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196Z
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-r-e-c-r?
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CURSO DE SILVIGULTUM
1
UB80 DE SILVICOLTURÍ
POR
jy^ONIO XAVIERiERlM COUTINHO
Lente do Instituto Geral de Agricultura^
8odo eorrespondente da Academia Real das Sciencias^ etc
TOMO I
BOTÂNICA FLORESTAL
Organisa^ao e modo de yida das plantas lenbosas.— Climatologia.
--Agrologia.— Essências florestaes
LISBOA
POI OBDEI E Rá TTmtlPHll DA iClBUU IKAL DAS SOBKCUS
1^6
b:
AO LEITOR
 obra» cuja publicação encetamos com este primeiro
Yolnme, resulta da coordenação dos apontamentos das
fiossas lições no Instituto Geral de Agricultura.
A cadeira de silvicultura do Instituto foi por nós inau-
gurada em 1882; até ahi» as matérias que a formam
hoje estavam fragmentadas por outras cadeiras, onde
tinham pequeno desenvolvimento.
Eutrado ainda ha tão pouco tempo n'uma phase mais
regular, e mais homogénea, não admira que este curso
tenha sido incompleto* mal esboçado e indeciso em mui-
tos pontos. Um curso de applicação como este, que para
ser útil deve ser pratico, só com o tempo se completa;
imda-se, e transforma-se, e aperfeiçoa-se successiva-
mente, á medida que vão apparecendo novos trabalhos,
novos materiaes.
Esta publicação é decerto prematura; se nos abalan-
çamos a encetal-a, desde já, é porque dos convencemos
que assim facilitaremos muito o estudo aos nossos alum-
nos» que não dispOem do tempo necessário para consul-
tar os numerosos livros, onde se encontra dispersa a
matéria vastíssima do programma da cadeira; mas, in-
sistimos em que esta nossa obra é apenas uma primeira
tentativa, uma base para trabalhos ulteriores mais com-
pletos.
Gingindo-nos ao programma approvado pelo conse-
lho escolar do Instituto, procurámos reunir, dos livros
nacionaes e estrangeiros, tudo quanto nos pareceu mais
conveniente, juntando-Ihe o pouco que temos visto no
paiz» 6 dando ao conjunto a precisa ligagão. Para não
alongar o texto com citações, repetidas a cada passo,
s^^resentamos, no fim de cada livro, a lista dos au-
ctores a que nos soccorremos, e onde essas matérias se
podem encontrar, tratadas com maior detalhe e profi-
ciência.
Lisboa, 26 de março de i886.
António Xavisr Pereuu Coutinho.
CURSO DE SILVICULTURA
INTRODUGÇÂO
A silvicultura tem por objecto a exploração mais útil
das florestas.
Denominam-se florestasj ou matas, a reunião de ve-
getaes lenhosos de grande porte, da mesma ou de diffe-
rentes essências^ e que não estão sujeitos da parte do
homem a cuidados individuaes de tratamento.
A palavra essência, em cultura florestal, é synonima
de espécie botânica.
A silvicultura distingue- se da arboricultura, que tam-
bém explora os vegetaes lenhosos, principalmente pela
intensidade na exploração. Emquanto a primeira, como
dissemos, só applica, em regra, o seu tratamento aos
grupos de arvores, ao massiço, a ultima emprega, para
cada individuo vegetal, cuidados especiaes, como a poda,
a limpeza, a enxertia, etc. A esta dífferença accresce,
para o nosso paiz, como para os outros paizes da Eu-
ropa, a diversidade dos productos, que uma e outra se
propõe obter: a silvicultura considera como producto
G. 8. 1
II
principal os lenhos e as cascas, emquanto a arboricvl^
turci explora sobrelado as arvores de fructo e de orna-
mento, tendo sempre as madeiras e as cascas como pro-
duetos muito secundários. Todavia os limites entre as
duas explorações nem sempre apparecem tão accentua-
dos, que não se encontrem verdadeiras transições; como
tal pode quasi ser considerada a cultura dos montados
na região do Alemtejo.
Nos diversos paizes da Europa a silvicultura occupa
um togar mais ou menos importante, conforme as con-
dições especiaes de cada um.
O clima quente e secco, pobre em chuvas estivaes,
de uma grande parte de Portugal, é mais apropriado â
exploração das plantas lenhosas do que das plantas her*
baceas. Por outro lado, a posição geographica e o relevo
accidentado do nosso território exigem grande revesti-
mento florestal, para defender uma linha tão desenvol-
vida de costa marítima contra a invasão das areias,
para impedir o desnudamento dos declives das monta-
nhas, e regularisar os cursos de agua, que d'ahi se des-
penham.
E certo que o nosso meio económico, sobretudo a
forma por que se constitue e divide hoje a propriedade
em Portugal, adapta-se mais ao desenvolvimento da ar-
boricultura do que da silvicultura^ e imprime uma fei-
ção caracteristica a esta ultima pela fragmentação dos
roassiços florestaes, com todas as suas consequências.
Mas aos governos incumbe intervir, n'estas circumstan-
cias, como acontece em todos os paizes, onde as flores-
tas teem a satisfazer uma necessidade qualquer, collo-
m
cadas em pontos prefixos e sujeitas a tratamentos espe-
cíaes, desde que a propriedade particular não é compa-
tível com a sua creação ou conservação.
O estudo da silvicultura constitue hoje uma sciencia
perfeitamente definida, que se acha muito adiantada em
alguns paizes da Europa, talvez mesmo mais adiantada,
em muitas coisas, do que a agricultura propriamente
dita. Este estudo joga com um grande numero de co-
nhecimentos e abrange um campo de applícação mui-
tissimo vasto, apresentando, como o estudo de todas as
industrias humanas, duas faces distinctas: uma technica,
00 cultural n'este caso, que ensina os processos de tra-
tamento para obter e conservar as florestas, que consi-
dera as arvores em si, nas suas relações, vida e neces-
sidades; outra económica, que diz respeito â mais útil
exploração.
A cadeira de silvicultura do Instituto está collocada
no 3.^ anno do curso; os alumiios chegam, por isso, já
habilitados com os conhecimentos necessários, em scien-
cias naturaes, physicas^ económicas e mathematicas, para
a sua comprehensão. Por este motivo não temos de en-
trar em generalidades, que vem já sabidas, e apenas, a
titulo de recordação, tocamos um ou outro d^esses pon-
tos, quando o julgamos mais conveniente para o melhor
entendimento e ligação do que temos a dizer.
Dividimos o nosso curso nas seguintes partes :
1/ Botânica Florestal — Gomprehendendo as applicações
da botânica geral á organisação e modo de vida das
essências florestaes; as distincçOes botânicas entre
1*
IV
estas essências para a sua individualisaçao; a distri-
buição das diversas arvores, e as suas relaçOes com
o exterior, isto é — a climatologia e a agrologia flo-
restal.
2.* Cultura Florestal — Regras geraes para a creaçãoe tra-
tamento das florestas; applicações subsequentes ás
nossas principaes essências.
3.* Dendrometrla — Determinação da massa lenhosa, e das
leis do crescimento, n'uma arvore e n um grupo de
arvores.
.4.* Ordenamento — Escolha e regularisação da exploração,
por forma a obter um producto annual tão constante,
e tão vantajoso, quanto possível.
6.' Artes Florestaes — Estudo dos productosflorestaes con-
siderados em si, nas suas propriedades e nas suas
transformações, que se executam na floresta, ou an-
nexas á floresta.
6/ Economia Florestal — Estudo económico da producção
florestal, considerada não só em relação aos interes-
ses do proprietário, como do paiz em geral.
PARTE I
BOTÂNICA FLORESTAL
UVRO I
Organisaç&o e modo de Tida das plantas lenbosas
Plantas herbáceas e lenhosas. — Os vegetaes podem di-
iddir-se, qnanto á consistência e duração dos sens caules,
em dois agrupamentos — herbáceos e lenhosos.
Vegetaes herbáceos são aquelles cujos caules ficam sem-
pre tenros, succosos, com pequena consistência, e (conside-
rados no todo, ou pelo menos na parte externa ao terreno)
fructificam apenas uma vez : quer n'um único período ve-
getativo a planta germine, se desenvolva e fructifique, mor-
rendo em seguida (plantas annuaes): quer a raiz persista
dois annos, desenvolvendo o caule e fructificando no se-
gando, á custa dos materiaes em reserva, accumulados pe-
las folhas durante o primeiro anno (plantas biennms): quer
permaneçam na terra, mais de dois annos, porções d'um
mesmo individuo (raizes, rhizomas, tubérculos ou bolbos),
emittindo cada anno caules novos fructiferos, que morrem
em seguida (plantas vivazes).
Dizem-se lenhosos, em opposição aos d'este grupo, os
vegetaes cujos caules se apresentam rígidos, consistentes»,
por terem fortemente espessas, duras, modificadas de di-
versas maneiras, as paredes de muitas das cellulas con-
stituitivas. N'estes vegetaes a vida continua na parte aeria
— no caule e suas ramificações — durante um período va-
riável, que pode abranger muitos annos, ou séculos até, e
o phenomeno da fructificação repete-se por muitas vezes
sobre o mesmo caule.
Classificação dos vegetaes lenhosos segundo o seu porte.
— Os vegetaes lenhosos indígenas pertencem todos, a bem
dizer, á classe das Angiospermas-dícotyledoneas ou á classe
das Gymnospermas. As Angiospermas-monocotyledoneas
expontâneas sao plantas herbáceas, exceptuando cinco oa
seis espécies, de pequenas dimensões e sem nenhuma im-
portância, nos géneros Asparagus, Smilax, Ruscus, e exce-
ptuando a palmeira anã (Chamaerops humilis, L.), peculiar
ao Uttoral algarvio. Por esta razão, no presente livro, ape-
nas estudaremos a organisação e o modo de vida das plan-
tas pertencentes ás duas ciasses primeiro citadas. Tudo
quanto vamos dizer a ellas se refere.
Os vegetaes lenhosos costumam classificar-se pratica-
mente em três grupos, segmido as dimensões que apre-
sentam, a altura do caule onde teem implantados os pri-
meiros ramos, a forma dos botões e a época em que elles
apparecem — arvores^ arbustos e sub-arbustos.
A arvare tem uma altura não inferior a 8°* ou 10"^, e o
tronco de ordinário nu, despido de ramos inferiormente
um grande espaço: taes são os carvalhos, o castanheiro,
os pinheiros, os choupos, etc. O arbusto apresenta meno-
res dimensões, vae de 1™ a 5°^, poucas vezes mais alto, e
tem habitualmente o eixo principal vestido de ramos até
abaixo : como o aderno, os sanguinhos, o alfenheiro, o len-
tisco, o sabugueiro, etc. O sub-arbusto raras vezes excede
a 1°, é ramoso desde o solo, e só na base é lenhoso: taes
^0 o rosmaninho, a alfazema, algumas urzes, etc. Além
r
ffisto as arvores e os arbustos indígenas teem quasi sempre
botões escamosos, onde hibernam os esboços dos sens re-
bentos, emqaanto estes botões nao existem na maior parte
dos sub-arbustos.
A classificação das plantas relativamente á sua duração,
porte, e consistência dos tecidos, tem uma grande impor-
tância pratica em silvicultura: d'ahi dimana o aproveita-
mento de certas espécies, com exclusão de outras. Toda-
via é bom não esquecer que uma tal classificação não as-
senta em base nenhuma scientifica, e apenas é verdadeira
cm relação a um determinado logar. A mesma espécie ve-
getal, modificada pelos diflferentes climas, pode ser herbá-
cea ou lenhosa, e apresentar variações enormes no porte;
o rícino ou carrapateiro (Ricintis communis, L.) é expontâ-
neo na America, na região quente, mas cultiva-se hoje
n'mna grande área, onde, em muitos pontos, se encontra
já sub-expontaneo ; nos logares mais quentes d*este seu
vasto habitat é arborescente ou arbustivo, e nos logares
menos aquecidos fica herbáceo, annual ou bíennal ; na Africa
e no sul do nosso paiz tem a primeira d'aquellas estructu-
ras, e adquire a segunda na França, ou entre nós no Alto
Traz-os-Montes (Bragança).
Órgãos dos vegetaes lenhosos. — As plantas lenhosas, co-
mo sabemos, são constituídas por cellulas que apresentam
entre si, quando novas, grandes semelhanças, mas que ad-
quirem formas muito diversas no seu desenvolvimento ul-
terior, segundo o fim a que se adaptam e especialisam.
Seja qual for a sua forma, estas cellulas podem revestir
dois modos de ser muito difierentes — podem estar vivas
ou mortas: só as primeiras são susceptíveis de crescimen-
to, só eUas formam os -princípios immediatos necessários á
organisação vegetal, e só ellas podem reproduzir-se, isto
kj originar outras cellulas, contribuindo assim para o des-
envolvimento do individuo a que pertencem; as segundas, as
cellulas mortas, perderam o protoplasma, tornaram-se in-
1
8
capazes de crescimento, não podem reprodozir-se^ nem
constituir novos princípios immediatos. Estas cellulas mor-
tas apresentam geralmente a parede cellulosica primitiva
muito modificada, e desempenham então um simples papel
mechanico: taes sao as cellulas suberificadas, que servem
de protecção externa ás cellulas vivas; taes são as fibras
do lenho, que dão a rigidez e a flexibilidade aos diversos
órgãos, e pelo seu grande poder de imbibição conduzem
rapidamente a agua, etc.
Um conjuncto de cellulas idênticas, que obedecem á mes-
ma lei de desenvolvimento, constitue um tecido. As diver-
sas partes da planta, dotadas de formas differentes e ap-
propriadas a funcções physiologicas especiaes, denominam-
se órgãos. Vamos passar em revista os órgãos dos vegetaes
lenhosos, considerando-os sob o ponto de vista que nos diz
respeito.
1.»— RAIZ
A raiz é o órgão destinado a immobilisar a planta e a
absorver, do meio onde se desenvolve, as substancias ahi
existentes, necessárias para a organisação vegetal.
A raiz distingue-se do caule, além de outros caracteres
anatómicos, em não ter folhas nunca, e em apresentar o
cone de vegetação (ou ponto constituído pelo tecido gerador,
por onde se realisa o crescimento terminal) coberto por
um invólucro protector fpileorhizaj (fig. 1 Cj p), emquanto
o cone de vegetação do caule é nu. Aquelle invólucro, sem-
pre de consistência mais resistente que os tecidos deUca-
dos geradores, livra-os dos choques e attritos, e regene-
rasse internamente á medida que se gasta e esfolia exter-
namente.
Nas espécies lenhosas indígenas a raiz desenvolve-se na
terra e, em linguagem vulgar, raiz é toda a parte subter-
rânea dos mesmos vegetaes. A hera (Hedera Helix, L.) ain-
9
da está íDClDÍda n'esta definiçlio: a sua raiz normal, a raiz
por oode se alimenta, impianta-se no solo; as raizes aàven-
tíciús, qne lhe apparecem ao longo do caule sarmentoso, ser-
Tem para o erguer, porque é muito débil para se levantar
sem esse auxilio — embora possam contribuir também para
a notrição quando se fixam no solo.
Hg. 1. Corte iongitadinal d'nma radicula do amieiro (i4IniM glutinota
GariD.): e, cone vegetativo: p, piUorkisa: a, o, pellot radkaei (20:1)
(segando Schaeht)
Raix normal e raizes adventícias. — No acto da germina-
rão das sementes a radicula é o primeiro órgão que appa-
rece. Nas nossas plantas lenhosas esta radicula adquire um
desenvolvimento ulterior muito diverso, variável com a es-
pécie vegetal e com as qualidades do terreno, e fica sendo
o eixo da rami&ca(^o subterrânea.
Os primeiros indícios externos da ramificação apresen-
tam-se como pequenas proloberaneias semi-esphericas na
superfície da radicula. Estas protuberâncias engrossam pou-
co a pouco; a casca levantada por ellas cede emfim, no
senUdo da menor resistência, e fende-se; os dois lábios da
pequena ferida afastam-se, e dão passagem a um cyllndro
".1
10
esbranquiçado» qae se alonga e forma, com o tempo, mna
nova radicula. Este eixo secundário pode ramificar-se por
sua vez, e assim seguidamente, como no eixo primário, ou
em qualquer outro, podem apparecer novas ramificações,
inferiormente ás primeiras. As raizes lateraes sSopois, em
regra, tanto mais novas quanto mais afastadas do coUo.
Dà-se o nome de coUo da raiz ao circulo divisório que se
imagine traçado limitando a raiz e o caule. Este circulo tem
limites prefixos, como a anatomia vegetal ensina, mas em
linguagem florestal é um pouco indeterminado, e suppõe-
se estar ao nivel do solo.
A radicula primordial, desenvolvida e transformada no
eixo da ramificação subterrânea, chama-se vulgarmente
raiz mestra ou gavião. O systema ramificado, que deriva
da radicula primitiva, constitue a raiz normal; em opposi-
çao a esta denominam-se raizes adventioias as que appare-
cem n'uma qualquer parte indeterminada da planta.
Adaptação das ramificações da raiz. — Nas raizes das
plantas lenhosas, quando já passaram o primeiro período
do desenvolvimento, ha sempre a notar ramificações gros-
sas, com uma grande parte das cellulas mortas e lenhifei-
tas (de ordinário tanto mais lenhosas e grossas quanto mais
próximas do tronco), e ramificações tenras, succosas, col-
locadas quasi sempre em maior abundância nas extremida-
des. O conjuncto das ramificações lenhosas constitue prin-
cipalmente o apparelho fixador; o conjuncto das radiculas
tenras denomina-se cabellame, e ellas exclusivamente repre-
sentam o papel de orgaos subterrâneos da nutrição.
A raiz como apparelho de nutrição. — Consideremos iso-
ladamente uma doestas radiculas. A assentada externa da
casca, que se dififerença da epiderme do caule, entre outros
caracteres, em não ter estornas, apresenta, a partir do ex-
tremo onde existe a ptfeorAíza, uma superficie perfeitamente
unida, depois uma parte cujas cellulas teem, muitas vezes,
a membrana prolongada em pellos, quasi sempre simples
I*f
11
e anicellulares (íig. l a^ a), segaindo-se-lhe uma outra re-
guio menos liza e de ordinário mais escura.
A parte intermédia, onde apparecem os pelios radicaes,
é qae foncciona como orgao de nutrição; atravez as suas
cellolas passam, por endosmose, os gazes e a agua do ter-
reno, levando esta dissolvidos os principios mineraes ne-
cessários para a organisaçSo vegetal. Para este fim os pel-
los radicaes applicam-se estreitamente contra as partículas
do solo, moldam-se nos seus intervallos e ganham com el-
las tal adherencia que, arrancando com cuidado uma radi-
CDla é vulgar encontral-a envolvida por um cylindro de
terra.
Este papel dos pelios radicaes dura, as mais das vezes»
pouco tempo; atrophiam-se breve e caem, ficando a radi-
cola, na parte onde elles estiveram, com a superficie me-
nos liza e a côr escura, como acima notámos. Â radicula
tem-se alongado no emtanto, e agora é na zona que estava
mais liza, entre o extremo e a antiga assentada dos pelios
radicaes, que estes apparecem, ficando assim constante-
mente à mesma distancia da extremidade.
Os pelios radicaes nem em todas as espécies se encontram;
quando faltam são as cellulas da zona, em que elles se de-
viam desenvolver, por onde se dá, pela mesma forma, a
absorpção. A quantidade e o tamanho dos pelios radicaes
dependem das condições particulares do meio onde a planta
vive, bem como da sua organisação especifica; toda a planta
dotada de activa transpiração tem pelios radicaes numero-
sos; tudo quanto augmentar a transpiração provoca um
maior apparecimento d'elles; por isso faltam, ou são pouco
desenvolvidos, nas Coníferas (pinheiros, etc.) que relativa-
mente transpiram pouco ; por isso augmentam em numero
e em dimensões quando as raizes vivem em terrenos sec-
cos e o organismo vegetal, a que pertencem, precisa trans-
pirar mais.
A parte da radicula, onde os pelios radicaes se atrophia-
\
12
ram já e caíram, toma o aspecto nigoso, soffre mna esfo-
Ilação á superãcie, as cellalas sub-jacentes morrem tam-
bém, e cobre-se afinal de uma camada escura, elástica,
tendo a consistência e as propriedades da cortiça. Mais
tarde este invólucro fende-se, fica mais rugoso ainda, e
serve apenas de protecção aos tecidos inferiores ; a absor-
pção tomou-se impossível atravez as suas cellulas mortas
e suberiflcadas, e esta parte da raiz passa a ter apenas im-
portância como fracção do apparelho fixador. É pela extre-
midade, que se alonga com todos os caracteres primeiro
indicados, é pelas ramificações novas, collocadas cada vez
mais longe e mais profundas, que a planta vae procurando
a sua alimentação da terra, em camadas successivas e ain-
da por explorar.
A raiz como apparelho fixador. — Em egualdade de cir-
cumstancias, quanto mais desenvolvidas são as ramificações
lenhosas subterrâneas, tanto mais enérgica é a resistência
opposta pela arvore a ser derrubada. Á medida que na
parte aérea o tronco engrossa, cresce em altura e augmenta
em ramos, identicamente o apparelho fixador engrossa,
cresce e ramifica-se, e d'este modo a planta encontra sem-
pre appoio mais ou menos proporcional á sua grandeza.
Esta harmonia entre o desenvolvimento da parte aerla e
subterrânea é tão estreita que, quando a copa se apresenta
mais ramosa de um lado, corresponde-lhe, de ordinário,
uma ramificação maior das raizes no mesmo sentido.
O conjuncto das raizes principaes, tendo adherente a
base do tronco denomina-se touca.
A forma de ramificação das raizes obedece a um plano
de symetria, prefixo para cada espécie, mas a falta de ho-
mogeneidade nas propriedades physicas e chimicas do ter-
reno alteram aquella regularidade a cada passo. Nas ca-
madas do solo mais |ferteis e mais húmidas a ramificação
estimula-se e apparece abundante cabellame, emquanto nas
camadas mais estéreis a raiz passa quasi sem se dividir.
13
Quando uma raiz encontra quaesqner obstáculos materiaes
procura afastal-os, ou contomal-os, mas, se o não conse-
goe, diminue a actividade do seu cone de vegetação^ que
morre afinal, cessando o alongamento d'este ramo. Quan-
do, por uma circumstancia desta ou de diversa natureza,
a raiz mestray ou uma das raizes lateraes, se atrophia, pode
o systema continuar a ramificar-se sem esse eixo, ou pode
um outro ramo tomar a direcção do que se inutilisou, como
na parte aérea um rebento lateral substituo muitas vezes o
rebento terminal. A raiz premida entre dois obstáculos, na
fenda de uma rocha por exemplo, muda de aspecto e mo-
difica a forma cylindrica natural, tomando-se mais ou me-
nos achatada; em alguns casos, pelo engrossamento ulte-
rior, consegue, actuando como uma cunha, separar os pe-
daços da rocha, ou ataca-a, se a constituição chimica d'esta
Bio permitte, chegando mesmo a atravessal-a : mas, todos
estes, e muitos outros accidentes destroem cada vez mais
a constância do plano de divisão radicular. Por outro lado
a desegualdade da ramificação do tronco, devida a um sem
Dnmero de circumstancias, em que toma grande parte a
falta de symetria com que é actuado pelos phenomenos me-
teorológicos, reflecte-se enormemente na ramificação da
raiz, sendo mais uma causa, e muito poderosa, de incon-
stância.
Apezar de tudo quanto deixamos dito, a organisação es-
pecifica tem quasi sempre em si a energia bastante para
vencer tamanhas contrariedades e, dentro de certos limi-
tes, cada espécie conserva um typo característico de radi-
cação, que deve ser inherente ás necessidades do seu or-
ganismo.
Na forma do systema radicular e no poder do enraiza-
mento tem uma grande importância o desenvolvimento da
raiz mestra; em regra geral as suas maiores dimensões
contribuem para a estabilidade da arvore. N'umas espécies
este eixo central cresce muito pouco, e as raizes lateraes»,
14
compridas e delgadas, bracejam ao longe, mais ou menos
horisontalmente : tal é o choupo tremedor ; n'outras essên-
cias, como no ulmeiro, também não se desenvolve muito,
mas é substituído por duas ou três grossas pernadas late-
raes, que penetram obliquamente na terra; no carvalho ro-
ble e n'outras espécies, a raiz mestra alonga-se profunda-
mente, com pequenas ramificações nos primeiros annos.
N*este ultimo caso aquelle crescimento afrouxa mais tarde,
e as raizes lateraes adquirem então maior impulso, como
na parte aérea diminuo também por fim a relação entre o
rebento terminal e os lateraes.
Praticamente a radicação das diversas essências flores-
taes divide-se em dois agrupamentos, sobretudo importan-
tes para nós, caracterisados pela espessura do terreno até
onde chega — radicação profunda e superficiaL O carvalho, o
castanheiro, o pinheiro bravo, etc. são exemplos do pri-
meiro grupo ; os salgueiros e alguns choupos representam
bem o segundo. Uma consideração pratica egualmente mui-
to importante é o terem, ou não, as raizes a faculdade de
formar rebentões, tal como os forma o ulmeiro, o choupo
branco, etc; muitas vezes estes rebentões desenvolvem-se
em raizes horisontaes muito compridas, e vão apparecer a
grandes distancias do tronco da arvore-mãe, tomando-se
um meio poderosíssimo de reproducção.
Independentemente do seu papel como apparelho fixa-
dor, as grossas ramificações subterrâneas ainda por outras
formas contribuem para a vida vegetal; estabelecem, por
determinados tecidos, a communicação entre as radiculas
e o tronco, dando passagem aos principies immediatos con-
stituídos na parte aérea, sob a acção da luz, e necessários
para a organisação do systema descendente, como dão pas-
sagem, em direcção inversa, á agua e aos mineraes solú-
veis tirados do solo, e que egualmente se tornam precisos
para a formação do systema ascendente. Ainda mais, as
grossas ramificações da raiz, desenvolvendo-se na terra.
15
alargam o campo de acç3o das radiculas presas nas suas
extremidades, e augmentam assim o cubo de alimentação
da planta, do mesmo modo por que, na parte aérea, os ra-
mos caulinares espalham as folhas na atmosphera, tornan-
do-lhes mais favorável o accesso da luz e a renovaçSo
do ar.
Eiiste uma relação, mais ou menos prefixa, para cada
espécie, entre o desenvolvimento da parte aérea e radicu-
lar. Mas esta relação, mesmo em egualdade de circumstan-
cias, até para cada individuo, varia com a edade, podendo
dizer-se que é máxima a raiz no primeiro tempo da vida
da planta, comparativamente ao tronco. Quanto ao numero
das ramificações, comparados os dois systemas, aéreo e sub-
terrâneo, o primeiro apresenta, de ordinário, n'um espaço
egual, menor numero de divisões que o segundo.
Raízes adventieias e raízes latentes. — Já dissemos o que
são raizes adventieias e em que se dififerençam das raizes
normaes. As raizes adveraicias podem apparecer exponta-
neamente, ou provocadas por certas praticas de cultura,
mas n'um e n'outro caso a facilidade com que se desen-
volvem varia muito, segundo as essências. Os pontos onde
se originam com mais frequência são aquelles onde ha um
aitmnecimento de qualquer ordem: um nó, os bordos de
ama ferida, o engrossamento resultante da applicação de
mna ligadura, ou de uma torção, etc.
Só os parehchymas novos contendo feixes fibró-vascula-
res teem a possibilidade de formar raizes adventícias ; os
tecidos exclusivamente cellulares não as formam nunca. S6
as raizes desenvolvidas sobre o caule teem importância em
silTicultura.
A reproducção por estaca, que se pode empregar para
muitas espécies lenhosas, é baseada no apparecimento das
raizes admnticias sobre o fragmento d'um caule ou d'um
ramo, collocado em condições apropriadas. O systema ra-
dicular assun obtido não tem raiz mestra, por isso mesmo
i6
que não proYem da ramificaç3o de uma radicola primitiva.
No emtanto, accídentalmente, em raros casos, pode este
systema de raizes apresentar também mn gavião, Iformado
por imi dos seus eixos que se orientou na vertical e tomou
maior desenvolvimento.
Denominam-se raizes latentes ou dormentes, aquellas que,
sendo tolhidas no seu desenvolvimento logo ao principio,
ficam fechadas, um espaço de tempo maior ou menor, ou
mesmo indefinidamente, dentro das formaçSes subsequen-
tes. Estas raizes se, por qualquer acaso, encontram no
futuro condições mais favoráveis, rasgam os tecidos que as
prendiam, e alargam-se então no meio exterior com grande
rapidez. Os salgueiros teem, com frequência, raizes n*este
estado latente ou dormente.
2.»— TRONCO
O tronco, nas espécies lenhosas indígenas, é o eixo da
ramificação ascendente; tem direcção mais ou menos ver-
tical, e desenvolve-se em sentido opposto ao da raiz mes-
tra. Seja qual for a posição em que a semente fique na
terra, estes dois órgãos, a raiz e o caule, tomam .sem-
pre as suas direcções naturaes, ainda mesmo quando para
isso seja necessário dar-se uma torção completa na radi-
cula e no cauliculo^ se porventura a semente caiu com a
posição inversa da que devia ter.
O tronco apresenta duas partes distinctas, cuja separa-
ção é muito fácil, sobretudo em determinadas épocas do
anno, e conhecidas vulgarmente com os nomes de lenho,
ou madeira, e casca.
Medulla e canal mednllar. — Quando se corta por um
plano horisontal o tronco adulto de um dos nossos vege-
taes lenhosos vê-se, na secção mais ou menos circular do
corte, uma pequena parte no centro, bem delimitada do
i7
resto do lenho, e constituída evidentemente por tun tecido
diverso — é a medulla.
A medtiUa é formada por cellulas que, de ordinário, teem
as paredes delgadas, deixam entre si grandes meatos e de-
crescem em tamanho do centro para a peripheria. Este pa-
rencbyma é circumscripto pelo canal meduUar, onde se en-
contram vasos reticulados, amielados, e em espiral (tra-
cbeas), que lhe s5o caracteristicos ; esses vasos resultam,
como todos os mais, de uma fiada vertical de cellulas cu-
jas paredes, nos pontos de contacto, foram reabsorvidas,
no lodo ou em parte, constitnindo-se d'este modo um longo
labo; o engrossamento da parede cellular primitiva, res-
peitando determinados pontos em annel, em espiral, etc.,
den-lhes essas formas particulares.
Na maior parte das essências indígenas a medtdla éponco
consistente. As suas cellulas teem sempre curta vitalidade;
depois de secea, n'um grande numero de espécies enche
completamente o canal medullar (fíg. 2, B), mas n'outras
Mg. ). A. Corte longitudinal de um raminho de nogueira (/ti^ru re-
giú, L) mostrando a medulla interrompida (1:1). B. Córie longitu-
diu^ de um raminho de sabugueiro (Sambucut nigra.L.) mostrando
a medulla continua (1:1).
18
contrae-se em discos sobrepostos, que alternam com outras
tantas cavidades (nogueira, loureiro, etc), (Ag. 2, A). A rela-
ção entre o tamanho da ftiedulla e o do lenho em redor varia
bastante com as essências, e muito com a edade da secção
considerada, por isso que a medulla nâo engrossa nunca mais
e o tecido lenhoso todos os annos adquire maior espessura.
A forma do cancU medullar é mais ou menos angulosa,
e característica para muitas espécies. O numero dos seus
ângulos está em relação com o numero dos feixes lenho-
sos primitivos do caule, e até certo ponto com a ordem de
inserção das folhas : é pentagonal nos carvalhos e choupos,
triangular no vidoeiro e amieiro, etc.
Prosenchyma fibroso. — A parte restante, e incomparavel-
mente mais considerável do lenho (quando se não trata de
um raminho muito novo), apresenta-se á vista desarmada
como um todo compacto, dividido em zonas mais ou menos
concêntricas, que se distinguem muito facilmente em algu-
mas espécies, pela differença de coloração nos pontos onde
se dá o contacto, e pelo apertado do tecido nos mesmos
pontos; estes circulos, em todas as madeiras, estão ainda
divididos em sectores, por traços radiantes, mais ou menos
visiveis, que partem da medulla (fig. 3).
No tecido apertado, a que nos referimos, encontram-se
cellulas muito alongadas no sentido do eixo longitudinal da
planta, que se denominam fibras. Estas cellulas terminam
em ponta e tomam o aspecto fusiforme ; estão dispostas em
fiadas parallelas e insinuam as extremidades entre os in-
tervallos das cellulas collocadas superior e inferiormente,
não deixando espaços inter-cellulares, isto é, constituem
pela sua reunião um prosenchyma. As dimensões das fibras
do lenho variam muito nas diversas essências, bem como
variam em cada uma com as condições da vegetação, e até
em cada individuo conforme a região do tronco. Conteem,
de ordinário, agua ou ar; ás vezes encontram-se-lhes al-
guns grânulos e restos do protoplasma primitivo.
r
19
As fibras lenhosas teem a membrana mais oa menos en-
grossada e lenhefeita; este espessamento respeita certos
pontos, que se correspondem sempre com exactidão nas fa-
ces de contacto de duas fibras visinhas, constituindo outros
UnbK canaliculos. Quando a fibra perde o protoplasma, e
maré, a membrana primitiva, que separava os dois cana-
liculos em correspondência, reabsorve-se, de ordinário,
cOTimimicando então por elles livremente as cavidades cel-
lolares.
Rg. 3. SecçSo transversal de um tronco de earralho roble {Querdupa-
imeiãala, Ehrh.) (1:3).
Qoando a pontuação da parede cellular conserva o mes-
mo calibre em toda a sua extensão desenba-se de frente
limitada por mn contorno único e diz-se imia pontuação
Mmj)les (ãg. 4, C). Se o calibre do pequeno canaliculo nSo
é uniforme, se a sua secção externa não é egual á secção
iotmnedia, a pontuação vé-se de frente com o aspecto de
dois circnlos concêntricos e diz-se n'este caso aureolada
(Gg. 4, A, B); taes são nas fibras lenhosas das Coníferas. As
pMtnações aureoladas teem o diâmetro relativamente amsi-
20
deravel ; quando a membrana primitiva se reabsorve aves-
ses pontos, o conjoncto de fibras aureoladas passa a consti-
tuir um systema de tubos irregulares, que só se diflferen-
çam dos vasos verdadeiros em as cellulas componentes não
estarem n^uma serie longitudinal. Alguns auctores chamam-
lhes vasos fechados ou tracheides.
A
B
n
Fig. 4. A. Fibra aureolada do pinheiro manso {Pinus Pinea, L.) (proxi-
mamente 100: i). B. Corte de uma pontuação aureolada (proxima-
mente 200:1). C. Fibra com pontuações simples, do roble (Quercus
pedunculata, £hrh.) (proximamente 100:1).
As propriedades physicas das fibras, e em geral de todas
as cellulas muito alongadas, diversificam bastante, conforme
se consideram na direcção do maior comprimento, na di-
recção do raio, ou no da tangente transversal. A elastici-
dade, a conductibilidade para a agua, som, electricidade e
calor teem valores máximos no sentido do maior compri-
mento da fibra, e valores minimos no sentido da tangente
transversal; pelo inverso, a dilatação pelo calor e o entu-
r
21
mecimento pela agua são muito maiores na direcção do
raio do que na do comprimento. Como veremos, nas Antes
Ftorestaes, é de primeira importância, attender a estas va-
riações das propriedades physicas, no aproveitamento ulte-
rior das madeiras.
Vasos. — Quando se olha com cuidado a secção horison-
tal de um lenho notam-se, em muitas essências, mesmo á
tísU desarmada, pequenos furos, mais ou menos circula-
res, espalhados ou reunidos em grupos por diversas for-
mas. Cada um doestes foros representa o corte de um vaso.
Os vasos tiveram a mesma origem que as Iracheas do es-
tojo medullar, apenas é diversa a esculptura das suas pa-
redes, que são pontuadas, quasi sempre. O protoplasma e
o núcleo das suas cellulas constituintes desappareceram,
sendo substituídos por uma columna d'agua interrotnpida
com bolhas d'ar.
Os vasos teem maior calibre do que as fibras, e por isso
destacam entre o teci&o em redor; teem a parede cellular
mais delgada e a cavidade central com maior diâmetro. No
corte longitudinal do lenho apresentam-se com o aspecto
de pequenos sulcos.
Nem todas as nossas essências florestaes teem vasos; fal-
tam nas Coníferas, que apenas no estojo medullar conteem
os vasos característicos d'aquella região.
O calibre dos vasos varía muito com as espécies e com
as condições particulares da vegetação. N'umas espécies o
mesmo individuo tem os vasos todos sensivelmente com o
mesmo diâmetro fplatano, choupos, salgueiros, etc.) e n'ou-
tras são elles sensivelm*ente deseguaes (carvalhos, casta-
nheiro, freixo, ulmeiro, etc.)
O seu numero diversifica também muito nas diversas ar-
yotes : assim emquanto os choupos e os salgueiros teem mui-
tos vasos, o buxo tem muito poucos. Podem ser em pro-
porção superior, ou inferior, ao tecido fibroso ; quando pre-
doDúnam contribuem para tornar a madeira mais porosa,
22
mais leye; mas nem só d'elles dependem estas qualidades:
também, e muito, da natm^eza das fibras, quanto ás suas
dimensões, espessura das paredes, grau de incrustação»
etc.
N'umas espécies os vasos encontram-se disseminados,
sem nenhuma ligação — quer estejam solitários, quer reu-
nidos em pequenos grupos de dois a dez, ou mesmo mais,
apparecendo então no corte transversal em pequenos aggre-
gados, ou series simples radiantes, pouco apparentes (plá-
tano, salgueiros, vidoeiro, nogueira, etc.). N'outras espécies
juntam-se em pontos determinados, muito numerosos, muito
próximos uns dos outros, muito apparentes, formando no
corte transversal desenhos variados, de cor baça e mais cla-
ra: umas vezes dispostas em linhas radiantes flexuosas e
ramificadas (carvalhos, castanheiro), outras vezes em pe-
quenos arcos concêntricos (freixo, amoreira, acácia bas-
tarda), em Unhas concêntricas muito onduladas (uhneiro,
lodão bastardo), ou em curvas retibuladas, constituindo
uma espécie de renda ou rede (tojo, aderno, sanguinho
bastardo).
Parenchyma lenhoso. — O agrupamento dos vasos toma-
se ainda mais apparente, em algumas essências, pelo te-
cido especial com que, n'essas madeiras, estão envolvidos ;
referimo-nos ao parenchyma lenhoso. Este parench}Tna é for-
mado por cellulas obtusas, ou troncadas nas extremidades,
mais curtas, com as paredes mais delgadas, a cavidade cen-
tral maior, e a côr mais clara do que as fibras. Às paredes
d'estàs cellulas teem pontuações simples, fechadas; de in-
verno, entre outras substancias, encontra-se-lhes amido.
O parenchyma lenhoso falta em algumas das essências
indígenas: nas Goniferas, por exemplo. É pouco desenvol-
vido, e escapa facilmente á observação n'outras, taes como
nos salgueiros, choupos, vidoeiro, medronheiro, urzes, etc,
onde nem com o auxilio da lente se percebe, mas é bem
visivel em muitas espécies, mesmo á vista desarmada. Está
23
•
misturado com o prosenchyma flbroso: n'uns casos disper-
so, sem nenhmna relação com os vasos — ou espalhado e
difficil de observar, ou disposto em laminas onduladas, con-
cêntricas, como no carrasqueiro ; mas n'outros casos envolve
cada vaso, ou cada grupo de vasos, apresentando-se no
corte transversal com o aspecto de pequenas aureolas mais
claras (alfarrobeira) ou reune-os mesmo entre si, formando
desenhos característicos (amoreira, freixo, acácia bastarda,
etc.), e assim melhor os destaca do tecido fibroso.
Raios mednllares. — As linhas radiantes, que dividem em
sectores a secção horisontal do lenho, denominam-se raios
medtdlares. São constituídos por series de cellulas compri-
midas, alongadas no sentido do raio; estas series esten-
dem-se, mais ou menos profundamente, sob a forma de la-
minas verticaes, separando diversas porções dos tecidos que
descrevemos. O conjuncto das fibras e vasos comprehendi-
dos entre dois raios denomina-se feixe fibro^ascular.
Umas vezes as cellulas do raio medullar são menos re-
sistentes que o tecido fibroso, outras vezes são mais duras
(carvalhos), e ii'este ultimo caso, quando a madeira sofire
grandes fricções, os raios medullares gastam-se menos e
apparecem em alto relevo.
Alguns d'estes raios partem damedulla e dizem-se en-
tão completos; outros nascem n'uma assentada mais exte-
rior e dizem-se incompletos (fig. S) ; mas, n'um e n'outro
caso, uma vez formados, prolongam-se até á peripheria e
se, algumas vezes, parecem afliar-se, e terminar antes d'ali
chegarem, é devido isto apenas á inclinação do corte ob-
servado, que ficou obliqua em relação a elles.
Os raios medullares são rectos n'umas espécies, flexuo-
sos n'outras. A sua espessura (no sentido horisontal) é muito
variável e depende do numero de cellulas que se coUoca-
ram ao lado umas das outras para os formar: pode ir desde
(r,íX)2 (sobreiro, azinheira) até (r,00002, como nos pi-
nheiros e salgueiros, onde são constituídos por uma única
24
fiada de cellutas. É claro qae nas primeiras essências s3o
muito mais visiveis do que oas segmidas; em algumas loa-
deiras s3o tão estreitos que é difScil percebel-os á vista
desarmada.
N'um mesmo individuo os rotos podem apresentar espes-
sura egual (castanheiro, plátano, pinheiros, etc.), ou diversa
(roble, sobreiro, etc). De ordinário a desegualdade dos
raios é peculiar ás espécies que teera raios grossos.
A altura, isto é, a dimensão no sentido longitudinal, va-
ria também muito: emquanlo nos carvalhos está compre-
hendida entre 0",i a 0°,05, no freixo é de 0",0005, e no
buxo 0-,0002.
A disposição que a madeira apresenta a deixar-se fen-
der com mais ou menos facilidade depende do arranjo re-
gular, e parallelismo, das fibras e vasos, e está intimamente
ligada á forma dos raios meduUares, sobretudo á sua lar-
gura: se são largos, a contextura fibro-voscular é mais tor-
tuosa e a madeira fende mal ; se são delgados, as fibras fi-
cam parallelas na vertical, e o lenho dá boa fenda. A fig.
K dá uma ídéa d'um e d'outro destes casos.
Pig. 5. Corie longitudinal, Ungencialmente aos raios meduUares : A. no
lenho da azinheira {Qatnmt lUi, L.). B. no lenho do roble (Oiwrna
pedunaãata, Ehrh) (1 : 4).
O numero dos raios medallares é, de ordinário, tanto
maior quanto são mais delgados; no emtanto este numero
varia muito. Entram com percentagem variável na consti-
tuição da madeira, ás vezes até quasi por metade (tamar-
25
peira) mas, na maior parte das essências, entram em re-
!3ç3o menor.
Quando se corta uma peça de madeira, segundo um
plano perpendicular aos raios medullares (fig. 5), estes de-
seohaffl-se no corte como traços longitudinaes, ou com a
litnna lenticular, quasi sempre mais escuros, com largura
e comprimento variáveis, segando as essências. Quando a
peça de madeira é cortada verticalmente na direcçío dos
rmo», elles formam placas espelhadas, mais ou menos jun-
tas e compridas, com ondeados, claros ou escuros, de bo-
uilo effeito. Este conhecimento é importante em marcena-
ria e na serragem das madeiras para omamentaçlo.
Canaes resiniferoa.— Na madeira de algumas essências in-
dígenas apparecem, no corte transversal, pequenos furos, que
podem, á primeira vista, ser confundidos com os vasos, mas
qae são elementos diversíssimos pela sua organisação e ftroc-
Cões. Referimo-nos aos canaes resimferos das Coníferas.
Elstes canaes resimferos são espaços inter-cellulares, mais
oa menos compridos e tubuloaos, onde as cellulas limitro-
phes exsudam o producto da sua secreção. SSo inicialmente
coDStituidos pelo afastamento de um certo numero de cel-
Inlas, ou fiadas verticaes de cellulas, quasi sempre qua-
tro (fig. 6), e que permanecem durante bastante tempo ca-
pazes de divisão; essas divis&es ul-
teriores originam as cellulas mais
numerosas qu» habitualmente se en-
«intram a circumscrevel-os.
As cellulas segregadoras distin-
gnem-se das outras cellulas em re-
dor pelas dimensões, de ordinário,
meoffi^s; pela forma levemente con-
vexa na face livre; pela membrana F'8-«- Canal resinifero do
delgada, não lenhifeita. sem escut- "'!"'" ÍTrí^""*™
ptm^;epelacôramarelladaouacas- mente 360: í). (Corte
tanhada. InnaverMl).
26
Os canaes resiniferos podem estar dispostos longitudinal
ou transversalmente, entremeados no tecido fibroso ou acom-
panhando os raios meduUares.
A resina é segregada para o espaço inter-cellular atra-
vez as paredes das cellulas que o limitam. As vezes, quando
a secreção é abundante, a resina espalha-se nos tecidos
em volta, obstruindo as fibras, dando-Ibes uma côr escura,
e a transparência e a dureza córnea.
N'uma secção transversal, feita de fresco, os cawoes re-
siniferos das formações mais modernas deixam escapar uma
gotta de terebinthina, e isto pode ajudar a distinguil-os dos
vasos. A extensão vertical muito maior d'estes últimos diífe-
rença-os também, mas este caracter é, na pratica, de pe-
quena importância, por ser de diíDcil apreciação. O pro-
cesso facilimo de distinguir estes dois elementos consiste
em verificar a posição onde se encontram, em maior nume-
ro, se no bordo exterior ou interior de cada zona circular
da madeira (camada annual), conforme veremos adiante.
Classificação dos elementos anatómicos do lenho. — Do
que Oca dito, a propósito da composição do lenho, depre-
hende-se que os seus elementos anatómicos podem grupar-
se em duas divisões: uns, que chamaremos elementos ana-
tómicos necessários^ encontram-se nas madeiras de todas as
essências indígenas— são as fibras e os raios meduílares;
outros, que denominaremos elementos anatómicos accessoríos
nem em todas as madeiras se encontram — são os vasos,
os canaes resiniferos e o parenchyma lenhoso.
. O estudo^ anatómico das madeiras, feito com o auxilio
de uma lente simples, pode, como veremos na píirte res-
pectiva, servir a distinguir os lenhos das diversas essên-
cias—pelo numero e dimensões dos raios, pela presença,
ou ausência, dos vasos e dos canaes resiniferos, pela forma
de agrupamento e calibre dos vasos, pela disposição do pa-
renchyma lenhoso, etc.
Cambium. — Fazendo a transição do lenho para a casca
27
encontra-se uma camada geradora, denominada camlyum,
coDStituida por cellulas vivas e capazes de divislo. Estas
cellalas teein as paredes delgadas e tenras de cellalose nao
incmstada (principalmente durante as estações de activi-
dade vegetativa, porque no inverno essas paredes engros-
sam um pouco), teem protoplasma espesso, granuloso, e um
imcleo.
A forma das celiulas do ccmbium é precisamente a das
cellulas correspondentes, com que contactam, para o lado
do lenho e da casca ; são curtas na continuação dos raios
medollares, alongadas em frente do tecido dos feixes.
Esta assentada representa um papel importantissimo na
vida do vegetal, como diremos; d'ella, por successivas par-
tições, nascem novos elementos anatómicos para um e ou-
tro lado, que vão augmentando a espessura da madeira e
da casca, e assim engrossam a arvore ou o arbusto.
Durante o periodo da vegetação não existe um limite ní-
tido entre o lenho, o cambitim e a casca, tão graduaes vão
sendo as passagens, mas a differença accentua-se no in-
verno.
Tecidos internos da casca — libar e parenchyma corti-
cal.—A camada intçma da casca, a que está mais em con-
tacto com o cambium, denomina-se liber. No liber encon-
tram-se elementos anatómicos análogos aos do lenho, mo-
dificados, è certo, em virtude da sua diversa especialisação.
Aos vasos e cellulas vasculares (fibras aureoladas) do le-
nho correspondem as cellulas e ttibos crivados do liber, que
são o seu elemento mais importante. Estas cellulas teem a
forma alongada, cylindrica ou prismática, e encontram-se
sobrepostas em fiadas longitudinaes ; nas suas paredes exis-
tem grandes pontuações, onde a membrana fica mais del-
gada, e se enche de pequenos e numerosos orifícios, que
a fazem assemelhar a um crivo microscópico. Este tecido,
como veremos, tem uma grande influencia na vida do ve-
getal.
28
J
Ás fibras lenhosas correspondem as fibras liberianas,
egualmente alongadas e prosenchymatosas, mas flexíveis e
tenazes,, e não lenhifeitas como as da madeira. Às fibr^zs li-
berianas podem estar isoladas ou dispostas em feixes, gm-
par-se em zonas concêntricas mais ou menos regulares, se-
paradas pelos outros tecidos mais moUes (carvalhos, chou-
pos, ulmeiro, nogueira, sabugueiro, oliveira, etc), ou ficar
disseminadas, sõsinhas ou em, pequenos grupos, no meio
d'esses outros tecidos (figueira, amoreira, lodão bastar-
do, etc.)
As fibras são a parte mais resistente do liber. Muitas ve-
zes empregam-se industrialmente como matérias textis.
Os raios meduUares continuam-se também no liber, mas
teem, na parte correspondente a esta região, as paredes mais
delgadas, e menos incrustadas, que no lenho. O parenchy-
ma lenhoso está representado na casca pelo parenchyma li-
beriano, que apparece associado aos tubos e cellulas criva-
das.
Estes tecidos alternam todos regularmente em algumas
espécies: assim no teixo e nos cyprestes a uma assentada
de fibras succede uma de tubos crivados, uma outra de pa-
renchyma, uma nova assentada de tubos crivados, seguin-
do-se outra vez a camada de fibras, e assim successiva-
mente.
Como é diversa a consistência das camadas componentes
do liber é fácil, muitas vezes, isolal-as por maceração. O te-
cido mais brando destroe-se e as fibras separam-se então,
em muitos casos, ás folhas, que teem o aspecto de uma renda.
Essa forma foliacea deu ao conjuncto d'esta região da casca
o nome de liber (livro).
 importância relativa dos elementos do liber é bastante
diversa. Âs fibras faltam n^algumas espécies lenhosas.
Externamente ao foòer fica uma assentada, conhecida pelo
nome de parenchyma cortical^ que tem com a medulla as
maiores analogias de composição, e com a qual communica
29
por intermédio dos raios medullares. É também constituida
por nm parenchyma pouco apertado, cujas cellulas podem,
ás vezes, sofi&^er dififerentes especialisações : tal, por exem-
plo, quando originam a assentada de collmchyma no seu
limite exterior, e onde se encontram cellulas alongadas,
tendo a cavidade arredondada e as paredes fortemente en-
grossadas, sobretudo nos ângulos.
As cellulas do parenchyma cortical teem, muitas vezes,
chlorophylla. Nas espécies lenhosas aphyllas ou sub-aphyl-
las, taes como a cornicabra, figueira da índia, ele, sobre
este parenchyma cortical^ rico em chlorophylla, repousa a
principal elaboração da planta.
Os tecidos tegumentares, que envolvem, por ultimo, ex-
ternamente o caule, apresentam formações e desenvolvi-
mento muito diversos, segundo as essências, e segundo a
edade do caule, ou do ramo, considerado.
Epiderme. — N'um caule novo — na planta saida ha pouco
da semente, ou no rebento da arvore, ou do arbusto, adul-
to—a casca, no exterior, é lisa e unida; a assentada mais
externa, denomina-se então epiderme.
Normalmente a epiderme é simples, constituida por uma
só camada de cellulas, mas em algumas espécies apresenta
duas ou mais fiadas. As suas cellulas componentes estão
intimamente unidas, sem espaços inter-cellulares, e como
teem menor adherencia ás assentadas subjacentes, por isso
a epiderme pode destacar-se, com facilidade, em grandes
fragmentos.
As cellulas epidérmicas teem protoplasma, núcleo, e um
liqnido claro, a maior parte das vezes incolor. N'umas es-
pécies contéem, n'outras não, chlorophylla. A parte mais ex-
terna das paredes d'estas cellulas transforma-se em cutinay
originando-se d'este modo uma espécie de pellicula delgada
e hyalina, que passa ininterrupta de umas às outras cellu-
las e que se denomina cutictda. A membrana das cellulas
qjidermicas está sempre incrustada de diversas substan-
30
cias cirosas e mineraes, principalmente a silica, o carbonato
e oxalato de cálcio.
Na epidetim do caule (ou mais em geral na de todos os
órgãos aerios) notam-se os estornas, aberturas para o exte-
rior formadas por duas cellulas reniformes, que voltam uma
para a outra as faces concavas. Estas cellulas são, de or-
dinário, menores que as outras cellulas da epiderme; a aber-
tura limitada por ellas communica com um espaço vasio en-
tre as cellulas subjacentes, denominado camará do estorna^
ou camura de ar.
A epiderme pode apresentar-se lisa, mia, e diz-se n'este
caso glabra, ou pode estar vestida de pellos, maiores ou me-
nores, e em quantidade muito variável. Os pellos nascem,
por desenvolvimento das cellulas epidérmicas, perpendicu-
larmente á sua superfície ; apresentam formas muito diver-
sas, e podem ser simples, articidados ou ramosos. Parece
existir uma relação entre o numero dos pellos e o grau de
humidade atmospherica : as formas mais hirsutas de uma
espécie encontram-se nos pontos mais seccos do seu habi-
tat. Já notámos uma relação idêntica entre o clima e o des-
envolvimento dos pellos radicaes.
Nos pellos e na epiderme encontram-se ás vezes cellulas
especiaes que segregam, levantando a cutícula, determi-
nados productos — gommosos, resinosos, saccharinos, etc;
vê-se isto nos rebentos de algumas arvores (\idoeiro, etc.)
e sobretudo nas escamas protectoras dos botões de muitas
essências florestaes. Os pellos glandulosos umas vezes são
simples e entumecidos na extremidade em esphera, outras
vezes apresentam formas muito variadas, principalmente os
pellos glandulosos multicellulares, que se desenvolvem so-
bre as escamas dos botões, conhecidos com o nome de pd-
los mmsiços.
As cellulas segregadoras nem só na epiderme se encon-
tram; apparecem também no parenchyma cortical, no liber,
no lenho (como já dissemos para as Coníferas), e até na me-
I
31
dnlla (secreção tamiinosa do sabugueiro, etc.) : em poucas
palavras, apparecem em quaesquer tecidos. Podem apre-
sentar disposições muito variadas : n^uns casos íicam soli-
tárias, e ás vezes tornam-se então muito ramosas e muito
desenvolvidas, cíiegando mesmo a estender-se, sem so-
lução de continuidade, por todo o vegetal, desde as ulti-
mas raizes até ás ramificações superiores (figueira, amorei-
ra, etc.); n'outros casos sobrepõem-se em series longitudi-
naes (bordo saccharino); unem-se lateralmente formando
uma rede de malbas mais ou menos apertadas (géneros
Rosa, Rubus, etc); lançam o producto da sua secreção para
um espaço inter-cellular, como já dissemos a propósito dos
canaes resiniferos do lenho e que também podem existir na
casca ; ou, finalmente, dispõem-se em m assiços, ou grupos,
de ordinário arredondados (Myriaceas, Auranciaceas, etc.)
Como derivados epidérmicos, ou do tecido sub-jacente,
devem ser amda considerados os aculeos, constituídos por
cellolas cujas membranas são, mais ou menos lenhifeitas;
taes são os aadeos das roseiras (fig. 7), das
silvas, etc, que convém não confundir com
os espinlios, cuja organisação é muito dif-
ferente. Os aculeos desprendem-se facilmen-
te do órgão a que pertencem (fig. 7 a), dei-
xando uma cicatriz nitida e plana se eram de
origem superficial, ou mais ou menos con-
cava se pertenciam á camada mais interna
parenchymatosa da casca.
Os aculeos variam na forma — uns são re-
ctos, outros curvos em gancho — e variam Fig. 7. Ramo com
mnito na grossura e comprimento. A maior aculeos da ro-
parte das vezes encontram-se espalhados,
sem ordem, mas em algumas espécies le-
nhosas affectam situações determinadas.
Lenticnlas, cortiça e rhjrtidoma. — Á me-
seira brava (Ro-
sa canina,L.). a:
cicatriz deixada
pela queda de
uinaculeo(i:l).
dida que o caule, ou o ramo, engrossa, os seus tecidos
32
tegumeniares, v5o soCfrendo grandes modificações— variá-
veis, conforme a essência que se considera. Á primitiva
epiderme, lisa e continua, succede uma assentada exterior
mais nigosa, mais secca e fendida.
A epiderme, de ordinário, não pode acompanliar o pro-
gressivo engrossamento do tronco, rasga-se ao distender-se.
Passado um anno de existência fende-se qaasi sempre em
certos pontos, e a camada subjacente faz hérnia para o ex-
terior, atravez essas fendas, com a forma de pequeuas man-
chas arredondadas e convexas que se denominam lenticu-
las {fig. 8 ,4). O azevinho é excepção a esta regra; con-
serva a epiderme por alguns annos.
Fig, 8. A. Fragmento de um ramo de pereira (Pyrut eommunis, L,) com
knUeuioa. B. Fragmento de um ramo de cerejeira {Pmnus aeivm, L.)
mostrando a fragmentação da casca pelas sítios onde appareceram as
Untiedas (1:1).
Mais tarde aquellas fendas augmentam, e as lenticuias
transformam-se n'uma verruga, mais ou menos proemi-
nente, secca, quebradiça, escura. Depois, quando o ramo
engrossa mais, estendem-se em largura e desenliara zonas
transversaes, por onde começa a esfoliação da casca, for-
mado o rhytidoma, ou ao aogmentar o invólucro suberoso
33
(fig. 8 B). Passado este período não é fácil reconhecel-as ;
são, naturalmente, eliminadas nas esfoliações corticaes.
Quando a camada superficial epidérmica se desprende
em pedaços deixa a nu mna assentada mais interna; esta
apresenta-se então, de ordinário, dura, resistente, imper-
meável, ás vezes elástica (sobreiro e ulmeiro), quasi sem-
pre de cor escm*a mas, em alguns casos, branca, se con-
tém ar (vidoeiro, alguns choupos). Esta assentada provém
de um tecido secundário originado pela própria epiderme,
ou por uma camada de cellulas subjacente. Cada uma das
cellulas geradoras divide-se em duas, no sentido parallelo
á face virada para o exterior, produzindo-se d'este modo
duas cellulas-fllhas; d'essas cellulas, a mais externa, perde
em pouco tempo o protoplasma e enche-se de ar (o máxi-
mo n'um amio, e em algumas espécies muito antes disso),
suberifica-se, tornando-se mais ou menos extensível, elás-
tica, difficilmente permeável ao ar e à agua; a <}utra cel-
lula, muitas vezes, fica viva, capaz de divisão, constituindo,
com as outras idênticas, um tecido gerador, que se deno-
mina mãe da cortiça, ou assentada phellogene,
O tecido saberoso começa a apparecer, de ordinário, em
pontos isolados, mas passado pouco tempo constituo uma ca-
mada continua, em muitas essências. Como dissemos, numas
espécies é originado pela própria epiderme (salgueiros, pe-
reira, maceira, pirliteiro, etc.) ; n'outras provém da camada
sub-epidermica (plátano, carvalhos, castanlieiro, vidoeiro,
ulmeiro, amieiro, etc); ou da segunda ou terceira camada
sub-epidermica (acácia bastarda, espécies do género Cyti-
sm); ou, finalmente, deriva d'uma assentada ainda mais
profunda (género Ribes).
As cellulas suberificadas podem apresentar differenças
entre si: umas teem a membrana delgada e homogénea, e
são de ordinário mais largas; outras teem a membrana mais
espessa e pontuada, e são quasi sempre mais estreitas. As
primeiras formam cortiça muito mais branda e elástica do
C. 8. 3
34
que as segundas. Nos tecidos tegumentares de algumas es-
sências encontra-se uma sò d'estas formaçúes; noutras es-
sências existem as duas alternadamente ; no sobreiro acon-
tece isto : deseiivolve-se em cada anno uma camada mais
branda e outra mais dura; mas n'esta arvore a diiTereuça
entre a consistência das duas formações é pouco pronuu-
ciada.
Quando a assentada geratriz da cortiça é epidérmica, ou
pertence ;'is primeiras camadas do tecido subjacente, per-
manece activa ás vezes indefinidamente (sobreiro, fig. 9),
ou ao menos durante muito tempo no mesmo sitio (ulmei-
ro, variedade siiberosa, fig. 10). O tronco fica protegido.
Fig. 9. Fragmento de um ramo Fig. 10. Fragmento de um ramo
de sobreiro {Qitercussuber,h.), de ulmeiro (Wmuí eampetlHs,
coíii a cortiça turjem (I :í). L. var. íufteroia), suberoso-ala-
do. (t:i).
n'estas espécies, sempre ou temporariamente, pela ramada
de cortiça que o envolve.
Para acompanhar o progressivo engrossamento do tronco
as cellulas da camada geradora dividem-se em direcção ra-
diante, sempre que é preciso augmentar o numero das fia-
I
35
das, e a assentada externa do invólucro suberoso fende-se
e enruga-se, mais ou menos, conforme a espessura, a elas-
ticidade e o grau de cohesSo das paredes das suas cellulas
constituintes. Estas fendas abrem sulcos longitudinaes, que
estão esboçados desde o principio e com a edade se accen-
toam e alargam, devidos a uma producção mais abundante
de cortiça ao longo de certas linhas verticaes.
A cortiça do sobreiro pode ser tão explorada industrial-
mente, pela propriedade que tem esta essência de produ-
zir uma camada superficial, espessa, de cortiça branda e
elástica, que depois de tirada se renova outra vez, até
uma edade muito avançada da arvore.
A coloração que tomam as differentes cortiças, amarel-
ada, avermelhada, acastanhada, etc, parece ser indepen-
dente do phenomeno da suberificação e produzida antes
por substancias corantes especiaes.
O invólucro protector apresenta uma formação bem mais
complicada ainda em muitas essências indigenas. Essa for-
mação tegumentar complexa dá-se quando a lamina sube-
rosa se desenvolve em camadas mais interiores da casca,
porque então, como a cortiça pelas suas propriedades phy-
sicas impede a diffusão, todos os tecidos collocados para o
exterior morrem, originando-se d'este modo uma camada
mais ou menos espessa, secca, rugosa, heterogénea, fen-
dida pelo ulterior engrossamento do tronco; é o que se
chama rhytidoma.
N'algumas espécies a lamina isoladora de cortiça consti-
tae o rhytidoma originando-se logo inicialmente n'uma ca-
mada interna da casca, mas n^outras espécies a cortiça fór-
ma-se primeiro superficial, deixando de funccionar, depois
de certo tempo, a camada geradora (phellogene) ; n'este
caso passa uma assentada mais profunda da casca a pro-
duzir a cortiça, e em seguida uma terceira e uma quarta
assentada, e assim successivamente, podendo dar-se a in-
vasão completa do parenchyma cortical e do liber.
3*
36
Nas grandes arvores (carvalhos, choupos, etc.), encon-
tram-se com frequência todas estas formaçSes tegumenta-
res, que descrevemos, reunidas no mesmo individuo: os
rebentos cobertos pela epiderme, os ramos novos envolvi-
dos pela cortiça, os ramos mais velhos, as pernadas e o
tronco protegidos pelo rhytidoma.
A disposição que apresentam as fendas do rhytidoma é
diversa, e característica, para cada espécie lenhosa; de-
pende dos tecidos que entiam na composição d'elle, da fun-
dura e modo porque se urganisa a lamina suberosa, etc.
O rhytidoma do pinheiro bravo (fig. ii) é escuro-averme-
Pig. 11. PragmeDto de um Iroiico de pinheiro bravo (Pínui Pinatler,
Ait), coberto pelo rhytidoma (1 : 6).
Ihado e divide-se em grandes placas escamosas; o do choupo
branco fende-se em losangos; o do choupo negro abre-se
sobretudo em sulcos longiiudinaes (fig. i2), etc.
Nas essências em que não existem grandes differenças
entre a consistência das camadas constituitivas do rhytido-
ma, este é persistente, não se esfolia naturalmente, e a as-
sentada suberosa cobre-se d'uma crusta cada vez mais es-
pessa, mais áspera, rugosa e fendida, pelo engrossamento
37
progressÍTO do lenho (carvalho, ulmeiro, acácia bastarda,
choupo negro, etc.). Nas espécies em que o rbytidoma é
Fig. 13. Base de lun tronco de choupo negro {Poptdui nigra, L.) (1 : 10).
fonnado por camadas, umas brandas e outras resistentes,
twna-se então caduco, e esfolia-se por diversos modos, de-
lenninados pela natureza e desenvolvimento especial da ca-
mada snberosa isoladora, ou petas linhas de menor resis-
tência dos seus tecidos heterogéneos. Assim o rbytidoma
do [datano destaca-se em placas (fig. 13) determinadas pe-
fif. 13. Prajimento de um tronco de plátano {Pkaanta occideiUalu, L.)
(1:8).
38
las formações profundas soberosas que as recortam, em-
quanto o rhytídoma da videira cae em fitas, o da cerejeira
em anneis, o do vidoeiro em laminas delgadas» etc.
Distincção entre a madeira do tronco e a da raiz. — Quando
se compara, D'uma secção horisontal, o tronco e a raiz de
uma das nossas arvores, nota-se uma grande analogia na
disposição dos tecidos componentes dos dois órgãos, mas
os diversos elementos d'estes tecidos apresentam-se em ge-
ral maiores na raiz. Os vasos são ahi mais largos (chegam
a ter um diâmetro duas a quatro vezes maior) e teem as pa-
redes mais delgadas ; as fibras são maiores e menos lenhi-
feitas; as fibras aureoladas das Coníferas, que no tronco
apresentam apenas uma serie de pontuações, na raiz teem
habitualmente duas series. As diversas zonas concêntricas
(camadas annuaes) são mais estreitas na raiz^ e os raios me-
dullares teem menor desenvolvimento e são menos numero-
sos. D'este conjuncto de circumstancias resulta que a ma-
deira da raiz é mais branda, mais porosa, menos resistente,
do que a do tronco.
Por outro lado, como as fibras estão dispostas com mais
irregularidade na parte lenhosa da raiz, por ser maior, re-
lativamente, o numero das ramificações d'este órgão, a sua
madeira é mais nodosa; o que a apropria ás vezes a cer-
tos usos, pelos eflfeitos de coloração e ondeados (marcena-
ria e ornamentação, etc), com exclusão de outros (fenda, etc.)
Os canaes resiniferos, que se encontram nos troncos dos
pinheiros, também, existem na raiz, e até, de ordinário, em
maior quantidade.
Crescimento das plantas lenhosas em diâmetro. — Quando
se considera o corte transversal, fresco, de um tronco adul-
to, se abstrahirmos da assentada formatriz cortical, a que se
devem as formações tegumentares já descriptas, por maior
que seja esse tronco, só as cellulas do cambium estão capazes
de sofirer novas divisões, de originar outras ceUulas, e por
tanto de concorrer para o engrossamento d'esse órgão.
39
O cambiumy como dissemos, está coUocado entre o lenho
e o liber, fazendo a transição da madeira para a casca ; a
divisão das suas celhilas origina successivamente novos ele-
mentos, para um e outro lado, que se especialisam e ad-
cpirem as formas acima discriptas ; uma das duas cellulas-
filhas, em que se divide a cellula do cambium, toma-se
elemento lenhoso ou liberiano, emquanto a outra fica per-
tencendo ao cambium, isto é, fica cellula formatriz, sus-
ceptivel de nova divisão. Doeste modo, uma qualquer assen-
tada do lenho é de formação tanto mais antiga quanto mais
interna, e pelo inverso no liber as zonas internas são as
Biais novas.
Qnando se examina um dos nossos vegetaes lenhosos no
período que segue a germinação, ou um rebento sabido ha
pouco do botão, encontra-se-lhe uma epiderme delgada, um
parenchyma cortical, e um cylindro no centro onde correm
os primeiros feixes liberolenhosos, circunscrevendo a me-
dnlla, ligada pelos raios medullares ao parenchyma da cas-
ca. Esses feixes primitivos teem a parte lenhosa constituida
com vasos annelados, reticulados e em espiral, diversa-
mente misturados com cellulas parenchymatosas ; são elles
que, ao deante, constituem o canal medullar ; na parte Ube-
riana do feixe apparecem os tubos crivados, envolvidos
também com cellulas de parenchyma. Depois, quando a
pequena planta, ou o rebento, passa ao período seguinte,
começa então a funccionar a parte formatriz central do
feixe — o cambium — provocando o engrossamento do lenho
e da casca ; mas, nas formações secundarias do lenho, não
tomam a apparecer mais vasos com as paredes entalhadas
como os primitivos, que por isso ficam caracteristicos ao
canal medullar.
A meduUa, como nos periodos vegetativos seguintes não
pode engrossar mais, vae ficando de cada vez em menor
prqporção relativamente á parte lenhosa, cujo engrossa-
mento contínua sempre. O tamanho da medulla varia e de-
^
40
pende sobretudo da força do rebento que a constituiu: é
grande» habitualmente, no castanheiro da índia, no ailanto,
na nogueira, etc, que teem rebentos vigorosos; pequena no
vidoeiro, que os tem delgados.
As celldas do cambiumy para se reproduzirem, precisam
encontrar condições meteorológicas favoráveis ; nos nossos
climas o frio do inveme tira-lhes aquella faculdade. O en-
grossamento das arvores torna-se, doeste modo, periódico :
pára na estação fria. Denomina-se camada annucd — ^lenhosa
ou liberiana — a porção de lenho ou de liber que n'mn pe-
ríodo vegetativo se sobrepoz ás formações anteriores.
Durante a época da vida activa das plantas, nos nossos
climas, os phenomenos meteorológicos repartem-se com
desegualdade : o calor, a humidade, a irradiação luminosa,
etc, variam da primavera para o estio, e para o outono;
por outro lado a despeza, que o vegetal tem a fazer na for-
mação dos seus órgãos novos, é também diversa durante
esse período, sendo máxima no principio d'elle. Ao mesmo
tempo, a acção mechanica da resistência opposta pela casca
a distender-se vae augmentando, á medida que a camada
annual engrossa; e o diâmetro das assentadas de cellulas
sobrepostas cresce também successivamente ; originando es-
tas duas ultimas influencias, em algumas espécies, o acha-
tamento tangencial dos elementos constituitivos da madeira
collocados mais no exterior da camada. Todas estas causas
reunidas fazem com que a camada annual lenhosa não se
apresente, de ordinário, homogé-
nea, mas com desegual textura,
conforme as condições em que foi
produzida.
Se estudarmos em separado uma
Fig. 14. Secçáo transver- camada annual do lenho, verifica-
sal da madeira do ulmei- , ji j^
/ FTi .*^-. TBxms que, n'um grande numero de
ro {Ulmm camprestns, . ®.
L.). a : camada annual. essencias, a parte mtema, formada
(% : 1). primeiro, apresenta o tecido mais
41
frouxo (fig. 14, c); encontram-se ahi, ordinariamente, maior
numero de vasos, e estes com maior calibre, fibras mais
largas e menos lenhifeitas ; esta zona porosa denomina-se
2(ma de prinuwera, e a parte externa mais tochada (fig.
14, b) zona de outono.
A sobreposição de mna zona da primavera a uma zona
do outono anterior desenha, no corte transversal das madei-
ras, os circolos concêntricos a que nos temos já referido^'
e qae são tão apparentes em muitas das nossas essências
florestaes. O espaço comprehendido entre dois círculos vi-
sinhos (fig. 14, á) representa a camada annual.
As condições do meio teem grande influencia, como disse-
mos, na melhor delimitação d'estas camadas. Nas regiões
tropícaes, onde os frios do inverno não suspendem a vege-
tação, nos pontos em que o calor e a seccura do estio
a não paralysam também, a formação da madeira continua
miiforme todo o anuo, ficando homogénea, sem as cama-
das concêntricas annuaes. No emtanto,'independentemente
do clima, a organisação especial de cada essência contribuo
muito para que a distincção d'aquelles anneis seja mais ou
menos fácil.
Em algumas espécies não se reaUsa o achatamento tan-
gencial dos elementos lenhosos da zona do outono (género
Cf/tirns, etc.) ; em outras esse achatamento dá-se, mas sem
qne a membrana das fibras e vasos d'essa zona d'outono
engrosse mais (vidoeiro, amieiro, choupos, buxo, etc); n'ou-
tras dá-se ao mesmo tempo o achatamento cellular e o en-
grossamento das paredes (amoreira, loureiro, etc). Em re-
gra geral, nas Angiospermas a distincção entre as duas zo-
nas é particularmente apparente nas espécies que teem va-
sos muito deseguaes, porque então os vasos mais largos
reunem-se na zona de primavera (castanheiro, ulmeiro, etc.)
(fig. 14). Se os vasos são quasi eguaes e repartidos unifor-
memente por toda a camada annual, tanto pela zona de
primavera como pela de outono, a differença toma-se muito
42
menos accentuada, sendo em algumas espécies diiBcil a
distincção (carrasqueiro, etc), e n'outras impossível mesmo»
em muitos casos, (oliveira, etc.)
A madeira das Coníferas, embora n5o tenha vasos, apre-
senta, nas essências indigenas, as camadas annuaes muito
dístinctas; os tecidos da zona de outono s9o constituidos
por fibras mais estreitas, mais apertadas, mais lenhifeitas,
mais duras do que as da zona de primavera. Nas essências
que teem canaes resiniferos no lenho, é na zona do outono
onde elles se encontram (flg. 15, 6), ao inverso dos vasos,
gHillllllllll^ ^j^ predominância é, de ordinário, na zona
,J piPilil de primavera, como dissemos. Os canaes re-
^tlniiílmil siniferos contribuem ainda para a melhor
(Plilllilil' distincção das duas zonas, pela coloração
[ tísJl ^ ^^*^ intensa que communicam àquella onde
.,, o * existem. A posição inversa dos canaes resi-
Fig. 15. Secção A A 1 *
transversal da i^feros e dos vasos, na camada annual, tor-
madeira do pi- na muito facil distinguir estas duas espe-
nheiro bravo (Pi- cies de elementos, quando nisso houvesse
ntuPifíaster,Ait) qualquer duvida. Comparem-se a este res-
a: camada an- ^ •♦^ „« fi««,^«„ íl ^ ã^
1 t j P^ito as figuras 14 e 15.
nual. 6 : zona do *^ , ^ . _ ^
outono com ca- ^^ camadas annuaes na parte lenhosa
naes resiniferos. da raiz são bastante mais delgadas, que no
c: zona de pri- tronco, e teem, relativamente, a zona ou-
mavera (2 : 1). ^qq^j menos desenvolvida.
O annel liberiano formado cada anno é muito menos
espesso que o do lenho ; no liber não é possível distinguir
camadas annuaes, ainda mesmo quando na sua composição
alternem tecidos com desegual consistência; é que, segundo
a espécie e a edade da planta, varia o numero das camadas
liberianas formadas cada anno, e esta irregularidade é au-
gmentada ainda pelas formações suberosas secundarias,
que muitas vezes atravessam o liber, bem como pela pres-
são, sempre crescente, exercida de dentro para fora, pelo
engrossamento do tronco, que o altera e modifica, esma-
43
gando oa obliterando os tnbos crivados e as cellulas mais
brandas» e originando a textora foliacea, d'onde tomou o
Dome esta parte da casca.
Do qae temos dito se conclne que, pela inspecção de
orna secção transversal feita na base do tronco de uma ar-
vore, se pode conhecer a sua edade: o numero de annos
deve ser egual ao das camadas do lenho. Esta leitura,
para muitas essências^ é fácil á simples vista, ou com o
anxilio de uma lente; quando as camadas são pouco vísi-
veiSj consegue-se muitas vezes tornal-as mais distínctas,
sobmettendo uma lamina delgada de madeira á acção do
óleo fervente, ou da glycerina, que penetra nos vasos e os
entumece, ou da fuchsina, que lhes dá cor mais carregada.
Acontece algumas vezes que uma camada annual se en-
contra sub-dividida, apparentando duas camadas distinctas;
este phenomeno, geralmente, é devido a uma paragem na
Tida activa da planta e á formação de dois rebentos num
só anno, em virtude da irregularidade das estações. De
ordinário é possivel, com alguma attenção, evitar na leitura
da edade do lenho esta causa d'erro ; a sub-divisão de uma
camada é quasi sempre menos accusada, e seguindo-a no
seu circuito encontra-se interrompida, sem a continuidade»
mais ou menos circular, da verdadeira camada annual.
Os contornos dos anneis lenhosos dependem da organi-
sacão da espécie e das condições da vegetação. Estão em
relação directa com a forma do tronco, e para algumas es-
pécies são característicos; se o tronco é lizo e cylindrico
os crescimentos annuaes são circulares (sorveira, etc), se
é mais ou menos canelado, ou anguloso, os crescimentos do
lenho são ilexuosos (pereira, maceira, etc); quando a casca
se conserva liza e unida, comprilnindo o lenho uniforme-
mente, ficam regulares; se, pelo inverso, é gretada, as
camadas em via de formação, desapertadas n'esses pontos
adquirem outras tantas saliências. O numero e as dimensões
dos raios medullares também influem muito : circulares ou
44
ílexaosos os crescimeDlos tomam ás vezes a f6rma de arcos,
côncavos ou convexos, no espaço comprehendído entre dms
raios grossos (carvalho, plátano, etc.), ou, com menos fre-
quência, fícam angulosos, salientes, próximo aos raios, (gé-
nero Clefíuais).
Qualquer influencia qne active ou contrarie mais a vege-
tação de um dos lados da arvore — a luz, o vento, etc. —
torna as camadas lenhosas irregulares, mais desenvolvidas
n'uma direcção do que nas outras, Qcandoamedulta excêntrica,
fora do eixo geométrico do tronco (fig. 16). Nos ramos la-
leraes dà-se quasi sempre esta ex-
centricidade, e de ordinário Q'iim
mesmo sentido para cada espécie ;
nas Angiospermas a face onde as
camadas são mais largas, habitual-
mente, é a snperior ; nas Conífe-
ras, (Gymnospermas), e segundo
Fig. 16. Corte transversal de parece no castanheiro também,
um tronco mostrando os desenvolvem-se mais, pelo coDtra-
crescimentos annuaes eu- , ...
centricos. "<*, na face mferior.
A espessura das camadas lenhosas annuaes depende de
muitas causas. Prende-se um ponco à organisação especifica '■
algumas essências teem-as, em geral, bastante desenvolvidas
(ailanto, pinheiro, ele.), e outras muito estreitas (limoeiro,
teixo, etc.) ; mas pouco se pode dizer a este respeito, por-
que as influencias externas contrariam a regra a cada passo;
segimdo Nordlinger a variação da espessura annual pode
ser, na mesma espécie, como 1 :50. A fig. 17 representa
os cortes iransversaes de dois exemplares de pinheiro
manso, que fazem parte da collecção do Instituto, e cujos
crescimentos lenhosos s5o bem diversos.
Nos terrenos mais fundos e férteis o crescimento anuaal
è maior do que nos fracos e superficiaes ; augmenta tanto
mais quanto o clima é mais favorável; se a arvore cresce
isolada, braceja muito, adquire maior grossura, fica mais
45
baixa, dá madeira mais nodosa; se cresce apertada em
massiço, gaoba pelo contrario maior altura à procura de
Idz, engrossa menos e tem madeira menos nodosa. Até no
Ftg. 17. Cortes transversaes atravez dois lenhos de piíiJitiiro itisiisu (i*t-
Bw Piíiea, h.), para mostrarem em A os crescimejilos annuaes bas-
bnle largosj e em 8 bastante estreitos. (1 : 1).
mesmo individuo as camadas annuaes variam: nos annos
pluviosos e liiimidos bso mais largas do que nos annos sec-
cos; nos ramos são menores do que no tronco; a edade é
ontra cansa fortíssima de variação — ao principio a espes-
snra das camadas lenhosas augmenta com os annos, attinge
nin máximo, em certo ponto, e depois começa a diminuir.
É muito importante era silvicultura considerar, n'um le-
nho, a relação existente entre a largura das zonas de pri-
mavera e das zonas de outono das suas camadas annuaes;
d'ahi depende, em grande parte, o seu aproveitamento e
qnalidade. Esta relação varia com as influencias exteriores,
mas também depende muito, como vamos ver, da organi-
sação da espécie considerada.
Nas Guniferas a zona compacta do outono varia muito
poaco, seja qual for a espessura da camada annual; se os
46
entos s3o pequenos, a madeira é quasi toda conati-
elo tecido apertado das zonas de outono; se, pelo
o, os crescimentos s3o grandes, avultam os tecidos
; das zonas de primavera (fig. i8). A madeira das
Cortes transversaes atravez o lenho de dois pinlieiros ; em B
ladas anouaes sSo maiores do que em A, mas a zona de pri-
a só é que varia. a. camada annual : b. zona de oulono : c. zona
[navera(2:!).
as é por isso tanto melhor, tanto mais densa e re-
quanlo menores são as camadas annuaes.
\ngiospermas que teem vasos eguaes n5o ha regra
a este propósito, não existe uma relação constante
is dimensões dos anneis lenhosos e á qualidade do
mas nas Angiospermas que teem vasos muito des-
(car%'aihos, ulmeiro, etc.) acontece o contrario do
ísemos a propósito das Coníferas: é a zona porosa
aavera que fica mais constante, ao augmentar a ca-
nnual ; é a zona de outono que sobretudo varia (fig. 1 9).
írso das Coníferas, quanto maiores forem os cresci-
das Angiospermas de vasos deseguaes, tanto melhor
deira. Segue-se que os ramos, cujos anneis são me-
pessos que os do tronco, dão peor madeira do que
ais leve, mais porosa.
udo isto se conclue que, no corte transversal de um
se lê a historia da arvore: avaliam-se as suas qua-
, conta-se o numero dos seus annos, nota-se o lado
47
ioteosidade actuavam as acções meteo-
)s foram os annos em qne a arvore cres-
CÈ1X mais. Pode veríficar-se até se ella cresceu em massiço
Fif. 19. Cortes transversaes atravez os lenhos de dois ulmeiros (Vima»
campesIrU, L.) O lenho A lem as camadas annnaes muito menores que
o lenho B, mas foi a zoaa de outono que sobretudo yariou. a. ca-
mada annual: b. zona de outono: c. zona de primavera (2 : 1).
OU isolada, e no primeiro caso quaes as épocas em que esse
massiço foi desbastado ; com eITeito, as camadas aunuaes uní-
formeDieuie estreitas até essa operação, alargam depois de
repente. Por ultimo, qualtpier Terida, qualquer contratempo
soffrido pela arvore fica ali impresso, para nunca mais se
apagar emquauto o tronco existir.
Cerne, on doramen, e borne, ou albumo. — A madeira de
ntailas essências apresenta, na secção transversal, uma parte
no ceotro mais escura, mais secca, mais densa e mais rija
na parte perípherica, da qual se distingue perfeita-
Oenomina-se então cerne, ou dttramen, o cylindro in-
ig. 20, a), e home ou alburno o annel externo mais
g. 20, b).
5ição relativa de mn e outro mostra jà, que o cerne
liende as camadas anauaes mais antigas, e o borne
idas annnaes mais recentes. A distincção da cõr é,
aario, muito saliente, e a transição das duas regiões
algumas espécies, se esbate pouco a pouco (sobrei-
'^
48
ro, azinheira, etc), no maior numero de essências realisa-
se de repente, por uma linha bem definida (ulmeiro, car-
valho roble, etc.)
Fig. 20. Corte longitudinal e transversal de um tronco de ulmeiro (VI-
mus campettris, L.J a. cerne: b. albumo (1 :6).
Comparadas entre si estas duas partes, nota-se, que o
borne é constituido pelas camadas annuaes cujos elementos
anatómicos estão ainda pouco incrustados, e onde se encon-
tram mais liquides, e maior copia de principíos immedia-
tos — amylaceos, azotados, saccharinos, gommosos, etc. —
variáveis segundo as espécies vegetaes ; emquanto no cerne,
muito embora a estructura do lenho se conserve a mesma,
só existem muito pequenos vestígios d'estes principios Im-
mediatos, e todas as membranas cellulares se infiltraram e
incrustaram de novas substancias, muito ricas em carbonio
e em hjdrogenio, que dão ao conjuncto a rijeza e a colo-
ração. Nos pinheiros, em alguns casos, as membranas cel-
lulares do cerne podem transformar-se completamente, ou
quasi completamente, em resina.
Physiologicamente o cerne representa os primeiros sjm-
ptomas de uma alteração progressiva cujo termo é a de-
composição da madeira. Industrialmente o cerne é a ma-
deira completa, que adquiriu as propriedades mais úteis,
que já não pode melhorar com a edade permanecendo na
arvore viva, emquanto o borne precisa ainda sofirer modi-
49
ficaçoes idênticas para ser utilisado em boas condições.
Com effeito a maior incnistação do cerne nâo só o torna
mais denso> mais elástico e resistente, como a menor quan-
tidade de agua e de principios immediatos azotados, amy-
laceos, etc., lhe retarda a decomposição, quando cortado,
por attrahir menos os insectos, e fornecer menos materiaes
á fermentação.
Mas, nem todas as espécies lenhosas apresentam estas
differenças entre a parte interna e a externa do lenho, nem
todas teem cerne e borne ; em algumas, a madeira é perfei-
tamente idêntica, na côr e nas propriedades, em todo o
Iroaco (amieiro, faya preta, plátano bastardo, etc.) Estas
madeiras são de ordinário brandas e de cores claras, por
isso se denominam madeiras brancas ou macias; em con-
traposição a ellas dizem-se duras ou coradas as que teem o
cerne bem distincto, denso e quasi sempre escuro, acasta-
nhado, avermelhado, etc. (carvalhos, uhneiro, etc.)
Esta classificação tem na pratica algum valor, mas não
é nada rigorosa; a madeira do buxo não tem separação
entre o borne e o cerne, é uniformemente amarellada e ho-
mogénea nas suas propriedades physicas e chimicas, e no
emtanto é muito dura e muito pesada. Estão no mesmo caso
as madeiras do freixo e da oUveira, ambas sem cerne dis-
tincto, ambas de côr clara e todavia densas e resistentes.
Entre aquelles dois grupos — lenhos com cerne e borne
e lenhos todos homogéneos — podem mesmo dar-se muitas
transições; n'umas espécies as differenças entre as duas
formações consistem apenas na côr, conservando uma e ou-
tra propriedades physicas e chimicas eguaes : o mesmo grau
de incrustação, a mesma quantidade de principios imme-
diatos e de agua, a mesma densidade, etc. (choupo branco,
salgueiro branco, etc.)^ e estas madeiras industriahnente
pertencem ainda ao grupo das madeiras macias ou brancas,
apezar da coloração interna avermelhado-clara. N'outras es-
sências dà-se o contrario d'isto: o cerne e o borne distin-
C. 9. 4
n
50
guem-se pelas propriedades physicas e composição chimi-
ca, conservando ambos a mesma cõr.
De ordinário, quando nma espécie lenhosa tem cerne e
borne bem separados, quanto melhor é a qualidade do cerne»
industrialmente fallando, peior a do borne (carvalhos, pi-
nheiros, etc.)
Não se deve confundir a coloração característica do ceme
com outras manchas que, por accidente, podem encontrar-
se nos lenhos, devidas a uma alteração mais sensivel do
centro da arvore; estas manchas representam uma perda
já nas qualidades da madeira, e, de ordinário, reparando
com cuidado, é fácil caracterisal-as, porque não costumanoi
apresentar o tom uniforme do cerne ; teem quasi sempre o
contorno irregular, tanto na secção transversal como na
longitudinal, e são ás vezes limitadas por um traço bastante
mais escuro. Afora estas manchas da decomposição outras
apparocem, particularmente peculiares a certas espécies
(amieiro, alguns choupos e salgueiros, sorveira, etc), com
a forma de laminas delgadas de tecido parench}Tnatoso,
geralmente avermelhado ou acastanhado, mais raras vezes
esbranquiçado, concêntricas com as camadas annuaes e quasi
sempre mais numerosas no centro do lenho. Estas manchas
difl&cilmente se confundirão com o cerne, porque teem dis-
posição bem differente.
A transformação do borne em cerne começa em edades va-
riáveis, segundo a essência e a actividade da vegetação, rea-
lisando-se tanto mais cedo, para a mesma espécie, quanto
maior o vigor do individuo. Tem logar gradualmente, das
camadas annuaes internas para as externas, por forma que,
ás vezes, a mesma camada já soRreu a transformação de
um lado sem ainda a ter soífrido do outro. Nem todos os
annos se dá esto phenomeno com a mesma intensidade, vae
diversificando com as condições atmosphericas e com a
edade da arvore, e por isso a percentagem do ceme não
é couslanto para um mesmo individuo, o que deveria acon-
51
tecer se todos os annos uma camada de alburoo se trans-
formasse em cerne» ao mesmo tempo que o cambium ori-
gina mna formação nova de albmmo.
Segando o sr. Mathíeu, na sua Flore Forestière, o nu-
mero das camadas de alburno augmenta proporcionalmente
€(xn a edade da arvore, ao passo que a espessura total yae
diminuindo; estas leis applica-as sobretudo á formação do
cerne em alguns pinheiros. Estudos do sr. Carlos A. de
Sousa Pimentel, realisados na mata de Leiria, com o pi-
nheiro bravo, mostram que, pelo menos n'aquella mata, se
não realisa entre nós a primeira d'aquellas leis, conservan-
do-se verdadeira a segunda: isto é, augmenta o numero
das camadas do cerne, com a edade, diminuindo o numero
das do borne, e diminuindo a espessura total d'elle. No
carvalho portuguez {Querem limtcmica, Lam.) parece acon-
tecer outro tanto.
Ainda segundo o mesmo distincto sílvicultor, a duninui-
ção do diâmetro do cerne, á medida que se consideram cor-
tes transversaes successivamente mais altos, é menor que
a diminuição no diâmetro do tronco, por forma que a per-
centagem do alburno é tanto menor, quanto mais alta a re-
gião considerada no tronco (pinheiro bravo).
Cicatrisação das feridas. — As feridas no tronco, ou nos
ramos das arvores, podem interessar tecidos mais ou me-
nos interiores.
As feridas que apenas destroem os tecidos corticaes,
qoando não teem uma extensão exagerada e as arvores
Dão são muito velhas, cicatrisam rapidamente, e sem con-
sequências funestas. Os tecidos perdidos regeneram-se ou-
tra vez. O descortiçamento do sobreiro pode dar um exem-
plo bem claro d'esta cicatrisação ; as cellulas geradoras (a
ffiãe da cortiça, ou phdlogené) que ficaram adberentes ao
tronco da arvore descortiçada, reproduzem-se muito mais
r^idamente do que o fariam sem a tiragem da cortiça, e
regeneram para o exterior uma nova camada suberosa.
4*
1
, 52
Quando o eixo tem ainda a epiderme, esta é que se não
regenera mais nos pontos onde foi ferida; substitue-a uma
assentada de cortiça.
Se o golpe é mais fundo e destroe os tecidos da casca
até ao cambium, este activa as suas divisões, sobretudo
defronte dos raios meduUares, onde existem os materiaes
de reserva, forma um engrossamento, e mais tarde estas
novas formações differenciam-se , constituindo cortiça na
parte externa e liber na parte interna, em continuação
dos elementos anatómicos similares existentes ao redor do
golpe.
Quando a ferida chega a interessar o cambium e uma
porção maior ou menor do lenho, as cellulas geradoras si-
tuadas nos bordos da ferida multiplicam-se, formam um en-
grossamento em redor, cujas cellulas ao depois se especia-
lisam em liber para o exterior, e em lenho para o interior.
Estas formações lenhosa e liberiana fazem continuação com .
as camadas normaes d'esse anno.
N'este caso, se a ferida é pequena, o engrossamento em
volta pode ser tal, que a tape logo no primeiro anno; o
golpe ficará assim escondido, pelas subsequentes forma-
ções, no interior do tronco; quando a arvore for abatida^
uma secção transversal feita por esse ponto indicará, pelo
numero das camadas que envolvem aquella solução de con-
tinuidade, a data precisa em que ella teve logar. Um qual-
quer objecto estranho pode, d'este modo, ficar fechado no
tecido lenhoso.
Se a superfície da ferida é mais considerável, as coisas
passam-se de um modo semelhante, apenas o engrossa-
mento em volta não a consegue tapar só n'um anno. As
camadas lenhosas e liberianas continuam a dobrar-se, an-
nualmente, pela mesma forma, tornando a superfície descor
berta cada vez menor, até a envolverem toda. O engrossa-
mento em redor das feridas é sempre mais espesso, e ap-
parece primeiro, no bordo superior.
53
Como exemplo d'esta ultima cicatrísação pode tomar-se
) das feridas no tronco dos pinheiros resinados. O corte
transversal, feito convenientemente em arvores cuja cicatrí-
sacão esteja em diversos graus de adiantamento, mostra
twm tudo quanto dissemos. As figuras 31 e 22 procuram
Fif. 11. Secr-ão transversal no tronco de um pinheiro bravo (Pinut Pt-
Hiter, Ait,) resinado, e cuja ferida está em viadecicatrÍs3;ao(l:6).
dar mna idéa d*estes plienomenos.
Convém todavia advertir que uma d'eâsas feridas pode
ficar, é certo, completamente tapada pelas novas camadas
lenhosas, mas, as cellulas d'est3s camadas, embora formem
coiUniiação anatómica entre si, de modo nenhum a formam
wm os tecidos subjacentes ao ponto ferido. Ahi, as cellulas
fitam apenas justapostas, e por isso mesmo a resistência
ài peça de madeira será muito menor n'aquelle ponto.
Onando as arvores são de edade adiantada e soffrem
grandes feridas, acontece muitas vezes que a cicatrísaçSo
jj se não pode completar; a parte descoberta, exposta ás
Kções atraosphericas, decompõe-se então, apressando a
mina do lenho e, em alguns casos, a morte da arvore.
54
Fig. 22. Secção transveraal do tronco de um pinheiro bravo resinada,
e cnja ferida ji está completamente cicatrísada (1 :£)■
Composição chimica da madeira. Consideraremos a cmi-
posição elementar e a composição immediata.
Composição elementar. — As madeiras das diversas es-
sências, apezar de divergirem tanto umas das outras, pela
c^, dureza, elasticidade, densidade, resistência aos agen-
tes atmosphericos, etc, teem uma composição elementar
muito semelhante (quando completamento seccas), como o
demonstra a seguinte tabulla dada por Chevandier:
EuMeU» GarboDla Hydnganio Oijrgento A»l*
riji(fiiíTOMlOT-l tronco.. 49,89 6,07 43,11 0,93
lica.l.) (ramos.. 50,08 6,23 41,01 í,08
1 tronco. . 50,64 6,03 42,05 l,S8
'"'"* (ramos.. 50,89 6,16 41,94 1,01
(tronco.. ii0,61 6,23 42,04 1,12
(ramos.. 51,93 6,31 40,69 1,07
55
Oarboaio Hydvogealo Oxygenlo Azote
(tronco.. 50,31 6,32 42,39 0,98
CiMpo treneddr. . . {
^ (ramos.. 51,02 6,28 41,65 1,05
_ . l tronco. . 51,75 6,19 41,08 0,98
' ( ramos . . 54,03 6,56 37,93 1,48
D'onde se deve concluir, que as qualidades das difTeren-
tes madeiras dependem muito mais da sua composição ana-
tómica— relação niunerica das fibras e vasos, dimensões
doestes elementos, seu arranjo, etc. — do que da composi-
ção chimica elementar.
O sr. Violette demonstrou que a madeira, reduzida a pó
e bem limpa de ar, tem sensivelmente a densidade cons-
tante 1,50; as variações extremas estão comprehendidas
entre os números limites 1,52 e 1,49, e correspondem a
madeiras tão differentes como o pau ferro, o carvalho e os
choupos. Segue-se, que a determinação da densidade pelo
processo da pesagem e avaliação do volume de um solido
regular de madeira, dando a medida exacta da sua porosida-
de, é um excellente indicio das suas qualidades e duração.
Composição tmmediata. — A madeira, anatomicamente con-
siderada, é, como vimos, uma reunião de cellulas de diver-
sas formas, grupadas em differentes tecidos. As paredes d'es-
tas celluJas, quando novas, são constituídas pela cellulose, hy-
drato de carbonio da formula (C^H^^C)", com uma certa
quantidade de agua de imbibição, e uma pequena parte de
substancias mineraes, que pela combustão remanescem co-
mo cinzas. Esta formula corresponde á seguinte composi-
ção centésima] :
Carbonio 44,44
Hydrogenio 6,17
Oxygenio 49,39
100,00
56
A cMulose pura é um corpo solido, branco, translúcido»
inodoro, insípido, mais denso que a agua, insolúvel n'este
liquido, bem como no álcool, no ether, nos ácidos e alca-
lis (em solução fraca), solúvel no licor cupro-ammoniacal.
Não é corada pelo iodo, mas depois de ter soffrido a acção
do acido sulphurico concentrado, ou do chioreto de zinco,
o iodo dá-lhe a côr azul.
O sr. Fremy admitte diversas celluloses, principalmente
caracterisadas pelo grau de solubilidade em differentes lí-
quidos, e pela acção variável que sobre ellas exerce o iodo.
Considera-as como substancias isomericas por polymeria,
isto é, em differentes graus de condensação d*aquella for-
mula tjpica. Estas cellidoses extrae-as de diversos vegetaes
e de diversos órgãos, e dà a cada uma um nome especial.
Com a edade as paredes das cellulas soffrem as mudan-
ças a que em parte nos referimos já, quanto á espessura,
aspecto, côr, e propriedades physicas e chimicas. Estas
mudanças podem affectar a membrana toda, ou só alguma
das suas camadas concêntricas.
No lenho as membranas cellulares incrustam-se com uma
substancia ternária mal definida, diversamente considerada
pelos ciiimicos, e chamada linhina por alguns; mas, ás ve-
zes, a camada interna da membrana permanece no estado
. de cellulose pura (Coníferas, etc.)
A linhina tem mais carbonio, mais hydrogenio e menos
oxygenio do que a cellulose. Alguns auclores procuram as-
signalar-lhe uma formula chimica, mas outros consideram-a
de composição variável e constituída pela mistura, em dif-
ferentes quantidades, de diversos outros princípios imme-
diatos. Para o sr. Fremy a dureza dos tecidos lenhosos de-
pende principalmente de um principio immediato bem ca-
racterisado, que denominou vasctdose, e que, segundo elle,
forma em grande parte os vasos e as tracheas, e reúne
entre si as cellulas no tecido lenhoso.
As membranas cellulares lenhifeitas coram-se de ama
57
rello pelo iodo e pelo chioreto de zinco iodado, de côr de
rosa pela fuchsina, de amarello pelo sulphato de anilina;
são insolnveis no licor cupro-ammoniacal ; solúveis, pela
ebullição, n'iuna mistura de acido nitrico e de chlorato de
potássio, bem como no acido chromico; tratadas pelo acido
nítrico ou pela potassa, a quente e sob pressão, deixam um
resíduo com todos os caracteres da cellulose pura.
A substancia a que as madeiras devem a sua maior du-
reza— linhina ou vasadose — existe em maior quantidade
nas madeiras denominadas duras do que nas macias ; em
maior quantidade no cerne do que no borne.
Mas as modificações ulteriores das membranas cellulares
não consistem só na lenhificação ; passaremos rapidamente
em revista as outras d'essas modificações que nos interes-
sam.
Na camada peripherica da casca as membranas cellula-
res transformam-se em cutina, e em diversas camadas mais
ou menos subjacentes transformam-se em siiberina, com as
propriedades physicas que já descrevemos. Estes dois phe-
nomenos teem entre si as maiores analogias chimicas; as
membranas cellulares n'ura e n'outro caso coram-se então
de amarello pelo iodo e pelo chioreto de zinco iodado ; não
são atacadas pelo acido sulphurico concentrado; o acido
nitrico dissolve-as, á ebullição, formando-se o acido sube-
rico; bem como as dissolve, a quente, a potassa cáustica
em solução concentrada. A cortiça é muito mais pobre em
oxygenio que a cellulose ; reveste sempre toda a superficie
e toda a espessura da membrana cellular, mas n^umas es-
sências a cellulose transforma-se completamente em svbe-
rim, como nos salgueiros, emquanto n^outras a camada in-
terna cellular só está impregnada d'esse corpo, e depois
de ter soffrido a acção da potassa azula pelo chioreto de
ânco iodado (choupos, plátano, etc.)
Ás vezes a cellulose transforma-se n'um outro corpo iso-
merico, de consistência córnea depois de secco, e que sob
58
a influencia da agaa entumece muito, e toma a forma ge-
latinosa: as ceiluias dizem-se então gdificadas; não coram
pelo iodo, nem pelo chloreto de zinco iodado ; a potassa e
os ácidos ainda as entumecem mais. Este phenomeno tor-
na-se particularmente evidente na casca e no lenho de mui-
tas das nossas arvores de fructo (ameixoeiras, cerejeiras,
amendoeiras, etc), nas quaes as ceiluias fortemente geli-
ficadas, entumecidas pela agua, exercem pressão sobre as
partes periphericas do tronco e dos ramos, rasgam-as e
exsudam para o exteriar, produzindo a secreção gonimosa
d'aquelles espécies.
N'outras circumstancias a membrana cellular mineralisc^
se, isto é, accumula tão grandes depósitos mineraes, que
chegam a mascarar-lhe as reacções próprias da cellulose.
Estas ceiluias adquirem muita consistência e grande dureza.
Geralmente as ceiluias mudam de côr ao sofifrerem as
modificações descriptas, mas essas mudanças de côr são
independentes d'aquelles phenomenos e devem-se ao ap-
parccimento de substancias corantes especiaes pouco co-
nhecidas. Nos lenhos de algumas espécies as substancias
corantes são em tamanha quantidade, que elles podem ser
industrialmente explorados como matérias tinturiaes.
Na madeira completamente secca a cellulose e a linhi-
na, ou vasculose, entram nas percentagens de 90 a 967o;
formam a parte restante muitos outros princípios immedia-
tos e as substancias denominadas mineraes — as que ficam
como residuo da calcinação.
Os principies immediatos que se encontram com a cellu-
lose e a vasculose na composição da madeira variam muito»
quantitativa e qualitativamente, segundo as essências con-
sideradas— são substancias amylaceas, saccharínas, albu-
minóides, resinosas, corantes, alcalóides, ácidos, etc. Em
muitas cascas accumula-se o tannino, ás vezes em grande
excesso.
A parte mineral regula, em média, por 17o. na madeira
ifi*9
r
59
completamente secca> ou 0,87o na madeira secca ao ar
(eom 20 7o de agna). Mas esta percentagem das cinzas ya-
ria bastante nas differentes essências, e até no mesmo in-
diyidao com a região considerada; em regra quanto mais
seiTOso 6 um tecido maior a quantidade das cinzas : assim
os ramos deixam-as mais avultadas que o tronco, as cas-
cas mais do que o lenho. As cinzas são constituídas por
diversos saes, uns solúveis, outros insolúveis: carbonatos,
sulphatos, phosphatos, silicatos, de potássio, cálcio, sódio,
magnésio, ferro, etc.
Para terminar este estudo resta-nos só considerar a agua,
qae existe sempre em grande quantidade nos lenhos das
arvores. Nos troncos vivos a percentagem d'agua varia com
as estações, e varia também consideravelmente d'especie
a espécie. A percentagem máxima encontra-se na época do
maior movimento da seiva, na primavera ; diminue no ou-
tono, e é minima no inverno. Schubler e NeuJQfer deter-
minaram as seguintes quantidades, nas mesmas madeiras,
em duas épocas do anno differentes :
«
Agua por iOO
Fins de Janeiro: Princípios de abril:
Freixo 28.8 38.6
Castanheuro 40.2 47.1
Abeto 52.7 61.0
Ainda segundo Schubler, as percentagens de agua de al-
gmnas essências florestaes são as seguintes:
Agua por %:
Carpinus Betulus, L 18.6
Salgueiro (Salix Caprea, h.J 26.0
Plátano bastardo (Acer Pseudo-platanus, L.J . . . . 27.0
Freao (Fraxinm excelsior, h.) 28.7
Vidoeiro (Mula alba, L.J 30.8
60
Agna por %:
rvalho commuin (Querats fíobur, h.) 34.7
«to (Pinus Abies. L.J 37.1
ia (Tilia Europaea, h.J 47.1
loupo d'Ualiã (Populus itálica, L.J 48.2
lOupo negro (Populus ntgra, L.J 51 .8
N'um mesmo individuo a quantidade d'agua varia, sendo
ito maior quanto mais nova, e portanto mais tenra e sbc-
ii, a região considerada.
Depois de cortada a madeira uma parte da agua evapo-
se. Esta evaporarão é máxima logo em seguida ao cor-
, diminuo depois, e chegado um certo momento fica es-
pionaria ou, mais rigorosamente, só varia com o estado
grometrico do ar. Em média, um anno depois de corta-
, a madeira retém 20 a 23 % da agua total qne conti-
a. Na rapidez da seccagera tem uma grande influencia
dimensões da peça cortada, a rigidez do tecido e estar,
n3o, o tronco descascado; a casca difQculta extraordiaa-
imente a perda d'agua.
3. •—RAMIFICAÇÃO DO TRONCO
Formas de ramiflcaçâo. — Nas espécies lenhosas indigc-
s o tronco, o eixo da ramificação aeria, tem a forma,
lis ou menos regular, de um cone muito alongado. O
)ngamento do eixo d'esle cone proporcionalmente á cir-
mferencia da base depende muito da espécie considera-
, e ainda mais das condições da vegetação.
Em algumas essências de pequeno porte o tronco con-
rva-se sempre vestido de ramos desde o solo ; nas gran-
s arvores acontece isto tand)em nos primeiros annos,
)s com a edade as ramificações inferiores definham, seo-
r
61
cam e caem ordinariamente, apresentando-se ao depois o
eixo principal nú em grande extensão.
A ramificação do tronco realisa-se pela sua divisão em
eixos secuadarios, d onde partem novos eixos de menor
grandeza, e assim successivamente. Em condições normaes
estes eixos são iniciados nos botões que se encontram nas
axillas das folhas, e por isso a ramificação de cada espé-
cie obedeceria á mesma lei segundo a qual as folhas estão
dispostas, se não se dessem muitas causas dlrregularida-
de, sendo as principaes o abortamento d' alguns botões nor-
maes, a formação de boíões adventícios, como' adiante dire-
mos, e o desegual vigor dos diversos rebentos. No em-
tanto a ramificação de cada essência tem logar segundo
lun plano bastante estável, dentro de certos limites.
A disposição dos ramos diz-se vertícillada, opposta ou cU-
tema, conforme n um mesmo ponto estão inseridos muitos
ramos (pinheiros), ou só dois (plátano bastardo), ou apenas
um (carvalhos).
No arranjo e orientação dos ramos sobre o eixo inter-
vém, era grande parte^ afora a acção da conformação in-
leraa, uma regra mechanica, encontrada pelo sr. Hofmeis-
ter, e que se pode formular assim : cada novo ramo nasce
por cima do maior intervallo deixado pelos ramos anterio-
res, mais recentemente formados. Esta regra explica a dis-
posição cruzada, quasi constante, dos ramos oppostos, rea-
lisa-se egualmente para os ramos verticillados e alternos,
e explica muitos accidentes e disposições da ramificação.
Quando os ramos se dispõem sobre um único plano para
um e outro lado do eixo, formando assim as suas inserções
duas únicas linhas longitudinaes, dizem-se disticados (ra-
minhos do ulmeiro).
N'algumas essências o tronco cresce constantemente, ou
durante um grande período, alongando-se com a edade na
vertical (choupo dltalia, pinheiros, etc.) N'outras espécies
aquelle crescimento pára em certa edade, e só a copa de-
1
62
se alarga e desenvolve; mas, D'este alongamento do
\o as condiçSes da vegetação teera uma grande influen-
priDcipalmente o estarem as arvores isoladas ou em
jço. O castanheiro é um bom exemplo d'este ulUmo
: quando vive isolado alarga extraordinariamente a
, e o crescimento do tronco cessa-lhe em edade bas-
: curta.
snominamos fuste o espaço do tronco contado desde a
até á inserção dos primeiros ramos ; chamamos ci^
}njuncto de todas as ramificações.
1 ordinário os ramos são levantados, formando um an-
mais ou menos agudo com o tronco, angulo variável
as essências e com a edade da arvore ; comtudo em
nas essências são horísontaes, como do cedro baslar-
: n'outras pendem para a terra, como no diorão, ou fe-
i-se muilo contra o tronco, tomando a copa o aspecto
)rme, como no choupo dltalia. A ramificação do pi-
'0 manso ê característica : tem o fuste muito grande
elação A copa, e n'esta os ramos mais ou menos aber-
ara os lados, levantados nas extremidades, dando ao con-
0 o aspecto de uma umbelia. A copa dos carvalhos, e
luitas outras essências, é mais ou menos arredondada,
relação entre o fuste e a copa varia muito nas diver-
issencias.
issiflcaçSo dos ramoa. — Os ramos tomam differentes no-
conforme a sua grossura e situação. Chamaremos per-
s, ou arrancas, as primeiras e mais fortes ramificações
ai tronco elevado ; ramos propriamente as ramificações
mediarias; raminhos os rebentos do anno anterior, que
jã consistência bem lenhosa ; renovos ou rebentos as ul-
i ramificações ainda herbáceas, no anno em que sabi-
dos botões.
tdes normaes. — Ghamam-se botões, ou gomo»*, os or-
rotero, e<ij> terminologia sdoptamot, com rarissiinas exeepfOei,
63
licos qne apparecem no extremo dos re-
bentos, bem como na axilla das folhas, e onde se eocon-
tram os radimentos de nm futoro renovo. Segando a sua
I
I
Fkj. m. B&minho do choupo do
, {Pojndut moailifera.
i : BoUo teroiinal : B.
latentes, a : cícatrú
. pela qaeda da folha
Fig. 34. Raminlio do pUtano bas-
tardo (Ãcer Pteudo-platantu L.)
com os botCe» lateraes oppot-
tos (1 : 1).
. 23, A) ou laic-
os botões dizem-se terminaes (
. 23, fl).
se a estes botfles foUiosos emprega o termo gomo em logar
esta ultima palavra reserra-a mais parti uularmeulc para os
64
O espaço comprehendido entre dois botões lateraes, col-
locados em planos um superior ao outro, denomina-se en-
tre-nó. As dimensões dos entre-nôs variam não só com as
essências como também, para cada uma d'ellas, com as
condições da vegetação.
A disposição dos botões iateraes é idêntica á das folhas :
são alternos (fig. 23), nos choupos, ulmeiro, carvalhos ; op-
postos (fig. 24) no plátano bastardo, freixo, etc. ; verticillados
nos pinheiros.
Quando se faz o corte longitudinal de um botão encon-
tram-se, de ordinário, (nas essências indígenas), escamas
sobrepostas, na parte externa, constituindo um invólucro
fechado (figuras 23, 24, 25). No interior é que
existe o rudimento do renovo, sob a forma de
um cone, mais ou menos alto, depremido no
vértice, que è o ponto vegetativo, e tendo nas
superfícies Iateraes pequenas saliências, repre-
sentando cada uma o esboço de uma folha.
As escamas protectoras encontram-se nos bo-
tões de quasi todas as arvores e arbustos dos
Fig. 25. Corte qqssos climas ; teem por fim abrigar a extremi
longitu nai ^^^^ ^^,^ ^^ ^^^^ ^j^^ durante o rigor do in-
do botáo ^ ,
terminal do ^^rno, e por ISSO nao existem, em geral, nas
choupo do espécies dos climas onde a vegetação é conti-
Canadá (1 : i) nua. Estes botões assim desprotegidos dizem-se
nús, taes são os do sanguinho d'agua, em opposição aós
outros, que se chamam escamosos.
botões floraes das arvores. NSo adoptamos esta distincçSo pelas seguin*
tes razões : l."» Porque se chamarmos gomo áquelle corpo que só pro-
duz rebentos folhosos, e botão ao que só origina flores^ ficamos em em-
baraço para denominar o corpo mixto d'onde saem eixos com folhai
e flores. 2.<*: Porque a terminologia latina lambem só emprega a palavra
gemma, seguida do qualificativo floral quando quer significar que pro-
duz flores. 3.°: Porque em linguagem vulgar a palavra botão se em-
prega indistinctamente n'um e outro sentido, e se emprega de prefe-
rencia á palavra gomo, apezar d'estA ser também usada.
65
Âs escamas dos botões teem contextura muito diversa ;
em algumas espécies s3o quasi herbáceas (alfenbeiro, lilaz),
n'outras, pelo contrario, são rígidas, seccas. Habitualmente
apresentam a forma de colher, ou de escama de peixe, e
teem as cellulas cheias d'ar, tornando-se más conductoras
do calor, e dando por isso óptimo abrigo.
Em determinadas espécies as escamas mais externas en-
contram-se ainda protegidas por differentes outros modos :
nas Coníferas estão cobertas d'um inducto resinoso; em al-
guns choupos d'um verniz gommo-resinoso ; no choupo branco
estão vestidas de pellos (íig. 26); no castanheiro da índia
teem simultaneamente pellos e secreção gom-
mo-resinosa, etc. Aquellas secreções soldam as
escamas, cobrem o botão inteiro, e tornam-o
impermeável ; umas vezes são realisadas por
algmnas cellulas epidérmicas e são expulsas
atravez a cutícula, que levantam (amieiro,
choupos, etc), outras vezes são produzidas
porpeí/os massiços (castanheiro da índia), como ^^S- ^^- Botões
já dissemos. do choupo
- branco. (Po-
As escamas dos botões são folhas que sof- puius alba,
freram um desenvolvimento especial. O botão l.), cobertos
representa, como dissemos, o esboço de um de pellos
rebento, onde os entre-nós estão ainda muito (* *• *)•
cwlos, e os cyclos foliaceos, mais ou menos rudimentares,
ficam apertados uns contra os outros ; são as folhas mais
externas d'este rebento que se especialisam em escamas
protectoras.
Comparando com attenção a forma das escamas mais in-
ternas e a forma das folhas mais externas do botão, tor-
Da-se, muitas vezes, possível dizer qual a parte da folha,
qne constitue a escama, e quaes as partes que abortaram:
assim no alfenheiro, na madresilva, no lilaz, etc, é o limbo
da folha qne soffre aquella especiaUsação; no freixo^ no
castanheiro da índia, no sabugueiro, etc, é a bainha da folha
C8. 5
66
I se transforma em escama, abortanc
lOS são as estipulas que origiuam aqi
do todo o resto da folha, etc. Estas
ioladas porque, como diremos adiai
e sempre posterior ao limbo, e n'este
crescer antes da época em qne elle
) numero de escamas que envolvem
lél: podem ser numerosas (ulmeiro,
duas (castanheiro, plátano), ou uma ;
<As formas dos hotões, e
riam muito conforme as esf
ros sSo compridos e fusifori
lares do amieiro são trian
sobre um pedicello (fig. 27)
tardo são ovóides, grossos,
27.Botao camas verdes, quasi herbae
amieiro, negm (flg, 21); os da amor
""*? I ramidaes; os do plátano e;
} inserido base ôca do peciolo, e sò i
treumpe- berto depois da queda das
;eiio(i:i). da acacia bastarda estão
)-
28. A. Rebento e base do peciolo da foi)
íádenlalis, L.) onde está incJuido o botSo. B
,do traasvers&linente, e deixando var o botj
67
muito pequenos e nús, incluídos n'uma cavidade axillar,
entre as estipulas, cavidade que depois da queda da folha
se abre por uma pequena fenda. Em algumas essências o
botão terminal é maior do que os axillares (freixo, casta-
nheiro da índia, plátano bastardo, etc.) (fig. 24); em algu-
mas outras o botão terminal aborta quasi sempre, e o eixo
prolonga-se, n'esse caso, por um botão axillar.
O tamanho e a forma dos botões, o modo por que estão
inseridos, a consistência e cor dos seus invólucros exter-
nos, os inductos e tomentos que os revestem, etc, podem
ntílisar-se para auxiliar a distinguir as espécies durante o
inverno, quando, muitas d'ellas, estão sem folhas.
O botão terminal está em relação directa com a meduUa
do tronco (fig. 25) ; as cellulas d'este novo prolongamento
do eixo, quando elle se desenvolver e se transformar em
rebento, hão de especialisar-se em tecidos que sejam a con-
tinuação dos que já estão formados ; assim nos primeiros
feixes lenhosos apparecerão os vasos característicos do ca-
nal medullar, circumscrevendo uma medulla, etc. Nos re-
novos saidos dos botões lateraes a formação e adaptação
dos tecidos é idêntica; os seus feixes ligam-se também
com os feixes do eixo sobre que se desenvolveram, mas
esta ligação pode operar-se de dois modos diflferentes nas
espécies indígenas : umas vezes (pinheiros, zimbros, etc.) os
feixes do rebento reunem-se n'um pequeno numero de gru-
pos, atravessam a casca do eixo sobre que o botão se for-
mou, e juntam-se com os feixes d'esse eixo nos pontos onde
eiles limitam, á direita e á esquerda, o vasio deixado pela
saída do fôixe médio da folha-mãe ; n'outras espécies (hara,
etc.) esta inserção dos feixes do rebento opera-se directa-
mente sobre os feixes da folha-mãe, no ponto onde elles
se separam do oylindro central do ramo ou do caule.
O esboço do rebento, incluído no botão terminal, inicia-se
ao mesmo tempo que se está desenvolvendo o eixo, qpe elle
termina ; á medida que esse eixo vae saindo do botão ondQ
5*
68
lu; por isso, a não ser em virtude cl'um accidente,
!Íxo tem sempre um botão terminal. Os botões la-
«neçam a formar-se quando as folhas, a cujas axil-
iurem, esteio ainda muito uovas; começam a for-
linda no seio do botão terminal, onde, em esboço,
tido o eixo sobre o qual, depois, elles se hão de
íer.
cipio os botSes tomam o nome de dhos; desenvol-
lepois um pouco até ao outono, e assim desca-
se denominam mais propriamente botões; passam
) n'es5c estado e na primavera seguinte entume-
em e originam os rá)entos. As escamas protectoras
3o deixando cicatrises appareotes na base do novo
- essas cicatrises se pode com facilidade, ao diante,
o ponto de ligação do raminho e do rebento,
linaremos época do desabrolhametao, ou da folkeação,
em que se abrem os botões e apparecem as pri-
ilbas.
> o botão começa a abrir, nota-se que as folhas
iversas posições n'essa pequena cavidade, procu-
;upar o menos espaço possível, e para isso dobram-
am-se, ou enrolam-se por differentes modos.- Este
as folhas no interior do bot3o chama-se folheatura,
ante para cada espécie.
ieatura deve considerar-se o modo por que está
:ada folha, e o mode por que as folhas se dispõem
ío umas ás outras.
arando cada folha isolada, a folheatura díz-se do-
meio quando a folha se dobra em duas metades
Tira centra! (carvalho, amendoeira, etc); diz-se
quando a folha se dobra transversalmente; /ran-
ado. se enruga em pregas long^lndinaes, tomando
d'um leque (vidoeiro, bordo, videira, etc). Se a
enrola podem os dois bordos ficar voltados para
superior, e a folheatura di&se então mvobtíosa
69
(choapos, sabagaeiro, madresílva, pereira, etc); ou os dois
bordos virarem-se para a pagina inferior, e denomina-se
twdutosa (loendro, etc); ou a folha enrolar-se sobre si
mesma em cartucho, e chama-se enrolada (ameixoeira, ber-
beris, etc.). Finalmente quando as folhas se não dobram de
nenhum modo a folheatura diz-se plana (freixo, liláz, etc.).
Em relação umas ás outras, as folhas no interior do botão,
OQ só se tocam pelos bordos e a folheatura é valvular, ou,
sendo planas, sobrepõem-se de modo que as mais externas
tapam as mais internas e diz-se imbricada. Âs folhas dobra-
das a meio podem abraçar entre as suas metadas todas as
folhas mais interiores e a folheatura denomina-se acavai-
kirada, ou abraçarem apenas a metade de uma outra folha
dobrada do mesmo modo e chama-se então enganchada ou
óbcdvida.
Crescimento das plantas lenhosas em altura. — Nos nos-
sos climas, ao começar a temperatura a subir, em seguida
aos frios do inverno, as plantas lenhosas, cujo crescimento e
engrossamento tem estado suspenso (quer sejam espécies de
folhas caducas quer sejam de folhas persistentes), entram
em nova actividade vegetativa. Os botões terminaes e late-
raes engrossam, abrem-se e originam outros tantos re-
bentos; os eixos antigos alongam-se, d'este modo, com todo
o tamanho dos novos rebentos terminaes, e ramificam-se
pelos rebentos lateraes.
Em algumas espécies esse alongamento è muito conside-
rável e muito rápido. O caule de um eucalypto novo chega
a crescer alguns centímetros em 24 horas, e o rebento ter-
minal d'um pinheiro bravo pode, ás vezes, n'uma semana,
deitar a mais de meio metro. De resto, as dimensões dos
rebentos, se dependem bastante da essência, variam também
muito com a edade da arvore, e com todas as outras cir-
emnstancias da vegetação.
A época em que as diversas espécies lenhosas apre-
sentam as primeiras folhas depende muito do clima local.
ÍW*»(l'iiiifiii^
72
^
mo dissemos, estava já esboçacto no boUo
um eixo muito curto, com os rudimentos
:eos muito aproximados, e os tecidos aioda
os deOnitivamente; é a custo do alongamento
s que elle ao depois se desenvolye. Quando o
ga e sae do bot3o as cellulas da pai^ supe-
Dovas cellulas formatríses e, d'este modo,
odo o eixo termina sempre em um ponto ve-
le permitte o alongamento successivo; este
}, que não tem tempo para formar Q'essa es-
3V0, ficará depois ÍDcluido, do mesmo modo,
ninai,
riodo que a arvore leva a constituir os re-
a sua despeza em principies immediatos é
na lenhosa, fabricada na mesma época peio
lixos mais antigos, fica porosa, menos lo-
entiifeita, com todos os característicos que
1$ sob o nome de zona de primavera. Mais
quando a arvore fecha os seus botSes ter-
os rebentos deixam de crescer, a despeza
ladeira, mais apertada e mais incrustada,
ir a zona de miono da camada annual.
lo da raiz pára também d'invemo, mas a
ícaba mais tarde e desperta mais cedo, que
da planta.
e as cellulas do renovo se especialisam nos
; integrantes uma grande parte delias alon-
ficam-se. Os tecidos novamente formados,
fazem continuação com os tecidos idênticos
inferior. Quando se acompanha, n'uma ex-
I, o arranjo dos seus elementos anatómicos
as vezes os elementos semelhantes se sobre-
verticaes (freixo, ulmeiro, etc), ou, no maior
is, se sobrepõem em series obliquas, enro-
!, e com uma inclinação constante sobre a
r
73
Tertical (de 45** na romeira, de 40® na sorveira, de 30®
DO iilaz, de 10® a 20® na castanheiro da Mia, de 3® a 4®
DO Tidoeiro e no choupo dltalia, etc). Em algumas essên-
cias o sentido do enrolamento é também constante (sem-
pre para a direita no castanheiro da índia, sempre, para a
esquerda no choupo dltaUa) ; n'outras espécies ha uma di-
recção predominante, mas sujeita a excepções (á direita na
pereira, á esquerda nos salgueiros). Considerada nas ca-
madas annuaes successivas umas vezes a direcção conser-
?a-se sempre a mesma, outras vezes varia de sentido em
cada uma (pinheiros). Esta disposição helicoidal da assen-
tada geratriz, do liber e do lenho, chega, em alguns ca-
sos, a tornar-se visivel externamente: já pelo gretado da
casca, já pelo engrossamento local do tronco em determi-
Dados sitios, na mesma direcção.
Âo mesmo tempo qne no rebento se vão especialisando
os diversos tecidos a constituírem uma medulla, um canal
medollar com os seus feixes primários, uma assentada de
cambíum, um liber primário, um parenchyma cortical e
mna epiderme, no raminho do anno passado o cambium
origina, como dissemos, uma nova camada libero-lenhosa,
bem como a originam identicamente os tecidos geradores
de todas as outras porções mais antigas dos eixos. D'este
modo a figura theorica, que representa o augmento em ai-
tara e espessura do lenho do tronco, e de cada eixo da
ramificação, compõe-se de tantos cones alongados, mettidos
\m nos outros, quantos forem os annos de vida d'esse
tronco, ou d'esse ramo, occupando o vértice de cada pyra-
mide a altura a que chegou o rebento no anno correspon-
dente.
As pyramides mais externas representam as ultimas for-
mações. Um corte transversal d'um qualquer eixo faz co-
nhecer, pelo numero das camadas annuaes sobrepostas, a
edade da região onde se deu o corte. Uma arvore de 20 annos
, terá 20 anneis lenhosos no tronco, próximo á terra, um
74
inel no rebento terminal, e anneis em todos os outros
imeros intermédios a alturas também intermédias.
Esta figura theorica diz respeito só ás formações leuho-
s; se n'ella quizessemos incluir também as formações
rticaes, teríamos a suppor dois systemas de cones sobre-
istos; o systema externo, cortical, apresentaria exacta-
BDte as disposições descriptas para o do lenho, só com a
Fterença de que n'elle as formaçóes mais antigas seriam
mais externas.
De tudo quanto dissemos acerca do desenvolvimento do
novo terminal se deprehende, que a edade de uma ar-
re poderá também ser determinada pela contagem dos
bentos que lhe constituíram o tronco, sempre que essa
ntagem for possivel. Acontece isto particularmente nos
Dheiros, qne só teem botões axillares junto às folhas do
timo cyclo da espiral de cada eixo, na base do botão ler-
inal, e por isso só formam cada anno um verticillo de ra-
os na base do rebento terminal: o numero de annos,
I o numero de rebentos que constituíram o tronco, é,
este caso, egual ao numero de verticillos. No emtanto,
mo a arvore com a edade se despe dos ramos inferiores,
ta verificação só tem logar para arvores novas, e deve o
iservador estar precavido contra os erros provenientes
I má contagem devida á formação excepcional de dois re-
intos n'um anno só; n'este caso, de ordinário, os dois
(rticillos do mesmo anno estáo mais chegados que os res-
nles, e cora algum cuidado é quasi sempre possivel evi-
r o engano. Esta formação dupla de rebentos e de carna-
is lenhosas no mesmo cyclo vegetativo realisa-se quando
seccura do terreno, ou um golpe forte de sol, suspende
vegetação estival, seguindo-se depois um outono húmido e
lente, que a desperta ontra vez.
O rebento terminal das arvores, quando est3o em boas
mdições de vegetação, é mais desenvolvido que os reben-
slateraes; denomina-se j7«cAa, ou (^a/ocAa particularmente ■
75
ando a flecha é destruída, por qualquer
s lateraes adquirem maior vigor.
I aiilla de cada folha existe um só botão,
— stirem mais em algumas espécies. Estes
botões múltiplos tomam diversas posiçdes em relação uns
tos outros: são lateraes ua ameixoeira brava, sobrepostos
OD linha vertical na nogueira, acácia bastarda, etc.
Os botões lateraes d'um mesmo raminho apresentam
sempre desegual vigor: em regra s5o tanto mais fortes
quanto mais próximos da extremidade, sendo até vulgar
abortarem os da base. Esta desegual robustez dos botões,
e dos eixos que elles originam, junta às causas propria-
mente externas, à desegual repartição do vento, da luz, etc.
que ora favorece, ora contraria o desenvolvimento de deter-
minadas ramificações, contribuem, em grandíssima parte,
para a irregularidade com que se apresentam divididos os
troncos das arvores.
Renovo antecipado.— Denoniina-se renovo anteàpoâo aquel-
le que se desenvolve mais cedo do que devia ser: nSo no
(7do vegetativo seguinte, mas n'aquelle mesmo em que
foi creado o botão. Este pbenomeno corresponde a deter-
minadas condições climatéricas, como dissemos, e presup-
' põe a accomulação de muitas substancias nutritivas na ar-
vore, sem emprego.
Botfles folhosos, Soraes e mixtos. — Dizem-se botões folko-
[ K$, ou botões simplesmente, os que originam eixos com
í folhas, mas sem flores ; dizem-se botões florões os que prodn-
I tem eixos que supportam essencialmente flores; cbamam-
! «■ ''"'flM mixtos aqueiles que originam eixos com folhas
is. No primeiro período do desenvolvimento estas
is ordens de botões não se distinguem anatomica-
; mais para o diante é fácil differençal-os : os botões
IS são quasi sempre mais estreitos e aguçados (fig.y
; 05 botões floraes são de ordinário mais grossos,
s, entumecidos, mais oa menos obtusos (fig. 29 B).
■ ^ ■ < ■ '
'-ií.
76
O castanheiro, o carvalho, a videira, etc.,
teem botões nuxtos: isto é, botões que des-
envolvem rebentos com folhas, e onde ap-
parecem também as flores. O ulmeiro, os
choupos, os salgueiros, etc. teem botões flo-
rões e botões folhosos, isto é, botões d'onde os
eixos floriferos e folhosos saem separada-
mente.
Desenvolvimento anormal dos rebentos.
— Os rebentos tomam ás vezes desenvolvi-
mentos anormaes, que lhes dão aspectos
diversissimos, e os adaptam, em alguns ca-
Fig. 29. Raminho ^os, a ftmcções muito differentes.
do ulmeiro {Ui- Na ameixoeira brava, no pírliteiro, etc.
mus campetíris, certos renovos deixam de crescer, lenhi-
L.). A. Botões g^gijj Q gg^ ^^ ^ vegetação, e transfor-
tôís flodfeíos °^2tm-se em espinhos (fig. 30); no espinheiro
/£.4) da Virginia (Vleditschia triacanthos, L.J todo
um systema de raminhos se transforma n'um espinho ra-
moso.
Fig. 30. Caule da ameixoeira brava {Pnmus spinosa, L.) com os rami-
nhos lateraes espinhosos (1:1)
Estes espinhos, n'umas espécies, teem folhas lateraes des-
envolvidas, como os rebentos, n'outras espécies são nus.
77
Qnasi sempre a lenhificacSo do tecido gerador da extremi-
dade d'estes rebentos é nm meio, qne a natureza emprega,
para diminuir a certos vegetaes o numero dos eixos e Tolhas,
e portanto a evaporação e o consumo dos elementos nutri-
tiros do solo; tanto assim, qne muitas d'estas formas espi-
nhosas tomam-se inermes pela cultura, transplantadas em
melbor terra, mais húmida e mais rica.
Has, nem todos os espinhos teem esta mesma origem,
ilgons resultam de outros órgãos mnito diversos: no ber-
beris provera de uma degeneração das folhas, persistindo
só as nervuras fortemente endurecidas, e na axilla d'estes
e^inhos, como na das verdadeiras folhas, apparecem botQes
Donnaes; na acácia bastarda são devidos á transformação
das estipulas, etc.
Em algnns outros casos os rebentos tomam o aspecto
foliaceo e representam, na nutrição, o papel physiologico
dis folhas: tal é particularmente evidente na gilbarbeira
(Fig. 34).
Botões aâTeoticios, e olhos donuen-
les.—Os botões a que nos temos re-
ferido até aqui apparecem em pontos
preBsos — na axilla das folhas e termi-
Dando os rebentos— denominam-se por
isso normaes, e a elles se deve a ar-
chiteclura mais regular das arvores.
Em opposição a estes botões chamam-
se adcenlicios os qne se originam sobre
os ramos mais velhos, ou sobre o tron- F'g- 3* Ftagmenlo de
CO, sem ordem determinada. '^a^ÍJÍIuÍl i
Os botões advetuicios não são prote- ";„ ^""'L,^^ í„Í7,
' com dois ramos lolU'
gidos por escamas, comoosbotoesnor- ceos (i:i).
naSs, nem precisam essa protecção, porque são filhos da
seiva de primavera, e desenvolvem-se logo depois de for-
nidos— não hibernam. Podem índifferentemecte apparecer
no tronco, nos ramos, ou nas raízes. Teem a primeira origem
1
78
na zona geradora do eixo a que pertencem e, no seu ulterior
desenvolvimente, rompem-lhe depois a casca, transforman-
do-se logo em renovos.
A facilidade que teem as diversas essências em produzirem
botões adventicios n3o é a mesma. Pode-se provocar artifi-
cialmente o seu apparecimento por meio de ligaduras ou
de feridas, pelo decote, etc.
Os rebentões que se originam nas raizes de muitas arvores
s3o devidos a estes botões, e teem grande importância na
cultura de muitas essências. De ordinário as espécies que
desenvolvem facilmente raizes adventícias nos seus ramos
aerios, quando postos em condições favoráveis, são também
as que mais botões adventicios organisam nas raizes: taes
os choupos, salgueiros, etc. O ar parece ter alguma influ-
encia n'esta formação: pelo menos ella é sempre mais diflB-
cil nas raizes profundas, dá-se em muito maior abundância
nas raizes superíiciaes, que se alargam mais ou menos horí-
sontalmente, e quando uma raiz é posta a nú, em contacto
com o ar, augmentam as probabilidades do apparecimento
d'esses rebentões.
Nunca um ramo se transforma em raiz, ou vice-versa;
aos botões adventicios das raizes são exclusivamente devidos
os eixos folhosos que d'ellas irrompem. A tão clássica expe-
riência de Duhamel que consistia em curvar um salgueiro
novo, de modo a poder-lhe enterrar os ramos, ficando ainda
as raizes presas na terra, para depois, passado algum tempo,
tornar a endireitar a arvore, mas invertida, ficando agora
com as raizes para o ar, continuando ella sempre a viver,
e vestindo de folhas as antigas raizes, não implica uma
tdéa de transformação d'aquelles órgãos. A continuação da
vida da arvore, e os phenomenos descriptos, foram apenas
devidos ao apparecimento de raizes adventícias sobre os
ramos e de botões adventicios sobre as raizes, em virtude
das condições especiaes dos novos meios em que se encon-
travam.
79
Mas, nem todos os renovos nascidos fora da sua posição
normal teem por origem estes botões adveniicios; alguns são
também produzidos pelos olhos dormentes, que teem com as
raizes dormentes, já descriptas, a maior analogia. Os olhos
dormentes foram olhos normaes, tolhidos no seu desenvolvi-
mento, e que ficaram depois presos pelas formações pos-
teriores ; se uma circunstancia favorável os desperta, irrom-
pem então e originam um rebento, coUocado agora sobre o
eiio mais velho.
Rebentação das louças. — Quando se corta mna arvore
rente ao solo, ou a qualquer altura do tronco, a parte que
fica, mnas vezes rebenta, outras não, conforme a essência
e a edade do individuo. Os rebentões que então apparecem
são devidos aos botões adventícios e olhos dormentes; se
a arvore pertence a uma espécie que possa formar uns
ou outros rebentará, e no caso contrario morre ; pertencem
ao primeiro grupo o castanheiro, os carvalhos, o uhneiro, os
choupos, e em geral as Angiospermas ; pertencem ao se-
gundo os pinheiros, os cyprestes, e o maior numero das
Gynmospermas.
A propriedade que teem um grande numero de espécies
de rebentarem de touca permitte-lhes a exploração florestal
denominada de talhadio; n'esta exploração o massiço rege-
nerase pelos rebentões de touca e formam elles o producto
da mata, emquanto na exploração de aUo fuste a regene-
ração do massiço tem logar pelas sementes.
Em regra geral as toucas rebentam com diCGculdade
quando as arvores são velhas, e de uma certa edade por
diante deixam mesmo de rebentar. Esta edade limite é
muito variável para as dififerentes essências, e diversifica
Vaá^m bastante com as condições de vegetação; de ordi-
nário as essências que se fazem muito depressa perdem
muito mais cedo o poder de rebentar de touca: assim as
louças dos carvalhos persistem vivas, dando cortes, muito
w^ tempo do que as dos choupos e salgueiros.
•%.
80
Os productos lenhosos prestados pelos talhadios teem di-
mensões reduzidas em reIaç3o aos que s3o obtidos em muitos
altos fustes, por isso mesmo que se toma necessário colher
os primeiros em edades que nunca podem ser muito adian-
tadas. É muitissimo importante nas explorações de talha-
dio calcular a edade a que deixam de rebentar as toucas
das essências exploradas, nas condições especiaes d'essa
exploração.
A situação dos rebentões sobre a touca, quando o corte
é feito um pouco acima do terreno, diversifica, segundo as
essências : n umas os rebentões saem sobretudo das raizes
(choupo tremedor) ; n'outras nascem das raizes e da porção
do tronco adherente (carrasqueiro, choupo branco, acácia
bastarda, salgueiros, etc); n'outrasfinataientedesenYolvem-
se quasi só n'esta porção do tronco (roble, castanheiro,
choupo negro, etc). Os rebentões situados sobre o fra-
gmento do tronco, n'umas espécies apparecem especiaL
mente na parte externa ao terreno (carvalhos, ulmeiro, etc),
n' outras saem em maior abundância da parte subterrânea
(c astanheiro, bordo commum, vidoeiro, sorveira, etc)
Rebentos ladrões. — Os rebentos produzidos pelos botões
adventícios sobre o tronco, ou sobre os ramos grossos, ad-
quirem ás vezes grande vigor e crescem com muita rapidez,
c hamando a si uma parte considerável dos princípios inune-
diatos fabricados pela arvore ; o seu viço e côr, a sua força
e as grandes dimensões dos entre-nós, tomam-os bem dis-
tmctos.
Nas arvores, que teem crescido em massiço e que de
repente ficam isoladas, é vulgar o apparecimento d'estes
renovos. Se não forem cortados, a copa da arvore perde a
forma normal, e se ella for velha pode até começar a seccar
pelo cimo. Os rebentos, que assim chamam em seu pro-
veito uma porção copiosa da seiva, roubada á parte res-
tante, denominam-se rebentos ladrões.
No emtanto esta denominação é mais lata: abrange tam*
r
81
bem os rebentos normaes que, por uma causa qualquer,
tomam desenvolvimento mais considerável, apresentando-se
muito verticaes, com as folhas grandes e muito viçosas, e
sem produzirem fructos nem flores. O estudo d'estes ulti-
mes rebentos ladrões tem particular importância na cultura
das arvores de fructo, sendo ahi muito nocivos.
4.<»— FOLHAS
Nas plantas lenhosas as folhas são os órgãos appendicu-
lares, que se desenvolvem sobre os rebentos e conjunta-
mente COTi elles, quasi sempre verdes, em muito casos es-
palmadas em lamina delgada, ao menos parcialmente, e
cuja missão principal, estabelecendo a communicação entre
a planta e a atmosphera, é a elaboração de princípios im-
mediatos. Em quasi todas as espécies lenhosas indígenas
as folhas são bastante apparentes e desenvolvidas, mas em
algumas ficam rudimratares, ou são muito cahidiças, como
na comicabra, na gilbarbeira, em algumas giestas, etc; os
tecidos verdes do caule supprem-as então nas suas funcções.
Uma folha completa compõe-se de três regiões distinctas :
a bainha, o peciolo, e o limbo. A bainha é a parte dilatada
que abraça o eixo a que a folha pertence; o peciolo é a
porção intermédia, de ordinário delgada, e mais ou menos
cjlindrica, ou semi-cylindrica ; o limbo é a parte extrema,
quasi sempre a mais desenvolvida, a que tem, n'um grande
numero de casos, a forma laminar.
Mas, nem todas as folhas são tão completas, e qiiaesquer
destas partes podem faltar. A bainha desenvolve-se pouco,
em regra, ou mesmo não existe, nas espécies florestaes
indígenas. O peciolo nem sempre se forma, e as folhas di-
zem-se então sesseis (fig. 32, B), em opposição áquellas
CS. 6
82
que o teem, que se deDOntioam pedoladas (fíg. 32, j4.). O
Vig. 32. Folhas do eucalyplo (Euadgpttu ^uliu, Labill.) A. Folha pe-
ciolada da airore adulta. B. Folhas sessttU da arvore nova (1:4).
limbo pode egualmente faltar, como qualquer das outras
regiões, e às vezes é, n'esse caso, substi-
toido pelo peciolo, que adquire desenvolvi-
mento roliaceo e toma o nome de pkyllodia,
como acontece em alguns tojos, etcl (fig-
33, a).
O estudo anatómico da folha encontra-
Ihe uma estructura inteiramente análoga
Fig. 33. Tojo da i do caijle, de cujos tecidos é a continua-
charneca (l/ter çgf, f^ epiderme do rebento prolonga-se,
díMui, ev.).a. pgyestindo-a por todos OS lados ; O paren-
BAulJoaia, tendo na , . , , ...
axilta um raminho chyma cortical alarga-se, consUtmndo o
espiniforme (1:1). parenchyma foliaceo; um certo numero
83
de feixes libero-lenbosos partidos do rebeoto, depois de
atraTessarem a região cortical, penetram na folha orígi-
nando-lbe as nervuras. O numero d'estes feixes varia com
as espécies, e do mesmo individuo com a região conside-
rada; são qnasi sempre em numero impar, ^ — 3 — 5, ou
mesmo mais. N'umas essências entram directa e indepen-
dentemente na folha, sem se reunirem ou dividirem ; D'oa-
tras ramificara-se, ou grupam-se de diversas maneiras, por
forma que o numero dos feixes encontrado na base da folha
1^0 é então egual ao numero dos que saíram do rebento.
Petãolo. — O peciolo é, de ordinário, roliço na face inferior
6 plano ou canaliculado na face superior ; no emtanto em
algmnas espécies é sensivelmente cylindrico (hera), e n'ou-
tras comprimido lateralmente, o que traz grande mobilidade
js foittas (alguns choupos). Ás vezes protonga-se para os
lados em azas e diz-se então cUado (aroeira, laranjeira)
(Bg. 34). As suas dimensões, relativa-
mente ao limbo, variam muito.
A epiderme do peciolo apresenta os mes-
mos caracteres da epiderme do caule ; o
sen parenchyma é também constituído por
cellulas polyedricas ou arredondadas, que
deixam entre si meãtos cheios de ar; os
seus feixes teem eguahnente uma parte
lenhosa e ama parte liberiana, caracte-
risadas pelos mesmos elementos anatomi-
fOj Fig. 34. Folha d&
Na secção transversal do peciolo os fei- /cThwTpuferar^
ses dispõem-se de ordinário em arco mais ríssoj, com o pe-
oa menos aberto, com a abertura virada cioio alado (i : 2).
para cima, e cujos bordos podem chegar mesmo a reunir-
se. O feixe médio dorsal, o inferior d'este arco, tem quasi
sençre maior desenvolvimento, e os outros, em regra, di-
minuem snccessivamente em grandeza a partir d'elle.
O liber do feixe central está voltado para a parte infe-
6«
84
rior, e o lenho para a parte superior ; os feixes lateraes, ã
medida que vão contornando o arco segundo o qual se agru-
pam, orientam-se ao mesmo tempo de modo que a parte '
lenhosa flque sempre para o centro do peciolo, e o liber
para a peripheria. Conclue-se d'aqui, coní evidencia, que
. se o arco é muito aberto conservam todos a posição do
feixe médio, aliás, se o arco tende a unir, ou une, os seus
bordos, os feixes extremos tomam a posição quasi inversa,
ou inversa, em relação á do feixe central.
Nos peciolos da pereira, da tramazeira, do louro-cerejo,
etc, os feixes dispõem-se em arco aberto; nos peciolos dos
carvalhos, da hera, do freixo, da laranjeira, etc, formam
um arco fechado. Segundo o sr. C. De CandoUe a dispo-
sição aberta, ou fechada, d este arco é caracter mais ou
menos constante nas espécies do mesmo género.
Quando o arco dos feixes libero-lenhosos chega a unir
as extremidades forma um annel, e a porção do parenchyma
incluído no centro tem as maioros analogias com a medulla
do caule. Numas espécies este annel é achatado no cimo
(carvalhos), n outras arredondado (riôino).
Na espécie de medulla comprehendida entre os feixes do
peciolo umas vezes encontram-se alguns feixes, outras ve-
zes não. A presença ou ausência d'estes feixes intramedul-
lares varia com grande irregularidade, não só entre as di-
versas famílias botânicas, mas até entre as espécies de um
mesmo género: não existem no sycómoro bastardo, no
bordo conmium, etc; encontram-se, pelo contrario, no cas-
tanheiro da índia, no ailanto, no plátano bastardo, nas
amoreiras branca e negra, na figueira, etc A sua posição
diversifica para cada essência, e o seu numero varia com
o vigor do individuo e as condições da vegetação; faltam,
habitualmente, nas folhas mal desenvolvidas, nas primeiras
folhas de cada rebento.
Todas as espécies do género Quercus teem o arco dos
feixes do peciolo fechado; quanto aos feixes intramedul-
85
lares os carvalhos indígenas podem dividir-se, segundo o
sr. C. De CandoUe, nas duas series seguintes:
r
Com feixes intramedullares :
Carvalho roble (Q. Robitr, L.).
Carvallio negral (Q. Tozza, Bosc).
Carvalho anão (Q, humilis, Lám.).
Carvalho portuguez (Q. lusitanica, Lam.).
Quercus hispânica, Lam. (Q. pseudo-siiber, Santi.).
Um sobreiro ((?. ocddentaliSy Gay).
Sem feiíes intramedullares:
Azinheira (Q. Bex, L.).
Um sobreiro (Q. suber, L.).
Carrasqueiro (Q. coccifera, L.).
É notável que cada* uma d'estas series corresponde, co-
mo veremos, a dois typos de organisação diversa, caracte-
risado o segundo por mais demorada persistência das fo-
Ibas. No emtanto as folhas mais aturadiças do grupo da azi-
nheira não parecem, anatomicamente, mais completas do que
as do grupo do roble, antes pelo contrario, porque n'este
ultimo é nas folhas bem desenvolvidas que os feixes intra-
medullares apparecem, e faltam nas folhas mais infesadas
da base dos rebentos, como dissemos.
Limbo; — O limbo é quasi sempre achatado e o plano de
achatamento, em regra, está orientado de modo que a folha
vira a sua maior superfície para a luz : no emtanto algumas
anores fazem excepção a esta lei, taes são as folhas do
eacalypto, que em resultado de uma torção do peciolo se
apresentam n'um plano obliquo, ou mesmo vertical, em
relação ao horisonte.
86
A epiderme do limbo» verdadeira continuação da ppider-
me do peciolo e do rebento, pode apresentar os accidentes
de superfície já notados ; os peilos, que sobre elia se desen-
volvem, variam muito na forma e na quantidade, não só de
espécie a espécie, mas até no mesmo individuo segundo a
edade das folhas, e na mesma folha de uma para outra
pagina. As folhas da murta, da alfarrobeira, do loureiro,
da laranjeira, etc, são glàbras; as do carvalho negral teem
peilos ramificados em forma d'estrella ; as do choupo bran-
co, da maceira, da azinheira, do sobreiro, etc, mais ou me-
nos glabras na pagina superior, são cotamlhosas na pagina
inferior : vestidas com peilos brancos muito numerosos, cur-
tos, crespos, entremeiados conn) feltro ; as folhas do salgueiro
branco apresentam peilos compridos, deitados, brilhantes,
setinosos, e dizem-se assetinadas ; as da losna do Algarve
estão cobertas de peilos curtos, bastos, levantados, como
os do velludo e denominam-se avelludadas; as do ulmeiro
e as do lodão bastardo são, pelo contrario, ásperas ao tacto
etc. Quasi sempre o tomento, seja qual a sua forma, é mais
abundante nas folhas novas ; em algumas essências as folhas
adultas chegam a perder completamente, ou quasi comple-
tamente, os peilos que tiveram na primeira edade. Nas es-
pécies indígenas é, de ordinário, a pagina inferior que se
encontra mais pelluda ; são vulgares as folhas glabras na
pagma superior e densamento cheias de peilos na pagina
inferior.
Não é só no tomento que as duas paginas da folha se^
differençam, em quasi todas as nossas espécies lenhosas ;
divergem também muito na còr, na consistência e na dis-
posição dos estomas. Quasi sempre a pagina superior é
mais dura, mais lustrosa, tem a còr mais carregada do que
a pagina inferior, e quando isto acontece só esta ultima
face tem estomas. Essas desegualdades notadas prendem-
se com a composição do parenchyma sub-jacente, como va-
mos ver.
87
Quando se faz um corte atravez tuna folha de eucalypto
(E. globulus) pode verificar-se, ao microscópio, que o seu
pareDcbyma é homogéneo; em nenhuma das Ãngiospermas
lenhosas indigenas se realisa este caso, mas pode exami-
ur-se também nas agulhas dos pinheiros, etc.; sempre que
ba esta homogeneidade no parenchyma a folha apresenta o
mesmo aspecto nas dnas paginas, tal é o caso das espécies ci-
tadas. Mas, se fizennos o corte transversal na folha de uma
Angiosperma lenhosa indígena (fig. 35), poderá ver-se,' ao
nf 3S. Corte tramrei^al de nm fragmento de tolha de vidoeiro {BettUa
t&a, L.). a : epiderme da pagina superior, sem estornas, b : epiderme
da pagina inferior com estornas, i : om estorna, c : parenchyma aper-
tado superior d: parenchyma inferior cheio de lacnnaa. y: uma es-
cama glandolosa. x, (na direcção longitudinal da figura) : feixe va»-
CBlar de uma nervura lateral secundaria (200 : 1) (segundo Sehacht).
númiscopio, que o parenchyma fohaceo tem diversa com-
V^içSo, conforme o consideramos mais próximo d'nma ou
d'oaira pagina ; ver-se-ha então que as cellulas parenchyma-
tosas das camadas superiores (ãg. 35, c), as mais actuadas,
pela hiz, deixam entre si menores intervallos, sSo mais
apertadas, mais compridas perpendicularmente á saper-
fieie, e mais ricas em chiorophylla, do que as cellulas das
camadas inferiores, cujo tecido apresenta grandes meatos
dieios de ar, (fíg. 35, d) ; a epiderme da pagina superior
88
(flg. 35, a) corre então unida, ininterrupta, emquanto a
da pagina inferior (fig. 35, 6), se acha aberta em divefsos
pontos pelos estornas. Como já dissemos a parte externa
das cellulas da epiderme forma a cutícula (fig. 35, x), es-
pécie de membrana delgada e hyalina ; é pelas aberturas
da cutícula e da epiderme, pelos estornas que se realisa a
troca de gazes entre a parte aeria da planta e a atmos-
pbera. A abertura do estorna (fig. 36, a) é limitada por
'rShY
Fig. 36. Fragmento de epiderme de uma folha de buxo {Buxu$ semper-
virem, L.) com um estoma : a, abertura do estorna, (proximamente
500:1).
duas cellulas reniformes, que voltam uma para a outra a
parte concava; esta abertura, como já vimos quando tra-
támos da epiderme do caule, communica com um espaço
inferior que se denomina camará de ar^ ou camará do es-
toma.
Em egualdade de superfície as folhas das diversas essên-
cias conteem números muito diversos de estomas, e identi-
camente a grandeza e disposiçáo d'elles variam d'umas para
outras. Nas folhas acerosas dos pinheiros os estomas grn-
pam-se muito numerosos em series longitudinaes, ás vezes
perfeitamente visíveis á vista desarmada. Eis as dimensões
dos estomas d'algumas arvores e arbustos, e o seu numero
em superficies eguaes, segundo Duchartre :
89
Numero doa eatomu r««w.«,^m««#« a^, ii.««in..
Castanheiro 175 0,030
Freixo 165 0,027
Alfenheiro 95 0,030
Madresilya das boticas . . 65 0,030
Oliveira 215 0,016 a 0,020
Carralho roble 250 ;..-. 0,030
yás 175 0,027 a 0,033
Tideira ,... 125 0,030
Pinheiro bravo 50 —
Em todas estas espécies, a não ser no pinheiro bravo,
os estornas encontram-se exclusivamente na pagina infe-
rior da folha.
No meio do parenchyma foliaceo, quasi sempre verde,
molle, seivoso, correm, mais ou menos divididas, com a
forma de nervuras, as ramificações dos feixes libero-lenhosos,
constituindo o esqueleto do limbo. Como o parenchyma inter-
médio é de mais facU decomposição, que este systema das
nervuras, encontram-se ás vezes, sob as arvores,* esqueletos
perfeitíssimos de folhas, conservando intactas, com a forma
de uma renda vegetal, todas as nervuras, mas d'onde de-
sappareceu todo o tecido que as reunia. De resto, estas
preparações podem facilmente executar-se, ou pela mace-
ração das folhas n'agua, ou batendo-as, depois de seccas,
com uma escova.
Nas folhas das espécies lenhosas indígenas as nervuras
sao de ordinário ramificadas (fig. 37). As nemiras princi-
paes, salvo o numero dos feixes, teem a estructura já des-
crípta a propósito do peciolo; as nervuras mais delgadas,
oa secundarias, são constituídas por feixes libero-lenhosos
cajos elementos anatómicos são mais estreitos e menos nu-
inerosos, mas conservam a mesma estructura, a não ser nas
ultimas ramificações onde o feixe se toma exclusivamente
90
lenhoso : os tubos crivados desapparecem, e o feixe reduz-se
então a alguns vasos misturados com cellnlas compridas e
de paredes delgadas.
Fig. 37. Folha do ehoi^o d'Italia (Popuiut jn/ramidalii, Boz.) mostrando
a disposição das nervuras (t : 1 )■
A disposição das Dervoras do limbo varia bastante nas
espécies lenhosas indígenas, mas Iodas essas diversidades
podem remiir-se nos três seguintes typos principaes;
í." Folhas uninervadas. — Apresentam uma nervura única,
não ramificada, taes são as folhas acerosas dos pinheiros,
do teixo, etc. (fig. 38. A. B).
2." Folhas pennineivadas. — Teem a nervura raedia rami-
ficada para os lados, em forma de penna d'ave, e estas
nervuras secundarias ainda por sua vez se sub-dividem*
como na cerejeira, castanheiro, ulmeiro, buxo, etc. (fig 38,
CD).
3." Folhas palminervadas. — T eem a nervura media acom-
i
91
panhada de nervuras lateraes, divergentes e decrescentes,
saídas do mesmo poDlo onde a folha se liga ao peciolo, e
ibertas para os lados como os dedos das aves; taes são as
lòlbas do plátano, da hera, etc. (fig. 38. E).
Kg.38. J : Agulhas nninervadat do pinheiro d'Alepo (Pinvt halepentii,
ICU.). B: Folha unlnervada do teixo [Taxm baccata, L.). C: Folha
peoniaervada do buxo (Buxut tempervirens, L.). D: Folha penniner'
nda do ulmeiro {Ulmvt campeUrit, L.). £: Folha palminervada da
bera (Be(lrraAeJÚ,L.) (1:1).
N'esles dois oltimos (ypos de nervaçSo os feixes ramifí-
cam-se por muitas vezes, e em todos os sentidos; umas
d'estas ramificações unem-se, ligam-se, constituindo rede
(fig. 37), outras terminam livremente, quer no bordo da
folba, quer no interior d'aquellas malhas. Nas folhas das
92
nossas arvores e arbustos podem então dar-se duas varian-
tes: em umas espécies o bordo da folha è marginado por
um feixe, que resulta da união dos lados externos das ma-
lhas, sem haver terminação livre para fora (buxo, murta
etc.) (flg. 38, C); n'outras existem terminações livres, não
só para o interior das malhas, como também para a peri-
pheria, correspondendo as ultimas aos dentes, ou quaes-
quer outros recortes do limbo (castanheiro, ulmeiro^ vido-
eiro, etc.) (flg. 38, D).
Por ultimo, para terminar o estudo anatómico das folhas,
diremos que n'ellas existem, muitas vezes, as diversas for-
mas de cellulas segregadoras, já referidas, a propósito do
caule; assim as agulhas dos pinheiros teem canaes resini-
feros; as folhas do vidoeiro apresentam, como as cascas
tenras, glândulas que segreg'am um sueco resinoso claro;
as do amieiro elaboram uma substancia solúvel na agua,
amarga, viscosa, etc.
Formas das folhas. — A forma das folhas varia muito nas
nossas espécies lenhosas: quasi cylindricas na SuaedafrtUi-
cosa, Forsk.; semi-cylindricas nos pinheiros (as duas agulhas
presas na mesma bainha constituem reunidas um cylindro);
escamiformes, verdes, imbricadas vestindo completamente
o ramo, na tamargueira, na sabina, nos
cyprestes, etc. (flg. 39); ou escami-
formes, muito pouco apparentes, sem
côr verde, e portanto não presidindo
á elaboração, na comicabra, etc, as
folhas apresentam, em muito maior
numero de casos, o limbo desenvol-
vido em lamina delgada.
Este limbo, quer seja inteiro ou
Rg. 39. Raminhos de diversamente recortado nas margens,
cedro bastardo (C«. ^^ constituir um todo unico, como
Mili.) cobertos de fo- ^ ulmeiro, no buxo, nos choupos
lhas imbricadas (l:i). etC. (figs. 37 é 38), e a folha diz-Sfl
93
eolão simples; ou pode dividir-se em diversos limbos par-
ciaes, como na aroeira, na acácia bastarda, no sumagre, no
castanheiro da índia, etc. (figs. 40 e 41), e a folha cha-
ma-^e então composta, tomando cada parte integrante o
nome de foliolo.
Vig. 40. Folha pionulada
dl aroeira (Pistacia Len-
Fig. 41. Folha dígilada do casta-
nheiro da índia {Aescutut Hifpo-
eatíanum, L.) (1 :5)
Oí (olioios affectam disposições variadas : assim na folha do
castanheiro da índia (fig. 41) são divergentes e inseridos
tcdos num mesmo ponto; a folha é palminervada e deno-
mina-se n'este caso particular digitada, cabendo aos foliolos
o Dome de digitações.
Nas folhas do sumagre, da aroeira, do freixo, da acácia
bastarda, os foliolos dispõem-se lateralmente; a folha é en-
tão pinnulada; se os foliolos são em numero par, como na
aroeira (íig. 40) diz-se paripinnulada; se são em numero
impar, como no freixo e no sumagre {fig. 56, B) diz-se
m}.aripirmulada; no caso especial de serem só três foliolos
dií-se irifoliada (fig. 42>.
Os foliolos podem estar inseridos sobre o eixo sesseis
94
ou pecíolados; quando a inserção se realisa em ramificaç^s
secundarias, terciárias, etc., do eixo
comipum, a folha diz-se bipitmulada,
tripinnidada, etc; as folhas do syco-
moro bastardo e da acácia dealbata
são bipinnutadas.
Quer as folhas simples, quer os foli-
olos das folhas compostas, podem apre-
sentar Tariadissimas formas. As folhas
do teixo, da camarinheira, do rosma-
ninho, etc. , s9o lineares: estreitas, com-
Mg. 42. Folh» lr.fol.ada .^ ^^ ^^ ^^ ^^.^ ^^ ^^_
do anagyna fedegosa ' ,..,„„„„,
(Anagyrú foetida,L.) ««s parallclas (fig. 38, B); as folhas
(1:1). dos pinheiros e do zimhro são acero-
sas: estreitas e agudas (fig. 38. A); as do espinheiro alvar
bastardo apresentam-se muitas vezes espatuladas (flg. 44);
as do saião teem a forma de cunha; as folhas do amieiro
s5o orbiculares ou arredondadas (fig. 43) ; as da olaya reni-
Fíg. 43. Folha orbícular
do amieiro (Alnusglu-
linota. Guta.) (t:2).
Fig. 44. Folha espatnla-
da do espinheiro al-
var bastardo (Lyeium
£iiropii«im,L.)(l:l).
formes; os foliolos da folha imp^ripinnulada da acácia bas-
tarda são ellipiicos, isto é, mais compridos do que largos e
95
arredondados nos dois extremos (âg. 45); as folhas do le-
gação são mais ou menos cordifarmes; as do salgueiro branco
e salgueiro frágil são semelhantes a um ferro de lança,
largas no meio e estreitas nas estremidades, e por isso se
(Uzein lance(Àadas; as folhas da salgadeira s3o delioiãeas,
isto é, teem quatro ângulos, ficando os dois lateraes mais
próximos da base que do cimo (fig. 46); as do tamujo e do
rig. &S. Foliola elli- Fig. 46. Folha deltoi- Fig. 47. Folha obo-
salgadeíra
{Atriplex Hatímut,
L.) (1:1).
Tada do berberis
(Berberit vulgarit,
L.) (1:1)
ptico da folha com-
posta da acácia bas-
tarda (flobínta
Pie»do-aeaeia, L.)
(t:l).
berberis são obovadas, oa invertidamente ovadas (a partícula
eb é signal de reversão), mais compridas do que largas,
mais largas no cimo que na base (fig. 47), etc.
Num maior numero de casos, as formas simples enume-
radis combínam-se entre si, originando muitas formas inter-
médias: assim as folhos do ulmeiro (fig. 38. B) sloovado-
agadas, dissymetricas na base; as do chorão e do trovisco
são linear-lanceoladas ; as do medronheiro e alfenheiro el-
liplico-lanceoladas; as do folhado elliptico-ovadas (fig. 58);
as do loureiro lanceolado-oblongas (fig. 57) ; as do choupo
negro triangolar-ovadas (fig. 37); as da bella sombra ovado-
%licas, etc.
Seja qual for a sua forma, o Umbo pode apresentar -se
96
plano, como na laranjeira, noulmeiro.aabella sombra, etc.;
OQ ondulado nas margens, como no carrasquciro; oa com
os bordos enrolados, como no alecrim, nas alfazemas, etc.
Em botânica descríptiva, independentemente da forma
geral do limbo, costumam considerar-se em maior detalhe
as formas das suas duas extremidades — a base e o cimo.
Dizem-se então obtusas as folhas quando nlo terminam em
ponta, como as do amieiro (Hg. 43); chanfradas quando
teem no cimo um pequeno recorte, como ás vezes acontece
nos foliolos da alfarrobeira; acuminadas se acabam em ponta
longa e estreita, e esta forma ainda comprehende diversos
casos: assim as folhas do salgueiro branco, que vão estrei-
tando pouco a pouco, dizem-se loTigamenle acuminadas; as do
Rubus discolor, Weihe e Nees, que estroilaiu de súbito, ^zetn-
se acuminadas de repente {íig. 48); as do Salix CapreaL.,q\i6
Fig. 48. Folioto actiminaiio d» re- Fijr. 49. Folha, cunheada na base,
pínfó do iítí6uí discofor, Weihe e liu carvalho anaofOwercui A»"i-
Nees(l:i). í* Lani.; (1:2)-
s3o cortadas obliquamente em ponta não symetrica, denomí-
nam-se obliquamente acuminadas; as folhas que terminam
97
on ponta corta e rígida chamam-se mucronadas, taes as da
riiveira. Quanto à base, podem ser cordiformes, como as do-
yiaz (Sj/nnj/a vu/gam, L.); arredondadas, como as do aderno
(PlUllyrea media, L.}; cunkeadas, como as do carvalho anSo
(fig. 49); aítenuadas em pedalo, como as do Rkamnus deoi-
ies, L., etc.
Em quaesquer das formas das folhas simples ou dos fo-
líolos das folhas compostas, a margem do limbo pode ser
inteira, como na murta, no eucalyptOj no buxo, na acácia
bastarda, etc. (figs. 32, 38 C, 45), ou pode ser muito diver-
samente recortada; as folhas compostas devem mesmo ser
consideradas como folhas cujos recortes do limbo, muito
profnndos, chegam até ás nervuras. As folhas do saião
apresentam nas margens pellos quasi eguaes e parallelos, e
dizem-se cetheadas; as da maceira, que teem pequenos re-
cortes arredondados, não inclinados, chamam-se crenadas
(fig. 53). Quando as divisões s3o pequenas e agudas, se
não estão inclinadas nem para o cimo nem para a base a
folha diz-se datada, taes são as do vidoeiro, do amieiro,
ele. (fig. 43); se os dentes estão voltados para a parte de
cima diz-se serrada, como no choupo negro (fig. 37), no
nlmeiro (fig. 38, D), na silva (fig. 48); mas n'estas duas
oltimas espécies cada dente ainda é dividido por outro
mais pequeno e as folhas são duplicado-serradas; ás vezes
os denles terminam em ponta rígida, espi-
nesceote, e as divisões das margens tomam
■ o nome de espinhoso-denladas (carrasquei-
ro, azevinho, etc.) (fig. 50). Quando os re-
cortes são mais profundos, se não chegam
a metade do limbo e são arredondados na
eitremidade, a folha diz-se l<Mda; se pas-
sau do meio do Ihnbo e são agudos e es-
teitos diz-se fendida; se chegam quasi á ^'?' f*' ^°l**\ ^*'
«errara media, na folha penmnervada, OU- ^^ Carmaueiro
ao peciolo, na folha palminervada, diz-se (i:i).
partida, e-a qualquer d'estes três vocábulos se pode antepor
a forma de nervaçSo, tornando a figura da folha muito mais
precisa; assim as folhas do plátano e da hera (fig. 38, £)
são palmatiUAadas, as do roble pinnaiilobadas (fig. 56, A);
as do carvalho negral são, ás vezes, piíínatífendidas (fig.
31); as do ricino paimatipartidas, etc.
Fig. 51, Folha piniutifendida do carralho negral (Queraa Toxai, BoseJ.
(1;2).
Polymorphismo das folhas na mesma espede, e no mesmo
individuo. — A mesma espécie vegetal não apresenta con-
stantemente as folhas eguaes nas dimensões e na forma, no
emtaoto esta variabilidade é maior para umas do que para
outras espécies. Os carvalhos teem esse polymorphismo em
alto grau e como taes podem servir de bom exemplo : as
folhas da azmheira encontram-se ellipticas, oblongas, orbi-
culares, ovadas, umas vezes inteiras nas margens, ootras
vezes espinboso-dentadas; as folhas do carvalbo portagnez
99
s3o planas ou onduladas, espínhoso-dentadas, sinuadas ou
sub-inteiras, arredondadas na base ou cunheadas; a fun-
dura dos lóbulos das folhas do carvalho negral varia bas-
tante, etc. ; de resto, muitas outras essências lenhosas mos-
tram casos bem accentuados d'esta natureza.
Mas o polymorphismo das folhas pode ainda ir mais longe
e realisar-^e até no mesmo individuo. Assim a amoreira do
papel" tem promiscuamente folhas ovado-cordiformes serra-
do-dentadas, e irregularmente pahnatifendidas. O Eucoly-
ptus gkbiilus Labill. em novo tem as folhas sesseis, ovado-
oblongas, e oppostas, emquanto em mais adulto as apre-
senta pecioladas, falciformes, e alternas (fig. 32). O azevi-
nho tem as folhas dentado-espinhosas, e passada certa edade
apparecem-lhe inteiras. As folhas dos ramos floriferos da
hera são inteiras, ovadas ou rhomboide-acuminadas, as dos
ramos trepadores estéreis lobadas, e as dos ramos raste-
jantes lobadas ainda mais profun-
damente. É vulgar verem-se na
mesma azinheira folhas inteiras
e dentado-espinhosas.
Os pinheiros teem folhas de
duas formas muito differentes no
mesmo eixo. Na arvore muito no-
va as folhas sao solitárias, rígi-
das, compridas e estreitas, atte-
nuadas em p.onta ; passada certa
edade estas folhas solitárias são
substituídas por outras, escamí-
fonnes, seccas, triangulares, agu-
çadas (fig. 52, a), em cuja axilla
apparecem folhas acerosas, vul- ?
garmente denominadas agulhas, Fig- S2. Raminho do pi-
r«mídas aos grupos n'uma bainha ^^^^ ^® ^^^ (^f'^
inembranosa (fig. 52, h) (duas ^^^' MiU)- a : folhas
-nm^ / : \ escaimformes. 6 : affuUias
commummente nas espécies indi- geminadas. (2 : 3).
7#
lOQ
genas). A posição das agulhas mostra, com evidencia, que
ellas pertencem a um eixo lateral, cujo desenvolvimento foi
mnito reduzido e onde apenas se completaram as duas (ou
mais, nas espécies exóticas) do grupo, ficando todas as
outras folhas no estado rudimentar, a constituírem o estojo
EBtipnlaa. — As folhas de algumas arvores apresentam,
no ponto onde se inserem no eixo, duas lunínas mais ou
menos desenvolvidas, de diversas formas, dissymetrieas, a
que se dá o nome de estipulas. As estipulas devem ser con-
sideradas como o resultado de uma especialisação, de uma
ramificação muito precoce do peciolo, ou do limbo na sna
base.
Apresentam formas muito variadas: na maceira, por
exemplo, s3o pequenas e muito estreitas {fig. 53); nos
Fig. S3. Folha de maceira (Pyrut Molvt, L.J, apresentandt^as duas es-
tipulas Dí base do pecioto (1 : 2).
ramos. estéreis do pirliteiro são grandes, foliaceas {fig. 54);
na acácia bastarda trausfonnam-se em espinhos; nas rosei-
ras contrabem adhereucia com o peciolo (fig. 55), etc.
101
As estipulas teem, de ordinário, crescimento rápido e por
isso na primeira edade da folha apresentam dimensões re-
lativameote grandes ; o seu papel, no bolão, é protegerem
Fif 54. Fragmento de ura ramo Fig. 55. Fragmento de um ramo de
estéril de pirtiteiro (Crataegut roseira brava {Roía lêmpervi-
OiyacMtAo, L.), cora um eí- ríw, L.) com uma folha impari-
pioho, com duas eslipulas fo- piimulada e as duas estipulas
liaceai, e uma folha (1 ■ i) adherentes ao pedolo (quau
VA).
as folhas (ulmeiro, carvalhos, etc). Quando teem grandes di-
mensões podem concorrer para a nutrição, como verdadei-
ras folhas supplementares.
Muitas das nossas espécies lenhosas n3o teem estipulas
(aroeira, sumagre, murta, romeira, freixo, oliveira, ader-
no, alfenheiro, loureiro, etc), mas existem em muitas outras
(figueira, amoreira, ulmeiro, carvalhos, castanheiro, lod3o
bastardo, etc.)- De ordinário, as espécies lenhosas da mes-
ma familia botânica todas teem, ou não teem, estipulas, por
isso a sua presença ou ausência é caracter um pouco im-
portante era botânica descriptiva.
Na maior parte das arvores indígenas as estipulas são ca-
ducas, caem muito antes das folhas (carvalhos, castanheiro,
tilmeiro, etc.), ás vezes mesmo antes d "ellas adquirirem as
dimensões defmitivas. As estipulas dizem-se, pelo inverso,
fersisteníes quando acompanham a duração das folhas (al-
{omas espécies da familia das Pontaceas), ou persistem ai-
102
gom tempo depois da sua queda, como na acácia bastarda,
em que duram mmlos annos.
Crescimento das folhas.— As folhas nascem, já o dissemos,
como esboços rudimentares sobre os eixos, quando eUes
Fíg. S6. A: Folha do roble (Quercut pedunculata, Ehríi.). B: Folha do
snmagre (Bhtu Coriaria, L.) (1 : 2).
estSo ainda muito pouco desenvolvidos, no interior dos bo-
r'
■ f03
A prÍDcipio a folha cresce pelo cimo, onde noTas cellu-
las vão resultando de saccessivas divisões; mas este cres-
omeoto terminal tem muito curta duração, nas espécies
lenhosas indígenas, e a folha continua o seu desenvolvi-
Pig. 67. Fra^enlo de um raminho de loureiro (Launa nobiiit, L.) com
doas foltias allerníis. (1 :3).
mento no botão, abre-o, e adquire as dimensões definitivas,
i costa de um alongamento intercalar.
Este alongamento intercalar pode realisar-se por diver-
sos modos. Nas folhas das nossas arvores localisa-se em
determinadas zonas, cessando o crescimento em toda a
parte restante. N'um grande numero de espécies a zona de
accrescimo está situada mais próxima da base do limbo, e
osd entes, os lóbulos, os foliolos da folha pinnulada, etc., nas-
cem do cimo para a base, e vão diminuindo em tamanho
no mesmo sentido (fig. 56, ^4) (carvalhos, vidoeiro, amieiro.
104
salgueiros,, bordos, castanheiro da índia, etc.). N'outras es-
sências a zona de accrescimo está, pelo inverso, collocada
mais para junto do cimo da folha e os dentes, os lóbulos,
os foliolos, etc. apparecem, e vao quasi sempre decrescendo
em tamanho, da base para o cimo (Og. 56, B.) (sumagre,
acácia bastarda, ailanto, etc). Este alongamento realisase
simultaneamente para os diversos tecidos da folha : paren-
chyma, nervuras, etc. A formação do peciolo, quando elle
existe, é sempre posterior á primeira apparição do limbo.
Disposição das folhas sobre o eixo. — ks folhas dispõem-
se sobre os eixos com regularidade, segundo leis prefixas
para cada espécie. Dizem-se altemasy quando em cada nõ
existe apenas uma (flg. 57) (carvalhos, ulmeiro, loureiro,
etc) ; oppostas, quando existem duas (flg. 58) (oliveira, alfe-
Fig. 58. Folhas oppostas do folhado {Vibumum Tinus, L.) (1 :2).
nheiro, folhado, etc.) ; veriicilladas quando se reúnem mais
de duas no mesmo nó (urzes, loendro, etc), e chamam-se
então temadas se são três, quatemadm se são quatro, etc
As folhas oppostas, quando são sesseis, em algumas espé-
cies, soldam-se pela base, apparentando as duas uma só
folha enfiada ao meio pelo eixo ; estas folhas dizem-se adur
nadas, taes são as de uma madresilva (Lonicera etrusca,
Santi.^ (flg. 59), etc.
Seja qual for a disposição das folhas sobre o eixo, esta
disposição obedece á seguinte lei : as folhas encobrem-se o
menos possível umas ás outras, de modo a receberem a
r~
105
maior quantidade de luz e a gozarem a máxima reiiOTaç3o
de ar.
Flg. ft9. Folhas adnoadas da madresilva (Lonicera etrttsea, Santi.) (I : l)-
As folhas alternas dispõem-se em espiral. Esta espi-
ral, em regra, conserra-se constante para cada espécie,
pelo menos n'uma grande extensão de cada eixo, mas va-
ria domas para outras espécies. A inserção alterna costu-
ma representar-se por uma fracção, cujo numerador indica
o numero de voltas da espiral, em redor do eixo, contadas
a partir de uma folha ate encontrarem uma outra collocada
superiormente á primeira e na mesma direcção, e o de-
nominador representa o numero de folhas que essa espi-
ral encontrou- no seu caminho. A inserção das folhas do ul-
meiro é representada pela fracção -^ : as folhas, n'este ca-
so, formam duas fiadas longitudínaes ao longo do eixo e
dizem-se disticadas; a disposição das folhas do amieiro e
vidoeiro é representada por -r- ; a dos salgueiros e carva-
lhos por -^i a do medronheiro por -^, etc.
As folhas oppostas e verticilladas não se sobrepõem em
dois DÓS snccessivos ; de ordinário umas e outras teem di-
recção alternada, em cruz, nos dois nós mais próximos.
106
A disposição das folhas, embora constante habitualmente,
varia comtudo no mesmo individuo, em alguns casos res-
trictos: umas vezes diversifica, conforme se considera a
base, o meio, ou o cimo do eixo, outras vezes segundo se
trata do rebento que continua o eixo principal, ou dos re-
bentos lateraes. Os zimbros, os cyprestes, as urzes, apre-
sentam, a diversas alturas do eixo, verticillos com desegual
numero de folhas. O carvalho e*o castanheiro teem a dispo-
sição foliar — sobre o rebento terminal, e ~ sobre os ra-
mos.
Duração e queda das folhas. — O tempo que vivem as
folhas diversifica muito com as essências. Em umas vivem
apenas ilm só período vegetativo : desabrolham na prima-
vera e caem, regularmente, no fim do outono próximo;
estas espécies dizem-se de folhas caducas (carvalho roble,
carvalho negral, castanheiro, ulmeiro, freixo, etc). Woutras
espécies . as arvores nunca se apresentam despidas, as fo-
lhas vivem mais de um período vegetativo, não caem sem
que outras se tenham desenvolvido, e de ordinário não caem
todas n'uma só época prefixa; estas essências dizem-se
sempre-verdes, ou de folhas persistentes (pinheiros, sobrei-
ro, azinheira, buxo, etc).
Nos nossos climas, as arvores de folhas caducas teem es-
tes órgãos habitualmente mais tenros, mais aquosos, her-
báceos ou membranosos, do que as arvores sempre-verdes,
cujas folhas são muito mais seccas, e coriaceas. N'estas ul-
tunas a duração das folhas varia bastante : é apenas de um
anno no Querem occidentalis, Gay. e Quercus hispankay Lam.
(as folhas caidiças só se desprendem depois de desenvol-
vidas as novas) ; é de dois a três annos n'um sobreiro (QíuT'
cus suber, L.), na azinheira, no carrasqueiro, nos pinheiros;
é de dez a doze annos no teixo, etc*.
1 Qândo as folhas persistem mais de um anno 4 fácil, em qualquer
época, reconhecer se uma arvore é de folhas persistentes ou caducas.
w
107
O clima tem uma grande influencia na distribuição das
espécies de folhas persistentes e de folhas caducas, como
Teremos; e também a exerce, muito grande, na época da
qaeda das folhas. A este ultimo respeito apresentamos os
seguintes dados numéricos portuguezes, que foram obtidos
pelos mesmos observadores anteriormente referidos quan-
do nos occupámos das épocas de folheação. Parece-nos es-
CQSO insistir em mostrar que estes números, assim como os
anteriores e todos os análogos seguintes, procuram apenas
dar uma indicação aproximada, por isso que estas épocas
de vegetação variam bastante d'uns annos para os outros,
com o correr das. estações, e n'uma mesma localidade di-
versificam muita com a exposição, com o maior abrigo, etc.
Na anore de folhas caducas estes orgSos só existem nos rebentos; na
arrore em qne persistem dois amios existem nos rebentos e nos rami-
nhos ; na arvore .em que persistem três annos existem nas três ultimas
ordens da ramificação, etc.
1
108
XSPBCIK8
ÉPOCAS DE AMARELLEGIMENTO
DAS PRIMEIRAS FOLHAS
MARINHA
OIUNDB
(1885)
COII
(1888)
DRA
(1884)
PORTO
(1888)
Castanheiro da índia {Âesadut H^<hcasta-
iittfii, li.)
fins d'oat.«
fins d^out.^
princ* nov.®
fins d'oat.*
15 set.«
8 oat.<>
20 oat.«
SOset.«
15 agtMto
95 out.»
/ I
26 oat.*"
12oat®
6oat.«
l9oat.*
ISaet.*
28ottt.«
10 aat.*
2oiit<'
15 aet.»
i8 aet.*
19 ML*
23ont.«
6 noT.*
9 ont.*
25 Bet.<»
28 nov.»
22 nov.*
8 oat.«
Vidoeiro (Betida alba, L.)
Carvalho roble (Qutraa peãuneulata, Ehrh.)
Ayelleira (Corylut Ávellana, L.)
Cerejeira (Prunut avium, L.)
Ameixoeira brava, {Prunus spinoM, L.) . . .
Ginjeira (Prunus Cerasus, L.)
Pereira {Pynu communiSf L.)
Maceira (Pyrus Malut, LJ
Lllaz (Svrinaa vuloaris, L.)
Pirliteiro {Crataegus Oxyacantha, L.)
Codeço bastardo {Labumum vulgare» Qris.)
Marmeleiro {Cydonia vulgaris, Pers.)
Sabuffneiro (Sambueus nigrat L.)
Framboesa (Rulus idaeus, "LJ)
Sanguinho legitimo {Comut sanguínea, L.)
Alfenheiro (Ligustrum vulgart, L.)*
Videira iVitis vinifera, h,)
Chonpo negro (Populus niara, L.)
Choupo do Canadá {Populus monilifera, Ait.)
Carvalho portngaex {Quereus lusitaniea,
Lam.)
Castanheiro {Castanea vulgaris, Lam.) ....
Antes de caírem, mortas natm*almente, as folhas das arvores
soffrem grandes modificações na coloração e na composição chi-
mica, (jue muito nos importa conhecer. Vamos resumil-as.
Ao abrirem-se os botões, as folhas teem a côr amarellada, ou
avermelhada, depois tomam habitualmente a côr verde, logo (jue a
luz as influenceia, constituíndo-se nas suas cellulas a chlorophylla,
109
e tornando-se ent3o ellas os principaes órgãos da elabora-
{5o dos princípios immediatos. A cor vermelha, e outras,
que algumas folhas novas conservam por mais tempo (car-
valhos, silvas, etc), são devidas a substancias corantes dis-
solvidas no sueco cellular e que mascaram a côr verde da
chlorophylla; a côr verde-azulada, glauca, da folhagem de
moitas essências é motivada pelo revestimento ciroso que
se junta sobre essas folhas, aliás normalmente verdes.
As folhas persistentes modificam, de ordinário, durante
o inverno, a côr habitual, retomando-a na primavera se-
guinte. N'umas espécies dá-se uma simples mudança no
tom do verde, por se reunirem em massa, agglomerados
no centro das cellulas, os grânulos de chlorophylla. N'ou-
tras espécies a alteração é mais funda-, as folhas mudam
de côr: e ou avermelham pela producção de um principio
corante especial, solúvel no sueco cellular, ou escurecem,
tomando um tom acastanhado, em virtude de uma modifi-
cação da própria chlorophylla, como acontece no buxo.
Antes de se desprenderem das arvores, as folhas mortas
naturalmente amarellecem, e este amarellecímento n umas
essências começa pelos bordos e n*outras pelo cimo da folha;
depois tomam a côr escura, mais ou menos acastanhada em
diversos tons, côr que ao diante, quando as folhas já estão
caidas no solo, vae carregando cada vez mais. N'a]gumas
espécies as folhas não amarellecem, mas avermelham, tal
no somagre, etc.
As folhas mais antigas são as que amarellecem primeiro.
Wiesner notou que os tecidos que transportam agua, as
nervuras, só mais tarde perdem a côr verde.
A chlorophylla, antes da queda natural das folhas, redis-
solve-se pouco a pouco no protoplasma fundamental, e con-
juntamente com elle emigra para os tecidos de reserva da
anore; nas cellulas encontram-se então grânulos amarellos,
brilhantes, de natureza desconhecida, e que, para muitos
anctores, não teem relação com a chlorophylla.
110
Segundo Kraos, quando no outono o protoplasma perde
a actividade, o oxygenio existente nas cellulas, nao podendo
jâ ser empregado na respiração, oxyda os principios orgâ-
nicos que encontra, e a estas oxydações se prendem as di-
versas mudanças de côr. A côr vermelha, segundo elle,
resulta de uma oxydação mais adiantada da côr amarella;
esta côr vermelha é particular ás plaijtas acidas ; gerahnente
as que teem fructos azulados avermelham também as folhas.
A côr escura corresponde a uma oxydação ainda maior, e
ao apparecimento já dos ácidos ulmicos e humicos.
Seja qual for o tempo de duração das folhas, quer seja um
só ou mais períodos vegetativos, antes de cairem natural-
mente experimentam, conjunctamente com estas alterações
na côr, profunda modificação na composição chimica. Uma
parte importante dos principios mais úteis para a vegetação
emigram, para determinados tecidos, onde constituem uma
reserva nutritiva, cujo papel adiante será estudado. Acerca
d'estas alterações na composição chimica são particular-
mente instructivos os estudos e analyses, realisados em
França, pelo sr. Grandeau; segundo este auctor quasi todo
o amido e glucose passam áquelles tecidos de reserva, bem
como uma parte importante do azote, do acido phosphorico,
da potassa e do acido sulphurico; as folhas mortas natural-
mei^le, por isso mesmo que perdem agua e os principios
acima referidos, augmentam em substancia secca e nos
outros principios remanescentes, sobretudo em silica, ferro
e cal; não tem sido possível estabelecer nenhuma lei para
a variabilidade das percentagens da magnesia, manganezio
e soda. Esta emigração dos principios mais úteis reaUsa-se
nas arvores n'um campo ainda mais vasto : tem logar não
só das folhas, mas de todos os órgãos mortos naturahnente
— dos ramos seccos, das cascas. velhas, etc.
Depois de mortas, n'umas essências, as folhas seccam ad-
herentes aos ramos e destroem-se ali pouco a pouco, ou no
maior numero das arvores indígenas, desarticulam-se e caem.
111
Esta queda natural e desarticulação é devida á actividade
geradora que, n'um dado momento, adquire uma assentada
de cellulas do peciolo, ou da base da folha se ella é sessil»
originando formações novas atravez a secção transversal
daquelle órgão.
Na base do peciolo, em quasi todas as essências, existe
um pequeno engrossamento, de còr mais desbotada, cujo
parench)Tna tem as paredes cellulares menos espessas, e
oude o tecido vascular é menos desenvolvido; por ahi se
faz a desarticulação da folha, no maior numero de casos,
mas em outros, muito mais restrictos, a separação realisa-se
um pouca acima (codeços, silvas, etc).
A nova assentada de cellulas, a que nos referimos, atra-
vessa a epiderme, o parenchyma cortical, o tecido liberiano
e lenhoso dos feixes, e só respeita os elementos já mortos
d estes últimos (fibras, vasos e tubos em crivo) ; as cellulas
intermédias desta nova formação reabsorvem-se ao depois,
separando-a em duas laminas parallelas, uma das quaes
fica adherente ao eixo, e a outra acompanha o peciolo,
quando a folha cae, ao quebrarem-se os vasos é fibras que
unicamente a sustentam então. Esta ruptura é provocada,
ao mesmo tempo, pela agitação do vento, pelo peso da folha,
pela pressão exercida pelas cellulas novas, e pelas geadas
e outros phenomenos meteorológicos. D'um modo egual se
desprendem do peciolo commum os foliolos da folha com-
posta.
Ás vezes as folhas caem antes de tempo, ainda verdes,
mortas de repente por qualquer accidente atmospherico —
um golpe de sol, uma geada, etc. Esta queda prematura dif-
íerença-se, physiologicamente, em muito da queda natural,
e pode ler consequências funestas para a arvore ; das folhas
assim caídas não se dá a emigração de princípios para os
tecidos de referva, o que pode representar um empobreci-
mento grande.
A cicatrisação da ferida resultante da queda da folha
112
realisa-se por dois modos differentes. N'umas essências
esta feriçla só fecha mais tarde, pela formaçSo de mna ca-
mada suberosa que se une lateralmente com o invólucro
suberoso do ramo (ulmeiro, amoreira, figueira, etc). N'ou-
tras essências, antes da formaç3o do tecido separador, ou
ao mesmo tempo, pouco distante do logar por onde a des-
articulação se ha de realisar, origina-se uma camada sube-
rosa, que só respeita no interior os feixes do peciolo, por
onde se continuam as funcções physiologicas das folhas;
quando estas caem, a cicatrisaçao dá-se rapidamente, com-
pletando-se a lamina suberosa nos pontos onde ainda não
existia (choupos, amieiro, folhado, ailanto, sabugueiro, etc.).
A forma da cicatriz deixada pelas folhas é desegual nas
diversas essências, e característica em algumas d'ellas.
As folhas, os ramos, as cascas, os pericarpos, etc, caidos
naturalmente das arvores formam, no terreno dos massiços
florestaes, um tapete ou ma?ita, que tem uma grandissima
influencia na boa vegetação dos arvoredos, como adiante
veremos detalhadamente.
Coberto das arvores. — As dimensões, a forma, o modo
de inserção e o numero das folhas, bem como a sua dura-
ção, fazem variar para cada essência, a intensidade com
que a folhagem abriga o terreno inferior; este assom-
breamente maior ou menor é que se denomina coberto das
arvores. É muito importante em cultura florestal considerar
o coberto das difl'erentes essências exploradas.
6.— VIDA DAS PLANTAS LENHOSAS
As plantas lenhosas desenvolvem uma parte dos seus
órgãos na terra e uma outra parte na atmosphera; vivem
em dois meios diflerentes, e a um e outro vão buscar os
elementos necessários á sua organisação e á sua vida.
H3
Supponhamos uma arvore adulta, e em pleno período de
actividade vegetativa.
As raízes grossas seguram-a, dão-lhe estabilidade no solo ;
o tronco liga essas raízes com as folhas e espalha estas ulti-
mas pela atmosphera.
Às mais novas ramificações das raízes teem contrahído
adherencia com a terra, entre cujas partículas se desen-
volvem e se moldam os pellos radícaes, tão intimamente,
qae muitas vezes a radícula, puchada com cuidado, traz
ainda em redor um cylíndro de grânulos terrosos. A humi-
dade do solo, em virtude das leis da endosmose e diflfusâo,
penetra atravez as paredes d'aquellas cellulas, passa os te-
cidos corticaes e entra na parte lenhosa dos feixes da raiz.
Estes feixes da raiz fazem continuação ininterrupta com
os feixes do tronco e dos ramos, passando ás folhas por
ultimo; ímpellida pelo jogo de diversas forças, taes como
a pressão devida aos mesmos phenomenos osmotícos, junta
ao estado particular de turgídez das cellulas das radiculas,
à capillaridade, e á transpiração enérgica realísada nas fo-
lhas e rebentos, a agua bebida no solo pelas raízes eleva-
se rapidamente ao longo d'estes feixes lenhosos, no interior
do tronco, espalhando-se em todas as suas ramificações, em
todas as suas folhas.
Quando os mais velhos elementos anatómicos do feixe le-
nhoso estão obstruídos, por qualquer forma, o transporte da
agua só se realísa pelas ultimas formações. Nas essências que
teem cerne e borne distínctos, é pelo ultimo quatem logar.
A agua, que d'este modo atravessa o vegetal, não é pura;
traz dissolvidas todas as substancias do terreno, entradas
por endosmose atravez as paredes cellulares dos pellos ra-
dícaes. As radiculas teem mesmo, a este propósito, um ver-
dadeiro poder digestivo sobre o solo; vivas, e em contacto
com o papel azul de tumesol, avermelham-o : esta sua acidez
solubilisa na terra muitos corpos, que aliás não poderiam
ser recebidos pela planta.
CS. 8
114
A entrada dos corpos dissolvidos na agua n3o é regu-
lada pela percentagem d'elles na* terra, mas sim, principal-
mente, pelas necessidades do vegetal ; o corpo que deixa de
persistir como tal nos liquidos interiores da arvore, ou por-
que se insolubilise, ou porque se combine de qualquer modo,
segundo as leis da diffusão, dá logar á entrada de uma nova
quantidade a substituil-o, e doesta forma as substancias mi-
neraes mais utilisadas pelo organismo vegetal sâo as que elle
principalmente absorve.
A agua, carregada de substancias mineraes, sobe às fo-
lhas, como dissemos, conduzida pelos elementos lenhosos do
feixe, situados na parte inferior das nervuras, dístribue-se
por todo o limbo, e sofifre ahi profundissimas alterações.
Uma parte muito considerável d'essa agua desprende-se
por transpiração ; passa das cellulas verdes do parenchyma
aos meátos intercellulares e dahi, pelos estomas, para a at-
mosphera; a transpiração atravez a epiderme é minima.
A transpiração regula a quantidade d'agua entrada pelas
raizes. É enorme a correnteliquida que atravessa constan-
temente as arvores no período da actividade vegetativa;
Haberlandt calculou que um carvalho isolado, tendo proxi-
mamente 700:000 folhas, transpirou, nos cinco mezes de
julho a outubro, lli:225 kilos de agua.
A transpiração varia muito nas diversas essências : em
regra é maior nas que teem follias delgadas, aquosas e
brandas ; nas que teem folhas com estomas maiores e mais
umnerosos .; nas qiie teem folhas glabras ; n'aquellas em
que o parenchyma foliaceo é cheio de grandes meátos. As
folhas vestidas de pellos, ou cobertas de inductos cirosos
ou resinosos, as folhas mais seccas, coriaceas e brilhantes,
as folhas que apresentam a epiderme muito cuticulisada,
transpiram menos, em egualdade de circumstancias. Assim
as folhas acerosas das Coníferas teem muito menor transpi-
ração do que as folhas das Angiospermas, de limbo mais
desenvolvido, e mais brando.
115
A maior transpiração corresponde a maior entrada de
principies mineraes. Âs arvores que mais transpiram são
as mais ricas em cinzas ; da percentagem das cinzas po*
de-se deduzir o valor da transpiração.
Segundo Ebermayer lOO**" de folhas das seguintes es-
sências transpiraram, desde abril até outubro, em media>
por dia, estas quantidades d'agua :
Freixo 400«'
Vidoeiro 380
I Ulmeiro 308
Plátano bastardo 274
Carvalho roble 255
Pinlíeiro. .• 44
i Assim, emquanto as folhosas (Angiospermas), em con-
dições favoráveis, perdem por dia, durante o período de
actividade vegetativa, um peso d'agua duas a quatro vezes
maior que o das suas folhas, as agulhas dos pinheiros per-
dem apenas metade do seu peso.
Advertiremos, todavia, que da intensidade da transpira-
ção não se pode concluir com segurança a quantidade de
agna, necessária a cada espécie vegetal; tem de entrar
como factor importantíssimo o desenvolvimento das folhas,
a superfície foliacea — o coberto da arvore.
No mesmo individuo a perda d'agua é sempre maior nos
órgãos mais novos, mais succulentos, mais tenros, e diver-
sifica muito com as estações e com todas as circumstan-
cias que concorrem. É augmentada pela elevação de tem-
peratura, pela 'Seccura do ar, e pela insolação, que não só
produz maior aquecimento, mas dilata os estomas. É, por
isso, maior de dia, que á noite ; maior ao sol do que á som-
bra; maior nas arvores isoladas do que nas dos massiços. As
folhas que crescem á sombra são, de ordinário, mais del-
gadas e teem maiores meátos intercellulares.
8*
1
116
Ào mesmo tempo que as folhas e os rebentos estão per-
dendo agua, estabelece-se uma troca de gazes entre a planta
e a atmosphera ; em redor das folhas o ar condensa-se,
formando uma camada adherente» e ás vezes muito espes-
sa, comparável, nos orgSos subterrâneos, á ligação das ra-
diculas com a terra ; quando se mergulha uma folha den-
tro d'agua esta camada toma-se bem patente, envolvendo-a
como em um estojo prateado.
D'esta forma os gazes e vapores atmosphericos penetram
pelos estomas, e por endosmose e dífiusSo passam ás cel-
lulas do parenchyma, dissolvendo-se no protoplasma e no
sueco cellular. A lei, que regularisa a sua entrada, é a mes-
ma lei que regula a entrada dos princípios solúveis da ter-
ra: entram em maior quantidade, não os gazes existentes
na atmosphera em maior abundância, mas os que são mais
necessários á planta; assim por exemplo, entra menos
azote do que anhydrido carbónico.
Nas cellulas verdes a chlorophylla, absorvendo uma
parte da irradiação luminosa, transforma-a no trabalho
chimico da decomposição do anhydrido carbónico, fixa o
carbonio resultante e desprende para a atmosphera o oxy-
genio.
Não é ponto assentado se esta decomposição se realisa
separando completamente para os dois lados todo o car-
bonio e oxygenio da molécula do anhydrido carbónico, ou
se apenas a desdobra em oxydo de carbonio e oxygenio,
porque é certo que as plantas não teem o poder de decom-
por o oxydo de carbonio. No emtanto, como existe sensível
egualdade entre o volume do anliydrido carbónico entrado
e do oxygenio evolvido, será necessário, na ultima hypo-
these, ir buscar o oxygenio, que ainda falta para comple-
tar aquelle volume, a outra origem ; suppõe-se ser pres-
tado pela decomposição simultânea da agua.
A decomposição do anhydrido carbónico pela chlorophylla
é influenciada por muitas causas externas, e sobretudo pela
il7
intensidade, da luz, e pelo calor. É um phenomeno descon-
tinuo, periódico : só se realisa de dia.
Sejam quaes forem os termos da decomposição do anhy-
drído carbónico, e quer a agua seja ou não conjunctamente
decomposta, comtanto que compareça, ficam em presença
na cellula Tiva os três elementos necessários para a orga-
nisação de todos os princípios immediatos ditos ternários
—carbonio, hydrogenio e oxygenio; da sua união resul-
tam os hydratos de carbonio fundamentaes d'onde, por di-
versas reacções e substituições na quasi totalidade desco-
nhecidas, derivam todos os outros principios hydro-carbo-
nados.
Mais obscura ainda é a formação das substancias qua-
ternárias; é ponto duvidoso até o local da sua primeira
origem: se unicamente nascem nas cellulas verdes assi-
milatrises, ou também nos outros tecidos. À parte mais
avaltada do azote, necessário a esta organisação, tira-a a
planta da terra, sob a forma de saes ammoniacaes e nitra-
tos, que passam dissolvidos na agua, mas também tributa
a este respeito os gazes atmosphericos, fixando, não o
azote livre, mas o ammoniaco, ali existente sempre, em-
bora em percentagens resumidíssimas. Os albuminóides re-
presentam um papel muito importante na vida vegetal ; en-
tram ria constituição do protoplasma, o corpo vivo da cel-
hila.
O liquido extrahido ao solo pelas raizes, concentrado pela
transpiração, enriquecido com os compostos ternários e qua-
ternários, transforma-se então em seiva elaborada, isto é,
n'nm liquido onde existem os materiaes necessários á or-
ganisação vegetal, e devidamente apparelhados para essa
organisação.
Ao mesmo tempo que vão tendo logar estes phenome-
nos de assimilação, outros se realisam importantíssimos»
qae vem tomar mais complexa s^nda a troca de gazes entre
a planta e a atmospbera.
118
•
As cellulas vegetaes vivas teem uma respiração, paten-
teada, como a respiração animal, pela absorpção do oxy-
genio atmospherico, que provoca oxydações — em diversos
graus— nas substancias assimiladas, e pelo desprendimento
de anhydrido carbónico. Esta respiração é um acto inteira-
mente diverso da assimilação acima descripta; é indispen-
sável á vida vegetal ; sem ella não se realisam as transfor-
mações chimicas, de que depende o crescimento das plantas,
e o protoplasma das cellulas perde o movimento e morre.
A raiz encontra o oxygenio necessário para a sua res-
piração na terra, onde entre as particulas terrosas existem
os diversos gazes atmosphericos. Todos esses gazes, livres
ou dissolvidos na agua, passam às cellulas da raiz, que
utilisam o oxygenio e deixam sem emprego o azote e o
anhydrido carbónico. A acção indispensável do ar sobre as
raizes explica o motivo porque as arvores, plantadas ao
longo das ruas muito comprimidas das cidades, infezame
morrem, se não houver tomada alguma disposição que per-
mitta o arejamento : caldeiras largas, drenagens especiaes
etc. Ainda por idêntico motivo, as arvores dos terrenos co-
bertos d^agua durante o inverno retardam a época do des-
abrolhamento, e se a submersão tiver logar durante o pe-
ríodo da actividade vegetativa, apresentam signaes de sof-
frimento primeiro e ao depois morrem, se ella persiste.
Na parte aérea da arvore a respiração passa-se do mes-
mo modo que nas raizes ; ha uma fixação de oxygenio, e
um desprendimento de anhydrido carbónico. Nos tecidos
verdes, como se reaUsa simultaneamente a respiração e a
assimilação chlorophylliana, a troca de gazes entre a planta
e a atmosphera estabelece-se, n'um dado momento, pela
differença entre a intensidade dos dois phenomenos. Sem
a irradiação luminosa não tem logar a assimilação chloro-
phylliana, logo, de noite apenas a respiração regula aquella
troca : a arvore perde anhydrido carbónico, fixa oxygenio.
De dia a acção assimilatriz consome muito mais anhydrido
119
carbónico do que o produz a acç5o respiratória : o vegetal,
DOS seus tecidos verdes, fixa então o carbonio e desprende
o oxygenio.
A quantidade de carbonio apanhada durante o dia é
nmíto maior do que a quantidade perdida durante a noite;
por isso o vegetal consegue crescer, augmentar os seus
componentes. Calculou o sr. Van Tieghem que 1™* de fo-
lhas de loendro, expostas ao sol, decompõem por hora
1^108 de anhydrido carbónico, emquanto de noite emit-
tem apenas O' ,07, isto é, proximamente 16 vezes menos.
Em três quartos d'hora d'insolaçâo pela manhS, esta planta
repara as perdas de carbonio experimentadas durante a
noite.
A intensidade da respiração vegetal depende bastante da
essência, e em cada individuo da região considerada ; em
egnaldade de circumstancias é mais enérgica nas espécies
de folhas caducas do que nas de folhas persistentes ; é mais
forte nos pontos onde é maior o crescimento dos tecidos
e onde necessariamente as reacções chimicas são mais po-
derosas; assim é máxima nas cellulas dos rebentos saí-
dos ha pouco do botão, e nas cellulas das sementes que
teem germinação rápida. Os phenomenos exteriores tam-
bém influem muito: a intensidade da respiração augmenta
com a temperatura e com o estado hygrometrico do ar, a
Iflz fal-a diminuir, e varia, por tanto, com as estações.
Entre a oxygenio fixado pela respiração e o anhydrido
carbónico evolvido passa-se uma longa cadeia de reacções chi-
micas desconhecidas; o estudo, doestes phenomenos é com-
plexo e diflBcil. Alguns auctores sustentam, que não existe
relação constante entre a quantidade do oxygenio entrado
e a do anhydrido carbónico desprendido; affirmam que estes
dois phenomenos só indirectamente estão ligados, e não
admittera, por isso, que se reunam sob a donominação
commum de respiração vegetal. Ultimamente os srs. G. Bon-
™r e L. Mangin demonstraram que esta relação existe
L
"^
120
constante para um mesmo individuo, n'ufn determinado es
todo do seu desenvolvimento.
Os princípios immediatos elaborados nas cellulas chloro-
phyllianas passam d'ali aos pontos onde o seu emprego é
reclamado ; aos pontos em via de crescimento e aos reser-
vatórios nutritivos. A lei que os conduz n'este caminho é
conhecida : é ainda a mesma lei que regula a entrada dos
gazes e dos elementos mineraes na planta — nos sítios onde
um dado corpo é empregado, quer se tranforme, se orga-
nise, ou se combine, deixa de permanecer como tal, e esse
sitio torna-se, a respeito d'elle, um centro de attracçao.
D'este modo estabelecem-se correntes partidas das cel-
lulas chlorophyllianas, que envolvem o vegetal d'esde as
ultimas ramificações radiculares até aos mais altos reno-
vos ; mas são correntes nao homogéneas, onde cada sub-
stancia, para assim dizer, conserva a sua individualidade
e passa, com mais ou menos rapidez, conforme o papel que
momentaneamente lhe cabe. Esta corrente é conduzida pe-
los elementos liberianos dos feixes foliares, que constituem
a parte inferior das nervuras, e depois pelos elementos
idênticos no tronco e na raiz ; as cellulas com as paredes
em crivo são importantíssimas para este transporte. Da
corrente longitudinal partem successivas correntes lateraes.
Á custa dos materiaes assim apparelhados a planta re-
nova os seus tecidos, organisando novas cellulas, cresce
em altura e diâmetro, constitue todos os seus órgãos, tanto
na parte aérea como na parte subterrânea.
Quando, nos nossos climas, o decrescimento da tempe-
ratura marca o fim do período vegetativo, se a arvore é de
folhas caducas, as cellulas do parenchyma foliar esvasiam-
se, as substancias ainda útilisaveis, inclusive uma grande
parte dos grânulos de chlorophylla, dissolvem-se e passam
na corrente liberíana dos feixes, orientada agora, exclusi-
vamente, para os tecidos de reserva. As folhas, na occa-
sião da queda natural, como dissemos, são apenas esque-
w
i21
letos de membranas cellulares, contendo productos de des-
assimilação, sem utilidade para a planta.
No emtanto' n3o se julgue disto que, os princípios mais
importantes para a organisação vegetal, uma vez formados,
persistem sempre na arvore: afora os princípios consumi-
dos pela respiração, uma grande parte perde-se annual-
. mente nos fructos, como diremos, onde se ínsolubílisam e
CQDcretam em grande abundância relativa. A fructificação
representa sempie uma perda para o individuo vegetal.
Nas essências indígenas de folbas caducas aquella emi-
gração outonal dos princípios mais úteis realísa-se para
os eixos. É nos tecidos vivos da casca, nos 'raios medulla-
res do lenho e no parenchyma lenhoso onde a reserva nu-
tritiva se acantona de inverno.
Na estação fria a arvore entorpece a sua actividade : não
elabora, não cresce, não engrossa; não tem folhas; na parte
aeria apenas apresenta o tronco, os ramos e os esboços dos
iK)vos rebentos, protegidos pelos involuferos escamosos, uu-
permeaveis, dos botões.
Quando a primavera traz o augmento favorável de tem-
peratura a agua é chamada outra vez, em maior quantida-
de, ao vegetal ; sobe, n'este caso, apenas pelas forças d'ím-
polsão já referidas, quasi independentes da transpiração, dis-
solve as reservas nutritivas, e leva esses materiaes aos órgãos
em via de crescimento. Os botões alongam-se, entumecem,
abrem-se, e apparecem as primeiras pequenas folhas ; for-
ma-se a chlorophylla sob a influencia da irradiação solar;
Doestas cellulas cbJorophyllianas começa a decomposição do
aDhf drido carbónico atmospherico e da agua ; constítuem-se
BOTOS princípios immediatos; a transpiração augmenta, e
abre-se para a arvore um novo cyclo vegetativo.
Se a espécie é de folhas persistentes as cousas passam-
se, proximamente, de um modo análogo. N'estas espécies a
actividade vegetativa também pára durante o inverno, e as
íMs também antes de caírem soflfrem alterações na com-
122
posição, emigrando d'ellas os princípios mais úteis. Em al-
gumas, nos pinheiros por exemplo, as folhas só no primeiro
anno da vida cooperam activamente na assimilação, no prin-
cipio do segundo anno afrouxam muito no desempenho
d'esta ftincçao, que d'ahi por diante lhes cessa de todo; pa-
rece que representam depois apenas um papel idêntico ao
dos tecidos de reserva dos eixos.
A relação, que dissemos existir, entre o desenvolvimento
da parte aérea e radicular, nàs arvores da mesma essência
e da mesma edade, torna-se agora bem comprehensivel.
Quando as necessidades do organismo forem idênticas,
quanto maior a quantidade de folhas, mais avultada será
a producção dos princípios immediatos, mais fortes e nu-
merosos serão todos os órgãos; mas se a formação das
raizes necessita os princípios immediatos, originados á luz
nas cellulas chlorophyllianas, os órgãos aéreos precisam tam-
bém as substancias mineraes extrahidas da terra pelas rai-
zes; a dependência aqui é reciproca: a relação, portanto,
constante, em condições idênticas de organisação.
Nos indivíduos da mesma espécie o crescimento depen-
de, é evidente, da quantidade dos princípios ínmediatos em
circulação, isto é — do numero das folhas e das radiculas —
e o maior numero de umas e outras está ligado ás condi-
ções do meio local. Se o terreno é árido e superficial a
arvore fica enfezada e pequena; se é profundo e rico ad-
quire grandes dimensões; uma influencia idêntica, e nao
menos pronunciada, exerce o clima. De resto mil outras ac-
ções, puramente accidentaes, podem influir: se as arvores
vivem isoladas engrossam bastante, bracejam muito, apre-
sentam o lançamento terminal menos desenvolvido e a copa
mais arredondada; se crescem em massiço apertado teem
maior fuste e o tronco mais delgado; ávidas de luz, estas
arvores reúnem as suas forças no rebento terminal e for-
mam as ramificações lateraes muito mais fracas. Se é um
rebentão de touca desenvolve-se mais despressa nos pri^
123
melros annos, fica menos alto, e morre mais cedo do que
uma anrore de semente.
Mas a altura das arvores, a rapidez do seu crescimento
6 a qualidade das suas madeiras não dependem só do meio
exterior, também variam muito com a organisação especi-
fica; em solos ou em climas onde uma dada essência ficará
. enfezada e rachitica, uma outra mais frugal, menos exigente,
poderá adquirir boas proporções. O azevinho, o folhado, o
sabugueiro, por melhores que sejam as condições de vege-
tação, não chegam á altura dos carvalhos, dos pinheiros ou
dos ulmeiros. Em regra geral o crescimento é tanto mais
rápido quanto o lenho é mais brando; assim os choupos
íazem-se bem mais depressa do que* os carvalhos. O euca-
lypto é uma excepção a esta regra.
A vida dàs arvores tem mu termo; não provocado pelas
mesmas causas que trazem a morte dós animaes, mas por
outras, próprias aos seus organismos.
Na arvore os órgãos não se gastam pelo continuo func-
donamente, por isso que se renovam todos os annos. São
as radiculas ultimamente constituídas que apanham na terra
a agua e as substancias mineraes ; no tronco e nos ramos
são as camadas das formações mais modernas que teem o
principal papel no transporte dos Mquidos; os tecidos ge-
radores regeneram-se constantemente ; as folhas, onde so-
bretudo se realisa a elaboração dos princípios Immediatos,
estão em actividade, no maior numero de casos, apenas um
cycio vegetativo, ou pouco mais. A arvore adulta é um ag-
gregado de cellulas vivas e mortas ; a vida emigra succes-
siramente das mais antigas para as mais modernas, e esta
coostante renovação não dá margem ao gastamento dos
órgãos; em duas arvores da mesma espécie com edades
dlfferentes, dois pinheiros por exemplo, um de 30 e outro
de 60 annos, a porção viva é quasi egual, as camadas já
mortas é que sobretudo avultam na mais velha.
Uma das causas fataes da morte das arvores é a mesma
124
forma do seu desenvolTimento. Os orgSos mais importantes,
as folhas e as radiculas, cada anno se affastam mais, ea
facilidade de communicação entre mnas e outras cada amu)
diminue ; de certo ponto em deante o crescimento em altura
e diâmetro afrouxa, proporcionalmente, até parar, e a arvore
morrer.
Este limite depende todavia de muitas causas, que todas
concorrem ao mesmo tempo : influe a organisação particular
de cada espécie; actuam as qualidades do meio — do terreno
e do clima : esgotado pelas raizes o cubo de terra onde se
podem desenvolver, a arvore morrerá ; influe o grau variá-
vel de incrustação dos tecidos por onde os liquidos hao de
circular com desegual' facilidade; entram, afora tudo isto,
muitas outras circunstancias, puramente accidentaes, como
os ataques dos insectos e dos parasitas vegetaes, as lesões
e quebras de ramos, etc.
Nas arvores adultas, como sabemos, os tecidos mortos
estão situados no interior do lenho e na parte cortical mais
externa. Os últimos, n'um grande numero de essências,
destacam-se pouco a pouco, e vão caindo: em todo o caso
a sua decomposição tem pequena importância para a arvore
e é quasi sempre difficultada pelas percentagens elevadas
de corpos conservadores, como o tannino, etc. Não acontece
outro tanto ás formações mortas no interior do tronco; a
decomposição dá-se ali muitas vezes, enérgica e rápida,
podendo o tronco ficar completamente ôco.
Esta decomposição dos tecidos internos representa uma
perda industrial nos productos lenhosos da arvore, mas
não lhe occasiona directamente a morte, e nem mesmo lhe
prejudica a vitalidade: a parte essencial, os tecidos vivos,
subsistem do mesmo modo. Mas a arvore perdeu o ap-
parelho que lhe dava resistência e solidez, e fica bem mais
arriscada a soíTrer com o vento e com o tempo. Nem todas
as essências apresentam com a mesma facilidade o tronco
ôco ; é menos frequente encontrar os pinheiros n'esse es-
125
tado do que os castanheiros, os ulmeiros, os salgueiros,
€tc.
Na arvore que envelhece os ramos, cada vez mais gros-
sos, mais afastados do tronco e mais pesados, formam ân-
gulos mais abertos, obedecendo á força da gravidade, que
actaa sempre crescente. Se o vento derruba alguns d'elles,
a parte morta do lenho assim desnudada e rugosa, exposta
livremente a todas as acções atmosphericas ainda mais de-
pressa é decomposta. As feridas, a quebra dos ramos, tudo
quanto descobrir os tecidos mortos internos, e provocar
aqoella mina, é tanto mais prejudicial quanto maior a su-
perficie desnudada, quanto mais rugosa esta superíicie,
quanto mais velha a arvore, e menos apertados e lenhifei-
tos os seus tecidos.
Na vida das arvores podem geralmente notar-se os se-
guintes períodos bem accentuados:
No primeiro período — einquanto é nova — tende a des-
envolver o tronco em altura; produz um rebento termi-
nal forte e pronunciado; cobre-se de folhagem numerosa,
cheia de viço; tem a casca lisa, unida, sa, e os rebentos
laleraes flexíveis e levantados para o tronco.
No segundo período — da maturação — a t tinge o máximo
crescimento em altura, e flca estacionaria ; apresenta flecha
menos saliente, e os ramos lateraes desenvolvidos em r^ela-
ção a ella, o que toma a copa arredondada ; tem a casca
ainda sS, mas rugosa.
No terceiro período — da decrepitude — as folhas do cimo
começam a amarellecer, no outono, e a cair primeiro que
as dos ramos; a arvore tem jà alguns ramos seccos na
parte superíor, onde a seiva diflBcilmente chega; os seus
botões são menos vigorosos, e originam rebentos annuaes
curtos e fracos ; é cada vez mais aberto o angulo formado
pelos ramos com o tronco; a casca está fendida profunda-
niênte; encontram-se com abundância os lichens e cogu-
melos.
126
N'este ultimo estado, ainda que o tronco esteja são, a
morta avizinha-se; as aguas da chuva, retidas pelas aspe-
rezas da casca, e pelos fragmentos dos ramos já mortos,
iníiitrajli-se, occasionando na madeira primeiro manchas
escuras, e depois a decomposição lenta, a partir das ca-
madas mais internas. A vida continua ainda nas camadas
superficiaes, e pode prdongar-se por algum tempo, se as
aguas da chuva teem saida por algumas fendas na base do
tronco oco, aliás a corrupção propaga-se, desorganisam-se
os tecidos, os ramos caem successivamente, e por fim cae o
próprio tronco. O individuo vegetal morre então, a não ser
que appareçam botões adventicios sobre as raizes ainda vi-
vas, ou sobre os fragmentos do tronco existentes ainda
de pé.
6. «—A FLOR, E OS PHENOMENOS DA REPRODUCÇAG
Temos considerado até aqui os órgãos e funcções que uni-
camente dizem respeito á conservação e desenvolvimento
das arvores — á sua vida individual ; mas outros órgão e func-
ções existem, não menos importantes» que asseguram a
continuação da espécie. Esses órgãos e íuncções denomi-
nam-se de reproducção.
Floração. — Quando as plantas lenhosas chegam a deter-
minadas edades, variáveis com as essências e com as con-
dições locaes, alguns eixos, ou porções de eixos, ainda rudi-
mentares, difierenciam-se com as folhas correspondentes,
que se transformam em flores. As flores são essencialmente
constituidas pelos órgãos da reprodução vegetal, ás vezes
protegidos por invólucros de folhas mais ou menos modi-
ficadas.
As arvores provenientes de estaca ou de rebentões de
touca entram mais novas em floração, em egualdade de
127
circumstancías, do que as arvores originadas directamente
pelas sementes. As arvores isoladas florescem uns poucos
de annos mais cedo que em massiço apertado. Nos ter-
renos pobres a floração é mais tardia; o mesmo acontece
nos climas ásperos ou pouco propícios, e n'este caso pode
até acontecer que a arvore viva, mas sem poder nunca for-
mar as flores. Um excesso de vigor, uma grande fertilidade
do solo, pode retardar também a época da floração, esti-
mulando o desenvolvimento das folhas normaes e não lhes
consentindo que se modifiquem.
Independentemente d'estas e muitas outras causas acci-
dentaes, a edade da floração depende muito da essência:
assim o roble, por exemplo, floresce em uma edade bem
mais adiantada que o pinheiro bravo. Em regra geral as
anores que teem crescimento rápido nos primeiros annos
(pinheiros, choupos, vidoeiro, etc), mais cedo florescem, e
mais cedo também entram em decrepitude, emquanto, pelo
inverso, as que se desenvolvem de vagar (carvalhos, etc.)
entram tarde em floração e vivem muito mais tempo.
Umas essências produzem botões florões simples: isto é,
botões d'onde só se desenvolvem eixos com flores, taes são
os choupos, os salgueiros, o ulmeiro, o amieiro, etc. ; outras
produzem botões mixtos, d'onde se originam rebentos com
folhas e flores, como a videira, os carvalhos, etc. É claro
qne no primeiro caso os eixos floriferos estão implantados
no raminho lenhoso, e no segundo caso no rebento her-
báceo.
Os botões florões podem ser terminaes ou lateraes; ou
mesmo a inflorescencia pode ser originada em botões adven-
tícios, apparecendo então situada nos ramos grossos e mais
velhos, como é frequente na alfarrobeira e na olaya.
A pereira e a maceira apresentam os botões floriferos
coBocados sobre ramos muito curtos e grossos, que teem
M desenvolvimento especial (fig. 60). No pinheiro bravo é
frequente transformarem-se os botões lateraes, que deviam
128
orígÍDar as Tolhas geminadas^ em inãorescencias femininas,
e ao diaate em pinhas, agglomeradas em grande numero
(40, e mais), que todas se criam e completam tanto qaanto
o espaço lh'o permitte.
Em algumas essências de folhas caducas
as flores apparecem antes das folhas, e
esta floração diz-se precoce (ulmeiro, frei-
xo, olaya, choupos, amendoeira, muitos
salgueiros, etc); n'outras, as flores e as
folhas apresentam-se ao mesmo tempo, e
a floração diz-se coetânea, ou simultânea
(lodao bastado, bordo, etc); n'outras,final-
Kg. 60. Ramo de mente, as flores só apparecem depois de
pereira ( ym ggj^gg gg fojjjas (castanheiro, carvalbos,
botões floriíeros. acacia bastarda, sabugueiro, etc), e a
(1 : 1). floração denomina-se tardia.
A época annual da floração depende muito do clima, das
condições locaes, como adiante diremos, mas, depende lam-
bem muito da organisação especifica. O maior numero das
nossas plantas lenhosas florescem no fim do inverno, princi-
pio da primavera: em alguns pontos dopaiz, nos últimos dias
de dezembro, já o freixo tem flor; em fevereiro e março estão
em plena floração os salgueiros, os choupos, o ulmeiro, a
amendoeira, os pinheiros, etc. ; no emtanto algumas espécies
só florescem mais tarde, no estio (murta, romeira, etc). ou
mesmo no outono (alfarrobeira, hera, etc).
Apresentamos, a este propósito, os seguintes dados nn-
mericos respectivos ao nosso paiz':
1 EsleB dados, bem como os seguintes, que diiem respeito i fnictifi-
cação, foram colhidos pelos mesmos observadores anteriormenle citados
a propósito das épocas da folheado e da queda dag folhas.
129
m
israoxs
UfMl
MAUgnA
flnAKDB
(1885)
kmltefobto (QuertusfidwieuUtã, Ehrh.)
NinWio da ladU (^ttcvifu Hifpo-eõtiã'
pai,!.)
30 março 83
15 fey.* 83
30 abril 83
16 abril 83
U abril 83
18 março 83
10 abril 83
28 abril 83
23 abril 83
10 março 85
29 des.o 85
10 março >85
iS fêv.« 85
10 março 85
15 março 85
26 foT.o 85
—
|lKiio(fiMiataAa,L.)
piDein (CffWiu Avellana. L.)
—
Miin (Pnma tvium, L.)
PriMdra brara, {Prunut Sfinosa, L.) • ■ •
Hen (Premu (krasus, L.)
—
jHRfav dot damnadoc {Prunta PaduSf L.)
pcirt (fVrw coimmiRM. Ij.)
—
P*» (ftw Jfalitt. L.)
Ihi (SjiríRM ra/Mrú. L.)
mtbo {Crútoegus Ox^aeantka, L.)
W bttUrdo (Laòvmttm vulgare. Orla.)
P»dtIrB (Cyíania mlgaris, Pert.)- • . *. .
MHiro (Sm^iiou itiora. L.)
—
(■Bi^Mn (fintei idaeus, L.)
PPlBliA legitimo (Cormu <an^'fifa, L.)
N^o (Líftisfnm vulgare, L.)*
^WrtOilifwiiiAra.I..)
—
M« biiurda (BoMma P«««ío-««ía, L.)
P» (Ftixírki augustifòlia, Yahl.)
pwí»bra«a(lí«ntfaí6a,L.)
H"> (Í^«M <Wiws/ris. L.)
—
pB» biêtordo (Ceííii austraUs, L.)
W»{Cltretj Stliciuulnim, L.)
•
^**o 4'Alepo (Pínw ika/ij>en5ti, MIIl.).
n*>e(n íPnulus niara, L.l
fCT.'
""I^ >Ma(B«s (Qmkm buifanica,
1«.^
maio
^*«N brtTO (PÍRKJ PtfldiííT, Ait.)
P<^MBM(PÍIMSlh'flM.L.)
março
abril
N»(MjrÍM F(i|o, Alt.)
P"^**» (CostonM vu/^orif, Lam.)
P*kAt)(ir6ii(M Un<tfo,L.)
maio
maio
agoito
ÉPOCA DA ABERTURA DAS
PRDtfEIRAS FLORES
COnBKA
(1888)
«abril
5 março
15 fev.»
It março
7abrU
i março
10 abril
3abrU
18 março
83 fOT.»
26 fer.»
8 maio
U abril
12 maio
10 maio
(1884)
26 março
15 março
1 março
25 março
25 março
20 março
30 março
8 março
17 março
20 março
25 março
16 maio
12 abril
18 abril
10 maio
POETO
(1888)
28 março
1» abril
16 abril
6 fíT.*
30 março
26feT.
10 março
6 março
30 abrU
25 maio
20 março
4 maio
1 março
12 março
10 maio
18 maio
8 maio
9 maio
CS.
i30
A sitaaçSo das flores, terminal ou lateral, e a época do
seu apparecimento, anterior ou posterior i folheaç5o, são
reguladas pelo diverso grau de luz que necessitam; pela
acção destructiva, maior ou menor, que sobre os seus ór-
gãos mais ou menos delicados podem exercer os phenome-'
nos atmosphericos ; pela sombra e abrigo, benéfico ou mal-
fazejo conforme os casos, que a folhagem lhes dá; pelo
processo de pollinisação, que pode exigir, ou não, grande
renovação de ar, etc. Por outra, a época da florescência e a
situação das flores dimanam como consequências da organi-
sacão especifica da arvore.
Partes componentes da flor. — O eixo, ou a porção do
eixo, cujas folhas se differenciam nos órgãos da reproducção
vegetal e nas peças que lhes são accessorias, denomina-
se pedúnculo. Quando o eixo é ramificado, reserva-se pro-
priamente o nome de pedanctdo para o eixo principal, e
dá-se o nome de pedicelbs ás ramificações secundarias, que
§upportam as flores. A parte superior do pedúnculo, ou dos
pedicellos, onde está inserida a flor tem disposições variadas
— torna-se espherica, ou achatada, ou escava-se em uma,
ou alonga-se em cone, etc. — e chama-se receptáculo.
De ordinário, as folhas na proximidade das flores sofiBrem
transformações, que são verdadeiros termos de passagem
da sua forma vulgar para a modificação mais profunda, que
revestem na flor; estas folhas rudimentares, ou incompleta-
mente differenciadas, que se encontram nos pedúnculos de
muitas flores, denominam-se bracteas; as bracteas de se-
gunda ordem, ou^e segunda grandeza, cbamam-se bracteo-
las. As flores de muitos tojos, por exemplo, apresentam
uma bractea próximo á base do pedúnculo (fig. 61, a), e
duas bracteolas no cimo, junto ao cálice (fig. 61, b). As bra-
cteas, muito numerosas ás vezes, chegam a constituir gran-
des invólucros ás flores, como nos carvalhos (género Quer-
cus), cuja inflorescencia feminina se reduz a um eixo muito
pouco desenvolvido terminado por uma flor, rodeada de bra-
131
cleas estéreis (sem flores na axilla) (fig. 62) ; estas bracteas
Fig. 61. Cálice do tojo ( Ulex euro-
paeus, L ). Na base do pedan-
culo existe uma bractea (a), e
no cimo duas bracteolas late-
nes (b). (1 : 1).
Fig. 62. Inflorescencia feminina
da azinheira (Qumrcus iZev, L.) :
uma flor fértil rodeada por bra -
cteas estéreis (proximamente
3 : !)•
é qae ao depois constituem a cúpula, onde o fracto se acha
mais ou menos incluido.
Em muitas espécies lenhosas in-
digenas, em todas as nossas es-
sências florestaes» as flores são
pequenas e nao teem a belleza
cajá idéa vulgarmente se liga a
esta palavra. Algumas d'ellas são
nuas, isto é> apenas formadas pelos
órgãos de reproducção, sem terem
inyolucros protectores (freixo, pi-
nheiros, teixo, salgueiros, etc.)
(fig. 63); n'outras existe um só
tf estes invólucros, que se denomina então particularmente
periantho ou perigoneo (carvalho, castanheiro, alfarrobeira,
olmeiro, lodão bastardo, etc.) (figs. 64^ 66); n'outras, de
todas as mais completas, existem dois invólucros floraes,
dos qpiaes o mais externo (flg. 65, a) se chama cálice, e o
mais interno (fig. 65, b) coroUa (acácia bastarda, alfenheíro^
madresilva, murta, etc.)
Os órgãos masculinos da fecundação denominam-se esta-
nei, e os órgãos femininos pistUlos. Os dois sexos estão
ranidos, muitas vezes, na mesma flor que se chama então
9*
Fig. 63. Flores nuas: A, flor
feminina do salgueiro preto
(Salix atro-^inêrea, Brot)
inserida na base de uma bra-
ctea (2:1).B : flormasculina
do mesmo salgueiro (2:1).
C: flor hermapbrodita do
freixo {Fraxinm angust^
fdia, Vahl.) (1:1).
132
hermaphrodita (medronheiro, acácia bastarda, freixo, ulmeiro
feto.) (figs. 63 C, e 64), mas em moitas
outras, e é o mais frequente nas essências
florestaes indígenas, os dois sexos estio
separados em flores diversas (fig. 63, A,
•B. fig. 66); n'este ultimo caso dizem-se
morioicas as espécies, que teem na mesma
Fig. 64. Flor do arvore flores dos dois sexos (carvalho,
ulmeiro {Uimiit castanheiro, plátano, vidoeiro, amieiro,
com um invólucro pmheiro, cyprestcs, figueira, amoreiras,
floral (3:1). etc); dioicas as que teem as flores mii-
sexuaes separadas em arvores differentes (choupos, sal-
gueiros, alfarrobeira, teixo, etc.); polygatnicas as que teem
^^
Pig. 6S. Flor da morta (ttyrlut Fíg. 66. Flores da alfarrobein
comtnuníi, L.) : o. cálice: i. co- {Ceratonta Sdiqua, L.): A. Pior
roUa (!:!)• femÍDÍna. B. Flor masculina
(i:i).
flores hermapkroãitas e unisexuaes, quer na mesma arvore
ou em arvores distinctas, como acontece moitas vezes no
ulmeiro, lodSo bastardo, castanheiro da índia, etc.
laflorescencia. — A íw/Iorescencia, isto é, o arranjo, a dis-
posição das flores, varia muito nas nossas espécies lenho-
sas.
A inflorescencia solitária, aquella em que o pedúnculo
permanece simples, sem se ramificar, existindo uma só flor
na axilla das folhas oa no extremo dos ramos, é pouco fre-
r
133
qaente ; o arando dà-nos um exemplo de uma inflorescetu
da solitária axiUQr.
Nos adernos, na aroeira, no azereiro dos damnados, na
urze Yolgar, na oliveira, etc, as flores
disp5em-se em cacho — sobre eixos secun-
dários simples, presos a um eixo primário
indeterminado; n'este caso as flores in-
feriores são as que abrem primeiro. Na
aroeira os cachos são axillares; na urze
Tolgar terminaes e levantados (fig. 67);
no azereiro dos damnados pendentes.
No medronheiro, etc.^ o cacho toma-se
cmpostOy pela ramificação dos eixos se-
cundários. Quer o cacho seja simples ou
composto quando tem a forma cónica, por
serem maiores os eixos da base, deno-
mina-se panicula, tal é a inflorescencia da
pimenteira bastarda. Quando tem a forma
OToide, por serem maiores os eixos intermédios, toma o
nome de thyrsoy como no lilaz, no castanheiro da índia, no
smnagre, etc.
A inflorescencia em espiga^ isto é, estando as flores dis*
postas sesseis sobre o eixo principal, não é vulgar nas espe^
des lenhosas indigenas, e apenas se encontra em algumas
de muito pequeno porte, mas é, pelo inverso, bastante fre-
quente a inflorescencia em amentilho — espiga de flores uni-
sexnaes, nuas ou com um só invólucro floral, e cujo pe-
doncolo é articulado na base. Os amentilhos dos choupos
s3o cylindrícos e pendentes (fig. 68); os dos salgueiros le-
vantados, cylindricos ou ovóides (fig. 69); os do plátano
06bo8os; os amentilhos masculinos dos carvalhos são cy*
lindrícos, interrompidos e teem uma só flor em cada escama
ik>eixo, os do vidoeiro teem três, os do castanheiro sete; os
d'esta ultima essência são levantados, os das anteriores,
pendentes. Nos pinheiros os amentilhos masculinos são ovoi-
Fig. 67. Cacho ter-
minal da urze vul-
gar (CaUuna mil-
gari9, Salisb.)
(1:1).
i34
des e remiem-se, muito Domerosos, na base do rebento
anona] *. Os amentílhos femininos do -amieiro s3o molti-
flores, alongados, levantados, com as flores geminadas em
Fig. 68. Amentilho muculino do Fig. 69. Amentilho feminino do
ehoapo branco ÍPopuivt aiba, salgueiro prelo {StUix atrth
L.) (l;i). cinerta, Brot) {l:í).
cada escama, e estas lenhosas por fim; os do vidoeiro teem
st mesma forma, com três flores em cada escama, e as es-
camas tomam-se ao depois membraoosas; as flores femi-
ninas do castanheiro estão cotlocadas, uma a três, na base
dos amentílhos masculinos; a infloresoeucia feminina do&
carvalhos e do teixo reduz-se a uma só flor fértil, rodeada
■ Alguns anctores consideram i»da um dos amentilfaos mascalinos
dos piobeiros como una s4 flor com o eixo muito desenvolvido
i35
de bracteas estéreis. No samõco os amentiUios s3o c<m-
foMos, ramiãcados.
K|. 70. Inflorescencia em corymòo, da pereira [Pyi-ut communii, L.) (1:2).
Na pereira, no loendro, no Pruntts Mahaleb, L., etc., a
inflorescencia é em corymbo (Gg. 70); os eixos lateraes,
partidos de diversos pontos do eixo principal, elevam as
Owes todas, proximamente, á mesma altura. Na cerejeira,
DO loureiro, na hera, etc., as flores dispõem-se em umbelta
(flg. 71); os eiios secundários nascem do mesmo ponto
(ram da uwibdlaj. e elevam as suas flores a circurns-
treverem uma superfície plaua, ou regularmente convexa.
Corymbos e umb^as podem ser compostos, pela ramificação
dos eixos secundários. O sanguinho legitimo tem as flores
apostas em corymbo composto.
Na madomeira, as flores, sesseis e inseridas á mesma
altura no eixo desenvolvido lateralmente, formam nm capi-
tida. Este capitulo Iraosforma-se na figueira; o receptáculo
trauDom, onde estSo inseridas as flores, escava-se e apro-
xima os bordos superiores, deixando sò orna pequena aber-
tura temÚDal, e ficando as flores encerradas n'essa cavidade.
Quando a infl(»'escencia é definida o eixo principal ter-
mina logo por nma flor, e inferiormente a ella se desen-
votvem os eixos secundários, de ordinário pouco numerosos
136
e muito ramificados; ao inverso das ioflorescencias ante-
Pig. 71. laflorescencia em itmbella, da hera {Bedtra Hdix, L.) (2 : 3).
ríores $3o agora as flores centraes as mais desenTolvidas.
Esta disposição denomÍDa-se cymâra, e encontra-se typica
oa combinada por dirersos modos em algmnas das nossas
espécies lenhosas: dú jasmineiro bravo as flores estão rea-
nidas em cymeiras Inpea-as (com eixos bifurcados) ; no pírli-
teiro em cymeiras corymbiformes ; no sabugueiro e no Tolbado
em cjrmeiras nmbellirormes (fíg. 72), etc.
É vulgar, em muitas espécies, estas inflwescencias combi-
narem-se, por diverso modo, entre si : na hera as umbellas
floriferas dispõem-se em cachos, e egnalmente em cachos se
agrupam as cymeiras do rícino; os cachos da íamarguein
reunem-se em grande panicula, etc.
As infloresceucias do folhado, do medronheiro, do aitanto,
do sabugueiro, etc., s3o termmaes; as do freixo, ulmeiro,
acaúa bastarda, sanguiuho d'agua, etc., são lateraes. Ao
137
inTerso dos botões folhosos, os botões floriferos lateraes '
Fig. 72. Cymeira-umbelliforme firuclifera do folhado {VSntraum Tinta,
L) (S:3).
tomeçam a abrir, de ordinário, da base do rebento para o
cimo.
Cálice. — O cálice é o mais externo dos dois invólucros
floraes; é, de ordinário, a parte da flor que mostra com
maior eTidencIa a sua origem Toliacea; apresenta-se moitas
lezes de c(^ verde e diz-se então herbáceo, tomando o nome
de corado, ou petaioide, quando tem outra qualquer c6r,
como na urze ordinária, etc.
Ag folhas modificadas que constituem o cálice, ou sepcUas,
ficam em alguns casos separadas, independentes, e o cálice
diz-se dialysepalo, mas no maior numero das nossas espécies
lenhosas são concrescentes, ii'uma extenslo maior ou me-
oor, tomando o cálice gamosepaio, como na morta, no aze-
vinho, na acácia bastarda, etc.
Se a coDcrescedcia das sepalas só tem logar na base o cá-
lice diz-se partido; se tem logar até ao meio fendido; quan-
do se realisa quasi até ao cimo diz-se dentado, se as por-
fies livres s3o agadas, ou U/fodo sé eUas são arredonda-
das. Assim o cabce do medronheiro é qtànquepartiio ; o
138
da aroeira, coraalheira e sangoiíiho bastardo quinquefenh
dido; o do lilaz, oliveira e alfenheiro quadridentado ; o do
sabugueiro e dp folhado quinqudobddo, etc.
No cálice gamosepalo denomiua-se tubo a região em que
se dà a concrescencia das sepalas ; limbo a parte livre, usual-
mente mais ou menos aberta para os lados ; garganta ou
fauce a porçSo superior do tubo, que de ordinário se alarga
pouco a pouco, fazendo a transição para o limbo.
Os cálices das nossas plantas lenhosas teem formas muito
var iadas : são gomilosos (bojudos no meio e estreitos na ex-
tremidade) na pereira, no mostageiro, no pirliteiro, etc;
são ttéulosos no rosmaninho, na Calycotome villosa, Lk.^ etc;
são campanulados no resta-boi ; labiados nos tojos, nos to-
milhos, nas giestas, etc. Todas estas formas se incluem em
dois grupos — regulares quando as sepalas são eguaes e
symetricamente dispostas (flg. 73, A) ; irregulares quando
as sepalas são differentes na con-
figuração ou situação (fig. 73, B).
O numero das sepalas é muito
variável nas diversas espécies ; são
3 na camarinheira, 4 nos ademos,
Fig. 73. A, Cálice regular da 5 no medronheiro, 6 no berberis,
murta fMyrtui communU, ^^^ g^j^ numero nem sempre é
L.J. B: Galiee ureguiardo
tojo chamusco (UUx ipar^ coustante na mesma espécie; os
ttoúiei, Wbb.) (1 : 1). calices da tamargueira ora apre-
sentam 4, ora 5 sepalas ; as espécies do género Acer teem
usualmente 5, mas às vezes 4 ou 9; a flor masculina da
aroeira tem 5 sepalas, e a flor feminina 3 ou 4^ etc.
O cálice, que se desprende antes da coroUa, como nas
espécies do género Acer, diz-se caduco. De ordinário elle
cae com a corolla. Quando se conserva até á maturação do
fructo diz-se persistente, mas n'este caso pode, como na
carqueja, persistir secco e murcho (marcescentej , ou desen-
volver-se com o fructo, como nas Pomaceas (accrescente).
Quando a flor tem ma só invólucro elle é, quasi sm-
139
pre, herbáceo, yerde, muito análogo no aspecto e na forma
ao cálice. Tudo qaanto dissemos a propósito do cálice se
pode applicar a esse invólucro único — periantho ou perigo^
Condia. — A coroUa é o mais interno dos dpís invólucros
Ikraes ; as folhas modificadas que a constituem chamam-se
ftíalasy e a sua modificação é, quasi sempre, bastante maior
que a das sepalas. De ordinário a coroUa é maior do que
o cálice, mais delicada, e tinta de diversas cores ; raras ve-
ns se apresenta esverdinhada (videira, bordo, urze das
tassooras, etc.). As cores predominantes são, a amareUa
(tojos, giestas, carquejas, etc.), a branca (murta, estevão,
laranjeira, etc), a vermelha, rosada ou violácea (roselha
grande, tamargueira, etc.). A côr da coroila nem sempre é
«mstante na mesma espécie : o tomilho pelludo, o rosma-
ninho, a urze ordinária ora a apresentam violácea, ora
branca.
Âs pétalas podem, como as sepalas, unir-se a formar a
coroUa gamopetaia (sabugueiro, madresilva, folhado, etc.),
00 persistir livres, constituindo-a dialypeiala (murta, sil-
"m, estevas, etc.). A união ou independência das pétalas é
caracter muito constante nos diversos grupos naturaes e
tem, por isso, grande importância em botânica descriptiva.
A concrescencia das pétalas exprime-se, segundo a ex-
tens3o em que se realisa, por uma numenclatura semelhante
i qae representa a união das sepalas. Assim no alfenheíro,
nolilaz, e na oliveira a coroUa diz-se quadripartida ; na ma-
dresilva qumque fendida ; no medronheiro quinquedentada,
etc. Quando a coroUa é gamopetaia notam-se-lhe, como no
cálice, as três regiões — tubo, garganta e limbo.
Nas pétalas livres denomina-se unha a parte estreita por
oode se faz a inserção, que corresponde ao peciolo da folha,
e kimina a parte mais larga superior.
A coroUa diz-se tambena, como o cálice, regular ou irre-
jMtor, conforme as pétalas são, ou não, eguaes e symetri-
i40
camenle dispostas. São muito variadas as formas qae pode
apresentar : no alfenheíro é afurMki
(fig. 74, B); nas urzes e medronheiro
gomilosa (fig. 74, A); no arando qoasi
gtobosa; no loendro e jasmineiro tisal-
veada (com o tubo comprido e o limbo
Fig. 74. A. Coroiia |o- plano 6 circular); na dalcamara é ro-
nulosa do medronheiro jado (com O tubo Curto e o limbo di-
'itc^lMlá^io ^'dido em lacinias planas e abertas);
«líenheiro (LigutMtm ^^^ *stas fórmas sao gamopetalas e
mdgare, L.) (1 : 1). regulares.
Nas silvas, na pereira, na maceira, no pirliteiro, etc., a
corolla dialypetala é rosácea, «mstítuida por cinco pétalas
eguaes, quasi sem unha. Nos tomilhos, do
JU , rosmaninho, na alfazema, etc., a corolla ga-
^ÈêL mopetala irregular é labiada, (fig. 75), e nos
^LjJ^ tojos, carquejas, giestas, acácia bastarda, etc.,
é papiUoriacea (irregiUar, e dialypetala quasi
Fig.75.Coroi- sempre)— constituída por cinco pétalas, das
la labiada do gyggg g superior se chama estandarie, as duas
1 T 'f'^ ' symetricas lateraes se chamam azas, e as in-
«Mt vUÍOtUt,
feriores, muitas vezes reunidas, formam a
L.) (2:1). quilha ou navetta (fig. 76).
Fig. 7fi. Corolla papilionacea da giesteira das sebu {Saroíhamnui gi
diflorm, Wbb.). a, estandarte : b, aias : c, quilha (1 : 1)
141
É muito ootavel a corolla dos eucalyptos: as pétalas sol-
dain-se iniciabnente conslitDiíido um operculo, em coatiDua<
Cio ao cálice, qae protege os órgãos sexuaes (fig. 77, A) ;
Fi|. 77. A. Flor fechada do eucalyplo {Eucatyptut globulut, Labill.). B :
i mesma flor depois de aberia. C : o operculo, que representa mor-
photagicamente a corolla (1 : 1).
quando a flor abre, esse operculo cae, (fig. 77, C) e os es-
times e pistillo apparecem a descoberto i^flg. 77, B).
De ordinário a corolla cae no momento da fecundação,
mas ãs vezes dura muito menos tempo e cae passadas
poQcas horas depois de aberta a flor : diz-se então caduca
oa fuguce, como nas estevas, na videira, onde as pétalas
não chegam a separar-se no cimo e são arrancadas pelo
esforço produzido pelo crescimento dos estames, etc. Quan-
do, pelo inverso, a corolla persiste secca, murcha, sem ca-
hir, diz-se marcescente, como na camarinheira, tamargueira
ele.
Em qaasi todas as flores das nossas espécies lenhosas o
142
numero das pétalas é egaal ao das sepalas, no emtanto às
yezes é desegual, como em algamas Gistineas, por exemplo.
Prefloração e estivação. — Denomina-se prefloração o ar-
ranjo, a disposição das pétalas, e esiwação a das sepalas,
antes da flor abrir. Os seus principaes typos, nas espécies
lenhosas indigenas, são os seguintes :
O cálice e a coroUa do sumagre, da aroeira, da cama-
rinheira, etc, teem a estivação e a prefloração imbricativas:
as sepalas tapam-se successivamente pelos bordos, e o mes-
mo acontece ás pétalas. Nas Rosáceas a prefloração é ainda
imbricativa, mas ahi a estivação é valvtdar: as sepalas to-
cam-se pelos bordos, sem se cobrir; No jasmineiro e no
loendro a prefloração é contorcida, cada pétala tem um
bordo virado para o interior e outro para o exterior, es-
tando o primeiro tapado por parte da pétala adjacente, e o
segundo a cobrir parte da outra pétala próxima. Nos tojos,
giestas, acácia bastarda, e em todas as Papilionaceas, a pre-
floração é vexittoTs o estandarte cobre as azas, que por sua
vez tapam a quilha, cujas duas peças se applicam uma cou-
tra a outra. Na olaya, as cinco pétalas da corolla pseudo-
papilionacea apresentam a prefloração carinal, são as duas
pétalas inferiores, (as que correspondem á quilha das Papi-
lionaceas), que cobrem, -livres, as duas lateraes, e estas a
pétala superior.
Estames. — O terceiro verticillo da flor completa consti-
tuo a androcea, e é formado pelos estames, ou órgãos mas-
culinos da reproducção.
A differenciação dos estames é mais profunda ainda que
a das pétalas : na forma typica, o peciolo da folha modificada
adelgaça-se e constituo o filete, o limbo, dividido pela ner-
vura média, forma o connectivo, e desenvolve de cada lado
protuberâncias do parenchyma que> a principio cheias de
cellulas, estão escavadas na occasião da floração, e trans-
formadas nos saccos pollinicos, ou loctdos da anthera. O
limbo assim differenciado, isto é o conjuncto do amnedivo
143
6 dos saccas pdUnicos, denomina-se anthera. No interior das
caWdades da anthera existem cellulas isoladas, com formas
gramilosas, que n'um dado momento se escapam para o
exterior constituindo o pollen ou pó fecundante.
Estas partes componentes do estame variam muito na
fórma e na grandeza relativa. Nos carvalhos, no castanheiro,
no ulmeiro (fig. 78), etc., os filetes sao compridos e os es-
tames salientes^ maiores que os peri-
goneos; no medronheiro, na urze vul-
gar, no alfenheiro, etc, os estames
sio, pelo inverso, menores do que a
coroHa, inclusos. No loendro, no tro-
insco, no aderno, os filetes são muito
cortos, quasi nuUos. Estes filetes po-
dem ser glabros, como na madresilva,
no ulmeiro, etc, ou pelludos, como no
medronheiro.
A anthera apresenta muitas vezes
a fórma ellipsoidal, como no ulmeiro
(fig. 78), mas ás vezes é apiculada no
cimo (azinheira) (fig. 79), cordiforme,
sagittada, etc Em alguns casos pro-
longasse em appendices, como em
Fig. 78. Estames do ul-
meiro fUlmus campes-
tris, L.J. A, com os
loculos da anthera
ainda fechados. B, com
a anthera já aberta,
depois de espalhado o
pollen (proximamente
8:1).
certas urzes, etc (fig. 80). A cõr da anthera n3o é menos
Fig. 79. Estame da azinheira
(QmmIUx,L.)(S:i).
Fig. 80. Estame com a anthera
appendiculada e dehiscente por
poros, da urze fEricalusUanica
Rud.;(8:l.)
144
variável do que a forma : no freixo e no ulmeiro são ver-
melho-escuras, no mostageiro brancas, no salgueiro preto
s3o amarellas, etc.
O connectivo umas vezes é muito reduzido outras^ pelo
inverso, adquire grande desenvolvimento. No teixo, no zim-
bro e nos pinheiros dilata-se em lamina escamiforme; no
alecrim é muito comprido, e como aborta a parte da anthera
presa n'um dos seus extremos, apresenta-se com o aspecto
de um pequeno dente no dorso do filete.
A posição da anthera, relativamente ao filete que a sup-
porta, varia muito nas espécies lenhosas indígenas, e aposi-
ção dos saccos pollinicos, em relação á face do limbo onde
se formam, também não é constante; assim nos pinheiros, e
em todas as Gymnospermas, pertencem á face inferior, em-
quanto nas Angiospermas, podem pertencer a uma ou outra,
ou promiscuamente ás duas faces. O numero doestes sac-
cos pollinicos também é variável para cada espécie.
Relativamente ao pistillo a anthera pode ser introrsa, vol-
tar-se para elle, como na oliveira, tamargueira, acácia bas-
tarda, camarinheira, etc, ou ser extrorsa, virando-lhe o
dorso, como nos carvalhos, ulmeiro, salgueiros, choupos,
vidoeiro.
No maior numero das nossas espécies lenhosas a dehis-
cencia dos loculos da anthera faz-se por uma
fenda longitudinal (flg. 78) ; no medronheiro,
nas urzes e no arando realisa-se por poros
terminaes (fig. 80); no loureiro e no berberis
por válvulas (flg. 81).
O numero dos estames varia muito nas di-
versas essências : o alfenheiro tem 2, a ca-
Fig. 8i. Esta- marinheira 3, o buxo 4, o folhado 5, o berberis
me do lourei- g^ q castanheiro da índia geralmente 7, as
'^ l^r**7* j ^^^es 8, a acácia bastarda 10, a murta um
dehiscente i^^^^^o consideraível (estames indefenidosj . O
por válvulas, numero dos estames nem sempre é constante
145
na mesma espécie: assim o castanheiro tem 10 a 12, a
nogueira 15 a 36, o lom*eiro, 8 a 12, etc.
Este numero é, muitas vezes, egual ao das divisões da
coroUa, ou do perigoneo (salgueiro, madresilva, alfarrobeira,
Mado, ulmeiro, camarinheira, etc); outras vezes é apenas
metade do numero d'essas divisões (oliveira, alfenbeiro,
aderno, etc.) ; ou é o dobro (olaya, tojo, medronheiro, aran-
do, urzes, etc.) ; finahnente, n'outras espécies, não existe re-
lação simples entre o numero dos estames e o das divisões
dos invólucros floraes : assim o castanheiro da índia tem
geralmente 7 estames e 4 a 5 pétalas, os bordos (género
ktr) 8 estames e 5 pétalas, etc.
Em quasi todas as espécies indigenas lenhosas os estames
são eguaes : apresentam-se deseguaes, por exemplo, no pi-
menteiro silvestre, nos tomilhos, etc.
Quanto á sua situação relativamente ás pétalas, ou ás di-
Tisões do perigoneo, os estames podem ser aUemos, como
no azevinho, camarinheira, sumagre, hera, sabugueiro, fo-
lhado (fig. 82), ou oppostosy como na videira, lodao bas-
tardo, figueira, carrasqueiro, ulmeiro (flg. 64.), etc.
Em muitas das nossas espécies lenhosas os estames s3o
Mes, independentes uns dos outros (choupos, oUveira,
alfarrobeira^ ulmeiro, etc.) ; n'outras estão mais ou menos
ligados : na tamargueira os filetes soldam-se um pouco na
Fig. 82. Flor do io-
Ihado (Ft&«m«m
Tiniu, L.) com
os estames alter-
nos com as peta-
bs (1:1).
CS.
Fig. 83. Estames mona-
delphos de um tojo
(2:1).
Fig. 84. Grupo de
estames da la-
ranjeira {Ciiru$
Aurantiwny His-
80). (1:1).
10
146
base; nos tojos e giestas reunom-se n um longo tubo (fig.
83), e os estames assim ligados n'um só corpo dizem-se
monadelphos; na acácia bastarda s3o diaddphos^ reunem-se
em dois grupos (um estame fica livre e nove adherem pelos
filetes) ; na laranjeira são polyadelphos, soldam-se em muitos
grupos (fig. 84).
Kstillo. — O pistillo, ou órgão feminino da reproducção
vegetal, é constituído por uma, ou mais folhas modificadas,
que se denominam fdhas carpdlares, ou carpellos.
O numero dos carpellos, que formam o pistillo, varia
muito: na amendoeira, no azereiro, na acácia bastarda,
etc, é um só; no vidoeiro, no amieiro, no loendro, etc.,
são dois; no sabugueiro, na madresilva, no buxo, etc, são
três; na pereira e no medronheiro cinco: na bella sombra
dez a doze, etc.
Nas Gymnospermas (pinheiros, zimbros, cyprestes, teixo)
as folhas carpellares ficam abertas, não protegem ou invol-
vem os óvulos, que teem presos, e que depois de fecundados
se transformam nas sementes. Nas Ângiospermas as folhas
carpellares adquirem maior difierenciação, e limitam um
espaço fechado, onde os óvulos ficam incluídos. O limbo da
folha carpellar denomina-se ovário; n'essa região se desen-
volvem os óvulos.
Nas Ângiospermas unicarpellares cada flor tem um só ová-
rio, devido ao enrolamento do carpello sobre si mesmo; nas
Ângiospermas multicarpellares podem dar-se, a este pro-
pósito, diversos casos : umas vezes os carpellos ficam inde-
pendentes e cada um se enrola sobre si, originando á flor
tantos ovários distinctos quantos os carpellos (géneros Ck-
matis. Rosa, etc.) ; outras vezes os carpeUos adherem todos,
mas cada um ainda circunscreve um espaço fechado, consti-
tuindo o conjuncto um ovário multilocular (medronheiro,
rícino, etc); outras vezes, finalmente, os carpellos não
se enrolam, não limitam isoladamente um espaço, mas
unem-se pelos bordos, formando um ovário uniiocular,
147
embora nmlticarpellar, como nos salgueiros e nos choupos,
onde os dois carpellos de cada flor fecham uma caTidade
miica.
Dlaqui se deduz, que pelo numero dos loculos de um
oyario não se pode concluir o numero dos carpellos com-
ponentes ; e tanto mais que, ás vezes, existem falsos desse-
pimentos que tornam ainda mais complicada aquella yen-
ficação: assim o ovário bicarpellar do pimenteiro silvestre
tem o espaço circumscripto por cada carpello sub-dividido
por um falso dessepimento, que o faz apparentar errada-
mente quadricarpellar. Passado um certo grau de desen-
Tolvimento as causas d'erro augmentam com as alterações
realisadas, porque muitas das partes do ovário podem abor-
tar: nos carvalhos, por exemplo, dos seis óvulos que con-
tem o ovário trilocular, um só se desenvolve de ordinário,
com o loculo correspondente.
Em seguida ao cwario, nota-se um prolongamento, devido
á especialisação da nervura dorsal da folha modificada, que
se denomma estylete^ e que termina pelo estigma^ de ordi-
nário mais engrossado, e de formas variadíssimas. Os car-
pellos abertos das Gymnospermas não se differenciam nem
em estylete nem em &stigma,
O ovário unicarpellar tem um só estylete ; o ovário pluri-
carpellar em these geral deve ter tantos estyletes quantos
os carpellos. Assim acontece às veses (camarinheira, buxo,
ricino, etc), mas outras vezes a concrescencia dos carpellos
abrange também os estyletes, n'um espaço maior ou menor,
oa mesmo em toda a extensão, formando elles um só corpo
flaranjeira, madresilva, etc.) (flg. 85). N'este ultimo caso a
G(mcrescencía pode respeitar os estigmas, como nos carvalhos
e castanheiros, ou incluíl-os também ligando-os n'um só.
Na madresilva, por exemplo, o ovário tricarpellar apresenta
mn estylete único e o estigma trilobado, accusando uma
concrescencia dos carpellos que apenas respeitou as estre-
midades dos três estigmas.
10*
148
Âs dimensões do estylete são muito variadas : nas madre-
sQyas é comprido e delgado (flg. 85, i); na laranjeira mais
corto e mais grosso (ãg. 85, £); é reduzido nos carvalhos;
nuUo, ou quasi nullo, no trovisco (íig. 85, C), no ulmeiro
(fig. 86), na videira, etc. Pode ser saliente, maior do que a
Á
1
I
Fig. 85. A: Cálice, estylete e es-
tigma da madresilva das boti-
cas (Lonicera Peridymenum, L.)
(1:1). B: Cálice, ovário, esty-
lete, e estigma da laranjeira
(Citrus AurarUium, Risso.)
(1 : 1). C : Ovário e estigma sub-
sessil do trovisco (Daphne Gni-
dfiffli, L.) (2 : 1).
Fig. 86. Ovário do ulmeiro (01-
mus camprestrii, L.) com àois
estigmas (4 : 1).
corolla, ou incluso, menor. N'umas espécies é ôco (tojo, acada
bastarda), n'outras permanece cheio (silvas, etc.).
A côr e a forma do estigma também variam muito. Apre-
senta-se muitas vezes coberto de pequenos mamillos, ou
de peUos glandulosos (fig. 86), e segrega de ordinário um
liquido viscoso.
149
Os OYuIos estão inseridos nos carpellos. No maior na-
mero das nossas espécies lenhosas estão incluidos no ova^
rio e presos na face anterior da folha carpellar, nos bor-
dos entamecidos, que constitiiem as placentas. Nas Gonife-
ras é na face dorsal do carpello que se desenvolvem: ou na
base (cyprestes), ou no meio (pinheiros), ou no cimo (arau-
cária); estes óvulos, como dissemos, n3o estão fechados em
ovário, porque a folha carpellar persiste aberta.
O numero dos óvulos de cada carpello é muito variável:
pode ser um, como no lodSo bastardo, dois como* no vi-
doeiro, ou muitos, como na alfarrobeira; podem mesmo es-
tar dispostos em mais de Tuma fiada, como nos choupos e
salgaeiros.
Qaando cada carpello se enrola a constituir um espaço fe-
chado, quer o ovário seja unicarpellar ou pluricarpellar, se
os óvulos estão dispostos nos bordos do carpello, e se as
doas placentas se reúnem próximo do eixo do ovário como
acontece quasi sempre, a placentação diz-se aaHl (tojo, acá-
cia bastarda, azereiro, buxo, camarinheira, etc). A placen-
tação denomina-se parietal quando os carpellos abertos se
ligam pelos bordos e os óvulos ficam, por isso, inseridos
próximo das paredes do ovário (salgueiros, choupos, vi-
doeiro, amieu^o, freixo, estevas, etc). A tamargueira apre^
senta mu caso muito particular d'esta placentação parietal :
tem os óvulos inseridos na base entumecida dos carpellos,
reunidos ahi n'uma proeminência commum, que parece ser a
ctHitinuação do pedicello atravez o ovário, cujas paredes late-
nes ficam lizas e estéreis ; esta placentação diz-se basilar.
Os óvulos estão ligados ao carpello pelo funictdo; mor-
pbologicamente o funiculo é o p^ciolo de um segmento, ou
foliolo, da folha carpellar, como este segmento, ou foliolo,
é o tegumento do mesmo ovulo. N'umas espécies o funiculo
é muito comprido (freixo, etc.), n'outras é quasi nullo, oa
mdlo, 6 o ovulo diz-se sessil (nogueira, etc). O ponto onde
o funiculo se prende ao ovulo chama-se hilo.
150
No ovulo completo ha a notar, como se sabe, o tegmnento,
oia tegumentos, geralmente em forma de uma, abertos no
micropylOj e na parte interna o nucdlo, com a disposiçJo
ovóide ou cónica, preso pela base ao tegumento n'um ponto
que se chama chalaze.
Os óvulos das nossas espécies florestaes, uns teem um
só tegumento (vidoeiro, amieiro, pinheiros, teixo, zimbros
etc.), outros dois (carvalhos, castanheiro, ulmeiro, etc.).
Quanto à posição dos óvulos são Ires os tyipos a consi-
derar. Nos pinheiros, zimbros, teixo, plátano, nogueira, es-
tevas, etc., os óvulos são direitos, ou orthotropos, o nucello
é recto, o ovulo está no. prolongamento do.ftmiculo, o mi-
cropylo é opposto á chalaze, que está sobreposta ao hilo,
e apenas separada d'e]le pela espessura do tegumento. No
lodão bastardo, na amoreira, salgadeira, phytolacca, etc, os
óvulos são curvados, ou campylotropoSy o crescimento rea-
Usa^se com maior intensidade de um dos lados, o ovulo fica,
por isso, arqueado, e o micropylo approxima-se do hilo e da
chalaze. No maior numero das espécies lenhosas indígenas,
nos carvalhos, castanheiro, ulmeiro, vidoeiro, amieiro, sal-
gueiros, choupos, tamargueira, loureiro, sabugueiro, folhado,
madresilva, etc, os óvulos são reflexos ou anatropos, ficam
direitos, mas rodam em volta do hilo, como sobre uma char-
neira, applicando-se contra o funiculo, e adherindo a elle
em todo o comprimento; o ponto onde então o funiculo
deixa de se unir ao ovulo é um hilo apparente, e fica pró-
ximo do micropylo, mas o verdadeiro ficou no seu logar,
em ponto opposto ao micropylo, e inferior á chalaze ; a por-
ção adherente do funiculo desenha lateralmente uma sa-
liência, que se denomina raphe.
A curvatura do ovulo anatropo ou campylotropo, que pode
realisar-se para cima, para baixo, para a direita ou para a
esquerda, é caracter muito constante para cada espécie e
até, ás vezes, para os géneros e famílias naturaes. Entre
estes três typos existem formas intermédias.
151
A sitaaçSo e oneotação dos ovnios também variam muito.
NMmas espécies sò existem na base do carpello, Q'outras
no meto, ou no cimo; mnas vezes estão Uvaviados, como na
tanargueira, nos zimbros, nos cyprestes; outras vezes estSo
ftedentes, como nos carvalhos, castanheiro, amieiro, etc, ou
krisotttaes, como na phytolacca.
Quando a placenta tem óvulos numerosos pode variar a
ordem do desenvolvimento d'es(es óvulos; assim na arruda,
por exemplo, a evolução começa pelos óvulos da base, no
beiberis pelos do cimo, e na laranjeira pelos do meio, pro-
gredindo depois para um e outro lado.
GoDcrescencias dos verticillos íloraes entre si.' — Em algu-
mas espécies os verticillos floraes^ cálice, corolla, estames
epístillo — permanecem independentes (laranjeira, estevas,
TÍdelra, urzes, medronbeiro, e(c.) (ãg. 87), mas em outras
Rg. 87. Flor da laranjeira [Citna Aurantium, Disso.), cortada loagitudi-
nalmenle para deixar ver a inserfSo independente da corolla, esta-
mes e pistillo. a : o ilúco (1 : 1).
espécies contrahem adherencias entre si, de modo que pare-
tem inseridos uns sobre os outros. Estas inserções appa-
rentês s5o muito importantes em botânica descriptiva, por-
qne n'ellas se baseia, vistu a sua constância nos grupos
uturaes, a distincção fácil entre muitos d'elles.
Na amendoeira, no azereiro, na ameixoeira, etc., o cálice,
a eorolla e os estames soldam-se em redor do pistillo, que
pemaoece livre (âg. 88); as pétalas e os estames parecem
£52
entlo inseridos sobre o catice, e como taes se coasideram
em botânica descríptiva, chamando-se ttAo do cálice k parts
Pig. 88. Flor ik amendoeira (Amygddtu eommwtit, L.) cortada longita-
dínalmente para deixar ver a inser{So apparente da corolla e dos ei-
tames sobre o cálice (i-: 1).
qae realmente é formada pela concrescencia dos três verti-
cillos exteriores.
Na pereira, no mostageiro, no pirliteiro, etc, as petalis
e os estames ainda estão inseridos sobre o cálice, em volti
do pistillo, mas este já não é livre e adhere ao tubo do
qnal se não separa sem ruptura {fig. 89). Na madresilva,
Fig. 89. Flor da pereira (Pj/rui communú, L.) cortada loagitudinalmente e
deixando ver a adherencia do cálice, da corolla, dos estames e pistillo.
(t:l).
no sabugueiro, no folhado, etc, a corolla também está inse-
rida sobre o cálice, e o ovário adherente, mas os estames
soldam-se ao tubo da corolla (fig. 90).
153
Todas estas expressBes, repetimol-o outra vez — pétalas
taseridas m cálice, estames imeridos tM coroUa, ovário adhe-
mUt ao tiAo do cálice, etc. — s3o
pouco rigorosas, mas s3o muilo
empregadas, como abreviatnra,
em botânica descriptiva.
QDaDdo o ovário permanece
sem adherencia dá-se-lbe o Dome,
de orario Itere, e pelo inverso diz-
se adlarmte quando se solda ao
tubo coDstituido pela miiSo dos
Terticillos exteriores.
Estas inserções apparentes tem
umes especiaes em botânica des-
aiptira. Os estames e a coroUa
^m-iehypogynicos, quando nas-
cem inreriores ao pistillo, quando
se inq;))anlam no receptacnlo (Qg.
87); perigynicos quando estão in- ^'8- «>■ P'»' d" madresilTi
seridos no caUce. ou no perigo- '^ boticas {í*n,«raPm-
neo, em volta do pisUUo (aguras deixando ver os estames
88 e 89) ; epigynieos quando são adliereotes â corolla (1 : 1).
soperíores ao ovário, parecendo nascer da parte superior
d'^e.
O eixo receptacular dos verticillos floraes tem, de ordi-
nário, pequena altura : ás vezes dilata-se n'uma protube-
rância anuular em volta do ovário, que se chama disco (hy-
poj^ynifuj oude as pétalas e os estames podem estar inseri-
dK (laranjeira, estevas, etc.) (ãg. 87, a); outras vezes des-
enrolve-se entre os carpellos qne ficam mais afastados, e
tiHiia o nome de carpopkoro, como nas silvas, etc. ; ou alon-
ga-se entre os estames e o pistillo, apresentando-se este pe-
dicellado, como na alcaparra; esse pedicello denomina-se
enllo gynophoro.
Em alguns casos a região sobre que se faz a inserçio
154'
apparenle dos estames lambem se desenvolve em engros-
samentos annolares a que, por analogia, se dá o nome de
discos y e que se dizem, conforme a situaç5o, perigynum ou
epigynicos : assim os estames de muitas pomaceas estão in-
seridos em discos perigynicos.
Pollinisação. — ^Aberta a anthera, quer se faça a dehis-
cencia por fendas, por válvulas ou por poros, os granules
de pollen escapam-se para o exterior.
No maior numero das nossas espécies lenhosas estes grâ-
nulos.de pollen são simples, isto é, constituídos por uma
única cellula; mas, nos cyprestes, teixo, etc, são formados
por duas cellulas de tamanho desegual, e nos pinheiros por
três cellulas, também de diverso tamanho.
Os grânulos de pollen, depois de saldos da anthera,
ficam livres, independentes em quasi todas as espécies le-
nhosas, comtudo em algumas soldam-se aos grupos: assim
nas urzes e rhododendron reunem-se aos quatro.
A cellula que constitue o granulo de pollen tem, como
quasi todas as cellulas vivas, uma parede membranosa, um
protoplasma e um núcleo.
A parede apresenta de notável uma escuiptura, mais ou
menos pronunciada, em alto e baixo relevo. As saliências
são pontas^ cristas, tubérculos, etc, ás vezes dispostas em
malhas enredadas, devidas a um espessamento local exa-
gerado para o exterior; estas saliências facilitam o trans-
porte do granulo, prendendo-o aos insectos, e dão-lhe, ao
depois, maior estabilidade sobre o estigma; os grânulos de
pollen dos pinheiros teem, de cada lado, uma empola cheia
de ar, que os toma mais leves, e auxilia a suâ conducção
pelo vento. Os accidentes em baixo relevo são pontos in-
colores, arredondados (poros), ou alongados (pregas), me-
nos espessos que o tecido em redor, em numero variável
nas diversas espécies, mas constante em cada uma (três
nos carvalhos, vidoeiro e freixo, cinco no uhneiro e amieiro
etc), repartidos sem ordem, ou em posições determinadas;
155
é por estes pontos menos espessos, que o granulo de pol-
len fixa os líquidos exteriòros, germina e se desenvolve,
cano diremos.
A côr amarella é a mais habitual do pollen.
Para que se dé a fecundação, da qual fica dependente o
desenvolvimento futuro do ovulo, que o ha de transformar em
semente, e o desenvolvimento do ovário, que o ha de trans-
formar em fructo, tem o granulo de pollen de incidir sobre
o estigma.
Para isso^ n'algumas espécies lenhosas, o berberis por
eiemplo, os estames curvam-se e collocam as antheras so-
bre o estigma onde abandonam o pollen ; mas, no maior
mmiero dos casos, os pistiUos e os estames d'onde provém
o poUen que os ha de fecundar estão afastados, e as coi-
sas passam-se de um modo menos directo.
Ainda mesmo quando as flores são hermaphroditas acon-
tece, em muitas essências, que os órgãos sexuaes nem sem-
pre teem na mesma flor uma evolução simultânea ; n'uns
casos desenvolvem-se primeiro os estames, n'outros os pis-
tiDos, mas de qualquer das formas a pollinisação tem de
realisar-se fatalmente entre flores diflerentes. Quando as
espécies são monoicas o afastamento entre os dois órgãos
é sempre grande, e muito maior quando são dioicas.
O vento e os insectos são os agentes principaes do trans-
porte do pollen. Em quasi todas as nossas essências flores-
taes é o vento que intervém, e chega a arrastal-o a distan-
cias enormes ; uma grande parte fica perdida no caminho,
é certo, mas para realisar a fecundação basta que chegue
a cada pistillo uma bem pequena quantidade ; de resto, as
espécies cujo pollen tem de ser transportado pelo vento
prodozem-o em maior abundância relativa. Os estames de
dgmnas essências apresentam disposições particulares, que
teilitam a acção^ do vento : assim nas flores masculinas da
amoreira, e nas flores do lodão bastardo, os estames são
canos emquanto a flor está fechada, mas quando ella abro
156
endíreitam-se de repente, como actuados por nma mola, e
arremessam o pollen, com força, na atmospbera.
N'outras espécies são os insectos os encarregados doeste
transporte, levando presos os grânulos de pollen, ao entra-
rem nas flores, ou poisarem sobre ellas, attrahidos pelas
exsudações saccharínas, que constituem os néctares. Os ne-
etários encontram-se em pontos muito diversos das flores:
no receptáculo^ nas pétalas, nas sepalas, sobre os estames
ou sobre os carpellos. Nos choupos o liquido do estigma
contém assucar e aquelle orgSo toma-se um nectario; nos
salgueiros existem uma ou duas glândulas nectariferas, na
axilla das escamas floraes, em substituição do perigoneo.
Os grânulos de pollen, quando encontram condições fa-
voráveis, germinam, desenvolvem-se ; o protoplasma entu-
mece, absorvendo humidade, e premindo a membrana
cellular obriga-a a dilatar-se, passando por um dos poros,
ou fendas, que apresenta a camada externa em baixo rele-
vo^ constituindo-se d'este modo um tubo muito comprido
e delgado. O tubo pollinico é incomparavehnente muito
maior do que o granulo d'onde provém.
Quando o granulo de pollen cae sobre o estigma de uma
.Angiosperma, quer tenha caldo directamente, quer seja
transportado pelo vento, ou pelos insectos, fica preso pe-
las rugosidades superficiaes e pelo liquido viscoso próprio
d'aquelle órgão. A cellula polUnica respira como toda a cel-
lula viva, absorve oxygenio, emitte anhydrido carbónico»
apodera-se no liquido estigmatico da agua e dos elementos
necessários para o seu desenvolvimento, e germina, da for-
ma que dissemos.
O tubo pollinico introduz-se primeiro no estigma e de-
pois no estylete ; livremente, sp este órgão é ôco, ou per-
furando o se é cheio, e para isso dissolve a cellulose e o
conteúdo das cellulas centraes, cujas membranas são mol-
les, gelifeitas, apropriando-se d'estas substancias. O tubo
pollinico chega assim á cavidade do ovário.
157
Nas Angiospermas, quer o ovulo seja direito, curvado
oa reflexo, o nuceUo apresenta sempre íio cimo uma cel-
tola maior do que todas as outras, dotada de protoplasma
espesso e de núcleo volumoso — é o sacco embryonario.
Este sacco tem no cume suspensos três corpos protoplas-
micos nús; um â'elles, o que está inserido mais abaixo»
é que ha de receber o protoplasma da cellula masculina, e
constituir com elle o ovo — é a oosphera.
Entrado no ovário, o tubo pollinico procura o micropylo
de um ovulo, passa até ao nucello, e depois entre as cel-
lolas d'elle, terminando afinal o alongamento ao encontrar
o sacco embryonario. Âs duas paredes cellulares, a do tubo
pollinico e a do sacco embryonario, soldam-se intimamente,
e a fecundação realisa-se então, pela passagem de uma
parte do protoplasma do granulo de pollen, por endosmose,
para a oosphera, passagem que se realisa por um dos dois
corpos protoplasmicos, que lhe estão superiores, e a que
já nos referimos. As duas massas protoplasmicas assim
unidas revestem-se de uma membrana de cellulose, e o
ovo— a cellula primordial do novo individuo — está con-
stítuido, e fica suspenso no sacco embryonario.
Cada ovulo precisa, para a sua fecundação, um tubo pol-
linico. De ordinário o numero dos tubos poUinicos, que
entram no ovário, é egual, ou superior, ao numero dos
OTulos existentes.
O tempo decorrido desde a queda do pollen no estigma até
i fecundação é variável, e depende muito da organisação da
espécie considerada. N'umas essências (castanheiro, ulmeiro,
etc.) na occasião da queda do pollen o ovário e os óvulos
já estão formados; mas n'outras essências (avelleira, amiei-
ro, etc.) n'aquella época só os estigmas e os estyletes es-
tão bem desenvolvidos, e nem o ovário nem os óvulos estão
ainda completos ; a fecundação é mais demorada n'este caso.
Nas Gynmospermas, como dissemos, os óvulos estão nús,
os carpellos são abertos e não existem estyletes nem estí-
^
158
gma. O pollen cae directamente sobre o micropylo dos
óvulos, onde uma secreção resinoso-saccharina o retém,
passa depois o canal micropylar e chega ao cimo do nncello
onde germina; mas esta germinação só origina, a prin-
cipio, um tubo muito' curto e fica suspensa até o ovulo,
n'essa época muito incompleto ainda, acabar o seu desen-
volvimento. Nas Coniferas cujas sementes amadurecem no
mesmo cyclo vegetativo, como o teixo, esta interrupção é
curta, apenas d'algumas semanas ou mezes ; mas nas espé-
cies que precisam dois annos para amadurecer as semen-
tes, como nos zimbros, cyprestes, pinheiro bravo, etc—
a interrupção dura até ao estio do segundo anno.
Nos óvulos das Gynmospermas, de natureza mais compli-
cada, o sacco embryonario enche-se de um grande numero
de cellulas, que constituem o endosperma. Algumas das cel-
lulas superiores d'este endosperma são maiores do que as
outras, compridas, relativamente estreitas, e separadas da
membrana do sacco por uma roseta de quatro cellulas pe-
quenas. Cada cellula maior, com a roseta correspondente,
forma um corpiisculo.
Quando a germinação do granulo de pollen desperta, de-
pois da interrupção acima referida, o alongamento do tubo
poUinico continua; este tubo chega á membrana do sacco
embryonario, que perfura, penetra no endosperma e, por
ultimo, applica a extremidade de encontro ás rosetas dos
corpúsculos.
Nos óvulos d'umas espécies, como do teixo, dos pinheiros,
etc, cada corpúsculo está isolado e,para ser fecundado, ne-
cessita um tubo poUinico, por isso entram muitos, ao mesmo
tempo, no sacco embryonario; cada um d'elles dissocia as
cellulas de uma roseta e penetra até á cellula maior do
corpúsculo, cuja protoplasma inteiro constituo a oosphera.
Woutras espécies, nos cyprestes por exemplo, um só tubo
poUinico pode fecundar todos os corpúsculos, dispostos em
feae, apertadamente, ao lado uns dos outros; o tubo pol-
159
liuico alarga então a sua extremidade sobre todas as rosetas
e projecta no centro de cada uma d^ellas um prolonga-
mento Corto e delgado, que penetra até á oosphera.
Espécie, variedade e variação; géneros e famílias botâ-
nicas.— Para nós, espécie é o conjuncto de indivíduos mais
ou menos semelhantes, que se podem reproduzir illimitada-
mente entre si, e cujas formas mais deseguaes estão rela-
cioDadas por outras intermédias, de modo que todas se
podem suppor derivados de um só tronco.
Os limites da variabilidade das formas especificas diver-
gem muito de espécie a espécie. Quando as dessemelhan-
ças individuaes se transmittem por hereditariedade consti-
tuem uma variedade, quando se não transmittem formam
uma variação.
É entre indivíduos da mesma espécie que a poUinisação
se realisa quasi constantemente ; quer os estames e o pis-
tillo pertençam á mesma flor, ou a flores diversas; e n'este
caso a um só ou a dois indivíduos. Muito embora o vento
ou os insectos, agentes inconscientes da fecundação vege-
tal, tragam sobre um pistillo o pollen de uma espécie dif-
ferente, ainda que este pollen seja de uma espécie muito
próxima, se concorre simultaneamente o pollen da mesma
espécie, é este ultimo que se desenvolve, em regra geral,
com mais energia, supplantando o primeiro. D'aqui a razão
da constância hereditária nos carateres botânicos.
No emtanto, em determinadas circunstancias, algumas es-
pécies próximas podem cruzar-se, produzindo hyhridos, isto
é, indivíduos com caracteres mais ou menos intermédios.
Estes caracteres produzidos pela hybridação não teem fixi-
dez, são puramente accidentaes. Nem todas as espécies
apresentam a mesma facilidade n'esses crusamentos.
O agrupamento das espécies mais próximas constituo o
V^MTOy como a reunião dos géneros visinhos constitue as
/inmlú». É raríssima a hybridação entre plantas perteu*
ceutes a dois géneros diversos.
^
160
7.«— o FRUOTO, A SEMENTE,
£ OS PHENOMENOS DA GERMINAÇlO
O desenvolvimento ulterior dos óvulos, depois da fecun-
dação, constitue as sementes; o desenvolvimento ulterior do
ovário ou ovários que limitam um espaço forma o pericarpo;
o conjuncto do pericarpo com as sementes chama-se fructo.
' Resulta da definição que as Gymnospermas, por isso mes-
mo que não teem ovário fechado, não teem pericarpo, nem
fructo, na accepção botânica restricta. No emtanto^ em lin-
guagem vulgar, a palavra fmcto é tomada em maior ex-
tensão, e applica-se também, muitas vezes, á reunião das
sementes com alguns dos seus invólucros protectores, como
bracteas, etc; é mesmo frequente trocarem-se e confundi-
rem-se as duas denominações — fructo e semente — como
adiante veremos.
Fractiflcação. — Nem todas as flores femininas, ou herma-
phroditas, que apparecem sobre as arvores, se desenvolvem
em fructos; muitas d'ellas amesquinham-se, e caem, por
diversas causas.
Umas vezes morrem, não fecundadas, por decifiencia da
pollinisação, e n'isto influe muito o estado atmospberico
n'essa época; a humidade grande, as chuvas e os nevoeiros
persistentes, difficultam a fecundação; muitos grânulos de
poUen absorvem agua, entumecem, e ficam perdidos, antes
de encontrarem os estigmas ; a disseminação do poUen faz-
se mal; a agua, coUando as pétalas e as sepalas sobre os
estamos, cria novos obstáculos á chegada do pó fecundante
aos estigmas. Outras vezes, quando a quantidade dos fructos
não está em harmonia com o vigor da arvore, ou quando
esta soffre qualquer contratempo, apenas um certo numero
de fructos se desenvolve, á custa dos restantes.
161
Em muitas espécies vegetaes os annos de abundância de
fructos alternam, em períodos mais ou menos regularesi
com os annos de escassez; nos carvalhos é isto muito com-
ffiom. Esgotada por excesso de fructiflcaçao a arvore pre-
dsa refazer-se durante certo tempo, armazenar elementos
para a fructiflcaçao seguinte.
É que a fructiflcaçao representa sempre uma perda para
a arvore; nos annos em que ella é mais copiosa a camada
eoDstitoida no lenho é menor. Os princípios inunediatos
formados nas folhas (ou, com mais propriedade, nas cel-
lolas verdes da planta), emigram em grande percentagem
para os firuetos. É frequente nas espécies dioicas encontrar
IS camadas annuaes do tronco mais desenvolvidas no indi-
^dao masculino, cujas perdas sao menores, do que no indi-
viduo feminino.
No maior numero de casos a fructiflcaçSo realisa-se no
mesmo cjclo vegetativo em que a floraçSo teve logar, e ás
Fezes muito pouco tempo depois, como no uhneiro, nos
dioupos, nos salgueiros, etc. ; a hera e a alfarrobeira, que
ílorescem no outono, ou nos flns do estio, fructiflcam no anno
seguinte, na primavera ou no estio; mas ás vezes o inter-
vallo, que separa a floração da maturação completa e dis-
seminação das sementes, é mais considerável: dois annos no
carrasqueiro, no zimbro, no cypreste e no pinheiro bravo;
Ires annos no pinheiro manso, etc. Eis as épocas da fructi-
ficação de algumas espécies indígenas:
C 8.
ii
162
ÉPOCA DOS PRIMEIROS
FRUCTOS MADUROS
KSPBCIBi
COIMBRA
FOBTO
(188S)
(1884)
(1888)
CasUnheiro da índia {Aeseului Hippo-easta-
num, L.) ,.
20 setembro
23Bbtembro
24 setembro
Framboeia (Ruhiu id(Uití, Ti.) .......>....
1 de lanho
1 de Junho
5 de Jnnho
Sabaneiro (Sãmbwut niúra. li.)
1 de agosto
10 outubro
4*de agosto
Sangninho legitimo (Contui sanputMa, L.)
1 de agoeto
2 outubro
4 setembro
Alfenheiro (Ligustrum vulgare, li,)'
28 de Julho
25 de Julho
11 setembiè
Tramazeira {Sorbus Aueuparia, L.)
1 ontabro
2 de agosto
^.v
Ayelleira (Corvlus AvtlUinã, L.)
5 de njarfo
30 de Julho
18 de Junho
Cerelelra (Ptwius ãviutn, li.)
Ameixoeira brara (iVimus spitMia, L.). . . .
—
—
Ginjeira (Prwnu Cerasut, L.)
^^
14 de Jooho
4 de agosto
24 de agosto
Pereira (Pvrut comwunit, L.)
Macelra (Pyrus Afo/ui, L.^.... <...
—
—
Vidoeiro (Befuia alba, L.)
15 de m&io
Carvalho roble (Quereus peduneuhta, Ehrh>)
—
—
12 setembro
Pirliteiro {Crataegta Oxjfocantha, L.)
—
—
24 de Julho
Marmeleiro {Cydonia vulgaris, Pers.)
—
—
2 setembro
Videira ( Vitis vinifera, L.)
—
—
12 setembro
Composição do perícarpo. — O pericarpo reproduz a orga-
nisação do ovário d'onde deriva; no emtanto esta correspon-
dência nem sempre é rigorosa. Poucas vezes, nas espécies
lenhosas indigenas, o pericarpo é de constituição mais com-
plexa que o ovário ; acontece isso, por exemplo, no género
Coronilla, cujo ovário tem um só carpello, e cujo pericarpo é
uma vagem com o tecido apertado nos espaços vasios entre
as sementes, e quebradiça n'esses pontos, apparentando ser
plurilocular. Mais vulgarmente algumas das partes do ová-
rio não acompanham o progressivo desenvolvimento d'esto
órgão, e o pericarpo apresenta-se mais simples que o ova-
163
rio d'onde proveio : assim o ovário do amieiro e o do vi-
doeiro são biloculares, o dos carvalhos trilocular, o do cas-
tanheiro sexiocular, e os pèricarpos de todas estas essên-
cias são, por aborto, quasi sempre uniloculares.
O desenvolvimento dos fructos modifica muito as dimen-
sões e a contextura do ovário. Umas vezes as cellulas
multiplicam-se muito e crescem, conservando as paredes
delgadas, ao mesmo tempo que os feixes fibro-vasculares
se tornam simples filamentos, sem consistência, perdidos
n'aquella massa carnosa; a côr verde primordial é substi-
toida por outras ; o amido, o tannino e os ácidos orgânicos
diminuem progressivamente; apparece a glucose, uma parte
da qnal se desdobra em álcool e anhydrido carbónico, e esse
álcool unido aos ácidos orgânicos constituo os etheres com-
postos a que é devido o perfume, a fragrância de certos
froctos maduros. A esse período segue-se outro de mais
profunda modificação; o fructo primeiro diz-se sorvado e
depois apodrecido, e o pericarpo seivoso destroe-se, pondo
em liberdade as sementes. Estes fructos dizem-se carnudos,
taes são os do medronheiro, do sabugueiro, da pereira, da
ameixoeira, etc.
N'outras espécies os pèricarpos, de ordinário menos de-
sen?olvidos, são lenhosos ou coriaceos; o sueco cellular
desapparece quasi. As cellulas componentes d'estes pèri-
carpos morrem cedo, esvaziam-se, enchem-se de ar, e con-
servam-se por muito mais tempo. Estes fructos dizem-se sec-
cos, taes são os do ulmeiro, freixo, carvalhos, castanheiro,
salgueiros, choupos, etc.
Quer seja carnudo ou secco^ encontram-se no fructo os
mesmos tecidos que existiam no ovário, isto é, os tecidos
próprios ás folhas: a epiderme das duas paginas trans-
íorma-se externamente no epicarpo, internamente no endo-
tarpo, e o parenchyma intermédio no mesocarpo, também
mtermedio.
O epicarpo, o invólucro externo, que nos fructos carnudos
li«
164
coDStitue a casca, é delgado sempre, e ás vezes redaz-se
a uma única assentada de cellulas, mas outras vezes com-
prehende também, além da verdadeira epiderme» um pe-
queno Dumero de camadas suberosas, que a reforçam.
N'umas espedes é lizo, nú ou coberto com efllorescencias
cirosas (videira, ameixoeira, etc.); D'outras, cheio de pellos
mais ou meDos lanosos (pecegueiro, marmeleiro) ; ou apre-
senta-se vestido de saliências espinliosas (castanheiro da b-
dia) ; ou de tubérculos (medronheiro) ; ou prolonga-se em azas
membranosas (ulmeiro, freiío, plátano bastardo, vidoeiro).
O mesocarpo é a região subjacente ao epicarpo, onde cor-
remos feixes fibro- vasculares ; constitne, no todo ou em parte,
a porçSo comestível dos fructos carnudos. N'uns íructos o me-
socarpo persiste homogéneo, mas n'outros differenciase «n
duas assentadas, tomando-se, muitas vezes,as cellulas da
mais interna, conjunctamente com as do endocarpo (a epi-
derme interna do ovário) esclarenchymatosas e formando o
caroço onde a semente fica incluída. No fnicto do pece-
gueiro a polpa comestível é fornecida por parte do mesa
carpo; a parte restante, com o endocarpo, forma o caroço
(fig. 91). No fructo da amendoeu-a o invólucro externo es-
Fig,91.CortelongitudinalatraTei Fig. 92. Fructo da amendoein
o fructo do pecegueiro (Pi
ea tmlgarit, Hill.) : a, epicarpo :
b, parte comestivel do mesocar-
po : e, caroço (parte do meso-
carpo e o endocarpo). d, se-
mente (1 : S).
(Ánygdalui communú, h.) co>
tado longitudinalmente : o, ^i-
carpo e parte do mesocarpo: b,
parte do mesocarpo e o endo-
carpo: c, aemente (1 : 3).
f
i65
Terdmhado é composto pelo epicarpo e parte do mesocaipo»
e > casca dura interior é formada pela porção restante do
mesocarpo e pelo eodocarpo (fig. 92).
O eodocarpo nem sempre experimenta aquella especiali-
n^ao, e ás vezes fica delgado e com pouca consistência,
como na pereira, na laranjeira, e em geral, em todos os
Guetos deDOminados de pevides.
Timaa de frnctos.— Os fractos qaena maturaç3o se abr^a
njlnralniente para a saida das sementes, co-
mo os dos salgueiros, choupos, urzes, este-
ns, etc. (fíg. 93), dizem-se dekiscmtes; os
finctos que, pelo contrario, permanecem fe-
chados constantemente, como os dos carva-
lhos, ulmeiro, videira, pecegueiro, etc. (Gg. Fig. 93. Frn-
W), chamam-se indekiscentes. Um e outro ty- ^^ dehisceo-
po tem numerosos representantes em a aos- ^^'^imL
ia flora lenhosa. eíiipi<»,L.)
Ofructo dos carvalhos e castanheiro é um (i-.i).
úchenio; o seu perícarpo indehiscente, secco, delgado, co-
ríaceo, monospenno, está muito chegado á semente, mas
separa-se d'ella com facilidade; tanto na bolota, como na
castanha este perícarpo forma a parte exter-
na, que, em linguagem vulgar, se chama a
auca; nos carvalhos o achento apresenta-se
envolTÍdo na base por uma cúpula caracte-
rística, lenhosa, constitnida pela soldadura
das bracteas estéreis (Qg. 94) ; no castanheiro,
nm a três fractos reunem-se dentro d'um in-
Tcdncro de bracteas, espinhoso, espheríco,
fediado, dehisceote na maturação em quatro
Tahnlas (ouriço). Na avelleira o firucto é ainda
nm acheoio; rodeia-o ama cúpula de bracteas
btiaceas. ús achenios do plátano slo muito
pequenos, e reimem-se em grandes agglome-
ndos globosos, pendentes, onde entremeam com peilos ri-
Fi8.
94. Fht-
cto
e cúpula
do
carvalho
roble (Owr-
nu
pídwieiK
late
., EhriL)
(*:
1)-
166
)s, amarellados. Nas roseiras os acheoios ficam fecha-
n'um invólucro carnudo, devido ao tnho formado petos
; verticillos fioraes externos concrescentes (fig. 95);
Fig. 95. Falsos fnictos da roseira lirava {Boia tempervirent, L.). A. Um
d'estes falsos fructos cortado longitudinalmente e mostrando os ache-
nios interiores (quasi 1 : 1).
Tolgarmente este invólucro é tomado pelo fructo e os
acbenios interiores pelas sementes, como também chamam
sementes aos acbenios do plátano e fructo aos conjimctos
No nlmeiro e no freixo o achenio toroa-se alado, pela
e^ansSo membranosa do pericarpo, e transforma-se n'uma
tomara (fig. 96). As pequenas samaras do vidoeiro estão
dispostas na axilla de escamas membranosas devidas á
aãherencia da bractea-mãe com as bracteolas, apparentando
o todo uma pequena pinha, que o vulgo considera como o
verdadeiro fructo. Nos bordos (género Acer) o fructo é uma
àisíanara.
167
Nos salgueiros, nos choupos, nas urzes, es-
leras, ele., os fructos seccos, plnricarpella-
res, e debiscentes em válvulas deDominam-se
abulas. A forma d'esta dehísc«ncia varia: '
issim no Cisíus salviaefolius, L., por exemplo
ffig. 97), a capsula divide-se em cinco vaivu-
las, mas a divisão faz-se pela linha dorsal do
carpello, no espaço médio entre dois desse-
pímeolos, de modo qne cada válvula arrasta
adberenlo no meio um dessepimento^ e a de-
hisceDcia diz-se então loculicida; a capsula do
Osíus MonspHiensis, L. apresenta do cimo a
dehiscencia septifraga: as válvulas separam- f^í-^- Saras-
se dos dessepimentos, que ficam reunidos /f-a».*
n'ama columna central (fig. 98); na urze vnl- angiatiffáia,
gar (CoMuna vulgaris, Salisb J a capsula é se- Vahi.) {! ; l).
ptiriáfl; os dessepimentos dividem-se transversalmente ao
R(. 97. Capsula locnlidda do Fig. 98. Capanla do Ciihu Moi»-
Ciau laitiiaefdiut, L., a: ca- jMltnuú.L.eom dehiscencÍBSe-
pKda fechada, b: capsola aber- pti&aga no cimo. b : a mesma
Ia.c: uma válvula vista de cortada transversalmente (2:1).
perfil lendo no meio adherente
nm deuepimento (1:1).
meio.e os quatro carpellbs separam-se ^aii
completos (Sg. 90). ilp
Nas Papilionaceas o fhicto secco, de-
biscente pela sutura ventral e linha dor- Fij- 99- Capsula se-
sal, em duas válvulas, é uma vagem (fig. ^'^ícaii^l
100); na alfarrobeira esta vagem é coria- ^uigarit, Saiisb.)
ceo-polposa e indehiscente. (f:i.)
i68
Os froctos seccos unicarpellares do toen-
dro, do saiío, etc. denomínam-se foUicu-
los: abrem-se longitadínalmeiíte só por
om lado — pela sutura ventral.
No arando, na madresilva, no sabuguei-
ro, na videira, no medronheiro, na hera,
etc., o fnicto indehíscente com todo o pe-
ricarpo carnudo ou potposo, com o en-
docarpo pouco consistente, geralmente
polyspermo, é uma baga (8g. lOle 102).
O fructo das espécies do género Citrut
pertence a este mesmo grupo, e tem, is
vezes, o nome de hesperidea; è ainda orna
baga cuja polpa comestível é formada pe-
los pellos carnudos internos, volumosos,
derivados da face dorsal dos carpellos.
Na cerejeira, na ameixoeira, no pece-
gueiro, na oliveira ele., o fructo indehis-
cente é uma eb-upa; a semente, de or-
dinário uma sá, está envolvida por um
caroço espesso e duro, formado pelo en-
Rb, 100. Vaffem da . . . .,
este dos ar- '^*'''^'T>'' ^ P^""'^ ™ mesocarpo; a região
dínsíSnoríiMM '^^^ externa do mesocarpo torna-se car-
jmemm,h.)(l:l). Duda (flg. 91). A amora das silvas é um
conjuncto de pequenas (^pas, mais ou menos aproxima-
das.
Tig. 101. CortetruiTereal atnTei Tig. lOf. a: Bag> de hen {Be-
o frndo do medronheiro {Ar- dera Háim, L.). b: & mesnu
itíta Vtudo, L.) (1:1). eortaditruitTenalmeitte(l:l).
169
Fig. 103. Corte transversal
do firucto da maceira (Pyru$
M<dui,L.)(i:'i).
£Qtre estes typos princípaes apparecem ás vezes verda-
deiros termos de passagem : assim o fnicto da nogueira, com
o mesocarpo pouco carnudo, debiscente, constitue uma cch
fwla drupacea; o fhicto do castanheiro da índia, dehiscente,
com as válvulas quasí carnosos,
forma uma capsula carnuda, etc.
Já dissemos que a palavra fni-
Gto, em linguagem vulgar, tem
maior extensão: abrange as pe-
qaenas pinhas do amieiro e do vi-
doeiro; nas roseiras o tubo consti-
toido pela concrescencia dos três
Yerticillos floraes externos ; na fl-
gaeira applica-se ao receptáculo
accrescente, escavado, onde, na
parte interna, estão inseridos os acbenios (sycone) ; nas Po-
maceas (pereira, maceira, marmeleiro, etc), dá-se este no-
me ao corpo de origem mixta, cuja parte carnuda externa
deriva do tubo formado pelos três verticillos floraes externos
coDcrescentes, e só a parte interna é produzida pelo des-
enYolvimento ulterior dos carpellos (fig. 103); no samóco
o fracto secco, indehiscente, monospermo, fica incluído nas
bracteolas carnudas, glandulosas, accrescentes, e o conjuncto
Sânelha uma drupa; na amora das amoreiras os pequenos
achemos de uma mesma espiga, envolvidos cada um pelo
perigoneo accrescente e succulento, constituem um falso
fructo tuberculoso (sorose)^ etc.
É assim que, semelhantemente, as pinhas e galbulas das
Goniferas se denominam fructos, quando na verdade estas
essências só teem sementes e não teem pericarpos, por isso
mesmo que as suas flores não teem ovários fechados.
A piíúia dos pinheiros é formada d'escamas muito duras
e lenhosas, imbricadas sustentando cada uma duas sementes
(^. 104); estas escamas afastam-se umas das outras para a
disseminação» e não protegem com menos efficacia as sémen-
170
tes do que o faria um verdadeiro perí-
carpo. Nos cyprestes a pinha globosa od
' ovóide, com poucas escamas, e estas mnilo
largas na extremidade, quasi com a for-
ma da cabeça de um prego, tem o nome
' de gaUnãa; cada escama da galbula dos
cyprestes supporta muitas sementes. O
falso fructo dos zimbros é ainda uma gal-
bula, mas as escamas são carnudas e
adherentes, dando ao conjuncto o aspe-
cto de uma baga, globosa, ovóide od py-
?' *inh' ^d"""* riforme (fig. ÍOS). No teixo a cúpula car-
nheL manso {«- ™^^' ^^""clha, que envolve a semente,
nti( Pinta. L.) * produãda por uma espans3o lateral
(1:1). do funicnlo, é um aHUo (fig. 106).
Sotffe alguns froctos, ou em redor d'elles, encontram-se,
^f
Fig. lOS. Galbula carnuda Fig. 106. Falso fructo do teixo (Timu
do Juttipenu Oxgetànu, baceala, L.}; SPmeale envolvida por
t. car. maeroearpa, um arillo carnudo (1 : 1).
Sibth. (1:1).
muitas vezes, algumas peças da flor, que se denominam per-
sistentes: assim o limbo do cálice persiste sobre os fhictos
das Pomaceas; o estylete sobre os fructos da hera onde
se notam ainda, superiormente, as cicatrizes deixadas pela
queda dos dentes do cálice (fig. t02); sobre o fructo da
r
171
groselheira persiste o cálice secco; o cálice e a corolla
marcescente encontram-se em redor da vagem da carqueja,
etc.
Semente. — O oto, depois da fecundação, desenvolve-se á
casta da planta-mae, no sacco embryonario onde foi produ-
zido e onde fica suspenso. As successivas partições d^aquella
ceDnla primordial originam um corpo, mais ou menos dif-
ferenciado, que se chama embryao.
Chegado ao seu desenvolvimento o embryao adquire, nas
sementes das diversas espécies, dimensões muito variáveis;'
nas espécies em que é maior, os seus tecidos soffrem uma
especiaUsação, que já lhe distingue a epiderme, a casca, e
o cylindro central, onde os feixes libero-lenhosos primários
apparecem esboçados (carvalhos, nogueira, etc.) ; em muitas
espécies estes tecidos só mais tarde se differenciam, quando
a semente germma.
Externamente o embryao especialisa-se n'um catUictdo,
n^mna radiada, e n'um certo numero de folhas cotykdo-
nares, entre as quaes existe um cone vegetativo nú. Em
algumas espécies este cone vegetativo cresce, produz novas
folhas estreitamente applicadas umas contra as outras, e o
ttnbryão possue, n'este caso, um verdadeiro botão terminal,
que se denomina gemmula (carvalhos, amendoeira, etc).
Formado o ovo, o núcleo e o protoplasma do sacco embryo-
nario dão origem a phenomenos, que realisam a formaçSo
de mn tecido especial chamado aXbumen, O albumen é um
tecido onde se accumula a reserva nutritiva ; no seu pro-
gressivo desenvolvimento o embryao vae ali buscar os ele-
mentos de que precisa, solubilisando, digirindo as membra-
nas d'aquellas cellulas e os seus conteúdos. O endosperma,
qoe rodeia o embryao das Gymnospermas, representa phy-
síologicamente o mesmo papel; é ainda um tecido cheio de
reserva nutritiva para uso do embryao.
Dois casos se pod^n dar n'este desenvolvimento do em-
bry3o : nas Gymnospermas e em muitas Ângiospermas (frei
1
i72
TU), olíTeira, alfenheiro, folhado, madresilva, azevinho, lodio
bastardo, etc.) o embryão nao consonie
toda a reserva alimentar, uma parte d'ella
subsiste sob a forma de cellalas aperta-
das, sem meátos, ricas em princípios im-
mediatos amylaceos, oleosos, etc, qae en-
Fig. 107. Corte lon- volvem O embryao, relativamente pequeno
gitudinai de uma (flg. 107); em muitas outras Ângiosper-
semente de pi- mas (carvalhos, castanheiro, salgueiros,
nheiro manso (Pi- choupos, ulmeiro, amendoeira, nogueira,
nut inea, .). a . yj j^^g^p^ amieiro, etc.) o embryao desen-
tegumento. 6 : re- ' * ^ ^
serva nutritiva, c: volve-se muito, sobretudo as cotyledones,
embryao (i:i). consome todo O albumeu, enche toda a
capacidade do sacco embryonarío, e nas cotyledones volu-
. mosas se junta a reserva de principies immediatos necessá-
rios, durante a germinação, ao desenvolvimento da nova
planta (flg. 108).
O funículo do ovulo cresce proporcionabnente durante
todos estes phenomenos, e transforma-se no funiculo da
semente (fig. 109). Ás vezes o seu parenchyma adquire
uma actividade particular e forma, em redor da semente,
primeiro uma pequena cúpula, depois um envolucro com-
pleto, mas sem contrair adherencia com ella; este tegu-
mento accessorio chama-se arillo; no teixo, como dissemos,
constitue a região carnosa, vermelha, externa (fig. 106).
A pequena excrescência em redor do mycropylo, conhe-
cida com o nome de carunctdo (rícino, etc), é devida á
actividade geradora local do parenchyma do tegumento da
semente.
O ovulo, depois de transformado em semente, amadu-
rece: perde agua e portanto diminue em volume e em
peso, fica sem a transparência e o brilho primitivo, torna-
se opaco, e com o tegumento diversamente corado, segundo
as essências. «
As dimens5es da semente em relação aos pericarpos
r"
!73
Taríam mnito. Na bolota e na castanha, por exemplo, os
pericarpos s3o mníto delgados e a semeaíe imica muito
Hf. 108. Corte longitudinal do Fig. 109. Corte longitudioal abu-
Inicto do' sobreiro {Querau lu- vez a garaara do A:eizo (Fra-
iir,L.),a: o perícarpo, e sub- amju» anguitifoiia, Vahh). a:
jacrale o tegumento da sémen- semeute. b : funiculo (1 : 1).
tt:h,b: as duas cotilédones
muilo desenvolvidas, e: o em-
. lirjio(l;l).
Totomosa; na laranja as sementes s3o pequenas e o perí-
taipo desenToIvido, etc.
A disseminação das sementes realisa-se por diversos mo-
dos : os fnictos carnudos iodebisceotes soffrem a decompo-
áção do pericarpo; nos fnictos seccos indehiscentes o peri-
tarpo acompanha de ordinário a semente até ao fim, como
DOS catralhos, castanheiro, ulmeiro, freixo, etc; quando os
fnictos s3o dehiscentes as sementes separam-se pelo hilo,
e os pericarpos vasios persistem, qnasi sempre, um tempo
maior ou menor sobre a ar\'ore. As sementes dos pinheiros e
dos cyprestes libertam-se de uma forma análoga: as pinhas
dos primeiros e as galbulas dos segundos afastam as es-
174
camas deixando cair as sementes; estas pi-
nhas e estas galbulas ficam presas mnilo
tempo aos ramos que as produziram.
Em muitas essências as sementes estão ar-
I madas de apparelbos que lhes Tacilitam o es-
palhar-se em grandes áreas, sob a acção do
vento. Assim, no pinheiro bravo e no pinheiro
d'Alepo lêem uma aza membranosa, anatomi-
camente derivada da face dorsal do carpello,
Vig. 110. Se- mas que se une estreitamente á semente (fig.
meDte alada jjo); nos salgueiros e nos choupos s5o pro-
u" '"'Jr?'"' vidas de muitos pellos. Em muitas espécies
Pinaiter ^^'^^ apparelhos de dÍssemÍnaç3o existem
Ait) {1 : 1). nos pericarpos, sobretudo quando elles são
mouospermos e destinados a acompanhar a semente mes-
mo durante a germinação, como no freixo, vidoeiro, ul-
meiro, plátano, ele.
É muito importante em cultura florestal considerar a
grandeza da área de disseminação de cada essência. Esta
área depende do peso das sementes (ou dos fructos se n5o
se dá a separação dos pericarpos), bem como da ausência
ou presença dos apparelhos que a facilitam. Os fructos.do
castanheiro e dos carvalhos, grandes, pesados, sem appa-
relho de disseminação, pouco se affastam, na queda, da
arvore-mãe ; o mesmo não acontece á semente do pinheiro
bravo prolongada em expansão membranosa. -
Na semente completa notam-se duas partes distinctas:
a parle externa (de composição mais ou menos complexa),
semelhante a uma casca, ficil de separar — o tegumento; e
a parte interna — a amêndoa.
O tegumento apresenta-se liso, ou esculpido; lenhoso,
membranoso, papyraeeo, com muito diversas consistencias.
De ordinário esta sua extractura é inversa com a do peri-
carpo. Em algumas essências (alfarrobeira, oUveira, etc.)
o tegumento é tSo resistente, que pode atravessar o ap-
• i75
parelho digestivo dos animaes sem ser atacado, o que faci-
lita a disseminação d'estas sementes.
A amêndoa pode ser formada só pelo embrylio, como
dissemos (fig. 408), ou pelo embrySo e pela reserva nu-
tritiva— albumen ou endospemia (fig. 107).
As cotykdones s3o em numero variável, nas nossas espé-
cies lenhosas : a palmeira das vassouras tem uma só (mo-
nocotyledonea) ; a maior parte das nossas essências flores-
taes teem duas (freixo, carvalhos, castanheiro, ulmeiro, sal-
gueiros, etc.) (dkotyledoneas) ; nas Gymnospermas este nu-
mero é mais elevado e mais variável : os zimbros teem duas,
osícyprestes duas a três, o teixo seis a sete, o pinheiro
bravo oito, o pinheiro manso dez a doze, etc. De ordinário
as cotyledones são eguaes, mas podem ser deseguaes ; ha-
bitaahnente encontram-se livres, mas no castanheiro da ín-
dia adherem pelos bordos em contacto.
O embryão, n'umas espécies, apresenta-se recto (alfarro-
beira, urzes, medronheiro, salgueiros, choupos, ulmeiro
etc.), n'outras curvado (lodao bastardo, phytolacca, muitas
Papilionaceas, etc), ou contorcido por diversos modos.
Germinação. — Na semente madura o embryão perma-
nece latente, inerte, emquanto não concorrem as condi-
ções necessárias para a germinação ; não cresce ; é msigni-
ficante a troca de gazes entre a semente e a atmosphera.
Nem todas as sementes caidas das arvores podem ger-
minar; algumas são chochas, mal conformadas. As melho-
res, as que originam indivíduos mais robustos, são as das
arvores adultas (nem muito novas, nem muito velhas), e
qae teem vegetado em boas condições. No interior dos mas-
siços apertados as sementes são de medíocre qualidade.
Embora as sementes sejam bem conformadas a germi-
nação não pode realisar-se emquanto não estiverem ma-,
iwras. Este amadurecimento é muito variável para as di-
versas essências : assim emquanto. as sementes do freixo
6 do codeço germinam mesmo incompletas, quando ape-
176 •
nas teem. chegado a metade do desenvolvimento normal, e
originam assim indivíduos tão robustos como os que sSo
produzidos pelas sementes completas, pelo contrario as ro-
seiras, pirliteiro, pecegueiro, etc, nao germinam as suas se-
mentes senão passados dois annos, ainda que encontram
condições favoráveis. Habitualmente, na época da dissemi-
nação natural as sementes estão aptas para germinar.
O poder germinativo do embryão enfraquece com a eda-
de da semente e por fim extingue-se. Esta edade limite va-
ria de essência para essência, mas é muito curta em quasi
todas as nossas espécies florestaes.
Gollocadas as sementes em condições apropriadas, o tem-
po que dura a germinação depende do meio local, e muito
da sua organisação especifica. As sementes dos salgueiros
teem germinação tão prompta, que n'um único dia se pode
realisar ; as dos choupos germinam em 8 a 10 dias ; as do
pinheiro bravo em 15 ; em contraposição as do zimbro gas-
tam, às vezes, 2 annos, e as do teixo 3 a 4 annos. A natu-
reza da reserva nutritiva, e a maior ou menor consistência
do tegumento, que diflSculta mais ou menos a acção da hu-
midade, teem nisto grande influencia.
Para germinar a semente fixa agua, entumece, absorve
oxygenio, desprende anhydrido carbónico, aquece, e digere,
solubilisa as suas reservas nutritivas, por meio de diasta-
ses derivadas da modificação de alguns dos seus albumi-
nóides, no mesmo acto da germinação. Doesta forma os
amylaceos, por hydratação, transformam-se em assucares;
os princípios gordos saponificam-se ; os albuminóides mu-
dam-se em peptonas ; e estas substancias, todas ellas solú-
veis, são utilisadas pelo embryão para o desenvolvimento
dos seus primeiros órgãos, emquanto a nova planta não
pode contrair mais directa communicação com o meio ex-
terior e viver à custa d*elle.
A presença da agua e do ar, que ha de ceder o oxyge-
nio, são pois indispensáveis a este phenomeno ; é por falta
177
de ar que as sementes enterradas muito fundas nSo ger-
minam. A temperatura também influe muito n'este acto;
cada espécie vegetal tem exigências particulares a este res-
peito, como yeremos, e limites, máximo e minimo, além
dos qaaes a germinação se toma impossível, bem como
om grau optimum, intermédio, de todos o mais favorável.
A luz parece não influir na germinação.
Nos massiços florestaes reunem-se muito propiciamente
as condições todas necessárias para a germinação, e para
o primeiro desenvolvimento das arvores novas. As folhas
mortas, os ramos seccos, as cascas velhas, os pericarpos
em decomposição, etc, formam sobre o terreno uma camada
liygroscopica, fofa, porosa, muito própria para reter a hu-
midade e facilitar o accesso do ar, tornando a germinação
muito menos contingente. Por outro lado, a folhagem viva
das arvores, o seu coberto, protege o terreno inferior dos
•raios do sol, e do vento, não o deixa seccar, e toma muito
menos precário o primeiro período da vida das arvores, cu-
jos tecidos muito tenros, muito cheios de líquidos, podem
íacilraente murchar sob a acção directa do sol e do vento.
Kota-se mesmo uma estreita harmonia entre as exigências
das arvores novas e a espessura da folhagem protectora;
as essências mais delicadas nos primeiros annos, de tem-
peramento mais fraco, apresentam em adultas maior coberto.
Todavia esta acção benéfica torna-se, passados certos limi-
tes, malfazeja; o coberto das arvores superiores, se facilita
a germinação e a vida das arvores novas, nos primeiros
tempos, amesquinha-as ao depois, roubando-lhes a luz e
a electricidade, como diremos. Amesquinha-as com tanta
maior força quanto mais robusto for o temperamento d'essa
espécie vegetal, chegando até a matal-as.
Externamente os phenomenos da germinação patenteam-
se pela seguinte forma : a amêndoa, entumecida pela agua
qae absorveu, distende e rasga o tegumento da semente,
ou o tegumento e o pericarpo se este ultimo ainda per-
C.S. 12
<78
siste ; a abertara dá-se no pMito ccHTespondeote ã etín-
midade da radicula, e é este orgSo que primeiro se alonga
para o exterior (fig. ill). Os pheDomenos subsequeotes
variaia nas diversas espé-
cies, mas podem reduzir-se
a dois typos principaes:
umas vezes o cauliculo, pe-
lo seu crescimento interca-
lar, obriga as cotyledones
a saírem da semente, de-
pois de se apropriarem da
Fig. 111. Primeiro período da ger-
minação do sobreira (Ou«rciif
&fr,L.):aionga-eearadieuU(iLi). reserva notritiva do albn-
Fig. 112. Primeiras phases do deseoTOlTÍmento do plátano basfardo
(Acer Pteudoplaiama, L). A, B, C, entados raccessivos da planta nova.
a: folhas cotyledonares. h: fothai ordinárias (1:1).
179
men ou endospenna» se estas formações existem, levanta as
cotyledones acima da terra, e transforma-as nas primeiras
FSg. 113. Genninação do pinheiro
manso (Pinm Pinea, L.)^a8
folhas eotyledonares saem da
tenra (1 : 1).
Fig. 114. GerminaçSo do sobreiro
{Qurcuêsuber^h,): as cotyledo*
nes ficam dentro do tegumento,
só a gemmuda (a) se alonga na
vertical (1 : 1).
IS*
180
íolbas verdes e vegetativas da nova planta ; estas especie$
diz-se que teem as cotyledones epigeas; taes são a ameur
doeira, vidoeiro, amieiro, plátano bastardo (fíg. 112), tei-
xo, pinheiros (fíg. 113), etc. N'outros casos as cotyledones
não saem da semente, ficam sempre na terra, e dizem-se por
isso hygogeas; depois do desenvolvimento da radicula sao
os peciolos cotyledonares que se alongam, empurrando para
o exterior a gemmula situada entre elles ; esta gemmula é
que se levanta na vertical, e as cotyledones vão-se esgo-
tando pouco a pouco, no interior da semente, até morre-
rem (carvalhos, castanheiro, nogueira, castanheiro da ín-
dia, etc.) (fig. 114). Pertencem ao primeiro typo as espécies
cujas cotyledones são delgadas e pequenas ; ao segundd as
que as teem carnudas e volumosas.
* 8.0— GALHAS
»
Em muitas das espécies lenhosas indígenas encontram-
se, adherentes a órgãos muito variados (raminhos, folhas,
cúpulas, etc), certas excrescências de differentes tamanhos,
de differentes cores, e de differentes consistencias, que se
denominam galhas.
As galhas são produzidas pelo desenvolvimento anómalo
dos tecidos vegetaes em certos pontos, excitado esse desen-
volvimento pela picada de um insecto.
 forma e a composição das galhas variam, não só de
espécie a espécie, mas na mesma espécie segundo o insecto
quedas provoca. São muito frequentes nos carvalhos, sobre-
tudo nos de folhas caducas, e entre estes principahnente no
x^arvalho portuguez e na carvalhiça. As figs. 115 e 116 re-
presentam duas formas das galhas, ou bugalhos, da carva-
lhiça: a forma globosa, e a forma dita coroada, ou d^ coroa.
Estas galhas dps carvalhos são produzidas por insectos
ibifpfmw do género DipMepis Gtoff, (Cynips h.) ; a fêmea
fere as cellnlas Terdes corticaes e deposita, na ferida, om
n|. 115. Giiha da earralhiça Fig. 116. Galha da carvalhiç&.
{Queraa hMiniiit,\j»,ta.) (itoax (Qw^mt Aumiltt, Lam.) (fârma
coroada) (2:3). glçbosa) (1:1).
OTo; dá-se a excitarão local no orgSo da planta, a galha
orj^anisa-se em camadas coacentrícas, e fica protegwdo o
OTO, colloeado no seu centro; d'este ovo nasce uma pequena
Urra, que no interior da galha eoconlra abrigo e aUmenlo;
traosforma-se ahi em nympha, e depois em msecto perfeito,
samdo então para o exterior pelo (tiro que pratica, coino se
Td na fig. 416. O insecto perfeito, depois da cf^nk, dep^
os OTOs, qne se desenvolverão no anno seguinte, noa re-
bentos da arvore. oTí do arbusto. A galha vae seccando, em-
.segnida, e por ultimo, passado tempo, cae.
Moitas d'estas galhas são extraordinariamente ricas em
tannino, e teem exploração industrial; ãs vezes d3o é tailto
o tanníDo propriamente, que domina, como o acido galtuco,
resultante, decerto, da sua transformaçSo.
182
Nem todas as gaOuu apreseatam formas t3o regalares
como as dos carralhos; as qae se desenTolTem no limbo
das folhas do ulmeiro s3o entumecidas, enrugadas, vesi-
colosas (fig. 117); é um insecto do geoero ScAúoneurs
Pig. 117.Galha do ulmeiro ([/ImuieanfMtlm,L.) (2:3).
que as produz. SobTe alguns ulmeiros encontram-se tantas
d'estas galbas, e no interior de cada uma Tivem tantos
insectos, que isto originou o nome vulgar de mosqueiro,
com que, em alguns sítios, conhecem esta arvore.
O terebintho, expontâneo em Traz-os-Mòntes, também
apresenta muitas galhas; s3o tanniaosas e podem apro-
veitar-se na industria, emquanto as do ulmeiro nSo teem
nenhum préstimo. As do terebintho s3o muito compridas e
delgadas, ponteagudas e ctnitorcidas, o que valeu a esse ar-
busto o nome de «malheira com que é conhecido n'aquella
província.
Folhosas e rennosas.— Em lingoagem florestal as arvores
^vestres dividem-se em dois agrupamentos — folhosas e
restíwíat. A conservacSo d'estas denominações é ntil oa
183
m^^^^
pratica, embora ^as não sejam muito. rigorosaSi Botanica-
mente as resinosas comprebendem as. Gymnospermas mais
importantes: — as Goniferas— e as folhosas, são asi Ângioà-
penoas. Dissemos que estas denolninaçjões não teem grande <
rigor» porque nem todas as Coníferas (nem mesmo as índi^!
genas) teem suocos resinosos^ e em contraposição algumas i
Angiospermas existem muito resinosas, como são as espe-.
des da familia das.Terebinthaceas..
As distincções botânicas príncipaes entre aquelles dois
agrapamentos são as seguintes:
As folhosas teem os óvulos fechados n'um ovário, e teem^
por isso mesmo, as sementes incluídas em verdadeiros pe-
ricarpos. Às suas flores podem ser unisexuaes ou berma-
phroditas, nuas, ou revestidas com um, ou dois invólucros
floraes. Teem embryão dicotyledoneo. As suas folhas, geral-
mente, apresentaogi o limbo desenvolvido e as nervuras rami-
ficadas; são caducas ou persistentes. A ramificação d'estas
arvores è, quasi sempre, irregular. Teem como elementos
anatómicos necessários do lenho as fibras, os vasos e os
raios medullares. .
As resinosas teem os óvulos Uus,' não fechados n'um ovário,
e, por isso mesmo, não teem verdadeiros pericarpos. As suas
flores são unisexuaes, sem perigoneo, e dispostas, de ordi-
nário, em amentilhos. Teem embryão di-polycotyledoneo. As
soas folhas são acerosas, uni-trinervadas, ou escamiformes ;
sio persistentes nas espécies indígenas. A ramificação è
verlicillada /pinheiros) ou difliísa (teixo, zimbros). Teem
como elementos anatómicos necessários do lenho os raios
mednllares e as fibras aureoladas. Apresentam^ quasi sem-
pre, secreções resinosas.
A estas diJBerenças accresce ainda o modo por que a fe-
cundação se realisa, como dissemos.
Florestalojiente os dois . agrupamentos não apresentam
entre si menores 4ifierenças. A difliculdade^ ou impossibi-
lidade!» qne as resinosas manifestam em formar botões ad-
184
yentícios, ou olhos dormentes, impede-as, quasi todas, de
rebentar de touca, e por isso apropria-as só ás explorações
em alto fuste, emquanto as folhosas podem ser aproveitadas
em alto fuste e em talbadio. A fraca evaporação das folhas
das resinosas, comparativamente ás folhosas, toma as pri-
meiras muito úteis no revestimento dos terrenos seccos,
assim como a sua pouca exigência, relativa, em principies
mineraes, as torna muito vantajosas na arborisaçSo dos
solos pobres.
Productos florestaes.— O seguinte quadro resume os prin-
cipaes productos das nossas florestas:
Mftdeiras de constnie-
çAo
' ^ De constnicção cítíI.
De eonstrucçfto nayaL
Para travessas de ca-
minhos de ferro.
Para postes telegra-
phicos.
Para escoras de minas.
Productos lenhosos. . ^
Madeiras propriamen- 1 Para serra,
te de trabalho (in- < Para tomo.
Bustriaes) ( Para fenda.
I Lenhas ^ssas.
Lenhas miúdas.
Madeiras para carvoe-
jar.
Productos corticaes Cortiça.
^ Caseas tannmoaas.
I Fructos.
Productos resinosos e outros.
As madeiras do primeiro grupo caracterisam-se pelas
suas mesmas denominações . As do segundo grupo são as
madeiras empregadas na marcenaria, carroçaria, entalharia»
185
tamancaria, etc.; merecem particular menção as madeiras
para tomo e para fenda, notáveis, as primeiras pela sua
rijeza e homogeneidade, e as segundas pelo parallelismo
e regular disposição das fibras (madeiras para aduellas,
remos, etc.).
As lenhas grossas comprehendem os táros e adias; as
lenhas miúdas comprehendem as faocinas (ramadas presas
em molho), e os cavacos (pequenos ramos, astilhas do falque-
jamento, etc.)-
Os fructos mais unportantes das nossas essências flores-
taes são a castanha, a bolota, a lande, a alfarroba, e o pi-
nhão (semente do pinheiro manso).
No ultimo grupo só tem verdadeira importância os pro-
duetos resinosos — resina, essência de terebinthma, alca-
troo e breu.
AUGTORES PRÍHCIPÂLVENTE CONSULTADOS
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Ph. Van TiEGHEM. — Traitáde Botamque. Paris, i884.
Ph. Yan Tieghem.^ — ArmaleB des Sciences Naiurdles^-Bth
taniqmy Paris. (7* serie, 1885).
Dr. H. ScHACHT. — Les arbreSy étuÃes sur kur structure et
' leur végéíatim (traduit d'après la 2* édition al-
lemande par E. Morren). Bruxelles, 1862.
J. Sachs. — Traité de Botamque (traduit de iallemand sor
la 3* édition et annoté par Ph. Van Tieghem).
Paris, 1874.
A. Mathieu. — Flore Forestière (3' édition). Paris, 1877.
P. DuGHARTRE. — Éléments de Botamque (3* édition). Paris,
1885.
L. Grandeau. — Annales de la Science Agronomique Fratir
çaise et Étrangère. Paris, 1884-1885.
L. Grandeau. — Annales de la Station Agroviomique de PEst.
Paris, 1878.
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quelques familles de Dicotylédones. Genève, 1879.
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Carlos. A. de Sousa Pimentel. — Mgumas observações so-
bre a formação do cerne na floresta nacional de
Leiria. Alcobaça, 1884.
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WcBTZ. — Dictionnaire de chimie puré et appliquée. Paris.
M. WiLLKOMM & J. Lange. — Prodromus flora£ hispanicae.
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F. A. Brotero. — Compendio de Botânica. Paris, 1788.
Dr. Juuo a. Henriques. — Terminologia botânica. Coimbra,
1885.
k..^-.^
UYRO II
Climatologia Florestal
1.*— INFLUENCIA DO OUHA NA DISTRIBUIÇÃO
DAS ESSÊNCIAS FLORESTAES
Os phenomenos meteorológicos, considerados em pontos
diversos do globo, apresentam grandes variantes, e a cada
uma d ellas* correspondem manifestações deseguaes da vida
animal e vegetal.
Todas as plantas verdes necessitam calor, luz e hmni-
dade, para poderem viver, mas cada espécie tem, a este
respeito, exigências particulares, em harmonia com o seu
organismo. O Larix Europaea supporta, na Sibéria, tempe-
raturas de — 35*^ e — 40''cent., emquantoa Tremellareticu-
lata vive, em França, na agua da fonte tbermal de Dax, a
+ 49** cent. Os pinbeiros, ávidos de luz, softfem e ames-
qmnham-se quando a não encontram com abundância, em-
quanto á sombra da floresta tropical, cuja folhagem espessa
a luz só pode atravessar depois de reflectida muitas vezes,
se desenvolvem innumeros vegetaes, apropriados a essa
dúbia claridade. Nos sitios mais áridos e mais seccos pros-
peram varias plantas gordas» emquanto as margens dos
cursos d'agua, e os terrenos pantanosos, teem a sua flora
especial, característica.
Cada espécie vegetal precisa p^ra o seu desenvolvimento
mais completo uma determinada somma de calor^ luz e
190
*
humidade; onde encontra as condiçOes exigidas adquire
esse maior desenvolvimento; onde acha condições próxi-
mas, oscillando para mais ou para menos em redor d'aquel-
les graus mais favoráveis, vive ainda, mas patenteanda já
menos vigor ; finalmente, quando a variabilidade do meio
excede certos limites, a vida toma-se-lhe impossivel—
Âs difierentes espécies apresentam resistências muito di-
versas a estas oscilIaçQes climatéricas: umas toleram-as
muito consideráveis, emquanto as outras só as consentem
muito reduzidas ; as primeiras occupam no globo, é claro,
zonas de habitação muito mais extensas do que as segun-
das.
Esta harmonia entre as condições do meio e as formas
especificas, que n'elle se desenvolvem, é tão grande, qae
um dado clima pode ser definido pela simples enumera-
ção das espécies, que o habitam.
E não só a vida de cada espécie depende do clima, como
d'elle depende cada um dos períodos da vegetação : a ger-
minação, o crescimento axíl e foliaceo, a florescência e a
fhictificação, precisam quantidades differentes de calor, Inz
e humidade. D'aqui a razão porque, em alguns pontos, po-
dem germinar as sementes de determinadas espécies, e as
plantas desenvolver-se, mas sem nunca florirem, como n'oa-
tros pontos, conseguem já florir, mas sem poderem ainda
fructÍBcar.
A repartição dos phenomenos meteorológicos durante o
anuo constituindo as estações — isto é, a distribuição an-
nual do calor e das chuvas, a duração dos dias e das noites,
etc. — é que tem a principal influencia na distribuição dos
vegetaes; muitíssimo maior do que a intensidade média
d'aquelles phenomenos durante o anuo. Citaremos apenas
alguns exemplos com respeito á acção do comprimento dos
dias : a rosa dos Alpes, na occasião em que lhe appare-
cem os botões, precisa encontrar dias, p4o menos, de
{4 horas; se a transplantarem, ainda que lhe dêem o ca^
■I" ■ '
i9t
lor saiBciente, ii3o se desenvolve, nos pontos onde não en-
contre aquella insolação. Segando Kemer, o pinheiro, para
Tegetar bem, necessita, quando forma os rebentos, mna
sofflma de 373 graus caloríficos e dias, pelos menos, de
14 horas, etc.
Uma das influencias climatéricas a que muito importa
attender no estudo da distribuição das espécies é a dura-
ção, em cada logar, do jperiodo da actividade vegetativa :
isto é, do período durante o qual a planta se desenvolve,
cresce, elabora princípios nutritivos, forma os seus órgãos,
em opposição a esse outro periodo em que a escassez do
calor ou da humidade, obríga as cellulas ao repouso tem-
porário, provocando uma paragem na vegetação.
Condições climatéricas necessárias para a vida das ar-
vores.— As espécies lenhosas — arvores e arbustos — oc-
copam no globo áreas mais restrictas do que as espécies
herbáceas; esta diminuição no twbitat provém das suas
maiores exigências climatéricas, em virtude da maior com-
plicação dos seus organismos.
Comparemos, a este propósito, uma arvore e uma planta
herbácea. A arvore tem de constituir massas muito mais
avultadas de tecidos, para engrossar e crescer o tronco e
os ramos, que lhe hão de servir de supporte ás folhas e
flores; tem de lenhifazer um grande numero de membra-
nas cellolares, para lhes dar a necessária rigidez e permea-
bilidade; tem de regenerar constantemente as camadas
eorticaes» que vão sendo destruídas á superficie, e onde
as camadas vivas internas precisam encontrar abrígo ; tem
de dar uma grande mobilidade aos princípios immediatos
fabricados nas folhas, transportando-os até ás ultimas rai;
zes, atravez o tronco, ás vezes de grandes proporções,
como tem de levar aos mais altos raminhos a agua e os
princípios míneraes do terreno ; como as plantas herbáceas
vivazes, a arvore tem de preencher as suas reservas nutri-
tivas, que lhe hão de dar o primeiro desenvolvimento aos
botões ; tem de formar os rebentos e, como a planta her-
bácea, tem de constituir as flores e os fnictos.
Assim as arvores necessitam, para viver, períodos ve-
getativos que não podem baixar de certos líniites, e dentro
dos quaes ainda se desenvolvem algumas espécies de porte,
reduzido. Segundo estudos feitos na Laponia Scandinavia
aquelle limite minímo parece ser de 3 mezes. Onde o clima
não imprimir uma actividade mais duradoura á vegetação,
n3o existem arvores ; quer essa diminuição seja motivada
pelo rebaixamento da temperatura, como acontece na zona
polar, quer seja devida á falta de humidade, como na zona
dos steppes, que se estende do sudoeste da Europa ao in-
terior da Ásia.
Independentemente d'esta duraç5o do período vegeta-
tivo, as arvores precisam encontrar temperaturas d^estio
mais elevadas do que as das zonas polar e alpina ; na sa-
bida de uma montanha bastante alta, á medida que a tem-
peratura decresce, diminuem também as dimensões dos
vegetaes : as arvores não passam de certa altura, os ar-
bustos chegam mais acima, cada vez mais acanhados, mais
rasteiros, e a ultima vegetação, que se encontra, é herbá-
cea. A resistência das arvores ao frio do inverno varia ex-
traordinariamente com as espécies ; emquanto algumas sup-
portam temperaturas, que solidificam o mercúrio, outras
gelam aos menores frios e são por elles destruídas.
Com um período vegetativo adequado e com a temperatura
conveniente^ as arvores precisam ainda encontrar grandes
massas de agua. Segundo as experiências de Halles a quan-
tidade de agua necessária a um vegetal durante 24 horas é
egual a metade do peso da planta inteira. Já dissemos que
na zona dos steppes as arvores não podem viver pelo excesso
de seccura, que restrmge muito o período vegetativo; se a
tamareira (Phoenix da^tyliferaj L.J vive no clima tão secco
do deserto, é porque encontra a certa profundidade do solo
arenoso agua, onde as suas raizes vão abastecer-se.
i93
Variações climatéricas produzidas pela latitude. — Como
sabemos, a irradiação solar actua tanto menos intensa, tanto
mais obliqua, quanto maior a latitude; como sabemos, a
inclinação do eixo de rotação terrestre tornando a ecliptica
obliqua em relação ao plano do equador, e a forma da orbita
descripta pela terra, fazem variar, também com a latitude,
o comprimento dos dias e das noites e originam as diffe-
renças annuaes de irradiação, que constituem, para cada
logar, as estações. Estas dififerenças, entre o comprimento
dos dias e entre as estações, são tanto mais pronunciadas
quanto mais próximo do polo estiver o ponto considerado.
Com a desegual distribuição da temperatura sobre o globo
prende-se a desegual distribuição da humidade, prende-se
o ti*açado das grandes correntes aéreas, que tamanha in-
ihiencia exercem nas chuvas, como se prendem ainda as
correntes oceânicas principaes, que muitas d'ellas vão cor-
rigir as indicações da latitude, nos paizes onde passam pró-
ximas.
A diminuição da temperatura média annual correspon-
dente ao augmento da latitude, no hemispherio boreal,
Tê-se representada na tabeliã seguinte :
Gnas d« Utitado norte Temperatura média animal
75». . ." » — 8»,77 cent.
70» — 5»,29
60».. ; — 1»,01
50» + 5^37
W... +13»,55
30». . , + 20»,93
20» +25»,b2
O» +26»,47
As (Merenças entre as temperaturas médias das quatro
estações, para as mesmas latitudes, sSo :
&(. 13
194
eRAVS MÉDIA MÉDIA MÉDIA MÉUli
Dl LAT. IfORTB DB INTIRNO Dl niMATMA Dl I8TI0 Dl OBTOM)
• (Dex.,JanelrOy (Março, abril, (Janho, Jalho, (8«t., ontabro,
fevereiro) maio) agosto) novembro)
750 _22«,06 — 10«,14 + 5«,66 — 8»,70
70» — 19<»,41 — 60,28 + 90,12 — 40,57
600 —140,29 — 10,62 +110,87 — 0»,43
500 _ 50^62 + 40,83 +160,08 + ô^iO
400 + 50^46 4.120,30 +220,95 +140.6I
300 +150,20 4 200,28 +250,95 +220,39
200 +220,16 +250,70 +270,49' +25»,91
00 +26»,37 +270,04 +260,16 +260,25
Estas differenças, como se vê, são tanto mais accentua-
das, quanto maior o afastamento do equador.
O numero dos dias do período vegetativo multiplicado
pela temperatura média observada durante esse periodo
dá, segundo Haberlandt, os seguintes valores, nas latitudes
referidas :
Qrioi de latitude norte Sonuna de oalor
' n\ 544»,50
70» 97r,40
60» 1507*,95
50» 2522»,46
40» 4966» ,25
30»... 7650»,00
20» 9253»,75
O» 9663»,37 ■
Durante o periodo yegetativo, qo paraUelo 75 as plantas
recebem pois uma quantidade de calor dezoito vezes menor,
do que recebem na zona equatorial.
Os dias e as noites, eguaes no equador, t3o desegaalando
sempre á medida que se consideram pontos mais afastados.
Eis as dimensões dos maiores dias e das menores noites
a differentes latitudes:
r
195
6mi d« latltud* aorta Dnraçlo do dl» mAlor Dnraçlo d« nolto monor
Polo norte 180 vezes 24 horas O
60P 134 vezes 24 horas O
10^ 6 vezes 24 horas O
600 _ _ 18\30' 5N30' •
SOO 16\ 9' • . . . 7\51'
400 l^hsj/ _ gh^ 9/
300 13\56'. 10\ 4'
20^ 12\35'. ? 11\25'
00 12^ 12»»
Mas não é só a duração do período luminoso que varia
com a latitude, varia egualmente a intensidade do calor e
da luz. Ao primeiro já nos referimos; quanto á segunda,
sappondo o poder luminoso do sol egual a 1 :000, a super-
fide do solo no equador, segundo, Haberlandt, recebe 378
unidades luminosas, sob 45 graus de latitude norte 228, e
na região polar apenas 110.
A humidade absoluta e as chuvas dimmuem do equa-
dor para os poios. Com propósito á quantidade da chuva
annoal pode o nosso hemispherio dividir-se nas quatro gran-
des zonas seguintes :
Quaatldado média aanaal de chuT»
00 a 250 latitude norte 2"'»
250a 400 jinj
400 a 500 0"',75
•500a600... 0»»,60
Considerando a chuva não sob o ponto de vista da in-
tensidade, mas da frequência, notam-se três zonas princi-
paes, que ainda podem sofiOrer novas sub-divisões:
—Uma zona de chuvas periodicaSy abrangendo proxima-
mente o espaço comprehendido entre 30 graus de latitude
norte e 30 graus de latitude sul ; esta zona ainda se subdi-
vide em três : na mais interna, que vae de 3 graus de latí-
13*
196
tade norte a 3 graus de latitude sul, chove todos os mezes,
e quasi todos os dias depois do meio dia; na intermédia,
comprehendida, n'uni e outro hemispherio, de 3 grãos até
10, ou 15, chove duas vezes por dia, interrompendo-se a
chuva quando o sol está no zenith; na terceira, mais externa,
chove uma só vez por dia.
— Uma zona sem chuvas, muito irregular no seu contor-
no, que abrange o grande deserto do Sahara, as proximi-
dades do Nilo, extensas regiões na Arábia, o delta do Indo,
o plan'alto do Thibet, etc.
— Uma zona de chuvas variáveis onde, com mais ou me-
nos rigor, se podem fazer ainda três sub-divisões, conside-
rando: uma zona sub-tropical, de 25 graus a 40, ou 50, de
latitude norte e sul, onde não ha chuvas no estio, mas sim
nas outras três estações ; uma zona, de 40 graus a 60, de
latitude norte e sul, onde chove em todas as estações; e
jQnalmente uma zona circumpolar, de 60 graus a 90, norte
e sul, com invernos quasi sem chuva.
Haberlandt caracterisa os principaes climas do hemis-
pherio boreal pela sua vegetação peculiar do seguinte modo:
«
Zona polar (de 90^ a 72°) — Caracterisada pelas plantas al-
pestres, lichens e musgos.
Zona artica (de 72° a 66°) — Caracterisada pelas pastagens,
arbustos e vidoeiros.
Zona sub-artica (de 66° a 58°) — Região das Coníferas, vi-
doeiros e salgueiros.
Zona temperada fria (de 58° a 45°) — Caracterisada pelas
fayas, carvalhos, prados e cereaes.
Zona temperada mais quente (de 45° a 34°) — Caracterisada
pelas arvores de folha persistente, e pela cultura da
vinha, da oliveira e do milho.
Zona sub-tropical (de 34° a 23°) — Caracterisada pela murta,
loureiro, Umoeiro, laranjeira, algodoeiro, canna de as-
sucar e arvore do cha.
r
197
Zona tropical (de 23** a 15°) — Caracterisada pelas figuei-
ras (Ficus), fetos arbóreos, palmeiras, canna de as-
sacar e cafeeiro.
Zona equatorial (de 15° latitude norte a 15° latitude sul) —
Caracterisada pelas palmeiras e bananeiras.
Cansas que podem alterar as indicações climatéricas de-
dondas da latitude. — Nao deve esquecer que, muito em-
bora seja de grande importância a acção da latitude, mui-
tas outras causas importa ter em vista na determinação do
clima de um dado logar ; * essas causas podem contrariar
completamente aquella influencia. As principaes são, como
sabemos, a altitude, a proximidade ou o afastamento do mar,
o traçado das correntes oceânicas, afora muitas outras, taes
c(Mno a exposição, etc.
Com o augmento da altitude a temperatura atmospherica
decresce, por causa da maior rarefacção do ar; debaixo d'es-
te ponto de vista subir uma montanha equivale a caminhar
para o polo, muito embora o motivo do resfriamento seja
diverso nos dois casos; Charles Martin calculou que, na
França, 81™,81 de ascensão vertical equivalem, climaterica-
mente, ao avanço de um grau para o norte, na planície. Em
contraposição, e pela mesma causa, a luz torna-se mais in-
tensa nas montanhas. Às nuvens, os nevoeiros e as chuvas
sao ahi mais frequentes.
A proximidade do mar regularisa a temperatura, tor-
nando-a mais constante, augmenta a humidade atmospherica
e as chuvas na intensidade e na frequência; representando
por 1 a quantidade da chuva caida annuabnenté em S. Pe-
tersbourgo, será 1 ,2 a que cae nas planícies da Allemanha»
t,4 a chuva do interior da Inglaterra, 2,1 a que recebe o
iittoral da Mancha. É tão pronunciada esta influencia da
proximidade do mar que permitte a divisão dos cUmas em
dois grupos — maritimos e continentais.
Quanto á acção das correntes oceânicas recordal-a-hemos
198
de certo bem evidentemente com este exemplo nntco: um
braço do Gulf-stream, que passa nas proximidades de Por-
tugal, largando mna parte do calor que traz de regiões mais
quentes, eleva a temperatura média de Lisboa a 16° ,5 cent.
emquanto a temperatura média da Yirginia, no mesmo parai-
leio, é apenas de 13^,3.
Regiões florestaes da Europa. — Gomo já dissemos, na zona
polar nao podem existir arvores; a temperatura é muito
baixa e o período vegetativo tão curto que, no Spitzberg,
as plantas apenas ieem seis semanas, ou quando muito dois
mezes, para florir e fructificar.
A flora é ahi muito pobre e encerra um numero relativa-
mente grande de cryptogamicas- cellulares — lichens e mus-
gos. As phanerogamicas slo, pela maior parte, herbáceas
vivazes, com o systema subterrâneo muito desenvolvido e
com os eixos aéreos, em proporção, muito curtos, o que
, lhes dá um aspecto característico, porque as folhas juntam-
se tanto, pela pequenez dos entre-nós, que parecem dispostas
em roseta. São muito poucas as plantas annuaes. Encontram-
se alguns arbustos, mas de porte muito acanhado: salguei-
ros cujos rebentos deitados ao longo do solo pouco sobre-
saem por entre as massas dos musgos e lichens, tendo,
o máximo, O,"* 12 de comprimento. Os rebentos do Salix
pdaris não excedem O,™ 013; desenvolvem só duas folhas
e um amentilho. O Vacdnium uliginosum, em muitas partes,
apenas se eleva O,™ 02 acima do terreno.
As regiões alpinas das montanhas do globo, embora apre-
sentem bastantes difierenças climatológicas com a zona polar,
teem com ella muitas semelhanças e por isso floras muito
análogas: eguahnente caracterisadas pela pobreza especi-
fica, pela falta de arvores, pela presença de pequenos ar-
bustos e de plantas herbáceas vivazes com o systema sub-
terrâneo muito desenvolvido em relação ao systema aéreo,
pela diminuição das plantas annuaes, e pelo augmento nu-
mérico das espécies de lichens e musgos.
i99
A solidão polar septentrional está envolvida por uma larga
cintura de florestas, n'um e n'outro continente. Este revesti-
mento florestal, na Europa, abrangeu a parte mais consi-
derável da sua superficie, em épocas anteriores á nossa.
Segundo Júlio César e outros historiadores romanos a Al-
lemanha era coberta de immensos bosques, como o eram
as Gallias, a Grécia no dizer de Heredoto e Thucydides, a
Mia, as Hespanhas, etc. Strabão aílirma que no tempo de
Cartbago e de Roma a península hispânica tinha grandes
matas, e Diodoro conta d'um grande incêndio que lhe de-
vastou arvoredos n'uma extensão enorme. As florestas euro-
peas d^essa época deviam oflferecer aos soldados romanos
o mesmo aspecto grandioso e primitivo, que hoje os arvo-
redos da Sibéria, e da parte septentrional da America do
Norte, onde se conserva ainda intacta a espontaneidade da
vegetação, apresentam aos caçadores que as percorrem em
procura das pelles valiosas dos animaes bravios.
Foi a necessidade de alargar a cultura, que destruio uma
grande parte doestas florestas, associada esta necessidade
infelizmente, ás vezes, ao desejo immoderado, e impensado,
de realisar os valores accumulados por tantos annos, e que
derrubando as arvores, em pontos nem sempre apropriados
à agricultura, veiu provocar modificações no clima e sobre-
tudo no relevo do terreno e no. regimen das aguas, bas-
tante prejudiciaes em algumas localidades.
Na Europa o revestimento florestal espontâneo apresenta
duas zonas bem distinctas : uma septentrional, com dimen-
sões muito maiores, outra mais reduzida, meridional, col-
locada nas proximidades do Mediterrâneo.
A primeira essência folhosa, que apparece no extremo
norte, é o vidoeiro (BetulaJ, associada ao depois com as
resinosas dos géneros AbieSj Larix e Pinus. N*uma faxa
inferior encontram-se, simultaneamente com estas espé-
cies, a faya (Fagus silvatica, h.J e o roble (Querem pe-
duncukua, Ehrh.^. Ás vezes estas espécies reunem-se no
200
mesmo massiço, mas muitas outras vezes cada essência
forma grapos exclusivos consideráveis, como vários arbustos
(nos géneros CaMuna, Eriça, etc.) se apresentam egual-
mente sociáveis cobrindo sosinhos grandes extensões.
Todas as essências florestaes predominantes n'esta zona
sao de typo floral incompleto: achlamydeas ou monochla-
inydeas, e uni-sexuaes; todas teem as flores pequenas, ag-
glomeradas, e todas florescem na primavera. As Angiosper-
mas sao todas de folhas caducas ; as espécies sempre-yerdes
s3o Gymnospermas cujas folhas pouco aquosas, rígidas, com
pequenas superficies, teem organisação apropriada a resis-
tir aos grandes frios.
As diflferenças de temperatura e humidade do período
activo da vegetação ao período do repouso exercem uma
acção destructiva sobre os tecidos vegetaes, tanto mais
considerável quanto maiores aquellas difíerenças; alteram-
se as condições de tensão, de turgidez cellular, e actaam
por isso forças que provocam a desorganisação do conjun-
cto. N'esta zona septentrional, onde as differenças das es-
tações, como dissemos, são tão accentuadas, as Gymnosper-
mas resistem pela sua organisação particular, e as Angios-
permas, de folhas brandas e mais aquosas, no inverno des-
pem-se todas, conservando apenas na parte aérea os troncos
e os botões; a lenhiflcação preserva os primeiros; os invó-
lucros escamosos, e as secreções gommosas e resinosas,
salvam os segundos.
A zona mediterrânea, no sul da Europa, é caracterisada
pela maior elevação de temperatura e pela falta de chuvas
estivaes. A sua vegetação predominante é constituída por
arbustos e arvores sempre-verdes: taes os carvalhos de
folhas perennes — o sobreiro, a azinheira e o carrasqueiro;
taes a oliveira, a murta, o aderno (Phillyrea), a aroeira,
o trovisco, a cássia branca (Osyris), etc. O pinheiro manso
dá um aspecto particular ás suas paizagens, bem como um
grande numero de plantas exóticas, perfeitamente naturali-
r
201
sadas, e algumas sub-espontaneas mesmo — a alfarrobeira, a
figaeira da índia (Opuntia), a piteira (Agaive), a laranjeira»
o limoeiro, etc. A familia tropical destaca já n'esta zona
mediterrânea um dos seus representantes, uma palmeira,
embora de modestas proporções: a palmeira anS ou das
Tjssouras (Chamaerops hwniliSy L.J, da mesma forma que na
região polar apparecem os arbustos além do limite norte
das arvores.
N3o é ao frio, mas sim á evaporação forte estival, que
teem de resistir as arvores e arbustos n'esta zona. As folhas
persistentes das espécies indigenas predominantes s3o per-
feitamente adequadas a esse fim ; teem, é certo, maior super-
ficie do que as folhas das resinosas, mas os seus tecidos
s3o pouco aquosos, teem grande cohesao, apresentam as
paredes das cellulas constituintes reforçadas com substan-
cias incrustantes, o que as toma seccas e flexiyeis como
coiro n'umas espécies, ou rígidas e quebradiças como per-
gaminho, n'outras. Todas estas espécies teem menor trans-
piração do que as de folhas caducas.
Quando uma planta emitte maior quantidade d'agua, por
transpiração foliacea, do que recebe pelas radiculas, as cel-
hdas das folhas perdem a turgidez e, quando os tecidos
sio tenros, delicados, aquosos, dão-se pregas e rupturas,
que lhes vem apressar a morte. A arvore, cujas raizes
descem mais fundo, resiste mais á secca do que o arbusto,
e este mais do que a planta herbácea ; porém de um certo
tenno por diante, quando se realisem aquellas condições
de organisação, a morte é fatal e mdependente do porte
do individuo. Mas, se as folhas, em vez de serem tenras,
aqaosas,' são coriaceas, seccas, e as paredes cellulares dos
seos tecidos são incrustadas como dissemos acima, o ve-
getal poderá resistir: as cellulas, que deUmitam os estomas,
perdendo a turgidez, quando a transpiração augmenta, cer-
ram mais a abertura estomatíca; as cellulas internas, de
paredes espessas, resistem bem ao desequilíbrio de tensão
202
que soSreram ; atravez a epiderme tão reforçada os líquidos
interiores nao podem evaporar-se; a arvore ou o arbusto
cae ii'um periodo de repouso vegetativo motivado peia falta
de agua : tem as suas funcções nutritivas paralysadas, mas
nem as folhas morrem, nem o individuo a que pertencem.
Se a este excesso de seccura estival succeder um oulo;io
húmido e com a temperatura ainda relativamente elevada,
o que é vulgar n'esta zona, a vegetação desperta de novo,
e a arvore ou o arbusto reviça uma segunda vez no anno.
Se as Angiospermas de folhas perennes teem uma orga-
nisação tão apropriada a resistirem aos períodos de maior
secca, em contraposição resentem-se bastante com os frios.
É certo que os rhododendrons e outras Ericaceas sempre
verdes se encontram nas montanhas a grandes altitudes;
mas, ahi, se conseguem vencer os invernos é pelo abrigo
que lhes traz o manto de neve, onde ficam sepultadas» e
pelas secreções resinosas próprias a esses arbustos.
Na zona seplentrional o periodo de maior actividade da
vegetação coincide com o máximo calor, com o estio, por
isso que as chuvas se dividem por todas as estações; já
não acontece o mesmo na zona sul do Mediterrâneo: aqui
a primavera é de ordinário a época de. maior trabalho ve-
getativo, porque no estio a falta de humidade o restringe,
ou mesmo o suspende, como dissemos, revivendo de novo
no outono.
 falta das chuvas, verdadeiramente só abundantes no
inverno, e o calor temperado, com as médias hibernaes
pouco baixas, dão o cunho climatérico doesta zona meridio-
nal da Europa, como o excesso dos frios do inverno e a
abundância das chuvas em todas as estações caracterisam
a outra zona do norte. D'aqui o motivo porque os hydro-
meteoros teem tamanha importância para a agricultura da
região mediterrânea ; d'aqui o motivo porque a Europa cen-
tral e boreal explora em tamanha escala as plantas herbá-
ceas, as pastagens e os cereaes praganosos, emquanto,
203
junto ao Mediterrâneo, tomam a primazia as culturas arbus-
tivas e arbóreas — a vinha, a oliveira e o sobreiro.
A distribuicSo das espécies florestaes espontâneas apre-
senta, muitas vezes, na região mediterrânea, a forma so-
davel que já niotámos nos arvoredos da região septentrio-
nal, e o mesmo acontece a algumas das espécies arbusti-
vas e sub-arbustivas, que povoam as charnecas e o solo das
matas. As urzes cobrem também vastos tractos de terreno,
qoasi com exclusão de outra qualquer espécie, mas os ma-
tos d'esta zona meridional apresentam muitos arbustos que
lhes são próprios: a par do medronheiro, do trovisco, das
Papilionaceas da tribu das Gmisteas, das Labiadas aromá-
ticas, predominam muitas Gistineas, algumas de porte ele-
vado, notáveis pela grandeza das flores, e pela abundância
das secreções ladaniferas.
Qnasi todas as Angiospermas sempre-verdes mediterrâ-
neas teem a folhagem de cor viva e lustrosa, o que indica
nm grande numero de grânulos de chlorophylla, e a possi-
bilidade de crearem princípios immediatos em abundância.
A laranjeira, por exemplo, hoje perfeitamente naturaUsada
n'esta zona, produziria sem interrupção flores e fructos, se
encontrasse todo o anuo a humidade necessária para isso.
. Tanto a zona septentrional como a zona mediterrânea
teem essências folhosas e resinosas : n'uma e outra a dis-
tribuição dos arvoredos de cada um dos dois grupos pren-
desse tanto, ou mais, com a composição do solo, do que
com as variações dos phenomenos meteorológicos ; onde a
terra vegetal é pouco profunda, ou muito solta e arenosa,
desenvolvem-se as Ck)niferas, emquanto as folhosas só appa-
recem constituindo massiço apertado e vigoroso sobre os
solos mais fundos e tomados mais plásticos pela argilla.
J(o angulo extremo sudeste da Europa começa uma ou-
tra região, que se estende pela Ásia n'uma grande super-
fiáe, despida de arvoredos, e conhecida com o nome de zcma
A» tkppes. Esta zona é notável pela temperatura elevada
204
dos seus estios sem chavas, e pelos fríos rigorosos dos in-
Ternos : o seu clima é o mesmo da zona mediterrânea, mas
tornado continental, sem ter a proximidade do mar a sua-
yisar-Ihe as temperaturas extremas. A falta de humidade
n'uma parte considerável do anno restringe-lhe o período
vegetativo apenas a três mezes, o máximo, duração esta
muito curta para a vida das arvores, como dissemos.
A vegetação, adaptada ás condições d'este novo meio, é
constituída por moitas arbustivas de pequeno porte; por
muitas plantas annuaes, que aproveitam apenas a época fa-
vorável em temperatura e humidaije ; e por innumeras plan-
tas bolbosas, cujas folhas procuram fabricar e armazenar
rapidamente, durante a estação propicia, os princípios im-
mediatos, nos seus espessos tecidos de reserva subterrâ-
neos.
As espécies arbustivas, ou são plantas gordas, que resis-
tem á fortissima evaporação estival^ jã pelo excesso de saes
de sódio que os seus líquidos contéem, jà pela organisação
particular da sua epiderme; ou apresentam-se protegidas
por eflflorescencias que as revestem exteriormente, ou por
pequenas escamas coriaceas, ou por numerosos pelios erri-
çados. N'estas moitas arbustivas encontram-se muitas for-
mas espinhosas, o que corresponde a uma diminuição nos
órgãos foliaceos, e portanto no consumo de agua. Algumas
espécies são ricas em óleos essenciaes, que se evaporam
com maior facilidade do que a agua, e produzem um res-
friamento na atmosphera, em volta da planta, pela sua pas-
sagem do estado liquido ao de vapor, mitigando assim a
temperatura e a transpiração. No interior do steppe existe
uma única essência arborescente e essa mesma é quasi
aphylla.
Á medida que, a partir da região polar, a temperatura
augmenta, o numero das espécies vegetaes também au-
gmenta ; o Spitzberg tem uma flora constituída apenas por
r
205
107 phanerogamicas, emquanto a Sibéria, n'uma extensão
qoasi eguaU possue 1:288; a Scandinavia e a Dinamarca
reunidas teem i:677, e a Allemanha 3:368; em Nápoles en«
contram-se 3:130 phanerogamicas, e na Zelândia, em ex-
tensão quasi idêntica, só 400; a França ca Córsega teem
3:600 espécies n'mna superfície próxima á da Suécia, onde
apenas se encontram 1:160 ^
Às formas lenhosas também augmentam numericamente
do polo para o equador. Na Laponia o numero das espé-
cies acotyledoneas entra por mais de metade na flora local
e o numero das espécies arbóreas é apenas j^; este nu-
mero já sobe na França, proximamente, a ~ e na Guyanna
a -. Muitos géneros que sao herbáceos no norte apresen-
tam espécies lenhosas no sul, e ás vezes a mesma espécie,
lenhosa no sul, adquire menor porte e torna-se herbácea
n'nma latitude mais alta, como dissemos a propósito do ri*
cino.
É assim que a região tropical é notável pela grande ri-
queza e vigor da sua vegetação. Ahi as arvores sempre-
verdes formam massiço apertado, cuja folhagem espessa
d3o consente a passagem directa dos raios solares; mas
este massiço é constituido sempre por espécies diflferentes,
não tem a uniformidade com que, muitas vezes, se apre-
senta no norte. Grandes trepadeiras lenhosas abraçam as
arvores e as ligam entre si ; as acotyledoneas cellulares es-
casseiam e as acotyledoneas vasculares tomam portes ar-
bustivos; os troncos derrubados e as rochas cobrem-se, não
de lichens e musgos como na floresta septentrional, mas
de Fetos trepadores, de Aroideas, BromeUaceas, Orchideas
1 Todos estes Dumeros sSo simples aproximações, mas que^ mostram
ttm bastante evidencia a lei enunciada; sfto extrahidos do livro do sr.
I G. Baker, adiante citado.
206
e outras monocotyledoneas epipbytas. As monocotyledoneas
de grandes dimensões, tão sensíveis ao frio por isso qae a
perda do rebento terminal lhes traz a perda do tronco não
ramificado, encontram ahi todas as condições necessárias á
sua vida.
Na carta seguinte vêem-se traçadas as zonas de vegeta-
ção européas, que descrevemos. Esta carta é extrahída da
carta geral das zonas de vegetação do globo, segundo À.
Grisebach, a cujo notabilissimo trabalho nos soccorremos,
principalmente, n'esta parte.
,
F-i
207
2.*— CLIMAS FLORESTAES DE PORTUGAIi
Portugal está situado entre o parallelo 37"" e 42^ de la-
titade norte. Na classificação de Haberlandt, que apresen-
támos, fica portanto comprehendido na zona temperada mais
quente, caracterisada pelas arvores de folha perenne, pela
eoltora da oliveira, da vinha e do milho. Na carta de Gri-
sebach, Portugal está incluído na zona de vegetação medi-
terrânea, a qual em toda a península apenas não abrange
Qffla estreita faxa septentrional.
Um estudo mais detalhado do nosso paiz mostra, com
evidencia, que n'elle existem bem accentuadas duas regiões
climatéricas principaes: uma ao sul» onde o terreno apre-
senta poucos accidentes, onde a atmosphera é quente e
secca, onde no estio as chuvas são minimas e a evaporação
é máxima, onde o clima é genuinamente mediterrâneo; dois
carvalhos de folhas perennes e coriaceas — o sobreiro e a
azinheira — dominantes no revestimento florestal espontâ-
neo d'esta região, podem servir bem para a caracterisar.
Ao norte do paiz o terreno, muito montanhoso, eleva-se a
grandes altitudes; os pontos culminantes chegam a 1:000,
1:500 e quasi 2:000 metros sobre o mar (o terço, ou os
dois terços do limite das neves perpetuas na península), e
os pontos mais baixos, a não ser no Uttoral, cotam alturas
superiores todas a 200 metros. Ahi a acção combinada da
latitade e da altitude . toma o clima menos quente, e as
montanhas, verdadeiros condensadores da agua atmosphe-
rica, dão-lhe hqmidade e chuvas mais abundantes ' ; ahi o
1 Gomo sabemos, esta ãcçSo condensadora explica-se da seguinte fór-
na: o ar resMa-se quando sobe ao longo da montanha por duas can-
ns— porqae serarefaz com a diminuição da pressão e porque, na as-
ceosSo Tertical, é compellido contra as vertentes e ao chegar ao cume
dislende-se de repente, dando-se i^producçSo de trabalho e uma ab-
208
clima já não é tão rigorosamente mediterrâneo, quasi deve
ser antes considerado como transição da zona mediterrânea
para a zona florestal do norte; já são os carvalhos de fo-
lha caduca e membranosa — o roble, o carvalho negral e
o carvalho portuguez — que principalmente o caracterisam.
Segundo os interessantíssimos estudos climaterico-flores-
taes do sr. Bernardino Barros Gomes, que em toda esta
parte não faremos senão resumir, a linha divisória d^aquel-
les dois climas principaes não se afasta muito da linha do
curso do Tejo portuguez; a região do norte comprehende
5.200:000 hectares e a do sul 3.760:000. Sob a acção de
um clima mais propicio a agricultura e a população desen*
volvem-se muito na região do norte, comparativamente á do
sul: emquanto a primeira possue 3.300:000 habitantes, a
segunda apenas contém 650:000.
Como vimos, os carvalhos (género Querem) representam
um papel tão preponderante na arborisação do paiz que fo-
ram tomados como característicos das duas zonas climate-
rico-florestaes. Para tornar bem evidente esta sua prepon-
derância, o sr. Barros Gomes lembra a extensão que elles
ainda hoje occupam, a sua tendência, em muitos pontos^ a
dominarem e invadirem os terreiK)s circumvisinhos, a sua
força de reproducção espontânea, e o facto de existirem no
território portuguez mais de 500 localidades, que derivam
os seus nomes das espécies de carvalhos indígenas.
Região norte, ou dos carvalhos de folha caduca. — O re-
levo orographico doesta região desde já deve indicar a va-
riedade grande dos seus climas locaes, pela variedade das
sorpçSo equivalente de calor roubado ao meio em volta; é este duplo
resfriamento que condensa uma parte do vapor aquoso na forma de nu-
vens ou de chuva. Chegada a corrente aérea ao cume da montanha pas-
sam-se phenomenos oppostos na descida : a chuva diminue entio e a
evaporação augmenta. É por este motivo que os nossos terrenos eis-
montanos sSo táo ricos de chuvas e humidade relativamente aos terre-
nos transmontanos visinhos.
r
209
suas aUitades e exposições; deve indicar temperaturas tanto
mais irregulares nas máximas e nas minimas quanto mais
afastadas do mar, chuvas mais intensas nas exposições eis-
montanas das proximidades do oceano, e menores nas re-
giões transmontanas mais internadas.
É assim que esta região do norte pode soíTrer uma pri-
meira sub-divisao, comprehendendo-se a um lado a zona
do littoral e a outro lado a zona do interior. O norte litto-
ral apresenta as médias de chuva mais abundantes do paiz,
I sendo as médias das chuvas de estio ainda bastante ele-
Yadas relativamente ás outras zonas; a proximidade do
1 mar loma-lhe a temperatura mais constante do que na zona
[ interna. A chuva decresce, n'esta zona norte littoral, á me-
dida qae caminhamos do seu extremo norte ao extremo
sal, e a temperatura, pelo inverso, augmenta. O sr. Barros
Gwnes sub-divide-a da seguinte forma :
1.* — Sub-região de Alemdouro littoral: comprehendendo
proximamente a provincia do Minho : o terreno de Alemdouro
desde o mar até ao Gerez e Marão. — É o ponto mais chu-
Toso do paiz; as suas médias de chuva annual excedem
muito as de todos os outros paizes da Europa; tem chuvas
de primavera também superiores ás dos outros paizes eu-
ropeus, e as chuvas estivaes são ainda relativamente abun-
dantes, apezar de se resentirem já da escassez caracterís-
tica, que teem na zona mediterrânea. A esta abundância
de chuvas corresponde o maior desenvolvimento agrícola
da provincia; nos climas quentes e seccos, como é o nosso
em geral, a distribuição dos hydro-meteoros, conforme muito
bem diz o sr. Barros Gomes, merece a primeira importân-
cia na classificação climatérica.
N'e$ta sub-região as médias mensaes de humidade relativa
úo de 70 a 100 7o; a média annual da chuva é de 1:200
a 2:000 millímetros, e a média das chuvas de verão é de
80 a 200 millimetros. As temperaturas médias são de 12^,
U*, 15® centígrados, segundo a altitude.
CS. 14
210
2.* — Stib-região da Beira littoral: limitrophe com a ante-
rior, comprehende a parte sub-plaoa da Beira mais próxima do
oceano, entre o Douro e o massiço de Porto de Moz, tendo
por limite a leste as montanhas do interior, proximamente
pela curva de nivel de 200 metros. N'esta sub-regiao, em
relação à anterior, a humidade e a chuva decrescem (a chuva
é inferior em mais de metade) e a temperatura augmenta.
 sua média mensal de humidade relativa é de 65 a 80
por cento. A média geral da chuva é de 700 a 1:200 mil-
limetros, e as chuvas de verão não são ainda muito infe-
riores ás do Minho; a média de temperatura annual é de
15^ a 16^
3.^^ — Subregião do Centro littoral: comprehende a faxa
costeira, limitada pela sub-região anterior e pelo Tejo até ao
Zêzere; as chuvas são já ahi mais diminutas, a evaporação
maior, a temperatura mais alta, sobretudo nos pontos ex-
postos ao vento do Âlemtejo. É caracterisada por médias
mensaes de humidade relativa de 60 a 85 por cento nas
vertentes mais bafejadas do mar (Lisboa), e 85 a 40 por
cento nas mais internadas e expostas ao Âlemtejo. A média
geral da chuva é de 800 a 700 millimetros; a média das
chuvas de verão é de 20 a 30 millimetros. A temperatura
média é de 15^, 15^,2 e 16^, conforme os pontos conside-
rados. A evaporação é 7 vezes mais forte nas margens do
Tejo do que nas do Mondego, como se comprova pelo es-
tudo da saUnação n'um e n'outro local.
Na zona norte do interior o sr. Barros Gomes considera
as seguintes sub-divisões :
1.' — Sub-região Transmontana: abrangendo todo o espa-
ço áquem e além Douro, comprehendido entre as serras do
Gerez e Marão e as serras ^e se estendem desde Lamego
até á Guarda, limitado ao norte e ao nascente pela Hespa-
nha. Este espaço, fechado aos ventos do mar pelas altas
montanhas, que o rodeiam, é bastante escasso de chuvas
em comparação do paiz de Alemdouro littoral com que con-
211
«
fioa; uma parte importante da humidade, trazida pelos ven-
tos mareiros, fiea condensada na região chuvosa cis-mon-
tana. A quantidade das chuvas totaes é inferior em meta-
de, ou ainda em menos, ás do Minho, mas esta differença
é sobretudo accentuada nas chuvas de inverno e de outono,
não é tão considerável nas de primavera, e é muito pe-
qaena nas chuvas de estio, o que explica ter esta sub-região
prados naturaes (lameiro^ de muito boa quaUdade, cujos
fenos podem rivaUsar com os fenos da Europa central no
valor nutritivo» como tivemos occasião de demonstrar.
As médias mensaes de humidade relativa, n'esta sub-re-
gião, sao de 40 a 100 o/o. As chuvas annuaes são de 1:000
miliimetros na Guarda e apenas de 500 miliimetros em Mon-
corvo; as chuvas estivaes são de 70 a 80 miliimetros. As
oscillações da temperatura são consideráveis: nas baixas,
no verão, o calor e a seccura são grandes, emquanto nos
pontos altos, no inverno, se encontra a neve em abundân-
cia.
i.^—Sub-região da Beira central: Confina com a Beira
transmontana e com a Beira littoral, tendo como limite sul as
comiadas da fistrella. Muito montanhosa e cotando altitudes
muito consideráveis, esta sub-região differença-se bem, cli-
materícamente fallando, da sub-região transmontana, pela
(Rientação das suas montanhas mais elevadas; está aberta
aos ventos do mar e abrigada do nascente pela mais alta cor-
dilheira do paiz, possuindo assim óptimas condições para a
predpitação dos vapores aquosos.
A Beira central, pelas razões expostas, tem mais chuvas
do que o paiz transmontano, embora este fique mais ao
norte. Na Beira central as médias mensaes de humidade
relativa são de 65 a 100 o/o; as chuvas annuaes medem de
700 a 1:200 miliimetros, sendo as chuvas de verão como
nas sub-regiões confinantes.
3.'— Stdhregião da^Beira meridional: Comprehendida en-
tre as comiadas da Estrella e o Tejo, e Umitada ao poente
14*
2i2
la sub-regi9o do Centro littoral ; Techada aos ventos do mar,
posta aos ventos seccos do Alemtejo, esta Taxa meridional
Beira apresenta-se, de toda a grande região ao norte do
jo, a mais secca e a mais escassa em chuvas de estio,
lis ainda que o paiz transmontauo, tendo temperaturas
idias, nos pontos de menor altitude, umpouco mais at-
k reg)3o climatérica ao norte do Tejo é representada Qo-
italmente, como dissemos, pelos carvalhos de folhas ca-
cas e memhranosas; são três as espécies predomínao-
;: o carvalho negral na zona montanhosa do interior, o
)le na zona do littoral, sobretudo na parte mais ao norte
lOs pontos cis-montanos de maior humidade, e o cana-
I portuguez no Centro littoral, e em algumas partes da
ia interna montanhosa, fazendo a transição para a regiio
sul do Tejo. Esta ultima espécie, peculiar á Península,
Argélia e ao Oriente, é intermédia nas exigências do
lio onde se desenvolve, respectivamente aos dois gra-
s de carvalhos — o de folhas perennes e o de folhas ca-
cas—como é também intermédia aos dois na organisa-
): como os primeiros, tem as folhas coriaceas, apropria-
s a corrigir os excessos da evaporação dos climas seccos;
no os segundos, tem-as caducas, embora não membraao-
i; para que a transição seja ainda mais pronunciada, a
eda das suas folhas é habitualmente mais tardia do que
roble e no carvalho negral; emquanlo estes dois oltJ-
)s se despem no outono, as folhas do carvalho portugnez
Larellecem no outono, ou no inverno, e sò no inverno oa
primavera seguinte se despegam da arvore.
[Jma outra essência florestal se desenvolve em muita
tmdancían'esta região do norte, e pode servir bem a cara-
risar alguns dos seus climas locaes — é o pinheiro bravo,
racterisa as snb-regiões de mais abundante humidade, por-
e exactamente a hiunidade atmospherica é uma das soas
gencias climatéricas tão saliente, que esta arvore não se
213
afasta mnito do mar, e esse habitat especial lhe grangeou
o nome de Pinus marítima com que Brotero o descrevea.
O pinheiro bravo caracterisa, pelos seus massiços conside-
ráveis, a zona littoral norte, e ainda a Beira central, que,
embora tão afastada do oceano como a região Transmon*
tana e a Beira meridional, tem muito maior humidade, pela
soa exposição aberta aos ventos mareiros, e pela orientação
das montanhas, que a rodeiam.
Duas outras essências se encontram ainda, com frequên-
cia, na região ao norte do Tejo — o castanheiro e a oli-
veira; mas a distribuição de uma e outra prende-se mais
eom factos agrologiços, como diremos adiante, do que com
factos climatéricos. O castanheiro encontra-se em toda a
zona montanhosa, indifferente á exposição eis ou transmon-
tana, e a oUveira tem sido levada pela cultura a quasi to-
das as regiões portuguezas.
O vidoeiro, por ultuno, é a arvore que caracterisa, entre
nós, as alturas elevadas ; encontra-se no Gerez, nos conce-
lhos de Melgaço e Arcos de Vai de Vez, no Marão e na Es-
trella, onde tem o limite sul.
Resumindo : os climas florestaes da região portugueza ao
norte do Tejo, no seu conjuncto, podem caracterisar-se pe-
los carvalhos de folhas caducas. Ao longo do littoral corre
mna faxa de maior humidade, que se prolonga, no inte-
rior, até á Beira central; esta zona, mais húmida e chu-
vosa, é caracterisada pelo pinheiro bravo.
Não deve todavia esquecer que a irregularidade das ex-
posições, das altitudes, dos mil accidentes do terreno» em
paiz tão montanhoso, vem alterar a cada passo, n'uma ex-
cepção local mais ou menos restricta, as indicações geraes,
que deixájmos esboçadas ; e, por isso, é commum encontrar
as espécies mais do sul misturadas com as predominantes.
Exactamente a grande variabiUdade climatérica é um dos
caracteristicos do paiz ao norte do Tejo.
limites da Tegetação arbórea impostos pela altitude. —
214
Calcalon o sr. Rivoli qne, na serra da Estrella, a tempera-
tura média decresce 0°,65 cent. por cada 100 metros de
elevação. Esta differença reparte-se do seguinte modo pe-
las quatro estações:
Inverno 0^,54 cent.
Primavera 0*^,72
Estio 0^,71
Outono 0^63
Segundo o mesmo auctor, e segundo o «Relatório da Sec-
ção de Rotanica da Expedição Scientiâca em 1881]^, apre-
sentado pelo sr. dr. Júlio A. Henriques, sabe-se que, n'esta
serra, até 400 metros de altura domina a flora mediterrâ-
nea, a qual, de 800 metros para cima, desapparece de todo.
A cultura do centeio termina a 1 :500 metros, e a esta al-
titude as arvores são já raríssimas; o castanheiro ponco
sobe de 900 metros ; o pinheiro manso tem-lhe ficado infe-
rior, e o pinheiro bravo pouco mais alto chega ; o carvalho
negral vae até 1:000 metros; o teixo vive a 1:500 metros;
o azevinho e o vidoeiro chegam a 1:800 metros. De 1:500
metros para cima as urzes (Eriça umbellatay L., E. arbó-
rea, L.y E, lasitanica, Rud., E. aragonensiSy Wk,, Calluna
vulgaris, Satísb.J formam matos arbustivos; a 1:700 metros
as urzes perdem a força e o zimbro toma a predominân-
cia, sendo a única planta arbustiva, que se encontra, de
1:750 a 1:858 metros. O zimbro adquire ahi um aspecto
característico, e um porte muito especial, ficando rasteiro
6 applicado contra a terra, em grandes tufos, com as fo-
lhas pequenas e conchegadas (Juniperus nanay W.) . D^aqnelle
limite para diante segue a flora alpina, caracterisada prin-
cipalmente pelas gramíneas curtas e rígidas, e pelas cry-
ptogamicas cellulares— Uchens e musgos.
Segundo o recente estudo do sr. dr. JuUo A. Henriques
215
acerca do Gerez ' sabe-se que, n'esta serra, mais arborísada
que a Estrella, até 900 metros, predomina o roble, o plá-
tano bastardo, o azereiro, o azevinho, o medronheiro e o
carvalho negral; o roble pouco passa de 1:000 metros, e
o canralho negral de 1:200 metros. Segue uma zona em
qae predomina a vegetação rasteira (urzes, Genista micran-
tka, etc), e onde as únicas arvores que se encontram são
o vidoeiro e o teixo; ambos param a 1:300 metros. De
1:400 metros para diante apparece o zimbro (Juniperus
nanãy W.J e alguns pequenos arbustos rasteiros. Como se
vê, na serra do Gerez, mais ao norte, os limites superiores
de qnasi todas as arvores são inferiores aos limites que
apresentam na Estrella.
Região sul, ou dos carvalhos de folha perenne. — Na parte
do paiz, que se estende ao sul do Tejo, as chuvas dimi-
nuem muito, comparativamente á região do norte, sobretudo
as chuvas d'estio, cujas médias oscillam entre 40™" e 20°**",
emquanto no Minho chegam a 70"" e 80"". Esta escas-
sez das chuvas estivaes é peculiar, como dissemos, a toda
a zona mediterrânea e portanto ao nosso paiz, que n'ella
está comprehendido : emquanto na Europa não mediterrâ-
nea as chuvas d'estio sobem a 25 e 35 por cento da chuva
total, não descendo as mais das vezes de 100"" a 200"",
em Portugal teem apenas valores comprehendidos entre 3 a
10 por cento. É nas nossas regiões d'Alemtejo que este fa-
cto mais se accentua, e que se encontram aquellas percen-
tagens minimas.
 essa falta mais considerável de chuvas de verão jun-
ta-se, no paiz ao sul do Tejo, a maior elevação de calor e
o estado de seccura da atmosphera, tomando muito activa
a evaporação. Emquanto no Porto a humidade relativa es-
tival apresentou a média de 72 por cento, (nos annos de
' Boletim da Sociedade Brotériana m. Fascículos d.*" e i.*" — 1884. —
Coimbra. 1885.
216
1867 a 1872); em Campo Maior, no mesmo período, ac-
cusou apenas 38 por cento. No verão de 187Ó a evapora-
ção, em Campo Maior, subiu a 16"",5, e a chuva em todo
esse tempo não passou de 18™",4; aquella evaporação é
uma das maiores que se tem registrado na Europa. Os es-
tudos da salinação nas marinhas do Sado mostram uma
evaporação dez vezes maior ali do que nas salinas do oeste
da França, cuja evaporação é muito próxima á do littoral
da nossa Beira.
Esta grande seccura no estio é um dos principaes cara-
cterísticos climatéricos da região d'Alemtejo ; é elia que so-
bretudo imprime o seu cunho peculiar á vegetação lenhosa,
adaptada a poder resistir n'um tal meio; arvores ou arbus-
tos de folhas perennes e coriaceas, com os tecidos menos
seivosos, com as camadas sub-èpidermicas convenientemente
reforçadas.
Aii, poucos dias, ás vezes mesmo poucas horas, de sol
forte, nos fins ou nós melados da primavera, são o bastante
para seccar a vegetação herbácea, de súbito, deixando-a
como se tivesse sido queimada. As arvores de folhas ca-
ducas despem-se prematuramente, debaixo da intensidade
d'aquella acção, largando as folhas verdes, mas queimadas,
e teem assim, além da queda outonal, ess'outra precoce
com que procuram estabelecer prompto equilíbrio entre a
humidade do solo, cada vez mais diminuta, e a superficie
evaporante, reduzindo-a d'esta forma. Até as arvores de
folhas perennes, apezar da sua especial organisação, accu-
sam esse augmento de seccura; é então que os pinheiros,
a oliveira, a azinheira e o sobreiro deixam cair com abun-
dância as folhas mais velhas, e estas arvores apenas vesti-
das pelas folhas novas, nas extremidades dos ramos, pare-
cem concentrar ali, n'essa época, toda a sua vegetação.
A superficie do terreno muito mais plana ao sul do Tejo
do que ao norte, dá a toda esta região menor varíabilidade
nos climas locaes. Ao sul, como ao norte, a humidade de-
217
cresce do líttoral para o interior, mas na primeira região de-
cresce em escala muito mais reduzida do que na segunda;
é por isso que, emquanto ao norte a faxa mais próxima
do mar tém uma essência peculiar a caracterisal-a-^o pi-
nheiro bravo — no sul os carvalhos de folha perenne alar-
gam-se tanto na faxa do interior, como na do littoral, che-
gando quasi à beira mar.
Ao longo do oceano, n'esta região sul, o sr. Barros Go-
mes considera as duas sub-regiões seguintes :
1.* — Sulhregião do Baixo AlenUejo littoral: caracterisada
pela grande seccura e evaporação estival, de que dá bom in-
dicio a salinação nas marinhas do Sado, como dissemos.
Tem temperaturas médias annuaes de 16^ e 16^,5.
2.*— Sub-região do Algarve: o ponto do littoral menos chu-
voso do paiz; tem grande escassez de chuvas d'estio, sendo
as médias inferiores a 20°™. A humidade e as chuvas, como
se vê, decrescem constantemente do norte ao sul ; o Minho
e o Algarve representam os dois extremos — as máximas e
asminimas; identicamente diminuem as chuvas do verão.
A temperatura média n'esta sub-região é de 17^,5 na costa
e 16%5 mais para o interior.
A zona alemtejana interior é assim subdividida pelo sr.
Barros Gomes :
^^^AUo Alemtejo: comprehendendo as terras altas e a's
serras de Portalegre a Évora. É caracterisado por médias
mensaes de humidade relativa de 40 a 80 por cento; as
suas chuvas annuaes são de 700"'" a 500°", e as estivaes
de 30°»" a 50™. As temperaturas médias são de 16° a 17**.
i.*— Baixo Alemtejo: comprehende as baixas do Sorraia
e do Guadiana : é n'esta sub-região que se encontra a má-
xima seccura do ar, em Portugal; a média mensal de hu-
midade relativa é de 30 a 80 por cento, e as suas chuvas
estivaes são tão diminutas que só as do Algarve lhe são in-
feriores. A temperatura média d'esta sub-região deve ser
bastante elevada, talvez 17®.
218
A regi3o ao sul do Tejo tem, como dissemos, por genninos
representantes do seu clima o sobreiro e a azinheira ; o pri-
meiro dominando sobretudo no Alto Alemtejo e nos pontos
mais afastados do littoral, e a segunda apresentando uma
disposição inversa.
O pinheiro bravo, cuja existência está presa a um certo
grau ile humidadç atmospherica, só nos pontos muito pró-
ximos do mar ou dos rios pode aqui prosperar, mas perde
a importância florestal que tem ao norte; primeiro appa-
rece misturado com o pinheiro manso, depois cede o logar
a este ultimo, que pede temperaturas mais elevadas. O pi-
nheiro manso, em Portugal, é sobretudo peculiar a esta re-
gião, mas não tem n'ella a importância que o pinheiro bravo
adquire ao norte do Tejo. É frequente a oliveira e, em par-
tes, o castanheiro.
Finalmente, a zona mais meridional do nosso paiz, o Al-
garve, tem uma vegetação particular muito característica,
em harmonia com as suas condições climatéricas : á azinheira,
á figueira e oliveira, sobretudo dominantes, associa-se em
grande quantidade a alfarrobeira e a palmeira anã.
Damos, na carta seguinte, o traçado d'estas zonas clima-
téricas, extrahido das interessantíssimas cartas do sr. Bar-
ros Gomes:
219
8.*— INFLUENCIA DAS VARIAÇÕES LOOAES DO OUIIA
NO MODO DE VIDA
DS; UHA MESMA ESPÉCIE LENHOSA
Cada espécie yegetal adquire, o seu melhor desenvolvi-
mento, como dissemos, onde encontra os graus de calor,
hiz e humidade, que sobre todos lhe s3o mais favoráveis,
mas fora d'esse logar de mais propicia vegetação pode ainda
viver, nos pontos onde as oscillações, para mais ou para
menos, em redor d'aquelle grau optimum, são permittidas
pelo seu organismo. Estudemos agora a acção d'estas va-
riações locaes.
Épocas das diversas phases da vegetação. — Nas semen-
tes, depois de completas, a vida fica latente; é muito insi-
gnificante a troca de gazes entre ellas e o meio em redor,
até que principie a germinação. As sementes parecem in-
sensíveis aos maiores frios; o sr. Boussingault sujeitou se-
mentes de trevo, de centeio e de trigo a temperaturas in-
feriores a — 100® cent. sem lhes destruir a faculdade ger-
«
minativa ; d^aqui a razão porque as plantas annuaes são ape-
nas influenciadas pela temperatura dos seus períodos vege-
tativos.
Mas, desde que a vida se começa a manifestar, cada pe-
riodo do desenvolvimento de cada espécie necessita, para
se poder dar, como sabemos, determinadas quantidades de
calor, luz e humidade. É claro, portanto, que as variações
do clima local hão de apressar, ou retardar, as épocas an-
tmaes doestes diversos períodos.
Assim se explica por que razão sementes, exactamente
egnaes, n'uns pontos germinam mais cedo do que n'outros,
e a razão porque o desabrolhamento, a floração, a fructifica-
ção, a queda das folhas de uma mesma espécie, se realisam
em diverso tempo, nos diflerentes logares onde ella habita.
No emtanto a época da passagem de uns d'estes perío-
220
dos evolutivos para os outros n3o depende exclusivamente
de simples acções physicas do meio ambiente; será erro
muito grave n'essa apreciação querer pôr de lado o modo
de ser — a vida — do organismo em questão. Assim, em
muitos pontos da zona mediterrânea, o mez de novembro
é tão quente como o de abril, a humidade não escasseia em
nenhum dos dois, e apezar d'isso muitas arvores de folhas
caducas despem-se no primeiro d'aquelles mezes, e os seus
botões já formados não se desenvolvem, emquanto no se-
gundo desabrolham, cobrindo-se de folhas e flores.
Alguns querem explicar este facto lembrando que no ou-
tono a marcha das temperaturas decresce, emquanto na
primavera, pelo inverso, augmenta; será esta subida, se-
gundo elles.que provoca o desabrolhamento ; outros dão
como explicação, a necessidade de um certo intervallo de
tempo para que se dé a maturação das reservas nutritivas
da arvore. Mas nenhuma das duas hypotheses explica bem
o motivo por que, nas diversas locaUdades, as mesmas es-
sências não passam as phases de vegetação sempre pela
mesma ordem : assim, segundo o sr. Yaupell, desde o Báltico
até Munich desabrolha primeiro a faya, depois o carvalho
e em seguida o freixo, emquanto na Bélgica desabrolha pri-
meiro o freixo, depois a faya e por ultimo o carvalho, e em
Dijon seguem estas essências já outra ordem, o carvalho
primeiro, o freixo, e só depois a faya. O clima do centro de
vegetação d'onde a espécie é originaria, o clima que lhe é
sobre todos favorável, parece imprimir indelevelmente a
sua acção em todas as phases do desenvolvimento indivi-
dual; por isso as arvores do norte passam estas phases,
nos climas meridionaes, relativamente tardias, e vice ver-
sa; por isso, ainda, mais uma razão porque as differentes
espécies, de uns certos limites climatéricos por diante, não
podem viver.
Porte 6 crescimento annual das árvores. — O clima local
influe muito no porte e no crescimento annual das plantas
221
lenhosas, conforme as condiç?}es mais ou menos favoráveis
com que actua. Já dissemos que o rícino passa de ser uma
planta lenhosa arbórea a planta herbácea annual, ou bien-
Dal, com a diminuição da temperatura. Para tornar bem
insante a acção do clima nas dimensões da camada lenhosa,
e na qaalidade das madeiras, diremos que o Pinus silves-
tris chega a apresentar no sul da França crescimentos an-
nnaes com 0,"01 d'espessura, emquanto na Suécia, entre
os parallelos 60 e 6«3 (d'Upsal a Hemõsand), em média,
s6 engrossa annualmente 0,"^001, no parallelo 60 apenas
0,"0006, e a 70° o engrossamento é quasi nullo.
A relação entre a espessura da camada annual e as quali-
dades do lenho depende muito da organisação da espécie
considerada, como vimos no livro anterior. As resinosas do
norte, cujo crescimento é muitíssimo vagaroso, que apre-
sentam as camadas annuaes muito reduzidas e quasi sem
a zona porosa da primavera, são notáveis pela sua densi-
dade, rijeza e elasticidade, e por isso muito procuradas
para mastreação e outros usos; mas já o mesmo não acon-
tece, por exemplo, aos carvalhos, cuja madeira é tanto me-
lhor qaanto mais largas as camadas annuaes, porque é então
qne prepondera a zona apertada do outono.
Acção do calor forte e do ftio sobre as arvores. — As dif-
ferentes espécies, conforme a sua organisação, supportam
desegualmente os extremos oppostos da temperatura.
O calor elevado destroe a vitalidade das cellulas vegetaes
coagulando, segundo parece, as substancias albuminóides
componentes do protoplasma ; essa coagulação depende de
muitas outras circumstancias independentes da temperatura,
e sobretudo da quantídade d'agua que a cellula contiver. Para
provocar esta acção são precisas temperaturas relativamente
muito elevadas ; de ordinário, é por outra forma que os ex-
cessos do calor contrariam as arvores: augmentam-lhes a
transpiração, e quando as quantidades d'agua contidas no
solo não chegam para acudir a essa maior despeza, o v^e^
222
getal sofire muito e-pode até morrer. A acção do calor
sobre as arvores deve portanto ser estudada conjuncta-
mente com todas as outras condições, taes como a fundura
e as qualidades pbysicas do terreno > a sua humidade, etc.
. Em geral, as arvores resistem tanto melhor a um golpe de
sol forte e repentino quanto a sua transpiração for menor,
isto é, quanto menos aquosos e tenros os seus tecidos, bem
como quanto mais profundo tiverem o systema radicular;
por isso as arvores novas, e as que teem raizes superfi-
ciaes, Ibe resistem menos.
A insolação intensa promove muitas vezes a queda pre-
matura das folbas, o que chega a occasionar, em algumas
circumstancias, a morte da arvore; este accidente, mesmo
quando não é fatal, traz comsigo transtornos graves, qae
se não limitam apenas á diminuição da ícamada lenhosa cor-
respondente; as folhas assim mortas em plena vida caem
^em terem abandonado aos tecidos de reserva os seus prin-
cípios mais úteis á vegetação (albuminóides, phosphatos
etc), como abandonariam se morressem naturalmente, o
que representa, no caso d'aquelle accidente, uma diminui-
ção importante na substancia organisadora da arvore.
O frio, quando è pouco intenso, suspende apenas tempo-
rariamente as funcções cellulares, como dissemos, mas se
actua com maior força obriga a congelar uma parte da agua
contida na cellula, matando-a em alguns casos. Pelo conge-
lamento solidiflca-se uma porção da agua do sueco cellular
6 do protoplasma, ficando um e outro mais concentrados, e
solidifica-se uma porção da agua inter-moUecular da mem-
brana, obrigada por isso a diminuir de volume, a contrahir-
se. O tecido, d'esta forma modificado, perde a turgidez pri-
mitiva e soffre muitas vezes pregas e rupturas, que ainda
assim quasi nunca lhe são causa de morte.
Quando a descongelação se reaUsa pouco a pouco os
crystaes de gelo fundem-se na base, a agua liquida é logo
absorvida pela membrana, pelo sueco cellular e pelo proto-
223
plasma, e as propriedades primitivas da ceilula podem re-
geoerar-se, se a alteração nao foi muito profmida. Mas
quando, pelo contrario, o desgelo é rápido, uma parte da
agaa escorre nas lacunas do tecido, antes de poder ser
absorrída pelas cellulas, perde-se, e ellas não podem voltar
ao seu estado inicial. D'onde se deve concluir que o des-
congelamento Influe mais na sorte do órgão vegetal do que
a própria acção do congelamento.
Quanto mais pobre em agua for o tecido, quanto mais
concentrados os líquidos cellulares, com maior força é a
agna retida, menor a quantidade congelada e menores os
effeitos destructivos. É, em grande parte, por este motivo,
qoe mnas espécies resistem mais do que outras; por este
motivo são tão prejudiciaes os frios já tardios da primavera,
que apanham os rebentos novos em via de formação, seivo-
SOS, tenros, túrgidos de líquidos. Pela mesma razão o conge-
lamento é mais perigoso para as arvores novas, e em cada
individuo para as folhas mais succosas, de menos edade.
A duração dos frios também influe muito, por sua parte ;
as plantas dos climas seccos resistem, às vezes, a tempe-
raturas de 2^ e 3®, quando são pouco aturadas, e morrem ex-
postas a 1^, quando esta temperatura persiste por mais tempo.
Em algumas localidades, durante os invernos rigorosos,
varias espécies lenhosas chegam a converter-se, pela acção
do frio, n'um agglomerado de crystaes cujas agulhas podem
até fazer hérnia para o exterior, tomando-se os ramos del-
gados frágeis como vidro. As vezes, na occasião do resfria-
mento, ouvem-se detonações, no meio do arvoredo, seme-
lhantes ás da artilheria, devidas á ruptura violenta dos
troncos; como gelam primeiro as camadas externas, e este
congelamento as torna rígidas, oppõem-se ao depois me-
chanícamente à dilatação dos tecidos mais internos, provo-
cada pela soUdificação da agua que conteem, e são por isso
despedaçadas com força e grande ruido.
Convém ter presente, em todo este estudo, que a tempe-
224
ratara d'nm vegetal lenhoso nSo é a mesma do ambiente;
é problema sempre muito complicado procurar a relação
entre a temperatura da arvore e a da atmosphera, tio
grande é o numero de circunstancias a attender. No pe-
ríodo da actividade vegetativa a temperatura do tronco é
principalmente influenciada pela das camadas do solo onde
as raizes vão abastecer-se d'agua; os troncos delgados, e
que teem raizes muito curtas, apresentam quasi a tempe-
ratura da atmosphera em redor, mas já não acontece o
mesmo ás arvores de troncos grossos e de raizes compri-
das; a madeira conduz mal o calor, aquece e esfria mais
de vagar que a atmosphera : de noite os troncos estão mais
quentes do que o ar e de dia mais frios. As folhase todos
os órgãos onde se realisa a transpiração estão já n'outras
condições ; ahi importa attender ao resfriamento produzido
pela transpiração e á grande superfície irradiante. Durante
o inverno, como pára a circulação da agua no interior do
vegetal, as variações de temperatura tornam-se mais fortes
no lenho, porque é menor a correcção dada pelo calor tra-
zido do solo na seiva.
Os phenomenos de congelamento, taes como os referi-
mos, podem trazer a morte dos vegetaes, ou produzir-lhes
vários accidentes funestos : já nas flores, destruindo ás veses
a fhictificação de um anno; já nos rebentos, matando as
extremidades mais herbáceas e obrigando os eixos a cres-
cerem á custa dos botões lateraes, o que em alguns climas
é habitual a determinadas espécies.
As boas quaUdades iuturas da madeira podem -egualmente
ser muito prejudicadas ; aquellas acções, às vezes, provocam
fendas no lenho, o descollamento parcial, ou total, das cama-
das annuaes, ou trazem a morte de uma porção do albumo,
que não se transforma ao depois em cerne, e passados annos
fica preso nos crescimentos posteriores, tomando o tronco
defeituoso n'aque}le ponto, quando não se decompõe, e
provoca a decomposição dos tecidos sãos em redor.
225
Acção da lui. — A desegual intensidade da luz, e o de-
segua] comprimento do período luminoso, influe também
muito na vida dos indivíduos vegetaes pertencentes á mes-
ma espécie.
Como sabemos, a irradiação solar é indispensável á formação
da chlorophylla, a não ser em casos muito restrictos e ainda
hoje inexplicados (esverdinhamento, na escuridão, das coty-
ledones das Coníferas, das samaras dos bordos, etc.), como
é indispensável para a decomposição do anhydrido carbónico
nas cellulas chlorophyllianas. Da luz fica portanto dependente
a constituição das molleculas orgânicas iniciaes, d'onde deri-
yam todos os princípios immediatos, que cooperam na orga-
nisação dos vegetaes.
A arvore que soffre falta de luz amesquinha-se, forma
mna quantidade menor de princípios immediatos. Nas orlas
dos massiços apertados as arvores bracejam sempre com
mais vigor para o lado de fora, onde ha mais luz, e no cen-
tro do massiço toda a actividade da vegetação se exerce no
sentido do alongamento do eixo, em procura da luz, tor-
nando os fustes relativamente mais altos e menos grossos.
As plantas dos logares bem expostos ao sol florescem em
maior numero do que as dos sítios assombreados ; calcula-
se, em geral, que chega a entrar em flor um numero de
indi^iduos, da mesma espécie, três vezes maior ao sol do
qoe á sombra. Segundo Sendtner, nas estufas esclarecidas
lateralmente só um decimo das plantas florescem, emquanto
nas estufas esclarecidas por Cima e pelos lados floresce uma
terça parte,
A qualidade dos fructos depende também muito da inten-
sidade luminosa; no interior dos massiços não só as arvo-
res fractíficam menos, como também as sementes são peio-
res, e tanto que é preceito não as escolher para sementei-
ras artificiaes.
Acção da agua. — A acção da agua sobre o modo de vida
das arvores é accentuadissima.
c. s. <5
1
226
Quando a agua no terreno escasseia, diminue o desenvol-
yimento das plantas, porque diminue tàmbem a entrada dos
elementos mineraes necessários á organisaçlo do vegetal.
O excesso de agua é egualmente nocivo, porque a maior
diluição da seiva torna os lenhos mais porosos, menos den-
sos.
Convém n3o esquecer, que estas variações da quantidade
de agua devem ser consideradas em jogo simultâneo com
a temperatura. Onde a temperatura e a agua augmentarem,
dentro dos limites que a arvore supporta, o seu desenvol-
vimento é máximo; onde o calor augmente sem uma subida
idêntica na agua, ou vice-versa, a arvore morrerá talvez,
ou terá pequenos crescimentos, ou lenho de má qualidade.
Às arvores apresentam grandes superfícies de evapora-
ção e precisam, por isso, ehcontrar agua, relativamente, em
abundância no solo. As chuvas de inverno, e as nevadas,
abastecem os depósitos inferiores do terreno e tornamse-
Ihes, por esta razão, muito importantes; ás vezes os estios
seccos nâo são tão prejudiciaes aos arvoredos como os in-
vernos pobres em chuvas.
Se a quantidade e a distribuição das chuvas influe muito
no modo de vida das arvores, não influe menos o estado
hygrometrico do ar, a sua humidade relativa. Do grau de
humidade depende a evaporação. O vapor de agua conden-
sado sob a forma de nuvens ou de nevoeiros diminue a in-
tensidade da luz e mitiga o resfriamento nocturno.
Debaixo d'este ultimo ponto de vist^ pode-se dizer que
a humidade atmospherica é um verdadeiro regulador da
temperatura do ar: equilibra e transporta o calor; os cli-
mas mais seccos são os que teem temperaturas mais extre-
mas ; na atmosphera secca do deserto é vulgar a temperatura
baixar de repente a 0^, ao pôr do sol, em seguida aos dias
de maior calma, em que o thermometro sobre a areia chega
a malucar 45^.
Acção do vento. — O vento exerce uma influencia directa
227
sobre as arvores, independentemente das acçOes indirectas
importantíssimas provocadas pelas suas correntes, já uni-
formisando a composição do ar, já influindo nos bydro-me-
teoros, etc.
Aquella acção mechanica directa é muito considerável:
tio considerável que parece chegar a impedir a vegetação
arbórea em alguns pontos. Na America dilatam-se extensas
planicies entre os Andes Chilenos e o Atlântico, conhecidas
com o nome de Pampas, onde não se encontra nem uma
planta lenhosa; ali, o período vegetativo não é encurtado
pelo frio, as chuvas são abundantes, posto que, na verda-
de, mal repartidas; todavia essa falta de arvores é attri-
boida, não tanto aos intervallos de secca prolongada que al-
ternam com as chuvas torrenciaes de tempestade, como á
liolencia dos ventos, cuja força não encontra a quebral-a
oenhmn accidente.no meio de uma planura tão vasta.
O vento moderado é favorável ás arvores: imprime-lhes
movimentos e flexões continuadas, que lhes estunulam o
desenvolvimento em espessura. Quando se ata uma arvore
nova a um tutor, de modo que uma porção do tronco e a
copa fiquem livres, a parte inmiovel não engrossa, ou en-
grossa pouco, emquanto a parte movei engrossa, proporcio-
nalmente, muito mais. Se a arvore estiver presa de maneira
qne a flexão apenas n'um sentido possa reaUsar-se, o en-
grossamento é maior n'essa direcção do que na direcção
perpendicular. A acção mechanica é ainda favorável ás ar-
vores, transportando o poUen de muitas espécies, b pro-
movendo ao depois a disseminação dos fructos.
Mas, se actua com força, o vento é muito nocivo; con-
torce as arvores, enfeza-as, toma-lhes o crescimento excen-
Irico, menor do lado mais açoutado, pode quebrar-lhes os
ramos, ou mesmo arrancal-as pela raiz; esta ultima acção
i sobretudo promovida pelos ventos acompanhados de chu-
vas intensas, que am(dlecem o terreno.
Qomido as arvores estão carregadas de neve e de geada,
i5#
228
quando uma parte da seiva congela^ os ramos tomam-se-
lhes frágeis, como dissemos, e muito mais facilmente s9o
então quebrados pelo vento.
O roçar dos troncos e dos ramos uns']contra os outros,
quando muito agitados, produz-lhes, às vezes, feridas; a
agitação violenta pode descoUar, em partes, a casca, matando
o cambium desnudado, d'onde resulta a nSo adherencia, ao
depois, do annel lenhoso seguinte ao annel inferior, e pode
até provocar fendas verticaes.
Admitte-se praticamente, com tal ou qual aproximação,
que, a estes efifeitos, correspondem as][seguintes velocida-
des do vento:
VelMddade
•zprena em m«troi
por Mgmido
Calmaria completa O
Leve brisa, apenas apreciável 4
Vento que agita as folhas das arvores 8
Vento que agita as folhas e os raminhos del-
gados 12
Vento moderado ,'j[que agita os ramos grossos 16
Vento bastante forte 20
Vento forte, que sacode os troncos das arvo-
res ^ 24
Vento muito forte : quebra os ramos 27
Vento de tempestade: quebra as pernadas e
os arbustos 30
Furacão : arranca pela raiz e quebra as arvo-
res grossas 38
Furacão violento: destroe as casas 38
Influencia da exposição. — Uma das causas, a que muito
importa attender no estudo da variação do clima local, é a
exposição. Em pontos muito próximos as diversas exposi-
ções do solo recebem a irradiação luminosa, as chuvas e os
ventos por maneiras muito deseguaes ; a cada uma exposi-
229
(ão correspondem desravolvimentos dessemelhantes nas ar*
Tores, e difierentes qualidades nos seus lenhos.
Na exposição a nascente a insolação realisa-se de manhã,
qaando os raios solares teem ainda pouca força ; a tempe-
ratura e a acçSo directa da luz são por isso ahi fracas, re-
latiyamente á exposição ao poente, onde o sol actua per-
pendicular nas horas de maior calor. Na exposição norte a
temperatura é mais fria ainda que ao nascente, não recebe
durante o dia inteiro, em algumas épocas do anno, a inso-
lação directa a hora nenhuma ; pelo inverso, na exposição
sul a insolação é máxima.
A influencia dos ventos e das chuvas também se faz sentir
por modo muito difierente nas diversas exposições; assim,
DO nosso paiz, como os ventos mareiros são húmidos, e os
T^tos da terra são seccos, frios no inverno e quentes no
estio, as exposições cismontanas recebem, como vimos,
maior quantidade de chuvas, que as exposições transmon-
tanas. Â corrente aérea tropical que se dirige aos poios,
desviada do mais curto caminho pela força do movimento
da terra, sopra, n'este hemispherio, do sudoeste, e a cor-
rente polar do nordeste; o primeiro d'esses ventos é quente
e húmido, o segundo frio e secco, e estas influencias egual-
mente se reflectem nas exposições respectivas.
Nos terrenos expostos ao nascente as arvores adquirem,
de ordinário, boas dimensões e uma textura forte ; como o
desabrolhamento só tarde ahi se reaUsa, as geadas da pri-
mavera não são muito para receiar, mas sim as do outono
que, n'esta exposição, vem cedo e podem ainda apanhar a
vegetação em actividade. Âo norte as arvores teem cresci-
mento rápido e chegam a grandes alturas, mas apresentam
habitualmente os lenhos menos densos. Na exposição ao
poente as arvores adquirem flexibilidade e textura forte,
mas são ínuito açoutadas pelo vento. A exposição sul é a
peior de todas: o desabrolhamento apparece ahi cedo e as
geadas da primavera tomam-se, por isso, muito perigosas.
230
bem como o são os ventos fortes, carregados de humidade,
que sopram com frequência d'este quadrante.
No limite do seu habitat cada essência procura corrigir as
demasias do clima, já pouco propicio, com estiis yariaçSes
da exposição; assim, próximo do seu limite norte, cada es-
pécie prefere a exposição sul, agasalhada, e pelo inverso
junto ao limite meridional abriga-se na exposição norte,
mais fria.
As differenças entre as esposições tornam-se, em regra,
tanto menos accentuadàs, quanto maior a altitude consi-
derada.
Influencia da altitude. — Â altitude, como sabemos, modi-
fica muito o clima locaL pelas variações que provoca na
temperatura, na humidade, na intensidade luminosa, na
quantidade das chuvas, etc. A estas variações climatéricas
'correspondem manifestações da vegetação já fáceis de pre-
ver: a diminuição do porte e do crescimento das arvores,
a delimitação norte das zonas de habitação das espécies^ etc.
A acção da altitude sobre o crescimento dos troncos das
arvores é característica; tende a diminuir o crescimento
em altura, sem diminuir, ou diminuindo muito pouco, o
crescimento em espessura, o que torna os troncos baixos
e grossos, dando-lhes um aspecto particular. Segundo os
estudos do sr. Rivoli, feitos na serra da Estrella com o
pinheiro bravo, resulta que a diminuição média em altura,
para cada 100™ de elevação, é a segumte, correspondente
ás diversas edades indicadas.
Edade dft« arrorM Dlmlnulçlo média na altura do troneo
(Pinhairo bravo) (Por cada 100 metros de eleTaçAo)
1 a 20 annos 0'",046
21 a 40 annos 0°*,025
41 a 80 annos 0°*,016
Dos trabalhos executados em 1873 pelo sr. R. Weber,
231
DO laboratório de Aschaffenbonrg, conclue-se que a altitude
tem uma grande influencia no tamanho das folhas das ar-
Yores: a mesma essência apresenta as Tolhas com uma su-
perficie tanto mais diminuta quanto maior a altitude. Estes
estudos foram feitos com a faya (Fagus sUvatica); as fo-
lhas medidas pertenciam a arvores que se procuraram em
massiços coUocados, o mais possivel, em condições idênti-
cas de solo, de vegetação, etc., e apenas diversos pela al-
titude. Eis os resultados obtidos:
Alton âeima do nWel do mar « Snperflole total de 1:000 folhaa
(«zpressa em met. qnad.)
133 3,414
237 2,128
324 2,112
438 1,822
500 1,843
514 1,674
685 1,500
700 1,472
1:043 1,083
1:182 1,351
1:344 0,910
Na penúltima estação a lei que acima enimciámos acha-
se muito contrariada, mas provou-se ser isto devido a uma
estromação excepcional, resultante da demora do gado
n'aquella parcella. A analyse chimica comprovou bem esta
explicação, pelas percentagens elevadas de ácido phospho-
rieo encontrado n'essas folhas.
A altitude não só influe na forma dos troncos e nas di-
mensões das folhas, como também influe na composição
doestas ultimas. Ck)nforme os dados fornecidos pelo sr. Eber-
niayer e pelas estações florestaes da Baviera, a altitude di-
minue a percentagem das substancias mineraes das folhas,
na mesma essência, como se vê nos números seguintes :
23á
Abies excelsa, DG.
Estenciu Altura «efan* Perce&Uf«m Am eluM
do Blvel do mar (Por eeato)
1:334 ' 3,94
^ , ,. f , 685 5,52
Fagus $tlv(Utca,L j 3^^ g^^
237 6,97
1:110 3,58
915 5,43
730 6,25
130 10,19
1:068 2,49
^p j 880 2,77
Lanx europaeay DC — l , -« « „-
171 6,02
Paizes de planície e paizes montanhosos. — As influencias
da altitude e da exposição, modificando tanto os climas e
os arvoredos, permittem uma grande distincçSo climatérica
* entre os paizes de planicie e de montanha.
Nos paizes planos o clima é menos variável n'uma grande
área. Nos paizes montanhosos a variação dá-se em áreas
muito restrictas; diversificam a cada passo as exposições
e as altitudes; as elevações do terreno ora se assombream
e quebram a força dos ventos, umas relativamente ás ou-
tras, ora, encanando as correntes de ar pelas suas gargan-
tas, lhes mudam a direcção, e as fazem incidir com diverso
sentido, e em pontos onde aliás não incidiriam.
Nos valles profundos o calor é forte de dia, concentra-
se e reverbera das suas paredes; a humidade atmospbe-
rica ahi é mais abundante, os nevoeiros espessos, e os ven-
tos actuam com menos força. Nas encostas o calor e a ha-
midade atmospherica diminuem, a luz é viva, a acção elé-
ctrica intensa, os ventos fortes e habituahnente sopram
n'uma direcção constante; nas encostas a vegetação é me-
nos precoce que nos valles. Nos plan'altos são frequentes
233
as nnyens e as chuvas, a vegetação tem crescimeDto lento
e poaco vigoroso; de resto, estas acções dependem muito
da altitude considerada.
Nos paizes de montanha ^ vegetação quasi sempre apre-
senta uma grande variedade; próximas umas das outras
podem encontrar-se espécies áe zonas climatológicas diver-
sas, exactamente porque próximas se dão tamanhas varia-
ções nos phenomenos meteorológicos. Pela mesma causa é
habitual achar, em pontos muito pouco afastados, na mon-
tanha, a mesma espécie com portes muito differentes, e pas-
sando em épocas do anno bastante deseguaes as phases da
soa vegetação — o desabrolhamento e a queda das folhas,
a floração e a fructiQcação.
4* INFLT7EN0IA DAS FLOHESTAS SOBRE O OUMA
A influencia das florestas sobre o clima tem sido ponto
moito discutido; emquanto uns a negam completamente,
outros, pelo contrario, consideram dependentes da acção
dos arvoredos, do seu corte ou da sua multiplicação, to-
das as modiflcações climaterias realisadas nos últimos tem-
pos. Para tomar a questão mais complicada ainda, os que
sustentam a ultima aflirmativa, nem sempre de acordo entre
si, chegam a attribuir ás florestas influencias modificadoras
diametralmente oppostas^ impossíveis de harmonisar.
A falta de dados positivos onde firmar conclusões segu-
ras, e a extrema generalidade com que se quiz formular
o problema, são as principaes causas que demoraram a sua
resolução.
É facto indubitável o terem-se realisado alterações nos
dimas de muitas localidades, desde épocas ainda não muito
afastadas.
Na Inglaterra, na Bretanha e na Normandia existiam vi-
*
j
234
nhãs prodnctivas, conforme demonstrou Arago, e hoje essa
coitara tem um limite norte inferior ; estas mudanças cli-
matéricas notam-se desde o decimo quinto século, e pa-
recem continuar ao presente, peio menos na Inglaterra,
que prevê a impossibilidade de cultivar, dentro em breve,
a maceíra. De resto, não é necessária uma grande oscilla-
ç3o na temperatura média para fazer recuar bastante luna
cultura; a media em Londres é 9^,8, e em Paris 10^,7, a
differença não chega a ser de um grau, e todavia a ultima
d'estas cidades está cercada de vinhas, e a primeira nâo
as pode cultivar.
 Groelandia foi uma colónia florescente ; mas em pouco
tempo deixou de ser a terra verde dos primeiros desco-
bridores, e os gelos amontoados pelo frio tornam-a hoje
quasi inhabitavel. Factos anologos podem citar-se a propó-
sito da Islândia, do Spitzberg, das costas da Noruega, etc.
Em contraposição na Africa austral o calor parece augmentar
rapidamente, matando florestas inteiras de pé, seccando
lagos e cursos d'agua, cujos leitos meio apagados na areia
apenas encontram os viajantes. Se, no hemispherio boreal,
os gelos se accumulam ao norte cada vez em maior massa,
se o resfriamento se accentua, no hemispherio austral parece
acontecer o contrario.
Querer explicar todos estes phenomenos pelas acções
derivadas da presença, ou ausência, dos arvoredos, como
foi tentadd por algims, é de certo ir muito além da verdade.
A Inglaterra, já quasi dasarborisada, poucas florestas tem
para cortar, e o resfriamento continua ainda ah, como disse-
mos. Evidentemente é necessário procurar uma causa maior,
mais enérgica, geológica ou astronómica, para motivar mna
tão profunda alteração, que parece abraçar os dois bemis-
pherios, patenteando-se por forma desegual n'um e n'ou-
Iro.
Tem-se abusado muito d'este papel attribuido ás flores-
tas, como elemento modificador do cUma. Portugal n'uma
'■
235
época relatiyamente próxima, de que existem ainda bas-
tantes documentos, estava coberto da matas apertadas e
selvagens, e todavia o seu clima não divergia tanto do cli-
ma actual, que n3o fosse a mesma a feição dos arvoredos
espontâneos ; no Alemtejo, a presença das essências de fo-
lhas persistentes e coriaceas, já então indicava, como hoje,
apezar de ser n'esse tempo muito mais arborisado, a ele-
vação de temperatura, e a seccura atmospherica.
No emtanto, se as florestas não são a causa de todas as
alterações climatéricas notadas no globo, se não podem mo-
dificar os phenomenos meteorológicos geraes a uma grande
região, exercem, é cefto, uma acção local, mais ou menos
pronanciada, embora não tão enérgica como sustentavam
muitos. Está isso perfeitamente demonstrado.
É esta influencia restricta, local, que nós vamos estudar,
procurando flrmal-a, não já sobre raciocínios e deducções
mais ou menos empíricas, que podem facilmente conduzir
ao erro, mas sobre os dados da observação meteoroló-
gica.
A este respeito são sobretudo importantes os trabalhos das
Estações Florestas da Baviera, emprehendidos sob um plano
miiforme, sabiamente combinado, e executados em 87 par-
cellas de differentes matas, variáveis pelas condições do solo,
do clima, das essências, do estado dos povoamentos, etc,
isto é — representando no conjuncto a constituição média
das florestas bavaras. Os elementos colhidos por estas es-
tações florestaes são juntos e coordenados pelo sábio pro-
fessor Ebermayer, que os reúne e lhes tira as devidas con-
clusões; vamos resumil-os, bem como os trabalhos reali-
sados em França, na Escola Florestal de Nancy, pelo sr.
Mathieu, servindo-nos para este resumo dos livros do sr.
Grandeau citados no fim.
Mnencia das florestas sobre a temperatura do ar. — A
atmosphera das florestas, ^comparativamente á dos campos
desarborísados, tem médias annuaes de temperatura mais
-236
baixas. Segundo os dados da3 estações da Baviera, a uma
altura de 1°*,5 acima do terreno, a diminuição encontrada
na floresta, em média, foi de 0^,75.
Esta differença, para menos, não se encontrou repartida
com egualdade pelas quatro estações : foi máxima no estio,
minima no inverno, intermédia na primavera e no outont).
Eis as diflerenças médias correspondentes ás quatro esta-
ções, attendendo só ás temperaturas diurnas:
Primavera 1^,02
Estio r,68
Outono ; 0^45
Inverno Quasi nulla.
D'aqui se deve concluir que as massas de arvoredos tor-
nam menos fortes as differenças de temperatura .entre as
estações, porque se diminuem um pouco a média do in-
verno, diminuem proporcionalmente muito mais a média do
estio.
Esta acção reguladora da floresta tem mesmo uma am-
plitude maior, porque faz oscillar as máximas e as mínimas
de temperatura dentro de mais curtos limites ; conforme os
elementos obtidos em Nancy, estes limites extremos, na
floresta, estavam mais próximos 2^,87 comparativamente
aos dos terrenos desarborisados.
Uma acção reguladora idêntica foi encontrada com pro-
pósito ás temperaturas das diversas horas do dia ; a tempe-
ratura na floresta sobe menos durante o dia e desce menos
durante a noite, que nos campos sem arvores; este facto
provoca as brisas, que de dia sopram da floresta menos
aquecida para os terrenos circumvisínhos, e de noite so-
pram em direcção opposta.
O papel dos massiços de arvoredos sobre a temperatura
da atmospbera é pois bem semelhante ao do mar : actuam
como regulador. As florestas, muito embora provoquem
237
nma pequena diminaiçSo na média geral, corrigem as de-
masias extremas da temperatm'a de cada estação, de cada
mez, de cada dia.
Muencia das florestas sobre a temperatura do solo. —
O solo inferior aos grandes massiços florestaes apresenta á
superficíe uma camada mais ou menos espessa de substan-
cias orgânicas em diversos estados de decomposição — de-
tritos de folhas, de ramos, de pericarpos, etc. — juntas com
musgos e lichens, que ali se desenvolvem em abundância.
Esta camada denomina-se marua da floresta; apresenta-se
fofa, porosa, cheia de ar, e exerce uma grande influencia
nas propriedades physicas e na fertilidade do solo flores-
tal.
O ar preso mechanicamente na mama toma-a má condu-
ctora para o calor, transformando-a n'um abrigo do terreno
subjacente; este abrigo diminuo a irradiação do solo e a
quantidade de calor absorvido, tornando-lhe assim mais len-
tas as alternativas de temperatura.
Segundo as observações na Baviera, a média annual da
temperatura do solo vestido de arvores e protegido pela
manta é inferior à do solo nú (1®,3 a 1®,5).
Esta differeiiça repartiu-se também com muita desegual-
dade pelas quatro estações. Foi sobretudo pronunciada no
estio, por occasião dos grandes calores; em média, n'esta
estação a differença foi de 3 graus proximamente, para me-
nos, no solo florestal (até á profundidade dey quatro pés).
A influencia da floresta e da manta foi, pelo contrario,
quasi nulla no inverno ; facto que explica a presença quasi
constante de uma camada isoladora de neve no solo dos
massiços onde recaiu a experiência. O terreno florestal ge-
lou à mesma profundidade que o dos prados, mas a tem-
peratura do primeiro ficou sempre um pouco mais elevada
que a dos segundos.
As médias e as minimas de temperatura, no solo da flo-
resta, oscillaram também dentro de limites menores que
238
nos campos despidos de arvores. Á saperficie, a máxima do
estio na floresta diminuiu, comparativamente ao terreno des-
arborisado, 5^,35, e a minima de inverno subiu 0^,65. Com
o augmento da profundidade estas differenças tomaram-se
menos accentuadas.
Pode pois dizer-se que. a acção das florestas sobre a tem-
peratura do solo é análoga á acção sobre a temperatura do
ar: diminuo egualmente a média annual, mas corrige as
demasias, regularisa, provoca menores variantes; n'um e
n'outro caso são as temperaturas mais elevadas do estio as
que soffrem correcção maior..
Influencia das florestas sobre a humidade absoluta do
ar. — Segundo os dados das esfações da Baviera, as flores-
tas não parecem exercer grande acção sobre a humidade
absoluta atmospherica. A quantidade de vapor de agua con-
tido n'um mesmo volume de ar, a 1",5 de altura, na flo-
resta e fora da floresta^ apresentou médias annuaes quasi
idênticas, com uma diflerença muito leve a favor da região
desarborisada ; as médias correspondentes ás quatro esta-
ções, n*um e n'outro local, accusaram também muito pe-
quenas variantes.
Na atmospbera das florestas a forte transpiração das ar-
vores e a maior humidade do solo, tornado poroso e hy-
groscopico pela manta, parece que deveriam augmentar a
quantidade de vapor, mas em contraposição, n'essa atmos-
pbera mais socegada, mais protegida contra o vento, e com
temperatura menor, como dissemos, a evaporação do solo
é mais fraca, e estas causas desencontradas equiiibram-se
naturalmente, como indicam os números achados pelas ex-
periências referidas.
Mas — convém não o esquecer — não é a humidade abso-
luta (a quantidade de vapor existente) que tem particular
influencia na vegetação, mas sim a humidade relativa, isto
é, a relação entre a quantidade de vapor a uma determi-
nada temperatura e a quantidade de vapor necessária para,
239
a essa mesma temperatura, provocar a satm^ação. Ora, se
as florestas não exercem inílãencia sobre a limnidade ab-
soluta, exercem-a, e grande, sobre a humidade relativa,
como vamos dizer.
Mnencia das florestas sobre a humidade relativa do ar
e sofare as chuvas. — ^^Quando a quantidade absoluta do va-
por de agua atmospherico for constante, e a temperatura
yariavel, o grau de saturação variará identicamente ; assim,
por exemplo, 1 metro cubico de ar a 5 graus de tempera-
tura poderá dissolver mais 5^%705 de agua, quando a tem-
peratura subir a 15 graus, e este excesso de agua conden-
sar-se-ha, se a temperatura descer outra vez a 5 graus.
As florestas, como dissemos, não alteram, ou pouco al-
teram, a quantidade absoluta da humidade atmospherica, e
provocam uma diminuição na 1;emperatura média; logo, de-
vem identicamente augmentar a humidade relativa. As es-
tações florestaes da Baviera acharam que este augmento é
de 6,36 por cento, em média, oscillando entre 3 e 9 por
cento, conforme a distancia do ponto considerado ao mar.
A dífierença da humidade relativa encontrada repartia-se
muito desegualmente pelas quatro estações, sendo máxima
uo estio, pela mesma forma porque n'essa estação também
a dífierença da temperatura é máxima entre a floresta e o
campo sem arvores. Eis as médias dos números achados;
Differença de hamidAde relativa,
a favor da floresta
Primavera 5,87
Estio 9,28
Outono 5,22
tovemo ..... 5,24
Cotejando as médias mensaes de humidade relativa, den-
tro e fora da floresta, nota-se que as maiores differenças
coincidem com os mezes mais quentes, e as menores diffe-
renças com os mezes mais frios; isto é, a maior correcção
240
dà-se exactamente nas épocas que mais a precisavam.
Aquelle excesso de humidade nos mezes de estio é muito
favorável aos arvoredos, diminuindo a evaporação do solo
e das arvores novas; por outro lado as differenças, ainda
apreciáveis, a favor da floresta, na primavera e no outono,
mitigam a irradiação nocturna, o que, junto á menor oscil-
lação das temperaturas mínimas, tomam as geadas menos
frequentes e menos intensas.
A floresta, ao mesmo tempo que augmenta a humidade
relativa, regularisa-a; os quadros das variações hygrome-
tricas durante cada dia apresentam maiores oscillaçôes nos
campos sem arvores.
O augmento da humidade relativa atmospherica nos pai-
zes arborisados traz mais, como consequência, a maior co-
pia de aguas meteóricas. Nas experiências da escola de
Nancy a chuva caída nos pontos arborisados estava para a
chuva dos terrenos nus como 100 ou 97 para 81.
É certo que uma parte da agua caida na floresta não
chega ao solo, fica retida pela folhagem e perde-se por eva-
poração. Esta quantidade assim perdida varia muito, con-
forme o massiço é de arvores sempre-verdes ou de folhas
caducas, e segundo a folhagem é espessa ou ligeira; mais,
apezar d'esta causa de diminuição, todos os dados mostram
que as médias annuaes da chuva recebida no solo da flo-
resta são mais elevadas, que nos campos sem arvore-
dos.
A perda da agua retida pela folhagem não é tão impor-
tante como pode parecer á primeira vista. Sobre as folhas
de muitas essências as pequenas gottas liquidas tomam a
forma espheroidal, apresentando-se como outras tantas pé-
rolas brilhantes ; n'esse estado, como sabemos, a agua re-
siste energicamente á evaporação ; sacudida pelo vento des-
prende-se ao depois, caindo afinal sobre a terra; ninguém
ignora que, já passado muito tempo em seguida ao ter pa-
rado a chuva, quem atravessar por debaao das arvores é
^41
molhado ainda pela agua, que a agitação das copas faz de^s-
prender.
Segundo as experiências da escola de Nancy, realisadas
em massiços de essências de folha caduca (Fagus silvatica^
Carpinus BetuluSy e Querms), a quantidade média da agua
interceptada pela copa das arvores foi a seguinte:
De novembro a abril (arvores sem folhas).. 5,84 7o
De maio a outubro (arvores com folhas).. . 11,00 7©
Isto é, as folhas apenas duplicam a retenção exercida pe-
los ramos.
As chuvas leves, essas é que não chegam a molhar o ter-
reno da floresta: em parte ficam perdidas na folhagem, em
parte são presas pefa manta. Nas épocas de secca, apenas
interrompida por chuvas fracas, o terreno das matas re-
cebe menos agua que os solos desarborisados; mais uma
razão da influencia benéfica dos invernos chuvosos e abun-
dantes em nevadas, que abastecem os reservatórios pro-
fundos da terra, tomando-se tão propícios aos massiços flo-
restaes.
Muenda das florestas sobre a evaporação do solo. — A
atmosphera mais fria e mais socegada das matas diminue
a evaporação do solo. N'um massiço a que tinha sido tirada
a mantay segundo as médias de cinco annos das estações
bavaras, a evaporação do solo, em números redondos, foi
metade da dos terrenos desarborisados.
A manta, porosa, hygroscopica, rica em substancias ávi-
das de agua, diminue ainda muito aquelle valor; n'essas
condições a evaporação do solo nas florestas é quatro ou
cinco vezes mais fraca do que nos campos sem arvores.
Quem quizer uma demonstração directa de quanto a eva-
poração é menor nos massiços florestaes, bastar-lhe-ha per-
correr um, no dia seguinte ao de uma boa chuvada; os cam-
pos e os cammhos em redor já estão enxutos, mas sob as
C 8. 16
242
arvores a agua pei siste em abundância, nas hervas e arbus-
tos, e molhará completamente os pés e as pernas de quem
se arriscar a esse passeio.
Influencia das florestas sobre o vento e sobre a salubri-
dade das povoações próximas. — Os arvoredos attenuam a
força dos ventos e servem de abrigo e protecção ao paiz vi-
sinho. Junto á costa marítima, quebrando o embate dos ven-
tos mareiros, quasi sempre tão violentos, e em alguns pon-
tos das montanhas, é onde esta sua influencia apparece mais
frisante e mais benéfica.
Os massiços florestaes contribuem também para a sala-
bridade do ar, já pelas emanações resinosas, ou outras, já
pelo ozone, que ad)unda tanto mais na atmosphera quanto
mais forte a vegetação e maior a sua actividade organi-
sadora. Gitam-se factos de determinadas povoações serem
preservadas de certas doenças paludosas pela interposição
dos arvoredos, respectivamente ao foco onde os germens
do contagio se originavam.
Influencia do coberto das arvores sobre a vegetação in-
ferior.— É um facto de observação vulgar, que os vege-
taes desenvolvidos a coberto das arvores apresentam me-
nor robustez e menor porte. Nas vinhas que teem pelo meio
fiadas de oliveiras, as cepas mais próximas d'essas arvores
são as menos productivas e as mais enfezadas ; as culturas
arvenses resentem-se muito nas beiras dos campos orlados
com arvores silvestres ou fructiferas ; no interior dos mas-
siços florestaes a vegetação espontânea é sempre muito mais
enfezada que ao ar livre. Esta acção é mesmo tão enérgica
e evidente que nos massiços apertados e compactos de al-
gumas folhosas nem os arbustos, nem as phanerogamicas
herbáceas, podem viver, e apenas se encontram lichens,
musgos, algumas hepáticas, e ás vezes os fetos.
Esta influencia nociva tem-se pretendido explicar por di-
versos modos: pelo empobrecimento da terra occasionado
pelas raizes da arvore ; pela diminuição da luz ; pela acção
243
da iuz yerde reflectida das folhas, etc. ; ultimamente o st.
Grandean attriboiu-a, em grande parte , á falta de electri-
cidade atmospherica sob o coberto das arvores.
Aqaelle observador cultivou diversas plantas (o tabaco,
o milho e o trigo) em caixotes cheios de terra egual, for-
mando dois lotes, onde todas as condições da vegetaçSo
eram idênticas, excepto a acç3o eléctrica, supprimida com-
pletamente n'um dos lotes, por meio de uma gaiola isola-
dora de fio delgado de ferro, por entre ctjgas malhas o ar
e a luz podiam circular em liberdade. Por comparação en-
tre as plantas desenvolvidas ao ar livre e as que viveram
s(è a gaiola isoladora, chegou ás seguintes conclusões :
—Sob a gaiola isoladora as plantas experimentaram no
sen desenvolvimento e na sua evolução uma diminuição e
uma demora bastante considerável; constituíram menos
substancia viva do que ao ar livre (30 a 50 por cento me-
oos), parecendo a formação do amido, da glucose, etc, ser
partiõilarmente influenciada pela electricidade atmosphe-
rica; diminuiu o numero das flores e dos fructos, bem como
o peso das sementes. Sob a gaiola isoladora as plantas fi-
caram mais ricas em agua e mais pobres em substancias
mineraes.
Tendo verificado depois a ausência total da tensão elé-
ctrica, comprovada pelos mais sensíveis electrometros, na
atmosphera inferior ^ás arvores, repetiu as experiências re-
feridas acima, collocando umas das plantas ao ar livre, e
as outras, não sob a gaiola isoladora, mas a coberto de uma
arvore. Os resultados obtidos foram idênticos aos anterio-
res, d'onde concluiu:
— cAs grandes arvores, os massiços de verdura, uma
gaiola de madeira coberta de plantas vivas, comportam-se,
em relação ás plantas que dominam, como a gaiola isola-
éfí^ de fio de ferro : roubam a electricidade atmospherica
e snbtrahem completamente á sua acção os objectos situa-
dos entre elles e o solo. O perímetro de protecção de uma
16«
244
arvore de ^ande porte contra a influencia eléctrica da
atmosphera é maior- do que a superficie da projecção ver-
tical da sua copa. Quando a arvore è despida de ramos até
uma certa altura do terreno, a luz directa, o calor solar, a
chuva, etc., podem actuar livremente, como na gaiola iso-
ladora de fio de ferro, e só a electricidade atmospherica é
annuUada.»
Devemos todavia notar que estas experiências do sr.
Grandeau, repetidas novamente por outros observadores,
parece n3o terem sido coroadas de bom resultado, e o sr.
Dehérain inclina-se a negar a influencia da electricidade so-
bre a vegetaçSo*.
Terminando este estudo acerca da influencia climatérica
das florestas, chamaremos ainda a attenção sobre um ponto:
esta influencia, mesmo local e restricta como é, depende,
na intensidade, de muitas causas — da extensão dos arvo-
redos, da sua orientação, da altura das arvores, da edade
em que se cortam, dos processos de exploração, etc. Os
números, que deixámos apontados, procuram evidenciar a
acção das arvores sobre a temperatura, sobre a humida-
de, etc., mas por modo nenhum devem ser reputados como
medida uniforme de uma influencia i(\pntica em paizes di-
versos e em condições deseguaes.
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pèdie chimique, publióe sous la direction de M. Fremyi» — Paris, 1885.
L.
iUGTORES PÉIHCIPALIEKTE COHSULTADOS
ROESTE LIVRO IL
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tion suivant tes climats (tradoit de Tallemand par
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Dr. Jxjuo a. Henriques. — Boletim da Sociedade Broteria-
na III. Fascículo 3.*» e 4.^ 1884. Coimbra, 1885.
.♦
LIYRO III
Agrolo^a Florestal
l.»-~INFLIIENOIA DO SOLO NA DISTRIBUIÇÃO
DAS ESPEOIES FLORESTAES
A influencia do solo na distribuição das espécies yege-
taes é innegavel, mas as causas a que esta influencia deve
ser attribuida s3o questionáveis, e teem sido consideradas
por diversos modos. Uns derivam a acção do solo exclusi-
Tamente das suas propriedades physicas^ sem ligarem im-
portância á natureza chimica dos elementos constituitivos,
senão pela influencia que essa diversidade de composição
pode ter sobre as propriedades physicas; outros, pelo con-
trario, dão o primeiro papel á composição chimica da terra,
tendo em nenhuma, ou quasi nenhuma attenção as suas
propriedades physicas.
Postas em confronto as duas theorias — que uma e outra
teem tido a seu favor numerosos defensores — a ultima apre-
senta-se muito mais verdadeira ; no emtanto qualquer d'el-
las é decerto absoluta de mais, e a questão ganharia em não
ser enunciada com tamanho exclusivismo.
A influencia chimica do solo na distribuição das espécies
vegetaes torna-se particularmente evidente quando se estu-
dam dois terrenos de composição mineralógica bem diver-
sa, mas cujas propriedades physicas sejam semelhantes, em
virtude de quaesquer causas accidentaes (grau de fragmen-
248
tacão das partículas terrosas, etc.)> oa qaando, pelo con-
trario, se comparam dois terrenos chimicamente análogos,
mas com propriedades physícas diversas. Em mmtos does-
tes casos estudados as floras locaes variam com a compo-
sição chimica, conservando-se idênticas ao diversificarem as
propriedades physicas.
O melhor e mais seguro modo de resolver este problema
é, sem duvida, o exame botânico feito. nas condições que
acabámos de dizer, e muitos dados valiosos teem sido re-
unidos já por esse processo, mas o raciocínio também pode
mostrar quanto a feição chimica do solo deve influir. Com
eSeito, estando provado que os vegetaes absorvem da terra
substancias indispensáveis á sua organisação, e que as di-
versas espécies absorvem estas substancias em quantidades
muito deseguaes (como o demonstram as analyses das suas
cinzas), será lógico suppor cada espécie dependente da com-
posição do solo pelo alimento que elle lhe pode dar.
Assim os terrenos graníticos, os calcareos, os basajUcos,
os argillosos, etc., teem, cada um d'elles, uma flora espe-
cial ; mas as principaes difierenças da vegetação, motivadas
pela composição chimica do solo, são devidas sobretudo á
presença ou ausência do sal marinho, e à comparência oa
não comparência da cal n'umas certas percentagens.
Influencia do sal marinho. — A presença ou ausência do
sal marinho no terreno permitte uma pruneira divisão de
todos os vegetaes em dois grupos — marítimos, ou dos sal-
gadiços, e terrestres. Ao primeiro grupo pertencem as plan-
tas das proximidades do mar e as dos terrenos do interior
onde apparecem efflorescencias salgadas, as plantas que
precisam, ou talvez antes que toleram, a presença do sal
marinho em excesso; incluem-se no segundo grupo os ve-
getaes que não podem viver n*um meio tão salgado; dá-
se-lhes vulgarmente o nome de terrestres, por fugirem das
visinhanças do mar.
Parece que nenhuma exigência particular pelo chioreta
249
de sódio prende o maior numero das espécies ditas mari-
tímas aos terrenos salgados, podendo qnasi todas viver per-
feitamente nos solos onde falte o sal, mas, pelo inverso, as
plantas terrestres é que não podem vegetar nos solos onde
aqaelle corpo abunde: isto é,'as plantas terrestres sSo sa-
Ufiigas, sem às plantas marítimas caber, segundo parece,
o nome de salicolas. O não existirem plantas marítimas longe
dos solos salgados pode explicar-se talvez, na hypothese de
ellas Qão terem nenhuma exigência particular pelo sal ma-
rinho, com as leis da concorrência — com a lucta pda vida
—entre as plantas dos dois grupos. As espécies ditas ter-
reOres estarão melhor armadas para a lucta e por isso ven-
cerão as do outro grupo, excepto nos meios salinos, onde
as primeiras não podem viver, e que por isso mesmo se
tornam campo aberto ao desenvolvimento das segundas.
A salgadeira (Atriplex Halimus^ L.), a salicornia CSaU-
corrm firiuicosa, L.), a tamargúeira (Tamarix Gallica, L.),
etc., dão-nos exemplos de arbustos e sub-arbustos mariti-
mos. A Mj/rica Gale, L., vive perfeitamente nas praias, mas
é já qnasi indifferente aos meios salgadiços e penetra mais
para o interior. O pinheiro bravo é, das nossas essências
florestaes, uma das que mais se chega á zona marítima.
Mnenda da cal. — Nas acções exercidas pelo solo sobre
a distribuição das plantas, a cal, como dissemos, representa
mn grande papel. A este respeito as espécies vegetaes po-
dem dividir-se* em três agrupamentos — calcicolas, silicico-
las e indifferentes, conforme se desenvolvem nos solos cal-
careos, siliciosos, ou indifferentemente n'uns e outros.
As espécies características dos solos calcareos estão pre-
sas a esses solos pela necessidade da caU sem ella não po-
dem viver, e por isso cabe-lhes bem aquella denominação
de ccUcicolas, mas já o mesmo não acontece a propósito das
silidcolas. Os estudos mais autorísados, feitos com estas
plantas, parecem demonstrar que ellas não teem nenhuma
necessidade mais urgente, ou mais forte, pela silica, apre-
250
sentando, pelo inverso, uma grande repugnância pela cal,
que é extraordinariamente nociva aos seus organismos; se
habitam os terrenos siliciosos é apenas por elles serem po-
bres em cal; isto é, estas espécies devem ser antes chama-
das calei fugas, do que silicicolas.
O castanheiro dá-nos um óptimo exemplo de uma espé-
cie calcifuga. Não parece ter, conforme diremos adiante,
nenhuma necessidade particular de silica, e só vive nos ter-
renos onde as percentagens da cal sejam inferiores, segan-
do o sr. Chatin, a 3 por cento. A distribuição doesta arvore
em Portugal é curiosa, e está em harmonia com a ultima
d'aquellas asserções; o castanheiro, entre nós, prepondera
sobretudo na região transmontana, na Beira meridional, no
Alto Alemtejo e na serra de Monchique, porém encontra-se
em muitos outros pontos, na Beira central, no Minho, etc,
mas sempre em terrenos não calcareos. Nos arredores de
Lisboa, próximo a Gascaes, n'um solo calcareo, vimol-o
nascer, attmgir enfezado a grossura de (r,01 e morrer em
seguida, emquanto bem perto, em Cintra, encontra-se fron-
doso e cheio de viço na pequena mancha granítica d'aquella
serra.
Os estudos dos srs. Grandeau e Fliche, acerca da vege-
tação dos castanheiros nos solos calcareos e não calcareos,
mostram que ella é tanto mais fraca quanto maior vae sen-
do, na terra, a proporção da cal, até que, de um certo ex-
cesso d'esta substancia por diante, a arvore não pode vi-
ver, nem mesmo sujeita a um grande numero de cuidados.
Á medida que a percentagem da cal augmenta díminae o
crescimento em altura e em espessura, dhninuem as dimen-
sões das folhas, principahnente as dos exb^emos dos eixos,
as estipulas persistem nos três ou quatro nós superiores,
e a côr verde das folhas altera-se, tomando-se amarellada
nas folhas inferiores e quasi branca nas folhas superiores.
O estudo chunico das arvores creadas n*estas duas con-
dições diversas mostrou que o castanheiro, em circumstan-
251
das normaes, vivendo em terrenos pobres em calcareo, fixa
quantidades bastante avultadas de cal^ tanto nas folhas como
nos eixos, mas principalmente nos eixos, ao passo que ab-
sorve quantidades insignificantes de silica (as cinzas das fo-
lhas accusaram 45,377o de cal e as dos eixos 73,267o> ^o
passo que a silica nas folhas era apenas 5,797o b nos ei-
xos 3,087o). O excesso de cal no terreno augmentou a per-
centagem das cinzas, tanto nas folhas como nos eixos da
arvore (emquanto nos solos silidosos as cinzas das folhas
eram 4,8^/o e as dos eixos 4,747o> nos solos calcareos as
primeiras subiram a 7,87o e as segundas a 5,717o)- Este au-
gmento de cinzas realisou-se quasi todo á custa de uma fi-
xação maior de cal, porque a percentagem de todos os ou-
tros componentes diminuiu. Parece ser a diminuição d'es-
tes princípios, principalmente da potassa e do ferro, que
traz como consequência a formação de menores quantida-
des de amido, a reducção superficial das folhas^ as más con-
dições da vegetação, o estado imperfeito das substancias
contidas nas cellulas vegetaes. Segundo estes estudos as
folhas dos castanheiros com boa vegetação, nos terrenos si-
lidosos, conteem, para uma dada quantidade de cal, 6,19
vezes mais potassa, que as folhas das arvores enfezadas,
em terrenos calcareos, e os eixos conteem, no primeiro ca-
so, 5,3 vezes mais potassa, que no segundo (a potassa que
era, nas folhas das arvores dos terrenos siliciosos 21 i677o
das cinzas, e nos eixos 11,65, passou a ser, em terrenos
calcareos, nas folhas 5,76, e nos eixos 2,69; o sesquioxydo
de ferro, que era, em terrenos siliciosos, nas folhas 1,07,
e nos eixos 2,04, passou a ser, em terrenos calcareos, 0,83
nas folhas e 1,27 nos eixos).
O sr. Grandeau estudou também, sob o mesmo ponto de
vista, a vegetação do pinheiroMÍ[)ravo e chegou a conclusOes,
qnanto pode ser, idênticas : o pinheiro bravo é ainda uma
espécie silidcola, ou diremos melhor calcifuga, porque egual-
mente não parece ter nenhuma necessidade maior de silica.
252
absorve uma quantidade avultada de cal» mesmo nos ter-
renos muito pobres n'esta substancia , e á medida que a
percentagem do calcareo no solo augmenta, a sua vegeta-
ção diminuo de vigor, e torna-se impossivel de um certo
limite por diante.
O excesso de calcareo nos solos traz também ao pinheiro
bravo, como consequência, o augmento da percentagem das
cinzas (emquanto nos terrenos pobres em cal as arvores
accusaram 0,4 a 0,6*^/0 de cinzas, nos terrenos calcareos
as cinzas subiram a 1,32 e l,357o)> mas este augmento
diz só respeito ao eixos, porque as folhas conteem menos
cinzas do que teriam nas condições normaes, em solos si-
liciosos, e n'esta parte existe uma dififerença entre os phe-
nomenos particulares da vegetação do castanheiro e do pi-
nheiro bravo nos solos calcareos. Este augmento de cinzas
nos pinheiros das terras calcareas é devido, como também
nos castanheiros, a uma fixação maior de cal, quasi todos
os outros elementos entram em menor percentagem; a es-
cassez d'esses outros principios mineraes — do ferro e so-
bretudo da potassa n'ama enorme proporção — parece ser
a verdadeira causa da má vegetação do pinheiro sobre es-
ses solos ; diminuo correlativamente o amido formado nas
cellulas veget^es, e a terebinthina, o que era de esperar,
por isso que esta ultima deriva das substancias amylaceas,
e que sem a potassa não ha, por assim dizer, producção
de amido, conforme o mostraram as experiências de Nobbe,
Schraeder, Edmam, etc. Os pinheiros dos terrenos siliciosos
accusaram percentagens de cal comprehendidas entre 37
e 44 por cento das cinzas e potassa entre 15 e 19 per cento,
emquanto nas arvores dos terrenos calcareos a cal subiu a
56 por cento e a potassa desceu a 5 por cento ; as variações
nas quantidades de acido pjiosphorico, magnesia, soda e
acido sulphurico foram insignificantes, ou difficeis de de-
terminar ; as variações do acido phosphorico deram-se in-
differentemente nas cinzas das arvores rachiticas dos solos
253
calcareos^ ou nas cinzas das arvores robustas, creadas em
terra siliciosa, ora para mais, ora para menos, n'umas e
outras.
Na vegetação florestal do paiz podem considerar-sé como
verdadeiramente cakifugas as seguintes espécies arbóreas
e arbustivas mais importantes: O castanheiro {Castanea vtã-
garis, Lam.) e o pinheiro bravo (Pinus Pinaster, Ait.), ai-
gans tojos (género Ulex), o maior numero das urzes (Eriça
ciUaris, L., E. Tetralix, L., E. cinereay L., E, scoparia, L.,
£. arbórea, L., CaUuna vulgaris, Salisb., etc.)» um codeço
(Adenocarpus complicaius, Gay.), etc. Apparece n'estes ter-
renos em abundância um feto característico — o feto real
(Osmunda regalis, L.).
S3o ainda calcifugas, mas já não em grau tão absoluto, o
arando ( Vaccinium MyrtiUtts, L.), um vidoeiro (Betula pu-
bescens, Ehrh.)> a Myrica Gale, L*, etc. ; está nas mesmas
circumstancias o feto fêmea das boticas, ou feto ordinário
[Ptms aquilina, L.).
São quasi indifferentes, mas encontram-se em maior quau;
lidade nas terras pobres em cal, o azevinho ou pica-folha
[Jkx Agmfolitmi, L.), o sobreiro (Querem suber, L.), o car-
valho pardo da Beira (Querem Tozza, Bosc), o choupo bran-
co (Poptdus alba, L.), a giesta ordinária (Spartium junceumj
L.), o sanguinho d'agua (Rhamnm Frangula, L.), etc.
O maior numero dos nossos vegetaes lenhosos são indif-
fererues á natureza calcarea ou não calcarea do terreno. Ci-
taremos, entre outros: o freixo (Fraxinm excelsior, L.), o
amieiro (Alnus ghtíinosa, Gartn.), o teixo (Taxm baccata,
L.), a azinheira (Querem Ilex, L.) (esta prefere talvez os
solos calcareos), o carrasqueiro (Querem coccifera, L.), o
salgueiro branco (ScUix alba, L.), o vimeiro do norte (Sa-
lix vinmalis, L.), o choupo negro (Populus nigra, L.), a
faya preta, ou choupo tremedor (PoptUm tremula, L.), o
I sabugueiro (Sambucus nigra, L.), o sanguinho legitimo (Cor-
nus sanguinea, L.), a hera (Hedera Uelix, L.)> o abrunheiro
254
bravo (Prunus spinosa, L.), a cerejeira das cerejas pretas
miúdas {Prunus avium, L.), os pirliteiros ou espinheiros
alvares {Crcuaegus Oxyacanlhay L. e C. monogyna, Jq.), as
silvas (o maior numero das espécies e formas derivadas do
antigo Rubus fhuicosus, L.)» a pereira (Pyrus comtnwiis, L.),
a maceira (Pyrus Malus, L.), a sorveira {Sorbus domestica,
L.\ a tramazeira (Sorbus aucuparia, L.)> o mostageiro (Sor-
bus Ária, Grtz.), o Sorbm torminqlis, Cvti., etc.
Ainda s3o quasi indifferentes, mas já preferem um pouco
os solos calcareos, o aderno bastardo (Rhamnus Akuemus,
L.) e a zêlha (Acer Monspessulanum, L.)» 6tc.
Essências florestaes verdadeiramente calciccias nlo te-
mos talvez nenhuma. É certo que o zambujeiro (Olea Euro-
paea, L., a Oleaster, DG.) apenas apparece espontâneo, en-
tre nós, nos solos calcareos, mas a cultura tem levado a
oliveira aos mais diversos terrenos e encontra-se, a bem
dizer, em todo o paiz. O pinheiro d'Âlepo (Pinus halepensis,
Mill.) não é espontâneo, e embora viva muito bem nos so-
los calcareos não parece ser-lhes exclusivo. Algumas Pa-
pilionaceas arbustivas, sem grande importância florestal,
caracterisam entre nós a flora espontânea lenhosa das ter-
ras calcareas, bem como a falta das plantas calcifiigas^.
Influencia da humidade, ftmdura e fertilidade do solo.—
O grau de humidade da terra exerce uma influencia incon-
testável na distribuição das espécies vegetaes. Os logares
áridos e seccos teem uma flora característica, assim como
a teem os solos muito húmidos. Todos sabem que, nas mar-
gens dos ribeiros e nos sitios mais ou menos pantanosos,
existe uma vegetação lenhosa particular, constituída peio
amieiro, pelos choupos, salgueiros, etc.
A fundura e a fertilidade do solo actuam com bastante
força também na distribuição das essências florestaes; os-
1 As listas que antecedem sSo extrahidas do Utto do sr. Ch. Conte-
jean, adiante citado.
255
terrenos si^)erficia6S são, por isso mesmo, mais sçccos do
qae os terrenos fondos ; nos últimos as raizes podem alar-
gar-se até maior extensão vertical, emquanto nos solos
pouco espessos só podem extender-se horisontalmente ; as
diversas essências preferem amas ou outras doestas con-
dições conforme as necessidades dos seus organismos, e a
disposição das suas raízes. Assim o roble, cujo systema
radicular é profundo, que tem uma raiz mestra comprida,
TlTe bem nas terras espessas, nos yalles frescos e ricos do
Minho, mas raro se encontra nas ladeiras empinadas de
Traz-os-Montes e da Beira, onde, é certo, o clima lhe é bas-
tante menos favorável, mas onde também o solo, nas encos-
tas, mais secco, mais pobre e menos fiindo, lhe é menos pro-
picio. Sobstitue-o ahi o carvalho pardo da Beira, cujas raizes
afiindam menos, e bracejam horisontalmente muito mais.
As diversas arvores tiram ao terreno quantidades variá-
veis das substancias de que necessitam para se constituir.
Ccmio demonstração apresentamos a seguinte tabeliã onde
se vêem quaes as percentagens de cinzas, e quaes as per-
centagens de acido phosphorico, potassa e cal, extrahidas
ao solo por algumas essências. Copiamos esta tabeliã de
mn trabalho do sr. E. Henry, publicado nos Annales de la
Siaion Agronamique de VEst do sr. L. Grandeau:
EM iOO^ DE MATÉRIA 8EGGA (ARVORE COMPLBTa)
Fiwenrfm Cinzas A. phoaphorioo Potassa Oal
Mostageiro..." i\Wk 0^,058 0^,152 l^^l
Macei». 2^073 0^,082 0^,223 1^,531
Cerejeira 0^,092 0^,041 0^,093 0^,677
ATeUeira. 2^,557 0^,131 0^,200 l',893
CarfòmBehdu$,h 1S4Z7 0^,067 0^094 1^097
Choupo tremedor. 1^,771 0^,084 0S209 P,206
Ulmeiro 2^,042 0^,070 0^,155 1»,426
Bordo ÍS594 0^,078 0^,336 1S085
Faya(Fa^^aea<ú»,L.). i^098 0^,052 0i',143 0^703
CamIho....v 1S483 0^,076 0^,158 1S092
Freixo 1^,446 0^,183 0^.225 0S832
256
Se disposermos estas arvores pela ordem das suas exi-
gências,dando o numero 1 á que exige menores percen-
tagens dos princípios considerados, obtem-se o quadro se-
guinte, onde se pode notar que as espécies mais exigentes
em acido phosphorico s3o também, salvas poucas excepções,
as mais exigentes em potassa.
Eitendai
Cerejeira
Faya (Fagus silvatica, LJ..
Mostageiro
Ulmeiro
Carvalho
Bordo
Maceira
Choupo tremedor
Carpinus Betultis, L
Avelleira
Freixo
A. phofphorleo PoUssa
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
1
3
4
5
6
11
9
8
2
7
10
Ctl
1
4
9
6
S
40
8
7
11
3
Estes números evidenciam o papel que a fertilidade do
solo exerce na distribuição das espécies lenhosas. É claro
que as essências mais exigentes hão de concentrar-se nos
terrenos férteis, porque os indivíduos nascidos nos solos
fracos ficam rachiticos e s3o dominados pela mais robusta
vegetação das espécies menos exigentes, muito mais apro-
priadas, essas, ás terras pobres.
O esgotamento do solo provocado pela .maior parte das
essências florestaes, quando apenas se consideram as quan-
tidades de princípios mineraes extrahidos de uma dada
unidade de superficie, não é muito menos considerável do
que o esgotamento realisado pelas culturas arvenses, como
se vé dos seguintes números transcriptos da obra do sr.
Grandeau citada anteriormente:
r
257
nni«ni... Prinolplofi mineraes
uuJturM extrahldM de i heetare
Trevo 319^
Prados 299^
Batatas 265»^
Alto fdste de fayas (T. silvatica, L.J .... 215''
Trigo 174»^
Ervilhas 169'^
Abeto (Abies excelsa, DC.) ^58^
Pinheiros 63''
No emtanto as arvores restituem ao terreno, como ve-
remos, sob a forma de folhada mna parte muito miportante
dos principios que lhe tiraram, e alimentam-se n'um cubo
de terra maior, por isso são, na realidade, muito menos
esgotantes que as culturas arvenses.
Os números acima accusam uma grande differença entre
a quantidade das substancias mineraes necessárias aos pi-
nheiros e as quantidades precisas a todas as outras arvores
e culturas. D'aqui uma das principaes razões porque esta
essência, em muitos casos, se toma tão preciosa, e a ra-
zão porque prospera em solos tão pobres como são as
areias do littoral e muitas charnecas e arenatas do interior.
Hundeshagen classificou os solos florestaes, quanto ao
grau de fertilidade, do seguinte modo ^ :
1.* Classe: Solos muito ricos.— Comprehende : todas as
formações calcareas, em geral — o tufo calcareo, os ter-
renos gypsosos é margosos; as formações vulcânicas (la-
vas); os terrenos basalticos, e os derivados do trapp; os
solos originados pela euphotide, cblorite e serpentma, pe^
los schistos magnesiano e argilloso quando contem magne-
sia; os jazigos quartzoso-calcareos d'algumas camadas de
gréses, quando formam solos calcareo-ferruginosos ; os por-
1 Citado nos Étudet sur Vaménagement des foréUf pourL. Tassy. Paris.
1872.
c. s- i7
258
phyros. Os terrenos d'esta classe sustentam, mesmo sem
a comparência de hmnus ou de estrumes, as arvores mais
exigentes. Nunca se encontram n'elles os fetos, as urzes,
giestas, carquejas, etc.
2.* Classe: Solos de média fertilidade. — Comprehende os
scbistos argillosos, quando são pobres em cal, em magnesia
e ferro; os solos derivados dos granitos e gneiss, dos
scbistos siliciosos, do tufo quartzoso, do scbisto micac^o
6 do grés primitivo, bem como das variedades mais ricas
em argilla do grés variegado e do grés oolitbico. Âs es-
sências mais exigentes precisam encontrar, para poderem
viver n'estes solos, uma capa bumifera abundante. Appa-
recem n^elles expontâneas as urzes, o arando, as giestas,
carquejas, etc.
5.* Classe: Solos pobres. — Abrange os gréses variegados,
em geral, e os gréses de nova formação. Precisam estes
terrenos muito húmus. A faya (Fagus silvatica, L.J, o Car-
pinus Betulus, L., a tilia, o abeto, o pinbeiro do Norte, só
com tratamento e cuidados cenvenientes podem conservar-se
n'elles. O freixo, o amieiro, o bordo (Acei^)y nunca ahi ap-
parecem espontâneos, mas sim os fetos em grande quanti-
dade, as urzes e giestas, etc.
4.* Classe: Solos muito pobres. — Formados pelos calhaus
rolados e pelas areias movediças.
Apezar dos números, que apresentámos achna, a respeito
das quantidades de princípios mineraes extrabidos do solo
pelos arvoredos e pelas culturas arvenses, estas ultimas
estão sob uma dependência muito maior das qualidades do
terreno, como dissemos. Não só as arvores se contentam
com terras muito mais pobres, como ainda os massiços
florestaes melhoram e enriquecem o solo, emquanto as
culturas arvenses o peioram e esterilis^m, se por ventura
não forem acompanhadas de estrumações intensas. Este
papel das florestas será melhor desenvolvido adiante, quan-
do tratarmos da formação e propriedades da folhada. Por
r
259
«mqnanto limitar-nos-hemos ir dizer que, sobre os terrenos
pobríssimos, podem sempre desenvolver-se algumas essên-
cias lenhosas, que os enriquecem e melhoram com os de-
tritos accumulados, podendo succeder-lhes depois as es-
sências mais exigentes. Esta questão da fertilidade do solo,
que representa em agricultura uma influencia preponde-
rante, tem-a, por isso, muito mais modesta em cultura
florestal.
2.*— OS TERRENOS DE PORTUGAL :
SUA INFLUENCIA
NA DISTRIBUIÇÃO DAS ESSENOIAS FLORESTAES
Os granitos e os schistos — nas suas innumeras variantes
—constituem a feiçSo geológica que em Portugal occupa
a maior área. Se exceptuarmos a orla littoral do Algarve e
orna faxa desenvolvida na costa occidental, que abrange, ao
norte do Tejo, proximamente as duas regiSes cUmatericas,
denominadas pelo sr. Barros Gomes, Beira Uttoral e Centro
littoral (regiões cujos limites descrevemos), e que ao sul do
Tejo se alarga depois mais pelo interior, comprehendendo
o território que o sr. Barros Gomes chamou Baixas do Sor-
raia, quasi todo o Baixo Alemtejo Uttoral e ainda a parte
límitrophe das Baixas do Guadiana, tudo o mais, a bem
dizer, é formado pelos schistos e granitos, com a predo-
minância ora de uns ora de outros.
A faxa mais occidental, que determinámos, é dividida
em duas partes pelo Tejo; ao norte avultam os terrenos
secondarios, sobretudo as formações cretácea inferior e
jurássica, ao sul d'aquelle rio preponderam os terrenos
terciários. O littoral algarvio partilha d'estas duas forma-
ções, secundaria e terciária.
Dentro da carta, que a t3o largos traços esboçámos, ha
ma sem numero de detalhes a introduzir. N'uns pontos
i7#
I
260
são as rochas eruptivas que vem intermeiar nas assentadas
anteriores ; n'outros pontos apresentam-se depósitos mais
modernos ; finalmente n'outros sitios o encontro de espécies
mineralógicas diversas inprime-lhes, a mna ou a todas,
modificações importantes. Assim, por exemplo, no Minho
e em Traz-os-Montes os schistos apresentam, em partes,
erupções graníticas e dioriticas, e n'esta ultima provincia
calcareos crystallinos. No Alemtejo esses mesmos calcareos
crystallinos, as dyorites e os porphyros irrompem com
frequência; os porphyros sobretudo no centro da provincia.
Desde as faldas da serra do Bussaco até próximo de Thomar,
passando por Coimbra, estende-se uma faxa de grés ver-
melho. Na Estremadura também se encontram os gréses;
e por outras partes próximo a Lisboa, no terreno cretáceo,
apresentam-se erupções basalticas. Ao longo do littoral,
em toda a parte onde a costa é baixa, corre uma faxa de
areias marinhas, que, em alguns pontos, se encontram tam-
bém, nas costas mais altas, como diremos; estas areias
incultas e medões da costa s3o calculadas pelo Relatório
acerca da arborisação geral do paiz em 72:000 hectares.
Nas bacias de alguns rios apparecem formações modernas
— quaternárias e post-diluvianas — bem como n'uma es-
treita faxa no httoral occid^ntal.
Na grande zona schisto-granitica, apezar das erupções cal-
careas n'um ou n'outro ponto, a cal escasseia e, considerada
em geral, a vegetação lenhosa espontânea é calcifuga, on
indifferente. Na zona mais httoral as formações calcareas,
como dissemos, originam, em partes, solos ricos Q'aquelle
corpo e onde a vegetação é calcicola, ou indifferente. A
primeira vista, quem não conhecer o nosso paiz e apenas
tiver Udo o que deixamos escripto, ha de notar um facto
apparenteínente contradictorio e inexpUcavel; a região cal-
carea ao norte do Tejo fica comprehendida na zona do pi-
nheiro bravo, que traçamos no livro anterior, apezar d'esta
essência ser ccUdfuga em tamanho grau. Todavia a contra-
r
261
dicção é apenas appareote: na Beira littoral e no Centro
littoral existem, com os terrenos calcareos, muitos outros
qae o não são, e exactamente n'estes é que se encontram
os pinhaes.
O pinheiro brayo e o castanheiro apresentam entre nós
as mesmas tendências caicifugas que teem nos outros paizes.
Transcrevemos, em abono d'esta asserção, os períodos se-
guintes d'umas informações, que obtivemos, sobre este as-
sumpto, do nosso tão distincto silvicultor o sr. Carlos^ A.
de Souza Pimentel, (^efe da Divisão Florestal do Centro:
cSó conheço bons pinhaes bravos em solos quartzosos,
graníticos ou de schistos siliciosos, isto é, terrenos sem
calcareo algum; mas nas terras que teem este principio
em pequena quantidade o pinheiro bravo também vegeta,
porem fica muito longe de attingir o desenvolvimento que
toma n'aquelles solos. Em chão que contenha grande quan-
tidade de calcareo não me lembra de ter visto pinhal, e sei
de uma sementeira que se fez n'uma terra' de cré, não
escapando um só pinheiro bravo; nasceu bem, mas mezes
depois tinham seccado todos os pinheirinhos. O calor e a
côr branca d'este terreno também deve ter contribuído para
este resultado.»
«... Quanto ao castanheiro posso dizer o mesmo ; bons
soutos só os conheço em chão granítico ou schisto-silicioso.
Parece-me que não .sendo grande a percentagem do calca-
reo, também o terreno poderá servir para o castanheiro.»
Os grandes accidentes orographicos do paiz ao norte do
Tejo originam, especialmente na região mais interna, um
grande numero de ladeiras aprumadas d'onde o revesti-
mento terroso tem sido, em grande parte, arrastado pelas
chuvas, pelas neves e pelas geadas, e que n'uns pontos se
apresentam mal cobertas com matos rasteiros, emquanto
tfoutros a rocha sub-jacente irrompe a descoberto, escal-
Tada e nua, ou apenas vestida pelos musgos e lichens. Sobre
estes terrenos, completamente desaproveitados, os arvoredos
262
representariam uma dupla missão, tornando productivas
superfícies tão vastasy concori*endo efficazmente para a re-
gularísação dos cursos d'agua, que d'ali se despeobam, e
protegendo das corrosões e depósitos esterilisadores os ter-
renos collocados mais abaixo. O Relatório acerca da arbm-
sacão geral do paiz calcula os terrenos incultos ao norte
do Tejo em 2.322:000 hectares, a maior parte dos quaes
podiam com vantagem ser arbòrisados, e representam cumia-
das e ladeiras em muitos pontos abruptas. Estas montanhas
alternam, às vezes, com terras profundas e muito férteis,
aproveitadas com grande vantagem pela agricultura.
Na região sul do Tejo, mais plana, a área inculta é tam-
bém muito considerável, embora ahi apresente um aspecto
muito diverso : o relatório anteriormente citado calcula esta
área desaproveitada em 1.956:000 hectares, que muito con-
viria egualmente cobrir de arvoredos. N'esta superfície com-
prehendem-se as lendárias charnecas do Alemtejo, onde ape-
nas se encontra uma vegetação lenhosa arbustiva e sub-ar-
bustiva, predominando as urzes, as estevas, os tojos, o len-
tisco, o carrasqueiro, etc, e cujo solo, constituído em sitios
por arenatas mais ou menos soltas, é n'outros pontos, re-
lativamente, muito mais favorável.
Resumindo: — o clima infíue mais na distribuição das nos-
sas essências florestaés do que a natureza do solo. O cas-
tanheiro não se encontra nas terras ca|pareas, e na grande
zona do paiz pobre em cal escolhe dfe preferencia os pon-
tos ' onde o clima lhe é mais favorável. O pinheiro bravo
agglomera-se, ao norte do Tejo, na faxa littoral e em parte
do centro da região, por uma exigência climatérica parti-
cular, e procura ahi os terrenos mais pobres em cal, onde
só pode viver. O zambujeiro espontâneo apenas quasi se
encontra nos terrenos calcareos do Tejo, do Mondego, do
Guadiana e do Algarve, mas a cultura tem-o levado a to-
dos os pontos do reino, e a oliveira existe productiva, e em
boas condições de vegetação, sobre outras formações geo-
263
lógicas mnito diversas. O carvalho pardo da Beira, o roble
e o carvalho portagaez distribuem-se no paiz, indifferentes á
composiçSo do solo, segando a^ suas exigências climatéri-
cas; a profundidade e a riqueza da terra é que actuam um
poQCO n'esta distribuição, como dissemos. S3o ainda causas
climatéricas as que substituem, ao sul, o pinheiro bravo pelo
pinheiro manso, e, pode-se dizer, causas da mesma nator
reza actuam na distribuição da azinheira e do sobreiro, que
vivem em solos de composição mineralógica variável, em-
bora a primeira, dizem, prefira um tanto os solos calca-
reos, e o segundo os feldspathicos. Nos terrenos bastante
hmnidos, nas beiras dos cursos de agua, a vegetação lenhosa
peculiar é constituída pelos salgueiros, choupos, amieiro,
freixo, etc, indifferentes á natureza chimica da terra, e pouco
ioflnenciados pelas variações do cUma.
d.«— AS DIVERSAS QUALIDADES DO SOLO
E A SUA INFLUENOIA NAS QUALIDADES DOS LENHOS
E NA VIDA DAS ARVORES
As condições do solo que influem no porte das arvores,
na sua longevidade e na qualidade dos seus productos, são,
especialmente, o grau de riqueza e a percentagem de hu-
midade.
Quanto mais fértil é o terreno — em egualdade de todas
as mais circumstancias — maior é o desenvolvimento das es-
pécies lenhosas, em altura e grossura, e maior é a duração
de cada individuo. Nos solos muito pobres, áridos, super-
ficiaes, coUocados sobre um sub-solo por onde as raizes não
consigam introduzir-se, as arvores não podem viver e ape-
nas algomas moitas arbustivas se encontram. Nas terras que
apresentam condições um pouco mais favoráveis as arvores
apparecem já, mas ficam enfezadas, nodosas, com pequeno
2(54
porte» grossura mesquinha, e vivem, relativamente, muito
menos tempo do que as dos solos mais ricos.
A qualidade dos productos florestaes umas vezes é pro-
porcional á maior fertilidade do chão, outras vezes, pelo
contrario, é inversa com esta riqueza. É nos terrenos po-
bres e delgados, onde o crescimento é muito demorado,
que o sobreiro apresenta a melhor cortiça — elástica, ho-
mogénea, tochada — muito embora ahi o invólucro suberoso
attinja annualmente muito menor espessura que nos terre-
nos mais férteis. Quanto aos lenhos as suas boas qualida-
des podem ser provocadas, ou contrariadas, em grande
parte, pela riqueza do solo, segundo o modo de vida par-
ticular a cada essência; á maior pujança do terreno cor-
responde a maior espessura do annel lenhoso annual; nas
espécies em que este maior alargamento se faz à custa da
zona porosa da primavera, ficando constante a zona tochada
do outono, como nos pinheiros, a madeira fica mais densa,
mais apertada, mais resistente e elástica, nos solos menos
férteis, e o contrario acontece áquellas essências em que o
augmento do annel lenhoso annual se effectua á custa da
zona de outono, ficando constante a de primavera, como são
os carvalhos e o freixo, por exemplo.
O grau de humidade do terreno influe também muito no
crescimento das arvores e na qualidade dos lenhos. Os ter-
renos frescos, ricos em humidade^ mas sem que haja esta-
gnação, de ordinário, são os mais favoráveis. O sr. Che-
vandier obteve os seguintes números, como média dos re-
sultados dos seus estudos, feitos nos Vosges, acerca do
crescimento annual do abeto em solos diversamente húmi-
dos:
265 .
CnfdoMBto médio animal Natorexa do solo Edade média
[ma madeira Moea) dai arrorea cortadas
1*,84 Lamacento 101,88
3S43 Secco 71,57
8^,25 Secco, provido de fossos
que reteem a agua plu-
vial 74,45
11^57 Secco, regado com agua
corrente 99,45
Quando a agua existe nos solos em grande excesso, as
arvores viv^n ahi geralmente mal, e muitas não podem
mesmo viver em taes condições ; esta abundância de humi-
dade é prejudicial ás f aizes, e veda o accesso do ar, que
lhes é tão necessário.
As madeiras, nos. solos muito húmidos, ficaúi muito po-
rosas, muito cheias de vasos, pouco resistentes e pouco
atoradiças; a seiva, muito diluida, toma os elementos ana-
tómicos do lenho mais grosseiros e menos incrustados. Nos
solos muito seccos, onde a humidade escasseia, as arvores
amesqoinham-se muito, porque entram menos substancias
mineraes da terra, e menos agua, uma e outras indispen-
sáveis á organisaçSo vegetal Quando o terreno é excessi-
vamente secco, quando não existe algum deposito de agua
profundo, onde as raizes vão abastecer-se, pode mesmo
tomar-se impossível a vida das arvores.
4.«-A. FOLHADA £ A OAMA33A HUMIFBRA : SEU PAPEL
NA VEOETAQlO BA FLORESTA
O solo florestal; partes de que se compõe. — Todas as
folhas das arvores, como sabemos, caem naturalmente n'um
período mais ou menos longo; nas espécies de folhas ca-
. 266
ducas as folhas daram apenas um cycló vegetativo» nas es-
pécies de folhas perennes persistem mais de mn cyclo, mas,
n'um e n'outro caso, todas ellas afinal se despem da ar-
vore-mãe. As folhas mortas, os ramos seccos, os pericar-
pos e invólucros fructiferos, as cascas velhas, etc, juntam-
se sobre o terreno, no interior dos massiços de arvores, e
todos estes detritos, recalcados pela chuva, conjuntamente
com a vegetação rasteh-a de cryptogamicas, lichens e mus-
gos, que- n'esse meio apparecem, constituem um tapete,
mais ou menos espesso, que denominaremos trumia da flo-
resta.
Os fragmentos organisados constítuitivos doeste tapete
apresentam-se em decomposição tanto mais adiantada quanto
são mais antigos, isto é, quanto mais profundo for o ex-
tracto que considerarmos. Nas camadas modernas superfi-
ciaes a decomposição é ainda nulla, ou quasi nulla, os di-
versos órgãos e tecidos conservam as formas primitivas, e
a estas assentadas mais externas daremos o nome de /b-
Ihada. De uma certa profundidade por diante a manta da
floresta é constituída por uma substancia negra, ou escura,
já sem a forma primordial, quasi pulverulenta, resultante
da humificação da folhada, e que chamaremos coberttn-a hu-
mifera.
O solo nos massiços florestaes comp5e-se pois de duas
partes : a manta, ou extracto superior, formada pela acca-
mulação das folhas e outros restos vegetaes, onde ainda se
pode considerar, conforme o grau de decomposição d'estas
substancias, a folhada e a camada humifera; e sob a manta
a terra propriamente dita, que resulta da fragmentação,
mais ou menos grosseira, das diversas rochas, de mistura
com algumas matérias orgânicas.
As folhas, as cascas, e os ramos quando morrem natu-
ralmente, como já dissemos, estão bastante empobrecidos,
em relação aos mesmos órgãos vivos, porque uma parte
dos seus componentes, e exactamente dos componentes mais
267
úteis, pela sua raridade, ávida vegetal, teem emigrado para
os tecidos de reserva. Ainda assim a agglomeraçSo doestes
detritos no solo da floresta é importantissima para a boa
vegetação das arvores.
À espessara da manta, nos massiços florestaes, depende
muito das essências, das propriedades do solo e do clima,
da edade dos povoamentos e dos processos da exploração.
É mais espessa qnando as arvores são muito folhudas,
quando o solo e o clima são favoráveis, qnando os povoa-
mentos são adultos e robustos, quando o methodo de ex-
ploração não deixa nunca o terreno a descoberto, e a copa
das arvores o protege contra o vento e contra o sol.
Segundo Ebermayer, baseado nos números obtidos nas
estações da Baviera, eis a média geral do peso da folhada
caida annualmente n'um hectare de massiços com diver-
sas edades ; escolhemos para exemplo uma essência folhosa
e uma. resinosa*:
Masàço de fayas (Fa^ iilvatieaj L.) do 30 a 60 amios. . 4:182 kil.
« > » » de 60 a 90 annos. . 4:094
» • 9 » acima de 90 annos . 4:044
Massiço de pinheiros — de 25 a 80 annos 3:397
* » — de 50 a 75 annos 3:49i
» —de 75 a 100 annos 4:229
Procedendo ás pesagens da folhada, não annuahnente,
mas de três em três annos, e de seis em seis annos, Eber-
mayer notou que, nos massiços de fayas (Fagus silvatica, L.),
no fim de três annos, o peso da folhada é sensivelmente o
dçAro da que se forma por anno, e no fim de seis annos
este peso duplo conserva-se ainda constante ; d'onde- con-
clue necessitar a humificação doesta folhagem proximamente
' Estes nameros, bem como todo este estudo acerca da formação da
9anta das florestas, são extrahidos dos AnnàUs de la Station Agrfmomi-
9«e de VEsí, do sr. L. Grandeau, citados adiante.
268
três annos. Tendo praticado identicamente para com os pi-
nheiros, viu que as folhas mais seccas d'estas arvores teem
mais lenta decomposição, regulando por três anhos e meio. .
No emtanto estes números não teem nada de absolutos»
assim nas florestas bem tratadas, e d'onde nunca se tire
folhada; aquelles valores s3o mais altos ; n'essas condições
a humificação nos massiços de fayas (Fagus silvatica, L.)
demorou dois annos e meio, e nos massiços de pinheiros
cinco annos ; o peso médio da folhada, por hectare, chegou
então aos seguintes números:
Massiço de fayas (Fagus silvaticas L.) 10:417 kil.
Massiço de pinheiros 18:279
Querendo passar dos valores ponderaes, que apresenta-
mos, para os valores voliunetricos correspondentes, podem-
se admittir, segundo Ebermayer, as relações seguintes:—
l''^ de folhas de faya (Fagm silvatica, L.), completamente
seccas, pesam, em média, 62^. O mesmo volume de agu-
lhas de pinheiro pesa, em média, 101^, estando bem sec-
cas, e 121*" se estiverem meio humificadas.
Composição da folhada. — Na composição chimica da /o-
Ouida consideraremos a humidade, a matéria orgânica e a
matéria mineral. I^or matéria mineral tomamos o peso das
cinzas, que ficam depois da calcinação; por matéria orgâ-
nica tomamos a differença do peso total para a sonuna dos
pesos da humidade e das cinzas.
A. Humidade. — As folhas novas, quer das folhosas quer
das resinosas, são mais aquosas na primavera e perdem
agua nas outras estações; em maio as percentagens de
agua variam entre 60 e 78 por cento, em junho oscillam
entre 50 e 60 por cento, e d'ahi por diante conservam-se
quasi eguaes até ao fim da vegetação. Quando as folhas
caem, mortas naturalmente, contéem 30 a 50 por cento de
agua; perdem uma parte por evaporação e apenas conser-
269
vam uns 20 a 30 por cento, quantidade esta que ainda di-
minne, passado mais tempo de exposição ao ar, ficando em
i5 a 20 por cento. ^
Devemos, porém, advertir que a folhada é bastante hy-
groscopica e tem um grande poder de imbibiçSo, por isso
a sua percentagem de agua varia muito com a estação, com
o estado da atmosphera e com os phenomenos meteoroló-
gicos, que se tiverem dado.
Ebermayer calculou, para as seguintes espécies, que a
folhada caida annualmente na superficie de um hectare,
pode absorver estas quantidades de agua de chuva :
Massiço de fayas (Fagus sUvatica, L.) 12°'',90
Massiço de abetos (Mies excelsa, DC.) 5°*3,42
Massiço de pinheiros 4"^,89
. Segando o mesmo auctor, as folhas da faya (fagus sil-
vaxkay L.), completamente embebidas pela agua, reteem de
liquido 175 por cento do seu peso; as folhas do abeto 94
por cento; as do pinheiro 144 por cento; os musgos 234
por cento.
B, Substancia orgânica. — Segundo experiências muito
numerosas effectuadás nas estações da Baviera, a média,
em peso, de matéria orgânica, fabricada annualmente em
cada hectare das seguintes essências, tem estes valores :
Massiços de fayas (Fagus silvatica, L.) 6:278 kil.
Massiços de abetos (Abies excelsa, DG.) 6:272
Massiços de pinheiros 6:339
D'oade Ebermayer couclue que, em médias um hectare
de arvoredos produz annualmente a mesma quantidade de
matéria orgânica, seja qual for a essência. Estas experiên-
cias versaram sobre muitos massiços, com edades diversas,
pertencentes ás três espécies acima referidas.
270
Da matéria orgânica assim formada, metade, proxima-
mente, é empregada na construcçâo do tronco e dos ramos,
e a outra metade constituo a folhagem, isto é, passa depois
para o solo, originando isi manta da floresta. Ou, por outra,
metade da matéria orgânica fabricada peias matas sae na
exportação dos productos lenhosos, e a outra metade fica
a enriquecer o solo. Em abono doesta proposição transcre-
vemos as relações» determinadas por Ebermayer, entre o
peso total da matéria orgânica produzida, e o peso da ma-
téria orgânica da folhada, em massiços das três essências
sobre que estes estudos versaram :
Relaçio, «m pcM,
entre a matéria orgaoica
da eobertara, • a
matéria orgânica total
4
Massiço de fayas (Tagus sUvatica, L.). . 50,0 Vo
» de abetos C^bies excelsa^ DC.).. 45,77o
» de pinheiros 49,57© •
Toda a substancia orgânica, como é sabido, é um com-
posto, mais ou menos complexo, mas em que entra sem-
pre como elemento o carbonio. Ebermayer admitte, em mé-
dia, que o peso da matéria orgânica produzida n'um he-
ctare de floresta annuahnente, contém 3:040 kil. de carbo-
nio, ficando um pouco mais de metade d'este carbonio na
forma de madeira, e passando um pouco menos de metade
a constituir a folhada.
A composição elementar das diversas essências florestaes
afasta-se muito pouco da seguinte média:
Carbonio 45,0 7o (da substancia secca)
Oxygenio 42,0 » »
Hydrogonio... 6,5 » »
Azote 1,5 » »
Cmzas 5,0 > i
r
271
O lenho, nas essências eoropéas, é om pouco mais rico
em carbonio do que as folhas. As resinosas conteem 1 a 2
por 100 mais de carbonio total que as folhosas.
A {olhada apresenta sensivelmente a composição elemen-
tar acima transcripta, salva a percentagem de azote, que é
inferior, e não passa de 1,18 a 1,25 por cento.
O carbonio fixado pelas florestas em tamanha quantidade
deriva todo, como sabemos, da decomposição do anhydrido
carbónico existente na atmosphera. Um massíço de um he-
ctare consome pois 11:150 kil. de anhydrido carbónico, que
equivalem a 5:660 metros cúbicos d'este gaz (a 0^ de tem-
peratura e á pressão de 760"'").
Embora a percentagem d'esse corpo na atmosphera seja
bastante reduzida (4 Utros por 10:000 litros de ar, em mé-
dia), os yegetaes encontram sempre, de sobejo, a quanti-
dade que precisam, porque a agitação constante do ar os
poe em contacto com enormes massas gazosas, durante a
actividade da vegetação. Por outro lado, apezar de uma ta-
manha causa de empobrecimento, a atmosphera apresenta
qoasi constante percentagem de anhydrido carbónico, (ou
pelo menos variável em pequenos limites), porque mui-
tas origens o desprendem a todos os momentos, como di-
versas combustões, a putrefacção e outras decomposições,
a respiração dos seres vivos, etc.
Quanto á percentagem de matéria orgânica que entra na
composição centesimal da folhada^ Ebermayer avalia-a do
segainte modo :
Mftteria orgânica por */•
Folhada da faya (Fagus silvatica, L.) . . 78 a 80
» do carvalho 82
» do pinheiro 85 a 86
Musgos diversos 81 a 82
■
A composição immediata d'esta substancia orgânica é
272
muito complexa : todos os princípios immediatos componen-
tes podem todavia gnipar-se em duas classes — não azota- \
dos e azotados — distinctos pela ausência, ou pela presença
do azote. |
O primeiro grupo constitue a parte incomparavelmente
mais avultada, em peso, tanto nos tecidos vivos vegetaes, 1
como nas folhadas que d'elles derivam, e por sua vez o fe- i
nhoso é, d'este grupo, o principio que entra em maior per-
centagem. Nas folhas vivas o lenhoso augmenta com a edade, |
passa' de 7 por cento a 28 por cento; na folhada é o prin-
cipal componente do húmus.
Os princípios immediatos azotados encontram-se em to-
dos os tecidos vegetaes: entram na composição do proto- i
plasma — o corpo vivo da cdlula — e accumulam-se em ex- j
cesso nas sementes. Na manta da floresta os azotados pro-
movem e apressam a decomposição, decompondo-se elles |
também e abandonando o azote na forma de nitratos e de
ammoniaco, forma em que a vegetação fixa e utUisa este
elemento. !
As folhas verdes das diversas essências, colhidas na mes- i
ma época, teem quantidades muito deseguaes de azotados, |
como se vê das seguintes analyses, feitas em Tharand, e I
transcriptas do livro do sr. Grandeau, de que nos temos j
soccorrido em toda esta parte:
273
Matéria aiotada,
Folhas de por 100 de
•abttaneU teeca
Alrnu weana, DC 17,76
Tília parvifolia, Ehrh 14,86
Plátano bastardo (Acer PsettdapUUanus, L.) 14,86
Avelleira (Corylus AveUana, L.) 14,50
Carvalho 14,36
Tília grandifolia, Ehrh 13,86
Acácia 12,44
Salix pentandra, L 12,34
Ulmeiro.... 11,71
Tramazeira fSorbus aucuparia, L.) 11,34
Freixo 11,21
Vidoeiro • . . . . 10,96
Faya (Fa^s sUmtica, L.) . *. 10,64
Choupo tremedor, faya preta (Popidus tremula, L.) . 10,08
Amieiro 9,13
Carpinus Betulus, L 7,81
A média d'estas analyses dá 12,367o de substancias azo-
tadas. Debaixo d'este ponto de vista as folhas vivas das ar-
vores equivalem ao bom feno, e s3o superiores ao feno de
má qualidade. Mas, á medida que as folhas v3o envelhecendo,
a quantidade dos albuminóides diminuo, como a seguinte
tabeliã mostra:
AZOTADOS POR %
Mezee Folhaa de canraUio Folbae de faya FoUxaa de Larix eurcpaea, L.
Maia
Jimho . . .
Julho....
Agosto. . .
Setembro
25,9
14,6
14,0
9,9
7,0
Outubro 6,6
28,2
18,9
18,3
17,8
14,3
12,0
Novembro — 7,8
28,7
12,2
10,7
6,9
6,1
5,5
As folhas mortas, e portanto a folhada, s3o muito mais
pobres em azotados que as folhas vivas. Segundo Krutzsch
G. 8. 18
274
100 partes de folhas seccas das diversas essências abaixo
enumeradas, de ramos, pinhas, etc, conteem as seguintes
percentagens de azotados : •
Folhas de faya (To^ silvatica, L.) • • • 5,00 a 7,81
» de carvalho 6,62
Agulhas de abeto (Abies excelsa, DC.) . 8,43
» de pinheiro 11,81
• » do Larix europaea, L 5,50
Ramos de abeto (Abies excelsa, DC). • • 3,56
Pinhas do pinheiro 2,31
Musgos (segundo Hoflmann) 5,25 a 8,94
A madeira é tanto mais azotada quanto menos grossa.
Por isso os processos de exploração em que as arvores se-
jam cortadas bastante novas exigem ao terreno maior quan-
tidade de azote, comparativamente aos processos em que se
effectua o corte n'uma edade mais tardia.
C. Princípios mneraes (cinzas). — Nos órgãos das plan-
tas lenhosas as substancias mineraes repartem-se com des-
egualdade, accumulando-se em tanta maior abundância quan-
to mais novos os tecidos ; assim a quantidade de prmcipios
mineraes decresce nos seguintes orgaos, d'uma mesma ar-
vore, do primeiro ao ultimo — folhas, cascas, raminhos, ra-
mos, pernadas e tronco. D'onde se deve concluir que o es-
gotamento do solo em principios mineraes ha de variar
muito com a edade da revolução; quanto menor ella for,
quanto maior o numero e o peso dos ramos delgados pro-
duzidos n^mia dada área, em egualdade de tempo, maior
a exportação de principios mineraes, maior o empobreci-
mento do terreno. As florestas cujoâ productos sejam ape-
nas troncos de grandes dimensões s3o de todas as menos
esgotantes.
Ebermayer admitte que as três essências a que nos te-
mos referido principalmente n'este estudo, turam por he-
r
275
ctare as segnintes quantidades de mineraes (expressas em
kilos), assim divididas pela madeira e pelos órgãos que
coDstituenr depois a folhada :
FAya (F, tílvatiea, L.)' Abeto (A. êxceba, DO.) Pinheiro
Tronco.. . ..... 29,60. ....... 22,56 16,54
Miada 185,54 135,92 46,52
215,14 158,48 63,06
As diversas essências florestaes empobrecem pois des*
egaalmente o terreço. Nos exemplos anteriores o pinheiro
destaca-se perfeitamente das outras arvores, pela sua fru-
galidade ; já notámos mais atraz que esta espécie é óptima
para. a arborísaç2o dos solos pobres.
A quantidade mais avultada dos principios mineraes ex-
trahidos pelas arvores á terra, seja qual for a essência,
fica na folhada, permanece na floresta, contribuindo assim
moito eficazmente para a boa vegetação das subsequentes
gerações.
É certo que, antes de caírem naturalmente as folhas
mortas, os ramos e as cascas seccas, uma parte conside-
rável do acido pbospborico e da potassa tem retrogradado
para os troncos, mas a parte remanescente é ainda impor-
tante, e se a folhada é apenas um adubo medíocre para as
terras de lavoura, o tíral-a é muitíssimo funesto para os ar-
voredos, cuja producção é dimmuida por este facto.
Segundo Ebermayer, 1 hectare de floresta das essências
abaixo mencionadas recebe na folhada caída annualmente,
em média, as seguintes quantidades de potassa, cal, ma-
gnesia, acido phosphorico e sílica :
18*
276
PotMaa 0*1 U»gomÍM A. pluMphorioo BUIca
Ftíhada da faya {F.
sOcattea, L.) 9,87* . 81,92» . 12,22»^ 10,46» .... 60,36»
FoUMda do abeto (A.
êxeeUa^DC.) 4,82. 60,94 . 6,95 6,41 .... 49,60
Folhada do ^inhúro. 4,84. 18,87 . 4,80 3,68 .... QJSÒ
Formação do húmus. — O húmus resulta da putrefacçSo,
ou combustão lenta, das matérias orgânicas. A temperatura,
a humidade e a renovação do ar influem muito na forma-
ção e propriedades da camada humifera, que se encontra
nos massiços florestaes.
Nos massiços adultos, de meia edade, nem muito noYOs
uem "muito velhos, a camada humifera é mais espessa ; quan-
to menores forem os vazios deixados pela folhagem, quanto
mais bem resguardado estiver o terreno contra o sol e con-
tra o vento, quanto maior a humidade do solo, mais favo-
ráveis são as condições para a formação do húmus. As flo-
restas exploradas em alto fuste apresentam muito maior
camada humifera do que os talhadios ; uma única revolução
de alto fuste, enriquece tanto o terreno com os despojos ve-
getaeSy que pode transformar um chão ruim e quasi estéril
n'uma terra excellente.
O numero de annos que a folhada leva a transformar-se
em húmus depende de muitas causas; depende da natureza
da mesma folhada e das circumstancias que concorrem du-
rante a putrefacção. Os órgãos seivosos, niolles, tenros, de-
compoem-se muito mais depressa do que os órgãos duros
e seccos; assim as folhas coriaceas resistem muito mais do
que as brandas, e os ramos das arvores, os troços das ur-
zes e outros matos rasteiros são difElceis de decompor. As
substancias mais ricas em azotados humiãcam-se com maior
rapidez. Os órgãos que conteem ceras ou resinas são, pelo
inverso, menos facilmente atacáveis, porque o indacto ci-
roso ou resinoso lhes diminuo a acção do ar. As substan-
cias ricas em tannino precisam absorver muito oxygenio
r
277
para seguirem as suas soccessivas transformações; se en-
contram ar em abundância, decompõem-se com grande ener-
fia, mas se o ar lhes escasseia, resistem por muito tempo;
as folhas tanninosas dos carvaIbos,vidoeiro, amieiro, etc. hu-
nificam-se, por isso, rapidamente nos solos seccos, onde o
ar seja bem renovado, mas conservam-se pouco alteradas,
Hmito tempo, nos solos húmidos e cobertos d'agua. Geral-
mente as plantas que teem mais potassa, ou cal, transfor-
mam-se, em egualdade de circumstancias, mais depressa
do qne se fossem pobres n'estès corpos, e pelo contrario
as plantas ricas em silica teem mais difficil humificaçio.
Nos solos calcareos o húmus fórma-se, de ordinário, mais
depressa que nos solos siUciosos. As mil influencias locaes
podem apressar ou retardar muito esta decomposição; Eber-
mayer admitte que, em média, nas florestas da Baviera, a
humificação demora dois a três annos, nos massiços das fo-
liosas, podendo em alguns casos chegar mesmo a quatro
% einco annos. Às agulhas seccas das resinosas teem decoí»-
posição mais demorada^ que varia, segundo elle, entro cinco
e oito annos.
Ebermayer classifica o kumm formado nas florestas em
quatro classes, a saber:
!.* Húmus fértil. — Quando é constituído em condições
convenientes de humidade, de temperatura, renovação de
ar, sobre terrenos férteis em princípios mineraes úteis á
vegetação, nos grandes massiços, sem espaços vazios, com
boa vegetação, onde a folhagem abrigue a terra do vento
e do sol.
2.* Húmus pulverulento. — Terriço formado ao ar livre,
sem a protecção da folhagem superior, em sitios seccos,
que soflfreu excesso de calor, falta de humidade e renova-
çlo de ar demasiada. É constituído, em grande parte, pelas
wzes e lichens; tem o aspecto de um p6 secco, leve, es-
coro, com decomposição ulterior muito difBcil, sendo, por
isso, pouco favorável á vegetação.
278
3.* Humíus acido. — Produz-se em diversas condições: nos
terrenos húmidos, nos terrenos cobertos d'agna estagnada
algum tempo, onde seja incompleta a renovação de ar; nos
solos pobres em bases alcalinas, ou alcalino-terrosas, onde
os ácidos orgânicos da decomposição não podem ser nea-
tralisados, quando as substancias orgânicas tenham pequena
percentagem de azotados, porque aliás o ammoniaco des-
envolvido pela humificação pode neutr alisar aquelles áci-
dos. Em quaesquer d'estes casos o húmus apresenta reac-
ção acida, d'onde lhe vem o nome; o húmus pulverulento é,
quasi sempre, acido ao mesmo tempo.
Este hmms é prejudicial á vegetação de quasi todas as
nossas essências florestaes; apenas o vidoeiro e o amieiro
podem viver bem nos solos ácidos ; uma flora especial ca-
racterisa e prefere estas formações ; citaremos entre as es-
pécies indígenas as urzes e os rhododendrons, e entre as
espécies exóticas as camélias e azáleas. Â drenagem, a ad-
dição da marga, da cal ou da cinza são os meios de corri-
gir estes terrenos.
4.* Húmus adstringente. — Provém da decomposição das
substancias ricas em tannino, folhas de carvalho, de amieiro,
de vidoeiro, etc., quando esta decomposição se realisa n'uma
atmosphera pouco renovada. Não é muito vulgar o kmm
adstringente, porque as substancias tanninosas putrefazem-se
com grande rapidez, se aquella ch*cumstancia especial da
falta de oxygenio se não realisa.
Importância da manta nas florestas. — Do que temos dito
é fácil deduzir a importância da folhada e da cobertura hu-
mifera na vegetação das florestas. As propriedades physi-
cas 6 chimicas do solo são por ellas muito modificadas,
com os mais benéficos resultados.
A mantay porosa, fofa, com muito ar interposto nos seus
numerosos vazios, impede o terreno de aquecer e resfriar
com facilidade, conserva-lhe a humidade, diminue-lhe a eva-
poração e embebe grandes quantidades d'agua que, pouco
)-
279
a pouco, infiltra nas camadas inferiores. Restitua ao solo
uma parte muito importante das substancias mineraes so-
Iaveis> que elle cedera à vegetação ; enriquece-o cotn uma
grande quantidade de matéria orgânica, que^ se não é ali-
mento directo das plantas, concorre muito efScazmente para
essa alimentação, promovendo a solubilidade de muitos cor-
pos na terra quando, ao decompor-se, obriga a entrarem
em novos agrupamentos os compostos que lhe estão pró-
ximos.
Em cultora florestal, como veremos, o bom tratamento
dos massiços anda preso ao modo de constituir a maior es-
pessura possivel de folhada sobre o terreno, conservando-o
sempre vestido de arvores, e protegendo assim esses detri-
tos aggiomerados, da acção do calor que os secca, e do
Tento que os espalha e lhes rouba humidade. A presença
da manta nas florestas dá o motivo porque ellas aturam
em boa vegetação durante muitos anjios, durante mesmo
muitos séculos, sem o auxilio de adubos, sem empobre-
cerem, antes fertilisando o terreno, emquanto os campos
agricultados se esgotam em muito menos tempo, quando
nío recebem fortes estrumações.
Tirar a manta das florestas para adubo dos campos, ou
para cama de gados, representa sempre uma perda impor-
tante para as arvores, que se traduz afinal n'uma produc-
ção menor em unidade de superficie, n'uma quantidade de
lenho a menos. Desejando insistir n'este ponto, apresenta-
mos na tabeliã seguinte reunidos todos os valores citados
anteriormente, e onde se pode vêr expresso em kilos, quanto
fica empobrecido um hectare cona a tirada d'esses despojos
vegetaes caídos durante um anno:
280
PSBDA POB HBOTARE
(por umo)
Agua
Matéria orgânica
Na material carbonio . . .
orgânica, (azote
Matérias mineraes
potassa... .
iCal
Na matéria] magnesia . .
mineral .] acido phos-
phorico . .
,8iiica
FOLELiJS U
Fftj*
(F. nbntUM, L.)
7MS00
3i47 ,00
1498 ,00
33,00
185,50
9,87
81,92
12,22
10,45
60,36
Abeto
(A. nceUa, DG.)
522^00
2872,00
1358,00
39,00
135 ,90
4,82
60,94
6,95
6,41
49,60
Plnbeiío
515^,00
3138 ,00
1435,00
38,00
46,50
4,84
18,87
4,80
3,68.
6,53
6.»— aoqOes das florestas sobre o solo
(Jl). — lB0iieBela úmm floreates ••bre mm areias noTeIs
ém belvaauu*
Na orla littoral dos continentes, nos pontos onde a costa
se levanta em pendor suave sobre o mar, encontram-se
geralmente depósitos de areias soltas; estas areias resul-
tam, na maior parte, da desaggregagao das rochas mari-
nhas pelas correntes e pelo embate das ondas, que depois
as vomitam na praia; a principio os grânulos arenaceos
dispõem-se em camadas successivas, lisas, unidas, tendo
uma tal ou qual consistência, dada pela agua que lh*es senre
de cimento, mas no baixa-mar a evaporação os secca e des-
liga dando-lhes extrema mobilidade.
'281
N'esse estado o yento destaca facilmente a porção mais
superficial da areia, e transporta-a a maior ou menor dis-
tancia, conforme a violência com que sopra; ao primeiro
extracto succede um outro, e dentro em breve a superfície
areiada pode ser muito .considerável. Quando a areia na
qaeda encontra um qualquer obstáculo, por pequeno que
seja, um tufo de plantas, um rochedo, um madeiro, etc,
agglomera-se n'esse ponto e constitue, em pouco tempo,
uma grande saliência. A força do vento é quebrada pelo
pequeno obstáculo; a areia, por isso mesmo, deposiJ,a-se
ahi, apresentando talude pouco inclinado para a parte do
mar; novas camadas se vão assim depondo, galgam afmal
o cmne do corpo estranho, que as obrigou a tomarem
aqaella forma e, augmentando sempre, originam uma ver-
tente muito mais inclinada do lado da terra, por onde as
areias novamente arremessadas se despenham.
Tal é a origem das dunas, ou medões. Às montanhas de
areia formadas na praia doeste modo variam continuamente
no seu relevo, com a intensidade e a direcção variáveis do
vento, no emtanto conservam quasi sempre, mais ou menos,
a forma typica que descrevemos : sobem do lado do mar
com pequeno declive (entre 7 e 12 ou 20°, em relação ao
borisoDte), e ganham muito maior inclinação do lado op-
posto (30 a 50°).
Se, n'um dado logar, a força impulsiva do vento actuasse
durante o anuo ora do mar, ora da terra, mas com resul-
tantes íinaes idênticas para um e outro lado, as areias umas
Tezes caminhariam para o uxterior, outras vezes voltariam
para o mar, sem nunca excederem uma determinada linha.
Mas, se vento do mar for mais aturado e mais intenso, as
areias invadirão os continentes pouco a pouco, areiando
oma faxa continuamente crescente. É isto que epi muitos
pontos do globo acontece.
Portugal tem uma linha de costa muitíssimo desenvolvida ;
fista costa, baixa e desprotegida de rochedos em Bjuitos
282
pontos, recebe quantidades consideráveis de areia; o no-
roeste dominante, e ainda o oeste, impellem aquelles de-
pósitos siliciosos para o interior. É sobre todos pernicioso
o primeiro d'aquelles ventos, mais ponteiro e forte na es-
tação secca, quando as areias estSo mais soltas; a direcção
habitual das nossas dunas é de noroeste a sueste.
A altura doestes medões de areia é muito variável. Na
Gascunha, segundo E. Reclus, alguns chegam a exceder
75", podendo medir 80", e mais; nas praias baixas d'Africa,
as dunas do Gabo Bojador e as de Gabo Verde attingem
120 e 180°. Nas nossos praias, segundo o sr. Garlos A,
de Sousa Pimentel, variam habitualmente entre 10 e 2(y",
chegando em alguns casos a 50", e ainda mesmo a maior
altura.
A areia impellida do mar, quando galga o cume de uma
duna, forma ás vezes outra parallela, começando no sopé da
primeira o declive menos inclinado da segunda, que egual-
mente apresenta a configuração typica, tomando um talude
muito mais rápido do lado da terra. Outras vezes é no
dorso da primitiva duna, que a outra mais nova se origina,
servindo-lhe de núcleo um qualquer obstáculo existente ali.
Esta configuração em series parallelas é frequente, mas
nem sempre existe; o vento, quando sopra forte, altera a
regularidade a cada instante, faz e desfaz montanhas enor-
mes de areia, quasi com a mesma faciUdade com que faz e
desfaz as ondas no Oceano.
A invasão progressiva das areias pelo interior dos con-
tinentes traz comsigo efieitos perniciosíssimos: os campos
íjultivados e as povoações ficam sepultados sob a enorme
toalha; as fozes dos rios obstruídas dificultam ou impos-
sibilitam a navegação ; os cursos de agua são, muitas vezes,
obrigados a mudar de leito, e as aguas interiores repre-
sadas, em alguns casos, formam pântanos, muito prejudi-
ciaes para a salubridada publica.
Todos estes desastres teem sido occasionados pelas dunas
283
em Portugal : roubam vastíssimos tractos á cultara e como
prova basta vêr a superficie enorme que ellas occupam.
Os srs. Francisco Maria Pereira da Silva e Caetano Maria
Batalha, na sua Memoria do Pinhal Nacional de Leiria, citam
a villa de Paredes, próxima ao mesmo pinhal, que era ainda
bastante povoada no século passado, e hoje está coberta de
areia; o sr. Carlos A. de Sousa Pimentel refere-se á villa
de Lavos, como tendo soffrido uma egual sorte. Segundo
os srs. Delgado e Carlos Ribebo, no Relatório acerca da
<Mrborisação geral do paiz, as pequenas lagoas de S. Thiago
do Cacem, de Melides, Albufeira, ^a Tocha, de Mira, etc.,
s3o produzidas pelo cammhar das dunas. As fozes dos rios
Liz^ Vouga, e outros, encontram-se muito damnificadas, e
os seus leitos muito areiados.
O terreno árido e extremamente móbil, coberto de areias
tão soltas, constitue verdadeiros desertos improductivos, e
muitas vezes diíTiceis de atravessar, quando o vento sopra
com força, fustiga com as innumeras partículas siliciosas
qae traz suspensas, e revolve a superficie do solo, varian-
do-Ihe o relevo a cada instante. Estes perigos são ainda
aggravados, em sitios, com a existência dos tremedaes, ver-
dadeiros atoleiros formados nos valles estreitos entre dois
medoes próximos ; detftro da agua ali abrigada e quieta os
grânulos de areia caídos das dunas visinhas descem sem
movimento forçado, e sustentam-se em equilíbrio, formando
mna serie de pequenas abobadas sobrepostas^ que por fim
se elevam já fora do liquido, seccam á superficie e enco-
brem o precipício sub-jacente; frágeis construcções, des-
truídas ao mais leve choque.
O caminho percorrido annualmente pelas dunas, para o
interior dos continentes, é muito variável; depende da in-
tensidade do vento e da natureza e mobilidade das areias.
O sr. Carlos A. de Sousa Phnentel, no seu livro os Pinhaes,
calcula que as dunas situadas entre o Liz e o Mondego, e
as d'entre Quiaios e Ovar, não terão um avanço médio in-
284
ferior ao que foi detenninado por Bremontier para as da-
nas da Gascunha — 20^ a 2^^ por anno. Comparando as
largaras do areial entre Ovar e o pinhal de Leiria, taes cobm)
as aponta José Bonifácio de Andrade e Silva na Memoria
sobre o plantio de novos bosques em Portugal, e as larguras
actuaes, o sr. Pimentel verificoa que as distancias sSo as
mesmas nos pontos immobilisados (parecendo isto indicar
a exactidão da medida) sen(}o o augmento, nos pontos nSo
fixados, tSo considerável que corresponde a um avanço an-
nual d'entre 20 a 40"°; percurso muito grande, mas de qae
em França ha já exemplos. Faltam-nos, no emtanto, em Por-
tugal, dados positivos a este respeito.
Nos sitios onde a praia de areia está protegida do lado
da terra por uma cortina de rochedos, a maior ou menor
distancia, a formação das dunas toma-se impossível e a
areia apenas se depõe na estreita faxa da praia. Do mesmo
modo as dunas não se formam nos logares onde as rochas
se levantam logo sobre as ondas, sem apparecer a desco-
berto nenhuma tira de areia.
Todavia em terras altas do nosso paiz, mais no interior,
encontram-se alguns tractos consideráveis cobertos pelas
dunas, cuja formação de certo remonta a uma época geo-
lógica anterior, tendo^se dado já depois o levantamento dos
terrenos sobre que essas areias descançam. Taes dunas apre-
sentam uma grande differença comparativamente ás qae
vem terminar no Oceano; as ultimas augmentam sempre
com a junção de novos materiaes trazidos pelas ondas,
emquanto as primeiras avançam também para o interior
dos continentes (embora com menos rapidez), promovem
do mesmo modo todos os estragos peculiares a estas inva-
sões, mas não se renovam com a entrada de novos mate-
riaes. Entre Aljezur e Sines, entre a Nazareth e as Pedras
Negras existem dunas separadas do mar pelos rochedos;
e no Gamarção, ao sul do pinhal de Leiria, encontram-se
internadas e mais distantes ainda do mar.
r
285
O Matorio acerca da arborisação geral do paiz calcula a
eitensão aproximada coberta pelas donas em 72:000 he*
ctares; em algaos sítios os areiaes da costa entram muitos
kiiometros pela terra dentro. Se depois de escripto aquelle
relatório (1868) algumas areias teem sido fixadas com ar-
voredos, em compensação a superflcie invadida tem pro-
gredido também para o interior, e infelizmente o avanço
aoDual é muito superior aos trabalhos que lhe tem sido
oppostos. O sr. Pimentel, no livro acima referido, calcula
a área occupada pelas nossas dunas. (i882) n3o inferior a
50 ou 60:000 hectares.
O meio de tornar productiva uma tão grande superado,
onde exclusivamente reinam a aridez e a desolação, o meio
de impedir os effeitos desastrosos do deslocamento das
areias, fixando as que já existem nos continentes e impe-
dindo a agglomeração de outras novas, é o emprego con-
Teniente da arborisação.
Âs raizes das arvores, alargando-se em todos os senti-
dos, profundando muito n'aquelle meio pouco resistente,
dão-lhe uma òerta cohesão; as folhagens da copa abrigam
contra o vento a camada superficial, a primeira que se de-
via levantar se a duna caminhasse; a sombra das arvores
modifica as propriedades da areia; a menor evaporação con-
serva-lhe um pouco mais a humidade ; diminuo o calor ab*
sorvido e reflectido ; os pequenos arbustos e sub-arbustos^
as plantas herbáceas, principabnente as vivazes, desenvol-
vidas sob a protecção das arvores, mais concorrem para
vestir e segurar a camada superficial; os detritos vege-
taes accumulados em manta espessa modificam ainda, com
. grande energia, as propriedades pbysicas e corrigem pouco
a pouco as propriedades chimicas, transformando solos tão
estéreis em outros ricos e bons. Ás primitivas essências
florestaes empregadas, rústicas e pouco exigentes, podem
^tão succeder, muitas vezes, outras menos sóbrias, com
tanto que a exploração seja racionalmente dirigida, não fi-
286
cando nanca o ch3o descoberto e desprotegido. Ao mesmo
tempo que os arvoredos immobilisam d'esta forma as areias
movediças, os trabalhos executados ao longo da costa, teem
estabelecido uma duna artificial, com um determinado de-
clive para o mar, vestida efficazmente de vegetação apro-
priada, por onde novas areias nao podem galgar, evitan-
do-se d'este modo que as sementeiras mais da orla fiquem
soterradas.
Os grânulos constituitivos das dunas apresentam com-
posição mineralógica um pouco diversa, conforme as praias
onde forem estudados. As mais das vezes são siliciosos,
mas em alguns sitios são, mais ou menos, calcareos, como
principalmente em alguns pontos da Normandia e da Bre-
tanha. As propriedades physicas e chimicas doestes depó-
sitos, tornam-os muito pouco propícios ao desenvolvimento
da vegetação inicial : aquecem com muita facilidade, per-
dem a agua com grande rapidez, são muito pobres em sub-
stancias alibeis ás plantas, etc. ; no emtanto a falta de co-
hesão, a sua mobilidade extrema, é o principal obstáculo
que os vegetaes ali encontram para viver; com effeito, nos
sitios onde a areia, mais abrigada, estaciona mais tempo,
apparece logo espontânea uma flora característica, compre-
hendendo espécies sóbrias, que toleram a presença do sal
marinho, de ordinário com os systemas subterrâneos muito
desenvolvidos, para melhor se prenderem, e pesquisarem
n'um campo de acção mais largo os escassos elementos mi-
neraes nutritivos aU existentes.
A parte mais internada das dunas, segundo parece, ao
depois de ter feito grandes estragos e esterilisado vastís-
simas superficies, pode modificar lentamente as suas pro-
priedades physicas e chimicas, fixando-se pouco a pouco, se
o homem não intervier em sentido contrario, como infeliz-
mente acontece quasi sempre. No dizer do sr. E. Reclus,
umas vezes é o oxydo de ferro, existente na agua das fontes,
que immobilisa as areias, transformando-as afinal em ver-
287
dadeiros rochedos; n'oatras partes são cimentos organisados,
qae intervém, conchas quebradas, restos de infusorios; as
plantas yivazes representam um grande papel também na
obra de consolidação: assim que "podem firmar-se em alguma
parte do areial, seguram-o com as suas raizes e rhizomas, e
promovem, no fim de séculos, a accumulação de uma leve
camada de terra vegetal, que então permitte o desenvolvi-
mento das arvores, se os rebanhos não vierem roer e des-
truir as primeiras hervas. Ainda segundo o sr. E. Reclus,
todos os documentos históricos reunidos sobre este as-
sumpto indicam a existência de florestas espontâneas sobre
as donas; foi o corte irreflectido d'estes arvoredos que
provocou a mobilidade invasora das areias actuaes.
Entre nós os pinhaes de Leiria, dos Medos, do Yallado,
Pedrógão e do Urso, que teem séculos de existência, assentes,
cmo são, sobre dunas, podem mostrar com a maior evi-
dencia quanto os massiços d'arvores aproveitam e melho-
ram os terrenos arenosos do littoral.
Modernamente — desde os fins do século passado até ao
presente — tem-se arborisado em Portugal alguns pontos —
«especialmente ao sul da praia da Vieira, entre o Oceano
e o pinhal de Leh-ia, e nos areiaes que ficam entre o rio
Liz e o Mondego, onde já estão fixadas algumas dunas nas
costas de Lavos, no Urso e no Pedrógão.»
Segando o sr. Carlos A. de Sousa Pimentel, de cujo
livro transcrevemos o ultimo período — «é n'estes pontos
que se tem concentrado o que até agora se tem feito n'este
género de operações, que todavia não excede 1 :200 hecta-
res. Algumas dezenas de hectares que todos os annos se
semeiam estão longe de compensar a larga superficie de ter-
renos que as areias vão conquistando em todo o littoral.»
No livro especial nos referiremos á pratica d'estas arbo-
risaçoes.
288
(B).— Influenela dtM ll^rMtas na eoB«oll4açA« d«0 terresM
dan montealimi, e na re^ularlMiçfto úmm earaas 4
Idéas geraes. — A agua da chuva, logo depois de cair, di-
Tide-se em três partes: uma parte inflltra-se no terreno,
profunda mais ou menos, até encontrar uma camada im-
permeável, circula subterraneamente, e rebenta ao depois
á superfície constituindo as fontes ; uma outra parte eva-
porasse e volta para a atmosphera; a outra parte, emfim,
escorre ao longo do terreno e vem juntar-se nas linhas de
maior despresão, nos thalwegs, formando os rios, e os
outros cursos de agua a descoberto.
Estas três partes em que se divide a chuva ao cair teem
valores relativos muito diversos, segundo as propriedades
do solo e o seu relevo, segundo as variantes ,do clima, e as
estações, mas são sempre complementares: a somma das
três prefaz a agua caída inicialmente; logo, ao augmento
de uma das partes corresponde a diminuição das outras.
Quanto menos permeável e fofo é o solo, bem como quanto
maior é a sua inclinação sobfe o horisonte, menor é a quan-
tidade da agua infiltrada, maior o volume que se reúne nos
thalwegs. Nos paizes montanhosos, que estejam n*aquellas
condições, os cursos d'aguá são numerosos^ encontram-se
geralmente fechados em valles profundos e estreitos, teem
declives fortes por onde a agua se despenha com força,
avolumam repentinamente com as cheias, muito conside-
ráveis e súbitas, porque recebem, a bem dizer, quasi toda
a agua caida na sua região, e recebem-a logo emseguida à
queda. Pelo inverso, nos paizes de planície, os cursos (l'agaa
são habitualmente em menor numero, teem leitos mais largos
e com declive suave para o mar, apresentam as margens
baixas, e as cheias são n'elles menos volumosas e menos
repentinas, porque a infiltração maior dos solos marginaes
só pouco a pouco deixa reunir as aguas nos valles.
r^
289
Qnando a agaa escorre ao longo das tenras, obedecendo
á lei da gravidade, produz resultados mechanicos de des-
aggregaçSo e de corros3o tanto mais consideráveis quanto
mais desaggregavel for a natureza mineralógica do solo,
qaanto mais aprumada a vertente, e quanto maior a força
da chuvada. Nas montanhas de encostas muito inclinadas
e de terreno esboroadíço, onde as tempestades sao de ordi-
nário frequentes, este effeito é máximo. Logo que a chuva
eomeça a cair, a agua reune-se nas menores depressões e
arrasta as partículas terrosas, que servem de apoio aos
fragmentos das pedras grandes e pequenas; obriga estas
pedras a perderem o equilíbrio e precepita-as, de envolta
com a terra, no fundo do valle. Os materiaes assim despe-
gados da parte superior das vertentes arrastam na queda
fflcdtas outras pedras e terra coUocadas mais abaixo; e a
montanlia escava-se, primeiro em pequenos sulcos, depois
em grandes regueiros, em boqueirões e ravinas, A saraiva,
peia sua maior força, ainda promove destroços mais pro-
nmiciados.
Se o terreno é de fácil corrosão, quando todas aquellas
substancias se precipitam com força no thalweg, cavam
profundamente o leito do curso d'agua, corroem-lhe a mar-
gem, obrigam-o a desviar-se e a incidir sobre a outra mar-
gem, que em pouco tempo é desfeita e corroída também.
É na occasião do derretimento das neves sobre as altas
montanhas, ou com as grandes chuvas de trovoada, que as
aguas se agglomeram em maior quantidade, e as cheias são
mais funestas.
Todas as correntes transportam em suspensão, mais ou
menos, substancias terrosas; insignificantes estes trans-
portes em algumas d'ellas, tomam-se pelo contrario n'ou-
tras volumosíssimos. A natureza geológica das bacias hydro-
graphicas e a sua inclinação, assim como a intensidade e
frequência dos hydrometeoros, do mesmo modo que influem
ua corrosão das vertentes, actuam na quantidade dos mate-
C.8. 19
290
ríaes transportados; este transporte é consequência d'aqaella
corrosão. Nos paizes montanhosos/ pelas raz5es acima ex-
pendidas, as substancias arrastadas pelos cursos d'agua sSo
sempre em maior abundância, e constituem depósitos mais
grosseiros e esterilisadores do que nos paizes planos.
Quando o declive do leito do rio diminue de um certo
ponto por diante, ou quando a secção transversal augmenta,
e muito mais se concorrem as duas causas, diminue a ra-
pidez da corrente, e os corpos estranhos depositam-se. A
natureza geológica e a disposição orographica dos terrenos
superiores influem muito, como dissemos, na qualidade
d'estes depósitos, mas não influe menos o grau de dimi-
nuição na força impulsiva da corrente. De ordinário, nos
pontos onde o curso de agua passa, sem se demorar, e
ainda animado de uma certa velocidade, embora menor que
a velocidade trazida até ali, os depósitos são grosseiros,
calhaus rolados, e areias esterihsadoras, porque as parti-
culas menos pesadas são arrastadas pela força que ainda a
agua conserva. Nos logares onde a agua se demora e faz
remanso é onde estes pohnes mais ténues se depositam,
constituindo, em innumeros casos, alluviões e nateiros da
maior fertilidadç.
Os cursos de agua são um elemento de mcalculavel ri-
queza nos paizes que atravessam; augmentam-lhes a humi-
dade, tornam possiveis as regas em pontos numerosos, são
um meio de transporte muito económico, prestam a soa
força a muitas industrias pondo em acção as rodas hydrau-
licas, podem constituir com os seus depósitos cainpos fera-
cissimos, etc. ; mas, em contraposição, a falta de regimen
das aguas correntes, toma-as, em muitos casos, em logar
de elemento de vida e de riqueza, um elemento de ruina e
de morte, alagando, corroendo, esterilisando com as suas
cheias as terras marginaes e destruindo ás vezes as po-
voações visinhas.
Tudo quanto nas montanhas concorrer para augmentar o
291
poder de imbibição dos solos e para quebrar a força corro-
siTa da agaa, contribua muito eficazmente para a regularisa-
ç3a das correntes nascidas ahi. Quando a acção inconsiderada
do homem abate as florestas naturaes nas bacias dos cur-
sos d'agua, quando apascenta grandes rebanhos pelas suas
ladeiras inclinadas, rebanhos que destroem parte da vege-
tação rasteira e ajudam a despegar a terra vegetal, a mina
é dupla, porque na montanha o solo perde-se arrastado pela
chuva, e no valle, a corrente engrossando á mais pequena
chuvada, invade e areia as terras próximas, como dissemos,
tomando improductivas grandes superficíes.
Em França, no departamento dos Alpes Superiores, es-
tas acções patenteiam-se n'uma escala enorme, auxiliadas
pela natureza do teri^eno, composto em grande parte por
diversas formações calcareas muito facitanente desaggrega-
veis. Âs minas attingem ali uma proporção verdadeh-amente
assombrosa.
Os cursos d'agua podem grupar-se em diversas classes,
conforme os phenomenos que patenteiam. A. Surell, nos
seos clássicos estudos sobre as torrentes dos Alpes Supe-
rares, classifica em quatro grupos prmcipaes os cursos de
agua originados nas grandes montanhas.
1.^ 0$ rios. — Caracterísados pela grande largura dos val-
les onde correm, pelo volume considerável da agua que
reimem e pela demora e persistência das cheias. Correm sob
vma pequena inclinação, inferior a 0^,015 por metro. Di-
vagam n'um leito muito largo, chato, de que apenas occa-
pam uma estreita faxa (isto é, abrem de quando em quando
novos caminhos no grande leito que teem ao seu dispor,
abandonando com frequência o caminho antigo).
2.^ (k rios torrenciaes. — Teem valles menores e mais aper-
tados; correm sob inclinações inferiores a 0*^,06 por me-
tro; recebem menor volume tl'agua; não dicagam, ou dí-
wgam pouco, porque a fundura e a consistência das mar-
gens lh'o não permittem.
i9#
1
292
3.® Às torrentes. — Apresentam valles muito cm-tos; teem
<^heias fortes e que apparecem e desapparecem com grande
rapidez; o declive do seu leito é muito variável em peque-
nas distancias, e quasi sempre superior a (y",06 por metro
tíío descendo nunca de 0°^,02. As torrentes corroem na mon-
tanha, depositam no valle e divagam depois. Em linguagem
vulgar a palavra torrente tem outra accepção: applica-se a
todo o curso d'agua impetuoso.
4.° Os ribeiros ou regatos. — Apresentam pequeno volume
de agua, teem de ordinário pequena inclinação, não corroem,
e as suas aguas, límpidas quasi sempre, não depositam,
ou depositam muito pouco.
Esta classificação não é absoluta, x) mesmo auctor o faz
sentir. Alguns cursos d'agua não podem ser rigorosamente
comprehendidos em nenhuma das classes, outros, pelo con-
trario, pertencem a mais de uma, quando se consideram
em pontos diversos da sua carreira.
As diflferenças principaes entre aquelles grupos são de-
vidas, não tanto á diversidade dos phenomenos que cara-
cterísam, como á intensidade d'elles. Assim, por exemplo,
Surell considera nas torrentes uma bacia de recepção, com
a forma typica de um largo funil oúde as aguas se reúnem
e corroem o terreno, um canal d'esgotOy mais ou menos
desenvolvido, por onde a agua sae, e o leito de d^ecção,
espaço mais largo nos valles, onde os depósitos são aban-
donados; nos. rios, embora em área menos condensada, pas-
sam-se phenomenos idênticos e existem regiões semelhan-
tes: os seus deltas são verdadeiros leitos de dejecção por
onde a agua divaga; estes deltas não se formariam se a
corrente não trouxesse materiaes suspensos, isto é, se não
tivesse uma bacia de recepção a corroer; o cancU d^esgoto,
que nas torrentes é muito pequeno, forma quasi todo o curso
do rio. A natureza especial das margens dos rios torren-
viaes e a intensidade minima dos phenomenos passados nos
ribeiros, individualisam principalmente estas duas classes.
293
Transcrevemos a classificação de A. Surell porqae em
muitos casos poderá ser applicada aos cursos de agua do
nosso paiz, senão considerados sempre em toda a sua ex-
tensão» ao menos suppondo-os divididos em differentes sec-
çiíes.
As montanhas de Portugal, e os seus cursos de agua. —
Em Portugal o solo das grandes montanhas, constituído na
maior parte por formações antigas, n3o é, considerado em
geral, muito facilmente desaggregavel. No emtanto dentro
do typo granitico e schistoso existem innumeras variantes,
com propriedades physicas muito deseguaes, algumas de
iiaicil pulverisaçSo e que abandonam avultados detritos aos
corsos d'agua das suas regiões. Os estragos d'esta natu-
reza occasionados entre nós não tomam decerto as propor-
ções a que se elevam no departamento francez dos Alpes
Superiores, cujo solo é tão esboroadiço, como dissemos»
mas s3o, ainda assim, muito attendiveis e ruinosos.
Salva uma ou outra excepção local muitissimo restricta»
as nossas montanhas estão quasi de todo desarborisadas;
as suas encostas, ásperas e aprumadas em muitos pontos»
ou se encontram mal vestidas de matos rasteiros, ou, em
muitos casos, apresentam-se desnudadas, tendo descaído a
terra sob a acção das chuvas, das neves e das geadas, fi-
cando só o esqueleto informe, a rocha sub-jacente escal-
vada. São enormes os tractos de terreno assim desaprovei-
tados e que podiam ser entregues quasi todos á explora-
ção florestal.
Por outro lado, os nossos cursos d'agua correm entre-
gues a si próprios, alagando com as cheias os campos visi-
Bhos, esteriUsando muitos e corroendo outros ; em sitios» as
aguas da cheia não conseguem, quando o volume diminue,
Toltar ao primitivo leito, e constituem pântanos prejudicialis-
simos á saúde: tal acontece, por exemplo, em alto grau»
junto ás margens do Sado, com grande prejuízo das po-
Toações próximas, A má regularisação dos cursos d'agua
1
'294
do paiz é tanto mais para lastimar, que as veigas sitaadas
nos seus valles s3o terras das mais férteis» e bem impor-
tayaprotegel-as.
A acção das nossas principaes correntes sobre os terre-
nos visinbos é diversa bastante, conforme o typo da cor-
rente^ e todos os phenomenos que concorrem.
O Douro e todos ,os seus affluentes transmontanos pas-
sam entre riba» fragosas, muito altas e apertadas; o valle
do Douro, constitiddo por granitos e schistos é, relativa-
mente, o mais profundo e estreito do paiz. Estes rios sõ
n'um ou n'outro ponto se espraiam em veigas mais dilata-
das, que formam outras tantas excepções : assim o valle do
Douro alarga-se um pouco junto á Regoa, o Sabor no fer-
tilissimo valle da Yillariça, o Tua nos campos de MirandeHa,
6 o Tâmega na risonha veiga de Chaves. Todos estes rios,
cujos cursos s3o tão apertados na sua maior extensão, apre-
sentam Índole torrencial e cheias volumosas e rápidas. O
mesmo acontece ainda ao Zêzere, mas este differença-se
mais pela quantidade grande das substancias terrosas ar*
rastadas em suspensão. O Douro corre entre margens cul-
tivadas em geios, oú socalcos, que seguram muito a terra,
pela sua composição pouco esboroadiça, como também o
são as ribas dos seus affluentes, emquanto o Zêzere pas-
sa, em muitos pontos, entre granitos grosseiros, facilmente
desaggregaveis.
O Lima, o Minho, o Vez, etc., correm em paiz monta-
nhoso, como os anteriores, também entre paredes alcanti-
ladas de granitos e schistos, mas apresentam já um typo
diverso; os seus valles são largos, as penedias levantam-
se afastadas do veio d'agua, contornando bellissimos cam-
pos por onde os rios serpeam. Soffrem cheias também
grandes e pouco demoradas, mas estas cheias alteam con-
stantemente os leitos das correntes pelos depósitos que
abandonam, e são uma constante ameaça ás terras margí-
naes, agricultadas e ricas.
295
O Tejo e o Mondego, quando considerados em pontos dif-.
ferentes, revestem modos de ser deseguaes : ambos na parte
superior (do Tejo consideramos apenas o curso em Portu-
gal) correm em valles estreitos e fundos e em leitos pê-
nhascosos ; as fragas n'esta porção do Tejo são constituídas
pelos schistos, e no Mondego pelos schistos e granitos, os
últimos grosseiros e desaggregaveis, o que toma mais abun-
dantes os materiaes transportados pelo Mondego, ainda além
disso enriquecido com os transportes dos seus aiiluentes,
que passam em terrenos semelhantes. Na segunda parte
dos seus cursos ambos estes rios teem leitos muito lar-
gos, margens baixas, e apresentam um typo muito distin-
cto do que téem superiormente.
O Talle do Tejo, para áquem de Tancos, dilata-se a
constituir as campinas da Gollegã, Yallada, Azambuja, Cha-
musca, Almeirim e Salvaterra, avaliadas em 60:000 he-
ctares, e que formam os férteis campos do Ribatejo ; a fei-
ção mineralógica do solo é então muito diversa ; desappa-
recem os granitos e os schistos, predominam as camadas
de grés, de argilla e calcareo, pertencentes ao período qua-
ternário; o declive do leito do río diminuo, e de Tancos
para baixo o Tejo transforma-se n'uma corrente de leito
movei, deslisando no estio caprichosamente por uma vasta
plaoicie e repartindo as suas aguas por diversos braços,
emquanto no inverno transborda com as cheias e alaga to-
das essas enormes superGcies. Os seus ãffluentes são tor-
renciaes, mais ou menos. Os depósitos abandonados na li-
nha de curso, conhecidos pelo nome de mouchões, obrigam
I corrente a dividir-se em braços, corroendo os campos mar-
ginaes, e originando extmsas goivas de um dos lados, em-
quanto do lado opposto a menor velocidade da agua aban-
dona areias estéreis. O Mondego apresenta, na segunda
parte do seu percurso, phenomenos análogos ; o valle onde
corre também se alarga muito, é egualmente muito fértil,
e também constituído pelos gréses, pelos calcareos e mar-
296
gas, sem a comparência já dos granitos ; as suas cheias es-
tendem-se, do mesmo modo, em grandes superficies; tam-
bém apresenta depósitos no meio do leito, conhecidos com
o nome de insuas, cuja formação e resultados podem com-
parar-se aos mouchões do Tejo.
Finaknente, como ultimo typo, algmis dos nossos cursos
d'agaa que percorrem paizes menos accidentados e de for-
mações geológicas menos antigas, como são os affluentes
do Sado, alguns do Tejo, etc, teem valles pouco profundos,
margens baixas, mas apresentam, em muitos casos, indole
torrencial, alagando no inverno as terras visinhas, formando
pântanos, corroendo as margens e abandonando depósitos
muito esterilisadores.
N'um paiz tão montanhoso, como é o nosso, a falta d$
revestúnento florestal nas encostas das serranias, traduz-se
n'uma perda enorme, pelo desaproveitamento de tanto chão,
e pela falta de regimen das aguas correntes, com todas
as ruinas, com todos os destroços que são a companhia in-
separável doesse abandono.
Influencia dos arvoredos sobre as montanhas. — Os ar-
voredos podem impedir, ou attenuar, as acções desastro-
sas da agua anteriormente referidas; a sua influencia, em
resumo, exerce-se dos seguintes modos :
1.^ As florestas seguram as terras nas ladeiras, e por
esse facto diminuem os materiaes arrastados pelos cursos
de agua, ao mesmo tempo que aproveitam com os seus pro-
ductos lenhosos e corticaes terrenos aliás desaproveitados.
2.^ A manta da floresta, eminentemente porosa, diminue
a fracção da agua da chuva que escorre ao longo do solo,
e torna, por isso, as cheias dos rios menos volumosas e
sobretudo menos repentinas.
3.^ As florestas, diminuindo a evaporação do solo e aa-
gmentando, como dissemos, a quantidade da chuva, con-
correm para tornar mais numerosos os cursos de agua, ao
mesmo tempo que os regularisam pelo melhor regimen.
297
4.^ Se a arborisação das bacias hydrog[raphicas melhora
eonsideravelmente o regimen das aguas, o revestimento
florestal nas margens baixas de alguns rios protege muito
os campos visinhos, quebra a força da corrente, attenua
os efifeítos dos estoques d*agua e pode obrigar á deposição
de férteis colmatas.
Vejamos mais detalhadamente cada um doestes pontos :
Quando o solo desnudado de vegetação é exposto em
forte declive á acção das chuvas, como já dissemos, a agua
escorre á superflcie em grande quantidade, reune-se nas
mais pequenas depressões, escava primeiro pequenos sul-
cos que dentro em breve sa transformam n'outras tantas
ravinas, arrasta a camada terrosa, começando pelos peque-
nos grânulos até terminar nas pedras mais consideráveis,
e por fim na montanha corroida e atacada, ou só ficam a
descoberto as rochas subjacentes, se teem dureza sufficiente
para resistirem ao ataque, ou se esta rocha é branda e fa-
dlmente desaggregavel continua a fragmentação, mudando
o solo de relevo, para assim dizer» a cada instante, trans-
portado para longe pela acção niveladora das aguas. Mas,
se as arvores vestirem estas mesmas encostas, as coisas
passam-se de um modo muito differente : as raízes conso-
lidam o solo, envolvendo as partículas terrosas na rede das
soas nmnerosissimas malhas ; os troncos, os rebentões das
raizes, os vegetaes arbustivos e herbáceos que se desen-
volrem espontâneos sob as arvores quebram a cada passo
a força da agua que escorre pelo terreno, e tornam a cor-
rosão muito menos enérgica; por outro lado, as folhas e
os ramos da copa attenuam a força da chuva, ficando o solo
loeDos comprimido e com maior poder de imbibição, em-
qoanto a folhada e a camada humifera, muito esponjosas,
aogmentam extraordmariamente este poder, como disse-
laos, auxifiadas ainda estas acções pelas raizes, que estabe-
lecem uma espécie de drenagem ao longo da qual se divide
atoalha Uquida superficial, daado-se muitas infiltrações.
298
As florestas operam na montanha segurando-lhe a terra,
angmentando a infiltração da chuva, diminuindo a agoa qne
escorre superficiahnente, aproveitando saperfícies abandona-
das ; atacam na origem os perniciosos eflèitos das correntes,
diminuindo os materiaes terrosos por ellas arrastados, dan-
do-Ihes lindole menos torrencial e melhor regimen; isto é
— fazem com que o nivel das aguas correntes nio baixe
tanto no estio, não suba tão alto no inverno, e que as cheias
sejam menosr repentinas e menos prejudiciaes. Surell e De-
montzey citam factos do apparecimento de torrentes (na acce-
pçSo que ligam a esta palavra) com todos os seus effiútos
desastrosos, pelo simples corte de arvoredos, e factos re-
cíprocos.
N'um paiz em que o desenvolvimento da população obriga
a aproveitar, pela cultura arvense, as terras mais férteis,
mais fundas, menos inclinadas, a exploração das arvores
silvestres colloca-se naturalmente nas areias moveis do lit-
toral, nas charnecas áridas do interior, e nas ladeiras das
montanhas, onde teem a representar ao mesmo tempo pa-
peis tão complexos e tão bemfazejos.
Entre a floresta e a montanha existe um complicado jogo
de harmonias as mais intimas; Os lenhos adquirem nas re-
gimes montanhosas qualidades de dureza, de resistência e
densidade que os toma muito apreciados. As arvores, fi-
xando e enriquecendo os solos das montanhas, contribuem
para fixar egualmente e desenvolver ali a população indí-
gena, que, reflectindo, como as arvores, a aspereza do dima
natal, é tão característica pela sua energia, robustez e amor
ao trabalho; aliás, dos serros escalvados e despidos, d'onde
a terra vegetal productiva foi desaggregada, onde as tor-
rentes passam entregues a si proprías, seguidas da mina
e do estrago, a emigração dá-se, em extraordinária escala,
para os paizes mais favorecidos ; esta falta das arvores acar-
reta a perda do solo e a perda da população.
As montanhas da Europa estavam cobertas de arvoredos
299
eqxmtaneos, e o seu desnudamento foi obra dos homens.
k mina â'estas montanhas provem do corte impensado das
anrores, e da pastoreaçSo abusiva dos rebanhos nos espa-
(OS desguarnecidos; os rebanhos aggravam e apressam o
desmoronamento das terias, sobretudo quando o revesti-
meDto vegetal é fraco, porque os animaes roem as plantas
e arrancam algnmas, esmagam as que vem a nascer, e des-
taeam numerosas pedras e partículas terrosas.
Em Portugal aconteceu isto mesmo, como duremos n*ou-
tro logar. A maior parte do paiz estava coberta de grandes
matos e de florestas apertadas, onde os animaes bravios se
acoitavam; os documentos históricos ainda se referem a
muitos d'esses arvoredos. Se era de necessidade e de van-
tagem o corte de muitos d'elles, para arrotear campos para
a laYoora, os cortes exagerados, em sitios onde o chSo se
Ião prestava a outras culturas, e que ficaram ermos e des-
pidos, trouxeram as funestíssimas consequências anterior-
mente esboçadas. O problema hoje, na maior parte doestes
casos, reduz-se apenas a procurar renovar as antígas e na-
tmaes condições : nSo se trata de uma arborisaç3o, mas de
mna rearborísaçSo.
Mas as florestas, ao mesmo tempo que regularisam as
onrentes, dando-lhes um regimen muito mais constante —
e debaixo d'este ponto de vista sSo verdadeiros diques con-
tra as inundações — também augmentam as aguas das fon-
tes e nascentes, com decidida vantagem para a cultura, fa-
cilitando as regas em maior escala.
O angmento das aguas subterrâneas nos paizes arbori-
sidos resulta da maior infiltração que se dá n'esses terre-
nos, motivada, como dissemos já, pelas propriedades phy-
lícas da manta da floresta, pela drenagem natural que as
nozes das arvores constituem, pelos obstáculos numerosos
ttGO&trados pela parte da chuva que escorre superfícial-
nente, bem como pela diminuição de evaporação.
Citam-se numerosos exemplos do apparecimento de fon-
300
tes, depois de arborisados certos tractos de terrenos, e,
pelo inverso, factos de seccarem outras, em seguida aò
corte de determinados massiços. Referiremos um único does-
tes exemplos, citados pelo conde de Bouvoir na sua Voyage
autour du monde^ e transcripto na obra referida de Â. Sa-
reli: — t. . . Na Austrália o grande mal é a secca; o dr.
cMuller destina quasi todos os fundos do Jardim Botânico
cde Melbourne a combatel-a, e consegue-o. Repartiu, no in-
cterior, milhões de arbustos nascidos nos seus viveiros; pe-
cquenos regatos se formam rapidamente n'esses massiços
cnovos. Os resultados são já soberbos, e cada anuo se reco-
cnhecem outros mais. Em terras áridas e nuas creoa, em
tmais de cem pontos, outros tantos bosques e outros tan-
ctos regatos.»
Advertiremos, todavia, que estas acções das florestas so-
bre o regímen dos cursos de agua, e sobre o augmento das
fontes, teem sido negadas por alguns escriptores, entre os
quaes especialisaremos o sr. Yallés. No emtanto, depois dos
estudos de Surell, Gezanne, Demontzey, Ebermayer, etc.,
esta acção é evidente e indiscutível.
A resolução d'este vasto problema da consolidação das
montanhas e regularisação das suas correntes abrange os
trabalhos de arborisação na bacia da corrente e ao longo
do seu curso, e trabalhos hydraulicos especiaes — barra-
gens, revestimentos, etc. — que teem de completar a obra
efficaz das arvores. A vegetação lenhosa ao longo das mar-
gens dà protecção eOScacissima, ajudando a suster com as
raizes a terra, e quebrando em parte a força com que o li-
quido vem animado. Adiante trataremos da pratica d'estas
arborisações.
Muito embora tenhamos no paiz tantas montanhas, que
conviria vestir de arvoredos, nada ainda entre nós se tem
tentado a este respeito: continuam desaproveitadas tão gran-
des superfícies, e os cursos de agua, que d'ali se despe-
nham, continuam a evidenciar, com as ruinas e destroços
r
30i
que provocam, as fímestas conseqaencias d'aquelle aban-
dono.
Arborisaçao das dunas e das montanhas s3o dois proble-
mas dos mais importantes da nossa silvicultura. Para a re-
solução do primeiro alguma coisa se tem trabalhado, em-
bora pouco; o segundo é completamente novo para Por-
tagaL
(C).~liillnenela d«« florestas na formação doa aoloa asrleolaa,
no acn enxvgo e fertilidade
As raízes das arvores teem um grande poder de pene*
^ção, mesmo nos solos duros e pedregosos. Em algumas
drcnmstancias, se a rocha é atacavel, conseguem alraves-
sal-a, perfurando-a, ou esfarelando-a com os seus suecos
addos. Outras vezes as radiculas introduzem-se pelos mais
pequenos interstícios, pelas mais ligeiras fendas das rochas,
e com a sua expansão, quando engrossam, operando como
verdadeiras cunhas, conseguem desunir e fragmentar as es-
pécies mineralógicas mais duras e resistentes.
Debaixo d'este ponto de vista as arvores podem conside-
rar-se grandes preparadoras do solo agrícola; profundando
primeiro a terra, pela fragmentação da rocha subjacente»
e enriquecendo-a depois com os seus detritos organisados.
Já nos referimos n'outro logar ao modo por que as flo-
restas augmentam a fertilidade do solo e a importância d'esta
acção. Emquanto as culturas arvenses diminuem a riqueza
da terra a ponto da continuação d'essas culturas, no mesmo
logar, ser possível só com o auxilio de grandes estruma-
ções, uma revolução única de alto fuste torna muitas vezes
om terreno quasí estéril em terreno fértil.
A acção das florestas como preparadoras e melhoradoras
do solo agrícola é evidente; o corte de muitos massiços flo^
restaes tem sido instigado não só pelo valor dos productos
302
lenhosos, como também pela cubica de sujeitar à enlton
arvense, de muito mais prompta e fácil realisação, o ter-
reno enriquecido com os despojos da mata. Em muitos does-
tes casos a cultura nos primeiros annos tomon-se yantajo-
sissima, mas o solo depressa esgotado, pela falta da con-
yeniente adubação, negou-se depois a produzir com lacro,
e afinal, abandonado, esse espaço, antigamente coberto de
yiçosa e forte vegetação lenhosa, transformou-se n'uma char-
neca safara, mal vestida com algum mato /asteiro.
Sobre as terras pantanosas as arvores podem ainda exer-
cer uma influencia bastante notável, que vamos accentoar
em poucas palavras.
' A humidade excessiva do solo, sobretudo quando provém
de agua estagnada, não é favorável nem ás culturas her-
báceas, nem ás culturas lenhosas; é pcmto este incontro-
verso. Em taes terrenos só as juncas e juncos, os caniços,
espadanas, etc., se desenvolvem bem (exceptuando a insa-
lubre cultuí^a do ^rroz) ; as arvores, ou não podem viver,
ou vivem mal, e ficam com os lenhos muito pouco cúcm-
•tentes e pouco aturadiços. '
Racionalmente, antes de entregar á cultura um terreoo
encharcadiço, deve-se enxugal-o. Mas se^ em these geral,
se pode quasi sempre sustentar a conveniência d'este en-
xugo quando se trate das culturas arvenses, nem sempre
o mesmo se pode dizer quando tenha de se empregar a
exploração florestal, vistas as despezas d'aquellas obras, e
o pequeno rendimento dos massiços de arvores. N'este caso
é possivel, muitas vezes, utilisar esses terrenos sem o en-
xugo prévio, empregando as essências melhor adaptadas a
esse meio especial, e sujeitando-as a processos particulares
de plantação e tratamento.
 floresta pode até modificar muito e£Scazmente aquel-
las más propriedades do solo, diminuindo-lhe a humidade,
e vários exemplos se podem citar em abono d'esta asser-
ção.
303
Á primeira yista não se comprehende esta affirmativa;
0$ arvoredos^ como sabemos, diminuem a evaporação do
so]o, e portanto parece que deviam antes exacerbar do que
corrigir aquelle erro. Mas> em contraposição, as arvores
consomem grandes quantidades de agua (tanto mais quanto
nuds rápido for o seu crescimento e mais abundante a fo-
lhagem, e d'isto se devem tirar indicações para a escolha
e adaptação das essências), e além d'isso abrem com as
raize^ o sub-solo impermeável, constituindo uma drenagem
nataral, por onde a agua se infiltra e escoa nas camadas
mais profundas, emquanto, por outro lado, a manta^ do-
tada de forte poder de imbibição, chama a si, retém, quan-
tidades grandes de agua, como vimos.
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iUCTORES PRIMCIPALMERTE CONSULTADOS
H^ESTE LIVRO lU.
Gh. GoNTEJEAif . — Géographie Botanique. h^uence du terrm
sur la végãation. Paris, 1881.
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que des plantes. Paris, 1883.
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■<,
305
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anno económico de 1879-1880. Lisboa» 1881.
A. SuRELL. — Études sur les torrerus des Hautes AlpeSj deu-
xième édition, avec une suite par Emest Gezanne.
Paris, 1870-1872.
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nement des montagnes. Paris, 1882.
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Adolphe £. DupoNT et Bouquet de la Grte. — Les bois in-
digènes et étrangers. Paris, 1875.
F. Yallés. — De Valiénatim des foréts auxpoints de vue gou-
vemamentalj financier, dimaiologique et hydrologi-
que. Paris, 1865.
G.8. 20
LIYRO IV
Essências florestaes
DÍTidiremos as anrores silvestres, cujo estado yamos em-
pr^iender, em três agrupamentos; incluímos no primeiro as
essências verdadeiramente importantes na arborísaç3o flo-
restai do paiz; no segundo as arvores silvestres que nSo se
encontram em massiço, e só existem isoladas, ou em pe-
qaeDos grupos, ou misturadas com as outras essências, bem
cmo os arbustos mais vulgares nas florestas ; no terceiro
agnipamento incluimos as espécies exóticas já hoje um
poaco introduzidas, e cuja exploração silvícola conviria pro-
pagar.
L^ESSENOIÂ^S PRINOIPALMEiniE IMPORTANTES
NA ARBOBISAQiO FLORESTAL DO PAIZ
As essências mais importantes na arborísaçSo florestal
do paiz sSo o pinheiro bravo e o pinheiro manso, os so*
breiros, a azinheira, o carvalho portuguez, o carvalho ne«
gral e o roble, o castanheiro e a alfarrobeira. A estas es-
so*
308
pecíes deve juntar-se a oliveira, se quizermos exprimir a
feiç3o exacta dos nossos principaes arvoredos; mas a oli-
veira, pela forma porque é explorada, pertence antes ao
dominío da arboricoltura, e por isso a não incluimos ates-
tes estudos ; o zambujo, como tem importância muito mais
restricta, entra no segundo agrupamento em que dividimos
as nossas arvores silvestres.
o pinheiro bravo i
(BinuM Pinatíer, Aii t>ar« acutitquama Bss. : P. marítima, Brot^
O pinheiro bravo encontra-se abundantemente em Portu-
gal» constituindo ás vezes massiços consideráveis; pode
mesmo dizer-se que os nossos massiços florestaes maiores
e mais homogéneos são formados por esta essência. Vive,
melhor ou peior, em quasi todo o paiz, mas prepondera so-
bretudo na região littoral ao norte do Tejo e na parte cen-
tral da Beira, onde encontra óptimas condições de desen-
volvimento, e onde se agglomera em mais dilatados mas-
siços.
Clima. — O pinheiro bravo é uma arvore essenciahnente
do littoral, ávida de humidade na atmosphera, e por isso
mesmo a sua distribuição em Portugal corresponde ás re-
giões de menor seccura. No emtanto, se as terras baixas
das proximidades do Oceano lhe são muito propicias, ainda
assim consegue viver nas montanhas, mesmo a altitudes ji
consideráveis. Na serra da Estrella, como dissemos, o pi-
nheiro bravo sobe bastante alto, e em Traz-os-Montes, mais
longe do mar, encontram-se alguns pinhaes, em terras muito
1 Para a determínaçáo e caracteres botânicos differenciaes das espa-
des estudadas veja-se o nosso Ethoço de uma flora lenhosa, que eonsti-
tne o ^."^ Tolume d'este curso, e onde se encontram numerosas gravu-
ras de flores, íructos, folhas, ete.
309
eleyadas; é certo que perdem ahi a importância que teem
na zona littoral, e a sua vegetação é muito menos vigorosa*
Solo. — É uma essência silicicola ou, melhor, calcifuga»
como vimos. Nos terrenos calcareos não vinga, ou ãca en-
fezado, conforme a percentagem de cal. Afora esta exigen-
da o pinheiro bravo é uma arvore muito frugal, e bem o
demonstra a pequena quantidade das suas cinzas, relativa-
mente ás outras essências: contenta-se com terrenos muito
pobres, até com as areias marítimas e com os solos pedre-
gosos e alcantilados. Vive em todas as formações nao cal-
careas, comtanto que não originem terrenos muito compa-
ctos, nem pantanosos, e que exista alguma humidade no
sobsolo, seja a que profundidade for.
Entre nós os pinhaes bravos encontram-se, de ordinário»
DOS peiores terrenos, nas areias moveis, nos gréses, etc., e
assim aproveitam grandes extensões, que não seriam fáceis
de explorar com outra cultura, tão grande é a pobreza de
muitos d'esses solos.
Radicação. — Tem systema radicular muiío desenvolvido;
é arvore que se prende á terra com segurança. Quando o
sobsolo não é muKo húmido, nem formado por qualquer
rocha compacta, impenetrável ás raizes, a raiz mestra en-
grossa e profunda muito, e desenvolvem-se conjuntamente
numerosas raizes lateraes, que se alargam a grandes dis-
tancias, originando novos eixos orientados na vertical. Esta
disposição particular das raízes, a profundarem e a esten-
derem-se para os lados ao mesmo tempo, toma o pinheiro
Im^vo apropriadíssimo para a arborisação das dunas.
É claro que, nos solos superficiaes, esse enraizamento
modifica-se e toma-se nmito menos vigoroso.
Parte, crescimerUo e duração. — O pinheiro bravo apre-
senta um tronco mais ou menos cónico, segundo as condi-
ções em que tem vivido, ramificação verticillada, como a
de todos os pinheiros, e copa pyramidaL Nas arvores ve-
lhas a copa toma-se irregular, e arredondada superiormente
310
pelo fraco desenyolyimento da flecha. N'estas anrores Te-
lhas a copa é, de ordinário» pequena em relaçSo ao fuste,
mas essa relação, assim como a forma do tronco e da ra-
mificaçSo variam bastante, conforme o clima, as qualidades
do solo, a densidade do massiço, etc.
É arvore de crescimento rápido, e cuja altura total, se-
gundo os dados fornecidos pelo sr. G. de Sousa Pimentel,
no seu livro os Pinhões^ está ordinariamente comprehen-
dida entre 20 a 25 metros por 0'",5 a O"",? de diâmetro,
no pé. No emtanto estas dimensões podem ser muito eice-
didas, e o mesmo auctor cita uma arvore no pinhal de Lei-
ria, que mede 40 metros de altura, por i metro de diâme-
tro na base, números estes superiores aos mais altos, que
tem sido determinados nos outros pontos da Europa oode
vive o pinheiro bravo.
O sr. Pimentel calcula a maturação d'esta arvore, em
condições normaes, dos 80 aos 100 annos; mas, entrada
na ultima phase da vida ainda pode viver muito tempo. Em
condições favoráveis a decrepitude começará decerto mais
tarde. O sr. Pimentel encontrou já cepos de pinheiros cor-
tados com 250 camadas lenhosas, e ainda sãos, isto é, qae
teriam vivido mais tempo se os deixassem.
Madeira e casca. — A madeira do pinheiro bravo, ou do
pinho, como vulgarmente se diz por abreviatura, tem o
cerne avermelhado e o albumo branco; a proporção das
duas formações varia bastante, conforme as condições da
vegetação : quanto menos favoráveis ellas forem menor a
quantidade do cerne. Os crescimentos annuaes são bem ap-
parentes, e quasi sanpre largos, mas esta largura depende
muito das circumstancias que concorreram. Os canaes re-
siniferos são a])undantes; apparecem no corte transversal
do cerne como traços, ou pontos mais escuros, pela ag|^o-
meração da resina, que se concretou; no corte das ultimas
formações deixam escapar uma gota de terebinthina.
Esta madeira é muito resinosa, dura, pesada, pouco elas-
31i
tica. Conforme já dissemos, e é geral a todos os pinheiros^
a madeira é de tanto melhor qualidade quanto mais redu-
zidos os crescimentos annuaes, porque então prepondera
o tecido mais denso e mais resinoso do outono. Um exem-
plar d'esta madeira da coUecçSo do Instituto (secco ao ar)
tem a densidade 0,607 ; mas os crescimentos annuaes d'este
exemplar s3o bastante largos, e existem no paiz madeiras
de pinho com densidades muito superiores.
A casca do pinheiro bravo, nos primeiros annos, ou nos
ramos novos, é delgada e esverdinhada; ao depois toma-se
cinzenta e esfolia-se superficialmente em pequenas placas,
devido isso à formação de uma lamina suberosa muito pouco
fonda, superior ao liber e ao parenchyma cortical. Mais
tarde (aos 8 ou 10 annos), origina-se no tronco um rhyti-
doma profundo, vermelho-escuro, muito gretado em esca-
mas largas, persistente; a assentada suberosa, que ori-
gina este rhytidoma, invade um grande numero das forma- .
{5es liberianas, e destroe a vitalidade de tudo quanto fica
para o exterior. Nos ramos, e no extremo do tronco, a
casca é sempre mais delgada, e esfolia-se em placas muito
menos grossas.
Folhagem. — As folhas do pinheiro bravo, como as de to-
dos os pinheiros, sã^o de duas naturezas : as primeiras ío-
Ihas que apparecem no individuo muito novo são solitárias,
rígidas, aguçadas; dos dois annos por diante, em logar d'es-
tas folhas, vem outras escamiformes, seccas, triangulares,
agadas, em cujas axillas se desenvolvem as agulhas gemi-
nadas, envolvidas por uma bainha membranosa. Estas agu-
lhas teem 10 a 20 centímetros de comprimento, e são gros-
sas, rígidas, carnudas, verde-retintas, ás vezes um pouco
enroladas. Duram dois a três annos; a arvore é, portanto,
sempre-verde, como todas as do mesmo género. Apezar de
ter as folhas compridas, o pinheiro bravo tem a folhagem
pouco apertada; dá pequeno coberto, isto é, assombrea pouco
o terreno ioferíor.
312
Temperamento. — É arvore muito robusta; não pode mar
em massiço apertado sem se resentir; cresce então muito
em altura» mas sem engrossar quasi nada, forma poucas
folhas, e amesquinha-se a ponto de, em alguns casos, n3o
resistir. No emtanto, é arvore social e muito apropriada a
formar massiços, quando os convenientes desbastes lhe re-
gularisem o espaço e a luz de que precisa.
Floração e fhitíificação.—k floração é monoica; as flo-
res masculinas dispõem-se em amentilbos ovóides, amarei-
lados, que se reúnem na base dos rebentos annuaes; as
flores femininas grupam-se também em amentilbos, verli-
cillados aos dois ou quatro (raras vezes solitários, ou em
maior numero) no cimo dos rebentos annuaes, inferiormente
ao botão terminal. A floração realisa-se de fevereiro a março.
De ordinário as flores femininas n'este, como nos outros
pinheiros, desenvolvem-se em maior quantidade nos reben-
tos superiores, e as flores masculinas nos rebentos inferio-
res. A pollinisação dá-se sem a intervenção dos insectos; é
promovida pelo vento e muito facilitada pelas duas peque-
nas cavidades lateraes cheias de ar, que existem no gra-
nulo do poUen, como dissemos, tomando-o mais leve, e fa-
cultando-lhe a subida até ás flores femininas.
As pinhas espalham a semente passados dois annos. Só
no anno seguinte ao da fecundação se completam; amadu-
recem no outono, e na segunda primavera, quando o calor
começa a augmentar, abrem, deixando cair as sementes;
as escamas lenhosas descerram-se, curvam-se para traz, as
sementes escapam-se, e a pinha, aberta e vazia, fica presa
na arvore algum tempo. Na primavera um pinheiro adulto
apresenta pinhas em todos estes estados: no cimo as que
foram fecundadas ha pouco, muito pequenas amda; maus
abaixo as do anno anterior, incompletamente desenvolvidas
n'essa ^oca; no verticillo inferior a este, as pinhas de dois
annos, que começam a abrir; e d'ahi para baixo, piohas
mais antigas, já muito abertas e vazias.
t
313
A pinha madara do pinheiro bravo è sessil^ oa quasi ses-
sil, oblongo-conica, agada, avermelhado-amarellada, nm
poaco lostrosa, com 10 a 20 centímetros de comprimento;
tem as escamas terminadas n'mn escudo muito proeminente,
macronado, limitado transyersahnente por quilhas agudas.
As sementes incluídas n'este falso fructo, duas na base de
cada escama lenhosa, teem 8 a 10 millimetros de comprido,
sio ovadas, deprimidas, negras e lustrosas n'uma das fa-
ces, baças e pardas na outra, com manchas negras, e teem
ama aza membranosa, fosca, manchada, quatro vezes maior
qae a semente, com um dos bordos recto e o outro con-
Texo. A esta semente dá-se vulgarmente o nome de pe-
fdsco.
O pinheiro bravo produz, na edade adulta, muita semente,
e é muito precoce. As arvores isoladas e as das margens
dos massiços, mais expostas á luz, já d3o semente aos 8 e
10 amios. Esta primeira semente nSo deve nunca escolher-se
para sementeira.
As sementes do pinheiro bravo, armadas com tio bom
apparelho dísseminador, voam a grande distancia, e podem
execQtar a sementeira natural^ em áreas extensas.
Genmnação. — O penisco conserva durante ires a quatro
aiiDOs o poder germinativo, mas não é prudente semeal-o
com mais de dois annos. Semeado na primavera nasce ge-
ralmente dentro de quinze dias a um mez ; semeado no in-
▼enio demora muito mais tempo na terra. As plantas no-
Tas germinam com oito folhas cotyledonares, s3o muito ro-
bustas, e crescem bem a descoberto, sem nenhum abrigo ;
a sombra das outras arvores acanha-as e amesquinha-as.
A parte subterrânea dos pinheiros muito novos desenvol-
^ Denomína-se semenUira natural, como veremos quando tratarmos
<U eoltm^ a que se realisa pelas sementes caídas das arvores de pó ;
áii-se em contraposição sementeira artificial aquella em que as semen-
tes tío espalhadas pela mSo do homem.
314
ve-se com grande força nos primeiros annos, principalmente
nos terrenos arenosos e seccos; n'estas condições encoo-
tram-se pinheiros que, aos dois annos, apresentam uma raiz
mestra de (P,5, emquanto o caule, muitas vezes, não ex-
cede 0",1.
Productos e usos. — Os pinheiros, como sabemos, teem
pouca tendência a organisar botões lateraes (apenas os for-
mam na base do botSo terminal), e não teem olhos dormen-
tes, nem botões adventícios; por isso só podem ser ex-
plorados em alto fuste. Os productos doestes altos fos-
tes variam muito com a edade em que se executam os cor-
tes.
A madeira do pinheiro bravo não é de primeira qualir
dade, mas pode ser empregada com vantagem em muitos
usos. Serve bastante na construcção civil sob a forma de
barrotes, taboas, etc. ; tem grande extracção para travessas
de caminho de ferro, postes telegraphicos e estacarias nas
construcções hydraulicas; usam-a também na construcção
naval, mas menos que o pinheiro manso; tem, emfim, uma
infinidade de empregos em pequenas industrias.
A lenha é boa, tanto melhor quanto mais resinosa^ e uti-
lisam-a muito no paíz, bem como a rama, para aquecer os
fomos do pão, da cal, das fabricas de louça, etc. As pinhas
são muito procuradas para fogões. O carvão do pinheiro
bravo não é de boa qualidade.
Os suecos resinosos, muito abundantes, d'esta arvore po-
dem ser-lhe extrahidos, como se pratica no pinhal de Lei-
ria, por meio de uma operação que se denomina gemmo'
gem, ou resinàgem. A gemma é formada pela solução da re-
sina na essência de terebinthina; d'esta gemma extrahem-se
diversos productos industriaes, como a essência de tere-
binthina, o pez louro, diflerentes óleos, etc. O alcatrão, o
pez e o breu são obtidos pela distillação secca da* acha do
pinheiro; e da agua ruça, que sobrenada aos alcatrões, mui-
tos productos se podem tirar, como o álcool methylico, o
r
315
acido pyrolenhoso, etc. A combustão incompleta dos detri-
tos resinosos fornece o negro de fumo.
A casca pode empregar-se, como substancia tanninosa,
para curtimento de pelles, mas tem mmto menos valia que
a dos carvalhos. As agulhas podiam servir para a exlrac-
(io de uma 13 vegetal, como na Silesia, ha já annos, se
pratica das folhas de outros pinheiros, obtendo-se matérias
filamentosas que, segundo a finura e resistência, se empre-
gam para encher estofos, ou para fiar e tecer. ^
o pinlieiro manso oa pinheiro negro
{Pinta Pinea, L.)
Encontra-se um ou outro pinheiro manso disseminado em
todo o paiz, mas no território ao sul do Tejo, sobretudo na
beiramar, é onde esta arvore existe em maior quantidade
6 onde principahnente se reúne em pequenos grupos, ou
massiços: nas margens do Sado, em, alguns pontos do Ut-
toral algarvio, etc. No emtanto o pinheiro manso não tem,
na região sul, a importância flca*estal do pinheiro bravo na
região norte.
Gima. — O pinheiro manso resiste á seccura bastante
mais do que o pinheiro bravo, e pede calor elevado e luz
intensa; é a resinosa característica da zona mediterrânea,
a cnjas paizagens dá um cunho especial. Por isso vegeta
muito melhor nas nossas províncias do sul que nas do
norte. Parece procurar sobretudo as planícies e os valles,
e nas proximidades do mar, ou junto aos rios, como dis-
semos, é onde se agglomera em maiores massiços e onde
apresenta os maiores desenvolvimentos.
Sob. — Prefere os solos fundos, leves, um pouco frescos;
nas contenta-se mesmo com os terrenos pedregosos, com-
tanto que apresentem fendas por onde as raizes possam
introduzir-se, e vive perfeitamente nas areias marítimas.
316
Receia menos que o pinheiro bravo os terrenos compactos,
mas parece fugir, com idêntica repugnância, das terras cal-
careas.
Radicação. — O systema radicular d'esta arvore é pro-
fundo e forte; apresenta raizes verticaes e horísontaes
muito vigorosas; estas ultimas engrossam ás vezes tanto
como as mais volumosas pernadas da copa, e podem apro-
veitar-se depois para curvas de construcção naval, se estio
no mesmo plano do tronco.
Porte, crescimento e áiiração. — O pinheiro manso é orna
grande arvore, com o tronco despido e alto, mais ou menos
cylindríco; a copa, muito larga, tem a forma característica
de uma umbella; apresenta as ramificações principaes muito
grossas, sobretudo quando a arvore cresce isolada, e os
ramos lateraes compridos, recurvados na ponta, quasi da
altura da flecha, circunscrevendo assim uma superficie su-
perior plana, ou proximamente plana.
As dimensões do pinheiro manso são, de ordinário, mais
reduzidas que as do pinheiro bravo; a sua altura, segando
o livro citado do sr. Carlos de Sousa Pimentel, em média,
oscilla entre i5 e 20 metros e pouco excede este ultimo
limite; o mais alto pinheiro manso encontrado por aquelle
silvicultor tinha 25 metros. A sua grossura, relativamente,
é maior que a do pinheiro bravo: muitas vezes eguala,oa
excede, a doesta essência. Tem grande duração.
Madeira e casca. — A madeira do pinheiro manso tem
quasi a mesma cõr e a mesma estructura da do pinheiro
bravo; os crescimentos annuaes são eguahnente visíveis,
e o cerne distincto do borne. No emtanto apresenta menos
canaes resiniferos, e é menos resinosa, por onde se pode
distinguir. Gomo a do pinheiro bravo, e como a de todos
os pinheiros, é de tanto melhor qualidade quanto mais es-
treitos os crescimentos annuaes; assim um exemplar d'esta
madeira da collecção do Instituto, com os crescimentos
bastante largos, accusou-nos a densidade 0,488, emqoanto
317
um oatro exemplar, com os anneis lenhosos muito mais
apertados subio a 0,738.
A casca, nos troncos adultos, é também um rhytidoma,
feBdido, rugoso, escamoso, avermelhado-escuro, e cuja for-
maçlo é semelhante á que tem no pinheiro bravo. As cas-
cas doestes dois pinheiros adultos distinguem-se em ser
menos grossa a do pinheiro manso, e fragmentar-se em
placas mais largas.
Folhagem. — As folhas são egualmente de duas naturezas:
moas seccas, escamiformes, e as outras compridas, estrei-
tas, acerosas, verdes, geminadas n'uma bainha membra-
nosa fagulhas); estas ultimas são mais curtas que as do
pinheiro bravo (teem 8 a 15 centímetros de comprimento),
mas assombream mais o terreno, dão maior coberto. São
persistentes, como as de todos os pinheiros.
Floração e fructificação. — A floração do pinheiro manso
realisa-se, entre nós, de fevereiro a março. Os amentílhos
masculinos são oblongos, amarellados, e os femininos ovói-
des, esverdinhados ; uns e outros affectam situações idên-
ticas ás que teem no pinheiro bravo, e a poUinisação dá-se
do mesmo modo.
HA evolução das sementes é inais demorada; as pinhas
só abrem passados três annos.
A pinha madura é grande^ ovoide-obtusa ou quasi glo-
bosa, sessil ou quasi sessil, avermelhado-escura ou ama-
reUada, lustrosa, virada para baixo, ou sub-horisontal; tem
8 a 10 centímetros de comprido. Estas pinhas umas vezes
s3o solitárias, outras vezes geminadas ou temadas. As es-
camas são lenhosas, persistentes, grandes, e teem um es-
cudo rhomboidal, levemente pyramidal, com 5 a 6 arestas
radiantes e no centro uma pequena saliência obtusa.
Cada escama supporta na base duas sementes grandes, que
se denominam pinhões (teem 16 a 20 millimetros de compri-
mento) ; são obovadas, comprimidas, arredondadas nas ex-
tremidades, com uma aza membranosa muito curta e muito
318
cadaca; o tegumento d'estas sementes umas vezes é duro
e lenhoso ^inAdes durazios), outras vezes ténue e fragS
(pinhões moUares) , e apresenta-se coberto de efflorescencia
pulverulenta negro-violacea, muito caduca, ficando, ao de*
pois d'ella ter caido, castanho-amarellado; dentro existe
uma amêndoa comestível amylaceo-oleosa.
O pinhia dissemína-se a muito menor distancia que o pe-
nisco, por ser mais pesado e não ter apparelho de' disse-
minação. O pinheiro manso é menos precoce na fructifica-
çSo que o pinheiro bravo.
Germinação.— O pinhão rança com facilidade, e perde
mais cedo o poder germinativo que o penisco; é prudente
não semear o que tiver mais de um anno. O pinheiro manso
germina com 10 a 12 folhas cotyledonares muito glaucas,
planas, ponteagudas, dentadajs nos bordos ; durante muitos
annos ficam apparecendo algumas folhas semelhantes, mas
mais pequenas, de envolta com as folhas geminadas. A
planta nova é maior e mais grossa que a do pinheiro
bravo.
O pinheiro manso é de temperamento robusto e muito
ávido de luz; não precisa, mesmo em novo, a protecção
das arvores superiores, antes, pelo contrario, esta sombra
lhe é nociva.
Productos e usos. — Esta arvore, como todas as suas con-
géneres, só em alto fuste pode ser explorada. Os seus pro-
ductos principaes são as madeiras e as sementes.
A madeira do pinho manso é muito mais estimada que
a do pinho bravo; empregam-a bastante em construeçSo
naval, dá peças direitas, e boas curvas tiradas das perna*
das prmcipaes e das raizes mais grossas; é usada em oon-
strucção civil, em grandes peças e em tabuame, e também
em trabalhos hydraulicos, no fabrico de rodas, etc.
A l^nha doesta essência tem menos valor que a do pi-
nheiro bravo, por ser menos resinosa, e a rama é muito
menos procurada para aquecimento dos fomos, por swem
3i9
as agalhas mais curtas e mais densas^ e nSo levantarem
chamma t3o alta.
A semente é comestível e agradável; come-se em natu-
reza ou em diversas conservas doces. É muito oleosa^ e
d'ella se pode extrahir um óleo doírado> muito siccativo,
com cheiro e sabor resinoso, próprio á pintura e preparo
de vernizes.
A casca pode empregar-se para cortumes. Os suecos re-
sinosos não são utilisados, por serem menos abundantes
que no pinheiro bravo; apenas se empregam um pouco para
a preparação do breu.
Os sobreiros
{Quereuê iuber, L., e Quercus occidentalis, Gay.)^
•
Sob o nome vulgar de sobreiro conftmdem-se em Portu-
gal duas espécies botânicas muito próximas, notáveis am-
bas pelo espesso tegumento suberoso dos troncos, egual-
mente utilisavel na industria, o de uma e outra, com a de-
nominação commum de cortiça. Das duas espécies, o Quer-
cus titberè, incomparavelmente, a mais vulgar; encontra-se
em todo o paiz, sobretudo na região sul do Tejo, e ahi com
maior particularidade ainda noBabco Alemtejo, constituindo
só, ou acompanhado pela azinheira, extensos arvoredos co-
nhecidos com o nome de montados, e que são uma das
maiores riquezas ruraes d'aquellas provbicias; na região
ao norte do Tejo esta essência encontra-se também, por
qoasi todo o paiz, até ao alto Traz-os-Montes, embora com
menos preponderância, isolada ou disseminada em peque-
DOS grupos. O outro sobreh*o, o Quercus occidentalis, parece
ser muito menos frequente e conhecido; acreditamos que
^ Aeereii da existência doestas duas espécies em Portugal veja-se o
qw dizemos no %• TOlume doeste curso (Eiboço de uma flora lenhosa).
320
elle se encontrará disseminado nos montados do sul, e mais
ou menos em alguns pontos da região do centro. Conhece-
mos exemplares d'este sobreiro, bem authenticos, das pro-
xinâdades de S. Thiago do Cacem.
Clima. — Os sobreiros são arvores dos paizes de tempe-
ratura elevada ; são próprios da zona mediterrânea. M-
gem, conjuntamente, elevada temperatura e forte intensi-
dade luminosa. Yão bem nas planícies, e nas montanhas
até uma certa altura. O Quercus occidenialis parece subir
mais ao norte.
Solo. — Os terrenos mais convenientes a estas arvores s5o
os feldspatbicos e schistosós; vivem nos solos calcareos,
mas não adquirem n'elles tamanbo desenvolvimento. As ter-
ras onde melhor prosperam são as profundas e pouco aper-
tadas, mas contentam-se com as superficiaes, e até comas
areias movediças das dunas, onde muitas vezes se encon-
tram. Os terrenos muito compactos, ou húmidos, são dos
mais desfavoráveis a estas essências.
Radicação. — O systema radicular dos sobreiros é sempre
vigoroso; seja qual for a espessura do terreno a arvore fica
solidamente presa. Nos terrenos fundos a raiz mestra alon-
ga-se muito e as raizes lateraes bracejam bastante; nos so-
los pedregosos e superficiaes a raiz mestra desenvolve-se
pouco, mas as ramificações lateraes crescem muito para os
lados. I
Os sobreiros rebentam bem de touca e até edade avan-
çada, todavia nunca se exploram em talhadio, porque a cor-
tiça e os fructos são os principaes productos doestas arvo-
res, e uma e outra producção exigem o tratamento em alto
fíiste.
Porte, crescimento edurofão. — O sobreiro (Querctis svber)
tem o tronco mais ou menos cylindrico, bastante grosso em
relação á altura, com o tegumento fortemente suberoso;
este tronco divide-se em arrancas vigorosas que supportam
a copa a mpla, com a ramificação pouco apertada.
321
A copa é arredondada, mais ou menos irregular; nos
terrenos húmidos os ramos tomam, ás yezes, a forma pen-
dente *.
O crescimento do sobreiro não é muito demorado, prin-
cipalmente até certa edade; ao sobreiro novo chamam na
região d'AIemtejo chaparro, e ao sobreiro velho, de gran-
des dimensões, mudam-]he o sexo e denominam-o sobreira.
Existem em Portugal sobreiras colossaes, sobretudo pela
grossura, que a altura poucas vezes excede 18 a 20 me-
tros; é frequente encontrar algumas com 6 metros de cir-
comferencia, e em mais raros casos com 8 e 9 metros. O
sr. Carlos de Sousa Pimentel, n'um artigo publicado no
Jornal OffUial de Agricultura, refere-se a uma sobreira,
abatida no concelho de Palmella, com 12 metros de circum-
ferencia.
O sobreiro tem grande duraçSo; vive um, dois séculos e
mais.
Madeira e casca. — A madeira do sobreiro (Quercus su-
ler) tem o cerne acastanhado, mais ou menos escuro, ás
vezes puxando a avermelhado, mal delimitado do alburno.
Os creschnentos annuaes, sem serem muito apparentes,
léem-se perfeitamente; os vasos não desenham, é certo,
mna zona porosa bem nitida, mas reunem-se em maior nu-
mero, e teem mais largo calibre, no bordo interno de cada
formação annual. Os raios medullares são muito deseguaes,
numerosos, largos e altos. Esta madeira é bastante compa-
cta. Um exemplar (secco ao ar) da collecção do Instituto»
1 Durante a impressão d'este nosso trabalho tÍTemos conhecimento
de um curioso artigo, publicado pelo sr. visconde de Coruche, na Agri-
«Aura ConUmpoiranea (n.<» 6, de 16 de julho), a este propósito. Esse
aitigo diz que os fruetos do sobreiro de ramos pendentes reproduziram
esta mesma forma, pela sementeira n'outro ch2o, o que parece indicar,
se o facto se Yerifica, se existe a fixidez hereditária bem provada, que
ò sobreiro de ramos pendentes deve ser tomado como uma variedade,
e Qâo eomo uma forma do Qturau euber.
G. 8. 21
322
proveniente da região norte, tem a densidade 03iO, mas
encontra-se no paiz sobro mais denso.
Sob o tegumento cortical dos sobreiros, excinsiyamente
suberoso, o parenchyma cortícjal e o liber persistem víyos
até á morte da arvore» mas pouco desenvolvidos, porqae
toda a actividade geradora da região cortical se concentra
na formação mais externa. A cortiça, como dissemos já, é
originada sob as cellolas epidérmicas, pelas primeiras ca-
madas do tecido subjacente, e engrossa constantemente pela
bipartição das cellulas geradoras ; das novas cellulas a mais
externa morre e se suberiíica, e o conjunto das mais inter-
nas, vivas e capazes de novas bipartições, constitue a ai-
sentada geratriz, ou mãe da cortiça. A cortiça só appareee
nos eixos aefeos, e quando já teem um ou dois annos.
Ao descortiçar as arvores ha sempre todo o cuidado em
não offender a assentada geratriz; a superfície d'esta ca-
mada posta a nu sécca, tomando primeiro a cõr vermelho-
amarellada e depois vermelho-escura, muito característica;
é sob a protecção da parte morta que se regenera inferior-
mente o novo invólucro suberoso, à custa da porção viva
do tecido gerador.
A cortiça pode extrahir-se em períodos successivos, muito
numerosos, á mesma arvore, e outras tantas vezes se re-
genera. A cortiça da primeira tirada é sempre muito infe-
rior, pouco homogénea, cheia de grandes fendas, e déno-
mina-se cortiça virgem, ou cortiça mocha.
Folhagem.-^Os sobreiros são arvores sempre- verdes. As
folhas do Quercus suber persistem, em condições normaes,
dois a três* annos; todavia na região d'Alemtejo caem moi-
tas vezes com pouco mais de um anno, sob a influencia da
grande insolação e seccura. As folhas do Quercus occide»-
talis duram apenas um anno, mesmo em condições nor-
maes, mas despegam-se depois de já desenvolvidas as fo-
lhas novas, e por isso a arvore encontra-se vestida sempre.
Em ambos os sobreiros as folhas são coriaceas, ovado-oblon-!
323
gas, qaasi sempre dentadas, com os bentes espinescentes»
glabras e mn pouco lustrosas na pagina superior» brancas
e cotanilhosas na pagina inferior. A folhagem de uma e ou-
tra doestas arvores dá pequeno coberto:
Tmpercmento. — N5o existem em Portugal observaçOes
adtoraes que individualisem o temperamento dos dois so-
breiros, confundidos sempre ambos. Os auctores francezes
apontam, a este propósito, differenças pronunciadas entre
um e outro; segundo elles» o Quer eus occidentalis é mais
próprio dos climas temperados, e o Querem suber dos cli-
mas quentes ; o primeiro é de temperamento menos robusto
qae o segundo, e soffre melhor a sombra das outras arvo-
res, principalmente em novo, desenvolvendo-se bem em
massiço com o pinheiro bravo.
Floração e frucííficação. — ^A floração dos sobreiros, como
a de todos os carvalhos (género Querem) j é monoiça; as
flores masculinas dispõem-se em amentilhos interrompidos,
pendentes, 'e as flores femininas são solitárias e cercadas de
mn invólucro de bracteas estéreis ; estas inflorescencias fe-
imninas reunem-se ás vezes, pouco numerosas, sobre um
eiio curto. Nos dois sobreiros as flores femininas estão in-
seridas no rebento annual.
O Querats suber entra muito novo em fructificaçSo; dos
10 aos 15 annos já dá algum fructo, mas só mais tarde»
dos 25 aos 30 annos, tem fructificaçSo abundante. Floresce
de março a abril. O Quercus oecidentalis floresce um pouco
mais tarde.
O Quercus suber tem maturação annual; os seus fructos
maduros encontram-se implantados no rebento vestido de fo-
lhas, milito embora apparentem ás vezes de biennaes, quando
a arvore forma dois rebentos n'um só anno. Esta essência
apresenta, de ordinário, três camadas de fructos: a pri-
meira cae em setembro, e chamam-lhe no Alemtejo bastão;
a segunda cae em novembro, e dão-lhe o nome de lande,
propriamente, ou do tempo; a terceu*a vem em dezembro e
2i*
324
janeiro, e chamam-lfie landisco, oa hmde serôdia. A qoan-
tidade da lande está em razSo inversa com a do bastão; o
landisco é muito contingente, por causa dos frios e geadas
do Gm do anno.
O Quercus occidentalis tem maturação biennal; os finctos
desenvolvem-se muito pouco no primeiro anno> e só no se-
gundo se completam e amadurecem; encontram-se entio
implantados no raminho sem folhas do anno anterior.
O fructo dos sobreiros (landej é um achenio ; o pericarpo
^ecco, delgado, coriaceo, envolve uma semente volumosa.
Geralmente a lande apresenta-se solitária, ou geminada, ia-
«erída n'um pedúnculo axillar, curto, grosso, esbranquiça-
do, cotanilhoso; quasi sempre é grande, ovóide ou ellipsú-
de, terminada n'uma pequena saliência central, e está meio
incluída n'uma cúpula lenhosa. No Quercus suber a capda
tem as escamas salientes, maiores a partir da base, e ter-
minadas em appendices moUes, frágeis, compridos, levan-
tados ou um pouco abertos- para os lados. No Quercus oc-
cidentalis as escamas da cúpula são pequenas e encostadas
umas contra as outras.
Estes fructos s3o pesados, e como os de todos os carva-
lhos pouco se afastam na queda da arvore que os prodn-
ziu.
Germinação.— A lande, calda naturalmente no outono,
germina de ordinário no mesmo outono; semeada na pri-
mavera nasce passadas quatro ou cinco semanas. As plan-
tas novas do Quercus suber são robustas e supportam bem,
sem abrigo, a acção do sol e do ar; já dissemos que esta
arvore precisa de luz directa e não sofifre a sombra das ou-
tras arvores. O Quercus occideníalis, pelo menos nos climas
menos quentes em que tem sido observado no estrangeiro,
tem outras exigências, como vimos.
Productos e usos. — Os sobreiros são arvores de alto foste
em Portugal, porque os seus productos principaes são a cor-
tiça e os fructos; n'uma situação económica em que a en-
• I
325
_ »
trecasca taiminosa fosse o producto principal, conyiría aii-
tes exploral-os em talhadio.
O rendimento d'éstas arvores é importantíssimo no paiz«
A cortíça, nos últimos tempos, tem adquirido grande va-
lor. É tirada em períodos de 5 a iO annos. O valor depende
moito das suas qualidades— finura, elasticidade, homoge-
neidade, etc. ; em regra, é tanto melhor quanto menor o
crescimento, isto é, quanto menos rico o terreno.
A cortiça dos dois sobreiros passa por ser idêntica. Nie
conhecemos nenhuns estudos, nem mesmo no estrangeiro,
acerca da sua formac3o n'uma e outra essência, todavia pa*
rece-nos isso bem digno de mteresse. Evidentemente os dois
sobreiros teem uma organisação e um modo de vida muito
differentes : a persistência das folhas dois annos ou um anuo
só, a maturação dos fructos annual ou biennal, deve influir
em todas as formações da arvore. Admittida a egualdade
da oH-tiça das duas arvores parece-nos muito útil verificar
qoal das duas forma annuahnente maior camada suberosa.
As landes s3o adstrmgentes, mas empregam-se muito na
cera dos porcos. Em landes frescas, nSo descascadas, pro-
dimdas no Ribatejo, verificámos a seguinte composição, pela
mtjse chimica, no laboratório do Instituto:
Hmnidade 38,50
Cinzas 0,75
Lenhoso bruto 5,56
Matérias gordas 2,07
Matérias azotadas • 3,10
Extractivo ternário (análogos do amido,
glucose, tannino, etc.) 50,02
100,00
A madeira do sobreiro nSo é muito estimada; tem muito
peso, apodrece facilmente exposta ás alternativas de seo
cora e humidade, é muito atreita a gretar e a contorcer-se.
326
a empenar. Empregam-a bastante para o fabrico de peças
qae teem de soffrer grandes attritos, roldanas, cavflhas, pe-
ças de macbinas, etc. ; usam-a miúto na constnicçSo de ín-
stromentos de lavoura. Para construcção naval tem grandes
defeitos, mas já foi empregada em larga escala.
O sobro dá lenbas de moito boa qaalidade, e carvão tido
em grande apreço.
A parte viva da casca, ou entrecasca, é muito rica em
tannino e óptima para curtumes ; segundo os dados forn^
eidos pelo sr. Matbieu, na sua Fhre Forestière, a quanti-
dade de tannino d'esta entrecasca* está, em média, para o
tannino da casca dó roble como 1,62:1. No emtanto esta
exploração é relativamente restricta entre nós, porque 6
preciso sacrificar a arvore para Ibe extrahir a entrecasca,
6 não ha n*isso vantagem nenhuma emquanto ella pode pro-
duzir cortiça e fructos. Em casos normaes a entrecasca só
86 aproveita nas sobreiras abatidas por decrepitude.
A azinheira
{Quercus lUx, L., Q. rotundifdia, Lam. e Q. BaUota, Desf.)
A azinheira encontra-se desde o Algarve até Traz-os-Mon-
tes, em quasi todo o paiz, mas é na região sul, sobretudo
no Alto Alemtejo, onde forma arvoredos mais extensos, só
ou em companhia do sobreiro; nas províncias do norte
existe disseminada em pequenos grupos. Na região sul a
azinheira e o sobreiro são as arvores mais importantes, e
que especialmente predominam no revestimento florestal
Clima. — A azinheira pede temperatura elevada; resiste
bem aos maiores ardores do sol, mesmo nas provindas mais
quentes e mais seccas. É essência peculiar á zona medi-
terrânea, de cujo clima è decerto um dos genuínos repre-
sentantes. Nas planícies e outeiros pouco elevados é onde
Tegeta com mais robustez e viço.
327
Solo. — É pouco exigente nas condiçSes do terreno; pre-
fere os solos leves e soltos, quer sejam siliciosos ou calca-
reos, mas contenta-se até com os mais áridos. É claro, no
emtanto^ que nas terras muito pobres fica sempre de porte
mais acanhado. Nos terrenos muito húmidos yegeta mal, e
nos encharcadiços nSo pode viver.
Badicaçõo. — O systema radicular da azinheira é forte e
desenvolvido. Tem raiz mestra c(Hnpnda e grossa, e mui-
tas raizes lateraes. A fundura do solo modifica todavia bas-
tante a forma da radicação; nas terras superficiaes a raiz
mestra pouco pode desenvolver-se e os braços lateraes to-
mam grande comprimento.
Esta essência rebenta bem de touca, com muito vigor,
até edade avançada, e também dá rebentões de raiz.
Porte, crescimento e duração. — A azinheira é uma arvore
de razoável altura (raras vezes excede 18 a 20 metros),
com o tronco direito ou levemente contorcido, quasi sem-
pre ramificado a pequena elevação; tem arrancas vigorosas
e copa arredondada. No emtanto este porte é muito modi-
ficado nos solos fracos e nos climas pouco propícios, onde
è vulgar encontrar a azinheira constituindo moitas arbus-
tivas ou arborescentes.
A azinheira tem crescimento lento, e pode chegar, em
condiçOes favoráveis, a grande duração; 2 séculos, e mais.
Madeira e casca.--- k madeira d'esta arvore é muito fá-
cil de dififerençar das madeiras dos outros carvalhos (gé-
nero Quercus), porque tem os crescimentos annuaes muito
pouco distínctos, ou mesmo confundidos de todo; este ca-
racter sõ pertence também ao lenho do carrasqueiro, que
de ordinário se distingue facilmente da azinheira pelas
maiores dimensões d'esta ultima. Os raios medullares na
madeira do azinho são muito grossos, muito numerosos, e
muito deseguaes. Existe cerne e albumo, mas esbatidos
xm para o outro, e não delimitados nitidamente; o cerne é
avermelhado, puxando a cõr de castanha. Esta madeu*a é
328
duríssima, muito compacta e homogénea ; dois exemplares
seccos ao ar, da coUecção do Instituto, deram-nos as den-
sidades 0,863 e 0,922.
A casca da azinheira adulta é um rhytidoma escuro, ru-
goso, com muitas fendas longitudínaes estreitas e pouco
fundas. Os rebentos e os raminhos são cotanilbosos, mais
ou menos esbranquiçados.
Folhagem. — As folhas da azinheira são muito polymor-
phas; não só variam bastante de arvore para arvore, como
variam na mesma arvore com a edade, e até, muitas vezes,
simultaneamente, de uns ramos para outros. Teem o con-
torno elUptico, ovado ou orbicular (Q. rtmmdifolia, Lam.^ ;
são ponteagudas ou obtusas, planas ou onduladas nas mar-
gens, inteiras (principahnente nas arvores de mais edade),
ou denlado-espiohosas (sobretudo nas arvores e ramos no-
vos). São coriaceas; na pagina superior verdes, glabras e
mais ou menos lustrosas, e na pagina inferior esbranquiça-
das, cotanilhosas. As suas dimensões variam egualmente
muito.
A azinheira da bolota doce (Q. Bdllota, Desf.J tem as
folhas ordinariamente mais compridas, mais inteiras, e mais
esbranquiçadas na pagina inferior.
A azinheira é uma arvore sempre-verde ; em condições
normaes as folhas persistem dois annos, e caem no prin-
cipio do terceiro anuo. A folhagem é bastante espessa e
produz coberto intenso.
Floração e fructificação. — As flores d'esta arvore affectam
as disposições que teem em todos os carvalhos. A floração
realisa-se em iGUis de março; é um pouco mais tardia, na
mesma locaUdade, que a do sobreiro.
A azinheira entra muito nova em fructo, e produz em
abundância até edade avançada; aos 8 ou 10 annos já dá
alguns fructos, mas só aos 20 ou 25 annos fnictifica regular-
mente.
Os fructos (bolotas) teem maturação annual; amadurecem
r
329
m setembro e outubro do mesmo amio em que se deu
a floração. Encoutram-se solitários ou geminados, sesseis
0a inseridos sobre pedúnculos muito curtos e grossos, par-
do-cotanilbosos; estão collocados, é claro, no rebento ves-
tido de folhas. A forma e as dimensões d'estes fructos ya-
ríam muito: são mais ou menos oblongo-cylindricos, mais
OQ menos globosos, terminados sempre n'uma saliência
forte, cylindrica, glabra: umas vezes s3o muito maiores do
qoe a cúpula, longamente salientes, outras vezes estão n'ella
inclnidos até ao meio, ou até mais de meio. A cúpula tam*
bem apresenta formas diversas; é pardo-cotanilhosa, com
as escamas pequenas, triangulares, planas ou um pouco
granolosas, estreitamente apertadas umas contra as outras.
Os fructos uns são amargos, adstringentes (Q- H^f ^-J»
ODtros são doces, comestíveis, e de ordinário maiores (Q-
BaUotaj Desf.^. Segundo uma analyse, que fizemos, d'uns
e outros d'estes fructos, no laboratório do Instituto, nas
bolotas maduras, quer doces ou amargas, o tannino existe
em muito pequena quantidade ; o que se encontra é o acido
galbico e a glucose, em quantidades inversas nos dois fru-
ctos; é o excesso de acido galbico que dá a adstringência
das bolotas amargas. Na bolota doce encontrámos 1 ,2 ^fo
de glucose e 0,73 de acido galbico (na substancia secca),
e na bolota amarga 0,75 de glucose e 1,55 de acido galbico-
Ambos estes fructos eram procedentes do Alemtejo.
Esta variedade, a azinbeira da bolota doce, é considerada
por alguns auctores como espécie distincta e própria aos
{KHitos de temperatma mais elevada. N3o acceitamos este
modo de vér, porque as differen^s entre as duas arvores
sio baseadas nas folbas, caracter este de muito pequena
importância em arvores tão polymorpbas^ ou na doçura e
adstringência dos fructos, caracter a que também não liga*
mos grande valor, mas que ainda que o tivesse, apresenta
lòrmas açcentuadamente intermédias. Tivemos occasião de
analysar, no Instituto, umas bolotas, vindas do Alemtejo,
rr
330
CQja composição é intermediaria aos dois typos referidos
acima: tinham 1,0287o de glucose e 1>016 de acido ga-
Ihico. De resto todos os práticos sabem isto, e o paladar
bem o demonstra: entre as bolotas muito doces e as muito
amargas da azinheira encontram-se passagens successiVas
e gradaaes.
Entre nós a azinheira da bolota doce encontra-se mis-
turada abundantemente com a da bolota amarga (Q. Bex
typicq;, nas províncias do sul, onde é bastante mais esti-
mada do que esta ultima.
Germinação,— Csdási naturalmente no outono, a bolota ger-
mina n'essa mesma estação ; semeada na primavera nasce
em 4 ou 5 semanas. A bolota, como a lande, como os fra-
ctos de todos os carvalhos, n3o se conserva para sementeira
além da primavera próxima á queda.
A azinheira é uma arvore robusta que pede logo desde
nova a insolação directa ; a sombra das arvores superiores
não só lhe é desnecessária, mas até desvantajosa.
Productos e mos. — Um dos principaes productos da azi-
nheira é o fructo; emprega-se um pouco na alimentação
do homem e muitíssimo na engorda dos porcos. A bolota
é mais nutritiva que- a lande, e a bolota doce mais nutritiva
que a amarga. A diflerença alimentícia d'estas duas ultimas
não provem só das quantidades variáveis de assucar, como
se pode vér das seguintes analyses, que fizemos no Intituto:
33i
B«lot« «iiArga Bolou doM
(Q.IÍe9C.) (Q,Ballúttt}
Ehuniâade 36,000 36,500
Canzas 0,992 1,100
Lenhoso 5,760 4,210
Matérias gordas 3,840 6,400
Matérias azotadas. . . . 4,300 5,800
Glucose. 0,480 0,762
Acido galhico 0,992 0,467
Extractivo ternário
(análogos do amido,
etc.) 47,636 44,761
100,000 100,000
m
Estas analyses referem-se á bolota não descascada. A
easca representa proximamente 257o do peso total.
Calcolam no Alemtejo que, em condições ordinárias, sSo
necessários quarenta alqueires de bolota para engordar um
porco, cincoenta de lande, e sessenta do Tructo dos outro&
canralhos — negral, cerquinho e roble — sendo reputado o
frado d'este ultimo superior ao dos outros dois.
A madeira da azinheira é muito estimada pela sua dureza e
homogeneidade. Recebe muito bom polido e conserva-o por
omito tempo, apresentando, quando é convenientemente cor-
tada, bonitos ondeados e venações. O seu defeito principal
è ser muito sujeita a rachar, e a contorcer-se, pela des-
8ecçaç2o. É muito usada, entre nós, no fabrico de instru-
mentos de lavoura.
Esta madeira dá lenhas de primeira qualidade, e o carvão
do azinho é excellente, e muito procurado.
A casca das azinheiras, sobretudo em novas, é muito tau-
fiinosa, e muito boa para curtumes; segundo as analyses
feitas em Hespanha pelo sr. D. Carlos Gastei a quantidade
de tannino na casca do tronco vae de 8,07 a 15,3 7oi sendo
a média, em arvores novas de 20 a 25 annos, 11 a 137o*
332
A azinheira explora-se entre nós principalmente pelo fira-
Oto, eni alto fnste. Nas provindas do norte, onde é menos
abundante» e o fmcto amargo menos estimado, é ás vezes
cortada em talbadio nos massiços onde apparece dissemi-
nada; tem, n'este caso, em relação aos carvalhos de folhas
caducas, o inconveniente de ser bastante demorado o sea
crescimento.
o oarrallio portusuez e o oarvallLO cerqnlnlio
{QuereuM huUanieaf Lam., e Q, lutttaniea Lanu, var, baetíea, TVbb.
QuBreus hyòrida, Brot)
O carvalho portugaez e o carvalho cerquinhopertencem
a uma só espécie, de que o primeiro pode ser considerado
como typo, e o segundo como variedade bem definida; em
linguagem vulgar confundem-se, de ordinário, os dois sob
a denominação mais conunum de carvalho cerquinho. Um e
outro preponderam na região intermédia do paiz: na Extre-
madura e em muitos pontos da Beira, mas encontram-se*
com frequência, em quasi todo o reino, desde o Algarve
até ao Alto Traz-os-Hontes. Esta espécie é intermédia no
habitat, como na organisação, aos carvalhos de folha per-
sistente e aos de folha caduca.
Clima. — É o carvalho espontâneo de folha caduca Qoe
resiste a mais elevada temperatura; o único que, sem se
resentir, affronta a seccura atmospherica do Alemtejo. En-
contra-se, em Portugal, nas mais variadas situações, desde
as planícies baixas do sul, até ao valle do Douro, e ás tec-
ras altas de Traz-os-Montes.
Solo. — Prefere os terrenos substanciaes, frescos e pro-
fundos, mas contenta-se até com os que apresentam as mais
oppostas qualidades : graníticos, schistosos, calcareos, etc.
Nos terrenos secundários, calcareos, da margem direita da
Tejo desenvolve-se em grande abundância.
r
333
Radicação. — O systema radicalar d'este carvalho é pro-
fímdo, mas menos qae o do rdble. Tem raiz mestra, e
mnitas raízes lateraes Tígoi^osas; a arvore fica sempre presa
com grande solidez.
Rebenta muito bem de touca.
Parte, crescimento e duração. — O carvalho cerquinho (a
variedade baetica) é, de ordinário, de maior porte que o
carvalho portugnez typico. No emtanto, um e outro apre-
sentam portes muito variáveis, segundo os terrenos e as
condições em que vivem; n'uns pontos tomam a forma de
moita arbustiva ou arborescente, n'outros pontos adquirem
grande desenvolvimento. Constituem então arvores com o
tronco alto e grosso, mais direito que o do carvalho negral,
e com a ramificação mais regular e mais numerosa do que
a do roble.
Estas arvores podem chegar a grandes dimensões: a 6
metros de circumferencia por 30 metros de altura, e mais.
O sr. Pimentel refere-se, no Jornal Official de AgricuUura,
a nm carvalho portuguez, existente na mata nacional de
Onrem, cujoironco, na base, tem 5",4 de circumferencia, e
a copa tem 26 metros de largura : refere-se a um que deu
50 travessas para caminho de ferro, e a um outro d'onde
sahio uma peça para construcção naval medindo 4 metros
cnhicos.
O crescimento d'esta essência não é muito demorado.
Tem grande duração.
Madeira e casca. — A madeira do carvalho portuguez e
do cerquinho tem cerne e borne bem delimitados, o pri-
meiro acastanhado, mais ou menos escuro, e o ultimo es-
branquiçado. Tem raios medullares largos, numerosos, apro-
ximados, deseguaes. As camadas annuaes são distinctas,
mas a zona porosa de primavera é pouco desenvolvida, tem
poQcos vasos, e esses mesmo de calibre delgado. Esta ma-
deira é muito pesada e densa; as suas qualidades são in-
termédias ás madeiras dos carvalhos de folha persistente
334
e dos de fi)lba caduca. Um exemplar da collecção do Insti<
tato accttsou-nos a densidade 0J13, mas existem lenhos
bastante mais densos.
A casca das arvores adultas é um rhytidoma um poaco
parecido ao da azinheira, fendido em sulcos longitudinaes
muito próximos & pouco fundos, atravessados por ontros
horisontaes, mais afastados. Os ramos novos s3o cotani-
Jhosos, esbranquiçados ou amarello-esverdinbados (var. ot
pestris, Bss.).
Folhagem, — N'um género tJo polymorpho como o género
Quercus esta espécie é uma das mais polymorphas. As folhas
do carvalho portuguez são variadissimas na forma, no ta-
manho e no^tomento. Gomo forma typica pode dizer-se que
são ellipticas, elliptico-lanceoladasr ou obovadas, onduladas
nas margens, regularmente serradas, ás vezes levemente
espinhosas, arredondadas ou cordiformes na base, [>eciola-
das ; em adultas s9o verdes e glabras na pagina siq>erior, e
na inferior cinzento-cotanilhosas. No emtretanto, ás vezes,
apresentam-se cunheadas na base; outras vezes inteiras nos
bordos; n'uns casos planas; n'outros casos, muito grandes,
larga e obtusam^nte crenadas (var. botica). Algumas sSo
tio espinhosas que fazem quasi lembrar as do carrasqneiro;
outras sSo sub-glabras na pagina inferior; ou pubescentes
também na pagina superior; ou estrellado-cotanilhosas mes-
mo em adultas (var. alpestris), etc.
As folhas adultas são coriaceas, caducas, mas só no tarde,
no principio ou ás vezes no fim do inverno. No outono
esta essência distingue-se bem das outras congéneres mes-
mo a distancia: o roble e o carvalho negral apresentam-se
então despidos, os sobreiros, a azinheira e o carrasqneiro
cobertos de folhas verdes, e o carvalho portuguez tem as
folhas marcescentes, seccas, mortas, amarellecidas, mas pre-
sas ainda ^
1 As folhas do carvalho negral ainda novo também. ás vezes persis-
tem um pouco de inverno, já seccas e amarellas.
335
A copa d'esta essência bastante ramosa e muito folhada
prodoz coberto forte.
TeínperameiUo. — O carvalho portuguez é uma arvore ro-
busta, qae> como todos os carvalhos, para se desenvolver
bem, pede insolação directa. No emtanto a sombra das ar-
vores superiores não o prejudica tanto como aos sobreiros
e azinheira.
Galhas. — São muito frequentes e abundantes as galhas
S(d)re estes carvalhos; as formas mais communs são a glo-
bosa e a coroada. A maior parte dos auctores consideram
o 0. lusitanica synonymo do Q. infectaria, Oliv., que produz
as galhas d'Alepo, tão empregadas no commercio. Que esta
gynonymia seja ou não exacta, as galhas que temos visto
do carvalho portuguez differençam-se bastante das galhas
d'Alepo; as ultimas são mais pesadas e mais esbranquiçadas
internamente. De resto é muito fácil admittir estas differenças,
admittida mesmo a egualdade dos dois carvalhos produ-
ctores.
As galhas d'Alepo são muito ricas em tannino, chegam
a conter 70 Vo» e também se lhes encontra >o acido galhico
(10 a 18 7o). N*uns estudos que fizemos no laboratório do
bstítuto, com as galhas do carvalho portuguez, apenas lhes
encontrámos quantidades minimas de tannino, e o acido
galhico existente também não era em excesso; muito pro-
vavehnente isto foi motivado pelas más condições em que
ellas estavam, porque em Hespanha o sr. D. Carlos Gastei
determinou nas galhas d'este carvalho 43,22 Vo de tannino.
Floração e fmcti/icaçõo. — A floração reaUsa-se em março,
abril, e ás vezes maio.
Os fructos são ordinariamente sesseis (já encontrámos
mna forma pedunculada), solitários ou geminados, ovados
OQ oblongos, apioilados, de tamanho diverso. A cúpula
tem as escamas apertadas, cotanilhosas, gibosas no dorso.
A maturação é annual; dá-se em setembro, outubro. O
eanalho portuguez, o que de resto é conunum, mais ou
336
menos, a quasi todos os carvalhos, só prodaz abundante-
mente em períodos de certo numero de annos.
Os fructos sSo adstringentes.
Germinação. — A germinação realisa-se pouco tempo de-
pois da queda natural dos fructos, no outono. As plantas
noyas s3o desde logo muito robustas.
Productos e usos. — A madeira doesta essência é mnito
estimada e serve com vantagem nas construcções civis e
navaes, para o que dá boas curvas. Empregam-a um pouco
no fabrico de aduella, mas tem de ser aberta á serra, por-
que não offerece boa fenda. Fornece boa lenha e carvSo.
A casca é bastante tanninosa e utilisa-se para curtumes.
As galhas, colhidas em boas condições, podem usar-se em
tinturaria, ou para curtimentas, mas para este ultimo fim
teriam o inconveniente de serem muito leves, o que obrigaria
a empregar grandes volumes, e o inconveniente de cederem
promptamente o tannino, o que leva a preferir-lbes as cas-
cas e entrecascas tanninosas.
O fructo pode servir para a ceva dos porcos.
o oanrallio roble, oarraUio oommnm on alvarinho
{Querem peduneulata, Ehrh.: Quercus Robura. h.:
Quereiís racemosa. Laia. e Brot)
Encontra-se o roble, em Portugal, sobretudo na regiSo
mais baixa do paiz de entre Douro e Minho; a extrema di-
visão da propriedade n'esta província, trazendo comsigo o
grande aproveitamento da terra pela cultura, é incompa-
tível com a conservação d'extensos massiços florestaes, por
isso o roble existe ahi formando moitas nas encostas das
montanhas, ou grupado em pequeno numero de indivíduos,
ou plantado nas margens dos campos, servindo quasi sempre
de apoio ás videiras altas, que tomam tão característico
o aspecto d'esta ríca e bella região. Na Beira, nem muito
337
para o littoral nem muito para o interior» ainda esta es-
sência representa papel considerável na arborisação, en^
partes mis tarada com o cerquinho, em partes preponde-
rante. No Alto Alemtejo, na serra de Portalegre, também
86 encontra, posto que muito menos frequente.
aima. — O roble occupa na Europa, uma grande área
qne se eleva até á Noruega, a 63.^ Entre nós procura os
pontos de maior humidade atmospberica, na região norte,
as exposições cismontanas, as planícies e os valles. De or*
dinario não sobe muito alto nas montanhas, ou pelo me-
nos só abi apparece disseminado.
Solo.— Prefere os terrenos ricos, profundos, frescos ou
mesmo húmidos, o que está em harmonia com a textura
herbácea das suas folhas ; vae admiravehnente nos valles
férteis do Minho; parece indifferente á natureza mineraló-
gica do terreno, quando aquellas condições se achem reali-
sadas. Nos solos seccos e superficiaes, ou nas ladeiras muito
inclinadas, fica sempre enfezado ; em contraposição nas mar*
[ gens dos cursos d'agua, nas depressões do terreno onde a
humidade se junta, mas sem formar pântano, adquire ma-
gnifica vegetação.
Badicação. — O roble tem sempre enraizamento vigorosa-
mente desenvolvido. Nos solos fundos e leves a raiz mes-
tra conserva-se muitos annos, crescendo sempre, muito
pouco ramificada nos primeiros tempos, e ao depois acom-
panhada de muitas raizes lateraes. Nos solos compactos, ou
muito húmidos, a raiz mestra deixa de se desenvolver cedo,
mas as raizes lateraes são grossas e potentes.
Rebenta bem de touca e até edade avançada; essa re-
bentação é principalmente devida aos numerosos dhos dor-
maues que esta essência apresenta.
Porte, crescimento e duração. — O roble chega, entre nós,
a grandes proporções em altura e ^ossura. Tem porte ca-
racterístico : apresenta, em adulto^ um fuste mais ou menos
regular, e uma grande copa, quando cresce isolado, cons-
22
C. 8.
338
títuida sobre poucas arrancas muito grossas, d'onde se ori-
ginam ramos e raminhos curtos, tortuosos, terminados em
rebentos pouco desenvolvidos, cuja folhagem se agglomera
nas extremidades, em virtude do aborto frequente de mui-
tos botões, e do pequeno crescimento dos entre-nós nos
eixos novos. Este phenomeno é geral, mais ou menos accen-
tuadamente, a todos os carvalhos ; todos elles são essências
robustas, que pedem a acç3o directa do sol; em todos se des-
envolvem com mais vigor os botões da extremidade, melhor
esclarecidos, ficando os da base, muitas vezes, dormentes;
mas no roble acontece isto em mais alto grau.
O crescimento d'esta arvore não é demorado, mas é
menos rápido que o do cerquinho. Pode adquirir grande
duração.
Madeira e casca. — A madeira do roble tem cerne e borne
muito bem delimitados, o primeiro acastanhado, puxando
a avermelhado, e o segundo branco ; tem crescimentos an-
nuaes muito apparentes, bem mais do que a madeira do cer-
quinho, por serem maiores e mais numerosos os vasos da
zona de outono. Gomo todos os carvalhos, tem os raios
meduUares deseguaes, largos e bastante numerosos. É ma-
deira dura, pesada, resistente, mas cujas qualidades variam
muito com as condições em que foi produzida. Gerahnente
a sua densidade é menor que a do cerquinho ; dois exem-
plares (seccos ao ar) da collecção do Instituto deram-nos
as densidades 0,606 e 0,697, mas devem existir lenhos
bastante mais densos.
A casca é Usa, brilhante, cínzento-prateada, delgada até
aos 20 ou 30 annos ; até essa época é formada pêlo liber,
pelo parenchyma cortical e por um invólucro externo sa-
boroso. D'ahi por diante transforma-se n'um rhytidoma es-
curo, com fendas largas longitudinaes, produzido pelo des-
envolvimento de uma assentada de cortiça atravez as ca-
madas do liber, que provoca a morte de todos os tecidos
mais externos.
r
339
Os raminhos novos são glabros.
Folhagem. — As folhas do roble^sSo caducas logo no fim
do outono, yerde-claras, herbáceas, glabras d'ambos os
lados, baças ou muito pouco lustrosas na pagina superior,
levemente glaucas na pagina inferior, quasi sesseis ou com
pedúnculos muito curtos, obovado-oblongas, com o maior
diâmetro transversal a ^z do comprimento, adelgaçando
gradualmente até á base, pouco symetricas, quasi aurícu-
ladas na base, sinuadas ou pinnatilobadas, com 4-5 ló-
bulos inteiros, muticos, irregulares, obtusos, umas vezes
onduladas, menos vezes planas.
A disposição da folhagem, a que nos referimos já^ ag-
glomerada em tufos, deixando grandes vazios, assombrôa
pouco o terreno inferior, dá pequeno coberto.
Floração e fructificação. — O roble floresce de abril a maio, ^
e fiructifica de setembro a outubro. A maturação é annual.
As flores teem a mesma disposição que as dos outros car-
Talhos.
Os fructos sao de forma variável, mas, habitualmente,
ovóides ou oblongos, lustrosos, inseridos 1-5 sobre um eixo
delgado, comprido, quasi sempre pendente. A cúpula tem
as escamas planas, triangulares, pouco numerosas, glabras
oa levemente cotanilhosas, encostadas.
O fructo, pesado e sem apparelho de disseminação, como
o de. todos os carvalhos, pouco se afasta na queda da ar-
vore-mãe.
De ordinário o roble fructifíca em uma edade bastante adian-
tada, que depende muito da arvore provh* de semente ou de
rebentão de touca, de crescer isolada ou em massiço, da
qoalidade do terreno, etc. Geralmente a fructificação não
se realisa regularmente todos os annos, mas em períodos
de abundância e de escassez quasi absoluta. Os fructos são
adstringentes.
Germinação. — A germinação dos fructos do roble é rá-
pida, e a sua conservação difficil, mesmo até á primavera
22*
340
seguinte. As arvores novas s3o robustas logo desde o prin-
cipio, e pedem, desde logo, a insolação directa.
Productos e usos. — ^A madeira é muito estimada para cons-
tnicçSo e variadissimos usos ; em alguns casos dá boa fenda
e serve para óptimo vasilhame. Fornece lenha e carvão de
muita boa qualidade.
 casca, apezar de menos tanninosa de que a da azinheira
e a do cerquinho, pode empregar-se com vantagem em cur*
tomes, e o fructo, embora menos nutritivo do que a bolota
e a lande, utilisa-se na ceva dos porcos.
No Minho esta arvore, emquanto viva, tem ainda, moitas
vezes, uma outra utilidade : serve de supporte ás uveiras,
que entrelaçam os pâmpanos pelas altas ramagens da soa
copa.
o oarvalho negral ou oarvallio pardo da Beira
CQuercus Tozza, Bosc. : Quercus puboscens, Brot.)
O carvalho negral é o carvalho das montanhas na zona
interior do paiz. Predomina em Traz-os-Montes e na parte
limitrophe, e mais accidentada, da província do Miuho, bem
como em toda a Beira serrana seguindo, pelas montanhas,
até Portalegre. A sua organisação apropria-o admiravel-
mente a este habitat. Encontra-se em moitas mais ou menos
enredadas c altas, conforme a pujança do solo ; encontra-
se explorado em talhadios, e, menos vezes, apparece com
o porte arbóreo, disseminado ou em pequenos massiços, só
ou misturado com outras essências.
Clima. — Assim como os sobreiros e a azinheira são pró-
prios á zona portugueza de maior calor e seccura, assim
como o cerquinho é próprio á zona temperada, e o roble
aos valles e planícies da região mais húmida, assim o car«
valho negral é, entre nós, a essência das montanhas, onde
sobe a mais de 1:000 metros sobre o mar. Menos exigente
34i .
do que o roble resiste nas exposições transmontanas e nas
altitudes elevadas onde elle perde a importância.
Sdo. — Prefere os solos leves e pouco frescos, mas a sua
radicação muito especial permitte-lbe viver nas ladeiras ai*
eantiladas, sobre os terrenos áridos, onde os outros carva*
lhos não se podiam sustentar. As terras baixas, húmidas»
argillosas^ onde prospera o roble não lhe convém nada.
Em Portugal encontra-se quasi sempre sobre schistos ou
granitos, que são as formações principaes da zona interior
montanhosa, mas é tido como indifferente á composição mi*
neralogica do solo.
Radicação. — O systema radicular do carvalho negral é
composto de uma raiz mestra, maior ou menor, segundo a
fundura da terra, e de raizes lateraes muito compridas, que
bracejam quasi horisontalmente ao longe, originando, em
diversos pontos, rebentões numerosos. Esta forma de ra*
dicação permitte-lhe segurar-se com vigor nas ladeiras onde
a terra é pouca, e facilita-lhe a alimentação, alargando-lhe
a área lateralmente explorada pelas radiculas. Por outro
lado esse enraizamento é apropriadíssimo para segurar a
terra nas encostas, impedindo o desnudamento. Todas es-
tas razões tomam o carvalho negral uma essência preciosa
para a arborisação de muitos pontos do paiz.
As toucas rebentam com vigor extraordinário ; esta qua-
lidade, junta à que teem as raizes de originar rebentões,
apropria muito o carvalho negral para a exploração em ta-
Ihadio, cuja regeneração é, para assim dizer, illimitada.
Porte, crescimento e duração. — O porte d'esta arvore é,
de ordinário, inferior ao do roble, o que talvez dependa,
em parte, das peiores condições em que vegeta. Apresen-
tasse muitas vezes tortuoso, contorcido, e forma, em mui-
tos sitios, moitas arbustivas ou arborescentes. Em melho-
res terrenos é uma arvore de grandeza medíocre, com a
copa grande, irregular, quasi sempre originada a menor
altura do tronco do que no roble e cerquinho.
342 .
Tem crescimento demorado e attinge grande duraçio:
séculos de existência.
Madeira e casca. — A. madeira d'esta arvore tem qualida-
des menos apreciáveis que a do roble, mas aproxima-se-
lhe na estructura : tem o albumo maior, e nem sempre ni-
tidamente limitado ; é de ordinário mais porosa, pelo maior
desenvolvimento da zona de primavera, e tem os raios me-
dullares mais largos e mais numerosos. É muito sujeita a
contorcer-se, a empenar e a abrir.
 casca pouco tempo se conserva lisa e viva até á su-
perficie. Apparece em breve um rhytidoma profundo, es-
curo, quasi negro, escavado em grandes sulcos.
. Os raminhos novos são pubescentes.
Folhagem. — As folhas do carvalho negral são pecioladas,
obovado-oblongas, sinuado-lobadas ou irregularmente pinna-
tifendidas, com os lóbulos inteiros; são, de ordinário, maio-
res e mais recortadas que as dos outros carvalhos indígenas.
Em adultas sao verde-escuras na pagina superior, com alguns
pellos estreitados, e na pagina inferior esbranquiçadas oa
amarelladas, muito avelludadas; em novas apresentam-se,
assim como os raminhos^ vestidas de pellos avelludados,
macios e densos.
Estas folhas s3o caducas. O coberto do carvalho negral é
fraco, não só por causa dos profundos recortes das folbas,
como por ellas não serem muito abundantes, nem a rami-
ficação apertada.
Floração e fructificação. — A floração, monoica e amenta-
cea como a de todos os carvalhos, realisa~se em maio. A
maturação é annual; os fructos caem em setembro e outubro.
Os fructos teem formas variadas; são cylindrico-oblon-
gos, ovóides ou sub-globosos; ás vezes encontram-se quasi
sesseis, mas, de ordinário, agglomeram-se dois a quatro
sobre um pedúnculo recto, levantado, grosso, curto. A co-
pula é acinzentada, cotanilhosa, com as escamas aguçadas,
frouxamente imbricadas.
343
Os ftnctos são adstringentes.
Germinação. — A genninaçSo não é demorada. Às plan-
tas novas s3o desde logo robustas e dispensam a sombra e
abrigo superior.
Productos e usos. — Â madeira é das menos estimadas
d'este género. No emtanto, em Portugal, nas provindas do
norte, é bastante empregada, e com vantagem, em muitos
nsos, tal como para madeiramentos de casas, peças de moi-
nhos e azenhas (e resiste muito nas peças que teem de tra-
balhar debaiio de agua), instrumentos de lavoura,. etc.
Esta madeira dá óptima lenha, melhor que a do roble, e
para carvoaria é também mais estimada.
À casca é tida como superior, para curtumes, á do roble.
Os fructos são empregados em alguns pontos da Beira para
a engorda dos porcos; são reputados menos nutritivos que
os fructos dos outros carvalhos, mas são tão abundantes
qne algumas arvores chegam a produzir 40 a 50 alqueires.
o castanheiro
{Castanea vulgaris, Lam. : Fagu$ castanêa, L. e Brot.)
O castanheiro encontra-se em Portugal, com mais ou me-
nos abundância, em toda a grande zona schisto-granitica.
Prepondera em Traz-os-Montes, na Beira serrana, nos ar-
redores de Portalegre, e na mancha granítica que coroa a
serra de Monchique. Encontra-se em massiços cortados em
talhadio (soutos), ou é explorado pelo fructo, em alto fuste>
mas então quasi sempre isolado, ou em pequenos grupos.
Mo norte acompanha muitas vezes o carvalho negral, e acom-
panhado nas montanhas, mas sem subir tão alto como elle.
Na região d'entre Douro e Mmho acompanhava, de ordiná-
rio, o roble, mas a doença, que se manifestou nos últimos
tempos, tem-o reduzido muito n'essa provinda.
Clima. — O castanheiro provavelmente poderia viver em
344
qaasi todo o paiz, se nSo fosse a sua tendência calcifoga,
que o afasta dos terrenos calcareos. Prefere as regiOes accí-
dentadas^ chegando a sabir nas montanhas a mais de 1:000
metros de altítnde. Entre nós encontra-se nas exposições
trans e cismontanas.
Solo. — As terras profunda?, frescas, leves, graníticas oa
schistosas sSo as que mais lhe convém; mas pode viver,
embora mais acanhado, nas terras seccas. Nos solos homi*
dos cresce muito alto e muito viçoso, . mas a madeira fica*
lhe de má qualidade, e a arvore é muito atreita a tomar-se
õca no tronco. Os terrenos argíUosos, muito compactos, sio-
lhe nocivos, e sobre os calcareos, como já dissemos, toma-
se-lhe a vida impossível, logo que a cal exceda 4 por cento.
Radicação. — O castanheh*o resiste perfeitamente ao vento;
tem systema radicular muito forte. A raiz mestra é grossa
e comprida, mas menor que a dos carvalhos; as raizesla-
teraes são numerosas e robustas, com tendência a profun-
darem.
Rebenta optimamente de touca ; forma rebentões em gran-
de quantidade, muito vigorosos e dotados de crescimento
rápido. É por isso vantajosa a exploração do castanheiro
em talhadio.
Porte, crescimento e duração. — Quando vegeta isolado
apresenta pequeno fuste e a copa extraordinariamente larga,
assente em pernadas muito desenvolvidas e muito ramifi-
cadas. Em massiço adquire bastante altura. É vulgar em
Portugal a existência de castanheu*os com grandes dimen-
sOes: com 6 e 7 metros de circumferencia na base^ por 30
metros de elevação. O maior castanheiro que temos visto
foi em Lamego, próximo á ermida da Senhora dos Remé-
dios; mede 9'",6 de circumferencia. Este castanheiro tem
o tronco muito curto, dividido em grossas pernadas levan-
tadas, e a sua altura não é considerável.
Tem crescimento rápido, muito mais rápido que os car-
valhos, principalmente até aos 50 ou 60 annos. Tem grande
345
duração, mas de certa edade por diante é sujeito a tornar-se
ôco no centro» continuando a viver ainda muito tempo.
Madeira e casca.— A, macieira do castanheiro, ou casta-
nho por abreviatura, é parecida com a do carvalho, mas
distingue-se d'ella perfeitamente, sem que possa haver a
menor confusão, porque tem os raios medullares muito del-
gados, muito pouco apparéntes, emquanto nos carvalhos
são deseguaes, muito grossos, muito visíveis. Tem as ca-
madas annuaes bem delimitadas e o borne esbranquiçado,
distincto do cerne, e de ordinário em menor percentagem
qae o dos carvalhos. Esta madeira dá boa fenda, e as suas
qaalidades dependem bastante das condições em que foi
cre^da. Geralmente é menos densa que a do carvalho, mas
esta densidade varia muito ; em três exemplares da collec-
çSo do Instituto determinámos as densidades 0,534, 0,58i7
e 0,701 ; Doestes limites devem, com aproximação, compre-
hender-se os limites de densidade apresentados pela ma-
deira d'esta essência no paiz.
A casca nas arvores novas e nos raminhos é escura, pon-
toada com lenticulas alongadas, que, com a edade, se es-
tendem cada vez mai» para os lados. Depois torna-se cin-
zento-prateada, como a do roble em novo, e assim persiste,
até aos 15 ou SO annos. Doesta edade por diante é substi-
toida por um rhytidoma persistente, espesso, escuro, muito
gretado na vertical, semelhante ao dos carvalhos, e egual-
mente devido ao desenvolvimento de uma lamina suberosa
isoladora atravez as camadas do liber.
Fcíhagem. — ^As folhas do castanheiro são pecioladas, oblon-
go-lanceoladas, compridas (com 0,'"2 de comprimento, pro-
ximamente), rígidas, glabras nas.duas paginas, de cõr verde
mais intensa na pagina superior, com dentes fundos, nu-
merosos, que correspondem a outras tantas nervuras (15
1 20 de cada lado). Estas folhas são caducas, mas conser-
Tam-se algum tempo marcescentes nas arvores, sobretudo
nos talhadios.
346
A folhagem é abundante, e as folhas ponco recortadas,
grandes e inseridas quasi horisontahnente» tomam bastante
espesso o coberto d'esta arvore.
Temperamento. — O castanheiro não exige tanta loz como
os carvalhos, o que está em harmonia com a maior espes-
sura da sua folhagem ; pode por isso constituir massiços
mais apertados.
Floração e fructificação. — As flores masculinas d'esta es-
sência estão dispostas em amentiihos compridos, cyUndrícos,
delgados, interrompidos, levantados, que se desenvolvem na
axilla das folhas inferiores dos rebentos : as flores femininas
reunem-se 1 a S dentro de um invólucro de bracteas accres-
cente, e encontram-se situadas quasi sempre na base dos
amentiihos masculinos.
A floração dá-se em maio, junho, quando a arvore já está
vestida de folhas desenvolvidas. A maturação reaUsa-se em
outubro, novembro.
Os fructos (castanhas) são adienios com o pericarpo del-
gado, secco, lustroso externamente, providos na base de
uma grande cicatriz ; a semente apresenta amêndoa maito
volumosa, comestível, com as cotyledones muito grossas,
amylaceas. Os fructos estão incluídos 1 a 5 n'um invólucro
quasi lenhoso, que tem o aspecto de pericarpo, dehiscente
em 4 válvulas, externamente coberto de espinhos rígidos,
agudos, fasciculados, divergentes ; este invólucro tem o no-
me vulgar de ouriço, e é formado pela reunião das bracteas
accresçentes.
Os fructos caem naturahnente pela dehiscencia dos ouri-
ços, e como são muito pesados pouco se afastam, ou nada,
da arvore que os produziu.
O castanheiro entra muito novo em fructificação e, de or-
dinário, é abundante em fructos.
Germinação. — A castanha conserva-se pouco tempo apta
para a germinação. A germinação dá-se com facilidade; a
vegetação das plantas novas é rápida desde os primeiros
347
aimos e não lhe é tSo nocivo, como aos carvalhos, o coberto
das arvores superiores.
Productos e usos. — O castanheiro é explorado entre nós
para a prodncçSo de madeira ou de fructo.
A exploração mais regular da madeira realisa-se em ta-
Ihadios ; os productos d'estes talhadios variam com a edade
da revolução: em muito novos dão madeira para arcos,
flexivel, que se dobra com facilidade ; mais adultos produ-
zem varas muito direitas e compridas, empregadas com
vantagem na construcção civil, e n'um grande numero de
usos. A madeira de maiores dimensões é muito estimada
para os mais variados serviços : para taboame, para marce-
naria, para tanoaria (e dá boa ^enda no fabrico de aduellas),
ete. Não existe em Portugal a exploração desenvolvida
d'esta arvore em massiços d' alto fuste para a producção de
madeira ; as maiores peças de castanho, ordinariamente, são
tiradas das arvores isoladas, ou de uma ou outra reserva ^,
que deixam nos talhadios, mas decerto essa exploração seria
mnito vantajosa.
A lenha do castanheiro é menos estimada que a do car-
valho, e o carvão, que produz, é de quaUdade mediocre.
A exploração d'esta essência para fructo realisa-se quasi
sempre em arvores isoladas ou reunidas em pequenos gru-
pos. A castanha é largamente empregada no paiz na ali-
mentação do homem e dos animaes. Segundo as tabeliãs
de WolfiT a composição da castanha fresca é a seguinte :
1 Denomina-se reserva, como veremos na Cultura florestal, a arrore
qne fica depois do corte das outras em yolta ; assim se diz reserva d$
ma, duas, três revoluções, a que ficou depois de passado um, dois, três
cartes das arvores em redor.
348
Humidade 49,2
Cinzas ; i,4
Lenhoso 2,9
Matérias gordas 1,4
Matérias azotadas 6,4
Extractivo ternário (análogos do amido,
etc.) 38,7
100,0
Os porcos engordados com a castanha, no norte, apre-
sentam menos tecido gorduroso e mais tecido muscular qae
os engordados no sul com a bolota e com a lande. Este
facto prende-se principalmente com a diversidade da raça
explorada nos dois pontos, mas também depende da com-
posição dos dois fructos. Comparando esta analyse com as
analyses, anteriormente apresentadas, da bolota e da lande,
vé-se que n'estes últimos fructos diminuem os azotados e
^ugmentam consideravelmente as substancias gordas.
Quando os castanheiros estão em bom terreno, e à larga,
produzem ás vezes castanha muito grande, a que chamam
rebordãa; mas, de ordinário, os castanheiros braivos costu-
mam ser melhorados pela enxertia, quando se exploram
em producçSo de fructo. Estes castanheiros enxertados
denominam-se mansos, ou longaes, e produzem fructos mais
abundantes, maiores, mais saborosos, e com a/i^/femeDOS
adherente.
O sr. Carlos de Sousa Pimentel n'um seu estudo sobre
a creação dos soutos^ publicado no Jornal de HorticuUura
Pratica (anuo de 1883), dá conhecimento das seguintes
variares culturaes, como transcrevemos textualmente:
tTemporã, andrediz ou dos barros. — Castanha grossa e
redonda abundante e precoce. Não se descasca bem, senSo
âepois de alguma coisa avellada.
€jaca, ou Umgal. — É um pouco sobre o comprido, grossa,
abundante e saborosa. Descasca-se com facilidade.
*Portdã. — N3o tão grande como a aDleríor, meãos pro-
dactira, sm tanto mais serodÍa.l)eBcasca-se com facilidade.
tCoUimnha ou coUeirtnha. — Comprida e achatada; menos
Tohifflosa e abmidante.»
E accrescenta: tpara a enxertia preferem-se geralmente
as arvores qae dão a castanha loâgai, ou a têmpora, por
serem as que fructíãcam mais, e as que dão melhor fnicto.»
Na alimentação do homem a castanha emprega-se em
fraco, ou pilada, isto é, conservada secca e já descascada.
A alfarrobeira
(C«raIonHi Siliqua, h.)
A alfarrobeira encontra-se, em Portugal, representando
papel importante na arborisaçSo do Algarre, onde está per-
Mtamente naturalisada. Sobe mais ao norte, e nos arre-
dores de Lisboa, por exemplo, fructifica muito bem, e um
ou outro pé apparece sab-espontaneo, mas fora da pro-
víncia do Algarve perde toda a importância.
Clima. — A alfarrobeira parece ser originaria do Oriente,
mas está naturalisada em todo o líttoral mediterrâneo; esta
sitaaçao indica evidenlemente que precisa temperatura ele-
vada. Entre nós è na orla meridional que vive em melhores
. condições. Resiste perfeitamente ás grandes seccuras estí-
nes d'essa regiSo.
Solo. — Cresce em todos os terrenos, comtanto que nSo
sejam pantanosos, ou mesmo muito húmidos. Os solos fres-
cos e profundos s3o-Ihe os mais favoráveis, mas vive até
nos terrenos pedregosos, inclinados, e fraqneiros, paten-
teando bastante rusticidade. É nas formações calcareas onde,
m Portugal, mais habitualmente se encontra; prefere tal-
m os solos calcareo-argillosos.
Badiceição. — Tem systema radicular vigoroso, e rebenta
ban de louça. Deita numerosas raízes lateraes, compridas
e pouco ftmdas.
350
Porte, crescimento e duração. — Varia muito o porte da al-
farrobeira segundo as condições em que se desenvolve; nos
peiores terrenos constituo moitas arbustivas muito enreda-
das; em solos mais favoráveis é, de ordinário, arvore de
mediana grandeza, podendo em boas circumstancias attingir
15 metros de elevação e mais; tem o tronco grosso, sem-
pre dividido a pequena altura em pernadas robustas, e a
copa grande, arredondada, mais ou menos aberta para os
lados. No Algarve, a copa doestas arvores chega a adquirir,
às vezes, 12 a 15 metros de diâmetro; os ramos das extre-
midades apresentam-se com frequência pendentes, dando
à copa um aspecto muito característico.
A alfarrobeira tem crescimento lento, mas que, ainda as-
sim, depende muito da fertilidade do chão. Pode chegar a
edade bastante avançada.
Madeira e casca. — A madeira da alfarrobeura tem o al-
burno branco-amarellado e o cerne vermelho-rosado com
muitas venaçôes ; o seu tecido é muito apertado e os raios
medullares muito delgados, quasi eguaes, numerosos; tem
os vasos isolados, ou reunidos 2 a 4 por uma aureola de
parenchyma lenhoso mais brando e mais claro. É madeira
muito homogénea, mas com os crescimentos annuaes muito
visíveis, dura, pesada, densa, susceptível de bom polido e
dando boa fenda.
A casca é lisa, delgada, acinzentada; nas arvores bas-
tante velhas é um rhytidoma áspero e rugoso.
Folhagem. — As~ folhas são persistentes, paripmnuladas,
com 3 a 5 pares de foliolos grandes, ovados ou ellipticos,
obtusos, às vezes levemente chanfrados no cimo, coriaceos,
verdes e lustrosos na pagina superior, baços e mais claros
na pagina inferior, com a nervura centrai saliente.
Esta folhagem é espessa e assombrea bastante com o seu
coberto. As folhas persistem dois annos.
Floração e fructificação. — A floração é dioica, muito ra-
ras vezes polygamica. Tanto as flores masculinas como as
351
femininas, distitoidas de coroUa, estão dispostas em cachos
amentaceos; são esverdinbadas e pequenas. Desenvolvem-
se abrigadas pela sombra das folhas nos ramos de 3 e 4
annos, e é frequente apparecerem implantadas atè nas ra-
mificações já muito grossas. A floração dá-se de fins de
agosto a outubro. Âo individuo masculino chamam no Al-
garve cUfarrobeirão.
O fructo amadurece passado proximamente um anno» em
agosto, setembro do anuo seguinte. É uma vagem polposo-
coriacea, indehiscente, comprimida, recta ou arqueada, es-
cara, com 10 a 20 cent. de comprido, mais ou menos sac-
charina; as vagens d'algumas variedades conteem 12 a 16
sementes, as d'outras conteem apenas 2 a 5. Estas semen-
tes são ovadas, comprimidas, amarello-escuras.
A alfarrobeira tem fructificação abundante. Existem muitas
arvores que dão 4 e 5 arrobas de vagens, subindo este ren-
dimento, em casos muito menos vulgares, a 10, a 15, a 20
arrobas e mais.
Germinação. — As sementes não teem difScil germinação;
germinam naturalmente passados uns 20 dias a um mez.
Como o seu tegumento é muito duro, é util, quando se
faça a sementeira artificial, sujeítal-as primeiro á acção de
mna lixivia alcalina fraca.
Productos e usos. — A madeira da alfarrobeira pode ser
empregada em vários usos, mas não é muito apreciada; fa-
bricam d'ella trem de lavoura, engrenagens para moinhos,
etc. Dá boa lenha, e como tal é bastante empregada no
Algarve. As cascas e as folhas são tanninosas e podem
senir para curtume.
O principal producto da alfarrobeira é o fructo; conhe-
cem-se no Algarve quatro variedades d'este fructo, que teem
valores muito diversos : a alfarroba fnukua, canella, gaViosa
e de burro; segundo alguns, o numero das variedades exis-
tentes é muito mais considerável.
A vagem da alfarroba mídata é escura, quasi negra, di-
352
reita ou um pouco cunra, polposa, de todas a mais doce e
estimada. Pela enxertia, teem transformado, no Algarve, o
maior numero dos alfarrobaes, n'esta variedade. A vagem
da alfarroba canella é, como o nome o indica, còr de ca-
nella, e é considerada a segunda em riqueza saccharina e
em valor nutritivo. As outras duas variedades s3o muito mais
adstringentes, muito menos doces e nutritivas, mais peque-
nas, menos polpudas, e já pouco se encontram. Nas alfar-
robas maduras, segundo uns estudos a que procedemos
no laboratório do Instituto, conjuntamente com a glucose
não é o tannino que se encontra, mas o acido galhico, pelo
menos nas duas variedades mais doces.
Uma parte da alfarroba produzida no Algarve é exportada,
uma parte é dada como penso aos animaes, e a restante é
hoje alcoolisada em grande escala.
Gomo penso aos animaes a alfarroba entra, no Algarve,
em logar de ração; passa por ser bom alimento, dando vi-
gor e fazendo crear bom pello. Esta pratica não está em
harmonia com o que dizem os auctores francezes acerca
das qualidades nutritivas da alfarroba^ mas não é para ad-
mirar que no clima muito mais quente do Algarve ella ad-
quira melhores qualidades.
N'uns estudos, que executámos no laboratório do Insti-
tuto, obtivemos nas nossas analyses valores que se afastam
bastante dos das analyses francezas, mas que estão em har-
monia com a pratica do Algarve acima referida. Esses es-
tudos versaram sobre as duas variedades mais saccharinas,
mas não deve esquecer que as condições de vegetação
devem influir bastante na composição do fructo.
Ambas as amostras vieram do Algarve; a analyse só re-
caiu nos pericarpos. A relação encontrada entre os peri-
carpos e as sementes foi a seguinte, em peso:
353
Alfarroba mulato Alfarroba oanella
Pericarpos 93,50 89,17
Sementes 6,50 10,83
100,00 100,00
Nos pericarpos determinámos:
Alfarroba mulato Alfarroba canella
Humidade 14,960 15,150
Cinzas 1,870 1,560
Lenhoso 5,183 5,920
Matérias gordas 4,712 3,552
iMaterias azotadas .... 14,300 12,077
Extractivo ternário (aná-
logos do amido, glu-
cose, etc.) 52,475 50,911
93,500 89,170
Nas cinzas da primeira encontrámos 0,149 de anhydrido
phosphorico e nas da segunda 0,138.
Quanto ao valor da alfarroba como matéria alcoolisavel,
' D'estas duas amostras, foi dado pelos números seguintes:
Alfarroba mulato Alfarroba canella
Glucose existente natu-
ralmente 15,220 10,415
Glucose produzida pela
saccharificaçSo chlo-
rhydrica 24,992 24,996
Total. . . 40,212 35,381
Isto é : não mettendo em linha de conta o álcool prestado
pela semente, cada arroba (15^) d'aquellas alfarrobas da-
ria o seguinte rendimento theorico em álcool absoluto a 0^ :
Alfarroba mulata. 3^60
Alfarroba canella 3^18
c 8. 23
354
É claro que. este reodimeato ikeoria
frer grandes dedacções, ioberentes ac
do fabrico indastrial, por mais perfei
A industria da alcoolisação da alfarrot
deseuTOlvimento dos últimos tempos, <
serrado om bom futuro. As sementes, <
pela cosedura, ou reduzidas a farinba, si
mentaclo dos anioiaes, com bons res
oatrítiTO é bastante grande; segundo i
ticamos no laboratório do Instituto, U
Homidade
Cinzas
Matéria orgânica
Na matéria orgânica:
Substancias azotadas
Substancias gordas
Lenhoso
Extractivo ternário
Nas cinzas:
Anbydrido pbosphorico
Cal
Silica
Ferro, alcalis, etc. (por differenç;
Estas sunentes podem aproTeitar-s
raria.
355
2.*— ESSENOIAS MEKOS IMPORTANTES
KA ARBORIS AQÃO FLORESTAL : ARBUSTOS DAS MATAS»
DAS OHARNEOAS E DAS AREIAS MARÍTIMAS
O Tilmeiro» nigrilho ou mosqueiro
(Vlmuõ campettritj L.J
O ulmeiro, nigrilho (em Tra2-os-Montes) ou mosqueiro
(do Alemtejo) encontra-sè abundantemente em todo o paíz,
bordando as estradas, á beira dos campos, próximo das
casas, ou misturado com as outras arvores, mas n3o con-
stítue nunca massiço florestal.
CUma. — Parece que o ulmeiro prefere os climas tempe-
rados, onde adquire o maior desenvolvimento ; entre nós é
talvez mais frequente no norte do que no sul.
S(^. — Vae bem em todos os solos comtanto que n5o
sejam nem muitos áridos nem muito húmidos ; nos terre-
nos fundos, leves e frescos adquire grandes proporções e
rápido crescimento; se a humidade for excessiva o lenho
fica de ruim qualidade.
Radicação. — Tem radicação muito potente; nas terras
soltas e profundas a raiz mestra desenvolve-se bastante,
acompanhada de ordinário por duas ou três raizes lateraes
grossas, muito ramificadas e cheias de cabellame, que se
estendem a grandes distancias na horisontal, dando nume-
rosos rebentões. Nas terras mais compactas o desenvolvi*
mento da raiz mestra cessa em muito pouco tempo, mas
encontram-se sempre as raizes grossas, obliquas e profun-
das, e as raizes horisontaes.
Esta propriedade, que teem as raizes do uhneiro de bra-
cejar muito longe, e de crear muitos rebentões, faz com
qae, nem sempre, esta arvore seja conveniente para bor»
S3«
356
dadura dos campos caltivados. i
cortada a arvore-mae, é dUBcil ej
^parecem por todos os lados. 1
ulmeiro, a mnitos metros de distai
e até levantarem os lagedos do i
mas.
Porte, crescimento e duração. — l
arrore, com o tronco direito e gro
a copa muito ramosa, cheia de foll
cimento muito rápido e pode chi
maior ulmeiro que temos visto d
circumferencia na base e 25 metros de altura, mas estava
muito decrépito, òcoejá muito destroncado; a sua altura,
provavehneDte, teria chegado a 30 metros. Tem vida muito
dilatada, mas é sujeito a toroar-se õco, passado uma certa
edade.
• o ulmeiro é atacado por muitos insectos, uns que vivem
QO lenho, outros na casca e outros nas folhas; sobre estas
ultimas desenvolve-se um puIg5o que pica o limbo foliar e
provoca a formação de galhas volumosas, 6cas, entumed-
das, irregulares. Estas galhas não teem préstimo, e como
se encontram cheias de insectos, d'ahi veiu a esta arvore
o nome vulgar de mosqutiro, com que em muitas localida-
des do sul a conhecem.
Madeira e casca. — A madeira tem cerne e borne muito
distinctos: o primeiro é vennelbo-acastanhado; o segundo,
bastante avultado, branco- amarellado. Esta madeira apre-
senta os raios medullares um pouco deseguaes, n3o muito
grossos, e os vasos com calibre muito differenle, reunidos
pelo parenchyma lenhoso, desenhando arcos e Lnhas fle-
xnosas concêntricas; os de maior caUbre constituem uma
zona muito porosa, correspondente á camada de prima-
vera.
Esta madeira é dura, pesada, elástica, poDCO própria para
357
A casca das arvores adultas é lun rhytidoma escuro, com
fendas aproiimadas e mais profundas na vertical, produ-
zido pelas laminas suberosas gue se formam atravez o líber.
Os eixos novos apresentam umas vezes a casca lisa, outras
vezes coberta de um invólucro suberoso acastanhado-ciaro,
bastante desenvolvido, muito frágil, fendido profundamente,
e qae toma os ramos alados (variedade suberosa, Koch.).
Esta cortiça cae naturalmente quando se forma o rhytidoma.
e Dão tem nenhum préstimo.
O liber desta arvore é muito fibroso e tenaz; segundo
o sr. Matbieu (1. c.) pode empregar-se no fabrico de estei-
ras e cordas grosseiras.
Folhagem.— Xs folhas do ulmeiro são caducas, ovado-
elljplicas, acuminadas, obliquas na base, duplamente ser-
radas, mais ou menos ásperas, disticadas; teem peciolos
curtos. SSo muito abundantes e dão espesso coberto.
Floração e fructificação.—A. floração realisa-se em feve-
reiro e março, quando a arvore está ainda despida de fo-
lhas; é muito abundante, e realisa-se todos os annos quasi
com a mesma intensidade, em condições normaes. As flo-
res são pequenas, apetalas, hermaphroditas, e estSo dis-
postas lateralmente nos raminhos em fascículos globo-
SOS.
o fructo é uma samara glabra, arredondada, profunda-
mente incisa no cimo; amadurece pouco depois da florai^o
e cae em março e abril; ainda antes de apparecerem as
folhas jà a arvore está coberta de fructos desenvolvidos e
verdes, ás vezes tão numerosos que de longe parecem as
primeiras folhas. Estas samaras voam a grande distancia,
levadas pelo vento.
O ulmeiro fnictilica em bastante novo, mas no principio
as sementes que produz são estéreis; mesmo depois de
adulto, muitas sementes estéreis se encontram de envolta
tím as sementes férteis.
Germinação. — Semeado logo em seguida á disseminaçSo
358
natural germina passados algoos di
' cresce rasoavelmente D'esse anno.
O crescimento da pequena arv
sen temperamento robusto, ás Tft
gal-anos primeiros tempos, princip:
tes e nas terras seccas.
Productos e usos.—X madeira d
mada; resiste bem á humidade;
quilhas de embarcações, bombas,
é preciosa para carroçaria, para a
ç3o de machinas, para veios, etc;
em taboame.
A lenha d'esta essência é reputa<
bem como o carv3o fabricado com
As folhas slo empregadas para fi
tos do paiz; os carneiros, bois e poi
culdade. Em Traz-os-Moates alugam-se os nígrilhos para
lhes ripar as folhas.
Esta arvore é uma das que, pela combust3o, deixa muor
peso de cinzas, com percentagens mais elevadas de po-
O Crelxo
(Fnunnui angiutifcAia, Vahl., e Fraxmut êaxátior, L. ?)
O freixo -é arvore muito frequente em todo o Portugal;
encoDtra-se nas margens dos campos e dos caminhos, nas
beiras dos cursos de agua, ou misturado com as outras es-
sências, mas em parte nenhuma do paiz fárma massivo flo-
restal.
CUma. — O freixo vive bem em todas as nossas provín-
cias: nas planícies, nos valles, nas collínas, e sobe bastante
alto nas montanhas.
Soh. — É pouco exigente nas qualidades do solo qoe .
pede; vive em todos os terrenos, excepto nos muito com-
359
«as e férteis, dos valies e à beira
d'agna qne melhor vegeta e mais se desenvolve.
fíaiUcação.— O systema radicular do freixo eompOe-se
de moitas ramifícações, das qnaes umas profondam bas-
tante e as outras se alargam borísontalmente a grandes
distancias. Estas raizes horisontaes formam rebentões, mas
teem essa propriedade em menor escala do que o nlmeiro;
aJDda assim o freixo toma-se ás vezes nocivo aos campos
cultivados próximos, quando é explorado em bordadura.
Rebenta muito bem de touca.
Porte, crescimento e duração. — O freixo ó uma arvore de
grande porte, com o tronco cylindrico, ás vezes prolongado
até ao cimo, cnm a£(^a ovado-pyramidal ou arredondada.
As suas dimensSes, a altura do fiíste e a forma da c'opa
variam muito com as condições de vegetação; citam-se frei-
xos de grandes proporções, no paiz ; o sr. Carlos de Sousa
Pimentel, n'um artigo publicado no Jomal Offcial de Agri-
adtura, refere-se a uuia d'estas arvores, existente no campo
'de Trancoso, que tem 8 metros de circumferencia na base
e perto de 30 metros de altnra.
O freixo tem crescimento muito rápido nos primeiros
annos, e grande duração, qne vae além de um a dois sé-
culos. Em condições normaes, aos 60 a 70 annos chega ao
perfeito desenvolvimento e pode explorar<se com vanta-
gem.
Madeira e casca. — A madeira é branca, ou levemente
rosada, nntuosa ao tacto, nacarína, sem distincçSo entre
cerne e albumo, com as camadas annaaes muito apparen-
les. Tem os raios mednllares eguaes, muito delgados, e os
vasos deseguaes, grupados por laminas visíveis de paren-
chyma lenhoso, dispostas em linhas, ou arcos esbranquiça-
dos concêntricos ; os vasos maiores rennem-se na zona de
primavera, tomando-a bastante porosa. Esta madeira 6
dnra, multo elástica e muito tenaz; apezar de ser branca,
e n3o ter distinccSo entre o cerne e o home, é bastante
M' ' ' 360
J;;;. " densa; nm exemplar (secco ao ar) d
tif-; ' tem a densidade 0,862.
'v y A casca é lisa, acinzeDtada, nos [
-V; cede-lhe depois, em uma edade já r
., ; ' . mu rhytidoma persistente, semelhante ao do carvalho, mais
'''.■\, fendido, rugoso, escuro.
''.'- Folhagem. — As folhas do freixo s5o caducas, oppostas,
;,'■ ' . compostas de foliolos iraparipirmulados, sesseis e dentados.
ir ■■ . A folhagem é pouco basta e assombrea pouco o terreno ia-
«:■;•■ ■ ferior.
';.' ' . floração e fructtficação. — A floração realisa-se em fins
iy . de dezembro ou janeiro, muito aotes da foIheaçSo, qae se
;-<,' dá em fins de fevereiro ou março. As-flores s9o nuas, po-
y . lygamicas, dispostas em cymeiras panicoladas.
'-'. O fructo é uma samara foliacea, .comprimida, com orna
l- aza muito comprida. A disseminação realisa-se em outubro,
^•. ^ , novembro, e os fructos são levados pelo vento a grande
[y i ' distancia ; algumas vezes a disseminação sú tem logar na
'■' primavera seguinte, persistindo os fructos presos á arvore
durante o inverno.
O freixo produz sementes férteis desde muito novo, e
C':' geralmente fructiflca em abundância todos os annos.
Germínof^.— Quando a semente é deitada á terra ni)
outono, umas vezes germina na primavera se^nte, outras
Tezes só na segunda primavera; semeada em março, ger-
'-, : mina ás vezes logo em maio, mas, se o chão é secco, sã
nasce passado um ou dois annos. As plantas novas crescem
pouco nos primeiros 4 ou 5 annos, porque toda a actividade
da sua vegetação se concentra na raiz, cujo gavião profimdi
muito; d'essa época por diante adquire grande crescimento
; ' annual, até edade adiantada. Na primeira época da vida a
sombra das arvores superiores não Ibe é malfazeja, antes
' pelo contrario é efBcaz.
Producios e mos. — A madeira do freixo é muito procu-
rada para carroçaria, trem de lavoura, caimbas de rodas.
361
cabos, temões, remos, arcos de pipa, coronhas d'espiDgarda,
para tomo, marceneria etc; em poucas palavras, para todas
as obras qae exijam madeira tenaz e flexível. Dá boa lenha,
6 carrão estimado.
Às folhas do freixo sâo empregadas como forragem; e
as cinzas d'esta arvore são bastantes ricas em potassa.
Os choupos, alemos ou fayas^
(Espécies do género Poptdus)
O choupo ordinário, ou negro, ou alemo negro fPopMÍttô
tdgra, L.) e o alemo ordinário, ou branco, ou choupo branco,
on faya branca (Populus alba, L.J são as duas espécies,
doeste género, mais vulgares no paiz. Encontram-se, com
abundância, espontâneas ou cultivadas, principalmente nas
terras húmidas e nas margens dos cursos d'agua; ás vezes
estão dispostas nas orlas dos campos cultivados, ou á beira
dos caminhos, sobretudo o choupo negro. O choupo tre-
medor, ou faya preta, ou alemo lybico (Populus tremula, L.J
existe nas províncias db norte, mas é menos frequente que
as espécies anteriores. O choupo dltalia (Populus pyror
nUdalis, Roz.^ e o choupo do Canadá /Popw/w* monilifera,
Ait.j cultivam-se hoje, principalmente o primeiro, á beira
das estradas e caminhos, e junto á agua. Nenhuma d'estas
espécies constitue massiço florestal; ou apparecem em ali-
nhamentos, ou isoladas. No nordeste da Europa o choupo
tremedor constitue massiços; as outras essências não os
fonnam em parte nenhuma, nem a sua organisação o tolera.
Clima. — O choupo negro e o choupo branco são arvores
^ Importa muito ter presente que nós chamamos impropriamente
faifas a alguns ehoupos. A verdadeira faya, a Fagu$ silvatica, h,, é arvore
muito diversa e não existe espontânea em Portugal ; apenas se cultiva,
n^um ou outro ponto muito restricto, como curiosidade botânica, tal no
Bussaco, etc.
362
espontâneas das regiões médias e merídionaes da Europa;
o choupo tremedor sobe mais ao norte, quasi tão alto como
o vidoeiro. N'estes factos se pode prender a distribuiçio
d'estas arvores em Portugal; o choupo tremedor é das três
essências a que não apparece espontânea nas provindas do
sul, e a que sobe mais alto nas montanhas; o choupo branco
é o que fica a menores altitudes.
Solo. — Os choupos preferem as terras fundas, frescas oe
húmidas, não muito compactas, sobretudo as terras férteis;
sao indifferentes á composição mineralógica do solo. Sio
apropriadissimos á beira dos cursos d'agua, onde adquirem
grandes dimensões e onde prestam bous serviços na cod-
solidaçSo das terras marginaes.
Radicação. — O systema radicular de todas estas espades
é superficial, principalmente o do choupo tremedor, qoe
apenas se compõe de raízes delgadas, muito compridas,
d'onde se desenvolvem numerosos rebentões. Os choopos
negro e branco apresentam egualmente raizes horisontaes,
mas teem algumas outras profundas, sobretudo o primeiro,
e por isso elle resiste mais ao vento. De ordinário o choupo
branco produz mais rebentões de raiz que o choupo negro.
O choupo dltalia tem radicação um pouco semelhante à do
choupo negro.
Todos os choupos rebentam bem de touca e das raizes.
Quando as arvores s3o cortadas, as raizes que permanecem
no solo formam rebentos ainda com maior actividade, e
v3o propagar, ás vezes a grandes distancias, a arvore aba-
tida. Estas essências podem prejudicar os campos visinbos
com a invasão das suas raizes e rebentos; o prejuízo é
maior nas essências que teem as raizes mais borisontaes,
mais compridas e mais cheias de rebentões.
Porte, crescimento e duração. — Todos os choupos teem
crescimento muito rápido; aos 40 ou 50 annos podem che-
gar a 20 metros de altura, e mais. Gerahnente o choupo
branco adquire maior altura que o choupo negro» e este
363
remedor; esta ultima espécie tem pe-
. I, (Je ordinário, a vida mais corta. Os
choupos do Canadá e dltalia crescem muito alto, mais ainda
qne o choapo branco, e crescem muito depressa, sobretudo
o primeiro, que a este propósito é notável entre todos os
mais.
O choupo negro apresenta, de ordinário, uma grande
copa, aberta para os lados, irregular, muito ramiâcada,
ovnde-conica, mais espessa que a dos seus outros congé-
neres. O choupo branco tem, quasi sempre, maior tronco,
direito, cylindrico, mais limpo de ramos ladrões qne a es-
pécie anterior, e copa grande, ovóide, muito ramificada. O
choupo tremedor tem o tronco cylindrico também e elevado,
mas é pequeno de copa, tem os ramos delgados e pouco
numerosos. O choupo do Canadá apresenta um tronco ele-
vado, cylindrico, regular e a copa larga, aberta, ramificada,
OToideKionica. O choupo d'ltalin distingue-se de todos os
outros, pelo porte muito característico: o troiíco prolonga-se
alé ao cuno, vestido, quasi desde a base, de ramos delga-
dos, direitos, levantados, constituindo no seu conjunto uma
aspi estreita, Aisiforme, aguçada.
Madeira e casca. — A madeira dos choupos é branda,
porosa, tem os elementos anatómicos volumosos e pouco
lenhifeilos. Os seus raios meduUares s3o muito delgados,
egoaes e numerosos; os vasos são eguaes e grupados em
pequenas linhas radiantes.
De todas estas madeiras a mais estimada é a do choupo
tranco ; distingue se bem porque tem o cerne levemente aver-
melhado e o borne branco ; um exemplar da coUecçSo do Insti-
tuto accusou-nos a densidade 0,640. As' madeiras do choupo
negro e tremedor são brancas, sem distincção de cerne e
home; nm exemplar, da coUecçSo do Instituto, da madeira
do choupo negro tem a densidade 0,486, e outro do choupo
tremedor 0,434. A madeira do choupo tremedor é pouco fre-
qnente entre nós. A madeira do choupo d'Italia é a mais leve,
364
mais macia e mais porosa de todas as n
os vasos maiores. A madeira do choupo
á do choupo branco, mas superior á d
A casca de todas estas arvores, dep
rhytidoma. No choupo negro, no choup(
do Canadá este rhytidoma fórma-se [
novas, e apresenta-se fendido longiti
aspecto do rhytidoma dos carvalhos,
e tremedor a casca, cinzento-esverdinh
mais tempo, depois fendese em losa
regulares, e só tarde apparece o rhyti
Os rebentos e os botões do choupi
Ihosos, n3o viscosos; os botões de tod'
citados são glabros e viscosos; os rebentos dos choupos
negro e d'ltalia são cylindricos, os do choupo do Canadá
angulosos, sulcados.
Folhagem. — As folhas dos choupos são caducas, grandes,
alternas, e teem o peciolo comprido, sub-cylindrico (choupo
branco) ou comprimido lateralmente (choupos negro, tre-
medor, d'Italia, e do Canadá), o que as obriga a agitarem-se
muito á mais leve aragem, sobretudo as do choupo tre-
medor, d'onde vem o nome a esta essência.
As folhas do choupa branco são palmatilobadas, em adul-
tas glabras e verde-escuras na pagina superior, e vestidas
de pellos cotanilhosos densos, persistentes, muito brancos,
na pagina inferior. As do choupo tremedor s3o ovado-or-
biculares, irregularmente crenado-dentadas, pnbesceales
em novas, e verdes, não lustrosas em ambas as paginas,
depois de adultas. As das outras três essências sSo triao-
gnlar-ovadas, ou triangular-ellipticas, glabras nas duas pa-
ginas, e regularmente dentadas; as do choupo de Itália são
tão largas, ou mais largas, do que compridas ; as do cboQpo
negro s3o mais compridas que largas, e longamente aca-
miíiadas ; as do choupo do Canadá são grandes, curtamente
acuminadas, e celheadas em novas.
365
 folhagem d'6Stas arvores é pouco espessa e muito mó-
bil; assombrea pouco o terreno inferior. Contribue bastante
para o pequeno coberto dos choupos o facto de se desarti-
cular e cair um grande numero de raminhos de dois e três
annos, pela época da queda das folhas^ ou pouco tempo
antes; facto este que parece ser devido a phenomenos de
organisação especiaes a estas arvores.
Floração e fructificação.— A floração dos choupos é dioica ;
as flores dos dois sexos dispõem-se em amentilhos, uns e
outros cylindrícos, pendentes^ não folhados na base, late-
raes, implantados no raminho do anno anterior. A floração
realisa-se em fevereiro e março, antes da folheação.
O fructo é uma capsula polysperma; as sementes sao
I muito pequenas e teem na base pellos sedosos, compridos,
que lhes permitte voarem a grande distancia, levadas pelo
vento. A disseminação tem logar cedo : de março a maio,
; conforme as localidades.
Os choupos dão grande quantidade de semente, mas muita
1 é estéril. Florescem muito novos, aos 15 e 20 annos, e ás
[ vezes antes; fructiâcam todos os annos em abundância.
i Germinação, — A semente dos choupos perde muito de-
[ pressa o poder germinativo; apenas em alguns dias. A ger-
minação tem logar oito a dez dias depois da sementeira na-
I tural. A sementeira artificial d'estas arvores raríssimas ve-
; zes se pratica; o processo mais seguido é a estaca. Pegam
I de estaca muito facilmente.
I As plantas novas teein crescimento rápido e são muito
I robustas. Não toleram a sombra das arvores superiores.
[ Pedem estas arvores a acção tão directa da luz que preci-
sam viver isoladas, ou em alinhamento, e são por isso im-
próprias para massiço.
I Productos e usos. — Já dissemos que a madeira do choupo
branco é preferível á dos outros choupos; dá bom taboame,
mas que deve ser empregado bem secco, e ficar ao abrigo
I da humidade. A madeira do choupo negro é mais ordina-
366
ria, e peiores ainda as do dioapo tre:
Itaiia.
As talx>as de choupo s3o muito e
gal, sobretudo nos pontos onde esc
usam-as bastante para caixilhos de
para o interior dos moveis, para peç
A lenha d'estas arvores nSo é mui
pressa e dá pouco calor; o carrão
servir para o fabrico da pólvora.
As cascas são um pouco tanninosas. As folhas, em verde
ou em secco, podem utilisar-se como forragens para os ga-
dos. A substancia resinosa, que forma inducto sobre os bo-
tSes e rebentos de muitas espécies, é aproveitada para o
fabrico do unguento conhecido em pharmacia com o nome
de poputeão.
Ob BalgueiroB e vlmelroa
(Espécies do género Salix)
Os salgueiros propriamente ditos e os vimeiros distio-
guem-se pelo comprimento e largura das folhas, bem cocno
pela forma dos rebentos. Os vimeiros teem as folhas es-
treitas e compridas (três a dez vezes mais compridas do
que largas), e os rebentos delgados, muito compridos e fle-
xiveis. Os salgueiros propriamente ditos lêem as folhas lar-
gas e curtas (o máximo três a quatro vezes mais compiv
das do que largas), e os ramos nodosos, curtos, nem fte-
xiveis nem muito delgados.
As espécies de uma e outra d'estas secções enconlram-se
abundantemente em todo o paiz, e quasi sempre nas tems
húmidas, á beira dos rios e outros cursos de agua.
Entre os vimeiros s3o especialmente cultivados o vimeiro
ordinário (SaUx vittílina, L.) e o vimeiro do norte, ou sal-
gueiro francez (Salix vimincUis, L.). O salgueiro cborSo
(Salix bc^lonica, L.) é sobretudo arvore de ornamento.
307
Ontras espécies d'esta secção se encontram espontâneas,
sendo as conhecidas boje o ScUix amygdalma, L. ; o Salix
purpúrea^ L.; o Saiix alba, L., ou salgueiro branco, e o
Salix fragiliSy L.> ou salgueiro frágil.
No grupo dos salgueiros propriamente ditos são duas as
espécies mais frequentes e mais importantes: o salgueiro
preto (Salix atro-cinerea, Brot.) e o salgueiro com folbas
de salva (Salix saivifoUa, Brot.); citam- se ainda como exis-
tentes no paíz o Salix cinereay L., e o Salix Caprea, L.
Clima.— O género Salix existe representado em toda a
Europa; nos pontos de temperatura mais elevada, os sal-
gueiros são arbustos ou arvores, ás vezes de grandes di-
mensões; nas latitudes mais septentrionaes, e nas regiões
alpinas das montanhas, são muito pequenos sub-arbustos,
com o systema radicular desenvolvido e os ramos muito
cortes, quasi herbáceos, pouco levantados acima do ter-
reno.
Entre nós os salgueiros e os vimeiros encontram-se em
(piasi todos os climas locaes, em todas as situações e expo-
sições. São^ sempre arbustos levantados, de porte rasoavel,
OQ, ás vezes, arvores basíante elevadas.
Solo. — As espécies indígenas do género Saiix pedem ter-
renos leves, frescos ou húmidos. O salgueiro branco pode
todavia viver nos solos seccos, e o salgueiro frágil vae mais
longe, chega a desenvolver-se nos terrenos compactos ; di-
zem os auctores estrangeiros que o Salix Caprea, L., me-
nos exigente ainda, se contenta com toda a qualidade de
terras, quer sejam seccas ou húmidas, leves ou compactas;
nio conhecemos esta arvore, que, se existe no paiz, não
ptfece ser abundante. É certo^ que os salgueiros e vimei-
ros indígenas prosperam sobretudo nos terrenos mais hú-
midos, que preferem, e onde são muito mais frequentes.
Radicação. — Â radicação dos salgueiros alarga-se mais
na horisontal que na vertical; compõe-se de muitas raizes,
mnito ramificadas, e terminadas em cabellame abundante.
368
Esta forma de radicação apropria-o
terras das margens dos cursos de
eavolvendo-as com a rede apertada
terraneas. São muito empregados, eu
gens dos rios.
Todos 03 salgueiros teem um gr
dormentes e rebentam de touca co
bentos s3o fortes e numerosos.
Porte, crescimento e duração. — Os
cimento muito rápido logo desde no'
teem pequena duração.'
O seu porte é variável conforme í
das; mnas são arbustivas sempre, vi
a base, e teem pequena altura, com
Salix purpúrea, etc. ; outras apresei
ora arbóreas, com o tronco despido, <
o salgueiro frágil, o salgueiro branco
é uma das essências mais communs
soes; aos 40 annos, ás vezes, é on
dos salgueiros arbóreos é, quasi s
porque muitos dos botões lateraes sã
ramifica-se pouco. O salgueiro chori
conbecido e muito característico, coi
O vimeiro ordinário e o vimeiro (
quasi sempre deformados pela culti
produzirem muitos rebentos vigoros
Como dissemos, as dimensões e
bentos variam muito nas diversas í
em algumas são muito frágeis na b:
tudo na primavera, e desprendem'
dade; acontece ísto em alto grau no .
lhe vem o nome.
Madeira e casca. — A madeira d
1,salgaeiro frágil, vimeiro do norte,
(salgueiro preto, salgueiro branco,
369
3 djstjnctas, as fibras grossas, poQco leDbifeitas, os
raios inednllares egoaes, nnmerosos, delgados, pouco visi-
Teis, e os vasos abundantes, eguaes, isolados ou dispostos
em pequenos grupos. A madeira dos salgueiros é quasi
sempre macia, leve, porosa. Devemos todavia advertir que
a madeira do salgueiro preto, uma das que adquire entre
nõs maiores dimensSes, tem densidade elevada; um exem-
plar (secco ao ar) da coUecçao do Instituto tem a densidade
0,513. Esta madeira passa por ser pouco inferior à do
choupo branco e superior á dos choupos negro e tremedor;
effectivamente a densidade, que lhe encontrámos, está em
harmonia com essa asserção.
A casca dos salgneiros adultos é om rhytidoma, muito
Tariavel na espessura, na côr e na fragmentação, segundo
as espécies; em umas, a lamina suberosa isoladora fòrma-se
muito profunda e o rhytidoma é muito rugoso e semelhante
ao dos carvalhos (salgueiro preto, salgueiro branco, sal-
gneiro frágil, etc.) ; n'outras, é mais exterior (Salix amygda-
lina), ou permanece sempre superficial, e a casca fica del-
gada e lisa até edade muito avançada (Salix Caprea, Saiix
dnereaj.
à casca dos rebentos novos tinge-se. ás vezes, de cores
nvas, amarella, vermelha, etc., como é tão saliente no vi-
meiro ordinário.
Folhagem. — As folhas dos salgueiros s3o simples, cadu-
cas, alternas, inteiras ou dentadas, e teem peciolos curtos.
São ordinariamente lanceoladas ou ellipticas, com dimen-
sões ahsolatas e relativas muito diversas, como já disse-
mos. A sua côr e o tomento que as reveste variam também
muito : são verdes ou acinzentadas, glabras ou pubescentes,
muas avellndadas, outras assetinadas com pellos brilhantes, ■
etc. As dbnensões, a cdr e o tomento s3o característicos es-
pecificos,*mas os salgueiros s5o espécies muito polymorphas.
A folhagem d'estas arvores é pouco espessa, produz co-
berto fraco.
370
•
Floração e fructiflcação. — À floração dos salgueiros é
dioica; as flores masculinas, bem como as femíniDas, dis-
pOem se em amentilhos levantados, cylmdricos ou ovóides,
lateraes, implantados nos raminhos do anno anterior. A flo-
ração realisa-se antes da folheaçao, oa simultaneamente
com ella ; no primeiro caso os amentilhos sSo sesseis e nus
na base, no segundo caso pedunculados e folhosos.
O fructo é uma capsula polysperma ; as sementes são
muito pequenas, e, como as dos choupos, teem appendices
pelludos que lhes permittem larga disseminação.
A floração tem logar no flm do inverno, em fevereiro e
março, e a disseminação em .abril e maio.
Os salgueiros entram muito novos em floração; algomas
espécies logo aos dois ou três annos. Produzem muitas se-
mentes todos os annos, mas uma grande percentagem é de
má qualidade, incapaz de germinação.
Germinação. — A semente dos salgueiros, caida em solo
húmido, germina com muita rapidez; ás vezes em meoos
Me 24 horas. As plantas novas teem crescimento rápido, e
são muito robustas desde logo.
Estas essências propagam-se muito facilmente por es-
taca, que é o processo mais commum de as reproduzir ar-
tificialmente.
Productos e tisos. — A madeira dos salgueiros é utilisada
para tutores de vinha, esteios, arcos e diversas pequenas
obras. Já dissemos que a madeira do salgueiro preto ad-
quire ás vezes boas proporções, e a sua qualidade não é
inferior á de muitos choupos. Na Beira tem grande desea-
^volvimento o fabrico dos palitos, cuja matéria priraa é a
madeira dos salgueiros, sobretudo do salgueiro branco, que
se corta nitidamente em todos os sentidos; esta industria
é bastante importante para algumas localidades. Utilisam-se
muito estas essências para canastraria e para arco^ de pipa,
em virtude da sua flexibilidade ; o salgueiro preto é muito
usado para isso. Os rebentos flexíveis dos vimeiros são
371
muito empregados em todo o paiz no fabrico de cestos; o
Timeiro ordinário e o Timeiro fraacez coltivam-se bastante
Alenba dos salgueiros arde muito depressa, com cb;
ilta; é boa para aquecer fornos. O carv3o é muito teve e
pode servir para o fabrico de pólvora. As cascas são taoni-
nosas, e no norte da Europa utilisam-as no curtimento das
peiles. As folhas podem servir como forragem.
A exploração dos salgueiros, afora os prodpctos directos
releridos, é de grande vantagem nas proximidades dos cur^
SOS de agua, pela consolidação que dão ás margens, difB-
cnltaado o esboroamento e concorrendo muito eficazmente
para a boa conservação das terras.
{Betida pubetcaa, Ehrh., e Betula verrueon, Ebrfa. :
BetiJa alba, h. e Brot)
O vidoeiro sô se encontra espontâneo, entre nós, na re-
gião do norte, nas grandes altitudes: no Alto Minho, no
Gerez', no Marão, na Estrella, etc; o seu limite sul é a
serra da Estrella, onde sobe a l :600 metros. Tem impor-
tância florestal muito reduzida. O facto de resistir tanto nos
climas frios e subir tão alto sobre o mar pode todavia re-
swvar-lhe nm certo pape! na arborisação das nossas mon-
tanhas.
CUma. — O vidoeiro é a arvore das regiões septentrio-
aaes; a Beíula verrucosa, Ebrh., não sobe a tamanhas la-
titudes e d3o passa de 05 graus, mas a Betttla pubescens,
Ehrh., chega a 7i graus; em contraposição a primeira
abunda na Europa média e tem limite sul mais avançado
que a segunda. Estas arvores constituem massiços muito
importantes nas regiões europeas norte e média, mas & me-
dida que avançam para o sul só apparecem disseminadas
24*
372
em peqaenos grapos e procuram corrigir com as difieren-
ças da altitude as condições menos propicias da latitude.
É muito notarei a existência da Beíula pubescens em Por-
tugal. As irregularidades do habitat d'estes dois vidoeiros,
junto ás formas de transição, mais ou menos accentuadas,
dos caracteres botânicos de uma e outra, provam a favor
da conservação da antiga espécie linneana, a Betuht alba,
reunindo as duas formas^.
Sdo.—O vidoeiro contenta-se com todos os terrenos,
comtanto que não sejam muito compactos nem muito sec-
cos. Yae bem, mesmo nos solos bumidos e pantanosos, so-
bretudo a Betula pubescens.
Radicação. — O enraizamento d'estas arvores é pouco
ftmdo. Rebentam bem de touca, e especialmente rebentam,
quando são cortadas, muito bem das raízes.
Porte, crescimento e duração. — O vidoeiro é uma arvore
medíocre, com o tronco relativamente delgado e prolongado
quasi sempre até ao cimo, despido até grande altura, e com
a copa estreita, ovoide-aguçada. Tem crescimento rápido,
e, de ordinário, duração não muito longa.
Madeira e casca. — A madeira do vidoeiro é branca, uni-
forme, sem distincção de cerne e albumo, com as camadas
annuaes pouco visíveis; tem os raios medullares delgados,
eguaes, numerosos, mal apparentes, e os vasos eguaes, so-
litários ou em pequenos grupos, reunidos em desenhos re-
ticulados. Esta madeira tem dureza e densidade média.
A casca d'esta essência é muito característica; é um te-
gumento delgado, branco, muito pouco rugoso, que se es-
folia circularmente em pequenas laminas papyraceas ; o lí-
ber e o parenchyma. cortical permanecem vivos sob este
tegumento, que é devido a formações suberosas superfi-
ciaes.
1 Yeja-se o que a este propósito dizemos no Eàboço de uma flora U-
373
Folhagem, — Às folhas do vidoeiro s3o caducas» simples,
pecioladas; as da B. vermcosa sSo ovado-rhomboedaes,
triangulares na base, glabras em adultas, levemente pu-
bescentes em novas, duplamente dentadas ; as da B.pubescens
são mais ou menos arredondadas na base, muito pubes-
centos em novas, e em adultas pubescentes ou sub-gla-
bras, dentadas.
A B. verrucosa tem os raminhos providos de glândulas
Terrugosas que, principalmente na primavera, segregam
mn inducto resinoso abundante ; estas glândulas também
se encontram na pagina inferior das folhas; faltam na B.
pubescens.
Os vidoeiros dSo pequeno coberto.
Floração e fructificação. — A floraç5o é monoica ; as flores fe-
mininas e as masculinas dispôem-se em amentilhos; os ameu-
tilhos masculinos são pendentes, cylindricos, os amentilhos
femininos levantados, e teeip o aspecto de pequenas pinhas,
cujas escamas trilobadas, membranosas e caducas, suppor-
tam na axilla três verdadeiros fructos. A floração é simul-
tânea com a folheação.
t)s fructos são pequenas samaras com duas azas lateraes,
transparentes; na B. verrucosa estas azas levantam-se muito
acima da base dos estyletes persistentes ; na B. pubescens
não se elevam além da base dos estyletes. A disseminação
-realisa-se em agosto, setembro, e os fructos, alados e muito
pequenos, voam com o vento a grandes distancias.
O vidoeiro entra em floração bastante novo, e fructifica
regular e abundantemente todos os annos.
Germinação. — As sementes do vidoeiro teem sempre mis-
turadas muitas estéreis ; conservam pouco tempo a facul-
dade germinativa. Nascem rapidamente, quando postas em
condições convenientes, e as plantas novas são desde logo
vigorosas.
Productos e usos. — A madeira doesta essência é pouco
ranpregada entre nós pela sua raridade; pode ter um grande
374
numero de empregos. Passa por ser boa lenha e dar car-
ySo estimado.
Na Rússia utilisam muito a casca do vidoeiro, dando-Ihe di-
versos usos ; expIoram>a periodicamente como nós fazemos á
cortiça do sobreiro. É bastante tanninosa, e contém um óleo
essencial que dá aos coiros da Rússia o cheiro caracterís-
tico. É quasi inalterável e impermeável, em virtude da
grande percentagem de um principio resinoso de que está
impregnada.
Em algumas regiões septentrionaes extraem a seiva do
vidoeiro, que tem bastante assucar, para o fabrico de be-
bidas espirituosas.
o. amieiro
{Âlnus gltUinosa, G&rtn.)
O amieiro existe nas nossas, províncias do norte e do
centro, no Minho, em Traz-os-Montes e na Beira, nas mar-
gens dos cursos de agua e nos terrenos paludosos, onde
è frequente.
Clima. — O amieiro não parece ser exigente nas condi-
ções do clima, porque habita na Europa desde a Suécia
até á Grécia, á Itália e á península Hispânica, passando
mesmo ao littoral septentrional d' Africa. Encontrá-se em
Portugal em altitudes e exposições muito variadas.
Solo. — Vive em todos os solos, excepto nos muito com-
pactos; prefere as terras frescas e soltas, ou mesmo hú-
midas, mas nSo constantemente alagadas ; vae optimamente
nas margens dos cursos de agua, onde adquire grandes
proporções. Nos terrenos pantanosos esta essência é pre-
ciosa ; não porque ahi prospere melhor do que nos outros so-
los, antes pelo contrario é prejudicada, mas porque apro-
veita solos que as outras arvores não poderiam aproveitar,
e concorre muito para os melhorar, e para lhes neutralisar
as condições tão pouco salubres.
375
Radicação. — Esta arvore tem systema radicular desen-
Tolyido; as raizes estendem-se horisontaImente> tanto mais
numerosas e compridas quanto maior a humidade do solo.
Rebenta bem de touca, mas nSo dá rebentões de raiz.
Parte j crescimento e durofão. — O amieiro é uma arvore
de rasoaveis dimensQes, e de crescimento rápido, princi-
palmente nos primeiro^ annos; aos 40 ou 50 annos pode
chegar, entre nôs, a 20 ou 25 metros de altura, por 0",6
de diâmetro no pé. Tem a copa grande, irregular.
Esta essência, de ordinário, não tem grande duração.
Madeira e casca. — A madeira do amieiro nSo tem des-
tincção entre cerne e borne; é primeiro branca e depois
avermelhada. Tem o canal medullar triangular, os yasos
' eguaes, delgados, isolados ou reunidos em pequenos grupos,
6 os raios medullares apparentemente deseguaes: uns muito
estreitos e outros largos, provenientes, estes últimos, da
reunião de verdadeiros raios estreitos, como os primeiros,
tendo intercalado tecido fi6roso homogéneo, sem vasos. As
camadas annuaes são apparentes. Esta madeira tem dureza
e densidade média. Um exemplar (secco ao ar) da collec-
ção do Instituto tem a densidade 0,455.
A casca dos rebentos é lisa e esverdinhada ; tem gran-
des lenticulas e bastantes glândulas resiniferas. Succede*
lhe, nos ramos mais velhos, um invólucro suberoso, tam-
bém liso e esverdinhado, e nas pernadas e no tronco um
rhytidoma escuro, fendido em placas largas.
Folhagem. — As folhas do amieiro são caducas, grandes,
arredondadas, obtusas, pecioladas. Esta essência é das que
tem menor coberto.
Floração e fructificação. — A floração é monoica; as flo-
res de ambos os sexos estão dispostas em amentilhos; de
ordinário reunem-se uns e outros na mesma inflorescencia
em grandes panlculas, ficando no cimo os amentilhos mas-
colinos. A floração realisa-se em fevereiro ou março, antes
da folheação.
376
Os ameDtilbos masculinos são cyUndrícos, pendentes, del-
gados; os femininos são ovóides e teem a apparencia de pe-
quenas pinhas, com as escamas lenhosas e persistentes,
que supportam na base dois pequenos achenios.
A disseminação dá-se no principio do inverno ou, ás ve-
zes, na primavera. Estes fructos não se disseminam a ta-
manha distancia como os do vidoeiro.
Germinação. — As sementes conservam mais tempo o po-
der germinativo que as do vidoeiro, e teem habitualmente
menor percentagem de sementes estéreis. A germinação
realisa-se em pouco tempo, e as plantas novas não preci-
sam abrigo, salvo se o terreno for secco.
Productos e usos. — O amieiro aos 12 annos já começa a
dar lenhas e madeh^as miúdas; em adulto fornece madei-
ras que não resistem expostas ás alternativas de seccara
e humidade, mas resistem muito bem debako de agua, com-
tanto que fiquem sempre mergulhadas. É muito explorada
esta essência para varedos, paus de vinha, bombas, canos,
bicas, obras de tomo, de marceneria e de tamancaria.
A lenha é de rasoavel qualidade, boa para fornos de p3o
e até para os de vidro; o carvão é soflfrivel.
A casca é muito tanninosa e pode servir com vantagem
para curtumes.
As espécies lenhosas, que nos falta estudar, são arvores
menos frequentes que as anteriores, ou de menor porte,
ou são arbustos que apparecem nas matas, nas charnecas
e nos areiaes do Uttoral ; o seu estudo será feito muito mais
resumidamente.
Os ssimbros (género Juniperus) não passam muitas vezes
de moitas arbustivas, mas, em alguns casos, adquirem maio-
res proporções, chegando a serem pequenas arvores. São
frequentes no paiz, mas não teem grande importância flo-
restal.
r
377
Os zimbros teem aspecto muito diverso, conforme as es-
pécies consideradas. À sabina das praias (/. phoenicea, L.)
tem as folhas escamiformes, verdes, pequenas, imbricadas,
cobrindo os ramos todos como as dos cyprestes ; as suas
galboias são vermelhas. Encontra-se principalmente nas
areias do littoral, na Estremadura, no Algarve, etc. É um
grande arbusto; mas no cabo de S. Vicente, e decerto em
oatros pontos, tem muito menor porte e fica prostrado no
solo (/. oophora, Kze.). As outras espécies indigenas teem
as folhas acerosas, espinescentes, articuladas na base, ter-
nadas. O oxycedro, ou cedro de^Hespanha (/. Oxy cedros, L.)
eyalgar em quasi todo o paiz; tem a galbula vermelha,
OQ armivada, e com dimensões e formas diversas, que
caracterísam outras tantas variedades (/. umbilicata, Godr.,
/. macrocarpa, Sibth.); em alguns pontos esta espécie é
quasi arbórea; dá madeiras de pequenas dimensões, mas de
óptima qualidade. O zimbro vulgar (Juniperus communiSy
L) é um arbusto, ou pequena arvore, que se differença da
I espécie anterior pela galbula, que é negro-azulada, coberta
i de efilorescencia glauca, e pela côr esbranquiçada das fo-
I lhas na pagina inferior ; encontra-se nas provindas do norte ;
I nas grandes altitudes esta espécie apresenta uma variedade
' muito característica: transforma-se n'um arbusto com o
tronco e os ramos deitados no chão, muito tufudo, com as
folhas pouco espinescentes, mais conchegadas ao eixo (/.
nam, W.)
Os zimbros são pouco exigentes na qualidade da terra
que pedem, mas, parecem fugir dos solos muito argillosos,
preferindo os solos siliciosos ou levemente calcareos. A
sabina das praias vae perfeitamente nas areias marítimas,
e as outras espécies nas encostas pedregosas.
A madeira aromática dos zimbros é de boa qualidade,
mas de ordinarío tem pequenas dimensões. É resistente,
atoradiça, recebe bom polid^ e não é atacada pelos inse-
ctos; um exemplar (secco ao ar) da collecção do Instituto,
378
da madeira do zimbro vulgar, tem a densidade 0,764. No
estrangeiro empregam a madeira dos Juniperus para o re-
vestimento dos lapis. É bom combustível e dá bom çarvio.
A maior parte doestas essências teem grande duração, mas
crescem muito devagar. A germinação das suas sementes é
também muito demorada, chegando ás vezes a demorar
dois annos; as plantas novas são bastante delicadas.
As galbulas dos zimbros teem as escamas carnudas e
adherentes, semelhando bagas no seu conjuncto com as se-
mentes. Das raízes e ramos do oxycedro extrahe-sepor dis-
tiliação o Qleo de cade, empregado em pharmacia; as falsas
bagas do zimbro vulgar são utilisadas para aromatisar a
genebra.
O teixo (Taxus baccala, h.) encontra-se, em Portugal,
cultivado e espontâneo, mas de um e outro modo nlo é
muito frequente. É essência particularmente de montanha,
e nas nossas principaes montanhas do norte, a altitudes
elevadas, é onde se encontra ; no Gerez sobe a 1 :300 metros
e na Estrella a 1:500 metros.
As suas folhas perennes são lineares, e apparentam qoasi
ser distícadas. A semente núa (é uma Gymnosperma, c(Xdo
os zimbros) está envolvida por um arillo carnudo, vermelho,
mucilaginoso, comestível; as folhas e os rebentos d'esta
essência são venenosos.
A madeira do teixo é muito compacta e homogénea ; tem
cor amarellada primeiro, e depois escura, puxando a tíx
de canella ; conserva muito bom polido. Teria muitos em-
pregos, se não fosse tão rara.
Esta essência tem crescimento muito demorado, e ger-
minação tão difQcil que ás vezes gasta três e quatro annos.
Em nova, é delicada e não se resente de viver sob o coberto
das outras arvores. Apezar de ser uma Gymnosperma tem
a copa diffiísa, botões axillares, e forma muitos botões ad-
ventícios, de modo qtie rebenta bem de touca.
O zambiyo ou sambiyeiro (OUa Europaea, L. a. Okas-
379
ter, BCJ é uma arvore ou um arbusto, com os ramos
qoasi sempre espinescentes (sobretudo nas formas arbus-
tivas) acinzentados^ com as folhas inteiras, perennes escoria-
eeas, e com as drupas muito mais pequenas que as da oli-
veira, negras ou, menos vezes, brancas (zambujo branco).
Encontra-se em grande abundância nos terrenos calcareos
das nossas provincias do centro e do sul, com portes e as-
pectos muito diversos, ás vezes em moitas densas e em-
maranhadas. Esta essência representa papel muito impor-
tante no revestimento arbóreo do paiz, mas a sua impor-
tância é mais agrícola do que florestal; é a oliveira, a
variedade cultural explorada pelo fructo, que reveste as
maiores extensões de terreno e forma os grandes arvoredos.
A madeira do zambujo, como a da oliveira, é muito
compacta e homogénea; é amarellada, com veios escuros,
sem distincção entre borne e cerne, e quasi sempre com as
camadas annuaes confundidas; é de bom trabalho, óptima
para tomo» e recebe muito bom polido; dá lenha magnifica,
e carvão de primeira quaUdade.
O zambujo tem crescimento demorado; rebenta muito
bem de touca e pega d'estaca facilmente. O fructo dá tam-
bém azeite^ e bom, mas muito menos abundante que o da
oliveira.
O lodão bastardo ou agreira (Ceitis austratís, L.J é um
arbusto, ou uma arvore de segunda grandeza, raras vezes
nma grande arvore. Encontra-se espontâneo em muitos
pontos do paiz, e cultiva-se, principalmente, como arvore
de alinhamento e de ornato. Contenta-se com todos os solos,
mas prefere os que são profundos, leves e frescos.
Cresce depressa, e em boas condições é uma ^arvore de
enraizamento vigoroso; a sua altura pode chegar de 15 a 17
metros, e mais. Tem as flores esverdinhadas, apetalas,
e a floração simultânea com a folheaçSo, em março; as
snas folhas sSo simples, ovado-lanceoladas, verde-escuras
na pagina superior, ásperas, caducas; podem servir como
380
forragem. O fracto é uma drupa globosa, muito poueo car-
nuda, comestível.
Esta essência rebenta bem de touca. À sua madeira é
branca, amarellada ou esverdinhada, baça, óptima para
todas as obras que exigirem madeira forte e elástica: car-
roçaria, marceneria, cabos de ferramentas, etc. Dá muito
boa lenha.
Os bordos (género Acer) teem três espécies espontaDeas
entre nós; a mais importante é o plátano bastardo (Acer
Pseudoplatanus , L.j, que chega a ser uma anrore de grandes
dimensões. Encontra-se esta essência no Gerez, segundo o
sr. dr. Júlio Henriques, até 900 metros, misturada com o
roble, com o azereiro, o azevinho e o medronheiro; é
cultivada em vários pontos do paiz. Tem flores regulares,
esverdinhadas, hermaphroditas oupolygamicas, dispostas em
cachos pendentes; a floração é simultânea com a folheação;
o fructo é uma dupla samara, com as azas levantadas; as
folhas são oppostas, palmatilobadas, com 5 lóbulos ovados
separados por ângulos muito agudos. Esta arvore prefere
os solos férteis ; rebenta bem de touca ; cresce depressa nos
primeiros annos. A sua casca esfolia-se em placas, como a
do plátano verdadeiro, mas com maior irregularidade; a
madeira é branca, e tem densidade média; um exemplar
da collecção do Instituto accusou-nos a densidade 0,630;
pode ter muitos empregos. Dá boa lenha e bom carvão.
O bordo commum (Acer campestre, h.) é menos fre-
quente que o anterior; encontra-se espontâneo na Arrábida,
etc. Distingue-se do plátano bastardo pela disposição das
azas da dupla samara, oppostas em linha recta, e pelas
folhas que lêem 3 a 5 lóbulos obtusos ; esta espécie é, de
ordinário, *um arbusto ou pequena arvore; tem crescimento
demorado. O tegumento do tronco é ás vezes um ponco
suberoso; a madeira, branca, levemente amarellada ou aver-
melhada, parece que é mais densa que a anterior.
A zelha (Acer Monspessulanum, L.J difierença-se bem
381
das daas outras essências pelas folhas, que teem 3 lobnlos
inteiros, separados por ângulos quasi rectos; encontra-se
espontânea em Traz-os-Montes. Cresce de vagar, mas tem
a boa qualidade de viver nos solos mais seccos. A madeira
é um pouco mais corada que a anterior, e é reputada mais
densa.
As folhas de todas estas essências podem aproveitar-se
como forragem para o gado.
O azevinho ou pica-folha fllex AquifoUum, L.) é frequente
na região montanhosa, onde sobe a grandes altitudes ; se-
gundo o sr. dr. Júlio Henriques, sobe no Gerez a 1:400 me-
tros e na Estrella a 1:800 metros; é um grande arbusto,
em alguns pontos com proporções verdadeiramente arbó-
reas. Tem as flores regulares, hermaphroditas, e as folhas
persistentes, muito coriaceas, lustrosas na pagina superior,
dentado-espinhosas, ou inermes e inteiras nas arvores ve-
lhas; na Floresta Negra bebem a infusão d'estas folhas em
logar de chá. A madeira é dura, muito densa, pesada, muito
própria para dentes de engrenagens, para tomo, cabos de
ferramentas, etc. ; toma bem ^ côr negra, e serve para imi-
tar o ébano. Os fructos são carnudos e muito drásticos.
Esta essência rebenta bem de touca; tem crescimento
lento e grande duração.
O medronheiro ou ervodo (Arbutus Cnedo, L.) é bastante
vulgar, sobretudo nas provindas do centro e do norte ; em
alguns sitios cobre largos tractos de terreno, e n'outros
pontos encontra-se no interior das matas, inferiormente ás
essências prindpaes, ás vezes em grande quantidade; de
ordinário,' é um arbusto de 5 a 6 metros, mas com frequên-
cia tem muito maior porte e chega a ser uma arvore de
12 a 14 metros; no pinhal de Lehria é abundante, e adquire
boas dimensões.
O medronheiro tem as folhas persistentes, lanceoladas,
cmaceas, verde-lustrosas na pagina superior; tem as flores
regulares, hermaphroditas, com a corolla gomílosa, branca.
382
dispostas em cachos termínaes ; os seus fractos são bagas
redondas, tuberculosas, vermelhas, comestíveis e alcoolisa-
veis.
A madeira é muito densa ; um exemplar (secco ao ar) da
collecçao do Instituto deu-nos a densidade 0,841 ; é aver-
melhada, corta-se bem, e pode ter muitos usos. Dá boa
lenha e óptimo carvão.
O medronheiro tem coberto espesso; cresce de vagar, e,
como todas as Ericaceas, contém principies adstringentes.
O carrasqueiro ou carrasco (Quercus cocei fera, L., e
Quercus pseudo-coccifera, Desf.) .é um carvalho de folhas
persistentes, fácil de reconhecer pelas suas folhas maito
coriaceas, rígidas, verdes dos dois lados, onduladas nas
margens, dentado-espinhosas, e pelas cúpulas dos seus fru-
ctos, cujas escamas são mais ou menos espinescentes e re-
curvadas. É um arbusto de porte muito variável, mais fre-
quente nas províncias do sul, mas que até se encontra em
Traz-os-Montes. ,
A madeira do carrasqueiro é muito compacta e homogé-
nea, tem os crescimentos annuaes confundidos, e asseme-
lhasse bastante á da azinheira; um exemplar da coUecção
do Instituto deu-nos a densidade 0,856. É muito empre-
gada para cabos de ferramentas e pequenas obras, porque
de ordinário não tem dimensões para mais ; dà óptima le-
nha. A casca é muito estimada para curtumes. Antigamente
colhia-se n'esta essência, com cuidado, uma substancia tio-
torial, denominada graã de carrasco^ que hoje perdeu a im-
portância, com as ultimas descobertas da chimica ; a graà
é uma pequena verruga negro-violacea (a fêmea immovel
de um insecto do grupo das cochonilhas), que secca epul-
verisada dá uma côr vermelha muito viva.
A' carvalhiça ou carvalho anão (Quercus humiliSy Lam.)
é um carvalho de folhas caducas, muito próximo do carva-
lho portuguez, como elle também muito abundante em ga-
lhas, que se distingue perfeitamente pelo seu pequeno porte.
383
Cobre grandes tractos de terreno, nas províncias do cen-
tro, quasí sociável. É utilisado, em alguns pontos, como
combostivel, e para camas de gados e preparo de estru-
mes.
Tanto a carvalhiça como o carrasco são frequentes nas
diamecas e nas matas; nas ultimas tornam-se ás vezes no-
civos aos povoamentos novos, que abafam e amesquinham
pela densidade da sua folhagem e abundância do raizame.
O samoco ou faya das ilhas (Myrica Faya, Ait.) é um
aribusto ou pequena arvore (raras vezes excede 7 metros
de altura), que parece ter sido importada dos Açores, mas
que se encontra sub-espontanea na Estremadura e no Al-
garve, em pontos nao muito afastados do mar, porém abri-
gados da maior força do vento. Tem as folhas persistentes,
e as flores unisexuaes, dispostas em amentilbos compos-
tos., Rebenta bem de touca. A sua madeira dá boa fenda e
serve para o fabrico de aduellas para vasilhame ; um exem-
plar (secco ao ar) da coUecçao do Instituto tem a densi-
dade 0,740. r
N'este mesmo género Myrica encontra-se espontâneo,
n'aiguns terrenos paludosos da Estremadura, um pequeno
arbusto de folhas caducas e amentilbos simples, muito ra-
mificado, e cotn as raízes muito desenvolvidas horisontal-
mente e dieias de rebentões; é 2i Myrica Gale, L. Não tem
importância.
O folhado CVibumum Tinus, L.) é um arbusto, ás vezes
de grandes dimensões, com as folhas persistentes, inteiras,
e as flores brancas, inodoras, dispostas em cymeíras imi-
belliformes. Encontra-se em Portugal nas províncias do
centro e do norte, nos solos leves, que prefere, e às vezes
no interior das matas; é cultivado nos jardins, como ar-
busto de ornamento. A sua madeira é dura, homogénea,
avermelhado-clara, e dá fenda rasoavel.
A murta (Myrtm cammunis, L.) é um arbusto aromático,
com as folhas persistentes, coriaceas, lanceoladas, inteiras»
384
e as flores grandes^ brancas, solitárias. É mnito yulgarnas
nossas matas e pínhaes do centro e do suL e também se
cultiva como planta de ornato. A sua madeira é averme-
lhada, sem distincçSo de borne e cerne, dura, pesada, muito
homogénea; é muito procui^ada para tomo, marceneria, e
para o fabrico de pequenos objectos; tem, de ordinário, pe-
quenas dimensões. Dá muito boa lenha e óptimo carvão.
A murta cresce muito devagar e tem vida bastante longa.
A casca e as folhas podem servir para curtumes. Os fra-
ctos teem sabor resinoso e adstringente; entre nós a gente
do campo come-os ás vezes, e conhece-os com o nome de
nmrtinhos.
O azereiro (Prunus Lusitanica, L.) encontra-se particu-
larmente nas provincias do norte. É um grande arbusto ou
uma arvore de segunda grandeza. Tem as folhas inteiras,
persistentes, ovado-lanceoladas, verde-negras na pagina su-
perior, pecioladas; tem as flores dispostas em cachos axil-
lares, compridos, levantados, e as. drupas pequenas, pri-
meiro vermelhas e depois negras na .maturação. A casca
nova d'esta essência é esbranquiçada; no tronco e nos ra-
mos velhos é um rhytidoma escuro, levemente fendido. Nos
primeiros annos, a arvore tem os ramos mais ou menos
abertos e a forma pyramidal; mais tarde, a copa toma-se
irregular e emmaranhada; nas arvores velhas é frequente
os ramos apparecerem pendentes, ás vezes mesmo até ao
solo, e enraizados então na extremidade. A madeira doesta
essência é amarellada, lustrosa, muito pesada, resistente e
tenaz. É bastante estimada.
A cerejeira ou cerdeira (Prunus amrniy L.) é sub-es-
pontanea, e cultivada sobretudo pelas suas variedades fru-
ctiferas. Encontra-se com muita frequência na Beira e no
paiz transmontano, onde adquire grandes dimensões, e onde
sobe nas montanhas a altitudes consideráveis; em alguns
pontos d'estas provincias representa papel um pouco im-
portante na arborisação. A madeu*a da cerejeira é estimada.
385
e emprega-se em marceneria e outros usos; tem o alburno
branco e o cerne avermelhado-claro; é dura, t/enaz, densa,
susceptível de bom polido.
Esta çssencía tem as folhas caducas, molles, ovado-acu-
minadas, as flores dispostas 2-6 em umbellas lateraes, não
folhadas na base, e as drupas globosas ou cordiforme-glo-
bosas, de vários tamanhos e de varias cores. Dá fructos
desde muito nova; tem crescunento muito rápido e tempe-
ramento muito robusto ; é pouco exigente nas condições do
solo, preferindo os que são frescos. A gomma que exsuda
das arvores velhas pode utilisar-se para substituir a gomma
arábica em alguns usos.
O abrunheiro ou ameixoeira brava (Prunus spínosa, L.,
Pnmits insítitia^ L., e Prunm fruticans^ Weihe) é um ar-
busto, com os ramos mais ou menos espinescentes, e por-
tes muito diversos. Quasi não tem aproveitamento nopaiz;
a sua madeira é muito dura, mas fica sempre com dimen-
sões muito resumidas. Os fructos são adstringentes, e em^
alguns pontos, n'outros paizes, empregam-«s no fabrico de
líquidos alcoólicos e de licores ; os maiores são os do Pru-
nus insilitia, L.
O Prunus spinosa^ L., é commum nas sebes e nas matas;
conhecemos o jPrttnwí insititia, L., dOs arredores de Lisboa,
e o Prunus fruticanSy Weihe, de Traz-os-Montes.
O azereiro dos damnados (Prunus Padus, L.) é um ar-
busto ou pequena arvore, que se encontra nas provindas
do norte. A sua madeira *é semelhante à da cerejeira, mas
tem cheiro desagradável, sobretudo em verde.
Ainda n'este género existe espontânea em^ Traz-os-Mon-
tes uma espécie que, apenas como curiosidade botânica,
pode ser citada: é o Prunus Mahakh, L. Distingue-se da
espécie anterior, afora outros caracteres, em ter as flores
dispostas em corymbos levantados, emquanto a ínflorescen-
cia do Prunus Padus é em cachos pendentes.
O mostageiro (Sorbus Ária, Crtz.), a tramázeira ou cor-
386
nogodinho (Sorbus Aucuparia, L.) e uma outra espécie doeste
género a que não conhecemos nome vulgar» o Sorbus tor-
minaliSs Grtz., sSo pequenas arvores ou arbustos, que se
encontram só nas províncias do norte, e quasi sen){)re a ai-
• titudes elevadas.
Todas estas essências, a que podemos juntar ainda uma
espécie cultivada congénere, a sorveira (Sorbus doinestica,
L.), produzem boa madeira, mas muito pouco importante,
pela sua raridade e pequenas dimensões.
Os fructos doestas essências são polposos, globosos ou
pyriformes, vermelhos ou acastanhados, e, excepto os do
mostageiro que são muito acerbos, são comestíveis depois
de sorvados, e podem alcoolisar-se.
A não ser a tramazeira, todas estas essências teem cres-
cimento lento; nenhuma é exigente nas condições do solo;
todas rebentam bem de touca, excepto o Sorbus torminaUs,
As flores são brancas e dispostas em cymeiras corymbifor-
mes; a tramazeira e a sorveira teem as folhas imparipin-
nuladas, as duas outras espécies teem as folhas simples.
A aroeira (Pistacia Lentiscus, L.) é um arbusto, muito
raras vezes uma pequena arvore, com cheiro resinoso; tem
as folhas paripinnuladas, persistentes, e as flores esverdi-
ntiadas, pequenas, dispostas em cachos. É abundante nas
nossas províncias do centro e do sul, nas sebes, nos matos
e florestas, onde ordinariamente apparece disseminada.
A madeira da aroeira tem o alburno branco e o cerne
rosado, brilhante, assetínado, susceptível de bom polido;
pode ser empregada em marceneria e vários usos, mas de
ordinário não attínge propprções que tornem vantajoso o
seu emprego. Dá muito boa lenha, bem como é óptima para
fueimar a cepa d'este arbusto; o carvão é excellente. Em
alguns outros paizes extrahem das sementes da aroeira um
óleo para luzes ; a resina que esta essência segrega serve
no oriente para mascar, e pode ser utilisada em perhuna-
ria e no fabrico de vernizes.
387
a ou terebintho (Tistacia Terebinlhta, L.)
pertence ao mesmo género que a aroeira; é um arbusto de
folhas caducas imparipinnuladas, notável pelas galhas com-
pridas, ponteagudas, que apresenta, e d'onde lhe vem o
Dome vulgar. Encontra-se em Traz-os-Montes, á beira dos
rios, aos matos, etc. ; a madeira é de boa qualidade e dá
boa lenha, mas é muito menos frequente que a da espécie an-
terior. Este arbusto exsuda uma terébinlhina branca, muito
cheirosa, que entre nós não se aproveita, mas que n'outros
paízes utilísam. As galhas são tanninosas; o fructo é co-
mestível, e a amêndoa da semente oleosa.
O snmagre (ítàus Cortaria, L.) é um arbusto com as fo-
lhas caducas, imparipinnuladas, e as flores pequenas, dis-
postas em thyrsos terminaes e lateraes. Encontra-se espon-
tâneo em vários pontos do paiz: no Algarve, na Beira mon-
tanhosa e em Traz-os-Montes.
Os productos mais úteis do sumagre s3o os rebentos no-
vos e as folhas, que se empregam, pela sua riqueza em
tanoÍDO, para curtumes de pelles. Rebenta muito bem de
tonça, e os rebentos novos é que sobretudo se empregam,
por terem maior percentagem de tannino; em algumas lo-
calidades de Traz-os-Montes este producto dos sumagraes
è tido como muito importante. Fora do paiz empregam
este art)usto sobretudo para o preparo dos marroquins; na
casca existe uma substancia corante, Anarella on vermelha,
Qtilísada para dar cõr aos pannos e aos coiros.
O sabugueiro (Sambucus nigra, L.) encontra-se com muita
frequência; é nm arbusto, com proporções arborescentes
em alguns pontos, sobretudo ne norte. Tem as folhas ca-
dncas, imparipinnuladas, e as flores cheirosas, brancas, dis-
postas em cymeiras umbelliformes. O principal aproveita-
mento do sabugueiro, entre nós, é pelos fructos :' bagas ne-
gras, muito ricas em còr, empregadas para tomar os vinhos
mais carregados; uma porção grande da baga do sabugueiro
è exportada. Esta essência é notável peta medulla muito
388
desenvolvida e muito leve dos ramos novos. Reproduz-se,
com grande facilidade, de estaca. Prefere os solos frescos
e leves.
A pereira brava ou (no Alemtejo) pereiro (Pyrus amrna-
niSy L.) encontra-se espontânea em quasi todas as regiões
do paiz. Em alguns pontos, e especialisaremos o Gerez,
adquire grande elevação e grossura. As formas arbustivas
d'esta essência teem os ramos espinescentes. A cultura tem
propagado um grande numero de variações, notáveis pelo
tamanbo e sabor dos fructos ; esta espécie tem maior im-
portância em pomicultura do que em silvicultura. A ma-
deira da pereira é muito homogénea, fácil de trabalhar e
susceptível de bom polido; é multo estimada pelos grava-
dores, esculptores, torneiros, etc. ; o seu principal defeito
é contorcer-se e rachar com facilidade. Dá bom combustível.
A maceira brava (Pyrus Malus, L.) é menos frequçnte que
a espécie anterior, só apparece espontânea no norte; tem de
ordinário menores dimensões. As variações culturaes sío
também muito exploradas como fructeiras, A madeira da
maceira é semelhante á anterior, mas ainda mais sujeita a
empenar e a abrir.
Os pirliteiroB (Crataegus Oxyacantfuiy L., e Crataegus mo-
nogyna, Jacqií.) são arbustos (raras vezes pequenas arvores)
espinhosos, com as folhas palmatilobadas e os fructos ver-
melhos, que se encontram com abundância, sobretudo nas
sebes, vallados e margens dos campos, bem como nas nos-
sas matas. Yestem-se todos os annos de grande quantidade
de flores, brancas, anteriores á folheação. A madeira dos
pirliteiros poucas vezes é empregada, porque só adquire,
de ordinário, proporções muito reduzidas ; é muito dura e
óptimo combustível. Estes arbustos são muito próprios para
o guarnecimento das sebes, por causa da sua ramificação
numerosa e dos seus espinhos. Podem empregar-se c(Hao
cavallos para enxertar as variações culturaes das outras es-
pécies d'esta familia botânica (Pomaceas).
389
_ . ainda existe espontâneo, a altitudes eleva-
das, um arbusto pouco freqnente, e de que tão conhece-
mos nome vulgar: é o Amelanchier vulgaris, Moench.
Os ademos (PhiUyrea latifolia, L., e Phãlyrea media, L.)
existem com frequência disseminados nas matas, pinhaes,
sebes, etc. São arbustos, ou pequenas arvores, pertencen-
tes á família das Oleaceas, com as folhas ovado-lanceoladas,
persistentes, e as flores esbranquiçadas, cheirosas, dispos-
tas em cachos curtos, auUares.
Estas essências teem grande daraç3o e crescimento de-
morado; rebentam bem de touca. A sua madeira é muito
dnra, mas tem quasi sempre pequenas dimensões; dá muito
boa lenha e óptimo carvão.
O lentisco bastardo (PhHhjrea angusii folia, L.) dífferen-
ça-se das espécies anteriores pela forma das folhas, que
s3o estreitas, linear-ianceoladas. É muito frequente, e o seu
aproveitamento é idêntico ao dos adernos, mas menor, por-
qae tem quasi sempre dimensões mais reduzidas.
O alfenheiro (Ligustrum vtdgare, L.) é um arbusto ainda
da familia das Oleaceas, que apenas se encontra espontâneo
Das provincias do norte; é pouco frequente, e tem habitual-
mente pequeno porte.
O sanguinbo legitimo (Cornus sanguínea, L.) existe em
Traz-os- Montes e na Beira ; é um arbusto com as folhas in-
teiras, grandes, caducas, e as flores brancas dispostas em
cjmeiras umbelliformes. Tem os rebentos vermellio-sangoi-
neos, d'onde Ibe veiu o nome; estes rebentos s3o muito fle-
xíveis e podem empregar-se em obras de cestaria. Os ra-
mos mais grossos servem para cabos de ferramentas, paus
de vinha etc. Segundo o sr. Mathieu os fractos d'este ar-
busto contém 34 por cento de óleo, que pode extrahir-se
para illuminacão.
O sanguinbo de agna ou amieiro negro (Wuxmmts Fran-
gida, L.) é um arbusto, ou pequena arvore, botanicamente
muito diversa da espécie anterior; encontra-se na Beira, e
390
outros poDtos do norte, nos sitios frescos e à beira dos rios.
Tem as folhas inteiras, caducas, e os fructos primeiro aver-
melhados e depois negros. Rebenta bem de touca e das raí-
zes, e cresce depressa nos primeiros annos. É pouco ex-
plorado entre nós ; tem madeira muito leve e branda, fadl
de dividir em laminas delgadas, boas para canastraría. A
casca d'esta essência produz o vomito e é muito drástica;
dos fructos podem extrahir-se substancias corantes.
O sanguinho das sebes (Rhammis Alaternus, L.) é vulgar
nas sebes, matos e florestas. Pertence ao mesmo género
em que se incluo a espécie anterior; é um arbusto, às ve-
zes arborescente, inerme, com as folhas persistentes, co-
riaceas ; tem os fructos primeiro vermelhos e depois negros.
A madeira é de boa qualidade, dura, muito homogénea,
densa, com o cerne escuro-acastanhado e o borne amarei-
lado; é característica pelo desenho reticulado muito appa-
rente, de côr baça e mais clara, que apresenta no corte trans-
versal, devido ao agrupamento dos vasos pelo parencbyma
lenhoso. As dimensões restrictas que tem quasi sen4)re li-
mitam muito o seu uso.
Ainda n'este género Rhamnus se encontra espontâneo,
nas sebes, nos solos pedregosos, nos matos, pinhaes, e
nas terras áridas da Estremadura e do Alemtejo, um outro
arbusto, quasi sempre de menor porte que o anterior, e a
que não conhecemos nome vulgar: é o Rhamnus oieoides, L.;
dístingue-se bem por ter os ramos espinescentes, as folhas
muito reticuladas na pagina inferior, e os fructos verde-ama-
rellados na maturação. Encontra-se, muitas vezes, formando
moita rasteira, muito densa e emmaranhada. Não sabemos
que se aproveite. Os fructos doestes dois Rhamnus são drás-
ticos.
O tamujo (Securínega buxifoliay J. Miill.) é uma Euphor-
biacea arbustiva, também com os ramos espinescentes, abun-
dante nas margens dos cursos de agua da região leste: mar-
gens do Douro, do Tejo, do Guadiana, etc. O seu aspecto
391
%
aproxima-0 das espécies anteriores. Tem ponca importân-
cia.
A avelleira (Corylus AveUana, L.) não tem entre nós im-
portância florestal; é nm arbusto ou pequena arvore, que
apparece expontânea no norte; é alguma coisa explorada
pelo fructo (avell3), que é comestivel e agradável, e d'onde
se pode extrahir um óleo siccativo.
O loendro ou sevadilha (Nerium Oleander, L.) encontra-
se espontâneo á beira dos rios, no sul do Alemtejo; é um
arbusto sempre-verde com as folhas oppostas ou temadas^
lanceoladas, inteiras, e as flores grandes, rosadas ou bran-
cas, em corymbos terminaes. Â madeira é branca, e tem
muito poucos usos, pela sua raridade e pequenas dimensões
habitnaes. Nas proximidades dos cursos de agua, o loendro
pode representar papel idêntico ao dos salgueiros; como
elles reproduz-se com facilidade de estaca, de semente, e
de rebentões de touca; como elles tem raizes superficiaes
numerosas, que contribuem para a consolidação das mar-
gens» próximo á agua. As folhas doeste arbusto são vene-
nosas; dizem que na Argélia, onde abunda muito, as folhas
caida$ chegam a envenenar as aguas dos regatos, e que as
emanações podem causar accidentes graves às pessoas que
rq)ousarem á sua sombra. Nos jardins cultiva-se uma va-
riedade de flor dobrada.
O buxo (Buxus sempervirens, L.) é espontâneo, mas em
pequena quantidade, e a sua importância maior advem-lhe
da cultura. Tem grande duraçSo, e crescimento lento; é
cultivado como planta de ornato e nos jardins dão-lhe for-
mas variadíssimas. É um arbusto sempre-verde, com as flo-
res esverdinhadas. Tem madeira muito estimada; de tanto
valor que se vende a peso; esta madeira é muito homogé-
nea, amareOada, sem distincção de cerne e borne, e corta-se
em todos os sentidos com muita nitidez; é especialmente
procurada pelos gravadores e torneiros.
O anagyris fedegosa (Anagyris foetida, L.) é um arbusto
392
qaasi arborescente, da família das Papilionaceas ; tem as fo-
lhas trifolíadas e as flores amarellas ; as flores e as vagens
s3o fétidas, d'onde lhe vem o nome. Encontra-se no Alem-
tejo e Algarve; não tem importância.
A palmeira anã ou das vassouras (Chamaerops hiim-
lis, L.) cobre grandes extensões no Algarve, e, muito em-
bora fosse encontrada n'uma estação muito mais ao norte,
na serra da Arrábida, pelo sr. J. Daveau, só no Algarve
abunda e tem importância. As suas folhas palmatifendidas
e o seu porte caracterisam-a com grande evidencia; forma
quasi sempre moitas de sete e oito caules, que poucas ve-
zes sobem de um melro; cultivada, pode adquirir maiores
proporções. É de difficil arranque, e os solos onde se en-
contra teem difficil arroteia. As suas folhas, depois de bran-
queadas pelo acido sulphuroso, são muito empregadas no
fabrico de vassouras, esteiras, cestos e outros artefactos de
egual natureza, que teem grande procura no paiz. É a única
monocotyledonea lenhosa digna de menção.
O arando (Taccinium MyrtiltiSy L.) é um pequeno arbusto,
ou sub-arbusto, sociável, sem nenhuma importância em Por-
tugal, e que apenas se encontra nas grandes altitudes da
região do norte.
A casia branca de Virgílio (Osyris alba, L.) existe com
frequência nas sebes, nas terras soltas dos matos e flores-
tas, em quasi todo o paiz; é um sub-arbusto seini-parasita
de muitas outras espécies lenhosas e herbáceas; tem chlo-
rophylla, e elabora principios immediatos, mas as suas raí-
zes hnplantam-se nas raizes dos vegetaes próximos e vivem,
em parte, à custa d'elles. É pouco importante, assim como
outra espécie do mesmo género, própria ás provindas do
sul, a Osyris lanceolaia, Hochst.
O trovisco (Daphne Gnidivm, L.) é um pequeno arbusto
sempre-verde, com as flores terminaes reunidas em cacho
composto, brancas, cheirosas, que se encontra abundante-
mente disseminado em todo o paiz, nos sitios áridos, cbar-
393
Decas, pinhaes, etc. Não tem nenhuma importância flo-
restal.
A hera (Hedera Helix, L.) chega às Tezes a grossnras bas-
tante consideráveis, mas, na maior parte dos casos, é um
arbusto com os caules e ramos muito compridos e delga-
dos, sarmentosos. Trepa ás arvores, aos muros e rochedos
próximos, servindo-se para isso das raizes adventícias, abun-
dantemente desenvolvidas na ramificação aérea ; se não en-
contra nenhum supporte, estende-se pelo terreno, rasteja,
enraiza em diversos pontos, mas não floresce. Âs suas fo-
lhas persistentes, verde-retintas, teem formas diversas nos
ramos rastejantes (profundamente tri ou quinquelobadas), .
nos ramos trepadores estéreis (tri ou quinquelobadas me-
JM)s fundamente), ou nos ramos férteis, floriferos (inteiras).
A hera não é parasita; tira o sustento da terra e da at-
mosphera e não da arvore a que se encosta; as raizes
adventícias servem apenas para lhe prestarem outros tan-
tos pontos de apoio na subida; só funccionam como verda-
deiras raizes se encontram a terra. Apezar disso, é nociva
aos arvoredos, porque lhes aperta o tronco e os ramos, dif-
ficQltando-lhes a passagem da seiva e o engrossamento re-
gular, e porque assombreia com a folhagem muito espessa
os ramos inferiores, amesquinhando-lhes o desenvolvimento
das folhas, dos botões e das flores. É por isso conveniente
sempre cortal-a.
Os carneiros e vaccas comem bem as folhas da hera. Em-
prega-se muito na ornamentação dos jardins.
As silvas (espécies do género Rubus) são arbustos muito
volgares em todo o paiz; teem a touca lenhosa, e produzem
longos rebentos, quasi sarmentosos, ás vezes radicantes,
biennaes nas espécies indígenas: ficam estéreis no primeiro
anno, florescem e fructificam no segundo, morrendo em se-
guida. Multiplicam-se com grande rapidez. Não apparecem
nos solos muito pobres; quando existem nas florestas em
grande quantidade, cobrem a terra de uma moita apertada.
394
que pode ser nociva aos povoamentos novos. Em montanha
são, ás vezes, vantajosas, para ajudar a segorar a terra. Os
seus fructos (amoras) sio comestíveis.
As roseiras bravas (espécies do género Rosa) emittm
da touca, annualmente, rebentos vigorosos, estéreis no pri-
meiro anno, e que florescem no segundo ou terceiro anoo,
mas sem morrerem depois, como os das silvas; e produzem
longas raízes superficiaes, que vão originar longe da planta-
mãe outros rebentos, em grande numero. Tornam-se inva-
soras d'este modo, e dão solidez ás terras onde enraízam;
podem também ser úteis nas montanhas, mas estas espé-
cies^ apezar de vulgares, teem pequena importância flo-
restal.
Nas charnecas e nas florestas, inferiormente ás arvores
e aos arbustos de maiores dimensões, como o medronheiro,
o folhado, os zimbros, a murta, a aroeira, o carrasco, etc.,
encontram-se com frequência arbustos e sub-arbustos de
menor porte, constituindo ás vezes brenha muito densa,
sobretudo nos massiços mal tratados, cheios de vasios, e
nos arvoredos que dão pequeno coberto, como os pinhaes.
N'essa vegetação lenhosa mais rasteira, afora algumas es-
pécies já citadas, como a carvalhiça, o trovisco, o arando,
etc, predominam muito as urzes, as estevas, e as Papílio-
naceas da tribu das genisteas: tojos, carquejas, giestas, pior-
nos e codeços. Muitas d*estas plantas são utiUsadas como
lenhas miúdas, ou são roçadas para camas de gados e fa-
brico de estrumes.
As urzes (espécies do género Eriça) são plantas sociá-
veis, próprias aos terrenos pobres em cal, sobretudo aos
silíciosos. São frequentíssimas nas charnecas, matos e flo-
restas de todo o paiz, e reunem-sc, sociáveis, cobrindo gran-
des extensões. Tornam-se nocivas aos arvoredos pela grande
copia de raízes superficiaes, e pela sombra produzida pela
I
I
395
apertada vegetação dos seus caules numerosos, muito co-
bertos de folhas.
A xvcze branca on arbórea (Eriça arbórea^ L., e Erka
lusitanicay Rud.) chega a ter> às vezes, grandes dimensões
e o tronco bastante grosso. A touca, ou cepa, é muito volu-
mosa, dá óptimo combustível, e carvão muito estimado. Uti-
lisam um pouco esta cepa no fabrico de pequenas obras.
A urze das vassouras (Erka scoparia, L.) e algumas ou-
tras espécies, servem para o preparo das vassouras.
A urze ou torga ordinária (Calluna vtUgarís, Salisb.) dis-
tingae-se bem das espécies do género anterior pela forma
e dimensões das folhas, que no género Eriça são habitual-
mente compridas e lineares, e no género Calluna são pe-
quenas e imbricadas, vestindo quasi os ramos. Esta espécie
é ainda mais sociável que as anteriores ; ás vezes, ella só,
cobre grandes tractos de charnecas, caracterisando solos
pobres em cal e de difScil arborisação. Apparece indiffe-
rentemente nas terras seccas e húmidas, ou mesmo enchar-
cadiças. Para os povoamentos novos ainda é mais prejudi-
cial do que as Eriças.
Todas estas plantas produzem hutnus acido, e teem de-
composição demorada.
As estevas (espécie da familia das Gistineas) são vulga-
rissimas, e encontram-se disseminadas, ou ás vezes reuni-
das em grandes colónias. A esteva propriamente, ou xára
(em Traz-os-Montes) (Cistus ladaniferus, L.) é uma das es-
pécies de maior porte e mais sociável; cobre, ás vezes quasi
sosinha, extensões enormes. Os Cistus crispus, L., Cistus
Monspeliensis, L., Cistus albidus, L., e Cistus salviaefolius , L.
teem menores dimensões e são lambem muito frequentes;
a xára parece fugir dos terrenos calcareos ; o Cistus crispus
e Cistus Monspeliensis teem menor tendência calcifuga, e já
se encontram em solos calcareos; o Cistus aUndus parece
ser calcicola, e o Cistus salviaefolius indifierente. No género
HaUmíum, encontra-se com abundância, em muitos dos nos-
396
SOS pinbaes e matos da Estremadura e da Beira, a sargaça
(Halirnium halimifolium, Wk.), notável pela côr esbranqui-
çada e aspecto pulverulento ; outras espécies do mesmo gé-
nero áão frequentes, como o Halirnium eriocephdum^ Wk.,
o Halimium ocymoides, Wk., e o Halirnium occidentale, Wk.,
que na Èstrella, quasi exclusiva, cobre grandes extensões,
etc. Às espécies doeste género sao eminentemente calcifa-
gas *.
Muitas espécies doesta familia sao fortemente viscosas e
balsâmicas. As Gistineas preponderam muito na flora ar-
bustiva e sub-arbustiva das nossas matas e charnecas.
Na familia das Papilionaceas são muito vulgares as car-
quejas (género PterospartumJ ^ os piomos (género Retoma/
os còdeços (género AdenocarpusJ , os tojos (género Ulex), e
as giestas (géneros Spartium, Gmista, Sarothamnus e Cy-
tisusj. Umas d'estas espécies s5o mais próprias ás sebes,
outras ás charnecas e matas. Os tojos adquirem, em mni-
tos pontos, grande preponderância, e formam moitas aper-
tadas e espinhosas; são bastante ricos em acido pbospbo-
rico, e aproveitam- se muito para o fabrico de estrumes; os
animaes comem-lhes os rebentos tenros, e muito melhor de-
pois de cortados ; teem valor nutritivo elevado. Do liber dos
ramos novos da giesteira prdinaria (Spartium junceum, L.),
muito fibroso, pode extrahir-se uma matéria têxtil boa para
cordas, para diversos tecidos, e para o fabrico do papel. Os
rebentos flexíveis servem, como o junco, para atar.
Conjuntamente com as Ericaceas, Gistineas e Papilionaceas
encontram-se, n'este revestimento lenhoso de menor porte,
varias plantas, menos importantes ainda, de outras familias
botânicas, como varias Labiadas, quasi todas aromáticas:
rosmaninhos (género LavandulaJ, alecrim (género Rosmor
rinus), tomillios (género ThymusJ, etc.
1 J. Daveau.— Cwítw^M du Portugal (Extrait du ^Bcldim da Socie-
dade Broterianan iv — Coimbra, 1886).
jr
397
A flora lenhosa espontânea das areias maritímas inclue
algumas das espécies já citadas, taes como a sabina das
praias (Juniperus phoenicea^ L.), o samôco (Myrica Faya,
Àit.), varias estevas, tomilhos e Papilionaceas; entre estas
ultimas apontaremos a Úalycotome víllosa, Lk., dominante em
r
algnns pontos. Afora essas espécies referir-nos-hemos ás
seguintes :
O espinheiro alvar bastardo (Lyciíim europaeum, L.) é
um arbusto espinhoso, da familia das Solanaceas, verde-
acinzentado, que forma de ordinário moita muito enredada,
sem nenhuma importância florestal. Encontra-se nas sebes
da Estremadura e da Beira, e, posto que procure as proxi-
midades do mar, afasta-se ás vezes mais para a zona inte-
rior. Ainda menos importante, e menos frequente, é um
outro arbusto d'esta familia, cheio de ^culeos amarellos>
muito rígidos, o Solanufn sodomaemn, L.
A tamargueira (Tamarix Gallicãj L.) é um arbusto sem-
pre-verde, com as folhas escamiformes, envolvendo todo o
ramo, que fazem lembrar no aspecto as dos cyprestes, e
com as flores pequenas, rosadas, dispostas em espigas sim-
ples, reunidas em grandes paniculas. A sua madeira é in-
ferior, e nem dá boa lenha; mas este arbusto é muito apro-
veitado nas obras de consolidação das dunas, porque se re-
produz com muita facilidade, quer de semente, quer de re-
bentões ou de estaca, tem crescimento rápido, e vive bem
nas areias da beira mar. Debaixo doeste ponto de vista é
importante.
A camarinheira (Corema álbum, D. Don.) está quasi no
mesmo caso; vegeta nos areiaes mais pobres e mais bati-
dos do vento, e d'ahi vem o seu valor. É um pequeno ar-
busto sempre-verde, com as folhas estreitas, fazendo lem-
brar no aspecto as urzes; os seus fructos, vermelhos ou
Irancos (camarinhas)^ s3o comestíveis, agradáveis, refres-
cantes. Fructifíca em grande quantidade, e estas bagas po-
dem servir para alcoolisaçJo, ou para o preparo do vinagre.
398
A madortieira (Artemisia crithmifolia, L.), a Losna me-
nor (Artemisia arborescensy L.) e a Artemísia coerulescens, L.
s3o as unicas Compostas lenhosas, que teem alguma impor-
tância florestal, sobretudo a primeira, que é bastante em-
pregada no revestimento das dunas; são plantas aromáti-
cas. A losna menor encontra-se espontânea no littoral al-
garvio, a Artemisia coerulescens, L., na Estremadura, e a
madorneira nos areiaes do sul e do centro.
A cormcabra (Ephedra fragUiSj Desf. : E. distachyay BrotJ
é um arbusto de porte muito especial, sub-aphyllo, com os
ramos articulados, afilados, quebradriços, e com as articula-
ções envolvidas em bainhas, quasi como as cavaUinhas
(Equisetum). É peculiar ao littoral algarvio, nas sebes, etc.;
vive bem nas areias. É uma Gymnosperma; tem floraçJo
dioica; tem as flfires masculinas dispostas em pequenos
amentilhos sesseis, e as flores femininas solitárias, sub-ses-
seis.
 familia das Ghenopodiaceas inclue alguns arbustos e sub-
arbustos das praias : taes a salgadeira (Atriplex Halimm, L.)
e outras espécies menos desenvolvidas do mesmo género
(Atriplex porttdacoides, L., Atriplex glauca, L., etc.); o
valverde dos sapaes (Suaeda fruticosa, Forsk.) ; a Salsóla
vermiculata, L., e a SaUoomia fruticosa, L. Doestas espé-
cies umas são aphyllas (Sálicoimia) , outras teem as folhas
muito desenvolvidas (Atriplex); todas sao glaucas, pulve-
rulentas e mais ou menos carnudas. Constituem, em alguns
pontos, com bastante predominância, a vegetação lenhosa
das nossas praias. As cinzas d'esta planta são muito ricas
em soda, especialmente as das ScUsola e Salicomia, e d*el-
las se extrahia d'antes aquelle producto commercial.
Fmalmente, o Limoniastrum monopetalum^ Boiss., é um
sub-arbusto com as folhas carnudas e os ramos floriferos
aphyllos, com o eixo das espigas muito frágil depois de
secco, que existe em abundância nas areias marítimas do
Algarve.
399
d.<^£SSENGIAS EXÓTICAS,
JÁ UM POUOO€NTRODUZIDAS
[A arborisaçao florestal de um paiz, em regra, deve ba-
sear-se nas espécies espontâneas da localidade; muito mais,
qaando as espécies espontâneas são de tamanho valor, como
entre nós. A introducção de essências estranhas não deve
eiecutar-se em ponto grande, sem muitos ensaios, repeti-
dos em condições diversas, e estes ensaios são dispendio-
sos sempre, demorados e difficeis, com plantas cuja vida é
tio longa, em relação á do homem. Por este motivo trata-
remos apenas, n'este curso, das espécies exóticas já mais
conhecidas no paiz, e cuja vulgarisação parece ter bom fu-
turo,
o pinheiro d'Alepo
[Pinvs kalepeMis» Mill.)
O pinheiro d'Alepo é uma arvore de primeira grandeza
própria á zona mediterrânea; existe cultivado em Portugal
como arvore de ornamento, e adquire entre nós boas di-
mensões; a sua exploração florestal decerto seria vantajosa,
coniD diremos.
Círnia. — Arvore da zona mediterrânea, este pinheiro pede
clima quente, ou pelo menos bastante temperado, e luz in-
tensa; prefere as planícies e os outeiros. Por estes moti-
vos deve encontrar melhores condições de vida nas nossas
províncias do centro e do sul, que nas do norte.
Solo. — Esta essência é muito sóbria e muito rústica; as-
severam os auctores estrangeiros que se contenta com to-
dos os solos, mesmo com os peiores — pedregosos, áridos,
com pouca terra vegetal — comtanto que não sejam muito
ccHnpactos. Parece preferir os solos calcareos — furassicos e
\" " *-
400
cretáceos — ou pelo menos vive n'elles muito bem; esta sua
aptidão pode tornal-a uma arvore preciosa para nós, por-
que dá o meio de crear um pinhal, isto é, uma floresta
productiva e pouco exigente, sobre terrenos onde os outros
pinhaes não se podem desenvolver.
Radicação. — Tem systema radicular forte, profundo, ver-
tical, e ao mesmo tempo bastante desenvolvido lateralmente.
Quando a natureza da terra não deixa profundar as raizes,
a radicação flca superficial, mas á custa da boa vegetação
da^ arvore.
Porte, crestímento e durarão. — O pinheiro d'Alepo con-
serva mais tempo que os outros nossos pinheiros o tronco
vestido de ramos até á base ; apresenta então a forma py-
ramidal; depois constituo um tronco direito ou flexuoso,
despido, e uma copa arredondada, que, nas arvores isola-
4das já de certa edade, que temos visto, é muito irregular.
Cresce com rapidez nos primeiros annos ; as condições
excepcionaes de vida a que esta arvore tem estado sujeita
entre nós, não permittem asseverar com segurança quaes
serão as suas dimensões e a sua duração, creada em mas-
siço florestal. Temos visto pinheiros d'Alepo com 15 a 20
metros de altura; a sua duração será talvez menor que a
do pinheiro bravo.
Madeira e casca. — A madeira passa por ser muito resi-
nosa^ mas de medíocre qualidade. A casca, nos ramos no-
vos, é unida, brilhante, cinzento-prateada; nos troncos adul-
tos ér um rhytidoma vermelho-escuro, fendido em escamas
largas.
Folhagem. — As agulhas do pinheiro d'Alepo, geminadas,
como as dos nossos pinheiros, são mais pequenas, mais
delgadas, mais molles e de cõr mais clara; aggloíneram-se,
de ordinário, em pincel no extremo dos ramos. Persistem
na arvore dois a três annos, o máximo. Dão pequeno co-
berto.
Floração e fructificação. — A floração é monoica, como a
r
I
401
de todos os pinheiros ; os amentilhos masculinos são ama-
rellados, oblongo- cylindricos, e os amentilhos femininos são
pedunculados,, violáceos. A floração, entre nós, dá-se em
fevereiro e março.
As pinhas são ôblongo-conicas, vermelho-acastanhadas,
lustrosas ou baças; teem 10 a 20 centímetros de comprido;
estão inseridas em pedúnculos grossos e sempre voltadas
para baixo ; encontram-se soUtarias ou verticilladas. As suas
escamas teem um escudo rhomboidal, quasí plano, com as
quilhas radiantes muito pouco salientes, e uma pequena
protuberância central obtusa; ás vezes teem um grande
numero de estrias muito finas.
A maturação realisa-se dois annos depois da floração, ou
pouco mais. As sementes são parecidas com o penisco; teem
uns 7 millimetros de comprido, são pardas de um lado e ne-
gras maculadas de negro mais retinto do outro; apresentam
as azas arruiyiscadas, mais claras que as do penisco e um
pouco mais^ compridas, relativamente, com os bordos quasi
rectos e parallelos. A semente, leve e com tão bom appa-
relho disseminador, espalha-se a grandes distancias.
A fructiãcação é abundante e precoce, mas as sementes
produzidas em arvores muito novas são chochas e não de-
vem empregar-se em sementeiras.
Germinação.— Germina com facilidade. O pinheiro'd'Alepo
é robusto logo desde novo; não precisa a protecção das ar-
vores superiores; antes, pelo contrario, a sombra o ames-
quinha.
Productos e usos. — A multiplicação d'esta arvore é de
certo útil para o paiz; não porque os seus productos sejam
mais valiosos que os do nosso pinheh-o bravo, mas pela fa-
culdade que tem de viver nas ierras calcareas, onde os
nossos pinheiros não vingam, e que pode aproveitar o pi-
nheiro d'Alepo, dando, amda assim, productos vantajosos.
A madeira d'esta essência é usada em França nas con-
strucçôes civis, em travessas de caminho de ferro, para
CS. 26
402
taboame na constnicção naval, para o fabrico de caixas,
etc. A lenba arde bem e é procurada nas oíficinas ; deve ser
melhor que a do pinheiro manso, por ser mais resinosa.
 casca é utilisada, em alguns pontos da França, peia
sua percentagem de tannino, para curtumes, misturada com
a casca dos carvalhos. Este pinheiro pode ser resinado e a
sua gemma è semelhante á do pinheiro bravo, mas menos
abundante.
o oypreste, o oedro bastardo e o oedro do Bnssaoc
(Cupressus sempertireru a., L. ;
Cupressus horúontaliê, Mill., e Cupre$$us glauca, Lam.)
Todas estas essências pertencem ao mesmo género Cu-
pressas; dá-se em Portugal, indevidamente, o nome de ce-
dros aos cyprestes cuja copa é aberta para os lados, em
forma de umbella. Os verdadeiros cedros s3o arvores muito
differentes d'estas.
As duas primeiras espécies são oriundas da Grécia e da
Pérsia; o cedro do Bussaco, segundo as investigações do
sr. dr. Júlio Henriques, é originário do Himalaya, e não de
Goa, como Brotero asseverava. Estas três essências são
bastante cultivadas no paiz como arvores de ornamento.
Clima. — Parece que em todas as nossas províncias podem
viver e indiflferentemente em quaesquer exposições.
Solo. — Preferem os solos leves e fundos, mas que nao
sejam muito húmidos.
Radicação. — É muito vigorosa; todas estas essências re-
sistem perfeitamente ao vento.
Porte, crescimento e duração. — O porte do cypestre é
muito característico e destingue-o logo das duas outras es-
pécies; sobre o tronco prolongado até ao cuno levanta-se
uma copa alongada, estreita, fusiforme, muito restida^ con-
I
I
r
403
stituida pelos ramos levantados. O cedro bastardo e o cedro
do Bassaco teem, pelo contrario, os ramos abertos, copa
maito larga e o tronco despido até grande altura.
Todas estas arvores crescem depressa e attingem grandes
proporções; o cedro do Bassaco chega a 40 metros de alto,
e mais, tendo frequentes vezes 4 a 5 metros de circumfe-
rencia na base; os melhores exemplares doesta essência
encontram-se no Bussaeo. Tem grande duração.
Madeira e casca. — A madeira dos cyprestes é esbranqui-
çado-acastanhada, aromática, homogénea, de fácil trabalho.
A casca é delgada, fendida longitudinalmente, avermelhado-
escara.
FbUiagem. — As folhas s3o pequenas, escamiformes, im-
bricadas em quatro fileiras, vestindo inteiramente os ramos;
são verde-escuras no cypreste, de côr mais viva no cedro
bastardo, verde-glaucas no cedro do Bussaeo. A copa ampla
dos falsos cedros assombreia muito o terreno inferior.
Floração e frtictificação, — A floração é monoica; as flores
masculinas encontram-se dispostas em amentilhos cylindri-
cos, muito pequenos, terminaes; as flores femininas em
amentilhos, também terminaes, globosos. A floração dà-se
de outubro a dezembro.
O fructo é uma galbula constituída d'escamas lenhosas,
pouco numerosas, opposto-crusadas, polyspermas. A gal-
bnla do cypreste é globosa ou ovóide, com as escamas leve-
mente convexas na face externa, e tem, no maior diâmetro,
30 a 40 millimetros; a galbula do cedro bastardo é sub-
globosa, com as escamas bastante convexas externamente, e
tem quasi o tamanho da anterior ; a galbula do cedro do Bus-
saeo é muito menor, não passa de 10 15 millimetros, é
glauca e tem as escamas fortemente mucronadas. A matu-
ração d'estas galbulas é biennal. As sementes são numerosas,
pequenas, irregulares, deprimidas, castanho-escuras, e com
azas lateraes muito curtas. Todas estas essências fructificam
em bastante novas.
26*
404
Germinação. — Postas as sementes em boas coadições a
germinação dá-se com facilidade.
Produaos e usos. — Estas essências nem sp tem impor-
tância para ornamento; a sua madeira é boa para constnic-
ç3o> para carpinteria e marceneria; é muito duradoura, e
resiste quasi illimitaàamente debaixo d^agua.
o euoaljpto
(Euealyptus globulus, Labill.)
Quasi todas as numerosissimas espécies do género Eth
calyptus são oriundas da Austrália. O Eucaiyptíis gbbtdus
foi descoberto em 1792, na ilha de Van Diemen, ou Tas-
mania, por La Billardiére, que fazia parte da expedição en-
viada em procura de La Pérouse, e foi uma das primeiras
arvores doeste género introduzidas na Europa. A sua cultura
em Portugal data de uns 30 annos, e realisa-se hoje em
larga escala; o eucalypto não só se emprega como arvore
de ornamento, mas começa a utilisar-se para a producção de
madeira, como essência florestal, e parece ter diante de si
grande futuro.
Clima. — Nem todas as espécies do género Eucalyptus
teem as mesmas exigências climatéricas. Considerado em
geral, este género é próprio aos climas temperado-quentes,
onde não haja grandes frios de inverno, onde as chuvas se-
jam abundantes na primavera, e o estio seja quente e secco.
A zona europea mais apropriada á naturalisação d'estas ar-
vores é a que fica ao sul do parallelo 40^, a zona ijtiediter-
ranea, a zona onde a laranjeira fructifica ao ar livre; poucos
eucalyptos podem viver na Europa acima de 43^ de latitude,
por serem os frios hibemaes muito fortes, e a temperatura
d'es tio pouco elevada; no emtanto, algumas d'estas essências
vivem até na Inglaterra e na Escócia. Como se vé, quasi
r
405
todo o nosso paiz, sobretudo o sul e o centro, é muito apto
para esta exploração.
Parece que os eucalyptos, naturalisados hoje n*uma área
vastíssima, tendem a adquirir fora da sua região natal, pelo
menos em algnns pontos, caracteres um pouco diversos,
que, naturalmente, passado tempo, individualisarao novas
variedades; assim, tem-se notado que, em diversos sitios
d'Africa, s3o mais folhosos e d5o maior sombra.
Solo. — As observações realisadas na Austrália mostram,
serem os eucalyptos bastante exigentes na composição dos
solos que pedem; umas espécies só prosperam sobre os
granitos, outras sobre os^alcareos, outras sobre os gréses,
oa os basaltos, etc. O Eucalypttís globulm parece ser uma
das espécies menos exigentes e também uma das de mais
fácil cultura; debaixo d'este ponto de vista merece a pre-
ferencia que entre nós se lhe tem dado. Nos terrenos leves
e soltos, sobretudo quando sao frescos e profundos, é onde
melhor se desenvolve, mas pode viver até nos solos bem
secGOs; as terras superíiciaes e as muito compactas sSo-
Ihe, de todas, as mais desfavoráveis; em chão húmido, ou
mesmo encharcadiço vegeta perfeitamente. Temol-o visto
desenvolver-se bem, em Portugal, nas terras calcareas e i^ão
calcareas, sem parecer mostrar nenhuma tendência calci-
cola ou calcifuga, mas dizem que não pode viver nas terras
cujas percentagens de cal sejam muito elevadas, nem nos
salgadiços.
Radicação. — O systema radicular d'esta arvore é bastante
forte ; tem raiz mestra profunda e raizes vigorosas lateraes.
Rebenta muito bem de touca ; os rebentões são numerosos
e tem crescimento muito rápido ; explorado em talhadio, o
eacalypto pode dar aos 2 a 3 annos muito boas varas para
constrricção civil, e que levam ao castanho a vantagem de
se fazerem em muito menos tempo.
Porte, crescimento e duração, — O eucalypto é uma das
arvores de mais rápido e admirável crescimento; está cal-
406
cnlado que, sem exaggero, a saa prodi»
dnipla da do carvalho: aos 25 annos um
madeira como mn carvalho de 100 ami(
mas condições. Este crescimento é sot
primeiros amios; em alguns dias chega a
tro. Citam-se as dimensões de eacalyptí
são Terdadeiros colossos, chegando a ei
mas, a este propósito, referir-nos-hemc
exemplos portuguezes, e são muitissimo
o sr. Carlos de Sousa Pimentel aponta c
do Eucalyptus globulus; refere-se aquelle
que aos 4 annos, no nosso paiz, accosai
de 15 metros por O.^lâ de diâmetro;
de 8 annos, com 28 metros de alio por
refere-se a mna arvore de 20 annos, c
total deitaria 5 metros cuhicos, e a n
análogos, observados em plantações mu
mil individuos.
O eacalypto nos primeiros annos apres
á base, de ramos opposto-crusados, e
midal; depois, despe-se das ramiQcaçõi
senta um fuste nú até maior ou ment
tem crescido em massiço ou isolado, e i
de ramificação difiusa, pouco apertadi
se a arvore cresce isolada, os ramos
engrossam e desenvolvem-se muito.
Os botões do eucalypto são oús, e Qca
a época do repouso vegetativo, apparecendo só a descoberto
quando as condições meteorológicas sSo favoráveis á soa
evolução; se estes botões são, por qualquer accideufe, des-
truídos, apparecem outros, de ordinário, inferiormente aos
primeiros.
Esta arvore tem grande duração.
Madeira e casca.— X madeira do eucalypto é compacta,
pesada, muito forte e de grandíssima duração— quasi in-
r
407
corruptível. Estas boas qualidades do lenho são muito para
admirar n'uina arvore que tem crescimento tão rápido»
quando é sabido que a densidade» a ríjeza e a duração
das madeiras andam quasi sempre inversas» com a rapidez
do seu desenvolvimento. Este facto toma o eucalypto dupla-
mente precioso. Attribne-se a grande resistência que esta
madeira offerece á decomposição e ao ataque dos insectos»
aos oleos essenciaes de que está impregnada» bem como
a casca, as folhas, e todos os órgãos da arvore.
Um exemplar da madeira do eucalypto (secco ao ar) da
coUecção do Instituto deu-nos a densidade 0,763; este nu-
mero não é muito alto, na verdade, mas ignoramos as con-
dições em que essa madeira foi produzida, e a edade do
lenho» o que é muito importante. Â madeira do eucalypto
passa por ser muito densa» proximamente tanto como a teca»
mna das madeiras mais rijas que existe. O seu principal
defeito é apresentar as fibras dispostas em espiral e entre-
laçadas» o que» se concorre para a tornar mais resistente»
em contraposição lhe difQculta o trabalho e faz com que não
dê fenda. Este defeito parece attenuar-se bastante quando
a arvore cresce em massiço» e sobretudo quando o lenho é
cortado em boa época e sujeito a uma secca methodica»
não o expondo em sitios muito seccos» e provocando-lhe a
morte inomediata com um golpe vertical.
 casca do eucalypto desprende-se todos os annos em
fitas longitudinaes côr de canella» bastante largas» que dei-
xam 0. tronco perfeitamente liso; esta casca tem um óleo
balsâmico especial» e percentagens elevadas de tannino; o
sr. D. Carlos Gastei encontrou na casca do eucalypto» em
Hespanha» H»27 7o de tannino.
Folhagem. — O Eucalyptus globulm é biforme. As folhas
da planta nova» ou dos rebentões novos de touca» até aos
2 e 3 annos» são oppostas» sesseis» amplexicaules» ovadas
ou ovado-oblongas» e esbranquiçadas em virtude de uma
exsudação pulverulenta das substancias oleo-resinosas. Na
408
arvore mais adalta, as folhas s3o alte
pridas, falciformes, coriaceas, grossa
o peciolo doestas Tolhas sofTre uma £
n'um plano vertical relativamente a
em resultado terem estas arvores i
muito característico, e terem a^terto
As folhas do eucalypto são persis
de glândulas oleo-resinosas.
Fbração e fntctificaçõn. — Ainflor
globvlus é aiiliar, e composta de 1 a
hermaphroditas ; nasce também a d(
t5es foliaceos, e de ordinário o seu
pleto, até á fecundaçiíi), exipe nimt<
teem de aotavel o transformar-se-lh(
culo caduco na occasião da anthesf
DÚ os estames e o pistillo.
O fructo é uma capsula achatada,
cálice, dehiscente no cimo em 4 oi
guiar, vemigosa, esbranquiçado-pu]
depois de madura como na época da
de largo). A floração dá-se no prii
2embro), e ás vezes também na príi
a maturação realisa-se um anno, pel
cnndação.
Todos os eucalyptos, mesmo na su
mentes esten ís misiiiradas com as f<
rençar umas das outras: as sémen
de forma irregular, e as estéreis acaf
estreitas. Produz em Portugal semei
Floresce em muito novo, ás vezes
7 ou 10 começa a dar sementes fer
Germinação.— K semente consen
por alguns annos. A germinação é
QDS quinze dias depois da sementeii
O eucalypto é arvore mmto robu
409
sDure qae o ar e O solo lhe sejam disputados pelas outras
arvores, e resiste bem a todos os pheoomenos atmosphe-
rícos do nosso paiz; mas, em noTO, emqnanto conserva a
foUiagein primitiva, e sobretudo no primeiro anno, é bas-
tante meliodroso e soSre com os excessos do frio e do calor.
Prodaaos e usos. — A madeira do eucalypto pode ter im-
meosos empregos na construcçSo civil e naval, dá boas
travessas para caminho de ferro, postes telegrapbicos.
serve para marceneria, carroçaria, fabrico de trem de )a-
TOara, e para trabalhos marítimos, tendo a grandíssima
vantagem, cora propósito a estes últimos, de resistir aos ata-
qoes do teredo nmalis'. Dá excellente combustível e bom
carvão. As suas ciozas s3o muito ricas em potassa.
A casca pode ser usada para curtumes, tendo a incal-
culável vantagem de se despir naturalmente, sem ser pre-
ciso sacrificar a arvore, como acontece aos carvalhos. As
folhas teem acç5o therapeutica: combatem as febres inter-
mittentes. Os óleos essenciaes do eucalypto s3o muito an-
0 crescimento rápido d'esta essência eiiige quantidades
enormes d'agna para se realisar; por isso é óptima para
arborisação dos terrenos onde haja agua estagnada, por-
que promove o eningo e melhora-os muito. Ha quem sus-
tente que as emaçTies balsâmicas dos eucalyptos são muito
salobres e hygicnicas.
' o itredo nofolú é nm mollnsco maritímo que ataca as madeiras'
Mihaieifidas; perfdra-as em todos os sentidos, especialmente ao correr
dafibn,al)riudo grandes galerias, e inatilúa-as em muito pouco tempo-
410
Ob plátanos
(PUUanus oeciderUalis, L. e PUtíanits orieniaUi, L.)
O plátano^ do occidente (P. ocádmtalis, L.) é uma ar-
vore de grandes dimensões, natural da America do Norte,
e bastante cultivada entre nós, já como arvore de orna-
mento, já nas proximidades dos rios para a exploração de
madeira. O plátano do oriente (P. onentaMs, L.) encoD-
tra-se espontâneo na Turquia, na Grécia e na Itália, e cal-
tiva-se em Portugal nos jardins e como arvore de alinha-
mento. As duas arvores teem entre si as maiores seme-
lhanças.
Clima. — Os plátanos vivem perfeitamente em Portugal.
Parecem apropriados sobretudo ás regiões mais baixas, aos
valles e ás planícies.
Selo. — Preferem os solos leves, fundos, ricos e frescos.
Os maiores plátanos do occidente, que temos visto, en-
contravam-se nas proximidades d'agua. Estas arvores não
são próprias para massiços mas podem representar, na bor-
dadura dos rios e ribeiras, um papel análogo ao dos chou-
pos, porém mais lucrativo, porque os seus productos slo
muito mais valiosos.
Radicação. — As raizes dos plátanos sao vigorosas; teem
ramificações profundas e outras lateraes que bracejam mui-
to, mas sem darem rebentões como as dos choupos branco
e tremedor, e são portanto muito menos nocivas aos cam-
pos visinhos. Estas essências rebentam bem de touca.
Porte, crescimento e duração. — O plátano do occidente,
entre nós, adquire maior porte que o plátano do oriente;
chega a 30" de altura, e mais, com perto de 4" de cir-
.cumferencia na base. Uma e outra espécie apresentam o
tronco liso, cylindrico, nu, e a copa muito larga, ramifi-
cada em grossas pernadas, d'onde partem muitos ramos e
4il
3 peodeates para o chão; temos visto pla-
:te com a copa muito ampla, e com as al-
}s qnasi chegadas á terra.
IS teem crescimento muitíssimo rápido, e
graDde duraçJío. Nâo s3o atacadas pelos insectos, nem no
IroDco nem nas folhas.
Madeira e casca. — A madeira dos plátanos é dura, pe-
sada, branco-acastanhada, com as camadas annaaes dis-
tinctas; são-lhe muito característicos os ralos meduilares,
bem Tisiveis, numerosos, grossos, eguaes.
A casca é também muito caracteristica: esfolia-se an-
Dnalmente em placas, ficando sempre lisa, n3o gretada, e
apresentando ao longe o aspecto de manchas irregulares de
diversos tons; esla esfoliação é devida á formação de lami-
nas snberosas no parenchyma cortical, que recortam e ma-
tam todos os tecidos para o exterior. A casca do plátano
do oriente é acinzentada, a do plátano do occidente è verde-
amarellada do sitio onde se destacam as placas; a esfolia-
ç3o da casca d'esta ultima espécie parece mais regular que
a da primeira.
FoÚuigem. — As folhas dos plátanos s3o caducas, muito
grandes, palmatllobadas. As folhas do plátano do oriente
teem 5 ou 3 lóbulos, separados por ângulos pouco abertos,
e cujos recortes attingem ou excedem metade do limbo; as
do plátano do occidente teem 3 ou 5 lóbulos, separados por
ângulos muito abertos, e sem que os recortes cheguem a
metade do limbo. Umas e outras são pecioladas (o peciolo
é relativamente maior nas folhas do plátano do occidente).
A base dos pecíolos é dilatada, fistulosa, e envolve os bo-
tões, que só apparecem a descoberto depois da queda das
folhas.
A folhagem d'estas arvores é muito espessa e assombreia
bastante o terreno inferior.
Floração e fruclificação. — A floração è monoíca; as flores
de om e outro seio dispõem-se em amentilhos globosos.
412
pendentes. As flores appareoem era d
com as Tolhas. Os plátanos florescem
quasi todos os annos dão grande ai
fnictos.
Os fnictos são pequenos achenios,
pellos rígidos amarellados, e rennid
globosos, a que o vulgo dá o nome
da base dos- achenios no plátano do o
maiores que os Tractos, e no plátano d
o que torna os amentilhos globosos r
tes externamente na primeira espécie
A disseminaçtío realisa-se lun pouco '
guinte á floração, e dá-se a grandes d
das sementes s3o estéreis.
Germinação. — A geraiinaç5o passí
tempo, se a sementeira é Teila na \
novas teem crescimento muito rápido
Produaos e míos. — A madeira dos
sem numero de usos, e sobretudo é i
com que se deixa trabalhar. Dizem o
collocada em sítios húmidos resiste a(
como o carvalho e o ulmeiro. Dá muii
carv3o.
A oo&ola Haatardi
{BoUnia Puudo-aeaeia,
A acácia bastarda é originaría da A
tiva-se nm pouco entre nós, como p
jardins, alamedas, etc, mas não com
dia, no emtanto, ter exploração van
ultimo ponto de vista.
Solo. — Vae bem em todos os solos
são soltos e (('escos.
413
[Q raiz mestra pouco desenvolvida e mui'
las raizes lateraes que produzem muitos relientões. Rebenta
bem de touca.
Porle, crescimento e duração. — Esta arvore, quaado iso-
lada, apresenta geralmente uma grande copa, mais ou me-
nos arredondada, e o fuste relativamente pequeno, dividido
m pernadas vigorosas. É arvore de boa grandeza, e de
crescimento rápido, sobretudo nos primeiros annos; em
pouco tempo alcança 10 a 14 metros. Tem grande dura-
(3o.
Madeira e casca.— O cerne da acácia bastarda é amarel-
lado, lustroso, e o borne delgado, branco; esta madeira
tem o parenchjTna lenhoso muito apparente, disposto em
linhas concêntricas mais claras, que rodeiam e unem os va-
sos. Segundo o sr. Mathieu (I. c.) a madeira desta acácia
bastarda, desde muito nova, é pesada, elástica, dura, e
apresenta duração tamanha como o carvalho, e resistência
vertical Va maior.
A casca da ar\ore adulta é um rhytidoma, fendido e ru-
goso.
Fothag&n. ~ As folhas são caducas, imparipinnuladas com
5 a 12 pares de foliolos ovados ou ellipticos, glabros. Na
sna base vêem-se duas estipulas, lenhnsas, persistentes,
muito aguçadas. Na axilla da folha, entre as estipulas espi-
nesceutes, existe no eiio uma cavidade, forrada interna-
mente de pellos, e onde se originam 2-5 botões, muito pe-
quenos e nus. Depois da queda da folha esta cavidade
abre-se por uma fenda.
A folhagem da acácia bastarda dá pequeno cob^to.
Floração e fructificação. — As flores são bermaphroditas,
papilionaceas, brancas, cbeirosas, dispostas em cachos sim-
ples, pendentes. A floração realisa-se depois da folheação,
em março e abril.
O fructo é uma vagem comprimida, dehiscente, poly-
f^erma. A disseminação tem logar no outono e no inverno.
M4
A acácia bastarda froctifica em n
anDos em abmidaDcía.
Germinação. — As sementes conse
poder germinativo. Germinam racílmi
teem, desde logo, grande robustez
Productos e usos. — A madeira d'e
polido c pode ser utilisada em marcenena; e optmia para
carroçaria, torao, dentes de rodas, cavilhas, peças de ma-
chinas, etc. Como madeira de construcção, n3o dá qnasi
nunca peças sufScientemente direitas e compridas para isso.
As folhas podem empregar-se como forragem; mas a
raiz, e talvez a casca, tem um principio venenoso bastante
enérgico.
Os espinhos difBcnItam mn pouco a sua exploração, mas
apropriam-a para guarnecimento de sebes, assim como as
suas raizes, estendidas e cheias de rebentões, a tomam
própria para revestimento de terrenos pouco sólidos.
;T0B£S PRDiCIPÂLlIEliTE COHSULTÂBOS
M'ESTE um lY.
—Ftore Forestière. Paris, 1877.
3t A. Parade. — Cours ãémaUaire de cuUure des
s. Paris, 1883.
ttiE. — T^aité génêrcU des contfères. Paris, 1885.
)DSA Pimentel. — Pinhões, soutos e montadas.
' parte: Pínhaes. Lisboa, 1882.
)USA. Pimentel. — Ertcalyptus globulus. Lisboa,
76.
osA Pimentel. — Artigos publicados sob diver-
( títulos DO Jornal Oficial de Agricultura.
iBSA Pimentel.— IVoíomenío e exploração dos
aos (publicado do Jornal de Horticultura Pra-
1, Domeros de outubro de 1883 a janeiro de
B4).
Henriques. — Relatório da esticão scientifica
terra da Estreita (secção de botânica). Lisboa,
83.
Sociedade Broteduna — i, n e i
, 2.», 3.» e 4.»).
416
B. Barros Gomes. — Notice sur ks arbres forestières áa Por-
tugal. Lisbonne, 1878. ^
B. Barros Gomes. — Condições florestaes de Portugal. Li^a,
1876.
Relatório da administração geral das matas, relativo ao
anno económico de 1879-1880. Lisboa, 1881.
Ch. Naudin. — Mémoire sur les eucalyptus (Ph. Van Tiegaem
— Annales des Sciences Naiurelles — Botanique--
tom. XVI, n.^ 6. Paris, 1883).
José Bonifácio de Andrada e Silva. — Menwria sobre a ne-
cessidade e utilidade do plantio de novos bosques em
Portugal. Lisboa, 1815.
Joaquim Pedro Fragoso de Sequeira. — Memoria acerca da
cultura e utilidade dos castanheiros na comarca de
Portalegre. (Memorias Económicas da Academia
Real das Sciencias de Lisboa — tom. ii. Lisboa,
1790).
Joaquim Pedro Fragoso de Sequeira. — Memoria sobre as
azinheiras, sovereiras e carvalhos da provinda do
Alemtejo, onde se trata da sua cultura, e dos me-
IhorameníoSy que no estado actuai podem ter. (Me-
morias Económicas da Academia Real das Scienr
cias de Lisboa — tom. ii. Lisboa, 1790).
D. Carlos Castel. — Memoria premiada con d accessitpor
la Real academia de ciências exactas, fisicas y na-
turales en el concurso publico para 1876. Madrid,
1879.
F. A. Brotero. — Flora Lusitanica. Olisipone, 1804.
M. WiLLKOMM et J. Lange. — Prodromus fiorae ISspanicae.
Stuttgartiae, 1880.
Dr. E. Wolff. — Étude de l' alimentation rationeUe des ani-
maux domestiques (tradoit de rAllemand par A.
Damseaux, Bruxelles). Paris, 1876.
Eusébio F. Ferreira Nobre de Carvalho. — O passado, o
presente e o futuro dos montados (these apresen-
4Í7
ao Instituto Geral de Agricultara). Lisboa,
istinées du Portugal (Extrait du tBoleínA da
iode Broleríamt, iv. Coimbra, 1886).
.GOMA. — Flora Forestal Espafíola (Primera
e atlas). Madrid, 1883'.
QOB conhecimento d'eite Uyro, depois de termos es-
olume, a de esUr quasi eompleto o segundo, por isso
QQ o auxilio qna aliás nos teria prestado se mais cedo
. Snppomos que é mais recente a lUa poblícaçSo do
iressSo.
roí 00 TOHO pruoiho
.. r
mCM DO TOMO I
■NISAÇÃO E MODO DEVTOA DAS PLAN-
1 LENHOSAS 5
erbãceas e leobosas 5
ção dos vegetaes lenhosos segimdo o sen porte 6
Ds vegetaes leoha^oí; 7
8
nal e raJies adventícias 9
a da.s ramiScações da raz 10
mo apparelho de nutrição 10
mo apparelho fixador 12
tventicias e raiíea latentes 18
16
I canal medullar 16
pna fibroso 18
21
ma lenhoso 22
Jullares 23
HÍniferos 25
ção dos elementos anat(Hnicos do lenho ... 26
26
nternos da casca— liber e parenchyma cor-
27
rrm
420
PAG.
Epiderme S59
Lenticulas, cortiça e rhytidoma 31
' Distincçao entre a madeira do tronco e a da raiz ... 38
Crescimento das plantas lenhosas em diâmetro 38
Geme ou doramen, e borne oa albumo 47
Gicatrisaçao das feridas 5i
Composição chimica da madeira 54
3.' — Ramificação do tronco 60
Formas de ramificação 60
Classificação dos ramos 62
Botões normaes 62
Crescimento das plantas lenhosas em altnra 69
Renovo antecipado 75
Botões folhosos, floraes e mixtos 75
Desenvolvimento anormal dos rebentos 76
Botões adventicios e olhos dormentes 77
Rebentação das toucas 79
Rebentos ladrões 80
4.«— Folhas 81
Peciolo 83
Limbo 85
Formas de folhas 92
Polymorphismo das folhas na mesma espécie, e no
mesmo individuo 98
Estipulas 100
Crescimento das folhas 102
Disposição das folhas sobre o eixo 104
Duração e queda das folhas 106
Coberto das ;arvores 112
B.** — Vida das plantas lenhosas 112
6.^ — A FLOR E os PHBNOMENOS DA BBPRODCGÇAO 126
Floração 126
Partes componentes da flor 130
Inflorescencia 132
Cálice 137
CoroUa 139
Prefloração e estivação 142
r^
421
PAG.
Estames 142
Pistillo 146
Concrescencia dos verticillos floraes entre si 151
Pollinisa^o 154
Espécie, variedade e variação; géneros e familias bo-
tânicas 159
7.^ — O FRUCTO, A SEMENTE B OS PHENOMENOS DA GBRMnfA-
ÇAO 160
Fmctificaçao '. 160
Composição. do pericarpo 162
Formas de fructos 165
Semente 171
Germinação 175
8.«— Galbas 180
Folhosas e resinosas 182
Prodactos fldrestaes ; 184
Anetores principalmente consultados n'este livro 1 186
Uvro ■■.— CUMATOLOGIA FLORESTAL 189
1.® — IlfFLUENGIA DO CLIMA NA DISTRIBUIÇÃO DAS ESSÊNCIAS
FLORBSTAES 189
{ Condições climatéricas necessárias para a vida das ar-
i vores 191
Variações climatéricas produzidas pela latitude 193
Causas que podem alterar as indicações climatéricas
deduzidas da latitude 197
Regiões florestaes da Europa 198
2.* — Climas florestaes de Portugal 207
Região norte, ou dos carvalhos de folha caduca. . . . 208
Limites da vegetação arbórea impostos pela altitude 213-
Região sul, ou dos carvalhos de folha perenne 215
3.^ — Influencia das variações i^ogabs do clima no modo
de vida de uma mesma espécie lenhosa 219
Épocas das diversas phases da vegetação 219
Porte e crescimento annual das arvores 220
Acção do calor forte e do frio sobre as arvores 221
Acção da luz 225
Acção da agua ^ 225
tíí
Acção do veDto
iDOuencia da expost^o
Iniluencia da altitude
Paizes de planície e paizes mont
4.*— Inflcencia das florkstas sobri
Influencia das florestas sobre a l
Influencia das florestas sobre a
Influencia das florestas sobre a hui
Influencia das florestas sobre a 1
ar e sobre as chuvas
Influencia das florestas sobre a e
Infloencia das florestas sobre o i
bridade das povoações proji
Influencia do coberto das arvor
inferior
Aoctores principalmente consultados n'este
Livro III.— AGROLOGIA FLORESTA
1." — Influencia no solo na distbibdiç
RRsràis 2i7
Influencia do sal marinho 2tô
Influencia da cal . . .- 249
Influencia da humidade, fundura e fertilidade do solo 251
2.» — Os TEBBKNOS DE PoBTUGíL: bua mPLUENCIA MA nis-
TBIBUigÀO DAS ESSÊNCIAS PLOBBSTABS 259
3." — As DIVERSAS OtIAUDADBS DO SOLO B A SUA INFLIIENCIA
NAS QUALIDADES DOS LBNÍIOS S HA VIDA DAS AHVOBES 263
4.° — A FOLHADA K A CAMADA HUMIFERA : SEU PAPEL «Jt VE-
OBTAÇÁO DA FLORESTA 265
O solo florestal : parles de que se comp6e 2^
Composição da folhada 268
Formação do húmus 276
5." — AcçSes das florustas eobhe o solo 280
(A).— Influencia das florestas sobre as areias moveis
da beiramar 280
(B).— Influenciadas florestas na consolidaçãodos ter-
renos das montanhas, e na regularisai^ dos cur-
sos de agua 288
r
423
PJlQ.
Idéas geraes 288
As montanhas de Portugal e os seus cursos de agua 293
Influencia dos arvoredos sobre as montanhas 296
(C). — Influencia das florestas na formação dos solos
agrícolas, no seu enxugo e fertilidade 301
Auctores principâhnente consultados n*este livro Hl 304
IV.— ESSÊNCIAS FLORESTAES 307
1.** — Essências pringipalmbntií importantes na arborisa-
cão florestal dopaiz 307
o pinheiro bravo 308
O pinheiro manso ou pinheiro negro 315
Os sobreiros 319
A azinheira 326
O carvalho portuguez e o carvalho cerquinho 332
O carvalho roble, carvalho commum ou alvarinho . . 336
O carvalho negral ou carvalho pardo da Beira 340
O castanheiro ^ , 343
A alfarrobeira 349
2.^ — Essências menos importantes na abborisacão flo-
restal : arbustos das matas, das charnecas b
DAS AREIAS MARniMAS. / 358
O ulmeiro, nigrílho ou mosqueiro 355
O freixo. 358
Os choupos, alemos ou fayas 361
Os salgueiros e vimeiros 366
O vidoeiro 371
O amieiro 374
Os zimbros 376
O teixo 378
O zambujo ou zambujeiro 378
O lodao bastardo ou agreira 379
Os bordos 380
O azevinho ou picá-folha 381
Q medronheiro ou ervodo • 381
O carrasqueiro ou carrasco 382
A carvalhiça ou carvalho anão 382
O samoco ou faya das ilhas 383
» ^ ^ ■ ■
424
PAG.
O folhado 383
A murta 383
O azereiro 384
A cerejeira ou cerdeira 384
O abrunheiro ou ameixoeira braya 3%
O azereiro dos damnados 385
O mostageiro, a tramazeira e a sorveira 385
A aroeira 386
A curnalheira ou terebintho 387
O sumagre 387
O sabugueiro 387
A pereira brava ou pereiro 388
A maceira brava 388
Os pirliteiros 388
Os ademos 389
O lentisco bastardo 389
O alfenheiro 389
O sauguinho legitimo 389
O sanguinho de agua ou amieiro negro 389
O sanguinho das sebes 390
O tamujo '. 390
A avelleira 391
O loendro ou sevadilha 391
O buxo 391
O anagyr\s fedsgosa 391
A palmeira anã ou das vassouras 392
O arando 392
A casia branca de Yirgilio 392
O trovisco 392
A hera 393
As silvas 393
As roseiras bravas 391
. As- urzes. 394
A urze branca ou arbórea 395
A urze das vassouras 395
A urze outorga ordinária 396
As estevas 395
425
rqoejas, tojos, piornos e giestas 396
inheiro alvar basterdo 397
largneira 397
laiii^ira 397
iorneira e a losna muior 398
QÍcabra 398
;adeira, o valverde dos sapaes, ete 398
IC1A8 noncu j^ dm pouoo nmoDDznus 399
beiro d'Al<f>o 399
resie, o cedro bastardo e o eedro do Bnssaco. . 402
nlypto 404
Uanos ,410
eia bastarda 412
)almeiile consultados o'e8te livro IV 415
r"
ERRATAS
Nota. — Apenas vão notados os erros d*onde resulta alteração no
sentido do texto. Para as simples trocas de lettras, con-
stituindo erros typographicos, que escaparam na revi-
são, pede*se a benevolência do leitor.
Pag. 80— linh. 21— onde se lê — os rebentos produzidas pelos botões
adventícios — leia-se — os rebentos produzidos pelos botões
adven tidos e olhos dormentes.
Pag. i!4— linh. 12— onde se U— na parte inferior das nervuras—-
leia-se — na parte superior das nervuras „
hg. 134 — A fig. 68 deve representar-se invertida.
Pag. 142 — linh. 26 — onde se lô — aandrocea — leia-se — oandro-
ceo.
Pag. 192 — linh. 12 — onde se lô — sudoeste — leia-se — sueste, .
Pig. 203 — linh. 32 — onde se lé — sudeste — leia-se sueste.
Pag. 232 — linh . 2 — onde se lé — por cento — leia-se — por 100 de
folhas.
Pag. 353— linh. 25-onde se 10—24,996— Jeia-se —24,966.
íí(^.^" ^^f4*t^^ éãía^t^
^^. ^r..'-*'
DE SILYIGULTD]
lE SILVICyLTURft
XAVIER PEREIM COUTINHO
< Instituto Geral de AgricDltnra,
nte da Academia Real das Scienci&s, ete.
TOMO II
ESBOÇO
DE UMA
,ENHOSA PORTHGUEZA
LISBOA
TTFOGUmU Dl lUDUIt UAL US SCSKUS
1887
PROLOGO
) fácil limitar com segurança o campo que
restai deve abranger. Evidentemente nem
*m 38 arvores das florestas: precisa in-
as espécies, embora de menor porte, que
ali de mistura com as arvores e por isso
ma influencia, de qualquer ordem, na ex-
ploração.
Mas, postas as coisas com esta latitude, os dominios
da Flora florestal tornam-se vastíssimos e ao mesmo
tempo muito incertos: por um lado, alargam-se a ponto
Dão só de comprehender muitos arbustos e sub-arbus-
tos, como plantas herbáceas e até muitas cryptogami-
cas, Dmas das quaes vivem no solo das matas e outras
parasitas sobre as arvores — cogumelos, lichenes, etc.;
por outro lado, estes limites ficam obscuros e indetermi-
nados, porque no interior dos massiços florestaes podem
accidentalmente encontrar-se quasi todas as espécies da
flora local; e, ou a Flora florestal se ba de transformar
'^
n
11'uma flora geral, ou a escolha das espécies que a de-
vem compor tem de ficar arbitraria, seja qual for o cri-
tério d'essa escolha — o numero de iodividuos, a fre-
quência da espécie^ ou a sua importância na explora-
ção, etc. A tudo isto accresce, que uma tal limilação
deixaria de incluir todas as arvores que não vivem nas
florestas — que não podem estar em massiço-^ algumas
das quaes são, evidentemente, do dominio da silvicul-
tura.
Os limites traçados peb sr. Mathieu na sua Flore
forestière afíguram-se-nos bastante mais práticos e exe-
quiveis. Âquelle auctor reúne sob o nome de flora fio-
restai, não o conjuncto mais ou menos indefinido das
espécies que vivem nas florestas, mas o conjuncto das
espécies lenhosas do paiz — seja qual for o seu habitat.
O nome é que nos parece mal cabido : em vez de Flora
florestal diremos antes, n'este caso, Flora lenhosa.
O trabalho que vae seguir não pretende passar por
uma Flora lenhosa portugueza: não vae além de um *
simples esboço, resultante da coordenação dos nossos
apontamentos sobre este assumpto. E mais um trabalho
de vulgarisação, com o fira principal de facilitar o es-
tudo aos nossos discipulos, do que um trabalho de in-
vestigação botânica. Pouco mais fizemos, do que reunir
as diagnoses (dispersas por varias obras), de todas as
espécies lenhosas conhecidas no paiz, e resumil-as, dis-
pondo-as em chaves, dichotomicas para tomar a classi-
ficação mais rápida e mais segura.
Não poderíamos decerto emprehender trabalho de
maior alcance: nem as forças nol-o permittiriam, nem
julgamos a occasião apropriada ainda para isso. Em-
bora o estudo da botânica descríptiva tenha tomado, em
Portugal, nos últimos annos um notável incremento,
embora existam já reunidos muitis3Ímos elementos^ e
de grande valor, parece-nos prematuro qualquer traba-
lho definitivo que se queira tentar acerca da flora por-
tugueza. No emtanto, afigura-se-nos que isto não deve
ser uma razão para deixar de vulgarisar os elementos
já reunidos^ muito principalmente quando se trata da
Flora lenhosa, por isso mesmo que o maior porte das
espécies lenhosas as torna mais ^depressa conhecidas.
Evidentemente as arvores e arbustos principaes de Por-
tugal estão já determinados.
Na lilteratura botânica portugueza são exactamente
os livros de vulgarisação os que mais fazem sentir a sua
faha;d'aqui, o principal motivo das difificuldades enor-
mes com que lutam todos os principiantes; d'aqui, o
principal motivo porque o maior numero esmorece no
principio do caminho, e tão poucos se dedicam, entre
nós, a estes estudos.
Reunimos pois no presente trabalho todas as espé-
cies lenhosas espontâneas de cuja existência tivemos co-
nhecimento— arvores, arbustos e quasi todos os sub-ar-
bustos — deixando apenas de mencionar algumas plan-
tas levemente lenhosas na base, sub-arbustos sem a
menor importância, com que não julgámos conveniente
alongar demasiado este esboço. Ás espécies espontâneas
addicionámos as espécies exóticas sub-espontaneas,
bem como as que são hoje mais habitualmente caltiva-
das, julgando assim tornar este estudo mais completo
e de maior utilidade.
Do próprio plano da obra resulta, que nos referimos
a muitas espécies raras, ou não existentes nas matas,
e sem a menor importância florestal, ao mesmo tempo
que deixamos de citar plantas herbáceas, algumas bas-
tante importantes sob o ponto de vista silvícola. O ai*
timo inconveniente, a não escrçver uma flora geral, é
de sua natureza irremediável, como já dissemos; quanto
ao primeiro esse bem poucas desvantagens apreseota.
Com eíTeito, não deve esquecer que este Esboço é o
complemento obrigado do Livro iv do i volume, onde
tratámos das essências florestaes e dos arbustos mais
importantes das matas: o presente volume ensina a clas-
sificar, a determinar, as espécies ali estudadas; se in-
cluo espécies a mais, ç que habitualmente não vivem
nas florestas, não resulta d'isso mal nenhum.
Para tomar um pouco mais útil esle Esboço, em se-
guida ás descripções das espécies não estudadas ante-
riormente, acrescentámos algumas palavras acerca dos
seus principaes aproveitamentos. Não fizemos o mesmo
a propósito das espécies florestaes mais importantes,
porque essas foram tratadas jâ, com maior particulari-
dade, no Livro especial.
Tivemos grande cuidado na escolha das espécies com-
poneotes d'este Esboço: de umas possuímos exemplares
DO nosso herbario ou no da Sociedade Broteriana, ou-
tras vimol-as no berbario na Escola Polytechnica, ou
^contrámol-as citadas nas obras que tratam da flora
portugueza, enumeradas adiante. Cumpre-nos, n'este
logar, patentear o nosso reconhecimento, pelos valiosos
aoxilios que nos prestaram, aos srs. conde de Ficalho
e J. Daveau, o primeiro facultando-nos a consulta do
riquissimo berbario da Escola Polytechnica, e o segundo
dando-nos muitos duplicados do seu herbario particu-
lar, e concedendo-nos a leitura dp seu trabalho inédito
acerca das Cistineas portuguezas ^ : aos srs. dr. Júlio A.
Henriques e dr. J. de Mariz, que nos esclareceram em
muitos pontos duvidosos, já na determinação das espé-
cies mais criticas, já na indicação dos habitats de ou-
tras deduzidos dos exemplares do valiosissimo herbario
da Universidade de Coimbra, bem como ao sr. A. Mol-
ler, que egualmente nos forneceu subsidies importantes.
As descripções das familias, géneros e espécies re-
suraimol-as quasi sempre do Prodromus Florae Hispa-
nicae dos srs. Willkomm e Lange — cuja ordem e no-
menclatura adoptámos, por ser esta obra a mais impor-
taole e completa, que conhecemos, acerca da flora da
peninsula — ou da Flore Forestière do sr. Mathieu, cujo
plano, em grande parte, nos propozemos imitar. Sem-
pre que nos foi possivel, escrevemos o resumo das dia-
a
' Aetaalmente publicado (vid. adiante a enumeração dos livros
WMultados),
\1
gnoses, verificaDdo os caracteres apontados sobre exem-
plares— vivos ou seccos — das espécies descriptas. Para
evitar maiores complicações, unicamente apresentamos
as synonymias Broterianas e Linneanas das denomina-
ções especificas adoptadas.
Para a determinação das famílias, géneros e espécies
dispozemos o nosso trabalho em chaves dichotomicas,
porque julgamos ser esse o único processo que, com
rapidez e simplicidade, conduz a uma determinação se-
gura; mas pareceu-nos indispensável alongar um pouco
as descripções das espécies, e não as limitar só aos ca-
racteres salientes sobre que se baseia a constituição das
chaves, porque, como a flora portugueza não está ainda
completamente conhecida, a simples enumeração de um
caracter, se pode ser o bastante para distinguir todas
as espécies descriptas num livro, pode também induzir
em erros graves, permittindo a confusão com as espé-
cies ainda não determinadas no paiz ; perigo este, que
a descripção mais detalhada afasta em grande parle. Na
França, por exemplo, onde a flora está bem estudada,
comprehende-se um livro elementar com a forma que,
entre outros, tem a Nouvelle Flore Française dos srs.
Gillet & Magne, na qual as chaves .são muito simples e
as descripções muito resumidas; para a flora fiorlu-
gueza, tal como ella está conhecida na actualidade, é
que essa forma nos parece defeituosa e ambigua.
Nas descripçfies das espécies não seguimos a ordem
rigorosa e methodica geralmente estabelecida — come-
VII
çar pela raiz, seguir pelo caule, ramos, folhas, flores,
etc.; os caracteres apresentados sempre primeiro são os
que mais salientemente servem para a distincção dicho-
tomica, seguindo os restantes, enumerados geralmente
na ordem da importância distihctiva.
Como já dissemos, adoptámos inteiramente a ordem
e a nomenclatura da obra dos srs. Willkomm e Lange.
Advertiremos, todavia, que somos partidários de uma
divisão especifica levada um pouco menos longe, e acre-
ditamos (jue algnmas das ospecies mais próximas des-
criptas deveriam ser antes consideradas como varieda-
des. Não temos a força, nem a auctoridade, nem o es-
tudo necessário para in leni ar esse agrupamento, com o
qual, nos pareceu, podia perder mais do que ganhar
este nosso trabalho, e apenas o praticámos n'aquelles
raríssimos casos que julgámos evidentes, pela compara-
ção de formas intermédias bem caracterisadas; em al-
guns outros casos, limitámo-nos a emitlir, em notas, uma
opinião, mais ou menos baseada, mais ou menos pro-
vavel.
Ainda para facilitar a classificação, e para simulta-
neamente tornar bem definida a terminologia empre-
gada, apresentamos no fim um pequeno diccionario das
palavras technicas que mais usámos, e onde o alumno
pode recorrer de prompto n um caso duvidoso.
Em resumo — o plano que nos propozemos seguir
Q'esta publicação foi vulgarisar a nossa flora lenhosa,
reunindo as diagnoses das espécies já conhecidas no
VIII
paíz, condensando-as e dando-lhes uma forma ^ue faci-
lite a classificação. Séjam-oos relevados, tiveste desejo de
sermos ateis aos nossos alumnos e aos nossos silvicol-
tores, o arrojo do emprehendimento e as incorrecç&es
em que cairmos. A nossa maior satisfação seria qoe
este trabalho, successivamente emendado e acrescen-
tado, podesse no futuio constituir a Flora lenhosa por-
tugtieza, que incorrectamente agora apenas procura es-
boçar.
» Lisboa, 26 de março de 1 886 *.
António Xavier Pereira Coutinho,
1 O manuscripto doeste u volume do nosso Cvrso de SUvicuUura
foi entregue na Academia Real das Sciencias conjonctamente com o
Bianascripto do i volume, e por isso os dois levam a mesma data—
a data da entrega. Algumas das notas e o AppenUce foram escriptos
posteriormente, já durante a impressão.
Romes dos auctores citados, e as abreilataras empregadas
Ait. — W. Âiton.
Bartl. — Bartling.
Bell.— Bellardi.
B. de Rômer. — B. de Ròmer.
Bertol. — A. Bertolini.
Bosc. — Bosc.
Bourg. — Bourgeau.
Bron. — Brongniart.
Brot — F. A. Brotero.
Bss. — Ed. Boissier.
Bss. dt Reut — Boissier e Reuter.
Bth. — Bentham.
Cav.—J. A. Gayanilles.
Ciem. — D. S. de R. Clemente.
Corr. — J. Corrêa da Serra.
Coss. — CossoiL
Crte.— H. J. N. 7on Crantz.
DC— A. P. de Candolle.
D. Don. — David Don.
« Desf. — R. L. Desfontaines.
Diin. — Dunal.
Eckl.— Ecklon.
Ehrií.— Ehrhart.
Endl.— S. L. Endlieher.
Forsk. — Forskal.
Forst.— Forster.
Fries. — Friesí
Gaertn. — J. Gaertner.
Gaud. — Gaudin.
Gay. — J. Gay.
G. Don. — Georges Don.
Godr. — Godron.
Gren. — Grenier.
Gris. ou Griseb. — Grisebach.
Grlls. — Graells.
Guss. — G. Giissoni.
Hochst— C. F. Hochstetter.
Hoffgg. & Lk. — Hoffmannsegg e
Link.
Jcqu. — N. J. von Jacquin.
J. Mflll.— J. Mmier.
Juss. — Jussieu.
Klotzsch. — Klotzsch.
Koch. — Kocb.
Koch ÓL Zi2. — Kocb e Ziz.
Ktb— K. S. Kuntb.
Kze.— Kunze.
L. — C. Linneu.
X
Labill. — De Labíllardiére.
Lam. — De Lamarck.
Lestib. — Lestiboudois.
Lge. — J. Lange.
L'Herit. — LHeritier.
Lindl. — J. Lindley.
Lk. — Link.
Lour. — J. de Loureiro.
Mariz. — J. de Maríz.
Med.— F. K. Medikus.
MilL— Ph. Miller.
Mirb. — Mirbel.
Mnch.— Moench.
Moqu. — A. Moquin-Tandon.
N.— Nees.
Orteg. — Ç. G. Ortega.
Perrot— G. S. Perrottet
Pers. — C. H. Persoon.
Planch. — Planchon.
Poir.— J. M. L. Poiret
Portenschl. — Portenschl .
R. Br. — Robert Brown.
Rchb. — Reichenbach.
Rich. — A. Richard.
Risso. — J. A. Risso.
Roz. — Rozier.
Rud. — Rudolphi.
SUiab. — R. ^ Sali8bury.
Salzm. — SalzmaniL
Santi. — Santi.
Schott.— H. Schott
Scbreb. — J. €. D. von Schrebcr.
Ser. — N. C. Seringe.
Sibth.— J. Sibthorp.
Sieb. — Sieber.
Spach. — E. Spach.
Spreng. — K. Sprengel.
St Hil.— St Hilaire.
Thumb.— C. P. Thumberg.
Tourn. — J. P. de Toumefort.
Vahl.— M. Vahl.
Vent— E. P. Ventenat •
Vill.— p. Villars.
Vog.— Vogel.
W.— K. L. Willdenow.
Wallr.— C. F. G. Wallroth.
Wbb.— Ph. B. Webb.
Weihe. — Weihe.
Weihe & Nees.— Weihe e Nee*.
Welw.— F. Welwitsch.
Wimm. — Wirnmer.
Wk.— M. Willkomm.
Livros consultados
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StQttgartiae, 1870-1880.
A. Mathieu. — Flore Forestière. Paris, 1877.
F. A. Brotero.— F/ora Lusitanica. Olisipone, 1804.
F. A. Brotero. — Phytographia Lusitamae selecfior. Olisi-
pone, 1816-1827.
XI
GiLLET <Jc Magne. — Nouvelle Flore Française. Paris, 1879.
A. P. DE Candolle. — Prodromus systematis naturcUis regni
vegeíabilis. Parisiis, 1824-1857.
M. WiLLKOMM. — ícones et descriptiones plantarum novarum,
crUicarum et rariorum Europae anstro-ocádentOr
h$, praedpue Hispaniae. Lipsiae, 1852-1861.
Ed. Boissieb. — Diagnoses plantanim novarum praesertim
qrientalium. Lipsiae, 1853.
Ed. Boissier. — Voyage hotanique dans le Midi de VEspagne
pendam Vannée 1837. Paris, 1839-1845.
J. Lange. — Pugillus plantaram, imprimis hispanicarum , quas
in ttinere 1851^1852 legit. Hafnia^, 1860-1861.
P. B. Webb. — Otia Hispânica seu delectus plantaram rario-
rum per Hispanias sponíe nascerUium. Paris, 1853.
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Conde de Ficalho. — Apontamentos para o estado da Flora
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tar um Horti Botanid Medico-çirm gicae Scholae
Olisiponensis anno 1862. Olisipone, 1852.
Labillardién; ^^;j^fbu (Mnoltí áa Sctm-
amarck. ..-^que—PviÀiée sous la din-
"'«»"*''* ^us TiEGHEM. Tom. xn, a." 6.
ige. , -■</'
Heril- ■ ;■'.,
ind' " '!>/*""' *^'^*'' ó to rewísiOB de la flore
'^.f-^.^rírait du Journal *Le Naiuralisíe*.
fl^^flaitê general t&s conifêres. Paris, Í855.
^■,1^^ Condições /lorestaes de Portugal. Lisboa,
^iiiviUQDES. — Temànologia Botânica. Coimbra,
^fSRQ. — Compendio de Botânica. Paris, 1788.
fiEGHEu. — Traité ãe Botanique. Paris, 1884.
VDOLLE. — AntUomie comparée des feuUles chez jael-
ques familUs de DiaXylédones, Génève, 1879.
. — Cistinêes du Portugal (Extrail du * Boletim da
Sociedade Broteriatiat, iv). Coimbra, 1886.
KmscHY. — lUustrations des ch^es de l'Euri^ d
dOrimt. Vieiíne et Olmiiz, 1862.
et A. PoiTEAu.— /físíoíre et cuiture des onmgm
(nouvelle edilion entièrement revue et augineotée
par M. A. Dii Breuil). Paris 1872.
io Laguna.— ftom Forestal Espaflola (Primera
parte e atlas). Madrid, 1883*.
AvELLAR Bbotero. — Htstoria dos Pinháros, Lan-
ces e Abetos. Lisboa, 1827'.
RoMERo r GiLSANZ. — El Pino Pifionero en la Pro-
vinda de Valiadolid. Valladolid, 1886*.
10 Pla t Rave.— AfoíiMo/ de cultivo de arboles fo-
restales. Madrid*.
mos conhecimento d'e9la obra depois de escripto o presenle
ias aJDda antes da ultima reTisSo, e por isso nos referimoa»
umas noiasdo texto, bem como no Appendiee.
i no Appeadice.
r
Iodo de trabalbar com as chaves dlcbotomlcas
Quando se quizer determinar a espécie «a que pertence
oa dada planta lenhosa, entrar-se-ha primeiro na chave
hotomica das famílias botânicas (pag. xix), para deter-
lar a familia em que ella está comprehendida.
1 exemplar deve estar em floração; e, muito embora
I a trabalhar com esta chave seja necessária ás vezes a
^ença dos fructos, consegue-se quasi sempre, ou pelo
ne dos ovários das flores mais velhas, ou pelo estudo
lodico da chave, acertar a classificação. Nos casos du-
os será necessário colher dois ramos sobre o mesmo
iduo, um com flores, outro com fructos, nas épocas
criadas.
)ponhamos que o exemplar para nós desconhecido,
16 queremos determinar a familia botânica, é um Sair
A chamada num. 1 diz:
)astos ou sub-arbnstos parasitas sobre os ramos das arvores.
liOranCliaeeas.
ores, arbustos ou sub-arbustos com as raizes desenvolvidas
) solo 2
XII
Gh. Naudin. — Mémoire sur le$ euccUyptus (Annalea des Sdm-
ces Naturdles — Botanique — PtMiée som la dm-
ction de M. Ph. Van Tieghem. Tom. xvi, n.® 6.
Paris, 1883).
M. G. RooY. — MateriatAX pour servir d la revision de la Flore
Pmugaise (extrait du Journal €Le NatvraUstef.
Paris, 1882).
E. A. Garrière. — Traité general des conifères. Paris, 1855.
B. Barros Gomes. — Condições florestaes de Portugal. Lisboa,
1876.
Dr. Julio à. Henriques. — Terminologia Botânica. Coimbra,
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Ph. Van. ,Tieghem. — Traité de Botanique. Paris, 1884.
C. de Candolle. — Anatomie comparée des feuilles chez qud-
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J. Daveau. — Cistinées du Portugal (Extrait du «fiofeíMndo
Sociedade Broterianait , iv). Coimbra, 1886.
Théodore Kotschy. — Illustrations des chénes de VEurope et
dOrient. Vienne et Olmúz, 1862.
A. Risso et A. Poiteau. — Histoire et culture des orangers
(nouvelle edition entièrement revue et augmentée
par M. A. Du Breuil). Paris 1872.
D. Máximo Laguna. — Flora Forestal Espafíola (Primera
parte e atlas). Madrid, 1883 ^
Dr. F. de Ayellar Brotero. — Historia dos Pinheiros, Lari-
ces e Abetos. Lisboa, 1827*.
D. Felipe Romero y Gilsanz. — El Pino Pifionero en la Pro-
vinda de FaUeKÍohd. Valladolid, 1886 ^
D. Eugénio Pla y Rave.— Ma»wa/ de cultivo de arbolesfo-
restales. Madrid*.
1 Só tivemos conhecimento d'esta obra depois de escripto o presente
trabalho, mas ainda antes da ultima reyis2o> e por isso nos referimos a
ella em algumas notas do texto, bem como no Appendice.
* Citados no Appendice.
lodo de traballiar com as cbaves dicbotomicas
Quando se quizer determinar a espécie ,a que pertence
mna dada planta lenhosa, entrar-se-ha primeiro na chave
dichotomica das famílias botânicas (pag. xix), para deter-
minar a familia em que ella está comprehendida.
O exemplar deve estar em floração; e, muito embora
para trabalhar com esta chave seja necessária ás vezes a
presença dos fructos, consegue-se quasi sempre, ou pelo
exame dos ovários das flores mais velhas, ou pelo estudo
methodico da chave, acertar a classificação. Nos casos du-
vidosos será necessário colher dois ramos sobre o mesmo
individuo, um com flores, outro com fructos, nas épocas
apropriadas.
Supponhamos que o exemplar para nós desconhecido,
e a que queremos determinar a familia botânica, é um Sal-
gueiro. A chamada num. 1 diz:
Arbustos ou sub-arbnstos parasitas sobre os ramos das arvores.
. , liorantbaceas.
Arvores, arbustos ou sub-arbustos com as raízes desenvolvidas
no solo 2
XIV
o exame mais superficial mostra que a nossa planta tem
as raizes desenvolvidas no solo e não sobre os ramos das
aiTores, por isso passaremos á chamada num. 2 :
Flores dispostas em espadices ramosas. Folhas lenhosas, palma-
tifendidas ou pinnuladas. Plantas sob-acaules ou arbóreas
^ , com o caule nâo ramificado Palmeiras.
z {
Flores não dispostas em espadices. Folhas nâo lenhosas (eoria-
ceas, membranosas, herbáceas, escariosas ou nullas). Caules
ramificados 3
As flores do nosso exemplar estSQ dispostas em amenti-
lho, isto é, não estão dispostas em espadice. As folhas são
menbranosas (não lenhosas), inteiras, e os caules são ra-
mificados. Logo, seguiremos à chave num. 3:
Corolla papilionácea (fig. 32, M). 10 estamos monadelphos oa
diadelpho!^ ou livres (mas então as folhas compostas : 3-folia-
das). Fructo uma vagem. Arvores, arbustos ou sub-arbustos,
inermes ou espinhosos (ou plantas herbáceas).
. Paptlioii6ceas«
Corolla pseudo-papilioiíácea (fig. 33, C). 10 estames livres. Fo-
. lhas simples, reniformes. Fructo uma vagem. Arvores.
{Género Cereis) CeaalpIíiiAceafl.
Corolla não papilionácea nem pseudo-papilionácea : regular, ir-
regular ou nulia 4
Tendo verificado que a corolla é nulla, desceremos ao
num. 4:
Flores dispostas em capitulo rodeado de um invólucro de folio-
los. Antheras adherentes a constituírem um tubo que envolve
4 { o estylete. Fructo um achenio. Arbustos e sub-arbustos (ou,
de ordinário, plantas herbáceas) Composta».
Flores nunca dispostas em capitulo involucrado 3
Jà examinamos a inflorescencia do nosso exemplar, e sa-
bemos que ella é um amentilho ; não sendo, portanto, mn
capitulo involucrado, passamos á chamada 5 :
XV
Flor, na anthese, rasgando-se n*um operculo caduco para dar
saida aos estamos e estyletes (fig. 28, £, F). Arvores intro*
. duzidas, algumas de primeira grandeza, com as folhas oppos^
tas ou alternas, persistentes, coriaceas, com glândulas óleo
resinosas ' {Género Eucalyptus) MyrUieemm»
Flor sem se rasgar nunca n'um operculo terminal 6
0 exame directo mostra que a nossa planta está no se-
gundo caso — a sua flor não se rasga, na anthese, n'um
operculo caduco. De resto, se a este propósito ficassem du-
vidas, se a floração já estivesse adiantada, bastaria vêr que
as follias não teem glândulas oleo-resiíiosas, bastaria exa-
min^rna fig. 28 as folhas e flores do género Eucalyptvs,
para, sem a menor hesitação, passar ao num. 6:
1 Flores nuas, ou cora um só invólucro floral (petaloide ou sepa-
re loide) 7
( Flores com dois invólucros floraes (cálice e corolla) 33
Como já sabemos que as flores são nuas, descemos à
chamada 7:
Í Arbustos sarmentosos, trepadores. Invólucro floral petaloide . 8
Arvores, arbustos ou sub-arbustos levantados ou prostrados:
n|o sarmentosos, nem trepadores 9
Não se trata de um arbusto sarmentoso, trepador: nem
ha invólucro floral petaloide; logo passamos ao num. 9:
Arbustos e sub-arbustos aphyllos (ás vezes com os ramos anor-
malmente desenvolvidos em forma de folhas) 10
qJ Arvores (raras vezes arbustos) com folhas verdes compostas:
pinnuladas 12
Arvores, arbustos ou sub-arbustos com folhas verdes simples :
inteiras ou diversamente recortadas 15
Evidentemente a nossa planta não é aphylla» e as suas
folhas s3o verdes e simples (não pinnuladas), o que nos
XVI
leva a procurar a chamada 15. Adrertiremos, todavia, que,
ao passar n'6sta chave 9, é prudente verificar se nSo exis-
tem ramos com desenvolvimento foliar, que á primeira vista
possam conflmdir-se com folhas shnples. Com algum cuidado,
é sempre fácil a distincçSo; de resto, as espécies lenhosas
indígenas que teem ramos foliformes (e um só invólucro
floral) estão representadas na fíg. 4, D, E, J/K, M. Em caso
de duvida será bom recorrer á comparação com esta gra*
vura.
A chamada 15 diz: '
I Folhas acerosas, lineares ou escamiformes; flores nuas... 16
Folhas com o limbo desenvolvido; raras vezes lineares (mas en-
tão sempre as flores com um perigoneo) « . 17
Gomo as folhas do nosso exemplar teem o limbo desen-
volvido (não são acerosas, lineares ou escamiformes) segui-
mos ao num. i7:
/ Floração dioica. Flores com um perigoneo*: as masculinas dis-
postas em espigas amentáceas, e as femininas em capitolos
giobosos. 4 eslames. Pequenos achenios envolvidos pelos gy-
nophoros carnudos (fig. 15, F, F'). Arvore exótica com suecos
leitosos. . . (Broussonetia papyrifera, Yent.) Moreficeas*
..I Floração dioica ou monoica. Flores dispostas em amentilhosou
I espigas amentáceas (as dos dois sexos nas espécies dioicas;
ás vezes só as flores masculinas nas espécies monoicas). Ar-
vores ou arbustos com as folhas penninervadas ou palminer-
vadas > 18
Flores hermaphroditas ou unisexuaes (monoicas ou dioicas) non-
\ ca dispostas em amentilhos nem espigas amentáceas 23
A floração da nossa planta é dioica; as flores slo nuas,
e as de qualquer dos sexos dispostas em amentilhos. N3o
tem suecos leitosos. Se é o inchviduo feminino, que estu-
damos, verificaremos que o seu fructo n3o é um achenio
envolvido por um gynophoro carnudo, nem á infloresc«i-
r^
XVII
19
cia é um capitulo globoso; se estudamos o individuo mas*
calino, examinaremos que não tem 4 e^tames (os salguei-
ros indigenas teem 2-3 estames), e portanto não pode o
nosso exemplar pertencer á familia das Moreáceas. Segui-
remos á chamada 18, uma vez que a sua inflorescencia é
em amentilho :
l«l Floração dioica. Nunca suecos leitosos 19
I Floração monoica 20
0 estudo anterior habilita-nos logo a seguir ao num. 19:
1 Folhas aromáticas, cheias de pequenas glândulas cirosas ou resi-
nosas. Fructo indehiscente, monospermo (achenio), incloido
nas bracteolas carnudas, accrescentes e glandulosas, seme-
lhando o conjuncto uma drupa (fig. 7). Flores nuas. Amen-
tilhos simples ou compostos Myrieca» (pag. 60)
Folhas não aromáticas, nem com o parenchyma cheio de glân-
dulas cirosas ou resinosas. Fructo dehiscente, polyspermo
(uma capsula) (fig. 5, C : fig. 6, D). Flores nuas (fig. 5) ou
com um invólucro cupuliforme (fig. 6).
Sallclnea» (pag. 51)
O exemplar que procuramos classificar, deve pertencer
a uma d'estas duas famílias — Myriceas ou Salicíneas. As
suas folhas não são aromáticas, nem teem o parenchyma
cheio de pequenas glândulas cirosas ou resinosas (embora
ás vezes se apresentem dentado-glandulosas, como observa
a nota .da pag. xxni) ; logo deve ser uma Salicínea. Se for
o individuo feminino que possuímos, a forma indehiscente
do fructo polyspermo (uma capsula), ainda vem tornar mais
segura a determinação.
Passaremos então á pag. 51, e leremos a descripção de-
talhada da familia das Salicíneas, comparando-a rigorosa-
mente com a nossa planta, para verificar se commettemos
algum erro na classificação da familia. Estando bem segura
C. 8. — ^V. II. 2
xvI^
esta primeira determinação, procuraremos na chaye dos
géneros que esta família abrange (pag. 52), por um pro-
cesso egual, aquelle que lhe corresponde. Verificando qae
o nosso exemplar de estudo tem os botões com uma só
escama; tem os amentílhos levantados, com as bracteas in-
teiras; tem as flores nuas, com o perigoneo substituído por
glândulas, etc, veremos que pertence ao género Scdix.
Passaremos, na pag. 52, á descripção d'este género: com-
pararemos novamente a planta com essa descripção, e por
ultimo, entrando nas chaves das espécies pertencentes a
este género, procuraremos acertar a determinação especi-
fica, aindo pelo mesmo processo.
As chaves estão preparadas de forma que, quando se
trate de espécies dioicas, seja possivel a determinação, quer
possuamos o individuo masculino, quer o individuo femi-
nino.
O alumno que enceta estes estudos de classificação não
deve esmorecer com as primeiras dilHculdades, que sem-
pre, mais ou menos, encontra. Essas diíliculdades são ine-
vitáveis ; com o tempo e com a pratica habitua-se pouco a
pouco, e depois de já ter um certo uso do methodo e da
chave com que trabalha, consegue vencel-as, e acertar a
classificação sem grandes esforços.
bafe dicbotomlca pua a determlnaç&o
das íunlllas botânicas
ou sub-arbuslos parasiias sobre os ramos das arvores.
Iioramiiaceaa (pag. 100)
arbustos ou sub-i>rbustos com as raizes desenvolvidas
a 2
ipostas em espadices ramosas. Folhas lenhosas, palme-
ias ou piíinuladas. Plantas sub-acaules ou arbóreas c«m
I não ramíGcado Palmeira* (pag. 50)
io dispostas em espadices. 'Folhas não lenhosas (coría-
nembraaosas, herbáceas, escariosas ou nullas). Caules
ados 3
lapilionácea (Gg. 32, M). 10 estamos monadelphos ou
»hos, ou livres (mas então as folhas compostas: 3-folia-
^ruclo uma vagem. Arvores, arbustos ou sub-arbuslos,
•s ou espinhosos (ou plantas herbáceas).
Papllionáeejt* (pag. 186)
seado-papitíonácea (fig. 33, C). 10 estantes livres. Fo-
[uples, renífonnes. Fructo uma vagem. Arvores.
. . . (Género Cereis) CeaalplnlAeeaa (pag. 216)
io papilionácea nem psendo-papitionácea : regular, ír-
r ououlla 4
XX
Flores dispostas em capitulo rodeado de um invólucro de folio-
los ^ Ântheras adherentes a constituirem um tubo que envolve
4 J o estylete. Fructo um achenio. Arbustos e sub-arbustos (ou,
de ordinário, plantas herbáceas). Com poluis (pag. 104)
Flores nunca dispostas em capitulo involucrado 5
Flor, na anthese, rasgando>se n*um operculo caduco para dar
saida aos estames e estylete (flg. 28, E, F). An-ores iotro-
„ J duzidas, algumas- de primeira grandeza, com as folhas oppos-
tas ou alternas, persistentes, coriaceas, com glândulas óleo-
resinosas. . . {Género Eucalyptus) MjrtAceas (pag. 187)
Flor sem se rasgar nunca n'um operculo terminal 6
Flores nuas, ou com um só invólucro floral (petaloide ou sepi-
6| loide) 7
Flores com dois invólucros floraes (cálice e corolia) 33
Arbustos sarmentosos, trepadores. Invólucro floral petaloide. 8
7 j Arvores, arbustos ou sub-arbustos levantados ou prostrados:
não sarmentosos nem trepadores 9
Flores hermaphroditas. Plantas inermes. Carpellos numerosos,
livres, monospermos, originando outros tantos achenios, ter-
minados n*um appendice curto e glabro, ou muito comprido
^1 e plumoso . Peciolos volúveis. Folhas, de ordinário, compostas.
(Género Clematis) BananeoMceas (pag. 26S)
Floração dioica. Plantas aculeadas, com gavinhas. Fructo uma
baga. Folhas simples (íig. 4, A, B, C).
(Género Smilax) iUniUceas (pag. 46)
1 0 género Armena (Família das Plumbagineas) tem espontâneas em
Portugal algumas espécies perennes, sub-lenhosas na base, que nSo men-
cionamos peia sua pequena importância; n'este género as flores esUo
grupadas em capitulo involucrado, mas as ântheras são livres. Do mesmo
modo as plantas da Família das Globulariáceas e as Dipsáceas, as Um-
hêllifercu do género Eryngium, e as Campanúíácetu do género JasiauÊ
teem as flores dispostas em capitulo involucrado; mas, todas estas plan-
tas s2o herbáceas, e todas teem as ântheras livres, excepto as do género
Jasione, cujo fructo é, não um achenio mas uma capsula. Assim, inde-
pendentemente da consistência do caule, nSo se podem contoidir estas
plantas, na presente chave, com as Compostas.
r
9
XXI
. Arbastos e sub-arbustos aphyllos (ás vezes com os ramos anor-
Smabnente desenvolvidos em forma de folhas) 10
Arvores (raras vezes arbastos) com folhas verdes compostas:
(pinnuladas 12
Arvores, arbastos oa sab-arbastos com folhas verdes simples:
inteiras ou diversamente recortadas 16
Arbastos e sub-arbustos com os ramos foliformes : ovado-agu*
çados oa lineares (fig. 4, D, E, I, K, M). Plantas espinhosas
10 { ou espinescentes. Perigoneo petaloide com 6 divisões.
(Parte) iliiill6cea» (pag. 46)
Arbustos e sub-arbustos inermes, com os caules articulados. 11
Flores hermaphroditas, incluídas em cavidades do caule, junto
ás articulações (fig. 16, A).
{Género ScUicorma) Cbenopodl&eeas (pag. 91)
II {Flores dioicas; as masculinas dispostas em pequenos amenti-
Ihos, as femininas solitárias ou geminadas. Caules providos
de bainhas nas articulações. Falso fructo carnudo.
GnetAceas (pag. 42)
12
Flores mias (as espécies indígenas), habitualmente polygamicas.
2 estames. Fructo (samara) com uma aza membranosa. Fo-
lhas caducas, oppostas, imparipinnuladas (íig. 40).
Praxínea* (pag. 239)
Flores com um invólucro floral. Mais de 2 estames. Fructo nao
desenvolvido em aza membranosa. Folhas alternas 13
13
Floração monoica. Flores masculinas dispostas em amentilhos;
as femininas aggregadas 1-4, e com o perigoneo rodeado de
um invólucro de bracteas, apparentando terem dois invólu-
cros floraes. Estames numerosos (3-36). Fructo dehiscente,
drupaceo, fibroso-camudo. Folhas caducas, imparipinnula-
das aaylandeas (pag. 62)
Floração dioica (raras vezes polygamica). 5 estames. Fructo in-
dehiscente 14
14
15
16
"
\
18
XXII
Arbustos ou pequenas arvores com suecos resinosos, aromáti-
cos. Fructo monospermo, pouco carnudo (drupa) (fig. 34).
Folhas pari- ou imparipinnuladas, caducas oa persistentes.
(Género Pistacia) Tereblntliareaii (pag. 220)
Arvores ou arbustos não resinosos nem aromáticos. Fructo pol-
poso, polyspermo (vagem indehiscente). Folhas persistentes
paripinnuladas.
(Género Ceratonia) Cesalpinlâceas (pag. 216)
Folhas acerosas, lineares ou escamiformes: flores nuas. . . 16
Folhas com o limbo desenvolvido; raras vezes lineares (mas en-
tão sempre as flores com um perigoneo) 17
Floração monoica ou dioica. Flores dos dois sexos em amenti-
lhos. Falso fructo composto — pinha ou galbula (esta ultima
com as escamas lenhosas e livres ou cai^nudos e adherentes
apparentando uma baga); falso fructo com mais de uma se-
mente (fig. 1 e 2). Folhas escamiformes ou acerosas, 1-3-ner-
vadas. Arvores ou arbustos ConíferaM (pag. 33)
Floração dioica. Flores masculinas em amentilhos e as femini-
nas solitárias. Falso fructo polposo contendo uma só semente
(fig. 3). Folhas hneares, quasi disticadas. Pequena arvore ou
arbusto Tax.f nea» ([tag. 41)
Floração dioica. Flores com um perigoneo : as masculinas dis-
postas em espigas amentaceas e as femininas em capítulos glo-
bosos. 4 estamos. Pequenos achenios envolvidos pelos gyno-
phoros carnudos (fig. 15, F, F'). Arvore exótica com suecos
leitosos.
. . [Bt oussonetia papyrifera, Vent.) MoreAceas (pag. 87)
Floração dioica ou monoica. Flores dispostas em amentilhos ou
espigas amentaceas (as dos dois sexos, nas espécies dioicas;
ás vezes só as flores masculinas, nas espécies monoicas). Ar-
vores ou arbustos com as folhas penninervadas ou palminer-
vadas 18
Flores hermaphroditas ou unisexuaes (monoicas ou dioicas)
nunca dispostas em amentilhos nem espigas amentaceas. 23
Floração dioica. Nunca suecos leitosos 19
Floração monoica 20
XXIII
Folhas aromáticas, cheias de pequenas glândulas cirosas ou re-
sinosas. Fructo indehisjente, monospermo (achenio) incluido
nas bracteolas carnudas, accrescentes e glandulosas, seme-
lhando o conjuncto uma drupa (fig. 7). Flores nuas. Âmen-
.Q, tílhos simples ou compostos llyríeeas (pag. 60)
Folhas não aromáticas, nem com o pareuchyma cheio de glân-
dulas cirosas ou resinosas ^ Fructo dehiscente, polyspermo
(uma capsula) (fig. 5, C: fig. 6, D). Flores mias (fig. 5) ou
com um invólucro cupuliforme (fig. 6).
\ Salieíneas^ (pag. 51)
IFructos (samaras ou achenios) collocados na base de bracteas
lenhosas ou membranosas, appárentando o conjuncto uma pe-
quena pinha (fig. 8 e 9) Betal&ceas (pag. 63)
ÍFructos isolados ou grupados, mas não appárentando nunca no
seu conjuncto uma pinha 21
Flores, as de um e outro sexo, dispostas em amentilhos globo-
sos. Achenios muito pequenos, reunidos em grande numero,
intermeados com pellos amarellados, a constituirem um falso
^ J fructo composto globoso (fig . 12). Folhas palmatilobadas . Rhy-
tidoma destacando-se annualmente ás placas.
Platanficeau (pag. 81)
Flores não dispostas em amentilhos globosos. Rhytidoma não se
destacando ás placas 22
Fructos seccos (achenios) volumosos: cada fructo incluido n'um
invólucro de bracteas, aberto {cúpula: fig. 10, F e fig. 11);
ou incluidos 1-3 fructos n'um invólucro fechado e espinhoso,
que semelha um pericarpo dehiscente em 4 válvulas (ouriço:
fig. 10, C) Cupulíferaa (pag. 68)
Fructos seccos (achenios) muito pequenos, envolvidos pelos pe-
rígoneos accrescentes e carnudos, aproximados e comprimi-
82 1 dos os da mesma inflorescencia a constituirem um fructo com-
^ Algumas Saliciruas teem as folhas dentado- glandulosas, mas distin-
goem-se bem das folhas das Myriceas, cujas glândulas existem espalha-
das por todo o parenchyma.
' Vide o Appendice, a pag. 274.
XXIV
22
posto/ carnudo, tuberculoso {sorose: fig. IS, D). Flores de
ambos os sexos em espigas amentáceas (fig. iS, H).
{Género Morus) llorell^cea» (pag. 87)
23
24
Flores (monoicas) incluídas na cavidade carnuda e accresceote
do receptáculo, pyriforme ou sub-globoso (fig. 15, A, B). Ar-
vores com suecos leitosos e folhas desenvolvidas.
{Género Fiem) Horeâcsea* (pag. 87)
Flores não incluídas na cavidade do receptáculo 24
Fructò multilocular, succulento, bacciforme. 10-12 carpellos.
10-30 estames, livres, com as antheras longitudinalmente de-
hiscentes. Arvores ou sub-arbustos, com floração díoica ou
hermaphrodita. Folhas com o limbo desenvolvido.
PliyfolaccAeeas (pag. 96)
Fructo 1-3-4 locular. Estames em numero inferior a 10, ou su-
perior, mas no ultimo caso ou polyadelphos oucomasanthe-
ras dehíseentes por válvulas 25
/ 8 estames, inseridos 4 na garganta e 4 no tubo do perigoneo
I (fig. 19, B). Perigoneo petaloide. Floração hermaphrodita,
dioica ou polygamica. Fructo drupaceo, ou (sempre nas es-
pécies dioicas) um achenio incluído no perigoneo persistente.
Pequenos arbustos ou sub-arbustos, com as folhas desenvol-
vidas ou lineares Dapltneâcea* (pag. 101)
3-5 estames inseridos todos á mesma altura. Perigoneo sepa-
loide ou nullo. Fructo secco incluído no perigoneo maisoa
menos nM)dífícado, ou nas bracteas se provém de flores nuas.
Floração hermaphrodita ou polygamica. Pequenos arbustos e
sub-arbustos (e plantas herbáceas), de «ordinário das proxi-
midades do mar, com o limbo foliar desenvolvido ou linear
(fig. 16) (Parte) Ctaenopodláíceas (pag. 91)
Estames inseridos todos á mesma altura. Fructos não incluidos
no perigoneo, nem nas bracteas accrescentes. Um invólucro
floral. Folhas sempre com o limbo desenvolvido 26
Folhas palmatifendidas. Estames numerosos polyadelphos. FIo-
_ j ração monoica. Fructo capsular, 3-locular.
(Gmm'o Ridnus) Eaplior|ii6ceas (pag. 231)
Folhas inteiras, serradas ou dentadas. Estames livres. ... 27
26
S7
XXV
Folbas caducas 28
Folhas persistentes 30
Floração dioica. Arbustos com os ramos espinescentes e as fo-
lhas inteiras. 5-6 estames. Capsula 3-locular (fig. 37).
88 { .... (Oenero Securinega) Eaptaorbtftceas (pag. 231)
Floração hermaphrodita oupolygamica. Folhas ásperas, serradas
ou dentadas. S estames. Fructo i-locular, monospermo. 29
Floração anterior á folheação. Fructo (samara) plano, orbicular
ou obovado, com uma grande aza marginal foliacea (fig. 13).
29| VlmAceas (pag. 83)
Floração simultânea com a folheação. Fructo drupaceo, pouco
carnudo (fig. 14) Celtídeas (pag. 85)
Folbas oppostas. Floração monoica. 4 estames. Fructo capsu-
30 { lar, com 3 válvulas Bax&ceas (pag. 234)
Folhas alternas 31
9
Antheras dehiscentes por válvulas (fig. 17, C). Perigoneo peta-
loide (branco). Fructo monospermo, drupaceo, não coroado
pelo perigoneo (fíg. 17, A). Floração dioica, hermaphrodita
31 { ou polygamica. Folhas aromáticas. liaurínea» (pag. 97)
Antheras longitudinalmente dehiscentes. Invólucro floral esver-
dinhado, ou verde externamente e amarello internamente.
Folhas não aromáticas. Floração, de ordinário, dioica. . 32
Perigoneo esverdinhado externamente e amarello internamente;
3-4 estames. Fructo drupaceo coroado pelo limbo do perigo-
neo (fig. 18, C), com um só caroço. Arbustos inermes (e
plantas herbáceas) semi-parasitas pelas raizes que se fixam
nas dos vegetaes próximos SantalAeeas (pag. 98)
^{Invólucro floral esverdinbado-amarellado. 4-5 estames. Fructo
drupaceo, 3-4-locular, não coroado pelo limbo do cálice, e
com 2-4' caroços. Arbustos inermes ou com o$ ramos espi-
nescentes, não semi-parasitas (fig. 36, A, B).
{Rhamnus Alatemus^ L.: R, oleoides,L.).
Bftanin&ceas (pag. 226)
XXVI
34
Flores dioicas 34
33] Flores, de ordinário, hermaphroditas, muito menos vezes poly-
gamicas ' 35
Folhas pinnuladas (fig. 34, K). 5 pétalas. 10 estames. Frocto
drupaceo. Arvore introduzida, com suecos cheirando a pi-
menta. . {Género Schinus) TereUintliAcea* (pag. 320)
Folhas lineares, sub-verticilladas (fig. 38). 3-2 pétalas, 3 esta-
mes. Fructo bacciforme. Pequeno arbusto das proximidades
do mar EmpetrAceaii (pag. 235)
^ ( Estames numerosos (em numero superior a 10) 36
I Estames 10, ou em numero inferior 47
Arbustos aphyllos, carnoso-succulentos, com os ramos novos
comprimidos, articulados, vestidos de fasciculos de aculeos.
36 { Baga grande, polposa.
(Género Opuntia) Cacte&ceas (pag. 155)
Plantas folhadas 37
10 pétalas. Cálice 10-partido. 10 foUiculos. Arbusto glabro, suc-
culento.
1
37 { . (Sempervivum arboreum, L.) CraHsulAeeas (pag. 156)
Pétalas e sepalas em numero inferior a 10. Arvores, arbustos
e sub-arbustos não succulentos 38
^ ( Folhas opposlas. Pétalas livres 39
Folhas alternas ' 42
39
40
Estames tri-pentadelphos. Spetalas amarellas. Fructo bacciforme.
Pequeno arbusto (nas espécies herbáceas o fructo é uma ca-
psula) Hyperletiieas (pag. 251)
Estames livres 40
Fructo secco dehiscente (capsula com 3-5*10 válvulas: fíg. 44).
CoroUa muito fugace, branca, vermelha ou amarella (macu-
lada ou não). 5 pétalas. Pequenos arbustos e sub-arbustos (ou
plantas herbáceas) €i»tf neaa (pag. 254)
Fructo carnudo indehiscente, coroado pelos dentes persistentes
do cálice 41
xxvn
41
42
Flores grandes, vermelhas. Fructo volumoso, dividido por um
diaphragma transversal em duas cavidades sobrepostas, des-
eguaes, cada uma d'ellas sub-dividida em diversos comparti-
mentos. Sementes com o tegumento polposo. Arbusto de fo-
lhas caducas CSranaf&ceas (pag. 161)
Corolla branca. Fructo muito menor (fig. 28, A), sem diaphra-
gma transversal. Sementes não polposas. Arbusto muito aro-
mático com as folhas persistentes.
{Género Myrtm) Hyrifieeaii (pag. 1S7)
Estamos com os filetes todos concrescentes em um tubo que na
base inclue o ovário. 5 pétalas, quasi sempre reunidas pelas
unhas com a columna estaminifera. Achenios numerosos, ver-
ticillados em redor do eixo central do receptáculo (as espé-
cies indígenas). Arbustos (ou plantas herbáceas).
Mal^âceau (pag. 240)
Estames com os filetes largos, reunidos aos grupos fpolyadel-
phos) (fig. 42). Fructo grande, niultilocular, baccifonne, sue-
culento. 5 pétalas livres 'ituranclílceaa (pag. 246)
Estames livres. 43
Pétalas concrescentes formando uma corolla tubulosa (raras ve-
zes livres ou nullas). Fructo uma vagem. Arvores introduzi-
das, inermes ou com espinhos estipulares.
BUmoMáLcea» (pag. 218)
Pétalas livres. Fructo nunca uma vagem 44
4 pétalas. Ovário inserido sobre um supporte muito comprido.
Arbustos quasi sempre com as estipulas transformadas em es-
pinhos curtos, persistentes, curvos.
{Género Capparis) Ca|iparí<lea« (pag. 262)
5 pétalas. Pistillo incluído ou não no tubo do cálice, mas nunca
longamente pedicellado 45
1 Cálice caduco. 1 só carpello livre. 1 estylete. Fructo drupaceo,
carnudo ou fibroso-coriaceo (fig. 31). Arvores ou arbustos.
45^ Amygdal&ceaii (fíg. 179)
Cálice persistente em redor do fructo ou sobre o fructo. Oe or-
dinário mais de um carpello 46
43
44
1-5 carpellos, inclusos no tubo do cálice, adherentes a elle e
entre si, originando este conjuncto um fructo carnudo coroado
pelo limbo persistente do cálice (fig. 29, A, E, N). i-3 es-
tyletes. Arvores ou arbustos. . . . PomUcea* (pag. 162)
46 { Carpellos numerosos, livres, produzindo outros fructos distin-
clos, seccos ou carnudos (ás vezes um pou^^o adherentes en-
tre si — fíubus — fig. 30, E; ou incluidos no tubo, mas então
livres — fíosa—^g. 30, B, C). Estyletes numerosos. Arbus-
tos (ou plantas herbáceas) llofiâcea« (pag. 171)
, - j Gorolla gamopetala 48
Corolla dialypetala 57
Estames (8-10) em numero duplo do das divisões da corolla 49
48 1 Estames (5-4-2) em numero egual ao das divisões da corolla,
ou menor 80
Ovário adherente ao tubo do cálice. Fructo uma baga. Arbustos
e sub-arbustos com as folhas alternas (fig. 21).
Vacclnlilceas (pag. 112)
Ovário livre. Fructo capsular ou carnudo (bacciforme). Peque-
nas arvores, arbustos e sub-arbustos com as folhas alternas
ou verticitladas (fig. 22) Eric6eeas (pag. 113)
2 estames 51
50^ 4 estames 53
5 estames 54
Corolla com 4 divisões, regular (fig. 24). Fructo carnudo (bac-
p.. J ciforme ou drupaceo) ou secco e dehiscente (Capsula). Arvo-
res ou arbustos Oleâceas (pag. 143)
Corolla com 5-8 divisões, regular ou bilabiada 52
Fructo carnudo, globoso. Corolla regular. Arbustos levantados
ou trepadores ^iasmtiiileeaii (pag. 148)
Fructo secco (um tetrachenio). Corolla bilabiada. Pequeno ar-
busto {Género Rosmarinus) liaUladas (pag. 124)
Estylete central, basilar, geralmente bifendido. Fructo consti-
tuido por 4 achenios ou por 4 pequenas drupas. Pequenos ar-
bustos ou sub-arbustos (ou plantas herbáceas) (fig. 23).
53( (Parte) I«ap»ladas (pag. 124)
49
52
XXIX
53 j Estylete simples terminal. Fructo (nas espécies enumeradas) um
f diachenio ou drupaceo. Arbustos (ou plantas herbáceas).
\ Terlieií&eea» (pag. 122)
54
55
I
1
Folhas alternas 55
Folhas opposlas ou verticilladas v 56
Fructo (nas espécies lenhosas indigenas) carnudo e polyspermo.
Arbustos e sub-arbustos (e plantas herbáceas).
... % Solanftceaii (pag. 140)
Fructo membranoso, indehiscente^-monospermo. Arbusto com
as folhas carnosas e os ramos floriferos aphyllos.
. . . {Género Limoniastrum) PlumliavíneaM (pag. 120)
Fructo carnudo (baga ou drupa). Ovário adherente ao tubo do
cálice (fig. 20). Arbustos e sub-arbustos (raras vezes plantas
56 1 herbáceas) . : Ijonlcer&cea» (pag. 106)
/Fruetos seccos, dehiscentes (foUiculos). Ovário livre. Arbustos
' (ou plantas herbáceas) Apocynftceas (pag. 142)
>
Arbustos com as folhas escamiformes, verdes, apertadas, muito
semelhantes no aspecto ás dos cyprestes (fig. 43). Flores pe-
quenas, rosadas, em espigas paniculadas. 5 pétalas. 5-10 es-
57 { tames, mais ou menos monadelphos na base.
Vamarlscíneas (pag. 252)
Arvores ou arbustos com as folhas desenvolvidas não escami-
formes 58
^j Estames em numero egual ao das pétalas 59
1 Estames em numero duplo, ou quasi duplo do das pétalas. . 67
Arbustos sarmentosos, trepadores ou rastejantes. Folhas alter-
„P . nas, palminervadas e muitas vezes palmatilobadas 60
Arvores ou arbustos não sarmentosos, nem trepadores nem ras-
tejantes.. 61
Gavinhas. Folhas caducas. luflorescencia em cacho composto.
A^ . (Género Vitis) Ampelídeas (pag. 243)
Raízes adventieias (fig. 25). Folhas persistentes. Inflorescencia
em umbella Araliálceas (pag. 151)
XXX
Folhas pinnoladas. 5 pétalas. Pequena drupa quasi secca (fig.
g.J 34, F, H). Arbusto.
(Género Rhus) Vereblntbacseas (pag. 220)
Folhas simples 62
Fructo secco (um diachenio). Flores umbelladas. Pequenos ar-
62 [ bustos . . {Género Bupleurum) tJiiil»ellírera« (pag. 149)
Fructo mais ou menos carnudo 63
Folhas persistentes, lustrosas, fortemente dentado-espinhosas, ou
^«.j inteiras e terminadas n*um espinho (fig. 36). 4 pétalas. Pe-
quena aiTore ou arbusto Ilicínea» (pag. 225)
Folhas caducas. Arbustos : 64
6 pétalas e 6 sepalas, umas e outras em dois verticillos alternos, #
por forma que as pétalas parecem oppostas ás sepalas. Flores
64 { amarellas. Folhas serradas, algumas transformadas em espi-
nhos, simples ou 3-5-partidos . Berl>eridcaii (pag. 264)
4-5 pétalas 6B
Folhas oppostas. 4 pétalas (fig. 26). Arbusto inerme.
65 { Cornuâcea» (pag. 153)
Folhas alternas. 5 pétalas 66
Folhas palmatilobada^ (fig. 27). Baga polposa^ coroada pelo cá-
lice marcescente. Arbustos com acíileos fortes (ou inermes).
Bll>effil4lceafi (pag. 154)
66 ( Folhas inteiras ou crenadas. Fructo carnudo não coroado pelo
cálice. Arbustos inermes ou com aculeos estipulares.
{fíhamnus Frangula, L.: género Zizyphus)^
BlianinálceaM (pag. 226)
^_ i Fructo alado-membranoso (samara) 68
Fructo nunca uma samara. Arvores introduzidas 6&
Folhas pinnuladas. 2-5 samaras. 5 pétalas. 10 estames: Arvore
introduzida Slmariíiilieas (pag. 224)
^^ 1 Folhas palmatilobadas (fíg. 39). Dupla samara. 5 pétalas (me-
nos vezes 4-9). Estames 8 (muito raras vezes 4-12). Arvo-
res ou arbustos espontâneos ou cultivados.
Acerf mea» (pag. 236)
XXXI
69
Folhas digitadas. Capsula com 2-3 válvulas espessas, coríaceasy
espinhosas. 4-5 pétalas. 7 estames (menos vezes 6-8).
Hippo€^a»taneas (pag. 241)
Folhas 1-2 pinnuladas. Fructo indehiscente 70
70
Arvore espinhosa. Vagem indehiscente, coríacea ou sub-carnosa.
3-5 pétalas. 6-10 estames livres.
{Género Gleditschia) Cesalpiniáieeaa (pag. 216)
Arvore inerme. Fructo dnipaceo (fig. 41). 5 pétalas. 10 esta-
mes concrescentes pelos filetes n'um longo tubo. Flores azu-
ladas Meltâcea» (pag. 244)
-.•R
PARTE II
DE UMA
FLOEA LENHOSA POETUGUEZA
DIVISÃO I
GYMNOSPERMAS
Classe I.— Gymnospermas
Flores unisexuaes, dispostas em amentilhos. Óvulos nús»
não incluidos n'nm ovário. Sementes nmica fechadas n'um
verdadeiro pericarpo, mas rodeadas de diversos órgãos ac-
crescentes constituindo o conjuncto falsos fructos (pinhas,
galbulas, pseudo-bagas, etc.) Embryão di-polycotyledoneo.
Família I.— CONÍFERAS, Endl.
Flores monoicas ou dioicas, as de ambos os sexos mias
e dispostas em amentilhos ^ Estames com o connectivo di-
latado, ás vezes em forma de escudo, e os loculos da aa-
thera collocados na face inferior (2 ou mais). Carpellos aber-
tos, supportando 1 -muitos óvulos. Falso fructo composto
formado pelas escamas carpellares e ás vezes também pe-
las bracteas accrescentes, lenhoso e dehiscente (pinha ou
<
1 Alguns auetores consideram estes amentilhos como uma só ilór,
enjo eixo se desenyolveu muito.
c 8. — ^v. IL 3
34 CONÍFERAS
galbula), ou carnudo e indebiscente pela adherencia das es-
camas (galbula carnuda). Sementes com endosperma abun-
dante e com o tegumento coriaceo ou lenhoso, aladas ou
apteras; embrylo recto. — Arvores ou arbustos de folhas
persistentes (as espécies indígenas), simples, acerosas, 1-3
nervadas, ou escamiformes : oppostas, fasciculadas ou al-
ternas. Madeiras sem yasos abertos (excepto no estojo me-
duUar), mais oi^ menos resinosas.
>
^
Folhas alongadas (agtUhas) reunidas em muito pequenos grupo;
(duas nas espécies iudigenas) n*uma bainha membranosa (íig.
1, H). Pinhas com as escamas persistentes e lenhosas (fig. i,
1 { A, C, E). Ramificação verticillada Plnnii. (pag. ^)
Folhas escamiformes (fig. 2, M, V), ou acerosas não reunidas
em bainha membranosa (iig. 2, R). Galbula lenhosa ou car-
nuda. Ramificação irre|;ailar 2
Galbula dehiscent«, lenhosa (fig. 2, I, K, N). Sementes muito
^ i numerosas Cupressun. (pag. 37)
jGalbula indebiscente, carnuda (fig. 2, R), 3 sementes, quasi sem-
pre «ionlperas* (pag. 38}
Pinus, Spach. — Pinheiro, — Floração monoica. Estames
com o connectivo prolongado em lamina escamiforme; an-
theras biloculares longitudfaiabnente dehiscentes ; amentilhos
masculinos agglomerados na base do rebeâto annual. Esca-
mas carpellares biovuladas; amentilbos femininos muito pe-
quenos, axillares, solitários, oppostos ou verticillídos, no
cimo dos rebentos, sob o botão terminal. Pinbas com as es-
camas persistentes, lenhosas, engrossadas na extremidade a
constituir uma espécie de escudo, ás vezes pyramidal. Sémen- .
tes com uma aza membranosa. Maturação bi-triennal. Folhas
de duas naturezas : umas escamiformes, outras muito alon-
gadas (agulhas) reunidas aos grupos n'uma bainba mem-
branosa (geminadas nas espécies indígenas, fig. 1, H). Ra-
coníferas 35
mifícaçSo verticillada. Arvores de grandes dimensões, mailo
Rg. 1.—^; Pinha do Pmus Pinea, L. (2:3). B : semente (1:1). C : Pinha
do Pinta haUpemU, MUI. (2:3). D: semente (!;l). E: Pinha do JH-
nui Pituuter, Alt, var. aeutuquama, Bss. (2:3). F: semente (1:1). H:
Folhas geminadas do Ptntu Í^niai, L. (1:1).
3*
36
coníferas
l Sementes grandes (16-20 mill.) com a aza muito peqaena e
muito caduca (fig. 1, B), comestíveis^ com o tegumento duro
(pinhões durazios) ou delgado e frágil (pinhõfs moUares).
Pinhas grandes, mais ou menos globosas, obtusas (fig. i, A),
quasi sesseis, horisontaes ou viradas para baixo. Matura^
triennal. Agulhas rígidas. Arvore de grande porte, às veies
com as pemades robustas e os ramos levantados no cimo to-
mando a copa o aspecto de umbella. Fl. em fevereiro^ mar-
ço. Vulgar, sobretudo na região littoral ao sul do Tejo.—Pi'
nheiro manso ou ptnWro negro P. Flne«« Ei.
Sementes pequenas (7-10 mill.) com a aza membranosa maior
do que ellas (4-5 vezes maior, fig. 1, F, D). Pinhas oblongo
cónicas. Copa não em umbella 2
/
\
Pinhas quasi sesseis, agudas, voltadas para baixo (fig. 1, £) com
as escamas terminadas em escudos muito proeminentes, trans-
versalmente aquilhados, e tendo no centro uma saliência có-
nica mucronada ^ Semente (penisco) com a aza fosca, tendo
um dos bordos recto e o outro convexo (fig. 1, F). Maturação
biennal. Agulhas rígidas, verde-retintas, comprídas (10-20
cent.) Arvore de grande porte. Fl. em março. Muito vtãgar,
sobretudo na região norte, no littoral e nos pontos de maior
, humidade atmospherica.— Pinheiro bravo{P. marítima, iBrot.
non Lam,) P»Pina«fer»Ait.Y.acatl«q[iiama*BM«
Pinhas pedunculadas: pedúnculo grosso com 1-2 cent. de com-
prido (fig. 1, C). Pinhas constantemente voltadas para baixo,
agudas, com o escudo das escamas rhomboidal, quasi plano,
fracamente aquilhado e com uma pequena saliência central
obtusa. Semente com a aza amarellada, tendo os bordos qaâsi
parallelos (fig. 1, D). Maturação biennal. Agulhas molles,ver-
de-claras, estreitas e curtas (5-10 cent. de comprido). Ar-
vore de menor porte que a anterior. FL em março. Culti-
vada com frequência, principalmente como arvore de orna-
mento. — Pinheiro d*Alepo, pinheiro de Jerusalém.
« P. Halepensla» Mill-
1 Nunca vimos, nem temos nenhuma noticia de que exista em Por-
tugal, a v» obtusisqtMma, Bss. (P. maritima. Iam., nonBrot.), que se dis-
CONÍFERAS 37
Cnpressus, Tourn. — Cypreste. — Floração monoica. Esta-
mes com o filete curto e o connectivo dilatado em forma
de escudo; autheras com 3-4 loculos, longitudinalmente de-
hiscentes. Amentilhos masculinos muito pequenos, cylindri-
cos, terminaes. Amentilhos femininos solitários^ terminaes,
qaasi globosos, com 6-12 escamas multi-ovuladas, produ-
zindo uma galbula sub-globosa, com as escamas opposto-
cruzadas, lenhosas, terminadas em escudos tetra-hexago-
naes proemmentes no centro, e que se entreabrem para a
disseminação (Qg. 2, 1, K). Sementes com azasmembrano-
sas lateraes, estreitas (fig. 2, L). Maturação biennal. Árvo-
res de primeira grandeza (as espécies enumeradas), com
as folhas escamiformes, estreitamente imbricadas, cobrin-
do de todo os ramos (fig. 2, M). Ramificação irregular.
Galbula pequena (iO-iS mill. de diâmetro), glauca, com as es-
camas fortemente mncronadas (fig. 2, N). Ramos abertos para
os lados, diffasos. Folhas glaucas. Fi. na primavera, Origi*
1 { nario do Himalaya i, cultivado no Bussaco e noutros pontas.
— Cedro do Bussaco C slawca» liam.
Galbula grande (30-40 mill. de diâmetro), com as escamas
muito menos proeminentes. Folhas verdes 2
í Copa aberta para os lados, um pouco diffusa. Galbula sob-glo-
bosa, com as escamas bastante convexas externamente (fig.
2, 1). Fl, na primavera. Originário de Creta e da Pérsia^ e
bastante cultivado em Portugal. — Cedro Bastardo.
ۥ liorlBontalISt mil.
Copa aguda, conico-alongada ou fiísifonne; ramos levantados.
Galbula globosa ou ovóide com as escamas, ás vezes, muito
pouco convexas no exterior. Fl, na primavera. Originário
da Ásia e muito cultivado em Portugal. — Cypreste.
€• •emperi^irens eu Ma»
tÍDgue em ter o escudo das escamas menos proeminente, troncado no
eimo, eom a saliência central obtusa.
^ O Cedro do Bussaco suppunha-se originário de Goa ; foi o sr. dr.
Jolio A. Henriques, que demonstrou a sua verdadeira origem {BoUetun
da Soe. Broterianay m, 1884).
38 CONÍFERAS
lonipenu, L. — Znrdfro. — FlOTaçSo díoica, oa moaoica.
Amentilhos pequenos, solitários, axillares ou temúDaes.
Ameotilhos masculinos ovóides (Sg. 3, O); estames am o
filete curto e o coimectivo grande, em Tórma de escudo,
orbicular; anUieras com 3-4 locolos longitudinalmente de-
ih.l Ú
Flg.!.— f:GaltmladoCuprMnuAomoitti>Jú,Mill.(l:l).£: a mesma de-
pois de aberUnaluraimente.L: a»eiiieDte(l:l). A:Itainocúin folhai
do Cvpreuvt horii<mtalit,TSi\\. (1:1). JV: Galbula do Ci^ettui ^auM}
Lam. (1 : 1). O : Ameutilho masculino do Junipenu communii, h. {i'-i)-
P: Galbula carnuda do Juniperut eommunit, L., cortada transversal'
neote deixando vâr aa sementes (1:1). R ■ Ramo fnictiíero do /mi-
ptna eommuni», L. (1:1). S: Pa^na inferior da folha do tuniptnt
rammiinú, L., com uma risca branca (1:1). T: Pagina inferior da fo-
Iba do Juniperut Ojycedrut, L , com duas riscas brancas (1 :!). ¥'■ Bi-
mo do Juniptrut phoenieea, h., com folhas escamiformes (1:1).
CONÍFERAS
39
hiscmtes. Amentílhos femininos com as escamas inferiores
estéreis, e as superiores férteis, quasi sempre 1-oyuIadas.
Galbola formada pelas escamas carnudas e soldadas entre
si, indebiscente, mais ou menos globosa, com o aspecto de
uma baga, e contendo, de ordinário, três sementes angu-
losas (ãg. 2, P). Maturação geralmente biennal. Pequenas
arvores ou arbustos com as folhas acerosas, 3-nervadas,
Terticillado-ternadas, ou escamiformes imbricadas. Ramifi-
cação irregular.
Folhas de duas naturezas : umas essamiformes, imbricadas, con-
stituindo ás vezes toda a folhagem dos ramos, que por ellas
ficam escondidos (fig. 2, V), outras acerosas e picantes, que
i( só apparecem nos primeiros annos, ou raras vezes depois.
Botões nús 2
Folhas todas acerosas, qnasi espinescentes, articuladas, verti-
eillado-temadas (fig. 2, R). Botões escamosos 3
2
Galbulas vermelhas, lustrosas, sub-globosas. Grande arbusto.
FL em fevereiro a março. Terrenos arenosos e soltos, princi-
palmente do littoral : Estremadura, Algarve, etc, — Sabina da
praia «i. pltocnlcea» Ki*
Galbulas ovóides. Pequeno arbusto com o tronco prostra-
• do. Cabo de S. Vicente {segundo o herbario de Wel-
witsch) w. oopliora» Kse. (como esp.)
Galbulas negro-azuladas, cobertas de efflorescencia glauca, sub-
globosas, pequenas. Arbusto ou pequena arvore. J^. em abriL
Cidt. (l)'-Sabina «• Mblna* li*
I Folh^ muito espinescentes com duas riscas longitudinaes es-
I branquiçadas na pagina inferior (só verdes nos bordos e na
linha média, fig. 2, T), abertas para os lados. Galbulas aver-
melhadas, pequenas (7-9 mill. de diâmetro), lustrosas, sem
efflorescencia. Arbusto, j^. em março^ abril. Frequente na
Estremadura^ Alemtgo, etc. — Oxycedro^ cedro de Hespa-
nha J« Ox j-cedrus» I^*
40 CONÍFERAS
Galbulas sub-globosas, grandes (10-15 mill. de diâmetro)
umbilieadas na base, arrniTado-escuraSy com efflores-
ceneia muito ténue. Arbusto, fl. em março. Areiag ao ml
do TejOy etc. . ▼• amliilicMite* CMkir. (como esp.]
Galbulas ovóides ou quasi pyríformes, no cimo trisulcadas
e trícornes, vermelho-escuras, com efflorescencia glauca.
»/ Arbusto. F/. em março. Areias aoiul do Tejo (segunde
o herb. di Welw.)
▼• maeroearpa* SiMli* (como esp.)
Folhas com uma risca esbranquiçada^ larga, na pagina inferior
(só verdes nos bordos, fig. 2, S), espinescentes, rectas, muita
abertas para os lados. Galbulas negro-azuladas, com efflores-
cencia glauca, menores do que as folhas. Arbusto ou pequem
arvore. Fl. em ahrily maio. Traz-os-Montes, etc, — Zimbro.
#• oommiiiais» !*•
Pequeno arbusto com o tronco e os ramos prostrados, muito
tufudo. Galbulas do tamanho das folhas. Folhas curvas,
aproximadas, encostadas aos ramos, muito pouco e^-
nescentes, prateadas na pagina inferior. Fl. em jmAo,
julho. Grandes altitudes da Serra da Estretla, e do Ge-
rez. — Zimbro rasteiro, ^ v.naiiA* !;¥• (como e^.)
1 As variedades que descrevemos n'este género sito consideradas pe-
los próprios auctores, e por muitos outros (entre elles Willkomm, 1. c.)
como espécies distinctas. NSo acceitftmos esse modo de vôr, porque as
principaes distincçOes s2o baseadas na forma dos fructos, que nos pa-
recem bastante polymorphos n'este género (já Welwitsch tinha notado
no Juniperus que encontrou em Coina — /. maerocarpa — fructos uns
pyriíormes e outros globosos nos mesmos ramos); ou são differenças
baseadas sobre o porte (/. oophora e /. nana), que attrlbuimos apenas
As diversas condições do habitat.
Família n.—TÃXmEAS, EaAl.
. Flores unisexaaes, nuas: as de nm e outro sexo dispos-
tas em amentilbos, pequenos, solitários, asillares. Ameuti-
Ihos masculiQos (flg. 3, A) com um invólucro, na base, de
escamas estéreis opposto-cruzadas; estames.com o filete
curto e o connectivo muito grande, em forma de escudo ;
autheras com 5-8 loculos, longitudinalmeute debisceates.
Fig. 3. — Taiau baeeata, L. A: ramo mageuliao (1:1). B : faiso ftncto
(semente e arillo). C: o mesmo cortado longitudiiiatmeDte(aagmen-
Udo).
Amentilbos femininos com as escamas todas estéreis, ex-
cepto a do cimo, e produzindo por isso uma única semente.
Semente com o endosperma abundante e o tegumento ósseo,
eoTOlvida por um arillo carnudo, que tem quasi o aspecto de
mna cúpula (fíg. 3, B, C). Arvores ou arbustos com a ra-
mificação irregular, e as folbas alternas, ou qnasi distica-
das, persistentes. Plantas tíio resinosas, ou muito pouco
42 GNETÁGEAS
«
resinosas. Madeira sem vasos abertos (excepto no estojo
medullar).
Taxus, L. — Teixo. — Caracteres da familia. Plantas (Uoi-
cas. Maturação annual.
Pequena arvore ou arbusto com as folhas quasi disticadas, li-
neares, acuminadas, Terde-negras na pagina superior, verde-
claras na pagina inferior. Falso fructo escarlate, polposo. Fl.
em abril e maio. Nat montanhaâ das nossas províncias do nor-
te.— Teixo T« iMicoata* L.
Família m.— ONETÁCEAS, Endl.
Flores unisexuaes> monoicas on dioícas; as mascidinas
dispostas em amentilhos, formados de bracteas opposto-
cruzadas e de estames monadelphos com as antheras 24
loculares» dehiscentes por poros terminaes; as flores femi-
ninas solitárias ou geminadas envolvidas por bracteas es-
téreis, que se tornam depois carnudas e accrescentes seme-
lhando o conjuncto um fructo carnudo. Óvulos com o te-
gumento prolongado junto ao micropylo n'um tubo dilatado
no extremo, apparentando um estylete e um estigma. Se-
mentes com o endosperma carnudo e o embryão recto. Ma-
deira com vasos abertos.
Ephedra, L. — Comicabra. — Flores dioicas. Amentilbos
masculinos pequenos, ovóides ou globosos, com uma flor
solitária na axilla de cada bractea. Plantas arbustivas m
m
sub-arbustivas, sem folhas verdes, com os ramos delgados,
verdes, articulados, quasi sempre estriados, providos de
bainhas membranosas nas articulações, como as CacaUi'
6NETÁCEAS
43
nhãs (Equisetumjy devidas á coDcrescencia de duas folhas
escaríosas, oppostas.
Planta muito frágil, com os amentilhos masculinos sesseis nos
articulos e as flores femininas soljtarías, quasi sesseis. Se-
mentes cjlindricas, sulcadas. Fl. na primavera. Sebes marí-
timas do Algarve. — Camieahra (£. distachya^ BroL, non
L.) B. f)ragtli0» Desf*
\ '
DIVISÃO n
ANGIOSPERMAS
OyoIos incluídos n'mn ovário. Sementes fechadas n'um
verdadeiro pericarpo.
Classe II.— lonocotyledoneas
Embryao monocotyledoneo. Caule homogéneo, sem a cas-
ca bem distincta, com os feixes fibro-vascidares não dispos-
tos em camadas concêntricas, mas dispersos no meio do
tecido cellular, de modo que um corte transversal apre-
senta uma superficie pontuada, mais ou menos regular,
sem distincção de zonas annulares. Invólucro floral peta-
loide ou sepaloide (muitas vezes com 3-6 divisões dispos-
tas em 1-2 cyclos), ou nuUo, ás vezes substituído por se-
das ou escamas.
Esta classe contém um grande numero de espécies in-
dígenas, mas sao quasi todas herbáceas, e das pouquíssi-
mas lenhosas que existem só uma — a Palmeira anã — tem
alguma importância.
46 SMILAGEAS
Família IV.— SMILAGEAS, Endl.
Flores regulares, hermapbroditas ou dioicas. Perígoneo
persistente'ou caduco, petaloide com 4-6-8-10 divisões, dis-
postas em dois cyclos, livres ou adherentes. Estames inse-
ridos no perigoneo ou no disco do receptáculo, em numero
egual ou inferior em metade ao das divisões perigonaes ; an-
theras bi-loculares, introrsas. Ovário livre, superior; esty-
letes 3, quasi sempre soldados. Fructo bacciforme, tri-lo-
cular. Sementes sub-globosas com tegumento membranoso
e albumen carnudo; embryão pequeno. Folhas inteiras, al-
ternas ou verticilladas. Plantas herbáceas perennes ou le-
nhosas; as espécies lenhosas indígenas, trepadoras ou le-
vantadas, com aculeos, ou espinescentes, ou espinhosas.
Plantas sarmentosas, trepadoras, com gavinhas. Flores em pa-
niculas axíUares. Folhas cordiformes (ííg. 4, A).
1 { Smilax, (pag. 48)
Plantas levantadas, de pequeno porte, sem gavinhas. Flores so-
litárias ou fasciculadas 2
Folhas reduzidas a escamas membranosas e substituídas por
ramos foliaceos ovado-aguçados, espinescentes, em cuja fac«
superior se desenvolvem as flores (fig. 4, D).
Baaeus. (pag. 46)
Folhas reduzidas a escamas membranosas e substituídas por
ramos lineares íasciculados ou solitários. Plantas espinhosas
ou espiniscentes (fig. 4, F, K, M, I).
(pag. 49)
RusGus, L. — Gilbarbeira. — Floração dioica. Perigoneo
persistente, com 6 divisões; 3 estames monadelphos; es-
tigma mteiro, quasi sessil. Baga vermelha 3-locular, com
os loculos 2-ovulados. Flores esverdinhadas com os pedum-
r
47
Fig. Í.—A: SmOax maurilaniea, Desf. (!:í). B: flores (l:i). C: fru-
etos (1:1). D: Raiuo do Sumiu oculeotui, L. (1:1). B : biiclo (1:1).
F: Ramo do jljpanijrw albia, L. (1:1). fl.' flor (1:1). K: Ramo fru-
cti/ero do Aiparagiàs opA^Uui, L. (1 :!).}(: Rajno do ^. Aorríiíiit, L.
(1:1). /: Ramo do A. aeuíifoliiu, L. (1:1).
^ir
48 SMILACEAS
culos bracteolados, inseridas aa axilla de ama bractea pe-
quena, escariosa, sobre a face superior de ramos desenyol-
yidos lateralmente, foliformes. Folhas escamiformes, muito
pequenas.
Sub-arbusto muito ramoso, com os caules verdes e os ramos
foliformes ovado-aguçados, espinescentes, rígidos. Flores pe-
quenas, solitárias ou geminadas (fig. 4, D, E). Fl. na pri-
mavera e outono. Mnios, campos incultos^ sebes ^ vallados.em
quasi todo o paiz. — GilbarbeirOy herva dos vasculhos.
B« acoleataSf L.
L. — Legação. — Floração dioica. Perigoneo ca-
duco, com 6 divisSes abertas para os lados (fig. 4, B); 6
estames livres. Baga 3-locular, tendo cada loculo uma se-
mente. Plantas sarmentosas, trepadoras, com gavinhas. Flo-
res dispostas em cymeiras paniculadas.
Caule e ramos lenhosos, flexuosos, cheios de aculeos. Folhas
largas, suh-alabardinas ou ovado-lanceoladas, profundamente
cordiformes, lustrosas, com alguns aculeos (íig. 4, A). Flo-
res branco-esverdinhadas, muito cheirosas, dispostas em pa-
niculas terminaes e lateraes; pedicellos maiores o dobro do
que as flores. Bagas grandes, negras quando maduras (fig.
4, C). Fl, em setembro^ outubro. Sebes, etc. em quasi todo o
paiz. — Legação f alegra-campo^ ou salsaparrilha do reino^.
II* mauritanicm* Desf*
1 Acreditamos que a S. mauritanica, Desf., é synonyma da S. áspera^
Brot. (Flor. Lus.), non L., porque emquanto a S. mauritanica, Desf., é
muito frequente em Portugal, em parte nenhuma encontrámos, nem
nos consta que ninguém tenha encontrado, a Terdadeira S. aipra,L.;
á primeira se referia pois o nosso illustre hotanico. De resto, não será
muito para admirar que a espécie linneana, commum a toda a zona
mediterrânea, yenha também a apparecer em Portugal; distingue-ae,
sobretudo, em ter os pedicellos do tamanho das flores, e nfio o dohro
maiores, em ter as folhas com maior numero de aculeos, e os frudos
menores e yermelhos, quando maduros.
smilâgeas 49
À Salsaparrilha é uma planta exótica pertencente a este
género; dizem que o rhizoma da espécie indigena pode ter,
em grande parte, os mesmos empregos.
Asparagus, L. — Espargo. — Flores dioicas, ou herma-
phroditas. Perigx)neo campanulado 6-partido, caduco ; 6 es-
tames livres inseridos na base dos segmentos do perigo-
neo; estigma 3-lobado. Baga globosa, negra nas espécies
lenhosas indígenas. Hervas perennes ou pequenos arbustos
muito ramosos, com os caules espinhosos ou inermes ; fo-
lhas escariosas, alternas, escamiformes, apresentando nas
aiillas ramos foliformes lineares, solitários ou fasciculados,
inermes ou espmescentes.
Ramos foliformes molles, inermes, caducos, glaucos, fascicula-
dos 8-13. Caule branco, com espinhos brancos fortes, rectos,
quasi horisontaes (fig. 4, F, H). Flores brancas, hermaphro-
ditas, fasciculadas, muito cheirosas. Fl. em setembro, outU'
bro. Outeiros cakareos e sebes na Estremadura, etc.
A. albaii* li.
Ramos foliformes verdes, rígidos, espinescentes. Caules inermes.
Flores esverdinhadas, dioicas quasi sempre 2
Caule flexuoso, esbranquiçado. Ramos foliformes muito peque-
nos, eguaes, fasciculado-estrellados. Flores solitárias ou ge-
minadas (fig. 4, 1). Fl. em setembro. Terras áridas e sebes na
Estremadura e Atemíejo. -^Espargo menor, espargo silvestre,
ou corruda menor A* acatlfollas» l^*
Caules llexuosos verdes. Ramos foliformes muito robustos e
muito espinescentes. Flores solitárias ou fasciculadas . . 3
Ramos foliformes fasciculados (5-12), muito deseguaes (fig. 4,
K). FL em setembro. Sebes ^ terras seccas; em quasi todo o
paiz. — Corrudd maior, espargo silvestre maior.
A. apli^^llus» li*
Ramos foliformes solitários, ainda maiores que na espécie an-
terior (fig. 4, M). Fl. em setembro, etc. .4. Itorrldiis* Ii«
a s. — ^v. n. 4
1
50 PALMEIRAS
A este género pertence o Espargo hortense (A. offma-
lis, L.), herbáceo, perenne, cultivado em Portugal, e es-
pontâneo ou sub-espontaneo, às vezes, principalmente nas
proximidades das hortas. A esta familia pertence o Dra-
goeiro (Dracaena Draco, L.) arvore cultiva a em alguns jar-
dins.
FamiUa V. --PALMEIRAS, L.
Plantas dioicas ou polygamicas, arbóreas, com o caide
cylindrico, não ramificado, tendo no cimo uma copa (coroa),
formada de folhas lenliosas (frondes). Flores dispostas em
espadices ramosas, que errompem d'entre as bainhas das
folhas, envolvidas por uma folha enrolada em cartacbo
(spatha). Perigoneo com 6 divisões, dispostas em 2 cy-
clos. Estames numerosos, ás vezes monadelphos. Ovário
superior; 3 estyletes adherentes. Drupa, ou baga. Semente
com albumen muito desenvolvido ; embr}'3o pequeno.
Folhas palmatifendidas. Baga com 3-1 sementes.
diamaerops (pag. 50)
Folhas pinnuladas. Drupa monosperma. Pbaenix (pag. 51)
Chamaerops, L. — Palmeira. — Flores polygamo-dioicas.
Espadices envolvidas por 2-4 spathas; 6-9 estames. Ovário
3-locular. Baga 3-monosperma. Folhas palmatifendidas.
Planta habitualmente de muito pequeno porte, com o caule pouco
saído da terra. Peciolos aculeados. Flores amarellas. FI. m
abril e maio. Vulgar no AlgarveK — Palmeira anã, (m ím
vassouras C* liunilIiSp !<•
1 O sr. Daveau encontroa a palmeira anã n'ama estaçãk) muito mais
boreal, na Estremadura, na serra da Arrábida (Revista seientifiea doÂthe-
SALICINKAS 51
Fhoeniz, L. — Tamareira, — Flores dioicas. Espadices en-
volvidas por uma só spatba; 6 estames. Ovário 3-locidar,
mas apenas com mn loculo fértil. Drupa monosperma. Ar-
vores de grande altura, com as folhas pinnuladas.
Gorôa grande, diffiísa; frondes muito compridas. Arvore de
grande porte. Drupa comestível. FL na primavera. Originar
ria da Africa Boreal e cultivada nos jardins, excepto nós re-
giões mais frias. — Tamareira^ palmeira da egreja,
Pb* tf aclylltera» Im
Classe III.— Dicotyledoneas
Embryão dicotyledoneo. Caule com a casca distincta, com
os feixes fibro-vasculares dispostos em camadas concêntri-
cas em reàor da medulla e separados pelos raios medulla-
res.
Sob-dasse I. — Apetalas
Flores nuas ou com um só invólucro floral (escamiforme»
sepaloide ou, menos vezes, petaloide), dispostas, ou, não, em
amentilhos.
Família VI.— SALIOINEAS, L.
Flores dioicas, as masculinas e as femininas dispostas em
amentilhos solitários, inseridos sobre os raminhos do anuo
precedente, quasi sempre lateraes. Uma flor em cada bractea
tieu do Porto, fevereiro de 1885), màs apenas encontroa algmis indivi-
duos isolados, e hoje, em Portugal, ella só abunda e tem verdadeira im-
portância no littoral Algarvio.
4«
52 SAUCLNEAS
dos amentilhos. PerigODeo nullo, reduzido a 1-4 glândulas
(nectarios)> situadas nas escamas dos- amentiitios junto á
base de inserção dos órgãos sexuaes, ou 1 perigoneo cupu-
liforme. Estames 2 ou muitos> com as antheras bilocuiares
longitudinalmente dehiscentes. Ovário livre, com 2 carpel-
los, 1-locular; placentação parietal; estyletes 2, reunidos
só na base ou em toda a sua extensão; 2 estigmas inteiros,
ou fendidos. Capsulas com 2 válvulas (raras vezes 4), que
na dehiscencia se curvam e enrollam para fora (flg. 5, C).
Sementes numerosas, tendo na base pellos felpudos; albu-
men nullo; embryão recto. — Arvores, arbustos, ou sub-ar-
bustos, com as folhas alternas, caducas; estipulas livres, ás
vezes muito pequenas.
Botões com uma só escama. Amentilhos levantados (fíg. 5, A,B),
com as bracteas inteiras (fig. 5, K, I, E, etc). Perigoneo re-
presentado por i-4 glândulas; 2-5 estames (fig. 8, 1, F, K).
Peciolo ordinariamente curto (fig. 5, M, etc.)
Sallx (pag. S2)
Botões com muitas escamas imbricadas. Amentilhos, por fim, pen-
dentes, com as bracteas laciniadas ou dentadas (fíg. 6, E, D).
Perigoneo cupuiiforme; 8-30 estames (fig. 6, E). Peciolo mais
ou menos comprido (fíg. 6, A, B, C). Populns (pag. 57)
Salix, Toum. — Salgueiro. — Botões com uma só escama.
Bracteas dos amentilhos mteiras, celheadas ou não. Perigo-
neo representado por 1-4 glândulas (nectarios). Estames 2-5
com os filetes livres, ou monadelphos. Ovário pedunculado
ou sessil; estyletes alongados, curtos ou quasi nullos; es-
tigmas inteiros, chanfrados ou bifendidos. Amentilhos levan-
tados, ovóides ou cylindricos (fig. 5, A, B). Arvores, arbus-
tos, ou sub-arbustos, com as folhas alongadas^ alternas, ea-
ducas, inteiras ou dentadas.
r
53
IJI
Pig. 5. — A: Amentilhos femininos do Salix atm-cinena, Brot (l:2).
B: Amentilhos masculinos do $. alro-e>n«rea, Brot (1:2). C: Capsula
aberU do S. íahifnlia, Brot. (i:l). D: i mesma, fechada e com a
bractea (2:1). £: Bracteadisòolordo 5. ia(etfoiia,Brot (2:1). F.-Es-
tames do 5. otTo-ánerea, Brot. (3:1). H: Capsula do S. atm-eiaerea,
BroL(2:l). /.■ Estanipsmonadelphos do S.purpurea, L. (2:1). ÍT.-Es-
tames do S. amygdalina. L. (3:1). M: Folha do S. viieUiwi,h. (1:2).
N: Folha do S. babyioniea, L. (1:2). O: Folha do S. talvifolia, Brot.
(1:2). P: Foiha do S. einerea, L. (1:2). Ji: Folha do S. atn-einerta,
BioL (1:2).
1 Folhas, estreitas e compridas (3-10 veies mais compridas do que
laicas). Rebentos flexíveis, afilados, compridos. 2-3 estames.
Capsulas sest^eis ou com pedúnculos muito curtos. Bracieas
dos amentilhos persislenles ou caducas, concolores (amarei-
TÍH
54 SALICINEAS
ladas), ou discolores (amarelladas na bas^, escuras no cimo)
(vinuiroi) : 2
Folhas largas e curtas (o máximo 3-4 vezes mais compridas do
que largas). Ramificação nodosa; rebentos pouco flexiveis.
2 estamos livres. Capsulas pedunculadas. Bracteas dos amen-
tilhos persistentes discolores {salgueiros propriamente ditos) 7
Amentilhos tardios (que apparecem depois das folhas) ou coetâ-
neos (simultâneos com as folhas), implantados já na floração
em pedúnculos folhosos. Bracteas dos amentilhos concolores.
Capsulas glabras. Antheras amarellas 3
Amentilhos precoces (que apparecem antes das folhas), sesseis
durante a floração. Bracteas dos amentilhos discolores. Ca-
psulas cotanilhosas 6
3 estames (fig. 5, K). Bracteas dos amentilhos persistentes, gla-
bras no cimo. Folhas elliptico-lanceoladas, 3-8 vezes mais
compridas do que largas, acuminadas de repente, glabras em
ambas as paginas. Estipulas grandes, semi-cordiformes. Ar-
busto com os rebentos glabros. FL em março e abrU. Abeira
dos rios: Estremadura, Dovro^ etc, — (S. triandra, Brot.)
li* amysdalina» L.
2 estames. Bracteas dos amentilhos caducas 4
Ramos muito compridos e pendentes para o chão. Folhas linear-
lanceoladas, muito compridas (fig. 5, N.), inteiras ou denti-
culadas, longamente acuminadas, glál^ras. Estipulas caducas,
. ] falciforme-lanceoladas. Amentilhos pequenos. Arvore de pe-
queno porte. J^. em janeiro e fevereiro. Originário da Ásia
central e cultivado nos jardins e sttios frescos. — Salgueiro
chorão S. lialiyloiiic«f lá.
Ramos compridos e flexíveis, mas não pendentes para o chão. 5
Folhas adultas glabras (em novas mais ou menos avelludadas),
lanceoladas, 4 vezes, pelo menos, mais compridas do que lar-
gas, dentado-glandulosas, longa e obliquamente acuminadas.
Estipulas semi-cordiformes, acuminadas. Filetes glabros, ou
sópelludos na base; antheras amarello-pallidas. Capsulas agn-
K| das; estigmas bi-fendidos. Arvore com os rebentos glabros e
r
1
6
SALICIMEAS 55
■
que na primavera se desarticulam ao menor choque. FL em
abril. Á beira dos rios, principalmente nas provindas do norte .
— Salgueiro frágil S. fra^ills» li.
Folhas adultas mais ou menos branco-assetinadas nas duas pa-
ginaSy ou pelo menos na pagina inferior, lanceoladas, 5-6 ve-'
zes mais compridas do que largas, dentado-glandulosas» di-
recta e longamente acuminadas. Estipulas muito pequenas,
semi-lanceoladas^ caducas. Filetes pelliltdos até metade; an-
theras amarello-douradas. Capsulas obtusas; estigmas chan-
frados. Arvore com os rebentos pubescentes, esbranquiçados.
Fl, em fevereiro e março. Á beira dos rios, em todo o paiz.
— Salgueiro branco ordinário (^ alba* li.
Rebentos delgados, mais ílexiveí^, com a casca, na prima-
vera, amarello-viva, ou amarello-avermelhada. Folhas
um pouco mais glaucas na pagina inferior, mais estrei-
tas e mais finamente dentadas (fig. 5, H), quasi glabras
em adultas. Cultivado á beira dos rios e nos sitios fres-
cos.— Vimeiro ordinário v* vitelllna* li.
Estames vermelhos, monadelphos em toda a extensão dos file-
tes, parecendo um só estame 4-locular (fig. 5, 1). Folhas lan-
ceoladas, 4-6 vezes mais compridas do que largas, glabras,
acuminadas de repente (a maior largura encontra-se do meio
da folha por diante), com os dentes agudos, nao glandulosos.
Bracteas dos amentilhos com pellos compridos. Estipulas nul-
I las. Arbusto com os rebentos glabros. Fl. em março e abril:
margens do Doufo, etc. — (S. monandra, Brot.)
9. purpúrea* Ij.
Antheras amarellas; 2 estames livres. Folhas lanceoladas, 6-8
vezes mais compridas do que largas, insensivelmente aguça-
das, inteiras ou quasi inteiras, ás vezes um pouco onduladas,
em adultas verde-escuras na pagina superior, pulverulentas
ou avelludadas, e na pagina inferior com muitos pellos asse-
tinados, que lhes dao reflexos prateados. Estipulas lineares,
pequenas, caducas. Bracteas dos amentilhos longamente fel-
pudas. Arbusto com os rebentos cinzento-avelludados. Fl. em
abril e maio. Cultivado á beira dof^ rios e nos sitios húmidos,
principalmente nas provindas do norte. — Vimeiro do norte ou
\ salgueiro francez •• viminall»» I^*
56
SALICINEAS
Rebentos e botões glabros. Folhas ovadas ou ellipticas, 2 Teies
mais compridas do que largas, obliquamente agudas, intei-
ras, crenadas, ou irregularmente onduladas, em adultas^-
bras e verdes na pagina superior, e na pagina inferior ^-
cas, ot acinzentado-cotanilhosas. Estipulas obliquas, renifor-
mes, dentadas, ou nullas. Filetes pelludos na base. Arbusto
ou pequena arvore. Fl. em março e abril ^ fli. c^apre^t L.
Rebentos pubescentes ou avelludados. Botões pelludos ou cota-
nilbosos 8
/ Rebentos pelludos. Folhas largamente lanceoladas, 3-4 vezes
mais compridas do que largas, com a maior largura na me-
tade superior (fig, 5, R), em adultas verdes e glabras, oa
quasi glabras na pagina superior, e na pagina inferior ^aa-
cas, mais ou menos cotanilhosas, inteiras ou irregularmente
onduladas ou crenadas. Estipulas semi-cordiformes, ou snb-
reniformes. Bracteas dos amentilhos com muitos pellos (fig. 5,
F, A, B). Arvore, ás vezes de boas dimensões, ou arbnsto.
fl. em fevereiro e março. A beira do$ rios, fCumagrtmii
'parte do paiz, — Salgueiro preto 9« atro-clnereft» Brot.
Rebentos cinzento-cotanilhosos. Folhas cinzento-cotanilhosasna
pagina inferior, e na superior esverdinhado-acinzentadas, mais
ou menos pubescentes 9
1 Esta espécie é citada por Willkomm {Prodromus Florae Hitpameoi)
como espontânea em Portugal, e no herbario de Welwitsch existe um
exemplar, colhido em Otta, que talvez se lhe possa referir. O género
Salig precisa ainda muito estudado em Portugal; esse estudo lucta com
difficuldades fortes; porque não só é muito grande o polymorphismo das
espécies d'este género, como, em muitos casos, é trabalhoso adquirir
exemplares completos, por estarem os dois sexos em individues dife-
rentes, e em muitas espécies nSo existirem folhas bem desenvolvidas na
occasiâo da floração, e vice-versa. É muito provável que se encontrem
em Portugal mais espécies, além das que enumerámos.
Willkomm (l. c.) dá ainda como existente em toda a Eoit^a, e por-
tanto em Portugal, o Salix repens, L. ; ó imi pequeno sub-arbusto, qoe
não chega a um metro de comprimento, sem nenhuma importância flo-
restal. Não nos referimos a esta espécie porque a temos como muito do>
SALIGINEAS 57
. Folhas ellipticas, ou oblongo-lanceoladas, 2-2 Vs vezes mais
compridas do que largas, agudas ou ás vezes obtusas (fig. 5,
P), inteiras ou ondulado-serradas, na pagina superior esver-
dinhadas, ou acinzentadas, com pubescencia curta, e na in-
ferior cinzento-cotanilhosas. Estipulas reniformes, dentadas.
Filetes dos estames glabros na base. Arbusto ou pequena ar-
vore. FL em fevereiro e março, Á beira dos rios: TraaH>S'
9{ Montes, etc. (Bragança) S« clnerea* li*
Folhas lanceoladas, agudas, 3-4 veze» mais compridas do que
largas (fig. 5, 0), em adultas cotanilhosas em ambas as pa-
ginas, na superior branco-esverdinhadas e na inferior vesti-
das com espesso tomento lanoso, serradas até ábase. Estipu-
las semi-cordiformes. Filetes pelludos na base . Arvore ou ar-
busto. FL em janeiro e fevereiro, Á beira dos rios, frequente,
\ sobretudo, nas províncias do norte. S* sal vifolia» Brol.
Populus.Tonni. — CAotipo.— Escamas dos botões numero-
sas, imbricadas. Amentilbos cylindricos, pendentes, não fo-
lhosos na base. Bractèas dos amentilbos caducas, dentadas
ou laciniadas (fig. 6, D, E). Flores de ambos os sexos com
um invólucro cupuliforme (perigoneo?); as masculinas com
8-12, ou mais, estames livres; as flores femininas com o
ovário sessil, ou muito curtamente pedunculado; estylete
muito curto, ás vezes quasi nullo; 2 estigmas. Capsula com
2-4 valYulas. Arvores dioicas, de grande porte, com as fo-
lhas quasi tao compridas como largas, longamente peciola-
das; peciolos, muitas vezes, comprimidos; estipulas estrei-
tas, membranosas, caducas. Floração precoce (anterior ã fo-
Iheação).
Tidosa para o nosso paiz ; Willkomm accreseenta que ella é rara na Eu-
ropa meriâional; já na Hespanha é pouco vulgar. Em Portugal dever-
8e-hia encontrar a altitudes elevadas, mas nâo temos d'ella noticia nem
de Traz-os-Montes, nem da Estrella, nem do Gerez.
58
Fig. 6.— -4: Folhas do Populut alba, L. (2:3). B: Folha do P.frenwta,
-L. (2:3). C: Folha do i*. nígra, L. (?:3). D : Capsula e bnctei do P.
tremula, L. (muito augmentada). £ ; Flor masculina e l^adea do P-
aSia, L. (muito augmeDtadas).
r
SALIGINEAS 59
Folhas lobadas oa sinuado-crenadas (fig. 6, A, B). Bracteas dos
amentilhos celbeadas (fig. 6, E. D). Casca fendida tarde em
losangos 2
1^ Folhas regularmente dentadas (fig. 6, G), glabras em ambas as
faces. Bracteas dos amentilhos glabras. Rebentos glabros. Bo-
tões glabros e viscosos. Peciolos comprimidos. Casca cedo
fendida longitudinalmente 3
Botões cotanilhosos, não viscosos. Folhas adultas ovadas, irre-
gularmente triangulares ou palmatilobadas, sinuado-dentadas,
verde-escuras na pagina superior, e brancas, cotanilhosas, na
pagina inferior (fig. 6, A). Peciolos arredondados. Bracteas
dos amentilhos serradas (fig. 6, E). Estigmas bifendidos. Ar-
vore de grandes dimensões, com a casca esbranquiçada e os
rebentos brancos, cotanilhosos. Fl. em janeiro a março. Es-
fontaneo e muito cultivado junto aos rios e nos sitios húmidos,
^-Akmo ordinário, branco ou alvar; choupo ou faya bmn-
ca^ P* alba» JL.
i[ Botões glabros, viscosos. Folhas ovado-orbiculares desegual-
mente crenado-dentadas (fig. 6, B), em novas mollemente pu-
bescentes, e em adultas glabras, verdes, não lustrosas, quasi
de egual côr em ambas as paginas; com o peciolo comprido,
delgado, chato no plano perpendicular ao limbo, e por isso
em continuada agitação. Bracteas dos amei^tilhos profunda-
mente incisas (fig. 6, D). Estigmas irregularmente 3-4-loba-
dos. Arvore de pequeno porte, comacascacinzento-esverdi-
nhada. Fl. em fevereiro e março. Espontâneo e cultivado nos
sitios humidosy nas provindas do norte. — Faya preta^ alemo
lybico, choupo tretnedor P* tremula* Ij«
/ Copa fusiforme; ramos levantados contra o tronco e este pro-
longado até ao cimo. Folhas tão compridas como largas, elli-
ptico-triangulares ou rhomboide-ovadas, curtamente acumi-
nadas, serradas desde o cimo até ao meio. Bracteas dos amen-
3 tilhos laceradas. Arvore de grande porte. FL em fevereiro e
• *
1 Em Portugal nâo possuimos a verdadeira Faya {Fagus sUvatica, L.)
e damos impropriamente este nome ao choupo branco e tremedor.
i
60 MYRIGEAS
março. Originário do Oriente, e cultivado (menos que a$ et-
peeies anteriores) nas margens dos cursos de agua e á bnra
das estradas. — Cfcot^, ou alemOfpyramidal ou de Itália.
P. pyramldalls* ■•■•
Copa grande, sub-globosa ou ovóide; ramos abertos, maisoa
menos, para os lados. Folhas tao, ou mais compridas, doqoe
largas 4
I Rebentos cylíndricos. Capsulas com 2 válvulas. Folhas tríaoga-
lar-ovadas, longamente acuminadas, serradas desde o cimo
até á base (fig. 6, C), em novas verde-claras. Bracteas dos
amentilhos laciniadas em pente. Arvore elevada. Fi. emfê'
vereiro e março. Espontâneo e muito cultivado nos sitios hu
midos. — Choupo ordinaí'io ou negro, alemo negro,
P« nigra» L.
Rebentos angulosos, sulcados. Capsulas com 3-4 válvulas. Fo-
lhas triangular-ovadas, curtamente acuminadas, serradas e
um pouco celheadas, pelo menos em novas, avermelhadas na
primeira edade. Bracteas dos amentilhos laciniado-franjadas.
Fl. em março. Originário da America do Norte e um pouco
cultivado, sobretudo ao longo das estradas. — Choupo do Ca-
nadá. (P. canadensis, Desf.) .... P. monlUtera* AiU
Família Vn.— MYKIOEAS, Hioh.
Flores unísexuaes, níias, dispostas em ameotilhos, uma
em cada bractea. Amentilhos levantados, cylindricos os mas-
culinos^ ovóides os femininos. Flores masculinas com 1-2
bracteolas, ou sem nenhuma, e 2-16 estames com as an-
theras extrorsas, biloculares, longitudinaUnente dehiscen-
tes. Flores femminas constituídas por um ovário simples,
unilocular, uniovulado, envolvido por 2-4 l^racteolas adhe-
rentes; 2 estigmas alongados. Fructo secco, indehisceote,
monospermo, incluído nas bracteolas accrescentes, cama-
das, glandulpsas, e por isso com o aspecto de uma dropa.
Sementes sem albumen.
r
HTRICEAS 61
Myrica,' L.— Os mesmos caracteres da familia.— Arbas-
los, ou peqneoas arvores, com a. floração dioica, e com as
Tolhas sem estipulas, alternas, simples, caducas ou persis-
tentes, cheias de pequenas glândulas resinosas ou cirosas.
Fig. t—Mp-ica Faya, Ail. {Ii2)
Amentilhos masculinos simples. Folhas coriaceas, pubescentes
eDi ambas as paginas^ ou pelo menos na iaCerior, lanceolado-
conheadas, cadupas. Pequeno arbusto. Í7. naprimatera. Ter-
renos pantanosos: Estremadura, etc M. Cale» I»
Amentilhos masculinos e remininos compostos. Folhas glabras
em ambas as paginas, ellíptico-ianceoladas (fig. 7), persisten-
tes. Arbusto ou pequena arvore. Fl, em abril e maio. Origi-
naria dos Açores e snb-esponlanea na Estremadura [Pinkat de
Leiria, Cintra), no Algartv {Serra da Picota), etc. — Samoco
ou faya das ilhas H. Pa^a. Alt.
A este género pertencem varias espécies exóticas de qne
se extrahe a cera vegetal.
62 JU6UNDEAS
Família vm.— JUGLANBEAS, DG.i
Floração monoica. Flores masculinas reunidas em amen-
tilhos densos, cylindricos; perigoneo 5-6-lobado, adherente
á bractea-mãe ; 3-36 estames com os filetes curtos e as an- .
theras grandes, biloculares, longitudinalmente dehiscentes.
Flores femininas solitárias, ou reunidas em pequeno numero:
cada uma d^ellas formada de um invólucro 3-4-fendido ou
dentado (resultante da concrescencia da bractea-m3e e das
bracteas lateraes) e de um perigoneo 3-4-fendido, adherente
ao ovário*. Ovário primeiro !-locular e depois incompleta-
mente 2-4-locular; 2 estyletes curtos, estigmas grandes,
curvos, laciniados. 1 só ovulo. Fructo drupaceo, com o pe-
ricarpo fibroso-camudo, dehiscente ; caroço bipartido (noz)
dividido internamente por 2-4 tabiques incompletos. Se-
mente sem albumen, com as cotyledones grandes, oleoso-
camudas, bilobadas, com muitas cavidades. — Arvores com
a medulla dos ramos novos interrompida em discos sobre-
postos que alternam com outras tantas lacunas. Folhas ca-
ducas, alternas, imparipinnuladas, sem estipulas.
Juglans, L. — Nogueira, — Os caracteres da família. Am^-
tilhos masculinos solitários produzidos nos botões axillares
1 Adoptámos em toda esta parte do dosso trabalho a ordem e a no-
menclatura seguidas no Prodromm de Willkomm, o livro hoje mais com-
pleto sobre a flora da península, e a que nos temos sempre principal-
mente cingido ; deslocámos todavia para este ponto a famDia das hr
gUmdms, que Willkomm colloca entre as DialypeUUas, adoptando antes
no estudo das suas afiSnidades, e no modo de comprehender as suas flo-
res, o que diz o sr. Yan Tieghem no Traité de Botaniqve. O sr. Matfaieo,
na Flore Foreetièrey e muitos outros auctores, egnalmente a comprehen-
dem entre as Apetalas,
* No ProdromuB de Willkomm o invólucro exterior das flores femi-
ninas ó considerado como um cálice e o perigoneo como uma corolla.
betulágeas 63
dos raminhos. loflorescencias femininas terminaes no cimo
dos rebentos.
Folhas com 7 a 9^oIioIos grandes, ovado-agudos, inteiros ou
sinuados, coriaceos, glabros. Fmcto ovóide. Arvore medío-
cre, com o tronco grosso e grsoide copa. Casca acinzentada.
Fl. em maio. Originaria da Pérsia e da India^ e muito culti-
vada,— Nogueira • ^. re^la» Ij.
Folhas com 11 a 15 foliolos, lanceolado-acuminados, dentados,
levemente pubescentes. Fructo globoso, diflicilmente dehis-
cente. Arvore com a casca escura. FL na primavera. Origi-
naria da America do Norte^ e cultivada (pouco). — Nogueira
preta Jl« ni^ra* Ij.
A nogueira é principalmente cultivada pelo fructo» ou,
diremos melhor, pela amêndoa da semente; conhecem-se
muitas variações, filhas da cultura, em que a noz diversi-
fica no tamanho, na época da maturação, na dureza da
casca, etc. Esta semente, como todos sabem, é comestível,
e serve para a extraèção de um óleo siccativo próprio para
pintura, para illuminaçSo e diversos usos. A madeira é muito
empregada em marceneria ; soffre bom polido e tem vena-
(ões e ondeados de bello effeito; é dura, homogénea, mais
ou menos acastanhada ou escura; empregam-a bastante
para o fabrico de coronhas de espingardas. A casca, e o in-
vólucro verde da w% s3o muito adstringentes e servem em
tinturaria para o preparo da côr negra.
A nogueira preta é muito pouco cultivada. A sua madeira,
d^ois de secca, tem o cerne preto: é muito estimada e
atoradica.
Família IX.— BETULAOEAS, Endl.
Flores monoicas, as de um e outro sexo dispostas em
amentilhos. Amentilhos masculinos cylindricos, densos, pen-
dentes, formados por escamas peitadas 3-5-lobadas, tendo
64 BETULACEAS
cada uma na axUla 3 flores com um perigoneo 1-4-phylIo
e 2-4 estames. Amentilhos femininos cylindricos, formados
por escamas 3-5-lobadas, persistentes ou caducas, tendo cada
uma na axUIa 2-3 flores nuas ; 1 ovário, bilocular e biova-
lado; 2 estyletes filiformes. Fructos seccos, monospermos
quasi sempre por aborto, indehiscentes, alados ou não, e
que no seu conjunto com as escamas ^ lenhosas ou membra-
nosas assemelham uma pequena pinha. Sementes sem al-
bumen; embryao recto. — Arvores ou arbustos com as fo-
lhas simples, alternas, caducas, com as estipulas também
caducas e floração precoce (anterior á folheação).
Escamas dos amentiliios femininos 3-Iobadas, membranosas, del-
gadas (6g. 8, Q, N), caducas na maturação. 3 fructos em cada
escama, com as azas membranosas e transparentes (fig. 8,
M, P) . .' Betula (pag. 64)
Escamas dos amentilhos femininos lenhosas, persistentes (íig.
9, A), 5-lobadas (fig. 9, B): 2 fructos em cada escama, com
as azas muito estreitas e coriaceas (fig. 9, C).
Alnos (pag. 67)
Betula, Toum. — Vidoeiro. — Perigoneo das flores masculi-
nas monophyllo; 2. estames, com os filetes forquilhados, fi-
cando em cada ramo metade da anthera, e apparentando i
estames com as antheras 1-loculares. Flores femininas sem
perigoneo, collocadas aos grupos de 3 na base de escamas
3-lobadas, accrescentes, menobranosas, delgadas, caducas
(fig. 8, Q, N), apparentando o todo uma pequena pinha (fig.
8, K). Samaras pequenas, comprimidas, lenticulares, com
duas azas lateraes membranosas e transparentes <fig. 8,M,
P). Amentilhos femininos siknultaneos com as folhas e os -
1 As escamas doestes amentilhos resultam da ligaç^ da verdadeira
bractea-mSe com as bracteolas das flores. No género Betula a escama
3-lobada resulta da uniáo de 2 bracteolas lateraes com a bractea-mâe.
No género Âlnus a escama 5-lobada é deyida á concrescencia da bra-
ctea-mãe com 4 bracteolas.
BETULACEAS 65
mascolinos aateríores á folheaçlo. — Arvores ou arbostos
c(Ha as folbas novas e os rebentos impregnados de resina
4
li? W^r
Fig. 8. — /: Folha da Betiãa pubeietnt, Ehrh. (pouco menos que o natu-
ral). K: amentilho feminino (1:1). if .' samara (3:1). ff: escama do
amentilbo feminino (6:1)- 0: Folha ãi Beltãa vermmta, Ebih. (poTi-
«o menos qae o natural). P: samara (3:1). Q: escama do amentilho
femmíoo (3:1).
cheirosa, ás rezes glandulosos. BotSes vestidos com moitas .
escamas imbricadas. Casca branca, esfoliada em pequenas
laminas circulares, papyraceas.
Azas do fmclo prolongadas até ao cimo dos estyletes (fig. 8, P),
maiores do que a semente. Escamas do amentilho feminino
com os lobnlos laloraes maiores do qne o médio, arredoada-
dos e cmros para fora (fig. 8, Q). Folhas angulosas, riiom-
boedaes, cnnheadas na base, acuminadas, duplamente denta-
das (fig. 8, 0), membranosas, com glândulas resiniferas oa
66
pagiiiii inrerior, glabras em adultas. Rebentos vemisoaos,
maito viscosos. Pi. em maio. Serra da Ettrella, do Gera,
ele. — [B. alba, L., ex p.) B. verrKeoMU Eftrk.
Azas do fructo não prolongadas além da base dos estyletes (Gg.
8, H), egiiaes á semente, ou pouco maiores. Escamas d«
ameDlilho femínÍDO com os lóbulos lateraes angulosos, e o ló-
bulo médio mais largo que na espécie anterior (fig. 8, N).
Folhas ovadas ou ovado-rhomboedaes, agudas (não acomini-
das), dentadas (Sg. 8, 1), coriaceas no outono, fortementere-
ticuladas na pagina inferíor, pnbescentes (ás vezes sub-gb-
bras ou mesmo glabras em adultas). Rebentos não Termgo-
SOS, com knticulas. Fl. em nato. Serra da Etíretta, da Ma-
rão, etc.—[B. alba,L., exp.)' B. pHbeacen*. Bbrk.
Fig. 9. — A: Amentilho feminino do Alnu* plutinoio, Glrtn. (i:l)-6:
escama do mesmo amentilbo (3:1). C: semente (3:1). D: uoenliUia
raasenlino (1:1). E: escama do mesmo amentilbo (3:1). F: folha (pou-
co menos que o natural). H: raminho com um botlo pediceIIaâo(l:l)'
1 Podnnot affinnar com segorançA a existência d'estes dois vidoein»
em Portofal; aSrmamol-o lobreoexame oompmtiTO doi exemplais
portugnem com exemplues estrangeirai anlhwtieiH. Mnitiuimo afn-
r
BenjLÀGKÁS 67
Alnns, Tóurn. — Amieiro. — Amentilhos masculinos cylin-
dricos, por fim pendentes (fig. 9, D); flores masculinas com
um perigoneo 4 -partido e 4 estames oppostos, com as an-
theras biloculares. Amentilbos femininos levantados, com
duas flores nuas em cada escama; escamas persistentes,
4-5-lobadas (fig, 9, B), lenhosas depois da anthese, e que
dão ao conjunto ó aspecto de uma pequena pinha ovóide
(fig. 9, Â), primeiro fechada com uma substancia resinosa
e que depois se entreabre para a disseminação. Fructos pe-
quenos, monospenúos, indehiscentes, com aza muito curta
e coriacea (lateral na espécie indígena, fig. 9, C), dois em
cada escama da pinha. Arvores ou arbustos coni a floração
muito precoce (muito anterior ã folheação). Botões com 3
escamas.
Botões pedicellados (fig. 9, H), grandes, ovóides, glabros, vis-
cosos. Folhas obtusas, obovadas oasub-orbioolares (fig. 9, F),
glabras em ambas as paginas, ou pubescentes junto ás ner-
deeemos aos srs. dr. Jalio Henriques e Jules Daveau, que nos alcança-
ram muitos d'es8es exemplares, a sua boa cooperação n'este trabaUio.
Os exemplares da Beíula venruco$a bem authenticamente espontânea,
que vimos, foram colhidos em i848, no Gerez e Estrella, por Welvntsch,
e estáo no herbario da Escola Polytechníca; os exemplares da Betvla
ptibescetn, que conhecemos, sSo da Estrella e do MarSo, e foram colhi-
dos modernamente pelos srs. dr. Júlio Henriques, Batalha Reis e Ri-
cardo da Cunha. Uns e outros foram tirados em arvores adultas.
Os dois vidoeiros eram já indicados em Portugal por Brotero, mas
ultimamente só tem sido encontrado a Biíula pubescens, É muito extra-
ordinário que todos os exemplares de Welwitsch se refiram á BettUa
verrucosa, o que parece indicar ser esta arvore entáo mais cômmum do
q[ue hoje é.
A existência dos dois vidoeiros em Portugal é muito notável; a Be*
háapitbe$eau ó considerada como própria a regi6es mais septentrionaes,
e, segundo a Phra ForetUU do sr. D. Max. Laguna, nSo existe emHes-
panha. Se aproximarmos esta iiregularídade no habitat de uma forma,
colhida no Marfio pelo sr. dr. Júlio Henriques, em que os fructos são
qoasi íntennedios, lembra com mais força reunir antes os deis vidoei-
ros na anfiga espeoie lianeana—- a Bittda à^a.
5*
. I
68 CDPULIFERÂS
vnras na pagina inferior, viscosas, irregularmente dentadas.
Anrore com a casca escm*a, fendida, e os dois sexos re-
unidos n'uma inflorescencia paniculada, ficando os amenti-
Ihos masculinos no cimo. Fl. em fevereiro e março. Á hára
dos rios e sitíos húmidos , nas provindas do norte. — Amieiro.
Am glutlnoMU CArts.
Família X.— OUPULIFSRAS, Rioh.
Floração monoica. Flores masculinas dispostas em amen-
tilhos cylindricos ou globosos-(cylindricos nas espécies in-
digenas), 1-7 flores na axiUa de cada escama; flores com
mn perigoneo 4-5-6-7-dividido, ou com os estames nús in-
seridos nas bracteas do amentilho; estames em numero
egual ao das divisSes do perigoneo ou maior e variaTsl; fi-
letes curtos e forquilhados, ou alongados e simples; anthe-
ras extrorsas, longitudinalmente dehiscentes. Flores femi-
ninas dispostas em inflorescencias cujos eixos muitas yezes
(sempre nas espécies indígenas) ficam rudimentares, e o
maior numero das bracteas ficam estéreis, constituindo mn
invólucro accrescente ás flores férteis (1-3); ou incluídas,
em pequeno numero, no cimo de um botão mixto. Ovário
2-3-6-IocuIar, com outros tantos estyletes, envolvido por i
perigoneo 4-6-8-dividido; locnlos do ovário com 1-2 óvulos.
Invólucro fructifero cupuliforme ou foliaceo, deixando o fro-
cto mais ou menos a descoberto; ou fechado completamente,
com o aspecto de um perícarpo espinhoso, deúscente por
4 válvulas, tendo incluidos 1-2-3 flructos. Fmcto com o pe-
rícarpo delgado e coríaceo, secco, indehiscente, quasí sem-
pre unilocular e monospermo por aborto, com uma larga
cicatriz na base. Sementes sem albumen, com as cotyledo-
nes carnudas, feculentas ou feculento-oleosas ; embryão re-
cto.—Arvores ou arbustos de folhas alternas, simples, ca-
ducas ou persistentes, com estipulas caducas.
r
69
Fig. 10. — A: Ramo Qorifero do Otureu <pedun6ttiatii, Ehrb. (1:2). B:
Ramo florirero do Cattanea vidgarit, Lam. (1 :3}. C: Fnictos e invó-
lucro fechado, dehiscente, do Cattanea vulgarii, Lam. (1:2). D: Ia-
Sorescencia feminina do Coryíut AeêUana, L. — E: flor masculina. —
F: fructo e invólucro foltaceo (1:1).
70 GUPUUFERAS
Amentilhos masculinos levantados (fig. 10, B). Invólucro fracti-
fero incluindo completamente os fructos, fechado, com a forma
de um pericarpo espinhoso, dehiscente por 4 valvnias (fig.
10, C) CMtenea (pag. 80)
Amentilhos masculinos pendentes (6g. 10, A). Invólucro firucti-
fero aberto, nâo incluindo nunca o frncto completamente.. 2
Cúpula lenhosa ou coríacea, formada por muitas bracteas, iner-
me ou espinhosa, e quasi sempre menor do que o ^cto (fig.
11) aueréns (pag. 71)
Cúpula foliacea, constituída por poucas bracteas, carnudas na
base, grandes, irregularmente lobadas, do tamanho do íructo,
ou maiores (fig. 10, F) Corylas (pag. 70)
Corylus, Tourn. — Avelleira. — Amentilhos masculinos cy
lindricos, pendentes, solitários ou fasciculados, terminaes e
aiillares sobre os raminhos do anno anterior, formados no
outono que precede o anno da floração; 4 estames com os
filetes curtos, forquilhados, parecendo 8 estames com os
filetes simples, inseridos na face interna da bractea con-
cava (fig. 10, E). Flores femininas rudimentares na época
da floração e cuja organisação completa só mais tarde se
realisa, fechadas em pequeno numero no cimo de um bo-
tão mixto, que apenas se distingue dos botões folhosos pe-
los estyletes vermelhos salientes (fig. 10, D); ovário 2-lo-
cular, com os loculos 1-ovulados. Fructos geminados ou
agglomerados em maior numero, com o pericarpo lenhoso,
mii-Ioculares por aborto, monospermos, fechados n*um in-
vólucro foliaceo, carnudo na base, aberto no cimo, prolon-
gado em lóbulos irregularmente recortados (fig. 10, F). Co
tyledones oleoso-feculentas. Maturação annual. Arbustos ou
pequenas arvores com as folhas caducas.
Folhas obovado-arredondadas, levemente cordifonnes na base,
acuminadas de repente no cimo, duplamente dentadas. Amen-
tilhos masculinos com a floração muito anterior á folfaeaçio.
Cúpula pouco maior, ou menor, do que o fructo. Arbusto on
CUPUUFERAS 71
pequena arvore com os rebentos erriçados de pellos glandu-
losos, avermelhados. Fl, em fevereiro e março. Espontâneo
sobretudo na região norte e um pouco cultivado. — Avelleira.
ۥ A^vellaiia* li.
Qaercns, Tourn. — Carvalho. — Flores masculinas dispos-
tas em amentilhos delgados, cylíndricos, interrompidos, pen-
dentes, longamente pedunculados, que saem dos botões la-
teraes da extremidade dos raminhos do ultimo anno, fasci-
colados (fig. 10, Â), ou nascem solitários na base dos re-
bentos annuaeSj na axilla das folhas, ou de 2 escamas es-
tipulares caducas; flores masculinas sesseis, solitárias na
axilla de cada bractea, com 1 perigoneo de 4-5-6 divisões
mais ou menos reunidas na base; 4>lã estames salientes.
Flores femininas sesseis, de ordinário inseridas em pequeno
numero n'um eixo levantado, definido, que nasce solitário
na axilla das folhas da extremidade do rebento annúal (fig.
10, A), menos vezes solitárias ou agglomeradas na axilla das
mesmas folhas ; cada flor sosinha n'um invólucro de bracteas
estéreis numerosas, com 1 perigoneo adherente dentado;
ovário inferior 3-Iocular com os loculos bi-ovulados ; 1 esty-
lete e 3 estigmas. Fructo ovóide ou globoso, apiculado no
cimo; invólucro cupuljforme, escamoso^ com as margms
qnasi inteiras (fig. 11), lenhoso; periííarpo coriaceo, del-
gado, geralmente 1-locular e monospermo, por aborto. Co-
tyledones carnudo-feculentas. Maturação annual ou biennal.
—Arvores ou arbustos com as folhas simples, caducas ou
persistentes*
'•T??!
72
CUPDLIFERAS
Fig. 11. — Folhas: A: do Quercu* Taiia, Bosc. — B:áo Q. pedmnailatú,
Ehrh. — C; do 0. «»tiíi;Tora, Salisb. — D: do Q. Ituitantea.Lam.— -
E : do Q. liuitanica, Lam., v. baetiea, Wbb. — F: do Q. hunãit, Lani.
— H; do Q.iiãer,L.~I,K: do Q. Iltx,L.—L: do Q. eoeeíéra, L.
(todas l;2).—Fructos;J/: do Q. pedunculata, Ehrh.— N: io Q. Taiia,
Bosc— O; do Q. ussaiflora, Salisb. — P: do 0. íwiitaniea, Lam.—
0; do Q. huimlii, Lara.— B: do Q. tuber, L.—S: do Q. liex, L.—
T: do 0. coeeifera, L. (todos 2:3).
CUFUUFERAS 73
Folhas caducas (mais cedo ou mais tarde, mas deixando a ar-
vore ou o arbasto despido um certo tempo) 2
Arvores oa arbustos sempre-verdes (folhas persistentes 1-3 an-
nos, mas no primeiro caso só caidiças depois da nova folhea-
çào). Folhas adultas coriaceas, inteiras, dentadas, ou denta-
do-espinhosas (fig. 11, J, K, H, L) 6
Folhas adultas membranosas, mais ou menos profundamente
fendidas ou lobadas (fig. 11,' A, B, C), caducas no ou-
tono 3
Folhas adultas coríaceas, serradas, dentadas ou levemente si-
nuadas, ás vezes espinhosas (fíg. 11, D, E, F): marcescen-
tes no outono ou no inverno, caidiças no inverno ou no prin-
cipio da primavera. Arvores e arbustos muito abundantes em
galhas 5
Folhas adultas com a pagina inferior esbranquiçada, cotanilhoso-
avelludada, e na pagina superior verde-escuras, com alguns
pellos estrellados, pinnatipartidas ou pinnatifendidas, peciola-
das (fig. 11, A). Fructos quasi sempre agglomerados sobre
um pedúnculo axillar recto, levantado, grosso, curto (fig.
11, N), muito menos vezes sub-sesseis. Arvore com muitas
raizes superficiaes, horisontalmente estendidas e produzindo
muitos rebentões. Rhjrtidoma espesso, quasi negro, larga-
mente fendido. Maturação annual. Fl. em abril^ maio. Muito
abundante na Beira montanhosa e Traz-os-Montes . — Carva-
lho negral, carvalho pardo da Beira {Q. pubescens Brot.)
€|. ToBsa* Bose.
Folhas adultas glabras ou levemente pubescentes na pagina in-
ferior» Raizes sem se alargarem horisontalmente, nem pro-
duzirem rebentões 4
/ Fructos inseridos n'um pedúnculo comprido, delgado, quasi sem-
I pre pendente (fíg. 11, M). Folhas sub-sesseis ou com peciolo
muito curto, obovado-oblongas, com a maior largura aos Vt
do comprimento e estreitando pouco a pouco até á base, pin-
natilobadas, ou fundamente sinuadas (fig. 11, B) : herbáceas,
quasi sempre completamente glabras nas duas paginas, verde-
74 CUPUUFERÂS
claras, baças ou pouco lustrosas na pagina superior. Arvore
ás vezes de grande altura. Maturação annnal. FL em abril,
maio. Abundante na região de entre Douro e Minho e emd-
gumas partes da Beira. — Carvalho eommum, carvalho rMe
ou alvarinho {Q. Robur^ a L.: Q. racemosa, Lam, e Brot.)
<!• petfiincalauí* Biirb.
Fructos sesseis, solitários ou agglomerados (fig. 11,0). Folhas;
pecioladas (peciolo egual a Vs ou Vs ào maior diâmetro do
limbo) obovado-oblongas, tendo no meio a maior largura, si-
nuado-lobadas ou pinnatifendidas (fig. 11, C), glabras e lus-
trosas na pagina superior, e mais ou menos pubescentes nai
pagina inferior, pelo menos na axilla das nervuras. Arvore
de maturação annual. Fl, em maio. Raro, apenas encontrado
no Alto Traz-os-Montes (Bragança).
^ Q. semilllflora» SaliA*
^ O Q. sessiliflora, Salisb. (v. gíomeraJta, Lam.) foi por nós encontrado
em Bragança, no anno de 1877, e que nos conste ó d^essa data a pn-
meira menção authentica da existência d'esta arvore em Portugal ; oob-
servamos no nosso herbarío o ramo então colhido. 'Por maneira nenhuma
se deve aproximar, no nosso entender, o Q. sessUiflora, Sdlisb., do Q. ro-
bur, Brot., apezar de lhe coincidir em grande parte a curta diagnose
da Flora Lusit.; e a razão em que nos fundamentamos é que nos arre-
dores de Coimbra, tão explorados na actualidade, e nas localidades
das províncias do norte percorridas por Brotero, nunca se encontroa
o Q. sessUiflora, Salisb., emquanto o Q. robur, Brot., existe ali, segmido
as indicações da Flora Lusit, conjunctamente com o Q. racemosa (Q.
pedtmculata, Ehrh.). Acreditamos que a referencia e a diagnose da Flora
envolvem uma confusão com alguma das variadíssimas formas do Q. lu-
sitanica, Lam., muito vulgar nos sítios apontados, e que é uma das es-
pécies mais polymorphas d'este género tão polymorpho; algumas das
formas, que conhecemos, do Q. lusitanica, Lam., permittem na yerdade
estabelecer esta aproximação e tomam bastante plausível a interpreta-
ção a que nos inclinamos. O próprio Brotero nos fornece ainda um
outro argumento importante a favor d'esta opinião; na lista dos nomes
vulgares portuguezes publicada na sua Botânica chama ao Q. robur
carvalho roble ou carvalho cerquinho; ora o carvalho cerquinho da
Beira é o Q. lusitanica, portanto ainda aqui aproximou e confundiu as
mesmas duas espécies.
O Q. sessiliflora^ Salisb,, pela sua raridade no paiz, é uma curiosidade
botânica, sem nenhuma importância florestal.
GUPULlFfiRAS 75
ÍArvorf , is vezes de grandes dimensões, ou arbusto elevado. Fo-
lhas obovadas t)u ovado-lanceoladas, em muitos casos ondu-
ladas nas margens, arredondadas ou sub-cordiformes na base
(raras vezes attenuadas em cunha), pecioladas (fíg. 11, D),
regularmente serradas, espinhosas ou inermes, ás vezes le-
vemente sinuadas, muito polymorphas; em adultas quasi sem-
pre glabras na pagina superior, e na inferior cotanilhosas,
acinzentadas, menos vezes glabras em ambas as paginas. Fni-
ctos sub-sesseis, ou com pedúnculos curtos. Cúpulas turbina-
das ou semi-esphericas (fig. 11, P). Rebentos escuros ou
cotanilhosos. Maturação annual. FL em março, abril. Fre-
quente na região do centro e do norte, sobretudo em alguns
pontos da Estremadura, e na Beira. — Carvalho portuguez
mi cerquinho ^Q. IvslUmica» liam.
Folhas sinuado-crenadas, chanfrado-arredondadas na base
ou sub-cordiformes, inermes (fig. 11, E), cotanilhosas
ou sub-glabras na pagina inferior. Fructos grandes, in-
cluidos até ^4 ^^ cúpula semi-ospherica. Arvore de
grandes dimensões. Abundante na Beira. — Carvalho
cerquinho {Q. hybridoyBrot.). w. baetlcat ^^el»I>.
Folhas com dentes grandes, agudos e irregulares, em adul-
tas glabras na pagina superior e estreUado-cotaniihosas na
pagina inferior. Fructos pequenos; cúpulas turbinadas.
Rebentos cotanilhosos, amarello-esverdinhados. Algarve,
Estremadura, etc. . v. alpe«irl«» Bss« (como esp.)
Pequeno arbusto, quasi sempre inferior a 1"*, muitas vezes so-
ciável. -Folhas com o peciolo muito curto, de ordinário cu-
nheadas na base e serradas só no cimo (fig. 11, F), com os
dentes espinescentes ou inermes, glabras na pagina superior
e na inferior glaucas ou esbranquiçadas, cotanilhosas. Fru-
ctos sesseis, solitários ou geminados, muito saidos da cúpula
(fíg. li, Q). Rebentos amarellados, avelludados. Maturação
annual. Fl. em abril, maio. Charnecas, matos, pinhaes: Es-
tremadura e Beira. — Carvalhiça^ carvalho anão {Q. fruti-
cosa, Brot,) Q. Bmmlllfi» liam.
t O Q. huitanica é uma das espécies portngaezas d'este género mais
polymoiphas; tem porte muito vsffiavel, fructos e folhas de formas va-
ríadissimas: estas ultimas umas vezes sflo arredondadas na base/ outras
76 GDPUUFERAS
Arvores com a casca saborosa, industrialmente ^roTeitadaoom
o nome de cortiça. Folhas oradas ou oblongas, (ng. 11, H)
sub-inteiras ou dentadas, inermes ou espinhosas, glabras na
6 \ pagina superior (em adultas) e cotanilhosas, esbranquiçadas,
na pagina inferior 7
Arvores e arbustos com a casca nao suberosa, ou muito pouco
suberosa, e que se não pode industrialmente aproveitar. . . 8
vezes attenuadas em cunha; sSo planas ott onduladas; inteiras, diver-
samente dentadas, ou sinuadas; inermes ou- espinhosas; glabras ou com
pubescencias differentes; e tem contornos muito vários. Estas formas
do 0. lusilanica apresentam-se ás vezes Uo dèssemilhantes que, á pri-
meira vista e quando faltem as formas intermédias, mais parecem es-
pécies distinctas.
Cora algum cuidado é sempre possível classificai -o com segurança.
Sem grande exame distingue-se logo do Carvalho negral, do RobU, dos
Sobreiros, do Carrasqueiro e da Azinheira; com estes nSo pode haver
nunca confusSo : o primeiro individualisa-se bem pelo avelludado e jfím-
dos recortes das folhas; o segundo pela grandeza do pedúnculo e pe-
quenez do pecíolo ; os terceiros pelo tegumento suberoso e forma das
folhas; o quarto pela espinescencia das escamas da cúpula; a quinta
pela persistência das folhas, habitualmente mais pequenas e mais cota-
nilhosas. As especieç com que o Q. lusitaniea mais se pode confundir
sSo o Q. humilis e o Q, sessiliflora.
Com a Carvalhiça a distincçAo toma-se ás vezes difficilima, a nSo ser
pelo porte. Se o CarváUio portugnez tem, na forma typica, as folhas ar-
redondadas na base e a Carvalhiça cunheadas, encontram-se em alguns
exemplares estes caracteres trocados; as folhas da Carvalhiça também
sáo muito polymorphas. O tamanho relativo do peciolo (as folhas da
Carvalhiça tem o peciolo quasi sempre mais curto que as do Carvalho
portuguez) pode ajudar a distinguir as duas espécies, quando se trate
de ramos coi*tados, em que se náo possa verificar o porte do individuou
No emtanto as semelhanças entre estas duas espécies slo tâo grandes
que lembra até considerar antes a Carvalhiça como uma variedade An-
milis do Q. huitanica.
Com o Q. sessUiflora a distúicçâo, se ó fácil em muitas das formas do
Q. lusitaniea, n'outras toma-se difficil, a ponto do próprio Brotero, se-
gundo a nossa opiniáo, ter considerado na sua Flora, como Q. rclbwr
{sessUiflora) alguma das formas mais semelhantes do Carvalho porhh
guez. A época da queda das folhas, a abundância das galhas, o tama-
nho do peciolo, o contorno e a fundura dos recortes das folhas, etc,
podem ajudar esta distincçáo. .
GUFUUFERAS 77
Matura^ aimual, folhas persistentes habitualmente 2 annos.
Fraetos (landes) solitários ou geminados, inseridos n'um pe-
dúnculo eurto, grosso, cotanilhoso, collocado no rebento fo-
lhoso do mesmo anno. Lóbulos do perigoneo masculino ce-
Iheados. Escamas da cúpula (fig. 11, R) terminadas n*um
appendice comprido, plano, moUe, obtuso, sub-herbaceo, frá-
gil, levantado ou um pouco recurvado. Rebentos acinzenta-
dos, cotanilhosos. Fl. em abrily maio. Em todo o pàiz fre-
quente, sobretudo na região do síU, onde só, ou em compa-
nhia da azinheira constitue os montados. — Sobreiro ou so-
hro Q. anlier» Ii«
Maturação biennal, folhas persistentes, mas só duradoiras 1 anno.
Fructos (landes) solitários ou geminados, inseridos n*um pe-
dúnculo curto, grosso, cotanilhoso, collocado nos raminhos
desfolhados (rebentos do anno anterior). Lóbulos do perigo-
neo masculino glabros. Escamas da cúpula pequenas, nume-
rosas, molles, encostadas, as superiores levantadas e as infe-
riores levemente recurvadas. Rebentos esbranquiçados, cota-
nilhosos. Fl. {em junho, na Hespanha, seg. Wk.) Estrema-
dura (Cintra\ região sul (S. Thiagç do Cacem), etc. — So-
^ breiro ou sobro ^ Q» occtdentall** Ciay*
1 Tem sido muito discutida pelos nossos silvicultores a existência do
Q. ocddentalis, Gay, em Portugal, e até mesmo tem sido posto em du-
vida se elle ó na verdade uma espécie distincta do Q. suber, L.
Começaremos pela discussSo da ultima parte. O tempo exigido para
a matoraçfio de um fructo e o tempo — em condições normaes — da
persistência das folhas, nSo podem nunca ser simples factos arbitrários
e isolados; tem de se prender ao modo de vida, á organisaçSo especial
da arvore. Nos dois st^eiros a organisaçAo deve ser diversa e o modo
de vida necessariamente differente, uma vez que dois factos t2o impor-
tantes, como a tectificaçfto e a queda das folhas, se realisam com in-
tervallos tSo deseguaes. A anatomia das duas arvores nSo está tfio es-
tudada que possamos apresentar muitas provas a esta asserçfio, no em-
tanto refeiir-nos-hemos á constituiçSo do peeiolo, segundo os traba-
lhos do sr. C de Gandolle {Anatomie comparée des feuUUs chex qudques
famttUs dê dicoíi^idones): nos dois sobreiros, como em todos os Quer-
eus, 08 feixes do peeiolo formam um arco fechado, constituindo uma
espécie de medulla central, mas o Q. oeeiderUaHs tem n'este tecido cel-
hilar interno também feixes, que nSo .existem no 0. fuòer. Este lacto
78 CUPtrUFERAS
Folhas verdes e glabras em ambas as paginas, ovadas ou oUon-
gas, calloso-marginadas, ondaladas, espinhoso-dentadas (fig.
11, L), persistentes 2-3 annos. Fnictos solitários, raras ve-
zes geminados, sub-sesseis. Escamas da cúpula com duas for-
mas : as do meio e da base abertas para os lados, recurvadas,
espinescentes, as do cimo moUes, levantadas, inermes (fig.
11, T). Maturação biennal. Arbusto ou arvore de peqaena
grandeza. Fl, em abril^ maio, Frequiute na região svl^ mm
raro no norte. — Carra^queiro ou carrasco.
<!• ooeelftora* L.
^\ Escamas da cúpula todas da mesma forma, pouco apita-
das, com um appendice molle, inerme. Fructos moitas
vezes agglomerados 2-3 n*um pedúnculo curto, grosso.
Folhas mais alongadas que no typo, planas ou pouco on-
invocamol-o simplesmente para apresentar uma differença de organi-
saç2o, que de certo o nSo vamos buscar para sobre elle assentar a dis-
tincçâo especifica. Para esse fim, muito mais palpável e de fácil obser-
vação é a íórma das escaoias da cúpula (que sobretudo julgamos muito
característa), bem como a posição das folhas e dos fructos, indicando
o tempo da persistência das primeiras e da maturação dos segundos.
Não negamos que estes últimos caracteres podem induzir ás vezes
em erro, porque um fructo de maturação annual pode parecer tel-a
biennal quando a arvore a que pertence desenvolve no mesmo aono
dois rebentos, como é caso muito vulgar n'estas essências, ou quando
as folhas, habitualmente persistentes mais de 1 anno, caem no fim do
primeiro anno em virtude de uma grande secca, etc, mas tudo isso sSo
casos anormaes, que a obse^açSo seguida algum tempo pode facilmente
descriminar, e que mesmo ao realisarem-se não vem acompanhados dos
outros caracteres diíferenciaes.
Quanto á existência do Q, oecidenUUú em Portugal temol-a como
certa, apezar de muito auctorisadas opini<^ em contrario. Afora os
exemplares colhidos por Welwitsch» que estão no herbario da Escola
Polytechnica, possoimos exemplaras, apanhados em S. Thiago do Ca-
cem, em fins de fevereiro, com os fructos moos, muito pequenos, tri'
dentemente em phase de maturação bieanal. Nos peciolos de todos es-
tes exemplares verificámos a preaeaça dos feixes iiárameáidlares^ eem
todos as escamas da cúpula tem a forma característica» qie descrere*
mos. Acreditamos todavia que o Q. êuberéo sobreiro predominanlenc
paiz, em grandíssima proporção relativamente ao Q, ouiàeMtíM.
r
8
9
GUPUUFERAS 79
duladasy com os e^inhos levantados para o cimo. Traz-
os-Montes^ Estremadura^ Algarve. — Carrasqueiro ou
carrasco.
... W« piieudo«ciMciffera» liriili. (como esp.)
Folhas esbranquiçadas, cotanilhosas, na pagina inferior. Ârvo-
\ res 9
Casca um pouco suberosa, mas não utilisavel. Maturação bien-
nal, folhas só persistentes 1 anno (mas caidiças depois da nova
folheação). Fructos solitários ou 2-3 inseridos n*um pedún-
culo, axillar, grosso e curto, implantado no raminho sem fo-
lhas (rebento do anno anterior). Folhas ovadas, oblongas ou
oblongo-lanceoladas, aguçadas, .dentado-serradas ou crena-
das, ás vezes espinhosas. Cúpula turbinada, com aâ escamas
tuberculosas, pouco apertadas, longamente acuminadas, um
pouco abertas para os lados. Fl, em abril^ maio. Algarve e
Alemtejo^ muito pouco frequente. ^ Q. Iilspan toa» liam.
^ Muitos auctores, e entre elles o sr. Willkomm, consideram o Q.
pteudo-coccifera como espécie distincta. Não partilhamos essa opinião
porque temos visto formas que consideramos intermédias, parecendo -
uos muito mais rasoavel consideral-o antes uma variedade da espécie
linneana.
^Osr.B. Barros Gomes {CondiçSes Florestaes de Portugal) considera
o que tem sido chamado pelos auctores Q. hispânica, Lam. {Q.pseudo-
subeTy Reich., Q. Fontanesii, Guss.) como um hybrído entre o Sobreiro ou
a Azinheira e o Carvalho portuguex. Fundamenta-se para isso na rari-
dade d'esta arvore em toda a sua área dé habitaçSo, onde n&o consta
que por si só forme massiço em parte alguma; em se encontrarem sem-
pre os poucos indivíduos que teem apparecido em Portugal de mistura
com os Sobreiros ou Azinheiras e Carvalhos portuguezes, sendo a forma
da folhagem mais semelhante a uma d'estas três espécies, conforme o
predomínio d^ellas na localidade; finalmente em serem bastante variá-
veis, mas intermédios ás espécies enumeradas, os caracteres botânicos
que se lhe attribuem, desde a forma do tegumento do tronco, até á forma
das folhas, das escamas da cúpula» etc. Este polymorphismo ó tamanho
que Brotero, na diagnose da Flora, indiea-lhe as folhas glabras e ver-
des em ambas as paginas 1
 opiniSo da ar. Barcoa Gomes parece-nos perfeitamente acceitavel,
e do maior peso os argomeatos apresentados.
80
GUPULIFERAS
Casca não suberosa : rhTtidoma pouco fdndo. Matura^ annoal.
Folhas persistentes 2-3 annos, ettipticas, ovadas oa orbicnia-
res, inteiras ou espinhosas (fig. 11, J, K) planas on, menos
vezes, levemente onduladas. Escamas da cúpula muito aper-
9.' tadas, um pouco acuminadas (fig. 11, S). Fructos (Moto)
solitários ou geminados sobre um pedúnculo axillar, recto,
curto, grosso. Folhas muito polymorphas, diflTerentes até ás
vezes na mesma arvore, e íructos também muito varíaTeis,
adstringentes ou pouco doces. Fl, em abril^ maio. Frequente
sobretudo na região sul onde^ sô<mem companhia dos sobrei-
ros, constitue os montados. — Azinheira €|. Uext L*
Bolotas doces e grandes, bastante variáveis na forma, ás
vezes muito compridas. Folhas mais ellipticas que no
typo, inteiras, raras vezes espinhoso-dentadas, mais es-
branquiçadas e cotanilhosas na pagina inferior. Fre-
quente na região sul, — Azinheira da bolota doce.
^^. Ballota» Desf. (como ^.)
Folhas arredondadas (0. rotundifolia, Lam. e Br(4.)
forma rofandUIMia.
1
Castanea, Toum. — Castanheiro. — Amentilhos masculinos
compridos, delgados, interrompidos, levantados (fig. 10, B),
inseridos na axUla das folhas inferiores do rebento annual;
escamas do amentilho com 7 flores inseridas em cada axilla;
perígoneo campanulado com 5-6 divisões; 10-12 estames
muito salientes. Flores femininas reunidas 3 n'nm inTcdncro
commum de bracteas adberentes na base, e dispostas (1-3
grupos) na base dos amentilhos masculinos superiores (Og.
10, B); perígoneo tubuloso, adherente ao ovário, com 6^
^0 Q. BaUota, Desf., tem sido considerado ora como espécie distin-
cta, ora como variedade do Q. Rex, L. NSo podemos admittir a primein
opinião, nSo só porque os caracteres differeneiaes sfo de pequenisama
importância — taes a forma e pnbeseeneia das folhas quando se trita de
espécies tSo polymorphas, e a percentagem relativa de glucose e de tu-
nino nos fructos — como ainda porque existem graus de transíçioiu
íórma das folhas e também na doçura e adstringência dos fructos» eomo
já dissemos no primeiro volume d'e8te Ctirso.
r
PLATANÁCEAS 81
dentes; 6-8 estames estéreis; óvario inferior com 6-8 locu-
los biOYulados; estylete curto; 6-8 estigmas. Envolucro fni-
ctifero com o aspecto de mn pericarpo, fechado, quasi le-
nhoso, fortemente espinhoso, dehiscente por 4 vavulas (íig,
10, C), contendo 1-3 fructos com o pericarpo delgado, secco^
lustroso. Cotyledones muito grandes, feculentas.
Arvore de grandes dimensões, quando isolada com a copa muito
larga. Folhas caducas, pecioladas, oblongo-lanceoladas, com
os dentes quasi espinescentes, rígidas, glabras, lustrosas,
compridas (proximamente 2 decimetros). Maturação annual.
Fl. em maio, junho. Em quasi todo o paiz^ excepto nos ter-
renos calcareos; abundante sobretudo na região montanhosa
do interior. Cultivado , isolado e em pequenos grupos para frth
cto, ou em massiços de talhadio (soutos), — Castanheiro (Fa-
gus Castanea, L. e Brot.) €. ^olgarls»
Família XI.— PLATANÁCEAS, Lestib.
Flores monoicas, nuas, dispostas tanto as masculinas como
as femininas em amentilhos globosos, pedunculados, pen-
dentes (fig. 12, B), mas as de cada sexo separadas em ra-
minhos diflferentes. Flores pequenas, muito numerosas, inr ^
termeadas com bracteas : as masculinas com os estames li-
vres, os filetes muito curtos e as antheras biloculàres co-
bertas pelo connectivo muito desenvolvido, em forma de es-
cudo. Flores femininas com o ovário 1-locular, 1 -ovulado,
1 estylete filiforme, comprido, e o estigma recurvado. Falso
fructo globoso, composto de numerosos achenios muito pe-
quenos, intermeados com pellos amarellados, rigidos (fig.
12, D, C). Sementes com pouco albumen. — Arvores com
as folhas simples, caducas, pecioladas, alternas, palmatilo-
badas; estipulas soldadas em bainha membranosa, caducas.
Botões cónicos, com 2 escamas, escondidos até á queda das
folhas na bai>e dilatada do peciolo. Casca delgada, cinzento-
c. s. — ^v. a. 6
. I
82 PLATANÁCEAS
esverdínhada, destacando-se annaalmeDte em grandes pla-
'cas.
Platanus, L. —Píaía?io.— Os mesmos caracteres da familii.
Pig. 11— *1; Ftillia do PManut orienUdis, L. (1:5). B: Rarao frucbtero
do P. occidetUnlis, L. (1:5}. C: um fructo isolado (1:1). D: Um &i'
cto isolado do P. orientalii, L. (1:1)-
r^
\'
ULMÁGEÂS 83
Folhas 5-3-lobadâs, com os lóbulos lanceolados, dentados, sub-
lobados ou inteiros, separados por ângulos pouco abertos, e
cujos recortes attingem ou excedem metade do limbo (fig.
12, A): com muitos pellos ramosos em novas, glabras cedo
em adultas. Peciolos verdes. Pellos da base dos achenios com-
pridos (fig. 12, D), bem visíveis no amentilho. Casca acin-
zentada, annualmente destacada em placas irregulares muito
finas. FL em março, abril. Originário do Oriente, e cultivado
(menos que a espécie seguinte) á beira das ruas, nos jardins
ele, — Plátano do Oriente 'P. orlentalls» Ij.
Folhas 3-5-Iobadas, com os lóbulos largamente triangulares,
agudos, dentados ou sub-lobados, separados por ângulos muito
abertos, e cujos recortes não chegam a metade do limbo (fig.
12, B); em novas cobertas de felpa espessa esbranquiçada,
mais tempo persistente que na espécie anterior, e em adultas
glabras ou sub-glabras. Peciolos mais compridos (que na es-
pécie anterior), menos entumecidos na base, muitas vezes
avermelhados. Achenios mais pequenos, menores que os pel-
los da base (fig. 12, C), os quaes por isso são pou^o visiveis
no amentilho. Amentilhos fructiíeros mais pequenos. Arvore
de maior porte, com a casca acinzentada, annualmente des-
tacada em placas irregulares, que deixam manchas amarella-
das. Fl. em março, abril. Originário da America do Norte^ e
muito cultivado á beira dos rios, sítios frescos ^etc. — Hatano
• do Ocddente P. occldentall»* Ii«
Família XII— ULMÁCEAS, Hirb.
Flores hermaphroditas ou, por aborto, polygamicas, pre-
coces (que apparecem antes das folhas), aggiomeradas ou
fasciculadas. Perigoneo persistente, campanulado, sepaloide,
4-5-8rfeQdido ; estames em numero egual ao das divisões
1 A distincção entre estas duas espécies toma-se ás vezes bastante
difficil, porque nem todos os exemplares apresentam as differenças des-
criptas epm a nitidez dos que desenhámos.
6#
84 tILMÃCEAS
do perigoneo e oppostos a ellas, com as aottieras eitror-
sas. OTario livre 1-locular e i-ovulado por aborto; estylete
mnito curto oa nullo; 2 esligmas. Fnicto orna samara l-lo-
cnlar e mOQosperma. Semente sem albiunen, embrjão re-
cto.
THmíifl, L. — Ulmeiro. — Flores hermaphroditas desenvol-
vidas dos botões lateraes dos raminhos. Perigoneo mem-
branoso, corado, qaasi sempre S-fendido (Qg. 13, B); p^
Fig. lZ.~Ulnmeampestrà, Sm.— ^; ramo com folhas (2:3). B: Am
(3:1). C.-íhiclo(M).
CELTÍDEAS 85
dicellos com 1-2 bracteolas, articulados sob a flor. Samara
plana» orbícular ou obovada, com a semente lenticular e a
aza marginal grande, foliacea. — Arvores com as folhas al-
ternas, pecioladas, dissymetricas na base, penninervadas,
dnplicado-serradas, caducas. Estipulas caducas.
Samara quasi sessil, não celheada, profundamente incisa até á
semente (fig. 13, C); semente não central, mais próxima do
cimo da samara. Folhas ovadas ou ellipticas, acuminadas,
distícadas, mais ou menos ásperas (fig. 13, A). Arvore de
grande porte. FL em fevereiro, matço. Esp.ecuU. em guasi
todo o paiz. — UlmeirOy ulmo, nigrilho ou mosqueiro. {V. cam-
pesfris, L. exp.) U. eampestrl»» Sm*
Casca dos ramos novos suberoso-alada. Ramos abertos para
os lados. Folhas menores, ásperas. Estames quasi sem-
pre 4. Estremadura, Traz^os-Montes^ etc.
T. solieroMi» Ko«li«
;*
Família Xni.— CELTÍDEAS, Endl.
Flores hermaphroditas ou, por aborto, polygamicas, soli-
tárias e axillares, simultâneas com as folhas. Perigoneo ca-
dnco, profundamente 5-feníidido; 5 estames oppostos ás di-
visões do perigoneo; ovário livre 1-locular e com 1 só ovulo;
2 estigmas sesseis. Fructo drupaceo, monospermo. Semente
com albumen carnudo, embrySo curvo.
Ceitis, Toum. — Lacinias do perigoneo concavas. Filetes
curvos no cimo endireitando-se com elasticidade na occasião
da floração; estigmas recurvados ou abertos para os lados,
glanduloso-felpudos. Drupa pouco carnuda. — Arvores com
as folhas simples, alternas, pecioladas, caducas, ásperas,
obliquas na base, agudamente dentadas. Estipulas caducas.
86 CELTIDEAS
Arvore ou arbusto com as Tolhas elliplicas ou ovado-lanceoladu
(fig. 14) longamente aciuninadas, dentadas quasi desdeaba-
se, verde-escuras e ásperas na pagina superior, moltemsnte
pubescentes e verde-acÍDzentadas na pagina inferior. Flores
esverdinhadas, solitárias, ás vezes ãpparentandoaioQoresrts-
cia em cacho, quando é pequeno o desenvolvimento do re-
bento em que estão inseridas e faltam as folhas ou são rodi-
mentares . Drupa globosa (fig .14), quasi secca, com pedunenla
comprido, um pouco adstringente, comestível. í?. em marçf,
abril. Etp. nta seíet {Alemtejo, Beira, Traz-o$-Mmía,fte.)
ê battante cult. — Lodão òaitarão, agreira.
«. C. aii«lr«llM( In
Fig. li. — Ramo fructifero do C«fti'i auttralis, h. (1:1).
HOREÁCÈAS 87
Família XIV.— MORBÁGEAS, Endl.
Flores monoicas ou dioicas, dispostas era espigas amen-
táceas apertadas, ou em capítulos, cujo receptáculo carnudo
toma muitas formas, e ás vezes se escava cerrando quasi
completamente o espaço onde as flores estão inseridas. Flo-
res masculinas com o perigoneo 3-4-partido; 3-4 estames.
Flores femininas com o perigoneo 4-5-partido; ovário livre,
2-locular, ou 1-locular por aborto; 1-2 estigmas. Fructos
monospermos, indehiscentes, fechados nos perigoneos suc-
culentos accrescentes, comprimidos e aproximados os da
mesma espiga a constituírem um fructo composto, carnudo,
tuberculoso (sorose): ou envolvidos pelo receptáculo do ca-
pitulo, que se torna accrescente e carnudo : ou incluídos na
cavidade do receptáculo pyriforme também accrescente e
carnudo (sycone). Sementes com albumen, embryao curvo.
—-Arvores ou arbustos com as folhas alternas, pecioladas,
caducas, estipuladas; as da mesma espécie, e ás vezes as
do mesmo individuo, diversamente dentado — ou inciso-lo-
badas. Estipulas caducas. Suecos leitosos.
Flores é fructos incluídos na cavidade quasi fechada, accres-
cente e carauda do receptáculo (fig. 15, B). Monoica. Flo-
1 { res masculinas com o perigoneo 3-dividido e 3 estames (fig.
15, B') Fico», (pag. 90)
Flores nao incluídas na cavidade do receptáculo. 4 estames. 2
Monoica. Flores de ambos os sexos dispostas em espigas; es-
pigas femininas- transformadas depois em fructos compostos
succulentos comestiveis (fig. 15, D) . . . Moroa* (pag. 88)
Dioica. Flores masculinas dispostas em espigas e as femininas em
capitules. Fructos incloidos no receptáculo do capitulo, accres-
cente e carnudo (fíg. 15,F,F0 Brousuoiietia* (pag. 90)}
Fig. iS. — A. Fnicto composto (sycooe) do Ficiu Cariea. L-S: o mw-
mo cortado transversalmente (1;1). B': flor masculina.— C; nin fto-
eto coUocãdo sobre o supporte polposo (mnito augmentado). D: Fn-
cto composto (sorose) da Mona nigra, L. (1 : 1). E: Flor da Jfonu o^
h. (1:1)' H: Inflorescencia masculina da Morvt alba, L. (l:t). F.'
Inllorescencia feminina da Brovísonetia papyrifera, VeoL (1:1). f'-
um fructo envolvido pelo gynophoro carnudo (1:1).
Horus, Tonrn. — Amoreira. — Flores monoicas, as de am-
bos os sexos dispostas em espigas amentáceas, cylindricas,
apertadas, lateraes, as masculinas na base e as ferainÍDas do
meio dos rebentos (fig. 15, H). Perigoneo com 4 dÍTÍs5es;
4 estamos oppostos, com as aotheras introrsas, bilocnlares
(fig. 15, E). Ovário 1-locular pelo aborto de am dos locolos.
MOREÁCEAS 89
Perigoneos accrescentes e carnudos em redor dos fructos,
os da mesma inflorescencia aproximados e comprimidos a
constituírem um fructo composto, carnudo, tuberculoso (so-
rose: flg. 15, D).
Espigas femininas pedunculadas (pedúnculo proximamente do
tamanho da espiga). Lacinias do perigoneo glabras. Fructos
pequenos, brancos ou rosados, pouco doces, insipidos. Fo-
lhas ovado-agudas, obliquamente cordiformes na base, den-
tadas ou muite diversamente lobadas, glabras ou quasi gla-
bras, delgadas, herbáceas, verde-claras. Pequena arvore. FL
em março, abril. Originaria da China e cuU. , sobretudo no nor-
te. (TraZ'OS'Montes, etc.) — Amoreira branca BI. albat li.
Folhas grandes, tenras, ás vezes convexas na pagina su-
perior, empoladas. Fructos escuros com o pedúnculo pu-
bescente. Troncos numerosos; menor porte. CuU, com
muito menos frequência. — Amoreira muUicaule
v. malilcaiillM» Perrot.
Espigas femininas sesseis, ou quasi sesseis. Lacinias do perigo-
neo celheadas. Fructos maiores (fig. 15, D), vermelho-escu-
ros, quasi negros, com sabor acidulo-adocicado. Folhas ova-
do-agudas, regularmente cordiformes na base, dentadas ou
lobadas, verde-escuras, ásperas. Arvore de maior porte que
a espécie anterior. FL em março, abril. Originaria da Ásia.
Cult. em quasi todo o paiz. — Amoreira negra M* nlgra* Ii*
As amoreiras sao cultivadas em larga escala no paiz,
principalmente pelas folhas, que são o alimento do sirgo»
cuja creação, ainda ha bem pouco tempo, era muito flores-
cente, sobretudo em Traz-os-Montes e na Beira. A amo-
reira negra era a espécie mais cultivada, apezar de ser a
amoreira branca reputada melhor nos outros paizes, por
se «lhe attribuir a formação de sed^ mais fma. Julgamos
a introducção da ultima espécie, ou pelo menos o maior
desenvolvimento da sua cultura, de mais recente data em
Portugal. A amoreira negra em alguns pontos è cultiyada
pelos fructos (amoras da horta). As folhas doestas arvores
90
MOREÁCEAS
s3o muito bom alimento para o gado, e a madeira é muito
estimada.
As amoreiras pedem solos leves, mas que uao sejam muito
pobres.
Broussonetia, Vent. — Flores dioicas; as masculinas dis-
postas em espigas com o perigoneo 4-partido e 4 estames:
as femininas reunidas n'um capitulo apertado intermeadas
com escamas pelludas, com o perigoneo 3-4-dentado e o
ovário 1-locular. Fructos envolvidos pelos gynophoros car-
nudos (fig. 15, F).
Espigas masculinas cylindricas; capitulos femininos densamente
globosos (fig. 15, F) . Pequena arvore com os ramos novos fel-
pudos. Folhas ovado-cordíformes duplicado-serrado-dentadas,
ou irregularmente palmatifendidas; na pagina superior ásperas,
verde-escuras, e na inferior brancas, cotanilhosas. Estipulas es-
cariosas, celheadas. Fi. em (J)ril. Originaria do Japão e adt.
nos jardins e á beira das ruas e praças. Amoreira do papei
{Morus papyrifera, L.) B. papyrifera* Tent.
 casca d'esta arvore é utilisada no Japão e em algumas
regiões da índia para o fabrico do papel. Os indígenas da
Nova-HoUanda empregam-a no vestuário.
Ficus, Toum. — Figueira, — Flores monoicas, muito pe-
quenas e numerosas, reunidas sobre o receptáculo car-
nudo muito desenvolvido e cujos bordos prolongados fe-
cham quasi completamente uma cavidade, onde, interna-
mente, as flores masculinas occupam a parte superior e as
flores femininas a parte inferior (fig, 15, A, B). Flores
masculinas com o perigoneo 3-dividido e 3 estames (fig.
15, B'). Flores femininas com o perigoneo 5-dividido eum
ovário 1-locular. Fructo composto (sycone) formado de adie-
nios muito pequenos fechados no receptáculo carnudo, ac-
crescente, pjrriforme ou globoso.
CHENOPODlACEAS 9i
Peqaena arvore ou arbusto com as folhas pecioladas, grossas,
ásperas, cordiformes, palmadas com 3-7 lóbulos obtusos, ou
inteiras sínuado-dentadas. Fructo (sycone) axillar, solitário,
grande, verde antes da maturação, e em maduro polposo, ama-
rellado ou violáceo. Fl. em maio, junho. Cult. e sulhesponta-
nea em todo o paiz. — Figueira F. Cari ca» li.
Fructo globoso; flores masculinas e femininas. Sub-espon-
tanea, principalmente no Algarve, — Baforeira^ fig^'
ra de tocar, 6u figueira silvestre v. sllvesirls.
Fructo pyriforme; flores todas ou quasi todas femininas.
CuU. em todo o paiz, principalmente no Algarve, Tor^
res Novas, etc. — Figueira, figueira mansa ou cultivada
\ . ,» w. satlva.
D'esta arvore, como em geral de todas as que são cuU
tivadas pelo fructo, existem muitas variações, principal-
mente na forma, grandeza, côr e sabor dos fructos, cara-
cteres estes que a cultura reproduz por enxertia.
A figueira rebenta muito bem de touca e pega perfeita-
mente d'estaca. A sua madeira é de muito má qualidade;
explora-se apenas pelos fructos, e esta exploração, em al-
gumas partes do paiz, é bastante importante.
Família XV.— CHENOPODIÁGEAS, Lindl.
Flores pequenas, hermaphroditas, ou por aborto unise-
xuaes, monoicas, dioicas ou polygamicas, solitárias, agglo-
meradas, em espigas, ou em pequenas cymeiras dispostas
em espigas ou cachos paniculados. Flores com 2 bracteas
lateraes, espinhosas ou inermes, foliaceas ou coradas, ou
nullas. Perigoneo herbáceo, regular,, com 2-5 divisões li-
vres ou mais ou menos soldadas, às vezes nuUo. Estames
em numero egual ao das divisões do perigoneo, oppostos,
com as antheras introrsas longitudinalmente dehiscentes.
Ovário livre, Mocular, 1-ovulado; 2-3 estyletes. Fructo mo-
92 CHENOPODIÁCEAS
nospermo, índehiscente, fechado no perigoneo persisteDle
secco ou carnudo. jSementes com, ou sem albumeD; em-
brySo curvo, em annel, ou em espiral.— Plantas na maior
parte herbáceas, ás vezes lenhosas, arbustivas ou sob-ar-
bustivas, com aspectos muito variáveis. Caules cootinuos
folhosos, ou articulados e apbyllos. Folhas simples, alter-
nas, excepcionalmente opposlas n'algamas espécies, umas
vezes herbáceas e planas, outras vezes carnudas e cylÍD-
dricas, sempre sem estipulas.
As Ghenopodiaceas lenhosas indígenas são todas próprias
Fig. 16. A : Itamo florifero áí Salicomia frutíeosa, L. — B : Ramo fl«i-
fero da Suaeda frutkoiu, Forsk.— C: Folbas àí Alrij^ex portulaeoi-
dei,L.—D: Folhas da ^írípiea! ffoJíniiM, L.—E: Ramo florifero di
Snítola vermiaàUa, L. (todos 1:1).
CHENOPODIÃGEAS 93
ás areias do littoral, oa á zona mais próxima; pouco se
afastam do mar.
»
Canles aphyllos articulados (fig. 16, A)
i { Salicornla» (pag. 94)
Caules folhosos, contínuos 2
Folhas planas, com o limbo dersenvolvido (fig. 15, G, D). Flo-
res masculinas e femininas dessemelhantes
Í\ Atriplex, (pag. 95)
Folhas lineares ou sub-cyUndricas (fig. 15, B). Flores todas
semelhantes 3
I Perigoneo fructífero com 5 azas membranosas, grandes, abertas
3 1 em forma d*estrella (fig. 15, E) Salsola* (pag. 93)
(Perigoneo fructifero não alado Saaeda* (pag. 94)
Salsola, Gãrtn. — Soda. — Flores hermaphroditas, bi-bra-
cteadas, todas eguaes. Perigoneo 5-partido ; 5 estames livres,
com os filetes ás vezes dilatados na base e ahi levemente
reunidos; estylete, ás vezes, alongado; 2-3 estigmas aber-
tos para os lados. Fructo incluido no perigoneo transversal-
mente dilatado em 5 azas membranosas, abertas em estrelia.
Semente horisontal, sub-globosa; albumen nullo ou quasi
nullo; embryão contorcido em espiral.— Plantas herbáceas
ou lenhosas (uma só das espécies indígenas d'este género
é lenhosa, as outras são herbáceas), com as folhas carnu-
das, semi-cylíndricas, e os caules contínuos.
Flores axillares, sesseis, solitárias, alternas, dispostas em| espi-
gas, ás vezes muito apertadas, paniculadas. Perigoneo fructí-
fero com as azas muito grandes, escariosas, abertas em ro-
seta para os lados (fig. 16, E). Folhas alternas, pequenas,
lineares, semi-cyUndricas, dilatadas na base, obtusas; folhas
floraes acuminadas. Pequeno arbusto muito folhoso. Fl. em
agosto e setembro. Praias salgada,^ ao sul do Tejo (Seixal,
Alfeite, Alcochete, etc.Je Algarve ^S« irermlcalata» li.
1 Todos os exemplares que temos á vista, tanto das praias do Tejo
como do Algarve, pertencem á var. ftavescens, Moqu.
94 GBENOPODIÁGEÂS
Suaeda, Forsk» — Flores hermaphroditas, todas eguaes;
bracteas muito pequenas. Perigoneo 5-partido, accrescente
e carnoso; 5 estames livres; 3 estigmas, raras vezes 4-5.
Perigoneo fructifero fechado; semente negra, lenticular, ver-
tical ou borisontal (horisontal na espécie lenhosa indígena);
albumen nullo ou quasi nullo; embryão plano, enrollado
em espiral. — (Este género tem conhecidas em Portugal
duas espécies, uma lenhosa outra herbácea).
Pequeno arbusto sempre-verde, muito ramoso, com o tronco e
os ramos esbranquiçados. Folhas pequenas, aproximadas,
sub*cylindricas (fig. 16, B), carnudas, obtusas, glaucas (ne-
gras pela dissecação). Flores esyerdinhadas, sesseis, afilia-
res, solitárias, geminadas ou ternadas na axilla das folhas
superiores, dispostas em espigas compridas e frouxas. Peri-
goneo fructifero pouco carnudo. FL em setembro. Areias sal-
gadas ao sul do Tejo, Algarve y etc,—(Chenopodium fruH-
cosum, BroL; Salsola fruticosa, L.)— Valverde dos sapaes.
S« flrnlteoMi. ironli.
Salicomia, Moqu. — Flores hermaphroditas, muito peque-
nas, destituídas de bracteas, todas eguaes, incluídas em
cavidades do caule, junto ás suas articulações, dispostas em
espigas cylindricas. Perigoneo monophyllo, troncado ou den-
ticulado no cimo, envolvendo completamente o fructo na
maturação; 1-2 estames livres; 2 estyletes reunidos na base.
Semente vertical; albumen sub-nullo. — Plantas herbáceas
ou lenhosas, articuladas, carnudas, aphyllas. (Estão conhe-
cidas em Portugal duas espécies : uma herbácea outra le-
nhosa).
Pequeno arbusto sempre-verde, glabro, glauco, com os ramos
oppostos, muito numerosos, paniculados, dilatados no cimo,
sub-bilobados, membranoso-marginados, mais compridos do
que largos. 3 flores incluidas em cada cavidade do caule. Es-
pigas cylindricas, pimiculadas (fig. 16, A). FL em agostOy
setembro. Areias salgadas ao stddo Tejo; muito commum nas
proximidades das salinas S. firaticosa» h»
r
GHENOPODIÁGEÂS 95
Atríplez, L. — Salgadeira, — Flores monoicas, dioicas ou
polygamicas» pequenas, esverdinhadas, agglomeradas, dis-
postas ás vezes em espigas paniculadas^ nuas ou folhosas.
Flores masculinasi, e as hermapbroditas, sem bracteas, com
o perigoneo 3-4-5-dividido; flores femininas quasi sempre
sem perigoneo, e com duas bracteas, livres ou soldadas en-
tre si, accrescentes, e que envolvem depois o fructo, menos
vezes eguaes ás flores masculinas, 3-4-5 estames; 2 esty-
letes filiformes, reunidos na base. Semente quasi sempre
vertical, com albumen. Plantas herbáceas ou lenhosas, com
as folhas alternas ou oppostas, desenvolvidas.
(Este género tem bastantes espécies indígenas, sendo as
lenhosas e sub-lenhosas, as seguintes):
Folhas inferiores oppostas (íig. 16, C) e as superiores alternas,,
sub-espatuladas, inteiras, attenuadas em peciolo curto. Flo-
res amarelladas : espigas compridas, delgadas, interrompidas,
aphyllas, dispostas em paniculas terminaes. Pequeno sub-ar-
1( busto, ramoso, diffuso, prostrado, branco-prateado, pulveru-
lento. Fl. em setembro, outvbro. Próximo ás salinas do sul
do Tejo, — {Obioneporlulacoides,Hoqa.)
A. poriulaeoldeim Ki.
1 Folhas todas alternas 2
/ Pequeno sub-arbasto com os ramos prostrados. Folhas pequenas,
fascicúladas, sesseis, ovadas, obtusas, branco-prateadas, pul-
verulentas. Flores agglomeradas, dispostas em espigas folho-
sas. Fl, na primavera e fim do estio. Areias salgadas na Es-
tremadura, Beiray etc A. i^laaea» Ii.
1 Arbusto levantado, muito ramoso, com as folhas deltoideas ou
ovado-rhomboedaes attenuadas em peciolo curto (íig. 16, D),
eoriaceas, persistentes, branco-prateadas, pulverulentas. Flo-
res amarelladas, agglomeradas, dispostas em espigas aphyllas,
compridas, delgadas, frouxas, constituindo pelo seu conjuncto
uma panicula terminal. Fl. em agosto, setembro. Areias do
littoral e zona interna mais próxima: Estremadura^ Algar-
ve, Beira^ etc. — Salgadeira A* Hallmus» li.
JT"
96 PHYTOLACCACEAS
FamiUa XVI.— PH7T0LAGCÁCEAS, EndL
Flores hermapbroditas, ou dioicas, dispostas em cadios
ou espigas. Perigoneo 5-partido, persistente; 5-30 esta-
mes, livres, inseridos n'um disco carnudo; ovário supe-
rior com 5-12 carpellos verticillados, adberentes ao eixo
central (carpophoro) ; estyletes lateraes, curtos, dislinctos.
Fructo succulento, bacciforme, sub-globoso, pluriloctilar,
com os loculos monospermos. Sementes com albumen.—
Plantas exóticas, com as folhas alternas, simples, inteiras,
sem estipulas.
Fhsrtolacca, L. — Phytolacca. — Os mesmos caracteres da
família.
Sub-arbusto elevado (1-2°*). Caules succulentos, grossos, ramo-
sos. Folhas ovado-lanceoladas, inteiras. Flores hermaphrodi-
tas com' 10 estames e 10 carpellos, dispostas em cachos pe-
dunculados. Bagas vermelho-escuras. Fl. em mato, julho.
Originaria da America do Norte e sub-espontanea na Beira.
— Phytolacca^ herva dos cachos da Judia.
Pb. dleeandra* L«
Arvore dioica. Flores masculinas com 20-30 estames e as femi-
ninas com 10-12 carpellos, dispostas em cachos maiores do
que as folhas, com pedúnculos curtos. Folhas ovado-ellipticas,
acuminadas, longamente p^cioladas, persistentes. FL emmaio,
junho. Originaria da America do Sul e um pouco cultivada
nos jardins, — Tintureiray bella-sombra, Pb. dlolcat L.
As bagas da Phytolacca sao um pouco empregadas em
alguns paizes para dar côr aos vinhos ; mas é fraude muito
prejudicial, e deve ser severamente punida, porque estas
bagas são venenosas.
97
Família XVII.— LAUOINEAS, Jubb.
Flores bermaphroditas ou uní-seiuaes por aborto, brar
cleadas. Perigoneo petaloide, regular, com 4-6 divisões.
Estames livres iaseridos n'um disco carnudo adberente ao
perigoneo, em nmnero egual ao das divisões perigonaes,
ou múltiplo; antberas introrsas, ou introrsas e extrorsas na
mesma flor, 2-4-Ioculares, dehisceiítes por válvulas (fig.
i7, C). Ovário livre, unilocuiar, uniovulado; estylete sim-
ples. Fructo drupaceo ou baccifonne. Semente sem aibu-
men.— Arvores ou arbustos sempre-verdes, com os ramos
e as folhas alternas; Tolhas simples, inteiras, coriaceas, sem
Perigoneo 4-rendido. Flores dioicas oq liermaphroditas.
Lanrus (pag. 98)
I^g. 17. — A: Ramo e umbella fruclifera do Launts nobilit, L. (3:it). í
flor feminina (3:3). C: um estame (:):2).
98 santalAceas
Pcrigoneo 6-fendido. Flores hermaphroditas ou polygamo-mo-
noicãs Porsea (pag. 98)
Laurus, L. — Loireiro. — Flores dioicas ou hermaphroditas,
dispostas em cymeiras mnbellíformes axillares (fig. 17, A).
Perigoneo petaloide, 4-fendido, caduco. Flores masculinas
com 812 estames, tendo, pelo menos os anteriores, os file-
tes bi-glandulosos. Flores femininas com 2-4 estames es-
téreis (fig. 17, B). Fnicto uma baga monosperma.
Flores branco-esverdinliadas, cheirosas, dispostas 4-6 em peque-
nas umbellas pedunculadas, solitárias, geminadas ou terna-
das na axilla das folhas. Baga ellipsoide, na maturação ne-
gra e lustrosa. Pequena arvore ou arbusto com as folhas eor-
tamente pecioladas, aromáticas, glabras, lanceolado-oblongas,
ás vezes onduladas. Fl em março^ abril. Espontâneo na £f-
tremadura, Algarve, ele, e cultivad) em todo o paiz.^Ln'
reiro ordinário Ei« neMlISt Lt
O Loireiro é cultivado nos jardins e nas hortas, como
planta de ornamento, e pelas suas folhas aromáticas cujos
usos culinários são bem conhecidos.
Persea, N. — Flores hermaphroditas ou polygamo-monoi-
cas, reunidas em cachos ou corymbos. Perigpnéo 6-fendido.
6-9 estames. Drupa grande globoso-turbinada.
Flores esbranquiçadas, sub-pobescentes, reunidas em cachos.
Follias lanceoladas, planas, maiores que na espécie anterior.
Drupa também maior. Arvore. Fi. na primavera. Impor-
tado da ilha da Madeira (seg, Brotero), e cultivado nos jar-
dins.— Loireiro real {Lcmrus Indica, L. e Brot.)
P. Indica* Hprenf*
. FamUia XVm.— SANTALÁOEAS, R. Br.
Flores hermaphroditas ou polygamo-dioicas por aborto.
Perigoneo geralmente persistente, com 3-5 divisões, exter-
namente esverdinhado, internamente quasi sempre corado.
santalAceas 99
#
Estames livres, em numero egual ao das divisões do peri^
goneo, oppostos a ellas, inseridos n'um disco carnoso; an-
ttieras bilocalares, introrsas, longitudinalmente dehiscentes.
l estylete curto. Ovário inferior, adherente, 1-locular, com 2-4
óvulos. Fructo indehiscente, secco ou carnudo, monospermo,
coroado quasi sempre pelo limbo do perigoneo persistente.
Semente com albumen. Plantas herbáceas ou lenhosas, com
chlorophylla mas semi-parasitas, com as folhas subsesseis,
inteiras, sem estipulas.
Osyris, L. — Flores dioicas ou dioico-polygamicas, inse-
ridas na extremidade de rebentos lateraes muito curtos, as
masculinas em cymeiras, as femininas solitárias. Perigoneo
3-4-fendido. 3-4 estames. 3 estigmas. Fructo drupaceo co-
roado pelo limbo do perigoneo (flg. 18, C).— Arbustos sem-
pre-verdes, semi-parasitas de diversas espécies dicotyledo-
neas lenhosas ou herbáceas, pelas raizes que adherem ás
das plantas próximas, envolvendo-as primeiro e depois hn-
plantando-se n'ellas por meio de órgãos sugadores espe-
ciaes, semi-esphericos.
Drupa escura. Folhas penninervadas, rígidas, lanceoladas, agu-
das (fíg. 18, A). Cymeiras masculinas menores do que as fo-
lhas. Perigoneo 3-4-partído, internamente amarellado Fl. de
fevereiro a abril. Sebes^ matos, etc, nas provindas meridiO'
naes: do Algarve até próximo de Lisboa.
O. lamseolata» Hoolist*
^,
Fig. 18. A: Folha do Osyris lanceolata, Hochst. — B: Folha do O. alba, L.
— C: Fructo do O. alba, L. (todos 1:1).
7*
1 00 LORANTHACEAS
Drupa vermelha. Folhas uninervadas, coriaceas, agudas, linear
lanceoladas (fíg. 18, B). Gymeiras masculinas multiflores,
formando ás vezes cachos muito compridos no extremo dos
raminhos aphyllos. PeVigoneo 3-Iohado, internamente ama-
rellado. Fl, em abrilf maio. Terras xeceas e estéreis, sebes:
TraZ'OS'MonteSy Beira^ Estremadura, etr. — Casta branca
de Virgílio 0« allMi» L.
FamlUa XIX.-- LORANTHACEAS, Endl.
. Plantas hermapbroditas ou uni-sexuaes (mouoicas ou dioi-
cas). Flores regulares dispostas em cachos, espigas, umbel-
las ou capítulos. Perigoneo com 3-4-5-6 divisões, às vezes
petaloide, ou nullo. Estames em numero egual ao das di-
visões do perigoneo, oppostos, com as antheras introrsas,
diversamente dehiscentes; às vezes reduzidos aos saccos
poUinicos formados no parenchyma superior das divisões pe-
rigonaes. Ovário 1-locular, adherente ao perigoneo, inferior;
1 estylete; estigma globoso. Fructo carnudo, mucilaginoso
(baga ou drupa), 1-2-3-spermo. Semente sem tegumento,
com ou sem albumen. Vegetaes parasitas, sempre-verdes,
com as folhas simples, inteiras, oppostas, ás vezes escarni-
formes, sem estipulas.
Viscum, Toum. — Visco. — Plantas dioicas, ou monoicas.
Flores masculinas com o perigoneo 4-fendido, e os estames
reduzidos a muitos saccos poUinicos desenvolvidos sobre as
divisões perigonaes, com dehiscencia poricida. Flor femiDina
com o perigoneo 4-fendido, e 2 carpellos concrescentes, em
cujos parenchymas os saccos embryonarios se produzem como
outras tantas emergências. Arbustos ou sub-arbustos parasi-
tas sobre os ramos das arvores, mas com chlorophylla ; com
raizes compridas, que se desenvolvem no interior da planta
hospitaleira, segundo a direcção dos seus feixes fibrosoSi
atravez a camada interna da casca, bem como atravez as
novas camadas lenhosas em via de formação.
r^
DAPHNEÁCEAS 101
Folhas oblongas, obtusas, attenuadas na base, coríaceas. Baga
vermelha. Sub-arbusto verde-amarellado, glabro. Fl. em
maio? Parasita sobre a$ oliveiras: Portalegre (segundo o sr.
R. Larcher Marçal). — Visco. ^ T. oraciatain» Sleb*
Família XX.— DÂPHNEÁOEIAS, Vent.
Flores hermaphroditas ou polygamo-dioicas», com o pe-
rigoneo regular, ás vezes petaloide, gamophyllo, 4-5-lobado
ou dentado. 8-10 estames dispostos em dois verticillos, in-
seridos no tubo e na garganta do perigoneo (flg. 19, B),
com os filetes muito curtos e as antheras introrsas, bilocu-
lares, longitudinalmente dehiscentes. Ovário livre, uni-locu-
lar e uni-ovulado; estylete simples, muito curto ou nuUo;
estigma capitado. Fructo indehiscente, secco ou carnudo,
às vezes incluido no perigoneo persistente. Semente com
albumen muito pequeno, ou nullo. — Arbustos ou sub-arbus-
tos, menos vezes plantas herbáceas, com as folhas inteiras,
alternas, sem estipulas, coriaceas. Fibras do liber muito
tenazes. Suecos cáusticos.
Fructo carnudo (baga — íig. 19, C. D); perigoneo caduco.
DapUne (pag. 101)
Fructo secco (achenio), envolvido pelo perigoneo persistente,
ou só caduco muito tarde VlBynielaea (pag. 103)
Daphne, L. — Trovisco, — Flores hermaphroditas, termi-
naes ou lateraes, dispostas em fascículos ou cachos. Peri-
1 Suppocnos esta planta muito rara em Portugal, e apenas temos co-
nhecimento da sua existência em Portalegre. O sr. Willkomm, no Pro-
dromus, indica uma outra espécie d'esta familia também no paiz, de
que não temos mais nenhuma referencia. — É o ArcetUhobium Oxycedri,
M. B., parasita sobre o Juniperus Oxycedrus, fácil de reconhecer pelas
folhas escamiformes e caules aphyllos, pelo modo por que a baga
se abre circularmente na base, com elasticidade, arremessando longe a
semente, etc.
102
DAPHNEÁGEAS
goneo caduco, afunilado, corado (branco, amareílo-esver-
dinhado ou rosado), 4-Iobado. 8 estames dispostos em doi$
verticillos. Estylete quasi nullo. Baga carnuda ou quasi secca.
Arbustos com os botões escamosos e as flores geralmeDte
cheirosas.
. Flores terminaes, dispostas em cachos panicalados oa corymbo-
sos. Perigoneo (fig. 19, A) assetinado, branco ou levemente
amarellado. Pedúnculos brancos, cotanilhosos; ovários pu-
bescentes (fíg. 19, B). Baga carnosa, vermelha (fig. 19,
C, D). Folhas imbricadas, linear-lanceoladas (fíg. i9, E),
acuminadas, glabras, persistentes durante um anno. Fi. m
agosto, setembro. Terras incultaSy matos, charnecas, etc :
em todo o paiz. — Trovisco ordinário, trovisco fêmea.
O. Cinidloni» L.
Flores lateraes dispostas em cachos de 3-7, pendentes. Perigo-
neo g1aJ:)ro, amarello-esverdinhado. Pedúnculos e pedicellos
muito curtos glabros. Ovários glabros. Baga negra. Folhas
persistentes, lanceoladas, agudas, coriaceas, glabras. Fl. na
primavera. Cultivado nos jardins e ás vezes sub-espontamo
próximo a elles {seg, Brotero). — Laureola macha, mezeréo
menor D. Eiaureola» L.
Fig. 19. — A: Flor do Daphne Gnidium, L. (1:1). B: a mesma, cortada
para mostrar a inserçáo dos estames (2:1). C: fmcto (1:1). D: o
mesmo cortado. E: uma folha (1:1). F: Ramo florifero da Thí/m-
laea corídifolia, Endl. (1:1).
DAPHNEACEAS
103
Thymélaea, Tourn. — Flores hermaphroditas, dioicas ou
polygamicas, axillares, solitárias ou fasciculadas. Perigoneo
4-fendido, afunilado ou gomiloso, marcescente, esverdl-
nhado (raras vezes branco ou corado). 8 estames em dois
verticillos. Estylete curto. Fructo um achenio incluído no
perigoneo persistente. Pequenos arbustos, sub-arbustos ou
plantas herbáceas*.
Flores sem bracteas, dioicas, reunidas 2-3, sesseis, na axilla
das folhas superiores. Perigoneo caduco cedo, deixando o
fructo a descoberto, felpudo externamente, amarello. Estylete
sub-terminal. Pequeno arbusto muito ramoso, com os ramos
novos brancos, lanosos. Folhas curvas, imbricadas, pequenas
e grossas, lanceolado-ovadas, obtusas, coriaceas, glabras ou
lanosas na pagina superior. Fl. em outubro, maio — {JPazse-
rina hirsuta, L.) Tb. iBtlniula» Enill*
Flores bracteadas, solitárias oir geminadas. Perigoneo persis-
tente sempre. Estylete lateral 2
/
Folhas glabras, coriaceas, estreitas, lineares (fig. 19, F). Flo-
res solitárias ou geminadas, reunidas no cimo dos rebentos
em espiga curta, comosa. Perigoneo amarello, externamente
branco-pulverulento. Muito pequeno arbusto, ou sub-arbusto,
ramoso. Fl, em setembro. Serra do Gertz (seg, o sr. Dr, J.
Henriques). — (Passertna hirsuta, Brot., non L,)
TU. eoridirolta» Endl.
Folhas com pellos brancos muito compridos, elliptico-lanceola-
das. Flores dioicas, solitárias. Perigoneo amarello, com pel-
los compridos externamente. Pequeno arbusto, ou sub-ar-
busto, com os ramos flexuosos, glabros, ou no cimo pube^-
centes. Fl. em março, maio. Algarve^ Alemtejo. — Trovisco
alvar (Daphne villosa, L.) Tli. Yâllona* Endl.
1 Afora as espécies que vSo descriptas só existe em Portugal, que nos
conste, uma outra espécie — «7^. lutitanica, Wdw. — herbácea, lenhosa na
base, com as folhas lenceolado-lineares, e as flores hermaphroditas, bra*
cteoladas, envolvidas na base por pellos fasciculados (espécie muito pró-
xima da Th. Passerina, Lge., ou simples variedade d'esta ultima): abun-
dante próximo a Cascaes (Caparide), Monsanto, etc.
104 COMPOSTAS
Snb-classe II. — GamopeUlas
Flores com dois envolucros floraes (cálice e coroUa). Co-
roUa gamopetala.
FamUia XXI.— COMPOSTAS, L.
Flores hermaphroditas, unisexuaes ou neutras, por abor-
to, sesseis sobre um eixo commum (receptáculo) plano,
concavo ou convexo, liso ou alveolado, nu, ou vestido de
.palhetas, pellos ou sedas (bracteas-mães) ; capítulos cerca-
dos por um envolucro de foliolos (bracteas estéreis) livres
ou soldados, inermes ou espinhosos. Cálice gamosepalo,
com o tubo pequeno, adherente ao ovário, e o limbo esca-
rioso, formado de pellos ou sedas, ou nuUo. CoroUa gamo-
petala, tubulosa, afunilada ou campanulada, com 4-5 divi-
sões regulares, ou irregular, ligulada ou sub-bilabiada. 5
estamos, raras vezes 4, inseridos no tubo da corolla e al-
ternos com as suas divisões; filetes quasi sempre livres;
antheras sempre adherentes a constituírem um tubo que
envolve o ovário, introrsas, biloculares, longitudinalmente
dehiscentes. Ovário inferior 1-locular, 1-ovulado; l estylete,
dividido em dois ramos, curvos para fora. Fructo secco, in-
dehiscente, monospermo (achenio), nú ou coroado com ap-
pendices de varias formas, pelludos ou membranosos. Se-
mente sem albumen; embryão recto.— Plantas herbáceas,
raras vezes arbustos ou sub-arbustos, com as, folhas quasi
sempre alternas, simples, polymorphas, sem estipulas.
A familia das Compostas tem um grandíssimo numero de
representantes na flora portugueza y quasi todas as suas es-
pécies são herbáceas— annuaes ou perennes — e por isso as
não referimos; algumas são um pouco lenhosas na base,
pequenos sub-arbustos sem nenhuma importância, de que
COMPOSTAS 105
também d3o vale a pena fallar. Apenas indicámos n'esta
familia o seguinte género:
Artemísia, L. — Flores todas com a corolla tubulosa. Re-
ceptáculo plano ou convexo, glabro ou pelludo. Foliolos do
envolucro imbricados. Flores da circumferencia do capi-
tulo femininas, férteis, 3-dentadas, com o estylete muito
saliente; flores centraes hermaphroditas ou estéreis por
aborto, tubulosas, 5-tíentadas. Achenios sesseis, obovados,
comprimidos, nâo sulcados, sem appendice. Capitulos pe-
quenos, com poucas flores, ovóides, oblongos ou semi-es-
phericos, dispostos em paniculas. cachos, espigas ou agglo-
merados. Corollas amarelladas. Hervas, arbustos ou sub-
arbustos, ás vezes aromáticos, com as folhas diversamente
pinnuladas ou palmatipartidas. (Existem em Portugal espé-
cies lenhosas e herbáceas, apenas nos referimos ás primeiras).
. i Plantas avelludadas, mais ou menos acinzentadas 2
j Plantas glabras, verdes. Receptáculo nú 3
Receptáculo pelludo. Capitulos sub-globosos. Folhas pinnatipar-
tidas (as do cimo 1-, as do meio 2-, as inferiores 3-pinnati-
partidas), com os segmentos lineares, obtusos. Foliolos do en-
volucro línçar-oblongos : no cimo, e os inferiores também nas
margens, largamente escariosos. Arbusto esbranquiçado, com
os capitulos pedicellados, dispostos em pequenos cachos pani-
culados. Fl. emjvlho, agosto. Littoral e sebes do Algarve. —
Losna menor, ou do Algarve {Absinthium arborescens, Brot,)
A. arlioreffceiífl» li*
Receptáculo nú. Capitulos ovóides. Folhas floraes inteiras, lan-
ceoladàs ou lineares, e as caulinares pinnatipartidas, pontua-
das, glauco*cotanilhosas. Foliolos do envolucro côncavos,
os exteriores herbáceos, os interiores largamente escariosos.
Sub-arbusto esbranquiçado-azulado, com os capitulos peque-
nos, 3-flores, inseridos em pedicellos curtos, dispostos em ca-
chos paniculados. FL em setembro, outubro. Areias salgadas
ao sul do Tgo, Algarve^ etc. — {A. palmatay Lam. e Brot.)
\ A. coeruleseeiis» Ia.
106 LONICERÁCEÁS
Capítulos sob-globosos. Folhas bi-pinnatipartidas com os se-
bentos lineares, setaceos. Arbusto com os capítulos pedieel-
lados dispostos em panicula estreita e folhosa. Fl. no estio,
TraZ'OS'Monte8 e Beira {seg. Brot,) — Abrotano macho, hena
latnbriguemi A» panlcalataf Iiaai.
Capítulos ovóides. Folhas pinnatipartidas, carnosas, com os se-
gmentos linear-lanceolados, mucronados, superiormente ca-
naliculados, inferiormente aquilhadot^. Arbusto ou sub-arbosto
com os capítulos inseridos em pedicellos curtos, dispostos em
cachos paniculados. Fl. em setembro, ovlubro. Areias mari-
timos da Beira, Estremadura, etc, — Madomeira.
\ A. crlthmifolia* L.
Entre as plantas herbáceas, que não mencionámos, a
mais importante d'este género é a A. Âbsiníhium, L., Losna
maior, ou Absintho vulgar, espontânea no norte, empregada
no fabrico de licores e em medicina. Das espécies lenhosas
a mais importante é a Madomeira; usam-a para revestir e
consolidar as areias marinhas nos trabalhos de immobiiisa-
ção das dunas.
Família XXII.— LONIOERÁOEAS, Jnss.
Flores hermaphroditas, raras vezes estéreis, regulares
ou irregulares. Cálice com o tubo adherente ao ovário e o
limbo 5-dentado (dentes ás vezes caducos, ou obsoletosi.
Corolla gamopetala, 5-fendida, regular ou bi-labiada. 5 es-
tames, inseridos no tubo da corolla e alternos com as suas
divisões; filetes filiformes; antheras biloculares, longitudinal-
mente dehiscentes. Ovário inferior 2-5-locuIar, com os locu-
los 1-multi-ovulados. Estylete terminal comprido e filiforme,
ou sub-nullo, ou nullo. Fructo (nas espécies indígenas) dru-
paceo ou bacciforme, com 2-5 loculos mono-polyspermos,
ou por aborto l-locular e monospermo. Sementes com al-
bumen; embrySo recto. — Arbustos ou sub-arbustos (raras
r
LONICERÁGEAS 1 07
vezes plantas herbáceas ou arvores) levantados ou sarmen-
tosos, com as folhas oppostas, simples ou^ compostas, com
estipulas pequenas ou nuUas. Flores reunidas em cymeiras
diversamente grupadas, ou verticillado-capitadas, ou ge-
minadas. Botões, muitas vezes, múltiplos na mesma axilla,
nus ou escamosos na base.
Corolla irregular (fig. 20, F, K). ínflorescencia (nas espécies
indígenas) verlicillado-capitada (Bg. 20, E, I). Fructo polys-
permo. Estylete flliforme (fig. 20, N, 0). Folhas inteiras.
1( liOnlcera ({)ag. 109)
Corolla regular (fig. 20, A). ínflorescencia em cymeiras um-
belliformes. Fructo 3-monospermo. Estylete muito curto, ou
nuUo 2
Folhas simples (fig. 20, D). Fructo monospermo.
^1 «...'... Vibarnum (pag. 109)
Folhas imparipinnuladas (fig. 20, M). Fructo trispermo.
Aamliuoa» (pag. 107)
Sambucus, L. — Sabugueiro. — Limbo do cálice 5-lobado.
Corolla regular, rodada, 5-lobada. 5 eslaínes. Estylete nuUo;
3 estigmas sesseis. Baga 3-5-locular, 3-5-sperma. Arbus-
tos, ou plantas herbáceas, com as folhas imparipinnuladas
e as flores dispostas em cymeiras umbelliforuíes, corym-
biformes ou thyrsoides. (Existem, conhecidas em Portugal,
duas espécies, uma lenhosa, outra herbácea).
Corolla branca, cheirosa. Ântheras amarellas. Baga negra. Flo-
res dispostas em cymeiras umbelliformes, planas. Folhas op-
postas, pinnuladas, com 8-7 foliolos elliptico-lanceolados,
acuminados, dentados (fig. 20, M). Estipulas linear-setaceas
ou sub-nollas. Medulla abundante, branca. Arbusto ou, em
alguns sítios, pequena arvore. FL em março, abril. Em todo
paiz:, nas sebes, marffens dos rios, etc. — Sabugueiro,
U. nl^ra» li*
108
■1
^..à
Cl
Fig. 20.—^: Flor do Yibunmm Tinta, L.— B: o cálice.— C: o ftwto
(todos I:)). Dl uma folha (2:1). E: Ramo flori fero da í^ntwro ft-
i-Klymenum,L.il:i). /": uma flor (2:3). H: um fructoíl:2]./: lUmo
florjfero d» Lonicera etrvica, Sanli. (1:2). S: Flor da LonUera im-
plexa, Ait. (1:2). JH: Folha do Sambucut nígra, L. (1:2). N: Estjlete
daXoniceraímyexdiAil.— 0.-EslyletedaLoníc«ra«lnuca,Siuiti.(2:3).
lonicerAceas 1 09
Tiburnum, L. — Folhado. — Limbo do cálice 5-lobado (flg.
20, B). CoroUa regular (flg. 20, A) rodada ou afunilado-
campanulada. 5 estamos. Ovário 3-locular, com os loculos
1-ovuIados. Estylete curto; estigma capitado, 3-lobado, ou
3 estigmas livres. Fructo mais ou menos carnudo, 1-locu-
lar, monospermo. Arbustos, ou pequenas arvores, com as
folhas simples e as flores em cymeiras umbelliformes.
Folhas caducas, palmatilobadas, estipuladas, tendo nos peciolos
2-6 glândulas cupuliformes. Drupas vermelhas, globosas, sue-
culentas. Inflorescencia plana com as flores centraes herma-
phroditas, pequenas, esverdinhadas, e as flores lateraes maio-
res, brancas, estéreis, comos51obulosdacorolladeseguaes:
ou, ás vezes, inflorescencias globosas, com as flores todas es-
téreis e as coroUas grandes, rodadas. Arbusto. Fl. em feve-
reiro e março. Cultivado nos jardins. — Rosa de Gueldres^ nO'
vellos ou sabugueiro de agua V. Opulan* Ij«
Folhai perennes, elliptico-ovadas inteiras (flg. 20, D), sem es-
tipulas; peciolos sem glândulas. Drupas quasi seccas, negro-
azuladas na maturação, coroadas pelos dentes do cálice (Gg.
20, C). Flores brancas, inodoras (fig. 20, A, B). Arbusto ou
pequena arvore. Fl. na primavera e no inverno. Espontâneo
nas provindas do norte {Gerex, Estrella, Coimbra^ etc);
cultivado nos jardins. — Folhado V. Vinoii» li.
Lonicera, L. — Madresilva. — Cálice com o limbo 5-den-
tado. Corolla com o tubo alongado e o limbo bi-Iabiado (ra-
ras vezes sub-regular S-fendida) ; lábio superior 4-fendido
e o inferior inteiro (fig. 20, F). 5 estames. Estylete fiUfor-
me, comprido (fig. 20, N, O); estigma 3-lobado. Baga po-
lysperma, succulenta,* coroada pelo limbo do cálice (flg.
20, H), vermelha nas espécies indigenas. Arbustos sarmen-
tosos, volúveis, ou levantados (sempre volúveis nas espé-
cies indigenas), com as folhas simples, inteiras, caducas ou
persistentes. Flores .grupadas em capítulos terminaes, ou
geminadas e axillares (sempre em capítulos terminaes, ou
verticiUado-capitadas, nas espécies indigenas).
110
LONIGERÁCEAS
Folhas, pelo menos as superiores dos ramos floriferos, aduna-
. ] das na base, eoriaceas (fig. 20, 1) 2
Folhas todas livres, não admiadas na base, molles, caducas
(fig. 20, E). Estames muito salientes. Estylete glabro. . . 3
\
Estames muito pouco salientes, quasi completamente indnidos
na corolla (fig. 20, K). Estylete hispido (fig. 20, N). Folhas
persistentes, glabras, obovado-ellipticas, as superiores com-
pletameute adunadas na base, formando um envolucromono-
phyllo ás flores, as restantes muito concrescentes, ou quasi
nada, e entaaás vezes estreitas em baixo, com todas as for-
mas intermédias. Capitulo sessil. Corolla cheirosa, amarella-
da, levemente avermelhada, glabra externamente. Fl. de
abril a julho. Beira, Estremadura, Alemtejo^ Algarve.—
Madresilva li. tmplexa» AÍU
Flores dispostas em 3 verticillos terminaes afastados. S^rra
da Arrábida fdrma ^^ertleillata»
Corolla externamente pubescente. Serra da Arrábida, eic.
^ Mrma lalmota.
Estames muito salientes (fig. 20, 1). Estylete glabro (fig. 20, 0).
Folhas caducas, glabras ou pulverulentas, obovadas; as dos
ramos estéreis e as inferiores dos ramos férteis, livres: as su-
periores dos ramos floriferos e as floraes adunadas na base.
Capitulo terminal pedunculado, tendo ás vezes dois capitules
axillares (fig. 20, I). Corolla amarellada, externamente aver-
melhada, cheirosa, glabra. Fi. em junho e julho. Em todo o
paiz. — Madresilva ^ li. ef rasca* Sanll-
1 Os exemplares que possuímos da L. implexa, Ait., foram -nos dados
pelo sr. Daveau, e são todos da serra da Arrábida, mas no herbario da
Escola Polytechnica existem de outras muitas localidades das provín-
cias do sul e do centro. Os exemplares da serra da Arrábida são notá-
veis pelo seu polymorphismo : já nas folhas, largas ou estreitas na base,
adunadas ou livres, já na forma da inflorescencia, verticillado-capita^,
ou frouxa, com os verticillos bastante separados, já no tomento da co-
rolla, muito glabra ou muito pubescente. Notamos acima as duas for-
mas mais salientes.
^ Conhecemos a L. etrusca, Santí., de vários pontos do paiz, desde
LONIGERÁÇEAS 111
/ Folhas glabras na pagina superior, ou quasi gl^dbras, e na infe-
rior pulverulentas ou levemente pubescentes, as inferiores
pecioladas e as superiores sesseis, ovadas ou ovado-oblongas.
Capitulo terminal, longamente pedunculado (fig. 20, E). Re-
bentos pubescentes. Ovário, bracteas e cálice glanduloso-pul-
verulentos. Coroila pubescente, amarella ou avermelhada,
cheirosa. Fl, em junho e julho. Em quasi todoofaiz.-^Ma-
dresilva das boticےs Ij. Perlei ymeniiiD* li.
Folhas mollemente pubescentes em ambas as faces, todas pecio-
ladas. Pedúnculos, cálices e ovários densamente glandulosos.
Tubo da coroUa maior e mais delgado que na espécie ante-
rior, externamente muito glanduloso-pubescente. Fí. em maio
I e julho. Algarve. — MadresUva .
l ^ l4. liliipaiilea* Ba». & Beat»
Traz-os-Montes até ás províncias do centro ; nunca encontrámos a L.
Caprífolium, L., nem existe no herbario da Escola Polytechnica, nem
no da Universidade, nem nos consta que ninguém a encontrasse em
Portugal. O sr. Willkomm diz no seu Pródromus que também a náo en-
controa em Hespanha, suspeitando que a espécie como tal indicada pelos
auctores da Peninsula é a L. etrusca (as duas espécies, entre outros ca-
racteres, distinguem-se bem por este, muito saliente — os capitules da
L Caprifolium sâo sesseis e os da L. etrusca pedunculados). Brotero,
na Flora, indica a L, Caprifolium frequente em Coimbra e em quasi todo
o paiz; mas, segundo informações que devo ao obsequio do sr. Moller,
a L etrusca é a que se encontra nos arredores de Coimbra é não a L.
Cpprifolium, e portanto á primeira se deve antes referir a indicação da
Flora.
^ A L. Peridffmenum, L., apresenta formas muito desegnalmente pu-
bescentes; as formas mais hirsutas que temos visto sâo das províncias
do centro e do sul, e as menos pubescentes do norte. A L. hispânica,
Bss. ,&. Reut, náo é, talvez, senSo uma forma austral do typo linneano,
earacterisadapelo tomento mais espesso e macio.
112 VAGCINlACEAS
Família XXIIL— VAOCINlAOEAS, DO.
Flores hermaphroditas, regulares. Cálice adherente ao
ovário, com o limbo 4-5-denlado, ou sub-inteiro. Corolla cam-
panulada, gomilosa ou rodada, 4-5-fendida, ou 4-5-lobada.
Estames livres, em numero duplo do das pétalas- (ou egual),
inseridos n'um disco epígynico, com as antheras biloculares,
dehiscentes por poros terminaes, appendiculadas na base. 1
estylete filiforme; estigma capitado. Ovário inferior com 4-5
loculos multiovulados. Baga polysperma. Sementes com al-
bumen; embryão recto.— Arbustos, ou sub-arbustos, com
as folhas simples, alternas, coriaceas, persistentes ou ca-
ducas, sem estipulas.
*
Vaccmium, L. — Arando. — Corolla gomilosa, ou campa-
nulada, 4-5-fendida ou 4-5-lobada. 8-10 estames. Baga glo-
bosa. Pequenos arbustos ou sub-arbustos, de ordinário so-
ciáveis, com as raizes muito ramificadas, horisontaes, pro-
duzindo muitos rebentões, e providas de cabellame muito
abundante *.
Sub- arbusto com os ramos angulosos. Folhas caducas, ovado-
agudas, dentadas. Flores axillares, solitárias, pendentes.
Limbo do cálice inteiro ou sub-inteiro. Corolla gomilosa, sob-
^ N'este género apepas descrevemos o V. Myriilltis, L., única espécie
que temos bem conhecida em Portugal. O sr. Willkomm, no Prodromus,
indica o V, uliginosum, L., como existente em toda-a Europa, e por isso
também em Portugal, mas não temos nenhuma indicação precisa acerca
do seu apparecimento no paiz, nem existe no herbario da Universida-
de, nem no da Escola Polytechnica. É um pequeno arbusto próprio aos
sítios paludosos das regiões alpinas e sub-alpinas; distingue-se do F.
l^yrtiUus em ter as folhas inteiras, os ramos cylindricos, as flores re*
unidas em corymbos, etc
r
EHQÀCEAS li3
globosa, egverdiDhado-rosada. Baga levantada (flg. 21), ne-
gro-aznlada (raras vezes branca), doce, saccharina, coberta
com efQoresceacia glauca. Fl. em maio e junho. Botgua e
motíanhai das grandes alliludes, nonorte: Gerez.— Arando.
T. ■tt«IIIii«. b.
Fig. 21. — Ramo fractifero do Yatâtdum Myrtiilia, h. (1:1).
Família XXIV. — ERIOÁCEAS, ÍÁaál.
Flores bermaphrodilas, regulares oa qnasi regalares.
Cálice persistente, com 4-5 sepalas livres ou concrescentes^
Corolla gamopetala, com 4-5 divisões, caduca ou marcescente.
Estames em numero egual ao das pétalas, ou duplo. livres,
inseridos com a corolla sobre mn disco hypogynico; anthe-
ras bilocnlares, debiscentes por poros, ás vezes appeudicD-
ladas. Ovário superior, livre, 4-5-locular, com os loculos
1-maltiovDlados. Estylete íiliforme ; estigma capitado. Fro-
clo secco (capsula locolicida ou septicida), ou carnudo (baga
ou drupa). Sementes com albumen; embry3o recto. Arbus-
tos, sob-arbnstos ou pequenas arvores, com as folbas quasi
sempre perenoes, simples, alternas ou vertidUadas, ás ve-
zes lineares, sem estipulas.
114
4ip
Fig. 22.— A: Gorolla do Arbutui Utiedo, L. {!;!). B: fniclo (1:1). C:
folha (1:2). D: Flor do RhodotUadron baitieunt, Bss. & Itent (1:2).
E: folba (1:2). F: Folha da Daboeeia poUfídia, Don. (1:1). H: Co-
rolla da Ertea cinerea, L. (1:1)- /: Ramo florifero da Eriea uirM-
lala, L. (1:1). K; Folhas da Eriça citiaru, L. (1:1). JH: Folhas d»
' Eriea cinerea,h. (IA). N: EsUme daí^rica reírfliií, L.— O; Eslan»
da Eriça eiliarú, L. (um pouco aug menta dos). Q: Capsula da^nt»
umbeliata, L. (um pouco auguieoUda). R: Ramo folhoso da Calbaa
vulgarít, Salish. (1 : 1),
ÍFructo carnudo (baga), granulado-tuberculoso (fig. 22 , B). Fo-
lhas com o limbo desenvolvido ■ ArUvlsa (pag. 115)
Fniclo secco : capsula com 4-5 válvulas (fig. 22, Q) 2
1 Ha uma Ericáaa de fructo carnudo com a superficie lisa, um pe-
queno sub-arbuBto — Arcíoilapkylot Uta-urti, Spr. (Arbvtut Íím-Km,
L.) — que o ST. Willkomm, no Pròdromtu, indica em Portugal ; d3o o det-
ERICÁGEAS 115
Corolla afunilada, com o limbo 5-lobado (fig. 22, D), eadaca.
Q \ Capsula com 5 válvulas. Folblls com o limbo desenvoivido
^ (fíg. 22, E) Blaodeileiídroii (pag. 116)
CoroUa com 4 divisões. Capsula com 4 válvulas 3
Corolla caduca. Folbas alternas ovado-lanceoladas (fig. 22, F).
^1 Dalioecla (pag. 1 16)
Corolla persistente. Folhas oppostas ou verticilladas (fig. 22,
K, M).: 4
Corolla mais curta do que o cálice. Capsula septicida. Folhas
pequenas, oppostas, imbricadas em quatro fileiras (fíg. 22, R).
4{ Callana (pag. i20)
Corolla maior do que o cálice (fíg. 22, H. I). Capsula loculicida.
Folhas 3-4-verticilladas (fig. 22, K, M). Krlca (pag. 117)
Arbutus, Tourn. — Medronheiro. — Flores regulares, dis-
postas em cachos terminaes, pendentes. Cálice 5<partido,
menor do que a corolla. Corolla gomilosa, 5-dentadá, ca-
duca. 10 estamos inclusos na corolla, com as antheras de-
hiscentes por dois poros terminaes, biaristadas. Baga glo-
bosa, carnosa, granulado-tuberculosâ, 5-locular, com os lo-
culos polyspermos. Folhas com o limbo desenvolvido, al-
ternas.
Folhas elliptico-lanceoladas, dentadas, com peciolo curto (fíg.
22, C), coriaceas, glabras, persistentes. Flores brancas (fíg.
22, Â), dispostas em cachos compostos terminaes. Èstames
com os filetes lanosos. Baga vermelha muito tuberculosa (fíg.
22, B). Arbusto ou pequena arvore. Fl. de novembro a fe-
vereiro. Florestas, montes incultos, etc, frequente ^ sobretudo^
nas prooincias io norte. — Medronheiro ou ervodo.
IL. CJnedo» Ito
crevemos, por julgarmos a sua existência no paiz muito problemática,
por isso que d'elle não encontramos mais nenhuma menção, nem sa-
bemos de ninguém que o visse, nem de nenhum herbario.onde exista.
8*
il6 ERIGÁCEAS
Bhododendron, L. — Rhododendron. — Flores grandes, dis-
postas em corymbos terminaes. Cálice 5-partido. Corolla
caduca, afunilada, com o limbo 5-lobado, mais ou menos
irregular. 10 estames salientes, com as antheras dehiscen-
tes por poros terminaes, n3o appendiculadas. Estylete com-
prido, saliente; estigma capitado. Capsula septicida &-loca-
lar, com 5 válvulas. Folhas com o limbo desenvolvido, al-
ternas ou sub-verticilladas, persistentes.
Folhas oblongo-lanceôladas, agndas, inteiras, com pecioío curto
(fig. 22, E), glabras. Pedúnculos maiores do que a corolla,
glandulosos no cimo. Cálice com os dentes triangulares. Co-
rolla grande, afnnilado-rodada, intensamente rosada, com os
lóbulos obtusos (fig. 22, D). Filetes celheados até mais de
meio com pellos densos, brancos. Estylete avermelhado. Ca-
psula glabra. Arbusto com os ramos flexuosos, glabros.
Fl, de abril a junho. Algarve^ Beira^etc. — Bhododendron,
adelpheira {no Algarve), B* liaedcaiii» lto««di:Beat«
Daboecía, Don. — Flores axillares, solitárias. Cálice 4-par-
tido. Corolla gomiloso^-oblonga. 4-dentada, caduca. 8 esta-
mes inclusos ; antheras dehiscentes por poros terminaes, sa-
gittadas, não appendiculadas. Estylete incluso ; estigma ob«
tnso. Capsula septicida,,4-locular, com 4 válvulas.
Folhas alternas, persistentes, ovado-lanceoladas, agudas, com
peciolo curto (fig. 22, F), inteiras; verdes, lustrosas, com
alguns pellos brancos na pagina superior, e na inferior bran-
cas cotanilhosas; planas ou enroladas nas margens. Flores
axillares, solitárias, pendentes, dispostas em cachos pouco
apertados, terminaes. Corolla violácea ou, raras vezes, branca.
Antheras vermelho-escuras. Ca(>su]a levantada, oblonga, glan-
duloso-hispida. Sub-arbusto ramoso, com os ramos pubescen-
tes e as raizes compridas e horisontaes. FL de maio ajMo.
Terras seccas e áridas do paix de Entre Douro # IfinAo.—
{Eriça Daboecia, L. e Brot.) D« poHteltat IMS*
r
ERIGÁGEAS 117
Eriça, L. — Urze. — Flores terminaes ou axillares. Cálice
com 4 sepalas, livres ou concrescentes na base, verdes ou
coradas. CofoUa maior do que o cálice, gomilosa, 4-dentada
ou 4-lòbada, marcescente. 8 estames, com as antheras
appendiculadas ou nSo. Estylete filiforme; estigma capitado.
Capsula loculicida, 4-locular, com 4 válvulas (flg. 22, Q).
—Arbustos e sub-arbustos sempre-verdes, com as folhas
inteiras, lineares, acerosas, ou, menos vezes, ovado4anceo-
ladas, verticilladas por 3-4, e de ordinário com as margens
enroladas para a face inferior. Plantas, ás vezes, sociáveis.
. (Antheras salientes (fíg. 22, 1), não appendicaladas 2
Antberas inclasas (Gg. 22, H), appendicaladas ou não 3
Flores geminadas, axillares. Pedúnculos menores do que as co-
roUas. Cálice avermelhado. CoroUa gomiloso-tubulosa, côr
de carne ou vermelha; estylete longamente saliente. Sub-ar-
busto com as folhas lineares quatemadas. FL na primavera.
Estremadura (entre Coitares e Cintray etc.)
E* mediterrânea* !«•
3-6 flores em umbellas terminaes (fig. 22, 1). Pedúnculos eguaes
ou maiores do que as coroUas. Corollagomiloso-ovoide, con-
trahida no cimo, côr de carne, violácea, ou branca. Estylete
longament ) saliente. Arbusto com as folhas lineares, tornadas.
Fl. de abril a julho. Terrenos incultos, soltos, arientos^ p»-
nhaes^ charnecas, etc, , em todo o paiz. E* nmliellata* li.
Corolla maior, cylindro-gomilosa. Estamos estéreis. Pi-^
nhaes de Leiria, do Estoril. . . ^ Mrma anandra*
Folhas glanduloso-celheadas (íig. 22, K), bem como os pedon-
culos e os cahces 4
Folhas não celheadas, lineares (fíg. 22, M) 5
1 Parece-nos mais rasoavel considerar antes esta urze, cujos esta-
mes sSo estéreis, como uma forma monstruosa, do que como uma va*
riedade {v. anandra, Lge.)
118
ERICÁGEAS
Antheras não appendiculadas (fig. 22, 0). Folhas ovado-lanceo-
ladas (fig. 22, K). Estylete bastante saliente. Flores grandes,
com pedúnculos curtos, axillares, solitárias, horisonta^ on
pendentes, dispostas em cachos no extremo dos ramos. Go-
roUa tubuloso-gomilosa, violácea. Sub-arbusto com as folhas
temadas ou quaternadas. Fl, m primavera e outono. Sitiot
húmidos, terras soltas^ pinhaeSj etc: Beira^ Estremadura^
etc E. clllaris» L.
Antheras appendiculadas (íig. 22, N). Folhas lineares. Estylete
incluso ou muito pouco saliente. Flores com pedúnculos cur-
tos, pendentes, dispostas 5-12 em umbella terminal ou cacho
umbelliforme. Corolla rosada (raras vezes branca), ovado-
gomilosa. Sub-arbusto com as folhas quaternadas. Fí, napri*
mavera e outono. Sitios húmidas nas provindas do norte.
E. Tetralix» I»
Antheras não appendiculadas. Flores amarello-esverdinhadas,
pequenas, tão largas como compridas, campanulado-globo-
sas, pedtmculadas (pedúnculo egual á flor), pendentes, dis-
postas 1-3 na axilla das folhas superiores, constituindo lon-
5 { gos cachos simples, estreitos, folhados. Arbusto muito glabro
com as follias temadas ou quaternadas. Fl. em maio julho.
Terrenos arenosos e incultos, pinhaes, etc. : Beira, Estrema-
dura, etc. — Urze das vassouras E. «coparia* L»
Antheras appendiculadas. Corolla violácea, rosada ou branca. 6
/ Flores sub-sesseis. Capsulas assetinadas. Folhas quaternadas.
Corolla rosada, ovado-tubulosa, um pouco mais larga no cimo.
Appendices dás antheras sub-pinnulado-incisos. Bracteas ob-
tusas. Lacinias do cálice mucronadas, muito celheadas, aver-
melhadas, com a quilha verde e as margens branco-merobra-
nosas. Arbusto com as flores grandes, pendentes, umbellado-
fasciculadas, reunidas em grandes panicnlas. FL de(evereiro
a maio. Sitios seccos^ terras soltas: Algarve, Beira^ etc.
E. aiiatrali»# L*
6 / Corolla um pouco contrahida no cimo. Appendices das an-
theras apenas inciso-dentados na margem externa. Bra-
cteas agudas. Lacinias do cálice muito pouco mucrona-
das, glabras, quasi nada celheadas, avermelhadas com
EBICACEAS
119
6
I
I
8
a quilha esbranquiçada, estreitamence branco-membra-
nosas nas margen&. PL em maio e junho. Na região
montanhosa: Traz-os^Montes, serra da Estrella^ etc.
^ jr. araffonensis» 1VK« (como esp.)
Flores com o pedúnculo egual ou quasi egual ao seu tamanho.
Capsulas glabfas. Folhas temadas ou I^aternadas 7
Sub-arbusto com os ramos pulverulentos ou levemente pubes-
centes. Folhas temadas, tendo na axilla um ramo muito pouco
desenvolvido com folhas fasciculadas. CoroUa cylindro-gomi-
losa (fig. 22, H), violácea, rosada ou branca. Flores dispos-
tas lateralmente 1-3, formando o conjuncto uma panícula es-
treita, densa. Fl, em maio e junho. Terrasseccas^ áridas^ in-
cultas, principalmente nas províncias do norte.
£• cinerea» li*
Arbustos com os ramos esbranquiçados, cheios de pellos dispos-
tos em duas camadas : uns menores e muito bastos, outros
maiores, afastados. Corolla côr de carne ou branca 8
I Ramos com pellos todos simples. Corolla oblongo-campanulada,
mais comprida do que larga, um pouco apertada no cimo.
Flores dispostas 1-3 na extremidade de ramos lateraes muito
curtos, formando o conjuncto uma panicula grande, pyrami-
dal. Fl. de dezembro a janeiro. Ka Beira, Estremadura, etc.
— {E. arbórea, Brot. exp., non L.)
B. lasitanica* Roei.
Ramos com pellos simples (alguns terminados em gancho) e ou-
tros ramosos. Corolla campanulada, tão comprida como larga,
muito menor que na espécie anterior, nãoapertadanagarganta.
Flores dispostas 2-4 no cimo de pequenos ramos lateraes, con-
stituindo uma panicula pyramidal. Fl. emmarço-jvnKo. Fre-
quente sobretudo na região do centro e do norte: Beira, Traz-
oS'Montes, etc. — {E. arbórea, Brot. exp.) £• arUorea^Ij.
/
1 O sr. Willkomm, no Prodromus, diz que a sua E. aragonensis é
provavelmente uma fónna boreal da E. australis; separa as duas, com-
tudo, por não ter visto formas intermédias. Possuímos no nosso herba-
rio exemplares de Traz-os-Montes, que julgamos exactamente n'esse
caso, epor isso aqui fazemos a juncçSo, considerando a E. aragonensis
como uma variedade da espécie linneana.
120 PLUMBAGINEAS
Calluna, Salisb. — Urze. — Flores axillares, constituindo
cachos terminaes. Cálice com 4 sepalas petaloides. Gorolla
campanulada profundamente 4-fendida, muito menor do qae
o caUce, marcescente. 8 estames com as antheras não appen-
diculadas. Estylete filiforme. Capsula septicida, com 4 loca-
los polyspermos e 4 válvulas. Pequenos arbustos sociáveis,
sempre-verdes, com as folhas oppostas, imbricadas.
Cálice escaríoso. Flores rosadas ou brancas, horisontaes oa p^-
dentes, rodeadas na base de pequenas bracteas que parecem
ser o cálice, como o cálice parece ser a corolla. Cachos sim-
ples, terminaes, compridos. Capsula felpuda. Estylete saliente ;
antheras inclusas. Arbusto tortuoso, ramoso, glabro, com as
folhas lanceolado-lineares, obtusas, prolongadas na base em
dois appendices, imbricadas em quatro fileiras (Gg. 22, R).
Fl. em setembro e outubro. Muito commutn nas charnecas^
pinhaes, terras áridas e incultas, pobres em ealcareo. — Orze
ou torga ordinária (Eriça vulgariSj L. e Brot.)
€• walffaris» fialftab.
Família XXV.— PLXTMBAGINEAS, £ndl.
Flores hermaphroditas, regulares, dispostas em espigas,
em cachos ou em capítulos. Cálice escaríoso, gamosepalo
com 5 dentes ou 5 lobulos,persistente.Corolla hypogynica com
5 pétalas, Uvres, ou mais ou menos concrescentes. 5 esta-
mes oppostos às divisões da corolla, com as antheras introrsas,
biloculares, longitudinahnente dehiscentes. Ovário livre, uni-
locular. 5 estyletes, livres ou adherentes; estigmas filiformes
ou capitados. Fructo unilocular, quasi sempre envolvido pelo
cálice, secco, indehiscente (achenio), ou dehiscente por di-
versos modos (capsula). Sementes com albumen; embryão
recto.— Plantas herbáceas, quasi sempre perennes, ou pe-
quenos sub-arbustos, raras vezes arbustos. Folhas simples,
PLUMBAGINEÂS 121
sem estipulas, alternas ou» nas plantas acaules, dispostas
em roseta.
Esta família botânica não tem, no nosso paiz, importân-
cia florestal; comprehende os seguintes géneros indigenas
— Armeria, Statice, Limaniastrum e Plumbago. O primeiro
género^ bem fácil de reconhecer pelos longos pedúnculos
radicaes, ou quasi radicaes de todas as suas espécies, pe-
las inflorescencias em capítulos terminaes cercadas de en-
Tolucros, e pela bainha membranosa que envolve o cimo
dos pedúnculos, sob os capítulos, é constituído por plantas
perennes, com rhízomas mais ou menos desenvolvidos, al-
gumas com os caules um pouco lenhosos na base, próprias
às mais diversas estações : ás areias marinhas, aos pinbaes,
ás terras altas, etc. O segundo género — Statice — tem as
flores dispostas em pequenas espigas diversamente grupa-
das; é também, na sua maior parte, constituído por hervas
perennes (só conhecemos uma espécie indígena annual),
com rhizomas desenvolvidos, algumas vezes com os caules
um pouco lenhosos na base, próprias ás visinhanças do mar.
O ultimo género — Plumbago — tem entre nós uma planta
herbácea. Apenas nos referiremos particularmente ao gé-
nero lÀmoniastrumy porque é um arbusto a única espécie
indígena que o constitue.
lamoniastrum, Hnch. — Espiguetas biflores, dispostas em
espigas estreitas, frouxas, tribracteadas ; bracteas escamosas :
a inferior (externa) envolvendo a espigueta e o euLO, e a su-
perior (interna) envolvendo as flores até ao limbo. Cálice
tabuloso, n3o anguloso, como limbo pequeno, 5dentado. Co-
roUa gamopetala, asalveada, com o limbo grande, 5-partido.
5 estyletes concrescentes até ao meio. Fructo indehiscente,
membranoso. — Arbusto com as folhas carnosas e os ramos
floriferos aphyllos; eixo das espigas muito frágil depois de
secco.
122 VERBENÁÇEAS
Flores rosadas. Ramos floríferos dispostos em panicula. Arbusto
levantado, ramoso, com as folhas linear-lanceoladas, obtusas,
pulverulentas, esbranquiçadas, attènuadas em peciólo ample-
xicaule. Fí, de julho a outubro. Sebes marítimas no Algarte.
— {Slatice monopetala, L. e Brot.)
li. monopetalmii» Ba».
FamiUa XXVI.— VERBENÁOEAS, Juss.
Flores hermaphroditas, irregulares (nas espécies indíge-
nas) dispostas em espigas, cachos, capitulos ou cymeiras.
Galiee tubuloso, 4-5-fendido, persistente. Corolla hypogy-
nica, caduca, com 5 divisões, de ordinário bilabiada. 4 es-
tames inseridos no tubo da corolla, didynamicos, os dois su-
periores raras vezes estéreis; antheras biloculares, longitu-
dinalmente dehiscentes. Ovário livre, 2-locular com os locu-
los biovulados (ás vezes cada loculo está sub-dividido por
mn falso tabique, apparentando o conjuncto um ovário 4-lo-
cular). Estylete simples terminal; estigma capitado oubifen-
dido. Fructo um di-tetrachenio, ou drupaceo, menos vezes
uma capsula. Sementes sem albumen; embrylo recto. Plan-
tas herbáceas ou lenhosas, com as folhas oppostas ou verti-
cilladas, simples ou digitadas, sem estipulas.
Esta familia botânica nao tem nenhuma importância flo-
restal no paiz; é representada por dois géneros. Verbena
e Vitex, comprehendendo o primeiro pequenas plantas her-
báceas, e o segundo um arbusto pouco commum» a n3o ser
como planta de ornamento; pertence-lhe ainda uma espé-
cie exótica do género Lippia bastante cultivada nos jardins.
Nas regiões quentes do globo e na zona temperada do he-
mispherio austral, abrange um grande numero de espécies,
entre as quaes apenas mencionaremos a Teca (Tectom gran-
diSy L.) arvore cuja madeira é tão estimada e tem grande
emprego em construcçSo naval.
VERBENÁCE^S 123
Folhas simples. Frocto secco. Estames inclusos.
I^lppla (pag. 123)
Folhas digitadas. Fructo drupaceo. Estames salientes.
Tttex (pag. 123)
Lippia, L. — Flores pequenas, inseridas cada uma na axilla
de uma bractea, capitadas ou dispostas em espigas. Cálice
pequeno, sub-membranoso, tubuloso, bifendido, com duas
azas ou quilhas lateraes. Gorolla tubulosa sub-afunilada, com
o limbo oblicpio, plano, sub-bilabiado ; tendo o labío supe-
rior inteiro ou bifendido e o inferior trifendido. Estames
inclusos. Fructo um diachenio.
Arbusto levantado. Folhas ásperas, lanceolado-agudas, inteiras,
ternadas ou quatemadas, caducas. Flores verticilladas, dis-
postas em espigas frouxas, formando o conjuncto paniculas
pyramidaes nuas. Bracteas pequenas, esverdinhadas. CoroUa
saliente, esbranquiçada. Planta que em verde, ou em secca,
exhâla cheiro suave, lembrando o da flor da laranjeira. Fl.
de maio a setembro. Oriunda da America do Sul, e muito
cultivada nos jardins, como planta de ornamento. — Lúcia-
Lima I4« cltrlodorat Ktli.
Vitex, L. — Cálice com 5 dentes curtos, sub-bilabiado.
CoroUa bilabiada com o lábio superior bifendido e o infe-
rior com 3 lóbulos, sendo o lóbulo médio maior. Estames
salientes. Fructo drupaceo, pouco carnudo.
Folhas oppostas, caducas, com peciolos compridos, digitadas com
S-7, mais raras vezes 3 foliolos lanceolado-agudos, glabros
na pagina superior e brancos, cotanilhosos, na inferior. Flo-
res pequenas, em cymeiras oppostas, com pedúnculos curtos,
* aggregadas em cachos mis, compridos, interrompidos, termi-
naes, levantados. Bracteas pequenas, herbáceas. CoroUas vio-
láceas, azuladas ou brancas. Arbusto, ou pequena arvore
(cultivada), que exhala por todos os órgãos, e principalmente
pelos fructos, um cheiro que faz lembrar o da pimenta. Fl.
de junho a agosto. Sitios paludosos em Traz-os-Montes {seg.
Brot.); cultivada nos jardins. — Agno-casto, arvore da cas-
tidade, oti pimenteiro silvestre. . . IT. Agnas-castHS» là.
124
LÂBIADAS
Família XXVll.— -LABTADAfl, Jii89-
í
Flores hermaphroditas, irregulares, axiUares, solitárias
ou em cymeiras contrahidas que formam falsos vertícillos
reunidos em espigas, ou cachos, ou capitados no cimo dos
ramos. Cálice gamosepalo, persistente, livre, regular ou bi-
labiado, com 5 divisões. CoroUa hypogynica, caduca, quasi
sempre bilabiada ; lábio superior bilobado (ás vezes inteiro
pela adherencia dos lóbulos), e o inferior trilobadp. 4 esta-
mos, quasi sempre didynamicos, raras vezes 2 por aborto,
inseridos na coroUa. Loculos da anthera ás vezes separa-
dos por um connectivo muito comprido. Ovário bicarpel-
lado, sub-dividido por tabiques falsos, quadrilocular, qoa-
driovulado, quadrilobado. Estylete simples, parecendo par-
tir da base dos carpellos, geralmente bifendido. Fructo
um tetrachenio, ou raras vezes constituído por 4 pequenas
drupas. Semente com albumen nullo, ou muito reduzido;
embrySo quasi sempre recto. — Plantas herbáceas, annoaes
ou perennes, menos vezes lenhosas, arbustivas ou sub-ar-
bustivas, com o caule ordinariamente quadrangular^ e as
folhas oppostas, sem estipulas, inteiras ou diversamente re-
cortadas. Plantas ricas em glândulas cheias de óleos essen-
ciaes, que as tornam mais ou menos aromáticas.
Mais de metade das Labiadas indígenas são herbáceas.
As espécies lenhosas são communs nos matos, charnecas,
bosques, etc, mas teem muito pouca importância. Apenas
nos referiremos a estas ultimas.
CoroHa com um só lábio quinquelobado (fig. 23, A). ,
TeiierloBi (pag. 138)
Corolla bilabiada '
lABIADAS
125
F!g. 23. — A: Flor do Teuerium luitUmumm, Lam. (l:i).B: EstanM do
Roimarinus ofictnaliêtL, (i:l). C: Flor da Lavandula spica^ L. (l:i).
D : Flor do Pldomis Lyehnitis, L.(i:i).E: cálice da mesma flor (1:1).
F: Flor do Thymus viUosus^L, (2:1). H: cálice da mesma flor (2:1).
i: Inflorescencia do Thymus eapitellatus, Hoff". & Lk. (1:1). N: fo-
lha.— Jf : bractea (1:1). K: Inflorescencia do Thymus Zygis, L. (um
pouco menor que o natural). O: Cálice do Prasimn majus, L. (1:1).
P: Cálice da Sideritis angustifoUa, Lam. — Q: coroUa. — R: bractea.
2 esUmes. Filetes com um pequeno dente na base, devido ali*
gaçao do filete com o connectivo e ao aborto do loculo cor-
respondente da anthera (fig. 23, B).
SosBâArimis (pag. 136)
4 estames 3
i26 LABIADAS
Estames mais compridos (os inferiores) apparentes na garganta
da coroUa, sobre o lábio inferior (fig. 23, C).
^1 liAvanilala (pag. 126)
Estames parallelos, collocados no lábio superior da coroUa. . 4
Estames divergentes (fig. 23, F), ou convergentes sob o labio
superior da corolla 6
Cálice bilabiado (fíg. 23, O). Fracto dnipaceo, carnoso-sucea-
i\ lento Pimsluna (pag. 138)
Cálice 5-dentado ou 5-fendido (fig. 23, E). Fructo secco. .. 5
Labio superior da corolla em forma de capacete comprimido
lateralmente (fíg.. 23, D). Flores grandes, em verticillos mul-
^ I tiflores, bracteoladas Pliloiiiis (pag. 136)
Labio superior da corolla sub-plano, inteiro ou chanfrado (fig.
23, Q). Flores mais pequenas, não bracteoladas.
Stderltls (pag. 137)
Estames arqueados, convergentes (distantes na base e aproxi-
mados no cimo, sob o labio superior da corolla). Cálice ey-
6{ lindrico, 5-dentado, felpudo na garganta. Flores pequenas.
Micronieria (pag. 134)
ESstames rectos, divergentes (fig. 28, F) 7
Cálice bilabiado (fig. 23, H), com o labio superior 3-dividido
e o inferior 2-dividido. Labio inferior da corolla com os 3 ló-
bulos deseguaes (o médio maior do que os lateraes) (fig.
23, F) THymus (pag. 129)
7{ Cálice campanulado, com 5 dentes eguaes (nao bilabiado), ou
bilabiado com o labio superior grande, orbicular, inteiro ou
quasi inteiro, e o inferior muito pequeno, bidentado, tran-
cado ou nullô. Labio inferior da corolla com 3 lóbulos eguaes.
Orlffanani' (pag. 128)
. Lavandula, Tourn. — Alfazema. — Verticillos com poucas
flores, aproximados em espigas terminaes, simples oa ra-
mosas na base. Folhas fioraes bracteformes. Cálice, tuba-
loso* com 5 dentes curtos. CcMrolla bilabiada, com o tubo
UkBIADAS
fô7
saliente, dilatado na garganta, e o limbo obliquo; lábio su-
perior bilobado e o inferior trilobado (lóbulos todos sub-
eguaes). 4 estames didynamicos, os inferiores maiores, ap-
parentes na garganta da coroUa sobre o lábio inferior (fig.
23, G). Àchenios glabros, lisos. Sub-arbustos muito aromá-
ticos.
Bracteas do cimo estéreis, compridas, tomando a espiga como-
1 s&. Corolla branca ou violácea 2
( Espiga não comosa. Corolla azulada 4
Bracteas da coma verdes. Corolla branca. Folhas linéar-lanceo-
das, sesseis, rugosas, felpudas, enroladas nas margens', in-
teiras, verdes em ambas as paginas. FL na primavera. Al--
garve, — tiosmaninho verde Ij. ^'Irldls* Ait«
Bracteas da coma coradas (violáceas, raras vezes brancas). Co-
rolla violácea, menos vezes branca 3
Espigas com pedúnculos curtos. Coma mais pequena do que a
espiga. Bracteas férteis rhomboide-cordiformes, acuminadas,
um pouco violáceas. Cálice menor do que o tubo da corolla.
Folhas lineares, inteiras, enroladas nas margens, brancas,
cotanilhosas, fasciculadas nos nós. Fl. de março a agosto.
Frequente, sobretudo mu provindas do sul e do centro. —
Rosmaninho li* Sfoeclias» !<•
Espigas com pedúnculos muito compridos. Coma desenvolvida,
sub-egual á espiga. Bracteas férteis largamente obovadas,
mucronadas, carnosas, violáceas. Cálice do tamanho do tubo
da corolla. Folhas linear-lanceoladas, esverdinhadas, pouco
cotanilhosas. Fl. de maio a julho. Frequente, sobretudo nas
provindas do centro e do norte. — Rosmaninho. {L. Stoechas
var. p, Brot.) Ii« pedoncnlaia» €7aw.
Bracteas com 1 só flor. Folhas bipinnatifendidas, verdes. Es-
pigas cylindricas, apertadas. Fl. de março a junho. Estre-
madura, na região ao sul do Tejo {Serra d* Arrábida, Setur-
bal. Moita, Palmella, etc.) I^* mulUflda* Ij.
Bracteas com 3-5 flores. Folhas inteiras. Espigas frouxas, in-
terrompidas 5
4
1 28 LABIADAS
Bracteas membranosas, largas, rhomboidaes, acumiDadas. Ca
lice azulado, crespo-cotanilhoso. Folhas sesseis, lineares, en-
roladas nos bordos, brancas, cotanilhosas, em novas fascieih
ladaà nas axillas; em adultas menos enroladas, mais esverdi-
nhadas, menos cotanilhosas. FL de junho a setembro. Espon-
tânea em grande parte da zona mediterrânea: cultivada nas
hortas e jardins. — Alfazema. (L. apica, L. e Brot.)
Idm wera* DC
Bracteas estreitas, lineares ou linear-lanceoladas. Cálice poaeo
cotanilhoso, só azulado no cimo. Folhas linear-lanceoladas,
mais largas que na espécie anterior, menos enroladas nos bor-
dos mesmo em novas, e em adultas planas, quasi glabras, ver-
des. FL de junho a outubro. Espontânea em grande parte ia
zona mediterrânea: cultivada nas hortas e jardins.— Alfa-
zema. (L. spica^ L. p. Brot.) Ii« latlfolia» ¥IIL
A alfazema é cultivada como planta de ornamento; mas
tem também algum valor industrial pelos seus empregos
em perfumaria e pbarmacia.
Origanmn, Tourn. — Ourègão. — Verticillos com poucas flo-
res, reunidos em espigas, ou capitados. Folhas floraes bra-
cteformes. Cálice campanulado com 10-13 estrias, barbado
na garganta, com 5 dentes quasi eguaes ou, menos vezes,
bilabiado. Corolla bilabiada, com o lábio superior levan-
tado, planro, chanfrado, e o inferior com 3 lóbulos egaaes.
4 estames didynamicos, divergentes. Sub-arbustos aromáti-
cos, com as folhas inteiras.
Cálice bilabiado. Bracteas verdes. Corolla branca, ou vermelha.
Folhas oblongo-ovadas, pecioladas, cotanilhosas. Fl. de nuno
a setembro. Originário da Africa mediterrânea e da Azia cen-
tral; cultivado nas hortas e jardins. — Mangerona.
0« lUOoraBa* !*•
Cálice não bilabiado, com os dentes eguaes^. Corolla branca
(pelo menos nos exemplares portuguezes), 2-3 vezes maior
do que o cálice. Folhas pecioladas 2
Devíamos incluir n'este sitio o O. eampactum, Bentb., citado no iVo-
l
LABIADAS 129
Bracteas um pouco avermelhadas, com alguns pellos, maiores
do que os cálices. Folhas arredondadas na base. Flores nu-
merosas dispostas em espigas tetragonaes compridas, agglo-
meradas densamente, corymboso-paniculadas. Fl, em jvlko e
■' agosto, Promnrias do centro e do sul, — Ouregõo menor ou
longal. (O, creticum, L, e Brot,)
2{ O. ^'ol^afe» Ia. ▼• prininattcviii* Cla«d.
Bracteas verde-claras, glabras, muito maiores do cpie os cálices.
Folhas elliptícas, attenuadas na base. Espigas CTlindricas ou
prismáticas, de ordinário curtas, paniculadas. Fl. de junho a
outubro. Sebes, rampos, matos, etc, nas provindas do centro
e do norte. — Ouregão ordinário. (0. vulgare, Brot.^ Flor.
Lms.) 0« ▼li*eiiii« HoillK* ^ IdÊ£.m
Thymus, L. — Tomilho. — ^Verticillos com poucas flores:
afastados, dispostos em espigas, ou densamente reunidos,
capitados. Folhas floraes eguaes ás caulinares ou bracte-
formes. Cálice ovóide, bilabiado, com 10-13 estrias, bar-
budo na garganta, com o lábio superior 3-dentado ou 3-fen-
dido, e o inferior 2-dividido (fig. 23, H). Gorolla bilabiada,
com o lábio superior quasí plano, mais ou menos chan-
frado, e o inferior trilobado^ com o lóbulo médio maior do
que os lateraes. 4 estames didynamicos, rectos, divergentes
(flg. 23, F). Sub-arbustos muito aromáticos, com as folhas
planas, ou, no maior numero dos casos, enroladas nas mar-
gens, muitas vezes pontoado-escavadas.
Divisões do cálice todas longamente celheadas, tomando as in-
florescencias mollemente plumosas. Corolla pequena, branca.
Folhas planas 2
Divisões do cálice (todas ou só algumas) mais ou menos celliea-
das, mas sem tomarem nunca as inflorescencias mollemente
plumosas 3
dromus, do sr. Willkomm, como existente em Portugal ; nSo o incluímos
por nSo termos d'e11e mais nenhuma mençSo, Aem existir em nenhum
dos hcrbarios portugnezes que conhecemos. Distingue-se das outras es-
pécies que teem o cálice uâo bilabiado, em ter a corolla averr^elhada,
4 vezes maior do que o cálice, as folhai sub-sesseis, etc«
c. s. — V. 11. . 9
130 LÂBIADAS
/ Lacinias do cálice sub-picantes, amarelladas. Folhas caulinares
ovado-lanceoladas, com peciolo curto; folhas íloraes egnaes
ás caulinares, ou quasi eguaes. Yerticillos floraes densos, os
inferiores afastados, os superiores mais ou menos capitados.
FL de maio a julho. Em quasi todo o paiz,
. TH. Mastieliliia, L.
^^ Laciniasdo cálice molles, não setaceas. Folhascaulinaresoblongo-
lanceoladas, attenuadas em peciolo curto ; folhas floraes maio-
res e mais largas sempre do que as caulinares. Yerticillos
floraes reunidos, compactos, capitados sob a forma globosa.
I FL de maio a julho. Litioral do Algarve.
^ TH* tomenUMias* W.
Vertimllos floraes mais ou menos afastados, dispostos em espi-
ga, frouxa ou apertada (fig. 23, K). Folhas floraes semelhan-
tes ás caulinares, ou pouco diversas 4
Flores capitadas; capitules^ terminaes muito densos, globosos
ou oblongos (íig. 23, I). Folhas floraes bracteformes, maio-
res e mais largas do que as caulinares (fig. 23, N, M).. . 9
I Caules não radicantes. Folhas, pelo menos as inferiores, es-
treitas e com os bordos enrolados. Gorolla, de ordinário,
4 1 branca 8
Caules radicantes. Folhas planas. Corolla quasi sempre verme-
lha 7
Folhas não celheadas na base, todas, ou só as inferiores, com
os bordos enrolados; as caulinares linear-lanceoladas, as flo-
raes um pouco mais largas, ovado-lanceoladas. Yerticillo<;
floraes afastados ou próximos, constituindo uma espiga fronia
ou apertada. Fl. de abril a julho. Traz-os-Montes (Mur^),
ele. — Tomilho ordinário. {Th. vulgaris, Brot.?)
^ Tli. valaria* L.
Folhas celheadas na base, as floraes eguaes ás caulinares, todas
com os bordos enrolados 6
t A palavra eapUíão é aqui (bem como em outros géneros d'esta h-
milia) empregada erradamente; não representa a inflorescencia em ca-
pitulo, mas simplesmente um agglomerado de flores muito densas.
* Brotero, na Flora, cita o Th» vulgaris, L., nos outeiros ealcareos da
Beira e do Algarve. Que nós saibamos, esta espécie não tdm sido ahi
LABIÂDÁS 131
Yerticillos floraes afastados, constitaindo uma longa espiga in-
terrompida (fig. 23, K). F/. dejidhoaagosto: Troz-oa-Mon-
tes (Bragança) Tli. Zyfpfs» li.
g ] Yerticillos floraes reunidos em espiga muito apertada, quasi ca-
-pitados. Folhas mais estreitas que na espécie anterior. Fl. de
abril a julho, Estremadura, Beira, ete, (Th Zygis, BroU,
Fl. Lu$,, non L.: Th. Zygis nlvestris, Brot,^ Phyt. Lus.)
^ Til. sâlwastris» Hoflln* A ILU.
encontrada pelos modernos exploradores, e a diagnose do nosso illus-
tre botânico é muito curta, podendo originar duvidas com algumas das
espécies próximas. O sr. Rouy considera a espécie citada por Brotero,
como diversa do Th. víãfiaris, L. ; toma-a como intermédia entre o Th.
vulgaris, L., e o Th. sahtdieola, Coss., e descreve-a com o nome de Th.
sub'laxus^ Rouy /7> Natnrdiste — 1882) ; mas, ainda mesmo admittindo
a nova espécie creada pelo sr. Rouy, seria de certo muito hypothetíca
a sua aproximação com o Th. mUgarU da Fhr. Lus., por isso que o
7%. sub-laxus foi descripto sob exemplares colhidos em Lisboa, sem
haver comparação com exemplares colhidos nas localidades apontadas
na Flora. Os exemplares de Lisboa foram colhidos por Welwitsch, nas
hortas e jardins ; nSo encontrámos nunca, nem nos consta que ninguém
mais tenha encontrado, em Lisboa, Thymm nenhum que se lhe possa
aproximar. A espécie descripta pelo sr. Rouy parece-nos muito pouco
segura, tâo especial é o habitat dos exemplares sobre que se baseia, tão
"^ fora das condi ç(5es ordinárias, e tSo restrictas as differenças que a se-
param das formas verticilíata do Th. vtdgaris, L. O sr. dr. Júlio Henri-
ques, na lista das plantas transmontanas que incluiu n'um trabalho
nosso publicado no «II-Boletím annual da Sociedade Broteriana» ins-
creve o Th. vulgaris, L., a verticSlata, colhido em Murça por um em-
pregado do Jardim Botânico. Esta variedade do Th. vulgaris^ L., apro*
xima-se muito da descripçâo que o sr. Rouy faz do seu Th. súb-laosus,
salvo no numero das flores de cada verticillo. NSo temos elementos
para formular opiniSo sejmra a este respeito, mas parece-nos muito
provável que o Thymus da Flor. Lm., e a nova espécie do sr. Rouy»
sejam apenas formas do Th. vulgaris, L., e por isso só a esta espécie
nos referimos, dando, ainda assim, como duvidosa a synonymia Brote-
nana, por nSó termos visto exemplares das localidades apontadas na
Flora.
í Parece-nos mais provável que o Th. Zygis, L., e 6 Th. tãvestris,
HoíTgg. & Lk., sejam duas formas de uma mesma espécie, do que duas
espécies di$tinctas.
9#
n
132 LÁBIÀDAS
Lábio superior do cálice com 3 dentes curtos deseguaes. Caule
prostrado, longamente radicante. Folhas aproximadas (eguaes
aosentre-nós, ou maiores), espatulado-lineares, estreitas, lon-
gamente celheadas na base. Flores em pequeno numero, qoasi
solitárias a cada inserção. FL de maio a agosto, Traz-aS'M(m-
te$, Entre Douro e ifinAo, Beira. — Tormentelo.
Tli« eaeapltlUuft» Brot.
Lábio superior do cálice com 3 divisões eguaes; lábio inferior
com as lacinias celheadas em pente. •• 8
Caule remontante, longamente radicante. YerticiUos floraes, es-
pecialmente os superiores, reunidos em espiga apertada, quasi
capitados. Folhas attenuado-cunheadas, muito celheadas na
base, sub-pecioladas, com as nervuras muito proeminentes na
pagina sijqperior. Caules pubescentes, com pellos recurvados.
FL de maio a junho. Montejunto^ Abrantes, etc. — Serfãoiot
montes. (Tk. Zygis variabilis, Brot., Phyt. Lus.)
9{ 1 Til* flerpyllOHi* L.
Caule só radicante na base. YerticiUos floraes superiores re-
unidos em espiga ovóide, e os inferiores distantes. Folhas
arredondadas na base, contrahidas de repente em peciolo,
pouco celheadas, glabras, assim como os caules excepto nos
ângulos. Fl. de julho a setembro. Traz-os^Montes^ Entre
Douro e Minho.-- Serpão (Th. glabraius, Brot.^ Phyt. Lus.)
. • Vil. diamaedrys» Frie«. ir. slabratafit lige*
Folhas pecioladas (peciolo quasi do tamanho do limbo), ovadas,
com as margens enroladas, cotanilhosas. Capitulos globosos.
Q ) Bracteas inferiores grandes, coradas, rhomboide-ovadas. Fl.
em junho e julho. Algarve. . . Tli. al^arbiemil»» I4^«
Folhas sesseis, ou com peciolo curto (muito menor do que o
• limbo) 10
l Corolla branca. Capitulos sub-globosos ou oblongos 11
10 1 Corolla habitualmente vermelha. Capitulos oblongos ou aguça-
( dos, raras vezes globosos 14
t O único exemplar que possuímos d'esta espécie (de Abrantes) re-
presenta nâo o typo, mas uma variedade ; talvez a variedade augustí-
folius, Rchb.
LABIADAS i33
Folhas carnosas, glabras, muito fortemente pontoado-eseavadas,
oblongas, muito enroladas nas margens, cpiasi cylindricas.
Bracteas ovadas, com as margens enroladas, não celheadas.
11 { Capitules oblongos. FL em julho e agosto. Estremadura^ Al-
garve.— Tomilho carnoso Tb» carnosns* Bmi*
Folhas nao carnosas, sub-planas ou com as margens enroladas.
Capitules sub-globosos •• 12
Folhas ovado-lanceoladas, sub-cotanilliósas, esbranquiçadas,
quasi planas. Corolla o dobro maior do que o cálice. Bracteas
ovadas, agudas, celheadas nas margens. Fl. em junho eju-
12 { ' lho, Algarve. — TomUho alvadio.
Vil. allilcans* Hoffjnr* A I«l£«
Folhas verdes. Corolla menor do que o caUce, ou pouco
maior 13
Divisões do cálice pouco celheadas. CoroUa maior do que o cá-
lice. Bracteas com as margens enroladas, não celheadas. Fo-
lhas ovado-lanceoladas, quasi sesseis. Fl. de abril a junho.
Terras soltas $ arenosas do littoral na região média,
Vil. eapitellata»» HolfflK* ^ 1«1^*
Divisões do cálice todas muito celheadas. Corolla menor do que
o cálice. Bracteas ovado-deltoideas. Folhas ellipticas, enro-
ladas nas margens, attenuadas nos dois extremos, com peciolo
curto. Fl. em junho. Algarve^ Serra da Arrábida {raro).
^ VH. urelwItMlill, Bmm.
I Bracteas dentado^-serradas, verdes, ou, menos vezes, coradas.
Lábio superior do cálice com 3 dentes eguaes. Folhas seta-
ceas com pellos compridos. Caules muito pelludos, com os
«
t O sr. Rouy considera este Thymus como uma forma hybrida (Le
Naturcdiste — 1882). Sem estarmos de acordo com um certo numero
de factos, taes como o'sr. Rouy os entende, acerca dos Thymus da pe-
nínsula, e sem termos, ao presente, opinião formulada acerca do 2%.
Welwitschii, de que só vimos o exemplar existente no herbario da Es-
cola Polytechnica, diremos todavia que esta planta nâo tomou aappa-
recer depois que foi colhida' por Welwitsch apenas nas duas estaçOes
citadas, o que ó lun argumento a favor da idóa do sr. Rouy.
13
134
IMÍAÍtàS
i4
l
pellos abertos para os lados. Capítulos obtusos ou sub-glooo-
sos. Fl. de maio a julho. Terras secem^ areúu^ etc. Estre-
madura.^Tomilko pelludo TH. itIIImibs, l.
Bracteas lobadas w. lol»at«« V«Hp. (como esp.)
Bracteas inteiras. Capitulo de ordinário mais comprido e
mais estreito, com as bracteas mais vezes coradas. Cau-
les com os pellos menores e mais encostados. Folhas
menos pelludas. Cascões^ Cintra^ etc.
V. lositaiilea» Bua. (como esp.)
Bracteas inteiras. Lábio superior do cálice com 3 dentes des-
eguaes 15
.8
Capitulo grande, oblongo, comprido, aguçado. Bracteas gran-
des, avermelhadas, muito maiores do que as flores, não pon-
. toado-escavadas, celheadas. Lábio. superior da corolla leve-
mente chanfrado. Fl. de maio a julho. Lxítoral do Algarve.
-^Tomilho cabeçudo, kerva ursa. . Tli. cepUalotos* L.
Capitulo oblongo, obtuso. Bracteas verdes, pontoado-escavadas,
do tamanho das flores, celheadas. Folhas glabras, quasi car-
nosas, muito pontoado-escavadas, sesseis. Lábio superior da
corolla quasi bifendido, obcordiforme. FL de julho a agosto»
HuUo frequente na Estremadura. — Tomilho de Creta. (Tk.
creticus^ Brot. : Satureja capttata, L. : Coridothymus capita-
tus, Rchb.) Til. capltatns» Hollkff. úl lik.
\
Micromería, Bth. — Flores pequenas. Yerticíllos floraes
dispostos em cachos, ás vezes paniculados. Cálice cylindri-
CO, estreito, com 13-15 estrias, com o limbo S-dentado, bar-
budo na garganta. Corolla bilabiada, com o lábio superior
plano» sub-inteiro, levantado, e o inferior 3-lobado, com os
lóbulos sub-eguaes. 4 estames didynamicos, com os filetes
curvos, afastados na base e convergentes sob o lábio supe-
rior da corolla. — Sub-arbustos rigidos,*com as folhas co-
ríaceas ^.
1 O sr. WiUkonun, no iVodromtis, indica também Bm Portugal a M.
marifolia, Bth.; nSo a descrevemos por n&) sabermos onde exii>te, nem
de ninguém que a encontrasse. Distingue-sc das espécies referidas em
LABIADAS 135
Vertieillosflorâes densos, com pedúnculos curtos. Bracteolas sub-
eguaes aos cálices. Dentes do cálice estreitos, rígidos, levans
tados, convergentes. Folhas sesseis, aa inferiores ovadas e a-
superiores (floraes) lan,ceolado-lineares, estreitas, todas com
os bordos enrolados. Sub-arbusto com os caules rígidos, di-
reitos, pubescentes. FL em maio. Coimbra.
1 M. Juliana» BtH.
Yerticillos floraes frouxos, pedunculados. Bracteolas eguaesa me-
tade do cálice. Dentes do cálice assovelados, um pouco aber-
tos para os lados. Folhas sesseis, as inferiores ovadas e as
superi(^res (floraes) ovado-lanceoladas, todas com os bordos
enrolados. Sub-arbusto com os caules pubescentes, flexuosos.
Fl. de maio a julho. Estremadura e Algaroe. — Hyssopo (no
Algarve). {Satureja graeca, L. : Tkymus mieraníhus, Brot.)
• M. C^raeea* Bilu
Rosmarmns, L. — Mecrim. — Cálice campanulado, bilabia-
do, com o lábio superior inteiro e o inferior bifendido, nú
na garganta. Corolla bilabiada, com o lábio superior em
forma de capacete comprimido laterahnente, bifendido, e o
inferior trilobado. 2 estames (os interiores abortam), cur-
Yos, salientes, parallelos sob o labío superior da corolla,
com o connectivo desenvolvido, adherente ao filete, e que
semelha um dente na parte inferior do mesmo filete, por
ficar ahi liVre, e abortar o loculo da anthera correspondente
a esse ponto (flg. 23, B).
Flores azuladas, mais raras vezes brancas, collocadas na axilla
das folhas superiores, sub-solitarias, sub-sesseis, oppostas,
aproximadas, formando cachos curtos. Cálice pulverulento,
ás vezes avermelhado. Arbusto muito aromático, sempre-
ter os caules, folhas e' cálices brancos, muito cotanilhosos, em ter as
C3rmeiras dichotomicas, pedunculadas, constituindo verticillos multiflo-
res, frouxos, etc.
1 Brotero não se referiu nunca a esta planta, que é hoje muito fre-
quente em Coimbra, onde elle herborisou tanto. Será espécie introdu-
zida?
136 LABIADÂS
verde, muito ramoso, com as folhas sesseis, lineares, intei-
ras, enroladas nos bordos, coriaceas, verde-lastrosas na pa-
gina superior e brancas, cotanilhosas na inferior, fí. deu-
tembro a junho. Frequente nas provinciof do centro e doni.
Cultivado nas hortas e jardins em todo opaiz. — Alecrim.
IK« oflIeioaUs» L.
tf
O alecrim é muito empregado no paiz como planta aro-
mática, para queimar. Pode-se extrahir d'elle mn óleo es-
sencial usado em perfumaria e em medicina.
Phlomis, L. — Yerticilios multiflores, bracteolados. Cálice
tubuloso» com 5-10 estrias, e 5 dentes sub-eguaes (fig. 23, E).
CoroUa bilabiada, com o lábio superior em forma de capa-
cete comprimido lateralmente, aquilhado no dorso, mais ou
menos cotanilhoso, e o inferior 3-lobádo (fig. 23, D). 4 es-
tames didynamicos, parallelos sob o lábio superior da 00-
rolla, com os loculos da antbera divergentes, parallelos aos
filetes. — Plantas herbáceas^ sub-arbustos ou arbustos com
as folhas rugosas.
GoroUa vermelha. Folhas caulinares ovado-obiongas, peciola-
das, as inferiores ás vezes cordiformes na base; folhas floraes
lanceoladas.' Yerticilios com 8 flores. Bracteola? oblongo-lan-
ceoladas, muticas, brancas, cotanilhosas, assim como o cálice.
Sub-arbusto mais ou menos lanoso, esbranquiçado. Fl. àe
abril a agosto. Na região ao sul do Tejo. — MarioUa {no Al-
garve) Pb. pvrparea» L*
CoroUa amarèlla. Folhas caulinares obíongo-lanceoladas (ouli-
near-lanceoladas), pecioladas; folhas floraes sesseis, bracte-
formes, largamente, ovadas, acuminadas. Yerticilios numero-
sos, com 6-10 flores, os inferiores distantes e os superiores
aproximados. Bracteolas assoveladas, molles, com longos pel-
los assetinados, assim como o cálice (fig. 23, E, D). Sab-
arbusto branco, cotanilhoso. Fl. de maio a )ulho. Estrema-
dura^ Algarve^ etc, — Salvabrava. . Pli. li^rclinittvf Ij>
«
Este género comprehende em Portugal mais uma espe-
LABIADAS 137
cie — Ph. Herha-vmtiy L. — herbácea, pèrenne; tem a corolla
Termelha, e distingue-se do Ph. purpúrea, afora a consis-
tência da parte inferior do caule, em ter os verticillos com
10-12 flores, em ter as bracteolas sub-espinescentes, as fo-
lhas floraes da mesma forma que as caulinares, etc.
Sideritís, L. — Verticillos floraes não bracteolados. Cálice
campanulado com 5 dentes, quasi sempre espinescentes,
eguaes (fig. i3, P) ou deseguaes. Corolla bílabiada com o
tubo incluso, o lábio superior levantado, sub-plano, inteiro
ou bilobado, e o inferior trilobado (fig. 23, Q). Estames
como no género anterior. — Plantas herbáceas, sub-arbus-
tos ou pequenos arbustos, com as folhas floraes eguaes ás
caulinares ou bracteformes.
Folhas floraes (bracteformes) iodas eguaes 2
1 { Folhas floraes (bracteformes) superiores deseguaes das inferio-
res 3
Pequeno arbusto sub-glabro. Folhas caulinares lineares .ou lan-
ceoladas, inteiras ou crenadas. Folhas floraes grandes e lar-
gas, cordiforme-ovadas, espinhoso-dentadas, maiores do que
os cálices ou eguaes, glabras ou hirsutas. Corolla amarella,
maculada. Verticillos com 6-10 flores. Fl, de abril a julho.
Algarve H* arlioreiíceiís» Malsin.
Sub-arbusto com os caules pubescentes. Folhas caulinares li-
neares ou lanceoladas', inteiras ou levemente serradas. Fo-
lhas floraes largas, cordiforme-ovadas, espinhoso-dentadas
(fig. 23, R), maiores do. que os cálices. Corolla amarello-
desbotada. Verticillos com 6 flores. FL em junho. Alemtejo
e Algarve. — (S. lineàrifolia, Brot.)
S. augustifollaf Ijant.
Lábio superior do cálice branco e o inferior amarello. Sub-ar-
busto mollemente hirsuto. Folhas caulinares espatuladas, lan-
ceoladas ou arredondadas, inciso-crenadas ou dentadas. Fo-
lhas floraes inferiores cordiforme-ovadas, eguaes aos cálices
ou maiores, e as superiores cordiforme-semi-orbiculares, me-
138 LABUDAS
nores do que os cálices, todas dentadas, pouco e^inlwsas.
Yerticillos com 6 flores. F/. de junho a agosto. Alio Trúz-
os-Montes «• iiimoia, L.
Corolla amarellada. Sub-arbusto pelludo, esbranquiçado. Folhas
caulinares oblongas ou oblongo-lanceoladas, sub-inciso-den-
tadas, sub-espinhosas. Folbas floraes inferiores maiores do
que os cálices, semelhantes ás folhas caulinares; as superio-
res cordiforme-senii-orbiculares, eguaes aos cálices, ou maio-
res; todas espinhoso-dentadas. Yerticillos com 6 flores. Fí. (Íí
abril a julho. Beiray Estremadura, etc. (S. hirtula, Brot.)
H. li ymiopi folia» Ij. v. elonyata»
Este género comprehende em Portugal, que nós saiba
mos, além das espécies enumeradas, mais uma herbácea
annual, a S. romana, L., bem fácil de reconhecer, afora a
consistência do caule, por ter as folhas floraes inermes, se-
melhantes ás caulinares, etc.
Prasium, L. — Cálice bilabiado, com o lábio superior tri-
dentado e o inferior bifendido, sendo os dentes e as laci-
nias foliaceos (íig. 23, O). Corolla bilabiada com o tubo in-
cluso, o lábio superior ovado, concavo, inteiro, e o inferior
trifendido, sendo a lacinia média maior que as lateraes, in-
teira. 4 estames dídynamicos, parallelos sob o lábio supe-
rior da corolla, com os loculos da anthera afastados, Fructo
bacciforme, carnoso-succulento. .
Flores solitárias, axillares, pedunculadas. Corolla branca oa ro-
sada. Sub-arbusto com as folhas pecioladas, ovadas, crena-
das. Fl. de abril a junho. Campos incultos e sebes do littond
algarvio P. majas, JL«
Tencrium, L. — Cálice tubuloso ou campanulado, com 5
dentes eguaes, ou sub-bilabiado. Corolla com o lábio supe-
rior bipartido, e concrescente de tal modo com o lábio in-
ferior trilobado que parece unílabiada (íig. 23, A). 4 es-
tames didynamicos, parallelos, muito salientes. Tubo da co-
lABIADAS 139
rolla glabro internamente. — Arbustos, sub-arbustos, ou, me-
nos yezes, plantas herbáceas.
1
Flores solitárias, ou dispostas 2-3, na axilla das folhas superio-
res, eguaes ás caulinares ou bracteformes. Folhas com o limbo
desenvolvido , 2
Flores capitadas. Sub-arbustos com as folhas estreitas 5
Folhas profundamente 3-5 partidas, as floraes eguaes ás cauli-
nares. Flores solitárias. CoroUa branca ou avermelhada. Sub-
árbusto. Fl. de abril a setembro. Terrenos aridus do Algarve,
— (T. Nissolianumy L.) T. Pseudoebamaepilyii» Ij.
Folhas inteiras, crenadas, ou inciso-crenadas 3
Folhas inteiras, as floraes eguaes ás caulinares. Flores solitá-
rias. Pequeno arbusto sempre-verde, com as folhas verdes na
pagina superior, e cotanilhosas, esbranquiçadas, na pagina in-
ferior. CoroUa azulada. Fl. demarco a maio. Estremadura e
Alemtejo T» fratícansf li«
Folhas crenadas ou inciso-crenadas. CoroUa avermeUiada. • . 4
Flores solitárias na axilla de folhas bracteformes. Folhas lanceo-
ladas, crenadas, rugosas. Sub-arbusto tortuoso. FL na pri-
mavera'. Serra da Estreita. . T. lunitaniCDin» liam.
4 / Flores 2-3 na axilla de folhas menores do que as caulinares.
Folhas inciso-crenadas, glabras e lustrosas na pagina supe-
rior, e pubescenles na inferior. Fl. em maio. Cabo de Espi-
chel (segundo o sr. Daveau) T. dtamaedryii* Ij.
Capitulos vestidos com felpa macia, dourada. Folhas lineares ou
oblongas, enroladas nos bordos, sesseis, crenadas. CoroUa
5 \ amareUa ou branca, raras vezes vermelha. Fl. em julho e
agosto ^T. aureanif Selireli»
Capitules e folhas vestidos com felpa acinzentada ou branca. 6
1 Não sabemos onde existe em Portugal esta espécie, que vem citada
como portuguezano Prodromus, do sr. Willkomm. IncUnamo -nos muito
á opinião de Bentham, que toma para typo dos Teucriums, que cita-
mos, de flores capitadas, o T. Polium, L., e considera os restantes como
variedades d^essa espécie.
140 . solakAceas
Folhas inteiras, ou só crenadas no cimo, lineares ou linear-Ian-
ceoladas. Capitulos globosos, numerosos e quasi panículados.
Corolla branca ^ Fl. em junho e julho. Estrunaduray Algai-
ve, eic.—Teucrio capitoso T. capltatnBi«L.
Folhas crenadas do cimo á base 7
Corolla branca^. Folhas sesseis, attenuadas na base, lineares.
Capitulos globosos, agglomerados no cimo dos ramos, os la-
teraes pedunculados. Fl. de junho a agosto. Beira, Estrema-
dura, Algarve, etc-^Polio montano.. . . T« PoliaiMf L.
Corolla vermelha. Folhas oblongas, cordiforme-amplexicaules,
com os bordos enrolados. Flores solitárias na axilla das fo-
lhas terminaes, reunidas primeiro n*um capitulo sub-globoso,
e depois froiuLO, quasi espiciforme. Fl. de abril a julho. Al-
garve V« ^naplialode»» WmMU
Âfóra estas espécies lenhosas encontram-se, em Portu-
gal, D'este género, espécies herbáceas (três que nós saiba-
mos). Uma annual, com os ramos espinescentes (T. spino-
sum, L.), e duas perennes, inermes (T. Scorodoma, L., e
T. scordioides, Schreb.), ambas com as folhas crenadas, com
o Umbo desenvolvido: a primeira com as flores amarella-
das, solitárias na axilla de folhas bracteformes, e a segunda
com as flores rosadas, geminadas na axilla de folhas nâo
modificadas, planta densamente peUuda.
Família XXVm.— SOLANÁOEAS, Barti.
Flores hermaphroditas, raras vezes polygamicas, quasi
sempre regulares. CaUce gamosepalo, com 5 divisões, per-
sistente ao menos na base. Corolla hypogynica, gamopetala,
com o limbo quasi sempre regular e 5 divisões. 5 estames
(raras vezes 4-6), inseridos no tubo da corolla, alternos
1 Nunca a vimos vermelha em exemplares portugueses.
2 N2o conhecemos, de Portugal, a variedade purpurascens, Bth.
SOLANÁGEAS .141
com as suas divisões ; antheras introrsas, biloculares, dehis-
centes longitudinalmente, ou por poros. Ovário livre, bilocu-
lar, multiovulado. Estylete simples, estigma inteiro ou com
lóbulos obsoletos. Fructo bacciforme ou capsular (baccifor-
me nas espécies lenhosas indígenas). Semente com albu-
men; embryão curvo. — Plantas herbáceas, menos vezes le-
nhosas, com as folhas alternas, caducas, sem estipulas.
Plantas, muitas vezes, ricas em alcalóides muito enérgicos.
Âs espécies lenhosas não teem nenhuma importância flo-
restal. Entre as plantas herbáceas comprehende-se o Taba-
CO, o MeimendrOy o Es tr amónio, a batateira, o Tomateiro, o
Pimentão, a Belladona, etc, plantas umas indígenas, outras
exóticas, cultivadas no paiz, e cujos usos são conhecidos.
Cprolla afunilada. Antheras afastadas umas das outras, dehis-
centes por fendas longitadinaes lijelam (pag. 142)
Gorolla rodada. Antheras livf es, mas aproximadas umas das ou-
tras, dehiscentes por poros terminaes.Solanam (pag. 141)
Solanum, L. — Flores dispostas em cymeiras simples ou
dichotomicas, pedunculadas, extra-axillares ou terminaes.
Cálice 5-fendido ou 5-partido. CoroUa rodada. 5 estames,
com as antheras aproximadas, convergentes no centro da
flor, dehiscentes por dois poros terminaes. Baga. — Plantas
herbáceas, menos vezes lenhosas. (Este género tem, em
Portugal, varias espécies herbáceas, e as duas seguintes
lenhosas) :
Folhas sinuado-pinnatilobadaíí. Corolla violácea. Pequeno ar-
busto levantado, muito ramoso, com grandes aculeos ama-
rellos nos ramos e nas folhas. Baga amarella, grande, globosa.
FL de maio a agosto. Areias maritimas do Tejo e de alguns
pontos do. Oceano: Estremadura^ Minho, etc,
Hm iMMlOllllieillII» li.
Folhas auriculado-tridivididas. Curolla violácea. Sub-arbusto tre-
i 42 APOGTNÁGEAS
pador, inerme, com os ramos sub-volaveis. Baga ovóide, ver«
melha. Fl. dè junho a setembro. Sebes, sittos humiios : fiftra,
Entre Douro e Minho, etc. — Dulcamára, docf amarga, uta
de cão S. Dulcanianu L.
Folhas inteiras, não auriculadas. Traz-os-MonteSy Estre-
madura {Barroca d^Alva)^ etc.
▼. Intefrifollain, Wk
«
Lycium, L. — Flores pedunculadas, axillares ou extra-axil
lares, solitárias, geminadas ou fasciculadas. Cálice gomiloso
campanulado, sub-bílabiado ou com 5 dentes deseguaes
Gorolla afunilada, com o limbo 5-6-lobado e os lóbulos trian
guiares. Estames inseridos no meio, ou no cimo do tubo
da coroUa, com as antheras longitudinalmente dehiscentes.
Baga. — Arbustos espinhosos, com as folhas inteiras.
Folhas lanceoladas ou espatuladas, m^ito attenuadas na base,
grossas, uninervadas. Flores solitárias, com pedúnculos cor-
tos, com a corolla 4-6 vezes maior do que o cálice, tendo o
limbo duas vezes menor do que o tubo, branco-rosada, reti-
culada. Arbusto muito espinhoso, com os ramos esbranquiça
dos. Fl. de abrú a junho. Sebes: na Estremadura (Usboa),
Beira, etc. — Espinheiro alvar bastardo.
li. earoiMieuiiif !«•
Família XXDC.— APOCYNÁGEAS, Lindl.
Flores hermaphroditas, regulares, dispostas em cymeiras
terminaes, ou solitárias e axillares. Cálice persistente, gamo-
sepalo, com 5 divisões. Corolla hypoginica, gamopelala, afu*
nilada ou asalveada, com 5 lóbulos. 5 estames alternos, in-
clusos, inseridos na corolla, com os filetes muito curtos ou
nuHos, e as antheras introrsas, livres ou adherentes ao es-
tigma. Ovário livre, cingido na base por um disco carnoso
com 5 glândulas; dois carpellos, livres ou soldados entre
si. 2 estyletes» reunidos no cimo, ou desde a base. 1-2 fru-
OLEÁCEAS 143
ctos seccos, dehiscentes pela sutura ventral (foUiculos), po-
lyspermos (nas espécies indígenas). Sementes nuas ou co-
roadas de pellos, com albumen ; embrySo recto. — Plantas le-
nhosas ou herbáceas perennes, com suecos leitosos; folhas
• simples, inteiras, oppostas ou verticilladas, sem estipulas,
coriaceas, persistentes.
Nerium, L. — Cálice 5-partido. CoroUa asalveada, tendo
na garganta uma coroa composta de 5 laminas multifendi-
das, oppostas aos lóbulos. Estames inclusos, com as antbe-
ras adherentes ao estigma, biappendiculadas na base, e tendo
o connectivo superiormente prolongado em um filamento
comprido, pelludo, contorcido em espiral. 1 só estylete fi-
liforme; estigma obtuso. 2 folliculos. Sementes coroadas de
pellos. — Arbustos com as folhas oppostas ou temadas.
Flores grandes, rosadas ou brancas, em cyineiras sub-umbella-
das ou corymbosa^, terminaes. Arbusto com as folhas lanceo-
lado-agudas, sub-sesseis. FL de julho a outubro, Sitios ku-
midoSf á beira dos rios^ etc, no sul do Alemtejo, Cult. nos
jardins. — Loendro ou sevadãha !¥• Oleánder» li.
Família XXX.— OLEÁOEAS, Lindl. (ezolnindo as Frazlneas)
Flores hermaphroditas, regulares, dispostas em cachos
simples ou compostos, axillares ou terminaes, muitas vezes
thyrsiformes. Cálice gamosepalo, com 4 divisões, persistente.
CoroUa hypogynica, asalveada, rodada ou afunilada, com 4 di-
visões. 2 estames, alternos, inseridos sobre a coroUa, com os
filetes curtos e as antheras introrsas, biloculares, longitudi-
nalmente dehiscentes. Ovário livre, bilocular, com os loculos
biovttlados. 1 estylete curto; estigma simples ou bifendido.
Fructo secco, capsular ou carnudo, drupaceo ou bacciforme.
Sementes com albumen; embry&o recto. — Arvores e arbus-
^
1 44 OLEÁCEAS
tos com as folhas oppostas, simples, inteiras^ sem estipu-
las.
Fructo secco, dehiscente : uma capsula com duas válvulas. Fo-
1 { lhas caducas Syrlnfa (pag. 144) .
Fructo carnudo, indehiscenle 2
^ j Folhas caducas. Baga polysperma. lilgastram (pag. 144)
Folhas perennes, Fructo drupaceo, monospermo 3
Drupa ovóide, com o caroço ósseo Olea (pag. 146)
3{ Drupa globosa, com o caroço delgado e frágil.
pmilynsa (pag. 147)
Syrmga, L. — Lilaz. — Flores cheirosas, dispostas emthyr-
sos terminaes. Cálice tubuloso 4-deiUado. Gorolla asalveada,
com o tubo muito maior do que o cálice e o limbo i-par-
tido. Estames e estylete inclusos ; estigma bifendido. Capsula
coriacea, quasi lenhosa, ovado-lanceolada, comprimida, com
duas válvulas naviculares, e os loculos bispermos. Semen-
tes com azas estreitas. — Arvores e arbustos com as folhas
pecioladas, inteiras, caducas.
Arbusto de grandes dimensões. Folhas cordiforme-ovadas, gla-
bras. Corolla com o limbo sub-roncavo, roxa, vermelha ou
branca. Fl. em fevereiro e março. Indígena da Pérsia e cul-
tivado nos jardim, — Lilaz S« TalgarlHf L*
Arbusto de pequeno porte. Folhas lanceoladas, aguçadas, gla-
bras. Corolla com o limbo sub-plano, avermelhada ou roxa.
Fl. em fevereiro e março. Indígena da Pei*sia e cultivado (me-
nos) nos jardins. — Lilaz S. pérsica» L.
LiguBtrum, Tourn. — Alfenheiro. — Flores cheirosas, em
thyrsos terminaes. Cálice com pequeno tubo e o limbo
4-dentado. Corolla afunilada (fig. 24, A), com o tubo com-
prido e o limbo 4-partido. Estames inclusos; estylete muito
curto; estigma bifendido. Baga sub-globosa, canmda, bilo-
OLEÁCEAS 145
cular, com os loculos 2-4-spermos. — Arbustos com as fo-
lhas simples, inteiras, caducas, oppostas.
Corolla branca. Tbyrsos compactos, pedunculados. Baga negra,
amarga, persistente até á primavera seguinte. Arbusto com
os ramos compridos, Hexiveis, e as folhas elliptico-lanceola-
das, com peciolos curtos (hg. i\, B). Fl. em maio e junho.
Traz-os-Konles.— Alfenkeiív L. valfare, Ii.
Rg. 24.— i4.- Flor do lAgutlrum vulgoTt, L. (2:1). B: folha (1:1). C:
fVoctos da (Hea Eurt^ea, L., tar. OieaUer, DC. [t:l). D: folha.-^
E: Folhada VhiHyrea laíifolia, L.— F; Folha da Ph. media, L.— H;
. Folha da Ph. auguttifoiia, L. (todas 1:1).
c s. — V. n. 10
146 oleAceas
Olea, Tourn. — Oliveira. — Flores dispostas em pequenos
cachos axiilares, simples ou compostos. Cálice 4-dentado.
Corolla com o tubo curto e o Jimbo sub-rodado, 4-parlido,
plano, aberto para os lados. Estames salientes, inseridos ao
cimo do tubo da corolla. Esiylete curto; estigma cónico,
grande. Fructo carnudo, oleoso, drupaceo, com o caroço ós-
seo 1-2-spermo. — Arvores, ou arbustos, com as folhas sim-
ples, coriaceas, inteiras, persistentes, oppostas.
Arvore, ou arbusto, com os ramos acinzentados. Folhas oblongo-
laneeoladas, mucronadas, attenuadas em peciolo curto (fig.
24, D), na pagina superior verde-acinzentadas, e na inferior
pulverulentas, brancas ou esbranquiçadas. Corolla branca.
Flores em cachos simples ou sub-compostos. Drupa sub-glo-
bosa ou ellipsoide. Fl. em maio e junho.
O* Eoropaeat li*
Arvore, ou arbusto, com os ramos quasi sempre espines-
centes (sobretudo nas formas arbustivas), com as drupas
pequenas (fig. 24, C), negras, ou, menos vezes, bran-
cas (Zambujeiro branco). Espontânea no Oriente (?);
sub-eapon tansa (?) nos teiTenos calcareos das províncias
do centro e do sul. — Zambujeiro ou ziimbujo.
V. Oleasier» DC*
Arvore com os ramos sempre inermes. Drupa grande, ne-
gra ou acastanhado-arroxada na maturação. Cultivada
em todo o paiz. — Oliveira ir. sati tiu DC
A Oliveira é muito cultivada em todas as nossas provín-
cias. A cultura tem n'ella originado, como em quasi todas
as arvores fructiferas, um grande numero de variações,
que principalmente se distinguem pelo tamanho e forma da
drupa (globosa, ovóide, bicuda, amygdaliforme, turbinada,
etc), pela côr e precocidade, bem como pelas dimensões
da arvore, etc. O emprego d'este fructo é bem conhecido
em Portugal: o fabrico do azeite é uma das nossas indus-
trias ruraes mais desenvolvidas. O clima portuguez, quente,
secco, cheio de luz, presta-se admiravelmente á vegetação ^
OLEÁCEAS
i47
d'esla arvore e á boa qualidade dos seus prodactos ; pos-
suimos uma grande diversidade de typos de azeite, e, aparte
algumas imperfeições do fabrico, muitos d'elles s5o' magni-
ficos. O fructo do Zambujeiro dá também azeite, e de boa
qualidade, mas muito pouco quantioso. Â madeira da Oli-
veira e do Zambujeiro é das mais compactas e homogé-
neas que se conhecem, e tem muitos empregos valiosos,
como já dissemos n^outro logar.
Phillyrea, Toum. — Aderno, — Flores branco-esverdinha-
das, cheirosas, dispostas em cachos curtos, sub-corymbo-
sos, axillares. Cahce 4-dentado. Corolla sub-rodada, 4-par-
tida, com o tubo curto. Antheras sub-sesseis, inseridas no
tubo da corolla. Drupa globosa, pequena, negra, com o ca-
roço monospermo, delgado e frágil. — Arbustos, ás vezes
arborescentes, com as folhas simples, curtamente peciola-
das, coriaceas, persistentes, oppostas.
[ Drupas obtusas no cimo. Folhas ovado-eliipticas ou ovado-oblon-
gas, agudamente serradas, um pouco cordiformes ás vezes
na base, sobretudo as inferiores (fig. 24, E). Pequena arvore
ou arbusto. FL de janeiro a março. Beira , Estremadura ^ etc.^
— Aderno Pli. latlfolla* li.
Drupas apiculadas no cimo . Folhas nunca cord iformes na base . 2
Folhas ovado-lanceoladas, sub-intejras (fig. 24, F). Grande ar-
busto. FL de janeiro a março. Estremadura, Alemiejo, etc.
— Aderno » . . . . Pb* media» li.
Folhas estreitas, linear-lanceoladas, attenúadas em ambos os ex-
tremos, muito inteiras (fig. 24, H). Arbusto. Fl. de janeiro
a março. Matos y pinhaes, sebes y etc: Traz-os- Montes (Re*
goa)y Beira^ Estremadura, Alemtejo, etc, — Lentisco bastardo,
Pli. aiiffastlfolla» li*
10*
i 48 JASMINÁGEAS
FamiUa XXXI.— JASMINÁGEAS, R. Br.
Flores hennaphroditas regulares, dispostas em cymeiras,
ás vezes corymbosas ou paniculadas. Cálice gamosepalo,
5-8-dentado, persistente. Corolla hypogynica, asalveada, com
o tubo alongado e o limbo plano, 5-8-fendido. 2 estames in-
seridos no tubo da corolla, inclusos, com as antheras bilo-
culares, introrsas, longitudinalmente dehiscentes. Ovário li-
vre, bilocular, com os loculos i-4-ovulados. ^ estylete; es-
tigma bilobado. Fructo bacciforme ou capsular. Semente
quasi sem albumen; embryão recto.
Jasminum, Tourn. — Jasmineiro.—rBagdi globosa, com os
loculos monospermos. — Arbustos levantados ou trepadores,
com as folhas oppostas ou alternas, simples ou compostas,
caducas, sem estipulas.
Folhas alternas, sub-coriaeeas, 3-foliadas (raras vezes i-folia-
das), com os foliobs oblongos, inteiros, sendo o médio maior.
Arbusto levantado, glabro. Flores amarellas, cheirosas, dis-
postas 2-4 em cymeiras terminaes. Baga do tamanho de uma
^1 { ervilha, negra. Fl. de abril a junho. SebeSy ele. : Traz-os-Mon'
teSy Beira, etc. — Jasmineiro do monle, giedô (Traz-os-Mon-
tes) , J. flruticanii» L.
Folhas oppostas impar ipinnuladas. Corolla branca. Plantas cul-
tivadas 2
Tubo da corolla pouco maior do que o cálice. Folhas com 3 pa-
res de foliolos lanceolados, acuminados, todos distinctos. Ar-
busto muito pouco trepador. Fl. de maio a selembro. Origi-
nário da parte temperada da Azia e cultivado nos jardins.—
Jasmineiro gallego ^« olDcinale» L*
Tubo da corolla 3-4 vezes maior do que o cálice. Folhas com 4
UMBELUFERAS 1 49
pares de foliolos ovados, mucronados, confluentes os 3 folio^
los extremos (o ultimo par e o impar). Arbusto trepador. Fl.
de maio a setembro. Originário do Malabar e cultivado no$
jardins. — Jnsmineiro de Unha. : J. sran<li0oraiii»Ei«
Afora as duas ultimas espécies, outras se cultivam nos
jardins, mas com menos frequência.
m
\
Siib-classe III. — Dialypetalas
Flores com dois envolucros floraes. Cálice gamo- ou dia-
lysepalo, corolla dialypetala (raras vezes nulla).
A. — Calicifloras (DC. ex p.)
■
Pétalas e estames epigynicos ou perigynicos.
. Família 2tXXn.— UMBELUFERAS, Juss.
Flores hermaphroditas, polygamo-monoicas, ou raras ve-
zes dioicas, regulares ou irregulares, dispostas em umbel-
las simples ou compostas, raras vezeS reunidas em capí-
tulos ou verticiliado-fasciculadas. Umbellas primarias e se-
cundarias nuas, ou rodeadas de bracteas (envolucro) e bra-
cteolas (envohicellos) em diverso numero. Cálice muito pe-
queno, lubuloso, inteiro ou com 5 dentes, às vezes persis-
tente. 5 pétalas, caducas, brancas, amarellas ou rosadas.
5 estames, alternos com as pétalas; filetes curvos; anthe-
ras introrsas, biloculares, longitudinalmente dehiscentes.
Ovário inferior, adherente ao tubo do cálice, 2-locular,
com os loculos 1 -ovulados (muito raras vezes, por aborto,
1-locuIar), superiormente dilatado n'um disco epigynico, ter-
minado por dois estyletes divergentes, ás vezes persisten-
tes. Fructo secco, um diachenio, quasi sempre coroado pelo
limbo do cálice, pelo disco e pelos estyletes; na maturação-
separável da base ao cimo em duas partes. Acbenios raras
^ I
150 UMBELUFERAS
vezes lisos, qnasi sempre com saliências longitudinaes, ás
vezes aladas ou espinhosas; atravessados internamente por
canaes oleo-resiniferos. Sementes com albumen; embryão
recto. — Plantas annuaes ou perennes, raras vezes arbustos,
geralmente com cheiro aromático ou viroso ; fofbas alternas
e de ordinário sem estipulas, quasi sempre com o peciolo en-
vaginante e 1-2-3-pinnulado-divididas, raras vezes inteiras.
A família das Umbelliferas tem muitos géneros e espécies
em Portugal, mas s3o quasi todas herbáceas e sem nenhuma
importância florestal; apenas nos referiremos ás duas espé-
cies seguintes, por serem arbustivas.
Bupleurum, L. — Flores dispostas em umbellas compostas.
Folhas inteiras. PetalajS amarellas, quasi orbiculares, mais
largas do que compridas, inteiras, enroladas para dentro.
Cálice inteiro. Fructo comprimido lateralmente, com 5 sa-
liências longitudinaes. Envolucro ás vezes nullo; envolucel-
los sempre. — Plantas annuaes e perennes, sub-arbuslos e
arbustos.
(Este género tem em Portugal espécies herbáceas e le-
nhosas ; apenas nos referiremos ás segundas, que são pe-
quenos arbustos, com as folhas perennes, penninervadas,
e com os envolucros' virados para baixo).
Umbella com 6-20 raios, eguaes. Envolucros eenvolacellos ca-
ducos. Estyletes curtos, levantados. Caules ramosos, densa-
mente folhados; folhas coriaceas, lustrosas na pagina supe-
rior, glaucas na inferior, sesseis, lanceolado ou obovado-elli-
pticas, mucronadas, calloso-marginadas, reticulado-venosas.
Fl, em julho e agosto. Estremadura, Alemlejo, Algarte.
B. fru4ico«oiii« I-»
Umbella com 15-30 raios, eguaes. Envolucros eenvolucellos per-
sistentes. Estyletes abertos para os lados. Caules pouco ra-
mosos e pouco folhosos no cimo; folhas rígidas, coriaceas, na
pagina superior amarello-esverdinhadas e na inferior glau-
cas, attenuadas em peciolo muito curto, verticaes pela torsao
ARAUÁCEÂS 151
do peciolo, lanceoladas, mucronadas, cartilaginoso-margina-
das, reticulado-venosas. FL de junho a setembro.
^ B. verticale* Orief^*
FamiUa XXXIU.— ARAUÁCEÂS, Jvmm.
Flores hermaphroditas, regulares, dispostas em utnbellas
ou capítulos, terminaes ou axillares. Calfce adherente ao
ovário, com o limbo muito curto, 5-dentado. CoroUa com
5-10 pétalas. Estames em numero egual ao das pétalas, al-
ternos, perigynicos, com as antheras introrsas, biloculares,
longitudinalmente dehiscentes. Ovário inferior, 5-10-locular
(ou 2-3-locular por aborto), com os loculos 1-ovulados. 5 esty-
letes, livres ou concrescentes n'um só. Fructo, uma baga com
5- 10 loculos monospermos, coroada pelos dentes do cálice ou
pelas cicatrizes que elles deixaram ao cahir. Sementes com
albumen. — Plantas, lenhosas, ás vezes trepadoras, menos
vezes herbáceas perennes.
Hedera, L. — Hera, — Flores reunidas em umbellas sim-
ples» globosas. Cálice com 5 dentes caducos. 5 pétalas. 5
estames. Estyletes reunidos n'um só. Baga coroada pelas
cicatrizes que os dentes do cálice deixaram ao cahir, com 5
loculos monospermos. Arbustos sarmentosos, trepadores,
com as folhas alternas, simples, penninervadas e inteiras
ou palminervadas e lobadas, persistentes.
^ o B, verticale ^ apresentado como planta portugueza no Prodro-
mus, do sr. Willkomm. Possuímos um exemplar colhido próximo a Lis-
boa (visinhanças do Campo Grande) que talvez se lhe possa referir;
está em floração atrazada para se verificar com segurança a disposição
dos estyletes e saber se os envolucros e envolucellos sáo persistentes ou
caducos, mas as folhas são levemente pecioladas e na forma e disposi-
ção parecem marcar antes esta ultima espécie.
Fig. iS.—A: Flor da Hedera Hetix, L. (I A). B: folha do ramo fértil
(2:3). C: folha do ramo trepador estéril (2:3).
Flores amarello-esverdinhadas, pediueiladas (íig. 25, A), dis-
jiostas em umbellas pedunculadas, reunidas em panicala ler-
niiiinl. Baga negra, globusa, apiculada, com o estylele pérsia
tente. Arbusto raslejanle ou trepador, com o tronco g os ra-
ntns providos de raizes adventicias((ig. 25, C), com as folhas
pecioladas, coriaceas: as dos ramos rastejantes profundameale
3-5-lobadas, com os lóbulos inteiros; as dos ramos trepadores
estéreis 3-5-lobad3s, com os lóbulos menos profundos (lig. SS,
C) : as dos ramos lloriferos inteiras, ovadas ou rbomboide-acn-
minadas (fi^. 23, B). Pedúnculos e cálices esbrasqui^os,
e-itiellado-pulvemlentos. Fl. tm setembro e outubro. Muito
{requente em todo o paiz, nos sebes, muros, r-ichedos, Irepada
ás arcares, elc.^Hera ou hedera (Traz-os-Montet).
H. Hcllx. I-
CORNUÁCEAS 153
FamUia XXXIV.— CORNUÁOE AS, DC.
Flores liermapliroditas regulares, reunidas em corymbos,
UHibellas ou cymeiras. Cálice 4-denlado, adherente ao ová-
rio. Corolla com 4 pétalas. 4 estames livrfTs, alternos, epi-
gynicos. Ovário inferior; ^ estjlete. Fruclo drupaceo. com
caroço bilocular e os loculos monospermos, coroado pelos
vestígios dos dentes do cálice. Sementes com albumen.
Comos, L,^ — Sangitinho. — Caracteres da familia. Arbus-
tos levantados, com as folhas e os ramos oppostos (a espé-
cie indígena). Folhas caducas, sem estipulas.
Fig. 26.— Cornwi languinea, L.—A: Flor (1:1). B: folha (1:Í).
Corolla branca. Flores (fig.Sf), A) dispostas em corymbos com-
postos terminaes, nús, e que apparecem depois das folhas.
Fruclos giobosos, pequenos, amargos, negros, pouco car-
nudos. Folhas inteiras, ellipticas ou ovadas, acuminadas (fig.
26, B). Arbusto com os rebentos vermelho-sanguineos, so-
154 RIBESIÁCEAS ' .
bretudo na prímavera, flexiveis. Fl. em maio ejwiho. Traz-
cãMontei, Beira, etc — Sungaiuho legitimo.
C. MiM^Dlaei. L.
Família XXXT.— RIBESIA.OEAS, Boh.
Flores regulares hermaphroditas oa ás vezes dioicas por
aborto, sub-solitarias ou dispostas em cachos. Cálice gamo-
sepalo 5-4-rendido, corado, petaloide. 3-4 pétalas. Estaraes
em numero egaal ao das pctaias, alternos; autheras iotror-
sas. Ovário inferior, adherente, unilocular, multíovulado.
2-4 estyletes reunidos na base. Baga sub-globosa, unilocnlar,
polysperma, polposa, coroado peio caiíce secco, persistente.
Sementes com-albumen, e com o tegumento gelatinoso; é este
tegumento que produz a polpa do frucLo.
Ribes, l. — Groselheira. — Cálice Sfendido. 5 pétalas muito
pequenas, escamiformes, inseridas na garganta do cálice.
5 estames inclusos, inseridos com as pétalas. Arbustos iner-
mes ou aculeados, com as folhas alternas, simples, palmi-
nervadas, lobadas, caducas, sem estipulas.
Fig. 87. — Ramo fructifero do Bibet Grottularia, L, t. lativvm, DC. (l:i).
CACTEÁCEAS 155
Flores axillares, solitárias ou reunidas 2-3, desenvolvendo-se
ao mesmo tempo que as folhas. Cálice esverdinhado-averme-
Ihado. Baga globosa ou ellipsoide, erriçada de pellos glandu-
losos (fíg. 27), amarellada, esveruinhada, vermelha ou es-
cura. Arbustos com três aculeos fortes na base das folhas.
Folhas pecioladas sub-orbiculares com 3-5 lóbulos palmados
e crenados, pubescentes, menos vezes glabras. Fl. tni março ^
abril. Cultivado nos jardins: Traz-ós^Montes , etc. Espontâ-
neo em quasi toda a Europa. — Groselheira.
B. (iro«»alnrla* Ei» v* satlYum» DC.
Familla XXXVI.— CACTEÁCEAS, DC.
Flores hermaphroditas, regulares, quasi sempre solitá-
rias. Sepalas petaloidQs, numerosas, imbricadas, soldadas
em tubo na base. Pétalas dispostas em 2-muitos cyclos, as
externas muito qouco distinctas das sepalas, quasi sempre
um pouco adherentes na base. Estames numerosos, dispos-
tos em muitos cyclos, mais ou menos adherentes ás péta-
las; filetes delgados; anlheras inlrorsas. Ovário inferior,
adherente ao tubo, unilocular, multiovulado. Estylete com-
prido; muitos estigmas lineares. Fructo bacciforme, pol-
poso, polyspermo. Sementes com ou sem albumen. Plantas
aphyllas, carnoso-succulentas. ♦
Opuntia, Toum. — Figueira da hidia. — Flores grandes,
solitárias. Sepalas externas planas, pequenas, as internas
petaloides. Estylete grosso. Baga ovóide, externamente tu-
berculada e quasi sempre aculeada.— Arbustos com os cau-
les novos e os ramos comprimidos, articulados, carnosos,
vestidos de fascículos de aculeos mais ou menos compridos
dispostos em equiconcio.
Aculeos de cada fascículo setaceos, curtos, eguaes. Flores ama-
, relladas. Artículos caulinares grandes, ovados ou oblongos.
Fructos grandes, avermelhados, comeítiveis. Arbusto com
156 CRASSULÁCEÂS
OS troncos prostrados na base. FL de maio a julho, Ori^mO'
ria da America tropical e sub-espon(anea nfi$ sebes e rallados
das proviftcias do sul e do centro — Figueira da índia. (Ca-
tus Opuntia, L. e Brot.) O* wal^arla* Hill»
Aculeos de cada fascículo deseguaes, amarellados : os menores
setaceos, os maiores muito mais compridos, rígidos, espines-
centes. Flores avermelhadas. Artículos caulinares largos,
ovado-oblongos.- Arbusto com os troncos levantados, fl. &
maio a julho. Originaria da America tropical e sti^-^sponto-
nea no Algarve. — Figueira da Índia. (Calus Opuntia, ror.
Tuna, DC.) O. Tuna, MUI.
.As Figueiras da índia são empregadas para vedações,
vallados, sebes, etc. Os seus fructos são comestíveis.
FamiUa XXXVn.— ORASSULÁOEAS, DC.
Flores hermaphrodítas, raras vezes unisexuaes, regula-
res, quasi sempre dispostas em cymeiras scorpioides, ra-
ríssimas vezes solitárias, axillares. Cálice persistente, quasi
sempre com 5, raras vezes 3-20 sepalas, livres ou mais ou
menos reunidas na base entre si e com o disco, succulen-
tas. Corolla com 5, raras vezes 3-20 pétalas, alternas com
as sepalas, livres ou, mais ou menos, reunidas na base.
Estames inseridos com as pétalas, perigynicos, em numero
egual ao das divisões da corolla, ou duplo; filetes assove-
lados, succulentos, livres, raras vezes reunidos com as pé-
talas; antheras biloculares, longitudinalmente dehíscentes,
introrsas. Carpellos em numero egual ao das pétalas, op-
postos a ellas, vertici liados, livres, tendo na base outras
tantas escamas nectariferas; estylete curto; estigma sub-
terminal. Folliculos polyspermos, dehisoenles longitudinal-
mente pela sutura ventral. Sementes com albumen, embrylo
recto. — Plantas herbáceas succulentas, raras vezes arbus-
\
^ MYRTÂCEAS 157
tos OU sub-arbustos, com as folhas simples, inteiras, car-
nadas, alternas, oppostas ou verticíiladas, sem estipulas.
(Esta família botânica tem em Portugal muitas espécies
herbáceas, próprias aos logares áridos, muros, rochedos,
telhados, etc. Uma só espécie, no género Sempervivum é
lenhosa, por isso só a ella nos referimos. Não tem nenhuma
importância),
Sempervivimi, L.-^ Saião. — Flores em cymeiras corym-
bosas ou thyrsoides. Cálice com 6-20 sepalas. Corolla com
6-20 pétalas reunidas na base entre si e com os filetes,
abertas para os lados em estrella. Estames em numero du-
plo do das pétalas. Hervas perennès ou arbustos.
Arbusto glaLro com o tronco ramoso cheio de cicatrizes. Folha*
reunidas em roseta no cimo dos ramos, carnudas, com a fúrma
de cunha, celheadas nas margens. Flores amarei las, pedun-
culadas, com o cálice lO-partido; 10 pétalas; 10 carpellos.
Cymeiras dispostas em longos thyrsos terminaes. Fl. no in-
verno e primavera. Rochedos^ muros, telhados^ etc. : provín-
cias do sul e do centro. — Saião lii. arlioreum» 1j.
FamiHa XXXVni.—MYRTÁCEAS, R. Br.
Flores regulares, hermapliroditas. Cálice com 5 sepalas,
menos vezes 4-6, reunidas na base ou até ao cimo, persis-
tente. Corolla com outras tantas pétalas, livres ou solda-
das, ás vezes transformadas n um operculo continuo ao tubo
do cálice e circularmente caduco na floração (fig. 28, E, F).
Estames numerosos, inseridos com as pétalas, perigynicos,
livres, monadelphos ou polyadelphos ; antheras introrsas,
biloculares, dehiscentes por 2 fendas longitudinaes ou por 2
poros. Ovário adherente (no todo ou em parte) ao tubo do
cálice, plurilocular, com os loculos multiovulados ; 1 esty-
158
Fig. 28.— A: Ramo áo Síyriíu eommitnis. h. com Qor e fruto (M)fi:
uma flor separada (1:1). C: Folhas oppostas do Eucalypliu gtobidia,
Labill., em novo (1:4). D: folha da mesma arvore adulla e mua Sor
fechada (1:4). £: flor aberta (1:1). F: o operculo caidc na flora-
ção (1:1). H: capsula (1:1).
MYRTÂCEAS 159
lete; estigma simples. Fructo uma baga ou uma capsula.
Semente quasi sempre sem albumen. — Arvores ou arbustos
com ãs folhas simples, inteiras, sem estipulas, com o limbo,
assim como a casca dos ramos, cheios de massiços de cellu-
las que produzem óleos essenciaes.
«
As Myrtàceas exóticas comprehendem um grande numero
de espécies, algumas das quaes são muito úteis ao homem:
já pelas suas madeiras densas e incurruptiveis, já pelas suas
fibras textis, já pelos fruclos comestíveis, ou pelas especia-
rias, de grande valor, que produzem, como o Cravo (botões
da Eugenia aromaticaj, etc. Em Portugal esta familia está
representada apenas por uma única espécie espontânea, a
Murta; começam a cultivar-sé como essências florestaes e
de ornamento alguns Eucalyptos.
Pétalas livres (fig. 28, B). Sepalas concrescentes só até ao meio.
Fructo uma baga coroada pelos dentes do cálice (fíg. 28, A).
Arbusto espontâneo My^riaii (pag. 159)
Pétalas transformadas n'um operculo circular, caduco na flora-
ção (fig. 28, £, F). Sepalas concrescentes quasi até ao cimo.
Fructo capsular (fig. 28, H). Arvores exóticas, algumas de
primeira grandeza Eocalyplus (pag. 160)
Myrtus, Toum. — Murta. — Ovário incluso e adherente ao
tubo sub-globoso do cálice. Sepalas e pétalas 5, raríssimas
vezes 4; pétalas livres. Estames numerosos, livres. Fructo
carnudo, bacciforme, 2-3-locular, polyspermo, sub-globoso,
coroado pelo limbo do cálice persistente. Arbusto com as
folhas oppostas.
Flores solitárias, axillares, com pedúnculos compridos, levan-
tados, bibracteolados no cimo. Sepalas triangulares, muito
menores que as pétalas (fig. 28, B); pétalas brancas. Baga
pouco carnuda, ovóide ou sub-globosa (fig. 28, A), negro-
azulada. Arbusto muito. aromático, com as folhas sub -sesseis,
coríaeeas, glabras, glandulosas, elliptico ou oblongo-lanceo-
160 myrtAceas
•
ladas, inteiras. FL de junho a outubro. S^es, campos inevl-
to$, matos, pinhaes^ etc, frequente. — Murta,
M« commoDis» L.
Eucalyptus, L'Herít. — Ettcalypto. — Flores com 4-5-6 di-
visões; axillares, solitárias ou dispostas em pequenas um-
bellas, raras vezes em paniculas ou corymbos no extremo
dos ramos. Cálice com os dentes muito curtos, tendo o
limbo muitas vezes concrescente a constituir uma só peça
muito caduca, e o tubo persistente, de diversas formas. Co-
roUa transformada n'um operculo, continuo ao tubo do cálice,
e que se desprende circularmente na floração para dar saida
aos estames e es.tylete (fig. 28, E, F). Estames muito nu-
merosos, quasi sempre todos livres; antheras dehiscentes
,por 2 fendas longitudinaes ou 2 poros. Ovário mais ou me-
nos àdherente ao tubo do cálice, 3-5-locular, raras vezes
6-locular; estylete filiforme. Capsula quasi sempre inclusa
no tubo do cálice persistente, raras vezes serai-livre e sa-
liente, com os loculos dehiscentes no cimo (fig. 28, H ,
em muitas espécies sub-lenbosa quando madura. Sementes
irregulares, numerosas, sendo uma grande parte estéreis.
—Arvores quasi todas da Austrália, menos vezes arbustos,
em alguns casos biformes (isto é: com aspecto diverso em
novas e depois em adultas), com as folhas persistentes,
umas vezes oppostas, principalmente na arvore nova (em
raríssimas espécies adunadas na base, ou ternadas), outras
vezes alternas; limbo mais ou menos coriaceo, cheio de
glândulas oleo-resinosas, às vezes glaucas ou pulverulento-
esbranquiçadas. Botões nús.
Flores sub-sesseis ou com pedúnculos curtos, 1-3 axillares. Flor
antes de abrir turbinada, quadrangular, verrugosa, pulvero-
lento-esbranquiçada, com o operculo deprimido, proeminente
no centro (fig. 28, F). Flor aberta grande (com 2-3 cent. de
largura) (fig. 28, E); filetes brancos. Fructo turbinado (Og.
28, H), sub-lenhoso, quasi tão grande em maduro como na oc-
GRANATÁCEAS 161
casião da floração, e com a mesma forma; capsula achatada
superiormente, attingindo a abertura do cálice, de ordinário
com B loculos, (menos vezes 4-6). — Arvore de grande porte,
bi forme : em nova com as folhas oppostas, sesseis, amplexi-
caules, ovado^oblongas (fig. 28, C); em adulta com as folhas
alternas, pecioladas, ovado-lanceoladas ou lanceoladas, falci-
formes, agudas, coriaceas (fíg. 28, D). Casca despindo-se em
grandes fitas que deixam o tronco perfeitamente liso. Fl. em
novembro, dezembro, fevereiro e março. Bastante cultivado
como planta de ornamento, e como arvorf florestal. — Euca-
lypto £• fflolialafl* Ijalilll*
O género Eucalyptus, quasl todo elle indígena da Austrá-
lia, comprehende umas cento e tantas espécies conhecidas.
Referimo-nos apenas ao E. globuluSy por ser a espécie mais
volgarisada em Portugal e ter adiante de si um bom futuro
como arvore florestal, emquanto das outras espécies apenas
algumas teem sido cultivadas como arvores de ornamento, e
pouco se pode dizer acerca das suas aptidões e adaptação.
Familia XXXIX.— GRANATÁCEAS, Don.
Familia muito proxhna da das Myrtáceas, de que princi-
palmente se distingue pela estructura muito particular do
fmcto: constituido por um pericarpo coriaceo, indehiscente,
volumoso, coroado pelos dentes do cálice, e dividido pò; tim.
diaphragma transversal em duas cavidades deseguaes, a
superior maior do que a inferior, ambas sub-divididas por
tabiques verlicaes membranosos, delgados, a cavidade su-
perior em 5-9 loculos e a inferior em 3. Sementes nume-
rosas, com o tegumento polposo, acidulo, sem albumen. —
Arbustos com as folhas geralmente oppostas, caducas, her-
báceas, nâo glandulosas.
Púnica, Tourn. — Romeira. — Cálice petaloide, coriaceo,
C. 8. — ^V. II. H
i 62 POMÁGEAS
turbinado, com o limbo 5-7-dividido. 5-7 pétalas. Estames
livres.
Flores $ub<sesseis, terminaes, solitárias, geminadas ou teraadas,
grandes, vermelhas. Fruclo sub-globoso, grande, externa-
mente avermelhado em maduro . Sementes dispostas em fileiras
apertadas, vermelhas, ou, meno^ vezes, amarelladas ou bran-
cas. Arbusto sub-espinhoso ou pequena arvore (cult.), com
as folhas curtamente pecioladas, oblongo-lanceoladas, intei-
ras, verde-lustrosas. Fl. em maio e junho. Cultivada e sub-
espontânea nas sebes ^ nos terrenos calcareos da Beira e d(U
províncias do sul. — Romeira P« csranatam* L.
A Romeira é cultivada pelos fructos (romãs), cujas se-
mentes polposas sào comestíveis, ou pela belleza das flores
(baJaustiasJ , como arvore de ornamento. A sua madeira é
dura e homogénea, mas tem, de ordinário, pequenas dimen-
sões. Todos os orgaos da Romeira contçem tannino e são
adstringentes ; a casca pode servir para curtumes, e dá luna
substancia tinturial com que se preparam em Africa os
marroquins amarellos; a casca das raizes é empregada em
medicina como vermífuga, especialmente contra a t(pnia.
FamUla XL.— POMÁGEAS, BarU.
Flores hermaphroditas, regulares. Cálice com o tubo en-
tumecido, accrescente, e o limbo 5-dívidido* 5 pétalas, al-
ternas com as sepalas, caducas. Estames numerosos, inse-
ridos com as pétalas sobre o cálice, ou sobre um disco an-
nelar, carnudo, perigynico (fig. 29, H); antheras introrsas,
biloculares, longitudinalmente dehiscentes. Pistillo incluído
no tubo do cálice, constituído por 1-5 cgirpellos, com outros
tantos estyletes livres ou concrescentes na base. Carpellos
1-pluriovulados, mais ou menos adherentes ás paredes in-
ternas do tubo do cálice, e quasi sempre entre si, constí-
POMÁCEAS 163
tuindo um ovário l-S-locular. Fructo carnudo, l-S-locular,
indehiscente, coroado pelo limbo persistente do cálice, re-
presentando a porção carnosa um falso pericarpo, que pro-
vém, em grande parte, do desenvolvimento anómalo do tubo
do cálice. Loculos do fructo com as paredes lenhosas, du-
ras, e uma só semente (ffuctos de caroço — fig. 29, B), ou
com as paredes cartilaginosas ou apergaminhadas, incluindo
1-2 ou mais sementes (fructos de pevide — fig. 29, F). Se-
mentes sem albumen; embryão recto.— Arvores ou arbus-
tos, inermes ou espinhosos por transformação dos ramos,
com as folhas alternas. Estipulas livres, caducas ou persis-
tentes. Flores rosadas ou brancas, 'muitas vezes originadas
sobre ramos muito curtos.
1
Flores solitárias. Folhas simples, inteiras ou sub-inteiras . . . 2
Flores reunidas em varias inflorescencias 3
Fructo grande, pyriforme ou sub-globoso, felpudorlanoso, com
5 loculos, cada um dos quaes contam 10-15 pevides. Folhas
inteiras. Cydonia (pag. 165)
Fructo deprimido superiormente n*um disco largo, rodeado pe-
las divisões do cálice (fig. 29, E), contendo 5 caroços. Fo-
lhas inteiras ou sub-inteiras Meiípilus (pag. 170)
Folhas persistentes. Flores esbranquiçado-amarelladas, muito
nunaerosas, reunidas em cachos compostos terminaes. Fructo
« 1 ellipsoide (fig. 29, M), amarellado, comestível.
\ \ Erioliotrya (pag. 169)
(Folhas caducas. Flores brancas ou rosadas, dispostas em cymei-
ras, corymbos ou umbellas 4
Fructos vermelhos, ovóides, com 1-3 caroços (fig. 29, A, B).
Arbustos espinhosos com as folhas palmatipartidas ou palma-
4{ tilobadas (fig. 29, C. D). Flores em cymeiras corymbosas.
Cralaeirns (pag. 170)
Fructos de pevides (fig. 29, F) 5
li«
164
Fig. S9. — A: Fnicto do Crataegus ntonosjno, Jcípi.(l:l). Br o mesmo
corUdo transversalmente e deixando ver o caroço. — C: Ramo estéril
espinhoso, estipulas e folha do Crataegus monogyna, Jcqu.(l:l). D-
uma folha isolada (1:1). £: Fnicto Aa^eípilut Germânica, L. {i-i)-
F : Fructo do Pyrui SIalvs, L., corlado treusyersaluiente, deiíamlo
ver os 5 loculos cora 1-2 sementes (1:2), H: Flor do Pyna commit-
n», L., cortada íongitudinalmcnie { 1 : 1 ). JH ; Fructo da Erkibolrya Ja-
ponica, Lindl. (í:3). N: o mesmo cortado longitudinalmente.— 0: o
mesmo cortado transversalmente (1:1).
POMÁGEAS 165
•
Fructos pequenos (pouco maiores do que uma ervilha), negro*
azulados, com os loculos incompletamente divididos por tabi*
quês falsos, apparentando um numero de loculos duplo do dos
estyletes. Folhas simples, dentadas. Flores, pouco numero*
5( sas, em cymeiras com a forma quasí de cacho. Pétalas lan-
ceolado-Iineares Amelancliler (pag. 169)
Fructos grandes ou pequenos, mas nunca negro-azulados. Lo*
culos do fructo sem falsos tabiques: tantas cavidades quantos
os estyletes: Pétalas sub-orbiculares 6
Flores grandes (fig. 29, H) dispostas em corymbos ou cymei-
ras umbelliformes simples. Folhas simples.
g , .,. . Pyro» (pag. 166)
Flores medíocres dispostas em cymeiras compostas corymbifor*
mes. Folhas simples ou imparipinnuladas.
SorUas (pag. 167)
Cydonia, Tourn. — Marmeleiro. — Flores grandes, solitá-
rias. Cálice com o tubo campanulado e o limbo com 5 di-
visões foliaceas^ accrescentes, dentadas. Pétalas sub-orbi-
culares. 5 estyletes concrescentes entre si na base. Fracto
pyriforme ou sub-globoso, umbilicado no cimo, felpudo-la-
noso, grande, com 5 loculos, dos quaes cada um contém
10-15 sementes com tegumento mucilaginoso.
Corolla branca ou rosada. Flores sub-sesseis, terminaes. Fracto
amarellado, cheiroso, adstringente. Arbusto turtuoso, com as
folhas simples, inteiras, ovadas, molles, cotanilhosas na pa-
gina inferior. Fl. em abril e maio. Originário da Ásia Me-
nory cultivado em qu<i8i todo o paiz e sub-espontaneo na$ se-
bes, nas provindas do centro. — Marmeleiro. {Pyms Cydonia^
L. e Brot.) ۥ valgrarisi
O Marmeleiro é cultivado pelos fructos, muito adstrin-
gentes para serem comidos crus, mas bastante empregados
em doces e conservas de assucar. Aos fructos arredonda-
dos e mais pequenos chamam, vulgarmente, marmelos miu-
166 POMÁCEAS '
áo$9 ordinários oa gallegos, e aos maiores, mais pyriformes
e menos adstringentes, gamboas ou marmelos mollares; con-
stituem duas variações cultnraea. O Marmeleiro è também
empregado, como cavallo, para a enxertia de outras fni-
cteiras. As suas varas, elásticas e resistentes, são muito
procuradas para cabos de chicotes, bengalas, etc.
Pjrrufl, L. — Pereira. — Flores, brancas ou rosadas, dis-
postas em cymeiras umbelliformes ou corymbos simples,
na extremidade de ramos especiaes muito curtos, de 2-4
annos. Cálice com o tubo gomiloso e o limbo 5-dentado.
Pétalas sub-orbiculares. Fructo glabro, com 5 loculos i-dis-
permos (fig. 29, F). Sementes com tegumento coriaceo oa
cartilaginoso, não mucilaginoso. — Arvores ou arbustos,
quando espontâneos com os ramos espinescentes, e iner-
mes quando cultivados. Folhas simples, caducas.
Eslyleles livres.^Fructo não mnbilicado na base, pyriformeou
sub-globoso. Flores grandes (fig. 29, H) com a corolla bran-
ca, loDgamente pedunculadas, dispostas 6-12 em corymbo
simples. Arvore ou arbusto com as folbas ovadas ou arredon-
dadas, um pouco acuminadas ou obtusas, dentadas oa sub-
inteiras, coriaceas, verdes, e glabras ou quasi glabras em
adultas, com o peciolo delgado tão ou mais comprido do qae
o limbo. FL em abril e maio. Espontâneo em Traz-o^Mon-
tesj Entre-Douro e Minho, Alemtejo, etc, e muito cultivado
em todo o paiz. — Pereira P. comoioiila* L*
Ramos espinescentes. Folhas ovadas ou ovado-lanceoladas,
com o peciòlo egual ao limbo, ou pouco maior. Fructo
pyriforme. — Pereira brava. (Traz-os-Montes, Beiray
Gerez, etc.) t. Acliras* \Yallr.
Ramos espinescentes. Folhas arredondadas, agudas. Fru-
cto pequeno, globoso. — Pereira brava. {Douro^ etc]
w Pyraftter» Wallr.
Inerme. Folhas e fructos de varias formas. Cultivado.—
Pereira mansa ou cultivada. ...... v. «atlva* DC*
Estyletes reunidos na base. Fructo umbilicado na base, globoso
POMÁCEAS 167-
■
OU deprímido-globoso. Flores, com as pétalas avermelhadas^;
dispostas em cymeiras umbelliformes simples. Arvore peque-;
na, ou arbusto, com as folhas ovadas, crenadas, na pagina,
inferior cotanilhosas, esbranquiçadas, assim como os cálices
e pedúnculos. Peciolo egual a metade do limbo. FL em abril
e maio. — Maceira P. Malns» Ia.
fiamos quasi sempre espinescentes. Botões e rebentos gla-
bros. Espontâneo nas provindas do norte, — Maceira
brava w* fillwefitrt««
Inerme. Botões e rebentos cotanilhosos. Cultivado em todo
o paiz. — Maceira mansa ou cultivada.
v« hortenats*
A Pereira è cultivada pelos fructos, de que se conhecem
innumeras variações filhas da cultura; estes fructos (perasj
diversificam no tamanho, forma, cõr, sabor^ época da ma-
turação, etc. As variedades silvestres produzem fructos
muito pequenos e não comestíveis. A Pereira chega a ad-
quirir boas dimensões, apresenta grande longevidade, mas
tem crescimento demorado; a sua madeira é de fácil tra-
balho, homogénea, susceptível de bom polido, mas sujeita
a contorcer-se e a rachar; é procurada pelos gravadores,
torneiros, esculptores, etc.
Da Maceira também se conhecem muitas variações, filhas
da cultura ; os seus fructos (maçãs e peros) são muito esti-
mados e procurados como alimento, e utilisam-os um pouco
no fabrico de um vinho especial denominado cidra, muito
usado em algumas regiões mais ceutraes e mais septen-
trionaes da Europa. A Maceira brava é algum tanto empre-
gada, como cavallo, para enxertia. Esta arvore tem vege-
tação lenta e grande longevidade; a sua madeira é seme-
lhante á da Pereira, mas menos estimada; é mais sujeita
ainda a rachar.
Sorbns, L. — Sorveira. — Flores pequenas, numerosas,
brancas ou rosadas, grupadas em cymeiras compostas co-
168 POMÁCEAS
rymbiformes, terminaes. Cálice com o tubo gomíloso e o
limbo 5-dentado. Pétalas sub-orbiculares. 2-5 estyletes, moi-
tas vezes 3. Fructos pequenos, globosos ou pyriformes,
vermelhos ou escuros, com taatas cavidades quantos os es-
tyletes; loculos com as paredes (rageis, papyraceas, di-mo-
nospermos. — Arvores ou arbustos inermes, com as folhas
simples ou compostas, caducas.
. ( Folhas imparipinnuladas 2
{ Folhas simples, dentadas ou lobadas 3
/ Botões glabros e viscosos. Frncto um pouco volumoso, pyrífor-
me, polposo, comestível depois de sorvado, amarello-esenro.
Corymbo pouco composto. 5 estyletes quasi sempre. Pequena
arvore; folhas imparipinnuladas, com 5-9 pares de foliolos.
Fl. em maio e junho. Cultivada (pouco) e talvez suinesponta-
nea em alguns pontos. — Sorveira, . . S. domestica* Ii»
2 { Botões cotanilhosos. Fructos pequenos, do tamanho de uma er-
vilha, sub-globosos, acerbos, vermelhos. Corymbos maiores,
muito mais compostos do que na espécie anterior, com mais
flores, e estas menores. Arvore mediocre ou arbusto. Qoasi
sempre 3 estyletes, menos vezes 2-4. FL em maio e junho.
Grandes altitudes nas províncias do norte {Gerez^ Estrdla,
etc.) — Tramazeira, comogodinho. . . S. A oca parla» !*•
i
Folhas com os peciolos compridos {% do limbo), arredondadas
na base, palmatifendidas, com as lacinias crenado-serradas,
glabras em adultas. Botões glabros um pouco viscosos. Co-
rymbos pouco compostos. 2-8 estyletes, concrescentes até Vii
glabros. Fructos ovóides, escuro-amarellados, pontoados, co-
mestiveis em sorvados. Pequena arvore. Fl. em abril e maio.
Nas provindas do norte, a grandes altitudes {Gerez, Bra-
gança, etc.) — (Crataegus torminalis, L. e Brot.)
S* tormf naliiu Cria.
Folhas com peciolos curtos, sub-cunheadas na base, ovadas, du-
plamente dentadas ou lobado-dentadas, na pagina inferior es-
branquiçadas, cotanilhosas. Botões sub-cotanilhosos. Corym-
bos pouco compostos. 2 estyletes livres, peitudos na base.
POMÁC£AS 169
Fnictos sub-globosos, vermelho-alaranjados na maturação,
um pouco saccharíno-acidulos. Fl. em maio e junho. Nas pro-
vindas do norte {Gerez, Beira, etc.) — Mostageiro {Cratae-
gus Avia, L. e BroL) S. Arla* Crim.
Amelanchier, Med. — Cálice com o tubo turbinado e o
limbo com 5 dentes não accrescentes. Pétalas lanceolado-
lineares. 5 estyletes. reunidos na base. Ovário com 5 car-
pellos biovulados. Fructo polposo, com os loculos, de pare-
des cartilaginosas delgadas, subdivididos incompletamente
por falsos tabiques produzidos pela nervura dorsal do car-
pello, apparentando um fructo 10-locular. Sementes com.
tegumento membranoso. — Arbustos com folhas simples, ca-
ducas.
Flores brancas, longamente pedunculadas, dispostas, pouco nu-
merosas, em cymeiras com a forma quasi de cachos. Fructo
oblongo, negro-azulado. Arbusto com as folhas pecíoladas,
ovadas ou elliptícas, cotanilhoso-pubescentes em novas e gla-
bras em adultas, dentadas. Botões aguçados, escuros, gla-
bros e brilhantes. Fl, em maio. Altitudes elevadas das provin-
cias do norte {Gerez, Bragança, etc) — {Mespilus Amelan-
chieVy L. e Brot,) A. valsará»» Mncli*
Eríobotrya, dindl. — Flores dispostas em cachos terminaes
compostos, com os eixos lanosos. Cálice lanoso, com 5 den-
tes obtusos. Pétalas barbadas. 5 estyletes filiformes, pellu-
dos. Fructo ellipsoide 3-5-locular (fig. 29, N. O).— Arbustos
com as folhas simples, serradas, cotanilhosas na pagina in-
ferior, persistentes.
Folhas grandes, sub-rugosas, lanceoladas, attenuadas em cunha
na base. Dentes do cálice arredondados. Pétalas esbranquiça-
do-amarelladas. Fructosamarellados, comestíveis (fig. 29, M).
Fl, em novembro e dezembro. Originaria da China e do Japão.
Cultivada nas hortas e jardins. — Nespereira do Japão. {Mes-
pilus Japonica^ Thunb: Crataegus Bibas, Loureiro.)
E* ^apoiiicMi» litndl*
1 70 POMÁCEAS
A Nespereira do Japão foi introduzida muito recentemente
na Europa. Cultiva-se hoje bastante em Portugal como planta
de ornamento e pelos seus fructos.
Mespilus, L. — Nespereira. — Flores grandes, brancas, so-
litárias. Cálice com o tubo turbinado e t) limbo com 5 divi-
sões folíaceas. 5 estyletes, livres. 3 carpellos biovulados.
Fructo globoso-turbinado, carnudo, escavado no cimo em
um disco muito largo, rodeado dos dentes foliaceos moito
accrescentes do cálice (flg. 29, E), contendo 5 caroços
sempre monospermos. — Arbustos com as folhas simples,
inteiras ou levemente dentadas, caducas.
Flores quasi sesseis. Fructos pul^escentes, turbinados, com 34
centímetros de diâmetro, verdes, duros, muito acerbos, tor-
nando-se molles, polposos, escuros, com sabor acidulo-vinho-
so, quando estão sorvados. Arbusto ou pequena arvore sub-
inerme (cult.) ou espinhosa (esp.), com as folhas oblongoou
eliiptico-lanceoladas, sub-inteiras, cobertas na pagina mfenor
de felpa branca, macia, assim como os pedúnculos e os cáli-
ces. FL em maia, Sub^esfiontanea (t) nas sebes (Algarve, Bei"
ra, eíc.) e cultivada (pouco). — Nespereira.
M. CSermanica» L.
Esta espécie não tem nenhuma importância em Portu-
gal. É pouco cultivada, e hoje, sob a denominação de Nes-
pereira, em quasi toda a parte se entende a Eriobotrya Ja-
ponica muito mais vulgarisada.
Crataegus, l. — Pirliteiro. — Flores medíocres, brancas,
dispostas em cymeiras corymbiformcs. Cálice com o tubo
gomiloso e o limbo com 5 lóbulos pequenos. 1-2 estyletes
(muito raras vezes 3-5) ; tantos carpellos biovulados quan-
tos os estyletes. Fructo pequeno (fig. 29, A), pouco cama-
do, com um disco no cimo rodeado pelo limbo marcescente
do cálice, e contendo tantos caroços monospermos quantos
ROSÁCEAS 171
OS estyletes e os carpellos. — Arbustos espinhosos, ou pe-
quenas arvores, com as folhas caducas, simples, palmatilo-
badas (fig. 29, D), ou pinnatilobadas. Estipulas foliaceas,
muito desenvolvidas nos rebentos estéreis (fig. 29, C).
Folhas e rebentos pubescentes. Arbusto ou pequena arvore com
os ramos pouco espinhosos ou sub-inermes. Folhas inteiras
na base, profundamente divididas em 3-5 lóbulos, inteiros ou
com alguns dentes na extremidade. 2-5 flores em cada cy-
roeira. Fructos ovóides, vermelhos, polposos, com sabor agra-
dável quando maduros, com 2-3 caroços. Fl. em maio. Es^
pontaneo no Oriente, e cvlticctdo nos jardins (povco). — Aza-
rola, azaroleira €• Asarolofl* Ii«
Folhas e rebentos glabros. Arbustos bastante espinhosos (fig.
29, C). Cymeiras multiflores. Fructos pequenos, semsabores,
vermelhos ": . . 2
f,2-3 estyletes. Fructos com 2-3 caroços. Folhas geralmente cu-
nheadasnabase, com 3-5 lóbulos, dentadas quasi desde a base.
Fl. em abril e maio. Frequente na§ sebes: Beira, Estrema-
dura, Alemtejoy etc. — Pirliteiro\ espinheiro aliar de 'casca
verde C. Oxyacanlliat !«•
i estylete. Fructo com 1 só caroço (fig. 29, B). Folhas geral-
mente cunlieadas e inteiras na base, com 5-3 lóbulos agudos,
desegualmente inciso-dentados (fig. 29, D). Fl. em abril e
maio. Frequente: Traz-os-Montes, Beira y Estremadura, Al-
garve^ etc.) — PirliteirOy espinheiro alvar de casca verde. (C.
OmtlÊíntha P L.) €• monoi^nã» iicq[a.
Família XLI.— ROSÁCEAS, Juss.
Fldíes hermaphroditas, regulares. Cálice persistente, ga-
mosepalo, com 5. (raras vezes 4) divisões, tendo ás vezes
0[>lantas herbáceas) um caliculo na base. 5 pétalas livres,
alternas com as sepalas, caducas. Estames numerosos, in-
seridos com as pétalas sobre o cálice (fig. 30, D, Q); an-
Uieras introrsas, biloculares, longitudinalmente dehiscentes.
1
172 ROSÁCEAS
Pistillo livre. Carpellos numerosos, distinctos, 1-2-pluriova-
lados, produzindo outros tantos fructos livres^ menos vezes
concrescenles entre si; estyletes lateraes, livres, raras ve-
zes adherentes. Fructos monospermos, indehiscentes, secoos
(achenios — flg. 30, C) ou carnudos (drupas — fig. 30, E),
ou seccos e dehíscentes (folliculos) com poucas sementes:
dispostos sobre o receptáculo cónico, plano ou convexo, me-
nos vezes fechados no tubo carnudo do cálice, mas sem con-
trahirem com elle adherencia (fig. 30, D). Sementes sem
albumen; embryão recto. — Plantas herbáceas, ou arbusti-
vas, com as folhas simples* ou compostas, alternas, geral-
mente com estipulas (mais ou menos concrescentes ao pe-
ciolo), muitas vezes cem aculeos (as espécies lenhosas).
(Esta familia comprehende em Portugal géneros e espécies
herbáceas e lenhosas ; apenas nos referiremos ás ultimas)*
Fructos (achenios) incluídos no tubo accrescente do cálice (fig.
. } 30, B). Arbustos aculeados Rosa (pag. 172)
Fructos apparentes, hao incluidos no tu})0 accrescente do cá-
lice i
Fructos carnudos (pequenas drupas) reunidos entre si a constí-
tuirem um falso fructo tuberculoso, disposto^ sobre o rece-
^j ptaculo cónico (fig. 30, E). Arbustos aculeados.
Bul»u« (pag. 175)
Fructos seccos, dehiscentes (folliculos), dispostos em um unieo
verticillo. Plantas inermes «plraea (pag. 178)
Rosa, L. — Roseira. — Flores grandes, solitárias oa dispos-
tas em corymbos. Cálice com o tubo globoso, ovóide ou go-
miloso, vestido internamente, assim como o receptáculo es-
cavado, de sedas rígidas e frágeis, simulando o conjuncto um
ovário inferior; limbo do cahce com 5 divisões inteiras, den-
tadas ou pinnatifendidas, caducas ou persistentes. 5 pétalas
grandes, com unhas curtas. Carpellos livres, numerosos, in-
cluidos rio tubo, que se torna carnudo na maturação, e con-
tém então outros tantos fructos seccos, monospermos, inde-
Fig. 30, — A : Falso fruclo <la Rota tempenirent, L. (Irl). B : o mesmo
cortado longitutlinalmeDte para deixar ver os verdadeiros fruclos
(achenios). C : um achenio isolado. D : Flor da Rota sempervíreru, L.,
cortada loagitudinalnienle (1:1). E: Fructo composlo do Rubas dii-
eolor, Weihe & Nees. (1:1). F: uma folha (1:2). H, I: Folhas do R.
amoenus, Portenschl. (1:3). M, K: Folhas do R. amoenut, PortenschI,
v.mtegrifolim,hge. (1:2). Q: Flor do Butuídíícoíor, Weihe A Nees.,
ewtada longitudinalmente (1:1)-
1 74 ROSÁCEAS
hiscentes (achenios), "felpudos (flg. 30, A, B, C). Eslyletes sa-
lientes (fig. 30, D), livres ou reunidos em columna.— -Ar-
bustos com as folhas compostas, imparipinnuladas; estipulas
adherentes ao peclolo. Caules de ordinário aculeados (nas
espécies indígenas estes aculeQS são fortes, comprimidos
lateralmente, curvos).
' Estyletes concrescenles n'uma columna felpuda (fig. 30, D). Es-
tipulas todas estreitas. Folhas persistentes, com 3-7 foliolos
lustrosos nas duas paginas, ovado-ellipticos ou ovado-Ianceo-
lados, simplesitiente serrados. Flores corvuibosas; coroUa
branca. Falso fructo globoso ou ovóide, glabro ou pouco glan-
duloso, avermelhado ou cor de laranja. Arbusto trepador ou
prostrado. Fl. em junho e julho, — iioseíra brava.
i{ R« «empervIrciiSf lu
Falso fructo globoso (fig. 30, A). Foliolos compridos. Beira,
Estremadura, etc.^ frequente, n. sc^ndens* WK»
Foliolos bastante menores. Estremadura^ etc.
w. .mleropliylla» DC»
' Estyletes livres. Estipulas superiores dilatadas. Corolla, de ordi-
nário, rosada. Fruclos vermelhos. Arbustos levantados, ra-
\ mosos, com os caules vigorosos 2
Foliolos glabros ou pubescentes, não glandulosos, ou muito leve-
mente glandulosos junto ás nervuras principal e secundarias,
sem cheiro, 3-7 em cada folha, ovado-ellipticos, simples ou
duplamente serrados. Flores solitárias, ou corymbosas em
pequeno numero. Falso fructo multiforme, ovóide, ellíptico,
globoso, pyriforme, etc, glabro ou mais ou menos gtanda-
loso. Corolla, de ordinário, rosado-desbotada. Fí. emjwào
e julho. Em todo o paiZy frequente. — liosa de cãOy sãva ma-
eha ^ B. canina» L*
1 Esta espécie tem um grande numero de variedades; não temos ele-
mentos nenhuns ácei*ca das que existem no paiz e por isso as não mar-
camos. Muitas d'estas variedades teem sido consideradas poralgons
auctores como espécies distinctas, e o mesmo se applica ás variedades
de outras espécies d'este género, bastante polymorpho; nSo partilha-
mos esse modo de ver.
ROSÁCEAS 1 75
2( Foliolos densamente glanduloso-viscosos na pagina inferior,
extialando cheiro agradável a maçãs, ovados ouquasi orbi-
culares, duplamente serrados, 3-7 em cada folha. Aculeos
curvos misturados com alguns outros rectos. Flores, muitas
vezes, temadas, com os pedúnculos hispido-glandulosos. Falso
fructo ovóide ou espherico, glanduloso ou glabro. Corolla in-
tensamente rosada. Fl. em maio ejvnko. Nas provincicis do
norle {Traz-os-JUonles, etc.) — Romra brava.
R« rabiylnosa» l4.
Cultivam-se nos jardins muitas espécies exóticas d'este
género; são muito procuradas pela belleza das suas flores,
que teem também alguns empregos industriaes e medici-
naes.
Rubus, L. — Silva, — Flores rosadas ou brancas dispostas
em pequenas cymeiras, paniculadas quasi sempre. Sepalas
inteiras, acuminadas, persistentes. Pétalas com unha pe-
quena. Carpellos numerosos, inseridos no receptáculo co-
nico-alongado e produzindo outras tantas pequenas drupas
(fig. 30, Q, E), mais ou menos adberentes entre si, formando
no conjuncto um falso fructo (amoras vulgarmente) tubercu-
loso, succulento, negro ou negro-violaceo nas espécies indí-
genas, vermelho ou branco n'uma espécie cultivada.— Arbus-
tos (ou plantas herbáceas exóticas) aculeados, com rebentos
compridos, quasi sarmentosos, ás vezes radicantes, e que nas
espécies indígenas são biennaes : sò fructiíicam no segundo
anno e morrem em seguida. Folhas compostas, 3-5-digita-
das, raras vezes pínnuladas„ em menos casos palmatifendí-
das, palmatípartídas, palmatilobadas ou inteiras; ás vezes
diversas nos caules estéreis e nos férteis (fig. 30, F, H, I,
M, K). Estipulas livres ou adberentes ao peciolo.
Falsos fructos '(«morai) constituídos por muitas drupas peque-
nas, adberentes, e que na maturação se separam reunidas do
receptáculo cónico, vermelhas ou brancas, felpudas, aroma-
1| ticas. Flores pequenas, brancas. Folhas imparipinnuladas, as
n
i 76 ROSÁCEAS
inferiores com 5-7 folioios e as superiores com 3, levemente
cotanilhosas e esbranquiçadas na pagina inferior. Arbusto com
os rebentos levantado-arqueados, cylindricos, com aculeos
setaceoSy finos, rectos, não picantes. Fl, em maio e junho.
Cultivado nos jardins ; espontâneo em quasi toda a Europa,—
B. Idaenst L.
Silva framboesa
Fructos adherentes ao receptáculo, nâo se separando d'elle na
maturação, negros ou violáceos. Folhas, de ordinário, 3-5-
digitadas í
Rebentos cylindricos. Follias verdes em ambas as paginas, to-
das 3-foliadas. Pétalas brancas 3
2{ Rebentos mais ou menos angulosos. Folhas na pagina inferior
esbranquiçadas, cotanilhosas, de ordinário as inferiores com
5 folioios e as superiores com 3 4
I Rebentos e fructos cobertos de efflorescencia glauca. Aculeos
rectos, delgados, deseguaes, pouco picantes. Sepalas, na ma-
turação, recurvadas para baixo. Pequeno arbusto com os re-
bentos prostrados. Fl. de abril a outubro. Região norte: Ge-
rez, Bragança, Estrella, etc. — Silva. . . R* caeiílufl* L^
3/ Rebentos e fructos sem efilorescencia glauca; pedúnculos, pecio-
los, sepalas e rebentos glanduloso-pubescentes. Aculeos re-
ctos ou sub-falciformes, delgados, pouco picantes. Sepalas,
na maturação, encostadas ao fructo. Rebentos prostrados. Fl.
em junho e julho. Serra do Gerei {segundo o sr. dr. Mio
\ Henriques), — Silva B. i^landulosiis» Bell*
Folioios sub-avelludados na pagina superior, ovados. Panicda
terminal, contrahida, grande, com muitas flores. Pétalas bran-
cas ou rosadas, obovado-orbiculares, arredondadas na base.
Arbusto com os rebentos arqueado-descahidos, os férteis co-
tanilhosos junto á inflorescencia, bem como os pedúnculos;
aculeos fortes, curvos e rectos. Fl. em junho e julho. Trás-
os-Montes {Bragança, etc.) — Silva, . B« colllnus* DC
Folioios glabros na pagina superior. Arbustos com muitos acu-
leos, fortes, curvos (ou, ás vezes, rectos os inferiores). . . 5
ROSÁCEAS 177
' FoHoIos acuminados de repente (fig.* 30, F), sub-duplicado-ser-
rados. Panicula grande, pyramidal, com os pedúnculos aber-
tos para os lados. Flores (íig. 30, Q) rosadas ou brancas. Cá-
lices esbranquiçados, cotanilbosos. Arbusto com os rebentos
arqueado-descahidos.F/. de junho a agosto. Muito frequente
na Estremadura, Alemtejo, Algarve, etc. — Sarça ou silva.
R. dlscolor» ^Hellie <& IVees.
Foliolòs não acuminados de repente 6
l
Rebentos arqueado-descahidos. Panicula grande, com muitas
flores; pedúnculos abertos para os lados. Foliolòs obovados,
obtusos (raramente acuminados), ás vezes cunheados na base,
serrados ou crenado-dentados (fig. 30, H, I). Rebentos, pe-
ciolos e nen^uras da pagina inferior das folhas densamentç pul-
verulentos ou cotanilhosos. Pedúnculos e cálices esbranquiça-
dos. FL em junho e julho. Próximo a Cascaes {Caparide). —
Silva R. amoenuff» Portenseli]*
Folhas simples (fig. 30, M), reniformes, dentadas ou 3-lo-
badas (íig. 30, K), raríssimas vezes 3-foliadas. Arbusto,
de ordinário, com os ramos prostrados, radicantes na
extremidade. Próximo a Cascaes (Caparide).
v« integrlfolias» lige.
Rebentos descabidos. Foliolòs ovado-cordiformes, duplicado-cre-
nados, inermes. Pétalas rosadas. FL em julho. Beira, Estre-
madura, etc, — Silva R* ulmlfoliofi* Sclioll.
Rebentos levantados, arqueados no cimo. Panicula estreita, thyr-
soide; pedúnculos levantados. Foliolòs ovados ou ellipticos,
sub-cordiformes na base, simplesmente serrados, com as ner-
vuras muito salientes na pagina inferior; peciolos aculeados.
Pétalas brancas. Cálice esbranquiçado, cotanilhoso. FL em
maio e junho. Estremadura, etc. — Silva.
^ R* tliyr«oideu«» ^Wlmin.
1
O estudo do género i2f«&t(«é muito intrincado; alguns auctores pre-
tendem subdividil-o n'um grande numero de espécies, e tomam de certo
como taes simples formas e variedades. Na enumeração das espécies
portuguezas adoptámos as indicações do Vrodromus, dos srs. Willkonmi
& Lange, e citámos as espécies que ali vêem descriptas, de que vimos
c. B. — V. n. i2
1 78 ROSÁCEAS
Spiraea, L. — Cálice giiinosepalo; 5-partido. 5 pétalas. Es-
tames numerosos. 5 carpellos (raras vezes 1-2) yerticilia-
dos, apparentes, originando outros tantos fructos seccos,
debiscentes ffoUiculos), com 2 ou mais sementes. Hervas
perennes ou arbustos, com as folhas simples ou compostas,
estipuladas ou não.
Pequeno arbusto cora as folhas simples, sem estipulas, obovad(h
cunheadas, no cimo 3-5-inciso-crenadas. Flores pequenas,
numerosas, brancas, pedunculadas, dispostas em umbellas
simples no extremo de ramos lateraes pouco folhosos, consti-
tuindo o conjuncto uma inflorescencia espicifornie, Eslameíi
menores do que a corolla. Folliculos glabros. FL em maio e
junho. TraZ'OS' Montes (Bragança). — (S. crenata, Brot.)
* S. flaliellata* Bertol.
Existem em Portugal, n^este género, mais duas espécies
herbáceas, perennes (S. Filipendulay L., e S. Ulmaria^L.),
ambas com as folhas estipuladas, compostas: a primeira
com os segmentos foliaceos numerosos, muito divididos, ce-
ibeados; a segunda com poucos segmentos em cada folha,
deseguaes, duplicado-serrados.
exemplares fR. caesivs^ R. collinus, R. discolor, R, amoenus), ou que nos
consta de origem fidedigna existirem no paiz (R. Qlandtdosus, R. tkyrm-
deus, R. nlmifolius), mas sem que esta enumeração procure Iradnzir unia
opinião, que não temos dados para fornmlar, acerca da genuidade de to-
das essas espécies. O estudo cQfnparativo de um maior numero de exem-
plares, a exploração de novas regiões no paiz, devem de certo accusar
a existentMa de ouUas espécies, variedades » formas. O verdadeiro R.
fruticúsus, L., não tem sido encontrado na península, e provavelmente
i)ão existe aqui. O R. frulicosus, Brot., corresponde ao conjuncto das
«'species modernas derivadas do antigo t3'po linneano R. fruticosut, isto
i\ coraprehende |i'esta chave o R, discolor, R. colliniis, R. amoemSy H.
idmifoUus e R, thyvsoideus.
1 Aproximámos a S. crenata, Brot, da S. flabellata, BérUA., pela com-
paração de um exemplar que colhemos em Bragança (o logar indicado
por Brntoro) com a diagnose da S. flabellata, publicada no Pí^odronaa
dos srs. Willkomm & Lange.
AMYGDALÁCEAS 179
Família XUI.— AMYGDALÁCEAS, Q. Don.
Flores hermaphroditas, regulares. Cálice gamosepalo,
com 5 divisões, livre, caduco. 5 pétalas com as unhas cur-
tas, alternas com as sepalas. 20-30 estames inseridos com
as pétalas sobre o calici^ ; antheras introrsas, biloculares, lon-
gitudinalmente dehiscentes. Ovário com um só carpello, li-
vre (flg. 31, D), biovulado'; estylete simples, terminal. Fru-
clo (drupa) carnoso-succulento, menos vezes fibroso-coriaceo,
com um sulco longitudinal que representa a sutura ventral;
caroço ósseo l -locular, quasi sempre monospermo, por abor-
to. Semente sem albumen; embryao recto. — Arvores ou ar-
bustos, inermes ou espinhosos por transformação dos ra-
mos, com as folhas alternas; simples, dentadas, caducas,
ou, menos vezes, persistentes, estipuladas. Estipulas livres,
caducas.
Em linguagem vulgar reunem-se sob o nome de fructei-
ras as espécies das famílias das Pomáceas e Amygdaldceas
cultivadas pelos fructos.
Drupa muito pouco carnuda (fig. 31, A) com o sarcocarpo fi-
Ibroso-coriaceo, não comestível. Caroço com a superfície pon-
toado-esculpida, contendo uma amêndoa grande, comestível.
i Amygdalos (pag. 179)
1 Drupa carnoso-succulenta 2
I Caroço muito esculpido (fig. 31, B). . . Pérsica (pag. 181)
Caroço liso, ou quasi liso, levemente reticulado-rugoso (íig*
31, C) Pruniifl (pag. 182)
Amygdalns, L. — Amendoeira, — Drupa grande, oblonga,
comprimida (fig. 31, A), muito pouco carnuda, fibroso-co-
riacea, irregularmente dehiscente, com o caroço profunda-
la #
*»
180 AlfYGDALÁCEAS
l
h
Fig. 31.— J : Frnclo do Amygdalus eommmii, L. (1:2). B: Caroço do
fruclo da Ptnica wlgarú, MU!. (i:i). C; Caroço do fructo do Pn-
nut tmtttitia,- L- (1:1). D: Flor do Pruntu C*raíiM,L., cortada tmu-
Tersalmente (1:1). E: Cacho e folha do frarnii /.luilanira, L. (1:3).
' F: Corymbo do Pruntu lUahaleb, L. (1:1). H: Flores geminadas do
Pnaau dometiica, L. (1:1). S: Fniclos do Pnmvt intititía, h. (l-I)-
L: Fmcto do Pruma ipimna, L. (1:1).
amygdalAceas 181
mente pontoado-escalpido. Folhas, no botão, dobradas ao
meio pela nervura principal.
Flores grandes, brancas ou rosadas, sub-sesseis, solitárias ou
geminadas, precoces (anteriores ás folhas). Fructo avelluda-
do, verde na maturação (íig. 31, A), com a amêndoa do ca-
roço grande, comestível. Arvore mediana, com as folhas
oblongo-lanceoladas, glabras, crenadas, com os peciolos glan-
dulosos. Fl. em janeiro e fevereiro. Espontâneo no Orienie:
cultivado em todo o paiz. — Amendoeira,
A* cominaiils» li.
Casca do caroço grossa, dura. Cultivado em todo o paiz,
. — Amendoeira durazia w oasea» <Sren.
Casca do caroço delgada, frágil. Cultivado em todo o paiz,
— Amendoeira mollar ir. fira^ills» Cireií.
A Amendoeira apresenta uma grande quantidade de va-
riações culturaes em que o fructo diversifica nas dimensOes,
na forma, etc. ; todas estas variações se incluem nos dois
grupos acima estabelecidos, podendo n'um e outro as amên-
doas serem doces ou amargas.
Esta arvore é muito cultivada em Portugal ; o seu prin-
cipal producto é o fructo, ou, mais propriamente, a amên-
doa da semente, que não só é comestível como serve para
a extracção de um óleo gordo, que tem bom preço no mer-
cado. As amêndoas chegam a render 50 por cento de óleo
muito fino, amarello-dourado, sem cheiro nem sabor; as
suas cascas servem para o lume e são bom combustível.
A madeira da Amendoeira é muito pesada, muito dura e to-
chada; toma bom polido, mas racha muito; dá muito boa
lenha.
Pérsica, Tourn. — Pecegneiro. — Pericarpo globoso, avellu-
dado ou glabro, carnoso-succulento, muito espesso, indehis-
cente, .comestível. Caroço ósseo, com a superflcie profunda-
mente faveolada e sulcada (fig. 31, B). Semente pequena,
amarga. O restante como no género anterior.
182 AMYGDALÁCEAS
Flores intensamente rosadas, sub-sesseis, precoces (anteriores
á folheaçao), solitárias ou geminadas. Fructos avellndadosoa
glabros (rar. laevis), cheirosos, doces, aromáticos, amarella-
do-avennelhados. Pequena arvore com as folhas lanceoladas,
acuminadas, glabras, serradas, com peciolo curto, não glan-
dttloso. Fl, em fevereiro e março. Espontânea nu Pérsia: ml'
tirada em quasi todo o paiz. — Pecegueiro, (Amygdahs Pér-
sica, L. e Brot.) P. "rulgarlst Mlll.
Existem no paiz muitas variações culturaes d'esta arvore,
que se distinguem pela época da maturação, pelo tamanho
dos fructos, pela forma, pelo tomento que os reveste, pela
côr da carne, pela sua adherencía ou não adherencía ao ca-
roço, etc. A madeira do Pecegueiro é muito semelhante á
da Amendoeira, mas é menos pesada e menos dura.
Prunus, L. — Pericarpo carnoso-succulento, como no gé-
nero anterior. Caroço liso ou levemente sulcado, ou reli-
culado-rugoso, mas não faveolado (flg. 31, C). — Arvores e
arbustos com as flores solitárias ou dispostas em umbellas,
corymbos ou cachos. Pétalas brancas.
Drupa avelludada, ovoide-globosa, amarella, ás vezes averme-
lhada, cheirosa, muito doce. Flores solitárias ou geminadas,
precoces (anteriores á folheaçao), sub-sesseis. Pequena ar-
vore com as folhas ovado-arredondadas, sub-cordiformes na
base, acuminadas, duplamente dentadas, glabras, com o pe-
ciolo glanduloso. f/. em fevereiro emmço. Originário da Âi-
menta e cultivado em quasi todo o paiz, — Damasqueiro, <dbri'
coqueiro P. Armenlaea* L«
Drupa glabra coberta de eífiorescencia glauca, oblonga ou gkh
bosa. 1-2 flores precoces (anteriores á folheaçao) ou sub-!^i-
multaneas com as folhas. Folhas enroladas, no botão. ... 2
[Drupa glabra, sem efilorescencia glauca, globosa ou oblonga.
Flores umbelladas (ás vezes geminadas), ou dispostas em co-
rymbos ou cachos. Folhas no botão dobradas ao meio, pelâ
nervura central (Cerasus, Touru.) ^
AMYGDALACEAS
183
Raminhos novos glabros. Flores, de ordinário, geminadas (fig.
31, H); pedúnculos pubescentes. Drupas grandes, oblongas,
pendentes, violáceas ou avermelhadas, menos vezes brancas,
saccharinas, comestíveis, com o caroço alongado. Pequena
Q J arvore, inerme ou sub-espinescente, com as folhas elliplicas,
agudas, crenado-dentadas. Fl. cm março e abril. Originário
do Oriente e cultivado em todoopaiz. — Ameixieira ou abru-
nheiro mnnf^o P« dom eu ti ca» Ii«
Raminhos novos pubescentes. Fructos globosos. Arbustos mais
ou menos espinhosos 3
Drupas grandes (18-20 mill.), inclinadas, quasi sempre gemi-
nadas (fig. 31, K), negro-vioiaceas, acidulas. Flores com os
pedúnculos pubescentes, sub-simuKaneas com a folheaçào.
Arbustos com os ramos abertos para os lados, espinescentes.
Folhas ellipticas, simples ou duplicadameute crenado-serra-
3 { das, pubescentes. Fl. em março. Nas sebes ^ vallados, etr. : Es-
trematima {Castões, etc.) — Abrunheiro ou ameixieira brara.
P. inMttitia* li.
Drupas pequenas, do tamanho de uma ervilha, ou, o máximo,
i do tamanho de uma cereja pequena. Pedúnculos glabros ou
' sub-glabros. Floração precoce 4
/ Drupas pouco maiores do que uma ervilha (fig. 31, L), negro-
azuladas, muito acidas, levantadas, quasi sempre solitárias,
menos vezes geminadas. Arbusto com os ramos muito espi-
• nescentes. Folhas elliptico-lanceoladas, agudas, sub-dupHca-
do-serradas, glabras na pagina superior e pulverulentas na
pagina inferior. FL em março e abril. Sebes, beira dos cam-
pos, etc, em quasi todo o paiz. — Abrunheiro ou àiueixieira
brava. . . v P. «plnosa* Ii«
Drupas do tamanho de uma cereja pequena, negro-azuladas,
acidas. Arbusto de maior porte que o anterior, pouco espi-
nhoso, com as folhas maiores, pubescentes em ambas as pa-
ginas. FL em março e abril. Traz-os-Montes [Bragança), etc.
\ P. fratlean** \%'ellie.
) Flores umbelladas, sub-simultaneas com as folhas « 6
Flores dispostas em corymbos ou cachos. Floração depois da
I folheação 7
184
AMYGDALACEAS
/
6
1
Folhas rígidas, lustrosas na pagina superior, glabras, ovado-
oblongas, acuminadas, sub-duplicádo-dentadas; peciolos nâo
glandulosos. Flores (íig. 31, D) umbelladas, produzidas
em botões lateraes cujas escamas internas se tomam folia-
ceas. Drupa comprimido-globosa, vermelha, acida ou aci-
dula. Pequena arvore. Fl. em março e abril. Originário do
Oriente: cultivado em todo o paiz. — Ginjeira.
.... P. Ceraras» L.
FoUiasmolles, ovadas ou obovado-acuminadas, baças na pagina
superior e pubescentes na inferior, com dentes grandes, ^an-
dulosos; peciolos glandulosos na base do linho. Flores longa-
mente pedunculadas, reunidas 2-6, produzidas em botões la-
teraes cujas escamas nunca são foliaceas. Drupas globosas, do-
ces. Arvore, ás vezes com boas dimensões. FL em março.
— Cerejeira, Cerdeira P. awlniiit L.
Drupa vermelho-escura, do tamanho de uma ervilha grande.
Cultivada na Beira boreal, e sub-espontanea» — Cerejâra
das cerejas pretas miúdas v« silveiitris* Ser.
Drupa grande, cordiforme-globosa, obtusa ou levemente
bilobada no cimo, com varias cores. Cultivada em toio
o paiz. — Cerejeira %*• Daraclna* !!€•
Drupa grande, cordiforme-ovoide, comprimida, de ordiná-
rio escura. Cultivada em todo o paiz. — Cerejeira de ce-
rejas pretas %'• «ialianaf DC.
Folhas caducas 8
Folhas persistentes 9
8{
Florei pouco numerosas, muito cheirosas, dispostas era corym-
bos simples levantados, pouco folhados na base (fig. 31, F).
Sepalas não celheadas. Arbusto com as folhas pecioladas, ova-
do-arredondadas, levemente acuminadas, sub-cordiformesna
base, dentado-glandulosas, glabras. Drupas peopienas, acer-
bas, ovoide-globosas, negras. Fl. em mato. Traz-os-MonUs
{Bragança) '. . . P. Mahalefc» I-
Flores numerosas em cachos simples pendentes, cylindricos,
compridos, folhados na base. Flores cheirosas, taenores qne
na espécie anterior. Sepalas glanduloso-celheadas. Arbasto
8
l
amygdalAgeas 185
ou pequena arvore com as folhas ovado-oblongas, acumina-
das, grandes, molles, serradas, não glandulosas, com o pe-
ciolo biglanduloso no cimo. Drupas pequenas, acerbas, glo-
bosas, negras. Fl. em maio ejnnho. Região norte: Traz-os-
Montes y Entre-Douro-e-Minho^ Beira. — Pado^ azereiro dos
damnados P. Padas* Ij.
I Flores dispostas em cachos axillares, compridos, levantados,
maiores do que as folhas (fíg. 31 , E). Drupas pequenas, muito
amargas, verdes, depois vermelhas, e na maturação negras.
Arvore com as folhas ovado-lanceoladas, coriaceas, verde-
negras na pagiia superior, serradas, glabras, não glandulo-
sas. Fl. de abril a junho. Região norte do ^iz. — Azereiro.
P. liusltanlea» Et*
9 ' Flores dispostas em cachos axillares, levantados, menores do
que as folhas. Drupas pequenas, ovóides, negras, amargas.
Arvore ou arbusto com as folhas ovado-lanc^oladas, coriaceas,
• glabras, lustrosas na pagina superior, remotamente serradas,
com 2-4 glândulas, na pagina inferior, junto á nervura mé-
dia. Fl. em maio. Originário do Oriente e cultivado nos jar-
dins.— Loureiro real {em Traz-os-Montes)^ louro-cerejo ou
\ loureiro^erejeira P« liAurocerasuM» l4.
O Damasqueiro, o Abrurtheiro, a Cerejeira e a Ginjeira
são bastante cultivados entre nós, pelos seus fructos; de
todas estas arvores existem muitas variações culturaes. Os
fructos das espécies silvestres são de^presados em todo o
nosso paiz, mas em alguns pontos da Europa aproveitam
para a alcoolisação e preparo de diversos licores as dru-
pas do P. spinosa, P. fruticans, P. avium^ etc.
A Cerejeira em algumas localidades de Portugal é muito
abundante e adquire grande desenvolvimento; a sua ma-
deira, tenaz, dura e pesada, é muito estimada; recebe muito
bom polido e empregam-a bastante em marceneria.
Das espécies espontâneas já falíamos no capitulo espe-
tial.
186 PAPIUONÀCEAS
Família XLin.— PAPILIONÁCEAS, L.
Flores hermaphroditas, irregulares. Cálice gamosepalo,
com 5 divisões eguaes ou deseguaes, regalar ou bilabiado.
Corolla com 5 pétalas livres, menos vezes adherentes infe-
riormente, papilionácea : com uma pétala superior, desegaal
a todas as outras, e muitas vezes maior (fig, 32, M, G),
que se denomina estandarte; com duas pétalas laleraes,
eguaes entre si, que se denominam aza.s; e duas pétalas
. inferiores, quasi sempre concrescentes na margem externa e
juxtapostas, formando a quilha ou nateta (no botão floral o
estandarte cobre as azas, que por sua vez cobrem a qtiilha).
10 estames, inseridos com as pétalas sobre p cálice, de or-
dinário incluidos na quilha, raras vezes livres (fig. 32, A),
quasi sempre monadelphos (ligados em tubo pelos filetes—
fig. 32, C) ou diadelpbos (9 concrescentes pelos filetes e 1
livre — fig. 32, B); aniheras introrsas, biloculares, longitu-
dinalmente deliiscentes. Um só carpello, livre, produzindo
um fructo quasi sempre secco e dehiscente em duas válvu-
las pela sutura ventral e nervura dorsal (va{iem — fig. 32,
N, O, I, Z'), com 1-muitas sementes. 1 estylete alongado;
estigma simples. Sementes de ordinário sem albumen, me-
nos vezes com pequeno albumen. Embryão curvo.— Plan-
tas herbáceas ou lenhosas, inermes ou espinhosas, com as
folhas no maior numero dos casos alternas, 1 -foliadas, 3-fo-
liadas ou pinnuladas, quasi sempre com estipulas.
Esta familia vegetal dá numerosas espécies úteis ao ho-
mem; fornece sementes aUmenticias, como os feijões, em-
lhas, favas, tentilhas, tremoços, etc, ou oleaginosas, como o
mendobi; fornece aos animaes forragens muito nutritivaSi
como os trevos, luzernas, erviUiacas, samfenos, serraddlas,
etc. Espécies exóticas d'esta famiUa produzem substancias
PAPIUONÁCEAS 187
corantes, como o anil, ou diversas goramas e resinas. As
espécies lenhosas de maior porte dão madeiras, algumas
muito estimadas.
As Papilionáceas teem numerosos representantes na flora
portugueza; muitas d'essas espécies são herbáceas; as le-
nhosas são muito vulgares nos matos, charnecas, e florestas
e apresentam de ordinário pequeno porte: são arbustos íio
seu maior numero pertencentes à tribu das Genisteas.
Só nos referimos ás espécies lenhosas.
Estames livres (fig. 32, A). Arbusto inerme com as folhas gran-
des, 3-foliadas (fig. 32, A') Anagyrisi (pag. 215)
Estames diadelphos (fíg. 32, 6). Folhas imparipinnuladas. . . 2
Estames monadelphos (fig. 32, C). Folhas 3-1-foliadas 3
Vagem cylindrica, delgada, articulalla, quebradiça transversal-
mente em frí^gmenlos. Arbustos inermes com flores amarel-
* las, umbelladas Coronllla (pag. 190)
Vagem comprimida, não articulada, longitudinalmente dehis-
cente em duas válvulas. Arvores exóticas com estipulas espi-
nhosas. Flores brancas ou rosadas em cachos simples.
Boblaia (pag. 191)
Cálice unilabiado, em forma de spatha (fig. 32, C). Arbusto
inerme com os ramos junciformes. Folhas 1-foliadas. Flores
amarellas flpariluiiB (pag. 194)
Cálice tubuloso ou campanulado com 5 dentes, ou 5 divisões,
eguaes (fig. 32, D') 4
Cálice hilabiado: lábio superior mais ou menos profundamente
2-dentado e o inferior 3-dentado (fig. 32, P, G', M', X, R,
etc.), raras vezes os dois lábios inteiros 5
Cálice tubuloso com 5 dentes curtos. Estipulas sub-nullas. Ar-
bustos espinhosos. Flores amarellas.
Calycotome (pag. 208)
Cálice campanulado, profundamente 5-fendido (fig. 32^ D'). Es-
tipulas concrescentes com o peciolo. Arbustos e sub-arbustos
(e plantas herbáceas) inermes ou espinhosos. Flores amarellas
ou avermelhadas Ononis (pag. 192)
188
PAPIUO.VACEAS
Fig, 38. — A: Cálice e eatames da Anagym foetida, L. (1:1)- A' FcJl»
3'foliada da AnagyrU foetida, L. (1:1). B: Caliça e eslames da Rt-
binia Pieudo-aeaeia, L. (1:1). C: Cálice e estantes do Sporltiim^-
ceum, L, (1:1). D.FníctodaOnonij ffúpaníea.L.fil. (1:1). ly.oa-
■ice isolado (3: 1). K; Ramo alado do PtcrO)p(irtunil(UMntÃMni,SpKh.
(1:1). F: Fnicto da Retama ipkMroemya, Bss. (1:1). 6; Petaiu da
PAPIUONÁCEAS 1 89
Genista berberidea, Lge. (1:1). G': Cálice da Genista herheridea, Lge.
(2:1). H: Vagem da Genista Toumefortii, Spach. (1:1). H' : Folha
l-fo1iada da Genista Toumefortii, Spach. (1:1). J: Vagem da Genista
falcata, Brot. (1:1). V : i^amo com espinhos lateraes da Genista {ál-
cata, Brot. (1:1). K: Folha 3-foliada da Genista triacanthosy Brot.
(1:1). L: Ramo espinescente da Genista Hystrtx, Lge. (1:1). M: Pé-
talas do Sarothamnus grandiflorus, Wbb. (1:1). Ai': Cálice, estames
e estylele enrolado do Sarothamnus grandiflorus, Wbb. (1:1). N: Va-
gem do Sarothamnus eriocarpus, Bss. & Reut. (1:2). O; Vagem do
Sarothamnus oxyphyUus, Bss. (1:2). P: Cálice e estylete do Llex eu-
ropaeus, L. (1:1). P': Ramo do Ulex europaeus, L. (1:1). 0: Ramo
do Ulex WelwitschianuSj Plaach. (1:1). R: Cálice do Ulex spartioi-
des, Webb. (1:1). S: Cálice fructifero do Ulex spectabiliSj ^hh, {i:i).
T: Cálice e estylete do Ulex densvs, Welw. (1:1). T': o estigma do
exemplar anterior (muito augmentado). — U: Cálice e estylete do Ulex
nantís, Forst. (1:1). U: o estigma do exemplar anterior (muito au-
gmentado).— F: Cálice fructifero do Ulex Vaillantii, Whh. (1:1). X:
Cálice do Labumum vulgare, Gris. (1:1). 1': Cálice do Cytisus albus,
Lk. (1:1). Z: Cálice do Adenocarpus intermedius, DC. (2:1). Z': Va-
gem do Adenocarpus intermedius^ DC. (1:1).
Vagem indehiscente, entumecida, ovóide ouglobosa (fig. 32, F),
di-monosperma. Arbustos inermes, com poucas folhas e os
5/ ramos junciformes. Flores brancas ou amarellas. '
- Retama (pag. 194)
Vagem dehiseente, comprimida ou levemente entumecida. . . 6
Ramos 2-3 alados equasi articulados (fig. 32, E). Flores fasci-
6{ culadas, amarellas Pterosparium (pag. 201)
Ramos não alados 7
Arbustos muito espinhosos, em adultos aphyllos, com phyllo-
dias estreitas em logar de folhas. Cálice membranoso, corado
(amarello), profundamente bilabiado até á base (fig. 32, P,
' ' U, T), ou até V4 (fig- ^^2, R, S). Flores amarellas.
: Ulex (pag. 202)
Plantas inermes ou espinhosas, mais ou menos folhadas. ... 8
Cálice com os lábios curtos (fig. 32, M', X, Y). Plantas não es-
j. . pinhosas 9
Cálice com os lábios compridos (fig. 32, G'y Z). Flores amarei-
ias *••••••••..•••••••••••..•.••.......••.•••• **
1 90 papiuonAceas
Quilha pendente no fim, deixando os estames a descoberto. Es-
tylete comprido, enrolado sobre si mesmo (fig. 32, M^.FIo-
Q I res grandes (fig. 32, M), amarellas, lateraes, solitárias, ge-
minadas ou fasrieuladas flarotbamnns (pag. 2i0)
Quilha com os estames sempre inclusos. Estylete curvo, mas
não enrolado 10
Lábios do cálice inteiros (fig. H, X). Flores amarellas, dispos-
tas em cachos pendentes lialraraam (pag. 213)
r Lábio superior do cálice 2-partido, 2-dentado ou troncado, e o
inferior 3-dentado (fig. 32, Y). Flores amarellas ou brancas,
axillares ou terminaes, capitadas ou em espigas.
.*. . . Cytlsu» (pag. 200)
Vagem luhercnloso-giandulosa (fig. 32, Z') . Flores em cachos
terminaes. Lábio superior do caliça bipartido até á base, e o
11^ inferior 3-denlado ou 3-fendido (íig. 32, Z). Arbustos íd«'-
mes Adenf^arpus (pag. 213)
Vagem não tuber ;uloso-glandulosa 12
Estandarte orbicular; quilha curva, não pendente. Cálice com
o lábio superior profundamente 2-partido e o inferior 3-fen-
dido ou 3-(lentado. Pequeno sub-arbuslo inerme, felpudo,
prateado, com pedúnculos oppostos ás folhas, supportando 1-5
-^ flores Ariryrolobiain (pag. 215)
Estandarte estreito (fig. 32, G) ; quilha recta ou sub-curva, mui-
tas vezes pendente depois da fecundação. Cálice (fig. 32, G')
com o lábio superior 2-fendido ou 2-partido e o inferior 3-deD-
tado. Arbustos ou sub-arbustos, inermes ou espinhosos.
«ciilfiia (pag. 195)
Coronilla, L. — Cálice campanulado, com os dentes sub-
egiiaes, sendo os dois superiores quasi complelamente con-
crescentes. Estandarte sub-orbicular; quilha recurvada, pon-
teaguda. Estames diadelphos. Vagem indebiscenie, molti-
articulada, recta ou curva, cylindrica ou angulosa, quebra-
diça transversalmente em artículos monospermos. — Arbus-
tos, sub-arbustos e plantas herbáceas, com às folhas impa-
ripinnuladas e as flores amarellas, umbelladas.
PAPIUONÁCEAS 191
Estandarte com a unha 2-3 vezes maior do que o cálice. Arbusto
muito glabro. Folhas com 5-9 foliolos obovado-Ianceolados.
Pedúnculos eguaes ou sub-eguaes á folha, com 2-3 flores.
i( Vagem pendente com 7-iO artículos. Pequeno arbusto. Fl.
de abril a junho. Cultivada nos jardins.
C. Kmerus» Ij.
Estandarte com a unha egual ou sub-egual ao cálice 2
Ramos folhosos rígidos. Folhas glaucas com 5-9 foliolos obova-
docuuheados, obtusos ou levemente chanfrados. Estipulas pe-
quenas, caducas. Pedúnculos o dobro maiores do que as fo-
lhas, com 6-12 flores. Vagem com 2-3 articulos. Pequeno
arbusto. Fl. de março a julho. Espontânea nas te iras calca-
reaSy etc.^ Beira, Estremadura^ Algarve^ etc, e cultivada
2/ nos jardins. — Senna do reino C. glauca» li.
I Ramos afilados, medullosos, compressíveis, juncíformes, com
poucas folhas, pequenas, caducas. Folhas com 3-7 foliolos li-
neares. Pedúnculo comprido, maior que a folha, com 5-8 flo-
res. Vagem com 2-iO articulos. Sub-arbusto (?) glauco. Fl.
de abril a julho. Collinas caícareaSy na região do sul: Al-
garve, etc C. Juncea* !<•
Este género tem ainda espontânea no paiz uma espécie
herbácea annual, a C. scorpioides , Koch. As espécies lenho-
sas nâo teem nenhuma importância florestal; cultivam-se
nos jardins a C. Emerus, L., e C. glauca, L.
Robinia, L.-^ Acácia bastarda. — Flores brancas ou rosa-
das, dispostas em cachos simples, pendentes. Cálice cam-
panulado, bilabiado, com o lábio superior bi- e o inferior
tridjentado (fig. 32, B). Estandarte grande, arredondado;
azas do tamanho da quilha; quilha curva. Estames diadel-
phos (flg. 32, B). Vagem dehiscente em 2 válvulas longi-
tndinaes, não articulada, secca, comprimida, polysperma,
coma sutura ventral estreitamente alada. — Ar^vores da Ame-
rica do Norte, com as folhas imparipinnuladas, alternas; es-
tipulas, muitas vezes, transformadas em espinhos.
192
papiuonAceas
Arvore de grandes dimensões. Folhas com 5-10 pares de folio-
los ellipticos, glabros. Estipulas transformadas em espinhos,
persistentes muitos annos. Flores brancas, cheirosas. Vagens
lineares, pendentes, contendo 10-12 sementes. Fl. em maio
e junho. Cultivada nos jardins, parques, matas, estradassem
quasi todo o paiz, — Acácia bastarda,
R. Piieiid€»-acacia» L.
Ononis, L.— Cálice campanulado, profundamente 5-fen-
dido, com as lacinias sub-eguaes (fig. 32, D'). Estandarte
grande, sub-orbicular, estriado; azas obovado-oblongas ; qui-
lha curva, terminada em ponta, raras vezes obtusa. Esta-
mes monadelphos. Estylete curvo no meio. Vagem dehis-
cente em duas válvulas, oblonga ou linear, cylindrica entu-
mecida, ou, menos vezes, comprimida: inclusa no cálice,
persistente ou saliente (fig. 32, D). Plantas herbáceas íaH-
nuaes ou perennes) ou lenhosas, arbustivas ou sub-arbus-
tivas, inermes ou espinhosas, com as folhas 1-3-foliadas, ra-
ras vezes pinnuladas. Estipulas concrescentes com os pecio-
los. Corollas avermelhadas ou amarellas.
(Este género tem bastantes espécies indigenas, mas um
grande numero d'ellas são herbáceas e por isso as não re-
ferimos. As espécies lenhosas não teem nenhuma importân-
cia; são as seguintes):
Flores avermelhadas, sub-sesseis ou com pedúnculos muito cur-
tos. Sub-arbustos espinhosos 2
Flores amarellas, quasi sempre com o estandarte estriado de
vermelho, pedunculadas. Sub-arbustos inermes 4
Estandarte o dobro maior do que o cálice. Vagens do tamanho
dos cálices, com 2-4 sementes. Foliolos linear-oblongos, sob-
glabros. Fl. em junho e julho. Sitios arenosos e calcareos,
margens dos campos, etc,: Traz-os-MonteSy Beira, eíc.—
{Ononis spinosa a L.) O. campestrls, líocli. úl EIb.
Estandarte só com V3, o máximo, saliente do cálice. Vagem
com 1-2 sementes 3
papilionAceas 193
' Yagem com 1-2 sementes^ ovada, menor do qae o cálice. Fo-
lhas grandes, ás vezes todas 1-foIiadas, outras vezes l-foliadas
as do cimo e 3-foliadas as da base; foliolos ovados, obtusos.
Planta muito glanduloso-pubescente, viscosa. Fl. em maio e
junho, CaminhoSj campos^ etc.-^Besta boi^ unha gata.
O. procarrenst Jl¥a,llr.
Espinhos fracos. Folhas ás vezes sub-glabras e pouco vis-
cosas. Beira, Estremadura, AlemtejOy etc. — (O. spinosa
p L. e Brot.) v. wnlfaris» Iii^e«
Espinhos grandes, fortes. Folhas obovado-arredondadas;
flores pequenas. Estremadura^ Alemtejo, etc.
▼• spinoMlsslina* Ij^e.
Yagem com uma semente, lenticular, egual ao cálice ou menor.
Foliolos pequenos, obovados. Planta levemente felpuda ou
glanduloso-pulverulenta. Flores pequenas. Espinhos fortes.
Fl, de junho a setembro. Na região norte [Caldas de Moledo).
\ 0« antlquorani» li.
Folhas superiores 1-foUadas e as restantes 3-foliadas; foliolos
sub-coriaceos, obovados. Estipulas inteiras. Pedúnculos aris-
tados, sub-eguaes á folha. Flores grandes. Planta mais ou
4/ menos viscosa. Fl. de março a agosto. Estremadura, Alem-
tejOy etc— {O. Hispânica y Brot ., ex p,, e 0.pinguis,Brot.)
* O. IVatrIx, Ia*
Folhas todas 3-foliadas. Plantas muito viscosas 5
Foliolos planos, obovados ouf oblongo-lineares. Estipulas intei-
ras ou pouco dentadas. Pedúnculos aristados, o dobro maio-
res do que as folhas. Fl. de abril a outubro. Nas areias^ prin-
K I eipalmente das costas maritimas: Estremadura, etc. — Joina
dos matos, {O, Hispânica, Brot,, exp.)
^ Ok ramosiMlma» Desf*
Foliolos canaliculados ouconduplicados (dobrados ao meio), mais
ou m^nos arredondados. Estipulas serradas 6
1 Variedade major, Bss.
2 Variedade wilgaris. Gr. Godr.
c. a. — V. n. 13
6
194 PAMUONÁGEAS
Peciolos maiores do que as folhas, arístados (fíg. 32, D). Folio-
los peqaenos, maito próximos, obovado-canheados, desde o
meio inciso- oa crespo-dentados. Planta maitissimo ramosa,
densa. Fl. de junho a agosto. Terrenos arenosos do littoral:
Estremadura O* Hispânica» L« úh
Peciolos menores que as folhas, muticos. Foliolos arredonda-
dos, crespo-dentados. Folhas inferiores ás vezes S-pinnola-
das. Fl. em março e abril. Região sul (?) ^. o. crispat L.
Retama, Bss. — Piorno. — Flores dispostas em cachos la-
teraes. Cálice pequeno, bilabiado, como lábio superior 2-fen-
dido e o inferior, 3-dentado. Unhas das pétalas (de todas
ou das 4 inferiores) concrescentes até ao meio com o tubo
dos estames. Estames monadelphos. Vagem entumecida,
indehiscente, di-monospcrma (fig. 32, F). Sementes com o
tegumento córneo, muito duro. — Arbustos com os ramos
por fim aphyllos. Folhas pequenas, as primeíl-as 3-foliadas
e as mais tardias 1 -foliadas.
Corolla branca. Fructo com i-2 sementes, ovóide, mucronado,
rugoso, um pouco polposo. Cálice avermelhado, só persis-
tente na base. Ramos prateados. Fl. de fevereiro a abril. Nos
areiaes do littoral, etc , Estremadura e Alemtejo. — Piorno
branco (Spartium monospermum, L. e Brot.)
B« monofipeniia» Btt*
Corolla amarella. Fructo com uma semente, globoso, liso, com
o pericarpo secco, duro, córneo (fig. 32, F). Cálice todo per-
sistente. Ramos acinzentado-esverdinhados. FL em maio e ju-
nho. Pinhões, campos, matos, etc: Traz-os- Montes, Estrema-
dura, etc. — Piorno amarelto (Spartium sphaerocarpumj L.
e Brot.) B. splifterocarpa» Bm>
Sparliam, L. — Giesta. — Cálice persistente, unilabiado oa
spathaceo (fig. 32, C), com as margens escariosas. Estan-
I
1 Citada pelos srs. Willkomm & Lange, no Prod^^mus, sem indiciçSo
de locaUdade.
PAPIUONÁGEAS 195
darte grande, levantado; azas com as unhas adherentes ao
tabo dos estames; quilha sub-eguai ao estandarte, asseti-
nado-felpuda na margem exterior. Estames monadelphos
(flg, 32, C). Estylete linear, curvo no cimo. Vagem linear,
comprimida, dehiscente, polysperma.
Arbusto com os ramos cylindricos, estriados, meduUosos, jun-
ciformes, muito pouco folhados. Folhas 1-foliadas, sem esti-
pulas. Flores grandes, amarellas, cheirosas, dispostas em ca-
chos terminaes. Vagem comprida, escura. Fl. de maio aju'
Iko. SebeSy matas, etc: Beira, Estremadura, etc. — Giesta
ordinária, giesteira dos jardins S* Junceam» lá*
Genista, DC. (excl. sp.J. — Giesta. — Flores amarellas, dis-
postas por diversos modos, inseridas na axilla de uma bra-
ctea ou de uma folha floral e com os pedicellos bibracteo-
lados. Cálice herbáceo ou sub-coriaceo (raras vezes corado)
campanulado, bilabiado com o lábio superior 2-fendido ou
2-partido e o inferior 3-dentado (fig. 32, G% marcescente
ou, menos vezes, caduco. Unhas das pétalas inferiormente
adherentes ao tubo dos estames, raras vezes livres. Estan-
darte estreito (fig. 32, G); azas estreitas; quilha obtusa, re-
cta ou sub-curva, muitas vazes pendente depois da funda-
ção, deixando os estames a descoberto. Estames monadel-
phos. Estylete filiforme, curvo no cimo. Vagem pequena
ou comprida, recta ou (menos vezes) curva em foice, com-
primida ou (raramente) um pouco entumecida, dehiscente
em duas válvulas, mono-polysperma. — Arbustos e sub-ar-
bustos inermes ou espinhosos (com espinhos lateraes sim-
ples ou compostos, ou com os ramos só espinescentes na
extremidade). Ramos folhosos. Folhas (ás vezes bastante
caducas) 1-3-fohadas, alternas ou oppostas, estipuladas ou
nâo.
. \ Plantas espinhosas S
j Plantas inermes. Folhas 1-foliadas 19
13*
196 PAPIUONÁGEAS
Espinhos axillares, simples ou compostos (fig. 32, J^ 3
2 { Ramos só espinescentes na extremidade (sem espinhos axilla-
res) (fig. 32, L), rígidos, estríados ou sulcados 16
Folhas todas, ou a maior parte 3-foliadas (fig. 32, E). Yagan
« . comprímida ' 4
Folhas todas 1-foliadas (fig. 32, H'), ou pelo menos as dos ra-
mos floríferos 7
Folhas oppostás, estipuladas. Foliolos linear-lanceolados, asse-
- . tinados. Cálice colanilhoso . , 5
Folhas alternas, sfem estipulas. Foliolos glabros ou pulverulen-
tos. Cálice glabro ou sub-glabro. Estandarte glabro 6
Estandarte lanoso, obcordiforme, pouco maior do que o caliça.
Lacinias do labio superior do cálice proximamente três vezes
maiores do que o tubo. Espinhos rígidos, picantes. Foliolos
prateado-assetinados.F/. em julho e agosto. Região norte nm-
tanhosa {Traz-oS'Montes, Estrella, etc.)
S( CS. liUsKanlcat L.
Estandarte glabro ou sub-glabro, arredondado, bílobado-chan-
frado, o dobro maior do que o cálice. Lacinias do labio supe-
rior do cálice sub-eguaes ao tubo. Espinlios delgados, compri-
dos, não picantes. Fl. em junho e julho. Serra da Estrella{1)
O. Barnade«ll» Clrlls*
Espinhos simples, grossos, arqueados. Cachos com 3-12 flores.
Lacinias *do labio superior do cálice sub-maiores do que o
tubo. FL em março e abril. Alemtejo e Algarve.
G. scorpiolile** Spacfe-
Espinhos compostos, ramosos ou em cruz, mais delgados eme-
6/ nores que na espécie anterior. Cachos, mais ou menos frou-
xos, com S-i5 flores. Lacinias do labio superior do cálice
duas vezes, proximamente, maiores do que o tubo. Yagem
pequena, ovada, escura, glabra por fim, com 1-2 sementes.
' FL de março a agosto. Matos, bosques, etc: em qui*si toiaq
foia.— Tojo mollar O, triacantliiMt Krol*
PAPnJONÁCEAS 197
Vagem pequena (mas maior do que o cálice) com 1-4 sementes,
ovada ou arredondada (fig. 32, H). Cálices mais ou láenos
cotanilbosos. Folhas todas 1-foIiadas 8
Yagem grande, muito maior do que o caUce, com 4-18 semen-
tes, linear-oblonga ou curva (fig. 32, 1) 12 ,
Estandarte egual á quilha ou maior. Espinhos compostos. Ca-
chos apertados, umbelliformes, com 5-12 flores, folhas mol-
les, mais ou menos felpudas ou hirsutas. Yagem com 1-2 se-
8{ mentes, escura, hirsuta em nova e depois glabra. FL de maio
a julho. Matos da região calcarea do sul (?)
C». Hispânica* Ij*
Estandarte menor (V2 ou Va) do que a quilha 9
Espinhos, uns simples outros trifurcados, robustos, muito pi-
cantes. Bractea e bracteolas collocadas no cimo dos pedicel-
los. Folhas glabras na pagina superior, celheadas, e na pa-
gina inferior lanuginosas. Flores numerosas em espigas aper-
tadas. Ramos novos lanuginosos, esbranquiçados. Vagem pa-
Q I bescente, escurí^, monosperma. FL de março a junho. Cam-
pos incultos, bosques, matos: Alemtejo.
€>• liir«iita» Talil«
Cachos capitados. Algarve, v, Algarviensiii* Brot«
Espinhos compostos. Ramos hirsutos. Bractea na base do pedi-
cello; bracteolas nuUas, ou collocadas próximo ao meio do
\ pedicello 10
Bractea setacea, pequena, menor do que o tubo do cálice, ftra-
cteolas nullas. Cachos, com 5-12 flores, sub-capitados. Va-
gem escura, com pellos brancos, hirsuta. Ramos floriferos
10 ( espinhosos ou sub-inermes. FL de março a maio. Estremch
dura. — (6. Germânica, BroL) ^* decipiens» fllpaelft.
Bractea grande, sub-egual ao cálice, assovelada. Pedicellos bi-
iM^acteolados 11
I Ramos floriferos também espinhosos. Espinhos delgados, asso-
velados, muito ramosos. Estandarte no dorso, junto ao cimo,
puÊescente ou glabro. Cachos com muitas flores, primeiro
198 PAPIUONÁCEAS
ovados, depois oblongos. Vagem ovada, escura, com muitos
pellos brancos, hirsuta, monosperma (fig. 32, H). Fl. de abril
11 { a junho. Matos, pinhaes, etc. Estremadura.
€}• Toamefortll* flpacli.
Ramos floriferos inermes. Espinhos ramosos, rígidos, picantes.
Estandarte glabro. Cachos com muitas flores. FL em março,
abril. Estremadura. {Serra de Cintra, Monsanto^ etc.)
^ 1 «• "iVel^vItaicItil» Spacfe.
Yagem recta ou quasi recta, glabra. Flores inseridas na axilla
12 { de uma folha ou bractea herbácea foliforme 13
Yagem curva. Folhas todas l-foliadas 14
Yagem comprimida. Folhas todas l-foliadas. Espinhos numero-
sos, robustos, picantes, os superiores simples e os inferiores
trifurcados ou ramosos. Folhas floraes obovadas ou arredou-*
dadas. Flores fasciculadas, raras vezes solitárias ôu gemina-
das, formando um cacho terminal comprido e denso. R. di
13 { fevereiro a julho. Região sul (?) G* ScorploA* DC.
Yagem um pouco entumecida. Folhas dos ramos floriferos l-fo-
liadas e as do caule e dos ramos estéreis 3-foliadas. Espinhos
simples ou compostos. Bractea foliacea, aguda, grande, maior
que o pedicello. Cachos com 4-12 flores. FL (?) Nos maUa:
Alemtejo ^. ancIsCrocarpa» Spach.
Flores inseridas na axilla de uma bractea obtusa, grande, folia-
cea. Yagem curva no cimo e na base, sub-entumecida,glabra.
Espinhos simples, menos vezes trifurcados òu ramosos. Ca-
. , j chos com 5-15 flores. FL de maio a julho. Matagaes^ bosques
ptc, na região norte e no centro (Traz-os-Montes^ Dmm^
Beira^ Estremadura) Ci. An^llca» !<•
Flores inseridas na base de uma bractea muito pequena. Vagens
comprimidas ou sub-comprimidas, falciformes 15
1
Temos grandes duvidas de que eçtas ires espécies — G. decipietu, §.
Toumefortii e G. Wdwitschii — sejam bem distinctas; antes suppomos
que existem formas intermédias que as reúnem.
papiuonAceas
199
Yagem glabra, com 10-18 sementes amarelladas. Espinhos sub-
simples ou ramosos (fig. 32, F). Cachos pouco apertados, com
poucas flores. Pediceilos bibracteolados no meio. Laciniasdo
]abio superior do cálice obtusas. Fl. de março à julho. Matos
e silvados na região norte: Traz-os-Montes^ Douro^ Beira
16 \ etc. — T&jo gadanho Q» ftílcata» Brot.
Vagem celheada com muitos pellos brancos, contendo 5-6 se-
mentes escuras. Espinhos tridivididos. Flores terminaes, ge-
minadas ou solitárias. Pediceilos com as duas bracteolas quasi
na base. Lacinias do labio superior do cálice agudas. Fl. de
março a julho. Douro (Porto). . . Ci. Iierlierldea» lige*
Quilha occultando sempre os estamos 17
16 { Quilha caida para baixo no fim, deixando os estames a desco-
berto 18
Estandarte assetinado externamente, assim como a quilha. Flo-
res solitárias ou geminadas; bracteolas nullas ou muito pe-
quenas. Folhas muito pequenas (1-foliadas). Vagens lanceo-
lado-oblongas, branco-assetinadas, com 2-4 sementes. FL em
junho e julho, Algarve^ etc G. liObelli» DC
Estandarte glabro externamente; quilha pulverulenta. Ramos
fortemente espinescentes (fig: 32, L), em adultos tubercula-
dos^ aphyllos. Flores reunidas 1-4 em fasciculos lateraes, for-
mando no extremo dos ramos cachds curtos. Pediceilos bra-
cteolados quasi no meio. Folhas muito pequenas (1-foliadas).
Vagens lanceolado-lineares, assetinadas, com 2-S sementes.
FL em junho e julho. Sítios alpestres da região do m rte,
G. Hyiitrix» liffe*
Ramos (excepto no cimo) e a pagina superior das folhas
glabros. Cálices assetinados. Estandarte obtuso^ sub-in-
teiro. Bragança, Serra da Estreita, lí. glabra» Ijge*
Bamofi muito felpudos, assim como as duas paginas das fo-
lhas. Cálices muito hirsutos. Estandarte chanfrado, ex-
ternamente assetinado junto á nervura media; azassub-
celheadas. Bragança w, ^illoaa* Ijge.
17
1
Lábios do cálice sub-eguaes. Vagem recta, comprimida, densa-
18| mente felpudo-assetinada. Ramos com a casca gretada. Ra-
200 PAPIUONÁGEAS
minhos fasciculados ou alternos. Flores numerosas, iáseiea-
ladas, formando cachos pouco apertados. Fl. de fevereiro a
março, AlemUjo e Algarve,
CS« polyantkom B* de Bémer.
Lábios do cálice deseguaes. Vagem pouco felpuda. Ramos com
a casca não gretada, mais delgados que na espécie anterior.
Raminhos não fasciculados. Fl. em junho. Algarve.
Cl. Bonrsaei» Mpacli*
18
19
Cálice persistente; corolla marcescente. Quilha felpudo-asseti-
nada, e ás vezes também o estandarte 20
Cálice e corolla caducos. Pétalas todas glabras, ou sub-glabras.
Folhas glabras 21
/ Estandarte muito pubescente-assetinado externamente; quilha
assetinada. Flores lateraes sobre os raminhos, geminadas oa
solitárias, pedicelladas (pedicellos não bracteolados, do tama-
nho dos cálices), inseridas na axilla de muitas folhas fascica-
ladas. Ramos novos com bastantes folhas. Folhas oblongo-lan-
^^ j ceoladas, assetinado-pulverulentas em ambas as paginas, as-
sim como os ramos novos e os cálices. PI. dejur.ho aagotío.
Serra da Est relia C clnerasoens* Lfe*
Estandarte glabro; guilha assetinada. Flores inseridas junto a
uma pequena bractea, grupadas em cachos terminaes, sobre
os rebentos. Folhas grandes, planas, assetinadas na pagina
\ inferior e na superior glabras 21
Lacinias do lábio superior do cálice duas vezes maiores do que
o tubo; lábio inferior 3-fendido. Estandarte bilobado. Vagem
sub-glabra com 3-6 sementes. FL de maio a julho. Entre
Douro-e-MinhOy Traz-os-Montes, Beira, Estremadura.^
3- / Piorno dos tintureiros {G. polygalaepkyllay Brot,)
C iioly^alaerolia, DC*
Lacinias do lábio superior do cálice pouco maiores do qae o
tubo; lábio inferior 3-dentado. Estandarte chanfrado. Vagem
felpudo-cotanilhosa, com 2-8 sementes. Fl. de maio a julho.
TraZ'OS'Montes «• leptodada» €}Ay.
22
PAPIUONÁGEAS 20 i
Vagem celheada no bordo superior. Estandarte maior do que
as azas. Folhas linear-lanceoladas, mucronadas. Bracteas fi-
liforme-assoveladas. FL ent julho e agosto. Grandes altitudes
da região norte: Gerez^ Bragança, etc,
€■• mlcrantlia» C;. Ort.
Vagem muito glabra. Estandarte bastante maior do que as azas,
e estas muito pe(|uenas. Folhas linear-Ianceoladas. Bracteas
assoveladas. Flores pequenas. Fl. em junho e julho. Região
norte: Serra do Gerez^ Marão, etc. — {G.pairiflora, Brot.)
CS. Broteri» Poir.
Pterospartum; Spach. — Carqueja. — Ramos alternos, 2-3
alados, apertados na inserção das folhas, quasi articulados
(fig. 32, E). Folhas simples, sesseis, ou (em todas as es-
pécies indigenas *) nijUas, substituídas por pbyllodias pla-
nas, persistentes, decurrentés de ambos os lados com as
aza» do eixo. Flores fasciculadas,. corymbosas ou capitadas,
terminaes ou lateraes; pedicellos inseridos na axilla de uma
bractea e bibracteolados no cimo. Cálice persistente, egual
ao do género anterior. Corolla marcescente, com as péta-
las- sub-eguaes. Estames monadelphos. Vagem oblongo-li-
near, comprimida, sub-inclusa na quilha, com 1-6 semen-
tes. Arbustos ou sub-arbu^tos inermes, com as flores ama-
rellas ou cor de oiro.
Flores densamente capitadas (7-15). Estandarte um pouco asse-
tinado externamente; quilha e ovário prateado-assetinados.
Ramos novos largamente bialados (fig. 32, E). F/. de março a
julho. Região norte montanhosa.. Traz-os- Montes, Minho,
Beira. — Carqueja P« lasianiliiiiii» Spacli.
Flores geminadas ou pouco numerosas (3-7), em fasciculos ou
corymbos. Ramos com azas mais estreitas 2
1 A espécie com folhas, P. sagittale, (L.) Wh., existe na Hespanha e
•é mencionada também como espécie portugueza no Prodromus dos
srs. Willkomm & Lange; mas não sabemos onde exista, nem o sr.
Mariz a inclue no seu trabalho sobre as PapUionáceas publicado no n
boletim annual da Sociedade Broteriana, 1884.
202 PAPIUONÁGEAS
Estandarte assetinado externamente. Flores quasi sesseis. Bra-
cteolas espatuladas, um pouco menores do que o cálice. Ca£ee
assetinado-cotanilhoso, prateado. Quilha lanuginosa. Fl. em
julho. Marinha Grande, etc. — Carqueja.
P. scolopendriuiii» Spack.
Estandarte glabro 3
Pedicellos sub-maiores do que o tubo do cálice. Bracteolas filifor-
mes, muito pouco maiores do que o tubo do cálice. Flores sab-
geminadas. Lacinias do lábio inferior do cálice sub-eguaes.
Cálice e quilha prateado-assetinados. Fl. de maio ajuUw. Pi-
nhaes^ matos, etc: Beira, Estremadura, ele. — Carqueja.
{G. tridentada, Brot. ex p.) P« stenopteram* Spacb.
Pedicellos curtíssimos. Lacinias do labio inferior do cálice das-
eguaes 4
2-6 flores em fasciculos ou corymbos, quasi sempre terminaes.
Bracteolas linear-espatuladas, um pouco menores do que o
cálice. Cálice e quilha prateado-assetinados. Ramos com as
azas mais ou menos onduladas. FL d^ abril a julho. JUtnko,
Douro, Beira ^ Estremadura ^ etc. — Carqu^a.
P. Cantabricam» flipach.
2-7 flores em fasciculos terminaes e lateraes. Bracteolas snb-
maiores do que o tubo do cálice. Quilha branco-lanosa. Ramos
com as azas menos onduladas e com os ehtre-nós maiores
do que na espécie anterior. FL de maio a julho. Minho, Beira,
Alemtejo, etc. — Carqueja. (G. tridentada, Brot. exp.)
^P. tridentatum» Spacli.
*
Ulex, L. — Tojo. — Cálice membranoso, corado, profunda-
mente 2-labiado (dividido até á base — fig. 32, P — ou até %
fig. 32, R), com o labio superior 2-dentado, 2-fendido ou 2-
t A sub- divisão da Genista tridentada, L., nas espécies enuníendas
parece nSo assentar em bases muito rigorosas. O sr. Willkomm, no iVo-
dromu^, já o indica, e o sr. Mariz estudando os Pterospartum portague-
zes inclina-se a essa opinião. Parece-nos egualmente muito provável que
as plantas discriptas sejam simples variedades de uma única espede.
PAPILIONÁCEAS 203
partido, e o inferior 3-dentado ou 3-fendido. Pétalas livres,
maiores ou menores do que o cálice; estandarte levantado,
azas e quilha obtusas. Estames monadelphos. Estylete curvo
no cimo; estigma retrorso ou antrt)rso. Vagem recta^ com-
primida ou sub-entumecida, dehiscente, com 1-6 sementes,
maior ou menor do que o cálice persistente. — Arbustos com
os ramos estriados, espiniformes, picantes, oppostos ou al-
ternos, aphyllos (flg. 32*, P', Q). Folhas jprimordiaes 3-folia-
das e as seguintes transformadas em pbyllodias (pelo aborto
do limbo) rigidas e agudas ou ás vezes escamiformes, em
cujas axillas se produzem os ramos espiniformes. Flores so-
litárias, geminadas ou umbelladas na axilla das pbyllodias,
muitas vezes agglomeradas no extremo dos ramos; pedi-
cellos bracteoladas ou não; pétalas amarellas.
Lábios do cálice separados até V^ ^^ comprimento (íjg. 32, R,
S). Vagem o dobro, proximamente, maior do qae o cálice
(fig. 32,S,V) ".. 2
. . Lábios do cálice separados até á base, ambos dentados (fig. 32,
P, U, T). Vagem menor, ou pouco maior do que o cálice,
com 2-4 sementes. Corolla maior ou sub-menor do que o
cálice. Estames inclusos na qiiilha. Flores solitárias ou gemi-
nadas (EuuleXj Wk.) : 8
Corolla do tamanho do cálice ou muitd pouco maior. Lábio su-
perior do cálice fendido até ao meio (fíg. 32, S, R). Vagens
com 6 sementes, proximamente. Estames inclusos na quilha,
ç I Flores em cachos ou umbellas {StauracanthtiSj Lk.) '3
Corolla o dobro maior do que o cálice. Lábio superior do cálice
2-dentado. Vagem ovada, com 1-2 sementes, (6g. 32, V).
Estames salientes. Flores pequenas, solitárias ou geminadas
{Nepa, Wbb.) 6
Bracteolas grandes, rhomboide-arredondadas, muito hirsutas
(fig. 32, S). Lábio inferior do cálice menor do que a quilha.
Ramos acinzentados, com muitos pellos. Cálice muito hirsuto,
3 \ bem como a corolla. FL em março e abril. Alemtejo e Algarve.
— Tojo U. spectaliilis» nriili.
204
PAPIUONACEAS
3 r Bracteolas estreitas, linear-lanceoladas oa ovado-lanceoladas
l (fig.32,R) 4
Lábio inferior do cálice menor do que a quilha. Estandarte el-
liptico. Quilha com a margem superior curva. Cálice asseti-
nado-lanoso. Ramos pelludos. FL de fevei-eiro a abril, Estre-
madura e Altmtgo. — Tojo (O. genistoides, Brot, exp.)
ti. apliyllas*Uí.
Lábio inferior do cálice maior do qUe a quilha. Estandarte ova-
do-arredondado, chanfrado. Quilha com a margem superior
recta. Cálice assetinado-cotanilhoso. Ramos delgados, em no-
vos .esbranquiçados, assetinados. Flores 2-5. Fí. em março e
abril. Beira {Pinhal de Leiria) , Algarve. — Tojo chamusco
(U. genistoideSj Brot. exp.). . CJ. upartloides* Ir^^bb.
Ramos mais grossos, mais esbranquiçados. Flores solitárias
ou geminadas. Cálices muito felpudos. Algarve.
n. IWIlllcoiiimll, mii^
•
Bracteolas oblongas, obtusas, ás vezes afastadas do cálice. Lá-
bio superior do cálice quasi bifendido, com os dentes cor-
vos, convergentes. Estandarte ovado-orbicular. Cálice assetí-
5{ nado. FL de março a junho. Algarve. — Tojo.
\ . . . . ^ CJ. l^eliblanua» C«mm.
Bracteolas agudas, linear-lanceoladas. Lábio superior do cálice
com os dentes compridos, não convergentes 6
Estandarte muito maior do que a quilha. Cálice assetinadocom
os lábios estreitos e compridos : o superior dividido em den-
tes filiformes e o inferior em dentes lineares. Ramos novos
6^ sub-alados. FL de maio a julho. Algarve. — Tojo.
V. EMcasrracii. Tl^ftli.
Estandarte do tamanho da quilha ou pouco maior. Dentes do cá-
lice linear-lanceolados ^
Cálice muito hirsuto, com o lábio superior bifendido até Vj. Es-
tandarte muito hirsuto externamente, riiomboide-ort)icaIar,
do tamanho da quilha. Ramos descaídos, radicantes. Fl. em
abril. Algarve.— Tojo U. lorMns* WBfc.
Cálice assetinado, com o lábio superior bifendido quasi até %
PAPIUONÁCEAS 205
Estandarte orbicular, obtuso, sub-maior do que a quilha. Ra-
mos ascendentes, nâo radicantes. Fl. de abril a julho, Al-
garve.— Tojo U. iralllantli, ^IVIil».
Bracteolas afastadas do cálice, mais largas do que o pedicello. Es-
tandarte sub-egual ao cálice; quilha sub-menor do que as azas.
J Estylete glabro na base; estigma antrorso. Ramos pelludo-
pubescentes, raminhos glabros. FL de março a setembro.
Beira, ete. — Tojo U. oplstliolepi«« IrVlil».
Bracteolas coUocadas na base do cálice (fig. 32, P, T) 9
Bracteolas muito mais largas do que os pedicellos, grandes, ova-
das ou sub-orbiculares (fig. 32, P). Quilha menor do que as
azas. Estandarte maior do que o cahce. Estylete glabro na
base; estigma retrorso. Flores grandes. Ramos felpudos, ra-
minhos glabros. Çspinhos robustos. Fl. de janeiro a junho.
Matos, bosques, etc, Minho, Douro, Beira, Estremadura, etc,
— Tojo U. earopaean* Ma»
9{ Flores pouco numerosas, reunidas no extremo dos ramos.
Phyllodias e ramos delgados, flexiveis. Aveiro, etc,
ir. strlctu** ^IVIili*
Bracteolas muito grandes ( Ys do cálice), cordiformes, abra-
çando o cálice pela base.' Pinhal de Leiria, Caldas da
Rainha, etc -%'• latebracteatas* Marim.
B racteolas pouco mais largas do que o pedicello, eguaes, ou mais
\ estreitas. Quilha maior do que as azas ou sub-egual 10
Bracteolas muito pequenas, mais estreitas do que o pedicello (fig.
32, U). Estandarte maior do que ojcalice; azas eguaes á qui-
lha. Flores pequenas; estigma retrorso. Ramos e raminhos
delgados, densamente cobertos de pellos erriçados. Cálice as-
setinado-pulverulentOy com os dentes do lábio superior diver-
gentes e os inferiores largos, ovados. FL de abril a novem»
bro. CharnecaSy matos^ pinhões^ etc. Minho; Douro, Beira,
iO{ Estremadura, Alemtejo, Algarve.— Tojo. (U. europaeus
p, L.) V. nanas* Forét*
Cálice assetinadò-pubescente, com os dentes do lábio sape*
rior convergentes e os inferiores estreitos, lanceolados.
206 PAPIUONÁGEAS
10 Quilha maior do que as azas ou egual. Estremadura,
AlemtejOy Algarve ir* liusltanlcas» ^V^bb.
Bracteolas bem visíveis, mais largas do que o pedicello oa
\ sub-eguaes 11
Arbustos verdes; glabros, pulverulentos ou pelludos 12
. . j Arbustos esbranquiçados, prateados ou glauco-acinzentados;
ramos e raminhos densamente avelludádos. Estigma an-
trorso 19
Raminhos rectos ou sub-rectos 13
12 { Raminhos arqueados ou recurvados (fíg. 32, Q). Flores peque-
nas 16
«
Quilha egual ás azas. Flores grandes. Ramos pelludos ou felpa*
do-pubescentes, raminhos sub-glabros. Estigma antrorso. 14
13 { Quilha maior do que as azas. Flores mais pequenas. Ramos e
raminhos pulverulentos ou glabros. Estigma retrorso ou an-
trorso 15
/ Phyllodias largas, foliaceas, 3-nervadas. Dentes do cálice lan-
ceolado-acuminados. Cálice oblongo (fig. 32, T) assetinado-
pubeseente. Flores agglomeradas no extremo dos ramos. Moita
muito ramosa e apertada com os ramos moUemente pellados.
Fí, de abril a junho. Matos e charnecas: Estremadura.^
14 / Tojo de charneca U. ilensiis* ^¥elw«
Phyllodias lineares. Dentes do cálice curtos, triangulares. Cá-
lice ovado, pubescente ou sub-glabro. Flores, principahnenle
inseridas nos espinhos primários, reunidas em infloresceneia
sub-thyrsòide no extremo dos ramos. FL de fevereiro a abril.
\ Beira, Estremadura, etc, — Tojo, U. «iasslael» ^VMt
Estigma antrorso. Dentes do cálice lanceolados, os do lábio su-
perior divergentes. Cálice pulverulento ou sub-glabro*. Es-
tandarte pouco maior do que o cs^lice. Quilha curva. Fl. «n
março. Beira. — Tojo U. metkJber, Kie.
48 { Estigma retrorso. Cálice por fim sub-glabro, com nervuras sa-
1 Segundo o sr. Mariz (Estudo sobre as PapUionáceasJ só tem udoeo-
contrada a v. glabrescens, Wbb., em que o cálice ó apenas muito le^e*
mente pulverulento.
PAPIUONÁCEAS 207
15] lientes, levemente denticulado; dentes convergentes. Estan-
darte sob-egaal ao cálice. Quilha recta. Flores com as azas*
amarellas ou alaranjadas. FL de março a junho. Aléoítejo. —
Tojo U. aastralin* Ciem.
/ Estandarte maior do que o cálice, firacteolas obtusas. Ramos
I curvos; raminhos arqueados 17
16 { Estandarte egual ou sub-menor do que o cálice. Bracteolas agu-
çadas. Ramos sub-rectos, raminhos recurvados. Estigma an-
trorso. Pedicellos sub-eguaes aos cálices 18
Estigma retrorso. Estandarte obovado-oblongo, araarello-inten-
so, pouco maior do que o cálice. Qailha sub egual ás azas.*
Cálice pubescente. Pedicellos Y3 do cálice. Caule pubescente,
raminhos sub-glabros. Fl. em abril. Douro e Beira. — Tojo.
U« Ijusltantcan* MarlB,
17 1 Estigma antrorso. Estandarte largamente obovado, amarello-pal-
lido, o dobro maior do que o cálice. Qailha pouco menor do
que as azas. Cálice pubescente. Pedicellos menores do que na
espécie anterior, bem como as flores. Ramos erespo-pulveru-
lentos, raminhos sub-glabros. Fl. em abril e maio. Beira. —
Tojo U« mlcrantlta»» li^e.
Azas muito menores do que a quilha. Quilha recta. Estylete
pelludo desde a base até ao meio. Estandarte egual ao cálice.
Bracteolas pequenas. Ramos e raminhos pulverulentos. Cá-
lice ovado, sub-assetinado. FL de março a novembro. Região
sul: próximo d foz do Tejo, Setúbal, etc. — Tojo.
U. ^Villlcommil, Vl^bb.
Azas muito pouco menores do que a quilha. Quilha concava na
margem superior. Estylete glabro. Estandarte sub-menor do
que o cálice. Bracteolas lanceoladas ou ovadas. Arbusto gla-
bro. Cálice estreito, assetinado, por fim glabro. FL em março
e abril. Matos e pinhaes das areias ao sul do Tejo^ próximo
\ a este rio. — Tojo. . .U. lil^el^?vitiicliianas» Planoli*
I Ramos rectos; raminhos recurvados em gancho. Cálice ovado,
sub-glabro. Estandarte egual ao cálice. Azas sub-menores do
que a quilha. Ramos e raminhos densamente avelludados, cin-
18
208 PAPIUONÁGEAS
i9 \ zento-esverdinhados. FL de março a julho, e de setembro aoK-
/ tubro. Algarve. — Tojo. . . . U. JantMocladnSr vn^.
l Ramos e raminhos rectos ou sob-rectos 20
Cálice ovado, moUemente pelludo. Azas menores do que a qui-
lha. Ramos e raminhos glaucos, assetinados. Phyllodias li-
near-Ianceoladas. FL em abril e maio. Estremadura^ Algarve.
— Tojo U. arfenteiis* urelw.
20 ( Cálice comprido, estreito, sub-glabro, attenuado na extremidade.
Corolla menor do que o cálice. Azas sub-menores do que a
quilha. Ramos e raminhos esbranquiçados, assetinados. Phyl-
lodias muito pequenas, ovadas, agudas. FL de abril a junho.
Algarve. — Tojo MJ» erinaeeiía» IPTelw.
Calycotome, Lk. — Cálice corado, tubuloso-conico, com 5
dentes pequenos, conapletamenle fechado antes da floração
e rasgando-se circularmente pelo meio, para a saida da co-
rolla. Pétalas livres. Estandarte obovado, levantado; quilha
curva. Estames monadelphos. Estylete assovelado, arqueado.
Vagem oblongo-linear, comprimida, saliente, sub-bialada.—
Arbustos espinhosos, com as folhas 3-foliadas, sem estipu-
las. Flores amarello-douradas.
Flores dispostas 8-15 em fasciculos umbelliformes. Ramos a?el-
ludado-cotanilhosos, esbranquiçados. Pedicellos acompanha-
dos de uma bractea sub-orbicular, inteira. Cálices assetinado-
lanuginosos, esbranquiçados. Vagens assetinado-felpudas.i^.
de março a maio. Região sul do Tejo. — (JSpartium spinosum,
Brot. non L.) ^C. villosa* UC
1 No Prodromus dos srs. Willkomm & Lange é citada ainda como es-
pécie portugueza a C. spinosaj Lk., que se differença em ter as flores soli-
tárias ou pouc<i numerosas (2-4)^ os ramos glabros, a bractea na base do
cálice 3-íendida ou 3-partida, os cálices assetinados, e a vagem glabra.
Não sabemos onde exista, nem o sr. Hariz a cita nó seu recente tnbsúko
sobre as Papilionáceas portuguezas. Devemos advertir que a descnpçâo
feita na Flor. Lus., por Brotero, do seu S. spinosúm, parece aproximal-o
PAPIUONÁCEAS 209
Cytisus, L. (eorcl. sp.J. — Cálice tólabiado, persistente; lá-
bio superior 2-dentado (raras vezes 2-partido) e o inferior
3-dentado (fig. 32, Y). Pétalas livres. Estandarte ovado ou
sub-orbicular, levantado; quilha arqueada, com os estames
monadelphos inclusos. Estylete curvado no cimo. Vagem
dehiscente, alongada, comprimida. — Arbustos inermes, com
as folhas 3- foliadas (raras vezes 1 -foliadas); estipulas pe-
quenas ou nuUas. Flores terminaes ou lateraes; bracteas
e bracteolas pequenas, muitas vezes caducas.
Cálice com 2 lábios grandes (eguaes ao tubo, ou maiores): o
superior 2-partido e o inferior 3-dentado. Folhas todas 3-fo-
liadas. Vagens hirsutas. Flores amareUas 2
Cálice curto, membranoso ou sub-membranoso, com os lábios
curtos denticulados (fig. 32, Y). Vagens cotanilhosas ou hir-
sutas 3
Folhas com peciolos muito curtos; foliolos obovados, obtusos, gla-
bros na pagina superior e pulverulentos na inferior. Lacinias
do lábio superior do cálice triangulares. Estandarte um pouco
maior do que a quilha. 3-9 flores umbelladas, lateraes. Fl.
de abril n junho. Hiatos, bosques: Beira, Estretnaduray etc,
— {Genista candicans, L.) €• candlcans* DC*
2{ Folhas sesseis; foliolos lineares ou linear-lanceolados, agudos,
glabros na pagina superior e na inferior prateado-assetinados.
Lacinias do lábio superior do cálice lanceoladas, acumina-
das. Estandarte maior do que a quilha. Flores corymbosas,
terminaes. Fl. de março a junho. Bosques, matos, etc.^ das
regiões inferior e montanhosa (?). — (Genista UnifoUa, L.)
€• llnirolin*» liam.
\
antes, em muitos caracteres, da C. spinosa, JJc. — Cantis. . . glaber. Mo-
res numerosi, laterales, nunc duo ad quatuor in singtda axilla, nunc «o-
iitarii. É certo que, por outro lado, diz serem os cálices hirsutos, as
flores curtamente pedunculadas, etc, o que parece estar mais em har-
monia com a C. villosa, Lk. Tanto o sr. Willkcmm como o sr. Mariz ac-
ceitam a synonymia como a marcámos no texto.
c. s. — ^v. n. . i4
210
PAPIUONACEAS
4
Folhas todas 3-foliadas, com peciolos curtos; foliolos grandes,
ellipticos, sub-glabros na pagina superior e felpudos na infe-
rior. Flores amarellas, dispostas 1-3 na axilla das folhas su-
periores; pedicellos 2-3 vezes maiores do que os cálices.
Quilha curva, aguçada; estandarte menor do que a quilha.
FL de março a junho. Matos, bosques: Alemtejo, etc.
€• triflorust li*Herit«
Folhas sesseis, ou sub-sesseis, 1-foliadas as superiores, 3-folia-
das as inferiores, muito caducas, ficando os ramos, por fim,
aphyllos. Quilha obtusa. Estandarte maior do que a quilha. 4
Corolla branca. Ramos avelludados. Foliolos linear-lanceolados,
prateado-assetinados.« Flores -lateraes, solitárias ou reunidas
2-3, e constituindo cachos interrompidos, multiflores, no ex-
tremo dos ramos. Fl. de abril a junho. Campos incultos^ ma-
tos, etc. TraZ'OS'Montes , Minho, Douro, Beira. — Giesteira
branca. (Spartinm album^ Brot.) C. all»u«f Lk.
Corolla amarella. Ramos glabros. Foliolos sub-espatulados, sub-
glabros na pagina superior e assetinado-pulverulentos na in-
ferior. Flores axillares, solitárias, constituindo cachos inter-
rompidos, terminaes. Fl. de junho a agosto. Serra da EstreUa.
— {Spartium purgans^ L.) ^ C* par§ran«»
Sarothamnus, Wimm. — Giesta. — Cálice persistente, bila-
biado, com os lábios membranosos, o superior 2- e o infe-
rior 3-denticulado. Estandarte grande, arredondado (fig.
32, M), levantado; quilha pendente, no íim, deixando os
estamos a descoberto. Estamos monadelphos. Estylete com-
•
1 Além das espécies enumeradas existem, na região d'entre Douro e
Minho (seg. Lk.), mais dois Cytisus (C. viltosissimus, Lk,, e C. proctrM,
Lk.). Estas espécies não teem sido encontradas pelos modernos explo-
radores; o sr. Willkomm (l. c.) náo as coUoca entre as espécies a pro-
curar em Hespanha, e o sr. Mariz (1. c.) indica-as como espécies de se^
çSo incerta. Não as podemos incluir no nosso trabalho, porque não achá-
mos a diagnose do C. vUtosiísimus, e do C procerut apenas encontra-
mos uma descripçâo muito incompleta no Prodromus de De CandoUe:
— ramis teretibus striatis, foliis lanceolatis pUosis, fioribus solitariit axil'
laribus, leguminibus vUlosis {DC. Prod. Pars secunda, pag. 157).
PAPIUONÁCEAS 211
prido, filiforme, enrolado sobre si mesmo (fig. 32, M'). Vagem
comprida, comprimida, dehiscente, poiysperma (fig. 32, N,
O). — Arbustos inermes com as folhas sem estipulas, todas
3-foliadas, ou as floraes e as dos ramos novos 1-foliadas. Fio-
res grandes, amarellas, lateraes, solitárias ou geminadas,
constituindo cachos interrompidos no extremo dos ramos.
Vagens com as faces glabras e só com pellos nos bordos (celhea-
das) (fig. 32, O). Quilha sub-falciforme (fig. 32,.M). Folhas
dos ramos novos 1-foliadas alternas, as floraes i-foliadas fas-
cicaladas, sesseis, e as restantes 3-foliadas, pecíoladas. . . 2
Vagens todas cobertas de pellos (mais ou menos aproximados,
maiores ou menores) (fig. 32, N) 4
Í Folhas (pelo menos as floraes) muito agudas. Ramos aguda-
mente quadrangulares. Estylete hirsato. Pedúnculos bastante
maiores do que a folha. Vagem negra, grande, largamente
linear, irregularmente sinuada (fig. 32, 0). Fl. em junho.
Algarve y Estremadura, etc íi. oxypliyllus* Bss*
Folhas (pelo menos as Horaes) muito obtusas 3
2
Ramos levemente anguloso-estriados. Estylete muito glabro. Pe-
dúnculos egaaes ás folhas ou maiores. Vagem negra, larga-
mente linear, sinuado-estrangulada. FL em junho. Algarve.
S* Bourgael» Bti«*
Ramos agudamente quadrangulares. Estylete celheado. Flores
com pedúnculos compridos. Vagem negra, largamente linear,
sub-arqueada. Fl. de abril a julho. Traz-os-Montes^ entre
Douro-e- Minho ^ Algarve^ etc. — {Spartium scopariíim, L.)
9* lieoparlo*» Kocli.
Estylete glabro. Folhas quasi todas sesseis. Algarve, etc,
▼• leiostylos» Bourg.
Folhas todas sesseis (3-1-foliadas). Quilha sub-falciforme, pen-
dente desde o principio, deixando os estames a descoberto'.
Estylete pubeseente. Pedúnculos curtos. Vagens arqueadas,
escuras por fim, com muitos pellos brancos, lanoso-hirsutas.
i4*
212 PAPIUONÁCEAS
FL em maio e junho. SebeSy maios, etc. Beira^ Estremadura,
Algarve^ efe. — Giesteira das sebes. {Spartium grandifiorum,
Brot.) S. srandlflorost Vlíhh*
Folhas inferiores (S-foliadas) pecioladas e as superiores (i-folia-
das) sesseis. Quilha sub-falciforme. Vagem sub-entome.
cida 5
Folhas todas pecioladas. Quilha obovada. Vagem comprimida.
Estylete todo glabro 7
Ramos cylindricos, estriados. Folhas quasi todas pecioladas (só
as do cimo sub-sesseis), com o peciolo maior do que os folio-
los. Flores muito grandes (as maiores do género); pedon-
culo o dobro maior do que o cálice. Vagem oblonga com pel-
^1 los muito densos, rígidos. Fl. em maio e junho. Bosques, ma-
tos: Serra da Estreita, de Cintra, etc. — Giesta das serras.
{Sparfium patens, L., e Brot. ex p.). tt. patens» ^i%l»b.
Ramos e raminhos angulosos. Vagens branco-lanuginosas. Fo-
lhas sesseis (1-foliadas) mais numerosas do que na espécie
anterior 6
Vagem oblongo-elliptica; recta ou sub-arqueada, mollemecte
branco-felpuda. Pedúnculo do tamanho do cálice. Fl. em maio
e junho. Beira, Estremadura^ etc. — (Spartium patens^ Brot.,
ex p.) S. 'VTeliw-ltscliii» Bss. A Rent.
6 (Vagem elliptico-trapezoidal, larga, recta, com densa e longa
felpa branca (fig. 32, N). Pedúnculo o dobro maior do que
o cálice. Fl. emjunfio e julho. Bosques, matos, etc: Traz-
os-Montes, Gerez, Estreita, etc.
\ S* eriocarpufi» B«a. A Rent*
«
Folhas todas 3-foliadas : foliolos obovados muito obtusos. Flores
solitárias ou fasciculadas, com o pedúnculo 3-4 vezes maior
do que o cálice. Vagem comprida, recta ou arqueada, com-
primida ou sub-entumecida, densamente coberta de felpa cm*-
ta. Ramos angulosos. FL em fevereiro e maio. Sebes^ matoSj
etc. Alemtejo S« Baetlcii** ^"hh*
7 ( Folhas inferiores 3-foliadas e as do cimo i-foliadas. Flores so-
litárias, com o pedúnculo o dobro maior do que o cálice. Va-
gem comprimida, arqueada, ás vezes estrangulada eotre as
PAPIUONÁCEAS 213
7 1 sementes, com pellos encostados, não muito abundantes, bran-
cos, cotanilhosos. Ramos cylindricos, com estrias obsoletas.
F/, em maio. Península de Trota (seg, o sr. Daveau),
S* Malneltanaii» Bmu
Labumnm, Griseb. — Labumo. — Cálice brevemente cam-
panulado, bilabiado com os lábios jnteiros^ Ovário pedi-
cellado; estylete curvo, glabro; estigma terminal, capitado.
Vagem linear, comprimida, dehiscente, poiysperma. O res-
tante como no género Cytims.-
Arborescente. Rebentos e botões assetinado-pulverulentos, es-
branquiçados. Folhas 3-foliadas, com os peciolos compridos
e os foliolos grandes, ellipticos; estipulas nullas. Cachos mul-
tiflores, pendentes, produzidos em botões lateraes, e cingidos
na base por algumas (poucas) folhas. Pétalas amarellas. Fl.
em abril e maio. Cultivado nos jardins, e sub-espontaneo. —
Codeço bastardo, labumo dos Alpes. {Cytims Labumnm ^ L.)
li* vnlffaret Qris*
Adenocarpus, DC. — Codeço, — Cálice bilabiado, com os
lábios compridos, o superior bipartido até á base, e o in-
ferior tridentado ou trifendido (fig. 32, Z). Estandarte or-
bicular, levantado; quilha curva. Estames monadelphos. Es-
tylete curvo, glabro. Vagem linear-oblonga, comprimida,
dehiscente, poiysperma, tuberculoso-glandulosa (fig. 32, Z')-
Ajsbustos inermes com as folhas 3-foliadas, com, ou sem
estipulas. Flores amarellas dispostas em cachos no extremo
dos ramos.
' Ramos densamente folhosos. Cálices glandulosos (glândulas ne-
1 \ gras) 2
* Notaremos qiie o único exemplar do Labumum tndgare que temos
á yista, proveniente de Bragança, tem os lábios do cálice denticulados
e não inteiros. Esta espécie apresenta um fades muito diverso dos Cy-
tisus que nós conhecemos, mas tem com elles tamanhas analogias, que
mal se pode comprehender e seu deslocamento d'aquelle género.
214
PAPIUONACEAS
l { Ramos com poucas folhas. Cálices glandulosos ou nâo. Peque-
nos arbustos muito emmaranhados, com os ramos esbranqui-
çados 3
Lacinias do lábio superior do cálice semi-ovadas, attenuadasna
extremidade, um pouco curvas. Foliolos carnosos, obovados
ou ellipticos, obtusos, sub-glabros na pagina superior e pon-
tuado-glandulosos na inferior, planos. 4-7 flores apertadas no
cimo dos ramos. Pedicellos menores do que os cálices. Ar-
busto muito ramoso. Fl. em julho. Algarve, Estremadura
(Cintra) *. . . A. anliioclillaiif BNH.
Lacinias do lábio superior do cálice linear-lanceoladas. Foliolos
coriaceos, lanceolados, agudos, glabros na pagina superior,
e na pagina inferior assetinado-cotanilhosos esbranquiçados,
sub-planos em adultos. Cachos oblongos com muitas flores.
Pedicellos maiores do que os cálices. Arbusto ás vezes ele-
vado. FL em junho e julho. Região norte, — Codeço alto. {Cy-
\ tisus Hispanicus, Lam, e Brot.). A. Hispanlcniu DC.
/ Cacho com poucas flores (1-4) muito condensado, sub-umhelli-
forme. Foliolos glabros em ambas as paginas, obovados. Fo-
lhas pequenas, fasciculadas, com os peciolos curtos. Cálice
não glanduloso, com os lábios sub-eguaes. FL de abril a ju-
nho. Alemtejo A* si^A^Bd^Oorus* Ba«*
Cacho com bastantes flores, afastadas umas das outras. Foliolos
sub-glabros na pagina superior e pulverulentos, asselinados
ou pubescentes na pagina inferior, de ordinário dobrados ao
meio (conduplicados). Cálice desegualmente bilabiado — 4
Cachos curtos, oblongos. Raminhos muito pubescentes. Cálices
não glandulosos. Bracteas inferiores o dobro maiores do que o
pedicello. FL de maio a julho. Traz-os-Montes^ Beira, Alen-
tejo, etc A. conimutatos* Csosft*
' Cachos mais compridos, cylindricos, com mais flores ^
1 Raminhos sub-glabros (em novos pubescentes, mas apenas du-
rante pouco tempo). Cálices glandulosos. Estandarte assetina-
do-pulverulento externamente. Vagem pouco glandulosa, es-
verdinhada. FL em maio e junho. Matagaes da região infe-
5 rior e montanhosa (?) A* compllcatus* «I* Cíay*
. papilionAceas 215-
I Raminhos niollememe pubescentes ou felpudos. Cálices glandu-
5< losos. Estandarte pubescente ou pulverulento externamente.
Bracteas caducas, eguaes aos pedicellos ou maiores. Vagem
muito glandulosa, escura. Fl, em maio ejunfw. Matos, etc.
Minho, Douro y Beira, Estremadura , etc, — Codeço rasteiro
{Cytisus complicatus, Brot.) ... A* intermeilias» DC*
Cálice não glanduloso. Beira, etc.
\ forma eylandulosa*
Argyrolobium, Eckl. — Cálice profundamente bilabiado,
com o lábio superior profundamente bipartido, e o inferior
Irifendido ou tridentado. Pétalas livres. Estandarte orbicu-
lar, levantado; quilha curva. Estames monadelphos. Esty-
lete curvo, assovelado. Vagem oblongo-linear, comprimida.
Folhas trifoliadas, com estipulas.
Pequeno sub-arbusto inerme, com as folhas, pedúnculos e cáli-
ces prateados, assetinados. Flores amarellas, terminaes, so-
litárias ou reunidas 2-3. Estandarte maior do que a quilha,
assetinado externamente. Dentes do lábio inferior do cálice
eguaes. Fí, em abril e junho, Estremadura, etc, {Cytisus ar-
genteuSy L, e Brot.Phyt. Lusit.; Lotus argenteus, Brot. Flor,
Lusit.) A* argentemii* H']c.
Anagyrís, L. — Anagyris, — Cálice campanulado, com 5
dentes sub-eguaes (fig. 32, A). Unhas das pétalas livres;
azas maiores do que o estandarte, e menores do que a qui-
lha dipetala. Estames livres (fig. 32, A). Estylete filiforme,
recto. Vagem comprimida, polysperma, dehiscente. Folhas
3-foliadas. Arbustos ou pequenas arvores.
Foholos grandes, elliptico-lanceolados, inteiros (fig. 32, A'). Flo-
res grandes, amarellas, com o estandarte maculado de negro,
dispostas em cachos curtos, folhados na base. Vagens grandes,
pendentes, rectas ou arqueadas, glabras, irregulares, escuras,
contendo 3-8 sementes grandes, da forma de feijões, violá-
ceas. Folhas e vagens fétidas. Fl. em fevereiro e março. Al-
garve e Alemtejo. — Anagyris fedegosa, . , A. foeftda* Ii«
216 CESALI>1NIACEAS
Família XLIV.— GESALPINXÁOBAS, R. Br.
Fiores irregulares, menos vezes regulares, hermaphro-
ditas, dioicas ou polygamicas. Cálice com 5 sepalas, menos
vezes 3-4, adherentes ao disco hypogjDico, livres a partir
d'elle oa reunidas na base. Gorolla com 5 pétalas, menos
vezes 3-i: pseudo-papilionácea (no botão floral, as pétalas
anteriores cobrem as duas lateraes, e estas a posterior;, sub-
regular ou nulla. 40 estames ou, por aborto, mn numero
menor, livres {ou diversamente grupados n'outras espécies
exóticas); antheras bilociilares, introrsas, longitudinalmente
dehiscentes. Ovário livre, 1-carpellar. Vagem indehísceDte
ou tardiamente dehiscente, com duas válvulas. SemeDles
com, ou sem albumen; embryão recto. — ^ Arvores ou arbus-
tos (raras vezes plantas herbáceas exóticas), com as folhas
pinnuladas, 2-pinnuladas ou simples, alternas, com, ou sem
estipulas.
U5^
Fig. 33. — A: Inflorescencia feminina da Ceratoma Sííiíaa, L. (1:1). /í-
Flor masculina da Ceratonia Sãiqua, L. {i:i). C: Pétalas da Ctnà
Siliquastrum. L. (lii). D: Cálice e esUmes da Cereis SUiquatínim,
L. (i:i).
GESALPINIÁCEAS 217
Í Folhas simples, reniformes. Corolfa pseudo-papilionácea.
€ercl0 (pág. 217)
Folhas 1-2-pinnuIadas 2
Corolla nulla. 5 estames. Folhas simplesmente pinnuladas.
^ J Ceratonla (pag. 218)
3-5 pétalas sub-eguaes. 6-10 estames. Folhas 1-2 pinnuladas.
, «ledttsclila (pag. 217)
Cereis, L. — Olaia. — Flores hermaphroditas. Cálice infe-
riormente gibboso, com o limbo campanulado, 5-dentado.
Corolla pseudo-papilionácea : 5 pétalas livres, as duas an-
teriores maiores do que as laleraes, e estas um pouco maio-
res do que a posterior (fig. 33, C). 10 estames livres (fig.
33, D). Vagem oblonga, comprimida, sub-dehiscente, estrei-
tamente alada na nervura superior.
Flores precoces (anteriores ás folhas), com pedicellos compri-
dos, rosadas, dispostas em cachos corymhiformes ao longo
dos ramos e da parte superior do tronco. Vagens largamente ,
lanceoladas, glabras, pendentes, com veios reticulados, po-
lyspermas. Sementes obovadas, negras. Arvore de folhas sim-
ples, reniformes, glabras, com o peciolo do tamanho do limba,
caducas; estipulas linear-oblongas, caducas. Fl. em março.
Cultivada com frequência nos jardins , praças^ etc, — Olaia.
, C* Sillqaaatranit li.
Esta essência é cultivada entre nós como arvore de or-
namento. Â sua madeira é de boa qualidade.
Gleditschia, L. — Flores polygamicas. Cálice com o tubo
torbinado-campanulado e o limbo com 3-5 segmentos es-
treitos, sub-eguaes. 3-5 pétalas sesseis, sub-eguaes. 6-10
estames livres. Estylete curto. Vagem plana, comprimida,
indehiscente, coriacea ou sub-carnosa, polysperma. Flores
esverdinhadas, dispostas em espigas. Arvores com as fo-
lhas 1-2-pínnuladas, inermes ou com espinhos ramosos.
218 BOMOSÁCEAS
Espinhos robustos, simples ou trifurcados. Foliolos linear-oblon-
gos, inteiros, glabros, dispostos em muitos pares em cada fo-
lha. Flores pequenas, verde-amarelladas, reunidas em espi-
gas amentáceas, densas, pedunculadas. Vagens muito gran-
des, pendentes. Fl. tia primavera. Indígena da America do
Norte e cultivada nos jardins. — Espinheiro da Virgínia.
CS* trlacaiitliost L*
m
Ceratonia, L. — Alfarrobeira, — Flores polygaaiicas ou diol-
cas. Cálice peíjueno, 5-partido, caduco. Pétalas nullas. 5 es-
tames livres, com os filetes filiformes, oppostos ás divisões
do cálice, inseridos sobre o disco hypog}nico (fig. 33, B).
Ovário inserido no meio do disco sobre um pedicello curto
(flg. 33, A); estigma sub-sessil. Vagem comprida, grossa,
coriacea, cheia de polpa, indehiscente, polysperma. Arvore
com as folhas persistentes, paripinnuladas.
r
Flores pequenas, esverdinhadas, dispostas em cachos amentá
ceos, axillares, sub-sesseis (fi^. 33, A). Vagens escuras, pen-
dentes, rectas ou flexuosas. Arvore ou arbusto, cora as fo-
lhas grandes, alternas, com 5-3 pares de foliolos ovados, ob-
tusos ou chanfrados no cimo, inteiros, coriaceos, lustrosos na
pagina superior. Floração de ordinário dioica. FL de agosto
a outubro, Sub-espontanea e cultivada principalmente no Al-
garve.— Alfarrobeira €• SlllquAt L.
Família XLV.— MIMOSÁCEAS, R. Br.
•
Flores regulares. Cálice 5-fendido ou 5-dentado (menos
vezes 3-4-6-fendido ou -dentado). Pétalas livres ouconcres-
centes, em numero egual ao das sepalas, hypogynicas ou
sub-perigynicas. Disco nullo. Estames em numero eguâl ao
das pétalas, ou duplo, ou numerosos, livres ou monadel-
phos; antheras biloculares, longitudinalmente dehiscentes.
Ovário livre; estylete filiforme; estigma terminal. Frocto
MIMOSÁCEAS 219
uma vagem. Sementes com pequeno albumen, ou sem ne-
nhum; embryão recto. Arvores ou arbustos, raríssimas ve-
zes plantas herbáceas, com as folhas estipuladas, 2-1-pin-
nuladas, ou reduzidas a phyllodías.
(Esta familia botânica não tem nenhuma espécie espon-
tânea em Portugal).
Acácia, Willd. — Acada, — Cálice campanulado, 5-iientado.
Pétalas adherentes, formando uma corolla tubulosa, raras
vezes livres, ou nuUas. Estames numerosos, livres, muito
salientes; grânulos de poUen reunidos em massas polyedri-
cas. Ovário pedicellado. Sementes sem albumen. Arvores
ou arbustos exóticos, inermes ou, com espinhos estipulares.
Flores amarellas, brancas ou, menos vezes, vermelhas, ca-
pitadas ou dispostas em espigas ou cachos. Folhas muito
variáveis.
Flores dispostas em cachos lateraes. Folhas bipinnuladas, coiu
15 pares de divisões primarias e foliolos numerosos, symelri-
cos, um pouco pubescentes. Peciolo com uma glândula entre
cada di\'isão primaria. Arvore inerme. Pátria desconhecida.
Cultivada como planta de ornamento e também um pouco como
arvêre florestal. — Acácia dealbata. . . A. dealliata* IaU.
Flores agglomeradas.em capitulos globosos, pedunculados, axil-
lares. Folhas bipinnuladas, com 5-8 pares de divisões prima-
rias e 15-20 pares de foliolos, lineares, glabros. Pequena ar-
vore com as estipulas transformadas em espinhos robustos,
geminados, esbranquiçados. Flores cheirosas; cálice e corolla
esverdinhados; filetes brancos, antheras amarellas. Fl. emju-
nho. Indígena da Ilha de S, Domingos, e cultivada nos jar-
dine. — Espongeira. {Mimosa Farnesiana, L.),
A* Farnesiana» 1^\
Este género e esta famiha comprehendem numerosíssi-
mas espécies. A cultura, principalmente nos últimos tem-
pos, tem introduzido bastantes d'ellas em Portugal, mas
sobretudo como plantas de ornato. A espécie mais vulga-
220 TEREBINTHACEÂS
risada e que tem já sido empregada como essência flores-
tal é a Acácia deaWcua^ e por isso a que tem maior interesse
para o- nosso estudo. í arvore de crescimento rápido, e de
que se encontram massiços nas matas de Foja, Urso e Mon-
dego. No norte do paiz é bastante frequente a A. Mdam-
' orylon, R. Br.
Familla XL VI.— TEREBINTHACEÂS, Jnss.
Flores regulares, hermaphrodilas, polygamicas ou dioi-
cas, amarelladas, pequenas, ordinariamente paniculadas. Cá-
lice gamosepalo com 3-5 divisões. Corolla com tantas pé-
talas quantas as sepalas, alternas, inserida com os estames
n'um disco hypogynico, ás vezes nulla. Estames em numero
egual ao das pétalas, ou duplo, alteinos; antlieras intror-
sas, biloculares, longitudinalmente deliiscfenles. Ovário livre
ou semi>inferior, unilocular, uniovulado ; 3 estyletes livres ou
concrescenles num só; 3 estigmas. Fructo indehiscente, (Jru-
paceo, pouco carnudo. Sementes sem albumen; embryão re-
cto ou curvo. — Arvores ou arbustos com suecos resinosos
aromáticos, viscosos ou gommosos, com as folhas alternas,
pinuuladas ou, mais raras vezes, simples, sem estipulas. .
•
As espécies doesta familia botânica conteem, em abundân-
cia, principalmente nas cascas, resinas, bálsamos, gommas,
essências, etc; muitos d'estes productos são aproveitados
na industria, taes são a myrrha (Balsamea Myrrhn), o bál-
samo de Mécca (B, Meccanemis), o insenso (Boswellia Cor-
teri, B. papijrifera, B. thuriferaj, a resina eleipi (diver-
sos Canarium, Bursera, etc), o verniz do Japão e a laccí
da China (Rhm Vemix, etc), o verniz negro (Melanorrhúea
mitata), a terebinthina de Chio fPistacia Terebinthiis) , etc.
Os suecos dalgumas Terebinthaceas são extraordinariamente
venenosos; produzem accidentes graves quando são appli-
cados sobre a pelle, e muito mais quando são introduzidos
TEREBINTHACEAS 221
f
no apparelho digestivo (diversos RhusJ. Muitas d'estas es-
pécies são ricas em tannino e empregam-se na curtimenta de
pelles (Rhus Cortaria, fl. Cotinus, etc); algumas teem fru-
ctos comestiveis, como a manga (Mangifei^a indica), ele, ou
sementes comestiveis como a Pistacia vera. Das sementes
de algumas TereUnthaceas extrae-se óleo, e um corpo gordo
que serve para o fabrico de velas (Rhus succedaneaj . As
madeiras de muitas destas arvores são estimadas.
Ém Portugal esta família botânica está íipenas represen-
tada par três espécies espontâneas. Uma d'ellas é empre-
gada em curtumes (fíhus Coriaria, L.); a outra, muito abun-
dante (Pistacia Lmtiscus, L.), tem madeira de muito boa
qualidade, mas as suas pequenas dimensões tornam-a de
ordinário pouco aproveitável; é um óptimo combustível; a
terceira espécie (Pistacia Terebinthus, L.) é peculiar à re-
gião montanhosa, e tem pequena importância entre nós,
mas a sua madeira tem excellentes qualidades.
. ( Pétalas nullas. Flores dioicas. 5 estames. Pistacia (pag. 223)
) Dois invólucros floraes 2
10 estames; o pétalas. Floração dioica. Drupa globosa. Arvore
^ j introduzida Scliinu» (pag. 221)
o estames. 5 pétalas. Flores hermaphroditas ou polygamo-dioi-
cas. Drupa comprimida Rlian (pag. 223)
Schinus, L. — Pimenteira bastarda. — Floração dioica. Cá-
lice 5-partido. S pétalas; 10 estames. Ovário sessil; 3 es-
tyletes. Drupa globosa, quasi secca, com caroço ósseo. Ar-
vores americanas, com as flores dispostas em cachos ou pa-
niculas, axillares e as folhas imparipínnuladas. Suecos com
cheiro a pimenta.
Folhas muito compridas, com muitos folioloslinear-lanceolados,
agudos, sub-inteiros, glabros (fig. 34, K). Flores pequenas,
amarello-esverdinhadas, reunidas em paniculas gi^andes. Dru-
pas lustrosas, avermelhadas (íig. 34, J). Arvore com as ulli-
TEHEBINTHACEAS
mas ramilicaçdes pendentes, filiroriues. Fl. em moio ; jtink)
e lambem no ontomno ou iratemú. Oríginafw do Bratil e ad-
livado nos jardim, ruas, praças, etc. — Pimmleira bastarda.
m. molle, L.
Fig. 34.— vi: Fnicto do Pistacia Untucus, L. (1:1). fl: Folha (i:))-
C: Fructo do Pittacia Terebiníhus, L. (1:1). D: Folha e galha (1:1).
E\ Flor do Rhus Cariaria. L. (2:1). F: Fructo (1:1). H: Folha (1:1).
l: Fructo do Sdiinus molle, L. (1:1). K: Folha (1:3).
TEREBINTHACEAS 223
Rhus, L. — Sumagre. — Flores herraaphroditas ou poly-
gamo-dioicas, pequenas, reunidas em thyrsos axillares ou
terminaes. Cálice pequeno, 5-partido, persistente. 5 péta-
las ovadas, abertas para os lados. 5 estames livres. Ovário
sessil, ovóide ou globoso; 3 estjietes curtos. Drupa pequena
(fig. 34, F;, quasi secca, irregular, comprimida, com o ca-
roço ósseo. Arvores ou arbustos com os botões quasi sem
escamas, com as folhas caducas, compostas, raras vezes
simples. Suecos terebinthaceos ou leitosos, muito cáusticos.
Arbusto. Raminhos e peciolos densamente felpudos. Folhas im-
paripinnuladas, com 3-6 pares de foliolos sesseis, ovado-lan-
ceolados, crenado-dentados (fig. 34, H), sub-glabros na pa-
gina superior e pubescentes na inferior. Thyrsos terminaes e
lateraes, estreitos, alongados, levantados. Pétalas brancas,
maiores do que o cálice (fig. 34, E). Drupas vermelho-escu-
ras, densamente cobertas de pellos erriçados (fig. 34, F). Fl.
de abril a junho. Espontâneo, no Algarve ^ e na parte monta-
nhoaa da Beirn e Traz-os- Montes : cultivado (para airtumes)
sobretudo no norte. — Sumagre B. Cortaria* li.
Pistacia, L. — Flores dioicas, apetalas, pequenas, dispos-
tas em cachos ou paniculas axillares. Flores masculinas com
o cálice 5-fendido ou 3-partido, 5 estames inseridos no disco,
oppostos às divisões do cálice, e um ovário rudimentar; an-
theras grandes. Flores femininas com o cálice 3-4-partido
ou -fendido, sem disco, com o ovário sessil e o estylete curto,
3-fendido. Drupa pouco carnuda, com o caroço ósseo. Ar-
vores e arbustos com as folhas compostas (pari- ou impari-
pionuladas, raras vezes 3-foliadas). Suecos resinosos, aro-
máticos, ricos em terebinthina.
Folhas persistentes, paripinnuladas (fig. 34, B) com 2-5 pares
de foliolos elliptico- ou linear-lanceolados, obtusos ou agudos,
inteiros, coriaeeos, glabros; peciolos alados. Cachos simples,
axillares, com muitas flores aperta4as, amarelladas ou aver-
melhadas. Brupa pequena (fíg. 34, A) globoso-comprimida,
, \
224 SIMARÚBEAS
apiculada, primeiro vermelha e depois negra. Arbusto eom
cheiro resinoso pronunciado. Fl. em abril e maio. Sebes, ma-
tos, bosques, etc. Beira, Estremadura^ AlemttjOy Algarve.^
Aroeira, lentisco verdadeiro P* Ijentiseas* L.
Folhas caducas, imparipinnuladas (fíg. 34, D), com 4-a pares
de folioios ovados ou eiliptico-lanceolados, inteiros, glabros;
peciolos não alados. Cachos compostos paniculados, com mui-
tas flores escuras. Drupa ovoide-comprimida, apiculada, (fíg.
34, C) primeiro vermelha e depois acastanhado-escura. Ar-
busto terebinthaceo, com galhas compridas, estreitas, curvas
ou contorcidas (fig. 34, D). Fl. em murço e abril. A beira
dos f Í05, matos, ele. Traz-os- Montes. — Terebintho ou coma-
Iheira P. Terebintliast L.
Família XLVH.— SIMART5BEAS, Endl.
Flores pequenas, unisexuaes, raras vezes hermaphrodi-
tas, regulares. Cálice ganiosepalo, 3-5-lobado ou -partido;
3-S pétalas, alternas, inseridas sobre um disco hypogynico.
Estames em numero egual ao das pétalas, duplo, ou maior,
livres, inseridos sdbre o disco; antheras biloculares, intror-
sas, longitudinalmente dehiscentes. Pistillo de ordinário com
5 carpellos, livres ou adherentes; estyletes livres, ou mais
ou menos adherentes. Fructo uma capsula drupa ou sa-
mara. Sementes sem, ou com albumen; embryão recto ou
curvo. — Arvores ou arbustos, ordinariamente com as folhas
alternas, compostas. e sem estipulas.
Ailanthus, Desf. — Ailantho, — Flores hermaphroditas e
masculinas misturadas. Cálice 5-dentado: 5 pétalas. Disco
annelar, sinuado, com 5 pregas. 10 estames. 2-5 samaras
oblongas, acuminadas dos dois lados, entumecidas no meio.
Semente ovada, comprimida, sem albumen; embryão recto.
— Arvores de boa grandeza com as folhas pinnuladas. Ca-
chos paniculados, multiflores.
lUCÍNEAS 225
Folhas imparipinnaladas, foliolos da base com alguns dentes e in-
feriormente glandulosos. Arvore elevada. FL em maio. Ori-
ginário da China e das Uolucas e cultivado nos jardins, pra-
ças^ ruas, etc. — Ailantho: A. glandulosa» Desf.
O Ailantho é sobretudo empregado em Portugal como ar-
vore de ornamento; tem bello aspecto e grande crescimento;
os seus rebentos são vigorosos e as camadas annuaes do
lenho bastante largas. Á madeira é porosa e de qualidade
^muito inferior. As folhas são venenosas, pelo menos para
algumas espécies domesticas (patos, etc). Sobre esta arvore
desenvoive-se na China um Bombyx cujo casulo fornece seda.
Família XLVm.— ILIOlNEAS, Brongn.
Flores pequenas, regulares, hermaphroditas ou polygamo-
dioicas, grupadas quasi sempre em umbelias axillares ou
cachos de cymeiras, raras vezes soUtarias. Cálice gamose-
palo, 4-6-partido. CoroUa com 4-6 pétalas, alternas, livres
ou levemente concrescentes na base, hypogynicas. Estames
bypog)'nicos, alternos, em numero egual ao das pétalas, li-
Tres ou levemente adherentes á corolla; antheras introrsas,
biloculares, longitudinalmente dehiscentes. Disco hypogy-
nico nullo. Ovário 3-plm'ilocuIar, superior, sessil; estylete
quasi nullo; 1-2 óvulos em cada loculo do ovário. Fructo
pouco carnudo, uma drupa bacciforme. Sementes com al-
bumen abundante; embryão recto.
Dex, L. — Azevinho. — Cálice pequeno, gomiloso, 4-fen-
dido, persistente. Corolla rodada, com 4 pétalas; 4 estames;
estigmas sesseis. Drupa bacciforme com 3-5 caroços. Ar-
Tores ou arbustos com as folhas simples, alterAas, coria-
ceas, persistentes, sem estipulas.
C 1. — ^Y. II. i^
1
rhaunAceas
Flores solitárias ou fasciculadas em cymeiras, eom os pedic^
los curtos. Corolla branca. Drupa globosa, maior do que uiu
ervilha, vermelha na maturação. Pequena arvore ou arbusto,
com as folhas ovadas, ovado-lanceoladas ou elliplicas^ agu-
das, muito coriaceas, grossas, glabras, lustrosas na pa^na
superior, onduladas e cartilaginosas nas margens, espinhoso-
dentadas (lig. 3S, A), ás vezes completamente inteiras (fig.
35, B), especialmente nos indivíduos mais velhos; pecioke
curtos. Fl. na primavera. Região montanhosa: Traz-oi-Mo»-
Ut, Minho, Douro, Beira. — Azevinho ou pica-folha.
■• Aqalfollamt Ih
Fig. 35. — A: Ramo fructifero do Ilex Aqiiifolium,L. (1:1). B:uina fo-
lha inteira.
Cultiva-se, como planta de ornamento, uma variedade de
folhas maculadas.
Família XLI£.— RBAHNÁCEAS, R. Br.
Flores regulares, hermapliroditas ou potygamo-dioicas,
pequenas, esyerdlnhadas, quasi sempre reunidas em cymei-
ras. Cálice gamosepalo, com 4-â li^iitos; 4-5 pétalas alter-
RHAMNÁGEAS 227
nas com os lóbulos do cálice, inseridas com os estames so-
bre um disco adherente ao tubo do cálice, às vezes muito
pequenas e menores do que as sepalas, planas, concavas
ou enroladas, menos vezes nuUas. 4-5 estames oppostos ás
pétalas; anlheras introrsas, biloculares, longitudinalmente
dehiscentes. Ovário livre ou incluido no disco, superior ou
semi-inferior, 3- raras vezes 2-4-locular; eslylete curto, es-
tigma 3-lobado; 1 ovulo, quasi sempre, em cada loculo. Fru-
cto drupaceo, com o pericarpo carnoso ou coriaceo-lenhoso,
com um caroço 3-locular ou com 3 caroços que se separam
na maturação: menos vezes secco e alado (samara). Semen-
tes com albumen carnudo; embryão recto. — Arbustos ou
pequenas arvores com as folhas simples, inteiras ou denta-
das, alternas ou oppostos, caducas ou persistentes. Ramos
inermes ou espinescentes. Estipulas lineares, às vezes es-
pinescentes, em menos casos nullas.
Estipulas espinhosas. Pétalas concavas. Ovário semi-adherente
ao. disco. Folhas 3-nervadas, alternas. Drupa comestível; ca-
roço ósseo 2-3-locular zlBypli\i» (pag. 227)
Estipulas lineares, pequenas, caducas, não espinhosas. Pétalas
planas, concavas ou nullas. Ovário livre. Folhas penninerva-
das, oppostas ou alternas. Fructo carnudo com 2-4 caroços
distinclos. Rltamiius (pag. 229)
Zizyphus, Juss. — Açufeifa, — Flores hermaphroditas. Cá-
lice 5-lobado; 5 pétalas concavas. Ovário emergido no disco
pentagonal, e adherente a elle. Fructo carnudo, globoso ou
oblongo, com 2-3 caroços reunidos n'um só; albumen muito
pequeno ou nullo. Arbustos ou pequenas arvores com as
folhas alternas, 3-nervadas. Fructos comestíveis.
Pequena arvore. 2 aculeos estipulares curvos. Folhas com pe-
ciolo curto, obliquamente ovadas, obtusas, crenadas, com 3
nervuras dominantes, sendo as lateraes arqueadas, conver-
gentes. Flores pequenas, sub-sesseis, agglomeradas; cálice
i5#
228 rhamnAceas
amarei lado ; pétalas brancas, pequenas, espataladas. Drupa
ovóide, quasi sessil, pendente, arruivada na matura^, de
sabor doce, do tamanho de uma azeitona grande. Ft. sa prí-
matfra. Originário do Oriente e cultivado, principalmtitle
no Algarve. — Açitfnfa maior, anafega maior ou ntaceirada
anafega maior. [Itkumnus Zizypkas, L. e Brot.)
Z. Tulsariva LaH.
Plg.36.— A:RaBioíruclirerodo BhamnutAlaiermt,L.(i:2).B:Zmo
etpiaescente do Rkamma oleoida, L. (2:3). C: Ramo íoiVero do
sFrangula,L.{i.3).
RHAMNÃCEAS 229
Arbusto ou pequena arvore. Saculeos estipulares, um recto ou-
tro curvo. Folhas com peciolo curto ovado-oblongas, reticu-
ladas, sub-inteiras. Cymeiras com poucas flores, axillares,
sub-sesseis; flores pequenas, amarellas. Drupa globosa, ama-
rello-avermelhada, do tamanho de uma cereja. Fl. na prima-
vera. Espontâneo no sul (f) ; cultivado principalmente no Al-
garve e Alemtejo. — Açufeifa menor, anafrga menor ou lo-
dão verdadeiro. {Rhamnns Lotus, L. e Brot.)
2K. lótus» liam.
Estas duas espécies sao entre nós pouco vulgares; cul-
tivam-se como fructeiras. A madeii-a das Açufeifas é de boa
qualidade, susceptível de bom polido, e fornece excellente
combustível e carv3o de primeira qualidade. Os fructos da
Açufeifa menor são o lótus dos antigos; esta ultima espé-
cie apresenta grande tendência a emittir raízes horizontaes
grossas, cheias de rebentões e que dão avultados produ-
ctos lenhosos, muito bons para queimar.
«
Rhamnus, L. — Sanguinho bastardo. — Flores hermaphro-
ditas ou polygamo-dioicas. Cálice 4-5-fendido. Pétalas 4-5,
planas ou concavas, inseridas na margem do disco, ás ve-
zes nullas. 4-5 estames. Ovário livre, inserido no fundo do
disco largamente aberto, sessil, 3-4-locular; 2-4 estyletes.
Drupa bacciforme, primeiro com 3 sulcos longitudinaes, de-
pois globosa ou ovóide; 2-4 caroços distinctos. Sementes
com albumen carnudo. — Arvores ou arbustos, inermes ou
com os ramos espinescentes; folhas persistentes ou cadu-
cas, alternas ou oppostas, com estipulas pequenas, cadu-
cas.
Folhas caducas, inteiras, membranosas, alternas, pecioladas,
ovadas ou ovado-elliplicos (fig. 36, C). 5 pétalas brancas,
maiores do que os lóbulos (5) do cálice. Fructos globosos, pri-
meiro vermelhos e depois negros. Arbusto inerme, com os bo-
tões mis. Flores hermaphroditas. Fl. em junho e julho. Sitios
n
230 RHAMNÁCEAS
1 1 frescos j á beira dos rios: região norte ( Beira etc.) — Prangula,
sanguinho d'agua ou amieiro negro, . . B* FraiBi^la»L.
Folhas persistentes, coriaceas, alternas. Pétalas nullas ou muito
pequenas. Floração dioica. Botões com escamas 2
/
Grande arbusto ou pequena arvore, inerme (fig. 36, A). Folhas
glabras, com peciolos curtos, ovado-oblongas ou ovado-Iao-
ceoladas, agudas, cartilaginoso-marginadas, serradas, menos
vezes sub-inteiras. Cálice 5-lobado; corolla nulla. Cymeiras
reunidas em cachos axillares maiores do que o peciolo. Fru-
ctos ovoide-globosos, primeiro avermelhados, depois negros.
FL em março e abrU. Sebes, beira dos rios, etc: Beira, Es-
tremadura, etc, — Aderno bastardo, sanguinho das sebes.
B* Alaternniit L*
Pequeno arbusto com os ramos espinescentes na extremidade
(fig. 36, B). Folhas pequenas, obovadas ou lanceoladas, atíe-
nuadas em peciolo, uninervadas e fortemente reticuladas.
Cálice 4-lobado. Corolla nulla ou muito pequena. Drupa ovói-
de, amarellada na maturação. Fl. em março e abril. Sebes, so-
los pedregosos e áridos, matos, pinhaes: Estremadura, Alem'
tejo, etc. — Espinheiro negro, (/?. Lycioides, Brot. non L.)
( 1 B* oleoicleSf L*
1 Esta espécie distingue-se em muito pouco do R. lycioides, L.; afora
a côr do fructo, que n'esta ultima espécie é negro depois de maduro,
o principal distinctivo reside na nervaçâo das folhas. No R, oleoides. L.
as nervuras lateraes arqueiam-se até ás margens da folha, emquanto no
R. lycioides j além de formarem um aiigulo muito mais recto com a ner-
vura principal, reunem-se bastante longe das margens, constituindo
quasi duas nervuras parallelas ao contorno da folha; as retícuJaçCes in-
termediarias são muito mais pronunciadas na primeira do que na se-
gunda espécie. Todos os numerosos exemplares, colhidos na Estrema- '
dura e no Alemtejo, que temos tido occasiao de vôr, pertencem ao R-
oleoides, L., embora alguns diversifiquem muito no comprimento, lar-
gura, forma e consistência das folhas fvar, latifdia e angustifolia, Í^e-J'
EUPHORBIÁCEAS 23 1
B. — Thalâmiflorâs (DC. ex p.)
Pétalas e estames hypogynicos inseridos no disco (Ihala-
mus).
Família L.— EUPHORBIÁCEAS, R. Br.
Flores regulares, unisexuaes, monoicas ou dioicas, soli-
tárias axillares ou dispostas em varias inflorescencias. Cá-
lice livre, gamosepalo (de ordinário 3-5-fendido), ou dialy-
sepalo, ou nullo. Corolla hypogynica ou perigynica, dialy-
pelala ou nulla, menos vezes gamopetala. Flores masculinas
com os estames dispostos em 1-2 verticillos, às vezes, por
aborto, reduzidos a só 2-1 ; filetes livres ou concrescentes
em columna, ou ás vezes ramificados ; antheras dehisceíites
por fendas longitudinaes ou poros abertos. Flores femininas
com o ovário superior, quasi sempre 3-locular, raras vezes
1-2-multilocular; loculos 1-, menos vezes 2-ovulados; estyle-
tes divididos em tantos ramos quantos os loculos do ovário,
e ás vezes estes ramos ainda subdivididos. Flores dos dois
sexos independentes, ou uma flor feminina rodeada de flo-
res masculinas reduzidas a 1 só estame, e reunidas todas,
n'um invólucro commum, apparentando o conjuncto uma
flor hermaphrodita. Fructo, quasi sempre uma capsula com
3 válvulas longitudinaes, que se separam do eixo central,
dehiscentes ainda cada uma d'ellas, com elasticidade, pela
nervura dorsal. Sementes de ordinário providas de carun-
culo (originado pelo espessamento do tegumento em volta
do micropylo), com albumen mais ou menos abundante;
embryão recto. — Hervas ou. arbustos (ou arvores exóticas)
muitas vezes com suecos leitosos; folhas alternas ou op-
postas, quasi sempre simples, com, ou sem, estipulas.
Esta familia encerra espécies exóticas muito variadas;
*m
232 EUPHORBIÁCEAS
algumas são aphyllas, com formas extraordinárias, fazendo
lembrar o porte dos cactos. Os productos de muitas Eu-
phoí^biáceas tem largo emprego na industria ; citaremos o
látex da Siphonia elástica e d outras espécies da America
tropical, que fornecem o caoulchouc; a gomma resina da
Euphorbia resinifera; a lacca da Aleuriles laccifera; os latóx
venenosos da Hura crepitans, Hippomane Mancenilla, eíc,
utilisados para envenenar as frechas de caça; a fécula extra-
hida do rhizoma das Manihot utilissima e JH. Aipi, conhe-
cida com o nome de tapioca ; o óleo gordo e drástico das
sementes da Eupfwrbia Laíhyris, Ricinus communis, etc; a
manteiga das sementes da Stillingia sebifera; e diversos le-
nhos aproveitados como madeiras de construcçâo.
As espécies espontâneas tem pouca utilidade ; com o sueco
da Crozophora tinctoria prepara-se o azul de tornasol. A
maior parte das espécies indígenas sao herbáceas — annuaes
ou perennes, apresentando-se algumas das ultimas um pouco
lenhosas na base. As espécies lenhosas dignas de menção,
são apenas as seguintes :
Flores dioicas. Estames 5-6, livres ou levemente concrescenles
na base. Arbustos com os ramos espinescentes (fig. 37), Ca-
psulas com os loculos com duas sementes.
Securineg^a (pag. 232)
Flores monoicas. Estames ramificados, indefinidos. Arbustos
(no norte plantas herbáceas) inermes. Capsulas com os locu-
los monospermos Blctnn» (pag. 233)
Securínega, Juss. — Flores dioicas, axillares; as masculi-
nas fasciculadas, as femininas solitárias ou pouco numero-
sas. Cálice (nas flores de ambos os sexos) 5-6-partido;co-
rolla nulla. Flores masculinas com 5-6 estames e um ová-
rio rudimentar. Flores femininas com 3 estyletes livres, ou
levemente reunidos, divididos em 2 estigmas. Capsulas com
3 válvulas bidehiscentes, e cada uma d'ellas com 2 semen-
tes. Sementes lisas, sem carunculo.
EUPHORBIÁCEAS 233
Arbusto com os ramos espinescenles na extremidade (lig. 37).
Folhas obovadas, obtusas, glabras, com peciolos curtos; Tas-
cicQladas na occasião da floração c depois dísticadas; estipu-
las pequenas, linear-setaceas, celbeadas. Lacinias do cálice
Cj estamos salientes. Flores masculinas TascicuUdas e as fe-
mininas solitárias, ou reunidas 2-3 em cada axíJla. Capsula,
em secca, reticulado-rugosa. Fl. em fevereiro e mar^o. Muito
abundante nax margens doí cursos d'agita da região leste:
margens do Douro, Tejo, Guadiana, etc, — Tamvjo{noAlem-
tfjo). [mamnas buxi/vUus, Poir.: Brot. Flor. Luf.)
S. IkDxlf01l«.a. Httll.
Fig. Z7.~Sccttrinega huxifclia, J. Múll. — A : ramo florifero masculino .
B: ramo fractifero. (l;i).
Ricinus, Toum. — Rícino. — Flores monoicas, dispostas em
paniculas de cymeiras, superiormente masculinas, inferior-
menle femininas. Cálice 5-partido; corolla nuUa. Flores inas-
catinas com estames numerosos, reunidos em fascículos po-
lyadelphos, superiormente dichotomico-ramosos, e sem ová-
rio rudimentar. Flores femininas com 3 estyletes, inferior-
i
232 EUPHORBlACEAS
algumas são aphyllas, com formas/- -ulos do ovário i-
lembrar o porte dos cactos. Os ^ Msas, com caran-
phai^biáceas tem largo emprer jtyledones grandes,
látex da Siphonia elástica f
tropical, que fornecem o , palmatifendidas; laciniasS^g,
^ , .. . .^ ^^ .adas.deseffualmente dentadas, ra-
Euphorota restmfera; a ,' j o . ,.
^ j „ .naes, levantadas. Sementes lisas, ma-
venenosos da Hura ' ,aru„eulo.Plantaglaaca,glabra. Arbusto
utilisados para env ^^ ^^^ províncias do sul e do centro, planta
hida do rhizomr^j^ai nas do norte (Bragança). Fl, naprimama
cida com o n^ originário das regiões quentes da America: cul-
sementes ã'' ja sub-espontaneo. — Ricino, carrapateiro, figueira
manteiga ^;fMO ou mammona R« comnianU* L.
nhos a»- '
A? poentes d'esta planta é que se extrae o óleo dras-
da 'i, Conhecido com o nome de óleo de ricino ou de
Família LI.— BUXÁCEAS, laotzscli.
Flores unisexuaes, ordinariamente monoicas, grupadas
em cachos ou espigas axillares ou terminaes. Cálice com
4-5 sepalas; corolla nulla. Flores masculinas com estames
em numero egual ao das sepalas, oppostos, ou mais nume-
rosos; antheràs introrsas, longitudinalmente dehiscentes;
pistillo rudimentar. Flores femininas com o ovário superior
2-3-locular; loculos 1-2-ovulados. Fructo uma capsula lo-
culicida (menos vezes drupaceo ou bacciforme). Sementes
com albumen. Arbustos ou arvores (ou plantas herbáceas
exóticas) com as folhas alternas ou oppostas (oppostas na
espécie indígena), inteiras, persistentes, sem estipulas. Suc-
cçs nao leitosos.
Buxus, Toum. — Buxo. — Flores monoicas, bracteoladas,
dispostas em espigas capitadas axillares, sendo as flores fe-
r
\
EMPETRÁCEAS 235
\ terminaes. 4 sepalas. 4 estames livres.
^ \ela persistência dos estyletes, 3-locu-
^ementes. Arbustos com as folhas
"lis, quasi 1-nervadas por serem
^ as nervuras lateraes.
^ois, ovadas ou obovadas, escuras e lustrosas na
aperior. Flores pequenas, branco-esverdinhadas, fe-
, sesseis as de ambos os sexos. Anlheras 2-3 vezes mais
-.oinpridas do que largas; estyletes sub-eguaes ao ovário. Ar-
busto ou pequena arvore com os ramos oppostos, quadrangu-
lares. Fl, de janeiro a março. Ã beira dos rios {entre Figueiró
e Thomarj, etc); muito cultivado nos jardins. — Buxo arbó-
reo B. scmper^iremi* L.
Família LII.— EMPETRÁCEAS, Lindl.
Piores regulares, muito pequenas, polygamicas ou dioi-
cas, solitárias, ou agglomerado-terniinaes, bracteadas. Se-
palas e pétalas em ambos os sexos 3 (raras vezes 2), alter-
nas, livres. Cálice persistente, corolla hypogynica, marces-
cente. Flores masculinas com 3 estames, alternos com as
pétalas, inseridos em redor de um pistillo rudimentar; an-
theras introrsas, biloculares, longitudinalmente dehiscen-
tes; grânulos de poUen reunidos aos 4. Flores femininas •
com- o ovário livre 2-9-locular e o estylete com tantas esti-
gmas quantos os loculos; loculos 1-ovulados. Fructo bacci-
forme, com 2-9 caroços livres ou adherentes, monospermos.
Sementes com albumen; embryão recto. — Pequenos arbus-
tos sempre-verdes, muito folhados, com as folhas estreitas,
lineares, 1-nervadas, inteiras, sub-verticilladas, sem estipu-
las, fazendo lembrar as Urzes no aspecto.
Corema, D. Don. — Camarinheira, — Floração dioica. Flo-
res terminaes, agglomeradas ou capitadas, envolvidas por
236 ACERfNEAS
braeteas escamiforines. Sepalas irregularmenle fraDjadas.
Pelalas coradas, longamente franjadas. 3 eslames salientes.
Ovário 3-locular. Estylete cylindrico ; estigma S-fendido. Fra-
cto globoso.
Fig. 38. — Coitma álbum, D. Don. — A : ramo Qorifero. B: frueto (1:1).
Folhas rigida.s, coriaceas, com as margens enroladas, peras-
tentes 2 annos. Pelalas rosadas. Frueto branco ou averme-
lliado. Pcíjueno aibuslo com os ramos levantados, pulvera-
lenlos (fif!. 38). Fl. de mar^o a maio. Vulgar nas praias.—
Camarinha, ou camr.rinheira (Empetriim albvm, L. e BnÀ.).
C. álbum. D. !!•■■
Família UU.— A.CERÍNEAS, DO
Flores regulares, hermaphroditas ou, por aborto, dioicas
oupolygamicas, dispostas em cymeiras. Cálice livre, caduco,
com 4-9, ordinariamente 5 divisões, alternas com outras tMi-
tas pétalas, (pétalas raras vezes nullas). Estames quasi sem-
pre 8 (raras vezes 4-12), inseridos com as pétalas sobre
um disco hypogynico carnudo; antheras bitoculares, longi-
tudinalmente deliiscentes. Ovário 2-lobado, 2-locular, livre,
com os loculos l-2-ovuIados; i estylete; 2 estigmas recor-
r^
ACERÍKEÂS . 237
yados. Samara dupla com azas grandes, lateraes. Semente
sem albmnen; embryão curvo. — Arvores ou arbustos com
as folhas oppostas, quasi sempre palminervadas, sem esti-
pulas, raras vezes pinnuladas.
■
Acer, L. — Bordo. — Flores quasi sempre polygamo-dioi-
cas, as masculinas com um pistillo rudimentar e as femi-
ninas com pequenos filetes estéreis. Cálice 5-partido. Co-
roUa de 5 pétalas. Flores pequenas, esverdinhadas; cymei-
ras dispostas em cachos ou corymbos, axillares ou termi-
naes. Arvores ou arbustos com os ramos oppostos e as fo-
lhas simples, com peciolos compridos, palmatilobadas, com
3-7 lóbulos.
Azas das duas samaras oppostas em líuha recta e muito pouco
altenuadas na base (íig. 39, A). Pequena anore ou arbusto;
folhas glabras, com 3-3 lóbulos obtusos, dentados, separados
por ângulos agudos. Inflorescencia levantada. Ramos, muitas
1( vezes, suberoso-alados. F(, em abril e maio. Estremadura
{Serra da Arrábida, eic). — Bordo commum.
A* campestre* li.
Azas das samaras não oppostas, mais ou menos aproximadas,
\ attenuadas na base e dilatadas no cimo (fíg. 39, B) 2
I Folhas pequenas, com 3 lóbulos obtusos inteiros ou sub-intei-
ros, separados por ângulos quasi rectos (íig. 39, D), glabras.
Filetes glabros. Inflorescencia lavantada durante a fecunda-
ção, cymeiras fructiferas pendentes. Pequena arvore ou ar-
busto. Fl. em abril. Traz-os-Montes. — Zêlha.
A. Ilonspessulaiiaiii» li*
Folhas grandes, com 5 lóbulos ovados, acuminados, irregular-
mente serrados, separados profundamente por ângulos agu-
dos (fig. 39, C), glabras. Filetes felpudos na base. Inflores-
cencias pendentes. Arvore. FL em abril e maio. Serra do
Gerezj cultivado em vários pontos. — Plátano bastardo.
A* Pseudoplatanas» Ii«
H
238
Fig. 39, — A : Di-samara do Acer tampertre, L.— fl : Di-saman do Júxr
Piead<^dataitui, L. (1:1)- C: folha do Aeer Pstvdoplatama, L. (1:1)-
D: Folha do Aeer Itíonspestulataim, L. (1:2).
FRAXÍNEAS 239
Já falíamos d'estas essências no capitulo especial. Mui-
tas espécies do género Acer contém seiva saccharina; na
America do Norte extraem assucar da seiva do Bordo sac-
charino (Acer saccharínum).
•
Família LIV.— FRAXÍNEAS, BarU.
Flores polygamicas ou dioicas, raras vezes hermaphro-
ditas, dispostas em cymeiras fasciculadas ou paniculadas»
nuas, ou com um só invólucro floral, ou muito menos vezes
com dois. Cálice (nas espécies em que existe) 4-fendido;
corolla nulla, ou com 4 pétalas, ou menos vezes com 2.
Estames 2, livres, hypogynicos. Ovário livre, 2-locular, com
os loculos 2-ovulados; estylete simples; estigma 2-fendido.
Fructo uma samara foliacea, unilocular e monosperma por
aborto, com uma aza comprida, coriacea, nervosa. Semente
com pequeno albumen; embryão recto. — Arvores com as
folhas opposlas, imparipinnuladas, sem estipulas.
Frazinus, L. (excL sp,J. — Freixo. — Flores, por aborto,*
unisexuaes, quasi sempre polygamicas, raras vezes dioicas,
apetalas. Cálice 4-fendido ou nullo (de ordinário nuUo nas
espécies indigenas, flg. 40, C). Flores precoces, já abertas
antes da evolução das folhas, inseridas nos botões axillares
dos raminhos-
Botões cor de ferrugem, negro-arruivados, sub-avelludados. Pe-
ciolo commum eanaliculado (fig. 40, A); 7-13 foliolos agu-
dos, lanceolados ou linear-laneeolados, cunheados na base,
serrados, com os dentes agudos e glandulosos, glabros. Sa-
maras cunheado-attenuadas na base (fig. 40, B), no cimo ar-
redondadas (var. obtusa. Gr. Godr.) ou agudas (var. rostrata,
Gr. Godr.), ás vezes mucroiíadas pelo estylete persistente;
semente chegando a mais de metade da samara. Arvore com
os raminhos escuro-avermelhados. Fl. etn dezembro ejaneirD,
240
FRAXÍNEAS
Sebes, beira dos rios^ campos, matas^ etc: conimum em qum
todo o paiz. — Freixo F. ansustlfollat VaU.
Botões negros, avelludados. Peciolo commuin da Mia não cana-
liculado. FolioIos9-13, ovado-lanceoladosoalanceolados,ca-
nheados na base, acuininados, serrados. Samaras estreitas para
Fig. 40.— Frojríntts anguttitolia, Vahl.— i4 : folha (2:3). B : samara (i:l)*
C: flor (i:l).
HIPPOCASTANEAS 241
a base, mas arredondadas junto ao pedicello, troncadas no cimo
ou levemente chanfradas, apiculadas pelo estylete persistente^
oblongas ou oblongo-lineares (a fónna com as samaras estrei-
tas e os foliolos estreitos constituo ayar. oustvaHs, Gr. Godr.);
sementes chegando só a metade da samara. Arvore com os
raminhos pardo-esverdinhados. — Freixo.
' F. exeelslor» Ei*
Família LV.— HIPPOCASTANEAS, DG.
Flores irregulares, hermaphroditas ou polygamicas por
aborto dos ovários, dispostas em cymeiras reunidas em
thyrsos terminaes, levantados. Cálice 5-lobado. Corolla com
5 pétalas livres, ou 4 por aborto da 5.*, inseridas sobre um
disco hypogynico com os estames. 7 estames livres (menos
Tezes 6-8); antheras biloculares, longitudinalmente dehis-
centes. Ovário 3-locuIar, com os loculos 2-ovulados; 1 esty-
lete filiforme. Capsula loculicida, com 2-3 válvulas espes-
sas, coriaceas, por aborto l-2-)ocular; 1-3 sementes muito
grandes, sub-globosas, com o hilo muito largo, sem albu-
men, com as cotyledones grandes, muito grossas e soldadas
entre si; embryâo curvo. — Arvores exóticas (da America do
Norte e da Ásia temperada), naturalisadas, com as folhas
1 Nunca vimos exemplares portuguezes authenticos d'esta espécie;
a essência que temos encontrado, desde Traz-os-Montes até ás pro-
yincias do centro e do sul, ó o F. angustifolía, Yahl. Não podemos
mesmo asseverar que o verdadeiro F. ea:celsior, L., exista no paiz, e que
n2o tenham sido tomados com este nome indivíduos da espécie pri-
meiro referida. Temos á vista exemplares de um Fraxinus, colhidos
nos arredores de Lisliòa, que nos ficam bastante duvidosos; o rachis da
folha canaliculado^ a còt arruivada dos botões, excluem o F.excelsiore
approximam-os do F. angustifolía; mas os foliolos são muito mais cur-
tos e mais largos, ovado-acuminados, cunheados na base, sub-peciola*
dos, inteiros quasi até ao meio e aipidamente serrados na parte restante;
nSo teem flores nem fructos. Lembram talvez o F. parvifolia, Lam., ou
talvez sejam uma fórma do F. angustifolia, que nos parece bastante po-
lyxnorpho.
c 8. — V. n. 16
2412 HIPPOCASTÂNEAS
grandes, oppostas» sem estipulas, digitadas, com os foliolos
peoDínervados.
Aesculus, L. — Castanheiro da índia. — Cálice campann-
lado. 4-5 pétalas com o limbo ovado. Estames e estylete
curvo-remontaotes. Capsula espinhosa. Foliolos sesseis.
Thyrsos pyramidaes, compridos. Pétalas enrugadas, brancas
maculadas de vermelho e de amarello. Capsulas grandes, es-
verdinhadas, pouco numerosas as de cada inflorescencia. Ar-
vore com as folhas longamente pecioladas, tendo quasi sem-
pre 7 foliolos obovado-cunheados, agudos, dentados, glabros.
FL em maio. Originário da índia (boreal); bastante cultivaiê
como arvore de ornamento. — Castanheiro da índia.
Ae. HlppocfUitaiiniii» L.
Pétalas vermelhas; fructo pouco espinhoso. Arvore de menor
porte, com as folhas de côr verde mais intensa, mais empo-
ladas e franzidas. Fl. em maio. Cultivado nos jardins, pra-
ças, etc Ae* rubicunda* HorC
O Castanheiro da índia tem crescimenio rápido e é uma
bella arvore de ornamento, Como arvore florestal não tem
importância; a sua madeira é de muito mã qualidade, quer
para construcção quer para queimar. As sementes volumo-
sas desta arvore tem suas analogias com os fructos do
Castanheiro ordinário, d'onde lhe derivou o nome vulgar de
Castanheiro da índia. Segundo uma analyse do sr. H. Le-
page, citada na Flore Forestiére do sr. Mathieu, aquella se-
mente contém 17,5 de amido e 3,35 de azotados (em 100
de substancia húmida, com 45 de agua), e apezar de ser
bastante amarga pode servir para a alimentação dos ani-
maes.^ as cabras e os carneiros, segundo o mesmo auctor,
costumam-se a comel-a, e na Turquia dão-a aos cavallos
d'onde o nome especifico (Hippocastanum) ; dizem até que
á farinha privada do seu principio amargo pode entrar na
composição do pão. Esta semente contém ainda 6,5 7o de
um óleo doce, saponiflcavel.
AliPELtDEAS 243
Família LVI. — AMPELÍDEJLS, EndL
Flores regalares, de ordinário hermaphroditas, dispostas
qnasi sempre em cachos compostos, oppostos às folhas. Cá-
lice gamosepalo, inteiro, ou com 4-5 dentes pequenos. 4-5
pétalas alternas com os dentes do cálice, livres ou reuni-
das no cimo ou na base, caducas. 4-5 estames oppostos ás
pétalas, inseridos sobre um disco hypogynico; antheras bi-
loculares, longitudinalmente dehiscentes. Ovário, ás vezes
incluído no disco, 2-6-locular, com os loculos 1-2-ovulados;
estylete curto ou nullo. Baga succulenta, 1-6-locular, com
1-2 sementes em cada loculo. Sementes com o tegumento
ósseo, e o albumen oleaginoso. — Arbustos sarmentosos, tre-
padores, com gavinhas provenientes da transformação dos
eixos de uma inflorescencia; sarmentos nodosos. Folhas in-
feriores oppostas e as restantes alternas, pecioladas, sim-
ples (palmatilobadas) ou compostas (digitadas); estipulas
escamosas, caducas.
Vitis, L. — Videira. — Flores esverdinhadas, cheirosas, pe-
quenas. Cálice 5-dentado. 5 pétalas adherentes nas ex-
tremidades e com as unhas livres, caducas quando a flor
abre. Baga ovóide ou globosa. Folhas simples, palmatilo-
badas.
Folhas com peciolos compridos, profondamente cordiformes na
base, palmatifendidas^ou palmatipartidas, com 5 lóbulos si-
noado-dentados, glabras nas duas paginas, ou pubescentes,
felpudas ou cotanilhosas na pagina inferior. Bagas de côr va-
riável, amarelladas, esverdinhadas^ violáceas ou negras, co-
bertas de efQorescencia glauca. Arbusto á» vezes quasi ar-
bóreo. Fl. na primavera. Originaria do Oriente e muito cul-
tivada em todo o paiz. — Videira T. Tlnlfera» !«•
A Videira é uma das maiores riquezas agrícolas do paiz ;
16*
244 M£UÁCEAS
•
coltíva-se largamente em todas as províncias, produzindo
^03 de vinhos diversíssimos e alguns d'elles de primeira
qualidade, conhecidos e acreditados em todo o mundo. A
cultura muito remota d'esta planta tem originado un nu-
mero quasi infinito de variações, cujos fructos se differen-
çam bastante na producçSo, no tamanho, na forma, na do-
çura, na época de maturação, etc. A Videira entre nós ji
ás vezes apparece sub-espontanea (lábrusca) e produz en-
tSo fructos mais pequenos, pouco saccharinos e bastante
uniformes.
As folhas da Videira (parras) são bom alimento para o
gado.
Nos últimos tempos tem-se introduzido na cultura euro-
pea algumas outras espécies do género Vitis, principalmente
de procedência americana, cujas raizes parecem ter a pro-
priedade de resistir aos ataques da phyltoxera, a que su^
cumbe a V. vinifera. Estas espécies oriundas da America
produzem vinhos pouco estimados aos paladares europeus,
notáveis por um sabor forte, muito particular, desagradável;
mas a cultura apenas lhes procura, ordinariamente, apro-
veitar as raizes, resistentes ao insecto, substituindo-Ihes a
parte aérea pela enxertia de garfos da Vitis vinifera.
Família LVn.— MEUÁCEAS, Juss.
Flores regulares, hermaphroditas, dispostas ordinaria-
mente em cachos compostos, terminaes ou axillares. Cálice
gamosepalo, com 4-5 divisões que alternam com outras tan-
tas pétalas livres. Estames em numero duplo do das péta-
las, inseridos com a corolla sobre um disco hypogynico;
filetes concrescentes completamente em um longo tubo até
ás antheras; antheras introrsas, longitudinalmente dehiscen-
tes. Ovário livre, plurilocular, com os loculos habitualmente
biovulados. 1 estylete. Fructo uma baga, ou drupa com o
MEUÁGEAS 245
caroço plurilocular, ou uma capsula loculicida. Sementes com
albumen; embrySo recto. — Arvores ou arbustos .das zonas
tropical e sub-tropical, com as folhas alternas, sem estipu-
las, impari- ou duplicado-pinnuladas.
■
Esta família botânica produz essências cujas madeiras são
muito estimadas; citaremos apenas, como mais conhecida
o Mogno (Swietenia Mahogoni) . Algumas das suas espécies
d3o fructos comestíveis e sementes oleaginosas.
Helía, L. — Cálice 5-fendido, herbáceo. 5 pétalas oblongo-
lineares. 10 estames. Drupa pequena ovóide ou globosa, com
o caroço escavado em 5 sulcos longitudinaes^ 5-locular, com
os loculos monospermos (fig. 41, Q, D).
CoroUa tilaz-azalada, tubo estaminai violaceo-escoro, antheras
amarellas; pétalas abertas para o lado em estrella. Inflores-
cencias axillares, com pedúnculos compridos. Drupas ovóide-
globosas (fig. 41, B), pouco carnudas,, amarellas na matura-
ção, reunidas em grandes paniculas. Arvore com as folhas
caducas, grandes, bipinnuladas (fig. 41, A), com os foliolos
oppostos, ovado-lanceolados, acuminados, glabros, irregular-
mente serrados. Fl, na primavera. Originaria da Syria e
índia Oriental; cultivada como arvore de ornamento. — Sy-
cômoro bastardo, melia, amargoseira, canteira.
II. jàsedaraeli» li»
.
Arvore de crescimento rápido, bastante vulgar em Por-
tugal, sobretudo empregada em alinhamentos. Os fructos
são adocicados, mas são drásticos e mesmo venenosos se
forem ingeridos em quantidade. As sementes são oleagi-
nosas.
246
i
Fig. il.—Melia AzedarMk, L.—J: folha (1:2). Btfníelo. — C. o mes-
mo cortado transversalmente para deixar varo caroço. — D: ocarofo
(1.1).
FamiUa LVni.— Ainu.NOti.CEAB, Corr.
Flores regulares, hermaphrodítas, solitárias ou dispostas
em cjmeiras ou panicnlas, terminaes ou laleraes. C3lic«
gamosepalo, corolla com 3-5 pétalas, livres ou adhereDtes
na base. Estames numerosos, inseridos com as pétalas so-
bre um disco bypogynico; filetes largos, livres ou mwia-
AUBANaACEAS 247
delphos, oa potyadelphos; aolheras tcnninaes, levantadas,
ÍDtrorsas. Ovário livre, multilocular, com os loculos 1-plu-
ríOYulados; 1 estylete; esllgma terminal sub-lobado. Frocto
bacciforme, multilocular, com o pericarpo coriaceo externa-
mente, glanduloso, e os loculos separados por diaphragmas
membranosos, cheios de cellulas fusiformes túrgidas de
polpa succulenta. Sementes sem albumen.^Arvores ou ar-
bustos quasi sempre glabros, ás vezes com espinhos axil-
lares fortes. Folhas persistentes, alternas, sem estipulas.
Citrus, L. — Cálice gomiloso 3-5-rendido. 5 pétalas. iO~
60 estames polyadelphos (fig. 42, A). Estigma semisphe-
ríco. Fructo grande, com 7-12 loculos, cada um dos quaes
contém muitas sementes.^ — Arvores ou arbustos, muitas ve-
zes com espinhos asillares verdes. Folhas simples* com o
peciolo mais ou menos alado (íig. 43, B). Pétalas e folhas
cheias de pontuações glandulosas, ricas em oleos-essenciaes.
Fig. 42.— Ciínii vulgaris, Risso. (1:1). A: flor.— B: folha.
t As folhas dos Citna devem considerar-s6 como folhas pinnuladu,
que tó apresentam desenvolvido o foliolo extremo. Este foliolo esU
articulado com o peciolo.
248 AURANaÁCEAS
Flores dispostas em cymeiras, ou solitárias, cheirosas. (Esr
pecies todas indígenas da Ásia tropical, e cultivadas, as ser
guintes, em toda a zona mediterrânea, algumas em largi
escala).
1
Casca do fructo muitíssimo grossa e muito rugosa. Polpa insi-"
pida S
Casca do fructo de ordinário mais delgadas menos rugosa. Polpt
muito mais abundante e mais succosa, doce ou acida 3
Inerme. Petaias brancas. Folhas pubescentes na pagina inferior;
limbo obtuso, chanfrado; peciolo largamente obovado. Fmcto
muito grande, sub-globoso, côr de oiro ou esverdinhado, com
a polpa insípida. Fl. na primavera. Pouco cvUitado. — Tth
ranja C* tf eeanuiBa* Im
Espinhosa. Pétalas avermelhadas externamente. Folhas glabras
com o limbo oblongo e o peciolo linear. Fructo, de ordinário,
grande, oblongo, amarellado na maturação (avermelhado pri-
meiro), com a polpa insípida, acidula. Fl, em quasi lodo o
anno. Pouco cultivado. — Cidreira.. €• MfNliea*
l Fructo sub-globoso, não mamilloso, amarello-doirado ou ama-
rello-avermelhado. Pétalas brancas 4
3 { Fructo oblongo, pyriforme ou sub-globoso, mamilloso no cimo,
amarello-pallido. Pétalas brancas ou externamente verme-
lhas 6
Polpa acida. Peciolo largamente obovado (fíg. 42, B). Yesicu-
las cortícaes concavas. Fl. em abril e maio. Bastante cuUi-
4 { vado. — Laranjeira azeda C. valgarls* Blaae*
Polpa doce. Peciolo muito mais estreito. Vesículas cortícaes con-
vexas 5
Fructo globoso, côr de oiro. Peciolo estreitamente obovado. Fl.
em abril e maio. Muito cultivado. — Laranjeira.
ۥ Aarantlom. BI
Polpa avermelhada. Laranja de sangue ou de Malta.
%'• Màni^iila
Fructo deprimido, amarello-avermelhado, muito doce. Peciolo
sub-linear. Fl. em abril e maio. Bastante cultivado. — Toií-
gerineira ۥ nfAilIa* li^art
fi
r
MALVÁCEAS 249
Fnicto oblongo, tendo no cimo um mamillo simples. Pétalas
avermelhadas externamente. Polpa muito acida. Vesículas
corticaes concavas. Fl. em quasi todo o anno. Muito culti-
vado. — Limoeiro. C* Eilmonam* Bl«««*
Polpa doce ou levemente acida. Vesiculas corticaes conca-
vas ou convexas. Menos cultivado. — Limoeiro doce.
Q{ V. lamla» Rlsiio.
Fructo com uma aureola deprimida na base do mamillo. Péta-
las brancas. Polpa doce. Fructo sub-globoso. Vesiculas cor-
ticaes concavas. FL em quasi todo o anno. Pouco cultivado. —
Limeira C. Umetia» Bisna.
Fructo maior e mais aromático, pyriforme ou deprimido.
\ Bergamotta ir«
As espécies d'este género s3o objecto de muito impor-
tante cultura em Portugal, especialmente a Laranjeira doce
e o Limoeiro azedo; os seus fructos, bem conhecidos, tem
um grande numero de empregos e exportam-se em bas-
tante quantidade. Os fructos das espécies menos succosas
ntilisam-se sobretudo em confeitaria. Das flores e das cas-
cas dos fructos, ricas umas e outras em oleos-essenciaes,
extraem-se productos importantes eitt perfumaria, na in-
dustria licorista, em pharmacia, etc. A madeira d'estas es-
sências é muito rija, e tem particular emprego para o fa-
brico de peças que tem de sofl^rer grandes attrítos.
Família LIX.— MALVÁCEAS, R. Br.
Flores regulares, quasi sempre hermaphroditas, dispos-
tas em ínflorescencias axillares, muitas vezes em cymeiras.
Cálice gamosepalo, com 5 divisões, persistente, acompa-
nhado ás vezes na base de um invólucro de bracteas (ca-
iiculo). 5 pétalas, alternas com os lóbulos do cálice, quasi
sempre reunidas pelas unhas com a columna estaminifera.
Estames numerosos, hypogynicos, com os filetes soldados
250 MALVÁGEAS
em um tobo que na base inclue o ovário. Ovário liyre 2-
multilocular, iuteiro ou lobado; carpellos verticillados em
redor de uma proeminência central do disco (carpophoro)
ou raras vezes reunidos sem ordem; estyletes adherentes
mais ou menos na base, incluídos no tubo dos estames. Fm-
cto formado de carpellos uniloculares, monospermos^ liares
(achenios), verticillados em redor do eixo central* ou adhe-
rentes entre si e constituindo uma capsula plurilocular com
debiscencia loculicida. Sementes sem albumen (raras vezes
com albumen); embryão recto ou curvo. — Plantas herbá-
ceas, arbustivas ou arbóreas, muitas vezes cobertas de pel-
los estrellados. Folhas alternas, pecioladas, simples, palmi-
nervadas e mm*tas vezes palmatilobadas ou palmatipartidas,
com estipulas livres, caducas.
A esta familia botânica pertencem varias espécies exóti-
cas cujas cascas fornecem uma filaça grosseira, que pode
servir para o fabrico de cordas e tecidos ordinários ; a ella
pertencem os Algodoeiros (Gossypium)^ cuja felpa macia e
comprida das sementes tem na industria um tão largo em-
prego. Em Portugal existem espontâneas bastantes espécies
d'esta familia, mas s3o quasi todas herbáceas; apenas dos
referiremos ás seguintes, do género Laoatera, por serem
lenhosas, que nenhuma tem importância florestal.
Lava^era, L. — 3 bracteas reunidas entre si na base, a
constituírem um caliculo grande, 3-fendido. Carpeljos verti-
cillados em redor de um eixo central. — Plantas herbáceas
ou arbustivas com as flores grandes, rosadas ou verme-
lhas. (Este género tem espontâneas em Portugal plantas
herbáceas e os seguintes arbustos):
Pedúnculos curtos, axillares, solitários. Gorolla vermelha, 3 re-
zes maior do que o cálice. Lóbulos do caliculo largos, arre*
dondado». Arbusto ou sub-arbusto estrellado-cotanilhoso, eom
1 ] as folhas inferiores e medias cordiformes 5-3-lobadas, e as sor
HYPERIGlNEAS 251
periores (floraes) sub-inteiras, esbranquiçadas em ambas as
paginas ou ao menos na inferior. FL em junho e julho. Se-
bes : Beira, Estremadura, etc Ij* Olbla» !«•
Pedúnculos axillares, fascicolados 2
/ Caliculo maior do que o cálice, quasi o dobro. Eixo central do
disco (carpophoro) pequeno, cónico. CoroUa vermelha, 3 ve-
zes maior do que o caliculo. Arbusto com os ramos estrellado-
pubescentes, as folhas inferiores cordiforme-orbiculares sub-
lobadas e as superiores 3-5-lobadas, estrellado-pubescentes
na pagina, inferior. Estipulas pequenas, caducas. FL em ju-
nho e julho. Sebes, sítios húmidos: Traz-os- Montes.
li. arbórea* li*
Caliculo metade menor do que o cálice. Carpophoro troncado e
com tantas expaxisões membranosas lateraes, verticaes, quan-
tos os carpellos. Corolla rosada, 2-3 vezes maior do que o cá-
lice. Arbusto pulverulento, estrellado-cotanilhoso, esbranqui-
çado, com as folhas cordiforme-orbicuiares, as inferiores in-
teiras e as superiores sub-3-lobadas, todas crenadas. Estipu-
las grandes, foliaceas. Fl, em junho e julho, Sitios arenosos:
Algarve li* trllolia» li*
Na linguagem vulgar confundem-se com o nome de Mal-
vas as plantas dos géneros Malva e Lavatera.
Família LX.— HYPERIOÍNEAS, DO.
Flores regulares, hermaphroditas, dispostas em cymei-
ras, simples ou reunidas em corymbos ou paniculas. Cá-
lice com 5 sepalas mais ou menos adherentes na base. 5
pétalas. Estames em numero indiíinido, hypogynicos, com
os filetes reunidos na base a constituírem 3-5 grupos; an-
theras introrsas, longitudinalmente dehiscentes. Ovário li-
vre, com 3-5 carpellos, 1-locular ou com 3-5 loculos incom-
pletos,* quasi sempre multiovulado. 3-5 estyletes filiformes.
Fnicto secco e dehiscente (capsula), ou carnudo e inde-
252 TAMARISCiNEAS
hiscente (baga). Sementes sem albumen; embryão recto oa
cnrvo. — Plantas herbáceas ou arbustivas, com as folhas op-
postas ou verticilladas, inteiras ou glanduloso-denticuiadas,
ás yezes crivadas de pontos transparentes, oleosos, ou com
glândulas negras.
Hypericum, L. — Pétalas amarellas, muitas vezes com
glândulas negras. Estames 20 ou mais, tri-pentadelphos.
Fructo bacciforme. Estames pentadelphos. Pequeoo arbusto gla-
bro, com as folhas grandes, «oriaceas, sesseis, obtusas, cor-
diforme-ovadas. Pétalas pouco maiores do que o cálice. Flo-
res pouco numerosas dispostas em cymeiras terminaes. R.
de julho a outubro. SUios húmidos e assombreados: Beira,
Estremadura, — Androsemo. . . H. Andronaemamt L.
Este pequeno arbusto não tem nenhuma importância flo-
restal. O género Hypericum tem no paiz muitas outras es-
pécies indígenas, herbáceas ou levemente lenhosas na base,
sub-arbustivas ; nenhuma d'ellas tem também importância
florestal. Àfóra o porte, todas se distinguem bem do An-
drosemo pelo fructo, que é uma capsula, e não uma baga
como n'este ultimo.
FamUia LXI.— TAMARISOINEAS, St. HU.
Flores regulares, pequenas, quasi sempre hermaphrodi-
tas, bracteadas, dispostas em espigas simples, cylindricas,
numerosas. Cálice ^amosepalo 4-5>partido. Corolla marcos-,
cente, com 4-S pétalas. 4-5-8-10 estames, inseridos com a
corolla sobre o disco hypogynico, com os filetes livres o«
adherentes. Ovário livre, 1-locular, multiovulado. 3-5 os-
tyletes. Capsula dehiscente em tantas válvulas quantos os
estyletes, polysperma. Sementes pelludas, com appendices,
com ou sem albumen; embryão recto. Arbustos (menos ve-
TAHARlSCiNEAS 253
les arvores) sempre-verdes, com as folhas pequenas, esca-
mirormes,carnudas,verde-azuladas, inteiras, alternas, muito
aproximadas, sem estipulas; ramos alongados, fazendo lem- -
brar do aspecto os dos Cyprestes (flg. 43, B). BotSes nús.
Tamarix, L.— Tamarguetra.—CAlke 4-5-fendido. Corolla
«RD 4-5 pétalas. 5 estames monadelphos na base. 3 esty-
letes. Capsula com 3 válvulas. Sementes com os appendi-
ces peUudos sesseis.
Estames salienl^s, com as anlberas apiculadas. Folhas muilo gla-
bras, dilatadas oa base, amplexicaales. Pétalas rosadas. Flo-
res globosas antes de abertas, em cachos oumerosos que gru-
pados semelham ama espécie de grande panicula (flg. 43, A).
Capsula pyramidal, atlenuada da base ao cimo. Arbusto. Ft.
emjanho ejulho. Areias da praia: Beira, Etlremadura, ele.
— Tamargueira ou tamariz T> Clalllca. Ii.
fig. 43.— Tomoníc GatUca, L. (1:1). A: ramo florifero.— fi: ramo fo-
lhoso.
254
cistíneás
Família LXn.— OISTIKEAS, DG.
Flores regalares, hennapbroditas, solitárias oa, qaasi
sempre, dispostas em cymeiras diversamente grupadas. Cá-
lice com 5 sepalas eguaes (fig. 44, G) ou moito desegaaes,
sendo as duas externas muito menores (fig. 44, E), ou ape«
nas com 3,4>eio aborto das restantes (fig. 44, D). 5 pet^das
(fig. 44, F) livres, muito fugaces. Estames numerosos dispos-
tos em um ou mais verticillos, inseridos com a corolla sobre
um disco hypogynico; antberas introrsas, longitudinalmente
dehiscentes. Ovário livre, formado por 3-5 carpellos (raras
vezes 6-10) adherentes nas margens, unilocular ou incom-
pletamente 3-5-6-10-locular; óvulos numerosos. Estylete
Fig. 44. — A\ Capsula do Cutva crisput, L. (1:2). JB: Capsala do
mium occidentale, Wk. (1:2). C: Cálice do Cistus crispus, L. (i:i)*
D: Cálice do Halimium ocdderUale, Wk. (1:1). E: Cálice do Bidh
mium halinUfoliim, Wk. (1:1). F: Flor do Halimium oeddetUak,^
(1:1). H: Semente do Halimium erioeephalum, Wk. (qiiasi 1:2).
asTíNEAS 255
simples ou nullo. Capsula loculicida, polysperma, envolvida
pelas sepalas ou livre, dehiscente em 3-5-6-10 válvulas
(fig. 44» B, A). Sementes com albumen; embrySo curvo, de
ordinário. — Plantas arbustivas, sub-arbustivas ou herbá-
ceas, com as folhas simples, inteiras, oppostas, ás vezes
adonadas na base, raras vezes alternas, sesseis ou, em me-
nos casos, pecioladas, com, ou sem estipulas.
Ãs Cistineas encontram-se em grande abundância no nosso
paiz, como já dissemos, preponderando muitas vezes nos
terrenos seccos, descobertos, pedregosos, assim como nos
solos das matas; em muitos sitios apparecem sociáveis, isto
é, muitos indivíduos de uma só espécie cobrem grandes
áreas. São bastante numerosas as espécies indígenas, mas
nem todas tem a ipesma importância florestal. As de maio-
res proporções são arbustos e sub-arbustos pertencentes
aos géneros Cistus e Halimium; as espécies do género Tu-
beraria são herbáceas, annuaes ou perennes, com rhizomas
lenhosos; as do género Helianthemum são plantas annuaes
ou muito pequenos sub-arbustos, sem nenhuma importân-
cia; e o mesmo diremos das espécies sub-lenhosas do gé-
nero Fumana. Por esta razão apenas nos referiremos áquel-
les dois primeiros géneros.
As Cistineas teem grande facilidade em se cruzarem en-
tre si, produzindo numerosos hybridos, cuja descripção está
fora da indole d'este trabalho.
Algumas plantas d'esta familia são aromáticas e segre-
gam pelos rebentos e pelas folhas uma gomma-resina muito
cheirosa, o ladanum.
Capsula 6-10-localar, com outras tantas válvulas (fig. 44, A)«
Cálice, de ordinário, com 5 sepalas sub-eguaes, (fig. 44, C)
. mas ás vezes com 3 Clstas (pag. 256)
Capsula 3-localar, com 3 válvulas (fig. 44, B). Cálice com 3
sepalas (fig. 44, D), ou com 5, sendo duas muito menores
(figv44, P) 2
256 cistíneas
Estylete nallo ou muito curto. Sepalas não nen^adas ovobsole-
^1 tamente nerradas 3
Estylete filiforme, comprido. Sepalas com 3-4-5 nervuras lon-
gitudinaes salientes 4
Arbustos ou sub-arbustos. Estamos dispostos em vários verti-
cillos. Funiculo da semente filiforme (fig. 44, H).
, naliniinm (pag. 2S9)
Plantas herbáceas, annuaes ou perennes. Estamos dispostos em
1 só verticillo. Funiculo da semente em forma de clava.
Tol»erarla«
Estamos todos férteis. Estigma discoide . Hellantlieii
4 \ Estamos externos estéreis, com os filetes nodosos. Estigma 3-
lobado Fnmana.
Cístus, Tourn. — Esteva. — Cálice com 5 sepalas sob-
eguaes, palminervadas (fig. 44, C), menos vezes com 3 se-
palas. 5 pétalas largas, abertas para os lados, ás vezes
moito grandes. Estames numerosos, todos férteis, dispos-
tos em muitos verticlllos. Ovário 5- raras vezes lO-locular.
Estylete recto, comprido, menos vezes sub-nullo; estigma
grande, discoide, 5-, raras vezes 10-lobado. Capsula com
S, raras vezes 10 válvulas, pdysperma (fig. 44, A). Se-
mentes com o funiculo filiforme. — Arbustos ou sub-arbus-
tos sempre-verdes, com as folhas oppostas, sem estipulas.
! Pétalas vermelhas, ou rosadas. Estylete quasi do tamanho dos
estamos. 5 sepalas sub-eguaes i
Pétalas brancas. Estylete curto ou sub-nuUo 4
Folhas pecioladas (as do cimo sesseis, adunadas); peciolos dila-
tados na base, sub-entumecidos, adunados. Folhas ovadas oa
arredondadas, um pouco onduladas, rugosas na pagina sape-
rior, e na inferior esbranquiçadas. Flores grandes, rosadas ou
2 { vermelhas, pedicelladas, quasi sempre dispostas em cymeiras.
Capsula oblonga, muito felpuda. Arbusto esbrauquiçado, fd-
pudo-cotanilhoso. Fl. em maio. Sebes, etc: Beira {arredores de
Coimbra) — (C. villosvs, L.). €• polymorplins» WIC*
Folhas todas sesseis 3
4
6
gistíneas 257
I Folhas planas, não adunadas na base, esbranquiçadas, cotani-
Ihosas em ambas as paginas, macias, ovado-oblongas ou elli-
pticas. Pétalas rosadas. Flores pedicelladas, nuas, solitárias
ou dispostas em cymeiras. Capsula ovóide, assetinado-pel-
luda. Fi. de abril a junho. Outeiros calcareos: Beira, Estre-
madura, Aíemtejo, etc. — Roselha grande . €• allildas* li*
Folhas crespo-onduladas nas margens, adunadas na base, ver-
des, hirsutas, oblongas ou ellipticas. Pétalas vermelhas. Flo-
res sub-sesseis, fasciculadas no extremo dos ramos, envolvi-
das pelas folhas superiores. Capsula oblonga, pelluda. Fl. em
abril emaio. Outeiros calcareos, sebes, matos: Beira, Estre-
■
I madura, 4^emtejo, Algarve, etc €• erispuM» Ta.
5 sepalas 5
3 sepalas /. . '. 8
! Folhas sesseis, 3-5-nervadas 6
Folhas mais ou menos pecioladas, penninervadas 7
Capsula globosa, glabra, lustrosa, dehiscente apenas no cimo.
Folhas estreitamente lanceoladas ou lineares, planas ou com
os bordos enrolados, levemente adunadas na base, as cauli-
nares com 3 nervuras longitudinaes e as floraes (ovado-apu-
çadas) com 5 nervuras. Pedúnculos mis, terminaes e axilla-
res. Cymeiras unilateraes, scorpioides, com 3-10 flores. Pe-
dicellos e cálices muito hirsutos. Arbusto viscoso. Fl. de abril
çA a junho. Frequente nos campos seccos, matos, pinhões, etc:
Beira, Estremadura, Alemtejo. ۥ Monspellenuiii* Ei.
Capsula pentagonal, estrellado-cotanilhosa, dehiscente até á base.
Folhas ovado- ou elliptico-lanceoladas, ásperas superiormente,
trinervadas. Pedúnculos vestidos com bracteas alternas, folia-
ceas. Flores terminaes, solitárias ou end cymeiras. Bracteas,
pedicellos e cálices longamente hirsutos. Arbusto viscoso. jF?.
em abril e maio. Sebes, campos: Minho, Douro, Beira ^ Es-
tremadura, etc. — (C. laxus^ Brot,) . C. lilrsii tus» liam.
Peciolos curtos. Folhas estrellado-cotanilhosas nas duas paginas,
rugosas, as caulinares ovadas ou ovado-oblongas, as floraes
7| bracteformes, sesseis. Pedúnculos compridos, nús (com fo-
c. s. — ^v. u. 17
258
GISTfNEAS
lhas só na base), sapportando 1-5 flores. Capsula troneada,
pulverulenta. Arbusto muito rauioso, com os ramos novos,
pedúnculos e sepalas estrellado-cotanilhosos. Fl. de abra a
julho. Outeiros, sebes, matos, pinhões, etc: em tadoojxúz,
frequente ^C. •alviaerollvs* L.
Peciolos compridos. Folhas glabras em ambas as paginas, cor-
diforme-ovadas, acuminadas. Pedúnculos bracteados (bra-
cteas caducas), supportando 2-5 flores. Capsula o voide-oblon-
ga, pentagonal, com alguns pellos. Arbusto aromático, viscoso.
Fl. em maio e junho. Traz-os- Montes, Beira, Alemtejo, Al-
garve.— Estevão C. popalIfollaiuL.
Folhas grandes e largas, lanceoladas, 3-nervadas. Flores gran-
^ j des (8-16 cenl. de diâmetro) 9
Folhas estreitas, lineares, 1-nervadas, com as margens enrola-
das, sesseis, adunadas na base. Flores pequenas ... 10
j Folhas pecioladas, ovado-lanceoladas, acuminadas, glabras na
pagina superior, e esbranquiçadas, cotanilhosas, na inferior.
Capsula ovóide, muito felpuda, com o válvulas. Flores 2-8
dispostas em cymeira, quasi sub-verticilladas. Pétalas bran-
cas, maculadas de amarello perto das unhas. Arbusto maito
viscoso, aromático. Fl. em junho e julho. Matos, campos in-
cultos. TraZ'OS'Montes ۥ laurifollufl* li*
Folhas suh-sesseis, lanceoladas ou linear-lanceoladas, na pagina
9 ( superior glabras e na inferior esbranquiçadas, cotanilhosas.
Capsula globosa, pulverulento-eotanilhosa, com 10 válvulas.
Flores solitárias; pedúnculos bracteados. Pétalas brancas, le-
vemente amarelladas próximo das unhas (y. albiflorus, DC),
ou com uma grande mancha vermelho-sanguinea {v. moeu-
latas, Dun.). Arbusto aromático e muito viscoso. FL de abril
a junho. Matos, bosques, sebes, etc frequente em todoopaiz.
— Esteva, xára {em Traz-os-Montes),
€• ladanirervs» Ii«
1 0 numero 4las flores em cada pedúnculo, a forma das* áepalas, etc,
caracterisam variedades cuja distincçSo nem sempre nos parece maito
nítida, 6 que por isso nSo mencionámos.
GISTÍNEAS 259
Pedúnculos, pedicellos e cálices pubescentes durante a floração
e depois sub-glabros. Flores reunida^ em cymeiras de 3-5,
no principio sub-capitadas e envolvidas por bracteas caducas.
Capsula oblonga, pentagonal, lustrosa. Arbusto viscoso. Fl,
.^ I em maio, {Entre Chão dè Maçãs e Paialvo, seg, Toum.)»
€• Clusil» Dmi*
Pedúnculos, pedicellos e cálices glabros, viscosos. Inflorescen-
cia como a anterior. Capsula ovoide-globosa, assetinado-pul-
verulenta, Fl. de abril a junho. Sitios arenosos, pinhaes, etc:
Algarve C. Bourgaeanus» Ccmíií»
Halimium, Dun. — Cálice com 3 sepalas (flg. 44, D) ou com
4-5, sendo 1-2 muito pequenas (flg. 44, E); sepalas sem
nervuras salientes. Pétalas brancas ou amarellas. Estames
numerosos dispostos em muitos verticillos. Estylete curto
ou sub-nuUo. Capsula com 3 válvulas (flg. 44, B). Semen-
tes com funiculo comprido, filiforme (flg. 44, H). — Arbus-
tos e sub-arbustos com as folhas oppostas, sem estipulas.
Pedúnculos bracteados, flores medíocres (flg. 44, F), dis-
postas era cymeiras. ^
Folhas estreitas, lineares. Pétalas brancas ou amarello-palli-
das 2
Folhas largas, ovadas ou ellipticas. Pétalas amarellas ou doira-
das, maculadas ou não. 3 sepalas, ou ás vezes 3 sepalas gran-
des e 1-2 mais pequenas. 3
/
Pétalas brancas. Flores verticillado-cyraosas no extremo dos ra-
mos e duas flores na axilla das folhas superiores. Capsula
ovóide, accuminada, pulverulenta. Pequeno arbusto com as
folhas planas, superiormente pelludas ou glabras, inferior-
mente esbranquiçadas. Ramos, pedicellos e cálices pulveru-
lentos e pelludos, ás vezes viscosos. FL em junho e julho.
Serra do Gerez. — {Cistus umbellatus, Brot.).
H. iiiiil»ellatiiiift« (Ii«) flpaclà K
1 F. víUgare, Wk.
17 #
260
aSTlNEAS
\
/
\
Folhas com as margens enroladas, sub-cylindricas. Planta
viscoso -pubescente. Na Beira montarãioM {Castdlo
Branco, etc) v. wtscosam» IVIc.
Folhas planas, glabras na pagina superior, e cotanilhosas
esbranquiçadas na inferior. Flores cymoso-verticiUada^
em muitos entre-nós. Fl, de moio a julho. Terras uc-
cos: TraZ'08'Monte8, Estremadura, ete. — (Cistusver-
ticillatus, Brot.). . . « . . w. i^erilcillafiiiii» V¥U,
Pétalas amarello-pallidas. Flores terminaes e axillares, solitá-
rias ou em cymeiras de 2-3. Capsula suh-globosa, estrellado-
pulverulenta. Folhas glabras na pagina superior, verdes e lus-
trosas, e na inferior esbranquiçadas, quasi semelhantes ás do
Alecrim. Pequeno arbusto muito ramoso. FL em fevereiro e
março. Frequente nas areias : Beira, Estremadura, Algarve.—
{CistusLibanotiSy L. e Brot.) . H» Iiil»aiioii«« {Ia.) I4pe.
Folhas de duas formas : as dos ramos floriferos sesseis, verdes,
distantes, planas, 3-nervadas na base, lanceoladas ou oblon-
gas, caducas depois da fecundação: as dos ramos estéreis
muito menores, pecioladas, obovadas, esbranquiçadas, i-ner-
vadas, persistentes. Pedicellos compridos; panicula terminal
comprida e frouxa. 3 sepalas. Pétalas quasi sempre macula-
das de vermelho-escuro na base. Capsula oblonga, pulveru-
lenta. Arbusto. FL em maio e junho. Terras seccas, pinhaes,
etc. — {Cistus ocymoides, Lam. eBrot.).
H. ocymoides, (I^am.) IVU*
Tronco e ramos levantados. Folhas de ordinário agudas,
as dos ramos estéreis pequenas, dobradas ao meio. Beiray
Estremadura, Alemtejo, etc. . . ir. erecfum» HWU»
Tronco prostrado e ramos remontantes. Folhas quasi sem-
pre obtusas, as dos ramos estéreis maiores e planas. Al'
garve, Alemtejo, etc. . . . v. procumbeii»* Tirk*
Folhas todas proximamente da mesma forma : as da estremidade
(floraes) sesseis, as restantes mais ou menos pecioladas. . 4
Sepalas (pulverulentas ou com pellos estrellados) sem pdlos
compridos simples (íig. 44, E). Estylete curto 9
Sepalas sempre com pellos simples compridos, mais ou menos
numerosos (fig. 44, D). Estylete nullo 6
CISTfNEAS 261
; Sepalas brancas, pulverulentas (só 3, ou 3 grandes e 1-2 mais
pequenas). Flores numerosas, paniculado-cymosas. Pétalas
negro-maculadas, raras vezes immaculadas. Arbusto muito
ramoso, com as folhas planas obovado-lapceoladasouellipti^-'
oblongas, com 3 nervuras obsoletas, esbranquiçadas em am-
Ibas as paginas, pulverulentas, assim como os ramos. Capsula
ovoid^, pulverulenta. FL em junho e julho, Pinhae$y terras
arenosas^ matoSy etc: Região littoral da Beira, Estremadura
e Alemtejo. — Sargaça. (Cistus halimifolius^ L. e Brot.),
H. liallmifoliuiii» (li.) VITÊL.
»l Sepalas brancas, pulverulentas e simultaneamente com pellos
\ esirellados (3 maiores e 2 mais pequenas) . Pétalas côr de oiro^
negro-maculadas. Inflorescencia como a anterior. Folhas sub-
1-nervadas, cinzento-esverdinhadas, pulverulentas. Capsula
turbinada, pulverulenta. FL em maio, Alemtejo e Algarve,
i<H. mnltifloraiii» \Hc.
Folhas pequenas, um pouco dobradas ao meio; pedúnculos
menores. Flores sub-envolvidas por bracteas foliaceas.
Sepalas menores sub-eguaes ás maiores. Fl. em junho e
julho. Terras seccas. Beira montanhosa. — (Cistus tn-
volucratus, Lam. e Brot.),
T. mieropliylliiin» liHb:*
Pétalas maculadas de vermelho-escuro não na base mas no Vs
inferior. 3 sepalas, crespo-pubescentes e simultaneamente com
pellos compridos. Folhas adultas esverdinhadas (as do cimo
mais largas 3-nervadas, as inferiores 1-nervadas), com pellos
estrellados na pagina inferior e pellos simples na superior.
Flores axillares no extremo dos ramos, grandes, em cymei-
i
1 O st. Daveau, que terminou ha muito pouco tempo o estudo das
Cistineas portuguezas, e que reuniu para isso um grande numero de
exemplares, mostrou-nos formas de transição táo graduaes entre o K
halimifolium e o H. multiflorumy e entre o H, occidentale e o H. erioce-
phalum, adiante descriptos, que na verdade, em presença d'esses inter-
médios custa bem a admittir a conservação de todas ^stas espécies; e
muito mais se nos lembrarmos que mesmo as distincçOes entre os ty-
pos extremos são principalmente baseadas na forma do tomento, isto
é — sobre um caracter varíabilissimo com as condições do meio.
262
GAPPARfDEAS
61 ras de 3-5. Ramos novos lanosos e com pellos compridos,
brancos. Fl, em abril e maio. Algarve {seg. o sr. Daveau).
H. formoiiiaiii» Iflc»
Pétalas immaculadas ou maculadas próximo da base 7
/ Sepalas (3) com pellos estrellados e pellos compridos simulta-
\
neamenle. Folhas verde-acinzentadas, com pellos estrellados
em ambas as paginas. Flores axillares no extremo dos ramcsj
solitárias ou em cymeiras de 2-3. Pétalas immaculadas. Pe-
queno arbusto com os ramos, pedúnculos e pedicellos lepro-
so-cotanilhosos e com pellos compridos. Fl. em junho e julho.
Região norte. — (Cistus scabrosus^ Ait. e Brot.).
H» occidentale» lll£ ^
Folhas crespo-denliculadas, verdes na pagina superior, e
esbranquiçadas na inferior. Minho^ Beira.
V. mg^oMuin* l¥k.
3 sepalas grandes e 2 mais pequenas. Folhas brancas em
novas. Regiões medip e noFte. — {Cistus ckeiranthoiiei,
Lam. e Brot.) t« Incannin» Wk.
Sepalas (3 só, ou 3 maiores e 1-2 menores) com pellos compri-
dos assetinados. Folhas acinzentadas em ambas as paginas,
pulverulentas, ou com pellos simples ou estrellados. Flores
axillares, dispostas J-5 em pequenas cymeiras. Pétalas ma-
culadas de vermelho ou immaculadas. Pequeno arbusto com
os ramos pulverulentos, ou com pellos estrellados ou asseti-
nados. FL de maio a julho. Terras seccaSy pinhaes, maios:
Alemtejo. — {Cistus lasianthusy Lam. e Brot.).
erloceplialum* 1V1£*
FamiUa TiXTIT. -OAPPARÍDEAS, Jnas.
Flores hermaphroditas, raras vezes dioicas, regulares ou,
menos vezes, irregulares. 4 sepalas, raras vezes 5. Peia-
las 4, ou nuflas. Estames 4, ou em numero indefinido, in*
F. vulgare, Wk.
CAPPARlDEAS 263
seridos na base, ou no cimo do eixo receptacular mais ou
menos desenvolvido, ás vezes muito comprido. Ovário ses-
sil ou pedicelJado, l-locular ou dividido em 2-8 loculos por
falsos tabiques. Estylete curto ou nullo, raras vezes com-
prido, flliforme, ou 3 estyletes curvos na extremidade. Fru-
cto siliqueforme, dehiscente em 2 válvulas, ou bacciforme,
indehiscente. Sementes sem albiunen, ou com pequeno al-
bumen; embryão arqueado ou curvo. — Hervas ou arbus-
tos, com as folhas (|uasi sempre alternas, simples ou digi-
tadas; estipulas ás vezes transformadas em espinhos, ou-
tras vezes nuUas.
Capparis, L. — Alcaparra, — Cálice 4-partido. com as laci-
nias caducas. 4 pétalas eguaes, abertas em cruz, e sem
unhas. Estames numerosos. Ovário inserido sobre nm lonffo
supporte; estigma sessil. Fructo bacciforme, carnudo, po-
lyspermo; sementes reniformes.
Arbusto com as follias alternas, ovadas, oblongíis ou sub-íirre-
dondadas; peciolos curtos. Estipulas transformadas em espi-
nhos curtos, persistentes, curvos (ou nullas). Flores solitárias,
axillares, grandes, còm pedúnculos compridos; sepalas her-
báceas, ás vezes avermelhadas; pétalas brancas. Filetes com-
pridos, violáceos, assim como o pistillo; antheras amarellas.
Baga em forma de clava, inserida sobre um su|)porte muito
comprido. FL em jvnhoe julho. Cultivado nos jardins e sub-
espontâneo (?) nas provindas do sul: muros velhos y tampos
seccos, etc. — Alcaparra G. spinoiia* li.
Os botões novos e os fructos doesta planta sâo comestí-
veis; empregam-se em conserva de vinagre. A famiha das
Capparideas tem ainda no género Ckome (fructo silique-
forme, 6 estames, etc.) um representante herbáceo na nossa
flora (C. violácea, L.).
264 BERBERÍDEAS
FamiUa LXIV.^ BERBERÍDEAS, Veut.
Flores hermaphroditas, regulares. Cálice com 6 sepalas
dispostas em dois verticillos. 6 pétalas, em dois verticillos,
oppostas ás sepalas, com a miha biglandulosa. 6 estames
oppostos ás pétalas, livres, hypogynicos, com as antheras
biloculares, dehiscentes por válvulas. Ovário superior, li-
vre, 1-locular; estigma discoide, sessil ou sub-sessil. Fni-
cto bacciforme ou capsular. Sementes com albumen; em-
bryão recto. Hervas pereunes ou arbustos, com as folhas de
varias formas.
Berberis, L. — Berberis.'— Flores amarellas dispostas em
cachos termiuaes (nos rebentos lateraes). Sepalas petaloi-
des com 3 bracteolas na base. Filetes providos de 2 den-
tes no cimo. Ba^a oblonga, com 2-3 sementes. — Arbustos
com as folhas simples, mucronado-serradas, pecioladas, al-
ternas, algumas transformadas em espinhos simples ou 3-5
partidos, de cujas axillas nascem rebentos curtos com fo-
lhas fasciculadas.
Ramos glabros. Espinhos 3-5-partidos, muito menores do' que
as. folhas. Folhas obovadas, gl abras, attenuadas em peciolo
curto. Cachos simples, pendentes, multiflores, maiores do que
as folhas. Pétalas concavas; estigma sessil. Baga vermelha.
Fl, de maio a julho. Cultivado nos jardins e ás vezes sub-es-
pontaneo [muito pouco frequente). — Berberis, uva-espim.
!!• valsará»» !«•
Esta espécie é pouco commum entre nós, e apenas se
cultiva como planta de ornamento. A sua presença nas pro-
ximidades das searas pode ser bastante nociva, porque a
ferrugem dos cereaes é produzida por diversos fungos, per-
tencentes todos ao género Puccinia, cujo cyclo completo de
RANUNGULÁCEAS 265
yegetaçSo, para se realisar, necessita a comparência de ou-
tras phanerogamicas sobre as quaes tem de pasSar mna das
suas phases, e exactamente a P. Graminis, Pers., precisa
para isso encontrar as folhas do Berberis,
Mas, se a presença do Berberis pode constituir um perigo
na visinhança dos cereaes, devemos todavia acrescentar,
que outras Puccinias existem, semelhantes á P. Graminis
nos effeitos, e que completam o cyclo da sua vegetação,
n3o sobre o Berberis, mas sobre outras plantas; assim a
P. Straminis^ De By. , completa-o sobre as folhas de varias
Borragineas, e a P. coronata. Corda, sobre as folhas de al-
guns Rhamnus. É mesmo muito provável que estas ultimas
Puccinias sejam as mais vulgares em Portugal; só assim
se explicará o tamanho desenvolvimento que, em alguns
annos, adquire a ferrugem nas searas, sendo tão pouco vul-
gar, como é entre nós, o Berberis.
FamiUa LXV.— RANUNGULÁCEAS, Jaas.
Flores hermaphroditas regulares ou, menos vezes, irre-
gulares. 3-6 ou mais sepalas (de ordinário 5), quasi sem-
pre caducas, ás vezes petaloides. Gorolla ordinariamente
com tantas pétalas quanto as. sepalas, alternas, ás vezes
•nulla. Estames em numero indefinido, livres, hypogynicos;
antheras introrsas ou extrorsas, longitudinalmente dehis-
centes. Carpellos 1-10 ou, quasi sempre, em numero inde-
finido, livres, raras vezes adherentes na base, produzindo
outros tantos fructos distinctos, monospermos, indehiscen-
tes (achenios), ou dehiscentes e polyspermos (folliculos), ra-
ras vezes reunidos n'uma capsula ou uma baga. Sementes
com albumen. — Plantas herbáceas quasi sempre, menos ve-
zes lenhosas, ás vezes sarmentosâs e trepadoras, com as
folhas alternas ou, raramente, oppostas, de ordinário sem
estipulas. Plantas com suecos amargos e cáusticos, ás ve-
266 RANUNCULÁGEAS
zes tóxicos, mas que geralmente se volatilisam pela dis-
secação.
A familia das Ranunculácectò está representada no nosso
paíz por muitos géneros e espécies quasi todas herbáceas.
Algumas espécies cultivam-se nos jardins como plantas de
ornamento, outras são medicinaes. Um género único apre-
senta em Portugal espécies lenhosas, e esse mesmo não
tem nenhuma importância florestal; é o seguinte:
Clematis, L. — Flores dispostas em cachos compostos, ra-
ras vezes solitárias, grandes. Cálice regular, com 4-5 se-
palas, coradas, petaloides. Pétalas nullas. Carpellos nume-
rosos, hvres, 1 -ovulados, produzindo outros tantos ache-
nios terminados pelo estylete desenvolvido em arista com-
prida, plumosa, contorcida, raras vezes curta e imberbe.
Arbustos sarmentosos. raras vezes hervas perennes ou sub-
arbustos; folhas oppostas, quasi sempre compostas, raras
vezes simples, com os peciolos volúveis ou transformados
em gavinhas.
Flores solitárias, providas de um invólucro de 2 bracteas sol-
dadas entre si. Sepalas brancas, a^setinadas externamente.
Achenios com grande arista plumosa. Caule comprido, le-
nhoso, sarmentoso; peciolos das folhas do anno anterior vo-
lúveis. Folhas muito polymorphas, fasciculadas, ovado-agu-'
das, inteiras, dentadas, lobadas ou tridivididas. FL de novem-
bro a março, Sebes, etc. Algarve: .... C* clrrlioMi* h*
Flores sem invólucros de bracteas. Peciolos volúveis i
j Achenios terminados em arista curta, glabra, não plumosa. Flo-
res solitárias, terminaes e axillares, pendentes, com os pe-
dúnculos compridos. Sepalas violáceas ou avermelhadas, co-
tanilhosas externamente, abertas para os lados. Arbusto sar-
mentoso, com as folhas bipinnuladas ou biternatidivididas, e
os segmentos ovado-agudos. FL em junho e julho. SAes:Es-
2 / tremadura, etc; cultivada nos jardins. €• Viticella* !<•
RANUNGULÁCEAS 267
2 \ Flores pequenas, com pednncnlos curtos. Sepalas campa-
nulado-abertas, esbranquiçado-avermeJhadas. Segmen-
tos das folhas menores do que no typo; folhas floraes pe-
quenas, 3-divididas. Sebes: Beira jCtc,
w. campanlflora» Brot* (como esp.)
Achenios terminados em arista comprida, plum^sa. Flores reu-
nidas em cachos compostos \ 3
Folhas pinnuladas, com os segmentos ovados ou cordiformes,
inteiros ou inciso-crenados. Sepalas brancas, felpudas em am-
bas as paginas. Flores inodoras. Arbusto sarmentoso. Fl. no
estio. Sebes : região norte {Beira , etc.) — Sipó do reino ou vide
branca C Vltallia» li.
Folhas bipinnuladas, com os segmentos inteiros ou sub-triloba-
dos, muito polymorphos. Sepalas brancas, glabras interna-
mente, pubescentes externamente. Flores mais ou menos chei-
rosas. Arbusto sarmentoso. Fl. em julho e agosto. Sebes: Al-
garve C« Flaminulat Ij.
APPENDIGE
(Pag. 36) — O plnbelro dos plnlidefi mollare»»
Dizemos no texto, que as sementes do pinheiro manso
teem o tegumento duro (pinhões durazios) ou delgado e frá-
gil (pinhões mollaresj . Estes últimos pinhões são muito mais
raros do que os primeiros, e por isso mesmo pouca gente
os conhece.
Qual é a origem dos pinhões mollares ? São produzidos
por alguma forma ou variedade do Pinus Pinea, L., ou re-
presentam apenas um phenomeno accidentaL e pode, a
mesma arvore, conforme as circumstancias variarem, pro-
duzir ora pinhões de tegumento duro, ora pinhões de te-
gumento frágil?
Brotero, na Flora Lusitanica, impressa em 1804, escre-
veu o seguinte, a propósito do pinheh-o manso: — «Occurit
«varietas in Beira babitu undequaque similis; ejus tamen
«nuces testa fere coriacea donatae ita, ut digitorum pressu
cfacile confringantur ; bas pinhões moUares Lusitani vocant».
(Flor. Lusit., vol. n, pag. 286).
270 APPENDICE
Mais tarde, Brotero parece ter modificado esta sua opi-
nião, porque na Historia Natural dos Pinheiros, Larica e
Abetos, impressa em 1827, diz na pag. 12: — «Na Beira e
«na Estremadura dá-se também a alguns dos pinheiros man-
«sos o nome de mollares, por se acreditar que as suas pi-
«nhas produzem pinhões de casca tao molle, que se pode
«facilmente quebrar apertada entre os dedos; mas, segundo
«muitas pessoas fidedignas possuidoras de taes pinheiros
«me tem assegurado, estes pinhões s5o extrahidos da parte
«inferior das pinhas, que não tem chegado ao perfeito grau
«de madureza, porque deixadas estas perfeitamente ama-
«durecer, e eguahnente os seus pinhões, a casca d'estes
«fica emfim tão dura, como ordinariamente costuma ser a
«dos bem maduros. . . >
Esta asserção de Brotero, que, como elle confessa, é ba-
seada em informações estranhas, e não o resultado de ob-
servação própria, tem sido ultimamente transcripta em va-
rias obras hespanholas.
Assim, o sr. D. Máximo Laguna, no 1.^ vol. da sua ma-
gnifica Flora Forestal Espafidu (1883), refere-se largamente
a este assumpto, na pag. 59, dizendo o seguinte: — «Con
«el nombre de Pinus pinea var. fragilis (Nouv. Duh., V.
«pág. 242) se describe en varias Floras un pino que solo
«se diferencia dei pino pinonero comun en que la cascara
«de sus pinones cede y se abre fácihnente sin más que apce-
«tarla entre los dedos; segun datos recibidos de los Inge-
«nieros D. Silvano Crehuet y D. António Garcia Maceira,
«se encuentra todavia, aunque escaso, este pino en los pi-
«nares de Cebreros (Ávila) y en los de Mieza (Salamanca);
«tanto en Espana como fuera de ella, suele ballar-se mez-
« ciado en ejemplares aislados y nunca abundantes y mui
«rara vez en pequenisimos rodales, con el tipo de la espe-
«cie; Uàmasele aqui pino ufíal ó pino de pifion blando, y ^
«Portugal pinheiro moUar; y en verdad que el conocido bo-
«tànico português Félix Avellar Brotero ni aún como varie-
APPENDICE 271
cdod ó forma distinta de la espécie P. pinea lo admitia, se-
€gun se deduce de lo que dice en la pág. 11, de su His-
floria dos Pinheiros (Lisboa, 1827) y que copiamos, sin
tasentir por eso á lo que Brotero defiende». (Segue a tran-
scripçâo de Brotero, que já acima apresentámos).
O sr. D. Felipe Romero y Gilsanz na sua recente mono-
graphia do pinheiro manso (El Pino Pifíonero en la provin-
da de Valladolid, 1886) exprime-se quasi do mesmo modo.
Com eflfeito, escreve, a pag. 30: — «Antes hemos expresado
«que la cascara dei pmon se presenta dura e lenosa, mas
«no debemos conchiir este capitulo sin anadir que en algu-
«nas Floras se describe como una variedad dei pino pino-
«nero un Pintis pinea var. fra^ilis (Nouv. Duh., V. pag. 242),
«que se distingue dei comun aolamente en que la cascara
«de sus pinones cede y se abre facilmente sin más que
«apretarla entre los dedos. Ningmi ejemplar sabemos que
«se haya encontrado en la província de Valladolid que reúna
«semejante circunstancia, no obstante de hallarse en los pi-
«nares de Cebreros de su inmediata Ávila y en los de Mieza
«de su colindante tambien de Salamanca, segun noticias
«suministradas à los autores de la Flora Forestal Espano la
«por el sr. D. Silvano Crehuet, prematuramente arrebatado
«de la vida y que fué nuestro querido jefe, y por el sr. D.
«António Garcia Maceira, compaiiero igualmente nuestro de
«reconocida inteligência. La variedad mencionada que en
«Espana és conocida con el especifico de pino ufíal ó pino
€de pinon Mando, se la reconoce tambien com el nombrje
«de Pinheiro moUar en el vecino reino de Portugal; sin
«embargo, el conocido botânico de este pais, Félix Avellar
«Brotero, que la discribe en su obra, Historia dos Pinhei-
€roSy no la admite como variedad ó forma distinta de la es-
«pecie P. pinea, fundándose, sin duda, en informes para
<él fidedignos aseguràndole que los pinones de cascara
«blanda han sido extraídos sin madurar de Ia parte infe-
«rior de las pinas, más que dejando aquellas hasta el per-
272 APPENDIGE
«fecto grado de madurez Uega á adquirir sn cascara ignal
«dureza que la que tienen los completamente fcMmadosen
cios piBos de Ia espécie en general».
Os srs. Willkomm e Lange, no Prodromus Florae Hispa-
nicde, quando tratam do pinheiro manso não se referem a
esta questão, e, ou nâo encontraram o& pinhões mollares ovl
não os julgaram dignos de indicação. Suppomos muito mais
provável a primeira hypothese.
Um grande numero de auctores apontam o pinheiro md-
lar, e consideram-o como uma variedade do Pim^ Pinea.
Assim, o sr. Mathieu, na Flore Forestière, diz, a respeito dos
pinhões: — «L'enveloppe, dure et linheuse, de ces graines
«est difficile à briser; mais on cultive une variété à coque
«mince et fragile (P. Pinea fragilis, Loisel.Ji^ O sr. Pia y
Rave, no seu Manual de cultivo de arboles forestales, apre-
senta a mesma opinião na pag. 219: — «Hay la varíedad 11a-
«mada ufiul ó de pifion blando, en que la cascara de los
«pinones cede y se abre facilmente apretándola entre los
«dedos; se encuentra en los pinares de Cebreros (Ávila) y
«Alieza (Salamanca); más raro en otras localidades, y tam-
«bien en Portugal». »
Tivemos ultimamente occasião de ver o pinheiro mcllar,
nos pinhaes do Estoril, onde alguns raros indivíduos exis-
tem misturados com o pinheiro manso typico, e com o pi-
nheiro bravo.
Sobre este exame directo, podemos asseverar que a opi-
nião de Brotero não tem fundamento : todas as pinhas pro-
duzidas por estes pinheiros e todos os pinhões de cada pi-
nha são moUares. De resto, isto mesmo nos foi confirmado
por indivíduos da locaUdade, que asseveraram dar-se este
facto todos os annos — aquelles pinheiros criam sempre e
exclusivamente pinhões moUares.
A opinião a que se inclina o distincto auctor da Flora
Forestal Espafíola está pois confirmada, como o está tam-
bém a asserção de Brotero na Fhra. As informações qoe
APPENDICE 273
depois obteve, e que escreveu na sua Historia dos Pinhei-
ros, é que são manifestamente erróneas.
A auctoridade incontestável e incontestada do nosso grande
botânico é tamanha, que estas informações erradas> á som-
bra do seu nome illustre, são ainda hoje citadas. Yale bem
a pena, todavia, desfazer o engano.
O pinheiro dos pinhões mollares é bastante raro na pe-
nínsula. Nem Brotero, nem o sr. D. Máximo Laguna, nem
o sr. D. Felipe Romero y Gilsanz, nem, provayelmente, os
srs. Willkomm €^ Lange, apezar das longas herborisações
e estudos a que procederam, o encontraram.
Segundo nos diz o sr. Silvestre Bernardo Lima, existem
no Bussaco alguns pés, de differentes edades. O sr. visconde
de Villar d'Allen informa-nos da existência de outros, em Rio
Tinto, nas proximidades do Porto. O sr. .Sonsa Pimentel, a
quem sobre este assumpto consultámos, escreve-nos que
esta arvore é rara, mas que algumas vezes a tem visto.
Acreditamos que o pinheiro moUar se encontra por quasi
todo o paiz, mas em muito pequena quantidade, isolado ou
em grupos restrictos, misturado com o typo. Acrescentare-
mos, que nos dizem, todavia, existir nas proximidades de
Cantanhede um pinhal exclusivamente formado d'estes pi-
nheiros.
Os pinhões mollares reproduzirão, ou não, os seus cara-
cteres distinctivos, pela germinação? A arvore que os pro-
duz deve ser considerada como uma variedade do typo, ou
como uma forma não fixada?
Diz-nos o sr. visconde de Villar d'Allen, que, tendo en-
contrado pela primeira vez, ha cerca de 20 annos, o pi-
nheiro moUar, em Rio Tinto, em uma propriedade do sr.
dr. António Ferreira Moutinho, colheu alguns pinhões, se-
meou-os em Campanhã, e hoje as arvores originadas d'estas
sementes produzem sempre e exclusivamente pinhões mol-
lares ; está, pois, demonstrado, que se trata de uma varie-
dade, bem fixa e transmissível pela germinação.
c. t. — v. u. 18
274 APPENDICE
O sr. visconde de Yillar d'Allen fez o favor de nos en-
viar duas pinhas d estes pinheiros. São ovóides, mais aga-
çadas do que costumam ser de ordinário as pinhas do pi-
nheiro manso typicí); a maior, mede 0^,12 de comprimento
e 0™,27 de circumferencia no ponto mais largo. As pinhas
que possuimos do Estoril são bastante menores. N'umas e
outras os pinhões teem a casca delgada, frágil, muito facil-
mente quebradiça quando se apertam entre os dedos, e a
amêndoa bem conformada.
Em vista das razões expostas, o pinheiro mollar deve ser
considerado como a variedade fragilis do Pinm Pinea.
(Pag. 53)— «enero »allx.
O género ScUix é, respectivamente a Portugal, um dos
que está precisado de mais cuidadosa revisão. Na nota da
pag. 56 fizemos sentir as principaes difficuldades com que
esse trabalho luta.
No texto enumerámos as espécies geralmente acceites e
conhecidas no paiz. É muito possível que as duas espécies
broterianas — S. atro-cinerea e S. salvi folia — devam antes
ser enumeradas sob outras denominações, dadas, em época
anterior, por outros auctores. O sr. Lange, no Prodrmm
Fbrae Hispanicae, considera o S. atro-cinerea como talveí
synonymo de S. phylicaefoUa, L., e o S. salvifolia como tal-
vez synonymo do S. olaefoUa, Vill. Não nos atrevemos a
apurar tão complicadas synonymias, e pareceu-nos menos
arriscado deixar, provisoriamente, ás duas referidas espé-
cies, o nome que lhes deu o nosso illustre botânico.
Na nota da pag. 56 advertimos, que decerto outras es-
pécies se encontrarão em Portugal, quando* se proceda ao
estudo minucioso e paciente de tão intrincado género. Du-
rante a impressão d'este nosso trabalho, foi-nos commnni-
cado pelo sr. Sousa Pfanentel um Salgueiro, que não tínha-
mos incluído na respectiva chave; é o S. repem, L.,
APPENDIGE 275
qual não conheciamos nenhuma indicação ou referencia com
propósito ao nosso paiz, salyo o que diz vagamente o sr.
Lange no Prodromus: — Hab. in Europa totãj meridiem ver-
sus rarior — . Contra toda a expectativa, esta espécie, pró-
pria ás regiões septentrionaes e médias da Europa, appa-
receu em Portugal não nas altitudes elevadas do norte, mas
nas areias da beiramar, nas praias da Gafanha e de^Mira.
Damos em seguida a chave do género Salix, proxima-
mente tal como a.publicámos no texto, mas incluindo a nova
espécie portugueza:
Chave dichotomlca para determinar as espécies portngnezas,
hoje conhecidas, do género SaUz ,
Folhas estreitas e compridas (3-10 vezes mais compridas do que
largas). Rebentos flexíveis, afilados, compridos. 2-3 estamos.
Capsulas sesseis ou com pedicellos muito curtos. Bracteas dos
amentilhos persistentes ou caducas, concolores (amarelladas)
ou discolores (amarelladas na base, escuras no cimo) (vimei-
ros)..,, 2
Folhas largas e curtas (o máximo 3-4 V2 vezes mais compridas
do que largas*). Ramificação nodosa; rebentos pouco flexi-
yeis. 2 estamos livres. Capsulas pedicelladas. Bracteas dos
amentilhos persistentes, discolores (salgueiros propriamente
ditos) 7
Amentilhos tardios (que apparecem depois das folhas) ou coetâ-
neos (simultâneos com as folhas), implantados já na floração
em pedúnculos folhosos. Bracteas dos amentilhos concolores.
2 { Capsulas glabras. Antheras amarellas 3
1 A espécie d'este grupo que tem as folhas mais compridas e mais
estreitas, e que por isso mais se pode .confundir com o grupo anterior
é o S. salvifolia; mas as suas folhas cinzento -esverdinhadas nas duas
paginas, cotanilhosas superiormente e muito lanosas inferiormente, in-
dividualisam bem este Salgueiro. As espécies do primeiro grupo teem a
pagina superior das folhas verde, glabra oú coberta de pellot brancos
assetinados.
i8#
276
APPENDIGE
2 i Amentilhos precoces (qae apparecem antes das folhas), sesseis
1 durante a floração. Bracteas dos amentilhos discolores. Ca-
' \ psulas cotanilhosas 6
. / 3 estames (fig. 5, K). Bracteas dos amentilhos persistentes, gh-
bras no cimo. Folhas elliptico-lanceoladas, 3-5 vezes mais
compridas do que largas, acuminadas de repente, glabras em
* ambas as paginas. Estipulas grandes, semi-cordiformes. Ar-
busto com os rebentos glabros. FL em março e abril, A bem
dos rios: Estremadura y Douro, etc. — (S. triandra, Brot.)
8. am^^dalinii* L»
2 estames. Bracteas dos amentilhos caducas. Folhas longamente
acuminadas 4
5
Ramos muito compridos e pendentes para o chão. Folhas linear-
lanceoladas^ muito compridas (fig. 5, N), inteiras ou denti-
culadas, glabras. Estipulas caducas, falei forme-lanceoladas.
Amentilhos pequenos. Arvore de pequeno porte. Fl. emja-
neiro e fevereiro. Originário da Ásia central e cultivado aoi
jardins e sitios frescos, — Salgueiro chorão.
S* babylonleaf ím
Ramos compridos e Qexiveis, mas não pendentes para o àào. 6
Folhas adultas glabras (em novas mais oU menos avelladadas),
lanceoladas, 4 vezes, pelo menos, mais compridas do que lar-
gas, dentado-glandulosas, longa e obliquamente acuminadas.
Estipulas semi-cordiformes, acuminadas. Filetes glabros ou
só pelludos na base; antheras amarello-pallidas. Capsulas aga-
das; estigmas bifendidos. Ar\'ore com os rebentos glabros, e
que na primavera se desarticulam ao menor choque. Fl. em
abril. Á beira dos rios, principalmente nas provindas doiMr'
te. — Salgueiro frágil 8. fragills* L*
Folhas adultas mais ou menos esbranquiçado-assetinadas nas
duas paginas, ou pelo menos na pagina inferior, lanceoladas,
5-6 vezes mais compridas do que largas, dentado-^landuio-
sas, directa e longamente acuminadas. Estipulas muito pe-
quenas, semi-Ianceoladás, caducas. Filetes pelludos até me-
tade; antheras amarello-doiradas. Capsulas obtusas; estigmas
í
6
APPENDICE 277
chanfrados. Arvore com os rebentos pabescentes, esbranqm-
çados. Fl, em fevereiro e março. Á beira dos rios em todo o
paiz. — Salgueiro branco ordinário M» albat !«•
Rebentos delgados, mais flexíveis, com a casca, na prima-
vera, amarello-viva ou amarello-avermelhada. Folhas
nm poaco mais glaucas na pagina inferior, mais estrei-
tas e mais finamente dentadas (fig. 5, M), quasi glabras
em adultas. Cultivado á beira dos rios e nos sítios fres-
cos.— Vimeiro ordinário w* vltelllna» Ia»
Antheras vermelhas, estamos monadelphos em toda a extensão
dos filetes, parecendo um só estame quadrilocular (fig. 5, 1).
Folhas lanceoladas, 4-6 vezes mais compridas do que largas,
glabras, acuminadas de repente (a maior lar^ra encontra-se
do meio da folha, por diante), com os dentes agudos, não glan-
dulosos. Bracteas dos amentilhos com pellos compridos. Es-
tipulas nullas. Arbusto com os rebentes glabros. Fl. em março
e abril j margens do Douro, etc. — (S. monandray Brot.)
m* purpúrea* l4.
Antheras amarellas; 2 estamos livres. Folhas lanceoladas, 6-8
vezes mais compridas do que largas, insensivelmente aguça-
das, inteiras ou quasi inteiras, ás vezes um pouco ondulada^;
em adultas verde-escuras na pagina superior, e na pagina in-
ferior com muitos pellos assetinados, que lhes dão reflexos
prateados. Estipulas lineares, pequenas, caducas. Bracteas
dos amentilhos longamente felpudas. Arbusto com os reben-
tos cinzento-avelludados. Fl. em abril e maio. Cultivado d
beira dos rios e nos sitios húmidos, principalmente nas pro-
vindas do norte. — Vimeiro do norte ou salgueiro francez,
S* wtmlnalis» Ij*
/ Pequeno arbusto, de 0,6-1 metro de altura^ com o tronco pros-
trado, ás vezes subterrâneo, radicante. Folhas ovado-arredon-
dadas, ovado-ellipticas ou elliptico-lanceoladas, de ordinário
terminadas em ponta dobrada em gotteira, assetinado-prateá-
das na pagina inferior, inteiras ou snb-inteiras. Amentilhos
pequenoí^, globosos ou ovóides. Fl. em abril e maio (?). Sitios
278 APPENDICE
húmidos nos çíreiaes de Mira e da Gafanha {segundo o sr.
Sousa Pimt^tel). — Salgueiro rastejante. ^S* repenSfli»
Arvores ou arbustos levantados, nâo rastejantes. Folhas nunca
braco-assetinada^ na pagrna inferior (glaueas ou cotanilbo-
sas) 8
Rebentos e botões glabros. Folhas ovadas ou ellipticas, 2 vezes
mais compridas do que largas, obHquamente agudas, intei-
ras, crenadas oju irregularmente onduladas, em adultas gla-
bras e verdes na pagina superior, e na pagina inferior glau-
cas ou acinzentado-cotanilhosas. Estipulas obliquas, renifor-
mes, dentadas, ou nullas. Filetes pelludos na base. Arbasto
ou pequena arvore. Fl. em março e abril . 8. Capreat Jm
Rebentos pubescentes ou avelludados. Botões pelludos ou cota-
nilhosos 9
Rebentos pelludos. Folhas largamente lanceoladas, 3-4 vetes
mais compridas do que largas, com a maior largura na me-
tade superior (fíg. 5, R), em adultas verdes e glabras ou snb-
glabras na pagina superior, e na pagina inferior glaucas, mais
ou menos cotanilhosas, inteiras ou irregularmente onduladas
ou crenadas. Estipulas semi-cordiformes ou sub-reniformes.
9{ Bracteaes dos amentilhos com muitos pellos (fíg. 5, F, A, B).
Arvore ás vezes de boas dimensões, ou arbusto. Fl. em feve-
reiro e mar^o. Á beira dos rios, numa grande parte do paix.
— Salgueiro preto S* atro-clmerea, Br«C*
Rebentos cinzento-cotanilhosos. Folhas cinzento-cotanilhosas na
pagina inferior, e na superior esverdinhado-acinzentadas, mais
ou menos pubescentes 10
1 O exemplar que temos á vista pertence, provavelmente, A d. arga-
tea, Koch. (S. arenaria, L.), que se distingue pelas folhas ovadas on
sub-orbiculares, densamente assetinado-prateadas. As folhas d'este
exemplar s5o i 7r2 V2 vezes mais compridas do qne largas.
A forma radicante do Salioí repen$ apropria-o muito para segurar e
consolidar as areias, e dá, por isso, a esta espécie alguma importância
florestal.
A^PENDICE 279
Folhas ellipticas ou oblongo-lanceoladas, 2-2 V2 -^^zes mais com-
pridas do que largas, agudas ou. às vezes obtusas (íig. 5. P),
inteiras ou. oudulado-serradas, na pagina superior esverdi-
nhadas ou acinzentadas, com pubescencia curta, e na inferior
cinzento-rcotanilhosas. Estipulas reniformes, dentadas. Filetes
dos estamos ^labros na base. Arbusto ou pequena arvore.
FL em fevereiro e março. Á Mra dos rios: Traz-os-Montes
10 { {Bragança), etc S. cinerea* !<•
Folhas lanc^oladas, agudas, 3-4 V2 vezes mais compridas do que
largas (íig. 5, 0), em adultas cotanilhosas em ambas as pa-
ginas, na superior branco-esverdinhadas e na .inferior vesti-
das com espesso tomento lanoso, serradas at^ábase. Estipu-
las semi-cordiformes. Filetes pelludos na base. Arvore ou ar-
busto. Fl. em janeiro e fevereiro. Abeira dos rios, frequerite,
sobretudo nas 'províncias do norte, S« nalwifolia» Brot»
Julgamos util publicar em seguida a esta chave, onde
estão incluídos todos os Salgueiros que actualmente conhe-
cemos em Portugal, uma outra em que se enumeram, em-
bora com menores detalhes, afora as espécies apontadas
como portuguezas, as que existem em Hespanha, muitas
das quaes provavelmente se encontrarão no paiz, quando
se proceda a um estudo mais circumstanciado d'este ge-
Bero.
Vamos servir-nos da Flora Forestal Espafiola do sr. D.
Máximo Laguna para a escolha das espécies d'esta nova
chave, pondo de parte, é claro, as que são ali apontadas
eomo duvidosas, bem como as sub-arbustivas. próprias ás
regiões alpinas e sub-alpinas dos Pyrinéos. Além dos Sal-
gueiros descriptos na chave anterior temos pois a incluir
os seguintes: — S. pentandra, L., S. aurita, L., S.pedicel-
lata, Desf., e S. incanaj Schrank.; não incluímos o S. olde-
' folia, VilL, porque não o sabemos distinguir do S. salvifo-
lia^ Brot., de que é talvez synonymo. As espécies não en-
contradas até hoje em Portugal vão marcadas com uma in-
terrogação.
280 APPENDICE
Acreditamos que esta segunda chave facilitará aos nos-
sos silvicultores a pesquisa dos Salgueiros ainda não deter-
minados como portuguezes:
Ghare dichotomica para determinar as espécies peninsulares
do género Saliz
Bracteas dos amentilhos concolores. Amentilhos implantados já
1 { na floração em pedúnculos folhosos. 2-3-5 estames 2
Bracteas dos amentilhos discolores. 2 estames 6
Folhas fortemente viscosas em novas, muito glabras em adullas,
e como que envernizadas na pagina superior, 3 vezes mais
compridas do que largas. 5 estames (raras vezes 8-10). Bra-
cteas dos amentilhos caducas. Árvore pequena ou arbusto,
com os rebentos glabros; estipulas pequenas, lanceoladas, ca-
ducas, ou nullas. (?) $• pentandrat !«•
Folhas não viscosas em novas. 2-3 estames. . . . , 3
3 estames. Bracteas dos amentilhos persistentes, glabras no cimo.
Folhas acuminadas de repente, 3-5 vezes mais compridas do
que largas, glabraç em ambas as paginas. Arbusto com os re-
bentos glabros; estipulas grandes, semi-cordifonnes. Estre-
madura, Douro, etc. — (S. triandra, Brot.)
M. amysdalina» Jm
2 estames. Bracteas dos amentilhos caducas. Folhas longamente
acuminadas , 4
Rebentos pubescentes, esbranquiçados. Folhas adultas mais oa
menos assetinadas nas duas paginas, ou pelo menos na infe-
rior, 5-6 vezes mais compridas do que largas. Arvore; esti-
pulas muito pequenas, semi-lanceoladas, caducas. Em toiúú
paiz S. alba* !«•
Rebentos mais flexiveis, com a casca, na primavera, ama-
rello-viva ou amarello-avermelhada, brilhante; folhas
glabras ou sub-glabras, glaucas na pagina inferior. Cul-
tivado com muita frequência .... ▼• irifelltaa* L*
Rebentos glabros, mas não amarello-brilhantes. Folhas glabras
(pelo menos em ^ulta») ^
APPENDIGE
28i
8/
Ramos dKo pendentes para o chão. Folhas em novas mais oa me-
nos avelladadas. Arvore com os rebentos, na primavera, muito
facilmente desarticuláveis ao mais pequeno choque; estipulas
semi-cordiformes, acuminadas. Frequente, sobretudo nas pr(H
vindas do norte 9. fraslllfl» Ij.
Ramos pendentes para o chão. Folhas linear-lanceoladas. Amen-
tilhos pequenos. Arvore medíocre com as estipulas falciforme-
lanceoladas, caducas. Cultivado com frequência,
S« lialiylaiitf»* li*
Folhas lineares ou lanceolado-lineares, 6-10 vezes mais compri-
^1 das do que largas, verde-escuras na pagina superior, inteiras
ou sub-inteiras. Antheras amarellas 7
Folhas 1 V2~6 vezes mais compridas do que largas 8
Folhas assetinado-prateadas na pagina inferior, 6-8 vezes mais
compridas do que largas. 2 estamos livres. Capsula cotani-
Ihosa. Arbusto com os rebentos cinzento-avelludados; estipu-
las lineares, pequenas, caducas. Cultivado principalmente no
norte «• wlmlnaltii» li.
7^ Folhas cobertas na pagina inferior de espessa felpa branca, co-
tanilhosa: lineares, 9-10 vezes mais compridas do que lar-
gas, sub-inteiras, com as margens levemente enroladas, em
novas. 2 estames, quasi sempre monadelphos até V2 dos file-
tes. Capsula glabra. Arbusto com os rebentos cotanilhososna
extremidade, sem estipulas. (?). S. Ineana» Scliraiiic.
1
Estames monadelphos em toda a extensão dos filetes, com as
antheras vermelhas. Capsula sessil, cotanilhosa. Folhas gla-
bras em ambas as paginas, 4-6 vezes mais compridas do que
largas, ás vezes sub-oppostas. Arbusto com os rebentos gla-
8^ bros; estipulas nuUas. Margens do Douro, etc. — (S. monan-
dra, Rrot.) m. purpurea» Ij.
Estames livres; antheras amarellas. Capsulas mais ou menos
pedicelladas. Folhas nunca sub-oppostas, mais ou menos re-
ticuladas na pagina inferior 9
282
APPENDICE
Pequeno arbusto (com 1" de altura, o máximo) com o tronco
prostrado, as vezes subterrâneo, radicante. Folhas ovadas,
sub-arredondadas ou ellíptico-lanceoladas, de ordinário ter-
minadas em ponta dobrada em gotteira, asselinado-prateadas
na pagina inferior, inteiras ou sub-inteiras. Estipulas peqoe-
nas, lanceoladas, ou nullas. Areiaes de Mira e da GafanAa.
•. . . . 8. repeas» L*
Arvores ou arbustos levantados, não radicantes. Folhas nunca
prateado-assetinadas na pagina inferior (glaucas ou cotani-
Ihosas) .' 10
Folhas adultas com a pagina superior pubescente ou cotanilhosa,
10 1 e mais ou menos verde-acinzentada 11
Folhas adultas verdes e glabras na pagina superior 13
11
Botões glabros. Rebentos glabros ou cotanilhosos na extremi-
dade. Folhas 2 vezes mais compridas do que largas, cunbea-
das na base, dobradas em gotteira no cimo, rugosas na pa-
gina superior, e glaucas, cinzento-cotanilhosas, fortemente
reticuladas, na pagina inferior: ondulado-dentadas ou snb-
inteiras. Arbusto, com estipulas grandes, semi-reniformes,
bastante persistentes (?) U. aarlta* L.
Botões cotanilhosos. Rebentos cinzento-cotanilhosos 12
12
f Folhas ellipticas ou oblongo-lanceoladas, 2-2 V^ vezes mais com-
pridas do que largas, esverdinhadas ou acinzentadas com po-
bescencia curta na pagina superior, e cinzento-cotanilhosas
na inferior : inteiras, onduladas ou dentadas. Filetes glabros
na base. Arbusto ou pequena arvore, com estipulas renifor-
mes. Traz-oS'Montes tê* cinereat li*
Folhas lanceoladas, 3-4 Vz vezes mais compridas dp que largas,
em adultas cotanilhosas em ambas as pagmas, na superior
cinzento-esverdinhadas, e na inferior vestidas com espesso
tomento lanoso : levemente serradas. Filetes peitudos na base.
Arvore ou arbusto, com as estipulas semi-cordiformes. Fn-
quente, sobretudo no norte S. «alvltolla» BreU
APPENDICE 283
Botões e rebentos glabros. Folhas ovadas ou ellipticas, 2 vezes
mais compridas do qae largas, inteiras, onduladas ou crena-
das, glaucas ou acinzentado-cotanilhosas na página inferior.
Arbusto ou pequena arvore, coní as estipulas pouco persisten*
13 { tes, reniformés, ou nuUas. Estremadura, AlenUejo, etc,
I . . . M. Caprea» li.
Botões e rebentos pelludos ou pubescentes. Folhas 3-4 vezes
mais compridos do que largas, de ordinário attenuadas na
base, sub-inteiras ou levemente sinuado-dentadas 14
; Capsulas glabras ou sub-glabras longamente pedicelladas (pedi-
cello egual a 6-8 vezes a glândula). Amentilhos levemente
pedunculados e folhosos na base, precoces ou sub-coetaneos,
com as bracteas pouco pelludas, os masculinos bastante com-
pactos, os femininos delgados e frouxos. Rebentos cotanilho-
SOS. Folhas muito reticuladas na pagina inferior. Arbusto,
com as estipujas semi-cordiformes, caducas (?).
. , ; M. pedicellata» Desf.
14^
Capsulas cotanilhosas, com pedicello não muito coipprido (pro-
ximamente 3-4 vezes a glândula). Amentillios muito preco-
ces, nús ou quasi nús na base (durante a floração); bracteas'
com bastantes pellos; amentilhos femininos compactos, aper-
tados. Rebentos pubescentes. Folhas mais ou menos reticula-
das na pagina inferior. Arbusto, com as estipulas sub-cordi-
formes, levemente crenadas. Frequente.
\ . : W. atro-clnerea» Brot.
O estudo methodico de exemplares completos é o único
meio de acertar com segurança a classificação de qualquer
plauta; Neste estudo, como é sabido, tem a primeira im-
portância as flores; é diflBcil, e sempre fallivel, procurar o
nome especifico de indivíduos que não estão em floração,
sobretudo quando se trata de espécies tão polymorphas
como as do género Salix.
Na chave dichotomica para a determinação das espécies
portuguezas publicada n'este appendice, que é proxima-
mente a chave já publicada no texto a pag. 53-^7, procu-
284 APPENDICB
ramos reunir os caracteres distinctívos baleados na flora-
ç3o e na forma das folhas e ramos, para tornar possível a
classificação de exemplares, quer elles tenham ou n3o flffl-,
e no ultimo caso quer sejam mascuUnos ou femininos.
Esta segunda chave, para determinação das espécies pe-
ninsulares, attende principalmente aos caracteres mais se-
guros da floração. Para a completar, apresentamos ainda
uma chave resumida, por onde se pode, com alguma pro-
babilidade dç êxito, procurar a classificação no tempo em
que os Salgueiros estão sem flores, mas com folhas, que é
a maior parte do tempo.
Temos em vista, com esta nova addição, facilitar, ainda
mais, o estudo de tão intrincado género; mas, repetimos^
não se deve ligar á chave seguinte a confiança, que mere-
cem as que são baseadas ;ios caracteres muito mais impor-
tantes da floração e da fructificação :
Chaye dichotomica para determinar as espécies peninsulares
do género Salix,
na estação em qne teem folhas mas não toem flores
Folhas estreitas e compridas (3-10 vezes mais compridas do qne
largas). Rebentos mais ou menos flexiveis, afilados e compri-
dos 2
Folhas largas e curtas (o máximo 3 vezes mais compridas do
que largas). Ramificação nodosa 11
Rebentos pubescentes, avelludados ou cotanilhosos. Folhas com
a pagina inferior assetinada ou cotanilhosa 3
Rebentos glabros. Folhas com a pagina inferior glabra oa sal>-
glabra^ verde ou glauca 6
Folhas lineares ou lanceolado-lineares, 6-10 vezes mais compri-
das do que largas, verde-^scuras na pagina superior, inteirais
ou sub-inteiras 4
Folhas lanceoladas, S-6 vezes mais compridas do que largaa. S
APPEI^ICE 285
Pagina inferior da folha cinzento-cotanilhosa. Estipulas nuUas,
oa substitoidas por pequenas glândulas. Folhas lineares.
9. Incana» KcliranK.
Pagina inferior da folha densamente pelludo-assetinada, com re-
flexos prateados. Estipulas pequenas, caducas. Folhas lanceo-
do-lineares tê* wlmlnalis* Ij«
Folhas cotanilhosas em ambas as paginas, esverdinhado-acinzen-
tadas na superior e acinzentadas na inferior, 3-5 vezes mais
compridas do que largas, serradas.
6/ S. salvifolia, Brot. (vid. num. 14).
Folhas branco-assetinadas nas duas paginas, ou pelo menos na
inferior, com pellos brimantes, 5-6 vezes mais compridas do
que largas, dentado-glandulosas S. allia» !«•
6
Ramos pendentes para o chão. Folhas linear-lanceolíidas, intei-
ras ou denticuladas, longamente acuminadas.
i . a. lialiylonlca» li.
Ramos não pendentes para o chão 7
Folhas novas bastante viscosas, em adultas lustrosas e como que
envernizadas na pagina superior, 3 vezes mais compridas do
que largas, dentado-serradas, com os dentes glandulosos. Es-
tipulas pequenas, caducas a. pentandra» li.
Folhas não viscosas em novas : em adultas 3-6 vezes mais com-
pridas do que largas 8
•
' j Folhas longamente acuminadas, dentado-glandulosas 9
Folhas acuminadas de repente 10
Raminhos esverdinhados ou avermelhados, desarticulando-se
com facilidade na primavera. Folhas novas mais ou menos
avelludadas, em adultas verdes nas duas paginas, lanceola-
das, 4 vezes pelo menos mais compridas do que largas.
0{ S* fk^agllis» li.
Rebentos muito compridos e flexíveis, amarello-avermelhados
ou amarello-brilhantes na primavera. Folhas í^yS vezes
mais compridas do que largas, glaucas na pagina inferior.
m. vltellinat Ij.
\
286 APPENDICE
Estipulas grandes/bastante tempo persistentes. Folhas dentado-
glandalosas, 3-8 vezes mais compridas do qae largas.
S. amyiT^likltiMA» Ié»
10 { Estipulas nullas ou muito pequenas. Folhas dentadas só na me-
tade superior, com os dentes não glandulosos, 4-6 vezes maôs
compridas do que Targas. Folhas e botões ás vezes sub-op-
postos S. parpiirea» li.
Pequeno arbusto (com 1" de altura, o máximo) com o tronco
prostrado, ás vezes subterrâneo, radicante. Folhas inteiras oa
sub-inteiras, polymorphas, assetinado-prateadas na pagina in-
. . / ferior, de ordinário terminadas em ponta dobrada em gotteira.
*. \ . . . . m. repens» li»
Arvores ou arbustos levantados, não radicantes. Folhas nuica
prateado-assetinadas na pagina inferior (glaucas ou cotani-
Ihosas) 12
Folhas addltas com a pagina superior pubescente ou cotani-
12 { Ihosa e mais ou menos verde-acinzentada 13
Folhas adultas verdes e glabras na pagina superior 15
13
14
Botões glabros. Rebentos glabros ou cotanilliosos na extremi-
dade. Follias 2 vezes mais compridas do que largas, rugosas
na pagina superior, e glaucas, cinzento-cotanilhosas, forte-
mente reticuladas na inferior, dobradas em gotteira no cimo.
S. aiirlia* li.
Botões cotanilhosos; rebentos cinzento-cotanilhosos. ...... 14
Follias 2-2 72 vezes mais compridas do que largas, na pagina
superior com pubescencia curta, esverdinhadas ou acinzenta-
das, e na inferior cinzento-cotanilhosas. «• cÍiierea«Ei*
Folhas 3-5 vezes mais compridas do que largas, cotanilhosasem
ambas as paginas, esverdinhado-acinzentadas na superior, e
acinzentadas na inferior M. salTlfolia* Biot*
Botões e rebentos glabros. Folhas 2 vezes mais compridas do
que largas, glaucas ou acinzentado-cotanilhosas na pagina in-
15 { ferior S. C^preat L*
Botões e rebentos pelludos ou pubescentes. Folhas 3-4 vezes
mais compridas do que largas 16
APPENDIGE 287
Rebentos cotanilhosos. Folhas esbranquiçado-cotaiiilhosas oa
sub-glabras na pagina inferior, muito reticolado-rugosas.
Mm pedicellata* Desf.
16 { Rebentos pubescentes. Folhas, na pagina inferior, cotanilhosas
esverdinhado-esbranquiçadas, ou glauco-esverdinhadas sub-
glabras, mais ou menos reticuladas.
H. atro-etnerea» Brot.
I
(Pag. 65 e 66)— O vidoetro.
O vidoeiro, bem authentícamente espontâneo, encontra-se
em Portugal nas grandes altitudes: Alto Minho, serra do
Gerez, serra de Montezinho, serra do Marão e serra da Es-
treita. Informa-nos o sr. MoUer que esta arvore também
existe nas matas de Valle de Gannas, do Bussaco e de Foja;
mas, nas duas primeiras d'estas localidades foi introduzido,
com certeza, e na ultima é muito provável que acontecesse
o mesmo.
(Pag. 81) — O oastanlieiro.
Dissemos na pag. 81 que o castanheiro se encontra em
quasi todo o paiz, excepto nos terrenos calcareos, sendo
principalmente abundante na região montanhosa do interior.
No 1.^ vol. doeste Curso, nas paginas 250 e seguintes, mos-
trámos quanto esta essência é calei fuga, e referimo-nos aos
clássicos estudos dos srs. Grandeau e Fliche, que expUcam
a má vegetação do castanheiro nos terrenos calcareos pela
diminuta percentagem da potassa e do ferro fixada pela
arvore n'essas condições* ao mesmo tempo que absorve
quantidades excessivas de cal. Apresentámos então a opi-
nião do sr. Ad. Ghatin, segundo a qual o castanheiro, e
com elle o feto real e as urzes, desapparecem, quando a
quantidade de cal no solo excede 37o.
Temos a acrescentar ao que escrevemos algumas obser-
vações, que alteram um pouco esta ultima affirmativa.
Já no 1.® vol. da Fhra Forestal Espanola, o sr. D. Ma-
288 APPENDICE
limo Laguna diz, a este respeito, o seguinte, na pag. 206:
— «Es opinion corriente entre los arboricultores, especial-
«mente entre los franceses, que el Castano huye de los ter-
crenos calizos; á los que tal opinion sostienen, les bastaria
cyisitar las províncias vascongadas para salir de su error;
«es indudable, sin embargo, que este árbol preíiere, para
«su buen desarollo, los terrenos arenosos e sueltos, forma-
«dos por la descomposicion de rocas graniticas, ó por las
«areniscas de antiguas formaciones».
Ultimamente um discípulo nosso no Instituto, o sr. An-
tónio Arthur Telles da Silva Menezes, notíciou-nos que na
freguezia da Escusa, concelho de Gasléllo de Vide, districto
de Portalegre, Conhecia bons castanheiros em solos eviden-
temente calcareos: tão calcareos que de alguns d'elles se
extrae a pedra para o fabrico da cal.
Procurámo*s esclarecer este ponto, e a nosso pedido fo-
ram-nos enviadas, com as necessárias precauções, amostras
da terra, do solo e do sub-solo, onde vegetam alguns d'cs-
ses castanheiros, amostras de terra que vieram acompanha-
das com a descripção das arvores correspondentes, e algn-
mas observações locaes, que passamos a publicar:
Amostra A: — «Solo em contacto com as radiculas de um
castanheiro manso, colhido sobre a caleira de Luiz Andrade.
O castanheiro apresenta um óptimo desenvolvimento; ra-
mificações aéreas vigorosas e abundantes, formando uma
grande copa; radicação forte. A profundidade de (r,6 (amos-
tra jB), as raízes secundarias estèndem-se sobre a rocha
calcarea, que então se encontra,* e sobre a qual o solo as-
senta. Este castanheiro cresce isoladamente; dá muito e
excellente fructo (informação local fidedigna). Circumferen-
cia do tronco 3" ,5; altura do tronco, até ao ponto d^onde
partem as pernadas mais grossas, 3",2i.
Amostra B: — «A mesma terra à profundidade de 0",6,
misturada com fragmentos arrancados da rocha, que desde
esta profundidade se encontra no logar acima designado».
APPENDIGE 289
Amostra C: — «Solo em contacto com as radiculas de mn
castanheiro manso, colhido nas caleiras de Luiz Martins
Serra» •
«Excellente conformação e desenvolvimento; ramificações
aéreas e subterrâneas abundantes e vigorosas. Este casta-
nheiro faz parte de um dos muitos soutos mansos existen-
tes n'esta localidade. Gircumferencia do tronco l^^^S. Altura
do tronco até ao ponto d'onde partem as pernadas mais
grossas l^^^O. Distancia média entre os castanheiros do
souto 5"».
«A exploração da cal n'esta localidade deixa bem desco-
berta e manifesta a rocha calcarea (amostra E) sobre a qual
assenta a terra».
Amostra D: — «Sub-solo da mesma terra (amostra C).
Profundidade 1°*»*
Amostra E: — «Lascas da rocha sobre que assenta a terra
das amostras antecedentes, e que se encontra nas amos-
tras A e B dí 0™,6 de profundidade; nas amostras C e Z) a
1 metro. Chamam-lhe na localidade borras ou macaronhos
a esta espécie de calcareo».
Amostra Fe G: — «Nos fomos da localidade combusta-se
o calcareo d'estas amostras, desde remota data, e obtem-se
magnifica cal gorda. A amostra Fé de cal branca, a amos-
tra G de cal preta» • '
Procedendo á determinação da cal n'estas amostras, en-
contrámos as seguintes percentagens:
Amostra A (soloj 5,7687o
» B (sub-solo) 4,7607o
D C (solo) 0,8967o
• D (sub-solo) 0,3027o
Estes números referem-se á terra naturahnente húmida,
tal como a recebemos (com percentagens de agua compre*
hendidas entre 7 e 14).
C. 8. — ^T. II. i9
290 APPENDIGE
Todas as determinações foram feitas sobre a terra depois
de separadas as pedras, por meio de om sedaço; seguin-se
este processo para só fazer entrar em linha de conta a parte
que immediatamente pode concorrer para a nutriçlo ve-
getal.
Um facto que, á primeira vista, causa admiração, é a
maior percentagem de cal encontrada pela analyse nos dois
solos respectivamente aos sub-solos, quando as informações
locaes dizem que n'estes se encontra a rocha calcarea, uti-
lisada no fabrico da cal. No emtanto, este facto torna-se
bem comprehensivel, se nos lembrarmos que estas amostras
analysadas foram primeiro separadas das pedras; quanto
mais á superfície, mais fragmentadas e pulverisadas se acha-
vam as rochas, e por isso maior a percentagem da cal; rea-
lisava-se o inverso no sub-solo, onde a pedra calcarea me-
nos dividida ainda, era em maior quantidade excluída da
amostra analysada.
A inspecção dos números encontrados, quanto ao segando
castanheiro nao apresenta nada de notável. Esta arvore tem
as raizes superflciaes n'um solo com 0,896 % de cal, e as
raízes profundas n'um sub-solo com 0,3027o; taes núme-
ros estão ainda muito longe da máxima percentagem de
cal, na terra, estabelecida pelo sr. Ghatin, e além da qual
a vegetação do castanheiro se torna impossível, na sua opi-
nião— 37o.
Mas, as coisas mudam bastante de figura quaudo se con-
sidera o primeiro castanheiro; com eflfeito, essa arvore des-
envolvesse perfeitamente, segundo as informações locaes,
sobre um solo (amostra A) que tem 5,7687o de cal, e n'um
sub-solo (amostra B) que dosêa 4,7607o.
É certo, que não se pode ainda chamar a esta terra ex-
cessivamente calcarea; é certo que existem solos onde o
carbonato calcareo entra nas proporções de 70 e 8O701 so-
los que, se não são muito productivos, podem utilisar-se
ainda com a cultura de varias leguminosas herbáceas, ou
APPENDIGE 291
de essências florestaes apropriadas; mas, decididamente,
aqaelles números vão bastante além do limite máximo ad*-
mittido pelo sr. Ghatin, e mais ou menos pelos silviculto*
res francezes.
Devemos acrescentar que estas terras do districto de
Portalegre por nós estudadas eram extraordinariamente ri-
cas em ferro. Ora, segundo os conhecidos trabalhos dos
srs. Grandeau e Fliche, referidos acima, o excesso do cal-
careo no solo é nocivo ao castanheiro, impossibilitando a
fixação da potassa e do ferro necessários a esta essência.
É muito possível que a relação d'estes três corpos — cal,
ferro e potassa — tenha grande importância para esta ques-
tão; talvez o excesso de cal seja menos nocivo, quando
acompanhado de um excesso dos outros dois corpos — ferro
e potassa. Tudo isto são pontos a esclarecer, que só po-
dem ser resolvidos por analyses repetidas e conscienciosas.
Por agora, o que podemos asseverar sem receio é que, pelo
menos em alguns casos^ o castanheiro vive perfeitamente
em solos, cujas percentagens de cal sobem a perto de 67o,
isto é — sobem ao dobro do que está geralmente admittido.
. Resumindo, parecem-nos licitas as seguintes conclusões :
1.* — O castanheiro, embora prefira os solos siliciosos,
tolera todavia uma percentagem de cal mais elevada do que
gerahnente é admittido pelos silvicultores francezes; como
o demonstra a analyse do solo A e do sub-solo B.
2.* — Ou a percentagem Umite da cal, estabelecida pelo
3r. Ghatin, foi calculada niuito baixa, ou este limite (e pa-
rece-nos isso o mais provável) varia com as condições lo-
caes do clima, e sobretudo com a composição chimica de-
solo— com as quantidades relativas do ferro e da potassa.
Só uma serie de trabalhos minuciosos pode responder a
esta pergunta.
3.* — Não se deve querer concluir das observações ante-
riores que o castanheiro vegete bem nos solos muito cal-
careos. Esta asserção está contradita pelos estudos dos srs.
i9#
292 APPENBIGS
Grandeaa e Flícbe, e pelas observações de muitos silvicol-
tores, em diversos paizes. As percentagens de cal nas amos-
tras A e B não são ainda muito elevadas; de certo ponto
por diante, a cal, no solo, impossibilita evidentemente a ve«
getaçSo do castanheiro. Os soutos das Yascongadas, cita-
dos pelo sr. D. Máximo Laguna, pouco provam, emquanto
se nSo conhecer pela analyse chimica a percentagem da cal
que e^ses solos doséam; também do sub-solo, próximo aos
soutos referidos da Escusa (Portalegre), se tira pedra calca-
rea para o fabrico da cal, e todavia a terra vegetal o ma«
limo que indicou á analyse chimica foi 5,768 7o de cal.
(Pag. 101)— Tiscmii eraclatnm» Siel».
Fizemos a determinação especifica d'este Viscum sobre
uns exemplares incompletos, que nos foram obsequiosa*
mente enviados de Portalegre pelo sr. R. Larcher Marçal,
Não vimos nem as flores nem os fructos, mas afBrmou-nos
o sr. Larcher Marçal que as bagas produzidas por este pa-
rasita são vermelhas.
O facto de se encontrar o V. cntdatum, Sieb., em Hes-
panha, na visinha provincia da Ândalusia, exactamente so-
bre as oliveiras, como o visco de Portalegre, e bem assim
a cõr vermelha das bagas, parecem auctorisar a determi*
nação.
Nenhuma das outras duas espécies d'este género, qae
existem em Hespanha, tem a baga vermelha : o F. aOmm, L., •
tem as bagas brancas, e o F. laxuniy Bss. 4 Reut., tem-a$
amarelladas. O Viscum cruciatum, Sieb., é espécie nova
para a flora portugueza.
Dicclonario das palams teclmlcas empre^das
na Flora lenhosa
Alberto. Não fechado; dSo encostado, que forma ângulos quasi
rectos com o eixo (patens): n'este sentido se áíz— ramos abertos
para os lados^ etc.
Aeáole (acaulis). Sem caule.
Accreseente {aecresems) . O órgão que continua a crescer pas-
sado o tempo em que de ordinário attingeoseu desenvolvimen*
to; o invcHufCro, a bractea^ o cálice^ o perigoneo, etc, que con«
tioua acrescer depois da fecundação.
AeeroMMi {acerosa, acicularia), Dizem-se as folhas lineares, rígi-
das, agudas na ponta, semelhantes a uma agulha.
Aclienio (achenium). Fructo secco, indehiscente, monospermo,
com o pericarpo distincto da semente.
Aealeado {aculeatus). Que tem aculeos.
Aealeo {aculeus) . Corpo rigido desenvolvido na casca sem nenhu-
ma adberencia com o systema fibro-vascular—ito5etr(u, silvai,
etc.
Acmninado (acuminatus). Ponteagudo; a. insensivelmente'^
que termina em ponta estreitando pouco a pouco; a. de repente
{ahrupte acuminatus) — que estreita, sem transição, em ponta*
294 biccioNARio
(cannata) . Dizem-se as folhas oppostas adberentes na
base, parecendo uma única folha atravessada no meio pelo eixo^
Ad weoticio. O órgão que apparece onde vulgarmente se não en-
contra; raízes que apparecem no caule; botões que apparecem
em legares indeterminados do tronco e dos ramoso se desenvol-
vem immediatamente, etc.
AflBollado (infundibulifortnis). Em forma de funil. Corolla ga-
mopetala ou cálice gamosepalo com o tubo comprido e o limbo
em forma de cone invertido.
An^lomerado (glomeratus). Disposto em pilha ou cabeça? diz-
se da in florescência, etc.
Agudo {acutus). Terminando em angulo agudo; folha, copa da
arvore j etc.
Agnlliafi. Nome vulgar das folhas das Coníferas.
Alaliardinas (hastata). Dizem-se as folhas com a forma do fer-
ro de uma alabarda: largas e chanfradas na base com os dois
ângulos afastados, e aguçadas no cimo.
Alado {alatus):Que tem azas, ou expansões lateraes; caule, pi'
ciolo, etc.
Albumeii (allmmen). Tecido que existe em algumas sementes» e
n^esse caso cònslitue a amêndoa conjunctamente com o embryao;
contém a reserva nutritiva destinada a alimentar o embryão da-
rante a germinação.
Alterno (allemus). Diz-seoorgão inserido alterivadamenle aou-
tro, não opposto; folhas inseridas uma em cada nó, etc.
Alveolado (alreolatus). Que tem alvéolos ou pequenas cavidades.
Amêndoa. Parte da semente comprehendida sob o tegumento
e representada pelo embryão só, ou por este corpo e pelo alba-
men ou endosperma.
Amentaceo (amentaceiis) . Disposto em amentilho, ou semelhan-
te a um amentilho.
Amentlllio {amentum). Espiga de flores unisexuaes, noas on
com um só invólucro floral, e cujo eixo é articulado na base,
desprendendo-se inteiro o amentilho masculino depois da fecun-
dação.
Amplexlcaales {amplexicaulia) , Dizem-se as folhas sesseis
cujas bases abraçam o caule, mas sem o envolverem completa-
mente.
DICCIONARIO 295
(angtdatus). Que tem ângulos ou esquinas : ratnOy etc,
AnMual (annua). Em um anno: diz-se da maturação do frueto
que se realisa no mesmo anno da floração: da flauta que vive
um só cyclo vegetativo.
Antlicra (anthera). Parte do estame em cujas cavidades, ou lo-
culos, está contido o polien, ou pó fecundante.
Antliese (anthesis). Período da fecundação ou da completa flo-
rescência.
JkwMtrarma (antrorsum). Voltado para diante.
Apetala (apetaíus). Diz-se a flor sem corolla, sem pétalas.
Apliyllo (aphyllus). Sem folhas.
Apicolado {apiculatus). Terminado em ponta curta e delgada.
Appenilice ou appendlcolo {appendiculum). Prolongamento
que se encontra na base, ou no cimo, de certos órgãos: anthera,
ele.
Appendlculado {appendiculatus). Guarnecido de appendices.
Apfero (apterus). Sem azas.
Aq[allliado {carinatvs) . Que tem uma quilha, ou linha saliente.
ArliuMto [frutex). Planta lenhosa quasi sempre vestida de ramos
desde a base, com botões ordinariamente escamosos, e cuja al-
tura oscilla entre 1 e 10 metros.
Jkrlllo {arillus). Invólucro accessorio, mais ou menos desenvol-
vido, da semente. Provém de uma expansão do funiculo.
Arista (arista). Prolongamento rigido, filiforme, que termina ou
acompanha certos órgãos.
Avistado (aristatus). Terminado^ ou acompanhado, por uma
arista.
Arredondado (rotundatus), Diz-se o órgão de superfície proxi*
mamente circular. Emprega-se, impropriamente, tratando-se
dos sólidos na accepção de quasi espherico.
ArUcolaçfto {articulatio). Reunião de partes que a uma dada
- época se separam sem ruptura.
Articulado {articulatui). Que tem articules, juntas ou articu-
lações.
Articulo (articulu$). Porção comprehendida entre duas juntas
ou articulações.
Arirore {arbor). Planta lenhosa, geralmente com o tronco despido
na base e com altura superior a 10 metros.
296 DIGGIONARIO
{hypacraterifarmis).V\i-^ diCoroW^ garaopetala com
o tubo comprido e o limbo plano e circular, como uma salva, ou
pires.
Áspero (scaber). Coberto de pequenas saliências, mas qué facil-
mente se denunciam ao tacto.
Assetlnado (sericeus). Coberto de pellos curtos, deitados, bri-
lhantes.
A«so velado (subtUaius) . Diz-se o órgão linear h terminado em
ponta como a da sovela.
Attenaado {attenuatut). Adelgaçado.
Aorieulado [auriculatus). Que tem auriculos; folha, ete., com
prolongamentos obtusos ou agudos na parte inferior do limbo.
Avelladado {viUosus). Coberto de pellos curtos, bastos, levanta-
dos, juntos e macios como os do velludo.
Axilla (axilla). Vértice do angulo formado por um ramo com o
tronco, por uma folha com o ramo, por duas nervuras, etc.
Axtllar. Collocadò na axilla.
(ala). Expansão membranosa ou foliacea que se nota em algons
fruetos e sementes, ou em alguns caules, ramos e pecMos.-^As
duas pétalas lateraes da corollapapilionacea.
Bacct forme {bacciformis) , Que tem a forma, ou é semelhante a
uma baga.
Baira {bacca), Fructo indehiscente carnudo, pluricarpellar epolys-
permo.
Balnlia {vagina). Prolongamento do peciolo que rodeia o ramo.
Reunião das escamas que rodeiam as agulhas dos Pinheiros.
Barbado ou barliado {barbatus). Que tem barbas ou peUos;
a garganta dos cálices de algumas Labiadas, etc.
Baae (6a5t«). O extremo inferior: da fdha (o extremo do limbo,
do lado do peciolo), etc.
-• Dois, duas vezes (antepõe-se ás palavras de origem latina) : M*
pinnulado, — duas vezes pinnulado; bilobaio — com dois lóbulos,
etc. (Substitue-se também pelo algarismo 2-).
DIGaONARIO 297
àl (biennis). Em dois annos; maturação biennal — quan-
do deeorrem dois cydos vegetativos entre a floração e a matura-
ção.
BiCorme (biformià). Diz-se a espécie que apresenta duas formas^
segundo a edade: alguns Eucdyptos,
BftlttMado {hilabiatui). Dividido em dois lábios: cálice y coroUay
etc.
Botfto (gemma). Corpo de dimensões reduzidas onde está incluido
o esboço do futuro rebento. Botões floraes {gemmae floríUes) : cor-
pos de dimensões reduzidas onde estão incluidos os esboços das
flores. O botão toma ainda o nome particular de botão tnixto se
dá origem a eixos com folhas e flores; e toma a denominação de
botão folhoso quando origina eixos só com folhas, e se quer insis-
tir n'esta particularidade.
Braotea {bractea). Folha mais au menos profundamente modifi-
cada no tamanho, forma, consistência ou côr, em cuja axilla nasce
a flor.
Braeteado (bracteatus). Que tem bracteas.
Braetefioriiie (bracteformis). Que tem a forma, ou é semelhante
a uma bractea.
Bracteola (bracteola). Diminutivo de bractea; bractea de se-
gunda grandeza.
Braeteolado {bracteolatus). Que tem bracteolas.
C?a]»el]ame. O conjuncto das ramificações mais extremas e del-
gadas (radiculas) do systema descendente.
Caelio (racemus). Inflorescencia formada sobre um eixo primário
comprido, indefinido, e eixos secundários eguaes, simples ou rami-
ficados; no ultimo caso o cacho diz-se composto.
Cadaoo {caducus). Diz-se o órgão prematuramente caidiço. Ca-^
lice caduco — o que cae antes de abrir a corolla. CoroUa caduca —
a que cae antes da fecundação. Folhas caducas — as que duram
um só período vegetativo, ficando a arvore decida um tempo maior
ou menor.
298 DicaoNARio
Cálice (cálix). O mais externo dos dois involaeros floraes. Geral-
mente é herbáceo.
Calicalo (epicalix). YerticiUo de foliolos oa bracteolas formando
ao cálice um invólucro que semelha um segundo cálice.
Calloao-mari^nadas (eallose-marginata). Dizem-se as folhas
rodeadas de uma saliência dura e esbranquiçada como um callo.
Campanolado (campanulatus) . Em forma de campânula ou sino.
CorMa gamopetala ou cálice gamosepalo com o tubo curto, bo-
judo, alargando para a bocca.
Canallcalado {canaliculatus). Que tem uma linha escavada, oa
canal.
Canal reslnlfero. Cavidade com secreção resinosa particular a
diversos órgãos de certas Coniferas, e que no lenho se pode con-
fundir, á primeira vista, com os vasos. Distingue-se, não só pela
secreção resinosa, como pela posição : os canae$ i esini feros ocea-
pam o bordo externo da camada annual emquanto os vasos pre-
dominam no bordo interno.
CapiUido (capitatus). Reunido em cabeça ouaggregado mais oa
menos globoso. Diz se principalmente das flores.
Capitulo (capitulum). Inflorescencia em que as flores se dispõem
sesseis sobre um disco largo e curto. Ás vezes emprega-se impro-
priamente na accepção de — flores capitadas.
Capsula (capsula). Fructo secco, dehiscente por válvulas ou po-
ros.
Carnado on carnono (carnosus). HoUe, com tecido tenro, suc-
culento: fructo, folha, caule^ etc.
Caroço (piuamen). Invólucro ósseo que reveste a amêndoa nas dra-
pas; provém do endocarpo reforçado com as camadas próximas.
Carpello (carpellum). Folha modificada que entra na constitoi^
do pistillo. Este pode ser formado por uip ou mais carpellos, e
no ultimo caso os carpellos podem ficar livres, ou soldarem-se en-
tre si.
Carpoplioro (carpophorum). Eixo receptacular desenvolvido qae
fica entre os carpellos.
Cartilaylnoao (cartilagineus)» Duro, elástico, tenaz, como nma
cartilagem.
Carancalo (caruncula). Excrescência ou appendice do fímicalo
em redor do hilo ou do micropylo: esboço de arillo.
DICCIONARIO 299
(cortêx). Parte do tronco e dos ramos externa ao eambium
ou camada viva geradora.
mie {caulis). Eixo principal da ramificação exterior.
CAoliiiar (caulinus). Relativo ao caule; folhas caulinares y as que
^ estão no caule : usa-se em opposição a folhas radicaes, e também
ás vezes em opposição a folhas fioraes,
Oellieado (dliatus). Com pellos finos, rectos e parallelos, nas mar-
gens.
CManfirado {emarginatns). Com um recorte, ou chanfro, mais ou
menos fundo, na extremidade.
Cliloropliylla» Matéria verde dos vegetaes; agente da assimila-
* ção do carbonio.
Cimo {apex), A parte superior; c. da fdha — a parte opposta ao pe-
ciolo; diz-se também á2íin florescência, da copa, etc,
Clava (clava). Massa; diz-se em forma de massa (clavatus) o ór-
gão entumecido da base ao cimo.
€?oetaneo (coetanefts). Simultâneo. Floração coetânea — a que é
simultânea com a folheação.
Coma {coma). Feixe de bracteas collocado no cimo da inflores-
cencia formando appendice ou cabelleira: como no Rosmaninho,
ComcMia (comosa). A inflorescencia que tem coma.
CompoNto (compositus). Que não é simples, que é ramificado. Fo-
lha composta — a que tem diversos limbos parciaes ou foliolos. Ca-
cho (corymboy amentilho^ etc.) composto — o cacho, corymbo, etc,
qué tem os eixos ramificados.
Coneoior (concolor). Da mesma côr; que tem uma só côr.
Conerescente»» Dizem-se os órgãos ou as porções do mesmo ór-
gão que tem crescimento commum, de modo que se ligam n'uma
só peça.
C^ndenuado (congestus). Amontoado, apertado, conchegado. Diz-
se da inflorescencia^ da copa^ etc,
€M»iidapllcado (conduplicatus). Dobrado ao meio: folhas^ folio-
los^ etc., dobrados peia nervura média.
Conilaeiites (confluentia), Adunados na base: taes são os úl-
timos três foliolos da folha composta do Jasmineiro de Itália,
etc.
Comnectivo. Parte da anthera, ás vezes com formas muito di-
versas, que reuné os loculos separados d*aquelle órgão.
300 DlCaONARIO
Continuo (eontinuus). Que faz parte, que se prolonga. Caule com
tinuo — o qae não tem jantas ou articulações.
Contrabido (coníractus) , Apertado; diz-se da inflarescenda, da
eorolla, etc.
Ckinvers^Btes (conníventes). Aproximados no cimo: as anúe^
raSf as nervuras ^ etc.
C^l»a {coma). O conjuncto das ramificações do tronco.
Corado (coloratus). Que tem côr differente da verde.
Ck^rdirorme {cardatus). Em forma de coração : largo e chanfrado
na base e mais estreito no cimo : a folha, etc,
C^rlaeeo (coriaceus). Com a textura do coiro.
Corolla (eorolla). O mais interno dos dois invólucros floraes, ge-
ralmente corado*
Ck^r^mblforme ou corynilioso {corymbosus). Semelhante a
um corymbo.
Corjnk^^o {corymhus). Inflorescencia indefinida formada por um
eixo primário e diversos eixos secundários» inseridos a alturas
differentes, mas terminados quasi á mesma altura.
Cotanlllioao (tomentosus). Com pellos crespos, apertados, muito
finos e curtos, entremeados quasi como feltro.
Cotyledone (cotyledon). Folhas mais òu menos modificada do
embryão*.
Crenado {crenatus). Com pequenas divisões mais ou menos ar-
redondadas, não inclinadas para a base ou para o cimo: diz-se
das folhas, pétalas, etc.
Cnnlieado (cuneatus). Em forma de cunha.
Cúpula (cupala). Invólucro em forma de taça, constituído por pe-
quenas escamas soldadas, que envolve a base do fructo.
Cupulirorme {cupufiformis). Em forma de cúpula ou taça.
Cymelra (cyma). Inflorescencia definida em que as flores abrem
do centro para a circumferencia.
Cjukomo (cymosus). Que é semelhante, que tem a forma de mna
cymeira.
DICaONARIO 301
Decarrentes {decurrentia) . Dizem-se as folhas ou phyllodias
cujas bases sb prolongam, com adherencia, em duas azas longitu*
dinaes para um e outro lado do ramo.
Deflnldo (definituê). Determinado, fíiado. Estames definidos —
isto é, em numero fixo; inflorescenda definida — aquella cujo eixo
termina por uma ou mais flores.
Delilaceiíclii {dehiscentia) . Abertura regular de um órgão para
a saída do seu conteúdo: do pericarpo — para a saida das semen-
tes: da anthera — para a saida do pollen, etc.
Delilscente (dehiscens). Que se abre com regularidade, natural-
mente.
Deltoidea (deltoidea). Diz-se a superfície com quatro ângulos,
estando os lateraes mais próximos do da base que do cimo; ap-
plica-se sobretudo á forma das folhas.
I^emio (densus). Muito junto ou apertado; diz-se da in florescên-
cia, etc.
lienlado (dentatus). Diz-se o órgão (folha, pétala, etc.) cujos bor-
dos tem pequenos dentes ou divisões triangulares, eguaes, não in-
clinadas para o cimo.
Denticulado (denticulatvs). Diminutivo de dentado; com pe-
quenos dentes ou denticulos.
Heacaldo (decumbens). Diz-se do tronco ou dos ramos quando
primeiro se levantam e depois se curvam, caindo sobre o terreno.
Hl-. Dois, duas vezes (antepõe-se ás palavras de origem grega):
dicoiyledonea, disperma, diachenio, etc. — que tem duas cotyledo-
nes, duas sementes, dois achenios, etc. (Substitue-se também pelo
algarismo 2-).
Dladelpliofi (diadelpha). Dizem-se os estames reunidos pelos fi*
letes em dois grupos.
Blalypeiala {dialypetala), A corolla cujas pétalas são livres, não
adherentes entre si.
Blalyacpalo (dialysepálus) . O cálice cujas sepalas são livres, não
adherentes.
302 DICaONARIO
Dlapliraifiiia. Membrana qae separa uma cavidade em doas
partes.
DIeliotoiíilco (dichotamus). Forquilhado, que se divide s^npre
em dois ramos oppostos.
DidynainleiMi (didj/namia). Qualificativo dado aos estames,
quando sendo quatro sao dois maiores.
Hlffaso (dilfusus). Ramificado em eixos dispostos sem ordem e
mais ou menos abertos para os lados; a capa, SLpanicula, etc.
Dlffttados (digitata). Diz-se dos foliolos, inseridos n*um mesmo
ponto e radiantes, divergentes, como os dedos das aves.
Diof ca (dioica). Diz-se a planta que tem flores unisexuaes, e as de
cada sexo em individues diíTerentes.
Dliico (disnus). Protuberância annular, quasi sempre glandnlosa,
que ás vezes existe na flor entre a corolla e os estamos, ou sobre
que elles estão inseridos.
Dittcolor (discolor). Que é de duas cores.
Disseminação (disseminatió) . Queda e dispersão natural das
sementes.
Dlstlcado {distichus). Collocado alternativamente á direita e á
esquerda do eixo formando duas linhas oppostas : diz-se dos ra-
mos, folhas, etc.
Divergente (divergens). Que se afasta. Estames, nervuras, etc.,
próximos na base e que depois se afastam. Ramos que se abrem
em angulo recto com o tronco.
JDividld(0 (divisus). Que tem divisões ou lacinias.
Divisões. Vide lacinias.
Drupa (drupa). Fructo carnudo com caroço.
Drapaeeo (drupaceus). Semelhante a uma drupa.
Duplicado- (duplicatus). Duas vezes: duplicado-serraiOy duiU-
cado-denladOf etc. — que é duas vezes dentado ou serrado, isto é,
que lem os dentes ainda recortados com outros menores.
ElHorescencia. Matéria pulverulenta, quasi sempre cirosa, que
reveste alguns fructos quando maduros.
Eixo (axis). O pedúnculo central da inflorescencia composta. O f^
DICaONARIO 303
eido central da folha composta. O ramo considerado em relação
ás folhas, o tronco em relação aos ramos^ etc.
Ellipsoldeé O solido originado por uma ellipse.
Blliptlca (elliptica). Superfície que tem a forma de uma ellipse
geométrica.
Bmliry&o (embryo). Parte da semente physiologicamente a prin-
cipal : rudimento da planta que se ha de desenvolver pela germi-
nação. Constituo elle só, ou acompanhado pelo albumen ou endos-
perma, a amêndoa da semente.
Empolado (bullatus). Que tem bolhas ou empolas.
Encoslado (adpressus). Arrimado, deitado: diz-se dos ramos ar-
rimados contra o tronco, dos pellos, etc.
Endocarpo* A parte interna do pericarpo, correspondente á epi-
derme interna da folha carpellar: circumscreve o loculo ou oslo-
culos onde estão incluidas as sementes.
Endosperiiia. Tecido onde se reúne a reserva nutritiva que dá
o primeiro alimento ao embryão das Gymnospermas. Equivale
physiologicamente ao albumen das Angiospermas.
Eatre-n6« Porção do ramo comprehendlda entre duas folhas, ou
duas ordens de folhas consecutivas.
Enwaffinante. Que tem l)ainha: folha, etc.
Epigynicos {(^igynica). Qualificativo dos estamos inseridos supe-
riormente ao ovário, parecendo nascer da parte superior d'ello.
Eacama (j^uamma). Palavra empregada, com grande latitude para
designar diversos órgãos achatados, membranosos, carnudos ou
coriaceos: quer sejam folhas, bracteas, invólucros, etc. As folhas
reduzidas dos Pinheiros : as bract^as-mães dos amentilhos : as bra-
cteas adherontes ás bracteolas que constituem as pequenas pinhas
das Betuláceas; as bracteas e os carpellos abertos das pinhas das
Coníferas, etc.
Escarni for me (squammiformis). Que tem a forma,* ou é seme-
lhante a uma escama.
Eafsainoso (squammatus). Que tom escamas. Botão protegido por
escamas — é o opposto a botão nú.
Bscarloso (scariosus). Secco, delgado^ sonoro sob a unha.
Escudo (peita), Diz-se em forma de escudo (peltatus) um órgão
qualquer quando está preso pelo centro ao supporte, ficando-lhe
perpendicular, como está a cabeça de um prego.
304 DICaONARIO
Espadice {spadix). Espiga com o eixo carnoso e genúmeote en-
volvida por uma folha enrolada em cartucho (spatha).
Espat alado (spathulaius). Largo no cimo, em forma de eapk
tuia; folha, etc.
Bspecle (species), Conjuncto de indivíduos mais oa menos sm»-
ihantes, que se podem reproduzir illimitadamente entre si, e cujas
formas mais deseguaes estão relacionadas por outras intermédias,
de modo que todas se podem suppor derivadas de uma só origem.
Esplciforme (spiciformis). Semelhante a uma espiga.
Eapiga (spica). Inflorescencia em que as flores se dispõem sesseis
sobre um eixo indefinido.
E»pigueta (spicula). Diminutivo de espiga: espiga com muito
poucas flores.
Ewpineficeiíie (spinescens) . Terminado n*um espinho.
Esplnlio (spina). Corpo rígido e ponteagudo adherente ao systema
fibro-vascular e que oceupa sobre a planta uma posição detenni-
nada pela natureza dos órgãos de cuja transformação é derivado
— ramos, estipulas, folhas.
Espinlioiío (spifwsus). Que tem espinhos.
Bspinl forme (spiniformis). Semelhante a um espinho.
EaitameM {siaminá). Órgãos sexuaes masculinos. A reunião dos
estames forma o terceiro verticillo da flor completa. O estame
compõe-se do filete (que pode faltar) e da anthera.
Estandarte (vexillum). Pétala superior da corolla papilionacea.
Efiterll* Diz-se o estame que não tem anthera: a escama, mhret-
ctea, cuja flor axillar se não desenvolve: a flor cujos or^u)s se-
xuaes ficam rudimentares, etc.
Etttli^iiia (stigma). Extremidade do estylete, com formas varia-
dissimas, quasi sempre mais larga e cheia de pequenas vesicolas
ou mamillos, destinada a reter o pollen.
Entipiilado {stipulatus). Que tem estipulas.
Estipulas (stipulae). Pequenos, appendices. que se encontram na
base de algumas folhas, dos dois lados. Podem ser caducas oa
persistentes, foliaceas, escamiformes, espinescentes, etc.
Estrangulado. Diz-se o órgão que apresenta adelgaçamentos
consideráveis n'um ou mais pontos : vagem, etc.
Estrellado (stellatus). Em forma de estrella: opello comp(»tonr
mificado em estrella, etc.
DICCIONARIO 305
:lllar« Qne se desenvolve fora da axilla: /for, etc.
(itrialuê). Riscado, com sulcos pouco profundos.
(extrona). Diz^se da anthera cuja dehiscencia se faz
para a parte de fora.
BiBtyleie {styluê). Porção do carpello, typieamente adelgaçada,
qne une o estigma ao ovário.
Falei terme (falcatui). Curvo em fónna de foice.
Va«clcalado0 (fasciculati). Grupados em feixe: os ramos, etc.
FAweolado (fatOBum), Com pequenas cavidades ou alvéolos, se-*
melbante a um favo.
Felpa {villi). Pellos compridos, macios, um pouco oblíquos.
Felpiido<(vi7/o5nj). Coberto de felpa.
Feminina (faemineus). A flor que tem pistillo e não tem esta-
mes. também se diz da inflorescencia que tem flores com pistillo
e sem estames; da arvore que só tem flores femininas.
Fendido (fissus, fidus). Diz-se o órgão (folha, cálice, corolla, etc.)
cujas divisões {lacinxas) passam de metade do limbo. Bifendido,
trifendido, etc. — fendido em 2-3 partes, etc.
Fértil. Diz-se a flor cujo ovário se desenvolve n*um fructo: a hra-
etea, ou escama, que tem na axilla uma flor : a semente cujo em-
bryão está em bom estado, que pode germinar, etc.
FliiroAo (fibrosus). Com textura em que entram filamentos resis-
tentes.
Filete (filamentum). Parte do estame, geralmente delgada, que
supporta a anthera.
Filiforme (JUiformis),, Semelhante a um fio, delgado como um fio*
Fistulovo (Jistulosus), Escavado no centro em um canal longitu-
dinal.
Flexuoso (flexuosus). Que tem curvaturas: caules, pedúnculos,
K ramos, etc.
Flor (fios). Apparelho da fecundação e reproducção, na sua forma
mais completa composta de órgãos accessorios — cálice e corolla
— e órgãos essenciaes, ou reproductores — estames e pistillo.
FlorafAo* Época da abertura das flores.
Florifcro (florifervs) . Diz-se o ramo, botão, etc. , que produz flores»
c. s. — V. n. 20
306 DICaONARIO
Foiita (folium). Appendice, na forma typiea plano e laminar, ga«
ralmente herbáceo, que nasce com o ramo onde está inserido :
compõe-se do limbo e do peeiolo (que pode faltar). F. floral^^
folha em cuja axilla nasce a flor. F. carpellar — a folha modifi-
cada em carpello, etc.
Folbeaçfio. Época do apparecimento das folhas.
P#llieatara {perfoliatio). Disposição que as folhas novas tomam
no interior do botão.
Folboso ou follaadio (foUosus, folicUus). Qae tem folhas.
Foliaoeo» follieaceo ou foliforme (foliaceus). Semelhante
. a uma folha.
Foillcalo ou foUillio (folliculus). Fructo secco onilocalar, po«
iyspermo, dehiscente longitudinalmente pela sutura ventral.
Follolo (foliolum). Uma das divisões da folha (^omposta. Dá-sa
também ás vezes este nome ás divisões do perigoneo*
Forquilbaflo (fiircatus). Que tem duas pontas, como um for*
cado.
Fraçil (fragilis). Quebradiço.
Fraldado (finibriatus). Guarnecido de franjas, ou lacinias muito
estreitas.
Frouxo (laxas). Pouco apertado: diz-se da inflorescencia, etc.
Fructifero (fruotifer). Que tem ou produz fructos; ramo, etc.
Frucio (fructus). O ovário depois de fecundado e tendo adquerído
subsequentemente o seu desenvolvimento completo. Compõe-se do
pericarpo e das sementes.
Fniraoe (fugax). Vide cadtico.
Fanlculo (funicalus). Ligamento que prende a semente ao peri-
carpo, ou o ovulo ao ovário.
F.miiroriiâe (fasiformis). Em forma de fuso : entumecido no cen-
■^ tro e adelgaçado nas extremidades.
«albnla (galbalus). Pequena pinha, globosa ou ovóide, formada
de poucas escamas, e estas largas na parte superior.
ttalba (galla)- Excrescência formada sobre diversos órgãos das
. plantas, e promovida pelas picadas dos insectos.
r
DIGCIONÁRIO 307
€Mumopeiala {gamopetala), A corolla formada de pétalas solda*
das entre si, mais ou menos.
Ctamoiiepalo {gamosepdus). O caljce formado de sepalas, mais
ou menos soldadas.
Car^anta (faux). A entrada do tubo da corolla ou do ealice.
CMuriniia (cirrhus). Producção filiforme, alongada, simples ou ra-
mosa, que tem a propriedade de se enrolar aos corpos risinhos,
segurando as plantas que a produzem.
ISeminados (geminati) . Dispostos dois a dois. Diz-se dos frtictoSy
das folhas, flores, etc.
Ubboiio (gibbosus). Corcovado, que é mais saliente de um lado,
Cllabro (glaber). Sem pello.
Mandaila (glahdula). Vesícula que segrega um liquido especial.
Uandnloffo (glandulosus). Que tem glândulas ou é semelhante
a uma glândula.
QlíKWíca(glaucus). De corverde-azulada, verde-acinzentada, devida
quasi sempre a um inducto ciroso sobre uma superfície verde.
Òlo^Hnta (globosus). Espherico.
domilofio (urceolatus). Bojudo no meio e mais estreito nas ex-
tremidades, com a forma de um gomil; diz-se do cálice gamose-
palo e da corolla gamopetala quando teem essa forma.
€}ynoplioro (gynophorum) . Porção alongada do eixo da flor sob
o pistillo: como na Alcapaira.
Herl»aceo {herbaceus). Tenro e verde.
Hermapltrodlta {hermaphroditus), A flor com estamos e pis-
tillo. Diz-se também ddL planta que dá flores hermaphroditas.
Hexa-. Seis. (AntepÕe-se ás palavras de origem grega): hexa-
pkyllo, etc.
Biio (hilum). Cicatriz sobre a semente, que representa o ponto
onde estava ligada ao funiculo.
Hirsuto (hirsutus). Com pellos numerosos e grandes.
HlApIclo (hispidus). Coberto de pellos, rígidos e levantados.
HTpoiTTni^^os (hypogynica) . Qualificativo dos estamos inseridos
inferiormente ao pistillo.
20*
308 DICaONARIO
Imbricadas (t min rafa). Diz-se das folhas, escamas^ etc., diâ-
postas como as telhas de um telhado, a cobrírem-se parciabnente.
iMiparlpinnolada» {imparipinnata). Dizem-se ^fólhaê com-
postas com um numero impar de foliolos, o ultimo collocado oo
extremo do eixo principal.
Incisa* (incisa). Com as margens recortadas em lóbulos irregula-
res: as folhas, as pétalas, as estipulas, etc.
Inclaaos (irtclusa). Fechados, não salientes: estames inclusos na
corolla— isto é não salientes, etc.
Indefinido (indcfinihis). Não determinado. O eixo da infiores-
ceticia que não termina n*uma flor : os estames quando se não con-
tam, por serem em numero variável ou muito elevado.
Indeliiacente (indehiscens). Que se não abre naturalmente; a^
plica-se de ordinário ao fructo.
Inerme (iners ou inertnis). Sem espinhos ou aculeos.
Inferior (inferum). Diz-se do ovário quando se apresenta coroado
pelo limbo do cálice e adherente ao tubo. Pagina inferior da fo-
lha— a que está virada para baixo, a pagina posterior.
Inflorencencia {itiflorescentia) . Disposição das flores : applica-se
sobretudo quando em logar de se desenvolver cada uma na axílla
de uma folha se apresentam na axilla de bracteas, que podem ser
muito reduzidas ou nullas, formando então conjunctos especiaes.
Inserção (insertio). Forma porque os órgãos sTe dispõem uns so-
bre os outros : as folhas se distribuem sobre os ramos, as fom
sobre o eixo commuin, etc. Altura, relativamente ao ovário, a que
parecem nascer os estames e a coroUa.
Inteiro (indivisus). Simples, não recortado, nem ramoso.
Interrompida (interrupta) , Que tem vasios: diz-se sobretudo
da inflorescencia — espiga interrompida, isto é, que tem vasios
sem flores, ecc.
IntrorM» (introrsa). A anthera quando se abre para o lado de
dentro (do pistillo).
Involncello (involucellum). Pequeno invólucro: o invólucro de
segunda ordem das umbellas parciaes na umbella composta.
r
DICGIONARIO 30^
Muwoluer Bão (involucratus). Que tem invólucro.
iBvolacro (involucrum) . Reunião de bracteas, livres ou solda-
das entre si, dispostas em um, ou mais verticillos. Invólucro fla*
rai— o cálice, a coroUa, ou o perigoneo. Invólucro fructifero —
o perigoneo ou as bracteas, persistentes e accrescentes, que in*
cluem um ou mais fructos.
Irregular (irregularis). Sem symetria: a corolla^ o cálice ^ aro-
mificaçãOy etc.
«fimciforiiie (junciformis) . Em forma de junco: cylindrico, te»
naz, flexível e medulloso, como o junco.
I^aliiado (Inbiatus). Prolongado em forma de beiços: a/Ior, o ao-
lice, a rorolla.
IjAcerado (loceratus). Roido nas margens.
I^acinia {lacinia). Segmento, divisão, de ordinário comprida e
estreita. Lacinia do perigoneo — a divisão do perigoneo na parte
livre.
liAclnlado (laeiniaius). Dividido em lacinias.
Ijanceolado (lanceolatus) . Em forma de ferro de lança: largo no
meio e estreitando pouco a pouco para os dois extremos a termi-
nar em ponta.
I^anoso» lanoglnoso ou lanado (lanatus). Coberto de pellos
compridos, brandos, deitados, semelhantes aos da lã.
I^ateral (lateralis). Diz-se do órgão inserido sobre um dos lados
d^aquelle em que se desenvolve: as flores^ o estylete, etc.
Ijenlio. A parte interna do tronco até ao cambium; externamente
fica a casca.
Ijenlioso (linhosns). Que tem a consistência da madeira.
I«entiealar (lenticularis) . Biconvexo como uma lente.
Idêntica las. Pequenas producções suberosas que apparecem na
310 DIGGIONARIO
casca nova de certas arvores, rasgando a epiderme, qnasi sempre
com a forma lenticolai;.
ItfeprtMM» (leprosus). Coberto de pequenas escamas, ou crustas.
lievantado (erectus). Ifireito, erguido.
liilier (liber). Parte mais interna da casca, a que segue logo ao
cambium. Apresenta contextura muito diversa segundo as espé-
cies, sendo ás vezes muito fibroso.
liiffulada ou llninulforme (ligutata). Em forma de língua:
corolla, etc.
lAÍMMkUo\lifnbus). Parte da folha ordinariamente laminar, desen*
volvida para os lados. Limbo do cálice^ ou da corolla — a parte li-
vre das sepalas ou das pétalas adherentes inferiormente.
I^lnear (linear is). Estreito e comprido com as margens paralle-
las : a folha, etc.
l4ÍTre (liber). Solto, sem adlierencia.
IdObado (lobatus). Que tem lóbulos.
liOliulo (lobulus). Divisões arredondadas, nào muito fundas— f.
da folha — as divisões arredondadas que não chegam a metade do
limbo.
lioeiílar {loctdaris) (uni' bi- tri- etc). Que tem loeulos, ou está
dividido em loeulos (1, 2, 3, etc.).
Eiocnlicida (d. loculicide), Diz-se a forma de dehiscencia da ca-
psula, quando se abre em tantas fendas quantos os loeulos, e de
modo que cada válvula traz adlierente no meio um diaphragina.
láOculo (loculus). Cavidade : do ovário, do fructo, da anthera, etc.
l4a»trosa (nitida). Diz-se a superfície glabra e polida, que parece
envernizada: as folhas, etc.
Isa:
lllo {mamillus). Protuberância mais ou menos obtusa.
Mamilloso (mamUlosus). Que tem um,''ou mais mamilios.
Mareencente ou murelioso (marcescenê). Diz-se o órgão que
persiste depois de secco : o cálice, a corolla, as folhas, etc.
MafM^ulliia (masculus). A flor que só tem estames. Appiica-se
também á infiorescencia de flores que só teem estames: á arvore
que só dá flores femininas.
DICaONARIO 311
■e«iiilla (medulla). Parenchyma cellular existente no eixo dos
caules e das suas ramificações. É limitada pelo canal medullar.
Mediilloflo (medullosus). Que está cheio de medulla.
Memliraiioiio {membranaceus) . Flexivel, ^ com a consistência e
grossura de uma membrana.
Hicropylo (micropilum). Pequena abertura no cimo do ovulo,
pela qual penetra o tubo pollinico, e se realisa a fecundação.
Monadelplfto» (monadelpkia). Dizem-se os estames adherentes
pelos filetes em um só grupo.
Mono-. Um só (antepõe-se ás palavras de origem grcjra) : mono-
eotyledoveay monopkyllo, He. — que tem uma cotyledoiie, uma só
. peça (phyllum), etc. (Tanibem se emprega em seu logar o alga-
rismo Í-).
Monoica (monoica), A planta que produz flores unisexuaes, mas
as de ambos os sexos no mesmo pé.
Monospermo (monospermus) . Diz-se o fructo que tem uma só
semente.
Miicronado (mucronatus) . Terminato em ponta curta, delgada,
rígida e direita.
Miiltl-. Muitos (antepõe-se ás palavras de origem latina) : multi-
(wuladoy multiflor^ multilocvlar, etc. — que tem muitos óvulos,
muitas flores, muitos loculos, etc.
Matico [muticus). Desaristado, não terminado em arista nem em
ponta.
IVa^icalar (navicularin). Que tem a forma de um baixel.
IVectarlo (nectarium). Órgão glanduloso da flor que segrega o
néctar.
IVerTosa» ou nervadas (nervosa, nervata). Que teem nervuras
salientes: folhas, etc.
IVeriraratt (nei^t). O prolongamento e as ramificações do peciolo
no limbo da folha. JV. dorsal — a nervura mais saliente e princi-
pal que se nota na pagina inferior de muitas folhas; n. secundch
rias — as que resultam da ramificação da principal.
IVevlra (neutrus). Diz-se a flor cujos órgãos sexuaes estão incom-
pletamente desenvolvidos.
312 oicaoNARio
IVd (nadus). Grossura, eleraçao, artiealação.
IVodoso (nodosus). Diz-se o eixo que tem nós ou engrossamentos.
IVu (nudus). Sem invólucros. Botão nu — isto é, sem escamas. FUr
nua — a que náo tçm invólucros floraes.
nrmio (nuUm). Que falta, não existe.
Ol»-* Radical que exprime uma idéa de inversão.
Olioorditoriiie (pbeordatus). Em forma de coração invertido.
Folha ohcordi forme — aquella em que a ponta do coração está pari
o lado do peciolo.
ObUiiao (obliquus). Diz-se d*um órgão em relação a um outro,
ou em relação ao horizonte. Folha obliquamente aguçada — a qne
é aguçada, não insensivelmente pelo estreitar dos margens, nus
por umá linha obliqua em relação á margem.
Oblongas (oblonga). As superficies com a forma d*uma ellipse
muito alongada: folhas, etc.
Oliowada* (obovata). Com a forma ovada (a do contorno de om
ovo) invertida. Folhas obovadas — as que teem a forma ovada fi-
cando a parte mais estreita do lado do peciolo; pétalas obovúdat
— as pétalas ovadas em que a parte mais. estreita fica do lado da
unha, etc.
Obsoleto (obsoletus). Mal assignalado.
Obtaso (obtusus). Não agudo.
Ondulada (ondulata). A superfície que se levanta e abaiia al-
ternativamente em curvas arredondadas : as margens das folkaSf
etc.
Opercalo {operculum). Pequena tampa.
OppoMio (nppositus). Diz-se o órgão que nasce defronte de outro,
um em cada lado do eixo: folhas^ flores^ etc. Diz-se ainda dos
verticillos floraes coUocados consecutivamente uns defronte dos m-
tros^^petalas oppostas ás sepalas^ estames oppostús ás pétalas^ ^^-
Orblcular {orbiculatus, orbicularis), Quasi circular : Ztmioifafo-
I^, etc.
Os»eo (osseus). Diz-se do tecido secco e duríssimo como o osso.
oicaoMARio 313
^wadaii {ovata). Superfícies com o eonTorno d'am ovo : o diâmetro
longitudinal maior que o transversal > a maior largura perto da
base e o cimo obtuso: folhas^ petcãíiSy etc.>
Owario {ovarium). Parte inferior mais ou menos entumecida do
pistillo onde estão os óvulos; nas Angiospermas ó um espaço, fe-
chado, constituido por um ou mais carpellos, e com um ou mais
loculos. *
ovóide* Solido originado por uma oval.
Ovulado, (l-multi): Que tem óvulos (um, ou muitos).
(ovulam). Estado inicial da' semente, antes da fecundação.
(pagina) . Face; díz-se principalmente da folha — a pagina
superior e a pagina inferior — isto é : as duas faces do limbo.
JPameia (po/eu). Pequeno corpo delgado, comprido, quebradiço,
qnasi como uma palha.
Palmadas (palmata). Vide palminervadas.
Palmatldlwididas (palmatisecta) , Dizem-se as folhas palmadas
com o limbo partido em segmentos até aò peciolo.
Palma II rendida» (palmatifida). Dizem-se as folhas palmadas
cujo limbo é fendido — isto ó cujas lacinias passam de metade do
limbo.
Valmatllobada* (palmatilobata). Dizem-se as folhas palmadas
cujo limbo é lobado — isto é, que tem recortes arredondados que
não chegam a metade do limbo.
Palmatlparlldaa (pnlmatipartita). Dizem-se as folhas palma-
das cujo limbo é partido em segmentos quasi àté ao peciolo.
Palmlnervadaa (palminervata). Dizem-se as folhas em que as
nervuras principaes são divergentes, partindo todas do peciolo.
JPanicula (panicula). InQorescencia indefinida em que os eixos
secundários, simples ou compostos, partem de diversos pontos do
eixo primário e vão decrescendo da base ao cimo, dando ao con-
juncto a forma cónica.
Panlettlada» (paniculati) . Dizem-se as flores dispostas em pa-
nicula.
JPaplllonacea (papilionacea). CoroUa irregular de cinco pétalas
314 DICaONARIO
com uma superior denominada estandarte, duas lateraes^ syine-
tricas, chamadas azas, e duas inferiores também symetricas, li-
vres ou quasi sempre soldadas na margem inferior, constitoindo
a quilha. No botão floral o estandarte cobre as azas, que por sua
vez cobrem a quilha.
Parasita (parasita). Planta que vive sobre outra, dos seus líqui-
dos nutritivos.
Parietal (parietalis). Preso a uma parede: placentaçào em qae
os óvulos estão presos na face interna das paredes do ovário uni-
locular.
Parlplnnulada» (paripinnata), Dizem-se as folhas compostas
com um numero par de foliolos.
Partido {partitus). Diz-se o órgão cujo limbo é recortado quasi
até á base : o cálice cujas sepalas só estão adherentes na base: a
folha cujas divisões chegam quasi á nervura média, etc.
Peciolada» (petiolata). Dizem-se as folhas que teem peciolo.
Peeiolo (petiolvs). Supporte da folha, mais estreito que o limbo;
peciolo commvm — o eixo principal da folha pinnulada.
PedieeUado (pedicellatus) , Que tem um pedicello.
Pedicello (pedicellvs). Pedúnculo parcial, ou secundário; a ul-
tima divisão de um pedúnculo ramoso, a que supporta as flores.
Pequeno pedúnculo.
Peduncalada (pedunculatus). Diz-se a flor que tem pedúnculo,
que não é sessil.
Pedanculo (pedunculus). Porção do eixo que supporta immedia-
tamente a flor, ou as flores na inflorescencia.
Pellndo (pilosus). Que tem pellos separados e compridos.
Peitado (peltatus). Em forma d' escudo, arrodelado com uma pro-
eminência no centro.
Penninervada» (penninervata), Dizem-se as folhas cujas ner-
vuras secundarias partem da nervura principal de um modo aná-
logo á rama de uma penna.
Peiitadelplfto»(p^/a(/^/p^ta). Qualificativo dos estames que es-
tão reunidos em cinco grupos.
Perenne (perennis). Persistente. A planta sub-Ienhosa, que vive
mais de dois annos; as folhas que quando caem já deixam a ar-
vore vestida com folhas novas.
Pericarpo (pericarpium). A parte que com as sementes forma o
DicaoNÁRio 315
fimcto : provém do desenvolvimento do ovário em seguida á fecun*
dação. Compõe-se do epiearpo, mesocarpo ou sarcocarpo, e endo-
carpo.
PeriiToneo (jiBrigoneum, perianthium). O oonjuncto dos invola-
cros floraes. Applica-se sobretudo este termo quando existe um
só invólucro flord.
IPerii^yiiico» (jierigynica) , Qualificativo dos estames quando estão
inseridos no cálice, ou no perígoneo, ficando apparentemente su-
periores ao ovário, em volta d'elle.
Pernada. Ramificação principal e mais grossa da arvore.
IPersistente (persistens), Diz-se do órgão que dura mais tempo
do que lhe é habitual: o cálice, a coróUa, operigoneo, etc, que
permanece depois da fecundação; as folhas que qnando caem já
estão outras novas desenvolvidas, etc.
IPetala (fetalum). Foliolo componente da corolla.
Petalolde (petaloideus) . Que tem a côr e a consistência das pé-
talas.
Pevide. Termo vulgar applicado ás sementes com o tegumento fi-
broso, membranoso, etc. (não ósseo), pertencentes aos fructos car-
nudos.
-Pliyllo (3-, í'j etc). Applica-se, antepondo-lhe as pai'lieulas mo-
no-, di-, etc, para significar as divisões de um órgão. Diz-se so-
bretudo das divisões perigonaes.
Pliyllodia (phyllodia). Folha cujo limbo abortou e cujo peciolo
tomou desenvolvimento foliaceo.
Picante (jmngens). Que pode picar ou ferir.
Pinlia (contiSy strohilvs). Falso pericarpo formado de um eixo e es-
camas numerosas, na base das quaes estão collocadas as sementes.
PtnnatldiYldidaii (pinnatisecia) . Dizem-seas folhas penniner-
vadas cujos recortes chegam á nervura média.
Pftnnatifendida» (pinnatifida). Dizem-se as folhas penniner-
vadas cujas divisões passam do meio do limbo e. são agudas e es-
treitas.
Pinnatiloliada» (pinnatUobata). Dizem-se as folhas penniner-
vadas cujos recortes são arredondados e não chegam a meio do
limbo.
Pinnatipartidas (pinnatipartita). Dizem-se as folhas penni-
nervadas cujos recortes chegam quasi á nervura media.
316 DICaONARIO
Pinnalailaii (finnata), Dizem-se as folhas compostas de foliolos
dispostos lateralmente.
Plfitlilo {pistillum). Órgão feminino da flor. Este nome applica-se
quer aquelle orgào seja constitiiido por um só carpello ou mais,
e quer estes estejam soldados ou livres. No seu estado mais com-
pleto compõe-se do avario^ estylete e estigma.
PlaceniMfto (placentatio) . Distribuição das partes a que se pren-
dem os óvulos.
Plninoso (plumatus, plumoaus). Que tem pellos dispostos sobre
um eixo, macios, fazendo lembrar uma pluma.
Pinrl-* Mais de um. (Antepoe-$e ás palavras de origem latina):
pluriotulado — que tem mais de um ovulo, etc.
Pollen [poUen), Pó fecundante contido na anthera.
Poly-« Muitos. (Antepõe-se ás palavras de origem grega), Pdtp-
penm, polycotyledoneo^ etc, — que tem muitas sementes, moitas
cotyledones, etc.
PolyaitelpiiiHi {^polyadelphia) . Dizem-se os estamos adberentes
pelos estames em mais de dois grupos.
Pol^i^amlca (polygntna). Denomina-se a planta com flores he^
maphroditas e unisexuaes no mesmo ou em diverso individuo. P(h
lygamo-monoica — se uns individues teem flores bermaphroditase
outros flores masculinas e femininas. Polygamo-dioica—se uns
individues teem flores hermaphroditas, outros masculinas, e ons
terceiros femininas.
Polymorplio (poíymorphux) . Com muitas formas; com formas
variáveis.
Pol^rspermo (polyspermus) . Diz-se o fructo que tem muitas se-
»
mentes.
Pontoado (punciatus). Que tem pontos. Pontoado-escavado^
com pontos escavados.
Porlelda. Diz-se a dehiscencia que se realisa por orificios oa p6*
ros: da capsula, da antkera.
Pdro (porus). f^equeno orifício.
Porte. Aspecto geral; applica-se ás arvores sobretudo com refe-
rencia á altura: arvore de grande porte — isto é: de grande al-
tura.
Precoce (praecçx). Temporão : floração precoce — isto é— antenof
á folheaçao.
DICCIONAMO 317
Prelloraffio (praeflorecentia). Arranjo ou disposição das peças
da flor antes d*ella abrir.
Prefolia^o* Vide folheatura,
Pr«Mitrado (procumbens) , Deitado no chão: o tronco, os ramos,
etc.
Pwendo-liaira. Semelhante no aspecto a uma baga, mas com ou-
tra origem.
Paendo-papUlonacea. Corolla irregular de 5 pétalas, seme-
lhante á corolla papilionacea; também com uma pétala superior,
duas lateraes symetricas e duas inferiores egualmente symetricas,
mas livres: no botão floral as pétalas inferiores cobrem as duas la-
teraes e estas a pétala superior.
Pabeseente (jíubescens). Com pellos macios, curtos, pouco aper-
tados.
IPulYcralento (puberulis)» Que parece coberto de pó.
IPyriforme (pyriformis). Em forma de pêra.
<^
^nadrl-. Que tem quatro. (Antepoe-se ás palavras de origem la-
tina)— quadrilobado^ quadrilocular , quadrangular, etc. — que tem
quatro lóbulos, loculos, ângulos, etc. (Substitue-se também pelo
algarismo 4-).
Quaternadaa (quaierna). Dizem-se as folhas dispostas a quatro
e quatro em cada verticillo.
^aillia {carina). Linha saliente como a quilha de um navio : a na-
vettaon peça inferior da corolla papilionacea, formada de duas
pétalas quasi sempre soldadas pela margem inferior.
Quicadas (quinata). Dizem-se as folhas dispostas cinco a cinco
em cada verticillo.
Qninciae-. Que tem cinco. (Antepõe-se ás palavras de origem la-
tina)— quinquelobado, quinquelocular, etc. — que tem cinco lóbu-
los, loculos, etc. (Também se substituo pelo algarismo 5-).
318 DIGGIONARIO
Ilaolii» (rachis). Eixo principal : r. da espiga, do cacho, da pani-
cuia, etc. — o pedanculo principal d'estas inflorescencias : r. da
folha pinnulada — o peciolo commam.
BaiUcante (radicans). Diz-se o caule qae se estende mais oa
menos sobre o solo enraizando em diversos pontos.
Bacllcalaa {radicxdae). ks ramificações mais noras da raiz por
onde se faz a absorpçao.
Baios (radii) — medullares: laminas radiantes de tecido cellolar,
que se encontram no lenho, partindo da medulla para a periphe-
ria. Raios daumbella — pedúnculos da inflorescencia em umbella.
iftalE (radix). O órgão destituido de folhas, geralmente subterrâ-
neo, cuja missão é fixar a planta, e absorver do solo os princí-
pios nutritivos.
Bamiflcação (ramificatio) , Disposição dos ramos sobre o tronco.
Bamtflcado ou ramoso (ramosus). Que tem ramos ou rami-
ficações.
Baminlio (ramus annotinus) . O ramo que tem um anno, qne já
está lenhoso.
Bamow {rami). Os eixos em que se divide o caule.
BasCeJante {repens, reptans). Diz-se o caule prostrado que deita
raizes de espaço a espaço.
Belieiitfio. Applícamos sobretudo este termo aos rebentos e tron-
cos novos originados sobre as toucas das arvores cortadas, oa so-
bre as raizes lateraes.
Beliento {ramus hornotimis). O ramo no anno em que é produ-
zido, no anno em que sae do botão, quando está ainda herbáceo.
Beeeptacalo (receptactdum). Extremidade, mais ou menos mo-
dificada, do eixo floral sobre que estão inseridas as diversas par-
tes da flor.
Becorvailo (recurvatus). Curvado para fora ou para baixo.
Bedondo (rotundas). Que tem a forma circular; deve appliear-se
quando se trate de superficies, mas emprega-se ás vezes impro-
priamente aos solidoSy no sentido de globoso.
DICaONARIO 319 .
ir (regularis). Diz-se do orgao cujas partes sao egoaes e ^
symetricas: corolUiy cálice, flor, etc.
Bemontante (aiscendenSf ascendens), Diz-se o caule parallelo
na base ao terreno e que depois se levanta.
Sentrorme (renifarmis). Em forma de rim: mais largo do que
comprido, e chanfrado na maior direcção.
Betiemaila (reticulata). Diz-se a superfície coberta de linhas
formando rede ou malhas : folhas, etc.
Betrorso (retrorsum). Virado para traz.
BbiBoina (rhizoma). Caule subterrâneo, escamoso, alongado e
grosso, que produz raizes adventicias na face inferior e ramos com
folhas na face superior.
Blionaiboftdal {rhomboiialis, rhombeus). Que tem a forma de um
quadrilátero com os lados eguaes e parallelos: diz-se das folhas,
etc.
Bliyiicloiiia (córtex rimosus). Parte externa da casca morta e
secca,. por estar isolada da região interior viva, pela interposição
de laminas mais ou tnenos espessas e profundas de tecido sube-
roso impermeável.
BcMlada (rotata). Diz-se especialmente da corolla: coroUa gamo-
pétala com o tubo muito curto e o limbo dividido em lacinias pia*
nas e muito abertas.
Iftollço (teres). Que não tem ângulos: caule, etc.
Bas»«o (rugosus). Cheio de rugas ou pequenas pregas.
Saeco entbryonario. Cellula do ovulo na qual se realisa mais
tarde o desenvolvimento do ovo em embryão.
ifaeoos poilinlcos. As cavidades ou loculos da anthera onde
se produz o poUen.
•ai^itiadas (sagittata). Em forma do ferro de uma setta: termi-
nadas em ponta, e com uma chanfradura na base cujos ângulos sao
agudos: folhas, etc.
Saliente (excerptus). Diz-se de um órgão em relação a outro
que o envolve. Estames salientes — os que são maiores do que a
320 DICCIONARIO
corolla e portanto a exeedem; corclh ialiente'^^ qne é maior d»
que o cálice, etc.
flamara (samara), Achenio com ama ou duas dilatações membra-
nosas (azas).
flarcocarpo. Parte do pericarpo comprehendida entre o epicarpo
e o endocarpo; é ella que essencialmente constitue os fmctos car-
nudos.
Sarmento«o (sarmentosus) . Comprido, flexivel e lenhoso: appli-
ca-se ao caule,
•eorploide {scorpioides). Diz-se a cymeira em que o eixo que
sustenta as flores se enrola sobre si mesmo para o lado inferia;
as flores estão de ordinário voltadas para o lado superior.
Aeeco {siccys). Não carnudo : fructo seeco — o que tem opaicarpe
pouco desenvolvido e que secca quando amadurece.
•eda (seta). Pello rígido.
flesmenfo (segmentum). A parte que resulta da divisão de nm
órgão quasi até á base; assim se diz — segmento do perigonieo,e^
— As diversas partes da folka dividida ou da folha partida,
aemenle {sémen). O ovulo depois de fecundado e desenvolvido;
comprehende o tegumento e a amêndoa.
•einpr€>-werde {sempervirens) . Diz-se a planta lenhosa que nunca
apparece despida de folhas.
Sepala {sepalum). Um dos foliolos componentes do cálice.
Sepaloide {sepaloideus) . Que tem a consistência e acôr verde h>
bitual das sepalas.
•epilcida (d. septicide). Diz-se a dehiscencia da capsula, na qnal
os diaphragmas se dividem ao meio, de modo que cada válvula ao
cair leva adherente, em cada uma das margens, uma d*essas me-
tades.
Serrada* (serrata). Dizem-se assuperficies que teem dentes aga-
dos, como os da serra, e voltados para cima: fdhas, etc.
Se«sil (sessilis). Rente, sem peciolo ou pedúnculo : /blAa, /br, ele.
ttetaeeo (setaceus). Semelhante a uma seda.
Se tone (setosus). Que tem sedas.
Slll4iiieroriii4^ (siliquaeformis). Que tem a forma de uma sãí'
qua (fructo secco comprido, bicarpellar, com os loculos separados
por um tabique falso, e dehiscente em duas válvulas, de baao
para cima, ficando o dissipimento livre e com as sementes).
DICaONARIO 321
Slatples (simplex). Não dividido nem ramificado.
Slnoada (iinuatn), Diz-se a superficie cujo contorno está modi-
ficado eom recortes ponco fundos e lóbulos pouco salientes, uns e
outros arredondados: as folhas, etc.
•odavel. Diz-se da espécie vegetal que occupa área extensa em
determinados pontos, quasi com exclusão de outra espécie.
Solitário {solitarius). Não acompanhado ou aggregado.
•patlia {spatha). Folha enrolada em cartucho, mais ou menos
modificada, que envolve a espadice.
Spatliaceo (spathaceus) . Em forma de spatha.
Sub-. Quasi: sub-inteiro, sub-acuminado — quasi inteiro, quasi
acuminado, etc.
•nli-arlioato (svffrviex). Pequena planta, inferior de ordinário
a 1", lenhosa na base e herbácea sempre nas extremidades, ha-
bitualmente sem botões escamosos.
Salieroso (suberosus). Da natureza da cortiça.
■occnlento (succíilenius). Que tem sueco ou sumo.
Sulcado (stdcatvs). Que tem sulcos profundos.
Superior (superttm), Diz-se do ovário quando está livre (não ad-
herente ao tubo do cálice) e tem inferiormente inseridos os esta-
mes. Diz-se do cálice quando está soldado ao ovário. Pagina su-
perior da folha — a pagina anterior, a que está virada para cima.
Sutura (sutura). Junctura, ou logar em que se unem as válvulas
ou ^ças de um todo.
Vabiiiue. Dissipimento, diapbragma.
Tardio (serotinus). Serôdia. Floração tardia— a^qa^ se realisa
depois da folheação.
Veeido. Conjuncto de cellulas idênticas, que obedecem á mesma
lei de desenvolvimento.
Vei^umento {tegumentumj tegmen). Invólucro, casca: tegumento
da semente — os tecidos que cobrem a amêndoa; tegumento do
tronco — a parte externa da casca, etc.
Verminal (terminalis), Diz-se do órgão que está coUocado no
eimo de um outro: flor terminal — a que está no cimo do eixo;
estylete terminal — o que está no cimo do ovário, etc.
c. 8. — ^v. n. 21
I
i
322 DICCIONARIO
Ternadiís (temata). Dizem-se as folhas dispostas 3 a 3 em eada
verticillo.
Vetra*. Quatro. (Antepõe-se ás palavras de origem grega): tetrO'
chenio, tetraspertna, etc. — que tem quatro achenios, quatro se-
mentes, etc. (Às vezes substitue-se pelo algarismo 4-).
Vetrauronal {tetragonus) . Que tem quatro ângulos: o conde das
Labiadas, etc.
Tliyrflo (thyrsus). Inflorescencia indefinida formada por um eixo
primário comprido do qual partem eixos secundários, simples ou
ramosos, sendo os do meio maiores que os dos extremos, e to-
mando o conjuncto a forma ovóide.
Vliyrfloide ou tliymlf^oriiie {thyrsoideus) . Que tem a forma
de mn thyrso.
TomenCo* Tomámos esta palavra em accepção muito mais larga
do que a da palavra latina tomentum (vid. cotanUhmo). Sob a de-
nominação de tomento considerámos a vestimenta de toda a super-
fície não glabra: o estado de toda a superfície com pellos, inde-
pendentemente da forma d'esses pellos.
Tortuoso (tortuosos). Que forma ângulos alternadamente para
um e outro lado: o caule, etc.
Vouça. A parte inferior do tronco, subterrânea, conjunetamenle
com as raizes principaes.
Vrepador (scandens). Diz-se o caule que cresce encostado a(K
corpos visinhos, segurando-se por meio de raizes, gavinhas, acu-
leos, etc.
Trl-. Três, três vezes. (Antepõe-se ás palavras tanto de origem
grega como latina) : triangular, tricome, trinervada, trisperma,
etc. — isto é: que tem Ires ângulos, três pontas, três nervuras,
três sementes, etc. (Substitue-se também pelo algarismo 3-).
TrAennal. Três annos, ou que dura três annos. Diz-se matwrúr
ção triennal quando decorrem três annos, ou três cyclos vegeta-
tivos, entre a floração e a maturação. •
Tritollada» (trífoliata). Dizem-se as folhas compostas que teem
três foliolos.
Vroncado (truncatus) . Cortado transversalmente na extremidade.
Vroneo (truncus). Caule dos vegetaes lenhosos Angiospermofi—
dicotyledoneos e Gymnospermos: tem a forma de um cone nuis
ou menos engrossado para o meio.
r
DIGGIONARIO 323
Volieroaloso (tuberetUatus). Qae tem tubérculos ou pequenas
saliências.
Vnbo {tubvsi). A parte inferior da eoro//a gamopetala ou do calicê
gamosepalo onde as pétalas ou as sepalas estão adherentes.
Vnlralofio {t^dmlatus, tubulosus). Em forma de tubo.
Varblnado (turbinatus). Em forma de pião.
Umliella (umbella). Inflorescencia em que os pedúnculos nascem
á mesma altura e tem qaasi as mesmas dimensões : estes pedún-
culos denominam-se raios da umbella. Quando os raios se não di-
videm, a umbella dizrse simples, aliás diz-se composta: n*este ul-
timo caso os raios primários formam a umbella primaria ou uni-
versal, e as sub-divisões dos raios ou raios secundários formam
as umbellas secundarias ou parciaes.
Umbeliadas {umbellati). Dizem-se as flores dispostas em um-
bella.
Umlielliforiiie (umbelliformis). Semelhante a uma umbella.
CJmlilllcailo (umbilicatus) . Que tem uma depressão : fructo um-
bilicado na base — fructo que tem na base uma depressão ou ca-
vidade.
Cnlia (unguis). A extremidade inferior da pétala ou da sepala^
quando é alongada e estreita.
Uni-. Um (antep5e-se ás palavras de origem latina). Vnãabiada,
uninervada^ unifoliada, etc. — isto é — que tem um só lábio, uma
só nervura, um só foliolo, etc. (Também se substituo pelo alga-
rismo 1-).
fJniaexaal* Diz-se a flor que tem só estamos ou só pistillo; diz-
se a inflorescencia cujas flores teem só estamos ou só pistillos.
(legumen). Fructo, de ordinário alongado, nnicarpellar 1-
polyspermo, dehiscente em duas válvulas pela satura ventral e
nervura dorsal^ menos vezes indehiscente.
21 #
f
I
í
I.
I
I
324 DicaoNARio
▼alvnla (vo/tm/a). Porção de mn órgão qae naturalmente se se-
para para a sua dehiscencia: do pericarpo, da anthera, etc.
Ta«o0 alMrtos. Tubos resultantes da reabsorpçao das paredes
limitrophes de uma serie de cellulâs, e que se acham dissemina-
dos, solitários ou grupados, no meio do prosenchyma fibroso.
ITeios {venae) Ramificações das nervuras.
TcnoMi» (venosa). Que teem veios salientes: falhas, etc.
▼errii0o«o {vérrucatui). Que tem protuberâncias em forma de
verrugas.
ireriiclllados (vertío/Ialt)» Dispostos em verticillo: ramos, etc.
irertlciUo (verticUlus), Conjuncto de partes ou peças (ramos, fo-
lhas, flores, etc.) dispostas circularmente em redor de um eixo.
Tlficoso (viscidus). Pegajoso, gelatinoso.
Tolovel (volubílis). Diz-se o caule trepador que se emrola em es-
piral ao redor de um supporte. A direcção do enrolamento é con-
stante para cada espécie.
r
índice das famílias botânicas, géneros e espécies descriptas,
e dos synonpos Llnneanos e Broterianos
Mota — Os nomes das famílias e dos géneros estão escriptos em
caracteres normandos. Os géneros, que não teem indicação de
pagina, são apenas citados como synonymos.
Os nomes das espécies admittidas estão escriptos nos caracteres
ordinários, e os dos synonjmos em itálico. Os synonymos não teem
adiante a indicação de pagina; os números entre parenthesis, que os
seguem, são os números de ordem alphabetica correspondentes aos
nomes especiíicos admittidos, e por onde facilmente se achará a pa*
gina onde vão mencionados.
PAG.
Alislntlilani.
— arborescens,Brot. (21).
Aeaola»l¥ 219
1 — dealbata, Lk 219
2 — Farnesiana, W 219
Acer. li 237
3 — campestre, L 237
4 — Monspessulanum, L.. 237
5 — Pseuaoplatanus, L... 237
Aeçrí neas, DC 236
PAa.
Adenocarpafl» DC. 213
6 — anisochilus, Bss.... 21&
7 — commutatus, Guss.. 214
8 — complicatus, Gay... 214
9 — grandiflorus, Bss... 214
10 — Hispanicus, DC 214
11 — intermedius, DG.. . . 215
Aeseola»* Ij 242
12 ■— Hippocastanum, L.. 242
13 — ruDiconda, Hort 242
326
INBICB
PAfl.
Allanthiis* Oe«r. . 224
14 — glandolosa, Desf. . . . 225
Al nas» Toorn 67
15 — glutinosa, Gaertn. . . 68
Ameia moliler»
Med.. 169
16 — vulgaris, Mnch 169
Ampelíde as»
Bndl 243
AmygdaiAeeas» C}*
Don 179
Amysdalas» li ... . 179
17 — communis, L 181
V. fragilis, Gren. . . . 181
V. óssea, Gren 181
-^Pérsica, L. (195).
Anagyris» I4 215
i8— foetida, L... 215
ApocynAceas»
lilndl 142
ArallAceaii» «ioss. 151
Ar]»atus» Voarn. . 115
19— Unedo, L 115
Ar^yroloblam*
Eclíl 215
20 — argenteum, Wk. . . . 215
Arteniisia» li 105
21 ' — arborescens, L 105
22 — coerulescens, L 105
23 — crithmifolia, L 106
— palmata, Lam, (22).
24 — paniculata, Lam. . . . 106
Asparayus» li 49
25 — acutifolius, L 49
26— albus, L 49
27 — aphyllus, L 49
28 — horridus, L 49
Atriplex» li 95
29 —glauca, L 95
30 — Halimus, L , . . 95
31 — portulaeoides, L. . . . 95
Aoranotéleeas»
Corp 246
B erlierídeaa»
Tent 264
FAG.
Berlieris» li 264
32 —vulgaris. L 264
Beta la» Toara 64
—alba, L. (33-34).
—Alnus, L. (iS).
33 — pubescens, Ehrh 66
34 — verrucosa, Ehrh 66
BetalAceas Endl. 63
Broossoaetla»
Tent 90
35 — papyrifera, Vtnt 91
Baplearaoi» li. . . . ISO
36 — fniticosum, L 180
37 — verlicale, Orteg 151
BaxAceas» Klo-
tzseU 234
Baxas» Toara 234
38 — sempervirens, L 235
Caeteftoeas. DC ... 155
Cactus» li.
—Opuntia, L. (188).
V. Tuna, DC. (187).
Cailuaa» Sallsb.. 120
39 — vulgaris, Salisb 120
Calycotooie» lilc . . 208
40 — villosa, Lk 208
Capparfdeaa»
dias» 262
Capparis» li 263
41 — spinosa, L 263
Castauea» Toaru. 80
42 — vulgaris, Lam 81
Celtídeas» Eadl. . . 85
Cellls» Toara 85
43 — australis, L 86
Ceratoala» li 218
44 — Siliqua, L 218
Cereis» li 217
45 — Siliquastrum, L.... 217
' Cesalpial6ceas»
B. Br 216
Cliamaerops» li. . . 50
46— humilis,L 50
C li e a op<»dl Aceas»
Iiladl 91
índice
327
PAG.
Clienopodiaiii* Ij*
— fruticosum, Brot.
(308).
Ctotf nea«, DC 254
Cisto «» Toum .... 256
47— albidus, L 257
48 — Bourgaeanus, Coss . . 259
— cheirnnthoideSt Lam.
(135.a).
49— Clusii,Dan 259
80 — crispns, L 257
(132).
M — hirsutus, Lam 257
— involucratus, Lam,
(134-a).
52 — ladaniferus, L 258
— lasianthuSy Lam.
(i30).
53 — laurifolms, L 258
— laxus, Brot. (51).
— Libanotis, L. (133).
54 — Monspeliensis, L 257
— ocymoideSy Lam,
(Í36).
65 — polymorjjhus, Wk. . . 256
86 — populifolius, L 258
87 — salviaefolius, L 258
— scabrostis, >ltí.(135).
— umbellatiis, Brot.
(137).
— verti cillatusy Brot.
Íl37-a).
— villúsus, L. (55).
CitrostEi 247
88 — Aurantium, Risso. . . 248
V. sanguínea 248
89 — deciunana, L 248
60— Limetta, Risso 249
V. Bergamia^ Risso.. 249
61 — Limonum, Risso 249
Y. lumia, Risso 249
62— Medica, Risso 248
63— nobilis,Lour 248
64 — vulgaris, Risso 248
PAG.
Clematlii, li 266
65 — cirrhosa, L 266
66— Flammula,L 267
67— Vitalba,L 267
68 -Viticella, L 266
V. campaniflora,Brol. 267
Compostas» I4 104
Coníferas* EndI . . 33
Corema* O. Oon. . 235
69— álbum, D. Don 236
Corldotliyiiias*
Relib«
— cavitaluSy Rckb.
(327)..
Cornafteèas* DC. . 153
Corniis» li 153
70 — sanguineá, L 154
Coronilla. I4 190
71 — Emerus, L 191
72— glauca, L 191
73 — juncea, L 191
Corylus* Tourn. . . 70
74 — Avellana, L 71
CrassulftceasvDC. 156
Crataeis^us* Ij 170
— Ana, L. (302).
75 — Azarolus, L 171
— Bibas^ Lour. (101).
76 — monogyna, Jcqu 171
77 — Oxyacànlha, L . 171
V. fJ. (76).
— torminaliSy L. (305).
Cupressus*
Toarn 37
78 — glauca, Lam 37
79 — horizontalis, Mill 37
— Lusitnnicay Mill.
(-8).
80 — sempervirens di, L. . . 37
Cnpalfferas*
Rlcn 68
Cyiloiiia» Toam . . 165
81 — vulgaris, Pers 165
Cytlsas* li 209
82— albus, Lk 210
328
índice
PAG.
— argenteui, L. (2(K).
a3 — candicans, DC. .... 209
— complicatus, Brot.
(11).
— HispantcuSy Lam.
(10).
— Lahurnnm^ L, (180) .
84 — linifolius, Lam 209
85— purgans, Wk 210
86 —iriflorus, L^Herit. . . 210
Dalioeeia* Dom. . 116
87 — polifolia, Don 116
Dapline» l4 101
88— Gnidium, L 102
89 — Laureola, L 102
-^viUosa, L. (322).
DaphneAeeas*
Tent 101
Empetráceaii,
I^inill : 235
Empefrum* L<*
— alhum, L. (69).
Epliedra* I4 42
— distachya^ Brot.
(90).
90 — fragilis, Desf 43
Brica* li 117
91 — aragonensis, Wk.. 119
— arbórea^ Brot. (92-
96).
92— arbórea, L 119
93 — australis, L 118
94 — ciliaris, L 118
95 — cinerea, L 119
— Daboeciay L. (87).
96 — lusitanica, Rud. ... 119
97 — mediterrânea, L. . . 117
98 — scoparia, L 118
99— Tetralix, L 118
100— umbellata,L 117
— vulgar is ^ L. (39).
Eric6eea»»l4ÍniIl. 113
Erâobotrya»
Undl 169
101 *»Japonica, Lindl 169
Pia.
E o c aly ptn ••
I^*Herit 160
102 — globulus, Labill. ... 161
E a p liorMA.ceaa«
B* Br 231
Fairns* li.
— castanea^ L. (,42).
Ficas* Tonm .... 90
103— Carica. L 91
V. saliva 91
V. silvestris 91
P raxíneas»
Bartl 239
Praxinns* Ei 239
104 — angustifolia, Vahl.. 240
105 — excelsior, L 241
«enlsta* DC 195
— Algarbiensis , Brot .
(115-a).
106 — aucisirocarpa, DC. 198
107— Anglira, L 198
108 — Barnadesii, Grils. . . 196
109 — berberidea, Lge. - . 199
110 — Boui-gaei, Spach. . . 200
111 — Broteri, Poir 201
— candicans^ L. (83).
112 — cineraseens, Lge.. . 200
113 — decipieus, SpacQ. . . 197
114 — falcata, Brot 199
— Germânica^ Brot.
(113;.
115 —hirsuta, Vahl 197
V. AlgarvidDsis,
Brot 197
116 — Hispânica, L 197
117 — Hystrix, Lee 199
V. glabra, tge 199
V. villosa, Lge 199
118 — leploclada, Gay. ... 200
^UnifoUa, L. (84).
119— Lobelii, DG 199
120 —Lusitanica, L 196
121 — micrantha, G, Ort. . 201
— parviflora^ Brot,
(Hl).
índice
329
PÀO.
122 — polyanthos, B. de
R5mer 200
123— polygalaefoIia,DC.. 200
— poíygalaephylla^
Brot. (iíSJ.
124 — scorpioides, Spaeh. 196
126 — Scorpius, DC 198
126 — Toumefortii, Spach. 198
127 — triacanthos, Brot. . . 196
— tridentada, Brot.
'(231-232).
128 --Welwitsehii, Spach. 198
«leditscliia» Ij. . . 217
129 — triacanthos, L 218
C^oet&oeas» Endl. 42
C}raitat6ceas»
Dou 161
Hallmiitiii» Dan. 259
130 — eriocephalum, Wk. 262
131 — fonnosum, Wk. . . . 262
132 — halimifolium, Wk. . 261
133 — Libanotis, Lge 260
134 —multiflorum, Wk. . 261
V. microphyllum,
Wk 261
135 — occidentale, Wk. . . 262
V. incanum, Wk. . . 262
V. rugosum, Wk. . . 262
136 — ocymoides, Wk... 260
V. erectum, Wk. . . 260
V. procumbens, Wk. 260
137 — umbellatum, Spach. 259
V. verticillatum,
Wk 260
V. viscosum, Wk. . 260
Hedera* JL 151
138— Helix, L 152
Hi ppoeast&neast
DG 241
Hypericíneas»
DG 251
Hyperleani* li. . . 252
139 — Androsaemum, L. . 252
Ilex*l4 225
140 — Aquifolium, L 226
PAG.
Illcíneas* Bron-
148
^asmiiiuni*
Toam 148
141 — fruticans, L 148
142 — grandifloram, L. . . 149
143 — officinale, L 148
JuiPlandeas* DC. 62
Jairlaiis» Ij 62
144— nigra, L 63
145— regia, L 63
dFmilperaa» li. . . . 38
146 — communis, L 40
V. nana, W 40
147 — Oxycedrus, L 39
V. macrocarpa,
Sibth 40
*v. umbilicata, Godr. 40
148 — phoenicea, L 39
y. oophora, Kze... 39
149— sabina, L 39
liaMadas» Jass. . 124
liabarnam.Qris. 213
150— vulgare. Gris 213
liaaríneas»
auM 97
liauraSf li 98
--Indica, L. (194).
151— nobilis, L 98
liai^andala»
Vourn 126
152 — latifolia, Vill 128
153 — multifida, L 127
154 — pedunculata, Gav. . 127
— spicay L. (156).
r. P. Brot. (152).
155 — Stoechas, L 127
156— vera, DC 128
157- viridis, Ait 127
- Iiavatera»Ii 250
158— arbórea, L 251
169— Olbia, L 251
160— triloba, L 251
330
índice
PAG.
Tonm 144
161 — vulgare, L 148
li I m o n i astrimi»
Mneli 121
162 — moHopetalam, Bss. . 122
litppla^E. 123
163 — citriodora, Kth. . . . 123
lionlcera* li 109
— caprifoliuniy Brot.
(164).
164 — etrusca, Santi 110
165 — hispânica, Bss. &l
Reut 111
166 — implexa, Ait i. 110
167 — Periclymenum, L. . 111
lionlcerAceas^
JuM 106
liorantliaceafl^
Bndl 100
liOtOII» li.
-^argenteuSy Bro't.
(20).
Etfyelum» li 142
168 — europaeum, L 142
llalv6cea«,R.Br. 249
Helta» li 24K
169 — Azedarach, L 245
HellAceas* «ln«». 244
Mespllan. Et 170
— Amelanchiêr, L.
(16).
170 —Germânica, L 170
— Japonica, Thunb.
(101).
Mieromerta^BtU. 134
171— Graeca, Bth 135
172— Juliana, Bth 135
Mimosáceas» H.
Br 218
Mimosa» Adans.
— Famesiana, L. (2).
MoreUceastBndl. 87
Moms» li 88
173— alba, L 89
PA6.
V. multicaulis, Per-
rot . . , . *
174— nigra, L
— papyrifera^ L. (35).
Myrica^li 61
175— Fava, Ait 61
176— 6ale,L 61
Myrfceai»* Ricli.. 60
■■yrlftcea». B. Br. 1S7
Hyrtn*. Tdoni. . 1S9
177 — comiDiuiis, L 160
IVertum* li 143
178 — Oleander. L 143
OHione» Qa^rtn.
— poriulacoides, Moqu.
(31).
Olea» Teorii 146
179 — Europaea, L 146
V. 01easler,DC.... 146
V. sativa, DC 146
OleáLceau* Eitiidl. 143
Ononis* Ia 192
180 — antiquorum, L.... 193
181 — campestris, Koch. á
Zi2 192
182 - crispa, L 194
— Hispânica, Brot.
(184-186).
183 —Hispânica, L. fil. . . 194
184— Natrix, L 193
— pinguis ^ Brot.
(184).
185 — procurrens, Wailr. . 193
— v.spinosissima.Lge. 193
— V. vulgaris, Lge . . 193
186 — Famosíssima, Desf.. 193
— spinosa^ L, (181).
— V, P, L. e Brot.
(185-a).
Opantia#Toiini.. 156
187 —Tuna, Mill 186
188 — vulgaris, Mill 166
Orlganvait
Tonrn 128
Creticumj L. (191-a)
índice
331
PÀ6.
489 — Majorana, L 128
190 — virens, Hoffge. 6l
Lk !... 129
— vulgare, Brot, (190)
491 — vulgare, L.
V. prismaticum,
Gaud 129
Osyri», El 99
192 —alba, L 100
193 — lancjeolata, Hochst. . 99
Palmeira», Ei 50
Paplllonáíceas»
E. 186
Passerlna» Ij.
—hirsuta, L, (322)
— hirsuta, Broí. (321)
Peráea, :\í 98
194 — Indica, Spreng 98
Pemlea* Tourn. . 181.
195 — Milgaris, Mill 182
P lilllyrea»
Voam 147
196 — anguslifolia, L. . . . 147
197 — latifolia, L 147
198— media, L 147
Plilonilfli, El 136
199— Lychnitis, L 136
200 —purpúrea, L 136
Plioenlx, Ia 51
201 — daetylifera, L 51
Pliytolacea* Ij.. . 96
202 — decandra, L 96
Í03— dioiea, L 96
Pliy tolaccAce a ••
Endl 96
Pinus» Mpacli.. . . 34
204 — halepensis, Mill. . . . 36
— maritima, Brot.
(205-a).
205 — Pinaster, Ait.
V. acutisquama, Bss. 36
206— Pinea, L 36
PIstacia* Si 223
207 — Lentiscus, L 224
208 — Terebinthns, L. . . . 224
PAG.
Platanáíceaiit
liestll» 81
Plátanos, li 82
209 — occidentalis, L 83
210 — orientalis, L 83
P 1 a m li ay í neas»
Endl 120
Pom 6ceai»»
Baril 162
Popalu«9 Toorn. 57
211— a^a, L 59
— canndensis , Desf.
• (212).
212 — monilifera, Ait 60
213 — nigra, L 60
214 — pvramidalis, Roz. . 60
215— tremula L 59
Praiiioni» li 138
216— majus, L 138
Prunui», li 182
217 — Armeniaca, L 182
218— avium, L 184
V. Duracina. DC... 184
V. Juliana, DC 184
V. silvestris. Ser. . . 184
219— Cerasus, 1 184
220 — domestica, L 183
221 — fruticaiis, Weihe.. . 183
222 — insititia, L 183
223 — Laurocerasus, L. . . 185
224 — Lusitanicus, L 185
225 — Mahaleb, L 184
226— Padus, L 185
227 — spinosa, L 183
Pteronpartunit
Npacli 201
228 — C antabricum,
Spach 202
229 — lasiantbum, Spach. . 201
230 — seolopendrium,
Spach 202
231 — stenopterum, Spach. 202
232 — tridentatum, Spach. 202
Púnica. Toam. . 161
233-.Granatum, L 162
332
IND1C£
PAO.
pyrafi. li 166
234 — communis, L 166
V. Achras, WUr. .. 166
V. Pyraster, Wllr.. 166
V. saliva, DG 166
— Cydouia^ L. (81).
238— Malus, L.. 167
V. hortensis 167
V. silvestris 167
Quercon» Voam. 71
236 — coccifera, L.. 78
V. pseudo-coccifòra,
Wbb 79
— fruticosa^ Brot.
(238).
237 — hispânica, Lam 79
238 — hurailis, Lam. 75
— hybrida^ Brot.
■(240-b).
239 — Ilex, L 80
V. Ballota, Desf. . . 80
240 — lusilanica, L 78
V. alpestris, Bss. . . 75
V. baetica, Wbb. . . 75
241 — occideutalis, Gay... 77
242 — pedunculata, EBrh. 74
— pubescens, Brot.
(245).
— meemos a, Lam,
(242).
— «uWá,L. (242).
— rotuniii folia , Lam.
(239-a).
243 — sessiliflora, Salisb. . 74
244— suber, L 77
245— Tozza, Bosc 73
B a n u ncalâceas*
4ÍUSS 265
Betaina* Bsi» 194
246 — monosperma, Bss. . 194
247 — sphaerocarpa, Bss. . 194
Bliaiiiii6ceaii* B«
Br 226
Bliamnus* Ma 229
248 — Alaternus, L 230
PAG*
— buxtfoliuSyBrot.
(293).
249 — Frangula, L.. 230
— /oíi«, L. (368).
— Lycioides, Brot.
(280).
250 — oleoides, L '230
— Zizypkus, L. (369).
Bliodode n d r o n*
li 116
251 — baeticum, Bss. &
Reut 116
Blmns* JL 223
252 — Coriaria, L 223
Bibe», li 151
253 — Grossularia, L.
V. salivum, DC 153
Blbe«i6eeas»
Bicli 13i
Bicinnii, Tonr . . . 233
254 — communis, L 234
Boblnia, JL 191
255 — Pseudo- Acácia, L.. 192
Bo»a«Li 172
256 — canina, L 174
257 — rubiginosa^ L 175
258 — sempervirens, L . . . 174
V. microphylla, DC. 174
V. scandons, Wk.. 174
Bonáieeait» «iasii . . 171
Bofunarlnuii* li.. 135
259 — officinalis, L 136
Bubas» li 175
260 — amoenus, Por-
tenschl. 177
V. integrifolius, Lge. 177
261 — caesius, L 176
262 — collinus, DG 176
263 — discolor, Weihe «
Nees 177
— fruticosus^ Brot.
(260 - 262 - 263 -
266-267).
264 — glandulosus, Bell.. 176
265— idaeus, L 176
índice
333
PAG.
266— thvrsoideuWimm.. 177
267 — ulinifolius, Schott. . 177
Hasens* li 46
268 — aculeatus, L 48
Saltcíneast li. . . . 51
Sallcoriifta»
Moqn 94
269 — fruticosa, L 94
Sallx» Tourn. ... 52
270— alba, L. 55
V. vitellina, L 55
271 — amygdalina, L 54
272 — atro-cinerea, Brot. . 56
273 — babylonica, L 54
274— Caprea,L 56
275 — cinerea, L. ...... . 57
276 — fragilis, L 55
— monandra, Brot.
(277).
277 —purpúrea, L 55
278— repens, L 278
279 — salvifolia, Brot 57
— triandra^ Brot.
(271).
280 — viminaíis, L 55
Saliiola, ^Míertwk, . 93
—fruticosa, L. (308).
281 — venniculata, L. . . . 93
SamJbaciis» li.. . . 107
282— nigra, L 107
SantalllceaSf B*
Br 98
• aro t li a m na 0 •
H^lnnn 210
283 — Baeticus, Wbb 212
284 — Bourgaei, Bss . . . . 21 1
286 — eriocarpus, Bss. À
Reut 212
286 — grandiflonis, Wbb. 212
287 — Malacitanus, Bss.. . 213
288 — oxyphyllus, Bss... 2il
289 — patens, Wbb 212
290 — Scoparius, Koch.. . 211
V. leiostyloSy
Bourg 211
PAG.
291 — Welwitschii, Bss. &
Reut 212
itatareja» Ia.
— capitata, L. (327).
— Graeca, L. (171).
Mcliliiiis, li 221
292— molle, L 222
SecarlBe^at
avsM 232
293 — buxifolia, J. MuU.. 233
ftempervlTaiiitli* 157
294 — arboreum, L 157
ftlderitls, li 137
295 — aDgustifolia, Lam. . 137
296 — arborescens, Salzm. 137
297— hirsuta, L 138
--kirtuía.Brot (298).
298 — hyssopifolia, L.
V. elongata, Wk. . . 138
— linettrtfoHny Brot.
(295).
Simar áHeas*
Enai ^ 224
SmilAceaiif^EiicIl. 46
Smilax, li 48
— áspera, Brot. (299).
299 — roauritanica, Desf.. 48
0ol a n &cea n»
Bartl 140
aolamun* li 141
300 — Dulcamara, L 142
V. integrifolium 142
301 — Sodomaeum, L. . . . 141
Sorl»ii(i,Ii 167
302 —Ária, Crtz 169
303 — Aucuparia, L 168
304 — domestica, L 168
305 — torminalis, Crtz. . . 168
•partftuiDvli 194
"-álbum, L. (82).
— grandifiorum, Brot.
(286).
306 — junceum, L 195
— monosperfnum,L.
(246).
334
índice
PAG.
— patena^ Brot. i289-
291).
—patem, L. (289).
— purgans, L. (85).
— scopariutUj L,
(,290).
— spliaf^rocarpum^ L.
(247).
— spiwoswm, Brot,
(40).
Splraea* C 178
— crenata^ Brot, (307).
307 — flahellata, Bertol.. . 178
Ktaiiee, ^^'illd.
— monopetala, L.
(iG2).
filuaeda» Forftk. . . 9i
308 — frutic(»sa, Forsk... 94
Syrlnsa^Ii 144
309 —pérsica, L 144
310 — viilgaris, L 144
T a m a r 1 «e í neaSf
mu Hil 252
Tamcf^lx» Lt 253
3H— Gallica, L 253
Taxínea»* Endl.. 41
Taxaftt l^ 42
312— baccala, L 42
T ereblntliaceas»
aui»« 220
Teucrlunif Ij.... 138
313 — aureurn, Schreb. . . 130
314 — capitalum, L 140
315 — Ghamaedrys, L. . . . 139
316 — frulicans, L 139
317 — gnaphalodes, Vahl.. 140
318 — lusitanicum, Lam. . 139
— Nissolianum, L.
(320).
319 — Polium, L 140
320 — Pseudochamaepi-
tys, L 139
T li y m e laeat
Tonrn • 103
321 — corídifolia, Endl. . • 103
PA6.
322 —hirsuta, Endl 103
323 -viUosa, Endl 103
Tbymn», Ia 129
324 — albicans, HofTgg. éc
Lk 133
325 — algarbiensis, Lge. . . 132
326 — caespiíitius, Brot. . . 132
327 — eapiutas, HoíTgg. &
Lk 134
328 — capitellalus, Hoffgg.
&Lk 133
329 — carnosus, Bss 133
330 — cephalotus, L 134
331 — Ghamaedrys, Fries.
V. glabratus, Lge. 132
— Creticus, Brot.
(327). .
— glabratus, Brot.
(331-a).
332 — Mastichina, L. . . . 130
— tnicranthHS, Brot.
(171).
333 — Serpyllum, L 132
334 — silvestris, Hoffgg. ól
Lk 131
335 — tomentosus, W 130
336 — villosus, L 134
V. lobala, Vog 134
y. lusitanica, Bss.. 134
337 — vQlgaris, L -. . . 130
338 — Welwitschii, Bss. . . 133
— Zyw, Brot. (334).
.339-Zygis, L 131
— Zygis-variabtlis,
Brot. (333).
Ulex, li 202
340 — aphyllus, Lk 204
341 —argênteas, Welw. . 208
342 — australis, Ciem 207
343 —densas, Welw 206
344 — erinaceas, Welw. . . 208
346 — Escayracii, Wbb.. . 204
346 — earopaeas, L 205
— Y. latebracteatDs,
Mariz 206
índice
335
— V. strictus, Wbb. . •
— genistoides, Brot.
(340-355).
347 — ianthocladus, Wbb.
348 — Jussiaei, Wbb
349— luridus, Wbb...:.
350 — Lusitanicus, Mariz.
351 — raicranthus, Lge. . .
352 — nanus, Forst
— V. Lusitanicus, Wbb.
353 — opistbolepis, Wbb. .
354 — scaber, Kze
355 — spartioides, Wbb. . .
—V. Willkommii,
Wbb
356 — speclabilis, Wbb. . .
357 — Vaillanti, Wbb....
358 — Webbianus, Coss..
359 — Welwitschianus,
Planch
360— Willkommi,Wbb..
Ulmiáíceas» llirl».
Ulmiis» li
PAG.
205
208
206
204
207
207
205
206
205
206
204
204
203
205
204
207
207
83
84
PAG.
361 — campestris, Sm. ... 85
— V. suberosa, Koch. . 85
tJiiiliellireras»
JuM 149
VacGiiil6cea«»
DC 112
VaecAnlaiiit li. . . . 112
362 — MyrtiUus, L 113
Terben&eeas*
Ja«s 122
Vlbnrnani» li. . . . 109
363— Opulus, L 109
364— Tinus,L 109
Tiseuni» Toarn . . 100
365 — crucialum, Sieb. . . 101
Tltex.li 123
366 — Agnus-castus. L. . . 123
Titlstli 243
367 — vinifera, L..' 243
Zlsypnatt» Ja«8 . . 227
368— lótus, Lara 229
369 — vulgaris, Lam 228
índice dos nomes vulgares portngnezes
das espécies descriptas
PAG.
Abrotaoo macho 106
Abrunheiro bravo 183
— manso 183
Acácia 219
— bastarda 192
Açufeifa 227
— maior 228
— menor 229
Adelpheira 110
Aderno 147
—bastardo 230
Agno-casto 123
Agreira 80
Ailantho 225
Albricoqueiro 182
Alcaparra 203
Alecrim 130
Alegra-campo 48
Alemo ordinário 59
— alvar 59
— branco 59
— dltalia 00
— Lybico 59
— negro 00
— pyramidal 00
Alfarrobeira 218
c. s.-— V. n.
PAG.
Alfazema 128
Alfenlieiro 145
Amargoseira 245
Ameixieira brava 183
— mansa 183
Amendoeira 180
— durazia 181
— mollar 182
Amieiro 08
— negro 230
Amoreira 88
— branca 89
— do papel 90
— multicaule 89
— negra 89
Anafega maior ^. . . 228
— menor 229
Anagyris fedegosa 215
Androsemo 252
Arando 113
Aroeira 224
Arvore da castidade 123
Avelleira 71
Azarola 171
Azaroleira 171
Azereiro 185
22
338
índice
PAG.
Azereiro dos damnados . . . 185
Azevinho 226
Azinheira 80
— da bolota doce 80
BaToreira 91
Bella sombra 96
Berberis 264
Bergamotta 249
Bordo 237
— conunum 237
Buxo arbóreo 235
Camarinha 236
Camarinheira 236
Carqueja 201-202
Carrapateiro 234
Carrasco 78
Carrasqueiro 78
Carvalhiça 75
Carvalho 71
— alvarinho 74
— anão 75
— cerquinho 75
— commum 74
— negral 73
— pardo da Beira 73
— portuguez 75
—roble 74
Cássia branca de Virgilio . . 100
Castanheiro 81
— da índia 242
Cedro bastardo 37
— de Hespanha 39
— do Bussaco 37
Cerdeira 184
Cerejeira • . 184
— das cerejas pretas. . . . 184
— das cerejas pretas miú-
das 184
Choupo 57
— branco 59
— dltalia 60
— do Canadá 60
— negro. 60
— ordinário 60
— pyramidal 60
PAG.
Choupo tremedor
Cidreira ., 248
Codeço 213
—alto 214
—bastardo 213
— rasteiro . . . • 215
Conteira 245
Cornalheira 224
Coruicabra 43
Cornoçodinho 168
Corruda maior i9
— menor 49
Cypreste 37
Damasqueiro 182
Doceamarga 142
Dulcamara 142
Ervodo 115
Espargo 49
— menor 49
— silvestre 49
— silvestre maior 49
Espinheiro alvar bastardo. . 142
— alvar de casca verde . 171
— da Virgínia 218
— negro 230
Esponjeira 1 . 219
Esteva 258
Estevão 258
Eucalypto 161
Faya branca 59
— das nhãs 61
— preta 59
Figueu*a ^ 90
— cultivada 91
— da índia 166
— de tocar 91
— do Inferno 234
— mansa 91
— silvestre 91
Folhado 109
Framboesa 176
Frangula 230
Freixo 239-241
Giesta 194-195-210
Giesteira 194-195-210
índice
339
PAG.
Giesteira branca 210
— das sebes 212
— das serras 212
— dos jardins 195
— ordinária 195
Giestó 148
Giibarbeira 48
Gingeira 184
Grosolheir 155
Hedera 152
Hera ..• 152
Herva dos cachos da índia. 96
— dos vasculhos 48
— lombrigueira 106
— ursa 134
Hyssopo 135
Jasmineiro 148
—de Itália 149
— do monte 148
— gallego. 148
Joina dos matos 193
Laburno dos Alpes 213
Laranjeira 248
—azeda 248
—de Malta 248
— de sangue 248
Lauréola macha 102
Legação 48
Leniísco verdadeiro 224
—bastardo 147
LiláZ 1'í'ir
Limeira -'íí^
Limoeiro 249
—doce 249
Lodão bastardo. 86
— verdadeiro 229
Loendro 143
Loireiro-cerejeira 185
— ordinário 98
—real 98-185
Lpiro-cerejo 185
Losna menor : . • 105
— do Algarve 105
Lucia-Lima 123
Maceira brava 167
PAG.
Maceira cultivada. 167
— da anafega maior 228
— mansa 167
Madorneira 106
Madresilva 109
— das boticas 111
Mammona 234
Mangerona , 128
Marioila 136
Marmeleiro 165
Medronheiro 115
Melia..... 245
Mezeréo menor 102
Mosqueiro 85
Mostageiro 169
Murta 160
Nespereira 170
— do Japão 169
Nigrilho 85
Nogueira 63
— preta 63
Novellos 109
Olaia 217
Oliveira ,...:.. 146
Ouregão' 128
— longal 129
— menor 129
— ordinário 129
Oxycedro . .• 39
Pado. 186
Palmeira anã 50
— da egreja 51
— das vassouras 50
Pecegueiro 182
Pereira brava 166
— cultivada 166
—mansa T . 166
Phytolacca 96
Pica-folha 226
Pimenteira bastarda 222
Pimenteiro silvestre 123
Pinheiro 34
— bravo 36
— d'Alepo 36
— de Jerusalém 36
22#
340
IXDICE
PAG.
Piniieiro dos pinhões mol la-
res 269
— manso • 3(5
— ne^To 3()
Piorno 194
— aniarello 19i
— branco 195
— dos tintureiros 2(M)
Pirliteiro 171
Plátano • • • •. ^-
— bastardo ' 237
— do Occidente 83
— do Oriente 83
Polio montano 1 40
Resla-boi 1... 193
Rhododendron . . • 116
Riciílo 234
Roble 74
Romeira 162
Rosa de cão 174
— de Gueldres 109
Roseira brava 174-175
Roselha grande 257
Rosmaninho 127
— verde 127
Sabina 39
— da praia 39
Sabugueiro 107
— d'agua 109
Saião 157
Salgadeira 95
Salgueiro 52
— branco 55
— chorão 54
— frágil 55
— fr^ncez 55
— ordinário 55
— preto 56
— rasteiante 278
Salsaparrilha do reino .... 48
Salva brava 136
Samóco 61
Sanguinho bastardo 229
— d'agua 230
— dâs sebes 230
Sanguiniio legitimo
Sarça 176
Sargaça
Senna do reino
Serpâo
— do monte
Sevadilha
Silva 176
— macha
Sipó do reino
Sobreiro
Sobro
Soda
Sorveira
Suniagre
Sycomoro bastardo
Tamareira
Tamargueira
Tamariz
Tamujo
Tangerineira
Teixo
Terebintho
Teucrio capitoso
Tintureira
Tojo
— chamusco
— da charneca
— gadanho
— mollar
Tomilho
— alvadio
— cabeçudo
— carnoso
— de Creta
— 'Ordinário
— pelludo
Toranja
Torga ordinária
Tonnentelo
Tramazeira
Trovisco
— alvar
— fêmea
-r-ordinario
PAG.
154
•1//
261
191
132
132
143
-177
174
267
77
//
93
108
223
24,')
SI
253
233
248
42
224
14U
96
2(12
204
m
199
196
129
133
134
133
134
13(1
134
248
12U
132
168
lUl
103
102
102
índice
34 i
PAG.
Ulmeiro 85
Ulmo 85
Unha-gatâ 193
Uzre 1Í7-120
— das vassom^as 118
— ordinária 120
Uva de cão 142
Uva-espim 264
Valverae dos sapaes 94
Vide branca 267
Videira 243
Vidoeiro 6(5
PAG.
Vimeiro do norte 55
— francez 55
Vimeiro ordinário 55
Visco 101
Xára 258
Zambujeiro ^ . 146
— branco 146
Zambuio 146
ZéJha 237
Zimbro 38
— commum * . . . . 40
— rasteiro 41
índice geral das matérias contidas n'este tomo II
PAG.
Prologo % I ' '
Nomes dos auctores citados, e as abreviaturas empregadas. . . nc
Livros consoltados .' . • x
Modo de trabalhar com as chaves dichotomicas xm *
Chave dichotomica para a determinação das familias xix
Eslioço lie uma 0ora lenliosa portagiiesa. • . • 33
Divisão I. — fiymnospermas ' 33
Classe I. — Gymnospermas 33
Divisão n. — Angiospermas ^ 45
•Classe 11. — Monocotyledoneas : 45
Classe in. — Dicotyledoneas 51
Sub-classe I. — Apetalas 51
Sub-classe n. — Gamopetalas 104
Sub-classe Dl. — Dialypetalas 149
A. — Calicifloras 149
B.— Thalamifloras 231
Appendlce ^ 269
(Pag. 36). — O pinheiro dos pinhões moUares 269
(Pag. 53).— Género Sdix , 274
(Pag. 65 e 66) .— O vidoeiro 287
344
INBIGE
PAG.
(Pag. 81).— o castanheiro 287
(Pag. 101). — O Viscum cruciatum, Sieb 292
Oiccionarto da« pala^vras teclmicas empre-
gadas 293
índice das familias botânicas, géneros e espécies descríptas, e
dos synonymos Linneanos e Broterianos. 32o
índice dos nomes vulgares portuguezes das espécies descriptas. 337
índice geral das matérias doeste volume 343
ERRATAS
Nota, — Apenas vão notados os erros d*onde resulta alteração no
sentido do texto. Para os outros pede-se a benevolên-
cia do leitor.
Pag. 49 — linh. 2 — onde se lé— o rhizoma da espécie indígena —
leia-se — a raiz da espécie indígena.
Pag. 49— ultima linh. —onde se lé— Fi. em setembro, ^íc— leia-se
— Fl. em setembro. Estremadura, etc.
Pag. 55— linh. 19 onde selé^Estames vermelhos, monadelphos—
leia-se — Antheras vermelhas, estames monadelphos.
Pag. 88— Na explicação dafig. i5— onde sele— í': Inflorescencia
feminina da Broussonetia papyrifera — leia-se — Capitulo
fructifero da Broussonetia papyrifera.
Pag. 92— Na explicação da fig. 16— onde se lô— £: Ramo flori-
fero da Salsola vermiculata — leia-se — Ramo fructifero da
ScUsda vermiculata.
Pag. 93— linh. 30— onde se \é— Pequeno arbusto muito folhoso^
leia-se — Pequeno arbusto muito ramoso.
Pag. 104 — linh. 18— onde se lé— envolve o avario — leia-se— en-
volve o estylete.
Pag. 108— Na explicação da fig. 20— onde selo— 2>: uma folha
(2:1)— leia-se— D: uma folha (1:2).
Pag. 169— linh. 10— onde se lô— cowo o Cravo (botões . . . —leia-
se — como o Cravo (botões floriferos. . .
346 ERRATAS
Pag. 184 — linh. H — onda se lô — na bctse do linho — leia-se — na
base do limbo.
Pag. 204— lioh. 12— onde se lô — Beira (Pinhal de Leiria) — leia-
se — Estremadura (Pinhal de Leiria),
Pag, 210 — linh. 21 — onde se lé — C.purgans, Lk. — leia-se — C.
,Purgans, Wk.
Pag. 284 — linh. 23 — onde se lô — (o máximo 3 tezes — leia-se —
(o máximo 3-4 vezes.
Pag. 310 — ultima linh. — onde se lô — flores femininas — leia-se —
flores masculinas.
Pag. 316 — linh. 18 — onde se lô — pelos estames — leia-se — pelos
filetes.
i
3 2044 102 817 541
i