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Full text of "Curso de silvicultura"

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TO  J.Bl 
196Z 


• 


-r-e-c-r? 


I 

j 


CURSO  DE  SILVIGULTUM 


1 


UB80  DE  SILVICOLTURÍ 


POR 


jy^ONIO  XAVIERiERlM  COUTINHO 

Lente  do  Instituto  Geral  de  Agricultura^ 
8odo  eorrespondente  da  Academia  Real  das  Sciencias^  etc 


TOMO  I 


BOTÂNICA  FLORESTAL 


Organisa^ao  e  modo  de  yida  das  plantas  lenbosas.— Climatologia. 

--Agrologia.— Essências  florestaes 


LISBOA 

POI  OBDEI  E  Rá  TTmtlPHll  DA  iClBUU  IKAL  DAS  SOBKCUS 

1^6 


b: 


AO  LEITOR 


  obra»  cuja  publicação  encetamos  com  este  primeiro 
Yolnme,  resulta  da  coordenação  dos  apontamentos  das 
fiossas  lições  no  Instituto  Geral  de  Agricultura. 

A  cadeira  de  silvicultura  do  Instituto  foi  por  nós  inau- 
gurada em  1882;  até  ahi»  as  matérias  que  a  formam 
hoje  estavam  fragmentadas  por  outras  cadeiras,  onde 
tinham  pequeno  desenvolvimento. 

Eutrado  ainda  ha  tão  pouco  tempo  n'uma  phase  mais 
regular,  e  mais  homogénea,  não  admira  que  este  curso 
tenha  sido  incompleto*  mal  esboçado  e  indeciso  em  mui- 
tos pontos.  Um  curso  de  applicação  como  este,  que  para 
ser  útil  deve  ser  pratico,  só  com  o  tempo  se  completa; 
imda-se,  e  transforma-se,  e  aperfeiçoa-se  successiva- 
mente,  á  medida  que  vão  apparecendo  novos  trabalhos, 
novos  materiaes. 

Esta  publicação  é  decerto  prematura;  se  nos  abalan- 


çamos  a  encetal-a,  desde  já,  é  porque  dos  convencemos 
que  assim  facilitaremos  muito  o  estudo  aos  nossos  alum- 
nos»  que  não  dispOem  do  tempo  necessário  para  consul- 
tar os  numerosos  livros,  onde  se  encontra  dispersa  a 
matéria  vastíssima  do  programma  da  cadeira;  mas,  in- 
sistimos em  que  esta  nossa  obra  é  apenas  uma  primeira 
tentativa,  uma  base  para  trabalhos  ulteriores  mais  com- 
pletos. 

Gingindo-nos  ao  programma  approvado  pelo  conse- 
lho escolar  do  Instituto,  procurámos  reunir,  dos  livros 
nacionaes  e  estrangeiros,  tudo  quanto  nos  pareceu  mais 
conveniente,  juntando-Ihe  o  pouco  que  temos  visto  no 
paiz»  6  dando  ao  conjunto  a  precisa  ligagão.  Para  não 
alongar  o  texto  com  citações,  repetidas  a  cada  passo, 
s^^resentamos,  no  fim  de  cada  livro,  a  lista  dos  au- 
ctores  a  que  nos  soccorremos,  e  onde  essas  matérias  se 
podem  encontrar,  tratadas  com  maior  detalhe  e  profi- 
ciência. 

Lisboa,  26  de  março  de  i886. 


António  Xavisr  Pereuu  Coutinho. 


CURSO  DE  SILVICULTURA 


INTRODUGÇÂO 


A  silvicultura  tem  por  objecto  a  exploração  mais  útil 
das  florestas. 

Denominam-se  florestasj  ou  matas,  a  reunião  de  ve- 
getaes  lenhosos  de  grande  porte,  da  mesma  ou  de  diffe- 
rentes  essências^  e  que  não  estão  sujeitos  da  parte  do 
homem  a  cuidados  individuaes  de  tratamento. 

A  palavra  essência,  em  cultura  florestal,  é  synonima 
de  espécie  botânica. 

A  silvicultura  distingue- se  da  arboricultura,  que  tam- 
bém explora  os  vegetaes  lenhosos,  principalmente  pela 
intensidade  na  exploração.  Emquanto  a  primeira,  como 
dissemos,  só  applica,  em  regra,  o  seu  tratamento  aos 
grupos  de  arvores,  ao  massiço,  a  ultima  emprega,  para 
cada  individuo  vegetal,  cuidados  especiaes,  como  a  poda, 
a  limpeza,  a  enxertia,  etc.  A  esta  dífferença  accresce, 
para  o  nosso  paiz,  como  para  os  outros  paizes  da  Eu- 
ropa, a  diversidade  dos  productos,  que  uma  e  outra  se 
propõe  obter:  a  silvicultura  considera  como  producto 

G.  8.  1 


II 

principal  os  lenhos  e  as  cascas,  emquanto  a  arboricvl^ 
turci  explora  sobrelado  as  arvores  de  fructo  e  de  orna- 
mento, tendo  sempre  as  madeiras  e  as  cascas  como  pro- 
duetos  muito  secundários.  Todavia  os  limites  entre  as 
duas  explorações  nem  sempre  apparecem  tão  accentua- 
dos,  que  não  se  encontrem  verdadeiras  transições;  como 
tal  pode  quasi  ser  considerada  a  cultura  dos  montados 
na  região  do  Alemtejo. 

Nos  diversos  paizes  da  Europa  a  silvicultura  occupa 
um  togar  mais  ou  menos  importante,  conforme  as  con- 
dições especiaes  de  cada  um. 

O  clima  quente  e  secco,  pobre  em  chuvas  estivaes, 
de  uma  grande  parte  de  Portugal,  é  mais  apropriado  â 
exploração  das  plantas  lenhosas  do  que  das  plantas  her* 
baceas.  Por  outro  lado,  a  posição  geographica  e  o  relevo 
accidentado  do  nosso  território  exigem  grande  revesti- 
mento florestal,  para  defender  uma  linha  tão  desenvol- 
vida de  costa  marítima  contra  a  invasão  das  areias, 
para  impedir  o  desnudamento  dos  declives  das  monta- 
nhas, e  regularisar  os  cursos  de  agua,  que  d'ahi  se  des- 
penham. 

E  certo  que  o  nosso  meio  económico,  sobretudo  a 
forma  por  que  se  constitue  e  divide  hoje  a  propriedade 
em  Portugal,  adapta-se  mais  ao  desenvolvimento  da  ar- 
boricultura do  que  da  silvicultura^  e  imprime  uma  fei- 
ção caracteristica  a  esta  ultima  pela  fragmentação  dos 
roassiços  florestaes,  com  todas  as  suas  consequências. 
Mas  aos  governos  incumbe  intervir,  n'estas  circumstan- 
cias,  como  acontece  em  todos  os  paizes,  onde  as  flores- 
tas teem  a  satisfazer  uma  necessidade  qualquer,  collo- 


m 

cadas  em  pontos  prefixos  e  sujeitas  a  tratamentos  espe- 
cíaes,  desde  que  a  propriedade  particular  não  é  compa- 
tível com  a  sua  creação  ou  conservação. 

O  estudo  da  silvicultura  constitue  hoje  uma  sciencia 
perfeitamente  definida,  que  se  acha  muito  adiantada  em 
alguns  paizes  da  Europa,  talvez  mesmo  mais  adiantada, 
em  muitas  coisas,  do  que  a  agricultura  propriamente 
dita.  Este  estudo  joga  com  um  grande  numero  de  co- 
nhecimentos e  abrange  um  campo  de  applícação  mui- 
tissimo  vasto,  apresentando,  como  o  estudo  de  todas  as 
industrias  humanas,  duas  faces  distinctas:  uma  technica, 
00  cultural  n'este  caso,  que  ensina  os  processos  de  tra- 
tamento para  obter  e  conservar  as  florestas,  que  consi- 
dera as  arvores  em  si,  nas  suas  relações,  vida  e  neces- 
sidades; outra  económica,  que  diz  respeito  â  mais  útil 
exploração. 

A  cadeira  de  silvicultura  do  Instituto  está  collocada 
no  3.^  anno  do  curso;  os  alumiios  chegam,  por  isso,  já 
habilitados  com  os  conhecimentos  necessários,  em  scien- 
cias  naturaes,  physicas^  económicas  e  mathematicas,  para 
a  sua  comprehensão.  Por  este  motivo  não  temos  de  en- 
trar em  generalidades,  que  vem  já  sabidas,  e  apenas,  a 
titulo  de  recordação,  tocamos  um  ou  outro  d^esses  pon- 
tos, quando  o  julgamos  mais  conveniente  para  o  melhor 
entendimento  e  ligação  do  que  temos  a  dizer. 

Dividimos  o  nosso  curso  nas  seguintes  partes : 

1/  Botânica  Florestal — Gomprehendendo  as  applicações 
da  botânica  geral  á  organisação  e  modo  de  vida  das 
essências  florestaes;  as  distincçOes  botânicas  entre 

1* 


IV 

estas  essências  para  a  sua  individualisaçao;  a  distri- 
buição das  diversas  arvores,  e  as  suas  relaçOes  com 
o  exterior,  isto  é — a  climatologia  e  a  agrologia  flo- 
restal. 

2.*  Cultura  Florestal — Regras  geraes  para  a  creaçãoe  tra- 
tamento das  florestas;  applicações  subsequentes  ás 
nossas  principaes  essências. 

3.*  Dendrometrla — Determinação  da  massa  lenhosa,  e  das 
leis  do  crescimento,  n'uma  arvore  e  n  um  grupo  de 
arvores. 

.4.*  Ordenamento — Escolha  e  regularisação  da  exploração, 
por  forma  a  obter  um  producto  annual  tão  constante, 
e  tão  vantajoso,  quanto  possível. 

6.'  Artes  Florestaes — Estudo  dos  productosflorestaes  con- 
siderados em  si,  nas  suas  propriedades  e  nas  suas 
transformações,  que  se  executam  na  floresta,  ou  an- 
nexas  á  floresta. 

6/  Economia  Florestal — Estudo  económico  da  producção 
florestal,  considerada  não  só  em  relação  aos  interes- 
ses do  proprietário,  como  do  paiz  em  geral. 


PARTE  I 


BOTÂNICA  FLORESTAL 


UVRO  I 


Organisaç&o  e  modo  de  Tida  das  plantas  lenbosas 

Plantas  herbáceas  e  lenhosas. — Os  vegetaes  podem  di- 
iddir-se,  qnanto  á  consistência  e  duração  dos  sens  caules, 
em  dois  agrupamentos — herbáceos  e  lenhosos. 

Vegetaes  herbáceos  são  aquelles  cujos  caules  ficam  sem- 
pre tenros,  succosos,  com  pequena  consistência,  e  (conside- 
rados no  todo,  ou  pelo  menos  na  parte  externa  ao  terreno) 
fructificam  apenas  uma  vez :  quer  n'um  único  período  ve- 
getativo a  planta  germine,  se  desenvolva  e  fructifique,  mor- 
rendo em  seguida  (plantas  annuaes):  quer  a  raiz  persista 
dois  annos,  desenvolvendo  o  caule  e  fructificando  no  se- 
gando, á  custa  dos  materiaes  em  reserva,  accumulados  pe- 
las folhas  durante  o  primeiro  anno  (plantas  biennms):  quer 
permaneçam  na  terra,  mais  de  dois  annos,  porções  d'um 
mesmo  individuo  (raizes,  rhizomas,  tubérculos  ou  bolbos), 
emittindo  cada  anno  caules  novos  fructiferos,  que  morrem 
em  seguida  (plantas  vivazes). 

Dizem-se  lenhosos,  em  opposição  aos  d'este  grupo,  os 


vegetaes  cujos  caules  se  apresentam  rígidos,  consistentes», 
por  terem  fortemente  espessas,  duras,  modificadas  de  di- 
versas maneiras,  as  paredes  de  muitas  das  cellulas  con- 
stituitivas.  N'estes  vegetaes  a  vida  continua  na  parte  aeria 
— no  caule  e  suas  ramificações — durante  um  período  va- 
riável, que  pode  abranger  muitos  annos,  ou  séculos  até,  e 
o  phenomeno  da  fructificação  repete-se  por  muitas  vezes 
sobre  o  mesmo  caule. 

Classificação  dos  vegetaes  lenhosos  segundo  o  seu  porte. 
— Os  vegetaes  lenhosos  indígenas  pertencem  todos,  a  bem 
dizer,  á  classe  das  Angiospermas-dícotyledoneas  ou  á  classe 
das  Gymnospermas.  As  Angiospermas-monocotyledoneas 
expontâneas  sao  plantas  herbáceas,  exceptuando  cinco  oa 
seis  espécies,  de  pequenas  dimensões  e  sem  nenhuma  im- 
portância, nos  géneros  Asparagus,  Smilax,  Ruscus,  e  exce- 
ptuando a  palmeira  anã  (Chamaerops  humilis,  L.),  peculiar 
ao  Uttoral  algarvio.  Por  esta  razão,  no  presente  livro,  ape- 
nas estudaremos  a  organisação  e  o  modo  de  vida  das  plan- 
tas pertencentes  ás  duas  ciasses  primeiro  citadas.  Tudo 
quanto  vamos  dizer  a  ellas  se  refere. 

Os  vegetaes  lenhosos  costumam  classificar-se  pratica- 
mente em  três  grupos,  segmido  as  dimensões  que  apre- 
sentam, a  altura  do  caule  onde  teem  implantados  os  pri- 
meiros ramos,  a  forma  dos  botões  e  a  época  em  que  elles 
apparecem — arvores^  arbustos  e  sub-arbustos. 

A  arvare  tem  uma  altura  não  inferior  a  8°*  ou  10"^,  e  o 
tronco  de  ordinário  nu,  despido  de  ramos  inferiormente 
um  grande  espaço:  taes  são  os  carvalhos,  o  castanheiro, 
os  pinheiros,  os  choupos,  etc.  O  arbusto  apresenta  meno- 
res dimensões,  vae  de  1™  a  5°^,  poucas  vezes  mais  alto,  e 
tem  habitualmente  o  eixo  principal  vestido  de  ramos  até 
abaixo :  como  o  aderno,  os  sanguinhos,  o  alfenheiro,  o  len- 
tisco,  o  sabugueiro,  etc.  O  sub-arbusto  raras  vezes  excede 
a  1°,  é  ramoso  desde  o  solo,  e  só  na  base  é  lenhoso:  taes 
^0  o  rosmaninho,  a  alfazema,  algumas  urzes,  etc.  Além 


r 


ffisto  as  arvores  e  os  arbustos  indígenas  teem  quasi  sempre 
botões  escamosos,  onde  hibernam  os  esboços  dos  sens  re- 
bentos, emqaanto  estes  botões  nao  existem  na  maior  parte 
dos  sub-arbustos. 

A  classificação  das  plantas  relativamente  á  sua  duração, 
porte,  e  consistência  dos  tecidos,  tem  uma  grande  impor- 
tância pratica  em  silvicultura:  d'ahi  dimana  o  aproveita- 
mento de  certas  espécies,  com  exclusão  de  outras.  Toda- 
via é  bom  não  esquecer  que  uma  tal  classificação  não  as- 
senta em  base  nenhuma  scientifica,  e  apenas  é  verdadeira 
cm  relação  a  um  determinado  logar.  A  mesma  espécie  ve- 
getal, modificada  pelos  diflferentes  climas,  pode  ser  herbá- 
cea ou  lenhosa,  e  apresentar  variações  enormes  no  porte; 
o  rícino  ou  carrapateiro  (Ricintis  communis,  L.)  é  expontâ- 
neo na  America,  na  região  quente,  mas  cultiva-se  hoje 
n'mna  grande  área,  onde,  em  muitos  pontos,  se  encontra 
já  sub-expontaneo ;  nos  logares  mais  quentes  d*este  seu 
vasto  habitat  é  arborescente  ou  arbustivo,  e  nos  logares 
menos  aquecidos  fica  herbáceo,  annual  ou  bíennal ;  na  Africa 
e  no  sul  do  nosso  paiz  tem  a  primeira  d'aquellas  estructu- 
ras,  e  adquire  a  segunda  na  França,  ou  entre  nós  no  Alto 
Traz-os-Montes  (Bragança). 

Órgãos  dos  vegetaes  lenhosos. — As  plantas  lenhosas,  co- 
mo sabemos,  são  constituídas  por  cellulas  que  apresentam 
entre  si,  quando  novas,  grandes  semelhanças,  mas  que  ad- 
quirem formas  muito  diversas  no  seu  desenvolvimento  ul- 
terior, segundo  o  fim  a  que  se  adaptam  e  especialisam. 

Seja  qual  for  a  sua  forma,  estas  cellulas  podem  revestir 
dois  modos  de  ser  muito  difierentes — podem  estar  vivas 
ou  mortas:  só  as  primeiras  são  susceptíveis  de  crescimen- 
to, só  eUas  formam  os  -princípios  immediatos  necessários  á 
organisação  vegetal,  e  só  ellas  podem  reproduzir-se,  isto 
kj  originar  outras  cellulas,  contribuindo  assim  para  o  des- 
envolvimento do  individuo  a  que  pertencem;  as  segundas,  as 
cellulas  mortas,  perderam  o  protoplasma,  tornaram-se  in- 


1 


8 

capazes  de  crescimento,  não  podem  reprodozir-se^  nem 
constituir  novos  princípios  immediatos.  Estas  cellulas  mor- 
tas apresentam  geralmente  a  parede  cellulosica  primitiva 
muito  modificada,  e  desempenham  então  um  simples  papel 
mechanico:  taes  sao  as  cellulas  suberificadas,  que  servem 
de  protecção  externa  ás  cellulas  vivas;  taes  são  as  fibras 
do  lenho,  que  dão  a  rigidez  e  a  flexibilidade  aos  diversos 
órgãos,  e  pelo  seu  grande  poder  de  imbibição  conduzem 
rapidamente  a  agua,  etc. 

Um  conjuncto  de  cellulas  idênticas,  que  obedecem  á  mes- 
ma lei  de  desenvolvimento,  constitue  um  tecido.  As  diver- 
sas partes  da  planta,  dotadas  de  formas  differentes  e  ap- 
propriadas  a  funcções  physiologicas  especiaes,  denominam- 
se  órgãos.  Vamos  passar  em  revista  os  órgãos  dos  vegetaes 
lenhosos,  considerando-os  sob  o  ponto  de  vista  que  nos  diz 
respeito. 

1.»— RAIZ 

A  raiz  é  o  órgão  destinado  a  immobilisar  a  planta  e  a 
absorver,  do  meio  onde  se  desenvolve,  as  substancias  ahi 
existentes,  necessárias  para  a  organisação  vegetal. 

A  raiz  distingue-se  do  caule,  além  de  outros  caracteres 
anatómicos,  em  não  ter  folhas  nunca,  e  em  apresentar  o 
cone  de  vegetação  (ou  ponto  constituído  pelo  tecido  gerador, 
por  onde  se  realisa  o  crescimento  terminal)  coberto  por 
um  invólucro  protector  fpileorhizaj  (fig.  1  Cj  p),  emquanto 
o  cone  de  vegetação  do  caule  é  nu.  Aquelle  invólucro,  sem- 
pre de  consistência  mais  resistente  que  os  tecidos  deUca- 
dos  geradores,  livra-os  dos  choques  e  attritos,  e  regene- 
rasse internamente  á  medida  que  se  gasta  e  esfolia  exter- 
namente. 

Nas  espécies  lenhosas  indígenas  a  raiz  desenvolve-se  na 
terra  e,  em  linguagem  vulgar,  raiz  é  toda  a  parte  subter- 
rânea dos  mesmos  vegetaes.  A  hera  (Hedera  Helix,  L.)  ain- 


9 

da  está  íDClDÍda  n'esta  definiçlio:  a  sua  raiz  normal,  a  raiz 
por  oode  se  alimenta,  impianta-se  no  solo;  as  raizes  aàven- 
tíciús,  qne  lhe  apparecem  ao  longo  do  caule  sarmentoso,  ser- 
Tem  para  o  erguer,  porque  é  muito  débil  para  se  levantar 
sem  esse  auxilio — embora  possam  contribuir  também  para 
a  notrição  quando  se  fixam  no  solo. 


Hg.  1.  Corte  iongitadinal  d'nma  radicula  do  amieiro  (i4IniM  glutinota 
GariD.):  e,  cone  vegetativo:  p,  piUorkisa:  a,  o,  pellot  radkaei  (20:1) 
(segando  Schaeht) 

Raix  normal  e  raizes  adventícias. — No  acto  da  germina- 
rão das  sementes  a  radicula  é  o  primeiro  órgão  que  appa- 
rece.  Nas  nossas  plantas  lenhosas  esta  radicula  adquire  um 
desenvolvimento  ulterior  muito  diverso,  variável  com  a  es- 
pécie vegetal  e  com  as  qualidades  do  terreno,  e  fica  sendo 
o  eixo  da  rami&ca(^o  subterrânea. 

Os  primeiros  indícios  externos  da  ramificação  apresen- 
tam-se  como  pequenas  proloberaneias  semi-esphericas  na 
superfície  da  radicula.  Estas  protuberâncias  engrossam  pou- 
co a  pouco;  a  casca  levantada  por  ellas  cede  emfim,  no 
senUdo  da  menor  resistência,  e  fende-se;  os  dois  lábios  da 
pequena  ferida  afastam-se,  e  dão  passagem  a  um  cyllndro 


".1 


10 

esbranquiçado»  qae  se  alonga  e  forma,  com  o  tempo,  mna 
nova  radicula.  Este  eixo  secundário  pode  ramificar-se  por 
sua  vez,  e  assim  seguidamente,  como  no  eixo  primário,  ou 
em  qualquer  outro,  podem  apparecer  novas  ramificações, 
inferiormente  ás  primeiras.  As  raizes  lateraes  sSopois,  em 
regra,  tanto  mais  novas  quanto  mais  afastadas  do  coUo. 

Dà-se  o  nome  de  coUo  da  raiz  ao  circulo  divisório  que  se 
imagine  traçado  limitando  a  raiz  e  o  caule.  Este  circulo  tem 
limites  prefixos,  como  a  anatomia  vegetal  ensina,  mas  em 
linguagem  florestal  é  um  pouco  indeterminado,  e  suppõe- 
se  estar  ao  nivel  do  solo. 

A  radicula  primordial,  desenvolvida  e  transformada  no 
eixo  da  ramificação  subterrânea,  chama-se  vulgarmente 
raiz  mestra  ou  gavião.  O  systema  ramificado,  que  deriva 
da  radicula  primitiva,  constitue  a  raiz  normal;  em  opposi- 
çao  a  esta  denominam-se  raizes  adventioias  as  que  appare- 
cem  n'uma  qualquer  parte  indeterminada  da  planta. 

Adaptação  das  ramificações  da  raiz. — Nas  raizes  das 
plantas  lenhosas,  quando  já  passaram  o  primeiro  período 
do  desenvolvimento,  ha  sempre  a  notar  ramificações  gros- 
sas, com  uma  grande  parte  das  cellulas  mortas  e  lenhifei- 
tas  (de  ordinário  tanto  mais  lenhosas  e  grossas  quanto  mais 
próximas  do  tronco),  e  ramificações  tenras,  succosas,  col- 
locadas  quasi  sempre  em  maior  abundância  nas  extremida- 
des. O  conjuncto  das  ramificações  lenhosas  constitue  prin- 
cipalmente o  apparelho  fixador;  o  conjuncto  das  radiculas 
tenras  denomina-se  cabellame,  e  ellas  exclusivamente  repre- 
sentam o  papel  de  orgaos  subterrâneos  da  nutrição. 

A  raiz  como  apparelho  de  nutrição. — Consideremos  iso- 
ladamente uma  doestas  radiculas.  A  assentada  externa  da 
casca,  que  se  dififerença  da  epiderme  do  caule,  entre  outros 
caracteres,  em  não  ter  estornas,  apresenta,  a  partir  do  ex- 
tremo onde  existe  a  ptfeorAíza,  uma  superficie  perfeitamente 
unida,  depois  uma  parte  cujas  cellulas  teem,  muitas  vezes, 
a  membrana  prolongada  em  pellos,  quasi  sempre  simples 


I*f 


11 

e  anicellulares  (íig.  l  a^  a),  segaindo-se-lhe  uma  outra  re- 
guio  menos  liza  e  de  ordinário  mais  escura. 

A  parte  intermédia,  onde  apparecem  os  pelios  radicaes, 
é  qae  foncciona  como  orgao  de  nutrição;  atravez  as  suas 
cellolas  passam,  por  endosmose,  os  gazes  e  a  agua  do  ter- 
reno, levando  esta  dissolvidos  os  principios  mineraes  ne- 
cessários para  a  organisaçSo  vegetal.  Para  este  fim  os  pel- 
los  radicaes  applicam-se  estreitamente  contra  as  partículas 
do  solo,  moldam-se  nos  seus  intervallos  e  ganham  com  el- 
las  tal  adherencia  que,  arrancando  com  cuidado  uma  radi- 
CDla  é  vulgar  encontral-a  envolvida  por  um  cylindro  de 
terra. 

Este  papel  dos  pelios  radicaes  dura,  as  mais  das  vezes» 
pouco  tempo;  atrophiam-se  breve  e  caem,  ficando  a  radi- 
cola,  na  parte  onde  elles  estiveram,  com  a  superficie  me- 
nos liza  e  a  côr  escura,  como  acima  notámos.  Â  radicula 
tem-se  alongado  no  emtanto,  e  agora  é  na  zona  que  estava 
mais  liza,  entre  o  extremo  e  a  antiga  assentada  dos  pelios 
radicaes,  que  estes  apparecem,  ficando  assim  constante- 
mente à  mesma  distancia  da  extremidade. 

Os  pelios  radicaes  nem  em  todas  as  espécies  se  encontram; 
quando  faltam  são  as  cellulas  da  zona,  em  que  elles  se  de- 
viam desenvolver,  por  onde  se  dá,  pela  mesma  forma,  a 
absorpção.  A  quantidade  e  o  tamanho  dos  pelios  radicaes 
dependem  das  condições  particulares  do  meio  onde  a  planta 
vive, bem  como  da  sua  organisação  especifica;  toda  a  planta 
dotada  de  activa  transpiração  tem  pelios  radicaes  numero- 
sos; tudo  quanto  augmentar  a  transpiração  provoca  um 
maior  apparecimento  d'elles;  por  isso  faltam,  ou  são  pouco 
desenvolvidos,  nas  Coníferas  (pinheiros,  etc.)  que  relativa- 
mente transpiram  pouco ;  por  isso  augmentam  em  numero 
e  em  dimensões  quando  as  raizes  vivem  em  terrenos  sec- 
cos  e  o  organismo  vegetal,  a  que  pertencem,  precisa  trans- 
pirar mais. 
A  parte  da  radicula,  onde  os  pelios  radicaes  se  atrophia- 


\ 


12 


ram  já  e  caíram,  toma  o  aspecto  nigoso,  soffre  mna  esfo- 
Ilação  á  superãcie,  as  cellalas  sub-jacentes  morrem  tam- 
bém, e  cobre-se  afinal  de  uma  camada  escura,  elástica, 
tendo  a  consistência  e  as  propriedades  da  cortiça.  Mais 
tarde  este  invólucro  fende-se,  fica  mais  rugoso  ainda,  e 
serve  apenas  de  protecção  aos  tecidos  inferiores ;  a  absor- 
pção  tomou-se  impossível  atravez  as  suas  cellulas  mortas 
e  suberiflcadas,  e  esta  parte  da  raiz  passa  a  ter  apenas  im- 
portância como  fracção  do  apparelho  fixador.  É  pela  extre- 
midade, que  se  alonga  com  todos  os  caracteres  primeiro 
indicados,  é  pelas  ramificações  novas,  collocadas  cada  vez 
mais  longe  e  mais  profundas,  que  a  planta  vae  procurando 
a  sua  alimentação  da  terra,  em  camadas  successivas  e  ain- 
da por  explorar. 

A  raiz  como  apparelho  fixador. — Em  egualdade  de  cir- 
cumstancias,  quanto  mais  desenvolvidas  são  as  ramificações 
lenhosas  subterrâneas,  tanto  mais  enérgica  é  a  resistência 
opposta  pela  arvore  a  ser  derrubada.  Á  medida  que  na 
parte  aérea  o  tronco  engrossa,  cresce  em  altura  e  augmenta 
em  ramos,  identicamente  o  apparelho  fixador  engrossa, 
cresce  e  ramifica-se,  e  d'este  modo  a  planta  encontra  sem- 
pre appoio  mais  ou  menos  proporcional  á  sua  grandeza. 
Esta  harmonia  entre  o  desenvolvimento  da  parte  aerla  e 
subterrânea  é  tão  estreita  que,  quando  a  copa  se  apresenta 
mais  ramosa  de  um  lado,  corresponde-lhe,  de  ordinário, 
uma  ramificação  maior  das  raizes  no  mesmo  sentido. 

O  conjuncto  das  raizes  principaes,  tendo  adherente  a 
base  do  tronco  denomina-se  touca. 

A  forma  de  ramificação  das  raizes  obedece  a  um  plano 
de  symetria,  prefixo  para  cada  espécie,  mas  a  falta  de  ho- 
mogeneidade nas  propriedades  physicas  e  chimicas  do  ter- 
reno alteram  aquella  regularidade  a  cada  passo.  Nas  ca- 
madas do  solo  mais  |ferteis  e  mais  húmidas  a  ramificação 
estimula-se  e  apparece  abundante  cabellame,  emquanto  nas 
camadas  mais  estéreis  a  raiz  passa  quasi  sem  se  dividir. 


13 

Quando  uma  raiz  encontra  quaesqner  obstáculos  materiaes 
procura  afastal-os,  ou  contomal-os,  mas,  se  o  não  conse- 
goe,  diminue  a  actividade  do  seu  cone  de  vegetação^  que 
morre  afinal,  cessando  o  alongamento  d'este  ramo.  Quan- 
do, por  uma  circumstancia  desta  ou  de  diversa  natureza, 
a  raiz  mestray  ou  uma  das  raizes  lateraes,  se  atrophia,  pode 
o  systema  continuar  a  ramificar-se  sem  esse  eixo,  ou  pode 
um  outro  ramo  tomar  a  direcção  do  que  se  inutilisou,  como 
na  parte  aérea  um  rebento  lateral  substituo  muitas  vezes  o 
rebento  terminal.  A  raiz  premida  entre  dois  obstáculos,  na 
fenda  de  uma  rocha  por  exemplo,  muda  de  aspecto  e  mo- 
difica a  forma  cylindrica  natural,  tomando-se  mais  ou  me- 
nos achatada;  em  alguns  casos,  pelo  engrossamento  ulte- 
rior, consegue,  actuando  como  uma  cunha,  separar  os  pe- 
daços da  rocha,  ou  ataca-a,  se  a  constituição  chimica  d'esta 
Bio  permitte,  chegando  mesmo  a  atravessal-a :  mas,  todos 
estes,  e  muitos  outros  accidentes  destroem  cada  vez  mais 
a  constância  do  plano  de  divisão  radicular.  Por  outro  lado 
a  desegualdade  da  ramificação  do  tronco,  devida  a  um  sem 
Dnmero  de  circumstancias,  em  que  toma  grande  parte  a 
falta  de  symetria  com  que  é  actuado  pelos  phenomenos  me- 
teorológicos, reflecte-se  enormemente  na  ramificação  da 
raiz,  sendo  mais  uma  causa,  e  muito  poderosa,  de  incon- 
stância. 

Apezar  de  tudo  quanto  deixamos  dito,  a  organisação  es- 
pecifica tem  quasi  sempre  em  si  a  energia  bastante  para 
vencer  tamanhas  contrariedades  e,  dentro  de  certos  limi- 
tes, cada  espécie  conserva  um  typo  característico  de  radi- 
cação, que  deve  ser  inherente  ás  necessidades  do  seu  or- 
ganismo. 

Na  forma  do  systema  radicular  e  no  poder  do  enraiza- 
mento tem  uma  grande  importância  o  desenvolvimento  da 
raiz  mestra;  em  regra  geral  as  suas  maiores  dimensões 
contribuem  para  a  estabilidade  da  arvore.  N'umas  espécies 
este  eixo  central  cresce  muito  pouco,  e  as  raizes  lateraes», 


14 


compridas  e  delgadas,  bracejam  ao  longe,  mais  ou  menos 
horisontalmente :  tal  é  o  choupo  tremedor ;  n'outras  essên- 
cias, como  no  ulmeiro,  também  não  se  desenvolve  muito, 
mas  é  substituído  por  duas  ou  três  grossas  pernadas  late- 
raes,  que  penetram  obliquamente  na  terra;  no  carvalho  ro- 
ble e  n'outras  espécies,  a  raiz  mestra  alonga-se  profunda- 
mente, com  pequenas  ramificações  nos  primeiros  annos. 
N*este  ultimo  caso  aquelle  crescimento  afrouxa  mais  tarde, 
e  as  raizes  lateraes  adquirem  então  maior  impulso,  como 
na  parte  aérea  diminuo  também  por  fim  a  relação  entre  o 
rebento  terminal  e  os  lateraes. 

Praticamente  a  radicação  das  diversas  essências  flores- 
taes  divide-se  em  dois  agrupamentos,  sobretudo  importan- 
tes para  nós,  caracterisados  pela  espessura  do  terreno  até 
onde  chega — radicação  profunda  e  superficiaL  O  carvalho,  o 
castanheiro,  o  pinheiro  bravo,  etc.  são  exemplos  do  pri- 
meiro grupo ;  os  salgueiros  e  alguns  choupos  representam 
bem  o  segundo.  Uma  consideração  pratica  egualmente  mui- 
to importante  é  o  terem,  ou  não,  as  raizes  a  faculdade  de 
formar  rebentões,  tal  como  os  forma  o  ulmeiro,  o  choupo 
branco,  etc;  muitas  vezes  estes  rebentões  desenvolvem-se 
em  raizes  horisontaes  muito  compridas,  e  vão  apparecer  a 
grandes  distancias  do  tronco  da  arvore-mãe,  tomando-se 
um  meio  poderosíssimo  de  reproducção. 

Independentemente  do  seu  papel  como  apparelho  fixa- 
dor, as  grossas  ramificações  subterrâneas  ainda  por  outras 
formas  contribuem  para  a  vida  vegetal;  estabelecem,  por 
determinados  tecidos,  a  communicação  entre  as  radiculas 
e  o  tronco,  dando  passagem  aos  principies  immediatos  con- 
stituídos na  parte  aérea,  sob  a  acção  da  luz,  e  necessários 
para  a  organisação  do  systema  descendente,  como  dão  pas- 
sagem, em  direcção  inversa,  á  agua  e  aos  mineraes  solú- 
veis tirados  do  solo,  e  que  egualmente  se  tornam  precisos 
para  a  formação  do  systema  ascendente.  Ainda  mais,  as 
grossas  ramificações  da  raiz,  desenvolvendo-se  na  terra. 


15 

alargam  o  campo  de  acç3o  das  radiculas  presas  nas  suas 
extremidades,  e  augmentam  assim  o  cubo  de  alimentação 
da  planta,  do  mesmo  modo  por  que,  na  parte  aérea,  os  ra- 
mos caulinares  espalham  as  folhas  na  atmosphera,  tornan- 
do-lhes  mais  favorável  o  accesso  da  luz  e  a  renovaçSo 
do  ar. 

Eiiste  uma  relação,  mais  ou  menos  prefixa,  para  cada 
espécie,  entre  o  desenvolvimento  da  parte  aérea  e  radicu- 
lar. Mas  esta  relação,  mesmo  em  egualdade  de  circumstan- 
cias,  até  para  cada  individuo,  varia  com  a  edade,  podendo 
dizer-se  que  é  máxima  a  raiz  no  primeiro  tempo  da  vida 
da  planta,  comparativamente  ao  tronco.  Quanto  ao  numero 
das  ramificações,  comparados  os  dois  systemas,  aéreo  e  sub- 
terrâneo, o  primeiro  apresenta,  de  ordinário,  n'um  espaço 
egual,  menor  numero  de  divisões  que  o  segundo. 

Raízes  adventieias  e  raízes  latentes. — Já  dissemos  o  que 
são  raizes  adventieias  e  em  que  se  dififerençam  das  raizes 
normaes.  As  raizes  adveraicias  podem  apparecer  exponta- 
neamente,  ou  provocadas  por  certas  praticas  de  cultura, 
mas  n'um  e  n'outro  caso  a  facilidade  com  que  se  desen- 
volvem varia  muito,  segundo  as  essências.  Os  pontos  onde 
se  originam  com  mais  frequência  são  aquelles  onde  ha  um 
aitmnecimento  de  qualquer  ordem:  um  nó,  os  bordos  de 
ama  ferida,  o  engrossamento  resultante  da  applicação  de 
mna  ligadura,  ou  de  uma  torção,  etc. 

Só  os  parehchymas  novos  contendo  feixes  fibró-vascula- 
res  teem  a  possibilidade  de  formar  raizes  adventícias ;  os 
tecidos  exclusivamente  cellulares  não  as  formam  nunca.  S6 
as  raizes  desenvolvidas  sobre  o  caule  teem  importância  em 
silTicultura. 

A  reproducção  por  estaca,  que  se  pode  empregar  para 
muitas  espécies  lenhosas,  é  baseada  no  apparecimento  das 
raizes  admnticias  sobre  o  fragmento  d'um  caule  ou  d'um 
ramo,  collocado  em  condições  apropriadas.  O  systema  ra- 
dicular assun  obtido  não  tem  raiz  mestra,  por  isso  mesmo 


i6 

que  não  proYem  da  ramificaç3o  de  uma  radicola  primitiva. 
No  emtanto,  accídentalmente,  em  raros  casos,  pode  este 
systema  de  raizes  apresentar  também  mn  gavião,  Iformado 
por  imi  dos  seus  eixos  que  se  orientou  na  vertical  e  tomou 
maior  desenvolvimento. 

Denominam-se  raizes  latentes  ou  dormentes,  aquellas  que, 
sendo  tolhidas  no  seu  desenvolvimento  logo  ao  principio, 
ficam  fechadas,  um  espaço  de  tempo  maior  ou  menor,  ou 
mesmo  indefinidamente,  dentro  das  formaçSes  subsequen- 
tes. Estas  raizes  se,  por  qualquer  acaso,  encontram  no 
futuro  condições  mais  favoráveis,  rasgam  os  tecidos  que  as 
prendiam,  e  alargam-se  então  no  meio  exterior  com  grande 
rapidez.  Os  salgueiros  teem,  com  frequência,  raizes  n*este 
estado  latente  ou  dormente. 


2.»— TRONCO 

O  tronco,  nas  espécies  lenhosas  indígenas,  é  o  eixo  da 
ramificação  ascendente;  tem  direcção  mais  ou  menos  ver- 
tical, e  desenvolve-se  em  sentido  opposto  ao  da  raiz  mes- 
tra. Seja  qual  for  a  posição  em  que  a  semente  fique  na 
terra,  estes  dois  órgãos,  a  raiz  e  o  caule,  tomam  .sem- 
pre as  suas  direcções  naturaes,  ainda  mesmo  quando  para 
isso  seja  necessário  dar-se  uma  torção  completa  na  radi- 
cula  e  no  cauliculo^  se  porventura  a  semente  caiu  com  a 
posição  inversa  da  que  devia  ter. 

O  tronco  apresenta  duas  partes  distinctas,  cuja  separa- 
ção é  muito  fácil,  sobretudo  em  determinadas  épocas  do 
anno,  e  conhecidas  vulgarmente  com  os  nomes  de  lenho, 
ou  madeira,  e  casca. 

Medulla  e  canal  mednllar. —  Quando  se  corta  por  um 
plano  horisontal  o  tronco  adulto  de  um  dos  nossos  vege- 
taes  lenhosos  vê-se,  na  secção  mais  ou  menos  circular  do 
corte,  uma  pequena  parte  no  centro,  bem  delimitada  do 


i7 

resto  do  lenho,  e  constituída  evidentemente  por  tun  tecido 
diverso — é  a  medulla. 

A  medtiUa  é  formada  por  cellulas  que,  de  ordinário,  teem 
as  paredes  delgadas,  deixam  entre  si  grandes  meatos  e  de- 
crescem em  tamanho  do  centro  para  a  peripheria.  Este  pa- 
rencbyma  é  circumscripto  pelo  canal  meduUar,  onde  se  en- 
contram vasos  reticulados,  amielados,  e  em  espiral  (tra- 
cbeas),  que  lhe  s5o  caracteristicos ;  esses  vasos  resultam, 
como  todos  os  mais,  de  uma  fiada  vertical  de  cellulas  cu- 
jas paredes,  nos  pontos  de  contacto,  foram  reabsorvidas, 
no  lodo  ou  em  parte,  constitnindo-se  d'este  modo  um  longo 
labo;  o  engrossamento  da  parede  cellular  primitiva,  res- 
peitando determinados  pontos  em  annel,  em  espiral,  etc., 
den-lhes  essas  formas  particulares. 

Na  maior  parte  das  essências  indígenas  a  medtdla  éponco 
consistente.  As  suas  cellulas  teem  sempre  curta  vitalidade; 
depois  de  secea,  n'um  grande  numero  de  espécies  enche 
completamente  o  canal  medullar  (fíg.  2,  B),  mas  n'outras 


Mg.  ).  A.  Corte  longitudinal  de  um  raminho  de  nogueira  (/ti^ru  re- 
giú,  L)  mostrando  a  medulla  interrompida  (1:1).  B.  Córie  longitu- 
diu^  de  um  raminho  de  sabugueiro  (Sambucut  nigra.L.)  mostrando 
a  medulla  continua  (1:1). 


18 

contrae-se  em  discos  sobrepostos,  que  alternam  com  outras 
tantas  cavidades  (nogueira,  loureiro,  etc),  (Ag.  2,  A).  A  rela- 
ção entre  o  tamanho  da  ftiedulla  e  o  do  lenho  em  redor  varia 
bastante  com  as  essências,  e  muito  com  a  edade  da  secção 
considerada,  por  isso  que  a  medulla  nâo  engrossa  nunca  mais 
e  o  tecido  lenhoso  todos  os  annos  adquire  maior  espessura. 

A  forma  do  cancU  medullar  é  mais  ou  menos  angulosa, 
e  característica  para  muitas  espécies.  O  numero  dos  seus 
ângulos  está  em  relação  com  o  numero  dos  feixes  lenho- 
sos primitivos  do  caule,  e  até  certo  ponto  com  a  ordem  de 
inserção  das  folhas :  é  pentagonal  nos  carvalhos  e  choupos, 
triangular  no  vidoeiro  e  amieiro,  etc. 

Prosenchyma  fibroso. — A  parte  restante,  e  incomparavel- 
mente mais  considerável  do  lenho  (quando  se  não  trata  de 
um  raminho  muito  novo),  apresenta-se  á  vista  desarmada 
como  um  todo  compacto,  dividido  em  zonas  mais  ou  menos 
concêntricas,  que  se  distinguem  muito  facilmente  em  algu- 
mas espécies,  pela  differença  de  coloração  nos  pontos  onde 
se  dá  o  contacto,  e  pelo  apertado  do  tecido  nos  mesmos 
pontos;  estes  circulos,  em  todas  as  madeiras,  estão  ainda 
divididos  em  sectores,  por  traços  radiantes,  mais  ou  menos 
visiveis,  que  partem  da  medulla  (fig.  3). 

No  tecido  apertado,  a  que  nos  referimos,  encontram-se 
cellulas  muito  alongadas  no  sentido  do  eixo  longitudinal  da 
planta,  que  se  denominam  fibras.  Estas  cellulas  terminam 
em  ponta  e  tomam  o  aspecto  fusiforme ;  estão  dispostas  em 
fiadas  parallelas  e  insinuam  as  extremidades  entre  os  in- 
tervallos  das  cellulas  collocadas  superior  e  inferiormente, 
não  deixando  espaços  inter-cellulares,  isto  é,  constituem 
pela  sua  reunião  um  prosenchyma.  As  dimensões  das  fibras 
do  lenho  variam  muito  nas  diversas  essências,  bem  como 
variam  em  cada  uma  com  as  condições  da  vegetação,  e  até 
em  cada  individuo  conforme  a  região  do  tronco.  Conteem, 
de  ordinário,  agua  ou  ar;  ás  vezes  encontram-se-lhes  al- 
guns grânulos  e  restos  do  protoplasma  primitivo. 


r 


19 

As  fibras  lenhosas  teem  a  membrana  mais  oa  menos  en- 
grossada e  lenhefeita;  este  espessamento  respeita  certos 
pontos,  que  se  correspondem  sempre  com  exactidão  nas  fa- 
ces de  contacto  de  duas  fibras  visinhas,  constituindo  outros 
UnbK  canaliculos.  Quando  a  fibra  perde  o  protoplasma,  e 
maré,  a  membrana  primitiva,  que  separava  os  dois  cana- 
liculos em  correspondência,  reabsorve-se,  de  ordinário, 
cOTimimicando  então  por  elles  livremente  as  cavidades  cel- 
lolares. 


Rg.  3.  SecçSo  transversal  de  um  tronco  de  earralho  roble  {Querdupa- 
imeiãala,  Ehrh.)  (1:3). 

Qoando  a  pontuação  da  parede  cellular  conserva  o  mes- 
mo calibre  em  toda  a  sua  extensão  desenba-se  de  frente 
limitada  por  mn  contorno  único  e  diz-se  imia  pontuação 
Mmj)les  (ãg.  4,  C).  Se  o  calibre  do  pequeno  canaliculo  nSo 
é  uniforme,  se  a  sua  secção  externa  não  é  egual  á  secção 
iotmnedia,  a  pontuação  vé-se  de  frente  com  o  aspecto  de 
dois  circnlos  concêntricos  e  diz-se  n'este  caso  aureolada 
(Gg.  4,  A,  B);  taes  são  nas  fibras  lenhosas  das  Coníferas.  As 
pMtnações  aureoladas  teem  o  diâmetro  relativamente  amsi- 


20 


deravel ;  quando  a  membrana  primitiva  se  reabsorve  aves- 
ses pontos,  o  conjoncto  de  fibras  aureoladas  passa  a  consti- 
tuir um  systema  de  tubos  irregulares,  que  só  se  diflferen- 
çam  dos  vasos  verdadeiros  em  as  cellulas  componentes  não 
estarem  n^uma  serie  longitudinal.  Alguns  auctores  chamam- 
lhes  vasos  fechados  ou  tracheides. 


A 


B 


n 


Fig.  4.  A.  Fibra  aureolada  do  pinheiro  manso  {Pinus  Pinea,  L.)  (proxi- 
mamente 100:  i).  B.  Corte  de  uma  pontuação  aureolada  (proxima- 
mente 200:1).  C.  Fibra  com  pontuações  simples,  do  roble  (Quercus 
pedunculata,  £hrh.)  (proximamente  100:1). 


As  propriedades  physicas  das  fibras,  e  em  geral  de  todas 
as  cellulas  muito  alongadas,  diversificam  bastante,  conforme 
se  consideram  na  direcção  do  maior  comprimento,  na  di- 
recção do  raio,  ou  no  da  tangente  transversal.  A  elastici- 
dade, a  conductibilidade  para  a  agua,  som,  electricidade  e 
calor  teem  valores  máximos  no  sentido  do  maior  compri- 
mento da  fibra,  e  valores  minimos  no  sentido  da  tangente 
transversal;  pelo  inverso,  a  dilatação  pelo  calor  e  o  entu- 


r 


21 


mecimento  pela  agua  são  muito  maiores  na  direcção  do 
raio  do  que  na  do  comprimento.  Como  veremos,  nas  Antes 
Ftorestaes,  é  de  primeira  importância,  attender  a  estas  va- 
riações das  propriedades  physicas,  no  aproveitamento  ulte- 
rior das  madeiras. 

Vasos. — Quando  se  olha  com  cuidado  a  secção  horison- 
tal  de  um  lenho  notam-se,  em  muitas  essências,  mesmo  á 
tísU  desarmada,  pequenos  furos,  mais  ou  menos  circula- 
res, espalhados  ou  reunidos  em  grupos  por  diversas  for- 
mas. Cada  um  doestes  foros  representa  o  corte  de  um  vaso. 

Os  vasos  tiveram  a  mesma  origem  que  as  Iracheas  do  es- 
tojo medullar,  apenas  é  diversa  a  esculptura  das  suas  pa- 
redes, que  são  pontuadas,  quasi  sempre.  O  protoplasma  e 
o  núcleo  das  suas  cellulas  constituintes  desappareceram, 
sendo  substituídos  por  uma  columna  d'agua  interrotnpida 
com  bolhas  d'ar. 

Os  vasos  teem  maior  calibre  do  que  as  fibras,  e  por  isso 
destacam  entre  o  teci&o  em  redor;  teem  a  parede  cellular 
mais  delgada  e  a  cavidade  central  com  maior  diâmetro.  No 
corte  longitudinal  do  lenho  apresentam-se  com  o  aspecto 
de  pequenos  sulcos. 

Nem  todas  as  nossas  essências  florestaes  teem  vasos;  fal- 
tam nas  Coníferas,  que  apenas  no  estojo  medullar  conteem 
os  vasos  característicos  d'aquella  região. 

O  calibre  dos  vasos  varía  muito  com  as  espécies  e  com 
as  condições  particulares  da  vegetação.  N'umas  espécies  o 
mesmo  individuo  tem  os  vasos  todos  sensivelmente  com  o 
mesmo  diâmetro  fplatano,  choupos,  salgueiros,  etc.)  e  n'ou- 
tras  são  elles  sensivelm*ente  deseguaes  (carvalhos,  casta- 
nheiro, freixo,  ulmeiro,  etc.) 

O  seu  numero  diversifica  também  muito  nas  diversas  ar- 
yotes :  assim  emquanto  os  choupos  e  os  salgueiros  teem  mui- 
tos vasos,  o  buxo  tem  muito  poucos.  Podem  ser  em  pro- 
porção superior,  ou  inferior,  ao  tecido  fibroso ;  quando  pre- 
doDúnam  contribuem  para  tornar  a  madeira  mais  porosa, 


22 

mais  leye;  mas  nem  só  d'elles  dependem  estas  qualidades: 

também,  e  muito,  da  natm^eza  das  fibras,  quanto  ás  suas 

dimensões,  espessura  das  paredes,  grau  de  incrustação» 

etc. 
N'umas  espécies  os  vasos  encontram-se  disseminados, 

sem  nenhuma  ligação — quer  estejam  solitários,  quer  reu- 
nidos em  pequenos  grupos  de  dois  a  dez,  ou  mesmo  mais, 
apparecendo  então  no  corte  transversal  em  pequenos  aggre- 
gados,  ou  series  simples  radiantes,  pouco  apparentes  (plá- 
tano, salgueiros,  vidoeiro,  nogueira,  etc.).  N'outras  espécies 
juntam-se  em  pontos  determinados,  muito  numerosos,  muito 
próximos  uns  dos  outros,  muito  apparentes,  formando  no 
corte  transversal  desenhos  variados,  de  cor  baça  e  mais  cla- 
ra: umas  vezes  dispostas  em  linhas  radiantes  flexuosas  e 
ramificadas  (carvalhos,  castanheiro),  outras  vezes  em  pe- 
quenos arcos  concêntricos  (freixo,  amoreira,  acácia  bas- 
tarda), em  Unhas  concêntricas  muito  onduladas  (uhneiro, 
lodão  bastardo),  ou  em  curvas  retibuladas,  constituindo 
uma  espécie  de  renda  ou  rede  (tojo,  aderno,  sanguinho 
bastardo). 

Parenchyma  lenhoso. — O  agrupamento  dos  vasos  toma- 
se  ainda  mais  apparente,  em  algumas  essências,  pelo  te- 
cido especial  com  que,  n'essas  madeiras,  estão  envolvidos ; 
referimo-nos  ao  parenchyma  lenhoso.  Este  parench}Tna  é  for- 
mado por  cellulas  obtusas,  ou  troncadas  nas  extremidades, 
mais  curtas,  com  as  paredes  mais  delgadas,  a  cavidade  cen- 
tral maior,  e  a  côr  mais  clara  do  que  as  fibras.  Às  paredes 
d'estàs  cellulas  teem  pontuações  simples,  fechadas;  de  in- 
verno, entre  outras  substancias,  encontra-se-lhes  amido. 

O  parenchyma  lenhoso  falta  em  algumas  das  essências 
indígenas:  nas  Goniferas,  por  exemplo.  É  pouco  desenvol- 
vido, e  escapa  facilmente  á  observação  n'outras,  taes  como 
nos  salgueiros,  choupos,  vidoeiro,  medronheiro,  urzes,  etc, 
onde  nem  com  o  auxilio  da  lente  se  percebe,  mas  é  bem 
visivel  em  muitas  espécies,  mesmo  á  vista  desarmada.  Está 


23 

• 

misturado  com  o  prosenchyma  flbroso:  n'uns  casos  disper- 
so, sem  nenhmna  relação  com  os  vasos — ou  espalhado  e 
difficil  de  observar,  ou  disposto  em  laminas  onduladas,  con- 
cêntricas, como  no  carrasqueiro ;  mas  n'outros  casos  envolve 
cada  vaso,  ou  cada  grupo  de  vasos,  apresentando-se  no 
corte  transversal  com  o  aspecto  de  pequenas  aureolas  mais 
claras  (alfarrobeira)  ou  reune-os  mesmo  entre  si,  formando 
desenhos  característicos  (amoreira,  freixo,  acácia  bastarda, 
etc.),  e  assim  melhor  os  destaca  do  tecido  fibroso. 

Raios  mednllares. — As  linhas  radiantes,  que  dividem  em 
sectores  a  secção  horisontal  do  lenho,  denominam-se  raios 
medtdlares.  São  constituídos  por  series  de  cellulas  compri- 
midas, alongadas  no  sentido  do  raio;  estas  series  esten- 
dem-se,  mais  ou  menos  profundamente,  sob  a  forma  de  la- 
minas verticaes,  separando  diversas  porções  dos  tecidos  que 
descrevemos.  O  conjuncto  das  fibras  e  vasos  comprehendi- 
dos  entre  dois  raios  denomina-se  feixe  fibro^ascular. 

Umas  vezes  as  cellulas  do  raio  medullar  são  menos  re- 
sistentes que  o  tecido  fibroso,  outras  vezes  são  mais  duras 
(carvalhos),  e  ii'este  ultimo  caso,  quando  a  madeira  sofire 
grandes  fricções,  os  raios  medullares  gastam-se  menos  e 
apparecem  em  alto  relevo. 

Alguns  d'estes  raios  partem  damedulla  e  dizem-se  en- 
tão completos;  outros  nascem  n'uma  assentada  mais  exte- 
rior e  dizem-se  incompletos  (fig.  S) ;  mas,  n'um  e  n'outro 
caso,  uma  vez  formados,  prolongam-se  até  á  peripheria  e 
se,  algumas  vezes,  parecem  afliar-se,  e  terminar  antes  d'ali 
chegarem,  é  devido  isto  apenas  á  inclinação  do  corte  ob- 
servado, que  ficou  obliqua  em  relação  a  elles. 

Os  raios  medullares  são  rectos  n'umas  espécies,  flexuo- 
sos  n'outras.  A  sua  espessura  (no  sentido  horisontal)  é  muito 
variável  e  depende  do  numero  de  cellulas  que  se  coUoca- 
ram  ao  lado  umas  das  outras  para  os  formar:  pode  ir  desde 
(r,íX)2  (sobreiro,  azinheira)  até  (r,00002,  como  nos  pi- 
nheiros e  salgueiros,  onde  são  constituídos  por  uma  única 


24 

fiada  de  cellutas.  É  claro  qae  nas  primeiras  essências  s3o 
muito  mais  visiveis  do  que  oas  segmidas;  em  algumas  loa- 
deiras  s3o  tão  estreitos  que  é  difScil  percebel-os  á  vista 
desarmada. 

N'um  mesmo  individuo  os  rotos  podem  apresentar  espes- 
sura egual  (castanheiro,  plátano,  pinheiros,  etc.),  ou  diversa 
(roble,  sobreiro,  etc).  De  ordinário  a  desegualdade  dos 
raios  é  peculiar  ás  espécies  que  teera  raios  grossos. 

A  altura,  isto  é,  a  dimensão  no  sentido  longitudinal,  va- 
ria também  muito:  emquanlo  nos  carvalhos  está  compre- 
hendida  entre  0",i  a  0°,05,  no  freixo  é  de  0",0005,  e  no 
buxo  0-,0002. 

A  disposição  que  a  madeira  apresenta  a  deixar-se  fen- 
der com  mais  ou  menos  facilidade  depende  do  arranjo  re- 
gular, e  parallelismo,  das  fibras  e  vasos,  e  está  intimamente 
ligada  á  forma  dos  raios  meduUares,  sobretudo  á  sua  lar- 
gura: se  são  largos,  a  contextura  fibro-voscular  é  mais  tor- 
tuosa e  a  madeira  fende  mal ;  se  são  delgados,  as  fibras  fi- 
cam parallelas  na  vertical,  e  o  lenho  dá  boa  fenda.  A  fig. 
K  dá  uma  ídéa  d'um  e  d'outro  destes  casos. 


Pig.  5.  Corie  longitudinal,  Ungencialmente  aos  raios  meduUares :  A.  no 
lenho  da  azinheira  {Qatnmt  lUi,  L.).  B.  no  lenho  do  roble  (Oiwrna 
pedunaãata,  Ehrh)  (1 : 4). 

O  numero  dos  raios  medallares  é,  de  ordinário,  tanto 
maior  quanto  são  mais  delgados;  no  emtanto  este  numero 
varia  muito.  Entram  com  percentagem  variável  na  consti- 
tuição da  madeira,  ás  vezes  até  quasi  por  metade  (tamar- 


25 

peira)  mas,  na  maior  parte  das  essências,  entram  em  re- 
!3ç3o  menor. 

Quando  se  corta  uma  peça  de  madeira,  segundo  um 
plano  perpendicular  aos  raios  medullares  (fig.  5),  estes  de- 
seohaffl-se  no  corte  como  traços  longitudinaes,  ou  com  a 
litnna  lenticular,  quasi  sempre  mais  escuros,  com  largura 
e  comprimento  variáveis,  segando  as  essências.  Quando  a 
peça  de  madeira  é  cortada  verticalmente  na  direcçío  dos 
rmo»,  elles  formam  placas  espelhadas,  mais  ou  menos  jun- 
tas e  compridas,  com  ondeados,  claros  ou  escuros,  de  bo- 
uilo  effeito.  Este  conhecimento  é  importante  em  marcena- 
ria e  na  serragem  das  madeiras  para  omamentaçlo. 

Canaes  resiniferoa.— Na  madeira  de  algumas  essências  in- 
dígenas apparecem,  no  corte  transversal,  pequenos  furos,  que 
podem,  á  primeira  vista,  ser  confundidos  com  os  vasos,  mas 
qae  são  elementos  diversíssimos  pela  sua  organisação  e  ftroc- 
Cões.  Referimo-nos  aos  canaes  resimferos  das  Coníferas. 

Elstes  canaes  resimferos  são  espaços  inter-cellulares,  mais 
oa  menos  compridos  e  tubuloaos,  onde  as  cellulas  limitro- 
phes  exsudam  o  producto  da  sua  secreção.  SSo  inicialmente 
coDStituidos  pelo  afastamento  de  um  certo  numero  de  cel- 
Inlas,  ou  fiadas  verticaes  de  cellulas,  quasi  sempre  qua- 
tro (fig.  6),  e  que  permanecem  durante  bastante  tempo  ca- 
pazes de  divisão;  essas  divis&es  ul- 
teriores originam  as  cellulas  mais 
numerosas  qu»  habitualmente  se  en- 
«intram  a  circumscrevel-os. 

As  cellulas  segregadoras  distin- 
gnem-se  das  outras  cellulas  em  re- 
dor pelas  dimensões,  de  ordinário, 
meoffi^s;  pela  forma  levemente  con- 
vexa na  face  livre;  pela  membrana  F'8-«- Canal  resinifero  do 
delgada,  não  lenhifeita.  sem  escut-    "'!"'"  ÍTrí^""*™ 
ptm^;epelacôramarelladaouacas-    mente  360: í).  (Corte 
tanhada.  InnaverMl). 


26 

Os  canaes  resiniferos  podem  estar  dispostos  longitudinal 
ou  transversalmente,  entremeados  no  tecido  fibroso  ou  acom- 
panhando os  raios  meduUares. 

A  resina  é  segregada  para  o  espaço  inter-cellular  atra- 
vez  as  paredes  das  cellulas  que  o  limitam.  As  vezes,  quando 
a  secreção  é  abundante,  a  resina  espalha-se  nos  tecidos 
em  volta,  obstruindo  as  fibras,  dando-Ibes  uma  côr  escura, 
e  a  transparência  e  a  dureza  córnea. 

N'uma  secção  transversal,  feita  de  fresco,  os  cawoes  re- 
siniferos das  formações  mais  modernas  deixam  escapar  uma 
gotta  de  terebinthina,  e  isto  pode  ajudar  a  distinguil-os  dos 
vasos.  A  extensão  vertical  muito  maior  d'estes  últimos  diífe- 
rença-os  também,  mas  este  caracter  é,  na  pratica,  de  pe- 
quena importância,  por  ser  de  diíDcil  apreciação.  O  pro- 
cesso facilimo  de  distinguir  estes  dois  elementos  consiste 
em  verificar  a  posição  onde  se  encontram,  em  maior  nume- 
ro, se  no  bordo  exterior  ou  interior  de  cada  zona  circular 
da  madeira  (camada  annual),  conforme  veremos  adiante. 

Classificação  dos  elementos  anatómicos  do  lenho. — Do 
que  Oca  dito,  a  propósito  da  composição  do  lenho,  depre- 
hende-se  que  os  seus  elementos  anatómicos  podem  grupar- 
se  em  duas  divisões:  uns,  que  chamaremos  elementos  ana- 
tómicos necessários^  encontram-se  nas  madeiras  de  todas  as 
essências  indígenas— são  as  fibras  e  os  raios  meduílares; 
outros,  que  denominaremos  elementos  anatómicos  accessoríos 
nem  em  todas  as  madeiras  se  encontram  —  são  os  vasos, 
os  canaes  resiniferos  e  o  parenchyma  lenhoso. 
.  O  estudo^  anatómico  das  madeiras,  feito  com  o  auxilio 
de  uma  lente  simples,  pode,  como  veremos  na  píirte  res- 
pectiva, servir  a  distinguir  os  lenhos  das  diversas  essên- 
cias—pelo  numero  e  dimensões  dos  raios,  pela  presença, 
ou  ausência,  dos  vasos  e  dos  canaes  resiniferos,  pela  forma 
de  agrupamento  e  calibre  dos  vasos,  pela  disposição  do  pa- 
renchyma lenhoso,  etc. 

Cambium. — Fazendo  a  transição  do  lenho  para  a  casca 


27 

encontra-se  uma  camada  geradora,  denominada  camlyum, 
coDStituida  por  cellulas  vivas  e  capazes  de  divislo.  Estas 
cellalas  teein  as  paredes  delgadas  e  tenras  de  cellalose  nao 
incmstada  (principalmente  durante  as  estações  de  activi- 
dade vegetativa,  porque  no  inverno  essas  paredes  engros- 
sam um  pouco),  teem  protoplasma  espesso,  granuloso,  e  um 
imcleo. 

A  forma  das  celiulas  do  ccmbium  é  precisamente  a  das 
cellulas  correspondentes,  com  que  contactam,  para  o  lado 
do  lenho  e  da  casca ;  são  curtas  na  continuação  dos  raios 
medollares,  alongadas  em  frente  do  tecido  dos  feixes. 

Esta  assentada  representa  um  papel  importantissimo  na 
vida  do  vegetal,  como  diremos;  d'ella,  por  successivas  par- 
tições, nascem  novos  elementos  anatómicos  para  um  e  ou- 
tro lado,  que  vão  augmentando  a  espessura  da  madeira  e 
da  casca,  e  assim  engrossam  a  arvore  ou  o  arbusto. 

Durante  o  periodo  da  vegetação  não  existe  um  limite  ní- 
tido entre  o  lenho,  o  cambitim  e  a  casca,  tão  graduaes  vão 
sendo  as  passagens,  mas  a  differença  accentua-se  no  in- 
verno. 

Tecidos  internos  da  casca — libar  e  parenchyma  corti- 
cal.—A  camada  intçma  da  casca,  a  que  está  mais  em  con- 
tacto com  o  cambium,  denomina-se  liber.  No  liber  encon- 
tram-se  elementos  anatómicos  análogos  aos  do  lenho,  mo- 
dificados, è  certo,  em  virtude  da  sua  diversa  especialisação. 

Aos  vasos  e  cellulas  vasculares  (fibras  aureoladas)  do  le- 
nho correspondem  as  cellulas  e  ttibos  crivados  do  liber,  que 
são  o  seu  elemento  mais  importante.  Estas  cellulas  teem  a 
forma  alongada,  cylindrica  ou  prismática,  e  encontram-se 
sobrepostas  em  fiadas  longitudinaes ;  nas  suas  paredes  exis- 
tem grandes  pontuações,  onde  a  membrana  fica  mais  del- 
gada, e  se  enche  de  pequenos  e  numerosos  orifícios,  que 
a  fazem  assemelhar  a  um  crivo  microscópico.  Este  tecido, 
como  veremos,  tem  uma  grande  influencia  na  vida  do  ve- 
getal. 


28 

J 

Ás  fibras  lenhosas  correspondem  as  fibras  liberianas, 
egualmente  alongadas  e  prosenchymatosas,  mas  flexíveis  e 
tenazes,,  e  não  lenhifeitas  como  as  da  madeira.  Às  fibr^zs  li- 
berianas podem  estar  isoladas  ou  dispostas  em  feixes,  gm- 
par-se  em  zonas  concêntricas  mais  ou  menos  regulares,  se- 
paradas pelos  outros  tecidos  mais  moUes  (carvalhos,  chou- 
pos, ulmeiro,  nogueira,  sabugueiro,  oliveira,  etc),  ou  ficar 
disseminadas,  sõsinhas  ou  em, pequenos  grupos,  no  meio 
d'esses  outros  tecidos  (figueira,  amoreira,  lodão  bastar- 
do, etc.) 

As  fibras  são  a  parte  mais  resistente  do  liber.  Muitas  ve- 
zes empregam-se  industrialmente  como  matérias  textis. 

Os  raios  meduUares  continuam-se  também  no  liber,  mas 
teem,  na  parte  correspondente  a  esta  região,  as  paredes  mais 
delgadas,  e  menos  incrustadas,  que  no  lenho.  O  parenchy- 
ma  lenhoso  está  representado  na  casca  pelo  parenchyma  li- 
beriano,  que  apparece  associado  aos  tubos  e  cellulas  criva- 
das. 

Estes  tecidos  alternam  todos  regularmente  em  algumas 
espécies:  assim  no  teixo  e  nos  cyprestes  a  uma  assentada 
de  fibras  succede  uma  de  tubos  crivados,  uma  outra  de  pa- 
renchyma, uma  nova  assentada  de  tubos  crivados,  seguin- 
do-se  outra  vez  a  camada  de  fibras,  e  assim  successiva- 
mente. 

Como  é  diversa  a  consistência  das  camadas  componentes 
do  liber  é  fácil,  muitas  vezes,  isolal-as  por  maceração.  O  te- 
cido mais  brando  destroe-se  e  as  fibras  separam-se  então, 
em  muitos  casos,  ás  folhas,  que  teem  o  aspecto  de  uma  renda. 
Essa  forma  foliacea  deu  ao  conjuncto  d'esta  região  da  casca 
o  nome  de  liber  (livro). 

  importância  relativa  dos  elementos  do  liber  é  bastante 
diversa.  Âs  fibras  faltam  n^algumas  espécies  lenhosas. 

Externamente  ao  foòer  fica  uma  assentada,  conhecida  pelo 
nome  de  parenchyma  cortical^  que  tem  com  a  medulla  as 
maiores  analogias  de  composição,  e  com  a  qual  communica 


29 

por  intermédio  dos  raios  medullares.  É  também  constituida 
por  nm  parenchyma  pouco  apertado,  cujas  cellulas  podem, 
ás  vezes,  sofi&^er  dififerentes  especialisações :  tal,  por  exem- 
plo, quando  originam  a  assentada  de  collmchyma  no  seu 
limite  exterior,  e  onde  se  encontram  cellulas  alongadas, 
tendo  a  cavidade  arredondada  e  as  paredes  fortemente  en- 
grossadas, sobretudo  nos  ângulos. 

As  cellulas  do  parenchyma  cortical  teem,  muitas  vezes, 
chlorophylla.  Nas  espécies  lenhosas  aphyllas  ou  sub-aphyl- 
las,  taes  como  a  cornicabra,  figueira  da  índia,  ele,  sobre 
este  parenchyma  cortical^  rico  em  chlorophylla,  repousa  a 
principal  elaboração  da  planta. 

Os  tecidos  tegumentares,  que  envolvem,  por  ultimo,  ex- 
ternamente o  caule,  apresentam  formações  e  desenvolvi- 
mento muito  diversos,  segundo  as  essências,  e  segundo  a 
edade  do  caule,  ou  do  ramo,  considerado. 

Epiderme. — N'um  caule  novo — na  planta  saida  ha  pouco 
da  semente,  ou  no  rebento  da  arvore,  ou  do  arbusto,  adul- 
to—a casca,  no  exterior,  é  lisa  e  unida;  a  assentada  mais 
externa,  denomina-se  então  epiderme. 

Normalmente  a  epiderme  é  simples,  constituida  por  uma 
só  camada  de  cellulas,  mas  em  algumas  espécies  apresenta 
duas  ou  mais  fiadas.  As  suas  cellulas  componentes  estão 
intimamente  unidas,  sem  espaços  inter-cellulares,  e  como 
teem  menor  adherencia  ás  assentadas  subjacentes,  por  isso 
a  epiderme  pode  destacar-se,  com  facilidade,  em  grandes 
fragmentos. 

As  cellulas  epidérmicas  teem  protoplasma,  núcleo,  e  um 
liqnido  claro,  a  maior  parte  das  vezes  incolor.  N'umas  es- 
pécies contéem,  n'outras  não,  chlorophylla.  A  parte  mais  ex- 
terna das  paredes  d'estas  cellulas  transforma-se  em  cutinay 
originando-se  d'este  modo  uma  espécie  de  pellicula  delgada 
e  hyalina,  que  passa  ininterrupta  de  umas  às  outras  cellu- 
las e  que  se  denomina  cutictda.  A  membrana  das  cellulas 
qjidermicas  está  sempre  incrustada  de  diversas  substan- 


30 


cias  cirosas  e  mineraes,  principalmente  a  silica,  o  carbonato 
e  oxalato  de  cálcio. 

Na  epidetim  do  caule  (ou  mais  em  geral  na  de  todos  os 
órgãos  aerios)  notam-se  os  estornas,  aberturas  para  o  exte- 
rior formadas  por  duas  cellulas  reniformes,  que  voltam  uma 
para  a  outra  as  faces  concavas.  Estas  cellulas  são,  de  or- 
dinário, menores  que  as  outras  cellulas  da  epiderme;  a  aber- 
tura limitada  por  ellas  communica  com  um  espaço  vasio  en- 
tre as  cellulas  subjacentes,  denominado  camará  do  estorna^ 
ou  camura  de  ar. 

A  epiderme  pode  apresentar-se  lisa,  mia,  e  diz-se  n'este 
caso  glabra,  ou  pode  estar  vestida  de  pellos,  maiores  ou  me- 
nores, e  em  quantidade  muito  variável.  Os  pellos  nascem, 
por  desenvolvimento  das  cellulas  epidérmicas,  perpendicu- 
larmente á  sua  superfície ;  apresentam  formas  muito  diver- 
sas, e  podem  ser  simples,  articidados  ou  ramosos.  Parece 
existir  uma  relação  entre  o  numero  dos  pellos  e  o  grau  de 
humidade  atmospherica :  as  formas  mais  hirsutas  de  uma 
espécie  encontram-se  nos  pontos  mais  seccos  do  seu  habi- 
tat. Já  notámos  uma  relação  idêntica  entre  o  clima  e  o  des- 
envolvimento dos  pellos  radicaes. 

Nos  pellos  e  na  epiderme  encontram-se  ás  vezes  cellulas 
especiaes  que  segregam,  levantando  a  cutícula,  determi- 
nados productos — gommosos,  resinosos,  saccharinos,  etc; 
vê-se  isto  nos  rebentos  de  algumas  arvores  (\idoeiro,  etc.) 
e  sobretudo  nas  escamas  protectoras  dos  botões  de  muitas 
essências  florestaes.  Os  pellos  glandulosos  umas  vezes  são 
simples  e  entumecidos  na  extremidade  em  esphera,  outras 
vezes  apresentam  formas  muito  variadas,  principalmente  os 
pellos  glandulosos  multicellulares,  que  se  desenvolvem  so- 
bre as  escamas  dos  botões,  conhecidos  com  o  nome  de  pd- 
los  mmsiços. 

As  cellulas  segregadoras  nem  só  na  epiderme  se  encon- 
tram; apparecem  também  no  parenchyma  cortical,  no  liber, 
no  lenho  (como  já  dissemos  para  as  Coníferas),  e  até  na  me- 


I 


31 


dnlla  (secreção  tamiinosa  do  sabugueiro,  etc.) :  em  poucas 
palavras,  apparecem  em  quaesquer  tecidos.  Podem  apre- 
sentar disposições  muito  variadas :  n^uns  casos  íicam  soli- 
tárias, e  ás  vezes  tornam-se  então  muito  ramosas  e  muito 
desenvolvidas,  cíiegando  mesmo  a  estender-se,  sem  so- 
lução de  continuidade,  por  todo  o  vegetal,  desde  as  ulti- 
mas raizes  até  ás  ramificações  superiores  (figueira,  amorei- 
ra, etc.);  n'outros  casos  sobrepõem-se  em  series  longitudi- 
naes  (bordo  saccharino);  unem-se  lateralmente  formando 
uma  rede  de  malbas  mais  ou  menos  apertadas  (géneros 
Rosa,  Rubus,  etc);  lançam  o  producto  da  sua  secreção  para 
um  espaço  inter-cellular,  como  já  dissemos  a  propósito  dos 
canaes  resiniferos  do  lenho  e  que  também  podem  existir  na 
casca ;  ou,  finalmente,  dispõem-se  em  m  assiços,  ou  grupos, 
de  ordinário  arredondados  (Myriaceas,  Auranciaceas,  etc.) 

Como  derivados  epidérmicos,  ou  do  tecido  sub-jacente, 
devem  ser  amda  considerados  os  aculeos,  constituídos  por 
cellolas  cujas  membranas  são,  mais  ou  menos  lenhifeitas; 
taes  são  os  aadeos  das  roseiras  (fig.  7),  das 
silvas,  etc,  que  convém  não  confundir  com 
os  espinlios,  cuja  organisação  é  muito  dif- 
ferente.  Os  aculeos  desprendem-se  facilmen- 
te do  órgão  a  que  pertencem  (fig.  7  a),  dei- 
xando uma  cicatriz  nitida  e  plana  se  eram  de 
origem  superficial,  ou  mais  ou  menos  con- 
cava se  pertenciam  á  camada  mais  interna 
parenchymatosa  da  casca. 

Os  aculeos  variam  na  forma — uns  são  re- 
ctos, outros  curvos  em  gancho — e  variam  Fig.  7.  Ramo  com 
mnito  na  grossura  e  comprimento.  A  maior    aculeos  da  ro- 
parte  das  vezes  encontram-se  espalhados, 
sem  ordem,  mas  em  algumas  espécies  le- 
nhosas affectam  situações  determinadas. 

Lenticnlas,  cortiça  e  rhjrtidoma. — Á  me- 


seira  brava  (Ro- 
sa canina,L.).  a: 
cicatriz  deixada 
pela   queda   de 


uinaculeo(i:l). 

dida  que  o  caule,  ou  o  ramo,  engrossa,  os  seus  tecidos 


32 

tegumeniares,  v5o  soCfrendo  grandes  modificações— variá- 
veis, conforme  a  essência  que  se  considera.  Á  primitiva 
epiderme,  lisa  e  continua,  succede  uma  assentada  exterior 
mais  nigosa,  mais  secca  e  fendida. 

A  epiderme,  de  ordinário,  não  pode  acompanliar  o  pro- 
gressivo engrossamento  do  tronco,  rasga-se  ao  distender-se. 
Passado  um  anno  de  existência  fende-se  qaasi  sempre  em 
certos  pontos,  e  a  camada  subjacente  faz  hérnia  para  o  ex- 
terior, atravez  essas  fendas,  com  a  forma  de  pequeuas  man- 
chas arredondadas  e  convexas  que  se  denominam  lenticu- 
las  {fig.  8  ,4).  O  azevinho  é  excepção  a  esta  regra;  con- 
serva a  epiderme  por  alguns  annos. 


Fig,  8.  A.  Fragmento  de  um  ramo  de  pereira  (Pyrut  eommunis,  L,)  com 
knUeuioa.  B.  Fragmento  de  um  ramo  de  cerejeira  {Pmnus  aeivm,  L.) 
mostrando  a  fragmentação  da  casca  pelas  sítios  onde  appareceram  as 
Untiedas  (1:1). 


Mais  tarde  aquellas  fendas  augmentam,  e  as  lenticuias 
transformam-se  n'uma  verruga,  mais  ou  menos  proemi- 
nente, secca,  quebradiça,  escura.  Depois,  quando  o  ramo 
engrossa  mais,  estendem-se  em  largura  e  desenliara  zonas 
transversaes,  por  onde  começa  a  esfoliação  da  casca,  for- 
mado o  rhytidoma,  ou  ao  aogmentar  o  invólucro  suberoso 


33 

(fig.  8  B).  Passado  este  período  não  é  fácil  reconhecel-as ; 
são,  naturalmente,  eliminadas  nas  esfoliações  corticaes. 

Quando  a  camada  superficial  epidérmica  se  desprende 
em  pedaços  deixa  a  nu  mna  assentada  mais  interna;  esta 
apresenta-se  então,  de  ordinário,  dura,  resistente,  imper- 
meável, ás  vezes  elástica  (sobreiro  e  ulmeiro),  quasi  sem- 
pre de  cor  escm*a  mas,  em  alguns  casos,  branca,  se  con- 
tém ar  (vidoeiro,  alguns  choupos).  Esta  assentada  provém 
de  um  tecido  secundário  originado  pela  própria  epiderme, 
ou  por  uma  camada  de  cellulas  subjacente.  Cada  uma  das 
cellulas  geradoras  divide-se  em  duas,  no  sentido  parallelo 
á  face  virada  para  o  exterior,  produzindo-se  d'este  modo 
duas  cellulas-fllhas;  d'essas  cellulas,  a  mais  externa,  perde 
em  pouco  tempo  o  protoplasma  e  enche-se  de  ar  (o  máxi- 
mo n'um  amio,  e  em  algumas  espécies  muito  antes  disso), 
suberifica-se,  tornando-se  mais  ou  menos  extensível,  elás- 
tica, difficilmente  permeável  ao  ar  e  à  agua;  a  <}utra  cel- 
lula,  muitas  vezes,  fica  viva,  capaz  de  divisão,  constituindo, 
com  as  outras  idênticas,  um  tecido  gerador,  que  se  deno- 
mina mãe  da  cortiça,  ou  assentada  phellogene, 

O  tecido  saberoso  começa  a  apparecer,  de  ordinário,  em 
pontos  isolados,  mas  passado  pouco  tempo  constituo  uma  ca- 
mada continua,  em  muitas  essências.  Como  dissemos,  numas 
espécies  é  originado  pela  própria  epiderme  (salgueiros,  pe- 
reira, maceira,  pirliteiro,  etc.) ;  n'outras  provém  da  camada 
sub-epidermica  (plátano,  carvalhos,  castanlieiro,  vidoeiro, 
ulmeiro,  amieiro,  etc);  ou  da  segunda  ou  terceira  camada 
sub-epidermica  (acácia  bastarda,  espécies  do  género  Cyti- 
sm);  ou,  finalmente,  deriva  d'uma  assentada  ainda  mais 
profunda  (género  Ribes). 

As  cellulas  suberificadas  podem  apresentar  differenças 
entre  si:  umas  teem  a  membrana  delgada  e  homogénea,  e 
são  de  ordinário  mais  largas;  outras  teem  a  membrana  mais 
espessa  e  pontuada,  e  são  quasi  sempre  mais  estreitas.  As 
primeiras  formam  cortiça  muito  mais  branda  e  elástica  do 

C.  8.  3 


34 

que  as  segundas.  Nos  tecidos  tegumentares  de  algumas  es- 
sências encontra-se  uma  sò  d'estas  formaçúes;  noutras  es- 
sências existem  as  duas  alternadamente ;  no  sobreiro  acon- 
tece isto :  deseiivolve-se  em  cada  anno  uma  camada  mais 
branda  e  outra  mais  dura;  mas  n'esta  arvore  a  diiTereuça 
entre  a  consistência  das  duas  formações  é  pouco  pronuu- 
ciada. 

Quando  a  assentada  geratriz  da  cortiça  é  epidérmica,  ou 
pertence  ;'is  primeiras  camadas  do  tecido  subjacente,  per- 
manece activa  ás  vezes  indefinidamente  (sobreiro,  fig.  9), 
ou  ao  menos  durante  muito  tempo  no  mesmo  sitio  (ulmei- 
ro, variedade  siiberosa,  fig.  10).  O  tronco  fica  protegido. 


Fig.  9.  Fragmento  de  um  ramo        Fig.  10.  Fragmento  de  um  ramo 

de  sobreiro  {Qitercussuber,h.),  de  ulmeiro  (Wmuí  eampetlHs, 

coíii  a  cortiça  turjem  (I  :í).  L.  var.  íufteroia),  suberoso-ala- 

do.  (t:i). 

n'estas  espécies,  sempre  ou  temporariamente,  pela  ramada 
de  cortiça  que  o  envolve. 

Para  acompanhar  o  progressivo  engrossamento  do  tronco 
as  cellulas  da  camada  geradora  dividem-se  em  direcção  ra- 
diante, sempre  que  é  preciso  augmentar  o  numero  das  fia- 


I 


35 

das,  e  a  assentada  externa  do  invólucro  suberoso  fende-se 
e  enruga-se,  mais  ou  menos,  conforme  a  espessura,  a  elas- 
ticidade e  o  grau  de  cohesSo  das  paredes  das  suas  cellulas 
constituintes.  Estas  fendas  abrem  sulcos  longitudinaes,  que 
estão  esboçados  desde  o  principio  e  com  a  edade  se  accen- 
toam  e  alargam,  devidos  a  uma  producção  mais  abundante 
de  cortiça  ao  longo  de  certas  linhas  verticaes. 

A  cortiça  do  sobreiro  pode  ser  tão  explorada  industrial- 
mente, pela  propriedade  que  tem  esta  essência  de  produ- 
zir uma  camada  superficial,  espessa,  de  cortiça  branda  e 
elástica,  que  depois  de  tirada  se  renova  outra  vez,  até 
uma  edade  muito  avançada  da  arvore. 

A  coloração  que  tomam  as  differentes  cortiças,  amarel- 
ada, avermelhada,  acastanhada,  etc,  parece  ser  indepen- 
dente do  phenomeno  da  suberificação  e  produzida  antes 
por  substancias  corantes  especiaes. 

O  invólucro  protector  apresenta  uma  formação  bem  mais 
complicada  ainda  em  muitas  essências  indigenas.  Essa  for- 
mação tegumentar  complexa  dá-se  quando  a  lamina  sube- 
rosa  se  desenvolve  em  camadas  mais  interiores  da  casca, 
porque  então,  como  a  cortiça  pelas  suas  propriedades  phy- 
sicas  impede  a  diffusão,  todos  os  tecidos  collocados  para  o 
exterior  morrem,  originando-se  d'este  modo  uma  camada 
mais  ou  menos  espessa,  secca,  rugosa,  heterogénea,  fen- 
dida pelo  ulterior  engrossamento  do  tronco;  é  o  que  se 
chama  rhytidoma. 

N'algumas  espécies  a  lamina  isoladora  de  cortiça  consti- 
tae  o  rhytidoma  originando-se  logo  inicialmente  n'uma  ca- 
mada interna  da  casca,  mas  n^outras  espécies  a  cortiça  fór- 
ma-se  primeiro  superficial,  deixando  de  funccionar,  depois 
de  certo  tempo,  a  camada  geradora  (phellogene) ;  n'este 
caso  passa  uma  assentada  mais  profunda  da  casca  a  pro- 
duzir a  cortiça,  e  em  seguida  uma  terceira  e  uma  quarta 
assentada,  e  assim  successivamente,  podendo  dar-se  a  in- 
vasão completa  do  parenchyma  cortical  e  do  liber. 

3* 


36 


Nas  grandes  arvores  (carvalhos,  choupos,  etc.),  encon- 
tram-se  com  frequência  todas  estas  formaçSes  tegumenta- 
res,  que  descrevemos,  reunidas  no  mesmo  individuo:  os 
rebentos  cobertos  pela  epiderme,  os  ramos  novos  envolvi- 
dos pela  cortiça,  os  ramos  mais  velhos,  as  pernadas  e  o 
tronco  protegidos  pelo  rhytidoma. 

A  disposição  que  apresentam  as  fendas  do  rhytidoma  é 
diversa,  e  característica,  para  cada  espécie  lenhosa;  de- 
pende dos  tecidos  que  entiam  na  composição  d'elle,  da  fun- 
dura e  modo  porque  se  urganisa  a  lamina  suberosa,  etc. 
O  rhytidoma  do  pinheiro  bravo  (fig.  ii)  é  escuro-averme- 


Pig.  11.  PragmeDto  de  um  Iroiico  de  pinheiro  bravo  (Pínui  Pinatler, 

Ait),  coberto  pelo  rhytidoma  (1 :  6). 


Ihado  e  divide-se  em  grandes  placas  escamosas;  o  do  choupo 
branco  fende-se  em  losangos;  o  do  choupo  negro  abre-se 
sobretudo  em  sulcos  longiiudinaes  (fig.  i2),  etc. 

Nas  essências  em  que  não  existem  grandes  differenças 
entre  a  consistência  das  camadas  constituitivas  do  rhytido- 
ma, este  é  persistente,  não  se  esfolia  naturalmente,  e  a  as- 
sentada suberosa  cobre-se  d'uma  crusta  cada  vez  mais  es- 
pessa, mais  áspera,  rugosa  e  fendida,  pelo  engrossamento 


37 

progressÍTO  do  lenho  (carvalho,  ulmeiro,  acácia  bastarda, 
choupo  negro,  etc.).  Nas  espécies  em  que  o  rbytidoma  é 


Fig.  13.  Base  de  lun  tronco  de  choupo  negro  {Poptdui  nigra,  L.)  (1 :  10). 

fonnado  por  camadas,  umas  brandas  e  outras  resistentes, 
twna-se  então  caduco,  e  esfolia-se  por  diversos  modos,  de- 
lenninados  pela  natureza  e  desenvolvimento  especial  da  ca- 
mada snberosa  isoladora,  ou  petas  linhas  de  menor  resis- 
tência dos  seus  tecidos  heterogéneos.  Assim  o  rbytidoma 
do  [datano  destaca-se  em  placas  (fig.  13)  determinadas  pe- 


fif.  13.  Prajimento  de  um  tronco  de  plátano  {Pkaanta  occideiUalu,  L.) 
(1:8). 


38 

las  formações  profundas  soberosas  que  as  recortam,  em- 
quanto  o  rhytídoma  da  videira  cae  em  fitas,  o  da  cerejeira 
em  anneis,  o  do  vidoeiro  em  laminas  delgadas»  etc. 

Distincção  entre  a  madeira  do  tronco  e  a  da  raiz. — Quando 
se  compara,  D'uma  secção  horisontal,  o  tronco  e  a  raiz  de 
uma  das  nossas  arvores,  nota-se  uma  grande  analogia  na 
disposição  dos  tecidos  componentes  dos  dois  órgãos,  mas 
os  diversos  elementos  d'estes  tecidos  apresentam-se  em  ge- 
ral maiores  na  raiz.  Os  vasos  são  ahi  mais  largos  (chegam 
a  ter  um  diâmetro  duas  a  quatro  vezes  maior)  e  teem  as  pa- 
redes mais  delgadas ;  as  fibras  são  maiores  e  menos  lenhi- 
feitas;  as  fibras  aureoladas  das  Coníferas,  que  no  tronco 
apresentam  apenas  uma  serie  de  pontuações,  na  raiz  teem 
habitualmente  duas  series.  As  diversas  zonas  concêntricas 
(camadas  annuaes)  são  mais  estreitas  na  raiz^  e  os  raios  me- 
dullares  teem  menor  desenvolvimento  e  são  menos  numero- 
sos. D'este  conjuncto  de  circumstancias  resulta  que  a  ma- 
deira da  raiz  é  mais  branda,  mais  porosa,  menos  resistente, 
do  que  a  do  tronco. 

Por  outro  lado,  como  as  fibras  estão  dispostas  com  mais 
irregularidade  na  parte  lenhosa  da  raiz,  por  ser  maior,  re- 
lativamente, o  numero  das  ramificações  d'este  órgão,  a  sua 
madeira  é  mais  nodosa;  o  que  a  apropria  ás  vezes  a  cer- 
tos usos,  pelos  eflfeitos  de  coloração  e  ondeados  (marcena- 
ria e  ornamentação,  etc),  com  exclusão  de  outros  (fenda,  etc.) 

Os  canaes  resiniferos,  que  se  encontram  nos  troncos  dos 
pinheiros,  também,  existem  na  raiz,  e  até,  de  ordinário,  em 
maior  quantidade. 

Crescimento  das  plantas  lenhosas  em  diâmetro. — Quando 
se  considera  o  corte  transversal,  fresco,  de  um  tronco  adul- 
to, se  abstrahirmos  da  assentada  formatriz  cortical,  a  que  se 
devem  as  formações  tegumentares  já  descriptas,  por  maior 
que  seja  esse  tronco,  só  as  cellulas  do  cambium  estão  capazes 
de  sofirer  novas  divisões,  de  originar  outras  ceUulas,  e  por 
tanto  de  concorrer  para  o  engrossamento  d'esse  órgão. 


39 

O  cambiumy  como  dissemos,  está  coUocado  entre  o  lenho 
e  o  liber,  fazendo  a  transição  da  madeira  para  a  casca ;  a 
divisão  das  suas  celhilas  origina  successivamente  novos  ele- 
mentos, para  um  e  outro  lado,  que  se  especialisam  e  ad- 
cpirem  as  formas  acima  discriptas ;  uma  das  duas  cellulas- 
filhas,  em  que  se  divide  a  cellula  do  cambium,  toma-se 
elemento  lenhoso  ou  liberiano,  emquanto  a  outra  fica  per- 
tencendo ao  cambium,  isto  é,  fica  cellula  formatriz,  sus- 
ceptivel  de  nova  divisão.  Doeste  modo,  uma  qualquer  assen- 
tada do  lenho  é  de  formação  tanto  mais  antiga  quanto  mais 
interna,  e  pelo  inverso  no  liber  as  zonas  internas  são  as 
Biais  novas. 

Qnando  se  examina  um  dos  nossos  vegetaes  lenhosos  no 
período  que  segue  a  germinação,  ou  um  rebento  sabido  ha 
pouco  do  botão,  encontra-se-lhe  uma  epiderme  delgada,  um 
parenchyma  cortical,  e  um  cylindro  no  centro  onde  correm 
os  primeiros  feixes  liberolenhosos,  circunscrevendo  a  me- 
dnlla,  ligada  pelos  raios  medullares  ao  parenchyma  da  cas- 
ca. Esses  feixes  primitivos  teem  a  parte  lenhosa  constituida 
com  vasos  annelados,  reticulados  e  em  espiral,  diversa- 
mente misturados  com  cellulas  parenchymatosas ;  são  elles 
que,  ao  deante,  constituem  o  canal  medullar ;  na  parte  Ube- 
riana  do  feixe  apparecem  os  tubos  crivados,  envolvidos 
também  com  cellulas  de  parenchyma.  Depois,  quando  a 
pequena  planta,  ou  o  rebento,  passa  ao  período  seguinte, 
começa  então  a  funccionar  a  parte  formatriz  central  do 
feixe — o  cambium — provocando  o  engrossamento  do  lenho 
e  da  casca ;  mas,  nas  formações  secundarias  do  lenho,  não 
tomam  a  apparecer  mais  vasos  com  as  paredes  entalhadas 
como  os  primitivos,  que  por  isso  ficam  caracteristicos  ao 
canal  medullar. 

A  meduUa,  como  nos  periodos  vegetativos  seguintes  não 
pode  engrossar  mais,  vae  ficando  de  cada  vez  em  menor 
prqporção  relativamente  á  parte  lenhosa,  cujo  engrossa- 
mento contínua  sempre.  O  tamanho  da  medulla  varia  e  de- 


^ 


40 


pende  sobretudo  da  força  do  rebento  que  a  constituiu:  é 
grande»  habitualmente,  no  castanheiro  da  índia,  no  ailanto, 
na  nogueira,  etc,  que  teem  rebentos  vigorosos;  pequena  no 
vidoeiro,  que  os  tem  delgados. 

As  celldas  do  cambiumy  para  se  reproduzirem,  precisam 
encontrar  condições  meteorológicas  favoráveis ;  nos  nossos 
climas  o  frio  do  inveme  tira-lhes  aquella  faculdade.  O  en- 
grossamento das  arvores  torna-se,  doeste  modo,  periódico : 
pára  na  estação  fria.  Denomina-se  camada  annucd — ^lenhosa 
ou  liberiana — a  porção  de  lenho  ou  de  liber  que  n'mn  pe- 
ríodo vegetativo  se  sobrepoz  ás  formações  anteriores. 

Durante  a  época  da  vida  activa  das  plantas,  nos  nossos 
climas,  os  phenomenos  meteorológicos  repartem-se  com 
desegualdade :  o  calor,  a  humidade,  a  irradiação  luminosa, 
etc,  variam  da  primavera  para  o  estio,  e  para  o  outono; 
por  outro  lado  a  despeza,  que  o  vegetal  tem  a  fazer  na  for- 
mação dos  seus  órgãos  novos,  é  também  diversa  durante 
esse  período,  sendo  máxima  no  principio  d'elle.  Ao  mesmo 
tempo,  a  acção  mechanica  da  resistência  opposta  pela  casca 
a  distender-se  vae  augmentando,  á  medida  que  a  camada 
annual  engrossa;  e  o  diâmetro  das  assentadas  de  cellulas 
sobrepostas  cresce  também  successivamente ;  originando  es- 
tas duas  ultimas  influencias,  em  algumas  espécies,  o  acha- 
tamento tangencial  dos  elementos  constituitivos  da  madeira 
collocados  mais  no  exterior  da  camada.  Todas  estas  causas 
reunidas  fazem  com  que  a  camada  annual  lenhosa  não  se 

apresente,  de  ordinário,  homogé- 
nea, mas  com  desegual  textura, 
conforme  as  condições  em  que  foi 
produzida. 
Se  estudarmos  em  separado  uma 
Fig.  14.  Secçáo  transver-    camada  annual  do  lenho,  verifica- 

sal  da  madeira  do  ulmei-  ,  ji  j^ 

/  FTi  .*^-.     TBxms  que,  n'um  grande  numero  de 

ro  {Ulmm   camprestns,  .  ®. 

L.).  a :  camada  annual.    essencias,  a  parte  mtema,  formada 
(%  :  1).  primeiro,  apresenta  o  tecido  mais 


41 

frouxo  (fig.  14,  c);  encontram-se  ahi,  ordinariamente,  maior 
numero  de  vasos,  e  estes  com  maior  calibre,  fibras  mais 
largas  e  menos  lenhifeitas ;  esta  zona  porosa  denomina-se 
2(ma  de  prinuwera,  e  a  parte  externa  mais  tochada  (fig. 
14,  b)  zona  de  outono. 

A  sobreposição  de  mna  zona  da  primavera  a  uma  zona 
do  outono  anterior  desenha,  no  corte  transversal  das  madei- 
ras, os  circolos  concêntricos  a  que  nos  temos  já  referido^' 
e  qae  são  tão  apparentes  em  muitas  das  nossas  essências 
florestaes.  O  espaço  comprehendido  entre  dois  círculos  vi- 
sinhos  (fig.  14,  á)  representa  a  camada  annual. 

As  condições  do  meio  teem  grande  influencia,  como  disse- 
mos, na  melhor  delimitação  d'estas  camadas.  Nas  regiões 
tropícaes,  onde  os  frios  do  inverno  não  suspendem  a  vege- 
tação, nos  pontos  em  que  o  calor  e  a  seccura  do  estio 
a  não  paralysam  também,  a  formação  da  madeira  continua 
miiforme  todo  o  anuo,  ficando  homogénea,  sem  as  cama- 
das concêntricas  annuaes.  No  emtanto,'independentemente 
do  clima,  a  organisação  especial  de  cada  essência  contribuo 
muito  para  que  a  distincção  d'aquelles  anneis  seja  mais  ou 
menos  fácil. 

Em  algumas  espécies  não  se  reaUsa  o  achatamento  tan- 
gencial dos  elementos  lenhosos  da  zona  do  outono  (género 
Cf/tirns,  etc.) ;  em  outras  esse  achatamento  dá-se,  mas  sem 
qne  a  membrana  das  fibras  e  vasos  d'essa  zona  d'outono 
engrosse  mais  (vidoeiro,  amieiro,  choupos,  buxo,  etc);  n'ou- 
tras  dá-se  ao  mesmo  tempo  o  achatamento  cellular  e  o  en- 
grossamento das  paredes  (amoreira,  loureiro,  etc).  Em  re- 
gra geral,  nas  Angiospermas  a  distincção  entre  as  duas  zo- 
nas é  particularmente  apparente  nas  espécies  que  teem  va- 
sos muito  deseguaes,  porque  então  os  vasos  mais  largos 
reunem-se  na  zona  de  primavera  (castanheiro,  ulmeiro,  etc.) 
(fig.  14).  Se  os  vasos  são  quasi  eguaes  e  repartidos  unifor- 
memente por  toda  a  camada  annual,  tanto  pela  zona  de 
primavera  como  pela  de  outono,  a  differença  toma-se  muito 


42 

menos  accentuada,  sendo  em  algumas  espécies  diiBcil  a 
distincção  (carrasqueiro,  etc),  e  n'outras  impossível  mesmo» 
em  muitos  casos,  (oliveira,  etc.) 

A  madeira  das  Coníferas,  embora  n5o  tenha  vasos,  apre- 
senta, nas  essências  indigenas,  as  camadas  annuaes  muito 
dístinctas;  os  tecidos  da  zona  de  outono  s9o  constituidos 
por  fibras  mais  estreitas,  mais  apertadas,  mais  lenhifeitas, 
mais  duras  do  que  as  da  zona  de  primavera.  Nas  essências 
que  teem  canaes  resiniferos  no  lenho,  é  na  zona  do  outono 
onde  elles  se  encontram  (flg.  15,  6),  ao  inverso  dos  vasos, 
gHillllllllll^     ^j^  predominância  é,  de  ordinário,  na  zona 
,J  piPilil      de  primavera,  como  dissemos.  Os  canaes  re- 
^tlniiílmil     siniferos  contribuem  ainda  para  a  melhor 
(Plilllilil'  distincção  das  duas  zonas,  pela  coloração 
[  tísJl  ^    ^^*^  intensa  que  communicam  àquella  onde 
.,,    o     *   existem.  A  posição  inversa  dos  canaes  resi- 

Fig.    15.    Secção  A  A  1    * 

transversal  da  i^feros  e  dos  vasos,  na  camada  annual,  tor- 
madeira  do  pi-  na  muito  facil  distinguir  estas  duas  espe- 
nheiro  bravo  (Pi-  cies  de  elementos,  quando  nisso  houvesse 
ntuPifíaster,Ait)  qualquer  duvida.  Comparem-se  a  este  res- 

a:  camada  an-  ^  •♦^  „«  fi««,^«„  íl  ^  ã^ 

1  t  j    P^ito  as  figuras  14  e  15. 

nual.  6 :  zona  do  *^    ,  ^ .  _     ^ 

outono  com  ca-  ^^  camadas  annuaes  na  parte  lenhosa 
naes  resiniferos.  da  raiz  são  bastante  mais  delgadas,  que  no 
c:  zona  de  pri-  tronco,  e  teem,  relativamente,  a  zona  ou- 
mavera  (2 : 1).     ^qq^j  menos  desenvolvida. 

O  annel  liberiano  formado  cada  anno  é  muito  menos 
espesso  que  o  do  lenho ;  no  liber  não  é  possível  distinguir 
camadas  annuaes,  ainda  mesmo  quando  na  sua  composição 
alternem  tecidos  com  desegual  consistência;  é  que,  segundo 
a  espécie  e  a  edade  da  planta,  varia  o  numero  das  camadas 
liberianas  formadas  cada  anno,  e  esta  irregularidade  é  au- 
gmentada  ainda  pelas  formações  suberosas  secundarias, 
que  muitas  vezes  atravessam  o  liber,  bem  como  pela  pres- 
são, sempre  crescente,  exercida  de  dentro  para  fora,  pelo 
engrossamento  do  tronco,  que  o  altera  e  modifica,  esma- 


43 

gando  oa  obliterando  os  tnbos  crivados  e  as  cellulas  mais 
brandas»  e  originando  a  textora  foliacea,  d'onde  tomou  o 
Dome  esta  parte  da  casca. 

Do  qae  temos  dito  se  conclne  que,  pela  inspecção  de 
orna  secção  transversal  feita  na  base  do  tronco  de  uma  ar- 
vore, se  pode  conhecer  a  sua  edade:  o  numero  de  annos 
deve  ser  egual  ao  das  camadas  do  lenho.  Esta  leitura, 
para  muitas  essências^  é  fácil  á  simples  vista,  ou  com  o 
anxilio  de  uma  lente;  quando  as  camadas  são  pouco  vísi- 
veiSj  consegue-se  muitas  vezes  tornal-as  mais  distínctas, 
sobmettendo  uma  lamina  delgada  de  madeira  á  acção  do 
óleo  fervente,  ou  da  glycerina,  que  penetra  nos  vasos  e  os 
entumece,  ou  da  fuchsina,  que  lhes  dá  cor  mais  carregada. 

Acontece  algumas  vezes  que  uma  camada  annual  se  en- 
contra sub-dividida,  apparentando  duas  camadas  distinctas; 
este  phenomeno,  geralmente,  é  devido  a  uma  paragem  na 
Tida  activa  da  planta  e  á  formação  de  dois  rebentos  num 
só  anno,  em  virtude  da  irregularidade  das  estações.  De 
ordinário  é  possivel,  com  alguma  attenção,  evitar  na  leitura 
da  edade  do  lenho  esta  causa  d'erro ;  a  sub-divisão  de  uma 
camada  é  quasi  sempre  menos  accusada,  e  seguindo-a  no 
seu  circuito  encontra-se  interrompida,  sem  a  continuidade» 
mais  ou  menos  circular,  da  verdadeira  camada  annual. 

Os  contornos  dos  anneis  lenhosos  dependem  da  organi- 
sacão  da  espécie  e  das  condições  da  vegetação.  Estão  em 
relação  directa  com  a  forma  do  tronco,  e  para  algumas  es- 
pécies são  característicos;  se  o  tronco  é  lizo  e  cylindrico 
os  crescimentos  annuaes  são  circulares  (sorveira,  etc),  se 
é  mais  ou  menos  canelado,  ou  anguloso,  os  crescimentos  do 
lenho  são  ilexuosos  (pereira,  maceira,  etc);  quando  a  casca 
se  conserva  liza  e  unida,  comprilnindo  o  lenho  uniforme- 
mente, ficam  regulares;  se,  pelo  inverso,  é  gretada,  as 
camadas  em  via  de  formação,  desapertadas  n'esses  pontos 
adquirem  outras  tantas  saliências.  O  numero  e  as  dimensões 
dos  raios  medullares  também  influem  muito :  circulares  ou 


44 

ílexaosos  os  crescimeDlos  tomam  ás  vezes  a  f6rma  de  arcos, 
côncavos  ou  convexos,  no  espaço  comprehendído  entre  dms 
raios  grossos  (carvalho,  plátano,  etc.),  ou,  com  menos  fre- 
quência, fícam  angulosos,  salientes,  próximo  aos  raios,  (gé- 
nero Clefíuais). 

Qualquer  influencia  qne  active  ou  contrarie  mais  a  vege- 
tação de  um  dos  lados  da  arvore — a  luz,  o  vento,  etc. — 
torna  as  camadas  lenhosas  irregulares,  mais  desenvolvidas 
n'uma  direcção  do  que  nas  outras,  Qcandoamedulta  excêntrica, 
fora  do  eixo  geométrico  do  tronco  (fig.  16).  Nos  ramos  la- 
leraes  dà-se  quasi  sempre  esta  ex- 
centricidade, e  de  ordinário  Q'iim 
mesmo  sentido  para  cada  espécie ; 
nas  Angiospermas  a  face  onde  as 
camadas  são  mais  largas,  habitual- 
mente, é  a  snperior ;  nas  Conífe- 
ras, (Gymnospermas),  e  segundo 
Fig.  16.  Corte  transversal  de  parece  no  castanheiro  também, 
um  tronco  mostrando  os  desenvolvem-se  mais,  pelo  coDtra- 
crescimentos  annuaes  eu-  ,        ... 

centricos.  "<*,  na  face  mferior. 

A  espessura  das  camadas  lenhosas  annuaes  depende  de 
muitas  causas.  Prende-se  um ponco  à  organisação  especifica  '■ 
algumas  essências  teem-as,  em  geral,  bastante  desenvolvidas 
(ailanto,  pinheiro,  ele.),  e  outras  muito  estreitas  (limoeiro, 
teixo,  etc.) ;  mas  pouco  se  pode  dizer  a  este  respeito,  por- 
que as  influencias  externas  contrariam  a  regra  a  cada  passo; 
segimdo  Nordlinger  a  variação  da  espessura  annual  pode 
ser,  na  mesma  espécie,  como  1 :50.  A  fig.  17  representa 
os  cortes  iransversaes  de  dois  exemplares  de  pinheiro 
manso,  que  fazem  parte  da  collecção  do  Instituto,  e  cujos 
crescimentos  lenhosos  s5o  bem  diversos. 

Nos  terrenos  mais  fundos  e  férteis  o  crescimento  anuaal 
è  maior  do  que  nos  fracos  e  superficiaes ;  augmenta  tanto 
mais  quanto  o  clima  é  mais  favorável;  se  a  arvore  cresce 
isolada,  braceja  muito,  adquire  maior  grossura,  fica  mais 


45 

baixa,  dá  madeira  mais  nodosa;  se  cresce  apertada  em 
massiço,  gaoba  pelo  contrario  maior  altura  à  procura  de 
Idz,  engrossa  menos  e  tem  madeira  menos  nodosa.  Até  no 


Ftg.  17.  Cortes  transversaes  atravez  dois  lenhos  de  piíiJitiiro  itisiisu  (i*t- 
Bw  Piíiea,  h.),  para  mostrarem  em  A  os  crescimejilos  annuaes  bas- 
bnle  largosj  e  em  8  bastante  estreitos.  (1  : 1). 


mesmo  individuo  as  camadas  annuaes  variam:  nos  annos 
pluviosos  e  liiimidos  bso  mais  largas  do  que  nos  annos  sec- 
cos;  nos  ramos  são  menores  do  que  no  tronco;  a  edade  é 
ontra  cansa  fortíssima  de  variação — ao  principio  a  espes- 
snra  das  camadas  lenhosas  augmenta  com  os  annos,  attinge 
nin  máximo,  em  certo  ponto,  e  depois  começa  a  diminuir. 

É  muito  importante  era  silvicultura  considerar,  n'um  le- 
nho, a  relação  existente  entre  a  largura  das  zonas  de  pri- 
mavera e  das  zonas  de  outono  das  suas  camadas  annuaes; 
d'ahi  depende,  em  grande  parte,  o  seu  aproveitamento  e 
qnalidade.  Esta  relação  varia  com  as  influencias  exteriores, 
mas  também  depende  muito,  como  vamos  ver,  da  organi- 
sação  da  espécie  considerada. 

Nas  Guniferas  a  zona  compacta  do  outono  varia  muito 
poaco,  seja  qual  for  a  espessura  da  camada  annual;  se  os 


46 

entos  s3o  pequenos,  a  madeira  é  quasi  toda  conati- 
elo  tecido  apertado  das  zonas  de  outono;  se,  pelo 
o,  os  crescimentos  s3o  grandes,  avultam  os  tecidos 
;  das  zonas  de  primavera  (fig.  i8).  A  madeira  das 


Cortes  transversaes  atravez  o  lenho  de  dois  pinlieiros ;  em  B 
ladas  anouaes  sSo  maiores  do  que  em  A,  mas  a  zona  de  pri- 
a  só  é  que  varia.  a.  camada  annual :  b.  zona  de  oulono :  c.  zona 

[navera(2:!). 

as  é  por  isso  tanto  melhor,  tanto  mais  densa  e  re- 
quanlo  menores  são  as  camadas  annuaes. 
\ngiospermas  que  teem  vasos  eguaes  n5o  ha  regra 
a  este  propósito,  não  existe  uma  relação  constante 
is  dimensões  dos  anneis  lenhosos  e  á  qualidade  do 
mas  nas  Angiospermas  que  teem  vasos  muito  des- 
(car%'aihos,  ulmeiro,  etc.)  acontece  o  contrario  do 
ísemos  a  propósito  das  Coníferas:  é  a  zona  porosa 
aavera  que  fica  mais  constante,  ao  augmentar  a  ca- 
nnual ;  é  a  zona  de  outono  que  sobretudo  varia  (fig.  1 9). 
írso  das  Coníferas,  quanto  maiores  forem  os  cresci- 
das Angiospermas  de  vasos  deseguaes,  tanto  melhor 
deira.  Segue-se  que  os  ramos,  cujos  anneis  são  me- 
pessos  que  os  do  tronco,  dão  peor  madeira  do  que 
ais  leve,  mais  porosa. 

udo  isto  se  conclue  que,  no  corte  transversal  de  um 
se  lê  a  historia  da  arvore:  avaliam-se  as  suas  qua- 
,  conta-se  o  numero  dos  seus  annos,  nota-se  o  lado 


47 

ioteosidade  actuavam  as  acções  meteo- 

)s  foram  os  annos  em  qne  a  arvore  cres- 

CÈ1X  mais.  Pode  veríficar-se  até  se  ella  cresceu  em  massiço 


Fif.  19.  Cortes  transversaes  atravez  os  lenhos  de  dois  ulmeiros  (Vima» 
campesIrU,  L.)  O  lenho  A  lem  as  camadas  annnaes  muito  menores  que 
o  lenho  B,  mas  foi  a  zoaa  de  outono  que  sobretudo  yariou.  a.  ca- 
mada annual:  b.  zona  de  outono:  c.  zona  de  primavera  (2  : 1). 

OU  isolada,  e  no  primeiro  caso  quaes  as  épocas  em  que  esse 
massiço  foi  desbastado ;  com  eITeito,  as  camadas  aunuaes  uní- 
formeDieuie  estreitas  até  essa  operação,  alargam  depois  de 
repente.  Por  ultimo,  qualtpier  Terida,  qualquer  contratempo 
soffrido  pela  arvore  fica  ali  impresso,  para  nunca  mais  se 
apagar  emquauto  o  tronco  existir. 

Cerne,  on  doramen,  e  borne,  ou  albumo. — A  madeira  de 
ntailas  essências  apresenta,  na  secção  transversal,  uma  parte 
no  ceotro  mais  escura,  mais  secca,  mais  densa  e  mais  rija 
na  parte  perípherica,  da  qual  se  distingue  perfeita- 
Oenomina-se  então  cerne,  ou  dttramen,  o  cylindro  in- 
ig.  20,  a),  e  home  ou  alburno  o  annel  externo  mais 
g.  20,  b). 

5ição  relativa  de  mn  e  outro  mostra  jà,  que  o  cerne 
liende  as  camadas  anauaes  mais  antigas,  e  o  borne 
idas  annnaes  mais  recentes.  A  distincção  da  cõr  é, 
aario,  muito  saliente,  e  a  transição  das  duas  regiões 
algumas  espécies,  se  esbate  pouco  a  pouco  (sobrei- 


'^ 


48 

ro,  azinheira,  etc),  no  maior  numero  de  essências  realisa- 
se  de  repente,  por  uma  linha  bem  definida  (ulmeiro,  car- 
valho roble,  etc.) 


Fig.  20.  Corte  longitudinal  e  transversal  de  um  tronco  de  ulmeiro  (VI- 
mus  campettris,  L.J  a.  cerne:  b.  albumo  (1 :6). 

Comparadas  entre  si  estas  duas  partes,  nota-se,  que  o 
borne  é  constituido  pelas  camadas  annuaes  cujos  elementos 
anatómicos  estão  ainda  pouco  incrustados,  e  onde  se  encon- 
tram mais  liquides,  e  maior  copia  de  principíos  immedia- 
tos — amylaceos,  azotados,  saccharinos,  gommosos,  etc. — 
variáveis  segundo  as  espécies  vegetaes ;  emquanto  no  cerne, 
muito  embora  a  estructura  do  lenho  se  conserve  a  mesma, 
só  existem  muito  pequenos  vestígios  d'estes  principios  Im- 
mediatos,  e  todas  as  membranas  cellulares  se  infiltraram  e 
incrustaram  de  novas  substancias,  muito  ricas  em  carbonio 
e  em  hjdrogenio,  que  dão  ao  conjuncto  a  rijeza  e  a  colo- 
ração. Nos  pinheiros,  em  alguns  casos,  as  membranas  cel- 
lulares do  cerne  podem  transformar-se  completamente,  ou 
quasi  completamente,  em  resina. 

Physiologicamente  o  cerne  representa  os  primeiros  sjm- 
ptomas  de  uma  alteração  progressiva  cujo  termo  é  a  de- 
composição da  madeira.  Industrialmente  o  cerne  é  a  ma- 
deira completa,  que  adquiriu  as  propriedades  mais  úteis, 
que  já  não  pode  melhorar  com  a  edade  permanecendo  na 
arvore  viva,  emquanto  o  borne  precisa  ainda  sofirer  modi- 


49 

ficaçoes  idênticas  para  ser  utilisado  em  boas  condições. 
Com  effeito  a  maior  incnistação  do  cerne  nâo  só  o  torna 
mais  denso>  mais  elástico  e  resistente,  como  a  menor  quan- 
tidade de  agua  e  de  principios  immediatos  azotados,  amy- 
laceos,  etc.,  lhe  retarda  a  decomposição,  quando  cortado, 
por  attrahir  menos  os  insectos,  e  fornecer  menos  materiaes 
á  fermentação. 

Mas,  nem  todas  as  espécies  lenhosas  apresentam  estas 
differenças  entre  a  parte  interna  e  a  externa  do  lenho,  nem 
todas  teem  cerne  e  borne ;  em  algumas,  a  madeira  é  perfei- 
tamente idêntica,  na  côr  e  nas  propriedades,  em  todo  o 
Iroaco  (amieiro,  faya  preta,  plátano  bastardo,  etc.)  Estas 
madeiras  são  de  ordinário  brandas  e  de  cores  claras,  por 
isso  se  denominam  madeiras  brancas  ou  macias;  em  con- 
traposição a  ellas  dizem-se  duras  ou  coradas  as  que  teem  o 
cerne  bem  distincto,  denso  e  quasi  sempre  escuro,  acasta- 
nhado, avermelhado,  etc.  (carvalhos,  uhneiro,  etc.) 

Esta  classificação  tem  na  pratica  algum  valor,  mas  não 
é  nada  rigorosa;  a  madeira  do  buxo  não  tem  separação 
entre  o  borne  e  o  cerne,  é  uniformemente  amarellada  e  ho- 
mogénea nas  suas  propriedades  physicas  e  chimicas,  e  no 
emtanto  é  muito  dura  e  muito  pesada.  Estão  no  mesmo  caso 
as  madeiras  do  freixo  e  da  oUveira,  ambas  sem  cerne  dis- 
tincto, ambas  de  côr  clara  e  todavia  densas  e  resistentes. 

Entre  aquelles  dois  grupos — lenhos  com  cerne  e  borne 
e  lenhos  todos  homogéneos — podem  mesmo  dar-se  muitas 
transições;  n'umas  espécies  as  differenças  entre  as  duas 
formações  consistem  apenas  na  côr,  conservando  uma  e  ou- 
tra propriedades  physicas  e  chimicas  eguaes :  o  mesmo  grau 
de  incrustação,  a  mesma  quantidade  de  principios  imme- 
diatos e  de  agua,  a  mesma  densidade,  etc.  (choupo  branco, 
salgueiro  branco,  etc.)^  e  estas  madeiras  industriahnente 
pertencem  ainda  ao  grupo  das  madeiras  macias  ou  brancas, 
apezar  da  coloração  interna  avermelhado-clara.  N'outras  es- 
sências dà-se  o  contrario  d'isto:  o  cerne  e  o  borne  distin- 

C.  9.  4 


n 


50 

guem-se  pelas  propriedades  physicas  e  composição  chimi- 
ca,  conservando  ambos  a  mesma  cõr. 

De  ordinário,  quando  nma  espécie  lenhosa  tem  cerne  e 
borne  bem  separados,  quanto  melhor  é  a  qualidade  do  cerne» 
industrialmente  fallando,  peior  a  do  borne  (carvalhos,  pi- 
nheiros, etc.) 

Não  se  deve  confundir  a  coloração  característica  do  ceme 
com  outras  manchas  que,  por  accidente,  podem  encontrar- 
se  nos  lenhos,  devidas  a  uma  alteração  mais  sensivel  do 
centro  da  arvore;  estas  manchas  representam  uma  perda 
já  nas  qualidades  da  madeira,  e,  de  ordinário,  reparando 
com  cuidado,  é  fácil  caracterisal-as,  porque  não  costumanoi 
apresentar  o  tom  uniforme  do  cerne ;  teem  quasi  sempre  o 
contorno  irregular,  tanto  na  secção  transversal  como  na 
longitudinal,  e  são  ás  vezes  limitadas  por  um  traço  bastante 
mais  escuro.  Afora  estas  manchas  da  decomposição  outras 
apparocem,  particularmente  peculiares  a  certas  espécies 
(amieiro,  alguns  choupos  e  salgueiros,  sorveira,  etc),  com 
a  forma  de  laminas  delgadas  de  tecido  parench}Tnatoso, 
geralmente  avermelhado  ou  acastanhado,  mais  raras  vezes 
esbranquiçado,  concêntricas  com  as  camadas  annuaes  e  quasi 
sempre  mais  numerosas  no  centro  do  lenho.  Estas  manchas 
difl&cilmente  se  confundirão  com  o  cerne,  porque  teem  dis- 
posição bem  differente. 

A  transformação  do  borne  em  cerne  começa  em  edades  va- 
riáveis, segundo  a  essência  e  a  actividade  da  vegetação,  rea- 
lisando-se  tanto  mais  cedo,  para  a  mesma  espécie,  quanto 
maior  o  vigor  do  individuo.  Tem  logar  gradualmente,  das 
camadas  annuaes  internas  para  as  externas,  por  forma  que, 
ás  vezes,  a  mesma  camada  já  soRreu  a  transformação  de 
um  lado  sem  ainda  a  ter  soífrido  do  outro.  Nem  todos  os 
annos  se  dá  esto  phenomeno  com  a  mesma  intensidade,  vae 
diversificando  com  as  condições  atmosphericas  e  com  a 
edade  da  arvore,  e  por  isso  a  percentagem  do  ceme  não 
é  couslanto  para  um  mesmo  individuo,  o  que  deveria  acon- 


51 


tecer  se  todos  os  annos  uma  camada  de  alburoo  se  trans- 
formasse em  cerne»  ao  mesmo  tempo  que  o  cambium  ori- 
gina mna  formação  nova  de  albmmo. 

Segando  o  sr.  Mathíeu,  na  sua  Flore  Forestière,  o  nu- 
mero das  camadas  de  alburno  augmenta  proporcionalmente 
€(xn  a  edade  da  arvore,  ao  passo  que  a  espessura  total  yae 
diminuindo;  estas  leis  applica-as  sobretudo  á  formação  do 
cerne  em  alguns  pinheiros.  Estudos  do  sr.  Carlos  A.  de 
Sousa  Pimentel,  realisados  na  mata  de  Leiria,  com  o  pi- 
nheiro bravo,  mostram  que,  pelo  menos  n'aquella  mata,  se 
não  realisa  entre  nós  a  primeira  d'aquellas  leis,  conservan- 
do-se  verdadeira  a  segunda:  isto  é,  augmenta  o  numero 
das  camadas  do  cerne,  com  a  edade,  diminuindo  o  numero 
das  do  borne,  e  diminuindo  a  espessura  total  d'elle.  No 
carvalho  portuguez  {Querem  limtcmica,  Lam.)  parece  acon- 
tecer outro  tanto. 

Ainda  segundo  o  mesmo  distincto  sílvicultor,  a  duninui- 
ção  do  diâmetro  do  cerne,  á  medida  que  se  consideram  cor- 
tes transversaes  successivamente  mais  altos,  é  menor  que 
a  diminuição  no  diâmetro  do  tronco,  por  forma  que  a  per- 
centagem do  alburno  é  tanto  menor,  quanto  mais  alta  a  re- 
gião considerada  no  tronco  (pinheiro  bravo). 

Cicatrisação  das  feridas. — As  feridas  no  tronco,  ou  nos 
ramos  das  arvores,  podem  interessar  tecidos  mais  ou  me- 
nos interiores. 

As  feridas  que  apenas  destroem  os  tecidos  corticaes, 
qoando  não  teem  uma  extensão  exagerada  e  as  arvores 
Dão  são  muito  velhas,  cicatrisam  rapidamente,  e  sem  con- 
sequências funestas.  Os  tecidos  perdidos  regeneram-se  ou- 
tra vez.  O  descortiçamento  do  sobreiro  pode  dar  um  exem- 
plo bem  claro  d'esta  cicatrisação ;  as  cellulas  geradoras  (a 
ffiãe  da  cortiça,  ou  phdlogené)  que  ficaram  adberentes  ao 
tronco  da  arvore  descortiçada,  reproduzem-se  muito  mais 
r^idamente  do  que  o  fariam  sem  a  tiragem  da  cortiça,  e 
regeneram  para  o  exterior  uma  nova  camada  suberosa. 

4* 


1 


,         52 

Quando  o  eixo  tem  ainda  a  epiderme,  esta  é  que  se  não 
regenera  mais  nos  pontos  onde  foi  ferida;  substitue-a  uma 
assentada  de  cortiça. 

Se  o  golpe  é  mais  fundo  e  destroe  os  tecidos  da  casca 
até  ao  cambium,  este  activa  as  suas  divisões,  sobretudo 
defronte  dos  raios  meduUares,  onde  existem  os  materiaes 
de  reserva,  forma  um  engrossamento,  e  mais  tarde  estas 
novas  formações  differenciam-se ,  constituindo  cortiça  na 
parte  externa  e  liber  na  parte  interna,  em  continuação 
dos  elementos  anatómicos  similares  existentes  ao  redor  do 
golpe. 

Quando  a  ferida  chega  a  interessar  o  cambium  e  uma 
porção  maior  ou  menor  do  lenho,  as  cellulas  geradoras  si- 
tuadas nos  bordos  da  ferida  multiplicam-se,  formam  um  en- 
grossamento em  redor,  cujas  cellulas  ao  depois  se  especia- 
lisam  em  liber  para  o  exterior,  e  em  lenho  para  o  interior. 
Estas  formações  lenhosa  e  liberiana  fazem  continuação  com . 
as  camadas  normaes  d'esse  anno. 

N'este  caso,  se  a  ferida  é  pequena,  o  engrossamento  em 
volta  pode  ser  tal,  que  a  tape  logo  no  primeiro  anno;  o 
golpe  ficará  assim  escondido,  pelas  subsequentes  forma- 
ções, no  interior  do  tronco;  quando  a  arvore  for  abatida^ 
uma  secção  transversal  feita  por  esse  ponto  indicará,  pelo 
numero  das  camadas  que  envolvem  aquella  solução  de  con- 
tinuidade, a  data  precisa  em  que  ella  teve  logar.  Um  qual- 
quer objecto  estranho  pode,  d'este  modo,  ficar  fechado  no 
tecido  lenhoso. 

Se  a  superfície  da  ferida  é  mais  considerável,  as  coisas 
passam-se  de  um  modo  semelhante,  apenas  o  engrossa- 
mento em  volta  não  a  consegue  tapar  só  n'um  anno.  As 
camadas  lenhosas  e  liberianas  continuam  a  dobrar-se,  an- 
nualmente,  pela  mesma  forma,  tornando  a  superfície  descor 
berta  cada  vez  menor,  até  a  envolverem  toda.  O  engrossa- 
mento  em  redor  das  feridas  é  sempre  mais  espesso,  e  ap- 
parece  primeiro,  no  bordo  superior. 


53 

Como  exemplo  d'esta  ultima  cicatrísação  pode  tomar-se 
)  das  feridas  no  tronco  dos  pinheiros  resinados.  O  corte 
transversal,  feito  convenientemente  em  arvores  cuja  cicatrí- 
sacão  esteja  em  diversos  graus  de  adiantamento,  mostra 
twm  tudo  quanto  dissemos.  As  figuras  31  e  22  procuram 


Fif.  11.  Secr-ão  transversal  no  tronco  de  um  pinheiro  bravo  (Pinut  Pt- 
Hiter,  Ait,)  resinado,  e  cuja  ferida  está  em  viadecicatrÍs3;ao(l:6). 

dar  mna  idéa  d*estes  plienomenos. 

Convém  todavia  advertir  que  uma  d'eâsas  feridas  pode 
ficar,  é  certo,  completamente  tapada  pelas  novas  camadas 
lenhosas,  mas,  as  cellulas  d'est3s  camadas,  embora  formem 
coiUniiação  anatómica  entre  si,  de  modo  nenhum  a  formam 
wm  os  tecidos  subjacentes  ao  ponto  ferido.  Ahi,  as  cellulas 
fitam  apenas  justapostas,  e  por  isso  mesmo  a  resistência 
ài  peça  de  madeira  será  muito  menor  n'aquelle  ponto. 

Onando  as  arvores  são  de  edade  adiantada  e  soffrem 
grandes  feridas,  acontece  muitas  vezes  que  a  cicatrísaçSo 
jj  se  não  pode  completar;  a  parte  descoberta,  exposta  ás 
Kções  atraosphericas,  decompõe-se  então,  apressando  a 
mina  do  lenho  e,  em  alguns  casos,  a  morte  da  arvore. 


54 


Fig.  22.  Secção  transveraal  do  tronco  de  um  pinheiro  bravo  resinada, 
e  cnja  ferida  ji  está  completamente  cicatrísada  (1  :£)■ 

Composição  chimica  da  madeira.  Consideraremos  a  cmi- 
posição  elementar  e  a  composição  immediata. 

Composição  elementar. — As  madeiras  das  diversas  es- 
sências, apezar  de  divergirem  tanto  umas  das  outras,  pela 
c^,  dureza,  elasticidade,  densidade,  resistência  aos  agen- 
tes atmosphericos,  etc,  teem  uma  composição  elementar 
muito  semelhante  (quando  completamento  seccas),  como  o 
demonstra  a  seguinte  tabulla  dada  por  Chevandier: 

EuMeU»  GarboDla  Hydnganio  Oijrgento       A»l* 

riji(fiiíTOMlOT-l  tronco..  49,89     6,07     43,11     0,93 
lica.l.) (ramos..  50,08     6,23     41,01      í,08 

1  tronco. .  50,64     6,03     42,05     l,S8 
'"'"* (ramos..  50,89     6,16     41,94     1,01 

(tronco..  ii0,61     6,23     42,04     1,12 
(ramos..  51,93     6,31     40,69     1,07 


55 

Oarboaio  Hydvogealo  Oxygenlo      Azote 

(tronco..  50,31      6,32     42,39     0,98 
CiMpo  treneddr. . .  { 

^  (ramos..  51,02     6,28     41,65      1,05 

_    .  l  tronco. .  51,75     6,19     41,08     0,98 

'  ( ramos . .  54,03     6,56     37,93      1,48 

D'onde  se  deve  concluir,  que  as  qualidades  das  difTeren- 
tes  madeiras  dependem  muito  mais  da  sua  composição  ana- 
tómica— relação  niunerica  das  fibras  e  vasos,  dimensões 
doestes  elementos,  seu  arranjo,  etc. — do  que  da  composi- 
ção chimica  elementar. 

O  sr.  Violette  demonstrou  que  a  madeira,  reduzida  a  pó 
e  bem  limpa  de  ar,  tem  sensivelmente  a  densidade  cons- 
tante 1,50;  as  variações  extremas  estão  comprehendidas 
entre  os  números  limites  1,52  e  1,49,  e  correspondem  a 
madeiras  tão  differentes  como  o  pau  ferro,  o  carvalho  e  os 
choupos.  Segue-se,  que  a  determinação  da  densidade  pelo 
processo  da  pesagem  e  avaliação  do  volume  de  um  solido 
regular  de  madeira,  dando  a  medida  exacta  da  sua  porosida- 
de, é  um  excellente  indicio  das  suas  qualidades  e  duração. 

Composição  tmmediata. — A  madeira,  anatomicamente  con- 
siderada, é,  como  vimos,  uma  reunião  de  cellulas  de  diver- 
sas formas,  grupadas  em  differentes  tecidos.  As  paredes  d'es- 
tas  celluJas,  quando  novas,  são  constituídas  pela  cellulose,  hy- 
drato  de  carbonio  da  formula  (C^H^^C)",  com  uma  certa 
quantidade  de  agua  de  imbibição,  e  uma  pequena  parte  de 
substancias  mineraes,  que  pela  combustão  remanescem  co- 
mo cinzas.  Esta  formula  corresponde  á  seguinte  composi- 
ção centésima]  : 

Carbonio 44,44 

Hydrogenio 6,17 

Oxygenio 49,39 

100,00 


56 

A  cMulose  pura  é  um  corpo  solido,  branco,  translúcido» 
inodoro,  insípido,  mais  denso  que  a  agua,  insolúvel  n'este 
liquido,  bem  como  no  álcool,  no  ether,  nos  ácidos  e  alca- 
lis (em  solução  fraca),  solúvel  no  licor  cupro-ammoniacal. 
Não  é  corada  pelo  iodo,  mas  depois  de  ter  soffrido  a  acção 
do  acido  sulphurico  concentrado,  ou  do  chioreto  de  zinco, 
o  iodo  dá-lhe  a  côr  azul. 

O  sr.  Fremy  admitte  diversas  celluloses,  principalmente 
caracterisadas  pelo  grau  de  solubilidade  em  differentes  lí- 
quidos, e  pela  acção  variável  que  sobre  ellas  exerce  o  iodo. 
Considera-as  como  substancias  isomericas  por  polymeria, 
isto  é,  em  differentes  graus  de  condensação  d*aquella  for- 
mula tjpica.  Estas  cellidoses  extrae-as  de  diversos  vegetaes 
e  de  diversos  órgãos,  e  dà  a  cada  uma  um  nome  especial. 

Com  a  edade  as  paredes  das  cellulas  soffrem  as  mudan- 
ças a  que  em  parte  nos  referimos  já,  quanto  á  espessura, 
aspecto,  côr,  e  propriedades  physicas  e  chimicas.  Estas 
mudanças  podem  affectar  a  membrana  toda,  ou  só  alguma 
das  suas  camadas  concêntricas. 

No  lenho  as  membranas  cellulares  incrustam-se  com  uma 
substancia  ternária  mal  definida,  diversamente  considerada 
pelos  ciiimicos,  e  chamada  linhina  por  alguns;  mas,  ás  ve- 
zes, a  camada  interna  da  membrana  permanece  no  estado 
.  de  cellulose  pura  (Coníferas,  etc.) 

A  linhina  tem  mais  carbonio,  mais  hydrogenio  e  menos 
oxygenio  do  que  a  cellulose.  Alguns  auclores  procuram  as- 
signalar-lhe  uma  formula  chimica,  mas  outros  consideram-a 
de  composição  variável  e  constituída  pela  mistura,  em  dif- 
ferentes quantidades,  de  diversos  outros  princípios  imme- 
diatos.  Para  o  sr.  Fremy  a  dureza  dos  tecidos  lenhosos  de- 
pende principalmente  de  um  principio  immediato  bem  ca- 
racterisado,  que  denominou  vasctdose,  e  que,  segundo  elle, 
forma  em  grande  parte  os  vasos  e  as  tracheas,  e  reúne 
entre  si  as  cellulas  no  tecido  lenhoso. 

As  membranas  cellulares  lenhifeitas  coram-se  de  ama 


57 

rello  pelo  iodo  e  pelo  chioreto  de  zinco  iodado,  de  côr  de 
rosa  pela  fuchsina,  de  amarello  pelo  sulphato  de  anilina; 
são  insolnveis  no  licor  cupro-ammoniacal ;  solúveis,  pela 
ebullição,  n'iuna  mistura  de  acido  nitrico  e  de  chlorato  de 
potássio,  bem  como  no  acido  chromico;  tratadas  pelo  acido 
nítrico  ou  pela  potassa,  a  quente  e  sob  pressão,  deixam  um 
resíduo  com  todos  os  caracteres  da  cellulose  pura. 

A  substancia  a  que  as  madeiras  devem  a  sua  maior  du- 
reza— linhina  ou  vasadose — existe  em  maior  quantidade 
nas  madeiras  denominadas  duras  do  que  nas  macias ;  em 
maior  quantidade  no  cerne  do  que  no  borne. 

Mas  as  modificações  ulteriores  das  membranas  cellulares 
não  consistem  só  na  lenhificação ;  passaremos  rapidamente 
em  revista  as  outras  d'essas  modificações  que  nos  interes- 
sam. 

Na  camada  peripherica  da  casca  as  membranas  cellula- 
res transformam-se  em  cutina,  e  em  diversas  camadas  mais 
ou  menos  subjacentes  transformam-se  em  siiberina,  com  as 
propriedades  physicas  que  já  descrevemos.  Estes  dois  phe- 
nomenos  teem  entre  si  as  maiores  analogias  chimicas;  as 
membranas  cellulares  n'ura  e  n'outro  caso  coram-se  então 
de  amarello  pelo  iodo  e  pelo  chioreto  de  zinco  iodado ;  não 
são  atacadas  pelo  acido  sulphurico  concentrado;  o  acido 
nitrico  dissolve-as,  á  ebullição,  formando-se  o  acido  sube- 
rico;  bem  como  as  dissolve,  a  quente,  a  potassa  cáustica 
em  solução  concentrada.  A  cortiça  é  muito  mais  pobre  em 
oxygenio  que  a  cellulose ;  reveste  sempre  toda  a  superficie 
e  toda  a  espessura  da  membrana  cellular,  mas  n^umas  es- 
sências a  cellulose  transforma-se  completamente  em  svbe- 
rim,  como  nos  salgueiros,  emquanto  n^outras  a  camada  in- 
terna cellular  só  está  impregnada  d'esse  corpo,  e  depois 
de  ter  soffrido  a  acção  da  potassa  azula  pelo  chioreto  de 
ânco  iodado  (choupos,  plátano,  etc.) 

Ás  vezes  a  cellulose  transforma-se  n'um  outro  corpo  iso- 
merico,  de  consistência  córnea  depois  de  secco,  e  que  sob 


58 

a  influencia  da  agaa  entumece  muito,  e  toma  a  forma  ge- 
latinosa: as  ceiluias  dizem-se  então  gdificadas;  não  coram 
pelo  iodo,  nem  pelo  chloreto  de  zinco  iodado ;  a  potassa  e 
os  ácidos  ainda  as  entumecem  mais.  Este  phenomeno  tor- 
na-se  particularmente  evidente  na  casca  e  no  lenho  de  mui- 
tas das  nossas  arvores  de  fructo  (ameixoeiras,  cerejeiras, 
amendoeiras,  etc),  nas  quaes  as  ceiluias  fortemente  geli- 
ficadas,  entumecidas  pela  agua,  exercem  pressão  sobre  as 
partes  periphericas  do  tronco  e  dos  ramos,  rasgam-as  e 
exsudam  para  o  exteriar,  produzindo  a  secreção  gonimosa 
d'aquelles  espécies. 

N'outras  circumstancias  a  membrana  cellular  mineralisc^ 
se,  isto  é,  accumula  tão  grandes  depósitos  mineraes,  que 
chegam  a  mascarar-lhe  as  reacções  próprias  da  cellulose. 
Estas  ceiluias  adquirem  muita  consistência  e  grande  dureza. 

Geralmente  as  ceiluias  mudam  de  côr  ao  sofifrerem  as 
modificações  descriptas,  mas  essas  mudanças  de  côr  são 
independentes  d'aquelles  phenomenos  e  devem-se  ao  ap- 
parccimento  de  substancias  corantes  especiaes  pouco  co- 
nhecidas. Nos  lenhos  de  algumas  espécies  as  substancias 
corantes  são  em  tamanha  quantidade,  que  elles  podem  ser 
industrialmente  explorados  como  matérias  tinturiaes. 

Na  madeira  completamente  secca  a  cellulose  e  a  linhi- 
na,  ou  vasculose,  entram  nas  percentagens  de  90  a  967o; 
formam  a  parte  restante  muitos  outros  princípios  immedia- 
tos  e  as  substancias  denominadas  mineraes — as  que  ficam 
como  residuo  da  calcinação. 

Os  principies  immediatos  que  se  encontram  com  a  cellu- 
lose e  a  vasculose  na  composição  da  madeira  variam  muito» 
quantitativa  e  qualitativamente,  segundo  as  essências  con- 
sideradas— são  substancias  amylaceas,  saccharínas,  albu- 
minóides, resinosas,  corantes,  alcalóides,  ácidos,  etc.  Em 
muitas  cascas  accumula-se  o  tannino,  ás  vezes  em  grande 
excesso. 

A  parte  mineral  regula,  em  média,  por  17o.  na  madeira 


ifi*9 


r 


59 

completamente  secca>  ou  0,87o  na  madeira  secca  ao  ar 
(eom  20  7o  de  agna).  Mas  esta  percentagem  das  cinzas  ya- 
ria  bastante  nas  differentes  essências,  e  até  no  mesmo  in- 
diyidao  com  a  região  considerada;  em  regra  quanto  mais 
seiTOso  6  um  tecido  maior  a  quantidade  das  cinzas :  assim 
os  ramos  deixam-as  mais  avultadas  que  o  tronco,  as  cas- 
cas mais  do  que  o  lenho.  As  cinzas  são  constituídas  por 
diversos  saes,  uns  solúveis,  outros  insolúveis:  carbonatos, 
sulphatos,  phosphatos,  silicatos,  de  potássio,  cálcio,  sódio, 
magnésio,  ferro,  etc. 

Para  terminar  este  estudo  resta-nos  só  considerar  a  agua, 
qae  existe  sempre  em  grande  quantidade  nos  lenhos  das 
arvores.  Nos  troncos  vivos  a  percentagem  d'agua  varia  com 
as  estações,  e  varia  também  consideravelmente  d'especie 
a  espécie.  A  percentagem  máxima  encontra-se  na  época  do 
maior  movimento  da  seiva,  na  primavera ;  diminue  no  ou- 
tono, e  é  minima  no  inverno.  Schubler  e  NeuJQfer  deter- 
minaram as  seguintes  quantidades,  nas  mesmas  madeiras, 
em  duas  épocas  do  anno  differentes : 

« 

Agua  por  iOO 

Fins  de  Janeiro:      Princípios  de  abril: 

Freixo 28.8 38.6 

Castanheuro 40.2 47.1 

Abeto 52.7 61.0 

Ainda  segundo  Schubler,  as  percentagens  de  agua  de  al- 
gmnas  essências  florestaes  são  as  seguintes: 

Agua  por  %: 

Carpinus  Betulus,  L 18.6 

Salgueiro  (Salix  Caprea,  h.J 26.0 

Plátano  bastardo  (Acer  Pseudo-platanus,  L.J . . . .  27.0 

Freao  (Fraxinm  excelsior,  h.) 28.7 

Vidoeiro  (Mula  alba,  L.J 30.8 


60 

Agna  por  %: 

rvalho  commuin  (Querats  fíobur,  h.) 34.7 

«to  (Pinus  Abies.  L.J 37.1 

ia  (Tilia  Europaea,  h.J 47.1 

loupo  d'Ualiã  (Populus  itálica,  L.J 48.2 

lOupo  negro  (Populus  ntgra,  L.J 51 .8 

N'um  mesmo  individuo  a  quantidade  d'agua  varia,  sendo 
ito  maior  quanto  mais  nova,  e  portanto  mais  tenra  e  sbc- 
ii,  a  região  considerada. 

Depois  de  cortada  a  madeira  uma  parte  da  agua  evapo- 
se.  Esta  evaporarão  é  máxima  logo  em  seguida  ao  cor- 
,  diminuo  depois,  e  chegado  um  certo  momento  fica  es- 
pionaria ou,  mais  rigorosamente,  só  varia  com  o  estado 
grometrico  do  ar.  Em  média,  um  anno  depois  de  corta- 
,  a  madeira  retém  20  a  23  %  da  agua  total  qne  conti- 
a.  Na  rapidez  da  seccagera  tem  uma  grande  influencia 
dimensões  da  peça  cortada,  a  rigidez  do  tecido  e  estar, 
n3o,  o  tronco  descascado;  a  casca  difQculta  extraordiaa- 
imente  a  perda  d'agua. 


3. •—RAMIFICAÇÃO  DO  TRONCO 

Formas  de  ramiflcaçâo. — Nas  espécies  lenhosas  indigc- 
s  o  tronco,  o  eixo  da  ramificação  aeria,  tem  a  forma, 
lis  ou  menos  regular,  de  um  cone  muito  alongado.  O 
)ngamento  do  eixo  d'esle  cone  proporcionalmente  á  cir- 
mferencia  da  base  depende  muito  da  espécie  considera- 
,  e  ainda  mais  das  condições  da  vegetação. 
Em  algumas  essências  de  pequeno  porte  o  tronco  con- 
rva-se  sempre  vestido  de  ramos  desde  o  solo ;  nas  gran- 
s  arvores  acontece  isto  tand)em  nos  primeiros  annos, 
)s  com  a  edade  as  ramificações  inferiores  definham,  seo- 


r 


61 


cam  e  caem  ordinariamente,  apresentando-se  ao  depois  o 
eixo  principal  nú  em  grande  extensão. 

A  ramificação  do  tronco  realisa-se  pela  sua  divisão  em 
eixos  secuadarios,  d  onde  partem  novos  eixos  de  menor 
grandeza,  e  assim  successivamente.  Em  condições  normaes 
estes  eixos  são  iniciados  nos  botões  que  se  encontram  nas 
axillas  das  folhas,  e  por  isso  a  ramificação  de  cada  espé- 
cie obedeceria  á  mesma  lei  segundo  a  qual  as  folhas  estão 
dispostas,  se  não  se  dessem  muitas  causas  dlrregularida- 
de,  sendo  as  principaes  o  abortamento  d' alguns  botões  nor- 
maes, a  formação  de  boíões  adventícios,  como'  adiante  dire- 
mos, e  o  desegual  vigor  dos  diversos  rebentos.  No  em- 
tanto  a  ramificação  de  cada  essência  tem  logar  segundo 
lun  plano  bastante  estável,  dentro  de  certos  limites. 

A  disposição  dos  ramos  diz-se  vertícillada,  opposta  ou  cU- 
tema,  conforme  n  um  mesmo  ponto  estão  inseridos  muitos 
ramos  (pinheiros),  ou  só  dois  (plátano  bastardo),  ou  apenas 
um  (carvalhos). 

No  arranjo  e  orientação  dos  ramos  sobre  o  eixo  inter- 
vém, era  grande  parte^  afora  a  acção  da  conformação  in- 
leraa,  uma  regra  mechanica,  encontrada  pelo  sr.  Hofmeis- 
ter,  e  que  se  pode  formular  assim :  cada  novo  ramo  nasce 
por  cima  do  maior  intervallo  deixado  pelos  ramos  anterio- 
res, mais  recentemente  formados.  Esta  regra  explica  a  dis- 
posição cruzada,  quasi  constante,  dos  ramos  oppostos,  rea- 
lisa-se egualmente  para  os  ramos  verticillados  e  alternos, 
e  explica  muitos  accidentes  e  disposições  da  ramificação. 
Quando  os  ramos  se  dispõem  sobre  um  único  plano  para 
um  e  outro  lado  do  eixo,  formando  assim  as  suas  inserções 
duas  únicas  linhas  longitudinaes,  dizem-se  disticados  (ra- 
minhos do  ulmeiro). 

N'algumas  essências  o  tronco  cresce  constantemente,  ou 
durante  um  grande  período,  alongando-se  com  a  edade  na 
vertical  (choupo  dltalia,  pinheiros,  etc.)  N'outras  espécies 
aquelle  crescimento  pára  em  certa  edade,  e  só  a  copa  de- 


1 


62 

se  alarga  e  desenvolve;  mas,  D'este  alongamento  do 
\o  as  condiçSes  da  vegetação  teera  uma  grande  influen- 
priDcipalmente  o  estarem  as  arvores  isoladas  ou  em 
jço.  O  castanheiro  é  um  bom  exemplo  d'este  ulUmo 
:  quando  vive  isolado  alarga  extraordinariamente  a 
,  e  o  crescimento  do  tronco  cessa-lhe  em  edade  bas- 
:  curta. 

snominamos  fuste  o  espaço  do  tronco  contado  desde  a 
até  á  inserção  dos  primeiros  ramos ;  chamamos  ci^ 
}njuncto  de  todas  as  ramificações. 
1  ordinário  os  ramos  são  levantados,  formando  um  an- 
mais  ou  menos  agudo  com  o  tronco,  angulo  variável 
as  essências  e  com  a  edade  da  arvore ;  comtudo  em 
nas  essências  são  horísontaes,  como  do  cedro  baslar- 
:  n'outras  pendem  para  a  terra,  como  no  diorão,  ou  fe- 
i-se  muilo  contra  o  tronco,  tomando  a  copa  o  aspecto 
)rme,  como  no  choupo  dltalia.  A  ramificação  do  pi- 
'0  manso  ê  característica :  tem  o  fuste  muito  grande 
elação  A  copa,  e  n'esta  os  ramos  mais  ou  menos  aber- 
ara  os  lados,  levantados  nas  extremidades,  dando  ao  con- 
0  o  aspecto  de  uma  umbelia.  A  copa  dos  carvalhos,  e 
luitas  outras  essências,  é  mais  ou  menos  arredondada, 
relação  entre  o  fuste  e  a  copa  varia  muito  nas  diver- 
issencias. 

issiflcaçSo  dos  ramoa. — Os  ramos  tomam  differentes  no- 
conforme  a  sua  grossura  e  situação.  Chamaremos  per- 
s,  ou  arrancas,  as  primeiras  e  mais  fortes  ramificações 
ai  tronco  elevado ;  ramos  propriamente  as  ramificações 
mediarias;  raminhos  os  rebentos  do  anno  anterior,  que 
jã  consistência  bem  lenhosa ;  renovos  ou  rebentos  as  ul- 
i  ramificações  ainda  herbáceas,  no  anno  em  que  sabi- 
dos botões. 
tdes  normaes. — Ghamam-se  botões,  ou  gomo»*,  os  or- 

rotero,  e<ij>  terminologia  sdoptamot,  com  rarissiinas  exeepfOei, 


63 

licos  qne  apparecem  no  extremo  dos  re- 
bentos, bem  como  na  axilla  das  folhas,  e  onde  se  eocon- 
tram  os  radimentos  de  nm  futoro  renovo.  Segando  a  sua 


I 


I 


Fkj.  m.  B&minho  do  choupo  do 
,  {Pojndut  moailifera. 
i :  BoUo  teroiinal :  B. 
latentes,  a :  cícatrú 
.  pela  qaeda  da  folha 


Fig.  34.  Raminlio  do  pUtano  bas- 
tardo (Ãcer  Pteudo-platantu  L.) 
com  os  botCe»  lateraes  oppot- 
tos  (1 : 1). 


.  23,  A)  ou  laic- 


os botões  dizem-se  terminaes  ( 
.  23,  fl). 


se  a  estes  botfles  foUiosos  emprega  o  termo  gomo  em  logar 
esta  ultima  palavra  reserra-a  mais  parti  uularmeulc  para  os 


64 

O  espaço  comprehendido  entre  dois  botões  lateraes,  col- 
locados  em  planos  um  superior  ao  outro,  denomina-se  en- 
tre-nó.  As  dimensões  dos  entre-nôs  variam  não  só  com  as 
essências  como  também,  para  cada  uma  d'ellas,  com  as 
condições  da  vegetação. 

A  disposição  dos  botões  iateraes  é  idêntica  á  das  folhas : 
são  alternos  (fig.  23),  nos  choupos,  ulmeiro,  carvalhos ;  op- 
postos  (fig.  24)  no  plátano  bastardo,  freixo,  etc. ;  verticillados 
nos  pinheiros. 

Quando  se  faz  o  corte  longitudinal  de  um  botão  encon- 
tram-se,  de  ordinário,  (nas  essências  indígenas),  escamas 
sobrepostas,  na  parte  externa,  constituindo  um  invólucro 

fechado  (figuras  23,  24,  25).  No  interior  é  que 
existe  o  rudimento  do  renovo,  sob  a  forma  de 
um  cone,  mais  ou  menos  alto,  depremido  no 
vértice,  que  è  o  ponto  vegetativo,  e  tendo  nas 
superfícies  Iateraes  pequenas  saliências,  repre- 
sentando cada  uma  o  esboço  de  uma  folha. 

As  escamas  protectoras  encontram-se  nos  bo- 
tões de  quasi  todas  as  arvores  e  arbustos  dos 
Fig.  25.  Corte   qqssos  climas ;  teem  por  fim  abrigar  a  extremi 
longitu  nai   ^^^^  ^^,^  ^^  ^^^^  ^j^^  durante  o  rigor  do  in- 
do botáo  ^       , 

terminal  do  ^^rno,  e  por  ISSO  nao  existem,  em  geral,  nas 
choupo  do  espécies  dos  climas  onde  a  vegetação  é  conti- 
Canadá  (1 : i)   nua.  Estes  botões  assim  desprotegidos  dizem-se 

nús,  taes  são  os  do  sanguinho  d'agua,  em  opposição  aós 

outros,  que  se  chamam  escamosos. 

botões  floraes  das  arvores.  NSo  adoptamos  esta  distincçSo  pelas  seguin* 
tes  razões :  l."»  Porque  se  chamarmos  gomo  áquelle  corpo  que  só  pro- 
duz rebentos  folhosos,  e  botão  ao  que  só  origina  flores^  ficamos  em  em- 
baraço para  denominar  o  corpo  mixto  d'onde  saem  eixos  com  folhai 
e  flores.  2.<*:  Porque  a  terminologia  latina  lambem  só  emprega  a  palavra 
gemma,  seguida  do  qualificativo  floral  quando  quer  significar  que  pro- 
duz flores.  3.°:  Porque  em  linguagem  vulgar  a  palavra  botão  se  em- 
prega indistinctamente  n'um  e  outro  sentido,  e  se  emprega  de  prefe- 
rencia á  palavra  gomo,  apezar  d'estA  ser  também  usada. 


65 

Âs  escamas  dos  botões  teem  contextura  muito  diversa ; 
em  algumas  espécies  s3o  quasi  herbáceas  (alfenbeiro,  lilaz), 
n'outras,  pelo  contrario,  são  rígidas,  seccas.  Habitualmente 
apresentam  a  forma  de  colher,  ou  de  escama  de  peixe,  e 
teem  as  cellulas  cheias  d'ar,  tornando-se  más  conductoras 
do  calor,  e  dando  por  isso  óptimo  abrigo. 

Em  determinadas  espécies  as  escamas  mais  externas  en- 
contram-se  ainda  protegidas  por  differentes  outros  modos : 
nas  Coníferas  estão  cobertas  d'um  inducto  resinoso;  em  al- 
guns choupos  d'um  verniz  gommo-resinoso ;  no  choupo  branco 
estão  vestidas  de  pellos  (íig.  26);  no  castanheiro  da  índia 
teem  simultaneamente  pellos  e  secreção  gom- 
mo-resinosa,  etc.  Aquellas  secreções  soldam  as 
escamas,  cobrem  o  botão  inteiro,  e  tornam-o 
impermeável ;  umas  vezes  são  realisadas  por 
algmnas  cellulas  epidérmicas  e  são  expulsas 
atravez  a  cutícula,  que  levantam  (amieiro, 
choupos,  etc),  outras  vezes  são  produzidas 
porpeí/os  massiços  (castanheiro  da  índia),  como  ^^S-  ^^-  Botões 
já  dissemos.  do  choupo 

-  branco.  (Po- 

As  escamas  dos  botões  são  folhas  que  sof-  puius  alba, 
freram  um  desenvolvimento  especial.  O  botão  l.),  cobertos 
representa,  como  dissemos,  o  esboço  de  um  de  pellos 
rebento,  onde  os  entre-nós  estão  ainda  muito  (*  *•  *)• 
cwlos,  e  os  cyclos  foliaceos,  mais  ou  menos  rudimentares, 
ficam  apertados  uns  contra  os  outros ;  são  as  folhas  mais 
externas  d'este  rebento  que  se  especialisam  em  escamas 
protectoras. 

Comparando  com  attenção  a  forma  das  escamas  mais  in- 
ternas e  a  forma  das  folhas  mais  externas  do  botão,  tor- 
Da-se,  muitas  vezes,  possível  dizer  qual  a  parte  da  folha, 
qne  constitue  a  escama,  e  quaes  as  partes  que  abortaram: 
assim  no  alfenheiro,  na  madresilva,  no  lilaz,  etc,  é  o  limbo 
da  folha  qne  soffre  aquella  especiaUsação;  no  freixo^  no 
castanheiro  da  índia,  no  sabugueiro,  etc,  é  a  bainha  da  folha 

C8.  5 


66 

I  se  transforma  em  escama,  abortanc 
lOS  são  as  estipulas  que  origiuam  aqi 
do  todo  o  resto  da  folha,  etc.  Estas 
ioladas  porque,  como  diremos  adiai 
e  sempre  posterior  ao  limbo,  e  n'este 
crescer  antes  da  época  em  qne  elle 
)  numero  de  escamas  que  envolvem 
lél:  podem  ser  numerosas  (ulmeiro, 
duas  (castanheiro,  plátano),  ou  uma  ; 

<As  formas  dos  hotões,  e 
riam  muito  conforme  as  esf 
ros  sSo  compridos  e  fusifori 
lares  do  amieiro  são  trian 
sobre  um  pedicello  (fig.  27) 
tardo  são  ovóides,  grossos, 
27.Botao  camas  verdes,  quasi  herbae 
amieiro,  negm  (flg,  21);  os  da  amor 
""*?  I  ramidaes;  os  do  plátano  e; 
}  inserido  base  ôca  do  peciolo,  e  sò  i 
treumpe-  berto  depois  da  queda  das 
;eiio(i:i).  da  acacia  bastarda  estão 


)- 


28.  A.  Rebento  e  base  do  peciolo  da  foi) 
íádenlalis,  L.)  onde  está  incJuido  o  botSo.  B 
,do  traasvers&linente,  e  deixando  var  o  botj 


67 

muito  pequenos  e  nús,  incluídos  n'uma  cavidade  axillar, 
entre  as  estipulas,  cavidade  que  depois  da  queda  da  folha 
se  abre  por  uma  pequena  fenda.  Em  algumas  essências  o 
botão  terminal  é  maior  do  que  os  axillares  (freixo,  casta- 
nheiro da  índia,  plátano  bastardo,  etc.)  (fig.  24);  em  algu- 
mas outras  o  botão  terminal  aborta  quasi  sempre,  e  o  eixo 
prolonga-se,  n'esse  caso,  por  um  botão  axillar. 

O  tamanho  e  a  forma  dos  botões,  o  modo  por  que  estão 
inseridos,  a  consistência  e  cor  dos  seus  invólucros  exter- 
nos, os  inductos  e  tomentos  que  os  revestem,  etc,  podem 
ntílisar-se  para  auxiliar  a  distinguir  as  espécies  durante  o 
inverno,  quando,  muitas  d'ellas,  estão  sem  folhas. 

O  botão  terminal  está  em  relação  directa  com  a  meduUa 
do  tronco  (fig.  25) ;  as  cellulas  d'este  novo  prolongamento 
do  eixo,  quando  elle  se  desenvolver  e  se  transformar  em 
rebento,  hão  de  especialisar-se  em  tecidos  que  sejam  a  con- 
tinuação dos  que  já  estão  formados ;  assim  nos  primeiros 
feixes  lenhosos  apparecerão  os  vasos  característicos  do  ca- 
nal medullar,  circumscrevendo  uma  medulla,  etc.  Nos  re- 
novos saidos  dos  botões  lateraes  a  formação  e  adaptação 
dos  tecidos  é  idêntica;  os  seus  feixes  ligam-se  também 
com  os  feixes  do  eixo  sobre  que  se  desenvolveram,  mas 
esta  ligação  pode  operar-se  de  dois  modos  diflferentes  nas 
espécies  indígenas :  umas  vezes  (pinheiros,  zimbros,  etc.)  os 
feixes  do  rebento  reunem-se  n'um  pequeno  numero  de  gru- 
pos, atravessam  a  casca  do  eixo  sobre  que  o  botão  se  for- 
mou, e  juntam-se  com  os  feixes  d'esse  eixo  nos  pontos  onde 
eiles  limitam,  á  direita  e  á  esquerda,  o  vasio  deixado  pela 
saída  do  fôixe  médio  da  folha-mãe ;  n'outras  espécies  (hara, 
etc.)  esta  inserção  dos  feixes  do  rebento  opera-se  directa- 
mente sobre  os  feixes  da  folha-mãe,  no  ponto  onde  elles 
se  separam  do  oylindro  central  do  ramo  ou  do  caule. 

O  esboço  do  rebento,  incluído  no  botão  terminal,  inicia-se 
ao  mesmo  tempo  que  se  está  desenvolvendo  o  eixo,  qpe  elle 
termina ;  á  medida  que  esse  eixo  vae  saindo  do  botão  ondQ 

5* 


68 

lu;  por  isso,  a  não  ser  em  virtude  cl'um  accidente, 
!Íxo  tem  sempre  um  botão  terminal.  Os  botões  la- 
«neçam  a  formar-se  quando  as  folhas,  a  cujas  axil- 
iurem,  esteio  ainda  muito  uovas;  começam  a  for- 
linda  no  seio  do  botão  terminal,  onde,  em  esboço, 
tido  o  eixo  sobre  o  qual,  depois,  elles  se  hão  de 
íer. 

cipio  os  botSes  tomam  o  nome  de  dhos;  desenvol- 
lepois  um  pouco  até  ao  outono,  e  assim  desca- 
se denominam  mais  propriamente  botões;  passam 
)  n'es5c  estado  e  na  primavera  seguinte  entume- 
em  e  originam  os  rá)entos.  As  escamas  protectoras 
3o  deixando  cicatrises  appareotes  na  base  do  novo 
-  essas  cicatrises  se  pode  com  facilidade,  ao  diante, 
o  ponto  de  ligação  do  raminho  e  do  rebento, 
linaremos  época  do  desabrolhametao,  ou  da  folkeação, 
em  que  se  abrem  os  botões  e  apparecem  as  pri- 
ilbas. 

>  o  botão  começa  a  abrir,  nota-se  que  as  folhas 
iversas  posições  n'essa  pequena  cavidade,  procu- 
;upar  o  menos  espaço  possível,  e  para  isso  dobram- 
am-se,  ou  enrolam-se  por  differentes  modos.-  Este 
as  folhas  no  interior  do  bot3o  chama-se  folheatura, 
ante  para  cada  espécie. 

ieatura  deve  considerar-se  o  modo  por  que  está 
:ada  folha,  e  o  mode  por  que  as  folhas  se  dispõem 
ío  umas  ás  outras. 

arando  cada  folha  isolada,  a  folheatura  díz-se  do- 
meio  quando  a  folha  se  dobra  em  duas  metades 
Tira  centra!  (carvalho,  amendoeira,  etc);  diz-se 
quando  a  folha  se  dobra  transversalmente;  /ran- 
ado.  se  enruga  em  pregas  long^lndinaes,  tomando 
d'um  leque  (vidoeiro,  bordo,  videira,  etc).  Se  a 
enrola  podem  os  dois  bordos  ficar  voltados  para 
superior,  e  a  folheatura  di&se  então  mvobtíosa 


69 

(choapos,  sabagaeiro,  madresílva,  pereira,  etc);  ou  os  dois 
bordos  virarem-se  para  a  pagina  inferior,  e  denomina-se 
twdutosa  (loendro,  etc);  ou  a  folha  enrolar-se  sobre  si 
mesma  em  cartucho,  e  chama-se  enrolada  (ameixoeira,  ber- 
beris,  etc.).  Finalmente  quando  as  folhas  se  não  dobram  de 
nenhum  modo  a  folheatura  diz-se  plana  (freixo,  liláz,  etc.). 

Em  relação  umas  ás  outras,  as  folhas  no  interior  do  botão, 
OQ  só  se  tocam  pelos  bordos  e  a  folheatura  é  valvular,  ou, 
sendo  planas,  sobrepõem-se  de  modo  que  as  mais  externas 
tapam  as  mais  internas  e  diz-se  imbricada.  Âs  folhas  dobra- 
das a  meio  podem  abraçar  entre  as  suas  metadas  todas  as 
folhas  mais  interiores  e  a  folheatura  denomina-se  acavai- 
kirada,  ou  abraçarem  apenas  a  metade  de  uma  outra  folha 
dobrada  do  mesmo  modo  e  chama-se  então  enganchada  ou 
óbcdvida. 

Crescimento  das  plantas  lenhosas  em  altura. — Nos  nos- 
sos climas,  ao  começar  a  temperatura  a  subir,  em  seguida 
aos  frios  do  inverno,  as  plantas  lenhosas,  cujo  crescimento  e 
engrossamento  tem  estado  suspenso  (quer  sejam  espécies  de 
folhas  caducas  quer  sejam  de  folhas  persistentes),  entram 
em  nova  actividade  vegetativa.  Os  botões  terminaes  e  late- 
raes  engrossam,  abrem-se  e  originam  outros  tantos  re- 
bentos; os  eixos  antigos  alongam-se,  d'este  modo,  com  todo 
o  tamanho  dos  novos  rebentos  terminaes,  e  ramificam-se 
pelos  rebentos  lateraes. 

Em  algumas  espécies  esse  alongamento  è  muito  conside- 
rável e  muito  rápido.  O  caule  de  um  eucalypto  novo  chega 
a  crescer  alguns  centímetros  em  24  horas,  e  o  rebento  ter- 
minal d'um  pinheiro  bravo  pode,  ás  vezes,  n'uma  semana, 
deitar  a  mais  de  meio  metro.  De  resto,  as  dimensões  dos 
rebentos,  se  dependem  bastante  da  essência,  variam  também 
muito  com  a  edade  da  arvore,  e  com  todas  as  outras  cir- 
emnstancias  da  vegetação. 

A  época  em  que  as  diversas  espécies  lenhosas  apre- 
sentam as  primeiras  folhas  depende  muito  do  clima  local. 


ÍW*»(l'iiiifiii^ 


72 


^ 


mo  dissemos,  estava  já  esboçacto  no  boUo 
um  eixo  muito  curto,  com  os  rudimentos 
:eos  muito  aproximados,  e  os  tecidos  aioda 
os  deOnitivamente;  é  a  custo  do  alongamento 
s  que  elle  ao  depois  se  desenvolye.  Quando  o 
ga  e  sae  do  bot3o  as  cellulas  da  pai^  supe- 

Dovas  cellulas  formatríses  e,  d'este  modo, 
odo  o  eixo  termina  sempre  em  um  ponto  ve- 
le  permitte  o  alongamento  successivo;  este 
},  que  não  tem  tempo  para  formar  Q'essa  es- 
3V0,  ficará  depois  ÍDcluido,  do  mesmo  modo, 
ninai, 
riodo  que  a  arvore  leva  a  constituir  os  re- 

a  sua  despeza  em  principies  immediatos  é 
na  lenhosa,  fabricada  na  mesma  época  peio 
lixos  mais  antigos,  fica  porosa,  menos  lo- 
entiifeita,  com  todos  os  característicos  que 
1$  sob  o  nome  de  zona  de  primavera.  Mais 
quando  a  arvore  fecha  os  seus  botSes  ter- 

os  rebentos  deixam  de  crescer,  a  despeza 
ladeira,  mais  apertada  e  mais  incrustada, 
ir  a  zona  de  miono  da  camada  annual. 
lo  da  raiz  pára  também  d'invemo,  mas  a 
ícaba  mais  tarde  e  desperta  mais  cedo,  que 
da  planta. 

e  as  cellulas  do  renovo  se  especialisam  nos 
;  integrantes  uma  grande  parte  delias  alon- 
ficam-se.  Os  tecidos  novamente  formados, 

fazem  continuação  com  os  tecidos  idênticos 
inferior.  Quando  se  acompanha,  n'uma  ex- 
I,  o  arranjo  dos  seus  elementos  anatómicos 
as  vezes  os  elementos  semelhantes  se  sobre- 
verticaes  (freixo,  ulmeiro,  etc),  ou,  no  maior 
is,  se  sobrepõem  em  series  obliquas,  enro- 
!,  e  com  uma  inclinação  constante  sobre  a 


r 


73 

Tertical  (de  45**  na  romeira,  de  40®  na  sorveira,  de  30® 
DO  iilaz,  de  10®  a  20®  na  castanheiro  da  Mia,  de  3®  a  4® 
DO  Tidoeiro  e  no  choupo  dltalia,  etc).  Em  algumas  essên- 
cias o  sentido  do  enrolamento  é  também  constante  (sem- 
pre para  a  direita  no  castanheiro  da  índia,  sempre,  para  a 
esquerda  no  choupo  dltaUa) ;  n'outras  espécies  ha  uma  di- 
recção predominante,  mas  sujeita  a  excepções  (á  direita  na 
pereira,  á  esquerda  nos  salgueiros).  Considerada  nas  ca- 
madas annuaes  successivas  umas  vezes  a  direcção  conser- 
?a-se  sempre  a  mesma,  outras  vezes  varia  de  sentido  em 
cada  uma  (pinheiros).  Esta  disposição  helicoidal  da  assen- 
tada geratriz,  do  liber  e  do  lenho,  chega,  em  alguns  ca- 
sos, a  tornar-se  visivel  externamente:  já  pelo  gretado  da 
casca,  já  pelo  engrossamento  local  do  tronco  em  determi- 
Dados  sitios,  na  mesma  direcção. 

Âo  mesmo  tempo  qne  no  rebento  se  vão  especialisando 
os  diversos  tecidos  a  constituírem  uma  medulla,  um  canal 
medollar  com  os  seus  feixes  primários,  uma  assentada  de 
cambíum,  um  liber  primário,  um  parenchyma  cortical  e 
mna  epiderme,  no  raminho  do  anno  passado  o  cambium 
origina,  como  dissemos,  uma  nova  camada  libero-lenhosa, 
bem  como  a  originam  identicamente  os  tecidos  geradores 
de  todas  as  outras  porções  mais  antigas  dos  eixos.  D'este 
modo  a  figura  theorica,  que  representa  o  augmento  em  ai- 
tara  e  espessura  do  lenho  do  tronco,  e  de  cada  eixo  da 
ramificação,  compõe-se  de  tantos  cones  alongados,  mettidos 
\m  nos  outros,  quantos  forem  os  annos  de  vida  d'esse 
tronco,  ou  d'esse  ramo,  occupando  o  vértice  de  cada  pyra- 
mide  a  altura  a  que  chegou  o  rebento  no  anno  correspon- 
dente. 

As  pyramides  mais  externas  representam  as  ultimas  for- 
mações. Um  corte  transversal  d'um  qualquer  eixo  faz  co- 
nhecer, pelo  numero  das  camadas  annuaes  sobrepostas,  a 
edade  da  região  onde  se  deu  o  corte.  Uma  arvore  de  20  annos 
,  terá  20  anneis  lenhosos  no  tronco,  próximo  á  terra,  um 


74 

inel  no  rebento  terminal,  e  anneis  em  todos  os  outros 
imeros  intermédios  a  alturas  também  intermédias. 
Esta  figura  theorica  diz  respeito  só  ás  formações  leuho- 
s;  se  n'ella  quizessemos  incluir  também  as  formações 
rticaes,  teríamos  a  suppor  dois  systemas  de  cones  sobre- 
istos;  o  systema  externo,  cortical,  apresentaria  exacta- 
BDte  as  disposições  descriptas  para  o  do  lenho,  só  com  a 
Fterença  de  que  n'elle  as  formaçóes  mais  antigas  seriam 
mais  externas. 

De  tudo  quanto  dissemos  acerca  do  desenvolvimento  do 
novo  terminal  se  deprehende,  que  a  edade  de  uma  ar- 
re poderá  também  ser  determinada  pela  contagem  dos 
bentos  que  lhe  constituíram  o  tronco,  sempre  que  essa 
ntagem  for  possivel.  Acontece  isto  particularmente  nos 
Dheiros,  qne  só  teem  botões  axillares  junto  às  folhas  do 
timo  cyclo  da  espiral  de  cada  eixo,  na  base  do  botão  ler- 
inal,  e  por  isso  só  formam  cada  anno  um  verticillo  de  ra- 
os  na  base  do  rebento  terminal:  o  numero  de  annos, 
I  o  numero  de  rebentos  que  constituíram  o  tronco,  é, 
este  caso,  egual  ao  numero  de  verticillos.  No  emtanto, 
mo  a  arvore  com  a  edade  se  despe  dos  ramos  inferiores, 
ta  verificação  só  tem  logar  para  arvores  novas,  e  deve  o 
iservador  estar  precavido  contra  os  erros  provenientes 
I  má  contagem  devida  á  formação  excepcional  de  dois  re- 
intos  n'um  anno  só;  n'este  caso,  de  ordinário,  os  dois 
(rticillos  do  mesmo  anno  estáo  mais  chegados  que  os  res- 
nles,  e  cora  algum  cuidado  é  quasi  sempre  possivel  evi- 
r  o  engano.  Esta  formação  dupla  de  rebentos  e  de  carna- 
is lenhosas  no  mesmo  cyclo  vegetativo  realisa-se  quando 
seccura  do  terreno,  ou  um  golpe  forte  de  sol,  suspende 
vegetação  estival,  seguindo-se  depois  um  outono  húmido  e 
lente,  que  a  desperta  ontra  vez. 
O  rebento  terminal  das  arvores,  quando  est3o  em  boas 
mdições  de  vegetação,  é  mais  desenvolvido  que  os  reben- 
slateraes;  denomina-se  j7«cAa,  ou  (^a/ocAa  particularmente  ■ 


75 

ando  a  flecha  é  destruída,  por  qualquer 

s  lateraes  adquirem  maior  vigor. 

I  aiilla  de  cada  folha  existe  um  só  botão, 

— stirem  mais  em  algumas  espécies.  Estes 

botões  múltiplos  tomam  diversas  posiçdes  em  relação  uns 
tos  outros:  são  lateraes  ua  ameixoeira  brava,  sobrepostos 
OD  linha  vertical  na  nogueira,  acácia  bastarda,  etc. 

Os  botões  lateraes  d'um  mesmo  raminho  apresentam 
sempre  desegual  vigor:  em  regra  s5o  tanto  mais  fortes 
quanto  mais  próximos  da  extremidade,  sendo  até  vulgar 
abortarem  os  da  base.  Esta  desegual  robustez  dos  botões, 
e  dos  eixos  que  elles  originam,  junta  às  causas  propria- 
mente externas,  à  desegual  repartição  do  vento,  da  luz,  etc. 
que  ora  favorece,  ora  contraria  o  desenvolvimento  de  deter- 
minadas ramificações,  contribuem,  em  grandíssima  parte, 
para  a  irregularidade  com  que  se  apresentam  divididos  os 
troncos  das  arvores. 

Renovo  antecipado.— Denoniina-se  renovo  anteàpoâo  aquel- 
le  que  se  desenvolve  mais  cedo  do  que  devia  ser:  nSo  no 
(7do  vegetativo  seguinte,  mas  n'aquelle  mesmo  em  que 
foi  creado  o  botão.  Este  pbenomeno  corresponde  a  deter- 
minadas condições  climatéricas,  como  dissemos,  e  presup- 
'      põe  a  accomulação  de  muitas  substancias  nutritivas  na  ar- 
vore, sem  emprego. 
Botfles  folhosos,  Soraes  e  mixtos. —  Dizem-se  botões  folko- 
[      K$,  ou  botões  simplesmente,  os  que  originam  eixos  com 
í      folhas,  mas  sem  flores ;  dizem-se  botões  florões  os  que  prodn- 
I      tem  eixos  que  supportam  essencialmente  flores;  cbamam- 
!      «■  ''"'flM  mixtos  aqueiles  que  originam  eixos  com  folhas 
is.  No  primeiro  período  do  desenvolvimento  estas 
is  ordens  de  botões  não  se  distinguem  anatomica- 
;  mais  para  o  diante  é  fácil  differençal-os :  os  botões 
IS  são  quasi  sempre  mais  estreitos  e  aguçados  (fig.y 
;  05  botões  floraes  são  de  ordinário  mais  grossos, 
s,  entumecidos,  mais  oa  menos  obtusos  (fig.  29  B). 


■  ^  ■  <      ■ ' 


'-ií. 


76 


O  castanheiro,  o  carvalho,  a  videira,  etc., 
teem  botões  nuxtos:  isto  é,  botões  que  des- 
envolvem  rebentos  com  folhas,  e  onde  ap- 
parecem  também  as  flores.  O  ulmeiro,  os 
choupos,  os  salgueiros,  etc.  teem  botões  flo- 
rões e  botões  folhosos,  isto  é,  botões  d'onde  os 
eixos  floriferos  e  folhosos  saem  separada- 
mente. 

Desenvolvimento  anormal  dos  rebentos. 
—  Os  rebentos  tomam  ás  vezes  desenvolvi- 
mentos anormaes,  que  lhes  dão  aspectos 
diversissimos,  e  os  adaptam,  em  alguns  ca- 
Fig.  29.  Raminho  ^os,  a  ftmcções  muito  differentes. 
do  ulmeiro  {Ui-     Na  ameixoeira  brava,  no  pírliteiro,  etc. 
mus  campetíris,  certos  renovos  deixam  de  crescer,  lenhi- 
L.).  A.  Botões  g^gijj  Q  gg^  ^^  ^  vegetação,  e  transfor- 

tôís  flodfeíos  °^2tm-se  em  espinhos  (fig.  30);  no  espinheiro 
/£.4)  da  Virginia  (Vleditschia  triacanthos,  L.J  todo 

um  systema  de  raminhos  se  transforma  n'um  espinho  ra- 
moso. 


Fig.  30.  Caule  da  ameixoeira  brava  {Pnmus  spinosa,  L.)  com  os  rami- 
nhos lateraes  espinhosos  (1:1) 


Estes  espinhos,  n'umas  espécies,  teem  folhas  lateraes  des- 
envolvidas, como  os  rebentos,  n'outras  espécies  são  nus. 


77 

Qnasi  sempre  a  lenhificacSo  do  tecido  gerador  da  extremi- 
dade d'estes  rebentos  é  nm  meio,  qne  a  natureza  emprega, 
para  diminuir  a  certos  vegetaes  o  numero  dos  eixos  e  Tolhas, 
e  portanto  a  evaporação  e  o  consumo  dos  elementos  nutri- 
tiros  do  solo;  tanto  assim,  qne  muitas  d'estas  formas  espi- 
nhosas tomam-se  inermes  pela  cultura,  transplantadas  em 
melbor  terra,  mais  húmida  e  mais  rica. 

Has,  nem  todos  os  espinhos  teem  esta  mesma  origem, 
ilgons  resultam  de  outros  órgãos  mnito  diversos:  no  ber- 
beris  provera  de  uma  degeneração  das  folhas,  persistindo 
só  as  nervuras  fortemente  endurecidas,  e  na  axilla  d'estes 
e^inhos,  como  na  das  verdadeiras  folhas,  apparecem  botQes 
Donnaes;  na  acácia  bastarda  são  devidos  á  transformação 
das  estipulas,  etc. 

Em  algnns  outros  casos  os  rebentos  tomam  o  aspecto 
foliaceo  e  representam,  na  nutrição,  o  papel  physiologico 
dis  folhas:  tal  é  particularmente  evidente  na  gilbarbeira 
(Fig.  34). 

Botões  aâTeoticios,  e  olhos  donuen- 
les.—Os  botões  a  que  nos  temos  re- 
ferido até  aqui  apparecem  em  pontos 
preBsos — na  axilla  das  folhas  e  termi- 
Dando  os  rebentos— denominam-se  por 
isso  normaes,  e  a  elles  se  deve  a  ar- 
chiteclura  mais  regular  das  arvores. 
Em  opposição  a  estes  botões  chamam- 
se  adcenlicios  os  qne  se  originam  sobre 
os  ramos  mais  velhos,  ou  sobre  o  tron-  F'g-  3*  Ftagmenlo  de 
CO,  sem  ordem  determinada.  '^a^ÍJÍIuÍl  i 

Os  botões  advetuicios  não  são  prote-     ";„  ^""'L,^^  í„Í7, 
'  com  dois  ramos  lolU' 

gidos  por  escamas, comoosbotoesnor-     ceos  (i:i). 
naSs,  nem  precisam  essa  protecção,  porque  são  filhos  da 
seiva  de  primavera,  e  desenvolvem-se  logo  depois  de  for- 
nidos— não  hibernam.  Podem  índifferentemecte  apparecer 
no  tronco,  nos  ramos,  ou  nas  raízes.  Teem  a  primeira  origem 


1 


78 

na  zona  geradora  do  eixo  a  que  pertencem  e,  no  seu  ulterior 
desenvolvimente,  rompem-lhe  depois  a  casca,  transforman- 
do-se  logo  em  renovos. 

A  facilidade  que  teem  as  diversas  essências  em  produzirem 
botões  adventicios  n3o  é  a  mesma.  Pode-se  provocar  artifi- 
cialmente o  seu  apparecimento  por  meio  de  ligaduras  ou 
de  feridas,  pelo  decote,  etc. 

Os  rebentões  que  se  originam  nas  raizes  de  muitas  arvores 
s3o  devidos  a  estes  botões,  e  teem  grande  importância  na 
cultura  de  muitas  essências.  De  ordinário  as  espécies  que 
desenvolvem  facilmente  raizes  adventícias  nos  seus  ramos 
aerios,  quando  postos  em  condições  favoráveis,  são  também 
as  que  mais  botões  adventicios  organisam  nas  raizes:  taes 
os  choupos,  salgueiros,  etc.  O  ar  parece  ter  alguma  influ- 
encia n'esta  formação:  pelo  menos  ella  é  sempre  mais  diflB- 
cil  nas  raizes  profundas,  dá-se  em  muito  maior  abundância 
nas  raizes  superíiciaes,  que  se  alargam  mais  ou  menos  horí- 
sontalmente,  e  quando  uma  raiz  é  posta  a  nú,  em  contacto 
com  o  ar,  augmentam  as  probabilidades  do  apparecimento 
d'esses  rebentões. 

Nunca  um  ramo  se  transforma  em  raiz,  ou  vice-versa; 
aos  botões  adventicios  das  raizes  são  exclusivamente  devidos 
os  eixos  folhosos  que  d'ellas  irrompem.  A  tão  clássica  expe- 
riência de  Duhamel  que  consistia  em  curvar  um  salgueiro 
novo,  de  modo  a  poder-lhe  enterrar  os  ramos,  ficando  ainda 
as  raizes  presas  na  terra,  para  depois,  passado  algum  tempo, 
tornar  a  endireitar  a  arvore,  mas  invertida,  ficando  agora 
com  as  raizes  para  o  ar,  continuando  ella  sempre  a  viver, 
e  vestindo  de  folhas  as  antigas  raizes,  não  implica  uma 
tdéa  de  transformação  d'aquelles  órgãos.  A  continuação  da 
vida  da  arvore,  e  os  phenomenos  descriptos,  foram  apenas 
devidos  ao  apparecimento  de  raizes  adventícias  sobre  os 
ramos  e  de  botões  adventicios  sobre  as  raizes,  em  virtude 
das  condições  especiaes  dos  novos  meios  em  que  se  encon- 
travam. 


79 

Mas,  nem  todos  os  renovos  nascidos  fora  da  sua  posição 
normal  teem  por  origem  estes  botões  adveniicios;  alguns  são 
também  produzidos  pelos  olhos  dormentes,  que  teem  com  as 
raizes  dormentes,  já  descriptas,  a  maior  analogia.  Os  olhos 
dormentes  foram  olhos  normaes,  tolhidos  no  seu  desenvolvi- 
mento, e  que  ficaram  depois  presos  pelas  formações  pos- 
teriores ;  se  uma  circunstancia  favorável  os  desperta,  irrom- 
pem então  e  originam  um  rebento,  coUocado  agora  sobre  o 
eiio  mais  velho. 

Rebentação  das  louças. — Quando  se  corta  mna  arvore 
rente  ao  solo,  ou  a  qualquer  altura  do  tronco,  a  parte  que 
fica,  mnas  vezes  rebenta,  outras  não,  conforme  a  essência 
e  a  edade  do  individuo.  Os  rebentões  que  então  apparecem 
são  devidos  aos  botões  adventícios  e  olhos  dormentes;  se 
a  arvore  pertence  a  uma  espécie  que  possa  formar  uns 
ou  outros  rebentará,  e  no  caso  contrario  morre ;  pertencem 
ao  primeiro  grupo  o  castanheiro,  os  carvalhos,  o  uhneiro,  os 
choupos,  e  em  geral  as  Angiospermas ;  pertencem  ao  se- 
gundo os  pinheiros,  os  cyprestes,  e  o  maior  numero  das 
Gynmospermas. 

A  propriedade  que  teem  um  grande  numero  de  espécies 
de  rebentarem  de  touca  permitte-lhes  a  exploração  florestal 
denominada  de  talhadio;  n'esta  exploração  o  massiço  rege- 
nerase  pelos  rebentões  de  touca  e  formam  elles  o  producto 
da  mata,  emquanto  na  exploração  de  aUo  fuste  a  regene- 
ração do  massiço  tem  logar  pelas  sementes. 

Em  regra  geral  as  toucas  rebentam  com  diCGculdade 
quando  as  arvores  são  velhas,  e  de  uma  certa  edade  por 
diante  deixam  mesmo  de  rebentar.  Esta  edade  limite  é 
muito  variável  para  as  dififerentes  essências,  e  diversifica 
Vaá^m  bastante  com  as  condições  de  vegetação;  de  ordi- 
nário as  essências  que  se  fazem  muito  depressa  perdem 
muito  mais  cedo  o  poder  de  rebentar  de  touca:  assim  as 
louças  dos  carvalhos  persistem  vivas,  dando  cortes,  muito 
w^  tempo  do  que  as  dos  choupos  e  salgueiros. 


•%. 


80 

Os  productos  lenhosos  prestados  pelos  talhadios  teem  di- 
mensões reduzidas  em  reIaç3o  aos  que  s3o  obtidos  em  muitos 
altos  fustes,  por  isso  mesmo  que  se  toma  necessário  colher 
os  primeiros  em  edades  que  nunca  podem  ser  muito  adian- 
tadas. É  muitissimo  importante  nas  explorações  de  talha- 
dio  calcular  a  edade  a  que  deixam  de  rebentar  as  toucas 
das  essências  exploradas,  nas  condições  especiaes  d'essa 
exploração. 

A  situação  dos  rebentões  sobre  a  touca,  quando  o  corte 
é  feito  um  pouco  acima  do  terreno,  diversifica,  segundo  as 
essências :  n  umas  os  rebentões  saem  sobretudo  das  raizes 
(choupo  tremedor) ;  n'outras  nascem  das  raizes  e  da  porção 
do  tronco  adherente  (carrasqueiro,  choupo  branco,  acácia 
bastarda,  salgueiros,  etc);  n'outrasfinataientedesenYolvem- 
se  quasi  só  n'esta  porção  do  tronco  (roble,  castanheiro, 
choupo  negro,  etc).  Os  rebentões  situados  sobre  o  fra- 
gmento do  tronco,  n'umas  espécies  apparecem  especiaL 
mente  na  parte  externa  ao  terreno  (carvalhos,  ulmeiro,  etc), 
n' outras  saem  em  maior  abundância  da  parte  subterrânea 
(c  astanheiro,  bordo  commum,  vidoeiro,  sorveira,  etc) 

Rebentos  ladrões. —  Os  rebentos  produzidos  pelos  botões 
adventícios  sobre  o  tronco,  ou  sobre  os  ramos  grossos,  ad- 
quirem ás  vezes  grande  vigor  e  crescem  com  muita  rapidez, 
c  hamando  a  si  uma  parte  considerável  dos  princípios  inune- 
diatos  fabricados  pela  arvore ;  o  seu  viço  e  côr,  a  sua  força 
e  as  grandes  dimensões  dos  entre-nós,  tomam-os  bem  dis- 
tmctos. 

Nas  arvores,  que  teem  crescido  em  massiço  e  que  de 
repente  ficam  isoladas,  é  vulgar  o  apparecimento  d'estes 
renovos.  Se  não  forem  cortados,  a  copa  da  arvore  perde  a 
forma  normal,  e  se  ella  for  velha  pode  até  começar  a  seccar 
pelo  cimo.  Os  rebentos,  que  assim  chamam  em  seu  pro- 
veito uma  porção  copiosa  da  seiva,  roubada  á  parte  res- 
tante, denominam-se  rebentos  ladrões. 

No  emtanto  esta  denominação  é  mais  lata:  abrange  tam* 


r 


81 


bem  os  rebentos  normaes  que,  por  uma  causa  qualquer, 
tomam  desenvolvimento  mais  considerável,  apresentando-se 
muito  verticaes,  com  as  folhas  grandes  e  muito  viçosas,  e 
sem  produzirem  fructos  nem  flores.  O  estudo  d'estes  ulti- 
mes rebentos  ladrões  tem  particular  importância  na  cultura 
das  arvores  de  fructo,  sendo  ahi  muito  nocivos. 


4.<»— FOLHAS 


Nas  plantas  lenhosas  as  folhas  são  os  órgãos  appendicu- 
lares,  que  se  desenvolvem  sobre  os  rebentos  e  conjunta- 
mente COTi  elles,  quasi  sempre  verdes,  em  muito  casos  es- 
palmadas em  lamina  delgada,  ao  menos  parcialmente,  e 
cuja  missão  principal,  estabelecendo  a  communicação  entre 
a  planta  e  a  atmosphera,  é  a  elaboração  de  princípios  im- 
mediatos.  Em  quasi  todas  as  espécies  lenhosas  indígenas 
as  folhas  são  bastante  apparentes  e  desenvolvidas,  mas  em 
algumas  ficam  rudimratares,  ou  são  muito  cahidiças,  como 
na  comicabra,  na  gilbarbeira,  em  algumas  giestas,  etc;  os 
tecidos  verdes  do  caule  supprem-as  então  nas  suas  funcções. 

Uma  folha  completa  compõe-se  de  três  regiões  distinctas  : 
a  bainha,  o  peciolo,  e  o  limbo.  A  bainha  é  a  parte  dilatada 
que  abraça  o  eixo  a  que  a  folha  pertence;  o  peciolo  é  a 
porção  intermédia,  de  ordinário  delgada,  e  mais  ou  menos 
cjlindrica,  ou  semi-cylindrica ;  o  limbo  é  a  parte  extrema, 
quasi  sempre  a  mais  desenvolvida,  a  que  tem,  n'um  grande 
numero  de  casos,  a  forma  laminar. 

Mas,  nem  todas  as  folhas  são  tão  completas,  e  qiiaesquer 
destas  partes  podem  faltar.  A  bainha  desenvolve-se  pouco, 
em  regra,  ou  mesmo  não  existe,  nas  espécies  florestaes 
indígenas.  O  peciolo  nem  sempre  se  forma,  e  as  folhas  di- 
zem-se  então  sesseis  (fig.  32,  B),  em  opposição  áquellas 

CS.  6 


82 

que  o  teem,  que  se  deDOntioam  pedoladas  (fíg.  32,  j4.).  O 


Vig.  32.  Folhas  do  eucalyplo  (Euadgpttu  ^uliu,  Labill.)  A.  Folha  pe- 
ciolada  da  airore  adulta.  B.  Folhas  sessttU  da  arvore  nova  (1:4). 

limbo  pode  egualmente  faltar,  como  qualquer  das  outras 
regiões,  e  às  vezes  é,  n'esse  caso,  substi- 
toido  pelo  peciolo,  que  adquire  desenvolvi- 
mento roliaceo  e  toma  o  nome  de  pkyllodia, 
como  acontece  em  alguns  tojos,  etcl  (fig- 
33,  a). 

O  estudo  anatómico  da  folha  encontra- 
Ihe  uma  estructura  inteiramente  análoga 
Fig.  33.  Tojo  da  i  do  caijle,  de  cujos  tecidos  é  a  continua- 
charneca  (l/ter  çgf,  f^  epiderme  do  rebento  prolonga-se, 
díMui,  ev.).a.  pgyestindo-a  por  todos OS  lados ;  O paren- 
BAulJoaia,  tendo  na     ,  .    ,     ,  ... 

axilta  um  raminho   chyma  cortical  alarga-se,  consUtmndo  o 
espiniforme  (1:1).   parenchyma  foliaceo;  um  certo  numero 


83 

de  feixes  libero-lenbosos  partidos  do  rebeoto,  depois  de 
atraTessarem  a  região  cortical,  penetram  na  folha  orígi- 
nando-lbe  as  nervuras.  O  numero  d'estes  feixes  varia  com 
as  espécies,  e  do  mesmo  individuo  com  a  região  conside- 
rada; são  qnasi  sempre  em  numero  impar,  ^  —  3  —  5,  ou 
mesmo  mais.  N'umas  essências  entram  directa  e  indepen- 
dentemente na  folha,  sem  se  reunirem  ou  dividirem ;  D'oa- 
tras  ramificara-se,  ou  grupam-se  de  diversas  maneiras,  por 
forma  que  o  numero  dos  feixes  encontrado  na  base  da  folha 
1^0  é  então  egual  ao  numero  dos  que  saíram  do  rebento. 

Petãolo. — O  peciolo  é,  de  ordinário,  roliço  na  face  inferior 
6  plano  ou  canaliculado  na  face  superior ;  no  emtanto  em 
algmnas  espécies  é  sensivelmente  cylindrico  (hera),  e  n'ou- 
tras  comprimido  lateralmente,  o  que  traz  grande  mobilidade 
js  foittas  (alguns  choupos).  Ás  vezes  protonga-se  para  os 
lados  em  azas  e  diz-se  então  cUado  (aroeira,  laranjeira) 
(Bg.  34).  As  suas  dimensões,  relativa- 
mente ao  limbo,  variam  muito. 

A  epiderme  do  peciolo  apresenta  os  mes- 
mos caracteres  da  epiderme  do  caule ;  o 
sen  parenchyma  é  também  constituído  por 
cellulas  polyedricas  ou  arredondadas,  que 
deixam  entre  si  meãtos  cheios  de  ar;  os 
seus  feixes  teem  eguahnente  uma  parte 
lenhosa  e  ama  parte  liberiana,  caracte- 
risadas  pelos  mesmos  elementos  anatomi- 

fOj  Fig.  34.  Folha  d& 

Na  secção  transversal  do  peciolo  os  fei-  /cThwTpuferar^ 
ses  dispõem-se  de  ordinário  em  arco  mais  ríssoj,  com  o  pe- 
oa  menos  aberto,  com  a  abertura  virada  cioio  alado  (i :  2). 
para  cima,  e  cujos  bordos  podem  chegar  mesmo  a  reunir- 
se.  O  feixe  médio  dorsal,  o  inferior  d'este  arco,  tem  quasi 
sençre  maior  desenvolvimento,  e  os  outros,  em  regra,  di- 
minuem snccessivamente  em  grandeza  a  partir  d'elle. 

O  liber  do  feixe  central  está  voltado  para  a  parte  infe- 
6« 


84 

rior,  e  o  lenho  para  a  parte  superior ;  os  feixes  lateraes,  ã 
medida  que  vão  contornando  o  arco  segundo  o  qual  se  agru- 
pam, orientam-se  ao  mesmo  tempo  de  modo  que  a  parte ' 
lenhosa  flque  sempre  para  o  centro  do  peciolo,  e  o  liber 
para  a  peripheria.  Conclue-se  d'aqui,  coní  evidencia,  que 
.  se  o  arco  é  muito  aberto  conservam  todos  a  posição  do 
feixe  médio,  aliás,  se  o  arco  tende  a  unir,  ou  une,  os  seus 
bordos,  os  feixes  extremos  tomam  a  posição  quasi  inversa, 
ou  inversa,  em  relação  á  do  feixe  central. 

Nos  peciolos  da  pereira,  da  tramazeira,  do  louro-cerejo, 
etc,  os  feixes  dispõem-se  em  arco  aberto;  nos  peciolos  dos 
carvalhos,  da  hera,  do  freixo,  da  laranjeira,  etc,  formam 
um  arco  fechado.  Segundo  o  sr.  C.  De  CandoUe  a  dispo- 
sição aberta,  ou  fechada,  d  este  arco  é  caracter  mais  ou 
menos  constante  nas  espécies  do  mesmo  género. 

Quando  o  arco  dos  feixes  libero-lenhosos  chega  a  unir 
as  extremidades  forma  um  annel,  e  a  porção  do  parenchyma 
incluído  no  centro  tem  as  maioros  analogias  com  a  medulla 
do  caule.  Numas  espécies  este  annel  é  achatado  no  cimo 
(carvalhos),  n  outras  arredondado  (riôino). 

Na  espécie  de  medulla  comprehendida  entre  os  feixes  do 
peciolo  umas  vezes  encontram-se  alguns  feixes,  outras  ve- 
zes não.  A  presença  ou  ausência  d'estes  feixes  intramedul- 
lares  varia  com  grande  irregularidade,  não  só  entre  as  di- 
versas famílias  botânicas,  mas  até  entre  as  espécies  de  um 
mesmo  género:  não  existem  no  sycómoro  bastardo,  no 
bordo  conmium,  etc;  encontram-se,  pelo  contrario,  no  cas- 
tanheiro da  índia,  no  ailanto,  no  plátano  bastardo,  nas 
amoreiras  branca  e  negra,  na  figueira,  etc  A  sua  posição 
diversifica  para  cada  essência,  e  o  seu  numero  varia  com 
o  vigor  do  individuo  e  as  condições  da  vegetação;  faltam, 
habitualmente,  nas  folhas  mal  desenvolvidas,  nas  primeiras 
folhas  de  cada  rebento. 

Todas  as  espécies  do  género  Quercus  teem  o  arco  dos 
feixes  do  peciolo  fechado;  quanto  aos  feixes  intramedul- 


85 

lares  os  carvalhos  indígenas  podem  dividir-se,  segundo  o 
sr.  C.  De  CandoUe,  nas  duas  series  seguintes: 

r 

Com  feixes  intramedullares : 

Carvalho  roble  (Q.  Robitr,  L.). 
Carvallio  negral  (Q.  Tozza,  Bosc). 
Carvalho  anão  (Q,  humilis,  Lám.). 
Carvalho  portuguez  (Q.  lusitanica,  Lam.). 
Quercus  hispânica,  Lam.  (Q.  pseudo-siiber,  Santi.). 
Um  sobreiro  ((?.  ocddentaliSy  Gay). 

Sem  feiíes  intramedullares: 

Azinheira  (Q.  Bex,  L.). 
Um  sobreiro  (Q.  suber,  L.). 
Carrasqueiro  (Q.  coccifera,  L.). 

É  notável  que  cada*  uma  d'estas  series  corresponde,  co- 
mo veremos,  a  dois  typos  de  organisação  diversa,  caracte- 
risado  o  segundo  por  mais  demorada  persistência  das  fo- 
Ibas.  No  emtanto  as  folhas  mais  aturadiças  do  grupo  da  azi- 
nheira não  parecem,  anatomicamente,  mais  completas  do  que 
as  do  grupo  do  roble,  antes  pelo  contrario,  porque  n'este 
ultimo  é  nas  folhas  bem  desenvolvidas  que  os  feixes  intra- 
medullares apparecem,  e  faltam  nas  folhas  mais  infesadas 
da  base  dos  rebentos,  como  dissemos. 

Limbo; — O  limbo  é  quasi  sempre  achatado  e  o  plano  de 
achatamento,  em  regra,  está  orientado  de  modo  que  a  folha 
vira  a  sua  maior  superfície  para  a  luz :  no  emtanto  algumas 
anores  fazem  excepção  a  esta  lei,  taes  são  as  folhas  do 
eacalypto,  que  em  resultado  de  uma  torção  do  peciolo  se 
apresentam  n'um  plano  obliquo,  ou  mesmo  vertical,  em 
relação  ao  horisonte. 


86 

A  epiderme  do  limbo»  verdadeira  continuação  da  ppider- 
me  do  peciolo  e  do  rebento,  pode  apresentar  os  accidentes 
de  superfície  já  notados ;  os  peilos,  que  sobre  elia  se  desen- 
volvem, variam  muito  na  forma  e  na  quantidade,  não  só  de 
espécie  a  espécie,  mas  até  no  mesmo  individuo  segundo  a 
edade  das  folhas,  e  na  mesma  folha  de  uma  para  outra 
pagina.  As  folhas  da  murta,  da  alfarrobeira,  do  loureiro, 
da  laranjeira,  etc,  são  glàbras;  as  do  carvalho  negral  teem 
peilos  ramificados  em  forma  d'estrella ;  as  do  choupo  bran- 
co, da  maceira,  da  azinheira,  do  sobreiro,  etc,  mais  ou  me- 
nos glabras  na  pagina  superior,  são  cotamlhosas  na  pagina 
inferior :  vestidas  com  peilos  brancos  muito  numerosos,  cur- 
tos, crespos,  entremeiados  conn)  feltro ;  as  folhas  do  salgueiro 
branco  apresentam  peilos  compridos,  deitados,  brilhantes, 
setinosos,  e  dizem-se  assetinadas ;  as  da  losna  do  Algarve 
estão  cobertas  de  peilos  curtos,  bastos,  levantados,  como 
os  do  velludo  e  denominam-se  avelludadas;  as  do  ulmeiro 
e  as  do  lodão  bastardo  são,  pelo  contrario,  ásperas  ao  tacto 
etc.  Quasi  sempre  o  tomento,  seja  qual  a  sua  forma,  é  mais 
abundante  nas  folhas  novas ;  em  algumas  essências  as  folhas 
adultas  chegam  a  perder  completamente,  ou  quasi  comple- 
tamente, os  peilos  que  tiveram  na  primeira  edade.  Nas  es- 
pécies indígenas  é,  de  ordinário,  a  pagina  inferior  que  se 
encontra  mais  pelluda ;  são  vulgares  as  folhas  glabras  na 
pagma  superior  e  densamento  cheias  de  peilos  na  pagina 
inferior. 

Não  é  só  no  tomento  que  as  duas  paginas  da  folha  se^ 
differençam,  em  quasi  todas  as  nossas  espécies  lenhosas ; 
divergem  também  muito  na  còr,  na  consistência  e  na  dis- 
posição dos  estomas.  Quasi  sempre  a  pagina  superior  é 
mais  dura,  mais  lustrosa,  tem  a  còr  mais  carregada  do  que 
a  pagina  inferior,  e  quando  isto  acontece  só  esta  ultima 
face  tem  estomas.  Essas  desegualdades  notadas  prendem- 
se  com  a  composição  do  parenchyma  sub-jacente,  como  va- 
mos ver. 


87 

Quando  se  faz  um  corte  atravez  tuna  folha  de  eucalypto 
(E.  globulus)  pode  verificar-se,  ao  microscópio,  que  o  seu 
pareDcbyma  é  homogéneo;  em  nenhuma  das  Ãngiospermas 
lenhosas  indigenas  se  realisa  este  caso,  mas  pode  exami- 
ur-se  também  nas  agulhas  dos  pinheiros,  etc.;  sempre  que 
ba  esta  homogeneidade  no  parenchyma  a  folha  apresenta  o 
mesmo  aspecto  nas  dnas  paginas,  tal  é  o  caso  das  espécies  ci- 
tadas. Mas,  se  fizennos  o  corte  transversal  na  folha  de  uma 
Angiosperma  lenhosa  indígena  (fig.  35),  poderá  ver-se,'  ao 


nf  3S.  Corte  tramrei^al  de  nm  fragmento  de  tolha  de  vidoeiro  {BettUa 
t&a,  L.).  a :  epiderme  da  pagina  superior,  sem  estornas,  b :  epiderme 
da  pagina  inferior  com  estornas,  i :  om  estorna,  c :  parenchyma  aper- 
tado superior  d:  parenchyma  inferior  cheio  de  lacnnaa.  y:  uma  es- 
cama glandolosa.  x,  (na  direcção  longitudinal  da  figura) :  feixe  va»- 
CBlar  de  uma  nervura  lateral  secundaria  (200 : 1)  (segundo  Sehacht). 

númiscopio,  que  o  parenchyma  fohaceo  tem  diversa  com- 
V^içSo,  conforme  o  consideramos  mais  próximo  d'nma  ou 
d'oaira  pagina ;  ver-se-ha  então  que  as  cellulas  parenchyma- 
tosas  das  camadas  superiores  (ãg.  35,  c),  as  mais  actuadas, 
pela  hiz,  deixam  entre  si  menores  intervallos,  sSo  mais 
apertadas,  mais  compridas  perpendicularmente  á  saper- 
fieie,  e  mais  ricas  em  chiorophylla,  do  que  as  cellulas  das 
camadas  inferiores,  cujo  tecido  apresenta  grandes  meatos 
dieios  de  ar,  (fíg.  35,  d) ;  a  epiderme  da  pagina  superior 


88 

(flg.  35,  a)  corre  então  unida,  ininterrupta,  emquanto  a 
da  pagina  inferior  (fig.  35,  6),  se  acha  aberta  em  divefsos 
pontos  pelos  estornas.  Como  já  dissemos  a  parte  externa 
das  cellulas  da  epiderme  forma  a  cutícula  (fig.  35,  x),  es- 
pécie de  membrana  delgada  e  hyalina ;  é  pelas  aberturas 
da  cutícula  e  da  epiderme,  pelos  estornas  que  se  realisa  a 
troca  de  gazes  entre  a  parte  aeria  da  planta  e  a  atmos- 
pbera.  A  abertura  do  estorna  (fig.  36,  a)  é  limitada  por 


'rShY 


Fig.  36.  Fragmento  de  epiderme  de  uma  folha  de  buxo  {Buxu$  semper- 
virem,  L.)  com  um  estoma :  a,  abertura  do  estorna,  (proximamente 
500:1). 

duas  cellulas  reniformes,  que  voltam  uma  para  a  outra  a 
parte  concava;  esta  abertura,  como  já  vimos  quando  tra- 
támos da  epiderme  do  caule,  communica  com  um  espaço 
inferior  que  se  denomina  camará  de  ar^  ou  camará  do  es- 
toma. 

Em  egualdade  de  superfície  as  folhas  das  diversas  essên- 
cias conteem  números  muito  diversos  de  estomas,  e  identi- 
camente a  grandeza  e  disposiçáo  d'elles  variam  d'umas  para 
outras.  Nas  folhas  acerosas  dos  pinheiros  os  estomas  grn- 
pam-se  muito  numerosos  em  series  longitudinaes,  ás  vezes 
perfeitamente  visíveis  á  vista  desarmada.  Eis  as  dimensões 
dos  estomas  d'algumas  arvores  e  arbustos,  e  o  seu  numero 
em  superficies  eguaes,  segundo  Duchartre : 


89 

Numero  doa  eatomu  r««w.«,^m««#«  a^,  ii.««in.. 

Castanheiro 175  0,030 

Freixo 165  0,027 

Alfenheiro 95  0,030 

Madresilya  das  boticas . .    65  0,030 

Oliveira 215  0,016  a  0,020 

Carralho  roble 250 ;..-.  0,030 

yás 175  0,027  a  0,033 

Tideira ,...  125  0,030 

Pinheiro  bravo 50 — 

Em  todas  estas  espécies,  a  não  ser  no  pinheiro  bravo, 
os  estornas  encontram-se  exclusivamente  na  pagina  infe- 
rior da  folha. 

No  meio  do  parenchyma  foliaceo,  quasi  sempre  verde, 
molle,  seivoso,  correm,  mais  ou  menos  divididas,  com  a 
forma  de  nervuras,  as  ramificações  dos  feixes  libero-lenhosos, 
constituindo  o  esqueleto  do  limbo.  Como  o  parenchyma  inter- 
médio é  de  mais  facU  decomposição,  que  este  systema  das 
nervuras,  encontram-se  ás  vezes,  sob  as  arvores,*  esqueletos 
perfeitíssimos  de  folhas,  conservando  intactas,  com  a  forma 
de  uma  renda  vegetal,  todas  as  nervuras,  mas  d'onde  de- 
sappareceu  todo  o  tecido  que  as  reunia.  De  resto,  estas 
preparações  podem  facilmente  executar-se,  ou  pela  mace- 
ração das  folhas  n'agua,  ou  batendo-as,  depois  de  seccas, 
com  uma  escova. 

Nas  folhas  das  espécies  lenhosas  indígenas  as  nervuras 
sao  de  ordinário  ramificadas  (fig.  37).  As  nemiras  princi- 
paes,  salvo  o  numero  dos  feixes,  teem  a  estructura  já  des- 
crípta  a  propósito  do  peciolo;  as  nervuras  mais  delgadas, 
oa  secundarias,  são  constituídas  por  feixes  libero-lenhosos 
cajos  elementos  anatómicos  são  mais  estreitos  e  menos  nu- 
inerosos,  mas  conservam  a  mesma  estructura,  a  não  ser  nas 
ultimas  ramificações  onde  o  feixe  se  toma  exclusivamente 


90 

lenhoso :  os  tubos  crivados  desapparecem,  e  o  feixe  reduz-se 
então  a  alguns  vasos  misturados  com  cellnlas  compridas  e 
de  paredes  delgadas. 


Fig.  37.  Folha  do  ehoi^o  d'Italia  (Popuiut  jn/ramidalii,  Boz.)  mostrando 
a  disposição  das  nervuras  (t :  1  )■ 

A  disposição  das  Dervoras  do  limbo  varia  bastante  nas 
espécies  lenhosas  indígenas,  mas  Iodas  essas  diversidades 
podem  remiir-se  nos  três  seguintes  typos  principaes; 

í."  Folhas  uninervadas. — Apresentam  uma  nervura  única, 
não  ramificada,  taes  são  as  folhas  acerosas  dos  pinheiros, 
do  teixo,  etc.  (fig.  38.  A.  B). 

2."  Folhas  pennineivadas. — Teem  a  nervura  raedia  rami- 
ficada para  os  lados,  em  forma  de  penna  d'ave,  e  estas 
nervuras  secundarias  ainda  por  sua  vez  se  sub-dividem* 
como  na  cerejeira,  castanheiro,  ulmeiro,  buxo,  etc.  (fig  38, 
CD). 

3."  Folhas  palminervadas. — T  eem  a  nervura  media  acom- 


i 


91 


panhada  de  nervuras  lateraes,  divergentes  e  decrescentes, 
saídas  do  mesmo  poDlo  onde  a  folha  se  liga  ao  peciolo,  e 
ibertas  para  os  lados  como  os  dedos  das  aves;  taes  são  as 
lòlbas  do  plátano,  da  hera,  etc.  (fig.  38.  E). 


Kg.38.  J :  Agulhas  nninervadat  do  pinheiro  d'Alepo  (Pinvt  halepentii, 
ICU.).  B:  Folha  unlnervada  do  teixo  [Taxm  baccata,  L.).  C:  Folha 
peoniaervada  do  buxo  (Buxut  tempervirens,  L.).  D:  Folha  penniner' 
nda  do  ulmeiro  {Ulmvt  campeUrit,  L.).  £:  Folha  palminervada  da 
bera  (Be(lrraAeJÚ,L.)  (1:1). 

N'esles  dois  oltimos  (ypos  de  nervaçSo  os  feixes  ramifí- 
cam-se  por  muitas  vezes,  e  em  todos  os  sentidos;  umas 
d'estas  ramificações  unem-se,  ligam-se,  constituindo  rede 
(fig.  37),  outras  terminam  livremente,  quer  no  bordo  da 
folba,  quer  no  interior  d'aquellas  malhas.  Nas  folhas  das 


92 


nossas  arvores  e  arbustos  podem  então  dar-se  duas  varian- 
tes: em  umas  espécies  o  bordo  da  folha  è  marginado  por 
um  feixe,  que  resulta  da  união  dos  lados  externos  das  ma- 
lhas, sem  haver  terminação  livre  para  fora  (buxo,  murta 
etc.)  (flg.  38,  C);  n'outras  existem  terminações  livres,  não 
só  para  o  interior  das  malhas,  como  também  para  a  peri- 
pheria,  correspondendo  as  ultimas  aos  dentes,  ou  quaes- 
quer  outros  recortes  do  limbo  (castanheiro,  ulmeiro^  vido- 
eiro, etc.)  (flg.  38,  D). 

Por  ultimo,  para  terminar  o  estudo  anatómico  das  folhas, 
diremos  que  n'ellas  existem,  muitas  vezes,  as  diversas  for- 
mas de  cellulas  segregadoras,  já  referidas,  a  propósito  do 
caule;  assim  as  agulhas  dos  pinheiros  teem  canaes  resini- 
feros;  as  folhas  do  vidoeiro  apresentam,  como  as  cascas 
tenras,  glândulas  que  segreg'am  um  sueco  resinoso  claro; 
as  do  amieiro  elaboram  uma  substancia  solúvel  na  agua, 
amarga,  viscosa,  etc. 

Formas  das  folhas. — A  forma  das  folhas  varia  muito  nas 
nossas  espécies  lenhosas:  quasi  cylindricas  na  SuaedafrtUi- 
cosa,  Forsk.;  semi-cylindricas  nos  pinheiros  (as  duas  agulhas 
presas  na  mesma  bainha  constituem  reunidas  um  cylindro); 
escamiformes,  verdes,  imbricadas  vestindo  completamente 

o  ramo,  na  tamargueira,  na  sabina,  nos 
cyprestes,  etc.  (flg.  39);  ou  escami- 
formes, muito  pouco  apparentes,  sem 
côr  verde,  e  portanto  não  presidindo 
á  elaboração,  na  comicabra,  etc,  as 
folhas  apresentam,  em  muito  maior 
numero  de  casos,  o  limbo  desenvol- 
vido em  lamina  delgada. 
Este  limbo,  quer  seja  inteiro  ou 
Rg.  39.  Raminhos  de     diversamente  recortado  nas  margens, 
cedro  bastardo  (C«.     ^^  constituir  um  todo  unico,  como 
Mili.)  cobertos  de  fo-    ^  ulmeiro,  no  buxo,  nos  choupos 

lhas  imbricadas  (l:i).     etC.  (figs.  37  é  38),  e  a  folha  diz-Sfl 


93 

eolão  simples;  ou  pode  dividir-se  em  diversos  limbos  par- 
ciaes,  como  na  aroeira,  na  acácia  bastarda,  no  sumagre,  no 
castanheiro  da  índia,  etc.  (figs.  40  e  41),  e  a  folha  cha- 
ma-^e  então  composta,  tomando  cada  parte  integrante  o 
nome  de  foliolo. 


Vig.  40.  Folha  pionulada 
dl  aroeira  (Pistacia  Len- 


Fig.  41.  Folha  dígilada  do  casta- 
nheiro da  índia  {Aescutut  Hifpo- 
eatíanum,  L.)  (1 :5) 


Oí  (olioios  affectam  disposições  variadas :  assim  na  folha  do 
castanheiro  da  índia  (fig.  41)  são  divergentes  e  inseridos 
tcdos  num  mesmo  ponto;  a  folha  é  palminervada  e  deno- 
mina-se  n'este  caso  particular  digitada,  cabendo  aos  foliolos 
o  Dome  de  digitações. 

Nas  folhas  do  sumagre,  da  aroeira,  do  freixo,  da  acácia 
bastarda,  os  foliolos  dispõem-se  lateralmente;  a  folha  é  en- 
tão pinnulada;  se  os  foliolos  são  em  numero  par,  como  na 
aroeira  (íig.  40)  diz-se  paripinnulada;  se  são  em  numero 
impar,  como  no  freixo  e  no  sumagre  {fig.  56,  B)  diz-se 
m}.aripirmulada;  no  caso  especial  de  serem  só  três  foliolos 
dií-se  irifoliada  (fig.  42>. 

Os  foliolos  podem  estar  inseridos  sobre  o  eixo  sesseis 


94 


ou  pecíolados;  quando  a  inserção  se  realisa  em  ramificaç^s 
secundarias,  terciárias,  etc.,  do  eixo 
comipum,  a  folha  diz-se  bipitmulada, 
tripinnidada,  etc;  as  folhas  do  syco- 
moro  bastardo  e  da  acácia  dealbata 
são  bipinnutadas. 

Quer  as  folhas  simples,  quer  os  foli- 
olos  das  folhas  compostas,  podem  apre- 
sentar Tariadissimas  formas.  As  folhas 
do  teixo,  da  camarinheira,  do  rosma- 
ninho, etc. ,  s9o  lineares:  estreitas,  com- 

Mg.  42.  Folh»  lr.fol.ada        .^       ^^  ^^  ^^  ^^.^  ^^  ^^_ 

do  anagyna  fedegosa    '  ,..,„„„„, 

(Anagyrú  foetida,L.)  ««s  parallclas  (fig.  38,  B);  as  folhas 
(1:1).  dos  pinheiros  e  do  zimhro  são  acero- 

sas:  estreitas  e  agudas  (fig.  38.  A);  as  do  espinheiro  alvar 
bastardo  apresentam-se  muitas  vezes  espatuladas  (flg.  44); 
as  do  saião  teem  a  forma  de  cunha;  as  folhas  do  amieiro 
s5o  orbiculares  ou  arredondadas  (fig.  43) ;  as  da  olaya  reni- 


Fíg.  43.  Folha  orbícular 
do  amieiro  (Alnusglu- 
linota.  Guta.)  (t:2). 


Fig.  44.  Folha  espatnla- 
da  do  espinheiro  al- 
var bastardo  (Lyeium 
£iiropii«im,L.)(l:l). 


formes;  os  foliolos  da  folha  imp^ripinnulada  da  acácia  bas- 
tarda são  ellipiicos,  isto  é,  mais  compridos  do  que  largos  e 


95 

arredondados  nos  dois  extremos  (âg.  45);  as  folhas  do  le- 
gação são  mais  ou  menos  cordifarmes;  as  do  salgueiro  branco 
e  salgueiro  frágil  são  semelhantes  a  um  ferro  de  lança, 
largas  no  meio  e  estreitas  nas  estremidades,  e  por  isso  se 
(Uzein  lance(Àadas;  as  folhas  da  salgadeira  s3o  delioiãeas, 
isto  é,  teem  quatro  ângulos,  ficando  os  dois  lateraes  mais 
próximos  da  base  que  do  cimo  (fig.  46);  as  do  tamujo  e  do 


rig.  &S.  Foliola  elli-      Fig.  46.  Folha  deltoi-      Fig.  47.  Folha  obo- 


salgadeíra 
{Atriplex  Hatímut, 
L.)  (1:1). 


Tada  do  berberis 
(Berberit  vulgarit, 
L.)  (1:1) 


ptico  da  folha  com- 
posta da  acácia  bas- 
tarda (flobínta 
Pie»do-aeaeia,  L.) 
(t:l). 


berberis  são  obovadas,  oa  invertidamente  ovadas  (a  partícula 
eb  é  signal  de  reversão),  mais  compridas  do  que  largas, 
mais  largas  no  cimo  que  na  base  (fig.  47),  etc. 

Num  maior  numero  de  casos,  as  formas  simples  enume- 
radis  combínam-se  entre  si,  originando  muitas  formas  inter- 
médias: assim  as  folhos  do  ulmeiro  (fig.  38.  B)  sloovado- 
agadas,  dissymetricas  na  base;  as  do  chorão  e  do  trovisco 
são  linear-lanceoladas ;  as  do  medronheiro  e  alfenheiro  el- 
liplico-lanceoladas;  as  do  folhado  elliptico-ovadas  (fig.  58); 
as  do  loureiro  lanceolado-oblongas  (fig.  57) ;  as  do  choupo 
negro  triangolar-ovadas  (fig.  37);  as  da  bella  sombra  ovado- 
%licas,  etc. 

Seja  qual  for  a  sua  forma,  o  Umbo  pode  apresentar -se 


96 

plano,  como  na  laranjeira, noulmeiro.aabella sombra, etc.; 
OQ  ondulado  nas  margens,  como  no  carrasquciro;  oa  com 
os  bordos  enrolados,  como  no  alecrim,  nas  alfazemas,  etc. 
Em  botânica  descríptiva,  independentemente  da  forma 
geral  do  limbo,  costumam  considerar-se  em  maior  detalhe 
as  formas  das  suas  duas  extremidades — a  base  e  o  cimo. 
Dizem-se  então  obtusas  as  folhas  quando  nlo  terminam  em 
ponta,  como  as  do  amieiro  (Hg.  43);  chanfradas  quando 
teem  no  cimo  um  pequeno  recorte,  como  ás  vezes  acontece 
nos  foliolos  da  alfarrobeira;  acuminadas  se  acabam  em  ponta 
longa  e  estreita,  e  esta  forma  ainda  comprehende  diversos 
casos:  assim  as  folhas  do  salgueiro  branco,  que  vão  estrei- 
tando pouco  a  pouco,  dizem-se  loTigamenle  acuminadas;  as  do 
Rubus  discolor,  Weihe  e  Nees,  que  estroilaiu  de  súbito,  ^zetn- 
se  acuminadas  de  repente  {íig.  48);  as  do  Salix  CapreaL.,q\i6 


Fig.  48.  Folioto  actiminaiio  d»  re-        Fijr.  49.  Folha,  cunheada  na  base, 
pínfó  do  iítí6uí  discofor,  Weihe  e  liu  carvalho  anaofOwercui  A»"i- 

Nees(l:i).  í*  Lani.;  (1:2)- 

s3o  cortadas  obliquamente  em  ponta  não  symetrica,  denomí- 
nam-se  obliquamente  acuminadas;  as  folhas  que  terminam 


97 

on  ponta  corta  e  rígida  chamam-se  mucronadas,  taes  as  da 
riiveira.  Quanto  à  base,  podem  ser  cordiformes,  como  as  do- 
yiaz  (Sj/nnj/a  vu/gam,  L.);  arredondadas,  como  as  do  aderno 
(PlUllyrea  media,  L.};  cunkeadas,  como  as  do  carvalho  anSo 
(fig.  49);  aítenuadas  em  pedalo,  como  as  do  Rkamnus  deoi- 
ies,  L.,  etc. 

Em  quaesquer  das  formas  das  folhas  simples  ou  dos  fo- 
líolos  das  folhas  compostas,  a  margem  do  limbo  pode  ser 
inteira,  como  na  murta,  no  eucalyptOj  no  buxo,  na  acácia 
bastarda,  etc.  (figs.  32,  38  C,  45),  ou  pode  ser  muito  diver- 
samente recortada;  as  folhas  compostas  devem  mesmo  ser 
consideradas  como  folhas  cujos  recortes  do  limbo,  muito 
profnndos,  chegam  até  ás  nervuras.  As  folhas  do  saião 
apresentam  nas  margens  pellos  quasi  eguaes  e  parallelos,  e 
dizem-se  cetheadas;  as  da  maceira,  que  teem  pequenos  re- 
cortes arredondados,  não  inclinados,  chamam-se  crenadas 
(fig.  53).  Quando  as  divisões  s3o  pequenas  e  agudas,  se 
não  estão  inclinadas  nem  para  o  cimo  nem  para  a  base  a 
folha  diz-se  datada,  taes  são  as  do  vidoeiro,  do  amieiro, 
ele.  (fig.  43);  se  os  dentes  estão  voltados  para  a  parte  de 
cima  diz-se  serrada,  como  no  choupo  negro  (fig.  37),  no 
nlmeiro  (fig.  38,  D),  na  silva  (fig.  48);  mas  n'estas  duas 
oltimas  espécies  cada  dente  ainda  é  dividido  por  outro 
mais  pequeno  e  as  folhas  são  duplicado-serradas;  ás  vezes 
os  denles  terminam  em  ponta  rígida,  espi- 
nesceote,  e  as  divisões  das  margens  tomam 
■    o  nome  de  espinhoso-denladas  (carrasquei- 
ro,  azevinho,  etc.)  (fig.  50).  Quando  os  re- 
cortes são  mais  profundos,  se  não  chegam 
a  metade  do  limbo  e  são  arredondados  na 
eitremidade,  a  folha  diz-se  l<Mda;  se  pas- 
sau  do  meio  do  Ihnbo  e  são  agudos  e  es- 
teitos  diz-se  fendida;  se  chegam  quasi  á    ^'?'  f*'  ^°l**\  ^*' 
«errara  media,  na  folha  penmnervada,  OU-     ^^  Carmaueiro 
ao  peciolo,  na  folha  palminervada,  diz-se     (i:i). 


partida,  e-a  qualquer  d'estes  três  vocábulos  se  pode  antepor 
a  forma  de  nervaçSo,  tornando  a  figura  da  folha  muito  mais 
precisa;  assim  as  folhas  do  plátano  e  da  hera  (fig.  38,  £) 
são  palmatiUAadas,  as  do  roble  pinnaiilobadas  (fig.  56,  A); 
as  do  carvalho  negral  são,  ás  vezes,  piíínatífendidas  (fig. 
31);  as  do  ricino  paimatipartidas,  etc. 


Fig.  51,  Folha  piniutifendida  do  carralho  negral  (Queraa  Toxai,  BoseJ. 
(1;2). 

Polymorphismo  das  folhas  na  mesma  espede,  e  no  mesmo 
individuo. — A  mesma  espécie  vegetal  não  apresenta  con- 
stantemente as  folhas  eguaes  nas  dimensões  e  na  forma,  no 
emtaoto  esta  variabilidade  é  maior  para  umas  do  que  para 
outras  espécies.  Os  carvalhos  teem  esse  polymorphismo  em 
alto  grau  e  como  taes  podem  servir  de  bom  exemplo :  as 
folhas  da  azmheira  encontram-se  ellipticas,  oblongas,  orbi- 
culares,  ovadas,  umas  vezes  inteiras  nas  margens,  ootras 
vezes  espinboso-dentadas;  as  folhas  do  carvalbo  portagnez 


99 


s3o  planas  ou  onduladas,  espínhoso-dentadas,  sinuadas  ou 
sub-inteiras,  arredondadas  na  base  ou  cunheadas;  a  fun- 
dura dos  lóbulos  das  folhas  do  carvalho  negral  varia  bas- 
tante, etc. ;  de  resto,  muitas  outras  essências  lenhosas  mos- 
tram casos  bem  accentuados  d'esta  natureza. 

Mas  o  polymorphismo  das  folhas  pode  ainda  ir  mais  longe 
e  realisar-^e  até  no  mesmo  individuo.  Assim  a  amoreira  do 
papel"  tem  promiscuamente  folhas  ovado-cordiformes  serra- 
do-dentadas,  e  irregularmente  pahnatifendidas.  O  Eucoly- 
ptus  gkbiilus  Labill.  em  novo  tem  as  folhas  sesseis,  ovado- 
oblongas,  e  oppostas,  emquanto  em  mais  adulto  as  apre- 
senta pecioladas,  falciformes,  e  alternas  (fig.  32).  O  azevi- 
nho tem  as  folhas  dentado-espinhosas,  e  passada  certa  edade 
apparecem-lhe  inteiras.  As  folhas  dos  ramos  floriferos  da 
hera  são  inteiras,  ovadas  ou  rhomboide-acuminadas,  as  dos 
ramos  trepadores  estéreis  lobadas,  e  as  dos  ramos  raste- 
jantes lobadas  ainda  mais  profun- 
damente. É  vulgar  verem-se  na 
mesma  azinheira  folhas  inteiras 
e  dentado-espinhosas. 

Os  pinheiros  teem  folhas  de 
duas  formas  muito  differentes  no 
mesmo  eixo.  Na  arvore  muito  no- 
va as  folhas  sao  solitárias,  rígi- 
das, compridas  e  estreitas,  atte- 
nuadas  em  p.onta ;  passada  certa 
edade  estas  folhas  solitárias  são 
substituídas  por  outras,  escamí- 
fonnes,  seccas,  triangulares,  agu- 
çadas (fig.  52,  a),  em  cuja  axilla 
apparecem  folhas  acerosas,  vul-  ? 
garmente  denominadas  agulhas,   Fig-  S2.  Raminho  do  pi- 
r«mídas  aos  grupos  n'uma  bainha     ^^^^  ^®  ^^^  (^f'^ 
inembranosa  (fig.  52,  h)  (duas     ^^^' MiU)- a :  folhas 

-nm^  /  :    \  escaimformes.  6 :  affuUias 

commummente  nas  espécies  indi-     geminadas.  (2 : 3). 

7# 


lOQ 

genas).  A  posição  das  agulhas  mostra,  com  evidencia,  que 
ellas  pertencem  a  um  eixo  lateral,  cujo  desenvolvimento  foi 
mnito  reduzido  e  onde  apenas  se  completaram  as  duas  (ou 
mais,  nas  espécies  exóticas)  do  grupo,  ficando  todas  as 
outras  folhas  no  estado  rudimentar,  a  constituírem  o  estojo 


EBtipnlaa. — As  folhas  de  algumas  arvores  apresentam, 
no  ponto  onde  se  inserem  no  eixo,  duas  lunínas  mais  ou 
menos  desenvolvidas,  de  diversas  formas,  dissymetrieas,  a 
que  se  dá  o  nome  de  estipulas.  As  estipulas  devem  ser  con- 
sideradas como  o  resultado  de  uma  especialisação,  de  uma 
ramificação  muito  precoce  do  peciolo,  ou  do  limbo  na  sna 
base. 

Apresentam  formas  muito  variadas:  na  maceira,  por 
exemplo,  s3o  pequenas  e  muito  estreitas  {fig.  53);  nos 


Fig.  S3.  Folha  de  maceira  (Pyrut  Molvt,  L.J,  apresentandt^as  duas  es- 
tipulas Dí  base  do  pecioto  (1 : 2). 

ramos. estéreis  do  pirliteiro  são  grandes,  foliaceas  {fig.  54); 
na  acácia  bastarda  trausfonnam-se  em  espinhos;  nas  rosei- 
ras contrabem  adhereucia  com  o  peciolo  (fig.  55),  etc. 


101 

As  estipulas  teem,  de  ordinário,  crescimento  rápido  e  por 
isso  na  primeira  edade  da  folha  apresentam  dimensões  re- 
lativameote  grandes ;  o  seu  papel,  no  bolão,  é  protegerem 


Fif  54.  Fragmento  de  ura  ramo       Fig.  55.  Fragmento  de  um  ramo  de 
estéril  de  pirtiteiro  (Crataegut  roseira  brava  {Roía  lêmpervi- 

OiyacMtAo,  L.),  cora  um  eí-  ríw,  L.)  com  uma  folha  impari- 

pioho,  com  duas  eslipulas  fo-  piimulada  e  as  duas  estipulas 

liaceai,  e  uma  folha  (1  ■  i)  adherentes  ao  pedolo  (quau 

VA). 

as  folhas  (ulmeiro,  carvalhos,  etc).  Quando  teem  grandes  di- 
mensões podem  concorrer  para  a  nutrição,  como  verdadei- 
ras folhas  supplementares. 

Muitas  das  nossas  espécies  lenhosas  n3o  teem  estipulas 
(aroeira,  sumagre,  murta,  romeira,  freixo,  oliveira,  ader- 
no, alfenheiro,  loureiro,  etc),  mas  existem  em  muitas  outras 
(figueira,  amoreira,  ulmeiro,  carvalhos,  castanheiro,  lod3o 
bastardo,  etc.)-  De  ordinário,  as  espécies  lenhosas  da  mes- 
ma familia  botânica  todas  teem,  ou  não  teem,  estipulas,  por 
isso  a  sua  presença  ou  ausência  é  caracter  um  pouco  im- 
portante era  botânica  descriptiva. 

Na  maior  parte  das  arvores  indígenas  as  estipulas  são  ca- 
ducas, caem  muito  antes  das  folhas  (carvalhos,  castanheiro, 
tilmeiro,  etc.),  ás  vezes  mesmo  antes  d "ellas  adquirirem  as 
dimensões  defmitivas.  As  estipulas  dizem-se,  pelo  inverso, 
fersisteníes  quando  acompanham  a  duração  das  folhas  (al- 
{omas  espécies  da  familia  das  Pontaceas),  ou  persistem  ai- 


102 

gom  tempo  depois  da  sua  queda,  como  na  acácia  bastarda, 
em  que  duram  mmlos  annos. 

Crescimento  das  folhas.— As  folhas  nascem,  já  o  dissemos, 
como  esboços  rudimentares  sobre  os  eixos,  quando  eUes 


Fíg.  S6.  A:  Folha  do  roble  (Quercut pedunculata,  Ehríi.).  B:  Folha  do 
snmagre  (Bhtu  Coriaria,  L.)  (1 : 2). 

estSo  ainda  muito  pouco  desenvolvidos,  no  interior  dos  bo- 


r' 


■  f03 

A  prÍDcipio  a  folha  cresce  pelo  cimo,  onde  noTas  cellu- 
las  vão  resultando  de  saccessivas  divisões;  mas  este  cres- 
omeoto  terminal  tem  muito  curta  duração,  nas  espécies 
lenhosas  indígenas,  e  a  folha  continua  o  seu  desenvolvi- 


Pig.  67.  Fra^enlo  de  um  raminho  de  loureiro  (Launa  nobiiit,  L.)  com 
doas  foltias  allerníis.  (1 :3). 

mento  no  botão,  abre-o,  e  adquire  as  dimensões  definitivas, 
i  costa  de  um  alongamento  intercalar. 

Este  alongamento  intercalar  pode  realisar-se  por  diver- 
sos modos.  Nas  folhas  das  nossas  arvores  localisa-se  em 
determinadas  zonas,  cessando  o  crescimento  em  toda  a 
parte  restante.  N'um  grande  numero  de  espécies  a  zona  de 
accrescimo  está  situada  mais  próxima  da  base  do  limbo,  e 
osd  entes,  os  lóbulos,  os  foliolos  da  folha  pinnulada,  etc.,  nas- 
cem do  cimo  para  a  base,  e  vão  diminuindo  em  tamanho 
no  mesmo  sentido  (fig.  56,  ^4)  (carvalhos,  vidoeiro,  amieiro. 


104 

salgueiros,,  bordos,  castanheiro  da  índia,  etc.).  N'outras  es- 
sências a  zona  de  accrescimo  está,  pelo  inverso,  collocada 
mais  para  junto  do  cimo  da  folha  e  os  dentes,  os  lóbulos, 
os  foliolos,  etc.  apparecem,  e  vao  quasi  sempre  decrescendo 
em  tamanho,  da  base  para  o  cimo  (Og.  56,  B.)  (sumagre, 
acácia  bastarda,  ailanto,  etc).  Este  alongamento  realisase 
simultaneamente  para  os  diversos  tecidos  da  folha :  paren- 
chyma,  nervuras,  etc.  A  formação  do  peciolo,  quando  elle 
existe,  é  sempre  posterior  á  primeira  apparição  do  limbo. 
Disposição  das  folhas  sobre  o  eixo. —  ks  folhas  dispõem- 
se  sobre  os  eixos  com  regularidade,  segundo  leis  prefixas 
para  cada  espécie.  Dizem-se  altemasy  quando  em  cada  nõ 
existe  apenas  uma  (flg.  57)  (carvalhos,  ulmeiro,  loureiro, 
etc) ;  oppostas,  quando  existem  duas  (flg.  58)  (oliveira,  alfe- 


Fig.  58.  Folhas  oppostas  do  folhado  {Vibumum  Tinus,  L.)  (1 :2). 

nheiro,  folhado,  etc.) ;  veriicilladas  quando  se  reúnem  mais 
de  duas  no  mesmo  nó  (urzes,  loendro,  etc),  e  chamam-se 
então  temadas  se  são  três,  quatemadm  se  são  quatro,  etc 
As  folhas  oppostas,  quando  são  sesseis,  em  algumas  espé- 
cies, soldam-se  pela  base,  apparentando  as  duas  uma  só 
folha  enfiada  ao  meio  pelo  eixo ;  estas  folhas  dizem-se  adur 
nadas,  taes  são  as  de  uma  madresilva  (Lonicera  etrusca, 
Santi.^  (flg.  59),  etc. 

Seja  qual  for  a  disposição  das  folhas  sobre  o  eixo,  esta 
disposição  obedece  á  seguinte  lei :  as  folhas  encobrem-se  o 
menos  possível  umas  ás  outras,  de  modo  a  receberem  a 


r~ 


105 

maior  quantidade  de  luz  e  a  gozarem  a  máxima  reiiOTaç3o 
de  ar. 


Flg.  ft9.  Folhas  adnoadas  da  madresilva  (Lonicera  etrttsea,  Santi.)  (I :  l)- 

As  folhas  alternas  dispõem-se  em  espiral.  Esta  espi- 
ral, em  regra,  conserra-se  constante  para  cada  espécie, 
pelo  menos  n'uma  grande  extensão  de  cada  eixo,  mas  va- 
ria domas  para  outras  espécies.  A  inserção  alterna  costu- 
ma representar-se  por  uma  fracção,  cujo  numerador  indica 
o  numero  de  voltas  da  espiral,  em  redor  do  eixo,  contadas 
a  partir  de  uma  folha  ate  encontrarem  uma  outra  collocada 
superiormente  á  primeira  e  na  mesma  direcção,  e  o  de- 
nominador representa  o  numero  de  folhas  que  essa  espi- 
ral encontrou-  no  seu  caminho.  A  inserção  das  folhas  do  ul- 
meiro é  representada  pela  fracção  -^ :  as  folhas,  n'este  ca- 
so, formam  duas  fiadas  longitudínaes  ao  longo  do  eixo  e 
dizem-se  disticadas;  a  disposição  das  folhas  do  amieiro  e 

vidoeiro  é  representada  por  -r- ;  a  dos  salgueiros  e  carva- 
lhos por  -^i  a  do  medronheiro  por  -^,  etc. 

As  folhas  oppostas  e  verticilladas  não  se  sobrepõem  em 
dois  DÓS  snccessivos ;  de  ordinário  umas  e  outras  teem  di- 
recção alternada,  em  cruz,  nos  dois  nós  mais  próximos. 


106 

A  disposição  das  folhas,  embora  constante  habitualmente, 
varia  comtudo  no  mesmo  individuo,  em  alguns  casos  res- 
trictos:  umas  vezes  diversifica,  conforme  se  considera  a 
base,  o  meio,  ou  o  cimo  do  eixo,  outras  vezes  segundo  se 
trata  do  rebento  que  continua  o  eixo  principal,  ou  dos  re- 
bentos lateraes.  Os  zimbros,  os  cyprestes,  as  urzes,  apre- 
sentam, a  diversas  alturas  do  eixo,  verticillos  com  desegual 
numero  de  folhas.  O  carvalho  e*o  castanheiro  teem  a  dispo- 
sição foliar  —  sobre  o  rebento  terminal,  e  ~  sobre  os  ra- 

mos. 

Duração  e  queda  das  folhas. —  O  tempo  que  vivem  as 
folhas  diversifica  muito  com  as  essências.  Em  umas  vivem 
apenas  ilm  só  período  vegetativo :  desabrolham  na  prima- 
vera e  caem,  regularmente,  no  fim  do  outono  próximo; 
estas  espécies  dizem-se  de  folhas  caducas  (carvalho  roble, 
carvalho  negral,  castanheiro,  ulmeiro,  freixo,  etc).  Woutras 
espécies .  as  arvores  nunca  se  apresentam  despidas,  as  fo- 
lhas vivem  mais  de  um  período  vegetativo,  não  caem  sem 
que  outras  se  tenham  desenvolvido,  e  de  ordinário  não  caem 
todas  n'uma  só  época  prefixa;  estas  essências  dizem-se 
sempre-verdes,  ou  de  folhas  persistentes  (pinheiros,  sobrei- 
ro, azinheira,  buxo,  etc). 

Nos  nossos  climas,  as  arvores  de  folhas  caducas  teem  es- 
tes órgãos  habitualmente  mais  tenros,  mais  aquosos,  her- 
báceos ou  membranosos,  do  que  as  arvores  sempre-verdes, 
cujas  folhas  são  muito  mais  seccas,  e  coriaceas.  N'estas  ul- 
tunas  a  duração  das  folhas  varia  bastante :  é  apenas  de  um 
anno  no  Querem  occidentalis,  Gay.  e  Quercus  hispankay  Lam. 
(as  folhas  caidiças  só  se  desprendem  depois  de  desenvol- 
vidas as  novas) ;  é  de  dois  a  três  annos  n'um  sobreiro  (QíuT' 
cus  suber,  L.),  na  azinheira,  no  carrasqueiro,  nos  pinheiros; 
é  de  dez  a  doze  annos  no  teixo,  etc*. 

1  Qândo  as  folhas  persistem  mais  de  um  anno  4  fácil,  em  qualquer 
época,  reconhecer  se  uma  arvore  é  de  folhas  persistentes  ou  caducas. 


w 


107 


O  clima  tem  uma  grande  influencia  na  distribuição  das 
espécies  de  folhas  persistentes  e  de  folhas  caducas,  como 
Teremos;  e  também  a  exerce,  muito  grande,  na  época  da 
qaeda  das  folhas.  A  este  ultimo  respeito  apresentamos  os 
seguintes  dados  numéricos  portuguezes,  que  foram  obtidos 
pelos  mesmos  observadores  anteriormente  referidos  quan- 
do nos  occupámos  das  épocas  de  folheação.  Parece-nos  es- 
CQSO  insistir  em  mostrar  que  estes  números,  assim  como  os 
anteriores  e  todos  os  análogos  seguintes,  procuram  apenas 
dar  uma  indicação  aproximada,  por  isso  que  estas  épocas 
de  vegetação  variam  bastante  d'uns  annos  para  os  outros, 
com  o  correr  das.  estações,  e  n'uma  mesma  localidade  di- 
versificam muita  com  a  exposição,  com  o  maior  abrigo,  etc. 


Na  anore  de  folhas  caducas  estes  orgSos  só  existem  nos  rebentos;  na 
arrore  em  qne  persistem  dois  amios  existem  nos  rebentos  e  nos  rami- 
nhos ;  na  arvore  .em  que  persistem  três  annos  existem  nas  três  ultimas 
ordens  da  ramificação,  etc. 


1 


108 


XSPBCIK8 

ÉPOCAS  DE  AMARELLEGIMENTO 
DAS  PRIMEIRAS  FOLHAS 

MARINHA 
OIUNDB 

(1885) 

COII 

(1888) 

DRA 

(1884) 

PORTO 

(1888) 

Castanheiro  da  índia  {Âesadut  H^<hcasta- 
iittfii,  li.) 

fins  d'oat.« 
fins  d^out.^ 

princ*  nov.® 
fins  d'oat.* 

15  set.« 

8  oat.<> 
20  oat.« 

SOset.« 

15  agtMto 

95  out.» 

/   I 

26  oat.*" 

12oat® 

6oat.« 

l9oat.* 

ISaet.* 

28ottt.« 

10  aat.* 

2oiit<' 

15  aet.» 

i8  aet.* 

19  ML* 

23ont.« 
6  noT.* 
9  ont.* 
25  Bet.<» 
28  nov.» 
22  nov.* 
8  oat.« 

Vidoeiro  (Betida  alba,  L.) 

Carvalho  roble  (Qutraa  peãuneulata,  Ehrh.) 
Ayelleira  (Corylut  Ávellana,  L.) 

Cerejeira  (Prunut  avium,  L.) 

Ameixoeira  brava,  {Prunus  spinoM,  L.) . . . 
Ginjeira  (Prunus  Cerasus,  L.) 

Pereira  {Pynu  communiSf  L.) 

Maceira  (Pyrus  Malut,  LJ 

Lllaz  (Svrinaa  vuloaris,  L.) 

Pirliteiro  {Crataegus  Oxyacantha,  L.) 

Codeço  bastardo  {Labumum  vulgare»  Qris.) 

Marmeleiro  {Cydonia  vulgaris,  Pers.) 

Sabuffneiro  (Sambueus  nigrat  L.) 

Framboesa  (Rulus  idaeus,  "LJ) 

Sanguinho  legitimo  {Comut  sanguínea,  L.) 

Alfenheiro  (Ligustrum  vulgart,  L.)* 

Videira  iVitis  vinifera,  h,) 

Chonpo  negro  (Populus  niara,  L.) 

Choupo  do  Canadá  {Populus  monilifera,  Ait.) 

Carvalho    portngaex    {Quereus  lusitaniea, 

Lam.) 

Castanheiro  {Castanea  vulgaris,  Lam.) .... 

Antes  de  caírem,  mortas  natm*almente,  as  folhas  das  arvores 
soffrem  grandes  modificações  na  coloração  e  na  composição  chi- 
mica,  (jue  muito  nos  importa  conhecer.  Vamos  resumil-as. 

Ao  abrirem-se  os  botões,  as  folhas  teem  a  côr  amarellada,  ou 
avermelhada,  depois  tomam  habitualmente  a  côr  verde,  logo  (jue  a 
luz  as  influenceia,  constituíndo-se  nas  suas  cellulas  a  chlorophylla, 


109 

e  tornando-se  ent3o  ellas  os  principaes  órgãos  da  elabora- 
{5o  dos  princípios  immediatos.  A  cor  vermelha,  e  outras, 
que  algumas  folhas  novas  conservam  por  mais  tempo  (car- 
valhos, silvas,  etc),  são  devidas  a  substancias  corantes  dis- 
solvidas no  sueco  cellular  e  que  mascaram  a  côr  verde  da 
chlorophylla;  a  côr  verde-azulada,  glauca,  da  folhagem  de 
moitas  essências  é  motivada  pelo  revestimento  ciroso  que 
se  junta  sobre  essas  folhas,  aliás  normalmente  verdes. 

As  folhas  persistentes  modificam,  de  ordinário,  durante 
o  inverno,  a  côr  habitual,  retomando-a  na  primavera  se- 
guinte. N'umas  espécies  dá-se  uma  simples  mudança  no 
tom  do  verde,  por  se  reunirem  em  massa,  agglomerados 
no  centro  das  cellulas,  os  grânulos  de  chlorophylla.  N'ou- 
tras  espécies  a  alteração  é  mais  funda-,  as  folhas  mudam 
de  côr:  e  ou  avermelham  pela  producção  de  um  principio 
corante  especial,  solúvel  no  sueco  cellular,  ou  escurecem, 
tomando  um  tom  acastanhado,  em  virtude  de  uma  modifi- 
cação da  própria  chlorophylla,  como  acontece  no  buxo. 

Antes  de  se  desprenderem  das  arvores,  as  folhas  mortas 
naturalmente  amarellecem,  e  este  amarellecímento  n  umas 
essências  começa  pelos  bordos  e  n*outras  pelo  cimo  da  folha; 
depois  tomam  a  côr  escura,  mais  ou  menos  acastanhada  em 
diversos  tons,  côr  que  ao  diante,  quando  as  folhas  já  estão 
caidas  no  solo,  vae  carregando  cada  vez  mais.  N'a]gumas 
espécies  as  folhas  não  amarellecem,  mas  avermelham,  tal 
no  somagre,  etc. 

As  folhas  mais  antigas  são  as  que  amarellecem  primeiro. 
Wiesner  notou  que  os  tecidos  que  transportam  agua,  as 
nervuras,  só  mais  tarde  perdem  a  côr  verde. 

A  chlorophylla,  antes  da  queda  natural  das  folhas,  redis- 
solve-se  pouco  a  pouco  no  protoplasma  fundamental,  e  con- 
juntamente com  elle  emigra  para  os  tecidos  de  reserva  da 
anore;  nas  cellulas  encontram-se  então  grânulos  amarellos, 
brilhantes,  de  natureza  desconhecida,  e  que,  para  muitos 
anctores,  não  teem  relação  com  a  chlorophylla. 


110 

Segundo  Kraos,  quando  no  outono  o  protoplasma  perde 
a  actividade,  o  oxygenio  existente  nas  cellulas,  nao  podendo 
jâ  ser  empregado  na  respiração,  oxyda  os  principios  orgâ- 
nicos que  encontra,  e  a  estas  oxydações  se  prendem  as  di- 
versas mudanças  de  côr.  A  côr  vermelha,  segundo  elle, 
resulta  de  uma  oxydação  mais  adiantada  da  côr  amarella; 
esta  côr  vermelha  é  particular  ás  plaijtas  acidas ;  gerahnente 
as  que  teem  fructos  azulados  avermelham  também  as  folhas. 
A  côr  escura  corresponde  a  uma  oxydação  ainda  maior,  e 
ao  apparecimento  já  dos  ácidos  ulmicos  e  humicos. 

Seja  qual  for  o  tempo  de  duração  das  folhas,  quer  seja  um 
só  ou  mais  períodos  vegetativos,  antes  de  cairem  natural- 
mente experimentam,  conjunctamente  com  estas  alterações 
na  côr,  profunda  modificação  na  composição  chimica.  Uma 
parte  importante  dos  principios  mais  úteis  para  a  vegetação 
emigram,  para  determinados  tecidos,  onde  constituem  uma 
reserva  nutritiva,  cujo  papel  adiante  será  estudado.  Acerca 
d'estas  alterações  na  composição  chimica  são  particular- 
mente instructivos  os  estudos  e  analyses,  realisados  em 
França,  pelo  sr.  Grandeau;  segundo  este  auctor  quasi  todo 
o  amido  e  glucose  passam  áquelles  tecidos  de  reserva,  bem 
como  uma  parte  importante  do  azote,  do  acido  phosphorico, 
da  potassa  e  do  acido  sulphurico;  as  folhas  mortas  natural- 
mei^le,  por  isso  mesmo  que  perdem  agua  e  os  principios 
acima  referidos,  augmentam  em  substancia  secca  e  nos 
outros  principios  remanescentes,  sobretudo  em  silica,  ferro 
e  cal;  não  tem  sido  possível  estabelecer  nenhuma  lei  para 
a  variabilidade  das  percentagens  da  magnesia,  manganezio 
e  soda.  Esta  emigração  dos  principios  mais  úteis  reaUsa-se 
nas  arvores  n'um  campo  ainda  mais  vasto :  tem  logar  não 
só  das  folhas,  mas  de  todos  os  órgãos  mortos  naturahnente 
— dos  ramos  seccos,  das  cascas. velhas,  etc. 

Depois  de  mortas,  n'umas  essências,  as  folhas  seccam  ad- 
herentes  aos  ramos  e  destroem-se  ali  pouco  a  pouco,  ou  no 
maior  numero  das  arvores  indígenas,  desarticulam-se  e  caem. 


111 

Esta  queda  natural  e  desarticulação  é  devida  á  actividade 
geradora  que,  n'um  dado  momento,  adquire  uma  assentada 
de  cellulas  do  peciolo,  ou  da  base  da  folha  se  ella  é  sessil» 
originando  formações  novas  atravez  a  secção  transversal 
daquelle  órgão. 

Na  base  do  peciolo,  em  quasi  todas  as  essências,  existe 
um  pequeno  engrossamento,  de  còr  mais  desbotada,  cujo 
parench)Tna  tem  as  paredes  cellulares  menos  espessas,  e 
oude  o  tecido  vascular  é  menos  desenvolvido;  por  ahi  se 
faz  a  desarticulação  da  folha,  no  maior  numero  de  casos, 
mas  em  outros,  muito  mais  restrictos,  a  separação  realisa-se 
um  pouca  acima  (codeços,  silvas,  etc). 

A  nova  assentada  de  cellulas,  a  que  nos  referimos,  atra- 
vessa a  epiderme,  o  parenchyma  cortical,  o  tecido  liberiano 
e  lenhoso  dos  feixes,  e  só  respeita  os  elementos  já  mortos 
d  estes  últimos  (fibras,  vasos  e  tubos  em  crivo) ;  as  cellulas 
intermédias  desta  nova  formação  reabsorvem-se  ao  depois, 
separando-a  em  duas  laminas  parallelas,  uma  das  quaes 
fica  adherente  ao  eixo,  e  a  outra  acompanha  o  peciolo, 
quando  a  folha  cae,  ao  quebrarem-se  os  vasos  é  fibras  que 
unicamente  a  sustentam  então.  Esta  ruptura  é  provocada, 
ao  mesmo  tempo,  pela  agitação  do  vento,  pelo  peso  da  folha, 
pela  pressão  exercida  pelas  cellulas  novas,  e  pelas  geadas 
e  outros  phenomenos  meteorológicos.  D'um  modo  egual  se 
desprendem  do  peciolo  commum  os  foliolos  da  folha  com- 
posta. 

Ás  vezes  as  folhas  caem  antes  de  tempo,  ainda  verdes, 
mortas  de  repente  por  qualquer  accidente  atmospherico — 
um  golpe  de  sol,  uma  geada,  etc.  Esta  queda  prematura  dif- 
íerença-se,  physiologicamente,  em  muito  da  queda  natural, 
e  pode  ler  consequências  funestas  para  a  arvore ;  das  folhas 
assim  caídas  não  se  dá  a  emigração  de  princípios  para  os 
tecidos  de  referva,  o  que  pode  representar  um  empobreci- 
mento grande. 

A  cicatrisação  da  ferida  resultante  da  queda  da  folha 


112 

realisa-se  por  dois  modos  differentes.  N'umas  essências 
esta  feriçla  só  fecha  mais  tarde,  pela  formaçSo  de  mna  ca- 
mada suberosa  que  se  une  lateralmente  com  o  invólucro 
suberoso  do  ramo  (ulmeiro,  amoreira,  figueira,  etc).  N'ou- 
tras  essências,  antes  da  formaç3o  do  tecido  separador,  ou 
ao  mesmo  tempo,  pouco  distante  do  logar  por  onde  a  des- 
articulação se  ha  de  realisar,  origina-se  uma  camada  sube- 
rosa, que  só  respeita  no  interior  os  feixes  do  peciolo,  por 
onde  se  continuam  as  funcções  physiologicas  das  folhas; 
quando  estas  caem,  a  cicatrisaçao  dá-se  rapidamente,  com- 
pletando-se  a  lamina  suberosa  nos  pontos  onde  ainda  não 
existia  (choupos,  amieiro,  folhado,  ailanto,  sabugueiro,  etc.). 
A  forma  da  cicatriz  deixada  pelas  folhas  é  desegual  nas 
diversas  essências,  e  característica  em  algumas  d'ellas. 

As  folhas,  os  ramos,  as  cascas,  os  pericarpos,  etc,  caidos 
naturalmente  das  arvores  formam,  no  terreno  dos  massiços 
florestaes,  um  tapete  ou  ma?ita,  que  tem  uma  grandissima 
influencia  na  boa  vegetação  dos  arvoredos,  como  adiante 
veremos  detalhadamente. 

Coberto  das  arvores. — As  dimensões,  a  forma,  o  modo 
de  inserção  e  o  numero  das  folhas,  bem  como  a  sua  dura- 
ção, fazem  variar  para  cada  essência,  a  intensidade  com 
que  a  folhagem  abriga  o  terreno  inferior;  este  assom- 
breamente  maior  ou  menor  é  que  se  denomina  coberto  das 
arvores.  É  muito  importante  em  cultura  florestal  considerar 
o  coberto  das  difl'erentes  essências  exploradas. 


6.— VIDA  DAS  PLANTAS  LENHOSAS 

As  plantas  lenhosas  desenvolvem  uma  parte  dos  seus 
órgãos  na  terra  e  uma  outra  parte  na  atmosphera;  vivem 
em  dois  meios  diflerentes,  e  a  um  e  outro  vão  buscar  os 
elementos  necessários  á  sua  organisação  e  á  sua  vida. 


H3 

Supponhamos  uma  arvore  adulta,  e  em  pleno  período  de 
actividade  vegetativa. 

As  raízes  grossas  seguram-a,  dão-lhe  estabilidade  no  solo ; 
o  tronco  liga  essas  raízes  com  as  folhas  e  espalha  estas  ulti- 
mas pela  atmosphera. 

Às  mais  novas  ramificações  das  raízes  teem  contrahído 
adherencia  com  a  terra,  entre  cujas  partículas  se  desen- 
volvem e  se  moldam  os  pellos  radícaes,  tão  intimamente, 
qae  muitas  vezes  a  radícula,  puchada  com  cuidado,  traz 
ainda  em  redor  um  cylíndro  de  grânulos  terrosos.  A  humi- 
dade do  solo,  em  virtude  das  leis  da  endosmose  e  diflfusâo, 
penetra  atravez  as  paredes  d'aquellas  cellulas,  passa  os  te- 
cidos corticaes  e  entra  na  parte  lenhosa  dos  feixes  da  raiz. 

Estes  feixes  da  raiz  fazem  continuação  ininterrupta  com 
os  feixes  do  tronco  e  dos  ramos,  passando  ás  folhas  por 
ultimo;  ímpellida  pelo  jogo  de  diversas  forças,  taes  como 
a  pressão  devida  aos  mesmos  phenomenos  osmotícos,  junta 
ao  estado  particular  de  turgídez  das  cellulas  das  radiculas, 
à  capillaridade,  e  á  transpiração  enérgica  realísada  nas  fo- 
lhas e  rebentos,  a  agua  bebida  no  solo  pelas  raízes  eleva- 
se  rapidamente  ao  longo  d'estes  feixes  lenhosos,  no  interior 
do  tronco,  espalhando-se  em  todas  as  suas  ramificações,  em 
todas  as  suas  folhas. 

Quando  os  mais  velhos  elementos  anatómicos  do  feixe  le- 
nhoso estão  obstruídos,  por  qualquer  forma,  o  transporte  da 
agua  só  se  realísa  pelas  ultimas  formações.  Nas  essências  que 
teem  cerne  e  borne  distínctos,  é  pelo  ultimo  quatem  logar. 

A  agua,  que  d'este  modo  atravessa  o  vegetal,  não  é  pura; 
traz  dissolvidas  todas  as  substancias  do  terreno,  entradas 
por  endosmose  atravez  as  paredes  cellulares  dos  pellos  ra- 
dícaes. As  radiculas  teem  mesmo,  a  este  propósito,  um  ver- 
dadeiro poder  digestivo  sobre  o  solo;  vivas,  e  em  contacto 
com  o  papel  azul  de  tumesol,  avermelham-o :  esta  sua  acidez 
solubilisa  na  terra  muitos  corpos,  que  aliás  não  poderiam 
ser  recebidos  pela  planta. 

CS.  8 


114 

A  entrada  dos  corpos  dissolvidos  na  agua  n3o  é  regu- 
lada pela  percentagem  d'elles  na*  terra,  mas  sim,  principal- 
mente, pelas  necessidades  do  vegetal ;  o  corpo  que  deixa  de 
persistir  como  tal  nos  liquidos  interiores  da  arvore,  ou  por- 
que se  insolubilise,  ou  porque  se  combine  de  qualquer  modo, 
segundo  as  leis  da  diffusão,  dá  logar  á  entrada  de  uma  nova 
quantidade  a  substituil-o,  e  doesta  forma  as  substancias  mi- 
neraes  mais  utilisadas  pelo  organismo  vegetal  sâo  as  que  elle 
principalmente  absorve. 

A  agua,  carregada  de  substancias  mineraes,  sobe  às  fo- 
lhas, como  dissemos,  conduzida  pelos  elementos  lenhosos  do 
feixe,  situados  na  parte  inferior  das  nervuras,  dístribue-se 
por  todo  o  limbo,  e  sofifre  ahi  profundissimas  alterações. 

Uma  parte  muito  considerável  d'essa  agua  desprende-se 
por  transpiração ;  passa  das  cellulas  verdes  do  parenchyma 
aos  meátos  intercellulares  e  dahi,  pelos  estomas,  para  a  at- 
mosphera;  a  transpiração  atravez  a  epiderme  é  minima. 

A  transpiração  regula  a  quantidade  d'agua  entrada  pelas 
raizes.  É  enorme  a  correnteliquida  que  atravessa  constan- 
temente as  arvores  no  período  da  actividade  vegetativa; 
Haberlandt  calculou  que  um  carvalho  isolado,  tendo  proxi- 
mamente 700:000  folhas,  transpirou,  nos  cinco  mezes  de 
julho  a  outubro,  lli:225  kilos  de  agua. 

A  transpiração  varia  muito  nas  diversas  essências :  em 
regra  é  maior  nas  que  teem  follias  delgadas,  aquosas  e 
brandas ;  nas  que  teem  folhas  com  estomas  maiores  e  mais 
umnerosos .;  nas  qiie  teem  folhas  glabras ;  n'aquellas  em 
que  o  parenchyma  foliaceo  é  cheio  de  grandes  meátos.  As 
folhas  vestidas  de  pellos,  ou  cobertas  de  inductos  cirosos 
ou  resinosos,  as  folhas  mais  seccas,  coriaceas  e  brilhantes, 
as  folhas  que  apresentam  a  epiderme  muito  cuticulisada, 
transpiram  menos,  em  egualdade  de  circumstancias.  Assim 
as  folhas  acerosas  das  Coníferas  teem  muito  menor  transpi- 
ração do  que  as  folhas  das  Angiospermas,  de  limbo  mais 
desenvolvido,  e  mais  brando. 


115 

A  maior  transpiração  corresponde  a  maior  entrada  de 
principies  mineraes.  Âs  arvores  que  mais  transpiram  são 
as  mais  ricas  em  cinzas ;  da  percentagem  das  cinzas  po* 
de-se  deduzir  o  valor  da  transpiração. 

Segundo  Ebermayer  lOO**"  de  folhas  das  seguintes  es- 
sências transpiraram,  desde  abril  até  outubro,  em  media> 
por  dia,  estas  quantidades  d'agua : 

Freixo 400«' 

Vidoeiro 380 

I  Ulmeiro 308 

Plátano  bastardo 274 

Carvalho  roble 255 

Pinlíeiro.  .• 44 

i  Assim,  emquanto  as  folhosas  (Angiospermas),  em  con- 
dições favoráveis,  perdem  por  dia,  durante  o  período  de 
actividade  vegetativa,  um  peso  d'agua  duas  a  quatro  vezes 
maior  que  o  das  suas  folhas,  as  agulhas  dos  pinheiros  per- 
dem apenas  metade  do  seu  peso. 

Advertiremos,  todavia,  que  da  intensidade  da  transpira- 
ção não  se  pode  concluir  com  segurança  a  quantidade  de 
agna,  necessária  a  cada  espécie  vegetal;  tem  de  entrar 
como  factor  importantíssimo  o  desenvolvimento  das  folhas, 
a  superfície  foliacea — o  coberto  da  arvore. 

No  mesmo  individuo  a  perda  d'agua  é  sempre  maior  nos 
órgãos  mais  novos,  mais  succulentos,  mais  tenros,  e  diver- 
sifica muito  com  as  estações  e  com  todas  as  circumstan- 
cias  que  concorrem.  É  augmentada  pela  elevação  de  tem- 
peratura, pela  'Seccura  do  ar,  e  pela  insolação,  que  não  só 
produz  maior  aquecimento,  mas  dilata  os  estomas.  É,  por 
isso,  maior  de  dia,  que  á  noite ;  maior  ao  sol  do  que  á  som- 
bra; maior  nas  arvores  isoladas  do  que  nas  dos  massiços.  As 
folhas  que  crescem  á  sombra  são,  de  ordinário,  mais  del- 
gadas e  teem  maiores  meátos  intercellulares. 

8* 


1 


116 

Ào  mesmo  tempo  que  as  folhas  e  os  rebentos  estão  per- 
dendo agua,  estabelece-se  uma  troca  de  gazes  entre  a  planta 
e  a  atmosphera ;  em  redor  das  folhas  o  ar  condensa-se, 
formando  uma  camada  adherente»  e  ás  vezes  muito  espes- 
sa, comparável,  nos  orgSos  subterrâneos,  á  ligação  das  ra- 
diculas  com  a  terra ;  quando  se  mergulha  uma  folha  den- 
tro d'agua  esta  camada  toma-se  bem  patente,  envolvendo-a 
como  em  um  estojo  prateado. 

D'esta  forma  os  gazes  e  vapores  atmosphericos  penetram 
pelos  estomas,  e  por  endosmose  e  dífiusSo  passam  ás  cel- 
lulas  do  parenchyma,  dissolvendo-se  no  protoplasma  e  no 
sueco  cellular.  A  lei,  que  regularisa  a  sua  entrada,  é  a  mes- 
ma lei  que  regula  a  entrada  dos  princípios  solúveis  da  ter- 
ra: entram  em  maior  quantidade,  não  os  gazes  existentes 
na  atmosphera  em  maior  abundância,  mas  os  que  são  mais 
necessários  á  planta;  assim  por  exemplo,  entra  menos 
azote  do  que  anhydrido  carbónico. 

Nas  cellulas  verdes  a  chlorophylla,  absorvendo  uma 
parte  da  irradiação  luminosa,  transforma-a  no  trabalho 
chimico  da  decomposição  do  anhydrido  carbónico,  fixa  o 
carbonio  resultante  e  desprende  para  a  atmosphera  o  oxy- 
genio. 

Não  é  ponto  assentado  se  esta  decomposição  se  realisa 
separando  completamente  para  os  dois  lados  todo  o  car- 
bonio e  oxygenio  da  molécula  do  anhydrido  carbónico,  ou 
se  apenas  a  desdobra  em  oxydo  de  carbonio  e  oxygenio, 
porque  é  certo  que  as  plantas  não  teem  o  poder  de  decom- 
por o  oxydo  de  carbonio.  No  emtanto,  como  existe  sensível 
egualdade  entre  o  volume  do  anliydrido  carbónico  entrado 
e  do  oxygenio  evolvido,  será  necessário,  na  ultima  hypo- 
these,  ir  buscar  o  oxygenio,  que  ainda  falta  para  comple- 
tar aquelle  volume,  a  outra  origem ;  suppõe-se  ser  pres- 
tado pela  decomposição  simultânea  da  agua. 

A  decomposição  do  anhydrido  carbónico  pela  chlorophylla 
é  influenciada  por  muitas  causas  externas,  e  sobretudo  pela 


il7 

intensidade,  da  luz,  e  pelo  calor.  É  um  phenomeno  descon- 
tinuo, periódico :  só  se  realisa  de  dia. 

Sejam  quaes  forem  os  termos  da  decomposição  do  anhy- 
drído  carbónico,  e  quer  a  agua  seja  ou  não  conjunctamente 
decomposta,  comtanto  que  compareça,  ficam  em  presença 
na  cellula  Tiva  os  três  elementos  necessários  para  a  orga- 
nisação  de  todos  os  princípios  immediatos  ditos  ternários 
—carbonio,  hydrogenio  e  oxygenio;  da  sua  união  resul- 
tam os  hydratos  de  carbonio  fundamentaes  d'onde,  por  di- 
versas reacções  e  substituições  na  quasi  totalidade  desco- 
nhecidas, derivam  todos  os  outros  principios  hydro-carbo- 
nados. 

Mais  obscura  ainda  é  a  formação  das  substancias  qua- 
ternárias; é  ponto  duvidoso  até  o  local  da  sua  primeira 
origem:  se  unicamente  nascem  nas  cellulas  verdes  assi- 
milatrises,  ou  também  nos  outros  tecidos.  À  parte  mais 
avaltada  do  azote,  necessário  a  esta  organisação,  tira-a  a 
planta  da  terra,  sob  a  forma  de  saes  ammoniacaes  e  nitra- 
tos, que  passam  dissolvidos  na  agua,  mas  também  tributa 
a  este  respeito  os  gazes  atmosphericos,  fixando,  não  o 
azote  livre,  mas  o  ammoniaco,  ali  existente  sempre,  em- 
bora em  percentagens  resumidíssimas.  Os  albuminóides  re- 
presentam um  papel  muito  importante  na  vida  vegetal ;  en- 
tram ria  constituição  do  protoplasma,  o  corpo  vivo  da  cel- 
hila. 

O  liquido  extrahido  ao  solo  pelas  raizes,  concentrado  pela 
transpiração,  enriquecido  com  os  compostos  ternários  e  qua- 
ternários, transforma-se  então  em  seiva  elaborada,  isto  é, 
n'nm  liquido  onde  existem  os  materiaes  necessários  á  or- 
ganisação vegetal,  e  devidamente  apparelhados  para  essa 
organisação. 

Ao  mesmo  tempo  que  vão  tendo  logar  estes  phenome- 
nos  de  assimilação,  outros  se  realisam  importantíssimos» 
qae  vem  tomar  mais  complexa  s^nda  a  troca  de  gazes  entre 
a  planta  e  a  atmospbera. 


118 

• 

As  cellulas  vegetaes  vivas  teem  uma  respiração,  paten- 
teada, como  a  respiração  animal,  pela  absorpção  do  oxy- 
genio  atmospherico,  que  provoca  oxydações  —  em  diversos 
graus— nas  substancias  assimiladas,  e  pelo  desprendimento 
de  anhydrido  carbónico.  Esta  respiração  é  um  acto  inteira- 
mente diverso  da  assimilação  acima  descripta;  é  indispen- 
sável á  vida  vegetal ;  sem  ella  não  se  realisam  as  transfor- 
mações chimicas,  de  que  depende  o  crescimento  das  plantas, 
e  o  protoplasma  das  cellulas  perde  o  movimento  e  morre. 

A  raiz  encontra  o  oxygenio  necessário  para  a  sua  res- 
piração na  terra,  onde  entre  as  particulas  terrosas  existem 
os  diversos  gazes  atmosphericos.  Todos  esses  gazes,  livres 
ou  dissolvidos  na  agua,  passam  às  cellulas  da  raiz,  que 
utilisam  o  oxygenio  e  deixam  sem  emprego  o  azote  e  o 
anhydrido  carbónico.  A  acção  indispensável  do  ar  sobre  as 
raizes  explica  o  motivo  porque  as  arvores,  plantadas  ao 
longo  das  ruas  muito  comprimidas  das  cidades,  infezame 
morrem,  se  não  houver  tomada  alguma  disposição  que  per- 
mitta  o  arejamento :  caldeiras  largas,  drenagens  especiaes 
etc.  Ainda  por  idêntico  motivo,  as  arvores  dos  terrenos  co- 
bertos d^agua  durante  o  inverno  retardam  a  época  do  des- 
abrolhamento,  e  se  a  submersão  tiver  logar  durante  o  pe- 
ríodo da  actividade  vegetativa,  apresentam  signaes  de  sof- 
frimento  primeiro  e  ao  depois  morrem,  se  ella  persiste. 

Na  parte  aérea  da  arvore  a  respiração  passa-se  do  mes- 
mo modo  que  nas  raizes ;  ha  uma  fixação  de  oxygenio,  e 
um  desprendimento  de  anhydrido  carbónico.  Nos  tecidos 
verdes,  como  se  reaUsa  simultaneamente  a  respiração  e  a 
assimilação  chlorophylliana,  a  troca  de  gazes  entre  a  planta 
e  a  atmosphera  estabelece-se,  n'um  dado  momento,  pela 
differença  entre  a  intensidade  dos  dois  phenomenos.  Sem 
a  irradiação  luminosa  não  tem  logar  a  assimilação  chloro- 
phylliana, logo,  de  noite  apenas  a  respiração  regula  aquella 
troca :  a  arvore  perde  anhydrido  carbónico,  fixa  oxygenio. 
De  dia  a  acção  assimilatriz  consome  muito  mais  anhydrido 


119 

carbónico  do  que  o  produz  a  acç5o  respiratória :  o  vegetal, 
DOS  seus  tecidos  verdes,  fixa  então  o  carbonio  e  desprende 
o  oxygenio. 

A  quantidade  de  carbonio  apanhada  durante  o  dia  é 
nmíto  maior  do  que  a  quantidade  perdida  durante  a  noite; 
por  isso  o  vegetal  consegue  crescer,  augmentar  os  seus 
componentes.  Calculou  o  sr.  Van  Tieghem  que  1™*  de  fo- 
lhas de  loendro,  expostas  ao  sol,  decompõem  por  hora 
1^108  de  anhydrido  carbónico,  emquanto  de  noite  emit- 
tem  apenas  O' ,07,  isto  é,  proximamente  16  vezes  menos. 
Em  três  quartos  d'hora  d'insolaçâo  pela  manhS,  esta  planta 
repara  as  perdas  de  carbonio  experimentadas  durante  a 
noite. 

A  intensidade  da  respiração  vegetal  depende  bastante  da 
essência,  e  em  cada  individuo  da  região  considerada ;  em 
egnaldade  de  circumstancias  é  mais  enérgica  nas  espécies 
de  folhas  caducas  do  que  nas  de  folhas  persistentes ;  é  mais 
forte  nos  pontos  onde  é  maior  o  crescimento  dos  tecidos 
e  onde  necessariamente  as  reacções  chimicas  são  mais  po- 
derosas; assim  é  máxima  nas  cellulas  dos  rebentos  saí- 
dos ha  pouco  do  botão,  e  nas  cellulas  das  sementes  que 
teem  germinação  rápida.  Os  phenomenos  exteriores  tam- 
bém influem  muito:  a  intensidade  da  respiração  augmenta 
com  a  temperatura  e  com  o  estado  hygrometrico  do  ar,  a 
Iflz  fal-a  diminuir,  e  varia,  por  tanto,  com  as  estações. 

Entre  a  oxygenio  fixado  pela  respiração  e  o  anhydrido 
carbónico  evolvido  passa-se  uma  longa  cadeia  de  reacções  chi- 
micas desconhecidas;  o  estudo,  doestes  phenomenos  é  com- 
plexo e  diflBcil.  Alguns  auctores  sustentam,  que  não  existe 
relação  constante  entre  a  quantidade  do  oxygenio  entrado 
e  a  do  anhydrido  carbónico  desprendido;  affirmam  que  estes 
dois  phenomenos  só  indirectamente  estão  ligados,  e  não 
admittera,  por  isso,  que  se  reunam  sob  a  donominação 
commum  de  respiração  vegetal.  Ultimamente  os  srs.  G.  Bon- 
™r  e  L.  Mangin  demonstraram  que  esta  relação  existe 


L 


"^ 


120 

constante  para  um  mesmo  individuo,  n'ufn  determinado  es 
todo  do  seu  desenvolvimento. 

Os  princípios  immediatos  elaborados  nas  cellulas  chloro- 
phyllianas  passam  d'ali  aos  pontos  onde  o  seu  emprego  é 
reclamado ;  aos  pontos  em  via  de  crescimento  e  aos  reser- 
vatórios nutritivos.  A  lei  que  os  conduz  n'este  caminho  é 
conhecida :  é  ainda  a  mesma  lei  que  regula  a  entrada  dos 
gazes  e  dos  elementos  mineraes  na  planta — nos  sítios  onde 
um  dado  corpo  é  empregado,  quer  se  tranforme,  se  orga- 
nise,  ou  se  combine,  deixa  de  permanecer  como  tal,  e  esse 
sitio  torna-se,  a  respeito  d'elle,  um  centro  de  attracçao. 

D'este  modo  estabelecem-se  correntes  partidas  das  cel- 
lulas chlorophyllianas,  que  envolvem  o  vegetal  d'esde  as 
ultimas  ramificações  radiculares  até  aos  mais  altos  reno- 
vos ;  mas  são  correntes  nao  homogéneas,  onde  cada  sub- 
stancia, para  assim  dizer,  conserva  a  sua  individualidade 
e  passa,  com  mais  ou  menos  rapidez,  conforme  o  papel  que 
momentaneamente  lhe  cabe.  Esta  corrente  é  conduzida  pe- 
los elementos  liberianos  dos  feixes  foliares,  que  constituem 
a  parte  inferior  das  nervuras,  e  depois  pelos  elementos 
idênticos  no  tronco  e  na  raiz ;  as  cellulas  com  as  paredes 
em  crivo  são  importantíssimas  para  este  transporte.  Da 
corrente  longitudinal  partem  successivas  correntes  lateraes. 

Á  custa  dos  materiaes  assim  apparelhados  a  planta  re- 
nova os  seus  tecidos,  organisando  novas  cellulas,  cresce 
em  altura  e  diâmetro,  constitue  todos  os  seus  órgãos,  tanto 
na  parte  aérea  como  na  parte  subterrânea. 

Quando,  nos  nossos  climas,  o  decrescimento  da  tempe- 
ratura marca  o  fim  do  período  vegetativo,  se  a  arvore  é  de 
folhas  caducas,  as  cellulas  do  parenchyma  foliar  esvasiam- 
se,  as  substancias  ainda  útilisaveis,  inclusive  uma  grande 
parte  dos  grânulos  de  chlorophylla,  dissolvem-se  e  passam 
na  corrente  liberíana  dos  feixes,  orientada  agora,  exclusi- 
vamente, para  os  tecidos  de  reserva.  As  folhas,  na  occa- 
sião  da  queda  natural,  como  dissemos,  são  apenas  esque- 


w 


i21 


letos  de  membranas  cellulares,  contendo  productos  de  des- 
assimilação,  sem  utilidade  para  a  planta. 

No  emtanto'  n3o  se  julgue  disto  que,  os  princípios  mais 
importantes  para  a  organisação  vegetal,  uma  vez  formados, 
persistem  sempre  na  arvore:  afora  os  princípios  consumi- 
dos pela  respiração,  uma  grande  parte  perde-se  annual- 
.  mente  nos  fructos,  como  diremos,  onde  se  ínsolubílisam  e 
CQDcretam  em  grande  abundância  relativa.  A  fructificação 
representa  sempie  uma  perda  para  o  individuo  vegetal. 

Nas  essências  indígenas  de  folbas  caducas  aquella  emi- 
gração outonal  dos  princípios  mais  úteis  realísa-se  para 
os  eixos.  É  nos  tecidos  vivos  da  casca,  nos 'raios  medulla- 
res  do  lenho  e  no  parenchyma  lenhoso  onde  a  reserva  nu- 
tritiva se  acantona  de  inverno. 

Na  estação  fria  a  arvore  entorpece  a  sua  actividade :  não 
elabora,  não  cresce,  não  engrossa;  não  tem  folhas;  na  parte 
aeria  apenas  apresenta  o  tronco,  os  ramos  e  os  esboços  dos 
iK)vos  rebentos,  protegidos  pelos  involuferos  escamosos,  uu- 
permeaveis,  dos  botões. 

Quando  a  primavera  traz  o  augmento  favorável  de  tem- 
peratura a  agua  é  chamada  outra  vez,  em  maior  quantida- 
de, ao  vegetal ;  sobe,  n'este  caso,  apenas  pelas  forças  d'ím- 
polsão  já  referidas,  quasi  independentes  da  transpiração,  dis- 
solve as  reservas  nutritivas,  e  leva  esses  materiaes  aos  órgãos 
em  via  de  crescimento.  Os  botões  alongam-se,  entumecem, 
abrem-se,  e  apparecem  as  primeiras  pequenas  folhas ;  for- 
ma-se  a  chlorophylla  sob  a  influencia  da  irradiação  solar; 
Doestas  cellulas  cbJorophyllianas  começa  a  decomposição  do 
aDhf  drido  carbónico  atmospherico  e  da  agua ;  constítuem-se 
BOTOS  princípios  immediatos;  a  transpiração  augmenta,  e 
abre-se  para  a  arvore  um  novo  cyclo  vegetativo. 

Se  a  espécie  é  de  folhas  persistentes  as  cousas  passam- 
se,  proximamente,  de  um  modo  análogo.  N'estas  espécies  a 
actividade  vegetativa  também  pára  durante  o  inverno,  e  as 
íMs  também  antes  de  caírem  soflfrem  alterações  na  com- 


122 

posição,  emigrando  d'ellas  os  princípios  mais  úteis.  Em  al- 
gumas, nos  pinheiros  por  exemplo,  as  folhas  só  no  primeiro 
anno  da  vida  cooperam  activamente  na  assimilação,  no  prin- 
cipio do  segundo  anno  afrouxam  muito  no  desempenho 
d'esta  ftincçao,  que  d'ahi  por  diante  lhes  cessa  de  todo;  pa- 
rece que  representam  depois  apenas  um  papel  idêntico  ao 
dos  tecidos  de  reserva  dos  eixos. 

A  relação,  que  dissemos  existir,  entre  o  desenvolvimento 
da  parte  aérea  e  radicular,  nàs  arvores  da  mesma  essência 
e  da  mesma  edade,  torna-se  agora  bem  comprehensivel. 
Quando  as  necessidades  do  organismo  forem  idênticas, 
quanto  maior  a  quantidade  de  folhas,  mais  avultada  será 
a  producção  dos  princípios  immediatos,  mais  fortes  e  nu- 
merosos serão  todos  os  órgãos;  mas  se  a  formação  das 
raizes  necessita  os  princípios  immediatos,  originados  á  luz 
nas  cellulas  chlorophyllianas,  os  órgãos  aéreos  precisam  tam- 
bém as  substancias  mineraes  extrahidas  da  terra  pelas  rai- 
zes; a  dependência  aqui  é  reciproca:  a  relação,  portanto, 
constante,  em  condições  idênticas  de  organisação. 

Nos  indivíduos  da  mesma  espécie  o  crescimento  depen- 
de, é  evidente,  da  quantidade  dos  princípios  ínmediatos  em 
circulação,  isto  é  — do  numero  das  folhas  e  das  radiculas — 
e  o  maior  numero  de  umas  e  outras  está  ligado  ás  condi- 
ções do  meio  local.  Se  o  terreno  é  árido  e  superficial  a 
arvore  fica  enfezada  e  pequena;  se  é  profundo  e  rico  ad- 
quire grandes  dimensões;  uma  influencia  idêntica,  e  nao 
menos  pronunciada,  exerce  o  clima.  De  resto  mil  outras  ac- 
ções, puramente  accidentaes,  podem  influir:  se  as  arvores 
vivem  isoladas  engrossam  bastante,  bracejam  muito,  apre- 
sentam o  lançamento  terminal  menos  desenvolvido  e  a  copa 
mais  arredondada;  se  crescem  em  massiço  apertado  teem 
maior  fuste  e  o  tronco  mais  delgado;  ávidas  de  luz,  estas 
arvores  reúnem  as  suas  forças  no  rebento  terminal  e  for- 
mam as  ramificações  lateraes  muito  mais  fracas.  Se  é  um 
rebentão  de  touca  desenvolve-se  mais  despressa  nos  pri^ 


123 

melros  annos,  fica  menos  alto,  e  morre  mais  cedo  do  que 
uma  anrore  de  semente. 

Mas  a  altura  das  arvores,  a  rapidez  do  seu  crescimento 
6  a  qualidade  das  suas  madeiras  não  dependem  só  do  meio 
exterior,  também  variam  muito  com  a  organisação  especi- 
fica; em  solos  ou  em  climas  onde  uma  dada  essência  ficará 
.  enfezada  e  rachitica,  uma  outra  mais  frugal,  menos  exigente, 
poderá  adquirir  boas  proporções.  O  azevinho,  o  folhado,  o 
sabugueiro,  por  melhores  que  sejam  as  condições  de  vege- 
tação, não  chegam  á  altura  dos  carvalhos,  dos  pinheiros  ou 
dos  ulmeiros.  Em  regra  geral  o  crescimento  é  tanto  mais 
rápido  quanto  o  lenho  é  mais  brando;  assim  os  choupos 
íazem-se  bem  mais  depressa  do  que*  os  carvalhos.  O  euca- 
lypto  é  uma  excepção  a  esta  regra. 

A  vida  dàs  arvores  tem  mu  termo;  não  provocado  pelas 
mesmas  causas  que  trazem  a  morte  dós  animaes,  mas  por 
outras,  próprias  aos  seus  organismos. 

Na  arvore  os  órgãos  não  se  gastam  pelo  continuo  func- 
donamente,  por  isso  que  se  renovam  todos  os  annos.  São 
as  radiculas  ultimamente  constituídas  que  apanham  na  terra 
a  agua  e  as  substancias  mineraes ;  no  tronco  e  nos  ramos 
são  as  camadas  das  formações  mais  modernas  que  teem  o 
principal  papel  no  transporte  dos  Mquidos;  os  tecidos  ge- 
radores regeneram-se  constantemente ;  as  folhas,  onde  so- 
bretudo se  realisa  a  elaboração  dos  princípios  Immediatos, 
estão  em  actividade,  no  maior  numero  de  casos,  apenas  um 
cycio  vegetativo,  ou  pouco  mais.  A  arvore  adulta  é  um  ag- 
gregado  de  cellulas  vivas  e  mortas ;  a  vida  emigra  succes- 
siramente  das  mais  antigas  para  as  mais  modernas,  e  esta 
coostante  renovação  não  dá  margem  ao  gastamento  dos 
órgãos;  em  duas  arvores  da  mesma  espécie  com  edades 
dlfferentes,  dois  pinheiros  por  exemplo,  um  de  30  e  outro 
de  60  annos,  a  porção  viva  é  quasi  egual,  as  camadas  já 
mortas  é  que  sobretudo  avultam  na  mais  velha. 

Uma  das  causas  fataes  da  morte  das  arvores  é  a  mesma 


124 

forma  do  seu  desenvolTimento.  Os  orgSos  mais  importantes, 
as  folhas  e  as  radiculas,  cada  anno  se  affastam  mais,  ea 
facilidade  de  communicação  entre  mnas  e  outras  cada  amu) 
diminue ;  de  certo  ponto  em  deante  o  crescimento  em  altura 
e  diâmetro  afrouxa,  proporcionalmente,  até  parar,  e  a  arvore 
morrer. 

Este  limite  depende  todavia  de  muitas  causas,  que  todas 
concorrem  ao  mesmo  tempo :  influe  a  organisação  particular 
de  cada  espécie;  actuam  as  qualidades  do  meio — do  terreno 
e  do  clima :  esgotado  pelas  raizes  o  cubo  de  terra  onde  se 
podem  desenvolver,  a  arvore  morrerá ;  influe  o  grau  variá- 
vel de  incrustação  dos  tecidos  por  onde  os  liquidos  hao  de 
circular  com  desegual' facilidade;  entram,  afora  tudo  isto, 
muitas  outras  circunstancias,  puramente  accidentaes,  como 
os  ataques  dos  insectos  e  dos  parasitas  vegetaes,  as  lesões 
e  quebras  de  ramos,  etc. 

Nas  arvores  adultas,  como  sabemos,  os  tecidos  mortos 
estão  situados  no  interior  do  lenho  e  na  parte  cortical  mais 
externa.  Os  últimos,  n'um  grande  numero  de  essências, 
destacam-se  pouco  a  pouco,  e  vão  caindo:  em  todo  o  caso 
a  sua  decomposição  tem  pequena  importância  para  a  arvore 
e  é  quasi  sempre  difficultada  pelas  percentagens  elevadas 
de  corpos  conservadores,  como  o  tannino,  etc.  Não  acontece 
outro  tanto  ás  formações  mortas  no  interior  do  tronco;  a 
decomposição  dá-se  ali  muitas  vezes,  enérgica  e  rápida, 
podendo  o  tronco  ficar  completamente  ôco. 

Esta  decomposição  dos  tecidos  internos  representa  uma 
perda  industrial  nos  productos  lenhosos  da  arvore,  mas 
não  lhe  occasiona  directamente  a  morte,  e  nem  mesmo  lhe 
prejudica  a  vitalidade:  a  parte  essencial,  os  tecidos  vivos, 
subsistem  do  mesmo  modo.  Mas  a  arvore  perdeu  o  ap- 
parelho  que  lhe  dava  resistência  e  solidez,  e  fica  bem  mais 
arriscada  a  soíTrer  com  o  vento  e  com  o  tempo.  Nem  todas 
as  essências  apresentam  com  a  mesma  facilidade  o  tronco 
ôco ;  é  menos  frequente  encontrar  os  pinheiros  n'esse  es- 


125 

tado  do  que  os  castanheiros,  os  ulmeiros,  os  salgueiros, 
€tc. 

Na  arvore  que  envelhece  os  ramos,  cada  vez  mais  gros- 
sos, mais  afastados  do  tronco  e  mais  pesados,  formam  ân- 
gulos mais  abertos,  obedecendo  á  força  da  gravidade,  que 
actaa  sempre  crescente.  Se  o  vento  derruba  alguns  d'elles, 
a  parte  morta  do  lenho  assim  desnudada  e  rugosa,  exposta 
livremente  a  todas  as  acções  atmosphericas  ainda  mais  de- 
pressa é  decomposta.  As  feridas,  a  quebra  dos  ramos,  tudo 
quanto  descobrir  os  tecidos  mortos  internos,  e  provocar 
aqoella  mina,  é  tanto  mais  prejudicial  quanto  maior  a  su- 
perficie  desnudada,  quanto  mais  rugosa  esta  superíicie, 
quanto  mais  velha  a  arvore,  e  menos  apertados  e  lenhifei- 
tos  os  seus  tecidos. 

Na  vida  das  arvores  podem  geralmente  notar-se  os  se- 
guintes períodos  bem  accentuados: 

No  primeiro  período — einquanto  é  nova — tende  a  des- 
envolver o  tronco  em  altura;  produz  um  rebento  termi- 
nal forte  e  pronunciado;  cobre-se  de  folhagem  numerosa, 
cheia  de  viço;  tem  a  casca  lisa,  unida,  sa,  e  os  rebentos 
laleraes  flexíveis  e  levantados  para  o  tronco. 

No  segundo  período — da  maturação — a t tinge  o  máximo 
crescimento  em  altura,  e  flca  estacionaria ;  apresenta  flecha 
menos  saliente,  e  os  ramos  lateraes  desenvolvidos  em  r^ela- 
ção  a  ella,  o  que  toma  a  copa  arredondada ;  tem  a  casca 
ainda  sS,  mas  rugosa. 

No  terceiro  período — da  decrepitude — as  folhas  do  cimo 
começam  a  amarellecer,  no  outono,  e  a  cair  primeiro  que 
as  dos  ramos;  a  arvore  tem  jà  alguns  ramos  seccos  na 
parte  superíor,  onde  a  seiva  diflBcilmente  chega;  os  seus 
botões  são  menos  vigorosos,  e  originam  rebentos  annuaes 
curtos  e  fracos ;  é  cada  vez  mais  aberto  o  angulo  formado 
pelos  ramos  com  o  tronco;  a  casca  está  fendida  profunda- 
niênte;  encontram-se  com  abundância  os  lichens  e  cogu- 
melos. 


126 

N'este  ultimo  estado,  ainda  que  o  tronco  esteja  são,  a 
morta  avizinha-se;  as  aguas  da  chuva,  retidas  pelas  aspe- 
rezas da  casca,  e  pelos  fragmentos  dos  ramos  já  mortos, 
iníiitrajli-se,  occasionando  na  madeira  primeiro  manchas 
escuras,  e  depois  a  decomposição  lenta,  a  partir  das  ca- 
madas mais  internas.  A  vida  continua  ainda  nas  camadas 
superficiaes,  e  pode  prdongar-se  por  algum  tempo,  se  as 
aguas  da  chuva  teem  saida  por  algumas  fendas  na  base  do 
tronco  oco,  aliás  a  corrupção  propaga-se,  desorganisam-se 
os  tecidos,  os  ramos  caem  successivamente,  e  por  fim  cae  o 
próprio  tronco.  O  individuo  vegetal  morre  então,  a  não  ser 
que  appareçam  botões  adventicios  sobre  as  raizes  ainda  vi- 
vas, ou  sobre  os  fragmentos  do  tronco  existentes  ainda 
de  pé. 


6. «—A  FLOR,  E  OS  PHENOMENOS  DA  REPRODUCÇAG 

Temos  considerado  até  aqui  os  órgãos  e  funcções  que  uni- 
camente dizem  respeito  á  conservação  e  desenvolvimento 
das  arvores — á  sua  vida  individual ;  mas  outros  órgão  e  func- 
ções existem,  não  menos  importantes»  que  asseguram  a 
continuação  da  espécie.  Esses  órgãos  e  íuncções  denomi- 
nam-se  de  reproducção. 

Floração. — Quando  as  plantas  lenhosas  chegam  a  deter- 
minadas edades,  variáveis  com  as  essências  e  com  as  con- 
dições locaes,  alguns  eixos,  ou  porções  de  eixos,  ainda  rudi- 
mentares, difierenciam-se  com  as  folhas  correspondentes, 
que  se  transformam  em  flores.  As  flores  são  essencialmente 
constituidas  pelos  órgãos  da  reprodução  vegetal,  ás  vezes 
protegidos  por  invólucros  de  folhas  mais  ou  menos  modi- 
ficadas. 

As  arvores  provenientes  de  estaca  ou  de  rebentões  de 
touca  entram  mais  novas  em  floração,  em  egualdade  de 


127 

circumstancías,  do  que  as  arvores  originadas  directamente 
pelas  sementes.  As  arvores  isoladas  florescem  uns  poucos 
de  annos  mais  cedo  que  em  massiço  apertado.  Nos  ter- 
renos pobres  a  floração  é  mais  tardia;  o  mesmo  acontece 
nos  climas  ásperos  ou  pouco  propícios,  e  n'este  caso  pode 
até  acontecer  que  a  arvore  viva,  mas  sem  poder  nunca  for- 
mar as  flores.  Um  excesso  de  vigor,  uma  grande  fertilidade 
do  solo,  pode  retardar  também  a  época  da  floração,  esti- 
mulando o  desenvolvimento  das  folhas  normaes  e  não  lhes 
consentindo  que  se  modifiquem. 

Independentemente  d'estas  e  muitas  outras  causas  acci- 
dentaes,  a  edade  da  floração  depende  muito  da  essência: 
assim  o  roble,  por  exemplo,  floresce  em  uma  edade  bem 
mais  adiantada  que  o  pinheiro  bravo.  Em  regra  geral  as 
anores  que  teem  crescimento  rápido  nos  primeiros  annos 
(pinheiros,  choupos,  vidoeiro,  etc),  mais  cedo  florescem,  e 
mais  cedo  também  entram  em  decrepitude,  emquanto,  pelo 
inverso,  as  que  se  desenvolvem  de  vagar  (carvalhos,  etc.) 
entram  tarde  em  floração  e  vivem  muito  mais  tempo. 

Umas  essências  produzem  botões  florões  simples:  isto  é, 
botões  d'onde  só  se  desenvolvem  eixos  com  flores,  taes  são 
os  choupos,  os  salgueiros,  o  ulmeiro,  o  amieiro,  etc. ;  outras 
produzem  botões  mixtos,  d'onde  se  originam  rebentos  com 
folhas  e  flores,  como  a  videira,  os  carvalhos,  etc.  É  claro 
qne  no  primeiro  caso  os  eixos  floriferos  estão  implantados 
no  raminho  lenhoso,  e  no  segundo  caso  no  rebento  her- 
báceo. 

Os  botões  florões  podem  ser  terminaes  ou  lateraes;  ou 
mesmo  a  inflorescencia  pode  ser  originada  em  botões  adven- 
tícios, apparecendo  então  situada  nos  ramos  grossos  e  mais 
velhos,  como  é  frequente  na  alfarrobeira  e  na  olaya. 

A  pereira  e  a  maceira  apresentam  os  botões  floriferos 
coBocados  sobre  ramos  muito  curtos  e  grossos,  que  teem 
M  desenvolvimento  especial  (fig.  60).  No  pinheiro  bravo  é 
frequente  transformarem-se  os  botões  lateraes,  que  deviam 


128 

orígÍDar  as  Tolhas  geminadas^  em  inãorescencias  femininas, 
e  ao  diaate  em  pinhas,  agglomeradas  em  grande  numero 
(40,  e  mais),  que  todas  se  criam  e  completam  tanto  qaanto 
o  espaço  lh'o  permitte. 

Em  algumas  essências  de  folhas  caducas 
as  flores  apparecem  antes  das  folhas,  e 
esta  floração  diz-se  precoce  (ulmeiro,  frei- 
xo, olaya,  choupos,  amendoeira,  muitos 
salgueiros,  etc);  n'outras,  as  flores  e  as 
folhas  apresentam-se  ao  mesmo  tempo,  e 
a  floração  diz-se  coetânea,  ou  simultânea 
(lodao  bastado,  bordo,  etc);  n'outras,final- 
Kg.  60.  Ramo  de    mente,  as  flores  só  apparecem  depois  de 
pereira  (  ym    ggj^gg  gg  fojjjas  (castanheiro,  carvalbos, 
botões  floriíeros.    acacia  bastarda,  sabugueiro,  etc),  e  a 
(1 : 1).  floração  denomina-se  tardia. 

A  época  annual  da  floração  depende  muito  do  clima,  das 
condições  locaes,  como  adiante  diremos,  mas, depende  lam- 
bem muito  da  organisação  especifica.  O  maior  numero  das 
nossas  plantas  lenhosas  florescem  no  fim  do  inverno,  princi- 
pio da  primavera:  em  alguns  pontos  dopaiz,  nos  últimos  dias 
de  dezembro,  já  o  freixo  tem  flor;  em  fevereiro  e  março  estão 
em  plena  floração  os  salgueiros,  os  choupos,  o  ulmeiro,  a 
amendoeira,  os  pinheiros,  etc. ;  no  emtanto  algumas  espécies 
só  florescem  mais  tarde,  no  estio  (murta,  romeira,  etc).  ou 
mesmo  no  outono  (alfarrobeira,  hera,  etc). 

Apresentamos,  a  este  propósito,  os  seguintes  dados  nn- 
mericos  respectivos  ao  nosso  paiz': 


1  EsleB  dados,  bem  como  os  seguintes,  que  diiem  respeito  i  fnictifi- 

cação,  foram  colhidos  pelos  mesmos  observadores  anteriormenle  citados 
a  propósito  das  épocas  da  folheado  e  da  queda  dag  folhas. 


129 


m 


israoxs 

UfMl 

MAUgnA 
flnAKDB 

(1885) 

kmltefobto  (QuertusfidwieuUtã,  Ehrh.) 
NinWio  da  ladU  (^ttcvifu  Hifpo-eõtiã' 
pai,!.) 

30  março  83 

15  fey.*  83 

30  abril  83 

16  abril  83 

U  abril  83 
18  março  83 
10  abril  83 

28  abril  83 

23  abril  83 

10  março  85 

29  des.o  85 
10  março  >85 

iS  fêv.«  85 
10  março  85 
15  março  85 

26  foT.o  85 

— 

|lKiio(fiMiataAa,L.) 

piDein  (CffWiu  Avellana.  L.) 

— 

Miin  (Pnma  tvium,  L.) 

PriMdra  brara,  {Prunut  Sfinosa,  L.)  •  ■  • 
Hen  (Premu  (krasus,  L.) 

— 

jHRfav  dot  damnadoc  {Prunta  PaduSf  L.) 
pcirt  (fVrw  coimmiRM.  Ij.) 

— 

P*»  (ftw  Jfalitt.  L.) 

Ihi  (SjiríRM  ra/Mrú.  L.) 

mtbo  {Crútoegus  Ox^aeantka,  L.) 

W  bttUrdo  (Laòvmttm  vulgare.  Orla.) 
P»dtIrB  (Cyíania  mlgaris,  Pert.)-  • .  *. . 
MHiro  (Sm^iiou  itiora.  L.) 

— 

(■Bi^Mn  (fintei  idaeus,  L.) 

PPlBliA  legitimo  (Cormu  <an^'fifa,  L.) 

N^o  (Líftisfnm  vulgare,  L.)* 

^WrtOilifwiiiAra.I..) 

— 

M«  biiurda  (BoMma  P«««ío-««ía,  L.) 

P»  (Ftixírki  augustifòlia,  Yahl.) 

pwí»bra«a(lí«ntfaí6a,L.) 

H">  (Í^«M  <Wiws/ris.  L.) 

— 

pB»  biêtordo  (Ceííii  austraUs,  L.) 

W»{Cltretj  Stliciuulnim,  L.) 

• 

^**o  4'Alepo  (Pínw  ika/ij>en5ti,  MIIl.). 
n*>e(n  íPnulus  niara,  L.l 

fCT.' 

""I^  >Ma(B«s   (Qmkm  buifanica, 
1«.^ 

maio 

^*«N  brtTO  (PÍRKJ  PtfldiííT,  Ait.) 

P<^MBM(PÍIMSlh'flM.L.) 

março 
abril 

N»(MjrÍM  F(i|o,  Alt.) 

P"^**»  (CostonM  vu/^orif,  Lam.) 

P*kAt)(ir6ii(M  Un<tfo,L.) 

maio 

maio 

agoito 

ÉPOCA  DA  ABERTURA  DAS 
PRDtfEIRAS  FLORES 


COnBKA 


(1888) 


«abril 


5  março 
15  fev.» 
It  março 
7abrU 
i  março 
10  abril 
3abrU 
18  março 

83  fOT.» 
26  fer.» 
8  maio 
U  abril 
12  maio 
10  maio 


(1884) 


26  março 


15  março 
1  março 

25  março 
25  março 
20  março 
30  março 
8  março 
17  março 

20  março 
25  março 

16  maio 
12  abril 
18  abril 
10  maio 


POETO 

(1888) 


28  março 

1»  abril 
16  abril 

6  fíT.* 

30  março 

26feT. 

10  março 

6  março 

30  abrU 

25  maio 

20  março 

4  maio 

1  março 

12  março 

10  maio 

18  maio 

8  maio 

9  maio 


CS. 


i30 

A  sitaaçSo  das  flores,  terminal  ou  lateral,  e  a  época  do 
seu  apparecimento,  anterior  ou  posterior  i  folheaç5o,  são 
reguladas  pelo  diverso  grau  de  luz  que  necessitam;  pela 
acção  destructiva,  maior  ou  menor,  que  sobre  os  seus  ór- 
gãos mais  ou  menos  delicados  podem  exercer  os  phenome-' 
nos  atmosphericos ;  pela  sombra  e  abrigo,  benéfico  ou  mal- 
fazejo  conforme  os  casos,  que  a  folhagem  lhes  dá;  pelo 
processo  de  pollinisação,  que  pode  exigir,  ou  não,  grande 
renovação  de  ar,  etc.  Por  outra,  a  época  da  florescência  e  a 
situação  das  flores  dimanam  como  consequências  da  organi- 
sacão  especifica  da  arvore. 

Partes  componentes  da  flor. — O  eixo,  ou  a  porção  do 
eixo,  cujas  folhas  se  differenciam  nos  órgãos  da  reproducção 
vegetal  e  nas  peças  que  lhes  são  accessorias,  denomina- 
se  pedúnculo.  Quando  o  eixo  é  ramificado,  reserva-se  pro- 
priamente o  nome  de  pedanctdo  para  o  eixo  principal,  e 
dá-se  o  nome  de  pedicelbs  ás  ramificações  secundarias,  que 
§upportam  as  flores.  A  parte  superior  do  pedúnculo,  ou  dos 
pedicellos,  onde  está  inserida  a  flor  tem  disposições  variadas 
— torna-se  espherica,  ou  achatada,  ou  escava-se  em  uma, 
ou  alonga-se  em  cone,  etc. — e  chama-se  receptáculo. 

De  ordinário,  as  folhas  na  proximidade  das  flores  sofiBrem 
transformações,  que  são  verdadeiros  termos  de  passagem 
da  sua  forma  vulgar  para  a  modificação  mais  profunda,  que 
revestem  na  flor;  estas  folhas  rudimentares,  ou  incompleta- 
mente differenciadas,  que  se  encontram  nos  pedúnculos  de 
muitas  flores,  denominam-se  bracteas;  as  bracteas  de  se- 
gunda ordem,  ou^e  segunda  grandeza,  cbamam-se  bracteo- 
las.  As  flores  de  muitos  tojos,  por  exemplo,  apresentam 
uma  bractea  próximo  á  base  do  pedúnculo  (fig.  61,  a),  e 
duas  bracteolas  no  cimo,  junto  ao  cálice  (fig.  61,  b).  As  bra- 
cteas, muito  numerosas  ás  vezes,  chegam  a  constituir  gran- 
des invólucros  ás  flores,  como  nos  carvalhos  (género  Quer- 
cus),  cuja  inflorescencia  feminina  se  reduz  a  um  eixo  muito 
pouco  desenvolvido  terminado  por  uma  flor,  rodeada  de  bra- 


131 


cleas  estéreis  (sem  flores  na  axilla)  (fig.  62) ;  estas  bracteas 


Fig.  61.  Cálice  do  tojo  ( Ulex  euro- 
paeus,  L ).  Na  base  do  pedan- 
culo  existe  uma  bractea  (a),  e 
no  cimo  duas  bracteolas  late- 
nes  (b).  (1 : 1). 


Fig.  62.  Inflorescencia  feminina 
da  azinheira  (Qumrcus  iZev,  L.) : 
uma  flor  fértil  rodeada  por  bra  - 
cteas  estéreis  (proximamente 
3 :  !)• 


é  qae  ao  depois  constituem  a  cúpula,  onde  o  fracto  se  acha 
mais  ou  menos  incluido. 

Em  muitas  espécies  lenhosas  in- 
digenas,  em  todas  as  nossas  es- 
sências florestaes»  as  flores  são 
pequenas  e  nao  teem  a  belleza 
cajá  idéa  vulgarmente  se  liga  a 
esta  palavra.  Algumas  d'ellas  são 
nuas,  isto  é>  apenas  formadas  pelos 
órgãos  de  reproducção,  sem  terem 
inyolucros  protectores  (freixo,  pi- 
nheiros, teixo,  salgueiros,  etc.) 
(fig.  63);  n'outras  existe  um  só 
tf  estes  invólucros,  que  se  denomina  então  particularmente 
periantho  ou  perigoneo  (carvalho,  castanheiro,  alfarrobeira, 
olmeiro,  lodão  bastardo,  etc.)  (figs.  64^  66);  n'outras,  de 
todas  as  mais  completas,  existem  dois  invólucros  floraes, 
dos  qpiaes  o  mais  externo  (flg.  65,  a)  se  chama  cálice,  e  o 
mais  interno  (fig.  65,  b)  coroUa  (acácia  bastarda,  alfenheíro^ 
madresilva,  murta,  etc.) 

Os  órgãos  masculinos  da  fecundação  denominam-se  esta- 
nei,  e  os  órgãos  femininos  pistUlos.  Os  dois  sexos  estão 
ranidos,  muitas  vezes,  na  mesma  flor  que  se  chama  então 

9* 


Fig.  63.  Flores  nuas:  A,  flor 
feminina  do  salgueiro  preto 
(Salix  atro-^inêrea,  Brot) 
inserida  na  base  de  uma  bra- 
ctea (2:1).B :  flormasculina 
do  mesmo  salgueiro  (2:1). 
C:  flor  hermapbrodita  do 
freixo  {Fraxinm  angust^ 
fdia,  Vahl.)  (1:1). 


132 

hermaphrodita  (medronheiro,  acácia  bastarda,  freixo,  ulmeiro 

feto.)  (figs.  63  C,  e  64),  mas  em  moitas 
outras,  e  é  o  mais  frequente  nas  essências 
florestaes  indígenas,  os  dois  sexos  estio 
separados  em  flores  diversas  (fig.  63,  A, 
•B.  fig.  66);  n'este  ultimo  caso  dizem-se 
morioicas  as  espécies,  que  teem  na  mesma 
Fig.  64.  Flor  do  arvore  flores  dos  dois  sexos  (carvalho, 
ulmeiro  {Uimiit  castanheiro,  plátano,  vidoeiro,  amieiro, 
com  um  invólucro  pmheiro,  cyprestcs,  figueira,  amoreiras, 
floral  (3:1).  etc);  dioicas  as  que  teem  as  flores  mii- 

sexuaes  separadas  em  arvores  differentes  (choupos,  sal- 
gueiros, alfarrobeira,  teixo,  etc.);  polygatnicas  as  que  teem 


^^ 


Pig.  6S.  Flor  da  morta  (ttyrlut       Fíg.  66.  Flores  da  alfarrobein 
comtnuníi,  L.) :  o.  cálice:  i.  co-  {Ceratonta  Sdiqua,  L.):  A. Pior 

roUa  (!:!)•  femÍDÍna.  B.  Flor  masculina 

(i:i). 

flores  hermapkroãitas  e  unisexuaes,  quer  na  mesma  arvore 
ou  em  arvores  distinctas,  como  acontece  moitas  vezes  no 
ulmeiro,  lodSo  bastardo,  castanheiro  da  índia,  etc. 

laflorescencia. —  A  íw/Iorescencia,  isto  é,  o  arranjo,  a  dis- 
posição das  flores,  varia  muito  nas  nossas  espécies  lenho- 
sas. 

A  inflorescencia  solitária,  aquella  em  que  o  pedúnculo 
permanece  simples,  sem  se  ramificar,  existindo  uma  só  flor 
na  axilla  das  folhas  oa  no  extremo  dos  ramos,  é  pouco  fre- 


r 


133 


qaente ;  o  arando  dà-nos  um  exemplo  de  uma  inflorescetu 
da  solitária  axiUQr. 

Nos  adernos,  na  aroeira,  no  azereiro  dos  damnados,  na 
urze  Yolgar,  na  oliveira,  etc,  as  flores 
disp5em-se  em  cacho — sobre  eixos  secun- 
dários simples,  presos  a  um  eixo  primário 
indeterminado;  n'este  caso  as  flores  in- 
feriores são  as  que  abrem  primeiro.  Na 
aroeira  os  cachos  são  axillares;  na  urze 
Tolgar  terminaes  e  levantados  (fig.  67); 
no  azereiro  dos  damnados  pendentes. 

No  medronheiro,  etc.^  o  cacho  toma-se 
cmpostOy  pela  ramificação  dos  eixos  se- 
cundários. Quer  o  cacho  seja  simples  ou 
composto  quando  tem  a  forma  cónica,  por 
serem  maiores  os  eixos  da  base,  deno- 
mina-se  panicula,  tal  é  a  inflorescencia  da 
pimenteira  bastarda.  Quando  tem  a  forma 
OToide,  por  serem  maiores  os  eixos  intermédios,  toma  o 
nome  de  thyrsoy  como  no  lilaz,  no  castanheiro  da  índia,  no 
smnagre,  etc. 

A  inflorescencia  em  espiga^  isto  é,  estando  as  flores  dis* 
postas  sesseis  sobre  o  eixo  principal,  não  é  vulgar  nas  espe^ 
des  lenhosas  indigenas,  e  apenas  se  encontra  em  algumas 
de  muito  pequeno  porte,  mas  é,  pelo  inverso,  bastante  fre- 
quente a  inflorescencia  em  amentilho — espiga  de  flores  uni- 
sexnaes,  nuas  ou  com  um  só  invólucro  floral,  e  cujo  pe- 
doncolo  é  articulado  na  base.  Os  amentilhos  dos  choupos 
s3o  cylindrícos  e  pendentes  (fig.  68);  os  dos  salgueiros  le- 
vantados, cylindricos  ou  ovóides  (fig.  69);  os  do  plátano 
06bo8os;  os  amentilhos  masculinos  dos  carvalhos  são  cy* 
lindrícos,  interrompidos  e  teem  uma  só  flor  em  cada  escama 
ik>eixo,  os  do  vidoeiro  teem  três,  os  do  castanheiro  sete;  os 
d'esta  ultima  essência  são  levantados,  os  das  anteriores, 
pendentes.  Nos  pinheiros  os  amentilhos  masculinos  são  ovoi- 


Fig.  67.  Cacho  ter- 
minal da  urze  vul- 
gar (CaUuna  mil- 
gari9,  Salisb.) 
(1:1). 


i34 

des  e  remiem-se,  muito  Domerosos,  na  base  do  rebento 
anona]  *.  Os  amentílhos  femininos  do  -amieiro  s3o  molti- 
flores,  alongados,  levantados,  com  as  flores  geminadas  em 


Fig.  68.  Amentilho  muculino  do        Fig.  69.  Amentilho  feminino  do 
ehoapo  branco  ÍPopuivt  aiba,  salgueiro  prelo  {StUix  atrth 

L.)  (l;i).  cinerta,  Brot)  {l:í). 

cada  escama,  e  estas  lenhosas  por  fim;  os  do  vidoeiro  teem 
st  mesma  forma,  com  três  flores  em  cada  escama,  e  as  es- 
camas tomam-se  ao  depois  membraoosas;  as  flores  femi- 
ninas do  castanheiro  estão  cotlocadas,  uma  a  três,  na  base 
dos  amentílhos  masculinos;  a  infloresoeucia  feminina  do& 
carvalhos  e  do  teixo  reduz-se  a  uma  só  flor  fértil,  rodeada 

■  Alguns  anctores  consideram  i»da  um  dos  amentilfaos  mascalinos 
dos  piobeiros  como  una  s4  flor  com  o  eixo  muito  desenvolvido 


i35 

de  bracteas  estéreis.  No  samõco  os  amentiUios  s3o  c<m- 
foMos,  ramiãcados. 


K|.  70.  Inflorescencia  em  corymòo,  da  pereira  [Pyi-ut  communii,  L.)  (1:2). 

Na  pereira,  no  loendro,  no  Pruntts  Mahaleb,  L.,  etc.,  a 
inflorescencia  é  em  corymbo  (Gg.  70);  os  eixos  lateraes, 
partidos  de  diversos  pontos  do  eixo  principal,  elevam  as 
Owes  todas,  proximamente,  á  mesma  altura.  Na  cerejeira, 
DO  loureiro,  na  hera,  etc.,  as  flores  dispõem-se  em  umbelta 
(flg.  71);  os  eiios  secundários  nascem  do  mesmo  ponto 
(ram  da  uwibdlaj.  e  elevam  as  suas  flores  a  circurns- 
treverem  uma  superfície  plaua,  ou  regularmente  convexa. 
Corymbos  e  umb^as  podem  ser  compostos,  pela  ramificação 
dos  eixos  secundários.  O  sanguinho  legitimo  tem  as  flores 
apostas  em  corymbo  composto. 

Na  madomeira,  as  flores,  sesseis  e  inseridas  á  mesma 
altura  no  eixo  desenvolvido  lateralmente,  formam  nm  capi- 
tida.  Este  capitulo  Iraosforma-se  na  figueira;  o  receptáculo 
trauDom,  onde  estSo  inseridas  as  flores,  escava-se  e  apro- 
xima os  bordos  superiores,  deixando  sò  orna  pequena  aber- 
tura temÚDal,  e  ficando  as  flores  encerradas  n'essa  cavidade. 

Quando  a  infl(»'escencia  é  definida  o  eixo  principal  ter- 
mina logo  por  nma  flor,  e  inferiormente  a  ella  se  desen- 
votvem  os  eixos  secundários,  de  ordinário  pouco  numerosos 


136 
e  muito  ramificados;  ao  inverso  das  ioflorescencias  ante- 


Pig.  71.  laflorescencia  em  itmbella,  da  hera  {Bedtra  Hdix,  L.)  (2 : 3). 

ríores  $3o  agora  as  flores  centraes  as  mais  desenTolvidas. 
Esta  disposição  denomÍDa-se  cymâra,  e  encontra-se  typica 
oa  combinada  por  dirersos  modos  em  algmnas  das  nossas 
espécies  lenhosas:  dú  jasmineiro  bravo  as  flores  estão  rea- 
nidas  em  cymeiras  Inpea-as  (com  eixos  bifurcados) ;  no  pírli- 
teiro  em  cymeiras  corymbiformes ;  no  sabugueiro  e  no  Tolbado 
em  cjrmeiras  nmbellirormes  (fíg.  72),  etc. 

É  vulgar,  em  muitas  espécies,  estas  inflwescencias  combi- 
narem-se,  por  diverso  modo,  entre  si :  na  hera  as  umbellas 
floriferas  dispõem-se  em  cachos,  e  egnalmente  em  cachos  se 
agrupam  as  cymeiras  do  rícino;  os  cachos  da  íamarguein 
reunem-se  em  grande  panicula,  etc. 

As  infloresceucias  do  folhado,  do  medronheiro,  do  aitanto, 
do  sabugueiro,  etc.,  s3o  termmaes;  as  do  freixo,  ulmeiro, 
acaúa  bastarda,  sanguiuho  d'agua,  etc.,  são  lateraes.  Ao 


137 

inTerso  dos  botões  folhosos,  os  botões  floriferos  lateraes  ' 


Fig.  72.  Cymeira-umbelliforme  firuclifera  do  folhado  {VSntraum  Tinta, 
L)  (S:3). 

tomeçam  a  abrir,  de  ordinário,  da  base  do  rebento  para  o 
cimo. 

Cálice. — O  cálice  é  o  mais  externo  dos  dois  invólucros 
floraes;  é,  de  ordinário,  a  parte  da  flor  que  mostra  com 
maior  eTidencIa  a  sua  origem  Toliacea;  apresenta-se  moitas 
lezes  de  c(^  verde  e  diz-se  então  herbáceo,  tomando  o  nome 
de  corado,  ou  petaioide,  quando  tem  outra  qualquer  c6r, 
como  na  urze  ordinária,  etc. 

Ag  folhas  modificadas  que  constituem  o  cálice,  ou  sepcUas, 
ficam  em  alguns  casos  separadas,  independentes,  e  o  cálice 
diz-se  dialysepalo,  mas  no  maior  numero  das  nossas  espécies 
lenhosas  são  concrescentes,  ii'uma  extenslo  maior  ou  me- 
oor,  tomando  o  cálice  gamosepaio,  como  na  morta,  no  aze- 
vinho, na  acácia  bastarda,  etc. 

Se  a  coDcrescedcia  das  sepalas  só  tem  logar  na  base  o  cá- 
lice diz-se  partido;  se  tem  logar  até  ao  meio  fendido;  quan- 
do se  realisa  quasi  até  ao  cimo  diz-se  dentado,  se  as  por- 
fies livres  s3o  agadas,  ou  U/fodo  sé  eUas  são  arredonda- 
das. Assim  o  cabce  do  medronheiro  é  qtànquepartiio ;  o 


138 

da  aroeira,  coraalheira  e  sangoiíiho  bastardo  quinquefenh 
dido;  o  do  lilaz,  oliveira  e  alfenheiro  quadridentado ;  o  do 
sabugueiro  e  dp  folhado  quinqudobddo,  etc. 

No  cálice  gamosepalo  denomiua-se  tubo  a  região  em  que 
se  dà  a  concrescencia  das  sepalas ;  limbo  a  parte  livre,  usual- 
mente mais  ou  menos  aberta  para  os  lados ;  garganta  ou 
fauce  a  porçSo  superior  do  tubo,  que  de  ordinário  se  alarga 
pouco  a  pouco,  fazendo  a  transição  para  o  limbo. 

Os  cálices  das  nossas  plantas  lenhosas  teem  formas  muito 
var  iadas :  são  gomilosos  (bojudos  no  meio  e  estreitos  na  ex- 
tremidade) na  pereira,  no  mostageiro,  no  pirliteiro,  etc; 
são  ttéulosos  no  rosmaninho,  na  Calycotome  villosa,  Lk.^ etc; 
são  campanulados  no  resta-boi ;  labiados  nos  tojos,  nos  to- 
milhos, nas  giestas,  etc.  Todas  estas  formas  se  incluem  em 
dois  grupos — regulares  quando  as  sepalas  são  eguaes  e 
symetricamente  dispostas  (flg.  73,  A) ;  irregulares  quando 

as  sepalas  são  differentes  na  con- 
figuração ou  situação  (fig.  73,  B). 
O  numero  das  sepalas  é  muito 
variável  nas  diversas  espécies ;  são 
3  na  camarinheira,  4  nos  ademos, 
Fig.  73.  A,  Cálice  regular  da   5  no  medronheiro,  6  no  berberis, 
murta  fMyrtui  communU,   ^^^  g^j^  numero  nem  sempre  é 

L.J.  B:  Galiee  ureguiardo 

tojo  chamusco  (UUx  ipar^  coustante  na  mesma  espécie;  os 
ttoúiei,  Wbb.)  (1 : 1).  calices  da  tamargueira  ora  apre- 

sentam 4,  ora  5  sepalas ;  as  espécies  do  género  Acer  teem 
usualmente  5,  mas  às  vezes  4  ou  9;  a  flor  masculina  da 
aroeira  tem  5  sepalas,  e  a  flor  feminina  3  ou  4^  etc. 

O  cálice,  que  se  desprende  antes  da  coroUa,  como  nas 
espécies  do  género  Acer,  diz-se  caduco.  De  ordinário  elle 
cae  com  a  corolla.  Quando  se  conserva  até  á  maturação  do 
fructo  diz-se  persistente,  mas  n'este  caso  pode,  como  na 
carqueja,  persistir  secco  e  murcho  (marcescentej ,  ou  desen- 
volver-se  com  o  fructo,  como  nas  Pomaceas  (accrescente). 

Quando  a  flor  tem  ma  só  invólucro  elle  é,  quasi  sm- 


139 

pre,  herbáceo,  yerde,  muito  análogo  no  aspecto  e  na  forma 
ao  cálice.  Tudo  qaanto  dissemos  a  propósito  do  cálice  se 
pode  applicar  a  esse  invólucro  único — periantho  ou  perigo^ 


Condia. — A  coroUa  é  o  mais  interno  dos  dpís  invólucros 
Ikraes ;  as  folhas  modificadas  que  a  constituem  chamam-se 
ftíalasy  e  a  sua  modificação  é,  quasi  sempre,  bastante  maior 
que  a  das  sepalas.  De  ordinário  a  coroUa  é  maior  do  que 
o  cálice,  mais  delicada,  e  tinta  de  diversas  cores ;  raras  ve- 
ns se  apresenta  esverdinhada  (videira,  bordo,  urze  das 
tassooras,  etc.).  As  cores  predominantes  são,  a  amareUa 
(tojos,  giestas,  carquejas,  etc.),  a  branca  (murta,  estevão, 
laranjeira,  etc),  a  vermelha,  rosada  ou  violácea  (roselha 
grande,  tamargueira,  etc.).  A  côr  da  coroila  nem  sempre  é 
«mstante  na  mesma  espécie :  o  tomilho  pelludo,  o  rosma- 
ninho,  a  urze  ordinária  ora  a  apresentam  violácea,  ora 
branca. 

Âs  pétalas  podem,  como  as  sepalas,  unir-se  a  formar  a 
coroUa  gamopetaia  (sabugueiro,  madresilva,  folhado,  etc.), 
00  persistir  livres,  constituindo-a  dialypeiala  (murta,  sil- 
"m,  estevas,  etc.).  A  união  ou  independência  das  pétalas  é 
caracter  muito  constante  nos  diversos  grupos  naturaes  e 
tem,  por  isso,  grande  importância  em  botânica  descriptiva. 

A  concrescencia  das  pétalas  exprime-se,  segundo  a  ex- 
tens3o  em  que  se  realisa,  por  uma  numenclatura  semelhante 
i  qae  representa  a  união  das  sepalas.  Assim  no  alfenheíro, 
nolilaz,  e  na  oliveira  a  coroUa  diz-se  quadripartida ;  na  ma- 
dresilva qumque fendida ;  no  medronheiro  quinquedentada, 
etc.  Quando  a  coroUa  é  gamopetaia  notam-se-lhe,  como  no 
cálice,  as  três  regiões — tubo,  garganta  e  limbo. 

Nas  pétalas  livres  denomina-se  unha  a  parte  estreita  por 
oode  se  faz  a  inserção,  que  corresponde  ao  peciolo  da  folha, 
e  kimina  a  parte  mais  larga  superior. 

A  coroUa  diz-se  tambena,  como  o  cálice,  regular  ou  irre- 
jMtor,  conforme  as  pétalas  são,  ou  não,  eguaes  e  symetri- 


i40 

camenle  dispostas.  São  muito  variadas  as  formas  qae  pode 
apresentar :  no  alfenheíro  é  afurMki 
(fig.  74,  B);  nas  urzes  e  medronheiro 
gomilosa  (fig.  74,  A);  no  arando  qoasi 
gtobosa;  no  loendro  e  jasmineiro  tisal- 
veada  (com  o  tubo  comprido  e  o  limbo 

Fig.  74.  A.  Coroiia  |o-  plano  6  circular);  na  dalcamara  é  ro- 

nulosa  do  medronheiro  jado  (com  O  tubo  Curto  e  o  limbo  di- 
'itc^lMlá^io  ^'dido  em  lacinias  planas  e  abertas); 
«líenheiro  (LigutMtm  ^^^  *stas  fórmas  sao  gamopetalas  e 
mdgare,  L.)  (1 : 1).         regulares. 

Nas  silvas,  na  pereira,  na  maceira,  no  pirliteiro,  etc.,  a 

corolla  dialypetala  é  rosácea,  «mstítuida  por  cinco  pétalas 

eguaes,  quasi  sem  unha.  Nos  tomilhos,  do 

JU ,        rosmaninho,  na  alfazema,  etc.,  a  corolla  ga- 

^ÈêL        mopetala  irregular  é  labiada,  (fig.  75),  e  nos 

^LjJ^      tojos,  carquejas,  giestas,  acácia  bastarda,  etc., 

é  papiUoriacea  (irregiUar,  e  dialypetala  quasi 

Fig.75.Coroi-  sempre)— constituída  por  cinco  pétalas,  das 

la  labiada  do    gyggg  g  superior  se  chama  estandarie,  as  duas 

1  T  'f'^  '  symetricas  lateraes  se  chamam  azas,  e  as  in- 


«Mt   vUÍOtUt, 


feriores,  muitas  vezes  reunidas,  formam  a 


L.)  (2:1).       quilha  ou  navetta  (fig.  76). 


Fig.  7fi.  Corolla  papilionacea  da  giesteira  das  sebu  {Saroíhamnui  gi 
diflorm,  Wbb.).  a,  estandarte :  b,  aias  :  c,  quilha  (1 : 1) 


141 

É  muito  ootavel  a  corolla  dos  eucalyptos:  as  pétalas  sol- 
dain-se  iniciabnente  conslitDiíido  um  operculo,  em  coatiDua< 
Cio  ao  cálice,  qae  protege  os  órgãos  sexuaes  (fig.  77,  A) ; 


Fi|.  77.  A.  Flor  fechada  do  eucalyplo  {Eucatyptut  globulut,  Labill.).  B : 
i  mesma  flor  depois  de  aberia.  C :  o  operculo,  que  representa  mor- 
photagicamente  a  corolla  (1 : 1). 

quando  a  flor  abre,  esse  operculo  cae,  (fig.  77,  C)  e  os  es- 
times e  pistillo  apparecem  a  descoberto  i^flg.  77,  B). 

De  ordinário  a  corolla  cae  no  momento  da  fecundação, 
mas  ãs  vezes  dura  muito  menos  tempo  e  cae  passadas 
poQcas  horas  depois  de  aberta  a  flor :  diz-se  então  caduca 
oa  fuguce,  como  nas  estevas,  na  videira,  onde  as  pétalas 
não  chegam  a  separar-se  no  cimo  e  são  arrancadas  pelo 
esforço  produzido  pelo  crescimento  dos  estames,  etc.  Quan- 
do, pelo  inverso,  a  corolla  persiste  secca,  murcha,  sem  ca- 
hir,  diz-se  marcescente,  como  na  camarinheira,  tamargueira 
ele. 

Em  qaasi  todas  as  flores  das  nossas  espécies  lenhosas  o 


142 

numero  das  pétalas  é  egaal  ao  das  sepalas,  no  emtanto  às 
yezes  é  desegual,  como  em  algamas  Gistineas,  por  exemplo. 

Prefloração  e  estivação. — Denomina-se  prefloração  o  ar- 
ranjo, a  disposição  das  pétalas,  e  esiwação  a  das  sepalas, 
antes  da  flor  abrir.  Os  seus  principaes  typos,  nas  espécies 
lenhosas  indigenas,  são  os  seguintes  : 

O  cálice  e  a  coroUa  do  sumagre,  da  aroeira,  da  cama- 
rinheira,  etc,  teem  a  estivação  e  a  prefloração  imbricativas: 
as  sepalas  tapam-se  successivamente  pelos  bordos,  e  o  mes- 
mo acontece  ás  pétalas.  Nas  Rosáceas  a  prefloração  é  ainda 
imbricativa,  mas  ahi  a  estivação  é  valvtdar:  as  sepalas  to- 
cam-se  pelos  bordos,  sem  se  cobrir;  No  jasmineiro  e  no 
loendro  a  prefloração  é  contorcida,  cada  pétala  tem  um 
bordo  virado  para  o  interior  e  outro  para  o  exterior,  es- 
tando o  primeiro  tapado  por  parte  da  pétala  adjacente,  e  o 
segundo  a  cobrir  parte  da  outra  pétala  próxima.  Nos  tojos, 
giestas,  acácia  bastarda,  e  em  todas  as  Papilionaceas,  a  pre- 
floração é  vexittoTs  o  estandarte  cobre  as  azas,  que  por  sua 
vez  tapam  a  quilha,  cujas  duas  peças  se  applicam  uma  cou- 
tra  a  outra.  Na  olaya,  as  cinco  pétalas  da  corolla  pseudo- 
papilionacea  apresentam  a  prefloração  carinal,  são  as  duas 
pétalas  inferiores,  (as  que  correspondem  á  quilha  das  Papi- 
lionaceas), que  cobrem, -livres,  as  duas  lateraes,  e  estas  a 
pétala  superior. 

Estames. — O  terceiro  verticillo  da  flor  completa  consti- 
tuo a  androcea,  e  é  formado  pelos  estames,  ou  órgãos  mas- 
culinos da  reproducção. 

A  differenciação  dos  estames  é  mais  profunda  ainda  que 
a  das  pétalas :  na  forma  typica,  o  peciolo  da  folha  modificada 
adelgaça-se  e  constituo  o  filete,  o  limbo,  dividido  pela  ner- 
vura média,  forma  o  connectivo,  e  desenvolve  de  cada  lado 
protuberâncias  do  parenchyma  que>  a  principio  cheias  de 
cellulas,  estão  escavadas  na  occasião  da  floração,  e  trans- 
formadas nos  saccos  pollinicos,  ou  loctdos  da  anthera.  O 
limbo  assim  differenciado,  isto  é  o  conjuncto  do  amnedivo 


143 


6  dos  saccas  pdUnicos,  denomina-se  anthera.  No  interior  das 
caWdades  da  anthera  existem  cellulas  isoladas,  com  formas 
gramilosas,  que  n'um  dado  momento  se  escapam  para  o 
exterior  constituindo  o  pollen  ou  pó  fecundante. 

Estas  partes  componentes  do  estame  variam  muito  na 
fórma  e  na  grandeza  relativa.  Nos  carvalhos,  no  castanheiro, 
no  ulmeiro  (fig.  78),  etc.,  os  filetes  sao  compridos  e  os  es- 
tames  salientes^  maiores  que  os  peri- 
goneos;  no  medronheiro,  na  urze  vul- 
gar, no  alfenheiro,  etc,  os  estames 
sio,  pelo  inverso,  menores  do  que  a 
coroHa,  inclusos.  No  loendro,  no  tro- 
insco,  no  aderno,  os  filetes  são  muito 
cortos,  quasi  nuUos.  Estes  filetes  po- 
dem ser  glabros,  como  na  madresilva, 
no  ulmeiro,  etc,  ou  pelludos,  como  no 
medronheiro. 

A  anthera  apresenta  muitas  vezes 
a  fórma  ellipsoidal,  como  no  ulmeiro 
(fig.  78),  mas  ás  vezes  é  apiculada  no 
cimo  (azinheira)  (fig.  79),  cordiforme, 
sagittada,  etc  Em  alguns  casos  pro- 
longasse em  appendices,  como  em 


Fig.  78.  Estames  do  ul- 
meiro fUlmus  campes- 
tris,  L.J.  A,  com  os 
loculos  da  anthera 
ainda  fechados.  B,  com 
a  anthera  já  aberta, 
depois  de  espalhado  o 
pollen  (proximamente 
8:1). 


certas  urzes,  etc  (fig.  80).  A  cõr  da  anthera  n3o  é  menos 


Fig.  79.  Estame  da  azinheira 
(QmmIUx,L.)(S:i). 


Fig.  80.  Estame  com  a  anthera 
appendiculada  e  dehiscente  por 
poros,  da  urze  fEricalusUanica 
Rud.;(8:l.) 


144 

variável  do  que  a  forma :  no  freixo  e  no  ulmeiro  são  ver- 
melho-escuras,  no  mostageiro  brancas,  no  salgueiro  preto 
s3o  amarellas,  etc. 

O  connectivo  umas  vezes  é  muito  reduzido  outras^  pelo 
inverso,  adquire  grande  desenvolvimento.  No  teixo,  no  zim- 
bro e  nos  pinheiros  dilata-se  em  lamina  escamiforme;  no 
alecrim  é  muito  comprido,  e  como  aborta  a  parte  da  anthera 
presa  n'um  dos  seus  extremos,  apresenta-se  com  o  aspecto 
de  um  pequeno  dente  no  dorso  do  filete. 

A  posição  da  anthera,  relativamente  ao  filete  que  a  sup- 
porta,  varia  muito  nas  espécies  lenhosas  indígenas,  e  aposi- 
ção dos  saccos  pollinicos,  em  relação  á  face  do  limbo  onde 
se  formam,  também  não  é  constante;  assim  nos  pinheiros, e 
em  todas  as  Gymnospermas,  pertencem  á  face  inferior,  em- 
quanto  nas  Angiospermas,  podem  pertencer  a  uma  ou  outra, 
ou  promiscuamente  ás  duas  faces.  O  numero  doestes  sac- 
cos pollinicos  também  é  variável  para  cada  espécie. 

Relativamente  ao  pistillo  a  anthera  pode  ser  introrsa,  vol- 
tar-se  para  elle,  como  na  oliveira,  tamargueira,  acácia  bas- 
tarda, camarinheira,  etc,  ou  ser  extrorsa,  virando-lhe  o 
dorso,  como  nos  carvalhos,  ulmeiro,  salgueiros,  choupos, 
vidoeiro. 
No  maior  numero  das  nossas  espécies  lenhosas  a  dehis- 
cencia  dos  loculos  da  anthera  faz-se  por  uma 
fenda  longitudinal  (flg.  78) ;  no  medronheiro, 
nas  urzes  e  no  arando  realisa-se  por  poros 
terminaes  (fig.  80);  no  loureiro  e  no  berberis 
por  válvulas  (flg.  81). 

O  numero  dos  estames  varia  muito  nas  di- 
versas essências :  o  alfenheiro  tem  2,  a  ca- 
Fig.  8i.  Esta-  marinheira  3,  o  buxo  4,  o  folhado  5,  o  berberis 
me  do  lourei-  g^  q  castanheiro  da  índia  geralmente  7,  as 
'^  l^r**7*  j  ^^^es  8,  a  acácia  bastarda  10,  a  murta  um 
dehiscente  i^^^^^o  consideraível  (estames  indefenidosj .  O 
por  válvulas,    numero  dos  estames  nem  sempre  é  constante 


145 


na  mesma  espécie:  assim  o  castanheiro  tem  10  a  12,  a 
nogueira  15  a  36,  o  lom*eiro,  8  a  12,  etc. 

Este  numero  é,  muitas  vezes,  egual  ao  das  divisões  da 
coroUa,  ou  do  perigoneo  (salgueiro,  madresilva,  alfarrobeira, 
Mado,  ulmeiro,  camarinheira,  etc);  outras  vezes  é  apenas 
metade  do  numero  d'essas  divisões  (oliveira,  alfenbeiro, 
aderno,  etc.) ;  ou  é  o  dobro  (olaya,  tojo,  medronheiro,  aran- 
do, urzes,  etc.) ;  finahnente,  n'outras  espécies,  não  existe  re- 
lação simples  entre  o  numero  dos  estames  e  o  das  divisões 
dos  invólucros  floraes :  assim  o  castanheiro  da  índia  tem 
geralmente  7  estames  e  4  a  5  pétalas,  os  bordos  (género 
ktr)  8  estames  e  5  pétalas,  etc. 

Em  quasi  todas  as  espécies  indigenas  lenhosas  os  estames 
são  eguaes :  apresentam-se  deseguaes,  por  exemplo,  no  pi- 
menteiro silvestre,  nos  tomilhos,  etc. 

Quanto  á  sua  situação  relativamente  ás  pétalas,  ou  ás  di- 
Tisões  do  perigoneo,  os  estames  podem  ser  aUemos,  como 
no  azevinho,  camarinheira,  sumagre,  hera,  sabugueiro,  fo- 
lhado (fig.  82),  ou  oppostosy  como  na  videira,  lodao  bas- 
tardo, figueira,  carrasqueiro,  ulmeiro  (flg.  64.),  etc. 

Em  muitas  das  nossas  espécies  lenhosas  os  estames  s3o 
Mes,  independentes  uns  dos  outros  (choupos,  oUveira, 
alfarrobeira^  ulmeiro,  etc.) ;  n'outras  estão  mais  ou  menos 
ligados :  na  tamargueira  os  filetes  soldam-se  um  pouco  na 


Fig.  82.  Flor  do  io- 
Ihado  (Ft&«m«m 
Tiniu,  L.)  com 
os  estames  alter- 
nos com  as  peta- 
bs  (1:1). 

CS. 


Fig.  83.  Estames  mona- 
delphos  de  um  tojo 
(2:1). 


Fig.  84.  Grupo  de 
estames  da  la- 
ranjeira {Ciiru$ 
Aurantiwny  His- 

80).  (1:1). 

10 


146 

base;  nos  tojos  e  giestas  reunom-se  n  um  longo  tubo  (fig. 
83),  e  os  estames  assim  ligados  n'um  só  corpo  dizem-se 
monadelphos;  na  acácia  bastarda  s3o  diaddphos^  reunem-se 
em  dois  grupos  (um  estame  fica  livre  e  nove  adherem  pelos 
filetes) ;  na  laranjeira  são  polyadelphos,  soldam-se  em  muitos 
grupos  (fig.  84). 

Kstillo. — O  pistillo,  ou  órgão  feminino  da  reproducção 
vegetal,  é  constituído  por  uma,  ou  mais  folhas  modificadas, 
que  se  denominam  fdhas  carpdlares,  ou  carpellos. 

O  numero  dos  carpellos,  que  formam  o  pistillo,  varia 
muito:  na  amendoeira,  no  azereiro,  na  acácia  bastarda, 
etc,  é  um  só;  no  vidoeiro,  no  amieiro,  no  loendro,  etc., 
são  dois;  no  sabugueiro,  na  madresilva,  no  buxo,  etc,  são 
três;  na  pereira  e  no  medronheiro  cinco:  na  bella  sombra 
dez  a  doze,  etc. 

Nas  Gymnospermas  (pinheiros,  zimbros,  cyprestes,  teixo) 
as  folhas  carpellares  ficam  abertas,  não  protegem  ou  invol- 
vem  os  óvulos,  que  teem  presos,  e  que  depois  de  fecundados 
se  transformam  nas  sementes.  Nas  Ângiospermas  as  folhas 
carpellares  adquirem  maior  difierenciação,  e  limitam  um 
espaço  fechado,  onde  os  óvulos  ficam  incluídos.  O  limbo  da 
folha  carpellar  denomina-se  ovário;  n'essa  região  se  desen- 
volvem os  óvulos. 

Nas  Ângiospermas  unicarpellares  cada  flor  tem  um  só  ová- 
rio, devido  ao  enrolamento  do  carpello  sobre  si  mesmo;  nas 
Ângiospermas  multicarpellares  podem  dar-se,  a  este  pro- 
pósito, diversos  casos :  umas  vezes  os  carpellos  ficam  inde- 
pendentes e  cada  um  se  enrola  sobre  si,  originando  á  flor 
tantos  ovários  distinctos  quantos  os  carpellos  (géneros  Ck- 
matis.  Rosa,  etc.) ;  outras  vezes  os  carpeUos  adherem  todos, 
mas  cada  um  ainda  circunscreve  um  espaço  fechado,  consti- 
tuindo o  conjuncto  um  ovário  multilocular  (medronheiro, 
rícino,  etc);  outras  vezes,  finalmente,  os  carpellos  não 
se  enrolam,  não  limitam  isoladamente  um  espaço,  mas 
unem-se  pelos  bordos,  formando  um  ovário  uniiocular, 


147 

embora  nmlticarpellar,  como  nos  salgueiros  e  nos  choupos, 
onde  os  dois  carpellos  de  cada  flor  fecham  uma  caTidade 
miica. 

Dlaqui  se  deduz,  que  pelo  numero  dos  loculos  de  um 
oyario  não  se  pode  concluir  o  numero  dos  carpellos  com- 
ponentes ;  e  tanto  mais  que,  ás  vezes,  existem  falsos  desse- 
pimentos  que  tornam  ainda  mais  complicada  aquella  yen- 
ficação:  assim  o  ovário  bicarpellar  do  pimenteiro  silvestre 
tem  o  espaço  circumscripto  por  cada  carpello  sub-dividido 
por  um  falso  dessepimento,  que  o  faz  apparentar  errada- 
mente quadricarpellar.  Passado  um  certo  grau  de  desen- 
Tolvimento  as  causas  d'erro  augmentam  com  as  alterações 
realisadas,  porque  muitas  das  partes  do  ovário  podem  abor- 
tar: nos  carvalhos,  por  exemplo,  dos  seis  óvulos  que  con- 
tem o  ovário  trilocular,  um  só  se  desenvolve  de  ordinário, 
com  o  loculo  correspondente. 

Em  seguida  ao  cwario,  nota-se  um  prolongamento,  devido 
á  especialisação  da  nervura  dorsal  da  folha  modificada,  que 
se  denomma  estylete^  e  que  termina  pelo  estigma^  de  ordi- 
nário mais  engrossado,  e  de  formas  variadíssimas.  Os  car- 
pellos abertos  das  Gymnospermas  não  se  differenciam  nem 
em  estylete  nem  em  &stigma, 

O  ovário  unicarpellar  tem  um  só  estylete ;  o  ovário  pluri- 
carpellar  em  these  geral  deve  ter  tantos  estyletes  quantos 
os  carpellos.  Assim  acontece  às  veses  (camarinheira,  buxo, 
ricino,  etc),  mas  outras  vezes  a  concrescencia  dos  carpellos 
abrange  também  os  estyletes,  n'um  espaço  maior  ou  menor, 
oa  mesmo  em  toda  a  extensão,  formando  elles  um  só  corpo 
flaranjeira,  madresilva,  etc.)  (flg.  85).  N'este  ultimo  caso  a 
G(mcrescencía  pode  respeitar  os  estigmas,  como  nos  carvalhos 
e  castanheiros,  ou  incluíl-os  também  ligando-os  n'um  só. 
Na  madresilva,  por  exemplo,  o  ovário  tricarpellar  apresenta 
mn  estylete  único  e  o  estigma  trilobado,  accusando  uma 
concrescencia  dos  carpellos  que  apenas  respeitou  as  estre- 
midades  dos  três  estigmas. 

10* 


148 


Âs  dimensões  do  estylete  são  muito  variadas :  nas  madre- 
sQyas  é  comprido  e  delgado  (flg.  85,  i);  na  laranjeira  mais 
corto  e  mais  grosso  (ãg.  85,  £);  é  reduzido  nos  carvalhos; 
nuUo,  ou  quasi  nullo,  no  trovisco  (íig.  85,  C),  no  ulmeiro 
(fig.  86),  na  videira,  etc.  Pode  ser  saliente,  maior  do  que  a 


Á 


1 


I 


Fig.  85.  A:  Cálice,  estylete  e  es- 
tigma da  madresilva  das  boti- 
cas (Lonicera  Peridymenum,  L.) 
(1:1).  B:  Cálice,  ovário,  esty- 
lete, e  estigma  da  laranjeira 
(Citrus  AurarUium,  Risso.) 
(1 : 1).  C :  Ovário  e  estigma  sub- 
sessil  do  trovisco  (Daphne  Gni- 
dfiffli,  L.)  (2 : 1). 


Fig.  86.  Ovário  do  ulmeiro  (01- 
mus  camprestrii,  L.)  com  àois 
estigmas  (4 : 1). 


corolla,  ou  incluso,  menor.  N'umas  espécies  é  ôco  (tojo,  acada 
bastarda),  n'outras  permanece  cheio  (silvas,  etc.). 

A  côr  e  a  forma  do  estigma  também  variam  muito.  Apre- 
senta-se  muitas  vezes  coberto  de  pequenos  mamillos,  ou 
de  peUos  glandulosos  (fig.  86),  e  segrega  de  ordinário  um 
liquido  viscoso. 


149 

Os  OYuIos  estão  inseridos  nos  carpellos.  No  maior  na- 
mero  das  nossas  espécies  lenhosas  estão  incluidos  no  ova^ 
rio  e  presos  na  face  anterior  da  folha  carpellar,  nos  bor- 
dos entamecidos,  que  constitiiem  as  placentas.  Nas  Gonife- 
ras  é  na  face  dorsal  do  carpello  que  se  desenvolvem:  ou  na 
base  (cyprestes),  ou  no  meio  (pinheiros),  ou  no  cimo  (arau- 
cária); estes  óvulos,  como  dissemos,  n3o  estão  fechados  em 
ovário,  porque  a  folha  carpellar  persiste  aberta. 

O  numero  dos  óvulos  de  cada  carpello  é  muito  variável: 
pode  ser  um,  como  no  lodSo  bastardo,  dois  como*  no  vi- 
doeiro, ou  muitos,  como  na  alfarrobeira;  podem  mesmo  es- 
tar dispostos  em  mais  de  Tuma  fiada,  como  nos  choupos  e 
salgaeiros. 

Qaando  cada  carpello  se  enrola  a  constituir  um  espaço  fe- 
chado, quer  o  ovário  seja  unicarpellar  ou  pluricarpellar,  se 
os  óvulos  estão  dispostos  nos  bordos  do  carpello,  e  se  as 
doas  placentas  se  reúnem  próximo  do  eixo  do  ovário  como 
acontece  quasi  sempre,  a  placentação  diz-se  aaHl  (tojo,  acá- 
cia bastarda,  azereiro,  buxo,  camarinheira,  etc).  A  placen- 
tação denomina-se  parietal  quando  os  carpellos  abertos  se 
ligam  pelos  bordos  e  os  óvulos  ficam,  por  isso,  inseridos 
próximo  das  paredes  do  ovário  (salgueiros,  choupos,  vi- 
doeiro, amieu^o,  freixo,  estevas,  etc).  A  tamargueira  apre^ 
senta  mu  caso  muito  particular  d'esta  placentação  parietal  : 
tem  os  óvulos  inseridos  na  base  entumecida  dos  carpellos, 
reunidos  ahi  n'uma  proeminência  commum,  que  parece  ser  a 
ctHitinuação  do  pedicello  atravez  o  ovário,  cujas  paredes  late- 
nes  ficam  lizas  e  estéreis ;  esta  placentação  diz-se  basilar. 

Os  óvulos  estão  ligados  ao  carpello  pelo  funictdo;  mor- 
pbologicamente  o  funiculo  é  o  p^ciolo  de  um  segmento,  ou 
foliolo,  da  folha  carpellar,  como  este  segmento,  ou  foliolo, 
é  o  tegumento  do  mesmo  ovulo.  N'umas  espécies  o  funiculo 
é  muito  comprido  (freixo,  etc.),  n'outras  é  quasi  nullo,  oa 
mdlo,  6  o  ovulo  diz-se  sessil  (nogueira,  etc).  O  ponto  onde 
o  funiculo  se  prende  ao  ovulo  chama-se  hilo. 


150 

No  ovulo  completo  ha  a  notar,  como  se  sabe,  o  tegmnento, 
oia  tegumentos,  geralmente  em  forma  de  uma,  abertos  no 
micropylOj  e  na  parte  interna  o  nucdlo,  com  a  disposiçJo 
ovóide  ou  cónica,  preso  pela  base  ao  tegumento  n'um  ponto 
que  se  chama  chalaze. 

Os  óvulos  das  nossas  espécies  florestaes,  uns  teem  um 
só  tegumento  (vidoeiro,  amieiro,  pinheiros,  teixo,  zimbros 
etc.),  outros  dois  (carvalhos,  castanheiro,  ulmeiro,  etc.). 

Quanto  à  posição  dos  óvulos  são  Ires  os  tyipos  a  consi- 
derar. Nos  pinheiros,  zimbros,  teixo,  plátano,  nogueira,  es- 
tevas, etc.,  os  óvulos  são  direitos,  ou  orthotropos,  o  nucello 
é  recto,  o  ovulo  está  no.  prolongamento  do.ftmiculo,  o  mi- 
cropylo  é  opposto  á  chalaze,  que  está  sobreposta  ao  hilo, 
e  apenas  separada  d'e]le  pela  espessura  do  tegumento.  No 
lodão  bastardo,  na  amoreira,  salgadeira,  phytolacca,  etc,  os 
óvulos  são  curvados,  ou  campylotropoSy  o  crescimento  rea- 
Usa^se  com  maior  intensidade  de  um  dos  lados,  o  ovulo  fica, 
por  isso,  arqueado,  e  o  micropylo  approxima-se  do  hilo  e  da 
chalaze.  No  maior  numero  das  espécies  lenhosas  indígenas, 
nos  carvalhos,  castanheiro,  ulmeiro,  vidoeiro,  amieiro,  sal- 
gueiros, choupos,  tamargueira,  loureiro,  sabugueiro,  folhado, 
madresilva,  etc,  os  óvulos  são  reflexos  ou  anatropos,  ficam 
direitos,  mas  rodam  em  volta  do  hilo,  como  sobre  uma  char- 
neira, applicando-se  contra  o  funiculo,  e  adherindo  a  elle 
em  todo  o  comprimento;  o  ponto  onde  então  o  funiculo 
deixa  de  se  unir  ao  ovulo  é  um  hilo  apparente,  e  fica  pró- 
ximo do  micropylo,  mas  o  verdadeiro  ficou  no  seu  logar, 
em  ponto  opposto  ao  micropylo,  e  inferior  á  chalaze ;  a  por- 
ção adherente  do  funiculo  desenha  lateralmente  uma  sa- 
liência, que  se  denomina  raphe. 

A  curvatura  do  ovulo  anatropo  ou  campylotropo,  que  pode 
realisar-se  para  cima,  para  baixo,  para  a  direita  ou  para  a 
esquerda,  é  caracter  muito  constante  para  cada  espécie  e 
até,  ás  vezes,  para  os  géneros  e  famílias  naturaes.  Entre 
estes  três  typos  existem  formas  intermédias. 


151 

A  sitaaçSo  e  oneotação  dos  ovnios  também  variam  muito. 
NMmas  espécies  sò  existem  na  base  do  carpello,  Q'outras 
no  meto,  ou  no  cimo;  mnas  vezes  estão  Uvaviados,  como  na 
tanargueira,  nos  zimbros, nos  cyprestes;  outras  vezes  estSo 
ftedentes,  como  nos  carvalhos,  castanheiro,  amieiro,  etc,  ou 
krisotttaes,  como  na  phytolacca. 

Quando  a  placenta  tem  óvulos  numerosos  pode  variar  a 
ordem  do  desenvolvimento  d'es(es  óvulos;  assim  na  arruda, 
por  exemplo,  a  evolução  começa  pelos  óvulos  da  base,  no 
beiberis  pelos  do  cimo,  e  na  laranjeira  pelos  do  meio,  pro- 
gredindo depois  para  um  e  outro  lado. 

GoDcrescencias  dos  verticillos  íloraes  entre  si.' — Em  algu- 
mas espécies  os  verticillos  floraes^  cálice,  corolla,  estames 
epístillo — permanecem  independentes  (laranjeira,  estevas, 
TÍdelra,  urzes,  medronbeiro,  e(c.)  (ãg.  87),  mas  em  outras 


Rg.  87.  Flor  da  laranjeira  [Citna  Aurantium,  Disso.),  cortada  loagitudi- 
nalmenle  para  deixar  ver  a  inserfSo  independente  da  corolla,  esta- 
mes e  pistillo.  a :  o  ilúco  (1 : 1). 

espécies  contrahem  adherencias  entre  si,  de  modo  que  pare- 
tem  inseridos  uns  sobre  os  outros.  Estas  inserções  appa- 
rentês  s5o  muito  importantes  em  botânica  descriptiva,  por- 
qne  n'ellas  se  baseia,  vistu  a  sua  constância  nos  grupos 
uturaes,  a  distincção  fácil  entre  muitos  d'elles. 

Na  amendoeira,  no  azereiro,  na  ameixoeira,  etc.,  o  cálice, 
a  eorolla  e  os  estames  soldam-se  em  redor  do  pistillo,  que 
pemaoece  livre  (âg.  88);  as  pétalas  e  os  estames  parecem 


£52 

entlo  inseridos  sobre  o  catice,  e  como  taes  se  coasideram 
em  botânica  descríptiva,  chamando-se  ttAo  do  cálice  k  parts 


Pig.  88.  Flor  ik  amendoeira  (Amygddtu  eommwtit,  L.)  cortada  longita- 
dínalmente  para  deixar  ver  a  inser{So  apparente  da  corolla  e  dos  ei- 
tames  sobre  o  cálice  (i-:  1). 

qae  realmente  é  formada  pela  concrescencia  dos  três  verti- 
cillos  exteriores. 

Na  pereira,  no  mostageiro,  no  pirliteiro,  etc,  as  petalis 
e  os  estames  ainda  estão  inseridos  sobre  o  cálice,  em  volti 
do  pistillo,  mas  este  já  não  é  livre  e  adhere  ao  tubo  do 
qnal  se  não  separa  sem  ruptura  {fig.  89).  Na  madresilva, 


Fig.  89.  Flor  da  pereira  (Pj/rui  communú,  L.)  cortada  loagitudinalmente  e 
deixando  ver  a  adherencia  do  cálice,  da  corolla,  dos  estames  e  pistillo. 

(t:l). 

no  sabugueiro,  no  folhado,  etc,  a  corolla  também  está  inse- 
rida sobre  o  cálice,  e  o  ovário  adherente,  mas  os  estames 
soldam-se  ao  tubo  da  corolla  (fig.  90). 


153 


Todas  estas  expressBes,  repetimol-o  outra  vez — pétalas 
taseridas  m  cálice,  estames  imeridos  tM  coroUa,  ovário  adhe- 
mUt  ao  tiAo  do  cálice,  etc. — s3o 
pouco  rigorosas,  mas  s3o  muilo 
empregadas,  como   abreviatnra, 
em  botânica  descriptiva. 

QDaDdo  o  ovário  permanece 
sem  adherencia  dá-se-lbe  o  Dome, 
de  orario  Itere,  e  pelo  inverso  diz- 
se  adlarmte  quando  se  solda  ao 
tubo  coDstituido  pela  miiSo  dos 
Terticillos  exteriores. 

Estas  inserções  apparentes  tem 
umes  especiaes  em  botânica  des- 
aiptira.  Os  estames  e  a  coroUa 
^m-iehypogynicos,  quando  nas- 
cem  inreriores  ao  pistillo,  quando 
se  inq;))anlam  no  receptacnlo  (Qg. 

87);  perigynicos  quando  estão  in-  ^'8-  «>■  P'»'  d"  madresilTi 
seridos  no  caUce.  ou  no  perigo-  '^  boticas  {í*n,«raPm- 
neo,  em  volta  do  pisUUo  (aguras  deixando  ver  os  estames 
88  e  89) ;  epigynieos  quando  são  adliereotes  â  corolla  (1 : 1). 
soperíores  ao  ovário,  parecendo  nascer  da  parte  superior 
d'^e. 

O  eixo  receptacular  dos  verticillos  floraes  tem,  de  ordi- 
nário, pequena  altura :  ás  vezes  dilata-se  n'uma  protube- 
rância anuular  em  volta  do  ovário,  que  se  chama  disco  (hy- 
poj^ynifuj  oude  as  pétalas  e  os  estames  podem  estar  inseri- 
dK (laranjeira,  estevas,  etc.)  (ãg.  87,  a);  outras  vezes  des- 
enrolve-se  entre  os  carpellos  qne  ficam  mais  afastados,  e 
tiHiia  o  nome  de  carpopkoro,  como  nas  silvas,  etc. ;  ou  alon- 
ga-se  entre  os  estames  e  o  pistillo,  apresentando-se  este  pe- 
dicellado,  como  na  alcaparra;  esse  pedicello  denomina-se 
enllo  gynophoro. 

Em  alguns  casos  a  região  sobre  que  se  faz  a  inserçio 


154' 

apparenle  dos  estames  lambem  se  desenvolve  em  engros- 
samentos annolares  a  que,  por  analogia,  se  dá  o  nome  de 
discos y  e  que  se  dizem,  conforme  a  situaç5o,  perigynum  ou 
epigynicos :  assim  os  estames  de  muitas  pomaceas  estão  in- 
seridos em  discos  perigynicos. 

Pollinisação. — ^Aberta  a  anthera,  quer  se  faça  a  dehis- 
cencia  por  fendas,  por  válvulas  ou  por  poros,  os  granules 
de  pollen  escapam-se  para  o  exterior. 

No  maior  numero  das  nossas  espécies  lenhosas  estes  grâ- 
nulos.de  pollen  são  simples,  isto  é,  constituídos  por  uma 
única  cellula;  mas,  nos  cyprestes,  teixo,  etc,  são  formados 
por  duas  cellulas  de  tamanho  desegual,  e  nos  pinheiros  por 
três  cellulas,  também  de  diverso  tamanho. 

Os  grânulos  de  pollen,  depois  de  saldos  da  anthera, 
ficam  livres,  independentes  em  quasi  todas  as  espécies  le- 
nhosas, comtudo  em  algumas  soldam-se  aos  grupos:  assim 
nas  urzes  e  rhododendron  reunem-se  aos  quatro. 

A  cellula  que  constitue  o  granulo  de  pollen  tem,  como 
quasi  todas  as  cellulas  vivas,  uma  parede  membranosa,  um 
protoplasma  e  um  núcleo. 

A  parede  apresenta  de  notável  uma  escuiptura,  mais  ou 
menos  pronunciada,  em  alto  e  baixo  relevo.  As  saliências 
são  pontas^  cristas,  tubérculos,  etc,  ás  vezes  dispostas  em 
malhas  enredadas,  devidas  a  um  espessamento  local  exa- 
gerado para  o  exterior;  estas  saliências  facilitam  o  trans- 
porte do  granulo,  prendendo-o  aos  insectos,  e  dão-lhe,  ao 
depois,  maior  estabilidade  sobre  o  estigma;  os  grânulos  de 
pollen  dos  pinheiros  teem,  de  cada  lado,  uma  empola  cheia 
de  ar,  que  os  toma  mais  leves,  e  auxilia  a  suâ  conducção 
pelo  vento.  Os  accidentes  em  baixo  relevo  são  pontos  in- 
colores, arredondados  (poros),  ou  alongados  (pregas),  me- 
nos espessos  que  o  tecido  em  redor,  em  numero  variável 
nas  diversas  espécies,  mas  constante  em  cada  uma  (três 
nos  carvalhos,  vidoeiro  e  freixo,  cinco  no  uhneiro  e  amieiro 
etc),  repartidos  sem  ordem,  ou  em  posições  determinadas; 


155 

é  por  estes  pontos  menos  espessos,  que  o  granulo  de  pol- 
len  fixa  os  líquidos  exteriòros,  germina  e  se  desenvolve, 
cano  diremos. 

A  côr  amarella  é  a  mais  habitual  do  pollen. 

Para  que  se  dé  a  fecundação,  da  qual  fica  dependente  o 
desenvolvimento  futuro  do  ovulo,  que  o  ha  de  transformar  em 
semente,  e  o  desenvolvimento  do  ovário,  que  o  ha  de  trans- 
formar em  fructo,  tem  o  granulo  de  pollen  de  incidir  sobre 
o  estigma. 

Para  isso^  n'algumas  espécies  lenhosas,  o  berberis  por 
eiemplo,  os  estames  curvam-se  e  collocam  as  antheras  so- 
bre o  estigma  onde  abandonam  o  pollen ;  mas,  no  maior 
mmiero  dos  casos,  os  pistiUos  e  os  estames  d'onde  provém 
o  poUen  que  os  ha  de  fecundar  estão  afastados,  e  as  coi- 
sas passam-se  de  um  modo  menos  directo. 

Ainda  mesmo  quando  as  flores  são  hermaphroditas  acon- 
tece, em  muitas  essências,  que  os  órgãos  sexuaes  nem  sem- 
pre teem  na  mesma  flor  uma  evolução  simultânea ;  n'uns 
casos  desenvolvem-se  primeiro  os  estames,  n'outros  os  pis- 
tiDos,  mas  de  qualquer  das  formas  a  pollinisação  tem  de 
realisar-se  fatalmente  entre  flores  diflerentes.  Quando  as 
espécies  são  monoicas  o  afastamento  entre  os  dois  órgãos 
é  sempre  grande,  e  muito  maior  quando  são  dioicas. 

O  vento  e  os  insectos  são  os  agentes  principaes  do  trans- 
porte do  pollen.  Em  quasi  todas  as  nossas  essências  flores- 
taes  é  o  vento  que  intervém,  e  chega  a  arrastal-o  a  distan- 
cias enormes ;  uma  grande  parte  fica  perdida  no  caminho, 
é  certo,  mas  para  realisar  a  fecundação  basta  que  chegue 
a  cada  pistillo  uma  bem  pequena  quantidade ;  de  resto,  as 
espécies  cujo  pollen  tem  de  ser  transportado  pelo  vento 
prodozem-o  em  maior  abundância  relativa.  Os  estames  de 
dgmnas  essências  apresentam  disposições  particulares,  que 
teilitam  a  acção^  do  vento :  assim  nas  flores  masculinas  da 
amoreira,  e  nas  flores  do  lodão  bastardo,  os  estames  são 
canos  emquanto  a  flor  está  fechada,  mas  quando  ella  abro 


156 

endíreitam-se  de  repente,  como  actuados  por  nma  mola,  e 
arremessam  o  pollen,  com  força,  na  atmospbera. 

N'outras  espécies  são  os  insectos  os  encarregados  doeste 
transporte,  levando  presos  os  grânulos  de  pollen,  ao  entra- 
rem nas  flores,  ou  poisarem  sobre  ellas,  attrahidos  pelas 
exsudações  saccharínas,  que  constituem  os  néctares.  Os  ne- 
etários  encontram-se  em  pontos  muito  diversos  das  flores: 
no  receptáculo^  nas  pétalas,  nas  sepalas,  sobre  os  estames 
ou  sobre  os  carpellos.  Nos  choupos  o  liquido  do  estigma 
contém  assucar  e  aquelle  orgSo  toma-se  um  nectario;  nos 
salgueiros  existem  uma  ou  duas  glândulas  nectariferas,  na 
axilla  das  escamas  floraes,  em  substituição  do  perigoneo. 

Os  grânulos  de  pollen,  quando  encontram  condições  fa- 
voráveis, germinam,  desenvolvem-se ;  o  protoplasma  entu- 
mece, absorvendo  humidade,  e  premindo  a  membrana 
cellular  obriga-a  a  dilatar-se,  passando  por  um  dos  poros, 
ou  fendas,  que  apresenta  a  camada  externa  em  baixo  rele- 
vo^ constituindo-se  d'este  modo  um  tubo  muito  comprido 
e  delgado.  O  tubo  pollinico  é  incomparavehnente  muito 
maior  do  que  o  granulo  d'onde  provém. 

Quando  o  granulo  de  pollen  cae  sobre  o  estigma  de  uma 
.Angiosperma,  quer  tenha  caldo  directamente,  quer  seja 
transportado  pelo  vento,  ou  pelos  insectos,  fica  preso  pe- 
las rugosidades  superficiaes  e  pelo  liquido  viscoso  próprio 
d'aquelle  órgão.  A  cellula  polUnica  respira  como  toda  a  cel- 
lula  viva,  absorve  oxygenio,  emitte  anhydrido  carbónico» 
apodera-se  no  liquido  estigmatico  da  agua  e  dos  elementos 
necessários  para  o  seu  desenvolvimento,  e  germina,  da  for- 
ma que  dissemos. 

O  tubo  pollinico  introduz-se  primeiro  no  estigma  e  de- 
pois no  estylete ;  livremente,  sp  este  órgão  é  ôco,  ou  per- 
furando o  se  é  cheio,  e  para  isso  dissolve  a  cellulose  e  o 
conteúdo  das  cellulas  centraes,  cujas  membranas  são  mol- 
les,  gelifeitas,  apropriando-se  d'estas  substancias.  O  tubo 
pollinico  chega  assim  á  cavidade  do  ovário. 


157 

Nas  Angiospermas,  quer  o  ovulo  seja  direito,  curvado 
oa  reflexo,  o  nuceUo  apresenta  sempre  íio  cimo  uma  cel- 
tola  maior  do  que  todas  as  outras,  dotada  de  protoplasma 
espesso  e  de  núcleo  volumoso — é  o  sacco  embryonario. 
Este  sacco  tem  no  cume  suspensos  três  corpos  protoplas- 
micos  nús;  um  â'elles,  o  que  está  inserido  mais  abaixo» 
é  que  ha  de  receber  o  protoplasma  da  cellula  masculina,  e 
constituir  com  elle  o  ovo — é  a  oosphera. 

Entrado  no  ovário,  o  tubo  pollinico  procura  o  micropylo 
de  um  ovulo,  passa  até  ao  nucello,  e  depois  entre  as  cel- 
lolas  d'elle,  terminando  afinal  o  alongamento  ao  encontrar 
o  sacco  embryonario.  Âs  duas  paredes  cellulares,  a  do  tubo 
pollinico  e  a  do  sacco  embryonario,  soldam-se  intimamente, 
e  a  fecundação  realisa-se  então,  pela  passagem  de  uma 
parte  do  protoplasma  do  granulo  de  pollen,  por  endosmose, 
para  a  oosphera,  passagem  que  se  realisa  por  um  dos  dois 
corpos  protoplasmicos,  que  lhe  estão  superiores,  e  a  que 
já  nos  referimos.  As  duas  massas  protoplasmicas  assim 
unidas  revestem-se  de  uma  membrana  de  cellulose,  e  o 
ovo— a  cellula  primordial  do  novo  individuo — está  con- 
stítuido,  e  fica  suspenso  no  sacco  embryonario. 

Cada  ovulo  precisa,  para  a  sua  fecundação,  um  tubo  pol- 
linico. De  ordinário  o  numero  dos  tubos  poUinicos,  que 
entram  no  ovário,  é  egual,  ou  superior,  ao  numero  dos 
OTulos  existentes. 

O  tempo  decorrido  desde  a  queda  do  pollen  no  estigma  até 
i  fecundação  é  variável,  e  depende  muito  da  organisação  da 
espécie  considerada.  N'umas  essências  (castanheiro,  ulmeiro, 
etc.)  na  occasião  da  queda  do  pollen  o  ovário  e  os  óvulos 
já  estão  formados;  mas  n'outras  essências  (avelleira,  amiei- 
ro, etc.)  n'aquella  época  só  os  estigmas  e  os  estyletes  es- 
tão bem  desenvolvidos,  e  nem  o  ovário  nem  os  óvulos  estão 
ainda  completos ;  a  fecundação  é  mais  demorada  n'este  caso. 

Nas  Gynmospermas,  como  dissemos,  os  óvulos  estão  nús, 
os  carpellos  são  abertos  e  não  existem  estyletes  nem  estí- 


^ 


158 

gma.  O  pollen  cae  directamente  sobre  o  micropylo  dos 
óvulos,  onde  uma  secreção  resinoso-saccharina  o  retém, 
passa  depois  o  canal  micropylar  e  chega  ao  cimo  do  nncello 
onde  germina;  mas  esta  germinação  só  origina,  a  prin- 
cipio, um  tubo  muito' curto  e  fica  suspensa  até  o  ovulo, 
n'essa  época  muito  incompleto  ainda,  acabar  o  seu  desen- 
volvimento. Nas  Coniferas  cujas  sementes  amadurecem  no 
mesmo  cyclo  vegetativo,  como  o  teixo,  esta  interrupção  é 
curta,  apenas  d'algumas  semanas  ou  mezes ;  mas  nas  espé- 
cies que  precisam  dois  annos  para  amadurecer  as  semen- 
tes, como  nos  zimbros,  cyprestes,  pinheiro  bravo,  etc— 
a  interrupção  dura  até  ao  estio  do  segundo  anno. 

Nos  óvulos  das  Gynmospermas,  de  natureza  mais  compli- 
cada, o  sacco  embryonario  enche-se  de  um  grande  numero 
de  cellulas,  que  constituem  o  endosperma.  Algumas  das  cel- 
lulas  superiores  d'este  endosperma  são  maiores  do  que  as 
outras,  compridas,  relativamente  estreitas,  e  separadas  da 
membrana  do  sacco  por  uma  roseta  de  quatro  cellulas  pe- 
quenas. Cada  cellula  maior,  com  a  roseta  correspondente, 
forma  um  corpiisculo. 

Quando  a  germinação  do  granulo  de  pollen  desperta,  de- 
pois da  interrupção  acima  referida,  o  alongamento  do  tubo 
poUinico  continua;  este  tubo  chega  á  membrana  do  sacco 
embryonario,  que  perfura,  penetra  no  endosperma  e,  por 
ultimo,  applica  a  extremidade  de  encontro  ás  rosetas  dos 
corpúsculos. 

Nos  óvulos  d'umas  espécies,  como  do  teixo,  dos  pinheiros, 
etc,  cada  corpúsculo  está  isolado  e,para  ser  fecundado,  ne- 
cessita um  tubo  poUinico,  por  isso  entram  muitos,  ao  mesmo 
tempo,  no  sacco  embryonario;  cada  um  d'elles  dissocia  as 
cellulas  de  uma  roseta  e  penetra  até  á  cellula  maior  do 
corpúsculo,  cuja  protoplasma  inteiro  constituo  a  oosphera. 
Woutras  espécies,  nos  cyprestes  por  exemplo,  um  só  tubo 
poUinico  pode  fecundar  todos  os  corpúsculos,  dispostos  em 
feae,  apertadamente,  ao  lado  uns  dos  outros;  o  tubo  pol- 


159 


liuico  alarga  então  a  sua  extremidade  sobre  todas  as  rosetas 
e  projecta  no  centro  de  cada  uma  d^ellas  um  prolonga- 
mento Corto  e  delgado,  que  penetra  até  á  oosphera. 

Espécie,  variedade  e  variação;  géneros  e  famílias  botâ- 
nicas.— Para  nós,  espécie  é  o  conjuncto  de  indivíduos  mais 
ou  menos  semelhantes,  que  se  podem  reproduzir  illimitada- 
mente  entre  si,  e  cujas  formas  mais  deseguaes  estão  rela- 
cioDadas  por  outras  intermédias,  de  modo  que  todas  se 
podem  suppor  derivados  de  um  só  tronco. 

Os  limites  da  variabilidade  das  formas  especificas  diver- 
gem muito  de  espécie  a  espécie.  Quando  as  dessemelhan- 
ças individuaes  se  transmittem  por  hereditariedade  consti- 
tuem uma  variedade,  quando  se  não  transmittem  formam 
uma  variação. 

É  entre  indivíduos  da  mesma  espécie  que  a  poUinisação 
se  realisa  quasi  constantemente ;  quer  os  estames  e  o  pis- 
tillo  pertençam  á  mesma  flor,  ou  a  flores  diversas;  e  n'este 
caso  a  um  só  ou  a  dois  indivíduos.  Muito  embora  o  vento 
ou  os  insectos,  agentes  inconscientes  da  fecundação  vege- 
tal, tragam  sobre  um  pistillo  o  pollen  de  uma  espécie  dif- 
ferente,  ainda  que  este  pollen  seja  de  uma  espécie  muito 
próxima,  se  concorre  simultaneamente  o  pollen  da  mesma 
espécie,  é  este  ultimo  que  se  desenvolve,  em  regra  geral, 
com  mais  energia,  supplantando  o  primeiro.  D'aqui  a  razão 
da  constância  hereditária  nos  carateres  botânicos. 

No  emtanto,  em  determinadas  circunstancias,  algumas  es- 
pécies próximas  podem  cruzar-se,  produzindo  hyhridos,  isto 
é,  indivíduos  com  caracteres  mais  ou  menos  intermédios. 
Estes  caracteres  produzidos  pela  hybridação  não  teem  fixi- 
dez, são  puramente  accidentaes.  Nem  todas  as  espécies 
apresentam  a  mesma  facilidade  n'esses  crusamentos. 

O  agrupamento  das  espécies  mais  próximas  constituo  o 
V^MTOy  como  a  reunião  dos  géneros  visinhos  constitue  as 
/inmlú».  É  raríssima  a  hybridação  entre  plantas  perteu* 
ceutes  a  dois  géneros  diversos. 


^ 


160 


7.«— o  FRUOTO,  A  SEMENTE, 
£  OS  PHENOMENOS  DA  GERMINAÇlO 


O  desenvolvimento  ulterior  dos  óvulos,  depois  da  fecun- 
dação, constitue  as  sementes;  o  desenvolvimento  ulterior  do 
ovário  ou  ovários  que  limitam  um  espaço  forma  o  pericarpo; 
o  conjuncto  do  pericarpo  com  as  sementes  chama-se  fructo. 
'  Resulta  da  definição  que  as  Gymnospermas,  por  isso  mes- 
mo que  não  teem  ovário  fechado,  não  teem  pericarpo,  nem 
fructo,  na  accepção  botânica  restricta.  No  emtanto^  em  lin- 
guagem vulgar,  a  palavra  fmcto  é  tomada  em  maior  ex- 
tensão, e  applica-se  também,  muitas  vezes,  á  reunião  das 
sementes  com  alguns  dos  seus  invólucros  protectores,  como 
bracteas,  etc;  é  mesmo  frequente  trocarem-se  e  confundi- 
rem-se  as  duas  denominações — fructo  e  semente — como 
adiante  veremos. 

Fractiflcação. — Nem  todas  as  flores  femininas,  ou  herma- 
phroditas,  que  apparecem  sobre  as  arvores,  se  desenvolvem 
em  fructos;  muitas  d'ellas  amesquinham-se,  e  caem,  por 
diversas  causas. 

Umas  vezes  morrem,  não  fecundadas,  por  decifiencia  da 
pollinisação,  e  n'isto  influe  muito  o  estado  atmospberico 
n'essa  época;  a  humidade  grande,  as  chuvas  e  os  nevoeiros 
persistentes,  difficultam  a  fecundação;  muitos  grânulos  de 
poUen  absorvem  agua,  entumecem,  e  ficam  perdidos,  antes 
de  encontrarem  os  estigmas ;  a  disseminação  do  poUen  faz- 
se  mal;  a  agua,  coUando  as  pétalas  e  as  sepalas  sobre  os 
estamos,  cria  novos  obstáculos  á  chegada  do  pó  fecundante 
aos  estigmas.  Outras  vezes,  quando  a  quantidade  dos  fructos 
não  está  em  harmonia  com  o  vigor  da  arvore,  ou  quando 
esta  soffre  qualquer  contratempo,  apenas  um  certo  numero 
de  fructos  se  desenvolve,  á  custa  dos  restantes. 


161 

Em  muitas  espécies  vegetaes  os  annos  de  abundância  de 
fructos  alternam,  em  períodos  mais  ou  menos  regularesi 
com  os  annos  de  escassez;  nos  carvalhos  é  isto  muito  com- 
ffiom.  Esgotada  por  excesso  de  fructiflcaçao  a  arvore  pre- 
dsa  refazer-se  durante  certo  tempo,  armazenar  elementos 
para  a  fructiflcaçao  seguinte. 

É  que  a  fructiflcaçao  representa  sempre  uma  perda  para 
a  arvore;  nos  annos  em  que  ella  é  mais  copiosa  a  camada 
eoDstitoida  no  lenho  é  menor.  Os  princípios  inunediatos 
formados  nas  folhas  (ou,  com  mais  propriedade,  nas  cel- 
lolas  verdes  da  planta),  emigram  em  grande  percentagem 
para  os  firuetos.  É  frequente  nas  espécies  dioicas  encontrar 
IS  camadas  annuaes  do  tronco  mais  desenvolvidas  no  indi- 
^dao  masculino,  cujas  perdas  sao  menores,  do  que  no  indi- 
viduo feminino. 

No  maior  numero  de  casos  a  fructiflcaçSo  realisa-se  no 
mesmo  cjclo  vegetativo  em  que  a  floraçSo  teve  logar,  e  ás 
Fezes  muito  pouco  tempo  depois,  como  no  uhneiro,  nos 
dioupos,  nos  salgueiros,  etc. ;  a  hera  e  a  alfarrobeira,  que 
ílorescem  no  outono,  ou  nos  flns  do  estio,  fructiflcam  no  anno 
seguinte,  na  primavera  ou  no  estio;  mas  ás  vezes  o  inter- 
vallo,  que  separa  a  floração  da  maturação  completa  e  dis- 
seminação das  sementes,  é  mais  considerável:  dois  annos  no 
carrasqueiro,  no  zimbro,  no  cypreste  e  no  pinheiro  bravo; 
Ires  annos  no  pinheiro  manso,  etc.  Eis  as  épocas  da  fructi- 
ficação  de  algumas  espécies  indígenas: 


C  8. 


ii 


162 


ÉPOCA  DOS  PRIMEIROS 

FRUCTOS  MADUROS 

KSPBCIBi 

COIMBRA 

FOBTO 

(188S) 

(1884) 

(1888) 

CasUnheiro  da  índia  {Aeseului  Hippo-easta- 

num,  L.) ,. 

20  setembro 

23Bbtembro 

24   setembro 

Framboeia  (Ruhiu  id(Uití,  Ti.)  .......>.... 

1  de  lanho 

1  de  Junho 

5  de  Jnnho 

Sabaneiro  (Sãmbwut  niúra.  li.) 

1  de  agosto 

10  outubro 

4*de  agosto 

Sangninho  legitimo  (Contui  sanputMa,  L.) 

1  de  agoeto 

2  outubro 

4  setembro 

Alfenheiro  (Ligustrum  vulgare,  li,)' 

28  de  Julho 

25  de  Julho 

11   setembiè 

Tramazeira  {Sorbus  Aueuparia,  L.) 

1  ontabro 

2  de  agosto 

^.v 

Ayelleira  (Corvlus  AvtlUinã,  L.) 



5  de  njarfo 

30  de  Julho 

18  de  Junho 

Cerelelra  (Ptwius  ãviutn,  li.) 

Ameixoeira  brara  (iVimus  spitMia,  L.). . . . 

— 

— 

Ginjeira  (Prwnu  Cerasut,  L.) 

^^ 

14  de  Jooho 

4  de  agosto 

24  de  agosto 

Pereira  (Pvrut  comwunit,  L.) 

Macelra  (Pyrus  Afo/ui,  L.^.... <... 

— 

— 

Vidoeiro  (Befuia  alba,  L.) 



15  de  m&io 

Carvalho  roble  (Quereus  peduneuhta,  Ehrh>) 

— 

— 

12   setembro 

Pirliteiro  {Crataegta  Oxjfocantha,  L.) 

— 

— 

24  de  Julho 

Marmeleiro  {Cydonia  vulgaris,  Pers.) 

— 

— 

2  setembro 

Videira  ( Vitis  vinifera,  L.) 

— 

— 

12    setembro 

Composição  do  perícarpo. — O  pericarpo  reproduz  a  orga- 
nisação  do  ovário  d'onde  deriva;  no  emtanto  esta  correspon- 
dência nem  sempre  é  rigorosa.  Poucas  vezes,  nas  espécies 
lenhosas  indigenas,  o  pericarpo  é  de  constituição  mais  com- 
plexa que  o  ovário ;  acontece  isso,  por  exemplo,  no  género 
Coronilla,  cujo  ovário  tem  um  só  carpello,  e  cujo  pericarpo  é 
uma  vagem  com  o  tecido  apertado  nos  espaços  vasios  entre 
as  sementes,  e  quebradiça  n'esses  pontos,  apparentando  ser 
plurilocular.  Mais  vulgarmente  algumas  das  partes  do  ová- 
rio não  acompanham  o  progressivo  desenvolvimento  d'esto 
órgão,  e  o  pericarpo  apresenta-se  mais  simples  que  o  ova- 


163 

rio  d'onde  proveio :  assim  o  ovário  do  amieiro  e  o  do  vi- 
doeiro são  biloculares,  o  dos  carvalhos  trilocular,  o  do  cas- 
tanheiro sexiocular,  e  os  pèricarpos  de  todas  estas  essên- 
cias são,  por  aborto,  quasi  sempre  uniloculares. 

O  desenvolvimento  dos  fructos  modifica  muito  as  dimen- 
sões e  a  contextura  do  ovário.  Umas  vezes  as  cellulas 
multiplicam-se  muito  e  crescem,  conservando  as  paredes 
delgadas,  ao  mesmo  tempo  que  os  feixes  fibro-vasculares 
se  tornam  simples  filamentos,  sem  consistência,  perdidos 
n'aquella  massa  carnosa;  a  côr  verde  primordial  é  substi- 
toida  por  outras ;  o  amido,  o  tannino  e  os  ácidos  orgânicos 
diminuem  progressivamente;  apparece  a  glucose,  uma  parte 
da  qnal  se  desdobra  em  álcool  e  anhydrido  carbónico,  e  esse 
álcool  unido  aos  ácidos  orgânicos  constituo  os  etheres  com- 
postos a  que  é  devido  o  perfume,  a  fragrância  de  certos 
froctos  maduros.  A  esse  período  segue-se  outro  de  mais 
profunda  modificação;  o  fructo  primeiro  diz-se  sorvado  e 
depois  apodrecido,  e  o  pericarpo  seivoso  destroe-se,  pondo 
em  liberdade  as  sementes.  Estes  fructos  dizem-se  carnudos, 
taes  são  os  do  medronheiro,  do  sabugueiro,  da  pereira,  da 
ameixoeira,  etc. 

N'outras  espécies  os  pèricarpos,  de  ordinário  menos  de- 
sen?olvidos,  são  lenhosos  ou  coriaceos;  o  sueco  cellular 
desapparece  quasi.  As  cellulas  componentes  d'estes  pèri- 
carpos morrem  cedo,  esvaziam-se,  enchem-se  de  ar,  e  con- 
servam-se  por  muito  mais  tempo.  Estes  fructos  dizem-se  sec- 
cos,  taes  são  os  do  ulmeiro,  freixo,  carvalhos,  castanheiro, 
salgueiros,  choupos,  etc. 

Quer  seja  carnudo  ou  secco^  encontram-se  no  fructo  os 
mesmos  tecidos  que  existiam  no  ovário,  isto  é,  os  tecidos 
próprios  ás  folhas:  a  epiderme  das  duas  paginas  trans- 
íorma-se  externamente  no  epicarpo,  internamente  no  endo- 
tarpo,  e  o  parenchyma  intermédio  no  mesocarpo,  também 
mtermedio. 

O  epicarpo,  o  invólucro  externo,  que  nos  fructos  carnudos 

li« 


164 


coDStitue  a  casca,  é  delgado  sempre,  e  ás  vezes  redaz-se 
a  uma  única  assentada  de  cellulas,  mas  outras  vezes  com- 
prehende  também,  além  da  verdadeira  epiderme»  um  pe- 
queno Dumero  de  camadas  suberosas,  que  a  reforçam. 
N'umas  espedes  é  lizo,  nú  ou  coberto  com  efllorescencias 
cirosas  (videira,  ameixoeira,  etc.);  D'outras,  cheio  de  pellos 
mais  ou  meDos  lanosos  (pecegueiro,  marmeleiro) ;  ou  apre- 
senta-se  vestido  de  saliências  espinliosas  (castanheiro  da  b- 
dia) ;  ou  de  tubérculos  (medronheiro) ;  ou  prolonga-se  em  azas 
membranosas  (ulmeiro,  freiío,  plátano  bastardo,  vidoeiro). 
O  mesocarpo  é  a  região  subjacente  ao  epicarpo,  onde  cor- 
remos feixes  fibro- vasculares ;  constitne,  no  todo  ou  em  parte, 
a  porçSo  comestível  dos  fructos  carnudos.  N'uns  íructos  o  me- 
socarpo persiste  homogéneo,  mas n'outros  differenciase «n 
duas  assentadas,  tomando-se,  muitas  vezes,as  cellulas  da 
mais  interna,  conjunctamente  com  as  do  endocarpo  (a  epi- 
derme interna  do  ovário)  esclarenchymatosas  e  formando  o 
caroço  onde  a  semente  fica  incluída.  No  fnicto  do  pece- 
gueiro a  polpa  comestível  é  fornecida  por  parte  do  mesa 
carpo;  a  parte  restante,  com  o  endocarpo,  forma  o  caroço 
(fig.  91).  No  fructo  da  amendoeu-a  o  invólucro  externo  es- 


Fig,91.CortelongitudinalatraTei       Fig.  92.  Fructo  da  amendoein 


o  fructo  do  pecegueiro  (Pi 
ea  tmlgarit,  Hill.) :  a,  epicarpo : 
b,  parte  comestivel  do  mesocar- 
po :  e,  caroço  (parte  do  meso- 
carpo e  o  endocarpo).  d,  se- 
mente (1 :  S). 


(Ánygdalui  communú,  h.)  co> 
tado  longitudinalmente :  o,  ^i- 
carpo  e  parte  do  mesocarpo:  b, 
parte  do  mesocarpo  e  o  endo- 
carpo: c,  aemente  (1 : 3). 


f 


i65 

Terdmhado  é  composto  pelo  epicarpo  e  parte  do  mesocaipo» 
e  >  casca  dura  interior  é  formada  pela  porção  restante  do 
mesocarpo  e  pelo  eodocarpo  (fig.  92). 

O  eodocarpo  nem  sempre  experimenta  aquella  especiali- 
n^ao,  e  ás  vezes  fica  delgado  e  com  pouca  consistência, 
como  na  pereira,  na  laranjeira,  e  em  geral,  em  todos  os 
Guetos  deDOminados  de  pevides. 

Timaa  de  frnctos.— Os  fractos  qaena  maturaç3o  se  abr^a 
njlnralniente  para  a  saida  das  sementes,  co- 
mo os  dos  salgueiros,  choupos,  urzes,  este- 
ns,  etc.  (fíg.  93),  dizem-se  dekiscmtes;  os 
finctos  que,  pelo  contrario,  permanecem  fe- 
chados constantemente,  como  os  dos  carva- 
lhos, ulmeiro,  videira,  pecegueiro,  etc.  (Gg.  Fig.  93.  Frn- 
W),  chamam-se  indekiscentes.  Um  e  outro  ty-  ^^  dehisceo- 
po  tem  numerosos  representantes  em  a  aos-  ^^'^imL 
ia  flora  lenhosa.  eíiipi<»,L.) 

Ofructo  dos  carvalhos  e  castanheiro  é  um     (i-.i). 
úchenio;  o  seu  perícarpo  indehiscente,  secco,  delgado,  co- 
ríaceo,  monospenno,  está  muito  chegado  á  semente,  mas 
separa-se  d'ella  com  facilidade;  tanto  na  bolota,  como  na 
castanha  este  perícarpo  forma  a  parte  exter- 
na, que,  em  linguagem  vulgar,  se  chama  a 
auca;  nos  carvalhos  o  achento  apresenta-se 
envolTÍdo  na  base  por  uma  cúpula  caracte- 
rística, lenhosa,  constitnida  pela  soldadura 
das  bracteas  estéreis  (Qg.  94) ;  no  castanheiro, 
nm  a  três  fractos  reunem-se  dentro  d'um  in- 
Tcdncro  de  bracteas,  espinhoso,  espheríco, 
fediado,  dehisceote  na  maturação  em  quatro 
Tahnlas  (ouriço).  Na  avelleira  o  firucto  é  ainda 
nm  acheoio;  rodeia-o  ama  cúpula  de  bracteas 
btiaceas.  ús  achenios  do  plátano  slo  muito 
pequenos,  e  reimem-se  em  grandes  agglome- 
ndos  globosos,  pendentes,  onde  entremeam  com  peilos  ri- 


Fi8. 

94.  Fht- 

cto 

e  cúpula 

do 

carvalho 

roble  (Owr- 

nu 

pídwieiK 

late 

.,     EhriL) 

(*: 

1)- 

166 

)s,  amarellados.  Nas  roseiras  os  acheoios  ficam  fecha- 
n'um  invólucro  carnudo,  devido  ao  tnho  formado  petos 
;  verticillos  fioraes  externos  concrescentes  (fig.  95); 


Fig.  95.  Falsos  fnictos  da  roseira  lirava  {Boia  tempervirent,  L.).  A.  Um 
d'estes  falsos  fructos  cortado  longitudinalmente  e  mostrando  os  ache- 
nios  interiores  (quasi  1 : 1). 

Tolgarmente  este  invólucro  é  tomado  pelo  fructo  e  os 
acbenios  interiores  pelas  sementes,  como  também  chamam 
sementes  aos  acbenios  do  plátano  e  fructo  aos  conjimctos 


No  nlmeiro  e  no  freixo  o  achenio  toroa-se  alado,  pela 
e^ansSo  membranosa  do  pericarpo,  e  transforma-se  n'uma 
tomara  (fig.  96).  As  pequenas  samaras  do  vidoeiro  estão 
dispostas  na  axilla  de  escamas  membranosas  devidas  á 
aãherencia  da  bractea-mãe  com  as  bracteolas,  apparentando 
o  todo  uma  pequena  pinha,  que  o  vulgo  considera  como  o 
verdadeiro  fructo.  Nos  bordos  (género  Acer)  o  fructo  é  uma 
àisíanara. 


167 

Nos  salgueiros,  nos  choupos,  nas  urzes,  es- 
leras,  ele.,  os  fructos  seccos,  plnricarpella- 
res,  e  debiscentes  em  válvulas  deDominam-se 
abulas.  A  forma  d'esta  dehísc«ncia  varia:    ' 
issim  no  Cisíus  salviaefolius,  L.,  por  exemplo 
ffig.  97),  a  capsula  divide-se  em  cinco  vaivu- 
las,  mas  a  divisão  faz-se  pela  linha  dorsal  do 
carpello,  no  espaço  médio  entre  dois  desse- 
pímeolos,  de  modo  qne  cada  válvula  arrasta 
adberenlo  no  meio  um  dessepimento^  e  a  de- 
hisceDcia  diz-se  então  loculicida;  a  capsula  do 
Osíus  MonspHiensis,  L.  apresenta  do  cimo  a 
dehiscencia  septifraga:  as  válvulas  separam-   f^í-^- Saras- 
se dos  dessepimentos,  que  ficam  reunidos     /f-a».* 
n'ama  columna  central  (fig.  98);  na  urze  vnl-     angiatiffáia, 
gar  (CoMuna  vulgaris,  Salisb  J  a  capsula  é  se-     Vahi.)  {! ;  l). 
ptiriáfl;  os  dessepimentos  dividem-se  transversalmente  ao 

R(.  97.  Capsula  locnlidda  do  Fig.  98.  Capanla  do  Ciihu  Moi»- 

Ciau  laitiiaefdiut,  L.,  a:  ca-  jMltnuú.L.eom  dehiscencÍBSe- 

pKda  fechada,  b:  capsola  aber-  pti&aga  no  cimo.  b :  a  mesma 

Ia.c:  uma  válvula  vista  de  cortada  transversalmente (2:1). 
perfil  lendo  no  meio  adherente 
nm  deuepimento  (1:1). 

meio.e  os  quatro  carpellbs  separam-se  ^aii 

completos  (Sg.  90).  ilp 

Nas  Papilionaceas  o  fhicto  secco,  de- 

biscente  pela  sutura  ventral  e  linha  dor-  Fij- 99- Capsula  se- 

sal,  em  duas  válvulas,  é  uma  vagem  (fig.  ^'^ícaii^l 

100);  na  alfarrobeira  esta  vagem  é  coria-  ^uigarit,  Saiisb.) 

ceo-polposa  e  indehiscente.  (f:i.) 


i68 

Os  froctos  seccos  unicarpellares  do  toen- 
dro,  do  saiío,  etc.  denomínam-se  foUicu- 
los:  abrem-se  longitadínalmeiíte  só  por 
om  lado — pela  sutura  ventral. 

No  arando,  na  madresilva,  no  sabuguei- 
ro, na  videira,  no  medronheiro,  na  hera, 
etc.,  o  fnicto  indehíscente  com  todo  o  pe- 
ricarpo  carnudo  ou  potposo,  com  o  en- 
docarpo  pouco  consistente,  geralmente 
polyspermo,  é  uma  baga  (8g.  lOle  102). 
O  fructo  das  espécies  do  género  Citrut 
pertence  a  este  mesmo  grupo,  e  tem,  is 
vezes,  o  nome  de  hesperidea;  è  ainda  orna 
baga  cuja  polpa  comestível  é  formada  pe- 
los pellos  carnudos  internos,  volumosos, 
derivados  da  face  dorsal  dos  carpellos. 

Na  cerejeira,  na  ameixoeira,  no  pece- 
gueiro,  na  oliveira  ele.,  o  fructo  indehis- 
cente  é  uma  eb-upa;  a  semente,  de  or- 
dinário uma  sá,  está  envolvida  por  um 
caroço  espesso  e  duro,  formado  pelo  en- 

Rb,  100.  Vaffem  da     .  .      .  ., 

este  dos  ar-  '^*'''^'T>''  ^  P^""'^  ™  mesocarpo;  a  região 
dínsíSnoríiMM  '^^^  externa  do  mesocarpo  torna-se  car- 
jmemm,h.)(l:l).  Duda  (flg.  91).  A  amora  das  silvas  é  um 
conjuncto  de  pequenas  (^pas,  mais  ou  menos  aproxima- 
das. 


Tig.  101.  CortetruiTereal atnTei       Tig.  lOf.  a:  Bag>  de  hen  {Be- 
o  frndo  do  medronheiro  {Ar-  dera  Háim,  L.).  b:  &  mesnu 

itíta  Vtudo,  L.)  (1:1).  eortaditruitTenalmeitte(l:l). 


169 


Fig.  103.  Corte  transversal 
do  firucto  da  maceira  (Pyru$ 
M<dui,L.)(i:'i). 


£Qtre  estes  typos  princípaes  apparecem  ás  vezes  verda- 
deiros termos  de  passagem :  assim  o  fnicto  da  nogueira,  com 
o  mesocarpo  pouco  carnudo,  debiscente,  constitue  uma  cch 
fwla  drupacea;  o  fhicto  do  castanheiro  da  índia,  dehiscente, 
com  as  válvulas  quasí  carnosos, 
forma  uma  capsula  carnuda,  etc. 

Já  dissemos  que  a  palavra  fni- 
Gto,  em  linguagem  vulgar,  tem 
maior  extensão:  abrange  as  pe- 
qaenas  pinhas  do  amieiro  e  do  vi- 
doeiro; nas  roseiras  o  tubo  consti- 
toido  pela  concrescencia  dos  três 
Yerticillos  floraes  externos ;  na  fl- 
gaeira  applica-se  ao  receptáculo 
accrescente,  escavado,  onde,  na 
parte  interna,  estão  inseridos  os  acbenios  (sycone) ;  nas  Po- 
maceas  (pereira,  maceira,  marmeleiro,  etc),  dá-se  este  no- 
me ao  corpo  de  origem  mixta,  cuja  parte  carnuda  externa 
deriva  do  tubo  formado  pelos  três  verticillos  floraes  externos 
coDcrescentes,  e  só  a  parte  interna  é  produzida  pelo  des- 
enYolvimento  ulterior  dos  carpellos  (fig.  103);  no  samóco 
o  fracto  secco,  indehiscente,  monospermo,  fica  incluído  nas 
bracteolas  carnudas,  glandulosas,  accrescentes,  e  o  conjuncto 
Sânelha  uma  drupa;  na  amora  das  amoreiras  os  pequenos 
achemos  de  uma  mesma  espiga,  envolvidos  cada  um  pelo 
perigoneo  accrescente  e  succulento,  constituem  um  falso 
fructo  tuberculoso  (sorose)^  etc. 

É  assim  que,  semelhantemente,  as  pinhas  e  galbulas  das 
Goniferas  se  denominam  fructos,  quando  na  verdade  estas 
essências  só  teem  sementes  e  não  teem  pericarpos,  por  isso 
mesmo  que  as  suas  flores  não  teem  ovários  fechados. 

A  piíúia  dos  pinheiros  é  formada  d'escamas  muito  duras 
e  lenhosas,  imbricadas  sustentando  cada  uma  duas  sementes 
(^.  104);  estas  escamas  afastam-se  umas  das  outras  para  a 
disseminação»  e  não  protegem  com  menos  efficacia  as  sémen- 


170 

tes  do  que  o  faria  um  verdadeiro  perí- 
carpo.  Nos  cyprestes  a  pinha  globosa  od 
'      ovóide,  com  poucas  escamas,  e  estas  mnilo 
largas  na  extremidade,  quasi  com  a  for- 
ma da  cabeça  de  um  prego,  tem  o  nome 
'      de  gaUnãa;  cada  escama  da  galbula  dos 
cyprestes  supporta  muitas  sementes.  O 
falso  fructo  dos  zimbros  é  ainda  uma  gal- 
bula, mas  as  escamas  são  carnudas  e 
adherentes,  dando  ao  conjuncto  o  aspe- 
cto de  uma  baga,  globosa,  ovóide  od  py- 
?'  *inh'  ^d"""*   riforme  (fig.  ÍOS).  No  teixo  a  cúpula  car- 
nheL  manso  {«-    ™^^'  ^^""clha,  que  envolve  a  semente, 
nti(  Pinta.  L.)   *  produãda  por  uma  espans3o  lateral 
(1:1).  do  funicnlo,  é  um  aHUo  (fig.  106). 

Sotffe  alguns  froctos,  ou  em  redor  d'elles,  encontram-se, 


^f 


Fig.  lOS.  Galbula  carnuda  Fig.  106.  Falso  fructo  do  teixo  (Timu 

do  Juttipenu  Oxgetànu,  baceala,  L.};  SPmeale  envolvida  por 

t.  car.  maeroearpa,  um  arillo  carnudo  (1 : 1). 
Sibth.  (1:1). 

muitas  vezes,  algumas  peças  da  flor,  que  se  denominam  per- 
sistentes: assim  o  limbo  do  cálice  persiste  sobre  os  fhictos 
das  Pomaceas;  o  estylete  sobre  os  fructos  da  hera  onde 
se  notam  ainda,  superiormente,  as  cicatrizes  deixadas  pela 
queda  dos  dentes  do  cálice  (fig.  t02);  sobre  o  fructo  da 


r 


171 

groselheira  persiste  o  cálice  secco;  o  cálice  e  a  corolla 
marcescente  encontram-se  em  redor  da  vagem  da  carqueja, 
etc. 

Semente. — O  oto,  depois  da  fecundação,  desenvolve-se  á 
casta  da  planta-mae,  no  sacco  embryonario  onde  foi  produ- 
zido e  onde  fica  suspenso.  As  successivas  partições  d^aquella 
ceDnla  primordial  originam  um  corpo,  mais  ou  menos  dif- 
ferenciado,  que  se  chama  embryao. 

Chegado  ao  seu  desenvolvimento  o  embryao  adquire,  nas 
sementes  das  diversas  espécies,  dimensões  muito  variáveis;' 
nas  espécies  em  que  é  maior,  os  seus  tecidos  soffrem  uma 
especiaUsação,  que  já  lhe  distingue  a  epiderme,  a  casca,  e 
o  cylindro  central,  onde  os  feixes  libero-lenhosos  primários 
apparecem  esboçados  (carvalhos,  nogueira,  etc.) ;  em  muitas 
espécies  estes  tecidos  só  mais  tarde  se  differenciam,  quando 
a  semente  germma. 

Externamente  o  embryao  especialisa-se  n'um  catUictdo, 
n^mna  radiada,  e  n'um  certo  numero  de  folhas  cotykdo- 
nares,  entre  as  quaes  existe  um  cone  vegetativo  nú.  Em 
algumas  espécies  este  cone  vegetativo  cresce,  produz  novas 
folhas  estreitamente  applicadas  umas  contra  as  outras,  e  o 
ttnbryão  possue,  n'este  caso,  um  verdadeiro  botão  terminal, 
que  se  denomina  gemmula  (carvalhos,  amendoeira,  etc). 

Formado  o  ovo,  o  núcleo  e  o  protoplasma  do  sacco  embryo- 
nario dão  origem  a  phenomenos,  que  realisam  a  formaçSo 
de  mn  tecido  especial  chamado  aXbumen,  O  albumen  é  um 
tecido  onde  se  accumula  a  reserva  nutritiva ;  no  seu  pro- 
gressivo desenvolvimento  o  embryao  vae  ali  buscar  os  ele- 
mentos de  que  precisa,  solubilisando,  digirindo  as  membra- 
nas d'aquellas  cellulas  e  os  seus  conteúdos.  O  endosperma, 
qoe  rodeia  o  embryao  das  Gymnospermas,  representa  phy- 
síologicamente  o  mesmo  papel;  é  ainda  um  tecido  cheio  de 
reserva  nutritiva  para  uso  do  embryao. 

Dois  casos  se  pod^n  dar  n'este  desenvolvimento  do  em- 
bry3o :  nas  Gymnospermas  e  em  muitas  Ângiospermas  (frei 


1 


i72 

TU),  olíTeira,  alfenheiro,  folhado,  madresilva,  azevinho,  lodio 

bastardo,  etc.)  o  embryão  nao  consonie 
toda  a  reserva  alimentar,  uma  parte  d'ella 
subsiste  sob  a  forma  de  cellalas  aperta- 
das, sem  meátos,  ricas  em  princípios  im- 
mediatos  amylaceos,  oleosos,  etc,  qae  en- 
Fig.  107.  Corte  lon-  volvem  O  embryao,  relativamente  pequeno 
gitudinai  de  uma  (flg.  107);  em  muitas  outras  Ângiosper- 
semente  de  pi-  mas  (carvalhos,  castanheiro,  salgueiros, 
nheiro  manso  (Pi-  choupos,  ulmeiro,  amendoeira,  nogueira, 
nut   inea,    .).  a .   yj j^^g^p^  amieiro,  etc.)  o  embryao  desen- 

tegumento.  6 :  re-  '  *        ^  ^ 

serva  nutritiva,  c:  volve-se  muito,  sobretudo  as  cotyledones, 
embryao  (i:i).  consome  todo  O  albumeu,  enche  toda  a 
capacidade  do  sacco  embryonarío,  e  nas  cotyledones  volu- 
.  mosas  se  junta  a  reserva  de  principies  immediatos  necessá- 
rios, durante  a  germinação,  ao  desenvolvimento  da  nova 
planta  (flg.  108). 

O  funículo  do  ovulo  cresce  proporcionabnente  durante 
todos  estes  phenomenos,  e  transforma-se  no  funiculo  da 
semente  (fig.  109).  Ás  vezes  o  seu  parenchyma  adquire 
uma  actividade  particular  e  forma,  em  redor  da  semente, 
primeiro  uma  pequena  cúpula,  depois  um  envolucro  com- 
pleto, mas  sem  contrair  adherencia  com  ella;  este  tegu- 
mento accessorio  chama-se  arillo;  no  teixo,  como  dissemos, 
constitue  a  região  carnosa,  vermelha,  externa  (fig.  106). 

A  pequena  excrescência  em  redor  do  mycropylo,  conhe- 
cida com  o  nome  de  carunctdo  (rícino,  etc),  é  devida  á 
actividade  geradora  local  do  parenchyma  do  tegumento  da 
semente. 

O  ovulo,  depois  de  transformado  em  semente,  amadu- 
rece: perde  agua  e  portanto  diminue  em  volume  e  em 
peso,  fica  sem  a  transparência  e  o  brilho  primitivo,  torna- 
se  opaco,  e  com  o  tegumento  diversamente  corado,  segundo 
as  essências.  « 

As  dimens5es  da  semente  em  relação  aos  pericarpos 


r" 


!73 


Taríam  mnito.  Na  bolota  e  na  castanha,  por  exemplo,  os 
pericarpos  s3o  mníto  delgados  e  a  semeaíe  imica  muito 


Hf.  108.  Corte  longitudinal  do       Fig.  109.  Corte  longitudioal  abu- 
Inicto  do'  sobreiro  {Querau  lu-  vez  a  garaara  do  A:eizo  (Fra- 

iir,L.),a:  o  perícarpo,  e  sub-  amju»  anguitifoiia,  Vahh).  a: 

jacrale  o  tegumento  da  sémen-  semeute.  b :  funiculo  (1 : 1). 

tt:h,b:  as  duas  cotilédones 
muilo  desenvolvidas,  e:  o  em- 
.     lirjio(l;l). 

Totomosa;  na  laranja  as  sementes  s3o  pequenas  e  o  perí- 
taipo  desenToIvido,  etc. 

A  disseminação  das  sementes  realisa-se  por  diversos  mo- 
dos :  os  fnictos  carnudos  iodebisceotes  soffrem  a  decompo- 
áção  do  pericarpo;  nos  fnictos  seccos  indehiscentes  o  peri- 
tarpo  acompanha  de  ordinário  a  semente  até  ao  fim,  como 
DOS  catralhos,  castanheiro,  ulmeiro,  freixo,  etc;  quando  os 
fnictos  s3o  dehiscentes  as  sementes  separam-se  pelo  hilo, 
e  os  pericarpos  vasios  persistem,  qnasi  sempre,  um  tempo 
maior  ou  menor  sobre  a  ar\'ore.  As  sementes  dos  pinheiros  e 
dos  cyprestes  libertam-se  de  uma  forma  análoga:  as  pinhas 
dos  primeiros  e  as  galbulas  dos  segundos  afastam  as  es- 


174 

camas  deixando  cair  as  sementes;  estas  pi- 
nhas e  estas  galbulas  ficam  presas  mnilo 
tempo  aos  ramos  que  as  produziram. 
Em  muitas  essências  as  sementes  estão  ar- 
I       madas  de  apparelbos  que  lhes  Tacilitam  o  es- 
palhar-se  em  grandes  áreas,  sob  a  acção  do 
vento.  Assim,  no  pinheiro  bravo  e  no  pinheiro 
d'Alepo  lêem  uma  aza  membranosa,  anatomi- 
camente derivada  da  face  dorsal  do  carpello, 
Vig.  110.  Se-   mas  que  se  une  estreitamente  á  semente  (fig. 
meDte  alada   jjo);  nos  salgueiros  e  nos  choupos  s5o  pro- 
u"  '"'Jr?'"'   vidas  de  muitos  pellos.  Em  muitas  espécies 
Pinaiter    ^^'^^  apparelhos  de  dÍssemÍnaç3o  existem 
Ait)  {1 : 1).     nos  pericarpos,  sobretudo  quando  elles  são 
mouospermos  e  destinados  a  acompanhar  a  semente  mes- 
mo durante  a  germinação,  como  no  freixo,  vidoeiro,  ul- 
meiro, plátano,  ele. 

É  muito  importante  em  cultura  florestal  considerar  a 
grandeza  da  área  de  disseminação  de  cada  essência.  Esta 
área  depende  do  peso  das  sementes  (ou  dos  fructos  se  n5o 
se  dá  a  separação  dos  pericarpos),  bem  como  da  ausência 
ou  presença  dos  apparelhos  que  a  facilitam.  Os  fructos.do 
castanheiro  e  dos  carvalhos,  grandes,  pesados,  sem  appa- 
relho  de  disseminação,  pouco  se  affastam,  na  queda,  da 
arvore-mãe ;  o  mesmo  não  acontece  á  semente  do  pinheiro 
bravo  prolongada  em  expansão  membranosa.    - 

Na  semente  completa  notam-se  duas  partes  distinctas: 
a  parle  externa  (de  composição  mais  ou  menos  complexa), 
semelhante  a  uma  casca,  ficil  de  separar — o  tegumento;  e 
a  parte  interna — a  amêndoa. 

O  tegumento  apresenta-se  liso,  ou  esculpido;  lenhoso, 
membranoso,  papyraeeo,  com  muito  diversas  consistencias. 
De  ordinário  esta  sua  extractura  é  inversa  com  a  do  peri- 
carpo.  Em  algumas  essências  (alfarrobeira,  oUveira,  etc.) 
o  tegumento  é  tSo  resistente,  que  pode  atravessar  o  ap- 


•  i75 

parelho  digestivo  dos  animaes  sem  ser  atacado,  o  que  faci- 
lita a  disseminação  d'estas  sementes. 

A  amêndoa  pode  ser  formada  só  pelo  embrylio,  como 
dissemos  (fig.  408),  ou  pelo  embrySo  e  pela  reserva  nu- 
tritiva— albumen  ou  endospemia  (fig.  107). 

As  cotykdones  s3o  em  numero  variável,  nas  nossas  espé- 
cies lenhosas :  a  palmeira  das  vassouras  tem  uma  só  (mo- 
nocotyledonea) ;  a  maior  parte  das  nossas  essências  flores- 
taes  teem  duas  (freixo,  carvalhos,  castanheiro,  ulmeiro,  sal- 
gueiros, etc.)  (dkotyledoneas) ;  nas  Gymnospermas  este  nu- 
mero é  mais  elevado  e  mais  variável :  os  zimbros  teem  duas, 
osícyprestes  duas  a  três,  o  teixo  seis  a  sete,  o  pinheiro 
bravo  oito,  o  pinheiro  manso  dez  a  doze,  etc.  De  ordinário 
as  cotyledones  são  eguaes,  mas  podem  ser  deseguaes ;  ha- 
bitaahnente  encontram-se  livres,  mas  no  castanheiro  da  ín- 
dia adherem  pelos  bordos  em  contacto. 

O  embryão,  n'umas  espécies,  apresenta-se  recto  (alfarro- 
beira, urzes,  medronheiro,  salgueiros,  choupos,  ulmeiro 
etc.),  n'outras  curvado  (lodao  bastardo,  phytolacca,  muitas 
Papilionaceas,  etc),  ou  contorcido  por  diversos  modos. 

Germinação. — Na  semente  madura  o  embryão  perma- 
nece latente,  inerte,  emquanto  não  concorrem  as  condi- 
ções necessárias  para  a  germinação ;  não  cresce ;  é  msigni- 
ficante  a  troca  de  gazes  entre  a  semente  e  a  atmosphera. 

Nem  todas  as  sementes  caidas  das  arvores  podem  ger- 
minar; algumas  são  chochas,  mal  conformadas.  As  melho- 
res, as  que  originam  indivíduos  mais  robustos,  são  as  das 
arvores  adultas  (nem  muito  novas,  nem  muito  velhas),  e 
qae  teem  vegetado  em  boas  condições.  No  interior  dos  mas- 
siços  apertados  as  sementes  são  de  medíocre  qualidade. 

Embora  as  sementes  sejam  bem  conformadas  a  germi- 
nação não  pode  realisar-se  emquanto  não  estiverem  ma-, 
iwras.  Este  amadurecimento  é  muito  variável  para  as  di- 
versas essências :  assim  emquanto.  as  sementes  do  freixo 
6  do  codeço  germinam  mesmo  incompletas,  quando  ape- 


176  • 

nas  teem.  chegado  a  metade  do  desenvolvimento  normal,  e 
originam  assim  indivíduos  tão  robustos  como  os  que  sSo 
produzidos  pelas  sementes  completas,  pelo  contrario  as  ro- 
seiras, pirliteiro,  pecegueiro,  etc,  nao  germinam  as  suas  se- 
mentes senão  passados  dois  annos,  ainda  que  encontram 
condições  favoráveis.  Habitualmente,  na  época  da  dissemi- 
nação natural  as  sementes  estão  aptas  para  germinar. 

O  poder  germinativo  do  embryão  enfraquece  com  a  eda- 
de  da  semente  e  por  fim  extingue-se.  Esta  edade  limite  va- 
ria de  essência  para  essência,  mas  é  muito  curta  em  quasi 
todas  as  nossas  espécies  florestaes. 

Gollocadas  as  sementes  em  condições  apropriadas,  o  tem- 
po que  dura  a  germinação  depende  do  meio  local,  e  muito 
da  sua  organisação  especifica.  As  sementes  dos  salgueiros 
teem  germinação  tão  prompta,  que  n'um  único  dia  se  pode 
realisar ;  as  dos  choupos  germinam  em  8  a  10  dias ;  as  do 
pinheiro  bravo  em  15 ;  em  contraposição  as  do  zimbro  gas- 
tam, às  vezes,  2  annos,  e  as  do  teixo  3  a  4  annos.  A  natu- 
reza da  reserva  nutritiva,  e  a  maior  ou  menor  consistência 
do  tegumento,  que  diflSculta  mais  ou  menos  a  acção  da  hu- 
midade, teem  nisto  grande  influencia. 

Para  germinar  a  semente  fixa  agua,  entumece,  absorve 
oxygenio,  desprende  anhydrido  carbónico,  aquece,  e  digere, 
solubilisa  as  suas  reservas  nutritivas,  por  meio  de  diasta- 
ses  derivadas  da  modificação  de  alguns  dos  seus  albumi- 
nóides, no  mesmo  acto  da  germinação.  Doesta  forma  os 
amylaceos,  por  hydratação,  transformam-se  em  assucares; 
os  princípios  gordos  saponificam-se ;  os  albuminóides  mu- 
dam-se  em  peptonas ;  e  estas  substancias,  todas  ellas  solú- 
veis, são  utilisadas  pelo  embryão  para  o  desenvolvimento 
dos  seus  primeiros  órgãos,  emquanto  a  nova  planta  não 
pode  contrair  mais  directa  communicação  com  o  meio  ex- 
terior e  viver  à  custa  d*elle. 

A  presença  da  agua  e  do  ar,  que  ha  de  ceder  o  oxyge- 
nio, são  pois  indispensáveis  a  este  phenomeno ;  é  por  falta 


177 

de  ar  que  as  sementes  enterradas  muito  fundas  nSo  ger- 
minam. A  temperatura  também  influe  muito  n'este  acto; 
cada  espécie  vegetal  tem  exigências  particulares  a  este  res- 
peito, como  yeremos,  e  limites,  máximo  e  minimo,  além 
dos  qaaes  a  germinação  se  toma  impossível,  bem  como 
om  grau  optimum,  intermédio,  de  todos  o  mais  favorável. 
A  luz  parece  não  influir  na  germinação. 

Nos  massiços  florestaes  reunem-se  muito  propiciamente 
as  condições  todas  necessárias  para  a  germinação,  e  para 
o  primeiro  desenvolvimento  das  arvores  novas.  As  folhas 
mortas,  os  ramos  seccos,  as  cascas  velhas,  os  pericarpos 
em  decomposição,  etc,  formam  sobre  o  terreno  uma  camada 
liygroscopica,  fofa,  porosa,  muito  própria  para  reter  a  hu- 
midade e  facilitar  o  accesso  do  ar,  tornando  a  germinação 
muito  menos  contingente.  Por  outro  lado,  a  folhagem  viva 
das  arvores,  o  seu  coberto,  protege  o  terreno  inferior  dos 
•raios  do  sol,  e  do  vento,  não  o  deixa  seccar,  e  toma  muito 
menos  precário  o  primeiro  período  da  vida  das  arvores,  cu- 
jos tecidos  muito  tenros,  muito  cheios  de  líquidos,  podem 
íacilraente  murchar  sob  a  acção  directa  do  sol  e  do  vento. 
Kota-se  mesmo  uma  estreita  harmonia  entre  as  exigências 
das  arvores  novas  e  a  espessura  da  folhagem  protectora; 
as  essências  mais  delicadas  nos  primeiros  annos,  de  tem- 
peramento mais  fraco,  apresentam  em  adultas  maior  coberto. 
Todavia  esta  acção  benéfica  torna-se,  passados  certos  limi- 
tes, malfazeja;  o  coberto  das  arvores  superiores,  se  facilita 
a  germinação  e  a  vida  das  arvores  novas,  nos  primeiros 
tempos,  amesquinha-as  ao  depois,  roubando-lhes  a  luz  e 
a  electricidade,  como  diremos.  Amesquinha-as  com  tanta 
maior  força  quanto  mais  robusto  for  o  temperamento  d'essa 
espécie  vegetal,  chegando  até  a  matal-as. 

Externamente  os  phenomenos  da  germinação  patenteam- 
se  pela  seguinte  forma :  a  amêndoa,  entumecida  pela  agua 
qae  absorveu,  distende  e  rasga  o  tegumento  da  semente, 
ou  o  tegumento  e  o  pericarpo  se  este  ultimo  ainda  per- 

C.S.  12 


<78 

siste ;  a  abertara  dá-se  no  pMito  ccHTespondeote  ã  etín- 
midade  da  radicula,  e  é  este  orgSo  que  primeiro  se  alonga 
para  o  exterior  (fig.  ill).  Os  pheDomenos  subsequeotes 
variaia  nas  diversas  espé- 
cies, mas  podem  reduzir-se 
a  dois  typos  principaes: 
umas  vezes  o  cauliculo,  pe- 
lo seu  crescimento  interca- 
lar, obriga  as  cotyledones 
a  saírem  da  semente,  de- 
pois de  se  apropriarem  da 


Fig.  111.  Primeiro  período  da  ger- 
minação do  sobreira  (Ou«rciif 


&fr,L.):aionga-eearadieuU(iLi).   reserva  notritiva  do  albn- 


Fig.  112.  Primeiras  phases  do  deseoTOlTÍmento  do  plátano  basfardo 
(Acer  Pteudoplaiama,  L).  A,  B,  C,  entados  raccessivos  da  planta  nova. 
a:  folhas  cotyledonares.  h:  fothai  ordinárias  (1:1). 


179 


men  ou  endospenna»  se  estas  formações  existem,  levanta  as 
cotyledones  acima  da  terra,  e  transforma-as  nas  primeiras 


FSg.  113.  Genninação  do  pinheiro 
manso  (Pinm  Pinea,  L.)^a8 
folhas  eotyledonares  saem  da 
tenra  (1 : 1). 


Fig.  114.  GerminaçSo  do  sobreiro 
{Qurcuêsuber^h,):  as  cotyledo* 
nes  ficam  dentro  do  tegumento, 
só  a  gemmuda  (a)  se  alonga  na 
vertical  (1 : 1). 

IS* 


180 

íolbas  verdes  e  vegetativas  da  nova  planta ;  estas  especie$ 
diz-se  que  teem  as  cotyledones  epigeas;  taes  são  a  ameur 
doeira,  vidoeiro,  amieiro,  plátano  bastardo  (fíg.  112),  tei- 
xo, pinheiros  (fíg.  113),  etc.  N'outros  casos  as  cotyledones 
não  saem  da  semente,  ficam  sempre  na  terra,  e  dizem-se  por 
isso  hygogeas;  depois  do  desenvolvimento  da  radicula  sao 
os  peciolos  cotyledonares  que  se  alongam,  empurrando  para 
o  exterior  a  gemmula  situada  entre  elles ;  esta  gemmula  é 
que  se  levanta  na  vertical,  e  as  cotyledones  vão-se  esgo- 
tando pouco  a  pouco,  no  interior  da  semente,  até  morre- 
rem (carvalhos,  castanheiro,  nogueira,  castanheiro  da  ín- 
dia, etc.)  (fig.  114).  Pertencem  ao  primeiro  typo  as  espécies 
cujas  cotyledones  são  delgadas  e  pequenas ;  ao  segundd  as 
que  as  teem  carnudas  e  volumosas. 


*  8.0— GALHAS 

» 

Em  muitas  das  espécies  lenhosas  indígenas  encontram- 
se,  adherentes  a  órgãos  muito  variados  (raminhos,  folhas, 
cúpulas,  etc),  certas  excrescências  de  differentes  tamanhos, 
de  differentes  cores,  e  de  differentes  consistencias,  que  se 
denominam  galhas. 

As  galhas  são  produzidas  pelo  desenvolvimento  anómalo 
dos  tecidos  vegetaes  em  certos  pontos,  excitado  esse  desen- 
volvimento pela  picada  de  um  insecto. 

  forma  e  a  composição  das  galhas  variam,  não  só  de 
espécie  a  espécie,  mas  na  mesma  espécie  segundo  o  insecto 
quedas  provoca.  São  muito  frequentes  nos  carvalhos,  sobre- 
tudo nos  de  folhas  caducas,  e  entre  estes  principahnente  no 
x^arvalho  portuguez  e  na  carvalhiça.  As  figs.  115  e  116  re- 
presentam duas  formas  das  galhas,  ou  bugalhos,  da  carva- 
lhiça: a  forma  globosa,  e  a  forma  dita  coroada,  ou  d^  coroa. 

Estas  galhas  dps  carvalhos  são  produzidas  por  insectos 


ibifpfmw  do  género  DipMepis  Gtoff,  (Cynips  h.) ;  a  fêmea 
fere  as  cellnlas  Terdes  corticaes  e  deposita,  na  ferida,  om 


n|.  115.  Giiha  da  earralhiça        Fig.  116.  Galha  da  carvalhiç&. 
{Queraa  hMiniiit,\j»,ta.)  (itoax  (Qw^mt  Aumiltt,  Lam.)  (fârma 

coroada)  (2:3).  glçbosa)  (1:1). 

OTo;  dá-se  a  excitarão  local  no  orgSo  da  planta,  a  galha 
orj^anisa-se  em  camadas  coacentrícas,  e  fica  protegwdo  o 
OTO,  colloeado  no  seu  centro;  d'este  ovo  nasce  uma  pequena 
Urra,  que  no  interior  da  galha  eoconlra  abrigo  e  aUmenlo; 
traosforma-se  ahi  em  nympha,  e  depois  em  msecto  perfeito, 
samdo  então  para  o  exterior  pelo  (tiro  que  pratica,  coino  se 
Td  na  fig.  416.  O  insecto  perfeito,  depois  da  cf^nk,  dep^ 
os  OTOs,  qne  se  desenvolverão  no  anno  seguinte,  noa  re- 
bentos da  arvore.  oTí  do  arbusto.  A  galha  vae  seccando,  em- 
.segnida,  e  por  ultimo,  passado  tempo,  cae. 

Moitas  d'estas  galhas  são  extraordinariamente  ricas  em 
tannino,  e  teem  exploração  industrial;  ãs  vezes  d3o  é  tailto 
o  tanníDo  propriamente,  que  domina,  como  o  acido  galtuco, 
resultante,  decerto,  da  sua  transformaçSo. 


182 

Nem  todas  as  gaOuu  apreseatam  formas  t3o  regalares 
como  as  dos  carralhos;  as  qae  se  desenTolTem  no  limbo 
das  folhas  do  ulmeiro  s3o  entumecidas,  enrugadas,  vesi- 
colosas  (fig.  117);  é  um  insecto  do  geoero  ScAúoneurs 


Pig.  117.Galha  do  ulmeiro  ([/ImuieanfMtlm,L.)  (2:3). 

que  as  produz.  SobTe  alguns  ulmeiros  encontram-se  tantas 
d'estas  galbas,  e  no  interior  de  cada  uma  Tivem  tantos 
insectos,  que  isto  originou  o  nome  vulgar  de  mosqueiro, 
com  que,  em  alguns  sítios,  conhecem  esta  arvore. 

O  terebintho,  expontâneo  em  Traz-os-Mòntes,  também 
apresenta  muitas  galhas;  s3o  tanniaosas  e  podem  apro- 
veitar-se  na  industria,  emquanto  as  do  ulmeiro  nSo  teem 
nenhum  préstimo.  As  do  terebintho  s3o  muito  compridas  e 
delgadas,  ponteagudas  e  ctnitorcidas,  o  que  valeu  a  esse  ar- 
busto o  nome  de  «malheira  com  que  é  conhecido  n'aquella 
província. 


Folhosas  e  rennosas.— Em  lingoagem  florestal  as  arvores 
^vestres  dividem-se  em  dois  agrupamentos — folhosas  e 
restíwíat.  A  conservacSo  d'estas  denominações  é  ntil  oa 


183 


m^^^^ 


pratica,  embora  ^as  não  sejam  muito.  rigorosaSi  Botanica- 
mente as  resinosas  comprebendem  as.  Gymnospermas  mais 
importantes: — as  Goniferas— e  as  folhosas,  são  asi  Ângioà- 
penoas.  Dissemos  que  estas  denolninaçjões  não  teem  grande < 
rigor»  porque  nem  todas  as  Coníferas  (nem  mesmo  as  índi^! 
genas)  teem  suocos  resinosos^  e  em  contraposição  algumas  i 
Angiospermas  existem  muito  resinosas,  como  são  as  espe-. 
des  da  familia  das.Terebinthaceas.. 

As  distincções  botânicas  príncipaes  entre  aquelles  dois 
agrapamentos  são  as  seguintes: 

As  folhosas  teem  os  óvulos  fechados  n'um  ovário,  e  teem^ 
por  isso  mesmo,  as  sementes  incluídas  em  verdadeiros  pe- 
ricarpos.  Às  suas  flores  podem  ser  unisexuaes  ou  berma- 
phroditas,  nuas,  ou  revestidas  com  um,  ou  dois  invólucros 
floraes.  Teem  embryão  dicotyledoneo.  As  suas  folhas,  geral- 
mente, apresentaogi  o  limbo  desenvolvido  e  as  nervuras  rami- 
ficadas; são  caducas  ou  persistentes.  A  ramificação  d'estas 
arvores  è,  quasi  sempre,  irregular.  Teem  como  elementos 
anatómicos  necessários  do  lenho  as  fibras,  os  vasos  e  os 
raios  medullares.  . 

As  resinosas  teem  os  óvulos  Uus,'  não  fechados  n'um  ovário, 
e,  por  isso  mesmo,  não  teem  verdadeiros  pericarpos.  As  suas 
flores  são  unisexuaes,  sem  perigoneo,  e  dispostas,  de  ordi- 
nário, em  amentilhos.  Teem  embryão  di-polycotyledoneo.  As 
soas  folhas  são  acerosas,  uni-trinervadas,  ou  escamiformes ; 
sio  persistentes  nas  espécies  indígenas.  A  ramificação  è 
verlicillada  /pinheiros)  ou  difliísa  (teixo,  zimbros).  Teem 
como  elementos  anatómicos  necessários  do  lenho  os  raios 
mednllares  e  as  fibras  aureoladas.  Apresentam^  quasi  sem- 
pre, secreções  resinosas. 

A  estas  diJBerenças  accresce  ainda  o  modo  por  que  a  fe- 
cundação se  realisa,  como  dissemos. 

Florestalojiente  os  dois .  agrupamentos  não  apresentam 
entre  si  menores  4ifierenças.  A  difliculdade^  ou  impossibi- 
lidade!» qne  as  resinosas  manifestam  em  formar  botões  ad- 


184 


yentícios,  ou  olhos  dormentes,  impede-as,  quasi  todas,  de 
rebentar  de  touca,  e  por  isso  apropria-as  só  ás  explorações 
em  alto  fuste,  emquanto  as  folhosas  podem  ser  aproveitadas 
em  alto  fuste  e  em  talbadio.  A  fraca  evaporação  das  folhas 
das  resinosas,  comparativamente  ás  folhosas,  toma  as  pri- 
meiras muito  úteis  no  revestimento  dos  terrenos  seccos, 
assim  como  a  sua  pouca  exigência,  relativa,  em  principies 
mineraes,  as  torna  muito  vantajosas  na  arborisaçSo  dos 
solos  pobres. 

Productos  florestaes.— O  seguinte  quadro  resume  os  prin- 
cipaes  productos  das  nossas  florestas: 


Mftdeiras  de  constnie- 
çAo 


'  ^  De  constnicção  cítíI. 

De  eonstrucçfto  nayaL 
Para  travessas  de  ca- 
minhos de  ferro. 
Para  postes  telegra- 

phicos. 
Para  escoras  de  minas. 

Productos  lenhosos. .  ^ 

Madeiras  propriamen- 1  Para  serra, 
te  de  trabalho  (in-  <  Para  tomo. 
Bustriaes) ( Para  fenda. 

I  Lenhas  ^ssas. 
Lenhas  miúdas. 
Madeiras  para  carvoe- 
jar. 

Productos  corticaes Cortiça. 

^  Caseas  tannmoaas. 


I  Fructos. 
Productos  resinosos  e  outros. 


As  madeiras  do  primeiro  grupo  caracterisam-se  pelas 
suas  mesmas  denominações .  As  do  segundo  grupo  são  as 
madeiras  empregadas  na  marcenaria,  carroçaria,  entalharia» 


185 

tamancaria,  etc.;  merecem  particular  menção  as  madeiras 
para  tomo  e  para  fenda,  notáveis,  as  primeiras  pela  sua 
rijeza  e  homogeneidade,  e  as  segundas  pelo  parallelismo 
e  regular  disposição  das  fibras  (madeiras  para  aduellas, 
remos,  etc.). 

As  lenhas  grossas  comprehendem  os  táros  e  adias;  as 
lenhas  miúdas  comprehendem  as  faocinas  (ramadas  presas 
em  molho),  e  os  cavacos  (pequenos  ramos,  astilhas  do  falque- 
jamento,  etc.)- 

Os  fructos  mais  unportantes  das  nossas  essências  flores- 
taes  são  a  castanha,  a  bolota,  a  lande,  a  alfarroba,  e  o  pi- 
nhão (semente  do  pinheiro  manso). 

No  ultimo  grupo  só  tem  verdadeira  importância  os  pro- 
duetos  resinosos — resina,  essência  de  terebinthma,  alca- 
troo e  breu. 


AUGTORES  PRÍHCIPÂLVENTE  CONSULTADOS 

H'£ST£mrHOL 


Ph.  Van  TiEGHEM. —  Traitáde  Botamque.  Paris,  i884. 
Ph.  Yan  Tieghem.^ — ArmaleB  des  Sciences  Naiurdles^-Bth 

taniqmy  Paris.  (7*  serie,  1885). 
Dr.  H.  ScHACHT. —  Les  arbreSy  étuÃes  sur  kur  structure  et 
'  leur  végéíatim  (traduit  d'après  la  2*  édition  al- 

lemande  par  E.  Morren).  Bruxelles,  1862. 
J.  Sachs. —  Traité  de  Botamque  (traduit  de  iallemand  sor 

la  3*  édition  et  annoté  par  Ph.  Van  Tieghem). 

Paris,  1874. 
A.  Mathieu. —  Flore  Forestière  (3'  édition).  Paris,  1877. 
P.  DuGHARTRE. — Éléments  de  Botamque  (3*  édition).  Paris, 

1885. 
L.  Grandeau. — Annales  de  la  Science  Agronomique  Fratir 

çaise  et  Étrangère.  Paris,  1884-1885. 
L.  Grandeau. — Annales  de  la  Station  Agroviomique  de  PEst. 

Paris,  1878. 
A.  E.  DupoNT  et  Bodquet  de  la  Grte. — Les  bois  indigènes 

et  étrangers.  Paris,  1875. 
VnTORio  Perona. —  Trattato  di  sdvicoUura.  Roma,  1880. 
D.  Eugénio  Plá  y  Rave.—  Tratado  de  moderas  de  constru- 

tian  civil  y  naval.  Madrid,  1880. 
Gasimir  De  Gandolle. — Anatomie  comparée  des  feuiUes  chez 

quelques  familles  de  Dicotylédones.  Genève,  1879. 


187 

Carlos.  A.  de  Sousa  Pimentel. — Mgumas  observações  so- 
bre a  formação  do  cerne  na  floresta  nacional  de 
Leiria.  Alcobaça,  1884. 

fma.^-Encyclopédie  chimique.  Paris,  1885. 

WcBTZ. — Dictionnaire  de  chimie  puré  et  appliquée.  Paris. 

M.  WiLLKOMM  &  J.  Lange. —  Prodromus  flora£  hispanicae. 
Stuttgartíae,  1870-1880. 

F.  A.  Brotero. —  Flora  Lusitanica.  Olisipone,  1804. 

F.  A.  Brotero. —  Compendio  de  Botânica.  Paris,  1788. 

Dr.  Juuo  a.  Henriques. —  Terminologia  botânica.  Coimbra, 
1885. 


k..^-.^ 


UYRO  II 


Climatologia  Florestal 


1.*— INFLUENCIA  DO  OUHA  NA  DISTRIBUIÇÃO 
DAS  ESSÊNCIAS  FLORESTAES 


Os  phenomenos  meteorológicos,  considerados  em  pontos 
diversos  do  globo,  apresentam  grandes  variantes,  e  a  cada 
uma  d  ellas*  correspondem  manifestações  deseguaes  da  vida 
animal  e  vegetal. 

Todas  as  plantas  verdes  necessitam  calor,  luz  e  hmni- 
dade,  para  poderem  viver,  mas  cada  espécie  tem,  a  este 
respeito,  exigências  particulares,  em  harmonia  com  o  seu 
organismo.  O  Larix  Europaea  supporta,  na  Sibéria,  tempe- 
raturas de — 35*^  e  — 40''cent.,  emquantoa  Tremellareticu- 
lata  vive,  em  França,  na  agua  da  fonte  tbermal  de  Dax,  a 
+  49**  cent.  Os  pinbeiros,  ávidos  de  luz,  softfem  e  ames- 
qmnham-se  quando  a  não  encontram  com  abundância,  em- 
quanto  á  sombra  da  floresta  tropical,  cuja  folhagem  espessa 
a  luz  só  pode  atravessar  depois  de  reflectida  muitas  vezes, 
se  desenvolvem  innumeros  vegetaes,  apropriados  a  essa 
dúbia  claridade.  Nos  sitios  mais  áridos  e  mais  seccos  pros- 
peram varias  plantas  gordas»  emquanto  as  margens  dos 
cursos  d'agua,  e  os  terrenos  pantanosos,  teem  a  sua  flora 
especial,  característica. 

Cada  espécie  vegetal  precisa  p^ra  o  seu  desenvolvimento 
mais  completo  uma  determinada  somma  de  calor^  luz  e 


190 

* 

humidade;  onde  encontra  as  condiçOes  exigidas  adquire 
esse  maior  desenvolvimento;  onde  acha  condições  próxi- 
mas, oscillando  para  mais  ou  para  menos  em  redor  d'aquel- 
les  graus  mais  favoráveis,  vive  ainda,  mas  patenteanda  já 
menos  vigor ;  finalmente,  quando  a  variabilidade  do  meio 
excede  certos  limites,  a  vida  toma-se-lhe  impossivel— 
Âs  difierentes  espécies  apresentam  resistências  muito  di- 
versas a  estas  oscilIaçQes  climatéricas:  umas  toleram-as 
muito  consideráveis,  emquanto  as  outras  só  as  consentem 
muito  reduzidas ;  as  primeiras  occupam  no  globo,  é  claro, 
zonas  de  habitação  muito  mais  extensas  do  que  as  segun- 
das. 

Esta  harmonia  entre  as  condições  do  meio  e  as  formas 
especificas,  que  n'elle  se  desenvolvem,  é  tão  grande,  qae 
um  dado  clima  pode  ser  definido  pela  simples  enumera- 
ção das  espécies,  que  o  habitam. 

E  não  só  a  vida  de  cada  espécie  depende  do  clima,  como 
d'elle  depende  cada  um  dos  períodos  da  vegetação :  a  ger- 
minação, o  crescimento  axíl  e  foliaceo,  a  florescência  e  a 
fhictificação,  precisam  quantidades  differentes  de  calor,  Inz 
e  humidade.  D'aqui  a  razão  porque,  em  alguns  pontos,  po- 
dem germinar  as  sementes  de  determinadas  espécies,  e  as 
plantas  desenvolver-se,  mas  sem  nunca  florirem,  como  n'oa- 
tros  pontos,  conseguem  já  florir,  mas  sem  poderem  ainda 
fructÍBcar. 

A  repartição  dos  phenomenos  meteorológicos  durante  o 
anuo  constituindo  as  estações — isto  é,  a  distribuição  an- 
nual  do  calor  e  das  chuvas,  a  duração  dos  dias  e  das  noites, 
etc. — é  que  tem  a  principal  influencia  na  distribuição  dos 
vegetaes;  muitíssimo  maior  do  que  a  intensidade  média 
d'aquelles  phenomenos  durante  o  anuo.  Citaremos  apenas 
alguns  exemplos  com  respeito  á  acção  do  comprimento  dos 
dias :  a  rosa  dos  Alpes,  na  occasião  em  que  lhe  appare- 
cem  os  botões,  precisa  encontrar  dias,  p4o  menos,  de 
{4  horas;  se  a  transplantarem,  ainda  que  lhe  dêem  o  ca^ 


■I"  ■ ' 


i9t 

lor  saiBciente,  ii3o  se  desenvolve,  nos  pontos  onde  não  en- 
contre aquella  insolação.  Segando  Kemer,  o  pinheiro,  para 
Tegetar  bem,  necessita,  quando  forma  os  rebentos,  mna 
sofflma  de  373  graus  caloríficos  e  dias,  pelos  menos,  de 
14  horas,  etc. 

Uma  das  influencias  climatéricas  a  que  muito  importa 
attender  no  estudo  da  distribuição  das  espécies  é  a  dura- 
ção, em  cada  logar,  do  jperiodo  da  actividade  vegetativa : 
isto  é,  do  período  durante  o  qual  a  planta  se  desenvolve, 
cresce,  elabora  princípios  nutritivos,  forma  os  seus  órgãos, 
em  opposição  a  esse  outro  periodo  em  que  a  escassez  do 
calor  ou  da  humidade,  obríga  as  cellulas  ao  repouso  tem- 
porário, provocando  uma  paragem  na  vegetação. 

Condições  climatéricas  necessárias  para  a  vida  das  ar- 
vores.— As  espécies  lenhosas — arvores  e  arbustos — oc- 
copam  no  globo  áreas  mais  restrictas  do  que  as  espécies 
herbáceas;  esta  diminuição  no  twbitat  provém  das  suas 
maiores  exigências  climatéricas,  em  virtude  da  maior  com- 
plicação dos  seus  organismos. 

Comparemos,  a  este  propósito,  uma  arvore  e  uma  planta 
herbácea.  A  arvore  tem  de  constituir  massas  muito  mais 
avultadas  de  tecidos,  para  engrossar  e  crescer  o  tronco  e 
os  ramos,  que  lhe  hão  de  servir  de  supporte  ás  folhas  e 
flores;  tem  de  lenhifazer  um  grande  numero  de  membra- 
nas cellolares,  para  lhes  dar  a  necessária  rigidez  e  permea- 
bilidade; tem  de  regenerar  constantemente  as  camadas 
eorticaes»  que  vão  sendo  destruídas  á  superficie,  e  onde 
as  camadas  vivas  internas  precisam  encontrar  abrígo ;  tem 
de  dar  uma  grande  mobilidade  aos  princípios  immediatos 
fabricados  nas  folhas,  transportando-os  até  ás  ultimas  rai; 
zes,  atravez  o  tronco,  ás  vezes  de  grandes  proporções, 
como  tem  de  levar  aos  mais  altos  raminhos  a  agua  e  os 
princípios  míneraes  do  terreno ;  como  as  plantas  herbáceas 
vivazes,  a  arvore  tem  de  preencher  as  suas  reservas  nutri- 
tivas, que  lhe  hão  de  dar  o  primeiro  desenvolvimento  aos 


botões ;  tem  de  formar  os  rebentos  e,  como  a  planta  her- 
bácea, tem  de  constituir  as  flores  e  os  fnictos. 

Assim  as  arvores  necessitam,  para  viver,  períodos  ve- 
getativos que  não  podem  baixar  de  certos  líniites,  e  dentro 
dos  quaes  ainda  se  desenvolvem  algumas  espécies  de  porte, 
reduzido.  Segundo  estudos  feitos  na  Laponia  Scandinavia 
aquelle  limite  minímo  parece  ser  de  3  mezes.  Onde  o  clima 
não  imprimir  uma  actividade  mais  duradoura  á  vegetação, 
n3o  existem  arvores ;  quer  essa  diminuição  seja  motivada 
pelo  rebaixamento  da  temperatura,  como  acontece  na  zona 
polar,  quer  seja  devida  á  falta  de  humidade,  como  na  zona 
dos  steppes,  que  se  estende  do  sudoeste  da  Europa  ao  in- 
terior da  Ásia. 

Independentemente  d'esta  duraç5o  do  período  vegeta- 
tivo, as  arvores  precisam  encontrar  temperaturas  d^estio 
mais  elevadas  do  que  as  das  zonas  polar  e  alpina ;  na  sa- 
bida de  uma  montanha  bastante  alta,  á  medida  que  a  tem- 
peratura decresce,  diminuem  também  as  dimensões  dos 
vegetaes :  as  arvores  não  passam  de  certa  altura,  os  ar- 
bustos chegam  mais  acima,  cada  vez  mais  acanhados,  mais 
rasteiros,  e  a  ultima  vegetação,  que  se  encontra,  é  herbá- 
cea. A  resistência  das  arvores  ao  frio  do  inverno  varia  ex- 
traordinariamente com  as  espécies ;  emquanto  algumas  sup- 
portam  temperaturas,  que  solidificam  o  mercúrio,  outras 
gelam  aos  menores  frios  e  são  por  elles  destruídas. 

Com  um  período  vegetativo  adequado  e  com  a  temperatura 
conveniente^  as  arvores  precisam  ainda  encontrar  grandes 
massas  de  agua.  Segundo  as  experiências  de  Halles  a  quan- 
tidade de  agua  necessária  a  um  vegetal  durante  24  horas  é 
egual  a  metade  do  peso  da  planta  inteira.  Já  dissemos  que 
na  zona  dos  steppes  as  arvores  não  podem  viver  pelo  excesso 
de  seccura,  que  restrmge  muito  o  período  vegetativo;  se  a 
tamareira  (Phoenix  da^tyliferaj  L.J  vive  no  clima  tão  secco 
do  deserto,  é  porque  encontra  a  certa  profundidade  do  solo 
arenoso  agua,  onde  as  suas  raizes  vão  abastecer-se. 


i93 

Variações  climatéricas  produzidas  pela  latitude. — Como 
sabemos,  a  irradiação  solar  actua  tanto  menos  intensa,  tanto 
mais  obliqua,  quanto  maior  a  latitude;  como  sabemos,  a 
inclinação  do  eixo  de  rotação  terrestre  tornando  a  ecliptica 
obliqua  em  relação  ao  plano  do  equador,  e  a  forma  da  orbita 
descripta  pela  terra,  fazem  variar,  também  com  a  latitude, 
o  comprimento  dos  dias  e  das  noites  e  originam  as  diffe- 
renças  annuaes  de  irradiação,  que  constituem,  para  cada 
logar,  as  estações.  Estas  dififerenças,  entre  o  comprimento 
dos  dias  e  entre  as  estações,  são  tanto  mais  pronunciadas 
quanto  mais  próximo  do  polo  estiver  o  ponto  considerado. 
Com  a  desegual  distribuição  da  temperatura  sobre  o  globo 
prende-se  a  desegual  distribuição  da  humidade,  prende-se 
o  ti*açado  das  grandes  correntes  aéreas,  que  tamanha  in- 
ihiencia  exercem  nas  chuvas,  como  se  prendem  ainda  as 
correntes  oceânicas  principaes,  que  muitas  d'ellas  vão  cor- 
rigir as  indicações  da  latitude,  nos  paizes  onde  passam  pró- 
ximas. 

A  diminuição  da  temperatura  média  annual  correspon- 
dente ao  augmento  da  latitude,  no  hemispherio  boreal, 
Tê-se  representada  na  tabeliã  seguinte : 

Gnas  d«  Utitado  norte  Temperatura  média  animal 

75». . ." » —  8»,77  cent. 

70» —  5»,29 

60».. ; —  1»,01 

50» +  5^37 

W... +13»,55 

30». . , +  20»,93 

20» +25»,b2 

O» +26»,47 

As  (Merenças  entre  as  temperaturas  médias  das  quatro 
estações,  para  as  mesmas  latitudes,  sSo : 

&(.  13 


194 


eRAVS  MÉDIA  MÉDIA  MÉDIA  MÉUli 

Dl    LAT.  IfORTB  DB  INTIRNO  Dl  niMATMA  Dl  I8TI0  Dl  OBTOM) 

•   (Dex.,JanelrOy      (Março,  abril,       (Janho,  Jalho,      (8«t.,  ontabro, 
fevereiro)  maio)  agosto)  novembro) 

750  _22«,06  — 10«,14  +   5«,66  —  8»,70 

70»  — 19<»,41  —  60,28  +  90,12  —  40,57 

600  —140,29  —   10,62  +110,87  —  0»,43 

500  _  50^62  +   40,83  +160,08  +  ô^iO 

400  +   50^46  4.120,30  +220,95  +140.6I 

300  +150,20  4  200,28  +250,95  +220,39 

200  +220,16  +250,70  +270,49'  +25»,91 

00  +26»,37  +270,04  +260,16  +260,25 

Estas  differenças,  como  se  vê,  são  tanto  mais  accentua- 
das,  quanto  maior  o  afastamento  do  equador. 

O  numero  dos  dias  do  período  vegetativo  multiplicado 
pela  temperatura  média  observada  durante  esse  periodo 
dá,  segundo  Haberlandt,  os  seguintes  valores,  nas  latitudes 
referidas : 

Qrioi  de  latitude  norte  Sonuna  de  oalor 

'      n\ 544»,50 

70» 97r,40 

60» 1507*,95 

50» 2522»,46 

40» 4966» ,25 

30»... 7650»,00 

20» 9253»,75 

O» 9663»,37  ■ 

Durante  o  periodo  yegetativo,  qo  paraUelo  75  as  plantas 
recebem  pois  uma  quantidade  de  calor  dezoito  vezes  menor, 
do  que  recebem  na  zona  equatorial. 

Os  dias  e  as  noites,  eguaes  no  equador,  t3o  desegaalando 
sempre  á  medida  que  se  consideram  pontos  mais  afastados. 
Eis  as  dimensões  dos  maiores  dias  e  das  menores  noites 
a  differentes  latitudes: 


r 


195 

6mi  d«  latltud*  aorta  Dnraçlo  do  dl»  mAlor  Dnraçlo  d«  nolto  monor 

Polo  norte 180  vezes  24  horas O 

60P 134  vezes  24  horas O 

10^ 6  vezes  24  horas O 

600 _  _     18\30' 5N30'   • 

SOO 16\  9' • . . .     7\51' 

400 l^hsj/ _     gh^  9/ 

300 13\56'. 10\  4' 

20^ 12\35'.  ? 11\25' 

00 12^ 12»» 

Mas  não  é  só  a  duração  do  período  luminoso  que  varia 
com  a  latitude,  varia  egualmente  a  intensidade  do  calor  e 
da  luz.  Ao  primeiro  já  nos  referimos;  quanto  á  segunda, 
sappondo  o  poder  luminoso  do  sol  egual  a  1 :000,  a  super- 
fide  do  solo  no  equador,  segundo,  Haberlandt,  recebe  378 
unidades  luminosas,  sob  45  graus  de  latitude  norte  228,  e 
na  região  polar  apenas  110. 

A  humidade  absoluta  e  as  chuvas  dimmuem  do  equa- 
dor para  os  poios.  Com  propósito  á  quantidade  da  chuva 
annoal  pode  o  nosso  hemispherio  dividir-se  nas  quatro  gran- 
des zonas  seguintes : 

Quaatldado  média  aanaal  de  chuT» 

00  a  250  latitude  norte 2"'» 

250a  400 jinj 

400  a  500 0"',75 

•500a600... 0»»,60 

Considerando  a  chuva  não  sob  o  ponto  de  vista  da  in- 
tensidade, mas  da  frequência,  notam-se  três  zonas  princi- 
paes,  que  ainda  podem  sofiOrer  novas  sub-divisões: 

—Uma  zona  de  chuvas  periodicaSy  abrangendo  proxima- 
mente o  espaço  comprehendido  entre  30  graus  de  latitude 
norte  e  30  graus  de  latitude  sul ;  esta  zona  ainda  se  subdi- 
vide em  três :  na  mais  interna,  que  vae  de  3  graus  de  latí- 

13* 


196 

tade  norte  a  3  graus  de  latitude  sul,  chove  todos  os  mezes, 
e  quasi  todos  os  dias  depois  do  meio  dia;  na  intermédia, 
comprehendida,  n'uni  e  outro  hemispherio,  de  3  grãos  até 
10,  ou  15,  chove  duas  vezes  por  dia,  interrompendo-se  a 
chuva  quando  o  sol  está  no  zenith;  na  terceira,  mais  externa, 
chove  uma  só  vez  por  dia. 

— Uma  zona  sem  chuvas,  muito  irregular  no  seu  contor- 
no, que  abrange  o  grande  deserto  do  Sahara,  as  proximi- 
dades do  Nilo,  extensas  regiões  na  Arábia,  o  delta  do  Indo, 
o  plan'alto  do  Thibet,  etc. 

— Uma  zona  de  chuvas  variáveis  onde,  com  mais  ou  me- 
nos rigor,  se  podem  fazer  ainda  três  sub-divisões,  conside- 
rando: uma  zona  sub-tropical,  de  25  graus  a  40,  ou  50,  de 
latitude  norte  e  sul,  onde  não  ha  chuvas  no  estio,  mas  sim 
nas  outras  três  estações ;  uma  zona,  de  40  graus  a  60,  de 
latitude  norte  e  sul,  onde  chove  em  todas  as  estações;  e 
jQnalmente  uma  zona  circumpolar,  de  60  graus  a  90,  norte 
e  sul,  com  invernos  quasi  sem  chuva. 

Haberlandt  caracterisa  os  principaes  climas  do  hemis- 
pherio boreal  pela  sua  vegetação  peculiar  do  seguinte  modo: 

« 

Zona  polar  (de  90^  a  72°) — Caracterisada  pelas  plantas  al- 
pestres, lichens  e  musgos. 

Zona  artica  (de  72°  a  66°) — Caracterisada  pelas  pastagens, 
arbustos  e  vidoeiros. 

Zona  sub-artica  (de  66°  a  58°) — Região  das  Coníferas,  vi- 
doeiros e  salgueiros. 

Zona  temperada  fria  (de  58°  a  45°) — Caracterisada  pelas 
fayas,  carvalhos,  prados  e  cereaes. 

Zona  temperada  mais  quente  (de  45°  a  34°) — Caracterisada 
pelas  arvores  de  folha  persistente,  e  pela  cultura  da 
vinha,  da  oliveira  e  do  milho. 

Zona  sub-tropical  (de  34°  a  23°) — Caracterisada  pela  murta, 
loureiro,  Umoeiro,  laranjeira,  algodoeiro,  canna  de  as- 
sucar  e  arvore  do  cha. 


r 


197 


Zona  tropical  (de  23**  a  15°) — Caracterisada  pelas  figuei- 
ras (Ficus),  fetos  arbóreos,  palmeiras,  canna  de  as- 
sacar e  cafeeiro. 

Zona  equatorial  (de  15°  latitude  norte  a  15°  latitude  sul) — 
Caracterisada  pelas  palmeiras  e  bananeiras. 

Cansas  que  podem  alterar  as  indicações  climatéricas  de- 
dondas  da  latitude. — Nao  deve  esquecer  que,  muito  em- 
bora seja  de  grande  importância  a  acção  da  latitude,  mui- 
tas outras  causas  importa  ter  em  vista  na  determinação  do 
clima  de  um  dado  logar ;  *  essas  causas  podem  contrariar 
completamente  aquella  influencia.  As  principaes  são,  como 
sabemos,  a  altitude,  a  proximidade  ou  o  afastamento  do  mar, 
o  traçado  das  correntes  oceânicas,  afora  muitas  outras,  taes 
c(Mno  a  exposição,  etc. 

Com  o  augmento  da  altitude  a  temperatura  atmospherica 
decresce,  por  causa  da  maior  rarefacção  do  ar;  debaixo  d'es- 
te  ponto  de  vista  subir  uma  montanha  equivale  a  caminhar 
para  o  polo,  muito  embora  o  motivo  do  resfriamento  seja 
diverso  nos  dois  casos;  Charles  Martin  calculou  que,  na 
França,  81™,81  de  ascensão  vertical  equivalem,  climaterica- 
mente,  ao  avanço  de  um  grau  para  o  norte,  na  planície.  Em 
contraposição,  e  pela  mesma  causa,  a  luz  torna-se  mais  in- 
tensa nas  montanhas.  Às  nuvens,  os  nevoeiros  e  as  chuvas 
sao  ahi  mais  frequentes. 

A  proximidade  do  mar  regularisa  a  temperatura,  tor- 
nando-a  mais  constante,  augmenta  a  humidade  atmospherica 
e  as  chuvas  na  intensidade  e  na  frequência;  representando 
por  1  a  quantidade  da  chuva  caida  annuabnenté  em  S.  Pe- 
tersbourgo,  será  1 ,2  a  que  cae  nas  planícies  da  Allemanha» 
t,4  a  chuva  do  interior  da  Inglaterra,  2,1  a  que  recebe  o 
iittoral  da  Mancha.  É  tão  pronunciada  esta  influencia  da 
proximidade  do  mar  que  permitte  a  divisão  dos  cUmas  em 
dois  grupos — maritimos  e  continentais. 

Quanto  á  acção  das  correntes  oceânicas  recordal-a-hemos 


198 

de  certo  bem  evidentemente  com  este  exemplo  nntco:  um 
braço  do  Gulf-stream,  que  passa  nas  proximidades  de  Por- 
tugal, largando  mna  parte  do  calor  que  traz  de  regiões  mais 
quentes,  eleva  a  temperatura  média  de  Lisboa  a  16° ,5  cent. 
emquanto  a  temperatura  média  da  Yirginia,  no  mesmo  parai- 
leio,  é  apenas  de  13^,3. 

Regiões  florestaes  da  Europa. — Gomo  já  dissemos,  na  zona 
polar  nao  podem  existir  arvores;  a  temperatura  é  muito 
baixa  e  o  período  vegetativo  tão  curto  que,  no  Spitzberg, 
as  plantas  apenas  ieem  seis  semanas,  ou  quando  muito  dois 
mezes,  para  florir  e  fructificar. 

A  flora  é  ahi  muito  pobre  e  encerra  um  numero  relativa- 
mente grande  de  cryptogamicas- cellulares — lichens  e  mus- 
gos. As  phanerogamicas  slo,  pela  maior  parte,  herbáceas 
vivazes,  com  o  systema  subterrâneo  muito  desenvolvido  e 
com  os  eixos  aéreos,  em  proporção,  muito  curtos,  o  que 
,  lhes  dá  um  aspecto  característico,  porque  as  folhas  juntam- 
se  tanto,  pela  pequenez  dos  entre-nós,  que  parecem  dispostas 
em  roseta.  São  muito  poucas  as  plantas  annuaes.  Encontram- 
se  alguns  arbustos,  mas  de  porte  muito  acanhado:  salguei- 
ros cujos  rebentos  deitados  ao  longo  do  solo  pouco  sobre- 
saem  por  entre  as  massas  dos  musgos  e  lichens,  tendo, 
o  máximo,  O,"*  12  de  comprimento.  Os  rebentos  do  Salix 
pdaris  não  excedem  O,™  013;  desenvolvem  só  duas  folhas 
e  um  amentilho.  O  Vacdnium  uliginosum,  em  muitas  partes, 
apenas  se  eleva  O,™  02  acima  do  terreno. 

As  regiões  alpinas  das  montanhas  do  globo,  embora  apre- 
sentem bastantes  difierenças  climatológicas  com  a  zona  polar, 
teem  com  ella  muitas  semelhanças  e  por  isso  floras  muito 
análogas:  eguahnente  caracterisadas  pela  pobreza  especi- 
fica, pela  falta  de  arvores,  pela  presença  de  pequenos  ar- 
bustos e  de  plantas  herbáceas  vivazes  com  o  systema  sub- 
terrâneo muito  desenvolvido  em  relação  ao  systema  aéreo, 
pela  diminuição  das  plantas  annuaes,  e  pelo  augmento  nu- 
mérico das  espécies  de  lichens  e  musgos. 


i99 

A  solidão  polar  septentrional  está  envolvida  por  uma  larga 
cintura  de  florestas,  n'um  e  n'outro  continente.  Este  revesti- 
mento florestal,  na  Europa,  abrangeu  a  parte  mais  consi- 
derável da  sua  superficie,  em  épocas  anteriores  á  nossa. 
Segundo  Júlio  César  e  outros  historiadores  romanos  a  Al- 
lemanha  era  coberta  de  immensos  bosques,  como  o  eram 
as  Gallias,  a  Grécia  no  dizer  de  Heredoto  e  Thucydides,  a 
Mia,  as  Hespanhas,  etc.  Strabão  aílirma  que  no  tempo  de 
Cartbago  e  de  Roma  a  península  hispânica  tinha  grandes 
matas,  e  Diodoro  conta  d'um  grande  incêndio  que  lhe  de- 
vastou arvoredos  n'uma  extensão  enorme.  As  florestas  euro- 
peas  d^essa  época  deviam  oflferecer  aos  soldados  romanos 
o  mesmo  aspecto  grandioso  e  primitivo,  que  hoje  os  arvo- 
redos da  Sibéria,  e  da  parte  septentrional  da  America  do 
Norte,  onde  se  conserva  ainda  intacta  a  espontaneidade  da 
vegetação,  apresentam  aos  caçadores  que  as  percorrem  em 
procura  das  pelles  valiosas  dos  animaes  bravios. 

Foi  a  necessidade  de  alargar  a  cultura,  que  destruio  uma 
grande  parte  doestas  florestas,  associada  esta  necessidade 
infelizmente,  ás  vezes,  ao  desejo  immoderado,  e  impensado, 
de  realisar  os  valores  accumulados  por  tantos  annos,  e  que 
derrubando  as  arvores,  em  pontos  nem  sempre  apropriados 
à  agricultura,  veiu  provocar  modificações  no  clima  e  sobre- 
tudo no  relevo  do  terreno  e  no.  regimen  das  aguas,  bas- 
tante prejudiciaes  em  algumas  localidades. 

Na  Europa  o  revestimento  florestal  espontâneo  apresenta 
duas  zonas  bem  distinctas :  uma  septentrional,  com  dimen- 
sões muito  maiores,  outra  mais  reduzida,  meridional,  col- 
locada  nas  proximidades  do  Mediterrâneo. 

A  primeira  essência  folhosa,  que  apparece  no  extremo 
norte,  é  o  vidoeiro  (BetulaJ,  associada  ao  depois  com  as 
resinosas  dos  géneros  AbieSj  Larix  e  Pinus.  N*uma  faxa 
inferior  encontram-se,  simultaneamente  com  estas  espé- 
cies, a  faya  (Fagus  silvatica,  h.J  e  o  roble  (Querem  pe- 
duncukua,  Ehrh.^.  Ás  vezes  estas  espécies  reunem-se  no 


200 

mesmo  massiço,  mas  muitas  outras  vezes  cada  essência 
forma  grapos  exclusivos  consideráveis,  como  vários  arbustos 
(nos  géneros  CaMuna,  Eriça,  etc.)  se  apresentam  egual- 
mente  sociáveis  cobrindo  sosinhos  grandes  extensões. 

Todas  as  essências  florestaes  predominantes  n'esta  zona 
sao  de  typo  floral  incompleto:  achlamydeas  ou  monochla- 
inydeas,  e  uni-sexuaes;  todas  teem  as  flores  pequenas,  ag- 
glomeradas,  e  todas  florescem  na  primavera.  As  Angiosper- 
mas  sao  todas  de  folhas  caducas ;  as  espécies  sempre-yerdes 
s3o  Gymnospermas  cujas  folhas  pouco  aquosas,  rígidas,  com 
pequenas  superficies,  teem  organisação  apropriada  a  resis- 
tir aos  grandes  frios. 

As  diflferenças  de  temperatura  e  humidade  do  período 
activo  da  vegetação  ao  período  do  repouso  exercem  uma 
acção  destructiva  sobre  os  tecidos  vegetaes,  tanto  mais 
considerável  quanto  maiores  aquellas  difíerenças;  alteram- 
se  as  condições  de  tensão,  de  turgidez  cellular,  e  actaam 
por  isso  forças  que  provocam  a  desorganisação  do  conjun- 
cto.  N'esta  zona  septentrional,  onde  as  differenças  das  es- 
tações, como  dissemos,  são  tão  accentuadas,  as  Gymnosper- 
mas resistem  pela  sua  organisação  particular,  e  as  Angios- 
permas,  de  folhas  brandas  e  mais  aquosas,  no  inverno  des- 
pem-se  todas,  conservando  apenas  na  parte  aérea  os  troncos 
e  os  botões;  a  lenhiflcação  preserva  os  primeiros;  os  invó- 
lucros escamosos,  e  as  secreções  gommosas  e  resinosas, 
salvam  os  segundos. 

A  zona  mediterrânea,  no  sul  da  Europa,  é  caracterisada 
pela  maior  elevação  de  temperatura  e  pela  falta  de  chuvas 
estivaes.  A  sua  vegetação  predominante  é  constituída  por 
arbustos  e  arvores  sempre-verdes:  taes  os  carvalhos  de 
folhas  perennes — o  sobreiro,  a  azinheira  e  o  carrasqueiro; 
taes  a  oliveira,  a  murta,  o  aderno  (Phillyrea),  a  aroeira, 
o  trovisco,  a  cássia  branca  (Osyris),  etc.  O  pinheiro  manso 
dá  um  aspecto  particular  ás  suas  paizagens,  bem  como  um 
grande  numero  de  plantas  exóticas,  perfeitamente  naturali- 


r 


201 

sadas,  e  algumas  sub-espontaneas  mesmo — a  alfarrobeira,  a 
figaeira  da  índia  (Opuntia),  a  piteira  (Agaive),  a  laranjeira» 
o  limoeiro,  etc.  A  familia  tropical  destaca  já  n'esta  zona 
mediterrânea  um  dos  seus  representantes,  uma  palmeira, 
embora  de  modestas  proporções:  a  palmeira  anS  ou  das 
Tjssouras  (Chamaerops  hwniliSy  L.J,  da  mesma  forma  que  na 
região  polar  apparecem  os  arbustos  além  do  limite  norte 
das  arvores. 

N3o  é  ao  frio,  mas  sim  á  evaporação  forte  estival,  que 
teem  de  resistir  as  arvores  e  arbustos  n'esta  zona.  As  folhas 
persistentes  das  espécies  indigenas  predominantes  s3o  per- 
feitamente adequadas  a  esse  fim ;  teem,  é  certo,  maior  super- 
ficie  do  que  as  folhas  das  resinosas,  mas  os  seus  tecidos 
s3o  pouco  aquosos,  teem  grande  cohesao,  apresentam  as 
paredes  das  cellulas  constituintes  reforçadas  com  substan- 
cias incrustantes,  o  que  as  toma  seccas  e  flexiyeis  como 
coiro  n'umas  espécies,  ou  rígidas  e  quebradiças  como  per- 
gaminho, n'outras.  Todas  estas  espécies  teem  menor  trans- 
piração do  que  as  de  folhas  caducas. 

Quando  uma  planta  emitte  maior  quantidade  d'agua,  por 
transpiração  foliacea,  do  que  recebe  pelas  radiculas,  as  cel- 
hdas  das  folhas  perdem  a  turgidez  e,  quando  os  tecidos 
sio  tenros,  delicados,  aquosos,  dão-se  pregas  e  rupturas, 
que  lhes  vem  apressar  a  morte.  A  arvore,  cujas  raizes 
descem  mais  fundo,  resiste  mais  á  secca  do  que  o  arbusto, 
e  este  mais  do  que  a  planta  herbácea ;  porém  de  um  certo 
tenno  por  diante,  quando  se  realisem  aquellas  condições 
de  organisação,  a  morte  é  fatal  e  mdependente  do  porte 
do  individuo.  Mas,  se  as  folhas,  em  vez  de  serem  tenras, 
aqaosas,'  são  coriaceas,  seccas,  e  as  paredes  cellulares  dos 
seos  tecidos  são  incrustadas  como  dissemos  acima,  o  ve- 
getal poderá  resistir:  as  cellulas,  que  deUmitam  os  estomas, 
perdendo  a  turgidez,  quando  a  transpiração  augmenta,  cer- 
ram mais  a  abertura  estomatíca;  as  cellulas  internas,  de 
paredes  espessas,  resistem  bem  ao  desequilíbrio  de  tensão 


202 

que  soSreram ;  atravez  a  epiderme  tão  reforçada  os  líquidos 
interiores  nao  podem  evaporar-se;  a  arvore  ou  o  arbusto 
cae  ii'um  periodo  de  repouso  vegetativo  motivado  peia  falta 
de  agua :  tem  as  suas  funcções  nutritivas  paralysadas,  mas 
nem  as  folhas  morrem,  nem  o  individuo  a  que  pertencem. 
Se  a  este  excesso  de  seccura  estival  succeder  um  oulo;io 
húmido  e  com  a  temperatura  ainda  relativamente  elevada, 
o  que  é  vulgar  n'esta  zona,  a  vegetação  desperta  de  novo, 
e  a  arvore  ou  o  arbusto  reviça  uma  segunda  vez  no  anno. 

Se  as  Angiospermas  de  folhas  perennes  teem  uma  orga- 
nisação  tão  apropriada  a  resistirem  aos  períodos  de  maior 
secca,  em  contraposição  resentem-se  bastante  com  os  frios. 
É  certo  que  os  rhododendrons  e  outras  Ericaceas  sempre 
verdes  se  encontram  nas  montanhas  a  grandes  altitudes; 
mas,  ahi,  se  conseguem  vencer  os  invernos  é  pelo  abrigo 
que  lhes  traz  o  manto  de  neve,  onde  ficam  sepultadas»  e 
pelas  secreções  resinosas  próprias  a  esses  arbustos. 

Na  zona  seplentrional  o  periodo  de  maior  actividade  da 
vegetação  coincide  com  o  máximo  calor,  com  o  estio,  por 
isso  que  as  chuvas  se  dividem  por  todas  as  estações;  já 
não  acontece  o  mesmo  na  zona  sul  do  Mediterrâneo:  aqui 
a  primavera  é  de  ordinário  a  época  de.  maior  trabalho  ve- 
getativo, porque  no  estio  a  falta  de  humidade  o  restringe, 
ou  mesmo  o  suspende,  como  dissemos,  revivendo  de  novo 
no  outono. 

  falta  das  chuvas,  verdadeiramente  só  abundantes  no 
inverno,  e  o  calor  temperado,  com  as  médias  hibernaes 
pouco  baixas,  dão  o  cunho  climatérico  doesta  zona  meridio- 
nal da  Europa,  como  o  excesso  dos  frios  do  inverno  e  a 
abundância  das  chuvas  em  todas  as  estações  caracterisam 
a  outra  zona  do  norte.  D'aqui  o  motivo  porque  os  hydro- 
meteoros  teem  tamanha  importância  para  a  agricultura  da 
região  mediterrânea ;  d'aqui  o  motivo  porque  a  Europa  cen- 
tral e  boreal  explora  em  tamanha  escala  as  plantas  herbá- 
ceas, as  pastagens  e  os  cereaes  praganosos,  emquanto, 


203 

junto  ao  Mediterrâneo,  tomam  a  primazia  as  culturas  arbus- 
tivas e  arbóreas — a  vinha,  a  oliveira  e  o  sobreiro. 

A  distribuicSo  das  espécies  florestaes  espontâneas  apre- 
senta, muitas  vezes,  na  região  mediterrânea,  a  forma  so- 
davel  que  já  niotámos  nos  arvoredos  da  região  septentrio- 
nal,  e  o  mesmo  acontece  a  algumas  das  espécies  arbusti- 
vas e  sub-arbustivas,  que  povoam  as  charnecas  e  o  solo  das 
matas.  As  urzes  cobrem  também  vastos  tractos  de  terreno, 
qoasi  com  exclusão  de  outra  qualquer  espécie,  mas  os  ma- 
tos d'esta  zona  meridional  apresentam  muitos  arbustos  que 
lhes  são  próprios:  a  par  do  medronheiro,  do  trovisco,  das 
Papilionaceas  da  tribu  das  Gmisteas,  das  Labiadas  aromá- 
ticas, predominam  muitas  Gistineas,  algumas  de  porte  ele- 
vado, notáveis  pela  grandeza  das  flores,  e  pela  abundância 
das  secreções  ladaniferas. 

Qnasi  todas  as  Angiospermas  sempre-verdes  mediterrâ- 
neas teem  a  folhagem  de  cor  viva  e  lustrosa,  o  que  indica 
nm  grande  numero  de  grânulos  de  chlorophylla,  e  a  possi- 
bilidade de  crearem  princípios  immediatos  em  abundância. 
A  laranjeira,  por  exemplo,  hoje  perfeitamente  naturaUsada 
n'esta  zona,  produziria  sem  interrupção  flores  e  fructos,  se 
encontrasse  todo  o  anuo  a  humidade  necessária  para  isso. 
.  Tanto  a  zona  septentrional  como  a  zona  mediterrânea 
teem  essências  folhosas  e  resinosas :  n'uma  e  outra  a  dis- 
tribuição dos  arvoredos  de  cada  um  dos  dois  grupos  pren- 
desse tanto,  ou  mais,  com  a  composição  do  solo,  do  que 
com  as  variações  dos  phenomenos  meteorológicos ;  onde  a 
terra  vegetal  é  pouco  profunda,  ou  muito  solta  e  arenosa, 
desenvolvem-se  as  Ck)niferas,  emquanto  as  folhosas  só  appa- 
recem  constituindo  massiço  apertado  e  vigoroso  sobre  os 
solos  mais  fundos  e  tomados  mais  plásticos  pela  argilla. 

J(o  angulo  extremo  sudeste  da  Europa  começa  uma  ou- 
tra região,  que  se  estende  pela  Ásia  n'uma  grande  super- 
fiáe,  despida  de  arvoredos,  e  conhecida  com  o  nome  de  zcma 
A»  tkppes.  Esta  zona  é  notável  pela  temperatura  elevada 


204 

dos  seus  estios  sem  chavas,  e  pelos  fríos  rigorosos  dos  in- 
Ternos :  o  seu  clima  é  o  mesmo  da  zona  mediterrânea,  mas 
tornado  continental,  sem  ter  a  proximidade  do  mar  a  sua- 
yisar-Ihe  as  temperaturas  extremas.  A  falta  de  humidade 
n'uma  parte  considerável  do  anno  restringe-lhe  o  período 
vegetativo  apenas  a  três  mezes,  o  máximo,  duração  esta 
muito  curta  para  a  vida  das  arvores,  como  dissemos. 

A  vegetação,  adaptada  ás  condições  d'este  novo  meio,  é 
constituída  por  moitas  arbustivas  de  pequeno  porte;  por 
muitas  plantas  annuaes,  que  aproveitam  apenas  a  época  fa- 
vorável em  temperatura  e  humidaije ;  e  por  innumeras  plan- 
tas bolbosas,  cujas  folhas  procuram  fabricar  e  armazenar 
rapidamente,  durante  a  estação  propicia,  os  princípios  im- 
mediatos,  nos  seus  espessos  tecidos  de  reserva  subterrâ- 
neos. 

As  espécies  arbustivas,  ou  são  plantas  gordas,  que  resis- 
tem á  fortissima  evaporação  estival^  jã  pelo  excesso  de  saes 
de  sódio  que  os  seus  líquidos  contéem,  jà  pela  organisação 
particular  da  sua  epiderme;  ou  apresentam-se  protegidas 
por  eflflorescencias  que  as  revestem  exteriormente,  ou  por 
pequenas  escamas  coriaceas,  ou  por  numerosos  pelios  erri- 
çados.  N'estas  moitas  arbustivas  encontram-se  muitas  for- 
mas espinhosas,  o  que  corresponde  a  uma  diminuição  nos 
órgãos  foliaceos,  e  portanto  no  consumo  de  agua.  Algumas 
espécies  são  ricas  em  óleos  essenciaes,  que  se  evaporam 
com  maior  facilidade  do  que  a  agua,  e  produzem  um  res- 
friamento na  atmosphera,  em  volta  da  planta,  pela  sua  pas- 
sagem do  estado  liquido  ao  de  vapor,  mitigando  assim  a 
temperatura  e  a  transpiração.  No  interior  do  steppe  existe 
uma  única  essência  arborescente  e  essa  mesma  é  quasi 
aphylla. 

Á  medida  que,  a  partir  da  região  polar,  a  temperatura 
augmenta,  o  numero  das  espécies  vegetaes  também  au- 
gmenta ;  o  Spitzberg  tem  uma  flora  constituída  apenas  por 


r 


205 

107  phanerogamicas,  emquanto  a  Sibéria,  n'uma  extensão 
qoasi  eguaU  possue  1:288;  a  Scandinavia  e  a  Dinamarca 
reunidas  teem  i:677,  e  a  Allemanha  3:368;  em  Nápoles  en« 
contram-se  3:130  phanerogamicas,  e  na  Zelândia,  em  ex- 
tensão quasi  idêntica,  só  400;  a  França  ca  Córsega  teem 
3:600  espécies  n'mna  superfície  próxima  á  da  Suécia,  onde 
apenas  se  encontram  1:160  ^ 

Às  formas  lenhosas  também  augmentam  numericamente 
do  polo  para  o  equador.  Na  Laponia  o  numero  das  espé- 
cies acotyledoneas  entra  por  mais  de  metade  na  flora  local 

e  o  numero  das  espécies  arbóreas  é  apenas  j^;  este  nu- 

mero  já  sobe  na  França,  proximamente,  a  ~  e  na  Guyanna 

a  -.  Muitos  géneros  que  sao  herbáceos  no  norte  apresen- 
tam espécies  lenhosas  no  sul,  e  ás  vezes  a  mesma  espécie, 
lenhosa  no  sul,  adquire  menor  porte  e  torna-se  herbácea 
n'nma  latitude  mais  alta,  como  dissemos  a  propósito  do  ri* 
cino. 

É  assim  que  a  região  tropical  é  notável  pela  grande  ri- 
queza e  vigor  da  sua  vegetação.  Ahi  as  arvores  sempre- 
verdes  formam  massiço  apertado,  cuja  folhagem  espessa 
d3o  consente  a  passagem  directa  dos  raios  solares;  mas 
este  massiço  é  constituido  sempre  por  espécies  diflferentes, 
não  tem  a  uniformidade  com  que,  muitas  vezes,  se  apre- 
senta no  norte.  Grandes  trepadeiras  lenhosas  abraçam  as 
arvores  e  as  ligam  entre  si ;  as  acotyledoneas  cellulares  es- 
casseiam e  as  acotyledoneas  vasculares  tomam  portes  ar- 
bustivos; os  troncos  derrubados  e  as  rochas  cobrem-se,  não 
de  lichens  e  musgos  como  na  floresta  septentrional,  mas 
de  Fetos  trepadores,  de  Aroideas,  BromeUaceas,  Orchideas 

1  Todos  estes  Dumeros  sSo  simples  aproximações,  mas  que^  mostram 
ttm  bastante  evidencia  a  lei  enunciada;  sfto  extrahidos  do  livro  do  sr. 
I G.  Baker,  adiante  citado. 


206 

e  outras  monocotyledoneas  epipbytas.  As  monocotyledoneas 
de  grandes  dimensões,  tão  sensíveis  ao  frio  por  isso  qae  a 
perda  do  rebento  terminal  lhes  traz  a  perda  do  tronco  não 
ramificado,  encontram  ahi  todas  as  condições  necessárias  á 
sua  vida. 

Na  carta  seguinte  vêem-se  traçadas  as  zonas  de  vegeta- 
ção européas,  que  descrevemos.  Esta  carta  é  extrahída  da 
carta  geral  das  zonas  de  vegetação  do  globo,  segundo  À. 
Grisebach,  a  cujo  notabilissimo  trabalho  nos  soccorremos, 
principalmente,  n'esta  parte. 


, 


F-i 


207 


2.*— CLIMAS  FLORESTAES  DE  PORTUGAIi 

Portugal  está  situado  entre  o  parallelo  37""  e  42^  de  la- 
titade  norte.  Na  classificação  de  Haberlandt,  que  apresen- 
támos, fica  portanto  comprehendido  na  zona  temperada  mais 
quente,  caracterisada  pelas  arvores  de  folha  perenne,  pela 
eoltora  da  oliveira,  da  vinha  e  do  milho.  Na  carta  de  Gri- 
sebach,  Portugal  está  incluído  na  zona  de  vegetação  medi- 
terrânea, a  qual  em  toda  a  península  apenas  não  abrange 
Qffla  estreita  faxa  septentrional. 

Um  estudo  mais  detalhado  do  nosso  paiz  mostra,  com 
evidencia,  que  n'elle  existem  bem  accentuadas  duas  regiões 
climatéricas  principaes:  uma  ao  sul»  onde  o  terreno  apre- 
senta poucos  accidentes,  onde  a  atmosphera  é  quente  e 
secca,  onde  no  estio  as  chuvas  são  minimas  e  a  evaporação 
é  máxima,  onde  o  clima  é  genuinamente  mediterrâneo;  dois 
carvalhos  de  folhas  perennes  e  coriaceas — o  sobreiro  e  a 
azinheira — dominantes  no  revestimento  florestal  espontâ- 
neo d'esta  região,  podem  servir  bem  para  a  caracterisar. 
Ao  norte  do  paiz  o  terreno,  muito  montanhoso,  eleva-se  a 
grandes  altitudes;  os  pontos  culminantes  chegam  a  1:000, 
1:500  e  quasi  2:000  metros  sobre  o  mar  (o  terço,  ou  os 
dois  terços  do  limite  das  neves  perpetuas  na  península),  e 
os  pontos  mais  baixos,  a  não  ser  no  Uttoral,  cotam  alturas 
superiores  todas  a  200  metros.  Ahi  a  acção  combinada  da 
latitade  e  da  altitude .  toma  o  clima  menos  quente,  e  as 
montanhas,  verdadeiros  condensadores  da  agua  atmosphe- 
rica,  dão-lhe  hqmidade  e  chuvas  mais  abundantes ' ;  ahi  o 

1  Gomo  sabemos,  esta  ãcçSo  condensadora  explica-se  da  seguinte  fór- 
na:  o  ar  resMa-se  quando  sobe  ao  longo  da  montanha  por  duas  can- 
ns— porqae  serarefaz  com  a  diminuição  da  pressão  e  porque,  na  as- 
ceosSo  Tertical,  é  compellido  contra  as  vertentes  e  ao  chegar  ao  cume 
dislende-se  de  repente,  dando-se  i^producçSo  de  trabalho  e  uma  ab- 


208 

clima  já  não  é  tão  rigorosamente  mediterrâneo,  quasi  deve 
ser  antes  considerado  como  transição  da  zona  mediterrânea 
para  a  zona  florestal  do  norte;  já  são  os  carvalhos  de  fo- 
lha caduca  e  membranosa — o  roble,  o  carvalho  negral  e 
o  carvalho  portuguez — que  principalmente  o  caracterisam. 

Segundo  os  interessantíssimos  estudos  climaterico-flores- 
taes  do  sr.  Bernardino  Barros  Gomes,  que  em  toda  esta 
parte  não  faremos  senão  resumir,  a  linha  divisória  d^aquel- 
les  dois  climas  principaes  não  se  afasta  muito  da  linha  do 
curso  do  Tejo  portuguez;  a  região  do  norte  comprehende 
5.200:000  hectares  e  a  do  sul  3.760:000.  Sob  a  acção  de 
um  clima  mais  propicio  a  agricultura  e  a  população  desen* 
volvem-se  muito  na  região  do  norte,  comparativamente  á  do 
sul:  emquanto  a  primeira  possue  3.300:000  habitantes,  a 
segunda  apenas  contém  650:000. 

Como  vimos,  os  carvalhos  (género  Querem)  representam 
um  papel  tão  preponderante  na  arborisação  do  paiz  que  fo- 
ram tomados  como  característicos  das  duas  zonas  climate- 
rico-florestaes.  Para  tornar  bem  evidente  esta  sua  prepon- 
derância, o  sr.  Barros  Gomes  lembra  a  extensão  que  elles 
ainda  hoje  occupam,  a  sua  tendência,  em  muitos  pontos^  a 
dominarem  e  invadirem  os  terreiK)s  circumvisinhos,  a  sua 
força  de  reproducção  espontânea,  e  o  facto  de  existirem  no 
território  portuguez  mais  de  500  localidades,  que  derivam 
os  seus  nomes  das  espécies  de  carvalhos  indígenas. 

Região  norte,  ou  dos  carvalhos  de  folha  caduca. — O  re- 
levo orographico  doesta  região  desde  já  deve  indicar  a  va- 
riedade grande  dos  seus  climas  locaes,  pela  variedade  das 

sorpçSo  equivalente  de  calor  roubado  ao  meio  em  volta;  é  este  duplo 
resfriamento  que  condensa  uma  parte  do  vapor  aquoso  na  forma  de  nu- 
vens ou  de  chuva.  Chegada  a  corrente  aérea  ao  cume  da  montanha  pas- 
sam-se  phenomenos  oppostos  na  descida :  a  chuva  diminue  entio  e  a 
evaporação  augmenta.  É  por  este  motivo  que  os  nossos  terrenos  eis- 
montanos  sSo  táo  ricos  de  chuvas  e  humidade  relativamente  aos  terre- 
nos transmontanos  visinhos. 


r 


209 

suas  aUitades e exposições;  deve  indicar  temperaturas  tanto 
mais  irregulares  nas  máximas  e  nas  minimas  quanto  mais 
afastadas  do  mar,  chuvas  mais  intensas  nas  exposições  eis- 
montanas  das  proximidades  do  oceano,  e  menores  nas  re- 
giões transmontanas  mais  internadas. 

É  assim  que  esta  região  do  norte  pode  soíTrer  uma  pri- 
meira sub-divisao,  comprehendendo-se  a  um  lado  a  zona 
do  littoral  e  a  outro  lado  a  zona  do  interior.  O  norte  litto- 
ral  apresenta  as  médias  de  chuva  mais  abundantes  do  paiz, 
I  sendo  as  médias  das  chuvas  de  estio  ainda  bastante  ele- 
Yadas  relativamente  ás  outras  zonas;  a  proximidade  do 
1  mar  loma-lhe  a  temperatura  mais  constante  do  que  na  zona 
[  interna.  A  chuva  decresce,  n'esta  zona  norte  littoral,  á  me- 
dida qae  caminhamos  do  seu  extremo  norte  ao  extremo 
sal,  e  a  temperatura,  pelo  inverso,  augmenta.  O  sr.  Barros 
Gwnes  sub-divide-a  da  seguinte  forma : 

1.* — Sub-região  de  Alemdouro  littoral:  comprehendendo 
proximamente  a  provincia  do  Minho :  o  terreno  de  Alemdouro 
desde  o  mar  até  ao  Gerez  e  Marão. — É  o  ponto  mais  chu- 
Toso  do  paiz;  as  suas  médias  de  chuva  annual  excedem 
muito  as  de  todos  os  outros  paizes  da  Europa;  tem  chuvas 
de  primavera  também  superiores  ás  dos  outros  paizes  eu- 
ropeus, e  as  chuvas  estivaes  são  ainda  relativamente  abun- 
dantes, apezar  de  se  resentirem  já  da  escassez  caracterís- 
tica, que  teem  na  zona  mediterrânea.  A  esta  abundância 
de  chuvas  corresponde  o  maior  desenvolvimento  agrícola 
da  provincia;  nos  climas  quentes  e  seccos,  como  é  o  nosso 
em  geral,  a  distribuição  dos  hydro-meteoros,  conforme  muito 
bem  diz  o  sr.  Barros  Gomes,  merece  a  primeira  importân- 
cia na  classificação  climatérica. 

N'e$ta  sub-região  as  médias  mensaes  de  humidade  relativa 
úo  de  70  a  100  7o;  a  média  annual  da  chuva  é  de  1:200 
a  2:000  millímetros,  e  a  média  das  chuvas  de  verão  é  de 
80  a  200  millimetros.  As  temperaturas  médias  são  de  12^, 
U*,  15®  centígrados,  segundo  a  altitude. 

CS.  14 


210 

2.* — Stib-região  da  Beira  littoral:  limitrophe  com  a  ante- 
rior, comprehende  a  parte  sub-plaoa  da  Beira  mais  próxima  do 
oceano,  entre  o  Douro  e  o  massiço  de  Porto  de  Moz,  tendo 
por  limite  a  leste  as  montanhas  do  interior,  proximamente 
pela  curva  de  nivel  de  200  metros.  N'esta  sub-regiao,  em 
relação  à  anterior,  a  humidade  e  a  chuva  decrescem  (a  chuva 
é  inferior  em  mais  de  metade)  e  a  temperatura  augmenta. 

  sua  média  mensal  de  humidade  relativa  é  de  65  a  80 
por  cento.  A  média  geral  da  chuva  é  de  700  a  1:200  mil- 
limetros,  e  as  chuvas  de  verão  não  são  ainda  muito  infe- 
riores ás  do  Minho;  a  média  de  temperatura  annual  é  de 
15^  a  16^ 

3.^^ — Subregião  do  Centro  littoral:  comprehende  a  faxa 
costeira,  limitada  pela  sub-região  anterior  e  pelo  Tejo  até  ao 
Zêzere;  as  chuvas  são  já  ahi  mais  diminutas,  a  evaporação 
maior,  a  temperatura  mais  alta,  sobretudo  nos  pontos  ex- 
postos ao  vento  do  Âlemtejo.  É  caracterisada  por  médias 
mensaes  de  humidade  relativa  de  60  a  85  por  cento  nas 
vertentes  mais  bafejadas  do  mar  (Lisboa),  e  85  a  40  por 
cento  nas  mais  internadas  e  expostas  ao  Âlemtejo.  A  média 
geral  da  chuva  é  de  800  a  700  millimetros;  a  média  das 
chuvas  de  verão  é  de  20  a  30  millimetros.  A  temperatura 
média  é  de  15^,  15^,2  e  16^,  conforme  os  pontos  conside- 
rados. A  evaporação  é  7  vezes  mais  forte  nas  margens  do 
Tejo  do  que  nas  do  Mondego,  como  se  comprova  pelo  es- 
tudo da  saUnação  n'um  e  n'outro  local. 

Na  zona  norte  do  interior  o  sr.  Barros  Gomes  considera 
as  seguintes  sub-divisões : 

1.' — Sub-região  Transmontana:  abrangendo  todo  o  espa- 
ço áquem  e  além  Douro,  comprehendido  entre  as  serras  do 
Gerez  e  Marão  e  as  serras  ^e  se  estendem  desde  Lamego 
até  á  Guarda,  limitado  ao  norte  e  ao  nascente  pela  Hespa- 
nha.  Este  espaço,  fechado  aos  ventos  do  mar  pelas  altas 
montanhas,  que  o  rodeiam,  é  bastante  escasso  de  chuvas 
em  comparação  do  paiz  de  Alemdouro  littoral  com  que  con- 


211 

« 

fioa;  uma  parte  importante  da  humidade,  trazida  pelos  ven- 
tos mareiros,  fiea  condensada  na  região  chuvosa  cis-mon- 
tana.  A  quantidade  das  chuvas  totaes  é  inferior  em  meta- 
de,  ou  ainda  em  menos,  ás  do  Minho,  mas  esta  differença 
é  sobretudo  accentuada  nas  chuvas  de  inverno  e  de  outono, 
não  é  tão  considerável  nas  de  primavera,  e  é  muito  pe- 
qaena  nas  chuvas  de  estio,  o  que  explica  ter  esta  sub-região 
prados  naturaes  (lameiro^  de  muito  boa  quaUdade,  cujos 
fenos  podem  rivaUsar  com  os  fenos  da  Europa  central  no 
valor  nutritivo»  como  tivemos  occasião  de  demonstrar. 

As  médias  mensaes  de  humidade  relativa,  n'esta  sub-re- 
gião,  sao  de  40  a  100  o/o.  As  chuvas  annuaes  são  de  1:000 
miliimetros  na  Guarda  e  apenas  de  500  miliimetros  em  Mon- 
corvo; as  chuvas  estivaes  são  de  70  a  80  miliimetros.  As 
oscillações  da  temperatura  são  consideráveis:  nas  baixas, 
no  verão,  o  calor  e  a  seccura  são  grandes,  emquanto  nos 
pontos  altos,  no  inverno,  se  encontra  a  neve  em  abundân- 
cia. 

i.^—Sub-região  da  Beira  central:  Confina  com  a  Beira 
transmontana  e  com  a  Beira  littoral,  tendo  como  limite  sul  as 
comiadas  da  fistrella.  Muito  montanhosa  e  cotando  altitudes 
muito  consideráveis,  esta  sub-região  differença-se  bem,  cli- 
materícamente  fallando,  da  sub-região  transmontana,  pela 
(Rientação  das  suas  montanhas  mais  elevadas;  está  aberta 
aos  ventos  do  mar  e  abrigada  do  nascente  pela  mais  alta  cor- 
dilheira do  paiz,  possuindo  assim  óptimas  condições  para  a 
predpitação  dos  vapores  aquosos. 

A  Beira  central,  pelas  razões  expostas,  tem  mais  chuvas 
do  que  o  paiz  transmontano,  embora  este  fique  mais  ao 
norte.  Na  Beira  central  as  médias  mensaes  de  humidade 
relativa  são  de  65  a  100  o/o;  as  chuvas  annuaes  medem  de 
700  a  1:200  miliimetros,  sendo  as  chuvas  de  verão  como 
nas  sub-regiões  confinantes. 

3.'—  Stdhregião  da^Beira  meridional:  Comprehendida  en- 
tre as  comiadas  da  Estrella  e  o  Tejo,  e  Umitada  ao  poente 

14* 


2i2 

la  sub-regi9o  do  Centro  littoral ;  Techada  aos  ventos  do  mar, 
posta  aos  ventos  seccos  do  Alemtejo,  esta  Taxa  meridional 
Beira  apresenta-se,  de  toda  a  grande  região  ao  norte  do 
jo,  a  mais  secca  e  a  mais  escassa  em  chuvas  de  estio, 
lis  ainda  que  o  paiz  transmontauo,  tendo  temperaturas 
idias,  nos  pontos  de  menor  altitude,  umpouco  mais  at- 

k  reg)3o  climatérica  ao  norte  do  Tejo  é  representada  Qo- 
italmente,  como  dissemos,  pelos  carvalhos  de  folhas  ca- 
cas e  memhranosas;  são  três  as  espécies  predomínao- 
;:  o  carvalho  negral  na  zona  montanhosa  do  interior,  o 
)le  na  zona  do  littoral,  sobretudo  na  parte  mais  ao  norte 
lOs  pontos  cis-montanos  de  maior  humidade,  e  o  cana- 
I  portuguez  no  Centro  littoral,  e  em  algumas  partes  da 
ia  interna  montanhosa,  fazendo  a  transição  para  a  regiio 
sul  do  Tejo.  Esta  ultima  espécie,  peculiar  á  Península, 
Argélia  e  ao  Oriente,  é  intermédia  nas  exigências  do 
lio  onde  se  desenvolve,  respectivamente  aos  dois  gra- 
s  de  carvalhos — o  de  folhas  perennes  e  o  de  folhas  ca- 
cas—como é  também  intermédia  aos  dois  na  organisa- 
):  como  os  primeiros,  tem  as  folhas  coriaceas,  apropria- 
s  a  corrigir  os  excessos  da  evaporação  dos  climas  seccos; 
no  os  segundos,  tem-as  caducas,  embora  não  membraao- 
i;  para  que  a  transição  seja  ainda  mais  pronunciada,  a 
eda  das  suas  folhas  é  habitualmente  mais  tardia  do  que 
roble  e  no  carvalho  negral;  emquanlo  estes  dois  oltJ- 
)s  se  despem  no  outono,  as  folhas  do  carvalho  portugnez 
Larellecem  no  outono,  ou  no  inverno,  e  sò  no  inverno  oa 
primavera  seguinte  se  despegam  da  arvore. 
[Jma  outra  essência  florestal  se  desenvolve  em  muita 
tmdancían'esta  região  do  norte,  e  pode  servir  bem  a  cara- 
risar  alguns  dos  seus  climas  locaes — é  o  pinheiro  bravo, 
racterisa  as  snb-regiões  de  mais  abundante  humidade,  por- 
e  exactamente  a  hiunidade  atmospherica  é  uma  das  soas 
gencias  climatéricas  tão  saliente,  que  esta  arvore  não  se 


213 

afasta  mnito  do  mar,  e  esse  habitat  especial  lhe  grangeou 
o  nome  de  Pinus  marítima  com  que  Brotero  o  descrevea. 
O  pinheiro  bravo  caracterisa,  pelos  seus  massiços  conside- 
ráveis, a  zona  littoral  norte,  e  ainda  a  Beira  central,  que, 
embora  tão  afastada  do  oceano  como  a  região  Transmon* 
tana  e  a  Beira  meridional,  tem  muito  maior  humidade,  pela 
soa  exposição  aberta  aos  ventos  mareiros,  e  pela  orientação 
das  montanhas,  que  a  rodeiam. 

Duas  outras  essências  se  encontram  ainda,  com  frequên- 
cia, na  região  ao  norte  do  Tejo — o  castanheiro  e  a  oli- 
veira; mas  a  distribuição  de  uma  e  outra  prende-se  mais 
eom  factos  agrologiços,  como  diremos  adiante,  do  que  com 
factos  climatéricos.  O  castanheiro  encontra-se  em  toda  a 
zona  montanhosa,  indifferente  á  exposição  eis  ou  transmon- 
tana, e  a  oUveira  tem  sido  levada  pela  cultura  a  quasi  to- 
das as  regiões  portuguezas. 

O  vidoeiro,  por  ultuno,  é  a  arvore  que  caracterisa,  entre 
nós,  as  alturas  elevadas ;  encontra-se  no  Gerez,  nos  conce- 
lhos de  Melgaço  e  Arcos  de  Vai  de  Vez,  no  Marão  e  na  Es- 
trella,  onde  tem  o  limite  sul. 

Resumindo :  os  climas  florestaes  da  região  portugueza  ao 
norte  do  Tejo,  no  seu  conjuncto,  podem  caracterisar-se  pe- 
los carvalhos  de  folhas  caducas.  Ao  longo  do  littoral  corre 
mna  faxa  de  maior  humidade,  que  se  prolonga,  no  inte- 
rior, até  á  Beira  central;  esta  zona,  mais  húmida  e  chu- 
vosa, é  caracterisada  pelo  pinheiro  bravo. 

Não  deve  todavia  esquecer  que  a  irregularidade  das  ex- 
posições, das  altitudes,  dos  mil  accidentes  do  terreno»  em 
paiz  tão  montanhoso,  vem  alterar  a  cada  passo,  n'uma  ex- 
cepção local  mais  ou  menos  restricta,  as  indicações  geraes, 
que  deixájmos  esboçadas ;  e,  por  isso,  é  commum  encontrar 
as  espécies  mais  do  sul  misturadas  com  as  predominantes. 
Exactamente  a  grande  variabiUdade  climatérica  é  um  dos 
caracteristicos  do  paiz  ao  norte  do  Tejo. 

limites  da  Tegetação  arbórea  impostos  pela  altitude. — 


214 

Calcalon  o  sr.  Rivoli  qne,  na  serra  da  Estrella,  a  tempera- 
tura média  decresce  0°,65  cent.  por  cada  100  metros  de 
elevação.  Esta  differença  reparte-se  do  seguinte  modo  pe- 
las quatro  estações: 

Inverno 0^,54  cent. 

Primavera 0*^,72 

Estio 0^,71 

Outono 0^63 

Segundo  o  mesmo  auctor,  e  segundo  o  «Relatório  da  Sec- 
ção de  Rotanica  da  Expedição  Scientiâca  em  1881]^,  apre- 
sentado pelo  sr.  dr.  Júlio  A.  Henriques,  sabe-se  que,  n'esta 
serra,  até  400  metros  de  altura  domina  a  flora  mediterrâ- 
nea, a  qual,  de  800  metros  para  cima,  desapparece  de  todo. 
A  cultura  do  centeio  termina  a  1 :500  metros,  e  a  esta  al- 
titude as  arvores  são  já  raríssimas;  o  castanheiro  ponco 
sobe  de  900  metros ;  o  pinheiro  manso  tem-lhe  ficado  infe- 
rior, e  o  pinheiro  bravo  pouco  mais  alto  chega ;  o  carvalho 
negral  vae  até  1:000  metros;  o  teixo  vive  a  1:500  metros; 
o  azevinho  e  o  vidoeiro  chegam  a  1:800  metros.  De  1:500 
metros  para  cima  as  urzes  (Eriça  umbellatay  L.,  E.  arbó- 
rea, L.y  E,  lasitanica,  Rud.,  E.  aragonensiSy  Wk,,  Calluna 
vulgaris,  Satísb.J  formam  matos  arbustivos;  a  1:700  metros 
as  urzes  perdem  a  força  e  o  zimbro  toma  a  predominân- 
cia, sendo  a  única  planta  arbustiva,  que  se  encontra,  de 
1:750  a  1:858  metros.  O  zimbro  adquire  ahi  um  aspecto 
característico,  e  um  porte  muito  especial,  ficando  rasteiro 
6  applicado  contra  a  terra,  em  grandes  tufos,  com  as  fo- 
lhas pequenas  e  conchegadas  (Juniperus  nanay  W.) .  D^aqnelle 
limite  para  diante  segue  a  flora  alpina,  caracterisada  prin- 
cipalmente pelas  gramíneas  curtas  e  rígidas,  e  pelas  cry- 
ptogamicas  cellulares— Uchens  e  musgos. 

Segundo  o  recente  estudo  do  sr.  dr.  JuUo  A.  Henriques 


215 


acerca  do  Gerez '  sabe-se  que,  n'esta  serra,  mais  arborísada 
que  a  Estrella,  até  900  metros,  predomina  o  roble,  o  plá- 
tano bastardo,  o  azereiro,  o  azevinho,  o  medronheiro  e  o 
carvalho  negral;  o  roble  pouco  passa  de  1:000  metros,  e 
o  canralho  negral  de  1:200  metros.  Segue  uma  zona  em 
qae  predomina  a  vegetação  rasteira  (urzes,  Genista  micran- 
tka,  etc),  e  onde  as  únicas  arvores  que  se  encontram  são 
o  vidoeiro  e  o  teixo;  ambos  param  a  1:300  metros.  De 
1:400  metros  para  diante  apparece  o  zimbro  (Juniperus 
nanãy  W.J  e  alguns  pequenos  arbustos  rasteiros.  Como  se 
vê,  na  serra  do  Gerez,  mais  ao  norte,  os  limites  superiores 
de  qnasi  todas  as  arvores  são  inferiores  aos  limites  que 
apresentam  na  Estrella. 

Região  sul,  ou  dos  carvalhos  de  folha  perenne. — Na  parte 
do  paiz,  que  se  estende  ao  sul  do  Tejo,  as  chuvas  dimi- 
nuem muito,  comparativamente  á  região  do  norte,  sobretudo 
as  chuvas  d'estio,  cujas  médias  oscillam  entre  40™"  e  20°**", 
emquanto  no  Minho  chegam  a  70""  e  80"".  Esta  escas- 
sez das  chuvas  estivaes  é  peculiar,  como  dissemos,  a  toda 
a  zona  mediterrânea  e  portanto  ao  nosso  paiz,  que  n'ella 
está  comprehendido :  emquanto  na  Europa  não  mediterrâ- 
nea as  chuvas  d'estio  sobem  a  25  e  35  por  cento  da  chuva 
total,  não  descendo  as  mais  das  vezes  de  100""  a  200"", 
em  Portugal  teem  apenas  valores  comprehendidos  entre  3  a 
10  por  cento.  É  nas  nossas  regiões  d'Alemtejo  que  este  fa- 
cto mais  se  accentua,  e  que  se  encontram  aquellas  percen- 
tagens minimas. 

  essa  falta  mais  considerável  de  chuvas  de  verão  jun- 
ta-se,  no  paiz  ao  sul  do  Tejo,  a  maior  elevação  de  calor  e 
o  estado  de  seccura  da  atmosphera,  tomando  muito  activa 
a  evaporação.  Emquanto  no  Porto  a  humidade  relativa  es- 
tival apresentou  a  média  de  72  por  cento,  (nos  annos  de 


'  Boletim  da  Sociedade  Brotériana  m.  Fascículos  d.*"  e  i.*" — 1884. — 
Coimbra.  1885. 


216 

1867  a  1872);  em  Campo  Maior,  no  mesmo  período,  ac- 
cusou  apenas  38  por  cento.  No  verão  de  187Ó  a  evapora- 
ção, em  Campo  Maior,  subiu  a  16"",5,  e  a  chuva  em  todo 
esse  tempo  não  passou  de  18™",4;  aquella  evaporação  é 
uma  das  maiores  que  se  tem  registrado  na  Europa.  Os  es- 
tudos da  salinação  nas  marinhas  do  Sado  mostram  uma 
evaporação  dez  vezes  maior  ali  do  que  nas  salinas  do  oeste 
da  França,  cuja  evaporação  é  muito  próxima  á  do  littoral 
da  nossa  Beira. 

Esta  grande  seccura  no  estio  é  um  dos  principaes  cara- 
cterísticos climatéricos  da  região  d'Alemtejo ;  é  elia  que  so- 
bretudo imprime  o  seu  cunho  peculiar  á  vegetação  lenhosa, 
adaptada  a  poder  resistir  n'um  tal  meio;  arvores  ou  arbus- 
tos de  folhas  perennes  e  coriaceas,  com  os  tecidos  menos 
seivosos,  com  as  camadas  sub-èpidermicas  convenientemente 
reforçadas. 

Aii,  poucos  dias,  ás  vezes  mesmo  poucas  horas,  de  sol 
forte,  nos  fins  ou  nós  melados  da  primavera,  são  o  bastante 
para  seccar  a  vegetação  herbácea,  de  súbito,  deixando-a 
como  se  tivesse  sido  queimada.  As  arvores  de  folhas  ca- 
ducas despem-se  prematuramente,  debaixo  da  intensidade 
d'aquella  acção,  largando  as  folhas  verdes,  mas  queimadas, 
e  teem  assim,  além  da  queda  outonal,  ess'outra  precoce 
com  que  procuram  estabelecer  prompto  equilíbrio  entre  a 
humidade  do  solo,  cada  vez  mais  diminuta,  e  a  superficie 
evaporante,  reduzindo-a  d'esta  forma.  Até  as  arvores  de 
folhas  perennes,  apezar  da  sua  especial  organisação,  accu- 
sam  esse  augmento  de  seccura;  é  então  que  os  pinheiros, 
a  oliveira,  a  azinheira  e  o  sobreiro  deixam  cair  com  abun- 
dância as  folhas  mais  velhas,  e  estas  arvores  apenas  vesti- 
das pelas  folhas  novas,  nas  extremidades  dos  ramos,  pare- 
cem concentrar  ali,  n'essa  época,  toda  a  sua  vegetação. 

A  superficie  do  terreno  muito  mais  plana  ao  sul  do  Tejo 
do  que  ao  norte,  dá  a  toda  esta  região  menor  varíabilidade 
nos  climas  locaes.  Ao  sul,  como  ao  norte,  a  humidade  de- 


217 

cresce  do  líttoral  para  o  interior,  mas  na  primeira  região  de- 
cresce em  escala  muito  mais  reduzida  do  que  na  segunda; 
é  por  isso  que,  emquanto  ao  norte  a  faxa  mais  próxima 
do  mar  tém  uma  essência  peculiar  a  caracterisal-a-^o  pi- 
nheiro bravo — no  sul  os  carvalhos  de  folha  perenne  alar- 
gam-se  tanto  na  faxa  do  interior,  como  na  do  littoral,  che- 
gando quasi  à  beira  mar. 

Ao  longo  do  oceano,  n'esta  região  sul,  o  sr.  Barros  Go- 
mes considera  as  duas  sub-regiões  seguintes : 

1.* — Sulhregião  do  Baixo  AlenUejo  littoral:  caracterisada 
pela  grande  seccura  e  evaporação  estival,  de  que  dá  bom  in- 
dicio a  salinação  nas  marinhas  do  Sado,  como  dissemos. 
Tem  temperaturas  médias  annuaes  de  16^  e  16^,5. 

2.*—  Sub-região  do  Algarve:  o  ponto  do  littoral  menos  chu- 
voso do  paiz;  tem  grande  escassez  de  chuvas  d'estio,  sendo 
as  médias  inferiores  a  20°™.  A  humidade  e  as  chuvas,  como 
se  vê,  decrescem  constantemente  do  norte  ao  sul ;  o  Minho 
e  o  Algarve  representam  os  dois  extremos — as  máximas  e 
asminimas;  identicamente  diminuem  as  chuvas  do  verão. 
A  temperatura  média  n'esta  sub-região  é  de  17^,5  na  costa 
e  16%5  mais  para  o  interior. 

A  zona  alemtejana  interior  é  assim  subdividida  pelo  sr. 
Barros  Gomes : 

^^^AUo  Alemtejo:  comprehendendo  as  terras  altas  e  a's 
serras  de  Portalegre  a  Évora.  É  caracterisado  por  médias 
mensaes  de  humidade  relativa  de  40  a  80  por  cento;  as 
suas  chuvas  annuaes  são  de  700"'"  a  500°",  e  as  estivaes 
de  30°»"  a  50™.  As  temperaturas  médias  são  de  16°  a  17**. 

i.*— Baixo  Alemtejo:  comprehende  as  baixas  do  Sorraia 
e  do  Guadiana :  é  n'esta  sub-região  que  se  encontra  a  má- 
xima seccura  do  ar,  em  Portugal;  a  média  mensal  de  hu- 
midade relativa  é  de  30  a  80  por  cento,  e  as  suas  chuvas 
estivaes  são  tão  diminutas  que  só  as  do  Algarve  lhe  são  in- 
feriores. A  temperatura  média  d'esta  sub-região  deve  ser 
bastante  elevada,  talvez  17®. 


218 


A  regi3o  ao  sul  do  Tejo  tem,  como  dissemos,  por  genninos 
representantes  do  seu  clima  o  sobreiro  e  a  azinheira ;  o  pri- 
meiro dominando  sobretudo  no  Alto  Alemtejo  e  nos  pontos 
mais  afastados  do  littoral,  e  a  segunda  apresentando  uma 
disposição  inversa. 

O  pinheiro  bravo,  cuja  existência  está  presa  a  um  certo 
grau  ile  humidadç  atmospherica,  só  nos  pontos  muito  pró- 
ximos do  mar  ou  dos  rios  pode  aqui  prosperar,  mas  perde 
a  importância  florestal  que  tem  ao  norte;  primeiro  appa- 
rece  misturado  com  o  pinheiro  manso,  depois  cede  o  logar 
a  este  ultimo,  que  pede  temperaturas  mais  elevadas.  O  pi- 
nheiro manso,  em  Portugal,  é  sobretudo  peculiar  a  esta  re- 
gião, mas  não  tem  n'ella  a  importância  que  o  pinheiro  bravo 
adquire  ao  norte  do  Tejo.  É  frequente  a  oliveira  e,  em  par- 
tes, o  castanheiro. 

Finalmente,  a  zona  mais  meridional  do  nosso  paiz,  o  Al- 
garve, tem  uma  vegetação  particular  muito  característica, 
em  harmonia  com  as  suas  condições  climatéricas :  á  azinheira, 
á  figueira  e  oliveira,  sobretudo  dominantes,  associa-se  em 
grande  quantidade  a  alfarrobeira  e  a  palmeira  anã. 

Damos,  na  carta  seguinte,  o  traçado  d'estas  zonas  clima- 
téricas, extrahido  das  interessantíssimas  cartas  do  sr.  Bar- 
ros Gomes: 


219 


8.*— INFLUENCIA  DAS  VARIAÇÕES  LOOAES  DO  OUIIA 

NO  MODO  DE  VIDA 
DS;  UHA  MESMA  ESPÉCIE  LENHOSA 

Cada  espécie  yegetal  adquire,  o  seu  melhor  desenvolvi- 
mento, como  dissemos,  onde  encontra  os  graus  de  calor, 
hiz  e  humidade,  que  sobre  todos  lhe  s3o  mais  favoráveis, 
mas  fora  d'esse  logar  de  mais  propicia  vegetação  pode  ainda 
viver,  nos  pontos  onde  as  oscillações,  para  mais  ou  para 
menos,  em  redor  d'aquelle  grau  optimum,  são  permittidas 
pelo  seu  organismo.  Estudemos  agora  a  acção  d'estas  va- 
riações locaes. 

Épocas  das  diversas  phases  da  vegetação. — Nas  semen- 
tes, depois  de  completas,  a  vida  fica  latente;  é  muito  insi- 
gnificante a  troca  de  gazes  entre  ellas  e  o  meio  em  redor, 
até  que  principie  a  germinação.  As  sementes  parecem  in- 
sensíveis aos  maiores  frios;  o  sr.  Boussingault  sujeitou  se- 
mentes de  trevo,  de  centeio  e  de  trigo  a  temperaturas  in- 
feriores a  — 100®  cent.  sem  lhes  destruir  a  faculdade  ger- 

« 

minativa ;  d^aqui  a  razão  porque  as  plantas  annuaes  são  ape- 
nas influenciadas  pela  temperatura  dos  seus  períodos  vege- 
tativos. 

Mas,  desde  que  a  vida  se  começa  a  manifestar,  cada  pe- 
riodo  do  desenvolvimento  de  cada  espécie  necessita,  para 
se  poder  dar,  como  sabemos,  determinadas  quantidades  de 
calor,  luz  e  humidade.  É  claro,  portanto,  que  as  variações 
do  clima  local  hão  de  apressar,  ou  retardar,  as  épocas  an- 
tmaes  doestes  diversos  períodos. 

Assim  se  explica  por  que  razão  sementes,  exactamente 
egnaes,  n'uns  pontos  germinam  mais  cedo  do  que  n'outros, 
e  a  razão  porque  o  desabrolhamento,  a  floração,  a  fructifica- 
ção,  a  queda  das  folhas  de  uma  mesma  espécie,  se  realisam 
em  diverso  tempo,  nos  diflerentes  logares  onde  ella  habita. 

No  emtanto  a  época  da  passagem  de  uns  d'estes  perío- 


220 

dos  evolutivos  para  os  outros  n3o  depende  exclusivamente 
de  simples  acções  physicas  do  meio  ambiente;  será  erro 
muito  grave  n'essa  apreciação  querer  pôr  de  lado  o  modo 
de  ser — a  vida — do  organismo  em  questão.  Assim,  em 
muitos  pontos  da  zona  mediterrânea,  o  mez  de  novembro 
é  tão  quente  como  o  de  abril,  a  humidade  não  escasseia  em 
nenhum  dos  dois,  e  apezar  d'isso  muitas  arvores  de  folhas 
caducas  despem-se  no  primeiro  d'aquelles  mezes,  e  os  seus 
botões  já  formados  não  se  desenvolvem,  emquanto  no  se- 
gundo desabrolham,  cobrindo-se  de  folhas  e  flores. 

Alguns  querem  explicar  este  facto  lembrando  que  no  ou- 
tono a  marcha  das  temperaturas  decresce,  emquanto  na 
primavera,  pelo  inverso,  augmenta;  será  esta  subida,  se- 
gundo elles.que  provoca  o  desabrolhamento ;  outros  dão 
como  explicação,  a  necessidade  de  um  certo  intervallo  de 
tempo  para  que  se  dé  a  maturação  das  reservas  nutritivas 
da  arvore.  Mas  nenhuma  das  duas  hypotheses  explica  bem 
o  motivo  por  que,  nas  diversas  locaUdades,  as  mesmas  es- 
sências não  passam  as  phases  de  vegetação  sempre  pela 
mesma  ordem :  assim,  segundo  o  sr.  Yaupell,  desde  o  Báltico 
até  Munich  desabrolha  primeiro  a  faya,  depois  o  carvalho 
e  em  seguida  o  freixo,  emquanto  na  Bélgica  desabrolha  pri- 
meiro o  freixo,  depois  a  faya  e  por  ultimo  o  carvalho,  e  em 
Dijon  seguem  estas  essências  já  outra  ordem,  o  carvalho 
primeiro,  o  freixo,  e  só  depois  a  faya.  O  clima  do  centro  de 
vegetação  d'onde  a  espécie  é  originaria,  o  clima  que  lhe  é 
sobre  todos  favorável,  parece  imprimir  indelevelmente  a 
sua  acção  em  todas  as  phases  do  desenvolvimento  indivi- 
dual; por  isso  as  arvores  do  norte  passam  estas  phases, 
nos  climas  meridionaes,  relativamente  tardias,  e  vice  ver- 
sa; por  isso,  ainda,  mais  uma  razão  porque  as  differentes 
espécies,  de  uns  certos  limites  climatéricos  por  diante,  não 
podem  viver. 

Porte  6  crescimento  annual  das  árvores. — O  clima  local 
influe  muito  no  porte  e  no  crescimento  annual  das  plantas 


221 

lenhosas,  conforme  as  condiç?}es  mais  ou  menos  favoráveis 
com  que  actua.  Já  dissemos  que  o  rícino  passa  de  ser  uma 
planta  lenhosa  arbórea  a  planta  herbácea  annual,  ou  bien- 
Dal,  com  a  diminuição  da  temperatura.  Para  tornar  bem 
insante  a  acção  do  clima  nas  dimensões  da  camada  lenhosa, 
e  na  qaalidade  das  madeiras,  diremos  que  o  Pinus  silves- 
tris  chega  a  apresentar  no  sul  da  França  crescimentos  an- 
nnaes  com  0,"01  d'espessura,  emquanto  na  Suécia,  entre 
os  parallelos  60  e  6«3  (d'Upsal  a  Hemõsand),  em  média, 
s6  engrossa  annualmente  0,"^001,  no  parallelo  60  apenas 
0,"0006,  e  a  70°  o  engrossamento  é  quasi  nullo. 

A  relação  entre  a  espessura  da  camada  annual  e  as  quali- 
dades do  lenho  depende  muito  da  organisação  da  espécie 
considerada,  como  vimos  no  livro  anterior.  As  resinosas  do 
norte,  cujo  crescimento  é  muitíssimo  vagaroso,  que  apre- 
sentam as  camadas  annuaes  muito  reduzidas  e  quasi  sem 
a  zona  porosa  da  primavera,  são  notáveis  pela  sua  densi- 
dade, rijeza  e  elasticidade,  e  por  isso  muito  procuradas 
para  mastreação  e  outros  usos;  mas  já  o  mesmo  não  acon- 
tece, por  exemplo,  aos  carvalhos,  cuja  madeira  é  tanto  me- 
lhor qaanto  mais  largas  as  camadas  annuaes,  porque  é  então 
qne  prepondera  a  zona  apertada  do  outono. 

Acção  do  calor  forte  e  do  ftio  sobre  as  arvores. — As  dif- 
ferentes  espécies,  conforme  a  sua  organisação,  supportam 
desegualmente  os  extremos  oppostos  da  temperatura. 

O  calor  elevado  destroe  a  vitalidade  das  cellulas  vegetaes 
coagulando,  segundo  parece,  as  substancias  albuminóides 
componentes  do  protoplasma ;  essa  coagulação  depende  de 
muitas  outras  circumstancias  independentes  da  temperatura, 
e  sobretudo  da  quantídade  d'agua  que  a  cellula  contiver.  Para 
provocar  esta  acção  são  precisas  temperaturas  relativamente 
muito  elevadas ;  de  ordinário,  é  por  outra  forma  que  os  ex- 
cessos do  calor  contrariam  as  arvores:  augmentam-lhes  a 
transpiração,  e  quando  as  quantidades  d'agua  contidas  no 
solo  não  chegam  para  acudir  a  essa  maior  despeza,  o  v^e^ 


222 

getal  sofire  muito  e-pode  até  morrer.  A  acção  do  calor 
sobre  as  arvores  deve  portanto  ser  estudada  conjuncta- 
mente  com  todas  as  outras  condições,  taes  como  a  fundura 
e  as  qualidades  pbysicas  do  terreno  >  a  sua  humidade,  etc. 
.  Em  geral,  as  arvores  resistem  tanto  melhor  a  um  golpe  de 
sol  forte  e  repentino  quanto  a  sua  transpiração  for  menor, 
isto  é,  quanto  menos  aquosos  e  tenros  os  seus  tecidos,  bem 
como  quanto  mais  profundo  tiverem  o  systema  radicular; 
por  isso  as  arvores  novas,  e  as  que  teem  raizes  superfi- 
ciaes,  Ibe  resistem  menos. 

A  insolação  intensa  promove  muitas  vezes  a  queda  pre- 
matura das  folbas,  o  que  chega  a  occasionar,  em  algumas 
circumstancias,  a  morte  da  arvore;  este  accidente,  mesmo 
quando  não  é  fatal,  traz  comsigo  transtornos  graves,  qae 
se  não  limitam  apenas  á  diminuição  da  ícamada  lenhosa  cor- 
respondente; as  folhas  assim  mortas  em  plena  vida  caem 
^em  terem  abandonado  aos  tecidos  de  reserva  os  seus  prin- 
cípios mais  úteis  á  vegetação  (albuminóides,  phosphatos 
etc),  como  abandonariam  se  morressem  naturalmente,  o 
que  representa,  no  caso  d'aquelle  accidente,  uma  diminui- 
ção importante  na  substancia  organisadora  da  arvore. 

O  frio,  quando  è  pouco  intenso,  suspende  apenas  tempo- 
rariamente as  funcções  cellulares,  como  dissemos,  mas  se 
actua  com  maior  força  obriga  a  congelar  uma  parte  da  agua 
contida  na  cellula,  matando-a  em  alguns  casos.  Pelo  conge- 
lamento solidiflca-se  uma  porção  da  agua  do  sueco  cellular 
6  do  protoplasma,  ficando  um  e  outro  mais  concentrados,  e 
solidifica-se  uma  porção  da  agua  inter-moUecular  da  mem- 
brana, obrigada  por  isso  a  diminuir  de  volume,  a  contrahir- 
se.  O  tecido,  d'esta  forma  modificado,  perde  a  turgidez  pri- 
mitiva e  soffre  muitas  vezes  pregas  e  rupturas,  que  ainda 
assim  quasi  nunca  lhe  são  causa  de  morte. 

Quando  a  descongelação  se  reaUsa  pouco  a  pouco  os 
crystaes  de  gelo  fundem-se  na  base,  a  agua  liquida  é  logo 
absorvida  pela  membrana,  pelo  sueco  cellular  e  pelo  proto- 


223 

plasma,  e  as  propriedades  primitivas  da  ceilula  podem  re- 
geoerar-se,  se  a  alteração  nao  foi  muito  profmida.  Mas 
quando,  pelo  contrario,  o  desgelo  é  rápido,  uma  parte  da 
agaa  escorre  nas  lacunas  do  tecido,  antes  de  poder  ser 
absorrída  pelas  cellulas,  perde-se,  e  ellas  não  podem  voltar 
ao  seu  estado  inicial.  D'onde  se  deve  concluir  que  o  des- 
congelamento Influe  mais  na  sorte  do  órgão  vegetal  do  que 
a  própria  acção  do  congelamento. 

Quanto  mais  pobre  em  agua  for  o  tecido,  quanto  mais 
concentrados  os  líquidos  cellulares,  com  maior  força  é  a 
agna  retida,  menor  a  quantidade  congelada  e  menores  os 
effeitos  destructivos.  É,  em  grande  parte,  por  este  motivo, 
qoe  mnas  espécies  resistem  mais  do  que  outras;  por  este 
motivo  são  tão  prejudiciaes  os  frios  já  tardios  da  primavera, 
que  apanham  os  rebentos  novos  em  via  de  formação,  seivo- 
SOS,  tenros,  túrgidos  de  líquidos.  Pela  mesma  razão  o  conge- 
lamento é  mais  perigoso  para  as  arvores  novas,  e  em  cada 
individuo  para  as  folhas  mais  succosas,  de  menos  edade. 

A  duração  dos  frios  também  influe  muito,  por  sua  parte ; 
as  plantas  dos  climas  seccos  resistem,  às  vezes,  a  tempe- 
raturas de  2^  e  3®,  quando  são  pouco  aturadas,  e  morrem  ex- 
postas a  1^,  quando  esta  temperatura  persiste  por  mais  tempo. 

Em  algumas  localidades,  durante  os  invernos  rigorosos, 
varias  espécies  lenhosas  chegam  a  converter-se,  pela  acção 
do  frio,  n'um  agglomerado  de  crystaes  cujas  agulhas  podem 
até  fazer  hérnia  para  o  exterior,  tomando-se  os  ramos  del- 
gados frágeis  como  vidro.  As  vezes,  na  occasião  do  resfria- 
mento, ouvem-se  detonações,  no  meio  do  arvoredo,  seme- 
lhantes ás  da  artilheria,  devidas  á  ruptura  violenta  dos 
troncos;  como  gelam  primeiro  as  camadas  externas,  e  este 
congelamento  as  torna  rígidas,  oppõem-se  ao  depois  me- 
chanícamente  à  dilatação  dos  tecidos  mais  internos,  provo- 
cada pela  soUdificação  da  agua  que  conteem,  e  são  por  isso 
despedaçadas  com  força  e  grande  ruido. 

Convém  ter  presente,  em  todo  este  estudo,  que  a  tempe- 


224 

ratara  d'nm  vegetal  lenhoso  nSo  é  a  mesma  do  ambiente; 
é  problema  sempre  muito  complicado  procurar  a  relação 
entre  a  temperatura  da  arvore  e  a  da  atmosphera,  tio 
grande  é  o  numero  de  circunstancias  a  attender.  No  pe- 
ríodo da  actividade  vegetativa  a  temperatura  do  tronco  é 
principalmente  influenciada  pela  das  camadas  do  solo  onde 
as  raizes  vão  abastecer-se  d'agua;  os  troncos  delgados,  e 
que  teem  raizes  muito  curtas,  apresentam  quasi  a  tempe- 
ratura da  atmosphera  em  redor,  mas  já  não  acontece  o 
mesmo  ás  arvores  de  troncos  grossos  e  de  raizes  compri- 
das; a  madeira  conduz  mal  o  calor,  aquece  e  esfria  mais 
de  vagar  que  a  atmosphera :  de  noite  os  troncos  estão  mais 
quentes  do  que  o  ar  e  de  dia  mais  frios.  As  folhase todos 
os  órgãos  onde  se  realisa  a  transpiração  estão  já  n'outras 
condições ;  ahi  importa  attender  ao  resfriamento  produzido 
pela  transpiração  e  á  grande  superfície  irradiante.  Durante 
o  inverno,  como  pára  a  circulação  da  agua  no  interior  do 
vegetal,  as  variações  de  temperatura  tornam-se  mais  fortes 
no  lenho,  porque  é  menor  a  correcção  dada  pelo  calor  tra- 
zido do  solo  na  seiva. 

Os  phenomenos  de  congelamento,  taes  como  os  referi- 
mos, podem  trazer  a  morte  dos  vegetaes,  ou  produzir-lhes 
vários  accidentes  funestos :  já  nas  flores,  destruindo  ás  veses 
a  fhictificação  de  um  anno;  já  nos  rebentos,  matando  as 
extremidades  mais  herbáceas  e  obrigando  os  eixos  a  cres- 
cerem á  custa  dos  botões  lateraes,  o  que  em  alguns  climas 
é  habitual  a  determinadas  espécies. 

As  boas  quaUdades  iuturas  da  madeira  podem -egualmente 
ser  muito  prejudicadas ;  aquellas  acções,  às  vezes,  provocam 
fendas  no  lenho,  o  descollamento  parcial,  ou  total,  das  cama- 
das annuaes,  ou  trazem  a  morte  de  uma  porção  do  albumo, 
que  não  se  transforma  ao  depois  em  cerne,  e  passados  annos 
fica  preso  nos  crescimentos  posteriores,  tomando  o  tronco 
defeituoso  n'aque}le  ponto,  quando  não  se  decompõe,  e 
provoca  a  decomposição  dos  tecidos  sãos  em  redor. 


225 

Acção  da  lui. — A  desegual  intensidade  da  luz,  e  o  de- 
segua]  comprimento  do  período  luminoso,  influe  também 
muito  na  vida  dos  indivíduos  vegetaes  pertencentes  á  mes- 
ma espécie. 

Como  sabemos,  a  irradiação  solar  é  indispensável  á  formação 
da  chlorophylla,  a  não  ser  em  casos  muito  restrictos  e  ainda 
hoje  inexplicados  (esverdinhamento,  na  escuridão,  das  coty- 
ledones  das  Coníferas,  das  samaras  dos  bordos,  etc.),  como 
é  indispensável  para  a  decomposição  do  anhydrido  carbónico 
nas  cellulas  chlorophyllianas.  Da  luz  fica  portanto  dependente 
a  constituição  das  molleculas  orgânicas  iniciaes,  d'onde  deri- 
yam  todos  os  princípios  immediatos,  que  cooperam  na  orga- 
nisação  dos  vegetaes. 

A  arvore  que  soffre  falta  de  luz  amesquinha-se,  forma 
mna  quantidade  menor  de  princípios  immediatos.  Nas  orlas 
dos  massiços  apertados  as  arvores  bracejam  sempre  com 
mais  vigor  para  o  lado  de  fora,  onde  ha  mais  luz,  e  no  cen- 
tro do  massiço  toda  a  actividade  da  vegetação  se  exerce  no 
sentido  do  alongamento  do  eixo,  em  procura  da  luz,  tor- 
nando os  fustes  relativamente  mais  altos  e  menos  grossos. 

As  plantas  dos  logares  bem  expostos  ao  sol  florescem  em 
maior  numero  do  que  as  dos  sítios  assombreados ;  calcula- 
se,  em  geral,  que  chega  a  entrar  em  flor  um  numero  de 
indi^iduos,  da  mesma  espécie,  três  vezes  maior  ao  sol  do 
qoe  á  sombra.  Segundo  Sendtner,  nas  estufas  esclarecidas 
lateralmente  só  um  decimo  das  plantas  florescem,  emquanto 
nas  estufas  esclarecidas  por  Cima  e  pelos  lados  floresce  uma 
terça  parte, 

A  qualidade  dos  fructos  depende  também  muito  da  inten- 
sidade luminosa;  no  interior  dos  massiços  não  só  as  arvo- 
res fractíficam  menos,  como  também  as  sementes  são  peio- 
res,  e  tanto  que  é  preceito  não  as  escolher  para  sementei- 
ras artificiaes. 

Acção  da  agua. — A  acção  da  agua  sobre  o  modo  de  vida 
das  arvores  é  accentuadissima. 

c.  s.  <5 


1 


226 

Quando  a  agua  no  terreno  escasseia,  diminue  o  desenvol- 
yimento  das  plantas,  porque  diminue  tàmbem  a  entrada  dos 
elementos  mineraes  necessários  á  organisaçlo  do  vegetal. 
O  excesso  de  agua  é  egualmente  nocivo,  porque  a  maior 
diluição  da  seiva  torna  os  lenhos  mais  porosos,  menos  den- 
sos. 

Convém  n3o  esquecer,  que  estas  variações  da  quantidade 
de  agua  devem  ser  consideradas  em  jogo  simultâneo  com 
a  temperatura.  Onde  a  temperatura  e  a  agua  augmentarem, 
dentro  dos  limites  que  a  arvore  supporta,  o  seu  desenvol- 
vimento é  máximo;  onde  o  calor  augmente  sem  uma  subida 
idêntica  na  agua,  ou  vice-versa,  a  arvore  morrerá  talvez, 
ou  terá  pequenos  crescimentos,  ou  lenho  de  má  qualidade. 

Às  arvores  apresentam  grandes  superfícies  de  evapora- 
ção e  precisam,  por  isso,  ehcontrar  agua,  relativamente,  em 
abundância  no  solo.  As  chuvas  de  inverno,  e  as  nevadas, 
abastecem  os  depósitos  inferiores  do  terreno  e  tornamse- 
Ihes,  por  esta  razão,  muito  importantes;  ás  vezes  os  estios 
seccos  nâo  são  tão  prejudiciaes  aos  arvoredos  como  os  in- 
vernos pobres  em  chuvas. 

Se  a  quantidade  e  a  distribuição  das  chuvas  influe  muito 
no  modo  de  vida  das  arvores,  não  influe  menos  o  estado 
hygrometrico  do  ar,  a  sua  humidade  relativa.  Do  grau  de 
humidade  depende  a  evaporação.  O  vapor  de  agua  conden- 
sado sob  a  forma  de  nuvens  ou  de  nevoeiros  diminue  a  in- 
tensidade da  luz  e  mitiga  o  resfriamento  nocturno. 

Debaixo  d'este  ultimo  ponto  de  vist^  pode-se  dizer  que 
a  humidade  atmospherica  é  um  verdadeiro  regulador  da 
temperatura  do  ar:  equilibra  e  transporta  o  calor;  os  cli- 
mas mais  seccos  são  os  que  teem  temperaturas  mais  extre- 
mas ;  na  atmosphera  secca  do  deserto  é  vulgar  a  temperatura 
baixar  de  repente  a  0^,  ao  pôr  do  sol,  em  seguida  aos  dias 
de  maior  calma,  em  que  o  thermometro  sobre  a  areia  chega 
a  malucar  45^. 

Acção  do  vento. — O  vento  exerce  uma  influencia  directa 


227 

sobre  as  arvores,  independentemente  das  acçOes  indirectas 
importantíssimas  provocadas  pelas  suas  correntes,  já  uni- 
formisando  a  composição  do  ar,  já  influindo  nos  bydro-me- 
teoros,  etc. 

Aquella  acção  mechanica  directa  é  muito  considerável: 
tio  considerável  que  parece  chegar  a  impedir  a  vegetação 
arbórea  em  alguns  pontos.  Na  America  dilatam-se  extensas 
planicies  entre  os  Andes  Chilenos  e  o  Atlântico,  conhecidas 
com  o  nome  de  Pampas,  onde  não  se  encontra  nem  uma 
planta  lenhosa;  ali,  o  período  vegetativo  não  é  encurtado 
pelo  frio,  as  chuvas  são  abundantes,  posto  que,  na  verda- 
de, mal  repartidas;  todavia  essa  falta  de  arvores  é  attri- 
boida,  não  tanto  aos  intervallos  de  secca  prolongada  que  al- 
ternam com  as  chuvas  torrenciaes  de  tempestade,  como  á 
liolencia  dos  ventos,  cuja  força  não  encontra  a  quebral-a 
oenhmn  accidente.no  meio  de  uma  planura  tão  vasta. 

O  vento  moderado  é  favorável  ás  arvores:  imprime-lhes 
movimentos  e  flexões  continuadas,  que  lhes  estunulam  o 
desenvolvimento  em  espessura.  Quando  se  ata  uma  arvore 
nova  a  um  tutor,  de  modo  que  uma  porção  do  tronco  e  a 
copa  fiquem  livres,  a  parte  inmiovel  não  engrossa,  ou  en- 
grossa pouco,  emquanto  a  parte  movei  engrossa,  proporcio- 
nalmente, muito  mais.  Se  a  arvore  estiver  presa  de  maneira 
qne  a  flexão  apenas  n'um  sentido  possa  reaUsar-se,  o  en- 
grossamento é  maior  n'essa  direcção  do  que  na  direcção 
perpendicular.  A  acção  mechanica  é  ainda  favorável  ás  ar- 
vores, transportando  o  poUen  de  muitas  espécies,  b  pro- 
movendo ao  depois  a  disseminação  dos  fructos. 

Mas,  se  actua  com  força,  o  vento  é  muito  nocivo;  con- 
torce as  arvores,  enfeza-as,  toma-lhes  o  crescimento  excen- 
Irico,  menor  do  lado  mais  açoutado,  pode  quebrar-lhes  os 
ramos,  ou  mesmo  arrancal-as  pela  raiz;  esta  ultima  acção 
i  sobretudo  promovida  pelos  ventos  acompanhados  de  chu- 
vas intensas,  que  am(dlecem  o  terreno. 

Qomido  as  arvores  estão  carregadas  de  neve  e  de  geada, 

i5# 


228 

quando  uma  parte  da  seiva  congela^  os  ramos  tomam-se- 
lhes  frágeis,  como  dissemos,  e  muito  mais  facilmente  s9o 
então  quebrados  pelo  vento. 

O  roçar  dos  troncos  e  dos  ramos  uns']contra  os  outros, 
quando  muito  agitados,  produz-lhes,  às  vezes,  feridas;  a 
agitação  violenta  pode  descoUar,  em  partes,  a  casca,  matando 
o  cambium  desnudado,  d'onde  resulta  a  nSo  adherencia,  ao 
depois,  do  annel  lenhoso  seguinte  ao  annel  inferior,  e  pode 
até  provocar  fendas  verticaes. 

Admitte-se  praticamente,  com  tal  ou  qual  aproximação, 
que,  a  estes  efifeitos,  correspondem  as][seguintes  velocida- 
des do  vento: 

VelMddade 

•zprena  em  m«troi 

por  Mgmido 

Calmaria  completa O 

Leve  brisa,  apenas  apreciável 4 

Vento  que  agita  as  folhas  das  arvores 8 

Vento  que  agita  as  folhas  e  os  raminhos  del- 
gados    12 

Vento  moderado  ,'j[que  agita  os  ramos  grossos  16 

Vento  bastante  forte 20 

Vento  forte,  que  sacode  os  troncos  das  arvo- 
res        ^  24 

Vento  muito  forte :  quebra  os  ramos 27 

Vento  de  tempestade:  quebra  as  pernadas  e 

os  arbustos 30 

Furacão :  arranca  pela  raiz  e  quebra  as  arvo- 
res grossas 38 

Furacão  violento:  destroe  as  casas 38 

Influencia  da  exposição. — Uma  das  causas,  a  que  muito 
importa  attender  no  estudo  da  variação  do  clima  local,  é  a 
exposição.  Em  pontos  muito  próximos  as  diversas  exposi- 
ções do  solo  recebem  a  irradiação  luminosa,  as  chuvas  e  os 
ventos  por  maneiras  muito  deseguaes ;  a  cada  uma  exposi- 


229 

(ão  correspondem  desravolvimentos  dessemelhantes  nas  ar* 
Tores,  e  difierentes  qualidades  nos  seus  lenhos. 

Na  exposição  a  nascente  a  insolação  realisa-se  de  manhã, 
qaando  os  raios  solares  teem  ainda  pouca  força ;  a  tempe- 
ratura e  a  acçSo  directa  da  luz  são  por  isso  ahi  fracas,  re- 
latiyamente  á  exposição  ao  poente,  onde  o  sol  actua  per- 
pendicular nas  horas  de  maior  calor.  Na  exposição  norte  a 
temperatura  é  mais  fria  ainda  que  ao  nascente,  não  recebe 
durante  o  dia  inteiro,  em  algumas  épocas  do  anno,  a  inso- 
lação directa  a  hora  nenhuma ;  pelo  inverso,  na  exposição 
sul  a  insolação  é  máxima. 

A  influencia  dos  ventos  e  das  chuvas  também  se  faz  sentir 
por  modo  muito  difierente  nas  diversas  exposições;  assim, 
DO  nosso  paiz,  como  os  ventos  mareiros  são  húmidos,  e  os 
T^tos  da  terra  são  seccos,  frios  no  inverno  e  quentes  no 
estio,  as  exposições  cismontanas  recebem,  como  vimos, 
maior  quantidade  de  chuvas,  que  as  exposições  transmon- 
tanas. Â  corrente  aérea  tropical  que  se  dirige  aos  poios, 
desviada  do  mais  curto  caminho  pela  força  do  movimento 
da  terra,  sopra,  n'este  hemispherio,  do  sudoeste,  e  a  cor- 
rente polar  do  nordeste;  o  primeiro  d'esses  ventos  é  quente 
e  húmido,  o  segundo  frio  e  secco,  e  estas  influencias  egual- 
mente  se  reflectem  nas  exposições  respectivas. 

Nos  terrenos  expostos  ao  nascente  as  arvores  adquirem, 
de  ordinário,  boas  dimensões  e  uma  textura  forte ;  como  o 
desabrolhamento  só  tarde  ahi  se  reaUsa,  as  geadas  da  pri- 
mavera não  são  muito  para  receiar,  mas  sim  as  do  outono 
que,  n'esta  exposição,  vem  cedo  e  podem  ainda  apanhar  a 
vegetação  em  actividade.  Âo  norte  as  arvores  teem  cresci- 
mento rápido  e  chegam  a  grandes  alturas,  mas  apresentam 
habitualmente  os  lenhos  menos  densos.  Na  exposição  ao 
poente  as  arvores  adquirem  flexibilidade  e  textura  forte, 
mas  são  ínuito  açoutadas  pelo  vento.  A  exposição  sul  é  a 
peior  de  todas:  o  desabrolhamento  apparece  ahi  cedo  e  as 
geadas  da  primavera  tomam-se,  por  isso,  muito  perigosas. 


230 

bem  como  o  são  os  ventos  fortes,  carregados  de  humidade, 
que  sopram  com  frequência  d'este  quadrante. 

No  limite  do  seu  habitat  cada  essência  procura  corrigir  as 
demasias  do  clima,  já  pouco  propicio,  com  estiis  yariaçSes 
da  exposição;  assim,  próximo  do  seu  limite  norte,  cada  es- 
pécie prefere  a  exposição  sul,  agasalhada,  e  pelo  inverso 
junto  ao  limite  meridional  abriga-se  na  exposição  norte, 
mais  fria. 

As  differenças  entre  as  esposições  tornam-se,  em  regra, 
tanto  menos  accentuadàs,  quanto  maior  a  altitude  consi- 
derada. 

Influencia  da  altitude. — Â  altitude,  como  sabemos,  modi- 
fica muito  o  clima  locaL  pelas  variações  que  provoca  na 
temperatura,  na  humidade,  na  intensidade  luminosa,  na 
quantidade  das  chuvas,  etc.  A  estas  variações  climatéricas 
'correspondem  manifestações  da  vegetação  já  fáceis  de  pre- 
ver: a  diminuição  do  porte  e  do  crescimento  das  arvores, 
a  delimitação  norte  das  zonas  de  habitação  das  espécies^  etc. 

A  acção  da  altitude  sobre  o  crescimento  dos  troncos  das 
arvores  é  característica;  tende  a  diminuir  o  crescimento 
em  altura,  sem  diminuir,  ou  diminuindo  muito  pouco,  o 
crescimento  em  espessura,  o  que  torna  os  troncos  baixos 
e  grossos,  dando-lhes  um  aspecto  particular.  Segundo  os 
estudos  do  sr.  Rivoli,  feitos  na  serra  da  Estrella  com  o 
pinheiro  bravo,  resulta  que  a  diminuição  média  em  altura, 
para  cada  100™  de  elevação,  é  a  segumte,  correspondente 
ás  diversas  edades  indicadas. 

Edade  dft«  arrorM  Dlmlnulçlo  média  na  altura  do  troneo 

(Pinhairo  bravo)  (Por  cada  100  metros  de  eleTaçAo) 

1  a  20  annos 0'",046 

21  a  40  annos 0°*,025 

41  a  80  annos 0°*,016 

Dos  trabalhos  executados  em  1873  pelo  sr.  R.  Weber, 


231 

DO  laboratório  de  Aschaffenbonrg,  conclue-se  que  a  altitude 
tem  uma  grande  influencia  no  tamanho  das  folhas  das  ar- 
Yores:  a  mesma  essência  apresenta  as  Tolhas  com  uma  su- 
perficie  tanto  mais  diminuta  quanto  maior  a  altitude.  Estes 
estudos  foram  feitos  com  a  faya  (Fagus  sUvatica);  as  fo- 
lhas medidas  pertenciam  a  arvores  que  se  procuraram  em 
massiços  coUocados,  o  mais  possivel,  em  condições  idênti- 
cas de  solo,  de  vegetação,  etc.,  e  apenas  diversos  pela  al- 
titude. Eis  os  resultados  obtidos: 

Alton  âeima  do  nWel  do  mar  «  Snperflole  total  de  1:000  folhaa 

(«zpressa  em  met.  qnad.) 

133 3,414 

237 2,128 

324 2,112 

438 1,822 

500 1,843 

514 1,674 

685 1,500 

700 1,472 

1:043 1,083 

1:182 1,351 

1:344 0,910 

Na  penúltima  estação  a  lei  que  acima  enimciámos  acha- 
se  muito  contrariada,  mas  provou-se  ser  isto  devido  a  uma 
estromação  excepcional,  resultante  da  demora  do  gado 
n'aquella  parcella.  A  analyse  chimica  comprovou  bem  esta 
explicação,  pelas  percentagens  elevadas  de  ácido  phospho- 
rieo  encontrado  n'essas  folhas. 

A  altitude  não  só  influe  na  forma  dos  troncos  e  nas  di- 
mensões das  folhas,  como  também  influe  na  composição 
doestas  ultimas.  Ck)nforme  os  dados  fornecidos  pelo  sr.  Eber- 
niayer  e  pelas  estações  florestaes  da  Baviera,  a  altitude  di- 
minue  a  percentagem  das  substancias  mineraes  das  folhas, 
na  mesma  essência,  como  se  vê  nos  números  seguintes : 


23á 


Abies  excelsa,  DG. 


Estenciu  Altura  «efan*  Perce&Uf«m  Am  eluM 

do  Blvel  do  mar  (Por  eeato) 

1:334 ' 3,94 

^  ,    ,.      f  ,       685 5,52 

Fagus  $tlv(Utca,L j       3^^ g^^ 

237 6,97 

1:110 3,58 

915 5,43 

730 6,25 

130 10,19 

1:068 2,49 

^p       j       880 2,77 

Lanx  europaeay  DC —  l        , -«  «  „- 

171 6,02 

Paizes  de  planície  e  paizes  montanhosos. — As  influencias 
da  altitude  e  da  exposição,  modificando  tanto  os  climas  e 
os  arvoredos,  permittem  uma  grande  distincçSo  climatérica 
*  entre  os  paizes  de  planicie  e  de  montanha. 

Nos  paizes  planos  o  clima  é  menos  variável  n'uma  grande 
área.  Nos  paizes  montanhosos  a  variação  dá-se  em  áreas 
muito  restrictas;  diversificam  a  cada  passo  as  exposições 
e  as  altitudes;  as  elevações  do  terreno  ora  se  assombream 
e  quebram  a  força  dos  ventos,  umas  relativamente  ás  ou- 
tras, ora,  encanando  as  correntes  de  ar  pelas  suas  gargan- 
tas, lhes  mudam  a  direcção,  e  as  fazem  incidir  com  diverso 
sentido,  e  em  pontos  onde  aliás  não  incidiriam. 

Nos  valles  profundos  o  calor  é  forte  de  dia,  concentra- 
se  e  reverbera  das  suas  paredes;  a  humidade  atmospbe- 
rica  ahi  é  mais  abundante,  os  nevoeiros  espessos,  e  os  ven- 
tos actuam  com  menos  força.  Nas  encostas  o  calor  e  a  ha- 
midade  atmospherica  diminuem,  a  luz  é  viva,  a  acção  elé- 
ctrica intensa,  os  ventos  fortes  e  habituahnente  sopram 
n'uma  direcção  constante;  nas  encostas  a  vegetação  é  me- 
nos precoce  que  nos  valles.  Nos  plan'altos  são  frequentes 


233 

as  nnyens  e  as  chuvas,  a  vegetação  tem  crescimeDto  lento 
e  poaco  vigoroso;  de  resto,  estas  acções  dependem  muito 
da  altitude  considerada. 

Nos  paizes  de  montanha  ^  vegetação  quasi  sempre  apre- 
senta uma  grande  variedade;  próximas  umas  das  outras 
podem  encontrar-se  espécies  áe  zonas  climatológicas  diver- 
sas, exactamente  porque  próximas  se  dão  tamanhas  varia- 
ções nos  phenomenos  meteorológicos.  Pela  mesma  causa  é 
habitual  achar,  em  pontos  muito  pouco  afastados,  na  mon- 
tanha, a  mesma  espécie  com  portes  muito  differentes,  e  pas- 
sando em  épocas  do  anno  bastante  deseguaes  as  phases  da 
soa  vegetação — o  desabrolhamento  e  a  queda  das  folhas, 
a  floração  e  a  fructiQcação. 


4*  INFLT7EN0IA  DAS  FLOHESTAS  SOBRE  O  OUMA 

A  influencia  das  florestas  sobre  o  clima  tem  sido  ponto 
moito  discutido;  emquanto  uns  a  negam  completamente, 
outros,  pelo  contrario,  consideram  dependentes  da  acção 
dos  arvoredos,  do  seu  corte  ou  da  sua  multiplicação,  to- 
das as  modiflcações  climaterias  realisadas  nos  últimos  tem- 
pos. Para  tomar  a  questão  mais  complicada  ainda,  os  que 
sustentam  a  ultima  aflirmativa,  nem  sempre  de  acordo  entre 
si,  chegam  a  attribuir  ás  florestas  influencias  modificadoras 
diametralmente  oppostas^  impossíveis  de  harmonisar. 

A  falta  de  dados  positivos  onde  firmar  conclusões  segu- 
ras, e  a  extrema  generalidade  com  que  se  quiz  formular 
o  problema,  são  as  principaes  causas  que  demoraram  a  sua 
resolução. 

É  facto  indubitável  o  terem-se  realisado  alterações  nos 
dimas  de  muitas  localidades,  desde  épocas  ainda  não  muito 
afastadas. 

Na  Inglaterra,  na  Bretanha  e  na  Normandia  existiam  vi- 


* 


j 


234 

nhãs  prodnctivas,  conforme  demonstrou  Arago,  e  hoje  essa 
coitara  tem  um  limite  norte  inferior ;  estas  mudanças  cli- 
matéricas notam-se  desde  o  decimo  quinto  século,  e  pa- 
recem continuar  ao  presente,  peio  menos  na  Inglaterra, 
que  prevê  a  impossibilidade  de  cultivar,  dentro  em  breve, 
a  maceíra.  De  resto,  não  é  necessária  uma  grande  oscilla- 
ç3o  na  temperatura  média  para  fazer  recuar  bastante  luna 
cultura;  a  media  em  Londres  é  9^,8,  e  em  Paris  10^,7,  a 
differença  não  chega  a  ser  de  um  grau,  e  todavia  a  ultima 
d'estas  cidades  está  cercada  de  vinhas,  e  a  primeira  nâo 
as  pode  cultivar. 

  Groelandia  foi  uma  colónia  florescente ;  mas  em  pouco 
tempo  deixou  de  ser  a  terra  verde  dos  primeiros  desco- 
bridores, e  os  gelos  amontoados  pelo  frio  tornam-a  hoje 
quasi  inhabitavel.  Factos  anologos  podem  citar-se  a  propó- 
sito da  Islândia,  do  Spitzberg,  das  costas  da  Noruega,  etc. 
Em  contraposição  na  Africa  austral  o  calor  parece  augmentar 
rapidamente,  matando  florestas  inteiras  de  pé,  seccando 
lagos  e  cursos  d'agua,  cujos  leitos  meio  apagados  na  areia 
apenas  encontram  os  viajantes.  Se,  no  hemispherio  boreal, 
os  gelos  se  accumulam  ao  norte  cada  vez  em  maior  massa, 
se  o  resfriamento  se  accentua,  no  hemispherio  austral  parece 
acontecer  o  contrario. 

Querer  explicar  todos  estes  phenomenos  pelas  acções 
derivadas  da  presença,  ou  ausência,  dos  arvoredos,  como 
foi  tentadd  por  algims,  é  de  certo  ir  muito  além  da  verdade. 
A  Inglaterra,  já  quasi  dasarborisada,  poucas  florestas  tem 
para  cortar,  e  o  resfriamento  continua  ainda  ah,  como  disse- 
mos. Evidentemente  é  necessário  procurar  uma  causa  maior, 
mais  enérgica,  geológica  ou  astronómica,  para  motivar  mna 
tão  profunda  alteração,  que  parece  abraçar  os  dois  bemis- 
pherios,  patenteando-se  por  forma  desegual  n'um  e  n'ou- 
Iro. 

Tem-se  abusado  muito  d'este  papel  attribuido  ás  flores- 
tas, como  elemento  modificador  do  cUma.  Portugal  n'uma 


'■ 


235 

época  relatiyamente  próxima,  de  que  existem  ainda  bas- 
tantes documentos,  estava  coberto  da  matas  apertadas  e 
selvagens,  e  todavia  o  seu  clima  não  divergia  tanto  do  cli- 
ma actual,  que  n3o  fosse  a  mesma  a  feição  dos  arvoredos 
espontâneos ;  no  Alemtejo,  a  presença  das  essências  de  fo- 
lhas persistentes  e  coriaceas,  já  então  indicava,  como  hoje, 
apezar  de  ser  n'esse  tempo  muito  mais  arborisado,  a  ele- 
vação de  temperatura,  e  a  seccura  atmospherica. 

No  emtanto,  se  as  florestas  não  são  a  causa  de  todas  as 
alterações  climatéricas  notadas  no  globo,  se  não  podem  mo- 
dificar os  phenomenos  meteorológicos  geraes  a  uma  grande 
região,  exercem,  é  cefto,  uma  acção  local,  mais  ou  menos 
pronanciada,  embora  não  tão  enérgica  como  sustentavam 
muitos.  Está  isso  perfeitamente  demonstrado. 

É  esta  influencia  restricta,  local,  que  nós  vamos  estudar, 
procurando  flrmal-a,  não  já  sobre  raciocínios  e  deducções 
mais  ou  menos  empíricas,  que  podem  facilmente  conduzir 
ao  erro,  mas  sobre  os  dados  da  observação  meteoroló- 
gica. 

A  este  respeito  são  sobretudo  importantes  os  trabalhos  das 
Estações  Florestas  da  Baviera,  emprehendidos  sob  um  plano 
miiforme,  sabiamente  combinado,  e  executados  em  87  par- 
cellas  de  differentes  matas,  variáveis  pelas  condições  do  solo, 
do  clima,  das  essências,  do  estado  dos  povoamentos,  etc, 
isto  é — representando  no  conjuncto  a  constituição  média 
das  florestas  bavaras.  Os  elementos  colhidos  por  estas  es- 
tações florestaes  são  juntos  e  coordenados  pelo  sábio  pro- 
fessor Ebermayer,  que  os  reúne  e  lhes  tira  as  devidas  con- 
clusões; vamos  resumil-os,  bem  como  os  trabalhos  reali- 
sados  em  França,  na  Escola  Florestal  de  Nancy,  pelo  sr. 
Mathieu,  servindo-nos  para  este  resumo  dos  livros  do  sr. 
Grandeau  citados  no  fim. 

Mnencia  das  florestas  sobre  a  temperatura  do  ar. — A 
atmosphera  das  florestas,  ^comparativamente  á  dos  campos 
desarborísados,  tem  médias  annuaes  de  temperatura  mais 


-236 

baixas.  Segundo  os  dados  da3  estações  da  Baviera,  a  uma 
altura  de  1°*,5  acima  do  terreno,  a  diminuição  encontrada 
na  floresta,  em  média,  foi  de  0^,75. 

Esta  differença,  para  menos,  não  se  encontrou  repartida 
com  egualdade  pelas  quatro  estações :  foi  máxima  no  estio, 
minima  no  inverno,  intermédia  na  primavera  e  no  outont). 
Eis  as  diflerenças  médias  correspondentes  ás  quatro  esta- 
ções, attendendo  só  ás  temperaturas  diurnas: 

Primavera 1^,02 

Estio r,68 

Outono ; 0^45 

Inverno Quasi  nulla. 

D'aqui  se  deve  concluir  que  as  massas  de  arvoredos  tor- 
nam menos  fortes  as  differenças  de  temperatura  .entre  as 
estações,  porque  se  diminuem  um  pouco  a  média  do  in- 
verno, diminuem  proporcionalmente  muito  mais  a  média  do 
estio. 

Esta  acção  reguladora  da  floresta  tem  mesmo  uma  am- 
plitude maior,  porque  faz  oscillar  as  máximas  e  as  mínimas 
de  temperatura  dentro  de  mais  curtos  limites ;  conforme  os 
elementos  obtidos  em  Nancy,  estes  limites  extremos,  na 
floresta,  estavam  mais  próximos  2^,87  comparativamente 
aos  dos  terrenos  desarborisados. 

Uma  acção  reguladora  idêntica  foi  encontrada  com  pro- 
pósito ás  temperaturas  das  diversas  horas  do  dia ;  a  tempe- 
ratura na  floresta  sobe  menos  durante  o  dia  e  desce  menos 
durante  a  noite,  que  nos  campos  sem  arvores;  este  facto 
provoca  as  brisas,  que  de  dia  sopram  da  floresta  menos 
aquecida  para  os  terrenos  circumvisínhos,  e  de  noite  so- 
pram em  direcção  opposta. 

O  papel  dos  massiços  de  arvoredos  sobre  a  temperatura 
da  atmospbera  é  pois  bem  semelhante  ao  do  mar :  actuam 
como  regulador.  As  florestas,  muito  embora  provoquem 


237 

nma  pequena  diminaiçSo  na  média  geral,  corrigem  as  de- 
masias extremas  da  temperatm'a  de  cada  estação,  de  cada 
mez,  de  cada  dia. 

Muencia  das  florestas  sobre  a  temperatura  do  solo. — 
O  solo  inferior  aos  grandes  massiços  florestaes  apresenta  á 
superficíe  uma  camada  mais  ou  menos  espessa  de  substan- 
cias orgânicas  em  diversos  estados  de  decomposição — de- 
tritos de  folhas,  de  ramos,  de  pericarpos,  etc. — juntas  com 
musgos  e  lichens,  que  ali  se  desenvolvem  em  abundância. 
Esta  camada  denomina-se  marua  da  floresta;  apresenta-se 
fofa,  porosa,  cheia  de  ar,  e  exerce  uma  grande  influencia 
nas  propriedades  physicas  e  na  fertilidade  do  solo  flores- 
tal. 

O  ar  preso  mechanicamente  na  mama  toma-a  má  condu- 
ctora  para  o  calor,  transformando-a  n'um  abrigo  do  terreno 
subjacente;  este  abrigo  diminuo  a  irradiação  do  solo  e  a 
quantidade  de  calor  absorvido,  tornando-lhe  assim  mais  len- 
tas as  alternativas  de  temperatura. 

Segundo  as  observações  na  Baviera,  a  média  annual  da 
temperatura  do  solo  vestido  de  arvores  e  protegido  pela 
manta  é  inferior  à  do  solo  nú  (1®,3  a  1®,5). 

Esta  differeiiça  repartiu-se  também  com  muita  desegual- 
dade  pelas  quatro  estações.  Foi  sobretudo  pronunciada  no 
estio,  por  occasião  dos  grandes  calores;  em  média,  n'esta 
estação  a  differença  foi  de  3  graus  proximamente,  para  me- 
nos, no  solo  florestal  (até  á  profundidade  dey  quatro  pés). 

A  influencia  da  floresta  e  da  manta  foi,  pelo  contrario, 
quasi  nulla  no  inverno ;  facto  que  explica  a  presença  quasi 
constante  de  uma  camada  isoladora  de  neve  no  solo  dos 
massiços  onde  recaiu  a  experiência.  O  terreno  florestal  ge- 
lou à  mesma  profundidade  que  o  dos  prados,  mas  a  tem- 
peratura do  primeiro  ficou  sempre  um  pouco  mais  elevada 
que  a  dos  segundos. 

As  médias  e  as  minimas  de  temperatura,  no  solo  da  flo- 
resta, oscillaram  também  dentro  de  limites  menores  que 


238 

nos  campos  despidos  de  arvores.  Á  saperficie,  a  máxima  do 
estio  na  floresta  diminuiu,  comparativamente  ao  terreno  des- 
arborisado,  5^,35,  e  a  minima  de  inverno  subiu  0^,65.  Com 
o  augmento  da  profundidade  estas  differenças  tomaram-se 
menos  accentuadas. 

Pode  pois  dizer-se  que.  a  acção  das  florestas  sobre  a  tem- 
peratura do  solo  é  análoga  á  acção  sobre  a  temperatura  do 
ar:  diminuo  egualmente  a  média  annual,  mas  corrige  as 
demasias,  regularisa,  provoca  menores  variantes;  n'um  e 
n'outro  caso  são  as  temperaturas  mais  elevadas  do  estio  as 
que  soffrem  correcção  maior.. 

Influencia  das  florestas  sobre  a  humidade  absoluta  do 
ar. — Segundo  os  dados  das  esfações  da  Baviera,  as  flores- 
tas não  parecem  exercer  grande  acção  sobre  a  humidade 
absoluta  atmospherica.  A  quantidade  de  vapor  de  agua  con- 
tido n'um  mesmo  volume  de  ar,  a  1",5  de  altura,  na  flo- 
resta e  fora  da  floresta^  apresentou  médias  annuaes  quasi 
idênticas,  com  uma  diflerença  muito  leve  a  favor  da  região 
desarborisada ;  as  médias  correspondentes  ás  quatro  esta- 
ções, n*um  e  n'outro  local,  accusaram  também  muito  pe- 
quenas variantes. 

Na  atmospbera  das  florestas  a  forte  transpiração  das  ar- 
vores e  a  maior  humidade  do  solo,  tornado  poroso  e  hy- 
groscopico  pela  manta,  parece  que  deveriam  augmentar  a 
quantidade  de  vapor,  mas  em  contraposição,  n'essa  atmos- 
pbera mais  socegada,  mais  protegida  contra  o  vento,  e  com 
temperatura  menor,  como  dissemos,  a  evaporação  do  solo 
é  mais  fraca,  e  estas  causas  desencontradas  equiiibram-se 
naturalmente,  como  indicam  os  números  achados  pelas  ex- 
periências referidas. 

Mas — convém  não  o  esquecer — não  é  a  humidade  abso- 
luta (a  quantidade  de  vapor  existente)  que  tem  particular 
influencia  na  vegetação,  mas  sim  a  humidade  relativa,  isto 
é,  a  relação  entre  a  quantidade  de  vapor  a  uma  determi- 
nada temperatura  e  a  quantidade  de  vapor  necessária  para, 


239 

a  essa  mesma  temperatura,  provocar  a  satm^ação.  Ora,  se 
as  florestas  não  exercem  inílãencia  sobre  a  limnidade  ab- 
soluta, exercem-a,  e  grande,  sobre  a  humidade  relativa, 
como  vamos  dizer. 

Mnencia  das  florestas  sobre  a  humidade  relativa  do  ar 
e  sofare  as  chuvas. — ^^Quando  a  quantidade  absoluta  do  va- 
por de  agua  atmospherico  for  constante,  e  a  temperatura 
yariavel,  o  grau  de  saturação  variará  identicamente ;  assim, 
por  exemplo,  1  metro  cubico  de  ar  a  5  graus  de  tempera- 
tura poderá  dissolver  mais  5^%705  de  agua,  quando  a  tem- 
peratura subir  a  15  graus,  e  este  excesso  de  agua  conden- 
sar-se-ha,  se  a  temperatura  descer  outra  vez  a  5  graus. 

As  florestas,  como  dissemos,  não  alteram,  ou  pouco  al- 
teram, a  quantidade  absoluta  da  humidade  atmospherica,  e 
provocam  uma  diminuição  na  1;emperatura  média;  logo,  de- 
vem identicamente  augmentar  a  humidade  relativa.  As  es- 
tações florestaes  da  Baviera  acharam  que  este  augmento  é 
de  6,36  por  cento,  em  média,  oscillando  entre  3  e  9  por 
cento,  conforme  a  distancia  do  ponto  considerado  ao  mar. 

A  dífierença  da  humidade  relativa  encontrada  repartia-se 
muito  desegualmente  pelas  quatro  estações,  sendo  máxima 
uo  estio,  pela  mesma  forma  porque  n'essa  estação  também 
a  dífierença  da  temperatura  é  máxima  entre  a  floresta  e  o 
campo  sem  arvores.  Eis  as  médias  dos  números  achados; 

Differença  de  hamidAde  relativa, 
a  favor  da  floresta 

Primavera 5,87 

Estio 9,28 

Outono 5,22 

tovemo .....  5,24 

Cotejando  as  médias  mensaes  de  humidade  relativa,  den- 
tro e  fora  da  floresta,  nota-se  que  as  maiores  differenças 
coincidem  com  os  mezes  mais  quentes,  e  as  menores  diffe- 
renças com  os  mezes  mais  frios;  isto  é,  a  maior  correcção 


240 

dà-se  exactamente  nas  épocas  que  mais  a  precisavam. 
Aquelle  excesso  de  humidade  nos  mezes  de  estio  é  muito 
favorável  aos  arvoredos,  diminuindo  a  evaporação  do  solo 
e  das  arvores  novas;  por  outro  lado  as  differenças,  ainda 
apreciáveis,  a  favor  da  floresta,  na  primavera  e  no  outono, 
mitigam  a  irradiação  nocturna,  o  que,  junto  á  menor  oscil- 
lação  das  temperaturas  mínimas,  tomam  as  geadas  menos 
frequentes  e  menos  intensas. 

A  floresta,  ao  mesmo  tempo  que  augmenta  a  humidade 
relativa,  regularisa-a;  os  quadros  das  variações  hygrome- 
tricas  durante  cada  dia  apresentam  maiores  oscillaçôes  nos 
campos  sem  arvores. 

O  augmento  da  humidade  relativa  atmospherica  nos  pai- 
zes  arborisados  traz  mais,  como  consequência,  a  maior  co- 
pia de  aguas  meteóricas.  Nas  experiências  da  escola  de 
Nancy  a  chuva  caída  nos  pontos  arborisados  estava  para  a 
chuva  dos  terrenos  nus  como  100  ou  97  para  81. 

É  certo  que  uma  parte  da  agua  caida  na  floresta  não 
chega  ao  solo,  fica  retida  pela  folhagem  e  perde-se  por  eva- 
poração. Esta  quantidade  assim  perdida  varia  muito,  con- 
forme o  massiço  é  de  arvores  sempre-verdes  ou  de  folhas 
caducas,  e  segundo  a  folhagem  é  espessa  ou  ligeira;  mais, 
apezar  d'esta  causa  de  diminuição,  todos  os  dados  mostram 
que  as  médias  annuaes  da  chuva  recebida  no  solo  da  flo- 
resta são  mais  elevadas,  que  nos  campos  sem  arvore- 
dos. 

A  perda  da  agua  retida  pela  folhagem  não  é  tão  impor- 
tante como  pode  parecer  á  primeira  vista.  Sobre  as  folhas 
de  muitas  essências  as  pequenas  gottas  liquidas  tomam  a 
forma  espheroidal,  apresentando-se  como  outras  tantas  pé- 
rolas brilhantes ;  n'esse  estado,  como  sabemos,  a  agua  re- 
siste energicamente  á  evaporação ;  sacudida  pelo  vento  des- 
prende-se  ao  depois,  caindo  afinal  sobre  a  terra;  ninguém 
ignora  que,  já  passado  muito  tempo  em  seguida  ao  ter  pa- 
rado a  chuva,  quem  atravessar  por  debaao  das  arvores  é 


^41 

molhado  ainda  pela  agua,  que  a  agitação  das  copas  faz  de^s- 
prender. 

Segundo  as  experiências  da  escola  de  Nancy,  realisadas 
em  massiços  de  essências  de  folha  caduca  (Fagus  silvatica^ 
Carpinus  BetuluSy  e  Querms),  a  quantidade  média  da  agua 
interceptada  pela  copa  das  arvores  foi  a  seguinte: 

De  novembro  a  abril  (arvores  sem  folhas)..     5,84  7o 
De  maio  a  outubro  (arvores  com  folhas).. .  11,00  7© 

Isto  é,  as  folhas  apenas  duplicam  a  retenção  exercida  pe- 
los ramos. 

As  chuvas  leves,  essas  é  que  não  chegam  a  molhar  o  ter- 
reno da  floresta:  em  parte  ficam  perdidas  na  folhagem,  em 
parte  são  presas  pefa  manta.  Nas  épocas  de  secca,  apenas 
interrompida  por  chuvas  fracas,  o  terreno  das  matas  re- 
cebe menos  agua  que  os  solos  desarborisados;  mais  uma 
razão  da  influencia  benéfica  dos  invernos  chuvosos  e  abun- 
dantes em  nevadas,  que  abastecem  os  reservatórios  pro- 
fundos da  terra,  tomando-se  tão  propícios  aos  massiços  flo- 
restaes. 

Muenda  das  florestas  sobre  a  evaporação  do  solo. — A 
atmosphera  mais  fria  e  mais  socegada  das  matas  diminue 
a  evaporação  do  solo.  N'um  massiço  a  que  tinha  sido  tirada 
a  mantay  segundo  as  médias  de  cinco  annos  das  estações 
bavaras,  a  evaporação  do  solo,  em  números  redondos,  foi 
metade  da  dos  terrenos  desarborisados. 

A  manta,  porosa,  hygroscopica,  rica  em  substancias  ávi- 
das de  agua,  diminue  ainda  muito  aquelle  valor;  n'essas 
condições  a  evaporação  do  solo  nas  florestas  é  quatro  ou 
cinco  vezes  mais  fraca  do  que  nos  campos  sem  arvores. 

Quem  quizer  uma  demonstração  directa  de  quanto  a  eva- 
poração é  menor  nos  massiços  florestaes,  bastar-lhe-ha  per- 
correr um,  no  dia  seguinte  ao  de  uma  boa  chuvada;  os  cam- 
pos e  os  cammhos  em  redor  já  estão  enxutos,  mas  sob  as 

C  8.  16 


242 

arvores  a  agua  pei  siste  em  abundância,  nas  hervas  e  arbus- 
tos, e  molhará  completamente  os  pés  e  as  pernas  de  quem 
se  arriscar  a  esse  passeio. 

Influencia  das  florestas  sobre  o  vento  e  sobre  a  salubri- 
dade das  povoações  próximas. — Os  arvoredos  attenuam  a 
força  dos  ventos  e  servem  de  abrigo  e  protecção  ao  paiz  vi- 
sinho.  Junto  á  costa  marítima,  quebrando  o  embate  dos  ven- 
tos mareiros,  quasi  sempre  tão  violentos,  e  em  alguns  pon- 
tos das  montanhas,  é  onde  esta  sua  influencia  apparece  mais 
frisante  e  mais  benéfica. 

Os  massiços  florestaes  contribuem  também  para  a  sala- 
bridade  do  ar,  já  pelas  emanações  resinosas,  ou  outras,  já 
pelo  ozone,  que  ad)unda  tanto  mais  na  atmosphera  quanto 
mais  forte  a  vegetação  e  maior  a  sua  actividade  organi- 
sadora.  Gitam-se  factos  de  determinadas  povoações  serem 
preservadas  de  certas  doenças  paludosas  pela  interposição 
dos  arvoredos,  respectivamente  ao  foco  onde  os  germens 
do  contagio  se  originavam. 

Influencia  do  coberto  das  arvores  sobre  a  vegetação  in- 
ferior.— É  um  facto  de  observação  vulgar,  que  os  vege- 
taes  desenvolvidos  a  coberto  das  arvores  apresentam  me- 
nor robustez  e  menor  porte.  Nas  vinhas  que  teem  pelo  meio 
fiadas  de  oliveiras,  as  cepas  mais  próximas  d'essas  arvores 
são  as  menos  productivas  e  as  mais  enfezadas ;  as  culturas 
arvenses  resentem-se  muito  nas  beiras  dos  campos  orlados 
com  arvores  silvestres  ou  fructiferas ;  no  interior  dos  mas- 
siços florestaes  a  vegetação  espontânea  é  sempre  muito  mais 
enfezada  que  ao  ar  livre.  Esta  acção  é  mesmo  tão  enérgica 
e  evidente  que  nos  massiços  apertados  e  compactos  de  al- 
gumas folhosas  nem  os  arbustos,  nem  as  phanerogamicas 
herbáceas,  podem  viver,  e  apenas  se  encontram  lichens, 
musgos,  algumas  hepáticas,  e  ás  vezes  os  fetos. 

Esta  influencia  nociva  tem-se  pretendido  explicar  por  di- 
versos modos:  pelo  empobrecimento  da  terra  occasionado 
pelas  raizes  da  arvore ;  pela  diminuição  da  luz ;  pela  acção 


243 

da  iuz  yerde  reflectida  das  folhas,  etc. ;  ultimamente  o  st. 
Grandean  attriboiu-a,  em  grande  parte ,  á  falta  de  electri- 
cidade atmospherica  sob  o  coberto  das  arvores. 

Aqaelle  observador  cultivou  diversas  plantas  (o  tabaco, 
o  milho  e  o  trigo)  em  caixotes  cheios  de  terra  egual,  for- 
mando dois  lotes,  onde  todas  as  condições  da  vegetaçSo 
eram  idênticas,  excepto  a  acç3o  eléctrica,  supprimida  com- 
pletamente n'um  dos  lotes,  por  meio  de  uma  gaiola  isola- 
dora de  fio  delgado  de  ferro,  por  entre  ctjgas  malhas  o  ar 
e  a  luz  podiam  circular  em  liberdade.  Por  comparação  en- 
tre as  plantas  desenvolvidas  ao  ar  livre  e  as  que  viveram 
s(è  a  gaiola  isoladora,  chegou  ás  seguintes  conclusões : 

—Sob  a  gaiola  isoladora  as  plantas  experimentaram  no 
sen  desenvolvimento  e  na  sua  evolução  uma  diminuição  e 
uma  demora  bastante  considerável;  constituíram  menos 
substancia  viva  do  que  ao  ar  livre  (30  a  50  por  cento  me- 
oos),  parecendo  a  formação  do  amido,  da  glucose,  etc,  ser 
partiõilarmente  influenciada  pela  electricidade  atmosphe- 
rica; diminuiu  o  numero  das  flores  e  dos  fructos,  bem  como 
o  peso  das  sementes.  Sob  a  gaiola  isoladora  as  plantas  fi- 
caram mais  ricas  em  agua  e  mais  pobres  em  substancias 
mineraes. 

Tendo  verificado  depois  a  ausência  total  da  tensão  elé- 
ctrica, comprovada  pelos  mais  sensíveis  electrometros,  na 
atmosphera  inferior ^ás  arvores,  repetiu  as  experiências  re- 
feridas acima,  collocando  umas  das  plantas  ao  ar  livre,  e 
as  outras,  não  sob  a  gaiola  isoladora,  mas  a  coberto  de  uma 
arvore.  Os  resultados  obtidos  foram  idênticos  aos  anterio- 
res, d'onde  concluiu: 

— cAs  grandes  arvores,  os  massiços  de  verdura,  uma 
gaiola  de  madeira  coberta  de  plantas  vivas,  comportam-se, 
em  relação  ás  plantas  que  dominam,  como  a  gaiola  isola- 
éfí^  de  fio  de  ferro :  roubam  a  electricidade  atmospherica 
e  snbtrahem  completamente  á  sua  acção  os  objectos  situa- 
dos entre  elles  e  o  solo.  O  perímetro  de  protecção  de  uma 

16« 


244 

arvore  de  ^ande  porte  contra  a  influencia  eléctrica  da 
atmosphera  é  maior- do  que  a  superficie  da  projecção  ver- 
tical da  sua  copa.  Quando  a  arvore  è  despida  de  ramos  até 
uma  certa  altura  do  terreno,  a  luz  directa,  o  calor  solar,  a 
chuva,  etc.,  podem  actuar  livremente,  como  na  gaiola  iso- 
ladora de  fio  de  ferro,  e  só  a  electricidade  atmospherica  é 
annuUada.» 

Devemos  todavia  notar  que  estas  experiências  do  sr. 
Grandeau,  repetidas  novamente  por  outros  observadores, 
parece  n3o  terem  sido  coroadas  de  bom  resultado,  e  o  sr. 
Dehérain  inclina-se  a  negar  a  influencia  da  electricidade  so- 
bre a  vegetaçSo*. 


Terminando  este  estudo  acerca  da  influencia  climatérica 
das  florestas,  chamaremos  ainda  a  attenção  sobre  um  ponto: 
esta  influencia,  mesmo  local  e  restricta  como  é,  depende, 
na  intensidade,  de  muitas  causas — da  extensão  dos  arvo- 
redos, da  sua  orientação,  da  altura  das  arvores,  da  edade 
em  que  se  cortam,  dos  processos  de  exploração,  etc.  Os 
números,  que  deixámos  apontados,  procuram  evidenciar  a 
acção  das  arvores  sobre  a  temperatura,  sobre  a  humida- 
de, etc.,  mas  por  modo  nenhum  devem  ser  reputados  como 
medida  uniforme  de  uma  influencia  i(\pntica  em  paizes  di- 
versos e  em  condições  deseguaes. 


1  M.  Dehérain. — «Chimie  agricole.  Nutrition  de  la  plante. — Encyclo- 
pèdie  chimique,  publióe  sous  la  direction  de  M.  Fremyi» — Paris,  1885. 


L. 


iUGTORES  PÉIHCIPALIEKTE  COHSULTADOS 
ROESTE  LIVRO  IL 


A.  Grisebagh. — La  végêtcUion  du  gkbe  (faprès  sa  disposi- 

tion  suivant  tes  climats  (tradoit  de  Tallemand  par 

P.  de  Tchihatchef).  Paris,  1877. 
L  Grandeau.—  Cours  SagricuUure  de  VÉcck  Forestière 

Vol.  I.  Paris,  1879. 
— Armales  de  la  sUtíion  agronomique  de  VEst.  Paris, 

1878. 
J.  G.  Baker. — Lições  elementares  de  Geographia  Botânica 

(traducçSo  do  dr.  Jnlío  A.  Henriques).  Coimbra, 

1879. 

B.  Barros  Gomes. — Notice  sur  les  arbres  forestières  du  PoT'- 

tugal.  Lisbonne,  1878. 

— Cartas  dementares  de  Portugal  para  uso  das  escch 
las.  Lisboa,  1878. 

— Condições  florestaes  de  Portugal.  Lisboa,  1876. 
Dr.  Julio  a.  Henriques. — Relatório  da  secção  de  botânica 
da  expedição  sdentifica  á  serra  da  Estreita.  Lis- 
boa, 1883. 

ReUTOBIO  BA  ADMINISTRAÇÃO  GERAL  DAS  MATAS,  rolativO  aO 

anno  económico  de  1879-1880.  Lisboa,  1881. 
Adolphe  E.  Dupont  et  Bodquet  dr  la  Grye. — Les  bois  in^ 

digènes  et  ftrangers.  Paris,  1875. 
A.  Parade. —  Cours  élémentaire  de  cuUure  des  bois.  Paris, 

1883. 


246 

Mabié-dayt. — Météorólogie  etphysiqiie  agricoles.  Paris,  1875. 
A.  d'Arbois  de  Jubainyille  et  J.  Yesque. — Les  maladies  da 

plantes  aUtivées,  des  arbres  fruitiers  et  forestièrn. 

Paris,  1878. 
Alexandre  Surell  et  E.  Gezanne. — Éíudes  sur  les  torrmU 

des  Hautes  Alpes.  Paris,  1872. 
Dehérain. —  ChinUe  agricóle.  NtUrition  de  la  plante:  Ency- 

chpédie  chimique,  publiée  sous  la  directwn  de  M. 

Fremy.  Paris,  1885. 
Dr.  Jxjuo  a.  Henriques. — Boletim  da  Sociedade  Broteria- 

na  III.  Fascículo  3.*»  e  4.^  1884.  Coimbra,  1885. 


.♦ 


LIYRO  III 


Agrolo^a  Florestal 


l.»-~INFLIIENOIA  DO  SOLO  NA  DISTRIBUIÇÃO 
DAS  ESPEOIES  FLORESTAES 


A  influencia  do  solo  na  distribuição  das  espécies  yege- 
taes  é  innegavel,  mas  as  causas  a  que  esta  influencia  deve 
ser  attribuida  s3o  questionáveis,  e  teem  sido  consideradas 
por  diversos  modos.  Uns  derivam  a  acção  do  solo  exclusi- 
Tamente  das  suas  propriedades  physicas^  sem  ligarem  im- 
portância á  natureza  chimica  dos  elementos  constituitivos, 
senão  pela  influencia  que  essa  diversidade  de  composição 
pode  ter  sobre  as  propriedades  physicas;  outros,  pelo  con- 
trario, dão  o  primeiro  papel  á  composição  chimica  da  terra, 
tendo  em  nenhuma,  ou  quasi  nenhuma  attenção  as  suas 
propriedades  physicas. 

Postas  em  confronto  as  duas  theorias — que  uma  e  outra 
teem  tido  a  seu  favor  numerosos  defensores — a  ultima  apre- 
senta-se  muito  mais  verdadeira ;  no  emtanto  qualquer  d'el- 
las  é  decerto  absoluta  de  mais,  e  a  questão  ganharia  em  não 
ser  enunciada  com  tamanho  exclusivismo. 

A  influencia  chimica  do  solo  na  distribuição  das  espécies 
vegetaes  torna-se  particularmente  evidente  quando  se  estu- 
dam dois  terrenos  de  composição  mineralógica  bem  diver- 
sa, mas  cujas  propriedades  physicas  sejam  semelhantes,  em 
virtude  de  quaesquer  causas  accidentaes  (grau  de  fragmen- 


248 

tacão  das  partículas  terrosas,  etc.)>  oa  qaando,  pelo  con- 
trario, se  comparam  dois  terrenos  chimicamente  análogos, 
mas  com  propriedades  physícas  diversas.  Em  mmtos  does- 
tes casos  estudados  as  floras  locaes  variam  com  a  compo- 
sição chimica,  conservando-se  idênticas  ao  diversificarem  as 
propriedades  physicas. 

O  melhor  e  mais  seguro  modo  de  resolver  este  problema 
é,  sem  duvida,  o  exame  botânico  feito. nas  condições  que 
acabámos  de  dizer,  e  muitos  dados  valiosos  teem  sido  re- 
unidos já  por  esse  processo,  mas  o  raciocínio  também  pode 
mostrar  quanto  a  feição  chimica  do  solo  deve  influir.  Com 
eSeito,  estando  provado  que  os  vegetaes  absorvem  da  terra 
substancias  indispensáveis  á  sua  organisação,  e  que  as  di- 
versas espécies  absorvem  estas  substancias  em  quantidades 
muito  deseguaes  (como  o  demonstram  as  analyses  das  suas 
cinzas),  será  lógico  suppor  cada  espécie  dependente  da  com- 
posição do  solo  pelo  alimento  que  elle  lhe  pode  dar. 

Assim  os  terrenos  graníticos,  os  calcareos,  os  basajUcos, 
os  argillosos,  etc.,  teem,  cada  um  d'elles,  uma  flora  espe- 
cial ;  mas  as  principaes  difierenças  da  vegetação,  motivadas 
pela  composição  chimica  do  solo,  são  devidas  sobretudo  á 
presença  ou  ausência  do  sal  marinho,  e  à  comparência  oa 
não  comparência  da  cal  n'umas  certas  percentagens. 

Influencia  do  sal  marinho. — A  presença  ou  ausência  do 
sal  marinho  no  terreno  permitte  uma  pruneira  divisão  de 
todos  os  vegetaes  em  dois  grupos — marítimos,  ou  dos  sal- 
gadiços,  e  terrestres.  Ao  primeiro  grupo  pertencem  as  plan- 
tas das  proximidades  do  mar  e  as  dos  terrenos  do  interior 
onde  apparecem  efflorescencias  salgadas,  as  plantas  que 
precisam,  ou  talvez  antes  que  toleram,  a  presença  do  sal 
marinho  em  excesso;  incluem-se  no  segundo  grupo  os  ve- 
getaes que  não  podem  viver  n*um  meio  tão  salgado;  dá- 
se-lhes  vulgarmente  o  nome  de  terrestres,  por  fugirem  das 
visinhanças  do  mar. 

Parece  que  nenhuma  exigência  particular  pelo  chioreta 


249 

de  sódio  prende  o  maior  numero  das  espécies  ditas  mari- 
tímas  aos  terrenos  salgados,  podendo  qnasi  todas  viver  per- 
feitamente nos  solos  onde  falte  o  sal,  mas,  pelo  inverso,  as 
plantas  terrestres  é  que  não  podem  vegetar  nos  solos  onde 
aqaelle  corpo  abunde:  isto  é,'as  plantas  terrestres  sSo  sa- 
Ufiigas,  sem  às  plantas  marítimas  caber,  segundo  parece, 
o  nome  de  salicolas.  O  não  existirem  plantas  marítimas  longe 
dos  solos  salgados  pode  explicar-se  talvez,  na  hypothese  de 
ellas  Qão  terem  nenhuma  exigência  particular  pelo  sal  ma- 
rinho, com  as  leis  da  concorrência — com  a  lucta  pda  vida 
—entre  as  plantas  dos  dois  grupos.  As  espécies  ditas  ter- 
reOres  estarão  melhor  armadas  para  a  lucta  e  por  isso  ven- 
cerão as  do  outro  grupo,  excepto  nos  meios  salinos,  onde 
as  primeiras  não  podem  viver,  e  que  por  isso  mesmo  se 
tornam  campo  aberto  ao  desenvolvimento  das  segundas. 

A  salgadeira  (Atriplex  Halimus^  L.),  a  salicornia  CSaU- 
corrm  firiuicosa,  L.),  a  tamargúeira  (Tamarix  Gallica,  L.), 
etc.,  dão-nos  exemplos  de  arbustos  e  sub-arbustos  mariti- 
mos.  A  Mj/rica  Gale,  L.,  vive  perfeitamente  nas  praias,  mas 
é  já  qnasi  indifferente  aos  meios  salgadiços  e  penetra  mais 
para  o  interior.  O  pinheiro  bravo  é,  das  nossas  essências 
florestaes,  uma  das  que  mais  se  chega  á  zona  marítima. 

Mnenda  da  cal. — Nas  acções  exercidas  pelo  solo  sobre 
a  distribuição  das  plantas,  a  cal,  como  dissemos,  representa 
mn  grande  papel.  A  este  respeito  as  espécies  vegetaes  po- 
dem dividir-se*  em  três  agrupamentos — calcicolas,  silicico- 
las  e  indifferentes,  conforme  se  desenvolvem  nos  solos  cal- 
careos,  siliciosos,  ou  indifferentemente  n'uns  e  outros. 

As  espécies  características  dos  solos  calcareos  estão  pre- 
sas a  esses  solos  pela  necessidade  da  caU  sem  ella  não  po- 
dem viver,  e  por  isso  cabe-lhes  bem  aquella  denominação 
de  ccUcicolas,  mas  já  o  mesmo  não  acontece  a  propósito  das 
silidcolas.  Os  estudos  mais  autorísados,  feitos  com  estas 
plantas,  parecem  demonstrar  que  ellas  não  teem  nenhuma 
necessidade  mais  urgente,  ou  mais  forte,  pela  silica,  apre- 


250 

sentando,  pelo  inverso,  uma  grande  repugnância  pela  cal, 
que  é  extraordinariamente  nociva  aos  seus  organismos;  se 
habitam  os  terrenos  siliciosos  é  apenas  por  elles  serem  po- 
bres em  cal;  isto  é,  estas  espécies  devem  ser  antes  chama- 
das calei  fugas,  do  que  silicicolas. 

O  castanheiro  dá-nos  um  óptimo  exemplo  de  uma  espé- 
cie calcifuga.  Não  parece  ter,  conforme  diremos  adiante, 
nenhuma  necessidade  particular  de  silica,  e  só  vive  nos  ter- 
renos onde  as  percentagens  da  cal  sejam  inferiores,  segan- 
do o  sr.  Chatin,  a  3  por  cento.  A  distribuição  doesta  arvore 
em  Portugal  é  curiosa,  e  está  em  harmonia  com  a  ultima 
d'aquellas  asserções;  o  castanheiro,  entre  nós,  prepondera 
sobretudo  na  região  transmontana,  na  Beira  meridional,  no 
Alto  Alemtejo  e  na  serra  de  Monchique,  porém  encontra-se 
em  muitos  outros  pontos,  na  Beira  central,  no  Minho,  etc, 
mas  sempre  em  terrenos  não  calcareos.  Nos  arredores  de 
Lisboa,  próximo  a  Gascaes,  n'um  solo  calcareo,  vimol-o 
nascer,  attmgir  enfezado  a  grossura  de  (r,01  e  morrer  em 
seguida,  emquanto  bem  perto,  em  Cintra,  encontra-se  fron- 
doso e  cheio  de  viço  na  pequena  mancha  granítica  d'aquella 
serra. 

Os  estudos  dos  srs.  Grandeau  e  Fliche,  acerca  da  vege- 
tação dos  castanheiros  nos  solos  calcareos  e  não  calcareos, 
mostram  que  ella  é  tanto  mais  fraca  quanto  maior  vae  sen- 
do, na  terra,  a  proporção  da  cal,  até  que,  de  um  certo  ex- 
cesso d'esta  substancia  por  diante,  a  arvore  não  pode  vi- 
ver, nem  mesmo  sujeita  a  um  grande  numero  de  cuidados. 
Á  medida  que  a  percentagem  da  cal  augmenta  díminae  o 
crescimento  em  altura  e  em  espessura,  dhninuem  as  dimen- 
sões das  folhas,  principahnente  as  dos  exb^emos  dos  eixos, 
as  estipulas  persistem  nos  três  ou  quatro  nós  superiores, 
e  a  côr  verde  das  folhas  altera-se,  tomando-se  amarellada 
nas  folhas  inferiores  e  quasi  branca  nas  folhas  superiores. 

O  estudo  chunico  das  arvores  creadas  n*estas  duas  con- 
dições diversas  mostrou  que  o  castanheiro,  em  circumstan- 


251 

das  normaes,  vivendo  em  terrenos  pobres  em  calcareo,  fixa 
quantidades  bastante  avultadas  de  cal^  tanto  nas  folhas  como 
nos  eixos,  mas  principalmente  nos  eixos,  ao  passo  que  ab- 
sorve quantidades  insignificantes  de  silica  (as  cinzas  das  fo- 
lhas accusaram  45,377o  de  cal  e  as  dos  eixos  73,267o>  ^o 
passo  que  a  silica  nas  folhas  era  apenas  5,797o  b  nos  ei- 
xos 3,087o).  O  excesso  de  cal  no  terreno  augmentou  a  per- 
centagem das  cinzas,  tanto  nas  folhas  como  nos  eixos  da 
arvore  (emquanto  nos  solos  silidosos  as  cinzas  das  folhas 
eram  4,8^/o  e  as  dos  eixos  4,747o>  nos  solos  calcareos  as 
primeiras  subiram  a  7,87o  e  as  segundas  a  5,717o)-  Este  au- 
gmento  de  cinzas  realisou-se  quasi  todo  á  custa  de  uma  fi- 
xação maior  de  cal,  porque  a  percentagem  de  todos  os  ou- 
tros componentes  diminuiu.  Parece  ser  a  diminuição  d'es- 
tes  princípios,  principalmente  da  potassa  e  do  ferro,  que 
traz  como  consequência  a  formação  de  menores  quantida- 
des de  amido,  a  reducção  superficial  das  folhas^  as  más  con- 
dições da  vegetação,  o  estado  imperfeito  das  substancias 
contidas  nas  cellulas  vegetaes.  Segundo  estes  estudos  as 
folhas  dos  castanheiros  com  boa  vegetação,  nos  terrenos  si- 
lidosos, conteem,  para  uma  dada  quantidade  de  cal,  6,19 
vezes  mais  potassa,  que  as  folhas  das  arvores  enfezadas, 
em  terrenos  calcareos,  e  os  eixos  conteem,  no  primeiro  ca- 
so, 5,3  vezes  mais  potassa,  que  no  segundo  (a  potassa  que 
era,  nas  folhas  das  arvores  dos  terrenos  siliciosos  21  i677o 
das  cinzas,  e  nos  eixos  11,65,  passou  a  ser,  em  terrenos 
calcareos,  nas  folhas  5,76,  e  nos  eixos  2,69;  o  sesquioxydo 
de  ferro,  que  era,  em  terrenos  siliciosos,  nas  folhas  1,07, 
e  nos  eixos  2,04,  passou  a  ser,  em  terrenos  calcareos,  0,83 
nas  folhas  e  1,27  nos  eixos). 

O  sr.  Grandeau  estudou  também,  sob  o  mesmo  ponto  de 
vista,  a  vegetação  do  pinheiroMÍ[)ravo  e  chegou  a  conclusOes, 
qnanto  pode  ser,  idênticas :  o  pinheiro  bravo  é  ainda  uma 
espécie  silidcola,  ou  diremos  melhor  calcifuga,  porque  egual- 
mente  não  parece  ter  nenhuma  necessidade  maior  de  silica. 


252 

absorve  uma  quantidade  avultada  de  cal»  mesmo  nos  ter- 
renos muito  pobres  n'esta  substancia ,  e  á  medida  que  a 
percentagem  do  calcareo  no  solo  augmenta,  a  sua  vegeta- 
ção diminuo  de  vigor,  e  torna-se  impossivel  de  um  certo 
limite  por  diante. 

O  excesso  de  calcareo  nos  solos  traz  também  ao  pinheiro 
bravo,  como  consequência,  o  augmento  da  percentagem  das 
cinzas  (emquanto  nos  terrenos  pobres  em  cal  as  arvores 
accusaram  0,4  a  0,6*^/0  de  cinzas,  nos  terrenos  calcareos 
as  cinzas  subiram  a  1,32  e  l,357o)>  mas  este  augmento 
diz  só  respeito  ao  eixos,  porque  as  folhas  conteem  menos 
cinzas  do  que  teriam  nas  condições  normaes,  em  solos  si- 
liciosos,  e  n'esta  parte  existe  uma  dififerença  entre  os  phe- 
nomenos  particulares  da  vegetação  do  castanheiro  e  do  pi- 
nheiro bravo  nos  solos  calcareos.  Este  augmento  de  cinzas 
nos  pinheiros  das  terras  calcareas  é  devido,  como  também 
nos  castanheiros,  a  uma  fixação  maior  de  cal,  quasi  todos 
os  outros  elementos  entram  em  menor  percentagem;  a  es- 
cassez d'esses  outros  principios  mineraes — do  ferro  e  so- 
bretudo da  potassa  n'ama  enorme  proporção — parece  ser 
a  verdadeira  causa  da  má  vegetação  do  pinheiro  sobre  es- 
ses solos ;  diminuo  correlativamente  o  amido  formado  nas 
cellulas  veget^es,  e  a  terebinthina,  o  que  era  de  esperar, 
por  isso  que  esta  ultima  deriva  das  substancias  amylaceas, 
e  que  sem  a  potassa  não  ha,  por  assim  dizer,  producção 
de  amido,  conforme  o  mostraram  as  experiências  de  Nobbe, 
Schraeder,  Edmam,  etc.  Os  pinheiros  dos  terrenos  siliciosos 
accusaram  percentagens  de  cal  comprehendidas  entre  37 
e  44  por  cento  das  cinzas  e  potassa  entre  15  e  19  per  cento, 
emquanto  nas  arvores  dos  terrenos  calcareos  a  cal  subiu  a 
56  por  cento  e  a  potassa  desceu  a  5  por  cento ;  as  variações 
nas  quantidades  de  acido  pjiosphorico,  magnesia,  soda  e 
acido  sulphurico  foram  insignificantes,  ou  difficeis  de  de- 
terminar ;  as  variações  do  acido  phosphorico  deram-se  in- 
differentemente  nas  cinzas  das  arvores  rachiticas  dos  solos 


253 

calcareos^  ou  nas  cinzas  das  arvores  robustas,  creadas  em 
terra  siliciosa,  ora  para  mais,  ora  para  menos,  n'umas  e 
outras. 

Na  vegetação  florestal  do  paiz  podem  considerar-sé  como 
verdadeiramente  cakifugas  as  seguintes  espécies  arbóreas 
e  arbustivas  mais  importantes:  O  castanheiro  {Castanea  vtã- 
garis,  Lam.)  e  o  pinheiro  bravo  (Pinus  Pinaster,  Ait.),  ai- 
gans  tojos  (género  Ulex),  o  maior  numero  das  urzes  (Eriça 
ciUaris,  L.,  E.  Tetralix,  L.,  E.  cinereay  L.,  E,  scoparia,  L., 
£.  arbórea,  L.,  CaUuna  vulgaris,  Salisb.,  etc.)»  um  codeço 
(Adenocarpus  complicaius,  Gay.),  etc.  Apparece  n'estes  ter- 
renos em  abundância  um  feto  característico — o  feto  real 
(Osmunda  regalis,  L.). 

S3o  ainda  calcifugas,  mas  já  não  em  grau  tão  absoluto,  o 
arando  ( Vaccinium  MyrtiUtts,  L.),  um  vidoeiro  (Betula  pu- 
bescens,  Ehrh.)>  a  Myrica  Gale,  L*,  etc. ;  está  nas  mesmas 
circumstancias  o  feto  fêmea  das  boticas,  ou  feto  ordinário 
[Ptms  aquilina,  L.). 

São  quasi  indifferentes,  mas  encontram-se  em  maior  quau; 
lidade  nas  terras  pobres  em  cal,  o  azevinho  ou  pica-folha 
[Jkx  Agmfolitmi,  L.),  o  sobreiro  (Querem  suber,  L.),  o  car- 
valho pardo  da  Beira  (Querem  Tozza,  Bosc),  o  choupo  bran- 
co (Poptdus  alba,  L.),  a  giesta  ordinária  (Spartium  junceumj 
L.),  o  sanguinho  d'agua  (Rhamnm  Frangula,  L.),  etc. 

O  maior  numero  dos  nossos  vegetaes  lenhosos  são  indif- 
fererues  á  natureza  calcarea  ou  não  calcarea  do  terreno.  Ci- 
taremos, entre  outros:  o  freixo  (Fraxinm  excelsior,  L.),  o 
amieiro  (Alnus  ghtíinosa,  Gartn.),  o  teixo  (Taxm  baccata, 
L.),  a  azinheira  (Querem  Ilex,  L.)  (esta  prefere  talvez  os 
solos  calcareos),  o  carrasqueiro  (Querem  coccifera,  L.),  o 
salgueiro  branco  (ScUix  alba,  L.),  o  vimeiro  do  norte  (Sa- 
lix  vinmalis,  L.),  o  choupo  negro  (Populus  nigra,  L.),  a 
faya  preta,  ou  choupo  tremedor  (PoptUm  tremula,  L.),  o 
I  sabugueiro  (Sambucus  nigra,  L.),  o  sanguinho  legitimo  (Cor- 
nus  sanguinea,  L.),  a  hera  (Hedera  Uelix,  L.)>  o  abrunheiro 


254 

bravo  (Prunus  spinosa,  L.),  a  cerejeira  das  cerejas  pretas 
miúdas  {Prunus  avium,  L.),  os  pirliteiros  ou  espinheiros 
alvares  {Crcuaegus  Oxyacanlhay  L.  e  C.  monogyna,  Jq.),  as 
silvas  (o  maior  numero  das  espécies  e  formas  derivadas  do 
antigo  Rubus  fhuicosus,  L.)»  a  pereira  (Pyrus  comtnwiis,  L.), 
a  maceira  (Pyrus  Malus,  L.),  a  sorveira  {Sorbus  domestica, 
L.\  a  tramazeira  (Sorbus  aucuparia,  L.)>  o  mostageiro  (Sor- 
bus Ária,  Grtz.),  o  Sorbm  torminqlis,  Cvti.,  etc. 

Ainda  s3o  quasi  indifferentes,  mas  já  preferem  um  pouco 
os  solos  calcareos,  o  aderno  bastardo  (Rhamnus  Akuemus, 
L.)  e  a  zêlha  (Acer  Monspessulanum,  L.)»  6tc. 

Essências  florestaes  verdadeiramente  calciccias  nlo  te- 
mos talvez  nenhuma.  É  certo  que  o  zambujeiro  (Olea  Euro- 
paea,  L.,  a  Oleaster,  DG.)  apenas  apparece  espontâneo,  en- 
tre nós,  nos  solos  calcareos,  mas  a  cultura  tem  levado  a 
oliveira  aos  mais  diversos  terrenos  e  encontra-se,  a  bem 
dizer,  em  todo  o  paiz.  O  pinheiro  d'Âlepo  (Pinus  halepensis, 
Mill.)  não  é  espontâneo,  e  embora  viva  muito  bem  nos  so- 
los calcareos  não  parece  ser-lhes  exclusivo.  Algumas  Pa- 
pilionaceas  arbustivas,  sem  grande  importância  florestal, 
caracterisam  entre  nós  a  flora  espontânea  lenhosa  das  ter- 
ras calcareas,  bem  como  a  falta  das  plantas  calcifiigas^. 

Influencia  da  humidade,  ftmdura  e  fertilidade  do  solo.— 
O  grau  de  humidade  da  terra  exerce  uma  influencia  incon- 
testável na  distribuição  das  espécies  vegetaes.  Os  logares 
áridos  e  seccos  teem  uma  flora  característica,  assim  como 
a  teem  os  solos  muito  húmidos.  Todos  sabem  que,  nas  mar- 
gens dos  ribeiros  e  nos  sitios  mais  ou  menos  pantanosos, 
existe  uma  vegetação  lenhosa  particular,  constituída  peio 
amieiro,  pelos  choupos,  salgueiros,  etc. 

A  fundura  e  a  fertilidade  do  solo  actuam  com  bastante 
força  também  na  distribuição  das  essências  florestaes;  os- 

1  As  listas  que  antecedem  sSo  extrahidas  do  Utto  do  sr.  Ch.  Conte- 
jean,  adiante  citado. 


255 

terrenos  si^)erficia6S  são,  por  isso  mesmo,  mais  sçccos  do 
qae  os  terrenos  fondos ;  nos  últimos  as  raizes  podem  alar- 
gar-se  até  maior  extensão  vertical,  emquanto  nos  solos 
pouco  espessos  só  podem  extender-se  horisontalmente ;  as 
diversas  essências  preferem  amas  ou  outras  doestas  con- 
dições conforme  as  necessidades  dos  seus  organismos,  e  a 
disposição  das  suas  raízes.  Assim  o  roble,  cujo  systema 
radicular  é  profundo,  que  tem  uma  raiz  mestra  comprida, 
TlTe  bem  nas  terras  espessas,  nos  yalles  frescos  e  ricos  do 
Minho,  mas  raro  se  encontra  nas  ladeiras  empinadas  de 
Traz-os-Montes  e  da  Beira,  onde,  é  certo,  o  clima  lhe  é  bas- 
tante menos  favorável,  mas  onde  também  o  solo,  nas  encos- 
tas, mais  secco,  mais  pobre  e  menos  fiindo,  lhe  é  menos  pro- 
picio. Sobstitue-o  ahi  o  carvalho  pardo  da  Beira,  cujas  raizes 
afiindam  menos,  e  bracejam  horisontalmente  muito  mais. 

As  diversas  arvores  tiram  ao  terreno  quantidades  variá- 
veis das  substancias  de  que  necessitam  para  se  constituir. 
Ccmio  demonstração  apresentamos  a  seguinte  tabeliã  onde 
se  vêem  quaes  as  percentagens  de  cinzas,  e  quaes  as  per- 
centagens de  acido  phosphorico,  potassa  e  cal,  extrahidas 
ao  solo  por  algumas  essências.  Copiamos  esta  tabeliã  de 
mn  trabalho  do  sr.  E.  Henry,  publicado  nos  Annales  de  la 
Siaion  Agronamique  de  VEst  do  sr.  L.  Grandeau: 

EM  iOO^  DE  MATÉRIA  8EGGA  (ARVORE  COMPLBTa) 
Fiwenrfm  Cinzas      A.  phoaphorioo      Potassa  Oal 

Mostageiro..." i\Wk  0^,058  0^,152  l^^l 

Macei». 2^073  0^,082  0^,223  1^,531 

Cerejeira 0^,092  0^,041  0^,093  0^,677 

ATeUeira. 2^,557  0^,131  0^,200  l',893 

CarfòmBehdu$,h 1S4Z7  0^,067  0^094  1^097 

Choupo  tremedor. 1^,771  0^,084  0S209  P,206 

Ulmeiro 2^,042  0^,070  0^,155  1»,426 

Bordo ÍS594  0^,078  0^,336  1S085 

Faya(Fa^^aea<ú»,L.).  i^098  0^,052  0i',143  0^703 

CamIho....v 1S483  0^,076  0^,158  1S092 

Freixo 1^,446  0^,183  0^.225  0S832 


256 

Se  disposermos  estas  arvores  pela  ordem  das  suas  exi- 
gências,dando  o  numero  1  á  que  exige  menores  percen- 
tagens dos  princípios  considerados,  obtem-se  o  quadro  se- 
guinte, onde  se  pode  notar  que  as  espécies  mais  exigentes 
em  acido  phosphorico  s3o  também,  salvas  poucas  excepções, 
as  mais  exigentes  em  potassa. 


Eitendai 

Cerejeira 

Faya  (Fagus  silvatica,  LJ.. 

Mostageiro 

Ulmeiro 

Carvalho 

Bordo 

Maceira 

Choupo  tremedor 

Carpinus  Betultis,  L 

Avelleira 

Freixo 


A.  phofphorleo    PoUssa 


1 

2 
3 
4 
5 
6 
7 
8 
9 
10 
11 


1 
3 
4 

5 

6 

11 

9 

8 

2 

7 

10 


Ctl 

1 

4 

9 
6 
S 

40 
8 
7 

11 
3 


Estes  números  evidenciam  o  papel  que  a  fertilidade  do 
solo  exerce  na  distribuição  das  espécies  lenhosas.  É  claro 
que  as  essências  mais  exigentes  hão  de  concentrar-se  nos 
terrenos  férteis,  porque  os  indivíduos  nascidos  nos  solos 
fracos  ficam  rachiticos  e  s3o  dominados  pela  mais  robusta 
vegetação  das  espécies  menos  exigentes,  muito  mais  apro- 
priadas, essas,  ás  terras  pobres. 

O  esgotamento  do  solo  provocado  pela  .maior  parte  das 
essências  florestaes,  quando  apenas  se  consideram  as  quan- 
tidades de  princípios  mineraes  extrahidos  de  uma  dada 
unidade  de  superficie,  não  é  muito  menos  considerável  do 
que  o  esgotamento  realisado  pelas  culturas  arvenses,  como 
se  vé  dos  seguintes  números  transcriptos  da  obra  do  sr. 
Grandeau  citada  anteriormente: 


r 


257 

nni«ni...  Prinolplofi  mineraes 

uuJturM  extrahldM  de  i  heetare 

Trevo 319^ 

Prados 299^ 

Batatas 265»^ 

Alto  fdste  de  fayas  (T.  silvatica,  L.J  ....  215'' 

Trigo 174»^ 

Ervilhas 169'^ 

Abeto  (Abies  excelsa,  DC.) ^58^ 

Pinheiros 63'' 

No  emtanto  as  arvores  restituem  ao  terreno,  como  ve- 
remos, sob  a  forma  de  folhada  mna  parte  muito  miportante 
dos  principios  que  lhe  tiraram,  e  alimentam-se  n'um  cubo 
de  terra  maior,  por  isso  são,  na  realidade,  muito  menos 
esgotantes  que  as  culturas  arvenses. 

Os  números  acima  accusam  uma  grande  differença  entre 
a  quantidade  das  substancias  mineraes  necessárias  aos  pi- 
nheiros e  as  quantidades  precisas  a  todas  as  outras  arvores 
e  culturas.  D'aqui  uma  das  principaes  razões  porque  esta 
essência,  em  muitos  casos,  se  toma  tão  preciosa,  e  a  ra- 
zão porque  prospera  em  solos  tão  pobres  como  são  as 
areias  do  littoral  e  muitas  charnecas  e  arenatas  do  interior. 

Hundeshagen  classificou  os  solos  florestaes,  quanto  ao 
grau  de  fertilidade,  do  seguinte  modo  ^ : 

1.*  Classe:  Solos  muito  ricos.— Comprehende :  todas  as 
formações  calcareas,  em  geral — o  tufo  calcareo,  os  ter- 
renos gypsosos  é  margosos;  as  formações  vulcânicas  (la- 
vas); os  terrenos  basalticos,  e  os  derivados  do  trapp;  os 
solos  originados  pela  euphotide,  cblorite  e  serpentma,  pe^ 
los  schistos  magnesiano  e  argilloso  quando  contem  magne- 
sia;  os  jazigos  quartzoso-calcareos  d'algumas  camadas  de 
gréses,  quando  formam  solos  calcareo-ferruginosos ;  os  por- 

1  Citado  nos  Étudet  sur  Vaménagement  des  foréUf  pourL.  Tassy.  Paris. 
1872. 

c.  s-  i7 


258 

phyros.  Os  terrenos  d'esta  classe  sustentam,  mesmo  sem 
a  comparência  de  hmnus  ou  de  estrumes,  as  arvores  mais 
exigentes.  Nunca  se  encontram  n'elles  os  fetos,  as  urzes, 
giestas,  carquejas,  etc. 

2.*  Classe:  Solos  de  média  fertilidade. — Comprehende  os 
scbistos  argillosos,  quando  são  pobres  em  cal,  em  magnesia 
e  ferro;  os  solos  derivados  dos  granitos  e  gneiss,  dos 
scbistos  siliciosos,  do  tufo  quartzoso,  do  scbisto  micac^o 
6  do  grés  primitivo,  bem  como  das  variedades  mais  ricas 
em  argilla  do  grés  variegado  e  do  grés  oolitbico.  Âs  es- 
sências mais  exigentes  precisam  encontrar,  para  poderem 
viver  n'estes  solos,  uma  capa  bumifera  abundante.  Appa- 
recem  n^elles  expontâneas  as  urzes,  o  arando,  as  giestas, 
carquejas,  etc. 

5.*  Classe:  Solos  pobres. —  Abrange  os  gréses  variegados, 
em  geral,  e  os  gréses  de  nova  formação.  Precisam  estes 
terrenos  muito  húmus.  A  faya  (Fagus  silvatica,  L.J,  o  Car- 
pinus  Betulus,  L.,  a  tilia,  o  abeto,  o  pinbeiro  do  Norte,  só 
com  tratamento  e  cuidados  cenvenientes  podem  conservar-se 
n'elles.  O  freixo,  o  amieiro,  o  bordo  (Acei^)y  nunca  ahi  ap- 
parecem  espontâneos,  mas  sim  os  fetos  em  grande  quanti- 
dade, as  urzes  e  giestas,  etc. 

4.*  Classe:  Solos  muito  pobres. — Formados  pelos  calhaus 
rolados  e  pelas  areias  movediças. 

Apezar  dos  números,  que  apresentámos  achna,  a  respeito 
das  quantidades  de  princípios  mineraes  extrabidos  do  solo 
pelos  arvoredos  e  pelas  culturas  arvenses,  estas  ultimas 
estão  sob  uma  dependência  muito  maior  das  qualidades  do 
terreno,  como  dissemos.  Não  só  as  arvores  se  contentam 
com  terras  muito  mais  pobres,  como  ainda  os  massiços 
florestaes  melhoram  e  enriquecem  o  solo,  emquanto  as 
culturas  arvenses  o  peioram  e  esterilis^m,  se  por  ventura 
não  forem  acompanhadas  de  estrumações  intensas.  Este 
papel  das  florestas  será  melhor  desenvolvido  adiante,  quan- 
do tratarmos  da  formação  e  propriedades  da  folhada.  Por 


r 


259 

«mqnanto  limitar-nos-hemos  ir  dizer  que,  sobre  os  terrenos 
pobríssimos,  podem  sempre  desenvolver-se  algumas  essên- 
cias lenhosas,  que  os  enriquecem  e  melhoram  com  os  de- 
tritos accumulados,  podendo  succeder-lhes  depois  as  es- 
sências mais  exigentes.  Esta  questão  da  fertilidade  do  solo, 
que  representa  em  agricultura  uma  influencia  preponde- 
rante, tem-a,  por  isso,  muito  mais  modesta  em  cultura 
florestal. 


2.*—  OS  TERRENOS  DE  PORTUGAL : 

SUA  INFLUENCIA 

NA  DISTRIBUIÇÃO  DAS  ESSENOIAS  FLORESTAES 


Os  granitos  e  os  schistos — nas  suas  innumeras  variantes 
—constituem  a  feiçSo  geológica  que  em  Portugal  occupa 
a  maior  área.  Se  exceptuarmos  a  orla  littoral  do  Algarve  e 
orna  faxa  desenvolvida  na  costa  occidental,  que  abrange,  ao 
norte  do  Tejo,  proximamente  as  duas  regiSes  cUmatericas, 
denominadas  pelo  sr.  Barros  Gomes,  Beira  Uttoral  e  Centro 
littoral  (regiões  cujos  limites  descrevemos),  e  que  ao  sul  do 
Tejo  se  alarga  depois  mais  pelo  interior,  comprehendendo 
o  território  que  o  sr.  Barros  Gomes  chamou  Baixas  do  Sor- 
raia,  quasi  todo  o  Baixo  Alemtejo  Uttoral  e  ainda  a  parte 
límitrophe  das  Baixas  do  Guadiana,  tudo  o  mais,  a  bem 
dizer,  é  formado  pelos  schistos  e  granitos,  com  a  predo- 
minância ora  de  uns  ora  de  outros. 

A  faxa  mais  occidental,  que  determinámos,  é  dividida 
em  duas  partes  pelo  Tejo;  ao  norte  avultam  os  terrenos 
secondarios,  sobretudo  as  formações  cretácea  inferior  e 
jurássica,  ao  sul  d'aquelle  rio  preponderam  os  terrenos 
terciários.  O  littoral  algarvio  partilha  d'estas  duas  forma- 
ções, secundaria  e  terciária. 

Dentro  da  carta,  que  a  t3o  largos  traços  esboçámos,  ha 
ma  sem  numero  de  detalhes  a  introduzir.  N'uns  pontos 

i7# 


I 


260 

são  as  rochas  eruptivas  que  vem  intermeiar  nas  assentadas 
anteriores ;  n'outros  pontos  apresentam-se  depósitos  mais 
modernos ;  finalmente  n'outros  sitios  o  encontro  de  espécies 
mineralógicas  diversas  inprime-lhes,  a  mna  ou  a  todas, 
modificações  importantes.  Assim,  por  exemplo,  no  Minho 
e  em  Traz-os-Montes  os  schistos  apresentam,  em  partes, 
erupções  graníticas  e  dioriticas,  e  n'esta  ultima  provincia 
calcareos  crystallinos.  No  Alemtejo  esses  mesmos  calcareos 
crystallinos,  as  dyorites  e  os  porphyros  irrompem  com 
frequência;  os  porphyros  sobretudo  no  centro  da  provincia. 
Desde  as  faldas  da  serra  do  Bussaco  até  próximo  de  Thomar, 
passando  por  Coimbra,  estende-se  uma  faxa  de  grés  ver- 
melho. Na  Estremadura  também  se  encontram  os  gréses; 
e  por  outras  partes  próximo  a  Lisboa,  no  terreno  cretáceo, 
apresentam-se  erupções  basalticas.  Ao  longo  do  littoral, 
em  toda  a  parte  onde  a  costa  é  baixa,  corre  uma  faxa  de 
areias  marinhas,  que,  em  alguns  pontos,  se  encontram  tam- 
bém, nas  costas  mais  altas,  como  diremos;  estas  areias 
incultas  e  medões  da  costa  s3o  calculadas  pelo  Relatório 
acerca  da  arborisação  geral  do  paiz  em  72:000  hectares. 
Nas  bacias  de  alguns  rios  apparecem  formações  modernas 
—  quaternárias  e  post-diluvianas  —  bem  como  n'uma  es- 
treita faxa  no  httoral  occid^ntal. 

Na  grande  zona  schisto-granitica,  apezar  das  erupções  cal- 
careas  n'um  ou  n'outro  ponto,  a  cal  escasseia  e,  considerada 
em  geral,  a  vegetação  lenhosa  espontânea  é  calcifuga,  on 
indifferente.  Na  zona  mais  httoral  as  formações  calcareas, 
como  dissemos,  originam,  em  partes,  solos  ricos  Q'aquelle 
corpo  e  onde  a  vegetação  é  calcicola,  ou  indifferente.  A 
primeira  vista,  quem  não  conhecer  o  nosso  paiz  e  apenas 
tiver  Udo  o  que  deixamos  escripto,  ha  de  notar  um  facto 
apparenteínente  contradictorio  e  inexpUcavel;  a  região  cal- 
carea  ao  norte  do  Tejo  fica  comprehendida  na  zona  do  pi- 
nheiro bravo,  que  traçamos  no  livro  anterior,  apezar  d'esta 
essência  ser  ccUdfuga  em  tamanho  grau.  Todavia  a  contra- 


r 


261 

dicção  é  apenas  appareote:  na  Beira  littoral  e  no  Centro 
littoral  existem,  com  os  terrenos  calcareos,  muitos  outros 
qae  o  não  são,  e  exactamente  n'estes  é  que  se  encontram 
os  pinhaes. 

O  pinheiro  brayo  e  o  castanheiro  apresentam  entre  nós 
as  mesmas  tendências  caicifugas  que  teem  nos  outros  paizes. 
Transcrevemos,  em  abono  d'esta  asserção,  os  períodos  se- 
guintes d'umas  informações,  que  obtivemos,  sobre  este  as- 
sumpto, do  nosso  tão  distincto  silvicultor  o  sr.  Carlos^  A. 
de  Souza  Pimentel,  (^efe  da  Divisão  Florestal  do  Centro: 

cSó  conheço  bons  pinhaes  bravos  em  solos  quartzosos, 
graníticos  ou  de  schistos  siliciosos,  isto  é,  terrenos  sem 
calcareo  algum;  mas  nas  terras  que  teem  este  principio 
em  pequena  quantidade  o  pinheiro  bravo  também  vegeta, 
porem  fica  muito  longe  de  attingir  o  desenvolvimento  que 
toma  n'aquelles  solos.  Em  chão  que  contenha  grande  quan- 
tidade de  calcareo  não  me  lembra  de  ter  visto  pinhal,  e  sei 
de  uma  sementeira  que  se  fez  n'uma  terra'  de  cré,  não 
escapando  um  só  pinheiro  bravo;  nasceu  bem,  mas  mezes 
depois  tinham  seccado  todos  os  pinheirinhos.  O  calor  e  a 
côr  branca  d'este  terreno  também  deve  ter  contribuído  para 
este  resultado.» 

«...  Quanto  ao  castanheiro  posso  dizer  o  mesmo ;  bons 
soutos  só  os  conheço  em  chão  granítico  ou  schisto-silicioso. 
Parece-me  que  não  .sendo  grande  a  percentagem  do  calca- 
reo, também  o  terreno  poderá  servir  para  o  castanheiro.» 

Os  grandes  accidentes  orographicos  do  paiz  ao  norte  do 
Tejo  originam,  especialmente  na  região  mais  interna,  um 
grande  numero  de  ladeiras  aprumadas  d'onde  o  revesti- 
mento terroso  tem  sido,  em  grande  parte,  arrastado  pelas 
chuvas,  pelas  neves  e  pelas  geadas,  e  que  n'uns  pontos  se 
apresentam  mal  cobertas  com  matos  rasteiros,  emquanto 
tfoutros  a  rocha  sub-jacente  irrompe  a  descoberto,  escal- 
Tada  e  nua,  ou  apenas  vestida  pelos  musgos  e  lichens.  Sobre 
estes  terrenos,  completamente  desaproveitados,  os  arvoredos 


262 

representariam  uma  dupla  missão,  tornando  productivas 
superfícies  tão  vastasy  concori*endo  efficazmente  para  a  re- 
gularísação  dos  cursos  d'agua,  que  d'ali  se  despeobam,  e 
protegendo  das  corrosões  e  depósitos  esterilisadores  os  ter- 
renos collocados  mais  abaixo.  O  Relatório  acerca  da  arbm- 
sacão  geral  do  paiz  calcula  os  terrenos  incultos  ao  norte 
do  Tejo  em  2.322:000  hectares,  a  maior  parte  dos  quaes 
podiam  com  vantagem  ser  arbòrisados,  e  representam  cumia- 
das  e  ladeiras  em  muitos  pontos  abruptas.  Estas  montanhas 
alternam,  às  vezes,  com  terras  profundas  e  muito  férteis, 
aproveitadas  com  grande  vantagem  pela  agricultura. 

Na  região  sul  do  Tejo,  mais  plana,  a  área  inculta  é  tam- 
bém muito  considerável,  embora  ahi  apresente  um  aspecto 
muito  diverso :  o  relatório  anteriormente  citado  calcula  esta 
área  desaproveitada  em  1.956:000  hectares,  que  muito  con- 
viria egualmente  cobrir  de  arvoredos.  N'esta  superfície  com- 
prehendem-se  as  lendárias  charnecas  do  Alemtejo,  onde  ape- 
nas se  encontra  uma  vegetação  lenhosa  arbustiva  e  sub-ar- 
bustiva,  predominando  as  urzes,  as  estevas,  os  tojos,  o  len- 
tisco,  o  carrasqueiro,  etc,  e  cujo  solo,  constituído  em  sitios 
por  arenatas  mais  ou  menos  soltas,  é  n'outros  pontos,  re- 
lativamente, muito  mais  favorável. 

Resumindo: — o  clima  infíue  mais  na  distribuição  das  nos- 
sas essências  florestaés  do  que  a  natureza  do  solo.  O  cas- 
tanheiro não  se  encontra  nas  terras  ca|pareas,  e  na  grande 
zona  do  paiz  pobre  em  cal  escolhe  dfe  preferencia  os  pon- 
tos '  onde  o  clima  lhe  é  mais  favorável.  O  pinheiro  bravo 
agglomera-se,  ao  norte  do  Tejo,  na  faxa  littoral  e  em  parte 
do  centro  da  região,  por  uma  exigência  climatérica  parti- 
cular, e  procura  ahi  os  terrenos  mais  pobres  em  cal,  onde 
só  pode  viver.  O  zambujeiro  espontâneo  apenas  quasi  se 
encontra  nos  terrenos  calcareos  do  Tejo,  do  Mondego,  do 
Guadiana  e  do  Algarve,  mas  a  cultura  tem-o  levado  a  to- 
dos os  pontos  do  reino,  e  a  oliveira  existe  productiva,  e  em 
boas  condições  de  vegetação,  sobre  outras  formações  geo- 


263 

lógicas  mnito  diversas.  O  carvalho  pardo  da  Beira,  o  roble 
e  o  carvalho  portagaez  distribuem-se  no  paiz,  indifferentes  á 
composiçSo  do  solo,  segando  a^  suas  exigências  climatéri- 
cas; a  profundidade  e  a  riqueza  da  terra  é  que  actuam  um 
poQCO  n'esta  distribuição,  como  dissemos.  S3o  ainda  causas 
climatéricas  as  que  substituem,  ao  sul,  o  pinheiro  bravo  pelo 
pinheiro  manso,  e,  pode-se  dizer,  causas  da  mesma  nator 
reza  actuam  na  distribuição  da  azinheira  e  do  sobreiro,  que 
vivem  em  solos  de  composição  mineralógica  variável,  em- 
bora a  primeira,  dizem,  prefira  um  tanto  os  solos  calca- 
reos,  e  o  segundo  os  feldspathicos.  Nos  terrenos  bastante 
hmnidos,  nas  beiras  dos  cursos  de  agua,  a  vegetação  lenhosa 
peculiar  é  constituída  pelos  salgueiros,  choupos,  amieiro, 
freixo,  etc,  indifferentes  á  natureza  chimica  da  terra,  e  pouco 
ioflnenciados  pelas  variações  do  cUma. 


d.«— AS  DIVERSAS  QUALIDADES  DO  SOLO 
E  A  SUA  INFLUENOIA  NAS  QUALIDADES  DOS  LENHOS 

E  NA  VIDA  DAS  ARVORES 


As  condições  do  solo  que  influem  no  porte  das  arvores, 
na  sua  longevidade  e  na  qualidade  dos  seus  productos,  são, 
especialmente,  o  grau  de  riqueza  e  a  percentagem  de  hu- 
midade. 

Quanto  mais  fértil  é  o  terreno — em  egualdade  de  todas 
as  mais  circumstancias — maior  é  o  desenvolvimento  das  es- 
pécies lenhosas,  em  altura  e  grossura,  e  maior  é  a  duração 
de  cada  individuo.  Nos  solos  muito  pobres,  áridos,  super- 
ficiaes,  coUocados  sobre  um  sub-solo  por  onde  as  raizes  não 
consigam  introduzir-se,  as  arvores  não  podem  viver  e  ape- 
nas algomas  moitas  arbustivas  se  encontram.  Nas  terras  que 
apresentam  condições  um  pouco  mais  favoráveis  as  arvores 
apparecem  já,  mas  ficam  enfezadas,  nodosas,  com  pequeno 


2(54 

porte»  grossura  mesquinha,  e  vivem,  relativamente,  muito 
menos  tempo  do  que  as  dos  solos  mais  ricos. 

A  qualidade  dos  productos  florestaes  umas  vezes  é  pro- 
porcional á  maior  fertilidade  do  chão,  outras  vezes,  pelo 
contrario,  é  inversa  com  esta  riqueza.  É  nos  terrenos  po- 
bres e  delgados,  onde  o  crescimento  é  muito  demorado, 
que  o  sobreiro  apresenta  a  melhor  cortiça — elástica,  ho- 
mogénea, tochada — muito  embora  ahi  o  invólucro  suberoso 
attinja  annualmente  muito  menor  espessura  que  nos  terre- 
nos mais  férteis.  Quanto  aos  lenhos  as  suas  boas  qualida- 
des podem  ser  provocadas,  ou  contrariadas,  em  grande 
parte,  pela  riqueza  do  solo,  segundo  o  modo  de  vida  par- 
ticular a  cada  essência;  á  maior  pujança  do  terreno  cor- 
responde a  maior  espessura  do  annel  lenhoso  annual;  nas 
espécies  em  que  este  maior  alargamento  se  faz  à  custa  da 
zona  porosa  da  primavera,  ficando  constante  a  zona  tochada 
do  outono,  como  nos  pinheiros,  a  madeira  fica  mais  densa, 
mais  apertada,  mais  resistente  e  elástica,  nos  solos  menos 
férteis,  e  o  contrario  acontece  áquellas  essências  em  que  o 
augmento  do  annel  lenhoso  annual  se  effectua  á  custa  da 
zona  de  outono,  ficando  constante  a  de  primavera,  como  são 
os  carvalhos  e  o  freixo,  por  exemplo. 

O  grau  de  humidade  do  terreno  influe  também  muito  no 
crescimento  das  arvores  e  na  qualidade  dos  lenhos.  Os  ter- 
renos frescos,  ricos  em  humidade^  mas  sem  que  haja  esta- 
gnação, de  ordinário,  são  os  mais  favoráveis.  O  sr.  Che- 
vandier  obteve  os  seguintes  números,  como  média  dos  re- 
sultados dos  seus  estudos,  feitos  nos  Vosges,  acerca  do 
crescimento  annual  do  abeto  em  solos  diversamente  húmi- 
dos: 


265       . 

CnfdoMBto  médio  animal  Natorexa  do  solo  Edade  média 

[ma  madeira  Moea)  dai  arrorea  cortadas 

1*,84 Lamacento 101,88 

3S43 Secco 71,57 

8^,25 Secco,  provido  de  fossos 

que  reteem  a  agua  plu- 
vial         74,45 

11^57 Secco,  regado  com  agua 

corrente 99,45 

Quando  a  agua  existe  nos  solos  em  grande  excesso,  as 
arvores  viv^n  ahi  geralmente  mal,  e  muitas  não  podem 
mesmo  viver  em  taes  condições ;  esta  abundância  de  humi- 
dade é  prejudicial  ás  f aizes,  e  veda  o  accesso  do  ar,  que 
lhes  é  tão  necessário. 

As  madeiras,  nos.  solos  muito  húmidos,  ficaúi  muito  po- 
rosas, muito  cheias  de  vasos,  pouco  resistentes  e  pouco 
atoradiças;  a  seiva,  muito  diluida,  toma  os  elementos  ana- 
tómicos do  lenho  mais  grosseiros  e  menos  incrustados.  Nos 
solos  muito  seccos,  onde  a  humidade  escasseia,  as  arvores 
amesqoinham-se  muito,  porque  entram  menos  substancias 
mineraes  da  terra,  e  menos  agua,  uma  e  outras  indispen- 
sáveis á  organisaçSo  vegetal  Quando  o  terreno  é  excessi- 
vamente secco,  quando  não  existe  algum  deposito  de  agua 
profundo,  onde  as  raizes  vão  abastecer-se,  pode  mesmo 
tomar-se  impossível  a  vida  das  arvores. 


4.«-A.  FOLHADA  £  A  OAMA33A  HUMIFBRA :  SEU  PAPEL 
NA  VEOETAQlO  BA  FLORESTA 


O  solo  florestal;  partes  de  que  se  compõe. — Todas  as 
folhas  das  arvores,  como  sabemos,  caem  naturalmente  n'um 
período  mais  ou  menos  longo;  nas  espécies  de  folhas  ca- 


.       266 

ducas  as  folhas  daram  apenas  um  cycló  vegetativo»  nas  es- 
pécies de  folhas  perennes  persistem  mais  de  mn  cyclo,  mas, 
n'um  e  n'outro  caso,  todas  ellas  afinal  se  despem  da  ar- 
vore-mãe.  As  folhas  mortas,  os  ramos  seccos,  os  pericar- 
pos  e  invólucros  fructiferos,  as  cascas  velhas,  etc,  juntam- 
se  sobre  o  terreno,  no  interior  dos  massiços  de  arvores,  e 
todos  estes  detritos,  recalcados  pela  chuva,  conjuntamente 
com  a  vegetação  rasteh-a  de  cryptogamicas,  lichens  e  mus- 
gos, que-  n'esse  meio  apparecem,  constituem  um  tapete, 
mais  ou  menos  espesso,  que  denominaremos  trumia  da  flo- 
resta. 

Os  fragmentos  organisados  constítuitivos  doeste  tapete 
apresentam-se  em  decomposição  tanto  mais  adiantada  quanto 
são  mais  antigos,  isto  é,  quanto  mais  profundo  for  o  ex- 
tracto que  considerarmos.  Nas  camadas  modernas  superfi- 
ciaes  a  decomposição  é  ainda  nulla,  ou  quasi  nulla,  os  di- 
versos órgãos  e  tecidos  conservam  as  formas  primitivas,  e 
a  estas  assentadas  mais  externas  daremos  o  nome  de  /b- 
Ihada.  De  uma  certa  profundidade  por  diante  a  manta  da 
floresta  é  constituída  por  uma  substancia  negra,  ou  escura, 
já  sem  a  forma  primordial,  quasi  pulverulenta,  resultante 
da  humificação  da  folhada,  e  que  chamaremos  coberttn-a  hu- 
mifera. 

O  solo  nos  massiços  florestaes  comp5e-se  pois  de  duas 
partes :  a  manta,  ou  extracto  superior,  formada  pela  acca- 
mulação  das  folhas  e  outros  restos  vegetaes,  onde  ainda  se 
pode  considerar,  conforme  o  grau  de  decomposição  d'estas 
substancias,  a  folhada  e  a  camada  humifera;  e  sob  a  manta 
a  terra  propriamente  dita,  que  resulta  da  fragmentação, 
mais  ou  menos  grosseira,  das  diversas  rochas,  de  mistura 
com  algumas  matérias  orgânicas. 

As  folhas,  as  cascas,  e  os  ramos  quando  morrem  natu- 
ralmente, como  já  dissemos,  estão  bastante  empobrecidos, 
em  relação  aos  mesmos  órgãos  vivos,  porque  uma  parte 
dos  seus  componentes,  e  exactamente  dos  componentes  mais 


267 

úteis,  pela  sua  raridade,  ávida  vegetal,  teem  emigrado  para 
os  tecidos  de  reserva.  Ainda  assim  a  agglomeraçSo  doestes 
detritos  no  solo  da  floresta  é  importantissima  para  a  boa 
vegetação  das  arvores. 

À  espessara  da  manta,  nos  massiços  florestaes,  depende 
muito  das  essências,  das  propriedades  do  solo  e  do  clima, 
da  edade  dos  povoamentos  e  dos  processos  da  exploração. 
É  mais  espessa  qnando  as  arvores  são  muito  folhudas, 
quando  o  solo  e  o  clima  são  favoráveis,  qnando  os  povoa- 
mentos são  adultos  e  robustos,  quando  o  methodo  de  ex- 
ploração não  deixa  nunca  o  terreno  a  descoberto,  e  a  copa 
das  arvores  o  protege  contra  o  vento  e  contra  o  sol. 

Segundo  Ebermayer,  baseado  nos  números  obtidos  nas 
estações  da  Baviera,  eis  a  média  geral  do  peso  da  folhada 
caida  annualmente  n'um  hectare  de  massiços  com  diver- 
sas edades ;  escolhemos  para  exemplo  uma  essência  folhosa 
e  uma.  resinosa*: 

Masàço  de  fayas  (Fa^  iilvatieaj  L.)  do  30  a  60  amios. .  4:182  kil. 

«  >  »  »  de  60  a  90  annos. .  4:094 

»  •         9  »  acima  de  90  annos .  4:044 

Massiço  de  pinheiros — de  25  a  80  annos 3:397 

*  »        — de  50  a  75  annos 3:49i 

»       —de  75  a  100  annos 4:229 

Procedendo  ás  pesagens  da  folhada,  não  annuahnente, 
mas  de  três  em  três  annos,  e  de  seis  em  seis  annos,  Eber- 
mayer notou  que,  nos  massiços  de  fayas  (Fagus  silvatica,  L.), 
no  fim  de  três  annos,  o  peso  da  folhada  é  sensivelmente  o 
dçAro  da  que  se  forma  por  anno,  e  no  fim  de  seis  annos 
este  peso  duplo  conserva-se  ainda  constante ;  d'onde-  con- 
clue  necessitar  a  humificação  doesta  folhagem  proximamente 


'  Estes  nameros,  bem  como  todo  este  estudo  acerca  da  formação  da 
9anta  das  florestas,  são  extrahidos  dos  AnnàUs  de  la  Station  Agrfmomi- 
9«e  de  VEsí,  do  sr.  L.  Grandeau,  citados  adiante. 


268 

três  annos.  Tendo  praticado  identicamente  para  com  os  pi- 
nheiros, viu  que  as  folhas  mais  seccas  d'estas  arvores  teem 
mais  lenta  decomposição,  regulando  por  três  anhos  e  meio.  . 

No  emtanto  estes  números  não  teem  nada  de  absolutos» 
assim  nas  florestas  bem  tratadas,  e  d'onde  nunca  se  tire 
folhada;  aquelles  valores  s3o  mais  altos ;  n'essas  condições 
a  humificação  nos  massiços  de  fayas  (Fagus  silvatica,  L.) 
demorou  dois  annos  e  meio,  e  nos  massiços  de  pinheiros 
cinco  annos ;  o  peso  médio  da  folhada,  por  hectare,  chegou 
então  aos  seguintes  números: 

Massiço  de  fayas  (Fagus  silvaticas  L.) 10:417  kil. 

Massiço  de  pinheiros 18:279 

Querendo  passar  dos  valores  ponderaes,  que  apresenta- 
mos, para  os  valores  voliunetricos  correspondentes,  podem- 
se  admittir,  segundo  Ebermayer,  as  relações  seguintes:— 
l''^  de  folhas  de  faya  (Fagm  silvatica,  L.),  completamente 
seccas,  pesam,  em  média,  62^.  O  mesmo  volume  de  agu- 
lhas de  pinheiro  pesa,  em  média,  101^,  estando  bem  sec- 
cas, e  121*"  se  estiverem  meio  humificadas. 

Composição  da  folhada. — Na  composição  chimica  da  /o- 
Ouida  consideraremos  a  humidade,  a  matéria  orgânica  e  a 
matéria  mineral.  I^or  matéria  mineral  tomamos  o  peso  das 
cinzas,  que  ficam  depois  da  calcinação;  por  matéria  orgâ- 
nica tomamos  a  differença  do  peso  total  para  a  sonuna  dos 
pesos  da  humidade  e  das  cinzas. 

A.  Humidade. — As  folhas  novas,  quer  das  folhosas  quer 
das  resinosas,  são  mais  aquosas  na  primavera  e  perdem 
agua  nas  outras  estações;  em  maio  as  percentagens  de 
agua  variam  entre  60  e  78  por  cento,  em  junho  oscillam 
entre  50  e  60  por  cento,  e  d'ahi  por  diante  conservam-se 
quasi  eguaes  até  ao  fim  da  vegetação.  Quando  as  folhas 
caem,  mortas  naturalmente,  contéem  30  a  50  por  cento  de 
agua;  perdem  uma  parte  por  evaporação  e  apenas  conser- 


269 

vam  uns  20  a  30  por  cento,  quantidade  esta  que  ainda  di- 
minne,  passado  mais  tempo  de  exposição  ao  ar,  ficando  em 
i5  a  20  por  cento.  ^ 

Devemos,  porém,  advertir  que  a  folhada  é  bastante  hy- 
groscopica  e  tem  um  grande  poder  de  imbibiçSo,  por  isso 
a  sua  percentagem  de  agua  varia  muito  com  a  estação,  com 
o  estado  da  atmosphera  e  com  os  phenomenos  meteoroló- 
gicos, que  se  tiverem  dado. 

Ebermayer  calculou,  para  as  seguintes  espécies,  que  a 
folhada  caida  annualmente  na  superficie  de  um  hectare, 
pode  absorver  estas  quantidades  de  agua  de  chuva : 

Massiço  de  fayas  (Fagus  sUvatica,  L.) 12°'',90 

Massiço  de  abetos  (Mies  excelsa,  DC.) 5°*3,42 

Massiço  de  pinheiros 4"^,89 

.  Segando  o  mesmo  auctor,  as  folhas  da  faya  (fagus  sil- 
vaxkay  L.),  completamente  embebidas  pela  agua,  reteem  de 
liquido  175  por  cento  do  seu  peso;  as  folhas  do  abeto  94 
por  cento;  as  do  pinheiro  144  por  cento;  os  musgos  234 
por  cento. 

B,  Substancia  orgânica. —  Segundo  experiências  muito 
numerosas  effectuadás  nas  estações  da  Baviera,  a  média, 
em  peso,  de  matéria  orgânica,  fabricada  annualmente  em 
cada  hectare  das  seguintes  essências,  tem  estes  valores  : 

Massiços  de  fayas  (Fagus  silvatica,  L.) 6:278  kil. 

Massiços  de  abetos  (Abies  excelsa,  DG.) 6:272 

Massiços  de  pinheiros 6:339 

D'oade  Ebermayer  couclue  que,  em  médias  um  hectare 
de  arvoredos  produz  annualmente  a  mesma  quantidade  de 
matéria  orgânica,  seja  qual  for  a  essência.  Estas  experiên- 
cias versaram  sobre  muitos  massiços,  com  edades  diversas, 
pertencentes  ás  três  espécies  acima  referidas. 


270 

Da  matéria  orgânica  assim  formada,  metade,  proxima- 
mente, é  empregada  na  construcçâo  do  tronco  e  dos  ramos, 
e  a  outra  metade  constituo  a  folhagem,  isto  é,  passa  depois 
para  o  solo,  originando  isi  manta  da  floresta.  Ou,  por  outra, 
metade  da  matéria  orgânica  fabricada  peias  matas  sae  na 
exportação  dos  productos  lenhosos,  e  a  outra  metade  fica 
a  enriquecer  o  solo.  Em  abono  doesta  proposição  transcre- 
vemos as  relações»  determinadas  por  Ebermayer,  entre  o 
peso  total  da  matéria  orgânica  produzida,  e  o  peso  da  ma- 
téria orgânica  da  folhada,  em  massiços  das  três  essências 
sobre  que  estes  estudos  versaram  : 

Relaçio,  «m  pcM, 
entre  a  matéria  orgaoica 

da  eobertara,  •  a 
matéria  orgânica  total 

4 

Massiço  de  fayas  (Tagus  sUvatica,  L.). .  50,0  Vo 
»  de  abetos  C^bies  excelsa^  DC.)..  45,77o 
»      de  pinheiros 49,57©     • 

Toda  a  substancia  orgânica,  como  é  sabido,  é  um  com- 
posto, mais  ou  menos  complexo,  mas  em  que  entra  sem- 
pre como  elemento  o  carbonio.  Ebermayer  admitte,  em  mé- 
dia, que  o  peso  da  matéria  orgânica  produzida  n'um  he- 
ctare de  floresta  annuahnente,  contém  3:040  kil.  de  carbo- 
nio, ficando  um  pouco  mais  de  metade  d'este  carbonio  na 
forma  de  madeira,  e  passando  um  pouco  menos  de  metade 
a  constituir  a  folhada. 

A  composição  elementar  das  diversas  essências  florestaes 
afasta-se  muito  pouco  da  seguinte  média: 

Carbonio 45,0 7o  (da  substancia  secca) 

Oxygenio 42,0  »  » 

Hydrogonio... 6,5  »  » 

Azote 1,5  »  » 

Cmzas 5,0  >  i 


r 


271 


O  lenho,  nas  essências  eoropéas,  é  om  pouco  mais  rico 
em  carbonio  do  que  as  folhas.  As  resinosas  conteem  1  a  2 
por  100  mais  de  carbonio  total  que  as  folhosas. 

A  {olhada  apresenta  sensivelmente  a  composição  elemen- 
tar acima  transcripta,  salva  a  percentagem  de  azote,  que  é 
inferior,  e  não  passa  de  1,18  a  1,25  por  cento. 

O  carbonio  fixado  pelas  florestas  em  tamanha  quantidade 
deriva  todo,  como  sabemos,  da  decomposição  do  anhydrido 
carbónico  existente  na  atmosphera.  Um  massíço  de  um  he- 
ctare consome  pois  11:150  kil.  de  anhydrido  carbónico,  que 
equivalem  a  5:660  metros  cúbicos  d'este  gaz  (a  0^  de  tem- 
peratura e  á  pressão  de  760"'"). 

Embora  a  percentagem  d'esse  corpo  na  atmosphera  seja 
bastante  reduzida  (4  Utros  por  10:000  litros  de  ar,  em  mé- 
dia), os  yegetaes  encontram  sempre,  de  sobejo,  a  quanti- 
dade que  precisam,  porque  a  agitação  constante  do  ar  os 
poe  em  contacto  com  enormes  massas  gazosas,  durante  a 
actividade  da  vegetação.  Por  outro  lado,  apezar  de  uma  ta- 
manha causa  de  empobrecimento,  a  atmosphera  apresenta 
qoasi  constante  percentagem  de  anhydrido  carbónico,  (ou 
pelo  menos  variável  em  pequenos  limites),  porque  mui- 
tas origens  o  desprendem  a  todos  os  momentos,  como  di- 
versas combustões,  a  putrefacção  e  outras  decomposições, 
a  respiração  dos  seres  vivos,  etc. 

Quanto  á  percentagem  de  matéria  orgânica  que  entra  na 
composição  centesimal  da  folhada^  Ebermayer  avalia-a  do 
segainte  modo : 

Mftteria  orgânica  por  */• 

Folhada  da  faya  (Fagus  silvatica,  L.)  . .  78  a  80 

»      do  carvalho 82 

»      do  pinheiro 85  a  86 

Musgos  diversos 81  a  82 

■ 

A  composição  immediata  d'esta  substancia  orgânica  é 


272 

muito  complexa :  todos  os  princípios  immediatos  componen- 
tes podem  todavia  gnipar-se  em  duas  classes — não  azota-     \ 
dos  e  azotados — distinctos  pela  ausência,  ou  pela  presença 
do  azote.  | 

O  primeiro  grupo  constitue  a  parte  incomparavelmente 
mais  avultada,  em  peso,  tanto  nos  tecidos  vivos  vegetaes,     1 
como  nas  folhadas  que  d'elles  derivam,  e  por  sua  vez  o  fe-     i 
nhoso  é,  d'este  grupo,  o  principio  que  entra  em  maior  per- 
centagem. Nas  folhas  vivas  o  lenhoso  augmenta  com  a  edade,     | 
passa'  de  7  por  cento  a  28  por  cento;  na  folhada  é  o  prin- 
cipal componente  do  húmus. 

Os  princípios  immediatos  azotados  encontram-se  em  to- 
dos os  tecidos  vegetaes:  entram  na  composição  do  proto-     i 
plasma — o  corpo  vivo  da  cdlula — e  accumulam-se  em  ex-     j 
cesso  nas  sementes.  Na  manta  da  floresta  os  azotados  pro- 
movem e  apressam  a  decomposição,  decompondo-se  elles     | 
também  e  abandonando  o  azote  na  forma  de  nitratos  e  de 
ammoniaco,  forma  em  que  a  vegetação  fixa  e  utUisa  este 
elemento.  ! 

As  folhas  verdes  das  diversas  essências,  colhidas  na  mes-  i 
ma  época,  teem  quantidades  muito  deseguaes  de  azotados,  | 
como  se  vê  das  seguintes  analyses,  feitas  em  Tharand,  e  I 
transcriptas  do  livro  do  sr.  Grandeau,  de  que  nos  temos  j 
soccorrido  em  toda  esta  parte: 


273 


Matéria  aiotada, 
Folhas  de  por  100  de 

•abttaneU  teeca 

Alrnu  weana,  DC 17,76 

Tília  parvifolia,  Ehrh 14,86 

Plátano  bastardo  (Acer  PsettdapUUanus,  L.) 14,86 

Avelleira  (Corylus  AveUana,  L.) 14,50 

Carvalho 14,36 

Tília  grandifolia,  Ehrh 13,86 

Acácia 12,44 

Salix  pentandra,  L 12,34 

Ulmeiro.... 11,71 

Tramazeira  fSorbus  aucuparia,  L.) 11,34 

Freixo 11,21 

Vidoeiro • . . . .  10,96 

Faya  (Fa^s  sUmtica,  L.)  .  *. 10,64 

Choupo  tremedor,  faya  preta  (Popidus  tremula,  L.) .  10,08 

Amieiro 9,13 

Carpinus  Betulus,  L 7,81 


A  média  d'estas  analyses  dá  12,367o  de  substancias  azo- 
tadas. Debaixo  d'este  ponto  de  vista  as  folhas  vivas  das  ar- 
vores equivalem  ao  bom  feno,  e  s3o  superiores  ao  feno  de 
má  qualidade.  Mas,  á  medida  que  as  folhas  v3o  envelhecendo, 
a  quantidade  dos  albuminóides  diminuo,  como  a  seguinte 
tabeliã  mostra: 

AZOTADOS  POR  % 
Mezee         Folhaa  de  canraUio     Folbae  de  faya       FoUxaa  de  Larix  eurcpaea,  L. 


Maia 

Jimho . . . 
Julho.... 
Agosto. . . 
Setembro 


25,9 

14,6 

14,0 

9,9 

7,0 


Outubro 6,6 


28,2 
18,9 
18,3 
17,8 
14,3 
12,0 


Novembro —  7,8 


28,7 

12,2 

10,7 

6,9 

6,1 

5,5 


As  folhas  mortas,  e  portanto  a  folhada,  s3o  muito  mais 
pobres  em  azotados  que  as  folhas  vivas.  Segundo  Krutzsch 

G.  8.  18 


274 

100  partes  de  folhas  seccas  das  diversas  essências  abaixo 
enumeradas,  de  ramos,  pinhas,  etc,  conteem  as  seguintes 
percentagens  de  azotados :  • 

Folhas  de  faya  (To^  silvatica,  L.)  •  •  •  5,00  a  7,81 

»      de  carvalho 6,62 

Agulhas  de  abeto  (Abies  excelsa,  DC.) .  8,43 

»      de  pinheiro 11,81 

•  »       do  Larix  europaea,  L 5,50 

Ramos  de  abeto  (Abies  excelsa,  DC).  •  •  3,56 

Pinhas  do  pinheiro 2,31 

Musgos  (segundo  Hoflmann) 5,25  a  8,94 

A  madeira  é  tanto  mais  azotada  quanto  menos  grossa. 
Por  isso  os  processos  de  exploração  em  que  as  arvores  se- 
jam cortadas  bastante  novas  exigem  ao  terreno  maior  quan- 
tidade de  azote,  comparativamente  aos  processos  em  que  se 
effectua  o  corte  n'uma  edade  mais  tardia. 

C.  Princípios  mneraes  (cinzas). — Nos  órgãos  das  plan- 
tas lenhosas  as  substancias  mineraes  repartem-se  com  des- 
egualdade,  accumulando-se  em  tanta  maior  abundância  quan- 
to mais  novos  os  tecidos ;  assim  a  quantidade  de  prmcipios 
mineraes  decresce  nos  seguintes  orgaos,  d'uma  mesma  ar- 
vore, do  primeiro  ao  ultimo — folhas,  cascas,  raminhos,  ra- 
mos, pernadas  e  tronco.  D'onde  se  deve  concluir  que  o  es- 
gotamento do  solo  em  principios  mineraes  ha  de  variar 
muito  com  a  edade  da  revolução;  quanto  menor  ella  for, 
quanto  maior  o  numero  e  o  peso  dos  ramos  delgados  pro- 
duzidos n^mia  dada  área,  em  egualdade  de  tempo,  maior 
a  exportação  de  principios  mineraes,  maior  o  empobreci- 
mento do  terreno.  As  florestas  cujoâ  productos  sejam  ape- 
nas troncos  de  grandes  dimensões  s3o  de  todas  as  menos 
esgotantes. 

Ebermayer  admitte  que  as  três  essências  a  que  nos  te- 
mos referido  principalmente  n'este  estudo,  turam  por  he- 


r 


275 


ctare  as  segnintes  quantidades  de  mineraes  (expressas  em 
kilos),  assim  divididas  pela  madeira  e  pelos  órgãos  que 
coDstituenr  depois  a  folhada : 

FAya  (F,  tílvatiea,  L.)'    Abeto  (A.  êxceba,  DO.)  Pinheiro 

Tronco.. . .....     29,60. .......     22,56 16,54 

Miada 185,54 135,92 46,52 

215,14  158,48  63,06 

As  diversas  essências  florestaes  empobrecem  pois  des* 
egaalmente  o  terreço.  Nos  exemplos  anteriores  o  pinheiro 
destaca-se  perfeitamente  das  outras  arvores,  pela  sua  fru- 
galidade ;  já  notámos  mais  atraz  que  esta  espécie  é  óptima 
para. a  arborísaç2o  dos  solos  pobres. 

A  quantidade  mais  avultada  dos  principios  mineraes  ex- 
trahidos  pelas  arvores  á  terra,  seja  qual  for  a  essência, 
fica  na  folhada,  permanece  na  floresta,  contribuindo  assim 
moito  eficazmente  para  a  boa  vegetação  das  subsequentes 
gerações. 

É  certo  que,  antes  de  caírem  naturalmente  as  folhas 
mortas,  os  ramos  e  as  cascas  seccas,  uma  parte  conside- 
rável do  acido  pbospborico  e  da  potassa  tem  retrogradado 
para  os  troncos,  mas  a  parte  remanescente  é  ainda  impor- 
tante, e  se  a  folhada  é  apenas  um  adubo  medíocre  para  as 
terras  de  lavoura,  o  tíral-a  é  muitíssimo  funesto  para  os  ar- 
voredos, cuja  producção  é  dimmuida  por  este  facto. 

Segundo  Ebermayer,  1  hectare  de  floresta  das  essências 
abaixo  mencionadas  recebe  na  folhada  caída  annualmente, 
em  média,  as  seguintes  quantidades  de  potassa,  cal,  ma- 
gnesia,  acido  phosphorico  e  sílica  : 


18* 


276 

PotMaa       0*1       U»gomÍM       A.  pluMphorioo       BUIca 

Ftíhada  da  faya  {F. 

sOcattea,  L.) 9,87* .  81,92» .  12,22»^ 10,46» ....  60,36» 

FoUMda  do  abeto  (A. 

êxeeUa^DC.) 4,82.  60,94  .    6,95 6,41  ....  49,60 

Folhada  do  ^inhúro.  4,84.  18,87  .    4,80 3,68  ....    QJSÒ 

Formação  do  húmus. — O  húmus  resulta  da  putrefacçSo, 
ou  combustão  lenta,  das  matérias  orgânicas.  A  temperatura, 
a  humidade  e  a  renovação  do  ar  influem  muito  na  forma- 
ção e  propriedades  da  camada  humifera,  que  se  encontra 
nos  massiços  florestaes. 

Nos  massiços  adultos,  de  meia  edade,  nem  muito  noYOs 
uem  "muito  velhos,  a  camada  humifera  é  mais  espessa ;  quan- 
to menores  forem  os  vazios  deixados  pela  folhagem,  quanto 
mais  bem  resguardado  estiver  o  terreno  contra  o  sol  e  con- 
tra o  vento,  quanto  maior  a  humidade  do  solo,  mais  favo- 
ráveis são  as  condições  para  a  formação  do  húmus.  As  flo- 
restas exploradas  em  alto  fuste  apresentam  muito  maior 
camada  humifera  do  que  os  talhadios ;  uma  única  revolução 
de  alto  fuste, enriquece  tanto  o  terreno  com  os  despojos  ve- 
getaeSy  que  pode  transformar  um  chão  ruim  e  quasi  estéril 
n'uma  terra  excellente. 

O  numero  de  annos  que  a  folhada  leva  a  transformar-se 
em  húmus  depende  de  muitas  causas;  depende  da  natureza 
da  mesma  folhada  e  das  circumstancias  que  concorrem  du- 
rante a  putrefacção.  Os  órgãos  seivosos,  niolles,  tenros,  de- 
compoem-se  muito  mais  depressa  do  que  os  órgãos  duros 
e  seccos;  assim  as  folhas  coriaceas  resistem  muito  mais  do 
que  as  brandas,  e  os  ramos  das  arvores,  os  troços  das  ur- 
zes e  outros  matos  rasteiros  são  difElceis  de  decompor.  As 
substancias  mais  ricas  em  azotados  humiãcam-se  com  maior 
rapidez.  Os  órgãos  que  conteem  ceras  ou  resinas  são,  pelo 
inverso,  menos  facilmente  atacáveis,  porque  o  indacto  ci- 
roso  ou  resinoso  lhes  diminuo  a  acção  do  ar.  As  substan- 
cias ricas  em  tannino  precisam  absorver  muito  oxygenio 


r 


277 


para  seguirem  as  suas  soccessivas  transformações;  se  en- 
contram ar  em  abundância,  decompõem-se  com  grande  ener- 
fia,  mas  se  o  ar  lhes  escasseia,  resistem  por  muito  tempo; 
as  folhas  tanninosas  dos  carvaIbos,vidoeiro,  amieiro,  etc.  hu- 
nificam-se,  por  isso,  rapidamente  nos  solos  seccos,  onde  o 
ar  seja  bem  renovado,  mas  conservam-se  pouco  alteradas, 
Hmito  tempo,  nos  solos  húmidos  e  cobertos  d'agua.  Geral- 
mente  as  plantas  que  teem  mais  potassa,  ou  cal,  transfor- 
mam-se,  em  egualdade  de  circumstancias,  mais  depressa 
do  qne  se  fossem  pobres  n'estès  corpos,  e  pelo  contrario 
as  plantas  ricas  em  silica  teem  mais  difficil  humificaçio. 
Nos  solos  calcareos  o  húmus  fórma-se,  de  ordinário,  mais 
depressa  que  nos  solos  siUciosos.  As  mil  influencias  locaes 
podem  apressar  ou  retardar  muito  esta  decomposição;  Eber- 
mayer  admitte  que,  em  média,  nas  florestas  da  Baviera,  a 
humificação  demora  dois  a  três  annos,  nos  massiços  das  fo- 
liosas,  podendo  em  alguns  casos  chegar  mesmo  a  quatro 
%  einco  annos.  Às  agulhas  seccas  das  resinosas  teem  decoí»- 
posição  mais  demorada^  que  varia,  segundo  elle,  entro  cinco 
e  oito  annos. 

Ebermayer  classifica  o  kumm  formado  nas  florestas  em 
quatro  classes,  a  saber: 

!.*  Húmus  fértil. — Quando  é  constituído  em  condições 
convenientes  de  humidade,  de  temperatura,  renovação  de 
ar,  sobre  terrenos  férteis  em  princípios  mineraes  úteis  á 
vegetação,  nos  grandes  massiços,  sem  espaços  vazios,  com 
boa  vegetação,  onde  a  folhagem  abrigue  a  terra  do  vento 
e  do  sol. 

2.*  Húmus  pulverulento. — Terriço  formado  ao  ar  livre, 
sem  a  protecção  da  folhagem  superior,  em  sitios  seccos, 
que  soflfreu  excesso  de  calor,  falta  de  humidade  e  renova- 
çlo  de  ar  demasiada.  É  constituído,  em  grande  parte,  pelas 
wzes  e  lichens;  tem  o  aspecto  de  um  p6  secco,  leve,  es- 
coro, com  decomposição  ulterior  muito  difBcil,  sendo,  por 
isso,  pouco  favorável  á  vegetação. 


278 

3.*  Humíus  acido. — Produz-se  em  diversas  condições:  nos 
terrenos  húmidos,  nos  terrenos  cobertos  d'agna  estagnada 
algum  tempo,  onde  seja  incompleta  a  renovação  de  ar;  nos 
solos  pobres  em  bases  alcalinas,  ou  alcalino-terrosas,  onde 
os  ácidos  orgânicos  da  decomposição  não  podem  ser  nea- 
tralisados,  quando  as  substancias  orgânicas  tenham  pequena 
percentagem  de  azotados,  porque  aliás  o  ammoniaco  des- 
envolvido pela  humificação  pode  neutr alisar  aquelles  áci- 
dos. Em  quaesquer  d'estes  casos  o  húmus  apresenta  reac- 
ção acida,  d'onde  lhe  vem  o  nome;  o  húmus  pulverulento  é, 
quasi  sempre,  acido  ao  mesmo  tempo. 

Este  hmms  é  prejudicial  á  vegetação  de  quasi  todas  as 
nossas  essências  florestaes;  apenas  o  vidoeiro  e  o  amieiro 
podem  viver  bem  nos  solos  ácidos ;  uma  flora  especial  ca- 
racterisa  e  prefere  estas  formações ;  citaremos  entre  as  es- 
pécies indígenas  as  urzes  e  os  rhododendrons,  e  entre  as 
espécies  exóticas  as  camélias  e  azáleas.  Â  drenagem,  a  ad- 
dição  da  marga,  da  cal  ou  da  cinza  são  os  meios  de  corri- 
gir estes  terrenos. 

4.*  Húmus  adstringente. — Provém  da  decomposição  das 
substancias  ricas  em  tannino,  folhas  de  carvalho,  de  amieiro, 
de  vidoeiro,  etc.,  quando  esta  decomposição  se  realisa  n'uma 
atmosphera  pouco  renovada.  Não  é  muito  vulgar  o  kmm 
adstringente,  porque  as  substancias  tanninosas  putrefazem-se 
com  grande  rapidez,  se  aquella  ch*cumstancia  especial  da 
falta  de  oxygenio  se  não  realisa. 

Importância  da  manta  nas  florestas. — Do  que  temos  dito 
é  fácil  deduzir  a  importância  da  folhada  e  da  cobertura  hu- 
mifera  na  vegetação  das  florestas.  As  propriedades  physi- 
cas  6  chimicas  do  solo  são  por  ellas  muito  modificadas, 
com  os  mais  benéficos  resultados. 

A  mantay  porosa,  fofa,  com  muito  ar  interposto  nos  seus 
numerosos  vazios,  impede  o  terreno  de  aquecer  e  resfriar 
com  facilidade,  conserva-lhe  a  humidade,  diminue-lhe  a  eva- 
poração e  embebe  grandes  quantidades  d'agua  que,  pouco 


)- 


279 

a  pouco,  infiltra  nas  camadas  inferiores.  Restitua  ao  solo 
uma  parte  muito  importante  das  substancias  mineraes  so- 
Iaveis>  que  elle  cedera  à  vegetação ;  enriquece-o  cotn  uma 
grande  quantidade  de  matéria  orgânica,  que^  se  não  é  ali- 
mento directo  das  plantas,  concorre  muito  efScazmente  para 
essa  alimentação,  promovendo  a  solubilidade  de  muitos  cor- 
pos na  terra  quando,  ao  decompor-se,  obriga  a  entrarem 
em  novos  agrupamentos  os  compostos  que  lhe  estão  pró- 
ximos. 

Em  cultora  florestal,  como  veremos,  o  bom  tratamento 
dos  massiços  anda  preso  ao  modo  de  constituir  a  maior  es- 
pessura possivel  de  folhada  sobre  o  terreno,  conservando-o 
sempre  vestido  de  arvores,  e  protegendo  assim  esses  detri- 
tos aggiomerados,  da  acção  do  calor  que  os  secca,  e  do 
Tento  que  os  espalha  e  lhes  rouba  humidade.  A  presença 
da  manta  nas  florestas  dá  o  motivo  porque  ellas  aturam 
em  boa  vegetação  durante  muitos  anjios,  durante  mesmo 
muitos  séculos,  sem  o  auxilio  de  adubos,  sem  empobre- 
cerem, antes  fertilisando  o  terreno,  emquanto  os  campos 
agricultados  se  esgotam  em  muito  menos  tempo,  quando 
nío  recebem  fortes  estrumações. 

Tirar  a  manta  das  florestas  para  adubo  dos  campos,  ou 
para  cama  de  gados,  representa  sempre  uma  perda  impor- 
tante para  as  arvores,  que  se  traduz  afinal  n'uma  produc- 
ção  menor  em  unidade  de  superficie,  n'uma  quantidade  de 
lenho  a  menos.  Desejando  insistir  n'este  ponto,  apresenta- 
mos na  tabeliã  seguinte  reunidos  todos  os  valores  citados 
anteriormente,  e  onde  se  pode  vêr  expresso  em  kilos,  quanto 
fica  empobrecido  um  hectare  cona  a  tirada  d'esses  despojos 
vegetaes  caídos  durante  um  anno: 


280 


PSBDA  POB  HBOTARE 

(por  umo) 


Agua 

Matéria  orgânica 

Na  material  carbonio . . . 

orgânica,  (azote 

Matérias  mineraes 

potassa... . 

iCal 

Na  matéria]  magnesia . . 

mineral  .]  acido  phos- 

phorico .  . 

,8iiica 


FOLELiJS  U 


Fftj* 

(F.  nbntUM,  L.) 


7MS00 

3i47  ,00 

1498 ,00 

33,00 

185,50 

9,87 

81,92 

12,22 

10,45 
60,36 


Abeto 
(A.  nceUa,  DG.) 


522^00 

2872,00 

1358,00 

39,00 

135 ,90 

4,82 

60,94 

6,95 

6,41 
49,60 


Plnbeiío 


515^,00 

3138  ,00 

1435,00 

38,00 

46,50 

4,84 

18,87 

4,80 

3,68. 
6,53 


6.»— aoqOes  das  florestas  sobre  o  solo 


(Jl). — lB0iieBela  úmm  floreates  ••bre  mm  areias  noTeIs 

ém  belvaauu* 

Na  orla  littoral  dos  continentes,  nos  pontos  onde  a  costa 
se  levanta  em  pendor  suave  sobre  o  mar,  encontram-se 
geralmente  depósitos  de  areias  soltas;  estas  areias  resul- 
tam, na  maior  parte,  da  desaggregagao  das  rochas  mari- 
nhas pelas  correntes  e  pelo  embate  das  ondas,  que  depois 
as  vomitam  na  praia;  a  principio  os  grânulos  arenaceos 
dispõem-se  em  camadas  successivas,  lisas,  unidas,  tendo 
uma  tal  ou  qual  consistência,  dada  pela  agua  que  lh*es  senre 
de  cimento,  mas  no  baixa-mar  a  evaporação  os  secca  e  des- 
liga dando-lhes  extrema  mobilidade. 


'281 

N'esse  estado  o  yento  destaca  facilmente  a  porção  mais 
superficial  da  areia,  e  transporta-a  a  maior  ou  menor  dis- 
tancia, conforme  a  violência  com  que  sopra;  ao  primeiro 
extracto  succede  um  outro,  e  dentro  em  breve  a  superfície 
areiada  pode  ser  muito  .considerável.  Quando  a  areia  na 
qaeda  encontra  um  qualquer  obstáculo,  por  pequeno  que 
seja,  um  tufo  de  plantas,  um  rochedo,  um  madeiro,  etc, 
agglomera-se  n'esse  ponto  e  constitue,  em  pouco  tempo, 
uma  grande  saliência.  A  força  do  vento  é  quebrada  pelo 
pequeno  obstáculo;  a  areia,  por  isso  mesmo,  deposiJ,a-se 
ahi,  apresentando  talude  pouco  inclinado  para  a  parte  do 
mar;  novas  camadas  se  vão  assim  depondo,  galgam  afmal 
o  cmne  do  corpo  estranho,  que  as  obrigou  a  tomarem 
aqaella  forma  e,  augmentando  sempre,  originam  uma  ver- 
tente muito  mais  inclinada  do  lado  da  terra,  por  onde  as 
areias  novamente  arremessadas  se  despenham. 

Tal  é  a  origem  das  dunas,  ou  medões.  Às  montanhas  de 
areia  formadas  na  praia  doeste  modo  variam  continuamente 
no  seu  relevo,  com  a  intensidade  e  a  direcção  variáveis  do 
vento,  no  emtanto  conservam  quasi  sempre,  mais  ou  menos, 
a  forma  typica  que  descrevemos :  sobem  do  lado  do  mar 
com  pequeno  declive  (entre  7  e  12  ou  20°,  em  relação  ao 
borisoDte),  e  ganham  muito  maior  inclinação  do  lado  op- 
posto  (30  a  50°). 

Se,  n'um  dado  logar,  a  força  impulsiva  do  vento  actuasse 
durante  o  anuo  ora  do  mar,  ora  da  terra,  mas  com  resul- 
tantes íinaes  idênticas  para  um  e  outro  lado,  as  areias  umas 
Tezes  caminhariam  para  o  uxterior,  outras  vezes  voltariam 
para  o  mar,  sem  nunca  excederem  uma  determinada  linha. 
Mas,  se  vento  do  mar  for  mais  aturado  e  mais  intenso,  as 
areias  invadirão  os  continentes  pouco  a  pouco,  areiando 
oma  faxa  continuamente  crescente.  É  isto  que  epi  muitos 
pontos  do  globo  acontece. 

Portugal  tem  uma  linha  de  costa  muitíssimo  desenvolvida ; 
fista  costa,  baixa  e  desprotegida  de  rochedos  em  Bjuitos 


282 

pontos,  recebe  quantidades  consideráveis  de  areia;  o  no- 
roeste dominante,  e  ainda  o  oeste,  impellem  aquelles  de- 
pósitos siliciosos  para  o  interior.  É  sobre  todos  pernicioso 
o  primeiro  d'aquelles  ventos,  mais  ponteiro  e  forte  na  es- 
tação secca,  quando  as  areias  estSo  mais  soltas;  a  direcção 
habitual  das  nossas  dunas  é  de  noroeste  a  sueste. 

A  altura  doestes  medões  de  areia  é  muito  variável.  Na 
Gascunha,  segundo  E.  Reclus,  alguns  chegam  a  exceder 
75",  podendo  medir  80",  e  mais;  nas  praias  baixas  d'Africa, 
as  dunas  do  Gabo  Bojador  e  as  de  Gabo  Verde  attingem 
120  e  180°.  Nas  nossos  praias,  segundo  o  sr.  Garlos  A, 
de  Sousa  Pimentel,  variam  habitualmente  entre  10  e  2(y", 
chegando  em  alguns  casos  a  50",  e  ainda  mesmo  a  maior 
altura. 

A  areia  impellida  do  mar,  quando  galga  o  cume  de  uma 
duna,  forma  ás  vezes  outra  parallela,  começando  no  sopé  da 
primeira  o  declive  menos  inclinado  da  segunda,  que  egual- 
mente  apresenta  a  configuração  typica,  tomando  um  talude 
muito  mais  rápido  do  lado  da  terra.  Outras  vezes  é  no 
dorso  da  primitiva  duna,  que  a  outra  mais  nova  se  origina, 
servindo-lhe  de  núcleo  um  qualquer  obstáculo  existente  ali. 
Esta  configuração  em  series  parallelas  é  frequente,  mas 
nem  sempre  existe;  o  vento,  quando  sopra  forte,  altera  a 
regularidade  a  cada  instante,  faz  e  desfaz  montanhas  enor- 
mes de  areia,  quasi  com  a  mesma  faciUdade  com  que  faz  e 
desfaz  as  ondas  no  Oceano. 

A  invasão  progressiva  das  areias  pelo  interior  dos  con- 
tinentes traz  comsigo  efieitos  perniciosíssimos:  os  campos 
íjultivados  e  as  povoações  ficam  sepultados  sob  a  enorme 
toalha;  as  fozes  dos  rios  obstruídas  dificultam  ou  impos- 
sibilitam a  navegação ;  os  cursos  de  agua  são,  muitas  vezes, 
obrigados  a  mudar  de  leito,  e  as  aguas  interiores  repre- 
sadas, em  alguns  casos,  formam  pântanos,  muito  prejudi- 
ciaes  para  a  salubridada  publica. 

Todos  estes  desastres  teem  sido  occasionados  pelas  dunas 


283 


em  Portugal :  roubam  vastíssimos  tractos  á  cultara  e  como 
prova  basta  vêr  a  superficie  enorme  que  ellas  occupam. 
Os  srs.  Francisco  Maria  Pereira  da  Silva  e  Caetano  Maria 
Batalha,  na  sua  Memoria  do  Pinhal  Nacional  de  Leiria,  citam 
a  villa  de  Paredes,  próxima  ao  mesmo  pinhal,  que  era  ainda 
bastante  povoada  no  século  passado,  e  hoje  está  coberta  de 
areia;  o  sr.  Carlos  A.  de  Sousa  Pimentel  refere-se  á  villa 
de  Lavos,  como  tendo  soffrido  uma  egual  sorte.  Segundo 
os  srs.  Delgado  e  Carlos  Ribebo,  no  Relatório  acerca  da 
<Mrborisação  geral  do  paiz,  as  pequenas  lagoas  de  S.  Thiago 
do  Cacem,  de  Melides,  Albufeira,  ^a  Tocha,  de  Mira,  etc., 
s3o  produzidas  pelo  cammhar  das  dunas.  As  fozes  dos  rios 
Liz^  Vouga,  e  outros,  encontram-se  muito  damnificadas,  e 
os  seus  leitos  muito  areiados. 

O  terreno  árido  e  extremamente  móbil,  coberto  de  areias 
tão  soltas,  constitue  verdadeiros  desertos  improductivos,  e 
muitas  vezes  diíTiceis  de  atravessar,  quando  o  vento  sopra 
com  força,  fustiga  com  as  innumeras  partículas  siliciosas 
qae  traz  suspensas,  e  revolve  a  superficie  do  solo,  varian- 
do-Ihe  o  relevo  a  cada  instante.  Estes  perigos  são  ainda 
aggravados,  em  sitios,  com  a  existência  dos  tremedaes,  ver- 
dadeiros atoleiros  formados  nos  valles  estreitos  entre  dois 
medoes  próximos ;  detftro  da  agua  ali  abrigada  e  quieta  os 
grânulos  de  areia  caídos  das  dunas  visinhas  descem  sem 
movimento  forçado,  e  sustentam-se  em  equilíbrio,  formando 
mna  serie  de  pequenas  abobadas  sobrepostas^  que  por  fim 
se  elevam  já  fora  do  liquido,  seccam  á  superficie  e  enco- 
brem o  precipício  sub-jacente;  frágeis  construcções,  des- 
truídas ao  mais  leve  choque. 

O  caminho  percorrido  annualmente  pelas  dunas,  para  o 
interior  dos  continentes,  é  muito  variável;  depende  da  in- 
tensidade do  vento  e  da  natureza  e  mobilidade  das  areias. 
O  sr.  Carlos  A.  de  Sousa  Phnentel,  no  seu  livro  os  Pinhaes, 
calcula  que  as  dunas  situadas  entre  o  Liz  e  o  Mondego,  e 
as  d'entre  Quiaios  e  Ovar,  não  terão  um  avanço  médio  in- 


284 


ferior  ao  que  foi  detenninado  por  Bremontier  para  as  da- 
nas da  Gascunha — 20^  a  2^^  por  anno.  Comparando  as 
largaras  do  areial  entre  Ovar  e  o  pinhal  de  Leiria,  taes  cobm) 
as  aponta  José  Bonifácio  de  Andrade  e  Silva  na  Memoria 
sobre  o  plantio  de  novos  bosques  em  Portugal,  e  as  larguras 
actuaes,  o  sr.  Pimentel  verificoa  que  as  distancias  sSo  as 
mesmas  nos  pontos  immobilisados  (parecendo  isto  indicar 
a  exactidão  da  medida)  sen(}o  o  augmento,  nos  pontos  nSo 
fixados,  tSo  considerável  que  corresponde  a  um  avanço  an- 
nual  d'entre  20  a  40"°;  percurso  muito  grande,  mas  de  qae 
em  França  ha  já  exemplos.  Faltam-nos,  no  emtanto,  em  Por- 
tugal, dados  positivos  a  este  respeito. 

Nos  sitios  onde  a  praia  de  areia  está  protegida  do  lado 
da  terra  por  uma  cortina  de  rochedos,  a  maior  ou  menor 
distancia,  a  formação  das  dunas  toma-se  impossível  e  a 
areia  apenas  se  depõe  na  estreita  faxa  da  praia.  Do  mesmo 
modo  as  dunas  não  se  formam  nos  logares  onde  as  rochas 
se  levantam  logo  sobre  as  ondas,  sem  apparecer  a  desco- 
berto nenhuma  tira  de  areia. 

Todavia  em  terras  altas  do  nosso  paiz,  mais  no  interior, 
encontram-se  alguns  tractos  consideráveis  cobertos  pelas 
dunas,  cuja  formação  de  certo  remonta  a  uma  época  geo- 
lógica anterior,  tendo^se  dado  já  depois  o  levantamento  dos 
terrenos  sobre  que  essas  areias  descançam.  Taes  dunas  apre- 
sentam uma  grande  differença  comparativamente  ás  qae 
vem  terminar  no  Oceano;  as  ultimas  augmentam  sempre 
com  a  junção  de  novos  materiaes  trazidos  pelas  ondas, 
emquanto  as  primeiras  avançam  também  para  o  interior 
dos  continentes  (embora  com  menos  rapidez),  promovem 
do  mesmo  modo  todos  os  estragos  peculiares  a  estas  inva- 
sões, mas  não  se  renovam  com  a  entrada  de  novos  mate- 
riaes. Entre  Aljezur  e  Sines,  entre  a  Nazareth  e  as  Pedras 
Negras  existem  dunas  separadas  do  mar  pelos  rochedos; 
e  no  Gamarção,  ao  sul  do  pinhal  de  Leiria,  encontram-se 
internadas  e  mais  distantes  ainda  do  mar. 


r 


285 


O  Matorio  acerca  da  arborisação  geral  do  paiz  calcula  a 
eitensão  aproximada  coberta  pelas  donas  em  72:000  he* 
ctares;  em  algaos  sítios  os  areiaes  da  costa  entram  muitos 
kiiometros  pela  terra  dentro.  Se  depois  de  escripto  aquelle 
relatório  (1868)  algumas  areias  teem  sido  fixadas  com  ar- 
voredos, em  compensação  a  superflcie  invadida  tem  pro- 
gredido também  para  o  interior,  e  infelizmente  o  avanço 
aoDual  é  muito  superior  aos  trabalhos  que  lhe  tem  sido 
oppostos.  O  sr.  Pimentel,  no  livro  acima  referido,  calcula 
a  área  occupada  pelas  nossas  dunas.  (i882)  n3o  inferior  a 
50  ou  60:000  hectares. 

O  meio  de  tornar  productiva  uma  tão  grande  superado, 
onde  exclusivamente  reinam  a  aridez  e  a  desolação,  o  meio 
de  impedir  os  effeitos  desastrosos  do  deslocamento  das 
areias,  fixando  as  que  já  existem  nos  continentes  e  impe- 
dindo a  agglomeração  de  outras  novas,  é  o  emprego  con- 
Teniente  da  arborisação. 

Âs  raizes  das  arvores,  alargando-se  em  todos  os  senti- 
dos, profundando  muito  n'aquelle  meio  pouco  resistente, 
dão-lhe  uma  òerta  cohesão;  as  folhagens  da  copa  abrigam 
contra  o  vento  a  camada  superficial,  a  primeira  que  se  de- 
via levantar  se  a  duna  caminhasse;  a  sombra  das  arvores 
modifica  as  propriedades  da  areia;  a  menor  evaporação  con- 
serva-lhe  um  pouco  mais  a  humidade ;  diminuo  o  calor  ab* 
sorvido  e  reflectido ;  os  pequenos  arbustos  e  sub-arbustos^ 
as  plantas  herbáceas,  principabnente  as  vivazes,  desenvol- 
vidas sob  a  protecção  das  arvores,  mais  concorrem  para 
vestir  e  segurar  a  camada  superficial;  os  detritos  vege- 
taes  accumulados  em  manta  espessa  modificam  ainda,  com 
.  grande  energia,  as  propriedades  pbysicas  e  corrigem  pouco 
a  pouco  as  propriedades  chimicas,  transformando  solos  tão 
estéreis  em  outros  ricos  e  bons.  Ás  primitivas  essências 
florestaes  empregadas,  rústicas  e  pouco  exigentes,  podem 
^tão  succeder,  muitas  vezes,  outras  menos  sóbrias,  com 
tanto  que  a  exploração  seja  racionalmente  dirigida,  não  fi- 


286 

cando  nanca  o  ch3o  descoberto  e  desprotegido.  Ao  mesmo 
tempo  que  os  arvoredos  immobilisam  d'esta  forma  as  areias 
movediças,  os  trabalhos  executados  ao  longo  da  costa,  teem 
estabelecido  uma  duna  artificial,  com  um  determinado  de- 
clive para  o  mar,  vestida  efficazmente  de  vegetação  apro- 
priada, por  onde  novas  areias  nao  podem  galgar,  evitan- 
do-se  d'este  modo  que  as  sementeiras  mais  da  orla  fiquem 
soterradas. 

Os  grânulos  constituitivos  das  dunas  apresentam  com- 
posição mineralógica  um  pouco  diversa,  conforme  as  praias 
onde  forem  estudados.  As  mais  das  vezes  são  siliciosos, 
mas  em  alguns  sitios  são,  mais  ou  menos,  calcareos,  como 
principalmente  em  alguns  pontos  da  Normandia  e  da  Bre- 
tanha. As  propriedades  physicas  e  chimicas  doestes  depó- 
sitos, tornam-os  muito  pouco  propícios  ao  desenvolvimento 
da  vegetação  inicial :  aquecem  com  muita  facilidade,  per- 
dem a  agua  com  grande  rapidez,  são  muito  pobres  em  sub- 
stancias alibeis  ás  plantas,  etc. ;  no  emtanto  a  falta  de  co- 
hesão,  a  sua  mobilidade  extrema,  é  o  principal  obstáculo 
que  os  vegetaes  ali  encontram  para  viver;  com  effeito,  nos 
sitios  onde  a  areia,  mais  abrigada,  estaciona  mais  tempo, 
apparece  logo  espontânea  uma  flora  característica,  compre- 
hendendo  espécies  sóbrias,  que  toleram  a  presença  do  sal 
marinho,  de  ordinário  com  os  systemas  subterrâneos  muito 
desenvolvidos,  para  melhor  se  prenderem,  e  pesquisarem 
n'um  campo  de  acção  mais  largo  os  escassos  elementos  mi- 
neraes  nutritivos  aU  existentes. 

A  parte  mais  internada  das  dunas,  segundo  parece,  ao 
depois  de  ter  feito  grandes  estragos  e  esterilisado  vastís- 
simas superficies,  pode  modificar  lentamente  as  suas  pro- 
priedades physicas  e  chimicas,  fixando-se  pouco  a  pouco,  se 
o  homem  não  intervier  em  sentido  contrario,  como  infeliz- 
mente acontece  quasi  sempre.  No  dizer  do  sr.  E.  Reclus, 
umas  vezes  é  o  oxydo  de  ferro,  existente  na  agua  das  fontes, 
que  immobilisa  as  areias,  transformando-as  afinal  em  ver- 


287 


dadeiros  rochedos;  n'oatras  partes  são  cimentos  organisados, 
qae  intervém,  conchas  quebradas,  restos  de  infusorios;  as 
plantas  yivazes  representam  um  grande  papel  também  na 
obra  de  consolidação:  assim  que  "podem  firmar-se  em  alguma 
parte  do  areial,  seguram-o  com  as  suas  raizes  e  rhizomas,  e 
promovem,  no  fim  de  séculos,  a  accumulação  de  uma  leve 
camada  de  terra  vegetal,  que  então  permitte  o  desenvolvi- 
mento das  arvores,  se  os  rebanhos  não  vierem  roer  e  des- 
truir as  primeiras  hervas.  Ainda  segundo  o  sr.  E.  Reclus, 
todos  os  documentos  históricos  reunidos  sobre  este  as- 
sumpto indicam  a  existência  de  florestas  espontâneas  sobre 
as  donas;  foi  o  corte  irreflectido  d'estes  arvoredos  que 
provocou  a  mobilidade  invasora  das  areias  actuaes. 

Entre  nós  os  pinhaes  de  Leiria,  dos  Medos,  do  Yallado, 
Pedrógão  e  do  Urso,  que  teem  séculos  de  existência,  assentes, 
cmo  são,  sobre  dunas,  podem  mostrar  com  a  maior  evi- 
dencia quanto  os  massiços  d'arvores  aproveitam  e  melho- 
ram os  terrenos  arenosos  do  littoral. 

Modernamente — desde  os  fins  do  século  passado  até  ao 
presente — tem-se  arborisado  em  Portugal  alguns  pontos — 
«especialmente  ao  sul  da  praia  da  Vieira,  entre  o  Oceano 
e  o  pinhal  de  Leh-ia,  e  nos  areiaes  que  ficam  entre  o  rio 
Liz  e  o  Mondego,  onde  já  estão  fixadas  algumas  dunas  nas 
costas  de  Lavos,  no  Urso  e  no  Pedrógão.» 

Segando  o  sr.  Carlos  A.  de  Sousa  Pimentel,  de  cujo 
livro  transcrevemos  o  ultimo  período — «é  n'estes  pontos 
que  se  tem  concentrado  o  que  até  agora  se  tem  feito  n'este 
género  de  operações,  que  todavia  não  excede  1 :200  hecta- 
res. Algumas  dezenas  de  hectares  que  todos  os  annos  se 
semeiam  estão  longe  de  compensar  a  larga  superficie  de  ter- 
renos que  as  areias  vão  conquistando  em  todo  o  littoral.» 

No  livro  especial  nos  referiremos  á  pratica  d'estas  arbo- 
risaçoes. 


288 


(B).— Influenela  dtM  ll^rMtas  na  eoB«oll4açA«  d«0  terresM 
dan  montealimi,  e  na  re^ularlMiçfto  úmm  earaas  4 


Idéas  geraes. — A  agua  da  chuva,  logo  depois  de  cair,  di- 
Tide-se  em  três  partes:  uma  parte  inflltra-se  no  terreno, 
profunda  mais  ou  menos,  até  encontrar  uma  camada  im- 
permeável, circula  subterraneamente,  e  rebenta  ao  depois 
á  superfície  constituindo  as  fontes ;  uma  outra  parte  eva- 
porasse e  volta  para  a  atmosphera;  a  outra  parte,  emfim, 
escorre  ao  longo  do  terreno  e  vem  juntar-se  nas  linhas  de 
maior  despresão,  nos  thalwegs,  formando  os  rios,  e  os 
outros  cursos  de  agua  a  descoberto. 

Estas  três  partes  em  que  se  divide  a  chuva  ao  cair  teem 
valores  relativos  muito  diversos,  segundo  as  propriedades 
do  solo  e  o  seu  relevo,  segundo  as  variantes  ,do  clima,  e  as 
estações,  mas  são  sempre  complementares:  a  somma  das 
três  prefaz  a  agua  caída  inicialmente;  logo,  ao  augmento 
de  uma  das  partes  corresponde  a  diminuição  das  outras. 

Quanto  menos  permeável  e  fofo  é  o  solo,  bem  como  quanto 
maior  é  a  sua  inclinação  sobfe  o  horisonte,  menor  é  a  quan- 
tidade da  agua  infiltrada,  maior  o  volume  que  se  reúne  nos 
thalwegs.  Nos  paizes  montanhosos,  que  estejam  n*aquellas 
condições,  os  cursos  d'aguá  são  numerosos^  encontram-se 
geralmente  fechados  em  valles  profundos  e  estreitos,  teem 
declives  fortes  por  onde  a  agua  se  despenha  com  força, 
avolumam  repentinamente  com  as  cheias,  muito  conside- 
ráveis e  súbitas,  porque  recebem,  a  bem  dizer,  quasi  toda 
a  agua  caida  na  sua  região,  e  recebem-a  logo  emseguida  à 
queda.  Pelo  inverso,  nos  paizes  de  planície,  os  cursos  (l'agaa 
são  habitualmente  em  menor  numero,  teem  leitos  mais  largos 
e  com  declive  suave  para  o  mar,  apresentam  as  margens 
baixas,  e  as  cheias  são  n'elles  menos  volumosas  e  menos 
repentinas,  porque  a  infiltração  maior  dos  solos  marginaes 
só  pouco  a  pouco  deixa  reunir  as  aguas  nos  valles. 


r^ 


289 

Qnando  a  agaa  escorre  ao  longo  das  tenras,  obedecendo 
á  lei  da  gravidade,  produz  resultados  mechanicos  de  des- 
aggregaçSo  e  de  corros3o  tanto  mais  consideráveis  quanto 
mais  desaggregavel  for  a  natureza  mineralógica  do  solo, 
qaanto  mais  aprumada  a  vertente,  e  quanto  maior  a  força 
da  chuvada.  Nas  montanhas  de  encostas  muito  inclinadas 
e  de  terreno  esboroadíço,  onde  as  tempestades  sao  de  ordi- 
nário frequentes,  este  effeito  é  máximo.  Logo  que  a  chuva 
eomeça  a  cair,  a  agua  reune-se  nas  menores  depressões  e 
arrasta  as  partículas  terrosas,  que  servem  de  apoio  aos 
fragmentos  das  pedras  grandes  e  pequenas;  obriga  estas 
pedras  a  perderem  o  equilíbrio  e  precepita-as,  de  envolta 
com  a  terra,  no  fundo  do  valle.  Os  materiaes  assim  despe- 
gados da  parte  superior  das  vertentes  arrastam  na  queda 
fflcdtas  outras  pedras  e  terra  coUocadas  mais  abaixo;  e  a 
montanlia  escava-se,  primeiro  em  pequenos  sulcos,  depois 
em  grandes  regueiros,  em  boqueirões  e  ravinas,  A  saraiva, 
peia  sua  maior  força,  ainda  promove  destroços  mais  pro- 
nmiciados. 

Se  o  terreno  é  de  fácil  corrosão,  quando  todas  aquellas 
substancias  se  precipitam  com  força  no  thalweg,  cavam 
profundamente  o  leito  do  curso  d'agua,  corroem-lhe  a  mar- 
gem, obrigam-o  a  desviar-se  e  a  incidir  sobre  a  outra  mar- 
gem, que  em  pouco  tempo  é  desfeita  e  corroída  também. 

É  na  occasião  do  derretimento  das  neves  sobre  as  altas 
montanhas,  ou  com  as  grandes  chuvas  de  trovoada,  que  as 
aguas  se  agglomeram  em  maior  quantidade,  e  as  cheias  são 
mais  funestas. 

Todas  as  correntes  transportam  em  suspensão,  mais  ou 
menos,  substancias  terrosas;  insignificantes  estes  trans- 
portes em  algumas  d'ellas,  tomam-se  pelo  contrario  n'ou- 
tras  volumosíssimos.  A  natureza  geológica  das  bacias  hydro- 
graphicas  e  a  sua  inclinação,  assim  como  a  intensidade  e 
frequência  dos  hydrometeoros,  do  mesmo  modo  que  influem 
ua  corrosão  das  vertentes,  actuam  na  quantidade  dos  mate- 

C.8.  19 


290 

ríaes  transportados;  este  transporte  é  consequência  d'aqaella 
corrosão.  Nos  paizes  montanhosos/ pelas  raz5es  acima  ex- 
pendidas, as  substancias  arrastadas  pelos  cursos  d'agua  sSo 
sempre  em  maior  abundância,  e  constituem  depósitos  mais 
grosseiros  e  esterilisadores  do  que  nos  paizes  planos. 

Quando  o  declive  do  leito  do  rio  diminue  de  um  certo 
ponto  por  diante,  ou  quando  a  secção  transversal  augmenta, 
e  muito  mais  se  concorrem  as  duas  causas,  diminue  a  ra- 
pidez da  corrente,  e  os  corpos  estranhos  depositam-se.  A 
natureza  geológica  e  a  disposição  orographica  dos  terrenos 
superiores  influem  muito,  como  dissemos,  na  qualidade 
d'estes  depósitos,  mas  não  influe  menos  o  grau  de  dimi- 
nuição na  força  impulsiva  da  corrente.  De  ordinário,  nos 
pontos  onde  o  curso  de  agua  passa,  sem  se  demorar,  e 
ainda  animado  de  uma  certa  velocidade,  embora  menor  que 
a  velocidade  trazida  até  ali,  os  depósitos  são  grosseiros, 
calhaus  rolados,  e  areias  esterihsadoras,  porque  as  parti- 
culas  menos  pesadas  são  arrastadas  pela  força  que  ainda  a 
agua  conserva.  Nos  logares  onde  a  agua  se  demora  e  faz 
remanso  é  onde  estes  pohnes  mais  ténues  se  depositam, 
constituindo,  em  innumeros  casos,  alluviões  e  nateiros  da 
maior  fertilidadç. 

Os  cursos  de  agua  são  um  elemento  de  mcalculavel  ri- 
queza nos  paizes  que  atravessam;  augmentam-lhes  a  humi- 
dade, tornam  possiveis  as  regas  em  pontos  numerosos,  são 
um  meio  de  transporte  muito  económico,  prestam  a  soa 
força  a  muitas  industrias  pondo  em  acção  as  rodas  hydrau- 
licas,  podem  constituir  com  os  seus  depósitos  cainpos  fera- 
cissimos,  etc. ;  mas,  em  contraposição,  a  falta  de  regimen 
das  aguas  correntes,  toma-as,  em  muitos  casos,  em  logar 
de  elemento  de  vida  e  de  riqueza,  um  elemento  de  ruina  e 
de  morte,  alagando,  corroendo,  esterilisando  com  as  suas 
cheias  as  terras  marginaes  e  destruindo  ás  vezes  as  po- 
voações visinhas. 

Tudo  quanto  nas  montanhas  concorrer  para  augmentar  o 


291 


poder  de  imbibição  dos  solos  e  para  quebrar  a  força  corro- 
siTa  da  agaa,  contribua  muito  eficazmente  para  a  regularisa- 
ç3a  das  correntes  nascidas  ahi.  Quando  a  acção  inconsiderada 
do  homem  abate  as  florestas  naturaes  nas  bacias  dos  cur- 
sos d'agua,  quando  apascenta  grandes  rebanhos  pelas  suas 
ladeiras  inclinadas,  rebanhos  que  destroem  parte  da  vege- 
tação rasteira  e  ajudam  a  despegar  a  terra  vegetal,  a  mina 
é  dupla,  porque  na  montanha  o  solo  perde-se  arrastado  pela 
chuva,  e  no  valle,  a  corrente  engrossando  á  mais  pequena 
chuvada,  invade  e  areia  as  terras  próximas,  como  dissemos, 
tomando  improductivas  grandes  superficíes. 

Em  França,  no  departamento  dos  Alpes  Superiores,  es- 
tas acções  patenteiam-se  n'uma  escala  enorme,  auxiliadas 
pela  natureza  do  teri^eno,  composto  em  grande  parte  por 
diversas  formações  calcareas  muito  facitanente  desaggrega- 
veis.  Âs  minas  attingem  ali  uma  proporção  verdadeh-amente 
assombrosa. 

Os  cursos  d'agua  podem  grupar-se  em  diversas  classes, 
conforme  os  phenomenos  que  patenteiam.  A.  Surell,  nos 
seos  clássicos  estudos  sobre  as  torrentes  dos  Alpes  Supe- 
rares, classifica  em  quatro  grupos  prmcipaes  os  cursos  de 
agua  originados  nas  grandes  montanhas. 

1.^  0$  rios. — Caracterísados  pela  grande  largura  dos  val- 
les  onde  correm,  pelo  volume  considerável  da  agua  que 
reimem  e  pela  demora  e  persistência  das  cheias.  Correm  sob 
vma  pequena  inclinação,  inferior  a  0^,015  por  metro.  Di- 
vagam n'um  leito  muito  largo,  chato,  de  que  apenas  occa- 
pam  uma  estreita  faxa  (isto  é,  abrem  de  quando  em  quando 
novos  caminhos  no  grande  leito  que  teem  ao  seu  dispor, 
abandonando  com  frequência  o  caminho  antigo). 

2.^  (k  rios  torrenciaes. — Teem  valles  menores  e  mais  aper- 
tados; correm  sob  inclinações  inferiores  a  0*^,06  por  me- 
tro; recebem  menor  volume  tl'agua;  não  dicagam,  ou  dí- 
wgam  pouco,  porque  a  fundura  e  a  consistência  das  mar- 
gens lh'o  não  permittem. 

i9# 


1 


292 


3.®  Às  torrentes. — Apresentam  valles  muito  cm-tos;  teem 
<^heias  fortes  e  que  apparecem  e  desapparecem  com  grande 
rapidez;  o  declive  do  seu  leito  é  muito  variável  em  peque- 
nas distancias,  e  quasi  sempre  superior  a  (y",06  por  metro 
tíío  descendo  nunca  de  0°^,02.  As  torrentes  corroem  na  mon- 
tanha, depositam  no  valle  e  divagam  depois.  Em  linguagem 
vulgar  a  palavra  torrente  tem  outra  accepção:  applica-se  a 
todo  o  curso  d'agua  impetuoso. 

4.°  Os  ribeiros  ou  regatos. — Apresentam  pequeno  volume 
de  agua,  teem  de  ordinário  pequena  inclinação,  não  corroem, 
e  as  suas  aguas,  límpidas  quasi  sempre,  não  depositam, 
ou  depositam  muito  pouco. 

Esta  classificação  não  é  absoluta,  x)  mesmo  auctor  o  faz 
sentir.  Alguns  cursos  d'agua  não  podem  ser  rigorosamente 
comprehendidos  em  nenhuma  das  classes,  outros,  pelo  con- 
trario, pertencem  a  mais  de  uma,  quando  se  consideram 
em  pontos  diversos  da  sua  carreira. 

As  diflferenças  principaes  entre  aquelles  grupos  são  de- 
vidas, não  tanto  á  diversidade  dos  phenomenos  que  cara- 
cterísam,  como  á  intensidade  d'elles.  Assim,  por  exemplo, 
Surell  considera  nas  torrentes  uma  bacia  de  recepção,  com 
a  forma  typica  de  um  largo  funil  oúde  as  aguas  se  reúnem 
e  corroem  o  terreno,  um  canal  d'esgotOy  mais  ou  menos 
desenvolvido,  por  onde  a  agua  sae,  e  o  leito  de  d^ecção, 
espaço  mais  largo  nos  valles,  onde  os  depósitos  são  aban- 
donados; nos.  rios,  embora  em  área  menos  condensada,  pas- 
sam-se  phenomenos  idênticos  e  existem  regiões  semelhan- 
tes: os  seus  deltas  são  verdadeiros  leitos  de  dejecção  por 
onde  a  agua  divaga;  estes  deltas  não  se  formariam  se  a 
corrente  não  trouxesse  materiaes  suspensos,  isto  é,  se  não 
tivesse  uma  bacia  de  recepção  a  corroer;  o  cancU  d^esgoto, 
que  nas  torrentes  é  muito  pequeno,  forma  quasi  todo  o  curso 
do  rio.  A  natureza  especial  das  margens  dos  rios  torren- 
viaes  e  a  intensidade  minima  dos  phenomenos  passados  nos 
ribeiros,  individualisam  principalmente  estas  duas  classes. 


293 

Transcrevemos  a  classificação  de  A.  Surell  porqae  em 
muitos  casos  poderá  ser  applicada  aos  cursos  de  agua  do 
nosso  paiz,  senão  considerados  sempre  em  toda  a  sua  ex- 
tensão» ao  menos  suppondo-os  divididos  em  differentes  sec- 
çiíes. 

As  montanhas  de  Portugal,  e  os  seus  cursos  de  agua. — 
Em  Portugal  o  solo  das  grandes  montanhas,  constituído  na 
maior  parte  por  formações  antigas,  n3o  é,  considerado  em 
geral,  muito  facilmente  desaggregavel.  No  emtanto  dentro 
do  typo  granitico  e  schistoso  existem  innumeras  variantes, 
com  propriedades  physicas  muito  deseguaes,  algumas  de 
iiaicil  pulverisaçSo  e  que  abandonam  avultados  detritos  aos 
corsos  d'agua  das  suas  regiões.  Os  estragos  d'esta  natu- 
reza occasionados  entre  nós  não  tomam  decerto  as  propor- 
ções a  que  se  elevam  no  departamento  francez  dos  Alpes 
Superiores,  cujo  solo  é  tão  esboroadiço,  como  dissemos» 
mas  s3o,  ainda  assim,  muito  attendiveis  e  ruinosos. 

Salva  uma  ou  outra  excepção  local  muitissimo  restricta» 
as  nossas  montanhas  estão  quasi  de  todo  desarborisadas; 
as  suas  encostas,  ásperas  e  aprumadas  em  muitos  pontos» 
ou  se  encontram  mal  vestidas  de  matos  rasteiros,  ou,  em 
muitos  casos,  apresentam-se  desnudadas,  tendo  descaído  a 
terra  sob  a  acção  das  chuvas,  das  neves  e  das  geadas,  fi- 
cando só  o  esqueleto  informe,  a  rocha  sub-jacente  escal- 
vada. São  enormes  os  tractos  de  terreno  assim  desaprovei- 
tados e  que  podiam  ser  entregues  quasi  todos  á  explora- 
ção florestal. 

Por  outro  lado,  os  nossos  cursos  d'agua  correm  entre- 
gues a  si  próprios,  alagando  com  as  cheias  os  campos  visi- 
Bhos,  esteriUsando  muitos  e  corroendo  outros ;  em  sitios»  as 
aguas  da  cheia  não  conseguem,  quando  o  volume  diminue, 
Toltar  ao  primitivo  leito,  e  constituem  pântanos  prejudicialis- 
simos  á  saúde:  tal  acontece,  por  exemplo,  em  alto  grau» 
junto  ás  margens  do  Sado,  com  grande  prejuízo  das  po- 
Toações  próximas,  A  má  regularisação  dos  cursos  d'agua 


1 


'294 


do  paiz  é  tanto  mais  para  lastimar,  que  as  veigas  sitaadas 
nos  seus  valles  s3o  terras  das  mais  férteis»  e  bem  impor- 
tayaprotegel-as. 

A  acção  das  nossas  principaes  correntes  sobre  os  terre- 
nos visinbos  é  diversa  bastante,  conforme  o  typo  da  cor- 
rente^ e  todos  os  phenomenos  que  concorrem. 

O  Douro  e  todos  ,os  seus  affluentes  transmontanos  pas- 
sam entre  riba»  fragosas,  muito  altas  e  apertadas;  o  valle 
do  Douro,  constitiddo  por  granitos  e  schistos  é,  relativa- 
mente, o  mais  profundo  e  estreito  do  paiz.  Estes  rios  sõ 
n'um  ou  n'outro  ponto  se  espraiam  em  veigas  mais  dilata- 
das, que  formam  outras  tantas  excepções :  assim  o  valle  do 
Douro  alarga-se  um  pouco  junto  á  Regoa,  o  Sabor  no  fer- 
tilissimo  valle  da  Yillariça,  o  Tua  nos  campos  de  MirandeHa, 
6  o  Tâmega  na  risonha  veiga  de  Chaves.  Todos  estes  rios, 
cujos  cursos  s3o  tão  apertados  na  sua  maior  extensão,  apre- 
sentam Índole  torrencial  e  cheias  volumosas  e  rápidas.  O 
mesmo  acontece  ainda  ao  Zêzere,  mas  este  differença-se 
mais  pela  quantidade  grande  das  substancias  terrosas  ar* 
rastadas  em  suspensão.  O  Douro  corre  entre  margens  cul- 
tivadas em  geios,  oú  socalcos,  que  seguram  muito  a  terra, 
pela  sua  composição  pouco  esboroadiça,  como  também  o 
são  as  ribas  dos  seus  affluentes,  emquanto  o  Zêzere  pas- 
sa, em  muitos  pontos,  entre  granitos  grosseiros,  facilmente 
desaggregaveis. 

O  Lima,  o  Minho,  o  Vez,  etc.,  correm  em  paiz  monta- 
nhoso, como  os  anteriores,  também  entre  paredes  alcanti- 
ladas de  granitos  e  schistos,  mas  apresentam  já  um  typo 
diverso;  os  seus  valles  são  largos,  as  penedias  levantam- 
se  afastadas  do  veio  d'agua,  contornando  bellissimos  cam- 
pos por  onde  os  rios  serpeam.  Soffrem  cheias  também 
grandes  e  pouco  demoradas,  mas  estas  cheias  alteam  con- 
stantemente os  leitos  das  correntes  pelos  depósitos  que 
abandonam,  e  são  uma  constante  ameaça  ás  terras  margí- 
naes,  agricultadas  e  ricas. 


295 

O  Tejo  e  o  Mondego,  quando  considerados  em  pontos  dif-. 
ferentes,  revestem  modos  de  ser  deseguaes :  ambos  na  parte 
superior  (do  Tejo  consideramos  apenas  o  curso  em  Portu- 
gal) correm  em  valles  estreitos  e  fundos  e  em  leitos  pê- 
nhascosos ;  as  fragas  n'esta  porção  do  Tejo  são  constituídas 
pelos  schistos,  e  no  Mondego  pelos  schistos  e  granitos,  os 
últimos  grosseiros  e  desaggregaveis,  o  que  toma  mais  abun- 
dantes os  materiaes  transportados  pelo  Mondego,  ainda  além 
disso  enriquecido  com  os  transportes  dos  seus  aiiluentes, 
que  passam  em  terrenos  semelhantes.  Na  segunda  parte 
dos  seus  cursos  ambos  estes  rios  teem  leitos  muito  lar- 
gos, margens  baixas,  e  apresentam  um  typo  muito  distin- 
cto  do  que  téem  superiormente. 

O  Talle  do  Tejo,  para  áquem  de  Tancos,  dilata-se  a 
constituir  as  campinas  da  Gollegã,  Yallada,  Azambuja,  Cha- 
musca, Almeirim  e  Salvaterra,  avaliadas  em  60:000  he- 
ctares, e  que  formam  os  férteis  campos  do  Ribatejo ;  a  fei- 
ção mineralógica  do  solo  é  então  muito  diversa ;  desappa- 
recem  os  granitos  e  os  schistos,  predominam  as  camadas 
de  grés,  de  argilla  e  calcareo,  pertencentes  ao  período  qua- 
ternário; o  declive  do  leito  do  río  diminuo,  e  de  Tancos 
para  baixo  o  Tejo  transforma-se  n'uma  corrente  de  leito 
movei,  deslisando  no  estio  caprichosamente  por  uma  vasta 
plaoicie  e  repartindo  as  suas  aguas  por  diversos  braços, 
emquanto  no  inverno  transborda  com  as  cheias  e  alaga  to- 
das essas  enormes  superGcies.  Os  seus  ãffluentes  são  tor- 
renciaes,  mais  ou  menos.  Os  depósitos  abandonados  na  li- 
nha de  curso,  conhecidos  pelo  nome  de  mouchões,  obrigam 
I  corrente  a  dividir-se  em  braços,  corroendo  os  campos  mar- 
ginaes,  e  originando  extmsas  goivas  de  um  dos  lados,  em- 
quanto do  lado  opposto  a  menor  velocidade  da  agua  aban- 
dona areias  estéreis.  O  Mondego  apresenta,  na  segunda 
parte  do  seu  percurso,  phenomenos  análogos ;  o  valle  onde 
corre  também  se  alarga  muito,  é  egualmente  muito  fértil, 
e  também  constituído  pelos  gréses,  pelos  calcareos  e  mar- 


296 

gas,  sem  a  comparência  já  dos  granitos ;  as  suas  cheias  es- 
tendem-se,  do  mesmo  modo,  em  grandes  superficies;  tam- 
bém apresenta  depósitos  no  meio  do  leito,  conhecidos  com 
o  nome  de  insuas,  cuja  formação  e  resultados  podem  com- 
parar-se  aos  mouchões  do  Tejo. 

Finaknente,  como  ultimo  typo,  algmis  dos  nossos  cursos 
d'agaa  que  percorrem  paizes  menos  accidentados  e  de  for- 
mações geológicas  menos  antigas,  como  são  os  affluentes 
do  Sado,  alguns  do  Tejo,  etc,  teem  valles  pouco  profundos, 
margens  baixas,  mas  apresentam,  em  muitos  casos,  indole 
torrencial,  alagando  no  inverno  as  terras  visinhas,  formando 
pântanos,  corroendo  as  margens  e  abandonando  depósitos 
muito  esterilisadores. 

N'um  paiz  tão  montanhoso,  como  é  o  nosso,  a  falta  d$ 
revestúnento  florestal  nas  encostas  das  serranias,  traduz-se 
n'uma  perda  enorme,  pelo  desaproveitamento  de  tanto  chão, 
e  pela  falta  de  regimen  das  aguas  correntes,  com  todas 
as  ruinas,  com  todos  os  destroços  que  são  a  companhia  in- 
separável doesse  abandono. 

Influencia  dos  arvoredos  sobre  as  montanhas. — Os  ar- 
voredos podem  impedir,  ou  attenuar,  as  acções  desastro- 
sas da  agua  anteriormente  referidas;  a  sua  influencia,  em 
resumo,  exerce-se  dos  seguintes  modos : 

1.^  As  florestas  seguram  as  terras  nas  ladeiras,  e  por 
esse  facto  diminuem  os  materiaes  arrastados  pelos  cursos 
de  agua,  ao  mesmo  tempo  que  aproveitam  com  os  seus  pro- 
ductos  lenhosos  e  corticaes  terrenos  aliás  desaproveitados. 

2.^  A  manta  da  floresta,  eminentemente  porosa,  diminue 
a  fracção  da  agua  da  chuva  que  escorre  ao  longo  do  solo, 
e  torna,  por  isso,  as  cheias  dos  rios  menos  volumosas  e 
sobretudo  menos  repentinas. 

3.^  As  florestas,  diminuindo  a  evaporação  do  solo  e  aa- 
gmentando,  como  dissemos,  a  quantidade  da  chuva,  con- 
correm para  tornar  mais  numerosos  os  cursos  de  agua,  ao 
mesmo  tempo  que  os  regularisam  pelo  melhor  regimen. 


297 


4.^  Se  a  arborisação  das  bacias  hydrog[raphicas  melhora 
eonsideravelmente  o  regimen  das  aguas,  o  revestimento 
florestal  nas  margens  baixas  de  alguns  rios  protege  muito 
os  campos  visinhos,  quebra  a  força  da  corrente,  attenua 
os  efifeítos  dos  estoques  d*agua  e  pode  obrigar  á  deposição 
de  férteis  colmatas. 
Vejamos  mais  detalhadamente  cada  um  doestes  pontos : 
Quando  o  solo  desnudado  de  vegetação  é  exposto  em 
forte  declive  á  acção  das  chuvas,  como  já  dissemos,  a  agua 
escorre  á  superflcie  em  grande  quantidade,  reune-se  nas 
mais  pequenas  depressões,  escava  primeiro  pequenos  sul- 
cos que  dentro  em  breve  sa  transformam  n'outras  tantas 
ravinas,  arrasta  a  camada  terrosa,  começando  pelos  peque- 
nos grânulos  até  terminar  nas  pedras  mais  consideráveis, 
e  por  fim  na  montanha  corroida  e  atacada,  ou  só  ficam  a 
descoberto  as  rochas  subjacentes,  se  teem  dureza  sufficiente 
para  resistirem  ao  ataque,  ou  se  esta  rocha  é  branda  e  fa- 
dlmente  desaggregavel  continua  a  fragmentação,  mudando 
o  solo  de  relevo,  para  assim  dizer»  a  cada  instante,  trans- 
portado para  longe  pela  acção  niveladora  das  aguas.  Mas, 
se  as  arvores  vestirem  estas  mesmas  encostas,  as  coisas 
passam-se  de  um  modo  muito  differente :  as  raízes  conso- 
lidam o  solo,  envolvendo  as  partículas  terrosas  na  rede  das 
soas  nmnerosissimas  malhas ;  os  troncos,  os  rebentões  das 
raizes,  os  vegetaes  arbustivos  e  herbáceos  que  se  desen- 
volrem  espontâneos  sob  as  arvores  quebram  a  cada  passo 
a  força  da  agua  que  escorre  pelo  terreno,  e  tornam  a  cor- 
rosão muito  menos  enérgica;  por  outro  lado,  as  folhas  e 
os  ramos  da  copa  attenuam  a  força  da  chuva,  ficando  o  solo 
loeDos  comprimido  e  com  maior  poder  de  imbibição,  em- 
qoanto  a  folhada  e  a  camada  humifera,  muito  esponjosas, 
aogmentam  extraordmariamente  este  poder,  como  disse- 
laos,  auxifiadas  ainda  estas  acções  pelas  raizes,  que  estabe- 
lecem uma  espécie  de  drenagem  ao  longo  da  qual  se  divide 
atoalha  Uquida  superficial,  daado-se  muitas  infiltrações. 


298 


As  florestas  operam  na  montanha  segurando-lhe  a  terra, 
angmentando  a  infiltração  da  chuva,  diminuindo  a  agoa  qne 
escorre  superficiahnente,  aproveitando  saperfícies  abandona- 
das ;  atacam  na  origem  os  perniciosos  eflèitos  das  correntes, 
diminuindo  os  materiaes  terrosos  por  ellas  arrastados,  dan- 
do-Ihes  lindole  menos  torrencial  e  melhor  regimen;  isto  é 
— fazem  com  que  o  nivel  das  aguas  correntes  nio  baixe 
tanto  no  estio,  não  suba  tão  alto  no  inverno,  e  que  as  cheias 
sejam  menosr  repentinas  e  menos  prejudiciaes.  Surell  e  De- 
montzey  citam  factos  do  apparecimento  de  torrentes  (na  acce- 
pçSo  que  ligam  a  esta  palavra)  com  todos  os  seus  effiútos 
desastrosos,  pelo  simples  corte  de  arvoredos,  e  factos  re- 
cíprocos. 

N'um  paiz  em  que  o  desenvolvimento  da  população  obriga 
a  aproveitar,  pela  cultura  arvense,  as  terras  mais  férteis, 
mais  fundas,  menos  inclinadas,  a  exploração  das  arvores 
silvestres  colloca-se  naturalmente  nas  areias  moveis  do  lit- 
toral,  nas  charnecas  áridas  do  interior,  e  nas  ladeiras  das 
montanhas,  onde  teem  a  representar  ao  mesmo  tempo  pa- 
peis tão  complexos  e  tão  bemfazejos. 

Entre  a  floresta  e  a  montanha  existe  um  complicado  jogo 
de  harmonias  as  mais  intimas;  Os  lenhos  adquirem  nas  re- 
gimes montanhosas  qualidades  de  dureza,  de  resistência  e 
densidade  que  os  toma  muito  apreciados.  As  arvores,  fi- 
xando e  enriquecendo  os  solos  das  montanhas,  contribuem 
para  fixar  egualmente  e  desenvolver  ali  a  população  indí- 
gena, que,  reflectindo,  como  as  arvores,  a  aspereza  do  dima 
natal,  é  tão  característica  pela  sua  energia,  robustez  e  amor 
ao  trabalho;  aliás,  dos  serros  escalvados  e  despidos,  d'onde 
a  terra  vegetal  productiva  foi  desaggregada,  onde  as  tor- 
rentes passam  entregues  a  si  proprías,  seguidas  da  mina 
e  do  estrago,  a  emigração  dá-se,  em  extraordinária  escala, 
para  os  paizes  mais  favorecidos ;  esta  falta  das  arvores  acar- 
reta a  perda  do  solo  e  a  perda  da  população. 

As  montanhas  da  Europa  estavam  cobertas  de  arvoredos 


299 


eqxmtaneos,  e  o  seu  desnudamento  foi  obra  dos  homens. 
k  mina  â'estas  montanhas  provem  do  corte  impensado  das 
anrores,  e  da  pastoreaçSo  abusiva  dos  rebanhos  nos  espa- 
(OS  desguarnecidos;  os  rebanhos  aggravam  e  apressam  o 
desmoronamento  das  terias,  sobretudo  quando  o  revesti- 
meDto  vegetal  é  fraco,  porque  os  animaes  roem  as  plantas 
e  arrancam  algnmas,  esmagam  as  que  vem  a  nascer,  e  des- 
taeam  numerosas  pedras  e  partículas  terrosas. 

Em  Portugal  aconteceu  isto  mesmo,  como  duremos  n*ou- 
tro  logar.  A  maior  parte  do  paiz  estava  coberta  de  grandes 
matos  e  de  florestas  apertadas,  onde  os  animaes  bravios  se 
acoitavam;  os  documentos  históricos  ainda  se  referem  a 
muitos  d'esses  arvoredos.  Se  era  de  necessidade  e  de  van- 
tagem o  corte  de  muitos  d'elles,  para  arrotear  campos  para 
a  laYoora,  os  cortes  exagerados,  em  sitios  onde  o  chSo  se 
Ião  prestava  a  outras  culturas,  e  que  ficaram  ermos  e  des- 
pidos, trouxeram  as  funestíssimas  consequências  anterior- 
mente esboçadas.  O  problema  hoje,  na  maior  parte  doestes 
casos,  reduz-se  apenas  a  procurar  renovar  as  antígas  e  na- 
tmaes  condições :  nSo  se  trata  de  uma  arborisaç3o,  mas  de 
mna  rearborísaçSo. 

Mas  as  florestas,  ao  mesmo  tempo  que  regularisam  as 
onrentes,  dando-lhes  um  regimen  muito  mais  constante — 
e  debaixo  d'este  ponto  de  vista  sSo  verdadeiros  diques  con- 
tra as  inundações — também  augmentam  as  aguas  das  fon- 
tes e  nascentes,  com  decidida  vantagem  para  a  cultura,  fa- 
cilitando as  regas  em  maior  escala. 

O  angmento  das  aguas  subterrâneas  nos  paizes  arbori- 
sidos  resulta  da  maior  infiltração  que  se  dá  n'esses  terre- 
nos, motivada,  como  dissemos  já,  pelas  propriedades  phy- 
lícas  da  manta  da  floresta,  pela  drenagem  natural  que  as 
nozes  das  arvores  constituem,  pelos  obstáculos  numerosos 
ttGO&trados  pela  parte  da  chuva  que  escorre  superfícial- 
nente,  bem  como  pela  diminuição  de  evaporação. 

Citam-se  numerosos  exemplos  do  apparecimento  de  fon- 


300 

tes,  depois  de  arborisados  certos  tractos  de  terrenos,  e, 
pelo  inverso,  factos  de  seccarem  outras,  em  seguida  aò 
corte  de  determinados  massiços.  Referiremos  um  único  does- 
tes exemplos,  citados  pelo  conde  de  Bouvoir  na  sua  Voyage 
autour  du  monde^  e  transcripto  na  obra  referida  de  Â.  Sa- 
reli: — t. . .  Na  Austrália  o  grande  mal  é  a  secca;  o  dr. 
cMuller  destina  quasi  todos  os  fundos  do  Jardim  Botânico 
cde  Melbourne  a  combatel-a,  e  consegue-o.  Repartiu,  no  in- 
cterior,  milhões  de  arbustos  nascidos  nos  seus  viveiros;  pe- 
cquenos  regatos  se  formam  rapidamente  n'esses  massiços 
cnovos.  Os  resultados  são  já  soberbos,  e  cada  anuo  se  reco- 
cnhecem  outros  mais.  Em  terras  áridas  e  nuas  creoa,  em 
tmais  de  cem  pontos,  outros  tantos  bosques  e  outros  tan- 
ctos  regatos.» 

Advertiremos,  todavia,  que  estas  acções  das  florestas  so- 
bre o  regímen  dos  cursos  de  agua,  e  sobre  o  augmento  das 
fontes,  teem  sido  negadas  por  alguns  escriptores,  entre  os 
quaes  especialisaremos  o  sr.  Yallés.  No  emtanto,  depois  dos 
estudos  de  Surell,  Gezanne,  Demontzey,  Ebermayer,  etc., 
esta  acção  é  evidente  e  indiscutível. 

A  resolução  d'este  vasto  problema  da  consolidação  das 
montanhas  e  regularisação  das  suas  correntes  abrange  os 
trabalhos  de  arborisação  na  bacia  da  corrente  e  ao  longo 
do  seu  curso,  e  trabalhos  hydraulicos  especiaes — barra- 
gens, revestimentos,  etc. — que  teem  de  completar  a  obra 
efficaz  das  arvores.  A  vegetação  lenhosa  ao  longo  das  mar- 
gens dà  protecção  eOScacissima,  ajudando  a  suster  com  as 
raizes  a  terra,  e  quebrando  em  parte  a  força  com  que  o  li- 
quido vem  animado.  Adiante  trataremos  da  pratica  d'estas 
arborisações. 

Muito  embora  tenhamos  no  paiz  tantas  montanhas,  que 
conviria  vestir  de  arvoredos,  nada  ainda  entre  nós  se  tem 
tentado  a  este  respeito:  continuam  desaproveitadas  tão  gran- 
des superfícies,  e  os  cursos  de  agua,  que  d'ali  se  despe- 
nham, continuam  a  evidenciar,  com  as  ruinas  e  destroços 


r 


30i 

que  provocam,  as  fímestas  conseqaencias  d'aquelle  aban- 
dono. 

Arborisaçao  das  dunas  e  das  montanhas  s3o  dois  proble- 
mas dos  mais  importantes  da  nossa  silvicultura.  Para  a  re- 
solução do  primeiro  alguma  coisa  se  tem  trabalhado,  em- 
bora pouco;  o  segundo  é  completamente  novo  para  Por- 
tagaL 


(C).~liillnenela  d««  florestas  na  formação  doa  aoloa  asrleolaa, 

no  acn  enxvgo  e  fertilidade 


As  raízes  das  arvores  teem  um  grande  poder  de  pene* 
^ção,  mesmo  nos  solos  duros  e  pedregosos.  Em  algumas 
drcnmstancias,  se  a  rocha  é  atacavel,  conseguem  alraves- 
sal-a,  perfurando-a,  ou  esfarelando-a  com  os  seus  suecos 
addos.  Outras  vezes  as  radiculas  introduzem-se  pelos  mais 
pequenos  interstícios,  pelas  mais  ligeiras  fendas  das  rochas, 
e  com  a  sua  expansão,  quando  engrossam,  operando  como 
verdadeiras  cunhas,  conseguem  desunir  e  fragmentar  as  es- 
pécies mineralógicas  mais  duras  e  resistentes. 

Debaixo  d'este  ponto  de  vista  as  arvores  podem  conside- 
rar-se  grandes  preparadoras  do  solo  agrícola;  profundando 
primeiro  a  terra,  pela  fragmentação  da  rocha  subjacente» 
e  enriquecendo-a  depois  com  os  seus  detritos  organisados. 

Já  nos  referimos  n'outro  logar  ao  modo  por  que  as  flo- 
restas augmentam  a  fertilidade  do  solo  e  a  importância  d'esta 
acção.  Emquanto  as  culturas  arvenses  diminuem  a  riqueza 
da  terra  a  ponto  da  continuação  d'essas  culturas,  no  mesmo 
logar,  ser  possível  só  com  o  auxilio  de  grandes  estruma- 
ções,  uma  revolução  única  de  alto  fuste  torna  muitas  vezes 
om  terreno  quasí  estéril  em  terreno  fértil. 

A  acção  das  florestas  como  preparadoras  e  melhoradoras 
do  solo  agrícola  é  evidente;  o  corte  de  muitos  massiços  flo^ 
restaes  tem  sido  instigado  não  só  pelo  valor  dos  productos 


302 

lenhosos,  como  também  pela  cubica  de  sujeitar  à  enlton 
arvense,  de  muito  mais  prompta  e  fácil  realisação,  o  ter- 
reno enriquecido  com  os  despojos  da  mata.  Em  muitos  does- 
tes casos  a  cultura  nos  primeiros  annos  tomon-se  yantajo- 
sissima,  mas  o  solo  depressa  esgotado,  pela  falta  da  con- 
yeniente  adubação,  negou-se  depois  a  produzir  com  lacro, 
e  afinal,  abandonado,  esse  espaço,  antigamente  coberto  de 
yiçosa  e  forte  vegetação  lenhosa,  transformou-se  n'uma  char- 
neca safara,  mal  vestida  com  algum  mato  /asteiro. 

Sobre  as  terras  pantanosas  as  arvores  podem  ainda  exer- 
cer uma  influencia  bastante  notável,  que  vamos  accentoar 
em  poucas  palavras. 

'  A  humidade  excessiva  do  solo,  sobretudo  quando  provém 
de  agua  estagnada,  não  é  favorável  nem  ás  culturas  her- 
báceas, nem  ás  culturas  lenhosas;  é  pcmto  este  incontro- 
verso. Em  taes  terrenos  só  as  juncas  e  juncos,  os  caniços, 
espadanas,  etc.,  se  desenvolvem  bem  (exceptuando  a  insa- 
lubre cultuí^a  do  ^rroz) ;  as  arvores,  ou  não  podem  viver, 
ou  vivem  mal,  e  ficam  com  os  lenhos  muito  pouco  cúcm- 
•tentes  e  pouco  aturadiços.    ' 

Racionalmente,  antes  de  entregar  á  cultura  um  terreoo 
encharcadiço,  deve-se  enxugal-o.  Mas  se^  em  these  geral, 
se  pode  quasi  sempre  sustentar  a  conveniência  d'este  en- 
xugo quando  se  trate  das  culturas  arvenses,  nem  sempre 
o  mesmo  se  pode  dizer  quando  tenha  de  se  empregar  a 
exploração  florestal,  vistas  as  despezas  d'aquellas  obras,  e 
o  pequeno  rendimento  dos  massiços  de  arvores.  N'este  caso 
é  possivel,  muitas  vezes,  utilisar  esses  terrenos  sem  o  en- 
xugo prévio,  empregando  as  essências  melhor  adaptadas  a 
esse  meio  especial,  e  sujeitando-as  a  processos  particulares 
de  plantação  e  tratamento. 

  floresta  pode  até  modificar  muito  e£Scazmente  aquel- 
las  más  propriedades  do  solo,  diminuindo-lhe  a  humidade, 
e  vários  exemplos  se  podem  citar  em  abono  d'esta  asser- 
ção. 


303 

Á  primeira  yista  não  se  comprehende  esta  affirmativa; 
0$  arvoredos^  como  sabemos,  diminuem  a  evaporação  do 
so]o,  e  portanto  parece  que  deviam  antes  exacerbar  do  que 
corrigir  aquelle  erro.  Mas>  em  contraposição,  as  arvores 
consomem  grandes  quantidades  de  agua  (tanto  mais  quanto 
nuds  rápido  for  o  seu  crescimento  e  mais  abundante  a  fo- 
lhagem, e  d'isto  se  devem  tirar  indicações  para  a  escolha 
e  adaptação  das  essências),  e  além  d'isso  abrem  com  as 
raize^  o  sub-solo  impermeável,  constituindo  uma  drenagem 
nataral,  por  onde  a  agua  se  infiltra  e  escoa  nas  camadas 
mais  profundas,  emquanto,  por  outro  lado,  a  manta^  do- 
tada de  forte  poder  de  imbibição,  chama  a  si,  retém,  quan- 
tidades grandes  de  agua,  como  vimos. 


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iUCTORES  PRIMCIPALMERTE  CONSULTADOS 
H^ESTE  LIVRO  lU. 


Gh.  GoNTEJEAif . —  Géographie  Botanique.  h^uence  du  terrm 
sur  la  végãation.  Paris,  1881. 

J.  Vallot. — Recherches  physico-chimiqtêes  sur  la  terre  végér 
tale  et  ses  rapports  avec  la  distribution  géographi- 
que  des  plantes.  Paris,  1883. 

L.  Grandeâu. — Annales  de  la  Station  Agronomique  de  l*EsU 
Paris,  1878. 

Carlos  Ribeiro  e  J.  Delgado. — Relatório  acerca  da  arbod- 
sacão  geral  do  paiz,  Lisboa,  1868. 

Gerardo  A.  Pery. —  Geographia  e  estatística  gerai  de  Por- 
tugal e  cdonias.  Lisboa,  1875. 

B.  Barros  Gomes. —  Cartas  elementares  de  Portugal,  Lisboa, 
1878. 

Elisée  Reclus. — Les  phénomènes  terrestres.  Paris,  1882. 

Garlos.  a.  de  Sousa  Pimentel. — Pinhões,  soutos  e  monta- 
dos. Lisboa,  1882  (1.*  parte:  Pinhaes). 

José  Bonifácio  de  Andrada  e  Silva. — Memoria  sobre  a  ne- 
cessidade e  utilidade  do  plantio  de  novos  bosques  em 
Portugal.  Lisboa,  1815. 

F.  Maria  Pereira  da  Silva  e  Gaetano  M.  Batalha.— Jfe- 
moria  sobre  o  pinhal  nacional  de  Leiria.  Lisboa, 
1859. 

Baudrillart. — Dictionnaire  general  des  eaux  et  foréts.  Pa- 
ris, 1823. 


■<, 


305 

BUATORIO  DÂ  ADMINISTRAÇÃO  GERAL  DAS  IIATAS,  relatÍTO  aO 

anno  económico  de  1879-1880.  Lisboa»  1881. 
A.  SuRELL. — Études  sur  les  torrerus  des  Hautes  AlpeSj  deu- 

xième  édition,  avec  une  suite  par  Emest  Gezanne. 

Paris,  1870-1872. 
P.  Demomtzey. —  Traité  pratique  du  reboisemmt  et  du  gazoth 

nement  des  montagnes.  Paris,  1882. 
ViTTORio  Peronâ. —  Trattato  di  selvicoltura.  Firenze,  1880. 
Adolphe  £.  DupoNT  et  Bouquet  de  la  Grte. — Les  bois  in- 

digènes  et  étrangers.  Paris,  1875. 
F.  Yallés. — De  Valiénatim  des  foréts  auxpoints  de  vue  gou- 

vemamentalj  financier,  dimaiologique  et  hydrologi- 

que.  Paris,  1865. 


G.8.  20 


LIYRO  IV 


Essências  florestaes 


DÍTidiremos  as  anrores  silvestres,  cujo  estado  yamos  em- 
pr^iender,  em  três  agrupamentos;  incluímos  no  primeiro  as 
essências  verdadeiramente  importantes  na  arborísaç3o  flo- 
restai do  paiz;  no  segundo  as  arvores  silvestres  que  nSo  se 
encontram  em  massiço,  e  só  existem  isoladas,  ou  em  pe- 
qaeDos  grupos,  ou  misturadas  com  as  outras  essências,  bem 
cmo  os  arbustos  mais  vulgares  nas  florestas ;  no  terceiro 
agnipamento  incluimos  as  espécies  exóticas  já  hoje  um 
poaco  introduzidas,  e  cuja  exploração  silvícola  conviria  pro- 
pagar. 


L^ESSENOIÂ^S  PRINOIPALMEiniE  IMPORTANTES 
NA  ARBOBISAQiO  FLORESTAL  DO  PAIZ 


As  essências  mais  importantes  na  arborísaçSo  florestal 
do  paiz  sSo  o  pinheiro  bravo  e  o  pinheiro  manso,  os  so* 
breiros,  a  azinheira,  o  carvalho  portuguez,  o  carvalho  ne« 
gral  e  o  roble,  o  castanheiro  e  a  alfarrobeira.  A  estas  es- 

so* 


308 

pecíes  deve  juntar-se  a  oliveira,  se  quizermos  exprimir  a 
feiç3o  exacta  dos  nossos  principaes  arvoredos;  mas  a  oli- 
veira, pela  forma  porque  é  explorada,  pertence  antes  ao 
dominío  da  arboricoltura,  e  por  isso  a  não  incluimos  ates- 
tes estudos ;  o  zambujo,  como  tem  importância  muito  mais 
restricta,  entra  no  segundo  agrupamento  em  que  dividimos 
as  nossas  arvores  silvestres. 


o  pinheiro  bravo  i 
(BinuM  Pinatíer,  Aii  t>ar«  acutitquama  Bss. :  P.  marítima,  Brot^ 

O  pinheiro  bravo  encontra-se  abundantemente  em  Portu- 
gal» constituindo  ás  vezes  massiços  consideráveis;  pode 
mesmo  dizer-se  que  os  nossos  massiços  florestaes  maiores 
e  mais  homogéneos  são  formados  por  esta  essência.  Vive, 
melhor  ou  peior,  em  quasi  todo  o  paiz,  mas  prepondera  so- 
bretudo na  região  littoral  ao  norte  do  Tejo  e  na  parte  cen- 
tral da  Beira,  onde  encontra  óptimas  condições  de  desen- 
volvimento, e  onde  se  agglomera  em  mais  dilatados  mas- 
siços. 

Clima. — O  pinheiro  bravo  é  uma  arvore  essenciahnente 
do  littoral,  ávida  de  humidade  na  atmosphera,  e  por  isso 
mesmo  a  sua  distribuição  em  Portugal  corresponde  ás  re- 
giões de  menor  seccura.  No  emtanto,  se  as  terras  baixas 
das  proximidades  do  Oceano  lhe  são  muito  propicias,  ainda 
assim  consegue  viver  nas  montanhas,  mesmo  a  altitudes  ji 
consideráveis.  Na  serra  da  Estrella,  como  dissemos,  o  pi- 
nheiro bravo  sobe  bastante  alto,  e  em  Traz-os-Montes,  mais 
longe  do  mar,  encontram-se  alguns  pinhaes,  em  terras  muito 

1  Para  a  determínaçáo  e  caracteres  botânicos  differenciaes  das  espa- 
des estudadas  veja-se  o  nosso  Ethoço  de  uma  flora  lenhosa,  que  eonsti- 
tne  o  ^."^  Tolume  d'este  curso,  e  onde  se  encontram  numerosas  gravu- 
ras de  flores,  íructos,  folhas,  ete. 


309 


eleyadas;  é  certo  que  perdem  ahi  a  importância  que  teem 
na  zona  littoral,  e  a  sua  vegetação  é  muito  menos  vigorosa* 

Solo. — É  uma  essência  silicicola  ou,  melhor,  calcifuga» 
como  vimos.  Nos  terrenos  calcareos  não  vinga,  ou  ãca  en- 
fezado, conforme  a  percentagem  de  cal.  Afora  esta  exigen- 
da  o  pinheiro  bravo  é  uma  arvore  muito  frugal,  e  bem  o 
demonstra  a  pequena  quantidade  das  suas  cinzas,  relativa- 
mente ás  outras  essências:  contenta-se  com  terrenos  muito 
pobres,  até  com  as  areias  marítimas  e  com  os  solos  pedre- 
gosos e  alcantilados.  Vive  em  todas  as  formações  nao  cal- 
careas,  comtanto  que  não  originem  terrenos  muito  compa- 
ctos, nem  pantanosos,  e  que  exista  alguma  humidade  no 
sobsolo,  seja  a  que  profundidade  for. 

Entre  nós  os  pinhaes  bravos  encontram-se,  de  ordinário» 
DOS  peiores  terrenos,  nas  areias  moveis,  nos  gréses,  etc.,  e 
assim  aproveitam  grandes  extensões,  que  não  seriam  fáceis 
de  explorar  com  outra  cultura,  tão  grande  é  a  pobreza  de 
muitos  d'esses  solos. 

Radicação. — Tem  systema  radicular muiío  desenvolvido; 
é  arvore  que  se  prende  á  terra  com  segurança.  Quando  o 
sobsolo  não  é  muKo  húmido,  nem  formado  por  qualquer 
rocha  compacta,  impenetrável  ás  raizes,  a  raiz  mestra  en- 
grossa e  profunda  muito,  e  desenvolvem-se  conjuntamente 
numerosas  raizes  lateraes,  que  se  alargam  a  grandes  dis- 
tancias, originando  novos  eixos  orientados  na  vertical.  Esta 
disposição  particular  das  raízes,  a  profundarem  e  a  esten- 
derem-se  para  os  lados  ao  mesmo  tempo,  toma  o  pinheiro 
Im^vo  apropriadíssimo  para  a  arborisação  das  dunas. 

É  claro  que,  nos  solos  superficiaes,  esse  enraizamento 
modifica-se  e  toma-se  nmito  menos  vigoroso. 

Parte,  crescimerUo  e  duração. — O  pinheiro  bravo  apre- 
senta um  tronco  mais  ou  menos  cónico,  segundo  as  condi- 
ções em  que  tem  vivido,  ramificação  verticillada,  como  a 
de  todos  os  pinheiros,  e  copa  pyramidaL  Nas  arvores  ve- 
lhas a  copa  toma-se  irregular,  e  arredondada  superiormente 


310 

pelo  fraco  desenyolyimento  da  flecha.  N'estas  anrores  Te- 
lhas a  copa  é,  de  ordinário»  pequena  em  relaçSo  ao  fuste, 
mas  essa  relação,  assim  como  a  forma  do  tronco  e  da  ra- 
mificaçSo  variam  bastante,  conforme  o  clima,  as  qualidades 
do  solo,  a  densidade  do  massiço,  etc. 

É  arvore  de  crescimento  rápido,  e  cuja  altura  total,  se- 
gundo os  dados  fornecidos  pelo  sr.  G.  de  Sousa  Pimentel, 
no  seu  livro  os  Pinhões^  está  ordinariamente  comprehen- 
dida  entre  20  a  25  metros  por  0'",5  a  O"",?  de  diâmetro, 
no  pé.  No  emtanto  estas  dimensões  podem  ser  muito  eice- 
didas,  e  o  mesmo  auctor  cita  uma  arvore  no  pinhal  de  Lei- 
ria, que  mede  40  metros  de  altura,  por  i  metro  de  diâme- 
tro na  base,  números  estes  superiores  aos  mais  altos,  que 
tem  sido  determinados  nos  outros  pontos  da  Europa  oode 
vive  o  pinheiro  bravo. 

O  sr.  Pimentel  calcula  a  maturação  d'esta  arvore,  em 
condições  normaes,  dos  80  aos  100  annos;  mas,  entrada 
na  ultima  phase  da  vida  ainda  pode  viver  muito  tempo.  Em 
condições  favoráveis  a  decrepitude  começará  decerto  mais 
tarde.  O  sr.  Pimentel  encontrou  já  cepos  de  pinheiros  cor- 
tados com  250  camadas  lenhosas,  e  ainda  sãos,  isto  é,  qae 
teriam  vivido  mais  tempo  se  os  deixassem. 

Madeira  e  casca. — A  madeira  do  pinheiro  bravo,  ou  do 
pinho,  como  vulgarmente  se  diz  por  abreviatura,  tem  o 
cerne  avermelhado  e  o  albumo  branco;  a  proporção  das 
duas  formações  varia  bastante,  conforme  as  condições  da 
vegetação :  quanto  menos  favoráveis  ellas  forem  menor  a 
quantidade  do  cerne.  Os  crescimentos  annuaes  são  bem  ap- 
parentes,  e  quasi  sanpre  largos,  mas  esta  largura  depende 
muito  das  circumstancias  que  concorreram.  Os  canaes  re- 
siniferos  são  a])undantes;  apparecem  no  corte  transversal 
do  cerne  como  traços,  ou  pontos  mais  escuros,  pela  ag|^o- 
meração  da  resina,  que  se  concretou;  no  corte  das  ultimas 
formações  deixam  escapar  uma  gota  de  terebinthina. 

Esta  madeira  é  muito  resinosa,  dura,  pesada,  pouco  elas- 


31i 

tica.  Conforme  já  dissemos,  e  é  geral  a  todos  os  pinheiros^ 
a  madeira  é  de  tanto  melhor  qualidade  quanto  mais  redu- 
zidos os  crescimentos  annuaes,  porque  então  prepondera 
o  tecido  mais  denso  e  mais  resinoso  do  outono.  Um  exem- 
plar d'esta  madeira  da  coUecçSo  do  Instituto  (secco  ao  ar) 
tem  a  densidade  0,607 ;  mas  os  crescimentos  annuaes  d'este 
exemplar  s3o  bastante  largos,  e  existem  no  paiz  madeiras 
de  pinho  com  densidades  muito  superiores. 

A  casca  do  pinheiro  bravo,  nos  primeiros  annos,  ou  nos 
ramos  novos,  é  delgada  e  esverdinhada;  ao  depois  toma-se 
cinzenta  e  esfolia-se  superficialmente  em  pequenas  placas, 
devido  isso  à  formação  de  uma  lamina  suberosa  muito  pouco 
fonda,  superior  ao  liber  e  ao  parenchyma  cortical.  Mais 
tarde  (aos  8  ou  10  annos),  origina-se  no  tronco  um  rhyti- 
doma  profundo,  vermelho-escuro,  muito  gretado  em  esca- 
mas largas,  persistente;  a  assentada  suberosa,  que  ori- 
gina este  rhytidoma,  invade  um  grande  numero  das  forma-  . 
{5es  liberianas,  e  destroe  a  vitalidade  de  tudo  quanto  fica 
para  o  exterior.  Nos  ramos,  e  no  extremo  do  tronco,  a 
casca  é  sempre  mais  delgada,  e  esfolia-se  em  placas  muito 
menos  grossas. 

Folhagem. — As  folhas  do  pinheiro  bravo,  como  as  de  to- 
dos os  pinheiros,  sã^o  de  duas  naturezas :  as  primeiras  ío- 
Ihas  que  apparecem  no  individuo  muito  novo  são  solitárias, 
rígidas,  aguçadas;  dos  dois  annos  por  diante,  em  logar  d'es- 
tas  folhas,  vem  outras  escamiformes,  seccas,  triangulares, 
agadas,  em  cujas  axillas  se  desenvolvem  as  agulhas  gemi- 
nadas, envolvidas  por  uma  bainha  membranosa.  Estas  agu- 
lhas teem  10  a  20  centímetros  de  comprimento,  e  são  gros- 
sas, rígidas,  carnudas,  verde-retintas,  ás  vezes  um  pouco 
enroladas.  Duram  dois  a  três  annos;  a  arvore  é,  portanto, 
sempre-verde,  como  todas  as  do  mesmo  género.  Apezar  de 
ter  as  folhas  compridas,  o  pinheiro  bravo  tem  a  folhagem 
pouco  apertada;  dá  pequeno  coberto,  isto  é,  assombrea  pouco 
o  terreno  ioferíor. 


312 

Temperamento. — É  arvore  muito  robusta;  não  pode  mar 
em  massiço  apertado  sem  se  resentir;  cresce  então  muito 
em  altura»  mas  sem  engrossar  quasi  nada,  forma  poucas 
folhas,  e  amesquinha-se  a  ponto  de,  em  alguns  casos,  n3o 
resistir.  No  emtanto,  é  arvore  social  e  muito  apropriada  a 
formar  massiços,  quando  os  convenientes  desbastes  lhe  re- 
gularisem  o  espaço  e  a  luz  de  que  precisa. 

Floração  e  fhitíificação.—k  floração  é  monoica;  as  flo- 
res masculinas  dispõem-se  em  amentilbos  ovóides,  amarei- 
lados,  que  se  reúnem  na  base  dos  rebentos  annuaes;  as 
flores  femininas  grupam-se  também  em  amentilbos,  verli- 
cillados  aos  dois  ou  quatro  (raras  vezes  solitários,  ou  em 
maior  numero)  no  cimo  dos  rebentos  annuaes,  inferiormente 
ao  botão  terminal.  A  floração  realisa-se  de  fevereiro  a  março. 

De  ordinário  as  flores  femininas  n'este,  como  nos  outros 
pinheiros,  desenvolvem-se  em  maior  quantidade  nos  reben- 
tos superiores,  e  as  flores  masculinas  nos  rebentos  inferio- 
res. A  pollinisação  dá-se  sem  a  intervenção  dos  insectos;  é 
promovida  pelo  vento  e  muito  facilitada  pelas  duas  peque- 
nas cavidades  lateraes  cheias  de  ar,  que  existem  no  gra- 
nulo do  poUen,  como  dissemos,  tomando-o  mais  leve,  e  fa- 
cultando-lhe  a  subida  até  ás  flores  femininas. 

As  pinhas  espalham  a  semente  passados  dois  annos.  Só 
no  anno  seguinte  ao  da  fecundação  se  completam;  amadu- 
recem no  outono,  e  na  segunda  primavera,  quando  o  calor 
começa  a  augmentar,  abrem,  deixando  cair  as  sementes; 
as  escamas  lenhosas  descerram-se,  curvam-se  para  traz,  as 
sementes  escapam-se,  e  a  pinha,  aberta  e  vazia,  fica  presa 
na  arvore  algum  tempo.  Na  primavera  um  pinheiro  adulto 
apresenta  pinhas  em  todos  estes  estados:  no  cimo  as  que 
foram  fecundadas  ha  pouco,  muito  pequenas  amda;  maus 
abaixo  as  do  anno  anterior,  incompletamente  desenvolvidas 
n'essa  ^oca;  no  verticillo  inferior  a  este,  as  pinhas  de  dois 
annos,  que  começam  a  abrir;  e  d'ahi  para  baixo,  piohas 
mais  antigas,  já  muito  abertas  e  vazias. 


t 


313 

A  pinha  madara  do  pinheiro  bravo  è  sessil^  oa  quasi  ses- 
sil,  oblongo-conica,  agada,  avermelhado-amarellada,  nm 
poaco  lostrosa,  com  10  a  20  centímetros  de  comprimento; 
tem  as  escamas  terminadas  n'mn  escudo  muito  proeminente, 
macronado,  limitado  transyersahnente  por  quilhas  agudas. 
As  sementes  incluídas  n'este  falso  fructo,  duas  na  base  de 
cada  escama  lenhosa,  teem  8  a  10  millimetros  de  comprido, 
sio  ovadas,  deprimidas,  negras  e  lustrosas  n'uma  das  fa- 
ces, baças  e  pardas  na  outra,  com  manchas  negras,  e  teem 
ama  aza  membranosa,  fosca,  manchada,  quatro  vezes  maior 
qae  a  semente,  com  um  dos  bordos  recto  e  o  outro  con- 
Texo.  A  esta  semente  dá-se  vulgarmente  o  nome  de  pe- 
fdsco. 

O  pinheiro  bravo  produz,  na  edade  adulta,  muita  semente, 
e  é  muito  precoce.  As  arvores  isoladas  e  as  das  margens 
dos  massiços,  mais  expostas  á  luz,  já  d3o  semente  aos  8  e 
10  amios.  Esta  primeira  semente  nSo  deve  nunca  escolher-se 
para  sementeira. 

As  sementes  do  pinheiro  bravo,  armadas  com  tio  bom 
apparelho  dísseminador,  voam  a  grande  distancia,  e  podem 
execQtar  a  sementeira  natural^  em  áreas  extensas. 

Genmnação. — O  penisco  conserva  durante  ires  a  quatro 
aiiDOs  o  poder  germinativo,  mas  não  é  prudente  semeal-o 
com  mais  de  dois  annos.  Semeado  na  primavera  nasce  ge- 
ralmente dentro  de  quinze  dias  a  um  mez ;  semeado  no  in- 
▼enio  demora  muito  mais  tempo  na  terra.  As  plantas  no- 
Tas  germinam  com  oito  folhas  cotyledonares,  s3o  muito  ro- 
bustas, e  crescem  bem  a  descoberto,  sem  nenhum  abrigo  ; 
a  sombra  das  outras  arvores  acanha-as  e  amesquinha-as. 
A  parte  subterrânea  dos  pinheiros  muito  novos  desenvol- 


^  Denomína-se  semenUira  natural,  como  veremos  quando  tratarmos 
<U  eoltm^  a  que  se  realisa  pelas  sementes  caídas  das  arvores  de  pó ; 
áii-se  em  contraposição  sementeira  artificial  aquella  em  que  as  semen- 
tes tío  espalhadas  pela  mSo  do  homem. 


314 

ve-se  com  grande  força  nos  primeiros  annos,  principalmente 
nos  terrenos  arenosos  e  seccos;  n'estas  condições  encoo- 
tram-se  pinheiros  que,  aos  dois  annos,  apresentam  uma  raiz 
mestra  de  (P,5,  emquanto  o  caule,  muitas  vezes,  não  ex- 
cede 0",1. 

Productos  e  usos. — Os  pinheiros,  como  sabemos,  teem 
pouca  tendência  a  organisar  botões  lateraes  (apenas  os  for- 
mam na  base  do  botSo  terminal),  e  não  teem  olhos  dormen- 
tes, nem  botões  adventícios;  por  isso  só  podem  ser  ex- 
plorados em  alto  fuste.  Os  productos  doestes  altos  fos- 
tes variam  muito  com  a  edade  em  que  se  executam  os  cor- 
tes. 

A  madeira  do  pinheiro  bravo  não  é  de  primeira  qualir 
dade,  mas  pode  ser  empregada  com  vantagem  em  muitos 
usos.  Serve  bastante  na  construcção  civil  sob  a  forma  de 
barrotes,  taboas,  etc. ;  tem  grande  extracção  para  travessas 
de  caminho  de  ferro,  postes  telegraphicos  e  estacarias  nas 
construcções  hydraulicas;  usam-a  também  na  construcção 
naval,  mas  menos  que  o  pinheiro  manso;  tem,  emfim,  uma 
infinidade  de  empregos  em  pequenas  industrias. 

A  lenha  é  boa,  tanto  melhor  quanto  mais  resinosa^  e  uti- 
lisam-a  muito  no  paíz,  bem  como  a  rama,  para  aquecer  os 
fomos  do  pão,  da  cal,  das  fabricas  de  louça,  etc.  As  pinhas 
são  muito  procuradas  para  fogões.  O  carvão  do  pinheiro 
bravo  não  é  de  boa  qualidade. 

Os  suecos  resinosos,  muito  abundantes,  d'esta  arvore  po- 
dem ser-lhe  extrahidos,  como  se  pratica  no  pinhal  de  Lei- 
ria, por  meio  de  uma  operação  que  se  denomina  gemmo' 
gem,  ou  resinàgem.  A  gemma  é  formada  pela  solução  da  re- 
sina na  essência  de  terebinthina;  d'esta  gemma  extrahem-se 
diversos  productos  industriaes,  como  a  essência  de  tere- 
binthina, o  pez  louro,  diflerentes  óleos,  etc.  O  alcatrão,  o 
pez  e  o  breu  são  obtidos  pela  distillação  secca  da*  acha  do 
pinheiro;  e  da  agua  ruça,  que  sobrenada  aos  alcatrões,  mui- 
tos productos  se  podem  tirar,  como  o  álcool  methylico,  o 


r 


315 

acido  pyrolenhoso,  etc.  A  combustão  incompleta  dos  detri- 
tos resinosos  fornece  o  negro  de  fumo. 

A  casca  pode  empregar-se,  como  substancia  tanninosa, 
para  curtimento  de  pelles,  mas  tem  mmto  menos  valia  que 
a  dos  carvalhos.  As  agulhas  podiam  servir  para  a  exlrac- 
(io  de  uma  13  vegetal,  como  na  Silesia,  ha  já  annos,  se 
pratica  das  folhas  de  outros  pinheiros,  obtendo-se  matérias 
filamentosas  que,  segundo  a  finura  e  resistência,  se  empre- 
gam para  encher  estofos,  ou  para  fiar  e  tecer.    ^ 


o  pinlieiro  manso  oa  pinheiro  negro 
{Pinta  Pinea,  L.) 

Encontra-se  um  ou  outro  pinheiro  manso  disseminado  em 
todo  o  paiz,  mas  no  território  ao  sul  do  Tejo,  sobretudo  na 
beiramar,  é  onde  esta  arvore  existe  em  maior  quantidade 
6  onde  principahnente  se  reúne  em  pequenos  grupos,  ou 
massiços:  nas  margens  do  Sado,  em,  alguns  pontos  do  Ut- 
toral  algarvio,  etc.  No  emtanto  o  pinheiro  manso  não  tem, 
na  região  sul,  a  importância  flca*estal  do  pinheiro  bravo  na 
região  norte. 

Gima. — O  pinheiro  manso  resiste  á  seccura  bastante 
mais  do  que  o  pinheiro  bravo,  e  pede  calor  elevado  e  luz 
intensa;  é  a  resinosa  característica  da  zona  mediterrânea, 
a  cnjas  paizagens  dá  um  cunho  especial.  Por  isso  vegeta 
muito  melhor  nas  nossas  províncias  do  sul  que  nas  do 
norte.  Parece  procurar  sobretudo  as  planícies  e  os  valles, 
e  nas  proximidades  do  mar,  ou  junto  aos  rios,  como  dis- 
semos, é  onde  se  agglomera  em  maiores  massiços  e  onde 
apresenta  os  maiores  desenvolvimentos. 

Sob. — Prefere  os  solos  fundos,  leves,  um  pouco  frescos; 
nas  contenta-se  mesmo  com  os  terrenos  pedregosos,  com- 
tanto  que  apresentem  fendas  por  onde  as  raizes  possam 
introduzir-se,  e  vive  perfeitamente  nas  areias  marítimas. 


316 

Receia  menos  que  o  pinheiro  bravo  os  terrenos  compactos, 
mas  parece  fugir,  com  idêntica  repugnância,  das  terras  cal- 
careas. 

Radicação. — O  systema  radicular  d'esta  arvore  é  pro- 
fundo e  forte;  apresenta  raizes  verticaes  e  horísontaes 
muito  vigorosas;  estas  ultimas  engrossam  ás  vezes  tanto 
como  as  mais  volumosas  pernadas  da  copa,  e  podem  apro- 
veitar-se  depois  para  curvas  de  construcção  naval,  se  estio 
no  mesmo  plano  do  tronco. 

Porte,  crescimento  e  áiiração. — O  pinheiro  manso  é  orna 
grande  arvore,  com  o  tronco  despido  e  alto,  mais  ou  menos 
cylindríco;  a  copa,  muito  larga,  tem  a  forma  característica 
de  uma  umbella;  apresenta  as  ramificações  principaes  muito 
grossas,  sobretudo  quando  a  arvore  cresce  isolada,  e  os 
ramos  lateraes  compridos,  recurvados  na  ponta,  quasi  da 
altura  da  flecha,  circunscrevendo  assim  uma  superficie  su- 
perior plana,  ou  proximamente  plana. 

As  dimensões  do  pinheiro  manso  são,  de  ordinário,  mais 
reduzidas  que  as  do  pinheiro  bravo;  a  sua  altura,  segando 
o  livro  citado  do  sr.  Carlos  de  Sousa  Pimentel,  em  média, 
oscilla  entre  i5  e  20  metros  e  pouco  excede  este  ultimo 
limite;  o  mais  alto  pinheiro  manso  encontrado  por  aquelle 
silvicultor  tinha  25  metros.  A  sua  grossura,  relativamente, 
é  maior  que  a  do  pinheiro  bravo:  muitas  vezes  eguala,oa 
excede,  a  doesta  essência.  Tem  grande  duração. 

Madeira  e  casca. — A  madeira  do  pinheiro  manso  tem 
quasi  a  mesma  cõr  e  a  mesma  estructura  da  do  pinheiro 
bravo;  os  crescimentos  annuaes  são  eguahnente  visíveis, 
e  o  cerne  distincto  do  borne.  No  emtanto  apresenta  menos 
canaes  resiniferos,  e  é  menos  resinosa,  por  onde  se  pode 
distinguir.  Gomo  a  do  pinheiro  bravo,  e  como  a  de  todos 
os  pinheiros,  é  de  tanto  melhor  qualidade  quanto  mais  es- 
treitos os  crescimentos  annuaes;  assim  um  exemplar  d'esta 
madeira  da  collecção  do  Instituto,  com  os  crescimentos 
bastante  largos,  accusou-nos  a  densidade  0,488,  emqoanto 


317 

um  oatro  exemplar,  com  os  anneis  lenhosos  muito  mais 
apertados  subio  a  0,738. 

A  casca,  nos  troncos  adultos,  é  também  um  rhytidoma, 
feBdido,  rugoso,  escamoso,  avermelhado-escuro,  e  cuja  for- 
maçlo  é  semelhante  á  que  tem  no  pinheiro  bravo.  As  cas- 
cas doestes  dois  pinheiros  adultos  distinguem-se  em  ser 
menos  grossa  a  do  pinheiro  manso,  e  fragmentar-se  em 
placas  mais  largas. 

Folhagem. — As  folhas  são  egualmente  de  duas  naturezas: 
moas  seccas,  escamiformes,  e  as  outras  compridas,  estrei- 
tas, acerosas,  verdes,  geminadas  n'uma  bainha  membra- 
nosa fagulhas);  estas  ultimas  são  mais  curtas  que  as  do 
pinheiro  bravo  (teem  8  a  15  centímetros  de  comprimento), 
mas  assombream  mais  o  terreno,  dão  maior  coberto.  São 
persistentes,  como  as  de  todos  os  pinheiros. 

Floração  e  fructificação. — A  floração  do  pinheiro  manso 
realisa-se,  entre  nós,  de  fevereiro  a  março.  Os  amentílhos 
masculinos  são  oblongos,  amarellados,  e  os  femininos  ovói- 
des, esverdinhados ;  uns  e  outros  affectam  situações  idên- 
ticas ás  que  teem  no  pinheiro  bravo,  e  a  poUinisação  dá-se 
do  mesmo  modo. 

HA  evolução  das  sementes  é  inais  demorada;  as  pinhas 
só  abrem  passados  três  annos. 

A  pinha  madura  é  grande^  ovoide-obtusa  ou  quasi  glo- 
bosa,  sessil  ou  quasi  sessil,  avermelhado-escura  ou  ama- 
reUada,  lustrosa,  virada  para  baixo,  ou  sub-horisontal;  tem 
8  a  10  centímetros  de  comprido.  Estas  pinhas  umas  vezes 
s3o  solitárias,  outras  vezes  geminadas  ou  temadas.  As  es- 
camas são  lenhosas,  persistentes,  grandes,  e  teem  um  es- 
cudo rhomboidal,  levemente  pyramidal,  com  5  a  6  arestas 
radiantes  e  no  centro  uma  pequena  saliência  obtusa. 

Cada  escama  supporta  na  base  duas  sementes  grandes,  que 
se  denominam  pinhões  (teem  16  a  20  millimetros  de  compri- 
mento) ;  são  obovadas,  comprimidas,  arredondadas  nas  ex- 
tremidades, com  uma  aza  membranosa  muito  curta  e  muito 


318 

cadaca;  o  tegumento  d'estas  sementes  umas  vezes  é  duro 
e  lenhoso  ^inAdes  durazios),  outras  vezes  ténue  e  fragS 
(pinhões  moUares) ,  e  apresenta-se  coberto  de  efflorescencia 
pulverulenta  negro-violacea,  muito  caduca,  ficando,  ao  de* 
pois  d'ella  ter  caido,  castanho-amarellado;  dentro  existe 
uma  amêndoa  comestível  amylaceo-oleosa. 

O  pinhia  dissemína-se  a  muito  menor  distancia  que  o  pe- 
nisco,  por  ser  mais  pesado  e  não  ter  apparelho  de'  disse- 
minação. O  pinheiro  manso  é  menos  precoce  na  fructifica- 
çSo  que  o  pinheiro  bravo. 

Germinação.— O  pinhão  rança  com  facilidade,  e  perde 
mais  cedo  o  poder  germinativo  que  o  penisco;  é  prudente 
não  semear  o  que  tiver  mais  de  um  anno.  O  pinheiro  manso 
germina  com  10  a  12  folhas  cotyledonares  muito  glaucas, 
planas,  ponteagudas,  dentadajs  nos  bordos ;  durante  muitos 
annos  ficam  apparecendo  algumas  folhas  semelhantes,  mas 
mais  pequenas,  de  envolta  com  as  folhas  geminadas.  A 
planta  nova  é  maior  e  mais  grossa  que  a  do  pinheiro 
bravo. 

O  pinheiro  manso  é  de  temperamento  robusto  e  muito 
ávido  de  luz;  não  precisa,  mesmo  em  novo,  a  protecção 
das  arvores  superiores,  antes,  pelo  contrario,  esta  sombra 
lhe  é  nociva. 

Productos  e  usos. — Esta  arvore,  como  todas  as  suas  con- 
géneres, só  em  alto  fuste  pode  ser  explorada.  Os  seus  pro- 
ductos principaes  são  as  madeiras  e  as  sementes. 

A  madeira  do  pinho  manso  é  muito  mais  estimada  que 
a  do  pinho  bravo;  empregam-a  bastante  em  construeçSo 
naval,  dá  peças  direitas,  e  boas  curvas  tiradas  das  perna* 
das  prmcipaes  e  das  raizes  mais  grossas;  é  usada  em  oon- 
strucção  civil,  em  grandes  peças  e  em  tabuame,  e  também 
em  trabalhos  hydraulicos,  no  fabrico  de  rodas,  etc. 

A  l^nha  doesta  essência  tem  menos  valor  que  a  do  pi- 
nheiro bravo,  por  ser  menos  resinosa,  e  a  rama  é  muito 
menos  procurada  para  aquecimento  dos  fomos,  por  swem 


3i9 

as  agalhas  mais  curtas  e  mais  densas^  e  nSo  levantarem 
chamma  t3o  alta. 

A  semente  é  comestível  e  agradável;  come-se  em  natu- 
reza ou  em  diversas  conservas  doces.  É  muito  oleosa^  e 
d'ella  se  pode  extrahir  um  óleo  doírado>  muito  siccativo, 
com  cheiro  e  sabor  resinoso,  próprio  á  pintura  e  preparo 
de  vernizes. 

A  casca  pode  empregar-se  para  cortumes.  Os  suecos  re- 
sinosos não  são  utilisados,  por  serem  menos  abundantes 
que  no  pinheiro  bravo;  apenas  se  empregam  um  pouco  para 
a  preparação  do  breu. 


Os  sobreiros 
{Quereuê  iuber,  L.,  e  Quercus  occidentalis,  Gay.)^ 

• 

Sob  o  nome  vulgar  de  sobreiro  conftmdem-se  em  Portu- 
gal duas  espécies  botânicas  muito  próximas,  notáveis  am- 
bas pelo  espesso  tegumento  suberoso  dos  troncos,  egual- 
mente  utilisavel  na  industria,  o  de  uma  e  outra,  com  a  de- 
nominação commum  de  cortiça.  Das  duas  espécies,  o  Quer- 
cus titberè,  incomparavelmente,  a  mais  vulgar;  encontra-se 
em  todo  o  paiz,  sobretudo  na  região  sul  do  Tejo,  e  ahi  com 
maior  particularidade  ainda  noBabco  Alemtejo,  constituindo 
só,  ou  acompanhado  pela  azinheira,  extensos  arvoredos  co- 
nhecidos com  o  nome  de  montados,  e  que  são  uma  das 
maiores  riquezas  ruraes  d'aquellas  provbicias;  na  região 
ao  norte  do  Tejo  esta  essência  encontra-se  também,  por 
qoasi  todo  o  paiz,  até  ao  alto  Traz-os-Montes,  embora  com 
menos  preponderância,  isolada  ou  disseminada  em  peque- 
DOS  grupos.  O  outro  sobreh*o,  o  Quercus  occidentalis,  parece 
ser  muito  menos  frequente  e  conhecido;  acreditamos  que 

^  Aeereii  da  existência  doestas  duas  espécies  em  Portugal  veja-se  o 
qw  dizemos  no  %•  TOlume  doeste  curso  (Eiboço  de  uma  flora  lenhosa). 


320 

elle  se  encontrará  disseminado  nos  montados  do  sul,  e  mais 
ou  menos  em  alguns  pontos  da  região  do  centro.  Conhece- 
mos exemplares  d'este  sobreiro,  bem  authenticos,  das  pro- 
xinâdades  de  S.  Thiago  do  Cacem. 

Clima. — Os  sobreiros  são  arvores  dos  paizes  de  tempe- 
ratura elevada ;  são  próprios  da  zona  mediterrânea.  M- 
gem,  conjuntamente,  elevada  temperatura  e  forte  intensi- 
dade luminosa.  Yão  bem  nas  planícies,  e  nas  montanhas 
até  uma  certa  altura.  O  Quercus  occidenialis  parece  subir 
mais  ao  norte. 

Solo. — Os  terrenos  mais  convenientes  a  estas  arvores  s5o 
os  feldspatbicos  e  schistosós;  vivem  nos  solos  calcareos, 
mas  não  adquirem  n'elles  tamanbo  desenvolvimento.  As  ter- 
ras onde  melhor  prosperam  são  as  profundas  e  pouco  aper- 
tadas, mas  contentam-se  com  as  superficiaes,  e  até  comas 
areias  movediças  das  dunas,  onde  muitas  vezes  se  encon- 
tram. Os  terrenos  muito  compactos,  ou  húmidos,  são  dos 
mais  desfavoráveis  a  estas  essências. 

Radicação. — O  systema  radicular  dos  sobreiros  é  sempre 
vigoroso;  seja  qual  for  a  espessura  do  terreno  a  arvore  fica 
solidamente  presa.  Nos  terrenos  fundos  a  raiz  mestra  alon- 
ga-se  muito  e  as  raizes  lateraes  bracejam  bastante;  nos  so- 
los pedregosos  e  superficiaes  a  raiz  mestra  desenvolve-se 
pouco,  mas  as  ramificações  lateraes  crescem  muito  para  os 
lados.       I 

Os  sobreiros  rebentam  bem  de  touca  e  até  edade  avan- 
çada, todavia  nunca  se  exploram  em  talhadio,  porque  a  cor- 
tiça e  os  fructos  são  os  principaes  productos  doestas  arvo- 
res, e  uma  e  outra  producção  exigem  o  tratamento  em  alto 
fíiste. 

Porte,  crescimento  edurofão. — O  sobreiro  (Querctis  svber) 
tem  o  tronco  mais  ou  menos  cylindrico,  bastante  grosso  em 
relação  á  altura,  com  o  tegumento  fortemente  suberoso; 
este  tronco  divide-se  em  arrancas  vigorosas  que  supportam 
a  copa  a  mpla,  com  a  ramificação  pouco  apertada. 


321 

A  copa  é  arredondada,  mais  ou  menos  irregular;  nos 
terrenos  húmidos  os  ramos  tomam,  ás  yezes,  a  forma  pen- 
dente *. 

O  crescimento  do  sobreiro  não  é  muito  demorado,  prin- 
cipalmente até  certa  edade;  ao  sobreiro  novo  chamam  na 
região  d'AIemtejo  chaparro,  e  ao  sobreiro  velho,  de  gran- 
des dimensões,  mudam-]he  o  sexo  e  denominam-o  sobreira. 

Existem  em  Portugal  sobreiras  colossaes,  sobretudo  pela 
grossura,  que  a  altura  poucas  vezes  excede  18  a  20  me- 
tros; é  frequente  encontrar  algumas  com  6  metros  de  cir- 
comferencia,  e  em  mais  raros  casos  com  8  e  9  metros.  O 
sr.  Carlos  de  Sousa  Pimentel,  n'um  artigo  publicado  no 
Jornal  OffUial  de  Agricultura,  refere-se  a  uma  sobreira, 
abatida  no  concelho  de  Palmella,  com  12  metros  de  circum- 
ferencia. 

O  sobreiro  tem  grande  duraçSo;  vive  um,  dois  séculos  e 
mais. 

Madeira  e  casca. — A  madeira  do  sobreiro  (Quercus  su- 
ler)  tem  o  cerne  acastanhado,  mais  ou  menos  escuro,  ás 
vezes  puxando  a  avermelhado,  mal  delimitado  do  alburno. 
Os  creschnentos  annuaes,  sem  serem  muito  apparentes, 
léem-se  perfeitamente;  os  vasos  não  desenham,  é  certo, 
mna  zona  porosa  bem  nitida,  mas  reunem-se  em  maior  nu- 
mero, e  teem  mais  largo  calibre,  no  bordo  interno  de  cada 
formação  annual.  Os  raios  medullares  são  muito  deseguaes, 
numerosos,  largos  e  altos.  Esta  madeira  é  bastante  compa- 
cta. Um  exemplar  (secco  ao  ar)  da  collecção  do  Instituto» 

1  Durante  a  impressão  d'este  nosso  trabalho  tÍTemos  conhecimento 
de  um  curioso  artigo,  publicado  pelo  sr.  visconde  de  Coruche,  na  Agri- 
«Aura  ConUmpoiranea  (n.<»  6,  de  16  de  julho),  a  este  propósito.  Esse 
aitigo  diz  que  os  fruetos  do  sobreiro  de  ramos  pendentes  reproduziram 
esta  mesma  forma,  pela  sementeira  n'outro  ch2o,  o  que  parece  indicar, 
se  o  facto  se  Yerifica,  se  existe  a  fixidez  hereditária  bem  provada,  que 
ò  sobreiro  de  ramos  pendentes  deve  ser  tomado  como  uma  variedade, 
e  Qâo  eomo  uma  forma  do  Qturau  euber. 

G.  8.  21 


322 

proveniente  da  região  norte,  tem  a  densidade  03iO,  mas 
encontra-se  no  paiz  sobro  mais  denso. 

Sob  o  tegumento  cortical  dos  sobreiros,  excinsiyamente 
suberoso,  o  parenchyma  cortícjal  e  o  liber  persistem  víyos 
até  á  morte  da  arvore»  mas  pouco  desenvolvidos,  porqae 
toda  a  actividade  geradora  da  região  cortical  se  concentra 
na  formação  mais  externa.  A  cortiça,  como  dissemos  já,  é 
originada  sob  as  cellolas  epidérmicas,  pelas  primeiras  ca- 
madas do  tecido  subjacente,  e  engrossa  constantemente  pela 
bipartição  das  cellulas  geradoras ;  das  novas  cellulas  a  mais 
externa  morre  e  se  suberiíica,  e  o  conjunto  das  mais  inter- 
nas, vivas  e  capazes  de  novas  bipartições,  constitue  a  ai- 
sentada  geratriz,  ou  mãe  da  cortiça.  A  cortiça  só  appareee 
nos  eixos  aefeos,  e  quando  já  teem  um  ou  dois  annos. 

Ao  descortiçar  as  arvores  ha  sempre  todo  o  cuidado  em 
não  offender  a  assentada  geratriz;  a  superfície  d'esta  ca- 
mada posta  a  nu  sécca,  tomando  primeiro  a  cõr  vermelho- 
amarellada  e  depois  vermelho-escura,  muito  característica; 
é  sob  a  protecção  da  parte  morta  que  se  regenera  inferior- 
mente o  novo  invólucro  suberoso,  à  custa  da  porção  viva 
do  tecido  gerador. 

A  cortiça  pode  extrahir-se  em  períodos  successivos,  muito 
numerosos,  á  mesma  arvore,  e  outras  tantas  vezes  se  re- 
genera. A  cortiça  da  primeira  tirada  é  sempre  muito  infe- 
rior, pouco  homogénea,  cheia  de  grandes  fendas,  e  déno- 
mina-se  cortiça  virgem,  ou  cortiça  mocha. 

Folhagem.-^Os  sobreiros  são  arvores  sempre- verdes.  As 
folhas  do  Quercus  suber  persistem,  em  condições  normaes, 
dois  a  três* annos;  todavia  na  região  d'Alemtejo  caem  moi- 
tas vezes  com  pouco  mais  de  um  anno,  sob  a  influencia  da 
grande  insolação  e  seccura.  As  folhas  do  Quercus  occide»- 
talis  duram  apenas  um  anno,  mesmo  em  condições  nor- 
maes, mas  despegam-se  depois  de  já  desenvolvidas  as  fo- 
lhas novas,  e  por  isso  a  arvore  encontra-se  vestida  sempre. 
Em  ambos  os  sobreiros  as  folhas  são  coriaceas,  ovado-oblon-! 


323 

gas,  qaasi  sempre  dentadas,  com  os  bentes  espinescentes» 
glabras  e  mn  pouco  lustrosas  na  pagina  superior»  brancas 
e  cotanilhosas  na  pagina  inferior.  A  folhagem  de  uma  e  ou- 
tra doestas  arvores  dá  pequeno  coberto: 

Tmpercmento. — N5o  existem  em  Portugal  observaçOes 
adtoraes  que  individualisem  o  temperamento  dos  dois  so- 
breiros, confundidos  sempre  ambos.  Os  auctores  francezes 
apontam,  a  este  propósito,  differenças  pronunciadas  entre 
um  e  outro;  segundo  elles»  o  Quer  eus  occidentalis  é  mais 
próprio  dos  climas  temperados,  e  o  Querem  suber  dos  cli- 
mas quentes ;  o  primeiro  é  de  temperamento  menos  robusto 
qae  o  segundo,  e  soffre  melhor  a  sombra  das  outras  arvo- 
res, principalmente  em  novo,  desenvolvendo-se  bem  em 
massiço  com  o  pinheiro  bravo. 

Floração  e  frucííficação. — ^A  floração  dos  sobreiros,  como 
a  de  todos  os  carvalhos  (género  Querem) j  é  monoiça;  as 
flores  masculinas  dispõem-se  em  amentilhos  interrompidos, 
pendentes,  'e  as  flores  femininas  são  solitárias  e  cercadas  de 
mn  invólucro  de  bracteas  estéreis ;  estas  inflorescencias  fe- 
imninas  reunem-se  ás  vezes,  pouco  numerosas,  sobre  um 
eiio  curto.  Nos  dois  sobreiros  as  flores  femininas  estão  in- 
seridas no  rebento  annual. 

O  Querats  suber  entra  muito  novo  em  fructificaçSo;  dos 
10  aos  15  annos  já  dá  algum  fructo,  mas  só  mais  tarde» 
dos  25  aos  30  annos,  tem  fructificaçSo  abundante.  Floresce 
de  março  a  abril.  O  Quercus  oecidentalis  floresce  um  pouco 
mais  tarde. 

O  Quercus  suber  tem  maturação  annual;  os  seus  fructos 
maduros  encontram-se  implantados  no  rebento  vestido  de  fo- 
lhas, milito  embora  apparentem  ás  vezes  de  biennaes,  quando 
a  arvore  forma  dois  rebentos  n'um  só  anno.  Esta  essência 
apresenta,  de  ordinário,  três  camadas  de  fructos:  a  pri- 
meira cae  em  setembro,  e  chamam-lhe  no  Alemtejo  bastão; 
a  segunda  cae  em  novembro,  e  dão-lhe  o  nome  de  lande, 
propriamente,  ou  do  tempo;  a  terceu*a  vem  em  dezembro  e 

2i* 


324 

janeiro,  e  chamam-lfie  landisco,  oa  hmde  serôdia.  A  qoan- 
tidade  da  lande  está  em  razSo  inversa  com  a  do  bastão;  o 
landisco  é  muito  contingente,  por  causa  dos  frios  e  geadas 
do  Gm  do  anno. 

O  Quercus  occidentalis  tem  maturação  biennal;  os  finctos 
desenvolvem-se  muito  pouco  no  primeiro  anno>  e  só  no  se- 
gundo se  completam  e  amadurecem;  encontram-se  entio 
implantados  no  raminho  sem  folhas  do  anno  anterior. 

O  fructo  dos  sobreiros  (landej  é  um  achenio ;  o  pericarpo 
^ecco,  delgado,  coriaceo,  envolve  uma  semente  volumosa. 
Geralmente  a  lande  apresenta-se  solitária,  ou  geminada,  ia- 
«erída  n'um  pedúnculo  axillar,  curto,  grosso,  esbranquiça- 
do, cotanilhoso;  quasi  sempre  é  grande,  ovóide  ou  ellipsú- 
de,  terminada  n'uma  pequena  saliência  central,  e  está  meio 
incluída  n'uma  cúpula  lenhosa.  No  Quercus  suber  a  capda 
tem  as  escamas  salientes,  maiores  a  partir  da  base,  e  ter- 
minadas em  appendices  moUes,  frágeis,  compridos,  levan- 
tados ou  um  pouco  abertos- para  os  lados.  No  Quercus  oc- 
cidentalis as  escamas  da  cúpula  são  pequenas  e  encostadas 
umas  contra  as  outras. 

Estes  fructos  s3o  pesados,  e  como  os  de  todos  os  carva- 
lhos pouco  se  afastam  na  queda  da  arvore  que  os  prodn- 
ziu. 

Germinação.— A  lande,  calda  naturalmente  no  outono, 
germina  de  ordinário  no  mesmo  outono;  semeada  na  pri- 
mavera nasce  passadas  quatro  ou  cinco  semanas.  As  plan- 
tas novas  do  Quercus  suber  são  robustas  e  supportam  bem, 
sem  abrigo,  a  acção  do  sol  e  do  ar;  já  dissemos  que  esta 
arvore  precisa  de  luz  directa  e  não  sofifre  a  sombra  das  ou- 
tras arvores.  O  Quercus  occideníalis,  pelo  menos  nos  climas 
menos  quentes  em  que  tem  sido  observado  no  estrangeiro, 
tem  outras  exigências,  como  vimos. 

Productos  e  usos. — Os  sobreiros  são  arvores  de  alto  foste 
em  Portugal,  porque  os  seus  productos  principaes  são  a  cor- 
tiça e  os  fructos;  n'uma  situação  económica  em  que  a  en- 


•  I 


325 

_  » 

trecasca  taiminosa  fosse  o  producto  principal,  conyiría  aii- 
tes  exploral-os  em  talhadio. 

O  rendimento  d'éstas  arvores  é  importantíssimo  no  paiz« 

A  cortíça,  nos  últimos  tempos,  tem  adquirido  grande  va- 
lor. É  tirada  em  períodos  de  5  a  iO  annos.  O  valor  depende 
moito  das  suas  qualidades— finura,  elasticidade,  homoge- 
neidade, etc. ;  em  regra,  é  tanto  melhor  quanto  menor  o 
crescimento,  isto  é,  quanto  menos  rico  o  terreno. 

A  cortiça  dos  dois  sobreiros  passa  por  ser  idêntica.  Nie 
conhecemos  nenhuns  estudos,  nem  mesmo  no  estrangeiro, 
acerca  da  sua  formac3o  n'uma  e  outra  essência,  todavia  pa* 
rece-nos  isso  bem  digno  de  mteresse.  Evidentemente  os  dois 
sobreiros  teem  uma  organisação  e  um  modo  de  vida  muito 
differentes :  a  persistência  das  folhas  dois  annos  ou  um  anuo 
só,  a  maturação  dos  fructos  annual  ou  biennal,  deve  influir 
em  todas  as  formações  da  arvore.  Admittida  a  egualdade 
da  oH-tiça  das  duas  arvores  parece-nos  muito  útil  verificar 
qoal  das  duas  forma  annuahnente  maior  camada  suberosa. 

As  landes  s3o  adstrmgentes,  mas  empregam-se  muito  na 
cera  dos  porcos.  Em  landes  frescas,  nSo  descascadas,  pro- 
dimdas  no  Ribatejo,  verificámos  a  seguinte  composição,  pela 
mtjse  chimica,  no  laboratório  do  Instituto: 

Hmnidade 38,50 

Cinzas 0,75 

Lenhoso  bruto 5,56 

Matérias  gordas 2,07 

Matérias  azotadas • 3,10 

Extractivo  ternário  (análogos  do  amido, 

glucose,  tannino,  etc.) 50,02 

100,00 

A  madeira  do  sobreiro  nSo  é  muito  estimada;  tem  muito 
peso,  apodrece  facilmente  exposta  ás  alternativas  de  seo 
cora  e  humidade,  é  muito  atreita  a  gretar  e  a  contorcer-se. 


326 

a  empenar.  Empregam-a  bastante  para  o  fabrico  de  peças 
qae  teem  de  soffrer  grandes  attritos,  roldanas,  cavflhas,  pe- 
ças de  macbinas,  etc. ;  usam-a  miúto  na  constnicçSo  de  ín- 
stromentos  de  lavoura.  Para  construcção  naval  tem  grandes 
defeitos,  mas  já  foi  empregada  em  larga  escala. 

O  sobro  dá  lenbas  de  moito  boa  qaalidade,  e  carvão  tido 
em  grande  apreço. 

A  parte  viva  da  casca,  ou  entrecasca,  é  muito  rica  em 
tannino  e  óptima  para  curtumes ;  segundo  os  dados  forn^ 
eidos  pelo  sr.  Matbieu,  na  sua  Fhre  Forestière,  a  quanti- 
dade de  tannino  d'esta  entrecasca* está,  em  média,  para  o 
tannino  da  casca  dó  roble  como  1,62:1.  No  emtanto  esta 
exploração  é  relativamente  restricta  entre  nós,  porque  6 
preciso  sacrificar  a  arvore  para  Ibe  extrahir  a  entrecasca, 
6  não  ha  n*isso  vantagem  nenhuma  emquanto  ella  pode  pro- 
duzir cortiça  e  fructos.  Em  casos  normaes  a  entrecasca  só 
86  aproveita  nas  sobreiras  abatidas  por  decrepitude. 


A  azinheira 
{Quercus  lUx,  L.,  Q.  rotundifdia,  Lam.  e  Q.  BaUota,  Desf.) 

A  azinheira  encontra-se  desde  o  Algarve  até  Traz-os-Mon- 
tes,  em  quasi  todo  o  paiz,  mas  é  na  região  sul,  sobretudo 
no  Alto  Alemtejo,  onde  forma  arvoredos  mais  extensos,  só 
ou  em  companhia  do  sobreiro;  nas  províncias  do  norte 
existe  disseminada  em  pequenos  grupos.  Na  região  sul  a 
azinheira  e  o  sobreiro  são  as  arvores  mais  importantes,  e 
que  especialmente  predominam  no  revestimento  florestal 

Clima. — A  azinheira  pede  temperatura  elevada;  resiste 
bem  aos  maiores  ardores  do  sol,  mesmo  nas  provindas  mais 
quentes  e  mais  seccas.  É  essência  peculiar  á  zona  medi- 
terrânea, de  cujo  clima  è  decerto  um  dos  genuínos  repre- 
sentantes. Nas  planícies  e  outeiros  pouco  elevados  é  onde 
Tegeta  com  mais  robustez  e  viço. 


327 

Solo. — É  pouco  exigente  nas  condiçSes  do  terreno;  pre- 
fere os  solos  leves  e  soltos,  quer  sejam  siliciosos  ou  calca- 
reos,  mas  contenta-se  até  com  os  mais  áridos.  É  claro,  no 
emtanto^  que  nas  terras  muito  pobres  fica  sempre  de  porte 
mais  acanhado.  Nos  terrenos  muito  húmidos  yegeta  mal,  e 
nos  encharcadiços  nSo  pode  viver. 

Badicaçõo. — O  systema  radicular  da  azinheira  é  forte  e 
desenvolvido.  Tem  raiz  mestra  c(Hnpnda  e  grossa,  e  mui- 
tas raizes  lateraes.  A  fundura  do  solo  modifica  todavia  bas- 
tante a  forma  da  radicação;  nas  terras  superficiaes  a  raiz 
mestra  pouco  pode  desenvolver-se  e  os  braços  lateraes  to- 
mam grande  comprimento. 

Esta  essência  rebenta  bem  de  touca,  com  muito  vigor, 
até  edade  avançada,  e  também  dá  rebentões  de  raiz. 

Porte,  crescimento  e  duração. — A  azinheira  é  uma  arvore 
de  razoável  altura  (raras  vezes  excede  18  a  20  metros), 
com  o  tronco  direito  ou  levemente  contorcido,  quasi  sem- 
pre ramificado  a  pequena  elevação;  tem  arrancas  vigorosas 
e  copa  arredondada.  No  emtanto  este  porte  é  muito  modi- 
ficado nos  solos  fracos  e  nos  climas  pouco  propícios,  onde 
è  vulgar  encontrar  a  azinheira  constituindo  moitas  arbus- 
tivas ou  arborescentes. 

A  azinheira  tem  crescimento  lento,  e  pode  chegar,  em 
condiçOes  favoráveis,  a  grande  duração;  2  séculos,  e  mais. 

Madeira  e  casca.--- k  madeira  d'esta  arvore  é  muito  fá- 
cil de  dififerençar  das  madeiras  dos  outros  carvalhos  (gé- 
nero Quercus),  porque  tem  os  crescimentos  annuaes  muito 
pouco  distínctos,  ou  mesmo  confundidos  de  todo;  este  ca- 
racter sõ  pertence  também  ao  lenho  do  carrasqueiro,  que 
de  ordinário  se  distingue  facilmente  da  azinheira  pelas 
maiores  dimensões  d'esta  ultima.  Os  raios  medullares  na 
madeira  do  azinho  são  muito  grossos,  muito  numerosos,  e 
muito  deseguaes.  Existe  cerne  e  albumo,  mas  esbatidos 
xm  para  o  outro,  e  não  delimitados  nitidamente;  o  cerne  é 
avermelhado,  puxando  a  cõr  de  castanha.  Esta  madeu*a  é 


328 

duríssima,  muito  compacta  e  homogénea ;  dois  exemplares 
seccos  ao  ar,  da  coUecção  do  Instituto,  deram-nos  as  den- 
sidades 0,863  e  0,922. 

A  casca  da  azinheira  adulta  é  um  rhytidoma  escuro,  ru- 
goso,  com  muitas  fendas  longitudínaes  estreitas  e  pouco 
fundas.  Os  rebentos  e  os  raminhos  são  cotanilbosos,  mais 
ou  menos  esbranquiçados. 

Folhagem. — As  folhas  da  azinheira  são  muito  polymor- 
phas;  não  só  variam  bastante  de  arvore  para  arvore,  como 
variam  na  mesma  arvore  com  a  edade,  e  até,  muitas  vezes, 
simultaneamente,  de  uns  ramos  para  outros.  Teem  o  con- 
torno elUptico,  ovado  ou  orbicular  (Q.  rtmmdifolia,  Lam.^ ; 
são  ponteagudas  ou  obtusas,  planas  ou  onduladas  nas  mar- 
gens, inteiras  (principahnente  nas  arvores  de  mais  edade), 
ou  denlado-espiohosas  (sobretudo  nas  arvores  e  ramos  no- 
vos). São  coriaceas;  na  pagina  superior  verdes,  glabras  e 
mais  ou  menos  lustrosas,  e  na  pagina  inferior  esbranquiça- 
das, cotanilhosas.  As  suas  dimensões  variam  egualmente 
muito. 

A  azinheira  da  bolota  doce  (Q.  Bdllota,  Desf.J  tem  as 
folhas  ordinariamente  mais  compridas,  mais  inteiras,  e  mais 
esbranquiçadas  na  pagina  inferior. 

A  azinheira  é  uma  arvore  sempre-verde ;  em  condições 
normaes  as  folhas  persistem  dois  annos,  e  caem  no  prin- 
cipio do  terceiro  anuo.  A  folhagem  é  bastante  espessa  e 
produz  coberto  intenso. 

Floração  e  fructificação. — As  flores  d'esta  arvore  affectam 
as  disposições  que  teem  em  todos  os  carvalhos.  A  floração 
realisa-se  em  iGUis  de  março;  é  um  pouco  mais  tardia,  na 
mesma  locaUdade,  que  a  do  sobreiro. 

A  azinheira  entra  muito  nova  em  fructo,  e  produz  em 
abundância  até  edade  avançada;  aos  8  ou  10  annos  já  dá 
alguns  fructos,  mas  só  aos  20  ou  25  annos  fnictifica  regular- 
mente. 

Os  fructos  (bolotas)  teem  maturação  annual;  amadurecem 


r 


329 


m  setembro  e  outubro  do  mesmo  amio  em  que  se  deu 
a  floração.  Encoutram-se  solitários  ou  geminados,  sesseis 
0a  inseridos  sobre  pedúnculos  muito  curtos  e  grossos,  par- 
do-cotanilbosos;  estão  collocados,  é  claro,  no  rebento  ves- 
tido de  folhas.  A  forma  e  as  dimensões  d'estes  fructos  ya- 
ríam  muito:  são  mais  ou  menos  oblongo-cylindricos,  mais 
OQ  menos  globosos,  terminados  sempre  n'uma  saliência 
forte,  cylindrica,  glabra:  umas  vezes  s3o  muito  maiores  do 
qoe  a  cúpula,  longamente  salientes,  outras  vezes  estão  n'ella 
inclnidos  até  ao  meio,  ou  até  mais  de  meio.  A  cúpula  tam* 
bem  apresenta  formas  diversas;  é  pardo-cotanilhosa,  com 
as  escamas  pequenas,  triangulares,  planas  ou  um  pouco 
granolosas,  estreitamente  apertadas  umas  contra  as  outras. 

Os  fructos  uns  são  amargos,  adstringentes  (Q-  H^f  ^-J» 
ODtros  são  doces,  comestíveis,  e  de  ordinário  maiores  (Q- 
BaUotaj  Desf.^.  Segundo  uma  analyse,  que  fizemos,  d'uns 
e  outros  d'estes  fructos,  no  laboratório  do  Instituto,  nas 
bolotas  maduras,  quer  doces  ou  amargas,  o  tannino  existe 
em  muito  pequena  quantidade ;  o  que  se  encontra  é  o  acido 
galbico  e  a  glucose,  em  quantidades  inversas  nos  dois  fru- 
ctos; é  o  excesso  de  acido  galbico  que  dá  a  adstringência 
das  bolotas  amargas.  Na  bolota  doce  encontrámos  1 ,2  ^fo 
de  glucose  e  0,73  de  acido  galbico  (na  substancia  secca), 
e  na  bolota  amarga  0,75  de  glucose  e  1,55  de  acido  galbico- 
Ambos  estes  fructos  eram  procedentes  do  Alemtejo. 

Esta  variedade,  a  azinbeira  da  bolota  doce,  é  considerada 
por  alguns  auctores  como  espécie  distincta  e  própria  aos 
{KHitos  de  temperatma  mais  elevada.  N3o  acceitamos  este 
modo  de  vér,  porque  as  differen^s  entre  as  duas  arvores 
sio  baseadas  nas  folbas,  caracter  este  de  muito  pequena 
importância  em  arvores  tão  polymorpbas^  ou  na  doçura  e 
adstringência  dos  fructos,  caracter  a  que  também  não  liga* 
mos  grande  valor,  mas  que  ainda  que  o  tivesse,  apresenta 
lòrmas  açcentuadamente  intermédias.  Tivemos  occasião  de 
analysar,  no  Instituto,  umas  bolotas,  vindas  do  Alemtejo, 


rr 


330 


CQja  composição  é  intermediaria  aos  dois  typos  referidos 
acima:  tinham  1,0287o  de  glucose  e  1>016  de  acido  ga- 
Ihico.  De  resto  todos  os  práticos  sabem  isto,  e  o  paladar 
bem  o  demonstra:  entre  as  bolotas  muito  doces  e  as  muito 
amargas  da  azinheira  encontram-se  passagens  successiVas 
e  gradaaes. 

Entre  nós  a  azinheira  da  bolota  doce  encontra-se  mis- 
turada abundantemente  com  a  da  bolota  amarga  (Q.  Bex 
typicq;,  nas  províncias  do  sul,  onde  é  bastante  mais  esti- 
mada do  que  esta  ultima. 

Germinação,— Csdási  naturalmente  no  outono,  a  bolota  ger- 
mina n'essa  mesma  estação ;  semeada  na  primavera  nasce 
em  4  ou  5  semanas.  A  bolota,  como  a  lande,  como  os  fra- 
ctos  de  todos  os  carvalhos,  n3o  se  conserva  para  sementeira 
além  da  primavera  próxima  á  queda. 

A  azinheira  é  uma  arvore  robusta  que  pede  logo  desde 
nova  a  insolação  directa ;  a  sombra  das  arvores  superiores 
não  só  lhe  é  desnecessária,  mas  até  desvantajosa. 

Productos  e  mos. — Um  dos  principaes  productos  da  azi- 
nheira é  o  fructo;  emprega-se  um  pouco  na  alimentação 
do  homem  e  muitíssimo  na  engorda  dos  porcos.  A  bolota 
é  mais  nutritiva  que-  a  lande,  e  a  bolota  doce  mais  nutritiva 
que  a  amarga.  A  diflerença  alimentícia  d'estas  duas  ultimas 
não  provem  só  das  quantidades  variáveis  de  assucar,  como 
se  pode  vér  das  seguintes  analyses,  que  fizemos  no  Intituto: 


33i 

B«lot«  «iiArga  Bolou  doM 

(Q.IÍe9C.)  (Q,Ballúttt} 

Ehuniâade 36,000 36,500 

Canzas 0,992 1,100 

Lenhoso 5,760 4,210 

Matérias  gordas 3,840 6,400 

Matérias  azotadas. . . .    4,300 5,800 

Glucose. 0,480 0,762 

Acido  galhico 0,992 0,467 

Extractivo  ternário 

(análogos  do  amido, 

etc.) 47,636 44,761 

100,000  100,000 

m 

Estas  analyses  referem-se  á  bolota  não  descascada.  A 
easca  representa  proximamente  257o  do  peso  total. 

Calcolam  no  Alemtejo  que,  em  condições  ordinárias,  sSo 
necessários  quarenta  alqueires  de  bolota  para  engordar  um 
porco,  cincoenta  de  lande,  e  sessenta  do  Tructo  dos  outro& 
canralhos — negral,  cerquinho  e  roble — sendo  reputado  o 
frado  d'este  ultimo  superior  ao  dos  outros  dois. 

A  madeira  da  azinheira  é  muito  estimada  pela  sua  dureza  e 
homogeneidade.  Recebe  muito  bom  polido  e  conserva-o  por 
omito  tempo,  apresentando,  quando  é  convenientemente  cor- 
tada, bonitos  ondeados  e  venações.  O  seu  defeito  principal 
è  ser  muito  sujeita  a  rachar,  e  a  contorcer-se,  pela  des- 
8ecçaç2o.  É  muito  usada,  entre  nós,  no  fabrico  de  instru- 
mentos de  lavoura. 

Esta  madeira  dá  lenhas  de  primeira  qualidade,  e  o  carvão 
do  azinho  é  excellente,  e  muito  procurado. 

A  casca  das  azinheiras,  sobretudo  em  novas,  é  muito  tau- 
fiinosa,  e  muito  boa  para  curtumes;  segundo  as  analyses 
feitas  em  Hespanha  pelo  sr.  D.  Carlos  Gastei  a  quantidade 
de  tannino  na  casca  do  tronco  vae  de  8,07  a  15,3  7oi  sendo 
a  média,  em  arvores  novas  de  20  a  25  annos,  11  a  137o* 


332 

A  azinheira  explora-se  entre  nós  principalmente  pelo  fira- 
Oto,  eni  alto  fnste.  Nas  provindas  do  norte,  onde  é  menos 
abundante»  e  o  fmcto  amargo  menos  estimado,  é  ás  vezes 
cortada  em  talbadio  nos  massiços  onde  apparece  dissemi- 
nada; tem,  n'este  caso,  em  relação  aos  carvalhos  de  folhas 
caducas,  o  inconveniente  de  ser  bastante  demorado  o  sea 
crescimento. 


o  oarrallio  portusuez  e  o  oarvallLO  cerqnlnlio 

{QuereuM  huUanieaf  Lam.,  e  Q,  lutttaniea  Lanu,  var,  baetíea,  TVbb. 

QuBreus  hyòrida,  Brot) 

O  carvalho  portugaez  e  o  carvalho cerquinhopertencem 
a  uma  só  espécie,  de  que  o  primeiro  pode  ser  considerado 
como  typo,  e  o  segundo  como  variedade  bem  definida;  em 
linguagem  vulgar  confundem-se,  de  ordinário,  os  dois  sob 
a  denominação  mais  conunum  de  carvalho  cerquinho.  Um  e 
outro  preponderam  na  região  intermédia  do  paiz:  na  Extre- 
madura  e  em  muitos  pontos  da  Beira,  mas  encontram-se* 
com  frequência,  em  quasi  todo  o  reino,  desde  o  Algarve 
até  ao  Alto  Traz-os-Hontes.  Esta  espécie  é  intermédia  no 
habitat,  como  na  organisação,  aos  carvalhos  de  folha  per- 
sistente e  aos  de  folha  caduca. 

Clima. — É  o  carvalho  espontâneo  de  folha  caduca  Qoe 
resiste  a  mais  elevada  temperatura;  o  único  que,  sem  se 
resentir,  affronta  a  seccura  atmospherica  do  Alemtejo.  En- 
contra-se,  em  Portugal,  nas  mais  variadas  situações,  desde 
as  planícies  baixas  do  sul,  até  ao  valle  do  Douro,  e  ás  tec- 
ras  altas  de  Traz-os-Montes. 

Solo. — Prefere  os  terrenos  substanciaes,  frescos  e  pro- 
fundos, mas  contenta-se  até  com  os  que  apresentam  as  mais 
oppostas  qualidades :  graníticos,  schistosos,  calcareos,  etc. 
Nos  terrenos  secundários,  calcareos,  da  margem  direita  da 
Tejo  desenvolve-se  em  grande  abundância. 


r 


333 

Radicação. —  O  systema  radicalar  d'este  carvalho  é  pro- 
fímdo,  mas  menos  qae  o  do  rdble.  Tem  raiz  mestra,  e 
mnitas  raízes  lateraes  Tígoi^osas;  a  arvore  fica  sempre  presa 
com  grande  solidez. 

Rebenta  muito  bem  de  touca. 

Parte,  crescimento  e  duração. — O  carvalho  cerquinho  (a 
variedade  baetica)  é,  de  ordinário,  de  maior  porte  que  o 
carvalho  portugnez  typico.  No  emtanto,  um  e  outro  apre- 
sentam portes  muito  variáveis,  segundo  os  terrenos  e  as 
condições  em  que  vivem;  n'uns  pontos  tomam  a  forma  de 
moita  arbustiva  ou  arborescente,  n'outros  pontos  adquirem 
grande  desenvolvimento.  Constituem  então  arvores  com  o 
tronco  alto  e  grosso,  mais  direito  que  o  do  carvalho  negral, 
e  com  a  ramificação  mais  regular  e  mais  numerosa  do  que 
a  do  roble. 

Estas  arvores  podem  chegar  a  grandes  dimensões:  a  6 
metros  de  circumferencia  por  30  metros  de  altura,  e  mais. 
O  sr.  Pimentel  refere-se,  no  Jornal  Official  de  AgricuUura, 
a  nm  carvalho  portuguez,  existente  na  mata  nacional  de 
Onrem,  cujoironco,  na  base,  tem  5",4  de  circumferencia,  e 
a  copa  tem  26  metros  de  largura :  refere-se  a  um  que  deu 
50  travessas  para  caminho  de  ferro,  e  a  um  outro  d'onde 
sahio  uma  peça  para  construcção  naval  medindo  4  metros 
cnhicos. 

O  crescimento  d'esta  essência  não  é  muito  demorado. 
Tem  grande  duração. 

Madeira  e  casca. — A  madeira  do  carvalho  portuguez  e 
do  cerquinho  tem  cerne  e  borne  bem  delimitados,  o  pri- 
meiro acastanhado,  mais  ou  menos  escuro,  e  o  ultimo  es- 
branquiçado. Tem  raios  medullares  largos,  numerosos,  apro- 
ximados, deseguaes.  As  camadas  annuaes  são  distinctas, 
mas  a  zona  porosa  de  primavera  é  pouco  desenvolvida,  tem 
poQcos  vasos,  e  esses  mesmo  de  calibre  delgado.  Esta  ma- 
deira é  muito  pesada  e  densa;  as  suas  qualidades  são  in- 
termédias ás  madeiras  dos  carvalhos  de  folha  persistente 


334 

e  dos  de  fi)lba  caduca.  Um  exemplar  da  collecção  do  Insti< 
tato  accttsou-nos  a  densidade  0J13,  mas  existem  lenhos 
bastante  mais  densos. 

A  casca  das  arvores  adultas  é  um  rhytidoma  um  poaco 
parecido  ao  da  azinheira,  fendido  em  sulcos  longitudinaes 
muito  próximos  &  pouco  fundos,  atravessados  por  ontros 
horisontaes,  mais  afastados.  Os  ramos  novos  s3o  cotani- 
Jhosos,  esbranquiçados  ou  amarello-esverdinbados  (var.  ot 
pestris,  Bss.). 

Folhagem, — N'um  género  tJo  polymorpho  como  o  género 
Quercus  esta  espécie  é  uma  das  mais  polymorphas.  As  folhas 
do  carvalho  portuguez  são  variadissimas  na  forma,  no  ta- 
manho e  no^tomento.  Gomo  forma  typica  pode  dizer-se  que 
são  ellipticas,  elliptico-lanceoladasr  ou  obovadas,  onduladas 
nas  margens,  regularmente  serradas,  ás  vezes  levemente 
espinhosas,  arredondadas  ou  cordiformes  na  base,  [>eciola- 
das ;  em  adultas  s9o  verdes  e  glabras  na  pagina  siq>erior,  e 
na  inferior  cinzento-cotanilhosas.  No  emtretanto,  ás  vezes, 
apresentam-se  cunheadas  na  base;  outras  vezes  inteiras  nos 
bordos;  n'uns  casos  planas;  n'outros  casos,  muito  grandes, 
larga  e  obtusam^nte  crenadas  (var.  botica).  Algumas  sSo 
tio  espinhosas  que  fazem  quasi  lembrar  as  do  carrasqneiro; 
outras  sSo  sub-glabras  na  pagina  inferior;  ou  pubescentes 
também  na  pagina  superior;  ou  estrellado-cotanilhosas  mes- 
mo em  adultas  (var.  alpestris),  etc. 

As  folhas  adultas  são  coriaceas,  caducas,  mas  só  no  tarde, 
no  principio  ou  ás  vezes  no  fim  do  inverno.  No  outono 
esta  essência  distingue-se  bem  das  outras  congéneres  mes- 
mo a  distancia:  o  roble  e  o  carvalho  negral  apresentam-se 
então  despidos,  os  sobreiros,  a  azinheira  e  o  carrasqneiro 
cobertos  de  folhas  verdes,  e  o  carvalho  portuguez  tem  as 
folhas  marcescentes,  seccas,  mortas,  amarellecidas,  mas  pre- 
sas ainda  ^ 

1  As  folhas  do  carvalho  negral  ainda  novo  também. ás  vezes  persis- 
tem um  pouco  de  inverno,  já  seccas  e  amarellas. 


335 

A  copa  d'esta  essência  bastante  ramosa  e  muito  folhada 
prodoz  coberto  forte. 

TeínperameiUo. — O  carvalho  portuguez  é  uma  arvore  ro- 
busta, qae>  como  todos  os  carvalhos,  para  se  desenvolver 
bem,  pede  insolação  directa.  No  emtanto  a  sombra  das  ar- 
vores superiores  não  o  prejudica  tanto  como  aos  sobreiros 
e  azinheira. 

Galhas. — São  muito  frequentes  e  abundantes  as  galhas 
S(d)re  estes  carvalhos;  as  formas  mais  communs  são  a  glo- 
bosa  e  a  coroada.  A  maior  parte  dos  auctores  consideram 
o  0.  lusitanica  synonymo  do  Q.  infectaria,  Oliv.,  que  produz 
as  galhas  d'Alepo,  tão  empregadas  no  commercio.  Que  esta 
gynonymia  seja  ou  não  exacta,  as  galhas  que  temos  visto 
do  carvalho  portuguez  differençam-se  bastante  das  galhas 
d'Alepo;  as  ultimas  são  mais  pesadas  e  mais  esbranquiçadas 
internamente.  De  resto  é  muito  fácil  admittir  estas  differenças, 
admittida  mesmo  a  egualdade  dos  dois  carvalhos  produ- 
ctores. 

As  galhas  d'Alepo  são  muito  ricas  em  tannino,  chegam 
a  conter  70  Vo»  e  também  se  lhes  encontra  >o  acido  galhico 
(10  a  18  7o).  N*uns  estudos  que  fizemos  no  laboratório  do 
bstítuto,  com  as  galhas  do  carvalho  portuguez,  apenas  lhes 
encontrámos  quantidades  minimas  de  tannino,  e  o  acido 
galhico  existente  também  não  era  em  excesso;  muito  pro- 
vavehnente  isto  foi  motivado  pelas  más  condições  em  que 
ellas  estavam,  porque  em  Hespanha  o  sr.  D.  Carlos  Gastei 
determinou  nas  galhas  d'este  carvalho  43,22  Vo  de  tannino. 

Floração  e  fmcti/icaçõo. — A  floração  reaUsa-se  em  março, 
abril,  e  ás  vezes  maio. 

Os  fructos  são  ordinariamente  sesseis  (já  encontrámos 
mna  forma  pedunculada),  solitários  ou  geminados,  ovados 
OQ  oblongos,  apioilados,  de  tamanho  diverso.  A  cúpula 
tem  as  escamas  apertadas,  cotanilhosas,  gibosas  no  dorso. 

A  maturação  é  annual;  dá-se  em  setembro,  outubro.  O 
eanalho  portuguez,  o  que  de  resto  é  conunum,  mais  ou 


336 


menos,  a  quasi  todos  os  carvalhos,  só  prodaz  abundante- 
mente em  períodos  de  certo  numero  de  annos. 

Os  fructos  sSo  adstringentes. 

Germinação. — A  germinação  realisa-se  pouco  tempo  de- 
pois da  queda  natural  dos  fructos,  no  outono.  As  plantas 
noyas  s3o  desde  logo  muito  robustas. 

Productos  e  usos. — A  madeira  doesta  essência  é  mnito 
estimada  e  serve  com  vantagem  nas  construcções  civis  e 
navaes,  para  o  que  dá  boas  curvas.  Empregam-a  um  pouco 
no  fabrico  de  aduella,  mas  tem  de  ser  aberta  á  serra,  por- 
que não  offerece  boa  fenda.  Fornece  boa  lenha  e  carvSo. 

A  casca  é  bastante  tanninosa  e  utilisa-se  para  curtumes. 
As  galhas,  colhidas  em  boas  condições,  podem  usar-se  em 
tinturaria,  ou  para  curtimentas,  mas  para  este  ultimo  fim 
teriam  o  inconveniente  de  serem  muito  leves,  o  que  obrigaria 
a  empregar  grandes  volumes,  e  o  inconveniente  de  cederem 
promptamente  o  tannino,  o  que  leva  a  preferir-lbes  as  cas- 
cas e  entrecascas  tanninosas. 

O  fructo  pode  servir  para  a  ceva  dos  porcos. 


o  oanrallio  roble,  oarraUio  oommnm  on  alvarinho 

{Querem  peduneulata,  Ehrh.:  Quercus  Robura.  h.: 
Quereiís  racemosa.  Laia.  e  Brot) 


Encontra-se  o  roble,  em  Portugal,  sobretudo  na  regiSo 
mais  baixa  do  paiz  de  entre  Douro  e  Minho;  a  extrema  di- 
visão da  propriedade  n'esta  província,  trazendo  comsigo  o 
grande  aproveitamento  da  terra  pela  cultura,  é  incompa- 
tível com  a  conservação  d'extensos  massiços  florestaes,  por 
isso  o  roble  existe  ahi  formando  moitas  nas  encostas  das 
montanhas,  ou  grupado  em  pequeno  numero  de  indivíduos, 
ou  plantado  nas  margens  dos  campos,  servindo  quasi  sempre 
de  apoio  ás  videiras  altas,  que  tomam  tão  característico 
o  aspecto  d'esta  ríca  e  bella  região.  Na  Beira,  nem  muito 


337 


para  o  littoral  nem  muito  para  o  interior»  ainda  esta  es- 
sência representa  papel  considerável  na  arborisação,  en^ 
partes  mis  tarada  com  o  cerquinho,  em  partes  preponde- 
rante. No  Alto  Alemtejo,  na  serra  de  Portalegre,  também 
86  encontra,  posto  que  muito  menos  frequente. 

aima. — O  roble  occupa  na  Europa,  uma  grande  área 
qne  se  eleva  até  á  Noruega,  a  63.^  Entre  nós  procura  os 
pontos  de  maior  humidade  atmospberica,  na  região  norte, 
as  exposições  cismontanas,  as  planícies  e  os  valles.  De  or* 
dinario  não  sobe  muito  alto  nas  montanhas,  ou  pelo  me- 
nos só  abi  apparece  disseminado. 

Solo.—  Prefere  os  terrenos  ricos,  profundos,  frescos  ou 
mesmo  húmidos,  o  que  está  em  harmonia  com  a  textura 
herbácea  das  suas  folhas ;  vae  admiravehnente  nos  valles 
férteis  do  Minho;  parece  indifferente  á  natureza  mineraló- 
gica do  terreno,  quando  aquellas  condições  se  achem  reali- 
sadas.  Nos  solos  seccos  e  superficiaes,  ou  nas  ladeiras  muito 
inclinadas,  fica  sempre  enfezado ;  em  contraposição  nas  mar* 
[  gens  dos  cursos  d'agua,  nas  depressões  do  terreno  onde  a 
humidade  se  junta,  mas  sem  formar  pântano,  adquire  ma- 
gnifica vegetação. 

Badicação. — O  roble  tem  sempre  enraizamento  vigorosa- 
mente desenvolvido.  Nos  solos  fundos  e  leves  a  raiz  mes- 
tra conserva-se  muitos  annos,  crescendo  sempre,  muito 
pouco  ramificada  nos  primeiros  tempos,  e  ao  depois  acom- 
panhada de  muitas  raizes  lateraes.  Nos  solos  compactos,  ou 
muito  húmidos,  a  raiz  mestra  deixa  de  se  desenvolver  cedo, 
mas  as  raizes  lateraes  são  grossas  e  potentes. 

Rebenta  bem  de  touca  e  até  edade  avançada;  essa  re- 
bentação é  principalmente  devida  aos  numerosos  dhos  dor- 
maues  que  esta  essência  apresenta. 

Porte,  crescimento  e  duração. — O  roble  chega,  entre  nós, 
a  grandes  proporções  em  altura  e  ^ossura.  Tem  porte  ca- 
racterístico :  apresenta,  em  adulto^  um  fuste  mais  ou  menos 
regular,  e  uma  grande  copa,  quando  cresce  isolado,  cons- 

22 


C.  8. 


338 


títuida  sobre  poucas  arrancas  muito  grossas,  d'onde  se  ori- 
ginam ramos  e  raminhos  curtos,  tortuosos,  terminados  em 
rebentos  pouco  desenvolvidos,  cuja  folhagem  se  agglomera 
nas  extremidades,  em  virtude  do  aborto  frequente  de  mui- 
tos botões,  e  do  pequeno  crescimento  dos  entre-nós  nos 
eixos  novos.  Este  phenomeno  é  geral,  mais  ou  menos  accen- 
tuadamente,  a  todos  os  carvalhos ;  todos  elles  são  essências 
robustas,  que  pedem  a  acç3o  directa  do  sol;  em  todos  se  des- 
envolvem com  mais  vigor  os  botões  da  extremidade,  melhor 
esclarecidos,  ficando  os  da  base,  muitas  vezes,  dormentes; 
mas  no  roble  acontece  isto  em  mais  alto  grau. 

O  crescimento  d'esta  arvore  não  é  demorado,  mas  é 
menos  rápido  que  o  do  cerquinho.  Pode  adquirir  grande 
duração. 

Madeira  e  casca. — A  madeira  do  roble  tem  cerne  e  borne 
muito  bem  delimitados,  o  primeiro  acastanhado,  puxando 
a  avermelhado,  e  o  segundo  branco ;  tem  crescimentos  an- 
nuaes  muito  apparentes,  bem  mais  do  que  a  madeira  do  cer- 
quinho, por  serem  maiores  e  mais  numerosos  os  vasos  da 
zona  de  outono.  Gomo  todos  os  carvalhos,  tem  os  raios 
meduUares  deseguaes,  largos  e  bastante  numerosos.  É  ma- 
deira dura,  pesada,  resistente,  mas  cujas  qualidades  variam 
muito  com  as  condições  em  que  foi  produzida.  Gerahnente 
a  sua  densidade  é  menor  que  a  do  cerquinho ;  dois  exem- 
plares (seccos  ao  ar)  da  collecção  do  Instituto  deram-nos 
as  densidades  0,606  e  0,697,  mas  devem  existir  lenhos 
bastante  mais  densos. 

A  casca  é  Usa,  brilhante,  cínzento-prateada,  delgada  até 
aos  20  ou  30  annos ;  até  essa  época  é  formada  pêlo  liber, 
pelo  parenchyma  cortical  e  por  um  invólucro  externo  sa- 
boroso. D'ahi  por  diante  transforma-se  n'um  rhytidoma  es- 
curo, com  fendas  largas  longitudinaes,  produzido  pelo  des- 
envolvimento de  uma  assentada  de  cortiça  atravez  as  ca- 
madas do  liber,  que  provoca  a  morte  de  todos  os  tecidos 
mais  externos. 


r 


339 

Os  raminhos  novos  são  glabros. 

Folhagem. — As  folhas  do  roble^sSo  caducas  logo  no  fim 
do  outono,  yerde-claras,  herbáceas,  glabras  d'ambos  os 
lados,  baças  ou  muito  pouco  lustrosas  na  pagina  superior, 
levemente  glaucas  na  pagina  inferior,  quasi  sesseis  ou  com 
pedúnculos  muito  curtos,  obovado-oblongas,  com  o  maior 
diâmetro  transversal  a  ^z  do  comprimento,  adelgaçando 
gradualmente  até  á  base,  pouco  symetricas,  quasi  aurícu- 
ladas  na  base,  sinuadas  ou  pinnatilobadas,  com  4-5  ló- 
bulos inteiros,  muticos,  irregulares,  obtusos,  umas  vezes 
onduladas,  menos  vezes  planas. 

A  disposição  da  folhagem,  a  que  nos  referimos  já^  ag- 
glomerada  em  tufos,  deixando  grandes  vazios,  assombrôa 
pouco  o  terreno  inferior,  dá  pequeno  coberto. 

Floração  e  fructificação. — O  roble  floresce  de  abril  a  maio,  ^ 
e  fiructifica  de  setembro  a  outubro.  A  maturação  é  annual. 
As  flores  teem  a  mesma  disposição  que  as  dos  outros  car- 
Talhos. 

Os  fructos  sao  de  forma  variável,  mas,  habitualmente, 
ovóides  ou  oblongos,  lustrosos,  inseridos  1-5  sobre  um  eixo 
delgado,  comprido,  quasi  sempre  pendente.  A  cúpula  tem 
as  escamas  planas,  triangulares,  pouco  numerosas,  glabras 
oa  levemente  cotanilhosas,  encostadas. 

O  fructo,  pesado  e  sem  apparelho  de  disseminação,  como 
o  de.  todos  os  carvalhos,  pouco  se  afasta  na  queda  da  ar- 
vore-mãe. 

De  ordinário  o  roble  fructifíca  em  uma  edade  bastante  adian- 
tada, que  depende  muito  da  arvore  provh*  de  semente  ou  de 
rebentão  de  touca,  de  crescer  isolada  ou  em  massiço,  da 
qoalidade  do  terreno,  etc.  Geralmente  a  fructificação  não 
se  realisa  regularmente  todos  os  annos,  mas  em  períodos 
de  abundância  e  de  escassez  quasi  absoluta.  Os  fructos  são 
adstringentes. 

Germinação. — A  germinação  dos  fructos  do  roble  é  rá- 
pida, e  a  sua  conservação  difficil,  mesmo  até  á  primavera 

22* 


340 

seguinte.  As  arvores  novas  s3o  robustas  logo  desde  o  prin- 
cipio, e  pedem,  desde  logo,  a  insolação  directa. 

Productos  e  usos. — ^A  madeira  é  muito  estimada  para  cons- 
tnicçSo  e  variadissimos  usos ;  em  alguns  casos  dá  boa  fenda 
e  serve  para  óptimo  vasilhame.  Fornece  lenha  e  carvão  de 
muita  boa  qualidade. 

  casca,  apezar  de  menos  tanninosa  de  que  a  da  azinheira 
e  a  do  cerquinho,  pode  empregar-se  com  vantagem  em  cur* 
tomes,  e  o  fructo,  embora  menos  nutritivo  do  que  a  bolota 
e  a  lande,  utilisa-se  na  ceva  dos  porcos. 

No  Minho  esta  arvore,  emquanto  viva,  tem  ainda,  moitas 
vezes,  uma  outra  utilidade :  serve  de  supporte  ás  uveiras, 
que  entrelaçam  os  pâmpanos  pelas  altas  ramagens  da  soa 
copa. 

o  oarvalho  negral  ou  oarvallio  pardo  da  Beira 
CQuercus  Tozza,  Bosc. :  Quercus  puboscens,  Brot.) 

O  carvalho  negral  é  o  carvalho  das  montanhas  na  zona 
interior  do  paiz.  Predomina  em  Traz-os-Montes  e  na  parte 
limitrophe,  e  mais  accidentada,  da  província  do  Miuho,  bem 
como  em  toda  a  Beira  serrana  seguindo,  pelas  montanhas, 
até  Portalegre.  A  sua  organisação  apropria-o  admiravel- 
mente a  este  habitat.  Encontra-se  em  moitas  mais  ou  menos 
enredadas  c  altas,  conforme  a  pujança  do  solo ;  encontra- 
se  explorado  em  talhadios,  e,  menos  vezes,  apparece  com 
o  porte  arbóreo,  disseminado  ou  em  pequenos  massiços,  só 
ou  misturado  com  outras  essências. 

Clima. — Assim  como  os  sobreiros  e  a  azinheira  são  pró- 
prios á  zona  portugueza  de  maior  calor  e  seccura,  assim 
como  o  cerquinho  é  próprio  á  zona  temperada,  e  o  roble 
aos  valles  e  planícies  da  região  mais  húmida,  assim  o  car« 
valho  negral  é,  entre  nós,  a  essência  das  montanhas,  onde 
sobe  a  mais  de  1:000  metros  sobre  o  mar.  Menos  exigente 


34i      . 

do  que  o  roble  resiste  nas  exposições  transmontanas  e  nas 
altitudes  elevadas  onde  elle  perde  a  importância. 

Sdo. — Prefere  os  solos  leves  e  pouco  frescos,  mas  a  sua 
radicação  muito  especial  permitte-lbe  viver  nas  ladeiras  ai* 
eantiladas,  sobre  os  terrenos  áridos,  onde  os  outros  carva* 
lhos  não  se  podiam  sustentar.  As  terras  baixas,  húmidas» 
argillosas^  onde  prospera  o  roble  não  lhe  convém  nada. 
Em  Portugal  encontra-se  quasi  sempre  sobre  schistos  ou 
granitos,  que  são  as  formações  principaes  da  zona  interior 
montanhosa,  mas  é  tido  como  indifferente  á  composição  mi* 
neralogica  do  solo. 

Radicação. — O  systema  radicular  do  carvalho  negral  é 
composto  de  uma  raiz  mestra,  maior  ou  menor,  segundo  a 
fundura  da  terra,  e  de  raizes  lateraes  muito  compridas,  que 
bracejam  quasi  horisontalmente  ao  longe,  originando,  em 
diversos  pontos,  rebentões  numerosos.  Esta  forma  de  ra* 
dicação  permitte-lhe  segurar-se  com  vigor  nas  ladeiras  onde 
a  terra  é  pouca,  e  facilita-lhe  a  alimentação,  alargando-lhe 
a  área  lateralmente  explorada  pelas  radiculas.  Por  outro 
lado  esse  enraizamento  é  apropriadíssimo  para  segurar  a 
terra  nas  encostas,  impedindo  o  desnudamento.  Todas  es- 
tas razões  tomam  o  carvalho  negral  uma  essência  preciosa 
para  a  arborisação  de  muitos  pontos  do  paiz. 

As  toucas  rebentam  com  vigor  extraordinário ;  esta  qua- 
lidade, junta  à  que  teem  as  raizes  de  originar  rebentões, 
apropria  muito  o  carvalho  negral  para  a  exploração  em  ta- 
Ihadio,  cuja  regeneração  é,  para  assim  dizer,  illimitada. 

Porte,  crescimento  e  duração. — O  porte  d'esta  arvore  é, 
de  ordinário,  inferior  ao  do  roble,  o  que  talvez  dependa, 
em  parte,  das  peiores  condições  em  que  vegeta.  Apresen- 
tasse muitas  vezes  tortuoso,  contorcido,  e  forma,  em  mui- 
tos sitios,  moitas  arbustivas  ou  arborescentes.  Em  melho- 
res terrenos  é  uma  arvore  de  grandeza  medíocre,  com  a 
copa  grande,  irregular,  quasi  sempre  originada  a  menor 
altura  do  tronco  do  que  no  roble  e  cerquinho. 


342      . 

Tem  crescimento  demorado  e  attinge  grande  duraçio: 
séculos  de  existência. 

Madeira  e  casca. — A.  madeira  d'esta  arvore  tem  qualida- 
des menos  apreciáveis  que  a  do  roble,  mas  aproxima-se- 
lhe  na  estructura :  tem  o  albumo  maior,  e  nem  sempre  ni- 
tidamente limitado ;  é  de  ordinário  mais  porosa,  pelo  maior 
desenvolvimento  da  zona  de  primavera,  e  tem  os  raios  me- 
dullares  mais  largos  e  mais  numerosos.  É  muito  sujeita  a 
contorcer-se,  a  empenar  e  a  abrir. 

  casca  pouco  tempo  se  conserva  lisa  e  viva  até  á  su- 
perficie.  Apparece  em  breve  um  rhytidoma  profundo,  es- 
curo, quasi  negro,  escavado  em  grandes  sulcos. 
.  Os  raminhos  novos  são  pubescentes. 

Folhagem. — As  folhas  do  carvalho  negral  são  pecioladas, 
obovado-oblongas,  sinuado-lobadas  ou  irregularmente  pinna- 
tifendidas,  com  os  lóbulos  inteiros;  são,  de  ordinário,  maio- 
res e  mais  recortadas  que  as  dos  outros  carvalhos  indígenas. 
Em  adultas  sao  verde-escuras  na  pagina  superior,  com  alguns 
pellos  estreitados,  e  na  pagina  inferior  esbranquiçadas  oa 
amarelladas,  muito  avelludadas;  em  novas  apresentam-se, 
assim  como  os  raminhos^  vestidas  de  pellos  avelludados, 
macios  e  densos. 

Estas  folhas  s3o  caducas.  O  coberto  do  carvalho  negral  é 
fraco,  não  só  por  causa  dos  profundos  recortes  das  folbas, 
como  por  ellas  não  serem  muito  abundantes,  nem  a  rami- 
ficação apertada. 

Floração  e  fructificação. — A  floração,  monoica  e  amenta- 
cea  como  a  de  todos  os  carvalhos,  realisa~se  em  maio.  A 
maturação  é  annual;  os  fructos  caem  em  setembro  e  outubro. 

Os  fructos  teem  formas  variadas;  são  cylindrico-oblon- 
gos,  ovóides  ou  sub-globosos;  ás  vezes  encontram-se  quasi 
sesseis,  mas,  de  ordinário,  agglomeram-se  dois  a  quatro 
sobre  um  pedúnculo  recto,  levantado,  grosso,  curto.  A  co- 
pula é  acinzentada,  cotanilhosa,  com  as  escamas  aguçadas, 
frouxamente  imbricadas. 


343 

Os  ftnctos  são  adstringentes. 

Germinação. — A  genninaçSo  não  é  demorada.  Às  plan- 
tas novas  s3o  desde  logo  robustas  e  dispensam  a  sombra  e 
abrigo  superior. 

Productos  e  usos. — Â  madeira  é  das  menos  estimadas 
d'este  género.  No  emtanto,  em  Portugal,  nas  provindas  do 
norte,  é  bastante  empregada,  e  com  vantagem,  em  muitos 
nsos,  tal  como  para  madeiramentos  de  casas,  peças  de  moi- 
nhos e  azenhas  (e  resiste  muito  nas  peças  que  teem  de  tra- 
balhar debaiio  de  agua),  instrumentos  de  lavoura,. etc. 

Esta  madeira  dá  óptima  lenha,  melhor  que  a  do  roble,  e 
para  carvoaria  é  também  mais  estimada. 

À  casca  é  tida  como  superior,  para  curtumes,  á  do  roble. 
Os  fructos  são  empregados  em  alguns  pontos  da  Beira  para 
a  engorda  dos  porcos;  são  reputados  menos  nutritivos  que 
os  fructos  dos  outros  carvalhos,  mas  são  tão  abundantes 
qne  algumas  arvores  chegam  a  produzir  40  a  50  alqueires. 


o  castanheiro 
{Castanea  vulgaris,  Lam. :  Fagu$  castanêa,  L.  e  Brot.) 

O  castanheiro  encontra-se  em  Portugal,  com  mais  ou  me- 
nos abundância,  em  toda  a  grande  zona  schisto-granitica. 
Prepondera  em  Traz-os-Montes,  na  Beira  serrana,  nos  ar- 
redores de  Portalegre,  e  na  mancha  granítica  que  coroa  a 
serra  de  Monchique.  Encontra-se  em  massiços  cortados  em 
talhadio  (soutos),  ou  é  explorado  pelo  fructo,  em  alto  fuste> 
mas  então  quasi  sempre  isolado,  ou  em  pequenos  grupos. 
Mo  norte  acompanha  muitas  vezes  o  carvalho  negral,  e  acom- 
panhado nas  montanhas,  mas  sem  subir  tão  alto  como  elle. 
Na  região  d'entre  Douro  e  Mmho  acompanhava,  de  ordiná- 
rio, o  roble,  mas  a  doença,  que  se  manifestou  nos  últimos 
tempos,  tem-o  reduzido  muito  n'essa  provinda. 

Clima. — O  castanheiro  provavelmente  poderia  viver  em 


344 

qaasi  todo  o  paiz,  se  nSo  fosse  a  sua  tendência  calcifoga, 
que  o  afasta  dos  terrenos  calcareos.  Prefere  as  regiOes  accí- 
dentadas^  chegando  a  sabir  nas  montanhas  a  mais  de  1:000 
metros  de  altítnde.  Entre  nós  encontra-se  nas  exposições 
trans  e  cismontanas. 

Solo. — As  terras  profunda?,  frescas,  leves,  graníticas  oa 
schistosas  sSo  as  que  mais  lhe  convém;  mas  pode  viver, 
embora  mais  acanhado,  nas  terras  seccas.  Nos  solos  homi* 
dos  cresce  muito  alto  e  muito  viçoso, .  mas  a  madeira  fica* 
lhe  de  má  qualidade,  e  a  arvore  é  muito  atreita  a  tomar-se 
õca  no  tronco.  Os  terrenos  argíUosos,  muito  compactos,  sio- 
lhe  nocivos,  e  sobre  os  calcareos,  como  já  dissemos,  toma- 
se-lhe  a  vida  impossível,  logo  que  a  cal  exceda  4  por  cento. 

Radicação. — O  castanheh*o  resiste  perfeitamente  ao  vento; 
tem  systema  radicular  muito  forte.  A  raiz  mestra  é  grossa 
e  comprida,  mas  menor  que  a  dos  carvalhos;  as  raizesla- 
teraes  são  numerosas  e  robustas,  com  tendência  a  profun- 
darem. 

Rebenta  optimamente  de  touca ;  forma  rebentões  em  gran- 
de quantidade,  muito  vigorosos  e  dotados  de  crescimento 
rápido.  É  por  isso  vantajosa  a  exploração  do  castanheiro 
em  talhadio. 

Porte,  crescimento  e  duração. — Quando  vegeta  isolado 
apresenta  pequeno  fuste  e  a  copa  extraordinariamente  larga, 
assente  em  pernadas  muito  desenvolvidas  e  muito  ramifi- 
cadas. Em  massiço  adquire  bastante  altura.  É  vulgar  em 
Portugal  a  existência  de  castanheu*os  com  grandes  dimen- 
sOes:  com  6  e  7  metros  de  circumferencia  na  base^  por  30 
metros  de  elevação.  O  maior  castanheiro  que  temos  visto 
foi  em  Lamego,  próximo  á  ermida  da  Senhora  dos  Remé- 
dios; mede  9'",6  de  circumferencia.  Este  castanheiro  tem 
o  tronco  muito  curto,  dividido  em  grossas  pernadas  levan- 
tadas, e  a  sua  altura  não  é  considerável. 

Tem  crescimento  rápido,  muito  mais  rápido  que  os  car- 
valhos, principalmente  até  aos  50  ou  60  annos.  Tem  grande 


345 


duração,  mas  de  certa  edade  por  diante  é  sujeito  a  tornar-se 
ôco  no  centro»  continuando  a  viver  ainda  muito  tempo. 

Madeira  e  casca.— A,  macieira  do  castanheiro,  ou  casta- 
nho por  abreviatura,  é  parecida  com  a  do  carvalho,  mas 
distingue-se  d'ella  perfeitamente,  sem  que  possa  haver  a 
menor  confusão,  porque  tem  os  raios  medullares  muito  del- 
gados, muito  pouco  apparéntes,  emquanto  nos  carvalhos 
são  deseguaes,  muito  grossos,  muito  visíveis.  Tem  as  ca- 
madas annuaes  bem  delimitadas  e  o  borne  esbranquiçado, 
distincto  do  cerne,  e  de  ordinário  em  menor  percentagem 
qae  o  dos  carvalhos.  Esta  madeira  dá  boa  fenda,  e  as  suas 
qaalidades  dependem  bastante  das  condições  em  que  foi 
cre^da.  Geralmente  é  menos  densa  que  a  do  carvalho,  mas 
esta  densidade  varia  muito ;  em  três  exemplares  da  collec- 
çSo  do  Instituto  determinámos  as  densidades  0,534,  0,58i7 
e  0,701 ;  Doestes  limites  devem,  com  aproximação,  compre- 
hender-se  os  limites  de  densidade  apresentados  pela  ma- 
deira d'esta  essência  no  paiz. 

A  casca  nas  arvores  novas  e  nos  raminhos  é  escura,  pon- 
toada com  lenticulas  alongadas,  que,  com  a  edade,  se  es- 
tendem cada  vez  mai»  para  os  lados.  Depois  torna-se  cin- 
zento-prateada,  como  a  do  roble  em  novo,  e  assim  persiste, 
até  aos  15  ou  SO  annos.  Doesta  edade  por  diante  é  substi- 
toida  por  um  rhytidoma  persistente,  espesso,  escuro,  muito 
gretado  na  vertical,  semelhante  ao  dos  carvalhos,  e  egual- 
mente  devido  ao  desenvolvimento  de  uma  lamina  suberosa 
isoladora  atravez  as  camadas  do  liber. 

Fcíhagem. — ^As  folhas  do  castanheiro  são  pecioladas,  oblon- 
go-lanceoladas,  compridas  (com  0,'"2  de  comprimento,  pro- 
ximamente), rígidas,  glabras  nas.duas  paginas,  de  cõr  verde 
mais  intensa  na  pagina  superior,  com  dentes  fundos,  nu- 
merosos, que  correspondem  a  outras  tantas  nervuras  (15 
1 20  de  cada  lado).  Estas  folhas  são  caducas,  mas  conser- 
Tam-se  algum  tempo  marcescentes  nas  arvores,  sobretudo 
nos  talhadios. 


346 

A  folhagem  é  abundante,  e  as  folhas  ponco  recortadas, 
grandes  e  inseridas  quasi  horisontahnente»  tomam  bastante 
espesso  o  coberto  d'esta  arvore. 

Temperamento. —  O  castanheiro  não  exige  tanta  loz  como 
os  carvalhos,  o  que  está  em  harmonia  com  a  maior  espes- 
sura da  sua  folhagem ;  pode  por  isso  constituir  massiços 
mais  apertados. 

Floração  e  fructificação. — As  flores  masculinas  d'esta  es- 
sência estão  dispostas  em  amentiihos  compridos,  cyUndrícos, 
delgados,  interrompidos,  levantados,  que  se  desenvolvem  na 
axilla  das  folhas  inferiores  dos  rebentos :  as  flores  femininas 
reunem-se  1  a  S  dentro  de  um  invólucro  de  bracteas  accres- 
cente,  e  encontram-se  situadas  quasi  sempre  na  base  dos 
amentiihos  masculinos. 

A  floração  dá-se  em  maio,  junho,  quando  a  arvore  já  está 
vestida  de  folhas  desenvolvidas.  A  maturação  reaUsa-se  em 
outubro,  novembro. 

Os  fructos  (castanhas)  são  adienios  com  o  pericarpo  del- 
gado, secco,  lustroso  externamente,  providos  na  base  de 
uma  grande  cicatriz ;  a  semente  apresenta  amêndoa  maito 
volumosa,  comestível,  com  as  cotyledones  muito  grossas, 
amylaceas.  Os  fructos  estão  incluídos  1  a  5  n'um  invólucro 
quasi  lenhoso,  que  tem  o  aspecto  de  pericarpo,  dehiscente 
em  4  válvulas,  externamente  coberto  de  espinhos  rígidos, 
agudos,  fasciculados,  divergentes ;  este  invólucro  tem  o  no- 
me vulgar  de  ouriço,  e  é  formado  pela  reunião  das  bracteas 
accresçentes. 

Os  fructos  caem  naturahnente  pela  dehiscencia  dos  ouri- 
ços, e  como  são  muito  pesados  pouco  se  afastam,  ou  nada, 
da  arvore  que  os  produziu. 

O  castanheiro  entra  muito  novo  em  fructificação  e,  de  or- 
dinário, é  abundante  em  fructos. 

Germinação. — A  castanha  conserva-se  pouco  tempo  apta 
para  a  germinação.  A  germinação  dá-se  com  facilidade;  a 
vegetação  das  plantas  novas  é  rápida  desde  os  primeiros 


347 


aimos  e  não  lhe  é  tSo  nocivo,  como  aos  carvalhos,  o  coberto 
das  arvores  superiores. 

Productos  e  usos. — O  castanheiro  é  explorado  entre  nós 
para  a  prodncçSo  de  madeira  ou  de  fructo. 

A  exploração  mais  regular  da  madeira  realisa-se  em  ta- 
Ihadios ;  os  productos  d'estes  talhadios  variam  com  a  edade 
da  revolução:  em  muito  novos  dão  madeira  para  arcos, 
flexivel,  que  se  dobra  com  facilidade ;  mais  adultos  produ- 
zem varas  muito  direitas  e  compridas,  empregadas  com 
vantagem  na  construcção  civil,  e  n'um  grande  numero  de 
usos.  A  madeira  de  maiores  dimensões  é  muito  estimada 
para  os  mais  variados  serviços :  para  taboame,  para  marce- 
naria, para  tanoaria  (e  dá  boa  ^enda  no  fabrico  de  aduellas), 
ete.  Não  existe  em  Portugal  a  exploração  desenvolvida 
d'esta  arvore  em  massiços  d' alto  fuste  para  a  producção  de 
madeira ;  as  maiores  peças  de  castanho,  ordinariamente,  são 
tiradas  das  arvores  isoladas,  ou  de  uma  ou  outra  reserva  ^, 
que  deixam  nos  talhadios,  mas  decerto  essa  exploração  seria 
mnito  vantajosa. 

A  lenha  do  castanheiro  é  menos  estimada  que  a  do  car- 
valho, e  o  carvão,  que  produz,  é  de  quaUdade  mediocre. 

A  exploração  d'esta  essência  para  fructo  realisa-se  quasi 
sempre  em  arvores  isoladas  ou  reunidas  em  pequenos  gru- 
pos. A  castanha  é  largamente  empregada  no  paiz  na  ali- 
mentação do  homem  e  dos  animaes.  Segundo  as  tabeliãs 
de  WolfiT  a  composição  da  castanha  fresca  é  a  seguinte : 


1  Denomina-se  reserva,  como  veremos  na  Cultura  florestal,  a  arrore 
qne  fica  depois  do  corte  das  outras  em  yolta ;  assim  se  diz  reserva  d$ 
ma,  duas,  três  revoluções,  a  que  ficou  depois  de  passado  um,  dois,  três 
cartes  das  arvores  em  redor. 


348 

Humidade 49,2 

Cinzas ; i,4 

Lenhoso 2,9 

Matérias  gordas 1,4 

Matérias  azotadas 6,4 

Extractivo  ternário  (análogos  do  amido, 

etc.) 38,7 

100,0 

Os  porcos  engordados  com  a  castanha,  no  norte,  apre- 
sentam menos  tecido  gorduroso  e  mais  tecido  muscular  qae 
os  engordados  no  sul  com  a  bolota  e  com  a  lande.  Este 
facto  prende-se  principalmente  com  a  diversidade  da  raça 
explorada  nos  dois  pontos,  mas  também  depende  da  com- 
posição dos  dois  fructos.  Comparando  esta  analyse  com  as 
analyses,  anteriormente  apresentadas,  da  bolota  e  da  lande, 
vé-se  que  n'estes  últimos  fructos  diminuem  os  azotados  e 
^ugmentam  consideravelmente  as  substancias  gordas. 

Quando  os  castanheiros  estão  em  bom  terreno,  e  à  larga, 
produzem  ás  vezes  castanha  muito  grande,  a  que  chamam 
rebordãa;  mas,  de  ordinário,  os  castanheiros  braivos  costu- 
mam ser  melhorados  pela  enxertia,  quando  se  exploram 
em  producçSo  de  fructo.  Estes  castanheiros  enxertados 
denominam-se  mansos,  ou  longaes,  e  produzem  fructos  mais 
abundantes,  maiores,  mais  saborosos,  e  com  a/i^/femeDOS 
adherente. 

O  sr.  Carlos  de  Sousa  Pimentel  n'um  seu  estudo  sobre 
a  creação  dos  soutos^  publicado  no  Jornal  de  HorticuUura 
Pratica  (anuo  de  1883),  dá  conhecimento  das  seguintes 
variares  culturaes,  como  transcrevemos  textualmente: 

tTemporã,  andrediz  ou  dos  barros. — Castanha  grossa e 
redonda  abundante  e  precoce.  Não  se  descasca  bem,  senSo 
âepois  de  alguma  coisa  avellada. 

€jaca,  ou  Umgal. — É  um  pouco  sobre  o  comprido,  grossa, 
abundante  e  saborosa.  Descasca-se  com  facilidade. 


*Portdã. — N3o  tão  grande  como  a  aDleríor,  meãos  pro- 
dactira,  sm  tanto  mais  serodÍa.l)eBcasca-se  com  facilidade. 

tCoUimnha  ou  coUeirtnha. — Comprida  e  achatada;  menos 
Tohifflosa  e  abmidante.» 

E  accrescenta:  tpara  a  enxertia  preferem-se  geralmente 
as  arvores  qae  dão  a  castanha  loâgai,  ou  a  têmpora,  por 
serem  as  que  fructíãcam  mais,  e  as  que  dão  melhor  fnicto.» 

Na  alimentação  do  homem  a  castanha  emprega-se  em 
fraco,  ou  pilada,  isto  é,  conservada  secca  e  já  descascada. 

A  alfarrobeira 
(C«raIonHi  Siliqua,  h.) 

A  alfarrobeira  encontra-se,  em  Portugal,  representando 
papel  importante  na  arborisaçSo  do  Algarre,  onde  está  per- 
Mtamente  naturalisada.  Sobe  mais  ao  norte,  e  nos  arre- 
dores de  Lisboa,  por  exemplo,  fructifica  muito  bem,  e  um 
ou  outro  pé  apparece  sab-espontaneo,  mas  fora  da  pro- 
víncia do  Algarve  perde  toda  a  importância. 

Clima. — A  alfarrobeira  parece  ser  originaria  do  Oriente, 
mas  está  naturalisada  em  todo  o  líttoral  mediterrâneo;  esta 
sitaaçao  indica  evidenlemente  que  precisa  temperatura  ele- 
vada. Entre  nós  è  na  orla  meridional  que  vive  em  melhores 
.  condições.  Resiste  perfeitamente  ás  grandes  seccuras  estí- 
nes  d'essa  regiSo. 

Solo. — Cresce  em  todos  os  terrenos,  comtanto  que  nSo 
sejam  pantanosos,  ou  mesmo  muito  húmidos.  Os  solos  fres- 
cos e  profundos  s3o-Ihe  os  mais  favoráveis,  mas  vive  até 
nos  terrenos  pedregosos,  inclinados,  e  fraqneiros,  paten- 
teando bastante  rusticidade.  É  nas  formações  calcareas  onde, 
m  Portugal,  mais  habitualmente  se  encontra;  prefere  tal- 
m  os  solos  calcareo-argillosos. 

Badiceição. — Tem  systema  radicular  vigoroso,  e  rebenta 
ban  de  louça.  Deita  numerosas  raízes  lateraes,  compridas 
e  pouco  ftmdas. 


350 

Porte,  crescimento  e  duração. — Varia  muito  o  porte  da  al- 
farrobeira segundo  as  condições  em  que  se  desenvolve;  nos 
peiores  terrenos  constituo  moitas  arbustivas  muito  enreda- 
das; em  solos  mais  favoráveis  é,  de  ordinário,  arvore  de 
mediana  grandeza,  podendo  em  boas  circumstancias  attingir 
15  metros  de  elevação  e  mais;  tem  o  tronco  grosso,  sem- 
pre dividido  a  pequena  altura  em  pernadas  robustas,  e  a 
copa  grande,  arredondada,  mais  ou  menos  aberta  para  os 
lados.  No  Algarve,  a  copa  doestas  arvores  chega  a  adquirir, 
às  vezes,  12  a  15  metros  de  diâmetro;  os  ramos  das  extre- 
midades apresentam-se  com  frequência  pendentes,  dando 
à  copa  um  aspecto  muito  característico. 

A  alfarrobeira  tem  crescimento  lento,  mas  que,  ainda  as- 
sim, depende  muito  da  fertilidade  do  chão.  Pode  chegar  a 
edade  bastante  avançada. 

Madeira  e  casca. — A  madeira  da  alfarrobeura  tem  o  al- 
burno  branco-amarellado  e  o  cerne  vermelho-rosado  com 
muitas  venaçôes ;  o  seu  tecido  é  muito  apertado  e  os  raios 
medullares  muito  delgados,  quasi  eguaes,  numerosos;  tem 
os  vasos  isolados,  ou  reunidos  2  a  4  por  uma  aureola  de 
parenchyma  lenhoso  mais  brando  e  mais  claro.  É  madeira 
muito  homogénea,  mas  com  os  crescimentos  annuaes  muito 
visíveis,  dura,  pesada,  densa,  susceptível  de  bom  polido  e 
dando  boa  fenda. 

A  casca  é  lisa,  delgada,  acinzentada;  nas  arvores  bas- 
tante velhas  é  um  rhytidoma  áspero  e  rugoso. 

Folhagem. — As~  folhas  são  persistentes,  paripmnuladas, 
com  3  a  5  pares  de  foliolos  grandes,  ovados  ou  ellipticos, 
obtusos,  às  vezes  levemente  chanfrados  no  cimo,  coriaceos, 
verdes  e  lustrosos  na  pagina  superior,  baços  e  mais  claros 
na  pagina  inferior,  com  a  nervura  centrai  saliente. 

Esta  folhagem  é  espessa  e  assombrea  bastante  com  o  seu 
coberto.  As  folhas  persistem  dois  annos. 

Floração  e  fructificação. — A  floração  é  dioica,  muito  ra- 
ras vezes  polygamica.  Tanto  as  flores  masculinas  como  as 


351 

femininas,  distitoidas  de  coroUa,  estão  dispostas  em  cachos 
amentaceos;  são  esverdinbadas  e  pequenas.  Desenvolvem- 
se  abrigadas  pela  sombra  das  folhas  nos  ramos  de  3  e  4 
annos,  e  é  frequente  apparecerem  implantadas  atè  nas  ra- 
mificações já  muito  grossas.  A  floração  dá-se  de  fins  de 
agosto  a  outubro.  Âo  individuo  masculino  chamam  no  Al- 
garve cUfarrobeirão. 

O  fructo  amadurece  passado  proximamente  um  anno»  em 
agosto,  setembro  do  anuo  seguinte.  É  uma  vagem  polposo- 
coriacea,  indehiscente,  comprimida,  recta  ou  arqueada,  es- 
cara, com  10  a  20  cent.  de  comprido,  mais  ou  menos  sac- 
charina;  as  vagens  d'algumas  variedades  conteem  12  a  16 
sementes,  as  d'outras  conteem  apenas  2  a  5.  Estas  semen- 
tes são  ovadas,  comprimidas,  amarello-escuras. 

A  alfarrobeira  tem  fructificação  abundante.  Existem  muitas 
arvores  que  dão  4  e  5  arrobas  de  vagens,  subindo  este  ren- 
dimento, em  casos  muito  menos  vulgares,  a  10,  a  15,  a  20 
arrobas  e  mais. 

Germinação. — As  sementes  não  teem  difScil  germinação; 
germinam  naturalmente  passados  uns  20  dias  a  um  mez. 
Como  o  seu  tegumento  é  muito  duro,  é  util,  quando  se 
faça  a  sementeira  artificial,  sujeítal-as  primeiro  á  acção  de 
mna  lixivia  alcalina  fraca. 

Productos  e  usos. — A  madeira  da  alfarrobeira  pode  ser 
empregada  em  vários  usos,  mas  não  é  muito  apreciada;  fa- 
bricam d'ella  trem  de  lavoura,  engrenagens  para  moinhos, 
etc.  Dá  boa  lenha,  e  como  tal  é  bastante  empregada  no 
Algarve.  As  cascas  e  as  folhas  são  tanninosas  e  podem 
senir  para  curtume. 

O  principal  producto  da  alfarrobeira  é  o  fructo;  conhe- 
cem-se  no  Algarve  quatro  variedades  d'este  fructo,  que  teem 
valores  muito  diversos :  a  alfarroba  fnukua,  canella,  gaViosa 
e  de  burro;  segundo  alguns,  o  numero  das  variedades  exis- 
tentes é  muito  mais  considerável. 

A  vagem  da  alfarroba  mídata  é  escura,  quasi  negra,  di- 


352 


reita  ou  um  pouco  cunra,  polposa,  de  todas  a  mais  doce  e 
estimada.  Pela  enxertia,  teem  transformado,  no  Algarve,  o 
maior  numero  dos  alfarrobaes,  n'esta  variedade.  A  vagem 
da  alfarroba  canella  é,  como  o  nome  o  indica,  còr  de  ca- 
nella,  e  é  considerada  a  segunda  em  riqueza  saccharina  e 
em  valor  nutritivo.  As  outras  duas  variedades  s3o  muito  mais 
adstringentes,  muito  menos  doces  e  nutritivas,  mais  peque- 
nas, menos  polpudas,  e  já  pouco  se  encontram.  Nas  alfar- 
robas maduras,  segundo  uns  estudos  a  que  procedemos 
no  laboratório  do  Instituto,  conjuntamente  com  a  glucose 
não  é  o  tannino  que  se  encontra,  mas  o  acido  galhico,  pelo 
menos  nas  duas  variedades  mais  doces. 

Uma  parte  da  alfarroba  produzida  no  Algarve  é  exportada, 
uma  parte  é  dada  como  penso  aos  animaes,  e  a  restante  é 
hoje  alcoolisada  em  grande  escala. 

Gomo  penso  aos  animaes  a  alfarroba  entra,  no  Algarve, 
em  logar  de  ração;  passa  por  ser  bom  alimento,  dando  vi- 
gor e  fazendo  crear  bom  pello.  Esta  pratica  não  está  em 
harmonia  com  o  que  dizem  os  auctores  francezes  acerca 
das  qualidades  nutritivas  da  alfarroba^  mas  não  é  para  ad- 
mirar que  no  clima  muito  mais  quente  do  Algarve  ella  ad- 
quira melhores  qualidades. 

N'uns  estudos,  que  executámos  no  laboratório  do  Insti- 
tuto, obtivemos  nas  nossas  analyses  valores  que  se  afastam 
bastante  dos  das  analyses  francezas,  mas  que  estão  em  har- 
monia com  a  pratica  do  Algarve  acima  referida.  Esses  es- 
tudos versaram  sobre  as  duas  variedades  mais  saccharinas, 
mas  não  deve  esquecer  que  as  condições  de  vegetação 
devem  influir  bastante  na  composição  do  fructo. 

Ambas  as  amostras  vieram  do  Algarve;  a  analyse  só  re- 
caiu nos  pericarpos.  A  relação  encontrada  entre  os  peri- 
carpos  e  as  sementes  foi  a  seguinte,  em  peso: 


353 

Alfarroba  mulato  Alfarroba  oanella 

Pericarpos 93,50 89,17 

Sementes 6,50 10,83 

100,00  100,00 

Nos  pericarpos  determinámos: 

Alfarroba  mulato  Alfarroba  canella 

Humidade 14,960 15,150 

Cinzas 1,870 1,560 

Lenhoso 5,183  5,920 

Matérias  gordas 4,712 3,552 

iMaterias  azotadas ....  14,300 12,077 

Extractivo  ternário  (aná- 
logos do  amido,  glu- 
cose, etc.) 52,475 50,911 

93,500  89,170 

Nas  cinzas  da  primeira  encontrámos  0,149  de  anhydrido 
phosphorico  e  nas  da  segunda  0,138. 
Quanto  ao  valor  da  alfarroba  como  matéria  alcoolisavel, 
'  D'estas  duas  amostras,  foi  dado  pelos  números  seguintes: 

Alfarroba  mulato  Alfarroba  canella 

Glucose  existente  natu- 
ralmente   15,220 10,415 

Glucose  produzida  pela 
saccharificaçSo  chlo- 
rhydrica 24,992 24,996 

Total. . .  40,212  35,381 

Isto  é :  não  mettendo  em  linha  de  conta  o  álcool  prestado 
pela  semente,  cada  arroba  (15^)  d'aquellas  alfarrobas  da- 
ria o  seguinte  rendimento  theorico  em  álcool  absoluto  a  0^ : 

Alfarroba  mulata. 3^60 

Alfarroba  canella 3^18 

c  8.  23 


354 

É  claro  que.  este  reodimeato  ikeoria 
frer  grandes  dedacções,  ioberentes  ac 
do  fabrico  indastrial,  por  mais  perfei 

A  industria  da  alcoolisação  da  alfarrot 
deseuTOlvimento  dos  últimos  tempos,  < 
serrado  om  bom  futuro.  As  sementes,  < 
pela  cosedura,  ou  reduzidas  a  farinba,  si 
mentaclo  dos  anioiaes,  com  bons  res 
oatrítiTO  é  bastante  grande;  segundo  i 
ticamos  no  laboratório  do  Instituto,  U 


Homidade 

Cinzas 

Matéria  orgânica 

Na  matéria  orgânica: 

Substancias  azotadas 

Substancias  gordas 

Lenhoso 

Extractivo  ternário 

Nas  cinzas: 

Anbydrido  pbosphorico 

Cal 

Silica 

Ferro,  alcalis,  etc.  (por  differenç; 


Estas  sunentes  podem  aproTeitar-s 
raria. 


355 


2.*— ESSENOIAS  MEKOS  IMPORTANTES 
KA  ARBORIS AQÃO  FLORESTAL :  ARBUSTOS  DAS  MATAS» 
DAS  OHARNEOAS  E  DAS  AREIAS  MARÍTIMAS 


O  Tilmeiro»  nigrilho  ou  mosqueiro 
(Vlmuõ  campettritj  L.J 

O  ulmeiro,  nigrilho  (em  Tra2-os-Montes)  ou  mosqueiro 
(do  Alemtejo)  encontra-sè  abundantemente  em  todo  o  paíz, 
bordando  as  estradas,  á  beira  dos  campos,  próximo  das 
casas,  ou  misturado  com  as  outras  arvores,  mas  n3o  con- 
stítue  nunca  massiço  florestal. 

CUma. — Parece  que  o  ulmeiro  prefere  os  climas  tempe- 
rados, onde  adquire  o  maior  desenvolvimento ;  entre  nós  é 
talvez  mais  frequente  no  norte  do  que  no  sul. 

S(^. — Vae  bem  em  todos  os  solos  comtanto  que  n5o 
sejam  nem  muitos  áridos  nem  muito  húmidos ;  nos  terre- 
nos fundos,  leves  e  frescos  adquire  grandes  proporções  e 
rápido  crescimento;  se  a  humidade  for  excessiva  o  lenho 
fica  de  ruim  qualidade. 

Radicação. — Tem  radicação  muito  potente;  nas  terras 
soltas  e  profundas  a  raiz  mestra  desenvolve-se  bastante, 
acompanhada  de  ordinário  por  duas  ou  três  raizes  lateraes 
grossas,  muito  ramificadas  e  cheias  de  cabellame,  que  se 
estendem  a  grandes  distancias  na  horisontal,  dando  nume- 
rosos rebentões.  Nas  terras  mais  compactas  o  desenvolvi* 
mento  da  raiz  mestra  cessa  em  muito  pouco  tempo,  mas 
encontram-se  sempre  as  raizes  grossas,  obliquas  e  profun- 
das, e  as  raizes  horisontaes. 

Esta  propriedade,  que  teem  as  raizes  do  uhneiro  de  bra- 
cejar muito  longe,  e  de  crear  muitos  rebentões,  faz  com 
qae,  nem  sempre,  esta  arvore  seja  conveniente  para  bor» 

S3« 


356 

dadura  dos  campos  caltivados.  i 
cortada  a  arvore-mae,  é  dUBcil  ej 
^parecem  por  todos  os  lados.  1 
ulmeiro,  a  mnitos  metros  de  distai 
e  até  levantarem  os  lagedos  do  i 
mas. 

Porte,  crescimento  e  duração. — l 
arrore,  com  o  tronco  direito  e  gro 
a  copa  muito  ramosa,  cheia  de  foll 
cimento  muito  rápido  e  pode  chi 
maior  ulmeiro  que  temos  visto  d 
circumferencia  na  base  e  25  metros  de  altura,  mas  estava 
muito  decrépito,  òcoejá  muito  destroncado;  a  sua  altura, 
provavehneDte,  teria  chegado  a  30  metros.  Tem  vida  muito 
dilatada,  mas  é  sujeito  a  toroar-se  õco,  passado  uma  certa 
edade. 

•  o  ulmeiro  é  atacado  por  muitos  insectos,  uns  que  vivem 
QO  lenho,  outros  na  casca  e  outros  nas  folhas;  sobre  estas 
ultimas  desenvolve-se  um  puIg5o  que  pica  o  limbo  foliar  e 
provoca  a  formação  de  galhas  volumosas,  6cas,  entumed- 
das,  irregulares.  Estas  galhas  não  teem  préstimo,  e  como 
se  encontram  cheias  de  insectos,  d'ahi  veiu  a  esta  arvore 
o  nome  vulgar  de  mosqutiro,  com  que  em  muitas  localida- 
des do  sul  a  conhecem. 

Madeira  e  casca. — A  madeira  tem  cerne  e  borne  muito 
distinctos:  o  primeiro  é  vennelbo-acastanhado;  o  segundo, 
bastante  avultado,  branco- amarellado.  Esta  madeira  apre- 
senta os  raios  medullares  um  pouco  deseguaes,  n3o  muito 
grossos,  e  os  vasos  com  calibre  muito  differenle,  reunidos 
pelo  parenchyma  lenhoso,  desenhando  arcos  e  Lnhas  fle- 
xnosas  concêntricas;  os  de  maior  caUbre  constituem  uma 
zona  muito  porosa,  correspondente  á  camada  de  prima- 
vera. 

Esta  madeira  é  dura,  pesada,  elástica,  poDCO  própria  para 


357 

A  casca  das  arvores  adultas  é  lun  rhytidoma  escuro,  com 
fendas  aproiimadas  e  mais  profundas  na  vertical,  produ- 
zido pelas  laminas  suberosas  gue  se  formam  atravez  o  líber. 
Os  eixos  novos  apresentam  umas  vezes  a  casca  lisa,  outras 
vezes  coberta  de  um  invólucro  suberoso  acastanhado-ciaro, 
bastante  desenvolvido,  muito  frágil,  fendido  profundamente, 
e  qae  toma  os  ramos  alados  (variedade  suberosa,  Koch.). 
Esta  cortiça  cae  naturalmente  quando  se  forma  o  rhytidoma. 
e  Dão  tem  nenhum  préstimo. 

O  liber  desta  arvore  é  muito  fibroso  e  tenaz;  segundo 
o  sr.  Matbieu  (1.  c.)  pode  empregar-se  no  fabrico  de  estei- 
ras e  cordas  grosseiras. 

Folhagem.— Xs  folhas  do  ulmeiro  são  caducas,  ovado- 
elljplicas,  acuminadas,  obliquas  na  base,  duplamente  ser- 
radas, mais  ou  menos  ásperas,  disticadas;  teem  peciolos 
curtos.  SSo  muito  abundantes  e  dão  espesso  coberto. 

Floração  e  fructificação.—A.  floração  realisa-se  em  feve- 
reiro e  março,  quando  a  arvore  está  ainda  despida  de  fo- 
lhas; é  muito  abundante,  e  realisa-se  todos  os  annos  quasi 
com  a  mesma  intensidade,  em  condições  normaes.  As  flo- 
res são  pequenas,  apetalas,  hermaphroditas,  e  estSo  dis- 
postas lateralmente  nos  raminhos  em  fascículos  globo- 

SOS. 

o  fructo  é  uma  samara  glabra,  arredondada,  profunda- 
mente incisa  no  cimo;  amadurece  pouco  depois  da  florai^o 
e  cae  em  março  e  abril;  ainda  antes  de  apparecerem  as 
folhas  jà  a  arvore  está  coberta  de  fructos  desenvolvidos  e 
verdes,  ás  vezes  tão  numerosos  que  de  longe  parecem  as 
primeiras  folhas.  Estas  samaras  voam  a  grande  distancia, 
levadas  pelo  vento. 

O  ulmeiro  fnictilica  em  bastante  novo,  mas  no  principio 
as  sementes  que  produz  são  estéreis;  mesmo  depois  de 
adulto,  muitas  sementes  estéreis  se  encontram  de  envolta 
tím  as  sementes  férteis. 

Germinação. — Semeado  logo  em  seguida  á  disseminaçSo 


358 

natural  germina  passados  algoos  di 
'  cresce  rasoavelmente  D'esse  anno. 

O  crescimento  da  pequena  arv 
sen  temperamento  robusto,  ás  Tft 
gal-anos  primeiros  tempos,  princip: 
tes  e  nas  terras  seccas. 

Productos  e  usos.—X  madeira  d 
mada;  resiste  bem  á  humidade; 
quilhas  de  embarcações,  bombas, 
é  preciosa  para  carroçaria,  para  a 
ç3o  de  machinas,  para  veios,  etc; 
em  taboame. 

A  lenha  d'esta  essência  é  reputa< 
bem  como  o  carv3o  fabricado  com 

As  folhas  slo  empregadas  para  fi 
tos  do  paiz;  os  carneiros,  bois  e  poi 
culdade.  Em  Traz-os-Moates  alugam-se  os  nígrilhos  para 
lhes  ripar  as  folhas. 

Esta  arvore  é  uma  das  que,  pela  combust3o,  deixa  muor 
peso  de  cinzas,  com  percentagens  mais  elevadas  de  po- 


O  Crelxo 
(Fnunnui  angiutifcAia,  Vahl.,  e  Fraxmut  êaxátior,  L.  ?) 

O  freixo -é  arvore  muito  frequente  em  todo  o  Portugal; 
encoDtra-se  nas  margens  dos  campos  e  dos  caminhos,  nas 
beiras  dos  cursos  de  agua,  ou  misturado  com  as  outras  es- 
sências, mas  em  parte  nenhuma  do  paiz  fárma  massivo  flo- 
restal. 

CUma. — O  freixo  vive  bem  em  todas  as  nossas  provín- 
cias: nas  planícies,  nos  valles,  nas  collínas,  e  sobe  bastante 
alto  nas  montanhas. 

Soh. — É  pouco  exigente  nas  qualidades  do  solo  qoe . 
pede;  vive  em  todos  os  terrenos,  excepto  nos  muito  com- 


359 

«as  e  férteis,  dos  valies  e  à  beira 
d'agna  qne  melhor  vegeta  e  mais  se  desenvolve. 

fíaiUcação.—  O  systema  radicular  do  freixo  eompOe-se 
de  moitas  ramifícações,  das  qnaes  umas  profondam  bas- 
tante e  as  outras  se  alargam  borísontalmente  a  grandes 
distancias.  Estas  raizes  horisontaes  formam  rebentões,  mas 
teem  essa  propriedade  em  menor  escala  do  que  o  nlmeiro; 
aJDda  assim  o  freixo  toma-se  ás  vezes  nocivo  aos  campos 
cultivados  próximos,  quando  é  explorado  em  bordadura. 
Rebenta  muito  bem  de  touca. 

Porte,  crescimento  e  duração. — O  freixo  ó  uma  arvore  de 
grande  porte,  com  o  tronco  cylindrico,  ás  vezes  prolongado 
até  ao  cimo,  cnm  a£(^a  ovado-pyramidal  ou  arredondada. 
As  suas  dimensSes,  a  altura  do  fiíste  e  a  forma  da  c'opa 
variam  muito  com  as  condições  de  vegetação;  citam-se  frei- 
xos de  grandes  proporções,  no  paiz ;  o  sr.  Carlos  de  Sousa 
Pimentel,  n'um  artigo  publicado  no  Jomal  Offcial  de  Agri- 
adtura,  refere-se  a  uuia  d'estas  arvores,  existente  no  campo 
'de  Trancoso,  que  tem  8  metros  de  circumferencia  na  base 
e  perto  de  30  metros  de  altnra. 

O  freixo  tem  crescimento  muito  rápido  nos  primeiros 
annos,  e  grande  duração,  qne  vae  além  de  um  a  dois  sé- 
culos. Em  condições  normaes,  aos  60  a  70  annos  chega  ao 
perfeito  desenvolvimento  e  pode  explorar<se  com  vanta- 
gem. 

Madeira  e  casca. — A  madeira  é  branca,  ou  levemente 
rosada,  nntuosa  ao  tacto,  nacarína,  sem  distincçSo  entre 
cerne  e  albumo,  com  as  camadas  annaaes  muito  apparen- 
les.  Tem  os  raios  mednllares  eguaes,  muito  delgados,  e  os 
vasos  deseguaes,  grupados  por  laminas  visíveis  de  paren- 
chyma  lenhoso,  dispostas  em  linhas,  ou  arcos  esbranquiça- 
dos concêntricos ;  os  vasos  maiores  rennem-se  na  zona  de 
primavera,  tomando-a  bastante  porosa.  Esta  madeira  6 
dnra,  multo  elástica  e  muito  tenaz;  apezar  de  ser  branca, 
e  n3o  ter  distinccSo  entre  o  cerne  e  o  home,  é  bastante 


M'    '    '  360 

J;;;.  "  densa;  nm  exemplar  (secco  ao  ar)  d 

tif-; '  tem  a  densidade  0,862. 

'v  y  A  casca  é  lisa,  acinzeDtada,  nos  [ 

-V;  cede-lhe  depois,  em  uma  edade  já  r 

., ; ' .  mu  rhytidoma  persistente,  semelhante  ao  do  carvalho,  mais 

'''.■\,  fendido,  rugoso,  escuro. 

''.'-  Folhagem. — As  folhas  do  freixo  s5o  caducas,  oppostas, 

;,'■ '  .  compostas  de  foliolos  iraparipirmulados,  sesseis  e  dentados. 

ir  ■■  .  A  folhagem  é  pouco  basta  e  assombrea  pouco  o  terreno  ia- 

«:■;•■  ■  ferior. 

';.' ' .  floração  e  fructtficação. — A  floração  realisa-se  em  fins 

iy   .  de  dezembro  ou  janeiro,  muito  aotes  da  foIheaçSo,  qae  se 

;-<,'  dá  em  fins  de  fevereiro  ou  março.  As-flores  s9o  nuas,  po- 

y    .  lygamicas,  dispostas  em  cymeiras  panicoladas. 

'-'.  O  fructo  é  uma  samara  foliacea, .comprimida,  com  orna 

l-  aza  muito  comprida.  A  disseminação  realisa-se  em  outubro, 

^•.  ^ ,  novembro,  e  os  fructos  são  levados  pelo  vento  a  grande 

[y  i     '  distancia ;  algumas  vezes  a  disseminação  sú  tem  logar  na 

'■'  primavera  seguinte,  persistindo  os  fructos  presos  á  arvore 

durante  o  inverno. 
O  freixo  produz  sementes  férteis  desde  muito  novo,  e 
C':'  geralmente  fructiflca  em  abundância  todos  os  annos. 

Germínof^.— Quando  a  semente  é  deitada  á  terra  ni) 

outono,  umas  vezes  germina  na  primavera  se^nte,  outras 

Tezes  só  na  segunda  primavera;  semeada  em  março,  ger- 

'-,  :  mina  ás  vezes  logo  em  maio,  mas,  se  o  chão  é  secco,  sã 

nasce  passado  um  ou  dois  annos.  As  plantas  novas  crescem 

pouco  nos  primeiros  4  ou  5  annos,  porque  toda  a  actividade 

da  sua  vegetação  se  concentra  na  raiz,  cujo  gavião  profimdi 

muito;  d'essa  época  por  diante  adquire  grande  crescimento 

; '  annual,  até  edade  adiantada.  Na  primeira  época  da  vida  a 

sombra  das  arvores  superiores  não  Ibe  é  malfazeja,  antes 

'  pelo  contrario  é  efBcaz. 

Producios  e  mos. — A  madeira  do  freixo  é  muito  procu- 
rada para  carroçaria,  trem  de  lavoura,  caimbas  de  rodas. 


361 

cabos,  temões,  remos,  arcos  de  pipa,  coronhas  d'espiDgarda, 
para  tomo,  marceneria  etc;  em  poucas  palavras,  para  todas 
as  obras  qae  exijam  madeira  tenaz  e  flexível.  Dá  boa  lenha, 
6  carrão  estimado. 

Às  folhas  do  freixo  sâo  empregadas  como  forragem;  e 
as  cinzas  d'esta  arvore  são  bastantes  ricas  em  potassa. 


Os  choupos,  alemos  ou  fayas^ 
(Espécies  do  género  Poptdus) 

O  choupo  ordinário,  ou  negro,  ou  alemo  negro  fPopMÍttô 
tdgra,  L.)  e  o  alemo  ordinário,  ou  branco,  ou  choupo  branco, 
on  faya  branca  (Populus  alba,  L.J  são  as  duas  espécies, 
doeste  género,  mais  vulgares  no  paiz.  Encontram-se,  com 
abundância,  espontâneas  ou  cultivadas,  principalmente  nas 
terras  húmidas  e  nas  margens  dos  cursos  d'agua;  ás  vezes 
estão  dispostas  nas  orlas  dos  campos  cultivados,  ou  á  beira 
dos  caminhos,  sobretudo  o  choupo  negro.  O  choupo  tre- 
medor,  ou  faya  preta,  ou  alemo  lybico  (Populus  tremula,  L.J 
existe  nas  províncias  db  norte,  mas  é  menos  frequente  que 
as  espécies  anteriores.  O  choupo  dltalia  (Populus  pyror 
nUdalis,  Roz.^  e  o  choupo  do  Canadá /Popw/w*  monilifera, 
Ait.j  cultivam-se  hoje,  principalmente  o  primeiro,  á  beira 
das  estradas  e  caminhos,  e  junto  á  agua.  Nenhuma  d'estas 
espécies  constitue  massiço  florestal;  ou  apparecem  em  ali- 
nhamentos, ou  isoladas.  No  nordeste  da  Europa  o  choupo 
tremedor  constitue  massiços;  as  outras  essências  não  os 
fonnam  em  parte  nenhuma,  nem  a  sua  organisação  o  tolera. 

Clima. — O  choupo  negro  e  o  choupo  branco  são  arvores 

^  Importa  muito  ter  presente  que  nós  chamamos  impropriamente 
faifas  a  alguns  ehoupos.  A  verdadeira  faya,  a  Fagu$  silvatica,  h,,  é  arvore 
muito  diversa  e  não  existe  espontânea  em  Portugal ;  apenas  se  cultiva, 
n^um  ou  outro  ponto  muito  restricto,  como  curiosidade  botânica,  tal  no 
Bussaco,  etc. 


362 

espontâneas  das  regiões  médias  e  merídionaes  da  Europa; 
o  choupo  tremedor  sobe  mais  ao  norte,  quasi  tão  alto  como 
o  vidoeiro.  N'estes  factos  se  pode  prender  a  distribuiçio 
d'estas  arvores  em  Portugal;  o  choupo  tremedor  é  das  três 
essências  a  que  não  apparece  espontânea  nas  provindas  do 
sul,  e  a  que  sobe  mais  alto  nas  montanhas;  o  choupo  branco 
é  o  que  fica  a  menores  altitudes. 

Solo. — Os  choupos  preferem  as  terras  fundas,  frescas  oe 
húmidas,  não  muito  compactas,  sobretudo  as  terras  férteis; 
sao  indifferentes  á  composição  mineralógica  do  solo.  Sio 
apropriadissimos  á  beira  dos  cursos  d'agua,  onde  adquirem 
grandes  dimensões  e  onde  prestam  bous  serviços  na  cod- 
solidaçSo  das  terras  marginaes. 

Radicação. —  O  systema  radicular  de  todas  estas  espades 
é  superficial,  principalmente  o  do  choupo  tremedor,  qoe 
apenas  se  compõe  de  raízes  delgadas,  muito  compridas, 
d'onde  se  desenvolvem  numerosos  rebentões.  Os  choopos 
negro  e  branco  apresentam  egualmente  raizes  horisontaes, 
mas  teem  algumas  outras  profundas,  sobretudo  o  primeiro, 
e  por  isso  elle  resiste  mais  ao  vento.  De  ordinário  o  choupo 
branco  produz  mais  rebentões  de  raiz  que  o  choupo  negro. 
O  choupo  dltalia  tem  radicação  um  pouco  semelhante  à  do 
choupo  negro. 

Todos  os  choupos  rebentam  bem  de  touca  e  das  raizes. 
Quando  as  arvores  s3o  cortadas,  as  raizes  que  permanecem 
no  solo  formam  rebentos  ainda  com  maior  actividade,  e 
v3o  propagar,  ás  vezes  a  grandes  distancias,  a  arvore  aba- 
tida. Estas  essências  podem  prejudicar  os  campos  visinbos 
com  a  invasão  das  suas  raizes  e  rebentos;  o  prejuízo  é 
maior  nas  essências  que  teem  as  raizes  mais  borisontaes, 
mais  compridas  e  mais  cheias  de  rebentões. 

Porte,  crescimento  e  duração. —  Todos  os  choupos  teem 
crescimento  muito  rápido;  aos  40  ou  50  annos  podem  che- 
gar a  20  metros  de  altura,  e  mais.  Gerahnente  o  choupo 
branco  adquire  maior  altura  que  o  choupo  negro»  e  este 


363 

remedor;  esta  ultima  espécie  tem  pe- 
.  I,  (Je  ordinário,  a  vida  mais  corta.  Os 
choupos  do  Canadá  e  dltalia  crescem  muito  alto,  mais  ainda 
qne  o  choapo  branco,  e  crescem  muito  depressa,  sobretudo 
o  primeiro,  que  a  este  propósito  é  notável  entre  todos  os 
mais. 

O  choupo  negro  apresenta,  de  ordinário,  uma  grande 
copa,  aberta  para  os  lados,  irregular,  muito  ramiâcada, 
ovnde-conica,  mais  espessa  que  a  dos  seus  outros  congé- 
neres. O  choupo  branco  tem,  quasi  sempre,  maior  tronco, 
direito,  cylindrico,  mais  limpo  de  ramos  ladrões  qne  a  es- 
pécie anterior,  e  copa  grande,  ovóide,  muito  ramificada.  O 
choupo  tremedor  tem  o  tronco  cylindrico  também  e  elevado, 
mas  é  pequeno  de  copa,  tem  os  ramos  delgados  e  pouco 
numerosos.  O  choupo  do  Canadá  apresenta  um  tronco  ele- 
vado, cylindrico,  regular  e  a  copa  larga,  aberta,  ramificada, 
OToideKionica.  O  choupo  d'ltalin  distingue-se  de  todos  os 
outros,  pelo  porte  muito  característico:  o  troiíco  prolonga-se 
alé  ao  cuno,  vestido,  quasi  desde  a  base,  de  ramos  delga- 
dos, direitos,  levantados,  constituindo  no  seu  conjunto  uma 
aspi  estreita,  Aisiforme,  aguçada. 

Madeira  e  casca. —  A  madeira  dos  choupos  é  branda, 
porosa,  tem  os  elementos  anatómicos  volumosos  e  pouco 
lenhifeilos.  Os  seus  raios  meduUares  s3o  muito  delgados, 
egoaes  e  numerosos;  os  vasos  são  eguaes  e  grupados  em 
pequenas  linhas  radiantes. 

De  todas  estas  madeiras  a  mais  estimada  é  a  do  choupo 
tranco ;  distingue  se  bem  porque  tem  o  cerne  levemente  aver- 
melhado e  o  borne  branco ;  um  exemplar  da  coUecçSo  do  Insti- 
tuto accusou-nos  a  densidade  0,640.  As' madeiras  do  choupo 
negro  e  tremedor  são  brancas,  sem  distincção  de  cerne  e 
home;  nm  exemplar,  da  coUecçSo  do  Instituto,  da  madeira 
do  choupo  negro  tem  a  densidade  0,486,  e  outro  do  choupo 
tremedor  0,434.  A  madeira  do  choupo  tremedor  é  pouco  fre- 
qnente  entre  nós.  A  madeira  do  choupo  d'Italia  é  a  mais  leve, 


364 

mais  macia  e  mais  porosa  de  todas  as  n 
os  vasos  maiores.  A  madeira  do  choupo 
á  do  choupo  branco,  mas  superior  á  d 

A  casca  de  todas  estas  arvores,  dep 
rhytidoma.  No  choupo  negro,  no  choup( 
do  Canadá  este  rhytidoma  fórma-se  [ 
novas,  e  apresenta-se  fendido  longiti 
aspecto  do  rhytidoma  dos  carvalhos, 
e  tremedor  a  casca,  cinzento-esverdinh 
mais  tempo,  depois  fendese  em  losa 
regulares,  e  só  tarde  apparece  o  rhyti 

Os  rebentos  e  os  botões  do  choupi 
Ihosos,  n3o  viscosos;  os  botões  de  tod' 
citados  são  glabros  e  viscosos;  os  rebentos  dos  choupos 
negro  e  d'ltalia  são  cylindricos,  os  do  choupo  do  Canadá 
angulosos,  sulcados. 

Folhagem. —  As  folhas  dos  choupos  são  caducas,  grandes, 
alternas,  e  teem  o  peciolo  comprido,  sub-cylindrico  (choupo 
branco)  ou  comprimido  lateralmente  (choupos  negro,  tre- 
medor, d'Italia,  e  do  Canadá),  o  que  as  obriga  a  agitarem-se 
muito  á  mais  leve  aragem,  sobretudo  as  do  choupo  tre- 
medor, d'onde  vem  o  nome  a  esta  essência. 

As  folhas  do  choupa  branco  são  palmatilobadas,  em  adul- 
tas glabras  e  verde-escuras  na  pagina  superior,  e  vestidas 
de  pellos  cotanilhosos  densos,  persistentes,  muito  brancos, 
na  pagina  inferior.  As  do  choupo  tremedor  s3o  ovado-or- 
biculares,  irregularmente  crenado-dentadas,  pnbesceales 
em  novas,  e  verdes,  não  lustrosas  em  ambas  as  paginas, 
depois  de  adultas.  As  das  outras  três  essências  sSo  triao- 
gnlar-ovadas,  ou  triangular-ellipticas,  glabras  nas  duas  pa- 
ginas, e  regularmente  dentadas;  as  do  choupo  de  Itália  são 
tão  largas,  ou  mais  largas,  do  que  compridas ;  as  do  cboQpo 
negro  s3o  mais  compridas  que  largas,  e  longamente  aca- 
miíiadas ;  as  do  choupo  do  Canadá  são  grandes,  curtamente 
acuminadas,  e  celheadas  em  novas. 


365 

  folhagem  d'6Stas  arvores  é  pouco  espessa  e  muito  mó- 
bil; assombrea  pouco  o  terreno  inferior.  Contribue  bastante 
para  o  pequeno  coberto  dos  choupos  o  facto  de  se  desarti- 
cular e  cair  um  grande  numero  de  raminhos  de  dois  e  três 
annos,  pela  época  da  queda  das  folhas^  ou  pouco  tempo 
antes;  facto  este  que  parece  ser  devido  a  phenomenos  de 
organisação  especiaes  a  estas  arvores. 

Floração  e  fructificação.— A  floração  dos  choupos  é  dioica ; 
as  flores  dos  dois  sexos  dispõem-se  em  amentilhos,  uns  e 
outros  cylindrícos,  pendentes^  não  folhados  na  base,  late- 
raes,  implantados  no  raminho  do  anno  anterior.  A  floração 
realisa-se  em  fevereiro  e  março,  antes  da  folheação. 
O  fructo  é  uma  capsula  polysperma;  as  sementes  sao 

I  muito  pequenas  e  teem  na  base  pellos  sedosos,  compridos, 
que  lhes  permitte  voarem  a  grande  distancia,  levadas  pelo 
vento.  A  disseminação  tem  logar  cedo :  de  março  a  maio, 

;     conforme  as  localidades. 

Os  choupos  dão  grande  quantidade  de  semente,  mas  muita 

1     é  estéril.  Florescem  muito  novos,  aos  15  e  20  annos,  e  ás 

[    vezes  antes;  fructiâcam  todos  os  annos  em  abundância. 

i        Germinação, — A  semente  dos  choupos  perde  muito  de- 

[  pressa  o  poder  germinativo;  apenas  em  alguns  dias.  A  ger- 
minação tem  logar  oito  a  dez  dias  depois  da  sementeira  na- 

I    tural.  A  sementeira  artificial  d'estas  arvores  raríssimas  ve- 

;    zes  se  pratica;  o  processo  mais  seguido  é  a  estaca.  Pegam 

I    de  estaca  muito  facilmente. 

I       As  plantas  novas  teein  crescimento  rápido  e  são  muito 

I    robustas.  Não  toleram  a  sombra  das  arvores  superiores. 

[  Pedem  estas  arvores  a  acção  tão  directa  da  luz  que  preci- 
sam viver  isoladas,  ou  em  alinhamento,  e  são  por  isso  im- 
próprias para  massiço. 

I  Productos  e  usos. — Já  dissemos  que  a  madeira  do  choupo 
branco  é  preferível  á  dos  outros  choupos;  dá  bom  taboame, 
mas  que  deve  ser  empregado  bem  secco,  e  ficar  ao  abrigo 

I    da  humidade.  A  madeira  do  choupo  negro  é  mais  ordina- 


366 

ria,  e  peiores  ainda  as  do  dioapo  tre: 
Itaiia. 

As  talx>as  de  choupo  s3o  muito  e 
gal,  sobretudo  nos  pontos  onde  esc 
usam-as  bastante  para  caixilhos  de 
para  o  interior  dos  moveis,  para  peç 

A  lenha  d'estas  arvores  nSo  é  mui 
pressa  e  dá  pouco  calor;  o  carrão 
servir  para  o  fabrico  da  pólvora. 

As  cascas  são  um  pouco  tanninosas.  As  folhas,  em  verde 
ou  em  secco,  podem  utilisar-se  como  forragens  para  os  ga- 
dos. A  substancia  resinosa,  que  forma  inducto  sobre  os  bo- 
tSes  e  rebentos  de  muitas  espécies,  é  aproveitada  para  o 
fabrico  do  unguento  conhecido  em  pharmacia  com  o  nome 
de  poputeão. 

Ob  BalgueiroB  e  vlmelroa 

(Espécies  do  género  Salix) 

Os  salgueiros  propriamente  ditos  e  os  vimeiros  distio- 
guem-se  pelo  comprimento  e  largura  das  folhas,  bem  cocno 
pela  forma  dos  rebentos.  Os  vimeiros  teem  as  folhas  es- 
treitas e  compridas  (três  a  dez  vezes  mais  compridas  do 
que  largas),  e  os  rebentos  delgados,  muito  compridos  e  fle- 
xiveis.  Os  salgueiros  propriamente  ditos  lêem  as  folhas  lar- 
gas e  curtas  (o  máximo  três  a  quatro  vezes  mais  compiv 
das  do  que  largas),  e  os  ramos  nodosos,  curtos,  nem  fte- 
xiveis  nem  muito  delgados. 

As  espécies  de  uma  e  outra  d'estas  secções  enconlram-se 
abundantemente  em  todo  o  paiz,  e  quasi  sempre  nas  tems 
húmidas,  á  beira  dos  rios  e  outros  cursos  de  agua. 

Entre  os  vimeiros  s3o  especialmente  cultivados  o  vimeiro 
ordinário  (SaUx  vittílina,  L.)  e  o  vimeiro  do  norte,  ou  sal- 
gueiro francez  (Salix  vimincUis,  L.).  O  salgueiro  cborSo 
(Salix  bc^lonica,  L.)  é  sobretudo  arvore  de  ornamento. 


307 

Ontras  espécies  d'esta  secção  se  encontram  espontâneas, 
sendo  as  conhecidas  boje  o  ScUix  amygdalma,  L. ;  o  Salix 
purpúrea^  L.;  o  Saiix  alba,  L.,  ou  salgueiro  branco,  e  o 
Salix  fragiliSy  L.>  ou  salgueiro  frágil. 

No  grupo  dos  salgueiros  propriamente  ditos  são  duas  as 
espécies  mais  frequentes  e  mais  importantes:  o  salgueiro 
preto  (Salix  atro-cinerea,  Brot.)  e  o  salgueiro  com  folbas 
de  salva  (Salix  saivifoUa,  Brot.);  citam- se  ainda  como  exis- 
tentes no  paíz  o  Salix  cinereay  L.,  e  o  Salix  Caprea,  L. 

Clima.— O  género  Salix  existe  representado  em  toda  a 
Europa;  nos  pontos  de  temperatura  mais  elevada,  os  sal- 
gueiros são  arbustos  ou  arvores,  ás  vezes  de  grandes  di- 
mensões; nas  latitudes  mais  septentrionaes,  e  nas  regiões 
alpinas  das  montanhas,  são  muito  pequenos  sub-arbustos, 
com  o  systema  radicular  desenvolvido  e  os  ramos  muito 
cortes,  quasi  herbáceos,  pouco  levantados  acima  do  ter- 
reno. 

Entre  nós  os  salgueiros  e  os  vimeiros  encontram-se  em 
(piasi  todos  os  climas  locaes,  em  todas  as  situações  e  expo- 
sições. São^  sempre  arbustos  levantados,  de  porte  rasoavel, 
OQ,  ás  vezes,  arvores  basíante  elevadas. 

Solo. — As  espécies  indígenas  do  género  Saiix  pedem  ter- 
renos leves,  frescos  ou  húmidos.  O  salgueiro  branco  pode 
todavia  viver  nos  solos  seccos,  e  o  salgueiro  frágil  vae  mais 
longe,  chega  a  desenvolver-se  nos  terrenos  compactos ;  di- 
zem os  auctores  estrangeiros  que  o  Salix  Caprea,  L.,  me- 
nos exigente  ainda,  se  contenta  com  toda  a  qualidade  de 
terras,  quer  sejam  seccas  ou  húmidas,  leves  ou  compactas; 
nio  conhecemos  esta  arvore,  que,  se  existe  no  paiz,  não 
ptfece  ser  abundante.  É  certo^  que  os  salgueiros  e  vimei- 
ros indígenas  prosperam  sobretudo  nos  terrenos  mais  hú- 
midos, que  preferem,  e  onde  são  muito  mais  frequentes. 

Radicação. — Â  radicação  dos  salgueiros  alarga-se  mais 
na  horisontal  que  na  vertical;  compõe-se  de  muitas  raizes, 
mnito  ramificadas,  e  terminadas  em  cabellame  abundante. 


368 

Esta  forma  de  radicação  apropria-o 
terras  das  margens  dos  cursos  de 
eavolvendo-as  com  a  rede  apertada 
terraneas.  São  muito  empregados,  eu 
gens  dos  rios. 

Todos  03  salgueiros  teem  um  gr 
dormentes  e  rebentam  de  touca  co 
bentos  s3o  fortes  e  numerosos. 

Porte,  crescimento  e  duração. — Os 
cimento  muito  rápido  logo  desde  no' 
teem  pequena  duração.' 

O  seu  porte  é  variável  conforme  í 
das;  mnas  são  arbustivas  sempre,  vi 
a  base,  e  teem  pequena  altura,  com 
Salix  purpúrea,  etc. ;  outras  apresei 
ora  arbóreas,  com  o  tronco  despido,  < 
o  salgueiro  frágil,  o  salgueiro  branco 
é  uma  das  essências  mais  communs 
soes;  aos  40  annos,  ás  vezes,  é  on 
dos  salgueiros  arbóreos  é,  quasi  s 
porque  muitos  dos  botões  lateraes  sã 
ramifica-se  pouco.  O  salgueiro  chori 
conbecido  e  muito  característico,  coi 
O  vimeiro  ordinário  e  o  vimeiro  ( 
quasi  sempre  deformados  pela  culti 
produzirem  muitos  rebentos  vigoros 

Como  dissemos,  as  dimensões  e 
bentos  variam  muito  nas  diversas  í 
em  algumas  são  muito  frágeis  na  b: 
tudo  na  primavera,  e  desprendem' 
dade;  acontece  ísto  em  alto  grau  no . 
lhe  vem  o  nome. 

Madeira  e  casca. — A  madeira  d 
1,salgaeiro  frágil,  vimeiro  do  norte, 
(salgueiro  preto,  salgueiro  branco, 


369 

3  djstjnctas,  as  fibras  grossas,  poQco  leDbifeitas,  os 
raios  inednllares  egoaes,  nnmerosos,  delgados,  pouco  visi- 
Teis,  e  os  vasos  abundantes,  eguaes,  isolados  ou  dispostos 
em  pequenos  grupos.  A  madeira  dos  salgueiros  é  quasi 
sempre  macia,  leve,  porosa.  Devemos  todavia  advertir  que 
a  madeira  do  salgueiro  preto,  uma  das  que  adquire  entre 
nõs  maiores  dimensSes,  tem  densidade  elevada;  um  exem- 
plar (secco  ao  ar)  da  coUecçao  do  Instituto  tem  a  densidade 
0,513.  Esta  madeira  passa  por  ser  pouco  inferior  à  do 
choupo  branco  e  superior  á  dos  choupos  negro  e  tremedor; 
effectivamente  a  densidade,  que  lhe  encontrámos,  está  em 
harmonia  com  essa  asserção. 

A  casca  dos  salgneiros  adultos  é  om  rhytidoma,  muito 
Tariavel  na  espessura,  na  côr  e  na  fragmentação,  segundo 
as  espécies;  em  umas,  a  lamina  suberosa  isoladora  fòrma-se 
muito  profunda  e  o  rhytidoma  é  muito  rugoso  e  semelhante 
ao  dos  carvalhos  (salgueiro  preto,  salgueiro  branco,  sal- 
gneiro  frágil,  etc.) ;  n'outras,  é  mais  exterior  (Salix  amygda- 
lina),  ou  permanece  sempre  superficial,  e  a  casca  fica  del- 
gada e  lisa  até  edade  muito  avançada  (Salix  Caprea,  Saiix 
dnereaj. 

à  casca  dos  rebentos  novos  tinge-se.  ás  vezes,  de  cores 
nvas,  amarella,  vermelha,  etc.,  como  é  tão  saliente  no  vi- 
meiro ordinário. 

Folhagem. — As  folhas  dos  salgueiros  s3o  simples,  cadu- 
cas, alternas,  inteiras  ou  dentadas,  e  teem  peciolos  curtos. 
São  ordinariamente  lanceoladas  ou  ellipticas,  com  dimen- 
sões ahsolatas  e  relativas  muito  diversas,  como  já  disse- 
mos. A  sua  côr  e  o  tomento  que  as  reveste  variam  também 
muito :  são  verdes  ou  acinzentadas,  glabras  ou  pubescentes, 
muas  avellndadas,  outras  assetinadas  com  pellos  brilhantes,  ■ 
etc.  As  dbnensões,  a  cdr  e  o  tomento  s3o  característicos  es- 
pecificos,*mas  os  salgueiros  s5o  espécies  muito  polymorphas. 

A  folhagem  d'estas  arvores  é  pouco  espessa,  produz  co- 
berto fraco. 


370 

• 

Floração  e  fructiflcação. — À  floração  dos  salgueiros  é 
dioica;  as  flores  masculinas,  bem  como  as  femíniDas,  dis- 
pOem  se  em  amentilhos  levantados,  cylmdricos  ou  ovóides, 
lateraes,  implantados  nos  raminhos  do  anno  anterior.  A  flo- 
ração realisa-se  antes  da  folheaçao,  oa  simultaneamente 
com  ella ;  no  primeiro  caso  os  amentilhos  sSo  sesseis  e  nus 
na  base,  no  segundo  caso  pedunculados  e  folhosos. 

O  fructo  é  uma  capsula  polysperma ;  as  sementes  são 
muito  pequenas,  e,  como  as  dos  choupos,  teem  appendices 
pelludos  que  lhes  permittem  larga  disseminação. 

A  floração  tem  logar  no  flm  do  inverno,  em  fevereiro  e 
março,  e  a  disseminação  em  .abril  e  maio. 

Os  salgueiros  entram  muito  novos  em  floração;  algomas 
espécies  logo  aos  dois  ou  três  annos.  Produzem  muitas  se- 
mentes todos  os  annos,  mas  uma  grande  percentagem  é  de 
má  qualidade,  incapaz  de  germinação. 

Germinação. — A  semente  dos  salgueiros,  caida  em  solo 
húmido,  germina  com  muita  rapidez;  ás  vezes  em  meoos 
Me  24  horas.  As  plantas  novas  teem  crescimento  rápido,  e 
são  muito  robustas  desde  logo. 

Estas  essências  propagam-se  muito  facilmente  por  es- 
taca, que  é  o  processo  mais  commum  de  as  reproduzir  ar- 
tificialmente. 

Productos  e  tisos. — A  madeira  dos  salgueiros  é  utilisada 
para  tutores  de  vinha,  esteios,  arcos  e  diversas  pequenas 
obras.  Já  dissemos  que  a  madeira  do  salgueiro  preto  ad- 
quire ás  vezes  boas  proporções,  e  a  sua  qualidade  não  é 
inferior  á  de  muitos  choupos.  Na  Beira  tem  grande  desea- 
^volvimento  o  fabrico  dos  palitos,  cuja  matéria  priraa  é  a 
madeira  dos  salgueiros,  sobretudo  do  salgueiro  branco,  que 
se  corta  nitidamente  em  todos  os  sentidos;  esta  industria 
é  bastante  importante  para  algumas  localidades.  Utilisam-se 
muito  estas  essências  para  canastraria  e  para  arco^  de  pipa, 
em  virtude  da  sua  flexibilidade ;  o  salgueiro  preto  é  muito 
usado  para  isso.  Os  rebentos  flexíveis  dos  vimeiros  são 


371 

muito  empregados  em  todo  o  paiz  no  fabrico  de  cestos;  o 
Timeiro  ordinário  e  o  Timeiro  fraacez  coltivam-se  bastante 


Alenba  dos  salgueiros  arde  muito  depressa,  com  cb; 
ilta;  é  boa  para  aquecer  fornos.  O  carv3o  é  muito  teve  e 
pode  servir  para  o  fabrico  de  pólvora.  As  cascas  são  taoni- 
nosas,  e  no  norte  da  Europa  utilisam-as  no  curtimento  das 
peiles.  As  folhas  podem  servir  como  forragem. 

A  exploração  dos  salgueiros,  afora  os  prodpctos  directos 
releridos,  é  de  grande  vantagem  nas  proximidades  dos  cur^ 
SOS  de  agua,  pela  consolidação  que  dão  ás  margens,  difB- 
cnltaado  o  esboroamento  e  concorrendo  muito  eficazmente 
para  a  boa  conservação  das  terras. 


{Betida  pubetcaa,  Ehrh.,  e  Betula  verrueon,  Ebrfa. : 
BetiJa  alba,  h.  e  Brot) 


O  vidoeiro  sô  se  encontra  espontâneo,  entre  nós,  na  re- 
gião do  norte,  nas  grandes  altitudes:  no  Alto  Minho,  no 
Gerez',  no  Marão,  na  Estrella,  etc;  o  seu  limite  sul  é  a 
serra  da  Estrella,  onde  sobe  a  l  :600  metros.  Tem  impor- 
tância florestal  muito  reduzida.  O  facto  de  resistir  tanto  nos 
climas  frios  e  subir  tão  alto  sobre  o  mar  pode  todavia  re- 
swvar-lhe  nm  certo  pape!  na  arborisação  das  nossas  mon- 
tanhas. 

CUma. — O  vidoeiro  é  a  arvore  das  regiões  septentrio- 
aaes;  a  Beíula  verrucosa,  Ebrh.,  não  sobe  a  tamanhas  la- 
titudes e  d3o  passa  de  05  graus,  mas  a  Betttla  pubescens, 
Ehrh.,  chega  a  7i  graus;  em  contraposição  a  primeira 
abunda  na  Europa  média  e  tem  limite  sul  mais  avançado 
que  a  segunda.  Estas  arvores  constituem  massiços  muito 
importantes  nas  regiões  europeas  norte  e  média,  mas  &  me- 
dida que  avançam  para  o  sul  só  apparecem  disseminadas 

24* 


372 

em  peqaenos  grapos  e  procuram  corrigir  com  as  difieren- 
ças  da  altitude  as  condições  menos  propicias  da  latitude. 

É  muito  notarei  a  existência  da  Beíula  pubescens  em  Por- 
tugal. As  irregularidades  do  habitat  d'estes  dois  vidoeiros, 
junto  ás  formas  de  transição,  mais  ou  menos  accentuadas, 
dos  caracteres  botânicos  de  uma  e  outra,  provam  a  favor 
da  conservação  da  antiga  espécie  linneana,  a  Betuht  alba, 
reunindo  as  duas  formas^. 

Sdo.—O  vidoeiro  contenta-se  com  todos  os  terrenos, 
comtanto  que  não  sejam  muito  compactos  nem  muito  sec- 
cos.  Yae  bem,  mesmo  nos  solos  bumidos  e  pantanosos,  so- 
bretudo a  Betula  pubescens. 

Radicação. — O  enraizamento  d'estas  arvores  é  pouco 
ftmdo.  Rebentam  bem  de  touca,  e  especialmente  rebentam, 
quando  são  cortadas,  muito  bem  das  raízes. 

Porte,  crescimento  e  duração. — O  vidoeiro  é  uma  arvore 
medíocre,  com  o  tronco  relativamente  delgado  e  prolongado 
quasi  sempre  até  ao  cimo,  despido  até  grande  altura,  e  com 
a  copa  estreita,  ovoide-aguçada.  Tem  crescimento  rápido, 
e,  de  ordinário,  duração  não  muito  longa. 

Madeira  e  casca. — A  madeira  do  vidoeiro  é  branca,  uni- 
forme, sem  distincção  de  cerne  e  albumo,  com  as  camadas 
annuaes  pouco  visíveis;  tem  os  raios  medullares  delgados, 
eguaes,  numerosos,  mal  apparentes,  e  os  vasos  eguaes,  so- 
litários ou  em  pequenos  grupos,  reunidos  em  desenhos  re- 
ticulados. Esta  madeira  tem  dureza  e  densidade  média. 

A  casca  d'esta  essência  é  muito  característica;  é  um  te- 
gumento delgado,  branco,  muito  pouco  rugoso,  que  se  es- 
folia  circularmente  em  pequenas  laminas  papyraceas ;  o  lí- 
ber e  o  parenchyma.  cortical  permanecem  vivos  sob  este 
tegumento,  que  é  devido  a  formações  suberosas  superfi- 
ciaes. 


1  Yeja-se  o  que  a  este  propósito  dizemos  no  Eàboço  de  uma  flora  U- 


373 

Folhagem, — Às  folhas  do  vidoeiro  s3o  caducas»  simples, 
pecioladas;  as  da  B.  vermcosa  sSo  ovado-rhomboedaes, 
triangulares  na  base,  glabras  em  adultas,  levemente  pu- 
bescentes  em  novas,  duplamente  dentadas ;  as  da  B.pubescens 
são  mais  ou  menos  arredondadas  na  base,  muito  pubes- 
centos  em  novas,  e  em  adultas  pubescentes  ou  sub-gla- 
bras,  dentadas. 

A  B.  verrucosa  tem  os  raminhos  providos  de  glândulas 
Terrugosas  que,  principalmente  na  primavera,  segregam 
mn  inducto  resinoso  abundante ;  estas  glândulas  também 
se  encontram  na  pagina  inferior  das  folhas;  faltam  na  B. 
pubescens. 

Os  vidoeiros  dSo  pequeno  coberto. 

Floração  e  fructificação. — A  floraç5o  é  monoica ;  as  flores  fe- 
mininas e  as  masculinas  dispôem-se  em  amentilhos;  os  ameu- 
tilhos  masculinos  são  pendentes,  cylindricos,  os  amentilhos 
femininos  levantados,  e  teeip  o  aspecto  de  pequenas  pinhas, 
cujas  escamas  trilobadas,  membranosas  e  caducas,  suppor- 
tam  na  axilla  três  verdadeiros  fructos.  A  floração  é  simul- 
tânea com  a  folheação. 

t)s  fructos  são  pequenas  samaras  com  duas  azas  lateraes, 
transparentes;  na  B.  verrucosa  estas  azas  levantam-se  muito 
acima  da  base  dos  estyletes  persistentes ;  na  B.  pubescens 
não  se  elevam  além  da  base  dos  estyletes.  A  disseminação 
-realisa-se  em  agosto,  setembro,  e  os  fructos,  alados  e  muito 
pequenos,  voam  com  o  vento  a  grandes  distancias. 

O  vidoeiro  entra  em  floração  bastante  novo,  e  fructifica 
regular  e  abundantemente  todos  os  annos. 

Germinação. — As  sementes  do  vidoeiro  teem  sempre  mis- 
turadas muitas  estéreis ;  conservam  pouco  tempo  a  facul- 
dade germinativa.  Nascem  rapidamente,  quando  postas  em 
condições  convenientes,  e  as  plantas  novas  são  desde  logo 
vigorosas. 

Productos  e  usos. — A  madeira  doesta  essência  é  pouco 
ranpregada  entre  nós  pela  sua  raridade;  pode  ter  um  grande 


374 

numero  de  empregos.  Passa  por  ser  boa  lenha  e  dar  car- 
ySo  estimado. 

Na  Rússia  utilisam  muito  a  casca  do  vidoeiro,  dando-Ihe  di- 
versos usos ;  expIoram>a  periodicamente  como  nós  fazemos  á 
cortiça  do  sobreiro.  É  bastante  tanninosa,  e  contém  um  óleo 
essencial  que  dá  aos  coiros  da  Rússia  o  cheiro  caracterís- 
tico. É  quasi  inalterável  e  impermeável,  em  virtude  da 
grande  percentagem  de  um  principio  resinoso  de  que  está 
impregnada. 

Em  algumas  regiões  septentrionaes  extraem  a  seiva  do 
vidoeiro,  que  tem  bastante  assucar,  para  o  fabrico  de  be- 
bidas espirituosas. 

o.  amieiro 

{Âlnus  gltUinosa,  G&rtn.) 

O  amieiro  existe  nas  nossas,  províncias  do  norte  e  do 
centro,  no  Minho,  em  Traz-os-Montes  e  na  Beira,  nas  mar- 
gens dos  cursos  de  agua  e  nos  terrenos  paludosos,  onde 
è  frequente. 

Clima. — O  amieiro  não  parece  ser  exigente  nas  condi- 
ções do  clima,  porque  habita  na  Europa  desde  a  Suécia 
até  á  Grécia,  á  Itália  e  á  península  Hispânica,  passando 
mesmo  ao  littoral  septentrional  d' Africa.  Encontrá-se  em 
Portugal  em  altitudes  e  exposições  muito  variadas. 

Solo. — Vive  em  todos  os  solos,  excepto  nos  muito  com- 
pactos; prefere  as  terras  frescas  e  soltas,  ou  mesmo  hú- 
midas, mas  nSo  constantemente  alagadas ;  vae  optimamente 
nas  margens  dos  cursos  de  agua,  onde  adquire  grandes 
proporções.  Nos  terrenos  pantanosos  esta  essência  é  pre- 
ciosa ;  não  porque  ahi  prospere  melhor  do  que  nos  outros  so- 
los, antes  pelo  contrario  é  prejudicada,  mas  porque  apro- 
veita solos  que  as  outras  arvores  não  poderiam  aproveitar, 
e  concorre  muito  para  os  melhorar,  e  para  lhes  neutralisar 
as  condições  tão  pouco  salubres. 


375 

Radicação. — Esta  arvore  tem  systema  radicular  desen- 
Tolyido;  as  raizes  estendem-se  horisontaImente>  tanto  mais 
numerosas  e  compridas  quanto  maior  a  humidade  do  solo. 
Rebenta  bem  de  touca,  mas  nSo  dá  rebentões  de  raiz. 

Parte j  crescimento  e  durofão. — O  amieiro  é  uma  arvore 
de  rasoaveis  dimensQes,  e  de  crescimento  rápido,  princi- 
palmente nos  primeiro^  annos;  aos  40  ou  50  annos  pode 
chegar,  entre  nôs,  a  20  ou  25  metros  de  altura,  por  0",6 
de  diâmetro  no  pé.  Tem  a  copa  grande,  irregular. 

Esta  essência,  de  ordinário,  não  tem  grande  duração. 

Madeira  e  casca. — A  madeira  do  amieiro  nSo  tem  des- 
tincção  entre  cerne  e  borne;  é  primeiro  branca  e  depois 
avermelhada.  Tem  o  canal  medullar  triangular,  os  yasos 
'  eguaes,  delgados,  isolados  ou  reunidos  em  pequenos  grupos, 
6  os  raios  medullares  apparentemente  deseguaes:  uns  muito 
estreitos  e  outros  largos,  provenientes,  estes  últimos,  da 
reunião  de  verdadeiros  raios  estreitos,  como  os  primeiros, 
tendo  intercalado  tecido  fi6roso  homogéneo,  sem  vasos.  As 
camadas  annuaes  são  apparentes.  Esta  madeira  tem  dureza 
e  densidade  média.  Um  exemplar  (secco  ao  ar)  da  collec- 
ção  do  Instituto  tem  a  densidade  0,455. 

A  casca  dos  rebentos  é  lisa  e  esverdinhada ;  tem  gran- 
des lenticulas  e  bastantes  glândulas  resiniferas.  Succede* 
lhe,  nos  ramos  mais  velhos,  um  invólucro  suberoso,  tam- 
bém liso  e  esverdinhado,  e  nas  pernadas  e  no  tronco  um 
rhytidoma  escuro,  fendido  em  placas  largas. 

Folhagem. — As  folhas  do  amieiro  são  caducas,  grandes, 
arredondadas,  obtusas,  pecioladas.  Esta  essência  é  das  que 
tem  menor  coberto. 

Floração  e  fructificação. — A  floração  é  monoica;  as  flo- 
res de  ambos  os  sexos  estão  dispostas  em  amentilhos;  de 
ordinário  reunem-se  uns  e  outros  na  mesma  inflorescencia 
em  grandes  panlculas,  ficando  no  cimo  os  amentilhos  mas- 
colinos.  A  floração  realisa-se  em  fevereiro  ou  março,  antes 
da  folheação. 


376 


Os  ameDtilbos  masculinos  são  cyUndrícos,  pendentes,  del- 
gados; os  femininos  são  ovóides  e  teem  a  apparencia  de  pe- 
quenas pinhas,  com  as  escamas  lenhosas  e  persistentes, 
que  supportam  na  base  dois  pequenos  achenios. 

A  disseminação  dá-se  no  principio  do  inverno  ou,  ás  ve- 
zes, na  primavera.  Estes  fructos  não  se  disseminam  a  ta- 
manha distancia  como  os  do  vidoeiro. 

Germinação. — As  sementes  conservam  mais  tempo  o  po- 
der germinativo  que  as  do  vidoeiro,  e  teem  habitualmente 
menor  percentagem  de  sementes  estéreis.  A  germinação 
realisa-se  em  pouco  tempo,  e  as  plantas  novas  não  preci- 
sam abrigo,  salvo  se  o  terreno  for  secco. 

Productos  e  usos. — O  amieiro  aos  12  annos  já  começa  a 
dar  lenhas  e  madeh^as  miúdas;  em  adulto  fornece  madei- 
ras que  não  resistem  expostas  ás  alternativas  de  seccara 
e  humidade,  mas  resistem  muito  bem  debako  de  agua,  com- 
tanto  que  fiquem  sempre  mergulhadas.  É  muito  explorada 
esta  essência  para  varedos,  paus  de  vinha,  bombas,  canos, 
bicas,  obras  de  tomo,  de  marceneria  e  de  tamancaria. 

A  lenha  é  de  rasoavel  qualidade,  boa  para  fornos  de  p3o 
e  até  para  os  de  vidro;  o  carvão  é  soflfrivel. 

A  casca  é  muito  tanninosa  e  pode  servir  com  vantagem 
para  curtumes. 


As  espécies  lenhosas,  que  nos  falta  estudar,  são  arvores 
menos  frequentes  que  as  anteriores,  ou  de  menor  porte, 
ou  são  arbustos  que  apparecem  nas  matas,  nas  charnecas 
e  nos  areiaes  do  Uttoral ;  o  seu  estudo  será  feito  muito  mais 
resumidamente. 

Os  ssimbros  (género  Juniperus)  não  passam  muitas  vezes 
de  moitas  arbustivas,  mas,  em  alguns  casos,  adquirem  maio- 
res proporções,  chegando  a  serem  pequenas  arvores.  São 
frequentes  no  paiz,  mas  não  teem  grande  importância  flo- 
restal. 


r 


377 

Os  zimbros  teem  aspecto  muito  diverso,  conforme  as  es- 
pécies consideradas.  À  sabina  das  praias  (/.  phoenicea,  L.) 
tem  as  folhas  escamiformes,  verdes,  pequenas,  imbricadas, 
cobrindo  os  ramos  todos  como  as  dos  cyprestes ;  as  suas 
galboias  são  vermelhas.  Encontra-se  principalmente  nas 
areias  do  littoral,  na  Estremadura,  no  Algarve,  etc.  É  um 
grande  arbusto;  mas  no  cabo  de  S.  Vicente,  e  decerto  em 
oatros  pontos,  tem  muito  menor  porte  e  fica  prostrado  no 
solo  (/.  oophora,  Kze.).  As  outras  espécies  indigenas  teem 
as  folhas  acerosas,  espinescentes,  articuladas  na  base,  ter- 
nadas.  O  oxycedro,  ou  cedro  de^Hespanha  (/.  Oxy cedros,  L.) 
eyalgar  em  quasi  todo  o  paiz;  tem  a  galbula  vermelha, 
OQ  armivada,  e  com  dimensões  e  formas  diversas,  que 
caracterísam  outras  tantas  variedades  (/.  umbilicata,  Godr., 
/.  macrocarpa,  Sibth.);  em  alguns  pontos  esta  espécie  é 
quasi  arbórea;  dá  madeiras  de  pequenas  dimensões,  mas  de 
óptima  qualidade.  O  zimbro  vulgar  (Juniperus  communiSy 
L)  é  um  arbusto,  ou  pequena  arvore,  que  se  differença  da 
I  espécie  anterior  pela  galbula,  que  é  negro-azulada,  coberta 
i  de  efilorescencia  glauca,  e  pela  côr  esbranquiçada  das  fo- 
I  lhas  na  pagina  inferior ;  encontra-se  nas  provindas  do  norte ; 
I  nas  grandes  altitudes  esta  espécie  apresenta  uma  variedade 
'  muito  característica:  transforma-se  n'um  arbusto  com  o 
tronco  e  os  ramos  deitados  no  chão,  muito  tufudo,  com  as 
folhas  pouco  espinescentes,  mais  conchegadas  ao  eixo  (/. 
nam,  W.) 

Os  zimbros  são  pouco  exigentes  na  qualidade  da  terra 
que  pedem,  mas,  parecem  fugir  dos  solos  muito  argillosos, 
preferindo  os  solos  siliciosos  ou  levemente  calcareos.  A 
sabina  das  praias  vae  perfeitamente  nas  areias  marítimas, 
e  as  outras  espécies  nas  encostas  pedregosas. 

A  madeira  aromática  dos  zimbros  é  de  boa  qualidade, 
mas  de  ordinarío  tem  pequenas  dimensões.  É  resistente, 
atoradiça,  recebe  bom  polid^  e  não  é  atacada  pelos  inse- 
ctos; um  exemplar  (secco  ao  ar)  da  collecção  do  Instituto, 


378 


da  madeira  do  zimbro  vulgar,  tem  a  densidade  0,764.  No 
estrangeiro  empregam  a  madeira  dos  Juniperus  para  o  re- 
vestimento dos  lapis.  É  bom  combustível  e  dá  bom  çarvio. 

A  maior  parte  doestas  essências  teem  grande  duração,  mas 
crescem  muito  devagar.  A  germinação  das  suas  sementes  é 
também  muito  demorada,  chegando  ás  vezes  a  demorar 
dois  annos;  as  plantas  novas  são  bastante  delicadas. 

As  galbulas  dos  zimbros  teem  as  escamas  carnudas  e 
adherentes,  semelhando  bagas  no  seu  conjuncto  com  as  se- 
mentes. Das  raízes  e  ramos  do  oxycedro  extrahe-sepor  dis- 
tiliação  o  Qleo  de  cade,  empregado  em  pharmacia;  as  falsas 
bagas  do  zimbro  vulgar  são  utilisadas  para  aromatisar  a 
genebra. 

O  teixo  (Taxus  baccala,  h.)  encontra-se,  em  Portugal, 
cultivado  e  espontâneo,  mas  de  um  e  outro  modo  nlo  é 
muito  frequente.  É  essência  particularmente  de  montanha, 
e  nas  nossas  principaes  montanhas  do  norte,  a  altitudes 
elevadas,  é  onde  se  encontra ;  no  Gerez  sobe  a  1 :300  metros 
e  na  Estrella  a  1:500  metros. 

As  suas  folhas  perennes  são  lineares,  e  apparentam  qoasi 
ser  distícadas.  A  semente  núa  (é  uma  Gymnosperma,  c(Xdo 
os  zimbros)  está  envolvida  por  um  arillo  carnudo,  vermelho, 
mucilaginoso,  comestível;  as  folhas  e  os  rebentos  d'esta 
essência  são  venenosos. 

A  madeira  do  teixo  é  muito  compacta  e  homogénea ;  tem 
cor  amarellada  primeiro,  e  depois  escura,  puxando  a  tíx 
de  canella ;  conserva  muito  bom  polido.  Teria  muitos  em- 
pregos, se  não  fosse  tão  rara. 

Esta  essência  tem  crescimento  muito  demorado,  e  ger- 
minação tão  difQcil  que  ás  vezes  gasta  três  e  quatro  annos. 
Em  nova,  é  delicada  e  não  se  resente  de  viver  sob  o  coberto 
das  outras  arvores.  Apezar  de  ser  uma  Gymnosperma  tem 
a  copa  diffiísa,  botões  axillares,  e  forma  muitos  botões  ad- 
ventícios, de  modo  qtie  rebenta  bem  de  touca. 

O  zambiyo  ou  sambiyeiro  (OUa  Europaea,  L.  a.  Okas- 


379 

ter,  BCJ  é  uma  arvore  ou  um  arbusto,  com  os  ramos 
qoasi  sempre  espinescentes  (sobretudo  nas  formas  arbus- 
tivas) acinzentados^  com  as  folhas  inteiras,  perennes  escoria- 
eeas,  e  com  as  drupas  muito  mais  pequenas  que  as  da  oli- 
veira, negras  ou,  menos  vezes,  brancas  (zambujo  branco). 

Encontra-se  em  grande  abundância  nos  terrenos  calcareos 
das  nossas  provincias  do  centro  e  do  sul,  com  portes  e  as- 
pectos muito  diversos,  ás  vezes  em  moitas  densas  e  em- 
maranhadas.  Esta  essência  representa  papel  muito  impor- 
tante no  revestimento  arbóreo  do  paiz,  mas  a  sua  impor- 
tância é  mais  agrícola  do  que  florestal;  é  a  oliveira,  a 
variedade  cultural  explorada  pelo  fructo,  que  reveste  as 
maiores  extensões  de  terreno  e  forma  os  grandes  arvoredos. 

A  madeira  do  zambujo,  como  a  da  oliveira,  é  muito 
compacta  e  homogénea;  é  amarellada,  com  veios  escuros, 
sem  distincção  entre  borne  e  cerne,  e  quasi  sempre  com  as 
camadas  annuaes  confundidas;  é  de  bom  trabalho,  óptima 
para  tomo»  e  recebe  muito  bom  polido;  dá  lenha  magnifica, 
e  carvão  de  primeira  quaUdade. 

O  zambujo  tem  crescimento  demorado;  rebenta  muito 
bem  de  touca  e  pega  d'estaca  facilmente.  O  fructo  dá  tam- 
bém azeite^  e  bom,  mas  muito  menos  abundante  que  o  da 
oliveira. 

O  lodão  bastardo  ou  agreira  (Ceitis  austratís,  L.J  é  um 
arbusto,  ou  uma  arvore  de  segunda  grandeza,  raras  vezes 
nma  grande  arvore.  Encontra-se  espontâneo  em  muitos 
pontos  do  paiz,  e  cultiva-se,  principalmente,  como  arvore 
de  alinhamento  e  de  ornato.  Contenta-se  com  todos  os  solos, 
mas  prefere  os  que  são  profundos,  leves  e  frescos. 

Cresce  depressa,  e  em  boas  condições  é  uma  ^arvore  de 
enraizamento  vigoroso;  a  sua  altura  pode  chegar  de  15  a  17 
metros,  e  mais.  Tem  as  flores  esverdinhadas,  apetalas, 
e  a  floração  simultânea  com  a  folheaçSo,  em  março;  as 
snas  folhas  sSo  simples,  ovado-lanceoladas,  verde-escuras 
na  pagina  superior,  ásperas,  caducas;  podem  servir  como 


380 

forragem.  O  fracto  é  uma  drupa  globosa,  muito  poueo  car- 
nuda, comestível. 

Esta  essência  rebenta  bem  de  touca.  À  sua  madeira  é 
branca,  amarellada  ou  esverdinhada,  baça,  óptima  para 
todas  as  obras  que  exigirem  madeira  forte  e  elástica:  car- 
roçaria, marceneria,  cabos  de  ferramentas,  etc.  Dá  muito 
boa  lenha. 

Os  bordos  (género  Acer)  teem  três  espécies  espontaDeas 
entre  nós;  a  mais  importante  é  o  plátano  bastardo  (Acer 
Pseudoplatanus ,  L.j,  que  chega  a  ser  uma  anrore  de  grandes 
dimensões.  Encontra-se  esta  essência  no  Gerez,  segundo  o 
sr.  dr.  Júlio  Henriques,  até  900  metros,  misturada  com  o 
roble,  com  o  azereiro,  o  azevinho  e  o  medronheiro;  é 
cultivada  em  vários  pontos  do  paiz.  Tem  flores  regulares, 
esverdinhadas,  hermaphroditas  oupolygamicas,  dispostas  em 
cachos  pendentes;  a  floração  é  simultânea  com  a  folheação; 
o  fructo  é  uma  dupla  samara,  com  as  azas  levantadas;  as 
folhas  são  oppostas,  palmatilobadas,  com  5  lóbulos  ovados 
separados  por  ângulos  muito  agudos.  Esta  arvore  prefere 
os  solos  férteis ;  rebenta  bem  de  touca ;  cresce  depressa  nos 
primeiros  annos.  A  sua  casca  esfolia-se  em  placas,  como  a 
do  plátano  verdadeiro,  mas  com  maior  irregularidade;  a 
madeira  é  branca,  e  tem  densidade  média;  um  exemplar 
da  collecção  do  Instituto  accusou-nos  a  densidade  0,630; 
pode  ter  muitos  empregos.  Dá  boa  lenha  e  bom  carvão. 

O  bordo  commum  (Acer  campestre,  h.)  é  menos  fre- 
quente que  o  anterior;  encontra-se  espontâneo  na  Arrábida, 
etc.  Distingue-se  do  plátano  bastardo  pela  disposição  das 
azas  da  dupla  samara,  oppostas  em  linha  recta,  e  pelas 
folhas  que  lêem  3  a  5  lóbulos  obtusos ;  esta  espécie  é,  de 
ordinário,  *um  arbusto  ou  pequena  arvore;  tem  crescimento 
demorado.  O  tegumento  do  tronco  é  ás  vezes  um  ponco 
suberoso;  a  madeira,  branca,  levemente  amarellada  ou  aver- 
melhada, parece  que  é  mais  densa  que  a  anterior. 

A  zelha  (Acer  Monspessulanum,  L.J  difierença-se  bem 


381 

das  daas  outras  essências  pelas  folhas,  que  teem  3  lobnlos 
inteiros,  separados  por  ângulos  quasi  rectos;  encontra-se 
espontânea  em  Traz-os-Montes.  Cresce  de  vagar,  mas  tem 
a  boa  qualidade  de  viver  nos  solos  mais  seccos.  A  madeira 
é  um  pouco  mais  corada  que  a  anterior,  e  é  reputada  mais 
densa. 

As  folhas  de  todas  estas  essências  podem  aproveitar-se 
como  forragem  para  o  gado. 

O  azevinho  ou  pica-folha  fllex  AquifoUum,  L.)  é  frequente 
na  região  montanhosa,  onde  sobe  a  grandes  altitudes ;  se- 
gundo o  sr.  dr.  Júlio  Henriques,  sobe  no  Gerez  a  1:400  me- 
tros e  na  Estrella  a  1:800  metros;  é  um  grande  arbusto, 
em  alguns  pontos  com  proporções  verdadeiramente  arbó- 
reas. Tem  as  flores  regulares,  hermaphroditas,  e  as  folhas 
persistentes,  muito  coriaceas,  lustrosas  na  pagina  superior, 
dentado-espinhosas,  ou  inermes  e  inteiras  nas  arvores  ve- 
lhas; na  Floresta  Negra  bebem  a  infusão  d'estas  folhas  em 
logar  de  chá.  A  madeira  é  dura,  muito  densa,  pesada,  muito 
própria  para  dentes  de  engrenagens,  para  tomo,  cabos  de 
ferramentas,  etc. ;  toma  bem  ^  côr  negra,  e  serve  para  imi- 
tar o  ébano.  Os  fructos  são  carnudos  e  muito  drásticos. 

Esta  essência  rebenta  bem  de  touca;  tem  crescimento 
lento  e  grande  duração. 

O  medronheiro  ou  ervodo  (Arbutus  Cnedo,  L.)  é  bastante 
vulgar,  sobretudo  nas  provindas  do  centro  e  do  norte ;  em 
alguns  sitios  cobre  largos  tractos  de  terreno,  e  n'outros 
pontos  encontra-se  no  interior  das  matas,  inferiormente  ás 
essências  prindpaes,  ás  vezes  em  grande  quantidade;  de 
ordinário,' é  um  arbusto  de  5  a  6  metros,  mas  com  frequên- 
cia tem  muito  maior  porte  e  chega  a  ser  uma  arvore  de 
12  a  14  metros;  no  pinhal  de  Lehria  é  abundante,  e  adquire 
boas  dimensões. 

O  medronheiro  tem  as  folhas  persistentes,  lanceoladas, 
cmaceas,  verde-lustrosas  na  pagina  superior;  tem  as  flores 
regulares,  hermaphroditas,  com  a  corolla  gomílosa,  branca. 


382 

dispostas  em  cachos  termínaes ;  os  seus  fractos  são  bagas 
redondas,  tuberculosas,  vermelhas,  comestíveis  e  alcoolisa- 
veis. 

A  madeira  é  muito  densa ;  um  exemplar  (secco  ao  ar)  da 
collecçao  do  Instituto  deu-nos  a  densidade  0,841 ;  é  aver- 
melhada, corta-se  bem,  e  pode  ter  muitos  usos.  Dá  boa 
lenha  e  óptimo  carvão. 

O  medronheiro  tem  coberto  espesso;  cresce  de  vagar,  e, 
como  todas  as  Ericaceas,  contém  principies  adstringentes. 

O  carrasqueiro  ou  carrasco  (Quercus  cocei  fera,  L.,  e 
Quercus  pseudo-coccifera,  Desf.)  .é  um  carvalho  de  folhas 
persistentes,  fácil  de  reconhecer  pelas  suas  folhas  maito 
coriaceas,  rígidas,  verdes  dos  dois  lados,  onduladas  nas 
margens,  dentado-espinhosas,  e  pelas  cúpulas  dos  seus  fru- 
ctos,  cujas  escamas  são  mais  ou  menos  espinescentes  e  re- 
curvadas. É  um  arbusto  de  porte  muito  variável,  mais  fre- 
quente nas  províncias  do  sul,  mas  que  até  se  encontra  em 
Traz-os-Montes.    , 

A  madeira  do  carrasqueiro  é  muito  compacta  e  homogé- 
nea, tem  os  crescimentos  annuaes  confundidos,  e  asseme- 
lhasse bastante  á  da  azinheira;  um  exemplar  da  coUecção 
do  Instituto  deu-nos  a  densidade  0,856.  É  muito  empre- 
gada para  cabos  de  ferramentas  e  pequenas  obras,  porque 
de  ordinário  não  tem  dimensões  para  mais ;  dà  óptima  le- 
nha. A  casca  é  muito  estimada  para  curtumes.  Antigamente 
colhia-se  n'esta  essência,  com  cuidado,  uma  substancia  tio- 
torial,  denominada  graã  de  carrasco^  que  hoje  perdeu  a  im- 
portância, com  as  ultimas  descobertas  da  chimica ;  a  graà 
é  uma  pequena  verruga  negro-violacea  (a  fêmea  immovel 
de  um  insecto  do  grupo  das  cochonilhas),  que  secca  epul- 
verisada  dá  uma  côr  vermelha  muito  viva. 

A'  carvalhiça  ou  carvalho  anão  (Quercus  humiliSy  Lam.) 
é  um  carvalho  de  folhas  caducas,  muito  próximo  do  carva- 
lho portuguez,  como  elle  também  muito  abundante  em  ga- 
lhas, que  se  distingue  perfeitamente  pelo  seu  pequeno  porte. 


383 


Cobre  grandes  tractos  de  terreno,  nas  províncias  do  cen- 
tro, quasí  sociável.  É  utilisado,  em  alguns  pontos,  como 
combostivel,  e  para  camas  de  gados  e  preparo  de  estru- 
mes. 

Tanto  a  carvalhiça  como  o  carrasco  são  frequentes  nas 
diamecas  e  nas  matas;  nas  ultimas  tornam-se  ás  vezes  no- 
civos aos  povoamentos  novos,  que  abafam  e  amesquinham 
pela  densidade  da  sua  folhagem  e  abundância  do  raizame. 

O  samoco  ou  faya  das  ilhas  (Myrica  Faya,  Ait.)  é  um 
aribusto  ou  pequena  arvore  (raras  vezes  excede  7  metros 
de  altura),  que  parece  ter  sido  importada  dos  Açores,  mas 
que  se  encontra  sub-espontanea  na  Estremadura  e  no  Al- 
garve, em  pontos  nao  muito  afastados  do  mar,  porém  abri- 
gados da  maior  força  do  vento.  Tem  as  folhas  persistentes, 
e  as  flores  unisexuaes,  dispostas  em  amentilbos  compos- 
tos., Rebenta  bem  de  touca.  A  sua  madeira  dá  boa  fenda  e 
serve  para  o  fabrico  de  aduellas  para  vasilhame ;  um  exem- 
plar (secco  ao  ar)  da  coUecçao  do  Instituto  tem  a  densi- 
dade 0,740.  r 

N'este  mesmo  género  Myrica  encontra-se  espontâneo, 
n'aiguns  terrenos  paludosos  da  Estremadura,  um  pequeno 
arbusto  de  folhas  caducas  e  amentilbos  simples,  muito  ra- 
mificado, e  cotn  as  raízes  muito  desenvolvidas  horisontal- 
mente  e  dieias  de  rebentões;  é  2i  Myrica  Gale,  L.  Não  tem 
importância. 

O  folhado  CVibumum  Tinus,  L.)  é  um  arbusto,  ás  vezes 
de  grandes  dimensões,  com  as  folhas  persistentes,  inteiras, 
e  as  flores  brancas,  inodoras,  dispostas  em  cymeíras  imi- 
belliformes.  Encontra-se  em  Portugal  nas  províncias  do 
centro  e  do  norte,  nos  solos  leves,  que  prefere,  e  às  vezes 
no  interior  das  matas;  é  cultivado  nos  jardins,  como  ar- 
busto de  ornamento.  A  sua  madeira  é  dura,  homogénea, 
avermelhado-clara,  e  dá  fenda  rasoavel. 

A  murta  (Myrtm  cammunis,  L.)  é  um  arbusto  aromático, 
com  as  folhas  persistentes,  coriaceas,  lanceoladas,  inteiras» 


384 

e  as  flores  grandes^  brancas,  solitárias.  É  mnito  yulgarnas 
nossas  matas  e  pínhaes  do  centro  e  do  suL  e  também  se 
cultiva  como  planta  de  ornato.  A  sua  madeira  é  averme- 
lhada, sem  distincçSo  de  borne  e  cerne,  dura,  pesada,  muito 
homogénea;  é  muito  procui^ada  para  tomo,  marceneria,  e 
para  o  fabrico  de  pequenos  objectos;  tem,  de  ordinário,  pe- 
quenas dimensões.  Dá  muito  boa  lenha  e  óptimo  carvão. 

A  murta  cresce  muito  devagar  e  tem  vida  bastante  longa. 
A  casca  e  as  folhas  podem  servir  para  curtumes.  Os  fra- 
ctos  teem  sabor  resinoso  e  adstringente;  entre  nós  a  gente 
do  campo  come-os  ás  vezes,  e  conhece-os  com  o  nome  de 
nmrtinhos. 

O  azereiro  (Prunus  Lusitanica,  L.)  encontra-se  particu- 
larmente nas  provincias  do  norte.  É  um  grande  arbusto  ou 
uma  arvore  de  segunda  grandeza.  Tem  as  folhas  inteiras, 
persistentes,  ovado-lanceoladas,  verde-negras  na  pagina  su- 
perior, pecioladas;  tem  as  flores  dispostas  em  cachos  axil- 
lares,  compridos,  levantados,  e  as.  drupas  pequenas,  pri- 
meiro vermelhas  e  depois  negras  na  .maturação.  A  casca 
nova  d'esta  essência  é  esbranquiçada;  no  tronco  e  nos  ra- 
mos velhos  é  um  rhytidoma  escuro,  levemente  fendido.  Nos 
primeiros  annos,  a  arvore  tem  os  ramos  mais  ou  menos 
abertos  e  a  forma  pyramidal;  mais  tarde,  a  copa  toma-se 
irregular  e  emmaranhada;  nas  arvores  velhas  é  frequente 
os  ramos  apparecerem  pendentes,  ás  vezes  mesmo  até  ao 
solo,  e  enraizados  então  na  extremidade.  A  madeira  doesta 
essência  é  amarellada,  lustrosa,  muito  pesada,  resistente  e 
tenaz.  É  bastante  estimada. 

A  cerejeira  ou  cerdeira  (Prunus  amrniy  L.)  é  sub-es- 
pontanea,  e  cultivada  sobretudo  pelas  suas  variedades  fru- 
ctiferas.  Encontra-se  com  muita  frequência  na  Beira  e  no 
paiz  transmontano,  onde  adquire  grandes  dimensões,  e  onde 
sobe  nas  montanhas  a  altitudes  consideráveis;  em  alguns 
pontos  d'estas  provincias  representa  papel  um  pouco  im- 
portante na  arborisação.  A  madeu*a  da  cerejeira  é  estimada. 


385 

e  emprega-se  em  marceneria  e  outros  usos;  tem  o  alburno 
branco  e  o  cerne  avermelhado-claro;  é  dura,  t/enaz,  densa, 
susceptível  de  bom  polido. 

Esta  çssencía  tem  as  folhas  caducas,  molles,  ovado-acu- 
minadas,  as  flores  dispostas  2-6  em  umbellas  lateraes,  não 
folhadas  na  base,  e  as  drupas  globosas  ou  cordiforme-glo- 
bosas,  de  vários  tamanhos  e  de  varias  cores.  Dá  fructos 
desde  muito  nova;  tem  crescunento  muito  rápido  e  tempe- 
ramento muito  robusto ;  é  pouco  exigente  nas  condições  do 
solo,  preferindo  os  que  são  frescos.  A  gomma  que  exsuda 
das  arvores  velhas  pode  utilisar-se  para  substituir  a  gomma 
arábica  em  alguns  usos. 

O  abrunheiro  ou  ameixoeira  brava  (Prunus  spínosa,  L., 
Pnmits  insítitia^  L.,  e  Prunm  fruticans^  Weihe)  é  um  ar- 
busto, com  os  ramos  mais  ou  menos  espinescentes,  e  por- 
tes muito  diversos.  Quasi  não  tem  aproveitamento  nopaiz; 
a  sua  madeira  é  muito  dura,  mas  fica  sempre  com  dimen- 
sões muito  resumidas.  Os  fructos  são  adstringentes,  e  em^ 
alguns  pontos,  n'outros  paizes,  empregam-«s  no  fabrico  de 
líquidos  alcoólicos  e  de  licores ;  os  maiores  são  os  do  Pru- 
nus  insilitia,  L. 

O  Prunus  spinosa^  L.,  é  commum  nas  sebes  e  nas  matas; 
conhecemos  o  jPrttnwí  insititia,  L.,  dOs  arredores  de  Lisboa, 
e  o  Prunus  fruticanSy  Weihe,  de  Traz-os-Montes. 

O  azereiro  dos  damnados  (Prunus  Padus,  L.)  é  um  ar- 
busto ou  pequena  arvore,  que  se  encontra  nas  provindas 
do  norte.  A  sua  madeira  *é  semelhante  à  da  cerejeira,  mas 
tem  cheiro  desagradável,  sobretudo  em  verde. 

Ainda  n'este  género  existe  espontânea  em^  Traz-os-Mon- 
tes uma  espécie  que,  apenas  como  curiosidade  botânica, 
pode  ser  citada:  é  o  Prunus  Mahakh,  L.  Distingue-se  da 
espécie  anterior,  afora  outros  caracteres,  em  ter  as  flores 
dispostas  em  corymbos  levantados,  emquanto  a  ínflorescen- 
cia  do  Prunus  Padus  é  em  cachos  pendentes. 

O  mostageiro  (Sorbus  Ária,  Crtz.),  a  tramázeira  ou  cor- 


386 

nogodinho  (Sorbus  Aucuparia,  L.)  e  uma  outra  espécie  doeste 
género  a  que  não  conhecemos  nome  vulgar»  o  Sorbus  tor- 
minaliSs  Grtz.,  sSo  pequenas  arvores  ou  arbustos,  que  se 
encontram  só  nas  províncias  do  norte,  e  quasi  sen){)re  a  ai- 
•  titudes  elevadas. 

Todas  estas  essências,  a  que  podemos  juntar  ainda  uma 
espécie  cultivada  congénere,  a  sorveira  (Sorbus  doinestica, 
L.),  produzem  boa  madeira,  mas  muito  pouco  importante, 
pela  sua  raridade  e  pequenas  dimensões. 

Os  fructos  doestas  essências  são  polposos,  globosos  ou 
pyriformes,  vermelhos  ou  acastanhados,  e,  excepto  os  do 
mostageiro  que  são  muito  acerbos,  são  comestíveis  depois 
de  sorvados,  e  podem  alcoolisar-se. 

A  não  ser  a  tramazeira,  todas  estas  essências  teem  cres- 
cimento lento;  nenhuma  é  exigente  nas  condições  do  solo; 
todas  rebentam  bem  de  touca,  excepto  o  Sorbus  torminaUs, 
As  flores  são  brancas  e  dispostas  em  cymeiras  corymbifor- 
mes;  a  tramazeira  e  a  sorveira  teem  as  folhas  imparipin- 
nuladas,  as  duas  outras  espécies  teem  as  folhas  simples. 

A  aroeira  (Pistacia  Lentiscus,  L.)  é  um  arbusto,  muito 
raras  vezes  uma  pequena  arvore,  com  cheiro  resinoso;  tem 
as  folhas  paripinnuladas,  persistentes,  e  as  flores  esverdi- 
ntiadas,  pequenas,  dispostas  em  cachos.  É  abundante  nas 
nossas  províncias  do  centro  e  do  sul,  nas  sebes,  nos  matos 
e  florestas,  onde  ordinariamente  apparece  disseminada. 

A  madeira  da  aroeira  tem  o  alburno  branco  e  o  cerne 
rosado,  brilhante,  assetínado,  susceptível  de  bom  polido; 
pode  ser  empregada  em  marceneria  e  vários  usos,  mas  de 
ordinário  não  attínge  propprções  que  tornem  vantajoso  o 
seu  emprego.  Dá  muito  boa  lenha,  bem  como  é  óptima  para 
fueimar  a  cepa  d'este  arbusto;  o  carvão  é  excellente.  Em 
alguns  outros  paizes  extrahem  das  sementes  da  aroeira  um 
óleo  para  luzes ;  a  resina  que  esta  essência  segrega  serve 
no  oriente  para  mascar,  e  pode  ser  utilisada  em  perhuna- 
ria  e  no  fabrico  de  vernizes. 


387 

a  ou  terebintho  (Tistacia  Terebinlhta,  L.) 
pertence  ao  mesmo  género  que  a  aroeira;  é  um  arbusto  de 
folhas  caducas  imparipinnuladas,  notável  pelas  galhas  com- 
pridas, ponteagudas,  que  apresenta,  e  d'onde  lhe  vem  o 
Dome  vulgar.  Encontra-se  em  Traz-os-Montes,  á  beira  dos 
rios,  aos  matos,  etc. ;  a  madeira  é  de  boa  qualidade  e  dá 
boa  lenha,  mas  é  muito  menos  frequente  que  a  da  espécie  an- 
terior. Este  arbusto  exsuda  uma  terébinlhina  branca,  muito 
cheirosa,  que  entre  nós  não  se  aproveita,  mas  que  n'outros 
paízes  utilísam.  As  galhas  são  tanninosas;  o  fructo  é  co- 
mestível, e  a  amêndoa  da  semente  oleosa. 

O  snmagre  (ítàus  Cortaria,  L.)  é  um  arbusto  com  as  fo- 
lhas caducas,  imparipinnuladas,  e  as  flores  pequenas,  dis- 
postas em  thyrsos  terminaes  e  lateraes.  Encontra-se  espon- 
tâneo em  vários  pontos  do  paiz:  no  Algarve,  na  Beira  mon- 
tanhosa e  em  Traz-os-Montes. 

Os  productos  mais  úteis  do  sumagre  s3o  os  rebentos  no- 
vos e  as  folhas,  que  se  empregam,  pela  sua  riqueza  em 
tanoÍDO,  para  curtumes  de  pelles.  Rebenta  muito  bem  de 
tonça,  e  os  rebentos  novos  é  que  sobretudo  se  empregam, 
por  terem  maior  percentagem  de  tannino;  em  algumas  lo- 
calidades de  Traz-os-Montes  este  producto  dos  sumagraes 
è  tido  como  muito  importante.  Fora  do  paiz  empregam 
este  art)usto  sobretudo  para  o  preparo  dos  marroquins;  na 
casca  existe  uma  substancia  corante,  Anarella  on  vermelha, 
Qtilísada  para  dar  cõr  aos  pannos  e  aos  coiros. 

O  sabugueiro  (Sambucus  nigra,  L.)  encontra-se  com  muita 
frequência;  é  nm  arbusto,  com  proporções  arborescentes 
em  alguns  pontos,  sobretudo  ne  norte.  Tem  as  folhas  ca- 
dncas,  imparipinnuladas,  e  as  flores  cheirosas,  brancas,  dis- 
postas em  cymeiras  umbelliformes.  O  principal  aproveita- 
mento do  sabugueiro,  entre  nós,  é  pelos  fructos :'  bagas  ne- 
gras, muito  ricas  em  còr,  empregadas  para  tomar  os  vinhos 
mais  carregados;  uma  porção  grande  da  baga  do  sabugueiro 
è  exportada.  Esta  essência  é  notável  peta  medulla  muito 


388 

desenvolvida  e  muito  leve  dos  ramos  novos.  Reproduz-se, 
com  grande  facilidade,  de  estaca.  Prefere  os  solos  frescos 
e  leves. 

A  pereira  brava  ou  (no  Alemtejo)  pereiro  (Pyrus  amrna- 
niSy  L.)  encontra-se  espontânea  em  quasi  todas  as  regiões 
do  paiz.  Em  alguns  pontos,  e  especialisaremos  o  Gerez, 
adquire  grande  elevação  e  grossura.  As  formas  arbustivas 
d'esta  essência  teem  os  ramos  espinescentes.  A  cultura  tem 
propagado  um  grande  numero  de  variações,  notáveis  pelo 
tamanbo  e  sabor  dos  fructos ;  esta  espécie  tem  maior  im- 
portância em  pomicultura  do  que  em  silvicultura.  A  ma- 
deira da  pereira  é  muito  homogénea,  fácil  de  trabalhar  e 
susceptível  de  bom  polido;  é  multo  estimada  pelos  grava- 
dores, esculptores,  torneiros,  etc. ;  o  seu  principal  defeito 
é  contorcer-se  e  rachar  com  facilidade.  Dá  bom  combustível. 

A  maceira  brava  (Pyrus  Malus,  L.)  é  menos  frequçnte  que 
a  espécie  anterior,  só  apparece  espontânea  no  norte;  tem  de 
ordinário  menores  dimensões.  As  variações  culturaes  sío 
também  muito  exploradas  como  fructeiras,  A  madeira  da 
maceira  é  semelhante  á  anterior,  mas  ainda  mais  sujeita  a 
empenar  e  a  abrir. 

Os  pirliteiroB  (Crataegus  Oxyacantfuiy  L.,  e  Crataegus  mo- 
nogyna,  Jacqií.)  são  arbustos  (raras  vezes  pequenas  arvores) 
espinhosos,  com  as  folhas  palmatilobadas  e  os  fructos  ver- 
melhos, que  se  encontram  com  abundância,  sobretudo  nas 
sebes,  vallados  e  margens  dos  campos,  bem  como  nas  nos- 
sas matas.  Yestem-se  todos  os  annos  de  grande  quantidade 
de  flores,  brancas,  anteriores  á  folheação.  A  madeira  dos 
pirliteiros  poucas  vezes  é  empregada,  porque  só  adquire, 
de  ordinário,  proporções  muito  reduzidas ;  é  muito  dura  e 
óptimo  combustível.  Estes  arbustos  são  muito  próprios  para 
o  guarnecimento  das  sebes,  por  causa  da  sua  ramificação 
numerosa  e  dos  seus  espinhos.  Podem  empregar-se  c(Hao 
cavallos  para  enxertar  as  variações  culturaes  das  outras  es- 
pécies d'esta  familia  botânica  (Pomaceas). 


389 

_  .  ainda  existe  espontâneo,  a  altitudes  eleva- 

das, um  arbusto  pouco  freqnente,  e  de  que  tão  conhece- 
mos nome  vulgar:  é  o  Amelanchier  vulgaris,  Moench. 

Os  ademos  (PhiUyrea  latifolia,  L.,  e  Phãlyrea  media,  L.) 
existem  com  frequência  disseminados  nas  matas,  pinhaes, 
sebes,  etc.  São  arbustos,  ou  pequenas  arvores,  pertencen- 
tes á  família  das  Oleaceas,  com  as  folhas  ovado-lanceoladas, 
persistentes,  e  as  flores  esbranquiçadas,  cheirosas,  dispos- 
tas em  cachos  curtos,  auUares. 

Estas  essências  teem  grande  daraç3o  e  crescimento  de- 
morado;  rebentam  bem  de  touca.  A  sua  madeira  é  muito 
dnra,  mas  tem  quasi  sempre  pequenas  dimensões;  dá  muito 
boa  lenha  e  óptimo  carvão. 

O  lentisco  bastardo  (PhHhjrea  angusii folia,  L.)  dífferen- 
ça-se  das  espécies  anteriores  pela  forma  das  folhas,  que 
s3o  estreitas,  linear-ianceoladas.  É  muito  frequente,  e  o  seu 
aproveitamento  é  idêntico  ao  dos  adernos,  mas  menor,  por- 
qae  tem  quasi  sempre  dimensões  mais  reduzidas. 

O  alfenheiro  (Ligustrum  vtdgare,  L.)  é  um  arbusto  ainda 
da  familia  das  Oleaceas,  que  apenas  se  encontra  espontâneo 
Das  provincias  do  norte;  é  pouco  frequente,  e  tem  habitual- 
mente pequeno  porte. 

O  sanguinbo  legitimo  (Cornus  sanguínea,  L.)  existe  em 
Traz-os- Montes  e  na  Beira ;  é  um  arbusto  com  as  folhas  in- 
teiras, grandes,  caducas,  e  as  flores  brancas  dispostas  em 
cjmeiras  umbelliformes.  Tem  os  rebentos  vermellio-sangoi- 
neos,  d'onde  Ibe  veiu  o  nome;  estes  rebentos  s3o  muito  fle- 
xíveis e  podem  empregar-se  em  obras  de  cestaria.  Os  ra- 
mos mais  grossos  servem  para  cabos  de  ferramentas,  paus 
de  vinha  etc.  Segundo  o  sr.  Mathieu  os  fractos  d'este  ar- 
busto contém  34  por  cento  de  óleo,  que  pode  extrahir-se 
para  illuminacão. 

O  sanguinbo  de  agna  ou  amieiro  negro  (Wuxmmts  Fran- 
gida, L.)  é  um  arbusto,  ou  pequena  arvore,  botanicamente 
muito  diversa  da  espécie  anterior;  encontra-se  na  Beira,  e 


390 

outros  poDtos  do  norte,  nos  sitios  frescos  e  à  beira  dos  rios. 
Tem  as  folhas  inteiras,  caducas,  e  os  fructos  primeiro  aver- 
melhados e  depois  negros.  Rebenta  bem  de  touca  e  das  raí- 
zes, e  cresce  depressa  nos  primeiros  annos.  É  pouco  ex- 
plorado entre  nós ;  tem  madeira  muito  leve  e  branda,  fadl 
de  dividir  em  laminas  delgadas,  boas  para  canastraría.  A 
casca  d'esta  essência  produz  o  vomito  e  é  muito  drástica; 
dos  fructos  podem  extrahir-se  substancias  corantes. 

O  sanguinho  das  sebes  (Rhammis  Alaternus,  L.)  é  vulgar 
nas  sebes,  matos  e  florestas.  Pertence  ao  mesmo  género 
em  que  se  incluo  a  espécie  anterior;  é  um  arbusto,  às  ve- 
zes arborescente,  inerme,  com  as  folhas  persistentes,  co- 
riaceas ;  tem  os  fructos  primeiro  vermelhos  e  depois  negros. 
A  madeira  é  de  boa  qualidade,  dura,  muito  homogénea, 
densa,  com  o  cerne  escuro-acastanhado  e  o  borne  amarei- 
lado;  é  característica  pelo  desenho  reticulado  muito  appa- 
rente,  de  côr  baça  e  mais  clara,  que  apresenta  no  corte  trans- 
versal, devido  ao  agrupamento  dos  vasos  pelo  parencbyma 
lenhoso.  As  dimensões  restrictas  que  tem  quasi  sen4)re  li- 
mitam muito  o  seu  uso. 

Ainda  n'este  género  Rhamnus  se  encontra  espontâneo, 
nas  sebes,  nos  solos  pedregosos,  nos  matos,  pinhaes,  e 
nas  terras  áridas  da  Estremadura  e  do  Alemtejo,  um  outro 
arbusto,  quasi  sempre  de  menor  porte  que  o  anterior,  e  a 
que  não  conhecemos  nome  vulgar:  é  o  Rhamnus  oieoides,  L.; 
dístingue-se  bem  por  ter  os  ramos  espinescentes,  as  folhas 
muito  reticuladas  na  pagina  inferior,  e  os  fructos  verde-ama- 
rellados  na  maturação.  Encontra-se,  muitas  vezes,  formando 
moita  rasteira,  muito  densa  e  emmaranhada.  Não  sabemos 
que  se  aproveite.  Os  fructos  doestes  dois  Rhamnus  são  drás- 
ticos. 

O  tamujo  (Securínega  buxifoliay  J.  Miill.)  é  uma  Euphor- 
biacea  arbustiva,  também  com  os  ramos  espinescentes,  abun- 
dante nas  margens  dos  cursos  de  agua  da  região  leste: mar- 
gens do  Douro,  do  Tejo,  do  Guadiana,  etc.  O  seu  aspecto 


391 

% 

aproxima-0  das  espécies  anteriores.  Tem  ponca  importân- 
cia. 

A  avelleira  (Corylus  AveUana,  L.)  não  tem  entre  nós  im- 
portância florestal;  é  nm  arbusto  ou  pequena  arvore,  que 
apparece  expontânea  no  norte;  é  alguma  coisa  explorada 
pelo  fructo  (avell3),  que  é  comestivel  e  agradável,  e  d'onde 
se  pode  extrahir  um  óleo  siccativo. 

O  loendro  ou  sevadilha  (Nerium  Oleander,  L.)  encontra- 
se  espontâneo  á  beira  dos  rios,  no  sul  do  Alemtejo;  é  um 
arbusto  sempre-verde  com  as  folhas  oppostas  ou  temadas^ 
lanceoladas,  inteiras,  e  as  flores  grandes,  rosadas  ou  bran- 
cas, em  corymbos  terminaes.  Â  madeira  é  branca,  e  tem 
muito  poucos  usos,  pela  sua  raridade  e  pequenas  dimensões 
habitnaes.  Nas  proximidades  dos  cursos  de  agua,  o  loendro 
pode  representar  papel  idêntico  ao  dos  salgueiros;  como 
elles  reproduz-se  com  facilidade  de  estaca,  de  semente,  e 
de  rebentões  de  touca;  como  elles  tem  raizes  superficiaes 
numerosas,  que  contribuem  para  a  consolidação  das  mar- 
gens» próximo  á  agua.  As  folhas  doeste  arbusto  são  vene- 
nosas; dizem  que  na  Argélia,  onde  abunda  muito,  as  folhas 
caida$  chegam  a  envenenar  as  aguas  dos  regatos,  e  que  as 
emanações  podem  causar  accidentes  graves  às  pessoas  que 
rq)ousarem  á  sua  sombra.  Nos  jardins  cultiva-se  uma  va- 
riedade de  flor  dobrada. 

O  buxo  (Buxus  sempervirens,  L.)  é  espontâneo,  mas  em 
pequena  quantidade,  e  a  sua  importância  maior  advem-lhe 
da  cultura.  Tem  grande  duraçSo,  e  crescimento  lento;  é 
cultivado  como  planta  de  ornato  e  nos  jardins  dão-lhe  for- 
mas variadíssimas.  É  um  arbusto  sempre-verde,  com  as  flo- 
res esverdinhadas.  Tem  madeira  muito  estimada;  de  tanto 
valor  que  se  vende  a  peso;  esta  madeira  é  muito  homogé- 
nea, amareOada,  sem  distincção  de  cerne  e  borne,  e  corta-se 
em  todos  os  sentidos  com  muita  nitidez;  é  especialmente 
procurada  pelos  gravadores  e  torneiros. 
O  anagyris  fedegosa  (Anagyris  foetida,  L.)  é  um  arbusto 


392 

qaasi  arborescente,  da  família  das  Papilionaceas ;  tem  as  fo- 
lhas trifolíadas  e  as  flores  amarellas ;  as  flores  e  as  vagens 
s3o  fétidas,  d'onde  lhe  vem  o  nome.  Encontra-se  no  Alem- 
tejo  e  Algarve;  não  tem  importância. 

A  palmeira  anã  ou  das  vassouras  (Chamaerops  hiim- 
lis,  L.)  cobre  grandes  extensões  no  Algarve,  e,  muito  em- 
bora fosse  encontrada  n'uma  estação  muito  mais  ao  norte, 
na  serra  da  Arrábida,  pelo  sr.  J.  Daveau,  só  no  Algarve 
abunda  e  tem  importância.  As  suas  folhas  palmatifendidas 
e  o  seu  porte  caracterisam-a  com  grande  evidencia;  forma 
quasi  sempre  moitas  de  sete  e  oito  caules,  que  poucas  ve- 
zes sobem  de  um  melro;  cultivada,  pode  adquirir  maiores 
proporções.  É  de  difficil  arranque,  e  os  solos  onde  se  en- 
contra teem  difficil  arroteia.  As  suas  folhas,  depois  de  bran- 
queadas pelo  acido  sulphuroso,  são  muito  empregadas  no 
fabrico  de  vassouras,  esteiras,  cestos  e  outros  artefactos  de 
egual  natureza,  que  teem  grande  procura  no  paiz.  É  a  única 
monocotyledonea  lenhosa  digna  de  menção. 

O  arando  (Taccinium  MyrtiltiSy  L.)  é  um  pequeno  arbusto, 
ou  sub-arbusto,  sociável,  sem  nenhuma  importância  em  Por- 
tugal, e  que  apenas  se  encontra  nas  grandes  altitudes  da 
região  do  norte. 

A  casia  branca  de  Virgílio  (Osyris  alba,  L.)  existe  com 
frequência  nas  sebes,  nas  terras  soltas  dos  matos  e  flores- 
tas, em  quasi  todo  o  paiz;  é  um  sub-arbusto  seini-parasita 
de  muitas  outras  espécies  lenhosas  e  herbáceas;  tem  chlo- 
rophylla,  e  elabora  principios  immediatos,  mas  as  suas  raí- 
zes hnplantam-se  nas  raizes  dos  vegetaes  próximos  e  vivem, 
em  parte,  à  custa  d'elles.  É  pouco  importante,  assim  como 
outra  espécie  do  mesmo  género,  própria  ás  provindas  do 
sul,  a  Osyris  lanceolaia,  Hochst. 

O  trovisco  (Daphne  Gnidivm,  L.)  é  um  pequeno  arbusto 
sempre-verde,  com  as  flores  terminaes  reunidas  em  cacho 
composto,  brancas,  cheirosas,  que  se  encontra  abundante- 
mente disseminado  em  todo  o  paiz,  nos  sitios  áridos,  cbar- 


393 

Decas,  pinhaes,  etc.  Não  tem  nenhuma  importância  flo- 
restal. 

A  hera  (Hedera  Helix,  L.)  chega  às  Tezes  a  grossnras  bas- 
tante consideráveis,  mas,  na  maior  parte  dos  casos,  é  um 
arbusto  com  os  caules  e  ramos  muito  compridos  e  delga- 
dos, sarmentosos.  Trepa  ás  arvores,  aos  muros  e  rochedos 
próximos,  servindo-se  para  isso  das  raizes  adventícias,  abun- 
dantemente desenvolvidas  na  ramificação  aérea ;  se  não  en- 
contra nenhum  supporte,  estende-se  pelo  terreno,  rasteja, 
enraiza  em  diversos  pontos,  mas  não  floresce.  Âs  suas  fo- 
lhas persistentes,  verde-retintas,  teem  formas  diversas  nos 
ramos  rastejantes  (profundamente  tri  ou  quinquelobadas), . 
nos  ramos  trepadores  estéreis  (tri  ou  quinquelobadas  me- 
JM)s  fundamente),  ou  nos  ramos  férteis,  floriferos  (inteiras). 

A  hera  não  é  parasita;  tira  o  sustento  da  terra  e  da  at- 
mosphera  e  não  da  arvore  a  que  se  encosta;  as  raizes 
adventícias  servem  apenas  para  lhe  prestarem  outros  tan- 
tos pontos  de  apoio  na  subida;  só  funccionam  como  verda- 
deiras raizes  se  encontram  a  terra.  Apezar  disso,  é  nociva 
aos  arvoredos,  porque  lhes  aperta  o  tronco  e  os  ramos,  dif- 
ficQltando-lhes  a  passagem  da  seiva  e  o  engrossamento  re- 
gular, e  porque  assombreia  com  a  folhagem  muito  espessa 
os  ramos  inferiores,  amesquinhando-lhes  o  desenvolvimento 
das  folhas,  dos  botões  e  das  flores.  É  por  isso  conveniente 
sempre  cortal-a. 

Os  carneiros  e  vaccas  comem  bem  as  folhas  da  hera.  Em- 
prega-se  muito  na  ornamentação  dos  jardins. 

As  silvas  (espécies  do  género  Rubus)  são  arbustos  muito 
volgares  em  todo  o  paiz;  teem  a  touca  lenhosa,  e  produzem 
longos  rebentos,  quasi  sarmentosos,  ás  vezes  radicantes, 
biennaes  nas  espécies  indígenas:  ficam  estéreis  no  primeiro 
anno,  florescem  e  fructificam  no  segundo,  morrendo  em  se- 
guida. Multiplicam-se  com  grande  rapidez.  Não  apparecem 
nos  solos  muito  pobres;  quando  existem  nas  florestas  em 
grande  quantidade,  cobrem  a  terra  de  uma  moita  apertada. 


394 

que  pode  ser  nociva  aos  povoamentos  novos.  Em  montanha 
são,  ás  vezes,  vantajosas,  para  ajudar  a  segorar  a  terra.  Os 
seus  fructos  (amoras)  sio  comestíveis. 

As  roseiras  bravas  (espécies  do  género  Rosa)  emittm 
da  touca,  annualmente,  rebentos  vigorosos,  estéreis  no  pri- 
meiro anno,  e  que  florescem  no  segundo  ou  terceiro  anoo, 
mas  sem  morrerem  depois,  como  os  das  silvas;  e  produzem 
longas  raízes  superficiaes,  que  vão  originar  longe  da  planta- 
mãe  outros  rebentos,  em  grande  numero.  Tornam-se  inva- 
soras d'este  modo,  e  dão  solidez  ás  terras  onde  enraízam; 
podem  também  ser  úteis  nas  montanhas,  mas  estas  espé- 
cies^ apezar  de  vulgares,  teem  pequena  importância  flo- 
restal. 


Nas  charnecas  e  nas  florestas,  inferiormente  ás  arvores 
e  aos  arbustos  de  maiores  dimensões,  como  o  medronheiro, 
o  folhado,  os  zimbros,  a  murta,  a  aroeira,  o  carrasco,  etc., 
encontram-se  com  frequência  arbustos  e  sub-arbustos  de 
menor  porte,  constituindo  ás  vezes  brenha  muito  densa, 
sobretudo  nos  massiços  mal  tratados,  cheios  de  vasios,  e 
nos  arvoredos  que  dão  pequeno  coberto,  como  os  pinhaes. 
N'essa  vegetação  lenhosa  mais  rasteira,  afora  algumas  es- 
pécies já  citadas,  como  a  carvalhiça,  o  trovisco,  o  arando, 
etc,  predominam  muito  as  urzes,  as  estevas,  e  as  Papílio- 
naceas  da  tribu  das  genisteas:  tojos,  carquejas,  giestas,  pior- 
nos  e  codeços.  Muitas  d*estas  plantas  são  utiUsadas  como 
lenhas  miúdas,  ou  são  roçadas  para  camas  de  gados  e  fa- 
brico de  estrumes. 

As  urzes  (espécies  do  género  Eriça)  são  plantas  sociá- 
veis, próprias  aos  terrenos  pobres  em  cal,  sobretudo  aos 
silíciosos.  São  frequentíssimas  nas  charnecas,  matos  e  flo- 
restas de  todo  o  paiz,  e  reunem-sc,  sociáveis,  cobrindo  gran- 
des extensões.  Tornam-se  nocivas  aos  arvoredos  pela  grande 
copia  de  raízes  superficiaes,  e  pela  sombra  produzida  pela 


I 

I 


395 

apertada  vegetação  dos  seus  caules  numerosos,  muito  co- 
bertos de  folhas. 

A  xvcze  branca  on  arbórea  (Eriça  arbórea^  L.,  e  Erka 
lusitanicay  Rud.)  chega  a  ter>  às  vezes,  grandes  dimensões 
e  o  tronco  bastante  grosso.  A  touca,  ou  cepa,  é  muito  volu- 
mosa, dá  óptimo  combustível,  e  carvão  muito  estimado.  Uti- 
lisam  um  pouco  esta  cepa  no  fabrico  de  pequenas  obras. 

A  urze  das  vassouras  (Erka  scoparia,  L.)  e  algumas  ou- 
tras espécies,  servem  para  o  preparo  das  vassouras. 

A  urze  ou  torga  ordinária  (Calluna  vtUgarís,  Salisb.)  dis- 
tingae-se  bem  das  espécies  do  género  anterior  pela  forma 
e  dimensões  das  folhas,  que  no  género  Eriça  são  habitual- 
mente compridas  e  lineares,  e  no  género  Calluna  são  pe- 
quenas e  imbricadas,  vestindo  quasi  os  ramos.  Esta  espécie 
é  ainda  mais  sociável  que  as  anteriores ;  ás  vezes,  ella  só, 
cobre  grandes  tractos  de  charnecas,  caracterisando  solos 
pobres  em  cal  e  de  difScil  arborisação.  Apparece  indiffe- 
rentemente  nas  terras  seccas  e  húmidas,  ou  mesmo  enchar- 
cadiças.  Para  os  povoamentos  novos  ainda  é  mais  prejudi- 
cial do  que  as  Eriças. 

Todas  estas  plantas  produzem  hutnus  acido,  e  teem  de- 
composição demorada. 

As  estevas  (espécie  da  familia  das  Gistineas)  são  vulga- 
rissimas,  e  encontram-se  disseminadas,  ou  ás  vezes  reuni- 
das em  grandes  colónias.  A  esteva  propriamente,  ou  xára 
(em  Traz-os-Montes)  (Cistus  ladaniferus,  L.)  é  uma  das  es- 
pécies de  maior  porte  e  mais  sociável;  cobre,  ás  vezes  quasi 
sosinha,  extensões  enormes.  Os  Cistus  crispus,  L.,  Cistus 
Monspeliensis,  L.,  Cistus  albidus,  L.,  e  Cistus  salviaefolius ,  L. 
teem  menores  dimensões  e  são  lambem  muito  frequentes; 
a  xára  parece  fugir  dos  terrenos  calcareos ;  o  Cistus  crispus 
e  Cistus  Monspeliensis  teem  menor  tendência  calcifuga,  e  já 
se  encontram  em  solos  calcareos;  o  Cistus  aUndus  parece 
ser  calcicola,  e  o  Cistus  salviaefolius  indifierente.  No  género 
HaUmíum,  encontra-se  com  abundância,  em  muitos  dos  nos- 


396 

SOS  pinbaes  e  matos  da  Estremadura  e  da  Beira,  a  sargaça 
(Halirnium  halimifolium,  Wk.),  notável  pela  côr  esbranqui- 
çada e  aspecto  pulverulento ;  outras  espécies  do  mesmo  gé- 
nero áão  frequentes,  como  o  Halirnium  eriocephdum^  Wk., 
o  Halimium  ocymoides,  Wk.,  e  o  Halirnium  occidentale,  Wk., 
que  na  Èstrella,  quasi  exclusiva,  cobre  grandes  extensões, 
etc.  Às  espécies  doeste  género  sao  eminentemente  calcifa- 
gas  *. 

Muitas  espécies  doesta  familia  sao  fortemente  viscosas  e 
balsâmicas.  As  Gistineas  preponderam  muito  na  flora  ar- 
bustiva e  sub-arbustiva  das  nossas  matas  e  charnecas. 

Na  familia  das  Papilionaceas  são  muito  vulgares  as  car- 
quejas (género  PterospartumJ ^  os  piomos  (género  Retoma/ 
os  còdeços  (género  AdenocarpusJ ,  os  tojos  (género  Ulex),  e 
as  giestas  (géneros  Spartium,  Gmista,  Sarothamnus  e  Cy- 
tisusj.  Umas  d'estas  espécies  s5o  mais  próprias  ás  sebes, 
outras  ás  charnecas  e  matas.  Os  tojos  adquirem,  em  mni- 
tos  pontos,  grande  preponderância,  e  formam  moitas  aper- 
tadas e  espinhosas;  são  bastante  ricos  em  acido  pbospbo- 
rico,  e  aproveitam- se  muito  para  o  fabrico  de  estrumes;  os 
animaes  comem-lhes  os  rebentos  tenros,  e  muito  melhor  de- 
pois de  cortados ;  teem  valor  nutritivo  elevado.  Do  liber  dos 
ramos  novos  da  giesteira  prdinaria  (Spartium  junceum,  L.), 
muito  fibroso,  pode  extrahir-se  uma  matéria  têxtil  boa  para 
cordas,  para  diversos  tecidos,  e  para  o  fabrico  do  papel.  Os 
rebentos  flexíveis  servem,  como  o  junco,  para  atar. 

Conjuntamente  com  as  Ericaceas,  Gistineas  e  Papilionaceas 
encontram-se,  n'este  revestimento  lenhoso  de  menor  porte, 
varias  plantas,  menos  importantes  ainda,  de  outras  familias 
botânicas,  como  varias  Labiadas,  quasi  todas  aromáticas: 
rosmaninhos  (género  LavandulaJ,  alecrim  (género  Rosmor 
rinus),  tomillios  (género  ThymusJ,  etc. 

1  J.  Daveau.— Cwítw^M  du  Portugal  (Extrait  du  ^Bcldim  da  Socie- 
dade Broterianan  iv — Coimbra,  1886). 


jr 


397 


A  flora  lenhosa  espontânea  das  areias  maritímas  inclue 
algumas  das  espécies  já  citadas,  taes  como  a  sabina  das 
praias  (Juniperus  phoenicea^  L.),  o  samôco  (Myrica  Faya, 
Àit.),  varias  estevas,  tomilhos  e  Papilionaceas;  entre  estas 
ultimas  apontaremos  a  Úalycotome  víllosa,  Lk.,  dominante  em 

r 

algnns  pontos.  Afora  essas  espécies  referir-nos-hemos  ás 
seguintes : 

O  espinheiro  alvar  bastardo  (Lyciíim  europaeum,  L.)  é 
um  arbusto  espinhoso,  da  familia  das  Solanaceas,  verde- 
acinzentado,  que  forma  de  ordinário  moita  muito  enredada, 
sem  nenhuma  importância  florestal.  Encontra-se  nas  sebes 
da  Estremadura  e  da  Beira,  e,  posto  que  procure  as  proxi- 
midades do  mar,  afasta-se  ás  vezes  mais  para  a  zona  inte- 
rior. Ainda  menos  importante,  e  menos  frequente,  é  um 
outro  arbusto  d'esta  familia,  cheio  de  ^culeos  amarellos> 
muito  rígidos,  o  Solanufn  sodomaemn,  L. 

A  tamargueira  (Tamarix  Gallicãj  L.)  é  um  arbusto  sem- 
pre-verde,  com  as  folhas  escamiformes,  envolvendo  todo  o 
ramo,  que  fazem  lembrar  no  aspecto  as  dos  cyprestes,  e 
com  as  flores  pequenas,  rosadas,  dispostas  em  espigas  sim- 
ples, reunidas  em  grandes  paniculas.  A  sua  madeira  é  in- 
ferior, e  nem  dá  boa  lenha;  mas  este  arbusto  é  muito  apro- 
veitado nas  obras  de  consolidação  das  dunas,  porque  se  re- 
produz com  muita  facilidade,  quer  de  semente,  quer  de  re- 
bentões ou  de  estaca,  tem  crescimento  rápido,  e  vive  bem 
nas  areias  da  beira  mar.  Debaixo  doeste  ponto  de  vista  é 
importante. 

A  camarinheira  (Corema  álbum,  D.  Don.)  está  quasi  no 
mesmo  caso;  vegeta  nos  areiaes  mais  pobres  e  mais  bati- 
dos do  vento,  e  d'ahi  vem  o  seu  valor.  É  um  pequeno  ar- 
busto sempre-verde,  com  as  folhas  estreitas,  fazendo  lem- 
brar no  aspecto  as  urzes;  os  seus  fructos,  vermelhos  ou 
Irancos  (camarinhas)^  s3o  comestíveis,  agradáveis,  refres- 
cantes. Fructifíca  em  grande  quantidade,  e  estas  bagas  po- 
dem servir  para  alcoolisaçJo,  ou  para  o  preparo  do  vinagre. 


398 

A  madortieira  (Artemisia  crithmifolia,  L.),  a  Losna  me- 
nor (Artemisia  arborescensy  L.)  e  a  Artemísia  coerulescens,  L. 
s3o  as  unicas  Compostas  lenhosas,  que  teem  alguma  impor- 
tância florestal,  sobretudo  a  primeira,  que  é  bastante  em- 
pregada no  revestimento  das  dunas;  são  plantas  aromáti- 
cas. A  losna  menor  encontra-se  espontânea  no  littoral  al- 
garvio, a  Artemisia  coerulescens,  L.,  na  Estremadura,  e  a 
madorneira  nos  areiaes  do  sul  e  do  centro. 

A  cormcabra  (Ephedra  fragUiSj  Desf. :  E.  distachyay  BrotJ 
é  um  arbusto  de  porte  muito  especial,  sub-aphyllo,  com  os 
ramos  articulados,  afilados,  quebradriços,  e  com  as  articula- 
ções envolvidas  em  bainhas,  quasi  como  as  cavaUinhas 
(Equisetum).  É  peculiar  ao  littoral  algarvio,  nas  sebes,  etc.; 
vive  bem  nas  areias.  É  uma  Gymnosperma;  tem  floraçJo 
dioica;  tem  as  flfires  masculinas  dispostas  em  pequenos 
amentilhos  sesseis,  e  as  flores  femininas  solitárias,  sub-ses- 
seis. 

  familia  das  Ghenopodiaceas  inclue  alguns  arbustos  e  sub- 
arbustos  das  praias :  taes  a  salgadeira  (Atriplex  Halimm,  L.) 
e  outras  espécies  menos  desenvolvidas  do  mesmo  género 
(Atriplex  porttdacoides,  L.,  Atriplex  glauca,  L.,  etc.);  o 
valverde  dos  sapaes  (Suaeda  fruticosa,  Forsk.) ;  a  Salsóla 
vermiculata,  L.,  e  a  SaUoomia  fruticosa,  L.  Doestas  espé- 
cies umas  são  aphyllas  (Sálicoimia) ,  outras  teem  as  folhas 
muito  desenvolvidas  (Atriplex);  todas  sao  glaucas,  pulve- 
rulentas e  mais  ou  menos  carnudas.  Constituem,  em  alguns 
pontos,  com  bastante  predominância,  a  vegetação  lenhosa 
das  nossas  praias.  As  cinzas  d'esta  planta  são  muito  ricas 
em  soda,  especialmente  as  das  ScUsola  e  Salicomia,  e  d*el- 
las  se  extrahia  d'antes  aquelle  producto  commercial. 

Fmalmente,  o  Limoniastrum  monopetalum^  Boiss.,  é  um 
sub-arbusto  com  as  folhas  carnudas  e  os  ramos  floriferos 
aphyllos,  com  o  eixo  das  espigas  muito  frágil  depois  de 
secco,  que  existe  em  abundância  nas  areias  marítimas  do 
Algarve. 


399 


d.<^£SSENGIAS  EXÓTICAS, 
JÁ  UM  POUOO€NTRODUZIDAS 


[A  arborisaçao  florestal  de  um  paiz,  em  regra,  deve  ba- 
sear-se  nas  espécies  espontâneas  da  localidade;  muito  mais, 
qaando  as  espécies  espontâneas  são  de  tamanho  valor,  como 
entre  nós.  A  introducção  de  essências  estranhas  não  deve 
eiecutar-se  em  ponto  grande,  sem  muitos  ensaios,  repeti- 
dos em  condições  diversas,  e  estes  ensaios  são  dispendio- 
sos sempre,  demorados  e  difficeis,  com  plantas  cuja  vida  é 
tio  longa,  em  relação  á  do  homem.  Por  este  motivo  trata- 
remos apenas,  n'este  curso,  das  espécies  exóticas  já  mais 
conhecidas  no  paiz,  e  cuja  vulgarisação  parece  ter  bom  fu- 
turo, 

o  pinheiro  d'Alepo 
[Pinvs  kalepeMis»  Mill.) 

O  pinheiro  d'Alepo  é  uma  arvore  de  primeira  grandeza 
própria  á  zona  mediterrânea;  existe  cultivado  em  Portugal 
como  arvore  de  ornamento,  e  adquire  entre  nós  boas  di- 
mensões; a  sua  exploração  florestal  decerto  seria  vantajosa, 
coniD  diremos. 

Círnia. — Arvore  da  zona  mediterrânea,  este  pinheiro  pede 
clima  quente,  ou  pelo  menos  bastante  temperado,  e  luz  in- 
tensa; prefere  as  planícies  e  os  outeiros.  Por  estes  moti- 
vos deve  encontrar  melhores  condições  de  vida  nas  nossas 
províncias  do  centro  e  do  sul,  que  nas  do  norte. 

Solo. — Esta  essência  é  muito  sóbria  e  muito  rústica;  as- 
severam os  auctores  estrangeiros  que  se  contenta  com  to- 
dos os  solos,  mesmo  com  os  peiores — pedregosos,  áridos, 
com  pouca  terra  vegetal — comtanto  que  não  sejam  muito 
ccHnpactos.  Parece  preferir  os  solos  calcareos — furassicos  e 


\"       "     *- 


400 

cretáceos — ou  pelo  menos  vive  n'elles  muito  bem;  esta  sua 
aptidão  pode  tornal-a  uma  arvore  preciosa  para  nós,  por- 
que dá  o  meio  de  crear  um  pinhal,  isto  é,  uma  floresta 
productiva  e  pouco  exigente,  sobre  terrenos  onde  os  outros 
pinhaes  não  se  podem  desenvolver. 

Radicação. — Tem  systema  radicular  forte,  profundo,  ver- 
tical, e  ao  mesmo  tempo  bastante  desenvolvido  lateralmente. 
Quando  a  natureza  da  terra  não  deixa  profundar  as  raizes, 
a  radicação  flca  superficial,  mas  á  custa  da  boa  vegetação 
da^  arvore. 

Porte,  crestímento  e  durarão. — O  pinheiro  d'Alepo  con- 
serva mais  tempo  que  os  outros  nossos  pinheiros  o  tronco 
vestido  de  ramos  até  á  base ;  apresenta  então  a  forma  py- 
ramidal;  depois  constituo  um  tronco  direito  ou  flexuoso, 
despido,  e  uma  copa  arredondada,  que,  nas  arvores  isola- 
4das  já  de  certa  edade,  que  temos  visto,  é  muito  irregular. 

Cresce  com  rapidez  nos  primeiros  annos ;  as  condições 
excepcionaes  de  vida  a  que  esta  arvore  tem  estado  sujeita 
entre  nós,  não  permittem  asseverar  com  segurança  quaes 
serão  as  suas  dimensões  e  a  sua  duração,  creada  em  mas- 
siço  florestal.  Temos  visto  pinheiros  d'Alepo  com  15  a  20 
metros  de  altura;  a  sua  duração  será  talvez  menor  que  a 
do  pinheiro  bravo. 

Madeira  e  casca. — A  madeira  passa  por  ser  muito  resi- 
nosa^ mas  de  medíocre  qualidade.  A  casca,  nos  ramos  no- 
vos, é  unida,  brilhante,  cinzento-prateada;  nos  troncos  adul- 
tos ér  um  rhytidoma  vermelho-escuro,  fendido  em  escamas 
largas. 

Folhagem. — As  agulhas  do  pinheiro  d'Alepo,  geminadas, 
como  as  dos  nossos  pinheiros,  são  mais  pequenas,  mais 
delgadas,  mais  molles  e  de  cõr  mais  clara;  aggloíneram-se, 
de  ordinário,  em  pincel  no  extremo  dos  ramos.  Persistem 
na  arvore  dois  a  três  annos,  o  máximo.  Dão  pequeno  co- 
berto. 

Floração  e  fructificação. — A  floração  é  monoica,  como  a 


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401 


de  todos  os  pinheiros ;  os  amentilhos  masculinos  são  ama- 
rellados,  oblongo- cylindricos,  e  os  amentilhos  femininos  são 
pedunculados,,  violáceos.  A  floração,  entre  nós,  dá-se  em 
fevereiro  e  março. 

As  pinhas  são  ôblongo-conicas,  vermelho-acastanhadas, 
lustrosas  ou  baças;  teem  10  a  20  centímetros  de  comprido; 
estão  inseridas  em  pedúnculos  grossos  e  sempre  voltadas 
para  baixo ;  encontram-se  soUtarias  ou  verticilladas.  As  suas 
escamas  teem  um  escudo  rhomboidal,  quasí  plano,  com  as 
quilhas  radiantes  muito  pouco  salientes,  e  uma  pequena 
protuberância  central  obtusa;  ás  vezes  teem  um  grande 
numero  de  estrias  muito  finas. 

A  maturação  realisa-se  dois  annos  depois  da  floração,  ou 
pouco  mais.  As  sementes  são  parecidas  com  o  penisco;  teem 
uns  7  millimetros  de  comprido,  são  pardas  de  um  lado  e  ne- 
gras maculadas  de  negro  mais  retinto  do  outro;  apresentam 
as  azas  arruiyiscadas,  mais  claras  que  as  do  penisco  e  um 
pouco  mais^  compridas,  relativamente,  com  os  bordos  quasi 
rectos  e  parallelos.  A  semente,  leve  e  com  tão  bom  appa- 
relho  disseminador,  espalha-se  a  grandes  distancias. 

A  fructiãcação  é  abundante  e  precoce,  mas  as  sementes 
produzidas  em  arvores  muito  novas  são  chochas  e  não  de- 
vem empregar-se  em  sementeiras. 

Germinação.—  Germina  com  facilidade.  O  pinheiro'd'Alepo 
é  robusto  logo  desde  novo;  não  precisa  a  protecção  das  ar- 
vores superiores;  antes,  pelo  contrario,  a  sombra  o  ames- 
quinha. 

Productos  e  usos. — A  multiplicação  d'esta  arvore  é  de 
certo  útil  para  o  paiz;  não  porque  os  seus  productos  sejam 
mais  valiosos  que  os  do  nosso  pinheh-o  bravo,  mas  pela  fa- 
culdade que  tem  de  viver  nas  ierras  calcareas,  onde  os 
nossos  pinheiros  não  vingam,  e  que  pode  aproveitar  o  pi- 
nheiro d'Alepo,  dando,  amda  assim,  productos  vantajosos. 

A  madeira  d'esta  essência  é  usada  em  França  nas  con- 
strucçôes  civis,  em  travessas  de  caminho  de  ferro,  para 

CS.  26 


402 

taboame  na  constnicção  naval,  para  o  fabrico  de  caixas, 
etc.  A  lenba  arde  bem  e  é  procurada  nas  oíficinas ;  deve  ser 
melhor  que  a  do  pinheiro  manso,  por  ser  mais  resinosa. 

  casca  é  utilisada,  em  alguns  pontos  da  França,  peia 
sua  percentagem  de  tannino,  para  curtumes,  misturada  com 
a  casca  dos  carvalhos.  Este  pinheiro  pode  ser  resinado  e  a 
sua  gemma  è  semelhante  á  do  pinheiro  bravo,  mas  menos 
abundante. 


o  oypreste,  o  oedro  bastardo  e  o  oedro  do  Bnssaoc 

(Cupressus  sempertireru  a.,  L. ; 
Cupressus  horúontaliê,  Mill.,  e  Cupre$$us  glauca,  Lam.) 

Todas  estas  essências  pertencem  ao  mesmo  género  Cu- 
pressas;  dá-se  em  Portugal,  indevidamente,  o  nome  de  ce- 
dros aos  cyprestes  cuja  copa  é  aberta  para  os  lados,  em 
forma  de  umbella.  Os  verdadeiros  cedros  s3o  arvores  muito 
differentes  d'estas. 

As  duas  primeiras  espécies  são  oriundas  da  Grécia  e  da 
Pérsia;  o  cedro  do  Bussaco,  segundo  as  investigações  do 
sr.  dr.  Júlio  Henriques,  é  originário  do  Himalaya,  e  não  de 
Goa,  como  Brotero  asseverava.  Estas  três  essências  são 
bastante  cultivadas  no  paiz  como  arvores  de  ornamento. 

Clima. — Parece  que  em  todas  as  nossas  províncias  podem 
viver  e  indiflferentemente  em  quaesquer  exposições. 

Solo. — Preferem  os  solos  leves  e  fundos,  mas  que  nao 
sejam  muito  húmidos. 

Radicação. — É  muito  vigorosa;  todas  estas  essências  re- 
sistem perfeitamente  ao  vento. 

Porte,  crescimento  e  duração. — O  porte  do  cypestre  é 
muito  característico  e  destingue-o  logo  das  duas  outras  es- 
pécies; sobre  o  tronco  prolongado  até  ao  cuno  levanta-se 
uma  copa  alongada,  estreita,  fusiforme,  muito  restida^  con- 


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403 

stituida  pelos  ramos  levantados.  O  cedro  bastardo  e  o  cedro 
do  Bassaco  teem,  pelo  contrario,  os  ramos  abertos,  copa 
maito  larga  e  o  tronco  despido  até  grande  altura. 

Todas  estas  arvores  crescem  depressa  e  attingem  grandes 
proporções;  o  cedro  do  Bassaco  chega  a  40  metros  de  alto, 
e  mais,  tendo  frequentes  vezes  4  a  5  metros  de  circumfe- 
rencia  na  base;  os  melhores  exemplares  doesta  essência 
encontram-se  no  Bussaeo.  Tem  grande  duração. 

Madeira  e  casca. — A  madeira  dos  cyprestes  é  esbranqui- 
çado-acastanhada,  aromática,  homogénea,  de  fácil  trabalho. 
A  casca  é  delgada,  fendida  longitudinalmente,  avermelhado- 
escara. 

FbUiagem. — As  folhas  s3o  pequenas,  escamiformes,  im- 
bricadas em  quatro  fileiras,  vestindo  inteiramente  os  ramos; 
são  verde-escuras  no  cypreste,  de  côr  mais  viva  no  cedro 
bastardo,  verde-glaucas  no  cedro  do  Bussaeo.  A  copa  ampla 
dos  falsos  cedros  assombreia  muito  o  terreno  inferior. 

Floração  e  frtictificação, —  A  floração  é  monoica;  as  flores 
masculinas  encontram-se  dispostas  em  amentilhos  cylindri- 
cos,  muito  pequenos,  terminaes;  as  flores  femininas  em 
amentilhos,  também  terminaes,  globosos.  A  floração  dà-se 
de  outubro  a  dezembro. 

O  fructo  é  uma  galbula  constituída  d'escamas  lenhosas, 
pouco  numerosas,  opposto-crusadas,  polyspermas.  A  gal- 
bnla  do  cypreste  é  globosa  ou  ovóide,  com  as  escamas  leve- 
mente convexas  na  face  externa,  e  tem,  no  maior  diâmetro, 
30  a  40  millimetros;  a  galbula  do  cedro  bastardo  é  sub- 
globosa,  com  as  escamas  bastante  convexas  externamente,  e 
tem  quasi  o  tamanho  da  anterior ;  a  galbula  do  cedro  do  Bus- 
saeo é  muito  menor,  não  passa  de  10  15  millimetros,  é 
glauca  e  tem  as  escamas  fortemente  mucronadas.  A  matu- 
ração d'estas  galbulas  é  biennal.  As  sementes  são  numerosas, 
pequenas,  irregulares,  deprimidas,  castanho-escuras,  e  com 
azas  lateraes  muito  curtas.  Todas  estas  essências  fructificam 
em  bastante  novas. 

26* 


404 

Germinação. — Postas  as  sementes  em  boas  coadições  a 
germinação  dá-se  com  facilidade. 

Produaos  e  usos. — Estas  essências  nem  sp  tem  impor- 
tância para  ornamento;  a  sua  madeira  é  boa  para  constnic- 
ç3o>  para  carpinteria  e  marceneria;  é  muito  duradoura,  e 
resiste  quasi  illimitaàamente  debaixo  d^agua. 


o  euoaljpto 
(Euealyptus  globulus,  Labill.) 

Quasi  todas  as  numerosissimas  espécies  do  género  Eth 
calyptus  são  oriundas  da  Austrália.  O  Eucaiyptíis  gbbtdus 
foi  descoberto  em  1792,  na  ilha  de  Van  Diemen,  ou  Tas- 
mania,  por  La  Billardiére,  que  fazia  parte  da  expedição  en- 
viada em  procura  de  La  Pérouse,  e  foi  uma  das  primeiras 
arvores  doeste  género  introduzidas  na  Europa.  A  sua  cultura 
em  Portugal  data  de  uns  30  annos,  e  realisa-se  hoje  em 
larga  escala;  o  eucalypto  não  só  se  emprega  como  arvore 
de  ornamento,  mas  começa  a  utilisar-se  para  a  producção  de 
madeira,  como  essência  florestal,  e  parece  ter  diante  de  si 
grande  futuro. 

Clima. — Nem  todas  as  espécies  do  género  Eucalyptus 
teem  as  mesmas  exigências  climatéricas.  Considerado  em 
geral,  este  género  é  próprio  aos  climas  temperado-quentes, 
onde  não  haja  grandes  frios  de  inverno,  onde  as  chuvas  se- 
jam abundantes  na  primavera,  e  o  estio  seja  quente  e  secco. 
A  zona  europea  mais  apropriada  á  naturalisação  d'estas  ar- 
vores é  a  que  fica  ao  sul  do  parallelo  40^,  a  zona  ijtiediter- 
ranea,  a  zona  onde  a  laranjeira  fructifica  ao  ar  livre;  poucos 
eucalyptos  podem  viver  na  Europa  acima  de  43^  de  latitude, 
por  serem  os  frios  hibemaes  muito  fortes,  e  a  temperatura 
d'es tio  pouco  elevada;  no  emtanto,  algumas  d'estas  essências 
vivem  até  na  Inglaterra  e  na  Escócia.  Como  se  vé,  quasi 


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405 


todo  o  nosso  paiz,  sobretudo  o  sul  e  o  centro,  é  muito  apto 
para  esta  exploração. 

Parece  que  os  eucalyptos,  naturalisados  hoje  n*uma  área 
vastíssima,  tendem  a  adquirir  fora  da  sua  região  natal,  pelo 
menos  em  algnns  pontos,  caracteres  um  pouco  diversos, 
que,  naturalmente,  passado  tempo,  individualisarao  novas 
variedades;  assim,  tem-se  notado  que,  em  diversos  sitios 
d'Africa,  s3o  mais  folhosos  e  d5o  maior  sombra. 

Solo. — As  observações  realisadas  na  Austrália  mostram, 
serem  os  eucalyptos  bastante  exigentes  na  composição  dos 
solos  que  pedem;  umas  espécies  só  prosperam  sobre  os 
granitos,  outras  sobre  os^alcareos,  outras  sobre  os  gréses, 
oa  os  basaltos,  etc.  O  Eucalypttís  globulm  parece  ser  uma 
das  espécies  menos  exigentes  e  também  uma  das  de  mais 
fácil  cultura;  debaixo  d'este  ponto  de  vista  merece  a  pre- 
ferencia que  entre  nós  se  lhe  tem  dado.  Nos  terrenos  leves 
e  soltos,  sobretudo  quando  sao  frescos  e  profundos,  é  onde 
melhor  se  desenvolve,  mas  pode  viver  até  nos  solos  bem 
secGOs;  as  terras  superíiciaes  e  as  muito  compactas  sSo- 
Ihe,  de  todas,  as  mais  desfavoráveis;  em  chão  húmido,  ou 
mesmo  encharcadiço  vegeta  perfeitamente.  Temol-o  visto 
desenvolver-se  bem,  em  Portugal,  nas  terras  calcareas  e  i^ão 
calcareas,  sem  parecer  mostrar  nenhuma  tendência  calci- 
cola  ou  calcifuga,  mas  dizem  que  não  pode  viver  nas  terras 
cujas  percentagens  de  cal  sejam  muito  elevadas,  nem  nos 
salgadiços. 

Radicação. — O  systema  radicular  d'esta  arvore  é  bastante 
forte ;  tem  raiz  mestra  profunda  e  raizes  vigorosas  lateraes. 
Rebenta  muito  bem  de  touca ;  os  rebentões  são  numerosos 
e  tem  crescimento  muito  rápido ;  explorado  em  talhadio,  o 
eacalypto  pode  dar  aos  2  a  3  annos  muito  boas  varas  para 
constrricção  civil,  e  que  levam  ao  castanho  a  vantagem  de 
se  fazerem  em  muito  menos  tempo. 

Porte,  crescimento  e  duração, — O  eucalypto  é  uma  das 
arvores  de  mais  rápido  e  admirável  crescimento;  está  cal- 


406 

cnlado  que,  sem  exaggero,  a  saa  prodi» 
dnipla  da  do  carvalho:  aos  25  annos  um 
madeira  como  mn  carvalho  de  100  ami( 
mas  condições.  Este  crescimento  é  sot 
primeiros  amios;  em  alguns  dias  chega  a 
tro.  Citam-se  as  dimensões  de  eacalyptí 
são  Terdadeiros  colossos,  chegando  a  ei 
mas,  a  este  propósito,  referir-nos-hemc 
exemplos  portuguezes,  e  são  muitissimo 
o  sr.  Carlos  de  Sousa  Pimentel  aponta  c 
do  Eucalyptus  globulus;  refere-se  aquelle 
que  aos  4  annos,  no  nosso  paiz,  accosai 
de  15  metros  por  O.^lâ  de  diâmetro; 
de  8  annos,  com  28  metros  de  alio  por 
refere-se  a  mna  arvore  de  20  annos,  c 
total  deitaria  5  metros  cuhicos,  e  a  n 
análogos,  observados  em  plantações  mu 
mil  individuos. 

O  eacalypto  nos  primeiros  annos  apres 
á  base,  de  ramos  opposto-crusados,  e 
midal;  depois,  despe-se  das  ramiQcaçõi 
senta  um  fuste  nú  até  maior  ou  ment 
tem  crescido  em  massiço  ou  isolado,  e  i 
de  ramificação  difiusa,  pouco  apertadi 
se  a  arvore  cresce  isolada,  os  ramos 
engrossam  e  desenvolvem-se  muito. 

Os  botões  do  eucalypto  são  oús,  e  Qca 
a  época  do  repouso  vegetativo,  apparecendo  só  a  descoberto 
quando  as  condições  meteorológicas  sSo  favoráveis  á  soa 
evolução;  se  estes  botões  são,  por  qualquer  accideufe,  des- 
truídos, apparecem  outros,  de  ordinário,  inferiormente  aos 
primeiros. 

Esta  arvore  tem  grande  duração. 

Madeira  e  casca.— X  madeira  do  eucalypto  é  compacta, 
pesada,  muito  forte  e  de  grandíssima  duração— quasi  in- 


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407 

corruptível.  Estas  boas  qualidades  do  lenho  são  muito  para 
admirar  n'uina  arvore  que  tem  crescimento  tão  rápido» 
quando  é  sabido  que  a  densidade»  a  ríjeza  e  a  duração 
das  madeiras  andam  quasi  sempre  inversas»  com  a  rapidez 
do  seu  desenvolvimento.  Este  facto  toma  o  eucalypto  dupla- 
mente precioso.  Attribne-se  a  grande  resistência  que  esta 
madeira  offerece  á  decomposição  e  ao  ataque  dos  insectos» 
aos  oleos  essenciaes  de  que  está  impregnada»  bem  como 
a  casca,  as  folhas,  e  todos  os  órgãos  da  arvore. 

Um  exemplar  da  madeira  do  eucalypto  (secco  ao  ar)  da 
coUecção  do  Instituto  deu-nos  a  densidade  0,763;  este  nu- 
mero não  é  muito  alto,  na  verdade,  mas  ignoramos  as  con- 
dições em  que  essa  madeira  foi  produzida,  e  a  edade  do 
lenho»  o  que  é  muito  importante.  Â  madeira  do  eucalypto 
passa  por  ser  muito  densa»  proximamente  tanto  como  a  teca» 
mna  das  madeiras  mais  rijas  que  existe.  O  seu  principal 
defeito  é  apresentar  as  fibras  dispostas  em  espiral  e  entre- 
laçadas» o  que»  se  concorre  para  a  tornar  mais  resistente» 
em  contraposição  lhe  difQculta  o  trabalho  e  faz  com  que  não 
dê  fenda.  Este  defeito  parece  attenuar-se  bastante  quando 
a  arvore  cresce  em  massiço»  e  sobretudo  quando  o  lenho  é 
cortado  em  boa  época  e  sujeito  a  uma  secca  methodica» 
não  o  expondo  em  sitios  muito  seccos»  e  provocando-lhe  a 
morte  inomediata  com  um  golpe  vertical. 

  casca  do  eucalypto  desprende-se  todos  os  annos  em 
fitas  longitudinaes  côr  de  canella»  bastante  largas»  que  dei- 
xam 0.  tronco  perfeitamente  liso;  esta  casca  tem  um  óleo 
balsâmico  especial»  e  percentagens  elevadas  de  tannino;  o 
sr.  D.  Carlos  Gastei  encontrou  na  casca  do  eucalypto»  em 
Hespanha»  H»27  7o  de  tannino. 

Folhagem. — O  Eucalyptus  globulm  é  biforme.  As  folhas 
da  planta  nova»  ou  dos  rebentões  novos  de  touca»  até  aos 
2  e  3  annos»  são  oppostas»  sesseis»  amplexicaules»  ovadas 
ou  ovado-oblongas»  e  esbranquiçadas  em  virtude  de  uma 
exsudação  pulverulenta  das  substancias  oleo-resinosas.  Na 


408 

arvore  mais  adalta,  as  folhas  s3o  alte 
pridas,  falciformes,  coriaceas,  grossa 
o  peciolo  doestas  Tolhas  sofTre  uma  £ 
n'um  plano  vertical  relativamente  a 
em  resultado  terem  estas  arvores  i 
muito  característico,  e  terem  a^terto 

As  folhas  do  eucalypto  são  persis 
de  glândulas  oleo-resinosas. 

Fbração  e  fntctificaçõn. —  Ainflor 
globvlus  é  aiiliar,  e  composta  de  1  a 
hermaphroditas ;  nasce  também  a  d( 
t5es  foliaceos,  e  de  ordinário  o  seu 
pleto,  até  á  fecundaçiíi),  exipe  nimt< 
teem  de  aotavel  o  transformar-se-lh( 
culo  caduco  na  occasião  da  anthesf 
DÚ  os  estames  e  o  pistillo. 

O  fructo  é  uma  capsula  achatada, 
cálice,  dehiscente  no  cimo  em  4  oi 
guiar,  vemigosa,  esbranquiçado-pu] 
depois  de  madura  como  na  época  da 
de  largo).  A  floração  dá-se  no  prii 
2embro),  e  ás  vezes  também  na  príi 
a  maturação  realisa-se  um  anno,  pel 
cnndação. 

Todos  os  eucalyptos,  mesmo  na  su 
mentes  esten  ís  misiiiradas  com  as  f< 
rençar  umas  das  outras:  as  sémen 
de  forma  irregular,  e  as  estéreis  acaf 
estreitas.  Produz  em  Portugal  semei 

Floresce  em  muito  novo,  ás  vezes 
7  ou  10  começa  a  dar  sementes  fer 

Germinação.— K  semente  consen 
por  alguns  annos.  A  germinação  é 
QDS  quinze  dias  depois  da  sementeii 

O  eucalypto  é  arvore  mmto  robu 


409 

sDure  qae  o  ar  e  O  solo  lhe  sejam  disputados  pelas  outras 
arvores,  e  resiste  bem  a  todos  os  pheoomenos  atmosphe- 
rícos  do  nosso  paiz;  mas,  em  noTO,  emqnanto  conserva  a 
foUiagein  primitiva,  e  sobretudo  no  primeiro  anno,  é  bas- 
tante meliodroso  e  soSre  com  os  excessos  do  frio  e  do  calor. 

Prodaaos  e  usos. — A  madeira  do  eucalypto  pode  ter  im- 
meosos  empregos  na  construcçSo  civil  e  naval,  dá  boas 
travessas  para  caminho  de  ferro,  postes  telegrapbicos. 
serve  para  marceneria,  carroçaria,  fabrico  de  trem  de  )a- 
TOara,  e  para  trabalhos  marítimos,  tendo  a  grandíssima 
vantagem,  cora  propósito  a  estes  últimos,  de  resistir  aos  ata- 
qoes  do  teredo  nmalis'.  Dá  excellente  combustível  e  bom 
carvão.  As  suas  ciozas  s3o  muito  ricas  em  potassa. 

A  casca  pode  ser  usada  para  curtumes,  tendo  a  incal- 
culável vantagem  de  se  despir  naturalmente,  sem  ser  pre- 
ciso  sacrificar  a  arvore,  como  acontece  aos  carvalhos.  As 
folhas  teem  acç5o  therapeutica:  combatem  as  febres  inter- 
mittentes.  Os  óleos  essenciaes  do  eucalypto  s3o  muito  an- 


0  crescimento  rápido  d'esta  essência  eiiige  quantidades 
enormes  d'agna  para  se  realisar;  por  isso  é  óptima  para 
arborisação  dos  terrenos  onde  haja  agua  estagnada,  por- 
que promove  o  eningo  e  melhora-os  muito.  Ha  quem  sus- 
tente que  as  emaçTies  balsâmicas  dos  eucalyptos  são  muito 
salobres  e  hygicnicas. 


'  o  itredo  nofolú  é  nm  mollnsco  maritímo  que  ataca  as  madeiras' 
Mihaieifidas;  perfdra-as  em  todos  os  sentidos,  especialmente  ao  correr 
dafibn,al)riudo  grandes  galerias,  e  inatilúa-as  em  muito  pouco  tempo- 


410 


Ob  plátanos 
(PUUanus  oeciderUalis,  L.  e  PUtíanits  orieniaUi,  L.) 

O  plátano^  do  occidente  (P.  ocádmtalis,  L.)  é  uma  ar- 
vore de  grandes  dimensões,  natural  da  America  do  Norte, 
e  bastante  cultivada  entre  nós,  já  como  arvore  de  orna- 
mento, já  nas  proximidades  dos  rios  para  a  exploração  de 
madeira.  O  plátano  do  oriente  (P.  onentaMs,  L.)  encoD- 
tra-se  espontâneo  na  Turquia,  na  Grécia  e  na  Itália,  e  cal- 
tiva-se  em  Portugal  nos  jardins  e  como  arvore  de  alinha- 
mento. As  duas  arvores  teem  entre  si  as  maiores  seme- 
lhanças. 

Clima. — Os  plátanos  vivem  perfeitamente  em  Portugal. 
Parecem  apropriados  sobretudo  ás  regiões  mais  baixas,  aos 
valles  e  ás  planícies. 

Selo. — Preferem  os  solos  leves,  fundos,  ricos  e  frescos. 
Os  maiores  plátanos  do  occidente,  que  temos  visto,  en- 
contravam-se  nas  proximidades  d'agua.  Estas  arvores  não 
são  próprias  para  massiços  mas  podem  representar,  na  bor- 
dadura dos  rios  e  ribeiras,  um  papel  análogo  ao  dos  chou- 
pos, porém  mais  lucrativo,  porque  os  seus  productos  slo 
muito  mais  valiosos. 

Radicação. — As  raizes  dos  plátanos  sao  vigorosas;  teem 
ramificações  profundas  e  outras  lateraes  que  bracejam  mui- 
to, mas  sem  darem  rebentões  como  as  dos  choupos  branco 
e  tremedor,  e  são  portanto  muito  menos  nocivas  aos  cam- 
pos visinhos.  Estas  essências  rebentam  bem  de  touca. 

Porte,  crescimento  e  duração. — O  plátano  do  occidente, 
entre  nós,  adquire  maior  porte  que  o  plátano  do  oriente; 
chega  a  30"  de  altura,  e  mais,  com  perto  de  4"  de  cir- 
.cumferencia  na  base.  Uma  e  outra  espécie  apresentam  o 
tronco  liso,  cylindrico,  nu,  e  a  copa  muito  larga,  ramifi- 
cada em  grossas  pernadas,  d'onde  partem  muitos  ramos  e 


4il 

3  peodeates  para  o  chão;  temos  visto  pla- 
:te  com  a  copa  muito  ampla,  e  com  as  al- 
}s  qnasi  chegadas  á  terra. 
IS  teem  crescimento  muitíssimo  rápido,  e 
graDde  duraçJío.  Nâo  s3o  atacadas  pelos  insectos,  nem  no 
IroDco  nem  nas  folhas. 

Madeira  e  casca. — A  madeira  dos  plátanos  é  dura,  pe- 
sada, branco-acastanhada,  com  as  camadas  annaaes  dis- 
tinctas;  são-lhe  muito  característicos  os  ralos  meduilares, 
bem  Tisiveis,  numerosos,  grossos,  eguaes. 

A  casca  é  também  muito  caracteristica:  esfolia-se  an- 
Dnalmente  em  placas,  ficando  sempre  lisa,  n3o  gretada,  e 
apresentando  ao  longe  o  aspecto  de  manchas  irregulares  de 
diversos  tons;  esla  esfoliação  é  devida  á  formação  de  lami- 
nas snberosas  no  parenchyma  cortical,  que  recortam  e  ma- 
tam todos  os  tecidos  para  o  exterior.  A  casca  do  plátano 
do  oriente  é  acinzentada,  a  do  plátano  do  occidente  è  verde- 
amarellada  do  sitio  onde  se  destacam  as  placas;  a  esfolia- 
ç3o  da  casca  d'esta  ultima  espécie  parece  mais  regular  que 
a  da  primeira. 

FoÚuigem. — As  folhas  dos  plátanos  s3o  caducas,  muito 
grandes,  palmatllobadas.  As  folhas  do  plátano  do  oriente 
teem  5  ou  3  lóbulos,  separados  por  ângulos  pouco  abertos, 
e  cujos  recortes  attingem  ou  excedem  metade  do  limbo;  as 
do  plátano  do  occidente  teem  3  ou  5  lóbulos,  separados  por 
ângulos  muito  abertos,  e  sem  que  os  recortes  cheguem  a 
metade  do  limbo.  Umas  e  outras  são  pecioladas  (o  peciolo 
é  relativamente  maior  nas  folhas  do  plátano  do  occidente). 
A  base  dos  pecíolos  é  dilatada,  fistulosa,  e  envolve  os  bo- 
tões, que  só  apparecem  a  descoberto  depois  da  queda  das 
folhas. 

A  folhagem  d'estas  arvores  é  muito  espessa  e  assombreia 
bastante  o  terreno  inferior. 

Floração  e  fruclificação. — A  floração  è  monoíca;  as  flores 
de  om  e  outro  seio  dispõem-se  em  amentilhos  globosos. 


412 

pendentes.  As  flores  appareoem  era  d 
com  as  Tolhas.  Os  plátanos  florescem 
quasi  todos  os  annos  dão  grande  ai 
fnictos. 

Os  fnictos  são  pequenos  achenios, 
pellos  rígidos  amarellados,  e  rennid 
globosos,  a  que  o  vulgo  dá  o  nome 
da  base  dos-  achenios  no  plátano  do  o 
maiores  que  os  Tractos,  e  no  plátano  d 
o  que  torna  os  amentilhos  globosos  r 
tes  externamente  na  primeira  espécie 
A  disseminaçtío  realisa-se  lun  pouco  ' 
guinte  á  floração,  e  dá-se  a  grandes  d 
das  sementes  s3o  estéreis. 

Germinação. — A  geraiinaç5o  passí 
tempo,  se  a  sementeira  é  Teila  na  \ 
novas  teem  crescimento  muito  rápido 

Produaos  e  míos. — A  madeira  dos 
sem  numero  de  usos,  e  sobretudo  é  i 
com  que  se  deixa  trabalhar.  Dizem  o 
collocada  em  sítios  húmidos  resiste  a( 
como  o  carvalho  e  o  ulmeiro.  Dá  muii 
carv3o. 

A  oo&ola  Haatardi 
{BoUnia  Puudo-aeaeia, 


A  acácia  bastarda  é  originaría  da  A 
tiva-se  nm  pouco  entre  nós,  como  p 
jardins,  alamedas,  etc,  mas  não  com 
dia,  no  emtanto,  ter  exploração  van 
ultimo  ponto  de  vista. 

Solo. — Vae  bem  em  todos  os  solos 
são  soltos  e  (('escos. 


413 

[Q  raiz  mestra  pouco  desenvolvida  e  mui' 
las  raizes  lateraes  que  produzem  muitos  relientões.  Rebenta 
bem  de  touca. 

Porle,  crescimento  e  duração. — Esta  arvore,  quaado  iso- 
lada, apresenta  geralmente  uma  grande  copa,  mais  ou  me- 
nos arredondada,  e  o  fuste  relativamente  pequeno,  dividido 
m  pernadas  vigorosas.  É  arvore  de  boa  grandeza,  e  de 
crescimento  rápido,  sobretudo  nos  primeiros  annos;  em 
pouco  tempo  alcança  10  a  14  metros.  Tem  grande  dura- 
(3o. 

Madeira  e  casca.— O  cerne  da  acácia  bastarda  é  amarel- 
lado,  lustroso,  e  o  borne  delgado,  branco;  esta  madeira 
tem  o  parenchjTna  lenhoso  muito  apparente,  disposto  em 
linhas  concêntricas  mais  claras,  que  rodeiam  e  unem  os  va- 
sos. Segundo  o  sr.  Mathieu  (I.  c.)  a  madeira  desta  acácia 
bastarda,  desde  muito  nova,  é  pesada,  elástica,  dura,  e 
apresenta  duração  tamanha  como  o  carvalho,  e  resistência 
vertical  Va  maior. 

A  casca  da  ar\ore  adulta  é  um  rhytidoma,  fendido  e  ru- 
goso. 

Fothag&n.  ~  As  folhas  são  caducas,  imparipinnuladas  com 
5  a  12  pares  de  foliolos  ovados  ou  ellipticos,  glabros.  Na 
sna  base  vêem-se  duas  estipulas,  lenhnsas,  persistentes, 
muito  aguçadas.  Na  axilla  da  folha,  entre  as  estipulas  espi- 
nesceutes,  existe  no  eiio  uma  cavidade,  forrada  interna- 
mente de  pellos,  e  onde  se  originam  2-5  botões,  muito  pe- 
quenos e  nus.  Depois  da  queda  da  folha  esta  cavidade 
abre-se  por  uma  fenda. 

A  folhagem  da  acácia  bastarda  dá  pequeno  cob^to. 

Floração  e  fructificação. — As  flores  são  bermaphroditas, 
papilionaceas,  brancas,  cbeirosas,  dispostas  em  cachos  sim- 
ples, pendentes.  A  floração  realisa-se  depois  da  folheação, 
em  março  e  abril. 

O  fructo  é  uma  vagem  comprimida,  dehiscente,  poly- 
f^erma.  A  disseminação  tem  logar  no  outono  e  no  inverno. 


M4 

A  acácia  bastarda  froctifica  em  n 
anDos  em  abmidaDcía. 

Germinação. — As  sementes  conse 
poder  germinativo.  Germinam  racílmi 
teem,  desde  logo,  grande  robustez 

Productos  e  usos. — A  madeira  d'e 
polido  c  pode  ser  utilisada  em  marcenena;  e  optmia  para 
carroçaria,  torao,  dentes  de  rodas,  cavilhas,  peças  de  ma- 
chinas,  etc.  Como  madeira  de  construcção,  n3o  dá  qnasi 
nunca  peças  sufScientemente  direitas  e  compridas  para  isso. 

As  folhas  podem  empregar-se  como  forragem;  mas  a 
raiz,  e  talvez  a  casca,  tem  um  principio  venenoso  bastante 
enérgico. 

Os  espinhos  difBcnItam  mn  pouco  a  sua  exploração,  mas 
apropriam-a  para  guarnecimento  de  sebes,  assim  como  as 
suas  raizes,  estendidas  e  cheias  de  rebentões,  a  tomam 
própria  para  revestimento  de  terrenos  pouco  sólidos. 


;T0B£S  PRDiCIPÂLlIEliTE  COHSULTÂBOS 
M'ESTE  um  lY. 


—Ftore  Forestière.  Paris,  1877. 

3t  A.  Parade. —  Cours  ãémaUaire  de  cuUure  des 

s.  Paris,  1883. 

ttiE. —  T^aité  génêrcU  des  contfères.  Paris,  1885. 

)DSA  Pimentel. — Pinhões,  soutos  e  montadas. 

'  parte:  Pínhaes.  Lisboa,  1882. 

)USA.  Pimentel. — Ertcalyptus  globulus.  Lisboa, 

76. 

osA  Pimentel. — Artigos  publicados  sob  diver- 

(  títulos  DO  Jornal  Oficial  de  Agricultura. 

iBSA  Pimentel.— IVoíomenío  e  exploração  dos 

aos  (publicado  do  Jornal  de  Horticultura  Pra- 

1,  Domeros  de  outubro  de  1883  a  janeiro  de 

B4). 

Henriques. — Relatório  da  esticão  scientifica 
terra  da  Estreita  (secção  de  botânica).  Lisboa, 
83. 

Sociedade  Broteduna  —  i,  n  e  i 
,  2.»,  3.»  e  4.»). 


416 

B.  Barros  Gomes. — Notice  sur  ks  arbres  forestières  áa  Por- 
tugal. Lisbonne,  1878.  ^ 

B.  Barros  Gomes. —  Condições  florestaes  de  Portugal.  Li^a, 
1876. 

Relatório  da  administração  geral  das  matas,  relativo  ao 
anno  económico  de  1879-1880.  Lisboa,  1881. 

Ch.  Naudin. — Mémoire  sur  les  eucalyptus  (Ph.  Van  Tiegaem 
— Annales  des  Sciences  Naiurelles — Botanique-- 
tom.  XVI,  n.^  6.  Paris,  1883). 

José  Bonifácio  de  Andrada  e  Silva. — Menwria  sobre  a  ne- 
cessidade e  utilidade  do  plantio  de  novos  bosques  em 
Portugal.  Lisboa,  1815. 

Joaquim  Pedro  Fragoso  de  Sequeira. — Memoria  acerca  da 
cultura  e  utilidade  dos  castanheiros  na  comarca  de 
Portalegre.  (Memorias  Económicas  da  Academia 
Real  das  Sciencias  de  Lisboa — tom.  ii.  Lisboa, 
1790). 

Joaquim  Pedro  Fragoso  de  Sequeira. — Memoria  sobre  as 
azinheiras,  sovereiras  e  carvalhos  da  provinda  do 
Alemtejo,  onde  se  trata  da  sua  cultura,  e  dos  me- 
IhorameníoSy  que  no  estado  actuai  podem  ter.  (Me- 
morias Económicas  da  Academia  Real  das  Scienr 
cias  de  Lisboa — tom.  ii.  Lisboa,  1790). 

D.  Carlos  Castel. — Memoria  premiada  con  d  accessitpor 
la  Real  academia  de  ciências  exactas,  fisicas  y  na- 
turales  en  el  concurso  publico  para  1876.  Madrid, 
1879. 

F.  A.  Brotero. —  Flora  Lusitanica.  Olisipone,  1804. 

M.  WiLLKOMM  et  J.  Lange. — Prodromus  fiorae  ISspanicae. 
Stuttgartiae,  1880. 

Dr.  E.  Wolff. — Étude  de  l' alimentation  rationeUe  des  ani- 
maux  domestiques  (tradoit  de  rAllemand  par  A. 
Damseaux,  Bruxelles).  Paris,  1876. 

Eusébio  F.  Ferreira  Nobre  de  Carvalho. — O  passado,  o 
presente  e  o  futuro  dos  montados  (these  apresen- 


4Í7 

ao  Instituto  Geral  de  Agricultara).  Lisboa, 

istinées  du  Portugal  (Extrait  du  tBoleínA  da 
iode  Broleríamt,  iv.  Coimbra,  1886). 
.GOMA. — Flora  Forestal  Espafíola  (Primera 
e  atlas).  Madrid,  1883'. 


QOB  conhecimento  d'eite  Uyro,  depois  de  termos  es- 
olume,  a  de  esUr  quasi  eompleto  o  segundo,  por  isso 
QQ  o  auxilio  qna  aliás  nos  teria  prestado  se  mais  cedo 
.  Snppomos  que  é  mais  recente  a  lUa  poblícaçSo  do 
iressSo. 


roí  00  TOHO  pruoiho 


..  r 


mCM  DO  TOMO  I 


■NISAÇÃO  E  MODO  DEVTOA  DAS  PLAN- 

1  LENHOSAS 5 

erbãceas  e  leobosas 5 

ção  dos  vegetaes  lenhosos  segimdo  o  sen  porte  6 

Ds  vegetaes  leoha^oí; 7 

8 

nal  e  raJies  adventícias 9 

a  da.s  ramiScações  da  raz 10 

mo  apparelho  de  nutrição 10 

mo  apparelho  fixador 12 

tventicias  e  raiíea  latentes 18 

16 

I  canal  medullar 16 

pna  fibroso 18 

21 

ma  lenhoso 22 

Jullares 23 

HÍniferos 25 

ção  dos  elementos  anat(Hnicos  do  lenho  ...  26 

26 

nternos  da  casca— liber  e  parenchyma  cor- 
27 


rrm 


420 


PAG. 

Epiderme S59 

Lenticulas,  cortiça  e  rhytidoma 31 

'  Distincçao  entre  a  madeira  do  tronco  e  a  da  raiz ...  38 

Crescimento  das  plantas  lenhosas  em  diâmetro 38 

Geme  ou  doramen,  e  borne  oa  albumo 47 

Gicatrisaçao  das  feridas 5i 

Composição  chimica  da  madeira 54 

3.' — Ramificação  do  tronco 60 

Formas  de  ramificação 60 

Classificação  dos  ramos 62 

Botões  normaes 62 

Crescimento  das  plantas  lenhosas  em  altnra 69 

Renovo  antecipado 75 

Botões  folhosos,  floraes  e  mixtos 75 

Desenvolvimento  anormal  dos  rebentos 76 

Botões  adventicios  e  olhos  dormentes 77 

Rebentação  das  toucas 79 

Rebentos  ladrões 80 

4.«— Folhas 81 

Peciolo 83 

Limbo 85 

Formas  de  folhas 92 

Polymorphismo  das  folhas  na  mesma  espécie,  e  no 

mesmo  individuo 98 

Estipulas 100 

Crescimento  das  folhas 102 

Disposição  das  folhas  sobre  o  eixo 104 

Duração  e  queda  das  folhas 106 

Coberto  das  ;arvores 112 

B.** — Vida  das  plantas  lenhosas 112 

6.^ — A  FLOR   E  os  PHBNOMENOS  DA  BBPRODCGÇAO 126 

Floração 126 

Partes  componentes  da  flor 130 

Inflorescencia 132 

Cálice 137 

CoroUa 139 

Prefloração  e  estivação 142 


r^ 


421 


PAG. 

Estames 142 

Pistillo 146 

Concrescencia  dos  verticillos  floraes  entre  si 151 

Pollinisa^o 154 

Espécie,  variedade  e  variação;  géneros e  familias  bo- 
tânicas    159 

7.^ — O  FRUCTO,  A  SEMENTE  B  OS  PHENOMENOS  DA  GBRMnfA- 

ÇAO 160 

Fmctificaçao '. 160 

Composição. do  pericarpo 162 

Formas  de  fructos 165 

Semente 171 

Germinação 175 

8.«— Galbas 180 

Folhosas  e  resinosas 182 

Prodactos  fldrestaes ; 184 

Anetores  principalmente  consultados  n'este  livro  1 186 

Uvro  ■■.— CUMATOLOGIA  FLORESTAL 189 

1.® — IlfFLUENGIA  DO  CLIMA  NA  DISTRIBUIÇÃO  DAS  ESSÊNCIAS 

FLORBSTAES 189 

{  Condições  climatéricas  necessárias  para  a  vida  das  ar- 

i  vores 191 

Variações  climatéricas  produzidas  pela  latitude 193 

Causas  que  podem  alterar  as  indicações  climatéricas 

deduzidas  da  latitude 197 

Regiões  florestaes  da  Europa 198 

2.* — Climas  florestaes  de  Portugal 207 

Região  norte,  ou  dos  carvalhos  de  folha  caduca. . . .  208 

Limites  da  vegetação  arbórea  impostos  pela  altitude  213- 

Região  sul,  ou  dos  carvalhos  de  folha  perenne 215 

3.^ — Influencia  das  variações  i^ogabs  do  clima  no  modo 

de  vida  de  uma  mesma  espécie  lenhosa 219 

Épocas  das  diversas  phases  da  vegetação 219 

Porte  e  crescimento  annual  das  arvores 220 

Acção  do  calor  forte  e  do  frio  sobre  as  arvores 221 

Acção  da  luz 225 

Acção  da  agua ^  225 


tíí 


Acção  do  veDto 

iDOuencia  da  expost^o 

Iniluencia  da  altitude 

Paizes  de  planície  e  paizes  mont 
4.*— Inflcencia  das  florkstas  sobri 
Influencia  das  florestas  sobre  a  l 
Influencia  das  florestas  sobre  a 
Influencia  das  florestas  sobre  a  hui 
Influencia  das  florestas  sobre  a  1 

ar  e  sobre  as  chuvas 

Influencia  das  florestas  sobre  a  e 
Infloencia  das  florestas  sobre  o  i 

bridade  das  povoações  proji 
Influencia  do  coberto  das  arvor 

inferior 

Aoctores  principalmente  consultados  n'este 
Livro  III.— AGROLOGIA  FLORESTA 

1." — Influencia  no  solo  na  distbibdiç 

RRsràis 2i7 

Influencia  do  sal  marinho 2tô 

Influencia  da  cal . . .- 249 

Influencia  da  humidade,  fundura  e  fertilidade  do  solo  251 

2.» — Os  TEBBKNOS  DE  PoBTUGíL:  bua  mPLUENCIA  MA  nis- 

TBIBUigÀO  DAS  ESSÊNCIAS  PLOBBSTABS 259 

3." — As  DIVERSAS  OtIAUDADBS  DO  SOLO  B  A  SUA  INFLIIENCIA 

NAS  QUALIDADES  DOS  LBNÍIOS  S  HA  VIDA  DAS  AHVOBES  263 

4.° — A  FOLHADA  K  A  CAMADA  HUMIFERA  :  SEU  PAPEL  «Jt  VE- 

OBTAÇÁO  DA  FLORESTA 265 

O  solo  florestal :  parles  de  que  se  comp6e 2^ 

Composição  da  folhada 268 

Formação  do  húmus 276 

5." — AcçSes  das  florustas  eobhe  o  solo 280 

(A).— Influencia  das  florestas  sobre  as  areias  moveis 

da  beiramar 280 

(B).— Influenciadas  florestas  na  consolidaçãodos  ter- 
renos das  montanhas,  e  na  regularisai^  dos  cur- 
sos de  agua 288 


r 


423 


PJlQ. 

Idéas  geraes 288 

As  montanhas  de  Portugal  e  os  seus  cursos  de  agua  293 

Influencia  dos  arvoredos  sobre  as  montanhas 296 

(C). — Influencia  das  florestas  na  formação  dos  solos 

agrícolas,  no  seu  enxugo  e  fertilidade 301 

Auctores  principâhnente  consultados  n*este  livro  Hl 304 

IV.— ESSÊNCIAS  FLORESTAES 307 

1.** — Essências  pringipalmbntií  importantes  na  arborisa- 

cão  florestal  dopaiz 307 

o  pinheiro  bravo 308 

O  pinheiro  manso  ou  pinheiro  negro 315 

Os  sobreiros 319 

A  azinheira 326 

O  carvalho  portuguez  e  o  carvalho  cerquinho 332 

O  carvalho  roble,  carvalho  commum  ou  alvarinho . .  336 

O  carvalho  negral  ou  carvalho  pardo  da  Beira 340 

O  castanheiro ^ ,  343 

A  alfarrobeira 349 

2.^ — Essências  menos  importantes  na  abborisacão  flo- 
restal :  arbustos  das  matas,  das  charnecas  b 

DAS  AREIAS  MARniMAS.  / 358 

O  ulmeiro,  nigrílho  ou  mosqueiro 355 

O  freixo. 358 

Os  choupos,  alemos  ou  fayas 361 

Os  salgueiros  e  vimeiros 366 

O  vidoeiro 371 

O  amieiro 374 

Os  zimbros 376 

O  teixo 378 

O  zambujo  ou  zambujeiro 378 

O  lodao  bastardo  ou  agreira 379 

Os  bordos 380 

O  azevinho  ou  picá-folha 381 

Q  medronheiro  ou  ervodo • 381 

O  carrasqueiro  ou  carrasco 382 

A  carvalhiça  ou  carvalho  anão 382 

O  samoco  ou  faya  das  ilhas 383 


»  ^        ^    ■  ■ 


424 


PAG. 

O  folhado 383 

A  murta 383 

O  azereiro 384 

A  cerejeira  ou  cerdeira 384 

O  abrunheiro  ou  ameixoeira  braya 3% 

O  azereiro  dos  damnados 385 

O  mostageiro,  a  tramazeira  e  a  sorveira 385 

A  aroeira 386 

A  curnalheira  ou  terebintho 387 

O  sumagre 387 

O  sabugueiro 387 

A  pereira  brava  ou  pereiro 388 

A  maceira  brava 388 

Os  pirliteiros 388 

Os  ademos 389 

O  lentisco  bastardo 389 

O  alfenheiro 389 

O  sauguinho  legitimo 389 

O  sanguinho  de  agua  ou  amieiro  negro 389 

O  sanguinho  das  sebes 390 

O  tamujo '. 390 

A  avelleira 391 

O  loendro  ou  sevadilha 391 

O  buxo 391 

O  anagyr\s  fedsgosa 391 

A  palmeira  anã  ou  das  vassouras 392 

O  arando 392 

A  casia  branca  de  Yirgilio 392 

O  trovisco 392 

A  hera 393 

As  silvas 393 

As  roseiras  bravas 391 

.  As- urzes. 394 

A  urze  branca  ou  arbórea 395 

A  urze  das  vassouras 395 

A  urze  outorga  ordinária 396 

As  estevas 395 


425 


rqoejas,  tojos,  piornos  e  giestas 396 

inheiro  alvar  basterdo 397 

largneira 397 

laiii^ira 397 

iorneira  e  a  losna  muior 398 

QÍcabra 398 

;adeira,  o  valverde  dos  sapaes,  ete 398 

IC1A8  noncu  j^  dm  pouoo  nmoDDznus 399 

beiro  d'Al<f>o 399 

resie,  o  cedro  bastardo  e  o  eedro  do  Bnssaco. .  402 

nlypto 404 

Uanos ,410 

eia  bastarda 412 

)almeiile  consultados  o'e8te  livro  IV 415 


r" 


ERRATAS 


Nota. — Apenas  vão  notados  os  erros  d*onde  resulta  alteração  no 
sentido  do  texto.  Para  as  simples  trocas  de  lettras,  con- 
stituindo erros  typographicos,  que  escaparam  na  revi- 
são, pede*se  a  benevolência  do  leitor. 


Pag.  80— linh.  21— onde  se  lê — os  rebentos  produzidas  pelos  botões 

adventícios — leia-se — os  rebentos  produzidos  pelos  botões 

adven tidos  e  olhos  dormentes. 
Pag.  i!4— linh.  12— onde  se  U— na  parte  inferior  das  nervuras—- 

leia-se — na  parte  superior  das  nervuras „ 
hg.  134 — A  fig.  68  deve  representar-se  invertida. 
Pag.  142 — linh.  26 — onde  se  lô — aandrocea — leia-se — oandro- 

ceo. 
Pag.  192 — linh.  12 — onde  se  lô — sudoeste — leia-se — sueste,  . 
Pig.  203 — linh.  32 — onde  se  lé — sudeste — leia-se  sueste. 
Pag.  232 — linh .    2 — onde  se  lé — por  cento — leia-se  — por  100  de 

folhas. 
Pag.  353— linh.  25-onde  se  10—24,996— Jeia-se  —24,966. 


íí(^.^"   ^^f4*t^^      éãía^t^ 


^^.  ^r..'-*' 


DE  SILYIGULTD] 


lE  SILVICyLTURft 


XAVIER  PEREIM  COUTINHO 

<  Instituto  Geral  de  AgricDltnra, 

nte  da  Academia  Real  das  Scienci&s,  ete. 


TOMO  II 

ESBOÇO 

DE  UMA 

,ENHOSA  PORTHGUEZA 


LISBOA 

TTFOGUmU  Dl  lUDUIt  UAL  US  SCSKUS 

1887 


PROLOGO 


)  fácil  limitar  com  segurança  o  campo  que 
restai  deve  abranger.  Evidentemente  nem 
*m  38  arvores  das  florestas:  precisa  in- 
as  espécies,  embora  de  menor  porte,  que 
ali  de  mistura  com  as  arvores  e  por  isso 
ma  influencia,  de  qualquer  ordem,  na  ex- 
ploração. 

Mas,  postas  as  coisas  com  esta  latitude,  os  dominios 
da  Flora  florestal  tornam-se  vastíssimos  e  ao  mesmo 
tempo  muito  incertos:  por  um  lado,  alargam-se  a  ponto 
Dão  só  de  comprehender  muitos  arbustos  e  sub-arbus- 
tos,  como  plantas  herbáceas  e  até  muitas  cryptogami- 
cas,  Dmas  das  quaes  vivem  no  solo  das  matas  e  outras 
parasitas  sobre  as  arvores — cogumelos,  lichenes,  etc.; 
por  outro  lado,  estes  limites  ficam  obscuros  e  indetermi- 
nados, porque  no  interior  dos  massiços  florestaes  podem 
accidentalmente  encontrar-se  quasi  todas  as  espécies  da 
flora  local;  e,  ou  a  Flora  florestal  se  ba  de  transformar 


'^ 


n 


11'uma  flora  geral,  ou  a  escolha  das  espécies  que  a  de- 
vem compor  tem  de  ficar  arbitraria,  seja  qual  for  o  cri- 
tério d'essa  escolha — o  numero  de  iodividuos,  a  fre- 
quência da  espécie^  ou  a  sua  importância  na  explora- 
ção, etc.  A  tudo  isto  accresce,  que  uma  tal  limilação 
deixaria  de  incluir  todas  as  arvores  que  não  vivem  nas 
florestas — que  não  podem  estar  em  massiço-^  algumas 
das  quaes  são,  evidentemente,  do  dominio  da  silvicul- 
tura. 

Os  limites  traçados  peb  sr.  Mathieu  na  sua  Flore 
forestière  afíguram-se-nos  bastante  mais  práticos  e  exe- 
quiveis.  Âquelle  auctor  reúne  sob  o  nome  de  flora  fio- 
restai,  não  o  conjuncto  mais  ou  menos  indefinido  das 
espécies  que  vivem  nas  florestas,  mas  o  conjuncto  das 
espécies  lenhosas  do  paiz — seja  qual  for  o  seu  habitat. 
O  nome  é  que  nos  parece  mal  cabido :  em  vez  de  Flora 
florestal  diremos  antes,  n'este  caso,  Flora  lenhosa. 

O  trabalho  que  vae  seguir  não  pretende  passar  por 
uma  Flora  lenhosa  portugueza:  não  vae  além  de  um  * 
simples  esboço,  resultante  da  coordenação  dos  nossos 
apontamentos  sobre  este  assumpto.  E  mais  um  trabalho 
de  vulgarisação,  com  o  fira  principal  de  facilitar  o  es- 
tudo aos  nossos  discipulos,  do  que  um  trabalho  de  in- 
vestigação botânica.  Pouco  mais  fizemos,  do  que  reunir 
as  diagnoses  (dispersas  por  varias  obras),  de  todas  as 
espécies  lenhosas  conhecidas  no  paiz,  e  resumil-as,  dis- 
pondo-as  em  chaves,  dichotomicas  para  tomar  a  classi- 
ficação mais  rápida  e  mais  segura. 


Não  poderíamos  decerto  emprehender  trabalho  de 
maior  alcance:  nem  as  forças  nol-o  permittiriam,  nem 
julgamos  a  occasião  apropriada  ainda  para  isso.  Em- 
bora o  estudo  da  botânica  descríptiva  tenha  tomado,  em 
Portugal,  nos  últimos  annos  um  notável  incremento, 
embora  existam  já  reunidos  muitis3Ímos  elementos^  e 
de  grande  valor,  parece-nos  prematuro  qualquer  traba- 
lho definitivo  que  se  queira  tentar  acerca  da  flora  por- 
tugueza.  No  emtanto,  afigura-se-nos  que  isto  não  deve 
ser  uma  razão  para  deixar  de  vulgarisar  os  elementos 
já  reunidos^  muito  principalmente  quando  se  trata  da 
Flora  lenhosa,  por  isso  mesmo  que  o  maior  porte  das 
espécies  lenhosas  as  torna  mais  ^depressa  conhecidas. 
Evidentemente  as  arvores  e  arbustos  principaes  de  Por- 
tugal estão  já  determinados. 

Na  lilteratura  botânica  portugueza  são  exactamente 
os  livros  de  vulgarisação  os  que  mais  fazem  sentir  a  sua 
faha;d'aqui,  o  principal  motivo  das  difificuldades  enor- 
mes com  que  lutam  todos  os  principiantes;  d'aqui,  o 
principal  motivo  porque  o  maior  numero  esmorece  no 
principio  do  caminho,  e  tão  poucos  se  dedicam,  entre 
nós,  a  estes  estudos. 

Reunimos  pois  no  presente  trabalho  todas  as  espé- 
cies lenhosas  espontâneas  de  cuja  existência  tivemos  co- 
nhecimento— arvores,  arbustos  e  quasi  todos  os  sub-ar- 
bustos — deixando  apenas  de  mencionar  algumas  plan- 
tas levemente  lenhosas  na  base,  sub-arbustos  sem  a 
menor  importância,  com  que  não  julgámos  conveniente 


alongar  demasiado  este  esboço.  Ás  espécies  espontâneas 
addicionámos  as  espécies  exóticas  sub-espontaneas, 
bem  como  as  que  são  hoje  mais  habitualmente  caltiva- 
das,  julgando  assim  tornar  este  estudo  mais  completo 
e  de  maior  utilidade. 

Do  próprio  plano  da  obra  resulta,  que  nos  referimos 
a  muitas  espécies  raras,  ou  não  existentes  nas  matas, 
e  sem  a  menor  importância  florestal,  ao  mesmo  tempo 
que  deixamos  de  citar  plantas  herbáceas,  algumas  bas- 
tante importantes  sob  o  ponto  de  vista  silvícola.  O  ai* 
timo  inconveniente,  a  não  escrçver  uma  flora  geral,  é 
de  sua  natureza  irremediável,  como  já  dissemos;  quanto 
ao  primeiro  esse  bem  poucas  desvantagens  apreseota. 
Com  eíTeito,  não  deve  esquecer  que  este  Esboço  é  o 
complemento  obrigado  do  Livro  iv  do  i  volume,  onde 
tratámos  das  essências  florestaes  e  dos  arbustos  mais 
importantes  das  matas:  o  presente  volume  ensina  a  clas- 
sificar, a  determinar,  as  espécies  ali  estudadas;  se  in- 
cluo espécies  a  mais,  ç  que  habitualmente  não  vivem 
nas  florestas,  não  resulta  d'isso  mal  nenhum. 

Para  tomar  um  pouco  mais  útil  esle  Esboço,  em  se- 
guida ás  descripções  das  espécies  não  estudadas  ante- 
riormente, acrescentámos  algumas  palavras  acerca  dos 
seus  principaes  aproveitamentos.  Não  fizemos  o  mesmo 
a  propósito  das  espécies  florestaes  mais  importantes, 
porque  essas  foram  tratadas  jâ,  com  maior  particulari- 
dade, no  Livro  especial. 
Tivemos  grande  cuidado  na  escolha  das  espécies  com- 


poneotes  d'este  Esboço:  de  umas  possuímos  exemplares 
DO  nosso  herbario  ou  no  da  Sociedade  Broteriana,  ou- 
tras vimol-as  no  berbario  na  Escola  Polytechnica,  ou 
^contrámol-as  citadas  nas  obras  que  tratam  da  flora 
portugueza,  enumeradas  adiante.  Cumpre-nos,  n'este 
logar,  patentear  o  nosso  reconhecimento,  pelos  valiosos 
aoxilios  que  nos  prestaram,  aos  srs.  conde  de  Ficalho 
e  J.  Daveau,  o  primeiro  facultando-nos  a  consulta  do 
riquissimo  berbario  da  Escola  Polytechnica,  e  o  segundo 
dando-nos  muitos  duplicados  do  seu  herbario  particu- 
lar, e  concedendo-nos  a  leitura  dp  seu  trabalho  inédito 
acerca  das  Cistineas  portuguezas  ^ :  aos  srs.  dr.  Júlio  A. 
Henriques  e  dr.  J.  de  Mariz,  que  nos  esclareceram  em 
muitos  pontos  duvidosos,  já  na  determinação  das  espé- 
cies mais  criticas,  já  na  indicação  dos  habitats  de  ou- 
tras deduzidos  dos  exemplares  do  valiosissimo  herbario 
da  Universidade  de  Coimbra,  bem  como  ao  sr.  A.  Mol- 
ler,  que  egualmente  nos  forneceu  subsidies  importantes. 
As  descripções  das  familias,  géneros  e  espécies  re- 
suraimol-as  quasi  sempre  do  Prodromus  Florae  Hispa- 
nicae  dos  srs.  Willkomm  e  Lange — cuja  ordem  e  no- 
menclatura adoptámos,  por  ser  esta  obra  a  mais  impor- 
taole  e  completa,  que  conhecemos,  acerca  da  flora  da 
peninsula — ou  da  Flore  Forestière  do  sr.  Mathieu,  cujo 
plano,  em  grande  parte,  nos  propozemos  imitar.  Sem- 
pre que  nos  foi  possivel,  escrevemos  o  resumo  das  dia- 

a 

'  Aetaalmente  publicado  (vid.  adiante  a  enumeração  dos  livros 
WMultados), 


\1 


gnoses,  verificaDdo  os  caracteres  apontados  sobre  exem- 
plares— vivos  ou  seccos — das  espécies  descriptas.  Para 
evitar  maiores  complicações,  unicamente  apresentamos 
as  synonymias  Broterianas  e  Linneanas  das  denomina- 
ções especificas  adoptadas. 

Para  a  determinação  das  famílias,  géneros  e  espécies 
dispozemos  o  nosso  trabalho  em  chaves  dichotomicas, 
porque  julgamos  ser  esse  o  único  processo  que,  com 
rapidez  e  simplicidade,  conduz  a  uma  determinação  se- 
gura; mas  pareceu-nos  indispensável  alongar  um  pouco 
as  descripções  das  espécies,  e  não  as  limitar  só  aos  ca- 
racteres salientes  sobre  que  se  baseia  a  constituição  das 
chaves,  porque,  como  a  flora  portugueza  não  está  ainda 
completamente  conhecida,  a  simples  enumeração  de  um 
caracter,  se  pode  ser  o  bastante  para  distinguir  todas 
as  espécies  descriptas  num  livro,  pode  também  induzir 
em  erros  graves,  permittindo  a  confusão  com  as  espé- 
cies ainda  não  determinadas  no  paiz ;  perigo  este,  que 
a  descripção  mais  detalhada  afasta  em  grande  parle.  Na 
França,  por  exemplo,  onde  a  flora  está  bem  estudada, 
comprehende-se  um  livro  elementar  com  a  forma  que, 
entre  outros,  tem  a  Nouvelle  Flore  Française  dos  srs. 
Gillet  &  Magne,  na  qual  as  chaves  .são  muito  simples  e 
as  descripções  muito  resumidas;  para  a  flora  fiorlu- 
gueza,  tal  como  ella  está  conhecida  na  actualidade,  é 
que  essa  forma  nos  parece  defeituosa  e  ambigua. 

Nas  descripçfies  das  espécies  não  seguimos  a  ordem 
rigorosa  e  methodica  geralmente  estabelecida — come- 


VII 

çar  pela  raiz,  seguir  pelo  caule,  ramos,  folhas,  flores, 
etc.;  os  caracteres  apresentados  sempre  primeiro  são  os 
que  mais  salientemente  servem  para  a  distincção  dicho- 
tomica,  seguindo  os  restantes,  enumerados  geralmente 
na  ordem  da  importância  distihctiva. 

Como  já  dissemos,  adoptámos  inteiramente  a  ordem 
e  a  nomenclatura  da  obra  dos  srs.  Willkomm  e  Lange. 
Advertiremos,  todavia,  que  somos  partidários  de  uma 
divisão  especifica  levada  um  pouco  menos  longe,  e  acre- 
ditamos (jue  algnmas  das  ospecies  mais  próximas  des- 
criptas  deveriam  ser  antes  consideradas  como  varieda- 
des. Não  temos  a  força,  nem  a  auctoridade,  nem  o  es- 
tudo necessário  para  in  leni  ar  esse  agrupamento,  com  o 
qual,  nos  pareceu,  podia  perder  mais  do  que  ganhar 
este  nosso  trabalho,  e  apenas  o  praticámos  n'aquelles 
raríssimos  casos  que  julgámos  evidentes,  pela  compara- 
ção de  formas  intermédias  bem  caracterisadas;  em  al- 
guns outros  casos,  limitámo-nos  a  emitlir,  em  notas,  uma 
opinião,  mais  ou  menos  baseada,  mais  ou  menos  pro- 
vavel. 

Ainda  para  facilitar  a  classificação,  e  para  simulta- 
neamente tornar  bem  definida  a  terminologia  empre- 
gada, apresentamos  no  fim  um  pequeno  diccionario  das 
palavras  technicas  que  mais  usámos,  e  onde  o  alumno 
pode  recorrer  de  prompto  n  um  caso  duvidoso. 

Em  resumo — o  plano  que  nos  propozemos  seguir 
Q'esta  publicação  foi  vulgarisar  a  nossa  flora  lenhosa, 
reunindo  as  diagnoses  das  espécies  já  conhecidas  no 


VIII 


paíz,  condensando-as  e  dando-lhes  uma  forma  ^ue  faci- 
lite a  classificação.  Séjam-oos  relevados,  tiveste  desejo  de 
sermos  ateis  aos  nossos  alumnos  e  aos  nossos  silvicol- 
tores,  o  arrojo  do  emprehendimento  e  as  incorrecç&es 
em  que  cairmos.  A  nossa  maior  satisfação  seria  qoe 
este  trabalho,  successivamente  emendado  e  acrescen- 
tado, podesse  no  futuio  constituir  a  Flora  lenhosa  por- 
tugtieza,  que  incorrectamente  agora  apenas  procura  es- 
boçar. 

»    Lisboa,  26  de  março  de  1 886  *. 


António  Xavier  Pereira  Coutinho, 


1  O  manuscripto  doeste  u  volume  do  nosso  Cvrso  de  SUvicuUura 
foi  entregue  na  Academia  Real  das  Sciencias  conjonctamente  com  o 
Bianascripto  do  i  volume,  e  por  isso  os  dois  levam  a  mesma  data— 
a  data  da  entrega.  Algumas  das  notas  e  o  AppenUce  foram  escriptos 
posteriormente,  já  durante  a  impressão. 


Romes  dos  auctores  citados,  e  as  abreilataras  empregadas 


Ait. — W.  Âiton. 
Bartl. — Bartling. 
Bell.— Bellardi. 
B.  de  Rômer. — B.  de  Ròmer. 
Bertol. — A.  Bertolini. 
Bosc. — Bosc. 
Bourg. — Bourgeau. 
Bron. — Brongniart. 
Brot — F.  A.  Brotero. 
Bss. — Ed.  Boissier. 
Bss.  dt  Reut — Boissier  e  Reuter. 
Bth. — Bentham. 
Cav.—J.  A.  Gayanilles. 
Ciem. — D.  S.  de  R.  Clemente. 
Corr. — J.  Corrêa  da  Serra. 
Coss. — CossoiL 
Crte.— H.  J.  N.  7on  Crantz. 
DC— A.  P.  de  Candolle. 
D.  Don. — David  Don. 
« Desf. — R.  L.  Desfontaines. 
Diin. — Dunal. 
Eckl.— Ecklon. 
Ehrií.— Ehrhart. 
Endl.— S.  L.  Endlieher. 


Forsk. — Forskal. 

Forst.— Forster. 

Fries. — Friesí 

Gaertn. — J.  Gaertner. 

Gaud. — Gaudin. 

Gay. — J.  Gay. 

G.  Don. — Georges  Don. 

Godr. — Godron. 

Gren. — Grenier. 

Gris.  ou  Griseb. — Grisebach. 

Grlls. — Graells. 

Guss. — G.  Giissoni. 

Hochst— C.  F.  Hochstetter. 

Hoffgg.  &  Lk. — Hoffmannsegg  e 

Link. 
Jcqu. — N.  J.  von  Jacquin. 
J.  Mflll.— J.  Mmier. 
Juss. — Jussieu. 
Klotzsch. — Klotzsch. 
Koch. —  Kocb. 
Koch  ÓL  Zi2. — Kocb  e  Ziz. 
Ktb— K.  S.  Kuntb. 
Kze.— Kunze. 
L. — C.  Linneu. 


X 


Labill. — De  Labíllardiére. 
Lam. — De  Lamarck. 
Lestib. — Lestiboudois. 
Lge. — J.  Lange. 
L'Herit. — LHeritier. 
Lindl. —  J.  Lindley. 
Lk. — Link. 

Lour. —  J.  de  Loureiro. 
Mariz. —  J.  de  Maríz. 
Med.— F.  K.  Medikus. 
MilL— Ph.  Miller. 
Mirb. — Mirbel. 
Mnch.— Moench. 
Moqu. — A.  Moquin-Tandon. 
N.— Nees. 

Orteg. — Ç.  G.  Ortega. 
Perrot— G.  S.  Perrottet 
Pers. — C.  H.  Persoon. 
Planch. — Planchon. 
Poir.—  J.  M.  L.  Poiret 
Portenschl. — Portenschl . 
R.  Br. — Robert  Brown. 
Rchb. — Reichenbach. 
Rich. — A.  Richard. 
Risso. — J.  A.  Risso. 
Roz. —  Rozier. 


Rud. — Rudolphi. 

SUiab. — R.  ^  Sali8bury. 

Salzm. — SalzmaniL 

Santi. — Santi. 

Schott.— H.  Schott 

Scbreb. — J.  €.  D.  von  Schrebcr. 

Ser. — N.  C.  Seringe. 

Sibth.— J.  Sibthorp. 

Sieb. — Sieber. 

Spach. — E.  Spach. 

Spreng. — K.  Sprengel. 

St  Hil.— St  Hilaire. 

Thumb.— C.  P.  Thumberg. 

Tourn. — J.  P.  de  Toumefort. 

Vahl.— M.  Vahl. 

Vent— E.  P.  Ventenat      • 

Vill.—  p.  Villars. 

Vog.—  Vogel. 

W.— K.  L.  Willdenow. 

Wallr.— C.  F.  G.  Wallroth. 

Wbb.— Ph.  B.  Webb. 

Weihe. — Weihe. 

Weihe  &  Nees.— Weihe  e  Nee*. 

Welw.— F.  Welwitsch. 

Wimm. — Wirnmer. 

Wk.— M.  Willkomm. 


Livros  consultados 


M.  Willkomm  c  J.  Lânge. — Prodromiis  florae  Hispanicm 

StQttgartiae,  1870-1880. 
A.  Mathieu. —  Flore  Forestière.  Paris,  1877. 
F.  A.  Brotero.— F/ora  Lusitanica.  Olisipone,  1804. 
F.  A.  Brotero. — Phytographia  Lusitamae  selecfior.  Olisi- 

pone,  1816-1827. 


XI 

GiLLET  <Jc  Magne. — Nouvelle  Flore  Française.  Paris,  1879. 

A.  P.  DE  Candolle. — Prodromus  systematis  naturcUis  regni 

vegeíabilis.  Parisiis,  1824-1857. 
M.  WiLLKOMM. — ícones  et  descriptiones  plantarum  novarum, 

crUicarum  et  rariorum  Europae  anstro-ocádentOr 

h$,  praedpue  Hispaniae.  Lipsiae,  1852-1861. 
Ed.  Boissieb. — Diagnoses  plantanim  novarum  praesertim 

qrientalium.  Lipsiae,  1853. 
Ed.  Boissier. —  Voyage  hotanique  dans  le  Midi  de  VEspagne 

pendam  Vannée  1837.  Paris,  1839-1845. 
J.  Lange. — Pugillus  plantaram,  imprimis  hispanicarum ,  quas 

in  ttinere  1851^1852  legit.  Hafnia^,  1860-1861. 
P.  B.  Webb. —  Otia  Hispânica  seu  delectus  plantaram  rario- 
rum per  Hispanias  sponíe  nascerUium.  Paris,  1853. 
P.  B.  Webb. — Iter  HispanienM^  ar  à  synopsis  ofplants  cd- 

lected  in  tbe  southem  provinces  of  Spain  and  in 

Portugal.  Paris,  1838. 
E.  Spach. — Recisio  generis  Genista  (Extrait  d  es  Annales  des 

Sciences  Naturelles.  Octobre,  Novembre,  1844). 
HoFFMANNSEGG  et  LiíiK. —  Flore  Portugaise.  Paris,  1809- 

1840. 
D.  Máximo  Laguna. —  Coniferas  y  amentaceas  cspafíolas.  Ma- 
drid, 1878. 
ViCTORE  DE  Janka. —  Gcnisteoe  Europaea  (edilio  separata  é 

Természetrajzi  Filzetek — vol.  iii,  part.  ii,  1884). 
Conde  de  Ficalho. — Apontamentos  para  o  estado  da  Flora 

Portugueza  (extractos  do  Joinal  de  Sdencias  Mor 

thematicas,  Physicas  e  NaturaesJ. 
Boletins  da  Sociedade  Broteriana — (i,  ii,  iii  e  rv  annos). 
Db.  Julio  Á.  Henriques. — RekUorio  da  secção  l)otanica  da 

expedição  scientifica  á  serra  da  Estrella  em  1881. 

Lisboa,  1883. 

B.  A.  Gomes  et  C.  M.  F.  da  S.  Beirão. —  Catalogas  plan- 

tar um  Horti  Botanid  Medico-çirm  gicae  Scholae 
Olisiponensis  anno  1862.  Olisipone,  1852. 


Labillardién;  ^^;j^fbu  (Mnoltí  áa  Sctm- 

amarck.  ..-^que—PviÀiée  sous  la  din- 

"'«»"*''*  ^us  TiEGHEM.  Tom.  xn,  a."  6. 

ige.  ,  -■</' 

Heril-  ■    ;■'., 

ind'  "  '!>/*""'  *^'^*''  ó  to  rewísiOB  de  la  flore 

'^.f-^.^rírait  du  Journal  *Le  Naiuralisíe*. 

fl^^flaitê  general  t&s  conifêres.  Paris,  Í855. 
^■,1^^ Condições  /lorestaes  de  Portugal.  Lisboa, 

^iiiviUQDES. —  Temànologia  Botânica.  Coimbra, 

^fSRQ. —  Compendio  de  Botânica.  Paris,  1788. 
fiEGHEu. —  Traité  ãe  Botanique.  Paris,  1884. 
VDOLLE. — AntUomie  comparée  des  feuUles  chez  jael- 
ques  familUs  de  DiaXylédones,  Génève,  1879. 
. —  Cistinêes  du  Portugal  (Extrail  du  *  Boletim  da 
Sociedade  Broteriatiat,  iv).  Coimbra,  1886. 
KmscHY. — lUustrations  des  ch^es  de  l'Euri^  d 
dOrimt.  Vieiíne  et  Olmiiz,  1862. 
et  A.  PoiTEAu.— /físíoíre  et  cuiture  des  onmgm 
(nouvelle  edilion  entièrement  revue  et  augineotée 
par  M.  A.  Dii  Breuil).  Paris  1872. 
io  Laguna.— ftom  Forestal  Espaflola  (Primera 
parte  e  atlas).  Madrid,  1883*. 
AvELLAR  Bbotero. — Htstoria  dos  Pinháros,  Lan- 
ces e  Abetos.  Lisboa,  1827'. 
RoMERo  r  GiLSANZ. — El  Pino  Pifionero  en  la  Pro- 
vinda de  Valiadolid.  Valladolid,  1886*. 
10  Pla  t  Rave.— AfoíiMo/  de  cultivo  de  arboles  fo- 
restales.  Madrid*. 

mos  conhecimento  d'e9la  obra  depois  de  escripto  o  presenle 
ias  aJDda  antes  da  ultima  reTisSo,  e  por  isso  nos  referimoa» 
umas  noiasdo  texto,  bem  como  no  Appendiee. 
i  no  Appeadice. 


r 


Iodo  de  trabalbar  com  as  chaves  dlcbotomlcas 


Quando  se  quizer  determinar  a  espécie  «a  que  pertence 
oa  dada  planta  lenhosa,  entrar-se-ha  primeiro  na  chave 
hotomica  das  famílias  botânicas  (pag.  xix),  para  deter- 
lar  a  familia  em  que  ella  está  comprehendida. 
1  exemplar  deve  estar  em  floração;  e,  muito  embora 
I  a  trabalhar  com  esta  chave  seja  necessária  ás  vezes  a 
^ença  dos  fructos,  consegue-se  quasi  sempre,  ou  pelo 
ne  dos  ovários  das  flores  mais  velhas,  ou  pelo  estudo 
lodico  da  chave,  acertar  a  classificação.  Nos  casos  du- 
os será  necessário  colher  dois  ramos  sobre  o  mesmo 
iduo,  um  com  flores,  outro  com  fructos,  nas  épocas 
criadas. 

)ponhamos  que  o  exemplar  para  nós  desconhecido, 
16  queremos  determinar  a  familia  botânica,  é  um  Sair 
A  chamada  num.  1  diz: 


)astos  ou  sub-arbnstos  parasitas  sobre  os  ramos  das  arvores. 

liOranCliaeeas. 

ores,  arbustos  ou  sub-arbustos  com  as  raizes  desenvolvidas 
)  solo 2 


XII 

Gh.  Naudin. — Mémoire  sur  le$  euccUyptus  (Annalea  des  Sdm- 
ces  Naturdles — Botanique — PtMiée  som  la  dm- 
ction  de  M.  Ph.  Van  Tieghem.  Tom.  xvi,  n.®  6. 
Paris,  1883). 

M.  G.  RooY. — MateriatAX  pour  servir  d  la  revision  de  la  Flore 
Pmugaise  (extrait  du  Journal  €Le  NatvraUstef. 
Paris,  1882). 

E.  A.  Garrière. —  Traité  general  des  conifères.  Paris,  1855. 

B.  Barros  Gomes. —  Condições  florestaes  de  Portugal.  Lisboa, 

1876. 
Dr.  Julio  à.  Henriques. —  Terminologia  Botânica.  Coimbra, 
1885. 

F.  A.  Brotero. —  Compendio  de  Botânica.  Paris,  1788. 
Ph.  Van.  ,Tieghem. —  Traité  de  Botanique.  Paris,  1884. 

C.  de  Candolle. — Anatomie  comparée  des  feuilles  chez  qud- 

quês  familles  de  DicotyUdones.  Génève,  1879. 
J.  Daveau. —  Cistinées  du  Portugal  (Extrait  du  «fiofeíMndo 

Sociedade  Broterianait ,  iv).  Coimbra,  1886. 
Théodore  Kotschy. — Illustrations  des  chénes  de  VEurope  et 

dOrient.  Vienne  et  Olmúz,  1862. 
A.  Risso  et  A.  Poiteau. — Histoire  et  culture  des  orangers 

(nouvelle  edition  entièrement  revue  et  augmentée 

par  M.  A.  Du  Breuil).  Paris  1872. 

D.  Máximo  Laguna. — Flora  Forestal  Espafíola  (Primera 

parte  e  atlas).  Madrid,  1883  ^ 

Dr.  F.  de  Ayellar  Brotero. — Historia  dos  Pinheiros,  Lari- 
ces  e  Abetos.  Lisboa,  1827*. 

D.  Felipe  Romero  y  Gilsanz. — El  Pino  Pifionero  en  la  Pro- 
vinda de  FaUeKÍohd.  Valladolid,  1886  ^ 

D.  Eugénio  Pla  y  Rave.— Ma»wa/  de  cultivo  de  arbolesfo- 
restales.  Madrid*. 

1  Só  tivemos  conhecimento  d'esta  obra  depois  de  escripto  o  presente 
trabalho,  mas  ainda  antes  da  ultima  reyis2o>  e  por  isso  nos  referimos  a 
ella  em  algumas  notas  do  texto,  bem  como  no  Appendice. 

*  Citados  no  Appendice. 


lodo  de  traballiar  com  as  cbaves  dicbotomicas 


Quando  se  quizer  determinar  a  espécie  ,a  que  pertence 
mna  dada  planta  lenhosa,  entrar-se-ha  primeiro  na  chave 
dichotomica  das  famílias  botânicas  (pag.  xix),  para  deter- 
minar a  familia  em  que  ella  está  comprehendida. 

O  exemplar  deve  estar  em  floração;  e,  muito  embora 
para  trabalhar  com  esta  chave  seja  necessária  ás  vezes  a 
presença  dos  fructos,  consegue-se  quasi  sempre,  ou  pelo 
exame  dos  ovários  das  flores  mais  velhas,  ou  pelo  estudo 
methodico  da  chave,  acertar  a  classificação.  Nos  casos  du- 
vidosos será  necessário  colher  dois  ramos  sobre  o  mesmo 
individuo,  um  com  flores,  outro  com  fructos,  nas  épocas 
apropriadas. 

Supponhamos  que  o  exemplar  para  nós  desconhecido, 
e  a  que  queremos  determinar  a  familia  botânica,  é  um  Sal- 
gueiro. A  chamada  num.  1  diz: 

Arbustos  ou  sub-arbnstos  parasitas  sobre  os  ramos  das  arvores. 

.  ,     liorantbaceas. 

Arvores,  arbustos  ou  sub-arbustos  com  as  raízes  desenvolvidas 
no  solo 2 


XIV 

o  exame  mais  superficial  mostra  que  a  nossa  planta  tem 
as  raizes  desenvolvidas  no  solo  e  não  sobre  os  ramos  das 
aiTores,  por  isso  passaremos  á  chamada  num.  2 : 

Flores  dispostas  em  espadices  ramosas.  Folhas  lenhosas,  palma- 

tifendidas  ou  pinnuladas.  Plantas  sob-acaules  ou  arbóreas 

^  ,     com  o  caule  nâo  ramificado Palmeiras. 

z  { 

Flores  não  dispostas  em  espadices.  Folhas  nâo  lenhosas  (eoria- 

ceas,  membranosas,  herbáceas,  escariosas  ou  nullas).  Caules 

ramificados 3 

As  flores  do  nosso  exemplar  estSQ  dispostas  em  amenti- 
lho,  isto  é,  não  estão  dispostas  em  espadice.  As  folhas  são 
menbranosas  (não  lenhosas),  inteiras,  e  os  caules  são  ra- 
mificados. Logo,  seguiremos  à  chave  num.  3: 

Corolla  papilionácea  (fig.  32,  M).  10  estamos  monadelphos  oa 

diadelpho!^  ou  livres  (mas  então  as  folhas  compostas :  3-folia- 

das).  Fructo  uma  vagem.  Arvores,  arbustos  ou  sub-arbustos, 

inermes  ou  espinhosos  (ou  plantas  herbáceas). 

.      Paptlioii6ceas« 

Corolla  pseudo-papilioiíácea  (fig.  33,  C).  10  estames  livres.  Fo- 

.    lhas  simples,  reniformes.  Fructo  uma  vagem.  Arvores. 
{Género  Cereis)  CeaalpIíiiAceafl. 

Corolla  não  papilionácea  nem  pseudo-papilionácea :  regular,  ir- 
regular ou  nulia 4 

Tendo  verificado  que  a  corolla  é  nulla,  desceremos  ao 
num.  4: 

Flores  dispostas  em  capitulo  rodeado  de  um  invólucro  de  folio- 

los.  Antheras  adherentes  a  constituírem  um  tubo  que  envolve 

4  {     o  estylete.  Fructo  um  achenio.  Arbustos  e  sub-arbustos  (ou, 

de  ordinário,  plantas  herbáceas) Composta». 

Flores  nunca  dispostas  em  capitulo  involucrado 3 

Jà  examinamos  a  inflorescencia  do  nosso  exemplar,  e  sa- 
bemos que  ella  é  um  amentilho ;  não  sendo,  portanto,  mn 
capitulo  involucrado,  passamos  á  chamada  5 : 


XV 

Flor,  na  anthese,  rasgando-se  n*um  operculo  caduco  para  dar 

saida  aos  estamos  e  estyletes  (fig.  28,  £,  F).  Arvores  intro* 

.     duzidas,  algumas  de  primeira  grandeza,  com  as  folhas  oppos^ 

tas  ou  alternas,  persistentes,  coriaceas,  com  glândulas  óleo 

resinosas ' {Género  Eucalyptus)  MyrUieemm» 

Flor  sem  se  rasgar  nunca  n'um  operculo  terminal 6 

0  exame  directo  mostra  que  a  nossa  planta  está  no  se- 
gundo caso — a  sua  flor  não  se  rasga,  na  anthese,  n'um 
operculo  caduco.  De  resto,  se  a  este  propósito  ficassem  du- 
vidas, se  a  floração  já  estivesse  adiantada,  bastaria  vêr  que 
as  follias  não  teem  glândulas  oleo-resiíiosas,  bastaria  exa- 
min^rna  fig.  28  as  folhas  e  flores  do  género  Eucalyptvs, 
para,  sem  a  menor  hesitação,  passar  ao  num.  6: 

1  Flores  nuas,  ou  cora  um  só  invólucro  floral  (petaloide  ou  sepa- 
re      loide) 7 

( Flores  com  dois  invólucros  floraes  (cálice  e  corolla) 33 

Como  já  sabemos  que  as  flores  são  nuas,  descemos  à 
chamada  7: 

Í  Arbustos  sarmentosos,  trepadores.  Invólucro  floral  petaloide .  8 
Arvores,  arbustos  ou  sub-arbustos  levantados  ou  prostrados: 
n|o  sarmentosos,  nem  trepadores 9 

Não  se  trata  de  um  arbusto  sarmentoso,  trepador:  nem 
ha  invólucro  floral  petaloide;  logo  passamos  ao  num.  9: 

Arbustos  e  sub-arbustos  aphyllos  (ás  vezes  com  os  ramos  anor- 
malmente desenvolvidos  em  forma  de  folhas) 10 

qJ  Arvores  (raras  vezes  arbustos)  com  folhas  verdes  compostas: 
pinnuladas 12 

Arvores,  arbustos  ou  sub-arbustos  com  folhas  verdes  simples : 
inteiras  ou  diversamente  recortadas 15 

Evidentemente  a  nossa  planta  não  é  aphylla»  e  as  suas 
folhas  s3o  verdes  e  simples  (não  pinnuladas),  o  que  nos 


XVI 

leva  a  procurar  a  chamada  15.  Adrertiremos,  todavia,  que, 
ao  passar  n'6sta  chave  9,  é  prudente  verificar  se  nSo  exis- 
tem ramos  com  desenvolvimento  foliar,  que  á  primeira  vista 
possam  conflmdir-se  com  folhas  shnples.  Com  algum  cuidado, 
é  sempre  fácil  a  distincçSo;  de  resto,  as  espécies  lenhosas 
indígenas  que  teem  ramos  foliformes  (e  um  só  invólucro 
floral)  estão  representadas  na  fíg.  4,  D,  E,  J/K,  M.  Em  caso 
de  duvida  será  bom  recorrer  á  comparação  com  esta  gra* 
vura. 
A  chamada  15  diz:  ' 

I  Folhas  acerosas,  lineares  ou  escamiformes;  flores  nuas...  16 
Folhas  com  o  limbo  desenvolvido;  raras  vezes  lineares  (mas  en- 
tão sempre  as  flores  com  um  perigoneo) « .  17 

Gomo  as  folhas  do  nosso  exemplar  teem  o  limbo  desen- 
volvido (não  são  acerosas,  lineares  ou  escamiformes)  segui- 
mos ao  num.  i7: 

/  Floração  dioica.  Flores  com  um  perigoneo*:  as  masculinas  dis- 
postas em  espigas  amentáceas,  e  as  femininas  em  capitolos 
giobosos.  4  eslames.  Pequenos  achenios  envolvidos  pelos  gy- 
nophoros  carnudos  (fig.  15,  F,  F').  Arvore  exótica  com  suecos 
leitosos. . .  (Broussonetia  papyrifera,  Yent.)  Moreficeas* 
..I  Floração  dioica  ou  monoica.  Flores  dispostas  em  amentilhosou 

I  espigas  amentáceas  (as  dos  dois  sexos  nas  espécies  dioicas; 
ás  vezes  só  as  flores  masculinas  nas  espécies  monoicas).  Ar- 
vores ou  arbustos  com  as  folhas  penninervadas  ou  palminer- 

vadas > 18 

Flores  hermaphroditas  ou  unisexuaes  (monoicas  ou  dioicas)  non- 

\      ca  dispostas  em  amentilhos  nem  espigas  amentáceas 23 

A  floração  da  nossa  planta  é  dioica;  as  flores  slo  nuas, 
e  as  de  qualquer  dos  sexos  dispostas  em  amentilhos.  N3o 
tem  suecos  leitosos.  Se  é  o  inchviduo  feminino,  que  estu- 
damos, verificaremos  que  o  seu  fructo  n3o  é  um  achenio 
envolvido  por  um  gynophoro  carnudo,  nem  á  infloresc«i- 


r^ 


XVII 


19 


cia  é  um  capitulo  globoso;  se  estudamos  o  individuo  mas* 
calino,  examinaremos  que  não  tem  4  e^tames  (os  salguei- 
ros indigenas  teem  2-3  estames),  e  portanto  não  pode  o 
nosso  exemplar  pertencer  á  familia  das  Moreáceas.  Segui- 
remos á  chamada  18,  uma  vez  que  a  sua  inflorescencia  é 
em  amentilho : 

l«l  Floração  dioica.  Nunca  suecos  leitosos 19 

I  Floração  monoica 20 

0  estudo  anterior  habilita-nos  logo  a  seguir  ao  num.  19: 

1  Folhas  aromáticas,  cheias  de  pequenas  glândulas  cirosas  ou  resi- 
nosas.  Fructo  indehiscente,  monospermo  (achenio),  incloido 
nas  bracteolas  carnudas,  accrescentes  e  glandulosas,  seme- 
lhando o  conjuncto  uma  drupa  (fig.  7).  Flores  nuas.  Amen- 
tilhos  simples  ou  compostos Myrieca»  (pag.  60) 

Folhas  não  aromáticas,  nem  com  o  parenchyma  cheio  de  glân- 
dulas cirosas  ou  resinosas.  Fructo  dehiscente,  polyspermo 
(uma  capsula)  (fig.  5,  C :  fig.  6,  D).  Flores  nuas  (fig.  5)  ou 
com  um  invólucro  cupuliforme  (fig.  6). 
Sallclnea»  (pag.  51) 

O  exemplar  que  procuramos  classificar,  deve  pertencer 
a  uma  d'estas  duas  famílias — Myriceas  ou  Salicíneas.  As 
suas  folhas  não  são  aromáticas,  nem  teem  o  parenchyma 
cheio  de  pequenas  glândulas  cirosas  ou  resinosas  (embora 
ás  vezes  se  apresentem  dentado-glandulosas,  como  observa 
a  nota  .da  pag.  xxni) ;  logo  deve  ser  uma  Salicínea.  Se  for 
o  individuo  feminino  que  possuímos,  a  forma  indehiscente 
do  fructo  polyspermo  (uma  capsula),  ainda  vem  tornar  mais 
segura  a  determinação. 

Passaremos  então  á  pag.  51,  e  leremos  a  descripção  de- 
talhada da  familia  das  Salicíneas,  comparando-a  rigorosa- 
mente com  a  nossa  planta,  para  verificar  se  commettemos 
algum  erro  na  classificação  da  familia.  Estando  bem  segura 

C.  8. — ^V.  II.  2 


xvI^ 


esta  primeira  determinação,  procuraremos  na  chaye  dos 
géneros  que  esta  família  abrange  (pag.  52),  por  um  pro- 
cesso egual,  aquelle  que  lhe  corresponde.  Verificando  qae 
o  nosso  exemplar  de  estudo  tem  os  botões  com  uma  só 
escama;  tem  os  amentílhos  levantados,  com  as  bracteas  in- 
teiras; tem  as  flores  nuas,  com  o  perigoneo  substituído  por 
glândulas,  etc,  veremos  que  pertence  ao  género  Scdix. 
Passaremos,  na  pag.  52,  á  descripção  d'este  género:  com- 
pararemos novamente  a  planta  com  essa  descripção,  e  por 
ultimo,  entrando  nas  chaves  das  espécies  pertencentes  a 
este  género,  procuraremos  acertar  a  determinação  especi- 
fica, aindo  pelo  mesmo  processo. 


As  chaves  estão  preparadas  de  forma  que,  quando  se 
trate  de  espécies  dioicas,  seja  possivel  a  determinação,  quer 
possuamos  o  individuo  masculino,  quer  o  individuo  femi- 
nino. 

O  alumno  que  enceta  estes  estudos  de  classificação  não 
deve  esmorecer  com  as  primeiras  dilHculdades,  que  sem- 
pre, mais  ou  menos,  encontra.  Essas  diíliculdades  são  ine- 
vitáveis ;  com  o  tempo  e  com  a  pratica  habitua-se  pouco  a 
pouco,  e  depois  de  já  ter  um  certo  uso  do  methodo  e  da 
chave  com  que  trabalha,  consegue  vencel-as,  e  acertar  a 
classificação  sem  grandes  esforços. 


bafe  dicbotomlca  pua  a  determlnaç&o 
das  íunlllas  botânicas 


ou  sub-arbuslos  parasiias  sobre  os  ramos  das  arvores. 

Iioramiiaceaa  (pag.  100) 

arbustos  ou  sub-i>rbustos  com  as  raizes  desenvolvidas 
a 2 


ipostas  em  espadices  ramosas.  Folhas  lenhosas,  palme- 
ias ou  piíinuladas.  Plantas  sub-acaules  ou  arbóreas  c«m 

I  não  ramíGcado Palmeira*  (pag.  50) 

io  dispostas  em  espadices.  'Folhas  não  lenhosas  (coría- 
nembraaosas,  herbáceas,  escariosas  ou  nullas).  Caules 
ados 3 

lapilionácea  (Gg.  32,  M).  10  estamos  monadelphos  ou 
»hos,  ou  livres  (mas  então  as  folhas  compostas:  3-folia- 
^ruclo  uma  vagem.  Arvores,  arbustos  ou  sub-arbuslos, 
•s  ou  espinhosos  (ou  plantas  herbáceas). 

Papllionáeejt*  (pag.  186) 

seado-papitíonácea  (fig.  33,  C).  10  estantes  livres.  Fo- 
[uples,  renífonnes.  Fructo  uma  vagem.  Arvores. 
. . .  (Género  Cereis)  CeaalplnlAeeaa  (pag.  216) 
io  papilionácea  nem  psendo-papitionácea :  regular,  ír- 
r  ououlla 4 


XX 

Flores  dispostas  em  capitulo  rodeado  de  um  invólucro  de  folio- 

los  ^  Ântheras  adherentes  a  constituirem  um  tubo  que  envolve 

4  J     o  estylete.  Fructo  um  achenio.  Arbustos  e  sub-arbustos  (ou, 

de  ordinário,  plantas  herbáceas).  Com  poluis  (pag.  104) 

Flores  nunca  dispostas  em  capitulo  involucrado 5 

Flor,  na  anthese,  rasgando>se  n*um  operculo  caduco  para  dar 

saida  aos  estames  e  estylete  (flg.  28,  E,  F).  An-ores  iotro- 

„  J     duzidas,  algumas- de  primeira  grandeza,  com  as  folhas  oppos- 

tas  ou  alternas,  persistentes,  coriaceas,  com  glândulas  óleo- 

resinosas. . .  {Género  Eucalyptus)  MjrtAceas  (pag.  187) 

Flor  sem  se  rasgar  nunca  n'um  operculo  terminal 6 

Flores  nuas,  ou  com  um  só  invólucro  floral  (petaloide  ou  sepi- 

6|     loide) 7 

Flores  com  dois  invólucros  floraes  (cálice  e  corolia) 33 

Arbustos  sarmentosos,  trepadores.  Invólucro  floral  petaloide.  8 

7  j  Arvores,  arbustos  ou  sub-arbustos  levantados  ou  prostrados: 

não  sarmentosos  nem  trepadores 9 

Flores  hermaphroditas.  Plantas  inermes.  Carpellos  numerosos, 
livres,  monospermos,  originando  outros  tantos  achenios,  ter- 
minados n*um  appendice  curto  e  glabro,  ou  muito  comprido 
^1     e  plumoso .  Peciolos  volúveis.  Folhas,  de  ordinário,  compostas. 
(Género  Clematis)  BananeoMceas  (pag.  26S) 

Floração  dioica.  Plantas  aculeadas,  com  gavinhas.  Fructo  uma 
baga.  Folhas  simples  (íig.  4,  A,  B,  C). 
(Género  Smilax)  iUniUceas  (pag.  46) 

1 0  género  Armena  (Família  das  Plumbagineas)  tem  espontâneas  em 
Portugal  algumas  espécies  perennes,  sub-lenhosas  na  base,  que  nSo  men- 
cionamos peia  sua  pequena  importância;  n'este  género  as  flores  esUo 
grupadas  em  capitulo  involucrado,  mas  as  ântheras  são  livres.  Do  mesmo 
modo  as  plantas  da  Família  das  Globulariáceas  e  as  Dipsáceas,  as  Um- 
hêllifercu  do  género  Eryngium,  e  as  Campanúíácetu  do  género  JasiauÊ 
teem  as  flores  dispostas  em  capitulo  involucrado;  mas,  todas  estas  plan- 
tas s2o  herbáceas,  e  todas  teem  as  ântheras  livres,  excepto  as  do  género 
Jasione,  cujo  fructo  é,  não  um  achenio  mas  uma  capsula.  Assim,  inde- 
pendentemente da  consistência  do  caule,  nSo  se  podem  contoidir  estas 
plantas,  na  presente  chave,  com  as  Compostas. 


r 


9 


XXI 

.  Arbastos  e  sub-arbustos  aphyllos  (ás  vezes  com  os  ramos  anor- 

Smabnente  desenvolvidos  em  forma  de  folhas) 10 
Arvores  (raras  vezes  arbastos)  com  folhas  verdes  compostas: 
(pinnuladas 12 
Arvores,  arbastos  oa  sab-arbastos  com  folhas  verdes  simples: 
inteiras  ou  diversamente  recortadas 16 


Arbastos  e  sub-arbustos  com  os  ramos  foliformes :  ovado-agu* 
çados  oa  lineares  (fig.  4,  D,  E,  I,  K,  M).  Plantas  espinhosas 
10  {     ou  espinescentes.  Perigoneo  petaloide  com  6  divisões. 

(Parte)  iliiill6cea»  (pag.  46) 

Arbustos  e  sub-arbustos  inermes,  com  os  caules  articulados.  11 

Flores  hermaphroditas,  incluídas  em  cavidades  do  caule,  junto 
ás  articulações  (fig.  16,  A). 

{Género  ScUicorma)  Cbenopodl&eeas  (pag.  91) 

II {Flores  dioicas;  as  masculinas  dispostas  em  pequenos  amenti- 
Ihos,  as  femininas  solitárias  ou  geminadas.  Caules  providos 
de  bainhas  nas  articulações.  Falso  fructo  carnudo. 
GnetAceas  (pag.  42) 


12 


Flores  mias  (as  espécies  indígenas),  habitualmente  polygamicas. 
2  estames.  Fructo  (samara)  com  uma  aza  membranosa.  Fo- 
lhas caducas,  oppostas,  imparipinnuladas  (íig.  40). 
Praxínea*  (pag.  239) 

Flores  com  um  invólucro  floral.  Mais  de  2  estames.  Fructo  nao 
desenvolvido  em  aza  membranosa.  Folhas  alternas 13 


13 


Floração  monoica.  Flores  masculinas  dispostas  em  amentilhos; 
as  femininas  aggregadas  1-4,  e  com  o  perigoneo  rodeado  de 
um  invólucro  de  bracteas,  apparentando  terem  dois  invólu- 
cros floraes.  Estames  numerosos  (3-36).  Fructo  dehiscente, 
drupaceo,  fibroso-camudo.  Folhas  caducas,  imparipinnula- 
das  aaylandeas  (pag.  62) 

Floração  dioica  (raras  vezes  polygamica).  5  estames.  Fructo  in- 
dehiscente 14 


14 


15 


16 


" 


\ 


18 


XXII 

Arbustos  ou  pequenas  arvores  com  suecos  resinosos,  aromáti- 
cos. Fructo  monospermo,  pouco  carnudo  (drupa)  (fig.  34). 
Folhas  pari-  ou  imparipinnuladas,  caducas  oa  persistentes. 
(Género  Pistacia)  Tereblntliareaii  (pag.  220) 

Arvores  ou  arbustos  não  resinosos  nem  aromáticos.  Fructo  pol- 
poso,  polyspermo  (vagem  indehiscente).  Folhas  persistentes 
paripinnuladas. 
(Género  Ceratonia)  Cesalpinlâceas  (pag.  216) 

Folhas  acerosas,  lineares  ou  escamiformes:  flores  nuas. . .  16 
Folhas  com  o  limbo  desenvolvido;  raras  vezes  lineares  (mas  en- 
tão sempre  as  flores  com  um  perigoneo) 17 

Floração  monoica  ou  dioica.  Flores  dos  dois  sexos  em  amenti- 
lhos.  Falso  fructo  composto — pinha  ou  galbula  (esta  ultima 
com  as  escamas  lenhosas  e  livres  ou  cai^nudos  e  adherentes 
apparentando  uma  baga);  falso  fructo  com  mais  de  uma  se- 
mente (fig.  1  e  2).  Folhas  escamiformes  ou  acerosas,  1-3-ner- 
vadas.  Arvores  ou  arbustos ConíferaM  (pag.  33) 

Floração  dioica.  Flores  masculinas  em  amentilhos  e  as  femini- 
nas solitárias.  Falso  fructo  polposo  contendo  uma  só  semente 
(fig.  3).  Folhas  hneares,  quasi  disticadas.  Pequena  arvore  ou 
arbusto Tax.f  nea»  ([tag.  41) 

Floração  dioica.  Flores  com  um  perigoneo :  as  masculinas  dis- 
postas em  espigas  amentaceas  e  as  femininas  em  capítulos  glo- 
bosos.  4  estamos.  Pequenos  achenios  envolvidos  pelos  gyno- 
phoros  carnudos  (fig.  15,  F,  F').  Arvore  exótica  com  suecos 
leitosos. 
. .   [Bt  oussonetia  papyrifera,  Vent.)  MoreAceas  (pag.  87) 

Floração  dioica  ou  monoica.  Flores  dispostas  em  amentilhos  ou 
espigas  amentaceas  (as  dos  dois  sexos,  nas  espécies  dioicas; 
ás  vezes  só  as  flores  masculinas,  nas  espécies  monoicas).  Ar- 
vores ou  arbustos  com  as  folhas  penninervadas  ou  palminer- 
vadas 18 

Flores  hermaphroditas  ou  unisexuaes  (monoicas  ou  dioicas) 
nunca  dispostas  em  amentilhos  nem  espigas  amentaceas.  23 

Floração  dioica.  Nunca  suecos  leitosos 19 

Floração  monoica 20 


XXIII 

Folhas  aromáticas,  cheias  de  pequenas  glândulas  cirosas  ou  re- 
sinosas. Fructo  indehisjente,  monospermo  (achenio)  incluido 
nas  bracteolas  carnudas,  accrescentes  e  glandulosas,  seme- 
lhando o  conjuncto  uma  drupa  (fig.  7).  Flores  nuas.  Âmen- 

.Q,      tílhos  simples  ou  compostos llyríeeas  (pag.  60) 

Folhas  não  aromáticas,  nem  com  o  pareuchyma  cheio  de  glân- 
dulas cirosas  ou  resinosas  ^  Fructo  dehiscente,  polyspermo 
(uma  capsula)  (fig.  5,  C:  fig.  6,  D).  Flores  mias  (fig.  5)  ou 
com  um  invólucro  cupuliforme  (fig.  6). 
\      Salieíneas^  (pag.  51) 

IFructos  (samaras  ou  achenios)  collocados  na  base  de  bracteas 
lenhosas  ou  membranosas,  appárentando  o  conjuncto  uma  pe- 
quena pinha  (fig.  8  e  9) Betal&ceas  (pag.  63) 

ÍFructos  isolados  ou  grupados,  mas  não  appárentando  nunca  no 
seu  conjuncto  uma  pinha 21 

Flores,  as  de  um  e  outro  sexo,  dispostas  em  amentilhos  globo- 
sos.  Achenios  muito  pequenos,  reunidos  em  grande  numero, 
intermeados  com  pellos  amarellados,  a  constituirem  um  falso 
^  J  fructo  composto  globoso  (fig .  12).  Folhas  palmatilobadas .  Rhy- 
tidoma  destacando-se  annualmente  ás  placas. 
Platanficeau  (pag.  81) 

Flores  não  dispostas  em  amentilhos  globosos.  Rhytidoma  não  se 
destacando  ás  placas 22 

Fructos  seccos  (achenios)  volumosos:  cada  fructo  incluido  n'um 
invólucro  de  bracteas,  aberto  {cúpula:  fig.  10,  F  e  fig.  11); 
ou  incluidos  1-3  fructos  n'um  invólucro  fechado  e  espinhoso, 
que  semelha  um  pericarpo  dehiscente  em  4  válvulas  (ouriço: 
fig.  10,  C) Cupulíferaa  (pag.  68) 

Fructos  seccos  (achenios)  muito  pequenos,  envolvidos  pelos  pe- 

rígoneos  accrescentes  e  carnudos,  aproximados  e  comprimi- 

82 1     dos  os  da  mesma  inflorescencia  a  constituirem  um  fructo  com- 

^  Algumas  Saliciruas  teem  as  folhas  dentado- glandulosas,  mas  distin- 
goem-se  bem  das  folhas  das  Myriceas,  cujas  glândulas  existem  espalha- 
das por  todo  o  parenchyma. 

'  Vide  o  Appendice,  a  pag.  274. 


XXIV 


22 


posto/ carnudo,  tuberculoso  {sorose:  fig.  IS,  D).  Flores  de 
ambos  os  sexos  em  espigas  amentáceas  (fig.  iS,  H). 
{Género  Morus)  llorell^cea»  (pag.  87) 


23 


24 


Flores  (monoicas)  incluídas  na  cavidade  carnuda  e  accresceote 
do  receptáculo,  pyriforme  ou  sub-globoso  (fig.  15,  A,  B).  Ar- 
vores com  suecos  leitosos  e  folhas  desenvolvidas. 
{Género  Fiem)  Horeâcsea*  (pag.  87) 

Flores  não  incluídas  na  cavidade  do  receptáculo 24 

Fructò  multilocular,  succulento,  bacciforme.  10-12  carpellos. 
10-30  estames,  livres,  com  as  antheras  longitudinalmente  de- 
hiscentes.  Arvores  ou  sub-arbustos,  com  floração  díoica  ou 
hermaphrodita.  Folhas  com  o  limbo  desenvolvido. 
PliyfolaccAeeas  (pag.  96) 

Fructo  1-3-4  locular.  Estames  em  numero  inferior  a  10,  ou  su- 
perior, mas  no  ultimo  caso  ou  polyadelphos  oucomasanthe- 
ras  dehíseentes  por  válvulas 25 

/  8  estames,  inseridos  4  na  garganta  e  4  no  tubo  do  perigoneo 
I  (fig.  19,  B).  Perigoneo  petaloide.  Floração  hermaphrodita, 
dioica  ou  polygamica.  Fructo  drupaceo,  ou  (sempre  nas  es- 
pécies dioicas)  um  achenio  incluído  no  perigoneo  persistente. 
Pequenos  arbustos  ou  sub-arbustos,  com  as  folhas  desenvol- 
vidas ou  lineares Dapltneâcea*  (pag.  101) 

3-5  estames  inseridos  todos  á  mesma  altura.  Perigoneo  sepa- 
loide  ou  nullo.  Fructo  secco  incluído  no  perigoneo  maisoa 
menos  nM)dífícado,  ou  nas  bracteas  se  provém  de  flores  nuas. 
Floração  hermaphrodita  ou  polygamica.  Pequenos  arbustos  e 
sub-arbustos  (e  plantas  herbáceas),  de  «ordinário  das  proxi- 
midades do  mar,  com  o  limbo  foliar  desenvolvido  ou  linear 

(fig.  16) (Parte)  Ctaenopodláíceas  (pag.  91) 

Estames  inseridos  todos  á  mesma  altura.  Fructos  não  incluidos 
no  perigoneo,  nem  nas  bracteas  accrescentes.  Um  invólucro 
floral.  Folhas  sempre  com  o  limbo  desenvolvido 26 

Folhas  palmatifendidas.  Estames  numerosos  polyadelphos.  FIo- 
_  j     ração  monoica.  Fructo  capsular,  3-locular. 

(Gmm'o  Ridnus)  Eaplior|ii6ceas  (pag.  231) 

Folhas  inteiras,  serradas  ou  dentadas.  Estames  livres. ...  27 


26 


S7 


XXV 

Folbas  caducas 28 

Folhas  persistentes 30 


Floração  dioica.  Arbustos  com  os  ramos  espinescentes  e  as  fo- 
lhas inteiras.  5-6  estames.  Capsula  3-locular  (fig.  37). 
88  {      ....  (Oenero  Securinega)  Eaptaorbtftceas  (pag.  231) 
Floração  hermaphrodita  oupolygamica.  Folhas  ásperas,  serradas 
ou  dentadas.  S  estames.  Fructo  i-locular,  monospermo.  29 

Floração  anterior  á  folheação.  Fructo  (samara)  plano,  orbicular 

ou  obovado,  com  uma  grande  aza  marginal  foliacea  (fig.  13). 

29|      VlmAceas  (pag.  83) 

Floração  simultânea  com  a  folheação.  Fructo  drupaceo,  pouco 
carnudo  (fig.  14) Celtídeas  (pag.  85) 

Folbas  oppostas.  Floração  monoica.  4  estames.  Fructo  capsu- 

30  {     lar,  com  3  válvulas Bax&ceas  (pag.  234) 

Folhas  alternas 31 


9 


Antheras  dehiscentes  por  válvulas  (fig.  17,  C).  Perigoneo  peta- 

loide  (branco).  Fructo  monospermo,  drupaceo,  não  coroado 

pelo  perigoneo  (fíg.  17,  A).  Floração  dioica,  hermaphrodita 

31  {     ou  polygamica.  Folhas  aromáticas.  liaurínea»  (pag.  97) 

Antheras  longitudinalmente  dehiscentes.  Invólucro  floral  esver- 
dinhado,  ou  verde  externamente  e  amarello  internamente. 
Folhas  não  aromáticas.  Floração,  de  ordinário,  dioica. .  32 

Perigoneo  esverdinhado  externamente  e  amarello  internamente; 
3-4  estames.  Fructo  drupaceo  coroado  pelo  limbo  do  perigo- 
neo (fig.  18,  C),  com  um  só  caroço.  Arbustos  inermes  (e 
plantas  herbáceas)  semi-parasitas  pelas  raizes  que  se  fixam 

nas  dos  vegetaes  próximos SantalAeeas  (pag.  98) 

^{Invólucro  floral  esverdinbado-amarellado.  4-5  estames.  Fructo 
drupaceo,  3-4-locular,  não  coroado  pelo  limbo  do  cálice,  e 
com  2-4' caroços.  Arbustos  inermes  ou  com  o$  ramos  espi- 
nescentes, não  semi-parasitas  (fig.  36,  A,  B). 

{Rhamnus  Alatemus^  L.:  R,  oleoides,L.). 

Bftanin&ceas  (pag.  226) 


XXVI 


34 


Flores  dioicas 34 

33]  Flores,  de  ordinário,  hermaphroditas,  muito  menos  vezes  poly- 
gamicas ' 35 

Folhas  pinnuladas  (fig.  34,  K).  5  pétalas.  10  estames.  Frocto 
drupaceo.  Arvore  introduzida,  com  suecos  cheirando  a  pi- 
menta. .  {Género  Schinus)  TereUintliAcea*  (pag.  320) 

Folhas  lineares,  sub-verticilladas  (fig.  38).  3-2  pétalas,  3  esta- 
mes. Fructo  bacciforme.  Pequeno  arbusto  das  proximidades 
do  mar EmpetrAceaii  (pag.  235) 

^  (  Estames  numerosos  (em  numero  superior  a  10) 36 

I  Estames  10,  ou  em  numero  inferior 47 

Arbustos  aphyllos,  carnoso-succulentos,  com  os  ramos  novos 
comprimidos,  articulados,  vestidos  de  fasciculos  de  aculeos. 

36  {     Baga  grande,  polposa. 
(Género  Opuntia)  Cacte&ceas  (pag.  155) 

Plantas  folhadas 37 

10  pétalas.  Cálice  10-partido.  10  foUiculos.  Arbusto  glabro,  suc- 
culento. 

1 

37  {      .   (Sempervivum  arboreum,  L.)  CraHsulAeeas  (pag.  156) 
Pétalas  e  sepalas  em  numero  inferior  a  10.  Arvores,  arbustos 

e  sub-arbustos  não  succulentos 38 

^  (  Folhas  opposlas.  Pétalas  livres 39 

Folhas  alternas ' 42 


39 


40 


Estames  tri-pentadelphos.  Spetalas  amarellas.  Fructo  bacciforme. 
Pequeno  arbusto  (nas  espécies  herbáceas  o  fructo  é  uma  ca- 
psula)  Hyperletiieas  (pag.  251) 

Estames  livres 40 

Fructo  secco  dehiscente  (capsula  com  3-5*10  válvulas:  fíg.  44). 
CoroUa  muito  fugace,  branca,  vermelha  ou  amarella  (macu- 
lada ou  não).  5  pétalas.  Pequenos  arbustos  e  sub-arbustos  (ou 
plantas  herbáceas) €i»tf  neaa  (pag.  254) 

Fructo  carnudo  indehiscente,  coroado  pelos  dentes  persistentes 
do  cálice 41 


xxvn 


41 


42 


Flores  grandes,  vermelhas.  Fructo  volumoso,  dividido  por  um 
diaphragma  transversal  em  duas  cavidades  sobrepostas,  des- 
eguaes,  cada  uma  d'ellas  sub-dividida  em  diversos  comparti- 
mentos. Sementes  com  o  tegumento  polposo.  Arbusto  de  fo- 
lhas caducas CSranaf&ceas  (pag.  161) 

Corolla  branca.  Fructo  muito  menor  (fig.  28,  A),  sem  diaphra- 
gma transversal.  Sementes  não  polposas.  Arbusto  muito  aro- 
mático com  as  folhas  persistentes. 
{Género  Myrtm)  Hyrifieeaii  (pag.  1S7) 

Estamos  com  os  filetes  todos  concrescentes  em  um  tubo  que  na 
base  inclue  o  ovário.  5  pétalas,  quasi  sempre  reunidas  pelas 
unhas  com  a  columna  estaminifera.  Achenios  numerosos,  ver- 
ticillados  em  redor  do  eixo  central  do  receptáculo  (as  espé- 
cies indígenas).  Arbustos  (ou  plantas  herbáceas). 
Mal^âceau  (pag.  240) 

Estames  com  os  filetes  largos,  reunidos  aos  grupos  fpolyadel- 
phos)  (fig.  42).  Fructo  grande,  niultilocular,  baccifonne,  sue- 
culento.  5  pétalas  livres 'ituranclílceaa  (pag.  246) 

Estames  livres. 43 

Pétalas  concrescentes  formando  uma  corolla  tubulosa  (raras  ve- 
zes livres  ou  nullas).  Fructo  uma  vagem.  Arvores  introduzi- 
das, inermes  ou  com  espinhos  estipulares. 
BUmoMáLcea»  (pag.  218) 

Pétalas  livres.  Fructo  nunca  uma  vagem 44 

4  pétalas.  Ovário  inserido  sobre  um  supporte  muito  comprido. 
Arbustos  quasi  sempre  com  as  estipulas  transformadas  em  es- 
pinhos curtos,  persistentes,  curvos. 

{Género  Capparis)  Ca|iparí<lea«  (pag.  262) 

5  pétalas.  Pistillo  incluído  ou  não  no  tubo  do  cálice,  mas  nunca 
longamente  pedicellado 45 


1  Cálice  caduco.  1  só  carpello  livre.  1  estylete.  Fructo  drupaceo, 
carnudo  ou  fibroso-coriaceo  (fig.  31).  Arvores  ou  arbustos. 

45^      Amygdal&ceaii  (fíg.  179) 

Cálice  persistente  em  redor  do  fructo  ou  sobre  o  fructo.  Oe  or- 
dinário mais  de  um  carpello 46 


43 


44 


1-5  carpellos,  inclusos  no  tubo  do  cálice,  adherentes  a  elle  e 
entre  si,  originando  este  conjuncto  um  fructo  carnudo  coroado 
pelo  limbo  persistente  do  cálice  (fig.  29,  A,  E,  N).  i-3  es- 
tyletes.  Arvores  ou  arbustos. . . .  PomUcea*  (pag.  162) 
46  {  Carpellos  numerosos,  livres,  produzindo  outros  fructos  distin- 
clos,  seccos  ou  carnudos  (ás  vezes  um  pou^^o  adherentes  en- 
tre si  —  fíubus — fig.  30,  E;  ou  incluidos  no  tubo,  mas  então 
livres  —  fíosa—^g.  30,  B,  C).  Estyletes  numerosos.  Arbus- 
tos (ou  plantas  herbáceas) llofiâcea«  (pag.  171) 

,  -  j  Gorolla  gamopetala 48 

Corolla  dialypetala 57 

Estames  (8-10)  em  numero  duplo  do  das  divisões  da  corolla  49 

48 1  Estames  (5-4-2)  em  numero  egual  ao  das  divisões  da  corolla, 

ou  menor 80 

Ovário  adherente  ao  tubo  do  cálice.  Fructo  uma  baga.  Arbustos 
e  sub-arbustos  com  as  folhas  alternas  (fig.  21). 
Vacclnlilceas  (pag.  112) 

Ovário  livre.  Fructo  capsular  ou  carnudo  (bacciforme).  Peque- 
nas arvores,  arbustos  e  sub-arbustos  com  as  folhas  alternas 
ou  verticitladas  (fig.  22) Eric6eeas  (pag.  113) 

2  estames 51 

50^  4  estames 53 

5  estames 54 

Corolla  com  4  divisões,  regular  (fig.  24).  Fructo  carnudo  (bac- 
p..  J     ciforme  ou  drupaceo)  ou  secco  e  dehiscente  (Capsula).  Arvo- 
res ou  arbustos Oleâceas  (pag.  143) 

Corolla  com  5-8  divisões,  regular  ou  bilabiada 52 

Fructo  carnudo,  globoso.  Corolla  regular.  Arbustos  levantados 
ou  trepadores ^iasmtiiileeaii  (pag.  148) 

Fructo  secco  (um  tetrachenio).  Corolla  bilabiada.  Pequeno  ar- 
busto   {Género  Rosmarinus)  liaUladas  (pag.  124) 

Estylete  central,  basilar,  geralmente  bifendido.  Fructo  consti- 
tuido  por  4  achenios  ou  por  4  pequenas  drupas.  Pequenos  ar- 
bustos ou  sub-arbustos  (ou  plantas  herbáceas)  (fig.  23). 
53(      (Parte)  I«ap»ladas  (pag.  124) 


49 


52 


XXIX 


53  j  Estylete  simples  terminal.  Fructo  (nas  espécies  enumeradas)  um 
f     diachenio  ou  drupaceo.  Arbustos  (ou  plantas  herbáceas). 
\      Terlieií&eea»  (pag.  122) 


54 


55 


I 

1 


Folhas  alternas 55 

Folhas  opposlas  ou  verticilladas v 56 

Fructo  (nas  espécies  lenhosas  indigenas)  carnudo  e  polyspermo. 

Arbustos  e  sub-arbustos  (e  plantas  herbáceas). 

...  % Solanftceaii  (pag.  140) 

Fructo  membranoso,  indehiscente^-monospermo.  Arbusto  com 

as  folhas  carnosas  e  os  ramos  floriferos  aphyllos. 

. . .  {Género  Limoniastrum)  PlumliavíneaM  (pag.  120) 

Fructo  carnudo  (baga  ou  drupa).  Ovário  adherente  ao  tubo  do 

cálice  (fig.  20).  Arbustos  e  sub-arbustos  (raras  vezes  plantas 

56 1     herbáceas) . : Ijonlcer&cea»  (pag.  106) 

/Fruetos  seccos,  dehiscentes  (foUiculos).  Ovário  livre.  Arbustos 

'      (ou  plantas  herbáceas) Apocynftceas  (pag.  142) 

> 

Arbustos  com  as  folhas  escamiformes,  verdes,  apertadas,  muito 
semelhantes  no  aspecto  ás  dos  cyprestes  (fig.  43).  Flores  pe- 
quenas, rosadas,  em  espigas  paniculadas.  5  pétalas.  5-10  es- 
57  {     tames,  mais  ou  menos  monadelphos  na  base. 

Vamarlscíneas  (pag.  252) 

Arvores  ou  arbustos  com  as  folhas  desenvolvidas  não  escami- 
formes   58 

^j  Estames  em  numero  egual  ao  das  pétalas 59 

1  Estames  em  numero  duplo,  ou  quasi  duplo  do  das  pétalas. .  67 

Arbustos  sarmentosos,  trepadores  ou  rastejantes.  Folhas  alter- 

„P .     nas,  palminervadas  e  muitas  vezes  palmatilobadas 60 

Arvores  ou  arbustos  não  sarmentosos,  nem  trepadores  nem  ras- 
tejantes..   61 

Gavinhas.  Folhas  caducas.  luflorescencia  em  cacho  composto. 

A^ . (Género  Vitis)  Ampelídeas  (pag.  243) 

Raízes  adventieias  (fig.  25).  Folhas  persistentes.  Inflorescencia 
em  umbella Araliálceas  (pag.  151) 


XXX 

Folhas  pinnoladas.  5  pétalas.  Pequena  drupa  quasi  secca  (fig. 
g.J     34,  F,  H).  Arbusto. 

(Género  Rhus)  Vereblntbacseas  (pag.  220) 

Folhas  simples 62 

Fructo  secco  (um  diachenio).  Flores  umbelladas.  Pequenos  ar- 

62  [     bustos . .  {Género  Bupleurum)  tJiiil»ellírera«  (pag.  149) 

Fructo  mais  ou  menos  carnudo 63 

Folhas  persistentes,  lustrosas,  fortemente  dentado-espinhosas,  ou 
^«.j     inteiras  e  terminadas  n*um  espinho  (fig.  36).  4  pétalas.  Pe- 
quena aiTore  ou  arbusto Ilicínea»  (pag.  225) 

Folhas  caducas.  Arbustos : 64 

6  pétalas  e  6  sepalas,  umas  e  outras  em  dois  verticillos  alternos,  # 
por  forma  que  as  pétalas  parecem  oppostas  ás  sepalas.  Flores 

64  {     amarellas.  Folhas  serradas,  algumas  transformadas  em  espi- 
nhos, simples  ou  3-5-partidos .  Berl>eridcaii  (pag.  264) 

4-5  pétalas 6B 

Folhas  oppostas.  4  pétalas  (fig.  26).  Arbusto  inerme. 

65  {      Cornuâcea»  (pag.  153) 

Folhas  alternas.  5  pétalas 66 

Folhas  palmatilobada^  (fig.  27).  Baga  polposa^  coroada  pelo  cá- 
lice marcescente.  Arbustos  com  acíileos  fortes  (ou  inermes). 
Bll>effil4lceafi  (pag.  154) 

66  ( Folhas  inteiras  ou  crenadas.  Fructo  carnudo  não  coroado  pelo 
cálice.  Arbustos  inermes  ou  com  aculeos  estipulares. 

{fíhamnus  Frangula,  L.:  género  Zizyphus)^ 

BlianinálceaM  (pag.  226) 

^_  i  Fructo  alado-membranoso  (samara) 68 

Fructo  nunca  uma  samara.  Arvores  introduzidas 6& 

Folhas  pinnuladas.  2-5  samaras.  5  pétalas.  10  estames:  Arvore 

introduzida Slmariíiilieas  (pag.  224) 

^^  1  Folhas  palmatilobadas  (fíg.  39).  Dupla  samara.  5  pétalas  (me- 
nos vezes  4-9).  Estames  8  (muito  raras  vezes  4-12).  Arvo- 
res ou  arbustos  espontâneos  ou  cultivados. 
Acerf  mea»  (pag.  236) 


XXXI 


69 


Folhas  digitadas.  Capsula  com  2-3  válvulas  espessas,  coríaceasy 
espinhosas.  4-5  pétalas.  7  estames  (menos  vezes  6-8). 
Hippo€^a»taneas  (pag.  241) 

Folhas  1-2  pinnuladas.  Fructo  indehiscente 70 


70 


Arvore  espinhosa.  Vagem  indehiscente,  coríacea  ou  sub-carnosa. 
3-5  pétalas.  6-10  estames  livres. 
{Género  Gleditschia)  Cesalpiniáieeaa  (pag.  216) 

Arvore  inerme.  Fructo  dnipaceo  (fig.  41).  5  pétalas.  10  esta- 
mes concrescentes  pelos  filetes  n'um  longo  tubo.  Flores  azu- 
ladas   Meltâcea»  (pag.  244) 


-.•R 


PARTE  II 


DE  UMA 


FLOEA  LENHOSA  POETUGUEZA 


DIVISÃO  I 


GYMNOSPERMAS 

Classe  I.— Gymnospermas 

Flores  unisexuaes,  dispostas  em  amentilhos.  Óvulos  nús» 
não  incluidos  n'nm  ovário.  Sementes  nmica  fechadas  n'um 
verdadeiro  pericarpo,  mas  rodeadas  de  diversos  órgãos  ac- 
crescentes  constituindo  o  conjuncto  falsos  fructos  (pinhas, 
galbulas,  pseudo-bagas,  etc.)  Embryão  di-polycotyledoneo. 


Família  I.— CONÍFERAS,  Endl. 

Flores  monoicas  ou  dioicas,  as  de  ambos  os  sexos  mias 
e  dispostas  em  amentilhos  ^  Estames  com  o  connectivo  di- 
latado, ás  vezes  em  forma  de  escudo,  e  os  loculos  da  aa- 
thera  collocados  na  face  inferior  (2  ou  mais).  Carpellos  aber- 
tos, supportando  1 -muitos  óvulos.  Falso  fructo  composto 
formado  pelas  escamas  carpellares  e  ás  vezes  também  pe- 
las bracteas  accrescentes,  lenhoso  e  dehiscente  (pinha  ou 

< 

1  Alguns  auetores  consideram  estes  amentilhos  como  uma  só  ilór, 
enjo  eixo  se  desenyolveu  muito. 

c  8. — ^v.  IL  3 


34  CONÍFERAS 

galbula),  ou  carnudo  e  indebiscente  pela  adherencia  das  es- 
camas (galbula  carnuda).  Sementes  com  endosperma  abun- 
dante e  com  o  tegumento  coriaceo  ou  lenhoso,  aladas  ou 
apteras;  embrylo  recto. — Arvores  ou  arbustos  de  folhas 
persistentes  (as  espécies  indígenas),  simples,  acerosas,  1-3 
nervadas,  ou  escamiformes :  oppostas,  fasciculadas  ou  al- 
ternas. Madeiras  sem  yasos  abertos  (excepto  no  estojo  me- 
duUar),  mais  oi^  menos  resinosas. 


> 


^ 


Folhas  alongadas  (agtUhas)  reunidas  em  muito  pequenos  grupo; 

(duas  nas  espécies  iudigenas)  n*uma  bainha  membranosa  (íig. 

1,  H).  Pinhas  com  as  escamas  persistentes  e  lenhosas  (fig.  i, 

1  {     A,  C,  E).  Ramificação  verticillada Plnnii.  (pag. ^) 

Folhas  escamiformes  (fig.  2,  M,  V),  ou  acerosas  não  reunidas 
em  bainha  membranosa  (iig.  2,  R).  Galbula  lenhosa  ou  car- 
nuda. Ramificação  irre|;ailar 2 


Galbula  dehiscent«,  lenhosa  (fig.  2,  I,  K,  N).  Sementes  muito 

^  i     numerosas Cupressun.  (pag.  37) 

jGalbula  indebiscente,  carnuda  (fig.  2,  R), 3  sementes,  quasi  sem- 
pre  «ionlperas*  (pag.  38} 


Pinus,  Spach. — Pinheiro, — Floração  monoica.  Estames 
com  o  connectivo  prolongado  em  lamina  escamiforme;  an- 
theras  biloculares  longitudfaiabnente  dehiscentes ;  amentilhos 
masculinos  agglomerados  na  base  do  rebeâto  annual.  Esca- 
mas carpellares  biovuladas;  amentilbos  femininos  muito  pe- 
quenos, axillares,  solitários,  oppostos  ou  verticillídos,  no 
cimo  dos  rebentos,  sob  o  botão  terminal.  Pinbas  com  as  es- 
camas persistentes,  lenhosas,  engrossadas  na  extremidade  a 
constituir  uma  espécie  de  escudo,  ás  vezes  pyramidal.  Sémen-  . 
tes  com  uma  aza  membranosa.  Maturação  bi-triennal.  Folhas 
de  duas  naturezas :  umas  escamiformes,  outras  muito  alon- 
gadas (agulhas)  reunidas  aos  grupos  n'uma  bainba  mem- 
branosa (geminadas  nas  espécies  indígenas,  fig.  1,  H).  Ra- 


coníferas  35 

mifícaçSo  verticillada.  Arvores  de  grandes  dimensões,  mailo 


Rg.  1.—^;  Pinha  do  Pmus  Pinea,  L.  (2:3).  B :  semente  (1:1).  C :  Pinha 
do  Pinta  haUpemU,  MUI.  (2:3).  D:  semente  (!;l).  E:  Pinha  do  JH- 
nui  Pituuter,  Alt,  var.  aeutuquama,  Bss.  (2:3).  F:  semente  (1:1).  H: 
Folhas  geminadas  do  Ptntu  Í^niai,  L.  (1:1). 

3* 


36 


coníferas 


l  Sementes  grandes  (16-20  mill.)  com  a  aza  muito  peqaena  e 
muito  caduca  (fig.  1,  B),  comestíveis^  com  o  tegumento  duro 
(pinhões  durazios)  ou  delgado  e  frágil  (pinhõfs  moUares). 
Pinhas  grandes,  mais  ou  menos  globosas,  obtusas  (fig.  i,  A), 
quasi  sesseis,  horisontaes  ou  viradas  para  baixo.  Matura^ 
triennal.  Agulhas  rígidas.  Arvore  de  grande  porte,  às  veies 
com  as  pemades  robustas  e  os  ramos  levantados  no  cimo  to- 
mando a  copa  o  aspecto  de  umbella.  Fl.  em  fevereiro^  mar- 
ço. Vulgar,  sobretudo  na  região  littoral  ao  sul  do  Tejo.—Pi' 

nheiro  manso  ou  ptnWro  negro P.  Flne««  Ei. 

Sementes  pequenas  (7-10  mill.)  com  a  aza  membranosa  maior 
do  que  ellas  (4-5  vezes  maior,  fig.  1,  F,  D).  Pinhas  oblongo 
cónicas.  Copa  não  em  umbella 2 


/ 


\ 


Pinhas  quasi  sesseis,  agudas,  voltadas  para  baixo  (fig.  1,  £)  com 
as  escamas  terminadas  em  escudos  muito  proeminentes,  trans- 
versalmente aquilhados,  e  tendo  no  centro  uma  saliência  có- 
nica mucronada  ^  Semente  (penisco)  com  a  aza  fosca,  tendo 
um  dos  bordos  recto  e  o  outro  convexo  (fig.  1,  F).  Maturação 
biennal.  Agulhas  rígidas,  verde-retintas,  comprídas  (10-20 
cent.)  Arvore  de  grande  porte.  Fl.  em  março.  Muito  vtãgar, 
sobretudo  na  região  norte,  no  littoral  e  nos  pontos  de  maior 

,  humidade  atmospherica.— Pinheiro  bravo{P.  marítima, iBrot. 
non  Lam,)  P»Pina«fer»Ait.Y.acatl«q[iiama*BM« 

Pinhas  pedunculadas:  pedúnculo  grosso  com  1-2  cent.  de  com- 
prido (fig.  1,  C).  Pinhas  constantemente  voltadas  para  baixo, 
agudas,  com  o  escudo  das  escamas  rhomboidal,  quasi  plano, 
fracamente  aquilhado  e  com  uma  pequena  saliência  central 
obtusa.  Semente  com  a  aza  amarellada,  tendo  os  bordos  qaâsi 
parallelos  (fig.  1,  D).  Maturação  biennal.  Agulhas  molles,ver- 
de-claras,  estreitas  e  curtas  (5-10  cent.  de  comprido).  Ar- 
vore de  menor  porte  que  a  anterior.  FL  em  março.  Culti- 
vada com  frequência,  principalmente  como  arvore  de  orna- 
mento. — Pinheiro  d*Alepo,  pinheiro  de  Jerusalém. 
« P.  Halepensla»  Mill- 


1  Nunca  vimos,  nem  temos  nenhuma  noticia  de  que  exista  em  Por- 
tugal, a  v»  obtusisqtMma,  Bss.  (P.  maritima.  Iam.,  nonBrot.),  que  se  dis- 


CONÍFERAS  37 

Cnpressus,  Tourn. —  Cypreste. — Floração  monoica.  Esta- 
mes  com  o  filete  curto  e  o  connectivo  dilatado  em  forma 
de  escudo;  autheras  com  3-4  loculos,  longitudinalmente  de- 
hiscentes.  Amentilhos  masculinos  muito  pequenos,  cylindri- 
cos,  terminaes.  Amentilhos  femininos  solitários^  terminaes, 
qaasi  globosos,  com  6-12  escamas  multi-ovuladas,  produ- 
zindo uma  galbula  sub-globosa,  com  as  escamas  opposto- 
cruzadas,  lenhosas,  terminadas  em  escudos  tetra-hexago- 
naes  proemmentes  no  centro,  e  que  se  entreabrem  para  a 
disseminação  (Qg.  2, 1,  K).  Sementes  com  azasmembrano- 
sas  lateraes,  estreitas  (fig.  2,  L).  Maturação  biennal.  Árvo- 
res de  primeira  grandeza  (as  espécies  enumeradas),  com 
as  folhas  escamiformes,  estreitamente  imbricadas,  cobrin- 
do de  todo  os  ramos  (fig.  2,  M).  Ramificação  irregular. 

Galbula  pequena  (iO-iS  mill.  de  diâmetro),  glauca,  com  as  es- 
camas fortemente  mncronadas  (fig.  2,  N).  Ramos  abertos  para 
os  lados,  diffasos.  Folhas  glaucas.  Fi.  na  primavera,  Origi* 
1  {  nario  do  Himalaya  i,  cultivado  no  Bussaco  e  noutros  pontas. 
— Cedro  do  Bussaco C  slawca»  liam. 

Galbula  grande  (30-40  mill.  de  diâmetro),  com  as  escamas 
muito  menos  proeminentes.  Folhas  verdes 2 

í  Copa  aberta  para  os  lados,  um  pouco  diffusa.  Galbula  sob-glo- 
bosa,  com  as  escamas  bastante  convexas  externamente  (fig. 
2, 1).  Fl,  na  primavera.  Originário  de  Creta  e  da  Pérsia^  e 
bastante  cultivado  em  Portugal. — Cedro  Bastardo. 

ۥ  liorlBontalISt  mil. 

Copa  aguda,  conico-alongada  ou  fiísifonne;  ramos  levantados. 
Galbula  globosa  ou  ovóide  com  as  escamas,  ás  vezes,  muito 
pouco  convexas  no  exterior.  Fl,  na  primavera.  Originário 
da  Ásia  e  muito  cultivado  em  Portugal. — Cypreste. 
€•  •emperi^irens  eu  Ma» 

tÍDgue  em  ter  o  escudo  das  escamas  menos  proeminente,  troncado  no 
eimo,  eom  a  saliência  central  obtusa. 

^  O  Cedro  do  Bussaco  suppunha-se  originário  de  Goa ;  foi  o  sr.  dr. 
Jolio  A.  Henriques,  que  demonstrou  a  sua  verdadeira  origem  {BoUetun 
da  Soe.  Broterianay  m,  1884). 


38  CONÍFERAS 

lonipenu,  L. — Znrdfro. — FlOTaçSo  díoica,  oa  moaoica. 
Amentilhos  pequenos,  solitários,  axillares  ou  temúDaes. 
Ameotilhos  masculinos  ovóides  (Sg.  3,  O);  estames  am  o 
filete  curto  e  o  coimectivo  grande,  em  Tórma  de  escudo, 
orbicular;  anUieras  com  3-4  locolos  longitudinalmente  de- 


ih.l   Ú 


Flg.!.— f:GaltmladoCuprMnuAomoitti>Jú,Mill.(l:l).£:  a  mesma  de- 
pois de  aberUnaluraimente.L:  a»eiiieDte(l:l).  A:Itainocúin  folhai 
do  Cvpreuvt  horii<mtalit,TSi\\.  (1:1).  JV:  Galbula  do  Ci^ettui  ^auM} 
Lam.  (1 : 1).  O :  Ameutilho  masculino  do  Junipenu  communii,  h.  {i'-i)- 
P:  Galbula  carnuda  do  Juniperut  eommunit,  L.,  cortada  transversal' 
neote  deixando  vâr  aa  sementes  (1:1).  R  ■  Ramo  fnictiíero  do  /mi- 
ptna  eommuni»,  L.  (1:1).  S:  Pa^na  inferior  da  folha  do  tuniptnt 
rammiinú,  L.,  com  uma  risca  branca (1:1).  T:  Pagina  inferior  da  fo- 
Iba  do  Juniperut  Ojycedrut,  L ,  com  duas  riscas  brancas  (1 :!).  ¥'■  Bi- 
mo  do  Juniptrut  phoenieea,  h.,  com  folhas  escamiformes  (1:1). 


CONÍFERAS 


39 


hiscmtes.  Amentílhos  femininos  com  as  escamas  inferiores 
estéreis,  e  as  superiores  férteis,  quasi  sempre  1-oyuIadas. 
Galbola  formada  pelas  escamas  carnudas  e  soldadas  entre 
si,  indebiscente,  mais  ou  menos  globosa,  com  o  aspecto  de 
uma  baga,  e  contendo,  de  ordinário,  três  sementes  angu- 
losas (ãg.  2,  P).  Maturação  geralmente  biennal.  Pequenas 
arvores  ou  arbustos  com  as  folhas  acerosas,  3-nervadas, 
Terticillado-ternadas,  ou  escamiformes  imbricadas.  Ramifi- 
cação irregular. 

Folhas  de  duas  naturezas :  umas  essamiformes,  imbricadas,  con- 
stituindo ás  vezes  toda  a  folhagem  dos  ramos,  que  por  ellas 
ficam  escondidos  (fig.  2,  V),  outras  acerosas  e  picantes,  que 
i(     só  apparecem  nos  primeiros  annos,  ou  raras  vezes  depois. 

Botões  nús 2 

Folhas  todas  acerosas,  qnasi  espinescentes,  articuladas,  verti- 
eillado-temadas  (fig.  2,  R).  Botões  escamosos 3 


2 


Galbulas  vermelhas,  lustrosas,  sub-globosas.  Grande  arbusto. 
FL  em  fevereiro  a  março.  Terrenos  arenosos  e  soltos,  princi- 
palmente do  littoral :  Estremadura,  Algarve,  etc, — Sabina  da 

praia «i.  pltocnlcea»  Ki* 

Galbulas  ovóides.  Pequeno  arbusto  com  o  tronco  prostra- 
•  do.  Cabo  de  S.  Vicente  {segundo  o  herbario  de  Wel- 

witsch) w.  oopliora»  Kse.  (como  esp.) 

Galbulas  negro-azuladas,  cobertas  de  efflorescencia  glauca,  sub- 
globosas,  pequenas.  Arbusto  ou  pequena  arvore.  J^.  em  abriL 
Cidt.  (l)'-Sabina «•  Mblna*  li* 


I  Folh^  muito  espinescentes  com  duas  riscas  longitudinaes  es- 
I  branquiçadas  na  pagina  inferior  (só  verdes  nos  bordos  e  na 
linha  média,  fig.  2,  T),  abertas  para  os  lados.  Galbulas  aver- 
melhadas, pequenas  (7-9  mill.  de  diâmetro),  lustrosas,  sem 
efflorescencia.  Arbusto,  j^.  em  março^  abril.  Frequente  na 
Estremadura^  Alemtgo,  etc.  —  Oxycedro^  cedro  de  Hespa- 
nha J«  Ox j-cedrus»  I^* 


40  CONÍFERAS 

Galbulas  sub-globosas,  grandes  (10-15  mill.  de  diâmetro) 
umbilieadas  na  base,  arrniTado-escuraSy  com  efflores- 
ceneia  muito  ténue.  Arbusto,  fl.  em  março.  Areiag  ao  ml 
do  TejOy  etc. .  ▼•  amliilicMite*  CMkir.  (como  esp.] 
Galbulas  ovóides  ou  quasi  pyríformes,  no  cimo  trisulcadas 
e  trícornes,  vermelho-escuras,  com  efflorescencia  glauca. 
»/  Arbusto.  F/.  em  março.  Areias  aoiul  do  Tejo  (segunde 

o  herb.  di  Welw.) 

▼•  maeroearpa*  SiMli*  (como  esp.) 

Folhas  com  uma  risca  esbranquiçada^  larga,  na  pagina  inferior 
(só  verdes  nos  bordos,  fig.  2,  S),  espinescentes,  rectas,  muita 
abertas  para  os  lados.  Galbulas  negro-azuladas,  com  efflores- 
cencia glauca,  menores  do  que  as  folhas.  Arbusto  ou  pequem 
arvore.  Fl.  em  ahrily  maio.  Traz-os-Montes,  etc, — Zimbro. 

#•  oommiiiais»  !*• 

Pequeno  arbusto  com  o  tronco  e  os  ramos  prostrados,  muito 
tufudo.  Galbulas  do  tamanho  das  folhas.  Folhas  curvas, 
aproximadas,  encostadas  aos  ramos,  muito  pouco  e^- 
nescentes,  prateadas  na  pagina  inferior.  Fl.  em  jmAo, 
julho.  Grandes  altitudes  da  Serra  da  Estretla,  e  do  Ge- 
rez. — Zimbro  rasteiro,  ^  v.naiiA*  !;¥•  (como  e^.) 


1  As  variedades  que  descrevemos  n'este  género  sito  consideradas  pe- 
los próprios  auctores,  e  por  muitos  outros  (entre  elles  Willkomm,  1.  c.) 
como  espécies  distinctas.  NSo  acceitftmos  esse  modo  de  vôr,  porque  as 
principaes  distincçOes  s2o  baseadas  na  forma  dos  fructos,  que  nos  pa- 
recem bastante  polymorphos  n'este  género  (já  Welwitsch  tinha  notado 
no  Juniperus  que  encontrou  em  Coina — /.  maerocarpa — fructos  uns 
pyriíormes  e  outros  globosos  nos  mesmos  ramos);  ou  são  differenças 
baseadas  sobre  o  porte  (/.  oophora  e  /.  nana),  que  attrlbuimos  apenas 
As  diversas  condições  do  habitat. 


Família  n.—TÃXmEAS,  EaAl. 

.  Flores  unisexaaes,  nuas:  as  de  nm  e  outro  sexo  dispos- 
tas em  amentilbos,  pequenos,  solitários,  asillares.  Ameuti- 
Ihos  masculiQos  (flg.  3,  A)  com  um  invólucro,  na  base,  de 
escamas  estéreis  opposto-cruzadas;  estames.com  o  filete 
curto  e  o  connectivo  muito  grande,  em  forma  de  escudo ; 
autheras  com  5-8  loculos,  longitudinalmeute  debisceates. 


Fig.  3. — Taiau  baeeata,  L.  A:  ramo  mageuliao  (1:1).  B  :  faiso  ftncto 
(semente  e  arillo).  C:  o  mesmo  cortado  longitudiiiatmeDte(aagmen- 
Udo). 

Amentilbos  femininos  com  as  escamas  todas  estéreis,  ex- 
cepto a  do  cimo,  e  produzindo  por  isso  uma  única  semente. 
Semente  com  o  endosperma  abundante  e  o  tegumento  ósseo, 
eoTOlvida  por  um  arillo  carnudo,  que  tem  quasi  o  aspecto  de 
mna  cúpula  (fíg.  3,  B,  C).  Arvores  ou  arbustos  com  a  ra- 
mificação irregular,  e  as  folbas  alternas,  ou  qnasi  distica- 
das,  persistentes.  Plantas  tíio  resinosas,  ou  muito  pouco 


42  GNETÁGEAS 

« 

resinosas.  Madeira  sem  vasos  abertos  (excepto  no  estojo 
medullar). 

Taxus,  L. — Teixo. — Caracteres  da  familia.  Plantas  (Uoi- 
cas.  Maturação  annual. 

Pequena  arvore  ou  arbusto  com  as  folhas  quasi  disticadas,  li- 
neares, acuminadas,  Terde-negras  na  pagina  superior,  verde- 
claras  na  pagina  inferior.  Falso  fructo  escarlate,  polposo.  Fl. 
em  abril  e  maio.  Nat  montanhaâ  das  nossas  províncias  do  nor- 
te.—  Teixo T«  iMicoata*  L. 


Família  m.— ONETÁCEAS,  Endl. 


Flores  unisexuaes>  monoicas  on  dioícas;  as  mascidinas 
dispostas  em  amentilhos,  formados  de  bracteas  opposto- 
cruzadas  e  de  estames  monadelphos  com  as  antheras  24 
loculares»  dehiscentes  por  poros  terminaes;  as  flores  femi- 
ninas solitárias  ou  geminadas  envolvidas  por  bracteas  es- 
téreis, que  se  tornam  depois  carnudas  e  accrescentes  seme- 
lhando o  conjuncto  um  fructo  carnudo.  Óvulos  com  o  te- 
gumento prolongado  junto  ao  micropylo  n'um  tubo  dilatado 
no  extremo,  apparentando  um  estylete  e  um  estigma.  Se- 
mentes com  o  endosperma  carnudo  e  o  embryão  recto.  Ma- 
deira com  vasos  abertos. 

Ephedra,  L. —  Comicabra. — Flores  dioicas.  Amentilbos 
masculinos  pequenos,  ovóides  ou  globosos,  com  uma  flor 
solitária  na  axilla  de  cada  bractea.  Plantas  arbustivas  m 

m 

sub-arbustivas,  sem  folhas  verdes,  com  os  ramos  delgados, 
verdes,  articulados,  quasi  sempre  estriados,  providos  de 
bainhas  membranosas  nas  articulações,  como  as  CacaUi' 


6NETÁCEAS 


43 


nhãs  (Equisetumjy  devidas  á  coDcrescencia  de  duas  folhas 
escaríosas,  oppostas. 


Planta  muito  frágil,  com  os  amentilhos  masculinos  sesseis  nos 
articulos  e  as  flores  femininas  soljtarías,  quasi  sesseis.  Se- 
mentes cjlindricas,  sulcadas.  Fl.  na  primavera.  Sebes  marí- 
timas do  Algarve. — Camieahra  (£.  distachya^  BroL,  non 
L.) B.  f)ragtli0»  Desf* 


\    ' 


DIVISÃO  n 


ANGIOSPERMAS 


OyoIos  incluídos  n'mn  ovário.  Sementes  fechadas  n'um 
verdadeiro  pericarpo. 


Classe  II.— lonocotyledoneas 

Embryao  monocotyledoneo.  Caule  homogéneo,  sem  a  cas- 
ca bem  distincta,  com  os  feixes  fibro-vascidares  não  dispos- 
tos em  camadas  concêntricas,  mas  dispersos  no  meio  do 
tecido  cellular,  de  modo  que  um  corte  transversal  apre- 
senta uma  superficie  pontuada,  mais  ou  menos  regular, 
sem  distincção  de  zonas  annulares.  Invólucro  floral  peta- 
loide  ou  sepaloide  (muitas  vezes  com  3-6  divisões  dispos- 
tas em  1-2  cyclos),  ou  nuUo,  ás  vezes  substituído  por  se- 
das ou  escamas. 


Esta  classe  contém  um  grande  numero  de  espécies  in- 
dígenas, mas  sao  quasi  todas  herbáceas,  e  das  pouquíssi- 
mas lenhosas  que  existem  só  uma — a  Palmeira  anã — tem 
alguma  importância. 


46  SMILAGEAS 


Família  IV.— SMILAGEAS,  Endl. 

Flores  regulares,  hermapbroditas  ou  dioicas.  Perígoneo 
persistente'ou  caduco,  petaloide  com  4-6-8-10  divisões,  dis- 
postas em  dois  cyclos,  livres  ou  adherentes.  Estames  inse- 
ridos no  perigoneo  ou  no  disco  do  receptáculo,  em  numero 
egual  ou  inferior  em  metade  ao  das  divisões  perigonaes ;  an- 
theras  bi-loculares,  introrsas.  Ovário  livre,  superior;  esty- 
letes  3,  quasi  sempre  soldados.  Fructo  bacciforme,  tri-lo- 
cular.  Sementes  sub-globosas  com  tegumento  membranoso 
e  albumen  carnudo;  embryão  pequeno.  Folhas  inteiras,  al- 
ternas ou  verticilladas.  Plantas  herbáceas  perennes  ou  le- 
nhosas; as  espécies  lenhosas  indígenas,  trepadoras  ou  le- 
vantadas, com  aculeos,  ou  espinescentes,  ou  espinhosas. 

Plantas  sarmentosas,  trepadoras,  com  gavinhas.  Flores  em  pa- 
niculas  axíUares.  Folhas  cordiformes  (ííg.  4,  A). 
1  {      Smilax,  (pag.  48) 

Plantas  levantadas,  de  pequeno  porte,  sem  gavinhas.  Flores  so- 
litárias ou  fasciculadas 2 

Folhas  reduzidas  a  escamas  membranosas  e  substituídas  por 
ramos  foliaceos  ovado-aguçados,  espinescentes,  em  cuja  fac« 
superior  se  desenvolvem  as  flores  (fig.  4,  D). 
Baaeus.  (pag.  46) 

Folhas  reduzidas  a  escamas  membranosas  e  substituídas  por 
ramos  lineares  íasciculados  ou  solitários.  Plantas  espinhosas 
ou  espiniscentes  (fig.  4,  F,  K,  M,  I). 

(pag.  49) 


RusGus,  L.  —  Gilbarbeira. — Floração  dioica.  Perigoneo 
persistente,  com  6  divisões;  3  estames  monadelphos;  es- 
tigma mteiro,  quasi  sessil.  Baga  vermelha  3-locular,  com 
os  loculos  2-ovulados.  Flores  esverdinhadas  com  os  pedum- 


r 


47 


Fig.  Í.—A:  SmOax  maurilaniea,  Desf.  (!:í).  B:  flores  (l:i).  C:  fru- 
etos  (1:1).  D:  Raiuo  do  Sumiu  oculeotui,  L.  (1:1).  B  :  biiclo  (1:1). 
F:  Ramo  do  jljpanijrw  albia,  L.  (1:1).  fl.'  flor  (1:1).  K:  Ramo  fru- 
cti/ero  do  Aiparagiàs  opA^Uui,  L.  (1 :!).}(:  Rajno  do  ^.  Aorríiíiit,  L. 
(1:1).  /:  Ramo  do  A.  aeuíifoliiu,  L.  (1:1). 


^ir 


48  SMILACEAS 

culos  bracteolados,  inseridas  aa  axilla  de  ama  bractea  pe- 
quena, escariosa,  sobre  a  face  superior  de  ramos  desenyol- 
yidos  lateralmente,  foliformes.  Folhas  escamiformes,  muito 
pequenas. 

Sub-arbusto  muito  ramoso,  com  os  caules  verdes  e  os  ramos 
foliformes  ovado-aguçados,  espinescentes,  rígidos.  Flores  pe- 
quenas, solitárias  ou  geminadas  (fig.  4,  D,  E).  Fl.  na  pri- 
mavera e  outono.  Mnios,  campos  incultos^  sebes ^  vallados.em 
quasi  todo  o  paiz. — GilbarbeirOy  herva  dos  vasculhos. 
B«  acoleataSf  L. 


L. —  Legação. — Floração  dioica.  Perigoneo  ca- 
duco, com  6  divisSes  abertas  para  os  lados  (fig.  4,  B);  6 
estames  livres.  Baga  3-locular,  tendo  cada  loculo  uma  se- 
mente. Plantas  sarmentosas,  trepadoras,  com  gavinhas.  Flo- 
res dispostas  em  cymeiras  paniculadas. 

Caule  e  ramos  lenhosos,  flexuosos,  cheios  de  aculeos.  Folhas 
largas,  suh-alabardinas  ou  ovado-lanceoladas,  profundamente 
cordiformes,  lustrosas,  com  alguns  aculeos  (íig.  4,  A).  Flo- 
res branco-esverdinhadas,  muito  cheirosas,  dispostas  em  pa- 
niculas  terminaes  e  lateraes;  pedicellos  maiores  o  dobro  do 
que  as  flores.  Bagas  grandes,  negras  quando  maduras  (fig. 
4,  C).  Fl,  em  setembro^  outubro.  Sebes,  etc.  em  quasi  todo  o 
paiz. —  Legação f  alegra-campo^  ou  salsaparrilha  do  reino^. 
II*  mauritanicm*  Desf* 

1  Acreditamos  que  a  S.  mauritanica,  Desf.,  é  synonyma  da  S.  áspera^ 
Brot.  (Flor.  Lus.),  non  L.,  porque  emquanto  a  S.  mauritanica,  Desf.,  é 
muito  frequente  em  Portugal,  em  parte  nenhuma  encontrámos,  nem 
nos  consta  que  ninguém  tenha  encontrado,  a  Terdadeira  S.  aipra,L.; 
á  primeira  se  referia  pois  o  nosso  illustre  hotanico.  De  resto,  não  será 
muito  para  admirar  que  a  espécie  linneana,  commum  a  toda  a  zona 
mediterrânea,  yenha  também  a  apparecer  em  Portugal;  distingue-ae, 
sobretudo,  em  ter  os  pedicellos  do  tamanho  das  flores,  e  nfio  o  dohro 
maiores,  em  ter  as  folhas  com  maior  numero  de  aculeos,  e  os  frudos 
menores  e  yermelhos,  quando  maduros. 


smilâgeas  49 

À  Salsaparrilha  é  uma  planta  exótica  pertencente  a  este 
género;  dizem  que  o  rhizoma  da  espécie  indigena  pode  ter, 
em  grande  parte,  os  mesmos  empregos. 

Asparagus,  L. — Espargo. — Flores  dioicas,  ou  herma- 
phroditas.  Perigx)neo  campanulado  6-partido,  caduco ;  6  es- 
tames  livres  inseridos  na  base  dos  segmentos  do  perigo- 
neo;  estigma  3-lobado.  Baga  globosa,  negra  nas  espécies 
lenhosas  indígenas.  Hervas  perennes  ou  pequenos  arbustos 
muito  ramosos,  com  os  caules  espinhosos  ou  inermes ;  fo- 
lhas escariosas,  alternas,  escamiformes,  apresentando  nas 
aiillas  ramos  foliformes  lineares,  solitários  ou  fasciculados, 
inermes  ou  espmescentes. 

Ramos  foliformes  molles,  inermes,  caducos,  glaucos,  fascicula- 
dos 8-13.  Caule  branco,  com  espinhos  brancos  fortes,  rectos, 
quasi  horisontaes  (fig.  4,  F,  H).  Flores  brancas,  hermaphro- 
ditas,  fasciculadas,  muito  cheirosas.  Fl.  em  setembro,  outU' 
bro.  Outeiros  cakareos  e  sebes  na  Estremadura,  etc. 
A.  albaii*  li. 

Ramos  foliformes  verdes,  rígidos,  espinescentes.  Caules  inermes. 
Flores  esverdinhadas,  dioicas  quasi  sempre 2 

Caule  flexuoso,  esbranquiçado.  Ramos  foliformes  muito  peque- 
nos, eguaes,  fasciculado-estrellados.  Flores  solitárias  ou  ge- 
minadas (fig.  4, 1).  Fl.  em  setembro.  Terras  áridas  e  sebes  na 
Estremadura  e  Atemíejo. -^Espargo  menor,  espargo  silvestre, 
ou  corruda  menor A*  acatlfollas»  l^* 

Caules  llexuosos  verdes.  Ramos  foliformes  muito  robustos  e 
muito  espinescentes.  Flores  solitárias  ou  fasciculadas . .      3 

Ramos  foliformes  fasciculados  (5-12),  muito  deseguaes  (fig.  4, 
K).  FL  em  setembro.  Sebes ^  terras  seccas;  em  quasi  todo  o 
paiz. — Corrudd  maior,  espargo  silvestre  maior. 
A.  apli^^llus»  li* 

Ramos  foliformes  solitários,  ainda  maiores  que  na  espécie  an- 
terior (fig.  4,  M).  Fl.  em  setembro,  etc.  .4.  Itorrldiis*  Ii« 

a  s. — ^v.  n.  4 


1 


50  PALMEIRAS 

A  este  género  pertence  o  Espargo  hortense  (A.  offma- 
lis,  L.),  herbáceo,  perenne,  cultivado  em  Portugal,  e  es- 
pontâneo ou  sub-espontaneo,  às  vezes,  principalmente  nas 
proximidades  das  hortas.  A  esta  familia  pertence  o  Dra- 
goeiro (Dracaena  Draco,  L.)  arvore  cultiva  a  em  alguns  jar- 
dins. 


FamiUa  V. --PALMEIRAS,  L. 

Plantas  dioicas  ou  polygamicas,  arbóreas,  com  o  caide 
cylindrico,  não  ramificado,  tendo  no  cimo  uma  copa  (coroa), 
formada  de  folhas  lenliosas  (frondes).  Flores  dispostas  em 
espadices  ramosas,  que  errompem  d'entre  as  bainhas  das 
folhas,  envolvidas  por  uma  folha  enrolada  em  cartacbo 
(spatha).  Perigoneo  com  6  divisões,  dispostas  em  2  cy- 
clos.  Estames  numerosos,  ás  vezes  monadelphos.  Ovário 
superior;  3  estyletes  adherentes.  Drupa,  ou  baga.  Semente 
com  albumen  muito  desenvolvido ;  embr}'3o  pequeno. 

Folhas  palmatifendidas.  Baga  com  3-1  sementes. 

diamaerops  (pag.  50) 

Folhas  pinnuladas.  Drupa  monosperma.  Pbaenix  (pag.  51) 

Chamaerops,  L. — Palmeira. — Flores  polygamo-dioicas. 
Espadices  envolvidas  por  2-4  spathas;  6-9  estames.  Ovário 
3-locular.  Baga  3-monosperma.  Folhas  palmatifendidas. 

Planta  habitualmente  de  muito  pequeno  porte,  com  o  caule  pouco 
saído  da  terra.  Peciolos  aculeados.  Flores  amarellas.  FI.  m 
abril  e  maio.  Vulgar  no  AlgarveK — Palmeira  anã,  (m  ím 
vassouras C*  liunilIiSp  !<• 


1  O  sr.  Daveau  encontroa  a  palmeira  anã  n'ama  estaçãk)  muito  mais 
boreal,  na  Estremadura,  na  serra  da  Arrábida  (Revista  seientifiea  doÂthe- 


SALICINKAS  51 

Fhoeniz,  L. —  Tamareira, — Flores  dioicas.  Espadices  en- 
volvidas por  uma  só  spatba;  6  estames.  Ovário  3-locidar, 
mas  apenas  com  mn  loculo  fértil.  Drupa  monosperma.  Ar- 
vores de  grande  altura,  com  as  folhas  pinnuladas. 

Gorôa  grande,  diffiísa;  frondes  muito  compridas.  Arvore  de 
grande  porte.  Drupa  comestível.  FL  na  primavera.  Originar 
ria  da  Africa  Boreal  e  cultivada  nos  jardins,  excepto  nós  re- 
giões mais  frias. — Tamareira^  palmeira  da  egreja, 
Pb*  tf  aclylltera»  Im 


Classe  III.— Dicotyledoneas 

Embryão  dicotyledoneo.  Caule  com  a  casca  distincta,  com 
os  feixes  fibro-vasculares  dispostos  em  camadas  concêntri- 
cas em  reàor  da  medulla  e  separados  pelos  raios  medulla- 
res. 

Sob-dasse  I. — Apetalas 

Flores  nuas  ou  com  um  só  invólucro  floral  (escamiforme» 
sepaloide  ou,  menos  vezes,  petaloide),  dispostas,  ou,  não,  em 
amentilhos. 

Família  VI.— SALIOINEAS,  L. 

Flores  dioicas,  as  masculinas  e  as  femininas  dispostas  em 
amentilhos  solitários,  inseridos  sobre  os  raminhos  do  anuo 
precedente,  quasi  sempre  lateraes.  Uma  flor  em  cada  bractea 

tieu  do  Porto,  fevereiro  de  1885),  màs  apenas  encontroa  algmis  indivi- 
duos  isolados,  e  hoje,  em  Portugal,  ella  só  abunda  e  tem  verdadeira  im- 
portância no  littoral  Algarvio. 

4« 


52  SAUCLNEAS 

dos  amentilhos.  PerigODeo  nullo,  reduzido  a  1-4  glândulas 
(nectarios)>  situadas  nas  escamas  dos-  amentiitios  junto  á 
base  de  inserção  dos  órgãos  sexuaes,  ou  1  perigoneo  cupu- 
liforme.  Estames  2  ou  muitos>  com  as  antheras  bilocuiares 
longitudinalmente  dehiscentes.  Ovário  livre,  com  2  carpel- 
los,  1-locular;  placentação  parietal;  estyletes  2,  reunidos 
só  na  base  ou  em  toda  a  sua  extensão;  2  estigmas  inteiros, 
ou  fendidos.  Capsulas  com  2  válvulas  (raras  vezes  4),  que 
na  dehiscencia  se  curvam  e  enrollam  para  fora  (flg.  5,  C). 
Sementes  numerosas,  tendo  na  base  pellos  felpudos;  albu- 
men  nullo;  embryão  recto. — Arvores,  arbustos,  ou  sub-ar- 
bustos,  com  as  folhas  alternas,  caducas;  estipulas  livres,  ás 
vezes  muito  pequenas. 

Botões  com  uma  só  escama.  Amentilhos  levantados  (fíg.  5,  A,B), 
com  as  bracteas  inteiras  (fig.  5,  K,  I,  E,  etc).  Perigoneo  re- 
presentado por  i-4  glândulas;  2-5  estames  (fig.  8, 1,  F,  K). 
Peciolo  ordinariamente  curto  (fig.  5,  M,  etc.) 
Sallx  (pag.  S2) 

Botões  com  muitas  escamas  imbricadas.  Amentilhos,  por  fim,  pen- 
dentes, com  as  bracteas  laciniadas  ou  dentadas  (fíg.  6,  E,  D). 
Perigoneo  cupuiiforme;  8-30  estames  (fig.  6,  E).  Peciolo  mais 
ou  menos  comprido  (fíg.  6,  A,  B,  C).  Populns  (pag.  57) 

Salix,  Toum. —  Salgueiro. — Botões  com  uma  só  escama. 
Bracteas  dos  amentilhos  mteiras,  celheadas  ou  não.  Perigo- 
neo representado  por  1-4  glândulas  (nectarios).  Estames  2-5 
com  os  filetes  livres,  ou  monadelphos.  Ovário  pedunculado 
ou  sessil;  estyletes  alongados,  curtos  ou  quasi  nullos;  es- 
tigmas inteiros,  chanfrados  ou  bifendidos.  Amentilhos  levan- 
tados, ovóides  ou  cylindricos  (fig.  5,  A,  B).  Arvores,  arbus- 
tos, ou  sub-arbustos,  com  as  folhas  alongadas^  alternas,  ea- 
ducas,  inteiras  ou  dentadas. 


r 


53 


IJI 


Pig.  5. — A:  Amentilhos  femininos  do  Salix  atm-cinena,  Brot  (l:2). 
B:  Amentilhos  masculinos  do  $.  alro-e>n«rea,  Brot  (1:2).  C:  Capsula 
aberU  do  S.  íahifnlia,  Brot.  (i:l).  D:  i  mesma,  fechada  e  com  a 
bractea  (2:1).  £:  Bracteadisòolordo  5.  ia(etfoiia,Brot  (2:1).  F.-Es- 
tames  do  5.  otTo-ánerea,  Brot.  (3:1).  H:  Capsula  do  S.  atm-eiaerea, 
BroL(2:l).  /.■  Estanipsmonadelphos  do  S.purpurea,  L.  (2:1).  ÍT.-Es- 
tames  do  S.  amygdalina.  L.  (3:1).  M:  Folha  do  S.  viieUiwi,h.  (1:2). 
N:  Folha  do  S.  babyioniea,  L.  (1:2).  O:  Folha  do  S.  talvifolia,  Brot. 
(1:2).  P:  Foiha  do  S.  einerea,  L.  (1:2).  Ji:  Folha  do  S.  atn-einerta, 
BioL  (1:2). 

1  Folhas,  estreitas  e  compridas  (3-10  veies  mais  compridas  do  que 
laicas).  Rebentos  flexíveis,  afilados,  compridos.  2-3  estames. 
Capsulas  sest^eis  ou  com  pedúnculos  muito  curtos.  Bracieas 
dos  amentilhos  persislenles  ou  caducas,  concolores  (amarei- 


TÍH 


54  SALICINEAS 

ladas),  ou  discolores  (amarelladas  na  bas^,  escuras  no  cimo) 

(vinuiroi) : 2 

Folhas  largas  e  curtas  (o  máximo  3-4  vezes  mais  compridas  do 
que  largas).  Ramificação  nodosa;  rebentos  pouco  flexiveis. 
2  estamos  livres.  Capsulas  pedunculadas.  Bracteas  dos  amen- 
tilhos  persistentes  discolores  {salgueiros propriamente  ditos)  7 

Amentilhos  tardios  (que  apparecem  depois  das  folhas)  ou  coetâ- 
neos (simultâneos  com  as  folhas),  implantados  já  na  floração 
em  pedúnculos  folhosos.  Bracteas  dos  amentilhos  concolores. 
Capsulas  glabras.  Antheras  amarellas 3 

Amentilhos  precoces  (que  apparecem  antes  das  folhas),  sesseis 
durante  a  floração.  Bracteas  dos  amentilhos  discolores.  Ca- 
psulas cotanilhosas 6 

3  estames  (fig.  5,  K).  Bracteas  dos  amentilhos  persistentes,  gla- 
bras no  cimo.  Folhas  elliptico-lanceoladas,  3-8  vezes  mais 
compridas  do  que  largas,  acuminadas  de  repente,  glabras  em 
ambas  as  paginas.  Estipulas  grandes,  semi-cordiformes.  Ar- 
busto com  os  rebentos  glabros.  FL  em  março e  abrU.  Abeira 
dos  rios:  Estremadura,  Dovro^  etc, — (S.  triandra,  Brot.) 
li*  amysdalina»  L. 

2  estames.  Bracteas  dos  amentilhos  caducas 4 

Ramos  muito  compridos  e  pendentes  para  o  chão.  Folhas  linear- 
lanceoladas,  muito  compridas  (fig.  5,  N.),  inteiras  ou  denti- 
culadas, longamente  acuminadas,  glál^ras.  Estipulas  caducas, 
.  ]  falciforme-lanceoladas.  Amentilhos  pequenos.  Arvore  de  pe- 
queno porte.  J^.  em  janeiro  e  fevereiro.  Originário  da  Ásia 
central  e  cultivado  nos  jardins  e  sttios  frescos. — Salgueiro 
chorão S.  lialiyloiiic«f  lá. 

Ramos  compridos  e  flexíveis,  mas  não  pendentes  para  o  chão.  5 

Folhas  adultas  glabras  (em  novas  mais  ou  menos  avelludadas), 
lanceoladas,  4  vezes,  pelo  menos,  mais  compridas  do  que  lar- 
gas, dentado-glandulosas,  longa  e  obliquamente  acuminadas. 
Estipulas  semi-cordiformes,  acuminadas.  Filetes  glabros,  ou 
sópelludos  na  base;  antheras  amarello-pallidas.  Capsulas  agn- 
K|     das;  estigmas  bi-fendidos.  Arvore  com  os  rebentos  glabros  e 


r 


1 


6 


SALICIMEAS  55 

■ 

que  na  primavera  se  desarticulam  ao  menor  choque.  FL  em 
abril.  Á  beira  dos  rios,  principalmente  nas  provindas  do  norte . 

— Salgueiro  frágil S.  fra^ills»  li. 

Folhas  adultas  mais  ou  menos  branco-assetinadas  nas  duas  pa- 
ginaSy  ou  pelo  menos  na  pagina  inferior,  lanceoladas,  5-6  ve-' 
zes  mais  compridas  do  que  largas,  dentado-glandulosas»  di- 
recta e  longamente  acuminadas.  Estipulas  muito  pequenas, 
semi-lanceoladas^  caducas.  Filetes  pelliltdos  até  metade;  an- 
theras  amarello-douradas.  Capsulas  obtusas;  estigmas  chan- 
frados. Arvore  com  os  rebentos  pubescentes,  esbranquiçados. 
Fl,  em  fevereiro  e  março.  Á  beira  dos  rios,  em  todo  o  paiz. 

— Salgueiro  branco  ordinário (^  alba*  li. 

Rebentos  delgados,  mais  ílexiveí^,  com  a  casca,  na  prima- 
vera, amarello-viva,  ou  amarello-avermelhada.  Folhas 
um  pouco  mais  glaucas  na  pagina  inferior,  mais  estrei- 
tas e  mais  finamente  dentadas  (fig.  5,  H),  quasi  glabras 
em  adultas.  Cultivado  á  beira  dos  rios  e  nos  sitios  fres- 
cos.—  Vimeiro  ordinário v*  vitelllna*  li. 

Estames  vermelhos,  monadelphos  em  toda  a  extensão  dos  file- 
tes, parecendo  um  só  estame  4-locular  (fig.  5, 1).  Folhas  lan- 
ceoladas,  4-6  vezes  mais  compridas  do  que  largas,  glabras, 
acuminadas  de  repente  (a  maior  largura  encontra-se  do  meio 
da  folha  por  diante),  com  os  dentes  agudos,  nao  glandulosos. 
Bracteas  dos  amentilhos  com  pellos  compridos.  Estipulas  nul- 
I  las.  Arbusto  com  os  rebentos  glabros.  Fl.  em  março  e  abril: 
margens  do  Doufo,  etc.  —  (S.  monandra,  Brot.) 

9.  purpúrea*  Ij. 

Antheras  amarellas;  2  estames  livres.  Folhas  lanceoladas,  6-8 
vezes  mais  compridas  do  que  largas,  insensivelmente  aguça- 
das, inteiras  ou  quasi  inteiras,  ás  vezes  um  pouco  onduladas, 
em  adultas  verde-escuras  na  pagina  superior,  pulverulentas 
ou  avelludadas,  e  na  pagina  inferior  com  muitos  pellos  asse- 
tinados,  que  lhes  dao  reflexos  prateados.  Estipulas  lineares, 
pequenas,  caducas.  Bracteas  dos  amentilhos  longamente  fel- 
pudas. Arbusto  com  os  rebentos  cinzento-avelludados.  Fl.  em 
abril  e  maio.  Cultivado  á  beira  dof^  rios  e  nos  sitios  húmidos, 
principalmente  nas  provindas  do  norte. — Vimeiro  do  norte  ou 

\     salgueiro  francez ••  viminall»»  I^* 


56 


SALICINEAS 


Rebentos  e  botões  glabros.  Folhas  ovadas  ou  ellipticas,  2  Teies 
mais  compridas  do  que  largas,  obliquamente  agudas,  intei- 
ras, crenadas,  ou  irregularmente  onduladas,  em  adultas^- 
bras  e  verdes  na  pagina  superior,  e  na  pagina  inferior  ^- 
cas,  ot  acinzentado-cotanilhosas.  Estipulas  obliquas,  renifor- 
mes,  dentadas,  ou  nullas.  Filetes  pelludos  na  base.  Arbusto 
ou  pequena  arvore.  Fl.  em  março  e abril  ^  fli.  c^apre^t  L. 

Rebentos  pubescentes  ou  avelludados.  Botões  pelludos  ou  cota- 
nilbosos 8 


/  Rebentos  pelludos.  Folhas  largamente  lanceoladas,  3-4  vezes 
mais  compridas  do  que  largas,  com  a  maior  largura  na  me- 
tade superior  (fig,  5,  R),  em  adultas  verdes  e  glabras,  oa 
quasi  glabras  na  pagina  superior,  e  na  pagina  inferior  ^aa- 
cas,  mais  ou  menos  cotanilhosas,  inteiras  ou  irregularmente 
onduladas  ou  crenadas.  Estipulas  semi-cordiformes,  ou  snb- 
reniformes.  Bracteas  dos  amentilhos  com  muitos  pellos  (fig.  5, 
F,  A,  B).  Arvore,  ás  vezes  de  boas  dimensões,  ou  arbnsto. 
fl.  em  fevereiro  e  março.  A  beira  do$  rios,  fCumagrtmii 
'parte  do paiz, — Salgueiro  preto  9«  atro-clnereft»  Brot. 
Rebentos  cinzento-cotanilhosos.  Folhas  cinzento-cotanilhosasna 
pagina  inferior,  e  na  superior  esverdinhado-acinzentadas,  mais 
ou  menos  pubescentes 9 


1  Esta  espécie  é  citada  por  Willkomm  {Prodromus  Florae  Hitpameoi) 
como  espontânea  em  Portugal,  e  no  herbario  de  Welwitsch  existe  um 
exemplar,  colhido  em  Otta,  que  talvez  se  lhe  possa  referir.  O  género 
Salig  precisa  ainda  muito  estudado  em  Portugal;  esse  estudo lucta com 
difficuldades  fortes;  porque  não  só  é  muito  grande  o  polymorphismo  das 
espécies  d'este  género,  como,  em  muitos  casos,  é  trabalhoso  adquirir 
exemplares  completos,  por  estarem  os  dois  sexos  em  individues  dife- 
rentes, e  em  muitas  espécies  nSo  existirem  folhas  bem  desenvolvidas  na 
occasiâo  da  floração,  e  vice-versa.  É  muito  provável  que  se  encontrem 
em  Portugal  mais  espécies,  além  das  que  enumerámos. 

Willkomm  (l.  c.)  dá  ainda  como  existente  em  toda  a  Eoit^a,  e  por- 
tanto em  Portugal,  o  Salix  repens,  L. ;  ó  imi  pequeno  sub-arbusto,  qoe 
não  chega  a  um  metro  de  comprimento,  sem  nenhuma  importância  flo- 
restal. Não  nos  referimos  a  esta  espécie  porque  a  temos  como  muito  do> 


SALIGINEAS  57 

.  Folhas  ellipticas,  ou  oblongo-lanceoladas,  2-2  Vs  vezes  mais 
compridas  do  que  largas,  agudas  ou  ás  vezes  obtusas  (fig.  5, 
P),  inteiras  ou  ondulado-serradas,  na  pagina  superior  esver- 
dinhadas,  ou  acinzentadas,  com  pubescencia  curta,  e  na  in- 
ferior cinzento-cotanilhosas.  Estipulas  reniformes,  dentadas. 
Filetes  dos  estames  glabros  na  base.  Arbusto  ou  pequena  ar- 
vore. FL  em  fevereiro  e  março,  Á  beira  dos  rios:  TraaH>S' 

9{     Montes,  etc.  (Bragança) S«  clnerea*  li* 

Folhas  lanceoladas,  agudas,  3-4  veze»  mais  compridas  do  que 
largas  (fig.  5,  0),  em  adultas  cotanilhosas  em  ambas  as  pa- 
ginas, na  superior  branco-esverdinhadas  e  na  inferior  vesti- 
das com  espesso  tomento  lanoso,  serradas  até  ábase.  Estipu- 
las semi-cordiformes.  Filetes  pelludos  na  base .  Arvore  ou  ar- 
busto. FL  em  janeiro  e  fevereiro,  Á  beira  dos  rios,  frequente, 

\     sobretudo,  nas  províncias  do  norte.  S*  sal  vifolia»  Brol. 

Populus.Tonni. — CAotipo.— Escamas  dos  botões  numero- 
sas, imbricadas.  Amentilbos  cylindricos,  pendentes,  não  fo- 
lhosos na  base.  Bractèas  dos  amentilbos  caducas,  dentadas 
ou  laciniadas  (fig.  6,  D,  E).  Flores  de  ambos  os  sexos  com 
um  invólucro  cupuliforme  (perigoneo?);  as  masculinas  com 
8-12,  ou  mais,  estames  livres;  as  flores  femininas  com  o 
ovário  sessil,  ou  muito  curtamente  pedunculado;  estylete 
muito  curto,  ás  vezes  quasi  nullo;  2  estigmas.  Capsula  com 
2-4  valYulas.  Arvores  dioicas,  de  grande  porte,  com  as  fo- 
lhas quasi  tao  compridas  como  largas,  longamente  peciola- 
das;  peciolos,  muitas  vezes,  comprimidos;  estipulas  estrei- 
tas, membranosas,  caducas.  Floração  precoce  (anterior  ã  fo- 
Iheação). 


Tidosa  para  o  nosso  paiz ;  Willkomm  accreseenta  que  ella  é  rara  na  Eu- 
ropa meriâional;  já  na  Hespanha  é  pouco  vulgar.  Em  Portugal  dever- 
8e-hia  encontrar  a  altitudes  elevadas,  mas  nâo  temos  d'ella  noticia  nem 
de  Traz-os-Montes,  nem  da  Estrella,  nem  do  Gerez. 


58 


Fig.  6.— -4:  Folhas  do  Populut  alba,  L.  (2:3).  B:  Folha  do  P.frenwta, 
-L.  (2:3).  C:  Folha  do  i*.  nígra,  L.  (?:3).  D :  Capsula  e  bnctei  do  P. 
tremula,  L.  (muito  augmentada).  £ ;  Flor  masculina  e  l^adea  do  P- 
aSia,  L.  (muito  augmeDtadas). 


r 


SALIGINEAS  59 

Folhas  lobadas  oa  sinuado-crenadas  (fig.  6,  A,  B).  Bracteas  dos 
amentilhos  celbeadas  (fig.  6,  E.  D).  Casca  fendida  tarde  em 

losangos 2 

1^  Folhas  regularmente  dentadas  (fig.  6,  G),  glabras  em  ambas  as 
faces.  Bracteas  dos  amentilhos  glabras.  Rebentos  glabros.  Bo- 
tões glabros  e  viscosos.  Peciolos  comprimidos.  Casca  cedo 
fendida  longitudinalmente 3 

Botões  cotanilhosos,  não  viscosos.  Folhas  adultas  ovadas,  irre- 
gularmente triangulares  ou  palmatilobadas,  sinuado-dentadas, 
verde-escuras  na  pagina  superior,  e  brancas,  cotanilhosas,  na 
pagina  inferior  (fig.  6,  A).  Peciolos  arredondados.  Bracteas 
dos  amentilhos  serradas  (fig.  6,  E).  Estigmas  bifendidos.  Ar- 
vore de  grandes  dimensões,  com  a  casca  esbranquiçada  e  os 
rebentos  brancos,  cotanilhosos.  Fl.  em  janeiro  a  março.  Es- 
fontaneo  e  muito  cultivado  junto  aos  rios  e  nos  sitios  húmidos, 
^-Akmo  ordinário,  branco  ou  alvar;  choupo  ou  faya  bmn- 

ca^ P*  alba»  JL. 

i[  Botões  glabros,  viscosos.  Folhas  ovado-orbiculares  desegual- 
mente  crenado-dentadas  (fig.  6,  B),  em  novas  mollemente  pu- 
bescentes,  e  em  adultas  glabras,  verdes,  não  lustrosas,  quasi 
de  egual  côr  em  ambas  as  paginas;  com  o  peciolo  comprido, 
delgado,  chato  no  plano  perpendicular  ao  limbo,  e  por  isso 
em  continuada  agitação.  Bracteas  dos  amei^tilhos  profunda- 
mente incisas  (fig.  6,  D).  Estigmas  irregularmente  3-4-loba- 
dos.  Arvore  de  pequeno  porte,  comacascacinzento-esverdi- 
nhada.  Fl.  em  fevereiro  e  março.  Espontâneo  e  cultivado  nos 
sitios  humidosy  nas  provindas  do  norte. — Faya  preta^  alemo 
lybico,  choupo  tretnedor P*  tremula*  Ij« 

/  Copa  fusiforme;  ramos  levantados  contra  o  tronco  e  este  pro- 
longado até  ao  cimo.  Folhas  tão  compridas  como  largas,  elli- 
ptico-triangulares  ou  rhomboide-ovadas,  curtamente  acumi- 
nadas,  serradas  desde  o  cimo  até  ao  meio.  Bracteas  dos  amen- 
3      tilhos  laceradas.  Arvore  de  grande  porte.  FL  em  fevereiro  e 

•  * 

1  Em  Portugal  nâo  possuimos  a  verdadeira  Faya  {Fagus  sUvatica,  L.) 
e  damos  impropriamente  este  nome  ao  choupo  branco  e  tremedor. 


i 


60  MYRIGEAS 

março.  Originário  do  Oriente,  e  cultivado  (menos  que  a$  et- 
peeies  anteriores)  nas  margens  dos  cursos  de  agua  e  á  bnra 
das  estradas. —  Cfcot^,  ou  alemOfpyramidal  ou  de  Itália. 

P.  pyramldalls*  ■•■• 

Copa  grande,  sub-globosa  ou  ovóide;  ramos  abertos,  maisoa 
menos,  para  os  lados.  Folhas  tao,  ou  mais  compridas,  doqoe 
largas 4 

I  Rebentos  cylíndricos.  Capsulas  com  2  válvulas.  Folhas  tríaoga- 
lar-ovadas,  longamente  acuminadas,  serradas  desde  o  cimo 
até  á  base  (fig.  6,  C),  em  novas  verde-claras.  Bracteas  dos 
amentilhos  laciniadas  em  pente.  Arvore  elevada.  Fi.  emfê' 
vereiro  e  março.  Espontâneo  e  muito  cultivado  nos  sitios  hu 
midos. — Choupo  ordinaí'io  ou  negro,  alemo  negro, 

P«  nigra»  L. 

Rebentos  angulosos,  sulcados.  Capsulas  com  3-4  válvulas.  Fo- 
lhas triangular-ovadas,  curtamente  acuminadas,  serradas  e 
um  pouco  celheadas,  pelo  menos  em  novas,  avermelhadas  na 
primeira  edade.  Bracteas  dos  amentilhos  laciniado-franjadas. 
Fl.  em  março.  Originário  da  America  do  Norte  e  um  pouco 
cultivado,  sobretudo  ao  longo  das  estradas. —  Choupo  do  Ca- 
nadá. (P.  canadensis,  Desf.) ....  P.  monlUtera*  AiU 


Família  Vn.— MYKIOEAS,  Hioh. 


Flores  unísexuaes,  níias,  dispostas  em  ameotilhos,  uma 
em  cada  bractea.  Amentilhos  levantados,  cylindricos  os  mas- 
culinos^ ovóides  os  femininos.  Flores  masculinas  com  1-2 
bracteolas,  ou  sem  nenhuma,  e  2-16  estames  com  as  an- 
theras  extrorsas,  biloculares,  longitudinaUnente  dehiscen- 
tes.  Flores  femminas  constituídas  por  um  ovário  simples, 
unilocular,  uniovulado,  envolvido  por  2-4  l^racteolas  adhe- 
rentes;  2  estigmas  alongados.  Fructo  secco,  indehisceote, 
monospermo,  incluído  nas  bracteolas  accrescentes,  cama- 
das, glandulpsas,  e  por  isso  com  o  aspecto  de  uma  dropa. 
Sementes  sem  albumen. 


r 


HTRICEAS  61 

Myrica,'  L.— Os  mesmos  caracteres  da  familia.— Arbas- 
los,  ou  peqneoas  arvores,  com  a.  floração  dioica,  e  com  as 
Tolhas  sem  estipulas,  alternas,  simples,  caducas  ou  persis- 
tentes, cheias  de  pequenas  glândulas  resinosas  ou  cirosas. 


Fig.  t—Mp-ica  Faya,  Ail.  {Ii2) 

Amentilhos  masculinos  simples.  Folhas  coriaceas,  pubescentes 
eDi  ambas  as  paginas^  ou  pelo  menos  na  iaCerior,  lanceolado- 
conheadas,  cadupas.  Pequeno  arbusto.  Í7.  naprimatera.  Ter- 
renos pantanosos:  Estremadura,  etc M.  Cale»  I» 

Amentilhos  masculinos  e  remininos  compostos.  Folhas  glabras 
em  ambas  as  paginas,  ellíptico-ianceoladas  (fig.  7),  persisten- 
tes. Arbusto  ou  pequena  arvore.  Fl,  em  abril  e  maio.  Origi- 
naria dos  Açores  e  snb-esponlanea  na  Estremadura  [Pinkat  de 
Leiria,  Cintra),  no  Algartv  {Serra  da  Picota), etc. — Samoco 
ou  faya  das  ilhas H.  Pa^a.  Alt. 

A  este  género  pertencem  varias  espécies  exóticas  de  qne 
se  extrahe  a  cera  vegetal. 


62  JU6UNDEAS 


Família  vm.— JUGLANBEAS,  DG.i 

Floração  monoica.  Flores  masculinas  reunidas  em  amen- 
tilhos  densos,  cylindricos;  perigoneo  5-6-lobado,  adherente 
á  bractea-mãe ;  3-36  estames  com  os  filetes  curtos  e  as  an- . 
theras  grandes,  biloculares,  longitudinalmente  dehiscentes. 
Flores  femininas  solitárias,  ou  reunidas  em  pequeno  numero: 
cada  uma  d^ellas  formada  de  um  invólucro  3-4-fendido  ou 
dentado  (resultante  da  concrescencia  da  bractea-m3e  e  das 
bracteas  lateraes)  e  de  um  perigoneo  3-4-fendido,  adherente 
ao  ovário*.  Ovário  primeiro  !-locular  e  depois  incompleta- 
mente 2-4-locular;  2  estyletes  curtos,  estigmas  grandes, 
curvos,  laciniados.  1  só  ovulo.  Fructo  drupaceo,  com  o  pe- 
ricarpo  fibroso-camudo,  dehiscente ;  caroço  bipartido  (noz) 
dividido  internamente  por  2-4  tabiques  incompletos.  Se- 
mente sem  albumen,  com  as  cotyledones  grandes,  oleoso- 
camudas,  bilobadas,  com  muitas  cavidades. — Arvores  com 
a  medulla  dos  ramos  novos  interrompida  em  discos  sobre- 
postos que  alternam  com  outras  tantas  lacunas.  Folhas  ca- 
ducas, alternas,  imparipinnuladas,  sem  estipulas. 

Juglans,  L. — Nogueira, — Os  caracteres  da  família.  Am^- 
tilhos  masculinos  solitários  produzidos  nos  botões  axillares 

1  Adoptámos  em  toda  esta  parte  do  dosso  trabalho  a  ordem  e  a  no- 
menclatura seguidas  no  Prodromm  de  Willkomm,  o  livro  hoje  mais  com- 
pleto sobre  a  flora  da  península,  e  a  que  nos  temos  sempre  principal- 
mente cingido ;  deslocámos  todavia  para  este  ponto  a  famDia  das  hr 
gUmdms,  que  Willkomm  colloca  entre  as  DialypeUUas,  adoptando  antes 
no  estudo  das  suas  afiSnidades,  e  no  modo  de  comprehender  as  suas  flo- 
res, o  que  diz  o  sr.  Yan  Tieghem  no  Traité  de  Botaniqve.  O  sr.  Matfaieo, 
na  Flore  Foreetièrey  e  muitos  outros  auctores,  egnalmente  a  comprehen- 
dem  entre  as  Apetalas, 

*  No  ProdromuB  de  Willkomm  o  invólucro  exterior  das  flores  femi- 
ninas ó  considerado  como  um  cálice  e  o  perigoneo  como  uma  corolla. 


betulágeas  63 

dos  raminhos.  loflorescencias  femininas  terminaes  no  cimo 
dos  rebentos. 

Folhas  com  7  a  9^oIioIos  grandes,  ovado-agudos,  inteiros  ou 
sinuados,  coriaceos,  glabros.  Fmcto  ovóide.  Arvore  medío- 
cre, com  o  tronco  grosso  e  grsoide  copa.  Casca  acinzentada. 
Fl.  em  maio.  Originaria  da  Pérsia  e  da  India^  e  muito  culti- 
vada,— Nogueira • ^.  re^la»  Ij. 

Folhas  com  11  a  15  foliolos,  lanceolado-acuminados,  dentados, 
levemente  pubescentes.  Fructo  globoso,  diflicilmente  dehis- 
cente.  Arvore  com  a  casca  escura.  FL  na  primavera.  Origi- 
naria da  America  do  Norte^  e  cultivada  (pouco). — Nogueira 
preta Jl«  ni^ra*  Ij. 

A  nogueira  é  principalmente  cultivada  pelo  fructo»  ou, 
diremos  melhor,  pela  amêndoa  da  semente;  conhecem-se 
muitas  variações,  filhas  da  cultura,  em  que  a  noz  diversi- 
fica no  tamanho,  na  época  da  maturação,  na  dureza  da 
casca,  etc.  Esta  semente,  como  todos  sabem,  é  comestível, 
e  serve  para  a  extraèção  de  um  óleo  siccativo  próprio  para 
pintura,  para  illuminaçSo  e  diversos  usos.  A  madeira  é  muito 
empregada  em  marceneria ;  soffre  bom  polido  e  tem  vena- 
(ões  e  ondeados  de  bello  effeito;  é  dura,  homogénea,  mais 
ou  menos  acastanhada  ou  escura;  empregam-a  bastante 
para  o  fabrico  de  coronhas  de  espingardas.  A  casca,  e  o  in- 
vólucro verde  da  w%  s3o  muito  adstringentes  e  servem  em 
tinturaria  para  o  preparo  da  côr  negra. 

A  nogueira  preta  é  muito  pouco  cultivada.  A  sua  madeira, 
d^ois  de  secca,  tem  o  cerne  preto:  é  muito  estimada  e 
atoradica. 

Família  IX.— BETULAOEAS,  Endl. 

Flores  monoicas,  as  de  um  e  outro  sexo  dispostas  em 
amentilhos.  Amentilhos  masculinos  cylindricos,  densos,  pen- 
dentes, formados  por  escamas  peitadas  3-5-lobadas,  tendo 


64  BETULACEAS 

cada  uma  na  axUla  3  flores  com  um  perigoneo  1-4-phylIo 
e  2-4  estames.  Amentilhos  femininos  cylindricos,  formados 
por  escamas  3-5-lobadas,  persistentes  ou  caducas,  tendo  cada 
uma  na  axUIa  2-3  flores  nuas ;  1  ovário,  bilocular  e  biova- 
lado;  2  estyletes  filiformes.  Fructos  seccos,  monospermos 
quasi  sempre  por  aborto,  indehiscentes,  alados  ou  não,  e 
que  no  seu  conjunto  com  as  escamas  ^  lenhosas  ou  membra- 
nosas  assemelham  uma  pequena  pinha.  Sementes  sem  al- 
bumen;  embryao  recto. — Arvores  ou  arbustos  com  as  fo- 
lhas simples,  alternas,  caducas,  com  as  estipulas  também 
caducas  e  floração  precoce  (anterior  á  folheação). 

Escamas  dos  amentiliios  femininos  3-Iobadas,  membranosas,  del- 
gadas (6g.  8,  Q,  N),  caducas  na  maturação.  3  fructos  em  cada 
escama,  com  as  azas  membranosas  e  transparentes  (fig.  8, 
M,  P)  . .' Betula  (pag.  64) 

Escamas  dos  amentilhos  femininos  lenhosas,  persistentes  (íig. 
9,  A),  5-lobadas  (fig.  9,  B):  2  fructos  em  cada  escama,  com 
as  azas  muito  estreitas  e  coriaceas  (fig.  9,  C). 
Alnos  (pag.  67) 

Betula,  Toum. —  Vidoeiro. — Perigoneo  das  flores  masculi- 
nas  monophyllo;  2. estames,  com  os  filetes  forquilhados, fi- 
cando em  cada  ramo  metade  da  anthera,  e  apparentando  i 
estames  com  as  antheras  1-loculares.  Flores  femininas  sem 
perigoneo,  collocadas  aos  grupos  de  3  na  base  de  escamas 
3-lobadas,  accrescentes,  menobranosas,  delgadas,  caducas 
(fig.  8,  Q,  N),  apparentando  o  todo  uma  pequena  pinha  (fig. 
8,  K).  Samaras  pequenas,  comprimidas,  lenticulares,  com 
duas  azas  lateraes  membranosas  e  transparentes  <fig.  8,M, 
P).  Amentilhos  femininos  siknultaneos  com  as  folhas  e  os     - 

1  As  escamas  doestes  amentilhos  resultam  da  ligaç^  da  verdadeira 
bractea-mSe  com  as  bracteolas  das  flores.  No  género  Betula  a  escama 
3-lobada  resulta  da  uniáo  de  2  bracteolas  lateraes  com  a  bractea-mâe. 
No  género  Âlnus  a  escama  5-lobada  é  deyida  á  concrescencia  da  bra- 
ctea-mãe  com  4  bracteolas. 


BETULACEAS  65 

mascolinos  aateríores  á  folheaçlo. — Arvores  ou  arbostos 
c(Ha  as  folbas  novas  e  os  rebentos  impregnados  de  resina 


4 


li?  W^r 


Fig.  8. — /:  Folha  da  Betiãa  pubeietnt,  Ehrh.  (pouco  menos  que  o  natu- 
ral). K:  amentilho  feminino  (1:1).  if .'  samara  (3:1).  ff:  escama  do 
amentilbo  feminino  (6:1)-  0:  Folha  ãi  Beltãa  vermmta,  Ebih.  (poTi- 
«o  menos  qae  o  natural).  P:  samara  (3:1).  Q:  escama  do  amentilho 
femmíoo  (3:1). 

cheirosa,  ás  rezes  glandulosos.  BotSes  vestidos  com  moitas  . 
escamas  imbricadas.  Casca  branca,  esfoliada  em  pequenas 
laminas  circulares,  papyraceas. 

Azas  do  fmclo  prolongadas  até  ao  cimo  dos  estyletes  (fig.  8,  P), 
maiores  do  que  a  semente.  Escamas  do  amentilho  feminino 
com  os  lobnlos  laloraes  maiores  do  qne  o  médio,  arredoada- 
dos  e  cmros  para  fora  (fig.  8,  Q).  Folhas  angulosas,  riiom- 
boedaes,  cnnheadas  na  base,  acuminadas,  duplamente  denta- 
das (fig.  8,  0),  membranosas,  com  glândulas  resiniferas  oa 


66 


pagiiiii  inrerior,  glabras  em  adultas.  Rebentos  vemisoaos, 
maito  viscosos.  Pi.  em  maio.  Serra  da  Ettrella,  do  Gera, 
ele. —  [B.  alba,  L.,  ex  p.) B.  verrKeoMU  Eftrk. 

Azas  do  fructo  não  prolongadas  além  da  base  dos  estyletes  (Gg. 
8,  H),  egiiaes  á  semente,  ou  pouco  maiores.  Escamas  d« 
ameDlilho  femínÍDO  com  os  lóbulos  lateraes  angulosos,  e  o  ló- 
bulo médio  mais  largo  que  na  espécie  anterior  (fig.  8,  N). 
Folhas  ovadas  ou  ovado-rhomboedaes,  agudas  (não  acomini- 
das),  dentadas  (Sg.  8, 1),  coriaceas  no  outono,  fortementere- 
ticuladas  na  pagina  inferíor,  pnbescentes  (ás  vezes  sub-gb- 
bras  ou  mesmo  glabras  em  adultas).  Rebentos  não  Termgo- 
SOS,  com  knticulas.  Fl.  em  nato.  Serra  da  Etíretta,  da  Ma- 
rão, etc.—[B.  alba,L.,  exp.)'  B.  pHbeacen*.  Bbrk. 


Fig.  9. — A:  Amentilho  feminino  do  Alnu*  plutinoio,  Glrtn.  (i:l)-6: 
escama  do  mesmo  amentilbo  (3:1).  C:  semente  (3:1).  D:  uoenliUia 
raasenlino  (1:1).  E:  escama  do  mesmo  amentilbo  (3:1).  F:  folha  (pou- 
co menos  que  o  natural).  H:  raminho  com  um  botlo  pediceIIaâo(l:l)' 

1  Podnnot  affinnar  com  segorançA  a  existência  d'estes  dois  vidoein» 
em  Portofal;  aSrmamol-o  lobreoexame  oompmtiTO  doi  exemplais 
portugnem  com  exemplues  estrangeirai  anlhwtieiH.  Mnitiuimo  afn- 


r 


BenjLÀGKÁS  67 

Alnns,  Tóurn. — Amieiro. — Amentilhos  masculinos  cylin- 
dricos,  por  fim  pendentes  (fig.  9,  D);  flores  masculinas  com 
um  perigoneo  4 -partido  e  4  estames  oppostos,  com  as  an- 
theras  biloculares.  Amentilbos  femininos  levantados,  com 
duas  flores  nuas  em  cada  escama;  escamas  persistentes, 
4-5-lobadas  (fig,  9,  B),  lenhosas  depois  da  anthese,  e  que 
dão  ao  conjunto  ó  aspecto  de  uma  pequena  pinha  ovóide 
(fig.  9,  Â),  primeiro  fechada  com  uma  substancia  resinosa 
e  que  depois  se  entreabre  para  a  disseminação.  Fructos  pe- 
quenos, monospenúos,  indehiscentes,  com  aza  muito  curta 
e  coriacea  (lateral  na  espécie  indígena,  fig.  9,  C),  dois  em 
cada  escama  da  pinha.  Arvores  ou  arbustos  coni  a  floração 
muito  precoce  (muito  anterior  ã  folheação).  Botões  com  3 
escamas. 

Botões  pedicellados  (fig.  9,  H),  grandes,  ovóides,  glabros,  vis- 
cosos. Folhas  obtusas,  obovadas  oasub-orbioolares  (fig.  9,  F), 
glabras  em  ambas  as  paginas,  ou  pubescentes  junto  ás  ner- 

deeemos  aos  srs.  dr.  Jalio  Henriques  e  Jules  Daveau,  que  nos  alcança- 
ram muitos  d'es8es  exemplares,  a  sua  boa  cooperação  n'este  trabaUio. 

Os  exemplares  da  Beíula  venruco$a  bem  authenticamente  espontânea, 
que  vimos,  foram  colhidos  em  i848,  no  Gerez  e  Estrella,  por  Welvntsch, 
e  estáo  no  herbario  da  Escola  Polytechníca;  os  exemplares  da  Betvla 
ptibescetn,  que  conhecemos,  sSo  da  Estrella  e  do  MarSo,  e  foram  colhi- 
dos modernamente  pelos  srs.  dr.  Júlio  Henriques,  Batalha  Reis  e  Ri- 
cardo da  Cunha.  Uns  e  outros  foram  tirados  em  arvores  adultas. 

Os  dois  vidoeiros  eram  já  indicados  em  Portugal  por  Brotero,  mas 
ultimamente  só  tem  sido  encontrado  a  Biíula  pubescens,  É  muito  extra- 
ordinário que  todos  os  exemplares  de  Welwitsch  se  refiram  á  BettUa 
verrucosa,  o  que  parece  indicar  ser  esta  arvore  entáo  mais  cômmum  do 
q[ue  hoje  é. 

A  existência  dos  dois  vidoeiros  em  Portugal  é  muito  notável;  a  Be* 
háapitbe$eau  ó  considerada  como  própria  a  regi6es  mais  septentrionaes, 
e,  segundo  a  Phra  ForetUU  do  sr.  D.  Max.  Laguna,  nSo  existe  emHes- 
panha.  Se  aproximarmos  esta  iiregularídade  no  habitat  de  uma  forma, 
colhida  no  Marfio  pelo  sr.  dr.  Júlio  Henriques,  em  que  os  fructos  são 
qoasi  íntennedios,  lembra  com  mais  força  reunir  antes  os  deis  vidoei- 
ros na  anfiga  espeoie  lianeana—- a  Bittda  à^a. 

5* 


.  I 


68  CDPULIFERÂS 

vnras  na  pagina  inferior,  viscosas,  irregularmente  dentadas. 
Anrore  com  a  casca  escm*a,  fendida,  e  os  dois  sexos  re- 
unidos n'uma  inflorescencia  paniculada,  ficando  os  amenti- 
Ihos  masculinos  no  cimo.  Fl.  em  fevereiro  e  março.  Á  hára 
dos  rios  e  sitíos  húmidos ,  nas  provindas  do  norte. — Amieiro. 
Am  glutlnoMU  CArts. 


Família  X.— OUPULIFSRAS,  Rioh. 

Floração  monoica.  Flores  masculinas  dispostas  em  amen- 
tilhos  cylindricos  ou  globosos-(cylindricos  nas  espécies  in- 
digenas),  1-7  flores  na  axiUa  de  cada  escama;  flores  com 
mn  perigoneo  4-5-6-7-dividido,  ou  com  os  estames  nús  in- 
seridos nas  bracteas  do  amentilho;  estames  em  numero 
egual  ao  das  divisSes  do  perigoneo  ou  maior  e  variaTsl;  fi- 
letes curtos  e  forquilhados,  ou  alongados  e  simples;  anthe- 
ras  extrorsas,  longitudinalmente  dehiscentes.  Flores  femi- 
ninas dispostas  em  inflorescencias  cujos  eixos  muitas  yezes 
(sempre  nas  espécies  indígenas)  ficam  rudimentares,  e  o 
maior  numero  das  bracteas  ficam  estéreis,  constituindo  mn 
invólucro  accrescente  ás  flores  férteis  (1-3);  ou  incluídas, 
em  pequeno  numero,  no  cimo  de  um  botão  mixto.  Ovário 
2-3-6-IocuIar,  com  outros  tantos  estyletes,  envolvido  por  i 
perigoneo  4-6-8-dividido;  locnlos  do  ovário  com  1-2  óvulos. 
Invólucro  fructifero  cupuliforme  ou  foliaceo,  deixando  o  fro- 
cto  mais  ou  menos  a  descoberto;  ou  fechado  completamente, 
com  o  aspecto  de  um  perícarpo  espinhoso,  deúscente  por 
4  válvulas,  tendo  incluidos  1-2-3  flructos.  Fmcto  com  o  pe- 
rícarpo delgado  e  coríaceo,  secco,  indehiscente,  quasí  sem- 
pre unilocular  e  monospermo  por  aborto,  com  uma  larga 
cicatriz  na  base.  Sementes  sem  albumen,  com  as  cotyledo- 
nes  carnudas,  feculentas  ou  feculento-oleosas ;  embryão  re- 
cto.—Arvores  ou  arbustos  de  folhas  alternas,  simples,  ca- 
ducas ou  persistentes,  com  estipulas  caducas. 


r 


69 


Fig.  10. — A:  Ramo  Qorifero  do  Otureu  <pedun6ttiatii,  Ehrb.  (1:2).  B: 
Ramo  florirero  do  Cattanea  vidgarit,  Lam.  (1 :3}.  C:  Fnictos  e  invó- 
lucro fechado,  dehiscente,  do  Cattanea  vulgarii,  Lam.  (1:2).  D:  Ia- 
Sorescencia  feminina  do  Coryíut  AeêUana,  L. — E:  flor  masculina. — 
F:  fructo  e  invólucro  foltaceo  (1:1). 


70  GUPUUFERAS 

Amentilhos  masculinos  levantados  (fig.  10,  B).  Invólucro fracti- 
fero  incluindo  completamente  os  fructos,  fechado,  com  a  forma 
de  um  pericarpo  espinhoso,  dehiscente  por  4  valvnias  (fig. 
10,  C) CMtenea  (pag.  80) 

Amentilhos  masculinos  pendentes  (6g.  10,  A).  Invólucro firucti- 
fero  aberto,  nâo  incluindo  nunca  o  frncto completamente..  2 

Cúpula  lenhosa  ou  coríacea,  formada  por  muitas  bracteas,  iner- 
me ou  espinhosa,  e  quasi  sempre  menor  do  que  o  ^cto  (fig. 
11) aueréns  (pag.  71) 

Cúpula  foliacea,  constituída  por  poucas  bracteas,  carnudas  na 
base,  grandes,  irregularmente  lobadas,  do  tamanho  do  íructo, 
ou  maiores  (fig.  10,  F) Corylas  (pag.  70) 

Corylus,  Tourn. — Avelleira. — Amentilhos  masculinos  cy 
lindricos,  pendentes,  solitários  ou  fasciculados,  terminaes  e 
aiillares  sobre  os  raminhos  do  anno  anterior,  formados  no 
outono  que  precede  o  anno  da  floração;  4  estames  com  os 
filetes  curtos,  forquilhados,  parecendo  8  estames  com  os 
filetes  simples,  inseridos  na  face  interna  da  bractea  con- 
cava (fig.  10,  E).  Flores  femininas  rudimentares  na  época 
da  floração  e  cuja  organisação  completa  só  mais  tarde  se 
realisa,  fechadas  em  pequeno  numero  no  cimo  de  um  bo- 
tão mixto,  que  apenas  se  distingue  dos  botões  folhosos  pe- 
los estyletes  vermelhos  salientes  (fig.  10,  D);  ovário  2-lo- 
cular,  com  os  loculos  1-ovulados.  Fructos  geminados  ou 
agglomerados  em  maior  numero,  com  o  pericarpo  lenhoso, 
mii-Ioculares  por  aborto,  monospermos,  fechados  n*um  in- 
vólucro foliaceo,  carnudo  na  base,  aberto  no  cimo,  prolon- 
gado em  lóbulos  irregularmente  recortados  (fig.  10,  F).  Co 
tyledones  oleoso-feculentas.  Maturação  annual.  Arbustos  ou 
pequenas  arvores  com  as  folhas  caducas. 

Folhas  obovado-arredondadas,  levemente  cordifonnes  na  base, 
acuminadas  de  repente  no  cimo,  duplamente  dentadas.  Amen- 
tilhos masculinos  com  a  floração  muito  anterior  á  folfaeaçio. 
Cúpula  pouco  maior,  ou  menor,  do  que  o  fructo.  Arbusto  on 


CUPUUFERAS  71 

pequena  arvore  com  os  rebentos  erriçados  de  pellos  glandu- 
losos,  avermelhados.  Fl,  em  fevereiro  e  março.  Espontâneo 
sobretudo  na  região  norte  e  um  pouco  cultivado. — Avelleira. 
ۥ  A^vellaiia*  li. 


Qaercns,  Tourn. —  Carvalho. — Flores  masculinas  dispos- 
tas em  amentilhos  delgados,  cylíndricos,  interrompidos,  pen- 
dentes, longamente  pedunculados,  que  saem  dos  botões  la- 
teraes  da  extremidade  dos  raminhos  do  ultimo  anno,  fasci- 
colados  (fig.  10,  Â),  ou  nascem  solitários  na  base  dos  re- 
bentos annuaeSj  na  axilla  das  folhas,  ou  de  2  escamas  es- 
tipulares caducas;  flores  masculinas  sesseis,  solitárias  na 
axilla  de  cada  bractea,  com  1  perigoneo  de  4-5-6  divisões 
mais  ou  menos  reunidas  na  base;  4>lã  estames  salientes. 
Flores  femininas  sesseis,  de  ordinário  inseridas  em  pequeno 
numero  n'um  eixo  levantado,  definido,  que  nasce  solitário 
na  axilla  das  folhas  da  extremidade  do  rebento  annúal  (fig. 
10,  A),  menos  vezes  solitárias  ou  agglomeradas  na  axilla  das 
mesmas  folhas ;  cada  flor  sosinha  n'um  invólucro  de  bracteas 
estéreis  numerosas,  com  1  perigoneo  adherente  dentado; 
ovário  inferior  3-Iocular  com  os  loculos  bi-ovulados ;  1  esty- 
lete  e  3  estigmas.  Fructo  ovóide  ou  globoso,  apiculado  no 
cimo;  invólucro  cupuljforme,  escamoso^  com  as  margms 
qnasi  inteiras  (fig.  11),  lenhoso;  periííarpo  coriaceo,  del- 
gado, geralmente  1-locular  e  monospermo,  por  aborto.  Co- 
tyledones  carnudo-feculentas.  Maturação  annual  ou  biennal. 
—Arvores  ou  arbustos  com  as  folhas  simples,  caducas  ou 
persistentes* 


'•T??! 


72 


CUPDLIFERAS 


Fig.  11. — Folhas:  A:  do  Quercu*  Taiia,  Bosc. — B:áo  Q. pedmnailatú, 
Ehrh. — C;  do  0.  «»tiíi;Tora,  Salisb. — D:  do  Q.  Ituitantea.Lam.—  - 
E :  do  Q.  liuitanica,  Lam.,  v.  baetiea,  Wbb. — F:  do  Q.  hunãit,  Lani. 
— H;  do  Q.iiãer,L.~I,K:  do  Q.  Iltx,L.—L:  do  Q.  eoeeíéra,  L. 
(todas  l;2).—Fructos;J/:  do  Q. pedunculata,  Ehrh.— N:  io  Q.  Taiia, 
Bosc— O;  do  Q.  ussaiflora,  Salisb. — P:  do  0.  íwiitaniea,  Lam.— 
0;  do  Q.  huimlii,  Lara.— B:  do  Q.  tuber,  L.—S:  do  Q.  liex,  L.— 
T:  do  0.  coeeifera,  L.  (todos  2:3). 


CUFUUFERAS  73 

Folhas  caducas  (mais  cedo  ou  mais  tarde,  mas  deixando  a  ar- 
vore ou  o  arbasto  despido  um  certo  tempo) 2 

Arvores  oa  arbustos  sempre-verdes  (folhas  persistentes  1-3  an- 
nos,  mas  no  primeiro  caso  só  caidiças  depois  da  nova  folhea- 
çào).  Folhas  adultas  coriaceas,  inteiras,  dentadas,  ou  denta- 
do-espinhosas  (fig.  11,  J,  K,  H,  L) 6 

Folhas  adultas  membranosas,  mais  ou  menos  profundamente 
fendidas  ou  lobadas  (fig.  11,' A,  B,  C),  caducas  no  ou- 
tono        3 

Folhas  adultas  coríaceas,  serradas,  dentadas  ou  levemente  si- 
nuadas,  ás  vezes  espinhosas  (fíg.  11,  D,  E,  F):  marcescen- 
tes  no  outono  ou  no  inverno,  caidiças  no  inverno  ou  no  prin- 
cipio da  primavera.  Arvores  e  arbustos  muito  abundantes  em 
galhas 5 

Folhas  adultas  com  a  pagina  inferior  esbranquiçada,  cotanilhoso- 
avelludada,  e  na  pagina  superior  verde-escuras,  com  alguns 
pellos  estrellados,  pinnatipartidas  ou  pinnatifendidas,  peciola- 
das  (fig.  11,  A).  Fructos  quasi  sempre  agglomerados  sobre 
um  pedúnculo  axillar  recto,  levantado,  grosso,  curto  (fig. 
11,  N),  muito  menos  vezes  sub-sesseis.  Arvore  com  muitas 
raizes  superficiaes,  horisontalmente  estendidas  e  produzindo 
muitos  rebentões.  Rhjrtidoma  espesso,  quasi  negro,  larga- 
mente fendido.  Maturação  annual.  Fl.  em  abril^  maio.  Muito 
abundante  na  Beira  montanhosa  e  Traz-os-Montes . —  Carva- 
lho negral,  carvalho  pardo  da  Beira  {Q.  pubescens  Brot.) 
€|.  ToBsa*  Bose. 

Folhas  adultas  glabras  ou  levemente  pubescentes  na  pagina  in- 
ferior» Raizes  sem  se  alargarem  horisontalmente,  nem  pro- 
duzirem rebentões 4 


/  Fructos  inseridos  n'um pedúnculo  comprido,  delgado,  quasi  sem- 
I  pre  pendente  (fíg.  11,  M).  Folhas  sub-sesseis  ou  com  peciolo 
muito  curto,  obovado-oblongas,  com  a  maior  largura  aos  Vt 
do  comprimento  e  estreitando  pouco  a  pouco  até  á  base,  pin- 
natilobadas,  ou  fundamente  sinuadas  (fig.  11,  B) :  herbáceas, 
quasi  sempre  completamente  glabras  nas  duas  paginas,  verde- 


74  CUPUUFERÂS 

claras,  baças  ou  pouco  lustrosas  na  pagina  superior.  Arvore 
ás  vezes  de  grande  altura.  Maturação  annnal.  FL  em  abril, 
maio.  Abundante  na  região  de  entre  Douro  e  Minho  e  emd- 
gumas  partes  da  Beira. —  Carvalho  eommum,  carvalho  rMe 
ou  alvarinho  {Q.  Robur^  a  L.:  Q.  racemosa,  Lam,  e  Brot.) 

<!•  petfiincalauí*  Biirb. 

Fructos  sesseis,  solitários  ou  agglomerados  (fig.  11,0).  Folhas; 
pecioladas  (peciolo  egual  a  Vs  ou  Vs  ào  maior  diâmetro  do 
limbo)  obovado-oblongas,  tendo  no  meio  a  maior  largura,  si- 
nuado-lobadas  ou  pinnatifendidas  (fig.  11,  C),  glabras  e  lus- 
trosas na  pagina  superior,  e  mais  ou  menos  pubescentes  nai 
pagina  inferior,  pelo  menos  na  axilla  das  nervuras.  Arvore 
de  maturação  annual.  Fl,  em  maio.  Raro,  apenas  encontrado 
no  Alto  Traz-os-Montes  (Bragança). 
^  Q.  semilllflora»  SaliA* 

^  O  Q.  sessiliflora,  Salisb.  (v.  gíomeraJta,  Lam.)  foi  por  nós  encontrado 
em  Bragança,  no  anno  de  1877,  e  que  nos  conste  ó  d^essa  data  a  pn- 
meira  menção  authentica  da  existência  d'esta  arvore  em  Portugal ;  oob- 
servamos  no  nosso  herbarío  o  ramo  então  colhido.  'Por  maneira  nenhuma 
se  deve  aproximar,  no  nosso  entender,  o  Q.  sessUiflora,  Sdlisb.,  do  Q.  ro- 
bur,  Brot.,  apezar  de  lhe  coincidir  em  grande  parte  a  curta  diagnose 
da  Flora  Lusit.;  e  a  razão  em  que  nos  fundamentamos  é  que  nos  arre- 
dores de  Coimbra,  tão  explorados  na  actualidade,  e  nas  localidades 
das  províncias  do  norte  percorridas  por  Brotero,  nunca  se  encontroa 
o  Q.  sessUiflora,  Salisb.,  emquanto  o  Q.  robur,  Brot.,  existe  ali,  segmido 
as  indicações  da  Flora  Lusit,  conjunctamente  com  o  Q.  racemosa  (Q. 
pedtmculata,  Ehrh.).  Acreditamos  que  a  referencia  e  a  diagnose  da  Flora 
envolvem  uma  confusão  com  alguma  das  variadíssimas  formas  do  Q.  lu- 
sitanica,  Lam.,  muito  vulgar  nos  sítios  apontados,  e  que  é  uma  das  es- 
pécies mais  polymorphas  d'este  género  tão  polymorpho;  algumas  das 
formas,  que  conhecemos,  do  Q.  lusitanica,  Lam.,  permittem  na  yerdade 
estabelecer  esta  aproximação  e  tomam  bastante  plausível  a  interpreta- 
ção a  que  nos  inclinamos.  O  próprio  Brotero  nos  fornece  ainda  um 
outro  argumento  importante  a  favor  d'esta  opinião;  na  lista  dos  nomes 
vulgares  portuguezes  publicada  na  sua  Botânica  chama  ao  Q.  robur 
carvalho  roble  ou  carvalho  cerquinho;  ora  o  carvalho  cerquinho  da 
Beira  é  o  Q.  lusitanica,  portanto  ainda  aqui  aproximou  e  confundiu  as 
mesmas  duas  espécies. 

O  Q.  sessiliflora^  Salisb,,  pela  sua  raridade  no  paiz,  é  uma  curiosidade 
botânica,  sem  nenhuma  importância  florestal. 


GUPULlFfiRAS  75 

ÍArvorf ,  is  vezes  de  grandes  dimensões,  ou  arbusto  elevado.  Fo- 
lhas obovadas  t)u  ovado-lanceoladas,  em  muitos  casos  ondu- 
ladas nas  margens,  arredondadas  ou  sub-cordiformes  na  base 
(raras  vezes  attenuadas  em  cunha),  pecioladas  (fíg.  11,  D), 
regularmente  serradas,  espinhosas  ou  inermes,  ás  vezes  le- 
vemente sinuadas,  muito  polymorphas;  em  adultas  quasi  sem- 
pre glabras  na  pagina  superior,  e  na  inferior  cotanilhosas, 
acinzentadas,  menos  vezes  glabras  em  ambas  as  paginas.  Fni- 
ctos  sub-sesseis,  ou  com  pedúnculos  curtos.  Cúpulas  turbina- 
das ou  semi-esphericas  (fig.  11,  P).  Rebentos  escuros  ou 
cotanilhosos.  Maturação  annual.  FL  em  março,  abril.  Fre- 
quente  na  região  do  centro  e  do  norte,  sobretudo  em  alguns 
pontos  da  Estremadura,  e  na  Beira. —  Carvalho  portuguez 

mi  cerquinho ^Q.  IvslUmica»  liam. 

Folhas  sinuado-crenadas,  chanfrado-arredondadas  na  base 
ou  sub-cordiformes,  inermes  (fig.  11,  E),  cotanilhosas 
ou  sub-glabras  na  pagina  inferior.  Fructos  grandes,  in- 
cluidos  até  ^4  ^^  cúpula  semi-ospherica.  Arvore  de 
grandes  dimensões.  Abundante  na  Beira. —  Carvalho 
cerquinho  {Q.  hybridoyBrot.).  w.  baetlcat  ^^el»I>. 
Folhas  com  dentes  grandes,  agudos  e  irregulares,  em  adul- 
tas glabras  na  pagina  superior  e  estreUado-cotaniihosas  na 
pagina  inferior.  Fructos  pequenos;  cúpulas  turbinadas. 
Rebentos  cotanilhosos,  amarello-esverdinhados.  Algarve, 
Estremadura,  etc. .  v.  alpe«irl«»  Bss«  (como  esp.) 
Pequeno  arbusto,  quasi  sempre  inferior  a  1"*,  muitas  vezes  so- 
ciável. -Folhas  com  o  peciolo  muito  curto,  de  ordinário  cu- 
nheadas  na  base  e  serradas  só  no  cimo  (fig.  11,  F),  com  os 
dentes  espinescentes  ou  inermes,  glabras  na  pagina  superior 
e  na  inferior  glaucas  ou  esbranquiçadas,  cotanilhosas.  Fru- 
ctos sesseis,  solitários  ou  geminados,  muito  saidos  da  cúpula 
(fíg.  li,  Q).  Rebentos  amarellados,  avelludados.  Maturação 
annual.  Fl.  em  abril,  maio.  Charnecas,  matos,  pinhaes:  Es- 
tremadura e  Beira. —  Carvalhiça^  carvalho  anão  {Q.  fruti- 
cosa,  Brot,) Q.  Bmmlllfi»  liam. 

t  O  Q.  huitanica  é  uma  das  espécies  portngaezas  d'este  género  mais 
polymoiphas;  tem  porte  muito  vsffiavel,  fructos  e  folhas  de  formas  va- 
ríadissimas:  estas  ultimas  umas  vezes  sflo  arredondadas  na  base/ outras 


76  GDPUUFERAS 

Arvores  com  a  casca  saborosa,  industrialmente  ^roTeitadaoom 

o  nome  de  cortiça.  Folhas  oradas  ou  oblongas,  (ng.  11,  H) 

sub-inteiras  ou  dentadas,  inermes  ou  espinhosas,  glabras  na 

6  \     pagina  superior  (em  adultas)  e  cotanilhosas,  esbranquiçadas, 

na  pagina  inferior 7 

Arvores  e  arbustos  com  a  casca  nao  suberosa,  ou  muito  pouco 
suberosa,  e  que  se  não  pode  industrialmente  aproveitar. . .  8 

vezes  attenuadas  em  cunha;  sSo  planas  ott  onduladas;  inteiras,  diver- 
samente dentadas,  ou  sinuadas;  inermes  ou- espinhosas;  glabras  ou  com 
pubescencias  differentes;  e  tem  contornos  muito  vários.  Estas  formas 
do  0.  lusilanica  apresentam-se  ás  vezes  Uo  dèssemilhantes  que,  á  pri- 
meira vista  e  quando  faltem  as  formas  intermédias,  mais  parecem  es- 
pécies distinctas. 

Cora  algum  cuidado  é  sempre  possível  classificai -o  com  segurança. 
Sem  grande  exame  distingue-se  logo  do  Carvalho  negral,  do  RobU,  dos 
Sobreiros,  do  Carrasqueiro  e  da  Azinheira;  com  estes  nSo  pode  haver 
nunca  confusSo :  o  primeiro  individualisa-se  bem  pelo  avelludado  e  jfím- 
dos  recortes  das  folhas;  o  segundo  pela  grandeza  do  pedúnculo  e  pe- 
quenez do  pecíolo ;  os  terceiros  pelo  tegumento  suberoso  e  forma  das 
folhas;  o  quarto  pela  espinescencia  das  escamas  da  cúpula;  a  quinta 
pela  persistência  das  folhas,  habitualmente  mais  pequenas  e  mais  cota- 
nilhosas. As  especieç  com  que  o  Q.  lusitaniea  mais  se  pode  confundir 
sSo  o  Q.  humilis  e  o  Q,  sessiliflora. 

Com  a  Carvalhiça  a  distincçAo  toma-se  ás  vezes  difficilima,  a  nSo  ser 
pelo  porte.  Se  o  CarváUio  portugnez  tem,  na  forma  typica,  as  folhas  ar- 
redondadas na  base  e  a  Carvalhiça  cunheadas,  encontram-se  em  alguns 
exemplares  estes  caracteres  trocados;  as  folhas  da  Carvalhiça  também 
sáo  muito  polymorphas.  O  tamanho  relativo  do  peciolo  (as  folhas  da 
Carvalhiça  tem  o  peciolo  quasi  sempre  mais  curto  que  as  do  Carvalho 
portuguez)  pode  ajudar  a  distinguir  as  duas  espécies,  quando  se  trate 
de  ramos  coi*tados,  em  que  se  náo  possa  verificar  o  porte  do  individuou 
No  emtanto  as  semelhanças  entre  estas  duas  espécies  slo  tâo  grandes 
que  lembra  até  considerar  antes  a  Carvalhiça  como  uma  variedade  An- 
milis  do  Q.  huitanica. 

Com  o  Q.  sessUiflora  a  distúicçâo,  se  ó  fácil  em  muitas  das  formas  do 
Q.  lusitaniea,  n'outras  toma-se  difficil,  a  ponto  do  próprio  Brotero,  se- 
gundo a  nossa  opiniáo,  ter  considerado  na  sua  Flora,  como  Q.  rclbwr 
{sessUiflora)  alguma  das  formas  mais  semelhantes  do  Carvalho  porhh 
guez.  A  época  da  queda  das  folhas,  a  abundância  das  galhas,  o  tama- 
nho do  peciolo,  o  contorno  e  a  fundura  dos  recortes  das  folhas,  etc, 
podem  ajudar  esta  distincçáo.  . 


GUFUUFERAS  77 

Matura^  aimual,  folhas  persistentes  habitualmente  2  annos. 
Fraetos  (landes)  solitários  ou  geminados,  inseridos  n'um  pe- 
dúnculo eurto,  grosso,  cotanilhoso,  collocado  no  rebento  fo- 
lhoso do  mesmo  anno.  Lóbulos  do  perigoneo  masculino  ce- 
Iheados.  Escamas  da  cúpula  (fig.  11,  R)  terminadas  n*um 
appendice  comprido,  plano,  moUe,  obtuso,  sub-herbaceo,  frá- 
gil, levantado  ou  um  pouco  recurvado.  Rebentos  acinzenta- 
dos, cotanilhosos.  Fl.  em  abrily  maio.  Em  todo  o  pàiz  fre- 
quente, sobretudo  na  região  do  síU,  onde  só,  ou  em  compa- 
nhia da  azinheira  constitue  os  montados. —  Sobreiro  ou  so- 
hro Q.  anlier»  Ii« 

Maturação  biennal,  folhas  persistentes,  mas  só  duradoiras  1  anno. 
Fructos  (landes)  solitários  ou  geminados,  inseridos  n*um  pe- 
dúnculo curto,  grosso,  cotanilhoso,  collocado  nos  raminhos 
desfolhados  (rebentos  do  anno  anterior).  Lóbulos  do  perigo- 
neo masculino  glabros.  Escamas  da  cúpula  pequenas,  nume- 
rosas, molles,  encostadas,  as  superiores  levantadas  e  as  infe- 
riores levemente  recurvadas.  Rebentos  esbranquiçados,  cota- 
nilhosos. Fl.  {em  junho,  na  Hespanha,  seg.  Wk.)  Estrema- 
dura (Cintra\  região  sul  (S.  Thiagç  do  Cacem),  etc. — So- 
^     breiro  ou  sobro ^  Q»  occtdentall**  Ciay* 

1  Tem  sido  muito  discutida  pelos  nossos  silvicultores  a  existência  do 
Q.  ocddentalis,  Gay,  em  Portugal,  e  até  mesmo  tem  sido  posto  em  du- 
vida se  elle  ó  na  verdade  uma  espécie  distincta  do  Q.  suber,  L. 

Começaremos  pela  discussSo  da  ultima  parte.  O  tempo  exigido  para 
a  matoraçfio  de  um  fructo  e  o  tempo — em  condições  normaes — da 
persistência  das  folhas,  nSo  podem  nunca  ser  simples  factos  arbitrários 
e isolados;  tem  de  se  prender  ao  modo  de  vida,  á organisaçSo  especial 
da  arvore.  Nos  dois  st^eiros  a  organisaçAo  deve  ser  diversa  e  o  modo 
de  vida  necessariamente  differente,  uma  vez  que  dois  factos  t2o  impor- 
tantes, como  a  tectificaçfto  e  a  queda  das  folhas,  se  realisam  com  in- 
tervallos  tSo  deseguaes.  A  anatomia  das  duas  arvores  nSo  está  tfio  es- 
tudada que  possamos  apresentar  muitas  provas  a  esta  asserçfio,  no  em- 
tanto  refeiir-nos-hemos  á  constituiçSo  do  peeiolo,  segundo  os  traba- 
lhos do  sr.  C  de  Gandolle  {Anatomie  comparée  des  feuUUs  chex  qudques 
famttUs  dê  dicoíi^idones):  nos  dois  sobreiros,  como  em  todos  os  Quer- 
eus,  08  feixes  do  peeiolo  formam  um  arco  fechado,  constituindo  uma 
espécie  de  medulla  central,  mas  o  Q.  oeeiderUaHs  tem  n'este  tecido  cel- 
hilar  interno  também  feixes,  que  nSo  .existem  no  0.  fuòer.  Este  lacto 


78  CUPtrUFERAS 

Folhas  verdes  e  glabras  em  ambas  as  paginas,  ovadas  ou  oUon- 
gas,  calloso-marginadas,  ondaladas,  espinhoso-dentadas  (fig. 
11,  L),  persistentes  2-3  annos.  Fnictos  solitários,  raras  ve- 
zes geminados,  sub-sesseis.  Escamas  da  cúpula  com  duas  for- 
mas :  as  do  meio  e  da  base  abertas  para  os  lados,  recurvadas, 
espinescentes,  as  do  cimo  moUes,  levantadas,  inermes  (fig. 
11,  T).  Maturação  biennal.  Arbusto  ou  arvore  de  peqaena 
grandeza.  Fl,  em  abril^  maio,  Frequiute  na  região  svl^  mm 
raro  no  norte. — Carra^queiro  ou  carrasco. 

<!•  ooeelftora*  L. 

^\  Escamas  da  cúpula  todas  da  mesma  forma,  pouco  apita- 
das, com  um  appendice  molle,  inerme.  Fructos  moitas 
vezes  agglomerados  2-3  n*um  pedúnculo  curto,  grosso. 
Folhas  mais  alongadas  que  no  typo,  planas  ou  pouco  on- 


invocamol-o  simplesmente  para  apresentar  uma  differença  de  organi- 
saç2o,  que  de  certo  o  nSo  vamos  buscar  para  sobre  elle  assentar  a  dis- 
tincçâo  especifica.  Para  esse  fim,  muito  mais  palpável  e  de  fácil  obser- 
vação é  a  íórma  das  escaoias  da  cúpula  (que  sobretudo  julgamos  muito 
característa),  bem  como  a  posição  das  folhas  e  dos  fructos,  indicando 
o  tempo  da  persistência  das  primeiras  e  da  maturação  dos  segundos. 

Não  negamos  que  estes  últimos  caracteres  podem  induzir  ás  vezes 
em  erro,  porque  um  fructo  de  maturação  annual  pode  parecer  tel-a 
biennal  quando  a  arvore  a  que  pertence  desenvolve  no  mesmo  aono 
dois  rebentos,  como  é  caso  muito  vulgar  n'estas  essências,  ou  quando 
as  folhas,  habitualmente  persistentes  mais  de  1  anno,  caem  no  fim  do 
primeiro  anno  em  virtude  de  uma  grande  secca,  etc,  mas  tudo  isso  sSo 
casos  anormaes,  que  a  obse^açSo  seguida  algum  tempo  pode  facilmente 
descriminar,  e  que  mesmo  ao  realisarem-se  não  vem  acompanhados  dos 
outros  caracteres  diíferenciaes. 

Quanto  á  existência  do  Q,  oecidenUUú  em  Portugal  temol-a  como 
certa,  apezar  de  muito  auctorisadas  opini<^  em  contrario.  Afora  os 
exemplares  colhidos  por  Welwitsch»  que  estão  no  herbario  da  Escola 
Polytechnica,  possoimos  exemplaras,  apanhados  em  S.  Thiago  do  Ca- 
cem, em  fins  de  fevereiro,  com  os  fructos  moos,  muito  pequenos,  tri' 
dentemente  em  phase  de  maturação  bieanal.  Nos  peciolos  de  todos  es- 
tes exemplares  verificámos  a  preaeaça  dos  feixes  iiárameáidlares^  eem 
todos  as  escamas  da  cúpula  tem  a  forma  característica»  qie  descrere* 
mos.  Acreditamos  todavia  que  o  Q.  êuberéo  sobreiro  predominanlenc 
paiz,  em  grandíssima  proporção  relativamente  ao  Q,  ouiàeMtíM. 


r 


8 


9 


GUPUUFERAS  79 

duladasy  com  os  e^inhos  levantados  para  o  cimo.  Traz- 
os-Montes^  Estremadura^  Algarve. —  Carrasqueiro  ou 
carrasco. 

...  W«  piieudo«ciMciffera»  liriili.  (como  esp.) 
Folhas  esbranquiçadas,  cotanilhosas,  na  pagina  inferior.  Ârvo- 
\    res 9 

Casca  um  pouco  suberosa,  mas  não  utilisavel.  Maturação  bien- 
nal,  folhas  só  persistentes  1  anno  (mas  caidiças  depois  da  nova 
folheação).  Fructos  solitários  ou  2-3  inseridos  n*um  pedún- 
culo, axillar,  grosso  e  curto,  implantado  no  raminho  sem  fo- 
lhas (rebento  do  anno  anterior).  Folhas  ovadas,  oblongas  ou 
oblongo-lanceoladas,  aguçadas,  .dentado-serradas  ou  crena- 
das,  ás  vezes  espinhosas.  Cúpula  turbinada,  com  aâ  escamas 
tuberculosas,  pouco  apertadas,  longamente  acuminadas,  um 
pouco  abertas  para  os  lados.  Fl,  em  abril^  maio.  Algarve  e 
Alemtejo^  muito  pouco  frequente.  ^  Q.  Iilspan  toa»  liam. 


^  Muitos  auctores,  e  entre  elles  o  sr.  Willkomm,  consideram  o  Q. 
pteudo-coccifera  como  espécie  distincta.  Não  partilhamos  essa  opinião 
porque  temos  visto  formas  que  consideramos  intermédias,  parecendo - 
uos  muito  mais  rasoavel  consideral-o  antes  uma  variedade  da  espécie 
linneana. 

^Osr.B.  Barros  Gomes  {CondiçSes  Florestaes  de  Portugal)  considera 
o  que  tem  sido  chamado  pelos  auctores  Q.  hispânica,  Lam.  {Q.pseudo- 
subeTy  Reich.,  Q.  Fontanesii,  Guss.)  como  um  hybrído  entre  o  Sobreiro  ou 
a  Azinheira  e  o  Carvalho  portuguex.  Fundamenta-se  para  isso  na  rari- 
dade d'esta  arvore  em  toda  a  sua  área  dé  habitaçSo,  onde  n&o  consta 
que  por  si  só  forme  massiço  em  parte  alguma;  em  se  encontrarem  sem- 
pre os  poucos  indivíduos  que  teem  apparecido  em  Portugal  de  mistura 
com  os  Sobreiros  ou  Azinheiras  e  Carvalhos  portuguezes,  sendo  a  forma 
da  folhagem  mais  semelhante  a  uma  d'estas  três  espécies,  conforme  o 
predomínio  d^ellas  na  localidade;  finalmente  em  serem  bastante  variá- 
veis, mas  intermédios  ás  espécies  enumeradas,  os  caracteres  botânicos 
que  se  lhe  attribuem,  desde  a  forma  do  tegumento  do  tronco,  até  á  forma 
das  folhas,  das  escamas  da  cúpula»  etc.  Este  polymorphismo  ó  tamanho 
que  Brotero,  na  diagnose  da  Flora,  indiea-lhe  as  folhas  glabras  e  ver- 
des em  ambas  as  paginas  1 

  opiniSo  da  ar.  Barcoa  Gomes  parece-nos  perfeitamente  acceitavel, 
e  do  maior  peso  os  argomeatos  apresentados. 


80 


GUPULIFERAS 


Casca  não  suberosa :  rhTtidoma  pouco  fdndo.  Matura^  annoal. 
Folhas  persistentes  2-3  annos,  ettipticas,  ovadas  oa  orbicnia- 
res,  inteiras  ou  espinhosas  (fig.  11,  J,  K)  planas  on,  menos 
vezes,  levemente  onduladas.  Escamas  da  cúpula  muito  aper- 
9.'  tadas,  um  pouco  acuminadas  (fig.  11,  S).  Fructos  (Moto) 
solitários  ou  geminados  sobre  um  pedúnculo  axillar,  recto, 
curto,  grosso.  Folhas  muito  polymorphas,  diflTerentes  até  ás 
vezes  na  mesma  arvore,  e  íructos  também  muito  varíaTeis, 
adstringentes  ou  pouco  doces.  Fl,  em  abril^  maio.  Frequente 
sobretudo  na  região  sul  onde^  sô<mem  companhia  dos  sobrei- 
ros, constitue  os  montados. — Azinheira €|.  Uext  L* 

Bolotas  doces  e  grandes,  bastante  variáveis  na  forma,  ás 
vezes  muito  compridas.  Folhas  mais  ellipticas  que  no 
typo,  inteiras,  raras  vezes  espinhoso-dentadas,  mais  es- 
branquiçadas e  cotanilhosas  na  pagina  inferior.  Fre- 
quente na  região  sul, — Azinheira  da  bolota  doce. 

^^.  Ballota»  Desf.  (como  ^.) 

Folhas  arredondadas  (0.  rotundifolia,  Lam.  e  Br(4.) 
forma  rofandUIMia. 


1 


Castanea,  Toum. —  Castanheiro. — Amentilhos  masculinos 
compridos,  delgados,  interrompidos,  levantados  (fig.  10,  B), 
inseridos  na  axUla  das  folhas  inferiores  do  rebento  annual; 
escamas  do  amentilho  com  7  flores  inseridas  em  cada  axilla; 
perígoneo  campanulado  com  5-6  divisões;  10-12  estames 
muito  salientes.  Flores  femininas  reunidas  3  n'nm  inTcdncro 
commum  de  bracteas  adberentes  na  base,  e  dispostas  (1-3 
grupos)  na  base  dos  amentilhos  masculinos  superiores  (Og. 
10,  B);  perígoneo  tubuloso,  adherente  ao  ovário,  com  6^ 


^0  Q.  BaUota,  Desf.,  tem  sido  considerado  ora  como  espécie  distin- 
cta,  ora  como  variedade  do  Q.  Rex,  L.  NSo  podemos  admittir  a  primein 
opinião,  nSo  só  porque  os  caracteres  differeneiaes  sfo  de  pequenisama 
importância — taes  a  forma  e  pnbeseeneia  das  folhas  quando  se  trita  de 
espécies  tSo  polymorphas,  e  a  percentagem  relativa  de  glucose  e  de  tu- 
nino  nos  fructos — como  ainda  porque  existem  graus  de  transíçioiu 
íórma  das  folhas  e  também  na  doçura  e  adstringência  dos  fructos»  eomo 
já  dissemos  no  primeiro  volume  d'e8te  Ctirso. 


r 


PLATANÁCEAS  81 


dentes;  6-8  estames  estéreis;  óvario  inferior  com  6-8  locu- 
los  biOYulados;  estylete  curto;  6-8  estigmas.  Envolucro  fni- 
ctifero  com  o  aspecto  de  mn  pericarpo,  fechado,  quasi  le- 
nhoso, fortemente  espinhoso,  dehiscente  por  4  vavulas  (íig, 
10,  C),  contendo  1-3  fructos  com  o  pericarpo  delgado,  secco^ 
lustroso.  Cotyledones  muito  grandes,  feculentas. 

Arvore  de  grandes  dimensões,  quando  isolada  com  a  copa  muito 
larga.  Folhas  caducas,  pecioladas,  oblongo-lanceoladas,  com 
os  dentes  quasi  espinescentes,  rígidas,  glabras,  lustrosas, 
compridas  (proximamente  2  decimetros).  Maturação  annual. 
Fl.  em  maio,  junho.  Em  quasi  todo  o  paiz^  excepto  nos  ter- 
renos calcareos;  abundante  sobretudo  na  região  montanhosa 
do  interior.  Cultivado ,  isolado  e  em  pequenos  grupos  para  frth 
cto,  ou  em  massiços  de  talhadio  (soutos), — Castanheiro  (Fa- 
gus  Castanea,  L.  e  Brot.) €.  ^olgarls» 


Família  XI.— PLATANÁCEAS,  Lestib. 

Flores  monoicas,  nuas,  dispostas  tanto  as  masculinas  como 
as  femininas  em  amentilhos  globosos,  pedunculados,  pen- 
dentes (fig.  12,  B),  mas  as  de  cada  sexo  separadas  em  ra- 
minhos diflferentes.  Flores  pequenas,  muito  numerosas,  inr  ^ 
termeadas  com  bracteas :  as  masculinas  com  os  estames  li- 
vres, os  filetes  muito  curtos  e  as  antheras  biloculàres  co- 
bertas pelo  connectivo  muito  desenvolvido,  em  forma  de  es- 
cudo. Flores  femininas  com  o  ovário  1-locular,  1 -ovulado, 
1  estylete  filiforme,  comprido,  e  o  estigma  recurvado.  Falso 
fructo  globoso,  composto  de  numerosos  achenios  muito  pe- 
quenos, intermeados  com  pellos  amarellados,  rigidos  (fig. 
12,  D,  C).  Sementes  com  pouco  albumen. — Arvores  com 
as  folhas  simples,  caducas,  pecioladas,  alternas,  palmatilo- 
badas;  estipulas  soldadas  em  bainha  membranosa,  caducas. 
Botões  cónicos,  com  2  escamas,  escondidos  até  á  queda  das 
folhas  na  bai>e  dilatada  do  peciolo.  Casca  delgada,  cinzento- 
c.  s. — ^v.  a.  6 


.  I 


82  PLATANÁCEAS 

esverdínhada,  destacando-se  annaalmeDte  em  grandes  pla- 
'cas. 

Platanus,  L.  —Píaía?io.— Os  mesmos  caracteres  da  familii. 


Pig.  11— *1;  Ftillia  do  PManut  orienUdis,  L.  (1:5).  B:  Rarao  frucbtero 
do  P.  occidetUnlis,  L.  (1:5}.  C:  um  fructo  isolado  (1:1).  D:  Um  &i' 
cto  isolado  do  P.  orientalii,  L.  (1:1)- 


r^ 


\' 


ULMÁGEÂS  83 

Folhas  5-3-lobadâs,  com  os  lóbulos  lanceolados,  dentados,  sub- 
lobados  ou  inteiros,  separados  por  ângulos  pouco  abertos,  e 
cujos  recortes  attingem  ou  excedem  metade  do  limbo  (fig. 
12,  A):  com  muitos  pellos  ramosos  em  novas,  glabras  cedo 
em  adultas.  Peciolos  verdes.  Pellos  da  base  dos  achenios  com- 
pridos  (fig.  12,  D),  bem  visíveis  no  amentilho.  Casca  acin- 
zentada, annualmente  destacada  em  placas  irregulares  muito 
finas.  FL  em  março,  abril.  Originário  do  Oriente,  e  cultivado 
(menos  que  a  espécie  seguinte)  á  beira  das  ruas,  nos  jardins 
ele, — Plátano  do  Oriente 'P.  orlentalls»  Ij. 

Folhas  3-5-Iobadas,  com  os  lóbulos  largamente  triangulares, 
agudos,  dentados  ou  sub-lobados,  separados  por  ângulos  muito 
abertos,  e  cujos  recortes  não  chegam  a  metade  do  limbo  (fig. 
12,  B);  em  novas  cobertas  de  felpa  espessa  esbranquiçada, 
mais  tempo  persistente  que  na  espécie  anterior,  e  em  adultas 
glabras  ou  sub-glabras.  Peciolos  mais  compridos  (que  na  es- 
pécie anterior),  menos  entumecidos  na  base,  muitas  vezes 
avermelhados.  Achenios  mais  pequenos,  menores  que  os  pel- 
los da  base  (fig.  12,  C),  os  quaes  por  isso  são  pou^o  visiveis 
no  amentilho.  Amentilhos  fructiíeros  mais  pequenos.  Arvore 
de  maior  porte,  com  a  casca  acinzentada,  annualmente  des- 
tacada em  placas  irregulares,  que  deixam  manchas  amarella- 
das.  Fl.  em  março,  abril.  Originário  da  America  do  Norte^  e 
muito  cultivado  á  beira  dos  rios,  sítios  frescos ^etc. — Hatano 

•  do  Ocddente P.  occldentall»*  Ii« 


Família  XII— ULMÁCEAS,  Hirb. 

Flores  hermaphroditas  ou,  por  aborto,  polygamicas,  pre- 
coces (que  apparecem  antes  das  folhas),  aggiomeradas  ou 
fasciculadas.  Perigoneo  persistente,  campanulado,  sepaloide, 
4-5-8rfeQdido ;  estames  em  numero  egual  ao  das  divisões 

1  A  distincção  entre  estas  duas  espécies  toma-se  ás  vezes  bastante 
difficil,  porque  nem  todos  os  exemplares  apresentam  as  differenças  des- 
criptas  epm  a  nitidez  dos  que  desenhámos. 

6# 


84  tILMÃCEAS 

do  perigoneo  e  oppostos  a  ellas,  com  as  aottieras  eitror- 
sas.  OTario  livre  1-locular  e  i-ovulado  por  aborto;  estylete 
mnito  curto  oa  nullo;  2  esligmas.  Fnicto  orna  samara  l-lo- 
cnlar  e  mOQosperma.  Semente  sem  albiunen,  embrjão  re- 
cto. 

THmíifl,  L. — Ulmeiro. — Flores  hermaphroditas  desenvol- 
vidas dos  botões  lateraes  dos  raminhos.  Perigoneo  mem- 
branoso, corado,  qaasi  sempre  S-fendido  (Qg.  13,  B);  p^ 


Fig.  lZ.~Ulnmeampestrà,  Sm.— ^;  ramo  com  folhas  (2:3).  B:  Am 
(3:1).  C.-íhiclo(M). 


CELTÍDEAS  85 

dicellos  com  1-2  bracteolas,  articulados  sob  a  flor.  Samara 
plana»  orbícular  ou  obovada,  com  a  semente  lenticular  e  a 
aza  marginal  grande,  foliacea. — Arvores  com  as  folhas  al- 
ternas, pecioladas,  dissymetricas  na  base,  penninervadas, 
dnplicado-serradas,  caducas.  Estipulas  caducas. 

Samara  quasi  sessil,  não  celheada,  profundamente  incisa  até  á 
semente  (fig.  13,  C);  semente  não  central,  mais  próxima  do 
cimo  da  samara.  Folhas  ovadas  ou  ellipticas,  acuminadas, 
distícadas,  mais  ou  menos  ásperas  (fig.  13,  A).  Arvore  de 
grande  porte.  FL  em  fevereiro,  matço.  Esp.ecuU.  em  guasi 
todo  o  paiz. —  UlmeirOy  ulmo,  nigrilho ou  mosqueiro.  {V.  cam- 

pesfris,  L.  exp.) U.  eampestrl»»  Sm* 

Casca  dos  ramos  novos  suberoso-alada.  Ramos  abertos  para 
os  lados.  Folhas  menores,  ásperas.  Estames  quasi  sem- 
pre 4.  Estremadura,  Traz^os-Montes^  etc. 
T.  solieroMi»  Ko«li« 


;* 


Família  Xni.— CELTÍDEAS,  Endl. 

Flores  hermaphroditas  ou,  por  aborto,  polygamicas,  soli- 
tárias e  axillares,  simultâneas  com  as  folhas.  Perigoneo  ca- 
dnco,  profundamente  5-feníidido;  5  estames  oppostos  ás  di- 
visões do  perigoneo;  ovário  livre  1-locular  e  com  1  só  ovulo; 
2  estigmas  sesseis.  Fructo  drupaceo,  monospermo.  Semente 
com  albumen  carnudo,  embrySo  curvo. 

Ceitis,  Toum. — Lacinias  do  perigoneo  concavas.  Filetes 
curvos  no  cimo  endireitando-se  com  elasticidade  na  occasião 
da  floração;  estigmas  recurvados  ou  abertos  para  os  lados, 
glanduloso-felpudos.  Drupa  pouco  carnuda. — Arvores  com 
as  folhas  simples,  alternas,  pecioladas,  caducas,  ásperas, 
obliquas  na  base,  agudamente  dentadas.  Estipulas  caducas. 


86  CELTIDEAS 

Arvore  ou  arbusto  com  as  Tolhas  elliplicas  ou  ovado-lanceoladu 
(fig.  14)  longamente  aciuninadas,  dentadas  quasi  desdeaba- 
se,  verde-escuras  e  ásperas  na  pagina  superior,  moltemsnte 
pubescentes  e  verde-acÍDzentadas  na  pagina  inferior.  Flores 
esverdinhadas,  solitárias,  ás  vezes  ãpparentandoaioQoresrts- 
cia  em  cacho,  quando  é  pequeno  o  desenvolvimento  do  re- 
bento em  que  estão  inseridas  e  faltam  as  folhas  ou  são  rodi- 
mentares .  Drupa  globosa  (fig  .14),  quasi  secca,  com  pedunenla 
comprido,  um  pouco  adstringente,  comestível.  í?.  em  marçf, 
abril.  Etp.  nta  seíet  {Alemtejo,  Beira,  Traz-o$-Mmía,fte.) 
ê  battante  cult. — Lodão  òaitarão,  agreira. 
«. C.  aii«lr«llM(  In 


Fig.  li. — Ramo  fructifero  do  C«fti'i  auttralis,  h.  (1:1). 


HOREÁCÈAS  87 


Família  XIV.— MORBÁGEAS,  Endl. 

Flores  monoicas  ou  dioicas,  dispostas  era  espigas  amen- 
táceas  apertadas,  ou  em  capítulos,  cujo  receptáculo  carnudo 
toma  muitas  formas,  e  ás  vezes  se  escava  cerrando  quasi 
completamente  o  espaço  onde  as  flores  estão  inseridas.  Flo- 
res masculinas  com  o  perigoneo  3-4-partido;  3-4  estames. 
Flores  femininas  com  o  perigoneo  4-5-partido;  ovário  livre, 
2-locular,  ou  1-locular  por  aborto;  1-2  estigmas.  Fructos 
monospermos,  indehiscentes,  fechados  nos  perigoneos  suc- 
culentos  accrescentes,  comprimidos  e  aproximados  os  da 
mesma  espiga  a  constituírem  um  fructo  composto,  carnudo, 
tuberculoso  (sorose):  ou  envolvidos  pelo  receptáculo  do  ca- 
pitulo, que  se  torna  accrescente  e  carnudo :  ou  incluídos  na 
cavidade  do  receptáculo  pyriforme  também  accrescente  e 
carnudo  (sycone).  Sementes  com  albumen,  embryao  curvo. 
—-Arvores  ou  arbustos  com  as  folhas  alternas,  pecioladas, 
caducas,  estipuladas;  as  da  mesma  espécie,  e  ás  vezes  as 
do  mesmo  individuo,  diversamente  dentado — ou  inciso-lo- 
badas.  Estipulas  caducas.  Suecos  leitosos. 

Flores  é  fructos  incluídos  na  cavidade  quasi  fechada,  accres- 
cente e  carauda  do  receptáculo  (fig.  15,  B).  Monoica.  Flo- 
1  {     res  masculinas  com  o  perigoneo  3-dividido  e  3  estames  (fig. 

15,  B') Fico»,  (pag.  90) 

Flores  nao  incluídas  na  cavidade  do  receptáculo.  4  estames.  2 

Monoica.  Flores  de  ambos  os  sexos  dispostas  em  espigas;  es- 
pigas femininas-  transformadas  depois  em  fructos  compostos 
succulentos  comestiveis  (fig.  15,  D) . . .  Moroa*  (pag.  88) 

Dioica.  Flores  masculinas  dispostas  em  espigas  e  as  femininas  em 
capitules.  Fructos  incloidos  no  receptáculo  do  capitulo,  accres- 
cente e  carnudo  (fíg.  15,F,F0  Brousuoiietia*  (pag.  90)} 


Fig.  iS. — A.  Fnicto  composto  (sycooe)  do  Ficiu  Cariea.  L-S:  o  mw- 
mo  cortado  transversalmente  (1;1).  B':  flor  masculina.— C;  nin  fto- 
eto  coUocãdo  sobre  o  supporte  polposo  (mnito  augmentado).  D:  Fn- 
cto  composto  (sorose)  da  Mona  nigra,  L.  (1 : 1).  E:  Flor  da  Jfonu  o^ 
h.  (1:1)'  H:  Inflorescencia  masculina  da  Morvt  alba,  L.  (l:t).  F.' 
Inllorescencia  feminina  da  Brovísonetia  papyrifera,  VeoL  (1:1).  f'- 
um  fructo  envolvido  pelo  gynophoro  carnudo  (1:1). 

Horus,  Tonrn. — Amoreira. — Flores  monoicas,  as  de  am- 
bos os  sexos  dispostas  em  espigas  amentáceas,  cylindricas, 
apertadas,  lateraes,  as  masculinas  na  base  e  as  ferainÍDas  do 
meio  dos  rebentos  (fig.  15,  H).  Perigoneo  com  4  dÍTÍs5es; 
4  estamos  oppostos,  com  as  aotheras  introrsas,  bilocnlares 
(fig.  15,  E).  Ovário  1-locular  pelo  aborto  de  am  dos  locolos. 


MOREÁCEAS  89 

Perigoneos  accrescentes  e  carnudos  em  redor  dos  fructos, 
os  da  mesma  inflorescencia  aproximados  e  comprimidos  a 
constituírem  um  fructo  composto,  carnudo,  tuberculoso  (so- 
rose:  flg.  15,  D). 

Espigas  femininas  pedunculadas  (pedúnculo  proximamente  do 
tamanho  da  espiga).  Lacinias  do  perigoneo  glabras.  Fructos 
pequenos,  brancos  ou  rosados,  pouco  doces,  insipidos.  Fo- 
lhas ovado-agudas,  obliquamente  cordiformes  na  base,  den- 
tadas ou  muite  diversamente  lobadas,  glabras  ou  quasi  gla- 
bras, delgadas,  herbáceas,  verde-claras.  Pequena  arvore.  FL 
em  março,  abril.  Originaria  da  China  e  cuU. ,  sobretudo  no  nor- 
te. (TraZ'OS'Montes,  etc.) — Amoreira  branca  BI.  albat  li. 
Folhas  grandes,  tenras,  ás  vezes  convexas  na  pagina  su- 
perior, empoladas.  Fructos  escuros  com  o  pedúnculo  pu- 
bescente.  Troncos  numerosos;  menor  porte.  CuU,  com 
muito  menos  frequência. — Amoreira  muUicaule 

v.  malilcaiillM»  Perrot. 

Espigas  femininas  sesseis,  ou  quasi  sesseis.  Lacinias  do  perigo- 
neo celheadas.  Fructos  maiores  (fig.  15,  D),  vermelho-escu- 
ros,  quasi  negros,  com  sabor  acidulo-adocicado.  Folhas  ova- 
do-agudas, regularmente  cordiformes  na  base,  dentadas  ou 
lobadas,  verde-escuras,  ásperas.  Arvore  de  maior  porte  que 
a  espécie  anterior.  FL  em  março,  abril.  Originaria  da  Ásia. 
Cult.  em  quasi  todo  o  paiz. — Amoreira  negra  M*  nlgra*  Ii* 

As  amoreiras  sao  cultivadas  em  larga  escala  no  paiz, 
principalmente  pelas  folhas,  que  são  o  alimento  do  sirgo» 
cuja  creação,  ainda  ha  bem  pouco  tempo,  era  muito  flores- 
cente, sobretudo  em  Traz-os-Montes  e  na  Beira.  A  amo- 
reira negra  era  a  espécie  mais  cultivada,  apezar  de  ser  a 
amoreira  branca  reputada  melhor  nos  outros  paizes,  por 
se  «lhe  attribuir  a  formação  de  sed^  mais  fma.  Julgamos 
a  introducção  da  ultima  espécie,  ou  pelo  menos  o  maior 
desenvolvimento  da  sua  cultura,  de  mais  recente  data  em 
Portugal.  A  amoreira  negra  em  alguns  pontos  è  cultiyada 
pelos  fructos  (amoras  da  horta).  As  folhas  doestas  arvores 


90 


MOREÁCEAS 


s3o  muito  bom  alimento  para  o  gado,  e  a  madeira  é  muito 
estimada. 

As  amoreiras  pedem  solos  leves,  mas  que  uao  sejam  muito 
pobres. 

Broussonetia,  Vent. — Flores  dioicas;  as  masculinas  dis- 
postas em  espigas  com  o  perigoneo  4-partido  e  4  estames: 
as  femininas  reunidas  n'um  capitulo  apertado  intermeadas 
com  escamas  pelludas,  com  o  perigoneo  3-4-dentado  e  o 
ovário  1-locular.  Fructos  envolvidos  pelos  gynophoros  car- 
nudos (fig.  15,  F). 

Espigas  masculinas  cylindricas;  capitulos  femininos  densamente 
globosos  (fig.  15,  F) .  Pequena  arvore  com  os  ramos  novos  fel- 
pudos. Folhas  ovado-cordíformes  duplicado-serrado-dentadas, 
ou  irregularmente  palmatifendidas;  na  pagina  superior  ásperas, 
verde-escuras,  e  na  inferior  brancas,  cotanilhosas.  Estipulas  es- 
cariosas,  celheadas.  Fi.  em  (J)ril.  Originaria  do  Japão  e  adt. 
nos  jardins  e  á  beira  das  ruas  e  praças.  Amoreira  do  papei 
{Morus  papyrifera,  L.) B.  papyrifera*  Tent. 

  casca  d'esta  arvore  é  utilisada  no  Japão  e  em  algumas 
regiões  da  índia  para  o  fabrico  do  papel.  Os  indígenas  da 
Nova-HoUanda  empregam-a  no  vestuário. 


Ficus,  Toum. — Figueira, — Flores  monoicas,  muito  pe- 
quenas e  numerosas,  reunidas  sobre  o  receptáculo  car- 
nudo muito  desenvolvido  e  cujos  bordos  prolongados  fe- 
cham quasi  completamente  uma  cavidade,  onde,  interna- 
mente, as  flores  masculinas  occupam  a  parte  superior  e  as 
flores  femininas  a  parte  inferior  (fig,  15,  A,  B).  Flores 
masculinas  com  o  perigoneo  3-dividido  e  3  estames  (fig. 
15,  B').  Flores  femininas  com  o  perigoneo  5-dividido  eum 
ovário  1-locular.  Fructo  composto  (sycone)  formado  de  adie- 
nios  muito  pequenos  fechados  no  receptáculo  carnudo,  ac- 
crescente,  pjrriforme  ou  globoso. 


CHENOPODlACEAS  9i 

Peqaena  arvore  ou  arbusto  com  as  folhas  pecioladas,  grossas, 
ásperas,  cordiformes,  palmadas  com  3-7  lóbulos  obtusos,  ou 
inteiras  sínuado-dentadas.  Fructo  (sycone)  axillar,  solitário, 
grande,  verde  antes  da  maturação,  e  em  maduro  polposo,  ama- 
rellado  ou  violáceo.  Fl.  em  maio,  junho.  Cult.  e  sulhesponta- 

nea  em  todo  o  paiz. — Figueira F.  Cari  ca»  li. 

Fructo  globoso;  flores  masculinas  e  femininas.  Sub-espon- 
tanea,  principalmente  no  Algarve, — Baforeira^  fig^' 

ra  de  tocar,  6u  figueira  silvestre v.  sllvesirls. 

Fructo  pyriforme;  flores  todas  ou  quasi  todas  femininas. 
CuU.  em  todo  o  paiz,  principalmente  no  Algarve,  Tor^ 
res  Novas,  etc. — Figueira,  figueira  mansa  ou  cultivada 
\  . ,»  w.  satlva. 

D'esta  arvore,  como  em  geral  de  todas  as  que  são  cuU 
tivadas  pelo  fructo,  existem  muitas  variações,  principal- 
mente na  forma,  grandeza,  côr  e  sabor  dos  fructos,  cara- 
cteres estes  que  a  cultura  reproduz  por  enxertia. 

A  figueira  rebenta  muito  bem  de  touca  e  pega  perfeita- 
mente d'estaca.  A  sua  madeira  é  de  muito  má  qualidade; 
explora-se  apenas  pelos  fructos,  e  esta  exploração,  em  al- 
gumas partes  do  paiz,  é  bastante  importante. 


Família  XV.— CHENOPODIÁGEAS,  Lindl. 

Flores  pequenas,  hermaphroditas,  ou  por  aborto  unise- 
xuaes,  monoicas,  dioicas  ou  polygamicas,  solitárias,  agglo- 
meradas,  em  espigas,  ou  em  pequenas  cymeiras  dispostas 
em  espigas  ou  cachos  paniculados.  Flores  com  2  bracteas 
lateraes,  espinhosas  ou  inermes,  foliaceas  ou  coradas,  ou 
nullas.  Perigoneo  herbáceo,  regular,,  com  2-5  divisões  li- 
vres ou  mais  ou  menos  soldadas,  às  vezes  nuUo.  Estames 
em  numero  egual  ao  das  divisões  do  perigoneo,  oppostos, 
com  as  antheras  introrsas  longitudinalmente  dehiscentes. 
Ovário  livre,  Mocular,  1-ovulado;  2-3  estyletes.  Fructo  mo- 


92  CHENOPODIÁCEAS 

nospermo,  índehiscente,  fechado  no  perigoneo  persisteDle 
secco  ou  carnudo.  jSementes  com,  ou  sem  albumeD;  em- 
brySo  curvo,  em  annel,  ou  em  espiral.— Plantas  na  maior 
parte  herbáceas,  ás  vezes  lenhosas,  arbustivas  ou  sob-ar- 
bustivas,  com  aspectos  muito  variáveis.  Caules  cootinuos 
folhosos,  ou  articulados  e  apbyllos.  Folhas  simples,  alter- 
nas, excepcionalmente  opposlas  n'algamas  espécies,  umas 
vezes  herbáceas  e  planas,  outras  vezes  carnudas  e  cylÍD- 
dricas,  sempre  sem  estipulas. 

As  Ghenopodiaceas  lenhosas  indígenas  são  todas  próprias 


Fig.  16.  A :  Itamo  florifero  áí  Salicomia  frutíeosa,  L. — B :  Ramo  fl«i- 
fero  da  Suaeda  frutkoiu,  Forsk.— C:  Folbas  àí Alrij^ex portulaeoi- 
dei,L.—D:  Folhas  da  ^írípiea!  ffoJíniiM,  L.—E:  Ramo  florifero  di 
Snítola  vermiaàUa,  L.  (todos  1:1). 


CHENOPODIÃGEAS  93 

ás  areias  do  littoral,  oa  á  zona  mais  próxima;  pouco  se 
afastam  do  mar. 

» 

Canles  aphyllos  articulados  (fig.  16,  A) 

i  {      Salicornla»  (pag.  94) 

Caules  folhosos,  contínuos 2 

Folhas  planas,  com  o  limbo  dersenvolvido  (fig.  15,  G,  D).  Flo- 
res masculinas  e  femininas  dessemelhantes 
Í\      Atriplex,  (pag.  95) 

Folhas  lineares  ou  sub-cyUndricas  (fig.  15,  B).  Flores  todas 
semelhantes 3 

I  Perigoneo  fructífero  com  5  azas  membranosas,  grandes,  abertas 

3 1     em  forma  d*estrella  (fig.  15,  E) Salsola*  (pag.  93) 

(Perigoneo  fructifero  não  alado Saaeda*  (pag.  94) 

Salsola,  Gãrtn. —  Soda. — Flores  hermaphroditas,  bi-bra- 
cteadas,  todas  eguaes.  Perigoneo  5-partido ;  5  estames  livres, 
com  os  filetes  ás  vezes  dilatados  na  base  e  ahi  levemente 
reunidos;  estylete,  ás  vezes,  alongado;  2-3  estigmas  aber- 
tos para  os  lados.  Fructo  incluido  no  perigoneo  transversal- 
mente dilatado  em  5  azas  membranosas,  abertas  em  estrelia. 
Semente  horisontal,  sub-globosa;  albumen  nullo  ou  quasi 
nullo;  embryão  contorcido  em  espiral.— Plantas  herbáceas 
ou  lenhosas  (uma  só  das  espécies  indígenas  d'este  género 
é  lenhosa,  as  outras  são  herbáceas),  com  as  folhas  carnu- 
das, semi-cylíndricas,  e  os  caules  contínuos. 

Flores  axillares,  sesseis,  solitárias,  alternas,  dispostas  em|  espi- 
gas, ás  vezes  muito  apertadas,  paniculadas.  Perigoneo  fructí- 
fero com  as  azas  muito  grandes,  escariosas,  abertas  em  ro- 
seta para  os  lados  (fig.  16,  E).  Folhas  alternas,  pequenas, 
lineares,  semi-cyUndricas,  dilatadas  na  base,  obtusas;  folhas 
floraes  acuminadas.  Pequeno  arbusto  muito  folhoso.  Fl.  em 
agosto  e  setembro.  Praias  salgada,^  ao  sul  do  Tejo  (Seixal, 
Alfeite,  Alcochete,  etc.Je  Algarve  ^S«  irermlcalata»  li. 

1  Todos  os  exemplares  que  temos  á  vista,  tanto  das  praias  do  Tejo 
como  do  Algarve,  pertencem  á  var.  ftavescens,  Moqu. 


94  GBENOPODIÁGEÂS 

Suaeda,  Forsk» — Flores  hermaphroditas,  todas  eguaes; 
bracteas  muito  pequenas.  Perigoneo  5-partido,  accrescente 
e  carnoso;  5  estames  livres;  3  estigmas,  raras  vezes  4-5. 
Perigoneo  fructifero  fechado;  semente  negra,  lenticular,  ver- 
tical ou  borisontal  (horisontal  na  espécie  lenhosa  indígena); 
albumen  nullo  ou  quasi  nullo;  embryão  plano,  enrollado 
em  espiral. — (Este  género  tem  conhecidas  em  Portugal 
duas  espécies,  uma  lenhosa  outra  herbácea). 

Pequeno  arbusto  sempre-verde,  muito  ramoso,  com  o  tronco  e 
os  ramos  esbranquiçados.  Folhas  pequenas,  aproximadas, 
sub*cylindricas  (fig.  16,  B),  carnudas,  obtusas,  glaucas  (ne- 
gras pela  dissecação).  Flores  esyerdinhadas,  sesseis,  afilia- 
res, solitárias,  geminadas  ou  ternadas  na  axilla  das  folhas 
superiores,  dispostas  em  espigas  compridas  e  frouxas.  Peri- 
goneo fructifero  pouco  carnudo.  FL  em  setembro.  Areias  sal- 
gadas ao  sul  do  Tejo,  Algarve y  etc,—(Chenopodium  fruH- 
cosum,  BroL;  Salsola  fruticosa,  L.)—  Valverde  dos  sapaes. 
S«  flrnlteoMi.  ironli. 

Salicomia,  Moqu. — Flores  hermaphroditas,  muito  peque- 
nas, destituídas  de  bracteas,  todas  eguaes,  incluídas  em 
cavidades  do  caule,  junto  ás  suas  articulações,  dispostas  em 
espigas  cylindricas.  Perigoneo  monophyllo,  troncado  ou  den- 
ticulado no  cimo,  envolvendo  completamente  o  fructo  na 
maturação;  1-2  estames  livres;  2  estyletes  reunidos  na  base. 
Semente  vertical;  albumen  sub-nullo. — Plantas  herbáceas 
ou  lenhosas,  articuladas,  carnudas,  aphyllas.  (Estão  conhe- 
cidas em  Portugal  duas  espécies :  uma  herbácea  outra  le- 
nhosa). 

Pequeno  arbusto  sempre-verde,  glabro,  glauco,  com  os  ramos 
oppostos,  muito  numerosos,  paniculados,  dilatados  no  cimo, 
sub-bilobados,  membranoso-marginados,  mais  compridos  do 
que  largos.  3  flores  incluidas  em  cada  cavidade  do  caule.  Es- 
pigas cylindricas,  pimiculadas  (fig.  16,  A).  FL  em  agostOy 
setembro.  Areias  salgadas  ao  stddo  Tejo;  muito  commum  nas 
proximidades  das  salinas S.  firaticosa»  h» 


r 


GHENOPODIÁGEÂS  95 


Atríplez,  L. —  Salgadeira, — Flores  monoicas,  dioicas  ou 
polygamicas»  pequenas,  esverdinhadas,  agglomeradas,  dis- 
postas ás  vezes  em  espigas  paniculadas^  nuas  ou  folhosas. 
Flores  masculinasi,  e  as  hermapbroditas,  sem  bracteas,  com 
o  perigoneo  3-4-5-dividido;  flores  femininas  quasi  sempre 
sem  perigoneo,  e  com  duas  bracteas,  livres  ou  soldadas  en- 
tre si,  accrescentes,  e  que  envolvem  depois  o  fructo,  menos 
vezes  eguaes  ás  flores  masculinas,  3-4-5  estames;  2  esty- 
letes  filiformes,  reunidos  na  base.  Semente  quasi  sempre 
vertical,  com  albumen.  Plantas  herbáceas  ou  lenhosas,  com 
as  folhas  alternas  ou  oppostas,  desenvolvidas. 

(Este  género  tem  bastantes  espécies  indígenas,  sendo  as 
lenhosas  e  sub-lenhosas,  as  seguintes): 

Folhas  inferiores  oppostas  (íig.  16,  C)  e  as  superiores  alternas,, 
sub-espatuladas,  inteiras,  attenuadas  em  peciolo  curto.  Flo- 
res amarelladas :  espigas  compridas,  delgadas,  interrompidas, 
aphyllas,  dispostas  em  paniculas  terminaes.  Pequeno  sub-ar- 
1(  busto,  ramoso,  diffuso,  prostrado,  branco-prateado,  pulveru- 
lento. Fl.  em  setembro,  outvbro.  Próximo  ás  salinas  do  sul 
do  Tejo, — {Obioneporlulacoides,Hoqa.) 

A.  poriulaeoldeim  Ki. 

1  Folhas  todas  alternas 2 


/  Pequeno  sub-arbasto  com  os  ramos  prostrados.  Folhas  pequenas, 
fascicúladas,  sesseis,  ovadas,  obtusas,  branco-prateadas,  pul- 
verulentas. Flores  agglomeradas,  dispostas  em  espigas  folho- 
sas. Fl,  na  primavera  e  fim  do  estio.  Areias  salgadas  na  Es- 
tremadura, Beiray  etc A.  i^laaea»  Ii. 

1  Arbusto  levantado,  muito  ramoso,  com  as  folhas  deltoideas  ou 
ovado-rhomboedaes  attenuadas  em  peciolo  curto  (íig.  16,  D), 
eoriaceas,  persistentes,  branco-prateadas,  pulverulentas.  Flo- 
res amarelladas,  agglomeradas,  dispostas  em  espigas  aphyllas, 
compridas,  delgadas,  frouxas,  constituindo  pelo  seu  conjuncto 
uma  panicula  terminal.  Fl.  em  agosto,  setembro.  Areias  do 
littoral  e  zona  interna  mais  próxima:  Estremadura^  Algar- 
ve, Beira^  etc. —  Salgadeira A*  Hallmus»  li. 


JT" 


96  PHYTOLACCACEAS 


FamiUa  XVI.— PH7T0LAGCÁCEAS,  EndL 

Flores  hermapbroditas,  ou  dioicas,  dispostas  em  cadios 
ou  espigas.  Perigoneo  5-partido,  persistente;  5-30  esta- 
mes,  livres,  inseridos  n'um  disco  carnudo;  ovário  supe- 
rior com  5-12  carpellos  verticillados,  adberentes  ao  eixo 
central  (carpophoro) ;  estyletes  lateraes,  curtos,  dislinctos. 
Fructo  succulento,  bacciforme,  sub-globoso,  pluriloctilar, 
com  os  loculos  monospermos.  Sementes  com  albumen.— 
Plantas  exóticas,  com  as  folhas  alternas,  simples,  inteiras, 
sem  estipulas. 

Fhsrtolacca,  L. — Phytolacca. — Os  mesmos  caracteres  da 
família. 

Sub-arbusto  elevado  (1-2°*).  Caules  succulentos,  grossos,  ramo- 
sos. Folhas  ovado-lanceoladas,  inteiras.  Flores  hermaphrodi- 
tas  com'  10  estames  e  10  carpellos,  dispostas  em  cachos  pe- 
dunculados. Bagas  vermelho-escuras.  Fl.  em  mato,  julho. 
Originaria  da  America  do  Norte  e  sub-espontanea  na  Beira. 
—  Phytolacca^  herva  dos  cachos  da  Judia. 
Pb.  dleeandra*  L« 

Arvore  dioica.  Flores  masculinas  com  20-30  estames  e  as  femi- 
ninas com  10-12  carpellos,  dispostas  em  cachos  maiores  do 
que  as  folhas,  com  pedúnculos  curtos.  Folhas  ovado-ellipticas, 
acuminadas,  longamente  p^cioladas,  persistentes.  FL  emmaio, 
junho.  Originaria  da  America  do  Sul  e  um  pouco  cultivada 
nos  jardins, —  Tintureiray  bella-sombra,  Pb.  dlolcat  L. 

As  bagas  da  Phytolacca  sao  um  pouco  empregadas  em 
alguns  paizes  para  dar  côr  aos  vinhos ;  mas  é  fraude  muito 
prejudicial,  e  deve  ser  severamente  punida,  porque  estas 
bagas  são  venenosas. 


97 


Família  XVII.— LAUOINEAS,  Jubb. 


Flores  bermaphroditas  ou  uní-seiuaes  por  aborto,  brar 
cleadas.  Perigoneo  petaloide,  regular,  com  4-6  divisões. 
Estames  livres  iaseridos  n'um  disco  carnudo  adberente  ao 
perigoneo,  em  nmnero  egual  ao  das  divisões  perigonaes, 
ou  múltiplo;  antberas  introrsas,  ou  introrsas  e  extrorsas  na 
mesma  flor,  2-4-Ioculares,  dehisceiítes  por  válvulas  (fig. 
i7,  C).  Ovário  livre,  unilocuiar,  uniovulado;  estylete  sim- 
ples. Fructo  drupaceo  ou  baccifonne.  Semente  sem  aibu- 
men.— Arvores  ou  arbustos  sempre-verdes,  com  os  ramos 
e  as  folhas  alternas;  Tolhas  simples,  inteiras,  coriaceas,  sem 


Perigoneo  4-rendido.  Flores  dioicas  oq  liermaphroditas. 

Lanrus  (pag.  98) 


I^g.  17. — A:  Ramo  e  umbella  fruclifera  do  Launts  nobilit,  L.  (3:it).  í 
flor  feminina  (3:3).  C:  um  estame  (:):2). 


98  santalAceas 

Pcrigoneo  6-fendido.  Flores  hermaphroditas  ou  polygamo-mo- 
noicãs Porsea  (pag.  98) 

Laurus,  L. — Loireiro. — Flores  dioicas  ou  hermaphroditas, 
dispostas  em  cymeiras  mnbellíformes  axillares  (fig.  17,  A). 
Perigoneo  petaloide,  4-fendido,  caduco.  Flores  masculinas 
com  812  estames,  tendo,  pelo  menos  os  anteriores,  os  file- 
tes bi-glandulosos.  Flores  femininas  com  2-4  estames  es- 
téreis (fig.  17,  B).  Fnicto  uma  baga  monosperma. 

Flores  branco-esverdinliadas,  cheirosas,  dispostas  4-6  em  peque- 
nas umbellas  pedunculadas,  solitárias,  geminadas  ou  terna- 
das  na  axilla  das  folhas.  Baga  ellipsoide,  na  maturação  ne- 
gra e  lustrosa.  Pequena  arvore  ou  arbusto  com  as  folhas  eor- 
tamente  pecioladas,  aromáticas,  glabras,  lanceolado-oblongas, 
ás  vezes  onduladas.  Fl  em  março^  abril.  Espontâneo  na  £f- 
tremadura,  Algarve,  ele,  e  cultivad)  em  todo  o  paiz.^Ln' 
reiro  ordinário Ei«  neMlISt  Lt 

O  Loireiro  é  cultivado  nos  jardins  e  nas  hortas,  como 
planta  de  ornamento,  e  pelas  suas  folhas  aromáticas  cujos 
usos  culinários  são  bem  conhecidos. 

Persea,  N. — Flores  hermaphroditas  ou  polygamo-monoi- 
cas,  reunidas  em  cachos  ou  corymbos.  Perigpnéo  6-fendido. 
6-9  estames.  Drupa  grande  globoso-turbinada. 

Flores  esbranquiçadas,  sub-pobescentes,  reunidas  em  cachos. 
Follias  lanceoladas,  planas,  maiores  que  na  espécie  anterior. 
Drupa  também  maior.  Arvore.  Fi.  na  primavera.  Impor- 
tado da  ilha  da  Madeira  (seg,  Brotero),  e  cultivado  nos  jar- 
dins.— Loireiro  real  {Lcmrus  Indica,  L.  e  Brot.) 
P.  Indica*  Hprenf* 

.  FamUia  XVm.— SANTALÁOEAS,  R.  Br. 

Flores  hermaphroditas  ou  polygamo-dioicas  por  aborto. 
Perigoneo  geralmente  persistente,  com  3-5  divisões,  exter- 
namente esverdinhado,  internamente  quasi  sempre  corado. 


santalAceas  99 

# 

Estames  livres,  em  numero  egual  ao  das  divisões  do  peri^ 
goneo,  oppostos  a  ellas,  inseridos  n'um  disco  carnoso;  an- 
ttieras  bilocalares,  introrsas,  longitudinalmente  dehiscentes. 
l  estylete  curto.  Ovário  inferior,  adherente,  1-locular,  com  2-4 
óvulos.  Fructo  indehiscente,  secco  ou  carnudo,  monospermo, 
coroado  quasi  sempre  pelo  limbo  do  perigoneo  persistente. 
Semente  com  albumen.  Plantas  herbáceas  ou  lenhosas,  com 
chlorophylla  mas  semi-parasitas,  com  as  folhas  subsesseis, 
inteiras,  sem  estipulas. 

Osyris,  L. — Flores  dioicas  ou  dioico-polygamicas,  inse- 
ridas na  extremidade  de  rebentos  lateraes  muito  curtos,  as 
masculinas  em  cymeiras,  as  femininas  solitárias.  Perigoneo 
3-4-fendido.  3-4  estames.  3  estigmas.  Fructo  drupaceo  co- 
roado pelo  limbo  do  perigoneo  (flg.  18,  C).— Arbustos  sem- 
pre-verdes,  semi-parasitas  de  diversas  espécies  dicotyledo- 
neas  lenhosas  ou  herbáceas,  pelas  raizes  que  adherem  ás 
das  plantas  próximas,  envolvendo-as  primeiro  e  depois  hn- 
plantando-se  n'ellas  por  meio  de  órgãos  sugadores  espe- 
ciaes,  semi-esphericos. 

Drupa  escura.  Folhas  penninervadas,  rígidas,  lanceoladas,  agu- 
das (fíg.  18,  A).  Cymeiras  masculinas  menores  do  que  as  fo- 
lhas. Perigoneo  3-4-partído,  internamente  amarellado  Fl.  de 
fevereiro  a  abril.  Sebes^  matos,  etc,  nas  provindas  meridiO' 
naes:  do  Algarve  até  próximo  de  Lisboa. 
O.  lamseolata»  Hoolist* 


^, 


Fig.  18.  A:  Folha  do  Osyris  lanceolata,  Hochst. — B:  Folha  do  O.  alba,  L. 
—  C:  Fructo  do  O.  alba,  L.  (todos  1:1). 

7* 


1 00  LORANTHACEAS 

Drupa  vermelha.  Folhas  uninervadas,  coriaceas,  agudas,  linear 
lanceoladas  (fíg.  18,  B).  Gymeiras  masculinas  multiflores, 
formando  ás  vezes  cachos  muito  compridos  no  extremo  dos 
raminhos  aphyllos.  PeVigoneo  3-Iohado,  internamente  ama- 
rellado.  Fl,  em  abrilf  maio.  Terras  xeceas  e  estéreis,  sebes: 
TraZ'OS'MonteSy  Beira^  Estremadura,  etr. —  Casta  branca 
de  Virgílio 0«  allMi»  L. 


FamlUa  XIX.-- LORANTHACEAS,  Endl. 

.  Plantas  hermapbroditas  ou  uni-sexuaes  (mouoicas  ou  dioi- 
cas).  Flores  regulares  dispostas  em  cachos,  espigas,  umbel- 
las  ou  capítulos.  Perigoneo  com  3-4-5-6  divisões,  às  vezes 
petaloide,  ou  nullo.  Estames  em  numero  egual  ao  das  di- 
visões do  perigoneo,  oppostos,  com  as  antheras  introrsas, 
diversamente  dehiscentes;  às  vezes  reduzidos  aos  saccos 
poUinicos  formados  no  parenchyma  superior  das  divisões  pe- 
rigonaes.  Ovário  1-locular,  adherente  ao  perigoneo,  inferior; 
1  estylete;  estigma  globoso.  Fructo  carnudo,  mucilaginoso 
(baga  ou  drupa),  1-2-3-spermo.  Semente  sem  tegumento, 
com  ou  sem  albumen.  Vegetaes  parasitas,  sempre-verdes, 
com  as  folhas  simples,  inteiras,  oppostas,  ás  vezes  escarni- 
formes,  sem  estipulas. 

Viscum,  Toum. —  Visco. — Plantas  dioicas,  ou  monoicas. 
Flores  masculinas  com  o  perigoneo  4-fendido,  e  os  estames 
reduzidos  a  muitos  saccos  poUinicos  desenvolvidos  sobre  as 
divisões  perigonaes,  com  dehiscencia  poricida.  Flor  femiDina 
com  o  perigoneo  4-fendido,  e  2  carpellos  concrescentes,  em 
cujos  parenchymas  os  saccos  embryonarios  se  produzem  como 
outras  tantas  emergências.  Arbustos  ou  sub-arbustos  parasi- 
tas sobre  os  ramos  das  arvores,  mas  com  chlorophylla ;  com 
raizes  compridas,  que  se  desenvolvem  no  interior  da  planta 
hospitaleira,  segundo  a  direcção  dos  seus  feixes  fibrosoSi 
atravez  a  camada  interna  da  casca,  bem  como  atravez  as 
novas  camadas  lenhosas  em  via  de  formação. 


r^ 


DAPHNEÁCEAS  101 

Folhas  oblongas,  obtusas,  attenuadas  na  base,  coríaceas.  Baga 
vermelha.  Sub-arbusto  verde-amarellado,  glabro.  Fl.  em 
maio?  Parasita  sobre a$  oliveiras:  Portalegre  (segundo  o  sr. 
R.  Larcher  Marçal). —  Visco.  ^  T.  oraciatain»  Sleb* 

Família  XX.— DÂPHNEÁOEIAS,  Vent. 

Flores  hermaphroditas  ou  polygamo-dioicas»,  com  o  pe- 
rigoneo  regular,  ás  vezes  petaloide,  gamophyllo,  4-5-lobado 
ou  dentado.  8-10  estames  dispostos  em  dois  verticillos,  in- 
seridos no  tubo  e  na  garganta  do  perigoneo  (flg.  19,  B), 
com  os  filetes  muito  curtos  e  as  antheras  introrsas,  bilocu- 
lares,  longitudinalmente  dehiscentes.  Ovário  livre,  uni-locu- 
lar  e  uni-ovulado;  estylete  simples,  muito  curto  ou  nuUo; 
estigma  capitado.  Fructo  indehiscente,  secco  ou  carnudo, 
às  vezes  incluido  no  perigoneo  persistente.  Semente  com 
albumen  muito  pequeno,  ou  nullo. — Arbustos  ou  sub-arbus- 
tos,  menos  vezes  plantas  herbáceas,  com  as  folhas  inteiras, 
alternas,  sem  estipulas,  coriaceas.  Fibras  do  liber  muito 
tenazes.  Suecos  cáusticos. 

Fructo  carnudo  (baga — íig.  19,  C.  D);  perigoneo  caduco. 

DapUne  (pag.  101) 

Fructo  secco  (achenio),  envolvido  pelo  perigoneo  persistente, 

ou  só  caduco  muito  tarde VlBynielaea  (pag.  103) 

Daphne,  L. —  Trovisco, — Flores  hermaphroditas,  termi- 
naes  ou  lateraes,  dispostas  em  fascículos  ou  cachos.  Peri- 


1  Suppocnos  esta  planta  muito  rara  em  Portugal,  e  apenas  temos  co- 
nhecimento da  sua  existência  em  Portalegre.  O  sr.  Willkomm,  no  Pro- 
dromus,  indica  uma  outra  espécie  d'esta  familia  também  no  paiz,  de 
que  não  temos  mais  nenhuma  referencia. — É  o  ArcetUhobium  Oxycedri, 
M.  B.,  parasita  sobre  o  Juniperus  Oxycedrus,  fácil  de  reconhecer  pelas 
folhas  escamiformes  e  caules  aphyllos,  pelo  modo  por  que  a  baga 
se  abre  circularmente  na  base,  com  elasticidade,  arremessando  longe  a 
semente,  etc. 


102 


DAPHNEÁGEAS 


goneo  caduco,  afunilado,  corado  (branco,  amareílo-esver- 
dinhado  ou  rosado),  4-Iobado.  8  estames  dispostos  em  doi$ 
verticillos.  Estylete  quasi  nullo.  Baga  carnuda  ou  quasi  secca. 
Arbustos  com  os  botões  escamosos  e  as  flores  geralmeDte 
cheirosas. 

.  Flores  terminaes,  dispostas  em  cachos  panicalados  oa  corymbo- 
sos.  Perigoneo  (fig.  19,  A)  assetinado,  branco  ou  levemente 
amarellado.  Pedúnculos  brancos,  cotanilhosos;  ovários  pu- 
bescentes  (fíg.  19,  B).  Baga  carnosa,  vermelha  (fig.  19, 
C,  D).  Folhas  imbricadas,  linear-lanceoladas  (fíg.  i9,  E), 
acuminadas,  glabras,  persistentes  durante  um  anno.  Fi.  m 
agosto,  setembro.  Terras  incultaSy  matos,  charnecas,  etc : 
em  todo  o  paiz. —  Trovisco  ordinário,  trovisco  fêmea. 

O.  Cinidloni»  L. 

Flores  lateraes  dispostas  em  cachos  de  3-7,  pendentes.  Perigo- 
neo g1aJ:)ro,  amarello-esverdinhado.  Pedúnculos  e  pedicellos 
muito  curtos  glabros.  Ovários  glabros.  Baga  negra.  Folhas 
persistentes,  lanceoladas,  agudas,  coriaceas,  glabras.  Fl.  na 
primavera.  Cultivado  nos  jardins  e  ás  vezes  sub-espontamo 
próximo  a  elles  {seg,  Brotero). — Laureola  macha,  mezeréo 
menor D.  Eiaureola»  L. 


Fig.  19. — A:  Flor  do  Daphne  Gnidium,  L.  (1:1).  B:  a  mesma,  cortada 
para  mostrar  a  inserçáo  dos  estames  (2:1).  C:  fmcto  (1:1).  D:  o 
mesmo  cortado.  E:  uma  folha  (1:1).  F:  Ramo  florifero  da  Thí/m- 
laea  corídifolia,  Endl.  (1:1). 


DAPHNEACEAS 


103 


Thymélaea,  Tourn. — Flores  hermaphroditas,  dioicas  ou 
polygamicas,  axillares,  solitárias  ou  fasciculadas.  Perigoneo 
4-fendido,  afunilado  ou  gomiloso,  marcescente,  esverdl- 
nhado  (raras  vezes  branco  ou  corado).  8  estames  em  dois 
verticillos.  Estylete  curto.  Fructo  um  achenio  incluído  no 
perigoneo  persistente.  Pequenos  arbustos,  sub-arbustos  ou 
plantas  herbáceas*. 

Flores  sem  bracteas,  dioicas,  reunidas  2-3,  sesseis,  na  axilla 
das  folhas  superiores.  Perigoneo  caduco  cedo,  deixando  o 
fructo  a  descoberto,  felpudo  externamente,  amarello.  Estylete 
sub-terminal.  Pequeno  arbusto  muito  ramoso,  com  os  ramos 
novos  brancos,  lanosos.  Folhas  curvas,  imbricadas,  pequenas 
e  grossas,  lanceolado-ovadas,  obtusas,  coriaceas,  glabras  ou 
lanosas  na  pagina  superior.  Fl.  em  outubro,  maio  — {JPazse- 
rina  hirsuta,  L.) Tb.  iBtlniula»  Enill* 

Flores  bracteadas,  solitárias  oir  geminadas.  Perigoneo  persis- 
tente sempre.  Estylete  lateral 2 


/ 


Folhas  glabras,  coriaceas,  estreitas,  lineares  (fig.  19,  F).  Flo- 
res solitárias  ou  geminadas,  reunidas  no  cimo  dos  rebentos 
em  espiga  curta,  comosa.  Perigoneo  amarello,  externamente 
branco-pulverulento.  Muito  pequeno  arbusto,  ou  sub-arbusto, 
ramoso.  Fl,  em  setembro.  Serra  do  Gertz  (seg,  o  sr.  Dr,  J. 
Henriques). —  (Passertna  hirsuta,  Brot.,  non  L,) 
TU.  eoridirolta»  Endl. 

Folhas  com  pellos  brancos  muito  compridos,  elliptico-lanceola- 
das.  Flores  dioicas,  solitárias.  Perigoneo  amarello,  com  pel- 
los compridos  externamente.  Pequeno  arbusto,  ou  sub-ar- 
busto, com  os  ramos  flexuosos,  glabros,  ou  no  cimo  pube^- 
centes.  Fl.  em  março,  maio.  Algarve^  Alemtejo. —  Trovisco 
alvar  (Daphne  villosa,  L.) Tli.  Yâllona*  Endl. 

1  Afora  as  espécies  que  vSo  descriptas  só  existe  em  Portugal,  que  nos 
conste,  uma  outra  espécie — «7^.  lutitanica,  Wdw. — herbácea,  lenhosa  na 
base,  com  as  folhas  lenceolado-lineares,  e  as  flores  hermaphroditas,  bra* 
cteoladas,  envolvidas  na  base  por  pellos  fasciculados  (espécie  muito  pró- 
xima da  Th.  Passerina,  Lge.,  ou  simples  variedade  d'esta  ultima):  abun- 
dante próximo  a  Cascaes  (Caparide),  Monsanto,  etc. 


104  COMPOSTAS 


Snb-classe  II. — GamopeUlas 

Flores  com  dois  envolucros  floraes  (cálice  e  coroUa).  Co- 
roUa  gamopetala. 

FamUia  XXI.— COMPOSTAS,  L. 

Flores  hermaphroditas,  unisexuaes  ou  neutras,  por  abor- 
to, sesseis  sobre  um  eixo  commum  (receptáculo)  plano, 
concavo  ou  convexo,  liso  ou  alveolado,  nu,  ou  vestido  de 
.palhetas,  pellos  ou  sedas  (bracteas-mães) ;  capítulos  cerca- 
dos por  um  envolucro  de  foliolos  (bracteas  estéreis)  livres 
ou  soldados,  inermes  ou  espinhosos.  Cálice  gamosepalo, 
com  o  tubo  pequeno,  adherente  ao  ovário,  e  o  limbo  esca- 
rioso,  formado  de  pellos  ou  sedas,  ou  nuUo.  CoroUa  gamo- 
petala, tubulosa,  afunilada  ou  campanulada,  com  4-5  divi- 
sões regulares,  ou  irregular,  ligulada  ou  sub-bilabiada.  5 
estamos,  raras  vezes  4,  inseridos  no  tubo  da  corolla  e  al- 
ternos com  as  suas  divisões;  filetes  quasi  sempre  livres; 
antheras  sempre  adherentes  a  constituírem  um  tubo  que 
envolve  o  ovário,  introrsas,  biloculares,  longitudinalmente 
dehiscentes.  Ovário  inferior  1-locular,  1-ovulado;  l  estylete, 
dividido  em  dois  ramos,  curvos  para  fora.  Fructo  secco,  in- 
dehiscente,  monospermo  (achenio),  nú  ou  coroado  com  ap- 
pendices  de  varias  formas,  pelludos  ou  membranosos.  Se- 
mente sem  albumen;  embryão  recto.— Plantas  herbáceas, 
raras  vezes  arbustos  ou  sub-arbustos,  com  as,  folhas  quasi 
sempre  alternas,  simples,  polymorphas,  sem  estipulas. 

A  familia  das  Compostas  tem  um  grandíssimo  numero  de 
representantes  na  flora  portugueza  y  quasi  todas  as  suas  es- 
pécies são  herbáceas— annuaes  ou  perennes — e  por  isso  as 
não  referimos;  algumas  são  um  pouco  lenhosas  na  base, 
pequenos  sub-arbustos  sem  nenhuma  importância,  de  que 


COMPOSTAS  105 

também  d3o  vale  a  pena  fallar.  Apenas  indicámos  n'esta 
familia  o  seguinte  género: 

Artemísia,  L. — Flores  todas  com  a  corolla  tubulosa.  Re- 
ceptáculo plano  ou  convexo,  glabro  ou  pelludo.  Foliolos  do 
envolucro  imbricados.  Flores  da  circumferencia  do  capi- 
tulo femininas,  férteis,  3-dentadas,  com  o  estylete  muito 
saliente;  flores  centraes  hermaphroditas  ou  estéreis  por 
aborto,  tubulosas,  5-tíentadas.  Achenios  sesseis,  obovados, 
comprimidos,  nâo  sulcados,  sem  appendice.  Capitulos  pe- 
quenos, com  poucas  flores,  ovóides,  oblongos  ou  semi-es- 
phericos,  dispostos  em  paniculas.  cachos,  espigas  ou  agglo- 
merados.  Corollas  amarelladas.  Hervas,  arbustos  ou  sub- 
arbustos,  ás  vezes  aromáticos,  com  as  folhas  diversamente 
pinnuladas  ou  palmatipartidas.  (Existem  em  Portugal  espé- 
cies lenhosas  e  herbáceas,  apenas  nos  referimos  ás  primeiras). 

.  i  Plantas  avelludadas,  mais  ou  menos  acinzentadas 2 

j  Plantas  glabras,  verdes.  Receptáculo  nú 3 

Receptáculo  pelludo.  Capitulos  sub-globosos.  Folhas  pinnatipar- 
tidas  (as  do  cimo  1-,  as  do  meio  2-,  as  inferiores  3-pinnati- 
partidas),  com  os  segmentos  lineares,  obtusos.  Foliolos  do  en- 
volucro línçar-oblongos :  no  cimo,  e  os  inferiores  também  nas 
margens,  largamente  escariosos.  Arbusto  esbranquiçado,  com 
os  capitulos  pedicellados,  dispostos  em  pequenos  cachos  pani- 
culados.  Fl.  emjvlho,  agosto.  Littoral  e  sebes  do  Algarve. — 
Losna  menor,  ou  do  Algarve  {Absinthium  arborescens,  Brot,) 
A.  arlioreffceiífl»  li* 

Receptáculo  nú.  Capitulos  ovóides.  Folhas  floraes  inteiras,  lan- 
ceoladàs  ou  lineares,  e  as  caulinares  pinnatipartidas,  pontua- 
das, glauco*cotanilhosas.  Foliolos  do  envolucro  côncavos, 
os  exteriores  herbáceos,  os  interiores  largamente  escariosos. 
Sub-arbusto  esbranquiçado-azulado,  com  os  capitulos  peque- 
nos, 3-flores,  inseridos  em  pedicellos  curtos,  dispostos  em  ca- 
chos paniculados.  FL  em  setembro,  outubro.  Areias  salgadas 
ao  sul  do  Tgo,  Algarve^  etc. — {A.  palmatay  Lam.  e  Brot.) 
\      A.  coeruleseeiis»  Ia. 


106  LONICERÁCEÁS 

Capítulos  sob-globosos.  Folhas  bi-pinnatipartidas  com  os  se- 
bentos lineares,  setaceos.  Arbusto  com  os  capítulos  pedieel- 
lados  dispostos  em  panicula  estreita  e  folhosa.  Fl.  no  estio, 
TraZ'OS'Monte8  e  Beira  {seg.  Brot,) — Abrotano  macho, hena 

latnbriguemi A»  panlcalataf  Iiaai. 

Capítulos  ovóides.  Folhas  pinnatipartidas,  carnosas,  com  os  se- 
gmentos linear-lanceolados,  mucronados,  superiormente  ca- 
naliculados,  inferiormente  aquilhadot^.  Arbusto  ou  sub-arbosto 
com  os  capítulos  inseridos  em  pedicellos  curtos,  dispostos  em 
cachos  paniculados.  Fl.  em  setembro,  ovlubro.  Areias  mari- 
timos  da  Beira,  Estremadura,  etc, — Madomeira. 
\      A.  crlthmifolia*  L. 

Entre  as  plantas  herbáceas,  que  não  mencionámos,  a 
mais  importante  d'este  género  é  a  A.  Âbsiníhium,  L.,  Losna 
maior,  ou  Absintho  vulgar,  espontânea  no  norte,  empregada 
no  fabrico  de  licores  e  em  medicina.  Das  espécies  lenhosas 
a  mais  importante  é  a  Madomeira;  usam-a  para  revestir  e 
consolidar  as  areias  marinhas  nos  trabalhos  de  immobiiisa- 
ção  das  dunas. 


Família  XXII.— LONIOERÁOEAS,  Jnss. 

Flores  hermaphroditas,  raras  vezes  estéreis,  regulares 
ou  irregulares.  Cálice  com  o  tubo  adherente  ao  ovário  e  o 
limbo  5-dentado  (dentes  ás  vezes  caducos,  ou  obsoletosi. 
Corolla  gamopetala,  5-fendida,  regular  ou  bi-labiada.  5  es- 
tames,  inseridos  no  tubo  da  corolla  e  alternos  com  as  suas 
divisões;  filetes  filiformes;  antheras  biloculares,  longitudinal- 
mente dehiscentes.  Ovário  inferior  2-5-locuIar,  com  os  locu- 
los  1-multi-ovulados.  Estylete  terminal  comprido  e  filiforme, 
ou  sub-nullo,  ou  nullo.  Fructo  (nas  espécies  indígenas)  dru- 
paceo  ou  bacciforme,  com  2-5  loculos  mono-polyspermos, 
ou  por  aborto  l-locular  e  monospermo.  Sementes  com  al- 
bumen;  embrySo  recto. — Arbustos  ou  sub-arbustos  (raras 


r 


LONICERÁGEAS  1 07 

vezes  plantas  herbáceas  ou  arvores)  levantados  ou  sarmen- 
tosos,  com  as  folhas  oppostas,  simples  ou^  compostas,  com 
estipulas  pequenas  ou  nuUas.  Flores  reunidas  em  cymeiras 
diversamente  grupadas,  ou  verticillado-capitadas,  ou  ge- 
minadas. Botões,  muitas  vezes,  múltiplos  na  mesma  axilla, 
nus  ou  escamosos  na  base. 

Corolla  irregular  (fig.  20,  F,  K).  ínflorescencia  (nas  espécies 
indígenas)  verlicillado-capitada  (Bg.  20,  E,  I).  Fructo  polys- 
permo.  Estylete  flliforme  (fig.  20,  N,  0).  Folhas  inteiras. 

1(       liOnlcera  ({)ag.  109) 

Corolla  regular  (fig.  20,  A).  ínflorescencia  em  cymeiras  um- 
belliformes.  Fructo  3-monospermo.  Estylete  muito  curto,  ou 
nuUo 2 

Folhas  simples  (fig.  20,  D).  Fructo  monospermo. 

^1      «...'...  Vibarnum  (pag.  109) 

Folhas  imparipinnuladas  (fig.  20,  M).  Fructo  trispermo. 
Aamliuoa»  (pag.  107) 

Sambucus,  L. —  Sabugueiro. — Limbo  do  cálice  5-lobado. 
Corolla  regular,  rodada,  5-lobada.  5  eslaínes.  Estylete  nuUo; 
3  estigmas  sesseis.  Baga  3-5-locular,  3-5-sperma.  Arbus- 
tos, ou  plantas  herbáceas,  com  as  folhas  imparipinnuladas 
e  as  flores  dispostas  em  cymeiras  umbelliforuíes,  corym- 
biformes  ou  thyrsoides.  (Existem,  conhecidas  em  Portugal, 
duas  espécies,  uma  lenhosa,  outra  herbácea). 

Corolla  branca,  cheirosa.  Ântheras  amarellas.  Baga  negra.  Flo- 
res dispostas  em  cymeiras  umbelliformes,  planas.  Folhas  op- 
postas,  pinnuladas,  com  8-7  foliolos  elliptico-lanceolados, 
acuminados,  dentados  (fig.  20,  M).  Estipulas  linear-setaceas 
ou  sub-nollas.  Medulla  abundante,  branca.  Arbusto  ou,  em 
alguns  sítios,  pequena  arvore.  FL  em  março,  abril.  Em  todo 
paiz:,  nas  sebes,  marffens  dos  rios,  etc. —  Sabugueiro, 
U.  nl^ra»  li* 


108 


■1 


^..à 


Cl 


Fig.  20.—^:  Flor  do  Yibunmm  Tinta,  L.— B:  o  cálice.— C:  o  ftwto 
(todos  I:)).  Dl  uma  folha  (2:1).  E:  Ramo  flori  fero  da  í^ntwro  ft- 
i-Klymenum,L.il:i).  /":  uma  flor  (2:3).  H:  um  fructoíl:2]./:  lUmo 
florjfero  d»  Lonicera  etrvica,  Sanli.  (1:2).  S:  Flor  da  LonUera  im- 
plexa,  Ait.  (1:2).  JH:  Folha  do  Sambucut  nígra,  L.  (1:2).  N:  Estjlete 
daXoniceraímyexdiAil.— 0.-EslyletedaLoníc«ra«lnuca,Siuiti.(2:3). 


lonicerAceas  1 09 

Tiburnum,  L. — Folhado. — Limbo  do  cálice  5-lobado  (flg. 
20,  B).  CoroUa  regular  (flg.  20,  A)  rodada  ou  afunilado- 
campanulada.  5  estamos.  Ovário  3-locular,  com  os  loculos 
1-ovuIados.  Estylete  curto;  estigma  capitado,  3-lobado,  ou 
3  estigmas  livres.  Fructo  mais  ou  menos  carnudo,  1-locu- 
lar,  monospermo.  Arbustos,  ou  pequenas  arvores,  com  as 
folhas  simples  e  as  flores  em  cymeiras  umbelliformes. 

Folhas  caducas,  palmatilobadas,  estipuladas,  tendo  nos  peciolos 
2-6  glândulas  cupuliformes.  Drupas  vermelhas,  globosas,  sue- 
culentas.  Inflorescencia  plana  com  as  flores  centraes  herma- 
phroditas,  pequenas,  esverdinhadas,  e  as  flores  lateraes  maio- 
res, brancas,  estéreis,  comos51obulosdacorolladeseguaes: 
ou,  ás  vezes,  inflorescencias  globosas,  com  as  flores  todas  es- 
téreis e  as  coroUas  grandes,  rodadas.  Arbusto.  Fl.  em  feve- 
reiro e  março.  Cultivado  nos  jardins. — Rosa  de  Gueldres^  nO' 
vellos  ou  sabugueiro  de  agua V.  Opulan*  Ij« 

Folhai  perennes,  elliptico-ovadas  inteiras  (flg.  20,  D),  sem  es- 
tipulas; peciolos  sem  glândulas.  Drupas  quasi  seccas,  negro- 
azuladas  na  maturação,  coroadas  pelos  dentes  do  cálice  (Gg. 
20,  C).  Flores  brancas,  inodoras  (fig.  20,  A,  B).  Arbusto  ou 
pequena  arvore.  Fl.  na  primavera  e  no  inverno.  Espontâneo 
nas  provindas  do  norte  {Gerex,  Estrella,  Coimbra^  etc); 
cultivado  nos  jardins. —  Folhado V.  Vinoii»  li. 

Lonicera,  L. — Madresilva. —  Cálice  com  o  limbo  5-den- 
tado.  Corolla  com  o  tubo  alongado  e  o  limbo  bi-Iabiado  (ra- 
ras vezes  sub-regular  S-fendida) ;  lábio  superior  4-fendido 
e  o  inferior  inteiro  (fig.  20,  F).  5  estames.  Estylete  fiUfor- 
me,  comprido  (fig.  20,  N,  O);  estigma  3-lobado.  Baga  po- 
lysperma,  succulenta,*  coroada  pelo  limbo  do  cálice  (flg. 
20,  H),  vermelha  nas  espécies  indigenas.  Arbustos  sarmen- 
tosos,  volúveis,  ou  levantados  (sempre  volúveis  nas  espé- 
cies indigenas),  com  as  folhas  simples,  inteiras,  caducas  ou 
persistentes.  Flores  .grupadas  em  capítulos  terminaes,  ou 
geminadas  e  axillares  (sempre  em  capítulos  terminaes,  ou 
verticiUado-capitadas,  nas  espécies  indigenas). 


110 


LONIGERÁCEAS 


Folhas,  pelo  menos  as  superiores  dos  ramos  floriferos,  aduna- 

.  ]     das  na  base,  eoriaceas  (fig.  20, 1) 2 

Folhas  todas  livres,  não  admiadas  na  base,  molles,  caducas 
(fig.  20,  E).  Estames  muito  salientes.  Estylete  glabro. . .  3 


\ 


Estames  muito  pouco  salientes,  quasi  completamente  indnidos 
na  corolla  (fig.  20,  K).  Estylete  hispido  (fig.  20,  N).  Folhas 
persistentes,  glabras,  obovado-ellipticas,  as  superiores  com- 
pletameute  adunadas  na  base,  formando  um  envolucromono- 
phyllo  ás  flores,  as  restantes  muito  concrescentes,  ou  quasi 
nada,  e  entaaás  vezes  estreitas  em  baixo,  com  todas  as  for- 
mas intermédias.  Capitulo  sessil.  Corolla  cheirosa,  amarella- 
da,  levemente  avermelhada,  glabra  externamente.  Fl.  de 
abril  a  julho.  Beira,  Estremadura,  Alemtejo^  Algarve.— 

Madresilva li.  tmplexa»  AÍU 

Flores  dispostas  em  3  verticillos  terminaes  afastados.  S^rra 

da  Arrábida fdrma  ^^ertleillata» 

Corolla  externamente  pubescente.  Serra  da  Arrábida,  eic. 
^  Mrma  lalmota. 

Estames  muito  salientes  (fig.  20, 1).  Estylete  glabro  (fig.  20, 0). 
Folhas  caducas,  glabras  ou  pulverulentas,  obovadas;  as  dos 
ramos  estéreis  e  as  inferiores  dos  ramos  férteis,  livres:  as  su- 
periores dos  ramos  floriferos  e  as  floraes  adunadas  na  base. 
Capitulo  terminal  pedunculado,  tendo  ás  vezes  dois  capitules 
axillares  (fig.  20,  I).  Corolla  amarellada,  externamente  aver- 
melhada, cheirosa,  glabra.  Fi.  em  junho  e  julho.  Em  todo  o 
paiz. — Madresilva ^  li.  ef rasca*  Sanll- 


1  Os  exemplares  que  possuímos  da  L.  implexa,  Ait.,  foram -nos  dados 
pelo  sr.  Daveau,  e  são  todos  da  serra  da  Arrábida,  mas  no  herbario  da 
Escola  Polytechnica  existem  de  outras  muitas  localidades  das  provín- 
cias do  sul  e  do  centro.  Os  exemplares  da  serra  da  Arrábida  são  notá- 
veis pelo  seu  polymorphismo :  já  nas  folhas,  largas  ou  estreitas  na  base, 
adunadas  ou  livres,  já  na  forma  da  inflorescencia,  verticillado-capita^, 
ou  frouxa,  com  os  verticillos  bastante  separados,  já  no  tomento  da  co- 
rolla, muito  glabra  ou  muito  pubescente.  Notamos  acima  as  duas  for- 
mas mais  salientes. 

^  Conhecemos  a  L.  etrusca,  Santí.,  de  vários  pontos  do  paiz,  desde 


LONIGERÁÇEAS  111 

/  Folhas  glabras  na  pagina  superior,  ou  quasi  gl^dbras,  e  na  infe- 
rior pulverulentas  ou  levemente  pubescentes,  as  inferiores 
pecioladas  e  as  superiores  sesseis,  ovadas  ou  ovado-oblongas. 
Capitulo  terminal,  longamente  pedunculado  (fig.  20,  E).  Re- 
bentos pubescentes.  Ovário,  bracteas  e  cálice  glanduloso-pul- 
verulentos.  Coroila  pubescente,  amarella  ou  avermelhada, 
cheirosa.  Fl,  em  junho  e  julho.  Em  quasi  todoofaiz.-^Ma- 
dresilva  das  boticےs Ij.  Perlei  ymeniiiD*  li. 

Folhas  mollemente  pubescentes  em  ambas  as  faces,  todas  pecio- 
ladas. Pedúnculos,  cálices  e  ovários  densamente  glandulosos. 
Tubo  da  coroUa  maior  e  mais  delgado  que  na  espécie  ante- 
rior, externamente  muito  glanduloso-pubescente.  Fí.  em  maio 

I     e  julho.  Algarve. — MadresUva . 

l      ^  l4.  liliipaiilea*  Ba».  &  Beat» 


Traz-os-Montes  até  ás  províncias  do  centro ;  nunca  encontrámos  a  L. 
Caprífolium,  L.,  nem  existe  no  herbario  da  Escola  Polytechnica,  nem 
no  da  Universidade,  nem  nos  consta  que  ninguém  a  encontrasse  em 
Portugal.  O  sr.  Willkomm  diz  no  seu  Pródromus  que  também  a  náo  en- 
controa em  Hespanha,  suspeitando  que  a  espécie  como  tal  indicada  pelos 
auctores  da  Peninsula  é  a  L.  etrusca  (as  duas  espécies,  entre  outros  ca- 
racteres, distinguem-se  bem  por  este,  muito  saliente — os  capitules  da 
L  Caprifolium  sâo  sesseis  e  os  da  L.  etrusca  pedunculados).  Brotero, 
na  Flora,  indica  a  L,  Caprifolium  frequente  em  Coimbra  e  em  quasi  todo 
o  paiz;  mas,  segundo  informações  que  devo  ao  obsequio  do  sr.  Moller, 
a  L  etrusca  é  a  que  se  encontra  nos  arredores  de  Coimbra  é  não  a  L. 
Cpprifolium,  e  portanto  á  primeira  se  deve  antes  referir  a  indicação  da 
Flora. 

^  A  L.  Peridffmenum,  L.,  apresenta  formas  muito  desegnalmente  pu- 
bescentes; as  formas  mais  hirsutas  que  temos  visto  sâo  das  províncias 
do  centro  e  do  sul,  e  as  menos  pubescentes  do  norte.  A  L.  hispânica, 
Bss.  ,&.  Reut,  náo  é,  talvez,  senSo  uma  forma  austral  do  typo  linneano, 
earacterisadapelo  tomento  mais  espesso  e  macio. 


112  VAGCINlACEAS 


Família  XXIIL— VAOCINlAOEAS,  DO. 


Flores  hermaphroditas,  regulares.  Cálice  adherente  ao 
ovário,  com  o  limbo  4-5-denlado,  ou  sub-inteiro.  Corolla  cam- 
panulada,  gomilosa  ou  rodada,  4-5-fendida,  ou  4-5-lobada. 
Estames  livres,  em  numero  duplo  do  das  pétalas- (ou  egual), 
inseridos  n'um  disco  epígynico,  com  as  antheras  biloculares, 
dehiscentes  por  poros  terminaes,  appendiculadas  na  base.  1 
estylete  filiforme;  estigma  capitado.  Ovário  inferior  com  4-5 
loculos  multiovulados.  Baga  polysperma.  Sementes  com  al- 
bumen;  embryão  recto.— Arbustos,  ou  sub-arbustos,  com 
as  folhas  simples,  alternas,  coriaceas,  persistentes  ou  ca- 
ducas, sem  estipulas. 

* 

Vaccmium,  L. — Arando. — Corolla  gomilosa,  ou  campa- 
nulada,  4-5-fendida  ou  4-5-lobada.  8-10  estames.  Baga  glo- 
bosa.  Pequenos  arbustos  ou  sub-arbustos,  de  ordinário  so- 
ciáveis, com  as  raizes  muito  ramificadas,  horisontaes,  pro- 
duzindo muitos  rebentões,  e  providas  de  cabellame  muito 
abundante  *. 

Sub- arbusto  com  os  ramos  angulosos.  Folhas  caducas,  ovado- 
agudas,  dentadas.  Flores  axillares,  solitárias,  pendentes. 
Limbo  do  cálice  inteiro  ou  sub-inteiro.  Corolla  gomilosa,  sob- 

^  N'este  género  apepas  descrevemos  o  V.  Myriilltis,  L.,  única  espécie 
que  temos  bem  conhecida  em  Portugal.  O  sr.  Willkomm,  no  Prodromus, 
indica  o  V,  uliginosum,  L.,  como  existente  em  toda-a  Europa,  e  por  isso 
também  em  Portugal,  mas  não  temos  nenhuma  indicação  precisa  acerca 
do  seu  apparecimento  no  paiz,  nem  existe  no  herbario  da  Universida- 
de, nem  no  da  Escola  Polytechnica.  É  um  pequeno  arbusto  próprio  aos 
sítios  paludosos  das  regiões  alpinas  e  sub-alpinas;  distingue-se  do  F. 
l^yrtiUus  em  ter  as  folhas  inteiras,  os  ramos  cylindricos,  as  flores  re* 
unidas  em  corymbos,  etc 


r 


EHQÀCEAS  li3 

globosa,  egverdiDhado-rosada.  Baga  levantada  (flg.  21),  ne- 
gro-aznlada  (raras  vezes  branca),  doce,  saccharina,  coberta 
com  efQoresceacia  glauca.  Fl.  em  maio  e  junho.  Botgua  e 
motíanhai  das  grandes alliludes,  nonorte:  Gerez.— Arando. 
T.  ■tt«IIIii«.  b. 


Fig.  21. — Ramo  fractifero  do  Yatâtdum  Myrtiilia,  h.  (1:1). 


Família  XXIV. — ERIOÁCEAS,  ÍÁaál. 

Flores  bermaphrodilas,  regulares  oa  qnasi  regalares. 
Cálice  persistente,  com  4-5  sepalas  livres  ou  concrescentes^ 
Corolla  gamopetala,  com  4-5  divisões,  caduca  ou  marcescente. 
Estames  em  numero  egual  ao  das  pétalas,  ou  duplo.  livres, 
inseridos  com  a  corolla  sobre  mn  disco  hypogynico;  anthe- 
ras  bilocnlares,  debiscentes  por  poros,  ás  vezes  appeudicD- 
ladas.  Ovário  superior,  livre,  4-5-locular,  com  os  loculos 
1-maltiovDlados.  Estylete  íiliforme ;  estigma  capitado.  Fro- 
clo  secco  (capsula  locolicida  ou  septicida),  ou  carnudo  (baga 
ou  drupa).  Sementes  com  albumen;  embry3o  recto.  Arbus- 
tos, sob-arbnstos  ou  pequenas  arvores,  com  as  folbas  quasi 
sempre  perenoes,  simples,  alternas  ou  vertidUadas,  ás  ve- 
zes lineares,  sem  estipulas. 


114 


4ip 


Fig.  22.— A:  Gorolla  do  Arbutui  Utiedo,  L.  {!;!).  B:  fniclo  (1:1).  C: 
folha  (1:2).  D:  Flor  do  RhodotUadron  baitieunt,  Bss.  &  Itent  (1:2). 
E:  folba  (1:2).  F:  Folha  da  Daboeeia  poUfídia,  Don.  (1:1).  H:  Co- 
rolla  da  Ertea  cinerea,  L.  (1:1)-  /:  Ramo  florifero  da  Eriea  uirM- 
lala,  L.  (1:1).  K;  Folhas  da  Eriça  citiaru,  L.  (1:1).  JH:  Folhas  d» 
'  Eriea cinerea,h.  (IA).  N:  EsUme  daí^rica  reírfliií,  L.— O;  Eslan» 
da  Eriça  eiliarú,  L.  (um  pouco  aug  menta  dos).  Q:  Capsula  da^nt» 
umbeliata,  L.  (um  pouco  auguieoUda).  R:  Ramo  folhoso  da  Calbaa 
vulgarít,  Salish.  (1 : 1), 

ÍFructo  carnudo  (baga),  granulado-tuberculoso  (fig.  22 ,  B).  Fo- 
lhas com  o  limbo  desenvolvido  ■ ArUvlsa  (pag.  115) 
Fniclo  secco :  capsula  com  4-5  válvulas  (fig.  22,  Q) 2 

1  Ha  uma  Ericáaa  de  fructo  carnudo  com  a  superficie  lisa,  um  pe- 
queno sub-arbuBto — Arcíoilapkylot  Uta-urti,  Spr.  (Arbvtut  Íím-Km, 
L.) — que  o  ST.  Willkomm,  no  Pròdromtu,  indica  em  Portugal ;  d3o  o  det- 


ERICÁGEAS  115 

Corolla  afunilada,  com  o  limbo  5-lobado  (fig.  22,  D),  eadaca. 
Q  \     Capsula  com  5  válvulas.  Folblls  com  o  limbo  desenvoivido 

^     (fíg.  22,  E) Blaodeileiídroii  (pag.  116) 

CoroUa  com  4  divisões.  Capsula  com  4  válvulas 3 

Corolla  caduca.  Folbas  alternas  ovado-lanceoladas  (fig.  22,  F). 

^1     Dalioecla  (pag.  1 16) 

Corolla  persistente.  Folhas  oppostas  ou  verticilladas  (fig.  22, 
K,  M).: 4 

Corolla  mais  curta  do  que  o  cálice.  Capsula  septicida.  Folhas 

pequenas,  oppostas,  imbricadas  em  quatro  fileiras  (fíg.  22,  R). 

4{      Callana  (pag.  i20) 

Corolla  maior  do  que  o  cálice  (fíg.  22,  H.  I).  Capsula  loculicida. 
Folhas  3-4-verticilladas  (fig.  22,  K,  M).  Krlca  (pag.  117) 

Arbutus,  Tourn. — Medronheiro. — Flores  regulares,  dis- 
postas em  cachos  terminaes,  pendentes.  Cálice  5<partido, 
menor  do  que  a  corolla.  Corolla  gomilosa,  5-dentadá,  ca- 
duca. 10  estamos  inclusos  na  corolla,  com  as  antheras  de- 
hiscentes  por  dois  poros  terminaes,  biaristadas.  Baga  glo- 
bosa,  carnosa,  granulado-tuberculosâ,  5-locular,  com  os  lo- 
culos  polyspermos.  Folhas  com  o  limbo  desenvolvido,  al- 
ternas. 

Folhas  elliptico-lanceoladas,  dentadas,  com  peciolo  curto  (fíg. 
22,  C),  coriaceas,  glabras,  persistentes.  Flores  brancas  (fíg. 
22,  Â),  dispostas  em  cachos  compostos  terminaes.  Èstames 
com  os  filetes  lanosos.  Baga  vermelha  muito  tuberculosa  (fíg. 
22,  B).  Arbusto  ou  pequena  arvore.  Fl.  de  novembro  a  fe- 
vereiro. Florestas,  montes  incultos,  etc,  frequente ^  sobretudo^ 
nas  prooincias  io  norte. — Medronheiro  ou  ervodo. 
IL.  CJnedo»  Ito 


crevemos,  por  julgarmos  a  sua  existência  no  paiz  muito  problemática, 
por  isso  que  d'elle  não  encontramos  mais  nenhuma  menção,  nem  sa- 
bemos de  ninguém  que  o  visse,  nem  de  nenhum  herbario.onde  exista. 

8* 


il6  ERIGÁCEAS 

Bhododendron,  L. — Rhododendron. — Flores  grandes,  dis- 
postas em  corymbos  terminaes.  Cálice  5-partido.  Corolla 
caduca,  afunilada,  com  o  limbo  5-lobado,  mais  ou  menos 
irregular.  10  estames  salientes,  com  as  antheras  dehiscen- 
tes  por  poros  terminaes,  n3o  appendiculadas.  Estylete  com- 
prido, saliente;  estigma  capitado.  Capsula  septicida  &-loca- 
lar,  com  5  válvulas.  Folhas  com  o  limbo  desenvolvido,  al- 
ternas ou  sub-verticilladas,  persistentes. 

Folhas  oblongo-lanceôladas,  agndas,  inteiras,  com  pecioío  curto 
(fig.  22,  E),  glabras.  Pedúnculos  maiores  do  que  a  corolla, 
glandulosos  no  cimo.  Cálice  com  os  dentes  triangulares.  Co- 
rolla grande,  afnnilado-rodada,  intensamente  rosada,  com  os 
lóbulos  obtusos  (fig.  22,  D).  Filetes  celheados  até  mais  de 
meio  com  pellos  densos,  brancos.  Estylete  avermelhado.  Ca- 
psula glabra.  Arbusto  com  os  ramos  flexuosos,  glabros. 
Fl,  de  abril  a  junho.  Algarve^  Beira^etc. — Bhododendron, 
adelpheira  {no  Algarve),  B*  liaedcaiii»  lto««di:Beat« 


Daboecía,  Don. — Flores  axillares,  solitárias.  Cálice  4-par- 
tido.  Corolla  gomiloso^-oblonga.  4-dentada,  caduca.  8  esta- 
mes inclusos ;  antheras  dehiscentes  por  poros  terminaes,  sa- 
gittadas,  não  appendiculadas.  Estylete  incluso ;  estigma  ob« 
tnso.  Capsula  septicida,,4-locular,  com  4  válvulas. 

Folhas  alternas,  persistentes,  ovado-lanceoladas,  agudas,  com 
peciolo  curto  (fig.  22,  F),  inteiras;  verdes,  lustrosas,  com 
alguns  pellos  brancos  na  pagina  superior,  e  na  inferior  bran- 
cas cotanilhosas;  planas  ou  enroladas  nas  margens.  Flores 
axillares,  solitárias,  pendentes,  dispostas  em  cachos  pouco 
apertados,  terminaes.  Corolla  violácea  ou,  raras  vezes,  branca. 
Antheras  vermelho-escuras.  Ca(>su]a  levantada,  oblonga,  glan- 
duloso-hispida.  Sub-arbusto  ramoso,  com  os  ramos  pubescen- 
tes  e  as  raizes  compridas  e  horisontaes.  FL  de  maio  ajMo. 
Terras  seccas  e  áridas  do  paix  de  Entre  Douro  #  IfinAo.— 
{Eriça  Daboecia,  L.  e  Brot.) D«  poHteltat  IMS* 


r 


ERIGÁGEAS  117 

Eriça,  L. —  Urze. — Flores  terminaes  ou  axillares.  Cálice 
com  4  sepalas,  livres  ou  concrescentes  na  base,  verdes  ou 
coradas.  CofoUa  maior  do  que  o  cálice,  gomilosa,  4-dentada 
ou  4-lòbada,  marcescente.  8  estames,  com  as  antheras 
appendiculadas  ou  nSo.  Estylete  filiforme;  estigma  capitado. 
Capsula  loculicida,  4-locular,  com  4  válvulas  (flg.  22,  Q). 
—Arbustos  e  sub-arbustos  sempre-verdes,  com  as  folhas 
inteiras,  lineares,  acerosas,  ou,  menos  vezes,  ovado4anceo- 
ladas,  verticilladas  por  3-4,  e  de  ordinário  com  as  margens 
enroladas  para  a  face  inferior.  Plantas,  ás  vezes,  sociáveis. 

.  (Antheras  salientes  (fíg.  22, 1),  não  appendicaladas 2 

Antberas  inclasas  (Gg.  22,  H),  appendicaladas  ou  não 3 

Flores  geminadas,  axillares.  Pedúnculos  menores  do  que  as  co- 
roUas.  Cálice  avermelhado.  CoroUa  gomiloso-tubulosa,  côr 
de  carne  ou  vermelha;  estylete  longamente  saliente.  Sub-ar- 
busto  com  as  folhas  lineares  quatemadas.  FL  na  primavera. 
Estremadura  (entre  Coitares  e  Cintray  etc.) 
E*  mediterrânea*  !«• 

3-6  flores  em  umbellas  terminaes  (fig.  22, 1).  Pedúnculos  eguaes 
ou  maiores  do  que  as  coroUas.  Corollagomiloso-ovoide,  con- 
trahida  no  cimo,  côr  de  carne,  violácea,  ou  branca.  Estylete 
longament )  saliente.  Arbusto  com  as  folhas  lineares,  tornadas. 
Fl.  de  abril  a  julho.  Terrenos  incultos,  soltos,  arientos^  p»- 
nhaes^  charnecas,  etc, ,  em  todo  o  paiz.  E*  nmliellata*  li. 
Corolla  maior,  cylindro-gomilosa.  Estamos  estéreis.  Pi-^ 
nhaes  de  Leiria,  do  Estoril. . .  ^  Mrma  anandra* 

Folhas  glanduloso-celheadas  (íig.  22,  K),  bem  como  os  pedon- 

culos  e  os  cahces 4 

Folhas  não  celheadas,  lineares  (fíg.  22,  M) 5 


1  Parece-nos  mais  rasoavel  considerar  antes  esta  urze,  cujos  esta- 
mes  sSo  estéreis,  como  uma  forma  monstruosa,  do  que  como  uma  va* 
riedade  {v.  anandra,  Lge.) 


118 


ERICÁGEAS 


Antheras  não  appendiculadas  (fig.  22, 0).  Folhas  ovado-lanceo- 
ladas  (fig.  22,  K).  Estylete  bastante  saliente.  Flores  grandes, 
com  pedúnculos  curtos,  axillares,  solitárias,  horisonta^  on 
pendentes,  dispostas  em  cachos  no  extremo  dos  ramos.  Go- 
roUa  tubuloso-gomilosa,  violácea.  Sub-arbusto  com  as  folhas 
temadas  ou  quaternadas.  Fl,  m  primavera  e  outono.  Sitiot 
húmidos,  terras  soltas^  pinhaeSj  etc:  Beira^  Estremadura^ 
etc E.  clllaris»  L. 

Antheras  appendiculadas  (íig.  22,  N).  Folhas  lineares.  Estylete 
incluso  ou  muito  pouco  saliente.  Flores  com  pedúnculos  cur- 
tos, pendentes,  dispostas  5-12  em  umbella  terminal  ou  cacho 
umbelliforme.  Corolla  rosada  (raras  vezes  branca),  ovado- 
gomilosa.  Sub-arbusto  com  as  folhas  quaternadas.  Fí,  napri* 
mavera  e  outono.  Sitios  húmidas  nas  provindas  do  norte. 
E.  Tetralix»  I» 

Antheras  não  appendiculadas.  Flores  amarello-esverdinhadas, 
pequenas,  tão  largas  como  compridas,  campanulado-globo- 
sas,  pedtmculadas  (pedúnculo  egual  á  flor),  pendentes,  dis- 
postas 1-3  na  axilla  das  folhas  superiores,  constituindo  lon- 

5  {  gos  cachos  simples,  estreitos,  folhados.  Arbusto  muito  glabro 
com  as  follias  temadas  ou  quaternadas.  Fl.  em  maio  julho. 
Terrenos  arenosos  e  incultos,  pinhaes,  etc. :  Beira,  Estrema- 
dura,  etc. —  Urze  das  vassouras E.  «coparia*  L» 

Antheras  appendiculadas.  Corolla  violácea,  rosada  ou  branca.  6 

/  Flores  sub-sesseis.  Capsulas  assetinadas.  Folhas  quaternadas. 
Corolla  rosada,  ovado-tubulosa,  um  pouco  mais  larga  no  cimo. 
Appendices  dás  antheras  sub-pinnulado-incisos.  Bracteas  ob- 
tusas. Lacinias  do  cálice  mucronadas,  muito  celheadas,  aver- 
melhadas,  com  a  quilha  verde  e  as  margens  branco-merobra- 
nosas.  Arbusto  com  as  flores  grandes,  pendentes,  umbellado- 
fasciculadas,  reunidas  em  grandes  panicnlas.  FL  de(evereiro 
a  maio.  Sitios  seccos^  terras  soltas:  Algarve,  Beira^  etc. 
E.  aiiatrali»#  L* 

6  /  Corolla  um  pouco  contrahida  no  cimo.  Appendices  das  an- 
theras apenas  inciso-dentados  na  margem  externa.  Bra- 
cteas agudas.  Lacinias  do  cálice  muito  pouco  mucrona- 
das, glabras,  quasi  nada  celheadas,  avermelhadas  com 


EBICACEAS 


119 


6 


I 


I 


8 


a  quilha  esbranquiçada,  estreitamence  branco-membra- 
nosas  nas  margen&.  PL  em  maio  e  junho.  Na  região 
montanhosa:  Traz-os^Montes,  serra  da  Estrella^  etc. 

^  jr.  araffonensis»  1VK«  (como  esp.) 

Flores  com  o  pedúnculo  egual  ou  quasi  egual  ao  seu  tamanho. 
Capsulas  glabfas.  Folhas  temadas  ou  I^aternadas 7 

Sub-arbusto  com  os  ramos  pulverulentos  ou  levemente  pubes- 
centes.  Folhas  temadas,  tendo  na  axilla  um  ramo  muito  pouco 
desenvolvido  com  folhas  fasciculadas.  CoroUa  cylindro-gomi- 
losa  (fig.  22,  H),  violácea,  rosada  ou  branca.  Flores  dispos- 
tas lateralmente  1-3,  formando  o  conjuncto  uma  panícula  es- 
treita, densa.  Fl,  em  maio  e  junho.  Terrasseccas^  áridas^  in- 
cultas, principalmente  nas  províncias  do  norte. 
£•  cinerea»  li* 

Arbustos  com  os  ramos  esbranquiçados,  cheios  de  pellos  dispos- 
tos em  duas  camadas :  uns  menores  e  muito  bastos,  outros 
maiores,  afastados.  Corolla  côr  de  carne  ou  branca 8 

I  Ramos  com  pellos  todos  simples.  Corolla  oblongo-campanulada, 
mais  comprida  do  que  larga,  um  pouco  apertada  no  cimo. 
Flores  dispostas  1-3  na  extremidade  de  ramos  lateraes  muito 
curtos,  formando  o  conjuncto  uma  panicula  grande,  pyrami- 
dal.  Fl.  de  dezembro  a  janeiro.  Ka  Beira,  Estremadura,  etc. 
—  {E.  arbórea,  Brot.  exp.,  non  L.) 

B.  lasitanica*  Roei. 

Ramos  com  pellos  simples  (alguns  terminados  em  gancho)  e  ou- 
tros ramosos.  Corolla  campanulada,  tão  comprida  como  larga, 
muito  menor  que  na  espécie  anterior,  nãoapertadanagarganta. 
Flores  dispostas  2-4  no  cimo  de  pequenos  ramos  lateraes,  con- 
stituindo uma  panicula  pyramidal.  Fl.  emmarço-jvnKo.  Fre- 
quente sobretudo  na  região  do  centro  e  do  norte:  Beira,  Traz- 
oS'Montes,  etc. — {E.  arbórea,  Brot.  exp.)  £•  arUorea^Ij. 


/ 


1  O  sr.  Willkomm,  no  Prodromus,  diz  que  a  sua  E.  aragonensis  é 
provavelmente  uma  fónna  boreal  da  E.  australis;  separa  as  duas,  com- 
tudo,  por  não  ter  visto  formas  intermédias.  Possuímos  no  nosso  herba- 
rio  exemplares  de  Traz-os-Montes,  que  julgamos  exactamente  n'esse 
caso,  epor  isso  aqui  fazemos  a  juncçSo,  considerando  a  E.  aragonensis 
como  uma  variedade  da  espécie  linneana. 


120  PLUMBAGINEAS 

Calluna,  Salisb. —  Urze. — Flores  axillares,  constituindo 
cachos  terminaes.  Cálice  com  4  sepalas  petaloides.  Gorolla 
campanulada  profundamente  4-fendida,  muito  menor  do  qae 
o  caUce,  marcescente.  8  estames  com  as  antheras  não  appen- 
diculadas.  Estylete  filiforme.  Capsula  septicida,  com  4  loca- 
los  polyspermos  e  4  válvulas.  Pequenos  arbustos  sociáveis, 
sempre-verdes,  com  as  folhas  oppostas,  imbricadas. 

Cálice  escaríoso.  Flores  rosadas  ou  brancas,  horisontaes  oa  p^- 
dentes,  rodeadas  na  base  de  pequenas  bracteas  que  parecem 
ser  o  cálice,  como  o  cálice  parece  ser  a  corolla.  Cachos  sim- 
ples, terminaes,  compridos.  Capsula  felpuda.  Estylete  saliente ; 
antheras  inclusas.  Arbusto  tortuoso,  ramoso,  glabro,  com  as 
folhas  lanceolado-lineares,  obtusas,  prolongadas  na  base  em 
dois  appendices,  imbricadas  em  quatro  fileiras  (Gg.  22,  R). 
Fl.  em  setembro  e  outubro.  Muito  commutn  nas  charnecas^ 
pinhaes,  terras  áridas  e  incultas,  pobres  em  ealcareo. —  Orze 
ou  torga  ordinária  (Eriça  vulgariSj  L.  e  Brot.) 
€•  walffaris»  fialftab. 


Família  XXV.— PLXTMBAGINEAS,  £ndl. 

Flores  hermaphroditas,  regulares,  dispostas  em  espigas, 
em  cachos  ou  em  capítulos.  Cálice  escaríoso,  gamosepalo 
com  5  dentes  ou  5  lobulos,persistente.Corolla hypogynica  com 
5  pétalas,  Uvres,  ou  mais  ou  menos  concrescentes.  5  esta- 
mes oppostos  às  divisões  da  corolla,  com  as  antheras  introrsas, 
biloculares,  longitudinahnente  dehiscentes.  Ovário  livre,  uni- 
locular.  5  estyletes,  livres  ou  adherentes;  estigmas  filiformes 
ou  capitados.  Fructo  unilocular,  quasi  sempre  envolvido  pelo 
cálice,  secco,  indehiscente  (achenio),  ou  dehiscente  por  di- 
versos modos  (capsula).  Sementes  com  albumen;  embryão 
recto.— Plantas  herbáceas,  quasi  sempre  perennes,  ou  pe- 
quenos sub-arbustos,  raras  vezes  arbustos.  Folhas  simples, 


PLUMBAGINEÂS  121 

sem  estipulas,  alternas  ou»  nas  plantas  acaules,  dispostas 
em  roseta. 

Esta  família  botânica  não  tem,  no  nosso  paiz,  importân- 
cia florestal;  comprehende  os  seguintes  géneros  indigenas 
— Armeria,  Statice,  Limaniastrum  e  Plumbago.  O  primeiro 
género^  bem  fácil  de  reconhecer  pelos  longos  pedúnculos 
radicaes,  ou  quasi  radicaes  de  todas  as  suas  espécies,  pe- 
las inflorescencias  em  capítulos  terminaes  cercadas  de  en- 
Tolucros,  e  pela  bainha  membranosa  que  envolve  o  cimo 
dos  pedúnculos,  sob  os  capítulos,  é  constituído  por  plantas 
perennes,  com  rhízomas  mais  ou  menos  desenvolvidos,  al- 
gumas com  os  caules  um  pouco  lenhosos  na  base,  próprias 
às  mais  diversas  estações :  ás  areias  marinhas,  aos  pinbaes, 
ás  terras  altas,  etc.  O  segundo  género — Statice — tem  as 
flores  dispostas  em  pequenas  espigas  diversamente  grupa- 
das; é  também,  na  sua  maior  parte,  constituído  por  hervas 
perennes  (só  conhecemos  uma  espécie  indígena  annual), 
com  rhizomas  desenvolvidos,  algumas  vezes  com  os  caules 
um  pouco  lenhosos  na  base,  próprias  ás  visinhanças  do  mar. 
O  ultimo  género — Plumbago — tem  entre  nós  uma  planta 
herbácea.  Apenas  nos  referiremos  particularmente  ao  gé- 
nero lÀmoniastrumy  porque  é  um  arbusto  a  única  espécie 
indígena  que  o  constitue. 

lamoniastrum,  Hnch. — Espiguetas  biflores,  dispostas  em 
espigas  estreitas,  frouxas,  tribracteadas ;  bracteas  escamosas : 
a  inferior  (externa)  envolvendo  a  espigueta  e  o  euLO,  e  a  su- 
perior (interna)  envolvendo  as  flores  até  ao  limbo.  Cálice 
tabuloso,  n3o  anguloso,  como  limbo  pequeno,  5dentado.  Co- 
roUa  gamopetala,  asalveada,  com  o  limbo  grande,  5-partido. 
5  estyletes  concrescentes  até  ao  meio.  Fructo  indehiscente, 
membranoso. — Arbusto  com  as  folhas  carnosas  e  os  ramos 
floriferos  aphyllos;  eixo  das  espigas  muito  frágil  depois  de 
secco. 


122  VERBENÁÇEAS 

Flores  rosadas.  Ramos  floríferos  dispostos  em  panicula.  Arbusto 
levantado,  ramoso,  com  as  folhas  linear-lanceoladas,  obtusas, 
pulverulentas,  esbranquiçadas,  attènuadas  em  peciólo  ample- 
xicaule.  Fí,  de  julho  a  outubro.  Sebes  marítimas  no  Algarte. 
— {Slatice  monopetala,  L.  e  Brot.) 
li.  monopetalmii»  Ba». 


FamiUa  XXVI.— VERBENÁOEAS,  Juss. 

Flores  hermaphroditas,  irregulares  (nas  espécies  indíge- 
nas) dispostas  em  espigas,  cachos,  capitulos  ou  cymeiras. 
Galiee  tubuloso,  4-5-fendido,  persistente.  Corolla  hypogy- 
nica,  caduca,  com  5  divisões,  de  ordinário  bilabiada.  4  es- 
tames  inseridos  no  tubo  da  corolla,  didynamicos,  os  dois  su- 
periores raras  vezes  estéreis;  antheras  biloculares,  longitu- 
dinalmente dehiscentes.  Ovário  livre,  2-locular  com  os  locu- 
los  biovulados  (ás  vezes  cada  loculo  está  sub-dividido  por 
mn  falso  tabique,  apparentando  o  conjuncto  um  ovário  4-lo- 
cular).  Estylete  simples  terminal;  estigma  capitado  oubifen- 
dido.  Fructo  um  di-tetrachenio,  ou  drupaceo,  menos  vezes 
uma  capsula.  Sementes  sem  albumen;  embrylo  recto.  Plan- 
tas herbáceas  ou  lenhosas,  com  as  folhas  oppostas  ou  verti- 
cilladas,  simples  ou  digitadas,  sem  estipulas. 

Esta  familia  botânica  nao  tem  nenhuma  importância  flo- 
restal no  paiz;  é  representada  por  dois  géneros.  Verbena 
e  Vitex,  comprehendendo  o  primeiro  pequenas  plantas  her- 
báceas, e  o  segundo  um  arbusto  pouco  commum»  a  n3o  ser 
como  planta  de  ornamento;  pertence-lhe  ainda  uma  espé- 
cie exótica  do  género  Lippia  bastante  cultivada  nos  jardins. 
Nas  regiões  quentes  do  globo  e  na  zona  temperada  do  he- 
mispherio  austral,  abrange  um  grande  numero  de  espécies, 
entre  as  quaes  apenas  mencionaremos  a  Teca  (Tectom  gran- 
diSy  L.)  arvore  cuja  madeira  é  tão  estimada  e  tem  grande 
emprego  em  construcçSo  naval. 


VERBENÁCE^S  123 

Folhas  simples.  Frocto  secco.  Estames  inclusos. 

I^lppla  (pag.  123) 

Folhas  digitadas.  Fructo  drupaceo.  Estames  salientes. 
Tttex  (pag.  123) 

Lippia,  L. — Flores  pequenas,  inseridas  cada  uma  na  axilla 
de  uma  bractea,  capitadas  ou  dispostas  em  espigas.  Cálice 
pequeno,  sub-membranoso,  tubuloso,  bifendido,  com  duas 
azas  ou  quilhas  lateraes.  Gorolla  tubulosa  sub-afunilada,  com 
o  limbo  oblicpio,  plano,  sub-bilabiado ;  tendo  o  labío  supe- 
rior inteiro  ou  bifendido  e  o  inferior  trifendido.  Estames 
inclusos.  Fructo  um  diachenio. 

Arbusto  levantado.  Folhas  ásperas,  lanceolado-agudas,  inteiras, 
ternadas  ou  quatemadas,  caducas.  Flores  verticilladas,  dis- 
postas em  espigas  frouxas,  formando  o  conjuncto  paniculas 
pyramidaes  nuas.  Bracteas  pequenas,  esverdinhadas.  CoroUa 
saliente,  esbranquiçada.  Planta  que  em  verde,  ou  em  secca, 
exhâla  cheiro  suave,  lembrando  o  da  flor  da  laranjeira.  Fl. 
de  maio  a  setembro.  Oriunda  da  America  do  Sul,  e  muito 
cultivada  nos  jardins,  como  planta  de  ornamento. — Lúcia- 
Lima I4«  cltrlodorat  Ktli. 

Vitex,  L. — Cálice  com  5  dentes  curtos,  sub-bilabiado. 
CoroUa  bilabiada  com  o  lábio  superior  bifendido  e  o  infe- 
rior com  3  lóbulos,  sendo  o  lóbulo  médio  maior.  Estames 
salientes.  Fructo  drupaceo,  pouco  carnudo. 

Folhas  oppostas,  caducas,  com  peciolos  compridos,  digitadas  com 
S-7,  mais  raras  vezes  3  foliolos  lanceolado-agudos,  glabros 
na  pagina  superior  e  brancos,  cotanilhosos,  na  inferior.  Flo- 
res pequenas,  em  cymeiras  oppostas,  com  pedúnculos  curtos, 

*  aggregadas  em  cachos  mis,  compridos,  interrompidos,  termi- 
naes,  levantados.  Bracteas  pequenas,  herbáceas.  CoroUas  vio- 
láceas, azuladas  ou  brancas.  Arbusto,  ou  pequena  arvore 
(cultivada),  que  exhala  por  todos  os  órgãos,  e  principalmente 
pelos  fructos,  um  cheiro  que  faz  lembrar  o  da  pimenta.  Fl. 
de  junho  a  agosto.  Sitios  paludosos  em  Traz-os-Montes  {seg. 
Brot.);  cultivada  nos  jardins. — Agno-casto,  arvore  da  cas- 
tidade, oti  pimenteiro  silvestre. . .  IT.  Agnas-castHS»  là. 


124 


LÂBIADAS 


Família  XXVll.— -LABTADAfl,  Jii89- 

í 

Flores  hermaphroditas,  irregulares,  axiUares,  solitárias 
ou  em  cymeiras  contrahidas  que  formam  falsos  vertícillos 
reunidos  em  espigas,  ou  cachos,  ou  capitados  no  cimo  dos 
ramos.  Cálice  gamosepalo,  persistente,  livre,  regular  ou  bi- 
labiado,  com  5  divisões.  CoroUa  hypogynica,  caduca,  quasi 
sempre  bilabiada ;  lábio  superior  bilobado  (ás  vezes  inteiro 
pela  adherencia  dos  lóbulos),  e  o  inferior  trilobadp.  4  esta- 
mos, quasi  sempre  didynamicos,  raras  vezes  2  por  aborto, 
inseridos  na  coroUa.  Loculos  da  anthera  ás  vezes  separa- 
dos por  um  connectivo  muito  comprido.  Ovário  bicarpel- 
lado,  sub-dividido  por  tabiques  falsos,  quadrilocular,  qoa- 
driovulado,  quadrilobado.  Estylete  simples,  parecendo  par- 
tir da  base  dos  carpellos,  geralmente  bifendido.  Fructo 
um  tetrachenio,  ou  raras  vezes  constituído  por  4  pequenas 
drupas.  Semente  com  albumen  nullo,  ou  muito  reduzido; 
embrySo  quasi  sempre  recto. — Plantas  herbáceas,  annoaes 
ou  perennes,  menos  vezes  lenhosas,  arbustivas  ou  sub-ar- 
bustivas,  com  o  caule  ordinariamente  quadrangular^  e  as 
folhas  oppostas,  sem  estipulas,  inteiras  ou  diversamente  re- 
cortadas. Plantas  ricas  em  glândulas  cheias  de  óleos  essen- 
ciaes,  que  as  tornam  mais  ou  menos  aromáticas. 

Mais  de  metade  das  Labiadas  indígenas  são  herbáceas. 
As  espécies  lenhosas  são  communs  nos  matos,  charnecas, 
bosques,  etc,  mas  teem  muito  pouca  importância.  Apenas 
nos  referiremos  a  estas  ultimas. 


CoroHa  com  um  só  lábio  quinquelobado  (fig.  23,  A).        , 

TeiierloBi  (pag.  138) 

Corolla  bilabiada ' 


lABIADAS 


125 


F!g.  23. — A:  Flor  do  Teuerium  luitUmumm,  Lam.  (l:i).B:  EstanM  do 
Roimarinus  ofictnaliêtL,  (i:l).  C:  Flor  da  Lavandula  spica^  L.  (l:i). 
D :  Flor  do  Pldomis  Lyehnitis,  L.(i:i).E:  cálice  da  mesma  flor  (1:1). 
F:  Flor  do  Thymus  viUosus^L,  (2:1).  H:  cálice  da  mesma  flor  (2:1). 
i:  Inflorescencia  do  Thymus  eapitellatus,  Hoff".  &  Lk.  (1:1).  N:  fo- 
lha.— Jf :  bractea  (1:1).  K:  Inflorescencia  do  Thymus  Zygis,  L.  (um 
pouco  menor  que  o  natural).  O:  Cálice  do  Prasimn  majus,  L.  (1:1). 
P:  Cálice  da  Sideritis  angustifoUa,  Lam. —  Q:  coroUa. — R:  bractea. 


2  esUmes.  Filetes  com  um  pequeno  dente  na  base,  devido  ali* 
gaçao  do  filete  com  o  connectivo  e  ao  aborto  do  loculo  cor- 
respondente da  anthera  (fig.  23,  B). 
SosBâArimis  (pag.  136) 

4  estames 3 


i26  LABIADAS 

Estames  mais  compridos  (os  inferiores)  apparentes  na  garganta 
da  coroUa,  sobre  o  lábio  inferior  (fig.  23,  C). 

^1      liAvanilala  (pag.  126) 

Estames  parallelos,  collocados  no  lábio  superior  da  coroUa. .  4 

Estames  divergentes  (fig.  23,  F),  ou  convergentes  sob  o  labio 

superior  da  corolla 6 

Cálice  bilabiado  (fíg.  23,  O).  Fracto  dnipaceo,  carnoso-sucea- 

i\     lento Pimsluna  (pag.  138) 

Cálice  5-dentado  ou  5-fendido  (fig.  23,  E).  Fructo  secco. ..  5 

Labio  superior  da  corolla  em  forma  de  capacete  comprimido 

lateralmente  (fíg.. 23,  D).  Flores  grandes,  em  verticillos  mul- 

^  I     tiflores,  bracteoladas Pliloiiiis  (pag.  136) 

Labio  superior  da  corolla  sub-plano,  inteiro  ou  chanfrado  (fig. 
23,  Q).  Flores  mais  pequenas,  não  bracteoladas. 
Stderltls  (pag.  137) 

Estames  arqueados,  convergentes  (distantes  na  base  e  aproxi- 
mados no  cimo,  sob  o  labio  superior  da  corolla).  Cálice  ey- 
6{     lindrico,  5-dentado,  felpudo  na  garganta.  Flores  pequenas. 

Micronieria  (pag.  134) 

ESstames  rectos,  divergentes  (fig.  28,  F) 7 

Cálice  bilabiado  (fig.  23,  H),  com  o  labio  superior  3-dividido 
e  o  inferior  2-dividido.  Labio  inferior  da  corolla  com  os  3  ló- 
bulos deseguaes  (o  médio  maior  do  que  os  lateraes)  (fig. 

23,  F) THymus  (pag.  129) 

7{  Cálice  campanulado,  com  5  dentes  eguaes  (nao  bilabiado),  ou 
bilabiado  com  o  labio  superior  grande,  orbicular,  inteiro  ou 
quasi  inteiro,  e  o  inferior  muito  pequeno,  bidentado,  tran- 
cado ou  nullô.  Labio  inferior  da  corolla  com  3  lóbulos  eguaes. 
Orlffanani'  (pag.  128) 


.  Lavandula,  Tourn. — Alfazema. — Verticillos  com  poucas 
flores,  aproximados  em  espigas  terminaes,  simples  oa  ra- 
mosas na  base.  Folhas  fioraes  bracteformes.  Cálice,  tuba- 
loso*  com  5  dentes  curtos.  CcMrolla  bilabiada,  com  o  tubo 


UkBIADAS 


fô7 


saliente,  dilatado  na  garganta,  e  o  limbo  obliquo;  lábio  su- 
perior bilobado  e  o  inferior  trilobado  (lóbulos  todos  sub- 
eguaes).  4  estames  didynamicos,  os  inferiores  maiores,  ap- 
parentes  na  garganta  da  coroUa  sobre  o  lábio  inferior  (fig. 
23,  G).  Àchenios  glabros,  lisos.  Sub-arbustos  muito  aromá- 
ticos. 


Bracteas  do  cimo  estéreis,  compridas,  tomando  a  espiga  como- 

1       s&.  Corolla  branca  ou  violácea 2 

(  Espiga  não  comosa.  Corolla  azulada 4 

Bracteas  da  coma  verdes.  Corolla  branca.  Folhas  linéar-lanceo- 
das,  sesseis,  rugosas,  felpudas,  enroladas  nas  margens',  in- 
teiras, verdes  em  ambas  as  paginas.  FL  na  primavera.  Al-- 
garve, — tiosmaninho  verde Ij.  ^'Irldls*  Ait« 

Bracteas  da  coma  coradas  (violáceas,  raras  vezes  brancas).  Co- 
rolla violácea,  menos  vezes  branca 3 

Espigas  com  pedúnculos  curtos.  Coma  mais  pequena  do  que  a 
espiga.  Bracteas  férteis  rhomboide-cordiformes,  acuminadas, 
um  pouco  violáceas.  Cálice  menor  do  que  o  tubo  da  corolla. 
Folhas  lineares,  inteiras,  enroladas  nas  margens,  brancas, 
cotanilhosas,  fasciculadas  nos  nós.  Fl.  de  março  a  agosto. 
Frequente,  sobretudo  mu  provindas  do  sul  e  do  centro. — 
Rosmaninho li*  Sfoeclias»  !<• 

Espigas  com  pedúnculos  muito  compridos.  Coma  desenvolvida, 
sub-egual  á  espiga.  Bracteas  férteis  largamente  obovadas, 
mucronadas,  carnosas,  violáceas.  Cálice  do  tamanho  do  tubo 
da  corolla.  Folhas  linear-lanceoladas,  esverdinhadas,  pouco 
cotanilhosas.  Fl.  de  maio  a  julho.  Frequente,  sobretudo  nas 
provindas  do  centro  e  do  norte. — Rosmaninho.  {L.  Stoechas 
var.  p,  Brot.) Ii«  pedoncnlaia»  €7aw. 

Bracteas  com  1  só  flor.  Folhas  bipinnatifendidas,  verdes.  Es- 
pigas cylindricas,  apertadas.  Fl.  de  março  a  junho.  Estre- 
madura,  na  região  ao  sul  do  Tejo  {Serra  d* Arrábida,  Setur- 
bal.  Moita,  Palmella,  etc.) I^*  mulUflda*  Ij. 

Bracteas  com  3-5  flores.  Folhas  inteiras.  Espigas  frouxas,  in- 
terrompidas   5 


4 


1 28  LABIADAS 

Bracteas  membranosas,  largas,  rhomboidaes,  acumiDadas.  Ca 
lice  azulado,  crespo-cotanilhoso.  Folhas  sesseis,  lineares,  en- 
roladas nos  bordos,  brancas,  cotanilhosas,  em  novas  fascieih 
ladaà  nas  axillas;  em  adultas  menos  enroladas,  mais  esverdi- 
nhadas,  menos  cotanilhosas.  FL  de  junho  a  setembro.  Espon- 
tânea em  grande  parte  da  zona  mediterrânea:  cultivada  nas 
hortas  e  jardins. —  Alfazema.  (L.  apica,  L.  e  Brot.) 
Idm  wera*  DC 

Bracteas  estreitas,  lineares  ou  linear-lanceoladas.  Cálice  poaeo 
cotanilhoso,  só  azulado  no  cimo.  Folhas  linear-lanceoladas, 
mais  largas  que  na  espécie  anterior,  menos  enroladas  nos  bor- 
dos mesmo  em  novas,  e  em  adultas  planas,  quasi  glabras,  ver- 
des. FL  de  junho  a  outubro.  Espontânea  em  grande  parte  ia 
zona  mediterrânea:  cultivada  nas  hortas  e  jardins.— Alfa- 
zema. (L.  spica^  L.  p.  Brot.) Ii«  latlfolia»  ¥IIL 

A  alfazema  é  cultivada  como  planta  de  ornamento;  mas 
tem  também  algum  valor  industrial  pelos  seus  empregos 
em  perfumaria  e  pbarmacia. 

Origanmn,  Tourn. — Ourègão. — Verticillos  com  poucas  flo- 
res, reunidos  em  espigas,  ou  capitados.  Folhas  floraes  bra- 
cteformes.  Cálice  campanulado  com  10-13  estrias,  barbado 
na  garganta,  com  5  dentes  quasi  eguaes  ou,  menos  vezes, 
bilabiado.  Corolla  bilabiada,  com  o  lábio  superior  levan- 
tado, planro,  chanfrado,  e  o  inferior  com  3  lóbulos  egaaes. 
4  estames  didynamicos,  divergentes.  Sub-arbustos  aromáti- 
cos, com  as  folhas  inteiras. 

Cálice  bilabiado.  Bracteas  verdes.  Corolla  branca,  ou  vermelha. 
Folhas  oblongo-ovadas,  pecioladas,  cotanilhosas.  Fl.  de  nuno 
a  setembro.  Originário  da  Africa  mediterrânea  e  da  Azia  cen- 
tral; cultivado  nas  hortas  e  jardins. — Mangerona. 
0«  lUOoraBa*  !*• 

Cálice  não  bilabiado,  com  os  dentes  eguaes^.  Corolla  branca 
(pelo  menos  nos  exemplares  portuguezes),  2-3  vezes  maior 
do  que  o  cálice.  Folhas  pecioladas 2 

Devíamos  incluir  n'este  sitio  o  O.  eampactum,  Bentb.,  citado  no  iVo- 


l 


LABIADAS  129 

Bracteas  um  pouco  avermelhadas,  com  alguns  pellos,  maiores 
do  que  os  cálices.  Folhas  arredondadas  na  base.  Flores  nu- 
merosas dispostas  em  espigas  tetragonaes  compridas,  agglo- 
meradas  densamente,  corymboso-paniculadas.  Fl,  em  jvlko  e 
■'  agosto,  Promnrias  do  centro  e  do  sul, —  Ouregõo  menor  ou 
longal.  (O,  creticum,  L,  e  Brot,) 

2{      O.  ^'ol^afe»  Ia.  ▼•  prininattcviii*  Cla«d. 

Bracteas  verde-claras,  glabras,  muito  maiores  do  cpie  os  cálices. 
Folhas  elliptícas,  attenuadas  na  base.  Espigas  CTlindricas  ou 
prismáticas,  de  ordinário  curtas,  paniculadas.  Fl.  de  junho  a 
outubro.  Sebes,  rampos,  matos,  etc,  nas  provindas  do  centro 
e  do  norte. —  Ouregão  ordinário.  (0.  vulgare,  Brot.^  Flor. 
Lms.) 0«  ▼li*eiiii«  HoillK*  ^  IdÊ£.m 

Thymus,  L. —  Tomilho. — ^Verticillos  com  poucas  flores: 
afastados,  dispostos  em  espigas,  ou  densamente  reunidos, 
capitados.  Folhas  floraes  eguaes  ás  caulinares  ou  bracte- 
formes.  Cálice  ovóide,  bilabiado,  com  10-13  estrias,  bar- 
budo na  garganta,  com  o  lábio  superior  3-dentado  ou  3-fen- 
dido,  e  o  inferior  2-dividido  (fig.  23,  H).  Gorolla  bilabiada, 
com  o  lábio  superior  quasí  plano,  mais  ou  menos  chan- 
frado, e  o  inferior  trilobado^  com  o  lóbulo  médio  maior  do 
que  os  lateraes.  4  estames  didynamicos,  rectos,  divergentes 
(flg.  23,  F).  Sub-arbustos  muito  aromáticos,  com  as  folhas 
planas,  ou,  no  maior  numero  dos  casos,  enroladas  nas  mar- 
gens, muitas  vezes  pontoado-escavadas. 

Divisões  do  cálice  todas  longamente  celheadas,  tomando  as  in- 
florescencias  mollemente  plumosas.  Corolla  pequena,  branca. 
Folhas  planas 2 

Divisões  do  cálice  (todas  ou  só  algumas)  mais  ou  menos  celliea- 
das,  mas  sem  tomarem  nunca  as  inflorescencias  mollemente 
plumosas 3 

dromus,  do  sr.  Willkomm,  como  existente  em  Portugal ;  nSo  o  incluímos 
por  nSo  termos  d'e11e  mais  nenhuma  mençSo,  Aem  existir  em  nenhum 
dos  hcrbarios  portugnezes  que  conhecemos.  Distingue-se  das  outras  es- 
pécies que  teem  o  cálice  uâo  bilabiado,  em  ter  a  corolla  averr^elhada, 
4  vezes  maior  do  que  o  cálice,  as  folhai  sub-sesseis,  etc« 

c.  s. — V.  11.  .  9 


130  LÂBIADAS 

/  Lacinias  do  cálice  sub-picantes,  amarelladas.  Folhas  caulinares 
ovado-lanceoladas,  com  peciolo  curto;  folhas  íloraes  egnaes 
ás  caulinares,  ou  quasi  eguaes.  Yerticillos  floraes  densos,  os 
inferiores  afastados,  os  superiores  mais  ou  menos  capitados. 
FL  de  maio  a  julho.  Em  quasi  todo  o  paiz, 

.      TH.  Mastieliliia,  L. 

^^  Laciniasdo cálice molles, não setaceas.  Folhascaulinaresoblongo- 
lanceoladas,  attenuadas  em  peciolo  curto ;  folhas  floraes  maio- 
res e  mais  largas  sempre  do  que  as  caulinares.  Yerticillos 
floraes  reunidos,  compactos,  capitados  sob  a  forma  globosa. 

I      FL  de  maio  a  julho.  Litioral  do  Algarve. 

^      TH*  tomenUMias*  W. 

Vertimllos  floraes  mais  ou  menos  afastados,  dispostos  em  espi- 
ga, frouxa  ou  apertada  (fig.  23,  K).  Folhas  floraes  semelhan- 
tes ás  caulinares,  ou  pouco  diversas 4 

Flores  capitadas;  capitules^  terminaes  muito  densos,  globosos 
ou  oblongos  (íig.  23,  I).  Folhas  floraes  bracteformes,  maio- 
res e  mais  largas  do  que  as  caulinares  (fig.  23,  N,  M).. .  9 

I  Caules  não  radicantes.  Folhas,  pelo  menos  as  inferiores,  es- 
treitas e  com  os  bordos  enrolados.  Gorolla,  de  ordinário, 

4 1     branca 8 

Caules  radicantes.  Folhas  planas.  Corolla  quasi  sempre  verme- 
lha  7 

Folhas  não  celheadas  na  base,  todas,  ou  só  as  inferiores,  com 
os  bordos  enrolados;  as  caulinares  linear-lanceoladas,  as  flo- 
raes um  pouco  mais  largas,  ovado-lanceoladas.  Yerticillo<; 
floraes  afastados  ou  próximos,  constituindo  uma  espiga  fronia 
ou  apertada.  Fl.  de  abril  a  julho.  Traz-os-Montes  (Mur^), 
ele. —  Tomilho  ordinário.  {Th.  vulgaris,  Brot.?) 
^  Tli.  valaria*  L. 

Folhas  celheadas  na  base,  as  floraes  eguaes  ás  caulinares,  todas 
com  os  bordos  enrolados 6 

t  A  palavra  eapUíão  é  aqui  (bem  como  em  outros  géneros  d'esta  h- 
milia)  empregada  erradamente;  não  representa  a  inflorescencia  em  ca- 
pitulo, mas  simplesmente  um  agglomerado  de  flores  muito  densas. 

*  Brotero,  na  Flora,  cita  o  Th»  vulgaris,  L.,  nos  outeiros  ealcareos  da 
Beira  e  do  Algarve.  Que  nós  saibamos,  esta  espécie  não  tdm  sido  ahi 


LABIÂDÁS  131 

Yerticillos  floraes  afastados,  constitaindo  uma  longa  espiga  in- 
terrompida (fig.  23,  K).  F/.  dejidhoaagosto:  Troz-oa-Mon- 

tes  (Bragança) Tli.  Zyfpfs»  li. 

g  ]  Yerticillos  floraes  reunidos  em  espiga  muito  apertada,  quasi  ca- 

-pitados.  Folhas  mais  estreitas  que  na  espécie  anterior.  Fl.  de 

abril  a  julho,  Estremadura,  Beira,  ete,  (Th  Zygis,  BroU, 

Fl.  Lu$,,  non  L.:   Th.  Zygis  nlvestris,  Brot,^  Phyt.  Lus.) 

^  Til.  sâlwastris»  Hoflln*  A  ILU. 

encontrada  pelos  modernos  exploradores,  e  a  diagnose  do  nosso  illus- 
tre  botânico  é  muito  curta,  podendo  originar  duvidas  com  algumas  das 
espécies  próximas.  O  sr.  Rouy  considera  a  espécie  citada  por  Brotero, 
como  diversa  do  Th.  víãfiaris,  L. ;  toma-a  como  intermédia  entre  o  Th. 
vulgaris,  L.,  e  o  Th.  sahtdieola,  Coss.,  e  descreve-a  com  o  nome  de  Th. 
sub'laxus^  Rouy  /7>  Natnrdiste — 1882) ;  mas,  ainda  mesmo  admittindo 
a  nova  espécie  creada  pelo  sr.  Rouy,  seria  de  certo  muito  hypothetíca 
a  sua  aproximação  com  o  Th.  mUgarU  da  Fhr.  Lus.,  por  isso  que  o 
7%.  sub-laxus  foi  descripto  sob  exemplares  colhidos  em  Lisboa,  sem 
haver  comparação  com  exemplares  colhidos  nas  localidades  apontadas 
na  Flora.  Os  exemplares  de  Lisboa  foram  colhidos  por  Welwitsch,  nas 
hortas  e  jardins ;  nSo  encontrámos  nunca,  nem  nos  consta  que  ninguém 
mais  tenha  encontrado,  em  Lisboa,  Thymm  nenhum  que  se  lhe  possa 
aproximar.  A  espécie  descripta  pelo  sr.  Rouy  parece-nos  muito  pouco 
segura,  tâo  especial  é  o  habitat  dos  exemplares  sobre  que  se  baseia,  tão 
"^  fora  das  condi ç(5es  ordinárias,  e  tSo  restrictas  as  differenças  que  a  se- 
param das  formas  verticilíata  do  Th.  vtdgaris,  L.  O  sr.  dr.  Júlio  Henri- 
ques, na  lista  das  plantas  transmontanas  que  incluiu  n'um  trabalho 
nosso  publicado  no  «II-Boletím  annual  da  Sociedade  Broteriana»  ins- 
creve o  Th.  vulgaris,  L.,  a  verticSlata,  colhido  em  Murça  por  um  em- 
pregado do  Jardim  Botânico.  Esta  variedade  do  Th.  vulgaris^  L.,  apro* 
xima-se  muito  da  descripçâo  que  o  sr.  Rouy  faz  do  seu  Th.  súb-laosus, 
salvo  no  numero  das  flores  de  cada  verticillo.  NSo  temos  elementos 
para  formular  opiniSo  sejmra  a  este  respeito,  mas  parece-nos  muito 
provável  que  o  Thymus  da  Flor.  Lm.,  e  a  nova  espécie  do  sr.  Rouy» 
sejam  apenas  formas  do  Th.  vulgaris,  L.,  e  por  isso  só  a  esta  espécie 
nos  referimos,  dando,  ainda  assim,  como  duvidosa  a  synonymia  Brote- 
nana,  por  nSó  termos  visto  exemplares  das  localidades  apontadas  na 
Flora. 

í  Parece-nos  mais  provável  que  o  Th.  Zygis,  L.,  e  6  Th.  tãvestris, 
HoíTgg.  &  Lk.,  sejam  duas  formas  de  uma  mesma  espécie,  do  que  duas 
espécies  di$tinctas. 

9# 


n 


132  LÁBIÀDAS 

Lábio  superior  do  cálice  com  3  dentes  curtos  deseguaes.  Caule 
prostrado,  longamente  radicante.  Folhas  aproximadas  (eguaes 
aosentre-nós,  ou  maiores),  espatulado-lineares,  estreitas,  lon- 
gamente celheadas  na  base.  Flores  em  pequeno  numero,  qoasi 
solitárias  a  cada  inserção.  FL  de  maio  a  agosto,  Traz-aS'M(m- 
te$,  Entre  Douro  e  ifinAo,  Beira. —  Tormentelo. 
Tli«  eaeapltlUuft»  Brot. 

Lábio  superior  do  cálice  com  3  divisões  eguaes;  lábio  inferior 
com  as  lacinias  celheadas  em  pente. ••  8 

Caule  remontante,  longamente  radicante.  YerticiUos  floraes,  es- 
pecialmente os  superiores,  reunidos  em  espiga  apertada,  quasi 
capitados.  Folhas  attenuado-cunheadas,  muito  celheadas  na 
base,  sub-pecioladas,  com  as  nervuras  muito  proeminentes  na 
pagina  sijqperior.  Caules  pubescentes,  com  pellos  recurvados. 
FL  de  maio  a  junho.  Montejunto^  Abrantes,  etc. —  Serfãoiot 
montes.  (Tk.  Zygis  variabilis,  Brot.,  Phyt.  Lus.) 
9{      1  Til*  flerpyllOHi*  L. 

Caule  só  radicante  na  base.  YerticiUos  floraes  superiores  re- 
unidos  em  espiga  ovóide,  e  os  inferiores  distantes.  Folhas 
arredondadas  na  base,  contrahidas  de  repente  em  peciolo, 
pouco  celheadas,  glabras,  assim  como  os  caules  excepto  nos 
ângulos.  Fl.  de  julho  a  setembro.  Traz-os^Montes^  Entre 
Douro  e  Minho.-- Serpão  (Th.  glabraius,  Brot.^  Phyt.  Lus.) 
.  •  Vil.  diamaedrys»  Frie«.  ir.  slabratafit  lige* 

Folhas  pecioladas  (peciolo  quasi  do  tamanho  do  limbo),  ovadas, 

com  as  margens  enroladas,  cotanilhosas.  Capitulos  globosos. 

Q )     Bracteas  inferiores  grandes,  coradas,  rhomboide-ovadas.  Fl. 

em  junho  e  julho.  Algarve. . .  Tli.  al^arbiemil»»  I4^« 

Folhas  sesseis,  ou  com  peciolo  curto  (muito  menor  do  que  o 

•  limbo) 10 

l  Corolla  branca.  Capitulos  sub-globosos  ou  oblongos 11 

10 1  Corolla  habitualmente  vermelha.  Capitulos  oblongos  ou  aguça- 
(     dos,  raras  vezes  globosos 14 

t  O  único  exemplar  que  possuímos  d'esta  espécie  (de  Abrantes)  re- 
presenta nâo  o  typo,  mas  uma  variedade ;  talvez  a  variedade  augustí- 
folius,  Rchb. 


LABIADAS  i33 

Folhas  carnosas,  glabras,  muito  fortemente  pontoado-eseavadas, 
oblongas,  muito  enroladas  nas  margens,  cpiasi  cylindricas. 
Bracteas  ovadas,  com  as  margens  enroladas,  não  celheadas. 

11  {     Capitules  oblongos.  FL  em  julho  e  agosto.  Estremadura^  Al- 
garve.— Tomilho  carnoso Tb»  carnosns*  Bmi* 

Folhas  nao  carnosas,  sub-planas  ou  com  as  margens  enroladas. 
Capitules  sub-globosos •• 12 

Folhas  ovado-lanceoladas,  sub-cotanilliósas,  esbranquiçadas, 
quasi  planas.  Corolla  o  dobro  maior  do  que  o  cálice.  Bracteas 
ovadas,  agudas,  celheadas  nas  margens.  Fl.  em  junho  eju- 

12  { '    lho,  Algarve. —  TomUho  alvadio. 
Vil.  allilcans*  Hoffjnr*  A  I«l£« 

Folhas  verdes.  Corolla  menor  do  que  o  caUce,  ou  pouco 
maior 13 

Divisões  do  cálice  pouco  celheadas.  CoroUa  maior  do  que  o  cá- 
lice. Bracteas  com  as  margens  enroladas,  não  celheadas.  Fo- 
lhas ovado-lanceoladas,  quasi  sesseis.  Fl.  de  abril  a  junho. 
Terras  soltas  $  arenosas  do  littoral  na  região  média, 
Vil.  eapitellata»»  HolfflK*  ^  1«1^* 

Divisões  do  cálice  todas  muito  celheadas.  Corolla  menor  do  que 
o  cálice.  Bracteas  ovado-deltoideas.  Folhas  ellipticas,  enro- 
ladas nas  margens,  attenuadas  nos  dois  extremos,  com  peciolo 
curto.  Fl.  em  junho.  Algarve^  Serra  da  Arrábida  {raro). 
^  VH.  urelwItMlill,  Bmm. 

I  Bracteas  dentado^-serradas,  verdes,  ou,  menos  vezes,  coradas. 
Lábio  superior  do  cálice  com  3  dentes  eguaes.  Folhas  seta- 
ceas  com  pellos  compridos.  Caules  muito  pelludos,  com  os 

« 
t  O  sr.  Rouy  considera  este  Thymus  como  uma  forma  hybrida  (Le 

Naturcdiste — 1882).  Sem  estarmos  de  acordo  com  um  certo  numero 
de  factos,  taes  como  o'sr.  Rouy  os  entende,  acerca  dos  Thymus  da  pe- 
nínsula, e  sem  termos,  ao  presente,  opinião  formulada  acerca  do  2%. 
Welwitschii,  de  que  só  vimos  o  exemplar  existente  no  herbario  da  Es- 
cola Polytechnica,  diremos  todavia  que  esta  planta  nâo  tomou  aappa- 
recer  depois  que  foi  colhida'  por  Welwitsch  apenas  nas  duas  estaçOes 
citadas,  o  que  ó  lun  argumento  a  favor  da  idóa  do  sr.  Rouy. 


13 


134 


IMÍAÍtàS 


i4 


l 


pellos  abertos  para  os  lados.  Capítulos  obtusos  ou  sub-glooo- 
sos.  Fl.  de  maio  a  julho.  Terras  secem^  areúu^  etc.  Estre- 

madura.^Tomilko pelludo TH.  itIIImibs,  l. 

Bracteas  lobadas w.  lol»at««  V«Hp.  (como  esp.) 

Bracteas  inteiras.  Capitulo  de  ordinário  mais  comprido  e 
mais  estreito,  com  as  bracteas  mais  vezes  coradas.  Cau- 
les com  os  pellos  menores  e  mais  encostados.  Folhas 
menos  pelludas.  Cascões^  Cintra^  etc. 

V.  lositaiilea»  Bua.  (como  esp.) 

Bracteas  inteiras.  Lábio  superior  do  cálice  com  3  dentes  des- 
eguaes 15 


.8 


Capitulo  grande,  oblongo,  comprido,  aguçado.  Bracteas  gran- 
des, avermelhadas,  muito  maiores  do  que  as  flores,  não  pon- 

.  toado-escavadas,  celheadas.  Lábio. superior  da  corolla  leve- 
mente chanfrado.  Fl.  de  maio  a  julho.  Lxítoral  do  Algarve. 
-^Tomilho  cabeçudo,  kerva  ursa. .  Tli. cepUalotos*  L. 

Capitulo  oblongo,  obtuso.  Bracteas  verdes,  pontoado-escavadas, 
do  tamanho  das  flores,  celheadas.  Folhas  glabras,  quasi  car- 
nosas, muito  pontoado-escavadas,  sesseis.  Lábio  superior  da 
corolla  quasi  bifendido,  obcordiforme.  FL  de  julho  a  agosto» 
HuUo  frequente  na  Estremadura. —  Tomilho  de  Creta.  (Tk. 
creticus^  Brot. :  Satureja  capttata,  L. :  Coridothymus  capita- 
tus,  Rchb.) Til.  capltatns»  Hollkff.  úl  lik. 


\ 


Micromería,  Bth. — Flores  pequenas.  Yerticíllos  floraes 
dispostos  em  cachos,  ás  vezes  paniculados.  Cálice  cylindri- 
CO,  estreito,  com  13-15  estrias,  com  o  limbo  S-dentado,  bar- 
budo na  garganta.  Corolla  bilabiada,  com  o  lábio  superior 
plano»  sub-inteiro,  levantado,  e  o  inferior  3-lobado,  com  os 
lóbulos  sub-eguaes.  4  estames  didynamicos,  com  os  filetes 
curvos,  afastados  na  base  e  convergentes  sob  o  lábio  supe- 
rior da  corolla. — Sub-arbustos  rigidos,*com  as  folhas  co- 
ríaceas  ^. 


1  O  sr.  WiUkonun,  no  iVodromtis,  indica  também  Bm  Portugal  a  M. 
marifolia,  Bth.;  nSo  a  descrevemos  por  n&)  sabermos  onde  exii>te, nem 
de  ninguém  que  a  encontrasse.  Distingue-sc  das  espécies  referidas  em 


LABIADAS  135 

Vertieillosflorâes  densos,  com  pedúnculos  curtos.  Bracteolas  sub- 
eguaes  aos  cálices.  Dentes  do  cálice  estreitos,  rígidos,  levans 
tados,  convergentes.  Folhas  sesseis,  aa  inferiores  ovadas  e  a- 
superiores  (floraes)  lan,ceolado-lineares,  estreitas,  todas  com 
os  bordos  enrolados.  Sub-arbusto  com  os  caules  rígidos,  di- 
reitos, pubescentes.  FL  em  maio.  Coimbra. 


1  M.  Juliana»  BtH. 


Yerticillos  floraes  frouxos,  pedunculados.  Bracteolas  eguaesa  me- 
tade do  cálice.  Dentes  do  cálice  assovelados,  um  pouco  aber- 
tos para  os  lados.  Folhas  sesseis,  as  inferiores  ovadas  e  as 
superi(^res  (floraes)  ovado-lanceoladas,  todas  com  os  bordos 
enrolados.  Sub-arbusto  com  os  caules  pubescentes,  flexuosos. 
Fl.  de  maio  a  julho.  Estremadura  e  Algaroe. — Hyssopo  (no 
Algarve).  {Satureja  graeca,  L. :  Tkymus  mieraníhus,  Brot.) 
• M.  C^raeea*  Bilu 

Rosmarmns,  L. — Mecrim. — Cálice  campanulado,  bilabia- 
do,  com  o  lábio  superior  inteiro  e  o  inferior  bifendido,  nú 
na  garganta.  Corolla  bilabiada,  com  o  lábio  superior  em 
forma  de  capacete  comprimido  laterahnente,  bifendido,  e  o 
inferior  trilobado.  2  estames  (os  interiores  abortam),  cur- 
Yos,  salientes,  parallelos  sob  o  labío  superior  da  corolla, 
com  o  connectivo  desenvolvido,  adherente  ao  filete,  e  que 
semelha  um  dente  na  parte  inferior  do  mesmo  filete,  por 
ficar  ahi  liVre,  e  abortar  o  loculo  da  anthera  correspondente 
a  esse  ponto  (flg.  23,  B). 

Flores  azuladas,  mais  raras  vezes  brancas,  collocadas  na  axilla 
das  folhas  superiores,  sub-solitarias,  sub-sesseis,  oppostas, 
aproximadas,  formando  cachos  curtos.  Cálice  pulverulento, 
ás  vezes  avermelhado.  Arbusto  muito  aromático,  sempre- 

ter  os  caules,  folhas  e' cálices  brancos,  muito  cotanilhosos,  em  ter  as 
C3rmeiras  dichotomicas,  pedunculadas,  constituindo  verticillos  multiflo- 
res,  frouxos,  etc. 

1  Brotero  não  se  referiu  nunca  a  esta  planta,  que  é  hoje  muito  fre- 
quente em  Coimbra,  onde  elle  herborisou  tanto.  Será  espécie  introdu- 
zida? 


136  LABIADÂS 

verde,  muito  ramoso,  com  as  folhas  sesseis,  lineares,  intei- 
ras, enroladas  nos  bordos,  coriaceas,  verde-lastrosas  na  pa- 
gina superior  e  brancas,  cotanilhosas  na  inferior,  fí.  deu- 
tembro  a  junho.  Frequente  nas  provinciof  do  centro  e  doni. 
Cultivado  nas  hortas  e  jardins  em  todo  opaiz. — Alecrim. 
IK«  oflIeioaUs»  L. 

tf 

O  alecrim  é  muito  empregado  no  paiz  como  planta  aro- 
mática, para  queimar.  Pode-se  extrahir  d'elle  mn  óleo  es- 
sencial usado  em  perfumaria  e  em  medicina. 

Phlomis,  L. — Yerticilios  multiflores,  bracteolados.  Cálice 
tubuloso»  com  5-10  estrias,  e  5  dentes  sub-eguaes  (fig.  23,  E). 
CoroUa  bilabiada,  com  o  lábio  superior  em  forma  de  capa- 
cete comprimido  lateralmente,  aquilhado  no  dorso,  mais  ou 
menos  cotanilhoso,  e  o  inferior  3-lobádo  (fig.  23,  D).  4  es- 
tames  didynamicos,  parallelos  sob  o  lábio  superior  da  00- 
rolla,  com  os  loculos  da  antbera  divergentes,  parallelos  aos 
filetes. — Plantas  herbáceas^  sub-arbustos  ou  arbustos  com 
as  folhas  rugosas. 

GoroUa  vermelha.  Folhas  caulinares  ovado-obiongas,  peciola- 
das,  as  inferiores  ás  vezes  cordiformes  na  base;  folhas  floraes 
lanceoladas.'  Yerticilios  com  8  flores.  Bracteola?  oblongo-lan- 
ceoladas,  muticas,  brancas,  cotanilhosas,  assim  como  o  cálice. 
Sub-arbusto  mais  ou  menos  lanoso,  esbranquiçado.  Fl.  àe 
abril  a  agosto.  Na  região  ao  sul  do  Tejo. — MarioUa  {no  Al- 
garve)   Pb.  pvrparea»  L* 

CoroUa  amarèlla.  Folhas  caulinares  obíongo-lanceoladas  (ouli- 
near-lanceoladas),  pecioladas;  folhas  floraes  sesseis,  bracte- 
formes,  largamente,  ovadas,  acuminadas.  Yerticilios  numero- 
sos, com  6-10  flores,  os  inferiores  distantes  e  os  superiores 
aproximados.  Bracteolas  assoveladas,  molles,  com  longos  pel- 
los  assetinados,  assim  como  o  cálice  (fig.  23,  E,  D).  Sab- 
arbusto  branco,  cotanilhoso.  Fl.  de  maio  a  )ulho.  Estrema- 
dura^  Algarve^  etc, — Salvabrava. .  Pli.  li^rclinittvf  Ij> 

« 

Este  género  comprehende  em  Portugal  mais  uma  espe- 


LABIADAS  137 

cie — Ph.  Herha-vmtiy  L. — herbácea,  pèrenne;  tem  a  corolla 
Termelha,  e  distingue-se  do  Ph.  purpúrea,  afora  a  consis- 
tência da  parte  inferior  do  caule,  em  ter  os  verticillos  com 
10-12  flores,  em  ter  as  bracteolas  sub-espinescentes,  as  fo- 
lhas floraes  da  mesma  forma  que  as  caulinares,  etc. 

Sideritís,  L. — Verticillos  floraes  não  bracteolados.  Cálice 
campanulado  com  5  dentes,  quasi  sempre  espinescentes, 
eguaes  (fig.  i3,  P)  ou  deseguaes.  Corolla  bílabiada  com  o 
tubo  incluso,  o  lábio  superior  levantado,  sub-plano,  inteiro 
ou  bilobado,  e  o  inferior  trilobado  (fig.  23,  Q).  Estames 
como  no  género  anterior. — Plantas  herbáceas,  sub-arbus- 
tos  ou  pequenos  arbustos,  com  as  folhas  floraes  eguaes  ás 
caulinares  ou  bracteformes. 

Folhas  floraes  (bracteformes)  iodas  eguaes 2 

1  {  Folhas  floraes  (bracteformes)  superiores  deseguaes  das  inferio- 
res 3 

Pequeno  arbusto  sub-glabro.  Folhas  caulinares  lineares  .ou  lan- 
ceoladas,  inteiras  ou  crenadas.  Folhas  floraes  grandes  e  lar- 
gas, cordiforme-ovadas,  espinhoso-dentadas,  maiores  do  que 
os  cálices  ou  eguaes,  glabras  ou  hirsutas.  Corolla  amarella, 
maculada.  Verticillos  com  6-10  flores.  Fl,  de  abril  a  julho. 
Algarve H*  arlioreiíceiís»  Malsin. 

Sub-arbusto  com  os  caules  pubescentes.  Folhas  caulinares  li- 
neares ou  lanceoladas',  inteiras  ou  levemente  serradas.  Fo- 
lhas floraes  largas,  cordiforme-ovadas,  espinhoso-dentadas 
(fig.  23,  R),  maiores  do.  que  os  cálices.  Corolla  amarello- 
desbotada.  Verticillos  com  6  flores.  FL  em  junho.  Alemtejo 
e  Algarve. — (S.  lineàrifolia,  Brot.) 
S.  augustifollaf  Ijant. 

Lábio  superior  do  cálice  branco  e  o  inferior  amarello.  Sub-ar- 
busto mollemente  hirsuto.  Folhas  caulinares  espatuladas,  lan- 
ceoladas ou  arredondadas,  inciso-crenadas  ou  dentadas.  Fo- 
lhas floraes  inferiores  cordiforme-ovadas,  eguaes  aos  cálices 
ou  maiores,  e  as  superiores  cordiforme-semi-orbiculares,  me- 


138  LABUDAS 

nores  do  que  os  cálices,  todas  dentadas,  pouco  e^inlwsas. 
Yerticillos  com  6  flores.  F/.  de  junho  a  agosto.  Alio  Trúz- 

os-Montes «•  iiimoia,  L. 

Corolla  amarellada.  Sub-arbusto  pelludo,  esbranquiçado.  Folhas 
caulinares  oblongas  ou  oblongo-lanceoladas,  sub-inciso-den- 
tadas,  sub-espinhosas.  Folbas  floraes  inferiores  maiores  do 
que  os  cálices,  semelhantes  ás  folhas  caulinares;  as  superio- 
res cordiforme-senii-orbiculares,  eguaes  aos  cálices,  ou  maio- 
res; todas  espinhoso-dentadas.  Yerticillos  com  6  flores.  Fí.  (Íí 
abril  a  julho.  Beiray  Estremadura,  etc.  (S.  hirtula,  Brot.) 
H.  li ymiopi folia»  Ij.  v.  elonyata» 


Este  género  comprehende  em  Portugal,  que  nós  saiba 
mos,  além  das  espécies  enumeradas,  mais  uma  herbácea 
annual,  a  S.  romana,  L.,  bem  fácil  de  reconhecer,  afora  a 
consistência  do  caule,  por  ter  as  folhas  floraes  inermes,  se- 
melhantes ás  caulinares,  etc. 

Prasium,  L. — Cálice  bilabiado,  com  o  lábio  superior  tri- 
dentado  e  o  inferior  bifendido,  sendo  os  dentes  e  as  laci- 
nias  foliaceos  (íig.  23,  O).  Corolla  bilabiada  com  o  tubo  in- 
cluso, o  lábio  superior  ovado,  concavo,  inteiro,  e  o  inferior 
trifendido,  sendo  a  lacinia  média  maior  que  as  lateraes,  in- 
teira. 4  estames  dídynamicos,  parallelos  sob  o  lábio  supe- 
rior da  corolla,  com  os  loculos  da  anthera  afastados,  Fructo 
bacciforme,  carnoso-succulento.    . 

Flores  solitárias,  axillares,  pedunculadas.  Corolla  branca  oa  ro- 
sada. Sub-arbusto  com  as  folhas  pecioladas,  ovadas,  crena- 
das.  Fl.  de  abril  a  junho.  Campos  incultos  e  sebes  do  littond 
algarvio P.  majas,  JL« 

Tencrium,  L. — Cálice  tubuloso  ou  campanulado,  com  5 
dentes  eguaes,  ou  sub-bilabiado.  Corolla  com  o  lábio  supe- 
rior bipartido,  e  concrescente  de  tal  modo  com  o  lábio  in- 
ferior trilobado  que  parece  unílabiada  (íig.  23,  A).  4  es- 
tames didynamicos,  parallelos,  muito  salientes.  Tubo  da  co- 


lABIADAS  139 

rolla  glabro  internamente. — Arbustos,  sub-arbustos,  ou,  me- 
nos yezes,  plantas  herbáceas. 


1 


Flores  solitárias,  ou  dispostas  2-3,  na  axilla  das  folhas  superio- 
res, eguaes  ás  caulinares  ou  bracteformes.  Folhas  com  o  limbo 
desenvolvido , 2 

Flores  capitadas.  Sub-arbustos  com  as  folhas  estreitas 5 

Folhas  profundamente  3-5  partidas,  as  floraes  eguaes  ás  cauli- 
nares. Flores  solitárias.  CoroUa  branca  ou  avermelhada.  Sub- 
árbusto.  Fl.  de  abril  a  setembro.  Terrenos  aridus  do  Algarve, 
— (T.  Nissolianumy  L.)  T.  Pseudoebamaepilyii»  Ij. 

Folhas  inteiras,  crenadas,  ou  inciso-crenadas 3 

Folhas  inteiras,  as  floraes  eguaes  ás  caulinares.  Flores  solitá- 
rias. Pequeno  arbusto  sempre-verde,  com  as  folhas  verdes  na 
pagina  superior,  e  cotanilhosas,  esbranquiçadas,  na  pagina  in- 
ferior. CoroUa  azulada.  Fl.  demarco  a  maio.  Estremadura e 
Alemtejo T»  fratícansf  li« 

Folhas  crenadas  ou  inciso-crenadas.  CoroUa  avermeUiada.  • .  4 

Flores  solitárias  na  axilla  de  folhas  bracteformes.  Folhas  lanceo- 
ladas,  crenadas,  rugosas.  Sub-arbusto  tortuoso.  FL  na  pri- 
mavera'. Serra  da  Estreita. .  T.  lunitaniCDin»  liam. 

4  /  Flores  2-3  na  axilla  de  folhas  menores  do  que  as  caulinares. 
Folhas  inciso-crenadas,  glabras  e  lustrosas  na  pagina  supe- 
rior, e  pubescenles  na  inferior.  Fl.  em  maio.  Cabo  de  Espi- 
chel (segundo  o  sr.  Daveau) T.  dtamaedryii*  Ij. 

Capitulos  vestidos  com  felpa  macia,  dourada.  Folhas  lineares  ou 
oblongas,  enroladas  nos  bordos,  sesseis,  crenadas.  CoroUa 

5  \  amareUa  ou  branca,  raras  vezes  vermelha.  Fl.  em  julho  e 
agosto ^T.  aureanif  Selireli» 

Capitules  e  folhas  vestidos  com  felpa  acinzentada  ou  branca.  6 

1  Não  sabemos  onde  existe  em  Portugal  esta  espécie,  que  vem  citada 
como  portuguezano  Prodromus,  do  sr.  Willkomm.  IncUnamo -nos  muito 
á  opinião  de  Bentham,  que  toma  para  typo  dos  Teucriums,  que  cita- 
mos, de  flores  capitadas,  o  T.  Polium,  L.,  e  considera  os  restantes  como 
variedades  d^essa  espécie. 


140  .   solakAceas 

Folhas  inteiras,  ou  só  crenadas  no  cimo,  lineares  ou  linear-Ian- 
ceoladas.  Capitulos  globosos,  numerosos  e  quasi  panículados. 
Corolla  branca  ^  Fl.  em  junho  e  julho.  Estrunaduray  Algai- 
ve,  eic.—Teucrio  capitoso T.  capltatnBi«L. 

Folhas  crenadas  do  cimo  á  base 7 

Corolla  branca^.  Folhas  sesseis,  attenuadas  na  base,  lineares. 
Capitulos  globosos,  agglomerados  no  cimo  dos  ramos,  os  la- 
teraes  pedunculados.  Fl.  de  junho  a  agosto.  Beira,  Estrema- 
dura, Algarve,  etc-^Polio  montano.. . .  T«  PoliaiMf  L. 

Corolla  vermelha.  Folhas  oblongas,  cordiforme-amplexicaules, 
com  os  bordos  enrolados.  Flores  solitárias  na  axilla  das  fo- 
lhas terminaes,  reunidas  primeiro  n*um  capitulo  sub-globoso, 
e  depois  froiuLO,  quasi  espiciforme.  Fl.  de  abril  a  julho.  Al- 
garve     V«  ^naplialode»»  WmMU 

Âfóra  estas  espécies  lenhosas  encontram-se,  em  Portu- 
gal, D'este  género,  espécies  herbáceas  (três  que  nós  saiba- 
mos). Uma  annual,  com  os  ramos  espinescentes  (T.  spino- 
sum,  L.),  e  duas  perennes,  inermes  (T.  Scorodoma,  L.,  e 
T.  scordioides,  Schreb.),  ambas  com  as  folhas  crenadas,  com 
o  Umbo  desenvolvido:  a  primeira  com  as  flores  amarella- 
das,  solitárias  na  axilla  de  folhas  bracteformes,  e  a  segunda 
com  as  flores  rosadas,  geminadas  na  axilla  de  folhas  nâo 
modificadas,  planta  densamente  peUuda. 


Família  XXVm.— SOLANÁOEAS,  Barti. 

Flores  hermaphroditas,  raras  vezes  polygamicas,  quasi 
sempre  regulares.  CaUce  gamosepalo,  com  5  divisões,  per- 
sistente ao  menos  na  base.  Corolla  hypogynica,  gamopetala, 
com  o  limbo  quasi  sempre  regular  e  5  divisões.  5  estames 
(raras  vezes  4-6),  inseridos  no  tubo  da  corolla,  alternos 


1  Nunca  a  vimos  vermelha  em  exemplares  portugueses. 

2  N2o  conhecemos,  de  Portugal,  a  variedade  purpurascens,  Bth. 


SOLANÁGEAS  .141 

com  as  suas  divisões ;  antheras  introrsas,  biloculares,  dehis- 
centes  longitudinalmente,  ou  por  poros.  Ovário  livre,  bilocu- 
lar,  multiovulado.  Estylete  simples,  estigma  inteiro  ou  com 
lóbulos  obsoletos.  Fructo  bacciforme  ou  capsular  (baccifor- 
me  nas  espécies  lenhosas  indígenas).  Semente  com  albu- 
men;  embryão  curvo. — Plantas  herbáceas,  menos  vezes  le- 
nhosas, com  as  folhas  alternas,  caducas,  sem  estipulas. 
Plantas,  muitas  vezes,  ricas  em  alcalóides  muito  enérgicos. 

Âs  espécies  lenhosas  não  teem  nenhuma  importância  flo- 
restal. Entre  as  plantas  herbáceas  comprehende-se  o  Taba- 
CO,  o  MeimendrOy  o  Es tr amónio,  a  batateira,  o  Tomateiro,  o 
Pimentão,  a  Belladona,  etc,  plantas  umas  indígenas,  outras 
exóticas,  cultivadas  no  paiz,  e  cujos  usos  são  conhecidos. 

Cprolla  afunilada.  Antheras  afastadas  umas  das  outras,  dehis- 
centes  por  fendas  longitadinaes lijelam  (pag.  142) 

Gorolla  rodada.  Antheras  livf  es,  mas  aproximadas  umas  das  ou- 
tras, dehiscentes  por  poros  terminaes.Solanam  (pag.  141) 

Solanum,  L. — Flores  dispostas  em  cymeiras  simples  ou 
dichotomicas,  pedunculadas,  extra-axillares  ou  terminaes. 
Cálice  5-fendido  ou  5-partido.  CoroUa  rodada.  5  estames, 
com  as  antheras  aproximadas,  convergentes  no  centro  da 
flor,  dehiscentes  por  dois  poros  terminaes.  Baga. — Plantas 
herbáceas,  menos  vezes  lenhosas.  (Este  género  tem,  em 
Portugal,  varias  espécies  herbáceas,  e  as  duas  seguintes 
lenhosas) : 

Folhas  sinuado-pinnatilobadaíí.  Corolla  violácea.  Pequeno  ar- 
busto levantado,  muito  ramoso,  com  grandes  aculeos  ama- 
rellos  nos  ramos  e  nas  folhas.  Baga  amarella,  grande,  globosa. 
FL  de  maio  a  agosto.  Areias  maritimas  do  Tejo  e  de  alguns 
pontos  do. Oceano:  Estremadura^  Minho,  etc, 

Hm  iMMlOllllieillII»  li. 

Folhas  auriculado-tridivididas.  Curolla  violácea.  Sub-arbusto  tre- 


i  42  APOGTNÁGEAS 

pador,  inerme,  com  os  ramos  sub-volaveis.  Baga  ovóide,  ver« 
melha.  Fl.  dè  junho  a  setembro.  Sebes,  sittos  humiios :  fiftra, 
Entre  Douro  e  Minho,  etc. — Dulcamára,  docf amarga,  uta 

de  cão S.  Dulcanianu  L. 

Folhas  inteiras,  não  auriculadas.  Traz-os-MonteSy  Estre- 
madura {Barroca  d^Alva)^  etc. 

▼.  Intefrifollain,  Wk 

« 

Lycium,  L. — Flores  pedunculadas,  axillares  ou  extra-axil 
lares,  solitárias,  geminadas  ou  fasciculadas.  Cálice  gomiloso 
campanulado,  sub-bílabiado  ou  com  5  dentes  deseguaes 
Gorolla  afunilada,  com  o  limbo  5-6-lobado  e  os  lóbulos  trian 
guiares.  Estames  inseridos  no  meio,  ou  no  cimo  do  tubo 
da  coroUa,  com  as  antheras  longitudinalmente  dehiscentes. 
Baga. — Arbustos  espinhosos,  com  as  folhas  inteiras. 

Folhas  lanceoladas  ou  espatuladas,  m^ito  attenuadas  na  base, 
grossas,  uninervadas.  Flores  solitárias,  com  pedúnculos  cor- 
tos,  com  a  corolla  4-6  vezes  maior  do  que  o  cálice,  tendo  o 
limbo  duas  vezes  menor  do  que  o  tubo,  branco-rosada,  reti- 
culada. Arbusto  muito  espinhoso,  com  os  ramos  esbranquiça 
dos.  Fl.  de  abrú  a  junho.  Sebes:  na  Estremadura  (Usboa), 
Beira,  etc. — Espinheiro  alvar  bastardo. 
li.  earoiMieuiiif  !«• 


Família  XXDC.— APOCYNÁGEAS,  Lindl. 

Flores  hermaphroditas,  regulares,  dispostas  em  cymeiras 
terminaes,  ou  solitárias  e  axillares.  Cálice  persistente,  gamo- 
sepalo,  com  5  divisões.  Corolla  hypoginica,  gamopelala,  afu* 
nilada  ou  asalveada,  com  5  lóbulos.  5  estames  alternos,  in- 
clusos, inseridos  na  corolla,  com  os  filetes  muito  curtos  ou 
nuHos,  e  as  antheras  introrsas,  livres  ou  adherentes  ao  es- 
tigma. Ovário  livre,  cingido  na  base  por  um  disco  carnoso 
com  5  glândulas;  dois  carpellos,  livres  ou  soldados  entre 
si.  2  estyletes»  reunidos  no  cimo,  ou  desde  a  base.  1-2  fru- 


OLEÁCEAS  143 

ctos  seccos,  dehiscentes  pela  sutura  ventral  (foUiculos),  po- 
lyspermos  (nas  espécies  indígenas).  Sementes  nuas  ou  co- 
roadas  de  pellos,  com  albumen ;  embrySo  recto. — Plantas  le- 
nhosas ou  herbáceas  perennes,  com  suecos  leitosos;  folhas 
•  simples,  inteiras,  oppostas  ou  verticilladas,  sem  estipulas, 
coriaceas,  persistentes. 

Nerium,  L. — Cálice  5-partido.  CoroUa  asalveada,  tendo 
na  garganta  uma  coroa  composta  de  5  laminas  multifendi- 
das,  oppostas  aos  lóbulos.  Estames  inclusos,  com  as  antbe- 
ras  adherentes  ao  estigma,  biappendiculadas  na  base,  e  tendo 
o  connectivo  superiormente  prolongado  em  um  filamento 
comprido,  pelludo,  contorcido  em  espiral.  1  só  estylete  fi- 
liforme; estigma  obtuso.  2  folliculos.  Sementes  coroadas  de 
pellos. — Arbustos  com  as  folhas  oppostas  ou  temadas. 

Flores  grandes,  rosadas  ou  brancas,  em  cyineiras  sub-umbella- 
das  ou  corymbosa^,  terminaes.  Arbusto  com  as  folhas  lanceo- 
lado-agudas,  sub-sesseis.  FL  de  julho  a  outubro,  Sitios  ku- 
midoSf  á  beira  dos  rios^  etc,  no  sul  do  Alemtejo,  Cult.  nos 
jardins. — Loendro  ou  sevadãha !¥•  Oleánder»  li. 


Família  XXX.— OLEÁOEAS,  Lindl.  (ezolnindo  as  Frazlneas) 

Flores  hermaphroditas,  regulares,  dispostas  em  cachos 
simples  ou  compostos,  axillares  ou  terminaes,  muitas  vezes 
thyrsiformes.  Cálice  gamosepalo,  com  4  divisões,  persistente. 
CoroUa  hypogynica,  asalveada,  rodada  ou  afunilada,  com  4  di- 
visões. 2  estames,  alternos,  inseridos  sobre  a  coroUa,  com  os 
filetes  curtos  e  as  antheras  introrsas,  biloculares,  longitudi- 
nalmente dehiscentes.  Ovário  livre,  bilocular,  com  os  loculos 
biovttlados.  1  estylete  curto;  estigma  simples  ou  bifendido. 
Fructo  secco,  capsular  ou  carnudo,  drupaceo  ou  bacciforme. 
Sementes  com  albumen;  embry&o  recto. — Arvores  e  arbus- 


^ 


1 44  OLEÁCEAS 

tos  com  as  folhas  oppostas,  simples,  inteiras^  sem  estipu- 
las. 

Fructo  secco,  dehiscente :  uma  capsula  com  duas  válvulas.  Fo- 

1  {     lhas  caducas Syrlnfa  (pag.  144) . 

Fructo  carnudo,  indehiscenle 2 

^  j  Folhas  caducas.  Baga  polysperma.  lilgastram  (pag.  144) 
Folhas  perennes,  Fructo  drupaceo,  monospermo 3 

Drupa  ovóide,  com  o  caroço  ósseo Olea  (pag.  146) 

3{  Drupa  globosa,  com  o  caroço  delgado  e  frágil. 

pmilynsa  (pag.  147) 

Syrmga,  L. — Lilaz. — Flores  cheirosas,  dispostas  emthyr- 
sos  terminaes.  Cálice  tubuloso  4-deiUado.  Gorolla  asalveada, 
com  o  tubo  muito  maior  do  que  o  cálice  e  o  limbo  i-par- 
tido.  Estames  e  estylete  inclusos ;  estigma  bifendido.  Capsula 
coriacea,  quasi  lenhosa,  ovado-lanceolada,  comprimida,  com 
duas  válvulas  naviculares,  e  os  loculos  bispermos.  Semen- 
tes com  azas  estreitas. — Arvores  e  arbustos  com  as  folhas 
pecioladas,  inteiras,  caducas. 

Arbusto  de  grandes  dimensões.  Folhas  cordiforme-ovadas,  gla- 
bras.  Corolla  com  o  limbo  sub-roncavo,  roxa,  vermelha  ou 
branca.  Fl.  em  fevereiro  e  março.  Indígena  da  Pérsia  e  cul- 
tivado nos  jardim, — Lilaz S«  TalgarlHf  L* 

Arbusto  de  pequeno  porte.  Folhas  lanceoladas,  aguçadas,  gla- 
bras.  Corolla  com  o  limbo  sub-plano,  avermelhada  ou  roxa. 
Fl.  em  fevereiro  e  março.  Indígena  da  Pei*sia  e  cultivado  (me- 
nos) nos  jardins. — Lilaz S.  pérsica»  L. 

LiguBtrum,  Tourn. — Alfenheiro. — Flores  cheirosas,  em 
thyrsos  terminaes.  Cálice  com  pequeno  tubo  e  o  limbo 
4-dentado.  Corolla  afunilada  (fig.  24,  A),  com  o  tubo  com- 
prido e  o  limbo  4-partido.  Estames  inclusos;  estylete  muito 
curto;  estigma  bifendido.  Baga  sub-globosa,  canmda,  bilo- 


OLEÁCEAS  145 

cular,  com  os  loculos  2-4-spermos. — Arbustos  com  as  fo- 
lhas simples,  inteiras,  caducas,  oppostas. 

Corolla  branca.  Tbyrsos  compactos,  pedunculados.  Baga  negra, 
amarga,  persistente  até  á  primavera  seguinte.  Arbusto  com 
os  ramos  compridos,  Hexiveis,  e  as  folhas  elliptico-lanceola- 
das,  com  peciolos  curtos  (hg.  i\,  B).  Fl.  em  maio  e  junho. 
Traz-os-Konles.—  Alfenkeiív L.  valfare,  Ii. 


Rg.  24.— i4.-  Flor  do  lAgutlrum  vulgoTt,  L.  (2:1).  B:  folha  (1:1).  C: 
fVoctos  da  (Hea  Eurt^ea,  L.,  tar.  OieaUer,  DC.  [t:l).  D:  folha.-^ 
E:  Folhada  VhiHyrea  laíifolia,  L.— F;  Folha  da  Ph.  media,  L.— H; 
.      Folha  da  Ph.  auguttifoiia,  L.  (todas  1:1). 

c  s. — V.  n.  10 


146  oleAceas 

Olea,  Tourn. —  Oliveira. — Flores  dispostas  em  pequenos 
cachos  axiilares,  simples  ou  compostos.  Cálice  4-dentado. 
Corolla  com  o  tubo  curto  e  o  Jimbo  sub-rodado,  4-parlido, 
plano,  aberto  para  os  lados.  Estames  salientes,  inseridos  ao 
cimo  do  tubo  da  corolla.  Esiylete  curto;  estigma  cónico, 
grande.  Fructo  carnudo,  oleoso,  drupaceo,  com  o  caroço  ós- 
seo 1-2-spermo. — Arvores,  ou  arbustos,  com  as  folhas  sim- 
ples, coriaceas,  inteiras,  persistentes,  oppostas. 

Arvore,  ou  arbusto,  com  os  ramos  acinzentados.  Folhas  oblongo- 
laneeoladas,  mucronadas,  attenuadas  em  peciolo  curto  (fig. 
24,  D),  na  pagina  superior  verde-acinzentadas,  e  na  inferior 
pulverulentas,  brancas  ou  esbranquiçadas.  Corolla  branca. 
Flores  em  cachos  simples  ou  sub-compostos.  Drupa  sub-glo- 
bosa  ou  ellipsoide.  Fl.  em  maio  e  junho. 

O*  Eoropaeat  li* 

Arvore,  ou  arbusto,  com  os  ramos  quasi  sempre  espines- 
centes  (sobretudo  nas  formas  arbustivas),  com  as  drupas 
pequenas  (fig.  24,  C),  negras,  ou,  menos  vezes,  bran- 
cas (Zambujeiro  branco).  Espontânea  no  Oriente  (?); 
sub-eapon tansa  (?)  nos  teiTenos  calcareos  das  províncias 
do  centro  e  do  sul. — Zambujeiro  ou  ziimbujo. 

V.  Oleasier»  DC* 

Arvore  com  os  ramos  sempre  inermes.  Drupa  grande,  ne- 
gra ou  acastanhado-arroxada  na  maturação.  Cultivada 
em  todo  o  paiz. —  Oliveira ir.  sati  tiu  DC 

A  Oliveira  é  muito  cultivada  em  todas  as  nossas  provín- 
cias. A  cultura  tem  n'ella  originado,  como  em  quasi  todas 
as  arvores  fructiferas,  um  grande  numero  de  variações, 
que  principalmente  se  distinguem  pelo  tamanho  e  forma  da 
drupa  (globosa,  ovóide,  bicuda,  amygdaliforme,  turbinada, 
etc),  pela  côr  e  precocidade,  bem  como  pelas  dimensões 
da  arvore,  etc.  O  emprego  d'este  fructo  é  bem  conhecido 
em  Portugal:  o  fabrico  do  azeite  é  uma  das  nossas  indus- 
trias ruraes  mais  desenvolvidas.  O  clima  portuguez,  quente, 
secco,  cheio  de  luz,  presta-se  admiravelmente  á  vegetação  ^ 


OLEÁCEAS 


i47 


d'esla  arvore  e  á  boa  qualidade  dos  seus  prodactos ;  pos- 
suimos  uma  grande  diversidade  de  typos  de  azeite,  e,  aparte 
algumas  imperfeições  do  fabrico,  muitos  d'elles  s5o'  magni- 
ficos.  O  fructo  do  Zambujeiro  dá  também  azeite,  e  de  boa 
qualidade,  mas  muito  pouco  quantioso.  Â  madeira  da  Oli- 
veira e  do  Zambujeiro  é  das  mais  compactas  e  homogé- 
neas que  se  conhecem,  e  tem  muitos  empregos  valiosos, 
como  já  dissemos  n^outro  logar. 

Phillyrea,  Toum. — Aderno, — Flores  branco-esverdinha- 
das,  cheirosas,  dispostas  em  cachos  curtos,  sub-corymbo- 
sos,  axillares.  Cahce  4-dentado.  Corolla  sub-rodada,  4-par- 
tida,  com  o  tubo  curto.  Antheras  sub-sesseis,  inseridas  no 
tubo  da  corolla.  Drupa  globosa,  pequena,  negra,  com  o  ca- 
roço monospermo,  delgado  e  frágil. — Arbustos,  ás  vezes 
arborescentes,  com  as  folhas  simples,  curtamente  peciola- 
das,  coriaceas,  persistentes,  oppostas. 


[  Drupas  obtusas  no  cimo.  Folhas  ovado-eliipticas  ou  ovado-oblon- 
gas,  agudamente  serradas,  um  pouco  cordiformes  ás  vezes 
na  base,  sobretudo  as  inferiores  (fig.  24,  E).  Pequena  arvore 
ou  arbusto.  FL  de  janeiro  a  março.  Beira ,  Estremadura ^  etc.^ 

— Aderno Pli.  latlfolla*  li. 

Drupas  apiculadas  no  cimo .  Folhas  nunca  cord  iformes  na  base .  2 

Folhas  ovado-lanceoladas,  sub-intejras  (fig.  24,  F).  Grande  ar- 
busto. FL  de  janeiro  a  março.  Estremadura,  Alemiejo,  etc. 
—  Aderno » . . . .  Pb*  media»  li. 

Folhas  estreitas,  linear-lanceoladas,  attenúadas  em  ambos  os  ex- 
tremos, muito  inteiras  (fig.  24,  H).  Arbusto.  Fl.  de  janeiro 
a  março.  Matos y  pinhaes,  sebes y  etc:  Traz-os- Montes  (Re* 
goa)y  Beira^  Estremadura,  Alemtejo,  etc, — Lentisco  bastardo, 
Pli.  aiiffastlfolla»  li* 


10* 


i  48  JASMINÁGEAS 


FamiUa  XXXI.— JASMINÁGEAS,  R.  Br. 


Flores  hennaphroditas  regulares,  dispostas  em  cymeiras, 
ás  vezes  corymbosas  ou  paniculadas.  Cálice  gamosepalo, 
5-8-dentado,  persistente.  Corolla  hypogynica,  asalveada,  com 
o  tubo  alongado  e  o  limbo  plano,  5-8-fendido.  2  estames  in- 
seridos no  tubo  da  corolla,  inclusos,  com  as  antheras  bilo- 
culares,  introrsas,  longitudinalmente  dehiscentes.  Ovário  li- 
vre, bilocular,  com  os  loculos  i-4-ovulados.  ^  estylete;  es- 
tigma bilobado.  Fructo  bacciforme  ou  capsular.  Semente 
quasi  sem  albumen;  embryão  recto. 

Jasminum,  Tourn. — Jasmineiro.—rBagdi  globosa,  com  os 
loculos  monospermos. — Arbustos  levantados  ou  trepadores, 
com  as  folhas  oppostas  ou  alternas,  simples  ou  compostas, 
caducas,  sem  estipulas. 

Folhas  alternas,  sub-coriaeeas,  3-foliadas  (raras  vezes  i-folia- 
das),  com  os  foliobs  oblongos,  inteiros,  sendo  o  médio  maior. 
Arbusto  levantado,  glabro.  Flores  amarellas,  cheirosas,  dis- 
postas 2-4  em  cymeiras  terminaes.  Baga  do  tamanho  de  uma 
^1  {  ervilha,  negra.  Fl.  de  abril  a  junho.  SebeSy  ele. :  Traz-os-Mon' 
teSy  Beira,  etc. — Jasmineiro  do  monle,  giedô  (Traz-os-Mon- 
tes) , J.  flruticanii»  L. 

Folhas  oppostas  impar ipinnuladas.  Corolla  branca.  Plantas  cul- 
tivadas  2 

Tubo  da  corolla  pouco  maior  do  que  o  cálice.  Folhas  com  3  pa- 
res de  foliolos  lanceolados,  acuminados,  todos  distinctos.  Ar- 
busto muito  pouco  trepador.  Fl.  de  maio  a  selembro.  Origi- 
nário da  parte  temperada  da  Azia  e  cultivado  nos  jardins.— 
Jasmineiro  gallego ^«  olDcinale»  L* 

Tubo  da  corolla  3-4  vezes  maior  do  que  o  cálice.  Folhas  com  4 


UMBELUFERAS  1 49 

pares  de  foliolos  ovados,  mucronados,  confluentes  os  3  folio^ 
los  extremos  (o  ultimo  par  e  o  impar).  Arbusto  trepador.  Fl. 
de  maio  a  setembro.  Originário  do  Malabar  e  cultivado  no$ 
jardins. — Jnsmineiro  de  Unha. :  J.  sran<li0oraiii»Ei« 

Afora  as  duas  ultimas  espécies,  outras  se  cultivam  nos 
jardins,  mas  com  menos  frequência. 

m 

\ 

Siib-classe  III. — Dialypetalas 

Flores  com  dois  envolucros  floraes.  Cálice  gamo-  ou  dia- 
lysepalo,  corolla  dialypetala  (raras  vezes  nulla). 

A. — Calicifloras  (DC.  ex  p.) 

■ 

Pétalas  e  estames  epigynicos  ou  perigynicos. 

.    Família  2tXXn.— UMBELUFERAS,  Juss. 

Flores  hermaphroditas,  polygamo-monoicas,  ou  raras  ve- 
zes dioicas,  regulares  ou  irregulares,  dispostas  em  umbel- 
las  simples  ou  compostas,  raras  vezeS  reunidas  em  capí- 
tulos ou  verticiliado-fasciculadas.  Umbellas  primarias  e  se- 
cundarias nuas,  ou  rodeadas  de  bracteas  (envolucro)  e  bra- 
cteolas  (envohicellos)  em  diverso  numero.  Cálice  muito  pe- 
queno, lubuloso,  inteiro  ou  com  5  dentes,  às  vezes  persis- 
tente. 5  pétalas,  caducas,  brancas,  amarellas  ou  rosadas. 
5  estames,  alternos  com  as  pétalas;  filetes  curvos;  anthe- 
ras  introrsas,  biloculares,  longitudinalmente  dehiscentes. 
Ovário  inferior,  adherente  ao  tubo  do  cálice,  2-locular, 
com  os  loculos  1 -ovulados  (muito  raras  vezes,  por  aborto, 
1-locuIar),  superiormente  dilatado  n'um  disco  epigynico,  ter- 
minado por  dois  estyletes  divergentes,  ás  vezes  persisten- 
tes. Fructo  secco,  um  diachenio,  quasi  sempre  coroado  pelo 
limbo  do  cálice,  pelo  disco  e  pelos  estyletes;  na  maturação- 
separável  da  base  ao  cimo  em  duas  partes.  Acbenios  raras 


^  I 


150  UMBELUFERAS 

vezes  lisos,  qnasi  sempre  com  saliências  longitudinaes,  ás 
vezes  aladas  ou  espinhosas;  atravessados  internamente  por 
canaes  oleo-resiniferos.  Sementes  com  albumen;  embryão 
recto. — Plantas  annuaes  ou  perennes,  raras  vezes  arbustos, 
geralmente  com  cheiro  aromático  ou  viroso ;  fofbas  alternas 
e  de  ordinário  sem  estipulas,  quasi  sempre  com  o  peciolo  en- 
vaginante  e  1-2-3-pinnulado-divididas,  raras  vezes  inteiras. 

A  família  das  Umbelliferas  tem  muitos  géneros  e  espécies 
em  Portugal,  mas  s3o  quasi  todas  herbáceas  e  sem  nenhuma 
importância  florestal;  apenas  nos  referiremos  ás  duas  espé- 
cies seguintes,  por  serem  arbustivas. 

Bupleurum,  L. — Flores  dispostas  em  umbellas  compostas. 
Folhas  inteiras.  PetalajS  amarellas,  quasi  orbiculares,  mais 
largas  do  que  compridas,  inteiras,  enroladas  para  dentro. 
Cálice  inteiro.  Fructo  comprimido  lateralmente,  com  5  sa- 
liências longitudinaes.  Envolucro  ás  vezes  nullo;  envolucel- 
los  sempre. — Plantas  annuaes  e  perennes,  sub-arbuslos  e 

arbustos. 

(Este  género  tem  em  Portugal  espécies  herbáceas  e  le- 
nhosas ;  apenas  nos  referiremos  ás  segundas,  que  são  pe- 
quenos arbustos,  com  as  folhas  perennes,  penninervadas, 
e  com  os  envolucros' virados  para  baixo). 

Umbella  com  6-20  raios,  eguaes.  Envolucros  eenvolacellos ca- 
ducos. Estyletes  curtos,  levantados.  Caules  ramosos,  densa- 
mente folhados;  folhas  coriaceas,  lustrosas  na  pagina  supe- 
rior, glaucas  na  inferior,  sesseis,  lanceolado  ou  obovado-elli- 
pticas,  mucronadas,  calloso-marginadas,  reticulado-venosas. 
Fl,  em  julho  e  agosto.  Estremadura,  Alemlejo,  Algarte. 
B.  fru4ico«oiii«  I-» 

Umbella  com  15-30  raios,  eguaes.  Envolucros  eenvolucellos  per- 
sistentes. Estyletes  abertos  para  os  lados.  Caules  pouco  ra- 
mosos e  pouco  folhosos  no  cimo;  folhas  rígidas,  coriaceas,  na 
pagina  superior  amarello-esverdinhadas  e  na  inferior  glau- 
cas, attenuadas  em  peciolo  muito  curto,  verticaes  pela  torsao 


ARAUÁCEÂS  151 

do  peciolo,  lanceoladas,  mucronadas,  cartilaginoso-margina- 
das,  reticulado-venosas.  FL  de  junho  a  setembro. 
^  B.  verticale*  Orief^* 


FamiUa  XXXIU.— ARAUÁCEÂS,  Jvmm. 

Flores  hermaphroditas,  regulares,  dispostas  em  utnbellas 
ou  capítulos,  terminaes  ou  axillares.  Calfce  adherente  ao 
ovário,  com  o  limbo  muito  curto,  5-dentado.  CoroUa  com 
5-10  pétalas.  Estames  em  numero  egual  ao  das  pétalas,  al- 
ternos, perigynicos,  com  as  antheras  introrsas,  biloculares, 
longitudinalmente  dehiscentes.  Ovário  inferior,  5-10-locular 
(ou  2-3-locular  por  aborto),  com  os  loculos  1-ovulados.  5  esty- 
letes,  livres  ou  concrescentes  n'um  só.  Fructo,  uma  baga  com 
5- 10  loculos  monospermos,  coroada  pelos  dentes  do  cálice  ou 
pelas  cicatrizes  que  elles  deixaram  ao  cahir.  Sementes  com 
albumen. — Plantas,  lenhosas,  ás  vezes  trepadoras,  menos 
vezes  herbáceas  perennes. 

Hedera,  L. — Hera, — Flores  reunidas  em  umbellas  sim- 
ples» globosas.  Cálice  com  5  dentes  caducos.  5  pétalas.  5 
estames.  Estyletes  reunidos  n'um  só.  Baga  coroada  pelas 
cicatrizes  que  os  dentes  do  cálice  deixaram  ao  cahir,  com  5 
loculos  monospermos.  Arbustos  sarmentosos,  trepadores, 
com  as  folhas  alternas,  simples,  penninervadas  e  inteiras 
ou  palminervadas  e  lobadas,  persistentes. 


^  o  B,  verticale  ^  apresentado  como  planta  portugueza  no  Prodro- 
mus,  do  sr.  Willkomm.  Possuímos  um  exemplar  colhido  próximo  a  Lis- 
boa (visinhanças  do  Campo  Grande)  que  talvez  se  lhe  possa  referir; 
está  em  floração  atrazada  para  se  verificar  com  segurança  a  disposição 
dos  estyletes  e  saber  se  os  envolucros  e  envolucellos  sáo  persistentes  ou 
caducos,  mas  as  folhas  são  levemente  pecioladas  e  na  forma  e  disposi- 
ção parecem  marcar  antes  esta  ultima  espécie. 


Fig.  iS.—A:  Flor  da  Hedera  Hetix,  L.  (I  A).  B:  folha  do  ramo  fértil 
(2:3).  C:  folha  do  ramo  trepador  estéril  (2:3). 

Flores  amarello-esverdinhadas,  pediueiladas  (íig.  25,  A),  dis- 
jiostas  em  umbellas  pedunculadas,  reunidas  em  panicala  ler- 
niiiinl.  Baga  negra,  globusa,  apiculada,  com  o  estylele  pérsia 
tente.  Arbusto  raslejanle  ou  trepador,  com  o  tronco  g  os  ra- 
ntns  providos  de  raizes  adventicias((ig.  25,  C),  com  as  folhas 
pecioladas,  coriaceas:  as  dos  ramos  rastejantes  profundameale 
3-5-lobadas,  com  os  lóbulos  inteiros;  as  dos  ramos  trepadores 
estéreis  3-5-lobad3s,  com  os  lóbulos  menos  profundos  (lig.  SS, 
C) :  as  dos  ramos  lloriferos  inteiras,  ovadas  ou  rbomboide-acn- 
minadas  (fi^.  23,  B).  Pedúnculos  e  cálices  esbrasqui^os, 
e-itiellado-pulvemlentos.  Fl.  tm  setembro  e  outubro.  Muito 
{requente  em  todo  o  paiz,  nos  sebes,  muros,  r-ichedos,  Irepada 
ás  arcares,  elc.^Hera  ou  hedera  (Traz-os-Montet). 
H.  Hcllx.  I- 


CORNUÁCEAS  153 


FamUia  XXXIV.— CORNUÁOE AS,  DC. 

Flores  liermapliroditas  regulares,  reunidas  em  corymbos, 
UHibellas  ou  cymeiras.  Cálice  4-denlado,  adherente  ao  ová- 
rio. Corolla  com  4  pétalas.  4  estames  livrfTs,  alternos,  epi- 
gynicos.  Ovário  inferior;  ^  estjlete.  Fruclo  drupaceo.  com 
caroço  bilocular  e  os  loculos  monospermos,  coroado  pelos 
vestígios  dos  dentes  do  cálice.  Sementes  com  albumen. 

Comos,  L,^ — Sangitinho. — Caracteres  da  familia.  Arbus- 
tos levantados,  com  as  folhas  e  os  ramos  oppostos  (a  espé- 
cie indígena).  Folhas  caducas,  sem  estipulas. 


Fig.  26.— Cornwi  languinea,  L.—A:  Flor  (1:1).  B:  folha  (1:Í). 

Corolla  branca.  Flores  (fig.Sf),  A)  dispostas  em  corymbos  com- 
postos terminaes,  nús,  e  que  apparecem  depois  das  folhas. 
Fruclos  giobosos,  pequenos,  amargos,  negros,  pouco  car- 
nudos. Folhas  inteiras,  ellipticas  ou  ovadas,  acuminadas  (fig. 
26,  B).  Arbusto  com  os  rebentos  vermelho-sanguineos,  so- 


154  RIBESIÁCEAS  '     . 

bretudo  na  prímavera,  flexiveis.  Fl.  em  maio  ejwiho.  Traz- 
cãMontei,  Beira,  etc  — Sungaiuho  legitimo. 
C.  MiM^Dlaei.  L. 

Família  XXXT.— RIBESIA.OEAS,  Boh. 

Flores  regulares  hermaphroditas  oa  ás  vezes  dioicas  por 
aborto,  sub-solitarias  ou  dispostas  em  cachos.  Cálice  gamo- 
sepalo  5-4-rendido,  corado,  petaloide.  3-4  pétalas.  Estaraes 
em  numero  egaal  ao  das  pctaias,  alternos;  autheras  iotror- 
sas.  Ovário  inferior,  adherente,  unilocular,  multíovulado. 
2-4  estyletes  reunidos  na  base.  Baga  sub-globosa,  unilocnlar, 
polysperma,  polposa,  coroado  peio  caiíce  secco,  persistente. 
Sementes  com-albumen,  e  com  o  tegumento  gelatinoso;  é  este 
tegumento  que  produz  a  polpa  do  frucLo. 

Ribes,  l. — Groselheira. — Cálice  Sfendido.  5  pétalas  muito 
pequenas,  escamiformes,  inseridas  na  garganta  do  cálice. 
5  estames  inclusos,  inseridos  com  as  pétalas.  Arbustos  iner- 
mes ou  aculeados,  com  as  folhas  alternas,  simples,  palmi- 
nervadas,  lobadas,  caducas,  sem  estipulas. 


Fig.  87. — Ramo  fructifero  do  Bibet  Grottularia, L,  t.  lativvm, DC.  (l:i). 


CACTEÁCEAS  155 

Flores  axillares,  solitárias  ou  reunidas  2-3,  desenvolvendo-se 
ao  mesmo  tempo  que  as  folhas.  Cálice  esverdinhado-averme- 
Ihado.  Baga  globosa  ou  ellipsoide,  erriçada  de  pellos  glandu- 
losos  (fíg.  27),  amarellada,  esveruinhada,  vermelha  ou  es- 
cura. Arbustos  com  três  aculeos  fortes  na  base  das  folhas. 
Folhas  pecioladas  sub-orbiculares  com  3-5  lóbulos  palmados 
e  crenados,  pubescentes,  menos  vezes  glabras.  Fl.  tni  março ^ 
abril.  Cultivado  nos  jardins:  Traz-ós^Montes ,  etc.  Espontâ- 
neo em  quasi  toda  a  Europa. —  Groselheira. 
B.  (iro«»alnrla*  Ei»  v*  satlYum»  DC. 


Familla  XXXVI.— CACTEÁCEAS,  DC. 

Flores  hermaphroditas,  regulares,  quasi  sempre  solitá- 
rias. Sepalas  petaloidQs,  numerosas,  imbricadas,  soldadas 
em  tubo  na  base.  Pétalas  dispostas  em  2-muitos  cyclos,  as 
externas  muito  qouco  distinctas  das  sepalas,  quasi  sempre 
um  pouco  adherentes  na  base.  Estames  numerosos,  dispos- 
tos em  muitos  cyclos,  mais  ou  menos  adherentes  ás  péta- 
las; filetes  delgados;  anlheras  inlrorsas.  Ovário  inferior, 
adherente  ao  tubo,  unilocular,  multiovulado.  Estylete  com- 
prido; muitos  estigmas  lineares.  Fructo  bacciforme,  pol- 
poso,  polyspermo.  Sementes  com  ou  sem  albumen.  Plantas 
aphyllas,  carnoso-succulentas.       ♦ 

Opuntia,  Toum. — Figueira  da  hidia. — Flores  grandes, 
solitárias.  Sepalas  externas  planas,  pequenas,  as  internas 
petaloides.  Estylete  grosso.  Baga  ovóide,  externamente  tu- 
berculada  e  quasi  sempre  aculeada.—  Arbustos  com  os  cau- 
les novos  e  os  ramos  comprimidos,  articulados,  carnosos, 
vestidos  de  fascículos  de  aculeos  mais  ou  menos  compridos 
dispostos  em  equiconcio. 

Aculeos  de  cada  fascículo  setaceos,  curtos,  eguaes.  Flores  ama- 

,      relladas.  Artículos  caulinares  grandes,  ovados  ou  oblongos. 

Fructos  grandes,  avermelhados,  comeítiveis.  Arbusto  com 


156  CRASSULÁCEÂS 

OS  troncos  prostrados  na  base.  FL  de  maio  a  julho,  Ori^mO' 
ria  da  America  tropical  e  sub-espon(anea  nfi$  sebes  e  rallados 
das  proviftcias  do  sul  e  do  centro  —  Figueira  da  índia.  (Ca- 

tus  Opuntia,  L.  e  Brot.) O*  wal^arla*  Hill» 

Aculeos  de  cada  fascículo  deseguaes,  amarellados :  os  menores 
setaceos,  os  maiores  muito  mais  compridos,  rígidos,  espines- 
centes.  Flores  avermelhadas.  Artículos  caulinares  largos, 
ovado-oblongos.- Arbusto  com  os  troncos  levantados,  fl.  & 
maio  a  julho.  Originaria  da  America  tropical  e  sti^-^sponto- 
nea  no  Algarve. — Figueira  da  Índia.  (Calus  Opuntia,  ror. 
Tuna,  DC.) O.  Tuna,  MUI. 

.As  Figueiras  da  índia  são  empregadas  para  vedações, 
vallados,  sebes,  etc.  Os  seus  fructos  são  comestíveis. 


FamiUa  XXXVn.— ORASSULÁOEAS,  DC. 

Flores  hermaphrodítas,  raras  vezes  unisexuaes,  regula- 
res, quasi  sempre  dispostas  em  cymeiras  scorpioides,  ra- 
ríssimas vezes  solitárias,  axillares.  Cálice  persistente,  quasi 
sempre  com  5,  raras  vezes  3-20  sepalas,  livres  ou  mais  ou 
menos  reunidas  na  base  entre  si  e  com  o  disco,  succulen- 
tas.  Corolla  com  5,  raras  vezes  3-20  pétalas,  alternas  com 
as  sepalas,  livres  ou,  mais  ou  menos,  reunidas  na  base. 
Estames  inseridos  com  as  pétalas,  perigynicos,  em  numero 
egual  ao  das  divisões  da  corolla,  ou  duplo;  filetes  assove- 
lados,  succulentos,  livres,  raras  vezes  reunidos  com  as  pé- 
talas; antheras  biloculares,  longitudinalmente  dehíscentes, 
introrsas.  Carpellos  em  numero  egual  ao  das  pétalas,  op- 
postos  a  ellas,  vertici liados,  livres,  tendo  na  base  outras 
tantas  escamas  nectariferas;  estylete  curto;  estigma  sub- 
terminal.  Folliculos  polyspermos,  dehisoenles  longitudinal- 
mente pela  sutura  ventral.  Sementes  com  albumen,  embrylo 
recto. — Plantas  herbáceas  succulentas,  raras  vezes  arbus- 


\ 


^  MYRTÂCEAS  157 

tos  OU  sub-arbustos,  com  as  folhas  simples,  inteiras,  car- 
nadas,  alternas,  oppostas  ou  verticíiladas,  sem  estipulas. 

(Esta  família  botânica  tem  em  Portugal  muitas  espécies 
herbáceas,  próprias  aos  logares  áridos,  muros,  rochedos, 
telhados,  etc.  Uma  só  espécie,  no  género  Sempervivum  é 
lenhosa,  por  isso  só  a  ella  nos  referimos.  Não  tem  nenhuma 
importância), 

Sempervivimi,  L.-^  Saião. — Flores  em  cymeiras  corym- 
bosas  ou  thyrsoides.  Cálice  com  6-20  sepalas.  Corolla  com 
6-20  pétalas  reunidas  na  base  entre  si  e  com  os  filetes, 
abertas  para  os  lados  em  estrella.  Estames  em  numero  du- 
plo do  das  pétalas.  Hervas  perennès  ou  arbustos. 

Arbusto  glaLro  com  o  tronco  ramoso  cheio  de  cicatrizes.  Folha* 
reunidas  em  roseta  no  cimo  dos  ramos,  carnudas,  com  a  fúrma 
de  cunha,  celheadas  nas  margens.  Flores  amarei  las,  pedun- 
culadas, com  o  cálice  lO-partido;  10  pétalas;  10  carpellos. 
Cymeiras  dispostas  em  longos  thyrsos  terminaes.  Fl.  no  in- 
verno e  primavera.  Rochedos^  muros,  telhados^  etc. :  provín- 
cias do  sul  e  do  centro. —  Saião lii.  arlioreum»  1j. 


FamiHa  XXXVni.—MYRTÁCEAS,  R.  Br. 

Flores  regulares,  hermapliroditas.  Cálice  com  5  sepalas, 
menos  vezes  4-6,  reunidas  na  base  ou  até  ao  cimo,  persis- 
tente. Corolla  com  outras  tantas  pétalas,  livres  ou  solda- 
das, ás  vezes  transformadas  n  um  operculo  continuo  ao  tubo 
do  cálice  e  circularmente  caduco  na  floração  (fig.  28,  E,  F). 
Estames  numerosos,  inseridos  com  as  pétalas,  perigynicos, 
livres,  monadelphos  ou  polyadelphos ;  antheras  introrsas, 
biloculares,  dehiscentes  por  2  fendas  longitudinaes  ou  por  2 
poros.  Ovário  adherente  (no  todo  ou  em  parte)  ao  tubo  do 
cálice,  plurilocular,  com  os  loculos  multiovulados ;  1  esty- 


158 


Fig.  28.— A:  Ramo  áo  Síyriíu  eommitnis.  h.  com  Qor  e  fruto  (M)fi: 
uma  flor  separada  (1:1).  C:  Folhas  oppostas  do  Eucalypliu gtobidia, 
Labill.,  em  novo  (1:4).  D:  folha  da  mesma  arvore  adulla  e  mua  Sor 
fechada  (1:4).  £:  flor  aberta  (1:1).  F:  o  operculo  caidc  na  flora- 
ção (1:1).  H:  capsula  (1:1). 


MYRTÂCEAS  159 

lete;  estigma  simples.  Fructo  uma  baga  ou  uma  capsula. 
Semente  quasi  sempre  sem  albumen. — Arvores  ou  arbustos 
com  ãs  folhas  simples,  inteiras,  sem  estipulas,  com  o  limbo, 
assim  como  a  casca  dos  ramos,  cheios  de  massiços  de  cellu- 
las  que  produzem  óleos  essenciaes. 

« 

As  Myrtàceas  exóticas  comprehendem  um  grande  numero 
de  espécies,  algumas  das  quaes  são  muito  úteis  ao  homem: 
já  pelas  suas  madeiras  densas  e  incurruptiveis,  já  pelas  suas 
fibras  textis,  já  pelos  fruclos  comestíveis,  ou  pelas  especia- 
rias, de  grande  valor,  que  produzem,  como  o  Cravo  (botões 
da  Eugenia  aromaticaj,  etc.  Em  Portugal  esta  familia  está 
representada  apenas  por  uma  única  espécie  espontânea,  a 
Murta;  começam  a  cultivar-sé  como  essências  florestaes  e 
de  ornamento  alguns  Eucalyptos. 

Pétalas  livres  (fig.  28,  B).  Sepalas  concrescentes  só  até  ao  meio. 
Fructo  uma  baga  coroada  pelos  dentes  do  cálice  (fíg.  28,  A). 
Arbusto  espontâneo My^riaii  (pag.  159) 

Pétalas  transformadas  n'um  operculo  circular,  caduco  na  flora- 
ção (fig.  28,  £,  F).  Sepalas  concrescentes  quasi  até  ao  cimo. 
Fructo  capsular  (fig.  28,  H).  Arvores  exóticas,  algumas  de 
primeira  grandeza Eocalyplus  (pag.  160) 

Myrtus,  Toum. — Murta. — Ovário  incluso  e  adherente  ao 
tubo  sub-globoso  do  cálice.  Sepalas  e  pétalas  5,  raríssimas 
vezes  4;  pétalas  livres.  Estames  numerosos,  livres.  Fructo 
carnudo,  bacciforme,  2-3-locular,  polyspermo,  sub-globoso, 
coroado  pelo  limbo  do  cálice  persistente.  Arbusto  com  as 
folhas  oppostas. 

Flores  solitárias,  axillares,  com  pedúnculos  compridos,  levan- 
tados, bibracteolados  no  cimo.  Sepalas  triangulares,  muito 
menores  que  as  pétalas  (fig.  28,  B);  pétalas  brancas.  Baga 
pouco  carnuda,  ovóide  ou  sub-globosa  (fig.  28,  A),  negro- 
azulada.  Arbusto  muito. aromático,  com  as  folhas  sub -sesseis, 
coríaeeas,  glabras,  glandulosas,  elliptico  ou  oblongo-lanceo- 


160  myrtAceas 

• 

ladas,  inteiras.  FL  de  junho  a  outubro.  S^es,  campos  inevl- 
to$,  matos,  pinhaes^  etc,  frequente. — Murta, 
M«  commoDis»  L. 

Eucalyptus,  L'Herít. — Ettcalypto. — Flores  com  4-5-6  di- 
visões; axillares,  solitárias  ou  dispostas  em  pequenas  um- 
bellas,  raras  vezes  em  paniculas  ou  corymbos  no  extremo 
dos  ramos.  Cálice  com  os  dentes  muito  curtos,  tendo  o 
limbo  muitas  vezes  concrescente  a  constituir  uma  só  peça 
muito  caduca,  e  o  tubo  persistente,  de  diversas  formas.  Co- 
roUa  transformada  n'um  operculo,  continuo  ao  tubo  do  cálice, 
e  que  se  desprende  circularmente  na  floração  para  dar  saida 
aos  estames  e  es.tylete  (fig.  28,  E,  F).  Estames  muito  nu- 
merosos, quasi  sempre  todos  livres;  antheras  dehiscentes 
,por  2  fendas  longitudinaes  ou  2  poros.  Ovário  mais  ou  me- 
nos àdherente  ao  tubo  do  cálice,  3-5-locular,  raras  vezes 
6-locular;  estylete  filiforme.  Capsula  quasi  sempre  inclusa 
no  tubo  do  cálice  persistente,  raras  vezes  serai-livre  e  sa- 
liente, com  os  loculos  dehiscentes  no  cimo  (fig.  28,  H , 
em  muitas  espécies  sub-lenbosa  quando  madura.  Sementes 
irregulares,  numerosas,  sendo  uma  grande  parte  estéreis. 
—Arvores  quasi  todas  da  Austrália,  menos  vezes  arbustos, 
em  alguns  casos  biformes  (isto  é:  com  aspecto  diverso  em 
novas  e  depois  em  adultas),  com  as  folhas  persistentes, 
umas  vezes  oppostas,  principalmente  na  arvore  nova  (em 
raríssimas  espécies  adunadas  na  base,  ou  ternadas),  outras 
vezes  alternas;  limbo  mais  ou  menos  coriaceo,  cheio  de 
glândulas  oleo-resinosas,  às  vezes  glaucas  ou  pulverulento- 
esbranquiçadas.  Botões  nús. 

Flores  sub-sesseis  ou  com  pedúnculos  curtos,  1-3  axillares.  Flor 
antes  de  abrir  turbinada,  quadrangular,  verrugosa,  pulvero- 
lento-esbranquiçada,  com  o  operculo  deprimido,  proeminente 
no  centro  (fig.  28,  F).  Flor  aberta  grande  (com  2-3  cent.  de 
largura)  (fig.  28,  E);  filetes  brancos.  Fructo  turbinado  (Og. 
28,  H),  sub-lenhoso,  quasi  tão  grande  em  maduro  como  na  oc- 


GRANATÁCEAS  161 

casião  da  floração,  e  com  a  mesma  forma;  capsula  achatada 
superiormente,  attingindo  a  abertura  do  cálice,  de  ordinário 
com  B  loculos,  (menos  vezes  4-6). — Arvore  de  grande  porte, 
bi  forme :  em  nova  com  as  folhas  oppostas,  sesseis,  amplexi- 
caules,  ovado^oblongas  (fig.  28,  C);  em  adulta  com  as  folhas 
alternas,  pecioladas,  ovado-lanceoladas  ou  lanceoladas,  falci- 
formes,  agudas,  coriaceas  (fíg.  28,  D).  Casca  despindo-se  em 
grandes  fitas  que  deixam  o  tronco  perfeitamente  liso.  Fl.  em 
novembro,  dezembro,  fevereiro  e  março.  Bastante  cultivado 
como  planta  de  ornamento,  e  como  arvorf  florestal. — Euca- 
lypto £•  fflolialafl*  Ijalilll* 

O  género  Eucalyptus,  quasl  todo  elle  indígena  da  Austrá- 
lia, comprehende  umas  cento  e  tantas  espécies  conhecidas. 
Referimo-nos  apenas  ao  E.  globuluSy  por  ser  a  espécie  mais 
volgarisada  em  Portugal  e  ter  adiante  de  si  um  bom  futuro 
como  arvore  florestal,  emquanto  das  outras  espécies  apenas 
algumas  teem  sido  cultivadas  como  arvores  de  ornamento,  e 
pouco  se  pode  dizer  acerca  das  suas  aptidões  e  adaptação. 


Familia  XXXIX.— GRANATÁCEAS,  Don. 

Familia  muito  proxhna  da  das  Myrtáceas,  de  que  princi- 
palmente se  distingue  pela  estructura  muito  particular  do 
fmcto:  constituido  por  um  pericarpo  coriaceo,  indehiscente, 
volumoso,  coroado  pelos  dentes  do  cálice,  e  dividido  pò;  tim. 
diaphragma  transversal  em  duas  cavidades  deseguaes,  a 
superior  maior  do  que  a  inferior,  ambas  sub-divididas  por 
tabiques  verlicaes  membranosos,  delgados,  a  cavidade  su- 
perior em  5-9  loculos  e  a  inferior  em  3.  Sementes  nume- 
rosas, com  o  tegumento  polposo,  acidulo,  sem  albumen. — 
Arbustos  com  as  folhas  geralmente  oppostas,  caducas,  her- 
báceas, nâo  glandulosas. 

Púnica,  Tourn. — Romeira. — Cálice  petaloide,  coriaceo, 

C.  8. — ^V.  II.  H 


i  62  POMÁGEAS 

turbinado,  com  o  limbo  5-7-dividido.  5-7  pétalas.  Estames 
livres. 

Flores  $ub<sesseis,  terminaes,  solitárias,  geminadas  ou  teraadas, 
grandes,  vermelhas.  Fruclo  sub-globoso,  grande,  externa- 
mente avermelhado  em  maduro .  Sementes  dispostas  em  fileiras 
apertadas,  vermelhas,  ou,  meno^  vezes,  amarelladas  ou  bran- 
cas. Arbusto  sub-espinhoso  ou  pequena  arvore  (cult.),  com 
as  folhas  curtamente  pecioladas,  oblongo-lanceoladas,  intei- 
ras, verde-lustrosas.  Fl.  em  maio  e  junho.  Cultivada  e  sub- 
espontânea  nas  sebes ^  nos  terrenos  calcareos  da  Beira  e  d(U 
províncias  do  sul. — Romeira P«  csranatam*  L. 

A  Romeira  é  cultivada  pelos  fructos  (romãs),  cujas  se- 
mentes polposas  sào  comestíveis,  ou  pela  belleza  das  flores 
(baJaustiasJ ,  como  arvore  de  ornamento.  A  sua  madeira  é 
dura  e  homogénea,  mas  tem,  de  ordinário,  pequenas  dimen- 
sões. Todos  os  orgaos  da  Romeira  contçem  tannino  e  são 
adstringentes ;  a  casca  pode  servir  para  curtumes,  e  dá  luna 
substancia  tinturial  com  que  se  preparam  em  Africa  os 
marroquins  amarellos;  a  casca  das  raizes  é  empregada  em 
medicina  como  vermífuga,  especialmente  contra  a  t(pnia. 


FamUla  XL.— POMÁGEAS,  BarU. 

Flores  hermaphroditas,  regulares.  Cálice  com  o  tubo  en- 
tumecido, accrescente,  e  o  limbo  5-dívidido*  5  pétalas,  al- 
ternas com  as  sepalas,  caducas.  Estames  numerosos,  inse- 
ridos com  as  pétalas  sobre  o  cálice,  ou  sobre  um  disco  an- 
nelar,  carnudo,  perigynico  (fig.  29,  H);  antheras  introrsas, 
biloculares,  longitudinalmente  dehiscentes.  Pistillo  incluído 
no  tubo  do  cálice,  constituído  por  1-5  cgirpellos,  com  outros 
tantos  estyletes  livres  ou  concrescentes  na  base.  Carpellos 
1-pluriovulados,  mais  ou  menos  adherentes  ás  paredes  in- 
ternas do  tubo  do  cálice,  e  quasi  sempre  entre  si,  constí- 


POMÁCEAS  163 

tuindo  um  ovário  l-S-locular.  Fructo  carnudo,  l-S-locular, 
indehiscente,  coroado  pelo  limbo  persistente  do  cálice,  re- 
presentando a  porção  carnosa  um  falso  pericarpo,  que  pro- 
vém, em  grande  parte,  do  desenvolvimento  anómalo  do  tubo 
do  cálice.  Loculos  do  fructo  com  as  paredes  lenhosas,  du- 
ras, e  uma  só  semente  (ffuctos  de  caroço — fig.  29,  B),  ou 
com  as  paredes  cartilaginosas  ou  apergaminhadas,  incluindo 
1-2  ou  mais  sementes  (fructos  de  pevide — fig.  29,  F).  Se- 
mentes sem  albumen;  embryão  recto.— Arvores  ou  arbus- 
tos, inermes  ou  espinhosos  por  transformação  dos  ramos, 
com  as  folhas  alternas.  Estipulas  livres,  caducas  ou  persis- 
tentes. Flores  rosadas  ou  brancas, 'muitas  vezes  originadas 
sobre  ramos  muito  curtos. 


1 


Flores  solitárias.  Folhas  simples,  inteiras  ou  sub-inteiras . . .  2 
Flores  reunidas  em  varias  inflorescencias 3 

Fructo  grande,  pyriforme  ou  sub-globoso,  felpudorlanoso,  com 
5  loculos,  cada  um  dos  quaes  contam  10-15  pevides.  Folhas 
inteiras. Cydonia  (pag.  165) 

Fructo  deprimido  superiormente  n*um  disco  largo,  rodeado  pe- 
las divisões  do  cálice  (fig.  29,  E),  contendo  5  caroços.  Fo- 
lhas inteiras  ou  sub-inteiras Meiípilus  (pag.  170) 


Folhas  persistentes.  Flores  esbranquiçado-amarelladas,  muito 
nunaerosas,  reunidas  em  cachos  compostos  terminaes.  Fructo 
«  1     ellipsoide  (fig.  29,  M),  amarellado,  comestível. 
\      \ Erioliotrya  (pag.  169) 

(Folhas  caducas.  Flores  brancas  ou  rosadas,  dispostas  em  cymei- 
ras,  corymbos  ou  umbellas 4 

Fructos  vermelhos,  ovóides,  com  1-3  caroços  (fig.  29,  A,  B). 

Arbustos  espinhosos  com  as  folhas  palmatipartidas  ou  palma- 

4{     tilobadas  (fig.  29,  C.  D).  Flores  em  cymeiras  corymbosas. 

Cralaeirns  (pag.  170) 

Fructos  de  pevides  (fig.  29,  F) 5 

li« 


164 


Fig.  S9. — A:  Fnicto  do  Crataegus  ntonosjno,  Jcípi.(l:l).  Br  o  mesmo 
corUdo  transversalmente  e  deixando  ver  o  caroço. — C:  Ramo  estéril 
espinhoso,  estipulas  e  folha  do  Crataegus  monogyna,  Jcqu.(l:l).  D- 
uma  folha  isolada  (1:1).  £:  Fnicto  Aa^eípilut  Germânica,  L.  {i-i)- 
F :  Fructo  do  Pyrui  SIalvs,  L.,  corlado  treusyersaluiente,  deiíamlo 
ver  os  5  loculos  cora  1-2  sementes  (1:2),  H:  Flor  do  Pyna  commit- 
n»,  L.,  cortada  íongitudinalmcnie  { 1 : 1 ).  JH ;  Fructo  da  Erkibolrya  Ja- 
ponica,  Lindl.  (í:3).  N:  o  mesmo  cortado  longitudinalmente.— 0:  o 
mesmo  cortado  transversalmente  (1:1). 


POMÁGEAS  165 

• 

Fructos  pequenos  (pouco  maiores  do  que  uma  ervilha),  negro* 
azulados,  com  os  loculos  incompletamente  divididos  por  tabi* 
quês  falsos,  apparentando  um  numero  de  loculos  duplo  do  dos 
estyletes.  Folhas  simples,  dentadas.  Flores,  pouco  numero* 
5(  sas,  em  cymeiras  com  a  forma  quasí  de  cacho.  Pétalas  lan- 
ceolado-Iineares Amelancliler  (pag.  169) 

Fructos  grandes  ou  pequenos,  mas  nunca  negro-azulados.  Lo* 
culos  do  fructo  sem  falsos  tabiques:  tantas  cavidades  quantos 
os  estyletes:  Pétalas  sub-orbiculares 6 

Flores  grandes  (fig.  29,  H)  dispostas  em  corymbos  ou  cymei- 
ras umbelliformes  simples.  Folhas  simples. 

g  ,      .,. .  Pyro»  (pag.  166) 

Flores  medíocres  dispostas  em  cymeiras  compostas  corymbifor* 
mes.  Folhas  simples  ou  imparipinnuladas. 
SorUas  (pag.  167) 

Cydonia,  Tourn. — Marmeleiro. — Flores  grandes,  solitá- 
rias. Cálice  com  o  tubo  campanulado  e  o  limbo  com  5  di- 
visões foliaceas^  accrescentes,  dentadas.  Pétalas  sub-orbi- 
culares. 5  estyletes  concrescentes  entre  si  na  base.  Fracto 
pyriforme  ou  sub-globoso,  umbilicado  no  cimo,  felpudo-la- 
noso,  grande,  com  5  loculos,  dos  quaes  cada  um  contém 
10-15  sementes  com  tegumento  mucilaginoso. 

Corolla  branca  ou  rosada.  Flores  sub-sesseis,  terminaes.  Fracto 
amarellado,  cheiroso,  adstringente.  Arbusto  turtuoso,  com  as 
folhas  simples,  inteiras,  ovadas,  molles,  cotanilhosas  na  pa- 
gina inferior.  Fl.  em  abril  e  maio.  Originário  da  Ásia  Me- 
nory  cultivado  em  qu<i8i  todo  o  paiz  e  sub-espontaneo  na$  se- 
bes,  nas  provindas  do  centro. — Marmeleiro.  {Pyms  Cydonia^ 
L.  e  Brot.) ۥ  valgrarisi 


O  Marmeleiro  é  cultivado  pelos  fructos,  muito  adstrin- 
gentes para  serem  comidos  crus,  mas  bastante  empregados 
em  doces  e  conservas  de  assucar.  Aos  fructos  arredonda- 
dos e  mais  pequenos  chamam,  vulgarmente,  marmelos  miu- 


166  POMÁCEAS     ' 

áo$9  ordinários  oa  gallegos,  e  aos  maiores,  mais  pyriformes 
e  menos  adstringentes,  gamboas  ou  marmelos  mollares;  con- 
stituem duas  variações  cultnraea.  O  Marmeleiro  è  também 
empregado,  como  cavallo,  para  a  enxertia  de  outras  fni- 
cteiras.  As  suas  varas,  elásticas  e  resistentes,  são  muito 
procuradas  para  cabos  de  chicotes,  bengalas,  etc. 

Pjrrufl,  L. — Pereira. — Flores,  brancas  ou  rosadas,  dis- 
postas em  cymeiras  umbelliformes  ou  corymbos  simples, 
na  extremidade  de  ramos  especiaes  muito  curtos,  de  2-4 
annos.  Cálice  com  o  tubo  gomiloso  e  o  limbo  5-dentado. 
Pétalas  sub-orbiculares.  Fructo  glabro,  com  5  loculos  i-dis- 
permos  (fig.  29,  F).  Sementes  com  tegumento  coriaceo  oa 
cartilaginoso,  não  mucilaginoso. — Arvores  ou  arbustos, 
quando  espontâneos  com  os  ramos  espinescentes,  e  iner- 
mes quando  cultivados.  Folhas  simples,  caducas. 

Eslyleles  livres.^Fructo  não  mnbilicado  na  base,  pyriformeou 
sub-globoso.  Flores  grandes  (fig.  29,  H)  com  a  corolla  bran- 
ca, loDgamente  pedunculadas,  dispostas  6-12  em  corymbo 
simples.  Arvore  ou  arbusto  com  as  folbas  ovadas  ou  arredon- 
dadas, um  pouco  acuminadas  ou  obtusas,  dentadas  oa  sub- 
inteiras,  coriaceas,  verdes,  e  glabras  ou  quasi  glabras  em 
adultas,  com  o  peciolo  delgado  tão  ou  mais  comprido  do  qae 
o  limbo.  FL  em  abril  e  maio.  Espontâneo  em  Traz-o^Mon- 
tesj  Entre-Douro  e  Minho,  Alemtejo,  etc,  e  muito  cultivado 

em  todo  o  paiz. — Pereira P.  comoioiila*  L* 

Ramos  espinescentes.  Folhas  ovadas  ou  ovado-lanceoladas, 
com  o  peciòlo  egual  ao  limbo,  ou  pouco  maior.  Fructo 
pyriforme. — Pereira  brava.  (Traz-os-Montes,  Beiray 

Gerez,  etc.) t.  Acliras*  \Yallr. 

Ramos  espinescentes.  Folhas  arredondadas,  agudas.  Fru- 
cto pequeno,  globoso. — Pereira  brava.  {Douro^  etc] 

w  Pyraftter»  Wallr. 

Inerme.  Folhas  e  fructos  de  varias  formas.  Cultivado.— 
Pereira  mansa  ou  cultivada.  ......  v.  «atlva*  DC* 

Estyletes  reunidos  na  base.  Fructo  umbilicado  na  base,  globoso 


POMÁCEAS  167- 

■ 

OU  deprímido-globoso.  Flores,  com  as  pétalas  avermelhadas^; 
dispostas  em  cymeiras  umbelliformes  simples.  Arvore  peque-; 
na,  ou  arbusto,  com  as  folhas  ovadas,  crenadas,  na  pagina, 
inferior  cotanilhosas,  esbranquiçadas,  assim  como  os  cálices 
e  pedúnculos.  Peciolo  egual  a  metade  do  limbo.  FL  em  abril 

e  maio. — Maceira P.  Malns»  Ia. 

fiamos  quasi  sempre  espinescentes.  Botões  e  rebentos  gla- 
bros.  Espontâneo  nas  provindas  do  norte, — Maceira 

brava w*  fillwefitrt«« 

Inerme.  Botões  e  rebentos  cotanilhosos.  Cultivado  em  todo 
o  paiz. — Maceira  mansa  ou  cultivada. 
v«  hortenats* 

A  Pereira  è  cultivada  pelos  fructos,  de  que  se  conhecem 
innumeras  variações  filhas  da  cultura;  estes  fructos  (perasj 
diversificam  no  tamanho,  forma,  cõr,  sabor^  época  da  ma- 
turação, etc.  As  variedades  silvestres  produzem  fructos 
muito  pequenos  e  não  comestíveis.  A  Pereira  chega  a  ad- 
quirir boas  dimensões,  apresenta  grande  longevidade,  mas 
tem  crescimento  demorado;  a  sua  madeira  é  de  fácil  tra- 
balho, homogénea,  susceptível  de  bom  polido,  mas  sujeita 
a  contorcer-se  e  a  rachar;  é  procurada  pelos  gravadores, 
torneiros,  esculptores,  etc. 

Da  Maceira  também  se  conhecem  muitas  variações,  filhas 
da  cultura ;  os  seus  fructos  (maçãs  e  peros)  são  muito  esti- 
mados e  procurados  como  alimento,  e  utilisam-os  um  pouco 
no  fabrico  de  um  vinho  especial  denominado  cidra,  muito 
usado  em  algumas  regiões  mais  ceutraes  e  mais  septen- 
trionaes  da  Europa.  A  Maceira  brava  é  algum  tanto  empre- 
gada, como  cavallo,  para  enxertia.  Esta  arvore  tem  vege- 
tação lenta  e  grande  longevidade;  a  sua  madeira  é  seme- 
lhante á  da  Pereira,  mas  menos  estimada;  é  mais  sujeita 
ainda  a  rachar. 

Sorbns,  L. — Sorveira. — Flores  pequenas,  numerosas, 
brancas  ou  rosadas,  grupadas  em  cymeiras  compostas  co- 


168  POMÁCEAS 

rymbiformes,  terminaes.  Cálice  com  o  tubo  gomíloso  e  o 
limbo  5-dentado.  Pétalas  sub-orbiculares.  2-5  estyletes,  moi- 
tas vezes  3.  Fructos  pequenos,  globosos  ou  pyriformes, 
vermelhos  ou  escuros,  com  taatas  cavidades  quantos  os  es- 
tyletes;  loculos  com  as  paredes  (rageis,  papyraceas,  di-mo- 
nospermos. — Arvores  ou  arbustos  inermes,  com  as  folhas 
simples  ou  compostas,  caducas. 

.  (  Folhas  imparipinnuladas 2 

{  Folhas  simples,  dentadas  ou  lobadas 3 

/  Botões  glabros  e  viscosos.  Frncto  um  pouco  volumoso,  pyrífor- 
me,  polposo,  comestível  depois  de  sorvado,  amarello-esenro. 
Corymbo  pouco  composto.  5  estyletes  quasi  sempre.  Pequena 
arvore;  folhas  imparipinnuladas,  com  5-9  pares  de  foliolos. 
Fl.  em  maio  e  junho.  Cultivada  (pouco)  e  talvez  suinesponta- 
nea  em  alguns  pontos. — Sorveira, . .  S.  domestica*  Ii» 
2  {  Botões  cotanilhosos.  Fructos  pequenos,  do  tamanho  de  uma  er- 
vilha, sub-globosos,  acerbos,  vermelhos.  Corymbos  maiores, 
muito  mais  compostos  do  que  na  espécie  anterior,  com  mais 
flores,  e  estas  menores.  Arvore  mediocre  ou  arbusto.  Qoasi 
sempre  3  estyletes,  menos  vezes  2-4.  FL  em  maio  e  junho. 
Grandes  altitudes  nas  províncias  do  norte  {Gerez^  Estrdla, 
etc.) — Tramazeira,  comogodinho. . .  S.  A  oca  parla»  !*• 


i 


Folhas  com  os  peciolos  compridos  {%  do  limbo),  arredondadas 
na  base,  palmatifendidas,  com  as  lacinias  crenado-serradas, 
glabras  em  adultas.  Botões  glabros  um  pouco  viscosos.  Co- 
rymbos pouco  compostos.  2-8  estyletes,  concrescentes  até  Vii 
glabros.  Fructos  ovóides,  escuro-amarellados,  pontoados,  co- 
mestiveis  em  sorvados.  Pequena  arvore.  Fl.  em  abril  e  maio. 
Nas  provindas  do  norte,  a  grandes  altitudes  {Gerez,  Bra- 
gança, etc.) — (Crataegus  torminalis,  L.  e  Brot.) 
S*  tormf  naliiu  Cria. 

Folhas  com  peciolos  curtos,  sub-cunheadas  na  base,  ovadas,  du- 
plamente dentadas  ou  lobado-dentadas,  na  pagina  inferior  es- 
branquiçadas, cotanilhosas.  Botões  sub-cotanilhosos.  Corym- 
bos pouco  compostos.  2  estyletes  livres,  peitudos  na  base. 


POMÁC£AS  169 

Fnictos  sub-globosos,  vermelho-alaranjados  na  maturação, 
um  pouco  saccharíno-acidulos.  Fl.  em  maio  e  junho.  Nas  pro- 
vindas do  norte  {Gerez,  Beira,  etc.) — Mostageiro  {Cratae- 
gus  Avia,  L.  e  BroL) S.  Arla*  Crim. 

Amelanchier,  Med. — Cálice  com  o  tubo  turbinado  e  o 
limbo  com  5  dentes  não  accrescentes.  Pétalas  lanceolado- 
lineares.  5  estyletes.  reunidos  na  base.  Ovário  com  5  car- 
pellos  biovulados.  Fructo  polposo,  com  os  loculos,  de  pare- 
des cartilaginosas  delgadas,  subdivididos  incompletamente 
por  falsos  tabiques  produzidos  pela  nervura  dorsal  do  car- 
pello,  apparentando  um  fructo  10-locular.  Sementes  com. 
tegumento  membranoso. — Arbustos  com  folhas  simples,  ca- 
ducas. 

Flores  brancas,  longamente  pedunculadas,  dispostas,  pouco  nu- 
merosas, em  cymeiras  com  a  forma  quasi  de  cachos.  Fructo 
oblongo,  negro-azulado.  Arbusto  com  as  folhas  pecíoladas, 
ovadas  ou  elliptícas,  cotanilhoso-pubescentes  em  novas  e  gla- 
bras  em  adultas,  dentadas.  Botões  aguçados,  escuros,  gla- 
bros  e  brilhantes.  Fl,  em  maio.  Altitudes  elevadas  das  provin- 
cias  do  norte  {Gerez,  Bragança,  etc) — {Mespilus  Amelan- 
chieVy  L.  e  Brot,) A.  valsará»»  Mncli* 

Eríobotrya,  dindl. — Flores  dispostas  em  cachos  terminaes 
compostos,  com  os  eixos  lanosos.  Cálice  lanoso,  com  5  den- 
tes obtusos.  Pétalas  barbadas.  5  estyletes  filiformes,  pellu- 
dos.  Fructo  ellipsoide  3-5-locular  (fig.  29,  N.  O).— Arbustos 
com  as  folhas  simples,  serradas,  cotanilhosas  na  pagina  in- 
ferior, persistentes. 

Folhas  grandes,  sub-rugosas,  lanceoladas,  attenuadas  em  cunha 
na  base.  Dentes  do  cálice  arredondados.  Pétalas  esbranquiça- 
do-amarelladas.  Fructosamarellados,  comestíveis  (fig.  29,  M). 
Fl,  em  novembro  e  dezembro.  Originaria  da  China  e  do  Japão. 
Cultivada  nas  hortas  e  jardins. — Nespereira  do  Japão.  {Mes- 
pilus Japonica^  Thunb:  Crataegus  Bibas,  Loureiro.) 
E*  ^apoiiicMi»  litndl* 


1 70  POMÁCEAS 

A  Nespereira  do  Japão  foi  introduzida  muito  recentemente 
na  Europa.  Cultiva-se  hoje  bastante  em  Portugal  como  planta 
de  ornamento  e  pelos  seus  fructos. 

Mespilus,  L. — Nespereira. — Flores  grandes,  brancas,  so- 
litárias. Cálice  com  o  tubo  turbinado  e  t)  limbo  com  5  divi- 
sões folíaceas.  5  estyletes,  livres.  3  carpellos  biovulados. 
Fructo  globoso-turbinado,  carnudo,  escavado  no  cimo  em 
um  disco  muito  largo,  rodeado  dos  dentes  foliaceos  moito 
accrescentes  do  cálice  (flg.  29,  E),  contendo  5  caroços 
sempre  monospermos. — Arbustos  com  as  folhas  simples, 
inteiras  ou  levemente  dentadas,  caducas. 

Flores  quasi  sesseis.  Fructos  pul^escentes,  turbinados,  com  34 
centímetros  de  diâmetro,  verdes,  duros,  muito  acerbos,  tor- 
nando-se  molles,  polposos,  escuros,  com  sabor  acidulo-vinho- 
so,  quando  estão  sorvados.  Arbusto  ou  pequena  arvore  sub- 
inerme  (cult.)  ou  espinhosa  (esp.),  com  as  folhas  oblongoou 
eliiptico-lanceoladas,  sub-inteiras,  cobertas  na  pagina  mfenor 
de  felpa  branca,  macia,  assim  como  os  pedúnculos  e  os  cáli- 
ces. FL  em  maia,  Sub^esfiontanea  (t)  nas  sebes  (Algarve,  Bei" 
ra,  eíc.)  e  cultivada  (pouco). — Nespereira. 
M.  CSermanica»  L. 

Esta  espécie  não  tem  nenhuma  importância  em  Portu- 
gal. É  pouco  cultivada,  e  hoje,  sob  a  denominação  de  Nes- 
pereira, em  quasi  toda  a  parte  se  entende  a  Eriobotrya  Ja- 
ponica  muito  mais  vulgarisada. 

Crataegus,  l. — Pirliteiro. — Flores  medíocres,  brancas, 
dispostas  em  cymeiras  corymbiformcs.  Cálice  com  o  tubo 
gomiloso  e  o  limbo  com  5  lóbulos  pequenos.  1-2  estyletes 
(muito  raras  vezes  3-5) ;  tantos  carpellos  biovulados  quan- 
tos os  estyletes.  Fructo  pequeno  (fig.  29,  A),  pouco  cama- 
do,  com  um  disco  no  cimo  rodeado  pelo  limbo  marcescente 
do  cálice,  e  contendo  tantos  caroços  monospermos  quantos 


ROSÁCEAS  171 

OS  estyletes  e  os  carpellos. — Arbustos  espinhosos,  ou  pe- 
quenas arvores,  com  as  folhas  caducas,  simples,  palmatilo- 
badas  (fig.  29,  D),  ou  pinnatilobadas.  Estipulas  foliaceas, 
muito  desenvolvidas  nos  rebentos  estéreis  (fig.  29,  C). 

Folhas  e  rebentos  pubescentes.  Arbusto  ou  pequena  arvore  com 
os  ramos  pouco  espinhosos  ou  sub-inermes.  Folhas  inteiras 
na  base,  profundamente  divididas  em  3-5  lóbulos,  inteiros  ou 
com  alguns  dentes  na  extremidade.  2-5  flores  em  cada  cy- 
roeira.  Fructos  ovóides,  vermelhos,  polposos,  com  sabor  agra- 
dável quando  maduros,  com  2-3  caroços.  Fl.  em  maio.  Es^ 
pontaneo  no  Oriente,  e  cvlticctdo  nos  jardins  (povco). — Aza- 
rola,  azaroleira €•  Asarolofl*  Ii« 

Folhas  e  rebentos  glabros.  Arbustos  bastante  espinhosos  (fig. 
29,  C).  Cymeiras  multiflores.  Fructos  pequenos,  semsabores, 
vermelhos ": .    .  2 

f,2-3  estyletes.  Fructos  com  2-3  caroços.  Folhas  geralmente  cu- 
nheadasnabase,  com  3-5  lóbulos,  dentadas  quasi  desde  a  base. 
Fl.  em  abril  e  maio.  Frequente  na§  sebes:  Beira,  Estrema- 
dura, Alemtejoy  etc. — Pirliteiro\  espinheiro  aliar  de  'casca 

verde C.  Oxyacanlliat  !«• 

i  estylete.  Fructo  com  1  só  caroço  (fig.  29,  B).  Folhas  geral- 
mente cunlieadas  e  inteiras  na  base,  com  5-3  lóbulos  agudos, 
desegualmente  inciso-dentados  (fig.  29,  D).  Fl.  em  abril  e 
maio.  Frequente:  Traz-os-Montes,  Beira y  Estremadura,  Al- 
garve^ etc.) —  PirliteirOy  espinheiro  alvar  de  casca  verde.  (C. 
OmtlÊíntha  P  L.) €•  monoi^nã»  iicq[a. 


Família  XLI.— ROSÁCEAS,  Juss. 


Fldíes  hermaphroditas,  regulares.  Cálice  persistente,  ga- 
mosepalo,  com  5.  (raras  vezes  4)  divisões,  tendo  ás  vezes 
0[>lantas  herbáceas)  um  caliculo  na  base.  5  pétalas  livres, 
alternas  com  as  sepalas,  caducas.  Estames  numerosos,  in- 
seridos com  as  pétalas  sobre  o  cálice  (fig.  30,  D,  Q);  an- 
Uieras  introrsas,  biloculares,  longitudinalmente  dehiscentes. 


1 


172  ROSÁCEAS 

Pistillo  livre.  Carpellos  numerosos,  distinctos,  1-2-pluriova- 
lados,  produzindo  outros  tantos  fructos  livres^  menos  vezes 
concrescenles  entre  si;  estyletes  lateraes,  livres,  raras  ve- 
zes adherentes.  Fructos  monospermos,  indehiscentes,  secoos 
(achenios — flg.  30,  C)  ou  carnudos  (drupas — fig.  30,  E), 
ou  seccos  e  dehíscentes  (folliculos)  com  poucas  sementes: 
dispostos  sobre  o  receptáculo  cónico,  plano  ou  convexo,  me- 
nos vezes  fechados  no  tubo  carnudo  do  cálice,  mas  sem  con- 
trahirem  com  elle  adherencia  (fig.  30,  D).  Sementes  sem 
albumen;  embryão  recto. — Plantas  herbáceas,  ou  arbusti- 
vas, com  as  folhas  simples*  ou  compostas,  alternas,  geral- 
mente com  estipulas  (mais  ou  menos  concrescentes  ao  pe- 
ciolo),  muitas  vezes  cem  aculeos  (as  espécies  lenhosas). 

(Esta  familia  comprehende  em  Portugal  géneros  e  espécies 
herbáceas  e  lenhosas ;  apenas  nos  referiremos  ás  ultimas)* 

Fructos  (achenios)  incluídos  no  tubo  accrescente  do  cálice  (fig. 

. }     30,  B).  Arbustos  aculeados Rosa  (pag.  172) 

Fructos  apparentes,  hao  incluidos  no  tu})0  accrescente  do  cá- 
lice  i 

Fructos  carnudos  (pequenas  drupas)  reunidos  entre  si  a  constí- 
tuirem  um  falso  fructo  tuberculoso,  disposto^  sobre  o  rece- 
^j     ptaculo  cónico  (fig.  30,  E).  Arbustos  aculeados. 

Bul»u«  (pag.  175) 

Fructos  seccos,  dehiscentes  (folliculos),  dispostos  em  um  unieo 
verticillo.  Plantas  inermes «plraea  (pag.  178) 

Rosa,  L. —  Roseira. — Flores  grandes,  solitárias  oa  dispos- 
tas em  corymbos.  Cálice  com  o  tubo  globoso,  ovóide  ou  go- 
miloso,  vestido  internamente,  assim  como  o  receptáculo  es- 
cavado, de  sedas  rígidas  e  frágeis,  simulando  o  conjuncto  um 
ovário  inferior;  limbo  do  cahce  com  5  divisões  inteiras,  den- 
tadas ou  pinnatifendidas,  caducas  ou  persistentes.  5  pétalas 
grandes,  com  unhas  curtas.  Carpellos  livres,  numerosos,  in- 
cluidos rio  tubo,  que  se  torna  carnudo  na  maturação,  e  con- 
tém então  outros  tantos  fructos  seccos,  monospermos,  inde- 


Fig.  30, — A :  Falso  fruclo  <la  Rota  tempenirent,  L.  (Irl).  B :  o  mesmo 
cortado  longitutlinalmeDte  para  deixar  ver  os  verdadeiros  fruclos 
(achenios).  C :  um  achenio  isolado.  D :  Flor  da  Rota  sempervíreru,  L., 
cortada  loagitudinalnienle  (1:1).  E:  Fructo  composlo  do  Rubas  dii- 
eolor,  Weihe  &  Nees.  (1:1).  F:  uma  folha  (1:2).  H,  I:  Folhas  do  R. 
amoenus,  Portenschl.  (1:3).  M,  K:  Folhas  do  R.  amoenut,  PortenschI, 
v.mtegrifolim,hge.  (1:2).  Q:  Flor  do  Butuídíícoíor,  Weihe  A  Nees., 
ewtada  longitudinalmente  (1:1)- 


1 74  ROSÁCEAS 

hiscentes  (achenios), "felpudos  (flg.  30,  A,  B,  C).  Eslyletes  sa- 
lientes (fig.  30,  D),  livres  ou  reunidos  em  columna.— -Ar- 
bustos com  as  folhas  compostas,  imparipinnuladas;  estipulas 
adherentes  ao  peclolo.  Caules  de  ordinário  aculeados  (nas 
espécies  indígenas  estes  aculeQS  são  fortes,  comprimidos 
lateralmente,  curvos). 

'  Estyletes  concrescenles  n'uma  columna  felpuda  (fig.  30,  D).  Es- 
tipulas todas  estreitas.  Folhas  persistentes,  com  3-7  foliolos 
lustrosos  nas  duas  paginas,  ovado-ellipticos  ou  ovado-Ianceo- 
lados,  simplesitiente  serrados.  Flores  corvuibosas;  coroUa 
branca.  Falso  fructo  globoso  ou  ovóide,  glabro  ou  pouco  glan- 
duloso,  avermelhado  ou  cor  de  laranja.  Arbusto  trepador  ou 
prostrado.  Fl.  em  junho  e  julho, — iioseíra  brava. 

i{ R«  «empervIrciiSf  lu 

Falso  fructo  globoso  (fig.  30,  A).  Foliolos  compridos.  Beira, 
Estremadura,  etc.^  frequente,  n.  sc^ndens*  WK» 
Foliolos  bastante  menores.  Estremadura^  etc. 

w.  .mleropliylla»  DC» 

'  Estyletes  livres.  Estipulas  superiores  dilatadas.  Corolla,  de  ordi- 
nário, rosada.  Fruclos  vermelhos.  Arbustos  levantados,  ra- 
\      mosos,  com  os  caules  vigorosos 2 

Foliolos  glabros  ou  pubescentes,  não  glandulosos,  ou  muito  leve- 
mente glandulosos  junto  ás  nervuras  principal  e  secundarias, 
sem  cheiro,  3-7  em  cada  folha,  ovado-ellipticos,  simples  ou 
duplamente  serrados.  Flores  solitárias,  ou  corymbosas  em 
pequeno  numero.  Falso  fructo  multiforme,  ovóide,  ellíptico, 
globoso,  pyriforme,  etc,  glabro  ou  mais  ou  menos  gtanda- 
loso.  Corolla,  de  ordinário,  rosado-desbotada.  Fí.  emjwào 
e  julho.  Em  todo  o  paiZy  frequente. — liosa  de  cãOy  sãva  ma- 
eha ^  B.  canina»  L* 

1  Esta  espécie  tem  um  grande  numero  de  variedades;  não  temos  ele- 
mentos nenhuns  ácei*ca  das  que  existem  no  paiz  e  por  isso  as  não  mar- 
camos. Muitas  d'estas  variedades  teem  sido  consideradas  poralgons 
auctores  como  espécies  distinctas,  e  o  mesmo  se  applica  ás  variedades 
de  outras  espécies  d'este  género,  bastante  polymorpho;  nSo  partilha- 
mos esse  modo  de  ver. 


ROSÁCEAS  1 75 

2(  Foliolos  densamente  glanduloso-viscosos  na  pagina  inferior, 
extialando  cheiro  agradável  a  maçãs,  ovados  ouquasi  orbi- 
culares,  duplamente  serrados,  3-7  em  cada  folha.  Aculeos 
curvos  misturados  com  alguns  outros  rectos.  Flores,  muitas 
vezes,  temadas,  com  os  pedúnculos  hispido-glandulosos.  Falso 
fructo  ovóide  ou  espherico,  glanduloso  ou  glabro.  Corolla  in- 
tensamente rosada.  Fl.  em  maio  ejvnko.  Nas  provincicis  do 
norle  {Traz-os-JUonles,  etc.) — Romra  brava. 
R«  rabiylnosa»  l4. 

Cultivam-se  nos  jardins  muitas  espécies  exóticas  d'este 
género;  são  muito  procuradas  pela  belleza  das  suas  flores, 
que  teem  também  alguns  empregos  industriaes  e  medici- 
naes. 

Rubus,  L. —  Silva, — Flores  rosadas  ou  brancas  dispostas 
em  pequenas  cymeiras,  paniculadas  quasi  sempre.  Sepalas 
inteiras,  acuminadas,  persistentes.  Pétalas  com  unha  pe- 
quena. Carpellos  numerosos,  inseridos  no  receptáculo  co- 
nico-alongado  e  produzindo  outras  tantas  pequenas  drupas 
(fig.  30,  Q,  E),  mais  ou  menos  adberentes  entre  si,  formando 
no  conjuncto  um  falso  fructo  (amoras  vulgarmente)  tubercu- 
loso, succulento,  negro  ou  negro-violaceo  nas  espécies  indí- 
genas, vermelho  ou  branco  n'uma  espécie  cultivada.— Arbus- 
tos (ou  plantas  herbáceas  exóticas)  aculeados,  com  rebentos 
compridos,  quasi  sarmentosos,  ás  vezes  radicantes,  e  que  nas 
espécies  indígenas  são  biennaes :  sò  fructiíicam  no  segundo 
anno  e  morrem  em  seguida.  Folhas  compostas,  3-5-digita- 
das,  raras  vezes  pínnuladas„  em  menos  casos  palmatifendí- 
das,  palmatípartídas,  palmatilobadas  ou  inteiras;  ás  vezes 
diversas  nos  caules  estéreis  e  nos  férteis  (fig.  30,  F,  H,  I, 
M,  K).  Estipulas  livres  ou  adberentes  ao  peciolo. 

Falsos  fructos  '(«morai)  constituídos  por  muitas  drupas  peque- 
nas, adberentes,  e  que  na  maturação  se  separam  reunidas  do 
receptáculo  cónico,  vermelhas  ou  brancas,  felpudas,  aroma- 
1|     ticas.  Flores  pequenas,  brancas.  Folhas  imparipinnuladas,  as 


n 


i  76  ROSÁCEAS 


inferiores  com  5-7  folioios  e  as  superiores  com  3,  levemente 
cotanilhosas  e  esbranquiçadas  na  pagina  inferior.  Arbusto  com 
os  rebentos  levantado-arqueados,  cylindricos,  com  aculeos 
setaceoSy  finos,  rectos,  não  picantes.  Fl,  em  maio  e  junho. 
Cultivado  nos  jardins  ;  espontâneo  em  quasi  toda  a  Europa,— 

B.  Idaenst  L. 


Silva  framboesa 

Fructos  adherentes  ao  receptáculo,  nâo  se  separando  d'elle  na 
maturação,  negros  ou  violáceos.  Folhas,  de  ordinário,  3-5- 
digitadas í 


Rebentos  cylindricos.  Follias  verdes  em  ambas  as  paginas,  to- 
das 3-foliadas.  Pétalas  brancas 3 

2{  Rebentos  mais  ou  menos  angulosos.  Folhas  na  pagina  inferior 
esbranquiçadas,  cotanilhosas,  de  ordinário  as  inferiores  com 
5  folioios  e  as  superiores  com  3 4 


I  Rebentos  e  fructos  cobertos  de  efflorescencia  glauca.  Aculeos 
rectos,  delgados,  deseguaes,  pouco  picantes.  Sepalas,  na  ma- 
turação, recurvadas  para  baixo.  Pequeno  arbusto  com  os  re- 
bentos prostrados.  Fl.  de  abril  a  outubro.  Região  norte:  Ge- 
rez,  Bragança,  Estrella,  etc. — Silva. . .  R*  caeiílufl*  L^ 
3/  Rebentos  e  fructos  sem  efilorescencia  glauca;  pedúnculos,  pecio- 
los,  sepalas  e  rebentos  glanduloso-pubescentes.  Aculeos  re- 
ctos ou  sub-falciformes,  delgados,  pouco  picantes.  Sepalas, 
na  maturação,  encostadas  ao  fructo.  Rebentos  prostrados.  Fl. 
em  junho  e  julho.  Serra  do  Gerei  {segundo  o  sr.  dr.  Mio 

\      Henriques), —  Silva B.  i^landulosiis»  Bell* 


Folioios  sub-avelludados  na  pagina  superior,  ovados.  Panicda 
terminal,  contrahida,  grande,  com  muitas  flores.  Pétalas  bran- 
cas ou  rosadas,  obovado-orbiculares,  arredondadas  na  base. 
Arbusto  com  os  rebentos  arqueado-descahidos,  os  férteis  co- 
tanilhosos  junto  á  inflorescencia,  bem  como  os  pedúnculos; 
aculeos  fortes,  curvos  e  rectos.  Fl.  em  junho  e  julho.  Trás- 
os-Montes  {Bragança,  etc.)  —  Silva, .  B«  colllnus*  DC 

Folioios  glabros  na  pagina  superior.  Arbustos  com  muitos  acu- 
leos, fortes,  curvos  (ou,  ás  vezes,  rectos  os  inferiores). . .  5 


ROSÁCEAS  177 

'  FoHoIos  acuminados  de  repente  (fig.*  30,  F),  sub-duplicado-ser- 
rados.  Panicula  grande,  pyramidal,  com  os  pedúnculos  aber- 
tos para  os  lados.  Flores  (íig.  30,  Q)  rosadas  ou  brancas.  Cá- 
lices esbranquiçados,  cotanilbosos.  Arbusto  com  os  rebentos 
arqueado-descahidos.F/.  de  junho  a  agosto.  Muito  frequente 
na  Estremadura,  Alemtejo,  Algarve,  etc. —  Sarça  ou  silva. 

R.  dlscolor»  ^Hellie  <&  IVees. 

Foliolòs  não  acuminados  de  repente 6 


l 


Rebentos  arqueado-descahidos.  Panicula  grande,  com  muitas 
flores;  pedúnculos  abertos  para  os  lados.  Foliolòs  obovados, 
obtusos  (raramente  acuminados),  ás  vezes  cunheados  na  base, 
serrados  ou  crenado-dentados  (fig.  30,  H,  I).  Rebentos,  pe- 
ciolos  e  nen^uras  da  pagina  inferior  das  folhas  densamentç pul- 
verulentos ou  cotanilhosos.  Pedúnculos  e  cálices  esbranquiça- 
dos. FL  em  junho  e  julho.  Próximo  a  Cascaes  {Caparide). — 
Silva R.  amoenuff»  Portenseli]* 

Folhas  simples  (fig.  30,  M),  reniformes,  dentadas  ou  3-lo- 
badas  (íig.  30,  K),  raríssimas  vezes  3-foliadas.  Arbusto, 
de  ordinário,  com  os  ramos  prostrados,  radicantes  na 
extremidade.  Próximo  a  Cascaes  (Caparide). 

v«  integrlfolias»  lige. 

Rebentos  descabidos.  Foliolòs  ovado-cordiformes,  duplicado-cre- 
nados,  inermes.  Pétalas  rosadas.  FL  em  julho.  Beira,  Estre- 
madura, etc, —  Silva R*  ulmlfoliofi*  Sclioll. 

Rebentos  levantados,  arqueados  no  cimo.  Panicula  estreita,  thyr- 
soide;  pedúnculos  levantados.  Foliolòs  ovados  ou  ellipticos, 
sub-cordiformes  na  base,  simplesmente  serrados,  com  as  ner- 
vuras muito  salientes  na  pagina  inferior;  peciolos  aculeados. 
Pétalas  brancas.  Cálice  esbranquiçado,  cotanilhoso.  FL  em 
maio  e  junho.  Estremadura,  etc. — Silva. 
^  R*  tliyr«oideu«»  ^Wlmin. 


1 


O  estudo  do  género  i2f«&t(«é  muito  intrincado;  alguns  auctores pre- 
tendem subdividil-o  n'um  grande  numero  de  espécies,  e  tomam  de  certo 
como  taes  simples  formas  e  variedades.  Na  enumeração  das  espécies 
portuguezas  adoptámos  as  indicações  do  Vrodromus,  dos  srs.  Willkonmi 
&  Lange,  e  citámos  as  espécies  que  ali  vêem  descriptas,  de  que  vimos 

c.  B. — V.  n.  i2 


1 78  ROSÁCEAS 

Spiraea,  L. — Cálice  giiinosepalo;  5-partido.  5  pétalas.  Es- 
tames  numerosos.  5  carpellos  (raras  vezes  1-2)  yerticilia- 
dos,  apparentes,  originando  outros  tantos  fructos  seccos, 
debiscentes  ffoUiculos),  com  2  ou  mais  sementes.  Hervas 
perennes  ou  arbustos,  com  as  folhas  simples  ou  compostas, 
estipuladas  ou  não. 

Pequeno  arbusto  cora  as  folhas  simples,  sem  estipulas,  obovad(h 
cunheadas,  no  cimo  3-5-inciso-crenadas.  Flores  pequenas, 
numerosas,  brancas,  pedunculadas,  dispostas  em  umbellas 
simples  no  extremo  de  ramos  lateraes  pouco  folhosos,  consti- 
tuindo o  conjuncto  uma  inflorescencia  espicifornie,  Eslameíi 
menores  do  que  a  corolla.  Folliculos  glabros.  FL  em  maio  e 
junho.  TraZ'OS' Montes  (Bragança).  —  (S.  crenata,  Brot.) 
*  S.  flaliellata*  Bertol. 

Existem  em  Portugal,  n^este  género,  mais  duas  espécies 
herbáceas,  perennes  (S.  Filipendulay  L.,  e  S.  Ulmaria^L.), 
ambas  com  as  folhas  estipuladas,  compostas:  a  primeira 
com  os  segmentos  foliaceos  numerosos,  muito  divididos,  ce- 
ibeados;  a  segunda  com  poucos  segmentos  em  cada  folha, 
deseguaes,  duplicado-serrados. 

exemplares  fR.  caesivs^  R.  collinus,  R.  discolor,  R,  amoenus),  ou  que  nos 
consta  de  origem  fidedigna  existirem  no  paiz  (R.  Qlandtdosus,  R.  tkyrm- 
deus,  R.  nlmifolius),  mas  sem  que  esta  enumeração  procure  Iradnzir  unia 
opinião,  que  não  temos  dados  para  fornmlar,  acerca  da  genuidade  de  to- 
das essas  espécies.  O  estudo  cQfnparativo  de  um  maior  numero  de  exem- 
plares, a  exploração  de  novas  regiões  no  paiz,  devem  de  certo  accusar 
a  existentMa  de  ouUas  espécies,  variedades  »  formas.  O  verdadeiro  R. 
fruticúsus,  L.,  não  tem  sido  encontrado  na  península,  e  provavelmente 
i)ão  existe  aqui.  O  R.  frulicosus,  Brot.,  corresponde  ao  conjuncto  das 
«'species  modernas  derivadas  do  antigo  t3'po  linneano  R.  fruticosut,  isto 
i\  coraprehende  |i'esta  chave  o  R,  discolor,  R.  colliniis,  R.  amoemSy  H. 
idmifoUus  e  R,  thyvsoideus. 

1  Aproximámos  a  S.  crenata,  Brot,  da  S.  flabellata,  BérUA.,  pela  com- 
paração de  um  exemplar  que  colhemos  em  Bragança  (o  logar  indicado 
por  Brntoro)  com  a  diagnose  da  S.  flabellata,  publicada  no  Pí^odronaa 
dos  srs.  Willkomm  &  Lange. 


AMYGDALÁCEAS  179 


Família  XUI.— AMYGDALÁCEAS,  Q.  Don. 

Flores  hermaphroditas,  regulares.  Cálice  gamosepalo, 
com  5  divisões,  livre,  caduco.  5  pétalas  com  as  unhas  cur- 
tas, alternas  com  as  sepalas.  20-30  estames  inseridos  com 
as  pétalas  sobre  o  calici^ ;  antheras  introrsas,  biloculares,  lon- 
gitudinalmente dehiscentes.  Ovário  com  um  só  carpello,  li- 
vre (flg.  31,  D),  biovulado';  estylete  simples,  terminal.  Fru- 
clo  (drupa)  carnoso-succulento,  menos  vezes  fibroso-coriaceo, 
com  um  sulco  longitudinal  que  representa  a  sutura  ventral; 
caroço  ósseo  l  -locular,  quasi  sempre  monospermo,  por  abor- 
to. Semente  sem  albumen;  embryao  recto. — Arvores  ou  ar- 
bustos, inermes  ou  espinhosos  por  transformação  dos  ra- 
mos, com  as  folhas  alternas;  simples,  dentadas,  caducas, 
ou,  menos  vezes,  persistentes,  estipuladas.  Estipulas  livres, 
caducas. 

Em  linguagem  vulgar  reunem-se  sob  o  nome  de  fructei- 
ras  as  espécies  das  famílias  das  Pomáceas  e  Amygdaldceas 
cultivadas  pelos  fructos. 

Drupa  muito  pouco  carnuda  (fig.  31,  A)  com  o  sarcocarpo  fi- 

Ibroso-coriaceo,  não  comestível.  Caroço  com  a  superfície  pon- 
toado-esculpida,  contendo  uma  amêndoa  grande,  comestível. 

i      Amygdalos  (pag.  179) 

1  Drupa  carnoso-succulenta 2 

I  Caroço  muito  esculpido  (fig.  31,  B). . .  Pérsica  (pag.  181) 
Caroço  liso,  ou  quasi  liso,  levemente  reticulado-rugoso  (íig* 
31,  C) Pruniifl  (pag.  182) 

Amygdalns,  L. — Amendoeira, — Drupa  grande,  oblonga, 
comprimida  (fig.  31,  A),  muito  pouco  carnuda,  fibroso-co- 
riacea,  irregularmente  dehiscente,  com  o  caroço  profunda- 
la  # 


*» 


180  AlfYGDALÁCEAS 


l 


h 


Fig.  31.— J :  Frnclo  do  Amygdalus  eommmii,  L.  (1:2).  B:  Caroço  do 
fruclo  da  Ptnica  wlgarú,  MU!.  (i:i).  C;  Caroço  do  fructo  do  Pn- 
nut  tmtttitia,- L-  (1:1).  D:  Flor  do  Pruntu  C*raíiM,L., cortada tmu- 
Tersalmente  (1:1).  E:  Cacho  e  folha  do  frarnii /.luilanira,  L.  (1:3). 
'  F:  Corymbo  do  Pruntu  lUahaleb,  L.  (1:1).  H:  Flores  geminadas  do 
Pnaau  dometiica,  L.  (1:1).  S:  Fniclos  do  Pnmvt  intititía,  h.  (l-I)- 
L:  Fmcto  do  Pruma  ipimna,  L.  (1:1). 


amygdalAceas  181 

mente  pontoado-escalpido.  Folhas,  no  botão,  dobradas  ao 
meio  pela  nervura  principal. 

Flores  grandes,  brancas  ou  rosadas,  sub-sesseis,  solitárias  ou 
geminadas,  precoces  (anteriores  ás  folhas).  Fructo  avelluda- 
do,  verde  na  maturação  (íig.  31,  A),  com  a  amêndoa  do  ca- 
roço grande,  comestível.  Arvore  mediana,  com  as  folhas 
oblongo-lanceoladas,  glabras,  crenadas,  com  os  peciolos  glan- 
dulosos.  Fl.  em  janeiro  e  fevereiro.  Espontâneo  no  Orienie: 
cultivado  em  todo  o  paiz. — Amendoeira, 

A*  cominaiils»  li. 

Casca  do  caroço  grossa,  dura.  Cultivado  em  todo  o  paiz, 

.    — Amendoeira  durazia w  oasea»  <Sren. 

Casca  do  caroço  delgada,  frágil.  Cultivado  em  todo  o  paiz, 
— Amendoeira  mollar ir.  fira^ills»  Cireií. 

A  Amendoeira  apresenta  uma  grande  quantidade  de  va- 
riações culturaes  em  que  o  fructo  diversifica  nas  dimensOes, 
na  forma,  etc. ;  todas  estas  variações  se  incluem  nos  dois 
grupos  acima  estabelecidos,  podendo  n'um  e  outro  as  amên- 
doas serem  doces  ou  amargas. 

Esta  arvore  é  muito  cultivada  em  Portugal ;  o  seu  prin- 
cipal producto  é  o  fructo,  ou,  mais  propriamente,  a  amên- 
doa da  semente,  que  não  só  é  comestível  como  serve  para 
a  extracção  de  um  óleo  gordo,  que  tem  bom  preço  no  mer- 
cado. As  amêndoas  chegam  a  render  50  por  cento  de  óleo 
muito  fino,  amarello-dourado,  sem  cheiro  nem  sabor;  as 
suas  cascas  servem  para  o  lume  e  são  bom  combustível. 
A  madeira  da  Amendoeira  é  muito  pesada,  muito  dura  e  to- 
chada;  toma  bom  polido,  mas  racha  muito;  dá  muito  boa 
lenha. 

Pérsica,  Tourn. — Pecegneiro. — Pericarpo  globoso,  avellu- 
dado  ou  glabro,  carnoso-succulento,  muito  espesso,  indehis- 
cente,  .comestível.  Caroço  ósseo,  com  a  superflcie  profunda- 
mente faveolada  e  sulcada  (fig.  31,  B).  Semente  pequena, 
amarga.  O  restante  como  no  género  anterior. 


182  AMYGDALÁCEAS 

Flores  intensamente  rosadas,  sub-sesseis,  precoces  (anteriores 
á  folheaçao),  solitárias  ou  geminadas.  Fructos  avellndadosoa 
glabros  (rar.  laevis),  cheirosos,  doces,  aromáticos,  amarella- 
do-avennelhados.  Pequena  arvore  com  as  folhas  lanceoladas, 
acuminadas,  glabras,  serradas,  com  peciolo  curto,  não  glan- 
dttloso.  Fl,  em  fevereiro  e  março.  Espontânea  nu  Pérsia:  ml' 
tirada  em  quasi  todo  o  paiz. — Pecegueiro,  (Amygdahs  Pér- 
sica, L.  e  Brot.) P.  "rulgarlst  Mlll. 

Existem  no  paiz  muitas  variações  culturaes  d'esta  arvore, 
que  se  distinguem  pela  época  da  maturação,  pelo  tamanho 
dos  fructos,  pela  forma,  pelo  tomento  que  os  reveste,  pela 
côr  da  carne,  pela  sua  adherencía  ou  não  adherencía  ao  ca- 
roço, etc.  A  madeira  do  Pecegueiro  é  muito  semelhante  á 
da  Amendoeira,  mas  é  menos  pesada  e  menos  dura. 

Prunus,  L. — Pericarpo  carnoso-succulento,  como  no  gé- 
nero anterior.  Caroço  liso  ou  levemente  sulcado,  ou  reli- 
culado-rugoso,  mas  não  faveolado  (flg.  31,  C). — Arvores  e 
arbustos  com  as  flores  solitárias  ou  dispostas  em  umbellas, 
corymbos  ou  cachos.  Pétalas  brancas. 

Drupa  avelludada,  ovoide-globosa,  amarella,  ás  vezes  averme- 
lhada, cheirosa,  muito  doce.  Flores  solitárias  ou  geminadas, 
precoces  (anteriores  á  folheaçao),  sub-sesseis.  Pequena  ar- 
vore com  as  folhas  ovado-arredondadas,  sub-cordiformes  na 
base,  acuminadas,  duplamente  dentadas,  glabras,  com  o  pe- 
ciolo glanduloso.  f/.  em  fevereiro  emmço.  Originário  da  Âi- 
menta  e  cultivado  em  quasi  todo  o  paiz, — Damasqueiro,  <dbri' 
coqueiro P.  Armenlaea*  L« 

Drupa  glabra  coberta  de  eífiorescencia  glauca,  oblonga  ou  gkh 
bosa.  1-2  flores  precoces  (anteriores  á  folheaçao)  ou  sub-!^i- 
multaneas  com  as  folhas.  Folhas  enroladas,  no  botão. ...  2 
[Drupa  glabra,  sem  efilorescencia  glauca,  globosa  ou  oblonga. 
Flores  umbelladas  (ás  vezes  geminadas),  ou  dispostas  em  co- 
rymbos ou  cachos.  Folhas  no  botão  dobradas  ao  meio,  pelâ 
nervura  central  (Cerasus,  Touru.) ^ 


AMYGDALACEAS 


183 


Raminhos  novos  glabros.  Flores,  de  ordinário,  geminadas  (fig. 
31,  H);  pedúnculos  pubescentes.  Drupas  grandes,  oblongas, 
pendentes,  violáceas  ou  avermelhadas,  menos  vezes  brancas, 
saccharinas,  comestíveis,  com  o  caroço  alongado.  Pequena 
Q  J  arvore,  inerme  ou  sub-espinescente,  com  as  folhas  elliplicas, 
agudas,  crenado-dentadas.  Fl.  cm  março  e  abril.  Originário 
do  Oriente  e  cultivado  em  todoopaiz. —  Ameixieira  ou  abru- 

nheiro  mnnf^o P«  dom  eu  ti  ca»  Ii« 

Raminhos  novos  pubescentes.  Fructos  globosos.  Arbustos  mais 
ou  menos  espinhosos 3 

Drupas  grandes  (18-20  mill.),  inclinadas,  quasi  sempre  gemi- 
nadas (fig.  31,  K),  negro-vioiaceas,  acidulas.  Flores  com  os 
pedúnculos  pubescentes,  sub-simuKaneas  com  a  folheaçào. 
Arbustos  com  os  ramos  abertos  para  os  lados,  espinescentes. 
Folhas  ellipticas,  simples  ou  duplicadameute  crenado-serra- 
3  {  das,  pubescentes.  Fl.  em  março.  Nas  sebes ^  vallados,  etr. :  Es- 
trematima  {Castões,  etc.)  —  Abrunheiro  ou  ameixieira  brara. 

P.  inMttitia*  li. 

Drupas  pequenas,  do  tamanho  de  uma  ervilha,  ou,  o  máximo, 
i  do  tamanho  de  uma  cereja  pequena.  Pedúnculos  glabros  ou 
'      sub-glabros.  Floração  precoce 4 

/  Drupas  pouco  maiores  do  que  uma  ervilha  (fig.  31,  L),  negro- 
azuladas,  muito  acidas,  levantadas,  quasi  sempre  solitárias, 
menos  vezes  geminadas.  Arbusto  com  os  ramos  muito  espi- 
•  nescentes.  Folhas  elliptico-lanceoladas,  agudas,  sub-dupHca- 
do-serradas,  glabras  na  pagina  superior  e  pulverulentas  na 
pagina  inferior.  FL  em  março  e  abril.  Sebes,  beira  dos  cam- 
pos, etc,  em  quasi  todo  o  paiz. — Abrunheiro  ou  àiueixieira 

brava. . .  v P.  «plnosa*  Ii« 

Drupas  do  tamanho  de  uma  cereja  pequena,  negro-azuladas, 
acidas.  Arbusto  de  maior  porte  que  o  anterior,  pouco  espi- 
nhoso, com  as  folhas  maiores,  pubescentes  em  ambas  as  pa- 
ginas. FL  em  março  e  abril.  Traz-os-Montes  [Bragança),  etc. 

\      P.  fratlean**  \%'ellie. 

)  Flores  umbelladas,  sub-simultaneas  com  as  folhas  « 6 
Flores  dispostas  em  corymbos  ou  cachos.  Floração  depois  da 
I     folheação 7 


184 


AMYGDALACEAS 


/ 


6 


1 


Folhas  rígidas,  lustrosas  na  pagina  superior,  glabras,  ovado- 
oblongas,  acuminadas,  sub-duplicádo-dentadas;  peciolos  nâo 
glandulosos.  Flores  (íig.  31,  D)  umbelladas,  produzidas 
em  botões  lateraes  cujas  escamas  internas  se  tomam  folia- 
ceas.  Drupa  comprimido-globosa,  vermelha,  acida  ou  aci- 
dula. Pequena  arvore.  Fl.  em  março  e  abril.  Originário  do 
Oriente:  cultivado  em  todo  o  paiz. —  Ginjeira. 

....  P.  Ceraras»  L. 

FoUiasmolles,  ovadas  ou  obovado-acuminadas,  baças  na  pagina 
superior  e  pubescentes  na  inferior,  com  dentes  grandes,  ^an- 
dulosos;  peciolos  glandulosos  na  base  do  linho.  Flores  longa- 
mente pedunculadas,  reunidas  2-6,  produzidas  em  botões  la- 
teraes cujas  escamas  nunca  são  foliaceas.  Drupas  globosas,  do- 
ces. Arvore,  ás  vezes  com  boas  dimensões.  FL  em  março. 

—  Cerejeira,  Cerdeira P.  awlniiit  L. 

Drupa  vermelho-escura,  do  tamanho  de  uma  ervilha  grande. 
Cultivada  na  Beira  boreal,  e  sub-espontanea» —  Cerejâra 

das  cerejas  pretas  miúdas v«  silveiitris*  Ser. 

Drupa  grande,  cordiforme-globosa,  obtusa  ou  levemente 
bilobada  no  cimo,  com  varias  cores.  Cultivada  em  toio 

o  paiz. — Cerejeira %*•  Daraclna*  !!€• 

Drupa  grande,  cordiforme-ovoide,  comprimida,  de  ordiná- 
rio escura.  Cultivada  em  todo  o  paiz. — Cerejeira  de  ce- 
rejas pretas %'•  «ialianaf  DC. 


Folhas  caducas 8 

Folhas  persistentes 9 


8{ 


Florei  pouco  numerosas,  muito  cheirosas,  dispostas  era  corym- 
bos  simples  levantados,  pouco  folhados  na  base  (fig.  31,  F). 
Sepalas  não  celheadas.  Arbusto  com  as  folhas  pecioladas,  ova- 
do-arredondadas,  levemente  acuminadas,  sub-cordiformesna 
base,  dentado-glandulosas,  glabras.  Drupas  peopienas,  acer- 
bas, ovoide-globosas,  negras.  Fl.  em  mato.  Traz-os-MonUs 
{Bragança) '. . .  P.  Mahalefc»  I- 

Flores  numerosas  em  cachos  simples  pendentes,  cylindricos, 
compridos,  folhados  na  base.  Flores  cheirosas,  taenores  qne 
na  espécie  anterior.  Sepalas  glanduloso-celheadas.  Arbasto 


8 


l 


amygdalAgeas  185 

ou  pequena  arvore  com  as  folhas  ovado-oblongas,  acumina- 
das,  grandes,  molles,  serradas,  não  glandulosas,  com  o  pe- 
ciolo  biglanduloso  no  cimo.  Drupas  pequenas,  acerbas,  glo- 
bosas,  negras.  Fl.  em  maio  ejnnho.  Região  norte:  Traz-os- 
Montes y  Entre-Douro-e-Minho^  Beira. — Pado^  azereiro  dos 
damnados P.  Padas*  Ij. 


I  Flores  dispostas  em  cachos  axillares,  compridos,  levantados, 
maiores  do  que  as  folhas  (fíg.  31 ,  E).  Drupas  pequenas,  muito 
amargas,  verdes,  depois  vermelhas,  e  na  maturação  negras. 
Arvore  com  as  folhas  ovado-lanceoladas,  coriaceas,  verde- 
negras  na  pagiia  superior,  serradas,  glabras,  não  glandulo- 
sas.  Fl.  de  abril  a  junho.  Região  norte  do  ^iz. — Azereiro. 

P.  liusltanlea»  Et* 

9 '  Flores  dispostas  em  cachos  axillares,  levantados,  menores  do 
que  as  folhas.  Drupas  pequenas,  ovóides,  negras,  amargas. 
Arvore  ou  arbusto  com  as  folhas  ovado-lanc^oladas,  coriaceas, 
•  glabras,  lustrosas  na  pagina  superior,  remotamente  serradas, 
com  2-4  glândulas,  na  pagina  inferior,  junto  á  nervura  mé- 
dia. Fl.  em  maio.  Originário  do  Oriente  e  cultivado  nos  jar- 
dins.— Loureiro  real  {em  Traz-os-Montes)^  louro-cerejo  ou 
\      loureiro^erejeira P«  liAurocerasuM»  l4. 

O  Damasqueiro,  o  Abrurtheiro,  a  Cerejeira  e  a  Ginjeira 
são  bastante  cultivados  entre  nós,  pelos  seus  fructos;  de 
todas  estas  arvores  existem  muitas  variações  culturaes.  Os 
fructos  das  espécies  silvestres  são  de^presados  em  todo  o 
nosso  paiz,  mas  em  alguns  pontos  da  Europa  aproveitam 
para  a  alcoolisação  e  preparo  de  diversos  licores  as  dru- 
pas do  P.  spinosa,  P.  fruticans,  P.  avium^  etc. 

A  Cerejeira  em  algumas  localidades  de  Portugal  é  muito 
abundante  e  adquire  grande  desenvolvimento;  a  sua  ma- 
deira, tenaz,  dura  e  pesada,  é  muito  estimada;  recebe  muito 
bom  polido  e  empregam-a  bastante  em  marceneria. 

Das  espécies  espontâneas  já  falíamos  no  capitulo  espe- 
tial. 


186  PAPIUONÀCEAS 


Família  XLin.— PAPILIONÁCEAS,  L. 

Flores  hermaphroditas,  irregulares.  Cálice  gamosepalo, 
com  5  divisões  eguaes  ou  deseguaes,  regalar  ou  bilabiado. 
Corolla  com  5  pétalas  livres,  menos  vezes  adherentes  infe- 
riormente, papilionácea :  com  uma  pétala  superior,  desegaal 
a  todas  as  outras,  e  muitas  vezes  maior  (fig,  32,  M,  G), 
que  se  denomina  estandarte;  com  duas  pétalas  laleraes, 
eguaes  entre  si,  que  se  denominam  aza.s;  e  duas  pétalas 
.  inferiores,  quasi  sempre  concrescentes  na  margem  externa  e 
juxtapostas,  formando  a  quilha  ou  nateta  (no  botão  floral  o 
estandarte  cobre  as  azas,  que  por  sua  vez  cobrem  a  qtiilha). 
10  estames,  inseridos  com  as  pétalas  sobre  p  cálice,  de  or- 
dinário incluidos  na  quilha,  raras  vezes  livres  (fig.  32,  A), 
quasi  sempre  monadelphos  (ligados  em  tubo  pelos  filetes— 
fig.  32,  C)  ou  diadelpbos  (9  concrescentes  pelos  filetes  e  1 
livre — fig.  32,  B);  aniheras  introrsas,  biloculares,  longitu- 
dinalmente deliiscentes.  Um  só  carpello,  livre,  produzindo 
um  fructo  quasi  sempre  secco  e  dehiscente  em  duas  válvu- 
las pela  sutura  ventral  e  nervura  dorsal  (va{iem — fig.  32, 
N,  O,  I,  Z'),  com  1-muitas  sementes.  1  estylete  alongado; 
estigma  simples.  Sementes  de  ordinário  sem  albumen,  me- 
nos vezes  com  pequeno  albumen.  Embryão  curvo.— Plan- 
tas herbáceas  ou  lenhosas,  inermes  ou  espinhosas,  com  as 
folhas  no  maior  numero  dos  casos  alternas,  1 -foliadas,  3-fo- 
liadas  ou  pinnuladas,  quasi  sempre  com  estipulas. 

Esta  familia  vegetal  dá  numerosas  espécies  úteis  ao  ho- 
mem; fornece  sementes  aUmenticias,  como  os  feijões,  em- 
lhas,  favas,  tentilhas,  tremoços,  etc,  ou  oleaginosas,  como  o 
mendobi;  fornece  aos  animaes  forragens  muito  nutritivaSi 
como  os  trevos,  luzernas,  erviUiacas,  samfenos,  serraddlas, 
etc.  Espécies  exóticas  d'esta  famiUa  produzem  substancias 


PAPIUONÁCEAS  187 

corantes,  como  o  anil,  ou  diversas  goramas  e  resinas.  As 
espécies  lenhosas  de  maior  porte  dão  madeiras,  algumas 
muito  estimadas. 

As  Papilionáceas  teem  numerosos  representantes  na  flora 
portugueza;  muitas  d'essas  espécies  são  herbáceas;  as  le- 
nhosas são  muito  vulgares  nos  matos,  charnecas,  e  florestas 
e  apresentam  de  ordinário  pequeno  porte:  são  arbustos  íio 
seu  maior  numero  pertencentes  à  tribu  das  Genisteas. 

Só  nos  referimos  ás  espécies  lenhosas. 

Estames  livres  (fig.  32,  A).  Arbusto  inerme  com  as  folhas  gran- 
des, 3-foliadas  (fig.  32,  A') Anagyrisi  (pag.  215) 

Estames  diadelphos  (fíg.  32,  6).  Folhas  imparipinnuladas. . .  2 
Estames  monadelphos  (fig.  32,  C).  Folhas  3-1-foliadas 3 

Vagem  cylindrica,  delgada,  articulalla,  quebradiça  transversal- 
mente em  frí^gmenlos.  Arbustos  inermes  com  flores  amarel- 

*  las,  umbelladas Coronllla  (pag.  190) 

Vagem  comprimida,  não  articulada,  longitudinalmente  dehis- 
cente  em  duas  válvulas.  Arvores  exóticas  com  estipulas  espi- 
nhosas. Flores  brancas  ou  rosadas  em  cachos  simples. 
Boblaia  (pag.  191) 

Cálice  unilabiado,  em  forma  de  spatha  (fig.  32,  C).  Arbusto 
inerme  com  os  ramos  junciformes.  Folhas  1-foliadas.  Flores 
amarellas flpariluiiB  (pag.  194) 

Cálice  tubuloso  ou  campanulado  com  5  dentes,  ou  5  divisões, 
eguaes  (fig.  32,  D') 4 

Cálice  hilabiado:  lábio  superior  mais  ou  menos  profundamente 
2-dentado  e  o  inferior  3-dentado  (fig.  32,  P,  G',  M',  X,  R, 
etc.),  raras  vezes  os  dois  lábios  inteiros 5 

Cálice  tubuloso  com  5  dentes  curtos.  Estipulas  sub-nullas.  Ar- 
bustos espinhosos.  Flores  amarellas. 
Calycotome  (pag.  208) 

Cálice  campanulado,  profundamente  5-fendido  (fig.  32^  D').  Es- 
tipulas concrescentes  com  o  peciolo.  Arbustos  e  sub-arbustos 
(e  plantas  herbáceas)  inermes  ou  espinhosos.  Flores  amarellas 
ou  avermelhadas Ononis  (pag.  192) 


188 


PAPIUO.VACEAS 


Fig,  38. — A:  Cálice  e  eatames  da  Anagym  foetida,  L.  (1:1)-  A'  FcJl» 
3'foliada  da  AnagyrU  foetida,  L.  (1:1).  B:  Caliça  e  eslames  da  Rt- 
binia  Pieudo-aeaeia,  L.  (1:1).  C:  Cálice  e  estantes  do  Sporltiim^- 
ceum,  L,  (1:1).  D.FníctodaOnonij  ffúpaníea.L.fil.  (1:1).  ly.oa- 
■ice isolado (3: 1).  K;  Ramo  alado  do  PtcrO)p(irtunil(UMntÃMni,SpKh. 
(1:1).  F:  Fnicto  da  Retama  ipkMroemya,  Bss.  (1:1).  6;  Petaiu  da 


PAPIUONÁCEAS  1 89 

Genista  berberidea,  Lge.  (1:1).  G':  Cálice  da  Genista  herheridea,  Lge. 
(2:1).  H:  Vagem  da  Genista  Toumefortii,  Spach.  (1:1).  H' :  Folha 
l-fo1iada  da  Genista  Toumefortii,  Spach.  (1:1).  J:  Vagem  da  Genista 
falcata,  Brot.  (1:1).  V :  i^amo  com  espinhos  lateraes  da  Genista  {ál- 
cata,  Brot.  (1:1).  K:  Folha  3-foliada  da  Genista  triacanthosy  Brot. 
(1:1).  L:  Ramo  espinescente  da  Genista  Hystrtx,  Lge.  (1:1).  M:  Pé- 
talas do  Sarothamnus  grandiflorus,  Wbb.  (1:1).  Ai':  Cálice,  estames 
e  estylele  enrolado  do  Sarothamnus  grandiflorus,  Wbb.  (1:1).  N:  Va- 
gem do  Sarothamnus  eriocarpus,  Bss.  &  Reut.  (1:2).  O;  Vagem  do 
Sarothamnus  oxyphyUus,  Bss.  (1:2).  P:  Cálice  e  estylete  do  Llex  eu- 
ropaeus,  L.  (1:1).  P':  Ramo  do  Ulex  europaeus,  L.  (1:1).  0:  Ramo 
do  Ulex  WelwitschianuSj  Plaach.  (1:1).  R:  Cálice  do  Ulex  spartioi- 
des,  Webb.  (1:1).  S:  Cálice  fructifero  do  Ulex  spectabiliSj  ^hh,  {i:i). 
T:  Cálice  e  estylete  do  Ulex  densvs,  Welw.  (1:1).  T':  o  estigma  do 
exemplar  anterior  (muito  augmentado). —  U:  Cálice  e  estylete  do  Ulex 
nantís,  Forst.  (1:1).  U:  o  estigma  do  exemplar  anterior  (muito  au- 
gmentado).— F:  Cálice  fructifero  do  Ulex  Vaillantii,  Whh.  (1:1).  X: 
Cálice  do  Labumum  vulgare,  Gris.  (1:1).  1':  Cálice  do  Cytisus  albus, 
Lk.  (1:1).  Z:  Cálice  do  Adenocarpus  intermedius,  DC.  (2:1).  Z':  Va- 
gem do  Adenocarpus  intermedius^  DC.  (1:1). 

Vagem  indehiscente,  entumecida,  ovóide  ouglobosa  (fig.  32,  F), 
di-monosperma.  Arbustos  inermes,  com  poucas  folhas  e  os 
5/      ramos  junciformes.  Flores  brancas  ou  amarellas.  ' 

- Retama  (pag.  194) 

Vagem  dehiseente,  comprimida  ou  levemente  entumecida. . .  6 

Ramos  2-3  alados  equasi  articulados  (fig.  32,  E).  Flores  fasci- 

6{      culadas,  amarellas Pterosparium  (pag.  201) 

Ramos  não  alados 7 

Arbustos  muito  espinhosos,  em  adultos  aphyllos,  com  phyllo- 
dias  estreitas  em  logar  de  folhas.  Cálice  membranoso,  corado 
(amarello),  profundamente  bilabiado  até  á  base  (fig.  32,  P, 
' '       U,  T),  ou  até  V4  (fig-  ^^2,  R,  S).  Flores  amarellas. 

: Ulex  (pag.  202) 

Plantas  inermes  ou  espinhosas,  mais  ou  menos  folhadas. ...  8 

Cálice  com  os  lábios  curtos  (fig.  32,  M',  X,  Y).  Plantas  não  es- 

j. .     pinhosas 9 

Cálice  com  os  lábios  compridos  (fig.  32,  G'y  Z).  Flores  amarei- 
ias  *••••••••..•••••••••••..•.••.......••.••••   ** 


1 90  papiuonAceas 

Quilha  pendente  no  fim,  deixando  os  estames  a  descoberto.  Es- 
tylete  comprido,  enrolado  sobre  si  mesmo  (fig.  32,  M^.FIo- 
Q I  res  grandes  (fig.  32,  M),  amarellas,  lateraes,  solitárias,  ge- 
minadas ou  fasrieuladas flarotbamnns  (pag.  2i0) 

Quilha  com  os  estames  sempre  inclusos.  Estylete  curvo,  mas 
não  enrolado 10 

Lábios  do  cálice  inteiros  (fig.  H,  X).  Flores  amarellas,  dispos- 
tas em  cachos  pendentes lialraraam  (pag.  213) 

r  Lábio  superior  do  cálice  2-partido,  2-dentado  ou  troncado,  e  o 
inferior  3-dentado  (fig.  32,  Y).  Flores  amarellas  ou  brancas, 
axillares  ou  terminaes,  capitadas  ou  em  espigas. 
.*. . .  Cytlsu»  (pag.  200) 

Vagem  luhercnloso-giandulosa  (fig.  32,  Z') .  Flores  em  cachos 

terminaes.  Lábio  superior  do  caliça  bipartido  até  á  base,  e  o 

11^     inferior  3-denlado  ou  3-fendido  (íig.  32,  Z).  Arbustos  íd«'- 

mes Adenf^arpus  (pag.  213) 

Vagem  não  tuber  ;uloso-glandulosa 12 

Estandarte  orbicular;  quilha  curva,  não  pendente.  Cálice  com 
o  lábio  superior  profundamente  2-partido  e  o  inferior  3-fen- 
dido ou  3-(lentado.  Pequeno  sub-arbuslo  inerme,  felpudo, 
prateado,  com  pedúnculos  oppostos  ás  folhas,  supportando  1-5 
-^        flores Ariryrolobiain  (pag.  215) 

Estandarte  estreito  (fig.  32,  G) ;  quilha  recta  ou  sub-curva,  mui- 
tas vezes  pendente  depois  da  fecundação.  Cálice  (fig.  32,  G') 
com  o  lábio  superior  2-fendido  ou  2-partido  e  o  inferior  3-deD- 
tado.  Arbustos  ou  sub-arbustos,  inermes  ou  espinhosos. 
«ciilfiia  (pag.  195) 

Coronilla,  L. — Cálice  campanulado,  com  os  dentes  sub- 
egiiaes,  sendo  os  dois  superiores  quasi  complelamente  con- 
crescentes.  Estandarte  sub-orbicular;  quilha  recurvada,  pon- 
teaguda.  Estames  diadelphos.  Vagem  indebiscenie,  molti- 
articulada,  recta  ou  curva,  cylindrica  ou  angulosa,  quebra- 
diça transversalmente  em  artículos  monospermos. — Arbus- 
tos, sub-arbustos  e  plantas  herbáceas,  com  às  folhas  impa- 
ripinnuladas  e  as  flores  amarellas,  umbelladas. 


PAPIUONÁCEAS  191 

Estandarte  com  a  unha  2-3  vezes  maior  do  que  o  cálice.  Arbusto 

muito  glabro.  Folhas  com  5-9  foliolos  obovado-Ianceolados. 

Pedúnculos  eguaes  ou  sub-eguaes  á  folha,  com  2-3  flores. 

i(     Vagem  pendente  com  7-iO  artículos.  Pequeno  arbusto.  Fl. 

de  abril  a  junho.  Cultivada  nos  jardins. 

C.  Kmerus»  Ij. 

Estandarte  com  a  unha  egual  ou  sub-egual  ao  cálice 2 

Ramos  folhosos  rígidos.  Folhas  glaucas  com  5-9  foliolos  obova- 
docuuheados,  obtusos  ou  levemente  chanfrados.  Estipulas  pe- 
quenas, caducas.  Pedúnculos  o  dobro  maiores  do  que  as  fo- 
lhas, com  6-12  flores.  Vagem  com  2-3  articulos.  Pequeno 
arbusto.  Fl.  de  março  a  julho.  Espontânea  nas  te  iras  calca- 
reaSy  etc.^  Beira,  Estremadura^  Algarve^  etc,  e  cultivada 

2/     nos  jardins. — Senna  do  reino C.  glauca»  li. 

I  Ramos  afilados,  medullosos,  compressíveis,  juncíformes,  com 
poucas  folhas,  pequenas,  caducas.  Folhas  com  3-7  foliolos  li- 
neares. Pedúnculo  comprido,  maior  que  a  folha,  com  5-8  flo- 
res. Vagem  com  2-iO  articulos.  Sub-arbusto  (?)  glauco.  Fl. 
de  abril  a  julho.  Collinas  caícareaSy  na  região  do  sul:  Al- 
garve, etc C.  Juncea*  !<• 

Este  género  tem  ainda  espontânea  no  paiz  uma  espécie 
herbácea  annual,  a  C.  scorpioides ,  Koch.  As  espécies  lenho- 
sas nâo  teem  nenhuma  importância  florestal;  cultivam-se 
nos  jardins  a  C.  Emerus,  L.,  e  C.  glauca,  L. 

Robinia,  L.-^ Acácia  bastarda. — Flores  brancas  ou  rosa- 
das, dispostas  em  cachos  simples,  pendentes.  Cálice  cam- 
panulado,  bilabiado,  com  o  lábio  superior  bi-  e  o  inferior 
tridjentado  (fig.  32,  B).  Estandarte  grande,  arredondado; 
azas  do  tamanho  da  quilha;  quilha  curva.  Estames  diadel- 
phos  (flg.  32,  B).  Vagem  dehiscente  em  2  válvulas  longi- 
tndinaes,  não  articulada,  secca,  comprimida,  polysperma, 
coma  sutura  ventral  estreitamente  alada. — Ar^vores  da  Ame- 
rica do  Norte,  com  as  folhas  imparipinnuladas,  alternas;  es- 
tipulas, muitas  vezes,  transformadas  em  espinhos. 


192 


papiuonAceas 


Arvore  de  grandes  dimensões.  Folhas  com  5-10  pares  de  folio- 
los  ellipticos,  glabros.  Estipulas  transformadas  em  espinhos, 
persistentes  muitos  annos.  Flores  brancas,  cheirosas.  Vagens 
lineares,  pendentes,  contendo  10-12  sementes.  Fl.  em  maio 
e  junho.  Cultivada  nos  jardins, parques,  matas,  estradassem 
quasi  todo  o  paiz, — Acácia  bastarda, 
R.  Piieiid€»-acacia»  L. 


Ononis,  L.— Cálice  campanulado,  profundamente  5-fen- 
dido,  com  as  lacinias  sub-eguaes  (fig.  32,  D').  Estandarte 
grande,  sub-orbicular,  estriado;  azas  obovado-oblongas ;  qui- 
lha curva,  terminada  em  ponta,  raras  vezes  obtusa.  Esta- 
mes  monadelphos.  Estylete  curvo  no  meio.  Vagem  dehis- 
cente  em  duas  válvulas,  oblonga  ou  linear,  cylindrica  entu- 
mecida, ou,  menos  vezes,  comprimida:  inclusa  no  cálice, 
persistente  ou  saliente  (fig.  32,  D).  Plantas  herbáceas  íaH- 
nuaes  ou  perennes)  ou  lenhosas,  arbustivas  ou  sub-arbus- 
tivas,  inermes  ou  espinhosas,  com  as  folhas  1-3-foliadas,  ra- 
ras vezes  pinnuladas.  Estipulas  concrescentes  com  os  pecio- 
los.  Corollas  avermelhadas  ou  amarellas. 

(Este  género  tem  bastantes  espécies  indigenas,  mas  um 
grande  numero  d'ellas  são  herbáceas  e  por  isso  as  não  re- 
ferimos. As  espécies  lenhosas  não  teem  nenhuma  importân- 
cia; são  as  seguintes): 

Flores  avermelhadas,  sub-sesseis  ou  com  pedúnculos  muito  cur- 
tos. Sub-arbustos  espinhosos 2 

Flores  amarellas,  quasi  sempre  com  o  estandarte  estriado  de 
vermelho,  pedunculadas.  Sub-arbustos  inermes 4 

Estandarte  o  dobro  maior  do  que  o  cálice.  Vagens  do  tamanho 
dos  cálices,  com  2-4  sementes.  Foliolos  linear-oblongos,  sob- 
glabros.  Fl.  em  junho  e  julho.  Sitios  arenosos  e  calcareos, 
margens  dos  campos,  etc,:  Traz-os-MonteSy  Beira,  eíc.— 
{Ononis  spinosa  a  L.)  O.  campestrls,  líocli.  úl  EIb. 

Estandarte  só  com  V3,  o  máximo,  saliente  do  cálice.  Vagem 
com  1-2  sementes 3 


papilionAceas  193 

'  Yagem  com  1-2  sementes^  ovada,  menor  do  qae  o  cálice.  Fo- 
lhas grandes,  ás  vezes  todas  1-foIiadas,  outras  vezes  l-foliadas 
as  do  cimo  e  3-foliadas  as  da  base;  foliolos  ovados,  obtusos. 
Planta  muito  glanduloso-pubescente,  viscosa.  Fl.  em  maio  e 
junho,  CaminhoSj  campos^  etc.-^Besta  boi^  unha  gata. 

O.  procarrenst  Jl¥a,llr. 

Espinhos  fracos.  Folhas  ás  vezes  sub-glabras  e  pouco  vis- 
cosas. Beira,  Estremadura,  AlemtejOy  etc. — (O.  spinosa 

p  L.  e  Brot.) v.  wnlfaris»  Iii^e« 

Espinhos  grandes,  fortes.  Folhas  obovado-arredondadas; 
flores  pequenas.  Estremadura^  Alemtejo,  etc. 

▼•  spinoMlsslina*  Ij^e. 

Yagem  com  uma  semente,  lenticular,  egual  ao  cálice  ou  menor. 
Foliolos  pequenos,  obovados.  Planta  levemente  felpuda  ou 
glanduloso-pulverulenta.  Flores  pequenas.  Espinhos  fortes. 
Fl,  de  junho  a  setembro.  Na  região  norte  [Caldas  de  Moledo). 
\      0«  antlquorani»  li. 


Folhas  superiores  1-foUadas  e  as  restantes  3-foliadas;  foliolos 
sub-coriaceos,  obovados.  Estipulas  inteiras.  Pedúnculos  aris- 
tados,  sub-eguaes  á  folha.  Flores  grandes.  Planta  mais  ou 
4/  menos  viscosa.  Fl.  de  março  a  agosto.  Estremadura,  Alem- 
tejOy  etc— {O.  Hispânica y  Brot .,  ex  p,,  e  0.pinguis,Brot.) 
*  O.  IVatrIx,  Ia* 

Folhas  todas  3-foliadas.  Plantas  muito  viscosas 5 

Foliolos  planos,  obovados  ouf  oblongo-lineares.  Estipulas  intei- 
ras ou  pouco  dentadas.  Pedúnculos  aristados,  o  dobro  maio- 
res do  que  as  folhas.  Fl.  de  abril  a  outubro.  Nas  areias^  prin- 
K  I  eipalmente  das  costas  maritimas:  Estremadura,  etc. — Joina 
dos  matos,  {O,  Hispânica,  Brot,,  exp.) 
^  Ok  ramosiMlma»  Desf* 


Foliolos  canaliculados  ouconduplicados  (dobrados  ao  meio),  mais 
ou  m^nos  arredondados.  Estipulas  serradas 6 

1  Variedade  major,  Bss. 

2  Variedade  wilgaris.  Gr.  Godr. 

c.  a. — V.  n.  13 


6 


194  PAMUONÁGEAS 

Peciolos  maiores  do  que  as  folhas,  arístados  (fíg.  32,  D).  Folio- 
los  peqaenos,  maito  próximos,  obovado-canheados,  desde  o 
meio  inciso-  oa  crespo-dentados.  Planta  maitissimo  ramosa, 
densa.  Fl.  de  junho  a  agosto.  Terrenos  arenosos  do  littoral: 
Estremadura O*  Hispânica»  L«  úh 

Peciolos  menores  que  as  folhas,  muticos.  Foliolos  arredonda- 
dos, crespo-dentados.  Folhas  inferiores  ás  vezes  S-pinnola- 
das.  Fl.  em  março  e  abril.  Região  sul  (?)  ^.  o.  crispat  L. 

Retama,  Bss. — Piorno. — Flores  dispostas  em  cachos  la- 
teraes.  Cálice  pequeno,  bilabiado,  como  lábio  superior 2-fen- 
dido  e  o  inferior,  3-dentado.  Unhas  das  pétalas  (de  todas 
ou  das  4  inferiores)  concrescentes  até  ao  meio  com  o  tubo 
dos  estames.  Estames  monadelphos.  Vagem  entumecida, 
indehiscente,  di-monospcrma  (fig.  32,  F).  Sementes  com  o 
tegumento  córneo,  muito  duro. — Arbustos  com  os  ramos 
por  fim  aphyllos.  Folhas  pequenas,  as  primeíl-as  3-foliadas 
e  as  mais  tardias  1 -foliadas. 

Corolla  branca.  Fructo  com  i-2  sementes,  ovóide,  mucronado, 
rugoso,  um  pouco  polposo.  Cálice  avermelhado,  só  persis- 
tente na  base.  Ramos  prateados.  Fl.  de  fevereiro  a  abril.  Nos 
areiaes  do  littoral,  etc  ,  Estremadura  e  Alemtejo. — Piorno 
branco  (Spartium  monospermum,  L.  e  Brot.) 
B«  monofipeniia»  Btt* 

Corolla  amarella.  Fructo  com  uma  semente,  globoso,  liso,  com 
o  pericarpo  secco,  duro,  córneo  (fig.  32,  F).  Cálice  todo  per- 
sistente. Ramos  acinzentado-esverdinhados.  FL  em  maio  e  ju- 
nho. Pinhões,  campos,  matos,  etc:  Traz-os- Montes,  Estrema- 
dura, etc. — Piorno  amarelto  (Spartium  sphaerocarpumj  L. 
e  Brot.) B.  splifterocarpa»  Bm> 

Sparliam,  L. — Giesta. — Cálice  persistente,  unilabiado  oa 
spathaceo  (fig.  32,  C),  com  as  margens  escariosas.  Estan- 


I 


1  Citada  pelos  srs.  Willkomm  &  Lange,  no  Prod^^mus,  sem  indiciçSo 
de  locaUdade. 


PAPIUONÁGEAS  195 

darte  grande,  levantado;  azas  com  as  unhas  adherentes  ao 
tabo  dos  estames;  quilha  sub-eguai  ao  estandarte,  asseti- 
nado-felpuda  na  margem  exterior.  Estames  monadelphos 
(flg,  32,  C).  Estylete  linear,  curvo  no  cimo.  Vagem  linear, 
comprimida,  dehiscente,  polysperma. 

Arbusto  com  os  ramos  cylindricos,  estriados,  meduUosos,  jun- 
ciformes,  muito  pouco  folhados.  Folhas  1-foliadas,  sem  esti- 
pulas. Flores  grandes,  amarellas,  cheirosas,  dispostas  em  ca- 
chos terminaes.  Vagem  comprida,  escura.  Fl.  de  maio  aju' 
Iko.  SebeSy  matas,  etc:  Beira,  Estremadura,  etc. —  Giesta 
ordinária,  giesteira  dos  jardins S*  Junceam»  lá* 

Genista,  DC.  (excl.  sp.J. — Giesta. — Flores  amarellas,  dis- 
postas por  diversos  modos,  inseridas  na  axilla  de  uma  bra- 
ctea  ou  de  uma  folha  floral  e  com  os  pedicellos  bibracteo- 
lados.  Cálice  herbáceo  ou  sub-coriaceo  (raras  vezes  corado) 
campanulado,  bilabiado  com  o  lábio  superior  2-fendido  ou 
2-partido  e  o  inferior  3-dentado  (fig.  32,  G%  marcescente 
ou,  menos  vezes,  caduco.  Unhas  das  pétalas  inferiormente 
adherentes  ao  tubo  dos  estames,  raras  vezes  livres.  Estan- 
darte estreito  (fig.  32,  G);  azas  estreitas;  quilha  obtusa,  re- 
cta ou  sub-curva,  muitas  vazes  pendente  depois  da  funda- 
ção, deixando  os  estames  a  descoberto.  Estames  monadel- 
phos.  Estylete  filiforme,  curvo  no  cimo.  Vagem  pequena 
ou  comprida,  recta  ou  (menos  vezes)  curva  em  foice,  com- 
primida ou  (raramente)  um  pouco  entumecida,  dehiscente 
em  duas  válvulas,  mono-polysperma. — Arbustos  e  sub-ar- 
bustos  inermes  ou  espinhosos  (com  espinhos  lateraes  sim- 
ples ou  compostos,  ou  com  os  ramos  só  espinescentes  na 
extremidade).  Ramos  folhosos.  Folhas  (ás  vezes  bastante 
caducas)  1-3-fohadas,  alternas  ou  oppostas,  estipuladas  ou 
nâo. 


.  \  Plantas  espinhosas S 

j  Plantas  inermes.  Folhas  1-foliadas 19 

13* 


196  PAPIUONÁGEAS 

Espinhos  axillares,  simples  ou  compostos  (fig.  32,  J^ 3 

2  {  Ramos  só  espinescentes  na  extremidade  (sem  espinhos  axilla- 
res)  (fig.  32,  L),  rígidos,  estríados  ou  sulcados 16 

Folhas  todas,  ou  a  maior  parte  3-foliadas  (fig.  32,  E).  Yagan 

«  .     comprímida ' 4 

Folhas  todas  1-foliadas  (fig.  32,  H'),  ou  pelo  menos  as  dos  ra- 
mos floríferos 7 

Folhas  oppostás,  estipuladas.  Foliolos  linear-lanceolados,  asse- 

-  .     tinados.  Cálice  colanilhoso . , 5 

Folhas  alternas,  sfem  estipulas.  Foliolos  glabros  ou  pulverulen- 
tos. Cálice  glabro  ou  sub-glabro.  Estandarte  glabro 6 


Estandarte  lanoso,  obcordiforme,  pouco  maior  do  que  o  caliça. 
Lacinias  do  labio  superior  do  cálice  proximamente  três  vezes 
maiores  do  que  o  tubo.  Espinhos  rígidos,  picantes.  Foliolos 
prateado-assetinados.F/.  em  julho  e  agosto.  Região  norte  nm- 
tanhosa  {Traz-oS'Montes,  Estrella,  etc.) 
S( CS.  liUsKanlcat  L. 

Estandarte  glabro  ou  sub-glabro,  arredondado,  bílobado-chan- 
frado,  o  dobro  maior  do  que  o  cálice.  Lacinias  do  labio  supe- 
rior do  cálice  sub-eguaes  ao  tubo.  Espinlios  delgados,  compri- 
dos, não  picantes.  Fl.  em  junho  e  julho.  Serra  da  Estrella{1) 
O.  Barnade«ll»  Clrlls* 


Espinhos  simples,  grossos,  arqueados.  Cachos  com  3-12  flores. 
Lacinias  *do  labio  superior  do  cálice  sub-maiores  do  que  o 
tubo.  FL  em  março  e  abril.  Alemtejo  e  Algarve. 
G.  scorpiolile**  Spacfe- 

Espinhos  compostos,  ramosos  ou  em  cruz,  mais  delgados  eme- 
6/  nores  que  na  espécie  anterior.  Cachos,  mais  ou  menos  frou- 
xos, com  S-i5  flores.  Lacinias  do  labio  superior  do  cálice 
duas  vezes,  proximamente,  maiores  do  que  o  tubo.  Yagem 
pequena,  ovada,  escura,  glabra  por  fim,  com  1-2  sementes. 
'  FL  de  março  a  agosto.  Matos,  bosques,  etc:  em  qui*si  toiaq 
foia.—  Tojo  mollar O,  triacantliiMt  Krol* 


PAPnJONÁCEAS  197 

Vagem  pequena  (mas  maior  do  que  o  cálice)  com  1-4  sementes, 
ovada  ou  arredondada  (fig.  32,  H).  Cálices  mais  ou  láenos 
cotanilbosos.  Folhas  todas  1-foIiadas 8 

Yagem  grande,  muito  maior  do  que  o  caUce,  com  4-18  semen- 
tes, linear-oblonga  ou  curva  (fig.  32, 1) 12 , 

Estandarte  egual  á  quilha  ou  maior.  Espinhos  compostos.  Ca- 
chos apertados,  umbelliformes,  com  5-12  flores,  folhas  mol- 
les,  mais  ou  menos  felpudas  ou  hirsutas.  Yagem  com  1-2  se- 
8{  mentes,  escura,  hirsuta  em  nova  e  depois  glabra.  FL  de  maio 
a  julho.  Matos  da  região  calcarea  do  sul  (?) 
C».  Hispânica*  Ij* 

Estandarte  menor  (V2  ou  Va)  do  que  a  quilha 9 

Espinhos,  uns  simples  outros  trifurcados,  robustos,  muito  pi- 
cantes. Bractea  e  bracteolas  collocadas  no  cimo  dos  pedicel- 
los.  Folhas  glabras  na  pagina  superior,  celheadas,  e  na  pa- 
gina inferior  lanuginosas.  Flores  numerosas  em  espigas  aper- 
tadas. Ramos  novos  lanuginosos,  esbranquiçados.  Vagem  pa- 
Q I  bescente,  escurí^,  monosperma.  FL  de  março  a  junho.  Cam- 
pos incultos,  bosques,  matos:  Alemtejo. 

€>•  liir«iita»  Talil« 

Cachos  capitados.  Algarve,  v,  Algarviensiii*  Brot« 

Espinhos  compostos.  Ramos  hirsutos.  Bractea  na  base  do  pedi- 

cello;  bracteolas  nuUas,  ou  collocadas  próximo  ao  meio  do 

\     pedicello 10 

Bractea  setacea,  pequena,  menor  do  que  o  tubo  do  cálice,  ftra- 
cteolas  nullas.  Cachos,  com  5-12  flores,  sub-capitados.  Va- 
gem escura,  com  pellos  brancos,  hirsuta.  Ramos  floriferos 
10 (  espinhosos  ou  sub-inermes.  FL  de  março  a  maio.  Estremch 
dura. — (6.  Germânica,  BroL)  ^*  decipiens»  fllpaelft. 
Bractea  grande,  sub-egual  ao  cálice,  assovelada.  Pedicellos  bi- 
iM^acteolados 11 

I  Ramos  floriferos  também  espinhosos.  Espinhos  delgados,  asso- 
velados,  muito  ramosos.  Estandarte  no  dorso,  junto  ao  cimo, 
puÊescente  ou  glabro.  Cachos  com  muitas  flores,  primeiro 


198  PAPIUONÁCEAS 

ovados,  depois  oblongos.  Vagem  ovada,  escura,  com  muitos 
pellos  brancos,  hirsuta,  monosperma  (fig.  32,  H).  Fl.  de  abril 

11  {      a  junho.  Matos,  pinhaes,  etc.  Estremadura. 
€}•  Toamefortll*  flpacli. 

Ramos  floriferos  inermes.  Espinhos  ramosos,  rígidos,  picantes. 
Estandarte  glabro.  Cachos  com  muitas  flores.  FL  em  março, 
abril.  Estremadura.  {Serra  de  Cintra,  Monsanto^  etc.) 
^      1  «•  "iVel^vItaicItil»  Spacfe. 

Yagem  recta  ou  quasi  recta,  glabra.  Flores  inseridas  na  axilla 

12  {      de  uma  folha  ou  bractea  herbácea  foliforme 13 

Yagem  curva.  Folhas  todas  l-foliadas 14 

Yagem  comprimida.  Folhas  todas  l-foliadas.  Espinhos  numero- 
sos, robustos,  picantes,  os  superiores  simples  e  os  inferiores 
trifurcados  ou  ramosos.  Folhas  floraes  obovadas  ou  arredou-* 
dadas.  Flores  fasciculadas,  raras  vezes  solitárias  ôu  gemina- 
das, formando  um  cacho  terminal  comprido  e  denso.  R.  di 

13  {     fevereiro  a  julho.  Região  sul  (?) G*  ScorploA*  DC. 

Yagem  um  pouco  entumecida.  Folhas  dos  ramos  floriferos  l-fo- 
liadas e  as  do  caule  e  dos  ramos  estéreis  3-foliadas.  Espinhos 
simples  ou  compostos.  Bractea  foliacea,  aguda,  grande,  maior 
que  o  pedicello.  Cachos  com  4-12  flores.  FL  (?)  Nos  maUa: 
Alemtejo ^.  ancIsCrocarpa»  Spach. 

Flores  inseridas  na  axilla  de  uma  bractea  obtusa,  grande,  folia- 
cea. Yagem  curva  no  cimo  e  na  base,  sub-entumecida,glabra. 
Espinhos  simples,  menos  vezes  trifurcados  òu  ramosos.  Ca- 
. ,  j  chos  com  5-15  flores.  FL  de  maio  a  julho.  Matagaes^  bosques 
ptc,  na  região  norte  e  no  centro  (Traz-os-Montes^  Dmm^ 
Beira^  Estremadura) Ci.  An^llca»  !<• 

Flores  inseridas  na  base  de  uma  bractea  muito  pequena.  Vagens 
comprimidas  ou  sub-comprimidas,  falciformes 15 


1 


Temos  grandes  duvidas  de  que  eçtas  ires  espécies — G.  decipietu,  §. 
Toumefortii  e  G.  Wdwitschii — sejam  bem  distinctas;  antes  suppomos 
que  existem  formas  intermédias  que  as  reúnem. 


papiuonAceas 


199 


Yagem  glabra,  com  10-18  sementes  amarelladas.  Espinhos  sub- 
simples  ou  ramosos  (fig.  32,  F).  Cachos  pouco  apertados,  com 
poucas  flores.  Pediceilos  bibracteolados  no  meio.  Laciniasdo 
]abio  superior  do  cálice  obtusas.  Fl.  de  março  à  julho.  Matos 
e  silvados  na  região  norte:  Traz-os-Montes^  Douro^  Beira 
16 \     etc. —  T&jo  gadanho Q»  ftílcata»  Brot. 

Vagem  celheada  com  muitos  pellos  brancos,  contendo  5-6  se- 
mentes escuras.  Espinhos  tridivididos.  Flores  terminaes,  ge- 
minadas ou  solitárias.  Pediceilos  com  as  duas  bracteolas  quasi 
na  base.  Lacinias  do  labio  superior  do  cálice  agudas.  Fl.  de 
março  a  julho.  Douro  (Porto). . .  Ci.  Iierlierldea»  lige* 

Quilha  occultando  sempre  os  estamos 17 

16  {  Quilha  caida  para  baixo  no  fim,  deixando  os  estames  a  desco- 
berto    18 


Estandarte  assetinado  externamente,  assim  como  a  quilha.  Flo- 
res solitárias  ou  geminadas;  bracteolas  nullas  ou  muito  pe- 
quenas. Folhas  muito  pequenas  (1-foliadas).  Vagens  lanceo- 
lado-oblongas,  branco-assetinadas,  com  2-4  sementes.  FL  em 

junho  e  julho,  Algarve^  etc G.  liObelli»  DC 

Estandarte  glabro  externamente;  quilha  pulverulenta.  Ramos 
fortemente  espinescentes  (fig:  32,  L),  em  adultos  tubercula- 
dos^  aphyllos.  Flores  reunidas  1-4  em  fasciculos  lateraes,  for- 
mando no  extremo  dos  ramos  cachds  curtos.  Pediceilos  bra- 
cteolados  quasi  no  meio.  Folhas  muito  pequenas  (1-foliadas). 
Vagens  lanceolado-lineares,  assetinadas,  com  2-S  sementes. 
FL  em  junho  e  julho.  Sítios  alpestres  da  região  do  m  rte, 

G.  Hyiitrix»  liffe* 

Ramos  (excepto  no  cimo)  e  a  pagina  superior  das  folhas 
glabros.  Cálices  assetinados.  Estandarte  obtuso^  sub-in- 
teiro.  Bragança,  Serra  da  Estreita,  lí.  glabra»  Ijge* 
Bamofi  muito  felpudos,  assim  como  as  duas  paginas  das  fo- 
lhas. Cálices  muito  hirsutos.  Estandarte  chanfrado,  ex- 
ternamente assetinado  junto  á  nervura  media;  azassub- 
celheadas.  Bragança w,  ^illoaa*  Ijge. 


17 


1 


Lábios  do  cálice  sub-eguaes.  Vagem  recta,  comprimida,  densa- 
18|      mente  felpudo-assetinada.  Ramos  com  a  casca  gretada.  Ra- 


200  PAPIUONÁGEAS 

minhos  fasciculados  ou  alternos.  Flores  numerosas,  iáseiea- 
ladas,  formando  cachos  pouco  apertados.  Fl.  de  fevereiro  a 
março,  AlemUjo  e  Algarve, 

CS«  polyantkom  B*  de  Bémer. 

Lábios  do  cálice  deseguaes.  Vagem  pouco  felpuda.  Ramos  com 
a  casca  não  gretada,  mais  delgados  que  na  espécie  anterior. 
Raminhos  não  fasciculados.  Fl.  em  junho.  Algarve. 
Cl.  Bonrsaei»  Mpacli* 


18 


19 


Cálice  persistente;  corolla  marcescente.  Quilha  felpudo-asseti- 
nada,  e  ás  vezes  também  o  estandarte 20 

Cálice  e  corolla  caducos.  Pétalas  todas  glabras,  ou  sub-glabras. 
Folhas  glabras 21 


/  Estandarte  muito  pubescente-assetinado  externamente;  quilha 
assetinada.  Flores  lateraes  sobre  os  raminhos,  geminadas  oa 
solitárias,  pedicelladas  (pedicellos  não  bracteolados,  do  tama- 
nho dos  cálices),  inseridas  na  axilla  de  muitas  folhas  fascica- 
ladas.  Ramos  novos  com  bastantes  folhas.  Folhas  oblongo-lan- 
^^  j  ceoladas,  assetinado-pulverulentas  em  ambas  as  paginas,  as- 
sim como  os  ramos  novos  e  os  cálices.  PI.  dejur.ho  aagotío. 

Serra  da  Est relia C  clnerasoens*  Lfe* 

Estandarte  glabro;  guilha  assetinada.  Flores  inseridas  junto  a 

uma  pequena  bractea,  grupadas  em  cachos  terminaes,  sobre 

os  rebentos.  Folhas  grandes,  planas,  assetinadas  na  pagina 

\     inferior  e  na  superior  glabras 21 

Lacinias  do  lábio  superior  do  cálice  duas  vezes  maiores  do  que 
o  tubo;  lábio  inferior  3-fendido.  Estandarte  bilobado.  Vagem 
sub-glabra  com  3-6  sementes.  FL  de  maio  a  julho.  Entre 
Douro-e-MinhOy   Traz-os-Montes,  Beira,   Estremadura.^ 
3-  /     Piorno  dos  tintureiros  {G.  polygalaepkyllay  Brot,) 

C  iioly^alaerolia,  DC* 

Lacinias  do  lábio  superior  do  cálice  pouco  maiores  do  qae  o 
tubo;  lábio  inferior  3-dentado.  Estandarte  chanfrado.  Vagem 
felpudo-cotanilhosa,  com  2-8  sementes.  Fl.  de  maio  a  julho. 
TraZ'OS'Montes «•  leptodada»  €}Ay. 


22 


PAPIUONÁGEAS  20  i 

Vagem  celheada  no  bordo  superior.  Estandarte  maior  do  que 
as  azas.  Folhas  linear-lanceoladas,  mucronadas.  Bracteas  fi- 
liforme-assoveladas.  FL  ent  julho  e  agosto.  Grandes  altitudes 
da  região  norte:  Gerez^  Bragança,  etc, 
€■•  mlcrantlia»  C;.  Ort. 

Vagem  muito  glabra.  Estandarte  bastante  maior  do  que  as  azas, 
e  estas  muito  pe(|uenas.  Folhas  linear-Ianceoladas.  Bracteas 
assoveladas.  Flores  pequenas.  Fl.  em  junho  e  julho.  Região 
norte:  Serra  do  Gerez^  Marão,  etc. — {G.pairiflora,  Brot.) 
CS.  Broteri»  Poir. 

Pterospartum;  Spach. —  Carqueja. — Ramos  alternos,  2-3 
alados,  apertados  na  inserção  das  folhas,  quasi  articulados 
(fig.  32,  E).  Folhas  simples,  sesseis,  ou  (em  todas  as  es- 
pécies indigenas  *)  nijUas,  substituídas  por  pbyllodias  pla- 
nas, persistentes,  decurrentés  de  ambos  os  lados  com  as 
aza»  do  eixo.  Flores  fasciculadas,.  corymbosas  ou  capitadas, 
terminaes  ou  lateraes;  pedicellos  inseridos  na  axilla  de  uma 
bractea  e  bibracteolados  no  cimo.  Cálice  persistente,  egual 
ao  do  género  anterior.  Corolla  marcescente,  com  as  péta- 
las- sub-eguaes.  Estames  monadelphos.  Vagem  oblongo-li- 
near,  comprimida,  sub-inclusa  na  quilha,  com  1-6  semen- 
tes. Arbustos  ou  sub-arbu^tos  inermes,  com  as  flores  ama- 
rellas  ou  cor  de  oiro. 

Flores  densamente  capitadas  (7-15).  Estandarte  um  pouco  asse- 
tinado  externamente;  quilha  e  ovário  prateado-assetinados. 
Ramos  novos  largamente  bialados  (fig.  32,  E).  F/.  de  março  a 
julho.  Região  norte  montanhosa..  Traz-os- Montes,  Minho, 
Beira. —  Carqueja P«  lasianiliiiiii»  Spacli. 

Flores  geminadas  ou  pouco  numerosas  (3-7),  em  fasciculos  ou 
corymbos.  Ramos  com  azas  mais  estreitas 2 

1  A  espécie  com  folhas,  P.  sagittale,  (L.)  Wh.,  existe  na  Hespanha  e 
•é  mencionada  também  como  espécie  portugueza  no  Prodromus  dos 
srs.  Willkomm  &  Lange;  mas  não  sabemos  onde  exista,  nem  o  sr. 
Mariz  a  inclue  no  seu  trabalho  sobre  as  PapUionáceas  publicado  no  n 
boletim  annual  da  Sociedade  Broteriana,  1884. 


202  PAPIUONÁGEAS 

Estandarte  assetinado  externamente.  Flores  quasi  sesseis.  Bra- 

cteolas  espatuladas,  um  pouco  menores  do  que  o  cálice.  Ca£ee 

assetinado-cotanilhoso,  prateado.  Quilha  lanuginosa.  Fl.  em 

julho.  Marinha  Grande,  etc. — Carqueja. 

P.  scolopendriuiii»  Spack. 

Estandarte  glabro 3 

Pedicellos  sub-maiores  do  que  o  tubo  do  cálice.  Bracteolas  filifor- 
mes, muito  pouco  maiores  do  que  o  tubo  do  cálice.  Flores  sab- 
geminadas.  Lacinias  do  lábio  inferior  do  cálice  sub-eguaes. 
Cálice  e  quilha  prateado-assetinados.  Fl.  de  maio  ajuUw.  Pi- 
nhaes^  matos,  etc:  Beira,  Estremadura,  ele. —  Carqueja. 
{G.  tridentada,  Brot.  ex  p.)  P«  stenopteram*  Spacb. 

Pedicellos  curtíssimos.  Lacinias  do  labio  inferior  do  cálice  das- 
eguaes 4 


2-6  flores  em  fasciculos  ou  corymbos,  quasi  sempre  terminaes. 
Bracteolas  linear-espatuladas,  um  pouco  menores  do  que  o 
cálice.  Cálice  e  quilha  prateado-assetinados.  Ramos  com  as 
azas  mais  ou  menos  onduladas.  FL  d^  abril  a  julho.  JUtnko, 
Douro,  Beira ^  Estremadura ^  etc. — Carqu^a. 
P.  Cantabricam»  flipach. 

2-7  flores  em  fasciculos  terminaes  e  lateraes.  Bracteolas  snb- 
maiores  do  que  o  tubo  do  cálice.  Quilha  branco-lanosa.  Ramos 
com  as  azas  menos  onduladas  e  com  os  ehtre-nós  maiores 
do  que  na  espécie  anterior.  FL  de  maio  a  julho.  Minho,  Beira, 
Alemtejo,  etc. —  Carqueja.  (G.  tridentada,  Brot.  exp.) 
^P.  tridentatum»  Spacli. 


* 


Ulex,  L. —  Tojo. — Cálice  membranoso,  corado,  profunda- 
mente 2-labiado  (dividido  até  á  base — fig.  32,  P — ou  até  % 
fig.  32,  R),  com  o  labio  superior  2-dentado,  2-fendido  ou  2- 

t  A  sub- divisão  da  Genista  tridentada,  L.,  nas  espécies  enuníendas 
parece  nSo  assentar  em  bases  muito  rigorosas.  O  sr.  Willkomm,  no  iVo- 
dromu^,  já  o  indica,  e  o  sr.  Mariz  estudando  os  Pterospartum  portague- 
zes  inclina-se  a  essa  opinião.  Parece-nos  egualmente  muito  provável  que 
as  plantas  discriptas  sejam  simples  variedades  de  uma  única  espede. 


PAPILIONÁCEAS  203 

partido,  e  o  inferior  3-dentado  ou  3-fendido.  Pétalas  livres, 
maiores  ou  menores  do  que  o  cálice;  estandarte  levantado, 
azas  e  quilha  obtusas.  Estames  monadelphos.  Estylete  curvo 
no  cimo;  estigma  retrorso  ou  antrt)rso.  Vagem  recta^  com- 
primida ou  sub-entumecida,  dehiscente,  com  1-6  sementes, 
maior  ou  menor  do  que  o  cálice  persistente. — Arbustos  com 
os  ramos  estriados,  espiniformes,  picantes,  oppostos  ou  al- 
ternos, aphyllos  (flg.  32*,  P',  Q).  Folhas  jprimordiaes  3-folia- 
das  e  as  seguintes  transformadas  em  pbyllodias  (pelo  aborto 
do  limbo)  rigidas  e  agudas  ou  ás  vezes  escamiformes,  em 
cujas  axillas  se  produzem  os  ramos  espiniformes.  Flores  so- 
litárias, geminadas  ou  umbelladas  na  axilla  das  pbyllodias, 
muitas  vezes  agglomeradas  no  extremo  dos  ramos;  pedi- 
cellos  bracteoladas  ou  não;  pétalas  amarellas. 

Lábios  do  cálice  separados  até  V^  ^^  comprimento  (íjg.  32,  R, 
S).  Vagem  o  dobro,  proximamente,  maior  do  qae  o  cálice 

(fig.  32,S,V) "..     2 

. .  Lábios  do  cálice  separados  até  á  base,  ambos  dentados  (fig.  32, 
P,  U,  T).  Vagem  menor,  ou  pouco  maior  do  que  o  cálice, 
com  2-4  sementes.  Corolla  maior  ou  sub-menor  do  que  o 
cálice.  Estames  inclusos  na  qiiilha.  Flores  solitárias  ou  gemi- 
nadas (EuuleXj  Wk.) : 8 

Corolla  do  tamanho  do  cálice  ou  muitd  pouco  maior.  Lábio  su- 
perior do  cálice  fendido  até  ao  meio  (fíg.  32,  S,  R).  Vagens 
com  6  sementes,  proximamente.  Estames  inclusos  na  quilha, 
ç  I      Flores  em  cachos  ou  umbellas  {StauracanthtiSj  Lk.) '3 

Corolla  o  dobro  maior  do  que  o  cálice.  Lábio  superior  do  cálice 
2-dentado.  Vagem  ovada,  com  1-2  sementes,  (6g.  32,  V). 
Estames  salientes.  Flores  pequenas,  solitárias  ou  geminadas 
{Nepa,  Wbb.) 6 

Bracteolas  grandes,  rhomboide-arredondadas,  muito  hirsutas 

(fig.  32,  S).  Lábio  inferior  do  cálice  menor  do  que  a  quilha. 

Ramos  acinzentados,  com  muitos  pellos.  Cálice  muito  hirsuto, 

3  \     bem  como  a  corolla.  FL  em  março  e  abril.  Alemtejo  e  Algarve. 

—  Tojo U.  spectaliilis»  nriili. 


204 


PAPIUONACEAS 


3  r  Bracteolas  estreitas,  linear-lanceoladas  oa  ovado-lanceoladas 
l     (fig.32,R) 4 

Lábio  inferior  do  cálice  menor  do  que  a  quilha.  Estandarte  el- 
liptico.  Quilha  com  a  margem  superior  curva.  Cálice  asseti- 
nado-lanoso.  Ramos  pelludos.  FL  de  fevei-eiro  a  abril,  Estre- 
madura e  Altmtgo. —  Tojo  (O.  genistoides,  Brot,  exp.) 

ti.  apliyllas*Uí. 

Lábio  inferior  do  cálice  maior  do  qUe  a  quilha.  Estandarte  ova- 
do-arredondado,  chanfrado.  Quilha  com  a  margem  superior 
recta.  Cálice  assetinado-cotanilhoso.  Ramos  delgados,  em  no- 
vos .esbranquiçados,  assetinados.  Flores  2-5.  Fí.  em  março e 
abril.  Beira  {Pinhal  de  Leiria) ,  Algarve. —  Tojo  chamusco 
(U.  genistoideSj  Brot.  exp.). .  CJ.  upartloides*  Ir^^bb. 
Ramos  mais  grossos,  mais  esbranquiçados.  Flores  solitárias 
ou  geminadas.  Cálices  muito  felpudos.  Algarve. 
n.  IWIlllcoiiimll,  mii^ 

• 

Bracteolas  oblongas,  obtusas,  ás  vezes  afastadas  do  cálice.  Lá- 
bio superior  do  cálice  quasi  bifendido,  com  os  dentes  cor- 
vos, convergentes.  Estandarte  ovado-orbicular.  Cálice  assetí- 
5{      nado.  FL  de  março  a  junho.  Algarve. —  Tojo. 

\  . . . .  ^ CJ.  l^eliblanua»  C«mm. 

Bracteolas  agudas,  linear-lanceoladas.  Lábio  superior  do  cálice 
com  os  dentes  compridos,  não  convergentes 6 

Estandarte  muito  maior  do  que  a  quilha.  Cálice  assetinadocom 
os  lábios  estreitos  e  compridos :  o  superior  dividido  em  den- 
tes filiformes  e  o  inferior  em  dentes  lineares.  Ramos  novos 
6^     sub-alados.  FL  de  maio  a  julho.  Algarve. —  Tojo. 

V.  EMcasrracii.  Tl^ftli. 

Estandarte  do  tamanho  da  quilha  ou  pouco  maior.  Dentes  do  cá- 
lice linear-lanceolados ^ 

Cálice  muito  hirsuto,  com  o  lábio  superior  bifendido  até  Vj.  Es- 
tandarte muito  hirsuto  externamente,  riiomboide-ort)icaIar, 
do  tamanho  da  quilha.  Ramos  descaídos,  radicantes.  Fl.  em 
abril.  Algarve.— Tojo U.  lorMns*  WBfc. 

Cálice  assetinado,  com  o  lábio  superior  bifendido  quasi  até  % 


PAPIUONÁCEAS  205 

Estandarte  orbicular,  obtuso,  sub-maior  do  que  a  quilha.  Ra- 
mos ascendentes,  nâo  radicantes.  Fl.  de  abril  a  julho,  Al- 
garve.—  Tojo U.  iralllantli,  ^IVIil». 

Bracteolas  afastadas  do  cálice,  mais  largas  do  que  o  pedicello.  Es- 
tandarte sub-egual  ao  cálice;  quilha  sub-menor  do  que  as  azas. 
J  Estylete  glabro  na  base;  estigma  antrorso.  Ramos  pelludo- 
pubescentes,  raminhos  glabros.  FL  de  março  a  setembro. 
Beira,  ete. —  Tojo U.  oplstliolepi««  IrVlil». 

Bracteolas  coUocadas  na  base  do  cálice  (fig.  32,  P,  T) 9 

Bracteolas  muito  mais  largas  do  que  os  pedicellos,  grandes,  ova- 
das ou  sub-orbiculares  (fig.  32,  P).  Quilha  menor  do  que  as 
azas.  Estandarte  maior  do  que  o  cahce.  Estylete  glabro  na 
base;  estigma  retrorso.  Flores  grandes.  Ramos  felpudos,  ra- 
minhos glabros.  Çspinhos  robustos.  Fl.  de  janeiro  a  junho. 
Matos,  bosques,  etc,  Minho,  Douro,  Beira,  Estremadura,  etc, 

—  Tojo U.  earopaean*  Ma» 

9{         Flores  pouco  numerosas,  reunidas  no  extremo  dos  ramos. 
Phyllodias  e  ramos  delgados,  flexiveis.  Aveiro,  etc, 

ir.  strlctu**  ^IVIili* 

Bracteolas  muito  grandes  ( Ys  do  cálice),  cordiformes,  abra- 
çando o  cálice  pela  base.'  Pinhal  de  Leiria,  Caldas  da 

Rainha,  etc -%'•  latebracteatas*  Marim. 

B  racteolas  pouco  mais  largas  do  que  o  pedicello,  eguaes,  ou  mais 
\      estreitas.  Quilha  maior  do  que  as  azas  ou  sub-egual 10 

Bracteolas  muito  pequenas,  mais  estreitas  do  que  o  pedicello  (fig. 
32,  U).  Estandarte  maior  do  que  ojcalice;  azas  eguaes  á  qui- 
lha. Flores  pequenas;  estigma  retrorso.  Ramos  e  raminhos 
delgados,  densamente  cobertos  de  pellos  erriçados.  Cálice  as- 
setinado-pulverulentOy  com  os  dentes  do  lábio  superior  diver- 
gentes e  os  inferiores  largos,  ovados.  FL  de  abril  a  novem» 
bro.  CharnecaSy  matos^  pinhões^  etc.  Minho;  Douro,  Beira, 
iO{      Estremadura,  Alemtejo,  Algarve.— Tojo.   (U.  europaeus 

p,  L.) V.  nanas*  Forét* 

Cálice  assetinadò-pubescente,  com  os  dentes  do  lábio  sape* 
rior  convergentes  e  os  inferiores  estreitos,  lanceolados. 


206  PAPIUONÁGEAS 

10              Quilha  maior  do  que  as  azas  ou  egual.  Estremadura, 
AlemtejOy  Algarve ir*  liusltanlcas»  ^V^bb. 

Bracteolas  bem  visíveis,  mais  largas  do  que  o  pedicello  oa 
\     sub-eguaes 11 

Arbustos  verdes;  glabros,  pulverulentos  ou  pelludos 12 

. .  j  Arbustos  esbranquiçados,  prateados  ou  glauco-acinzentados; 
ramos  e  raminhos  densamente  avelludádos.  Estigma  an- 
trorso 19 

Raminhos  rectos  ou  sub-rectos 13 

12  {  Raminhos  arqueados  ou  recurvados  (fíg.  32,  Q).  Flores  peque- 
nas  16 

« 

Quilha  egual  ás  azas.  Flores  grandes.  Ramos  pelludos  ou  felpa* 
do-pubescentes,  raminhos  sub-glabros.  Estigma  antrorso.  14 

13  {  Quilha  maior  do  que  as  azas.  Flores  mais  pequenas.  Ramos  e 
raminhos  pulverulentos  ou  glabros.  Estigma  retrorso  ou  an- 
trorso  15 

/  Phyllodias  largas,  foliaceas,  3-nervadas.  Dentes  do  cálice  lan- 
ceolado-acuminados.  Cálice  oblongo  (fig.  32,  T)  assetinado- 
pubeseente.  Flores  agglomeradas  no  extremo  dos  ramos.  Moita 
muito  ramosa  e  apertada  com  os  ramos  moUemente  pellados. 
Fí,  de  abril  a  junho.  Matos  e  charnecas:  Estremadura.^ 

14  /      Tojo  de  charneca U.  ilensiis*  ^¥elw« 

Phyllodias  lineares.  Dentes  do  cálice  curtos,  triangulares.  Cá- 
lice ovado,  pubescente  ou  sub-glabro.  Flores,  principahnenle 
inseridas  nos  espinhos  primários,  reunidas  em  infloresceneia 
sub-thyrsòide  no  extremo  dos  ramos.  FL  de  fevereiro  a  abril. 

\      Beira,  Estremadura,  etc, —  Tojo,  U.  «iasslael»  ^VMt 

Estigma  antrorso.  Dentes  do  cálice  lanceolados,  os  do  lábio  su- 
perior divergentes.  Cálice  pulverulento  ou  sub-glabro*.  Es- 
tandarte pouco  maior  do  que  o  cs^lice.  Quilha  curva.  Fl.  «n 

março.  Beira. —  Tojo U.  metkJber,  Kie. 

48 { Estigma  retrorso.  Cálice  por  fim  sub-glabro,  com  nervuras  sa- 

1  Segundo  o  sr.  Mariz  (Estudo  sobre  as  PapUionáceasJ  só  tem  udoeo- 
contrada  a  v.  glabrescens,  Wbb.,  em  que  o  cálice  ó  apenas  muito  le^e* 
mente  pulverulento. 


PAPIUONÁCEAS  207 

15]     lientes,  levemente  denticulado;  dentes  convergentes.  Estan- 
darte sob-egaal  ao  cálice.  Quilha  recta.  Flores  com  as  azas* 
amarellas  ou  alaranjadas.  FL  de  março  a  junho.  Aléoítejo. — 
Tojo U.  aastralin*  Ciem. 

/  Estandarte  maior  do  que  o  cálice,  firacteolas  obtusas.  Ramos 

I     curvos;  raminhos  arqueados 17 

16  { Estandarte  egual  ou  sub-menor  do  que  o  cálice.  Bracteolas  agu- 
çadas. Ramos  sub-rectos,  raminhos  recurvados.  Estigma  an- 
trorso.  Pedicellos  sub-eguaes  aos  cálices 18 

Estigma  retrorso.  Estandarte  obovado-oblongo,  araarello-inten- 
so,  pouco  maior  do  que  o  cálice.  Qailha  sub  egual  ás  azas.* 
Cálice  pubescente.  Pedicellos  Y3  do  cálice.  Caule  pubescente, 
raminhos  sub-glabros.  Fl.  em  abril.  Douro  e  Beira. —  Tojo. 

U«  Ijusltantcan*  MarlB, 

17 1  Estigma  antrorso.  Estandarte  largamente  obovado,  amarello-pal- 
lido,  o  dobro  maior  do  que  o  cálice.  Qailha  pouco  menor  do 
que  as  azas.  Cálice  pubescente.  Pedicellos  menores  do  que  na 
espécie  anterior,  bem  como  as  flores.  Ramos  erespo-pulveru- 
lentos,  raminhos  sub-glabros.  Fl.  em  abril  e  maio.  Beira. — 
Tojo U«  mlcrantlta»»  li^e. 

Azas  muito  menores  do  que  a  quilha.  Quilha  recta.  Estylete 
pelludo  desde  a  base  até  ao  meio.  Estandarte  egual  ao  cálice. 
Bracteolas  pequenas.  Ramos  e  raminhos  pulverulentos.  Cá- 
lice ovado,  sub-assetinado.  FL  de  março  a  novembro.  Região 
sul:  próximo  d  foz  do  Tejo,  Setúbal,  etc. —  Tojo. 
U.  ^Villlcommil,  Vl^bb. 

Azas  muito  pouco  menores  do  que  a  quilha.  Quilha  concava  na 
margem  superior.  Estylete  glabro.  Estandarte  sub-menor  do 
que  o  cálice.  Bracteolas  lanceoladas  ou  ovadas.  Arbusto  gla- 
bro. Cálice  estreito,  assetinado,  por  fim  glabro.  FL  em  março 
e  abril.  Matos  e  pinhaes  das  areias  ao  sul  do  Tejo^  próximo 
\     a  este  rio. —  Tojo. .  .U.  lil^el^?vitiicliianas»  Planoli* 

I  Ramos  rectos;  raminhos  recurvados  em  gancho.  Cálice  ovado, 
sub-glabro.  Estandarte  egual  ao  cálice.  Azas  sub-menores  do 
que  a  quilha.  Ramos  e  raminhos  densamente  avelludados,  cin- 


18 


208  PAPIUONÁGEAS 


i9  \  zento-esverdinhados.  FL  de  março  a  julho,  e  de  setembro  aoK- 
/  tubro.  Algarve. —  Tojo. . . .  U.  JantMocladnSr  vn^. 
l  Ramos  e  raminhos  rectos  ou  sob-rectos 20 


Cálice  ovado,  moUemente  pelludo.  Azas  menores  do  que  a  qui- 
lha. Ramos  e  raminhos  glaucos,  assetinados.  Phyllodias  li- 
near-Ianceoladas.  FL  em  abril  e  maio.  Estremadura^  Algarve. 

—  Tojo U.  arfenteiis*  urelw. 

20  (  Cálice  comprido,  estreito,  sub-glabro,  attenuado  na  extremidade. 
Corolla  menor  do  que  o  cálice.  Azas  sub-menores  do  que  a 
quilha.  Ramos  e  raminhos  esbranquiçados,  assetinados.  Phyl- 
lodias muito  pequenas,  ovadas,  agudas.  FL  de  abril  a  junho. 
Algarve. —  Tojo MJ»  erinaeeiía»  IPTelw. 

Calycotome,  Lk. — Cálice  corado,  tubuloso-conico,  com  5 
dentes  pequenos,  conapletamenle  fechado  antes  da  floração 
e  rasgando-se  circularmente  pelo  meio,  para  a  saida  da  co- 
rolla. Pétalas  livres.  Estandarte  obovado,  levantado;  quilha 
curva.  Estames  monadelphos.  Estylete  assovelado,  arqueado. 
Vagem  oblongo-linear,  comprimida,  saliente,  sub-bialada.— 
Arbustos  espinhosos,  com  as  folhas  3-foliadas,  sem  estipu- 
las. Flores  amarello-douradas. 

Flores  dispostas  8-15  em  fasciculos  umbelliformes.  Ramos  a?el- 
ludado-cotanilhosos,  esbranquiçados.  Pedicellos  acompanha- 
dos de  uma  bractea  sub-orbicular,  inteira.  Cálices  assetinado- 
lanuginosos,  esbranquiçados.  Vagens  assetinado-felpudas.i^. 
de  março  a  maio.  Região  sul  do  Tejo. —  (JSpartium  spinosum, 
Brot.  non  L.) ^C.  villosa* UC 

1  No  Prodromus  dos  srs.  Willkomm  &  Lange  é  citada  ainda  como  es- 
pécie portugueza  a  C.  spinosaj  Lk.,  que  se  differença  em  ter  as  flores  soli- 
tárias ou  pouc<i  numerosas  (2-4)^  os  ramos  glabros,  a  bractea  na  base  do 
cálice  3-íendida  ou  3-partida,  os  cálices  assetinados,  e  a  vagem  glabra. 
Não  sabemos  onde  exista,  nem  o  sr.  Hariz  a  cita  nó  seu  recente  tnbsúko 
sobre  as  Papilionáceas  portuguezas.  Devemos  advertir  que  a  descnpçâo 
feita  na  Flor.  Lus.,  por  Brotero,  do  seu  S.  spinosúm,  parece  aproximal-o 


PAPIUONÁCEAS  209 

Cytisus,  L.  (eorcl.  sp.J. — Cálice tólabiado,  persistente;  lá- 
bio superior  2-dentado  (raras  vezes  2-partido)  e  o  inferior 
3-dentado  (fig.  32,  Y).  Pétalas  livres.  Estandarte  ovado  ou 
sub-orbicular,  levantado;  quilha  arqueada,  com  os  estames 
monadelphos  inclusos.  Estylete  curvado  no  cimo.  Vagem 
dehiscente,  alongada,  comprimida. — Arbustos  inermes,  com 
as  folhas  3- foliadas  (raras  vezes  1 -foliadas);  estipulas  pe- 
quenas ou  nuUas.  Flores  terminaes  ou  lateraes;  bracteas 
e  bracteolas  pequenas,  muitas  vezes  caducas. 

Cálice  com  2  lábios  grandes  (eguaes  ao  tubo,  ou  maiores):  o 
superior  2-partido  e  o  inferior  3-dentado.  Folhas  todas  3-fo- 
liadas.  Vagens  hirsutas.  Flores  amareUas 2 

Cálice  curto,  membranoso  ou  sub-membranoso,  com  os  lábios 
curtos  denticulados  (fig.  32,  Y).  Vagens  cotanilhosas  ou  hir- 
sutas    3 

Folhas  com  peciolos  muito  curtos;  foliolos  obovados,  obtusos,  gla- 
bros  na  pagina  superior  e  pulverulentos  na  inferior.  Lacinias 
do  lábio  superior  do  cálice  triangulares.  Estandarte  um  pouco 
maior  do  que  a  quilha.  3-9  flores  umbelladas,  lateraes.  Fl. 
de  abril  n  junho.  Hiatos,  bosques:  Beira,  Estretnaduray  etc, 

—  {Genista  candicans,  L.) €•  candlcans*  DC* 

2{  Folhas  sesseis;  foliolos  lineares  ou  linear-lanceolados,  agudos, 
glabros  na  pagina  superior  e  na  inferior  prateado-assetinados. 
Lacinias  do  lábio  superior  do  cálice  lanceoladas,  acumina- 
das.  Estandarte  maior  do  que  a  quilha.  Flores  corymbosas, 
terminaes.  Fl.  de  março  a  junho.  Bosques,  matos,  etc.^  das 
regiões  inferior  e  montanhosa  (?). — (Genista  UnifoUa,  L.) 
€•  llnirolin*»  liam. 


\ 


antes,  em  muitos  caracteres,  da  C.  spinosa,  JJc. — Cantis. . .  glaber.  Mo- 
res numerosi,  laterales,  nunc  duo  ad  quatuor  in  singtda  axilla,  nunc  «o- 
iitarii.  É  certo  que,  por  outro  lado,  diz  serem  os  cálices  hirsutos,  as 
flores  curtamente  pedunculadas,  etc,  o  que  parece  estar  mais  em  har- 
monia com  a  C.  villosa,  Lk.  Tanto  o  sr.  Willkcmm  como  o  sr.  Mariz  ac- 
ceitam  a  synonymia  como  a  marcámos  no  texto. 

c.  s. — ^v.  n.  .  i4 


210 


PAPIUONACEAS 


4 


Folhas  todas  3-foliadas,  com  peciolos  curtos;  foliolos  grandes, 
ellipticos,  sub-glabros  na  pagina  superior  e  felpudos  na  infe- 
rior. Flores  amarellas,  dispostas  1-3  na  axilla  das  folhas  su- 
periores; pedicellos  2-3  vezes  maiores  do  que  os  cálices. 
Quilha  curva,  aguçada;  estandarte  menor  do  que  a  quilha. 
FL  de  março  a  junho.  Matos,  bosques:  Alemtejo,  etc. 
€•  triflorust  li*Herit« 

Folhas  sesseis,  ou  sub-sesseis,  1-foliadas  as  superiores,  3-folia- 
das as  inferiores,  muito  caducas,  ficando  os  ramos,  por  fim, 
aphyllos.  Quilha  obtusa.  Estandarte  maior  do  que  a  quilha.  4 

Corolla  branca.  Ramos  avelludados.  Foliolos  linear-lanceolados, 
prateado-assetinados.«  Flores  -lateraes,  solitárias  ou  reunidas 
2-3,  e  constituindo  cachos  interrompidos,  multiflores,  no  ex- 
tremo dos  ramos.  Fl.  de  abril  a  junho.  Campos  incultos^  ma- 
tos, etc.  TraZ'OS'Montes ,  Minho,  Douro,  Beira. —  Giesteira 
branca.  (Spartinm  album^  Brot.) C.  all»u«f  Lk. 

Corolla  amarella.  Ramos  glabros.  Foliolos  sub-espatulados,  sub- 
glabros  na  pagina  superior  e  assetinado-pulverulentos  na  in- 
ferior. Flores  axillares,  solitárias,  constituindo  cachos  inter- 
rompidos, terminaes.  Fl.  de  junho  a  agosto.  Serra  da  EstreUa. 
—  {Spartium  purgans^  L.) ^  C*  par§ran«» 


Sarothamnus,  Wimm. —  Giesta. — Cálice  persistente,  bila- 
biado,  com  os  lábios  membranosos,  o  superior  2-  e  o  infe- 
rior 3-denticulado.  Estandarte  grande,  arredondado  (fig. 
32,  M),  levantado;  quilha  pendente,  no  íim,  deixando  os 
estamos  a  descoberto.  Estamos  monadelphos.  Estylete  com- 

• 

1  Além  das  espécies  enumeradas  existem,  na  região  d'entre  Douro  e 
Minho  (seg.  Lk.),  mais  dois  Cytisus  (C.  viltosissimus,  Lk,,  e  C.  proctrM, 
Lk.).  Estas  espécies  não  teem  sido  encontradas  pelos  modernos  explo- 
radores; o  sr.  Willkomm  (l.  c.)  náo  as  coUoca  entre  as  espécies  a  pro- 
curar em  Hespanha,  e  o  sr.  Mariz  (1.  c.)  indica-as  como  espécies  de  se^ 
çSo  incerta.  Não  as  podemos  incluir  no  nosso  trabalho,  porque  não  achá- 
mos a  diagnose  do  C.  vUtosiísimus,  e  do  C  procerut  apenas  encontra- 
mos uma  descripçâo  muito  incompleta  no  Prodromus  de  De  CandoUe: 
— ramis  teretibus  striatis,  foliis  lanceolatis  pUosis,  fioribus  solitariit  axil' 
laribus,  leguminibus  vUlosis  {DC.  Prod.  Pars  secunda,  pag.  157). 


PAPIUONÁCEAS  211 

prido,  filiforme,  enrolado  sobre  si  mesmo  (fig.  32,  M').  Vagem 
comprida,  comprimida,  dehiscente,  poiysperma  (fig.  32,  N, 
O). — Arbustos  inermes  com  as  folhas  sem  estipulas,  todas 
3-foliadas,  ou  as  floraes  e  as  dos  ramos  novos  1-foliadas.  Fio- 
res  grandes,  amarellas,  lateraes,  solitárias  ou  geminadas, 
constituindo  cachos  interrompidos  no  extremo  dos  ramos. 

Vagens  com  as  faces  glabras  e  só  com  pellos  nos  bordos  (celhea- 
das)  (fig.  32,  O).  Quilha  sub-falciforme  (fig.  32,.M).  Folhas 
dos  ramos  novos  1-foliadas  alternas,  as  floraes  i-foliadas  fas- 
cicaladas,  sesseis,  e  as  restantes  3-foliadas,  pecíoladas. . .  2 

Vagens  todas  cobertas  de  pellos  (mais  ou  menos  aproximados, 
maiores  ou  menores)  (fig.  32,  N) 4 


Í  Folhas  (pelo  menos  as  floraes)  muito  agudas.  Ramos  aguda- 
mente quadrangulares.  Estylete  hirsato.  Pedúnculos  bastante 
maiores  do  que  a  folha.  Vagem  negra,  grande,  largamente 
linear,  irregularmente  sinuada  (fig.  32,  0).  Fl.  em  junho. 

Algarve y  Estremadura,  etc íi.  oxypliyllus*  Bss* 

Folhas  (pelo  menos  as  Horaes)  muito  obtusas 3 


2 


Ramos  levemente  anguloso-estriados.  Estylete  muito  glabro.  Pe- 
dúnculos egaaes  ás  folhas  ou  maiores.  Vagem  negra,  larga- 
mente linear,  sinuado-estrangulada.  FL  em  junho.  Algarve. 
S*  Bourgael»  Bti«* 

Ramos  agudamente  quadrangulares.  Estylete  celheado.  Flores 
com  pedúnculos  compridos.  Vagem  negra,  largamente  linear, 
sub-arqueada.  Fl.  de  abril  a  julho.  Traz-os-Montes^  entre 
Douro-e- Minho ^  Algarve^  etc. — {Spartium  scopariíim,  L.) 

9*  lieoparlo*»  Kocli. 

Estylete  glabro.  Folhas  quasi  todas  sesseis.  Algarve,  etc, 
▼•  leiostylos»  Bourg. 

Folhas  todas  sesseis  (3-1-foliadas).  Quilha  sub-falciforme,  pen- 
dente desde  o  principio,  deixando  os  estames  a  descoberto'. 
Estylete  pubeseente.  Pedúnculos  curtos.  Vagens  arqueadas, 
escuras  por  fim,  com  muitos  pellos  brancos,  lanoso-hirsutas. 

i4* 


212  PAPIUONÁCEAS 

FL  em  maio  e junho.  SebeSy  maios,  etc.  Beira^  Estremadura, 
Algarve^  efe. —  Giesteira  das  sebes.  {Spartium  grandifiorum, 
Brot.) S.  srandlflorost  Vlíhh* 

Folhas  inferiores  (S-foliadas)  pecioladas  e  as  superiores  (i-folia- 
das)  sesseis.  Quilha  sub-falciforme.  Vagem  sub-entome. 
cida 5 

Folhas  todas  pecioladas.  Quilha  obovada.  Vagem  comprimida. 
Estylete  todo  glabro 7 

Ramos  cylindricos,  estriados.  Folhas  quasi  todas  pecioladas  (só 
as  do  cimo  sub-sesseis),  com  o  peciolo  maior  do  que  os  folio- 
los.  Flores  muito  grandes  (as  maiores  do  género);  pedon- 
culo  o  dobro  maior  do  que  o  cálice.  Vagem  oblonga  com  pel- 
^1  los  muito  densos,  rígidos.  Fl.  em  maio  e junho.  Bosques,  ma- 
tos: Serra  da  Estreita,  de  Cintra,  etc. —  Giesta  das  serras. 
{Sparfium  patens,  L.,  e  Brot.  ex  p.).  tt.  patens»  ^i%l»b. 

Ramos  e  raminhos  angulosos.  Vagens  branco-lanuginosas.  Fo- 
lhas sesseis  (1-foliadas)  mais  numerosas  do  que  na  espécie 
anterior 6 

Vagem  oblongo-elliptica;  recta  ou  sub-arqueada,  mollemecte 
branco-felpuda.  Pedúnculo  do  tamanho  do  cálice.  Fl.  em  maio 
e junho.  Beira,  Estremadura^  etc. — (Spartium  patens^  Brot., 
ex  p.) S.  'VTeliw-ltscliii»  Bss.  A  Rent. 

6  (Vagem  elliptico-trapezoidal,  larga,  recta,  com  densa  e  longa 
felpa  branca  (fig.  32,  N).  Pedúnculo  o  dobro  maior  do  que 
o  cálice.  Fl.  emjunfio  e  julho.  Bosques,  matos,  etc:  Traz- 
os-Montes,  Gerez,  Estreita,  etc. 

\  S*  eriocarpufi»  B«a.  A  Rent* 

«  

Folhas  todas  3-foliadas :  foliolos  obovados  muito  obtusos.  Flores 
solitárias  ou  fasciculadas,  com  o  pedúnculo  3-4  vezes  maior 
do  que  o  cálice.  Vagem  comprida,  recta  ou  arqueada,  com- 
primida ou  sub-entumecida,  densamente  coberta  de  felpa  cm*- 
ta.  Ramos  angulosos.  FL  em  fevereiro  e  maio.  Sebes^  matoSj 
etc.  Alemtejo S«  Baetlcii**  ^"hh* 

7  (  Folhas  inferiores  3-foliadas  e  as  do  cimo  i-foliadas.  Flores  so- 
litárias, com  o  pedúnculo  o  dobro  maior  do  que  o  cálice.  Va- 
gem comprimida,  arqueada,  ás  vezes  estrangulada  eotre  as 


PAPIUONÁCEAS  213 

7 1     sementes,  com  pellos  encostados,  não  muito  abundantes,  bran- 
cos, cotanilhosos.  Ramos  cylindricos,  com  estrias  obsoletas. 
F/,  em  maio.  Península  de  Trota  (seg,  o  sr.  Daveau), 
S*  Malneltanaii»  Bmu 

Labumnm,  Griseb. — Labumo. — Cálice  brevemente  cam- 
panulado,  bilabiado  com  os  lábios  jnteiros^  Ovário  pedi- 
cellado;  estylete  curvo,  glabro;  estigma  terminal,  capitado. 
Vagem  linear,  comprimida,  dehiscente,  poiysperma.  O  res- 
tante como  no  género  Cytims.- 

Arborescente.  Rebentos  e  botões  assetinado-pulverulentos,  es- 
branquiçados. Folhas  3-foliadas,  com  os  peciolos  compridos 
e  os  foliolos  grandes,  ellipticos;  estipulas  nullas.  Cachos  mul- 
tiflores,  pendentes,  produzidos  em  botões  lateraes,  e  cingidos 
na  base  por  algumas  (poucas)  folhas.  Pétalas  amarellas.  Fl. 
em  abril  e  maio.  Cultivado  nos  jardins,  e  sub-espontaneo. — 
Codeço  bastardo,  labumo  dos  Alpes.  {Cytims  Labumnm ^  L.) 
li*  vnlffaret  Qris* 

Adenocarpus,  DC. — Codeço, — Cálice  bilabiado,  com  os 
lábios  compridos,  o  superior  bipartido  até  á  base,  e  o  in- 
ferior tridentado  ou  trifendido  (fig.  32,  Z).  Estandarte  or- 
bicular,  levantado;  quilha  curva.  Estames  monadelphos.  Es- 
tylete curvo,  glabro.  Vagem  linear-oblonga,  comprimida, 
dehiscente,  poiysperma,  tuberculoso-glandulosa  (fig.  32,  Z')- 
Ajsbustos  inermes  com  as  folhas  3-foliadas,  com,  ou  sem 
estipulas.  Flores  amarellas  dispostas  em  cachos  no  extremo 
dos  ramos. 

'  Ramos  densamente  folhosos.  Cálices  glandulosos  (glândulas  ne- 
1  \     gras) 2 

*  Notaremos  qiie  o  único  exemplar  do  Labumum  tndgare  que  temos 
á  yista,  proveniente  de  Bragança,  tem  os  lábios  do  cálice  denticulados 
e  não  inteiros.  Esta  espécie  apresenta  um  fades  muito  diverso  dos  Cy- 
tisus  que  nós  conhecemos,  mas  tem  com  elles  tamanhas  analogias,  que 
mal  se  pode  comprehender  e  seu  deslocamento  d'aquelle  género. 


214 


PAPIUONACEAS 


l  {  Ramos  com  poucas  folhas.  Cálices  glandulosos  ou  nâo.  Peque- 
nos arbustos  muito  emmaranhados,  com  os  ramos  esbranqui- 
çados   3 

Lacinias  do  lábio  superior  do  cálice  semi-ovadas,  attenuadasna 
extremidade,  um  pouco  curvas.  Foliolos  carnosos,  obovados 
ou  ellipticos,  obtusos,  sub-glabros  na  pagina  superior  e  pon- 
tuado-glandulosos  na  inferior,  planos.  4-7  flores  apertadas  no 
cimo  dos  ramos.  Pedicellos  menores  do  que  os  cálices.  Ar- 
busto muito  ramoso.  Fl.  em  julho.  Algarve,  Estremadura 

(Cintra) *. . .  A.  anliioclillaiif  BNH. 

Lacinias  do  lábio  superior  do  cálice  linear-lanceoladas.  Foliolos 
coriaceos,  lanceolados,  agudos,  glabros  na  pagina  superior, 
e  na  pagina  inferior  assetinado-cotanilhosos  esbranquiçados, 
sub-planos  em  adultos.  Cachos  oblongos  com  muitas  flores. 
Pedicellos  maiores  do  que  os  cálices.  Arbusto  ás  vezes  ele- 
vado. FL  em  junho  e  julho.  Região  norte, —  Codeço  alto.  {Cy- 
\      tisus  Hispanicus,  Lam,  e  Brot.).  A.  Hispanlcniu  DC. 

/  Cacho  com  poucas  flores  (1-4)  muito  condensado,  sub-umhelli- 
forme.  Foliolos  glabros  em  ambas  as  paginas,  obovados.  Fo- 
lhas pequenas,  fasciculadas,  com  os  peciolos  curtos.  Cálice 
não  glanduloso,  com  os  lábios  sub-eguaes.  FL  de  abril  a  ju- 
nho. Alemtejo A*  si^A^Bd^Oorus*  Ba«* 

Cacho  com  bastantes  flores,  afastadas  umas  das  outras.  Foliolos 
sub-glabros  na  pagina  superior  e  pulverulentos,  asselinados 
ou  pubescentes  na  pagina  inferior,  de  ordinário  dobrados  ao 
meio  (conduplicados).  Cálice  desegualmente  bilabiado —  4 

Cachos  curtos,  oblongos.  Raminhos  muito  pubescentes.  Cálices 
não  glandulosos.  Bracteas  inferiores  o  dobro  maiores  do  que  o 
pedicello.  FL  de  maio  a  julho.  Traz-os-Montes^  Beira,  Alen- 
tejo, etc A.  conimutatos*  Csosft* 

'  Cachos  mais  compridos,  cylindricos,  com  mais  flores ^ 

1  Raminhos  sub-glabros  (em  novos  pubescentes,  mas  apenas  du- 
rante pouco  tempo).  Cálices  glandulosos.  Estandarte  assetina- 
do-pulverulento  externamente.  Vagem  pouco  glandulosa,  es- 
verdinhada.  FL  em  maio  e  junho.  Matagaes  da  região  infe- 
5       rior  e  montanhosa  (?) A*  compllcatus*  «I*  Cíay* 


.   papilionAceas  215- 

I  Raminhos  niollememe  pubescentes  ou  felpudos.  Cálices  glandu- 
5<      losos.  Estandarte  pubescente  ou  pulverulento  externamente. 
Bracteas  caducas,  eguaes  aos  pedicellos  ou  maiores.  Vagem 
muito  glandulosa,  escura.  Fl,  em  maio  ejunfw.  Matos,  etc. 
Minho,  Douro y  Beira,  Estremadura ,  etc, — Codeço  rasteiro 
{Cytisus  complicatus,  Brot.) ...  A*  intermeilias»  DC* 
Cálice  não  glanduloso.  Beira,  etc. 
\  forma  eylandulosa* 

Argyrolobium,  Eckl. — Cálice  profundamente  bilabiado, 
com  o  lábio  superior  profundamente  bipartido,  e  o  inferior 
Irifendido  ou  tridentado.  Pétalas  livres.  Estandarte  orbicu- 
lar,  levantado;  quilha  curva.  Estames  monadelphos.  Esty- 
lete  curvo,  assovelado.  Vagem  oblongo-linear,  comprimida. 
Folhas  trifoliadas,  com  estipulas. 

Pequeno  sub-arbusto  inerme,  com  as  folhas,  pedúnculos  e  cáli- 
ces prateados,  assetinados.  Flores  amarellas,  terminaes,  so- 
litárias ou  reunidas  2-3.  Estandarte  maior  do  que  a  quilha, 
assetinado  externamente.  Dentes  do  lábio  inferior  do  cálice 
eguaes.  Fí,  em  abril  e junho,  Estremadura,  etc,  {Cytisus  ar- 
genteuSy  L,  e  Brot.Phyt.  Lusit.;  Lotus  argenteus,  Brot.  Flor, 
Lusit.) A*  argentemii*  H']c. 

Anagyrís,  L. — Anagyris, — Cálice  campanulado,  com  5 
dentes  sub-eguaes  (fig.  32,  A).  Unhas  das  pétalas  livres; 
azas  maiores  do  que  o  estandarte,  e  menores  do  que  a  qui- 
lha dipetala.  Estames  livres  (fig.  32,  A).  Estylete  filiforme, 
recto.  Vagem  comprimida,  polysperma,  dehiscente.  Folhas 
3-foliadas.  Arbustos  ou  pequenas  arvores. 

Foholos  grandes,  elliptico-lanceolados,  inteiros  (fig.  32,  A').  Flo- 
res grandes,  amarellas,  com  o  estandarte  maculado  de  negro, 
dispostas  em  cachos  curtos,  folhados  na  base.  Vagens  grandes, 
pendentes,  rectas  ou  arqueadas,  glabras,  irregulares,  escuras, 
contendo  3-8  sementes  grandes,  da  forma  de  feijões,  violá- 
ceas. Folhas  e  vagens  fétidas.  Fl.  em  fevereiro  e  março.  Al- 
garve e  Alemtejo. — Anagyris  fedegosa, . ,  A.  foeftda*  Ii« 


216  CESALI>1NIACEAS 


Família  XLIV.— GESALPINXÁOBAS,  R.  Br. 

Fiores  irregulares,  menos  vezes  regulares,  hermaphro- 
ditas,  dioicas  ou  polygamicas.  Cálice  com  5  sepalas,  menos 
vezes  3-4,  adherentes  ao  disco  hypogjDico,  livres  a  partir 
d'elle  oa  reunidas  na  base.  Gorolla  com  5  pétalas,  menos 
vezes  3-i:  pseudo-papilionácea  (no  botão  floral,  as  pétalas 
anteriores  cobrem  as  duas  lateraes,  e  estas  a  posterior;,  sub- 
regular  ou  nulla.  40  estames  ou,  por  aborto,  mn  numero 
menor,  livres  {ou  diversamente  grupados  n'outras  espécies 
exóticas);  antheras  bilociilares,  introrsas,  longitudinalmente 
dehiscentes.  Ovário  livre,  1-carpellar.  Vagem  indehísceDte 
ou  tardiamente  dehiscente,  com  duas  válvulas.  SemeDles 
com,  ou  sem  albumen;  embryão  recto. — ^ Arvores  ou  arbus- 
tos (raras  vezes  plantas  herbáceas  exóticas),  com  as  folhas 
pinnuladas,  2-pinnuladas  ou  simples,  alternas,  com,  ou  sem 
estipulas. 


U5^ 


Fig.  33. —  A:  Inflorescencia  feminina  da  Ceratoma  Sííiíaa, L. (1:1). /í- 
Flor  masculina  da  Ceratonia  Sãiqua,  L.  {i:i).  C:  Pétalas  da  Ctnà 
Siliquastrum.  L.  (lii).  D:  Cálice  e  esUmes  da  Cereis  SUiquatínim, 
L.  (i:i). 


GESALPINIÁCEAS  217 

Í  Folhas  simples,  reniformes.  Corolfa  pseudo-papilionácea. 
€ercl0  (pág.  217) 
Folhas  1-2-pinnuIadas 2 

Corolla  nulla.  5  estames.  Folhas  simplesmente  pinnuladas. 

^  J Ceratonla  (pag.  218) 

3-5  pétalas  sub-eguaes.  6-10  estames.  Folhas  1-2  pinnuladas. 
, «ledttsclila  (pag.  217) 

Cereis,  L. —  Olaia. — Flores  hermaphroditas.  Cálice  infe- 
riormente gibboso,  com  o  limbo  campanulado,  5-dentado. 
Corolla  pseudo-papilionácea :  5  pétalas  livres,  as  duas  an- 
teriores maiores  do  que  as  laleraes,  e  estas  um  pouco  maio- 
res do  que  a  posterior  (fig.  33,  C).  10  estames  livres  (fig. 
33,  D).  Vagem  oblonga,  comprimida,  sub-dehiscente,  estrei- 
tamente alada  na  nervura  superior. 

Flores  precoces  (anteriores  ás  folhas),  com  pedicellos  compri- 
dos, rosadas,  dispostas  em  cachos  corymhiformes  ao  longo 
dos  ramos  e  da  parte  superior  do  tronco.  Vagens  largamente , 
lanceoladas,  glabras,  pendentes,  com  veios  reticulados,  po- 
lyspermas.  Sementes  obovadas,  negras.  Arvore  de  folhas  sim- 
ples, reniformes,  glabras,  com  o  peciolo  do  tamanho  do  limba, 
caducas;  estipulas  linear-oblongas,  caducas.  Fl.  em  março. 
Cultivada  com  frequência  nos  jardins ,  praças^  etc, — Olaia. 
, C*  Sillqaaatranit  li. 

Esta  essência  é  cultivada  entre  nós  como  arvore  de  or- 
namento.  Â  sua  madeira  é  de  boa  qualidade. 

Gleditschia,  L. — Flores  polygamicas.  Cálice  com  o  tubo 
torbinado-campanulado  e  o  limbo  com  3-5  segmentos  es- 
treitos, sub-eguaes.  3-5  pétalas  sesseis,  sub-eguaes.  6-10 
estames  livres.  Estylete  curto.  Vagem  plana,  comprimida, 
indehiscente,  coriacea  ou  sub-carnosa,  polysperma.  Flores 
esverdinhadas,  dispostas  em  espigas.  Arvores  com  as  fo- 
lhas 1-2-pínnuladas,  inermes  ou  com  espinhos  ramosos. 


218  BOMOSÁCEAS 

Espinhos  robustos,  simples  ou  trifurcados.  Foliolos  linear-oblon- 
gos,  inteiros,  glabros,  dispostos  em  muitos  pares  em  cada  fo- 
lha. Flores  pequenas,  verde-amarelladas,  reunidas  em  espi- 
gas amentáceas,  densas,  pedunculadas.  Vagens  muito  gran- 
des, pendentes.  Fl.  tia  primavera.  Indígena  da  America  do 
Norte  e  cultivada  nos  jardins. — Espinheiro  da  Virgínia. 
CS*  trlacaiitliost  L* 

m 

Ceratonia,  L. — Alfarrobeira, — Flores  polygaaiicas  ou  diol- 
cas.  Cálice  peíjueno,  5-partido,  caduco.  Pétalas  nullas.  5  es- 
tames  livres,  com  os  filetes  filiformes,  oppostos  ás  divisões 
do  cálice,  inseridos  sobre  o  disco  hypog}nico  (fig.  33,  B). 
Ovário  inserido  no  meio  do  disco  sobre  um  pedicello  curto 
(flg.  33,  A);  estigma  sub-sessil.  Vagem  comprida,  grossa, 
coriacea,  cheia  de  polpa,  indehiscente,  polysperma.  Arvore 
com  as  folhas  persistentes,  paripinnuladas. 

r 

Flores  pequenas,  esverdinhadas,  dispostas  em  cachos  amentá 
ceos,  axillares,  sub-sesseis  (fi^.  33,  A).  Vagens  escuras,  pen- 
dentes, rectas  ou  flexuosas.  Arvore  ou  arbusto,  cora  as  fo- 
lhas grandes,  alternas,  com  5-3  pares  de  foliolos  ovados,  ob- 
tusos ou  chanfrados  no  cimo,  inteiros,  coriaceos,  lustrosos  na 
pagina  superior.  Floração  de  ordinário  dioica.  FL  de  agosto 
a  outubro,  Sub-espontanea  e  cultivada  principalmente  no  Al- 
garve.—  Alfarrobeira €•  SlllquAt  L. 


Família  XLV.— MIMOSÁCEAS,  R.  Br. 

• 

Flores  regulares.  Cálice  5-fendido  ou  5-dentado  (menos 
vezes  3-4-6-fendido  ou  -dentado).  Pétalas  livres  ouconcres- 
centes,  em  numero  egual  ao  das  sepalas,  hypogynicas  ou 
sub-perigynicas.  Disco  nullo.  Estames  em  numero  eguâl  ao 
das  pétalas,  ou  duplo,  ou  numerosos,  livres  ou  monadel- 
phos;  antheras  biloculares,  longitudinalmente  dehiscentes. 
Ovário  livre;  estylete  filiforme;  estigma  terminal.  Frocto 


MIMOSÁCEAS  219 

uma  vagem.  Sementes  com  pequeno  albumen,  ou  sem  ne- 
nhum; embryão  recto.  Arvores  ou  arbustos,  raríssimas  ve- 
zes plantas  herbáceas,  com  as  folhas  estipuladas,  2-1-pin- 
nuladas,  ou  reduzidas  a  phyllodías. 

(Esta  familia  botânica  não  tem  nenhuma  espécie  espon- 
tânea em  Portugal). 

Acácia,  Willd. — Acada, — Cálice  campanulado,  5-iientado. 
Pétalas  adherentes,  formando  uma  corolla  tubulosa,  raras 
vezes  livres,  ou  nuUas.  Estames  numerosos,  livres,  muito 
salientes;  grânulos  de  poUen  reunidos  em  massas  polyedri- 
cas.  Ovário  pedicellado.  Sementes  sem  albumen.  Arvores 
ou  arbustos  exóticos,  inermes  ou, com  espinhos  estipulares. 
Flores  amarellas,  brancas  ou,  menos  vezes,  vermelhas,  ca- 
pitadas ou  dispostas  em  espigas  ou  cachos.  Folhas  muito 
variáveis. 

Flores  dispostas  em  cachos  lateraes.  Folhas  bipinnuladas,  coiu 
15  pares  de  divisões  primarias  e  foliolos  numerosos,  symelri- 
cos,  um  pouco  pubescentes.  Peciolo  com  uma  glândula  entre 
cada  di\'isão  primaria.  Arvore  inerme.  Pátria  desconhecida. 
Cultivada  como  planta  de  ornamento  e  também  um  pouco  como 
arvêre  florestal. — Acácia  dealbata. . .  A.  dealliata*  IaU. 

Flores  agglomeradas.em  capitulos  globosos,  pedunculados,  axil- 
lares.  Folhas  bipinnuladas,  com  5-8  pares  de  divisões  prima- 
rias e  15-20  pares  de  foliolos,  lineares,  glabros.  Pequena  ar- 
vore com  as  estipulas  transformadas  em  espinhos  robustos, 
geminados,  esbranquiçados.  Flores  cheirosas;  cálice  e  corolla 
esverdinhados;  filetes  brancos,  antheras  amarellas.  Fl.  emju- 
nho.  Indígena  da  Ilha  de  S,  Domingos,  e  cultivada  nos  jar- 
dine. —  Espongeira.  {Mimosa  Farnesiana,  L.), 
A*  Farnesiana»  1^\ 

Este  género  e  esta  famiha  comprehendem  numerosíssi- 
mas espécies.  A  cultura,  principalmente  nos  últimos  tem- 
pos, tem  introduzido  bastantes  d'ellas  em  Portugal,  mas 
sobretudo  como  plantas  de  ornato.  A  espécie  mais  vulga- 


220  TEREBINTHACEÂS 

risada  e  que  tem  já  sido  empregada  como  essência  flores- 
tal é  a  Acácia  deaWcua^  e  por  isso  a  que  tem  maior  interesse 
para  o- nosso  estudo.  í  arvore  de  crescimento  rápido,  e  de 
que  se  encontram  massiços  nas  matas  de  Foja,  Urso  e  Mon- 
dego. No  norte  do  paiz  é  bastante  frequente  a  A.  Mdam- 
'  orylon,  R.  Br. 

Familla  XL VI.— TEREBINTHACEÂS,  Jnss. 

Flores  regulares,  hermaphrodilas,  polygamicas  ou  dioi- 
cas,  amarelladas,  pequenas,  ordinariamente  paniculadas.  Cá- 
lice gamosepalo  com  3-5  divisões.  Corolla  com  tantas  pé- 
talas quantas  as  sepalas,  alternas,  inserida  com  os  estames 
n'um  disco  hypogynico,  ás  vezes  nulla.  Estames  em  numero 
egual  ao  das  pétalas,  ou  duplo,  alteinos;  antlieras  intror- 
sas,  biloculares,  longitudinalmente  deliiscfenles.  Ovário  livre 
ou  semi>inferior,  unilocular,  uniovulado ;  3  estyletes  livres  ou 
concrescenles  num  só;  3  estigmas.  Fructo  indehiscente,  (Jru- 
paceo,  pouco  carnudo.  Sementes  sem  albumen;  embryão  re- 
cto ou  curvo. — Arvores  ou  arbustos  com  suecos  resinosos 
aromáticos,  viscosos  ou  gommosos,  com  as  folhas  alternas, 
pinuuladas  ou,  mais  raras  vezes,  simples,  sem  estipulas.  . 

• 
As  espécies  doesta  familia  botânica  conteem,  em  abundân- 
cia, principalmente  nas  cascas,  resinas,  bálsamos,  gommas, 
essências,  etc;  muitos  d'estes  productos  são  aproveitados 
na  industria,  taes  são  a  myrrha  (Balsamea  Myrrhn),  o  bál- 
samo de  Mécca  (B,  Meccanemis),  o  insenso  (Boswellia  Cor- 
teri,  B.  papijrifera,  B.  thuriferaj,  a  resina  eleipi  (diver- 
sos Canarium,  Bursera,  etc),  o  verniz  do  Japão  e  a  laccí 
da  China  (Rhm  Vemix,  etc),  o  verniz  negro  (Melanorrhúea 
mitata),  a  terebinthina  de  Chio  fPistacia  Terebinthiis) ,  etc. 
Os  suecos  dalgumas  Terebinthaceas  são  extraordinariamente 
venenosos;  produzem  accidentes  graves  quando  são  appli- 
cados  sobre  a  pelle,  e  muito  mais  quando  são  introduzidos 


TEREBINTHACEAS  221 

f 

no  apparelho  digestivo  (diversos  RhusJ.  Muitas  d'estas  es- 
pécies são  ricas  em  tannino  e  empregam-se  na  curtimenta  de 
pelles  (Rhus  Cortaria,  fl.  Cotinus,  etc);  algumas  teem  fru- 
ctos  comestiveis,  como  a  manga  (Mangifei^a  indica),  ele,  ou 
sementes  comestiveis  como  a  Pistacia  vera.  Das  sementes 
de  algumas  TereUnthaceas  extrae-se  óleo,  e  um  corpo  gordo 
que  serve  para  o  fabrico  de  velas  (Rhus  succedaneaj .  As 
madeiras  de  muitas  destas  arvores  são  estimadas. 

Ém  Portugal  esta  família  botânica  está  íipenas  represen- 
tada par  três  espécies  espontâneas.  Uma  d'ellas  é  empre- 
gada em  curtumes  (fíhus  Coriaria,  L.);  a  outra,  muito  abun- 
dante (Pistacia  Lmtiscus,  L.),  tem  madeira  de  muito  boa 
qualidade,  mas  as  suas  pequenas  dimensões  tornam-a  de 
ordinário  pouco  aproveitável;  é  um  óptimo  combustível;  a 
terceira  espécie  (Pistacia  Terebinthus,  L.)  é  peculiar  à  re- 
gião montanhosa,  e  tem  pequena  importância  entre  nós, 
mas  a  sua  madeira  tem  excellentes  qualidades. 

.  (  Pétalas  nullas.  Flores  dioicas.  5  estames.  Pistacia (pag.  223) 
)  Dois  invólucros  floraes 2 

10  estames;  o  pétalas.  Floração  dioica.  Drupa  globosa.  Arvore 

^  j      introduzida Scliinu»  (pag.  221) 

o  estames.  5  pétalas.  Flores  hermaphroditas  ou  polygamo-dioi- 
cas.  Drupa  comprimida Rlian  (pag.  223) 

Schinus,  L. — Pimenteira  bastarda. — Floração  dioica.  Cá- 
lice 5-partido.  S  pétalas;  10  estames.  Ovário  sessil;  3  es- 
tyletes.  Drupa  globosa,  quasi  secca,  com  caroço  ósseo.  Ar- 
vores americanas,  com  as  flores  dispostas  em  cachos  ou  pa- 
niculas,  axillares  e  as  folhas  imparipínnuladas.  Suecos  com 
cheiro  a  pimenta. 

Folhas  muito  compridas,  com  muitos  folioloslinear-lanceolados, 
agudos,  sub-inteiros,  glabros  (fig.  34,  K).  Flores  pequenas, 
amarello-esverdinhadas,  reunidas  em  paniculas  gi^andes.  Dru- 
pas lustrosas,  avermelhadas  (íig.  34,  J).  Arvore  com  as  ulli- 


TEHEBINTHACEAS 

mas  ramilicaçdes  pendentes,  filiroriues.  Fl.  em  moio  ;  jtink) 
e  lambem  no  ontomno  ou  iratemú.  Oríginafw  do  Bratil  e  ad- 
livado  nos  jardim,  ruas,  praças,  etc. — Pimmleira  bastarda. 
m.  molle,  L. 


Fig.  34.— vi:  Fnicto  do  Pistacia  Untucus,  L.  (1:1).  fl:  Folha  (i:))- 
C:  Fructo  do  Pittacia  Terebiníhus,  L.  (1:1).  D:  Folha  e  galha  (1:1). 
E\  Flor  do  Rhus  Cariaria.  L.  (2:1).  F:  Fructo  (1:1).  H:  Folha  (1:1). 
l:  Fructo  do  Sdiinus  molle,  L.  (1:1).  K:  Folha  (1:3). 


TEREBINTHACEAS  223 

Rhus,  L. —  Sumagre. — Flores  herraaphroditas  ou  poly- 
gamo-dioicas,  pequenas,  reunidas  em  thyrsos  axillares  ou 
terminaes.  Cálice  pequeno,  5-partido,  persistente.  5  péta- 
las ovadas,  abertas  para  os  lados.  5  estames  livres.  Ovário 
sessil,  ovóide  ou  globoso;  3  estjietes  curtos.  Drupa  pequena 
(fig.  34,  F;,  quasi  secca,  irregular,  comprimida,  com  o  ca- 
roço ósseo.  Arvores  ou  arbustos  com  os  botões  quasi  sem 
escamas,  com  as  folhas  caducas,  compostas,  raras  vezes 
simples.  Suecos  terebinthaceos  ou  leitosos,  muito  cáusticos. 

Arbusto.  Raminhos  e  peciolos  densamente  felpudos.  Folhas  im- 
paripinnuladas,  com  3-6  pares  de  foliolos  sesseis,  ovado-lan- 
ceolados,  crenado-dentados  (fig.  34,  H),  sub-glabros  na  pa- 
gina superior  e  pubescentes  na  inferior.  Thyrsos  terminaes  e 
lateraes,  estreitos,  alongados,  levantados.  Pétalas  brancas, 
maiores  do  que  o  cálice  (fig.  34,  E).  Drupas  vermelho-escu- 
ras,  densamente  cobertas  de  pellos  erriçados  (fig.  34,  F).  Fl. 
de  abril  a  junho.  Espontâneo,  no  Algarve ^  e  na  parte  monta- 
nhoaa  da  Beirn  e  Traz-os- Montes :  cultivado  (para  airtumes) 
sobretudo  no  norte. —  Sumagre B.  Cortaria*  li. 

Pistacia,  L. — Flores  dioicas,  apetalas,  pequenas,  dispos- 
tas em  cachos  ou  paniculas  axillares.  Flores  masculinas  com 
o  cálice  5-fendido  ou  3-partido,  5  estames  inseridos  no  disco, 
oppostos  às  divisões  do  cálice,  e  um  ovário  rudimentar;  an- 
theras  grandes.  Flores  femininas  com  o  cálice  3-4-partido 
ou  -fendido,  sem  disco,  com  o  ovário  sessil  e  o  estylete  curto, 
3-fendido.  Drupa  pouco  carnuda,  com  o  caroço  ósseo.  Ar- 
vores e  arbustos  com  as  folhas  compostas  (pari-  ou  impari- 
pionuladas,  raras  vezes  3-foliadas).  Suecos  resinosos,  aro- 
máticos, ricos  em  terebinthina. 

Folhas  persistentes,  paripinnuladas  (fig.  34,  B)  com  2-5  pares 
de  foliolos  elliptico-  ou  linear-lanceolados,  obtusos  ou  agudos, 
inteiros,  coriaeeos,  glabros;  peciolos  alados.  Cachos  simples, 
axillares,  com  muitas  flores  aperta4as,  amarelladas  ou  aver- 
melhadas. Brupa  pequena  (fíg.  34,  A)  globoso-comprimida, 


,  \ 


224  SIMARÚBEAS 

apiculada,  primeiro  vermelha  e  depois  negra.  Arbusto  eom 
cheiro  resinoso  pronunciado.  Fl.  em  abril  e  maio.  Sebes,  ma- 
tos, bosques,  etc.  Beira,  Estremadura^  AlemttjOy  Algarve.^ 

Aroeira,  lentisco  verdadeiro P*  Ijentiseas*  L. 

Folhas  caducas,  imparipinnuladas  (fíg.  34,  D),  com  4-a  pares 
de  folioios  ovados  ou  eiliptico-lanceolados,  inteiros,  glabros; 
peciolos  não  alados.  Cachos  compostos  paniculados,  com  mui- 
tas flores  escuras.  Drupa  ovoide-comprimida,  apiculada,  (fíg. 
34,  C)  primeiro  vermelha  e  depois  acastanhado-escura.  Ar- 
busto terebinthaceo,  com  galhas  compridas,  estreitas,  curvas 
ou  contorcidas  (fig.  34,  D).  Fl.  em  murço  e  abril.  A  beira 
dos  f Í05,  matos,  ele.  Traz-os- Montes. —  Terebintho  ou  coma- 
Iheira P.  Terebintliast  L. 


Família  XLVH.— SIMART5BEAS,  Endl. 

Flores  pequenas,  unisexuaes,  raras  vezes  hermaphrodi- 
tas,  regulares.  Cálice  ganiosepalo,  3-5-lobado  ou  -partido; 
3-S  pétalas,  alternas,  inseridas  sobre  um  disco  hypogynico. 
Estames  em  numero  egual  ao  das  pétalas,  duplo,  ou  maior, 
livres,  inseridos  sdbre  o  disco;  antheras  biloculares,  intror- 
sas,  longitudinalmente  dehiscentes.  Pistillo  de  ordinário  com 
5  carpellos,  livres  ou  adherentes;  estyletes  livres,  ou  mais 
ou  menos  adherentes.  Fructo  uma  capsula  drupa  ou  sa- 
mara.  Sementes  sem,  ou  com  albumen;  embryão  recto  ou 
curvo. — Arvores  ou  arbustos,  ordinariamente  com  as  folhas 
alternas,  compostas. e  sem  estipulas. 

Ailanthus,  Desf. — Ailantho, — Flores  hermaphroditas  e 
masculinas  misturadas.  Cálice  5-dentado:  5  pétalas.  Disco 
annelar,  sinuado,  com  5  pregas.  10  estames.  2-5  samaras 
oblongas,  acuminadas  dos  dois  lados,  entumecidas  no  meio. 
Semente  ovada,  comprimida,  sem  albumen;  embryão  recto. 
— Arvores  de  boa  grandeza  com  as  folhas  pinnuladas.  Ca- 
chos paniculados,  multiflores. 


lUCÍNEAS  225 

Folhas  imparipinnaladas,  foliolos  da  base  com  alguns  dentes  e  in- 
feriormente glandulosos.  Arvore  elevada.  FL  em  maio.  Ori- 
ginário da  China  e  das  Uolucas  e  cultivado  nos  jardins,  pra- 
ças^ ruas,  etc. — Ailantho: A.  glandulosa»  Desf. 

O  Ailantho  é  sobretudo  empregado  em  Portugal  como  ar- 
vore de  ornamento;  tem  bello  aspecto  e  grande  crescimento; 
os  seus  rebentos  são  vigorosos  e  as  camadas  annuaes  do 
lenho  bastante  largas.  Á  madeira  é  porosa  e  de  qualidade 
^muito  inferior.  As  folhas  são  venenosas,  pelo  menos  para 
algumas  espécies  domesticas  (patos,  etc).  Sobre  esta  arvore 
desenvoive-se  na  China  um  Bombyx  cujo  casulo  fornece  seda. 


Família  XLVm.— ILIOlNEAS,  Brongn. 

Flores  pequenas,  regulares,  hermaphroditas  ou  polygamo- 
dioicas,  grupadas  quasi  sempre  em  umbelias  axillares  ou 
cachos  de  cymeiras,  raras  vezes  soUtarias.  Cálice  gamose- 
palo,  4-6-partido.  CoroUa  com  4-6  pétalas,  alternas,  livres 
ou  levemente  concrescentes  na  base,  hypogynicas.  Estames 
bypog)'nicos,  alternos,  em  numero  egual  ao  das  pétalas,  li- 
Tres  ou  levemente  adherentes  á  corolla;  antheras  introrsas, 
biloculares,  longitudinalmente  dehiscentes.  Disco  hypogy- 
nico  nullo.  Ovário  3-plm'ilocuIar,  superior,  sessil;  estylete 
quasi  nullo;  1-2  óvulos  em  cada  loculo  do  ovário.  Fructo 
pouco  carnudo,  uma  drupa  bacciforme.  Sementes  com  al- 
bumen  abundante;  embryão  recto. 

Dex,  L. — Azevinho. —  Cálice  pequeno,  gomiloso,  4-fen- 
dido,  persistente.  Corolla  rodada,  com  4  pétalas;  4  estames; 
estigmas  sesseis.  Drupa  bacciforme  com  3-5  caroços.  Ar- 
Tores  ou  arbustos  com  as  folhas  simples,  alterAas,  coria- 
ceas,  persistentes,  sem  estipulas. 

C  1. — ^Y.  II.  i^ 


1 


rhaunAceas 


Flores  solitárias  ou  fasciculadas  em  cymeiras,  eom  os  pedic^ 
los  curtos.  Corolla  branca.  Drupa  globosa,  maior  do  que  uiu 
ervilha,  vermelha  na  maturação.  Pequena  arvore  ou  arbusto, 
com  as  folhas  ovadas,  ovado-lanceoladas  ou  elliplicas^  agu- 
das, muito  coriaceas,  grossas,  glabras,  lustrosas  na  pa^na 
superior,  onduladas  e  cartilaginosas  nas  margens,  espinhoso- 
dentadas  (lig.  3S,  A),  ás  vezes  completamente  inteiras  (fig. 
35,  B),  especialmente  nos  indivíduos  mais  velhos;  pecioke 
curtos.  Fl.  na  primavera.  Região  montanhosa:  Traz-oi-Mo»- 
Ut,  Minho,  Douro,  Beira. — Azevinho  ou  pica-folha. 
■•  Aqalfollamt  Ih 


Fig.  35. — A:  Ramo  fructifero  do  Ilex  Aqiiifolium,L.  (1:1).  B:uina fo- 
lha inteira. 

Cultiva-se,  como  planta  de  ornamento,  uma  variedade  de 
folhas  maculadas. 


Família  XLI£.— RBAHNÁCEAS,  R.  Br. 

Flores  regulares,  hermapliroditas  ou  potygamo-dioicas, 
pequenas,  esyerdlnhadas,  quasi  sempre  reunidas  em  cymei- 
ras. Cálice  gamosepalo,  com  4-â  li^iitos;  4-5  pétalas  alter- 


RHAMNÁGEAS  227 

nas  com  os  lóbulos  do  cálice,  inseridas  com  os  estames  so- 
bre um  disco  adherente  ao  tubo  do  cálice,  às  vezes  muito 
pequenas  e  menores  do  que  as  sepalas,  planas,  concavas 
ou  enroladas,  menos  vezes  nuUas.  4-5  estames  oppostos  ás 
pétalas;  anlheras  introrsas,  biloculares,  longitudinalmente 
dehiscentes.  Ovário  livre  ou  incluido  no  disco,  superior  ou 
semi-inferior,  3-  raras  vezes  2-4-locular;  eslylete  curto,  es- 
tigma 3-lobado;  1  ovulo,  quasi  sempre,  em  cada  loculo.  Fru- 
cto  drupaceo,  com  o  pericarpo  carnoso  ou  coriaceo-lenhoso, 
com  um  caroço  3-locular  ou  com  3  caroços  que  se  separam 
na  maturação:  menos  vezes  secco  e  alado  (samara).  Semen- 
tes com  albumen  carnudo;  embryão  recto. — Arbustos  ou 
pequenas  arvores  com  as  folhas  simples,  inteiras  ou  denta- 
das, alternas  ou  oppostos,  caducas  ou  persistentes.  Ramos 
inermes  ou  espinescentes.  Estipulas  lineares,  às  vezes  es- 
pinescentes,  em  menos  casos  nullas. 

Estipulas  espinhosas.  Pétalas  concavas.  Ovário  semi-adherente 
ao.  disco.  Folhas  3-nervadas,  alternas.  Drupa  comestível;  ca- 
roço ósseo  2-3-locular zlBypli\i»  (pag.  227) 

Estipulas  lineares,  pequenas,  caducas,  não  espinhosas.  Pétalas 
planas,  concavas  ou  nullas.  Ovário  livre.  Folhas  penninerva- 
das,  oppostas  ou  alternas.  Fructo  carnudo  com  2-4  caroços 
distinclos. Rltamiius  (pag.  229) 

Zizyphus,  Juss. — Açufeifa, — Flores  hermaphroditas.  Cá- 
lice 5-lobado;  5  pétalas  concavas.  Ovário  emergido  no  disco 
pentagonal,  e  adherente  a  elle.  Fructo  carnudo,  globoso  ou 
oblongo,  com  2-3  caroços  reunidos  n'um  só;  albumen  muito 
pequeno  ou  nullo.  Arbustos  ou  pequenas  arvores  com  as 
folhas  alternas,  3-nervadas.  Fructos  comestíveis. 

Pequena  arvore.  2  aculeos  estipulares  curvos.  Folhas  com  pe- 
ciolo  curto,  obliquamente  ovadas,  obtusas,  crenadas,  com  3 
nervuras  dominantes,  sendo  as  lateraes  arqueadas,  conver- 
gentes. Flores  pequenas,  sub-sesseis,  agglomeradas;  cálice 

i5# 


228  rhamnAceas 

amarei  lado ;  pétalas  brancas,  pequenas,  espataladas.  Drupa 
ovóide,  quasi  sessil,  pendente,  arruivada  na  matura^,  de 
sabor  doce,  do  tamanho  de  uma  azeitona  grande.  Ft.  sa  prí- 
matfra.  Originário  do  Oriente  e  cultivado,  principalmtitle 
no  Algarve. — Açitfnfa  maior,  anafega  maior  ou  ntaceirada 
anafega  maior.  [Itkumnus  Zizypkas,  L.  e  Brot.) 
Z.  Tulsariva  LaH. 


Plg.36.— A:RaBioíruclirerodo  BhamnutAlaiermt,L.(i:2).B:Zmo 
etpiaescente  do  Rkamma  oleoida,  L.  (2:3).  C:  Ramo  íoiVero  do 
sFrangula,L.{i.3). 


RHAMNÃCEAS  229 

Arbusto  ou  pequena  arvore.  Saculeos  estipulares,  um  recto  ou- 
tro curvo.  Folhas  com  peciolo  curto  ovado-oblongas,  reticu- 
ladas, sub-inteiras.  Cymeiras  com  poucas  flores,  axillares, 
sub-sesseis;  flores  pequenas,  amarellas.  Drupa  globosa,  ama- 
rello-avermelhada,  do  tamanho  de  uma  cereja.  Fl.  na  prima- 
vera. Espontâneo  no  sul  (f) ;  cultivado  principalmente  no  Al- 
garve e  Alemtejo. — Açufeifa  menor,  anafrga  menor  ou  lo- 
dão  verdadeiro.  {Rhamnns  Lotus,  L.  e  Brot.) 
2K.  lótus»  liam. 

Estas  duas  espécies  sao  entre  nós  pouco  vulgares;  cul- 
tivam-se  como  fructeiras.  A  madeii-a  das  Açufeifas  é  de  boa 
qualidade,  susceptível  de  bom  polido,  e  fornece  excellente 
combustível  e  carv3o  de  primeira  qualidade.  Os  fructos  da 
Açufeifa  menor  são  o  lótus  dos  antigos;  esta  ultima  espé- 
cie apresenta  grande  tendência  a  emittir  raízes  horizontaes 
grossas,  cheias  de  rebentões  e  que  dão  avultados  produ- 
ctos  lenhosos,  muito  bons  para  queimar. 

« 

Rhamnus,  L. — Sanguinho  bastardo. — Flores  hermaphro- 
ditas  ou  polygamo-dioicas.  Cálice  4-5-fendido.  Pétalas  4-5, 
planas  ou  concavas,  inseridas  na  margem  do  disco,  ás  ve- 
zes nullas.  4-5  estames.  Ovário  livre,  inserido  no  fundo  do 
disco  largamente  aberto,  sessil,  3-4-locular;  2-4  estyletes. 
Drupa  bacciforme,  primeiro  com  3  sulcos  longitudinaes,  de- 
pois globosa  ou  ovóide;  2-4  caroços  distinctos.  Sementes 
com  albumen  carnudo. — Arvores  ou  arbustos,  inermes  ou 
com  os  ramos  espinescentes;  folhas  persistentes  ou  cadu- 
cas, alternas  ou  oppostas,  com  estipulas  pequenas,  cadu- 
cas. 

Folhas  caducas,  inteiras,  membranosas,  alternas,  pecioladas, 
ovadas  ou  ovado-elliplicos  (fig.  36,  C).  5  pétalas  brancas, 
maiores  do  que  os  lóbulos  (5)  do  cálice.  Fructos  globosos,  pri- 
meiro vermelhos  e  depois  negros.  Arbusto  inerme,  com  os  bo- 
tões mis.  Flores  hermaphroditas.  Fl.  em  junho  e  julho.  Sitios 


n 


230  RHAMNÁCEAS 

1 1     frescos j  á  beira  dos  rios:  região  norte  ( Beira  etc.) — Prangula, 
sanguinho  d'agua  ou  amieiro  negro, . .  B*  FraiBi^la»L. 

Folhas  persistentes,  coriaceas,  alternas.  Pétalas  nullas  ou  muito 
pequenas.  Floração  dioica.  Botões  com  escamas 2 


/ 


Grande  arbusto  ou  pequena  arvore,  inerme  (fig.  36,  A).  Folhas 
glabras,  com  peciolos  curtos,  ovado-oblongas  ou  ovado-Iao- 
ceoladas,  agudas,  cartilaginoso-marginadas,  serradas,  menos 
vezes  sub-inteiras.  Cálice  5-lobado;  corolla  nulla.  Cymeiras 
reunidas  em  cachos  axillares  maiores  do  que  o  peciolo.  Fru- 
ctos  ovoide-globosos,  primeiro  avermelhados,  depois  negros. 
FL  em  março  e  abrU.  Sebes,  beira  dos  rios,  etc:  Beira,  Es- 
tremadura,  etc, — Aderno  bastardo,  sanguinho  das  sebes. 
B*  Alaternniit  L* 

Pequeno  arbusto  com  os  ramos  espinescentes  na  extremidade 
(fig.  36,  B).  Folhas  pequenas,  obovadas  ou  lanceoladas,  atíe- 
nuadas  em  peciolo,  uninervadas  e  fortemente  reticuladas. 
Cálice  4-lobado.  Corolla  nulla  ou  muito  pequena.  Drupa  ovói- 
de, amarellada  na  maturação.  Fl.  em  março  e  abril.  Sebes,  so- 
los pedregosos  e  áridos,  matos,  pinhaes:  Estremadura,  Alem' 
tejo,  etc. — Espinheiro  negro,  (/?.  Lycioides,  Brot.  non  L.) 
(      1  B*  oleoicleSf  L* 


1  Esta  espécie  distingue-se  em  muito  pouco  do  R.  lycioides,  L.;  afora 
a  côr  do  fructo,  que  n'esta  ultima  espécie  é  negro  depois  de  maduro, 
o  principal  distinctivo  reside  na  nervaçâo  das  folhas.  No  R,  oleoides.  L. 
as  nervuras  lateraes  arqueiam-se  até  ás  margens  da  folha,  emquanto  no 
R.  lycioides j  além  de  formarem  um  aiigulo  muito  mais  recto  com  a  ner- 
vura principal,  reunem-se  bastante  longe  das  margens,  constituindo 
quasi  duas  nervuras  parallelas  ao  contorno  da  folha;  as  retícuJaçCes  in- 
termediarias são  muito  mais  pronunciadas  na  primeira  do  que  na  se- 
gunda espécie.  Todos  os  numerosos  exemplares,  colhidos  na  Estrema- ' 
dura  e  no  Alemtejo,  que  temos  tido  occasiao  de  vôr,  pertencem  ao  R- 
oleoides,  L.,  embora  alguns  diversifiquem  muito  no  comprimento,  lar- 
gura, forma  e  consistência  das  folhas  fvar,  latifdia  e  angustifolia,  Í^e-J' 


EUPHORBIÁCEAS  23 1 


B. — Thalâmiflorâs  (DC.  ex  p.) 

Pétalas  e  estames  hypogynicos  inseridos  no  disco  (Ihala- 
mus). 

Família  L.— EUPHORBIÁCEAS,  R.  Br. 

Flores  regulares,  unisexuaes,  monoicas  ou  dioicas,  soli- 
tárias axillares  ou  dispostas  em  varias  inflorescencias.  Cá- 
lice livre,  gamosepalo  (de  ordinário  3-5-fendido),  ou  dialy- 
sepalo,  ou  nullo.  Corolla  hypogynica  ou  perigynica,  dialy- 
pelala  ou  nulla,  menos  vezes  gamopetala.  Flores  masculinas 
com  os  estames  dispostos  em  1-2  verticillos,  às  vezes,  por 
aborto,  reduzidos  a  só  2-1 ;  filetes  livres  ou  concrescentes 
em  columna,  ou  ás  vezes  ramificados ;  antheras  dehisceíites 
por  fendas  longitudinaes  ou  poros  abertos.  Flores  femininas 
com  o  ovário  superior,  quasi  sempre  3-locular,  raras  vezes 
1-2-multilocular;  loculos  1-,  menos  vezes  2-ovulados;  estyle- 
tes  divididos  em  tantos  ramos  quantos  os  loculos  do  ovário, 
e  ás  vezes  estes  ramos  ainda  subdivididos.  Flores  dos  dois 
sexos  independentes,  ou  uma  flor  feminina  rodeada  de  flo- 
res masculinas  reduzidas  a  1  só  estame,  e  reunidas  todas, 
n'um  invólucro  commum,  apparentando  o  conjuncto  uma 
flor  hermaphrodita.  Fructo,  quasi  sempre  uma  capsula  com 
3  válvulas  longitudinaes,  que  se  separam  do  eixo  central, 
dehiscentes  ainda  cada  uma  d'ellas,  com  elasticidade,  pela 
nervura  dorsal.  Sementes  de  ordinário  providas  de  carun- 
culo  (originado  pelo  espessamento  do  tegumento  em  volta 
do  micropylo),  com  albumen  mais  ou  menos  abundante; 
embryão  recto. — Hervas  ou.  arbustos  (ou  arvores  exóticas) 
muitas  vezes  com  suecos  leitosos;  folhas  alternas  ou  op- 
postas,  quasi  sempre  simples,  com,  ou  sem,  estipulas. 

Esta  familia  encerra  espécies  exóticas  muito  variadas; 


*m 


232  EUPHORBIÁCEAS 

algumas  são  aphyllas,  com  formas  extraordinárias,  fazendo 
lembrar  o  porte  dos  cactos.  Os  productos  de  muitas  Eu- 
phoí^biáceas  tem  largo  emprego  na  industria ;  citaremos  o 
látex  da  Siphonia  elástica  e  d  outras  espécies  da  America 
tropical,  que  fornecem  o  caoulchouc;  a  gomma  resina  da 
Euphorbia  resinifera;  a  lacca  da  Aleuriles  laccifera;  os  latóx 
venenosos  da  Hura  crepitans,  Hippomane  Mancenilla,  eíc, 
utilisados  para  envenenar  as  frechas  de  caça;  a  fécula  extra- 
hida  do  rhizoma  das  Manihot  utilissima  e  JH.  Aipi,  conhe- 
cida com  o  nome  de  tapioca ;  o  óleo  gordo  e  drástico  das 
sementes  da  Eupfwrbia  Laíhyris,  Ricinus  communis,  etc;  a 
manteiga  das  sementes  da  Stillingia  sebifera;  e  diversos  le- 
nhos aproveitados  como  madeiras  de  construcçâo. 

As  espécies  espontâneas  tem  pouca  utilidade ;  com  o  sueco 
da  Crozophora  tinctoria  prepara-se  o  azul  de  tornasol.  A 
maior  parte  das  espécies  indígenas  sao  herbáceas — annuaes 
ou  perennes,  apresentando-se  algumas  das  ultimas  um  pouco 
lenhosas  na  base.  As  espécies  lenhosas  dignas  de  menção, 
são  apenas  as  seguintes : 

Flores  dioicas.  Estames  5-6,  livres  ou  levemente  concrescenles 
na  base.  Arbustos  com  os  ramos  espinescentes  (fig.  37),  Ca- 
psulas com  os  loculos  com  duas  sementes. 
Securineg^a  (pag.  232) 

Flores  monoicas.  Estames  ramificados,  indefinidos.  Arbustos 
(no  norte  plantas  herbáceas)  inermes.  Capsulas  com  os  locu- 
los monospermos Blctnn»  (pag.  233) 

Securínega,  Juss. — Flores  dioicas,  axillares;  as  masculi- 
nas fasciculadas,  as  femininas  solitárias  ou  pouco  numero- 
sas. Cálice  (nas  flores  de  ambos  os  sexos)  5-6-partido;co- 
rolla  nulla.  Flores  masculinas  com  5-6  estames  e  um  ová- 
rio rudimentar.  Flores  femininas  com  3  estyletes  livres,  ou 
levemente  reunidos,  divididos  em  2  estigmas.  Capsulas  com 
3  válvulas  bidehiscentes,  e  cada  uma  d'ellas  com  2  semen- 
tes. Sementes  lisas,  sem  carunculo. 


EUPHORBIÁCEAS  233 

Arbusto  com  os  ramos  espinescenles  na  extremidade  (lig.  37). 
Folhas  obovadas,  obtusas,  glabras,  com  peciolos  curtos;  Tas- 
cicQladas  na  occasião  da  floração  c  depois  dísticadas;  estipu- 
las pequenas,  linear-setaceas,  celbeadas.  Lacinias  do  cálice 
Cj  estamos  salientes.  Flores  masculinas  TascicuUdas  e  as  fe- 
mininas solitárias,  ou  reunidas  2-3  em  cada  axíJla.  Capsula, 
em  secca,  reticulado-rugosa.  Fl.  em  fevereiro  e  mar^o.  Muito 
abundante  nax  margens  doí  cursos  d'agita  da  região  leste: 
margens  do  Douro,  Tejo,  Guadiana,  etc, —  Tamvjo{noAlem- 
tfjo).  [mamnas  buxi/vUus,  Poir.:  Brot.  Flor.  Luf.) 
S.  IkDxlf01l«.a.  Httll. 


Fig.  Z7.~Sccttrinega  huxifclia,  J.  Múll. — A :  ramo  florifero  masculino  . 
B:  ramo  fractifero.  (l;i). 

Ricinus,  Toum. —  Rícino. — Flores  monoicas,  dispostas  em 
paniculas  de  cymeiras,  superiormente  masculinas,  inferior- 
menle  femininas.  Cálice  5-partido;  corolla  nuUa.  Flores  inas- 
catinas  com  estames  numerosos,  reunidos  em  fascículos  po- 
lyadelphos,  superiormente  dichotomico-ramosos,  e  sem  ová- 
rio rudimentar.  Flores  femininas  com  3  estyletes,  inferior- 


i 


232  EUPHORBlACEAS 

algumas  são  aphyllas,  com  formas/-      -ulos  do  ovário  i- 
lembrar  o  porte  dos  cactos.  Os        ^  Msas,  com  caran- 
phai^biáceas  tem  largo  emprer       jtyledones  grandes, 
látex  da  Siphonia  elástica  f 

tropical,  que  fornecem  o  ,  palmatifendidas;  laciniasS^g, 
^  ,  ..  .  .^  ^^  .adas.deseffualmente  dentadas,  ra- 
Euphorota  restmfera;  a  ,'       j     o       .    ,. 

^  j     „  .naes,  levantadas.  Sementes  lisas,  ma- 

venenosos  da  Hura  '  ,aru„eulo.Plantaglaaca,glabra.  Arbusto 
utilisados  para  env  ^^  ^^^  províncias  do  sul  e  do  centro,  planta 
hida  do  rhizomr^j^ai  nas  do  norte  (Bragança).  Fl,  naprimama 
cida  com  o  n^  originário  das  regiões  quentes  da  America:  cul- 
sementes  ã''  ja  sub-espontaneo. — Ricino,  carrapateiro,  figueira 
manteiga     ^;fMO  ou  mammona R«  comnianU*  L. 

nhos  a»-   ' 
A?     poentes  d'esta  planta  é  que  se  extrae  o  óleo  dras- 

da     'i,  Conhecido  com  o  nome  de  óleo  de  ricino  ou  de 


Família  LI.— BUXÁCEAS,  laotzscli. 

Flores  unisexuaes,  ordinariamente  monoicas,  grupadas 
em  cachos  ou  espigas  axillares  ou  terminaes.  Cálice  com 
4-5  sepalas;  corolla  nulla.  Flores  masculinas  com  estames 
em  numero  egual  ao  das  sepalas,  oppostos,  ou  mais  nume- 
rosos; antheràs  introrsas,  longitudinalmente  dehiscentes; 
pistillo  rudimentar.  Flores  femininas  com  o  ovário  superior 
2-3-locular;  loculos  1-2-ovulados.  Fructo  uma  capsula  lo- 
culicida  (menos  vezes  drupaceo  ou  bacciforme).  Sementes 
com  albumen.  Arbustos  ou  arvores  (ou  plantas  herbáceas 
exóticas)  com  as  folhas  alternas  ou  oppostas  (oppostas  na 
espécie  indígena),  inteiras,  persistentes,  sem  estipulas.  Suc- 
cçs  nao  leitosos. 

Buxus,  Toum. — Buxo. — Flores  monoicas,  bracteoladas, 
dispostas  em  espigas  capitadas  axillares,  sendo  as  flores  fe- 


r 


\ 


EMPETRÁCEAS  235 


\  terminaes.  4  sepalas.  4  estames  livres. 
^  \ela  persistência  dos  estyletes,  3-locu- 

^ementes.  Arbustos  com  as  folhas 
"lis,  quasi  1-nervadas  por  serem 
^  as  nervuras  lateraes. 


^ois,  ovadas  ou  obovadas,  escuras  e  lustrosas  na 
aperior.  Flores  pequenas,  branco-esverdinhadas,  fe- 
,  sesseis  as  de  ambos  os  sexos.  Anlheras  2-3  vezes  mais 
-.oinpridas  do  que  largas;  estyletes  sub-eguaes  ao  ovário.  Ar- 
busto ou  pequena  arvore  com  os  ramos  oppostos,  quadrangu- 
lares. Fl,  de  janeiro  a  março.  Ã  beira  dos  rios  {entre  Figueiró 
e  Thomarj,  etc);  muito  cultivado  nos  jardins. — Buxo  arbó- 
reo   B.  scmper^iremi*  L. 


Família  LII.— EMPETRÁCEAS,  Lindl. 

Piores  regulares,  muito  pequenas,  polygamicas  ou  dioi- 
cas,  solitárias,  ou  agglomerado-terniinaes,  bracteadas.  Se- 
palas e  pétalas  em  ambos  os  sexos  3  (raras  vezes  2),  alter- 
nas, livres.  Cálice  persistente,  corolla  hypogynica,  marces- 
cente.  Flores  masculinas  com  3  estames,  alternos  com  as 
pétalas,  inseridos  em  redor  de  um  pistillo  rudimentar;  an- 
theras  introrsas,  biloculares,  longitudinalmente  dehiscen- 
tes;  grânulos  de  poUen  reunidos  aos  4.  Flores  femininas  • 
com- o  ovário  livre  2-9-locular  e  o  estylete  com  tantas  esti- 
gmas quantos  os  loculos;  loculos  1-ovulados.  Fructo  bacci- 
forme,  com  2-9  caroços  livres  ou  adherentes,  monospermos. 
Sementes  com  albumen;  embryão  recto. — Pequenos  arbus- 
tos sempre-verdes,  muito  folhados,  com  as  folhas  estreitas, 
lineares,  1-nervadas,  inteiras,  sub-verticilladas,  sem  estipu- 
las, fazendo  lembrar  as  Urzes  no  aspecto. 

Corema,  D.  Don. —  Camarinheira, — Floração  dioica.  Flo- 
res terminaes,  agglomeradas  ou  capitadas,  envolvidas  por 


236  ACERfNEAS 

braeteas  escamiforines.  Sepalas  irregularmenle  fraDjadas. 
Pelalas  coradas,  longamente  franjadas.  3  eslames  salientes. 
Ovário  3-locular.  Estylete  cylindrico ;  estigma  S-fendido.  Fra- 
cto  globoso. 


Fig.  38. —  Coitma  álbum,  D.  Don. — A :  ramo  Qorifero.  B:  frueto  (1:1). 

Folhas  rigida.s,  coriaceas,  com  as  margens  enroladas,  peras- 
tentes  2  annos.  Pelalas  rosadas.  Frueto  branco  ou  averme- 
lliado.  Pcíjueno  aibuslo  com  os  ramos  levantados,  pulvera- 
lenlos  (fif!.  38).  Fl.  de  mar^o  a  maio.  Vulgar  nas  praias.— 
Camarinha,  ou  camr.rinheira  (Empetriim  albvm,  L.  e  BnÀ.). 
C.  álbum.  D.  !!•■■ 


Família  UU.— A.CERÍNEAS,  DO 

Flores  regulares,  hermaphroditas  ou,  por  aborto,  dioicas 
oupolygamicas,  dispostas  em  cymeiras.  Cálice  livre,  caduco, 
com  4-9,  ordinariamente  5  divisões,  alternas  com  outras  tMi- 
tas  pétalas,  (pétalas  raras  vezes  nullas).  Estames  quasi  sem- 
pre 8  (raras  vezes  4-12),  inseridos  com  as  pétalas  sobre 
um  disco  hypogynico  carnudo;  antheras  bitoculares,  longi- 
tudinalmente deliiscentes.  Ovário  2-lobado,  2-locular,  livre, 
com  os  loculos  l-2-ovuIados;  i  estylete;  2  estigmas  recor- 


r^ 


ACERÍKEÂS  .      237 

yados.  Samara  dupla  com  azas  grandes,  lateraes.  Semente 
sem  albmnen;  embryão  curvo. — Arvores  ou  arbustos  com 
as  folhas  oppostas,  quasi  sempre  palminervadas,  sem  esti- 
pulas, raras  vezes  pinnuladas. 

■ 

Acer,  L. — Bordo. — Flores  quasi  sempre  polygamo-dioi- 
cas,  as  masculinas  com  um  pistillo  rudimentar  e  as  femi- 
ninas com  pequenos  filetes  estéreis.  Cálice  5-partido.  Co- 
roUa  de  5  pétalas.  Flores  pequenas,  esverdinhadas;  cymei- 
ras  dispostas  em  cachos  ou  corymbos,  axillares  ou  termi- 
naes.  Arvores  ou  arbustos  com  os  ramos  oppostos  e  as  fo- 
lhas simples,  com  peciolos  compridos,  palmatilobadas,  com 
3-7  lóbulos. 

Azas  das  duas  samaras  oppostas  em  líuha  recta  e  muito  pouco 
altenuadas  na  base  (íig.  39,  A).  Pequena  anore  ou  arbusto; 
folhas  glabras,  com  3-3  lóbulos  obtusos,  dentados,  separados 
por  ângulos  agudos.  Inflorescencia  levantada.  Ramos,  muitas 
1(  vezes,  suberoso-alados.  F(,  em  abril  e  maio.  Estremadura 
{Serra  da  Arrábida,  eic). — Bordo  commum. 

A*  campestre*  li. 

Azas  das  samaras  não  oppostas,  mais  ou  menos  aproximadas, 
\     attenuadas  na  base  e  dilatadas  no  cimo  (fíg.  39,  B) 2 


I  Folhas  pequenas,  com  3  lóbulos  obtusos  inteiros  ou  sub-intei- 
ros,  separados  por  ângulos  quasi  rectos  (íig.  39,  D),  glabras. 
Filetes  glabros.  Inflorescencia  lavantada  durante  a  fecunda- 
ção, cymeiras  fructiferas  pendentes.  Pequena  arvore  ou  ar- 
busto. Fl.  em  abril.  Traz-os-Montes. — Zêlha. 

A.  Ilonspessulaiiaiii»  li* 

Folhas  grandes,  com  5  lóbulos  ovados,  acuminados,  irregular- 
mente serrados,  separados  profundamente  por  ângulos  agu- 
dos (fig.  39,  C),  glabras.  Filetes  felpudos  na  base.  Inflores- 
cencias  pendentes.  Arvore.  FL  em  abril  e  maio.  Serra  do 
Gerezj  cultivado  em  vários  pontos. — Plátano  bastardo. 
A*  Pseudoplatanas»  Ii« 


H 


238 


Fig.  39, — A :  Di-samara  do  Acer  tampertre,  L.— fl :  Di-saman  do  Júxr 
Piead<^dataitui,  L.  (1:1)-  C:  folha  do  Aeer  Pstvdoplatama,  L.  (1:1)- 
D:  Folha  do  Aeer  Itíonspestulataim,  L.  (1:2). 


FRAXÍNEAS  239 

Já  falíamos  d'estas  essências  no  capitulo  especial.  Mui- 
tas espécies  do  género  Acer  contém  seiva  saccharina;  na 
America  do  Norte  extraem  assucar  da  seiva  do  Bordo  sac- 
charino  (Acer  saccharínum). 


• 


Família  LIV.— FRAXÍNEAS,  BarU. 

Flores  polygamicas  ou  dioicas,  raras  vezes  hermaphro- 
ditas,  dispostas  em  cymeiras  fasciculadas  ou  paniculadas» 
nuas,  ou  com  um  só  invólucro  floral,  ou  muito  menos  vezes 
com  dois.  Cálice  (nas  espécies  em  que  existe)  4-fendido; 
corolla  nulla,  ou  com  4  pétalas,  ou  menos  vezes  com  2. 
Estames  2,  livres,  hypogynicos.  Ovário  livre,  2-locular,  com 
os  loculos  2-ovulados;  estylete  simples;  estigma  2-fendido. 
Fructo  uma  samara  foliacea,  unilocular  e  monosperma  por 
aborto,  com  uma  aza  comprida,  coriacea,  nervosa.  Semente 
com  pequeno  albumen;  embryão  recto. — Arvores  com  as 
folhas  opposlas,  imparipinnuladas,  sem  estipulas. 

Frazinus,  L.  (excL  sp,J. — Freixo. — Flores,  por  aborto,* 
unisexuaes,  quasi  sempre  polygamicas,  raras  vezes  dioicas, 
apetalas.  Cálice  4-fendido  ou  nullo  (de  ordinário  nuUo  nas 
espécies  indigenas,  flg.  40,  C).  Flores  precoces,  já  abertas 
antes  da  evolução  das  folhas,  inseridas  nos  botões  axillares 
dos  raminhos- 

Botões  cor  de  ferrugem,  negro-arruivados,  sub-avelludados.  Pe- 
ciolo  commum  eanaliculado  (fig.  40,  A);  7-13  foliolos  agu- 
dos, lanceolados  ou  linear-laneeolados,  cunheados  na  base, 
serrados,  com  os  dentes  agudos  e  glandulosos,  glabros.  Sa- 
maras  cunheado-attenuadas  na  base  (fig.  40,  B),  no  cimo  ar- 
redondadas (var.  obtusa.  Gr.  Godr.)  ou  agudas  (var.  rostrata, 
Gr.  Godr.),  ás  vezes  mucroiíadas  pelo  estylete  persistente; 
semente  chegando  a  mais  de  metade  da  samara.  Arvore  com 
os  raminhos  escuro-avermelhados.  Fl.  etn  dezembro  ejaneirD, 


240 


FRAXÍNEAS 


Sebes,  beira  dos  rios^  campos,  matas^  etc:  conimum  em  qum 
todo  o  paiz. — Freixo F.  ansustlfollat  VaU. 

Botões  negros,  avelludados.  Peciolo  commuin  da  Mia  não  cana- 
liculado.  FolioIos9-13,  ovado-lanceoladosoalanceolados,ca- 
nheados  na  base,  acuininados,  serrados.  Samaras  estreitas  para 


Fig.  40.— Frojríntts  anguttitolia,  Vahl.— i4 :  folha  (2:3).  B :  samara  (i:l)* 
C:  flor  (i:l). 


HIPPOCASTANEAS  241 

a  base,  mas  arredondadas  junto  ao  pedicello,  troncadas  no  cimo 
ou  levemente  chanfradas,  apiculadas  pelo  estylete  persistente^ 
oblongas  ou  oblongo-lineares  (a  fónna  com  as  samaras  estrei- 
tas e  os  foliolos  estreitos  constituo  ayar.  oustvaHs,  Gr.  Godr.); 
sementes  chegando  só  a  metade  da  samara.  Arvore  com  os 
raminhos  pardo-esverdinhados. — Freixo. 
'  F.  exeelslor»  Ei* 


Família  LV.— HIPPOCASTANEAS,  DG. 

Flores  irregulares,  hermaphroditas  ou  polygamicas  por 
aborto  dos  ovários,  dispostas  em  cymeiras  reunidas  em 
thyrsos  terminaes,  levantados.  Cálice  5-lobado.  Corolla  com 
5  pétalas  livres,  ou  4  por  aborto  da  5.*,  inseridas  sobre  um 
disco  hypogynico  com  os  estames.  7  estames  livres  (menos 
Tezes  6-8);  antheras  biloculares,  longitudinalmente  dehis- 
centes.  Ovário  3-locuIar,  com  os  loculos  2-ovulados;  1  esty- 
lete filiforme.  Capsula  loculicida,  com  2-3  válvulas  espes- 
sas, coriaceas,  por  aborto  l-2-)ocular;  1-3  sementes  muito 
grandes,  sub-globosas,  com  o  hilo  muito  largo,  sem  albu- 
men,  com  as  cotyledones  grandes,  muito  grossas  e  soldadas 
entre  si;  embryâo  curvo. — Arvores  exóticas  (da  America  do 
Norte  e  da  Ásia  temperada),  naturalisadas,  com  as  folhas 

1  Nunca  vimos  exemplares  portuguezes  authenticos  d'esta  espécie; 
a  essência  que  temos  encontrado,  desde  Traz-os-Montes  até  ás  pro- 
yincias  do  centro  e  do  sul,  ó  o  F.  angustifolía,  Yahl.  Não  podemos 
mesmo  asseverar  que  o  verdadeiro  F.  ea:celsior,  L.,  exista  no  paiz,  e  que 
n2o  tenham  sido  tomados  com  este  nome  indivíduos  da  espécie  pri- 
meiro referida.  Temos  á  vista  exemplares  de  um  Fraxinus,  colhidos 
nos  arredores  de  Lisliòa,  que  nos  ficam  bastante  duvidosos;  o  rachis  da 
folha  canaliculado^  a  còt  arruivada  dos  botões,  excluem  o  F.excelsiore 
approximam-os  do  F.  angustifolía;  mas  os  foliolos  são  muito  mais  cur- 
tos e  mais  largos,  ovado-acuminados,  cunheados  na  base,  sub-peciola* 
dos,  inteiros  quasi  até  ao  meio  e  aipidamente  serrados  na  parte  restante; 
nSo  teem  flores  nem  fructos.  Lembram  talvez  o  F.  parvifolia,  Lam.,  ou 
talvez  sejam  uma  fórma  do  F.  angustifolia,  que  nos  parece  bastante  po- 
lyxnorpho. 

c  8. — V.  n.  16 


2412  HIPPOCASTÂNEAS 

grandes,  oppostas»  sem  estipulas,  digitadas,  com  os  foliolos 
peoDínervados. 

Aesculus,  L. —  Castanheiro  da  índia. — Cálice  campann- 
lado.  4-5  pétalas  com  o  limbo  ovado.  Estames  e  estylete 
curvo-remontaotes.  Capsula  espinhosa.  Foliolos  sesseis. 

Thyrsos  pyramidaes,  compridos.  Pétalas  enrugadas,  brancas 
maculadas  de  vermelho  e  de  amarello.  Capsulas  grandes,  es- 
verdinhadas,  pouco  numerosas  as  de  cada  inflorescencia.  Ar- 
vore com  as  folhas  longamente  pecioladas,  tendo  quasi  sem- 
pre 7  foliolos  obovado-cunheados,  agudos,  dentados,  glabros. 
FL  em  maio.  Originário  da  índia  (boreal);  bastante  cultivaiê 
como  arvore  de  ornamento. —  Castanheiro  da  índia. 
Ae.  HlppocfUitaiiniii»  L. 

Pétalas  vermelhas;  fructo  pouco  espinhoso.  Arvore  de  menor 
porte,  com  as  folhas  de  côr  verde  mais  intensa,  mais  empo- 
ladas e  franzidas.  Fl.  em  maio.  Cultivado  nos  jardins,  pra- 
ças, etc Ae*  rubicunda*  HorC 

O  Castanheiro  da  índia  tem  crescimenio  rápido  e  é  uma 
bella  arvore  de  ornamento,  Como  arvore  florestal  não  tem 
importância;  a  sua  madeira  é  de  muito  mã  qualidade,  quer 
para  construcção  quer  para  queimar.  As  sementes  volumo- 
sas desta  arvore  tem  suas  analogias  com  os  fructos  do 
Castanheiro  ordinário,  d'onde  lhe  derivou  o  nome  vulgar  de 
Castanheiro  da  índia.  Segundo  uma  analyse  do  sr.  H.  Le- 
page,  citada  na  Flore  Forestiére  do  sr.  Mathieu,  aquella  se- 
mente contém  17,5  de  amido  e  3,35  de  azotados  (em  100 
de  substancia  húmida,  com  45  de  agua),  e  apezar  de  ser 
bastante  amarga  pode  servir  para  a  alimentação  dos  ani- 
maes.^  as  cabras  e  os  carneiros,  segundo  o  mesmo  auctor, 
costumam-se  a  comel-a,  e  na  Turquia  dão-a  aos  cavallos 
d'onde  o  nome  especifico  (Hippocastanum) ;  dizem  até  que 
á  farinha  privada  do  seu  principio  amargo  pode  entrar  na 
composição  do  pão.  Esta  semente  contém  ainda  6,5  7o  de 
um  óleo  doce,  saponiflcavel. 


AliPELtDEAS  243 


Família  LVI. — AMPELÍDEJLS,  EndL 

Flores  regalares,  de  ordinário  hermaphroditas,  dispostas 
qnasi  sempre  em  cachos  compostos,  oppostos  às  folhas.  Cá- 
lice gamosepalo,  inteiro,  ou  com  4-5  dentes  pequenos.  4-5 
pétalas  alternas  com  os  dentes  do  cálice,  livres  ou  reuni- 
das no  cimo  ou  na  base,  caducas.  4-5  estames  oppostos  ás 
pétalas,  inseridos  sobre  um  disco  hypogynico;  antheras  bi- 
loculares,  longitudinalmente  dehiscentes.  Ovário,  ás  vezes 
incluído  no  disco,  2-6-locular,  com  os  loculos  1-2-ovulados; 
estylete  curto  ou  nullo.  Baga  succulenta,  1-6-locular,  com 
1-2  sementes  em  cada  loculo.  Sementes  com  o  tegumento 
ósseo,  e  o  albumen  oleaginoso. — Arbustos  sarmentosos,  tre- 
padores, com  gavinhas  provenientes  da  transformação  dos 
eixos  de  uma  inflorescencia;  sarmentos  nodosos.  Folhas  in- 
feriores oppostas  e  as  restantes  alternas,  pecioladas,  sim- 
ples (palmatilobadas)  ou  compostas  (digitadas);  estipulas 
escamosas,  caducas. 

Vitis,  L. —  Videira. — Flores  esverdinhadas,  cheirosas,  pe- 
quenas. Cálice  5-dentado.  5  pétalas  adherentes  nas  ex- 
tremidades e  com  as  unhas  livres,  caducas  quando  a  flor 
abre.  Baga  ovóide  ou  globosa.  Folhas  simples,  palmatilo- 
badas. 

Folhas  com  peciolos  compridos,  profondamente  cordiformes  na 
base,  palmatifendidas^ou  palmatipartidas,  com  5  lóbulos  si- 
noado-dentados,  glabras  nas  duas  paginas,  ou  pubescentes, 
felpudas  ou  cotanilhosas  na  pagina  inferior.  Bagas  de  côr  va- 
riável, amarelladas,  esverdinhadas^  violáceas  ou  negras,  co- 
bertas de  efQorescencia  glauca.  Arbusto  á»  vezes  quasi  ar- 
bóreo. Fl.  na  primavera.  Originaria  do  Oriente  e  muito  cul- 
tivada em  todo  o  paiz. —  Videira T.  Tlnlfera»  !«• 

A  Videira  é  uma  das  maiores  riquezas  agrícolas  do  paiz ; 

16* 


244  M£UÁCEAS 

• 

coltíva-se  largamente  em  todas  as  províncias,  produzindo 
^03  de  vinhos  diversíssimos  e  alguns  d'elles  de  primeira 
qualidade,  conhecidos  e  acreditados  em  todo  o  mundo.  A 
cultura  muito  remota  d'esta  planta  tem  originado  un  nu- 
mero quasi  infinito  de  variações,  cujos  fructos  se  differen- 
çam  bastante  na  producçSo,  no  tamanho,  na  forma,  na  do- 
çura, na  época  de  maturação,  etc.  A  Videira  entre  nós  ji 
ás  vezes  apparece  sub-espontanea  (lábrusca)  e  produz  en- 
tSo  fructos  mais  pequenos,  pouco  saccharinos  e  bastante 
uniformes. 

As  folhas  da  Videira  (parras)  são  bom  alimento  para  o 
gado. 

Nos  últimos  tempos  tem-se  introduzido  na  cultura  euro- 
pea  algumas  outras  espécies  do  género  Vitis,  principalmente 
de  procedência  americana,  cujas  raizes  parecem  ter  a  pro- 
priedade de  resistir  aos  ataques  da  phyltoxera,  a  que  su^ 
cumbe  a  V.  vinifera.  Estas  espécies  oriundas  da  America 
produzem  vinhos  pouco  estimados  aos  paladares  europeus, 
notáveis  por  um  sabor  forte,  muito  particular,  desagradável; 
mas  a  cultura  apenas  lhes  procura,  ordinariamente,  apro- 
veitar as  raizes,  resistentes  ao  insecto,  substituindo-Ihes  a 
parte  aérea  pela  enxertia  de  garfos  da  Vitis  vinifera. 


Família  LVn.— MEUÁCEAS,  Juss. 

Flores  regulares,  hermaphroditas,  dispostas  ordinaria- 
mente em  cachos  compostos,  terminaes  ou  axillares.  Cálice 
gamosepalo,  com  4-5  divisões  que  alternam  com  outras  tan- 
tas pétalas  livres.  Estames  em  numero  duplo  do  das  péta- 
las, inseridos  com  a  corolla  sobre  um  disco  hypogynico; 
filetes  concrescentes  completamente  em  um  longo  tubo  até 
ás  antheras;  antheras  introrsas,  longitudinalmente  dehiscen- 
tes.  Ovário  livre,  plurilocular,  com  os  loculos  habitualmente 
biovulados.  1  estylete.  Fructo  uma  baga,  ou  drupa  com  o 


MEUÁGEAS  245 

caroço  plurilocular,  ou  uma  capsula  loculicida.  Sementes  com 
albumen;  embrySo  recto. — Arvores  ou  arbustos  .das  zonas 
tropical  e  sub-tropical,  com  as  folhas  alternas,  sem  estipu- 
las, impari-  ou  duplicado-pinnuladas. 

■ 

Esta  família  botânica  produz  essências  cujas  madeiras  são 
muito  estimadas;  citaremos  apenas,  como  mais  conhecida 
o  Mogno  (Swietenia  Mahogoni) .  Algumas  das  suas  espécies 
d3o  fructos  comestíveis  e  sementes  oleaginosas. 

Helía,  L. — Cálice  5-fendido,  herbáceo.  5  pétalas  oblongo- 
lineares.  10  estames.  Drupa  pequena  ovóide  ou  globosa,  com 
o  caroço  escavado  em  5  sulcos  longitudinaes^  5-locular,  com 
os  loculos  monospermos  (fig.  41,  Q,  D). 

CoroUa  tilaz-azalada,  tubo  estaminai  violaceo-escoro,  antheras 
amarellas;  pétalas  abertas  para  o  lado  em  estrella.  Inflores- 
cencias  axillares,  com  pedúnculos  compridos.  Drupas  ovóide- 
globosas  (fig.  41,  B),  pouco  carnudas,,  amarellas  na  matura- 
ção, reunidas  em  grandes  paniculas.  Arvore  com  as  folhas 
caducas,  grandes,  bipinnuladas  (fig.  41,  A),  com  os  foliolos 
oppostos,  ovado-lanceolados,  acuminados,  glabros,  irregular- 
mente serrados.  Fl,  na  primavera.  Originaria  da  Syria  e 
índia  Oriental;  cultivada  como  arvore  de  ornamento. — Sy- 
cômoro  bastardo,  melia,  amargoseira,  canteira. 

II.  jàsedaraeli»  li» 

. 

Arvore  de  crescimento  rápido,  bastante  vulgar  em  Por- 
tugal, sobretudo  empregada  em  alinhamentos.  Os  fructos 
são  adocicados,  mas  são  drásticos  e  mesmo  venenosos  se 
forem  ingeridos  em  quantidade.  As  sementes  são  oleagi- 
nosas. 


246 


i 


Fig.  il.—Melia  AzedarMk,  L.—J:  folha  (1:2).  Btfníelo. —  C.  o  mes- 
mo cortado  transversalmente  para  deixar  varo  caroço. — D:  ocarofo 
(1.1). 

FamiUa  LVni.— Ainu.NOti.CEAB,  Corr. 

Flores  regulares,  hermaphrodítas,  solitárias  ou  dispostas 
em  cjmeiras  ou  panicnlas,  terminaes  ou  laleraes.  C3lic« 
gamosepalo,  corolla  com  3-5  pétalas,  livres  ou  adhereDtes 
na  base.  Estames  numerosos,  inseridos  com  as  pétalas  so- 
bre um  disco  bypogynico;  filetes  largos,  livres  ou  mwia- 


AUBANaACEAS  247 

delphos,  oa  potyadelphos;  aolheras  tcnninaes,  levantadas, 
ÍDtrorsas.  Ovário  livre,  multilocular,  com  os  loculos  1-plu- 
ríOYulados;  1  estylete;  esllgma  terminal  sub-lobado.  Frocto 
bacciforme,  multilocular,  com  o  pericarpo  coriaceo  externa- 
mente, glanduloso,  e  os  loculos  separados  por  diaphragmas 
membranosos,  cheios  de  cellulas  fusiformes  túrgidas  de 
polpa  succulenta.  Sementes  sem  albumen.^Arvores  ou  ar- 
bustos quasi  sempre  glabros,  ás  vezes  com  espinhos  axil- 
lares  fortes.  Folhas  persistentes,  alternas,  sem  estipulas. 

Citrus,  L. — Cálice  gomiloso  3-5-rendido.  5  pétalas.  iO~ 
60  estames  polyadelphos  (fig.  42,  A).  Estigma  semisphe- 
ríco.  Fructo  grande,  com  7-12  loculos,  cada  um  dos  quaes 
contém  muitas  sementes.^ — Arvores  ou  arbustos,  muitas  ve- 
zes com  espinhos  asillares  verdes.  Folhas  simples*  com  o 
peciolo  mais  ou  menos  alado  (íig.  43,  B).  Pétalas  e  folhas 
cheias  de  pontuações  glandulosas,  ricas  em  oleos-essenciaes. 


Fig.  42.— Ciínii  vulgaris,  Risso.  (1:1).  A:  flor.— B:  folha. 

t  As  folhas  dos  Citna  devem  considerar-s6  como  folhas  pinnuladu, 
que  tó  apresentam  desenvolvido  o  foliolo  extremo.  Este  foliolo  esU 
articulado  com  o  peciolo. 


248  AURANaÁCEAS 

Flores  dispostas  em  cymeiras,  ou  solitárias,  cheirosas.  (Esr 
pecies  todas  indígenas  da  Ásia  tropical,  e  cultivadas,  as  ser 
guintes,  em  toda  a  zona  mediterrânea,  algumas  em  largi 
escala). 


1 


Casca  do  fructo  muitíssimo  grossa  e  muito  rugosa.  Polpa  insi-" 
pida S 

Casca  do  fructo  de  ordinário  mais  delgadas  menos  rugosa.  Polpt 
muito  mais  abundante  e  mais  succosa,  doce  ou  acida 3 

Inerme.  Petaias  brancas.  Folhas  pubescentes  na  pagina  inferior; 
limbo  obtuso,  chanfrado;  peciolo  largamente  obovado.  Fmcto 
muito  grande,  sub-globoso,  côr  de  oiro  ou  esverdinhado,  com 
a  polpa  insípida.  Fl.  na  primavera.  Pouco  cvUitado. —  Tth 
ranja C*  tf  eeanuiBa*  Im 

Espinhosa.  Pétalas  avermelhadas  externamente.  Folhas  glabras 
com  o  limbo  oblongo  e  o  peciolo  linear.  Fructo,  de  ordinário, 
grande,  oblongo,  amarellado  na  maturação  (avermelhado  pri- 
meiro), com  a  polpa  insípida,  acidula.  Fl,  em  quasi  lodo  o 
anno.  Pouco  cultivado. —  Cidreira..  €•  MfNliea* 


l  Fructo  sub-globoso,  não  mamilloso,  amarello-doirado  ou  ama- 
rello-avermelhado.  Pétalas  brancas 4 

3  { Fructo  oblongo,  pyriforme  ou  sub-globoso,  mamilloso  no  cimo, 
amarello-pallido.  Pétalas  brancas  ou  externamente  verme- 
lhas   6 

Polpa  acida.  Peciolo  largamente  obovado  (fíg.  42,  B).  Yesicu- 
las  cortícaes  concavas.  Fl.  em  abril  e  maio.  Bastante  cuUi- 

4  {     vado. —  Laranjeira  azeda C.  valgarls*  Blaae* 

Polpa  doce.  Peciolo  muito  mais  estreito.  Vesículas  cortícaes  con- 
vexas   5 

Fructo  globoso,  côr  de  oiro.  Peciolo  estreitamente  obovado.  Fl. 
em  abril  e  maio.  Muito  cultivado. — Laranjeira. 

ۥ  Aarantlom.  BI 

Polpa  avermelhada.  Laranja  de  sangue  ou  de  Malta. 

%'•  Màni^iila 

Fructo  deprimido,  amarello-avermelhado,  muito  doce.  Peciolo 
sub-linear.  Fl.  em  abril  e  maio.  Bastante  cultivado. —  Toií- 
gerineira ۥ  nfAilIa*  li^art 


fi 


r 


MALVÁCEAS  249 

Fnicto  oblongo,  tendo  no  cimo  um  mamillo  simples.  Pétalas 
avermelhadas  externamente.  Polpa  muito  acida.  Vesículas 
corticaes  concavas.  Fl.  em  quasi  todo  o  anno.  Muito  culti- 

vado. — Limoeiro. C*  Eilmonam*  Bl«««* 

Polpa  doce  ou  levemente  acida.  Vesiculas  corticaes  conca- 
vas ou  convexas.  Menos  cultivado. — Limoeiro  doce. 

Q{  V.  lamla»  Rlsiio. 

Fructo  com  uma  aureola  deprimida  na  base  do  mamillo.  Péta- 
las brancas.  Polpa  doce.  Fructo  sub-globoso.  Vesiculas  cor- 
ticaes concavas.  FL  em  quasi  todo  o  anno.  Pouco  cultivado. — 

Limeira C.  Umetia»  Bisna. 

Fructo  maior  e  mais  aromático,  pyriforme  ou  deprimido. 
\  Bergamotta ir« 


As  espécies  d'este  género  s3o  objecto  de  muito  impor- 
tante cultura  em  Portugal,  especialmente  a  Laranjeira  doce 
e  o  Limoeiro  azedo;  os  seus  fructos,  bem  conhecidos,  tem 
um  grande  numero  de  empregos  e  exportam-se  em  bas- 
tante quantidade.  Os  fructos  das  espécies  menos  succosas 
ntilisam-se  sobretudo  em  confeitaria.  Das  flores  e  das  cas- 
cas dos  fructos,  ricas  umas  e  outras  em  oleos-essenciaes, 
extraem-se  productos  importantes  eitt  perfumaria,  na  in- 
dustria licorista,  em  pharmacia,  etc.  A  madeira  d'estas  es- 
sências é  muito  rija,  e  tem  particular  emprego  para  o  fa- 
brico de  peças  que  tem  de  sofl^rer  grandes  attrítos. 


Família  LIX.— MALVÁCEAS,  R.  Br. 

Flores  regulares,  quasi  sempre  hermaphroditas,  dispos- 
tas em  ínflorescencias  axillares,  muitas  vezes  em  cymeiras. 
Cálice  gamosepalo,  com  5  divisões,  persistente,  acompa- 
nhado ás  vezes  na  base  de  um  invólucro  de  bracteas  (ca- 
iiculo).  5  pétalas,  alternas  com  os  lóbulos  do  cálice,  quasi 
sempre  reunidas  pelas  unhas  com  a  columna  estaminifera. 
Estames  numerosos,  hypogynicos,  com  os  filetes  soldados 


250  MALVÁGEAS 

em  um  tobo  que  na  base  inclue  o  ovário.  Ovário  liyre  2- 
multilocular,  iuteiro  ou  lobado;  carpellos  verticillados  em 
redor  de  uma  proeminência  central  do  disco  (carpophoro) 
ou  raras  vezes  reunidos  sem  ordem;  estyletes  adherentes 
mais  ou  menos  na  base,  incluídos  no  tubo  dos  estames.  Fm- 
cto  formado  de  carpellos  uniloculares,  monospermos^  liares 
(achenios),  verticillados  em  redor  do  eixo  central*  ou  adhe- 
rentes entre  si  e  constituindo  uma  capsula  plurilocular  com 
debiscencia  loculicida.  Sementes  sem  albumen  (raras  vezes 
com  albumen);  embryão  recto  ou  curvo. — Plantas  herbá- 
ceas, arbustivas  ou  arbóreas,  muitas  vezes  cobertas  de  pel- 
los  estrellados.  Folhas  alternas,  pecioladas,  simples,  palmi- 
nervadas  e  mm*tas  vezes  palmatilobadas  ou  palmatipartidas, 
com  estipulas  livres,  caducas. 

A  esta  familia  botânica  pertencem  varias  espécies  exóti- 
cas cujas  cascas  fornecem  uma  filaça  grosseira,  que  pode 
servir  para  o  fabrico  de  cordas  e  tecidos  ordinários ;  a  ella 
pertencem  os  Algodoeiros  (Gossypium)^  cuja  felpa  macia  e 
comprida  das  sementes  tem  na  industria  um  tão  largo  em- 
prego. Em  Portugal  existem  espontâneas  bastantes  espécies 
d'esta  familia,  mas  s3o  quasi  todas  herbáceas;  apenas  dos 
referiremos  ás  seguintes,  do  género  Laoatera,  por  serem 
lenhosas,  que  nenhuma  tem  importância  florestal. 

Lava^era,  L. — 3  bracteas  reunidas  entre  si  na  base,  a 
constituírem  um  caliculo  grande,  3-fendido.  Carpeljos  verti- 
cillados em  redor  de  um  eixo  central. — Plantas  herbáceas 
ou  arbustivas  com  as  flores  grandes,  rosadas  ou  verme- 
lhas. (Este  género  tem  espontâneas  em  Portugal  plantas 
herbáceas  e  os  seguintes  arbustos): 

Pedúnculos  curtos,  axillares,  solitários.  Gorolla  vermelha,  3 re- 
zes maior  do  que  o  cálice.  Lóbulos  do  caliculo  largos,  arre* 
dondado».  Arbusto  ou  sub-arbusto  estrellado-cotanilhoso,  eom 
1  ]     as  folhas  inferiores  e  medias  cordiformes  5-3-lobadas,  e  as  sor 


HYPERIGlNEAS  251 

periores  (floraes)  sub-inteiras,  esbranquiçadas  em  ambas  as 
paginas  ou  ao  menos  na  inferior.  FL  em  junho  e  julho.  Se- 
bes :  Beira,  Estremadura,  etc Ij*  Olbla»  !«• 

Pedúnculos  axillares,  fascicolados 2 

/  Caliculo  maior  do  que  o  cálice,  quasi  o  dobro.  Eixo  central  do 
disco  (carpophoro)  pequeno,  cónico.  CoroUa  vermelha,  3  ve- 
zes maior  do  que  o  caliculo.  Arbusto  com  os  ramos  estrellado- 
pubescentes,  as  folhas  inferiores  cordiforme-orbiculares  sub- 
lobadas  e  as  superiores  3-5-lobadas,  estrellado-pubescentes 
na  pagina,  inferior.  Estipulas  pequenas,  caducas.  FL  em  ju- 
nho e  julho.  Sebes,  sítios  húmidos:  Traz-os- Montes. 

li.  arbórea*  li* 

Caliculo  metade  menor  do  que  o  cálice.  Carpophoro  troncado  e 
com  tantas  expaxisões  membranosas  lateraes,  verticaes,  quan- 
tos os  carpellos.  Corolla  rosada,  2-3  vezes  maior  do  que  o  cá- 
lice. Arbusto  pulverulento,  estrellado-cotanilhoso,  esbranqui- 
çado, com  as  folhas  cordiforme-orbicuiares,  as  inferiores  in- 
teiras e  as  superiores  sub-3-lobadas,  todas  crenadas.  Estipu- 
las grandes,  foliaceas.  Fl,  em  junho  e  julho,  Sitios  arenosos: 
Algarve li*  trllolia»  li* 

Na  linguagem  vulgar  confundem-se  com  o  nome  de  Mal- 
vas as  plantas  dos  géneros  Malva  e  Lavatera. 


Família  LX.— HYPERIOÍNEAS,  DO. 

Flores  regulares,  hermaphroditas,  dispostas  em  cymei- 
ras,  simples  ou  reunidas  em  corymbos  ou  paniculas.  Cá- 
lice com  5  sepalas  mais  ou  menos  adherentes  na  base.  5 
pétalas.  Estames  em  numero  indiíinido,  hypogynicos,  com 
os  filetes  reunidos  na  base  a  constituírem  3-5  grupos;  an- 
theras  introrsas,  longitudinalmente  dehiscentes.  Ovário  li- 
vre, com  3-5  carpellos,  1-locular  ou  com  3-5  loculos  incom- 
pletos,* quasi  sempre  multiovulado.  3-5  estyletes  filiformes. 
Fnicto  secco  e  dehiscente  (capsula),  ou  carnudo  e  inde- 


252  TAMARISCiNEAS 

hiscente  (baga).  Sementes  sem  albumen;  embryão  recto  oa 
cnrvo. — Plantas  herbáceas  ou  arbustivas,  com  as  folhas  op- 
postas  ou  verticilladas,  inteiras  ou  glanduloso-denticuiadas, 
ás  yezes  crivadas  de  pontos  transparentes,  oleosos,  ou  com 
glândulas  negras. 

Hypericum,  L. — Pétalas  amarellas,  muitas  vezes  com 
glândulas  negras.  Estames  20  ou  mais,  tri-pentadelphos. 

Fructo  bacciforme.  Estames  pentadelphos.  Pequeoo  arbusto  gla- 
bro,  com  as  folhas  grandes,  «oriaceas,  sesseis,  obtusas,  cor- 
diforme-ovadas.  Pétalas  pouco  maiores  do  que  o  cálice.  Flo- 
res pouco  numerosas  dispostas  em  cymeiras  terminaes.  R. 
de  julho  a  outubro.  SUios  húmidos  e  assombreados:  Beira, 
Estremadura, — Androsemo. . .  H.  Andronaemamt  L. 

Este  pequeno  arbusto  não  tem  nenhuma  importância  flo- 
restal. O  género  Hypericum  tem  no  paiz  muitas  outras  es- 
pécies indígenas,  herbáceas  ou  levemente  lenhosas  na  base, 
sub-arbustivas ;  nenhuma  d'ellas  tem  também  importância 
florestal.  Àfóra  o  porte,  todas  se  distinguem  bem  do  An- 
drosemo pelo  fructo,  que  é  uma  capsula,  e  não  uma  baga 
como  n'este  ultimo. 


FamUia  LXI.— TAMARISOINEAS,  St.  HU. 

Flores  regulares,  pequenas,  quasi  sempre  hermaphrodi- 
tas,  bracteadas,  dispostas  em  espigas  simples,  cylindricas, 
numerosas.  Cálice  ^amosepalo  4-5>partido.  Corolla  marcos-, 
cente,  com  4-S  pétalas.  4-5-8-10  estames,  inseridos  com  a 
corolla  sobre  o  disco  hypogynico,  com  os  filetes  livres  o« 
adherentes.  Ovário  livre,  1-locular,  multiovulado.  3-5  os- 
tyletes.  Capsula  dehiscente  em  tantas  válvulas  quantos  os 
estyletes,  polysperma.  Sementes  pelludas,  com  appendices, 
com  ou  sem  albumen;  embryão  recto.  Arbustos  (menos  ve- 


TAHARlSCiNEAS  253 

les  arvores)  sempre-verdes,  com  as  folhas  pequenas,  esca- 
mirormes,carnudas,verde-azuladas,  inteiras,  alternas, muito 
aproximadas,  sem  estipulas;  ramos  alongados,  fazendo  lem-  - 
brar  do  aspecto  os  dos  Cyprestes  (flg.  43,  B).  BotSes  nús. 

Tamarix,  L.—  Tamarguetra.—CAlke  4-5-fendido.  Corolla 
«RD  4-5  pétalas.  5  estames  monadelphos  na  base.  3  esty- 
letes.  Capsula  com  3  válvulas.  Sementes  com  os  appendi- 
ces  peUudos  sesseis. 

Estames  salienl^s,  com  as  anlberas  apiculadas.  Folhas  muilo  gla- 
bras,  dilatadas  oa  base,  amplexicaales.  Pétalas  rosadas.  Flo- 
res globosas  antes  de  abertas,  em  cachos  oumerosos  que  gru- 
pados semelham  ama  espécie  de  grande  panicula  (flg.  43,  A). 
Capsula  pyramidal,  atlenuada  da  base  ao  cimo.  Arbusto.  Ft. 
emjanho  ejulho.  Areias  da  praia:  Beira,  Etlremadura,  ele. 
—  Tamargueira  ou  tamariz T>  Clalllca.  Ii. 


fig.  43.— Tomoníc  GatUca,  L.  (1:1).  A:  ramo  florifero.— fi:  ramo  fo- 
lhoso. 


254 


cistíneás 


Família  LXn.— OISTIKEAS,  DG. 

Flores  regalares,  hennapbroditas,  solitárias  oa,  qaasi 
sempre,  dispostas  em  cymeiras  diversamente  grupadas.  Cá- 
lice com  5  sepalas  eguaes  (fig.  44,  G)  ou  moito  desegaaes, 
sendo  as  duas  externas  muito  menores  (fig.  44,  E),  ou  ape« 
nas  com  3,4>eio  aborto  das  restantes  (fig.  44,  D).  5  pet^das 
(fig.  44,  F)  livres,  muito  fugaces.  Estames  numerosos  dispos- 
tos em  um  ou  mais  verticillos,  inseridos  com  a  corolla  sobre 
um  disco  hypogynico;  antberas  introrsas,  longitudinalmente 
dehiscentes.  Ovário  livre,  formado  por  3-5  carpellos  (raras 
vezes  6-10)  adherentes  nas  margens,  unilocular  ou  incom- 
pletamente 3-5-6-10-locular;  óvulos  numerosos.  Estylete 


Fig.  44. — A\  Capsula  do  Cutva  crisput,  L.  (1:2).  JB:  Capsala  do 
mium  occidentale,  Wk.  (1:2).  C:  Cálice  do  Cistus  crispus,  L.  (i:i)* 
D:  Cálice  do  Halimium  ocdderUale,  Wk.  (1:1).  E:  Cálice  do  Bidh 
mium  halinUfoliim,  Wk. (1:1).  F:  Flor  do  Halimium oeddetUak,^ 
(1:1).  H:  Semente  do  Halimium  erioeephalum,  Wk.  (qiiasi  1:2). 


asTíNEAS  255 

simples  ou  nullo.  Capsula  loculicida,  polysperma,  envolvida 
pelas  sepalas  ou  livre,  dehiscente  em  3-5-6-10  válvulas 
(fig.  44»  B,  A).  Sementes  com  albumen;  embrySo  curvo,  de 
ordinário. — Plantas  arbustivas,  sub-arbustivas  ou  herbá- 
ceas, com  as  folhas  simples,  inteiras,  oppostas,  ás  vezes 
adonadas  na  base,  raras  vezes  alternas,  sesseis  ou,  em  me- 
nos casos,  pecioladas,  com,  ou  sem  estipulas. 

Ãs  Cistineas  encontram-se  em  grande  abundância  no  nosso 
paiz,  como  já  dissemos,  preponderando  muitas  vezes  nos 
terrenos  seccos,  descobertos,  pedregosos,  assim  como  nos 
solos  das  matas;  em  muitos  sitios  apparecem  sociáveis,  isto 
é,  muitos  indivíduos  de  uma  só  espécie  cobrem  grandes 
áreas.  São  bastante  numerosas  as  espécies  indígenas,  mas 
nem  todas  tem  a  ipesma  importância  florestal.  As  de  maio- 
res proporções  são  arbustos  e  sub-arbustos  pertencentes 
aos  géneros  Cistus  e  Halimium;  as  espécies  do  género  Tu- 
beraria  são  herbáceas,  annuaes  ou  perennes,  com  rhizomas 
lenhosos;  as  do  género  Helianthemum  são  plantas  annuaes 
ou  muito  pequenos  sub-arbustos,  sem  nenhuma  importân- 
cia; e  o  mesmo  diremos  das  espécies  sub-lenhosas  do  gé- 
nero Fumana.  Por  esta  razão  apenas  nos  referiremos  áquel- 
les  dois  primeiros  géneros. 

As  Cistineas  teem  grande  facilidade  em  se  cruzarem  en- 
tre si,  produzindo  numerosos  hybridos,  cuja  descripção  está 
fora  da  indole  d'este  trabalho. 

Algumas  plantas  d'esta  familia  são  aromáticas  e  segre- 
gam pelos  rebentos  e  pelas  folhas  uma  gomma-resina  muito 
cheirosa,  o  ladanum. 

Capsula  6-10-localar,  com  outras  tantas  válvulas  (fig.  44,  A)« 

Cálice,  de  ordinário,  com  5  sepalas  sub-eguaes,  (fig.  44,  C) 

.     mas  ás  vezes  com  3 Clstas  (pag.  256) 

Capsula  3-localar,  com  3  válvulas  (fig.  44,  B).  Cálice  com  3 
sepalas  (fig.  44,  D),  ou  com  5,  sendo  duas  muito  menores 
(figv44,  P) 2 


256  cistíneas 

Estylete  nallo  ou  muito  curto.  Sepalas  não  nen^adas  ovobsole- 

^1     tamente  nerradas 3 

Estylete  filiforme,  comprido.  Sepalas  com  3-4-5  nervuras  lon- 
gitudinaes  salientes 4 

Arbustos  ou  sub-arbustos.  Estamos  dispostos  em  vários  verti- 
cillos.  Funiculo  da  semente  filiforme  (fig.  44,  H). 
,      naliniinm  (pag.  2S9) 

Plantas  herbáceas,  annuaes  ou  perennes.  Estamos  dispostos  em 
1  só  verticillo.  Funiculo  da  semente  em  forma  de  clava. 
Tol»erarla« 


Estamos  todos  férteis.  Estigma  discoide .  Hellantlieii 

4  \  Estamos  externos  estéreis,  com  os  filetes  nodosos.  Estigma  3- 

lobado Fnmana. 

Cístus,  Tourn. — Esteva.  —  Cálice  com  5  sepalas  sob- 
eguaes,  palminervadas  (fig.  44,  C),  menos  vezes  com  3  se- 
palas. 5  pétalas  largas,  abertas  para  os  lados,  ás  vezes 
moito  grandes.  Estames  numerosos,  todos  férteis,  dispos- 
tos em  muitos  verticlllos.  Ovário  5-  raras  vezes  lO-locular. 
Estylete  recto,  comprido,  menos  vezes  sub-nullo;  estigma 
grande,  discoide,  5-,  raras  vezes  10-lobado.  Capsula  com 
S,  raras  vezes  10  válvulas,  pdysperma  (fig.  44,  A).  Se- 
mentes com  o  funiculo  filiforme. — Arbustos  ou  sub-arbus- 
tos  sempre-verdes,  com  as  folhas  oppostas,  sem  estipulas. 

!  Pétalas  vermelhas,  ou  rosadas.  Estylete  quasi  do  tamanho  dos 
estamos.  5  sepalas  sub-eguaes i 
Pétalas  brancas.  Estylete  curto  ou  sub-nuUo 4 

Folhas  pecioladas  (as  do  cimo  sesseis,  adunadas);  peciolos  dila- 
tados na  base,  sub-entumecidos,  adunados.  Folhas  ovadas  oa 
arredondadas,  um  pouco  onduladas,  rugosas  na  pagina  sape- 
rior,  e  na  inferior  esbranquiçadas.  Flores  grandes,  rosadas  ou 
2  {  vermelhas,  pedicelladas,  quasi  sempre  dispostas  em  cymeiras. 
Capsula  oblonga,  muito  felpuda.  Arbusto  esbrauquiçado,  fd- 
pudo-cotanilhoso.  Fl.  em  maio.  Sebes,  etc:  Beira  {arredores  de 
Coimbra) — (C.  villosvs,  L.).  €•  polymorplins»  WIC* 
Folhas  todas  sesseis 3 


4 


6 


gistíneas  257 

I  Folhas  planas,  não  adunadas  na  base,  esbranquiçadas,  cotani- 
Ihosas  em  ambas  as  paginas,  macias,  ovado-oblongas  ou  elli- 
pticas.  Pétalas  rosadas.  Flores  pedicelladas,  nuas,  solitárias 
ou  dispostas  em  cymeiras.  Capsula  ovóide,  assetinado-pel- 
luda.  Fi.  de  abril  a  junho.  Outeiros  calcareos:  Beira,  Estre- 
madura, Aíemtejo,  etc. — Roselha  grande .  €•  allildas*  li* 
Folhas  crespo-onduladas  nas  margens,  adunadas  na  base,  ver- 
des, hirsutas,  oblongas  ou  ellipticas.  Pétalas  vermelhas.  Flo- 
res sub-sesseis,  fasciculadas  no  extremo  dos  ramos,  envolvi- 
das pelas  folhas  superiores.  Capsula  oblonga,  pelluda.  Fl.  em 
abril  emaio.  Outeiros  calcareos,  sebes,  matos:  Beira,  Estre- 

■ 

I      madura,  4^emtejo,  Algarve,  etc €•  erispuM»  Ta. 

5  sepalas 5 

3  sepalas /. . '. 8 

!  Folhas  sesseis,  3-5-nervadas 6 
Folhas  mais  ou  menos  pecioladas,  penninervadas 7 


Capsula  globosa,  glabra,  lustrosa,  dehiscente  apenas  no  cimo. 
Folhas  estreitamente  lanceoladas  ou  lineares,  planas  ou  com 
os  bordos  enrolados,  levemente  adunadas  na  base,  as  cauli- 
nares com  3  nervuras  longitudinaes  e  as  floraes  (ovado-apu- 
çadas)  com  5  nervuras.  Pedúnculos  mis,  terminaes  e  axilla- 
res.  Cymeiras  unilateraes,  scorpioides,  com  3-10  flores.  Pe- 
dicellos  e  cálices  muito  hirsutos.  Arbusto  viscoso.  Fl.  de  abril 
çA  a  junho.  Frequente  nos  campos  seccos,  matos,  pinhões,  etc: 
Beira,  Estremadura,  Alemtejo.  ۥ  Monspellenuiii*  Ei. 

Capsula  pentagonal,  estrellado-cotanilhosa,  dehiscente  até  á base. 
Folhas  ovado- ou  elliptico-lanceoladas,  ásperas  superiormente, 
trinervadas.  Pedúnculos  vestidos  com  bracteas  alternas,  folia- 
ceas.  Flores  terminaes,  solitárias  ou  end  cymeiras.  Bracteas, 
pedicellos  e  cálices  longamente  hirsutos.  Arbusto  viscoso.  jF?. 
em  abril  e  maio.  Sebes,  campos:  Minho,  Douro,  Beira ^  Es- 
tremadura, etc. — (C.  laxus^  Brot,) .  C.  lilrsii tus» liam. 

Peciolos  curtos.  Folhas  estrellado-cotanilhosas  nas  duas  paginas, 
rugosas,  as  caulinares  ovadas  ou  ovado-oblongas,  as  floraes 
7|     bracteformes,  sesseis.  Pedúnculos  compridos,  nús  (com  fo- 

c.  s. — ^v.  u.  17 


258 


GISTfNEAS 


lhas  só  na  base),  sapportando  1-5  flores.  Capsula  troneada, 
pulverulenta.  Arbusto  muito  rauioso,  com  os  ramos  novos, 
pedúnculos  e  sepalas  estrellado-cotanilhosos.  Fl.  de  abra  a 
julho.  Outeiros,  sebes,  matos,  pinhões,  etc:  em  tadoojxúz, 

frequente ^C.  •alviaerollvs*  L. 

Peciolos  compridos.  Folhas  glabras  em  ambas  as  paginas,  cor- 
diforme-ovadas,  acuminadas.  Pedúnculos  bracteados  (bra- 
cteas  caducas),  supportando  2-5  flores.  Capsula  o voide-oblon- 
ga,  pentagonal,  com  alguns  pellos.  Arbusto  aromático,  viscoso. 
Fl.  em  maio  e  junho.  Traz-os- Montes,  Beira,  Alemtejo,  Al- 
garve.—  Estevão C.  popalIfollaiuL. 


Folhas  grandes  e  largas,  lanceoladas,  3-nervadas.  Flores  gran- 

^  j     des  (8-16  cenl.  de  diâmetro) 9 

Folhas  estreitas,  lineares,  1-nervadas,  com  as  margens  enrola- 
das, sesseis,  adunadas  na  base.  Flores  pequenas ...  10 


j  Folhas  pecioladas,  ovado-lanceoladas,  acuminadas,  glabras  na 
pagina  superior,  e  esbranquiçadas,  cotanilhosas,  na  inferior. 
Capsula  ovóide,  muito  felpuda,  com  o  válvulas.  Flores  2-8 
dispostas  em  cymeira,  quasi  sub-verticilladas.  Pétalas  bran- 
cas, maculadas  de  amarello  perto  das  unhas.  Arbusto  maito 
viscoso,  aromático.  Fl.  em  junho  e  julho.  Matos,  campos  in- 
cultos. TraZ'OS'Montes ۥ  laurifollufl*  li* 

Folhas  suh-sesseis,  lanceoladas  ou  linear-lanceoladas,  na  pagina 
9  (  superior  glabras  e  na  inferior  esbranquiçadas,  cotanilhosas. 
Capsula  globosa,  pulverulento-eotanilhosa,  com  10  válvulas. 
Flores  solitárias;  pedúnculos  bracteados.  Pétalas  brancas,  le- 
vemente amarelladas  próximo  das  unhas  (y.  albiflorus,  DC), 
ou  com  uma  grande  mancha  vermelho-sanguinea  {v.  moeu- 
latas,  Dun.).  Arbusto  aromático  e  muito  viscoso.  FL  de  abril 
a  junho.  Matos,  bosques,  sebes,  etc  frequente  em  todoopaiz. 
—  Esteva,  xára  {em  Traz-os-Montes), 
€•  ladanirervs»  Ii« 


1 0  numero  4las  flores  em  cada  pedúnculo,  a  forma  das*  áepalas,  etc, 
caracterisam  variedades  cuja  distincçSo  nem  sempre  nos  parece  maito 
nítida,  6  que  por  isso  nSo  mencionámos. 


GISTÍNEAS  259 

Pedúnculos,  pedicellos  e  cálices  pubescentes  durante  a  floração 
e  depois  sub-glabros.  Flores  reunida^  em  cymeiras  de  3-5, 
no  principio  sub-capitadas  e  envolvidas  por  bracteas  caducas. 
Capsula  oblonga,  pentagonal,  lustrosa.  Arbusto  viscoso.  Fl, 
.^  I  em  maio,  {Entre  Chão  dè  Maçãs  e  Paialvo,  seg,  Toum.)» 
€•  Clusil»  Dmi* 

Pedúnculos,  pedicellos  e  cálices  glabros,  viscosos.  Inflorescen- 
cia  como  a  anterior.  Capsula  ovoide-globosa,  assetinado-pul- 
verulenta,  Fl.  de  abril  a  junho.  Sitios  arenosos,  pinhaes,  etc: 
Algarve C.  Bourgaeanus»  Ccmíií» 

Halimium,  Dun. — Cálice  com  3  sepalas  (flg.  44,  D)  ou  com 
4-5,  sendo  1-2  muito  pequenas  (flg.  44,  E);  sepalas  sem 
nervuras  salientes.  Pétalas  brancas  ou  amarellas.  Estames 
numerosos  dispostos  em  muitos  verticillos.  Estylete  curto 
ou  sub-nuUo.  Capsula  com  3  válvulas  (flg.  44,  B).  Semen- 
tes com  funiculo  comprido,  filiforme  (flg.  44,  H). — Arbus- 
tos e  sub-arbustos  com  as  folhas  oppostas,  sem  estipulas. 
Pedúnculos  bracteados,  flores  medíocres  (flg.  44,  F),  dis- 
postas era  cymeiras.  ^ 

Folhas  estreitas,  lineares.  Pétalas  brancas  ou  amarello-palli- 
das 2 

Folhas  largas,  ovadas  ou  ellipticas.  Pétalas  amarellas  ou  doira- 
das, maculadas  ou  não.  3  sepalas,  ou  ás  vezes  3  sepalas  gran- 
des e  1-2  mais  pequenas. 3 


/ 


Pétalas  brancas.  Flores  verticillado-cyraosas  no  extremo  dos  ra- 
mos e  duas  flores  na  axilla  das  folhas  superiores.  Capsula 
ovóide,  accuminada,  pulverulenta.  Pequeno  arbusto  com  as 
folhas  planas,  superiormente  pelludas  ou  glabras,  inferior- 
mente esbranquiçadas.  Ramos,  pedicellos  e  cálices  pulveru- 
lentos e  pelludos,  ás  vezes  viscosos.  FL  em  junho  e  julho. 
Serra  do  Gerez. — {Cistus  umbellatus,  Brot.). 
H.  iiiiil»ellatiiiift«  (Ii«)  flpaclà  K 


1  F.  víUgare,  Wk. 

17  # 


260 


aSTlNEAS 


\ 


/ 


\ 


Folhas  com  as  margens  enroladas,  sub-cylindricas.  Planta 
viscoso -pubescente.  Na  Beira  montarãioM  {Castdlo 

Branco,  etc) v.  wtscosam»  IVIc. 

Folhas  planas,  glabras  na  pagina  superior,  e  cotanilhosas 
esbranquiçadas  na  inferior.  Flores  cymoso-verticiUada^ 
em  muitos  entre-nós.  Fl,  de  moio  a  julho.  Terras  uc- 
cos:  TraZ'08'Monte8,  Estremadura, ete. — (Cistusver- 
ticillatus,  Brot.). . . « . .  w.  i^erilcillafiiiii»  V¥U, 
Pétalas  amarello-pallidas.  Flores  terminaes  e  axillares,  solitá- 
rias ou  em  cymeiras  de  2-3.  Capsula  suh-globosa,  estrellado- 
pulverulenta.  Folhas  glabras  na  pagina  superior,  verdes  e  lus- 
trosas, e  na  inferior  esbranquiçadas,  quasi  semelhantes  ás  do 
Alecrim.  Pequeno  arbusto  muito  ramoso.  FL  em  fevereiro  e 
março.  Frequente  nas  areias :  Beira,  Estremadura,  Algarve.— 
{CistusLibanotiSy  L.  e  Brot.) .  H»  Iiil»aiioii««  {Ia.)  I4pe. 

Folhas  de  duas  formas :  as  dos  ramos  floriferos  sesseis,  verdes, 
distantes,  planas,  3-nervadas  na  base,  lanceoladas  ou  oblon- 
gas, caducas  depois  da  fecundação:  as  dos  ramos  estéreis 
muito  menores,  pecioladas,  obovadas,  esbranquiçadas,  i-ner- 
vadas,  persistentes.  Pedicellos  compridos;  panicula  terminal 
comprida  e  frouxa.  3  sepalas.  Pétalas  quasi  sempre  macula- 
das de  vermelho-escuro  na  base.  Capsula  oblonga,  pulveru- 
lenta. Arbusto.  FL  em  maio  e  junho.  Terras  seccas,  pinhaes, 
etc. — {Cistus  ocymoides,  Lam.  eBrot.). 

H.  ocymoides,  (I^am.)  IVU* 

Tronco  e  ramos  levantados.  Folhas  de  ordinário  agudas, 
as  dos  ramos  estéreis  pequenas,  dobradas  ao  meio.  Beiray 
Estremadura,  Alemtejo,  etc. . .  ir.  erecfum»  HWU» 
Tronco  prostrado  e  ramos  remontantes.  Folhas  quasi  sem- 
pre obtusas,  as  dos  ramos  estéreis  maiores  e  planas.  Al' 
garve,  Alemtejo,  etc. . . .  v.  procumbeii»*  Tirk* 
Folhas  todas  proximamente  da  mesma  forma :  as  da  estremidade 
(floraes)  sesseis,  as  restantes  mais  ou  menos  pecioladas. .  4 

Sepalas  (pulverulentas  ou  com  pellos  estrellados)  sem  pdlos 
compridos  simples  (íig.  44,  E).  Estylete  curto 9 

Sepalas  sempre  com  pellos  simples  compridos,  mais  ou  menos 
numerosos  (fig.  44,  D).  Estylete  nullo 6 


CISTfNEAS  261 

;  Sepalas  brancas,  pulverulentas  (só  3,  ou  3  grandes  e  1-2  mais 
pequenas).  Flores  numerosas,  paniculado-cymosas.  Pétalas 
negro-maculadas,  raras  vezes  immaculadas.  Arbusto  muito 
ramoso,  com  as  folhas  planas  obovado-lapceoladasouellipti^-' 
oblongas,  com  3  nervuras  obsoletas,  esbranquiçadas  em  am- 

Ibas  as  paginas,  pulverulentas,  assim  como  os  ramos.  Capsula 
ovoid^,  pulverulenta.  FL  em  junho  e  julho,  Pinhae$y  terras 
arenosas^  matoSy  etc:  Região  littoral  da  Beira,  Estremadura 
e  Alemtejo. — Sargaça.  (Cistus  halimifolius^  L.  e  Brot.), 

H.  liallmifoliuiii»  (li.)  VITÊL. 

»l  Sepalas  brancas,  pulverulentas  e  simultaneamente  com  pellos 
\     esirellados  (3  maiores  e  2  mais  pequenas) .  Pétalas  côr  de  oiro^ 
negro-maculadas.  Inflorescencia  como  a  anterior.  Folhas  sub- 
1-nervadas,  cinzento-esverdinhadas,  pulverulentas.  Capsula 
turbinada,  pulverulenta.  FL  em  maio,  Alemtejo  e  Algarve, 

i<H.  mnltifloraiii»  \Hc. 

Folhas  pequenas,  um  pouco  dobradas  ao  meio;  pedúnculos 
menores.  Flores  sub-envolvidas  por  bracteas  foliaceas. 
Sepalas  menores  sub-eguaes  ás  maiores.  Fl.  em  junho  e 
julho.  Terras  seccas.  Beira  montanhosa. —  (Cistus  tn- 
volucratus,  Lam.  e  Brot.), 
T.  mieropliylliiin»  liHb:* 

Pétalas  maculadas  de  vermelho-escuro  não  na  base  mas  no  Vs 
inferior.  3  sepalas,  crespo-pubescentes  e  simultaneamente  com 
pellos  compridos.  Folhas  adultas  esverdinhadas  (as  do  cimo 
mais  largas  3-nervadas,  as  inferiores  1-nervadas),  com  pellos 
estrellados  na  pagina  inferior  e  pellos  simples  na  superior. 
Flores  axillares  no  extremo  dos  ramos,  grandes,  em  cymei- 


i 


1  O  st.  Daveau,  que  terminou  ha  muito  pouco  tempo  o  estudo  das 
Cistineas  portuguezas,  e  que  reuniu  para  isso  um  grande  numero  de 
exemplares,  mostrou-nos  formas  de  transição  táo  graduaes  entre  o  K 
halimifolium  e  o  H.  multiflorumy  e  entre  o  H,  occidentale  e  o  H.  erioce- 
phalum,  adiante  descriptos,  que  na  verdade,  em  presença  d'esses  inter- 
médios custa  bem  a  admittir  a  conservação  de  todas ^stas  espécies;  e 
muito  mais  se  nos  lembrarmos  que  mesmo  as  distincçOes  entre  os  ty- 
pos  extremos  são  principalmente  baseadas  na  forma  do  tomento,  isto 
é — sobre  um  caracter  varíabilissimo  com  as  condições  do  meio. 


262 


GAPPARfDEAS 


61  ras  de  3-5.  Ramos  novos  lanosos  e  com  pellos  compridos, 
brancos.  Fl,  em  abril  e  maio.  Algarve  {seg.  o  sr.  Daveau). 
H.  formoiiiaiii»  Iflc» 

Pétalas  immaculadas  ou  maculadas  próximo  da  base 7 


/  Sepalas  (3)  com  pellos  estrellados  e  pellos  compridos  simulta- 


\ 


neamenle.  Folhas  verde-acinzentadas,  com  pellos  estrellados 
em  ambas  as  paginas.  Flores  axillares  no  extremo  dos  ramcsj 
solitárias  ou  em  cymeiras  de  2-3.  Pétalas  immaculadas.  Pe- 
queno  arbusto  com  os  ramos,  pedúnculos  e  pedicellos  lepro- 
so-cotanilhosos  e  com  pellos  compridos.  Fl.  em  junho  e  julho. 
Região  norte. — (Cistus  scabrosus^  Ait.  e  Brot.). 

H»  occidentale»  lll£  ^ 

Folhas  crespo-denliculadas,  verdes  na  pagina  superior,  e 

esbranquiçadas  na  inferior.  Minho^  Beira. 

V.  mg^oMuin*  l¥k. 

3  sepalas  grandes  e  2  mais  pequenas.  Folhas  brancas  em 

novas.  Regiões  medip  e  noFte. — {Cistus  ckeiranthoiiei, 

Lam.  e  Brot.) t«  Incannin»  Wk. 

Sepalas  (3  só,  ou  3  maiores  e  1-2  menores)  com  pellos  compri- 
dos assetinados.  Folhas  acinzentadas  em  ambas  as  paginas, 
pulverulentas,  ou  com  pellos  simples  ou  estrellados.  Flores 
axillares,  dispostas  J-5  em  pequenas  cymeiras.  Pétalas  ma- 
culadas de  vermelho  ou  immaculadas.  Pequeno  arbusto  com 
os  ramos  pulverulentos,  ou  com  pellos  estrellados  ou  asseti- 
nados. FL  de  maio  a  julho.  Terras  seccaSy  pinhaes,  maios: 
Alemtejo. — {Cistus  lasianthusy  Lam.  e  Brot.). 

erloceplialum*  1V1£* 


FamiUa  TiXTIT.  -OAPPARÍDEAS,  Jnas. 

Flores  hermaphroditas,  raras  vezes  dioicas,  regulares  ou, 
menos  vezes,  irregulares.  4  sepalas,  raras  vezes  5.  Peia- 
las  4,  ou  nuflas.  Estames  4,  ou  em  numero  indefinido,  in* 


F.  vulgare,  Wk. 


CAPPARlDEAS  263 

seridos  na  base,  ou  no  cimo  do  eixo  receptacular  mais  ou 
menos  desenvolvido,  ás  vezes  muito  comprido.  Ovário  ses- 
sil  ou  pedicelJado,  l-locular  ou  dividido  em  2-8  loculos  por 
falsos  tabiques.  Estylete  curto  ou  nullo,  raras  vezes  com- 
prido, flliforme,  ou  3  estyletes  curvos  na  extremidade.  Fru- 
cto  siliqueforme,  dehiscente  em  2  válvulas,  ou  bacciforme, 
indehiscente.  Sementes  sem  albiunen,  ou  com  pequeno  al- 
bumen;  embryão  arqueado  ou  curvo. — Hervas  ou  arbus- 
tos, com  as  folhas  (|uasi  sempre  alternas,  simples  ou  digi- 
tadas; estipulas  ás  vezes  transformadas  em  espinhos,  ou- 
tras vezes  nuUas. 


Capparis,  L. — Alcaparra, — Cálice  4-partido.  com  as  laci- 
nias  caducas.  4  pétalas  eguaes,  abertas  em  cruz,  e  sem 
unhas.  Estames  numerosos.  Ovário  inserido  sobre  nm  lonffo 
supporte;  estigma  sessil.  Fructo  bacciforme,  carnudo,  po- 
lyspermo;  sementes  reniformes. 


Arbusto  com  as  follias  alternas,  ovadas,  oblongíis  ou  sub-íirre- 
dondadas;  peciolos  curtos.  Estipulas  transformadas  em  espi- 
nhos curtos,  persistentes,  curvos  (ou  nullas).  Flores  solitárias, 
axillares,  grandes,  còm  pedúnculos  compridos;  sepalas  her- 
báceas, ás  vezes  avermelhadas;  pétalas  brancas.  Filetes  com- 
pridos, violáceos,  assim  como  o  pistillo;  antheras  amarellas. 
Baga  em  forma  de  clava,  inserida  sobre  um  su|)porte  muito 
comprido.  FL  em  jvnhoe  julho.  Cultivado  nos  jardins  e  sub- 
espontâneo  (?)  nas  provindas  do  sul:  muros  velhos y  tampos 
seccos,  etc. — Alcaparra G.  spinoiia*  li. 


Os  botões  novos  e  os  fructos  doesta  planta  sâo  comestí- 
veis; empregam-se  em  conserva  de  vinagre.  A  famiha  das 
Capparideas  tem  ainda  no  género  Ckome  (fructo  silique- 
forme, 6  estames,  etc.)  um  representante  herbáceo  na  nossa 
flora  (C.  violácea,  L.). 


264  BERBERÍDEAS 


FamiUa  LXIV.^ BERBERÍDEAS,  Veut. 

Flores  hermaphroditas,  regulares.  Cálice  com  6  sepalas 
dispostas  em  dois  verticillos.  6  pétalas,  em  dois  verticillos, 
oppostas  ás  sepalas,  com  a  miha  biglandulosa.  6  estames 
oppostos  ás  pétalas,  livres,  hypogynicos,  com  as  antheras 
biloculares,  dehiscentes  por  válvulas.  Ovário  superior,  li- 
vre, 1-locular;  estigma  discoide,  sessil  ou  sub-sessil.  Fni- 
cto  bacciforme  ou  capsular.  Sementes  com  albumen;  em- 
bryão  recto.  Hervas  pereunes  ou  arbustos,  com  as  folhas  de 
varias  formas. 

Berberis,  L. — Berberis.'— Flores  amarellas  dispostas  em 
cachos  termiuaes  (nos  rebentos  lateraes).  Sepalas  petaloi- 
des  com  3  bracteolas  na  base.  Filetes  providos  de  2  den- 
tes no  cimo.  Ba^a  oblonga,  com  2-3  sementes. — Arbustos 
com  as  folhas  simples,  mucronado-serradas,  pecioladas,  al- 
ternas, algumas  transformadas  em  espinhos  simples  ou  3-5 
partidos,  de  cujas  axillas  nascem  rebentos  curtos  com  fo- 
lhas fasciculadas. 

Ramos  glabros.  Espinhos  3-5-partidos,  muito  menores  do' que 
as.  folhas.  Folhas  obovadas,  gl abras,  attenuadas  em  peciolo 
curto.  Cachos  simples,  pendentes,  multiflores,  maiores  do  que 
as  folhas.  Pétalas  concavas;  estigma  sessil.  Baga  vermelha. 
Fl,  de  maio  a  julho.  Cultivado  nos  jardins  e  ás  vezes  sub-es- 
pontaneo  [muito  pouco  frequente). — Berberis,  uva-espim. 
!!•  valsará»»  !«• 

Esta  espécie  é  pouco  commum  entre  nós,  e  apenas  se 
cultiva  como  planta  de  ornamento.  A  sua  presença  nas  pro- 
ximidades das  searas  pode  ser  bastante  nociva,  porque  a 
ferrugem  dos  cereaes  é  produzida  por  diversos  fungos,  per- 
tencentes todos  ao  género  Puccinia,  cujo  cyclo  completo  de 


RANUNGULÁCEAS  265 

yegetaçSo,  para  se  realisar,  necessita  a  comparência  de  ou- 
tras phanerogamicas  sobre  as  quaes  tem  de  pasSar  mna  das 
suas  phases,  e  exactamente  a  P.  Graminis,  Pers.,  precisa 
para  isso  encontrar  as  folhas  do  Berberis, 

Mas,  se  a  presença  do  Berberis  pode  constituir  um  perigo 
na  visinhança  dos  cereaes,  devemos  todavia  acrescentar, 
que  outras  Puccinias  existem,  semelhantes  á  P.  Graminis 
nos  effeitos,  e  que  completam  o  cyclo  da  sua  vegetação, 
n3o  sobre  o  Berberis,  mas  sobre  outras  plantas;  assim  a 
P.  Straminis^  De  By. ,  completa-o  sobre  as  folhas  de  varias 
Borragineas,  e  a  P.  coronata.  Corda,  sobre  as  folhas  de  al- 
guns Rhamnus.  É  mesmo  muito  provável  que  estas  ultimas 
Puccinias  sejam  as  mais  vulgares  em  Portugal;  só  assim 
se  explicará  o  tamanho  desenvolvimento  que,  em  alguns 
annos,  adquire  a  ferrugem  nas  searas,  sendo  tão  pouco  vul- 
gar, como  é  entre  nós,  o  Berberis. 


FamiUa  LXV.— RANUNGULÁCEAS,  Jaas. 

Flores  hermaphroditas  regulares  ou,  menos  vezes,  irre- 
gulares. 3-6  ou  mais  sepalas  (de  ordinário  5),  quasi  sem- 
pre caducas,  ás  vezes  petaloides.  Gorolla  ordinariamente 
com  tantas  pétalas  quanto  as. sepalas,  alternas,  ás  vezes 
•nulla.  Estames  em  numero  indefinido,  livres,  hypogynicos; 
antheras  introrsas  ou  extrorsas,  longitudinalmente  dehis- 
centes.  Carpellos  1-10  ou,  quasi  sempre,  em  numero  inde- 
finido, livres,  raras  vezes  adherentes  na  base,  produzindo 
outros  tantos  fructos  distinctos,  monospermos,  indehiscen- 
tes  (achenios),  ou  dehiscentes  e  polyspermos  (folliculos),  ra- 
ras vezes  reunidos  n'uma  capsula  ou  uma  baga.  Sementes 
com  albumen. — Plantas  herbáceas  quasi  sempre,  menos  ve- 
zes lenhosas,  ás  vezes  sarmentosâs  e  trepadoras,  com  as 
folhas  alternas  ou,  raramente,  oppostas,  de  ordinário  sem 
estipulas.  Plantas  com  suecos  amargos  e  cáusticos,  ás  ve- 


266  RANUNCULÁGEAS 

zes  tóxicos,  mas  que  geralmente  se  volatilisam  pela  dis- 
secação. 

A  familia  das  Ranunculácectò  está  representada  no  nosso 
paíz  por  muitos  géneros  e  espécies  quasi  todas  herbáceas. 
Algumas  espécies  cultivam-se  nos  jardins  como  plantas  de 
ornamento,  outras  são  medicinaes.  Um  género  único  apre- 
senta em  Portugal  espécies  lenhosas,  e  esse  mesmo  não 
tem  nenhuma  importância  florestal;  é  o  seguinte: 

Clematis,  L. — Flores  dispostas  em  cachos  compostos,  ra- 
ras vezes  solitárias,  grandes.  Cálice  regular,  com  4-5  se- 
palas,  coradas,  petaloides.  Pétalas  nullas.  Carpellos  nume- 
rosos, hvres,  1 -ovulados,  produzindo  outros  tantos  ache- 
nios  terminados  pelo  estylete  desenvolvido  em  arista  com- 
prida, plumosa,  contorcida,  raras  vezes  curta  e  imberbe. 
Arbustos  sarmentosos.  raras  vezes  hervas  perennes  ou  sub- 
arbustos;  folhas  oppostas,  quasi  sempre  compostas,  raras 
vezes  simples,  com  os  peciolos  volúveis  ou  transformados 
em  gavinhas. 

Flores  solitárias,  providas  de  um  invólucro  de  2  bracteas  sol- 
dadas entre  si.  Sepalas  brancas,  a^setinadas  externamente. 
Achenios  com  grande  arista  plumosa.  Caule  comprido,  le- 
nhoso, sarmentoso;  peciolos  das  folhas  do  anno  anterior  vo- 
lúveis. Folhas  muito  polymorphas,  fasciculadas,  ovado-agu-' 
das,  inteiras,  dentadas,  lobadas  ou  tridivididas.  FL  de  novem- 
bro a  março,  Sebes,  etc.  Algarve: ....  C*  clrrlioMi*  h* 

Flores  sem  invólucros  de  bracteas.  Peciolos  volúveis i 

j  Achenios  terminados  em  arista  curta,  glabra,  não  plumosa.  Flo- 
res solitárias,  terminaes  e  axillares,  pendentes,  com  os  pe- 
dúnculos compridos.  Sepalas  violáceas  ou  avermelhadas,  co- 
tanilhosas  externamente,  abertas  para  os  lados.  Arbusto  sar- 
mentoso, com  as  folhas  bipinnuladas  ou  biternatidivididas,  e 
os  segmentos  ovado-agudos.  FL  em  junho  e  julho.  SAes:Es- 
2  /      tremadura,  etc;  cultivada  nos  jardins.  €•  Viticella*  !<• 


RANUNGULÁCEAS  267 

2  \  Flores  pequenas,  com  pednncnlos  curtos.  Sepalas  campa- 
nulado-abertas,  esbranquiçado-avermeJhadas.  Segmen- 
tos das  folhas  menores  do  que  no  typo;  folhas  floraes  pe- 
quenas, 3-divididas.  Sebes:  Beira jCtc, 

w.  campanlflora»  Brot*  (como  esp.) 

Achenios  terminados  em  arista  comprida,  plum^sa.  Flores  reu- 
nidas em  cachos  compostos \ 3 

Folhas  pinnuladas,  com  os  segmentos  ovados  ou  cordiformes, 
inteiros  ou  inciso-crenados.  Sepalas  brancas,  felpudas  em  am- 
bas as  paginas.  Flores  inodoras.  Arbusto  sarmentoso.  Fl.  no 
estio.  Sebes :  região  norte  {Beira ,  etc.) —  Sipó  do  reino  ou  vide 
branca C  Vltallia»  li. 

Folhas  bipinnuladas,  com  os  segmentos  inteiros  ou  sub-triloba- 
dos,  muito  polymorphos.  Sepalas  brancas,  glabras  interna- 
mente, pubescentes  externamente.  Flores  mais  ou  menos  chei- 
rosas. Arbusto  sarmentoso.  Fl.  em  julho  e  agosto.  Sebes:  Al- 
garve C«  Flaminulat  Ij. 


APPENDIGE 


(Pag.  36) — O  plnbelro  dos  plnlidefi  mollare»» 

Dizemos  no  texto,  que  as  sementes  do  pinheiro  manso 
teem  o  tegumento  duro  (pinhões  durazios)  ou  delgado  e  frá- 
gil (pinhões  mollaresj .  Estes  últimos  pinhões  são  muito  mais 
raros  do  que  os  primeiros,  e  por  isso  mesmo  pouca  gente 
os  conhece. 

Qual  é  a  origem  dos  pinhões  mollares  ?  São  produzidos 
por  alguma  forma  ou  variedade  do  Pinus  Pinea,  L.,  ou  re- 
presentam apenas  um  phenomeno  accidentaL  e  pode,  a 
mesma  arvore,  conforme  as  circumstancias  variarem,  pro- 
duzir ora  pinhões  de  tegumento  duro,  ora  pinhões  de  te- 
gumento frágil? 

Brotero,  na  Flora  Lusitanica,  impressa  em  1804,  escre- 
veu o  seguinte,  a  propósito  do  pinheh-o  manso: — «Occurit 
«varietas  in  Beira  babitu  undequaque  similis;  ejus  tamen 
«nuces  testa  fere  coriacea  donatae  ita,  ut  digitorum  pressu 
cfacile  confringantur ;  bas  pinhões  moUares  Lusitani  vocant». 
(Flor.  Lusit.,  vol.  n,  pag.  286). 


270  APPENDICE 

Mais  tarde,  Brotero  parece  ter  modificado  esta  sua  opi- 
nião, porque  na  Historia  Natural  dos  Pinheiros,  Larica  e 
Abetos,  impressa  em  1827,  diz  na  pag.  12: — «Na  Beira  e 
«na  Estremadura  dá-se  também  a  alguns  dos  pinheiros  man- 
«sos  o  nome  de  mollares,  por  se  acreditar  que  as  suas  pi- 
«nhas  produzem  pinhões  de  casca  tao  molle,  que  se  pode 
«facilmente  quebrar  apertada  entre  os  dedos;  mas,  segundo 
«muitas  pessoas  fidedignas  possuidoras  de  taes  pinheiros 
«me  tem  assegurado,  estes  pinhões  s5o  extrahidos  da  parte 
«inferior  das  pinhas,  que  não  tem  chegado  ao  perfeito  grau 
«de  madureza,  porque  deixadas  estas  perfeitamente  ama- 
«durecer,  e  eguahnente  os  seus  pinhões,  a  casca  d'estes 
«fica  emfim  tão  dura,  como  ordinariamente  costuma  ser  a 
«dos  bem  maduros. . .  > 

Esta  asserção  de  Brotero,  que,  como  elle  confessa,  é  ba- 
seada em  informações  estranhas,  e  não  o  resultado  de  ob- 
servação própria,  tem  sido  ultimamente  transcripta  em  va- 
rias obras  hespanholas. 

Assim,  o  sr.  D.  Máximo  Laguna,  no  1.^  vol.  da  sua  ma- 
gnifica Flora  Forestal  Espafidu  (1883),  refere-se  largamente 
a  este  assumpto,  na  pag.  59,  dizendo  o  seguinte: — «Con 
«el  nombre  de  Pinus  pinea  var.  fragilis  (Nouv.  Duh.,  V. 
«pág.  242)  se  describe  en  varias  Floras  un  pino  que  solo 
«se  diferencia  dei  pino  pinonero  comun  en  que  la  cascara 
«de  sus  pinones  cede  y  se  abre  fácihnente  sin  más  que  apce- 
«tarla  entre  los  dedos;  segun  datos  recibidos  de  los  Inge- 
«nieros  D.  Silvano  Crehuet  y  D.  António  Garcia  Maceira, 
«se  encuentra  todavia,  aunque  escaso,  este  pino  en  los  pi- 
«nares  de  Cebreros  (Ávila)  y  en  los  de  Mieza  (Salamanca); 
«tanto  en  Espana  como  fuera  de  ella,  suele  ballar-se  mez- 
« ciado  en  ejemplares  aislados  y  nunca  abundantes  y  mui 
«rara  vez  en  pequenisimos  rodales,  con  el  tipo  de  la  espe- 
«cie;  Uàmasele  aqui  pino  ufíal  ó  pino  de  pifion  blando,  y  ^ 
«Portugal  pinheiro  moUar;  y  en  verdad  que  el  conocido  bo- 
«tànico  português  Félix  Avellar  Brotero  ni  aún  como  varie- 


APPENDICE  271 

cdod  ó  forma  distinta  de  la  espécie  P.  pinea  lo  admitia,  se- 
€gun  se  deduce  de  lo  que  dice  en  la  pág.  11,  de  su  His- 
floria  dos  Pinheiros  (Lisboa,  1827)  y  que  copiamos,  sin 
tasentir  por  eso  á  lo  que  Brotero  defiende».  (Segue  a  tran- 
scripçâo  de  Brotero,  que  já  acima  apresentámos). 

O  sr.  D.  Felipe  Romero  y  Gilsanz  na  sua  recente  mono- 
graphia  do  pinheiro  manso  (El  Pino  Pifíonero  en  la  provin- 
da de  Valladolid,  1886)  exprime-se  quasi  do  mesmo  modo. 
Com  eflfeito,  escreve,  a  pag.  30: — «Antes  hemos  expresado 
«que  la  cascara  dei  pmon  se  presenta  dura  e  lenosa,  mas 
«no  debemos  conchiir  este  capitulo  sin  anadir  que  en  algu- 
«nas  Floras  se  describe  como  una  variedad  dei  pino  pino- 
«nero  un  Pintis  pinea  var.  fra^ilis  (Nouv.  Duh.,  V.  pag.  242), 
«que  se  distingue  dei  comun  aolamente  en  que  la  cascara 
«de  sus  pinones  cede  y  se  abre  facilmente  sin  más  que 
«apretarla  entre  los  dedos.  Ningmi  ejemplar  sabemos  que 
«se  haya  encontrado  en  la  província  de  Valladolid  que  reúna 
«semejante  circunstancia,  no  obstante  de  hallarse  en  los  pi- 
«nares  de  Cebreros  de  su  inmediata  Ávila  y  en  los  de  Mieza 
«de  su  colindante  tambien  de  Salamanca,  segun  noticias 
«suministradas  à  los  autores  de  la  Flora  Forestal  Espano  la 
«por  el  sr.  D.  Silvano  Crehuet,  prematuramente  arrebatado 
«de  la  vida  y  que  fué  nuestro  querido  jefe,  y  por  el  sr.  D. 
«António  Garcia  Maceira,  compaiiero  igualmente  nuestro  de 
«reconocida  inteligência.  La  variedad  mencionada  que  en 
«Espana  és  conocida  con  el  especifico  de  pino  ufíal  ó  pino 
€de  pinon  Mando,  se  la  reconoce  tambien  com  el  nombrje 
«de  Pinheiro  moUar  en  el  vecino  reino  de  Portugal;  sin 
«embargo,  el  conocido  botânico  de  este  pais,  Félix  Avellar 
«Brotero,  que  la  discribe  en  su  obra,  Historia  dos  Pinhei- 
€roSy  no  la  admite  como  variedad  ó  forma  distinta  de  la  es- 
«pecie  P.  pinea,  fundándose,  sin  duda,  en  informes  para 
<él  fidedignos  aseguràndole  que  los  pinones  de  cascara 
«blanda  han  sido  extraídos  sin  madurar  de  Ia  parte  infe- 
«rior  de  las  pinas,  más  que  dejando  aquellas  hasta  el  per- 


272  APPENDIGE 

«fecto  grado  de  madurez  Uega  á  adquirir  sn  cascara  ignal 
«dureza  que  la  que  tienen  los  completamente  fcMmadosen 
cios  piBos  de  Ia  espécie  en  general». 

Os  srs.  Willkomm  e  Lange,  no  Prodromus  Florae  Hispa- 
nicde,  quando  tratam  do  pinheiro  manso  não  se  referem  a 
esta  questão,  e,  ou  nâo  encontraram  o&  pinhões  mollares  ovl 
não  os  julgaram  dignos  de  indicação.  Suppomos  muito  mais 
provável  a  primeira  hypothese. 

Um  grande  numero  de  auctores  apontam  o  pinheiro  md- 
lar,  e  consideram-o  como  uma  variedade  do  Pim^  Pinea. 
Assim,  o  sr.  Mathieu,  na  Flore  Forestière,  diz,  a  respeito  dos 
pinhões: — «L'enveloppe,  dure  et  linheuse,  de  ces  graines 
«est  difficile  à  briser;  mais  on  cultive  une  variété  à  coque 
«mince  et  fragile  (P.  Pinea  fragilis,  Loisel.Ji^  O  sr.  Pia  y 
Rave,  no  seu  Manual  de  cultivo  de  arboles  forestales,  apre- 
senta a  mesma  opinião  na  pag.  219: — «Hay  la  varíedad  11a- 
«mada  ufiul  ó  de  pifion  blando,  en  que  la  cascara  de  los 
«pinones  cede  y  se  abre  facilmente  apretándola  entre  los 
«dedos;  se  encuentra  en  los  pinares  de  Cebreros  (Ávila) y 
«Alieza  (Salamanca);  más  raro  en  otras  localidades,  y  tam- 
«bien  en  Portugal».  » 

Tivemos  ultimamente  occasião  de  ver  o  pinheiro  mcllar, 
nos  pinhaes  do  Estoril,  onde  alguns  raros  indivíduos  exis- 
tem misturados  com  o  pinheiro  manso  typico,  e  com  o  pi- 
nheiro bravo. 

Sobre  este  exame  directo,  podemos  asseverar  que  a  opi- 
nião de  Brotero  não  tem  fundamento :  todas  as  pinhas  pro- 
duzidas por  estes  pinheiros  e  todos  os  pinhões  de  cada  pi- 
nha são  moUares.  De  resto,  isto  mesmo  nos  foi  confirmado 
por  indivíduos  da  locaUdade,  que  asseveraram  dar-se  este 
facto  todos  os  annos — aquelles  pinheiros  criam  sempre  e 
exclusivamente  pinhões  moUares. 

A  opinião  a  que  se  inclina  o  distincto  auctor  da  Flora 
Forestal  Espafíola  está  pois  confirmada,  como  o  está  tam- 
bém a  asserção  de  Brotero  na  Fhra.  As  informações  qoe 


APPENDICE  273 

depois  obteve,  e  que  escreveu  na  sua  Historia  dos  Pinhei- 
ros, é  que  são  manifestamente  erróneas. 

A  auctoridade  incontestável  e  incontestada  do  nosso  grande 
botânico  é  tamanha,  que  estas  informações  erradas>  á  som- 
bra do  seu  nome  illustre,  são  ainda  hoje  citadas.  Yale  bem 
a  pena,  todavia,  desfazer  o  engano. 

O  pinheiro  dos  pinhões  mollares  é  bastante  raro  na  pe- 
nínsula. Nem  Brotero,  nem  o  sr.  D.  Máximo  Laguna,  nem 
o  sr.  D.  Felipe  Romero  y  Gilsanz,  nem,  provayelmente,  os 
srs.  Willkomm  €^  Lange,  apezar  das  longas  herborisações 
e  estudos  a  que  procederam,  o  encontraram. 

Segundo  nos  diz  o  sr.  Silvestre  Bernardo  Lima,  existem 
no  Bussaco  alguns  pés,  de  differentes  edades.  O  sr.  visconde 
de  Villar  d'Allen  informa-nos  da  existência  de  outros,  em  Rio 
Tinto,  nas  proximidades  do  Porto.  O  sr.  .Sonsa  Pimentel,  a 
quem  sobre  este  assumpto  consultámos,  escreve-nos  que 
esta  arvore  é  rara,  mas  que  algumas  vezes  a  tem  visto. 

Acreditamos  que  o  pinheiro  moUar  se  encontra  por  quasi 
todo  o  paiz,  mas  em  muito  pequena  quantidade,  isolado  ou 
em  grupos  restrictos,  misturado  com  o  typo.  Acrescentare- 
mos, que  nos  dizem,  todavia,  existir  nas  proximidades  de 
Cantanhede  um  pinhal  exclusivamente  formado  d'estes  pi- 
nheiros. 

Os  pinhões  mollares  reproduzirão,  ou  não,  os  seus  cara- 
cteres distinctivos,  pela  germinação?  A  arvore  que  os  pro- 
duz deve  ser  considerada  como  uma  variedade  do  typo,  ou 
como  uma  forma  não  fixada? 

Diz-nos  o  sr.  visconde  de  Villar  d'Allen,  que,  tendo  en- 
contrado pela  primeira  vez,  ha  cerca  de  20  annos,  o  pi- 
nheiro moUar,  em  Rio  Tinto,  em  uma  propriedade  do  sr. 
dr.  António  Ferreira  Moutinho,  colheu  alguns  pinhões,  se- 
meou-os  em  Campanhã,  e  hoje  as  arvores  originadas  d'estas 
sementes  produzem  sempre  e  exclusivamente  pinhões  mol- 
lares ;  está,  pois,  demonstrado,  que  se  trata  de  uma  varie- 
dade, bem  fixa  e  transmissível  pela  germinação. 

c.  t. — v.  u.  18 


274  APPENDICE 

O  sr.  visconde  de  Yillar  d'Allen  fez  o  favor  de  nos  en- 
viar duas  pinhas  d  estes  pinheiros.  São  ovóides,  mais  aga- 
çadas  do  que  costumam  ser  de  ordinário  as  pinhas  do  pi- 
nheiro manso  typicí);  a  maior,  mede  0^,12  de  comprimento 
e  0™,27  de  circumferencia  no  ponto  mais  largo.  As  pinhas 
que  possuimos  do  Estoril  são  bastante  menores.  N'umas  e 
outras  os  pinhões  teem  a  casca  delgada,  frágil,  muito  facil- 
mente quebradiça  quando  se  apertam  entre  os  dedos,  e  a 
amêndoa  bem  conformada. 

Em  vista  das  razões  expostas,  o  pinheiro  mollar  deve  ser 
considerado  como  a  variedade  fragilis  do  Pinm  Pinea. 

(Pag.  53)— «enero  »allx. 

O  género  ScUix  é,  respectivamente  a  Portugal,  um  dos 
que  está  precisado  de  mais  cuidadosa  revisão.  Na  nota  da 
pag.  56  fizemos  sentir  as  principaes  difficuldades  com  que 
esse  trabalho  luta. 

No  texto  enumerámos  as  espécies  geralmente  acceites  e 
conhecidas  no  paiz.  É  muito  possível  que  as  duas  espécies 
broterianas — S.  atro-cinerea  e  S.  salvi folia — devam  antes 
ser  enumeradas  sob  outras  denominações,  dadas,  em  época 
anterior,  por  outros  auctores.  O  sr.  Lange,  no  Prodrmm 
Fbrae  Hispanicae,  considera  o  S.  atro-cinerea  como  talveí 
synonymo  de  S.  phylicaefoUa,  L.,  e  o  S.  salvifolia  como  tal- 
vez synonymo  do  S.  olaefoUa,  Vill.  Não  nos  atrevemos  a 
apurar  tão  complicadas  synonymias,  e  pareceu-nos  menos 
arriscado  deixar,  provisoriamente,  ás  duas  referidas  espé- 
cies, o  nome  que  lhes  deu  o  nosso  illustre  botânico. 

Na  nota  da  pag.  56  advertimos,  que  decerto  outras  es- 
pécies se  encontrarão  em  Portugal,  quando*  se  proceda  ao 
estudo  minucioso  e  paciente  de  tão  intrincado  género.  Du- 
rante a  impressão  d'este  nosso  trabalho,  foi-nos  commnni- 
cado  pelo  sr.  Sousa  Pfanentel  um  Salgueiro,  que  não  tínha- 
mos incluído  na  respectiva  chave;  é  o  S.  repem,  L., 


APPENDIGE  275 

qual  não  conheciamos  nenhuma  indicação  ou  referencia  com 
propósito  ao  nosso  paiz,  salyo  o  que  diz  vagamente  o  sr. 
Lange  no  Prodromus: — Hab.  in  Europa  totãj  meridiem  ver- 
sus rarior — .  Contra  toda  a  expectativa,  esta  espécie,  pró- 
pria ás  regiões  septentrionaes  e  médias  da  Europa,  appa- 
receu  em  Portugal  não  nas  altitudes  elevadas  do  norte,  mas 
nas  areias  da  beiramar,  nas  praias  da  Gafanha  e  de^Mira. 
Damos  em  seguida  a  chave  do  género  Salix,  proxima- 
mente tal  como  a.publicámos  no  texto,  mas  incluindo  a  nova 
espécie  portugueza: 


Chave  dichotomlca  para  determinar  as  espécies  portngnezas, 

hoje  conhecidas,  do  género  SaUz  , 

Folhas  estreitas  e  compridas  (3-10  vezes  mais  compridas  do  que 
largas).  Rebentos  flexíveis,  afilados,  compridos.  2-3  estamos. 
Capsulas  sesseis  ou  com  pedicellos  muito  curtos.  Bracteas  dos 
amentilhos  persistentes  ou  caducas,  concolores  (amarelladas) 
ou  discolores  (amarelladas  na  base,  escuras  no  cimo)  (vimei- 
ros)..,,   2 

Folhas  largas  e  curtas  (o  máximo  3-4  V2  vezes  mais  compridas 
do  que  largas*).  Ramificação  nodosa;  rebentos  pouco  flexi- 
yeis.  2  estamos  livres.  Capsulas  pedicelladas.  Bracteas  dos 
amentilhos  persistentes,  discolores  (salgueiros  propriamente 
ditos) 7 

Amentilhos  tardios  (que  apparecem  depois  das  folhas)  ou  coetâ- 
neos (simultâneos  com  as  folhas),  implantados  já  na  floração 
em  pedúnculos  folhosos.  Bracteas  dos  amentilhos  concolores. 
2  {      Capsulas  glabras.  Antheras  amarellas 3 

1  A  espécie  d'este  grupo  que  tem  as  folhas  mais  compridas  e  mais 
estreitas,  e  que  por  isso  mais  se  pode  .confundir  com  o  grupo  anterior 
é  o  S.  salvifolia;  mas  as  suas  folhas  cinzento -esverdinhadas  nas  duas 
paginas,  cotanilhosas  superiormente  e  muito  lanosas  inferiormente,  in- 
dividualisam  bem  este  Salgueiro.  As  espécies  do  primeiro  grupo  teem  a 
pagina  superior  das  folhas  verde,  glabra  oú  coberta  de  pellot  brancos 
assetinados. 

i8# 


276 


APPENDIGE 


2  i  Amentilhos  precoces  (qae  apparecem  antes  das  folhas),  sesseis 

1      durante  a  floração.  Bracteas  dos  amentilhos  discolores.  Ca- 

'  \     psulas  cotanilhosas 6 

.  /  3  estames  (fig.  5,  K).  Bracteas  dos  amentilhos  persistentes,  gh- 
bras  no  cimo.  Folhas  elliptico-lanceoladas,  3-5  vezes  mais 
compridas  do  que  largas,  acuminadas  de  repente,  glabras  em 

*  ambas  as  paginas.  Estipulas  grandes,  semi-cordiformes.  Ar- 
busto  com  os  rebentos  glabros.  FL  em  março  e  abril,  A  bem 
dos  rios:  Estremadura y  Douro,  etc. —  (S.  triandra,  Brot.) 
8.  am^^dalinii*  L» 

2  estames.  Bracteas  dos  amentilhos  caducas.  Folhas  longamente 
acuminadas 4 


5 


Ramos  muito  compridos  e  pendentes  para  o  chão.  Folhas  linear- 
lanceoladas^  muito  compridas  (fig.  5,  N),  inteiras  ou  denti- 
culadas, glabras.  Estipulas  caducas,  falei forme-lanceoladas. 
Amentilhos  pequenos.  Arvore  de  pequeno  porte.  Fl.  emja- 
neiro  e  fevereiro.  Originário  da  Ásia  central  e  cultivado  aoi 
jardins  e  sitios  frescos, — Salgueiro  chorão. 
S*  babylonleaf  ím 

Ramos  compridos  e  Qexiveis,  mas  não  pendentes  para  o  àào.  6 

Folhas  adultas  glabras  (em  novas  mais  oU  menos  avelladadas), 
lanceoladas,  4  vezes,  pelo  menos,  mais  compridas  do  que  lar- 
gas, dentado-glandulosas,  longa  e  obliquamente  acuminadas. 
Estipulas  semi-cordiformes,  acuminadas.  Filetes  glabros  ou 
só  pelludos  na  base;  antheras  amarello-pallidas.  Capsulas aga- 
das;  estigmas  bifendidos.  Ar\'ore  com  os  rebentos  glabros,  e 
que  na  primavera  se  desarticulam  ao  menor  choque.  Fl.  em 
abril.  Á  beira  dos  rios,  principalmente  nas  provindas  doiMr' 
te. —  Salgueiro  frágil 8.  fragills*  L* 

Folhas  adultas  mais  ou  menos  esbranquiçado-assetinadas  nas 
duas  paginas,  ou  pelo  menos  na  pagina  inferior,  lanceoladas, 
5-6  vezes  mais  compridas  do  que  largas,  dentado-^landuio- 
sas,  directa  e  longamente  acuminadas.  Estipulas  muito  pe- 
quenas, semi-Ianceoladás,  caducas.  Filetes  pelludos  até  me- 
tade; antheras  amarello-doiradas.  Capsulas  obtusas;  estigmas 


í 


6 


APPENDICE  277 

chanfrados.  Arvore  com  os  rebentos  pabescentes,  esbranqm- 
çados.  Fl,  em  fevereiro  e  março.  Á  beira  dos  rios  em  todo  o 

paiz. —  Salgueiro  branco  ordinário M»  albat  !«• 

Rebentos  delgados,  mais  flexíveis,  com  a  casca,  na  prima- 
vera, amarello-viva  ou  amarello-avermelhada.  Folhas 
nm  poaco  mais  glaucas  na  pagina  inferior,  mais  estrei- 
tas e  mais  finamente  dentadas  (fig.  5,  M),  quasi  glabras 
em  adultas.  Cultivado  á  beira  dos  rios  e  nos  sítios  fres- 
cos.—  Vimeiro  ordinário w*  vltelllna»  Ia» 


Antheras  vermelhas,  estamos  monadelphos  em  toda  a  extensão 
dos  filetes,  parecendo  um  só  estame  quadrilocular  (fig.  5, 1). 
Folhas  lanceoladas,  4-6  vezes  mais  compridas  do  que  largas, 
glabras,  acuminadas  de  repente  (a  maior  lar^ra  encontra-se 
do  meio  da  folha, por  diante),  com  os  dentes  agudos,  não  glan- 
dulosos.  Bracteas  dos  amentilhos  com  pellos  compridos.  Es- 
tipulas nullas.  Arbusto  com  os  rebentes  glabros.  Fl.  em  março 
e  abril j  margens  do  Douro,  etc. — (S.  monandray  Brot.) 
m*  purpúrea*  l4. 

Antheras  amarellas;  2  estamos  livres.  Folhas  lanceoladas,  6-8 
vezes  mais  compridas  do  que  largas,  insensivelmente  aguça- 
das, inteiras  ou  quasi  inteiras,  ás  vezes  um  pouco  ondulada^; 
em  adultas  verde-escuras  na  pagina  superior,  e  na  pagina  in- 
ferior com  muitos  pellos  assetinados,  que  lhes  dão  reflexos 
prateados.  Estipulas  lineares,  pequenas,  caducas.  Bracteas 
dos  amentilhos  longamente  felpudas.  Arbusto  com  os  reben- 
tos cinzento-avelludados.  Fl.  em  abril  e  maio.  Cultivado  d 
beira  dos  rios  e  nos  sitios  húmidos,  principalmente  nas  pro- 
vindas do  norte. —  Vimeiro  do  norte  ou  salgueiro  francez, 
S*  wtmlnalis»  Ij* 


/  Pequeno  arbusto,  de  0,6-1  metro  de  altura^  com  o  tronco  pros- 
trado, ás  vezes  subterrâneo,  radicante.  Folhas  ovado-arredon- 
dadas,  ovado-ellipticas  ou  elliptico-lanceoladas,  de  ordinário 
terminadas  em  ponta  dobrada  em  gotteira,  assetinado-prateá- 
das  na  pagina  inferior,  inteiras  ou  snb-inteiras.  Amentilhos 
pequenoí^,  globosos  ou  ovóides.  Fl.  em  abril  e  maio  (?).  Sitios 


278  APPENDICE 

húmidos  nos  çíreiaes  de  Mira  e  da  Gafanha  {segundo  o  sr. 
Sousa  Pimt^tel). —  Salgueiro  rastejante.  ^S*  repenSfli» 
Arvores  ou  arbustos  levantados,  nâo  rastejantes.  Folhas  nunca 
braco-assetinada^  na  pagrna  inferior  (glaueas  ou  cotanilbo- 
sas) 8 

Rebentos  e  botões  glabros.  Folhas  ovadas  ou  ellipticas,  2  vezes 
mais  compridas  do  que  largas,  obHquamente  agudas,  intei- 
ras, crenadas  oju  irregularmente  onduladas,  em  adultas  gla- 
bras  e  verdes  na  pagina  superior,  e  na  pagina  inferior  glau- 
cas ou  acinzentado-cotanilhosas.  Estipulas  obliquas,  renifor- 
mes,  dentadas,  ou  nullas.  Filetes  pelludos  na  base.  Arbasto 
ou  pequena  arvore.  Fl.  em  março  e  abril .  8.  Capreat  Jm 

Rebentos  pubescentes  ou  avelludados.  Botões  pelludos  ou  cota- 
nilhosos 9 

Rebentos  pelludos.  Folhas  largamente  lanceoladas,  3-4  vetes 
mais  compridas  do  que  largas,  com  a  maior  largura  na  me- 
tade superior  (fíg.  5,  R),  em  adultas  verdes  e  glabras  ou  snb- 
glabras  na  pagina  superior,  e  na  pagina  inferior  glaucas,  mais 
ou  menos  cotanilhosas,  inteiras  ou  irregularmente  onduladas 
ou  crenadas.  Estipulas  semi-cordiformes  ou  sub-reniformes. 
9{  Bracteaes  dos  amentilhos  com  muitos  pellos  (fíg.  5,  F,  A,  B). 
Arvore  ás  vezes  de  boas  dimensões,  ou  arbusto.  Fl.  em  feve- 
reiro e  mar^o.  Á beira  dos  rios,  numa  grande  parte  do  paix. 
—  Salgueiro  preto S*  atro-clmerea,  Br«C* 

Rebentos  cinzento-cotanilhosos.  Folhas  cinzento-cotanilhosas  na 
pagina  inferior,  e  na  superior  esverdinhado-acinzentadas,  mais 
ou  menos  pubescentes 10 


1  O  exemplar  que  temos  á  vista  pertence,  provavelmente,  A  d.  arga- 
tea,  Koch.  (S.  arenaria,  L.),  que  se  distingue  pelas  folhas  ovadas  on 
sub-orbiculares,  densamente  assetinado-prateadas.  As  folhas  d'este 
exemplar  s5o  i  7r2  V2  vezes  mais  compridas  do  qne  largas. 

A  forma  radicante  do  Salioí  repen$  apropria-o  muito  para  segurar  e 
consolidar  as  areias,  e  dá,  por  isso,  a  esta  espécie  alguma  importância 
florestal. 


A^PENDICE  279 

Folhas  ellipticas  ou  oblongo-lanceoladas,  2-2  V2  -^^zes  mais  com- 
pridas do  que  largas,  agudas  ou.  às  vezes  obtusas  (íig.  5.  P), 
inteiras  ou.  oudulado-serradas,  na  pagina  superior  esverdi- 
nhadas  ou  acinzentadas,  com  pubescencia  curta,  e  na  inferior 
cinzento-rcotanilhosas.  Estipulas  reniformes,  dentadas.  Filetes 
dos  estamos  ^labros  na  base.  Arbusto  ou  pequena  arvore. 
FL  em  fevereiro  e  março.  Á  Mra  dos  rios:  Traz-os-Montes 

10 {     {Bragança),  etc S.  cinerea*  !<• 

Folhas  lanc^oladas,  agudas,  3-4  V2  vezes  mais  compridas  do  que 
largas  (íig.  5,  0),  em  adultas  cotanilhosas  em  ambas  as  pa- 
ginas, na  superior  branco-esverdinhadas  e  na  .inferior  vesti- 
das com  espesso  tomento  lanoso,  serradas  at^ábase.  Estipu- 
las semi-cordiformes.  Filetes  pelludos  na  base.  Arvore  ou  ar- 
busto.  Fl.  em  janeiro  e  fevereiro.  Abeira  dos  rios,  frequerite, 
sobretudo  nas  'províncias  do  norte,  S«  nalwifolia»  Brot» 


Julgamos  util  publicar  em  seguida  a  esta  chave,  onde 
estão  incluídos  todos  os  Salgueiros  que  actualmente  conhe- 
cemos em  Portugal,  uma  outra  em  que  se  enumeram,  em- 
bora com  menores  detalhes,  afora  as  espécies  apontadas 
como  portuguezas,  as  que  existem  em  Hespanha,  muitas 
das  quaes  provavelmente  se  encontrarão  no  paiz,  quando 
se  proceda  a  um  estudo  mais  circumstanciado  d'este  ge- 
Bero. 

Vamos  servir-nos  da  Flora  Forestal  Espafiola  do  sr.  D. 
Máximo  Laguna  para  a  escolha  das  espécies  d'esta  nova 
chave,  pondo  de  parte,  é  claro,  as  que  são  ali  apontadas 
eomo  duvidosas,  bem  como  as  sub-arbustivas.  próprias  ás 
regiões  alpinas  e  sub-alpinas  dos  Pyrinéos.  Além  dos  Sal- 
gueiros descriptos  na  chave  anterior  temos  pois  a  incluir 
os  seguintes: — S.  pentandra,  L.,  S.  aurita,  L.,  S.pedicel- 
lata,  Desf.,  e  S.  incanaj  Schrank.;  não  incluímos  o  S.  olde- 
'  folia,  VilL,  porque  não  o  sabemos  distinguir  do  S.  salvifo- 
lia^  Brot.,  de  que  é  talvez  synonymo.  As  espécies  não  en- 
contradas até  hoje  em  Portugal  vão  marcadas  com  uma  in- 
terrogação. 


280  APPENDICE 

Acreditamos  que  esta  segunda  chave  facilitará  aos  nos- 
sos silvicultores  a  pesquisa  dos  Salgueiros  ainda  não  deter- 
minados como  portuguezes: 


Ghare  dichotomica  para  determinar  as  espécies  peninsulares 

do  género  Saliz 

Bracteas  dos  amentilhos  concolores.  Amentilhos  implantados  já 

1  {     na  floração  em  pedúnculos  folhosos.  2-3-5  estames 2 

Bracteas  dos  amentilhos  discolores.  2  estames 6 

Folhas  fortemente  viscosas  em  novas,  muito  glabras  em  adullas, 
e  como  que  envernizadas  na  pagina  superior,  3  vezes  mais 
compridas  do  que  largas.  5  estames  (raras  vezes  8-10).  Bra- 
cteas dos  amentilhos  caducas.  Árvore  pequena  ou  arbusto, 
com  os  rebentos  glabros;  estipulas  pequenas,  lanceoladas,  ca- 
ducas, ou  nullas.  (?) $•  pentandrat  !«• 

Folhas  não  viscosas  em  novas.  2-3  estames. . . . , 3 

3  estames.  Bracteas  dos  amentilhos  persistentes,  glabras  no  cimo. 
Folhas  acuminadas  de  repente,  3-5  vezes  mais  compridas  do 
que  largas,  glabraç  em  ambas  as  paginas.  Arbusto  com  os  re- 
bentos glabros;  estipulas  grandes,  semi-cordifonnes.  Estre- 
madura, Douro,  etc. — (S.  triandra,  Brot.) 
M.  amysdalina»  Jm 

2  estames.  Bracteas  dos  amentilhos  caducas.  Folhas  longamente 
acuminadas , 4 

Rebentos  pubescentes,  esbranquiçados.  Folhas  adultas  mais  oa 
menos  assetinadas  nas  duas  paginas,  ou  pelo  menos  na  infe- 
rior, 5-6  vezes  mais  compridas  do  que  largas.  Arvore;  esti- 
pulas muito  pequenas,  semi-lanceoladas,  caducas.  Em  toiúú 

paiz S.  alba*  !«• 

Rebentos  mais  flexiveis,  com  a  casca,  na  primavera,  ama- 
rello-viva  ou  amarello-avermelhada,  brilhante;  folhas 
glabras  ou  sub-glabras,  glaucas  na  pagina  inferior.  Cul- 
tivado com  muita  frequência ....  ▼•  irifelltaa*  L* 
Rebentos  glabros,  mas  não  amarello-brilhantes.  Folhas  glabras 
(pelo  menos  em  ^ulta») ^ 


APPENDIGE 


28i 


8/ 


Ramos  dKo  pendentes  para  o  chão.  Folhas  em  novas  mais  oa  me- 
nos avelladadas.  Arvore  com  os  rebentos,  na  primavera,  muito 
facilmente  desarticuláveis  ao  mais  pequeno  choque;  estipulas 
semi-cordiformes,  acuminadas.  Frequente,  sobretudo  nas  pr(H 
vindas  do  norte 9.  fraslllfl»  Ij. 

Ramos  pendentes  para  o  chão.  Folhas  linear-lanceoladas.  Amen- 
tilhos  pequenos.  Arvore  medíocre  com  as  estipulas  falciforme- 
lanceoladas,  caducas.  Cultivado  com  frequência, 
S«  lialiylaiitf»*  li* 


Folhas  lineares  ou  lanceolado-lineares,  6-10  vezes  mais  compri- 
^1     das  do  que  largas,  verde-escuras  na  pagina  superior,  inteiras 

ou  sub-inteiras.  Antheras  amarellas 7 

Folhas  1  V2~6  vezes  mais  compridas  do  que  largas 8 


Folhas  assetinado-prateadas  na  pagina  inferior,  6-8  vezes  mais 
compridas  do  que  largas.  2  estamos  livres.  Capsula  cotani- 
Ihosa.  Arbusto  com  os  rebentos  cinzento-avelludados;  estipu- 
las lineares,  pequenas,  caducas.  Cultivado  principalmente  no 

norte «•  wlmlnaltii»  li. 

7^  Folhas  cobertas  na  pagina  inferior  de  espessa  felpa  branca,  co- 
tanilhosa:  lineares,  9-10  vezes  mais  compridas  do  que  lar- 
gas, sub-inteiras,  com  as  margens  levemente  enroladas,  em 
novas.  2  estames,  quasi  sempre  monadelphos  até  V2  dos  file- 
tes. Capsula  glabra.  Arbusto  com  os  rebentos  cotanilhososna 
extremidade,  sem  estipulas.  (?).  S.  Ineana»  Scliraiiic. 


1 


Estames  monadelphos  em  toda  a  extensão  dos  filetes,  com  as 
antheras  vermelhas.  Capsula  sessil,  cotanilhosa.  Folhas  gla- 
bras  em  ambas  as  paginas,  4-6  vezes  mais  compridas  do  que 
largas,  ás  vezes  sub-oppostas.  Arbusto  com  os  rebentos  gla- 
8^  bros;  estipulas  nuUas.  Margens  do  Douro,  etc. — (S.  monan- 
dra,  Rrot.) m.  purpurea»  Ij. 

Estames  livres;  antheras  amarellas.  Capsulas  mais  ou  menos 
pedicelladas.  Folhas  nunca  sub-oppostas,  mais  ou  menos  re- 
ticuladas na  pagina  inferior 9 


282 


APPENDICE 


Pequeno  arbusto  (com  1"  de  altura,  o  máximo)  com  o  tronco 
prostrado,  as  vezes  subterrâneo,  radicante.  Folhas  ovadas, 
sub-arredondadas  ou  ellíptico-lanceoladas,  de  ordinário  ter- 
minadas em  ponta  dobrada  em  gotteira,  asselinado-prateadas 
na  pagina  inferior,  inteiras  ou  sub-inteiras.  Estipulas  peqoe- 
nas,  lanceoladas,  ou  nullas.  Areiaes  de  Mira  e  da  GafanAa. 
•. . . .   8.  repeas»  L* 

Arvores  ou  arbustos  levantados,  não  radicantes.  Folhas  nunca 
prateado-assetinadas  na  pagina  inferior  (glaucas  ou  cotani- 
Ihosas)  .' 10 


Folhas  adultas  com  a  pagina  superior  pubescente  ou  cotanilhosa, 

10 1     e  mais  ou  menos  verde-acinzentada 11 

Folhas  adultas  verdes  e  glabras  na  pagina  superior 13 


11 


Botões  glabros.  Rebentos  glabros  ou  cotanilhosos  na  extremi- 
dade. Folhas  2  vezes  mais  compridas  do  que  largas,  cunbea- 
das  na  base,  dobradas  em  gotteira  no  cimo,  rugosas  na  pa- 
gina superior,  e  glaucas,  cinzento-cotanilhosas,  fortemente 
reticuladas,  na  pagina  inferior:  ondulado-dentadas  ou  snb- 
inteiras.  Arbusto,  com  estipulas  grandes,  semi-reniformes, 
bastante  persistentes  (?) U.  aarlta*  L. 

Botões  cotanilhosos.  Rebentos  cinzento-cotanilhosos 12 


12 


f  Folhas  ellipticas  ou  oblongo-lanceoladas,  2-2  V^  vezes  mais  com- 
pridas do  que  largas,  esverdinhadas  ou  acinzentadas  com  po- 
bescencia  curta  na  pagina  superior,  e  cinzento-cotanilhosas 
na  inferior :  inteiras,  onduladas  ou  dentadas.  Filetes  glabros 
na  base.  Arbusto  ou  pequena  arvore,  com  estipulas  renifor- 

mes.  Traz-oS'Montes tê*  cinereat  li* 

Folhas  lanceoladas,  3-4  Vz  vezes  mais  compridas  dp  que  largas, 
em  adultas  cotanilhosas  em  ambas  as  pagmas,  na  superior 
cinzento-esverdinhadas,  e  na  inferior  vestidas  com  espesso 
tomento  lanoso :  levemente  serradas.  Filetes  peitudos  na  base. 
Arvore  ou  arbusto,  com  as  estipulas  semi-cordiformes.  Fn- 
quente,  sobretudo  no  norte S.  «alvltolla»  BreU 


APPENDICE  283 

Botões  e  rebentos  glabros.  Folhas  ovadas  ou  ellipticas,  2  vezes 

mais  compridas  do  qae  largas,  inteiras,  onduladas  ou  crena- 

das,  glaucas  ou  acinzentado-cotanilhosas  na  página  inferior. 

Arbusto  ou  pequena  arvore,  coní  as  estipulas  pouco  persisten* 

13  {     tes,  reniformés,  ou  nuUas.  Estremadura,  AlenUejo,  etc, 

I . . .  M.  Caprea»  li. 

Botões  e  rebentos  pelludos  ou  pubescentes.  Folhas  3-4  vezes 
mais  compridos  do  que  largas,  de  ordinário  attenuadas  na 
base,  sub-inteiras  ou  levemente  sinuado-dentadas 14 

;  Capsulas  glabras  ou  sub-glabras  longamente  pedicelladas  (pedi- 
cello  egual  a  6-8  vezes  a  glândula).  Amentilhos  levemente 
pedunculados  e  folhosos  na  base,  precoces  ou  sub-coetaneos, 
com  as  bracteas  pouco  pelludas,  os  masculinos  bastante  com- 
pactos, os  femininos  delgados  e  frouxos.  Rebentos  cotanilho- 
SOS.  Folhas  muito  reticuladas  na  pagina  inferior.  Arbusto, 
com  as  estipujas  semi-cordiformes,  caducas  (?). 

. ,  ;      M.  pedicellata»  Desf. 

14^ 

Capsulas  cotanilhosas,  com  pedicello  não  muito  coipprido  (pro- 
ximamente 3-4  vezes  a  glândula).  Amentillios  muito  preco- 
ces, nús  ou  quasi  nús  na  base  (durante  a  floração);  bracteas' 
com  bastantes  pellos;  amentilhos  femininos  compactos,  aper- 
tados. Rebentos  pubescentes.  Folhas  mais  ou  menos  reticula- 
das na  pagina  inferior.  Arbusto,  com  as  estipulas  sub-cordi- 
formes,  levemente  crenadas.  Frequente. 
\      . : W.  atro-clnerea»  Brot. 

O  estudo  methodico  de  exemplares  completos  é  o  único 
meio  de  acertar  com  segurança  a  classificação  de  qualquer 
plauta;  Neste  estudo,  como  é  sabido,  tem  a  primeira  im- 
portância as  flores;  é  diflBcil,  e  sempre  fallivel,  procurar  o 
nome  especifico  de  indivíduos  que  não  estão  em  floração, 
sobretudo  quando  se  trata  de  espécies  tão  polymorphas 
como  as  do  género  Salix. 

Na  chave  dichotomica  para  a  determinação  das  espécies 
portuguezas  publicada  n'este  appendice,  que  é  proxima- 
mente a  chave  já  publicada  no  texto  a  pag.  53-^7,  procu- 


284  APPENDICB 

ramos  reunir  os  caracteres  distinctívos  baleados  na  flora- 
ç3o  e  na  forma  das  folhas  e  ramos,  para  tornar  possível  a 
classificação  de  exemplares,  quer  elles  tenham  ou  n3o  flffl-, 
e  no  ultimo  caso  quer  sejam  mascuUnos  ou  femininos. 

Esta  segunda  chave,  para  determinação  das  espécies  pe- 
ninsulares, attende  principalmente  aos  caracteres  mais  se- 
guros da  floração.  Para  a  completar,  apresentamos  ainda 
uma  chave  resumida,  por  onde  se  pode,  com  alguma  pro- 
babilidade dç  êxito,  procurar  a  classificação  no  tempo  em 
que  os  Salgueiros  estão  sem  flores,  mas  com  folhas,  que  é 
a  maior  parte  do  tempo. 

Temos  em  vista,  com  esta  nova  addição,  facilitar,  ainda 
mais,  o  estudo  de  tão  intrincado  género;  mas,  repetimos^ 
não  se  deve  ligar  á  chave  seguinte  a  confiança,  que  mere- 
cem as  que  são  baseadas  ;ios  caracteres  muito  mais  impor- 
tantes da  floração  e  da  fructificação  : 


Chaye  dichotomica  para  determinar  as  espécies  peninsulares 

do  género  Salix, 
na  estação  em  qne  teem  folhas  mas  não  toem  flores 

Folhas  estreitas  e  compridas  (3-10  vezes  mais  compridas  do  qne 
largas).  Rebentos  mais  ou  menos  flexiveis,  afilados e  compri- 
dos  2 

Folhas  largas  e  curtas  (o  máximo  3  vezes  mais  compridas  do 
que  largas).  Ramificação  nodosa 11 

Rebentos  pubescentes,  avelludados  ou  cotanilhosos.  Folhas  com 
a  pagina  inferior  assetinada  ou  cotanilhosa 3 

Rebentos  glabros.  Folhas  com  a  pagina  inferior  glabra  oa  sal>- 
glabra^  verde  ou  glauca 6 

Folhas  lineares  ou  lanceolado-lineares,  6-10  vezes  mais  compri- 
das do  que  largas,  verde-^scuras  na  pagina  superior,  inteirais 
ou  sub-inteiras 4 

Folhas  lanceoladas,  S-6  vezes  mais  compridas  do  que  largaa.  S 


APPEI^ICE  285 

Pagina  inferior  da  folha  cinzento-cotanilhosa.  Estipulas  nuUas, 
oa  substitoidas  por  pequenas  glândulas.  Folhas  lineares. 
9.  Incana»  KcliranK. 

Pagina  inferior  da  folha  densamente  pelludo-assetinada,  com  re- 
flexos prateados.  Estipulas  pequenas,  caducas.  Folhas  lanceo- 
do-lineares tê*  wlmlnalis*  Ij« 

Folhas  cotanilhosas  em  ambas  as  paginas,  esverdinhado-acinzen- 
tadas  na  superior  e  acinzentadas  na  inferior,  3-5  vezes  mais 
compridas  do  que  largas,  serradas. 
6/      S.  salvifolia,  Brot.  (vid.  num.  14). 

Folhas  branco-assetinadas  nas  duas  paginas,  ou  pelo  menos  na 
inferior,  com  pellos  brimantes,  5-6  vezes  mais  compridas  do 
que  largas,  dentado-glandulosas S.  allia»  !«• 


6 


Ramos  pendentes  para  o  chão.  Folhas  linear-lanceolíidas,  intei- 
ras ou  denticuladas,  longamente  acuminadas. 
i .   a.  lialiylonlca»  li. 

Ramos  não  pendentes  para  o  chão 7 

Folhas  novas  bastante  viscosas,  em  adultas  lustrosas  e  como  que 
envernizadas  na  pagina  superior,  3  vezes  mais  compridas  do 
que  largas,  dentado-serradas,  com  os  dentes  glandulosos.  Es- 
tipulas pequenas,  caducas a.  pentandra»  li. 

Folhas  não  viscosas  em  novas :  em  adultas  3-6  vezes  mais  com- 
pridas do  que  largas 8 

• 
'  j  Folhas  longamente  acuminadas,  dentado-glandulosas 9 

Folhas  acuminadas  de  repente 10 

Raminhos  esverdinhados  ou  avermelhados,  desarticulando-se 

com  facilidade  na  primavera.  Folhas  novas  mais  ou  menos 

avelludadas,  em  adultas  verdes  nas  duas  paginas,  lanceola- 

das,  4  vezes  pelo  menos  mais  compridas  do  que  largas. 

0{ S*  fk^agllis»  li. 

Rebentos  muito  compridos  e  flexíveis,  amarello-avermelhados 
ou  amarello-brilhantes  na  primavera.  Folhas  í^yS  vezes 
mais  compridas  do  que  largas,  glaucas  na  pagina  inferior. 
m.  vltellinat  Ij. 


\ 


286  APPENDICE 

Estipulas  grandes/bastante  tempo  persistentes.  Folhas  dentado- 
glandalosas,  3-8  vezes  mais  compridas  do  qae  largas. 

S.  amyiT^likltiMA»  Ié» 

10 {  Estipulas  nullas  ou  muito  pequenas.  Folhas  dentadas  só  na  me- 
tade superior,  com  os  dentes  não  glandulosos,  4-6  vezes  maôs 
compridas  do  que  Targas.  Folhas  e  botões  ás  vezes  sub-op- 
postos S.  parpiirea»  li. 

Pequeno  arbusto  (com  1"  de  altura,  o  máximo)  com  o  tronco 
prostrado,  ás  vezes  subterrâneo,  radicante.  Folhas  inteiras  oa 
sub-inteiras,  polymorphas,  assetinado-prateadas  na  pagina  in- 
. .  /  ferior,  de  ordinário  terminadas  em  ponta  dobrada  em  gotteira. 
*. \ . . . .  m.  repens»  li» 

Arvores  ou  arbustos  levantados,  não  radicantes.  Folhas  nuica 
prateado-assetinadas  na  pagina  inferior  (glaucas  ou  cotani- 
Ihosas) 12 

Folhas  addltas  com  a  pagina  superior  pubescente  ou  cotani- 

12  {     Ihosa  e  mais  ou  menos  verde-acinzentada 13 

Folhas  adultas  verdes  e  glabras  na  pagina  superior 15 


13 


14 


Botões  glabros.  Rebentos  glabros  ou  cotanilliosos  na  extremi- 
dade. Follias  2  vezes  mais  compridas  do  que  largas,  rugosas 
na  pagina  superior,  e  glaucas,  cinzento-cotanilhosas,  forte- 
mente reticuladas  na  inferior,  dobradas  em  gotteira  no  cimo. 
S.  aiirlia*  li. 

Botões  cotanilhosos;  rebentos  cinzento-cotanilhosos. ......  14 

Follias  2-2  72  vezes  mais  compridas  do  que  largas,  na  pagina 
superior  com  pubescencia  curta,  esverdinhadas  ou  acinzenta- 
das, e  na  inferior  cinzento-cotanilhosas.  «•  cÍiierea«Ei* 

Folhas  3-5  vezes  mais  compridas  do  que  largas,  cotanilhosasem 
ambas  as  paginas,  esverdinhado-acinzentadas  na  superior,  e 
acinzentadas  na  inferior M.  salTlfolia*  Biot* 


Botões  e  rebentos  glabros.  Folhas  2  vezes  mais  compridas  do 
que  largas,  glaucas  ou  acinzentado-cotanilhosas  na  pagina  in- 

15  {     ferior S.  C^preat  L* 

Botões  e  rebentos  pelludos  ou  pubescentes.  Folhas  3-4  vezes 
mais  compridas  do  que  largas 16 


APPENDIGE  287 

Rebentos  cotanilhosos.  Folhas  esbranquiçado-cotaiiilhosas  oa 
sub-glabras  na  pagina  inferior,  muito  reticolado-rugosas. 

Mm  pedicellata*  Desf. 

16 {  Rebentos  pubescentes.  Folhas,  na  pagina  inferior,  cotanilhosas 
esverdinhado-esbranquiçadas,  ou  glauco-esverdinhadas  sub- 
glabras,  mais  ou  menos  reticuladas. 
H.  atro-etnerea»  Brot. 

I 

(Pag.  65  e  66)— O  vidoetro. 

O  vidoeiro,  bem  authentícamente  espontâneo,  encontra-se 
em  Portugal  nas  grandes  altitudes:  Alto  Minho,  serra  do 
Gerez,  serra  de  Montezinho,  serra  do  Marão  e  serra  da  Es- 
treita. Informa-nos  o  sr.  MoUer  que  esta  arvore  também 
existe  nas  matas  de  Valle  de  Gannas,  do  Bussaco  e  de  Foja; 
mas,  nas  duas  primeiras  d'estas  localidades  foi  introduzido, 
com  certeza,  e  na  ultima  é  muito  provável  que  acontecesse 
o  mesmo. 

(Pag.  81) — O  oastanlieiro. 

Dissemos  na  pag.  81  que  o  castanheiro  se  encontra  em 
quasi  todo  o  paiz,  excepto  nos  terrenos  calcareos,  sendo 
principalmente  abundante  na  região  montanhosa  do  interior. 
No  1.^  vol.  doeste  Curso,  nas  paginas  250  e  seguintes,  mos- 
trámos quanto  esta  essência  é  calei  fuga,  e  referimo-nos  aos 
clássicos  estudos  dos  srs.  Grandeau  e  Fliche,  que  expUcam 
a  má  vegetação  do  castanheiro  nos  terrenos  calcareos  pela 
diminuta  percentagem  da  potassa  e  do  ferro  fixada  pela 
arvore  n'essas  condições*  ao  mesmo  tempo  que  absorve 
quantidades  excessivas  de  cal.  Apresentámos  então  a  opi- 
nião do  sr.  Ad.  Ghatin,  segundo  a  qual  o  castanheiro,  e 
com  elle  o  feto  real  e  as  urzes,  desapparecem,  quando  a 
quantidade  de  cal  no  solo  excede  37o. 

Temos  a  acrescentar  ao  que  escrevemos  algumas  obser- 
vações, que  alteram  um  pouco  esta  ultima  affirmativa. 

Já  no  1.®  vol.  da  Fhra  Forestal  Espanola,  o  sr.  D.  Ma- 


288  APPENDICE 

limo  Laguna  diz,  a  este  respeito,  o  seguinte,  na  pag.  206: 
—  «Es  opinion  corriente  entre  los  arboricultores,  especial- 
«mente  entre  los  franceses,  que  el  Castano  huye  de  los  ter- 
crenos  calizos;  á  los  que  tal  opinion  sostienen,  les  bastaria 
cyisitar  las  províncias  vascongadas  para  salir  de  su  error; 
«es  indudable,  sin  embargo,  que  este  árbol  preíiere,  para 
«su  buen  desarollo,  los  terrenos  arenosos  e  sueltos,  forma- 
«dos  por  la  descomposicion  de  rocas  graniticas,  ó  por  las 
«areniscas  de  antiguas  formaciones». 

Ultimamente  um  discípulo  nosso  no  Instituto,  o  sr.  An- 
tónio Arthur  Telles  da  Silva  Menezes,  notíciou-nos  que  na 
freguezia  da  Escusa,  concelho  de  Gasléllo  de  Vide,  districto 
de  Portalegre,  Conhecia  bons  castanheiros  em  solos  eviden- 
temente calcareos:  tão  calcareos  que  de  alguns  d'elles  se 
extrae  a  pedra  para  o  fabrico  da  cal. 

Procurámo*s  esclarecer  este  ponto,  e  a  nosso  pedido  fo- 
ram-nos  enviadas,  com  as  necessárias  precauções,  amostras 
da  terra,  do  solo  e  do  sub-solo,  onde  vegetam  alguns  d'cs- 
ses  castanheiros,  amostras  de  terra  que  vieram  acompanha- 
das com  a  descripção  das  arvores  correspondentes,  e  algn- 
mas  observações  locaes,  que  passamos  a  publicar: 

Amostra  A:  —  «Solo  em  contacto  com  as  radiculas  de  um 
castanheiro  manso,  colhido  sobre  a  caleira  de  Luiz  Andrade. 
O  castanheiro  apresenta  um  óptimo  desenvolvimento;  ra- 
mificações aéreas  vigorosas  e  abundantes,  formando  uma 
grande  copa;  radicação  forte.  A  profundidade  de  (r,6  (amos- 
tra jB),  as  raízes  secundarias  estèndem-se  sobre  a  rocha 
calcarea,  que  então  se  encontra,*  e  sobre  a  qual  o  solo  as- 
senta. Este  castanheiro  cresce  isoladamente;  dá  muito  e 
excellente  fructo  (informação  local  fidedigna).  Circumferen- 
cia  do  tronco  3" ,5;  altura  do  tronco,  até  ao  ponto  d^onde 
partem  as  pernadas  mais  grossas,  3",2i. 

Amostra  B: — «A  mesma  terra  à  profundidade  de  0",6, 
misturada  com  fragmentos  arrancados  da  rocha,  que  desde 
esta  profundidade  se  encontra  no  logar  acima  designado». 


APPENDIGE  289 

Amostra  C: — «Solo  em  contacto  com  as  radiculas  de  mn 
castanheiro  manso,  colhido  nas  caleiras  de  Luiz  Martins 
Serra» • 

«Excellente  conformação  e  desenvolvimento;  ramificações 
aéreas  e  subterrâneas  abundantes  e  vigorosas.  Este  casta- 
nheiro faz  parte  de  um  dos  muitos  soutos  mansos  existen- 
tes n'esta  localidade.  Gircumferencia  do  tronco  l^^^S.  Altura 
do  tronco  até  ao  ponto  d'onde  partem  as  pernadas  mais 
grossas  l^^^O.  Distancia  média  entre  os  castanheiros  do 
souto  5"». 

«A  exploração  da  cal  n'esta  localidade  deixa  bem  desco- 
berta e  manifesta  a  rocha  calcarea  (amostra  E)  sobre  a  qual 
assenta  a  terra». 

Amostra  D: — «Sub-solo  da  mesma  terra  (amostra  C). 
Profundidade  1°*»* 

Amostra  E: —  «Lascas  da  rocha  sobre  que  assenta  a  terra 
das  amostras  antecedentes,  e  que  se  encontra  nas  amos- 
tras A  e  B  dí  0™,6  de  profundidade;  nas  amostras  C  e  Z)  a 
1  metro.  Chamam-lhe  na  localidade  borras  ou  macaronhos 
a  esta  espécie  de  calcareo». 

Amostra  Fe  G: — «Nos  fomos  da  localidade  combusta-se 
o  calcareo  d'estas  amostras,  desde  remota  data,  e  obtem-se 
magnifica  cal  gorda.  A  amostra  Fé  de  cal  branca,  a  amos- 
tra G  de  cal  preta»  • ' 

Procedendo  á  determinação  da  cal  n'estas  amostras,  en- 
contrámos as  seguintes  percentagens: 

Amostra  A  (soloj 5,7687o 

»       B  (sub-solo) 4,7607o 

D        C  (solo) 0,8967o 

•       D  (sub-solo) 0,3027o 

Estes  números  referem-se  á  terra  naturahnente  húmida, 
tal  como  a  recebemos  (com  percentagens  de  agua  compre* 
hendidas  entre  7  e  14). 

C.  8. — ^T.  II.  i9 


290  APPENDIGE 

Todas  as  determinações  foram  feitas  sobre  a  terra  depois 
de  separadas  as  pedras,  por  meio  de  om  sedaço;  seguin-se 
este  processo  para  só  fazer  entrar  em  linha  de  conta  a  parte 
que  immediatamente  pode  concorrer  para  a  nutriçlo  ve- 
getal. 

Um  facto  que,  á  primeira  vista,  causa  admiração,  é  a 
maior  percentagem  de  cal  encontrada  pela  analyse  nos  dois 
solos  respectivamente  aos  sub-solos,  quando  as  informações 
locaes  dizem  que  n'estes  se  encontra  a  rocha  calcarea,  uti- 
lisada  no  fabrico  da  cal.  No  emtanto,  este  facto  torna-se 
bem  comprehensivel,  se  nos  lembrarmos  que  estas  amostras 
analysadas  foram  primeiro  separadas  das  pedras;  quanto 
mais  á  superfície,  mais  fragmentadas  e  pulverisadas  se  acha- 
vam as  rochas,  e  por  isso  maior  a  percentagem  da  cal;  rea- 
lisava-se  o  inverso  no  sub-solo,  onde  a  pedra  calcarea  me- 
nos dividida  ainda,  era  em  maior  quantidade  excluída  da 
amostra  analysada. 

A  inspecção  dos  números  encontrados,  quanto  ao  segando 
castanheiro  nao  apresenta  nada  de  notável.  Esta  arvore  tem 
as  raizes  superflciaes  n'um  solo  com  0,896  %  de  cal,  e  as 
raízes  profundas  n'um  sub-solo  com  0,3027o;  taes  núme- 
ros estão  ainda  muito  longe  da  máxima  percentagem  de 
cal,  na  terra,  estabelecida  pelo  sr.  Ghatin,  e  além  da  qual 
a  vegetação  do  castanheiro  se  torna  impossível,  na  sua  opi- 
nião—  37o. 

Mas,  as  coisas  mudam  bastante  de  figura  quaudo  se  con- 
sidera o  primeiro  castanheiro;  com  eflfeito,  essa  arvore  des- 
envolvesse perfeitamente,  segundo  as  informações  locaes, 
sobre  um  solo  (amostra  A)  que  tem  5,7687o  de  cal,  e  n'um 
sub-solo  (amostra  B)  que  dosêa  4,7607o. 

É  certo,  que  não  se  pode  ainda  chamar  a  esta  terra  ex- 
cessivamente calcarea;  é  certo  que  existem  solos  onde  o 
carbonato  calcareo  entra  nas  proporções  de  70  e  8O701  so- 
los que,  se  não  são  muito  productivos,  podem  utilisar-se 
ainda  com  a  cultura  de  varias  leguminosas  herbáceas,  ou 


APPENDIGE  291 

de  essências  florestaes  apropriadas;  mas,  decididamente, 
aqaelles  números  vão  bastante  além  do  limite  máximo  ad*- 
mittido  pelo  sr.  Ghatin,  e  mais  ou  menos  pelos  silviculto* 
res  francezes. 

Devemos  acrescentar  que  estas  terras  do  districto  de 
Portalegre  por  nós  estudadas  eram  extraordinariamente  ri- 
cas em  ferro.  Ora,  segundo  os  conhecidos  trabalhos  dos 
srs.  Grandeau  e  Fliche,  referidos  acima,  o  excesso  do  cal- 
careo  no  solo  é  nocivo  ao  castanheiro,  impossibilitando  a 
fixação  da  potassa  e  do  ferro  necessários  a  esta  essência. 
É  muito  possível  que  a  relação  d'estes  três  corpos — cal, 
ferro  e  potassa — tenha  grande  importância  para  esta  ques- 
tão; talvez  o  excesso  de  cal  seja  menos  nocivo,  quando 
acompanhado  de  um  excesso  dos  outros  dois  corpos — ferro 
e  potassa.  Tudo  isto  são  pontos  a  esclarecer,  que  só  po- 
dem ser  resolvidos  por  analyses  repetidas  e  conscienciosas. 
Por  agora,  o  que  podemos  asseverar  sem  receio  é  que,  pelo 
menos  em  alguns  casos^  o  castanheiro  vive  perfeitamente 
em  solos,  cujas  percentagens  de  cal  sobem  a  perto  de  67o, 
isto  é — sobem  ao  dobro  do  que  está  geralmente  admittido. 
.    Resumindo,  parecem-nos  licitas  as  seguintes  conclusões : 

1.* — O  castanheiro,  embora  prefira  os  solos  siliciosos, 
tolera  todavia  uma  percentagem  de  cal  mais  elevada  do  que 
gerahnente  é  admittido  pelos  silvicultores  francezes;  como 
o  demonstra  a  analyse  do  solo  A  e  do  sub-solo  B. 

2.* — Ou  a  percentagem  Umite  da  cal,  estabelecida  pelo 
3r.  Ghatin,  foi  calculada  niuito  baixa,  ou  este  limite  (e  pa- 
rece-nos  isso  o  mais  provável)  varia  com  as  condições  lo- 
caes  do  clima,  e  sobretudo  com  a  composição  chimica  de- 
solo— com  as  quantidades  relativas  do  ferro  e  da  potassa. 
Só  uma  serie  de  trabalhos  minuciosos  pode  responder  a 
esta  pergunta. 

3.* — Não  se  deve  querer  concluir  das  observações  ante- 
riores que  o  castanheiro  vegete  bem  nos  solos  muito  cal- 
careos.  Esta  asserção  está  contradita  pelos  estudos  dos  srs. 

i9# 


292  APPENBIGS 

Grandeaa  e  Flícbe,  e  pelas  observações  de  muitos  silvicol- 
tores,  em  diversos  paizes.  As  percentagens  de  cal  nas  amos- 
tras A  e  B  não  são  ainda  muito  elevadas;  de  certo  ponto 
por  diante,  a  cal,  no  solo,  impossibilita  evidentemente  a  ve« 
getaçSo  do  castanheiro.  Os  soutos  das  Yascongadas,  cita- 
dos pelo  sr.  D.  Máximo  Laguna,  pouco  provam,  emquanto 
se  nSo  conhecer  pela  analyse  chimica  a  percentagem  da  cal 
que  e^ses  solos  doséam;  também  do  sub-solo,  próximo  aos 
soutos  referidos  da  Escusa  (Portalegre),  se  tira  pedra  calca- 
rea  para  o  fabrico  da  cal,  e  todavia  a  terra  vegetal  o  ma« 
limo  que  indicou  á  analyse  chimica  foi  5,768  7o  de  cal. 

(Pag.  101)— Tiscmii  eraclatnm»  Siel». 

Fizemos  a  determinação  especifica  d'este  Viscum  sobre 
uns  exemplares  incompletos,  que  nos  foram  obsequiosa* 
mente  enviados  de  Portalegre  pelo  sr.  R.  Larcher  Marçal, 
Não  vimos  nem  as  flores  nem  os  fructos,  mas  afBrmou-nos 
o  sr.  Larcher  Marçal  que  as  bagas  produzidas  por  este  pa- 
rasita são  vermelhas. 

O  facto  de  se  encontrar  o  V.  cntdatum,  Sieb.,  em  Hes- 
panha,  na  visinha  provincia  da  Ândalusia,  exactamente  so- 
bre as  oliveiras,  como  o  visco  de  Portalegre,  e  bem  assim 
a  cõr  vermelha  das  bagas,  parecem  auctorisar  a  determi* 
nação. 

Nenhuma  das  outras  duas  espécies  d'este  género,  qae 
existem  em  Hespanha,  tem  a  baga  vermelha :  o  F.  aOmm,  L.,  • 
tem  as  bagas  brancas,  e  o  F.  laxuniy  Bss.  4  Reut.,  tem-a$ 
amarelladas.  O  Viscum  cruciatum,  Sieb.,  é  espécie  nova 
para  a  flora  portugueza. 


Dicclonario  das  palams  teclmlcas  empre^das 

na  Flora  lenhosa 


Alberto.  Não  fechado;  dSo  encostado,  que  forma  ângulos  quasi 
rectos  com  o  eixo  (patens):  n'este  sentido  se  áíz— ramos  abertos 
para  os  lados^  etc. 

Aeáole  (acaulis).  Sem  caule. 

Accreseente  {aecresems) .  O  órgão  que  continua  a  crescer  pas- 
sado o  tempo  em  que  de  ordinário  attingeoseu  desenvolvimen* 
to;  o  invcHufCro,  a  bractea^  o  cálice^  o  perigoneo,  etc,  que  con« 
tioua  acrescer  depois  da  fecundação. 

AeeroMMi  {acerosa,  acicularia),  Dizem-se  as  folhas  lineares,  rígi- 
das, agudas  na  ponta,  semelhantes  a  uma  agulha. 

Aclienio  (achenium).  Fructo  secco,  indehiscente,  monospermo, 
com  o  pericarpo  distincto  da  semente. 

Aealeado  {aculeatus).  Que  tem  aculeos. 

Aealeo  {aculeus) .  Corpo  rigido  desenvolvido  na  casca  sem  nenhu- 
ma adberencia  com  o  systema  fibro-vascular—ito5etr(u,  silvai, 
etc. 

Acmninado  (acuminatus).  Ponteagudo;  a.  insensivelmente'^ 
que  termina  em  ponta  estreitando  pouco  a  pouco;  a.  de  repente 
{ahrupte  acuminatus) — que  estreita,  sem  transição,  em  ponta* 


294  biccioNARio 


(cannata) .  Dizem-se  as  folhas  oppostas  adberentes  na 
base,  parecendo  uma  única  folha  atravessada  no  meio  pelo  eixo^ 

Ad weoticio.  O  órgão  que  apparece  onde  vulgarmente  se  não  en- 
contra;  raízes  que  apparecem  no  caule;  botões  que  apparecem 
em  legares  indeterminados  do  tronco  e  dos  ramoso  se  desenvol- 
vem immediatamente,  etc. 

AflBollado  (infundibulifortnis).  Em  forma  de  funil.  Corolla  ga- 
mopetala  ou  cálice  gamosepalo  com  o  tubo  comprido  e  o  limbo 
em  forma  de  cone  invertido. 

An^lomerado  (glomeratus).  Disposto  em  pilha  ou  cabeça?  diz- 
se  da  in florescência,  etc. 

Agudo  {acutus).  Terminando  em  angulo  agudo;  folha,  copa  da 
arvore j  etc. 

Agnlliafi.  Nome  vulgar  das  folhas  das  Coníferas. 

Alaliardinas  (hastata).  Dizem-se  as  folhas  com  a  forma  do  fer- 
ro de  uma  alabarda:  largas  e  chanfradas  na  base  com  os  dois 
ângulos  afastados,  e  aguçadas  no  cimo. 

Alado  {alatus):Que  tem  azas,  ou  expansões  lateraes;  caule,  pi' 
ciolo,  etc. 

Albumeii  (allmmen).  Tecido  que  existe  em  algumas  sementes»  e 
n^esse  caso  cònslitue  a  amêndoa  conjunctamente  com  o  embryao; 
contém  a  reserva  nutritiva  destinada  a  alimentar  o  embryão  da- 
rante  a  germinação. 

Alterno  (allemus).  Diz-seoorgão  inserido alterivadamenle  aou- 
tro,  não  opposto;  folhas  inseridas  uma  em  cada  nó,  etc. 

Alveolado  (alreolatus).  Que  tem  alvéolos  ou  pequenas  cavidades. 

Amêndoa.  Parte  da  semente  comprehendida  sob  o  tegumento 
e  representada  pelo  embryão  só,  ou  por  este  corpo  e  pelo  alba- 
men  ou  endosperma. 

Amentaceo  (amentaceiis) .  Disposto  em  amentilho,  ou  semelhan- 
te a  um  amentilho. 

Amentlllio  {amentum).  Espiga  de  flores  unisexuaes,  noas  on 
com  um  só  invólucro  floral,  e  cujo  eixo  é  articulado  na  base, 
desprendendo-se  inteiro  o  amentilho  masculino  depois  da  fecun- 
dação. 

Amplexlcaales  {amplexicaulia) ,  Dizem-se  as  folhas  sesseis 
cujas  bases  abraçam  o  caule,  mas  sem  o  envolverem  completa- 
mente. 


DICCIONARIO  295 

(angtdatus).  Que  tem  ângulos  ou  esquinas :  ratnOy  etc, 

AnMual  (annua).  Em  um  anno:  diz-se  da  maturação  do  frueto 
que  se  realisa  no  mesmo  anno  da  floração:  da  flauta  que  vive 
um  só  cyclo  vegetativo. 

Antlicra  (anthera).  Parte  do  estame  em  cujas  cavidades,  ou  lo- 
culos,  está  contido  o  polien,  ou  pó  fecundante. 

Antliese  (anthesis).  Período  da  fecundação  ou  da  completa  flo- 
rescência. 

JkwMtrarma  (antrorsum).  Voltado  para  diante. 

Apetala  (apetaíus).  Diz-se  a  flor  sem  corolla,  sem  pétalas. 

Apliyllo  (aphyllus).  Sem  folhas. 

Apicolado  {apiculatus).  Terminado  em  ponta  curta  e  delgada. 

Appenilice  ou  appendlcolo  {appendiculum).  Prolongamento 
que  se  encontra  na  base,  ou  no  cimo,  de  certos  órgãos:  anthera, 
ele. 

Appendlculado  {appendiculatus).  Guarnecido  de  appendices. 

Apfero  (apterus).  Sem  azas. 

Aq[allliado  {carinatvs) .  Que  tem  uma  quilha,  ou  linha  saliente. 

ArliuMto  [frutex).  Planta  lenhosa  quasi  sempre  vestida  de  ramos 
desde  a  base,  com  botões  ordinariamente  escamosos,  e  cuja  al- 
tura oscilla  entre  1  e  10  metros. 

Jkrlllo  {arillus).  Invólucro  accessorio,  mais  ou  menos  desenvol- 
vido, da  semente.  Provém  de  uma  expansão  do  funiculo. 

Arista  (arista).  Prolongamento  rigido,  filiforme,  que  termina  ou 
acompanha  certos  órgãos. 

Avistado  (aristatus).  Terminado^  ou  acompanhado,  por  uma 
arista. 

Arredondado  (rotundatus),  Diz-se  o  órgão  de  superfície  proxi* 
mamente  circular.  Emprega-se,  impropriamente,  tratando-se 
dos  sólidos  na  accepção  de  quasi  espherico. 

ArUcolaçfto  {articulatio).  Reunião  de  partes  que  a  uma  dada 

-    época  se  separam  sem  ruptura. 

Articulado  {articulatui).  Que  tem  articules,  juntas  ou  articu- 
lações. 

Articulo  (articulu$).  Porção  comprehendida  entre  duas  juntas 
ou  articulações. 

Arirore  {arbor).  Planta  lenhosa,  geralmente  com  o  tronco  despido 
na  base  e  com  altura  superior  a  10  metros. 


296  DIGGIONARIO 


{hypacraterifarmis).V\i-^ diCoroW^  garaopetala  com 
o  tubo  comprido  e  o  limbo  plano  e  circular,  como  uma  salva,  ou 
pires. 

Áspero  (scaber).  Coberto  de  pequenas  saliências,  mas  qué  facil- 
mente se  denunciam  ao  tacto. 

Assetlnado  (sericeus).  Coberto  de  pellos  curtos,  deitados,  bri- 
lhantes. 

A«so velado  (subtUaius) .  Diz-se  o  órgão  linear  h  terminado  em 
ponta  como  a  da  sovela. 

Attenaado  {attenuatut).  Adelgaçado. 

Aorieulado  [auriculatus).  Que  tem  auriculos;  folha,  ete.,  com 
prolongamentos  obtusos  ou  agudos  na  parte  inferior  do  limbo. 

Avelladado  {viUosus).  Coberto  de  pellos  curtos,  bastos,  levanta- 
dos, juntos  e  macios  como  os  do  velludo. 

Axilla  (axilla).  Vértice  do  angulo  formado  por  um  ramo  com  o 
tronco,  por  uma  folha  com  o  ramo,  por  duas  nervuras,  etc. 

Axtllar.  Collocadò  na  axilla. 

(ala).  Expansão  membranosa  ou  foliacea  que  se  nota  em  algons 
fruetos  e  sementes,  ou  em  alguns  caules,  ramos  e  pecMos.-^As 
duas  pétalas  lateraes  da  corollapapilionacea. 


Bacct  forme  {bacciformis) ,  Que  tem  a  forma,  ou  é  semelhante  a 

uma  baga. 
Baira  {bacca),  Fructo  indehiscente  carnudo,  pluricarpellar  epolys- 

permo. 
Balnlia  {vagina).  Prolongamento  do  peciolo  que  rodeia  o  ramo. 

Reunião  das  escamas  que  rodeiam  as  agulhas  dos  Pinheiros. 
Barbado  ou  barliado  {barbatus).  Que  tem  barbas  ou  peUos; 

a  garganta  dos  cálices  de  algumas  Labiadas,  etc. 
Baae  (6a5t«).  O  extremo  inferior:  da  fdha  (o  extremo  do  limbo, 

do  lado  do  peciolo),  etc. 

-•  Dois,  duas  vezes  (antepõe-se  ás  palavras  de  origem  latina) :  M* 

pinnulado, — duas  vezes  pinnulado;  bilobaio — com  dois  lóbulos, 

etc.  (Substitue-se  também  pelo  algarismo  2-). 


DIGaONARIO  297 

àl  (biennis).  Em  dois  annos;  maturação  biennal — quan- 
do deeorrem  dois  cydos  vegetativos  entre  a  floração  e  a  matura- 
ção. 

BiCorme  (biformià).  Diz-se  a  espécie  que  apresenta  duas  formas^ 
segundo  a  edade:  alguns  Eucdyptos, 

BftlttMado  {hilabiatui).  Dividido  em  dois  lábios:  cálice y  coroUay 
etc. 

Botfto  (gemma).  Corpo  de  dimensões  reduzidas  onde  está  incluido 
o  esboço  do  futuro  rebento.  Botões  floraes  {gemmae  floríUes) :  cor- 
pos de  dimensões  reduzidas  onde  estão  incluidos  os  esboços  das 
flores.  O  botão  toma  ainda  o  nome  particular  de  botão  tnixto  se 
dá  origem  a  eixos  com  folhas  e  flores;  e  toma  a  denominação  de 
botão  folhoso  quando  origina  eixos  só  com  folhas,  e  se  quer  insis- 
tir n'esta  particularidade. 

Braotea  {bractea).  Folha  mais  au  menos  profundamente  modifi- 
cada no  tamanho,  forma,  consistência  ou  côr,  em  cuja  axilla  nasce 
a  flor. 

Braeteado  (bracteatus).  Que  tem  bracteas. 

Braetefioriiie  (bracteformis).  Que  tem  a  forma,  ou  é  semelhante 
a  uma  bractea. 

Bracteola  (bracteola).  Diminutivo  de  bractea;  bractea  de  se- 
gunda grandeza. 

Braeteolado  {bracteolatus).  Que  tem  bracteolas. 


C?a]»el]ame.  O  conjuncto  das  ramificações  mais  extremas  e  del- 
gadas (radiculas)  do  systema  descendente. 

Caelio  (racemus).  Inflorescencia  formada  sobre  um  eixo  primário 
comprido,  indefinido,  e  eixos  secundários  eguaes,  simples  ou  rami- 
ficados; no  ultimo  caso  o  cacho  diz-se  composto. 

Cadaoo  {caducus).  Diz-se  o  órgão  prematuramente  caidiço.  Ca-^ 
lice  caduco — o  que  cae  antes  de  abrir  a  corolla.  CoroUa  caduca — 
a  que  cae  antes  da  fecundação.  Folhas  caducas — as  que  duram 
um  só  período  vegetativo,  ficando  a  arvore  decida  um  tempo  maior 
ou  menor. 


298  DicaoNARio 

Cálice  (cálix).  O  mais  externo  dos  dois  involaeros  floraes.  Geral- 
mente é  herbáceo. 

Calicalo  (epicalix).  YerticiUo  de  foliolos  oa  bracteolas  formando 
ao  cálice  um  invólucro  que  semelha  um  segundo  cálice. 

Calloao-mari^nadas  (eallose-marginata).  Dizem-se  as  folhas 
rodeadas  de  uma  saliência  dura  e  esbranquiçada  como  um  callo. 

Campanolado  (campanulatus) .  Em  forma  de  campânula  ou  sino. 
CorMa  gamopetala  ou  cálice  gamosepalo  com  o  tubo  curto,  bo- 
judo, alargando  para  a  bocca. 

Canallcalado  {canaliculatus).  Que  tem  uma  linha  escavada,  oa 
canal. 

Canal  reslnlfero.  Cavidade  com  secreção  resinosa  particular  a 
diversos  órgãos  de  certas  Coniferas,  e  que  no  lenho  se  pode  con- 
fundir, á  primeira  vista,  com  os  vasos.  Distingue-se,  não  só  pela 
secreção  resinosa,  como  pela  posição :  os  canae$  i  esini feros  ocea- 
pam  o  bordo  externo  da  camada  annual  emquanto  os  vasos  pre- 
dominam no  bordo  interno. 

CapiUido  (capitatus).  Reunido  em  cabeça  ouaggregado  mais  oa 
menos  globoso.  Diz  se  principalmente  das  flores. 

Capitulo  (capitulum).  Inflorescencia  em  que  as  flores  se  dispõem 
sesseis  sobre  um  disco  largo  e  curto.  Ás  vezes  emprega-se  impro- 
priamente na  accepção  de — flores  capitadas. 

Capsula  (capsula).  Fructo  secco,  dehiscente  por  válvulas  ou  po- 
ros. 

Carnado  on  carnono  (carnosus).  HoUe,  com  tecido  tenro,  suc- 
culento:  fructo,  folha,  caule^  etc. 

Caroço  (piuamen).  Invólucro  ósseo  que  reveste  a  amêndoa  nas  dra- 
pas;  provém  do  endocarpo  reforçado  com  as  camadas  próximas. 

Carpello  (carpellum).  Folha  modificada  que  entra  na  constitoi^ 
do  pistillo.  Este  pode  ser  formado  por  uip  ou  mais  carpellos,  e 
no  ultimo  caso  os  carpellos  podem  ficar  livres,  ou  soldarem-se  en- 
tre si. 

Carpoplioro  (carpophorum).  Eixo  receptacular  desenvolvido  qae 
fica  entre  os  carpellos. 

Cartilaylnoao  (cartilagineus)»  Duro,  elástico,  tenaz,  como  nma 
cartilagem. 

Carancalo  (caruncula).  Excrescência  ou  appendice  do  fímicalo 
em  redor  do  hilo  ou  do  micropylo:  esboço  de  arillo. 


DICCIONARIO  299 

(cortêx).  Parte  do  tronco  e  dos  ramos  externa  ao  eambium 
ou  camada  viva  geradora. 
mie  {caulis).  Eixo  principal  da  ramificação  exterior. 

CAoliiiar  (caulinus).  Relativo  ao  caule;  folhas  caulinares y  as  que 

^  estão  no  caule :  usa-se  em  opposição  a  folhas  radicaes,  e  também 
ás  vezes  em  opposição  a  folhas  fioraes, 

Oellieado  (dliatus).  Com  pellos  finos,  rectos  e  parallelos,  nas  mar- 
gens. 

CManfirado  {emarginatns).  Com  um  recorte,  ou  chanfro,  mais  ou 
menos  fundo,  na  extremidade. 

Cliloropliylla»  Matéria  verde  dos  vegetaes;  agente  da  assimila- 

*  ção  do  carbonio. 

Cimo  {apex),  A  parte  superior;  c.  da  fdha — a  parte  opposta  ao  pe- 
ciolo;  diz-se  também  á2íin florescência,  da  copa,  etc, 

Clava  (clava).  Massa;  diz-se  em  forma  de  massa  (clavatus)  o  ór- 
gão entumecido  da  base  ao  cimo. 

€?oetaneo  (coetanefts).  Simultâneo.  Floração  coetânea — a  que  é 
simultânea  com  a  folheação. 

Coma  {coma).  Feixe  de  bracteas  collocado  no  cimo  da  inflores- 
cencia  formando  appendice  ou  cabelleira:  como  no  Rosmaninho, 

ComcMia  (comosa).  A  inflorescencia  que  tem  coma. 

CompoNto  (compositus).  Que  não  é  simples,  que  é  ramificado.  Fo- 
lha composta — a  que  tem  diversos  limbos  parciaes  ou  foliolos.  Ca- 
cho (corymboy  amentilho^  etc.)  composto — o  cacho,  corymbo,  etc, 
qué  tem  os  eixos  ramificados. 

Coneoior  (concolor).  Da  mesma  côr;  que  tem  uma  só  côr. 

Conerescente»»  Dizem-se  os  órgãos  ou  as  porções  do  mesmo  ór- 
gão que  tem  crescimento  commum,  de  modo  que  se  ligam  n'uma 
só  peça. 

C^ndenuado  (congestus).  Amontoado,  apertado,  conchegado.  Diz- 
se  da  inflorescencia^  da  copa^  etc, 

€M»iidapllcado  (conduplicatus).  Dobrado  ao  meio:  folhas^  folio- 
los^  etc.,  dobrados  peia  nervura  média. 

Conilaeiites  (confluentia),  Adunados  na  base:  taes  são  os  úl- 
timos três  foliolos  da  folha  composta  do  Jasmineiro  de  Itália, 
etc. 

Comnectivo.  Parte  da  anthera,  ás  vezes  com  formas  muito  di- 
versas, que  reuné  os  loculos  separados  d*aquelle  órgão. 


300  DlCaONARIO 

Continuo  (eontinuus).  Que  faz  parte,  que  se  prolonga.  Caule  com 
tinuo — o  qae  não  tem  jantas  ou  articulações. 

Contrabido  (coníractus) ,  Apertado;  diz-se  da  inflarescenda,  da 
eorolla,  etc. 

Ckinvers^Btes  (conníventes).  Aproximados  no  cimo:  as  anúe^ 
raSf  as  nervuras ^  etc. 

C^l»a  {coma).  O  conjuncto  das  ramificações  do  tronco. 

Corado  (coloratus).  Que  tem  côr  differente  da  verde. 

Ck^rdirorme  {cardatus).  Em  forma  de  coração :  largo  e  chanfrado 
na  base  e  mais  estreito  no  cimo :  a  folha,  etc, 

C^rlaeeo  (coriaceus).  Com  a  textura  do  coiro. 

Corolla  (eorolla).  O  mais  interno  dos  dois  invólucros  floraes,  ge- 
ralmente corado* 

Ck^r^mblforme  ou  corynilioso  {corymbosus).  Semelhante  a 
um  corymbo. 

Corjnk^^o  {corymhus).  Inflorescencia  indefinida  formada  por  um 
eixo  primário  e  diversos  eixos  secundários»  inseridos  a  alturas 
differentes,  mas  terminados  quasi  á  mesma  altura. 

Cotanlllioao  (tomentosus).  Com  pellos  crespos,  apertados,  muito 
finos  e  curtos,  entremeados  quasi  como  feltro. 

Cotyledone  (cotyledon).  Folhas  mais  òu  menos  modificada  do 
embryão*. 

Crenado  {crenatus).  Com  pequenas  divisões  mais  ou  menos  ar- 
redondadas, não  inclinadas  para  a  base  ou  para  o  cimo:  diz-se 
das  folhas,  pétalas,  etc. 

Cnnlieado  (cuneatus).  Em  forma  de  cunha. 

Cúpula  (cupala).  Invólucro  em  forma  de  taça,  constituído  por  pe- 
quenas escamas  soldadas,  que  envolve  a  base  do  fructo. 

Cupulirorme  {cupufiformis).  Em  forma  de  cúpula  ou  taça. 

Cymelra  (cyma).  Inflorescencia  definida  em  que  as  flores  abrem 
do  centro  para  a  circumferencia. 

Cjukomo  (cymosus).  Que  é  semelhante,  que  tem  a  forma  de  mna 
cymeira. 


DICaONARIO  301 


Decarrentes  {decurrentia) .  Dizem-se  as  folhas  ou  phyllodias 
cujas  bases  sb  prolongam,  com  adherencia,  em  duas  azas  longitu* 
dinaes  para  um  e  outro  lado  do  ramo. 

Deflnldo  (definituê).  Determinado,  fíiado.  Estames  definidos — 
isto  é,  em  numero  fixo;  inflorescenda  definida — aquella  cujo  eixo 
termina  por  uma  ou  mais  flores. 

Delilaceiíclii  {dehiscentia) .  Abertura  regular  de  um  órgão  para 
a  saída  do  seu  conteúdo:  do pericarpo — para  a  saida  das  semen- 
tes: da  anthera — para  a  saida  do  pollen,  etc. 

Delilscente  (dehiscens).  Que  se  abre  com  regularidade,  natural- 
mente. 

Deltoidea  (deltoidea).  Diz-se  a  superfície  com  quatro  ângulos, 
estando  os  lateraes  mais  próximos  do  da  base  que  do  cimo;  ap- 
plica-se  sobretudo  á  forma  das  folhas. 

I^emio  (densus).  Muito  junto  ou  apertado;  diz-se  da  in florescên- 
cia, etc. 

lienlado  (dentatus).  Diz-se  o  órgão  (folha,  pétala,  etc.)  cujos  bor- 
dos tem  pequenos  dentes  ou  divisões  triangulares,  eguaes,  não  in- 
clinadas para  o  cimo. 

Denticulado  (denticulatvs).  Diminutivo  de  dentado;  com  pe- 
quenos dentes  ou  denticulos. 

Heacaldo  (decumbens).  Diz-se  do  tronco  ou  dos  ramos  quando 
primeiro  se  levantam  e  depois  se  curvam,  caindo  sobre  o  terreno. 

Hl-.  Dois,  duas  vezes  (antepõe-se  ás  palavras  de  origem  grega): 
dicoiyledonea,  disperma,  diachenio,  etc. — que  tem  duas  cotyledo- 
nes,  duas  sementes,  dois  achenios,  etc.  (Substitue-se  também  pelo 
algarismo  2-). 

Dladelpliofi  (diadelpha).  Dizem-se  os  estames  reunidos  pelos  fi* 
letes  em  dois  grupos. 

Blalypeiala  {dialypetala),  A  corolla  cujas  pétalas  são  livres,  não 
adherentes  entre  si. 

Blalyacpalo  (dialysepálus) .  O  cálice  cujas  sepalas  são  livres,  não 
adherentes. 


302  DICaONARIO 

Dlapliraifiiia.  Membrana  qae  separa  uma  cavidade  em  doas 

partes. 
DIeliotoiíilco  (dichotamus).  Forquilhado,  que  se  divide  s^npre 

em  dois  ramos  oppostos. 
DidynainleiMi  (didj/namia).  Qualificativo  dado   aos  estames, 

quando  sendo  quatro  sao  dois  maiores. 
Hlffaso  (dilfusus).  Ramificado  em  eixos  dispostos  sem  ordem  e 

mais  ou  menos  abertos  para  os  lados;  a  capa,  SLpanicula,  etc. 
Dlffttados  (digitata).  Diz-se  dos  foliolos,  inseridos  n*um  mesmo 

ponto  e  radiantes,  divergentes,  como  os  dedos  das  aves. 
Diof  ca  (dioica).  Diz-se  a  planta  que  tem  flores  unisexuaes,  e  as  de 

cada  sexo  em  individues  diíTerentes. 
Dliico  (disnus).  Protuberância  annular,  quasi  sempre  glandnlosa, 

que  ás  vezes  existe  na  flor  entre  a  corolla  e  os  estamos,  ou  sobre 

que  elles  estão  inseridos. 
Dittcolor  (discolor).  Que  é  de  duas  cores. 
Disseminação  (disseminatió) .  Queda  e  dispersão  natural  das 

sementes. 
Dlstlcado  {distichus).  Collocado  alternativamente  á  direita  e  á 

esquerda  do  eixo  formando  duas  linhas  oppostas :  diz-se  dos  ra- 
mos, folhas,  etc. 
Divergente  (divergens).  Que  se  afasta.  Estames,  nervuras,  etc., 

próximos  na  base  e  que  depois  se  afastam.  Ramos  que  se  abrem 

em  angulo  recto  com  o  tronco. 
JDividld(0  (divisus).  Que  tem  divisões  ou  lacinias. 
Divisões.  Vide  lacinias. 
Drupa  (drupa).  Fructo  carnudo  com  caroço. 
Drapaeeo  (drupaceus).  Semelhante  a  uma  drupa. 
Duplicado-  (duplicatus).  Duas  vezes:  duplicado-serraiOy  duiU- 

cado-denladOf  etc. — que  é  duas  vezes  dentado  ou  serrado,  isto  é, 

que  lem  os  dentes  ainda  recortados  com  outros  menores. 


ElHorescencia.  Matéria  pulverulenta,  quasi  sempre  cirosa,  que 

reveste  alguns  fructos  quando  maduros. 
Eixo  (axis).  O  pedúnculo  central  da  inflorescencia  composta.  O  f^ 


DICaONARIO  303 

eido  central  da  folha  composta.  O  ramo  considerado  em  relação 
ás  folhas,  o  tronco  em  relação  aos  ramos^  etc. 

Ellipsoldeé  O  solido  originado  por  uma  ellipse. 

Blliptlca  (elliptica).  Superfície  que  tem  a  forma  de  uma  ellipse 
geométrica. 

Bmliry&o  (embryo).  Parte  da  semente  physiologicamente  a  prin- 
cipal :  rudimento  da  planta  que  se  ha  de  desenvolver  pela  germi- 
nação. Constituo  elle  só,  ou  acompanhado  pelo  albumen  ou  endos- 
perma,  a  amêndoa  da  semente. 

Empolado  (bullatus).  Que  tem  bolhas  ou  empolas. 

Encoslado  (adpressus).  Arrimado,  deitado:  diz-se  dos  ramos  ar- 
rimados contra  o  tronco,  dos  pellos,  etc. 

Endocarpo*  A  parte  interna  do  pericarpo,  correspondente  á  epi- 
derme interna  da  folha  carpellar:  circumscreve  o  loculo  ou  oslo- 
culos  onde  estão  incluidas  as  sementes. 

Endosperiiia.  Tecido  onde  se  reúne  a  reserva  nutritiva  que  dá 
o  primeiro  alimento  ao  embryão  das  Gymnospermas.  Equivale 
physiologicamente  ao  albumen  das  Angiospermas. 

Eatre-n6«  Porção  do  ramo  comprehendlda  entre  duas  folhas,  ou 
duas  ordens  de  folhas  consecutivas. 

Enwaffinante.  Que  tem  l)ainha:  folha,  etc. 

Epigynicos  {(^igynica).  Qualificativo  dos  estamos  inseridos  supe- 
riormente ao  ovário,  parecendo  nascer  da  parte  superior  d'ello. 

Eacama  (j^uamma).  Palavra  empregada,  com  grande  latitude  para 
designar  diversos  órgãos  achatados,  membranosos,  carnudos  ou 
coriaceos:  quer  sejam  folhas,  bracteas,  invólucros,  etc.  As  folhas 
reduzidas  dos  Pinheiros :  as  bract^as-mães  dos  amentilhos :  as  bra- 
cteas adherontes  ás  bracteolas  que  constituem  as  pequenas  pinhas 
das  Betuláceas;  as  bracteas  e  os  carpellos  abertos  das  pinhas  das 
Coníferas,  etc. 

Escarni  for  me  (squammiformis).  Que  tem  a  forma,*  ou  é  seme- 
lhante a  uma  escama. 

Eafsainoso  (squammatus).  Que  tom  escamas.  Botão  protegido  por 
escamas — é  o  opposto  a  botão  nú. 

Bscarloso  (scariosus).  Secco,  delgado^  sonoro  sob  a  unha. 

Escudo  (peita),  Diz-se  em  forma  de  escudo  (peltatus)  um  órgão 
qualquer  quando  está  preso  pelo  centro  ao  supporte,  ficando-lhe 
perpendicular,  como  está  a  cabeça  de  um  prego. 


304  DICaONARIO 

Espadice  {spadix).  Espiga  com  o  eixo  carnoso  e  genúmeote  en- 
volvida por  uma  folha  enrolada  em  cartucho  (spatha). 

Espat alado  (spathulaius).  Largo  no  cimo,  em  forma  de  eapk 
tuia;  folha,  etc. 

Bspecle  (species),  Conjuncto  de  indivíduos  mais  oa  menos  sm»- 
ihantes,  que  se  podem  reproduzir  illimitadamente  entre  si,  e  cujas 
formas  mais  deseguaes  estão  relacionadas  por  outras  intermédias, 
de  modo  que  todas  se  podem  suppor  derivadas  de  uma  só  origem. 

Esplciforme  (spiciformis).  Semelhante  a  uma  espiga. 

Eapiga  (spica).  Inflorescencia  em  que  as  flores  se  dispõem  sesseis 
sobre  um  eixo  indefinido. 

E»pigueta  (spicula).  Diminutivo  de  espiga:  espiga  com  muito 
poucas  flores. 

Ewpineficeiíie  (spinescens) .  Terminado  n*um  espinho. 

Esplnlio  (spina).  Corpo  rígido  e  ponteagudo  adherente  ao  systema 
fibro-vascular  e  que  oceupa  sobre  a  planta  uma  posição  detenni- 
nada  pela  natureza  dos  órgãos  de  cuja  transformação  é  derivado 
— ramos,  estipulas,  folhas. 

Espinlioiío  (spifwsus).  Que  tem  espinhos. 

Bspinl forme  (spiniformis).  Semelhante  a  um  espinho. 

EaitameM  {siaminá).  Órgãos  sexuaes  masculinos.  A  reunião  dos 
estames  forma  o  terceiro  verticillo  da  flor  completa.  O  estame 
compõe-se  do  filete  (que  pode  faltar)  e  da  anthera. 

Estandarte  (vexillum).  Pétala  superior  da  corolla  papilionacea. 

Efiterll*  Diz-se  o  estame  que  não  tem  anthera:  a  escama,  mhret- 
ctea,  cuja  flor  axillar  se  não  desenvolve:  a  flor  cujos  or^u)s se- 
xuaes ficam  rudimentares,  etc. 

Etttli^iiia  (stigma).  Extremidade  do  estylete,  com  formas  varia- 
dissimas,  quasi  sempre  mais  larga  e  cheia  de  pequenas  vesicolas 
ou  mamillos,  destinada  a  reter  o  pollen. 

Entipiilado  {stipulatus).  Que  tem  estipulas. 

Estipulas  (stipulae).  Pequenos,  appendices. que  se  encontram  na 
base  de  algumas  folhas,  dos  dois  lados.  Podem  ser  caducas  oa 
persistentes,  foliaceas,  escamiformes,  espinescentes,  etc. 

Estrangulado.  Diz-se  o  órgão  que  apresenta  adelgaçamentos 
consideráveis  n'um  ou  mais  pontos :  vagem,  etc. 

Estrellado  (stellatus).  Em  forma  de  estrella:  opello  comp(»tonr 
mificado  em  estrella,  etc. 


DICCIONARIO  305 

:lllar«  Qne  se  desenvolve  fora  da  axilla:  /for,  etc. 
(itrialuê).  Riscado,  com  sulcos  pouco  profundos. 
(extrona).  Diz^se  da  anthera  cuja  dehiscencia  se  faz 
para  a  parte  de  fora. 
BiBtyleie  {styluê).  Porção  do  carpello,  typieamente  adelgaçada, 
qne  une  o  estigma  ao  ovário. 


Falei terme  (falcatui).  Curvo  em  fónna  de  foice. 

Va«clcalado0  (fasciculati).  Grupados  em  feixe:  os  ramos,  etc. 
FAweolado  (fatOBum),  Com  pequenas  cavidades  ou  alvéolos,  se-* 
melbante  a  um  favo. 

Felpa  {villi).  Pellos  compridos,  macios,  um  pouco  oblíquos. 

Felpiido<(vi7/o5nj).  Coberto  de  felpa. 

Feminina  (faemineus).  A  flor  que  tem  pistillo  e  não  tem  esta- 
mes.  também  se  diz  da  inflorescencia  que  tem  flores  com  pistillo 
e  sem  estames;  da  arvore  que  só  tem  flores  femininas. 

Fendido  (fissus,  fidus).  Diz-se  o  órgão  (folha,  cálice,  corolla,  etc.) 
cujas  divisões  {lacinxas)  passam  de  metade  do  limbo.  Bifendido, 
trifendido,  etc. — fendido  em  2-3  partes,  etc. 

Fértil.  Diz-se  a  flor  cujo  ovário  se  desenvolve  n*um  fructo:  a  hra- 
etea,  ou  escama,  que  tem  na  axilla  uma  flor :  a  semente  cujo  em- 
bryão  está  em  bom  estado,  que  pode  germinar,  etc. 

FliiroAo  (fibrosus).  Com  textura  em  que  entram  filamentos  resis- 
tentes. 

Filete  (filamentum).  Parte  do  estame,  geralmente  delgada,  que 
supporta  a  anthera. 

Filiforme  (JUiformis),,  Semelhante  a  um  fio,  delgado  como  um  fio* 

Fistulovo  (Jistulosus),  Escavado  no  centro  em  um  canal  longitu- 
dinal. 

Flexuoso  (flexuosus).  Que  tem  curvaturas:  caules,  pedúnculos, 

K   ramos,  etc. 

Flor  (fios).  Apparelho  da  fecundação  e  reproducção,  na  sua  forma 
mais  completa  composta  de  órgãos  accessorios — cálice  e  corolla 
— e  órgãos  essenciaes,  ou  reproductores — estames  e  pistillo. 

FlorafAo*  Época  da  abertura  das  flores. 

Florifcro  (florifervs) .  Diz-se  o  ramo,  botão,  etc. ,  que  produz  flores» 

c.  s. — V.  n.  20 


306  DICaONARIO 

Foiita  (folium).  Appendice,  na  forma  typiea  plano  e  laminar,  ga« 
ralmente  herbáceo,  que  nasce  com  o  ramo  onde  está  inserido : 
compõe-se  do  limbo  e  do  peeiolo  (que  pode  faltar).  F.  floral^^ 
folha  em  cuja  axilla  nasce  a  flor.  F.  carpellar — a  folha  modifi- 
cada em  carpello,  etc. 

Folbeaçfio.  Época  do  apparecimento  das  folhas. 

P#llieatara  {perfoliatio).  Disposição  que  as  folhas  novas  tomam 
no  interior  do  botão. 

Folboso  ou  follaadio  (foUosus,  folicUus).  Qae  tem  folhas. 

Foliaoeo»  follieaceo  ou  foliforme  (foliaceus).  Semelhante 
.  a  uma  folha. 

Foillcalo  ou  foUillio  (folliculus).  Fructo  secco  onilocalar,  po« 
iyspermo,  dehiscente  longitudinalmente  pela  sutura  ventral. 

Follolo  (foliolum).  Uma  das  divisões  da  folha  (^omposta.  Dá-sa 
também  ás  vezes  este  nome  ás  divisões  do  perigoneo* 

Forquilbaflo  (fiircatus).  Que  tem  duas  pontas,  como  um  for* 
cado. 

Fraçil  (fragilis).  Quebradiço. 

Fraldado  (finibriatus).  Guarnecido  de  franjas,  ou  lacinias  muito 
estreitas. 

Frouxo  (laxas).  Pouco  apertado:  diz-se  da  inflorescencia,  etc. 

Fructifero  (fruotifer).  Que  tem  ou  produz  fructos;  ramo,  etc. 

Frucio  (fructus).  O  ovário  depois  de  fecundado  e  tendo  adquerído 
subsequentemente  o  seu  desenvolvimento  completo.  Compõe-se  do 
pericarpo  e  das  sementes. 

Fniraoe  (fugax).  Vide  cadtico. 

Fanlculo  (funicalus).  Ligamento  que  prende  a  semente  ao  peri- 
carpo, ou  o  ovulo  ao  ovário. 

F.miiroriiâe  (fasiformis).  Em  forma  de  fuso :  entumecido  no  cen- 
■^  tro  e  adelgaçado  nas  extremidades. 


«albnla  (galbalus).  Pequena  pinha,  globosa  ou  ovóide,  formada 

de  poucas  escamas,  e  estas  largas  na  parte  superior. 
ttalba  (galla)-  Excrescência  formada  sobre  diversos  órgãos  das 
.  plantas,  e  promovida  pelas  picadas  dos  insectos. 


r 


DIGCIONÁRIO  307 


€Mumopeiala  {gamopetala),  A  corolla  formada  de  pétalas  solda* 
das  entre  si,  mais  ou  menos. 

Ctamoiiepalo  {gamosepdus).  O  caljce  formado  de  sepalas,  mais 
ou  menos  soldadas. 

Car^anta  (faux).  A  entrada  do  tubo  da  corolla  ou  do  ealice. 

CMuriniia  (cirrhus).  Producção  filiforme,  alongada,  simples  ou  ra- 
mosa, que  tem  a  propriedade  de  se  enrolar  aos  corpos  risinhos, 
segurando  as  plantas  que  a  produzem. 

ISeminados  (geminati) .  Dispostos  dois  a  dois.  Diz-se  dos  frtictoSy 
das  folhas,  flores,  etc. 

Ubboiio  (gibbosus).  Corcovado,  que  é  mais  saliente  de  um  lado, 

Cllabro  (glaber).  Sem  pello. 

Mandaila  (glahdula).  Vesícula  que  segrega  um  liquido  especial. 

Uandnloffo  (glandulosus).  Que  tem  glândulas  ou  é  semelhante 
a  uma  glândula. 

QlíKWíca(glaucus).  De  corverde-azulada,  verde-acinzentada,  devida 
quasi  sempre  a  um  inducto  ciroso  sobre  uma  superfície  verde. 

Òlo^Hnta  (globosus).  Espherico. 

domilofio  (urceolatus).  Bojudo  no  meio  e  mais  estreito  nas  ex- 
tremidades, com  a  forma  de  um  gomil;  diz-se  do  cálice  gamose- 
palo  e  da  corolla  gamopetala  quando  teem  essa  forma. 

€}ynoplioro  (gynophorum) .  Porção  alongada  do  eixo  da  flor  sob 
o  pistillo:  como  na  Alcapaira. 


Herl»aceo  {herbaceus).  Tenro  e  verde. 

Hermapltrodlta  {hermaphroditus),  A  flor  com  estamos  e  pis- 
tillo. Diz-se  também  ddL  planta  que  dá  flores  hermaphroditas. 

Hexa-.  Seis.  (AntepÕe-se  ás  palavras  de  origem  grega):  hexa- 
pkyllo,  etc. 

Biio  (hilum).  Cicatriz  sobre  a  semente,  que  representa  o  ponto 
onde  estava  ligada  ao  funiculo. 

Hirsuto  (hirsutus).  Com  pellos  numerosos  e  grandes. 

HlApIclo  (hispidus).  Coberto  de  pellos,  rígidos  e  levantados. 

HTpoiTTni^^os  (hypogynica) .  Qualificativo  dos  estamos  inseridos 
inferiormente  ao  pistillo. 

20* 


308  DICaONARIO 


Imbricadas  (t  min  rafa).  Diz-se  das  folhas,  escamas^  etc.,  diâ- 
postas  como  as  telhas  de  um  telhado,  a  cobrírem-se  parciabnente. 

iMiparlpinnolada»  {imparipinnata).  Dizem-se  ^fólhaê  com- 
postas com  um  numero  impar  de  foliolos,  o  ultimo  collocado  oo 
extremo  do  eixo  principal. 

Incisa*  (incisa).  Com  as  margens  recortadas  em  lóbulos  irregula- 
res: as  folhas,  as  pétalas,  as  estipulas,  etc. 

Inclaaos  (irtclusa).  Fechados,  não  salientes:  estames  inclusos  na 
corolla— isto  é  não  salientes,  etc. 

Indefinido  (indcfinihis).  Não  determinado.  O  eixo  da  infiores- 
ceticia  que  não  termina  n*uma  flor :  os  estames  quando  se  não  con- 
tam, por  serem  em  numero  variável  ou  muito  elevado. 

Indeliiacente  (indehiscens).  Que  se  não  abre  naturalmente;  a^ 
plica-se  de  ordinário  ao  fructo. 

Inerme  (iners  ou  inertnis).  Sem  espinhos  ou  aculeos. 

Inferior  (inferum).  Diz-se  do  ovário  quando  se  apresenta  coroado 
pelo  limbo  do  cálice  e  adherente  ao  tubo.  Pagina  inferior  da  fo- 
lha— a  que  está  virada  para  baixo,  a  pagina  posterior. 

Inflorencencia  {itiflorescentia) .  Disposição  das  flores :  applica-se 
sobretudo  quando  em  logar  de  se  desenvolver  cada  uma  na  axílla 
de  uma  folha  se  apresentam  na  axilla  de  bracteas,  que  podem  ser 
muito  reduzidas  ou  nullas,  formando  então  conjunctos  especiaes. 

Inserção  (insertio).  Forma  porque  os  órgãos  sTe  dispõem  uns  so- 
bre os  outros :  as  folhas  se  distribuem  sobre  os  ramos,  as  fom 
sobre  o  eixo  commuin,  etc.  Altura,  relativamente  ao  ovário,  a  que 
parecem  nascer  os  estames  e  a  coroUa. 

Inteiro  (indivisus).  Simples,  não  recortado,  nem  ramoso. 

Interrompida  (interrupta) ,  Que  tem  vasios:  diz-se  sobretudo 
da  inflorescencia — espiga  interrompida,  isto  é,  que  tem  vasios 
sem  flores,  ecc. 

IntrorM»  (introrsa).  A  anthera  quando  se  abre  para  o  lado  de 
dentro  (do  pistillo). 

Involncello  (involucellum).  Pequeno  invólucro:  o  invólucro  de 
segunda  ordem  das  umbellas  parciaes  na  umbella  composta. 


r 


DICGIONARIO  30^ 

Muwoluer Bão  (involucratus).  Que  tem  invólucro. 

iBvolacro  (involucrum) .  Reunião  de  bracteas,  livres  ou  solda- 
das entre  si,  dispostas  em  um,  ou  mais  verticillos.  Invólucro  fla* 
rai— o  cálice,  a  coroUa,  ou  o  perigoneo.  Invólucro  fructifero — 
o  perigoneo  ou  as  bracteas,  persistentes  e  accrescentes,  que  in* 
cluem  um  ou  mais  fructos. 

Irregular  (irregularis).  Sem  symetria:  a  corolla^  o  cálice ^  aro- 
mificaçãOy  etc. 


«fimciforiiie  (junciformis) .  Em  forma  de  junco:  cylindrico,  te» 
naz,  flexível  e  medulloso,  como  o  junco. 


I^aliiado  (Inbiatus).  Prolongado  em  forma  de  beiços:  a/Ior,  o  ao- 

lice,  a  rorolla. 
IjAcerado  (loceratus).  Roido  nas  margens. 
I^acinia  {lacinia).  Segmento,  divisão,  de  ordinário  comprida  e 

estreita.  Lacinia  do  perigoneo — a  divisão  do  perigoneo  na  parte 

livre. 
liAclnlado  (laeiniaius).  Dividido  em  lacinias. 
Ijanceolado  (lanceolatus) .  Em  forma  de  ferro  de  lança:  largo  no 

meio  e  estreitando  pouco  a  pouco  para  os  dois  extremos  a  termi- 
nar em  ponta. 
I^anoso»  lanoglnoso  ou  lanado  (lanatus).  Coberto  de  pellos 

compridos,  brandos,  deitados,  semelhantes  aos  da  lã. 
I^ateral  (lateralis).  Diz-se  do  órgão  inserido  sobre  um  dos  lados 

d^aquelle  em  que  se  desenvolve:  as  flores^  o  estylete,  etc. 
Ijenlio.  A  parte  interna  do  tronco  até  ao  cambium;  externamente 

fica  a  casca. 
Ijenlioso  (linhosns).  Que  tem  a  consistência  da  madeira. 
I«entiealar  (lenticularis) .  Biconvexo  como  uma  lente. 
Idêntica  las.  Pequenas  producções  suberosas  que  apparecem  na 


310  DIGGIONARIO 

casca  nova  de  certas  arvores,  rasgando  a  epiderme,  qnasi  sempre 
com  a  forma  lenticolai;. 

ItfeprtMM»  (leprosus).  Coberto  de  pequenas  escamas,  ou  crustas. 

lievantado  (erectus).  Ifireito,  erguido. 

liilier  (liber).  Parte  mais  interna  da  casca,  a  que  segue  logo  ao 
cambium.  Apresenta  contextura  muito  diversa  segundo  as  espé- 
cies, sendo  ás  vezes  muito  fibroso. 

liiffulada  ou  llninulforme  (ligutata).  Em  forma  de  língua: 
corolla,  etc. 

lAÍMMkUo\lifnbus).  Parte  da  folha  ordinariamente  laminar,  desen* 
volvida  para  os  lados.  Limbo  do  cálice^  ou  da  corolla — a  parte  li- 
vre das  sepalas  ou  das  pétalas  adherentes  inferiormente. 

I^lnear  (linear is).  Estreito  e  comprido  com  as  margens  paralle- 
las :  a  folha,  etc. 

l4ÍTre  (liber).  Solto,  sem  adlierencia. 

IdObado  (lobatus).  Que  tem  lóbulos. 

liOliulo  (lobulus).  Divisões  arredondadas,  nào  muito  fundas— f. 
da  folha — as  divisões  arredondadas  que  não  chegam  a  metade  do 
limbo. 

lioeiílar  {loctdaris)  (uni'  bi-  tri-  etc).  Que  tem  loeulos,  ou  está 
dividido  em  loeulos  (1,  2,  3,  etc.). 

Eiocnlicida  (d.  loculicide),  Diz-se  a  forma  de  dehiscencia  da  ca- 
psula, quando  se  abre  em  tantas  fendas  quantos  os  loeulos,  e  de 
modo  que  cada  válvula  traz  adlierente  no  meio  um  diaphragina. 

láOculo  (loculus).  Cavidade :  do  ovário,  do  fructo,  da  anthera,  etc. 

l4a»trosa  (nitida).  Diz-se  a  superfície  glabra  e  polida,  que  parece 
envernizada:  as  folhas,  etc. 


Isa: 


lllo  {mamillus).  Protuberância  mais  ou  menos  obtusa. 
Mamilloso  (mamUlosus).  Que  tem  um,''ou  mais  mamilios. 
Mareencente  ou  murelioso  (marcescenê).  Diz-se  o  órgão  que 

persiste  depois  de  secco :  o  cálice,  a  corolla,  as  folhas,  etc. 
MafM^ulliia  (masculus).  A  flor  que  só  tem  estames.  Appiica-se 

também  á  infiorescencia  de  flores  que  só  teem  estames:  á  arvore 

que  só  dá  flores  femininas. 


DICaONARIO  311 

■e«iiilla  (medulla).  Parenchyma  cellular  existente  no  eixo  dos 

caules  e  das  suas  ramificações.  É  limitada  pelo  canal  medullar. 
Mediilloflo  (medullosus).  Que  está  cheio  de  medulla. 
Memliraiioiio  {membranaceus) .  Flexivel,  ^  com  a  consistência  e 

grossura  de  uma  membrana. 
Hicropylo  (micropilum).  Pequena  abertura  no  cimo  do  ovulo, 

pela  qual  penetra  o  tubo  pollinico,  e  se  realisa  a  fecundação. 
Monadelplfto»  (monadelpkia).  Dizem-se  os  estames  adherentes 

pelos  filetes  em  um  só  grupo. 
Mono-.  Um  só  (antepõe-se  ás  palavras  de  origem  grcjra) :  mono- 

eotyledoveay  monopkyllo,  He. — que  tem  uma  cotyledoiie,  uma  só 
.    peça  (phyllum),  etc.  (Tanibem  se  emprega  em  seu  logar  o  alga- 
rismo Í-). 
Monoica  (monoica),  A  planta  que  produz  flores  unisexuaes,  mas 

as  de  ambos  os  sexos  no  mesmo  pé. 
Monospermo  (monospermus) .  Diz-se  o  fructo  que  tem  uma  só 

semente. 
Miicronado  (mucronatus) .  Terminato  em  ponta  curta,  delgada, 

rígida  e  direita. 
Miiltl-.  Muitos  (antepõe-se  ás  palavras  de  origem  latina) :  multi- 

(wuladoy  multiflor^  multilocvlar,  etc. — que  tem  muitos  óvulos, 

muitas  flores,  muitos  loculos,  etc. 
Matico  [muticus).  Desaristado,  não  terminado  em  arista  nem  em 

ponta. 


IVa^icalar  (navicularin).  Que  tem  a  forma  de  um  baixel. 

IVectarlo  (nectarium).  Órgão  glanduloso  da  flor  que  segrega  o 
néctar. 

IVerTosa»  ou  nervadas  (nervosa,  nervata).  Que  teem  nervuras 
salientes:  folhas,  etc. 

IVeriraratt  (nei^t).  O  prolongamento  e  as  ramificações  do  peciolo 
no  limbo  da  folha.  JV.  dorsal — a  nervura  mais  saliente  e  princi- 
pal que  se  nota  na  pagina  inferior  de  muitas  folhas;  n.  secundch 
rias — as  que  resultam  da  ramificação  da  principal. 

IVevlra  (neutrus).  Diz-se  a  flor  cujos  órgãos  sexuaes  estão  incom- 
pletamente desenvolvidos. 


312  oicaoNARio 

IVd  (nadus).  Grossura,  eleraçao,  artiealação. 

IVodoso  (nodosus).  Diz-se  o  eixo  que  tem  nós  ou  engrossamentos. 

IVu  (nudus).  Sem  invólucros.  Botão  nu — isto  é,  sem  escamas.  FUr 

nua — a  que  náo  tçm  invólucros  floraes. 
nrmio  (nuUm).  Que  falta,  não  existe. 


Ol»-*  Radical  que  exprime  uma  idéa  de  inversão. 

Olioorditoriiie  (pbeordatus).  Em  forma  de  coração  invertido. 
Folha  ohcordi forme — aquella  em  que  a  ponta  do  coração  está  pari 
o  lado  do  peciolo. 

ObUiiao  (obliquus).  Diz-se  d*um  órgão  em  relação  a  um  outro, 
ou  em  relação  ao  horizonte.  Folha  obliquamente  aguçada  — a  qne 
é  aguçada,  não  insensivelmente  pelo  estreitar  dos  margens,  nus 
por  umá  linha  obliqua  em  relação  á  margem. 

Oblongas  (oblonga).  As  superficies  com  a  forma  d*uma  ellipse 
muito  alongada:  folhas,  etc. 

Oliowada*  (obovata).  Com  a  forma  ovada  (a  do  contorno  de  om 
ovo)  invertida.  Folhas  obovadas — as  que  teem  a  forma  ovada  fi- 
cando a  parte  mais  estreita  do  lado  do  peciolo;  pétalas  obovúdat 
— as  pétalas  ovadas  em  que  a  parte  mais.  estreita  fica  do  lado  da 
unha,  etc. 

Obsoleto  (obsoletus).  Mal  assignalado. 

Obtaso  (obtusus).  Não  agudo. 

Ondulada  (ondulata).  A  superfície  que  se  levanta  e  abaiia  al- 
ternativamente em  curvas  arredondadas :  as  margens  das  folkaSf 
etc. 

Opercalo  {operculum).  Pequena  tampa. 

OppoMio  (nppositus).  Diz-se  o  órgão  que  nasce  defronte  de  outro, 
um  em  cada  lado  do  eixo:  folhas^  flores^  etc.  Diz-se  ainda  dos 
verticillos  floraes  coUocados  consecutivamente  uns  defronte  dos  m- 
tros^^petalas  oppostas  ás  sepalas^  estames  oppostús  ás  pétalas^  ^^- 

Orblcular  {orbiculatus,  orbicularis),  Quasi  circular :  Ztmioifafo- 
I^,  etc. 

Os»eo  (osseus).  Diz-se  do  tecido  secco  e  duríssimo  como  o  osso. 


oicaoMARio  313 

^wadaii  {ovata).  Superfícies  com  o  eonTorno  d'am  ovo :  o  diâmetro 
longitudinal  maior  que  o  transversal  >  a  maior  largura  perto  da 
base  e  o  cimo  obtuso:  folhas^  petcãíiSy  etc.> 

Owario  {ovarium).  Parte  inferior  mais  ou  menos  entumecida  do 
pistillo  onde  estão  os  óvulos;  nas  Angiospermas  ó  um  espaço,  fe- 
chado, constituido  por  um  ou  mais  carpellos,  e  com  um  ou  mais 
loculos.  * 

ovóide*  Solido  originado  por  uma  oval. 

Ovulado,  (l-multi):  Que  tem  óvulos  (um,  ou  muitos). 

(ovulam).  Estado  inicial  da' semente,  antes  da  fecundação. 


(pagina) .  Face;  díz-se  principalmente  da  folha — a  pagina 
superior  e  a  pagina  inferior — isto  é :  as  duas  faces  do  limbo. 

JPameia  (po/eu).  Pequeno  corpo  delgado,  comprido,  quebradiço, 
qnasi  como  uma  palha. 

Palmadas  (palmata).  Vide  palminervadas. 

Palmatldlwididas  (palmatisecta) ,  Dizem-se  as  folhas  palmadas 
com  o  limbo  partido  em  segmentos  até  aò  peciolo. 

Palma  II rendida»  (palmatifida).  Dizem-se  as  folhas  palmadas 
cujo  limbo  é  fendido — isto  ó  cujas  lacinias  passam  de  metade  do 
limbo. 

Valmatllobada*  (palmatilobata).  Dizem-se  as  folhas  palmadas 
cujo  limbo  é  lobado  —  isto  é,  que  tem  recortes  arredondados  que 
não  chegam  a  metade  do  limbo. 

Palmatlparlldaa  (pnlmatipartita).  Dizem-se  as  folhas  palma- 
das cujo  limbo  é  partido  em  segmentos  quasi  àté  ao  peciolo. 

Palmlnervadaa  (palminervata).  Dizem-se  as  folhas  em  que  as 
nervuras  principaes  são  divergentes,  partindo  todas  do  peciolo. 

JPanicula  (panicula).  InQorescencia  indefinida  em  que  os  eixos 
secundários,  simples  ou  compostos,  partem  de  diversos  pontos  do 
eixo  primário  e  vão  decrescendo  da  base  ao  cimo,  dando  ao  con- 
juncto  a  forma  cónica. 

Panlettlada»  (paniculati) .  Dizem-se  as  flores  dispostas  em  pa- 
nicula. 

JPaplllonacea  (papilionacea).  CoroUa  irregular  de  cinco  pétalas 


314  DICaONARIO 

com  uma  superior  denominada  estandarte,  duas  lateraes^  syine- 
tricas,  chamadas  azas,  e  duas  inferiores  também  symetricas,  li- 
vres ou  quasi  sempre  soldadas  na  margem  inferior,  constitoindo 
a  quilha.  No  botão  floral  o  estandarte  cobre  as  azas,  que  por  sua 
vez  cobrem  a  quilha. 

Parasita  (parasita).  Planta  que  vive  sobre  outra,  dos  seus  líqui- 
dos nutritivos. 

Parietal  (parietalis).  Preso  a  uma  parede:  placentaçào  em  qae 
os  óvulos  estão  presos  na  face  interna  das  paredes  do  ovário  uni- 
locular. 

Parlplnnulada»  (paripinnata),  Dizem-se  as  folhas  compostas 
com  um  numero  par  de  foliolos. 

Partido  {partitus).  Diz-se  o  órgão  cujo  limbo  é  recortado  quasi 
até  á  base :  o  cálice  cujas  sepalas  só  estão  adherentes  na  base:  a 
folha  cujas  divisões  chegam  quasi  á  nervura  média,  etc. 

Peciolada»  (petiolata).  Dizem-se  as  folhas  que  teem  peciolo. 

Peeiolo  (petiolvs).  Supporte  da  folha,  mais  estreito  que  o  limbo; 
peciolo  commvm  —  o  eixo  principal  da  folha  pinnulada. 

PedieeUado  (pedicellatus) ,  Que  tem  um  pedicello. 

Pedicello  (pedicellvs).  Pedúnculo  parcial,  ou  secundário;  a  ul- 
tima divisão  de  um  pedúnculo  ramoso,  a  que  supporta  as  flores. 
Pequeno  pedúnculo. 

Peduncalada  (pedunculatus).  Diz-se  a  flor  que  tem  pedúnculo, 
que  não  é  sessil. 

Pedanculo  (pedunculus).  Porção  do  eixo  que  supporta  immedia- 
tamente  a  flor,  ou  as  flores  na  inflorescencia. 

Pellndo  (pilosus).  Que  tem  pellos  separados  e  compridos. 

Peitado  (peltatus).  Em  forma  d' escudo,  arrodelado  com  uma  pro- 
eminência no  centro. 

Penninervada»  (penninervata),  Dizem-se  as  folhas  cujas  ner- 
vuras secundarias  partem  da  nervura  principal  de  um  modo  aná- 
logo á  rama  de  uma  penna. 

Peiitadelplfto»(p^/a(/^/p^ta).  Qualificativo  dos  estames  que  es- 
tão reunidos  em  cinco  grupos. 

Perenne  (perennis).  Persistente.  A  planta  sub-Ienhosa,  que  vive 
mais  de  dois  annos;  as  folhas  que  quando  caem  já  deixam  a  ar- 
vore vestida  com  folhas  novas. 

Pericarpo  (pericarpium).  A  parte  que  com  as  sementes  forma  o 


DicaoNÁRio  315 

fimcto :  provém  do  desenvolvimento  do  ovário  em  seguida  á  fecun* 
dação.  Compõe-se  do  epiearpo,  mesocarpo  ou  sarcocarpo,  e  endo- 
carpo. 

PeriiToneo  (jiBrigoneum,  perianthium).  O  oonjuncto  dos  invola- 
cros  floraes.  Applica-se  sobretudo  este  termo  quando  existe  um 
só  invólucro  flord. 

IPerii^yiiico»  (jierigynica) ,  Qualificativo  dos  estames  quando  estão 
inseridos  no  cálice,  ou  no  perígoneo,  ficando  apparentemente  su- 
periores ao  ovário,  em  volta  d'elle. 

Pernada.  Ramificação  principal  e  mais  grossa  da  arvore. 

IPersistente  (persistens),  Diz-se  do  órgão  que  dura  mais  tempo 
do  que  lhe  é  habitual:  o  cálice,  a  coróUa,  operigoneo,  etc,  que 
permanece  depois  da  fecundação;  as  folhas  que  qnando  caem  já 
estão  outras  novas  desenvolvidas,  etc. 

IPetala  (fetalum).  Foliolo  componente  da  corolla. 

Petalolde  (petaloideus) .  Que  tem  a  côr  e  a  consistência  das  pé- 
talas. 

Pevide.  Termo  vulgar  applicado  ás  sementes  com  o  tegumento  fi- 
broso, membranoso,  etc.  (não  ósseo),  pertencentes  aos  fructos  car- 
nudos. 

-Pliyllo  (3-,  í'j  etc).  Applica-se,  antepondo-lhe  as  pai'lieulas  mo- 
no-, di-,  etc,  para  significar  as  divisões  de  um  órgão.  Diz-se  so- 
bretudo das  divisões  perigonaes. 

Pliyllodia  (phyllodia).  Folha  cujo  limbo  abortou  e  cujo  peciolo 
tomou  desenvolvimento  foliaceo. 

Picante  (jmngens).  Que  pode  picar  ou  ferir. 

Pinlia  (contiSy  strohilvs).  Falso  pericarpo  formado  de  um  eixo  e  es- 
camas numerosas,  na  base  das  quaes  estão  collocadas  as  sementes. 

PtnnatldiYldidaii  (pinnatisecia) .  Dizem-seas  folhas  penniner- 
vadas  cujos  recortes  chegam  á  nervura  média. 

Pftnnatifendida»  (pinnatifida).  Dizem-se  as  folhas  penniner- 
vadas  cujas  divisões  passam  do  meio  do  limbo  e.  são  agudas  e  es- 
treitas. 

Pinnatiloliada»  (pinnatUobata).  Dizem-se  as  folhas  penniner- 
vadas  cujos  recortes  são  arredondados  e  não  chegam  a  meio  do 
limbo. 

Pinnatipartidas  (pinnatipartita).  Dizem-se  as  folhas  penni- 
nervadas  cujos  recortes  chegam  quasi  á  nervura  media. 


316  DICaONARIO 

Pinnalailaii  (finnata),  Dizem-se  as  folhas  compostas  de  foliolos 
dispostos  lateralmente. 

Plfitlilo  {pistillum).  Órgão  feminino  da  flor.  Este  nome  applica-se 
quer  aquelle  orgào  seja  constitiiido  por  um  só  carpello  ou  mais, 
e  quer  estes  estejam  soldados  ou  livres.  No  seu  estado  mais  com- 
pleto compõe-se  do  avario^  estylete  e  estigma. 

PlaceniMfto  (placentatio) .  Distribuição  das  partes  a  que  se  pren- 
dem  os  óvulos. 

Plninoso  (plumatus,  plumoaus).  Que  tem  pellos  dispostos  sobre 
um  eixo,  macios,  fazendo  lembrar  uma  pluma. 

Pinrl-*  Mais  de  um.  (Antepoe-$e  ás  palavras  de  origem  latina): 
pluriotulado — que  tem  mais  de  um  ovulo,  etc. 

Pollen  [poUen),  Pó  fecundante  contido  na  anthera. 

Poly-«  Muitos.  (Antepõe-se  ás  palavras  de  origem  grega),  Pdtp- 
penm,  polycotyledoneo^  etc, — que  tem  muitas  sementes,  moitas 
cotyledones,  etc. 

PolyaitelpiiiHi  {^polyadelphia) .  Dizem-se  os  estamos  adberentes 
pelos  estames  em  mais  de  dois  grupos. 

Pol^i^amlca  (polygntna).  Denomina-se  a  planta  com  flores  he^ 
maphroditas  e  unisexuaes  no  mesmo  ou  em  diverso  individuo.  P(h 
lygamo-monoica  —  se  uns  individues  teem  flores  bermaphroditase 
outros  flores  masculinas  e  femininas.  Polygamo-dioica—se  uns 
individues  teem  flores  hermaphroditas,  outros  masculinas,  e  ons 
terceiros  femininas. 

Polymorplio  (poíymorphux) .  Com  muitas  formas;  com  formas 
variáveis. 

Pol^rspermo  (polyspermus) .  Diz-se  o  fructo  que  tem  muitas  se- 

» 

mentes. 

Pontoado  (punciatus).  Que  tem  pontos.  Pontoado-escavado^ 
com  pontos  escavados. 

Porlelda.  Diz-se  a  dehiscencia  que  se  realisa  por  orificios  oa  p6* 
ros:  da  capsula,  da  antkera. 

Pdro  (porus).  f^equeno  orifício. 

Porte.  Aspecto  geral;  applica-se  ás  arvores  sobretudo  com  refe- 
rencia á  altura:  arvore  de  grande  porte — isto  é:  de  grande  al- 
tura. 

Precoce  (praecçx).  Temporão :  floração  precoce — isto  é— antenof 
á  folheaçao. 


DICCIONAMO  317 

Prelloraffio  (praeflorecentia).  Arranjo  ou  disposição  das  peças 
da  flor  antes  d*ella  abrir. 

Prefolia^o*  Vide  folheatura, 

Pr«Mitrado  (procumbens) ,  Deitado  no  chão:  o  tronco,  os  ramos, 
etc. 

Pwendo-liaira.  Semelhante  no  aspecto  a  uma  baga,  mas  com  ou- 
tra origem. 

Paendo-papUlonacea.  Corolla  irregular  de  5  pétalas,  seme- 
lhante á  corolla  papilionacea;  também  com  uma  pétala  superior, 
duas  lateraes  symetricas  e  duas  inferiores  egualmente  symetricas, 
mas  livres:  no  botão  floral  as  pétalas  inferiores  cobrem  as  duas  la- 
teraes e  estas  a  pétala  superior. 

Pabeseente  (jíubescens).  Com  pellos  macios,  curtos,  pouco  aper- 
tados. 

IPulYcralento  (puberulis)»  Que  parece  coberto  de  pó. 

IPyriforme  (pyriformis).  Em  forma  de  pêra. 


<^ 


^nadrl-.  Que  tem  quatro.  (Antepoe-se  ás  palavras  de  origem  la- 
tina)—  quadrilobado^  quadrilocular ,  quadrangular,  etc. — que  tem 
quatro  lóbulos,  loculos,  ângulos,  etc.  (Substitue-se  também  pelo 
algarismo  4-). 

Quaternadaa  (quaierna).  Dizem-se  as  folhas  dispostas  a  quatro 
e  quatro  em  cada  verticillo. 

^aillia  {carina).  Linha  saliente  como  a  quilha  de  um  navio :  a  na- 
vettaon  peça  inferior  da  corolla  papilionacea,  formada  de  duas 
pétalas  quasi  sempre  soldadas  pela  margem  inferior. 

Quicadas  (quinata).  Dizem-se  as  folhas  dispostas  cinco  a  cinco 
em  cada  verticillo. 

Qninciae-.  Que  tem  cinco.  (Antepõe-se  ás  palavras  de  origem  la- 
tina)—  quinquelobado,  quinquelocular,  etc. — que  tem  cinco  lóbu- 
los, loculos,  etc.  (Também  se  substituo  pelo  algarismo  5-). 


318  DIGGIONARIO 


Ilaolii»  (rachis).  Eixo  principal :  r.  da  espiga,  do  cacho,  da  pani- 
cuia,  etc. — o  pedanculo  principal  d'estas  inflorescencias :  r.  da 
folha  pinnulada — o  peciolo  commam. 

BaiUcante  (radicans).  Diz-se  o  caule  qae  se  estende  mais  oa 
menos  sobre  o  solo  enraizando  em  diversos  pontos. 

Bacllcalaa  {radicxdae).  ks  ramificações  mais  noras  da  raiz  por 
onde  se  faz  a  absorpçao. 

Baios  (radii) — medullares:  laminas  radiantes  de  tecido  cellolar, 
que  se  encontram  no  lenho,  partindo  da  medulla  para  a  periphe- 
ria.  Raios  daumbella — pedúnculos  da  inflorescencia  em  umbella. 

iftalE  (radix).  O  órgão  destituido  de  folhas,  geralmente  subterrâ- 
neo, cuja  missão  é  fixar  a  planta,  e  absorver  do  solo  os  princí- 
pios nutritivos. 

Bamiflcação  (ramificatio) ,  Disposição  dos  ramos  sobre  o  tronco. 

Bamtflcado  ou  ramoso  (ramosus).  Que  tem  ramos  ou  rami- 
ficações. 

Baminlio  (ramus  annotinus) .  O  ramo  que  tem  um  anno,  qne  já 
está  lenhoso. 

Bamow  {rami).  Os  eixos  em  que  se  divide  o  caule. 

BasCeJante  {repens,  reptans).  Diz-se  o  caule  prostrado  que  deita 
raizes  de  espaço  a  espaço. 

Belieiitfio.  Applícamos  sobretudo  este  termo  aos  rebentos  e  tron- 
cos novos  originados  sobre  as  toucas  das  arvores  cortadas,  oa  so- 
bre as  raizes  lateraes. 

Beliento  {ramus  hornotimis).  O  ramo  no  anno  em  que  é  produ- 
zido, no  anno  em  que  sae  do  botão,  quando  está  ainda  herbáceo. 

Beeeptacalo  (receptactdum).  Extremidade,  mais  ou  menos  mo- 
dificada, do  eixo  floral  sobre  que  estão  inseridas  as  diversas  par- 
tes da  flor. 

Becorvailo  (recurvatus).  Curvado  para  fora  ou  para  baixo. 

Bedondo  (rotundas).  Que  tem  a  forma  circular;  deve  appliear-se 
quando  se  trate  de  superficies,  mas  emprega-se  ás  vezes  impro- 
priamente aos  solidoSy  no  sentido  de  globoso. 


DICaONARIO  319    . 

ir  (regularis).  Diz-se  do  orgao  cujas  partes  sao  egoaes  e       ^ 

symetricas:  corolUiy  cálice,  flor,  etc. 
Bemontante  (aiscendenSf  ascendens),  Diz-se  o  caule  parallelo 

na  base  ao  terreno  e  que  depois  se  levanta. 
Sentrorme  (renifarmis).  Em  forma  de  rim:  mais  largo  do  que 

comprido,  e  chanfrado  na  maior  direcção. 
Betiemaila  (reticulata).  Diz-se  a  superfície  coberta  de  linhas 

formando  rede  ou  malhas :  folhas,  etc. 
Betrorso  (retrorsum).  Virado  para  traz. 
BbiBoina  (rhizoma).  Caule  subterrâneo,  escamoso,  alongado  e 

grosso,  que  produz  raizes  adventicias  na  face  inferior  e  ramos  com 

folhas  na  face  superior. 
Blionaiboftdal  {rhomboiialis,  rhombeus).  Que  tem  a  forma  de  um 

quadrilátero  com  os  lados  eguaes  e  parallelos:  diz-se  das  folhas, 

etc. 
Bliyiicloiiia  (córtex  rimosus).  Parte  externa  da  casca  morta  e 

secca,.  por  estar  isolada  da  região  interior  viva,  pela  interposição 

de  laminas  mais  ou  tnenos  espessas  e  profundas  de  tecido  sube- 

roso  impermeável. 
BcMlada  (rotata).  Diz-se  especialmente  da  corolla:  coroUa  gamo- 

pétala  com  o  tubo  muito  curto  e  o  limbo  dividido  em  lacinias  pia* 

nas  e  muito  abertas. 
Iftollço  (teres).  Que  não  tem  ângulos:  caule,  etc. 
Bas»«o  (rugosus).  Cheio  de  rugas  ou  pequenas  pregas. 


Saeco  entbryonario.  Cellula  do  ovulo  na  qual  se  realisa  mais 
tarde  o  desenvolvimento  do  ovo  em  embryão. 

ifaeoos  poilinlcos.  As  cavidades  ou  loculos  da  anthera  onde 
se  produz  o  poUen. 

•ai^itiadas  (sagittata).  Em  forma  do  ferro  de  uma  setta:  termi- 
nadas em  ponta,  e  com  uma  chanfradura  na  base  cujos  ângulos  sao 
agudos:  folhas,  etc. 

Saliente  (excerptus).  Diz-se  de  um  órgão  em  relação  a  outro 
que  o  envolve.  Estames  salientes — os  que  são  maiores  do  que  a 


320  DICCIONARIO 

corolla  e  portanto  a  exeedem;  corclh  ialiente'^^  qne  é  maior  d» 
que  o  cálice,  etc. 

flamara  (samara),  Achenio  com  ama  ou  duas  dilatações  membra- 
nosas  (azas). 

flarcocarpo.  Parte  do  pericarpo  comprehendida  entre  o  epicarpo 
e  o  endocarpo;  é  ella  que  essencialmente  constitue  os  fmctos  car- 
nudos. 

Sarmento«o  (sarmentosus) .  Comprido,  flexivel  e lenhoso:  appli- 
ca-se  ao  caule, 

•eorploide  {scorpioides).  Diz-se  a  cymeira  em  que  o  eixo  que 
sustenta  as  flores  se  enrola  sobre  si  mesmo  para  o  lado  inferia; 
as  flores  estão  de  ordinário  voltadas  para  o  lado  superior. 

Aeeco  {siccys).  Não  carnudo :  fructo  seeco — o  que  tem  opaicarpe 
pouco  desenvolvido  e  que  secca  quando  amadurece. 

•eda  (seta).  Pello  rígido. 

flesmenfo  (segmentum).  A  parte  que  resulta  da  divisão  de  nm 
órgão  quasi  até  á  base;  assim  se  diz — segmento  do perigonieo,e^ 
— As  diversas  partes  da  folka  dividida  ou  da  folha  partida, 

aemenle  {sémen).  O  ovulo  depois  de  fecundado  e  desenvolvido; 
comprehende  o  tegumento  e  a  amêndoa. 

•einpr€>-werde  {sempervirens) .  Diz-se  a  planta  lenhosa  que  nunca 
apparece  despida  de  folhas. 

Sepala  {sepalum).  Um  dos  foliolos  componentes  do  cálice. 

Sepaloide  {sepaloideus) .  Que  tem  a  consistência  e  acôr  verde  h> 
bitual  das  sepalas. 

•epilcida  (d.  septicide).  Diz-se  a  dehiscencia  da  capsula,  na  qnal 
os  diaphragmas  se  dividem  ao  meio,  de  modo  que  cada  válvula  ao 
cair  leva  adherente,  em  cada  uma  das  margens,  uma  d*essas  me- 
tades. 

Serrada*  (serrata).  Dizem-se  assuperficies  que  teem  dentes  aga- 
dos,  como  os  da  serra,  e  voltados  para  cima:  fdhas,  etc. 

Se«sil  (sessilis).  Rente,  sem  peciolo  ou  pedúnculo :  /blAa, /br,  ele. 

ttetaeeo  (setaceus).  Semelhante  a  uma  seda. 

Se  tone  (setosus).  Que  tem  sedas. 

Slll4iiieroriii4^  (siliquaeformis).  Que  tem  a  forma  de  uma  sãí' 
qua  (fructo  secco  comprido,  bicarpellar,  com  os  loculos  separados 
por  um  tabique  falso,  e  dehiscente  em  duas  válvulas,  de  baao 
para  cima,  ficando  o  dissipimento  livre  e  com  as  sementes). 


DICaONARIO  321 

Slatples  (simplex).  Não  dividido  nem  ramificado. 

Slnoada  (iinuatn),  Diz-se  a  superficie  cujo  contorno  está  modi- 
ficado eom  recortes  ponco  fundos  e  lóbulos  pouco  salientes,  uns  e 
outros  arredondados:  as  folhas,  etc. 

•odavel.  Diz-se  da  espécie  vegetal  que  occupa  área  extensa  em 
determinados  pontos,  quasi  com  exclusão  de  outra  espécie. 

Solitário  {solitarius).  Não  acompanhado  ou  aggregado. 

•patlia  {spatha).  Folha  enrolada  em  cartucho,  mais  ou  menos 
modificada,  que  envolve  a  espadice. 

Spatliaceo  (spathaceus) .  Em  forma  de  spatha. 

Sub-.  Quasi:  sub-inteiro,  sub-acuminado — quasi  inteiro,  quasi 
acuminado,  etc. 

•nli-arlioato  (svffrviex).  Pequena  planta,  inferior  de  ordinário 
a  1",  lenhosa  na  base  e  herbácea  sempre  nas  extremidades,  ha- 
bitualmente sem  botões  escamosos. 

Salieroso  (suberosus).  Da  natureza  da  cortiça. 

■occnlento  (succíilenius).  Que  tem  sueco  ou  sumo. 

Sulcado  (stdcatvs).  Que  tem  sulcos  profundos. 

Superior  (superttm),  Diz-se  do  ovário  quando  está  livre  (não  ad- 
herente  ao  tubo  do  cálice)  e  tem  inferiormente  inseridos  os  esta- 
mes.  Diz-se  do  cálice  quando  está  soldado  ao  ovário.  Pagina  su- 
perior da  folha — a  pagina  anterior,  a  que  está  virada  para  cima. 

Sutura  (sutura).  Junctura,  ou  logar  em  que  se  unem  as  válvulas 
ou  ^ças  de  um  todo. 


Vabiiiue.  Dissipimento,  diapbragma. 

Tardio  (serotinus).  Serôdia.  Floração  tardia— a^qa^  se  realisa 

depois  da  folheação. 
Veeido.  Conjuncto  de  cellulas  idênticas,  que  obedecem  á  mesma 

lei  de  desenvolvimento. 
Vei^umento  {tegumentumj  tegmen).  Invólucro,  casca:  tegumento 

da  semente — os  tecidos  que  cobrem  a  amêndoa;  tegumento  do 

tronco — a  parte  externa  da  casca,  etc. 
Verminal  (terminalis),  Diz-se  do  órgão  que  está  coUocado  no 

eimo  de  um  outro:  flor  terminal — a  que  está  no  cimo  do  eixo; 

estylete  terminal — o  que  está  no  cimo  do  ovário,  etc. 

c.  8. — ^v.  n.  21 


I 

i 


322  DICCIONARIO 

Ternadiís  (temata).  Dizem-se  as  folhas  dispostas  3  a  3  em  eada 
verticillo. 

Vetra*.  Quatro.  (Antepõe-se  ás  palavras  de  origem  grega):  tetrO' 
chenio,  tetraspertna,  etc. — que  tem  quatro  achenios,  quatro  se- 
mentes, etc.  (Às  vezes  substitue-se  pelo  algarismo  4-). 

Vetrauronal  {tetragonus) .  Que  tem  quatro  ângulos:  o  conde  das 
Labiadas,  etc. 

Tliyrflo  (thyrsus).  Inflorescencia  indefinida  formada  por  um  eixo 
primário  comprido  do  qual  partem  eixos  secundários,  simples  ou 
ramosos,  sendo  os  do  meio  maiores  que  os  dos  extremos,  e  to- 
mando o  conjuncto  a  forma  ovóide. 

Vliyrfloide  ou  tliymlf^oriiie  {thyrsoideus) .  Que  tem  a  forma 
de  mn  thyrso. 

TomenCo*  Tomámos  esta  palavra  em  accepção  muito  mais  larga 
do  que  a  da  palavra  latina  tomentum  (vid.  cotanUhmo).  Sob  a  de- 
nominação de  tomento  considerámos  a  vestimenta  de  toda  a  super- 
fície não  glabra:  o  estado  de  toda  a  superfície  com  pellos,  inde- 
pendentemente da  forma  d'esses  pellos. 

Tortuoso  (tortuosos).  Que  forma  ângulos  alternadamente  para 
um  e  outro  lado:  o  caule,  etc. 

Vouça.  A  parte  inferior  do  tronco,  subterrânea,  conjunetamenle 
com  as  raizes  principaes. 

Vrepador  (scandens).  Diz-se  o  caule  que  cresce  encostado  a(K 
corpos  visinhos,  segurando-se  por  meio  de  raizes,  gavinhas,  acu- 
leos,  etc. 

Trl-.  Três,  três  vezes.  (Antepõe-se  ás  palavras  tanto  de  origem 
grega  como  latina) :  triangular,  tricome,  trinervada,  trisperma, 
etc. — isto  é:  que  tem  Ires  ângulos,  três  pontas,  três  nervuras, 
três  sementes,  etc.  (Substitue-se  também  pelo  algarismo  3-). 

TrAennal.  Três  annos,  ou  que  dura  três  annos.  Diz-se  matwrúr 
ção  triennal  quando  decorrem  três  annos,  ou  três  cyclos  vegeta- 
tivos, entre  a  floração  e  a  maturação.    • 

Tritollada»  (trífoliata).  Dizem-se  as  folhas  compostas  que  teem 
três  foliolos. 

Vroncado  (truncatus) .  Cortado  transversalmente  na  extremidade. 

Vroneo  (truncus).  Caule  dos  vegetaes  lenhosos  Angiospermofi— 
dicotyledoneos  e  Gymnospermos:  tem  a  forma  de  um  cone  nuis 
ou  menos  engrossado  para  o  meio. 


r 


DIGGIONARIO  323 

Volieroaloso  (tuberetUatus).  Qae  tem  tubérculos  ou  pequenas 

saliências. 
Vnbo  {tubvsi).  A  parte  inferior  da  eoro//a  gamopetala  ou  do  calicê 

gamosepalo  onde  as  pétalas  ou  as  sepalas  estão  adherentes. 
Vnlralofio  {t^dmlatus,  tubulosus).  Em  forma  de  tubo. 
Varblnado  (turbinatus).  Em  forma  de  pião. 


Umliella  (umbella).  Inflorescencia  em  que  os  pedúnculos  nascem 
á  mesma  altura  e  tem  qaasi  as  mesmas  dimensões :  estes  pedún- 
culos denominam-se  raios  da  umbella.  Quando  os  raios  se  não  di- 
videm, a  umbella  dizrse  simples,  aliás  diz-se  composta:  n*este  ul- 
timo caso  os  raios  primários  formam  a  umbella  primaria  ou  uni- 
versal, e  as  sub-divisões  dos  raios  ou  raios  secundários  formam 
as  umbellas  secundarias  ou  parciaes. 

Umbeliadas  {umbellati).  Dizem-se  as  flores  dispostas  em  um- 
bella. 

Umlielliforiiie  (umbelliformis).  Semelhante  a  uma  umbella. 

CJmlilllcailo  (umbilicatus) .  Que  tem  uma  depressão :  fructo  um- 
bilicado  na  base — fructo  que  tem  na  base  uma  depressão  ou  ca- 
vidade. 

Cnlia  (unguis).  A  extremidade  inferior  da  pétala  ou  da  sepala^ 
quando  é  alongada  e  estreita. 

Uni-.  Um  (antep5e-se  ás  palavras  de  origem  latina).  Vnãabiada, 
uninervada^  unifoliada,  etc. — isto  é — que  tem  um  só  lábio,  uma 
só  nervura,  um  só  foliolo,  etc.  (Também  se  substituo  pelo  alga- 
rismo 1-). 

fJniaexaal*  Diz-se  a  flor  que  tem  só  estamos  ou  só  pistillo;  diz- 
se  a  inflorescencia  cujas  flores  teem  só  estamos  ou  só  pistillos. 


(legumen).  Fructo,  de  ordinário  alongado,  nnicarpellar  1- 
polyspermo,  dehiscente  em  duas  válvulas  pela  satura  ventral  e 
nervura  dorsal^  menos  vezes  indehiscente. 

21  # 


f 

I 

í 

I. 

I 
I 


324  DicaoNARio 

▼alvnla  (vo/tm/a).  Porção  de  mn  órgão  qae  naturalmente  se  se- 
para para  a  sua  dehiscencia:  do  pericarpo,  da  anthera,  etc. 

Ta«o0  alMrtos.  Tubos  resultantes  da  reabsorpçao  das  paredes 
limitrophes  de  uma  serie  de  cellulâs,  e  que  se  acham  dissemina- 
dos, solitários  ou  grupados,  no  meio  do  prosenchyma  fibroso. 

ITeios  {venae)  Ramificações  das  nervuras. 

TcnoMi»  (venosa).  Que  teem  veios  salientes:  falhas,  etc. 

▼errii0o«o  {vérrucatui).  Que  tem  protuberâncias  em  forma  de 
verrugas. 

ireriiclllados  (vertío/Ialt)»  Dispostos  em  verticillo:  ramos,  etc. 

irertlciUo  (verticUlus),  Conjuncto  de  partes  ou  peças  (ramos,  fo- 
lhas, flores,  etc.)  dispostas  circularmente  em  redor  de  um  eixo. 

Tlficoso  (viscidus).  Pegajoso,  gelatinoso. 

Tolovel  (volubílis).  Diz-se  o  caule  trepador  que  se  emrola  em  es- 
piral ao  redor  de  um  supporte.  A  direcção  do  enrolamento  é  con- 
stante para  cada  espécie. 


r 


índice  das  famílias  botânicas,  géneros  e  espécies  descriptas, 
e  dos  synonpos  Llnneanos  e  Broterianos 


Mota — Os  nomes  das  famílias  e  dos  géneros  estão  escriptos  em 
caracteres  normandos.  Os  géneros,  que  não  teem  indicação  de 
pagina,  são  apenas  citados  como  synonymos. 

Os  nomes  das  espécies  admittidas  estão  escriptos  nos  caracteres 
ordinários,  e  os  dos  synonjmos  em  itálico.  Os  synonymos  não  teem 
adiante  a  indicação  de  pagina;  os  números  entre  parenthesis,  que  os 
seguem,  são  os  números  de  ordem  alphabetica  correspondentes  aos 
nomes  especiíicos  admittidos,  e  por  onde  facilmente  se  achará  a  pa* 
gina  onde  vão  mencionados. 


PAG. 

Alislntlilani. 

— arborescens,Brot.  (21). 
Aeaola»l¥ 219 

1  — dealbata,  Lk 219 

2  —  Farnesiana,  W 219 

Acer.  li 237 

3  — campestre,  L 237 

4  — Monspessulanum,  L..  237 

5  —  Pseuaoplatanus,  L...  237 
Aeçrí neas,  DC 236 


PAa. 
Adenocarpafl»  DC.  213 

6 — anisochilus,  Bss....  21& 
7 — commutatus,  Guss..  214 
8 — complicatus,  Gay...  214 
9 — grandiflorus,  Bss...  214 

10  — Hispanicus,  DC 214 

11  — intermedius,  DG.. . .  215 
Aeseola»*  Ij 242 

12  ■— Hippocastanum,  L..  242 

13  — ruDiconda,  Hort 242 


326 


INBICB 


PAfl. 

Allanthiis*  Oe«r. .  224 

14  — glandolosa,  Desf. . . .  225 
Al  nas»  Toorn 67 

15  — glutinosa,  Gaertn. . .     68 
Ameia  moliler» 

Med.. 169 

16  — vulgaris,  Mnch 169 

Ampelíde  as» 

Bndl 243 

AmygdaiAeeas»  C}* 

Don 179 

Amysdalas»  li ... .  179 

17  — communis,  L 181 

V.  fragilis,  Gren. . . .  181 

V.  óssea,  Gren 181 

-^Pérsica,  L.  (195). 

Anagyris»  I4 215 

i8— foetida,  L... 215 

ApocynAceas» 

lilndl 142 

ArallAceaii»  «ioss.   151 
Ar]»atus»  Voarn. .   115 

19— Unedo,  L 115 

Ar^yroloblam* 

Eclíl 215 

20  — argenteum,  Wk. . . .  215 

Arteniisia»  li 105 

21 ' — arborescens,  L 105 

22  — coerulescens,  L 105 

23  —  crithmifolia,  L 106 

— palmata,  Lam,  (22). 

24  — paniculata,  Lam. . . .  106 
Asparayus»  li 49 

25  — acutifolius,  L 49 

26— albus,  L 49 

27  — aphyllus,  L 49 

28  —  horridus,  L 49 

Atriplex»  li 95 

29  —glauca,  L 95 

30  — Halimus,  L , . .     95 

31  — portulaeoides,  L. . . .     95 
Aoranotéleeas» 

Corp 246 

B  erlierídeaa» 
Tent 264 


FAG. 

Berlieris»  li 264 

32 —vulgaris.  L 264 

Beta  la»  Toara 64 

—alba,  L.  (33-34). 
—Alnus,  L.  (iS). 

33  — pubescens,  Ehrh 66 

34  — verrucosa,  Ehrh 66 

BetalAceas  Endl.  63 
Broossoaetla» 

Tent 90 

35  — papyrifera,  Vtnt 91 

Baplearaoi»  li. . . .  ISO 

36  — fniticosum,  L 180 

37  — verlicale,  Orteg 151 

BaxAceas»  Klo- 

tzseU 234 

Baxas»  Toara 234 

38  — sempervirens,  L 235 

Caeteftoeas.  DC ...  155 
Cactus»  li. 
—Opuntia,  L.  (188). 

V.  Tuna,  DC.  (187). 

Cailuaa»  Sallsb..  120 

39  — vulgaris,  Salisb 120 

Calycotooie»  lilc . .  208 

40  — villosa,  Lk 208 

Capparfdeaa» 

dias» 262 

Capparis»  li 263 

41  — spinosa,  L 263 

Castauea»  Toaru.  80 

42  — vulgaris,  Lam 81 

Celtídeas»  Eadl. . .  85 

Cellls»  Toara 85 

43  — australis,  L 86 

Ceratoala»  li 218 

44  — Siliqua,  L 218 

Cereis»  li 217 

45 — Siliquastrum,  L....  217 
'  Cesalpial6ceas» 

B.  Br 216 

Cliamaerops»  li. . .  50 

46— humilis,L 50 

C  li  e  a  op<»dl  Aceas» 

Iiladl 91 


índice 


327 


PAG. 

Clienopodiaiii*  Ij* 

— fruticosum,  Brot. 
(308). 

Ctotf  nea«,  DC 254 

Cisto «»  Toum ....  256 

47— albidus,  L 257 

48 — Bourgaeanus,  Coss . .  259 
— cheirnnthoideSt  Lam. 
(135.a). 

49— Clusii,Dan 259 

80  — crispns,  L 257 

(132). 

M  — hirsutus,  Lam 257 

— involucratus,  Lam, 
(134-a). 

52  —  ladaniferus,  L 258 

—  lasianthuSy  Lam. 

(i30). 

53  — laurifolms,  L 258 

— laxus,  Brot.  (51). 

— Libanotis,  L.  (133). 

54  — Monspeliensis,  L 257 

— ocymoideSy  Lam, 

(Í36). 
65  — polymorjjhus,  Wk. . .  256 

86  — populifolius,  L 258 

87  — salviaefolius,  L 258 

—  scabrostis,  >ltí.(135). 
— umbellatiis,  Brot. 

(137). 

—  verti cillatusy  Brot. 

Íl37-a). 
— villúsus,  L.  (55). 
CitrostEi 247 

88  — Aurantium,  Risso. . .   248 

V.  sanguínea 248 

89  — deciunana,  L 248 

60— Limetta,  Risso 249 

V.  Bergamia^  Risso..  249 

61  — Limonum,  Risso 249 

Y.  lumia,  Risso 249 

62— Medica,  Risso 248 

63— nobilis,Lour 248 

64  — vulgaris,  Risso 248 


PAG. 

Clematlii,  li 266 

65  — cirrhosa,  L 266 

66— Flammula,L 267 

67— Vitalba,L 267 

68 -Viticella,  L 266 

V.  campaniflora,Brol.  267 

Compostas»  I4 104 

Coníferas*  EndI .  .  33 

Corema*  O.  Oon. .  235 

69— álbum,  D.  Don 236 

Corldotliyiiias* 
Relib« 

—  cavitaluSy  Rckb. 

(327).. 

Cornafteèas*  DC. .  153 

Corniis»  li 153 

70  — sanguineá,  L 154 

Coronilla.  I4 190 

71  — Emerus,  L 191 

72— glauca,  L 191 

73  — juncea,  L 191 

Corylus*  Tourn. . .  70 

74  — Avellana,  L 71 

CrassulftceasvDC.  156 

Crataeis^us*  Ij 170 

—  Ana,  L.  (302). 

75  —  Azarolus,  L 171 

—  Bibas^  Lour.  (101). 

76  — monogyna,  Jcqu 171 

77  —  Oxyacànlha,  L .  171 

V.  fJ.  (76). 

—  torminaliSy  L.  (305). 
Cupressus* 

Toarn 37 

78  — glauca,  Lam 37 

79  — horizontalis,  Mill 37 

— Lusitnnicay  Mill. 

(-8). 

80  — sempervirens  di,  L. . .  37 
Cnpalfferas* 

Rlcn 68 

Cyiloiiia»  Toam . .  165 

81  — vulgaris,  Pers 165 

Cytlsas*  li 209 

82— albus,  Lk 210 


328 


índice 


PAG. 

— argenteui,  L.  (2(K). 
a3  — candicans,  DC. ....  209 
— complicatus,  Brot. 

(11). 

— HispantcuSy  Lam. 
(10). 

— Lahurnnm^  L,  (180) . 

84  — linifolius,  Lam 209 

85— purgans,  Wk 210 

86  —iriflorus,  L^Herit. . .  210 
Dalioeeia*  Dom. .  116 

87  — polifolia,  Don 116 

Dapline»  l4 101 

88— Gnidium,  L 102 

89  — Laureola,  L 102 

-^viUosa,  L.  (322). 
DaphneAeeas* 

Tent 101 

Empetráceaii, 

I^inill :  235 

Empefrum*  L<* 
— alhum,  L.  (69). 

Epliedra*  I4 42 

— distachya^  Brot. 
(90). 

90  — fragilis,  Desf 43 

Brica*  li 117 

91 — aragonensis,  Wk..  119 
—  arbórea^  Brot.  (92- 
96). 

92— arbórea,  L 119 

93  — australis,  L 118 

94  — ciliaris,  L 118 

95  — cinerea,  L 119 

— Daboeciay  L.  (87). 

96  — lusitanica,  Rud. ...  119 

97  — mediterrânea,  L. . .  117 

98  — scoparia,  L 118 

99— Tetralix,  L 118 

100— umbellata,L 117 

— vulgar  is  ^  L.  (39). 
Eric6eea»»l4ÍniIl.  113 
Erâobotrya» 
Undl 169 

101  *»Japonica,  Lindl 169 


Pia. 
E  o  c  aly ptn •• 

I^*Herit 160 

102  —  globulus,  Labill. ...  161 
E  a  p  liorMA.ceaa« 

B*  Br 231 

Fairns*  li. 

— castanea^  L.  (,42). 

Ficas*  Tonm ....     90 

103— Carica.  L 91 

V.  saliva 91 

V.  silvestris 91 

P  raxíneas» 
Bartl 239 

Praxinns*  Ei 239 

104  —  angustifolia,  Vahl..  240 

105  —  excelsior,  L 241 

«enlsta*  DC 195 

— Algarbiensis ,    Brot . 

(115-a). 

106  — aucisirocarpa,  DC.  198 
107— Anglira,  L 198 

108  — Barnadesii,  Grils. . .  196 

109  — berberidea,  Lge.  - .  199 

110  —  Boui-gaei,  Spach. . .  200 

111  —  Broteri,  Poir 201 

— candicans^  L.  (83). 

112  — cineraseens,  Lge.. .  200 
113 — decipieus,  SpacQ. . .  197 
114  — falcata,  Brot 199 

—  Germânica^  Brot. 
(113;. 

115 —hirsuta,  Vahl 197 

V.  AlgarvidDsis, 
Brot 197 

116  — Hispânica,  L 197 

117  — Hystrix,  Lee 199 

V.  glabra,  tge 199 

V.  villosa,  Lge 199 

118  —  leploclada,  Gay. ...  200 
^UnifoUa,  L.  (84). 

119— Lobelii,  DG 199 

120 —Lusitanica,  L 196 

121  — micrantha,  G,  Ort. .  201 
— parviflora^  Brot, 

(Hl). 


índice 


329 


PÀO. 

122  — polyanthos,  B.  de 

R5mer 200 

123— polygalaefoIia,DC..  200 

— poíygalaephylla^ 

Brot.  (iíSJ. 

124  — scorpioides,  Spaeh.  196 

126  — Scorpius,  DC 198 

126  — Toumefortii,  Spach.  198 

127  — triacanthos,  Brot. . .   196 
— tridentada,  Brot. 

'(231-232). 

128  --Welwitsehii,  Spach.  198 
«leditscliia»  Ij.  . .  217 

129  — triacanthos,  L 218 

C^oet&oeas»  Endl.     42 
C}raitat6ceas» 

Dou 161 

Hallmiitiii»  Dan.  259 

130  —  eriocephalum,  Wk.  262 

131  — fonnosum,  Wk. . . .  262 

132  — halimifolium,  Wk. .  261 

133  — Libanotis,  Lge 260 

134  —multiflorum,  Wk. .  261 

V.  microphyllum, 
Wk 261 

135  —  occidentale,  Wk. . .  262 

V.  incanum,  Wk. . .  262 

V.  rugosum,  Wk. . .  262 

136 — ocymoides,  Wk...  260 

V.  erectum,  Wk. . .  260 

V.  procumbens,  Wk.  260 

137  —  umbellatum,  Spach.  259 
V.  verticillatum, 

Wk 260 

V.  viscosum,  Wk. .  260 

Hedera*  JL 151 

138— Helix,  L 152 

Hi  ppoeast&neast 

DG 241 

Hypericíneas» 

DG 251 

Hyperleani*  li. . .  252 

139  — Androsaemum,  L. .  252 
Ilex*l4 225 

140  — Aquifolium,  L 226 


PAG. 

Illcíneas*  Bron- 


148 


^asmiiiuni* 

Toam 148 

141  — fruticans,  L 148 

142  —  grandifloram,  L. . .  149 

143  —  officinale,  L 148 

JuiPlandeas*  DC.  62 

Jairlaiis»  Ij 62 

144— nigra,  L 63 

145— regia,  L 63 

dFmilperaa»  li. . . .  38 

146  — communis,  L 40 

V.  nana,  W 40 

147  — Oxycedrus,  L 39 

V.  macrocarpa, 

Sibth 40 

*v.  umbilicata,  Godr.  40 

148  — phoenicea,  L 39 

y.  oophora,  Kze...  39 

149— sabina,  L 39 

liaMadas»  Jass. .  124 

liabarnam.Qris.  213 

150— vulgare.  Gris 213 

liaaríneas» 

auM 97 

liauraSf  li 98 

--Indica,  L.  (194). 

151— nobilis,  L 98 

liai^andala» 

Vourn 126 

152  —  latifolia,  Vill 128 

153  — multifida,  L 127 

154  —  pedunculata,  Gav. .  127 
— spicay  L.  (156). 

r.  P.  Brot.  (152). 

155  —  Stoechas,  L 127 

156— vera,  DC 128 

157- viridis,  Ait 127 

-    Iiavatera»Ii 250 

158— arbórea,  L 251 

169— Olbia,  L 251 

160— triloba,  L 251 


330 


índice 


PAG. 

Tonm 144 

161  — vulgare,  L 148 

li  I  m  o  n  i  astrimi» 

Mneli 121 

162  — moHopetalam,  Bss. .  122 
litppla^E. 123 

163  — citriodora,  Kth. . . .  123 

lionlcera*  li 109 

— caprifoliuniy  Brot. 

(164). 

164  — etrusca,  Santi 110 

165  — hispânica,  Bss.  &l 

Reut 111 

166  —  implexa,  Ait i.  110 

167  — Periclymenum,  L. .   111 
lionlcerAceas^ 

JuM 106 

liorantliaceafl^ 
Bndl 100 

liOtOII»  li. 

-^argenteuSy  Bro't. 

(20). 
Etfyelum»  li 142 

168  — europaeum,  L 142 

llalv6cea«,R.Br.  249 
Helta»  li 24K 

169  —  Azedarach,  L 245 

HellAceas*  «ln«».  244 

Mespllan.  Et 170 

— Amelanchiêr,  L. 

(16). 

170  —Germânica,  L 170 

—  Japonica,  Thunb. 

(101). 

Mieromerta^BtU.  134 

171— Graeca,  Bth 135 

172— Juliana,  Bth 135 

Mimosáceas»  H. 
Br 218 

Mimosa»  Adans. 

— Famesiana,  L.  (2). 

MoreUceastBndl.    87 

Moms»  li 88 

173— alba,  L 89 


PA6. 

V.  multicaulis,  Per- 

rot .  . , . * 

174— nigra,  L 

— papyrifera^  L.  (35). 

Myrica^li 61 

175— Fava,  Ait 61 

176— 6ale,L 61 

Myrfceai»*  Ricli..  60 
■■yrlftcea».  B.  Br.  1S7 
Hyrtn*.  Tdoni. .  1S9 

177  — comiDiuiis,  L 160 

IVertum*  li 143 

178  —  Oleander.  L 143 

OHione»  Qa^rtn. 

— poriulacoides,  Moqu. 

(31). 
Olea»  Teorii 146 

179  — Europaea,  L 146 

V.  01easler,DC....  146 

V.  sativa,  DC 146 

OleáLceau*  Eitiidl.  143 

Ononis*  Ia 192 

180 — antiquorum,  L....  193 

181  — campestris,  Koch.  á 

Zi2 192 

182  -  crispa,  L 194 

— Hispânica,  Brot. 

(184-186). 

183  —Hispânica,  L.  fil. . .  194 
184— Natrix,  L 193 

— pinguis ^  Brot. 
(184). 
185 — procurrens,  Wailr. .  193 

— v.spinosissima.Lge.  193 

— V.  vulgaris,  Lge  . .  193 
186 — Famosíssima,  Desf..  193 

— spinosa^  L,  (181). 

— V,  P,  L.  e  Brot. 
(185-a). 

Opantia#Toiini..  156 

187 —Tuna,  Mill 186 

188  —  vulgaris,  Mill 166 

Orlganvait 
Tonrn 128 

Creticumj  L.  (191-a) 


índice 


331 


PÀ6. 

489  —  Majorana,  L 128 

190  — virens,  Hoffge.  6l 

Lk !...  129 

—  vulgare,  Brot,  (190) 
491  — vulgare,  L. 

V.  prismaticum, 

Gaud 129 

Osyri»,  El 99 

192  —alba,  L 100 

193  —  lancjeolata,  Hochst. .  99 

Palmeira»,  Ei 50 

Paplllonáíceas» 

E. 186 

Passerlna»  Ij. 
—hirsuta,  L,  (322) 

—  hirsuta,  Broí.  (321) 
Peráea,  :\í 98 

194  — Indica,  Spreng 98 

Pemlea*  Tourn. .  181. 

195  —  Milgaris,  Mill 182 

P  lilllyrea» 

Voam 147 

196  — anguslifolia,  L.  .  . .  147 

197  — latifolia,  L 147 

198— media,  L 147 

Plilonilfli,  El 136 

199— Lychnitis,  L 136 

200 —purpúrea,  L 136 

Plioenlx,  Ia 51 

201  —  daetylifera,  L 51 

Pliytolacea*  Ij..  .  96 

202  —  decandra,  L 96 

Í03— dioiea,  L 96 

Pliy  tolaccAce  a  •• 

Endl 96 

Pinus»  Mpacli.. . .  34 

204  — halepensis,  Mill. . . .  36 

—  maritima,  Brot. 

(205-a). 

205  — Pinaster,  Ait. 

V.  acutisquama,  Bss.  36 

206— Pinea,  L 36 

PIstacia*  Si 223 

207  —  Lentiscus,  L 224 

208  — Terebinthns,  L. . . .  224 


PAG. 

Platanáíceaiit 

liestll» 81 

Plátanos,  li 82 

209  — occidentalis,  L 83 

210  — orientalis,  L 83 

P 1  a  m  li  ay  í  neas» 

Endl 120 

Pom  6ceai»» 

Baril 162 

Popalu«9  Toorn.  57 

211— a^a,  L 59 

—  canndensis ,  Desf. 
•     (212). 

212  — monilifera,  Ait 60 

213  — nigra,  L 60 

214  — pvramidalis,  Roz.  .  60 
215— tremula  L 59 

Praiiioni»  li 138 

216— majus,  L 138 

Prunui»,  li 182 

217  —  Armeniaca,  L 182 

218— avium,  L 184 

V.  Duracina.  DC...  184 

V.  Juliana,  DC 184 

V.  silvestris.  Ser. . .  184 

219— Cerasus,  1 184 

220  — domestica,  L 183 

221  — fruticaiis,  Weihe.. .  183 

222  — insititia,  L 183 

223  — Laurocerasus,  L. . .  185 

224  — Lusitanicus,  L 185 

225  — Mahaleb,  L 184 

226— Padus,  L 185 

227  — spinosa,  L 183 

Pteronpartunit 
Npacli 201 

228  — C  antabricum, 

Spach 202 

229  —  lasiantbum,  Spach. .  201 

230  — seolopendrium, 

Spach 202 

231  — stenopterum,  Spach.  202 

232  —  tridentatum,  Spach.  202 
Púnica.  Toam. .   161 

233-.Granatum,  L 162 


332 


IND1C£ 


PAO. 

pyrafi.  li 166 

234  — communis,  L 166 

V.  Achras,  WUr.  ..  166 

V.  Pyraster,  Wllr..  166 

V.  saliva,  DG 166 

—  Cydouia^  L.  (81). 
238— Malus,  L.. 167 

V.  hortensis 167 

V.  silvestris 167 

Quercon»  Voam.  71 

236  —  coccifera,  L.. 78 

V.  pseudo-coccifòra, 

Wbb 79 

— fruticosa^   Brot. 
(238). 

237  — hispânica,  Lam 79 

238  — hurailis,  Lam. 75 

— hybrida^   Brot. 

■(240-b). 

239  — Ilex,  L 80 

V.  Ballota,  Desf.   . .  80 

240  — lusilanica,  L 78 

V.  alpestris,  Bss. . .  75 

V.  baetica,  Wbb. . .  75 

241  — occideutalis,  Gay...  77 

242  —  pedunculata,  EBrh.  74 
— pubescens,  Brot. 

(245). 
— meemos  a,  Lam, 
(242). 

—  «uWá,L.  (242). 
— rotuniii folia ,  Lam. 

(239-a). 

243  — sessiliflora,  Salisb. .  74 

244— suber,  L 77 

245— Tozza,  Bosc 73 

B  a  n  u  ncalâceas* 

4ÍUSS 265 

Betaina*  Bsi» 194 

246  — monosperma,  Bss. .  194 

247 — sphaerocarpa,  Bss. .  194 

Bliaiiiii6ceaii*   B« 

Br 226 

Bliamnus*  Ma 229 

248  — Alaternus,  L 230 


PAG* 

— buxtfoliuSyBrot. 
(293). 

249  —  Frangula,  L.. 230 

— /oíi«,  L.  (368). 

— Lycioides,  Brot. 
(280). 

250  — oleoides,  L '230 

—  Zizypkus,  L.  (369). 
Bliodode  n  d  r  o  n* 

li 116 

251  — baeticum,  Bss.  & 

Reut 116 

Blmns*  JL 223 

252  —  Coriaria,  L 223 

Bibe»,  li 151 

253  — Grossularia,  L. 

V.  salivum,  DC 153 

Blbe«i6eeas» 

Bicli 13i 

Bicinnii,  Tonr . . .  233 

254  — communis,  L 234 

Boblnia,  JL 191 

255 — Pseudo- Acácia,  L..  192 

Bo»a«Li 172 

256  — canina,  L 174 

257  —  rubiginosa^  L 175 

258  — sempervirens,  L . . .  174 

V.  microphylla,  DC.  174 

V.  scandons,  Wk..  174 

Bonáieeait»  «iasii . .  171 

Bofunarlnuii*  li..  135 

259  —  officinalis,  L 136 

Bubas»  li 175 

260 — amoenus,    Por- 

tenschl.   177 

V.  integrifolius,  Lge.  177 

261  — caesius,  L 176 

262  — collinus,  DG 176 

263  — discolor,  Weihe  « 

Nees 177 

— fruticosus^  Brot. 
(260  -  262  -  263  - 
266-267). 

264  —  glandulosus,  Bell..   176 
265— idaeus,  L 176 


índice 


333 


PAG. 

266— thvrsoideuWimm..  177 

267  — ulinifolius,  Schott. .  177 
Hasens*  li 46 

268  —  aculeatus,  L 48 

Saltcíneast  li. . . .  51 
Sallcoriifta» 

Moqn 94 

269  — fruticosa,  L 94 

Sallx»  Tourn. ...  52 

270— alba,  L. 55 

V.  vitellina,  L 55 

271  — amygdalina,  L 54 

272  — atro-cinerea,  Brot. .  56 

273  —  babylonica,  L 54 

274— Caprea,L 56 

275  — cinerea,  L. ...... .  57 

276  — fragilis,  L 55 

— monandra,  Brot. 

(277). 

277  —purpúrea,  L 55 

278— repens,  L 278 

279  —  salvifolia,  Brot 57 

—  triandra^  Brot. 

(271). 

280  — viminaíis,  L 55 

Saliiola,  ^Míertwk, .  93 
—fruticosa,  L.  (308). 

281  — venniculata,  L. . . .  93 
SamJbaciis»  li.. . .  107 

282— nigra,  L 107 

SantalllceaSf  B* 

Br 98 

•  aro  t  li  a  m  na  0  • 

H^lnnn 210 

283  — Baeticus,  Wbb 212 

284  —  Bourgaei,  Bss . . . .  21 1 
286  —  eriocarpus,  Bss.  À 

Reut 212 

286  —  grandiflonis,  Wbb.  212 

287  — Malacitanus,  Bss.. .  213 

288  —  oxyphyllus,  Bss...  2il 

289  —  patens,  Wbb 212 

290  —  Scoparius,  Koch.. .  211 

V.    leiostyloSy 

Bourg 211 


PAG. 

291  — Welwitschii,  Bss.  & 

Reut 212 

itatareja»  Ia. 

— capitata,  L.  (327). 

—  Graeca,  L.  (171). 
Mcliliiiis,  li 221 

292— molle,  L 222 

SecarlBe^at 
avsM 232 

293  — buxifolia,  J.  MuU..  233 
ftempervlTaiiitli*  157 

294  — arboreum,  L 157 

ftlderitls,  li 137 

295  — aDgustifolia,  Lam. .   137 

296  — arborescens,  Salzm.  137 
297— hirsuta,  L 138 

--kirtuía.Brot  (298). 
298  — hyssopifolia,  L. 

V.  elongata,  Wk. . .  138 

—  linettrtfoHny  Brot. 

(295). 
Simar  áHeas* 

Enai ^ 224 

SmilAceaiif^EiicIl.    46 

Smilax,  li 48 

— áspera,  Brot.  (299). 

299 — roauritanica,  Desf..     48 

0ol  a  n  &cea  n» 

Bartl 140 

aolamun*  li 141 

300  — Dulcamara,  L 142 

V.  integrifolium 142 

301  — Sodomaeum,  L. . . .  141 
Sorl»ii(i,Ii 167 

302 —Ária,  Crtz 169 

303  — Aucuparia,  L 168 

304  —  domestica,  L 168 

305  — torminalis,  Crtz. . .  168 

•partftuiDvli 194 

"-álbum,  L.  (82). 

— grandifiorum,  Brot. 
(286). 

306  — junceum,  L 195 

— monosperfnum,L. 

(246). 


334 


índice 


PAG. 

— patena^  Brot.  i289- 

291). 
—patem,  L.  (289). 
— purgans,  L.  (85). 
— scopariutUj    L, 

(,290). 
— spliaf^rocarpum^  L. 

(247). 
— spiwoswm,  Brot, 

(40). 

Splraea*  C 178 

— crenata^  Brot,  (307). 

307  — flahellata,  Bertol.. .   178 
Ktaiiee,  ^^'illd. 

— monopetala,  L. 

(iG2). 
filuaeda»  Forftk. .  .     9i 

308  — frutic(»sa,  Forsk...     94 
Syrlnsa^Ii 144 

309  —pérsica,  L 144 

310  —  viilgaris,  L 144 

T  a  m  a  r  1  «e  í  neaSf 

mu  Hil 252 

Tamcf^lx»  Lt 253 

3H— Gallica,  L 253 

Taxínea»*  Endl..     41 

Taxaftt  l^ 42 

312— baccala,  L 42 

T  ereblntliaceas» 

aui»« 220 

Teucrlunif  Ij....  138 

313  —  aureurn,  Schreb. . .   130 

314  — capitalum,  L 140 

315  — Ghamaedrys,  L. . . .  139 

316  — frulicans,  L 139 

317  — gnaphalodes,  Vahl..  140 

318  — lusitanicum,  Lam. .  139 
—  Nissolianum,  L. 

(320). 

319  — Polium,  L 140 

320  — Pseudochamaepi- 

tys,  L 139 

T  li  y  m  e  laeat 
Tonrn •  103 

321  — corídifolia,  Endl. .  •  103 


PA6. 

322 —hirsuta,  Endl 103 

323 -viUosa,  Endl 103 

Tbymn»,  Ia 129 

324  — albicans,  HofTgg.  éc 

Lk 133 

325  — algarbiensis,  Lge. . .  132 

326  — caespiíitius,  Brot. . .   132 

327  — eapiutas,  HoíTgg.  & 

Lk 134 

328  — capitellalus,  Hoffgg. 

&Lk 133 

329  — carnosus,  Bss 133 

330  — cephalotus,  L 134 

331  — Ghamaedrys,  Fries. 

V.  glabratus,  Lge.  132 
—  Creticus,  Brot. 

(327).     . 
— glabratus,  Brot. 

(331-a). 

332  — Mastichina,  L. . . .     130 
— tnicranthHS,  Brot. 

(171). 

333  — Serpyllum,  L 132 

334  — silvestris,  Hoffgg.  ól 

Lk 131 

335  — tomentosus,  W 130 

336  — villosus,  L 134 

V.  lobala,  Vog 134 

y.  lusitanica,  Bss..  134 

337  —  vQlgaris,  L -. . .  130 

338  —  Welwitschii,  Bss. . .  133 
— Zyw,  Brot.  (334). 

.339-Zygis,  L 131 

— Zygis-variabtlis, 

Brot.  (333). 
Ulex,  li 202 

340  —  aphyllus,  Lk 204 

341  —argênteas,  Welw. .  208 

342  — australis,  Ciem 207 

343  —densas,  Welw 206 

344  — erinaceas,  Welw. . .  208 
346  —  Escayracii,  Wbb.. .  204 
346  — earopaeas,  L 205 

— Y.  latebracteatDs, 
Mariz 206 


índice 


335 


— V.  strictus,  Wbb. .  • 

— genistoides,  Brot. 

(340-355). 

347  — ianthocladus,  Wbb. 

348  —  Jussiaei,  Wbb 

349— luridus,  Wbb...:. 
350 — Lusitanicus,  Mariz. 

351  — raicranthus,  Lge. . . 

352  — nanus,  Forst 

— V.  Lusitanicus,  Wbb. 

353  — opistbolepis,  Wbb. . 

354  — scaber,  Kze 

355  — spartioides,  Wbb. . . 
—V.  Willkommii, 

Wbb 

356  — speclabilis,  Wbb. . . 

357  — Vaillanti,  Wbb.... 
358 — Webbianus,  Coss.. 
359  — Welwitschianus, 

Planch  

360— Willkommi,Wbb.. 
Ulmiáíceas»  llirl». 
Ulmiis»  li 


PAG. 

205 


208 
206 
204 
207 
207 
205 
206 
205 
206 
204 

204 
203 
205 
204 

207 

207 

83 

84 


PAG. 

361  — campestris,  Sm. ...  85 
— V.  suberosa,  Koch. .  85 
tJiiiliellireras» 

JuM 149 

VacGiiil6cea«» 

DC 112 

VaecAnlaiiit  li. . . .   112 

362  — MyrtiUus,  L 113 

Terben&eeas* 

Ja«s 122 

Vlbnrnani»  li. . . .  109 

363— Opulus,  L 109 

364— Tinus,L 109 

Tiseuni»  Toarn . .  100 

365  — crucialum,  Sieb. . .  101 
Tltex.li 123 

366  — Agnus-castus.  L. . .  123 
Titlstli 243 

367  —  vinifera,  L..' 243 

Zlsypnatt»  Ja«8 . .  227 

368— lótus,  Lara 229 

369  —  vulgaris,  Lam 228 


índice  dos  nomes  vulgares  portngnezes 
das  espécies  descriptas 


PAG. 

Abrotaoo  macho 106 

Abrunheiro  bravo 183 

— manso 183 

Acácia 219 

— bastarda 192 

Açufeifa 227 

— maior 228 

—  menor 229 

Adelpheira 110 

Aderno 147 

—bastardo 230 

Agno-casto 123 

Agreira 80 

Ailantho 225 

Albricoqueiro 182 

Alcaparra 203 

Alecrim 130 

Alegra-campo 48 

Alemo  ordinário 59 

— alvar 59 

— branco 59 

— dltalia 00 

— Lybico 59 

— negro 00 

— pyramidal 00 

Alfarrobeira 218 

c.  s.-— V.  n. 


PAG. 

Alfazema 128 

Alfenlieiro 145 

Amargoseira 245 

Ameixieira  brava 183 

— mansa 183 

Amendoeira 180 

— durazia 181 

— mollar 182 

Amieiro 08 

—  negro 230 

Amoreira 88 

— branca 89 

—  do  papel 90 

—  multicaule 89 

— negra 89 

Anafega  maior ^. . .  228 

— menor 229 

Anagyris  fedegosa 215 

Androsemo 252 

Arando 113 

Aroeira 224 

Arvore  da  castidade 123 

Avelleira 71 

Azarola 171 

Azaroleira 171 

Azereiro 185 

22 


338 


índice 


PAG. 

Azereiro  dos  damnados  . . .  185 

Azevinho 226 

Azinheira 80 

—  da  bolota  doce 80 

BaToreira 91 

Bella  sombra 96 

Berberis 264 

Bergamotta 249 

Bordo 237 

— conunum 237 

Buxo  arbóreo 235 

Camarinha 236 

Camarinheira 236 

Carqueja 201-202 

Carrapateiro 234 

Carrasco 78 

Carrasqueiro 78 

Carvalhiça 75 

Carvalho 71 

— alvarinho 74 

— anão 75 

— cerquinho 75 

— commum 74 

— negral 73 

— pardo  da  Beira 73 

— portuguez 75 

—roble 74 

Cássia  branca  de  Virgilio . .  100 

Castanheiro 81 

—  da  índia 242 

Cedro  bastardo 37 

— de  Hespanha 39 

— do  Bussaco 37 

Cerdeira 184 

Cerejeira • .  184 

— das  cerejas  pretas. . . .  184 
— das  cerejas  pretas  miú- 
das   184 

Choupo 57 

— branco 59 

—  dltalia 60 

— do  Canadá 60 

— negro. 60 

— ordinário 60 

— pyramidal 60 


PAG. 


Choupo  tremedor 

Cidreira .,  248 

Codeço 213 

—alto 214 

—bastardo 213 

—  rasteiro  . . .  • 215 

Conteira 245 

Cornalheira 224 

Coruicabra 43 

Cornoçodinho 168 

Corruda  maior i9 

— menor 49 

Cypreste 37 

Damasqueiro 182 

Doceamarga 142 

Dulcamara 142 

Ervodo 115 

Espargo 49 

— menor 49 

— silvestre 49 

— silvestre  maior 49 

Espinheiro  alvar  bastardo. .  142 
— alvar  de  casca  verde  .  171 

— da  Virgínia 218 

— negro 230 

Esponjeira 1 .  219 

Esteva 258 

Estevão 258 

Eucalypto 161 

Faya  branca 59 

— das  nhãs 61 

— preta 59 

Figueu*a ^ 90 

— cultivada 91 

— da  índia 166 

— de  tocar 91 

— do  Inferno 234 

— mansa 91 

— silvestre 91 

Folhado 109 

Framboesa 176 

Frangula 230 

Freixo 239-241 

Giesta 194-195-210 

Giesteira 194-195-210 


índice 


339 


PAG. 

Giesteira  branca 210 

— das  sebes 212 

— das  serras 212 

— dos  jardins 195 

— ordinária 195 

Giestó 148 

Giibarbeira 48 

Gingeira 184 

Grosolheir 155 

Hedera 152 

Hera ..•  152 

Herva  dos  cachos  da  índia.     96 

— dos  vasculhos 48 

— lombrigueira 106 

— ursa 134 

Hyssopo 135 

Jasmineiro 148 

—de  Itália 149 

— do  monte 148 

— gallego. 148 

Joina  dos  matos 193 

Laburno  dos  Alpes 213 

Laranjeira 248 

—azeda 248 

—de  Malta 248 

— de  sangue 248 

Lauréola  macha 102 

Legação 48 

Leniísco  verdadeiro 224 

—bastardo 147 

LiláZ 1'í'ir 

Limeira -'íí^ 

Limoeiro 249 

—doce 249 

Lodão  bastardo. 86 

—  verdadeiro 229 

Loendro 143 

Loireiro-cerejeira 185 

—  ordinário 98 

—real 98-185 

Lpiro-cerejo 185 

Losna  menor : .  •  105 

— do  Algarve 105 

Lucia-Lima 123 

Maceira  brava 167 


PAG. 

Maceira  cultivada. 167 

— da  anafega  maior 228 

— mansa 167 

Madorneira 106 

Madresilva 109 

— das  boticas 111 

Mammona 234 

Mangerona , 128 

Marioila 136 

Marmeleiro 165 

Medronheiro 115 

Melia..... 245 

Mezeréo  menor 102 

Mosqueiro 85 

Mostageiro 169 

Murta 160 

Nespereira 170 

— do  Japão 169 

Nigrilho 85 

Nogueira 63 

— preta 63 

Novellos 109 

Olaia 217 

Oliveira ,...:..  146 

Ouregão' 128 

— longal 129 

— menor 129 

—  ordinário 129 

Oxycedro .  .• 39 

Pado. 186 

Palmeira  anã 50 

—  da  egreja 51 

—  das  vassouras 50 

Pecegueiro 182 

Pereira  brava 166 

—  cultivada 166 

—mansa T .  166 

Phytolacca 96 

Pica-folha 226 

Pimenteira  bastarda 222 

Pimenteiro  silvestre 123 

Pinheiro 34 

— bravo 36 

— d'Alepo 36 

— de  Jerusalém 36 

22# 


340 


IXDICE 


PAG. 

Piniieiro  dos  pinhões  mol la- 
res    269 

—  manso •  3(5 

— ne^To 3() 

Piorno 194 

—  aniarello 19i 

—  branco 195 

— dos  tintureiros 2(M) 

Pirliteiro 171 

Plátano •  •  •  •. ^- 

—  bastardo ' 237 

—  do  Occidente 83 

—  do  Oriente 83 

Polio  montano 1 40 

Resla-boi 1...  193 

Rhododendron  . .  • 116 

Riciílo 234 

Roble 74 

Romeira 162 

Rosa  de  cão 174 

— de  Gueldres 109 

Roseira  brava 174-175 

Roselha  grande 257 

Rosmaninho 127 

— verde 127 

Sabina 39 

— da  praia 39 

Sabugueiro 107 

— d'agua 109 

Saião 157 

Salgadeira 95 

Salgueiro 52 

— branco 55 

— chorão 54 

— frágil 55 

— fr^ncez 55 

— ordinário 55 

— preto 56 

—  rasteiante 278 

Salsaparrilha  do  reino  ....  48 

Salva  brava 136 

Samóco 61 

Sanguinho  bastardo 229 

— d'agua 230 

— dâs  sebes 230 


Sanguiniio  legitimo 

Sarça 176 

Sargaça  

Senna  do  reino 

Serpâo  

— do  monte 

Sevadilha 

Silva 176 

—  macha 

Sipó  do  reino 

Sobreiro 

Sobro 

Soda 

Sorveira 

Suniagre 

Sycomoro  bastardo 

Tamareira 

Tamargueira 

Tamariz 

Tamujo 

Tangerineira 

Teixo 

Terebintho 

Teucrio  capitoso 

Tintureira 

Tojo 

—  chamusco 

—  da  charneca 

—  gadanho 

— mollar 

Tomilho 

—  alvadio 

— cabeçudo  

— carnoso  

— de  Creta 

— 'Ordinário 

— pelludo 

Toranja 

Torga  ordinária 

Tonnentelo 

Tramazeira 

Trovisco 

— alvar 

— fêmea 

-r-ordinario 


PAG. 

154 

•1// 

261 

191 

132 

132 

143 

-177 

174 

267 

77 

// 

93 
108 
223 
24,') 

SI 
253 


233 
248 

42 
224 
14U 

96 
2(12 
204 

m 

199 
196 
129 
133 
134 
133 
134 
13(1 
134 
248 
12U 
132 
168 
lUl 
103 
102 
102 


índice 


34  i 


PAG. 

Ulmeiro 85 

Ulmo 85 

Unha-gatâ 193 

Uzre 1Í7-120 

— das  vassom^as 118 

— ordinária 120 

Uva  de  cão 142 

Uva-espim 264 

Valverae  dos  sapaes 94 

Vide  branca 267 

Videira 243 

Vidoeiro 6(5 


PAG. 

Vimeiro  do  norte 55 

— francez 55 

Vimeiro  ordinário 55 

Visco 101 

Xára 258 

Zambujeiro ^ .  146 

— branco 146 

Zambuio 146 

ZéJha 237 

Zimbro 38 

—  commum * . . . .  40 

— rasteiro 41 


índice  geral  das  matérias  contidas  n'este  tomo  II 


PAG. 

Prologo % I                    '  ' 

Nomes  dos  auctores  citados,  e  as  abreviaturas  empregadas. . .  nc 

Livros  consoltados .' .  •  x 

Modo  de  trabalhar  com  as  chaves  dichotomicas xm  * 

Chave  dichotomica  para  a  determinação  das  familias xix 

Eslioço  lie  uma  0ora  lenliosa  portagiiesa.  • .  •  33 

Divisão  I. — fiymnospermas ' 33 

Classe  I. — Gymnospermas 33 

Divisão  n. — Angiospermas ^ 45 

•Classe  11. — Monocotyledoneas : 45 

Classe  in. — Dicotyledoneas 51 

Sub-classe  I. — Apetalas 51 

Sub-classe  n. — Gamopetalas 104 

Sub-classe  Dl. — Dialypetalas 149 

A. — Calicifloras 149 

B.— Thalamifloras 231 

Appendlce ^ 269 

(Pag.  36). — O  pinheiro  dos  pinhões  moUares 269 

(Pag.  53).— Género  Sdix , 274 

(Pag.  65  e  66) .— O  vidoeiro 287 


344 


INBIGE 


PAG. 

(Pag.  81).— o  castanheiro 287 

(Pag.  101). — O  Viscum  cruciatum,  Sieb 292 

Oiccionarto  da«  pala^vras  teclmicas  empre- 
gadas  293 

índice  das  familias  botânicas,  géneros  e  espécies  descríptas,  e 

dos  synonymos  Linneanos  e  Broterianos. 32o 

índice  dos  nomes  vulgares  portuguezes  das  espécies  descriptas.  337 
índice  geral  das  matérias  doeste  volume 343 


ERRATAS 


Nota, — Apenas  vão  notados  os  erros  d*onde  resulta  alteração  no 
sentido  do  texto.  Para  os  outros  pede-se  a  benevolên- 
cia do  leitor. 


Pag.  49 — linh.  2 — onde  se  lé— o  rhizoma  da  espécie  indígena  — 

leia-se — a  raiz  da  espécie  indígena. 
Pag.  49— ultima  linh. —onde  se  lé— Fi.  em  setembro,  ^íc— leia-se 

— Fl.  em  setembro.  Estremadura,  etc. 
Pag.  55— linh.  19  onde  selé^Estames vermelhos, monadelphos— 

leia-se — Antheras  vermelhas,  estames  monadelphos. 
Pag.  88— Na  explicação  dafig.  i5— onde  sele— í':  Inflorescencia 

feminina  da  Broussonetia  papyrifera — leia-se —  Capitulo 

fructifero  da  Broussonetia  papyrifera. 
Pag.  92— Na  explicação  da  fig.  16— onde  se  lô— £:  Ramo  flori- 

fero  da  Salsola  vermiculata — leia-se — Ramo  fructifero  da 

ScUsda  vermiculata. 
Pag.  93— linh.  30— onde  se  \é— Pequeno  arbusto  muito  folhoso^ 

leia-se — Pequeno  arbusto  muito  ramoso. 
Pag.  104 — linh.  18— onde  se  lé— envolve  o  avario — leia-se— en- 

volve  o  estylete. 
Pag.  108— Na  explicação  da  fig.  20— onde  selo— 2>:  uma  folha 

(2:1)— leia-se— D:  uma  folha  (1:2). 
Pag.  169— linh.  10— onde  se  lô— cowo  o  Cravo  (botões . . .  —leia- 
se — como  o  Cravo  (botões  floriferos. . . 


346  ERRATAS 

Pag.  184 — linh.  H — onda  se  lô — na  bctse  do  linho — leia-se — na 
base  do  limbo. 

Pag.  204— lioh.  12— onde  se  lô — Beira  (Pinhal  de  Leiria) — leia- 
se — Estremadura  (Pinhal  de  Leiria), 

Pag,  210 — linh.  21 — onde  se  lé — C.purgans,  Lk. — leia-se — C. 
,Purgans,  Wk. 

Pag.  284 — linh.  23 — onde  se  lô — (o  máximo  3  tezes — leia-se — 
(o  máximo  3-4  vezes. 

Pag.  310 — ultima  linh. — onde  se  lô — flores  femininas — leia-se — 
flores  masculinas. 

Pag.  316 — linh.  18 — onde  se  lô — pelos  estames — leia-se — pelos 
filetes. 


i 


3  2044  102  817  541 


i