricac5es,  huma  do  Prouincial  e  Frades  da  or- 
dem da  Santa  Trindade  sobre  humas  duas  Igrejas  de  que  el  les  prouem, 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  363 

e  que  muitas  \ezes  ou  quasi  todas  se  fas  o  prouimenlo  como  nao  deue 
e  com  muito  carrego  de  conciencia  delles,  e  dos  que  sao  prouidos,  as 
quaes  querem  anexar  a  hum  clérigo  ^  da  dita  ordem,  que  ordeno  que 
se  faca  em  Euora  em  que  se  faca  mais  seruico  a  nosso  Senhor  do  que 
se  faz  estando  como  agora  eslao,  ou  em  qualquer  outra  parte  do  Reino 
onde  melhor  me  parecer  de  se  fazer. 

Em  oulra  que  loca  aos  frades  de  Sao  Francisco. 

E  outra  que  toca  á  ordem  de  Sao  Hieronimo,  a  que  o  Santo  Padre 
concedeo  certas  indulgencias,  de  que  uzao  em  Castella  os  frades 
da  dita  ordem,  das  quaes  he  huma  a  quem  diser  certos  pater  nostres  pela 
alma  de  hum  Márquez,  que  jaz  em  hum  mosteiro  da  dita  ordem  ;  e  suprico 
e  peco  a  Sua  Santidade  que  conceda  que,  dizendo  se  os  ditos  Pater  nostres 
no  mosteiro  de  Belem  junto  de  Lisboa,  onde  jaz  el  Rey  meu  senhor  e 
padre  que  santa  gloria  aja,  por  sua  alma,  se  ganhe  a  dita  indulgencia, 
como  se  ganhara  dizendo  se  pela  alma  do  dito  Márquez;  e  assy  como 
cumpridamente  vai  decrarado  em  a  supricacam. 

E  estas  tres  supricacoes  vos  encomendó  muito  que  logo  aprezenteis 
a  Sua  Sanlidade,  e  trabalheis  pela  concessao  dellas  assi  como  nellas  se 
declara ;  e  dizei  a  Sua  Sanlidade  que  Ihe  terey  muito  em  merce  me  con- 
ceder e  oulorgar  o  que  por  ellas  se  suprica,  porque  ma  fará  niso  muito 
grande  por  todas  serem  de  muito  meu  contenlamento,  e  de  seruico  de 
nosso  Senhor. 

ítem  :  o  Rispo  de  Lamego  meu  capelao  mor  me  disse  que  leuaueis 
cuidado  de  fazer  a  expidicao  que  toca  ao  mosteiro  de  Francisco  de  Pa- 
ria, pela  premudacao  que  com  elle  fiz,  como  sabéis,  e  rae  pediu  que  vos 
mandase  por  em  minha  inslrucao  lembranca  disso  pera  a  dita  expedicao 
logo  fazerdes.  Mu  ¡lo  vos  encomendó  que  logo  o  facais,  que,  alem  de  uos 
descarregardes  da  obrigacao  que  nislo  tendes,  me  fareis  nisso  prazer  e 
seruico  que  vos  muito  agradecerey  ;  e  assy  de  com  os  primeiros  recados 
enuiardes  as  Rullas  e  prouisoes  disso. 

Ítem  :  tambera  vos  encomendó  rauito  os  despachos  e  negocios  que 
leuaes  de  Dora  Aluaro  da  Costa,  que  tocao  a  Dora  Manoel  da  Costa  seu 
filho,  e  muito  vos  gradecerey  de  os  fazerdes  o  melhor  que  for  posiuel 
pela  muifa  vontade  que  tenho  a  Dom  Aluaro.  E  porera  se  nestes  despa- 

'  Collegio? 

4(>  * 


36 í  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

chos  entrar  a  Igreja  de  Almeirim,  nao  fareis  acerca  desta  Tgreja  couza  al- 
guma,  e  me  auizareis  do  que  nella  se  requere. 

Ilem  :  o  Gardeal  sobrinho  de  Sanliqualro  me  fes  saber  por  sua  carta 
sua  eleicao,  e  me  fez  por  ella  grandes  oíTerecimenlos  pera  me  seruir. 
Leuaes  pera  elle  huma  minha  carta  de  Crenca,  que  Ihe  daréis,  e  por 
vertude  della  Ihe  dizey  que  de  sua  criacao  e  acrecenlamento  recebi  muilo 
prazer  e  contenlamento,  assy  pelo  muito  amor  e  boa  vontade  que  sey  que 
el  Rey  meu  senhor  e  padre,  que  santa  gloria  aja,  tinha  ao  Cardeal  San- 
tiquatro  seu  tio  e  a  elle,  como  pelos  grandes  merecimentos  de  sua  pes- 
soa ;  e  que  creia  que,  assi  como  el  Rey  meu  senhor  e  padre  eslimaua  a 
seu  tio  a  elle  e  a  todas  suas  couzas,  assi  serao  por  mim  sempre  olhadas 
e  estimadas,  e  que  recebo  delle  em  muy  singular  prazer  seus  oíTereci- 
menlos e  estimo  muito ;  e  que  para  elle  e  todas  as  suas  couzas  achara 
sempre  em  mi  muito  amor  e  boa  vontade,  e  assi  as  obras  como  elle  o 
merece,  e  em  tal  maneira  que  elle  conheca  que  Ihe  sam  tao  bom  amigo 
como  eu  dezejo  de  o  ser  e  o  mostrar  em  todo  o  que  de  mim  Ihe  cum- 
prir. 

ítem :  porque  quero  saber  o  modo  em  que  o  Emperador  meu  muito 
amado  e  prezado  irmao,  e  assi  el  Rey  de  Franca,  e  o  de  Inglaterra,  e  el 
Rey  dos  Romaos  escreuem  aos  Cardeaes,  a  saber,  a  cada  hum  por  si,  e 
assi  ao  Colegio  dos  Cardeaes  juntamente,  vos  encomendó  que  vos  certifi- 
quéis disso  como  de  vos,  e  sem  parecer  que  o  fazeis  por  meu  mandado ; 
e  o  que  nisso  achardes  me  escreuey  declaradamente  pera  ver  se  he  con- 
forme ao  modo  de  que  Ihe  eu  escreuo,  ou  a  diferenca  que  nisso  ha,  e 
com  os  primeiros  recados  folgarey  de  esto  me  enuiardes  que  seja  muilo 
no  serto. 

ítem  :  de  Dom  Antonio  de  Taide  leuaes  huns  apontamentos  pera  se 
desanexarem  da  Comenda  de  Santa  Maria  de  Pouos,  que  elle  agora  tem, 
em  que  el  Rey  meu  Senhor  e  Padre  que  santa  gloria  aja  meteu  as  Igre- 
jas  de- seus  padroados  na  Castanheira  e  Pouos,  que  sao  de  juro  e  her- 
dade  do  dilo  Dom  Antonio,  como  sabéis,  e  cumpridamenle  leuaes  pelos 
ditos  apontamentos  o  que  sobre  isso  aueis  de  sopricar  a  Sua  Santidade, 
que  áde  ser  logo  de  agora  se  desanexarem  da  dita  Comenda  e  as  Igre- 
jas  da  dita  Villa  da  Castanheira  e  Pouos  com  seus  limites,  e  ficar  a  Co- 
menda em  Santa  Maria  de  Pouos  com  o  limite  de  Villa  franca,  o  que  eu 
folgo  que  se  faca  por  folgar  de  fazer  nisso  merce  a  Dom  Anlonio.  Muilo 


RELACOES  COM  a  curia  romana  365 

vos  encomendó  que  de  minha  parte  o  sopriqueis  ao  Santo  Padre  que  Ihe 
lerey  muilo  em  merce  querelo  assi  conceder  e  otorgar,  no  que  Sua  San- 
tidade  nao  deue  ler  pejo  pelas  Igrejas  dos  ditos  lugares  serem  de  meus 
padroados  e  aprezentacao,  e  a  Gomenda  será  agora  de  Dom  Antonio  e 
se  nao  seguir  perjuizo  a  ninguem :  e  Dom  Antonio  vos  dará  ou  enuiará 
o  traslado  da  maneira  que  se  liuer  em  se  fazer  a  dita  Comenda  pera  sa- 
berdes  como  passou  e  se  criou.  Muito  vos  encomendó  que  toméis  disso 
grande  e  especial  cuidado,  porque  auerey  muilo  prazer  de  se  concluir  e 
acabar :  e  isto  que  digo  se  áde  entender  somenle  ñas  Igrejas  da  Casta- 
nheira  e  Pouos  com  seus  lemiles,  porque  todas  as  outras  rendas  ficarao 
na  comenda  em  que  agora  estao,  a  saber,  na  Igreja  de  Villa  franca,  que 
áde  ficar  por  cabeca  da  dita  Comenda. 

ítem  :  pela  Bulla  do  Colegio,  que  el  Rey  meu  senhor  e  padre  que 
Santa  gloria  aja  fes  no  mosteiro  de  Sao  Domingos  de  Lisboa,  que  em 
sua  vida  se  manleue  á  sua  custa,  e  assi  se  manlem  agora  á  minha,  foi 
concedido  a  el  Rey  meu  senhor  e  Padre  que  todas  as  couzas  e  instrucoes 
ou  ordenacoes  do  dito  Colegio,  por  acrecentamento  e  bom  regimentó  delle 
e  dos  frades  colegiaes,  elle  pudesse  reformar,  correger,  anular,  rendar,  e 
quaesquer  couzas  de  nouo  fazer,  que  fosem  licitas,  honestas,  e  nao  contra- 
rias aos  sanctos  Cañones ;  e  porque  esta  graca  espirou  por  falecimento 
(del  Rey  meu  senhor)  e  Padre,  supricareis  de  minha  parte  ao  Sancto  Pa- 
dre que  Sua  Santidade  mo  conceda  assi  a  my  e  a  meus  successores  se- 
gundo he  conlheudo  e  declarado  na  Bulla  do  dito  Colegio,  porque,  pois 
foi  creado  por  el  Rey  meu  Senhor  e  Padre  e  por  elle  manteudo,  e  assi 
o  he  agora  e  áde  ser  por  meus  successores,  rezao  que  he  que  tenhamos 
a  qual  graca  que  com  multa  rezao  foi  concedida  a  el  Rey  meu  Senhor 
e  Padre,  que  nao  auemos  de  querer  senao  o  que  for  mais  proueitoso  e 
necessario  á  milhor  conseruacao  do  dito  Colegio :  e  trabalhae  quanto  for 
posiuel  por  esta  concecao,  porque  auerei  disto  muito  prazer.  Neste  capi- 
tulo nao  falareis  sem  outro  recado  meu  do  que  nisso  ouuer  por  meu  ser- 
uico  que  facaes. 

Ítem :  pelo  muilo  grande  desconcertó  que  ha  na  religiao  dos  frades 
da  ordem  de  Sao  Domingos  da  prouincia  destes  Reinos,  e  porque  Ihe 
falece  muy  pouco  pera  de  todo  ser  decaída,  dezejo  muito  que  seja  refor- 
mada e  lodo  o  seruico  de  nosso  Senhor  e  mayor  conseruacao  da  dita  or- 
dem. E  a  maneira  em  que  auereys  por  seruico  de  nosso  senhor  e  bem 


366  CORPO  DIPLOMÁTICO  POKTÜGÜEZ 

da  dita  religiao  leuaes  lá  huns  aponlamentos,  que  vos  deu  o  secretario 
do  meu  coiisellio,  os  quaes  vos  encomendó  e  mando  que  aprezenleis  a 
Sua  Sanlidade,  e  de  minlia  parle  Ihe  supricay  pelo  theor  delles  mande 
passar  as  Bullas  (e)  prouizoes  declaradas,  pelas  quaes  se  fará  a  dita  re- 
formacao ;  e  de  minha  parte  ihe  afirmay  que  se  Sua  Santidade  o  nao 
proué  assi  pera  se  a  dita  reformacao  fazer  como  he  contheudo  nos  ditos 
aponlamentos,  que  a  prouincia  dos  frades  de  cssa  ordem  nesles  Reinos 
se  acabará  de  todo  de  perder,  segundo  o  estado  em  que  ja  agora  está  -, 
e  que  de  sua  Sanlidade  assi  o  conceder  e  otorgar  crea  que  fará  muito 
seruico  a  nosso  Senhor,  e  eu  o  receberey  em  muita  merce  por  muito  de- 
zejar  que  esta  religiao  nao  acabe  de  cair  de  todo.  E  muito  vos  enco- 
mendó que  trabalheis  quanto  possiuel  vos  for  por  esta  expedicao  se  aca- 
bar como  nos  ditos  aponlamentos  he  contheudo,  porque  o  receberey  de 
vos  em  muyto  seruico,  e  quanto  com  mais  brcuidade  quanto  mais  me 
seruireis.  E  com  os  primeiros  recados  auerei  muito  prazer  com  me  fa- 
zerdes  saber  o  que  Sua  Sanlidade  nisso  quer  fazer  ou  fas,  o  qual  deue 
crer  que  nao  he  nislo  oulra  minha  lencao  senao  nao  se  acabar  de  per- 
der de  todo  esta  religiao. 

ítem  :  leuaes  assi  mesmo  oulra  supricacao,  afora  as  tres  airas  de- 
craradas,  que  loca  ao  conuenlo  de  Tomar,  das  couzas  que  por  ella  ve- 
réis, das  quaes  cumpre  que  se  faca  logo  a  expedicao  pela  necessidadc 
que  nisso  ha.  Mullo  vos  encomendó  que,  logo  como  em  boa  ora  chcgar- 
des,  apresenteis  de  minha  parte  ao  Santo  Padre,  e  Ihe  supricay  e  pedi 
que  todas  as  couzas  declaradas  e  conlheudas  na  dita  peticíio  me  conceda 
e  oulorgue  Sua  Sanlidade  por  de  todas  auer  neccssidade  naquelle  con- 
uenlo ;  (e)  Ihe  day  conta  de  como  eslá  reformado,  e  como  nosso  Senhor  he 
nelle  seruido,  e  das  obras  que  nelle  mando  fazer  pera  parecer  caza  do 
Religiao,  c  nao  estarem  os  freires  como  nos  lempos  passados,  posloque 
el  Rey  meu  senhor  e  padre  que  Santa  gloria  aja  em  muilas  couzas  o  re- 
formase c  o  métese  em  loda  a  boa  ordem,  e  no  dito  conuenlo  fizóse  mui- 
las e  boas  obras,  em  que  muilas  somas  de  dinheiro  gaslou,  com  loda  a 
oulra  informacao  que  Ihe  fareis  do  dito  Conuenlo,  que  mui  bem  leudes 
sabido  e  visto ;  e  porque  frey  Antonio  de  Lisboa,  que  agora  he  Gouer- 
nador  do  dito  convento,  eslá  com  grande  escrúpulo  de  sua  consciencia 
por  respeito  de  sua  baslardia,  como  vay  declarado  na  dita  supricacao, 
vos  encomendó  que  das  primeiras  couzas  em  que  entendacs  scja  esta  su- 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  367 

pricacao  do  conucnlo,  e  que  com  os  primeiros  recados  me  enuieis  a  Bulla 
e  prouizao  disto,  e  tende  grande  e  especial  cuidado  de  assi  o  fazerdes,  e 
niuilo  vol  o  agradecerey. 

Ítem  :  diréis  a  Sua  Santidade  que  ja  em  vida  del  Rey  Dom  Joao 
mcu  tio,  e  despois  em  vida  del  Rey  mcu  senhor  e  Padre,  que  santa  glo- 
ria aja,  hum  Rey  de  Guiñe  que  se  chamaua  Rey  de  Gongo,  Rey  muilo 
poderoso  de  senhorio  de  Ierra  e  de  muita  gente  chamada  do  mato,  com 
a  mais  parle  de  seus  senhorios  se  conuerlerao  á  nossa  Sania  fee  calholi- 
ca,  e  receberao  a  agua  do  sánelo  baplismo ;  e  prouue  a  nosso  Senhor, 
pelo  muilo  que  trabalhou  nisso  el  Rey  meu  senhor  e  padre,  enuiando  mul- 
los sacerdotes  letrados  seculares  e  religiosos  e  pessoas  virtuosas  pera  os 
cnsinarem  e  doutrinarem  acerca  das  couzas  da  fee,  que  he  feita  muy 
grande  conuersam  e  cada  dia  mais  se  fas,  e  espero  em  nosso  senhor  que 
se  faca  muy  grande  fructo,  e  tanto  como  eu  por  seu  seruico  dezejo,  a 
quem  sempre  fauoreco  e  ajudo  e  espero  de  fauorecer  e  ajudar ;  e  que 
porem,  por  a  gente  de  aquella  parte  de  Guiñe  ser  muy  inclinada  a  Ido- 
latrías e  ler  mullas  molheres,  e  se  cazao  com  párenlas  muy  chegadas, 
afora  irmas  em  que  guardao  o  que  deuem,  ainda  que  com  a  graca  de 
nosso  senhor  vao  deixando  a  Idolatría,  e  se  Irabalha  pelos  sacerdotes  e 
pregado  res  que  invio  pelos  por  em  que  nao  lenhao  mais  que  huma  mo- 
Iher,  no  que  ha  feito  grande  emmenda,  porem  sam  duros  de  deixar  de 
cazar  dentro  nos  graos  de  parentesco  defezos  pela  Igreja ;  e  por  serem 
nouos  na  conuercam,  e  apertando  muilo  com  elles  se  deue  muilo  recear 
que  sendo  muilo  aperlados  nao  somente  se  perca  o  fructo  que  he  feilo, 
mas  que  de  lodo  se  afaslem,  supricareis  e  pediréis  de  minha  parle  ao 
Sanio  Padre  que,  auendo  respeilo  a  estas  gentes  serem  nouas  na  fee,  e 
com  rezíio  deuerem  ser  fauorecidos  da  Santa  See  Apostólica  com  fauo- 
res  e  gracas  com  que  sejao  animados,  e  porque,  sendo  aperlados  a  sol- 
larem  as  molheres  que  Ihe  locao  e  giaao  a  que  a  Igreja  pode  fsicj,  pela 
ventura  se  auenturaria  a  se  perder  o  grande  e  bom  comeco  que  está  feito, 
Sua  Santidade  dispense  com  o  dito  Rey  Dom  Alfonso,  e  com  todas  as  gen- 
tes de  seus  Regnos,  que,  assi  elle  como  os  que  forem  casados  com  mo- 
lheres dentro  no  terceiro  grao,  assi  de  consanguinidade  como  de  aíTini- 
dade,  possam  ficar  com  as  ditas  suas  mulheres  que  assi  agora  lem,  a  sa- 
ber, huma  so,  e  ainda  o  querer  Sua  Santidade  conceder  pera  sempre  no  dito 
grao  de  parentesco  somente,  no  que  Sua  Santidade  fará  muilo  seruico  a  nosso 


368  CÜRPO  DIPLOMÁTICO  POUTÜGÜEZ 

Senhor,  o  será  coiiza  de  muy  grande  acrecenlamento  de  sua  Santa  feo, 
e  a  my  fará  nisso  singular  merce.  E  que  pera  Sua  Sanlidade  esta  graca 
conceder  he  muila  rezao  por  muilo  o  fauorecer  o  capitulo  gaudemus  ^  e 
o  capitulo  des"  que  heccesiao  luao  dedi  voreis  %  que  fala  dos  cazamenlos 
(los  pagaos  e  infieis  conuerlidos  á  fee. 

Diréis  a  Sua  Sanlidade  que  por  esto  ser  pera  tao  \niuersal  proueito 
do  acrecenlamento  da  fee  o  deue  conceder  gratis,  e  que  peco  a  Sua  San- 
tidade  assi  o  queira  fazer.  E  insistiréis  nisso  quanto  poderdes,  e  quándo 
assi  se  nao  puder  acabar,  ao  menos  seja  por  mui  pequeña  cota,  pois  esto 
eu  assi  eide  mandar  por  seruico  de  nosso  senhor,  e  do  que  Sua  Sanli- 
dade vos  responder  me  auizareis.  E  fazendo  Sua  Sanlidade  gratis,  como 
deue  e  eu  espero  por  ser  em  couza  de  tao  grande  seruico  de  nosso  se- 
nhor e  acrecenlamento  de  sua  sánela  fee,  expediréis  logo  a  Bulla  assi 
suficiente  e  abastante  como  conuem,  e  me  enuiareis  com  os  primeiros  re- 
cados que  me  inuiardes ;  e  auerey  muilo  prazer  de  trabalhardes  quanto 
posiuel  vos  for  por  Sua  Sanlidade  o  conceder. 

Itera  :  \ós  Icuaes  huma  supricacao  de  Sedaño  meu  cantor,  e  por- 
que sao  delle  encarregado  por  me  ter  bem  seruido  e  seruir,  auerey  muilo 
prazer  de  acerca  da  dita  supricacam  Ihe  aproueitardes  em  quanto  puder- 
des ;  e  muilo  vol  o  incomendo. 

Acerca  do  que  loca  ao  negocio  dos  moesteiros,  de  que  está  prouido 
Dom  Manuel  de  Souza,  a  que  se  oífereceram  os  impedimentos  que  sa- 
béis, tenho  escrito  e  supricado  ao  Sánelo  Padre  pedindo  Ihe  muilo  por 
merce  que  mande  que  aquellas  prouizoes  que  assenlarao  os  Cardeaes  que 
sabéis  nao  ajao  eífeclo,  e  que  Dom  iManoel  esté  em  sua  posse  pacifico  assi 
como  a  tem,  cora  outras  algumas  couzas  que  me  pareceo  que  sobre  isso 
Ihe  deuia  escreuer,  do  que  compridamente  vos  escreuerá  o  dito  Dom  Ma- 
noel.  Muilo  vos  encomendó  que  Irabalheis  com  o  Sánelo  Padre  salisfaca 
a  minha  supricacao,  pois  ha  tanta  rezao  pera  o  fazer ;  e  este  negocio  muilo 
em  especial  vol  o  encomendó  pelo  muilo  que  nisso  vay  a  meu  seruico  e 
conlenlamenlo  que  diso  receberey,  e  tambera  pelo  que  loca  ao  descanco 
de  Dom  Manoel. 


^  Vide:  Decretal.  Greg.  Liv.  iv,  Tit.  xvii,  Cap.  xv  e  Til.  xix,  Cap.  viii. 
*  Leitura  absurda.  Refere-se  talvez  ao  capitulo:  Deus,  qu¡  ccclesiam  snam,  das 
Decretal.  Greg.  Liv.  iii,  Tit.  i,  e  Liv.  iv,  Tit.  xix. 


RELACÓES  COM  A  CUHIA  ROMANA  369 

Diréis  ao  Sánelo  Padre  que  o  Meslre  de  Sam  Tiago  (e)  d  Auis,  mcu 
muilo  amado  e  prezado  primo,  me  cerleficou  que  alguns  comendadores 
das  dilas  ordens  nao  oulhao  nem  guardíío  o  que  se  deue  olhar  e  guardar 
assi  pelo  que  toca  a  suas  conciencias,  como  pelo  que  deuem  a  suas  or- 
dens, lem  inuiado  supricar  a  Sua  Sanlidade,  e  oulros  eslao  em  prepósito 
do  fazer,  que,  renunciando  as  comendas  que  agora  lem,  Sua  Sanlidade 
proueja  dellas  a  seus  filhos,  que  pera  isso  nomeao,  o  que  he  em  grande 
prejuizo  nao  somenle  do  Meslre,  mas  do  que  toca  aos  dilos  Meslrados 
por  muilas  rezóes,  e  de  que  se  seguirá  muilo  escándalo  e  deseruico  de 
nosso  senhor,  e  grande  perjuizo  ao  bem  das  ditas  ordens,  me  pediu  que 
inuiasse  supricar  a  Sua  Sanlidade  que,  sendo  Ihe  agora  ao  dianle  feilas 
semelhantes  supricacoes,  Sua  Sanlidade  as  nao  conceda,  nem  acerca  del- 
las proueja  em  maneira  alguma ;  e  que  por  eu  ver  e  saber  que  islo  se- 
ria grande  prejuizo  ao  dilo  Meslre  meu  primo,  e  se  seguiao  grandes  scan- 
dalos  e  daño  ao  bem  das  couzas  dos  dilos  Meslrados,  suprico  e  peco  muilo 
por  merce  a  Sua  Sanlidade  que  semelhantes  supricacoes  nao  queira  ou- 
uir,  nem  acerca  dellas  fazer  obra  alguma,  e  passada  a  reuogue  (e)  aja 
por  nenhuma,  no  que  fará  muilo  seruico  a  nosso  Senhor,  e  a  mi  e  ao 
Meslre  meu  primo  rauila  merce.  E  porque  pela  Yenlura  ao  diante  Sua 
Sanlidade  podia  passar  alguma,  por  nao  ter  lembranca  dcsla  minha  su- 
pricacam  e  concepcao,  que  espero  que  della  me  faca  seu  breue  ou  Bulla 
que  pasando  alguma  prouizao  a  algum  comendador  das  dilas  ordens  da 
maneira  sobredita,  porque  seria  por  nao  ser  em  lembranca  desta  minha 
supricacam  e  concepcao,  a  reuogue  e  aja  por  nenhuma.  E  vos  encomendó 
muilo  que  trabalheis  quanlo  vos  for  posiuel  por  Sua  Sanlidade  em  lodo 
assi  o  conceder,  e  assi  vos  agradecerey  o  que  nisso  trabalhardes,  como 
se  o  negocio  fose  meu  proprio. 


O  que  vos  Dom  Martinho  meu  muilo  amado  sobrinho,  que  ora  inuio 
por  meu  embaxador  ao  Santo  Padre,  de  minha  parte  diréis  a  Sua  San- 
lidade sobre  a  noua  criacao  do  Arcebispado  do  Funchal,  e  dos  Rispados 
das  llhas  Terceiras,  e  da  Ilha  de  Sam  Tiago  de  Cabo  Verde,  e  da  cidade 
de  Sao  Jorge  da  Mina  ñas  parles  de  Guiñé,  e  da  cidade  de  Goa  na  India, 
he  o  seguinle : 

Diréis  a  Sua  Sanlidade  que  desde  o  lempo  do  Infante  Dom  Ilenri- 

TOMO  II.  47 


370  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGIIEZ 

que,  que  comccou  a  fazer  o  descobrimenlo  do  mar  occeano,  c  que  cm 
scu  lempo  fes  uisso  grande  fructo,  e  tanto  que  foi  comeco  do  que  ludo 
o  que  agora  he  feilo,  que  he  ao  mundo  tanto  notorio,  logo  pelos  Sánelos 
Padres  foi  concedido  a  jurdicao  spiritual  e  temporal  de  todo  o  descuberlo 
e  por  descubrir  ao  Vigario  de  Tomar,  por  elle  ser  Mestre  da  ordem  do 
Mostrado  de  nosso  Senhor  Jesu  Chrislo,  e  por  sua  deuacao  assi  o  supri- 
car,  o  que  deixou  alee  que  el  Rey  meu  Senhor  e  Padre  que  Sania  glo- 
ria aja,  Tendo  o  grande  descubrí mcnlo  que  era  feito,  supricou  ao  Santo 
Padre  Leáo  da  groriosa  memoria  que  criase  de  nouo  Rispo  da  Cidade  do 
Funchal  na  Illia  da  iMadcira,  por  ser  huma  cidade  muy  nobre  e  pouoada 
de  muilos  fidalgos  e  caualeiros,  de  mullos  mercadores  pela  grandeza  de 
seus  tratos;  e  que  assi  se  fez  e  foi  Rispo  do  dito  Rispado  o  Doulor  Diogo 
Pinheiro,  homem  fidalgo  e  de  grandes  letras  e  de  todas  boas  qualidades, 
que  ao  tal  lempo  era  Vigairo  de  Tomar,  Picando  pera  sempre  anexada 
ao  dito  Bispo  a  jurdicao  spiritual  da  dita  Vigairaria,  como  leudes  bem 
sabido  e  porque  escuzo  de  uos  fazer  mais  larga  informacao,  a  qual  cum- 
pridamenle  daréis  a  Sua  Santidade,  o  qual  Bispado  vagou  por  falecimenlo 
do  dito  Bispo,  como  ainda  alé  agora  está  vago. 

Diréis  a  Sua  Santidade  que,  pelo  muito  grande  acrecenlamenlo  que 
he  feilo  ñas  Ilhas  Terceiras,  que  sao  tantas  e  (a)  tantas  legoas  de  meus  re- 
gnos,  e  pouoadas  de  muilos  fidalgos  e  caualeiros  e  escudeiros,  de  muito 
grandes  fazendas  e  mercadores  de  grande  riqueza,  e  lanío  pelo  muy  grande 
que  tem  as  ditas  Ilhas,  ñas  quaes  ha  pasante  de  moradores, 

que  poderá  auer  tantas  mil  almas,  e  assi  d  alli  por  diante  nos  descobri- 
menlos  que  sao  fcitos  por  todo  o  mar  Occeano  em  Guiñé  e  em  a  India, 
e  me  parecer  que  seria  muy  grande  seruico  de  nosso  Senhor  e  melhor 
remedio  das  almas  dos  fiéis  Chrislaos,  e  mayor  azo  da  conuercao  dos  In- 
fléis de  aquellas  parles  assi  de  Guiñé  como  da  India,  em  que  tanto  he 
aproucilado  como  Sua  Santidade  sabe  e  he  notorio,  criar  se  hum  nouo 
Arcebispado,  e  laníos  Rispados  como  parece  necessarLos,  que  a  elle  fica- 
sem  sofraganhos,  pera  curar  das  almas  e  pera  melhor  e  mais  liuremenlc 
se  poder  prouer  no  spiritual  e  temporal,  porque  estando  assi  como  eslá 
nao  he  posiuel  se  poder  lao  (bem)  fazer  como  o  seruico  de  Deus  deue  ser 
feilo,  o  que  Sua  Santidade  bem  poderá  ver  por  de  meus  Reinos  á  India 
auer  passanle  de  tantas  mil  legoas,  que  pelo  caminho  e  nauegacao  que 
se  faz  se  dobra  ainda,  segundo  os  lempos  que  mullas  vczes  achao  no 


RELACOES  COM  a  curia  romana  371 

mar,  muilas  mais  com  grandes  riscos  e  venluras  pelas  lormenlas  gran- 
dissimas  e  lempos  fortuilos  que  achao  e  com  que  nauegao,  e  em  que  mui- 
las vezes  se  perderam  e  perdem  muilas  naos  e  nauios,  e  com  perda  de 
outras  muilas  genles  e  muilas  couzas. 

E  que  com  este  fundamento,  vendo  que  he  cousa  lao  necessaria  e 
que  de  necessidade  se  deue  prouer,  suprico  c  peco  muilo  a  Sua  Santidade 
que  no  dito  Rispado  do  Funchal  queira  criar  nouo  Arcebispado,  e  fique 
metropolitano  dos  ditos  nouos  Rispados  que  adiante  declararei  (?),  os  quaes 
ficam  sofraganhos  ao  dito  Arcebispado  do  Funchal,  e  que  Ihe  fique  por 
Diocese  toda  a  llha  da  Madeira,  e  a  liha  do  Porto  Sánelo,  e  as  desertas 
e  seluagens,  que  sao  adjasenles  á  dita  llha  da  Madeira,  e  pela  térra  fir- 
me de  Guiñé  do  fim  do  Rispado  de  Cafim  ate  que  serao  pela 
Ierra  ja  descuberla  legoas,  com  todas  as  rendas  que  agora  ñas 
ditas  libas  e  Ierras  tem  o  dito  Rispado  do  Funchal,  e  com  o  dote  que 
Ihe  foi  apricado  por  el  Rey  meu  Senhor  e  padre  que  Santa  Gloria  aja, 
que  valerá  por  anno  pasante  de  mil  reis,  e  d  outras  couzas  que 
Ihe  uem  dos  direitos  episcopaes  e  penas,  que  nao  sao  certas  como  as  ren- 
das do  dote,  porque  ora  valem  a  mais  e  (ora)  a  menos  por 
anno,  em  maneira  que  por  ludo  será  aualiada  a  renda  pouco  mais  ou 
menos  reis  por  anno ;  e  que  a  See  da  Cidade  do  Funchal  fique 
com  aquelles  ministros  e  beneficiados  (e)  com  todas  as  outras  couzas 
que  tinha  sendo  episcopal. 

E  que  na  ílha  de  Sao  Miguel,  que  he  huma  das  libas  terceiras  e 
a  mais  grande  e  de  mayor  pouoacao,  se  faca  See  Calhedral  da  Igreja 
Parrochial  que  agora  ha,  que  he  da  vocacao  de  e  se  crie  nella 

Rispo  e  dignidade  episcopal  e  dignidades  Conegos  e  capelaes  (?),  e  isto 
lodos  beneficiados  que  agora  ahi  ha,  que  sao  e  que  dos  mais 

antigos  se  facao  as  primeiras  dignidades  ao  modo  que  se  fes  na  See  do 
Funchal ;  e  Ihe  seja  dado  por  Diocese  a  dita  liba  de  Sao  Miguel,  e  as  ou- 
tras libas  a  ella  adjacentes,  a  saber,  a  Terceira,  e  a  de  Sao  Jorge,  e  a 
Graciosa,  e  a  do  Pico,  e  a  do  Fayal,  e  das  Flores,  e  do  Coruo,  as  quaes 
libas  todas  sao  pouoadas,  (e)  em  a  mayor  parte  dellas  ha  igrejas  paroquial 
e  moesteiros  da  ordem  de  Sao  Francisco,  que  creo  que  sao  qualro  ou 
cinco,  de  que  vos  mais  sertificadamente  vos  informay  pera  o  leuardes 
bem  sabido  ;  e  valerao  os  proueitos  e  interesses  de  direilo  episcopal  e  pe- 
nas por  anno,  porque  todas  as  outras  rendas  sao  do  Mestrado 

47* 


372  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGIIEZ 

de  Chrislo  ;  e  pera  ser  njudado  o  Bispodesle  Bispado,  e  melhor  poder 
acudir  ás  couzas  de  suas  obrigacoes,  a  mini  praz  de  Ihe  dolar  renda  apar- 
tada e  certa  da  que  lenho  cu  das  ditas  Ilhas  de  valia  de  duzenlos  cru- 
zados por  auno  ale  Ihe  dar  e  anexar  em  beneficios  que  valhao  a  dita  renda, 
(e)  quando  Ihos  der  niío  auer  mais  a  dita  cola  que  Ihe  agora  assino. 

E  que  na  Ilha  de  Sao  Tiago  no  cabo  verde  na  Igrcja  da  dita  Ilha 
da  uocacíio  de  na  pouoacao  della  na  parle  da  ribeira  grande 

se  fizese  calhedral  e  dignidade  episcopal  pela  mesma  maneira  das  Ilhas 
Terceiras,  á  qual  seja  dado  por  Diocese  da  dita  Ilha  e  as  oulras  Ilhas  a 
ella  adjacenles,  a  saber,  a  Ilha  de  Sanio  Anlao,  e  a  de  Sao  Vicente,  a  de 
Santa  Luzia,  e  a  de  Sao  Nicolao,  e  a  de  Maio,  e  a  do  Fogo,  e  a  da  Boa 
Vista,  e  a  do  Sal,  e  a  Braua,  de  que  a  mayor  parte  deltas  sao  pouoa- 
das  ate  de  Igrejas,  e  da  Ierra  firme  de  Guiñé  do  rio  em  que 

acaba  a  Diocese  do  Funchal,  até  o  rio  de  que  serao  Irezentas  e 

\inte  legoas,  e  \alerao  os  direilos  do  Bispo  de  pouos  e  chancelarias  ses- 
senta  e  tres  cruzados,  porque  toda  a  oulra  mais  renda  he  da  ordem  do 
Mostrado  de  Chrislo  ;  (e)  porque  o  Bispo  tem  pouca  renda  e  conuem  de  ser 
ajudado  pera  melhor  se  poder  sustentar,  suprico  e  peco  a  Sua  Sanlidade 
que  anexe  em  perpetuo  á  dita  dignidade  e  meza  episcopal  o  mosleiro  de 
Sao  Pedro  das  Aguias,  que  he  da  Ordem  de  Cistel  da  Diocese  do  Bispado 
de  Lamego,  o  qual  agora  tem  o  Doulor  Braz  Netto  em  encomenda,  que  o 
cederá  e  renunciará  pera  em  fauor  da  dita  anexacao  e  esta  em  a  taixa, 
ficando  gouernando  o  conuento  do  dito  mosleiro  em  lodos  os  oulros  car- 
regos  delle ;  e  se  pela  ventura  o  Santo  Padre  tiuer  pejo  na  anexacao  do 
dito  moesleiro  a  este  Bispado,  que  nao  deue  ter  por  ser  pera  cousa  de 
tanto  seruico  de  nosso  Scnhor,  me  praz  Ihe  dar  outro  dote  de  oulros  du- 
zenlos cruzados  de  renda  cada  anno  no  modo  que  airas  o  faco  no  Bis- 
pado das  Ilhas  Terceiras. 

E  que  na  Ilha  de  Sao  Thomé,  na  Igreja  Parrochial  da  dila  Ilha, 
que  he  muy  solemne  da  enuocacao  de  se  faca  See  Calhedral, 

e  se  crie  ñoñamente  dignidade  episcopal,  como  se  áde  fazer  ñas  oulras 
ditas,  e  Ihe  seja  dado  por  Diocese  da  Ierra  firme  onde  está  edificada  a 
cidade  de  Sao  Jorge  da  Mina  do  tal  em  que  se  acaba  o  Bispado  da  Ilha 
de  Sao  Tiago  até  o  cabo  de  Boa  Esperanca,  em  que  entra  q  Reino  de 
Manicongo,  onde  el  Rey  he  ja  christao  com  muy  grande  parte  do  Reino, 
e  os  filhos  do  dito  Rey  e  muilos  seus  párenles  foríio  criados  e  doulrina- 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  373 

dos  no  ensino  da  fee,  e  hum  dos  ditos  seus  filhos  he  Rispo  de  e 

auerá  nesla  Diocese  nouecenlas  e  cincoenla  legoas  e  mais,  e  a  ilha  de 
Sanio  Anlao,  que  ja  he  pouoada  de  chrislaos,  e  ha  nella  Igreja  e  sao 
nellas  conuerlidas  á  nossa  Sania  fee  e  recebido  agua  do  baulismo  muila 
gente  dos  ethiopios,  de  que  sao  nascidos  muilos  filhos  que  sao  chrislaos, 
a  Ilha  de  Fernao  do  Po,  e  de  Sania  Elena,  e  do  Anno  bom,  valeráo  os 
direitos  episcopaes  de  Igrejas  e  penas  cento  e  sessenla  cruzados,  posto 
que  lodas  as  mais  rendas  sao  da  caualeria  de  Ghrislos ;  e  porque  nesla 
Diocese  entra  o  dito  Reino  de  Manicongo  e  as  Ilhas  de  Sao  Thomé  e 
Santo  Antao  e  as  outras  ácima  ditas,  a  dita  Ilha  de  Sao  Thomé  vay  em 
grande  crecimenlo  de  pouoacao,  pelos  grandes  tratos  da  dita  Ilha  e  ássi 
das  outras  Ilhas  a  ella  adjacenles,  e  ha  mester  que  o  Rispo  della  lenha 
conuenienle  manlenca  pera  as  vezilar  e  proner,  suprico  e  peco  a  Sua  San- 
lidade  que  anexe  perpetuamente  á  dila  dignidade  episcopal  o  mosleiro  de 
Sao  Joao  de  Tarouca  da  ordem  de  Sao  Rernardo,  da  Diocese  do  Ris- 
pado de  Lamego,  o  qual  o  lem  em  encomenda  Diogo  Orliz,  Deam  da  mi- 
nha  Capella,  que  o  cederá  e  renunciará  pera  em  fauor  da  dila  anexacao 
o  qual  tal  laxa,  ficando  gouernando  o  conuento  do  dito  mosleiro  e  lodos 
os  outros  encarregos  delle.  E  lendo  o  Sanio  Padre  nisso  pejo,  que  nao 
deue  ler  pois  he  cousa  de  tanto  seruico  de  nosso  Senhor  pelo  muilo  fru- 
clo  que  se  espera  da  conuercao  dos  infieis  e  gentes  que  ha  nesla  Dio- 
cese,  me  praz  Ihe  dar  dote  do  na  dila  Ilha  de  Sao  Thomé  no  modo  que 
atraz  o  faco  no  Rispado  das  Ilhas  Terceiras,  e  com  aquella  condicao,  e 
querendo  o  Santo  Padre  fazer  anexacao  do  dilo  mosleiro  ao  dito  Rispo,  e 
alem  disso  ei  por  bem  de  Ihe  dar  os  ditos  cruzados  dados 

pera  o  dito  mosleiro  e  dote,  e  auer  no  dote  será  ale  Ihe  dar  Reneficios 
que  valha  como  dito  he. 

E  porque  na  Ilha  da  Cidade  de  Goa,  que  he  na  India,  a  qual  foi 
ganhada  e  lomada  por  forca  de  armas  no  lempo  d  el  Rey  meu  Senhor  e 
padre  por  seu  Capitao  mor  e  gente  que  na  India  Irazia  aos  mouros  ymi- 
gos  de  nossa  fee,  que  della  erao  senhores,  á  grande  pouoacao  de  chris- 
laos porluguezes  cazados  com  suas  molheres  christas,  que  he  Ierra  pro- 
pria  minha,  e  auer  a  Igreja  parrochial  de  grande  edeficio,  que  el  Rey  meu 
Senhor  e  Padre  nella  mandou  fazer  da  vocacao  de  Santa  Calherina,  em 
cujo  dia  se  enlrou  e  ganhou,  e  hum  sumptuoso  mosleiro  da  ordem  de 
Sao  Francisco  da  obseruancia,  em  que  rezide  conuenlo  pasante  de  vinle 


37i.  COUPO  DIPLOMÁTICO  POUTUGUEZ 

frades  que  de  ca  do  Reino  forao  enuiados  por  seu  minislro,  e  assi  naquel- 
las  partes  da  India  oulras  Cidadcs  sojeilas  a  mim  e  a  minha  obediencia, 
assi  como  Ormuz,  que  he  cabeca  de  todo  o  Reino  de  Ormuz,  que  he 
grande  Reino,  e  de  oulras  muitas  cidades  e  villas  que  eslao  em  minha 
obediencia  e  seruico,  e  me  he  tributario  em  cem  mil  cruzados  cada  anno, 
sendo  o  senhorio  de  mouros  ymigos  de  nossa  fee,  e  na  dita  Cidade  de 
Ormuz  fortaleza  minha  com  muila  gente  de  chrislaos  porluguezes  e  ou- 
tros  muitos  christaos  da  mesma  térra,  que  nouamenle  se  conuerterao  e 
recébenlo  agua  do  sanio  bautismo ;  e  assi  a  cidade  de  Malaca,  assi  mes- 
mo  tomada  e  ganhada  aos  mouros  por  forca  de  armas,  em  que  he  a  for- 
taleza minha  com  meu  Capitao,  e  a  muita  gente  de  chrislaos  portugueses, 
e  oulros  muitos  que  síío  nouamenle  conuertidos  neslas  parles,  oulras  mul- 
las cidades  e  Ierras  que  sao  já  fora  dos  limites  da  India,  de  que  multas 
deltas  me  sao  sojeitas  e  obedientes,  Suprico  e  peco  a  Sua  Sanlidade  que 
na  dita  Igreja  Parrochial  da  minha  cidade  de  Goa  se  faca  See  e  digni- 
dade  episcopal,  en  a  maneira  ñas  oulras  airas,  que  se  chame  Rispo  da 
cidade  de  Goa,  e  se  Ihe  dé  por  Diocese  a  cidade  de  Goa  e  todas  as  Ilhas 
a  ella  adjacenles  desde  o  Cabo  da  Roa  Speranca,  donde  se  acaba  a  Dió- 
cesi do  Rispado  da  Ilha  de  Sao  Thomé,  com  todo  o  que  ha  do  dito  cabo 
ale  á  India  e  d  ally  da  India  alé  á  China,  com  todas  as  Ilhas  e  Ierras 
que  agora  sao  descubertas  e  ao  diante  se  descubrirem  na  minha  conquis- 
ta ;  e  valerao  os  direitos  das  penas  e  Chancellarlas  pertencentes  ao  Ris- 
pado cenlo  e  oilenta  cruzados,  porque  todas  as  oulras  rendas  sao  da  ca- 
ualaria  (de)  Chrislos,  e  pera  ser  ajudado  o  Rispo  deste  Rispado  e  melhor 
poder  acudir  ás  couzas  de  sua  obrigacao  a  mim  pras  de  Ihc  dar  dote  de 
renda  apartada  e  certa  da  que  lenho  na  dita  cidade  de  valia  de  duzenlos 
cruzados  por  anno,  alé  Ihe  dar  e  anexar  beneficios  que  valhao  a  dita 
renda,  e  quando  Ih  as  der  nao  auerá  mais  o  dito  dote  que  Ihe  agora  as- 
sino. 

Diréis  a  Sua  Sanlidade  que  Ihe  suprico  e  peco  por  merce  que  con- 
ceda e  otorgue  que  o  Arcebispo  do  Funchal  fique  e  seja  Metropolitano  de 
todos  estes  Rispados  airas  nomeados,  e  sejao  seus  sofraganhos  como  o 
sao  os  oulros  Rispos  do  Reino  a  seus  metropolitanos. 

Diréis  a  Sua  Sanlidade  que,  por  quanlo  lodos  estes  Rispados  sao  li- 
rados do  Rispado  do  Funchal,  que  he  do  meu  padroado,  e  me  mouo  no- 
uamenle screm  criados  por  seruico  de  nosso  Senhor  e  mais  proucito  das 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  375 

almas  dos  fiéis  christaos,  e  da  conuersao  das  genios  d  aquellas  parles, 
que  espero  que  se  faca  muy  grande,  e  pera  muy  grandissimo  acrecenla- 
menlo  de  nossa  fee,  suprico  e  peco  a  Sua  Sanlidade  que  assi  fique  o  dito 
Arcebispado  e  Rispados  de  meu  padroado  e  apresenlacao,  e  assi  em  aquella 
propria  forma  modo  e  maneira  que  o  era  o  Rispado  do  Funchal,  porque 
nelles  ha  a  mesma  rezao  que  auia  quando  se  concedeo  o  dito  Rispado  do 
Funchal,  porque  os  Reis  meus  antecessores  e  el  Rey  meu  Senhor  e  padre 
com  que  adquerirao  as  Ilhas  e  Ierras  e  edificarao  as  Igrejas  e  as  pouoa- 
rao,  e  que  osReneficiados  dellas  fiquem  de  aprezenlacao  doMeslre  de  Chris- 
to,  e  assi  e  pela  maneira  que  agora  sao  e  sempre  forao :  e  com  esla  le- 
uaes  o  treslado  da  Rulla  da  creacao  da  Igreja  do  Funchal,  e  da  reser- 
iiacao  do  Padroado  em  pubrico  por  notario  apostólico,  e  segundo  o  teor 
delta  expediréis  todas  as  oulras  do  Arcebispado  e  Rispados. 

ítem  :  diréis  a  Sua  Sanlidade  que,  olhando  eu  as  pessoas  que  deuiao 
ser  prouidas  (no  Arce)  bispado  e  Rispados,  e  considerando  as  qualidades 
que  deuiao  ter  de  letras,  virtudes  e  bom  exemplo  de  uida,  e  lambem  de 
seus  merecimentos  e  seruicos,  escolhi  a  vos  pera  vos  aprezenlar  como 
aprésenlo  a  Sua  Sanlidade  pera  a  minha  apresenlacao  e  como  por  forca  (?) 
de  meu  padroado  pelas  rezoes  sobreditas  vos  prouer  do  dilo  Arcebispado  ; 
e  que  ouue  por  escusado  a  Ihe  dizer  mais  os  merecimentos  de  vossa  pes- 
soa,  e  do  sangue  que  vindes  e  parentesco  que  comigo  tendes,  e  da  grande 
confianca  que  deuo  ter  de  vos  pera  nosso  Senhor  nesla  Perlasia  seruir- 
des,  do  que  Sua  Sanlidade  tem  de  vos  sabido  pela  experiencia  de  vosso 
seruico ;  e  que  Ihe  peco  por  merce  que  me  aja  por  isto  por  releuado  de 
larga  informacao  que  disso  Ihe  podera  dar,  no  que  me  fará  muy  grande 
merce  de  uos  prouer  do  dilo  Arcebispado,  e  mandar  passar  as  Rullas  e 
Prouisóes  necessarias  conformes  a  minha  supricacam. 

E  que  pera  o  Rispado  das  Ilhas  Terceiras  aprezento  a  Sua  Sanlidade 
Manoel  de  Ñoronha,  fidalgo  de  minha  casa,  lelrado  e  pessoa  de  muila 
virtude  e  bom  exempro  de  vida,  e  de  cujo  seruico  sou  muito  conlenle,  e 
em  que  por  estes  respeitos  cabe  toda  a  honra  merce  e  acrecentamento ;  e 
que  alem  destas  couzas  muito  folguei  de  o  fazer  por  saber  que  Sua  San- 
lidade tinha  de  sua  pessoa  muito  conlenlamento,  (e)  acerca  de  suas  couzas 
me  escreuer  e  muito  mo  encomendar,  e  que  por  estes  respeitos  suprico 
e  peco  muito  por  merce  a  Sua  Sanlidade  que  o  queira  prouer  do  dilo 
Rispado  no  modo  airas  decrarado. 


376  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

E  pera  o  Rispado  de  Sao  Tiago  aprésenlo  a  Sua  Sanlidade  o  Dou- 
tor  Braz  Nello,  do  meu  conselho  e  meu  desembargador  do  Paco,  e  agora 
meu  embaxador  em  sua  corle,  no  qual  ha  todas  as  qualidades  que  deue 
ter  quem  ha  de  ser  prouido  de  Prelacia,  e  que  Sua  Sanlidade  o  lempo 
que  esleue  em  sua  corle  lomaría  alguraa  experiencia  assi  de  suas  lelras 
como  de  sua  pessoa  e  bondade;  (e)  que  me  moueo  a  folgar  de  Ihe  fazer  esla 
merce,  aiem  das  boas  qualidades  que  elle  lem,  ter  elle  muy  bem  seruido 
a  el  Rey  meu  Senhor  e  Padre  que  Deus  lem,  e  me  lem  dado  assi  loda 
a  boa  conla,  que  por  isso  suprico  e  peco  muilo  por  merce  a  Sua  Sanli- 
dade que  o  queira  prouer  do  dilo  Rispado  no  modo  sobredilo. 

E  pera  o  Rispado  da  Ilha  de  Sao  Thomé  aprésenlo  a  Sua  Sanlidade 
Diogo  Orliz,  fidalgo  de  minha  casa  e  Adayaó  de  minha  capella,  de  que 
sao  muy  encarregado  por  ser  pessoa  de  muila  \irlude  e  bondade,  e  ler 
muy  boas  lelras  na  sagrada  Theologia,  e  lodas  as  oulras  qualidades  que 
pera  Prelado  se  requerem,  e  despois  dislo  ler  me  muilo  e  muy  continua- 
damenle  seruido,  pelo  que  lem  merecimento  pera  folgar  de  Ihe  fazer  merce 
e  acrecenlamenlo.  E  Ihe  fareis  inleira  informacao  da  virlude,  bondade  e 
bom  exempro  de  \ida  do  Adayao,  e  de  suas  lelras,  e  que  peco  por  merce 
a  Sua  Sanlidade  que  o  queira  prouer  do  dito  Rispado  no  modo  que  Ihe 
suprico  e  peco. 

E  pera  o  Rispado  da  cidade  de  Goa  aprésenlo  a  Sua  Sanlidade  Fran- 
cisco de  Mello,  fidalgo  de  minha  caza,  que  descende  de  fidalguia  muy 
anliga  nesles  Reinos,  e  que  aos  Reys  meus  antecessores  sempre  seruirao 
muy  honradamente,  assi  na  guerra  dos  mouros  de  África,  como  em  ou- 
tros  muilos  seruicos  por  que  merecerao  os  de  que  elle  decende  mais  hon- 
ras e  acrecentamenlos  que  Ihe  foraó  feitos,  e  muy  principalmente  pela 
honestidade  de  sua  vida  e  bom  exempro  della,  e  per  as  boas  letras  que 
tem  na  sagrada  Theologia.  E  inteiramenle  fareis  a  Sua  Sanlidade  de  ludo 
informacao,  que,  por  saberdes  muy  bem  todas  as  qualidades  que  Fran- 
cisco de  Mello  tem,  e  o  merecimenlo  de  sua  pessoa,  escuzo  de  mais  lar- 
gamente voló  dizer :  e  que  peco  muilo  a  Sua  Sanlidade  que  o  queira  pro- 
uer do  dilo  Rispado  no  modo  sobredilo. 

ítem :  os  sobrcditos  me  enuiarao  suas  prouisoes  pera  expedicao  de 
suas  Bullas  e  lelras,  e  as  leuareis  delles  pera  á  sua  cusía  se  expedirem, 
e  isto  somenle  das  Rullas  e  Prouisoes  que  se  ouuercm  de  expedir  dos  di- 
tos, porque  o  que  se  ouuer  de  pagar  da  noua  criacao  dos  Rispados,  que 


RELACOES  COM  a  curia  romana  377 

suprico  a  Sua  Sanlidade  que  faca,  se  áde  pagar  alguma  couza  \  o  que 
TOS  trabalhareis  por  ser  o  menos  que  ser  possa. 

Acerca  dos  dotes  que  nesla  instrucao  asino  pera  os  Rispados  o  que 
suprico  e  peco  ao  Santo  Padre  que  anexe  aos  mosteiros  em  cada  Rispado 
nonieados,  em  que  vos  digo  que  quando  Sua  Sanlidade  tiuesse  pejo  na  ane- 
xacao  dos  ditos  mosteiros,  que  entao  darey  os  dotes  que  em  cada  um  as- 
sino,  como  no  capitulo  de  cada  hum  \ay  decrarado,  e  vos  faco  lembranca 
que  nos  ditos  dotes  nao  fajareis,  nem  se  saberá  que  leuaes  comissam  pera 
ellas,  saluo  depois  de  muito  insistirdes  que  Sua  Sanlidade  anexe  os  ditos 
mosteiros  aos  ditos  Rispados  pera  sem  dote  os  criar;  e  despois  de  terdes 
nisso  trabalhado  e  feilo  quanlo  possiuel  vos  for,  e  nao  podendo  acabar  as 
anexacoes  dos  ditos  mosteiros  nem  terdes  disso  esperanca,  em  tal  cazo  en- 
tao decrarareis  os  ditos  dotes  per*a  com  elles  Sua  Sanlidade  conceder  a 
minha  supricacam  acerca  da  noua  criacao  daquelles  Rispados,  a  que  su- 
prico sejaó  anexados  os  ditos  mosteiros. 

E  se  pela  ventura  o  Sanio  Padre  vos  mostrase  algum  impedimento 
na  concecaó  dos  ditos  Rispados,  e  nao  concedesse  nelles  minhas  suprica- 
coes,  que  nao  espero,  neste  caso  e¡  por  meu  seruico  e  vos  mando  que  vos 
nao  vos  prouejaes  por  modo  algum  do  Arcebispado  do  Funchal,  que  pera 
vos  suprico ;  e  me  fareis  saber  ludo  o  que  acerca  da  noua  criacao  dos 
ditos  Rispados  pasar,  pera  acerca  disso  vos  responder  o  que  ouuer  por 
meu  seruico  que  facaes :  e  isto  compri  e  guarday  inteiramenle  assi  como 
por  este  capitulo  vol  o  mando,  porque  assi  o  ei  por  muito  meu  seruico. 


Dom  Martinho  sobrinho  amigo. 

Alguns  apontamenlos  que  me  fizesles  de  couzas  pera  que  me  pedi- 
réis que  vos  désse  minha  determinacao  pera  melhor  me  poderdes  seruir, 
e  assi  bem  como  em  ludo  o  desejaueis  fazer,  vos  respondo  aquellas  de 
que  me  pareceo  meu  seruico  serdes  anisado,  e  sao  as  seguintes : 

Ao  que  queréis  saber  de  que  parcialidade  seréis  amigo,  vos  respondo 
que,  quando  se  oferecer  couza  em  que  aja  diferenca  de  alguns  Principes, 
mo  fareis  saber,  e  quaes  sao  as  couzas,  pera  eu  vos  auizar  do  que  fa- 
caes, e  entretanto  nao  vos  mostréis  por  hum  nem  por  outro ;  porem  no 

^  Cremos  ser  erro  do  copista,  e  dever  lér-se  :  á  minha  custa. 
TOMO   II.  48 


378  GORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

que  toca  ao  Emperador,  raeu  muito  amado  e  prezado  yrmao,  sempre  te- 
reis  especial  respeilo  pera  moslrardes  que  entre  nos  ha  aquelle  amor  e 
amizade,  que  requerem  as  muitas  rezoes  que  pera  isso  ha,  e  com  seus 
Embaxadores  sempre  seréis  muito  correnle  com  niostra  de  muito  amor  e 
grande  amizade ;  e  segundo  que  Yirdes  os  negocios  entre  os  Principes  em 
que  se  mouer  alguma  diferenca,  assi  m  o  fareis  saber  muito  depressa  ou 
de  vagar,  como  virdes  que  a  necessidade  o  requer,  e  esta  mesma  maneira 
tereis  com  os  Embaxadores  do  Rey  dos  Romaos  meu  muito  prezado  e 
amado  irmSo. 

E  o  que  queréis  saber  que  fareis  ñas  couzas  que  succederem  entre 
os  Principes,  se  uos  meteréis  nellas  ou  se  uos  quizerem  meter  o  que  fa- 
reis, nao  vos  meteréis  nellas,  e  querendo  uos  elles  meter  vos  escusareis 
disso  per  as  melhores  palauras  que  v(Ts  poderdes,  nao  mostrando  que  o 
fazeis  por  meu  mandado  ;  e  me  fareis  saber  as  couzas  mouidas  de  entre 
elles,  e  qual  vos  requere  pera  em  seus  negocios  vos  melerdes,  e  com  que 
fundamento,  tudo  muy  decraradamente  pera  em  ludo  eu  uos  mandar  o 
que  ouuer  por  meu  seruico  que  facaes. 

Acerca  de  vos  fazerdes  familiar  do  Papa,  nao  ei  por  meu  seruico 
que  o  facaes  em  mais  que  Ihe  mostrardes  que  sabéis  que  lenho  muito 
amor  e  boa  vontade  pera  o  seruir  e  á  Santa  Sé  Apostólica ;  e  trabalha- 
reis  por  sempre  estar  de  vos  muito  contente  e  de  Ihe  serdes  muito  con- 
tente :  e  nisto  se  uos  nao  pode  dar  regra  serta :  Vos  o  fareis  de  maneira 
que  eu  me  aja  de  vos  por  bem  seruido :  nao  aceitareis  de  Sua  Santidade 
nenhum  officio,  ainda  que  elle  voló  queria  dar,  sem  primeiro  mo  fazer- 
des saber  e  auerdes  meu  recado  do  que  ei  por  meu  seruico  que  nisso 
facaes. 

Acerca  da  eleicao  do  Papa,  se  se  oíferece  fazer,  nao  se  vos  pode  dar 
regra  do  que  nisto  facaes.  O  que  acerca  disso  mais  vos  posso  dizer  he 
que,  auendo  necessidade  de  eleicao  do  Papa,  m  o  facaes  saber  em  grande 
diligencia  pera  eu  vos  auizar  acerca  disso  do  que  me  parecer  meu  ser- 
uico, e  entre  tanto  no  que  vos  couber  trabalhareis  porque  se  eleja  aquelle 
de  que  virdes  que  nosso  senhor  pode  ser  melhor  seruido,  e  que  a  sua 
Santa  Igreja  posa  e  saiba  melhor  governar. 

Acerca  do  Concilio  me  fareis  saber  o  porque  se  moue  e  porque  cau- 
za,  e  os  pareceres  que  o  querera,  e  sobre  que  cauzas  nelle  se  ha  de  en- 
tender, e  muito  cumpridamente  o  que  disso  souberdes ;  e  o  recado  disso 


RELACOES  COM  a  curia  romana  379 

me  inuiareis  naquella  diligencia  que  virdes  que  a  necessidade  o  requere. 
A  mi  muito  me  prazeria  que  ouuesse  Concilio,  sa  nelle  se  ouuesse  de 
tratar  das  couzas  que  tocao  ás  eresias,  era  que  tanto  se  deue  de  olhar  e 
prouer  e  com  tanta  deligencia  como  requere  a  necessidade  que  ha,  e  assi 
em  oulras  muilas  que  deue  ser  muito  prouido,  e  ao  Santo  Padre  quando 
me  escreueo  sobre  o  Concilio  muito  Ihe  louuey  seu  mouimento  e  zello 
pera  isso,  e  Ihe  pedi  muito  por  merce  que  o  quizesse  fazer,  por  me  pare- 
cer que  seria  muito  seruico  de  nosso  Senhor  e  bem  da  Santa  Igreja  Apos- 
tólica e  muito  louuor  de  Sua  Sanlidade,  e  aínda  assi  m  o  parece,  com 
tanto  que  se  prouesse  nelle  as  couzas  de  que  ha  tanta  necessidade  de  se- 
rem  prouidas. 

E  que  queréis  saber  da  rezao  que  daréis  acerca  da  guerra  do  Tur- 
co, do  que  podereis  muy  bem  dizer  que  o  Papa  deue  nella  prouer  quanto 
nelle  for  he  de  crer  aos  Principes  christaos  que  acerca  della  podem  apro- 
ueitar,  e  de  mim  dizer  a  guerra  que  continuadamente  tenho  em  África, 
e  com  o  mesmo  Turco  na  India,  o  exercito  que  nella  continuadamente 
trago,  e  pelas  nouas  que  Sua  Santidade  me  enuiou  da  grossa  armada  que 
faz  contra  a  India  verá  o  que  me  cumpre  prouer ;  e  que  nesla  armada 
que  agora  parliu  mandei  dous  mil  homens  sobreselentes  pera  o  exercito 
que  la  tenho,  e  que  nao  se  podérao  mais  alojar  por  estarem  as  naos  ja 
carregadas  e  de  todo  prestes  com  o  ordinario  de  cada  anno,  e  que,  (se) 
as  nouas  mais  dobrarem  da  armada  do  Turco,  pera  a  moncao  de  setem- 
bro  prouerey  do  mais  que  me  parecer  que  cumpre,  e  assi  como  a  ne- 
cessidade o  mostrar ;  e  que  na  India  tenho  pasante  de  des  mil  homens  a 
que  pago  soldó,  em  que  entrao  muitos  fidalgos  e  caualleiros  meus  cria- 
dos com  que  se  fas  muy  grande  despeza  continua,  afora  os  galardoes  de 
seus  seruicos,  em  que  mui  grande  despeza  se  fas  de  minha  fazenda. 

As  festas  das  parcialidades  fareis  como  e  em  a  maneira  que  vos 
nielhor  parecer,  nao  as  fazendo  por  yicloria  que  se  aja  contra  christaos. 

Ñas  armas  que  lereis  em  vossas  cazas,  me  parece  que  nao  deueis  ter 
outras  senaó  as  rainhas,  quando  se  oferecer  couza  por  que  as  deuaes  poer 
e  ter;  e  assi  ey  por  meu  seruico  que  o  facaes,  e  nao  em  outra  maneira. 

Acerca  do  que  queréis  saber  indo  o  Emperador  a  Roma,  ei  por  meu 
seruico  que  vades  pera  elle  o  mais  longe  que  poderdes,  e  se  fordes  o  pri- 
meiro  que  a  elle  chegardes,  assi  o  auerey  por  mais  meu  seruico. 

Acerca  de  anexar  á  coroa  estes  mestrados  e  aprezentacao  do  Prio- 

48* 


380  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

rado  do  Crato,  sentiréis  disso  como  de  vosso,  o  que  se  poderá  fazer  sem 
parecer  que  leuaes  pera  isso  comissam  nem  mandado  meu  ;  e  do  que  nisso 
achardes  e  do  cusió  com  que  se  fará  me  auisareis  cumpridamenle,  e  nao 
melaes  islo  em  negocio. 

Acerca  do  procedimenlo  dos  embaxadores,  guardar  uos  eis  do  que 
toca  a  Ingralerra,  pera  nao  vos  achardes  nem  verdes  em  couza  de  que 
se  pode  seguir  meu  deseruico,  e  lende  disso  aquelle  bom  cuidado  que  de 
vos  confio,  porque  nunca  vos  possa  nisso  acontecer  couza  de  inconue- 
niente  nem  de  meu  desseruico ;  e  muilo  vos  encommendo  que  tenhaes 
nisso  grande  resguardo  e  caulella,  por  tal  que  se  uos  nao  possa  oíTerecer 
couza  de  que  se  possa  seguir  inconuenienles  a  meu  seruico. 

ítem  :  a  maneira  que  queréis  saber  que  tereis  em  me  enuiar  vossas 
cartas,  sempre  pelos  correos  ordinarios  de  cada  mes  me  escreuey  o  que 
entao  ouuer  pera  me  escreuerdes,  e  quando  ouuer  necessidade  fazerdes 
correo  proprio,  porque  cumpre  assi  a  meu  seruico,  o  fareis,  e  aderessa- 
reis  vossos  macos  das  cartas  pera  mi  a  quem  vos  parecer  que  m  as  po- 
derá dar  com  aquella  diligencia  que  cumprir  a  meu  seruico. 

Acerca  da  maneira  que  tereis  no  fazer  os  negocios  das  pessoas  do 
Reino  por  que  vos  escreuer,  e  assi  d  aquelles  porque  vos  naquelles  por- 
que vos  escreuer,  fareis  o  que  virdes  por  minhas  cartas,  e  nos  oulros 
porque  vos  nao  escreuer  o  que  virdes  qut  nao  he  contra  meu  seruico ; 
tende  maneira  de  saber  de  todos  os  auizos  que  a  Roma  se  fizerem  de 
vagantes  de  meus  regnos,  e  daquellas  em  que  ouuerdes  meus  auizos  fa- 
reis o  que  vos  mandar,  e  das  outras  que  souberdes  por  outras  vias,  a  sa- 
ber, que  forem  de  mosteiros  e  d  outros  Beneficios  grandes  e  da  assisten- 
cia  e  consciencias  e  dignidades,  Arcebispado  de  Lisboa,  Bispado  de  Euora 
e  de  Goimbra,  supricareis  ao  Papa  de  minha  parte  que  nao  proueja,  e 
espere  por  minhas  supricacoes  pera  Sua  Santidade  prouer  a  quem  for 
mais  seruico  de  nosso  Senhor,  de  quem  deue  confiar  que  eu  Ihe  farey 
supricacam  verdadeira,  e  pera  com  muilo  seu  louuor  o  poder  fazer;  e  tra- 
balhareis  que  se  nao  faca  nenhumaexpedicao  das  sobreditas  couzas,  saluo 
sendo  primeiro  o  Santo  Padre  informado  por  mim  das  pessoas  que  lem 
merecimenlo,  e  da  necessidade  que  ha  nos  Beneficios  pera  serem  melhor 
prouidos  e  gouernados :  e  insistiréis  nisso  quanlo  virdes  que  cumpre. 

ítem  :  acerca  dos  portugueses  que  residem  em  Roma,  e  me  fazem 
couzas  mal  feitas  acerca  dos  beneficios  de  meus  Reinos,  logo  como  em 


RELACOES  COM  a  CURíA  romana  381 

boa  ora  chegardes  vos  cerlificai  de  lodos  os  que  la  ha,  que  facao  couzas 
indignas  e  mal  feitas,  e  que  nao  deuo  consentir  que  la  eslém,  e  me  en- 
uiay  delles  hum  rol  era  que  me  decrareis  os  beneficios  que  cada  hum 
(tem)  e  em  que  Rispado,  e  as  culpas  e  modo  que  tem  de  fazer,  e  m  o 
enuiay  pera  vos  mandar  o  que  acerca  dos  quaes  facaes  e  a  maneira  que 
tenhaes  com  elles. 

Acerca  de  escreuerdes  por  vossa  mao  ou  máo  alhea,  por  vossa  mao 
escreuey  aquellas  couzas  que  forao  assi  secretas  que  nao  as  deuaes  de 
confiar  de  ninguem,  e  as  outras  que  nao  forem  desta  qualidade  auerey 
por  bem  que  me  escreuaes  por  mao  d  outrem ;  e  ao  que  cumprir  resposla 
vos  mandarey  responder  assi  como  \'ir  que  cumpre  a  meu  seruico. 

E  pera  a  expedicaó  e  cusios  dos  negocios  nao  leuaes  agora  crédito 
pera  o  dinheiro  por  nao  parecer  necessario ;  segundo  os  negocios  forem 
assi  vos  mandarey  prouer,  e  vos  sempre  me  auizareis  do  que  será  ne- 
cessario segundo  os  negocios  forem,  pera  assi  vos  ser  enuiada  a  prouisao, 
e  tambera  pera  a  paga  de  vosso  ordenado  cada  anno :  e  do  que  gaslar- 
des  na  expedicaó  dos  negocios  fareis  liuro  da  vossa  despeza,  em  que  de- 
crareis o  dinheiro  que  recebesles  e  de  quem  e  por  cuja  letra,  pera  por 
elle  dardes  vossa  conta ;  e  sempre  na  despeza  fareis  a  mayor  prouisao 
que  poderdes  por  meu  seruico,  e  assi  bera  como  de  vos  confio. 

A  todas  as  oulras  couzas  de  vossos  apontamentos  rae  pareceo  que 
nao  auia  necessidade  de  agora  vos  dar  regra  certa :  segundo  o  que  se  of- 
ferecer  me  auizareis  e  uos  responderey  o  que  ouuer  por  meu  seruico. 

Pela  cifra  que  vos  dará  o  Secretario  me  escreuereis  (as)  cousas  que 
vos  parecer  que  por  cifra  me  deueis  escreuer.  Sprita.... 


Dora  Martinho  sobrinho  amigo. 

No  Rispado  de  Coimbra,  como  sabéis,  ha  dous  mosteiros  de  freirás, 
a  saber,  hum  da  ordem  de  Sao  Rento  da  vocacao  de  nossa  Senhora 

cituado  duas  leguas  da  dita  Cidade,  que  é  da  visitacao  e  con- 
firmacao  do  Rispado  da  dita  Cidade,  o  qual  está  em  despouoado,  de  que 
se  segué  muy  grandes  inconuenientes  e  de  muy  grande  desseruico  de 
nosso  Senhor  e  de  grandes  carregos  de  consciencias.  Este  tem  de  renda 
cada  anno  outocentos  cruzados,  pouco  mais  ou  menos. 

E  outro  he  da  vocacao  de  Santa  Ana  junto  da  dita  cidade,  que  he  da 


382  GOUPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

ordem  de  Santo  Agostinho,  o  qual  he  da  visilacao  e  confirmacaO  do  dito 
Bispado  de  Coimbra,  (e)  tem  de  renda  por  anno  seiscenlos  cruzados,  pouco 
niais  011  menos.  Este  mosleiro  está  situado  tao  cerca  do  rio  do  mondego 
que  passa  por  junto  da  Cidade,  e  creciíío  tantas  áreas  no  dito  rio  por 
cauza  das  grandes  cheas,  que  quasi  todos  os  annos  com  as  cheas  do  dito 
Rio,  ainda  que  nao  sejao  grandes,  se  alaga  de  todo  a  Igreja,  e  todas  as 
cazas  baixas  do  dito  mosteiro  estao  quasi  todo  o  inuerno  alagadas,  e  ainda 
algumas  das  alias,  por  cuja  cauza  o  dito  mosleiro  em  todos  os  edificios 
delle  está  em  grande  decaimento  e  pera  de  todo  se  arruinar,  e  as  freirás 
correm  grande  risco,  c  muitas  vezes  se  sahem  em  baléis,  por  nao  pode- 
rem  sofrer  estar  dentro,  de  cuja  cauza  se  segué  muito  grande  desseruico 
de  Deus  e  grandes  inconuenientes  á  onestidade  e  bom  exemplo  das  freirás. 

Por  estes  respeitos  eu  dezejo  muito  por  seruico  de  nosso  Senhor,  e 
por  se  euitarem  muitos  inconuenientes  e  de  grandes  prejuizos  das  con- 
ciencias, de  mandar  que  estes  mosteiros  ambos  se  ajuntem  em  hum,  e 
que  de  nouo  se  faca  em  algum  lugar  conueniente  junto  da  dita  Cidade, 
e  que  ambos  ficasem  da  ordem  de  Santo  Agostinho,  porque  no  Reino  nao 
ha  outro  da  dita  ordem,  somente  de  Santa  Ana  e  de  Sao  Rento  assi  ou- 
tros  muitos,  por  onde  nao  será  inconueniente  o  dito  mosteiro  da  ordem 
de  Sao  Rento  se  mudar  e  ajuntar  ao  de  Santa  Ana,  que  he  da  ordem  de 
Santo  Agostinho. 

Encomendónos  c  mandónos  que  facaes  de  todo  o  que  dito  he  de 
minha  parle  relacao  ao  Santo  Padre,  e  Ihe  supricay  e  pedi  que  Sua  San- 
lidade  conceda  este  ajuntamento  d  ambos  os  ditos  mosteiros  a  hum,  que 
se  faca  junto  da  dita  cidade  em  lugar  conueniente,  pera  ambos  ficarem 
da  ordem  de  Santo  Agostinho,  e  que  receberey  de  Sua  Sanlidade  em  muy 
grande  merce  ;  e  afirmai  Ihe  de  minha  parte  que  fará  muito  seruico  a  nosso 
Senhor  em  assi  o  conceder,  e  que  eu  nao  tenho  nisso  outro  respeito  senao 
este  :  em  todo  o  mais  da  ynformacaO  que  (a)  Sua  Sanlidade  facaes,  por- 
que se  deue  mouer  a  esta  concecao,  me  remeto  a  vos  pera  inteiraraente 
Ihe  dizerdes,  porque  leuardel  o  particularmente  em  escrito  ouue  por  es- 
cuzado ;  e  todo  o  que  trabalhardes  por  Sua  Sanlidade  o  conceder  vos 
agradecerey  muito,  e  assi  de  com  os  primeiros  recados  me  escreuerdes 
se  Sua  Sanlidade  o  quer  fazer,  e  o  custo  que  fará  a  expedirán,  pera  vos 
responder. 

E  se  o  Santo  Padre  pela  ventura  tiuer  impedimento  da  noua  cria- 


RELACOES  COM  a  curia  romana  383 

cao  do  Rispado  da  llha  de  Sao  Thomé,  com  a  anexacao  do  mosteiro  de 
Sao  Joao  de  Tarouca,  e  somente  e  todavía  quizer  que  Ihe  seja  dado  dote, 
neste  caso  concederéis  o  dito  dote  dos  ditos  duzentos  cruzados  do  modo 
que  vai  na  vossa  instituicao  no  capitulo  do  Rispado,  com  decraracao  da 
Rulla  delle  que  o  dito  Adayao  nao  haja  dauer  o  dito  dote  em  sua  vida 
por  eu  Ihe  fazer  agora  merce  do  mosteiro  de  Carquere,  de  que  suprico 
a  Sua  Santidade  que  o  proueja,  e  por  seu  falecimento  auerá  o  dito  dote 
o  bispo  que  do  dito  Rispado  for  prouido,  e  assi  os  outros  que  pelos  tem- 
pos  adiante  forem  prouidos  do  dito  Rispado,  em  quanto  Ihe  nao  der  e  ane- 
xar Reneficios  que  valhao  a  dita  contia  de  duzentos  cruzados,  e  quando 
Ihos  der  nao  auerá  mais  o  dito  dote  que  Ihe  agora  assino,  como  vay  de- 
crarado  nos  outros  Rispados :  e  isto  que  agora  digo  que  venha  decrarado 
na  Rulla,  assi  no  que  toca  ao  Dayao  pera  nao  auer  dote  em  sua  vida, 
como  aos  outros  Rispos  que  pelos  tempos  forera  do  dito  Rispado,  aueraa 
se  bem  decrarado  e  com  taes  clausulas,  quaes  conuem  pera  seguranca  de 
meu  seruico  ;  e  tende  disso  aquelle  bom  cuidado  que  de  uós  confio. 

Acerca  do  que  toca  a  Sao  Joao  de  Tarouca,  em  que  aueis  de  aca- 
bar o  concertó  com  Acurcio  pelo  que  toca  a  Diogo  Ortiz  Dayao  de  minha 
capella,  conuem  a  saber,  da  pencao  que  auia  de  auer  Acurcio  delle,  e 
sobre  o  dito  mosteiro  e  renunciacao  della  pera  que  o  Rispo  de  lamego, 
meu  muito  amado  primo  e  meu  capellao  mor,  fes  por  o  breue  do  Papa 
as  aualiacoes  da  renda  do  dito  mosteiro,  que  vistes,  e  eu  tomei  nisso  ou- 
tra  determinacao,  a  saber,  prouue  me  de  fazer  merce  ao  dito  Dayao  do 
dito  mosteiro  de  Carquere  da  ordem  de  Sao  da  Diócesi  do  Ris- 

pado de  que  vagou  por  falecimento  de  e  suprico  ao  Santo 

Padre  que  o  proueja  delle  a  minha  supricacao ;  e  quanto  ao  concertó 
danlre  o  dito  Dayao  e  Acurcio  vos  o  fareis  o  melhor  que  vos  poderdes, 
assi  na  cota  da  pencao  como  da  remissao  della,  e  assi  vos  gradecerey  o 
fazerdes  bem,  como  se  propriamente  eu  ouuesse  de  mandar  fazer  á  minha 
custa  a  remissao  da  dita  pencao,  porque  assi  me  auerey  por  seruido  de 
vos.  Muito  em  special  vos  encomendó  que  nisto  me  siruaes  o  melhor  que 
vos  for  possiuel,  e  se  o  poderdes  fazer  e  acabar  por  menos  dos  dous  mil 
cruzados,  por  que  me  disestes  que  vos  parecía  o  acabañéis,  me  fareis  muilo 
seruico ;  e  o  Dayao  vos  dará  ou  inuiará  a  prouizaó  pera  auerdes  por  ella 
o  dinheiro,  que  ouuerdes  de  pagar  a  Acurcio  pela  remissao  da  dita  pen- 
cas ;  e  as  ditas  aualiacoes  que  fes  o  Rispo  de  Lamego  leuaes. 


384  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTüGUEZ 

Dom  Marlinho  sobrinho  amigo. 

A  Rainha  minha  sobre  todas  amada  mulher  uos  deu  inslrucao  e  su- 
pricacaó  pera  o  Santo  Padre  acerca  do  Indulto,  que  pede  a  Sua  Sanli- 
dade  que  Ihe  conceda  ;  e  posto  que  abaste  pera  terdes  nisso  bom  cuidado 
encarregar  uos  ella  disso,  porque  me  prazerá  muito  que  Sua  Santidade 
iho  conceder,  vol  o  quis  encomendar  e  uos  rogo  muito  que,  anlre  todas 
as  couzas  que  logo  aueis  de  fazer,  esta  seja  muito  principal  pera  logo  a 
expedirdes  com  os  primeiros  recados,  e  enuiardes  a  prouizao  disso,  e  com 
os  primeiros  recados  todo  o  que  nisso  trabalhardes,  e  muito  vos  agarde- 
cerey  enuiardes  prouizao  disso  :  e  pera  se  melhor  poder  fazer,  ey  por  bem 
que  de  minha  parte  faleis  a  Sua  Santidade,  e  Ihe  digaes  que  receberey 
delle  em  muy  singular  merce  fazer  a  concecao  do  dito  indulto  á  Rainha, 
e  assi  como  o  ella  requer;  e  pera  Ihe  falardes  de  minha  parte  leuaes  carta 
de  crenca  minha  que  Ihe  daréis,  e  por  virtude  della  Ihe  falay. 


Dom  Martinho  sobrinho  amigo. 

Diréis  de  minha  parte  ao  Santo  Padre  que  pelo  conjunto  deuido  que 
comigo  tem  Dom  Fernando  de  Vasconsellos,  meu  muito  amado  sobrinho, 
Rispo  de  Lamego,  meu  Capellao  mor,  e  pelos  muitos  e  muy  continuados 
seruicos  que  sempre  fez  a  el  Rey  meu  senhor  e  padre,  que  santa  gloria 
aja,  dignos  de  muito  merecimento,  que  pelos  que  fez  e  faz  a  mim  com 
muito  gasto  de  sua  fazenda,  e  por  eu  saber  que  elle  tem  multas  obriga- 
coes  a  que  nao  pode  satisfazer  por  \ia  ordinaria,  do  que  por  estes  res- 
peitos,  e  por  eu  ser  serto  que  no  carrego  de  seu  Rispado  elle  tem  dada 
e  dá  de  si  tal  conta  que  desencarrega  bem  nisso  a  conciencia  de  Sua  San- 
tidade e  minha:  Por  estes  respeitos,  e  pelos  grandes  merecimentos  de  sua 
pessoa,  eu  sao  em  muito  carrego  de  nao  somente  Ihe  fazer  mcrce,  mas 
ante  Sua  Santidade  Ihe  aproueitar  quanto  me  for  possiuel,  e  que  por  isso 
suprico  e  peco  muito  por  merce  a  Sua  Santidade  que  Ihe  praza  por  me 
fazer  (merce)  conceder  ao  dito  Rispo  que  por  cinco  annos,  que  comeca- 
rao  a  correr  da  data  da  Rulla  em  diante,  elle  proueja  e  possa  dar  todos 
os  Beneficios  que  vagarem  no  dito  seu  Rispado  que  na  See  da  dita  cidade 
dignidades  e  prebendas,  salua  a  primeira  posse  Pontifical  em  todos  os  me- 
zes  seus  e  de  Sua  Santidade,  ainda  que  sejao  reseruados  assi  por  vaga- 
rem de  prolonotarios  como  de  familiares  de  Sua  Santidade  ou  acólitos  na 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  385 

See  Aposlolica,  que  nestes  cinco  anuos  a  posse  dada  da  graca  nam  aja 
lugar  na  dita  See,  E  no  dito  Rispado  nenhuma  reserua  nem  indulto  nem 
espectaliua,  nem  outra  alguma  graca  concedida  ante  nem  durante  os  di- 
tos cinco  annos,  reseruando  indulto  meu  ou  da  Rainha  minha  sobre  todas 
muito  amada  e  prezada  mulher,  se  de  Sua  Santidade  o  liuermos,  assi  mes- 
mo  a  graca  que  Sua  Santidade  lem  concedida  ao  Doutor  Rras  Nello  na- 
quella  colla  em  que  della  aja  de  auer  defeito,  e  assi  as  alternaliuas  e  pro- 
iiisoiis  que  tiueráo  o  Arcebispo  de  Rraga,  e  o  Rispo  de  Coimbra  e  de  Vi- 
zeu,  que  em  lodo  se  guardarao  e  comprirao  como  nellas  for  conlheudo,  e 
com  que  os  prouidos  pelo  dito  Rispo  nos  ditos  cinco  annos  nos  mezes  de 
Sua  Santidade  ou  nos  do  dito  Rispo,  sendo  os  Reneficios  reseruados,  se- 
jao  obrigados  a  dentro  em  oulo  mezes  irem  em  corte  expedir  nouas  pro- 
iiizoes  de  Sua  Santidade  e  pagarem  suas  meas  anatas,  e  a  expedicao  das 
Rullas  á  Cámara  Aposlolica,  no  que  Sua  Santidade  me  fará  muy  grande 
merce,  e  a  eslimarey  tanto  que  nenhuma  outra  graca  afora  poderey  mais 
estimar ;  e  que  assi  a  receberey  muito  grande  em  a  fazer  gratis,  porque 
o  Rispo  nao  lem  possibilidade,  por  seus  grandes  gastos  e  conlinuacaó  em 
minha  corte,  de  em  outra  maneira,  ainda  que  pouca  oantidade  fosse,  a 
expedir. 

Diréis  a  Sua  Santidade  que,  alem  das  razoes  airas  ditas  por  que  sao 
mouido  a  esta  merce  supricar  e  pedir  a  Sua  Santidade,  seja  cerlo  que 
auendo  dezenove  annos  que  ha  que  o  Rispo  lem  o  dito  Rispado  nao  tem 
prouido  mais  de  ale  seis  Reneficios,  assi  por  nao  ter  alternaliuas  como 
pelas  muilas  reseruas  concedidas  no  dito  Rispado,  e  tambem  por  serem  a 
mayor  parle  dos  Reneficios  de  padroeiros  leigos  e  de  moesteiros,  e  que 
por  todas  estas  couzas  Ihe  suprico  e  peco  muito  por  merce  a  Sua  Santi- 
dade que  esta  graca  e  merce  queira  fazer  ao  dito  Rispo  assi  gratis,  que 
aja  por  serto  que  assi  o  eslimarey  como  se  propriamenle  a  fizesse  a  mim  ; 
e  a  uós  encomendó  muito  que  toméis  grande  e  especial  cuidado  de  com 
grande  instancia  fazerdes  esta  supricacao  a  Sua  Santidade,  e  guardardes 
pera  com  fee  della,  e  assi  vos  guardarey  tudo  o  que  nisso  Irabalhardes 
e  fizerdes,  como  se  o  negocio  fose  meu  proprio,  e  de  com  os  primeiros 
recados  me  enuiardes  as  prouisoes  da  concecao,  que  eu  espero  que  Sua 
Santidade  folgará  de  fazer  por  ser  couza  de  que  eu  receberey  muy  gram 
conlentamenlo. 

TOMO  II.  49 


386  COKPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

Dom  Marlinho  sobrinho  amigo. 

Como  sabéis,  por  falecimenlo  de  Francisco  Jusarle  se  proueo  Dom 
Joao,  filho  do  Conde  de  Vimioso  \osso  yrmao,  das  Igrejas  que  elle  linha 
e  vagarao,  conuem  a  saber,  Sania  María  da  Maya  no  Paul,  na  Diócesi 
de  Lisboa,  de  que  eslá  de  posse  pacifica,  e  de  Sao  Pedro  de  Peneda,  na 
Diócesi  de  Lamego,  e  de  Sao  Marlinho  no  Coulo  de  Sima,  no  Bispado  de 
Vizeu,  e  de  Sao  Marlinho  e  de  Sanguineda,  no  Bispado  deCoimbra,  que 
he  litigiosa,  e  de  Sao  Malheus  da  Erra,  da  Diocese  do  Arcebispado  de  Lis- 
boa, que  lambem  he  litigiosa,  e  depois  de  seu  prouimenlo  se  offereceo  o 
impedimento  do  Cardeal  Farnesi,  que  lambem  se  proueo,  como  cumprida- 
menle  tendes  sabido.  Muilo  vos  encomendó  que  logo  como  chegardes  fa- 
leis  de  minha  parte  ao  Cardeal,  e  Ihe  digaes  que  por  Dom  Joaó  ser  filho 
do  Conde  \osso  yrmao,  e  elle  ser  ordenado  pera  seruir  nosso  Senhor  pela 
Igreja,  que  eu  Ihe  peco  com  junto  diuido  que  comigo  tem  o  Conde,  e 
por  seus  grandes  seruicos  e  merecimentos  desejo  muilo  de  acrecentar  e 
fazer  merce  a  seus  filhos,  Ihe  rogo  muilo  elle  nao  queira  dar  fadiga  e  ve- 
xacao  a  Dom  Joíio  acerca  deste  seu  prouimenlo,  e  liuremenle  Ihe  deixe 
os  ditos  Beneficios,  crendo  que  de  assi  o  fazer  receberey  delle  muila  gra- 
ca,  e  que  sempre  pera  o  que  tocar  a  suas  couzas  terey  disso  lembranca ; 
e  pela  carta  de  crenca  minha,  que  pera  elle  leuaes  que  Ihe  daréis,  Ihe  d¡- 
zey  ludo  o  que  dito  he,  e  quaesquer  outras  paiauras  que  vos  parecer  que 
podem  aproueilar,  nao  sendo  de  mais  obrigacaó  que  as  sobreditas.  E  se 
uos  parecer  que  he  necessario  falardes  nisso  ao  Santo  Padre,  fazeio  na- 
queUa  maneira  que  vos  parecer. 


Dom  Marlinho  sobrinho  amigo. 

A  merce  que  fiz  a  Diogo  Ortiz,  Dayao  da  minha  Capella,  do  Mosteiro 
de  Cerquare,  sobre  quersuprico  ao  Santo  Padre  pedindo  a  Sua  Sanlidade 
que  o  proueja  delle,  pera  que  leuaes  minha  supricacao,  foi  com  prazi- 
mento  e  consenlimenlo  do  dito  Dayaó,  e  Ihe  auer  de  dar  cada  anno  de 
pencao  a  Dom  Christovao  de  Castro,  fidalgo  da  minha  casa  e  meu  Ca- 
pellao,  cento  vinte  c  cinco  cruzados  de  ouro  pela  obrigacaó  que  lenho  de 
Ihe  fazer  mercé  por  seus  seruicos  e  merecimentos,  do  qual  daréis  infor- 
macaó  ao  Santo  Padre  pera  saber  quem  elle  he  e  quanto  ha  que  serue, 
e  como  pela  qualidade  de  sua  pessoa  e  pelos  merecimentos  de  seus  ser- 


RELACOES  COM  a  curia  romana  387 

uicos  merece  esla  e  oulras  merces  mayores :  muilo  vos  encomendó  que 
supriqueis  a  Sua  Sanlidade  de  minha  parte,  que  conceda  esla  pencao  pera 
o  Dayao  pagar  ao  dilo  Dom  Chrislovaó  cada  anno,  e  o  Dayao  consenle 
nella  pela  prouizao  sua  que  pera  isso  passou,  os  quaes  vinte  e  seis  fsicj 
cruzados  se  ande  descontar  de  serla  conta  que  Ihe  eu  dou  cada  anno,  alé 
o  prouer  de  Beneficios  que  a  ualhao,  e  na  sua  prouizao  faca  disso  ex- 
pressa  mencao  se  for  necessario  :  muito  uos  agradecerey  terdes  lembranca 
desla  expedicao  pera  logo  a  expedirdes,  e  Dom  Chrislovaó  mandará  pro- 
uizao pera  que  lá  vos  seja  dado  o  dinheiro  que  pera  a  dita  expedicao  se 
ouuer  misler,  e  rauito  em  especial  vos  recomendó  este  despacho.  Sprila... 

PERA  o  PAPA. 

Muilo  Sanio  em  Chrislo  Padre  e  muilo  bem  auenturado  senhor,  o 
uosso  deuoto  e  obediente  filho  Joao  etc. 

Porque  eu  enuio  a  Dom  Martinho,  meu  muito  amado  sobrinho,  por 
embaixador  a  Vossa  Sanlidade,  pera  em  sua  corle  residir  e  o  seruir  em 
todas  as  couzas  que  se  offerecerem  em  seruico  de  nosso  Senhor  e  de  Vossa 
Sanlidade  e  da  Santa  See  Apostólica,  como  per  outra  caria  Ihe  faco  sa- 
ber, escreuo  e  mando  ao  Doulor  Bras  Nello,  do  meu  Gonselho  e  meu  em- 
baxador,  que  se  venha  a  mim,  e  leixe  ao  dito  Dora  Marlinho  meu  emba- 
xador  lodos  os  negocios  que  ainda  nao  liuer  expedidos  á  sua  partida,  pera 
elle  os  expedir  e  acabar  como  a  elle  tinha  mandado ;  e  pareceu  me  bem 
o  fazer  saber  a  Vosa  Sanlidade  pera  saber  a  cauza  de  sua  vinda,  e  Ihe 
suprico,  e  peco  muito  por  merce  que  aquellas  couzas  que  Ihe  tenho  su- 
pricadas  que  ainda  nao  forem  expedidas,  e  que  se  poderem  despachar  alé 
sua  partida,  as  queira  concluir  pera  elle  mas  trazer,  o  que  recebeyey  de 
Vossa  Sanlidade  em  muy  singular  merce,  e  assi  de  por  elle  me  mandar 
todas  as  boas  nouas  suas  e  de  sua  desposicaó,  e  saude,  que  pelo  muilo 
grande  amor  que  tenho  pera  todas  as  suas  couzas  de  seu  seruico,  rece- 
berey  muy  grande  contentamenlo  de  saber  que  he  lam  boa  como  Vossa 
Sanlidade  dezeja  ;  e  de  toda  a  merce  que  fizer  ao  dilo  Doulor  meu  Emba- 
xador  na  expedicao  do  nouo  Bispado  a  que  o  aprezento  a  Vossa  Sanli- 
dade, como  Iho  supricará  de  minha  parle  Dom  Marlinho  meu  Embaxa- 
(ior,  receberey  muy  singular  merce. 

Muito  santo  em  chrislo  padre. 

49* 


388  COlíPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 


PERA   O  PAPA   SOBRE   OS   RISPADOS. 

Muilo  Sanio  cm  Ghrislo  ele. 

Eu  faley  a  Doin  Martinho,  mcu  muilo  amado  sobrinho  meu  embaxa- 
dor,  o  que  de  minha  parle  Ihe  dirá  sobre  a  noua  criacao  do  Arcebispado 
do  Funchal,  e  dalguns  Bispados  que  por  seruico  de  nosso  Senhor,  e  me- 
Ihor  cura  das  almas  dos  fiéis  cbrislaos  e  melhor  azo  pera  a  conuersao  dos 
infieis,  me  parece  que  de  nouo  se  deuem  criar  ñas  Ilhas  Terceiras,  e  no 
Cabo  Verde,  e  na  Ilha  de  Sao  Thomé,  e  na  Cidade  de  Goa,  pera  fica- 
rem  os  dilos  Bispados  sufraganhos  ao  dito  Arcebispado  do  Funchal,  de 
que  o  Vigairo  de  Thomar  d  anliguamenle  linha  jurdicao,  e  depois  se  mu- 
dou  ao  Bispado  do  Funchal  criado  de  nouo  em  vida  del  Rey  meu  se- 
nhor e  padre  que  santa  gloria  aja,  segundo  que  a  Vossa  Sanlidade  de 
tudo  fará  larga  informacaO  e  supricacam  o  dito  meu  Embaxador  per  meus 
apontamentos  que  disso  leua.  Suprico  e  peco  muilo  por  merce  a  Vossa 
Sanlidade  que  o  queira  ouuir,  e  Ihe  dar  inleira  fee  e  crenca  em  ludo  o 
que  acerca  disso  de  minha  parle  Ihe  disser,  e  me  conceder  a  noua  cria- 
cao  do  dito  Arcebispado  e  Bispado  no  modo  que  Iho  suprico  e  peco,  no 
que  aja  por  serlo  que  fará  muilo  seruico  a  nosso  Senhor,  e  se  seguirá 
serem  as  almas  dos  fiéis  chrislaós  muilo  melhoradas,  e  melhor  azo  pera 
a  conuersao  dos  infieis  daquellas  parles  assi  genlios  como  Mouros,  e  a 
my  fará  muy  singular  merce. 

Muilo  santo  em  chrislo  padre.... 


PERA  o  PAPA  SOBRE  A   RAINIIA   PERA    QUE  LHE  CONCEDA  ÜÜM  INDULTO. 

Muilo  Sánelo  in  chrislo  Padre  ele. 

A  Rainha  minha  sobre  todas  muilo  amada  e  prezada  mulher  enuia 
supricar  a  Vossa  Sanlidade  que  Ihe  conceda  o  indulto  c  oulras  gracas, 
segundo  de  sua  parte  vol  o  ade  falar  e  supricar  Dom  Martinho,  meu  muilo 
amado  sobrinho  do  meu  Conselho  e  meu  embaxador ;  c  porque  eu  rece- 
bcrey  muy  particular  merce  na  concessao  do  dito  indulto  e  gracas  que 
Ihe  suprica,  mandei  a  Dom  Martinho  que  nisso  Ihe  falc  de  minha  parte, 


-    RELACOES  COM  a  curia  romana  389 

e  supnco  e  peco  por  merce  a  Vossa  Sanliclade  que  no  que  sobre  isso  Ihe 
(lisser  de  minha  parle  Ihe  dé  inleira  fce  e  crenca. 

Muito  sanio  em  Ghrislo  Padre  e  muilo  bem  auenlurado  ele. 


CARTA  PERA  OS  CARDEAES. 

Reuerendissimo  em  Ghrislo  Padre  ele. 
'  Por  a  muy  grande  confianca  que  lenho  de  Dom  Marlinho,  meu  muilo 
amado  sobrinho,  que  me  sirua  em  ludo  o  que  o  encarregar  com  lanía 
fieldade  cuidado  e  deligencia,  como  elle  deue  pela  razao  e  obrigacao  que 
pera  isso  tem,  e  de  modo  que  receba  de  seu  seruico  inleiro  conlenla- 
mento,  o  enuio  ao  Santo  Padre  por  meu  Embaxador  pera  em  sua  corle 
residir,  e  o  seruir  em  lodo  o  que  se  oferecer  que  seja  de  seu  seruico  e 
bem  das  couzas  da  Sánela  See  Apostólica,  e  muy  principalmente  pera 
(me  dar)  muy  ameude,  como  dezejo,  todas  as  boas  nouas  da  disposi- 
cao  da  saude  de  Sua  Santidade,  e  de  lodo  o  bom  socedimenlo  de  suas 
couzas,  que  eslimo  e  sempre  ei  de  eslimar  como  quem  em  todas  o  queira 
muilo  seruir,  e  Ihe  mostrar  o  muito  amor  que  pera  isso  tenho  :  e  ouue 
por  bem  de  voló  (fazer)  saber  pelo  muito  amor  e  boa  vontade  que  ei  por 
certo  que  leudes  pera  todas  as  minhas  couzas,  que  muilo  estimo.  E  vos 
rogo  muilo  que,  em  todo  o  que  acerca  disto  o  dito  Dom  Marlinho  meu 
embaxador  de  minha  parte  vos  disser,  Ihe  dees  inleira  fee  e  crenca,  e 
assi  que  no  que  me  tocar  e  cumprir  ache  em  vos  o  que  eu  espero  pelo 
muito  amor  e  boa  vontade  que  vos  tenho,  e  em  singular  prazer  o  re- 
ceberey  de  vos. 

Reuerendissimo  etc. 

Ao  Cardeal  de  monte. 

Ao  Campegio. 

A  Triuulcio. 

Ao  Cesis. 

Ao  Mediéis  sobrinho  do  Papa. 

Ao  Santa  Cruz  Casi."  fsicj. 

A  domu  ^  que  foi  confesor  do  Emperador. 

*  Léase :  Luna  (Francisco  Quiñones  de). 


390  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

Ao  Egidio. 

Ao  Colona  \ice  canceller. 

Ao  Perosa  camaralengo. 

Doulor  Bras  Nello  Amigo  ele. 

Eu  ouue  por  muy  meu  seruico  enuiar  Dom  Marlinho,  meu  muilo 
amado  sobrinho,  por  Embaxador  ao  Sanio  Padre  pera  em  sua  corle  re- 
zidir  e  seruir  a  Sua  Sanlidade  em  ludo  o  que  se  oíTerecer,  assi  inleira- 
menle  como  eu  dezejo  fazel  o,  e  quería  que  lodas  minhas  couzas  o  fize- 
sem,  o  que  espero  e  confio  delle  que  fará  assi  bem  como  o  elle  deue 
fazer,  e  de  maneira  que  receba  de  seu  seruico  muilo  conlenlamenlo  e 
prouuese  de  se  oferecer  agora  logo  o  enuiar  por  vos  poderdes  mais  azi- 
nha  vir  e  virdes  descansar  de  vossos  trabalhos.  E  escreuo  a  Sua  Sanli- 
dade como  vos  mando  vir,  e  Ihe  suprico  e  peco  por  merce  que  aquellas 
couzas,  que  aínda  nao  liuerdes  despachadas  e  que  ate  a  vossa  parlida 
poderdes  despachar,  as  queira  Sua  Sanlidade  concluir  pera  vos  m  as  Ira- 
zerdes.  Muilo  vos  encomendó  e  mando  que  vos  especaes  de  Sua  Sanli- 
dade, e  vos  parlaes  o  mais  depressa  que  vos  seja  possiuel,  e  vos  vinde 
a  my  e  me  Irazei  todas  as  couzas  que  ale  vossa  parlida  se  poderem  des- 
pachar e  despedir,  nao  vos  delendo  por  ¡sso  mais  días  que  aquelles  em 
que  breuemente  se  possa  fazer  e  acabar ;  e  todas  as  oulras  couzas  e  ne- 
gocios que  vos  linha  cometidos  que  supricaseis  ao  Santo  Padre,  e  que 
liuerdes  por  concluir,  os  leixay  todos  ao  dito  Dom  Marlinho  meu  Em- 
baxador, e  Ihe  day  inleira  informacao  de  todo  o  que  mais  liuerdes  co- 
mecado  e  feilo,  e  assi  as  cartas  e  papéis  que  a  isso  tocarem  pera  elle  o 
requerer  ao  Santo  Padre  e  onde  mais  cumprir  e  o  expedir  e  acabar  se- 
gundo minhas  supricacües.  E  diréis  de  minha  parle  a  Sua  Sanlidade  que 
Ihe  suprico  e  peco  muilo  por  merce  que  de  sua  disposicao  e  saude  me 
queira  fazer  saber  por  vos,  que  de  me  trazerdes  disso  todas  as  boas  no- 
uas  e  taes  como  elle  deseja,  pelo  muilo  grande  amor  que  lenho  a  lodas 
as  couzas  de  seu  seruico,  eide  receber  muí  grande  conlenlamenlo. 

Eu  mando  por  Dom  Marlinho  supricar  ao  Sanio  Padre  a  noua  cria- 
cao  dos  Bispados,  que  sabéis  que  por  seruico  de  nosso  Senhor  delermi- 
ney  que  ouuesse,  no  conlo  dos  quaes  vay  o  Bispado  da  Ilha  de  Sao  Tiago 
e  das  oulras  Ilhas  de  que  uos  lenho  feilo  merce ;  e  quando  o  dito  Dom 


RELACÜES  COM  A  CURIA  ROMANA  391 

Marlinho  o  falar  a  Sua  Sanlidade  vos  seréis  prezenle,  porque  ass¡  o  e¡ 
por  meu  seruico  e  assi  Ihe  inandei,  e  nao  sómenle  nislo,  mas  em  todas 
as  outras  couzas  que  ouuer  de  falar  ao  Papa  de  noeus  negocios  cm  quanlo 
la  estiuerdes.  E  uos  Irabalhay  por  a  uossa  expedicao  se  fazer  com  a  mor 
breuidade  que  seja  possiuel,  e  de  modo  que  nao  seja  causa  de  vossa  de- 
lenca,  porque,  quanlo  mais  azinha  vos  parlirdes  e  \ierdes,  lanío  mais 
me  prazerá.  E  porque  ao  uoso  Bispado  suprico  e  peco  ao  Sanio  Padre 
que  se  anexe  o  Mosleiro  de  Sam  Pedro  das  Igrejas  *  Irabalhay  \ós  por 
\osa  parle  quanlo  puderdes  que  assi  se  faca  :  e  quando  o  Papa  Uuesse 
nisso  pejo,  que  nao  deue  ler,  eu  doto  ao  dito  Bispado  de  dois  mil  cru- 
zados cada  anno  de  renda  por  folgar  de  uos  fazer  merce,  segundo  que 
Dom  Marlinho  leua  pera  sua  inslrucao.  Sprila.... 

Doulor  Bras  Netto  Amigo  etc. 

Eu  sao  certificado  que  a  christouao  de  Barroso  fazeis  acolhimento 
em  Yosa  casa,  e  o  aproueitaes  e  Ihe  fauoreceis  em  suas  couzas ;  e  se  leu- 
des feilo  e  fazeis  creo  que  será  por  nao  lerdes  sabido  que  eu  lenho  delle 
muilo  descontentamento,  e  por  couzas  da  qualidade  porque  elle  lem  me- 
recido riguroso  castigo.  Porem  vos  mando  que  d  aquy  por  dianle  Ihe  n3o 
deis  acolhimento  em  vosa  caza,  nem  preslanca  de  amizade,  nem  fauore- 
caes  nem  Ihe  aproueiteis  em  nenhuma  couza,  porque  assi  o  ei  por  meu 
seruico.  E  escreuei  me  o  que  nisso  passou  alé  agora,  e  que  cauza  Hues- 
tes de  Ihe  fazer  alguma  boa  obra,  pera  eu  saber  o  que  vos  moveo :  e  muy 
inteiramenle  guarday  d  aquy  em  dianle  o  que  por  esta  vos  mando.  Sprila... 

Doulor  Bras  Netto  amigo  etc. 

O  Sánelo  Padre  me  escreueo  por  hum  seu  breue  encomendando  me 
que  mandasse  dar  fauor  á  execucao  de  huma  senlenca,  que  ouue  Chris- 
touao de  Barroso  acerca  do  mosleiro  de  Sao  Jorge  de  junto  de  Coimbra, 
que  elle  empelrou,  sobre  que  respondo  a  Sua  Santidade  como  he  con- 
theudo  em  hum  capitulo,  que  Dom  Marlinho  meu  muilo  amado  sobrinho 
leua  em  huma  de  suas  inslrueóes,  o  qual  Ihe  mando  que  vos  mostré :  e 
e¡  por  bem  e  muilo  meu  seruico  que,  quando  Dom  Marlinho  ouuer  de  yr 
dar  minha  reposta  ao  Santo  Padre,  sobre  o  que  me  escreueo  acerca  do 

*  Léase:  das  Aíruias. 


392  COUPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGÜEZ 

dito  ChrislouSo  de  Barroso  no  caso  do  dilo  mosteiro,  vades  ambos  jun- 
lamenle  pera  ambos  dizerdes  a  Sua  Sanlidade  de  minha  parle  lodo  o  con- 
leudo  no  dilo  capitulo  ;  e  que  muy  singular  merce  recebercy  dclle  auer  por 
bem  ludo  o  que  acerca  do  dito  Ghrislouao  de  Barroso  llie  suprico,  por 
auer  tanta  rezao  pera  Sua  Santidade  assi  folgar  de  o  fazer,  pois  será  pera 
este  castigo,  ainda  que  seja  muy  menos  do  que  elle  merece,  e  pera  ou- 
tros  exempro.  E  Dom  Martinho  vos  dirá  parlicularmenle  as  couzas  que 
eu  nao  ouue  por  meu  seruico  irem  no  capitulo  de  sua  inslrucao,  pera  o 
saberdes  e  dizerdes  tudo  ao  Santo  Padre :  e  vos,  quando  fordes  junta- 
mente com  Dom  Martinho  a  falar  ao  Papa  desta  materia  de  Barroso,  le- 
uay  na  mao  o  treslado  do  dito  capitulo  da  instruccao  de  Dom  Martinho 
pera  dizerdes  ao  Santo  Padre  como  outro  tanto  vos  escrevi  e  raandey,  e 
insistiréis  por  vosa  parte  quanto  possiuel  vos  for  pera  o  Sánelo  Padre 
fazer  o  que  nisso  Ihe  requeiro,  e  me  auizareis  do  que  Sua  Santidade  nisso 
vos  responder  com  os  primeiros  recados  que  pera  ca  vierem,  se  logo  nao 
ouuerdes  de  partir.  Sprita  etc.  ^ 


Carta  de  cl-Rei  ao  Papa  Clemente  ^11. 


153S  — llaio  1ÍH, 


Sanctissimo  in  Christo  Patri,  atque  beatissimo  domino,  D.  Clemente 
Pontífice  VII  Diuina  prouidentia  vniuersae  ecclesiae  Dei  prouidenti,  S. 
Sanctissimo  in  Christo  Patri,  atque  beatissimo  domino,  eiusdem  san- 

'  Estes  despachos  foram  extrahidos  de  um  códice  da  Academia  Real  das  Sciencias, 
intitulado:  Relacoes  de  Pero  de  Alcacoua  carneiro,  conde  da  Idanha,  do  tempe  em  que 
elle  e  seu  pai  scrviram  de  secretarios.  Parece  ser  urna  copia  de  varios  apontamentos  e 
minutas  originaes  dos  dois  secretarios,  mas  fcita  muitos  annos  depois,  e  por  pessoa  a 
tal  ponto  inhábil  que  muitas  vezes  nao  intendeu  o  texto,  e  nao  raro  baralhou  as  pala- 
vras  de  modo,  que  nao  o/ferecem  sentido  algum.  Na  falta  do  original,  que  em  vao  bus- 
camos, foi  forzoso  aproveitar  esta  parte  do  códice,  na  qual  apenas  emendamos  urna  ou 
outra  passagem,  quando  o  erro  era  táo  evidente  que  com  urna  pequeña  alteracao  ortho- 
graphica  se  restabelecia  o  sentido.  Accrescentámos  tambem  entre  parenthesis  algumas 
palavras  que,  a  nosso  ver,  o  copista  omittiu  por  descuido;  e  Icmbrámos  em  nota  algu- 
mas outra»  que  nos  parece  terem  sido  totalmente  deturpadas. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  393 

clüalis  deuotissimus,  filius  Joannes  Dei  gratia  Rex  Porlugalliae,  et  Algar- 
biorum  cilra  vllraque  mare  in  África  :  Dominus  Guineae,  expugnalionis, 
nauigalionis,  commercii  TElhiopiae,  Arabiae,  Persidis,  atque  Indiae,  post 
humillima  sanclorum  pedum  oscula.  Sanctissime  in  Chrislo  Paler,  et  fe- 
licissime  domine,  Rex  dominus,  et  pater  meus,  cum  animaduerteret, 
quam  graliim  Deo  esset  futurum,  si  jElhiopiae,  atque  Indiae  remolissimae 
regiones,  quae  fama  tanlum,  atque  ea  quidem  ambigua  audilae  fuerant, 
solerli  nauigatione  Ghristianorum  classibus  adirentur :  statini  ab  ipso  sus- 
cepli-  regni  initio  complures  duces  et  subditos  suos  ad  perscrulanda  co- 
gnoscendaque  earum  lerrarum  liltora,  instructis  validissimis  classibus  mi- 
sit :  scilicet  vi  Mauri  et  gentiles,  earum  regionum  populi,  veritatem  Ghris- 
tianae  religionis  agnoscerent,  atque  obiter  patefaclo  itinere,  alii  etiam  po- 
puli reperirentur,  qui  Deura  Christum  colerent,  sicut  opinione  hominum 
eos  inueniri  posse  ferebatur.  ¡taque  volenle  Deo  tota  Guineae  regio  feli- 
citer  peragrata  est,  in  qua  Rex  de  Manicongo  cum  ingenlib.  populis  ipsi 
subditis,  qui  se  ad  eius  autoritatem  ac  obedientiam  contulerat,  sacro  ba- 
ptismate  suscepto,  Ghristianus  eífeclus  est,  et  complures  aliae  gentes  ex 
regionibus  Indiae,  Persidis  et  Arabiae,  ad  Ghristianam  fidem  nostroruní 
pietate  et  diligenlia  sunt  perductae,  et  quotidie  aliae  atque  aliae  nationes, 
quae  tardius  veritatem  agnouerunt,  exemplo  aliarum  ad  Christum  con- 
uertuntur :  et  quanquam  in  bis  expedilionibus  grauissima  amissarum  na- 
uium  et  ducum,  item  nobilium  equitum  et  subditorum  suorum  detrimenta 
recepisset.  Tamen  ab  hoc  exiraiae  pietatis  consilio  non  destitit,  vli  pium 
et  Ghristianum  Regeni  decebat.  Itaque  eodem  cursu  mare  Rubrum  pene- 
trante classe  nostra,  repertum  est,  nunquam  antea  Ghristianorum  classi- 
bus nauigatum :  nam  fere  totum  in  poteslate  Turcarum  erat.  Et  demum 
post  diuturna  atque  áspera  bella  inuentum  est  iter,  quod  ad  (vulgo  Pre- 
legyam  nuncupatum)  iSthiopiae  Regem  potentissimum  ducit,  qui  cum  vni- 
uersis  regnorum  suorum  populis  Christum  colit.  Ad  hunc  exlemplo  Rex 
pater  meus  legatum  destinat,  vt  ad  obedientiam  sanctae  sedis  apostolicae 
perlraheretur,  opportunaque  narrando  et  aperiendo  certior  redderelur, 
tuam  sanctitatem  in  sede  Petri  residere,  et  vnicum  esse  in  terris  Chrisli 
vicariura,  cui  omnes  Christiani  Reges  obedientiam  cum  summa  venera- 
tione  praeslare  consueuissent.  Nec  multo  post,  idem  Jíthiopiae  Rex  cum 
legatum  remitteret,  suum  eliam  proprium  et  indigenam,  qui  ad  eum  cum 
mandatis  veniret,  adiunxit.  Sed  interim  Deus  ad  se  patris  mei  animam 

TOMO  II.  50 


394  CORPO  DIPL03IATIC0  POUTUGUEZ 

ad  sanclae  gloriae  parlicipalionem  in  coelum  recepil.  Ncc  mora  quum  nos 
in  eius  successisseoius  locum,  operam  dedimus  cum  ducibus  noslris,  qui 
erant  in  India,  vi  idem  Rex  ^Ethiopiae  de  Regís  patiis  mei  morle  cerlius 
redderelur :  Cum  ea,  quae  pater  meus  praeclare  pro  fide  Ghrisliana  in- 
ceperat,  omnino  persequenda  et  perficienda  curaremus.  Quod  ipse  Rex 
VEthiopiae  magnifaciens,  suum  Oralorem  ad  nos  misil  (qui  in  aula  noslra 
adhuc  commoratur)  el  simul  Franciscum  Aluarez  Cappelianum  noslrum, 
qui  est  vnus  ex  his,  quos  paler  meus  ad  eum  miserat.  Hunc  Franciscum 
Aluarez  idem  iElhiopiae  Rex  Romam  mitlil  vt  suo  el  singulorum  regno- 
rum  suorum  nomine,  luae  sanclilali  obedienliam  praestel :  quem  haclenus 
remoran  fecimus  quod  muUis  de  causis,  eum  proficisci  volebamus,  vna 
cum  Marlino  a  Porlugallia  nepote  charissimo  el  consiliario,  ac  Oralore 
nostro  ad  T.  S.  Cui  commisimus,  vt  eundem  Franciscum  Aluarez  dicli 
Regis  iElhiopiae  Oralorem  sanclilali  luae  ad  praeslandam  obedienliam 
praesenlaret.  Ilem  \l  cunda  ea  quae  oralor  eiusdem  Regis  iEthiopiae  ad 
nos  missus  deferebal  aperirel,  exemplaque  iilerarum  eiusdem  Regis  ad 
nos  T.  S.  ostenderel.  Proplerea  nobís  rem  gratissimam  S.  T.  faciel,  si 
eidem  Marlino  Oralori  nostro  plenissimam  fidem  in  his  rebus  habueril,  et 
cerle  Deo  Óptimo  Máximo,  summae  graliae  sunl  mérito  referendae,  quod 
Ponlificalus  luae  sanclilalis  lempore,  hanc  insignem  a  Deo  graliam  S.  T. 
relulerit,  vt  alleram  Chrisliani  populi  portionem,  hac  noslra  nihil  ampli- 
tudine  lerrarum  minorem  consentiré  cum  fide  calholica,  el  sánela  Romana 
Ecclesia  et  obedienliam  praeslare  videamus.  Nos  vel  ob  id  ingentes  Deo 
gratias  agimus,  quod  in  hac  tanta  accessione  huius  Regis  noslra  opera 
vti  volueril.  Nihil  enim  ad  laudem  verae  pietatis  poleril  esse  praeclarius, 
quam  iEthiopiam  in  vnitate  Chrislianae  professionis  noslrae  Europae  con- 
iunclissimam  conspexisse.  Deus  el  Dominus  nosler  ad  mullos  anuos  luam 
sanclilalem  felicissime  conseruare  el  augere  ad  votum  dignelur. 
Dalum  ¡n  Selluual  vigésima  oclaua  Maii  mdxxxii  \ 


'  Impressa  na  Hisp.  ¡llustr.  t.  ii    p    1287,  d'ondc  a  copiamos  fielmente. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  39o 


Carta  fie  Braz  Meto  a  cl-Rci. 


153;3 — «Vonlio  3. 


Senhor.  —  Por  este  coreo  nom  escreuo  largamente  a  Vosa  Alteza, 
porque  d  aqui  a  poucos  días  parle  outro  por  quem  me  alargarey  mais, 
posloque  nom  será  muito,  porque  ha  poucos  dias  que  Ihe  lenho  escrito 
por  hum  esteuam  Rybeyro,  que  ha  pouco  que  d  aquy  partyo  por  postas ; 
6  por  largamente  dar  conta  a  vosa  Alteza  dos  negocios  por  elle,  nom  tor- 
nare! a  repetir,  mayormente  por  ter  por  certo  que  estas  cartas  hiryam  á  mao 
de  Vosa  Alteza.  Agora,  Senhor,  mando  por  este  a  Vosa  Alteza  o  breue 
que  o  papa  escreue  ao  nuncio,  que  jaa  ha  dias  que  pera  laa  partyo,  pera 
fazer  o  que  Vosa  Alteza  quer  das  Igrejas  e  moesteyros  dos  logares  d 
áfrica. 

Ouue  os  dias  passados  huma  carta  de  Vosa  Alteza  sobre  a  igreja 
que  tem  Ruy  gomez  pinheyro,  per  que  me  mandaua  que  falasse  com  Sis- 
Ios  Cordeyro,  e  que  Ihe  dissese  da  parte  de  Vosa  Alteza  que  Ihe  rogaua 
e  encomendaua  que  nom  fosse  mais  polla  demanda  em  diante,  e  que  da 
reposta  que  desse  anisase  Vosa  Alteza,  e  que  Ihe  amostrase  a  carta.  Eu, 
Senhor,  o  fiz  logo  asy :  elle  me  disse  que  a  Igreja  era  sua,  e  que  nom 
crya  que  Vosa  Alteza  Iha  quisese  tomar ;  porem  que  até  elle  hir  ou  man- 
dar dar  rezao  de  sy  a  Vosa  Alteza  e  fazer  Ihe  saber  quanta  justica  niso 
linha,  que  nom  farya  mais  nada  e  sobreestarya  na  causa.  E  despois  de 
isto  passado  fuy  auisado  que  elle  dera  artigos  e  nomeara  testemunhas. 
Mandey  o  chamar  e  disse  Ihe  que  como  ousara  elle  de  fazer  na  causa 
cousa  alguma,  pois  tinha  dicto  que  o  nom  faria  ate  nom  dizer  a  Vosa 
Alteza  per  extenso  quanta  justica  tinha  nesta  igreja?  disse  que  era  ver- 
dade  que  elle  o  fezera  pera  fazer  oferecer  em  Juizo  a  procuracam  de  ruy 
gomez,  que  qua  estaua  em  máo  de  dom  antonio  da  costa,  e  que  porque 
jaa  estaua  oíFerecida  que  nom  farya  mais  nada.  Eu,  Senhor,  o  reprendy 
muito  por  nisto  fazer  nouidade  alguma  contra  uontade  de  Vosa  Alteza 

de  Ihe  ter  publicada  sua  carta:  nom  me  respondeo  oulra  cousa 

senam  que  nom  farya  mais.  Hey  receo  que  o  nom  faca. 

50* 


396  COHPO  DIPLOMÁTICO  POUTUGUF.Z 

Oulra  caria  ouue  de  Vosa  Alloza,  de  tres  de  mayo  pasado,  sobre  o 
bacliarcl  ...mam  diaz  pera  o  papa  fazer  hispo.  Eu,  senhor,  faley  logo  ao 
papa  elle  ...me  disse  que  fora  boom  pedillo  o  cardeal  pera  Ihe  fazer  os 
oíTicios  em  seus  bispados,  e  que  elle  tinha  que  por  esla  via  se  faria  me- 
Ihor,  porque  os  cardeaes  linham  este  priuilegio.  Eu  Ihe  dise  que  mayor 
era  o  de  Vosa  Alteza,  e  que  nislo  nom  deuya  d  auer  duuida,  pois  linha 
este  pera  quem  Vosa  Alteza  islo  requería  pasante  de  dozentos  ducados  de 
renda.  Dise  me  per  deradeyro  que  era  rezao  que  se  fizesse  a  requerimento 
de  Vosa  Alteza,  postoque  elle  tiuesse  determinado  de  nom  fazer  estes 
bispos  titulares.  Agora  se  proporá  no  primeyro  consistorio,  e  se  expedi- 
rám  as  bullas,  e  as  mandarei  tanto  que  expedidas  forem  a  Vosa  Alteza. 

Senhor,  Vosa  Alteza  me  tem  feylo  mercé  de  sam  pedro  das  aguias 
liure  e  sem  pagar  pensao,  e  asy  Iho  sollou  o  bispo  de  vizeu.  Despois 
soube  que  era  pensyonario  em  cem  ducados  cad  anno,  que  consentyo  o 
bispo  quando  Iho  papa  deu,  e  asy  o  escreui  a  Vosa  Alteza  e  Ihe  pedy 
por  mercé  que  Ihe  mandasse  que  me  lirasse  esla  carega  das  costas,  e  nunca 
ouue  reposta  de  Vosa  Alteza  por  ser  tara  desemparado  que  nom  tenho 
huma  pessoa  que  o  lembre  a  Vosa  Alteza,  porque  nom  posso  crer  que 
se  o  alguem  fizesse  que  Vosa  Alteza  nom  prouesse  a  islo,  mayormente 
ora,  que  me  publicaram  a  bulla  e  requerem  me  que  pague  os  annos  atrás, 
nom  tendo  com  que  possa  pagar ;  e  sao  tao  ditoso  que,  alem  de  minhas 
necesidades  e  miserias  com  que  yíuo,  me  recreceo  agora  esla  oulra.  Bei- 
jarey  as  maos  de  Vosa  Alteza,  pois  nom  lenho  pessoa  que  por  mim  seia, 

que  se  queira  lembrar  de  mim,  e  mande que  logo ordene 

como  me  tire  desla  obrigacam,  porque  eu  nom  lenho  caminho  pera  pa- 
gar isto ;  e  se  Vossa  Alteza  nislo  nom  ouuer  por  bem  que  eu  seia  pro- 
nido,  faca  me  mercé  que  me  dee  licenca  pera  renunciar  este  moesteyro 
era  fauor  de  quem  Vosa  Alteza  mandar,  por  me,  Senhor,  tirar  de  exco- 
munhoes  e  fadygas. 

Eu,  Senhor,  receby  huma  carta  de  Vosa  Alteza  sobre  a  minha  graca 
de  que  me  o  papa  fez  mercé,  a  qual  linha  aceytada  sem  mandar  citar 
pesoa  alguma,  parecendo  me,  pois  me  nom  tinha  defeso  que  o  nom  fizes- 
se, que  niso  nom  deseruya  Vosa  Alteza,  antes  crya  que,  por  ser  cousa 
que  se  jaa  fez,  que  nisso  se  nam  podya  erar :  e  depois  com  este  pensa- 
mento  ouue  oulra,  que  em  nenhuma  cousa  prejudicaua  aos  prelados.  Sao 
avisado  que  Vosa  Alteza  esloutra  segunda  nom  quer  se  execute  nem  ajaa 


RELACOeS  COM  a  curia  romana  397 

eíTecto.  Nom  creo,  Senhor,  que  seia,  se  asy  he,  senam  por  Vosa  Alteza 
nom  ser  bem  emformado  de  niim,  que  nem  por  auer  a  primeyra  ñera 
esta  segunda,  como  disse,  nom  crya  que  o  Vosa  Alteza  ouuese  por  mal, 
antes  cuydaua  que  por  eu  buscar  caminho  pera  ter  com  que  seruisse 
Vosa  Alteza,  sem  cada  dia  Ihe  pedir  que  me  fizesse  mercó  pera  me  sus- 
tentar, Ihe  fazia  niso  seruico ;  e  aínda  pera  quando  Vosa  Alteza  quizera 
fazer  merco  a  alguma  pesoa  de  cada  hum  dos  beneficios,  que  cayram  era 
cada  huma  destas  gracas,  o  podera  fazer,  pois  de  todo  isso  que  tenho 
Vosa  Alteza  pode  despoer  como  \ir  que  he  seu  seruico.  Agora,  Senhor, 

que  conheco  e  vejo  por  sua  carta  que  Vosa  Alteza  nom  quer  que 

asy  Senhor  o  farey,  e  asy  escreuo  aos  meus  procuradores 

que  o  facam.  E  posto  que  nunca  Ihe  leuesse  mandado  que  citasem  pe- 
soa alguma,  nem  se  achara  tal  cousa,  agora  Ihe  torno  a  escreuer,  e  tam- 
bera que  nom  aceytem  beneficio  algum  senam  se  o  Vosa  Alteza  ouuer  por 
bem,  nem  Vosa  Alteza  nom  querer  bem  creo  que  por  eu  pedir  lycenca 

a  Vosa  Alteza  que pudesse  vsar  da  graca  que  nom  erey  em  auer  es- 

toulra,  postoque  Vosa  Alteza  me  respondesse  que  despois  me  mandarla 
disso  a  reposta,  porque  eu  nom  vso  de  huma  nem  da  oulra  senam  se 
Vosa  Alteza  quer.  E  se  Vosa  Alteza  quer  saber  se  he  isto  asy,  mande  ver 
o  meu  regimentó  feyto  por  minha  mao  que  mandei  a  meus  procuradores, 
e  dem  juramento  se,  quando  Ihe  mandei  a  bulla,  se  Ihe  mandey  o  mesmo 
regimentó,  e  achara  Vosa  Alteza  que  Ihes  tenho  mandado  que  nom  vsera 
deltas  sem  licenca  de  Vosa  Alteza,  nem  jaamais  se  achara  outra  cousa. 
E  se  asy  he,  que  culpa  tenho  eu  pedir  ao  papa,  pois  nisso  nom  faco  de- 
seruico  a  Vosa  Alteza  nem  mo  lem  defeso,  huma  e  muilas  gracas  se  m  as 
elle  quer  fazer,  que  gram  deferenca  parece  de  vsar  eu  deltas  contra  uon- 

tade  de  Vosa  Alteza a  pedillas  e  auellas  do  papa,  poys  Vosa  Alteza 

me  nom  tem  deífeso  que  as  peca  :  mas  como  eu,  senhor,  nom  tenha  pe- 
soa que  por  mym  falle  a  Vossa  Alteza  e  me  desculpe,  e  aja  mullos  que 
facam  o  contrayro  e  emformem  mal  Vosa  Alteza  contra  mym,  certo,  se- 
nhor, que  Vosa  Alteza  estará  de  mira  muito  descontente,  como  me  tem 
escrito.  Prazerá  a  noso  Senhor  que  meterá  em  coracam  de  Vosa  Alteza, 
pois  em  sua  mao  está,  que  me  mandará  de  qua  hir  cedo,  pois  vem  dora 
martinho,  segundo  aquy  ha  noua,  e  Vosa  Alteza  por  me  fazer  mercé  me 

ouuirá  e  saberá  quam  pouca  culpa  nislo  tenho  e  em  outras cousas, 

que  os  que  qua  estao  escreuem  aos  que  laa  o  representao  a  Vosa  Alteza. 


398  CORPO  DIPL03ÍATIG0  PORTUGUEZ 

Beijo  as  reaes  maos  de  Vosa  Alteza,  cuia  \¡da  e  real  eslado  noso  Senhor 
acrecenté  per  muitos  annos  em  seu  seruico. 

De  roma  tres  días  de  Junho  de  1532.  —  Feylura  de  Vosa  Alteza 
—  Bras  neto  '. 


Itulla  cío  Papa  Clemcutc  IIVL, 


153% — dnnlio  14. 


Clemens  Episcopus  Seruus  Seruorum  Dei  ad  fulurara  re¡  memoriam. 

Miserator  Dominus,  qui  su¡  preciosissirni  sanguinis  aspersione  ¡n  ara 
Crucis  gemís  tiumanum  protho  plauslri  ^  preiiaricatione  deperdilum  a  ba- 
ratri  faucibus  eripere  dignatus  est,  ad  hoc  nos  elherei  clauigerl  succes- 
sores  conslituere,  nobisque  licet  immeritis  uices  suas  in  terris  ac  ligandi 
et  soluendi  potestatem  pia  miseralione  commiltere  uoluil,  ul  pro  gregis 
Dominici  salute  apostólicos  cogilatus  ¡ugitcr  eíTundamus,  el  ut  christifide- 
les  ab  oppressionibus  lueantur,  ac  quibusuis  periculis  ab  eis  ademplis  in 
confessione  uere  fidei  preseruenlur,  et  qui  ab  equitatis  el  iuslitie  limiti- 
bus  deuii  facti  fuerint  ad  uiam  ueritatis  reducantur,  iuxta  rerum  el  lem- 
porum  qualitates  assiduas  nostre  sollicitudinis  meditationes  propensius  di- 
riganius.  Vnde  nos,  aliente  conspicientes  quod  nefandus  perfidorum  Tur- 
carum  Tyramnus  fidei  calholice  perpetuas  hoslis  pluribus  elalus  uicforiis 
tanlis  calamitatum  gcneribus,  quibus  quamplurima  christianorum  dominia, 
non  solum  anlecessorum  nostrorum,  sed  etiam  noslris  temporibus,  do- 
mino forsan  propler  christifidelium  dejicfa  permitiente,  hactenus  aíFecil, 
non  contentus,  ñeque  sparsi  sanguinis  fidelium  multiludine  satialus,  má- 
ximum terrestrem  exercitum  ac  copiosam  classem  marilimam  parauit,  ut 
reliquas  christianorum  regiones  Ierra  marique  in  miserabilem  reducat  ser- 
uitutem,  ac  in  sua  potentia  et  ferocitale  confisus  iam  ad  parles  Regni  Hun- 
garie  se  conlulit,  et  ad  Italiam  el  alias  christianorum  regiones  inuaden- 


^  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Parí.  I,  Mac.  49,  Doc.  10. 
-  Léase:  proloplasti. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  399 

das  accinclus  chrislianum  nomen  omni  conalu  exlinguere  niolilur ;  Et  dc- 
siderantes  huic  morbo  lanlum  inualescenti  et  virus  suum  eífundenti  con- 
gruum  anlidolum  exhiben,  et  hanc  diuine  iuslilie  ultionem  propler  mul- 
litudinern  peccatorum  et  plurium  cor  impenilens  inslanlem  euilari,  ac  illius 
qui  paler  misericordiarum  est  graliam  inueniri,  cum  per  flagella,  quibus 
nos  paler  ipse  celestis  ad  se  reuocare  nililur,  non  solum  ad  penitenlie 
lamenta  recurratur,  sed  licenlius  obslanliusque  ^  maiestas  allissimi  oíTen- 
datur :  decreuimus  predecessorum  nostrorum  uesligüs  inherendo  singulos 
gregis  eiusdera,  cuius  ralionem  in  extremo  iudilio  reddituri  sumus,  ad 
sincerilatis  deuolionem  et  excessuum  suorum  deteslalionem  noslris  exor- 
lationibus  incitare,  ut  diuinam  clemenliam,  quam  multifarie  peccando  pro- 
uocauimus,  flendo  et  penitendo  placemus,  de  domino  nostro  iesu  christo 
conGdenles,  qui  penitentes  non  deseret  in  lempore  necessitatis.  Quapro- 
pler  aucloritale  apostólica  nobis  desuper  commissa,  et  per  uiscera  mise- 
ricordie  dei  noslri,  ac  ex  parte  omnipolentis  dci,  omnes  et  singulos  vtrius- 
que  sexus  christifideles,  tam  religiosos  quam  seculares,  cuiuscunque  sta- 
tus gradus  ordinis  dignilatis  et  preeminenlie  existant,  tam  in  Alma  Vrbe 
nostra,  quam  in  quibuscunque  alus  Ciuitatibus  et  diocesibus  ac  locis  per 
uniuersum  orbem  constitutos,  in  uirlute  sánete  obedientie  monemus  re- 
quirimus  et  hortamur  in  domino  ut  Secunda  feria  post  publicationem  pre- 
sentium  in  Vrbe  et  aliis  ciuitatibus  et  diocesibus  huiusmodi  factam,  uel 
postquam  hec  nostre  littere  ad  eorum  aures  peruenerint,  vnusquisque 
conscienliam  suam  diligenti  studeat  examinatione  discutere,  et  ad  puris- 
simam  omnium  peccatorum  suorum  confessionem  se  parare,  quam  infra 
Triduum  postea  faciat.  Deinde  feria  Quarla,  Sexta  et  Sabbato  post  publi- 
cationem prediclam  in  Vrbe  Ciuitatibus  et  diocesibus  predictis  factam,  uel 
notitiam  presentium  ut  prefertur  habitam,  inmediate  sequentibus,  ieiunent 
omnes  in  etale  legitima  constiluti,  nisi  iusto  impedimento  teneantur,  assi- 
duis  interim  et  deuotis  precibus  omnes  pariter  incumbentes  ut  diuine  rai- 
sericordie  remedia  ad  ipsorum  Turcarum  rabiem  et  conatus  reprimendos, 
ac  quietem  consequendam  percipere  ualeamus.  Et  ut  etficatiora  sinl  nos- 
tra ieiunia  et  oratio  acceptior,  si  celeste  illud  uiaticum  et  uere  pañis  nile 
qui  de  celo  descendit  nostris  langoribus  medealur,  Dominica  immediate 
sequenli  sacralissimam  Eucharistie  Goinmunionem  omnes  reuerenter  et  de- 

^  Léase:  obstinatiusque. 


400  COnPO  DIPLOMÁTICO  POUTÜGUEZ 

uote  percipiant.  El  insuper  de  bonis  vnicuique  a  deo  collalis,  qu¡  ea  pos- 
sidenl,  non  ex  Irislia  •  aul  ex  necessilale  sed  uoluntale,  proul  cuiusque 
facultas  aut  animus  tulerit,  sludeanl  in  chrisli  pauperes  aliquid  erogare, 
memores  illius  vidue,  cuius  non  muneris  quanlitas  sed  animus  laudalur 
a  domino,  Et  scienles  iuxla  eiusdem  domini  sententiam  quod  quicunque 
polum  dederil  vni  ex  minimis  eius,  lanlum  Galicem  aque  frigide,  non 
perdet  mercedem  suam.  El  ut  nemo  excusaliones  habeat  in  peccalis,  sed 
magis  vnusquisque  ad  querendum  misericordiam  domini  apostolice  sedis 
largilione  et  spiritualibus  beneficiis  prouocelur,  Ómnibus  et  singulis  chris- 
tifidelibus  supradiclis,  pro  hac  uice  lanlum,  ut  confessores  sibi  eligere 
ualeant  presbileros  seculares,  uel  cuiusuis  ordinis  regulares,  qui  confes- 
sionibus  eorum  diligenter  audilis  eos  et  eorum  quemlibel  a  quibuscun- 
que  peccalis,  quanlumcunque  grauibus  et  enormibus,  eliam  sedi  aposto- 
lice reseruatis,  eliam  in  Bulla  Cene  domini  contenlis,  iniuncla  sibi  peni- 
lenlia  salutari  absoluere,  ac  uola  quecunque  per  eos  emissa,  Jerosolimi- 
lan.  ac  caslitatis  et  religionis  uolis  dumlaxal  exceptis,  commulare  possint 
et  ualeant,  dicta  auctorilale  apostólica  concedimus  et  indulgemus,  Ómni- 
bus nichilominus  supradiclis  christifidelibus  pro  particularis  penilenlie  sa- 
lisfaclione  in  remissionem  peccalorum  suorum  specialiler  iniungentes  ut 
lam  ipsa  die  dominica  percipiende  communionis,  quam  in  Triduo  ieiunii 
supradicli,  singulis  diebus  oralionem  dominicam  et  salulationem  angeli- 
cam  Quinquies  dicere  teneantur,  diuinam  clemenliam  lacrimosis  uocibus 
implorantes  ut  non  in  delicia  noslra  uel  ignoranlias  noslras,  sed  in  uni- 
genili  sui  redemploris  nostri  uulnera,  que  pro  nobis  ille  perlulil,  dignelur 
aspicere  qui  uulneralus  est  propler  iniquilales  noslras,  ut  omnes  langores 
nostros,  si  lamen  in  eius  dileclione  manserimus,  sui  preciosissimi  corpo- 
ris  liuore  sanaret  ut  qui  quondam  niniuitarum  preces  in  Triduana  illa 
penitenlia  exaudiuit,  qui  lalroni  in  ipso  morlis  articulo  uitam  regnumque 
donauil,  nostros  quoque  non  spernet  gemilus,  Et  quamuis  mulla  pecca- 
uimus,  omnia  lamen  nostra  crimina  sui  sacralissimi  sanguinis  aspersione 
delergat.  Nos  enim  ómnibus  el  singulis  chrislifidelibus  predictis,  qui  pre- 
missa  impleuerint,  de  omnipolentis  dei  misericordia,  ac  bealorum  Petri 
el  Pauli  Aposlolorum  eius  auctorilale,  confisi  plenissimam  peccalorum  suo- 
rum remissionem,  et  que  chrislifidelibus  ecclesias  dicte  Vrbis  et  extra 

*  Léa-$e :  Irístitia. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  401 

eam  ad  id  depulalus  Anno  Jubilei  concessa  est  in  domino  elargimur.  Et 
ul  hec  omnia  ad  multorum  ulilüatem  peruenire  ualeant  simul  ut  miseri- 
cors  dominus  a  pluribus  exoretur,  Ómnibus  palriarchis,  Archiepiscopis, 
Episcopis,  et  alus  ecclesiarum  prelatis,  ul  has  presentes  lilteras,  siue  ea- 
rum  transumplum  manu  alicuius  prelati  seu  persone  in  dignitate  eccle- 
siastica  constitute  subscriptum,  ubique  per  eorum  prouintias  dioceses  uel 
ecclesias  gratis  publicari  faciant,  absque  ulla  fraude  uel  queslu,  cum  gra- 
tiis,  concessionibus,  facultalibus  et  indulgentiis  suis  concedimus  et  indul- 
gemus,  el  cum  ad  eos  isla  peruenerint  eliam  in  uirtule  sánete  obedienlie 
percipiendo  mandamus :  Constitutionibus  et  ordinalionibus  apostolicis  et 
alus  contrariis  non  obslanlibus  quibuscunque,  Presenlibus  post  Quarlam 
et  Sextam  ferias  ac  Sabbati  et  Dominice  sequentium  dies  seu  presenlium 
in  Vrbe  ac  ciuitalibus  el  diocesibus  huiusmodi  publicalionem,  aut  cum 
primum  ad  aures  eorum  peruenerunl  minime  ualituris. 

Dalum  Rome  apud  Sanclum  pelrum,  Anno  Incarnationis  Dominice 
Millesimo  quingentésimo  trigésimo  secundo,  Décimo  oclauo  Kalendas  Ju- 
lii,  Pontificalus  noslri  Anno  Nono.  —  Eiiangehsta  K 


Carta  de  Braz  Meto  ao  Secretario  de  Eistado. 


1532 — Jullio  S. 


Senhor  —  De  quantas  vezes  tenho  escrito  a  vossa  mercé,  nunca  deus 
por  meus  pequados  quis  que  por  humas  regras  me  respondesse  o  que  manda 
que  faca  do  vemyeyro,  porque,  se  quer  que  liuremente  o  renuncie  em 
fauor  de  seu  sobrinho,  pois  jaa  deue  de  saber  o  seruico  que  nisso  Ihe 
faco,  mande  mo  dizer  e  fallo  ey  com  aquella  vontade  que  sempre  tiue  de 
vosso  seruico;  e  melhor  será  fazello  em  quanto  qua  estou,  que  despois 
que  laa  for,  porque,  segundo  enlendo,  dom  martinho  vem  jaa  por  ca- 
minho  ou  nam  lardará  que  nom  parla.  Acerca  de  mim  Ihe  nom  quero 
dar  importunacam,  pois  sey  e  conheco  quam  pouco  Yalho  dianle  vossa  mer- 

^  Arch.  Nac,  Mac.  2  de  Bullas,  n.»  5. 
TOMO  II.  51 


402  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

cé.  Encomendó  minhas  cousas  a  deus,  pois  sao  lam  desemparado  que  ñora 
tenho  quera  de  raira  se  lembre.  Pésame  porque,  por  emformacoes  falsas 
6  mintirosas  do  mais  Roym  e  preuerso  horaem  que  deus  cryou,  me  to- 
masles  odyo,  nom  no  merecendo  a  vossa  raercé ;  mas  como  eu  sey  cerlo 

que  a  verdade  como  o  oleo  sempre  vera  aciraa espero  era  nosso  Se- 

nhor  que  cedo  me  leuará  pera  minha  casa,  e  saberá  quam  pouca  culpa 
Ihe  lenho,  e  quanla  mentira  Ihe  tem  escrita  o  mais  tredor  e  minliroso  ho- 
mem  e  falso,  que  deus  anlre  todos  os  homens  cryou.  Seia  como  vossa 
raercé  quiser  e  voltese  pera  outra  parte,  que  eu  por  isso  nom  hey  de  ley- 
xar  de  ser  seu  amigo  e  seruidor,  como  sempre  fuy  despois  que  o  con- 
uersey  até  o  dia  de  oje.  Beijo  as  raaos  de  vossa  raercé,  a  quera  deus  dé 
tanta  vida  e  descanso  quanta  elle  deseia,  e  eu  seu  seruidor  Ihe  desejo  e 
pera  mim  quería. 

De  roma  dous  días  de  Julho  de  1332. 

Seruidor  de  vossa  raercé  —  Bras  neto  ^ ' 


Carta  de  Hraz  Meto  a  elRei. 


153%— «rallio  6. 


Senhor.  — Bera  creyó  que  Vosa  Alteza  terá  noua  per  uya  de  dora  pe- 
dro,  da  corte  do  emperador,  da  partida  do  turco  pera  üngrya,  e  asy  de 
todas  as  outras  cousas  que  socederam  despois  de  quinze  (?)  vinte  e  cin- 
quo  d  abril  pera  diante ;  e  posto  que  asy  o  tenha  por  certo,  todauya  nom 
leyxarey  descreuer  o  que  qua  pude  saber  per  uya  do  erabayxador  de 
veneza.  Elle,  senhor,  rae  disse  que  tinha  carta  do  vltirao  d  abril  de  cons- 
tantinopoly,  era  que  Ihe  afirraauam  que  o  turco  era  partido  aos  vinte  e 
cinquo  pera  vngrya,  e  que  sayra  de  constantinopoly  acorapanhado  de  toda 
a  cidade,  e  que  hya  vya  de  andrinopoly,  e  que  se  dezia  que  estarya  aly 
dez  dias  pera  ouuir  os  erabaixadores  del  rey  dos  romanos,  e  que  despois 
se  hyrya  carainho  de  belgrado. 

»  Abch.  Nac,  Corp.  Chron.  Parí.  I,  MaQ.  49,  Doc.  36. 


RELAgÓES  COM  A  CUIÜA  ROMANA  403 

Qiianlo  á  armada,  que  a  punha  em  ordem  de  modo  que  poderya  sayr 
alé  XV  de  mayo,  e  que  fazia  grande  fundamento  ñas  Yellas  dos  corsaryos. 
O  numero  das  vellas  era  setenta  gales  sotys  e  \inte  bastardas,  tirando  as 
dos  corsayros.  Dezia  mais  que  o  embayxador  do  Sofy  era  espedido  coni 
boa  paz,  e  com  salisfacam  de  toda  a  corle. 

Dezya  mais  que  auya  outra  carta  de  constanlinopoly,  de  doze  de  mayo, 
que  se  ajunlaua  jaa  a  gente  pera  hir  na  armada  de  dya  em  dia  :  que  say- 
rya  do  estreyto  o  deradeyro  dia  do  dicto  mes  de  mayo,  e  hya  \ia  de  mo- 
dom,  pera  se  aly  aj untar  com  barba  Roxa,  e  aly  Ihe  serya  dado  o  Re- 
gimentó, que  auyam  de  gardar  em  sua  Yiajem. 

Tambem  auya  carta  d  andrinopoly,  onde  o  turco  era  aribado  quando 
partyo  de  constanlinopoly,  de  15  dias  de  mayo,  que,  \endo  o  turco  que 
os  embayxadores  del  rey  dos  romaos  tardauam,  que  expedirá  tres  coreos, 
hum  airas  o  outro,  pera  solicitarem  com  grande  deligencia  a  sua  ida  a 
elle,  e  que  logo  se  afirmaua  que  partía  pera  filipopuly,  e  que  jaa  aquella 
menha  fizera  leuar  a  sua  lenda  deante ;  e  que  pollo  caminho  de  constan- 
linopoly pera  andrinopolly  era  tanta  a  jente  que  se  nom  poderya  crer. 

Isto  (?)  me  disse  o  embayxador  de  veneza ;  e  posto  que  eu  creya 
que  vosa  alteza  lera  estas  nouas  mais  certas  e  mays  por  extenso  de  ale- 
manha,  da  corte  do  emperador,  por  dom  pedro  de  mazquarenhas  seu  em- 
bayxador, todavía  Iho  quis  escreuer  porque  asy  mo  lera  Vosa  Alteza  man- 
dado. O  papa  busqua  por  lodos  os  modos  e  vias  quanlo  dinheyro  pode, 
com  achaque  da  vynda  do  turco,  pera  defensao  da  lera,  porque  se  teme 
de  armada  dar  em  anchona,  ou  em  oulros  logares  portos  de  mar  que  a 
igreja  lem  :  e  se  a  armada  he  tam  grosa  como  dizem,  nom  será  muito  say- 
rem  em  hostia  em  Ierra,  e  corerem  alé  ás  portas  desla  cidade,  e  ainda  en- 
trarem  dentro,  porque  eu  nom  veijo  quem  Iho  possa  defender,  porque 

nom  ha  aquy  jente  pera  isso,  e  o  que  pior  he  que  ain se  falecerya 

o  melhor,  que  he  vontade  e  coracam ;  e  nom  somenle  islo  he  aquy,  mas 
asy  he  em  napoUe  e  em  a  mayor  parte  de  Italya ;  e  certo  tenho  que  vin- 
do,  se  deus  nom  nos  guarde,  a  defesa  da  gente  será  muy  fraca. 

Agora  veo  noua  aquy  que  o  cardeal  coluna,  viso  rei  de  napolle,  he 
morlo,  e  que  moreo  em  tres  dias,  huns  dizem  de  cólica,  oulros  de  peco- 
nha.  Dizem  que  o  papa  daa  a  vice  chancelaria,  e  quasy  lodo  o  que  li- 
nha,  a  medices. 

A  gente  que  se  aquy  fez  pera  hir  a  napoly,  que  foy  mui  pouca,  que 

51* 


404  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

nom  pasaram  de  trezentos  homens,  tornaram  airas,  e  dizem  que  o  mar- 
ques del  gaslo  Ihe  escreueo  que  se  fosem  aiuntar  com  elle  pera  hirem  ca- 
minho  de  Ungria. 

Despois  de  ler  esta  até  aquy  escrita,  deu  o  papa  a  mediéis  lodo  o 
que  Ihe  podia  dar,  que  vagou  por  falecimenlo  do  cardeal  coluna,  com  a 
vice  chancelaria ;  e  manda  o  por  legado  pera  hir  com  o  emperador  onde 
quer  que  for.  He  fama  que  Ihe  ordenou  pera  sua  despesa....  mil  e  qui- 
nhentos  ducados  cada  mes.  Leua  muila  genle,  e  vay  mui  acompanhado. 
Afirmase  que  parlirá  segunda  feira  que  vem,  que  serám  deste  mes  de 
Julho  oyto  dias. 

Qua  temos  noua  que  barba  roxa  he  morto,  segundo  me  o  papa  dis- 
se ;  e  que  o  matara  hum  espanhol  arenegado.  Laa  o  deue  vosa  Alteza  sa- 
ber melhor  se  asy  he. 

E  asy  me  disse  que  tinha  carta  de  como  o  turco  auya  de  ser  em 
belgrado  dia  de  Sao  Joham,  com  tanta  presa  fazia  esta  jornada.  Outra 
cousa  de  nouo  nom  ha  por  ora  que  escreuer  a  Vossa  Alteza,  senam  que 
o  papa  dá  indulgencia  per  toda  a  christindade  a  todos  aquelles  que  ieiua- 
rem  tres  dias  e  comungarem,  segundo  vosa  Alteza  laa  verá  polla  bulla 
que  diso  Ihe  mando  com  estas  cartas ;  e  asy  Ihe  mando  dez  outras  em 
forma,  pera  as  Vosa  Alteza  mandar  pellos  bispados  de  seus  reynos. 

De  roma  6  dias  de  Julho  de  1532  —  Jiras  neto  ^ 


Carta  de  Pedro  de  Sousia  a  elRei. 


1532 — jSetembro  9. 


Senhor.  — Os  dias  passadps  me  foy  dada  huma  de  Vossa  Alteza,  em 
que  me  mandaua  que,  em  absentia  do  Doutor  bras  neto  ou  sendo  elle 
ocupado,  eu  desse  algumas  cartas  ao  papa  e  Gardeaes  farnesio  e  trane, 
e  Ihes  fallasse  sobre  cousas  de  Dom  manuel  de  sousa.  E  antes  desta  re- 


*  Abch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Uac,.  49,  Doc.  39. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  405 

cebi  tambera  oulras  de  Vossa  Alteza  de  semelhantes  negocios  e  com  as 
mesmas  condicoes.  E  como  quer  que  a  hum  e  oulro  tempo  aquy  se  le- 
nha  achado  bras  neto  sem  ocupacoes  que  ho  empedissem,  nao  foy  neces- 
sario  ocuparme  eu  nisso,  nem  lao  pouco  em  screuer  as  nouas  que  qua 
correm,  que  he  de  creer  que  o  mesmo  bras  neto  com  a  deligenlia  que 
faz  ho  al  as  screua  a  Vossa  Alteza  de  raao  em  mao.  Com  tudo  me  pa- 
receo  agora  que  deuia  responder,  ao  menos  pera  que  Vossa  Alteza  sayba 
que  as  suas  me  sao  dadas,  e  asy  as  causas  porque  eu  leixo  de  me  enlre- 
poer  no  que  nellas  me  manda. 

E  a  uoltas  disto,  por  esta  nao  ser  de  todo  desutil,  direy  as  nouas  co- 
mues  de  qua,  e  tras  ellas  em  parte  o  que  me  parece  que  toca  a  seu  ser- 
uico,  como  sao  obrigado. 

E  ñas  nouas  comecarey  pollo  fim  do  Cardeal  Colona,  que  de  tan- 
tos males  foy  principio  e  o  fora  de  mores  se  mais  viuera,  mas  nao  quis 
deus  sostentar  sobre  a  térra  quem  debaixo  della  muito  tempo  ha  que  es- 
leuera  milhor  :  o  qual  nesle  mes  de  Julio  passado,  em  espaco  de  dous  ou 
tres  días,  falleceo  em  ñapóles  de  peconha  que  Ihe  derom,  ou,  segundo  al- 
guns  dizem,  elle  a  tomou  vendo  descuberto  hum  tratado  que  linha  ordido 
pera  matar  ho  papa,  e  elle  por  forca  ho  ser,  e  dar  ho  reyno  de  ñapóles, 
que  Ihe  o  emperador  tinha  confiado,  a  franceses.  Sobre  a  qual  trama,  asy 
aquy  como  em  ñapóles,  he  presa  infinda  gente  que  se  diz  ser  participan- 
te. O  papa  deu  a  seu  sobrinho  ho  Cardeal  de  mediéis  por  morle  do  Co- 
lona a  cancelarla  apostólica,  e  o  emperador  ho  Arcebispado  de  monreal, 
que  he  em  Sicilia ;  e  o  mesmo  Mediéis  foy  logo  feyto  legado  pera  esta  em- 
presa contra  ho  turco,  á  qual  se  partyo  e  he  ja  aribado  ao  emperador. 

As  nouas  do  aparato  do  turco  Vosa  Alteza  as  deue  saber  mais  fres- 
cas e  ameude  polla  uia  de  fraudes  e  alemanha,  donde  ellas  qua  uem  ; 
porem  as  que  aquy  se  dizem  sao  as  destas  stampas,  que  aquy  enuio  a 
Vossa  Alteza,  em  que  asy  mesmo  verá  ho  aparelho  do  emperador  por 
térra. 

Por  mar  ha  ja  dias  que  he  hido  André  doria  com  cinquoenta  gal- 
les, antre  suas  e  do  papa  e  da  religiom  de  sam  Johao,  e  multas  naos  de 
biscainhos,  e  outros  lenhos,  de  maneira  que  será  a  gente  que  leua  xvi 
mil  homens,  afora  os  que  estauam  presos  no  reyno  de  ñapóles  e  sicilia, 
a  que  se  perdoou  pera  que  vao  ajudar,  que  se  diz  que  serám  bem  qua- 
tro  mil. 


406  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

Pedióse  a  venezeanos  algumas  gallees  emprestadas  pera  esla  viagem, 
e  seescusarom  disso ;  porem  esla  armada  Yay  mui  apercebida  e  poderosa, 
e  asy  nella  como  na  boa  fortuna  do  capitao  se  tem  grande  esperanca  da 
Vitoria,  e  já  aquy  ha  noua  certa  que  armada  do  turco,  que  era  virada  a 
modom,  como  soube  da  dandré  doria  se  retyrou  a  Conslanlinopra,  onde 
estao  com  gram  temor  e  tem  cerrado  ho  porto. 

O  marques  del  guasto  com  oito  mil  spanhoes  que  tinha  em  Lombar- 
dia,  e  XII  mil  italianos  que  se  fizerom,  he  tambem  partido  para  Alema- 
nha.  E  na  marca  de  ancona  está  ho  senhor  Luys  de  gonzaga  por  capi- 
tán d  aquellas  parles.  E  no  reyno  de  ñapóles  ho  Senhor  Alarcon.  E  agora 
he  aquy  chegado  de  Alemanha  ho  marques  de  villa  franca,  filho  do  Du- 
que dalua,  o  qual  vem  por  viso  rey  a  ñapóles. 

Asy  mesmo  alguñs  senhores  mancebos  italianos  sao  partidos  daquy 
com  gente  á  sua  custa  a  seruir  ho  emperador  e  achar  se  nesta  jornada, 
e  ha  aquy  nouas  que  houtro  tanto  fazem  muitos  senhores  de  castella  e 
doutras  partes ;  e  os  que  nao  podem  ir,  enuiaó.  E  o  duque  de  raantua, 
antre  outras  cousas,  manda  apresentar  ao  emperador  quatrocentos  caua- 
los  de  gram  preco,  e  antre  elles  huum,  que  val  tanto  como  todos,  de  que 
se  dizem  raarauilhas. 

Aquy  se  disse  que  Vossa  Alteza  com  todas  suas  guerras  e  gastos  nao 
se  esquecera,  neste  tao  necessario  tempo,  de  ajudar  a  christandade,  de  que 
he  tao  sinalado  raembro ;  e  eu  sao  huum  dos  que  desejao  que  Vossa  Al- 
teza nao  perca  esta  ocasión  e  aparelho  de  tanta  gloria  e  louuor  a  seu  no- 
me,  que,  postoque  com  muy  justificadas  razoes  se  possa  escusar  disso, 
tanto  com  muito  moeres  será  louuado  ajudando  a  esta  empresa  tao  santa, 
que  será  sello  e  sinal  perpetuo  de  seu  alto  animo.  E  islo  mandando  a  es- 
tas partes  huma  armada  contra  ho  turco,  qualquer  que  seja,  pera  andar 
per  sy  ou  juntamente  com  a  do  emperador,  o  que  dará  a  Vossa  Alteza 
nao  menos  nome,  que  todalas  outras  Vitorias  suas  e  de  seus  anlepassados. 
E  toda  espesa  pera  isto  se  nao  deue  arrccear,  quanto  mais  que  a  raeu 
ver  nao  será  muita,  porque  com  xv  ou  vintc  carauellas  e  algumas  naos 
de  compagnia  bem  armadas  se  satisfará,  segundo  a  repulacao  qua  tem  as 
de  Portugal.  E  pera  islo  creo  eu  que  de  boamente  conlribuyrao  asy  os 
leigos  como  a  crerizia. 

E  com  isto  se  poderla  asaz  justificadamente  empcdir  ao  papa  as  de- 
cimas e  outras  demandas,  a  que  la  he  hido  huum  nuntio,  que,  se  ihe 


RELACOES  COM  a  curia  romana  407 

conceden!  o  a  que  dizem  que  vay,  nao  se  segué  dyso  algum  nome  a  Vossa 
Alteza  nem  a  seus  reynos,  senao  fazellos  quaisi  como  trybularios  aos  pa- 
pas cada  uez  que  tyuerem  necessidade,  do  que  creo  que  Vossa  Alteza, 
polla  grande  prudencia  que  em  suas  cousas  vsa,  se  guardará,  e  quererá 
antes  seguir  esl  oulra  via  como  mays  conforme  a  sua  reputacao  e  estado, 
enviando,  como  digo,  huma  boa  armada. 

E  comprirá  com  isto  a  muitas  partes,  com  o  que  deue  á  religioni 
christaa,  com  ho  papa,  com  ho  parentesco  e  amizade  do  emperador,  e 
oflenderá  ao  turco  nao  soomente  como  imigo  dos  christaos,  mas  de  Vossa 
Alteza  em  particular. 

E  o  que  vallera  mais  que  tudo  será  a  presteza  disto,  porque,  se  se 
poe  em  rauitos  conselhos  e  se  buscaO  diííiculdades,  será  leixar  passar  a 
sazao  em  que  se  estimará  mais  ho  pouco  com  tempo,  que  ho  muito  fora 
delle. 

E  verdadeiramente  creo  que  nao  menos  fama  Ihe  dará  esta,  que  to- 
das as  outras  empresas  suas  juntas,  ainda  que  sao  muito  grandes.  E  a 
isto  me  mouem,  alem  das  outras  muitas  razoes,  principalmente  ver  que 
as  mais  custosas  e  continuas  guerras  e  trato  que  Vossa  Alteza  tem,  he 
ñas  Indias  onde,  postoque  tenha  ávidas  muitas  e  grandes  Vitorias,  e  taes 
que  nao  soomente  chegaó,  mas  passao  muito  adiante  as  famosas  dos  an- 
tiigos,  todauia  nao  sao  qua  conhecidas  das  mil  partes  ha  huma,  e  nisso 
fallao  como  em  sonhos  e  patranhas ;  e  tem  crudo  que,  se  as  Vossa  Al- 
teza segué,  he  mais  pollo  interesse  que  por  outro  respeito,  o  que  nesta 
ajuda  contra  o  turco  fallecerá,  porque  se  verá  nesta  prasa  do  mundo  lodo 
que  nem  proueito  nem  outros  respeitos  alguuns  mouerom  a  Vossa  Alte- 
za, senao  ho  puro  zello  da  religiao  e  mera  sua  bondade.  Ver  se  ha  tam- 
bem  parte  de  sua  grandeza,  que  estes  qua  nunca  virom  nem  creem.  E, 
como  ácima  disse,  se  fugiraó  com  isto  mil  inconuenientes,  asy  das  de- 
mandas do  papa,  como  outros,  e  comprirá  se  com  muitos  e  a  menos  cus- 
ía, e  com  mais  reputacao  e  autoridade  de  Vossa  Alteza,  e  satisfacao  de 
seus  vassallos. 

E  se  eu  como  huum  delles  me  mouy  de  tao  longe  a  lembrar  ysto, 
beyjarey  as  maos  de  Vossa  Alteza  atribuyl  o  mais  á  boa  vontade  com  que 
o  ho  digo,  que  a  outro  algum  respeito,  porque  nenhuura  ha  em  mym 
mais  que  desejar  que  a  fama  de  Vossa  Alteza  seja  em  todalas  parle  co- 
nhecida  por  lao  grande,  como  eu  sey  que  ho  he  seu  animó.  E  se  fuy 


408  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

prolixo  Vossa  Alteza  me  perdoe,  que  o  desejo  e  zello  de  seu  seruico  me 
trasporlou  de  pouco  em  poiico  mais  ionge  do  que  a  principio  cuydey. 

De  Roma  a  ix  de  selembro  1532. 

As  reaes  maos  de  Vossa  Alteza  beija  seu  seruidor —  Pero  de  Sonsa  '. 


Carta  do  Bisípo  de  Siiii^ag;lia  a  el-Rei. 


153;S— Sctembi'o  V^, 


Serenissimo  e  inuiclissimo  Re  e  signore  potenlissimo. — La  santita 
di  Nostro  Signore  papa  Clemente  mi  manda  ala  Maesta  vostra  Nuntio  a 
traltare  con  quella  come  con  \no  de  principali,  anzi  principale,  membro 
déla  christianita  alcune  cose  importanti  al  bene  publico,  e  toccanti  in 
questi  tempi  molto  particularmente  a  tutta  la  república  christiana,  a  che 
sua  Beatitudine  é  tenuta  per  la  dignita  sua  et  oíficio,  e  non  meno  per  lo 
ardentissimo  desiderio  che  ha  de  la  quiete  de  essa  República :  imposemi 
oltre  ale  altre  cose  che  io,  entrato  che  fusse  ne  Regni  e  paesi  déla  Maesta 
vostra,  la  auisasse  súbito  déla  uenuta  mia,  il  che  io  fo  per  questo  mió  a 
posta,  facendole  intendere  che,  oltre  al  comandamento  di  sua  Santita,  io 
uengo  desiderosissimo  di  far  cose  che  siano  in  bene  uniuersale,  e  molto 
peculiarmente  di  seruire  la  Maesta  vostra,  non  altrimenti  ch  el  padrone 
mió,  che  cossi  mi  parra  doppiamente  seruir  a  lui.  Sonó  arriuato  hogi  che 
siamo  ali  dodece  del  presente  mese,  ad  hore  uintidue,  in  Ronces,  e  spero 
con  1  aiuto  de  Dio  far  questo  poco  uiaggío  che  mi  resta,  e  Martidi  próxi- 
mo che  uiene  trouarmi  in  Aldea  galliega :  in  questo  meso  ala  Maesta  vos- 
tra di  continuo  con  tutto  il  Core  humilmente  mi  racomando,  pregando 
Nostro  Signore  Dio  il  suo  felicissimo  stato  e  persona  Regia  guardi  e  ac- 
creschi  sempre  come  essa  desidera. 

Di  Ronces  ali  xii  di  Settembre  mdxxxii. 

Di  vostra  inuittissiraa  Maesta  —  Humil  seruitore  //  vescouo  di  Se- 
nogallia  Nuntio  de  Sua  Sanlita  ^ 

1  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Parí.  I,  Mac.  49,  Doc.  98. 

2  Ihidem,  Ma^.  49,  Doc.  101. 


RELAGOES  COM  A  CURIA  ROMAiNA  409 


Breve  do  Papa  Cleitieiite  Til  dirigitlo 
ao  Ifiisiiio  de  Sini^ag;lia. 

153% — Outubro  19. 


Venerabilis  frater,  nuper  Fidei  Calholicae  zelo  et  Animarum  Deo  lu- 
crifaciendarum  studio  ducU,  filii  Didaci  de  Sylva  Ordinis  3Iinimorum  S. 
Francisci  de  Paula  professoris  doctrina,  prudenlia,  etc.  ipsum  Didacum 
noslrum,  et  Apostolicae  Sedis  Gommissarium,  ac  super  extirpatione  hae- 
resum,  et  aliorum  lunc  expressorum  errorum  in  Regno  Portugalliae,  et 
Dominiis  Inquisitorem  autorilale  Apostólica  consliluimus,  et  deputamus, 
plena  sibi,  etc.  cum  autem  licet  in  eodem  Sancto  opere  perseveran,  il- 
ludque  ad  eíFectum  produci  faceré  siio  teiupore  Yelim,  tamen  nonnullae 
rationabiles  causae  nobis,  vel  aliud,  quae  Animarunfi  salutem,  et  Regni 
buius  prosperitalem  curantibus  in  praesens  suadeant,  huiusmodi  Inquisi- 
tionis  negotium  in  dictis  Regno,  et  Dominiis  eidem  Didaco  per  nos  de- 
mandatum  aliquantis  perdiíferamus,  et  in  boc  dum  quid  nobis  optime  fa- 
clum  Yisum  fuerit  statuerimus,  propterea  per  incertas  alias  quascunque 
literas  Apostólicas  facultates,  et  commissiones,  ac  in  forma  Rrevis  hacle- 
nus  concessas,  et  Mlarum  vigore  predictas,  et  alias  quascunque  eidem  Di- 
dico,  ac  quibusvis  alus  etiam  locorum  Ordinarii  autoritate  Apostólica  le- 
nore  pracsentium  ad  nostrum  beneplacitum  suspendimus,  inhibenles,  etc.  \ 


*  Extracto  publicadopor  Fr.  Manuel  de  S.  Dámaso  na  Verdade  Elucidada,  pag.  23. 
TOMO  11.  5*2 


410  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 


Caria  de  Iluarte  cía  Paz  a  el-Rc¡. 


1&3!S — iVovcinliro  4. 


Senhor. — Eu  cscreuo  ao  Conde  muito  verdadeirameníe  quam  poií- 
qua  culpa  tenho  em  nenhuma  das  cousas  que  ma  dam,  e  que  sempre  es- 
tou,  como  eslava  nese  Reino,  presles  a  seruico  de  Vosa  Alteza.  E  porque, 
ainda  que  som  pouquo  e  inorante,  porque  tenho  este  amor  e  desejo  aas 
cousas  de  seu  seruico,  o  poso  deslas  parles  avisar  de  cousas,  que  muilo 
importan! ;  e  aimda  nom  seriam  maos  seis  omens  conslamtes,  verdadei- 
ros,  desejosos  d  omrra,  e  que  amasem  voso  seruico,  e  enlremelidos  e 
avisados,  lamcados  per  Vosa  Alteza  com  muilo  segredo  nesles  Reinos  de 
chrislaos,  e  ainda  nos  do  turquo,  que  nom  se  fizese  neles  cousa  que  Vosa 
Alteza  ñora  soubese.  E  de  qua  poderla  por  eics  saber,  nom  somenle  o  que 
ora  se  faz  ou  ordena  contra  voso  seruico,  mas  aimda  o  que  jeralmente 
se  diz  das  que  se  fazem  la  e  demtro  nesa  corle  de  Vosa  Alteza :  porque 
eu  nislo  me  quero  ocupar,  emuio  a  Vosa  Alteza  este  a  be  de  cifras,  que 
Vosa  Alteza  mande  guardar,  porque  as  cousas  desla  calidade  por  elas  Ihe 
escreverey,  por  me  nom  suceder  algum  perigo  aa  pesoa  lomando  alguma 
minha  lelra.  E  porque  cifras  ha  mullas  pesoas  que  as  lem  o  fiz  de  lam- 
ias letras,  porque  qamdo  se  seruem  de  lamias  mal  se  enlemde.  Vosa  Al- 
teza nom  me  escreva  nem  responda  nunca,  e  se  alguma  vez  for  per  forca 
seja  per  elas ;  e  porem  logo  me  avise  se  esta  Ihe  foy  dada,  pera  o  que 
basta  na  primeira  que  Vosa  Alteza  escrever  a  dom  marlinho  mandar  Ihe 
que  me  diga  que  mande  entregar  o  cartorio  que  tinha  ao  procurador  de 
Vosa  Alteza  :  e  lá  ha  Vosa  Alteza  de  mostrar  no  pubrico  e  secreto  que 
está  de  mim  muilo  descomtenle,  porque,  aimda  que  asy  o  seja  em  ver- 
dade,  sempre  o  ey  de  seruir  e  morrer  seruindo  o,  sem  nunca  Ihe  pedir 
merce.  Beyjo  as  maOs  de  Vosa  Alteza,  cujo  estado  e  vida  o  senhor  deu& 
guarde  e  prospere.  A  ida  do  papa  a  ver  se  cora  o  emperador  eslava  asen- 
tada pera  día  de  sam  marlinho :  oje  mi'*  de  novembro  em  consistorio  se 
dilalou.  O  papa  dizem  que  a  deseja  a  fim  de  nesta  viajera  fazer  em  flo- 


RELACOES  COM  a  curia  romana  411 

renca  hum  castello  pera  ler  aquele  estado  seguro,  mas  todo  o  Resto  desta 
Corle  nom  quería  sair  delia  '. 

Esta  caria  do  duque  furtei  a  meu  pai ;  mande  a  Vosa  Alteza  quei- 
inar.  E  nam  me  culpe  de  vyr  a  Roma,  aínda  que  nela  Requeira  que  per- 
doem  ese  pouo,  porque  o  faco  cuidando  que  sirvo  níso  Vosa  Alteza. — 
Duarle  da  Paz  ^. 


Breve  fio  Papa  Clemente  ^11,  clirigido  a  el-Rei. 


15313 — TVovembro  16 


Clemens  papa  vii  Charissíme  in  christo  filí  noster  salutem  et  apos- 
lolícam  benediclíonem. 

Redil  ad  Serenílatem  Tuam  Dilectus  filius  Blasius  Nieto,  oralor  tuus, 
tolo  hoc  lempore  quo  apud  nos  fuil  ila  in  tuis  negociís  fideliter  apte  pru- 
denlerque  versatus,  \l,  cum  fide  erga  Te  obseruanlíam  erga  nos  coníun- 
gens,  el  laudem  et  beníuolentíam  a  nobis  non  vulgarcm  promeruít.  Quam- 
obrem  serenítalís  tue  in  hoc  homine  dilecto  non  modo  probauímus  iu- 
dicium  sed  gratias  eliam  eí  agímus,  Cum  ením  Serenítatí  Tuae  arela  be- 
níuolentia  connexí  semper  esse  cupíamus,  íllos  mérito  amamus  plurimum, 
Quorum  opera  cum  in  tuis  negociís  fidelis  et  fructuosa,  lum  in  nostro 
erga  tuam  serenílatem  amore,  eiusque  erga  nos  filialí  aíFectu  conseruando 
et  augendo,  sicut  ipsius  Blasius  studiosa  ac  dilígens  fuit.  Itaque  priraum 
fidei  probílati  et  diligentie  eisdem  Blasií  in  tuis  rebus  praeslita  testimo- 
nium  pro  verítale  prohibemus,  ac  deínde  pro  nostro  officio  virtutí  debito 
eum  Tue  Serenítatí  ex  animo  commendamus,  Dígnus  est  ením  tuo  pecu- 
liari  amore,  qui  honori  commodo  et  dignitalí  tue  sedulo  ac  strenue  in 
hac  legatione  inseruiuit.  Nos  cerle  quicquid  Tua  Maiestas  amorí  erga 

*  Segué  a  cyfra,  composta  de  quatro  signaes  differentes  para  cada  letra,  dos  quaes 
já  se  serviu  para  formar  a  assignatura. 

2  Arch.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  49,  Doc.  20.  No  verso  tcm  a  cota  se- 
guinte:  De  duarte  de  paz  que  mandou  Aluaro  mendez  que  trouxe  gaspar  do  couto  cm 
evora  a  xix  dezembro  de  1532.  O  sobrescripto  diz:  A  el  Rei  noso  Senhor — De  muito 
seu  seruico  pera  a  sua  Alteza  abrir. 

ü2* 


412  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

hunc  suo  nostrae  huius  commendationis  causa  adieceril,  siimus  ab  ca 
lanquam  in  homineui  noslrum  nobis  gralum  et  acceplum  collatum  valde 
gralum  habiluri. 

Datura  Romae  apud  sanclum  pelrum,  sub  annulo  piscatoris,  Die  xvi 
Nouembris  mdxxxii,  Ponlificalus  noslri  Anno  Nono. — Blosius  ^ 


Carta  de  D.  Ilariinho  de  Portiig;al  a  el-Rei. 


1532— IVovemliro  lY. 


Senhor.  —  Parli  de  raalagua  aos  xi  de  selembro,  como  tenho  scrila 
a  vosa  alloza,  neslas  gales  que  Iras  dora  aluaro  de  bacao,  que  vinhao 
com  quinhenlos  mil  cruzados  pera  o  enperador ;  e,  polla  necessidade  que 
linha  dalles  e  a  presa  que  daua,  me  pareceo  que  nao  auia  postas  perqué 
pudese  chegar  mais  asinha.  Foráo  os  lempos  táo  contrairos  que  as  liue- 
rao  em  portos,  e  os  mais  delles  ermos,  sem  poder  ir  por  mar  nem  por 
térra.  Pasadas  agoas  morías  coreráo  as  gales  tromenla,  que  durou  oito 
oras,  em  que  o  mar  Ihes  quebrou  casi  lodos  os  remos,  e  o  uenlo  todas 
as  uelas.  Screuo  a  vosa  alteza  porque  todos  os  marinheiros  desta  arma- 
da, que  toda  sua  uida  se  criarao  neste  mar,  afirmao  nunca  a  tal  uerem, 
e  aínda  que  eu  uinha  na  milhor  galé,  e  que  menos  daño  recebeo,  lodauia 
foi  tanto  que,  se  nao  fora  a  boa  uenlura  de  vosa  alteza,  a  que  eu  uinha 
seruir  e  tao  verdadeiramente  seruir,  nao  creo  que  déos  fizera  tamanho 
milagre  como  fez  en  nos  saluar. 

Cheguei  esla  cidade  onlem,  e  oge  fez  cinco  mezes  que  partí  de  lis- 
boa  :  soi  a  ser  larga  uiagcm  pera  os  que  uaom  á  india.  Achei  aquí  noua 
que  o  enperador  ha  casi  dez  dias  que  está  era  mantua :  ha  se  de  uer 
com  o  papa :  diz  se  que  ha  de  ser  en  bollonha,  e  loguo  estando  o  papa 
pera  partir  se  afirma  que  cnlendeo  nos  que  negoceao  pollo  enperador  que 
elle  folgaua  de  ir  a  roma  pera  se  uerem,  e  as  razOes  porque  pera  pasar 
a  espanha  ha  de  uir  ñas  gales  do  principe  andrea  dorea,  e  porque  elle 
está  na  morea  e  parece  que  ha  hai  de  inuernar,  quererá  neste  meio  lempo 

*  Arch.  Nac,  Mac.  20  de  Bullas,  n.»  11. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  413 

uisitar  ñapóles,  e  a  meu  parecer  tirar  aquella  opiniao  de  se  coroar  em 
bolonha.  Hum  correo  dos  ordinarios  chegou  oge  aqui  de  roma,  que  trouxe 
esta  noua,  e  esles  papéis  que  aqui  mando  a  vosa  alteza,  que  lomei  ao 
embaxador  que  aqui  está  do  enperador.  Nao  liue  lempo  pera  os  acabar 
de  uer. 

Eslarei  aqui  oge  e  amanha,  esoulro  dia  me  partirei  com  aiuda  de 
noso  senhor :  do  que  soceder  auisarei  loguo  vosa  alteza. 

De  genoa  aos  xvii  de  nouerabro  1533. — Dom  Marlinho  de  Por- 
tugal ^ 


Caria  de  cl-Rci  ao  Papa  Clciiiciite  l^II. 


1533 


Muito  Sánelo  in  chrislo  padre  e  Muito  benauenturado  Senhor,  o 
uosso  deuoto  e  obidienle  filho  Dom  Joham  per  graca  de  deus  Rey  de  por- 
lugual  e  dos  alguarues  d  aquem  e  d  alem  mar,  em  áfrica  Senhor  de  gui- 
ñee, e  da  Goniquisla  nauegacam  e  Comercio  de  elhiopia,  arabia,  persia  e 
da  India,  com  toda  humildade  enuio  beiiar  seus  Sánelos  pees. 

Muito  Sánelo  in  chrislo  padre  e  Muilo  benauenturado  senhor :  ainda 
que  per  uezes  tenha  sopricado  e  pedido  muyto  por  merce  a  uosa  Sancli- 
dade  que  concedesse  ao  Cardeal  meu  muyto  amado  e  precado  Irmaao  ou- 
Iro  tal  indulto,  como  foy  concedido  ao  Cardeal  dom  Jorge,  e  Ihe  tenha 
scripto  os  grandes  merecimentos  de  sua  pesoa,  pelos  quaes  merece  ou- 
tras  mores  merces  a  uosa  Sanctidade,  nam  quis  deixar  de  Ih  o  tornar 
agora  por  esta  minha  carta  a  sopricar  e  pedir  muyto  por  merce  que  Ih  o 
queira  conceder,  anlre  estas  outras  merces,  que  pera  ele  muy  particu- 
larmente Ihe  peco,  pois  ha  tantas  Rezoes  pera  Ih  as  uosa  Santidade  de- 
uer  de  fazer,  as  quaes  sam  que  ele  posa  conferir  e  prouer  todos  e  quaaes 
quer  beneficios,  que  em  suas  prelacias  uagarem,  postoque  por  qualquer 


*  Arcii.  Nac,  Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  50,  n."  38.  Lé-se  no  verso  do  docu- 
mento: De  dom  martinbo  que  mandou  aluaro  mendez  que  trouxe  gaspar  do  couto  cm 
evora  a  \i\  dias  de  dezembro  1532. 


414  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

maneira  perlencaní  a  colacam  e  qualquer  oulra  prouisam  dos  inferiores. 
E  que  ñas  mesmas  Suas  prelacias  posa  prouer  todos  e  quaesquer  benefi- 
cios que  uagarem  per  falecimenlo  de  quaesquer  criados  de  uosa  Sancli- 
dade,  que  nom  esliuerem  em  seu  conlino  seruico.  E  asy  mesmo  que  posa 
segundo  forma  de  seus  indultos  prouer  e  conferir  todos  e  quaesquer  be- 
neficios onde  e  como  quer  que  uagarem  per  falecimento,  ou  de  qualquer 
outra  maneira  de  seus  criados,  ou  officiaes,  os  quaes  se  entenderám  ser 
seus  uerdadeiros  familiares  e  continos  comensaes,  quando  quer  que  por  ele 
forem  filhados  e  asentados  em  seus  liuros,  e  Receberem  suas  moradias 
em  lugar  de  linello,  E  porque  eu  cy  por  muy  certo  que  pera  Ihe  uosa 
Sanclidade  fazer  estas  merces  nam  será  necesario  lembrar  Ihe  as  muylas 
Rezoes,  que  ha  pera  Ih  as  deuer  fazer,  por  as  ler  sabidas  muy  bem,  me 
nom  alargo  mais,  soomenle  que  Ihe  soprico  e  peco  muilo  por  n>erce  que 
Iho  queira  conceder  da  maneira  de  que  o  pede  a  uosa  sanclidade,  e  asy 
em  lodos  os  mais  negocios  que  de  sua  parle  dom  antonio  da  costa  ihe 
supricar,  e  em  muy  singular  merce  o  Receberey  de  uosa  sanclidade. 

Muilo  sánelo  in  chrislo  padre  e  Muylo  benauenlurado  Senhor,  noso 
senhor  por  muylos  lempos  conserue  uosa  Sanclidade  a  seu  sánelo  ser- 
uico. 

Sprita  em  euora  a  dias  de  de  1533  ^ 


Carta  d'el-Rei  ao  Papa  Clemente  Til. 


1533  — 


Muito  Sánelo  in  chrislo  padre  e  Muilo  benauenlurado  senhor,  o  uoso 
denoto  e  obediente  filho  dom  joham  per  graca  de  deus  Rey  de  portugal 
e  dos  algarues  d  aquem  e  d  alem  mar,  em  áfrica  Senhor  de  guiñee,  e 
da  conquista,  nauegacam  e  comercio  de  elhiopia,  arabia,  persia  e  da  in- 
dia, com  toda  humildade  emuio  beiiar  seus  sánelos  pees. 

Muito  sánelo  in  chrislo  padre  e  Muilo  benauenlurado  senhor :  eu 

*  Documento  incompleto,  scm  data  de  dia  c  mez,  nem  assignatura,  no  Arco.  Nac, 
Corp.  Chron.,  Part.  I,  Mac.  52,  Doc.  7. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  415 

spreuo  a  doni  niarlinho,  elelo  arcebispo  do  funchal,  primas  das  ludias, 
nieu  milito  amado  sobrinho,  do  meu  conselho  e  meu  enbaixador,  sobre 
huum  indulto  pera  o  Gardeal  meu  muito  amado  e  prccado  Irmaao,  sobre 
que  ia  spreuy  a  uosa  sanctidade  os  dias  pasados  e  asy  sobre  outras  cou- 
sas suas.  Suprico  e  peco  muylo  por  merce  a  uosa  sanctidade  que  em 
lodo  o  que  de  minha  parte  sobre  isfo  Ihe  diser  Ihe  queira  dar  inteira  fee 
e  crenca,  e  niso  queira  fazer  aqueta  merce  ao  Cardeal  meu  Irmaao,  que 
ele  por  sua  pesoa  e  grandes  merecimentos  merece.  E  em  muy  singular 
merce  o  Receberey  de  uosa  Sanctidade. 

Muylo  sánelo  in  chrislo  padre  e  Muylo  benauenturado  senhor,  Noso 
senhor  por  muytos  lempos  Conserue  uosa  Sanctidade  a  seu  sánelo  ser- 
uico. 

Sprita  em  euora  a  dias  de  de  1533  *. 


Hulla  do  Papa  Clemente  l^II,  clirig;icla  a  el-Rei. 


1533 — Janeiro  31. 


Clemens  episcopus  seruus  seruorum  dei  Carissimo  in  chrislo  filio 
Jolianni  Porlugallie  el  Algarbiorum  Regi  Illustri  Salutem  el  apostolicam 
benedictionem. 

Gralie  diuine  premium  el  humane  laudis  preconium  acquirilur,  si 
per  seculares  Principes  ecclesiarum  Prelalis,  preserlim  Ponlificali  digni- 
tale  predilis,  opportuna  fauoris  presidium  el  honor  debilis  impendalur. 
Hodie  siquidem  ecclesie  sancli  Jacobi,  certo  lunc  expresso  modo  Pastoris 
solatio  deslitule,  de  persona  dilecti  filii  Blasii  Elecli  sancli  Jacobi,  nobis 
el  fratribus  noslris  ob  suorum  exigenliam  merilorum  accepta,  de  ipsorum 
fralrum  consilio  apostólica  aucloritate  prouidimus,  ipsumque  illi  prefeci- 
mus  in  Episcopum  el  Paslorem,  curam  el  adminislralionem  ipsius  ecclesie 
sibi  in  spirilualibus  el  lemporalibus  plenarie  commiltendo,  proul  in  nos- 
lris inde  confeclis  lilteris  plenius  conlinelur.  Cum  itaque,  fili  Garissirae, 

^  Documento  no  mesmo  estado  do  antecedente,  no  Arch.  Nac,  Parf.  I,  Mac.  32, 
Doc.  6. 


416  COKPO  DIPLOMÁTICO  POUTUGUEZ 

sit  virlulis  opus  dei  .Ministros  benigno  fauore  prosequi,  ac  eos  verbis  et 
opperibus  pro  Regis  elerni  gloria  veneran,  Serenilatem  luam  Regiam  ro- 
gamus  el  hortamur  alíenle  qualenus  eundem  Blasium  Eleclum  ac  diclam 
ecclesiam  sue  cure  commissam  habens  pro  noslra  et  apostolice  sedis  re- 
uerenlia  propensius  commendalos,  in  ampliandis  et  conseruandis  iuribus 
suis,  sic  eos  benigni  fauoris  auxilio  prosequaris,  quod  ipse  Blasius  Ele- 
clus  tue  celsiludinis  fullus  presidio  in  commisso  sibi  cure  Pastoralis  oííi- 
cio  possit,  deo  propitio,  prosperari ;  ac  Ubi  ex  inde  a  deo  perenmis  vite 
premium  et  a  nobls  condigna  proueniat  aclio  gratiarum. 

Datum  Bononie  Anno  Incarnationis  dominica  Miliesimo  quingentési- 
mo trigésimo  secundo,  Pridie  Kalendas  februarum,  Pontificalus  noslri 
anno  décimo  ^ 


Cédula  cousis^torial. 


1533 — Janeiro  31. 


Reuerendissime  et  Illuslrissime  domine  Domine  mi  Collendissime. 
Hodie  Sanctissimus  in  christo  pater  et  dominus  noster  dominus  Clemens 
diuina  prouidenlia  papa  víi  in  suo  consistorio  secreto,  yt  moris  est,  ad 
relationem  meam,  cum  sanctitas  sua  in  lerris  et  insulis  olim  per  clare 
memorie  Reges  Portugalie  et  Algarbiorum,  tune  in  humanis  agentes,  e  ma- 
nibus  infidelium  ereptis,  ac  de  nouo  inhabüatis  (?)  et  eorum  Icmporali  do- 
minio subieclis,  sancti  Jacobi  et  sancli  Thome  ac  de  Goa,  necnon  sancti 
Michaelis  ecclesias  Cathedrales  ac  ciuitales  et  dioceses  pro  quatuor  epis- 
copis,  qui  fidelibus  partium  illarura  preessent,  de  Reverendissimorum  Do- 
minorura  meorum  sánete  romane  ecclesie  Cardinalium  consilio,  apostólica 
auctoritale  erexisset  et  instiluisset,  et  in  eisdem  insulis,  aul  parlibus  illic 
vicinis  aliqua  sedes  melropolitica,  ad  quam  ipsi  christifideles,  cum  me- 
tropolitana oíTicio  opus  foret,  recurrere  possent,  non  exisleret,  \i  ecclesie 
ipse  sic  de  nouo  erecle  perfectius  dirigentur,  et  iidem  episcopi  eo  res  ec- 
clesiasticas  cum  maiori  malurilale  tractarent  ad  diuini  nominis  laudem  et 

'  Abch.  N.VC.,  Mac.  11  de  Bullas,  n.°  5, 


RELACOES  COM  a  curia  romana  417 

gloriara  el  christifidelium  animarum  salutem,  Serenissimo  principe  Joan- 
ne  Porlugalie  et  Algarbiorum  rege  illuslre  humiüter  supplicante,  ecclcsiam 
funchalensem,  olim  per  felicis  recordationis  Leonera  papara  x  in  Galhedra- 
lem  dicta  aucloritale  erectara,  que  de  iure  patronatos  ipsius  Johannis  re- 
gis  exislit,  tune  per  obitum  bone  raemorie  Didaci  episcopi  funchalensis, 
extra  romanara  curiara  defuncti,  pastoris  solatio  destilutam,  de  simili  con- 
silio  el  apostolice  potestatis  plenitudine  in  raetropolitanara  cura  Archiepis- 
copale  dignitate,  jurisdiclione  et  superiorilale,  ac  crucis  delatione  et  alus 
metropoliticis  insigniis,  dicta  aucloritale  erexit  el  instituil,  ac  illi  ciuita- 
tes  et  dioceses  predictas  pro  prouincia,  el  ipsarum  sancti  Jacobi  et  sancti 
Thorae  ac  de  Goa,  necnon  sancti  raichaelis  ecclesiarura  capitulo,  ac  cle- 
rura  et  populura  ciuitalura  el  diocesium  earundera  pro  suis  prouisioni- 
bus,  clero  et  populo,  Ha  quod  ipsi,  quoad  orania  raelropolilica  et  Archie- 
piscopalia  jura,  necnon  superioritatera  el  jurisdiclionera  pro  terapore  exis- 
tenti  Archiepiscopo  Funchalensi  subiecli  exislerenl,  et  tanquara  raembra 
capili  obsequenles  illi  obedire,  Et  de  eisdera  Archiepiscopalibus  iuribus 
responderé  tenerentur,  concessit  el  assignauit ;  Necnon  Archiepiscopo  fun- 
chalensi pro  terapore  exislenti  vi  in  dicta  sibi  data  prouintia  orania  et  sin- 
gula,  que  alii  archiepiscopi  in  eorura  prouinliis  faceré  et  exercere  con- 
sueuerunt,  faceré  et  exercere,  illeque  et  dicta  ecclesia  funchalensis  ómni- 
bus et  singulis  priuilegiis,  Iraraunitatibus,  exeraptionibus,  fauoribus,  gra- 
tiis,  concessionibus  el  indullis,  quibus  alii  Archiepiscopi  et  ecclesie  Ar- 
chiepiscopales  de  jure,  vel  consueludine  ac  alias  quoraodolibet  vluntur, 
poliunlur  et  gaudenl,  ac  vti,  poliri  et  gaudere  poterunt  quoraodolibet  in 
futurura,  Yli  poliri  el  gaudere  libere  el  licite  valerent  indulsit:  Non  obstan- 
tibus  conslilulionibus  el  ordinalionibus  apostolicis,  Celerisque  contrariis 
quibuscunque.  In  quorura  fidera  presentera  cedulara  fieri  el  noslri  parui 
sigilli  jussimus  et  fecimus  irapressione  rauniri  fecinius  fsicj  eamque  manu 
propria  subscripsimus. 

Datura  Bononie  in  edibus  noslre  solite  residenlie,  Anno  a  natiuilate 
Doraini  millesirao  quingentesirao  trigésimo  lerlio,  die  vero  vltima  raensis 
Januarii,  ponlificalus  prelibati  Doraini  noslri  pape  anno  decirao. — A.  Car- 
dinalis  Sanctorum  qualuor  ^ 

^  Arch.  Nac.  Mac.  13  de  Bullas,  n."  30.  ]^o  verso  do  documento  lé-se:  Copia  ce- 
dule  consistorialis  erectionis  ecclesie  funchalensis  in  metropolitanam  ac  erectionis  qua- 
tuor  parrochialium  in  cathedrales. 

TOMO  ii.  o3 


418  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGÜEZ 


Bulla  do  Papa  Clemente  l^II. 


1533 — Janeiro  31. 


Clemens  episcopus  seruus  seruorura  dei  ad  perpetua m  rei  memo- 
riam. 

Pro  excellenti  preerainentia  sedis  apostolice,  in  qua  posl  bealum  Pe- 
trum  Apostolorum  Principem,  imparibus  licet  meritis,  pari  taraen  auclo- 
ritale  constituli  sumus,  in  irrigue  railitantis  ecclesie  agro  Romanum  Pon- 
lificem  nouas  Episcopales  sedes  ecclesiasque  plantare  dignum  arbitramur, 
vt  per  huiusmodi  nouam  planlationera  populorum  augeatur  deuotio,  diui- 
nus  cultus  floreat,  animarum  salus  eueniat,  et  loca  ad  id  apta  digniori- 
bus  tilulis  et  condignis  fauoribus  illustrentur,  ac  propagatione  noue  sedis 
honoratique  presulis  assistentia  et  regiraine  curn  apostolice  auctoritatis  am- 
plitudine  ac  ortodoxe  fidei  profectu  et  exaltalione  populi  ipsi  propositum 
eis  elerne  felicilatis  premium  facilius  valeant  adipisci,  dignaque  eorum  re- 
Iributio  cederé  possit  alus  in  exemplum.  Sane  cum  Nos  nuper  Cathedra- 
lem  ecclesiam  Funchalensem  in  ínsula  Madere  Regni  Portugallie  consis- 
tenlem,  eideni  sedi  immediate  subiectam,  ac  de  Jure  patronatus  Carissimi 
in  christo  filii  nostri  Johannis,  moderni  Portugallie  et  Algarbiorum  Regis 
Illustris,  ex  priuilegio  apostólico,  cui  non  est  hactenus  in  aliquo  deroga- 
tum,  existentem,  tune  per  obitum  bone  memorie  Didaci,  olim  Episcopi 
Funchalensis,  extra  Romanam  Curiara  defuncti,  Pastoris  regimine  destitu- 
tam,  in  Metropolitanam  erexerimus ;  Et  ínsula  santi  Jacobi  eiusdem  Re- 
gni satis  competenter  habitetur  et  frequentelur,  ac  in  ea  Oppidum  de  Ri- 
beira  grande  satis  celebre  el  in  eo  vna  parrochialis  ecclesia  satis  insignis 
existant,  Nos,  habita  super  hiis  cura  fratribus  nostris  deliboratione  ma- 
lura, de  illorum  Consilio  et  apostolice  poteslatis  plenitudine,  ad  omnipo- 
tentis  dei  laudem  et  gloriara,  ac  totius  Curie  celeslis  iubilationem,  aucto- 
ritate  apostólica  tenore  presentiura,  cura  Johannis  Regis  predicti  ac  dile- 
cti  filii  Martini  A  portugallia  moderni  Electi  Funchalensis  ad  hoc  respe- 
ctiue  expressus  accedat  assensus,  Insulam  sancti  Jacobi  et  Oppidum  ac 
parrochialem  ecclesiam  predicta,  illorumque  districtus,  Territoria,  Villas, 


RELACOES  COM  a  curia  romana  419 

Loca,  íncolas  vtriiisque  sexiis  nunc  et  pro  tempore  existentes,  ac  eccle- 
sias,  Clerum,  Populum,  personas  seculares  et  ordinum  quorumcunque  re- 
gulares, Monasleria,  Hospitalia  el  pia  loca,  ac  beneficia  ecclesiastica  secu- 
cularia  et  ordinum  quorumcunque  regularia,  a  diócesi  Funchalense,  cuius 
antea  erant,  ac  ab  onini  iurisdilione,  superioritate,  correclione,  visitatio- 
ne,  dominio  et  polestate  Archiepiscopi  Funchalensis  nunc  et  pro  tempore 
existentis,  necnon  a  Mensa  Archiepiscopali  Funchalensi  fructus  incertos 
dicte  parrochialis  ecclesie,  iura  Episcopalia  nuncupatos,  qui  per  Episco- 
pum  Funchalensem  pro  tempore  exisíentem  percipi  consueuerant,  Sexa- 
ginta  sex  ducatorum  auri  de  Cámara  secundum  communem  extimationem 
valorem  annuum  non  excedentes,  perpetuo  separamus,  dimenibramus,  exi- 
mimus  ac  totaliler  liberamus;  necnon  Oppidum  prediclum  in  Ciuitatem, 
que  sancti  Jacobi  nuncupetur,  ac  parrochialem  ecclesiam  prediclam  in 
Cathedraiem  sub  eadem  inuocalione  sancti  Jacobi,  ac  in  ea  Episcopalem 
dignitatem  pro  vno  Episcopo  sancti  Jacobi  nuncupando,  qui  eidem  eccle- 
sie sancti  Jacobi  presit,  ac  illius  edificia  ampliari  el  ad  formam  Cathedra- 
lis  ecclesie  redigi  procuret  et  facial,  ac  in  ea  illiusque  Ciuitate  ac  diócesi 
dignitates,  Canonicatus  et  prebendas,  ecclesias,  aliaque  beneficia  ecclesias- 
tica cum  cura  et  sine  cura  erigat  et  instituat,  ac  alia  spiritualia  conferat  et 
seminet,  prout  diuini  cultus  augmento  et  animarum  saluti  cognouerit  ex- 
pediré, cum  sede  ac  Mensa  Episcopali  el  alus  insigniis  ac  iurisdictionibus 
Episcopalibus,  necnon  priuilegiis,  immunilatibus,  facultatibusetgraliis,  qui- 
bus  alie  Calhedrales  ecclesie  el  earum  presules  in  Regno  Portugallie  pre- 
dicto  quomodolibet  vtuntur,  potiuntur  et  gaudent,  ac  vti,  potiri  el  gau- 
dere  poterunt  in  futurum,  perpetuo  erigimus  et  instituiínus ;  ac  eidem  ec- 
clesie sancti  Jacobi  Oppidum  in  Ciuitatem  erectum  pro  Ciuitate,  ac  sancti 
Jacobi  prediclam  et  de  Sanl  antaom  ac  de  San  vincente  et  de  sancta  Lu- 
zia  ac  de  sánelo  Nicolao  et  de  Mayo  ac  do  fogo  et  do  sal  ac  de  Boa  uista 
et  a  braua  ínsulas,  ac  spacium  Tricentarum  Quinquaginta  leucarum  Ierre 
firme  incipiendo  a  flumine  Cambia  prope  promontorium  seu  locum  Cabo 
uerde,  et  continuando  vsque  ad  promontorium  seu  locum  Cabo  de  pal- 
mas, nuncupata,  et  flumen  sancti  Andree  dicli  Regni  illorumque  distri- 
clus  ac  lerritoria  pro  diócesi,  illorumque  Íncolas  et  habitatores  pro  clero 
et  populo,  *ita  vt  in  illis  Episcopus  sancti  Jacobi,  qui  pro  tempore  fuerit, 
Episcopalem  iurisditionem,  aucloritatem  et  poteslatem  exercere  ac  omnia 
el  singula,  que  alii  quicunque  Episcopi  in  suis  ecclesiis,  Ciuilatibus  ac 

53  * 


420  GORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

diocesibus  faceré  quomodolibet  possunt,  faceré  libere  et  licite  valeat;  ac 
Mense  Episcopali  sancli  Jacobi  huiusmodi  pro  eíus  dote  fructus,  redditus 
et  prouentus  incertos  prediclos,  necon  redditus  annuos  Quingentorum  auri 
in  auro  largorum  ex  annuis  redditibus  ad  ipsura  Johannem  Regem  spe- 
ctantibus,  el  per  eum  ad  hoc  liberaliter  assignatos,  perpetuo  concedimus, 
assignamus,  applicamus  et  apropriamus,  ipsamque  ecclesiam  sancli  Ja- 
cobi el  illius  pro  tempore  presulera  eidem  ecclesie  Funchalensi  ac  illius 
pro  tempore  Archiepiscopo  iure  Metropolitico  subiicimus,  ac  in  Suífraga- 
neam  et  SuíFraganeum  respectiue  assignamus ;  necnon  ius  patronatus  et  pre- 
sentandi  infra  annum,  propter  loci  distantiam,  nobis  et  Romano  Ponlifici 
pro  tempore  existenti  personam  idoneam  ad  ipsam  ecclesiam  sancli  Ja- 
cobi, quoties  illius  vacatio,  hac  prima  vice  excepta,  occurrerit,  per  Nos 
el  Romanum  Pontificem  pro  tempore  existentem  in  eiusdem  ecclesie  san- 
cli Jacobi  Episcopum  et  Pastorem  ad  presentationem  huiusmodi  preficien- 
dum  eidem  Johanni  ac  pro  tempore  existenti  Regi  Portugallie  perpetuo 
reseruamus  et  concedimus  :  Non  obstantibus  constitutionibus  et  ordinatio- 
nibus  apostolicis,  ac  dicte  ecclesie  Funchalensis  eliam  iuramenlo  confir- 
matione  apostólica,  vel  quauis  firmitate  alia  roboratis,  statutis  et  consue- 
tudinibus,  ceterisque  contrariis  quibuscunque.  Nulli  ergo  omnino  homi- 
num  liceai  hanc  paginara  nostre  separalionis,  dimembrationis,  exemptio- 
nis,  liberationis,  erectionis,  institutionis,  applicationis,  apropriationis,  as- 
signationis,  reseruationis  et  concessionis  infringere,  uel  ei  ausu  temerario 
contrarié.  Siquis  autem  hoc  atlemptare  presumpserit,  indignationem  om- 
nipotentis  dei,  ac  beatorum  Petri  et  Pauli  Apostolorum  eius,  se  nouerit  in- 
cursurum. 

Datum  Bononie  Anno  Incarnationis  dorainice  Millesimo  quingentési- 
mo trigésimo  secundo,  Pridie  Kalendas  Februarura,  Ponlificalus  nostri 
Anno  Décimo  \ 


'  Arch.  Nac,  JMaQ.  18  de  Bullas,  n.*'  18. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  421 


Cédula  con^iistorial. 


1533 — Janeiro  31. 


Reuerendissirne  et  illustrissime  domine  domine  mi  Colendissime. 

Hodie  Sanclissimus  in  chrislo  paler  et  dominiis  noster  dominus  Cle- 
mens  diuina  prouidenlia  papa  yii,  in  suo  consistorio  secreto,  vt  moris 
est,  ad  relationem  raeam,  Cum  sanctilas  sua  ecclesiam  funchalensem  in 
Ínsula  madere  regni  porlugallie  consistentem,  olim  per  felicis  recordalio- 
nis  leonem  papam  x  in  calhedralem  erectam  et  sedi  apostolice  immediate 
subiectam,  que  de  iure  patronatus  Serenissimi  domini  Joannis  Portugallie 
et  Algarbiorura  Regis  ex  priuilegio  apostólico,  cui  non  est  hactenus  in 
aliquo  derogatum,  existit,  Tune  per  obitum  bone  memorie  Didaci,  olim 
Episcopi  funchalensis,  extra  romanam  curiam  defuncti,  vacantem,  in  me- 
tropolitanam  ecclesiam  cum  archiepiscopali  dignitate,  de  Reuerendissimo- 
rum  dominorum  meorum  sánete  romane  ecclesie  Cardinalium  consilio, 
apostólica  auctoritate  erexisset  et  instituisset,  ac  parrochialis  ecclesia  san- 
cti  michaelis,  seu  alias  in  literis  exprimenda,  in  Ínsula  sancti  michaelis 
eiusdem  regni,  cui  per  vicarium  perpetuum  in  diuinis  deseruiri  consue- 
uerat,  insignis  et  nobilis  ac  cathedrali  honore  digna  censeretur,  ad  om- 
ni poten tis  dei  laudem  et  gloriam  et  honorem  beatissime  et  gloriosissime 
semper  virginis  marie  eius  genitricis,  Necnon  totius  curie  celeslis  iubila- 
lionem,  prefato  Joanne  Rege  hoc  eidem  sanctitati  sue  supplicante,  de  si- 
mili  eorundem  Reuerendissimorum  dominorum  meorum  consilio,  et  apos- 
tolice potestatis  plenitudine,  oppidum,  seu  pagum,  in  quo  dicta  ecclesia 
sancti  michaelis,  siue  alias  nuncupata,  consistit,  ciuitatis  titulo  insigni- 
uit,  illudque  in  Ciuitatem,  que  Sancti  Michaelis  nuncupetur,  ac  dictam 
ecclesiam  Sancti  michaelis  in  Cathedralem  sub  eadem  inuocatione  pro  vno 
episcopo  sancti  michaelis  nuncupando,  qui  illi  presit  ac  illius  edificia  am- 
pliari  et  ad  formam  cathedratis  ecclesie  redigi  faciat  et  procuret,  necnon 
in  ea  ac  illius  Ciuitate  et  diocese  dignitates,  Canonicatus  et  prebendas, 
aliaque  beneficia  ecclesiastica  cum  cura  et  sine  cura  erigat  et  instituat, 
et  alia  spiritualia  conferat  atque  seminet,  prout  pro  diuini  cultus  augmento 


422  GOHPO  DIPLOMÁTICO  POUTÜGUEZ 

el  animarum  salutc  cognoueril  expediré,  cum  sede  el  alus  insigniis  ac  iu- 
risdiclionibus  episcopalibus,  necnon  priuilegiis,  ¡mmunilalibus  el  graciis, 
quibus  alie  Calhedraies  ecclesie  el  alii  presules  dicli  regni  de  iure,  \el  con- 
suetudine  Ylunlur,  potiuntur  el  gaudenl,  ac  vli  potiri  el  gaudere  polerunt 
quomodolibet  in  futurum,  aposlolica  aucloritale  erexil  el  inslituit,  ac  per- 
peluam  vicariam  ipsius  créele  ecclesie  dignilalem  Inibi  posl  ponlificalem 
maiorem  esse,  el  modernuin  ipsius  ecclesie  perpeluum  vicarium  illam  abs- 
que  alia  prouisione  sibi  desuper  facienda  relinerc  posse  voluil ;  Necnon  in- 
sulam  sancli  michaelis,  ac  lerritorium  seu  dislriclum  oppidi  seu  pagi  huius- 
niodi,  pro  diocese  illorumque  íncolas  el  habitalores  pro  clero  el  populo, 
lia  ul  episcopus  sancli  michaelis,  qui  pro  lerapore  fueril,  in  illisepiscopalera 
jurisdiclionem  auclorilalem  el  polestalem  libere  exerceal,  ac  fruclus  eliara 
incerlos  dicle  erecto  ecclesie,  iura  episcopalia  nuncupatos,  qui  per  episco- 
pum  funchalensem  pro  lempore  exislenlem,  lanquam  diclarum  insularum 
ordinarium,  percipi  consueueranl,  valore  cgclx  ducalorum  auri  de  cá- 
mara secundum  coramunem  exlimalionem  non  excedenle ;  Necnon  annuos 
reddilus  ducalorum  ducenlorum  auri  in  auro  largorum  ex  annuis  reddili- 
bus  ad  ipsura  Joannem  regem  in  dicla  Ínsula  sancli  michaelis  spectanli- 
bus,  de  ipsius  Joannis  regís  consensu,  mense  episcopali  dicle  ecclesie  per- 
petuo concessit  el  assignauil  el  applicauil,  ipsamque  ereclam  ecclesiam 
Ínter  alias  Archiepiscopo  funchalensi  pro  lempore  exislenti  subiecil,  el  il- 
lius  presulem  pro  suffraganeo  concessit  el  assignauil ;  ac  jus  palronatus 
el  presenlandí  infra  annum,  propler  loci  dislantiam,  personara  idoncam 
ad  diclam  ereclam  ecclesiam  quoliens  illíus  vacatio,  hac  prima  vice  ex- 
cepta, pro  lempore  occurreril,  romano  ponlificí  pro  lempore  exislenti  per 
eum  eiusdem  ecclesie  Episcopum  el  Pastorem  ad  presentalionem  huius- 
modi  preficiendam  prefalo  Joanni  el  pro  lempore  exislenti  Portugalie  el 
Algarbíorum  Regí  perpetuo  reseruauít  el  concessit.  El  ínsuper  prcfate 
erecle  ecclesie  síc  ab  eadem  primeua  ereclione  vacanti  de  persona  dominí 
Emanuelis  de  noronha  clericí  in  lileris  exprimendi,  In  presbiteralus  ordinc 
conslituli,  de  simili  consílio  dicta  aucloritale  prouídil,  ipsumque  illi  in 
episcopum  prefecil  el  pastorem,  curam  el  administralíonem  eiusdem  créete 
ecclesie  sibi  in  spirítualibus  el  temporalibus  plenarie  commillendo;  ac  cum 
codera  Emanuclc,  vt  slalum  suum  iuxta  ponlificalis  dignitatis  exigentiam 
decentíus  tenere  valeat,  quod  cliam  poslquam  in  vira  prouisíonis  el  pre- 
feclíonis  prcdiclc  pacificara  possessionem  seu  quasi  regimínis  el  adminis- 


RELACOES  COM  a  CUKIA  ROMANA  423 

Irationis  dicte  créele  ecclcsie  ac  Illius  bonorum  seu  maioris  parlis  eorum 
asseculus  fueril,  Et  munus  consecralionis  suscepeiit,  omnia  el  singula  be- 
neficia ecclesiaslica,  cum  cura  el  sine  cura,  secularia,  el  quorumuis  ordi- 
num  regularía,  que  etiam  ex  quibusuis  concessionibus  et  dispensalionibus 
apostolicis  in  lilulum  el  commendam  ac  vi  inuicem  seu  alus  etiam  ad  tem- 
pus  vnila  el  alias  oblinel ;  Necnon  in  quibus  el  ad  que  ius  sibi  quomo- 
dolibet  compelil  quecumque  quodcumque  el  qualiacumque  sint,  etiam  si 
secularia,  Canonicatus  et  prebendas,  dignitales  etiam  maiores  el  principa- 
les, personatus,  administraliones  vel  oíficia,  etiam  cúrala  et  electiua  in  Ca- 
thedralibus,  etiam  metropolitanis,  vel  collegiatis  ecclesiis,  Regularia  vero 
beneficia  huiusmodi,  monasteria,  prioratus,  prepositure,  prepositatus,  di- 
gnitales, etiam  conuentuales,  personatus,  administraliones,  vel  oííicia, 
etiam  cúrala  et  electiua,  et  tam  illa  quam  secularia  beneficia  huiusmodi 
de  iure  palronalus  laicorum,  ac  inter  eum  el  quoscumque  alios  litigiosa 
existant,  vi  prius  quoaduixcrit,  etiam  vna  cum  dicta  erecta  ecclesia  quan- 
diu  illi  prefueril,  retiñere,  ac  in  litigionis  jus  suum  prosequi,  consequi  el 
habere,  et  non  deductum  deduccre ;  necnon  quibusuis  reseruationibus, 
mandalis,  graliis,  dispensalionibus,  indultis,  regressibus,  el  accessibus, 
ac  regrediendi  et  accedendi  ad  beneficia  quecunque,  etiam,  vi  prefertur, 
qualificala,  et  alus  facultalibus  sibi  quomodolibel  concessis,  vli,  et  bene- 
ficia sub  illis  comprehensa  acceplare,  et  illa  sibi  conferri  seu  commendari 
faceré,  illaque,  necnon  si  illa  emineat  beneficia  litigiosa  huiusmodi  conse- 
qui, ac  in  lilulum  et  commendam  vi  prius  quoaduixcrit  retiñere,  ac  quas- 
cunque  pensiones  annuas  sibi  super  quibusuis  fructibus,  redditibus  et  pro- 
uentibus  ecclesiasticis  assignatas,  etiam  ut  prius  quoad  uixerit  percipere  li- 
bere et  licite  valeat,  motu  proprio  dicta  auctorilate  dispensauit;  decernens 
beneficia  óblenla  el  jus  propterea  non  vacare,  et  commendas  non  cessare, 
ac  vniones  dissolutas  non  esse,  necnon  reseruationes,  gratias,  mándala,  dis- 
pensationes,  indulta,  regressus  et  accessus,  ac  facúltales  non  expirare,  el 
pensiones  huiusmodi  extinctas  non  esse,  ¡rritum  quoque  etc.  Ac  voluit  et 
concessit  sanctilas  sua  beneficia  per  ipsum  emanuelem  obtenía,  ac  in  qui- 
bus, el  ad  que  jus  sibi  competit,  illorumque  qualitates,  inuocationes,  de- 
nominationes,  ecclesias,  situationes,  Ciuitates,  dioceses,  ordines,  depen- 
dentias,  ac  veros  annuos  valores,  necnon  pensionum  predictarum  quanli- 
tates,  tam  coniunctim,  quam  diuisim,  el  beneficiorum  litigiosorum  status 
litium,  Necnon  tenores  graliarum  predictarum,  si  opus  fueril,  exprimí, 


424  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

sen  in  loto  vel  in  parle  pro  expressis  haberi  posse,  in  literis  absolueris 
eundem  dominum  Emanuelem  a  censuris  ad  elTectum.  In  quorum  fidem 
prcsenteni  cedulam  fieri,  el  mei  parui  solili  sigilli  jussi  el  feci  impressione 
niuniri,  eamque  manu  propria  subscripsi. 

Dalum  Rononie  in  edibus  noslre  solile  residenlie  Anno  domini  a  na- 
liuitale  eiusdem  millesimo  quingentésimo  Irigesimo  lerlio,  die  vero  vlti- 
ma  mensis  Januarü,  Ponlificatus  prelibati  Sanclissimi  domini  noslri  pape 
anno  décimo.  — A.  Cardinalis  Sanclorum  quatuor  '. 


Cédula  coiifitiistorial. 


1533  —  Feverciro  lO. 


Reuerendissime  el  illuslrissime  domine  domine  mi  Colendissime. 

Hodie  Sanclissimus  in  chrislo  pater  et  dominus  nosler  dominus  Cle- 
mens  diuina  prouidenlia  papa  \ii,  In  suo  consistorio  secreto,  vi  moris 
esl,  ad  relalionem  meam,  ecclesie  funchalensis,  que  de  iure  palronalus 
serenissimi  domini  Joannis  Portugallie  et  Algarbiorum  Regis  llluslris  ex 
priuilegio  apostólico,  cui  non  esl  hactenus  in  aliquo  derogatum,  fore  di- 
gnoscilur,  et  quam  nuper,  tune  per  obitum  bone  memorie  Didaci  episcopi 
funchalensis,  extra  romanam  curiam  defuncli,  vacantem,  ipso  Joanne  rege 
id  supplicante,  sanclitas  sua,  de  Reuerendissimorum  dominorum  meorum 
sánele  romane  ecclesie  Cardinalium  consilio,  el  apostolice  potestalis  ple- 
niludine,  in  Archiepiscopalem  ecclesiam  erexit  et  inslituit,  a  primeua  eius 
ereclione  vacanli  de  persona  Reuerendi  patris  domini  marlini  a  portugal- 
lia,  presbileri  Elborensis,  ipsius  Joannis  Regis  nepolis,  el  apud  sanclita- 
tem  suam  el  sedem  aposlolicam  destinali  oratoris,  quem  idem  Joannes 
Rex  ad  hoc  sanctitati  sue  per  suas  Hileras  nominauil,  de  simili  consilio, 
dicta  auclorilale  prouidit,  ipsumque  illi  in  archiepiscopum  prefecit  et 
paslorera,  primalum  predictarum  insularum,  prout  antea  episcopi  funcha- 

'  Arch.  iNac,  Mac,  12  de  Bullas,  n."  4.  Lé-sc  no  verso  do  dorumcnto  .  Copia  ce- 
diile  consistorialis  de  prefectione  ecclesie  Insulc  sancti  niichaeiis  pro  D.  Emaniiele  de 
Noronha. 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  425 

lenses  pro  tempore  exislenles  appellabanlur,  dici  el  esse  voliiil,  curam  et 
administrationein  ipsius  ecclesie  funchalensis  sibi  in  spirilualibus  et  teni- 
poralibus  plenarie  commitlendo,  ac  cum  eodem  marlino,  yI  eliam  post- 
quam  in  vim  prouisionis  el  prefeclionis  predictc  pacificam  possessionem, 
seu  quasi  regiminis  et  adminislrationis  dicte  ecclesie  funchalensis,  aclllius 
bonorum  seu  niaioris  parlis  eoruní  asseculus  fuerit,  et  munus  conserua- 
lionis  susceperil,  oninia  et  singula  beneficia  ecclesiaslica,  cum  cura  et 
sine  cura,  secutaría  et  quorumuis  ordinum  regularía,  que  etiam  ex  qui- 
busuis  concessionibus  et  dispensationibus  aposlolicis  in  tilulum  et  com- 
mendam,  ac  vt  inuicem  seu  alus  ad  lempus  vnila  el  alias  oblinet,  nec- 
non  in  quibus  et  ad  que  jus  sibi  quomodolibet  competit,  quecunque,  quot- 
cunque  et  qualiacunque  sint,  eliam  si  secularia  Canonicalus  et  prebende, 
dignilales  eliam  niaiores  et  principales,  personalus,  adminislraliones,  vel 
oíTitia,  eliam  cúrala  et  electiua,  in  Calhedralibus  et  metropolilanis,  vel 
collegiatis  ecclesiis ;  Regularla  vero  beneficia  huiusmodi,  monasleria,  prio- 
ralus,  prepositure,  preposltalus,  dignilales,  eliam  conuenluales,  persona- 
lus, adminislraliones,  vel  oíBcla,  etiam  cúrala  et  electiua,  et  tam  illa 
quam  secularia  beneficia  huiusmodi  de  iure  palronalus  lalcorum,  ac  inter 
eum  el  quoscunque  alios  litigiosa  existanl,  vi  prius  quoaduixeril,  etiam 
una  cum  dicta  erecta  ecclesla,  quamdiu  1111  prefueril,  retiñere,  ac  in  11- 
tigiosls  jus  suum  prosequi,  consequl  et  habere,  et  non  deductum  dedu- 
cere ;  necnon  qulbusuis  reseruatlonibus,  mandalis,  grallis,  dcspensatlonl- 
bus,  Indultis,  regressis  et  accessis,  ac  regrediendi  et  accedendi  ad  bene- 
ficia quecumque,  etiam  vt  preferlur  quallficala,  et  allis  facultallbus  sibi 
quomodolibet  concessis,  vti,  et  beneficia  sub  lilis  comprehensa  acceplare, 
el  illa  sibi  conferri  seu  commendari  faceré,  illaque,  necnon  si  illa  emi- 
neat  beneficia  litigiosa  huiusmodi  consequl,  ac  in  tilulum  et  commendam 
vt  prius  quoaduixeril  rellnere,  ac  quoscunque  fruclus,  reditus  et  prouen- 
tus  eccleslaslicos  loco  pensionum  annuarum,  Necnon  quasuis  pensiones 
annuas  sibi  super  similibus  fructlbus  redditibus  et  prouentibus  reserualos 
et  assignatos,  eliam  vi  prius  quoad  uixerit  percipere  libere  et  licile  va- 
leat,  molu  proprio  dicta  auctorilale  dispensauit,  decernens  beneficia  ob- 
tenía et  jus  proplerea  non  vacare,  el  commendas  non  cessare,  ac  vnio- 
nes  dissolulas  non  esse,  necnon  reseruationes,  gralias,  mándala,  dispen- 
sallojies,  indulta,  regressus  et  accessus,  ac  facúltales  non  expirare,  et 
reseruationes  frucluum  el  pensiones  huiusmodi  extinclas  non  esse,  irri- 

TOMO  II.  54 


i26  CORPO  DIPLOMÁTICO  POHTUGUKZ 

turíi  quoque  etc.  Ac  voluil  et  concessit  sanclilas  sua  Beneficia  per  ipsum 
martinum  óblenla,  ac  in  quibus  et  ad  que  jus  sibi  compelil,  iJiorumque 
qualitates,  inuocaliones,  denominaliones,  ecclesias,  situaliones,  ciuilates, 
dioceses,  ordines,  dependentias,  ac  veros  annuos  valores ;  Necnon  fru- 
cluum  reserualorum,  el  pensionum  predictarum  quanlilales,  tam  coniun- 
ctira  quam  diuisim,  et  beneficiorum  liligiosorum  status  litium,  Necnon 
tenores  gratiarum  predictarum,  si  opus  fuerit,  exprimi,  seu  in  loto  ve! 
in  parte  pro  expressis  haberi  posse  in  literis,  absolueris  eundom  domi- 
num  Martinum  a  censuris  ad  eífectum.  In  quorum  fidem  presentera  Ce- 
dulam  fieri  el  nostri  parui  sigilli  impressione  rauniri  fecimus,  eamque 
manu  propria  subscripsimus. 

Datum  Bononie  in  edibus  nostre  solite  residentie,  anno  a  natiuilate 
domini  millesimo  quingentésimo  trigésimo  tertio,  die  vero  decima  mensis 
februarii,  Ponlificalus  prelibati  Sanctissimi  domini  noslri  pape  anno  dé- 
cimo.—  A.  Cardinalis  Sanclorum  quatuor  \ 


Moto  proprio  do  Papa  Cleiiientc  l^II. 


1583 — Feverelro  16. 


Molu  proprio  etc.  Venerabili  fralri  Henrrico  Archiepiscopo  Elboren- 
si,  Charissími  in  christo  filii  nostri  Johannis  Portugallie  et  Algarbiorum 
Regís  Illustris  fralri  germano,  vi  slalum  suum  iuxta  ponlificalis  dignila- 
tis  exigentiam  deccntius  lenere  valeal,  de  alicuius  subuenlionis  auxilio 
prouidere  volenles,  sancli  Johannis  de  larouca,  cuius  ad  cccc  et  mouem, 
ac  sancti  michaelis  de  Refoyos,  cuius  ad  cccc,  necnon  beale  marie  de 
ceica,  cuius  ad  lxvi  cum  duobus  lerliis  allerius  similis  floreni,  el  cuius 
ad  quinquaginla  llórenos  auri  de  camera  in  libris  camere  apostolice  la- 
xali  reperiuntur,  sancli  Johannis  de  longovares  monastcria,  ac  cuius  su- 
per  quibus  ponsio  annua  Cenlum  ducalorum  auri  de  ciimera  dilecto  filio 
noslro  marcello  liluli  sánele  Crucis  in  hierusalem,  presbilero  Cardinali 


*  Abch.  Nac,  Ma(j.  13  de  Bullas,  n."  8.  Diz  no  verso:  Copia  cedule  consístoriali.s 
de  prefectione  ecclesie  metrópoli  lañe  funchalcnsis  pro  D.  Marlino  a  porlugalia. 


UELACOES  COM  a  curia  HOMANA  427 

Cernino  nuncupalo,  illain  annuatim  percipienli  apostólica  aucloritate,  \t 
accepimus,  reseruata  exislit,  cccc  ducatorum  similium  fruclus  ele.  secun- 
duDí  communem  extimationem  valorem  annuura  non  excedunl ;  priora- 
tum  monasterii  per  priorem  gubernari  soliti  de  Carquere,  Gislerciensis  el 
sancti  Benedicli  ac  sancti  auguslini  canonicorum  regularium  seu  aliorum 
ordinum,  Lamacensis  et  Bracharensis  ac  Colimbriensis  et  forsan,  seu  alias, 
seplensis,  vel  aliarum  diocesium,  que  quondam  Eduardus  eleclus  Bracha- 
rensis ex  concessione  el  dispensalione  apostólica  in  commendam,  dum 
viuerel,  obtinebat,  commenda  huiusmodi  per  obitum  dicli  Eduardi  elecli 
extra  Romanam  Curiara  in  nouembris  proxiine  pretérito,  seu  alio  in  lit- 
leris  exprimendo  mense,  defuncli  cessanle,  adhuc  eo  quo,  dum  eidem 
Eduardo  electo  comraendata  fuerunl,  vacabanl  modo  vacantia  quibusuis 
modis,  quos,  etiam  si  ex  illis  queuis  generalis  reseruatio  eliam  in  corpore 
iuris  clausula  resultel,  haberi  volumus  pro  expressis,  et  ex  quorumuis 
pcrsonis  seu  per  liberas  quorumuis  cessiones  de  regimine  el  administra- 
lione  monasteriorum,  aut  resignationem  de  prioralu  huiusmodi  in  dicta 
curia  et  nostris  seu  alicuius  predecessoris  nostri  manibus,  ac  apud  se- 
dera apostolicam  vel  extra  eam,  eliam  corara  notario  publico  et  teslibus 
spontefactis,  aut  prioratus  huiusmodi  per  conslitutionem  execrabilis  vel 
assecutionem  etc.  vacent,  etiara  si  deuoluta,  el  diclus  prioratus  aíFectus 
specialiter  vel  ex  quauis  causa  in  litleris  etiam  dispositione  exprimen, 
generaliter  reseruatus,  curatus,  elecliuus,  Conuentualis,  et  tara  ille  quam 
monasleria  huiusmodi  litigiosa,  cuius  litis  statum  etc.  exislant,  el  ex  quauis 
causa  prouisio  diclorura  monasteriorum  ad  dictara  sedera  specialiter,  vel 
generaliter  pertineat,  ac  de  illis  consislorialiter  disponi  consueueril  seu 
debeat,  eidem  Henrrico  Archiepiscopo  per  eura  quoaduixerit,  etiara  vna 
cura  ecclesia  Elborensi,  cui  preesse  dinoscitur,  ac  ómnibus  et  singulis 
alus  monasteriis  el  beneficiis  ecclesiaslicis,  cura  cura  el  sine  cura,  secula- 
ribus  el  regularibus,  que  in  titulum  el  Commendam  ac  alias  oblinet  el 
imposlerum  oblinebit,  ac  fruclibus  etc.  ecclesiaslicis;  necnon  pensionibus 
annuis  etc.  tenenda  etc.,  Ha  quod  liceat  sibi  de  fruclibus  etc.,  Commen- 
damus.  Ac  persone  seu  personis  per  nos  norainande  seu  norainandis,  vt 
commodius  sustentan  valeant,  de  alicuius  subuentionis  auxilio  prouidere 
volentes,  vnam  seu  duas  aut  plures  pensionera  annuara  seu  pensiones 
annuas  mille  ducalorum  auri  similium  super  de  tarouca  et  de  Refoios  ac 
de  ceica  el  de  longovares  monasteriorum,  necnon  prioratus  predictorum 

55  * 


428  GORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

fruclibus,  ele.  eliam  s¡  supor  illis  alie  pensiones  annue  alus  assignale  sint, 
el  omnes  pensiones  Iiuiusniodi  insimui  mediclalem  eorundem  frucluum 
ele.  respecliue  excedant,  seu  omnes  illos  absorbeant,  persone  seu  perso- 
nis  huiusmodi,  quoad  uixerint,  ve!  eorum  procuraloribus  legilimis  per  di- 
clum  Henrricum  Archiepiscopum  et  successores  suos  de  larouca  el  de  Re- 
foios  ac  de  ceica  et  de  longovares  monasleria,  necnon  prioratum  huius- 
modi in  tilulum  vel  commendam,  aul  alias  pro  lempore  oblinenles  in  Ro- 
mana curia,  et  terminis  in  littcris  slaluendis,  annis  singulis  sub  senten- 
lüs,  censuris  et  penis  in  similibus  apponi  solitis,  integre  persoluendam 
seu  persoluendas,  reseruamus,  constituimus  et  assignamus  de  gratia  spe- 
ciali,  non  obslanlibus  nostra  de  non  expediendis  litteris  alicuius  pensio- 
nis  annue  nisi  de  consensu  illam  soluere  habentis,  et  lateranensis  conci- 
lii  nouissime  celebrati  pensiones  annuas  super  fruclibus  etc.  monaslerio- 
rum  assignari  prohibentis,  ac  quibusuis  alus  conslilutionibus  et  ordina- 
tlonibus  aposloHcis  slalutis  ele.  necnon  priuilegiis,  indullis  el  litteris  apos- 
lolicis  sub  quibuscumque  tenoribus  el  formis,  ac  cum  quibusuis  clausulis 
et  decretis,  eliam  contra  commendas  quomodolibel  concessis  etc.  quibus 
ómnibus  in  iiüeris  lalissimo  extcndeñ.  eliam  si  de  eis  etc.  illorum  teno- 
res etc.  hac  uice  dumlaxat  specialiter  et  expresse  derogamus  et  suííicien- 
ler  derogatum  esse  decernimus,  Celerisque  conlrariis  quibuscumque,  cum 
clausulis  opporlunis  et  consuelis.  —  Fiaí  vt  pelitur.  A. 


El  cum  absolutione  a  censuris  ad  eífectum  etc.  tam  pro  Henrrico 
Archiepiscopo,  quam  personis  vt  preferlur  nominandis,  eliam  in  casibus 
regulie  de  insordesceñ.  cum  opporluna  illius  derogalioue  el  ob- 

slantie  beneficiales  Henrrici  Archiepiscopi  ac  personarum  nominandarum, 
necnon  veri  et  vltimi  monasleriorum  et  prioratus  predictorum  vacationum 
modi,  eliam  si  ex  illis  queuis  generalis  reseruatio  eliam  in  corpore  iuris 
clausula  resullet,  habeanlur  pro  expressis,  seu  in  loto,  vel  in  parle  ex- 
primí possinl,  El  cum  clausula  generalem  reserualionem  importan,  qua- 
liscunque  sil  et  ex  quauis  causa  resullet,  eliam  dispositione  exprimen.  Et 
de  monasteriis  ac  prioralu  predictis  in  commendam  ad  vilam  pro  eodem 
Henrrico  Archiepiscopo,  eliam  vna  cum  ccclesia  Elborensi  ac  alus  oblen- 
tis  et  oblinendis,  ac  fruclibus  etc.  ecclesiasticis,  necnon  pensionibus  annuis 
etc.  lia  quod  liceat  sibi  de  fruclibus,  Et  litlere  in  forma  simplicis,  vel 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  429 

noue  coinmende  perinde  el  eliam  valere  gralie,  si  neulri,  si  iiiilli,  si  al- 
leri  surrogalionis  etiam  quoad  possessionem  cum  derogalione  regule  de 
non  surrogandis,  non  collitigañ.  aut  alias,  proul  \'l¡Iius  videbitur,  expri- 
men, seu  pro  expressis  habendo  stalum  el  nierila  lilium  el  causarum  de- 
super  forsan  pendentium,  ac  nomina  el  cognomina  judicum  el  coililigan- 
lium,  ac  jus  et  lilulos  eliam  infecliuos  eorum  simul,  vel  separalim  expe- 
diri  possint ;  Et  cum  gralificalione  opporluna  pro  eodem  Henrrico  Ar- 
chiepiscopo  qualenus  illi  locus  sil,  eliam  contra  pariler  vel  magis  gratifí- 
calos el  qualificalos  latissime  extenden. ;  El  de  vna  seu  duabus  aut  pluri- 
bus  pensionibus  annuis  insimul  mille  ducalorum  similium,  que  Iranseant 
ad  successores,  et  quouis  pretextu,  etiam  ad  successorum  prediclorum  ins- 
tantiam,  ad  minorem  sumam  reduci,  aut  anullari,  vel  inualidari  non  pos- 
sint, cum  decreto  desuper  opporluno  latissime  exlendeií.  pro  persona,  seu 
personis  per  nos  vi  preferlur  nominandis,  el  cum  derogalione  regule  de 
consensu  in  pensionibus  prestando,  et  dicli  lateranensis  concilii  ac  slatu- 
torum  etc.  necnon  priuilegiorum,  indullorum  el  lilterarum  aposlolicorum 
forsan  contrariorura,  quorum  omnium  tenores  latissime  exprimí  possint; 
adeo  vt  omnia  tollanlur  et  in  aliquo  non  obslenl,  El  quod  premissorum 
omnium  et  singulorum  etiam  qualitalum,  inuocalionum,  denominalionum 
annexorum  etfrucluum,  eliam  secundum  communem  extimalionem  expri- 
mendo,  ac  augendo,  vel  minuendo,  quantum  opus  fuerit,  regula  non  ob- 
stante, necnon  cognominum  ordinum,  dependenliarum,  aliorumque  neces- 
sariorum  maior  el  verior  specificacio  fieri  possit  in  lilteris  super  vnoquo- 
que  premissorum,  in  vna  non  facía  menlione  de  alus,  proul  videbitur  ad 
partem  expediendis  ^  fA'  margemj  Fiat.  A. 


Comenda  monasteriorum  ad  supplicationem  Serenissimi  Domini  Re- 
gis  porlugallie  cura  pensione  mille  ducalorum  pro  persona  seu  personis 
per  Sanctitatem  veslram  nominandis  ^ 

Roma  apud  Sanclum  petrum  xiiii.  Kalendas  Martii  anno  x.  \ 

^  Esta  segunda  parte  do  documento  está  escripta  em  Hnhas  mais  curtas. 

^  No  fundo  da  pagina,  e  por  outra  letra. 

'  Arch.  Nac,  Mac.  14  de  Bullas,  n."  22,  Noversodo  documento  lé-se:  Pera  el-Rcy 
nosso  Senhor. — Treslado  da  suppricacao  assinhada  por  Sua  Sanctidade  sobre  os  mos- 
teiros  que  vagarom  por  falecimento  do  Senhor  Dom  Duarte  que  déos  them. 


430  COiiPO  DÍPLOVIATICÜ  POUTIIGUEZ 


Hulla  fio  l*apa  Clciiieiile  Wll. 


1533— Abril   9. 


Glemens  episcopus  servus  servorum  dei  ad  futuram  rei  memoriam. 

Sempiterno  Regi,  qui  gregem  suum  nobis  licet  immerilis  sua  cle- 
nienlia  el  pietale  commisil,  eiusdem  nobis  credili  gregis  in  extremo  judi- 
cio  ralioneni  reddituri,  summis  sludiis,  quos  ab  cquitalis  (et)  justicie  li- 
niitibus  humani  generis  emuius  suis  suggestionibus  sepe  diuerlit,  salua- 
lori  nostro,  qui  non  mortem  sed  penitenliam  dcsiderat  peccatorum,  ul  in 
ipsa  ralione  rcddenda  diuinac  justiciae  possimus  euadere  ullionem,  recon- 
ciliare studemus ;  el  qui  suos  detestari  uoluerint  errores,  (ul)  sorde  mun- 
dali,  illius,  qui  misericordiarum  paler  csl,  gratiam  consequi  mereantur, 
ac  juris  mitigando  rigorem  apostolicis  fauoribus  et  gralüs  confouemus, 
eorumque  saluli  prouidemus,  prout  personarum  et  lemporum  qualitate 
pensata,  conspicimus  salubriter  expediré.  Dudum  siquidem  per  nos  acce- 
pto  quod  in  plcrisque  partibus  Regni  Porlugalliae  el  Dominiis  Cbarissimi 
in  christo  íilii  nostri  Johannis,  Porlugalliae  et  Algarbiorum  Regis  Illus- 
tris,  NonnuUi  ex  hebraica  perfidia  ad  chrislianam  fidem  conuersi,  chris- 
liani  noui  nuncupati,  ad  ritum  Judeorum  a  quo  discesserant  rediré,  et 
alii,  qui  nunquam  hebraicam  sectam  professi  crant,  sed  chrislianis  paren- 
libus  procrcnti,  ritum  eundem  obscruare,  el  alii  luthcranam  ac  alias  de- 
prauatas  heieses  el  errores  sequi,  ac  sortilegia  hcrcsim,  manifesté  sapien- 
lia  instigante  humani  generis  inimico,  committere  non  uerebantur,  in  gra- 
uissimam  diuinae  maieslalis  oífensam  et  orlhodoxe  fidei  scandalum  :  Nos, 
ne  huiusmodi  pestes  in  perniciem  aliorum  fidclium  sua  uenena  diflunde- 
rent,  Dileclum  filium  Didacum  de  Sylua,  ordinis  fratrum  minimorun) 
Sancti  Francisci  de  Paula  professorem,  in  nostrum  et  apostolicae  sedis 
commissarium,  ac  super  premissis  inquisitorem  in  Rcgno  el  dominiis  pre- 
dictis,  cum  plena  facúltale  contra  de  huiusmodi  Criminibus  reos  aut  sus- 
pectos  inquirendi,  cosque  carcerandi  puniendi  el  corrigendi,  per  quas- 
dam  constituimus  ct  dcpulauimus,  Et  deinde,  ex  certis  rationabilibus  cau- 
sis, prcdiclas  el  quascunquc  alias  lillcras  noslras,  ac  |»cr  illas  oalenus 


HELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  m 

eidem  Didaco,  ct  quibusuis  alus,  etiam  locorum  ordinarüs  super  preinis- 
sis  concessas  facúltales  el  commissiones,  per  alias  nostras  Hileras  ad  nos- 
trum  beneplacilum  suspendimus,  Venerabili  fralri  Marco  Episcopo  Seno- 
galliensi,  apud  eundem  Regem  nostro  et  dictae  sedis  Nuncio,  inter  alia 
danles  in  mandalis  ul  Didaco  el  ordinarüs  predicUs,  ac  aliis  inquisilori- 
bus  posteriores  litteras  predictas  inlimaret,  et  suspensionem  ipsam  inuio- 
labiliter  obseruari  faceret,  prout  in  singulis  litteris  prediclis  plenius  con- 
tinetur.  Nos  aulem,  qui  non  sine  graui  menlis  noslrae  perturbalione  ac- 
cepimus  quod  nonnulli  ex  suspeclis  de  criminibus  prediclis  a  quadraginla 
annis,  uel  circa,  ex  judaismo  el  mahomética,  ac  aliis  sectis,  quibus  tune 
obcecati  erant,  ad  íidem  chrisli  el  illius  sacrum  baplisma  suscipiendum 
coacti  fuerunt ;  alii  uero,  licel  sponte  sua  conuersi  seu  de  parenlibus 
chrislianis  procreali  fuerunt,  lamen  ob  predictorum  indiscreta  commer- 
cia,  uel  alias  diabólica  instigatione  persuasi,  etiam  in  predictas  et  alias 
diuersas  hereses  et  errores  eodem  insligante  inimico  lapsi  fuerunt,  alii- 
que  quaraplurima  crimina  conimiserunt  et  ¡n  dies  labantur,  Volentes  ad 
premissorum  extirpationera,  circa  quam  máxima  diligentia  et  perscrutatio 
necessariae  existunt,  Ha  prouidere  ut  ñeque  illi,  qui  de  nouo  conuersi 
sunt  quod  diligentia  nostra,  quam  in  illis  ab  erroribus  preseruandis  et  in 
calholica  fide  confirmandis  adhibere  debemus,  sibi  dcfuerit,  noque  hii  qui 
inter  ecclesiae  membra,  propterea  quod  uiolenter  baptizati  fuerunt  nume- 
rari  non  dcbent,  quod  contra  omnem  equilalem  et  juslitiam  ab  ecclesia 
tanquam  chrisliani  corrigantur  et  castigentur,  juste  conqueri  possint,  et 
circa  reos  antequam  seuerae  inquisitionis  uim  sentiant,  lia  prouidealur 
ut  inexcusabiliter  in  fulurum  se  peccaturos  esse  ¡ntelligant ;  et  interea  boni 
a  malis  segregali  diuinis  laudibus  deuotius  insistere  ualeant,  Ac  ipsi  con- 
uersi ob  eorum  conuersionem  huiusmodi,  propter  quam  honorari  et  fa- 
uoribus  amplecti  merentur,  absque  eorum  culpa  uituperari  atque  con- 
lemni  a  nobis  non  uideanlur ;  nec  ipsi  aut  alii  predicti  prius  ecclesiasli- 
cae  disciplinae  gladium  sentiant,  quam  chrislianae  mansuetudinis  linita- 
tem  et  prouidentiam  experti  fuerint,  et  ex  eisdem  cecitalibus  ad  uerum 
lumen  huiusmodi  conucrti  uolentes,  aduersus  seueritates  el  rigores  juris 
huiusmodi  aliquali  benignilalc  et  misericordia,  ac  spacio  ad  resipescen- 
dum  gaudere  ualeanl,  singularum  prcdiclarum,  el  aliarum  quarumcunque 
per  nos,  ac  etiam  quoscunque  aüos  Romanos  Pontifices  predecessores  nos- 
tros  super  premissis,  concessarum  lillerarum,  ac  sententiarum,  proces- 


432  COHPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

suuní  el  alioriim  quorumcunque  aclorum  liaclonus  contra  eosdom  suspe- 
clos  et  culpabiies  lalariim  el  formalorum  Icnores,  ac  omnium  el  singulo- 
rum  lam  nouiler  conuersoium,  quam  üliorum  vln'usque  sexus  super  pre- 
niissis  culpabiiium  aul  suspeclorum,  ac  judicum  quorumcumque  nomina 
el  cognomina,  necnon  heresum  huiusmodi  qiialilales,  quanlilales,  circun- 
slanlias  el  lilium,  ac  causarum  huiusmodi  slalus  el  merila,  ac  alia  for- 
san  de  necessilale  exprimenda,  presenlibus  pro  expressis  habenles,  cau- 
sasque  ipsas,  prelerquam  quoad  relapsos,  ad  nos  aduocanles,  el  liles  hu- 
iusmodi penilus  exlinguenles,  Molu  proprio,  non  ad  ipsorum  suspeclorum 
el  culpabiiium,  uel  quorumuis  aüorum  nobis  super  hoc  óblale  pelilionis 
inslanliam,  sed  de  noslra  mera  deliberalione  ac  cerla  scienlia,  ac  de  apos- 
toücae  poleslalis  pleniludine,  omnes  et  singulos  utriusque  sexus,  lam  no- 
uiler conuersos  quam  alios  quoscunque  de  premissis  culpabiies  aul  sus- 
pectos  ex  diclis  regnis  el  dominiis  oriundos,  ac  in  eis  degenles,  forenses 
el  alienígenas  undecunque  uenerinl,  qui  pro  tempore  publicalionis  pre- 
senlium  lillerarum  per  eundem  Marcum  Episcopum  et  Nuncium,  uel  ab 
eo  deputatos  seu  depulandos  in  singulis  Giuitalibus  et  diócesis  regnorum 
et  dominiorum  huiusmodi  faciende,  in  illis  domicilium  uel  habilationem 
habuerinl,  ac  etiam  ¡llorum  filios,  nepotes  el  descendentes,  lam  presentes 
quam  absentes,  seu  qui  ab  eisdem  regnis  et  dominiis  alias  recesserunt, 
etiam  si  exules  el  bannili  fuerin!,  qui  eidem  Marco  Episcopo  uel  alicui 
altcri  ex  sacerdolibus  et  confessoribus  per  eum  ad  id  depulandis,  presen- 
tes \idelicet  in  Regnis  et  dominiis  prediclis  infra  tres,  a  die  eiusdem  pu- 
blicalionis, absentes  uero  ab  eis,  infra  quatuor,  seu  plures  aul  pauciores, 
qui  arbitrio  Nuncii  videbunlur  esse  necessarii,  a  die  earundem  presen- 
lium  per  eos  habendae  nolitiae,  compulandos  menses,  predicta  et  alia  que- 
cunque,  quotcunque  el  qualiacunque  sua  Crimina,  excessus,  delicia  et 
peccata,  confessi  fuerinl,  ac  quorum  nomina  et  cognomina  in  aliquo  li- 
bro uel  mcmoriali  per  eosdem  confessores  descripta  fuerinl,  etiam  si  illi 
ecclesiaslici  seculares,  aul  quorumuis  ordinum  regulares,  et  militiarum 
milites,  ac  in  quibusuis  gradibus,  dignilatibus,  et  ordinibus  consliluli,  et 
lam  illi  quam  alii  laici,  el  utriusque  sexus  personae  cuiusuis  status  et 
condilionis  exislanl,  etiam  si  illi  haclenus  et  in  futurum  diclis  mensibus 
durantibus  in  Hegnis  et  dominiis  prediclis,  uel  extra  illa  tanquam  here- 
lici  senlentialiler  condemnali,  el  ul  tales  ipsi  el  illorum  bona  publícala, 
aul  pro  lalibus  accusali,  inquisili,  publice  uel  occulle  difTamati,  el  ul  la- 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  433 

les  habili,  reconciliati,  el  contra  eos  sententiae  desuper  lalae  el  execiilae, 
uel  illi  propterea  carcerali  exliterint,  ab  ómnibus  el  singulis  per  eos  eate- 
nus  perpetratis,  eliam  hereses,  el  ab  eadem  fide  aposlasias,  blasphemias, 
el  alios  quoscunque,  eliam  máximos  errores  sapienlibus,  eliam  quanlum- 
cunque  grauibus  el  qualificalis  peccalis,  criminibus,  excessibus,  delicUs, 
eliam  sub  generali  expressione  de  jure  uel  alias  non  uenienlibus  el  spe- 
cialem  nolam  requirenlibus ;  necnon  excommunicationum,  suspensionum, 
interdictorum  el  alus  ecclesiasticis,  ac  lemporalibus,  corporalibus  el  eliam 
capilalibus  senlentüs,  censuris,  el  penis,  a  jure  uel  ab  homine,  eliam  a 
prefatis  el  qui  pro  lempore  fuerinl  inquisiloribus  herelicae  prauitalis  hu- 
iusmodi,  premissorum,  el  alia  occasione  uel  causa  lalis  el  promulgalis, 
eliam  si  in  illis  ab  eisdem  quadraginta,  el  ullerioribus  annis  insordue- 
rinl,  ac  ülorum  absolulio  nobis  el  pro  lempore  exislenli  Romano  ponli- 
fici,  el  eidem  sedi,  eliam  juxta  illarum,  quae  in  die  Goenae  Domini  legi 
consueuerunt,  ac  aliarum  lillerarum  el  processuum  aposlolicorum  teno- 
rem,  el  alias  quomodolibel  reseruala  exislant,  quorum  omnium  qualita- 
les,  quanlilales,  el  circunstanlias  presenlibus  eliam  haberi  uolumus  pro 
expressis,  a  prauilalis  uidelicet  herelicae  huiusmodi  in  ulroque  foro  ciui- 
li,  criminali,  conlencioso,  conscienliae,  el  animae  penilus  el  plenarie,  a 
reliquis  uero  criminibus,  prauilatem  huiusmodi  non  sapienlibus,  in  foro 
conscienliae  duntaxal,  ex  nunc  proul  ex  lunc,  el  e  conlra,  preuia  quo 
ad  forum  conscienliae  cordis  conlrilione,  el  oris  confessione,  auclorilale 
apostólica  lenore  presenlium  absoluimus ;  Ac  eosdem  carceralos  uel  alias 
delenlos,  el  exules,  eliam  a  carceribus,  exiliis,  el  bannis,  quibus  occa- 
sione criminum  heresis  el  aposlasiae,  ac  blasphemiae  huiusmodi  detenli 
el  condemnali  existunl,  relaxamus  el  liberamus,  ac  relaxari  el  liberari 
mandamus  ;  el  tam  illis  quam  alus  alia  occasione  uel  causa  delenlis,  uel 
exulibus,  doñee  ab  eis  a  quibus  delinentur  relaxenlur,  el  ab  eis  ad  quos 
id  spectal  saluus  conduclus  ac  aliae  necessariae  securilales  eis  concedan- 
lur,  dicti  menses  currere  non  incipianl,  dummodo  lamen  ipsi  a  die  no- 
tiliae  presenlium  lillerarum  in  aliquam  heresim  cecidisse,  uel  in  ueleri 
errore  preslilisse  non  conuincanlur,  concedimus.  Necnon  cum  eis  tam 
presenlibus  quam  quomodolibel  absentibus,  ac  eliam  cum  clericis,  el  alus 
secularibus,  elquorumuisordinum  regularibus  ecclesiasticis  personis,  eliam 
quecunque,  quolcunque  el  qualiacunque  beneficia  ecclesiaslica,  secutada, 
el  quorumuis  ordinum  regularla,  eliam  si  secularia  Ganonicalus  et  pre- 

TOMO  11.  5S 


434  CORPO  DlPLOxMATICO  PORTUGUEZ 

bendae,  dignitates,  eliam  maiores  posl  Pontificales,  el  principales,  ac  Con- 
uenluales  personalus,  adminislraliones  el  officia,  eliam  cúrala  el  elecliua 
in  Galhedralibus,  eliam  Metropolilanis,  el  collegialis  ecclesiis,  Regulada 
vero  beneficia  huiusmodi  Monasleria,  eliam  dignilales  conuenluales,  pre- 
ceploriae,  eliam  cúrale  el  elecliue,  el  alias  cuiuscunque  qualilalis  fuerint, 
oblinenlibus,  eliam  si  Archiepiscopali,  Episcopali,  Abbatiali,  Magislrali, 
el  alia  quacunque  dignilale  prefulgeanl,  super  irregularilale  per  eos  pre- 
missorum  heresum  el  aposlasiae,  uel  blasphemiae  criminum  occasione  uel 
causa,  ac  eliam  qui  sic  ligali  missas  el  alia  diuina  officia  forsan,  non  la- 
men in  contemplum  clauium,  celebrauerint,  aut  alias  illis  se  immiscue- 
rinl,  contracla ;  El  cum  hüs  qui  promoli  non  sunl,  ul  ad  omnes,  eliam 
sacros  el  presbiteratus  ordines  promoueri,  el  in  illis  tain  illi  quam  qui 
tune  eliam  posl  dicta  crimina  perpétrala  el  absolulionem  huiusmodi  pro- 
moli erunt,  eliam  in  allaris  ministerio  ministrare,  ac  beneficia  ecclesias- 
tica,  eliam  ut  premillitur,  el  alias  qualitercunque  qualificala  eis  canonice 
conferenda  recipere,  illaque  el  alia  per  eos  tune  obtenía  retiñere,  ac  eliam 
tam  ipsi  ecclesiaslici  et  regulares  ac  Milites,  quam  laici  el  mulleres,  eorum- 
que  filii,  nepotes  el  descendentes,  ad  gradus,  honores,  ordines,  officia, 
el  alias  qualilates  assummi,   illaque  suscipere  et  exercerc,  ac  illis  et 
alus  similibus  et  dissimilibus  iam  susceptis  uti ;  Necnon  uestes  sericeas 
et  panni  cuiuscunque,  eliam  rubei  colorís,  ac  aurum,  argentum,  gem- 
mas,  et  alia  jocalia,  necnon  ensem  et  arma  eorum  slalui  condecentia  de- 
ferre,  super  equos  et  muías  equilare,  ac  ómnibus  el  singulis  alus  priui- 
legiis,  ex.emplionibus,  fauoribus,  gratüs,  imraunitatibus,  liberlalibus,  et 
concessionibus,  quibus  alii  christifideles,  eorumque  filii  el  nepotes,  ac  ab 
eis  descendentes  \1untur,  poliunlur,  el  gaudent,  ac  vli,  potiri,  el  gau- 
dere  poterunl  quomodolibet  in  fulurum,  vli,  potiri  et  gaudere  libere  et 
licite  ualeant  in  ómnibus,  el  per  omnia,  per  inde  ac  si  ipsi,  eorumque 
aui,  proaui,  párenles,  et  alii  genitores  ueri  chrisliani  fuissent,  el  nunquam 
a  fide  calholica  deuiassenl,  de  specialis  dono  gratiae  dispensamus,  cisque 
pariter  indulgemus,  omnemque  inhabilitalis  el  infamiae  maculara  siue  no- 
tara circa  eos,  preraissorum  occasione,  tara  ex  propriis,  quam  illorum  pa- 
rentum,  consanguineorum,  el  atíinium  culpis,  et  senlentiis,  earuraque  exe- 
culionibus,  et  alias  quomodolibet  insurgentes,  ab  eis  penilus  el  omnino 
aboleraus,  ac  confiscationes  bonorum,  si  quae  eatenus  faclae  fuerint,  quo- 
rum lamen  possessio  pro  eodem  fisco  apprehensa  non  fuerint,   necnon 


RELACOES  COM  A  CURIA  ROMANA  435 

processus  contra  eos  et  eorum  singulos  formatos,  sententiasque  latas,  ac 
dictis  mensibus  durantibus  formandos  et  ferendas,  necnon  informaliones, 
el  alia  quecunque  acia  el  gesta  ordinaria,  el  extraordinaria,  in  judilio, 
et  extra,  contra  eos  haclenus  facía,  ac  ex  nunc  proul  ex  tune,  el  e  con- 
tra eisdem  mensibus  durantibus  facienda.  Quorum  omnium  tenores,  sta- 
tus, et  merila,  etiam  presentibus  haberi  uolumus  pro  expressis,  cassa- 
mus,  irritamus,  delemus,  et  annullamus,  Ac  cassala,  irrita,  delela,  et 
annullata  fore  decernimus ;  Ipsaque  bona  sic  confíscala  el  confiscanda, 
eis  a  quibus  ablata  fuerint,  si  eidem  fisco  incorpórala  non  sint,  remitli- 
mus,  donamus,  reslituimus,  cosque  el  illa  in  prislinum  et  eum,  in  quo 
ante  premissa,  el  tempore  quo  baptizali  fuerunt,  erant,  slatum  reslituimus, 
reponimus,  el  plenarie  reintegramus.  El  insuper  auctoritate  el  tenore  su- 
pradiclis  statuimus  el  ordinamus  quod  Nuncius  et  singuli  confessores  pre- 
dicti  quibusuis  eis  durantibus  mensibus  supradictis  confessis,  eliam  de 
dictis  criminibus  non  culpabilibus,  nec  suspectis  in  dicto  libro  describen- 
dis,  si  id  petierinl,  pro  illorum  super  premissis  tutiori  cautela,  aliquam 
cedulam  uel  scripluram  authenlicam  manu  propria  subscriplam,  uel  ipsius 
Nuncii  sigillo  munitam,  in  lestimonium  premissorum  gratis,  el  absque  ali- 
qua  exaclione,  concederé  possint  et  debeant ;  qua  perpetuis  fuluris  lem- 
poribus  per  eos  exhibita  uel  ostensa,  illam  habenles  uel  eliam  absque 
illa  in  dicto  libro  descripti  et  annolali,  luli  el  securi  permaneanl,  el  de 
predictis  criminibus  heresim  et  Apostasiam  ac  blasphemiam  sapienlibus 
per  ipsos  culpabiles  uel  suspectos  perpetratis,  usque  ad  diem  datae  eius- 
dem  cedulae,  uel  leslimonii,  seu  in  eodem  libro  annolationis  el  descriptionis 
nullalenus  inquiri  possil:  Ac  quod  premissorum  occasione  ipsis  describen- 
dis,  uel  suas  cédulas  predictas  habiluris,  et  illorum  filiis  et  descendenlibus 
in  nullo  preiudicari,  nec  preiudicium  aíferri,  nec  reconciliati  censeri,  eliam 
ex  eo  quod  diclorum  deliclorum  seu  aliquorum  ex  eis  ueniam  petierinl, 
uel  ab  eis  absoluti  fuerint,  nec  etiam,  qui  forsan  in  aliquem  predictorum 
errorum  in  poslerum  reinciderint,  uel  alias  quomodolibel  deprehensi  ex- 
titerint,  relapsi  uideanlur,  nec  aliquod  indicium,  eliam  mínimum  contra 
eos  oriri,  allegari,  uel  deduci  posse  in  judicio  uel  extra,  indulgentia,  re- 
missio,  et  alia  in  damnum,  iniuriam,  uel  aliud  incommodura  illorum  re- 
lorqueri  nequeant.  Quodque,  si  aliqui  iam  sint  condemnati  de  crimini- 
bus heresis  huiusmodi,  uel  eorum  crimina  iam  sint  in  judicio  ómnibus 
notorio  probata,  ipsi  secundum  ecclesie  slatula  errores  suos  abiurare,  il- 


436  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

lisque  publice  renunciare  debeanl,  quibus  abiuralis  el  renuncialis  Ídem 
Nuncius  eius  arbitrio  penilentias  eis  iniungeodas  uel  iniunclas,  non  la- 
men in  alias  publicas  sed  secretas  penilentias  coniniutare,  ac  recoñcilia- 
tis,  quibus  aliqua  publica  penilenlia  per  quoscunque  judices  el  inquisilo- 
res  fuerit  ¡niuncla,  etiam  illam  ueluli  ipsi  inquisitores  eam  commutare 
possenl  uel  consueuerunl,  in  alia  pielalis  opera  commutare,  el  cum  iliis 
dispensare  ualeat :  ac  quod  si  ex  supradictis  condemnatis,  uel  inquisilis, 
accusatis,  aul  reconciliatis,  seu  relapsis  fuerinl  aliqui,  qui  se  contra  jus- 
tiliam  grauatos  esse  asseruerint,  ac  proplerea  cupianl  ul  ilerum  eorum  cau- 
sae  audiantur,  liceat  eis  ad  dictum  Nunciura  recurrere,  el  personaliler 
corara  eo  comparere,  el  se  ipsos  in  eo  statu,  quo  tune  esse  reperienlur, 
de  integro  defenderé,  Sic  lamen  quod  si  ilerum  in  defensione  sua  ipsos 
succurabere  contingat,  tune  ob  causara  delictorura  huiusraodi  relapsi  legi- 
tima pena  punianlur;  Ceteri  uero  secretara  penitenliam  suscipianl,  que  loco 
legitimae  el  canonicae  penae,  quam  pali  deberenl,  ipsius  Nuncii  arbitrio 
ipsis  iraponalur;  Et  nihilominus  hii,  qui  relapsi  non  fuerint,  presenlibus 
lilteris  el  illarum  eíTeclu  gaudeanl :  Ac  quod  dicti  condemnati,  uel  inqui- 
sili,  accusati  uel  reconciliati,  si,  quod  absit,  ilerum  in  heresis  crimen  re- 
labi  eos  contingat,  pro  relapsis  puniri  possinl,  habita  lamen  diligenli  de- 
liberatione :  quod  si  ex  ipsis  aliqui  fuerint,  qui  se  uiolenter  ad  fidei  sa- 
craraentum  suscipiendum  pertractos  esse  docuerint,  illis  non  ila  impu- 
tentur  culpae,  ul  in  posterura  relapsorum  pena  teneanlur :  Quodque  hii, 
qui  publice  de  criraine  heresis  diífamati,  non  lamen  conuicli,  seu  accu- 
sati fuerinl,  quorum  perfidia  ex  publica  uoce  el  fama  ad  aures  ipsius  Nun- 
cii perueneril,  proprio  iuramento,  et  duobus  uel  tribus  leslibus  compur- 
gatoribus  fidedignis  per  eundera  diffamatum  eligendis,  se  ipsos  secrete,  et 
extrajudicialiler,  corara  Nuncio,  uel  ab  eo  deputandis  predictis,  seu  eorura 
aliquo,  purgare,  seu  criraina  huiusraodi,  de  quibus  diffaraati  fuerint,  sua 
sponte,  et  cura  iuramento  secrete  ac  etiam  extrajudicialiler  corara  eodem 
Nuncio,  seu  deputalo  aliquo,  in  presentía  duorura  testiura,  uel  proprii  sa- 
cerdolis,  loco  eorum,  abiurare  possinl ;  qui  omnes  accusati,  inquisiti,  con- 
demnati, reconciliati,  el  publice  diífamali,  modo  et  forraa  premissis,  Ce- 
teri vero  premissa  lantura  confessione,  et  absque  aliqua  publica  peniten- 
cia eis  iniungenda,  plenariam  el  lolalera  ueniara,  el  alia  supradicta  conse- 
qui  el  obtinere,  Ipseque  Nuncius  orania  el  singula  supradicta,  el  quecun- 
que  alia,  quae  alii  inquisitores,  comraissarii  quicunquo  per  quascunque 


RELACOES  COM  a  curia  romana  437 

noslras  el  dicte  sedis  lilleras,  ac  etiam  de  jure  uel  consueludine  faceré, 
gerere,  et  exercere,  libere  el  licite  ualeal :  Ac  quod  si  aliqui  ex.  prediclis 
ómnibus  tam  nouiter  conuersis,  quam  alus  presenlibus  el  absenlibus  re- 
perienlur,  qui  presenlem  graliam  modis  premissis  durantibus  diclis  men- 
sibus  suscipere  noluerinl,  lapsis  eisdem  mensibus,  graliis  per  presentes  con- 
cessis  nullo  modo  gaudere  possinl ;  Qui  lamen  si  ad  sui  excusalionem  ali- 
quid  afferre  uoluerint,  benigne  el  secundum  chrislianam  mansueludinem 
audianlur,  el  eorum  jura  el  defensiones  ad  nos  per  eundem  Nuncium  suo 
sub  sigillo  clausae  miílanlur :  Quodque  contra  nouiter  conuersos,  ac  filios 
et  descendentes  eorum  confessos  uel  non  confessos,  quorum  lamen  excu- 
saliones  per  Nuncium  aul  depulalos  prefalos,  siue  eorum  aliquem  rece- 
ptae,  et  ad  nos  Iransmissae  fuerinl,  in  negotio  inquisitionis  uel  uisilalio- 
nis  ordinariae  vel  exlraordinariae,  super  criminibus  prediclis  iuxla  for- 
mam  posleriorum  lilterarum  prediclarum  usque  ad  annum  a  die  publica- 
tionis  presenlium  lilterarum  supersedeatur :  quia  interim  nos  tam  super 
eodem  negolio,  quam  eliam  super  illorum  futura m  \ilam  oporlune  pro- 
uidere  inlendimus :  districlius  inhibenles  ómnibus  el  singulis  eliam  judi- 
cibus  ecclesiaslicis  el  secularibus,  ac  prelalis,  inquisiloribus,  ordinariis, 
seu  delegalis,  quacunque  auctoritale,  polestate,  el  dignilale,  eliam  ponli- 
ficali,  Archiepiscopali,  primaliali,  el  patriarcbali,  ac  slatu,  gradu,  condi- 
lione,  elpreeminenlia,  eliam  Cardinalalus  honore  fulgenlibus,  ac  lali  qua- 
lilate,  de  qua  expressa  menlio  fieri  deberel,  pollenlibus,  a  nobis  seu  sede 
predicla,  etiam  ad  instanliam  eiusdem  Regis  deputalis,  sub  excommuni- 
calionis,  suspensionis,  el  inlerdicli  senlenliis,  et  beneficiorum  ac  officio- 
rum  per  eos  oblenlorum  priuationis  penis,  eo  ipso,  nisi  paruerint,  incur- 
rendis,  ne  aliquos  de  premissis  heresi,  Apostasia,  aul  Rlasphemia  culpa- 
biles  aul  suspectos,  qui  graliis  prediclis  juxta  presenlium  tenorera  gau- 
dere debenl,  si  quos  sub  aliqua  custodia,  uel  carceribus  teneant,  aul  in 
exilia  miserint,  amplius  detineanl,  aul  contra  eos  ad  ulteriora  procedan!, 
Immo  caplos  relaxent,  et  exules  ad  patriam  secure  reddire  permiltant, 
Ac  in  eodem  stalu,  in  quo  fuerunl  ante  accusalionem.  condemnationes, 
carceraliones,  exilia  el  bannimenla  huiusmodi  exislebant,  reponant ;  Accu- 
satoribus  uero,  denunciatoribus,  leslibus,  inquisiloribus,  judicibus,  pro- 
moloribus,  et  alus  personis  quibusuis,  sub  similibus  censuris  et  penis,  ne 
contra  supradiclos,  eliam  non  culpabiles,  nec  suspectos,  premissorum  oc- 
casione  se  inlromitlere,  nec  aliquos  ad  lestificandum  uel  accusandum,  seu 


438  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

denunciandum  inducere,  uel  alias  ¡líos  siiper  premissis  uel  illorum  occa- 
sione  molestare  quoquomodo  presumant.  Ac  decernenles  omnes  et  singu- 
los  in  premissis  inobedientes,  uel  contrauenluros,  easdem  senlenlias,  cen- 
suras et  penas  eo  ipso  incurrere,  el  beneficia  per  eos  tune  óblenla  eo 
ipso  uacare,  el  a  nobis,  ac  quibusuis  illorum  ordinariis  collatoribus  im- 
petrari  el  conferri  posse,  Ipsasque  impelraliones  el  collationes,  ac  alias 
dispositiones  alias  legitime  facías  ualere,  plenamque  roboris  firmilalem  ob- 
linere:  ac  easdem  presentes  lilteras  de  subreptionis  uel  obreptionis  uitio,  seu 
intenlionis  nostre  defeclu  nolari  uel  impugnan  non  posse,  nec  sub  qui- 
busuis reuocalionibus,  modifioalionibus,  limilalionibus,  el  suspensionibus, 
quarumcunque  similium  uel  dissimilium  lillerarum,  eliam  per  nos  el  se- 
dera eandem  faclis  el  faciendis  nullalenus  comprehensas,  sed  ab  illis  sem- 
pcr  exceptas  esse,  el  quotiens  reuocatae  uel  limitalae  fuerint,  loliens  in 
prislinum  el  eum,  in  quo  ad  presens  exislunl,  slalum  restituías,  el  rein- 
tégralas exislere :  necnon  illanim  Iransumplis  nianu  Nolarii  publici  sub- 
scriptis,  et  sigillo  eiusdem  Nuncii  munilis,  eandem  prorsus  lam  in  judi- 
lio  quam  extra  illud  fidem  adhiberi  deberé,  que  ipsis  presentibus  adhibe- 
relur,  si  forent  exhibite  uel  óslense;  Sicque  in  premissis  ómnibus  per  pre- 
falos,  el  quoscunque  alios  inquisilores  et  judices,  eliam  sanclae  Romanae 
Ecclesiae  Cardinales,  in  quacunque  instancia  siue  judicio,  coram  eis  eliam 
nunc  el  in  futurum  pendente  judicari,  sentenliari,  ac  diíTmiri  deberé,  su- 
bíala eis  et  eorum  cuilibel  quauis  alia  aliter  judicandi,  senlentiandi,  el 
diíTiniendi  facúltate ;  ac  irritum  et  inane  quicquid  secus  super  hiis  a  quo- 
quam  quauis  aucloritate,  eliam  per  nos  soienter  uel  ignoranter  conligerit 
atlemplari.  Quocirca  prefalo  Nuncio  per  hec  scripla  mandamus  vi  per 
se,  uel  alium  seu  alios,  easdem  presentes  et  in  eis  contenta  quecunque, 
ubi  et  quando  ac  quotiens  opus  fuerit  solemniter  publicans,  ac  in  pre- 
missis efficaciler  assislens,  facial  presentes  et  in  eis  contenta  quecunque, 
vbi,  et  quando,  ac  quotiens  opus  fuerit,  firmiler  obseruari :  ac  singulos, 
quos  ipsae  presentes  concernunt,  illis  pacifice  gaudere,  non  permillens 
eos  desuper  per  inquisilores  el  judices  prefalos,  seu  quoscunque  alios  quo- 
modolibet  impediri,  molestari  uel  perlurbari  ;  Contradictores  quoslibet  et 
rebelles  per  censuras  et  penas  ccclesiasticas,  ac  alia  juris  oportuna  reme- 
dia, appellatione  postposila,  compescendo,  inuocato  eliam  ad  hoc,  si  opus 
fuerit,  auxilio  brachii  secularis.  Johannem  uero  Regem  prefalum  per  eas- 
dem presentes  rogamus  et  horlamur  in  Domino  vt,  pro  sua  in  hanc  san- 


RELAGOES  COM  a  curia  romana  439 

ctam  Sedeni  deuolione  et  obseruantia,  ipsi  Marco  Nuncio  suis  auctorilale 
et  fauore  assislens,  non  permiltat  ipsum  Marcum  Nuncium  circa  premis- 
sorum  execuUonem,  autillos,  qui  sub  presentibuscomprehenduntur,  quo- 
minus  iuxta  ipsarum  litterarum  lenorem  gaudere  possint,  quomodolibet 
turban  aut  impediri.  Non  obslantibus  premissis,  ac  eliam  felicis  recordalio- 
nis  Bonifacii  papae  vni,  et  aliorum  Romanorum  Ponlificum  predecessorum 
nostrorum,  ac  alus  apostolicis,  necnon  in  generalibus  ac  prouincialibus  et 
sinodalibus  conciliis  edilis  generalibus,  uel  specialibus  conslitutionibus,  et 
ordinationibus,  etiam  abeisdem  uel  a  nobis,  eliam  pluries  emanatis,  legibus 
imperialibus,  necnon  eliam  juramento,  confirmalione  apostólica,  uel  qua- 
uis  firmitate  alia  roboralis,  officii  inquisitionis,  el  ecclesiarum,  ac  regno- 
rum  et  dominiorum  predictorum,  illorumque  Ciuilalum  et  locorum,  etiam 
municipalibus  statulis,  et  consueludinibus,  priuilegiis  quoque,  indultis, 
etiam  in  corpore  juris  clausulis,  ac  eliam  in  forma  Breuis  lilleris,  etiam 
per  nos  et  predecessores  noslros,  et  sedem  huiusraodi,  eliam  inquisilori- 
bus  predictis,  etiam  ad  instantiam  eiusdem  Johannis,  et  aliorum  quorum- 
cunque  Regum  et  Reginarum,  aul  eliam  Molu  proprio,  et  de  Sanctae  Ro- 
manae  Ecclesiae  Cardinalium  consilio,  eliam  apostolicae  poteslalis  pleni- 
tudine,  ac  cum  quibusuis,  etiam  derogaloriarum  derogaloriis,  aliisque  ef- 
ficacioribus  et  insolitis  clausulis,  irritanlibusque  et  alus  decrelis  conces- 
sis,  approbatis  et  innouatis,  eliam  si  in  eis  caueatur  expresse  quod  illis 
nuUatenus,  aut  non  nisi  sub  certis  in  ibi  expressis  modis  et  formis  dero- 
gan possit :  quibus  ómnibus,  etiam  si  pro  illorum  suíBcienli  derogalione 
de  illis,  eorumque  totis  tenoribus  specialis,  specifica,  expressa  et  indiui- 
dua,  non  lamen  per  generales  clausulas  idem  importantes  mentio,  seu 
queuis  alia  expressio  habenda,  aut  aliqua  alia  exquisita  forma  ad  hoc  ser- 
uanda  foret,  tenores  huiusmodi,  ac  si  de  verbo  ad  verbum  ac  forma  in 
illis  Iradila  obseruata  inserti  forent,  pro  sufficienler  expressis  habenles, 
illis  alias  in  suo  robore  permansuris,  hac  \ice  duntaxat,  harum  serie 
molu,  scienlia,  et  poteslalis  pleniludine  predictis,  specialiter  et  expresse 
derogaraus,  contrariis  quibuscunque :  Seu  si  Inquisitoribus  el  judicibus  pre- 
dictis, uel  quibusuis  alus  communiter  uel  diuisim,  ab  eadem  sil  sede  iu- 
dultum  quod  interdici,  suspendi,  uel  excommunicari  non  possint  per  lil- 
teras  apostólicas  non  facienles  plenam  et  expressam,  ac  de  verbo  ad  ver- 
bum de  indulto  huiusmodi  menlionem.  Nulli  ergo  omnino  hominum  li- 
ceat  hanc  paginam  nostrae  uoluntatis,  aduocalionis,  exlinclionis,  absolu- 


440  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

tionis,  relaxationis,  liberationis,  mandati,  concessionis,  dispensalionis,  in- 
dulli,  abolitionis,  cassationis,  ¡rritalionis,  delelionis,  annuUationis,  de- 
creti,  reraissionis,  donationis,  restitutionis,  reposilionis,  reintegralionis, 
slatuli,  ordinationis,  inhibilionis,  mandati,  decreli,  requisilionis,  horlalio- 
nis,  mandati  et  derogationis,  infringere,  vel  ei  ausu  temerario  contraire. 
Siquis  aulem  hoc  attemplare  prcsumpserit,  indignalionem  omnipotentis  Dei, 
ac  beatorum  Petri  el  Pauli  Apostolorum  eius,  se  nouerit  incursurum. 

Dalum  Romae  apud  sanctum  Pelrum,  Anno  Incarnationis  dominice 
Millesimo  quingentésimo  trigésimo  lertio,  séptimo  Idus  Aprilis,  Pontifica- 
tus  nostri  Anno  Décimo  '. 


Bulla  do  Papa  Clemente  ¥^11,  cllrig^lfla  a  el-Rei. 


1533  — Abril  30. 


Clemens  episcopus  seruus  seruorum  Dei  Carissimo  in  christo  filio  Jo- 
hanni  Portugallie  el  Algarbiorum  Regi  Illustri  Salutem  et  apostolicam  be- 
nedictionem. 

Gratie  diuine  premium  el  humane  laudis  preconium  acquiritur,  si 
per  seculares  Principes  ecclesiarum  Prelatis,  preserlim  pontificali  digni- 
late  predilis,  opporluni  fauoris  presidium  et  honor  debitus  impendatur. 
Hodie  siquidem  dilectum  fiiium  Henricum,  Eleclum  Bracharensem,  in  vi- 
gésimo primo  sue  etatis  Anno  constitutum,  Administratorem  in  spiritua- 
libus  el  temporalibus  ecclesie  Bracharensis,  tune  per  obitum  bone  memo- 
rie  Didaci,  olim  Archiepiscopi  Bracharensis,  extra  Romanam  Curiam  de- 
functi,  pasloris  solalio  destitute,  doñee  vigesimum  septimum  dicle  etatis 
Annum  attingeret,  de  fratruní  noslrorum  consilio  apostólica  auctorilate 
constituimus  el  deputauimus;  el  deinde,  cum  dictum  vigesimum  septimum 
annum  attingeret,  ex  tune,  proul  ex  ea  die,  el  e  contra  de  persona  sua,  no- 
bis  et  eisdem  fratribus  ob  suorum  exigenliam  meritorum  accepta,  eidem 
ecclesie  de  simili  consilio  dicta  auctoritale  prouidimus,  ipsumque  ¡lli  in 
Archiepiscopum  prefecimus  et  pastorem,  ac  de  eadem  persona  sua  eidem 


*  Copia  authentica  no  Abch.  Nac,  Gav.  2,  Mac.  2,  n."  11. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  441 

ecclesie  prouisum,  ipsumque  illi  in  Archiepiscopum  prefeclum  fore  decre- 
uimus,  curam  et  administralionem  eiusdem  ecclesie,  etiam  huiusmodi  ad- 
minislratione  durante,  in  eisdem  spirilualibus  et  temporalibus  plenarie 
commiltendo,  prout  in  noslris  indo  confectis  lilteris  plenius  conlinetur. 
Cum  itaque,  fili  carissime,  sit  virtutis  opus  del  ministros  benigno  fauore 
prosequi,  ac  eos  verbis  et  operibus  pro  Regis  eterni  gloria  veneran,  Ma- 
iestalem  tuam  regiam  rogamusiBt  hortamur  atiente  quatenus  eundem  Hen- 
ricum  Administratorem  et  Electum,  et  ecclesiam  predictam  sue  cure  com- 
missam,  habens  pro  nostra  et  apostolice  sedis  reuerentia  propensius  com- 
mendatos,  in  ampliandis  et  conseruandis  iuribus  suis  sic  eos  benigni  fa- 
uoris  auxilio  prosequaris,  quod  ipse  Henricus  Adininistralor  et  Electus 
tue  Gelsitudinis  fultus  presidio  in  commisso  sibi  cure  pasloralis  officio 
possit  deo  propicio  prosperan,  ac  tibi  ex  inde  a  deo  perennis  vite  pre- 
mium  et  a  nobis  condigna  proueniat  actio  gratiarura. 

Datura  Rome  apud  Sanctum  pelrum,  Anno  Incarnationis  dominica 
raillesimo  quingentésimo  trigésimo  tertio,  Pridie  Kalendas  Maii,  Ponlifi- 
catus  nostri  Anno  Décimo  \ 


RuUa  do  Papa  Clemente  ^11;  dirig^ida 
ao  Infante  O.  Henrique. 

1533— Abril  30. 


Clemens  episcopus  seruus  seruorum  dei  dilecto  filio  Henrico  Infanti 
Portugallie  Electo  Bracharensi  salutem  et  apostolicam  benediclionem. 

Diuina  disponente  clementia,  cuius  inscrutabili  prouidentia  ordina- 
íionem  suscipiunt  vniuersa,  in  apostolice  dignitatis  specula  meritis  licet 
imparibus  constituli,  ad  vniuersas  orbis  ecclesias  aciem  nostre  considera- 
tionis  extendimus,  et  pro  eorum  statu  salubriler  dirigendo  apostolici  fa- 
uoris  auxilium  adhibemus.  Sed  de  illis  propensius  cogitare  nos  conuenit, 
quas  propriis  carere  pastoribus  intuemur,  vt  eis  iuxta  cor  nostrum  viri 
preficiantur  idonei,  qui  commissos  sibi  populos  per  suam  circumspectio- 

i  Arch.  Nac,  Mac.  18,  n."  27. 
TOMO  11.  56 


442  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

nem  prouidain  et  prouidentiam  circumspeclam  salubriter  diriganl  ct  in- 
formeut,  ac  bona  ipsaruní  ecclesiarum  non  solum  gubernenl  vtililer,  sed 
etiam  multimodis  efferanl  incremenlis.  Dudum  siquidem,  bone  memorie 
Didaco  Archiepiscopo  Bracharensi  regimini  eccicsie  Bracharensis  presi- 
dente, Nos  cupientes  eidem  ecclesie,  oum  vacaret,  per  apostolice  sedis 
prouidentiam  vtilem  el  ¡doneam  presidere  personam,  prouisionem  eiusdem 
ecclesie  ordinalioni  el  disposilioni  noslre  jja  vice  duximus  specialiter  re- 
seruandam,  decernentes  ex  tune  irrilum  el  inane  si  secus  super  hiis  per 
quoscunque  quauis  auctorilale  scienter  vel  ignoranter  contingerel  altem- 
plari.  Postmodum  vero,  prefata  ecclesia  per  obitum  dicli  Didaci  Archiepis- 
copi,  qui  exlra  Romanam  Curiam  debitum  nalure  persoluil,  pastoris  solatio 
destituía,  Nos  vacalione  huiusmodi  fidedignis  relatibus  inlellecla  ad  prouisio- 
nem eiusdem  ecclesie  celerem  et  felicem,  de  qua  nullus  preler  nos  hac  vice 
se  intromitlere  poluil  siue  polest,  reseruatione  et  decreto  obsistenlibus  su- 
pradictis,  Ne  ecclesia  ipsa  longe  vacationis  exponatur  incommodis,  paler- 
nis  et  sollicitis  sludiis  intendentes,  posl  deliberationem  quam  de  preficiendo 
eidem  ecclesie  personam  vlilem  el  eliam  fructuosam  cum  fralribus  nostris 
habuiraus  diligentem.  Demum  ad  te  clericum  Vlixbonensem,  clericali  ca- 
raclere  duntaxat  insignitum,  in  vigésimo  primo  lúe  elatis  Anno  constitu- 
tum,  el  clare  memorie  Emanuelis,  olim  Porlugallie  el  Algarbiorum  Regis 
dum  viueret,  nalum,  ac  Garissimi  in  christo  filii  noslri  Johannis,  moderni 
Porlugallie  el  Algarbiorum  Regis  illustris,  fratrem  germanum,  el  pro  quo 
Ídem  Johannes  Rex  nobis  super  hoc  per  suas  Hileras  humiliter  supplica- 
uil,  ac  cui  apud  nos  de  litterarum  scientia,  vite  munditia,  honéstate  mo- 
rum,  spiritualium  prouidenlia  et  temporalium  circumspectione,  aliisque 
multiplicum  virtutum  donis  fidedigna  testimonia  perhibenlur,  direximus 
oculos  noslre  mentís,  Quibus  ómnibus  debita  meditalione  pensalis,  te  pre- 
fale  ecclesie  adminislralorem  in  spiritualibus  et  lemporalibus,  doñee  v¡- 
gesimum  seplimum  dicte  elatis  Annum  atligeris,  de  fratrum  eorundem  con- 
silio  auctorilale  apostólica  constituimus  el  depulamus,  Et  deinde,  cum  di- 
ctum  vigesimum  seplimum  Annum  atligeris,  ex  nunc  proul  ex  tune,  et 
e  contra,  de  persona  lúa,  nobis  et  fralribus  ipsis  ob  luorura  exigcntiam 
meritorum  accepla,  eidem  ecclesie  de  simili  consilio  dicta  auctorilale  pro- 
uidimus,  teque  illi  in  Archiepiscopum  preficiraus  el  pastorem,  ac  de  eadem 
persona  tua  ipsi  ecclesie  prouisum,  teque  illi  in  Archiepiscopum  el  pas- 
torem prefectum  fore  decernimus,  curam  et  administrationem  eiusdem  ec- 


RELACOES  COM  a  CIRIA  ROMANA  453 

clesie,  eliam  huiusniodi  administraüone  durante,  libi  in  eisdem  spiritua- 
libus  et  lemporalibus  plenarie  commillendo,  In  illo  qu¡  dat  gratias  et  lar- 
gilur  premia  confidentes  quod,  dirigente  domino,  actus  tuos  prefata  ec- 
clesia  sub  luo  felici  regimine  regelur  vtiliter,  el  prospere  dirigelur,  ac 
grata  in  eisdem  spiritualibus  et  temporalibus  suscipiel  incrementa.  Volu- 
mus  autem  quod,  durante  huiusmodi  administratione,  debitis  et  consuetis 
mense  Archiepiscopalis  Bracharensis  supportatis  oneribus,  de  residuis  il- 
lius  fructibus  redditibus  et  prouentibus  disponere  et  ordinare  libere  el  li- 
cite valeas,  sicuti  Archiepiscopi  Bracharenses,  qui  pro  lempore  fuerunl, 
de  illis  disponere  el  ordinare  potuerunt,  seu  etiam  debuerunt,  Alienatione 
lamen  quorumcunque  bonorum  immobilium,  el  preciosorum  mobilium, 
dicte  Mense  tibi  penitus  interdicta,  Et  quod,  antequam  regimini  et  admí- 
nislralioni  dicte  ecclesie  ralione  Constitutionis  et  deputationis  earundera 
le  in  aliquo  immisceas,  in  manibus  Venerabilium  fratrum  nostrorum  Ei- 
borensis  et  Lamacensis  Episcoporum,  seu  alterius  eorum,  fidelitalis  debite 
solilum  prestes  iuramentum,  iuxta  formam,  quam  sub  bulla  nostra  mit- 
limus  introclusam,  Quibus,  et  eorum  cuilibet,  per  alias  noslras  lilleras 
mandamus  vi  ipsi  vel  alter  eorum  a  te  noslro  el  Romane  ecclesie  nomine 
ralione,  Constitutionis  et  deputationis  predictarum'  huiusmodi  recipiant, 
seu  recipiat,  iuramentum.  Jugum  igitur  domini  luis  imposilum  humeris 
prompla  deuolione  suscipiens,  curam  el  adminislralionem  predictas  sic 
exercere  studeas  sollicite  fideliter  et  prudenter,  quod  ecclesie  ipsa  guber- 
natori  prouido  et  fructuoso  administratori  gaudeal  se  commissam,  tuque, 
preter  eterne  retribulionis  premium,  nostram  et  dicte  sedis  benediclionem 
el  graliam  ex  inde  vberius  consequi  merearis. 

Datum  Reme  apud  Sanctum  pelrum,  Anno  Incarnalionis  Dominice 
Millesimo  quingentésimo  trigésimo  terlio,  Pridie  Kalendas  Maii,  Ponlifica- 
tus  nostri  Anno  Décimo  ^ 


*  Arch.  Nac,  Mac.  18  de  Bullas,  n."  33. 

56 


i44  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 


Bulla  do  Papa  Clemente  l^II,  dirig^ida 
ao  Infante  D.  Henrique. 


1533— Abril  30. 


Clemens  episcopus  Seruus  Seruorum  dei  Dilecto  filio  Henrico  Eleclo 
Bracharensi  Salutem  et  apostolicam  benediclionem. 

Personara  luam  nobis  el  apostolice  sedi  deuotam,  luis  exigen tibus 
meritis,  paterna  beniuolentia  prosequentes,  illa  tibi  fauorabiliter  concedi- 
mus,  que  tuis  commoditatibus  fore  conspicimus  opportuna.  Cura  itaque 
nos  hodie  te  in  vigésimo  primo  lúe  etalis  Anno  constitutum  Administra- 
torera  in  spiritualibus  et  teraporalibus  ecclesie  Bracharensis,  tune  cerlo 
modo  pastoris  solatio  deslilute,  doñee  vigesimum  seplimum  Annum  etalis 
huiusmodi  atligeris,  de  fralrum  nostrorum  consilio  apostólica  auctoritate 
constiluerimus  et  deputauerimus,  ac  ex  tune,  prout  ex  ea  die,  et  e  con- 
tra, cura  dictum  vigesimum  seplimum  Annum  atligeris,  de  persona  lúa, 
nobis  el  eisdem  fralribus  ob  luorum  exigenliam  merilorum  accepla,  eidera 
ecclesie  de  simili  consilio  dicta  auctoritate  prouideriraus,  preficiendo  te 
illi  in  Archiepiscopum  et  pastorera  ;  Necnon  tecum  vi,  cura  vigesimum 
seplimum  Annum  huiusmodi  atligeris,  prefate  ecclesie  in  Archiepiscopum 
preesse,  illamque  in  eisdem  spiritualibus  et  teraporalibus  rcgere  et  guber- 
nare,  ac  munus  consecralionis  suscipere  el  illo  vti  valeres,  molu  proprio, 
eadem  auctoritate  dispensauerimus,  prout  ¡n  diuersis  noslris  inde  confe- 
ctis  litleris  plenius  continelur ;  Et,  sicul  accepiraus,  tu  tempore  Conslitu- 
tionis  et  depulalionis  ac  prouisionis  et  prefectionis  predictarum  Monasle- 
riura  sánele  Crucis  Golimbriensis,  ordinis  sancti  Augustini,  ex  concessione 
apostólica  in  comraendara  obtineres,  prout  obtines,  Ubique  vi  in  cerlos 
euentus  liceret  tibi  ad  Monasterium  sancti  Georgii  dicli  ordinis  Golimbriensis 
diócesis,  quod  venerabilis  fraler  noster  Martinus  Archiepiscopus  Funcha- 
lensis  ex  concessione  apostólica  in  comraendara  oblinel,  libcrum  regres- 
sura  seu  accessura  habere,  et  illud  in  comraendara,  quod  viueres,  reti- 


RELACOES  COM  a  CUUIA  HOMANA  445 

nere  dicta  auclorilate  indullura  fuissel,  proul  existil :  Nos  libi,  vi  slaluin 
tuuní  iuxta  ponlificalis  dignitalis  exigentiara  decenlius  tenere  valeas,  de 
alicuius  subuentionis  auxilio  prouidere  ac  le  premissorum  merilorum  luo- 
rum  intuitu  gralioso  fauore  prosequi  \olenles,  el  a  quibusuis  exconimu- 
nicalionis,  suspensionis  el  interdicli,  aliisque  ecclesiaslicis  senlentiis,  cen- 
suris  el  penis  a  iure  vel  ab  homine,  quauis  occasione  vel  causa  latis,  si 
quibus  quomodolibel  innodalus  exislis,  ad  eíFeclum  presenlium  dunta- 
xal  coosequendum,  harum  serie  absoluenles  el  absolulum  fore  cénsenles; 
Necnon  frucluum,  reddituum  el  prouenluum  dicli  Monasterii  sánete  Gru- 
cis  Yerum  annuum  valorem  presentibus  pro  expresso  habentes,  molu  si- 
mili,  non  ad  tuam,  vel  allerius  pro  le  nobis  super  hoc  óblale  pelilionis 
instanliam,  sed  de  nostra  mera  liberalilale,  Tecum,  \l  etiam,  poslquam  in 
vira  prouisionis  el  prefeclionis  predictarum  pacificara  possessionera,  seu 
quasi  regirainis  el  adminislralionis  dicte  ecclesie,  seu  raaioris  parlis  eorum 
esseculus  fueris,  ac  munus  consecralionis  susceperis,  Monaslerium  sánele 
Crucis  prediclura,  vi  prius  quoad  uixeris,  eliam  vna  cura  dicta  ecclesia 
quandiu  illi  prefueris,  retiñere  ;  Necnon  regressu,  seu  accessu  predicto  vli 
el  in  illius  eueulum  Monaslerium  ipsura  sancli  Georgii,  cuius  fruclus,  red- 
dilus  el  prouenlus  Oclingentorum  ducatorura  auri  de  Camera  secundum 
communem  exlimalionem  valorem  annuum,  vi  eliam  accepimus,  non  ex- 
cedunt,  in  eamdem  conimendara  similiter,  quoad  vixeris,  eliam  vna  cum 
ecclesia  el  Monasterio  sánete  Crucis  predictis,  vi  preferlur,  retiñere  li- 
bere el  licite  valeas,  generalis  Concilii  el  quibusuis  alus  Constilulionibus 
el  ordinalionibus  apostolicis,  ac  Monasleriorum  el  ordinis  prediclorum  iu- 
ramenlo,  confirmalione  apostólica,  vel  quauis  firmitate  alia  roboratis,  sta-. 
lutis  el  consueludinibus,  ceterisque  contrariis  nequáquam  obstantibus,  di- 
cta auclorilate  apostólica  lenore  presenlium  de  specialis  dono  gratie  dis- 
pensamus,  Decernentes  commendam  Monasterii  sánete  Crucis  propterea 
non  cessare,  ac  regressum  seu  accessum  huiusmodi  non  expirare,  Irri- 
lura  quoque  el  inane,  si  secus  super  hiis  a  quoquara,  quauis  auclorilate, 
scienter  vel  ignoranter  conligeril  atteraptari,  Prouiso  quod  propterea  in 
dictis  Monasleriis  diuinus  cullus,  ac  solilus  Canonicorura  el  Minislrorum 
nuraerus  nullatenus  minualur,  sed  illorura  ac  dilectorum  filiorura  Con- 
uentuum  eorundem  congrue  supportentur  onera  consueta.  NuUi  ergo  om- 
nino  horainum  liceat  hanc  paginara  nostre  absolulionis,  dispensationis  el 
decreli  infringere,  vel  ei  ausu  temerario  contraire.  Siquis  autem  hoc  al- 


i'i6  COliPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

templare  presumpserit,  indignationem  omnipolentis  dei,  ac  bealorum  Pelri 
el  Pauli  Apostolorum  eius,  se  nouerit  incursurum. 

Dalum  Rome  apud  sanclum  pelrum  Anno  Incarnalioiiis  Dominice 
Milessimo  quingentésimo  trigésimo  terlio,  Pridic  Kalendas  Maii,  Ponlifi- 
calus  noslri  Anno  Décimo  ^ 


Bulla  do  Papa  Cletiieiitc  Wll,  iliri^lda 
ao  luíante  D.  Hcurique. 


1533  — Abril  30. 


Uiemens  episcopus  seruus  seruorum  dei  dilecto  filio  Hcnrico  Infanli 
Porlugallie  clerico  Vlixbonensi  salulem  el  apostolicam  benediclionem. 

Apostolice  sedis  consueta  clementia,  ne  disposiliones  per  eam  de  Me- 
tropolilanis  el  alus  Calhedralibus  ecclesiis  pro  tempore  facle  valeanl  quo- 
modolibel  impugnan,  sed  persone  ad  eas  proraouende  illis  puro  corde  el 
sincera  conscienlia  presidere  possint,  remedia,  prout  conuenit,  adhibet 
opporluna.  Cum  ilaque  nos  hodie  te,  qui,  vt  acccpimus,  in  vigésimo  pri- 
mo tue  etatis  Anno  constitutus  existís,  administratorem  in  spirilualibus  et 
temporalibus  ecclesie  Rracharensis,  ad  presens  certo  modo  pastoris  sola- 
lio  deslilule,  doñee  vigesimum  seplimum  dicte  elatis  Annum  attigeris,  de 
fratrum  noslrorum  consilio  apostólica  aucloritate  constituere  et  deputa- 
re  ;  Et  deinde,  cum  diclum  vigesimum  seplimum  Annum  attigeris,  ex 
lunc,  prout  ex  ea  Die  et  e  contra,  de  persona  lúa  nobis  et  eisdem  fratri- 
bus  ob  tuorum  exhigentiam  meritorum  accepta  eidem  ecclesie  de  simili 
consilio  dicta  auctoritale  prouidcre,  toque  illi  in  Archiepiscopum  el  pas- 
lorem  preficere  inlendamus :  Nos,  ne,  si  forsan  aüquibus  senlentüs  cen- 
suris  et  penis  ecclesiasticis  ligatus  sis,  Conslitulio  el  deputatio,  necnon 
prouisio  el  prefeclio  predicle  possint  propterca  quomodolibet  impugnan, 
prouidere  volentes,  le  a  quibusuis  excommunicationis,  suspensionis  et  in- 

'  Abch.  Nac,  Mac.  19   de  Bullas,  n."  41. 


KELACOES  COM  a  CUUIA  romana  447 

lerdicti,  aliisque  ecclesiasticis  senlcnliis,  censuris  el  penis  a  iure  vel  ab 
homine  quauis  occasione  vel  causo  lalis,  si  quibus  quomodolibel  innoda- 
tus  existís,  ad  hoc  duntaxat,  \t  conslilulio  el  depulalio,  necnon  prouisio 
el  prefeclio  predicle,  ac  singule  lillere  aposlolice  desuper  conficiende  suum 
sorliantur  eíFectum,  aiictorilale  predicla  tenore  presentium  absoluimus,  el 
absolulum  fore  nunliamus  :  Non  obslantibus  Gonslilulionibus  el  ordinalio- 
nibus  aposlolicis,  ac  dicte  ecclesie  iuramento,  confirmatione  apostólica,  vel 
quauis  firmilate  alia  roboratis,  stalutis  el  consuetudinibus,  celerisque  con- 
Irariis  quibuscunque.  Nulli  ergo  oninino  hominum  iiceal  hanc  paginam 
nostre  absolulionis  el  nunliaiionis  infringere,  vel  ei  ausu  temerario  con- 
Iraire.  Siquis  aulem  hoc  alteraplare  presumpseril,  indignationem  omnipo- 
lenlis  dei,  ac  bealorum  Pelri  el  Pauli  Apostolorum  eius,  se  nouerit  incur- 
surum. 

Dalum  Rome  apud  Sanctum  petrum  Anno  Incarnationis  dominice 
millesimo  quingentésimo  trigésimo  lerlio,  Pridie  Kalendas  Maii,  Pontifica- 
tus  noslri,  anno  décimo  '. 


Bulla  do  Papa  Clemeutc  TU,  dirig^ida 
ño»  BiispoiS  de  Evora  e  de  Lameg^o. 


1S33— Abril  30. 


Clemens  episcopus  seruus  seruorum  dei  venerabilibus  fralribus  El- 
borensi  el  Lamacensi  Episcopis  Salulem  el  apostolicam  benedictionem. 

Dum  nos  hódie  dileclum  filium  Henricum  Electum  Bracharensem,  in 
vigésimo  primo  sue  elatis  anno  conslilulum,  adminislralorem  in  spiritua- 
libus  el  temporalibus  ecclesie  Bracharensis,  tune  certo  modo  pastoris  so- 
lalio  deslilute,  doñee  vigesimum  septimum  Annum  etalis  huiusmodi  atlin- 
geret,  de  fralrum  noslrorura  consilio  apostólica  auctoritate  consliluerimus 
el  depulauerimus ;  El  deinde,  cum  dictum  vigesimum  septimum  Annum 

1  Arch.  Nac,  Mac.  18  de  Bullas,  n.°  31. 


S48  COKPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

allingerel,  ex  lunc,  prout  ex  ea  die,  el  e  contra,  de  persona  sua  nobis  et 
eisdem  fratribus  ob  suorum  exigentiam  meritorum  accepla  eidem  ecclesie 
de  simili  consilio  dicta  auclorilate  prouiderimus,  preficiendo  ipsum  illi  in 
Archiepiscopum  et  pastorem,  ac  secum,  vt  cum  vigesimum  seplimum 
Annum  attingeret,  preíate  ecclesie  in  Archiepiscopum  preesse,  iilamque 
in  eisdem  spiritualibus  el  lemporalibus  regere  et  gubernare  valeret,  mota 
proprio  cadera  auctoritate  dispensauerimus,  prout  in  diuersis  noslris  inde 
confeclis  litteris  plenius  continelur :  Nos,  ipsius  Henrici  Electi  in  parli- 
bus  illis  degenlis,  ne  propler  hoc  ad  sedera  apostolicam  accedendo  per- 
sonaliter  laborare  cogatur,  Fraternitali  veslre  per  apostólica  scripta  man- 
damus,  quatenus  vos,  vel  alter  veslrura  ab  codera  Henrico  Electo  ralione 
Conslilutionis  et  deputalionis  predictarura  nostro  et  Romane  ecclesie  no- 
mine fidelitalis  debite  solitura  recipialis,  seu  recipiat  iuramentum,  iuxla 
forraam  in  litteris  super  muñere  consecralionis  sibi  impcndendo  conficien- 
dis  annotatam;  Ac  formara  iuramenti  huiusmodi,  quod  prestabit  nobis, 
de  uerbo  ad  uerbum  per  eius  patentes  litteras  suo  sigillo  munitas  per  pro- 
prium  Nuntium  quantolius  destinare  curetis. 

Datura  Rome  apud  Sanctum  petrum,  Anno  Incarnationis  Dorainice 
millesirao  quingentésimo  trigésimo  tertio,  Pridie  Kalendas  Maii,  Pontifi- 
catus  nostri  Anno  Décimo  ^ 


Bulla  do  Papa  Clemente  l^II,  cliri^ida 
ao  Cabido  da  lié  de  Bra^a. 


1533  — Abril  30. 


Cleraens  episcopus  seruus  seruorura  dei  dilectis  filiis  Capitulo  eccle- 
sie Bracharensis  salutem  et  apostolicam  benedictionem. 

Ifodie  dilectum  filiura  Henricura  Eleclura  Bracharensem,  in  vigésimo 
primo  sue  elalis  anno  constitulum,  administralorem  in  spiritualibus  et  tera- 

'  Arch.  Nac,  Mac.  18  de  Bullas,  n.^ST. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  »  449 

poralibus  ecclesie  veslre  Bracharensis,  tune  per  obitum  bone  memorie  D¡- 
daci,  olim  Archiepiscopi  Bracharensis,  extra  Romanam  Curiam  defuncli,pas- 
loris  solatio  deslilule,  doñee  vigesimum  septimum  dicte  etatis  annum  at- 
tingeret,  de  fratrum  nostrorum  consilio  apostólica  auctoritale  constituimus 
et  depulauimus ;  Et  deinde  ciim  dictum  vigesimum  septimum  annum  at- 
lingeret,  ex  tune,  prout  ex  ea  die,  et  e  contra,  de  persona  sua  nobis  et 
eisdem  fratribus  ab  suorum  exigentiam  meritorum  accepta  eidem  ecclesie 
de  siraili  consilio  dicta  auctoritate  prouidimus,  ipsumque  illi  in  Archie- 
piscopum  prefecimus,  et  pastorem  ;  ac  de  eadem  persona  sua  eidem  ec- 
clesie prouisum,  ipsumque  illi  in  Archiepiscopum  prefectum  fore  decre- 
uimus,  curam  el  administrationem  eiusdem  ecclesie,  etiam  huiusmodi  ad- 
ministratione  durante,  in  eisdem  spiritualibus  et  lemporalibus  plenarie  com- 
mittendo,  prout  in  nostris  inde  confectis  litteris  plenius  continetur.  Quo- 
circa  discretioni  uestre  per  apostólica  scripla  mandamus,  quatenus  eidem 
Henrico  administratori  et  Electo,  tanquam  patri  et  pastori  animarum  ycs- 
trarum,  humiliter  intendentes  ac  exhibentes  sibi  obedientiam  et  reueren- 
liam  debitas  et  deuotas,  eius  salubria  mónita  et  mándala  suscipiatis  hu- 
militer, et  efficaciter  adimplere  curetis:  Alioquin  sententiam,  quam  idem 
Henricus  administrator  et  Electus  rite  tulerit  in  rebelles,  ratam  habebi- 
mus  et  faciemus,  auctore  domino,  vsque  ad  satisfactionem  condignam  in- 
uiolabiter  obseruari. 

Datum  Rome  apud  Sanctum  petrum  Anno  Incarnationis  dominice 
millesimo  quingentésimo  trigésimo  tertio,  Pridie  Kalendas  Maii,  Pontifi- 
catus  nostri  Anno  décimo  ^ 


1  Arch.  Nac,  Mac.  18  de  Bullas,  n."  13. 
TOMO  II.  ''>'7 


450  *  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 


Oulla  do  Papa  Cleitientc  ^11,  dirigida 
ao  clero  da  Oioceise  de  Rraga. 


1533  — Abril  30. 


Clemens  episcopus  seruus  seruorum  Dei  dilectis  filüs  Clero  Ciuitalis 
et  diócesis  Bracharensis  Salutem  et  apostolicam  benediclionem. 

Hodie  dilectum  fiiium  Henricum  Electum  Bracharensem,  in  vigésimo 
primo  sue  etalis  Anno  conslilulum,  administratorem  in  spiritualibus  et 
temporalibus  ecclesie  Bracharensis,  tune  per  obitum  bone  memorie  Di- 
daci  olim  Archiepiscopi  Bracharensis,  extra  Romanam  Curiamdefuncti,  pas- 
loris  solatio  destitute,  doñee  vigesimum  septimum  dicte  elatis  Annum  at- 
tingeret,  de  fratrura  nostrorum  consilio  apostólica  auctoritale  conslituimus 
et  deputauimus ;  Et  deinde,  cum  in  dicto  vigésimo  séptimo  Anno  esset, 
ex  tune,  prout  ex  ea  ule,  et  e  contra,  de  persona  sua  nobis  et  eisdem 
fratribus  ob  suorum  exigenliam  meritorum  accepla  eidem  ecclesie  de  si- 
mili  consilio  dicta  auctoritate  prouidimus,  ipsumque  in  Archiepiscopum 
prefecimus,  el  pastorem ;  ac  de  eadem  persona  sua  eidem  ecclesie  pro- 
uisum,  ipsumque  illi  in  Archiepiscopum  prefectum  fore  decreuimus,  cu- 
ram  et  administrationem  eiusdem  ecclesie,  eliam  huiusmodi  administra- 
tione  durante,  in  eisdem  spiritualibus  et  temporalibus  plenarie  commit- 
tendo,  prout  in  noslris  inde  confectis  litteris  plenius  continetur.  Quocirca 
discretioni  vestre  per  apostólica  scripta  mandaraus,  quatenus  eundem  Hen- 
ricum administratorem  et  Electum,  tanquam  patrem  et  pastorem  anima- 
rum  vestrarum  grato  admitientes  honore,  ac  exhibentes  sibi  obedientiam 
et  reuerentiam,  debitas  et  denotas  eius  salubria  mónita  et  mándala  sus- 
cipialis  humiliter  et  efficaciter  adimplere  curetis ;  Alioquin  senlentiam, 
quam  ídem  Henricus  adminislrator  et  Eleclus  rite  tulerit  in  rebelles,  ra- 
tam  habebimus  et  faciemus,  auclore  domino,  vsque  ad  satisfactionem  con- 
dignam  inuiolabiliter  obseruari. 

Datura  Rome  apud  Sanctum  pelrum  Anno  Incarnationis  dominico 


RELACOES  COM  a  curia  romana  451 

millesimo  quingentésimo  Irigesimo  lerlio,  Pridie  Kalendas  Maii,  Ponlifi- 
catus  nostri  Anno  décimo  \ 


Bulla  do  Papa  Clemente  l^II,  cllri^ida 
ao»  TaíSjsalloü  da  Ué  de  0i*ag;a. 


1533— Abril  30. 


Gleraens  episcopus  seruus  seruorum  dei  dilectis  filiis  vniuersis  vas- 
sallis  ecclesie  Bracharensis  salutem  et  apostolicam  benediclionem. 

Hodie  dileclum  filium  Henricum  Electum  Bracharensem,  in  \igesimo 
primo  sue  etalis  anno  constilulum,  administratorem  in  spirilualibus  el  tem- 
poralibus  ecclesie  Bracharensis,  tune  per  obitum  bone  memorie  Didaci 
olim  Archiepiscopi  Bracharensis,  extra  Romanara  Curiara  defuncti,  pasto- 
ris  solalio  deslitute,  doñee  vigesimura  seplimum  dicte  etatis  Annura  attin- 
geret,  de  fratrum  nostrorum  consilio  apostólica  auctoritate  constituimus 
et  deputauiraus ;  et  deinde  cura  diclum  \igesimura  septimum  Annura  at- 
tingeret,  ex  tune,  prout  ex  ea  die,  et  e  contra,  de  persona  sua  nobis  et 
eisdem  fratribus  ob  suorum  exigentiara  merilorum  accepla  eidera  ecclesie 
de  siraili  consilio  dicta  auctoritate  prouidiraus,  ipsumque  illi  in  Archie- 
piscopum  prefeciraus  et  pastorem ;  Ae  de  eadem  persona  sua  eidem  ec- 
clesie prouisum,  ipsuraque  illi  in  Archiepiscopum  prefectura  fore  decre- 
uimus,  curara  et  adrainistrationera  eiusdeni  ecclesie,  etiara  huiusmodi  ad- 
ministralione  durante,  in  eisdera  spirilualibus  et  leraporalibus  plenarie  com- 
raitlendo,  prout  in  nostris  inde  confectis  litteris  plenius  contineíur.  Quo- 
circa  vniuersilati  vestre  per  apostólica  scripta  raandaraus,  quatenus  eun- 
dera  Henricura  adrainistralorem  et  Electura,  lanquara  palrera  el  pastorem 
animarura  vestrarura  denote  suscipientes,  et  debita  honorificenlia  prose- 
quenles  ei  fidelitatera  solitam,  necnon  consueta  seruitia  el  iura  sibi  a  vo- 
bis  debita  exhibere  integre  studeatis ;  Alioquin  sententiara,  siue  penara, 
quam  idera  Henricus  adrainistrator  el  Eleclus  rite  tulerit  siue  statuerit  in 

1  Arch.  Nac,  Mac.  18  de  Bullas,  n."  41. 


452  CORPO  DIPLOMÁTICO  POUTUGUEZ 

rebelles,  ralam  habebimus  el  faciemus,  auctore  domino,  vsque  ad  salis- 
faclionem  condignam  inuiolabililer  obseruari. 

Datum  Reme  apud  Sanclum  petrum  Anuo  Incarnalionis  dominice 
millesimo  quingentésimo  trigésimo  tertio,  Pridie  Kalendas  Maii  Ponlifica- 
tus  nostri  anno  décimo  '. 

Enforniacam  pera  »e  fazei*  a  ¡suplicacaní 
ao  papa  ^ 


(1533). 


Bealissimo  Padre,  Por  parle  de  dom  Joham  Rei  de  portugal  e  dos 
algarues  etc.  Muy  deuoto  filho  vosso. 

Foy  vossa  santidade  emformado  como  em  seu  Reino  e  térras  de  seu 
senhorio  auia  muitos  christaós  nouos,  que,  sendo  judeus,  foram  de  có- 
renla annos  ^  a  esta  parte  tornados  chrislaos,  Alguuns  per  forca,  outros 
per  suas  vontades,  e  outros  que  depois  nacendo  dos  sobreditos  foram  bau- 
tizados em  sua  emfancia  segundo  o  costume  da  santa  madre  Igreja ;  E 
que  a  mayor  parte  de  todos  estes  eram  tam  sospeitos  e  emfamados  de 
eresias  e  apostasias  da  fé,  que  todo  o  Reino  estaua  mui  escandalizado  de 
"verem  receber  e  ministrar  os  sacramentos  da  Igreia,  mayormente  o  san- 
tissimo  Sacramento,  haqueles  e  per  aqueles  que  crem  e  lem  por  mui  certo 
serem  erejes  e  judeus.  E  por  remediar  tam  grandes  emcouuenienles  e  da- 
nos das  almas  e  ofensas  de  deus  pedio  a  vossa  Santidade  que  mandasse 
fazer  enquisicam  no  dito  Reino,  pelo  qual  vossa  Santidade,  sendo  assi 
enformado  a  instancia  e  piticam  del  Rey,  Comcedeo  huma  bula,  per  que 
fez  enquisidor  no  dito  Reino  e  Senhorios  dele  a  frey  diego  da  Silua,  seu 
confesor  e  frade  menor  da  ordem  de  sam  francisco ;  e  os  ditos  chrislaos 


'  Abch.  Nac,  Mac.  18  de  Bullas,  n."  21, 
^  Este  titulo  é  do  original. 

'  Nao  part'fa  extranho  dizer  quarenta  annos,  porque  segué  nisto  o  calculo  da  Hulla 
Sempiterno  Regí,  publicada  a  pag.  450  d'este  volume. 


BELACOES  COM  a  curia  romana  453 

nonos  foram  tam  solicilos  e  sagazes  que,  como  ¡slo  souberam,  logo  en- 
pelraram  oulras  letras  apostólicas  em  contrairo,  per  que  \ossa  Santidade 
sospendeo  a  dita  bula,  e  mandón  que  se  nom  fizesse  obra  alguma  per 
ella  ate  yosso  beneplácito.  E  nom  contentes  disto  os  ditos  christaos  no- 
uos,  por  se  mais  segurarem  e  conseruarem  em  seu  judaysmo  e  eresias, 
ouueram  agora  outra  bulla  de  perdam  da  sé  apostólica,  em  a  qual  vossa 
santidade  diz  que,  sendo  enformado  que  muitos  destes  sospeitos  foram 
de  córenla  annos  ha  esta  parte  de  seu  judaysmo  e  da  seila  mayomctica 
e  d  outras  seitas  conslrangidos,  c  tornados  contra  suas  vonladcs  á  fé  ca- 
tólica, e  que  alguns  destes  foram  bautizados  per  forca  violenta,  c  outros 
per  suas  \ontades,  e  outros  que  naceram  de  párenles  christaos  e  depois 
per  conuersacam  emdiscreta  e  diabólica  persuasam  cairam  nos  ditos  erro- 
res de  eresia  e  apostasia.  E  querendo  vossa  Santidade  prover  como  os 
que  foram  nouamente  conuerlidos  se  nom  possam  justamente  queixar  que 
Ibes  desfaleceo  vossa  diligencia  em  os  prescruar  dos  ditos  errores  e  con- 
firmar na  fé  católica,  nem  os  que  foram  constrangidos  e  violentamente 
bautizados,  os  quaes  vossa  santidade  diz  que  se  nom  deuem  contar  por 
membros  da  Igreia,  se  nam  possam  tambem  justamente  queixar  que  sam 
contra  toda  justica  e  equidade  pola  Igreia  como  christaos  corrigidos  e 
castigados  :  polo  qual  diz  vossa  Santidade  que  de  seu  moto  proprio,  e  nam 
ha  instancia  dos  culpados  nem  d  outra  pessoa,  mas  de  sua  certa  ciencia 
e  plenario  poder  da  Sé  apostólica  perdoa  e  absolue  plenariamente  todos 
os  culpados  dos  ditos  crimes  de  irisias  e  apostasias  no  foro  ciuil  criminal 
e  contencioso  e  d  alma  e  conciencia,  e  dos  outros  crimes  os  absolue  quanto 
ao  foro  da  conciencia  somente  precedendo  conlricam  e  confisam ;  E  co- 
mete vossa  Santidade  a  eixecucam,  comprimento  e  publicacam  desla  bula 
ao  bispo  marco  seu  nuncio,  Ao  qual  manda  que  nomce  e  asine  os  con- 
fesores com  que  se  estes  christaos  nouos  am  de  confessar,  e  aos  que  fo- 
rem  presentes  no  Reino  assine  tempo  de  tres  meses  do  dia  da  publicacao 
da  bula,  e  os  ausentes  que  esteuerem  fora  do  Reino  qualro  meses,  ou 
mais  ou  menos,  segundo  o  que  ao  dito  nuncio  parecer  necesario,  e  manda 
que  se  faca  liuro  memorial  deslas  confisoes  asinado  e  aselado  polo  nun- 
cio, e  que  se  ponham  os  nomes  e  cónhomes  de  todos  os  que  se  confesa- 
rem  no  dito  liuro.  E  manda  vosa  Santidade  que  todos  os  que  tiuerem 
abitacam  no  Reino  de  portugal  ou  Senhorios  dele,  asi  machos  como  fe- 
meas,  ora  seiam  naturaes  da  térra  ora  viessem  d  outro  Reino ;  e  tambem 


4í)i  CORPO  DiPLOiMATICO  PORTÜGUEZ 

os  que  foram  desterrados  por  suas  eresias  e  dilitos,  e  os  que  se  foram  e 
auseutarara  per  suas  vonlades  que  se  confesarem  ao  dito  nuncio,  ou  a 
cada  hura  dos  confesores  per  elle  ordenados  e  se  espreuerem  no  dito  li- 
uro  das  confissoes  dentro  no  lempo  ácima  asinado,  o  qual  tempo  manda 
que  se  conté  aos  ausentes  do  dia  que  ouuerem  noticia  desta  bula  em  diante, 
seiam  perdoados  de  todas  suas  eresias  apostasias  crimes  e  excesos,  por 
grandes  inormes  e  calificados  que  seiam.  E  este  perdam  concede  \ossa 
Sanlidade  a  todos  os  ditos  christaos  nouos  de  qualquer  calidade  e  condi- 
cam  que  sejam,  com  tanto  que  depois  das  ditas  confissoes  se  emendem  e 
nom  tornera  a  cometer  mais  os  ditos  errores  e  eresias.  E  manda  que  os 
que  sam  constituidos  em  oficio  sacerdotal  ou  dinidades  ecclesiasticas  sir- 
uam  seus  oficios  e  suas  dinidades  e  estera  nelas  quietamente,  E  os  que 
nom  sara  sacerdotes  ho  posara  ser,  e  auer  beneficios  e  dinidades  se  ca- 
nónicamente Ihe  forera  dados,  E  seiam  auidos  assi  como  se  elles  e  seus 
pais  auos  e  bisauos  foram  sempre  chrislaos  e  nunca  desuiarara  da  fee,  E 
gozem  de  todos  os  privilegios  onras  e  prerogatiuas,  com  plenissima  abi- 
lilacara  no  spiritual  e  temporal,  que  gozara  os  outros  christaos  anligos,  e 
nunca  em  nenhura  tempo  posara  ser  acusados  denunciados  nem  inquiri- 
dos das  eresias,  blasfemias  e  apostasias  cometidas  ante  da  publicacam  desla 
bula,  e  ante  de  se  confesarera  ao  dito  nuncio  ou  aos  confesores  per  ele 
ordenados,  E  todo  o  pasado  Ihe  vossa  Santidade  perdoa,  asy  quanto  ao 
foro  judicial,  crirainal  e  contencioso,  corao  da  conciencia  e  alma,  e  dis- 
pensa cora  elles  e  absolve  os  de  lodalas  excomunhoes,  inlerditos,  yrregu- 
laridades  e  censuras,  em  que  ouuessem  encorrido  por  causa  dos  ditos  ex- 
cesos erisias  e  apostasias.  O  qual  perdara  se  ere  e  lera  por  mui  corto  que 
uosa  Santidade  era  nenhuraa  maneira  concederá  na  forma  e  modo  em  que 
o  concedeo,  se  fora  bera  e  fielraente  emformado  dos  enconuenientes  e  da- 
nos das  almas,  e  grandes  escandolos  e  ofensas  de  deus  que  deles  se  se- 
guem,  porque  cerlo  he  que  estes  sam  judeus,  pois  foram  bautizados  per 
forca  violenta  segundo  vossa  santidade  foy  enformado,  e  diz  que  nom  de- 
uem  ser  noracados  antre  os  christaos  nem  corrigidos  pola  Igreia ;  e  pois 
he  verdade  que  sam  judeus,  e  nom  sara  capazes  de  receber  sacramento 
algum,  certo  he  que  nara  Ihe  concederá  vossa  Sanlidade  as  cousas  aciraa 
ditas,  se  fora  bera  enformado,  e  por  tanto  se  eré  que  foram  tara  solícitos 
e  sagazes  que  liuerara  raéos  e  maneiras  pera  engañar  vossa  sanlidade,  e 
per  falaces  e  falsas  emformacoes  erapetraram  e  alcancaraní  da  sé  aposto- 


RELACOES  COM  a  curia  ROMAíNA  435 

lica  perdam  e  dispensacam,  e  priuilegio  lam  escamdaloso  e  pernicioso  de 
error  entolerabile,  que  sendo  judeus  seiam  Sacerdotes  e  posam  ter  toda 
dinidade  eclesiástica,  posto  que  seia  abacial  episcopal  e  archiepiscopal,  e 
ministrar  e  Receber  todos  os  sacramentos  da  Igreja,  Sem  se  poder  nunca 
em  nenhum  tempo  fazer  contra  eles  \isitacam  nem  enquisicam  alguma  do 
pasado,  nem  se  poderem  os  prelados  enformar  nem  enquirir  quais  foram 
bautizados  per  forca,  e  quais  per  suas  vontades,  porque  a  bula  tudo  de- 
fende,  e  quer  que  elles  gozem  do  perdam  e  perrogatiuas  ácima  ditas, 
confesando  se  e  espreuendo  se  no  liuro  das  confisoes  segundo  a  forma  da 
bula,  sem  se  poder  mais  acerca  deles  fazer  outra  alguma  diligencia. 

E  o  mesmo  perdam  ácima  dito  concede  vossa  santidade  aos  outros 
que  foram  bautizados  de  córenla  anuos  a  esta  parte  per  suas  vontades, 
e  aos  que  depois  delles  naceram  e  foram  bautizados  em  sua  infancia  se- 
gundo a  forma  da  Igreia,  dos  quaes  vossa  Santidade  foy  enformado  que 
per  indiscretas  e  engañosas  conuersacoes  e  diabólicas  persuasoes  se  tor- 
naram  muitos  delles  ao  judaysmo,  e  nom  se  pode  entender  e  he  espan- 
toso de  ouuir  que,  enformando  elles  vossa  Santidade  como  sam  ereies, 
Ihes  perdoa  nom  somente  no  foro  da  conciencia,  mas  tambem  quanto  ao 
foro  judicial  e  contencioso,  e  dispensa  com  elles  que  seiam  sacerdotes  e 
possam  ter  todalas  dinidades  eclesiastisas,  e  ministrar  e  Receber  todolos 
sacramentos,  Sem  se  poder  contra  elles  fazer  nunca  inquisicam  das  ere- 
sias  passadas  e  cometidas  até  o  tempo  da  dita  confisam ;  e  assi  Ihe  con- 
cede vossa  santidade  o  dito  perdam  e  dispensacam  quanto  ao  foro  judi- 
cial, sem  Ihe  constar  nem  saber  que  se  querem  emendar,  e  posto  que  os 
mande  confesar  a  confisam  sacramental  he  secreta,  e  nom  faz  fé  quanto 
á  igreia  no  foro  judicial,  e  mayormente  esta  que  he  forcada  e  feita  per 
medo,  porque  ñora  se  confesando  nom  podem  gozar  da  bula,  e  ficarám 
obrigados  as  penas  que  merecem  per  suas  erisias,  E  por  tanto  Ihe  he  for- 
cado  confesarem  se  como  a  bula  manda ;  e  se  de  corenta  anuos  a  esta 
parte  se  confesaram  sempre  maliciosa  e  falsamente  per  suas  vontades, 
como  quer  vossa  santidade  que  Ihe  cream  a  esta  confisam  feita  forcada- 
mente  sem  poderem  al  fazer? 

E  diz  mais  vossa  Santidade  que  os  que  foram  acusados  e  encacera- 
dos,  e  Ihe  forem  ja  prouadas  suas  eresias  en  juizo,  ou  forem  condenados 
e  seus  bens  confiscados,  ou  reconciliados  e  penitenciados,  ou  per  suas 
erisias  desterrados,  que,  abjurando  eles  e  renunciando  as  ditas  eresias, 


456  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

seiam  logo  sollos  das  prisoes  e  degredos,  e  postos  em  sua  liberdade,  e 
Ihe  lornem  e  restituam  seus  bens  e  fazendas,  se  ja  o  procurador  fiscal 
del  Rey  nom  estiuer  de  posse  dellas,  e  que  sejam  remitidos  ao  nuncio ; 
e  querendo  se  elles  confesar,  e  confesando  se  e  esprevendo  se  no  liuro 
das  confisoes,  segundo  a  forma  da  bula,  vossa  Sanlidade  extingue  e  an- 
nula  os  ditos  processos  e  sentencas  e  autos  contra  elles  formados,  e  ad- 
uoca  ludo  á  sé  apostólica,  e  manda  que  elles  seiam  tornados  e  restitui- 
dos ao  estado  que  dantes  estauam,  e  dispensa  com  elles  e  absolue  os  de 
lodalas  excomunhoes,  interdictos,  irregularidades  e  censuras,  em  que  ou- 
uesem  encorrido  por  causa  das  ditas  erisias,  apostasias  e  errores,  e  tira 
Ihe  toda  magoa  de  infamia  que  tinham,  e  quer  que  os  que  eram  sacerdo- 
tes ou  tinham  dinidades  ecclesiasticas,  fiquem  em  seu  oficio  sacerdotal  e 
dinidades  pacificamente  como  d  antes  estauam,  e  gozem  de  todolos  priui- 
lejos  onras  e  prerogatiuas  ao  espiritual  e  temporal,  que  gozam  os  outros 
christaos  antigos,  e  seiam  tidos  e  auidos  em  todalas  cousas  asi  como  se 
elles  e  todos  seus  antecessores  foram  sempre  christaos,  e  nunca  disuia- 
ram  da  fe :  e  estas  cousas  Ihe  concede  vossa  Santidade,  E  manda  que  go- 
zem dellas,  posto  que  se  proue  claramente  e  conste  que  eram  erejes,  e  que 
o  foram  sempre,  e  que  perseuerarara  e  estiueram  em  suas  apostasias  e 
errores  e  eresias  de  córenla  annos  ha  esta  parte.  Pois  veja  Vossa  Santi- 
dade e  consire  como  se  poderá  tolerar  tam  grande  e  abominavel  escán- 
dalo que  os  que  vemos  e  sabemos  que  foram  sempre  erejes,  e  por  taes 
auidos  e  condenados,  que  saindo  dos  caceres  prisoes  e  desterros  os  veja- 
mos logo  prelados  e  húsar  de  hoficio  Sacerdotal,  ministrar  os  Sacramen- 
tos, e  Reger  ha  Igreja.  Nom  se  eré  que  Vossa  Santidade  tal  cousa  man- 
dara nem  permitirá,  se  fora  bem  e  fielmente  enformado,  sem  ao  menos 
Ihe  constar  e  saber  primeiro  elles  serem  emmendados,  Porque  comtra  toda 
rezam  e  direito  he  elles  serem  perdoados,  e  com  tam  plenissima  abilita- 
cam  dispensados,  sem  constar  nem  se  saber  que  sam  emendados ;  e  posto 
que  se  confessem  segundo  a  bula  manda,  a  tal  confissam  nom  faz  fe  quanto 
á  Igreja  no  foro  judicial  onde  as  eresias  foram  prouadas,  porque  he  sacra- 
mental e  secreta,  feita  per  medo  e  sospeita,  segundo  ja  ácima  fica  dito. 
E  manda  mais  Vossa  Santidade  que  os  que  forem  infamados  sem  se- 
rem acusados,  se  sua  infamia  vier  ás  orelhas  do  nuncio,  se  possam  com- 
purgar exlrajudicialmenlc  e  secretamente  peranle  o  nuncio,  ou  seus  de- 
putados,  per  seu  juramento  com  duas  ou  tres  lestemunhas  fidedignas,  que 


RELACOES  COM  a  curia  romana  4o7 

o  mesmo  infamado  escolher  e  hapresentar ;  e  nam  se  querendo  conipur- 
gar,  estes  infamados  poderam  abjurar  e  renunciar  secretamente  seus  er- 
rores, de  que  sam  difamados,  perante  o  nuncio,  ou  seu  deputado,  com  duas 
testemunhas,  ou  com  seu  proprio  sacerdote :  E  com  esta  purgacam  ou 
abjuracam  Ihe  tira  vosa  Santidade  toda  infamia,  E  manda  que  gozem  de 
todolos  beneficios  desla  bula,  com  plenissima  abililacam  no  espiritual  e 
temporal,  e  que  sciam  auidos  em  tedas  as  ccusas  como  os  outros  chris- 
taos  anligos,  e  como  se  nunca  foram  difamados,  e  sempre  foram  chris- 
taos  elles  e  seus  antecessores.  O  qual  perdam  e  abililacam  causará  mui 
grande  escándalo,  porque  em  todalas  partes  do  Reino  ha  h¡  muilos  mui 
difamados,  e  tidos  comummente  por  erejes,  e  nom  se  pode  tirar  nem  ce- 
sar o  tal  escándalo  com  a  dita  purgacam  ou  abiuracam  extrajudicial,  que 
foi  feila  oculta  e  secretamente,  segundo  a  bula  manda ;  nem  se  pode  crer 
que,  sendo  vosa  santidade  fielmente  enformado,  permita  e  aja  por  bem 
que  os  que  sam  publicamente  infamados,  e  tidos  comummente  dos  que 
hos  conhecem  por  erejes,  gozem  de  tantos  beneficios,  priuilegios,  onras, 
prerogaliuas,  abililacoés  e  dispensacoes,  como  esta  bula  concede  com  tanto 
escándalo  de  todo  reino. 

Manda  mais  Vosa  Santidade  que  os  que  forem  acusados  em  porlu- 
gal,  ou  em  outras  parles  fora  do  Reino,  posloque  nos  processos  contra 
elles  formados  Ihe  seiam  prouadas  suas  heresias,  ou  seiam  ja  condenados 
por  erejes,  e  se  quiserem  mostrar  por  sem  culpa  e  liurar  se  perante  o  nun- 
cio, que  os  ouca  bcninamente  de  nouo,  e  Ihe  receba  suas  defesas  e  proua 
délas ;  e  se  outra  vez  sucumbirem  e  forem  conuencidos  perante  o  nun- 
cio, e  nom  forem  achados  relasos,  que  ihe  mude  as  penas  jurídicas  que 
por  suas  eresias  mereciam,  e  as  em  que  foram  condenados,  em  peniten- 
cias arbitrarias  e  secretas,  e  com  as  ditas  penitencias  extrajudiciaes  e  se- 
cretas fiquem  abilitados  absoltos  e  dispensados  pera  poderem  gozar  de  to- 
dolos beneficios  da  bula,  asi  como  os  outros  ácima  ditos.  Do  que  se  se- 
guem  grandes  inconuenientes,  porque  nom  somente  em  portugal,  mas  tam- 
bera no  reino  de  castela,  foram  muitos  acusados  e  depois  de  Ihe  serem 
suas  eresias  provadas,  e  alguuns  depois  de  condenados  e  os  bens  confis- 
cados, fugirara  pera  portugal,  e  sam  suas  estatuas  queimadas  em  caste- 
la ;  e  loriAndo  se  agora  a  liurar  e  amostrar  por  sem  culpa  ante  o  nun- 
cio, per  ventura  com  testemunhas,  fundamentos  e  Rezoes  falsas,  sem  parte 
e  em  ausencia  dos  inquesidores  e  prelados,  que  os  condenaran!,  redun- 

TOMO  II.  08 


458  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

dará  em  obprobrio  infamia  e  desonra  dos  dilos  inquisidores  e  prelados, 
que  contra  elles  procederam,  e  os  acharam  culpados  e  os  condenaran),  e 
eles,  sendo  culpados  e  ereges,  cora  huma  penitencia  pecuniaria  e  secreta 
ficarám  liures,  e  gozarám  de  todolos  beneficios  da  bula,  ho  que  he  cousa 
tam  abominauel  e  asurda  como  as  pasadas.  E  postoque  o  fundamento  e 
entencam  de  uosa  Santidade  seia  comcederlhe  este  perdam  coni  tanto  fa- 
uor  polos  preseruar  das  eresias  e  confirmar  na  fe,  elles  ho  tomarám  pollo 
contrairo,  e  Ihes  parecerá  que  porque  tem  a  verdade  permite  deus  e  quer 
que  seiam'  fauorecidos  e  defendidos,  e  confirmar  se  am  mais  huns  aos  ou- 
tros  em  seus  errores,  e  perverterám  os  filhos  com  mais  eficacia  e  mayor 
pertinacia,  e  farseara  mais  firmes  e  constantes  em  suas  irisias,  porque 
cerlo  he  que  o  mal  conseruado  e  fauorecido  mais  se  acrecenta.  E  todos 
os  que  tem  conhecimento  e  experiencia  de  seu  modo  de  uiver  dizem  e 
tem  por  certo  que,  sendo  asi  fauorecidos  de  uossa  Santidade  como  vem 
ordenado  na  bula,  que  se  confirmarám  muito  mais  em  seu  judaismo,  e 
as  erisias  crecerám  cada  vez  mais. 

E  por  tanto  el  Rei  por  cuitar  tam  grande  perigo  e  daño  das  almas 
e  ofensas  de  deus,  e  escandolo  do  reino  e  de  toda  a  christindade,  pede 
a  uossa  Santidade  que,  lembrando  se  da  entencam  rezoes  e  fundamen- 
tos, cora  que  concedeo  a  bula  da  ínquisicam  ácima  dita,  aja  por  bem  de 
conceder  oulra  em  que  faca  inquisidor  a  pesoa  natural  do  reino,  que  el 
Rey  nomear,  porque  os  naturaes  tem  mais  conhecimento  e  experiencia 
das  cousas  do  Reino  que  os  estrangeiros,  e,  reuocando  e  anulando  esta 
bula  de  perdam,  conceda  a  inquisicam  na  forma  da  bulla  ácima  dita,  per 
que  Vossa  Santidade  fez  inquisidor  ao  dito  frei  diego  da  silua.  E  pois  pa- 
rece bem  a  vosa  Santidade  de  dar  algura  fauor  a  esta  gente,  conceda  a 
dita  bula  da  Inquisicam  com  as  limitacoes  seguintes: 

A  primeira  que  os  que  forera  condenados  por  erejes,  e  nom  forera 
reconciliados,  ñora  seiara  entregues  ha  justica  secular,  porque  seiam  li- 
urados  da  morte  natural,  e  seiam  desterrados  do  Reino  pera  térra  onde 
nom  possara  dañar,  e  se  era  algura  terapo  Ihe  nosso  Senhor  quisor  dar 
graca  pera  se  conuerterera,  la  Iha  dará  onde  estiuerem. 

A  segunda  que  os  seus  bens  e  fazendas  ñora  se  confisquera,  raas 
seiara  pera  os  filhos  e  erdeiros  que  forera  achados  católicos  e  Bons  chris- 
laos,  e  ñora  tendo  taes  erdeiros  pera  obras  pias  noraeadas  per  el  rei  cora 
parecer  do  inquisidor. 


RELACOES  COM  a  curia  romana  iH9 

A  terceira  que  os  que  forem  reconciliados  nom  Ihe  dem  cacere  per- 
petuo segundo  a  determinacam  do  direito  comuní,  nem  se  confisquem  seus 
bens,  e  lirem  Ihe  os  filhos  de  seu  poder,  se  os  tiuerera,  e  ponham  nos  onde 
seiam  insinados  na  fe  católica  e  virtudes  necessarias  e' proueilosas  pera 
sua  saluacam.  E  os  bens  e  fazendas  seiam  pera  os  ditos  filhos,  e  nom 
tendo  filhos,  pera  os  outros  erdeiros  que  forem  bons  christaos  sem  infa- 
mia de  eresia,  e  nom  tendo  taes  erdeiros,  pera  obras  pias,  que  el  Rei 
com  parecer  do  inquisidor  nomear ;  e  os  ditos  reconciliados  fiquem  ina- 
bilitados  e  incapazes  dos  autos  ligitimos  e  oficios  públicos,  segundo  a  or- 
denanca  e  disposicam  do  direito  comum,  e  nom  posam  mais  ter  nem  hú- 
sar de  nenhum  oficio  de  comprar  e  vender,  nem  laucar  em  rendas,  mas 
viuam  per  seu  trabalho  mecánico,  e  esta  penitencia  Ihe  dem  em  lugar  do 
cacer  perpetuo  que  Ihe  o  direito  dá. 

A  quarta  limitacam  he  que  vossa  Santidade  dispense  com  os  filhos 
e  netos  dos  condenados  em  que  nom  for  achada  sospeita  nem  enfamia  de 
eresia,  e  os  faca  abeles  e  capazes  de  todolos  autos  ligitimos  no  espiritual 
e  temporal,  e  de  todolos  oficios  pubricos  e  dinidades  no  estado  ecclesias- 
tico  e  secular,  e  todo  o  mais  mande  vossa  Santidade,  que  se  faca  segundo 
a  ordenanca  e  disposicam  do  direito  comum  e  conciencia  do  Inquisidor  \ 


Bulla  do  Papa  Clemente  1^11,  dirigida 
ao  Infante  D.  Henrique. 


1533  — AgOHto  9. 


Clemens  episcopus  seruus  seruorum  dei  dilecto  filio  Henrico  Electo 
Bracharensi  salutem  et  apostolicam  benedictionem. 

Cum  nuper  nos  te,  tune  in  vigésimo  primo  tue  etatis  anno  constitu- 
lum,  administratorem  in  spiritualibus  el  ternporalibus  ecclesie  Bracharen- 


'  Copia  muito  incorrecta  no  Arch.  Nac,  Gav.  2,  Mac.  2,  n.°  29.  Vejase  o  que 
acerca  d'este  documento  diz  o  sr.  A.  Herculano  na  sua  obra  —  Da  origem  e  estabeleci- 
menlo  da  inquisicáo  —  Totn.  ii,  pag.  46  e  17. 

58* 


460  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTÜGUEZ 

sis,  lunc  cerlo  modo  pastoris  solatio  deslitule,  doñee  vigesimum  septimum 
Annum  etatis  huiusmodi  attingeres,  de  fralrum  noslrorurn  consilio  apos- 
tólica auctoritatc  constituerimus  et  deputauerimus,  ac  ex  tune,  prout  ex 
ea  die,  et  e  confra,  eum  diclum  vigesimum  septimum  Annum  attingeres, 
de  persona  tua  nobis  et  eisdem  fratribus  ob  tuorum  exigentiam  merilo- 
rum  accepla  eidem  ecclesie  de  simili  consilio  dicta  auctoritate  prouideri- 
raus,  prefieiendo  te  illi  in  Archiepiscopum  et  pastorem,  Ac  tecum  vt,  cum 
vigesimum  septimum  Annum  huiusmodi  attigeres,  prefale  ecclesie  in  Ar- 
chiepiscopum preesse,  illamque  in  eisdem  spiritualibus  et  lemporalibus  re- 
gere  et  gubernare  valeres,  motu  proprio  dicta  auctoritate  dispensaueri- 
mus,  prout  in  diuersis  nostris  inde  eonfeclis  lilteris  plenius  continetur; 
Ac  postmodum  Pallium  insigne,  videlicet  plenitudinis  pontificalis  oííicii, 
ex  parte  tua  fuerit  a  nobis  per  dilectum  filiura  Petrum  Domenech,  cleri- 
cumTerrachonensem,  Scutiferum  de  numero  participantium,  et  familiarem 
eontinuum  commensalem  nostrum,  Nuntium  tuum,  cum  ea  qua  decuit  ins- 
tantia  postulatum  :  Nos  tuis  supplicationibus  annuentes  Pallium  ipsum  de 
corpore  beali  Petri  sumptum,  per  venerabiles  fratres  nostros  Elborensem 
et  Lamacensem  Episcopos  libi  assignandum,  per  prefatum  Nuncium  tuum 
duximus  destinandum,  Ut  iidem  Episcopi,  vel  eorum  alter,  illud  tibi  post- 
quam  munus  consecralionis  susceperis  assignent,  et  a  te  nostro  et  Romane 
ecclesie  nomine  sub  forma,  quara  eis  sub  bulla  nostra  mitlimus  introclu- 
sam,  fidelitatis  debite  solitum  recipiant  iuramentum.  Tu  autem  illo  intra 
ecclesiam  tuam  illis  diebus  dunlaxat  vtaris,  qui  expressi  in  ipsius  eccle- 
sie priuilegiis  continentur.  Ut  igitur  Signum  non  discrepet  a  signatu,  sed 
quod  geris  exterius  interius  serues  in  mente,  Discretionem  tuam  monemus 
et  hortamur  áltente  libi  per  apostólica  scripta  mandantes  quatenus  humi- 
litatem  et  iuslitiam  dante  domino,  qui  dat  premia  et  muñera  elargilur, 
obseruare  studeas,  que  suum  seruant  et  promouent  seruatorem,  Et  Bra- 
charensem  ecclesiam  sponsam  tuam  cure  sollicite  auctore  domino  spiri-. 
lualiter  et  temporaliter  augmentare. 

Dalum  Rome  apud  Sanctum  petrum,  Anno  Incarnationis  dominice 
Millesimo  quigentesimo  trigésimo  tertio.  Séptimo  Idus  Augusti,  Pontifica- 
tus  nostri  Anno  Décimo  \ 


>  AiCH.  Nac,  Mac.  19  de  Bullas,  n.°  24. 


KELACOES  GOM  a  curia  romana  461 

Forma  ¡uramenti  ralione  Pallü.  —  Ego  Henricus  Archiepiscopus  Bra- 
charensis  ad  hac  hora  in  antea  fidclis  et  obediens  ero  beato  Pelro  sancte- 
que  apostolice  Romane  ecclesie,  et  domino  meo  domino  Giemenli  pape  vii, 
suisque  successoribus  canonice  intrantibüs.  Non  ero  in  consilio  aut  con- 
sensu  vel  fado  \t  vitam  perdant  aut  membrum,  sen  capianlur  mala  ca- 
plione.  Consilium  vero  quod  mihi  creditnri  sunl  per  se,  aut  nunlios  seu 
litteras,  ad  eorum  damnum  me  sciente  nemini  pandam.  Papalum  Roma- 
num  et  regaba  sancti  Petri  adiutor  eis  ero  ad  retinendum  et  defenden- 
dum,  saluo  meo  ordine,  contra  omnem  hominem.  Legatum  apostolice  se- 
dis  in  euudo  et  redeundo  honorifice  trattabo,  et  in  suis  necessitatibus  ad- 
iuuabo.  Vocatus  ad  Synodum  veniam,  nisi  prepeditus  fuero  canónica  pre- 
peditione.  Apostolorum  limina  Romana  Curia  existente,  citra  singulis  An- 
nis,  \itra  vero  montes  singulis  Bienniis,  visitabo  aut  per  me  aut  meum 
Nuntium,  nisi  apostólica  absoluar  licentia.  Possessiones  vero  ad  mensam 
mei  Archiepiscopatus  pertinentes  non  vendam,  ñeque  donabo,  ñeque  im- 
pignorabo,  ñeque  de  nouo  infeudabo,  vel  aliquo  modo  alienabo,  incon- 
sulto Romano  Pontifice.  Sic  me  deus  adiuuet  et  hec  sancta  dei  euangelia  '. 


Bulla  diri^icla  aoü  Biüpoü  d'Evora  e  de  Ijame^o. 


1533— Agosto  Y. 


Clemens  episcopus  seruus  seruorum  Dei  venerabilibusfratribus  Elbo- 
rensis  el  Lamacensis  Episcopis  Salutem  et  apostolicam  benedictionem. 

Cum  Pallium  insigne,  videlicet  plenitudinis  pontificalis  officii,  ex 
parte  dilecti  filii  Henrici,  Electi  Bracharensis,  quem  nuper,  tune  in  vi- 
gésimo primo  sue  etatis  Anno  constilutum,  Administratorem  in  spirilua- 
libus  et  temporalibus  ecclesie  Bracharensis.,  tune  certo  modo  pastoris  so- 
latio  destitute,  doñee  vigesimum  septimum  Annum  etatis  huiusmodi  attin- 
geret,  de  fratrura  nostrorum  consilio  apostólica  auctoritale  constituimus  et 
deputauimus,  ac  ex  tune,  prout  ex  ea  die,  et  e  contra,  cura  diclum  vi- 

^  Arch.  Nac.  Mac.  12  de  Bullas,  n."  25. 


i 62  COKPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

gesimum  seplimum  Annum  atlingeret,  (Je  persona  sua,  nobis  el  eisdem  fra- 
Iribus  ob  suorum  exigenliam  merilorum  accepla,  eidem  ecclesie  de  simili 
consilio  dicta  aucloritale  prouidimus,  prcficiendo  ipsum  illi  in  Archiepis- 
copum  el  paslorem,  Ac  secum  vt,  cum  vigesiraum  seplimum  Annum  hu- 
jusmodi  attigerit,  prefate  ecclesie  in  Archiepiscopum  preesse,  illamque  in 
eisdem  spiritualibus  el  temporalibus  regere  el  gubernare  valerel,  molu 
proprio  dicla  aucloritale  dispensauimus,  prout  in  diuersis  noslris  inde  con- 
fectis  lilleris  plenius  conlinctur,  per  dileclum  filium  Pelrum  Domenech, 
clericum  Terrachonensem,  Scutiferum  de  numero  parlicipanlium,  el  fa- 
miliarem  conlinuum  commensalem  noslrum,  Nuncium  suum  fuerit  a  no- 
bis cum  ea  qua  decuit  inslanlia  poslulatum,  Nos  ipsius  Henrici  Elecli  pre- 
cibus  Annuenles  pallium  ipsum  de  corpore  beali  Pelri  sumptum  per  vos 
vel  altorum  veslrum  assignandum  eidem,  secundum  formam  quam  vobis 
sub  bulla  noslra  millimus  introclusam,  per  prefalum  Nuncium  duximus 
deslinandum.  Quocirca  fraternitali  vestre  per  apostólica  scripla  manda- 
mus  quatenus  vos,  vel  aller  veslrum,  Pallium  ipsum  iuxta  premissam  for- 
mam sibi  assignare  curetis,  el  ab  ipso  nostro  el  Romane  ecclesie  nomine, 
sub  forma  quam  vobis  sub  eadem  bulla  dirigimus,  fidelitatis  debite  soli- 
lum  recipialis,  seu  aller  veslrum  recipial  iuramentum ;  formam  aulem  iu- 
ramenti,  quod  diclus  Henricus  Eleclus  preslabit  nobis,  de  verbo  ad  ver- 
bum  per  eius  patentes  litteras  suo  sigillo  munitas  per  proprium  Nuntium 
quanlotius  destinare  curetis. 

Datum  Rome  apud  Sanctum  pelrum,  Anno  Incarnationis  dominico 
Millesimo  quingentésimo  trigésimo  lertio,  séptimo  Idus  Augusti,  Ponlifi- 
catus  noslri  Anno  Décimo  ^ 

Forma  dandi  Pallium.  —  Ad  honorem  dei  omnipotentis  el  beate  Ma- 
rie  virginis,  ac  beatorum  Apostolorum  Pelri  el  Pauli,  el  domini  noslri 
domini  Clementis  vii,  et  sánete  Romane  ecclesie,  Necnon  Rracharensis  ec- 
clesie Ubi  commisse,  Ubi  Iradimus  Pallium  de  corpore  beaU  Pelri  sum- 
ptum, plenitudinis  videlicet  ponUficalis  officü,  vi  eo  vtaris  infra  eccle- 
siam  luam  certis  diebus,  qui  exprimuntur  in  priuilegiis  c¡  ab  apostólica 
sede  concessis  ^ 


»  Arch.  Nac,  Mac.  18  de  Bullal,  n."  40. 
2  Ibilem,  Mac.  18,  n.°  29. 


RFLACOKS  COM  a  CURíA  HOMAiNA  '  403 


Caria  il'cl-Rci  a(»  Papa  Cleinciitc  WII. 


1533  — AgOMto  15. 


Sanclissime  in  chrislo  Pater  ac  beatissime  Domine. 

Joannes  Dei  gratia  Rex  Portugalliae  et  Algarbiorum  cilra  el  ultra 
raare,  in  África  Dominus  Guineae,  alque  expedilionis  et  nauigationis  et 
commercii  Aethiopiae,  Arabiae,  Persiae,  alque  indiae,  vt  filius  pienlissi- 
raus  post  humillima  pedum  Oscula.  Quanquam  hoc  mihi  cum  reliquis 
christianis  regibus  est  commune,  vi  omnes  Sanctilatem  Vestram,  tanquam 
Dei  vicariura  in  terris,  ac  Reipublicae  Chrislianae  paslorem,  pie  sancteque 
colamus ;  ego  lamen  in  hac  communi  omnium  obligatione  praecipuum  me 
semper  oíficii  ac  pietatis  debitorem  putaui,  Nam  praeter  ipsam  religionis 
causam,  quae  ómnibus  ....  quo  communis  est,  tanta  semper  ueslrae  flo- 
rentissimae  Mediceae  Gentis  familiae,  iam  inde  ab  ipso  Leone  Décimo  cum 
Paire  meo  Aemanuele  rege  foelicissimo,  familiaritas  fuit,  ut  haereditarium 
habeam  Sanctilatem  Vestram  hoc  nomine  uel  priuatim  demereri.  Sed,  et 
praeter  apostolicam  dignilatem  et  clarissimi  generis  commendationem,  cum 
res  christiana  hac  nostra  tempeslate  in  eas  calamitates  inciderit,  quae  su- 
periorum  temporum  mala  praetergrediantur,  ea  sanctitatis  vestrae  uigilan- 
tissima  prudenlia  atque  ea  virtus  extitit,  ut  omnium  indicio  quantum  in 
se  fuerit  res  fessas  ope  et  consilio  iuuerit,  atque  aegris  partibus  medicata 
sil,  Quamobrem  sibi  eam  famam  atque  id  nomen  ueri  ac  clementissimi 
Patris  adepta  est,  ut  nemo  iam  sit  ex  christianis  Principibus,  qui  se  in 
rebus  praecipue  aduersis  suae  fidei  atque  suo  patrocinio  committere  ac 
eredere  non  debeat.  Quae  ego  benefacta  in  nostram  Rempublicam  Chris- 
lianam  cum  perspectissima  ac  cognitissima  habeam,  ad  sacros  Sanctitatis 
vestrae  pedes  supplex  accedo  opem  atque  auxilium  meis  rebus  petens, 
quod  ea  flducia  fació  vt  sperem  Sanctilatem  Vestram  pientissimi  íilii  ius- 
tissimas  preces  spreturam  non  esse.  Sed  antequam  ea  exponunlur,  quae 
mihi  donari  ac  concedí  opto,  pauca  de  rerum  mearum  statu  habita  prae- 
teriti  alqu3  praesenlis  temporis  consideralione  declarabo,  Rera  ómnibus 


464  •  CORPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGÜEZ 

nolissimam  esse  pulo  Aemanuclem  Regem,  foelicissimum  patrera  nieum, 
inilio  sui  regni  classem  ex  Lusilania  misisse,  quae  uastissinii  atque  an- 
tea incognili  Oceani  tiaclus  emensa,  tándem  ad  indicum  mare  perlala  est, 
unde  indicis  mercibus  onusta  in  Lusitaniam  remeauil ;  Quod  elsi  tune  pro 
miraculo,  ul  par  eral,  habitum  essel,  quoniam  res  foeliciter  cesseral,  ite- 
rum  teníala  priore  fortuna  cum  lulius  ac  commodius  in  dies  nauigare- 
lur,  solemnes  quolannis  stalis  lemporibus  classes  milti  caeperunl,  Aucla- 
que  nauigandi  fiducia  cum  se  noslrae  ñaues  in  omnes  parles  sparsissent, 
non  solum  Aelhiopici,  Arabici,  Persici,  alque  indici  el  Scythici  maris 
omnes  sinus,  el  terrae  omnia  ilumina  penelrarunl,  sed  elianí  alium  con- 
Unentium  lerrarum  nouum  orbem  nostris  honiinibus  haclenus  incognilum, 
alque  raagnarum  insularum  infinilum  prope  numerum,  ¡nuenerunl.  Qui- 
bus  rebus  in  ómnibus  illis  regionibus  adeo  Lusilanorum  polenlia  creuil, 
ut  mullae  ciuilales,  nalioncs  alque  integra  regna,  aul  melu  nostrorum 
coacta,  aul  doctrina  instructa,  euangelium  Chrisli  receperinl ;  aliquoi  etiam 
insulae  indicis  lilloribus  obieclae  reperlae  sunt,  Quas  qui  incolunl  chris- 
lianos  se  esse  profitenlur,  cum  alioqui  mullum  a  Romanae  Ecclesiae  ri- 
libus  abscedanl.  Quin  etiam  hac  noslra  nauigalione  apcrlum  est  iler  ad 
eos  cbristianos,  qui  intra  Aelhiopcs  supra  Aegyplum  undique  ethnicis  cir- 
cundali  sunl,  Qui  se  nunc  per  eum  legalum,  qui  cum  oralore  nostro  ad 
Sanclitalem  Veslram  profectus  est,  Romanae  Ecclesiae  adiungi  uelle  aífir- 
manl,  vi  sil,  quemadmodum  Chrislus  Deus  nosler  iussil,  unus  pastor  el 
unum  ouile.  Tanta  ilaque  authoritas  hac  nostra  nauigalione  Ghrisliano  no- 
mini  accessil,  lanlum  gloriae  adieclum  est,  ul  ausim  diccre  tanlum  per 
Aethiopicum,  alque  Indicum  mare  mea  hac  nauigalione  Chrislianismo  ac- 
creuisse,  quantum  in  Europa  nostris  lemporibus  amissum  esl ;  alque  etiam 
summe  gloriae  duci  deberé  arbitror  in  his  partibus  Indici  maris,  ubi  Ma- 
chomelicus  error  plurimum  pullulal,  altolli  manibus  Lusilanorum  uictri- 
cia  Chrisli  signa,  el  mullos  suae  gcnlis  Reges  nostris  legibus  uiuere  et 
graue  tributum  quolannis  penderé;  mullasque  esse  per  omnes  Arabici, 
Persici,  alque  Indici  littoris  oras,  perqué  ínsulas  deducías  colonias  nos- 
trorum Lusilanorum  ubi  rite  chrisli  nomen  Quolidie  inuocalur.  Quin  etiam 
diuiliae  ¡psae,  quae  quidem  huic  regno  huiusmodi  nauigalione  amplissimae 
accreuerunl,  semper  ct  a  me,  el  ab  Aemanuele  paire  meo  isti  sanclae  sedi 
apostolicae,  alque  ómnibus  Christianis  regibus,  qui  se  nostris  opibus  au- 
geri  uoluerunt,  alque  ómnibus  deniquc  ordinibus,  ac  collegiis  sacris  fue- 


RELACOES  COM  a  curia  romana  465 

runt  liberalissime  communicatae ;  Quae  ideo  citra  inanis  gloriae  suspicio- 
nem  dicta  uidcri  debent,  quia  elsi  minime  dicanlur,  ómnibus  lamen  no- 
tissima  sunt.  Sed  cum  haec  omnia  diulius  prosperum  fortunae  cursum 
sentirent,  nec  ulla  re  aduersa  premerentur,  paulalim  aliquibus  diííiculla- 
tibus  implican  caeperunt,  Nam,  cum  antea  nostrae  ñaues  nuUa  nisi  ma- 
ris  pericula,  quae  in  tam  longo  itinere  omnino  máxima  contingere  solent, 
paterentur,  postquam  nonnullorum  cupiditas,  qui  aliena  sludiosius  appe- 
tunt  quam  sua  tutantur,  ita  incensa  esl  ut  pirático  more  nostris  nauibus  in- 
sidiaretur,  necesse  habuimus  aliam  quotannis  classem  instruere,  quae  nos- 
tras  onustas  ñaues  ad  médium  mare  uenientes  excipcret,  ac  tutas  domum 
reduceret.  Quin  etiam  ipsi  Indi,  qui  facile  a  principio  parua  nostrorum 
manu  in  oíBcio  continebantur,  nostris  assiduis  praeliis  repugnare  edocti, 
"vix  iusto  exercitu  nunc  leneri  possunt,  ipsumque  indicum  mare,  quod 
tuto  prius  nauigabatur,  iam  nisi  munitissimis  classibus  a  nostris  nauigari 
non  potest ;  Quippe  Indi,  etsi  saepe  in  ipso  mari  a  nostris  praelio  supe- 
rati  ac  fracli  discedunt,  non  tamen  animo  deüciunlur,  nec  reficcre  uires, 
ac  tentare  cessant  si  possint  se  in  libertatem  semel  asserere.  Quibus  in 
rebus  dum  singula  prouideo  tot  mihi  impensae  iamdiu  crcuerunt,  isque 
praeterea  numerus  nobiliura  Lusitanorum,  atque  ueteranorum  militum  as- 
siduis praeliis  desyderatus  est  ut  nullis  commodis  damna  pensari  ualeant : 
Verum  haec  omnia  propriis  interim  facultatibus  refici  atque  sustineri 
poterant :  nunc  Christiani  nominis  hoslis  turcarum  imperator  multis  uicto- 
riis  elatus,  Quas  aduersus  Soldanum  et  Xeque  Ismaelem,  deinde  aduer- 
sus  Magistrum  Hierosolymitanum  atque  Pannoniae  Regem  adeptus  est,  in 
Indiam  quoque  imperium  suum  proferre  cupiens,  maximis  in  mari  rubro 
instructis  classibus.  Copias  in  Indicum  mare  primo  quoque  íempore  trans- 
missurus  dicitur ;  Id  quod  Sanctitati  Vestrae  nolissimum  esse  scio,  ut  quae 
anno  superiore  de  ómnibus  huiusmodi  rebus  me  suis  literis  certiorem  fe- 
cerit ;  Quod  ipse  quorundam  Indicorum  Regum  fidera  secutus  facit,  qui 
•se  illi  uniuersam  indiam  tradituros  pollicentur  si  semel  nostram  classem 
profligauerit,  Eiusque  copias  Indorum  reges  maiore  ipsi  nauium  numero 
expectant  vt  coniunctis  uiribus  nostros  adoriantur.  Quae  res  etsi  dictu 
facilis  est,  aestimare  tamen  licet  quo  in  discrimine  res  nostrae  illis  in 

partibus  positae  sint.  Quo  mihi  ad  properandum  magis  est  ut..... 

auxilia  submittam  quo  nostri,  fauente  diuino  auxilio,  tot  tamque  instru- 
ctis hostfüm superiores  esse  possint.  Quapropter  hoc  Sep- 

TOMO  II.  o  9 


466  CÜRPO  DIPLOMÁTICO  PORTUGUEZ 

tembri  mcnse,  quanuis  propter  anni  témpora  alienus  sit  a  consueta  naui- 
gationc,  coactus  tamen  ea,  quam  dixi,  necessilale,  non  paruam  classem 
subsidio  millam,  missurus  slalim  aliam  multo  maiorem  inilio  insequcntis 
Marlii,  quod  tempus  venlorum  causa  slatum  ac  solemne  millendis  habetur. 
Quae  ambae  classes  eo  milltum  numero  atque  bellicorum  instruinenlo- 
rum  copia  onustae  dimilluntur,  \t,  si  Dcus  Oplimus  Maximus  eas  incó- 
lumes ad  indicum  mare  perlulerit,  sperem  pro  bellica  mililum  nostro- 

rum  \irtute  omnes  Turcarum,  atque  indorum si  comminus 

rem  gerere  sustinuerint,  suo  damno  pugnandi  periculum  facturas.  His  re- 
bus  posilis,  satis  constare  arbilror  quis  lolius  mei  regni  et  armorura  et 
nauium  el  uirorum  et  pecuniarum  status  sit,  Quam  rem  si  Chrisliani 
reges  diligentius  animaduerterent,  intelligerent  prefecto  non  minus  to- 
tius  Christianae  Rcipublicae,  quam  mei  regni,  hoc  uno  Turcarum  aduer- 
sus  me  in  India  bello,  periculum  uerti,  el  rae  pro  communi  omnium  for- 
tuna dimicantem  opibus  suis  adiuuarent.  Nam  si  Turcarum  Princeps  ea 
polentia,  quam  in  Aegypto,  Asia,  Europa  habet,  rem  Chrislianam  lia  in- 
festat  ut  omnium  Chrislianorum  auxilia  in  unum  coacta  uix  eum  ne  per- 
rumpat  sustinere  possint,  quid  precor  futurum  arbitramur  si  suis  copiis 
ac  diuitiis  indicas  opes  addideiit,  quibus  cerle  multis  parlibus  maiorem 
Gxercitum,  quam  modo  in  Pannoniam  adduxit,  quot  annos  continuos  uo- 
luerit  aduersus  chrislianos  alere  poterit?  Sed  et  praeler  Turcarum  bellum, 
ea  pars  Aphricae,  quae  Ilispaniae  lilloribus  obtenditur,  dcduclis  ocio  Lu- 
sitanorum  coloniis,  distinetur  ne  bellum  Hispaniae  inferat,  Quod  si  aliquo 
in  India  detrimento  acceplo  earum  praesidia  minus  alere  ac  reficcre  quo- 
tannis  possem,  nulli  dubium  habetur  quin  ipsam  Hispaniam  statim  bello 
inuasura  esset.  Quare,  beatissime  ac  sanctissime  Pater,  ex  his  quae  dixi 
Sanclitas  Vestra  manifestó  coniicere  poterit  Quanlae  mihi  nunc,  quam- 
quc  in  dies  maiores  impcnsac  et  nauium  et  virorum  et  pecuniarum  im- 
pendeant,  quin  eliam  christianum  nomen,  quod  meis  armis  in  India  longo 
lateque  florel,  quanto  nunc  ne  súbito  concidat  in  periculo  uerselur,  pos- 
tremo quanla  occasio  aperialur  ut  Turcarum  Princeps  eo  armorum  ui- 
riumque  crescat,  ut  nemo  ei  deinceps  resislere  audeat,  nisi  meis  armis 
in  India  uictus  fuerit,  quam  cgo  spcm  et  oplimam  in  virtute  nicoriim 
mililum,  et  certissimam  in  Deo  habco.  Sed  quoniam  reuerendo  viro  Mar- 
tino,  Electo  Archiepiscopo  Funchalensi,  consanguíneo  meo  charissimo, 
atque  oratori  meo  apud  Sanclitalcm  Vcslram,  mandaui  ut  meo  nomine 


RELAgOES  COM  A  CURIA  ROMANA  467 

eidem  Exponcret  Quid  ego  ah  ipsa  impetrare  cupercm,  reliquum  est  ut 
ab  cadcm  Sanclilate  Vestra  suppliciler  pelam  ul  ipsi  integram  fidem  adhi- 
bere,  meque  sua  sólita  benignilate  prosequi  dignetur.  Hoc  si,  \t  spero,  ab 
ipsa  impelrauero,  erit  raihi  loco  summae  gratiae ;  dabo  autem  operam  di- 
ligenlissime  ne  me  unquam  Sanctitas  Vestra  immemorem  dicat,  omniaque 
semper  exequar,  proul  famulum  deuotissimum  decet,  quae  ad  ipsius  ac 
islius  sanclae  sedis  obsequium  spectare  intellexero.  Sanclissime  in  christo 
Pater  ac  bealissime  Domine,  Deus  omnipotens  Sanclilatem  Veslram  diu- 
tissime  et  foelicissime  augere  et  conseruare  dignetur  ad  sui  sancti  obse- 
quii  bonum  et  utilitatem. 

Datae  Eborae  Die  xv  Augusti  mdxxxiii.  —  El  Rey  *. 

*  Arch.  Nac,  Gav.  2,  Mac.  11,  n.°  14.  Tem  o  sello  respectivo  e  o  sobrescripto: 
Sanctissimo  in  Christo  Patri  ac  beatissimo  Domino  Clementi  diuina  prouidentia  Papae 
in  ecclesia  Dei  presidenti. 

Deviam  seguirse  agora  as  seguintes  bullas,  citadas  por  Fr.  Manuel  de  S.  Dama-' 
so:  Ex  litteris  Nuntii,  de  19  de  Outubro  pedindo  a  B.  Joao  iii  que  consentisse  na  pu~ 
blicaQÜo  da  bulla  do  perdao  geral:  Licet  superioribus,  de  18  de  Dezcmbro,  mandando 
ao  nuncio  que  suspendesse  por  dous  meses  a  publicagao  d' aquella  bulla;  e  Quod  opta- 
vit,  da  mesma  data,  communicando  a  elrci  esta  determindíao  (Verdade  Elucid.  Argum. 
VIH  e  ix).  Nao  conseguimos,  porém,  encontrar  nenhuma  d'ellas. 


FIM  DO  TOMO  SEGUNDO. 


59* 


índice 


1S18  PAG. 

Marco  4.  Breve  Cum  ex  litteris,  pelo  qual  o  papa  Lcao  x  convida  el-rei 
D.  Manuel  a  unir-se  aos  outros  principes  christaos  na  guerra  con- 
tra os  turcos 1 

Marco  9.  Breve  Nuper  Monasterium maniendo  a  promessa,  que  tinha  feito 
a  D.  Manuel  de  Noronhá  de  o  prover  no  primeiro  mosteiro  ou 
priorado  que  vagasse 3 

Marco  10.  Breve  Cum  nuper  nomeando  o  arcebispo  de  Lisboa  e  os  bispos 
de  Lamego  e  do  Funchal  para  imporena  o  barrete  de  cardeal  no 
infante  D.  Aífonso  quando  chegasse  á  idade  de  18  annos : .       5 

Marco  21 .  Breve  Cum  majestas  tua  pedindo  a  el-rei  que  ratificasse  as  tre- 
goas  entre  os  principes  christaos,  que  S.  S.  mandava  intimar  de- 
baixo  de  certas  penas 7 

Maio  3,  Breve  Vidimus  quae  super  acerca  da  elevacáo  de  D.  Henrique, 

filho  do  rei  de  Congo,  ao  episcopado 9 

Maio  29.  Despachos  para  D.  Miguel  da  Silva  encarregando-o  de  obter  de 
S.  S.  a  dispensa  necessaria  para  o  casamento  d'el-rei  com  a  infanta 
D.  Leonor,  filha  do  rei  de  Castella 10 

Junho  12.  Breve  Exponi  nolis  nuper  auctorisando  o  bispo  de  Lamego,  ca- 
pellao  mor,  a  conhecer  da  validade  das  censuras  e  penas  ecclesias- 
ticas  impostas  pelos  ordinarios 13 

Junho  11.  Breve  Exponi  nolis  nuper  concedendo  ao  mcsmo  capellao  mor 
faculdade  para  dar  ordens  aos  indios  c  africanos,  que  cstivessem 
no  caso  de  as  receber 15 


470 


índice 


1518 
Junho  15. 


Junho  15. 
Setembro  30. 


1519 
Fcvcreiro  23. 


Maio  27. 


Setembro  16. 

1520 
Abril  3. 


Agosto  29. 


Setembro  14. 


Dezemtro  1. 


Dczcmbro  1. 

1521 
Marco  3. 


Abril  27. 


Agosto  12. 


PAG. 

Carta  de  D.  Miguel  da  Silva  participando  a  el-rei  que  remettia 
ao  embaixador  em  Castella  a  bulla  de  dispensa,  desta  mcsma  data, 
que  obtivera  depois  de  algumas  diíBculdades  a  respeito  da  somma 
que  devia'custar 16 

Bulla  OUatae  nohis  nuper  concedendo  a  dispensa  necessaria  para 
o  casamento  d'el-rei  com  a  infanta  D.  Leonor 18 

Breve  Dudum  certis  ex  causis  ratificando  a  auctorisacao  que 
dera  para  a  creacáo  de  algumas  novas  commendas  da  ordem  de 
Christo 19 

Bulla  Romani  Pontificis  providentia  concedendo  ao  cardeal  in- 
fante D.  Affonso  o  regresso  do  bispado  da  Guarda,  por  morte  ou 
cessao  do  bispo  D.  Jorge 21 

Bulla  Pastoralis  offícn  mandando  aos  prelados  ordinarios  que 
nao  procedam  na  execucao  dos  testamentos  antes  de  anno  e  dia 
sem  o  consentimento  dos  officiaes  d'el-rei 24 

Breve  Exponi  nolis  nuper  auctorisando  o  capellao  mor  a  casti- 
gar os  clérigos,  que  cacassem  sem  licenca  ñas  coutadas  reaes  ....    26 

Breve  Dudum  pro  parte  prohibindo  aos  vigarios  geraes  toma- 
rem  contas  aos  testamenteiros,  visto  que  essa  inspeccao  pertencia, 
pelo  costume  do  reino,  aos  officiaes  d'el-rei 27 

Carta  de  D.  Miguel  da  Silva  a  el-rei  acerca  da  guerra  do  Turco, 
e  do  que  se  passava  em  varios  reinos  da  Europa.  Termina  dizendo 
que  S.  S.  publicara  uma  bulla  contra  Luthero 30 

Bulla  Romani  Pontificis  providentia  concedendo  a  administra- 
cao  do  mosteiro  de  S.  Joao  de  Tarouca  ao  cardeal  infante  D.  Af- 
fonso       33 

Carta  d'el-rei  a  D.  Miguel  da  Silva  recommendando-lhe  alguns 
negocios  pendentes  na  curia,  e  encarregando-o  de  obter  dispensa 
de  idade  para  o  filho  do  rei  de  Manicongo  poder  exercer  as  suas 
funccocs  de  bispo 37 

Outra  de  crenca  para  S.  S 38 

Carla  d'el-rei  a  D.  Miguel  da  Silva  recommendando-lhe  qne 
fizessc  todas  as  diligencias  para  o  cardeal  infante  D.  Alfonso  ser 
próvido  do  arcebispado  de  Toledo,  graca  que  pedia  a  S.  S.  n'uma 
carta,  que  elle  embaixador  dcvia  entregar 39 

Breve  Praeclara  dcvotionis  auctorisando  o  capellao  mor  a  punir 
os  clérigos  de  ordcns  menores,  que  transgrcdissem  as  leis  relati- 
vas ao  commorcio  da  India  c  da  Ethiopia 41 

Breve  Est  tuae  scrcnitati  rcí'erindo  os  aggravos  que  rccebéra  do 
rei  (le  Franca,  e  pcdindo  a  elrei  que,  entrando  na  liga  feita  com 


ÍNDICE 


471 


o  imperador,  mandasse  cm  auxilio  da  Santa  Sé  a  armada,  cm  que 

¡a  a  infanta  para  Saboia 43 

Agosto  12.  Breve  De  tua  prudcntia  pedindo  ao  secretario  de  estado  que 

désse  inteiro  crédito  ao  que  Ihc  escrevessc  D.  Miguel  da  Silva.  . .     47 

Agosto  20.  Breve  Etsi  cum  recle  louvando  el-rei  pelas  medidas  que  tinha 
tomado  contra  aseita  lutherana,  edando-lheo  parabcm  pelo  casa- 
mento da  infanta  D.  Beatriz  com  o  duque  de  Saboia 47 

Setcmbro  20.  Breve  Dudum  siquidem  permiltindo  ás  pessoas,  que  servissem 
no  ultramar,  escolher  confessor,  que  as  ouvisse  e  absolvesse,  mes- 
mo  nos  casos  reservados 49 

Setcmbro  20.  Bulla  Cum  superioribus  annis  felicitando  o  rei  de  Elhiopia  pela 
sua  allianra  com  o  de  Portugal,  c  promettendo  conccder-lhe  todas 
as  gracas  que  D.  Manuel  pedirá  para  elle,  com  tanto  que  seguisse 
todas  as  doutrinas  da  igreja  catholica  ; 51 

Setcmbro  20.  Bulla  Cum  classis  exhortando  os  prelados  da  Ethiopia  a  perse- 
verarem  na  fé,  e  a  darem  gracas  pela  allianca  do  seu  soberano  com 
o  de  Portugal 54 

Setcmbro  20.  Bulla  Magnas  Omnipotenti  Leo  manifestando  ao  patriarcha  de 
Alexandria  a  alegria  que  teve  com  a  allianca  feita  entré  o  rei  de 
Portugal  e  o  da  Ethiopia,  e  pedindo-lhe  que  respeite  a  Santa  Se 
e  Ihe  obcdeca  como  fdho 56 

Novembro  26.  Carta  d'el-rei  recommendando  a  D.  Miguel  da  Silva  que  procure 
obter  de  S.  S.  o  cardcalado  para  o  infante  arcebispo  de  Lisboa  pe- 
los quinze  mil  ducados  que  este  offerccia 58 

Dczcmbro  19.        Carta  d'el-rei  D.  Joao  m  participando  a  D.  Miguel  da  Silva  o 

fallecimento  de  D.  Manuel 63 

1522 

Maio  9.  Carta  de  D.  Miguel  da  Silva  acerca  da  eleicao  do  papa  Adriano 
VI,  e  relatando  as  vantagens  obtidas  pelas  forcas  da  Santa  Se  con- 
tra as  d'el-rei  de  Franca 61 

Maio  13.  Breve  Exposuit  nolis  concedendo  a  el-rei  auctorisacao  para  ar- 
recadar provisoriamente  as  rendas  do  mestrado  de  Christo  e  de  va- 
rios mosteiros  vagos 71 

Maio  14.  Carta  de  Ayres  de  Souza  participando  a  el-rei  ter  sido  muito 
bem  recebido  de  S.  S.,  que  fizera  quanto  da  parte  de  S.  A.  Ihe 
pedirá ;  e  declarando  que  julgava  muito  conveniente  conceder-se 
ao  papa  o  auxilio  marítimo  que  pertendia * 72 

Maio  14.  Breve  Incredibili  laetitia  pedindo  a  el-rei  que  recommcnde  ao 
seu  embaixador  na  corte  de  Franca  que  una  os  seus  esforcos  aos 
do  nuncio  para  se  conseguir  a  paz  com  o  imperador,  ou  ao  menos 
treguas  de  alguns  anuos 76 

Maio  22,  Breve  Exponi  nolis  nuper  auctorisando  el-rei  a  mandar  armas 

aos  mouros,  que  Ihe  faziam  servicos  em  África 77 


472 


índice 


lo22 
Maio  2G. 


Junho  3. 


Juiho  12. 


Jalho  12. 

Julho  12. 
Julho  13. 

Agosto  1. 
Setembro  25. 


Setembro  27. 

Setembro  27. 
Outubro  2. 


1523 
Fevereiro  18. 

Fcvcrciro  18. 


Fevereiro  20. 


PAG. 

Breve  Dilectum  filium  recommendando  a  el-rei  o  embaixador 
Joao  Rodrigues  Mousinho,  e  pedindo-lhe  que  o  proveja  cm  algu- 
ma  prcceptoria  ou  commenda  da  ordcm  de  Christo 78 

Breve  Ex  litterismajestatis  íwae  agradecendo  a  el-rei  a  promessa 
de  alguns  navios,  e  pedindo-lhe  que  os  mandasse  sem  demora  para 
seguir  nelles  para  Italia 79 

Instruccoes  ao  dr.  Joao  de  Faria  para  pedir  a  S.  S.  que  conce- 
desse  a  el-rei  a  administracao  da  ordem  de  Christo,  como  a  tivera 
D.  Manuel,  e  bem  assim  a  aprescntacáo  de  todos  os  mostciros  dos 
seus  estados;  ao  cardcal  infante  D.  AíTonso  o  arccbispado  de  Lis- 
boa c  o  bispado  de  Evora;  ao  infante  D.  Henriquc  o  bispado  de 
Vizeu;  6  ao  infante  D.  Duarte  a  abbadia  de  S.  Joao  de  Tarouca 
e  urna  pensáo  no  bispado  de  Evora 80 

Carta  d'el-rei  ao  reverendo  Atanarico  recommcndando-lhe  o  em- 
baixador portuguez  e  os  negocios,  que  tinha  a  tratar  com  S.  S. . .    85 

Outra  no  mcsmo  sentido  ao  hispo  de  cidadc  Rodrigo 86 

Outra  agradecendo  ao  reverendo  Atanarico  o  interesse  que  to- 
mava  pelos  negocios  de  Portugal 86 

Breve  Ea;2)osMií  no6¿s  auctorisando  oarcebispo  de  Braga  a  laucar 
o  habito  da  ordem  do  Hospital  áquelle  dos  infantes,  que  el-rci  no- 
meassc 87 

Carta  de  D.  Miguel  da  Silva  pedindo  a  el-rei  que  Ihe  mandasse 
instruccoes  acerca  dos  negocios  que  devia  tratar  quando  S.  S.  che- 
gasse  a  Roma,  e  dizendo  que  obtivcra  a  revogacao  do  provimento  do 
priorado  do  Crato  feito  ao  chanccllcr  Amaral 88 

Outra  relatando  a  viagcm  do  papa  para  Roma;  o  modo  por  que 
tinha  sido  rccebido  por  S.  S. ;  o  estado  da  curia;  as  noticias  poli- 
ticas  de  que  tinha  conhecimento,  etc 90 

Outra  accrescentando  que  tinham  chegado  mais  noticias  acerca 
de  Rhodcs,  e  dizendo  que  o  imperador  nomeára  novo  embaixador.     98 

Outra  dizendo  que  os  turcos  tinham  alargado  o  cerco  de  Rhodes, 
mas  que  todavia  se  pcrdcria  se  nao  fosse  soccorrida.  Falla  depois 
na  grande  peste  que  havia  em  Roma,  pedindo  liccnca  para  reco- 
Iher  ao  reino.  Diz  que  ainda  ncnhum  principe  tinha  dado  obe- 
diencia a  S.  S.,  etc 99 

Bulla  Nobilitas  gcncris  concedendo  ao  infante  D.  Henrique  o 
priorado  de  Santa  Cruz  de  Coimbra 102 

Bulla  Ad  pcrsonam  tuam  garanlindo  ao  cardcal  infante  D.  Af- 
fonso  o  regresso  do  priorado  de  Santa  Cruz  quando  por  qualqucr 
modo  vagassc 106 

Bulla  Gratiae  Divinac  praemium  concedendo  a  administracao 
do  bispado  de  Evora  ao  cardcal  infante  D.  AíTonso 108 


índice 


478 


1523  PAG. 

Fevereiro  20.         Bulla  Gratiae  Divinae  praemium  concedendo  ao  mesmo  infante 

a  adminislracao  do  arcebispado  de  Lisboa 109 

Marco  2.  Bulla  Romani  Pontificis  provideníia  provendo  o  infante  D.  Hen- 
rique  nos  mosteiros  de  S,  Christovao  de  Lafoes  c  de  S.  Jorge  de 
Coimbra 110 

Marco  3.  Breve  Novit  Ule  lamenlando  a  perda  de  Rhodes  e  Belgrado,  e 
pedindo  a  cl-rei  que  cmpregue  todos  os  seus  esforcos  para  se  res- 
tabelecer  a  paz  entre  os  principes  christaos 116 

Marco  4.  Carla  de  D.  Miguel  da  Silva  dando  parte  a  el-rei  dos  negocios 
que  tinha  resolvido,  e  mostrando  quanto  convinha  soccorr^  com 
alguns  navios  a  Santa  Sé,  visto  o  pcrigo  em  que  estava  depois  das 
victorias  alcancadas  pelo  sultao  ottomano 119 

Marco  11.  Bulla  Etsi  ad  ampleanda  laucando  duas  decimas  nos  rcndimen- 

tos  ecclesiasticos  para  serem  applicadas  á  guerra  contra  os  turcos.  124 

Marco  15.  Carta  de  D.  Miguel  da  Silva  a  el-rei  acerca  das  bullas  da  admi- 
nistracao  do  mcstrado  da  ordem  de  Christo,  e  dos  mosteiros  de  La- 
foes e  de  S.  Jorge  etc.,  e  indicando  as  tres  pessoas,  que  suppu- 
nha  terem  maior  influencia  no  animo  de  S.  S. : 131 

Marco  16.  Carta  de  D.  Miguel  da  Silva  participando  a  el-rei  que  os  nego- 
cios do  imperador  com  o  papa  tinham  sido  resolvidos  a  contento 
d'aquelle,  e  conforme  os  desejos  de  S.  A 133 

Marco  19.  Bulla  Eximiae  dcvotionis  concedendo  a  el-rei  a  adminislracao  do 

mestrado  da  ordem  de  Christo 134 

Marco  21.  Carta  de  D.  Miguel  da  Silva  a  el-rei  alludindo  á  perda  de  Rho- 
des, dizendo  que  o  castello  de  Milao  se  entregara,  e  relatando  os 
estragos  que  a  peste  fazia  em  Roma 138 

Abril  10.  Breve  Cum  carissimus  dispensando  o  infante  D.  Hcnrique  de  re- 

zar as  horas  canónicas,  fazendo-o  em  seu  logar  algum  ecclesiastico .  139 

Abril  11.  Breve  Nuper  dilectum  auctorisando  el-rei  a  applicar  á  guerra 
d'Africa  o  rendimento  do  arcebispado  de  Lisboa  e  do  bispado  de 
Evora,  em  quanto  os  infantes  D.  Affonso  e  D.  Henrique  nao  che- 
gassem  á  idade  de  20  annos 140 

Abril  15.  Carta  de  D.  Miguel  da  Silva  ao  secretario  de  estado  remettendo- 
Ihe  a  bulla,  que  provia  o  irmáo  do  mesmo  secretario  em  dois  mos- 
teiros, e  pedindo-lhe  que  o  recommendasse  a  cl-rei,  sobre  ludo 
na  preíencao  de  voltar  ao  reino 142 

Abril  27.  Carta  de  D.  Miguel  da  Silva  dizendo  a  el-rei  que  ocardeal  Vul- 
terra  tinha  sido  preso ;  que  a  peste  recrudescia  em  Roma ;  que  con- 
vinha mandar  a  obediencia  a  S.  S. ;  e  que  Accurcio  comecava  a  fal- 
lar na  antiga  demanda  de  Tarouca 143 

Abril  30.  Bulla  Monet  nos  ventas  intimando  os  principes  christaos  a  fa- 

zerem  treguas  por  tres  annos ^  14S 

Maio  1 .  Breve  Novit  Deus  participando  a  el-rei  ter  publicado  a  bulla  an- 

TOMO  II  60 


474  índice 

1523  PAG. 

tecedente,  e  ped¡ndo-lhe  que  usasse  da  sua  ¡nílucncia  ante  o  im- 
perador e  mais  principes  seus  párenles  para  aquella  providencia 
surtir  o  desejado  effeito 149 

Maio  20.  Carta  de  D.  Miguel  da  Silva  ao  secretario  d' estado  dizendo-lhe 

que  tinha  já  mandado  a  cl-rei  varias  bullas,  e  agora  remcltia  tras- 
lados auténticos  tanto  dessas  como  das  relativas  a  Lisboa,  Evora, 
e  Santa  Cruz,  cujos  originaes  lencionava  trazer  pessoalmente  ....  151 

Maio  25.  Carta  de  D.  Miguel  da  Silva  a  el-rei  tratando  largamente  de  to- 
dos os  negocios,  que  Ihe  tinham  sido  commettidos 152 

Maio  25.  Outra  acerca  do  perigo  em  que  eslava  a  chrislandade  depois  das 
victorias  de  Soleimáo  n  ;  da  prizao  do  cardeal  Vul térra;  da  con- 
veniencia de  ter  em  Roma  um  cardeal  protector,  etc 161 

Maio  25.  Outra  pedindo  licenca'para  se  retirar  d'aquella  corte 165 

Junho  6.  Outra  de  cumprimento  ao  secretario  de  estado 167 

Junho  10.  Outra  a  el-rei  participando-lhe  a  deposicíio  do  rei  de  Dinamar- 
ca ;  a  morte  do  duque  de  Moscovia,  do  khan  da  Tartaria,  e  do  du- 
que de  Veneza;  o  recelo  que  havia  dos  turcos,  etc 168 

Junho  10.  Outra  dizendo  a  el-rei  que  o  papa  Ihe  pedirá  que  participasse  a 
S.  A.  que  o  rei  de  Franca  nao  quería  de  modo  algum  suspender 
as  hostilidades 1 69 

Junho  30.  Breve  Rhodo  ínsula  pedindo  a  el-rei  que  desse  lambem  o  seu 
voto  a  respeito  do  logar  em  que  se  devia  eslabelecer  o  mestrado 
da  ordem  do  Hospital,  e  que  concorresse  com  algum  auxilio  pecu- 
niario para  o  fortificar 171 

Julho  10.  Carta  de  D.  Miguel  da  Silva  ao  secretario  de  estado  dizendo  que 

S.  S.  Ihe  pedirá  que  participasse  a  el-rei  que,  tencionando  refor- 
mar a  ordem  do  Hospital  eestabeleccl-aem  logar  conveniente,  con- 
vinha  haver  pessoa  com  poderes  sufficientes  para  representar  S.  A. 
n'aquelle  negocio.  Diz  lambem  que  o  papa  o  agraciara  com  o  mos- 
teiro  de  Landim  e  com  todos  os  beneficios  de  Francisco  Tuzarte.  173 

Setembro  14.  Outra  participando  a  el-rei  o  fallecimento  do  papa  Adriano  vi, 
e  relatando  algumas  particularidades  acerca  da  paz  entre  o  impe- 
rador e  os  venezianos 174 

Novembro  18.        Outra  ao  secretario  de  estado  annunciando-lhe  a  eleicao  do  papa 

Clemente  vii,  e  pedindo  alguma  mercé  pela  boa  nova 176 

Novembro  18.       Outra  a  el-rei  sobre  omesmo  assumpto,  e  participando-lhe  que 

os  francezes  tinham  levantado  o  cerco  de  Milao 177 

Novembro  18.       Outra  com  mais  particularidades  a  respeito  da  eleicáo  do  novo 

papa 180 

Novembro  21.  Despachos  para  D.  Miguel  da  Silva  respondendo  desenvolvida- 
mente  ás  suas  cartas,  e  tratando  de  todos  os  negocios  que  prcci- 
savam  resolucáo  da  curia 182 

Novembro  26.       Carta  de  D.  Miguel  da  Silva  dando  mais  pormenores  acerca  da 


índice 


47{> 


1523  p^(¡, 

eleicao  de  Clemente  vii,  e  prometiendo  mandar  os  capítulos  do 
conclave 198 

Dczembro  2.  Breve  de  Clemente  vii  Singularis  Lusitaniae  regnum  agrade- 
cendo  a  el-re¡  os  parabens  que  Ihe  mandara  pela  sua  eleva^ao  ao 
pontificado 200 

Dezembro  2.  Carta  de  D.  Miguel  da  Silva  remettendo  a  el-re¡  o  breve  ante- 

cedente, e  prometiendo  aproveitar  em  servico  de  S.  A.  o  favor  e 

amizade  com  que  o  papa  o  tratava 201 

1524 

Janeiro  8.  Bulla  Probata  constantis  fidei  concedendo  varias  gracas  e  facul- 

dades  ao  capellao  mor 202 

Marco  3.  Breve  Novit  Ule  pedindo  a  el-rei  que  nomeasse  pessoa  que  go- 
vernasse  o  bispado  de  Vizeu  com  reserva  dos  fructos  para  o  infante 
D.  Henrique 206 

Marco  7.  Breve,  traduzido  em  vulgar,  auctorisando  el-rei  a  mandar  ar- 
mas aos  mouros,  que  Ihe  faziam  servicos  em  África 209 

Abril  9.  Breve  Nisi  honoris  aconselhando  el-rei  a  reduzir  o  preco  das  es- 

peciarías e  drogas  da  India,  contra  cujo  monopolio  havia  grandes 

queixas 210 

•Abril  10.  Carta  patente  do  cardeal  Santiquatro  declarando  que  S.  S.  au- 
clorisára  el-rei,  vivae  vocis  oráculo,  a  dar  commendas  da  ordem 
de  Christo  em  logar  de  tencas 212 

Maío  14.  Breve  Habentes  fidem  pedindo  a  el-rei  que  desse  crédito  a  tudo 

o  que  da  parte  de  S.  S.  Ihe  escrevesse  D.  Miguel  da  Silva 213 

Julho  1.  Breve  Accidit  nobis  explicando  a  el-rei  as  razoes  que  moveram 

S.  S.  a  prohibir  a  accumulacao  de  duas  igrejas  em  urna  só  pessoa.  214 

Julho  . . .  Carta  d' el-rei  pedindo  a  S.  S.  a  dispensa  necessaria  para  poder 

casar  com  a  infanta  D.  Catharina 216 

Julho  29.  Breve  Tuae  serenitatis  agradecendo  as  felicitacoes  que  recebara 

d'eVrei  pela  sua  elevacao  ao  pontificado 217 

Agosto  25.  Breve  Exponi  nobis  nuper  dispensando  o  parentesco  que  havia 

entre  el-rei  e  a  infanta  D.  Catharina 218 

Agosto  27.  Breve  Cepimus  magnam  no  qual  S.  S.  se  congratula  pelo  casa- 
mento d'el-rei  com  a  infanta  de  Casteíla 219 

Seteml)ro  9.  Bulla  Gratiae  Divinae  praemium  communicando  a  el-rei  ler 

confirmado  D.  Joao  no  bispado  de  Vizeu 221 

Setcmbro  9.  Outra  Apostolatus  officium  confirmando  o  bispo  de  Vizeu  D.  Joao .  222 

Setembro  9.  Outra  Romani  Pontificis  absolvendo  o  mesmo  D.  Joao  de  quaes- 

quer  censuras  canónicas 223 

Setembro  9.  Outra  Ad  cumulum  participando  aoarcebispo  de  Braga  ter  pró- 
vido em  D.  Joao  a  igreja  de  Vizeu  sua  suífraganea 224 

Setembro  9.  Outra  Hodie  ecclesiae  Visensis  para  o  clero  de  Vizeu  prestar 

obediencia  ao  novo  bispo 225 

60  * 


i7G 


liNDICE 


1524 
Selembro  12. 

Novembro  .  . 


Novembro  27, 


1525 
Janeiro  29. 

Fevereiro  5. 


Fevereiro  6. 
Fevereiro  23. 

Junho  18. 

Junho  18. 
Julho  6. 

Julho  7. 

Julho  8. 

Julho  23. 
Julho  27. 

Julho  29. 
Julho  31. 


PAG. 

Oulra  Cum  nos  pridie  auctorisando  o  bispo  de  Vizeu  a  cscolher 
os  prelados  que  o  haviam  de  sagrar 226 

Traduccao  da  bulla,  pela  qual  o  papa  mudou  o  titulo  de  cardeal 
de  Santa  Luzia,  que  tinha  o  infante  D.  Affonso,  no  de  cardeal  de 
S.  Braz 228 

Breve  Dudum  siquidem  pedindo  ao  cardeal  D.  AíTonso  que  désse 
posse  do  mestrescolado  da  Sé  de  Evora  a  D.  Miguel  da  Silva,  ou  a 
seu  procurador 230 

Breve  Cum  düectus  filius  declarando  ter  recebido  seis  mil  du- 
cados de  composicao  pela  dispensa  do  casamento  d'el-rei 233 

Bulla  Sincera  fervensque  concedendo  a  el-rei.c  á  familia  real  po- 
derem  escolher  confessor,  que  os  absolvesse  mesmo  nos  casos  re- 
servados   234 

Carta  de  D.  Miguel  da  Silva  ao  cardeal  D.  Afifonso  acerca  do 

mestrescolado  de  Evora 237 

Carta  d'el-rei  a  D.  Miguel  da  Silva  participando-lhe  ter  dado  o 
mosteiro  de  S.  Jorge  a  D.  Martinho  de  Portugal,  e  encarregan- 

do-o  de  obter  de  S.  S.  a  confirmacáo,  que  Ihe  pedia 238 

Breve  Cum  elegissemus  rogando  a  el-rei  que  desse  crédito  a  tudo 
que  da  parte  de  S.  S.  Ihe  dissesse  Antonio  Ribeiro,  portador  da 

roza  áurea 240 

Breve  Cum  rosam  auream  pedindo  á  rainha  que  auxiliasse  An- 
tonio Ribeiro  nos  negocios  que  tinha  a  tratar  com  el-rei 241 

Carta  de  D.  Martinho  de  Portugal  participando  a  el-rei  que  logo 
que  chegára  a  Roma  fallara  a  S.  S.  e  conseguirá  o  que  S.  A.  dc- 
sejava.  Promette  escrever  mais  desenvolvidamente,  e  diz  que  D. 

Miguel  da  Silva  se  preparava  para  partir 242 

Breve  Omnis  qui  tuas  acensando  a  recepcao  de  tres  cartas  d'el- 
rei,  que  D.  Martinho  de  Portugal  Ihe  entregara,  e  lamentando 
muito  a  retirada  de  D.  Miguel  da  Silva-,  cujas  qualidades  elogia..  243 

Carta  de  D.  Miguel  da  Silva  participando  a  el-rei  a  sua  imme- 
diata partida  para  o  reino,  e  pedindo-lhe  que  mandasse  pagar  as 

dividas,  que  deixava  em  Roma 246 

Bulla  Dudum  siquidem  revalidando  a  dispensa  que  dera  para  o 

casamento  d'el-rei  com  a  rainha  D.  Catharina 247 

Breve  Etsi  monasterium  ^-eservando  dous  dos  primeiros  mostei- 
ros  que  vagassem,  e  mandando  tomar  posse  d'elles  a  D.  Miguel 

da  Silva,  que  os  conservaría  á  disposicáo  da  Santa  Sé 249 

Breve  Etsi  proximis  no  qual  S.  S.  se  mostra  satisfeito  com  a  no- 

meacao  do  novo  embaixador  D.  Martinho  de  Portugal 252 

Breve  Ilis  paucis  dicbus  rccommendando  muito  D.  Miguel  da 
Silva,  que  voltava  ao  reino ,253 


índice 


477 


1^^^  ,  PAG. 

Setembro  5.  Breve  Cum  nuper  dilectum  adiando  o  provimenlo  dos  dois  mos- 
tciros.  que  promettcra  a  D.  Miguel  da  Silva,  até  receber  cartas 
d'el-rei,  ,*. 255 

Outubro  4.  Breve  Cum  nuper  pro  bono  commettendo  aos  bispos  de  Lamego 

e  de  Vizeu  a  averiguacao  do  verdadeiro  rendimento  do  mosteiro 
de  S.  Joao  de  Tarouca,  para,  á  vista  do  resultado,  se  poder  avallar 
a  composicao  feita  entre  o  cardeal  D.  Affonso  e  Francisco  Accursio . .  257 

Outubro  6.  Breve  Alti  sanguinis  conccdendo  ao  infante  D.  Henrique  o  re- 
grcsso  do  mosteiro  de  S.  Jorge,  vagando  por  morte  ou  renuncia 
de  D.  Martinho  de  Portugal 259 

Outubro  6.  Breve  Hodie  cum  dilectus  encarregando  os  bispos  de  Castellamare 

e  d'Alghero  da  execucao  do  breve  antecedente 260 

Novembrp  13.  Breve  Exponi  wofew  conccdendo  a  dispensa  necessaria  para  o  ca- 
samento da  infanta  D.  Isabel,  fdha  d'el-rei  D.  Manuel,  com  o  im- 
perador Carlos  v 262 

1526 

Marco  23.  Breve  Intelleximus  ex  dilccti,  no  qual  S.  S.  manifesta  a  el-rei 
a  alegría  que  sentiu  com  a  noticia  de  ter  sido  eleito  para  bispo  de 
Vizeu  D.  Miguel  da  Silva 264 

Marco  27.  Breve  Inducti  nuper  meritis  pedindo  a  el-rei  que  faca  executar 
as  bullas  do  provimento  do  priorado  de  Santa  Maria  da  Costa  em 
Antonio  Telles 265 

Junbo . . .  Carta  de  D.  Martinho  de  Portugal  a  el-rei  recommendando  Fran- 
cisco Eannes,  que  se  tinha  defendido  muito  bem  pelejando  com 
duas  gales  de  André  Doria 266 

Junho  28.  Breve  Aegre  quidem  dando  parte  a  el-rei  que  se  via  forcado  a 
tomar  as  armas  em  defensa  da  Santa  Sé,  como  mais  largamente  Ihe 
escreveria  o  embaixador  portuguez 267 

Junho  28.  Carta  d'el-rei  a  SvS.  dando  as razoes  porque  naopodia  soccor- 

rer  pecuniariamente  o  rei  de  Ungria 268 

Outubro  5.  Bulla  Grata  familiaritatis  mantendo  a  D.  Manuel  de  Noronha 

o  regresso  na  igreja  de  S.  Christovao  de  Nogueira 270 

Outubro  18.  Breve  Credimus  non  ignorare  narrando  as  hostilidades  do  impe- 
rador, a  entrada  e  sacco  de  Roma,  etc 272 

Novembro  21 .        Bulla  Gratiae  Divinae  praemium  recommendando  a  el-rei  o  novo 

bispo  áe  Vizeu  D.  Miguel  da  Silva,  e  a  sua  igreja 277 

Dezembro  9.  Breve  Cum  nuper  pedindo  a  el-rei  que  désse  a  D.  Miguel  da  Silva 

o  auxiliO'  e  favor  nccessario  para  tomar  posse  do  bispado  de  Vizeu  278 

Dezembro  9.  Breve  Cum  nos  nuper  concedendo  a  D.  Miguel  da  Silva  a  adrai- 
nistracao  do  bispado  de  Vizeu  durante  seis  mezes,  para  n'esse  in- 
tervallo  promover  a  expedicao  das  bullas  competentes 279 

Dezembro  30.  Carta  de  D.  Martinho  de  Portugal  ao  secretario  de  estado  quei- 
xando-se  de  nao  receber  cartas  d'el-rei ;  dando-lhe  conta  de  varios 


478 


índice 


1526 


152: 

Marco  15. 

Junho  23. 

Juiho  11. 

Julho  12. 

Julho  12. 

Julho  12. 


1530 
Marco  25. 


Maio  13. 


Julho  14. 


Outubro  21. 

1531 
Fevereiro  28. 


Junho  11. 


negocios;  c  pedindo  algum  subsidio  para  occorrer  ás  suas  despc- 
zas .' 281 

Breve  Exigentihus  meritis  prorogando  por  mais  seis  mezes  o 
prazo  para  a  sagracáo  do  hispo  de  Vizeu  D.  Miguel  da  Silva  . . . .  283 

Bulla  Cum  ad praeclaram  concedendo  a  el-rei  anomeacáo  e  apre- 
sentaráo  de  todos  os  mosteiros  do  reino 284 

Breve  Potest  tua  serenitas  pedindo  a  el-rei  o  primeiro  mosleiro 
que  vagasse  para  D.  Manuel  de  Noronha ^ 288 

Bulla  Cum  nobis  hodie  nomeando  nuncio  na  corte  de  Lisboa  D. 
Marlinho  de  Portugal 289 

Breve  Nostram  calamitatem  pedindo  aD.  Miguel  da  Silva  que  in- 
terpozesse  o  seu  valimento  para  que  el-rei  auxiliasse  a  Santa 
Sé 298 

Breve  Cum  sicut  declarando  que  a  ereccao  da  commenda  de  S. 
Christováo  de  Nogueira  só  poderla  verificar-se  na  pessoa  em  que 
D.  Manuel  de  Noronha  a  resignasse 299 

Breve  Dudum  nobis  nomeando  juizes  ecclesiasticos  para  julga- 
rem  diffinitivamente  os  impedimentos,  que  o  marquez  de  Torres 
Novas  punha  ao  caáamento  do  infante  D.  Fernando  com  D.  Guio- 
mar  Coutinho 301 

Breve  Post  captam  participando  a  el-rei  o  mallogro  de  urna  ten- 
tativa para  recuperar  a  ilha  de  Rhodes,  e  as  diligencias  que  se  fa- 
ziam  para  rehabilitar  a  ordem  do  Hospital 306 

Breve  Juxta  pastoralis  declarando  que  os  novos  commendado- 
res  da  ordem  de  Christo  nao  tinham  direito  ás  oíTertas  e  legados 
pios  feitos  aos  reitores  ou  vigarios  das  igrejas  desmembradas  ....  308 

Carta  de  BrazNeto  ao  secretario  de  estado  pedindo  que  Ihe  ob- 
tivesse  de  el-rei  algum  subsidio  para  occorrer  ás  suas  despezas,  e 
alludindo  a  alguns  negocios  de  que  tinha  tratado. 315 

Breve  Tuae  dcvotionis  dispensando  por  seis  annos  o  hispo  de  Vi- 
zeu D.  Miguel  da  Silva  da  visita  ad  limina  apostolorum 316 

Breve  Exponi'nobisldsindo  poderes  ao  capcUao  mor  para  pren- 
der e  entregar  ás  justicas  seculares  os  clérigos  de  ordens  menores, 
reos  de  certos  crimes 317 

Instruccocs  a  Braz  Neto  para  pedir  a  S.  S.  o  estabclecimento  da 
inquisicáo  em  Portugal 319 

Carta  de  Braz  Neto  pedindo  a  el-rei  que  Ihe  mandasse  o  trasla- 
do da  bulla,  que  estabelcceu  a  inquisicáo  em  Castella,  para  por 
ella  se  fazer  a  que  S.  A.  descjava;  dando  parte  de  alguns  negocios 
que  tinha  a  seu  cargo,  etc 322 


índice 


470 


lí>31  PAG. 

Julho  9.  Breve  Singularis  devotionis  concedendo  ao  hispo  de  Vizeu  D. 

Miguel  da  Silva  a  faculdade  de  provér  certos  beneficios 329 

Agosto  1.  Carta  de  Braz  Neto  dizendo  a  el-rei  que  o  papa  ainda  nao  tinha 
nomeado  o  novo  nuncio;  lamentando  a  doenra  do  cardeal  Santi- 
quatro;  e  pedindo  licenca  para  se  retirar  d'aquella  corte  ou  meios 
para  occorrer  ás  suas  despezas 331 

Agosto  18.  Breve  Etsi  scimus  participando  a  el-rei  que  o  Turco  quebrara  a 
tregua  entrando  na  Dalmacia,  e  fazia  grandes  apercebimentos  por 
mar  e  por  térra 332 

Agosto  19.  Breve  Magna  nos  pedindo  a  el-rei  que  concorresse  com  vinte  mil 

ducados  era  auxilio  do  duque  de  Saboia 333 

Dezembro  17.  Bulla  Cum  ad  nihil  magis  nomeando  fr.  Diogo  da  Silva  inquisi- 
dor geral  em  Portugal 335 

1532 

Janeiro  13.  Breve  Cum  nuper  te  mandando  a  fr.  Diogo  da  Silva  que  aceitasse 

o  cargo  para  que  tinha  sido  nomeado  pela  bulla  antecedente 338 

Abril  15.  Breve  Dudum  postquam  suspendcndo  por  um  anno  o  breve  de 

13  de  malo  de  1530 340 

Abril  2í.  Breve  Contulimus  nuper  pedindo  ad-rei  que  cumprisse  a  bulla, 
pela  qual  S.  S.  concederá  a  Estevao  Ribeiro  d'Almeida  o  priorado 
da  igreja  do  Espirito  Sancto  de  Azamor 343 

'. .  Instruccoes  a  Braz  Neto  encarregando-o  de  pedir  a  S.  S.  aucto- 

risacao  para  supprimir  as  igrejas  emosteiros  dos  logares  d'Africa, 
que  el-rei  tencionava  abandonar 344 

Maio  25.  Breve  Etsi  in  praesentia  recommendando  a  el-rei  o  novo  nuncio 

bispo  de  Sinigaglia 348 

Maio  20.  Instruccoes  e  despachos  que  levou  D.  Martinho  de  Portugal  vol- 

tando  de  novo  a  Roma 349 

Maio  28.  Carta  de  el-rei  ao  papa  dando-lhe  parte  da  chegada  do  embai- 
xador  da  Ethiopia,  e  da  partida  de  Francisco  Alvares  para  Roma 
na  companhia  de  D.  Martinho  de  Portugal 392 

Junho  3.  Carta  de  Braz  Neto  a  el-rei  acerca  de  varios  negocios,  e  princi- 
palmente domosteiro  de  S.  Pedro  das  Aguias,  do  qual  S.  S.  tinha 
feito  graca  a  elle  embaixador 395 

Junho  14.  Ballai  Miserator  Dominus  concedendo  indulgencias  a  quem  fizer 
certas  devocoes  pedindo  a  Deus  que  livre  a  igreja  da  oppressao  dos 
turcos 398 

Jnlho  2.  Carta  de  Braz  Neto  ao  secretario  de  estado  queixando-se  da  frie- 
za,  que  notava  n'elle,  e  que  só  podia  attribuir  a  intrigas  dos  seus 
inimigos 401 

Julho  6.  Carta  de  Braz  Neto  a  el-rei  communicando-lhe  o  que  sabia  a  res- 
peito  do  Turco,  e  dando  parte  do  fallecimento  do  cardeal  Colum- 
na, etc 402 


480  ÍNDICE 

1532  PAG. 

Setembro  9.  Carla  de  Pedro  de  Sousa  a  cl-rei  dando-lhe  varias  noticias  c 
lerabrando  a  conveniencia  de  S.  A.  mandar  urna  armada  cm  auxi- 
lio da  Santa  Sé 404 

Setembro  12.         Carta  do  bispo  de  Sinigaglia,  nomcado  nuncio  para  Portugal, 

participando  a  el-re¡  a  sua  próxima  chegada  a  Lisboa 408 

Outubro  17.  Breve  Venerabilis  frater  suspendendo  a  bulla  de  17  de  dezcm- 

bro,  que  estabelecéra  a  inquisicao 409 

Novembro  4.  Carta  de  Duartc  da  Paz,  procurador  dos  christaos  novos,  offcrc- 

cendo  os  seus  serviros  a  el-rci 410 

Novembro  16.        Breve  Redit  ad  sercnitatem  recommendando  a  el-re¡  o  embaixa- 

dor  Braz  Neto,  que  rccolhia  ao  reino 411 

Novembro  17.        Carta  de  D.  Martinho  de  Portugal  participando  a  cl-rei  a  sua 

chegada  a  Genova,  e  próxima  partida  para  Roma 412 

1533 

Carla  de  el-rei  a  S.  S.  pedindo  para  o  cardeal  infante  D.  AíTonso 

certas  merccs,  em  que  Ihe  havia  de  fallar  D.  Antonio  da  Costa  . .  413 

Outra  pedindo  que  altendesse  ao  que  D.  Martinho  de  Portugal 

Ihc  dissesse  ao  mesmo  respeito 414 

Janeiro  31.  Bulla  Gratiae  divinae  praemium  recommendando  a  el-rei  o  novo 

bispo  de  Sant'Iago  de  Cabo  Verde,  Braz  Neto 415 

Janeiro  31.  Cédula  consistorial  declarando  tcr  S.  S.  elevado  a  arcebispado  o 

bispado  do  Funchal 416 

Janeiro  31.  Bulla  Pro  éxcellenti  crigindo  o  bispado  de  Sant'Iago  de  Cabo 

Verde 418 

Janeiro  31.  Cédula  consistorial  noticiando  ter  sido  nomeado  primeiro  bispo 

de  S.  Miguel,  D.  Manuel  de  Noronha ,  .• 421 

Fevereiro  10.  Outra  declarando  ter  sido  nomeado  primeiro  arcebispo  do  Fun- 
chal, D.  Martinho  de  Portugal 42Í. 

Fevereiro  16.  Motu  proprio  do  papa  Clemente  vii  concedendo  ao  infante  D. 
Henrique  certos  mosteiros  vagos  por  morte  de  D.  Duarle  arcebis- 
po de  Braga 426 

Abril  7.  Bulla  Sempiterno  Regí  concedendo  perdao  geral  aos  christaos 

novos 430 

Abril  30.  Bulla  Gratiae  divinae  praemium  recommendando  a  el-rei  o  in- 

fante D.  Henrique  como  administrador  do  arcebispado  de  Braga .  440 

Abril  30.  Bulla  Divina  disponente  concedendo  ao  infante  D.  Henrique  a 

administracao  do  arcebispado  de  Braga 441 

Abril  30.                Bulla  Personara  tuam  maniendo  ao  infante  D.  Henrique  a  admi-       ♦ 
nistracáo  do  mosteiro  de  Santa  Cruz  de  Coirabra,  c  o  regresso  do 
de  S.  Jorge 444 

Abril  30.  Bulla  Apostolicae  scdis  absolvendo  o  infante  D.  Henrique  de 

quaesquer  penas  canónicas,  em  que  tivesse  incorrido 446 

Abril  30.  Bulla  Dum  nos  hodie  dando  commissáo  aos  bispos  de  Evora  e  de 


1533 


Abril  30. 
Abril  30. 
Abril  30. 


Agosto  7. 
Agosto  7. 

Agosto  15. 


índice  481 

■\ 

PAG. 

Lamcgo  para  tomarcm  ao  infante  D.  Ilcnriquc  o  juramento  de  (1- 
delidadc 447 

Bulla  Ilodie  dilectum  mandando  ao  cabido  da  Sé  de  Braga  que 
preste  ol)cdiencia  ao  infante  D.  Henrique 418 

Bulla  Ilodie  dilectum  no  mesmo  sentido  dirigida  ao  clero  da  mcs- 
ma  diocesc 450 

Bulla  nodie  dilectum  ao  mesmo  respeito  dirigida  aos  vassallos 
'  d'csta  igrcja 45I 

Memorial  em  nomc  de  el-rei  allegando  os  inconvenientes  do  per- 
dáo  gcral  concedido  aos  christaos  novos,  e  pedindo  o  restabeleci- 
mento  da  inquisicao  com  certas  modificacoes 452 

Bulla  Cum  nuper  conccdendo  o  Pallio  ao  infante  D.  Henrique,' 
como  arcebispo  de  Braga 45;) 

Bulla  Cum  Pallium  dando  commissiío  aos  bispos  de  Evora  e  de 
Lamego  para  darem  o  Pallio  ao  infante  D.  Henrique,  c  reccbercm 
d'clle  o  competente  juramento 4(;i 

Carta  de  el-rci  a  S.  S.  fazcndo  urna  rescnha  das  forcas  que  era 
obrigado  a  tcr  na  India  c  em  África  em  defeza  da  christandade,  e    • 
pedindo  que  Ihe  conccdessc  certa  graca,  que  o  embaixador  D.  Mar- 
tinho  de  Portugal  eslava  encarrcgado  do  requerer 463 


TOMO  lí. 


(jI 


ERRATAS 


PAG.    LIN.       EM  LOGAR    DE  LEA-SE 

20        4     ihi ibi 

34     27     cjuoaducxeris. .   .  quoad  uixeris 

52  S     exstimavimus  .   .  existimavimus 

53  22     redemus sedemus 

36     14     vinctis viuclis  (sic).  Deve 

lér-se  iunctis 

66       4     fama fame 

70  23e24dinheiros  (?).    .  .  ducados 

72       7     aliguos aliquos 

92     32     justa jussa 

113  5>  e  6  paudam pandara 

136     19     preuentuum  .   .   .  prouentuum 

223     19     at ad 

254      1      rcpublicae.  .   .   .  reipublicae 

2o7     27     expensiis     neces-  expensisnecessa- 

saris rus 

259     28     cura  et  sine  cura  cuín  cura  et  sino 

cura 

263       3     forsam forsan 

267       8     ct .   .  et 

269     14     hereditarum .   .   .  bereditarium 


PAG. 

LIN 

270 

27 

273 

22 

278 

15 

284 

24 

287 

23 

» 

24 

299 

» 

307 

25 

» 

31 

308 

27 

331 

20 

365 

4 

380 

22 

411 

20 

412 

22 

413 

8 

416 

8 

420 

3 

449 

ult 

456     14 


EM  LOGAR    DE  LEA-SB 

in- ¡U- 

titac titiao 

auxilian! auxilia 

bomanis humanis 

solumnodo.  .    .  .  solummodo 

persones personis 

dito dicto 

ixistimarunt .  .   .  existimarunt 

senenissiraus.  .   .  serenissimus 

conteutiones.   .   .  contentiones 

cous cousa 

será  agora  .  .  .  ser  agora 

tende e  tendc 

Blasius Blasii 

fez faz 

1533 1532 

perenmis  ....  perennis 

necon necnon 

13 43 

ao. DO 


N.  B.  Nao  corrigimos.  os  erros  de  pontuacao. 


JX 
821 
M 
t.2 


Academia  das  Soler 
Lisboa 

Corpo  diplomático 
portugués 


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